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UNIBRAS NORTE GOIANO PRO: Jéssyca Fernandes Boaventura Disciplina: Sistema Acusatório Brasileiro Aula 03 AÇÃO PENAL E AÇÃO CIVIL “EX DELICTO” ➢ AÇÃO PENAL 1. Conceito O crime é a conduta que lesa direitos, razão pela qual a sua prática gera ao Estado o poder-dever de punir. Como esta punição não pode ser arbitrária nem ocorrer à revelia das garantias individuais do indivíduo, é necessária a existência de uma fase de apuração, assegurando-se ao acusado o direito de defesa, o contraditório e a produção de provas. Surge, assim, a ação penal, como ato inicial desse procedimento, alicerçando-se no direito de postular ao Estado a aplicação de uma sanção em face da violação a uma norma penal incriminadora. #SELIGA: O que é direito de ação penal? De acordo com a doutrina majoritária, direito de ação penal é o direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto. Funciona, portanto, como o direito que a parte acusadora - Ministério Público ou o ofendido (querelante) - tem de, mediante o devido processo legal, provocar o Estado a dizer o direito objetivo no caso concreto. Há doutrina (minoritária) sustentando que a ação penal não seria um direito, mas sim um poder, porque a contrapartida seria uma sujeição do Estado-Juiz, que está obrigado a se manifestar. 2. Características do direito de ação penal a) direito público: a atividade jurisdicional que se pretende provocar é de natureza pública, razão pela qual se diz que a ação penal é um direito público, mesmo nas hipóteses em que o Estado transfere ao ofendido a possibilidade de ingressar em juízo; b) direito subjetivo: o titular do direito de ação penal pode exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional, relacionada a um caso concreto; c) direito autônomo: o direito de ação penal não se confunde com o direito material que se pretende tutelar; d) direito abstrato: o direito de ação existe e será exercido mesmo nas hipóteses em que o juiz julgar improcedente o pedido de condenação do acusado. Ou seja, o direito de ação independe da procedência ou improcedência da pretensão acusatória; e) direito determinado: o direito de ação é conexo a um fato concreto, já que pretende solucionar uma pretensão de direito material; f) direito específico: o direito de ação penal apresenta um conteúdo, que é o objeto da imputação, ou seja, é o fato delituoso cuja prática é atribuída ao acusado. 3. Lide no processo penal É conhecida a concepção clássica de Carnelutti, segundo a qual a lide seria um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Tem prevalecido o entendimento de que deve se evitar a transposição do conceito de lide para o processo penal. Primeiro, porque não haveria um conflito de interesses, já que o interesse na preservação da liberdade individual também é um interesse público, uma vez que interessa ao Estado, na mesma medida, a condenação do culpado e a tutela da liberdade do inocente. No processo penal, o Estado pretende apenas a correta aplicação da lei penal. Segundo, porque, mesmo que o imputado esteja de acordo com a imposição de pena, com o que não haveria qualquer resistência de sua parte ao pedido condenatório, ainda assim a defesa técnica será indispensável no processo penal. Assim, no processo penal, costuma-se trabalhar com o que se convenciona chamar de pretensão punitiva, que significa a pretensão de imposição da sanção penal ao autor do fato tido por delituoso. 4. Condições da ação Assim como no processo civil, também a ação penal está subordinada ao preenchimento das chamadas condições da ação. Sem elas a inicial acusatória não poderá conduzir à instauração da relação processual-penal, devendo ser rejeitada de plano pelo judiciário (art. 395, II, do CPP). As condições da ação classificam-se em duas ordens: a) Condições gerais ou genéricas; b) Condições especiais ou específicas. 4.1 Condições gerais da ação – LIP São aquelas aplicáveis a toda e qualquer ação penal. a) Possibilidade jurídica do pedido: corresponde à viabilidade de procedência da ação penal. Assim, é necessário que a conduta imputada na inicial acusatória constitua crime ou contravenção penal. Logo, esta primeira condição da ação penal exterioriza-se por meio da imputação de um fato típico. #SELIGA: Sendo inequívoca, isto é, completamente estreme de dúvida a ocorrência de excludente de ilicitude a abrigar a conduta do agente, modo geral tem-se admitido que o Ministério Público não ofereça denúncia, requerendo o arquivamento do inquérito policial. A hipótese é relativamente comum na prática forense. Agora, se na mesma circunstância fática, optar o promotor por deduzir a ação penal, não poderá o juiz rejeitar a inicial, devendo aguardar a fase posterior ao oferecimento da resposta do acusado (art. 396 do CPP), quando então poderá, em julgamento antecipado do processo, absolver sumariamente o imputado com fundamento no art. 397, I, do CPP (“Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato”). b) Legitimidade ad causam: é a pertinência subjetiva da ação. (i) Legitimidade ativa: - Ação penal pública (art. 129, I, da Constituição Federal): Ministério Público; - Ação penal privada: o ofendido, ou seu representante legal, ou as pessoas do art. 31, CPP (Cônjuge/companheiro; Ascendente; Descendente; Irmão). (ii) Legitimidade passiva: autor do fato delituoso, com 18 (dezoito) anos completos ou mais, já que a CF estabelece que os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis (art. 228). #OLHAOGANCHO: Quanto à legitimação passiva da pessoa jurídica (capacidade para ocupar a posição de ré na ação penal), este é admitida quanto aos crimes ambientais, já que a CF, no seu art. 225, § 3.º, expressamente prevê que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Ademais, também o art. 3.º da Lei 9.605/1998 dispõe que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Contudo, tal tema sempre foi controvertido, havendo posições conflitantes na doutrina e na jurisprudência: a) Não se admite a responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema brasileiro. Isso não significa dizer que devam elas ficar sem punição na hipótese de prática lesiva ao meio ambiente, mas sim que a sanção que lhes pode ser aplicada possui natureza administrativa e civil, e não penal. Na medida em que as pessoas jurídicas não agem por si próprias, sendo resultantes os crimes praticados da vontade das pessoas naturais que as administram, apenas estas é que podem ser responsabilizadas criminalmente. b) É possível a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, pois esta decorre da Constituição Federal e da Lei Ambiental (Lei 9.605/1998), que visaram não apenas à punição das condutas lesivas como também à prevenção geral e especial do meio ambiente. Quanto ao argumento acerca da suposta incapacidade de serem culpáveis e sofrerem penalidades, não procede para o fim de afastar essa possibilidade de responsabilização criminal, pois se a pessoa jurídica possui existência própria no ordenamento jurídico e pratica atos no meio social mediante a atuação de seus administradores, pode, então, cometer condutas típicas passíveis de responsabilização penal, condicionando-se, apenas, a que seja ela beneficiária direta ou indireta peladeclaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. d) Perempção: é a perda do direito de prosseguir na ação privada, ou seja, a sanção jurídica cominada ao querelante em decorrência de sua inércia ou negligência. Seu reconhecimento implica na extinção da punibilidade do querelado, não sendo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art152 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art50 possível que, após seu reconhecimento, o ofendido ou seu representante legal ofereça nova queixa pelo mesmo fato. Hipóteses: (i) quando, iniciada a ação penal exclusivamente privada ou personalíssima, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 (trinta) dias seguidos: prevalece o entendimento de que, antes de declarar a perempção, o juiz deve intimar o querelante para apresentar eventual justificativa para o abandono do processo. (ii) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas enumeradas no art. 31 do CPP pelo período de 60 dias; (iii) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; #SELIGA: Tratando-se de processo criminal em que dois ou mais crimes estejam sendo apurados, o pedido de condenação apenas no tocante a um ou alguns importará em perempção da ação penal em relação aos remanescentes. (iv) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê- lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. Parágrafo único. No caso de requerimento do Ministério Público, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final. 6. Outras classificações da ação penal 6.1. Ação Penal Popular Parte da doutrina aponta a existência da ação penal popular em razão da Lei 1.079/1950 possibilitar qualquer cidadão desencadear perante o Senado Federal a apuração dos crimes de responsabilidade nela previstos e que tenham sido cometidos por determinados agentes públicos. Permite-se, enfim, a qualquer pessoa, com base na citada lei e em relação às infrações que nela constam, denunciar: a) Ministros do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República perante o Senado Federal; b) O Presidente da República e os Ministros de Estado nos crimes conexos ao daquele junto à Câmara dos Deputados, à qual incumbirá autorizar ou não a instauração de processo. Autorizada essa instauração por voto de dois terços de seus membros, as peças serão encaminhadas ao Senado, a quem incumbirá o julgamento (arts. 51, I, e 86, da CF). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art36 #OUSESABER: Há ações penais populares no Direito Penal brasileiro? No Direito Processual Penal, o critério para definir a espécie de ação penal é o da titularidade do seu exercício, assim, há dois gêneros de ação penal: a ação penal pública, cujo titular é o Ministério Público e a ação penal privada, cujo titular é o ofendido ou seu representante legal. No entanto, parte minoritária da doutrina, entende que existe uma terceira espécie, a ação penal popular, a qual consiste no direito que qualquer do povo pode exercer denunciando crime visando à punição do autor do delito, enquadrando como ação popular a possibilidade de qualquer pessoa oferecer denúncia à Câmara dos Deputados, em caso de crime de responsabilidade praticado pelo Presidente da República, previsto no art. 14 da Lei 1.079/50, bem como, a impetração de habeas corpus, previsto no art. 5º, inciso LXVII, CF. Ocorre que prevalece o entendimento de que referido dispositivo não autoriza o início de ação penal, apenas possibilita o oferecimento de notitia criminis, uma vez que a ação penal somente será iniciada, caso a denúncia seja admitida por dois terços da Câmara dos Deputados, podendo o Senado Federal rever os requisitos de admissibilidade. Ademais, não se trata de sanção de natureza penal, mas sim de natureza político-administrativa, tendo como julgador o Poder Legislativo, não o judiciário. Em relação ao habeas corpus, trata-se de ação libertatória. 6.2 Ação de Prevenção Penal É a ação que se destina à aplicação da medida de segurança aos absolutamente inimputáveis (art. 26 do CP). Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 6.3 Ação Penal Secundária Ocorre na hipótese em que a lei estabelece uma espécie de ação penal para determinado crime, porém, em virtude do surgimento de circunstâncias especiais, passa a prever, secundariamente, uma nova espécie de ação penal para essa infração. Ex: nos crimes contra a honra, em regra, a ação penal é de iniciativa privada (CP, art. 145, caput). No entanto, se cometido o crime contra a honra de injúria racial (CP, art. 140, § 3º), a ação penal será pública condicionada à representação (CP, art. 145, parágrafo único, in fine, com redação determinada pela Lei n° 12.033/09). #NÃOCONFUNDA: *#OBS. O estupro não é mais exemplo de legitimação secundária, uma vez que com a lei 13.718/18 ação penal passou a ser incondicionada para todos os casos de crimes contra liberdade sexual. 7. Ação penal nas várias espécies de crimes 7.1 Ação Penal nos crimes contra a honra Em regra, os crimes contra a honra são de ação penal de iniciativa privada (art. 145, CP). Contudo, há certos crimes contra a honra que estão submetidos a espécies distintas de ação penal: a) Injúria real: consiste na prática de injúria através de violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (CP, art. 140, § 2º). Se a injúria real for praticada através de vias de fato, a ação penal será de iniciativa privada, pois as vias de fato são absorvidas pelo crime contra a honra. Porém, se resultar lesão corporal, a ação penal será de natureza pública. b) Crime contra a honra do Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro: trata-se de crime de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça (art. 145, parágrafo único, CP); c) Crime contra a honra de funcionário público no exercício das funções: no caso de crime contra a honra de funcionário público em razão de suas funções (propter ojficium), a ação penal será pública condicionada à representação (CP, art. 145, parágrafo único). Contudo, o Supremo Tribunal Federal passou a entender que também seria cabível a ação penal deiniciativa privada. Nesse sentido é a súmula n° 714 do STF: “é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”. d) Crimes militares contra a honra: o Código Penal Militar prevê tais espécies de delitos entre os arts. 214 e 216, todos eles de ação penal pública incondicionada, ressalvada a possibilidade de ação penal privada subsidiária da pública, caso verificada a inércia do órgão ministerial; e) Crimes eleitorais contra a honra: o Código Eleitoral também prevê crimes contra a honra (arts. 324, 325 e 326), acrescidos, porém, do elemento especializante “na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda”. Logo, eventual crime contra a honra cometido no âmbito doméstico, desvinculado, direta ou indiretamente, de propaganda eleitoral, ainda que motivada por divergências políticas às vésperas de eleição, deve ser processado e julgado pela Justiça Comum Estadual, e não pela Justiça Eleitoral. Todos os crimes eleitorais são de ação penal pública incondicionada (art. 355, do Código Eleitoral); f) Injúria racial: atualmente, trata-se de crime de ação penal pública condicionada à representação. #ATENÇÃO: Não se pode confundir o crime de injúria racial com os delitos de racismo, tipificados na Lei n° 7.716/89, os quais são de ação penal pública incondicionada. No art. 140, § 3º, há ofensa à honra subjetiva de determinada pessoa; nos delitos de racismo, há oposição indistinta a toda uma raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. 7.2. Ação penal nos crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de embriaguez ao volante e de participação em competição não autorizada a) Lesão corporal culposa: trata-se de infração de menor potencial ofensivo (porque sua pena não ultrapassa a dois anos de detenção). Como regra geral, deve ter incidência a Lei n° 9.099/95. Logo, a ação penal será pública condicionada à representação. Se, no entanto, estiver presente uma das situações descritas nos incisos I, II e III do § 1º, do art. 291, do CTB, o crime deixa de ser considerado infração de menor potencial ofensivo. § 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008) I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm#art74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm#art76 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm#art88 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm#art88 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm#art5 b) Embriaguez ao volante: considerando que sua pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo. Cuida-se de crime de ação penal pública incondicionada. c) Participação em competição não autorizada: também não se trata de infração de menor potencial ofensivo. Cuida-se de crime de ação penal pública incondicionada. 7.3. Ação penal nos crimes de lesão corporal com violência doméstica e familiar contra a mulher a) Regra geral: os crimes são de ação penal pública condicionada à representação. b) Lesão corporal: o STF, no julgamento da ADI 4424, assentou a natureza incondicionada da ação penal nos casos de crime de lesão corporal (de todos os tipos) contra a mulher nos casos de violência doméstica. #DEOLHONASSÚMULAS: Súmula 536, STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. Súmula 588, STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Súmula 589, STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06 Súmula 600, STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima. 7.4. Ação Penal nos crimes contra a dignidade sexual Com a entrada em vigor da Lei nº. 13.718, no dia 25 de setembro de 2018, que alterou o art. 225, caput, do CP, todos os crimes contra a dignidade sexual são de ação penal pública incondicionada. #OLHAOGANCHO #NOVIDADELEGISLATIVA #SELIGA: A Lei 13.718/18 altera disposições importantíssimas nos crimes sexuais, que vão despencar nas nossas provas! - A ação penal passa a ser pública incondicionada em todos os casos de crimes contra a liberdade sexual e de crimes sexuais contra vulneráveis. - Criação do tipo penal de importunação sexual, entendido como o ato libidinoso praticado contra alguém, e sem autorização, a fim de satisfazer desejo próprio ou de terceiro. - Por se tratar de norma processual penal mista ou híbrida desfavorável ao réu, a novel legislação não retroage para atingir situações em que, antes do seu advento, era prevista como regra geral a ação penal pública condicionada à representação do ofendido. A nova lei vem como resposta a casos como o registrado em São Paulo, quando um homem se masturbou e ejaculou em uma mulher no metrô. - Torna criminosa a divulgação, por qualquer meio, de vídeo e foto de cena de sexo ou nudez ou pornografia sem o consentimento da vítima, além da divulgação de cenas de estupro. A lei aumenta a pena em até dois terços se o crime for praticado por pessoa que mantém ou tenha mantido relação íntima afetiva com a vítima, como namorado, namorada, marido ou mulher, situação conhecida como “pornografia de vingança” (#DEOLHONANOMENCLATURA) - Define causa de aumento para o estupro coletivo - duas ou mais pessoas - e para o estupro corretivo (#DEOLHONANOMENCLATURA). https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868890/artigo-5-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06 Estupro corretivo: acontece quando uma ou mais pessoas (geralmente familiares e "amigos") estupram a vítima como forma de "curar" sua sexualidade ou comportamento social. #SEGUNDAFASE #PROVAORAL: O termo "estupro corretivo" foi usado pela primeira vez no início de 2000 por direitos humanos de organizações não- governamentais para descrever esses estupros cometidos contra Sul Africanas lésbicas. Um ataque notável deste tipo ocorreu em 2008, quando Eudy Simelane, um membro mulher da equipa nacionalde futebol da África do Sul e uma representante LGBT ativista dos direitos humanos na África do Sul, foi estuprada e assassinada em KwaThema, Gauteng. Um relatório de novembro de 2008 feito pela ONG Action Aid e pela Comissão Sul Africana de Direitos Humanos pediu a criação de uma legislação que visam especificamente os crimes de ódio, incluindo a violação corretiva. - Prevê aumento de pena caso o crime resulte gravidez ou se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência. #SELIGANACOMPARAÇÃO: 8. Inicial acusatória 8.1 Nomenclatura a) Crimes de ação penal pública (incondicionada e condicionada): denúncia. b) Crimes de ação penal privada: queixa crime. Possui os mesmos requisitos da denúncia (art. 41, CPP). 8.2 Requisitos Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. a) Exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias: a peça deve conter a descrição de como os fatos ocorreram e todas as suas circunstâncias. (i) Elementos essenciais: são aqueles necessários para identificar a conduta como fato típico. Devem obrigatoriamente constar na peça acusatória, sob pena de prejuízo à defesa, que se defende dos fatos. #DEOLHONAJURIS: Em um caso concreto apreciado pelo STJ, concluiu-se pela inépcia da peça acusatória porquanto esta não descrevera a conduta praticada pelo paciente que decorreria de negligência, imprudência ou imperícia, a qual teria ocasionado a produção do resultado naturalístico. Considerou-se não ser típico o fato de o acusado ter perdido o controle da direção e ter, em consequência, invadido a contramão. A tipicidade, se houvesse, estaria na causa da perda do controle do veículo. Essa, entretanto, não foi mencionada na peça acusatória, cerceando o direito de defesa e de contraditório, razão pela qual foi reconhecida a inépcia da peça acusatória. #SELIGA: O que é criptoimputação? Segundo ensina Antônio Scarance Fernandes, trata-se da imputação contaminada por grave situação de deficiência na narração do fato imputado, quando não contém os elementos mínimos de sua identificação como crime como às vezes ocorre com a simples alusão aos elementos do tipo abstrato. (ii) Elementos acidentais/acessórios: são aqueles ligados a circunstâncias de tempo, de espaço, ou até que revelem maiores dados de modos de atuar, cuja ausência nem sempre afeta a reação do acusado. Ex: hora exata que ocorreu o delito. #OLHAOGANCHO: Devem constar as agravantes e atenuantes? 1ª posição: Doutrina majoritária entende que elas devem constar. 2ª posição: Os nossos tribunais entendem que a narrativa é indiferente, pois o juiz poderá reconhecê-las na respectiva sentença, mesmo que a inicial seja omissa (art. 385 CPP - Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.). #SELIGA: As qualificadoras são obrigatórias. b) Qualificação do acusado: não havendo a qualificação completa do acusado, e não sendo possível a sua identificação criminal, a parte acusadora pode apontar os esclarecimentos pelos quais seja possível identificá-lo. Assim, o fato de ser desconhecida a identificação completa do acusado não seria óbice ao oferecimento da peça acusatória, desde que se pudesse mencionar seus traços característicos, permitindo distingui-lo de outras pessoas. Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes. c) Classificação do crime: é a indicação do dispositivo legal que descreve o fato criminoso praticado pelo imputado. Não basta a simples menção do nomen juris da figura delituosa (v.g., homicídio simples), d) Rol de testemunhas: não se trata de requisito essencial. #DEOLHONAJURIS: A 5ª Turma do STJ concluiu que não há qualquer óbice à intimação do Ministério Público para que proceda à juntada do rol de testemunhas mesmo após o oferecimento da denúncia, conquanto o faça antes da citação do acusado e apresentação da resposta à acusação, sem que se possa objetar eventual nulidade absoluta por violação ao sistema acusatório. In casu, é perfeitamente possível a aplicação subsidiária ao processo penal do quanto disposto no art. 321 do novo CPC, que dispõe que, na eventualidade de a petição inicial não preencher os requisitos legais, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento do mérito, o juiz pode determinar que o autor a emende ou a complete no prazo de 15 (quinze) dias, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado, devendo indeferir a petição inicial tão somente quando o vício não for saneado. #IMPORTANTE: O número de testemunhas é estabelecido de acordo com a quantidade de fatos imputados, independentemente do número de acusados. #ATENÇÃO: Nesse número de testemunhas a serem arroladas, não são computadas as testemunhas referidas, as que não prestam compromisso e a pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa (CPP, art. 209, § 2º e art. 401, § 1º). e) Endereçamento da peça: a peça deve indicar o juízo a qual é dirigida. f) Subscrição pelo MP e pelo advogado do querelante: A ausência de assinatura do promotor na denúncia é mera irregularidade, se for facilmente demonstrável que a inicial foi realmente ofertada pelo órgão acusatório, havendo mero esquecimento da assinatura. Quanto ao advogado do querelante, é necessário que ele possua poderes especiais. A firma tem que ser reconhecida – STJ. Art. 44 do CPP. Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. OBS.: Para que seja protocolizada queixa-crime é necessária capacidade postulatória. A procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado para o ajuizamento de queixa- crime é uma procuração com poderes especiais. Nesta procuração deve constar o "nome do querelante" e a "'menção ao fato criminoso". Para o STJ, "menção ao fato criminoso" significa que, na procuração, basta que seja mencionado o tipo penal ou o nomen iuris do crime, não precisando identificar a conduta. Para o STF, "menção ao fato criminoso" significa que, na procuração, deve ser individualizado o evento delituoso, não bastando que apenas se mencione o nomen iuris do crime. #DEOLHONAJURIS: Para que o advogado proponha queixa-crime em nome do seu cliente, ele precisa ter recebido procuração com poderes especiais para praticar esse ato. Se o cliente outorga procuração sem conferir poderes ao advogado para ajuizar queixa- crime, este advogado não pode oferecer substabelecimento a outro advogado mencionando que este terá poderes para propor queixa-crime. Assim, deve ser tida por inexistente a inclusão, ao substabelecer, de poderes especiais para propositura de ação penal privada, se eles não constavam do mandato originário. Portanto, cabe reconhecer a nulidade da queixa-crime, por vício de representação, tendo em vista que a procuração outorgada para sua propositura não atende às exigências do art. 44 do CPP. STJ. 6ª Turma. RHC33.790 - SP, Rel. Originário. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para Acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/6/2014 (Info 544). A nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa de réu dispensa a juntada de procuração. STJ. 3ª Seção. EAREsp 798.496-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/04/2018 (Info 624). O que se entende por "menção do fato criminoso"? É necessário que se narre o fato criminoso na procuração para se cumprir o disposto no art. 44? NÃO (posição do STJ) SIM (posição da 2ª turma do STF) Não é necessário que se narre o fato criminoso na procuração, bastando que se indique o nome do querelado e o artigo do Código Penal que ele teria praticado. Basta a menção do nomen juris ou do dispositivo penal. Ex1: procuração para oferecer queixa- crime contra Fulano pela prática do crime de injúria. Ex2: procuração para oferecer queixa- crime contra Fulano pela prática do crime do art. 140 do Código Penal. É necessário que a procuração individualize o evento delituoso, não bastando que apenas mencione o nomen juris do crime. Ex: procuração para oferecer queixa-crime contra Fulano pela prática do crime de injúria ocorrido no dia XX, por meio de palavras proferidas no lugar YY. Vale ressaltar, no entanto, quem não é necessária uma descrição minuciosa, pormenorizada, ou seja, com detalhes. Se o juiz entender que a procuração não atendeu ao art. 44, este vício poderá ser suprido? SIM Até que momento este vício poderá ser suprido? Suponhamos que o juízo adote o entendimento do STF. Logo, a procuração apresenta uma irregularidade. Esta regularidade pode ser corrigida? SIM. Até que momento? → segundo entendimento manifestado em precedentes antigos do STF: a qualquer momento, mediante ratificação dos atos processuais, em especial se o querelante estava presente nas audiências do processo que se seguiram ao recebimento da queixa, o que evidencia o seu interesse na persecução criminal. → Segundo o entendimento manifestado no julgado deste Informativo: o vício na procuração somente poderia ser suprido dentro do prazo decadencial (6 meses), ou seja, até o dia 9/8/2012. Se no dia 10/8/2012, não tiver sido corrigido este vício, ocorre a decadência e a consequente extinção da punibilidade. Obs.: o novo entendimento do STF, manifestado no informativo 665, e também a posição do STJ, de modo que deve ser a que irá prevalecer na jurisprudência. #OBS: Denúncia genérica: é aquela que não estabelece a cota de participação de cada acusado no fato delituoso. CRÍTICA: mesmo nos crimes societários (crimes de gabinete ou de escritório - empresas) os Tribunais entendem que o mínimo de especificação da conduta é necessário para que não caracterize uma verdadeira responsabilidade objetiva, pelo simples fato do agente ser gestor da instituição, o que ocasionaria uma nulidade absoluta do processo. #ATENÇÃO: Não confundir denúncia genérica com acusação geral. A acusação geral ocorre quando um mesmo fato é atribuído a mais de uma pessoa com a existência de lastro, mas sem a especificação da real cota de contribuição de cada um. Ex.: rixa. Essa acusação geral tem sido aceita. Ex2.: Acusação geral – os sócios da empresa deixaram de recolher a contribuição previdenciária. Acusação genérica: venda de combustível adulterado: distribuidor, transportador, varejista (não soube identificar o momento correto da adulteração). DENÚNICA GENÉRICA DENÚNCIA GERAL É aquela que narra vários fatos típicos ou vários núcleos verbais do mesmo tipo e os imputa genericamente aos acusados, sem que se possa saber quem agiu e de qual maneira. Quando se narra o fato criminoso com todas as circunstâncias e o imputa indistintamente a todos os acusados. Saber se todos os acusados cometeram o crime é matéria de prova e não pressuposto para a validade do processo. É inepta e deve ser rejeitada. STJ: RHC 24515 e HC 117306 É apta e deve ser recebida. Venda de combustível adulterado: distribuidor, transportador, varejista (não soube identificar o momento correto da adulteração). Denúncia narra que todos os sócios determinaram que fossem cortadas árvores ilegalmente, em área de preservação permanente. Saber se todos realmente praticaram a conduta é questão de prova, mérito. #DEOLHONAJURIS: O diretor-geral da empresa de telefonia Vivo foi denunciado pelo fato de que na filial que funciona no Estado de Pernambuco teriam sido inseridos elementos inexatos em livros fiscais. Diante disso, o Ministério Público denunciou o referido diretor pela prática de crime contra a ordem tributária (art. 1º, II, da Lei nº 8.137/90). A denúncia aponta que, na condição de diretor da empresa, o acusado teria domínio do fato, o poder de determinar, de decidir, e de fazer com que seus empregados contratados executassem o ato, sendo responsável pelo delito. O STF determinou o trancamento da ação penal afirmando que não se pode invocar a teoria do domínio do fato, pura e simplesmente, sem nenhuma outra prova, citando de forma genérica o diretor estatutário da empresa para lhe imputar um crime fiscal que teria sido supostamente praticado na filial de um Estado-membro onde ele nem trabalha de forma fixa. Em matéria de crimes societários, a denúncia deve apresentar, suficiente e adequadamente, a conduta atribuível a cada um dos agentes, de modo a possibilitar a identificação do papel desempenhado pelos denunciados na estrutura jurídico-administrativa da empresa. Não se pode fazer uma acusação baseada apenas no cargo ocupado pelo réu na empresa. STF. 2ª Turma. HC 136250/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017 (Info 866). 8.3. Prazos a) Queixa-crime: (i) Acusado solto: 6 meses, contados da descoberta da autoria. (ii) Acusado preso: 5 dias (em analogia ao que ocorre com a denúncia, já que o CPP não disciplina a matéria). (iii) Art. 236, CP: 6 meses, contados do trânsito em julgado da sentença que, por erro ou impedimento, anule o casamento. (iv) Art. 529, CPP: 30 dias, contados da homologação do laudo pericial. #ATENÇÃO: A demora na conclusão do inquérito policial NÃO interrompe a decadência. b) Denúncia: (i) Acusado solto: 15* dias, contados da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial. (ii) Acusado preso: 5* dias. Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 05 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. § 1o Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação § 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo. c) Lei de Drogas (art. 54, III, Lei 11.343/06): 10 dias, sendo indiferente se o denunciado está preso ou solto. d) Crimes contra a Economia Popular (art. 10, § 2°, Lei 1.521/51): 2 dias, sendo indiferente se o denunciado está preso ou solto. e) Abuso de autoridade: #NOVIDADELEGISLATIVA: Agora o prazo é o mesmo previsto no CPP! (i) Acusado preso: 5 dias. (ii) Acusado solto: 15 dias. f) Código Eleitoral (art. 357 do CE): 10 dias, sendo indiferente se o denunciado está preso ou solto. g) Código de Processo Penal Militar (art. 79, CPPM): (i) Acusado preso:5 dias. (ii) Acusado solto: 15 dias (2x ou 3x). 8.4. Inobservância dos prazos a) Cabimento de ação privada subsidiária da pública (art. 29, CPP); b) Perda de subsídio por dia de atraso (não recepção do art. 801 do CPP pelo art. 128, § 5°, I, “c”, CF); c) Relaxamento prisional se o excesso for abusivo. #SELIGA: O oferecimento da queixa-crime em juízo relativamente incompetente interrompe o prazo decadencial. O oferecimento da queixa-crime em juízo absolutamente incompetente NÃO interrompe o prazo decadencial. Em caso de crime continuado, conta-se o prazo individualmente, para cada delito. No caso de crime permanente, a regra deve ser a mesma da prescrição, iniciando a contagem do prazo a partir do conhecimento da autoria. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA): A pessoa que foi extraditada somente pode ser julgada ou cumprir pena no Brasil pelo (s) crime (s) contido (s) no pedido de extradição. Se o extraditando havia cometido outros crimes antes do pedido de extradição, em regra, ele não poderá responder por tais delitos se não constaram expressamente no pedido de extradição. A isso se dá o nome de "princípio da especialidade". Ex: o Brasil pediu a extradição mencionando o crime 1; logo, em regra, o réu somente poderá responder por este delito; como o crime 2 tinha sido praticado antes do pedido de extradição, o governo brasileiro deveria ter mencionado expressamente não apenas o crime 1, como também o 2. Para que o réu responda pelo crime 2, o governo brasileiro deverá formular ao Estado estrangeiro um pedido de extensão da autorização da extradição. Isso é chamado de "extradição supletiva". Assim, caso seja oferecida denúncia pelo Ministério Público por fato anterior e não contido na solicitação de extradição da pessoa entregue, deve a ação penal correspondente ser suspensa até que seja julgado pedido de extradição supletiva. STJ. 5ª Turma. RHC 45.569-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 4/8/2015 (Info 566). Verificado empate no julgamento de ação penal, deve prevalecer a decisão mais favorável ao réu. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado em caso de empate no julgamento dos embargos de declaração opostos contra o acórdão que julgou a ação penal. Terminando o julgamento dos embargos empatado, aplica-se a decisão mais favorável ao réu. STF. Plenário. AP 565 ED-ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2017 (Info 888). #ATENÇÃO #MP: A PGR ofereceu denúncia contra Paulo e outros réus perante o STJ. Este Tribunal desmembrou o feito e ficou com o processo apenas da autoridade com foro no STJ, declinando da competência para que o TJ julgasse os demais. O PGJ (que atua no TJ) ratificou a denúncia. Ocorre que o TJ também decidiu desmembrar o feito e ficou com o processo apenas da autoridade com foro no TJ, declinando da competência para que o juízo de 1ª instância julgasse os demais corréus. O processo de Paulo, que não tinha foro privativo, foi remetido para a 1ª instância. O Promotor de Justiça que atua na 1ª instância decidiu não ratificar a peça acusatória, oferecendo nova denúncia incluindo, inclusive, novos réus. A defesa alegou que o Promotor não poderia ter alterado a denúncia. O STF entendeu que o membro do MP agiu corretamente e que não há qualquer nulidade neste caso. É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final, garantidos o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, especialmente quando a inicial ainda não tenha sido sequer recebida originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso concreto. O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a sua atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do MP chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. Em outras palavras, o Promotor de Justiça que passou a ter atribuição para atuar no caso não está vinculado às conclusões do Procurador-Geral de Justiça que estava anteriormente funcionando no processo. Desse modo, é irrelevante que outros membros do Ministério Público com atribuição para atuar em instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham, anteriormente, oferecido denúncia de diferente teor em face do réu, uma vez que, conforme ficou reconhecido pelo STJ e pelo TJDFT, a competência para o processo criminal era da 1ª instância, de forma que o promotor natural do caso era o Promotor de Justiça que atua na 1ª instância. Portanto, o fato de o promotor natural — aquele com atribuição para atuar na 1ª instância — não se encontrar tecnicamente subordinado e apresentar entendimento jurídico diverso, afasta qualquer alegação de nulidade decorrente de alteração do teor da peça acusatória oferecida contra o réu Paulo. STF. 1ª Turma. HC 137637/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2018 (Info 893). 8.5 Aditamento da denúncia a) Conceito: aditar a denúncia é acrescentar fatos não descritos, complementar a acusação, retificar a qualificação do imputado ou a narrativa inicial, inserir sujeitos ou circunstâncias que não constavam na peça original, sanar omissões ou corrigir a capitulação. b) Espécies: (i) Quanto ao objeto: - Aditamento próprio: ocorre em relação a fatos, dispositivos ou sujeitos. Ele subdivide-se em: + Aditamento próprio real: refere-se ao fato imputado. Aditamento próprio real material: acrescenta elemento ou circunstância que não se encontra contida na peça original. Aditamento próprio real legal: acrescenta dispositivos legais, penais ou processuais, alterando a classificação ou o rito processual, mas sem inovar no fato narrado. + Aditamento próprio pessoal: quando disser respeito à inclusão de coautores e partícipes. - Aditamento impróprio: apesar de não se acrescentar um fato novo ou outro acusado, busca-se corrigir alguma falha na denúncia, seja através de retificação, ratificação, suprimento ou esclarecimento de algum dado narrado originariamente na peça acusatória. Ex: equívoco quanto à qualificação do acusado. (i) Quanto à voluntariedade: - Aditamento espontâneo: é o realizado pelo Ministério Público por iniciativa própria. - Aditamento provocado: no exercício de função de fiscal do princípio da obrigatoriedade, verificando a necessidade de se acrescentar algo à peça acusatória, o próprio juiz provoca o Ministério Público a fazê-lo. 9. Ação civil ex delicto e Ação de execução ex delicto 9.1. Conceito A Ação Civil Ex Delicto é a ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização por eventual dano causado pelo crime. Ela divide-se em duas espécies: a) Ação de Execução Ex Delicto (art. 63 do CPP): Depois que transitar em julgado, poderá ser proposta, no juízo cível, a execução da sentença penal condenatória, na qual o pedido será para que o condenado seja obrigado a reparar os danos causados à vítima. Aqui pressupõe-se a existência de título executivo judicial, que é a sentença penal condenatória. Art. 63, CPP – Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros. Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. b) Ação Civil Ex Delicto (art. 64 do CPP): Mesmo que a sentença penal ainda não tenha transitado em julgado, a vítima, seu representante legal ou herdeiros já poderão buscar a reparação dos danos no juízo cível, independentemente do desfecho da ação na esfera criminal. Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízocível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. (Vide Lei nº 5.970, de 1973) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L5970.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L5970.htm Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela. Cabe ressaltar que a Ação Civil pode ser proposta tanto para intentar danos morais quanto danos materiais, abrangendo danos emergentes e lucros cessantes. *(Atualizado em 16/10/2020) #OLHAOGANCHO: Cuidado, pois apesar de o CPP adotar o sistema da independência, ele o faz com certo grau de mitigação. Renato Brasileiro assim descreve em seu manual: "Nosso Código de Processo Penal adota o sistema da independência das instâncias, com certo grau de mitigação. Deveras, apesar de o art. 63 do CPP dispor que, transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros, de onde se poderia inferir a adoção do sistema da solidariedade, o art. 64 do CPP prevê que sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil, o que acaba por confirmar que o sistema adotado pelo CPP é o da independência, com a peculiaridade de que a sentença penal condenatória já confere à vítima um título executivo judicial. (...) Consoante o art. 387, IV, do CPP, por ocasião da sentença condenatória, deverá o juiz fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. Isso não significa dizer que nosso sistema tenha se aproximado do sistema da solidariedade, nem tampouco do da confusão. Com efeito, não há necessidade de cumulação obrigatória, nem tampouco facultativa das pretensões perante o juízo penal. Por mais que o juiz criminal possa, desde já, fixar um valor mínimo a título de indenização, não há propriamente uma ação civil cumulada com uma ação penal no juízo criminal, vez que a fixação do valor mínimo a título de indenização é apenas um efeito automático da sentença condenatória, que independe de pedido expresso do Ministério Público ou do ofendido. Continua a vigorar, pois, o sistema da separação das instâncias, vez que é possível a propositura de uma ação civil pela vítima, com o objetivo de obter a reparação do dano causado pelo delito – ação civil ex delicto –, paralelamente à ação penal, proposta, em regra, pelo Ministério Público". Art. 387 – O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; 9.2. Legitimidade ativa São legitimados para propor a ação civil ex delicto: a) A vítima; b) Seu representante legal (se menor de 18 anos ou doente mental); ou c) Seus herdeiros (na hipótese de morte ou declaração judicial de ausência). #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O Ministério Público poderá ajuizar a ação de execução ou a ação civil ex delicto em favor da vítima? O texto do CPP diz que sim: Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público. O STF, contudo, entendeu que, a partir da Constituição Federal de 1988, esta legitimidade não mais pertence ao Ministério Público (e sim à Defensoria Pública). Isso porque o constituinte conferiu à Defensoria (e não ao MP) a competência para promover a assistência jurídica dos necessitados (art. 134 da CF/88). Havia, no entanto, um problema de ordem prática: quando o STF proferiu esta decisão, a Defensoria Pública ainda não estava totalmente instalada nas diversas cidades do país (como ainda hoje, infelizmente, não está). Logo, seria prejudicial às vítimas se o STF simplesmente proibisse o MP de propor a ação civil ex delicto já que, na maioria dos lugares não havia Defensoria e o ofendido ficaria desassistido. Por conta disso, o STF adotou a seguinte solução: ele declarou que o art. 68 do CPP estava em PROCESSO DE INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA e que deveria continuar válido até que a Defensoria Pública estivesse totalmente instalada. Assim, nos locais onde há Defensoria Pública, o MP não pode ajuizar as ações de que trata o art. 68. Por outro lado, onde não existir a Defensoria, o Parquet continua tendo, ainda, legitimidade. Veja a ementa do julgado: LEGITIMIDADE - AÇÃO "EX DELICTO" - MINISTÉRIO PÚBLICO - DEFENSORIA PÚBLICA - ARTIGO 68 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CARTA DA REPÚBLICA DE 1988. A teor do disposto no artigo 134 da Constituição Federal, cabe à Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a orientação e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5o, LXXIV, da Carta, estando restrita a atuação do Ministério Público, no campo dos interesses sociais e individuais, àqueles indisponíveis (parte final do artigo 127 da Constituição Federal). INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA - VIABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE DIREITO ASSEGURADO CONSTITUCIONALMENTE - ASSISTÊNCIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA DOS NECESSITADOS - SUBSISTÊNCIA TEMPORÁRIA DA LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Ao Estado, no que assegurado constitucionalmente certo direito, cumpre viabilizar o respectivo exercício. Enquanto não criada por lei, organizada a Defensoria Pública - e, portanto, preenchidos os cargos próprios, na unidade da Federação - permanece em vigor o artigo 68 do Código de Processo Penal, estando o Ministério Público legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista. (...) STF. Plenário. RE 135328, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/06/1994. #CUIDADO: É certo que o Ministério Público não detém legitimidade ativa para a propositura de ação civil ex delicto quando houver Defensoria Pública em funcionamento, em razão da aplicação da chamada inconstitucionalidade progressiva do art. 68 do CPP. No entanto, essa situação (existência da Defensoria) não acarreta, de pronto, a simples extinção do processo sem julgamento do mérito. Antes é necessário que o juiz determine a intimação da Defensoria para que tome ciência do feito e, a partir de então, assuma a defesa da parte hipossuficiente ou, se for o caso, informe da ausência de interesse na continuação da demanda. A extinção do feito antes da intimação da Defensoria pode ocasionar prejuízo irreparável à parte necessitada, que, até então, recebia assistência do Ministério Público. Assim, antes de o magistrado reconhecer a ilegitimidade ativa do Ministério Público para propor ação civil ex delicto, é indispensável que a Defensoria Pública seja intimada para tomar ciência da demanda e, sendo o caso, assumir o polo ativo da ação. Se esta providência não for adotada, haverá violação do art. 68 do CPP. #DEOLHONAJURIS: O reconhecimento da ilegitimidade ativa do Ministério Público para, na qualidade de substituto processual de menores carentes, propor ação civil pública ex delicto, sem a anterior intimação da Defensoria Pública para tomar ciência da ação e, sendo o caso, assumir o polo ativo da demanda, configura violação ao art. 68 do CPP. Antes de o magistrado reconhecer a ilegitimidade ativa do Ministério Público para propor ação civil ex delicto, é indispensável que a Defensoria Pública seja intimada para tomar ciência da demanda e, sendo o caso, assumir o polo ativo da ação. STJ. 4a Turma. REsp 888.081-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/9/2016 (Info 592). 9.3 Legitimidade passiva Quanto à legitimidade passiva, a Ação de Execução Ex Delicto difere da Ação de Ressarcimento Ex Delicto. Istoporque, na primeira, apenas quem participou da ação penal poderá ser demandado na esfera cível, enquanto na Ação de Conhecimento pode- se demandar tanto o acusado quanto seu responsável civil. Posto isso: a) Ação de Execução Ex Delicto: apenas quem participou da Ação Penal – Acusado. b) Ação Civil Ex Delicto: Acusado ou seu Responsável Civil (art. 932, CC). Quanto ao responsável civil, "só poderá ser sujeito passivo da ação de conhecimento, não se admitindo a execução da sentença penal condenatória em seu detrimento, afinal, não foi parte no processo penal, não servindo o título contra aquele que não figurou no polo passivo da demanda" (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 180). Do contrário, haveria violação dos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido também é Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 238-240). Em sede de doutrina, vem prevalecendo o entendimento de que o responsável civil, por não participar do processo penal, poderá arguir qualquer matéria de defesa durante a ação civil de conhecimento, inclusive rediscutir a autoria e a materialidade delitivas, ainda que elas já estejam assentadas na sentença penal condenatória transitada em julgado (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 181). No entanto, deve-se rememorar que, no procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Criminal, o responsável civil é notificado a comparecer à audiência preliminar, oportunidade em que poderá firmar acordo de composição civil dos danos, o que ensejará uma sentença homologatória, título executivo judicial que também o vinculará (artigos 72 e 74 da Lei n° 9.099/95). 9.4 Efeitos civis da absolvição penal Ao contrário do que ocorre com a sentença condenatória, em relação à absolutória não existe a previsão geral de vinculação com a esfera cível, concluindo-se que a regra será a independência entre a responsabilidade criminal e a responsabilidade civil. Contudo, tal regra comporta exceções nos seguintes casos: a) Estar provada a inexistência do fato: não se trata de falta de provas, ou de um estado de dúvida, estando o juiz convicto de sua decisão. Em razão disso, essa absolvição faz coisa julgada no cível. Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato. b) Não haver prova da existência do fato: trata-se de decisão baseada no in dubio pro reo, não fazendo coisa julgada no cível. c) Não constituir o fato infração penal: refere-se à atipicidade da conduta imputada ao agente. Não faz coisa julgada no cível. d) Estar provado que o acusado não concorreu para a infração penal: essa decisão absolutória também é baseada em um juízo de certeza, fazendo coisa julgada no cível. e) Não existir prova de ter o acusado concorrido para a infração penal: decisão baseada na existência de dúvida razoável acerca da autoria, coautoria ou participação e não faz coisa julgada no cível. f) Absolvição penal fundamentada em excludentes de ilicitude: Neste caso, a vinculação entre a sentença penal absolutória transitada em julgado e a responsabilidade civil é consequência do art. 65 do CPP, dispondo que “faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”. (i) Estado de necessidade agressivo: verifica-se quando a prática do ato necessário importa em sacrifício de bem jurídico de terceiro inocente. Importa a necessidade de indenizar. Ex: visando fugir de um desafeto que o perseguia, o agente invade domicílio alheio, causando danos materiais para nele ingressar. (ii) Estado de necessidade defensivo: ocorre quando o agente, ao praticar o ato necessário descrito no tipo penal, sacrifica bem jurídico pertencente à própria pessoa que gerou a situação de perigo. Não tem a obrigação de indenizar. Ex: para evitar uma inundação, o agente desvia o curso de um riacho (crime ambiental) em direção à propriedade do indivíduo que causou o rompimento de um dique. Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. g) Legítima defesa em que, por erro na execução, atinge-se terceiro inocente: ainda que o autor seja absolvido no juízo criminal, há a necessidade de indenizar. h) Absolvição penal fundamentada em excludentes de culpabilidade: nos casos de erro de proibição, coação moral irresistível, obediência hierárquica, inexigibilidade de conduta diversa, embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior há a necessidade de indenizar. i) Fundada dúvida acerca de causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade: não faz coisa julgada no cível. j) Não existir prova suficiente para a condenação: não faz coisa julgada no cível. Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime. #SELIGA: 9.5 Ação de Execução Ex Delicto Prevista no art. 63 do CPP, a ação de execução ex delicto tem como pressuposto básico a existência de uma sentença condenatória criminal transitada em julgado, a qual se constitui em título executivo judicial (art. 515, VI, do CPC/2015). #OUSESABER: A cassação da aposentadoria do servidor público é um dos efeitos da sentença condenatória criminal. Certo ou errado? ERRADO. Com efeito, o art. 92, I do Código Penal traz como efeito da condenação “a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo”. Percebe-se que, neste rol, não se encontra a “cassação de aposentadoria”. Diante disso, questiona-se: o servidor público que cometeu crime em atividade, mas, durante a persecução penal obteve aposentadoria, pode ter tal benefício cassado? O STJ entende que, diante da impossibilidade de analogia in malam partem, o servidor aposentado NÃO PODERÁ ter o benefício cassado. Nesse sentido: RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE TORTURA. POLICIAL MILITAR REFORMADO. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. EFEITO EXTRA-PENAL DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. INAPLICABILIDADE DO ART. 92, INCISO I, ALÍNEA B, DO CÓDIGO PENAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA NA ESFERA ADMINISTRATIVA, NOS TERMOS LEGALMENTE PREVISTOS. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O efeito da condenação relativo à perda de cargo público, previsto no art. 92, inciso I, alínea b, do Código Penal, não se aplica ao servidor público inativo, uma vez que ele não ocupa cargo e nem exerce função pública. 2. O rol do art. 92 do Código Penal é taxativo, não sendo possível a ampliação ou flexibilização da norma, em evidente prejuízo do réu, restando vedada qualquer interpretação extensiva ou analógica dos efeitos da condenação nele previstos. (...) (REsp 1317487/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 07/08/2014, DJe 22/08/2014). ➔ Quantificação do valor: aqui não caberá qualquer discussão a respeito de ser a indenização devida ou não (an debeatur), mas tão somente o quanto devido pelo réu (quantum debeator). Além disso, é facultado ao ofendido realizar a execução pelo valor mínimo da reparação fixado na própria sentença penal condenatória, sem prejuízo da liquidação para apurar o dano efetivamente sofrido. Esta inovação foi trazida pela Lei 11.719.2008. ➔ Qual era, no entanto, a dificuldade antes da Lei no 11.719/2008? Apesar de ser reconhecida a obrigação de indenizar (an debeatur), não era possível que a vítima (ou seus sucessores)executasse imediatamente a sentença, porque não havia sido definido ainda o valor da indenização (quantum debeatur). Em outras palavras, a sentença condenatória reconhecia que a vítima tinha direito à indenização a ser paga pelo condenado, mas não dizia o quanto. Com isso, a vítima (ou seus sucessores) tinha ainda que tomar uma outra providencia antes de executar: promover a liquidação. O legislador tentou facilitar a situação da vítima e, por meio da Lei no 11.719/2008, alterou o CPP, prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já́ estabeleça na sentença um valor mínimo que o condenado estará́ obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV — fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei no 11.719/2008) Desse modo, se o juiz, na própria sentença, já́ fixar um valor certo para a reparação dos danos, não será́ necessário que a vítima ainda promova a liquidação, bastando que execute este valor caso não seja pago voluntariamente pelo condenado. ➔ Qual é a natureza jurídica dessa fixação do valor mínimo de reparação? Trata- se de um efeito extrapenal genérico da condenação. ➔ A vítima poderá ́pleitear indenização maior no juízo cível? SIM. Na sentença penal, o juiz fixará um valor mínimo. Assim, a vítima poderá́ executar desde logo este valor mínimo e pleitear um valor maior que o fixado na sentença, bastando, para isso, que prove que os danos que sofreu foram maiores que a quantia estabelecida na sentença. Essa prova é feita em fase de liquidação pelo procedimento comum, regulado pelos arts. 509, I e 511 do CPC 2015. ➔ Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do ofendido? SIM. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima (art. 387, IV, do CP), é necessário que haja pedido expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a fim de que seja oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa (STJ. 5a Turma. HC 321.279/PE, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Des. Conv. do TJ/PE), julgado em 23/06/2015). Além disso, o STJ já́ decidiu que o juiz somente poderá́ fixar este valor se existirem provas nos autos que demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime. Vale ressaltar, ainda, que o réu tem direito de se manifestar sobre esses documentos juntados e contraditar o valor pleiteado como indenização. Cabe lembrar ainda que o julgador penal é obrigado a sempre fixar esse valor mínimo, podendo deixar de fazê-lo, por exemplo, quando não houver prova do prejuízo; b) se os fatos forem complexos e a apuração da indenização demandar dilação probatória, o juízo criminal poderá́ deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado em ação civil; c) quando a vítima já́ tiver sido indenizada no juízo cível. Quanto à legitimidade do MP para pleitear a fixação de valor mínimo, entende-se cabível em casos de ação penal pública e quando ocorra prejuízo efetivo ao patrimônio público, a exemplo do que ocorre em alguns crimes contra a Administração Pública, como o peculato. O STF já chegou a se pronunciar a esse respeito, inclusive no julgamento do processo do "Mensalão" (Ação Penal n° 470). Todavia, tal requerimento deverá ser formulado na peça acusatória, não sendo possível que ele se opere em momentos posteriores, como, por exemplo, em alegações finais, pois não haveria mais a oportunidade de as partes produzirem provas sobre tal matéria nesta etapa processual. ➔ O art. 387, IV, com a redação dada pela Lei no 11.719/2008, fez com que o Brasil passasse a adotar a chamada “cumulação de instancias” em matéria de indenização pela prática de crimes? NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de indenização pela prática de crimes ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal (julga o crime) e também já́ decide, de forma exauriente, a indenização devida à vítima do delito. Conforme explicam Pacelli e Fischer, “por esse sistema, o ajuizamento da demanda penal determina a unidade de juízo para a apreciação da matéria cível” (Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No Brasil, não há unidade de instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for possível, definir um valor mínimo de indenização pelos danos sofridos sem, contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda poderá́ ser examinado pelo juízo cível para aumentar esse valor. Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias. ➔ A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei no 11.719/2008. Se o crime ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o valor mínimo de reparação dos danos? NÃO. A regra do art. 387, inciso IV, do CPP, que dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil dos danos causados ao ofendido, é norma híbrida, de direito processual e material, razão pela qual não se aplica a delitos praticados antes da entrada em vigor da Lei nº 11.719/2008, que deu nova redação ao dispositivo. ➔ O condenado poderá ́impugnar o valor fixado na forma do art. 387, IV por meio de um habeas corpus? NÃO. A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil fixada na sentença penal condenatória, com base no art. 387, IV do CPP, tendo em vista que a sua imposição não acarreta ameaça, sequer indireta ou reflexa, à liberdade de locomoção (STJ. 6a Turma. AgRg no AgRg no REsp 1519523/PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 01/10/2015). ➔ Se a punibilidade do condenado for extinta pela prescrição da pretensão punitiva, haverá ́ extinção também do valor de reparação imposto na sentença? SIM. Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária fixada como reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV do CPP, pois dela decorrente, ficando ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda que haja prejuízos a serem reparados (EDcl no AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013). #Info 588 STJ: É possível que o juiz fixe valor mínimo para indenização de danos morais sofridos pela vítima de crime: O juiz, ao proferir sentença penal condenatória, no momento de fixar o valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP), pode, sentindo- se apto diante de um caso concreto, quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, desde que fundamente essa opção. Isso porque o art. 387, IV, não limita a indenização apenas aos danos materiais e a legislação penal deve sempre priorizar o ressarcimento da vítima em relação a todos os prejuízos sofridos. STJ. 6a Turma. REsp 1.585.684-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016. #ATENÇÃO: Súmula 18 STJ: “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório” - Revisão Criminal e Ação Rescisória: apaga a sentença condenatória anteriormente proferida, não podendo mais ser executada no cível. - Sentença Estrangeira: pode ser executada após homologação. 9.6 Ação de Conhecimento Ex Delicto / Ação Civil Ex Delicto Stricto Sensu A Ação Civil Ex Delicto propriamente dita é aquela que, mesmo que a sentença penal ainda não tenha transitado em julgado, a vítima, seu representante legal ou herdeiros já poderão buscar a reparação dos danos no juízo cível, independentemente do desfecho da ação na esfera criminal. Está previstano artigo 64 do CPP. Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela. Conforme dispõe parágrafo único, uma vez intentada a ação penal, para evitar decisões contraditórias, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela. Nesse sentido, embora seja sempre recomendável a suspensão da ação civil, prevalece na doutrina o entendimento de que essa suspensão é meramente facultativa. É a posição de Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 184) e Eugênio Pacelli de Oliveira (OLIVEIRA, 2008). Na jurisprudência, é a posição do STJ no julgado REsp n° 47246/RJ, 3a Turma, Rei. Min. Costa Leite, DJ 30/08/1994. Ressalte-se também que, ainda que a ação penal não tenha sido deflagrada, será possível a suspensão da ação civil. Neste caso, se a ação penal não for deflagrada no prazo de 3 meses, contados da intimação do sobrestamento da demanda cível, o feito irá prosseguir. Além disso, que se as ações civil e penal tramitarem simultaneamente, a ação civil somente poderá ficar suspensa pelo prazo de até 1 (um) ano (art. 315 do CPC/15 e parágrafos). Art. 315, CPC. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato delituoso, o juiz pode determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal. § 1o Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado da intimação do ato de suspensão, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão prévia. § 2º Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual aplicar-se-á o disposto na parte final do § 1o. a) Competência na ação civil ex delicto: prevalece o entendimento de que a competência para o processamento e julgamento da ação civil ex delicto (pouco importa se a ação é de conhecimento ou executória) é do juízo cível do domicílio da vítima ou do local do fato, devendo a opção ser feita pela própria vítima. É possível ainda que a vítima venha a optar pelo domicílio do réu (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 181). Art. 53, NCPC – É competente o foro: V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. b) Prazo prescricional: nos termos do art. 200 do CC, quando a ação civil "se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva". A partir do trânsito em julgado da sentença penal condenatória é que o prazo prescricional para a ação civil começa a ter curso. Nesta hipótese, a prescrição se opera no prazo de 3 (três) anos, consoante o art. 206, § 3°, inciso V, do Código Civil. 10. Jurisprudência correlata O princípio geral da sucumbência é aplicável no âmbito do processo penal quando se tratar de ação penal privada. Em outras palavras, é possível haver condenação em honorários advocatícios em ação penal privada. Assim, julgada improcedente a queixa- crime, é cabível a condenação do querelante ao pagamento dos honorários sucumbenciais ao advogado do querelado. Conclusão que se extrai da incidência dos princípios da sucumbência e da causalidade, o que permite a aplicação analógica do art. 85 do CPC/2015, conforme previsão constante no art. 3º do CPP. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 992.183/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/06/2018. STJ. Corte Especial. EDcl na APn 881/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 03/10/2018. No momento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societate. STF. 1ª Turma. Inq 4506/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/04/2018 (Info 898). A PGR ofereceu denúncia contra Paulo e outros réus perante o STJ. Este Tribunal desmembrou o feito e ficou com o processo apenas da autoridade com foro no STJ, declinando da competência para que o TJ julgasse os demais. O PGJ (que atua no TJ) ratificou a denúncia. Ocorre que o TJ também decidiu desmembrar o feito e ficou com o processo apenas da autoridade com foro no TJ, declinando da competência para que o juízo de 1ª instância julgasse os demais corréus. O processo de Paulo, que não tinha foro privativo, foi remetido para a 1ª instância. O Promotor de Justiça que atua na 1ª instância decidiu não ratificar a peça acusatória, oferecendo nova denúncia incluindo, inclusive, novos réus. A defesa alegou que o Promotor não poderia ter alterado a denúncia. O STF entendeu que o membro do MP agiu corretamente e que não há qualquer nulidade neste caso. É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes da sentença final, garantidos o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, especialmente quando a inicial ainda não tenha sido sequer recebida originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso concreto. O membro do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti). Assim, a sua atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões jurídicas que o outro membro do MP chegou, mesmo que este atue em uma instância superior. Em outras palavras, o Promotor de Justiça que passou a ter atribuição para atuar no caso não está vinculado às conclusões do Procurador-Geral de Justiça que estava anteriormente funcionando no processo. Desse modo, é irrelevante que outros membros do Ministério Público com atribuição para atuar em instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham, anteriormente, oferecido denúncia de diferente teor em face do réu, uma vez que, conforme ficou reconhecido pelo STJ e pelo TJDFT, a competência para o processo criminal era da 1ª instância, de forma que o promotor natural do caso era o Promotor de Justiça que atua na 1ª instância. Portanto, o fato de o promotor natural — aquele com atribuição para atuar na 1ª instância — não se encontrar tecnicamente subordinado e apresentar entendimento jurídico diverso, afasta qualquer alegação de nulidade decorrente de alteração do teor da peça acusatória oferecida contra o réu Paulo. STF. 1ª Turma. HC 137637/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2018 (Info 893). Verificado empate no julgamento de ação penal, deve prevalecer a decisão mais favorável ao réu. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado em caso de empate no julgamento dos embargos de declaração opostos contra o acórdão que julgou a ação penal. Terminando o julgamento dos embargos empatado, aplica-se a decisão mais favorável ao réu. STF. Plenário. AP 565 ED-ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2017 (Info 888). Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de Justiça que atua na vara criminal comum oferece denúncia contra o acusado na vara do Tribunal do Júri e o Promotor que funciona neste juízo especializado segue com a ação penal, participando dos atos do processo até a pronúncia. No caso concreto, em um primeiro momento, entendeu-se que a conduta não seria crime doloso contra a vida, razão pela qual os autos foram remetidos ao Promotor da vara comum. No entanto, mais para frente comprovou- se que, na verdade, tratava-se sim de crime doloso. Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a denúncia e remeteu a ação imediatamente ao Promotor do Júri, que poderia, a qualquer momento, não ratificá-la. Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia. Não houve designação arbitrária ou quebra de autonomia. STF. 1ª Turma. HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/10/2017 (Info 880).Em um programa de maior audiência da rádio, o apresentador proferiu uma série de acusações contra determinado político, afirmando que ele desviou dinheiro público na construção da escola, que se trata de um corrupto, de um ladrão etc. O ofendido ajuizou queixa-crime contra o radialista e contra o proprietário da rádio afirmando que todos sabem que o dono deste meio de comunicação é seu inimigo político, de forma que é intuitivo crer que foi o sócio proprietário da rádio quem orientou e ordenou que o apresentador proferisse as agressões verbais contra o querelante. Em uma situação semelhante a esta, o STF rejeitou a queixa-crime afirmando que o querelante não individualizou, minimamente, a conduta do querelado detentor de prerrogativa de foro e lhe imputou fatos criminosos em razão da mera condição de sócio proprietário do veículo de comunicação social, o que não é admitido. A mera posição hierárquica do querelado como titular da empresa de comunicação não é suficiente para o recebimento da queixa-crime. Seria necessário que o querelante tivesse descrito e apontado elementos indiciários que evidenciassem a vontade e consciência do querelado de praticar os crimes imputados. Não tendo isso sido feito, a queixa-crime deve ser rejeitada por manifesta ausência de justa causa. STF. 1ª Turma. Pet 5660/PA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/3/2017 (Info 857). A denúncia contra Prefeito por crime ocorrido em licitação municipal deve indicar, ao menos minimamente, que o acusado tenha tido participação ou conhecimento dos fatos supostamente ilícitos. O Prefeito não pode ser incluído entre os acusados unicamente em razão da função pública que ocupa, sob pena de violação à responsabilidade penal subjetiva, na qual não se admite a responsabilidade presumida. STF. 1ª Turma. AP 912/PB, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/3/2017 (Info 856). O Ministério Público ofereceu denúncia contra alguns sócios da empresa, dentre eles o Diretor-Presidente, afirmando, quanto a este, que praticou o crime de evasão de divisas porque detinha o domínio do fato e que não seria crível que a empresa movimentasse altos valores para o exterior sem que ele soubesse. O STF entendeu que esta denúncia é inepta. Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do domínio do fato para dar suporte à imputação penal, sendo necessário, contudo, que, além disso, ela aponte indícios convergentes no sentido de que o Presidente da empresa não só teve conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu finalisticamente a atuação dos demais acusados. Assim, não basta que o acusado se encontre em posição hierarquicamente superior. Isso porque o próprio estatuto da empresa prevê que haja divisão de responsabilidades e, em grandes corporações, empresas ou bancos há controles e auditorias exatamente porque nem mesmo os sócios têm como saber tudo o que se passa. STF. 2ª Turma. HC 127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016 (Info 850). O reconhecimento da ilegitimidade ativa do Ministério Público para, na qualidade de substituto processual de menores carentes, propor ação civil pública ex delicto, sem a anterior intimação da Defensoria Pública para tomar ciência da ação e, sendo o caso, assumir o polo ativo da demanda, configura violação ao art. 68 do CPP. Antes de o magistrado reconhecer a ilegitimidade ativa do Ministério Público para propor ação civil ex delicto, é indispensável que a Defensoria Pública seja intimada para tomar ciência da demanda e, sendo o caso, assumir o polo ativo da ação. STJ. 4ª Turma. REsp 888081-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/9/2016 (Info 592). É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de rejeição de queixa-crime por ausência de justa causa. STJ. 3ª Seção. EREsp 1218726- RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da prática delituosa, há afronta ao princípio da indivisibilidade da ação penal, a implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia extintiva da punibilidade estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no cometimento da infração penal. STF. 1ª Turma. Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 2/2/2016 (Info 813). Deve ser rejeitada a queixa-crime que, oferecida antes de qualquer procedimento prévio, impute a prática de infração de menor potencial ofensivo com base apenas na versão do autor e na indicação de rol de testemunhas, desacompanhada de Termo Circunstanciado ou de qualquer outro documento hábil a demonstrar, ainda que de modo indiciário, a autoria e a materialidade do crime. STJ. 5ª Turma. RHC 61822-DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/12/2015 (Info 577). A denúncia que deixa de mencionar a legislação complementar a que se refere o tipo penal não atende o disposto no art. 41 do CPP porque não descreve por completo a conduta delitiva, dificultando a compreensão da acusação e, por conseguinte, o exercício do direito de defesa. STJ. 5ª Turma. RHC 64430/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2015. Determinado indivíduo teria proferido discurso racista contra um grupo de índios que teria invadido uma fazenda em certa região. O Ministério Público não ofereceu denúncia nem instaurou qualquer procedimento. Em virtude disso, o Conselho dos Povos Indígenas (organização não-governamental indígena) ajuizou uma queixa-crime subsidiária (art. 5º, LIX, da CF/88) contra o indivíduo, imputando-lhe a prática dos crimes de racismo (art. 20 da Lei 9.459/97) e incitação à violência e ódio contra os povos indígenas (arts. 286 e 287 do CP). Essa queixa-crime deverá ser rejeitada, porque os conselhos indigenistas não possuem legitimidade ativa em matéria penal. Na ação penal privada (mesmo sendo a subsidiária da pública), a queixa-crime somente pode ser promovida pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo (art. 100, § 2º do CP e art. 30 do CPP). A suposta vítima dos crimes não foi o conselho indigenista, mas sim os próprios índios que participaram da invasão. STF. 1ª Turma. Inq 3862 ED/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2014 (Info 768). Deve ser rejeitada a queixa-crime que impute ao querelado a prática de crime contra a honra, mas que se limite a transcrever algumas frases, escritas pelo querelado em sua rede social, segundo as quais o querelante seria um litigante habitual do Poder Judiciário (fato notório, publicado em inúmeros órgãos de imprensa), sem esclarecimentos que possibilitem uma análise do elemento subjetivo da conduta do querelado consistente no intento positivo e deliberado de lesar a honra do ofendido. STJ. Corte Especial. AP 724- DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/8/2014 (Info 547). É inepta a denúncia que, ao imputar a sócio a prática dos crimes contra a ordem tributária previstos nos incisos do art. 1º da Lei 8.137/1990, limita-se a transcrever trechos dos tipos penais em questão e a mencionar a condição do denunciado de administrador da sociedade empresária que, em tese, teria suprimido tributos, sem descrever qual conduta ilícita supostamente cometida pelo acusado haveria contribuído para a consecução do resultado danoso. O simples fato de o acusado ser sócio e administrador da empresa constante da denúncia não pode levar a crer, necessariamente, que ele tivesse participação nos fatos delituosos, a ponto de se ter dispensado ao menos uma sinalização de sua conduta, ainda que breve, sob pena de restar configurada a repudiada responsabilidade criminal objetiva. STJ. 6ª Turma. HC 224728-PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/6/2014 (Info 543). Nos crimes de autoria coletiva, não é necessária a descrição MINUCIOSA e INDIVIDUALIZADA da ação de cada acusado. Basta que o MP narre as condutas delituosas e a suposta autoria,conduta praticada por seus representantes legais. Trata-se da posição prevalente. #MAISUMGANCHO: Para fins de sua responsabilização, é necessária a imputação simultânea da prática criminosa ao ente moral e à pessoa física que a administra? No âmbito do STF e do STJ, o entendimento é o de que o art. 225, § 3.º, da CF, não vincula a responsabilidade penal da pessoa jurídica a que haja essa dupla persecução. Assim, não é mais admitida a Teoria da Dupla Imputação, posicionando-se no sentido de que se admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, independentemente de imputação conjunta da prática delitiva com a pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício. #CEREJADOBOLO: A possibilidade de responsabilização criminal atinge tanto a pessoa jurídica de direito privado como também a pessoa jurídica de direito público interno (União, Estados, Municípios etc.)? O tema também é controvertido, havendo posição que admite a responsabilidade penal de pessoa jurídica de direito público, já que não existe distinção a respeito na Constituição Federal e na legislação ambiental. Contudo, há quem defenda posição contrária, sob o argumento de que as pessoas jurídicas de direito público jamais poderão satisfazer o requisito previsto no art. 3.º da Lei 9.605/1998, que estabelece, para tal responsabilização, a necessidade de que o fato delituoso ocorra no interesse ou benefício da pessoa jurídica. Asseveram para tanto que, se a proteção do meio ambiente é um dos deveres do Estado, conforme estabelece o art. 225, caput, da CF, não é possível que a sua violação (do meio ambiente) represente algum interesse ou benefício para o Estado. #SELIGA: Legitimidade ordinária e extraordinária no processo penal. A regra geral do processo civil prevê que somente o titular do alegado direito poderá pleitear em nome próprio seu próprio interesse. É o que se denomina de legitimação ordinária. É o que ocorre, no âmbito processual penal, nas hipóteses de ação penal pública, já que a CF outorga ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública, agindo este em nome próprio na defesa de interesse próprio. Por outro lado, excepcionalmente, e desde que autorizado por lei, o ordenamento jurídico prevê situações em que alguém pode pleitear, em nome próprio, direito alheio. É o que se denomina de legitimação extraordinária ou substituição processual. Ex: na ação penal privada, o Estado transfere a legitimidade para a propositura da ação penal à vítima ou ao seu representante legal. Assim, o ofendido age, em nome próprio, na defesa de um interesse alheio, pois o Estado continua sendo o titular da pretensão punitiva. #NÃOCONFUNDA: Não se pode confundir a legitimação extraordinária (substituição processual) com a sucessão processual. Há sucessão processual quando um sujeito sucede outro no processo, assumindo a sua posição processual. Há, portanto, uma troca de sujeitos no processo, uma mudança subjetiva da relação jurídica processual. c) Interesse de agir: deve-se demonstrar a necessidade de se recorrer ao Poder Judiciário para a obtenção do resultado pretendido, independentemente da legitimidade da pretensão. Segundo a doutrina, o interesse de agir deve ser analisado sob 3 dimensões: (i) Necessidade: segundo Pacelli, a necessidade é presumida, já que a sanção penal pressupõe o devido processo legal e a imposição jurisdicional. Contudo, vale destacar que há exceções. Ex: transação penal no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (Lei n° 9.099/95, art. 76). (ii) Adequação: é o ajustamento da providência judicial requerida à solução do conflito. #ATENÇÃO: Nas ações não condenatórias, a adequação ganha destaque, notadamente na seleção entre HC e MS, já que o primeiro é inadequado quando inexistir risco, mesmo que remoto, à liberdade de locomoção. Súmula nº 693 - não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. Súmula nº 694 não cabe "habeas corpus" contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública. Súmula nº 695 - não cabe "habeas corpus" quando já extinta a pena privativa de liberdade. (iii) Utilidade: é a eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor. Só haverá utilidade se houver possibilidade de realização do jus puniendi estatal, com a aplicação da sanção penal adequada. http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=693.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=694.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=695.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas #CHUVADEGANCHO #MPSP: Prescrição virtual/hipotética/em perspectiva. A prescrição virtual consiste no reconhecimento da prescrição antes do oferecimento da denúncia ou da queixa e, no curso do processo, anteriormente à prolação da sentença, sob o argumento de que eventual pena a ser aplicada em caso de condenação ensejaria, inevitavelmente, ou com muita probabilidade, a prescrição retroativa da pretensão punitiva. Nesse sentido, a pena restaria extinta não em razão da extinção da punibilidade do art. 107, mas sim pela ausência do interesse de agir do Estado. Contudo, vale destacar que essa modalidade de prescrição não é admitida pelos Tribunais, a exemplo da Súmula 438 do STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal. #CEREJADOBOLO: Prescrição inevitável. Segundo ensina Samer Agi1, tem-se prescrição inevitável quando, no curso do processo, verifica-se, com base no tempo necessário à conclusão da marcha processual, que a prescrição da pretensão punitiva em abstrato ocorrerá, necessariamente, antes do decreto condenatório. Considera-se para o cálculo do prazo prescricional a pena máxima cominada à infração, o que a diferencia da chamada prescrição virtual. É mister perceber que o prazo prescricional ainda não se esgotou, o que a diferencia da prescrição da pretensão punitiva em abstrato, mas, com certeza, se esgotará antes do édito condenatório. Destaca-se que o termo inicial para a contagem do prazo é a data do recebimento da denúncia. Portanto, são requisitos para o reconhecimento da prescrição inevitável: a) Que já tenha sido recebida a denúncia; b) Que a prescrição da pretensão punitiva em abstrato ainda não tenha ocorrido; c) Que até a data de eventual sentença condenatória seja possível concluir, com juízo de certeza, que a prescrição punitiva em abstrato ocorrerá. 1 Disponível em: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI303791,41046- Uma+nova+hipotese+de+prescricao+da+pretensao+punitiva. https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI303791,41046-Uma+nova+hipotese+de+prescricao+da+pretensao+punitiva https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI303791,41046-Uma+nova+hipotese+de+prescricao+da+pretensao+punitiva #UMPOUCODEDOUTRINA: Renato Brasileiro ensina que, “se a categoria das “condições da ação” não foi extinta pelo novo CPC, melhor sorte não assiste à possibilidade jurídica do pedido. Aliás, mesmo antes da vigência do novo CPC, grande parte da doutrina já sustentava que a possibilidade jurídica não podia ser considerada espécie autônoma de condição da ação. (...) Louvável, portanto, a sistemática adotada pelo novo diploma processual civil, que deixa de fazer referência à “possibilidade jurídica do pedido” como hipótese que leva a uma decisão de inadmissibilidade do processo. Consolida-se, assim, o entendimento praticamente majoritário até então no sentido de que o reconhecimento da impossibilidade jurídica funciona como decisão de mérito,com elementos suficientes para garantir o direito à ampla defesa e ao contraditório. Embora não seja necessária a descrição PORMENORIZADA da conduta de cada denunciado, o Ministério Público deve narrar qual é o vínculo entre o denunciado e o crime a ele imputado, sob pena de ser a denúncia inepta. STJ. 5ª Turma. HC 214861- SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/2/2012. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA Jurisprudência do site Dizer o Direito. Manual de Processo Penal – Nestor Távora. Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro.e não de inadmissibilidade. (...) Com efeito, sem embargo do silêncio do novo CPC acerca da possibilidade jurídica, há diversas referências expressas à legitimidade e ao interesse de agir, que subsistem como condições da ação. Em seu art. 17, o novo CPC dispõe expressamente que é necessário ter interesse e legitimidade para postular em juízo.”. d) Justa causa: é o lastro probatório mínimo que deve lastrear toda e qualquer acusação penal. Aqui, lastro probatório mínimo é o fumus boni iuris, que significa a existência de indícios de autoria e prova da materialidade. #DIVERGÊNCIADOUTRINÁRIA: Na esfera penal, prevalece o entendimento de que a justa causa seria uma quarta condição da ação. Na esfera cível, no entanto, prevalece o entendimento de que a justa causa não é tecnicamente uma condição da ação, e sim um requisito da própria construção da inicial. 4.1.1. Ausência de qualquer das condições da ação a) No momento da admissibilidade da inicial: ação deve ser rejeitada. Art. 395, II, CPP – A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. b) Aferição incidental ao processo: (i) O juiz pode declarar a nulidade absoluta do processo; ou (ii) Extinguir o processo sem resolução do mérito. – SE HÁ ANÁLISE DAS CONDIÇÕES BASEADA NA SIMPLES AFIRMAÇÃO DO AUTOR: Trata- se da verificação das condições da ação pela teoria da asserção. Se ausentes, haverá carência de ação e a coisa julgada formal. – SE HÁ NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA PARA VERIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO: Se com a instrução probatória se verificar que o afirmado não era verdade, a consequência será a improcedência e coisa julgada material. 4.2. Condições específicas da ação penal (condições de procedibilidade) Há determinadas situações em que a lei condiciona o exercício do direito de ação ao preenchimento de certas condições específicas. Sua presença também deve ser aferida pelo magistrado por ocasião do juízo de admissibilidade da peça acusatória, impondo-se a sua rejeição, caso verificada a ausência de uma delas (CPP, art. 395, II). São exemplos: a) Representação do ofendido, nos crimes de ação penal pública condicionada à representação. b) Requisição do Ministro da Justiça, nos crimes de ação penal pública condicionada à requisição. c) Provas novas, quando o inquérito policial tiver sido arquivado com base na ausência de elementos probatórios. d) Provas novas, após a preclusão da decisão de impronúncia, em se tratando de crimes dolosos contra a vida e) Laudo pericial nos crimes contra a propriedade imaterial. f) autorização da Câmara dos Deputados, por dois terços de seus membros, para a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado. #SELIGA: a) Condições objetivas de punibilidade: são elementos exteriores à infração penal, não integrantes do tipo penal, ocorrendo nas hipóteses em que a punibilidade da conduta é vinculada à superveniência de determinado acontecimento. Ex: a decisão definitiva do processo administrativo-fiscal constitui condição objetiva de punibilidade dos crimes previstos no art. 1.º, I a IV, da Lei 8.137/1990 (crimes contra a ordem tributária). Isto quer dizer que, na pendência de defesa ou recurso na esfera administrativa, não há justa causa para a instauração de inquérito policial e de ação penal contra o agente, por inexistir, ainda, lançamento definitivo do débito fiscal. b) Escusas absolutórias: são situações em que, ainda que exista o crime, não se impõe pena em razão de circunstâncias pessoais do agente. É o que ocorre no caso de furto praticado por descendente contra ascendente menor de 60 anos (art. 181, II, c/c o art. 183, III, do CP), em que, pela condição pessoal do agente (filho da vítima), considerou- o o legislador isento de pena. 4.3 Condições de prosseguibilidade As condições da ação não se confundem com condições de prosseguibilidade. Condição da ação (ou de procedibilidade) é uma condição que deve estar presente para que o processo penal possa ter início. Condição de prosseguibilidade (ou condição superveniente da ação) é uma condição necessária para o prosseguimento do processo. Ex: A lei dos juizados especiais (lei 9.099/95) passou a exigir a representação nos crimes de lesão corporal leve e culposa. Para os processos que estavam em trâmite perante o Juizado, a representação funcionou como condição de prosseguibilidade, no entanto, nos processos que fossem começar, a representação será uma condição de procedibilidade. 5. Classificação 5.1. Ação penal pública a) Ação penal pública incondicionada: A atuação do Ministério Público independe do implemento de qualquer condição específica. É a regra no processo penal brasileiro. *#NOVIDADELEGISLATIVA *#SELIGA: A Lei 13.718/18 altera disposições importantíssimas nos crimes sexuais, que vão despencar nas nossas provas! - A ação penal passa a ser pública incondicionada em todos os casos de crimes contra a liberdade sexual e de crimes sexuais contra vulneráveis. - Criação do tipo penal de importunação sexual, entendido como o ato libidinoso praticado contra alguém, e sem autorização, a fim de satisfazer desejo próprio ou de terceiro. - Por se tratar de norma processual penal mista ou híbrida desfavorável ao réu, a novel legislação não retroage para atingir situações em que, antes do seu advento, era prevista como regra geral a ação penal pública condicionada à representação do ofendido. b) Ação penal pública condicionada: (i) Titularidade: assim como na APP Incondicionada, a titularidade é do MP, sendo necessário, contudo, a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça. (ii) Representação: trata-se de condição de procedibilidade, não exigindo forma específica. Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. § 1o A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida. § 2o A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria. § 3o Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. § 4o A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito. § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. - Ofendido maior e capaz: somente ele poderá decidir pela conveniência de oferecer representação, podendo também ser exercido por procurador com poderes especiais (art. 39, CPP). - Representante legal do ofendido menor ou incapaz: nesse caso, a representação deverá ser oferecida pelo seu representante legal, independentemente da vontade da vítima. #DEOLHONAJURIS: A representação nos crimes de ação penal pública condicionada prescinde de qualquer formalidade, sendo necessária apenas a vontade inequívoca da vítima ou de seu representante legal, mesmo que realizada na fase policial (HC 46.455/RJ). #CEREJADOBOLO: E se o ofendido incapaz não possuir representante legal ou houver colisão entre os seus interesses e os de seu representante?Nesse caso, deverá o juiz, ex officio ou a requerimento do Ministério Público, proceder à nomeação de curador, que poderá ser qualquer pessoa, advogado ou não, desde que maior de 18 anos. O curador especial nomeado pelo juiz em face do que dispõe o art. 33 do CPP está obrigado a oferecer representação? Há duas posições: - Primeira (majoritária): A nomeação de curador não impõe a este a obrigação de oferecer representação contra o autor do crime, incumbindo-lhe analisar a conveniência deste procedimento segundo os interesses do incapaz. - Segunda: O curador nomeado deve obrigatoriamente representar em prol da vítima, já que está agindo como substituto processual, ou seja, defendendo interesse alheio em nome próprio. E se o ofendido for morto ou declarado ausente? No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge/companheiro, ascendente, descendente ou irmão. E se, no caso anterior, mais de um entre os legitimados comparecer para representar? Neste caso, terão preferência os primeiros em prol dos demais, na ordem enumerada em lei. Em caso de discordância entre os legitimados – um querendo representar e o outro não –, deve prevalecer a vontade daquele que deseja representar. - Prazo: 6 meses, contados do conhecimento da autoria do crime, sob pena de decadência. A contagem desse prazo inclui o dia do início. Se a vítima for menor de 18 anos ou mentalmente incapaz, o prazo decadencial flui apenas para o representante legal. Alcançada a maioridade pelo ofendido ou recuperado da enfermidade, a partir deste momento terá início o prazo. No caso de crime continuado, o prazo decadencial deverá ser contado em relação a cada crime individualmente. No caso de crime permanente, o prazo deverá ser contado a partir do momento em que cessar a permanência. No caso de crime habitual, prevalece o entendimento de que o lapso é contado com a ciência da autoria do crime pela vítima. - Irretratabilidade: A representação será irretratável após o oferecimento da denúncia, sendo possível a retratação da retratação, desde que não tenha sido esgotado o prazo de 6 meses contados da ciência do autor do fato. Art. 25, CPP – A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia. Art. 16, Lei 11.340/06 – Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. #ATENÇÃO: A representação não vincula o membro do Ministério Público. (iii) Requisição: não existe prazo decadencial para o exercício da requisição pelo Ministro da Justiça, entendendo-se, pois, que isto pode ocorrer até a prescrição do crime praticado. - É dirigida ao MP e também não vincula o órgão! #SAINDODOFORNO: Atualmente, com as mudanças trazidas pela Lei nº. 13.718/18, todos os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada. Não há exceções! #DEOLHONAJURIS: A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública incondicionada. STJ. 3ª Seção. Pet 11805-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/5/2017 (recurso repetitivo) (Info 604). Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. #OLHAOGANCHO #SELIGANASÚMULA: Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015. Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015. Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. § 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. § 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. § 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. § 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. *#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info 654). 5.1.1. Princípios a) Princípio da obrigatoriedade: havendo indícios de autoria e prova da materialidade quanto à prática de um fato típico e não se fazendo presentes causas extintivas da punibilidade, não pode o Ministério Público deixar de ajuizar a ação penal. São exceções ao princípio da obrigatoriedade (princípio da obrigatoriedade regrada/discricionariedade regrada): (i) Transação penal (art. 76, Lei nº. 9.099/99): em se tratando de infrações de menor potencial ofensivo, ainda que haja lastro probatório suficiente para o oferecimento de denúncia, desde que o autor do fato delituoso preencha os requisitos, ao invés de o Ministério Público oferecer denúncia, deve propor a transação penal, com a aplicação imediata de penas restritivas de direitos ou multa. Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível. (ii) Termo de ajustamento de conduta: nos casos de Ação Civil Pública (Lei nº. 7.347/85), pode o MP pactuar com o infrator um ajustamento de sua conduta nos casos de violação a direitos transindividuais (danos ao meio ambiente, ao direito consumerista, etc.) para que se cumpra os requisitos legais. (iii) Parcelamento do débito tributário (art. 83, §2º, Lei 9.430/96): a sua formalização antes do recebimento da denúncia é causa de suspensão da pretensão punitiva, impedindo o oferecimentoda peça acusatória pelo Ministério Público. § 2o É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal. (iv) Acordo de não persecução penal (Resolução 181/2017-CNMP): Art. 18. Não sendo o caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor ao investigado acordo de não persecução penal quando, cominada pena mínima inferior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a sua prática, mediante as seguintes condições, ajustadas cumulativa ou alternativamente: (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) II – renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério Público; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) V – cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal aparentemente praticada. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 1º Não se admitirá a proposta nos casos em que: (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) I – for cabível a transação penal, nos termos da lei; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) II – o dano causado for superior a vinte salários mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da regulamentação local; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) III – o investigado incorra em alguma das hipóteses previstas no art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/95; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) IV – o aguardo para o cumprimento do acordo possa acarretar a prescrição da pretensão punitiva estatal; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) V – o delito for hediondo ou equiparado e nos casos de incidência da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) VI – a celebração do acordo não atender ao que seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 2º A confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, e o investigado deve estar sempre acompanhado de seu defensor. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 3º O acordo será formalizado nos autos, com a qualificação completa do investigado e estipulará de modo claro as suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as datas para cumprimento, e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e seu defensor. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 4º Realizado o acordo, a vítima será comunicada por qualquer meio idôneo, e os autos serão submetidos à apreciação judicial. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 5º Se o juiz considerar o acordo cabível e as condições adequadas e suficientes, devolverá os autos ao Ministério Público para sua implementação. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 6º Se o juiz considerar incabível o acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas, fará remessa dos autos ao procurador-geral ou órgão superior interno responsável por sua apreciação, nos termos da legislação vigente, que poderá adotar as seguintes providências: (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) I – oferecer denúncia ou designar outro membro para oferecê-la; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) II – complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-la; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) III – reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) IV – manter o acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 7º O acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma oportunidade da audiência de custódia. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 8º É dever do investigado comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso prévio, devendo ele, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo. (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 9º Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo ou não observados os deveres do parágrafo anterior, no prazo e nas condições estabelecidas, o membro do Ministério Público deverá, se for o caso, imediatamente oferecer denúncia. (Incluído pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 10 O descumprimento do acordo de não persecução pelo investigado também poderá ser utilizado pelo membro do Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. (Incluído pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 11 Cumprido integralmente o acordo, o Ministério Público promoverá o arquivamento da investigação, nos termos desta Resolução. (Incluído pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 12 As disposições deste Capítulo não se aplicam aos delitos cometidos por militares que afetem a hierarquia e a disciplina. (Incluído pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 13 Para aferição da pena mínima cominada ao delito, a que se refere o caput, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018). *Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019 Sem artigo correspondente “Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; III - prestar serviço à comunidade ou a entidadespúblicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. § 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. § 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade. § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. § 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal. § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.” ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL RESOLUÇÃO 181/17 LEI ANTICRIME Pena mínima inferior a 4 anos Pena mínima inferior a 4 anos Crime não for cometido com violência ou grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a sua prática. Investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça CONDIÇÕES: I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo; II – renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; CONDIÇÕES: I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II - renunciar voluntariamente a bens e direitos II – prestar serviço à comunidade ou a entidades pú- blicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito, diminuída de 1/3 a 2/3, em local a ser indicado pelo Ministério Público; IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; V – cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal aparentemente praticada. indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de 1/3 a 2/3, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. NÃO CABÍVEL: I – for cabível a transação penal, nos termos da lei; II – o dano causado for superior a 20 salários mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da regulamentação local; III – o investigado incorra em alguma das hipóteses previstas no art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/95; IV – o aguardo para o cumprimento do acordo possa acarretar a prescrição da pretensão punitiva estatal; V – o delito for hediondo ou equiparado e nos casos NÃO CABÍVEL: I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; III - ter sido o agente beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou de incidência da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006; VI – a celebração do acordo não atender ao que seja necessário e suficiente para a reprovação e preven- ção do crime. suspensão condicional do processo; e IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. Caberá RESE da decisão, despacho ou sentença que recusar homologação àproposta de acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A desta Lei. (v) Colaboração premiada (art. 4º, §4º, Lei 12.850/13): § 4º Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo. b) Princípio da indisponibilidade: uma vez ajuizada a ação penal pública, dela não pode o Ministério Público desistir. #SELIGA: O MP pode renunciar ao direito de recorrer, deixando de interpor recurso por concordar com a sentença, mas não pode, após a sua interposição, desistir de prosseguir com o seu trâmite. #SELIGA2: Requerer a absolvição do réu ou deixar de recorrer não constitui ofensa ao princípio da indisponibilidade! #SELIGANAEXCEÇÃO: Suspensão condicional do processo. Preenchidos os requisitos do art. 89 da Lei 9.099/95, o MP propõe ao agente que cumpra algumas condições, que resultará na extinção da punibilidade, sem antecedentes, reincidência ou condenação na ficha penal. Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal. Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto. c) Princípio da oficialidade: a ação penal pública incondicionada será deflagrada por iniciativa de órgão oficial, o Ministério Público, independentemente da manifestação de vontade expressa ou tácita de qualquer pessoa. d) Princípio da divisibilidade: havendo mais de um autor do crime, nada impede que venha o Ministério Público a ajuizar a ação penal apenas em relação a um ou alguns deles, postergando a propositura quanto aos demais para outro momento. Inaplicabilidade do princípio da indivisibilidade à ação penal pública Na ação penal pública não vigora o princípio da indivisibilidade. Assim, o MP não está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato tido por delituoso, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a que não foi denunciado. Isso porque o Parquet é livre para formar a sua convicção, incluindo na denúncia as pessoas que ele entenda terem praticado o crime, mediante a constatação de indícios de autoria e materialidade (STJ. 6ª Turma. RHC 34.233-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/05/2014). → O STJ concordou com a tese de defesa? NÃO. O Ministério Público não é obrigado a denunciar todos os envolvidos nos fatos tidos por delituosos, dado que não vigora, na ação penal pública incondicionada, o princípio da indivisibilidade. O princípio da indivisibilidade preconiza que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores do delito. O princípio da indivisibilidade é aplicado à ação penal privada, mas não incide no caso de ações penais públicas. O MP pode intentar a ação penal contra um autor, enquanto investiga o outro, por exemplo. Assim, o Parquet é livre para formar a sua convicção, incluindo na denúncia as pessoas que ele entenda que praticaram os crimes, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado. Vale lembrar que até a sentença é possível que o MP faça o aditamento da denúncia. *Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019 Arquivamento Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, “Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria designará outro órgão do Ministério Público para oferecê- la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.” CUIDADO: Antes da lei o MP requeria o arquivamento ao juiz, que homologava ou não. Após a lei, o MP ordena o arquivamento e remete os autos à instância de revisão ministerial para fins de homologação, arquivamento ocorre unicamente no âmbito do próprio Ministério Público. #DUPLOREGIMEDOARQUIVAMENTO2 Foi alterado significativamente o processamento de investigações, dado que agora devem ser arquivadas no âmbito do Ministério Público, sem a intervenção do Juiz, na linha acusatória. Não há mais espaço para homologação judicial do arquivamento, dado que tudo se resolve na esfera ministerial, especialmente as comunicações — vítima, investigado e autoridade investigante, inclusive nos casos de Foro de Prorrogativa de Função. A vítima, uma vez notificada, terá o prazo processual de 30 (trinta) dias para manejar recurso contra o arquivamento (CPP, artigo 28, § 1º), sendo que no caso de crimes praticados em detrimento de entes públicos, a revisão cabe ao chefe do órgão a quem couber a representação judicial (CPP, art. 28, § 2º). Então o arquivamento deve se dar em duas fases: a) primeira fase: o representante do Ministério Público emite manifestação pelo arquivamento, comunica formalmente vítima e investigados, quando existentes, advertindo expressamente da possibilidade recursal em 30 dias (prazo que se conta da respectiva intimação e não da juntada ao autos, na linha do art. 798, do CPP); b) segunda fase: Efetivadas as comunicações formais, ausente pedido voluntário de revisão da vítima (ou seu representante), investigado ou autoridade investigadora, devidamente certificado o prazo, sobem os autos para homologação do arquivamento pelo órgão competente da Instituição do Ministério Público que pode confirmar ou 2 https://www.conjur.com.br/2020-jan-10/limite-penal-procede-arquivamento-modelo divergir, total ou parcialmente, caso em que será designado novo membro do Ministério Público para o exercício da ação penal. Em caso de manutenção do arquivamento os autos serão arquivados na estrutura administrativa do próprio Ministério Público, com comunicação ao Juiz das Garantias (CPP, artigo 3º-B, IV) para respectiva baixa do controle. Estabeleceu-se um regime de controle das investigações junto ao Juiz das Garantias, o qual deverá ser comunicado da instauração, andamento e arquivamento das investigações. O efeito do prazo é que somente depois de certificada a ausência de recurso voluntário é que o arquivamento definitivo poderá se operar, com demora mínima de mais de 30 dias, prazo de revisão. Se houver pedido de arquivamento, mesmo sem homologação, deve-se revogar eventual prisão e/ou medida cautelar imediatamente, instando-se o Juiz das Garantias para tanto. A determinação serve de mecanismo de controle ideológico dos membros do Ministério Público que não poderão mais agir diretamente com o Juiz de primeiro grau. O lado positivo é que exigirá maior esforço de análise do caso, enquanto o lado negativo é o de que diante da revisão obrigatória, tende-se a denunciar mais. Diretamente: no novo contexto é mais fácil denunciar do que arquivar. Caberá ao Juiz das Garantias o papel de avaliar — de uma vez por todas — a pertinência da acusação, motivando (CPP, artigo 315, § 2º) o processamento da açãopenal, bem assim trancar investigações quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento (CPP, artigo 3º-B, IX e XII), preferencialmente na via do habeas corpus (CPP, artigo 3º-B, XII), inclusive de ofício. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores e partícipes do delito. Segundo a posição da jurisprudência, o princípio da indivisibilidade só se aplica para a ação pena privada (art. 48 do CPP). O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos? O que ocorre se um dos autores ou partícipes, podendo ser processado pelo querelante, ficar de fora? Qual é a consequência do desrespeito ao princípio da indivisibilidade? Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): se o querelante deixou, deliberadamente, de oferecer queixa contra um dos autores ou partícipes, o juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção da punibilidade para todos (arts. 104 e 109, V, do CP). Todos ficarão livres do processo. Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça o aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora. Assim, conclui-se que a não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. Para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante. Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da prática delituosa, há afronta ao princípio da indivisibilidade da ação penal, a implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia extintiva da punibilidade estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no cometimento da infração penal. STF. 1ª Turma. Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 2/2/2016 (Info 813). Duas observações finais: 1) O STF não fez, neste caso concreto, a distinção acima mencionada entre omissão voluntária e omissão involuntária. Isso não significa que o STF não adote esta diferenciação. Talvez, na presente situação, não tenha sido necessário discorrer sobre isso porque, como era público e notório que outros veículos de imprensa divulgaram a notícia supostamente caluniosa, no caso concreto a omissão foi nitidamente voluntária. O certo é que a distinção acima feita entre omissão voluntária e involuntária poderá ser cobrada na sua prova. 2) Como o ofendido era agente público e a manifestação do Senador, em tese, seria uma forma de fiscalizar os recursos públicos, o STF poderia até mesmo rejeitar a queixa-crime com base na imunidade material (art. 53 da CF/88). No entanto, isso nem foi aventado no julgado por conta, talvez, da falha processual na imputação do crime contra apenas um querelado. STJ. 5ª Turma. RHC 55.142-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562) e) Princípio da intranscendência: a ação penal será ajuizada, unicamente, contra o responsável pela autoria ou participação no fato típico. 5.2. Ação penal privada Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada. Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal. Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo. A iniciativa é do particular, mas o direito de punir continua a ser do Estado. Ela pode ser: a) Ação penal privada exclusiva: a vítima ou seu representante legal decidem se vão propor ação ou não. É intentada mediante queixa-crime. Caso esteja morto ou ausente, esta legitimidade passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CADI). b) Ação penal privada personalíssima: a titularidade é apenas do ofendido, de forma que morrendo a vítima estará extinta a punibilidade. Aqui não há sucessão processual. #ATENÇÃO: Crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento: o prazo começa do trânsito em julgado da sentença que anulou o casamento. Nesse caso, por ser a ação penal privada personalíssima, em caso de morte do ofendido, extingue-se a punibilidade. c) Ação penal privada subsidiária da pública (ação penal acidentalmente privada ou ação penal supletiva): o titular originário é o MP, que fica inerte, sendo possível a queixa-crime subsidiária. É um mecanismo de controle externo que recai sobre o Ministério Público. Nesse caso, são poderes do MP (art. 29, CPP): (i) Opinar pela rejeição da queixa-crime subsidiária, caso conclua pela presença de uma das hipóteses do art. 395 do CPP: - inépcia da peça acusatória; - ausência de pressuposto processual ou de condição para o exercício da ação penal; - ausência de justa causa para o exercício da ação penal; (ii) Aditar a queixa-crime: na ação penal exclusivamente privada e na ação penal privada personalíssima, o MP só tem legitimidade para proceder ao aditamento para corrigir aspectos formais, incluindo circunstâncias de tempo ou de lugar. Não poderá fazê-lo para adicionar um novo fato delituoso ou outro corréu. Contudo, na ação penal privada subsidiária da pública, o MP pode aditar a queixa subsidiária tanto em seus aspectos acidentais quanto em seus aspectos essenciais, quer incluindo novos fatos delituosos, quer adicionando coautores ou partícipes do fato delituoso; (iii) Intervir em todos os termos do processo: também pode fornecer elementos de prova e interpor recurso; (iv) Repudiar a queixa-crime subsidiária, desde que o faça até o recebimento da peça acusatória, apontando, fundamentadamente, que não houve inércia de sua parte. Nessa hipótese, prevalece o entendimento de que o Ministério Público se vê obrigado a oferecer denúncia substitutiva. (v) Verificando-se a inércia ou negligência do querelante, deve o Ministério Público retomar o processo como parte principal. É o que se denomina de ação penal indireta. #SELIGANOESQUEMA: #OUSESABER: É cabível transação penal em ação penal privada? Errado. Pela interpretação literal do art.76, caput, da Lei 9099/95, poder-se-ia concluir que a transação penal só pode ser oferecida em relação aos crimes de ação penal pública incondicionada e condicionada à representação. Entretanto, doutrina e jurisprudência entendem que não há fundamento razoável para não se admitir transação penal em crimes de ação penal privada, recaindo a controvérsia apenas em relação a quem teria legitimidade para oferecer a proposta. Para uma primeira corrente, a proposta de transação penal deveria ser oferecida pelo Ministério Público, desde que haja concordância da vítima ou de seu representante legal, sendo este o teor do enunciado nº 112, do FONAJE – Fórum Nacional dos Juizados Especiais: Na ação penal privada, cabem transação penal e suspensão condicional do processo, mediante proposta do Ministério Público. Para uma segunda corrente, a proposta de transação penalsó pode ser oferecida pela vítima (querelante) ou seu representante legal, sob pena de verdadeira usurpação do Ministério Público do seu direito de queixa, pois o parquet não é titular deste. No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, é possível encontrar precedentes em ambos os sentidos. #DEOLHONAJURIS: Deve ser rejeitada a queixa-crime que, oferecida antes de qualquer procedimento prévio, impute a prática de infração de menor potencial ofensivo com base apenas na versão do autor e na indicação de rol de testemunhas, desacompanhada de Termo Circunstanciado ou de qualquer outro documento hábil a demonstrar, ainda que de modo indiciário, a autoria e a materialidade do crime. STJ. 5ª Turma. RHC 61.822-DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/12/2015 (Info 577). Em um programa de maior audiência da rádio, o apresentador proferiu uma série de acusações contra determinado político, afirmando que ele desviou dinheiro público na construção da escola, que se trata de um corrupto, de um ladrão etc. O ofendido ajuizou queixa-crime contra o radialista e contra o proprietário da rádio afirmando que todos sabem que o dono deste meio de comunicação é seu inimigo político, de forma que é intuitivo crer que foi o socioproprietário da rádio quem orientou e ordenou que o apresentador proferisse as agressões verbais contra o querelante. Em uma situação semelhante a esta, o STF rejeitou a queixa-crime afirmando que o querelante não individualizou, minimamente, a conduta do querelado detentor de prerrogativa de foro e lhe imputou fatos criminosos em razão da mera condição de sócio-proprietário do veículo de comunicação social, o que não é admitido. A mera posição hierárquica do querelado como titular da empresa de comunicação não é suficiente para o recebimento da queixa-crime. Seria necessário que o querelante tivesse descrito e apontado elementos indiciários que evidenciassem a vontade e consciência do querelado de praticar os crimes imputados. Não tendo isso sido feito, a queixa-crime deve ser rejeitada por manifesta ausência de justa causa. STF. 1ª Turma. Pet 5660/PA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/3/2017 (Info 857). Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. 5.2.1. Princípios a) Princípio da oportunidade/conveniência: cabe ao ofendido ou ao seu representante legal decidir acerca do oferecimento (ou não) da queixa-crime. b) Princípio da disponibilidade: é possível ao ofendido oferecer a queixa-crime e, durante o trâmite processual, desistir. c) Princípio da indivisibilidade: o processo criminal de um obriga ao processo de todos. - Omissão voluntária: se ficar demonstrado que o querelante deixou, de forma deliberada, de oferecer a queixa contra um ou mais autores ou partícipes, deve-se entender que houve de sua parte uma renúncia tácita, o que acarretará na extinção de punibilidade dos dois. - Omissão involuntária: neste caso, o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça o aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora. * Se houver o aditamento: o processo continuará normalmente. * Se não houver o aditamento: o juiz deverá entender que houve renúncia (art. 49 do CPP). Assim, deverá extinguir a punibilidade em relação a todos os envolvidos. Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade. 5.2.2. Hipóteses de extinção da punibilidade da ação penal privada a) Decadência: é a perda do direito de ação penal privada ou de representação em razão de seu não exercício no prazo legal (6 meses). Como já mencionado, em regra, o decurso do prazo decadencial só começa a fluir a partir do conhecimento da autoria. Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. b) Renúncia: é o ato unilateral (não depende da aceitação do autor do crime) e voluntário por meio do qual a pessoa legitimada ao exercício da ação penal privada abdica do seu direito de queixa. Frise-se que, como decorrência do princípio da indivisibilidade da ação penal privada, se o ofendido renunciar ao exercício da ação penal contra qualquer dos ofensores, todos os demais serão alcançados pela extinção da punibilidade (art. 49, CPP). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art29 A renúncia pode ser expressa (art. 50, CPP) quando constar de declaração assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Pode também ser tácita quando a vítima pratica ato incompatível com a vontade de processar (art. 104, parágrafo único, CP). Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro. Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova. c) Perdão do ofendido: é o ato bilateral (depende da aceitação do autor do crime) e voluntário por meio do qual, no curso do processo penal, o querelante resolve não prosseguir com a demanda, perdoando o acusado, com a consequente extinção da punibilidade. Ocorre depois do recebimento da ação penal e pode ser concedido até o trânsito em julgado da sentença condenatória. Por força do princípio da indivisibilidade, o perdão concedido a um dos querelados aproveitará aos demais, sem que produza efeito, no entanto, em relação àquele que o recusar. O perdão pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando constar de declaração nos autos ou termo assinados pelo ofendido ou por procurador com poderes especiais. Será tácito quando atos patrocinados pelo querelante forem incompatíveis com o desejo de prosseguir na ação penal. #SAIBADIFERENCIAR: Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar. Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito. Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador que o juiz Ihe nomear. Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52. Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais. Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o disposto no art. 50. Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade. Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo constará de