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Movimentos de independência na Fotografia tirada em Acra, capital de Gana, em 5 de março de 2007. Nesse dia, milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar aniversário da independência do país. 174Durante a Guerra Fria, grande parte dos países africanos conquistou sua independência. Vários fatores influenciaram esse processo, entre eles a difícil situação de algumas potên- cias imperialistas depois da Segunda Guerra Mundial, incapazes de manter seus domínios coloniais na África diante de movimentos populares nacionalistas e anti-imperialistas, que passaram a lutar pela independência em diversos países africanos. Nesta unidade, vamos estudar o contexto em que ocorreram essas independências e as peculiaridades desse processo em diferentes regiões da África. Além disso, vamos conhecer algumas caracterís- ticas dos novos países africanos e também os principais problemas que eles passaram a enfrentar após a independência. Veja as respostas das questões nas Orientações para o professor. A Descreva a fotografia. Qual sensação ela passa? B que você sabe sobre os processos de independência na África? Comente.período pré-independências Grande parte dos países africanos conquistou sua emancipação política em mea- dos do século XX. Diversos fatores influenciaram os processos de independência na África, entre eles a participação de soldados africanos na Segunda Guerra Mundial, a propagação de ideologias pan-africanistas e pan-arabistas e a influência da União Soviética (URSS) e dos Estados Unidos (EUA). Soldados africanos na Segunda Guerra Mundial Mais de um milhão de soldados africanos combateram nos exércitos das Soldados africanos que lutaram com os Aliados les durante a Segunda Guerra Mundial. Ao lado dos britânicos, eles lutaram na Índia e no norte da na Birmânia (atual Myanmar) contra os japoneses. No norte da África, na Itália, na Fotografia tirada na Alemanha e na França, ao lado dos Aliados contra as forças do Eixo. Líbia, em 1942. A experiência durante a guerra os fez refletir sobre sua condição de povos colonizados. Durante o conflito, os sol- dados africanos ouviam os líderes dos países Aliados fala- rem a respeito de libertarem pessoas oprimidas e do direito à autodeterminação dos povos, além de criticarem o impe- rialismo praticado pelos nazistas. Eles perceberam, desse modo, a grande incoerência entre o discurso dos líderes Aliados e as suas práticas imperialistas. Com isso, ao retor- narem para a África com o fim da guerra, foram grande de- fensores das independências. tema sobre o pan-africanismo Ideologias anti-imperialistas favorece trabalho interdisciplinar com Dois movimentos político-ideológicos colaboraram para o processo de indepen- Geografia. Veja, nas dência na África: o pan-africanismo e o pan-arabismo. primeiro foi elaborado no Orientações para o sugestão final do século XIX por intelectuais afro-americanos e antilhanos, espalhando-se de- para a realização desse trabalho. pois entre intelectuais africanos residentes na Europa, que, mais tarde, o difundiram pela África. Os pan-africanistas defendiam a autonomia e a unidade do continente "Descolonização" africano, divulgando suas ideias principalmente por meio da literatura, de conferên- termo cias e de congressos. "descolonização", usado muitas pan-arabismo, por sua vez, teve maior influência no norte da África, entre os paí- vezes para explicar ses de tradição árabe-muculmana, como Argélia, Mauritânia, Tunísia, Líbia e Egito. os processos de principal irradiador desse movimento foi Gamal Nasser, presidente do Egito entre 1954 independência na África, não é e 1970, que defendia a união desses povos para o seu fortalecimento na luta contra o considerado imperialismo ocidental. Mais tarde, os movimentos pan-africanista e pan-arabista se apropriado por muitos uniram na luta contra o imperialismo. estudiosos. Esse termo, que, segundo eles, apresenta uma A influência da Guerra Fria visão passa a ideia de que No contexto da Guerra Fria, URSS e EUA passaram a apoiar os movimentos de in- as teriam dependência na África, interessados, principalmente, em para suas respectivas concedido por áreas de influência os países que se tornassem independentes. vontade própria a independência aos Defendendo uma postura anti-imperialista, a URSS procurava aumentar a influência africanos, o que de do socialismo nos países em luta pela independência. Como o imperialismo estava fato não ocorreu. As vinculado ao capitalismo, os socialistas argumentavam que lutar contra o capitalismo independências na era um meio de combater o imperialismo. África são resultado da luta dos próprios Os EUA, por sua vez, procuravam ampliar sua influência na África justificando sua africanos contra intervenção com base no direito de autodeterminação dos povos e na responsabilidade o imperialismo. dos estadunidenses na defesa da democracia liberal. 176Os processos de independência na África Os processos das independências na África variaram de acordo com cada lugar e cada época. Durante as lutas de independência, ocorreram conflitos ar- mados, protestos, manifestações, gre- ves e acordos diplomáticos. A maioria dos países africanos tor- nou-se independente a partir da década de 1950. As exceções foram a Etiópia e a Libéria, que não eram colônias e o Egito, que conquistou sua independên- cia em 1922. Fotografia de 1926 que retrata uma reunião do Parlamento do Egito, no Cairo. No trono, está sentado o líder egípcio Ahmed Fuad Pasha, que após a independência passou a ser chamado de rei Fuad I. Observe, no mapa a seguir, as datas em que cada país africano conquistou sua independência. As independências no continente africano Alemanha e N OCEANO TUNÍSIA Itália perdem ATLÂNTICO 1956 Mar Mediterrâneo L MARROCOS suas colônias 1956 S Com sua derrota SAARA OCIDENTAL ARGÉLIA Trópico de LÍBIA na Primeira Guerra 1976 1962 1951 EGITO Mundial, a Alemanha 1922 perdeu o domínio MAURITÂNIA sobre suas colônias 1960 africanas, que 1960 NIGER GÂMBIA SENEGAL ERITREIA 1960 passaram a ser 1965 1960 CHADE 1993 1960 SUDÃO controladas pela BURKINA FASSO 1956 DJIBUTI GUINÉ- GUINE 1960 1977 Inglaterra, França -BISSAU 1958 BENIN 1974 COSTA 1960 NIGÉRIA e Bélgica. SERRA LEOA DO GANA 1960 ETIÓPIA 1961 MARFIM 1957 REP. CENTRO No final da LIBÉRIA -AFRICANA 1960 CAMARÕES 1960 Segunda Guerra TOGO 1960 1960 ZAIRE UGANDA SOMÁLIA Mundial, a Itália, GUINÉ (ATUAL REP. 1962 1960 EQUATORIAL CONGO DEM. Equador derrotada, também 1968 1960 DO RUANDA 1963 1960 0° perdeu o domínio 1960 1962 SEICHELES sobre suas colônias BURUNDI 1976 1962 na A Líbia TANZÂNIA 1961 OCEANO e a Somália, por COMORES ÍNDICO exemplo, passaram ANGOLA RODÉSIA DO 1975 de 1975 NORTE a ser administradas 1964 (ATUAL pela ONU. 1964 MOCAMBIQUE DO 1975 1960 SUL (ATUAL MAURÍCIO 1990 1980 1968 Trópico de BOTSUANA 1966 SUAZILÂNDIA ÁFRICA 1968 DO SUL LESOTO 0 670 km 1961 1966 0° Fonte: Tony (Ed.). A Era Nuclear: Rio de Janeiro: Abril Movimentos de independência na África 177Independência dos países sob domínio inglês Nas colônias inglesas, o sistema de administração colonial era indi- reto, ou seja, o chefe nativo local continuava no poder, desde que laborasse com as autoridades inglesas. Essa forma de dominação garantiu processos de independência relativamente pacíficos, como foi o caso da Nigéria e de Serra Em outros países, no entanto, houve boicotes, greves e manifestações, como as ocorridas no Quênia em 1951, em que milhares de manifestan- tes foram presos e muitos morreram ao resistir contra as forças coloniais. Um multidão saúda líderes africanos após a declaração da independência do em 1963. Fotografia tirada em Independência dos países sob domínio belga No processo de independência das colônias sob domínio belga, Congo, Ruanda e Burundi, houve a importante participação da popula- ção, a qual se organizou em partidos e se mobilizou na defesa de seus direitos políticos. Ocorreram diversos confrontos de rua em que mem- bros de grupos étnicos rivais lutaram entre si, instigados pelos coloni- zadores que incentivavam a rivalidade entre os grupos anticoloniais, buscando desorganizá-los. Essa estratégia provocou muitas mortes e desestabilizou o movimento de emancipação A independência do Congo foi decidida em uma conferência realizada Fotografia de líder na cidade de Bruxelas, na Bélgica, em janeiro de 1960. Nessa ocasião, após ser nomeado autoridades belgas e chefes políticos congoleses estabeleceram a data primeiro-ministro do Congo, em 1960. de 30 de junho de 1960 para a saída dos colonizadores do país. Já Fotografia tirada em capital da República Democrática do Congo. Ruanda e Burundi conquistaram sua independência em 1962. Independência dos países sob domínio francês Após o final da Segunda Guerra Mundial, a França não tinha condi- ções de reprimir os protestos e as rebeliões em seus Por isso, algumas colônias francesas, como a Tunísia, o Marrocos e a Áfri- ca Equatorial, conquistaram sua independência de forma relativamente pacífica, por meio de acordos e plebiscitos, mas mesmo nesses países ainda houve disputas políticas e levantes populares. Na Argélia, no entanto, ocorreram violentas lutas de independência, em que milhares de pessoas morreram ao longo de oito anos de con- flitos armados entre europeus e argelinos. Fotografia tirada na década de 1950, retratando soldados argelinos durante as lutas de independência, na Argélia. 178Independência dos países sob domínio espanhol Nas colônias espanholas, livrar-se do domínio europeu não representou necessaria- mente autonomia política. No caso do Saara Espanhol, por exemplo, o poder passou dos europeus para os países vizinhos, Marrocos e Mauritânia, em 1976. Os nativos saaráuis se organizaram em exércitos e reagiram contra a ocupação, mas foram der- rotados. Em 1979, o Marrocos consolidou a dominação do território, atualmente cha- mado Saara Ocidental. A dominação existe até os dias de hoje e enfrenta a resistência de movimentos Fotografia de 1976 que retrata um grupo de guerrilheiros no 8 Independências dos países sob domínio português Algumas nações africanas estavam sob domínio português desde o século XVI, entre elas a Angola. No contexto das independências na África, no século XX, Portugal também perdeu suas possessões coloniais no continente. A luta pela independência de Angola teve início em meados da década de 1950. Três grupos nacionalistas se mobilizaram contra a dominação portuguesa: o Movimen- to Popular de Libertação de Angola (MPLA), a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Embora tivessem o objetivo comum de libertar Angola do domínio português, esses grupos eram rivais entre si. Após anos de conflitos armados, em 1975, líderes desses três Soldado do MPLA mutilado durante a grupos proclamaram a independência de Angola, porém, a ONU reconheceu apenas Guerra Civil Angolana. a declaração de independência do líder do MPLA, Agostinho Neto, que se tornou o Fotografia de 1988, tirada primeiro presidente do país. em Luanda, Angola. Passado e presente A Guerra Civil Angolana Após a independência, teve início em Angola a disputa pelo poder político do país. Líderes da UNITA e da FNLA, apoiados pelos Estados Unidos e pela África do Sul, não reconheceram o governo do MPLA. Este último, por sua vez, era apoiado pela URSS e por Cuba Instaurou-se, então, uma violenta guerra civil no país, que teve fim em 2002, com a morte do líder da UNITA, Jonas Após quase três décadas de guerra civil, morreram cerca de 500 mil pesso- as e milhares foram obrigadas a deixar suas casas, refugiando-se em países vizinhos, principalmente na República Democrática do Congo e na Zâmbia. Movimentos de independência na África 179As novas nações africanas A questão étnica Mesmo depois de conquistarem a independência política, as novas nações africa- Os governantes nas mantiveram relações de dependência com as potências imperialistas, as quais se dos países africanos utilizaram de diversos meios para manter a sua influência política, econômica e militar independentes na África. Nesse sentido, muitos representantes do governo e das empresas privadas mantiveram grande parte das fronteiras dessas potências se empenharam em manter relações vantajosas com as novas na- artificiais estabelecidas ções, mantendo laços de dependência econômica. pelos europeus. As novas elites africanas que surgiram dessas relações eram proprietárias de grandes Essas fronteiras desrespeitavam a indústrias, bancos e fazendas e mantiveram o modelo de exploração econômica implan- distribuição tradicional tado pelas antigas elites europeias, fundamentado em latifúndios monocultores e em das etnias africanas empresas estrangeiras que continuaram a explorar os recursos do país. A produção pelo continente. Com agrária e industrial praticada nesses moldes permaneceu voltada para a exportação. Por isso, pessoas de etnias diferentes isso, apesar de muitos países africanos serem grandes produtores de alimentos, sua foram obrigadas a população permaneceu vítima da desnutrição e da fome, além de continuarem depen- conviver em um dentes da importação de outros produtos essenciais, como roupas e medicamentos. mesmo país, enquanto pessoas da mesma etnia As características regionais da África independente passaram a viver separadas, em Os países africanos independentes passaram por um processo de integração regional. países diferentes. Desse modo, com base em suas características étnicas e geográficas, eles podem ser agrupados em cinco macrorregiões. Veja. Os países independentes do Norte da África são bastante integrados culturamente, pois a maioria de sua população compartilha os costumes Além disso, a formação do Egito e do Marrocos foi facilitada pela coesão nacional histórica das suas populações. Norte da África é uma região estratégica (no litoral do mar Mediterrâneo), onde os países independentes mantiveram os contatos comerciais que tinham há séculos com povos da Europa e do Oriente Médio. As cidades e as indústrias se desenvolveram principalmente nas regiões ricas em petróleo (Egito, Argélia, Líbia e por exemplo) e nas áreas próximas às margens do rio Nilo. Mulheres em frente à Universidade do Cairo, no Egito. Fotografia tirada em 2009. Na África Central, convivem cristãos descendentes de europeus e grupos que preservam culturas tradicionais africanas. A região é bastante rica em diamantes, além de cobre, urânio, manganês e petróleo. As vegetações predominantes são as savanas e as florestas tropicais. Apesar da baixa densidade demográfica, esses territórios vêm se deteriorando por causa da exploração predatória de seus recursos. Na África Oriental habitam, além das etnias africanas, descendentes de colonizadores europeus e asiáticos, principalmente do Oriente Médio. Atualmente, os países da África Oriental têm sofrido com a chamada "guerra pela água", uma disputa de diversos países pelo domínio de nascentes, rios e poços. Quênia é o país de maior importância regional, onde ocorre a exploração do turismo ecológico em seus parques e reservas naturais. Turistas observando um rinoceronte em reserva natural no Quênia, em 2010. 180Na África Ocidental formaram-se vários países, habitados por diferentes grupos étnicos. Próximo ao continente, no oceano Atlântico, há diversas ilhas que ainda permanecem como possessões de países europeus (como arquipélago Madeira, pertencente a Portugal). A região já foi bastante rica em minérios, mas a exploração desenfreada esgotou grande parte das reservas, restando apenas o petróleo, na Nigéria, e os diamantes, em Serra Nas regiões interioranas da África Ocidental, ainda existem os tradicionais mercados ao ar livre, geralmente em frente às antigas mesquitas Na região Sul da África destaca-se a África do Sul, país mais industrializado do continente, com grande produção nas áreas automobilística, siderúrgica e química. As indústrias sul-africanas são, em sua maioria, multinacionais que se instalaram no país na época da Guerra Fria. A África do Sul tornou-se mais conhecida no entanto, pelo apartheid, um regime que oficializou a segregação racial. Esse regime, oficialmente implantado em 1948 pela elite de origem europeia, privava a população negra de direitos e a impedia de frequentar os mesmos lugares que os brancos. Graças às lutas promovidas pelo movimento negro da África do Sul, e também por causa da pressão internacional, o apartheid foi abolido no início da década de 1990. Enquanto isso Nelson um dos na Ásia principais líderes na luta contra o Assim como na África, muitos movimentos de independência na Ásia ocorre- fazendo o gesto simbólico ram a partir de meados do século XX. Alguns fatores foram determinantes. entre do movimento eles, o enfraquecimento das potências europeias durante a Segunda Guerra braço direito erguido, com o punho fechado. Mundial, as lutas anti-imperialistas nas colônias e a influência das ideologias ca- Fotografia tirada na pitalista e socialista. África do Sul, em 1991. Do mesmo modo que fizeram na África durante a Guerra Fria, EUA e URSS fo- mentaram movimentos de independência na Ásia por meio de apoio financeiro, logístico e militar, procurando atrain os novos países independentes para suas res- pectivas áreas de influência. As independências na Ásia N Mar GEÓRGIA 1991 CAZAQUISTÃO ARMÊNIA 1991 1991 COREIA DO OCEANO MONGÓLIA NORTE 1991 PACÍFICO UZBEQUISTÃO 1911 1945 1923 IRAQUE 1991 1932 QUIRGUISTÃO Cancer 1991 DO SUL de 1991 KWAIT TADJIQUISTÃO 1945 1961 1991 BAREIN AFEGANISTÃO 1971 CATAR 1919 1971 PAQUISTÃO 1947 NEPAL BUTÃO OMA 1969 1949 1951 ÍNDIA BANGLADESH REPUBLICA DEMOCRÁTICA 1947 1971 MIANMAR LAOS POPULAR DO 1948 1953 1967 FILIPINAS 1946 1954 CAMBOJA 1953 Equador BRUNEI MALDIVAS 1974 1965 SRI LANKA 1948 Independência dos países Entre 1911 a 1932 Entre 1945 e 1960 OCEANO ÍNDICO CINGAPURA 1949 1965 Entre 1961 e 1975 TIMOR-LESTE 0 650 km 1975 Entre 1990 ou 1991 90° Fonte: Gisele: ROSA, Jussara Vaz. Novo atlas geográfico do São Paulo: 2005. Movimentos de independência na África 181A arte nos países africanos o continente africano é composto por uma grande diversidade de povos e línguas. Isso se reflete nas manifestações artísticas, que são muito variadas. No entanto, quan- do os países africanos conquistaram suas independências, seus artistas procuraram criar uma identidade cultural que unisse os povos do continente e que fortalecesse o sentimento anti-imperialista. As denúncias de cinema Ousmane Sembène Após o período de independências, as produções cinematográficas da África pro- Um dos pioneiros curaram combater os estereótipos e preconceitos reproduzidos pelo cinema ocidental, do cinema africano foi Ousmane Sembène que geralmente retratava os africanos de maneira preconceituosa e racista. Assim, (1923-2007). Seus muitos cineastas dessa época procuraram abordar, em suas produções, a realidade filmes receberam social, econômica e política da África do período pós-colonial, denunciando as difíceis aclamação condições de vida enfrentadas pela população, além do preconceito contra o negro. internacional e têm como público-alvo a Esse é o caso do cineasta Ruy Guerra, um ativista político que população do participou de movimentos antirracistas e pró-independência antes de deixar seu país Senegal, seu país de e vir para o Brasil, onde participou do movimento do Cinema Novo, nas décadas de origem. Em filmes 1950 e 1960. como Mandabi, Ousmane critica o comportamento da D A pintura e a escultura elite senegalesa; enquanto em outros, Diante da nova situação dos países independentes, os artistas africanos procura- como Ceddo, o ram refletir sobre as mudanças políticas e sociais que estavam acontecendo em seus cineasta conta a história das lutas de países naquela época. Além disso, buscaram compreender a relação entre essas mu- seu povo contra danças e a formação de identidades culturais dos povos africanos. conquistadores A fim de resgatar suas antigas tradições, as obras de arte produzidas na época, estrangeiros. logo após a independência, eram inspiradas em narrativas épicas, mitológicas e fol- clóricas das antigas nações do continente. Nessa época, foram criadas escolas de arte em alguns países do continente africano, o que facilitou o contato entre artistas de vários países e favoreceu a troca de experiências entre eles. Fotografia do cineasta e escritor senegalês Ousmane na década de 1990. de Mural pintado pelo artista Valente Malangatana, no século XX, localizado no Museu de História Natural em Maputo, 182tema desta página favorece trabalho interdisciplinar A literatura com Literatura. Veja, nas Orientações para o professor, sugestão para a realização desse trabalho. contato com a cultura do colonizador influenciou de maneira significa- tiva as produções literárias africanas, principalmente no que diz respeito ao idioma em que as obras foram e ainda são escritas. Por exemplo, Chinua Achebe, um escritor nigeriano, escreveu vários livros em inglês; Ahmadou Kourouma, escritor nascido na Costa do Marfim, produziu livros em francês. Nessas obras, que geralmente abordam temas ligados ao anti-imperialis- mo, são feitas críticas aos regimes ditatoriais implantados em muitos países africanos depois da independência, além de denúncias de violência contra a população. Além da produção literária, muitos escritores tiveram importante partici- Fotografia do escritor Ahmadou pação na política. mocambicano Mia Couto, por exemplo, participou ati- Kourouma, da Costa do Marfim, em vamente do processo de independência de seu país, os angolanos Viriato da Cruz e Antônio Jacinto atuaram na luta pela libertação de seu país e o escritor Agostinho Neto foi o primeiro presidente de Angola. As mulheres também deixaram seu nome nas páginas da literatura. Entre elas, estão a nigeriana Flora Nwapa e a sul-africana Bessie Head, que es- creveram sobre a submissão da mulher em algumas sociedades africanas e reivindicaram maior participação feminina na política dessas sociedades. A música A música africana se caracteriza pela grande diversidade. Os estilos e 8 ritmos tradicionais da África deram origem a vários outros ritmos musicais e exerceram profunda influência na música de países do mundo todo. Os músicos africanos também foram influenciados por gêneros musicais de outros continentes para compor suas músicas. músico senegalês Baaba Maal, por exemplo, iniciou sua carreira compondo em pulaar, a língua de seus antepassados. Em alguns traba- lhos, ele misturou à sua música diversos gêneros, como a salsa cubana e Apresentação do músico senegalês Baaba Maal, em ritmos jamaicanos. Nova lorque, EUA em 2010. sujeito na história Cesária Évora Refletindo a) Você conhece Nascida em Cabo Verde no ano de 1941, desde criança alguma Cesária Évora esteve envolvida com a música, pois seu Fotografia manifestação de Cesária artística de pai era violonista. Ainda jovem, tornou-se cantora em origem africana? de morna. estilo musical característico de Cabo Comente com Verde. Esse tipo de música aborda temas como os colegas. tristezas, lamentações e desejos impossíveis de b) A cultura africana serem realizados. Depois de alguns anos, Cesária é difundida pela já era muito conhecida em Cabo Verde, princi- mídia brasileira? De que forma palmente pelos admiradores da morna. isso ocorre? Na época da independência de seu país (1975), Veja as respostas das questões nas ela interrompeu sua vida artística por causa de pro- Orientações para blemas pessoais e financeiros. Voltou a cantar no o professor. final da década de 1980 e, em pouco tempo, tor- nou-se a artista de Cabo Verde mais conhecida internacionalmente. fazendo shows e recebendo prêmios em diversos países. Movimentos de independência na África 183