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GUSTAVO MENDES SARMENTO APG SINDROMES NEFRÍTICAS CONCEITO: - É definida como um grupo de distúrbios que afetam os glomérulos renais, ou seja, as estruturas responsáveis pela filtração do sangue. - As síndromes nefríticas é uma inflamação glomerular, caracterizada por perda abrupta da superfície de ultrafiltração, com diminuição da excreção de pequenos solutos, diminuição do fluxo urinário e diminuição da taxa de filtração glomerular, mecanismos que se manifestam com edema moderado, disfunção renal e hipertensão. - É o correspondente clínico da inflamação glomerular aguda, de origem imunológica. * inflamação não é infecção! - Obstruem os lúmens dos capilares glomerulares e lesam a parede capilar. - A glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) é, por sua vez, classificada em dois grupos distintos: - Pós-estreptocócicas - Não pós-estreptocócicas (bacterianas, virais, parasitárias e multissistêmicas). - Em sua forma mais grave, caracteriza-se por início súbito de hematúria (microscópica ou macroscópica com cilindros hemáticos), graus variáveis de proteinúria (inferior a 3,5 gramas/dia), redução da TFG, oligúria e sinais de disfunção renal. - Essa lesão da parede capilar possibilita que as hemácias entrem na urina e causa as alterações hemodinâmicas que reduzem a TFG. - Acumulação extracelular de líquidos, hipertensão e edema ocorrem em consequência da TFG reduzida e da reabsorção tubular aumentada de sal e água. EPIDEMIOLOGIA: - A epidemiologia da síndrome nefrítica varia de forma considerável de acordo com a glomerulopatia que a causa. - De forma geral, a mais prevalente é a glomerulonefrite pós estreptocócica, predominando na população masculina dos 6 aos 10 anos. - Entretanto, a faixa etária mais prevalente depende da doença específica, variando entre a primeira década de vida e após os 50 anos. - Foi realizado um estudo retrospectivo a partir de dados do SUS / DATASUS/ TABNET referente à taxa de internações e óbitos por Síndromes Nefríticas Agudas ocorridas no estado de Alagoas e segundo os dados houve no total 10.178 internamentos hospitalares por SNA na região Nordeste, sendo 5370 (52,76%) sexo masculino e 4808 (47,24%) sexo feminino. - Concluiu-se que o elevado índice de internações por SNA na região Nordeste e no Estado de Alagoas evidenciou a grande morbidade que a doença pode acarretar. - Além disso, os dados analisados evidenciaram o predomínio no sexo masculino, porém com uma diferença discreta. Em contrapartida, baixo de óbitos. ETIOLOGIA: - Nesse grande grupo de doenças, as causas imunológicas são as mais comuns. Glomerulonefrites são a causa mais importante de síndrome nefrítica. - Quase sempre a síndrome nefrítica aguda é consequente a glomerulonefrites devidas a infecções bacterianas à distância, como na garganta, por exemplo. Pode acontecer também como comprometimento dos rins em várias doenças infecciosas ou como reações do organismo a corpos estranhos, como próteses ou outros. Em todos esses casos ocorre uma inflamação renal por depósito dos chamados imunocomplexos, que são moléculas formadas pela junção de antígenos e anticorpos. FISIOPATOLOGIA: - As doenças glomerulares alteram as propriedades semipermeáveis da membrana capilar glomerular, as quais possibilitam que a água e as moléculas pequenas saiam do sangue e entrem no filtrado urinário, ao mesmo tempo em que impedem que hemácias e proteínas plasmáticas deixem a circulação • As síndromes nefríticas diminuem a permeabilidade glomerular e suas manifestações clínicas estão relacionadas com a redução da TFG, a retenção de líquidos e a acumulação de escórias nitrogenadas. Ocorre ainda redução na fração de filtração; o fluxo plasmático renal pode não se alterar, manter-se um pouco acima dos níveis normais ou sofrer queda, sempre menor do que a fração de filtração. • As funções tubulares são normais ou pouco alteradas, embora haja retenção de Na+ e água e, consequentemente, edema. - No início ou durante sua evolução, podem faltar alguns desses elementos ou surgir certas complicações: insuficiência renal aguda, encefalopatia hipertensiva e edema pulmonar. - Como visto, várias doenças diferentes podem levar a uma síndrome nefrítica, variando de mutações genéticas a infecções bacterianas. - Mesmo com patogênese variável, a lesão glomerular resultante ocorre principalmente por um mecanismo imunomediado, que pode ocorrer por deposição de imunocomplexos circulantes pré-formados, formação de complexos imunes in situ, reações autoimunes anti-MBG ou pauci- imune. - A depender do local de deposição dos complexos imunes, a lesão pode ser subepitelial ou na MBG, havendo uma maior deposição de complexos com carga positiva e de tamanho menor, que desencadeiam uma resposta inflamatória maisbranda com um pequeno infiltrado celular, mas com grande alteração na permeabilidade e maior proteinúria; assim como, a lesão pode ser subendotelial, com maior deposição de complexos de carga negativa e maior tamanho, desencadeando uma resposta inflamatória com infiltrado de leucócitos e plaquetas, com liberação hematogênica de mediadores inflamatórios. - Após a deposição do imunocomplexo, ocorre a ativação de complemento, com quimiotaxia de células inflamatórias, como neutrófilos, monócitos e linfócitos T, que auxiliam na ativação de macrófagos. - De início, o infiltrado é celular. - Posteriormente, há proliferação do endotélio e das células mesangiais em decorrência da liberação de fatores de crescimento no local. – Quando tal processo ocorre de maneira suficientemente intensa, pode ocorrer a formação de crescentes, que são estruturas no formato de lua crescente, em resposta à ruptura do endotélio e extravasamento de fibrina e elementos inflamatórios para o espaço de Bowman, onde fibroblastos iniciam a produção de matriz extracelular e a crescente deixa de ser celular e passa a ser fibrosa. - Em função do infiltrado inflamatório e da proliferação das células residentes, o fluxo plasmático e a taxa de filtração glomerular caem. - Isso se agrava com a liberação de substâncias vasoconstritoras, como leucotrienos, tromboxanos, endotelinas e PDGF, que acabam predominando em relação às vasodilatadoras, como NO e prostaciclinas. - Além disso, decorrente dessa queda de filtração há um aumento do volume do líquido extracelular, levando a edema e hipertensão. - Também ocorrem hemácias dismórficas (passagem estreita na fenda de filtração), leucócitos e proteinúria subnefrótica (lesão inflamatória na parede do capilar). - Os agentes ou eventos causadores de lesão glomerular incluem mecanismos imunológicos, não imunológicos e hereditários. - Muitos casos de doença glomerular primária e doença glomerular secundária provavelmente têm origem imune. - Embora várias doenças glomerulares sejam suscitadas por eventos imunológicos, inúmeros estressores não imunológicos metabólicos (i. e., diabetes), hemodinâmicos (i. e., hipertensão arterial) e tóxicos (i. e., drogas ilícitas e fármacos), tanto sozinhos como associados a mecanismos imunológicos, podem ocasionar lesão glomerular. • Doenças glomerulares hereditárias como a síndrome de Alport, apesar de relativamente raras, são uma importante categoria de doença glomerular, devido à sua associação à perda progressiva da função renal e à sua transmissão a futuras gerações. - Os antígenos responsáveis pelo desenvolvimento da reação imune podem ter origem endógena, como autoanticorpos contra o ácido desoxirribonucleico (DNA) no LES, ou podem ser exógenos, como os antígenos da membrana dos estreptococos na glomerulonefrite pós estreptocócica. - Em muitos casos, a origem do antígeno não é conhecida. - As alterações celulares na doença glomerular aumentam as contagens de células glomerulares ou inflamatórias (proliferativas ou hipercelulares), causam espessamento da membrana basal (membranosa) e acarretam alterações dos componentesnão celulares do glomérulo (esclerose e fibrose). - O aumento da quantidade de células caracteriza-se por uma ou mais das seguintes alterações: - Proliferação das células endoteliais ou mesangiais, - Infiltração de leucócitos (neutrófilos, monócitos e linfócitos em alguns casos) - Formação de crescentes (acúmulos com formato de crescentes de células epiteliais em proliferação e leucócitos infiltrantes) no espaço de Bowman. - O espessamento da membrana basal consiste em deposição de material acelular denso nas superfícies endotelial e epitelial da membrana basal, ou dentro da própria membrana. - “Esclerose” é o termo usado para descrever um aumento da quantidade de material extracelular nos tecidos mesangiais, subendoteliais ou subepiteliais do glomérulo. - Enquanto “fibrose” refere-se à deposição de fibras de colágeno. - As alterações glomerulares podem ser difusas, ou seja, envolvendo todos os glomérulos e todos os seus componentes; focais, quando apenas alguns glomérulos são afetados; segmentares, quando há envolvimento apenas de determinado segmento de cada glomérulo; ou mesangiais, quando as células mesangiais são afetadas. - A ativação local de receptores semelhante ao Toll nas células glomerulares, a deposição de imunocomplexos ou a lesão infligida pelo complemento às estruturas glomerulares induz a infiltração de células mononucleares, que subsequentemente produz uma resposta imune adaptativa atraída ao rim pela liberação local de quimiocinas. - Neutrófilos, macrófagos e células T são atraídos pelas quimiocinas para o interior do tufo glomerular, onde reagem com antígenos e epítopos sobre ou próximo às células somáticas ou suas estruturas, produzindo mais citocinas e proteases que lesionam o mesângio, os capilares e/ou a MBG. - Enquanto a resposta imune adaptativa assemelha-se àquela de outros tecidos, a ativação precoce das células T desempenha um papel importante no mecanismo da glomerulonefrite. • Os antígenos apresentados pelas moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) classe II nos macrófagos e nas células dendríticas em combinação com moléculas de reconhecimento associativo repertório das células T CD4/8. participam do As células mononucleares, por si só, podem lesionar o rim, porém os eventos autoimunes que lesionam os glomérulos produzem classicamente uma resposta imune humoral. Os imunocomplexos circulantes pré-formados podem sofrer precipitação ao longo do lado subendotelial da MBG, enquanto outros imunodepósitos são formados in situ sobre o lado subepitelial. • Esses últimos depósitos se acumulam quando os autoanticorpos circulantes encontram seu antígenoencarcerado ao longo da borda subepitelial da MBG. Os imunodepósitos estimulam a liberação de proteases locais e ativam a cascata do complemento, produzindo complexos de ataque C5-9. Além disso, os oxidantes locais lesam as estruturas glomerulares, produzindo proteinúria e apagamento dos podócitos. As manifestações clínicas dos distúrbios glomerulares geralmente são classificadas em cinco grupos: • Síndromes nefríticas; • Glomerulonefrite rapidamente progressiva; • Síndrome nefrótica; • Distúrbios assintomáticos do sedimento urinário (i. e., hematúria ou proteinúria); • Glomerulonefrite crônica. - As síndromes nefríticas desencadeiam uma resposta inflamatória proliferativa, enquanto a síndrome nefrótica aumenta a permeabilidade do glomérulo. - As glomerulopatias associadas são: - GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTREPTOCÓCICA: A glomerulonefrite pós-estreptocócica é o protótipo para a glomerulonefrite proliferativa endocapilar aguda. - ENDOCARDITE BACTERIANA SUBAGUDA: A glomerulonefrite associada à endocardite é uma complicação da endocardite bacteriana subaguda (EBS), particularmente em pacientes que permanecem não tratados por período prolongado, naqueles com hemoculturas negativas ou que apresentam endocardite do lado direito. - NEFRITE LÚPICA: A nefrite lúpica resulta do depósito de imunocomplexos circulantes que ativam a cascata do complemento, levando a 6 lesão mediada pelo complemento, infiltração de leucócitos, ativação de fatores pró-coagulantes e liberação de várias citocinas. - DOENÇA ANTIMEMBRANA BASAL GLOMERULAR: Os pacientes que desenvolvem autoanticorpos dirigidos contra os antígenos da membrana basal desenvolvem com frequência uma glomerulonefrite denominada doença antimembrana basal glomerular (anti-MBG). - NEFROPATIA POR IgA: Caracteriza-se classicamente por hematúria episódica associada ao depósito de IgA no mesângio. A nefropatia por IgA é uma das formas mais comuns de glomerulonefrite em todo o mundo. Existe uma predominância masculina, uma incidência máxima na segunda e na terceira décadas de vida e raros agrupamentos familiares. A nefropatia por IgA é uma glomerulonefrite mediada por imunocomplexos definida pela presença de depósitos mesangiais difusos de IgA frequentemente associados com hipercelularidade mesangial. IgM, IgG, C3 ou cadeias leves de imunoglobulina podem ser codistribuídas com a IgA. - GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFERATIVA: A GNMP às vezes é denominada glomerulonefrite mesangiocapilar ou glomerulonefrite lobular. Trata-se de uma glomerulonefrite imunomediada caracterizada pelo espessamento da MBG com alterações mesangioproliferativas; 70% dos pacientes exibem hipocomplementemia. - GLOMERULONEFRITE MESANGIOPROLIFERATIVA: A glomerulonefrite mesangioproliferativa caracteriza-se pela expansão do mesângio, às vezes associada a uma hipercelularidade mesangial; paredes capilares finas, únicas e contornadas; e imunodepósitos mesangiais. - GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA: Glomerulonefrite rapidamente progressiva é uma síndrome clínica que se caracteriza por sinais e sintomas de lesão glomerular grave, sem uma causa específica determinável. Ela pode ser causada por algumas doenças imunes, condições sistêmicas e patologias limitadas aos rins. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: DIAGNÓSTICO: - O diagnóstico é baseado na anamnese, exame físico e análise da urina. - Na anamnese: deve-se questionar sobre faringite ou piodermite recente; verificar se o tempo de incubação é compatível e documentar a infecção estreptocócica. - Quando existem sintomas, a hipótese de doença renal é facilmente levantada pela avaliação clínica e confirmada por exames de sangue e de urina, os quais revelam alterações urinárias compatíveis, com sangue e proteínas de alto peso molecular, e comprometimento da função renal, assim como por métodos de imagem, a exemplo do ultrassom. - Na suspeita de uma ocorrência secundária a glomerulonefrites pós-infecciosas, os médicos também procuram pesquisar, no sangue do doente, a presença de anticorpos específicos, o que ajuda a explicar o quadro e a descartar outras possibilidades. - Seu diagnóstico preciso, em particular das formas crônica e rapidamente progressiva, requer a realização de uma biópsia renal para o estudo das características das lesões, para a investigação de sua origem e para o conhecimento de sua extensão. - A imunofluorescência também é uma opção, uma vez que se trata de uma técnica laboratorial que permite a visualização de antígenos em material não fixado de biópsias para demonstrar a presença de imunoglobulinas presentes em determinadas doenças. TRATAMENTO: - O tratamento da síndrome nefrítica depende da causa da doença. - Sintomaticamente, deve cuidar-se da pressão arterial e do equilíbrio hidroeletrolítico do indivíduo, administrando os anti-hipertensivos e diuréticos adequados e observando uma dieta com restrição de sódio e proteínas. - No caso de haver infecção bacteriana vigente ou doenças autoimunes ativas esses processos devem ser adequadamente tratados. - Em alguns casos, só a biópsia do rim permite fazer um planejamento terapêutico específico.