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Fundamentos de Análise de Políticas Públicas Gestão de Políticas Públicas Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ÁDRIA OLIVEIRA S. MACIEL AUTORIA Ádria Oliveira Santos Maciel Olá. Sou licenciada em Química, com mestrado em Educação em Ciências, e possuo experiência na área docente há pelo menos 5 anos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro auxiliar com minha experiência de vida aqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Conceitos de Políticas Públicas ............................................................ 10 Sistema Político ................................................................................................................................ 11 Visões do Estado ........................................................................................................................... 12 Estado, Sociedade Civil e Políticas Públicas ............................................................. 19 Fundamentos da Agenda de Políticas e Organizações Públicas ...........................................................................................................22 Análise de Política na Elaboração da Agenda de Política................................. 22 Diferentes Dimensões na Análise de Políticas Públicas ...................................25 Dimensão Histórica e Institucional .................................................................25 Dimensão Processual das Políticas Públicas ..........................................26 Dimensão Organizativa ...........................................................................................28 Organizações Públicas e Atores de Políticas Públicas ..................................... 30 Tipos de Políticas Públicas .................................................................... 33 Introdução aos Tipos de Políticas Públicas e suas Respectivas Análises ..................................................................................................................................................33 Tipos de Implementação de Políticas Públicas........................................................37 Modelos de Análises de Políticas Públicas ......................................44 Modelos Explicativos de Análises de Políticas Públicas ................................. 46 Modelo Institucional ............................................................................................... 46 Modelo de Processos ..............................................................................................47 Modelo da Teoria do Grupo ............................................................................... 48 Modelo de Política Racional .............................................................................. 48 Modelo Incremental ................................................................................................. 49 Modelo da Teoria de Jogos ................................................................................ 50 Modelo da Escolha Pública ................................................................................52 Modelo Sistêmico .......................................................................................................53 7 UNIDADE 01 Gestão de Políticas Públicas 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a gestão de políticas públicas afeta os interesses de todos os indivíduos de todas as escolaridades, independente de sexo, religião, credo ou nível de renda? Sendo assim, precisamos nos inteirar dos processos relativos à formulação das gestões de políticas públicas e sua agenda, bem como dos processos inerentes à tomada de decisão do Estado e, para além, compreender o próprio sistema político, suas demandas, decisões e ações. Nesse sentido, as relações entre o Estado e a sociedade revelam explicações a respeito do gerenciamento de políticas públicas para responder as demandas da sociedade. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Gestão de Políticas Públicas 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – Fundamentos de Análise de políticas públicas. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Definir os conceitos fundamentais sobre o Estado e suas relações com a administração pública. 2. Compreender os fundamentos da agenda pública contemporânea, a dinâmica das organizações públicas e sociais, sua cultura e seu comportamento. 3. Discernir sobre as teorias das políticas públicas e seus tipos. 4. Gerir e operacionalizar atividades inerentes às políticas e gestão pública, tais como: agenda, formulação de alternativas, tomadas de decisões, implantação, avaliação e extinção. Gestão de Políticas Públicas 10 Conceitos de Políticas Públicas OBJETIVO: Caro estudante, ao longo deste capítulo, você irá estudar os conceitos principais de políticas públicas. Ao final deste estudo, esperamos que você seja capaz de definir os conceitos fundamentais sobre o Estado e suas relações com a administração pública. Certamente essas competências irão auxiliar você no desempenho de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá!. Considerando que nosso estudo busca trazer uma abordagem sobre os conceitos fundamentais do Estado e suas relações com a administração pública, é fundamental que você compreenda as funções que o Estado desempenhou em nossa sociedade, bem como o papel que a política tem em administrar e fazer, por meio de decisões e ações, o desenvolvimento e o progresso da sociedade. Mas o que é política? Para iniciar o nosso estudo, é importante compreender que para esse termo são atribuídas várias definições e que é muito difícil tratá-lo como algo específico e concreto. A política representa uma teia de complexas decisões e, de acordo com Ham e Hill (1993), implica em alguns aspectos, a destacar: I. A existência de uma rede de decisões complexas e que, tomadas em conjunto, definem, de certa forma, o que é política. II. As políticas se modificam com o passar dos tempos, o que torna difícil o seu término. III. As não-decisões também devem ser analisadas quando relacionadas ao estudo de políticas. Gestão de Políticas Públicas 11 IMPORTANTE: O conjunto de decisões e ações complexas citados pelos autores concernem a atividade política e dela resulta as políticas públicas, que são revestidas de autoridades soberanas do poder público,estratégia para o outro prisioneiro também será a estratégia “trair” pois dessa forma ele sofrerá a pena de dois anos de prisão ao invés de dez anos. Ou seja, para os dois prisioneiros a estratégia dominante será “trair”. A segunda conclusão se refere ao Equilíbrio de Nash e ocorrerá quando a estratégia “trair – trair” for utilizada, pois mesmo os dois prisioneiros não colaborando entre si, a busca individual trará equilíbrio ao jogo, uma vez que não terá nenhum tipo de benefício para nenhum dos dois jogadores caso a estratégia altere unilateralmente. Dessa forma, só terá a vantagem se os dois alterarem a estratégia em conjunto, ou seja, “colaborar – colaborar”. A terceira conclusão trata da opção de estratégia “colaborar – colaborar” conhecida como Eficiência de Pareto, pois com ela não terá como melhorar a situação de um participante sem piorar a situação individual de outro participante. O modelo da Teoria dos Jogos e o dilema mencionado anteriormente são utilizados nas análises de políticas públicas para embasar e explicar as escolhas feitas a partir da ação de vários atores envolvidos na mesma situação, mas em posições conflitantes. Então, sempre que um ator toma uma decisão ela implicará em uma interferência nas ações de outro ator, mesmo que não haja nenhuma forma de conhecimento entre si. Em suma, a escolha que cada um faz afetará as escolhas e os resultados das ações de outros atores. Essa é uma teoria bastante interessante no que concerne Gestão de Políticas Públicas 52 as análises de jogos políticos; por exemplo, os acordos firmados entre as bancadas e entre os parlamentares em que ambas as ações possuem grande importância para os processos decisórios de políticas públicas. A escolha dos atores é interdependente e pode ser feita a partir da situação tomada como um jogo, dos interesses diversos e das regras estabelecidas. SAIBA MAIS: O dilema do prisioneiro é utilizado para conferir embasamento teórico à Teoria dos Jogos, que é também bastante utilizada como modelo de análise de políticas públicas. O autor Isaac Epstein (1995) discute em um clássico artigo a relação entre o dilema do prisioneiro e a ética a partir de um ponto de vista histórico e filosófico. Caso queira, realize a leitura do artigo O dilema do prisioneiro e a ética, que reflete, a partir de concepções modernas, as narrativas éticas e sociais, clicando aqui. Modelo da Escolha Pública A escolha pública utiliza ferramentas econômicas aplicadas às ciências políticas para poder identificar os problemas, deficiências e limitações das escolhas coletivas com a tentativa de oferecer algumas soluções, ou até mesmo breve correções, a essas limitações. Em reconhecimento a essa relevante função, o economista norte-americano James Buchanan (1919-2013) recebeu, em 1986, o prêmio Nobel de Ciências Econômicas pelo seu trabalho que explica a natureza da exploração dos sistemas eleitorais no interesse próprio de políticos e burocratas. Ademais, o poder de grupos de interesse e a função potencial que as restrições constitucionais poderiam ter de limitar os efeitos malignos sobre as decisões públicas. No modelo da Escolha Pública, as políticas públicas derivam de decisões coletivas que partem de indivíduos preocupados com seus interesses particulares (indivíduo maximizador) causando consequências Gestão de Políticas Públicas https://www.scielo.br/j/ea/a/yPtgt8LtqBSqYNP8zCWxVvy/?format=pdf&lang=pt 53 indiretas do ponto de vista de outras áreas. Os grupos políticos podem extrair maior benefício privado da política e mesmo assim tentam chegar ao maior benefício comum. O Governo deve existir para corrigir falhas do mercado, entre elas, a provisão de bens públicos. Além de corrigir e regular externalidades do mercado – poluição, trânsito –, impor custos a quem produz externalidades. Os partidos devem evitar propostas muito radicais ou precisas para atingir o maior número possível de eleitores com suas plataformas políticas. Esse modelo é bastante utilizado na análise de partidos políticos e faz uso de ferramentas da Economia à Política, e o Governo de modo geral, funciona. Podemos pensar que a Economia é restrita ao dinheiro, mercado e lucro, entre outros, no entanto, ela é constituída por decisões. As ações tomadas pelo Governo possuem um pequeno viés porque, além de serem tomadas por coletivos de pessoas que tomam decisões, não necessariamente enfrentam os custos das decisões nem os benefícios de suas decisões, algo que seria fundamental para uma escolha certeira. Modelo Sistêmico O Modelo Sistêmico é defendido pelo cientista político norte - americano David Easton (1917- 2014), que diz que o Estado e suas instituições e relações (Legislativo, Executivo e Judiciário) compreendem o sistema político. Para esse autor não é tanto levado em consideração o que acontece dentro do Estado, pois ele o observa como se fosse uma grande caixa preta, mas sim as relações entre as demandas de entradas e de saídas. O cenário é visto como um sistema de engrenagem em que a sociedade, os grupos de interesse e partidos políticos irão definir no sistema político as suas demandas e apoio à determinadas pautas. O sistema político, por sua vez, processa as demandas e responde para a sociedade na forma de decisões e de medidas políticas que resultam nas políticas públicas. As políticas públicas são, necessariamente, o resultado Gestão de Políticas Públicas 54 de um sistema que executa de maneira mecânica a transformação dos inputs em outputs, se tornando um ciclo. Sendo assim, esse modelo enfatiza processos e não analisa as instituições e estruturas. Possui uma perspectiva dinâmica e de processos de feedback a partir de estímulos ambientais e características do sistema político, que afetam o conteúdo da política pública afetando o ambiente e a dinâmica do sistema político. A crítica principal sofrida por esse modelo afirma que ele ignora o que de fato acontece dentro do Estado e como ocorre os processos da tomada de decisões, sejam eles técnicos, administrativos e de planejamento, ou seja, a capacidade que o Estado tem para efetivar ou não essas demandas. RESUMINDO: Caro estudante, que alegria que você chegou ao fim desta seção de estudos! Neste capítulo aprendemos juntos diversos conhecimentos sobre os modelos de análises das políticas públicas. Você estudou os principais fundamentos de análises de políticas públicas a partir da definição de conceitos fundamentais sobre o Estado e da Administração Pública como um todo, das dimensões, unidades e modelos de análise dessas políticas além de suas principais vertentes teóricas e metodológicas. Por isso, caso você tenha dúvidas na compreensão dos conceitos abordados, sugerimos um estudo mais aprofundado. Para finalizar, não se esqueça de acessar todos os links de estudos complementares que deixamos ao longo do seu material. Esse estudo irá ajudar a melhorar seu desempenho nas atividades relacionadas à sua profissão. Gestão de Políticas Públicas 55 REFERÊNCIAS ARAÚJO, L.; RODRIGUES, M. Modelos de Análise das Políticas Públicas. Sociologia, Problemas e Práticas, v. 83, p. 11-35, 2017. BATTINI, O.; COSTA, L. C. da. Estado e políticas públicas: contexto sócio- -histórico e assistência social. In: BATTINI, O. (org.). SUAS: Sistema Único de Assistência Social em debate. São Paulo: Veras; Curitiba: CIPEC, 2007. DAGNINO, R.; GOMES, E.; COSTA, G.; STEFANUTO, G.; MENEGUEL, S. Gestão Estratégica da Inovação: metodologias para análise e implementação. Taubaté: Cabral Universitária, 2002. EASTON, D. An approach to the analysis of political systems. World Politics, v. 9, p. 383-400, 1957. EPSTEIN, I. O dilema do prisioneiro e a ética. Estudos Avançados, v. 9, p. 149-163, 1995. ESTEVÃO, R. 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Gestão de Políticas Públicas http://lattes.cnpq.br/6314845657140783 56 SERAFIM, M. P.; DIAS, R. de B. Análise de Política: uma revisão da literatura. Cadernos Gestão Social, v. 3, Salvador, 2012. SWAIN, J.; HARTLEY, C. Incrementalism: old but good? In: BARTLE, J. (org.). Evolving theories of public budgeting, p. 11-28. Amsterdam: Elsevier Science, 2001. TAYLOR, P.; HALL, R. As três versões do neo-institucionalismo, Lua Nova, v. 58, p. 193-224, 2003. THELEN, K. Historical institutionalism in comparative politics. Annual Review of Political Science, v. 2, p. 369-404, 1999. Gestão de Políticas Públicas Conceitos de Políticas Públicas Sistema Político Visões do Estado Estado, Sociedade Civil e Políticas Públicas Fundamentos da Agenda de Políticas e Organizações Públicas Análise de Política na Elaboração da Agenda de Política Diferentes Dimensões na Análise de Políticas Públicas Dimensão Histórica e Institucional Dimensão Processual das Políticas Públicas Dimensão Organizativa Organizações Públicas e Atores de Políticas Públicas Tipos de Políticas Públicas Introdução aos Tipos de Políticas Públicas e suas Respectivas Análises Tipos de Implementação de Políticas Públicas Modelos de Análises de Políticas Públicas Modelos Explicativos de Análises de Políticas Públicas Modelo Institucional Modelo de Processos Modelo da Teoria do Grupo Modelo de Política Racional Modelo Incremental Modelo da Teoria de Jogos Modelo da Escolha Pública Modelo Sistêmicono que diz respeito à alocação de recursos. Sendo assim, caberá somente à Análise de Política investigar tanto a política quanto a política pública, com a tentativa de atenuar os problemas vigentes da sociedade através do aperfeiçoamento, criação e formulação da implementação das políticas públicas. Sistema Político O sistema político abrange e compreende os mais diversos níveis de organização política como o principal processo de institucionalização de determinadas ideologias. Além disso, é o coletivo de instituições legais que desenvolvem e conduzem um Governo ou um estado. O sistema político abarca todas as formas situadas de procedimento político e, consequentemente, suas manifestações reais. Para além, temos que não é somente instituída a organização legal do estado, mas também o modo real de funcionamento da vida política. O sistema político, de maneira geral, concerne o conjunto dos processos de influência mútua dos subsistemas que formam o sistema social, ou seja, a maneira como esses subsistemas políticos interagem com os demais subsistemas que integram a vida de uma sociedade. O sistema político pode ser apresentado a partir de um input (entradas ou perguntas) e outputs (saídas ou respostas) (EASTON, 1957; HAM; HILL, 1993): a. As entradas ou perguntas são as demandas e apoio, sendo que as demandas consistem nas atuações de indivíduos e grupos que almejam recursos para atender seus interesses. Gestão de Políticas Públicas 12 b. Em seguida, após as perguntas serem processadas no “Sistema Político”, as entradas gerariam as respostas em forma de decisões políticas ou da própria política pública. Nesse sentido, torna-se de fundamental importância compreender as dimensões da política pública, bem como sua inter-relação entre Estado, política e sociedade, pois seus efeitos impactam a economia e a comunidade. Visões do Estado É importante indicar as correntes teóricas que buscam explicar as influências do Estado e dos fatores sociais no construto de políticas públicas, que são as concepções elitista, pluralista, marxista e corporativista. A visão elitista pressupõe divisão social que é estruturada por uma elite e uma não elite, ou seja, uma classificação demarcada por uma sociedade que possui aqueles que fazem parte da elite e de outra parte que não faz. Partindo desse pressuposto, podemos realizar mais uma divisão do grupo daqueles que fazem parte da elite, assim temos a elite governante e uma elite não governante. A elite é uma minoria que tem interesses homogêneos e consegue se organizar de maneira muito fácil, estruturando-se sem dificuldade de domínio sobre o restante da população. Nesse contexto, quem exerce o poder é aquele que conquista um conjunto de atributos necessários para isso, podendo variar de acordo com o tempo, a sociedade e a cultura. Gestão de Políticas Públicas 13 Figura 1- Concentração de poder Fonte: Freepik. Em geral, nessa perspectiva há uma organização desigual desse estado social. A vivência democrática como participação social é impossível, porque os interesses da elite sempre vão prevalecer em relação aos interesses do povo, usando a democracia para permanecer no poder, mas não a exercendo de forma plena em sua dimensão. Pensando nas discussões da visão elitista para a sociedade temos os nomes de Gaetano Mosca, Vilfreto Pareto e Robert Michels. Sobre a corrente teórica pluralista, o poder na sociedade deve ser descentralizado e fundamentado na tomada de decisões. Assim, o centro dessa corrente é entender o comportamento real dos atores sociais, ou seja, dos indivíduos que vivem naquela sociedade, pensando a partir de uma análise empírica da própria sociedade. Para os pluralistas, ainda que concentre uma minoria na tomada de decisões é possível que haja sim uma participação popular, pelo menos no aprimoramento do espaço democrático, com o uso da ideia de que pequenos grupos podem interferir em ações locais visando o aprimoramento desse todo que impõe a própria sociedade. Gestão de Políticas Públicas 14 Figura 2 – A pluralidade social Fonte: Pixabay. Essas possíveis intervenções de uma minoria, de acordo com Robert Dahl (1961) ressalta que são denominadas Regime Poliarquico, sendo essencialmente uma perspectiva voltada para uma democracia representativa. Nesse modelo se almeja diversos centros de poder, mas nenhum deles é soberano. Ao pensar na praticidade desse modelo, temos que quanto mais participações mais difícil será para operacionalizar determinadas ações. No entanto, é um custoso combate ao elitismo e, consequentemente, à concentração exagerada do poder no alcance de uma extrema minoria. Nesse caso, seria mais benéfico para a sociedade ter mais centros de poder com a participação efetiva na estrutura social. Cabe destacar que talvez a democracia representativa não comporte sempre elementos suficientes para garantir a participação popular, principalmente se reduz a democracia representativa ao direito ao voto. Gestão de Políticas Públicas 15 IMPORTANTE: O direito ao voto não deve ser encarado como sinônimo de participação democrática. O ato de votar é um elemento importante dentro da democracia, mas participar de fato da vida política local envolve outras demandas que são o centro de teorias democráticas contemporâneas. Para a compreensão da visão marxista de estado devemos, inicialmente, nos atentar para as compreensões existentes sobre o Estado anteriormente estabelecidas à sua elaboração e constituição. Durante a modernidade, desde o século XVI a preocupação com o estado sempre foi muito forte, desde os primeiros teóricos humanistas, renascentistas e outros, já existia uma intensa preocupação em definir seu papel de conceitualização. Na modernidade, a partir do século XVII, tivemos três grandes autores que exerceram uma grande influência na elaboração das críticas realizadas por Karl Marx. Inicialmente temos Thomas Hobbes (1588-1679), que defendia a concepção de que a função do estado deveria ser garantir a paz e a estabilidade, isto é, um modelo de estado Leviatã com uma perspectiva absolutista. Cabe destacar que a compreensão desse autor predominou durante muitos anos e em vários países. Outro nome a destacar é Jhon Locke (1632-1704), que critica o modelo proposto por Thomas Hobbes e defende que a função do estado é garantir os nossos direitos autorais, os quais ele chama de inalienáveis e que asseguram o direito à vida, à liberdade e a propriedade. Sendo assim, desenvolveu-se uma tese de que a função do estado liberal é proteger e garantir aos indivíduos todos esses direitos. Por fim, o terceiro nome que deve ser salientado nessas discussões e que contribuiu para a construção das ideias propostas por Karl Marx é o do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Esse filósofo desenvolveu a ideia de que o estado é a representação da vontade geral; isso significa dizer que caberia ao estado representar a soma média dos desejos coletivos. Além disso, esse estado deveria garantir a elegibilidade do Governo da vontade geral. Gestão de Políticas Públicas 16 Figura 3 – Marx e a história da luta de classes Fonte: Wikimedia Commons. Marx se opõe fundamentalmente a essas três visões contratualistas apresentadas. Nelas o estado é um ente praticamente neutro, que atua para todos os indivíduos com uma determinada equanimidade. As concepções que Karl Max desenvolve em suas primeiras obras diz que o estado é o estado da classe dominante e que toda época e toda sociedade constituem um aparato jurídico, ou seja, o aparato normativo que vai regulamentar os interesses das classes dominantes. SAIBA MAIS: O foco do marxismo é a luta de classes, que é compreendia como uma sociedade não contratualista que busca entender os interesses de uma classe dominante. A compreensão de Estado para Karl Marx é tema de estudo de várias pesquisas. Casoqueira se aprofundar no assunto, leia o artigo Notas sobre a teoria do Estado em Marx clicando aqui. Gestão de Políticas Públicas https://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2009/trabalhos/notas-sobre-a-teoria-do-estado-em-marx.pdf 17 A ideia corporativista do estado se baseia no seu relacionamento com o trabalho e o capital, de maneira dominante e independente de classes ou grupos econômicos. De acordo com essa perspectiva, o Estado estaria na direção do processo de acumulação de capital, isto é, ele agiria em prol de determinados grupos conforme sua conveniência. Figura 4 – Cooperativismo Fonte: Pixabay O corporativismo é um sistema social, econômico e político formado por vários grupos, cada qual formado por setores da sociedade com interesses comuns. A ideia geral por trás desse sistema era de que todo mundo na sociedade fosse representado pelo grupo ao qual faz parte, observando o seguinte detalhe: a palavra final era do Governo. Outro termo utilizado e correspondente ao corporativismo é espirito de corpo, alegoria feita entre a sociedade e o corpo humano: as partes do nosso corpo separadas não desempenham funções significativas, no entanto ao juntarem todas formam um corpo perfeito; da mesma forma, no corporativismo todos os grupos deveriam trabalhar juntos e em harmonia para fazer a sociedade funcionar da melhor maneira possível. Gestão de Políticas Públicas 18 Um exemplo sobre a implementação dessas concepções aconteceu no século XX, na Itália, no Governo ditatorial de Benito Mussolini, em que o parlamento chegou a ser substituído pela câmara das corporações. IMPORTANTE: As atividades sindicais, as associações de classe e as atividades políticas dependem da autorização do Governo: não existe liberdade sindical. Nesse cenário algo muito interessante aconteceu no Brasil, na chamada Era Vargas, com a Lei da Sindicalização: o Governo permitia a existência de sindicatos, desde que houvesse apenas um por categoria e que não representassem perigo para o próprio Governo. Caso queira saber mais, acesse o capítulo do livro A relação entre o Estado e os sindicatos sob uma perspectiva territorial que fala sobre esse assunto clicando aqui. O corporativismo não é mais entendido e aplicado atualmente como uma imposição do estado do século passado, no entanto setores da esfera pública e da iniciativa privada são acusados de corporativistas quando lutam para garantir ou para manter os próprios privilégios. Exemplos disso ocorrem quando um projeto de lei que poderia melhorar a vida de toda a população não vai para frente por mexer com os interesses de poucos, que constituem grupos poderosos; ou quando um projeto que vai beneficiar só esse grupo em questão é aprovado no congresso, mesmo sabendo que ele prejudicará a maioria da população. Diante do que foi apresentado, constatamos que no deslanchar da história sempre existiram conflitos de interesses e de concepções que geraram grandes impactos sobre a vida dos sujeitos que fazem parte de uma sociedade. Sendo assim, os elementos apresentados anteriormente apresentam uma ideia da complexidade entre os mecanismos de desenvolvimento estatal e, consequentemente, de interesse e análise do gerenciamento de análises de políticas públicas. Gestão de Políticas Públicas https://books.scielo.org/id/ycbrt/pdf/paula-9788568334676-08.pdf https://books.scielo.org/id/ycbrt/pdf/paula-9788568334676-08.pdf 19 Estado, Sociedade Civil e Políticas Públicas A política pública não se resume apenas às questões que envolvem planejamento e formulação, isto é, do deslanchar da aplicação dos recursos e dos aspectos jurídicos que se referem a legitimidade do Estado. A historicidade dos surgimentos das demandas e dos atores envolvidos também são importantíssimos e devem ser investigados e compreendidos. Figura 5 – Estado, política e sociedade Fonte: Wikimedia Commons. Do processo historicizado demarcado pela relação entre o Estado, as classes sociais e a sociedade civil surgem agentes capazes de definir os rumos a serem dados pela política pública. As demandas aparecem nessa união e intersecção, que podem ser encaradas a partir da cooperação entre todos os sujeitos envolvidos, com a participação crítica, reflexiva e dialógica, que constituem critérios essenciais para a implementação de uma dada política. Gestão de Políticas Públicas 20 O século XX é demarcado pela relação citada anteriormente. Esse processo histórico é fortemente influenciado quando o Estado deixa de ser entendido como mecanismo de dominação capitalista e passa a ser visto como consequência de uma organização política de uma sociedade de classes e seus conflitos de interesses. Assim, as políticas públicas ganham espaço ao serem influenciadas por esses conflitos, os quais caracterizam o poder do Estado de maneira concomitante à combinação firmada na sociedade (BATTINI; COSTA, 2007). IMPORTANTE: Os instrumentos para concretizar os direitos do cidadão, intermediando o pacto entre o Estado e a sociedade, são materializados pelas políticas públicas. Contudo, precisamos nos atentar para o fato de que não há uma certeza de que todos os direitos sociais sejam devidamente efetivados, pois tudo dependerá do grau de representatividade de cada segmento retratado. Os conjuntos de ações tanto de entidades civis, quanto de entidades públicas do estado, devem ser analisadas sob o viés político e administrativo. Nesse sentido, podemos distinguir dois grandes setores: a. Política de Governo: é caracterizado por uma certa alternância de poder. Nesse caso, está ligado a mudança de mandato que se altera, com um novo governante e partido. Então existe uma alternância e uma descontinuidade, sendo alterada com maior facilidade. b. Política de Estado: possui uma determinada continuidade no que se refere aos princípios fundamentais que servem de guia para o Governo de uma nação. As políticas nesse caso não se associam a um Governo ou partido em específico, nem seguem uma ideologia determinada. Na política de estado, temos os assuntos que estão ligados aos interesses gerais de um povo. Dessa forma a relação estabelecida entre Estado, sociedade civil e políticas públicas precisa abranger todos os indivíduos e todas as áreas da Gestão de Políticas Públicas 21 sociedade. Dessas relações surgirão normativas, estratégias e programas de ações governamentais que envolvem diferentes pessoas e instituições, guiadas por interesses próprios e de um coletivo para a implementação da política. RESUMINDO: Caro estudante, que alegria que você chegou ao fim desta seção de estudos! Neste capítulo aprendemos juntos diversas informações sobre a necessidade de conhecer e aprofundar seus conhecimentos acerca dos conceitos iniciais sobre políticas públicas e como elas se relacionam com a sociedade de forma geral, perpassando pelo contexto histórico de cada percepção de estado e como isso afeta o gerenciamento de poder e de elaboração dessas políticas. Além do mais, também nos foi oportunizado o entendimento sobre o sistema político e suas interpelações com a sociedade civil, o Estado e as políticas públicas, além de como elas podem, e devem, assegurar direitos aos indivíduos. De certo, é preciso sempre nos certificarmos de que nossos direitos serão atendidos e respeitados, conforme parte das políticas públicas que já existem e que são estabelecidas pelo sistema político. No entanto, quando as políticas públicas são inexistentes é preciso que a sociedade se organize de alguma forma para estabelecer programas que atendam de maneira plena esses direitos. Ah, e não se esqueça de acessar todos os links de estudos complementares que deixamos ao longo do seu material. Esse estudo irá ajudar a melhorar seu desempenho nas atividades relacionadas à sua profissão. Gestão de Políticas Públicas 22 Fundamentos da Agenda de Políticas e Organizações Públicas OBJETIVO:Caro estudante, ao longo deste capítulo, você aprenderá sobre os conceitos relacionados aos fundamentos da agenda de políticas e organizações públicas. A partir desse estudo, você será capaz de compreender os fundamentos da agenda pública contemporânea, a dinâmica das organizações públicas e sociais, sua cultura e seu comportamento. Certamente essas competências irão auxiliar você no desempenho de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá!. Análise de Política na Elaboração da Agenda de Política Para compreendermos as dimensões de análise de políticas públicas, devemos inicialmente nos ater às definições e preocupações da Análise de Política. De acordo com Rua (2014), uma definição normalmente aceita sugere que a Análise de Política tem como tópico os problemas encontrados na formulação de política e, consequentemente, tem como objetivo auxiliar o seu equacionamento. De acordo com Wildavsky (1979), citato por Ham e Hill (1993), a expressão “Análise de política” representa um conjunto de variadas atividades, dificultando uma formulação de definição mais específica. Para ele, o mais importante é praticá-la ao invés de defini-la, isto é, o analista deve estar engajado em ações, debruçando-se sobre os problemas na busca por soluções, as quais estariam embasadas na criatividade, na imaginação e, acima de tudo, no profissionalismo. Alguns conceitos são importantes para a formulação do tema. Para realizar uma Análise de Política, primeiramente precisa-se conhecer as Gestão de Políticas Públicas 23 ações dos Governos, o porquê de fazerem essas ações e que diferença isso faz. Sendo assim, é crucial entender o importantíssimo papel que essa análise exerce no aumento do conhecimento a respeito da ação do Governo, bem como melhorar a qualidade das políticas públicas. Figura 6 – Análise de Política Fonte: Pixabay De um ponto de vista mais amplo, as dimensões das análises colocam a Análise de Política em um importante lugar na dimensão social, uma vez que propiciam uma melhora na qualidade das políticas públicas, resultando no aumento de conhecimento acerca das ações do Governo. O aprimoramento da análise das políticas nos fornece uma visão de uma atividade tanto prescritiva quanto descritiva. A literatura específica da área (HAM; HILL, 1993) aponta com muito entusiasmo a Análise de Política como forma de melhorar o processo de formulação de políticas e de redução de problemas sociais. Os resultados provenientes das Análises de Políticas podem e devem ser aplicados para dar direcionamento às ideias políticas inerentes à solução de problemas. Das análises descritivas, que se debruçam acerca Gestão de Políticas Públicas 24 das especificidades e orientações gerais das aplicações, e explicativas que se encarregam de gerenciar o como devem ser orientadas e aplicadas. Outro ponto que merece destaque é o papel dos atores sociais no processo de formulação da agenda e da política. A análise de política busca entender por que e para qual sujeito aquela política foi elaborada, atentando-se para a preocupação no processo de preparação e definição da agenda que, por conseguinte, pode determinar as características gerais da política e refletir sobre os mecanismos de priorização de temas e problemas a serem trabalhados por um Governo. Para realizar o estudo das preocupações que devem fazer parte da agenda de uma Análise de Política, os autores Serafim e Dias (2012), citados por Estevão e Ferreira (2018), descrevem algumas orientações para a elaboração: I - Examinar sobre as razões pelas quais a política pública analisada não apresenta características diferentes; II – Investigar de forma descritiva, explicativa e normativa, acerca das políticas públicas analisadas, respondendo, respectivamente, às perguntas a respeito de “o que/como é?”, “por que é assim?” e “como deveria ser?”; III - Evidenciar os valores e os interesses dos atores participantes do jogo político, a interação entre eles, a arquitetura de poder, bem como a tomada de decisões, os conflitos e as negociações etc (SERAFIM; DIAS, 2012 apud ESTEVÃO; FERREIRA, 2018, p. 176). Sendo assim, a Análise de Políticas Públicas (policy analysis) é uma atividade que busca gerar e sistematizar informações relevantes para o processo decisório de políticas públicas. Além disso, busca desenvolver o problema político através das informações obtidas durante a análise de todo o ciclo de políticas públicas. Gestão de Políticas Públicas 25 IMPORTANTE: Vale salientar que na elaboração da análise não se deve focar somente nos problemas já estabelecidos pela agenda de discussão política que irá ser trabalhada pelo Governo, pois, assim, corre-se o risco de excluir outras questões também interessantes relacionadas aos setores desfavorecidos política e socialmente. Sendo assim, a análise precisa considerar tanto as decisões já tomadas como as que não foram oportunizando o estabelecimento de questões pertinentes à coletividade. Diferentes Dimensões na Análise de Políticas Públicas As dimensões na análise de Políticas Públicas buscam explicar como as políticas são formuladas e executadas. As dimensões buscam incorporar os processos econômicos, sociais e políticos que, de forma significativa e efetiva, pautam o cotidiano dessas práticas. Dessa forma, nessa seção estaremos preocupados em trazer reflexões de aportes teóricos oriundos de campos de conhecimentos distintos que dão sustentação às organizações históricas das Análises de Políticas Públicas. Dimensão Histórica e Institucional A perspectiva denominada neoinstitucionalismo histórico oportuniza uma série de ferramentas analíticas para abordar essa dimensão. As ideias provenientes dessa formulação versam sobre o conflito causado entre grupos rivais pela apropriação de recursos escassos que concebe a dimensão central da vida política. Tal situação se revela de modo que determinados interesses são privilegiados em detrimento de outros (TAYLOR; HALL; 2003; THELEN, 1999) Gestão de Políticas Públicas 26 Sob esse aspecto, essa dimensão se assemelha aos pontos de partida teóricos da teoria da escolha pública e da nova economia política institucional da escolha racional. Nessa abordagem, temos o assunto da atribuição do poder e, em particular, as relações de poder assimétricas. Vale salientar que as instituições, nesse caso, induzem uma repartição de maneira desigual do poder entre os grupos sociais. Sendo assim, o neo-institucionalismo histórico evidencia o modo pelo qual as instituições conferem a determinados grupos ou interesses uma afluência desigual ao processo de decisão. Dimensão Processual das Políticas Públicas Nessa dimensão de análise, a produção de política inicia-se primeiramente com a identificação de um problema e a construção de uma agenda. Sob esse aspecto, a tomada de decisão não é considerada o ponto de partida das políticas públicas, mas é precedida de ações e processos que irão construir o campo e o tema dessa política. Os procedimentos de elaboração da agenda são representados pelo conjunto de problemas percebidos, que são capazes de estimular um debate público e a intervenção de autoridades políticas legítimas. No processo de construção da agenda o grau de concordância ou embate representa um parâmetro decisivo na implementação e sistematização das políticas públicas. Contudo, salienta-se que nem todos os problemas podem ser facilmente inscritos numa agenda. Para a inscrição de problemas os seguintes pontos são necessários: a. O problema precisa estar relacionado ao propósito de uma autoridade. b. O problema a ser elaborado necessariamente precisa ser eficiente no que se refere à ação política. c. A existência de uma situação problemática que garanta expectativas de uma resolução significativa. A etapa importante da produção de políticas públicasse concentra na elaboração de soluções e na tomada de decisões. Sobre a tomada de decisão, é necessário que se faça previamente um cálculo orientado para Gestão de Políticas Públicas 27 escolher a melhor solução. A racionalidade daqueles que a produzem é crucial no processo de organização das informações. Alguns pontos necessitam de atenção, entre eles: a viabilidade do tempo, dos recursos financeiros e do acesso à informação. Todas essas escolhas podem auxiliar na tomada de uma decisão satisfatória. Os processos de decisão apontam para a capacidade dos agentes políticos entenderem e tratarem os problemas que surgirem, bem como delinearem as possíveis estratégias de resolução (FLEXOR; LEITE, 2007). Figura 7 – Percurso processual das políticas públicas e atores Fonte: Pixabay O papel a ser desempenhado pelos gestores e políticos consiste em impulsionar o responsável pela formulação de uma reforma política, além de alterar os procedimentos organizacionais que orientam o processo de tomada de decisões ou até mesmo na constituição de novas regras e normas sociais e políticas. A seguir apresentamos duas atividades que podem ser destacadas nessa fase: 1) a formulação é a transformação de um problema em solução ou em alternativas, e é preciso levar em conta os modos de ações e intervenções e as estratégias que Gestão de Políticas Públicas 28 as sustentam (estudos técnicos, conflitos, previsão, coordenação, construção de coalizões, propaganda, persuasão etc.); 2) o trabalho de legitimação que consiste em conformar uma solução com critérios ou regras, inscrevendo a solução num quadro normativo particular (FLEXOR; LEITE, 2007, p.09). O procedimento da implementação exprime o desempenho em que as decisões passam a ficar próximas da realidade a partir dos ajustes e das rotinas em que os agentes posteriormente implementarão à política. O ato de implementar se baseia em executar um programa de ação a um problema. Nesse momento, o papel dos gestores e a conjuntura institucional da política se tornam críticos. Dessa forma, na dimensão processual das políticas públicas, os mecanismos de implementação baseiam-se nas funções de cada agente envolvido, isto é, nas ações daqueles que implementam a política e o público avo do programa. Para além das ferramentas estabelecidas, também se atenta para o nível de concentração dos processos. Dimensão Organizativa Na dimensão organizativa temos a relevância do papel desempenhado pelos gestores na formulação, implementação e avaliação das políticas públicas. Nesse ínterim, as reflexões teóricas e práticas revelam as intenções ambíguas e seletas das preferências dos atores. Sendo assim, nota-se que as escolhas não precedem obrigatoriamente a decisão. Nesse caso, adaptam-se ao contexto organizacional no qual se desenvolve a iniciativa dos atores que, ao realizarem suas ações, podem manejar tanto de forma consciente ou inconsciente suas próprias preferências. As preferências dos atores e agente públicos podem mudar e beneficiar uma série de segmentos econômicos. Ademais, na fase organizacional temos jogos de interesses e negociações, que são estabelecidos de forma essencial para as dinâmicas associativas na elaboração das propostas. Esse momento precede as etapas de decisões e a implementação das políticas públicas. Na sua efetuação, os problemas Gestão de Políticas Públicas 29 são acrescentados em prol dos jogos de interesses que envolvem os órgãos de execução responsáveis para a efetivação das resoluções. Figura 8 – Série organizacional dos agentes políticos Fonte: Pixabay As políticas formuladas a partir das etapas de negociação abarcam uma significativa troca de informações entre os envolvidos e, ainda, estimula a aprendizagem política e gerencial das políticas públicas. De acordo com Flexor e Leite (2007), as políticas que objetivam o consenso entre os agentes podem ser mais concretas do que aquelas que se constituem no critério de custo/benefícios. Nesse caso, a tomada de decisões pode gerar problemas de ordem informacional e resultar em decisões equivocadas, principalmente no que se caracteriza como sendo um ambiente social, econômico e político demarcado pela incerteza e complexidade. Em síntese, destacamos nessa seção as diferentes dimensões da formulação da efetuação das políticas públicas, bem como as redes de colaboração dos agentes envolvidos que rende os determinados políticos e institucionais das mais variadas esferas e contextos específicos. Gestão de Políticas Públicas 30 SAIBA MAIS: Após a leitura das dimensões das análises de políticas públicas, você poderá compreender esse estudo no contexto brasileiro em grande escala a partir da investigação das funções de suas respectivas arenas e dos atores sociais que as mobilizam. O artigo Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da análise de políticas públicas no Brasil, de Klaus Fey (2000), apresenta com maestria as implicações dessas abordagens para a realidade político-administrativa de países em desenvolvimento, e neste caso o Brasil, caracterizados por democracias não consolidadas. Caso tenha interesse, acesse o artigo clicando aqui. Organizações Públicas e Atores de Políticas Públicas Os atores que compõem as políticas públicas são classificados em duas categorias: Atores governamentais e Atores não governamentais. Os atores governamentais se dividem em três grupos. Primeiro temos os políticos e juízes, que possuem um papel muito importante na implementação de algumas políticas públicas e são eles que irão fazer com que as leis se cumpram. Além deles temos os burocratas, que desempenham encargo na implementação da política pública, pois são eles que irão decidir como irão a efetuar. Além disso, esse último grupo tem também muita discricionariedade, isto é, contam com um alto grau de liberdade no momento da efetivação de uma política pública. Por fim, esses atores são representados pelos servidores públicos (professores, médicos e policiais, entre outros) e por aqueles que trabalham diretamente com os políticos nos cargos denominados comissionados e que realizam funções relevantes. Já os atores não governamentais são constituídos pelos partidos políticos que exercem influência de temas a serem colocados na agenda, sendo divididos em dois grupos de pressão: os formais (sindicatos e associações comerciais) e os informais (movimentos sociais diversos). Gestão de Políticas Públicas http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4025/5/PPP_n21_Politicas.pdf 31 Os grupos de pressão, normalmente, têm uma atuação mais indireta na política pública e é voltado para o ciclo de avaliação dela. Cabe destacar que nessa categoria o ator que exerce uma participação mais direta é representado pelas empresas e pelas organizações do terceiro setor (organizações não governamentais). As empresas de médio e pequeno porte participam, geralmente, de processos de licitações para prover um serviço público. As organizações não governamentais, a exemplo das organizações da saúde, também irão prover muitas vezes um serviço público na fase de implementação da política pública. Outro ator muito importante que atua no ciclo organizacional das políticas públicas são os meios de comunicação, as mídias de forma geral. Esse ator é tão relevante que a literatura específica o classifica como sendo o quarto poder devido à grande influência que exerce na formação da opinião pública e pela capacidade de avaliar uma política pública, direcionando a vontade da massa e influenciando diretamente na agenda governamental, dependendo da pressão que ela exerça em relação a uma política pública. Por último, e não menos importante, temos os Think Tanks, que são centros de pesquisa independentes que influenciam na formulação das políticas públicas e atuam na avaliação delas. A exemplo, no Brasiltemos o Instituo de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (DIEESE) e o Centro Brasileiro de Relações internacionais (CEBRI). Esses são alguns centros de pesquisas independentes que atuam basicamente na avaliação e na formulação de políticas públicas, sobre temas que eles identificam como relevantes para a dimensão pública. Em suma, todos esses grupos integram o sistema político e apresentam reivindicações ou implementação das ações que posteriormente serão transformadas em políticas públicas. Nas etapas de discussão, elaboração e efetuação das políticas públicas, esses atores possuem objetivos e funções específicas e distintas. Os atores oriundos do Governo ou do Estado exercem funções públicas no Estado, tendo sidos eleitos pela sociedade para um cargo específico (os Gestão de Políticas Públicas 32 políticos) ou atuando como servidores públicos (os burocratas). Na esfera privada, os oriundos da sociedade civil são aqueles que não possuem vínculo direto com a estrutura administrativa do Estado. RESUMINDO: Caro estudante, que alegria que você chegou ao fim desta seção de estudos! Neste capítulo aprendemos sobre Análise de Política e seus efeitos para com a sociedade, bem como as diferentes dimensões dessa análise. Por fim, foi apresentado as características e funções especificas dos atores sociais que integram a agenda de políticas públicas. Ah, e não se esqueça de acessar todos os links de estudos complementares que deixamos ao longo do seu material. Esse estudo irá ajudar a melhorar seu desempenho nas atividades relacionadas à sua profissão. Gestão de Políticas Públicas 33 Tipos de Políticas Públicas OBJETIVO: Caro estudante, ao longo deste capítulo, você deverá compreender as variações na adoção de análises de políticas públicas. Ao final deste estudo, esperamos que você seja capaz de discernir sobre as teorias das políticas públicas, seus tipos e suas respectivas análises. Certamente, essas competências irão auxiliar você no desempenho de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá!. Introdução aos Tipos de Políticas Públicas e suas Respectivas Análises O construto teórico a ser apresentado a seguir se caracteriza como sendo bastante consolidado. A Análises em Políticas Públicas no Brasil, por exemplo, até recentemente não tinha campo específico, tanto para a formação quanto para a pesquisa. Até a década de 1990 não havia um curso de formação e nem uma nomenclatura específica para o analista de políticas públicas, mas isso não significa dizer que não houve uma análise. Sim, ela aconteceu e foi denominada inicialmente como geração de mobilização de conhecimento. A dinâmica consistia na movimentação desse conhecimento de base científica, que era usada durante o processo de formação de políticas públicas, na tomada de decisão, na implementação e, posteriormente, na avaliação. Em nosso país, ocorrem análises de políticas públicas desde a década de 1930, tendo como integrantes profissionais de diversas áreas, com diferentes formações. A partir daí se observa o desenvolvimento desse campo de profissionais e das necessidades da sociedade, que passaram a exigir cursos em áreas afins como administração pública, gestão pública, gestão social, de políticas públicas e, até mesmo, em materiais, na qual antes não havia fontes de pesquisa sobre as determinadas questões. Gestão de Políticas Públicas 34 Atualmente, é vasta a colaboração de pesquisadores e autores que se dedicam em produzir conhecimento nessa área. O campo de Políticas Públicas consiste nos cursos de Administração Pública, Gestão Pública, Ciências do Estado, Gestão de Políticas Públicas e Gestão Social e Política Públicas, proporcionando a todos os pertencentes da sociedade, atores diretos e indiretos, contribuições em assuntos, temas, problemas e questões de interesse público, de bem-estar coletivo e de políticas públicas inclusivas que em conjunto se alinham com as expectativas da sociedade e do Estado. O analista em políticas públicas, ao se debruçar sobre os processos de elaboração da política, leva em consideração o estudo das decisões tomadas, a estrutura institucional e a distribuição de poder no Estado e na sociedade. Nas análises em políticas públicas é de extrema importância levar em consideração as questões sobre o papel do Estado na sociedade, bem como compreender a distribuição de poder entre grupos sociais. As contribuições teóricas gerais da Ciência Política partem dos estudos da economia, da psicologia, da sociologia e da história, que constituem a Análise de Políticas Públicas. O estudo desse campo é proveniente de colaborações pluridisciplinares e concede espaço para o desenvolvimento de teorias, modelos, mapas, metáforas e conceitos próprios, que auxiliam na explicação e no pensamento das políticas públicas. A análise oferece a compreensão dos modos e regras para o desempenho da ação pública que examina as suas continuidades e rupturas (ARAÚJO; RODRIGUES, 2017). A análise oportuniza a compreensão dos processos e das determinantes do desenvolvimento das políticas públicas, além de possibilitar a identificação dos fatores e dos processos reais envolvidos nos critérios de investigação das mesmas. Sendo assim, não cabe à análise explicar o funcionamento do sistema político, mas sim da coerência da ação pública, do convencimento de recursos e do papel e modos de interação dos atores e instituições nos processos políticos (ARAÚJO; RODRIGUES, 2017). Gestão de Políticas Públicas 35 De acordo com Dagnino et al. (2002), tais questões podem ser feitas a partir da exploração de três diferentes níveis de análise: i) no funcionamento da estrutura administrativa; ii) no processo de decisão; iii) nas relações entre Estado e sociedade. Esses níveis de análises fornecem indicadores de como as relações políticas entre os atores envolvidos podem ser caracterizados conforme a síntese exposta a seguir: 1º Nível: Do funcionamento da estrutura administrativa (institucional) i. Nesse nível, a análise está focada no processo de decisão no interior das organizações e nas relações entre elas. ii. Aqui, busca-se identificar as instituições públicas com ela envolvidas e os atores mais evidentes nessa relação. iii. É o nível da aparência ou superficial. 2º Nível: Do processo de decisão i. Aqui ocorre a manifestação dos interesses dos grupos políticos que influenciam no conteúdo das decisões tomadas – a agenda passa a entrar no jogo da relação de poder. ii. Neste nível, busca-se explicar o funcionamento da instituição e as características da política. Assim, devem-se pesquisar as relações que se estabelecem entre esses atores-chave (internos) e grupos externos, bem como as relações de poder, coalizões de interesse, formação de grupos (de pressão, cooptação, subordinação etc.) iii. É o nível dos interesses dos atores. 3º Nível: Das relações entre Estado e sociedade i. Este é o nível da estrutura de poder e das regras de sua formação - trata da função das agências estatais que, em sociedades capitalistas avançadas, é o que assegura o processo de acumulação de capital e a sua legitimação perante a sociedade. Gestão de Políticas Públicas 36 ii. Esse nível permite entender, mediante o conhecimento do modo de produção capitalista, por que as relações se estabelecem entre as várias porções do Estado e entre essas porções e a sociedade. iii. É o que se pode denominar nível da essência ou estrutural. Dessa forma, a partir dos níveis de análise é possível compreender o comportamento da comunidade política, que se faz presente na política pública e, assim, torna-se possível identificar particularidades dos envolvidos nas ações públicas. De acordo com o Dagnino et al. (2002, p.9), no funcionamento da estrutura administrativa a análise é realizadaem duas etapas: i. primeiramente, identificam-se as organizações (instituições públicas) envolvidas na política e os atores de maior evidência; ii. em seguida, identificam-se as relações institucionais que elas e seus respectivos atores chave mantêm entre si (DAGNINO et al., 2002, p.9). No processo de decisão o objetivo é conhecer os interesses dos atores. Sendo assim, torna-se importante o processo de descrição do funcionamento das instituições e as particularidades da política. Sobre o nível das relações entre Estado e sociedade temos que é imprescindível o entendimento das relações que se estabelecem entre as várias porções do Estado com a sociedade. Dessa forma, os níveis de análise nos oportunizam conhecer as visões do Estado e os seus respectivos modelos de tomada de decisões. Nesse aspecto, ao analista caberá compreender a política e o sistema em que a mesma está inserida a partir do estudo sobre a construção da política pública. Esse momento é caracterizado pela tomada de decisão sobre um determinado aspecto, que se constitui como sendo o início para o entendimento das relações e distribuição de poder do Estado e sociedade. Gestão de Políticas Públicas 37 SAIBA MAIS: Para melhor compreender quais os objetivos e conceitos sobre modelos teóricos que se debruçam em estudar subunidades como lócus de interação entre diferentes atores, instituições e ideias para a análise do processo de políticas públicas leia o artigo Análise de políticas públicas: uma revisão de literatura sobre o papel dos subsistemas, comunidades e redes clicando aqui. Nesse artigo os autores apresentam uma abordagem atual sobre os processos de análises em políticas públicas a partir de uma revisão de literatura em âmbito nacional e internacional. Tipos de Implementação de Políticas Públicas Nesta seção estudaremos os principais modelos que a Ciência Política elaborou para a interpretação do processo da implementação de uma política. Em uma primeira aproximação, podemos descrever a implementação como um processo de uma política pública deixa de ser, inicialmente, uma intenção e passar a se concretizar em forma de programas e projetos. Assim, a implementação consiste no processo de concretização de uma intenção (planos, programas, ações). Os modelos interpretativos de implementação de políticas públicas passaram, nos últimos cinquenta anos, por uma série de modificações e aperfeiçoamentos. Os conceitos que destacaremos nesta seção são: geração de implementação, visão top-down/bottom-up, burocracia de nível de rua (street-level burocracy), conformidade/desempenho (conformance/performance) e stakeholder. Gestão de Políticas Públicas https://www.scielo.br/j/nec/a/sbMLWs45nJHbxvVnqBHn6Dq/?format=pdf&lang=pt 38 A pesquisa de implementação de pesquisas públicas se firmou como atividade dentro da Ciência Política a partir de 1970, nos Estados Unidos, e desde então os analistas identificaram três gerações que investigaram a implementação. A primeira geração engloba os estudos de 1970, que tiveram como propriedade comum o seu caráter exploratório. Eles formam tentativas de ganhar domínio de uma realidade empírica que até então eram pouco observadas. Os trabalhos direcionam atenção para a complexidade do processo de implementação e de revelar a discrepância entre a intenção de mostrar uma política e a forma como ela se concretiza. Sendo assim, ficou evidente que, dentro da análise de uma política, o seu processo de implementação precisa da mesma atenção da Ciência Política do que o processo de formulação da política e suas abordagens sobre as instituições políticas. A segunda geração sobre a implementação de políticas públicas se debruçou sobre o desafio de formular teorias e conceitos capazes de descrever de forma mais geral os fenômenos e estudos. A divisão que se firmou dentro dessa empreitada se alinhou a distinção entre visão top-down e bottom-up. Nessas abordagens, que seguem o padrão top-down, os estudos partem dos objetivos formulados pelo legislativo e, em seguida, investigam de que maneira esses objetivos estão sendo colocados em prática pelos atores encarregados da implementação. Dessa forma, esse enfoque direcionou o olhar para elementos que se mostram como fatores críticos para uma implementação efetiva da política. A título de exemplo apresentaremos os fatores chaves identificados que são: a. a existência de objetivo claros e consistentes definidos pela política. b. a existência de uma teoria que descreva as causalidades que a política usará. c. a existência de uma estrutura e de recursos adequados para guiar a implementação e intervenção do público-alvo. Gestão de Políticas Públicas 39 d. a existência de lideranças de organizações responsáveis para a implementação que mostram o compromisso que possuem com as competências gerenciais e políticas. e. a existência de atores importantes do Legislativo que acompanham e apoiam os programas e ações criada pela política. f. a ausência de interferência de outras políticas públicas que podem conflitar com a política implementada de mudanças socioeconômicas elevadas. O exemplo mostrou que as pesquisas buscam identificar os instrumentos mais adequados para que os atores envolvidos na implementação possam operar com maior probabilidade de transformar os objetivos da política em mudanças concretas. A abordagem bottom-up se formou no início da década de 1980 como uma crítica aos estudos top-down. As críticas se direcionaram sobretudo contra as sobrevalorizações do olhar legal e administrativo em detrimento dos processos de negociação que caracterizam a atividade da implementação. Outro ponto de crítica foi o entendimento do processo de implementação como um ato administrativo de cumprimento de objetivos claros e livre de disputas políticas. O terceiro ponto de crítica se refere às sobrevalorizações dos formuladores da política em detrimento dos implementadores locais que tem um conhecimento maior do problema e que sempre terá um poder discricionário. Os representantes bottom-up defendiam que a política pública ganha sua materialidade somente a partir dos processos de implementação no nível local. Para eles, é o poder de implementação que define os procedimentos e instrumentos para efetuar a política, direcionando seu olhar para a fase da concretização política pública. Gestão de Políticas Públicas 40 Os estudos bottom-up enfatizaram a importância de redes locais e da liberdade de adequá-la à execução das políticas específicas desses locais. Dessa maneira, os desenhos das pesquisas ampliaram as possiblidades dos autores de serem considerados para além da estrutura administrativa diretamente encarregada na implementação. Os grupos de interesses, redes de atingidos e organizações não governamentais com atuação na área da política formam a análise de comportamento e posicionamento no processo da implementação da política pública. De maneira geral, as estruturas de implementação e estudos também ganharam destaque pela conformidade com os objetivos definidos na política e pelo desempenho de implementadores. No entanto, os estudos baseados na visão bottom-up também sofreram críticas, sendo que as principais lacunas identificadas foram: a. Os agentes públicos que atuam na base não têm interesses próprios incluindo sua capacidade de poder bloquear a implementação. b. Não oferece indicadores para avaliar o desempenho dos implementadores. c. Não apresenta modelos explicativos para o fato de em alguns casos a cooperação entre os atores ser possível e em outros não. Em síntese, as características principais de ambas as abordagens estão destacadas a seguir: Características do modelo top-down: • Implementação: um meio de executar as diretivas superiormente definidas. • Valorização da centralidade da autoridade. • Separação clara entre a formulação e a implementação.• Principais problemas da implementação: comunicação deficiente ou distorção das intenções formuladas. • Desvio diante dos objetivos centralmente definidos = comportamento disfuncional e ilegítimo. • Valorização da conformidade (compliance) em detrimento da cooperação. Gestão de Políticas Públicas 41 Características do modelo bottom-up: • Implementação: uma arena política e de relações de troca. • Valorização da autoridade difusa e do conhecimento particular e situacional. • Política pública evolui ao longo da implementação, não há separação estanque entre formulação e implementação. • Principais problemas da implementação: dificuldade de acomodação das diferenças dos contextos locais e das mudanças nas práticas, perspectivas e valores ou dos contextos locais. • Valorização da resolução de conflitos, em detrimento da conformidade com os objetivos inicialmente definidos. • Valorização do desempenho (performance). A terceira geração dos estudos sobre a implementação de políticas públicas se iniciam a partir do ano de 1990 com a tentativa de superar a dicotomia entre as abordagens top-down e bottom-up, abandonando a busca por formas perfeitas de implementação e enfatizando, por sua vez, a diversidade dos contextos de uma implementação, nas quais os implementadores das políticas atuam. Os estudos que seguiram nesta tradição ampliaram muito nosso conhecimento sobre o funcionamento do processo de implementação das políticas públicas. Sendo assim, direcionaremos nosso olhar para dois pontos considerados pela literatura específica que estima características importantes nesse construto. O primeiro ponto entende que os objetivos de uma política são muitas vezes ambíguos, o que dificulta tanto a capacidade de controle hierárquico quanto a compreensão uniforme dos executores dessa política, abrindo, ao mesmo tempo, espaço para os interesses próprios que estejam envolvidos na implementação. Outro ponto destacado são os conflitos existentes que geram possibilidades distintas de acesso ao processo de implementação. Gestão de Políticas Públicas 42 Partindo dessas características básicas podemos classificar as políticas públicas e suas implicações para o processo de implementação, como pode ser visto no Quadro 1. Quadro 1 – Políticas públicas e suas implementações Fonte: Adaptado de Matland (1995). Em suma, as políticas públicas com objetivos claros e sem grande potencial de conflito podem ser implementadas de forma administrativa seguindo o padrão top-down. As políticas que possuem objetivos ambíguos, mas baixo nível de conflitos no que concerne aos objetivos e interesses envolvidos, são mais adequadas aos processos bottom- up. Assim se garante as variações locais e os problemas ainda não desconhecidos. As políticas que possuem um baixo nível de ambiguidade, mas que ao mesmo tempo possuem um alto potencial para conflitos, se caracterizam por um processo de implementação que assume a forma de uma disputa política acerca dos recursos disponíveis. Nesse caso, a implementação de novos modelos top-down seria mais adequada. Nos casos de uma política com objetivos ambíguos e alto potencial de conflitos, Gestão de Políticas Públicas 43 busca-se a sua implementação a partir de um processo simbólico dando espaço para os atores locais que atuam dentro de uma arena política. RESUMINDO: Caro estudante, que alegria que você chegou ao fim desta seção de estudos! Neste capítulo aprendemos juntos sobre as dimensões das unidades de análise e os processos de implementação de políticas públicas, bem como os autores envolvidos em tais processos. Esses assuntos nos auxiliam no processo de entendimento acerca dos estágios do ciclo de uma política pública. Os fracassos de uma política pública estão relacionados com a má formulação dos problemas e das falhas no processo de coordenação da implementação e com as falsas teorias a respeito das causalidades e do funcionamento social, que é o objetivo da intervenção política. As dimensões no método de análise e os aspectos metodológicos e teóricos da implementação de políticas públicas são conceitos essenciais para o entendimento das mesmas. Para finalizar, não se esqueça de acessar todos os links de estudo complementares que deixamos ao longo do seu material. Esse estudo irá ajudar a melhorar seu desempenho nas atividades relacionadas à sua profissão. Gestão de Políticas Públicas 44 Modelos de Análises de Políticas Públicas OBJETIVO: Caro estudante, ao longo deste capítulo, você irá estudar os modelos de análises de políticas públicas. Ao final deste estudo, esperamos que você seja capaz de gerir e operacionalizar atividades inerentes às políticas e gestão pública, tais como: agenda, formulação de alternativas, tomadas de decisões, implantação, avalição e extinção. Por fim, esperamos também que você seja capaz de identificar os principais modelos clássicos e contemporâneos de análises de políticas públicas. Certamente essas competências irão auxiliar você no desempenho de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Avante!. Existem diferentes modelos explicativos para as análises de políticas públicas. Nesta seção iremos compreender alguns desses modelos mais contemporâneos, que são utilizados nos métodos de análises, e suas respectivas correntes teóricas de origem. Esses modelos, em especial, destacam procedimentos que explicam os processos de tomada decisão nessas políticas. De forma geral, os modelos de análises oportunizam a investigação das políticas públicas a partir de diferentes perspectivas teóricas, as quais auxiliam na compreensão do papel das instituições como fator explicativo para o comportamento dos atores e para os resultados das políticas públicas. Gestão de Políticas Públicas 45 Figura 9 – Análises realizadas pelos atores políticos Fonte: Pixabay A partir dos modelos de análises de políticas públicas os atores, no processo de tomada de decisões, podem reduzir as incertezas das estratégias adotadas nos mais diferentes cenários políticos, a partir de um percurso de comportamento que oportunize a aprovação das instituições e seus repertórios. Os atores de posse desse conhecimento passam a definir suas preferências e estratégias a serem adotadas de acordo com os princípios postulados pelo modelo de análise escolhido. As escolhas de cada ator podem se relacionar a um conjunto de escolhas em um procedimento de ação coletiva. Gestão de Políticas Públicas 46 Modelos Explicativos de Análises de Políticas Públicas Entre os estudos das políticas públicas, em que uma boa parte dos materiais teóricos e metodológicos se reúnem, evidenciamos a área de Análises de Políticas Públicas. Nessa área estão localizados os modelos oriundos das teorias de Estado, os quais são, portanto, aplicações de modelos das Ciências Políticas. Cabe destacar que todos os modelos tem vantagens e desvantagens do ponto de vista explicativo e de sua aplicação nas análises de políticas públicas. Modelo Institucional A política pública nesse modelo é vista como resultado da interação entre os atores sociais, coletivos e políticos com as instituições políticas. Os estudiosos dessa área defendem a ideia de que as regras do jogo institucional irão moldar as estratégias e as escolhas dos autores, ao mesmo tempo que as ações desses autores influenciam no formato das regras. Podemos exemplificar esse modelo a partir de uma metáfora acerca de uma partida de futebol, no qual se tem as regras que definem o jogo com a delimitação e as estruturas institucionais analisadas. Ademais, temos as ações adotadas pelos atores a partir das normativas estabelecidas, como acontece com os jogadores de futebol que precisam seguir todas as regras da partida. Enfim, os atores fazem escolhas com base nas regras e interagem com elas. A partir dessa interação, que também ocorre com a estruturainstitucional, evidenciamos os impactos das ações. Figura 10 – Mecanismo de interação no Modelo Institucional Fonte: Pixabay Gestão de Políticas Públicas 47 Esse tipo de modelo de análise institucional é considerado um dos mais utilizados atualmente, colocando em foco o papel do Estado e das instituições políticas para a reprodução das políticas públicas, tendo como pressuposto a concepção de interação das regras com os atores. Além disso, o Modelo Institucional confere a análise das instituições governamentais específicas, assim como sua estrutura, organização, deveres e funções. Cabe também destacar os impactos das organizações sobre o arranjo das políticas em si, ou seja, a relação com as colisões políticas e as instituições políticas (Legislativo, Executivo, Judiciário, partidos políticos e grupos de interesses). As críticas a esse modelo dizem respeito primeiramente à dificuldade que esse modelo possui em avaliar as políticas, pois muitas vezes esse modelo se baseia nos processos, apresentando pouca capacidade de analisar os resultados. Para além, dão pouca atenção à relação entre a estrutura das instituições políticas e o conteúdo das políticas. Modelo de Processos Nesse modelo, são levadas em consideração as atividades políticas que conformam as políticas públicas, pois trata-se de uma forma de organização que analisa a política pública em determinadas fases. São elas: • Identificação de problemas. • Formulação de propostas. • Legitimação da política (apoio político). • Implementações dos processos. • Avaliação. O comportamento dos atores envolvidos também é levado em consideração no Modelo de Processos, pois conferem o entendimento de como as políticas públicas são formuladas, sem enfatizar apenas o conteúdo em questão. Em suma, esse modelo é caracterizado por processos, fases ou estratégias de políticas pública e identificado como um importante suporte teórico e metodológico para o analista de políticas. Gestão de Políticas Públicas 48 Modelo da Teoria do Grupo Nesse modelo existe uma influência significativa das análises em redes que se formam entre os atores e as instituições. Sendo assim, para esse modelo existe um pensamento centrado na formação de grupos que tentam influenciar o Governo e o Estado a partir das interações de todos os envolvidos. É importante ressaltar que nesse modelo é levado em consideração, além das interações existentes, a formação, o interesse e as arenas em que os atores operam e interagem entre si para a produção de políticas públicas. Ou seja, é uma teoria bastante influenciada pelo modelo de Estado Pluralista que enfatiza a organização do sistema político e a política pública como sendo um resultado das disputas que acontecem dentro do sistema político e dos grupos de interesses, como partidos políticos, lóbis e organizações específicas. A Teoria do Grupo é um modelo promissor no que se refere aos estudos dos conflitos que se derivam das políticas públicas. Modelo de Política Racional A política racional é aquela que atinge o máximo ganho social, ou seja, os ganhos devem exceder custos da produção da política visando não apenas a questão econômica. Nesse modelo, a escolha dos atores é pensada como um resultado entre custos e benefícios, na qual os atores sempre tentam maximizar os seus interesses e sua concretização. Os interesses defendidos pelos grupos tentam influenciar as preferências estatais, gerando uma série de consequências do ponto de vista da ação do Estado, isto é, o Estado deverá escolher atender aos grupos que influenciam mais, não necessariamente as elites desse modelo. O Estado, por sua vez, terá que realizar um cálculo de custo versus benefício para identificar qual grupo possui mais poder e influência, além do verdadeiro custo financeiro com o qual deverá arcar para atender os interesses desses grupos, já que muitas vezes um grupo possui uma Gestão de Políticas Públicas 49 influência muito grande, mas o custo, não somente financeiro, mas também político para atender os interesses desses sujeitos, pode ser muito elevado e o Estado, em consequência, poderá não arcar. O Modelo de Política Racional é utilizado e influente em países norte- -americanos, mas é bastante criticado por autores de países europeus que defendem a ideia de que esse modelo não leva em consideração os vários fatores que interferem nos processos políticos e nos ligados aos valores dos indivíduos. Modelo Incremental É um modelo que possui certa influência e é aceito por quase todos os teóricos de análises de políticas públicas. Nesse modelo tende-se a não promover mudanças radicais e rupturas ao longo do tempo. O Estado sempre opta em implementar políticas públicas e realizar mudanças que possuem um baixo custo político possível. Por isso, as mudanças nesse modelo são bastante pontuais e específicas, atendendo grupos menores. O apoio orçamentário nesse modelo é tido quase totalmente como dado e o foco de mudanças marginais à base. No incrementalismo o ambiente político fornece as entradas para o processo de tomada de decisão, o qual inclui a opinião pública e o suporte para os gastos propostos por uma determinada agência. Os resultados dos processos orçamentários são geralmente incrementais, no qual variam pouco de um ciclo para outro e de um estágio para outro. Sobre os papeis dos atores em específico, temos que eles adotam estratégias – procedimentos definidos para atingir determinados objetivos – que se baseiam em cálculos. Os atores, com base em experiencias anteriores, escolhem estratégias que acreditam ter maior probabilidade de sucesso sob condições de incerteza (SWAIN; HARTLEY, 2001). Gestão de Políticas Públicas 50 SAIBA MAIS: O Modelo Incremental é bastante utilizado para as pesquisas orçamentárias no Brasil juntamente com outros três modelos. É imprescindível compreender de que maneira essas discussões são utilizadas efetivamente na prática, já que tais discussões são de extrema relevância devido ao fato de que grande parte dos trabalhos sobre orçamento no país são de natureza eminentemente técnica e ateórica. Caso queira saber mais sobre os modelos teóricos utilizados nas pesquisas orçamentárias brasileiras, leia o artigo Quatro modelos teóricos de relevância para pesquisas orçamentárias no Brasil clicando aqui. Modelo da Teoria de Jogos A Teoria de Jogos é um ramo da matemática proposto pelos matemáticos John von Neumann e Oskar Morgenstern. Essa teoria foi desenvolvida, inicialmente, para estudar o comportamento econômico e, posteriormente, para propor estratégias e analisar os conflitos que surgiam das disputas de interesse entre duas ou mais pessoas. O dilema do prisioneiro é o seu mais famoso exemplo e pode ser visualizado na figura a seguir: Figura 11 – Dilema do prisioneiro COLABORAR (Negando) COLABORAR 1 ano 1 ano TRAIR (Delatar) TRAIR 10 anos livre Livre 10 anos 2 anos 2 anos PRISIONEIRO A PRISIONEIRO B Fonte: Elaborada pela autora (2021). Gestão de Políticas Públicas http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enapg197.pdf 51 Com esse dilema em mente, suponhamos que existam dois prisioneiros – A e B –, cada um na sua cela e sem comunicação entre si. Os prisioneiros possuem duas estratégias que podem utilizar. Uma delas é colaborar com outro o prisioneiro negando o crime e a segunda estratégia é trair o outro prisioneiro, delatando o crime. A partir desse dilema podemos extrair três conclusões. A primeira conclusão é relacionada à estratégia dominante, que funciona da seguinte forma: independentemente de ser qualquer prisioneiro, se um prisioneiro escolher a estratégia colaborativa, tem-se que a melhor estratégia para o outro prisioneiro será “trair”, pois dessa forma ele ficará livre ao invés de sofrer a pena de dez anos de prisão. Nesse sentido, se um prisioneiro escolher a estratégia “trair” a melhor