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Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar
Curso de Engenharia Civil
Concreto Protendido
Prof. Luiz Alberto Duarte Filho, MSc.
Itajaí, março de 2016
UNIVALI – Concreto Protendido
Prof. Luiz Alberto Duarte Filho
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1 Introdução ao Concreto Protendido
1.1 Introdução geral
1.1.1 Definição
Os elementos de concreto protendido são aqueles nos quais parte das armaduras é
previamente alongada por equipamentos especiais de protensão com a finalidade de, em
condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos da estrutura e
propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no estado limite último
(ELU).
A palavra protendido indica que o concreto está submetido à protensão (processo pelo
qual se aplicam tensões prévias ao concreto). Em outros idiomas o nome também tem
este significado:
- prestressed concrete, em inglês;
- beton precontrant, em francês;
- betão pré-esforçado, em português de Portugal.
1.1.2 Conceito de protensão
A protensão pode ser definida como o artifício de introduzir, numa estrutura, um estado
prévio de tensões, de modo a melhorar sua resistência ou seu comportamento, sob ação
de diversas solicitações (PFEIL, 1984).
A Fig. 1.1 ilustra o comportamento de uma viga de concreto armado. Como o concreto
apresenta pequena resistência à tração, a fissuração da peça é inevitável, sendo só assim
possível mobilizar tensões na armadura disposta na região tracionada. Assim, a
utilização de aços de alta resistência é inviável em concreto armado, pois a deformação
da armadura depende da deformação do concreto adjacente. Observa-se, na Fig. 1.1, o
mau aproveitamento da seção de concreto armado para as cargas de serviço (estádio II),
já que a resistência do concreto à tração é desprezada.
Quando se aplica a protensão da armadura, criam-se tensões internas na peça. A Fig. 1.2
ilustra dois exemplos de aplicação da protensão: considerando-se a força centrada e com
a força distante h/3 da face da seção (ou h/6 do centro da seção). A força centrada
produz compressão constante na seção. No outro caso, a força está posicionada no
limite do núcleo central (parte central da seção na qual a força aplicada gera apenas
compressão à seção), então não existe tração e ocorre tensão nula em um ponto.
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Figura 1.1 – Viga de concreto armado submetida à flexão
Fonte: Cauduro (2002)
Figura 1.2 – Efeito da protensão
A Fig. 1.3 ilustra um exemplo de como o efeito da protensão pode melhorar o
comportamento de uma viga submetida a uma carga concentrada. No caso de concreto
protendido, considera-se a seção no Estádio I (seção não fissurada).
Figura 1.3 – Efeito da protensão em uma viga
h/2
P P
h
b
=-P/A
h/3 e=h/6
=-Pe/W
P P
h/3
P P h
b
e=h/6
=-Pe/W =M/W
=-M/W
ou
tensões devido ao
carregamento
tensões devido à
protensão
tensões finais
Estádio I
(cargas pequenas)
Estádio II
(cargas de serviço)
diagrama de tensões
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Uma outra forma de se considerar (ou interpretar) o efeito da protensão é imaginar que
este cria um pré-carregamento no sentido oposto ao carregamento externo (ver Fig. 1.4).
Esta forma de se levar em conta o efeito da protensão é bastante conveniente para o
estudo de peças pós-tracionadas (com cabos curvos).
Figura 1.4 – Ação da protensão em uma viga com cabos curvos
A protensão dos cabos tende a retificá-los, criando assim um carregamento dirigido ao
centro da curvatura dos mesmos (de baixo para cima nos vãos). Assim, pode-se, através
de uma escolha criteriosa da força de protensão e das curvaturas dos cabos, criar um
pré-carregamento transversal de sentido oposto ao carregamento externo (carregamento
a equilibrar, o qual é tomado, em geral, igual à parcela quase-permanente do
carregamento atuante) (CUNHA e SOUZA, 1998).
Em cada vão obtém-se, pela protensão, uma distribuição uniforme de carga ascendente,
igual à carga a equilibrar. Desta forma, sob a ação do ‘carregamento a equilibrar’ mais
protensão, a peça não sofre flexão e está sob a ação de esforço de compressão, o que é
bastante favorável estruturalmente (CUNHA e SOUZA, 1998).
As Figuras 1.5 a 1.7 mostram uma peça contínua de quatro vãos e cinco apoios. A Fig.
1.5 mostra as zonas de tração e compressão que seriam produzidas no concreto da peça
da estrutura sob efeito de cargas externas uniformes aplicadas.
Figura 1.5 - Zonas de tração e compressão sob cargas externas aplicadas uniformemente
Fonte: Cauduro (2002)
A Fig. 1.6 mostra o cabo colocado na peça num perfil parabólico. Quando tracionado, o
cabo aplicará internamente cargas uniformes balanceadas para cima e para baixo,
mostradas pelas setas ao longo das partes do cabo entre os pontos de inflexão (pontos de
a
L
P
P
pbal
pbal = 8aP/L2
C T C T C T
C T C T C T C T
C = ZONA DE COMPRESSÃO T = ZONA DE TRAÇÃO
C
C
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reversão na curvatura do cabo). A Figura 1.7 ilustra as zonas de tração e compressão
produzidas pelas cargas uniformes balanceadas aplicadas internamente.
Figura 1.6 - Cargas balanceadas devido à protensão
Fonte: Cauduro (2002)
Figura 1.7 - Zonas de tração e compressão produzidas por cargas uniformes balanceadas
aplicadas internamente
Fonte: Cauduro (2002)
Comparando as Figuras 1.5 e 1.7, percebe-se que as cargas balanceadas produzem zonas
de tensão opostas àquelas produzidas pelas cargas externas, anulando ou reduzindo os
efeitos da tensão produzida por elas.
Em casos de vãos significativamente diferentes e/ou diferenças em magnitude de cargas,
pode-se empregar duas opções para o projeto: reduzir a curvatura dos cabos (ou braço
de alavanca) mantendo-se a mesma força de protensão ou manter a curvatura completa,
mas reduzindo a força de protensão (número de cabos).
1.2 Vantagens e desvantagens do concreto protendido
a) Vantagens
- reduz as tensões de tração provocadas pela flexão e pelos esforços cortantes;
- reduz a incidência de fissuras;
- reduz as quantidades necessárias de concreto e aço, devido ao emprego eficiente de
materiais de maior resistência;
- reduz a flecha;
- permite vencer vãos maiores que o concreto armado (para um mesmo vão permite
reduzir a altura da peça, pois existe um melhor aproveitamento da seção);
- facilita o emprego de pré-moldagem, uma vez que a protensão elimina a fissuração
durante o transporte das peças;
- durante a operação de protensão, o concreto e o aço são submetidos a tensões, em
geral, superiores às que poderão ocorrer na viga sujeita às cargas de serviço. A
operação de protensão constitui, neste caso, uma espécie de prova de carga da viga.
P
CABO COLOCADO EM
PERFIL PARABÓLICO
PONTOS DE
INFLEXÃO
C = ZONA DE COMPRESSÃO T = ZONA DE TRAÇÃO
C T
C C C
C TCT T
T T T
C C
C
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- elevada resistência à fadiga, uma vez que a protensão diminui ou mesmo elimina as
inversões de sinal nas tensões de cargas oscilantes;
b) Desvantagens
- exige controle rigoroso de produção do concreto e execução da protensão (mão-de-
obra especializada);
- menor rigidez global das estruturas, devido ao menor número de vigas ou redução
das seções;
- nos aços protendidos pode ocorrer um tipo de corrosão mais perigosa chamada
“corrosão sob tensão”.
1.3 Sistemas de protensão
Os sistemas de protensão dividem-se em dois grandes grupos: protensão aderente e
protensão não-aderente. A protensão aderente é dividida em protensão com aderência
inicial (ou pré-tração) e protensão com aderência posterior (ou pós-tração). A protensão
não-aderente é classificada em interna e externa.
1.3.1 Protensão comações para combinação última
Fgk representa as ações permanentes diretas
Fk representa as ações indiretas permanentes como a retração Fgk e variáveis como
a temperatura Fqk
Fqk representa as ações variáveis diretas das quais Fq1k é escolhida principal
g, g, q, q – ver Tab. 3.4
oj, o - ver Tab. 3.5
3.6.2 Combinações de serviço
São classificadas de acordo com sua permanência na estrutura e devem ser verificadas
como estabelecido na Tab. 3.7.
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TABELA 3.7 – Combinações de serviço
Combinações
de serviço
Descrição Cálculo das solicitações
Combinações
quase-
permanentes
de serviço
(CQP)
Nas combinações quase-permanentes de
serviço, todas as ações variáveis são
consideradas com seus valores quase-
permanentes 2Fqk
Fd, ser = Fgi,k + 2j Fqj,k
Combinações
freqüentes de
serviço (CF)
Nas combinações freqüentes de serviço, a
ação variável principal Fq1 é tomada com
seu valor freqüente 1Fq1k e todas as
demais ações variáveis são tomadas com
seus valores quase-permanentes 2Fqk
Fd,ser = Fgik + 1 Fq1k + 2j Fqjk
Combinações
raras de
serviço (CR)
Nas combinações raras de serviço, a ação
variável principal Fq1 é tomada com seu
valor característico Fq1k e todas as demais
ações são tomadas com seus valores
freqüentes 1 Fqk
Fd,ser = Fgik + Fq1k + 1j Fqjk
Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço
Fq1k é o valor característico das ações variáveis principais diretas
1 é o fator de redução de combinação freqüente para ELS
2 é o fator de redução de combinação quase-permanente para ELS
3.7 Tipos de protensão
Os tipos de protensão estão relacionados aos estados limites de serviço referentes à
fissuração (ELS-W; ELS-F e ELS-D). A protensão pode ser completa (nível 3), limitada
(nível 2) ou parcial (nível 1).
3.7.1 Protensão completa
Existe protensão completa quando se verificam as seguintes condições:
a) para combinação freqüente (CF) de ações é respeitado o estado limite de
descompressão (ELS-D), ou seja, não se admite tensões de tração para este nível de
carregamento de serviço;
b) para combinação rara (CR) de ações é respeitado o estado limite de formação de
fissuras (ELS-F), ou seja, admite-se apenas pequenas tensões de tração (sem formar
fissuras) para este nível de carregamento de serviço.
A protensão completa proporciona a melhor proteção das armaduras contra corrosão e
limita as flutuações de tensões no aço a valores moderados (melhor comportamento à
fadiga). Entretanto, a protensão completa pode levar a situações críticas no estado em
vazio. Ou seja, quando atuarem apenas a força de protensão e o peso próprio (situação
no ato da protensão), os esforços podem atingir esforços demasiadamente altos. Podem
surgir fissuras na região tracionada pela protensão, associadas a deslocamentos
negativos, que podem se acentuar devido à fluência.
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Atualmente a protensão completa é usada em ambientes muito agressivos (exigência da
NBR 6118:2003, ver Tab. 3.8) ou em estruturas especiais, como reservatórios e tirantes.
3.7.2 Protensão limitada
Existe protensão limitada quando se verificam as seguintes condições:
a) para combinação quase-permanente (CQP) de ações é respeitado o estado limite de
descompressão (ELS-D);
b) para combinação freqüente (CF) de ações é respeitado o estado limite de formação
de fissuras (ELS-F).
A protensão limitada é o tipo de protensão mais utilizado na prática, pois fornece o
dimensionamento mais econômico. Entretanto, não se pode utilizar protensão limitada
em casos de pré-tração com CAA III ou IV (ver Tab. 3.8).
Na protensão limitada as peças são dimensionadas para tensões moderadas de tração em
serviço, considerando-se uma probabilidade muito pequena de fissuração do concreto.
As fissuras eventualmente abertas, devido à atuação de uma sobrecarga transitória, se
fecham após a passagem da carga, pois as seções permanecem comprimidas sob o efeito
das cargas quase-permanentes (Verísssimo e César, 1997).
Na situação de protensão limitada as peças ficam sujeitas a tensões de protensão
menores do que aquelas que seriam produzidas por uma protensão total, o que pode
trazer as seguintes vantagens (Verísssimo e César, 1997):
- menores tensões de tração e compressão no ato da protensão (estado em vazio),
quando o concreto possui menor resistência e não existem todas as cargas externas
no sentido oposto à protensão;
- melhores deformações devido à fluência (que depende do carregamento);
- maior aproveitamento da armadura passiva na ruptura.
3.7.3 Protensão parcial
Existe protensão parcial quando se verifica a seguinte condição:
a) para combinação freqüente (CF) de ações é respeitado o estado limite de abertura de
fissuras (ELS-W), com abertura característica menor ou igual a 0,2mm;
Este tipo de protensão é permitido apenas para ambientes pouco agressivos (CAA I para
pré-tração e CAA I e II para pós-tração, ver Tab. 3.8).
3.8 Escolha do tipo de protensão
De acordo com a NBR 6118:2003, a escolha do tipo de protensão deve ser feita de
acordo com a classe de agressividade ambiental. A Tab. 3.8 apresenta as exigências
mínimas impostas pela norma.
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Tabela 3.8 – Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da
armadura, em função das classes de agressividade ambiental
Tipo de concreto
estrutural
Classe de
agressividade
ambiental (CAA) e
tipo de proteção
Exigências relativas à
fissuração
Combinação de ações
em serviço a utilizar
Concreto armado
CAA I ELS-W wk 0,3 mm
Combinação frequente CAA II e III ELS-W wk 0,3 mm
CAA IV ELS-W wk 0,2 mm
Concreto
protendido nível 1
(protensão parcial)
Pré-tração com CAA I
ou
Pós-tração com CAA I
e II
ELS-W wk 0,2 mm Combinação frequente
Concreto
protendido nível 2
(protensão
limitada)
Pré-tração com CAA II
ou
Pós-tração com CAA
III e IV
Verificar as duas condições abaixo
ELS-F Combinação frequente
ELS-D*
Combinação quase
permanente
Concreto
protendido nível 3
(protensão
completa)
Pré-tração com CAA
III e IV
Verificar as duas condições abaixo
ELS-F Combinação rara
ELS-D* Combinação freqüente
Para as classes de agressividade ambiental CAA-III e IV exige-se que as cordoalhas não
aderentes tenham proteção especial na região de suas ancoragens.
Nos projetos de lajes lisas e cogumelo protendidas, basta ser atendido o ELS-F para a
combinação frequente das ações, em todas as classes de agressividade ambiental.
* A critério do projetista, o ELS-D pode ser substituído pelo ELS-DP com ap = 25 mm (figura 1).
3.9 Grau de protensão
O grau de protensão (p) é a relação entre a área de aço protendido (Ap) e a área de aço
total (As + Ap), considerando a ponderação em relação as resistências, ou seja:
pykpyks
pykp
p fAfA
fA
O grau de protensão também pode ser entendido como a relação entre a força de tração
na armadura ativa (Ap fpyk) e a força de tração de tração total (Apfpyk+Asfyk),
considerando-se as tensões de escoamento da armadura ativa (fpyk) e passiva (fyk).
Assim, para o concreto armado tem-se: p=0. Para o concreto protendido, 0do grau de protensão
Fonte: Verísssimo e César, 1997
3.10 Formas de considerar o efeito da protensão
O efeito da protensão em uma estrutura pode ser levado em consideração de três
maneiras diferentes:
- como se fosse um esforço normal aplicado na seção transversal em estudo (maneira
usada principalmente para análise de vigas isostáticas);
- como se fosse um pré-alongamento da armadura de protensão (maneira usada
principalmente para a verificação do Estado Limite Último das seções transversais);
- Como se fosse um carregamento externo (maneira usada principalmente para a
resolução de estruturas hiperestáticas e lajes de edifícios).
1,0 0,5 a 0,7
As + Ap
As
Ap
As,min
área de aço
p
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Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6118 (NB1) – Projeto
de estruturas de concreto. Rio de Janeiro, 2014.
BARBIERI, R. A., Modelo numérico para análise à flexão de elementos estruturais com
protensão aderente e não aderente. Tese de Doutorado – PPGEC/UFRGS. Porto Alegre,
2003.
CAUDURO, E. L., Manual para a boa execução de estruturas protendidas usando
cordoalhas de aço engraxadas e plastificadas. Belo Horinzonte: Belgo Mineira, 2002.
CUNHA, A. J. e SOUZA, V. C. M. Lajes em concreto armado e protendido. Rio de
Janeiro: Editora EDUFF, 1998.
EMERICK, A. A. Projeto e execução de lajes protendidas. Brasília, 2003.
FUSCO, P. B., Técnicas de armar estruturas de concreto. São Paulo: Editora PINI,
1994.
HANAI, J. B. Fundamentos do Concreto Protendido. São Carlos: Departamento de
Engenharia de Estruturas, USP, 2005.
LEONHARDT, F e MÖNNING, E. Construções de concreto (concreto protendido).
Rio de Janeiro: Editora Interciência, vol. 5, 1983.
PFEIL, W. Concreto Protendido. Rio de janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora,
1985.
VERÍSSIMO, G. S. e CÉSAR JR, K. M. L. Concreto Protendido. Apostila da UFV.
Viçosa: DEC/UFV, 1997.aderência inicial (armaduras pré-tracionadas)
Neste sistema o pré-alongamento da armadura ativa é feito utilizando-se apoios
independentes do elemento estrutural, antes do lançamento do concreto, sendo a ligação
da armadura de protensão com os referidos apoios desfeita após o endurecimento do
concreto; a ancoragem no concreto realiza-se só por aderência (NBR 6118:2003).
As vigas ou peças são construídas em uma pista de protensão (Fig. 1.8). Primeiro, a
cordoalha, ou o fio, de protensão é tensionada entre os dois contrafortes ancorados na
pista de protensão, que suporta a força de protensão da cordoalha nua tracionada (ver
Fig. 1.9). Depois que o aço é tracionado com os macacos hidráulicos, o concreto é
colocado na forma envolvendo a armadura. Quando o concreto alcança a resistência
suficiente, a força de protensão é transferida para ele por aderência, quando a cordoalha
de aço, na extremidade da viga, é cortada no trecho livre entre a pista de protensão e o
contraforte. A Fig. 1.10 ilustra a opção de utilização de cabos poligonais.
Figura 1.8 – Protensão com aderência inicial (armadura retilínea).
Fonte: Cauduro (2002)
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Figura 1.9 – Protensão com aderência inicial (armadura retilínea).
Fonte: Cauduro (2002).
Figura 1.10 – Protensão com aderência inicial (armadura poligonal)
1.3.2 Protensão com aderência posterior (armaduras pós-
tracionadas)
Neste sistema o pré alongamento da armadura ativa é realizado após o endurecimento
do concreto, sendo utilizados, como apoios, partes do próprio elemento estrutural,
criando posteriormente aderência com o concreto de modo permanente, através da
injeção das bainhas (NBR 6118:2003).
O concreto protendido com pós-tração é basicamente um método de aplicação de
protensão em estruturas no canteiro de obras. A habilidade de protender no canteiro de
construção elimina o custo de transporte das peças pré-moldadas e torna possível a
utilização dos benefícios da protensão em estruturas de grande extensão, onde não é
possível o pré-moldado. As outras vantagens da pós-tração incluem a construção de
vãos contínuos e o direcionamento da força de protensão. A pós-tração permite uma
larga flexibilidade em variação de projetos e é também freqüentemente utilizada em
canteiros de construção para unir e protender seções pré-moldadas menores, produzindo
estruturas com grandes e longos vãos (Cauduro, 2002).
A seqüência de construção em pós-tração também é diferente daquela usada na pré-
tração. Primeiro, conforme mostrado na Fig. 1.11, as formas são erguidas e os cabos de
pós-tração, ainda não tensionados, são colocados na forma em seus devidos lugares. As
barras de aço comum aderente (armadura passiva) também são colocadas nos locais
especificados e todo o aço é seguramente amarrado na posição definida no projeto.
PISTAS DE PROTENSÃO
VIGA
CONTRA-FORTE
PISTAS DE PROTENSÃO
CONTRA-FORTE
VIGA
PONTO DE
DESVIO
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No caso da pós-tração com aderência posterior, as bainhas que protegem as cordoalhas
são metálicas. O conjunto bainha mais cordoalhas internas é denominado de cabo.
No próximo passo, o concreto é colocado na forma envolvendo os cabos até atingir o
grau de endurecimento estipulado em projeto (geralmente a protensão ocorre após o
concreto ter alcançado 75% da resistência aos 28 dias).
Depois que o concreto endureceu, o aço de protensão é tensionado por um macaco
hidráulico que se apóia diretamente na estrutura. A força no aço é então transferida para
o concreto através dos dispositivos de ancoragem nas extremidades do elemento
estrutural.
Para conferir a aderência ao sistema e proteger as cordoalhas contra a corrosão, a última
etapa do processo consiste na injeção de nata de cimento.
Figura 1.11 – Protensão com aderência posterior (exemplos de laje)
A Fig. 1.12 mostra uma viga de concreto protendido com aderência posterior.
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Figura 1.12 – Protensão com bainha metálica para aderência posterior
1.3.3 Protensão não-aderente interna
Neste sistema o pré alongamento da armadura ativa é realizado após o endurecimento
do concreto, sendo utilizados, como apoios, partes do próprio elemento estrutural, mas
não sendo criada aderência com o concreto, ficando a armadura ligada ao concreto
apenas em pontos localizados (NBR 6118:2003).
A armadura permanece livre para mover-se relativamente ao concreto, ao longo de seu
perfil, em todas as seções transversais com exceção das de ancoragem. O principal
sistema para a protensão não aderente é o que utiliza a monocordoalha engraxada com
bainha plástica extrudada. Por ser um tipo de pós-tração, dispensa a protensão em
bancada, necessária no caso dos pré-moldados com aderência inicial. Ao mesmo tempo,
como não há aderência, o complexo trabalho de injeção das bainhas com nata de
cimento, utilizado na pós-tração com armaduras aderentes, torna-se desnecessário. Por
estes motivos, a monocordoalha engraxada é um sistema de protensão totalmente
adequado à execução de estruturas moldadas no local (Barbieri, 2003).
Destaca-se que a inexistência da aderência se refere apenas à armadura ativa, já que a
armadura passiva sempre deve estar aderente ao concreto.
A Fig. 1.13 mostra casos onde foram usadas as cordoalhas com graxa inibidora de
corrosão e revestidas com uma bainha de polietileno de alta densidade. Uma outra
grande vantagem deste sistema é a fácil operação com o macaco hidráulico, pois este é
pequeno e leve.
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Figura 1.13 – Protensão não-aderente interna (exemplos de laje)
As monocordoalhas também podem ser usadas para reforço da peça. No caso mostrado
na Fig. 1.14 tem-se uma forma de reforço que consiste em aumentar a seção da peça,
utilizando monocordoalhas engraxadas internamente.
Figura 1.14 – Reforço com armaduras protendidas internas.
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1.3.4 Protensão não-aderente externa
Neste caso a protensão é realizada sobre uma peça de concreto já endurecido, não
havendo aderência entre os cabos e o concreto. Essa situação é bastante usada em casos
de reforço de estruturas existentes (Figuras 1.15 e 1.16).
Pode-se utilizar monocordoalhas engraxadas ou colocar cordoalhas dentro de dutos
metálicos ou de plástico e injetar graxa para proteger contra corrosão. (Fig. 1.16)
Figura 1.15 – Protensão não-aderente externa
Fonte: Veríssimo e César (1997).
Figura 1.16 – Reforço com armadura protendida externa
desviadores
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1.4 Considerações sobre a aderência
Vantagens da protensão não-aderente:
- permite a proteção dos cabos contra corrosão fora da obra;
- permite a colocação dos cabos de forma rápida e simples;
- elimina do processo de injeção;
- é possível trabalhar com maiores excentricidades dos cabos;
- o macaco hidráulico utilizado é bastante leve (19 kg), o que agiliza o processo de
protensão (protensão de uma cordoalha a cada 30 s);
- a protensão é feita em uma só elevação de pressão, pois não há retificação da
cordoalhas (bainha justa);
- tomados os devidos cuidados, é possível reprotender de uma estrutura;
- menor perda de protensão por atrito.
Vantagens da protensão aderente:
- aumento da capacidade das seções no estado limite último (ELU);
- melhoria do comportamento da peça em estado de serviço (ELS), pois a aderência
reduz a fissuração (menor abertura de fissuras) e a flecha;
- a falha de um cabo tem conseqüências restritas.
Os cabos aderentes, além de introduzir esforços de protensãonuma peça de concreto,
podem funcionar ainda como armadura convencional, devido à aderência entre os
materiais, o que contribui para reduzir a abertura das fissuras.
Os cabos não-aderentes funcionam apenas como elementos para aplicação da protensão.
Em função da ausência de protensão entre o cabo e o concreto, sua contribuição para a
resistência à ruptura da peça é limitada.
Para cargas pequenas, quando ainda não existem fissuras, os dois sistemas comportam-
se de forma bastante parecida. Entretanto, após a formação da primeira fissura, o
comportamento torna-se bem diferente.
Nos sistemas com aderência, ao se abrir a primeira fissura no concreto, os cabos sofrem
grandes deformações localizadas, na região do entorno da fissura. Em decorrência disso,
a tensão no aço aumenta consideravelmente nesses pontos. Esse é o comportamento
característico das armaduras convencionais do concreto armado. Por outro lado, nos
cabos sem aderência, o valor absoluto de abertura de fissura se dilui ao longo do
comprimento do cabo, produzindo um alongamento unitário pequeno. Como
conseqüência disso, o acréscimo de tensão no cabo é pequeno (Veríssimo e Cesar,
1997).
Em vigas com cabos não-aderentes forma-se um pequeno número de fissuras com
grande abertura. Os cabos aderentes, à semelhança da armadura de concreto armado,
limitam a abertura de fissuras, conduzindo a um grande número de fissuras de pequena
abertura. Esta ultima situação é preferível.
Além de influenciar no problema da fissuração do concreto, a aderência também influi
na resistência última. Aumentando-se o carregamento até a ruptura da peça, os cabos
aderentes sofrem grandes acréscimos de tensão, devido aos alongamentos ocorridos nas
seções com fissuras abertas, contribuindo eficientemente para o momento resistente. No
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caso de cabos não-aderentes, como o alongamento decorrente de fissuras localizadas se
distribui ao longo do cabo, os acréscimos de tensão são moderados e,
consequentemente, a contribuição para o momento resistente é menor. Ou seja, para
uma mesma estrutura, o sistema não-aderente rompe com uma carga menor e apresenta
flechas com maiores aberturas que o sistema aderente (Veríssimo e Cesar, 1997).
Estas conclusões foram apontadas por Kornwestheimer, em 1950 (apud Leonhardt e
Monning, 1983), após realizar ensaios em verdadeira grandeza em vigas com armaduras
aderentes e não-aderentes. Estes ensaios foram realizados para a construção da primeira
ponte ferroviária em concreto protendido, em 1950. A Fig. 1.17 ilustra as características
das vigas ensaiadas. A Fig. 1.18 mostra o comportamento das vigas para diferentes
níveis de carregamento. A viga B, sem aderência, apresentou um menor número de
fissuras, porém com aberturas maiores. A viga A, com aderência, atingiu uma carga de
ruptura de 900 kN, enquanto que a viga B, sem aderência, rompeu na zona comprimida
ao atingir a carga de 600 kN.
Figura 1.17 – Características das vigas ensaiadas por Kornwestheimer, em 1950
Fonte: Veríssimo e César (1997).
Por fim, é importante destacar que, mesmo com estas desvantagens, o sistema não-
aderente tem sido largamente utilizado em vários países devido a sua enorme
praticidade.
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Figura 1.18 – Comportamento das vigas ensaiadas por Kornwestheimer, em 1950
Fonte: Veríssimo e César (1997).
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2 Materiais empregados no Concreto Protendido
2.1 Concreto
2.1.1 Qualidade do concreto
A durabilidade das estruturas é altamente dependente das características do concreto e
da espessura e qualidade do concreto do cobrimento da armadura.
Devido à existência de uma forte correspondência entre a relação água/cimento ou
água/aglomerante, a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, a
NBR 6118:2014 exige valores máximos para a relação água/aglomerante e mínimos
para a classe do concreto, conforme indicado na Tab. 2.1. Nos projetos das estruturas
correntes, a agressividade ambiental pode ser classificada de acordo com o apresentado
na Tab. 2.2.
TABELA 2.1 - Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto.
Concreto Tipo
Classe de agressividade (ver Tab. 2.2)
I II III IV
Relação
água/aglomerante
em massa
CA 0,65 0,60 0,55 0,45
CP 0,60 0,55 0,50 0,45
Classe de concreto
CA C20 C25 C30 C40
CP C25 C30 C35 C40
NOTAS:
CA Componentes e elementos estruturais de concreto armado
CP Componentes e elementos estruturais de concreto protendido
No caso do concreto protendido, a norma recomenda valores maiores para a resistência
característica porque:
- o concreto precisa resistência para suportar a protensão logo nas primeiras idades;
- concretos de alta resistência sofrem menor retração e fluência, o que diminui as
perdas progressivas de protensão das armaduras;
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- os concretos da alta resistência possuem maior módulo de elasticidade e,
consequentemente, menor deformação imediata (menor perda de protensão inicial);
- os concretos com maiores resistências são também mais duráveis (menor
porosidade), o que aumenta a proteção das armaduras contra a corrosão sob tensão
(tipo de corrosão mais intensa característica de armaduras protendidas).
TABELA 2.2 - Classes de agressividade ambiental.
Classe de
agressividade
ambiental
Agressividade
Classificação geral do tipo de
ambiente para efeito de projeto
Risco de
deterioração da
estrutura
I Fraca
Rural
Insignificante
Submersa
II Moderada Urbana1) 2) Pequeno
III Forte
Marinha1)
Grande
Industrial1) 2)
IV Muito forte
Industrial1) 3)
Elevado
Respingos de maré
1) Pode-se admitir um microclima com classe de agressividade um nível mais branda (uma
classe acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de
serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto
revestido com argamassa e pintura).
2) Pode-se admitir uma classe de agressividade um nível mais branda (uma classe acima) em
obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65 %, partes da
estrutura protegidas de chuvas em ambientes predominantemente secos ou regiões onde chove
raramente.
3) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em
industrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, industrias químicas.
2.1.2 Variação da resistência à compressão no tempo
A resistência à compressão do concreto sofre uma variação no tempo, em virtude das
reações químicas decorrentes da hidratação do cimento. Esta variação depende,
principalmente, do tipo de cimento e das condições de cura.
No caso específico da resistência característica à compressão, quando se deseja
conhecer a resistência em uma data j, inferior a 28 dias, a norma NBR 6118:2003
permite adotar a expressão:
fckj 1 fck,
sendo o coeficiente 1 dado por:
1 = exp { s [ 1 - (28/t)1/2 ] },
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onde:
s = 0,38 para concreto de cimento CPIII e IV;
s = 0,25 para concreto de cimento CPI e II;
s = 0,20 para concreto de cimento CPV-ARI;
t é a idade efetiva do concreto, em dias (menor que 28 dias).
Para idades superiores a 28 dias, emprega-se o valor de fck para a resistência à
compressão característica. Porém, o fenômeno de hidratação do cimento continua
ocorrendo durante muitos anos no concreto, o que causa ainda um pequeno ganho de
resistência que compensa, em parte, o efeito do carregamento de longa duração.
2.1.3 Módulo de elasticidade longitudinal
A partir de vários ensaios realizados, concluiu-se que o módulo de elasticidadena
origem (ou inicial) pode ser determinado em função da resistência característica à
compressão (fck), pela expressão:
(MPa)f5600 . αE ckEci , para fck de 20 a 50 MPa;
(MPa)1,25+
10
f
α1021,5E
1/3
ck
E
3
ci
, para fck de 55 a 90 MPa;
Sendo:
E = 1,2 para basalto e diabásio
E = 1,0 para granito e gnaisse
E = 0,9 para calcário
E = 0,7 para arenito
Segundo a norma NBR 6118:2014, o módulo de elasticidade inicial (Eci) deve ser
empregado para a avaliação do comportamento global da estrutura.
Para a determinação dos esforços solicitantes e verificação de estados limites,
especialmente a avaliação das flechas, emprega-se o módulo de elasticidade secante
(Ecs), definido por:
ciics EαE .
Sendo:
1,0
80
f
0,20,8α ck
i .
Desta forma, trabalha-se com um valor mais conservador para a deformabilidade do
concreto em serviço.
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2.1.4 Diagrama tensão-deformação simplificado
Visando estabelecer um critério comum ao dimensionamento, busca-se um diagrama
ideal, matematicamente definido, que seja válido para diferentes resistências à
compressão. Desta forma, para análise em estado limite último (análise na situação de
ruptura) utiliza-se o diagrama parábola-retângulo, ilustrado na Fig. 2.1.
Segundo este diagrama, o concreto atinge a tensão máxima com deformação específica
dependendo da classe do concreto e sua ruptura ocorre com determinada deformação
específica, também dependendo da classe do mesmo.
FIGURA 2.1 – Diagrama tensão-deformação simplificado.
Os valores a serem adotados para os parâmetros c2 (deformação específica de
encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e cu (deformação específica de
encurtamento do concreto na ruptura) são definidos a seguir.
- Para concretos de classes até C50:
c2 = 2,0‰
cu = 3,5‰
- Para concretos de classes C55 até C90:
c2 = 2,0‰ + 0,085‰ ∙ (fck – 50)0,53;
cu = 2,6‰ + 35‰ ∙ [(90 - fck)/100]4.
2.1.5 Resistência à tração
A NBR 6118:2014 estabelece a seguinte expressão para a resistência à tração direta
média (fctm):
2/3
ckmct, f0,3f , em MPa, para concretos de classes até C50;
c2 cu
c = 0,85 fcd [ 1 – (1- c/c2)n]
0,85 fcd
c
c
Para fck ≤ 50 MPa: n = 2
Para fck > 50 MPa:
n fck
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)f0,11(1ln 2,12f ckmct, , em MPa, para concretos de classes C55 até C90.
sendo que não se deve adotar valores inferiores a 0,7 fct,m e nem superiores a 1,3 fct,m:
mct,supctk, f1,3f ,
mct,infctk, f0,7f .
Os sub-índices “inf” e “sup” significam, respectivamente, valor inferior e valor superior.
Na maioria das vezes emprega-se o valor fctk,inf, que representa a resistência
característica inferior à tração. A resistência característica superior (fctk,sup) será usada
apenas na determinação da armadura mínima, pois nesta situação se deseja saber a
máxima resistência à tração do concreto, de forma a evitar a ruptura brusca.
2.1.6 Retração
Os valores finais da deformação específica de retração cs(t,t0) do concreto, submetido
a tensões menores que 0,5fc quando do primeiro carregamento, podem ser obtidos, por
interpolação linear, a partir da Tab. 2.3. A variável t significa que se deseja conhecer a
deformação no tempo infinito, enquanto t0 representa o número de dias de cura do
concreto.
TABELA 2.3 - Valores característicos superiores da deformação por retração cs(t,t0).
Umidade
Ambiente (%)
40 55 75 90
Espessura
Equivalente (cm)
2Ac/u
20 60 20 60 20 60 20 60
cs(t,t0)
‰
t0
dias
5 -0,53 -0,47 -0,48 -0,43 -0,36 -0,32 -0,18 -0,15
30 -0,44 -0,45 -0,41 -0,41 -0,33 -0,31 -0,17 -0,15
60 -0,39 -0,43 -0,36 -0,40 -0,30 -0,31 -0,17 -0,15
Essa tabela (Tab. 2.3) fornece o valor da deformação específica de retração cs(t,to) em
função da umidade ambiente e da espessura equivalente 2Ac/u, onde Ac é a área da
seção transversal e u é o perímetro da seção em contato com a atmosfera.
2.1.7 Deformação lenta (fluência)
Na norma NBR 6118:2014 existem dois coeficientes que consideram o efeito da
fluência: e f. O coeficiente é utilizado para determinar as deformações de fluência
em função das deformações imediatas:
cc (t) = (t) ci.
O coeficiente f é empregado para o cálculo da parcela dos deslocamentos (flechas em
vigas e lajes) em peças de concreto armado.
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Os valores do coeficiente podem ser determinados de forma simplificada pela Tab.
2.4 ou, de forma mais precisa, através do Anexo A da NBR 6118:2014. A variável t
significa que se deseja conhecer a deformação no tempo infinito, enquanto t0 representa
o início do carregamento, em dias. Na Tab. 2.4, Ac é a área da seção transversal e u é o
perímetro da seção em contato com a atmosfera.
TABELA 2.4 - Valores característicos superiores do coeficiente de fluência (t,t0).
Umidade
Ambiente (%)
40 55 75 90
Espessura
Equivalente (cm)
2Ac/u
20 60 20 60 20 60 20 60
(t∞,t0)
Concreto
das classes
C20 a C45 t
0
dias
5 4,6 3,8 3,9 3,3 2,8 2,4 2,0 1,9
30 3,4 3,0 2,9 2,6 2,2 2,0 1,6 1,5
60 2,9 2,7 2,5 2,3 1,9 1,8 1,4 1,4
(t∞,t0)
Concreto
das classes
C50 a C90
5 2,7 2,4 2,4 2,1 1,9 1,8 1,6 1,5
30 2,0 1,8 1,7 1,6 1,4 1,3 1,1 1,1
60 1,7 1,6 1,5 1,4 1,2 1,2 1,0 1,0
2.1.8 Cobrimento
O cobrimento mínimo da armadura é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de
todo o elemento considerado. Para o concreto protendido, exige-se um cobrimento
maior devido ao risco de corrosão sob tensão das armaduras.
Para garantir o cobrimento mínimo (cmin) o projeto e a execução devem considerar o
cobrimento nominal (cnom), que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de
execução (c). Assim, as dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar os
cobrimentos nominais, estabelecidos na Tab. 2.5 para c=10 mm.
Segundo a NBR 6118:2014, nas obras correntes o valor de c deve ser maior ou igual a
10 mm. Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos limites de
tolerância da variabilidade das medidas durante a execução pode ser adotado o valor
c=5 mm, mas a exigência de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos de
projeto.
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TABELA 2.5 - Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento
nominal para c=10mm.
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Classe de agressividade ambiental
I II III IV
Cobrimento nominal (mm)
Laje 25 30 40 50
Viga/Pilar 30 35 45 55
Cobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura
passiva deve respeitar os cobrimentos para concreto armado
O cobrimento nominal de uma determinada barra deve sempre ser:
cnom barra
cnom feixe = n = n)1/2 (n é o número de barras do feixe)
cnom 0,5 bainha
Outra prescrição de norma refere-se à dimensão máxima característica do agregado
graúdo utilizado no concreto. Esta dimensão máxima não pode superar em 20% a
espessura nominal do cobrimento, ou seja:
dmax 1,2 cnom,
ou
cnom 0,83 dmax.
2.2 Armadura passiva
As armaduras passivas são aquelas colocadas livres de tensões no interior do concreto.
O aço de armadura passiva é constituído de fios e barras. As especificações destes
elementos são tratadas na NBR7480/96 (Barras e fios de aço destinados a armaduras
paraconcreto).
2.2.1 Processo de fabricação
Os aços para concreto armado podem ser classificados em: aços de dureza natural
(laminado à quente) e os encruados a frio.
Os laminados à quente não sofrem qualquer tipo de tratamento após a laminação. Sua
resistência é obtida apenas devido a sua composição química (ligas especiais). Em geral
estes aços se caracterizam pela presença de um patamar de escoamento definido no
diagrama tensão-deformação, conforme o diagrama simplificado mostrado na Fig. 2.2.
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O encruamento a frio é realizado após a laminação à quente. Através deste
procedimento, aumenta-se a resistência à tração e a dureza do aço, por outro lado,
diminui-se a dutilidade e o alongamento. Os aços trefilados não possuem um patamar de
escoamento no diagrama tensão-deformação. Adota-se uma tensão de escoamento
convencional, obtida traçando-se, a partir da deformação específica residual de 2‰,
uma reta paralela ao trecho linear do diagrama. A ordenada correspondente à interseção
da referida reta com o gráfico será a tensão de escoamento do aço, conforme ilustrado
no diagrama simplificado da Fig. 2.3.
Es = 210 GPa = tg
FIGURA 2.2 – Diagrama tensão-deformação simplificado para aços laminados à
quente.
Es = 210 GPa = tg
FIGURA 2.3 – Diagrama tensão-deformação simplificado para aços encruados a frio.
2.2.2 Denominação
Na designação das barras e fios é usado o prefixo CA, indicativo de seu emprego no
concreto armado, seguido do valor característico da tensão de escoamento fyk (em
kN/cm2). Assim:
fyd
fyd
s
yd 10‰
3,5‰
s
alongamento
de ruptura
encurtamento
de ruptura concreto
fyd
fyd
s
yd 10‰
3,5‰
patamar convencional
0,7fyd
2‰
2‰
0,7fyd
s
limite
elástico
alongamento
de ruptura
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CA-25 fyk = 25 kN/cm2 = 250 MPa (barras de baixa resistência, pouco usadas
atualmente);
CA-50 fyk = 50 kN/cm2 = 500 MPa (barras empregadas, principalmente, para
armadura longitudinal de lajes, vigas e pilares);
CA-60 fyk = 60 kN/cm2 = 600 MPa (fios empregados, principalmente, para
estribos em vigas e pilares e armadura longitudinal de lajes).
2.2.3 Bitolas comerciais
As barras de armadura passiva mais utilizadas comercialmente são indicadas na Tab.
2.6.
TABELA 2.6 – Bitolas comerciais mais utilizadas.
Categoria
Fios / Barras
Bitolas (mm)
Bitolas
(em polegadas)
Massa linear
(kg/m)
Área da seção
(cm2)
CA-60
4,2 - 0,11 0,139
5,0 3/16” 0,16 0,2
CA-50
6,3 1/4” 0,25 0,315
8,0 5/16” 0,40 0,5
10,0 3/8” 0,63 0,8
12,5 1/2” 1,00 1,25
16,0 5/8” 1,60 2,0
20,0 3/4” 2,50 3,15
25,0 1” 4,00 5,0
2.3 Armadura ativa
A armadura ativa é constituída por barra, fios isolados ou cordoalhas, destinada à
produção de forças de protensão. A protensão destas armaduras ocorre através da
aplicação de pré-alongamentos.
Os valores de resistência característica à tração, diâmetro e área dos fios das cordoalhas,
bem como a classificação quanto à relaxação, são indicados na NBR 7482 e na NBR
7483.
2.3.1 Categorias
Os aços de protensão são encontrados nas seguintes formas:
- fios trefilados, com diâmetros de 3 a 9mm, fornecidos em rolos;
- cordoalhas (fios enrolados em hélice), de 2, 3 e 7 fios, fornecidas em rolos;
- barras de alta resistência, laminadas a quente, com diâmetros superiores a 12mm e
comprimento limitado (10 a 12 m).
Os fios são normalmente utilizado na pré-tração. As cordoalhas são as armaduras ativas
mais utilizadas, principalmente as cordoalhas de 7 fios 12,7mm e 15,2mm. As barras
usadas apenas para casos especiais, como por exemplo em tirantes usados em solos.
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A cordoalha usada na protensão aderente e não-aderente é igual. No caso da protensão
não-aderente, a cordoalha nua (ver Fig. 2.4) é coberta com graxa inibidora de corrosão e
então revestida com a bainha plástica (Fig. 2.5). O processo começa passando a
cordoalha por um aplicador de graxa que recobre a cordoalha uniformemente com a
quantidade exata de graxa inibidora de corrosão. A cordoalha coberta de graxa segue
pela máquina extrusora, que aplica e regula a espessura adequada de plástico derretido.
Posteriormente a cordoalha passa por uma canaleta de água para que seja resfriada antes
de ser novamente enrolada. Assim, forma-se a monocordoalha engraxada com bainha
plástica extrudada (Fig. 2.6).
FIGURA 2.4 – Rolo de cordoalha nua
Fonte: Cauduro, 2002
FIGURA 2.5 – Processo de extrusão
Fonte: Cauduro, 2002
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FIGURA 2.6 – Cordoalha engraxada
Fonte: Cauduro, 2002
Denomina-se cabo o conjunto completo consistindo dos dispositivos de ancoragens, aço
de protensão (cordoalha ou fio), revestimento e bainha. No caso de pré-tração, o cabo é
apenas o fio e as ancoragens. Na pós-tração aderente, o cabo é o conjunto formado pela
bainha metálica, as ancoragens, as cordoalhas e a nata de cimento.
2.3.2 Classificação quanto à relaxação
Relaxação é o fenômeno de perda de tensão ao longo do tempo quando o material é
submetido à deformação constante.
Quanto à relaxação os aços podem ser de relaxação normal (RN) ou baixa (RB).
Atualmente os aços RB são os mais usados. Estes, denominados também de aços
estabilizados, sofrem um tratamento térmico sob elevada tensão para reduzir o efeito de
relaxação.
Os valores da relaxação de fios e cordoalhas, após 1 000 h a 20ºC (1000) e para tensões
variando de 0,5 fptk a 0,8 fptk, obtida em ensaios descritos na NBR 7484, não deve
ultrapassar os valores dados na NBR 7482 e na NBR 7483, respectivamente.
Para efeito de projeto, pode-se adotar os valores de 1000 da Tab. 2.9. Para tensões
inferiores a 0,5 fptk admite-se que não haja perda de tensão por relaxação. Para tensões
intermediárias entre os valores fixados na tabela 2.9 pode ser feita interpolação linear.
TABELA 2.9 - Valores de1000, em %
po
Cordoalhas Fios
Barras
RN RB RN RB
0,5 fptk 0 0 0 0 0
0,6 fptk 3,5 1,3 2,5 1,0 1,5
0,7 fptk 7,0 2,5 5,0 2,0 4,0
0,8 fptk 12,0 3,5 8,5 3,0 7,0
RN = Relaxação normal
RB = Relaxação baixa
revestimento PEAD –
poliestileno de alta
densidade
cordoalha de 7 fios
graxa
diâmetro nominal
1/2” = 12,7mm
5/8” = 15,2mm
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Os valores correspondentes a tempos diferentes de 1 000 h, sempre a 20ºC, podem ser
determinados a partir da seguinte expressão, onde o tempo deve ser expresso em dias:
0,15
0
10000 41,67
tt
ψ)tψ(t,
sendo t0 o instante do estiramento da armadura e t o tempo considerado no cálculo.
Pode-se considerar que para o tempo infinito o valor de (t,t0) é dado por (t,t)
2,51000.
Com este coeficiente, pode-se calcular perda de tensão por relaxação pura, pr (t,t0),
desde o instante t0 do estiramento da armadura até o instante t considerado:
pi
0pr
0 σ
)t(t,Δσ
)tψ(t,
2.3.3 Diagrama tensão-deformação
Os aços protendidos são caracterizados pela elevada resistência e ausência do patamar
de escoamento.
Os valores característicos da resistência de escoamento convencional fpyk, da resistência
à tração fptk e o alongamento após ruptura uk das cordoalhas devem satisfazer os valores
mínimos estabelecidos na NBR 7483. Os valores de fpyk, fptk e do alongamento após
ruptura uk dos fios devem atender ao que é especificado na NBR 7482.
Para cálculo nos estados limites de serviço e último pode-se utilizar o diagrama
simplificado mostrado na Fig. 2.7.
FIGURA 2.7 - Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras ativasp
uk
p
fptk
fpyd
fptd
fpyk
Ep
1,0
fptd= fptk /1,15
fpyd= fpyk /1,15
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2.3.4 Módulo de elasticidade
O módulo de elasticidade deve ser obtido em ensaios ou fornecido pelo fabricante. Na
falta de dados específicos, pode-se considerar o valor de 200 GPa para fios e cordoalhas.
2.3.5 Denominação
Na designação das cordoalhas, fios e barras é usado o prefixo CP, indicativo de seu
emprego no concreto protendido, seguido do valor característico da tensão de
escoamento fptk (em kN/cm2). A sigla RB ou RN indica o comportamento quanto à
relaxação. Exemplos:
CP-190 RB aço com fptk = 190 kN/cm2 = 1900 MPa e relaxação baixa
(armadura ativa mais utilizada atualmente);
CA-175 RN aço com fptk = 175 kN/cm2 = 1750 MPa e relaxação normal;
2.3.6 Bitolas comerciais
Os fios e cordoalhas comercializados no Brasil estão indicados nas Tabs. 2.10, 2.11 e
2.12.
Para o caso de pós-tração, utilizam-se quase que exclusivamente as cordoalhas de 7 fios
de 1/2” (12,7mm) e, em menor escala, de 5/8” (15,2mm). Os fios são ainda empregados
na pré-tração, juntamente com as cordoalhas. Para a pós-tração não-aderente,
normalmente é empregada a monocordoalha engraxada de 7 fios de 1/2” (12,7mm).
TABELA 2.10 – Fios para Protensão Aliviados (RN) e Estabilizados (RB)
Fios
Diâmetro
nominal
(mm)
Área
mínima
(mm2)
Massa
aproximada
(kg/m)
Tensão de
ruptura
(kN/cm2)
Tensão
mínima a 1%
de
alongamento
(kN/cm2)
Alongamento
após ruptura
(%)
CP 145 RB L 9,0 62,9 500 145 131 6
CP 150 RB L 8,0 49,6 395 150 135 6
CP 170 RB E 7,0 37,9 302 170 153 5
CP 170 RB L 7,0 37,9 302 170 153 5
CP 170 RN E 7,0 37,9 302 170 145 5
CP 175 RB E 4,0 12,3 99 175 158 5
CP 175 RB E 5,0 19,2 154 175 158 5
CP 175 RB E 6,0 27,8 222 175 158 5
CP 175 RB L 5,0 19,2 154 175 158 5
CP 175 RB L 6,0 27,8 222 175 158 5
CP 175 RN E 4,0 12,3 99 175 149 5
CP 175 RN E 5,0 19,2 154 175 149 5
CP 175 RN E 6,0 27,8 222 175 149 5
L= liso; E = entalhado para aumento da aderência ao concreto
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TABELA 2.11 – Cordoalhas de 3 e 7 Fios Estabilizados (RB)
Cordoalhas
Diâmetro
nominal
(mm)
Área
mínima
(mm2)
Massa
aproximada
(kg/m)
Carga de
ruptura
(kN)
Carga mínima
a 1% de
alongamento
(kN)
Alongamento
sob carga
(%)
CP 190 RB 3x3,0 6,5 21,5 171 40,8 36,7 3,5
CP 190 RB 3x3,5 7,6 30,0 238 57,0 51,3 3,5
CP 190 RB 3x4,0 8,8 37,6 304 71,4 64,3 3,5
CP 190 RB 3x4,5 9,6 46,2 366 87,7 78,9 3,5
CP 190 RB 3x5,0 11,1 65,7 520 124,8 112,3 3,5
CP 190 RB 9,5 9,5 54,8 441 104,3 93,9 3,5
CP 190 RB 12,7 12,7 98,7 792 187,3 168,6 3,5
CP 190 RB 15,2 15,2 140,0 1.126 265,8 239,2 3,5
CP 210 RB 12,7 12,7 98,7 792 203,0 183,0 3,5
CP 210 RB 15,2 15,2 140,0 1.126 288,0 259,0 3,5
TABELA 2.12 – Cordoalhas de 7 Fios Engraxada e Plastificada
Cordoalhas
Diâmetro
nominal
(mm)
Área
mínima
(mm2)
Massa
aproximada
(kg/m)
Carga de
ruptura
(kN)
Carga mínima
a 1% de
alongamento
(kN)
Alongamento
sob carga
(%)
CP 190 RB 12,7 12,7 98,7 792 187,3 168,6 3,5
CP 190 RB 15,2 15,2 140,0 1.126 265,8 239,2 3,5
CP 190 RB 15,7 15,7 147,0 1.172 279,0 246,0 3,5
CP 210 RB 12,7 12,7 98,7 792 203,0 183,0 3,5
CP 210 RB 15,2 15,2 140,0 1.126 288,0 259,0 3,5
CP 210 RB 15,7 15,7 147,0 1.172 308,0 277,0 3,5
2.3.7 Valores limites por ocasião da operação de protensão
Durante as operações de protensão, a força de tração na armadura não deve superar os
valores decorrentes da limitação das tensões no aço, dados por:.
a) armadura pré-tracionada
Por ocasião da aplicação da força Pi, a tensão pi da armadura de protensão na saída do
aparelho de tração deve respeitar os limites 0,77 fptk e 0,90 fpyk para aços da classe de
relaxação normal, e 0,77 fptk e 0,85 fpyk para aços da classe de relaxação baixa.
b) armadura pós-tracionada
- por ocasião da aplicação da força Pi, a tensão pi da armadura de protensão na saída do
aparelho de tração deve respeitar os limites 0,74 fptk e 0,87 fpyk para aços da classe de
relaxação normal, e 0,74 fptk e 0,82 fpyk para aços da classe de relaxação baixa.
- para as cordoalhas engraxadas, com aços de classe de relaxação baixa, os valores
limites da tensão pi da armadura de protensão na saída do aparelho de tração podem ser
elevados para 0,80 fptk e 0,88 fpyk.
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- nos aços CP-85/105, fornecidos em barras, os limites passam a ser 0,72 fptk e 0,88 fpyk,
respectivamente.
Assim, por meio destes limites é determinada a máxima força que pode ser aplicada aos
cabos. No caso de cabos de pós-tração não-aderente, formados por monocordolhas
engraxadaxas CP 190 RB com 7 fios e 12,7mm (armadura usualmente empregada),
tem-se:
fptk = 190 kN/cm2
fpyk = 171 kN/cm2
as = 0,987 cm2 (área de uma cordoalha, ou cabo)
2
pyk
2
ptk
pi
kN/cm 150,48 1710,88 f 0,88
kN/cm 152 1900,80 f 0,80
σ
pi = 150,48 kN/cm2
Fpi = 148,52 kN = 14,85 tf (máxima força de protensão para a cordoalha)
Na prática se utiliza 15 tf para a protensão destes cabos.
2.3.8 Corrosão da armadura ativa
A corrosão do aço protendido é um fator preocupante por dois motivos: os diâmetros
dos fios são pequenos e estes estão sujeitos a elevadas tensões (situação mais
desfavorável com relação à corrosão).
A chamada corrosão intercristalina sob tensão e o fenômeno da fragilidade sob a ação
do hidrogênio, também conhecido como corrosão catódica sob tensão, são mais
perigosos que a corrosão ordinária. Esses fenômenos podem ocorrer devido a existência
simultânea de umidade, tensões de tração e certos produtos químicos como cloretos,
nitratos, sulfetos, sulfatos e alguns ácidos. Este tipo de corrosão, que não é detectada
exteriormente, dá origem a fissuras iniciais de pequena abertura e pode, depois de um
certo tempo, conduzir a uma ruptura frágil (Veríssimo e César, 1997).
Devido à sua sensibilidade à corrosão, os aços de protensão devem ser protegidos contra
a corrosão na fábrica, durante o transporte e na obra, devendo ser armazenados e
instalados em lugares cobertos, secos e aerados.
2.4 Bainhas
As bainhas são tubos dentro dos quais a armadura de protensão deve ser colocada, de
forma a deslizar durante a etapa de protensão.
No caso de pós-tração com aderência posterior, utilizam-se bainhas metálicas fabricadas
de chapas de aço laminadas a frio, com espessura de 0,1 a 0,35mm, costuradas com
saliências e reentrâncias (ver Fig. 2.8), de forma a aumentar a aderência entre o concreto
e a nata de cimento.
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Figura 2.8 – Exemplo de bainha metálica usada em lajes com aderência posterior
Para que a injeção de nata seja bem sucedida são instalados, em pontos estratégicos da
bainha, tubos de saída de ar, chamados de respiros ou purgador (ver Fig. 2.9). A
situação ideal é dispor os pontos de injeção nos locais mais baixos e os respiros nos
pontos mais altos do cabo.
Figura 2.9 – Ligação de um respiro em um ponto intermediário da bainha
A finalidade da injeção é garantir uma proteção adequada das armaduras de protensão
contra corrosão, além de promover a aderência entre a armadura ativa e o concreto.
Entretanto, esta aderência será inferior à aderência existente no caso de concreto armado
ou de protensão com aderência inicial.
A nata de cimento, ou calda de cimento, deve satisfazer às seguintes exigências:
- contração volumétrica deve ser inferior a 2%;
- boa fluidez, a qual deve permanecer até a conclusão da injeção;
- resistência à compressão da ordem de 20 MPa aos 7 dias e 30 MPa aos 28 dias,
determinadas a partir de corpos de prova cilíndricos de 10×12cm;
- pequena relação água/cimento (a/c = 0,35 a 0,44).
Para a protensão sem aderência, utilizam-se bainhasplásticas lisas. No caso de
monocordoalha engraxada com bainha extrudada, emprega-se PEAD (poliestileno de
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alta densidade) com espessura mínima de 1,0 mm. Este revestimento é impermeável à
água, durável e resistente a danos provocados pelo manuseio habitual nas obras.
Quando de utiliza um sistema sem aderência e bainhas plásticas, é necessário empregar
graxa como agente inibidor de corrosão. Além desta finalidade, a lubrificação
promovida pela graxa reduz o atrito entre a bainha e a cordoalha. No caso do
revestimento de PEAD, o coeficiente de atrito reduz de 0,20 (bainha metálica) para
0,05.
2.5 Ancoragens
Os dispositivos de fixação das extremidades dos cabos são chamados de ancoragens.
Essas ancoragens podem ser ativas, quando permitem a operação de protensão, ou
passivas, quando são fixas. Em geral, costuma-se projetar cabos com uma ancoragem
ativa e outra passiva. Entretanto, em alguns casos de cabos longos (normalmente
superiores a 40 m), pode ser conveniente aplicar a protensão simultânea nas duas
extremidades para reduzir as perdas por atrito (Emerick, 2003).
2.5.1 Ancoragens passivas
As ancoragens passivas podem ser em laço (Fig. 2.10 e 2.11), bulbos (Fig. 2.12), ou
com cunhas pré-cravadas (Fig. 2.13 e 2.14), usado para monocordoalhas engraxadas.
Nos trechos de ancoragem, tanto passiva como ativa, a força de protensão causa tensões
de tração em todas as direções radiais em torno da armadura de protensão. Assim, a
ancoragem só se mantém se o concreto não fendilhar devido a estas forças de tração
(forças de fendilhamento). No caso de forças elevadas, deve-se colocar uma armadura
especial, denominada de armadura de fretagem, de preferência em forma espiral,
cintando a região de ancoragem (Veríssimo e César, 1997).
Nas Figs. 2.10-2.14 é possível identificar essas armaduras de fretagem. Também é
possível observar que nas ancoragens passivas normalmente são posicionados pontos de
respiros (purgadores), no caso de aderência posterior.
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Figura 2.10 – Ancoragem em laço
Figura 2.11 – Ancoragem em laço
Figura 2.12 – Ancoragem em bulbos
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Figura 2.13 – Ancoragem passiva com cunha pré-cravada
Figura 2.14 – Ancoragem passiva em lajes com cordoalhas engraxadas
2.5.2 Ancoragens ativas
As ancoragens ativas normalmente são executadas por meio de cunhas. Neste sistema,
cada cordoalha é fixada por uma cunha (cone macho), que é travada em uma placa de
ancoragem, a qual possui um cone fêmea.
Os cabos, quando liberados pelo macaco hidráulico, tendem a recuar puxando as cunhas
para dentro do cone fêmea. O deslizamento que ocorre, denominado encunhamento,
depende da inclinação das faces da cunha, da profundidade das ranhuras e da força de
cravação inicial da cunha. Este deslocamento implica em perda de protensão para a
armadura.
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Na maioria dos sistemas atuais, o maçado aplica uma pré-cravação na cunha antes de
liberar o cabo. Entretanto, ainda assim a cunha penetra um pouco mais na placa de
ancoragem. Mas nesse caso a perda por encunhamento é menor.
As Figs. 2.15-2.24 ilustram ancoragens ativas em diferentes sistemas de protensão.
Figura 2.15 – Etapas da protensão com aderência posterior
Figura 2.16 – Placa de ancoragem ativa de uma laje com aderência posterior
Figura 2.17 –Ancoragens ativas para lajes com aderência posterior
Colocação das placas de
ancoragem
Colocação das cunhas Montagem do macaco
Montagem final do
macaco
Protensão Ancoragem após a
protensão
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Figura 2.18 –Ancoragem ativa
Fonte: Protende, 2004
Figura 2.19 –Ancoragens ativas para vigas com aderência posterior
Fonte: Protende, 2004
Figura 2.20 – Ancoragem ativas em lajes com cordoalhas engraxadas
Fonte: Cauduro, 2002
bainha
metálica
trombeta
placa de apoio
placa de ancoragem
cordoalhas e cunhas
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Figura 2.21 – Detalhes da ancoragem ativas em lajes com cordoalhas engraxadas
Fonte: Emerick, 2003
Figura 2.22 – Detalhes da ancoragem ativas em lajes com cordoalhas engraxadas
Fonte: Cauduro, 2002
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Figura 2.23 – Detalhes da ancoragem ativas em lajes com cordoalhas engraxadas
Fonte: Cauduro, 2002
Figura 2.24 – Detalhes da ancoragem ativas em lajes com cordoalhas engraxadas
Fonte: Emerick, 2003
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2.5.3 Ancoragem por aderência
No caso de pré-tração, utilizam-se ancoragens por aderência, conforme mostrado na Fig.
2.25. Nesse caso, a força de protensão a ancorar é cerca de 3 a 4 vezes maior que na
ancoragem de barras de armadura passiva com mesma área transversal. Assim, a
ancoragem só é possível se pela aderência mecânica (barra com saliências) e o efeito
saca-rolha, mostrado na Fig. 2.10 (ou efeito Hoyer).
Figura 2.25 – Ancoragem por aderência
2.6 Dispositivos de suporte das armaduras
A cadeira é um dispositivo metálico ou plástico usado para apoiar e segurar os cabos de
pós-tração em sua respectiva posição de projeto, prevenindo deslocamentos antes e
durante a colocação do concreto. A Fig. 2.26 ilustra exemplos de cadeiras.
Figura 2.26 – Exemplos de cadeira
Fonte: Cauduro, 2002
Também podem ser utilizados caranguejos para promover a curvatura dos cabos,
conforme ilustrado na Fig. 2.27.
Figura 2.27 – Utilização de caranguejo para o posicionamento da bainha
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2.7 Macacos hidráulicos
A força de protensão é aplicada aos cabos de protensão através de macacos hidráulicos.
Esses macacos são ligados a bombas especiais capazes de produzir pressões elevadas.
No momento da aplicação da força de protensão, com os cabos presos ao macaco, uma
bomba da alta pressão injeta uma emulsão (óleo diluído) pressurizada no corpo do
cilindro do macaco. A pressão causa um deslocamento relativo entre o pistão e o
cilindro do macaco, produzindo o alongamento dos cabos (Veríssimo e César, 1997).
Na maioria dos sistemas os macacos são dotados de dispositivos especiais que permitem
a aplicação da força de protensão e, logo em seguida, a cravação das cunhas de
ancoragem.
As Figs. 2.28-2.30 ilustram exemplos de macacos hidráulicos usados na prática.
Figura 2.28 – Exemplo de macaco hidráulico
Fonte: Veríssimo e César, 1997
Figura 2.29 – Macaco para as monocordoalhas (peso: 19 kg fácil operação)
A – Comprimento da cordoalha
para fixação do macaco
B – Comprimento do macaco
fechado
C – Curso do pistão
D – Diâmetro do macaco
E – Gabarito para macaco aberto
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Figura 2.30 – Macaco para as monocordoalhas engraxadas
Fonte: Cauduro, 2002
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41
3 Critérios de projeto
3.1 Arranjo transversal
3.1.1 Agrupamento de cabos na pós-tração
Segundo a NBR 6118:2014, os cabos alojados em bainhas podem constituir grupos de
dois, três e quatro cabos nos trechos retos, desde que não ocorram disposições em linha
com mais de dois cabos adjacentes.
Nos trechos curvos, os cabos podem ser dispostos apenas em pares cujas curvaturas
estejam em planos paralelos, de modo a não existir pressão transversal entre eles no
momento da protensão.
3.1.2 Espaçamentos mínimos
Os elementosda armadura de protensão devem estar suficientemente afastados entre si,
de modo a ficar garantido o seu perfeito envolvimento pelo concreto.
Os afastamentos na direção horizontal visam permitir a livre passagem do concreto e,
quando for empregado vibrador de agulha, a sua introdução e operação. Os valores
mínimos dos espaçamentos estão indicados nas Tabs. 3.1 e 3.2.
Como citado anteriormente, no caso de cabos curvos não podem ser usados feixes
verticais na forma que é representado na Tab. 3.1.
Nas lajes protendidas por monocordoalhas não aderentes, a NBR 6118: 2014permite até
quatro cabos dispostos em feixe horizontal, como mostrado na Fig. 3.1. Entre os cabos
ou feixes de cabos, ou entre cabos e armaduras passivas, deve ser mantido um
espaçamento mínimo de 5 cm (conforme Fig. 3.1).
Figura 3.1 – Disposição de cabos com monocordoalhas engraxadas
5cm
feixe com máximo de 4
cabos não-aderentes
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Tabela 3.1 - Espaçamentos mínimos - Caso de pós-tração
Disposição das bainhas
Espaço livre
ah
(horizontal)
av
(vertical)
ext
4cm
ext
5cm
1,2 ext
4cm
1,5 ext
5cm
onde ext é o diâmetro externo da bainha
Tabela 3.2 - Espaçamentos mínimos - Caso da pré-tração
Disposição dos fios ou cordoalhas
Espaço livre
ah
(horizontal)
av
(vertical)
2
1,2dmax
2cm
2
1,2dmax
2cm
3
1,2dmax
2,5cm
3
1,2dmax
2cm
3
1,2dmax
3cm
3
1,2dmax
3cm
onde é o diâmetro do fio ou da cordoalha e dmax é a dimensão máxima
característica do agregado graúdo
ah
av
ah
av
ah
ah
av
ah
av
av
ah
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43
Segundo Emerick (2003), apesar do espaçamento mínimo entre feixes de cabos não-
aderentes ser de 5 cm, é usual adotar espaçamentos maiores, conforme a Fig. 3.2.
Figura 3.2 – Espaçamentos mínimos usuais entre monocordoalhas engraxadas
Na região próxima das ancoragens, as cordoalhas agrupadas em feixes deverão ser
suavemente separadas, conforme a Fig. 3.3.
Figura 3.3 – Separação do feixe de cabos das monocordoalhas engraxadas
3.1.3 Espaçamento máximo entre os cabos para lajes protendidas
Entre cabos ou feixes de cabos deve ser mantido um espaçamento máximo 6 h, não
excedendo 120 cm.
3.1.4 Abertura nas lajes
O cobrimento mínimo de cabos em relação à face de aberturas nas lajes deve ser de 7,5
cm, conforme ilustrado na Fig. 3.4.
O desvio no plano da laje de um cabo ou feixe de cabos deve produzir uma inclinação
máxima de 1/10, na corda imaginária que une o início ao fim deste trecho, mantendo o
seu desenvolvimento de acordo com uma curva parabólica em planta. Ao longo do
desvio, o conjunto de cabos ou feixes deve estar disposto de tal forma a manter uma
distância de 5 cm entre cabos na região central da curva (ver Fig. 3.4).
Para os casos em que o desvio exceda os limites especificados, deve ser prevista
armadura capaz de absorver a força provocada por esse desvio.
15cm
feixe de 2 cabos
20cm 25cm
feixe de 3 cabos feixe de 4 cabos
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Figura 3.4 – Desvio da direção dos cabos em planta
Fonte: Cauduro, 2002
3.2 Arranjo longitudinal
3.2.1 Curvaturas
As curvaturas das armaduras de protensão devem respeitar os raios mínimos exigidos
em função do diâmetro do fio, da cordoalha ou da barra, ou do diâmetro externo da
bainha.
Segundo a NBR 6118: 2014, o estabelecimento dos raios mínimos de curvatura pode ser
realizado experimentalmente, desde que decorrente de investigação adequadamente
realizada e documentada. Dispensa-se justificativa do raio de curvatura adotado desde
que ele seja superior a 4 m, 8 m e 12 m, nos casos de fios, barras e cordoalhas,
respectivamente. Na prática, utiliza-se como limite mínimo para as monocordoalhas
engraxadas raio de curvatura de 2,5 m.
Quando a curvatura ocorrer em região próxima à face do elemento estrutural,
provocando empuxo no vazio, devem ser projetadas armaduras que garantam a
manutenção da posição do cabo sem afetar a integridade do concreto nessa região.
3.2.2 Curvatura nas proximidades das ancoragens
Nas regiões próximas das ancoragens, os raios mínimos de curvatura dos fios,
cordoalhas ou feixes podem ser reduzidos, desde que devidamente comprovado por
ensaios conclusivos. Nessas regiões devem ficar garantidas a resistência do concreto em
relação ao fendilhamento e a manutenção da posição do cabo quando ele provocar
empuxo no vazio.
3.2.3 Extremidades retas
Os cabos de protensão devem ter em suas extremidades segmentos retos que permitam o
alinhamento de seus eixos com os eixos dos respectivos dispositivos de ancoragem. O
comprimento desses segmentos não deve ser inferior a 100 cm ou 50 cm no caso de
monocordoalhas engraxadas.
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45
3.2.4 Traçado
O traçado dos cabos é de fundamental importância para a configuração final de esforços
em uma peça de concreto protendido. Uma vez que o objetivo primário da protensão é
atuar em sentido oposto aos esforços produzidos pelo carregamento externo, o traçado
dos cabos deve ser projetado em função das cargas atuantes na peça e, posteriormente,
ajustado de forma a satisfazer aos requisitos construtivos peculiares de cada situação de
projeto (Veríssimo e César, 1997).
Como os esforços devido ao carregamento externo variam ao longo da peça, o ideal é
que o efeito da protensão varie proporcionalmente a estes esforços. No caso de cabos
curvos (pós-tração), isto pode ser conseguido se o traçado dos cabos acompanhar o
diagrama de momentos fletores produzido pelo carregamento, conforme a Fig. 3.5.
Figura 3.5 – Perfil dos cabos em vigas ou lajes contínuas
Fonte: Veríssimo e César, 1997
Desta forma (Fig. 3.5), a excentricidade da força de protensão varia e,
consequentemente, as tensões normais devido à protensão também variam, como ilustra
a Fig. 3.6. Na Fig. 3.6 é mostrada a definição de núcleo central de inércia, que é a região
mais próxima do centro de inércia da seção onde as forças aplicadas causam apenas
efeitos de compressão (ou tração). Para a seção retangular, o limite do centro de inércia
é a distância h/6 do eixo baricêntrico (ou seja, a altura máxima do núcleo central é h/3 e
a largura, b/3).
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46
Figura 3.6 – Distribuição de tensões em função do ponto de aplicação da força P:
(a) P aplicada no baricentro da seção; (b) P aplicada fora do baricentro e dentro do
perímetro do núcleo centra de inércia; (c) P aplicada no perímetro do núcleo central de
inércia; (d) P aplicada fora do núcleo central de inércia
Fonte: Veríssimo e César, 1997
Em um dado ponto, o momento produzido pela protensão P é: Mp = P×e, conforme a
demonstração apresentada na Fig. 3.7.
Para o caso de pré-tração, não é possível utilizar traçado curvo, pois as armaduras são
tracionadas antes da concretagem. Assim, utilizam-se cabos retilíneos ou, para reduzir a
excentricidade próximo aos apoios, cabos poligonais (ver Fig. 3.8).
Para casos de vigas pós-tracionadas com vários cabos, pode-se posicionar algumas
ancoragens ativas nas faces superior e inferior, ou ainda na lateral, como é mostrado nas
Figs. 3.9 e 3.10.
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Figura 3.7 – Demonstração do cálculo do momento devido à protensão
Fonte: Veríssimo e César, 1997
Figura 3.8 – Exemplos de vigas pré-tracionadas: (a) cabos retilíneos; (b) traçado
poligonal.
Fonte: Veríssimo e César, 1997
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48
Figura 3.9 – Alternativa paraancoragem de cabos
Fonte: Veríssimo e César, 1997
Figura 3.10 – Alternativas para ancoragem de cabos
Fonte: Veríssimo e César, 1997
Para o posicionamento das bainhas em vigas podem ser utilizadas barras de apoio, como
mostrado na Fig. 3.11, a cada metro. Mas barras adicionais podem ser requeridas para
evitar que problemas de curvatura reversa do cabo ocorram (ver Fig. 3.12). Segundo
Cauduro (2002), curvaturas reversas de cabos podem causar estilhaçamento do concreto
durante a operação de protensão.
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Figura 3.11 – Barras de apoio para posicionamento dos cabos em vigas
Fonte: Cauduro, 2002
Figura 3.12 – Problema de curvatura reversa
Fonte: Cauduro, 2002
3.2.5 Traçado para lajes com monocordoalhas engraxadas
Por condições econômicas e executivas, é comum adotar para as flechas dos cabos os
maiores valores possíveis, atendendo as condições de cobrimento mínimo (Fig. 3.13).
Entretanto, essa colocação implica em diferentes carregamentos equilibrados nos vãos
(Emerick, 2003).
Fig. 3.11
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50
Figura 3.13 – Traçado vertical dos cabos em lajes
Fonte: Emerick, 2003
Com relação à curvatura, utiliza-se o raio mínimo de 2,5m. A distância do ponto de
mudança da curvatura (ponto de inflexão) é calculada como uma porcentagem do
comprimento do vão (), sendo que o valor varia de 5% a 15% (Emerick, 2003).
Conforme pode ser observado na Fig. 3.13, os cabos são ancorados nas extremidades
passando pela semi-espessura da laje, devendo-se manter o cabo reto nos seus primeiros
50 cm. Esta disposição dos cabos tem como objetivo não introduzir momentos fletores
devido a protensão nas seções de extremidade, onde os momentos devido os
carregamentos externos também são nulos.
Na Fig. 3.14 é apresentado um exemplo de detalhamento longitudinal de um projeto
com monocordoalhas engraxadas.
Figura 3.14 – Exemplo de detalhamentos do perfil dos cabos
Fonte: Emerick, 2003
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51
Para a ponta exposta da ancoragem passiva, é recomendável utilizar cobrimento mínimo
de 5 cm, conforme a Fig. 3.15.
Figura 3.15 – Cobrimento da ancoragem passiva
Fonte: Emerick, 2003
3.3 Estados limites
Estado limite último (ELU)
Estado limite relacionado ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína estrutural, que
determine a paralisação do uso da estrutura.
Estado limite de abertura das fissuras (ELS-W)
Estado em que as fissuras se apresentam com aberturas iguais aos máximos
especificados na NBR 6118:2003.
Estado limite de deformações excessivas (ELS-DEF)
Estado em que as deformações atingem os limites estabelecidos para a utilização normal
dados na NBR 6118:2003.
Estado limite de vibrações excessivas (ELS-VE)
Estado em que as vibrações atingem os limites estabelecidos para a utilização normal da
construção.
Estado limite de formação de fissuras (ELS-F)
Estado em que se inicia a formação de fissuras. Admite-se que este estado limite é
atingido quando a tensão de tração máxima na seção transversal for igual a fctm.
Estado limite de descompressão (ELS-D)
Estado no qual em um ou mais pontos da seção transversal a tensão normal é nula, não
havendo tração no restante da seção. Verificação usual no caso do concreto protendido.
Estado limite de descompressão parcial (ELS-DP)
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Estado no qual garante-se a compressão na seção transversal, na região onde existem
armaduras ativas. Esta região deve se estender a uma distância maior que ap da face
mais próxima da cordoalha ou da bainha de protensão (ver Fig. 3.16).
Figura 3.16 – Estado limite de descompressão parcial
Estado limite de compressão excessiva (ELS-CE)
Estado em que as tensões de compressão atingem o limite convencional estabelecido.
Usual no caso do concreto protendido na ocasião da aplicação da protensão.
3.4 Resistências de cálculo
A resistência de cálculo fd é dada pela expressão:
m
k
d γ
f
f ,
onde fk é a resistência característica inferior e m é o coeficiente de ponderação das
resistências.
Para o estado limite último, os valores dos coeficientes estão indicados na Tab. 3.3.
TABELA 3.3 - Valores dos coeficientes c e s.
Combinações
Concreto
m= c
Aço
m= s
Normais 1,4 1,15
Especiais ou de construção 1,2 1,15
Excepcionais 1,2 1,0
Para o estado limite de serviço, não é necessário usar coeficientes de minoração e,
portanto, m= 1,0.
3.5 Valores de cálculo das ações
Os valores de cálculo Fd das ações são obtidos a partir dos valores representativos,
multiplicando-os pelos respectivos coeficientes de ponderação f , dados por:
f = f1 f2 f3 ,
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onde:
f1: considera a variabilidade das ações;
f2: considera a simultaneidade de atuação das ações;
f3: considera os desvios gerados nas construções, não explicitamente
considerados, e as aproximações feitas em projeto do ponto de vista das solicitações.
3.5.1 Coeficientes no estado limite último – ELU
Os valores base para o dimensionamento são os apresentados nas Tab. 3.4 e 3.5, para
f1.f3 e f2, respectivamente.
TABELA 3.4 - Coeficiente f = f1.f3
Combinações
de ações
Ações
Permanentes
(g)
Variáveis
(q)
Protensão
(p)
Recalques de
apoio e retração
D1) F G T D F D F
Normais 1,4 1,0 1,4 1,2 1,2 0,9 1,2 0
Especiais ou
de construção
1,3 1,0 1,2 1,0 1,2 0,9 1,2 0
Excepcionais 1,2 1,0 1,0 0 1,2 0,9 0 0
D = desfavorável, F = favorável, G = geral, T = temporária.
1) Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas,
especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3.
TABELA 3.5 - Valores do coeficiente f2
Ações
f2
o 1
1) 2
Cargas
acidentais de
edifícios
Locais em que não há predominância de pesos
de equipamentos que permanecem fixos por
longos períodos de tempo, nem de elevadas
concentrações de pessoas 2)
Locais em que há predominância de pesos de
equipamentos que permanecem fixos por
longos períodos de tempo, ou de elevada
concentração de pessoas 3)
Biblioteca, arquivos, oficinas e garagens
0,5
0,7
0,8
0,4
0,6
0,7
0,3
0,4
0,6
Vento
Pressão dinâmica do vento nas estruturas em
geral 0,6 0,3 0
Temperatura
Variações uniformes de temperatura em relação
à média anual local 0,6 0,5 0,3
1) Para os valores de 1 relativos às pontes e principalmente aos problemas de fadiga,
consultar a seção 23 da NB1.
2) Edifícios residenciais.
3) Edifícios comerciais e de escritórios.
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3.5.2 Coeficientes no estado limite de serviço – ELS
Em geral, o coeficiente de ponderação das ações para estados limites de serviço é dado
pela expressão:
f = 1 f2,
onde f2 tem valor variável conforme a verificação que se deseja fazer (Tab. 3.5):
f2 = 1 para combinações raras;
f2 = 1 para combinações freqüentes;
f2 = 2 para combinações quase permanentes.
3.6 Combinações de ações
3.6.1 Combinações últimas
Uma combinação última pode ser classificada em normal, especial ou de construção e
excepcional, conforme a Tab. 3.6.
A combinação última normal é a combinação utilizada na maioria dos casos para o
dimensionamento no ELU.
TABELA 3.6 – Combinações últimas
Combinações últimas
(ELU)
Cálculo das solicitações
Normais Fd = g Fgk + g Fgk + q (Fq1k + oj Fqjk) + q o Fqk
Especiais ou de
construção Fd = g Fgk + g Fgk + q (Fq1k + oj Fqjk) + q o Fqk
Excepcionais Fd = g Fgk + g Fgk + Fq1exc + q oj Fqjk + q o Fqk
Fd é o valor de cálculo das