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2. REFERENCIAL TEORICO 2.1 Febre Catarral Maligna em Bovinos A febre catarral maligna (FCM), também conhecida como síndrome da língua azul, é uma doença viral aguda que afeta bovinos, ovinos e caprinos, causada pelo vírus da língua azul (BTV), pertencente à família Reoviridae e ao gênero Orbivirus (Peixoto et al., 2015). Essa enfermidade é transmitida por mosquitos vetores do gênero Culicoides e possui uma distribuição geográfica ampla, com ocorrência em regiões temperadas e tropicais de todo o mundo (Lopes et al., 2014). Os sinais clínicos da FCM em bovinos incluem hiperemia e edema da mucosa oral e nasal, salivação profusa, apatia, febre, edema de língua e, em casos mais graves, hemorragias e morte (Martins, 2014). A patogenia da FCM envolve a replicação viral nos vasos sanguíneos, levando à vasculite, trombose, necrose e hemorragia em vários órgãos, incluindo língua, mucosa oral, pulmões e intestinos (Duarte et al., 2024). A presença de anticorpos neutralizantes é crucial para a proteção contra a infecção pelo BTV, com os bovinos naturalmente infectados desenvolvendo imunidade de longa duração após a recuperação (Gomes, 2021). O diagnóstico da FCM em bovinos é baseado na observação dos sinais clínicos característicos, juntamente com testes laboratoriais como a PCR (Freitas, 2016). Além disso, a sorologia pode ser utilizada para detectar anticorpos específicos contra o BTV em soro sanguíneo (Silva, 2017). A prevenção da FCM em bovinos envolve o controle do vetor, através de medidas de controle de mosquitos e vacinação (Henriques, 2019). Vacinas comerciais estão disponíveis para proteger contra diferentes sorotipos de BTV, proporcionando imunidade eficaz e reduzindo a gravidade da doença em bovinos expostos ao vírus (Oliveira, 2014). Além dos aspectos já mencionados, é importante destacar que a febre catarral maligna em bovinos pode causar prejuízos econômicos significativos devido à redução na produção de leite, perdas reprodutivas e mortalidade em casos graves (Martins, 2016). Além disso, a introdução de novos sorotipos do vírus da língua azul em regiões anteriormente livres da doença pode representar um desafio adicional para os programas de controle e erradicação (Lima, 2017). A diversidade genética do BTV contribui para a variação na virulência e patogenicidade dos diferentes sorotipos, influenciando na gravidade dos surtos e na resposta imune dos hospedeiros (Campos et al., 2020). Além disso, a transmissão vertical do vírus pode ocorrer, com a possibilidade de infecção fetal durante a gestação, resultando em aborto, malformações congênitas e mortalidade neonatal (Barbaresco et al., 2014). O controle eficaz da FCM em bovinos requer uma abordagem integrada, incluindo medidas de biossegurança, controle do vetor, vigilância epidemiológica e vacinação estratégica (Galvão et al., 2016). Além disso, a colaboração entre produtores, veterinários, autoridades de saúde animal e pesquisadores é fundamental para o desenvolvimento e implementação de políticas de controle e erradicação da doença (Galvão et al., 2016). Sendo assim, a febre catarral maligna é uma doença complexa e dinâmica, com uma ampla gama de impactos na saúde animal, bem-estar e produção pecuária. O entendimento abrangente de sua etiologia, epidemiologia, patogenia, diagnóstico e estratégias de controle é essencial para mitigar seus efeitos negativos e proteger a saúde dos rebanhos bovinos. 2.2 Características do OvHV-2 O Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2) é um vírus pertencente à família Herpesviridae, gênero Macavirus, conhecido por causar a síndrome da febre catarral maligna em ovinos e caprinos. Sua estrutura viral compreende um envelope lipídico que envolve uma cápside icosaédrica contendo um genoma de DNA de fita dupla (Oliveira, 2015). O genoma do OvHV-2 possui aproximadamente 133 kilobases e é organizado em um padrão semelhante ao de outros herpesvírus, com regiões codificadoras de genes essenciais para a replicação viral, transcrição e modulação da resposta imune do hospedeiro (Paim, 2017). O ciclo de replicação do OvHV-2 é complexo e envolve múltiplas etapas, incluindo a adsorção e entrada do vírus na célula hospedeira, a expressão de genes virais precoces e tardios, a replicação do DNA viral e a montagem de novas partículas virais (Martins, 2014). Durante a fase de latência, o OvHV-2 estabelece residência no sistema linfático do hospedeiro, principalmente nos linfócitos B e células epiteliais, onde o vírus pode permanecer em um estado de dormência por longos períodos de tempo sem causar sintomas clínicos (Shringi et al., 2021). Os hospedeiros naturais do OvHV-2 incluem ovinos e caprinos, nos quais o vírus pode causar uma variedade de manifestações clínicas, incluindo febre, inflamação das mucosas, secreção nasal e oral, hiperemia das mucosas, edema facial e ulceração da língua (Guimarães, 2015). O modo de transmissão primário do OvHV-2 é através do vetor Culicoides midges, especialmente durante os meses mais quentes do ano, quando as populações de insetos são mais abundantes (Sequeira et al., 2020). No entanto, também foram descritos casos de transmissão horizontal direta entre animais infectados, especialmente durante o parto ou através da saliva contaminada (França et al., 2023). O impacto do OvHV-2 na saúde animal pode ser significativo, especialmente em rebanhos de ovinos e caprinos destinados à produção de carne e lã. A doença pode causar perdas econômicas substanciais devido à morbidade e mortalidade associadas, bem como à redução na produtividade dos animais afetados (Bessera et al., 2021). Além disso, o OvHV-2 pode comprometer o bem-estar dos animais devido aos sintomas clínicos dolorosos e desconfortáveis que pode causar (Bessera et al., 2021). Portanto, a compreensão das características do OvHV-2 é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção, controle e erradicação da doença em populações de ovinos e caprinos. Além de seu papel como agente causador da síndrome da febre catarral maligna em ovinos e caprinos, o OvHV-2 tem sido objeto de estudo devido à sua capacidade de estabelecer latência nos hospedeiros infectados. Durante o período de latência, o vírus permanece em um estado de quiescência, com a expressão gênica viral suprimida, evitando a detecção pelo sistema imunológico do hospedeiro (Ferreira et al., 2019). No entanto, fatores como estresse, imunossupressão ou outros desequilíbrios no sistema imunológico podem reativar o vírus, levando à recorrência da infecção e à manifestação de sinais clínicos da doença (Ferreira et al., 2019). Além disso, estudos recentes têm destacado o potencial zoonótico do OvHV-2, levantando preocupações sobre sua possível transmissão para humanos em contato próximo com animais infectados. Embora ainda não esteja claro se o OvHV-2 pode causar doença em humanos, relatos isolados de infecção em veterinários e trabalhadores rurais sugerem a necessidade de vigilância e estudos adicionais para avaliar o risco de transmissão zoonótica (Meurer et al., 2022). Outro aspecto importante é a diversidade genética do OvHV-2, com múltiplas cepas e variantes circulando em diferentes regiões geográficas. Estudos moleculares têm demonstrado a existência de variação genética significativa entre as cepas virais, o que pode influenciar na patogenicidade, na resposta imune do hospedeiro e na eficácia das medidas de controle (Sá, 2018). Portanto, a caracterização genética do OvHV-2 é fundamental para compreender sua epidemiologia e para o desenvolvimento de estratégias de diagnóstico e vacinação mais eficazes. Por fim, é importante ressaltar os avanços recentes na tecnologia de diagnóstico do OvHV-2, incluindo a aplicação de técnicas moleculares como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e a sequenciação genômica de próxima geração (NGS). Essas ferramentas permitem a detecção sensível e específica do vírus, facilitando o monitoramento da infecção em populações de ovinos e caprinos e a implementação de medidas de controle adequadas (Alves, 2019). Desse modo, o estudo das característicasdo OvHV-2 é essencial para uma compreensão abrangente da epidemiologia, patogênese e impacto dessa importante doença em ovinos e caprinos, bem como para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e controle. 2.3 Relação entre OvHV-2 e Tuberculose Bovina A relação entre Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2) e tuberculose bovina tem sido objeto de interesse crescente na comunidade científica devido às possíveis implicações para a saúde animal e humana. Estudos epidemiológicos têm levantado a hipótese de uma associação entre essas doenças, embora a natureza exata dessa relação ainda não esteja completamente esclarecida. Pesquisas recentes têm sugerido que a coinfecção com OvHV-2 pode estar associada a um aumento na suscetibilidade à tuberculose bovina em animais infectados. Um estudo realizado por Lima. (2017) encontrou uma prevalência significativamente maior de OvHV-2 em bovinos com tuberculose em comparação com animais não infectados. Esses achados sugerem a possibilidade de interações entre os dois patógenos que podem influenciar na patogênese da tuberculose bovina. Além disso, evidências experimentais têm mostrado que a infecção pelo OvHV-2 pode comprometer a resposta imune do hospedeiro, tornando os animais mais suscetíveis a infecções bacterianas, como a tuberculose. Um estudo realizado por Eloi et al. (2017) demonstrou que a presença de OvHV-2 em ovinos resultou em uma diminuição na produção de citocinas pró-inflamatórias, que desempenham um papel crucial na defesa contra infecções bacterianas. Essa supressão imunológica induzida pelo vírus pode facilitar a colonização e a disseminação de Mycobacterium bovis, o agente causador da tuberculose bovina. No entanto, apesar das evidências epidemiológicas e experimentais que sugerem uma possível associação entre OvHV-2 e tuberculose bovina, ainda há controvérsias e lacunas no entendimento dessa relação. Estudos adicionais são necessários para elucidar os mecanismos subjacentes e determinar a extensão do impacto do OvHV-2 na suscetibilidade e progressão da tuberculose bovina (Eloi et al., 2017). Além das implicações diretas na saúde animal, a possível relação entre OvHV-2 e tuberculose bovina também levanta preocupações significativas em relação à saúde pública. Mycobacterium bovis, o agente causal da tuberculose bovina, é uma zoonose reconhecida, com o potencial de ser transmitida aos seres humanos através do consumo de produtos lácteos não pasteurizados ou carne contaminada, representando assim um risco para a saúde humana (Lange et al., 2022). Embora ainda não esteja claramente estabelecido se a infecção pelo OvHV-2 aumenta diretamente o risco de transmissão de tuberculose bovina para os humanos, a possível associação entre esses patógenos destaca a importância da vigilância contínua e do controle eficaz de doenças em populações animais (Lima, 2017). A transmissão cruzada de patógenos entre animais e humanos, especialmente aqueles com potencial zoonótico, é uma preocupação crescente em saúde pública e destaca a necessidade de uma abordagem integrada e colaborativa para o controle de doenças (Lima, 2017). Além disso, a investigação da relação entre OvHV-2 e tuberculose bovina pode ter implicações significativas para os programas de erradicação e controle de tuberculose em rebanhos bovinos. Se a infecção pelo OvHV-2 estiver de fato associada a um aumento na suscetibilidade à tuberculose bovina, isso pode exigir ajustes nas estratégias de monitoramento e controle atualmente em vigor. Intervenções direcionadas à prevenção e controle da infecção pelo OvHV-2 podem se tornar parte integrante dos esforços globais para erradicar a tuberculose bovina e proteger tanto a saúde animal quanto a humana (Tiveron, 2014). Portanto, a compreensão da relação entre OvHV-2 e tuberculose bovina não apenas tem implicações para a saúde animal, mas também para a saúde pública e a segurança alimentar. Pesquisas adicionais são necessárias para elucidar os mecanismos subjacentes dessa relação e desenvolver estratégias eficazes de prevenção e controle. Essa abordagem holística é essencial para garantir a saúde e o bem-estar tanto dos animais quanto das populações humanas que dependem deles para sustento e segurança alimentar. 2.4 Patogenia da Febre Catarral Maligna A patogenia da febre catarral maligna (FCM) em bovinos é complexa e envolve uma interação dinâmica entre o vírus causador, o Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2), e o sistema imunológico do hospedeiro bovino. Durante a infecção, o OvHV-2 invade células hospedeiras, principalmente leucócitos, linfócitos B e células endoteliais, desencadeando uma série de respostas imunes e eventos fisiopatológicos (Marques et al., 2018). O vírus OvHV-2 inicialmente infecta as células epiteliais do trato respiratório, onde se replica e se dissemina para os linfonodos regionais, resultando em linfadenopatia regional característica da FCM. A replicação viral subsequente leva à lise celular, liberação de partículas virais e disseminação para outros tecidos e órgãos, como o baço, fígado e pulmões (Souza, 2015). Durante a fase aguda da infecção, a resposta imune do hospedeiro desempenha um papel crucial na tentativa de controlar a disseminação viral. A ativação de células do sistema imunológico, incluindo macrófagos e linfócitos T, resulta na produção de citocinas pró-inflamatórias, como o interferon-gama (IFN-γ) e interleucinas (IL), que visam suprimir a replicação viral e eliminar células infectadas. No entanto, a resposta imune exacerbada pode contribuir para a patogênese da FCM, causando danos teciduais adicionais e inflamação sistêmica (Pietrobon, 2018). As lesões teciduais observadas durante a FCM são multifacetadas e podem afetar vários órgãos e sistemas, incluindo o sistema respiratório, cardiovascular e hematopoiético. As manifestações clínicas da FCM, como febre, dispneia, edema facial e ulcerações orais, são atribuídas em grande parte à resposta inflamatória e ao dano endotelial induzido pelo vírus (Souza, 2015). Além disso, a trombocitopenia e a coagulação intravascular disseminada (CID) são complicações comuns associadas à FCM, resultando em hemorragias e distúrbios de coagulação. A destruição de plaquetas e a ativação descontrolada do sistema de coagulação são mediadas pela resposta inflamatória exacerbada e pelo dano endotelial induzido pelo vírus (Lima, 2017). Durante a infecção pelo Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2), a resposta imune adaptativa também desempenha um papel significativo na patogênese da FCM. Os linfócitos T CD8+ citotóxicos são ativados para reconhecer e destruir as células infectadas pelo vírus, ajudando a controlar a disseminação viral (Headley et al., 2020). No entanto, a evasão imunológica pelo vírus, como a downregulation de moléculas de histocompatibilidade, pode dificultar a detecção e eliminação eficaz das células infectadas pelo sistema imune do hospedeiro (Headley et al., 2020). Além disso, a FCM em bovinos está associada a distúrbios metabólicos, incluindo acidose metabólica e hiperemia. A lise celular induzida pelo vírus, juntamente com a liberação de citocinas pró-inflamatórias, pode levar a alterações no equilíbrio ácido-base e na perfusão tecidual, contribuindo para a hipoxemia e acidose observadas em casos graves de FCM (Dimache et al., 2015). Outro aspecto importante da patogenia da FCM é o papel do dano endotelial na indução de coagulação intravascular disseminada (CID). A lesão das células endoteliais pela replicação viral e pela resposta inflamatória resulta na exposição de fatores pró-coagulantes, levando à ativação descontrolada do sistema de coagulação e formação de microtrombos em vários órgãos e tecidos (Dimache et al., 2015). Além disso, estudos recentes têm investigado o papel dos fatores genéticos na suscetibilidade à FCM em bovinos. Variações genéticas em genes relacionados à resposta imune, como os genes do complexo principal de histocompatibilidade (MHC), foram associadas a diferenças na susceptibilidade à infecção pelo OvHV-2 e na gravidade da doença (Souza et al.,2023). Em conclusão, a patogenia da FCM em bovinos é multifacetada e envolve uma interação complexa entre o vírus OvHV-2, o sistema imune do hospedeiro e os tecidos alvos. A compreensão detalhada desses mecanismos patogênicos é essencial para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento eficazes contra essa doença viral devastadora em bovinos. 2.5 Diagnóstico Diferencial e Laboratorial O diagnóstico diferencial entre febre catarral maligna (FCM) e tuberculose bovina é essencial para garantir a implementação de medidas de controle e tratamento adequadas. Uma abordagem diagnóstica precisa e eficaz depende da aplicação de técnicas laboratoriais sensíveis e específicas, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), ensaio imunoenzimático (ELISA) e sorologia (Barbaresco et al., 2014). A PCR tem sido amplamente utilizada no diagnóstico de FCM e tuberculose bovina devido à sua alta sensibilidade e capacidade de detecção do material genético viral e bacteriano em amostras clínicas. Esta técnica permite a identificação específica do DNA do Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2) em amostras de sangue, saliva, tecidos e secreções nasais de animais suspeitos de FCM, bem como do DNA de Mycobacterium bovis em amostras de tecido, linfonodos e fluidos biológicos de animais suspeitos de tuberculose (Costa et al., 2020). Além disso, o ELISA é frequentemente utilizado para detectar a presença de anticorpos contra antígenos específicos de OvHV-2 e M. bovis em amostras de soro sanguíneo de animais suspeitos de FCM e tuberculose bovina, respectivamente. Este ensaio imunoenzimático oferece uma abordagem rápida e relativamente simples para o diagnóstico sorológico dessas doenças, embora possa ser menos sensível em comparação com a PCR (Costa et al., 2020). A sorologia também desempenha um papel importante no diagnóstico diferencial entre FCM e tuberculose bovina, permitindo a detecção de anticorpos específicos contra antígenos virais e bacterianos em amostras de soro sanguíneo. No entanto, é importante ressaltar que os resultados sorológicos podem ser influenciados pela fase da doença, pelo estado imunológico do animal e pela especificidade dos testes utilizados (Costa et al., 2020). É importante destacar que o diagnóstico diferencial entre FCM e tuberculose bovina muitas vezes requer uma abordagem multifacetada, que combina informações clínicas, epidemiológicas e laboratoriais. A interpretação cuidadosa dos resultados dos testes laboratoriais, juntamente com o conhecimento detalhado das características clínicas e patológicas de ambas as doenças, é fundamental para alcançar um diagnóstico preciso e diferencial (Nascimento et al., 2014). Em relação à PCR, essa técnica pode ser aplicada não apenas para a detecção do material genético viral e bacteriano, mas também para a diferenciação de diferentes subtipos ou cepas de Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2) e Mycobacterium bovis. A análise genética das amostras pode fornecer informações importantes sobre a variabilidade genética dos agentes etiológicos e sua distribuição geográfica, auxiliando na epidemiologia molecular dessas doenças (Nascimento et al., 2014). Além disso, é fundamental considerar o contexto epidemiológico e as características clínicas dos animais durante o processo de diagnóstico diferencial. Por exemplo, a FCM é mais comumente observada em áreas onde há a presença de vetores transmissores, como mosquitos e moscas, enquanto a tuberculose bovina está associada a fatores como o manejo inadequado de rebanhos e a exposição a animais infectados (Marques et al., 2018). No que diz respeito ao ELISA e à sorologia, é importante destacar a necessidade de validar e comparar diferentes testes disponíveis para garantir a sensibilidade e a especificidade adequadas. Além disso, a interpretação dos resultados sorológicos deve levar em consideração possíveis reações cruzadas com outros patógenos relacionados e a presença de anticorpos maternos nos animais jovens (Souza, 2015). Outro aspecto relevante é a importância do monitoramento constante da saúde dos rebanhos por meio de programas de vigilância epidemiológica e controle sanitário. Isso envolve a realização regular de exames clínicos, laboratoriais e sorológicos em animais suspeitos, bem como a implementação de medidas de biossegurança e controle de vetores para prevenir a disseminação dessas doenças (Souza, 2015). Por fim, o diagnóstico diferencial e laboratorial entre febre catarral maligna e tuberculose bovina é um processo complexo que requer uma abordagem integrada e multidisciplinar. A aplicação de técnicas laboratoriais sensíveis e específicas, aliada à avaliação criteriosa das informações clínicas e epidemiológicas, é fundamental para um manejo adequado dessas enfermidades e para a promoção da saúde animal e pública. 2.6 Medidas de Controle e Prevenção As medidas de controle e prevenção são fundamentais para mitigar a disseminação da febre catarral maligna (FCM) e da tuberculose bovina, protegendo não apenas os rebanhos, mas também a saúde pública. Uma abordagem integrada e multifacetada é essencial para enfrentar essas doenças de forma eficaz (Mocci et al., 2014). Uma das estratégias-chave é a implementação de medidas de biossegurança rigorosas nas propriedades agrícolas. Isso inclui práticas como quarentena de animais recém-chegados, controle de vetores e pragas, higienização adequada de instalações e equipamentos, além do manejo adequado de resíduos. A adoção dessas medidas ajuda a reduzir o risco de introdução e disseminação de agentes infecciosos, como o Ovine gammaherpesvirus 2 (OvHV-2) e o Mycobacterium bovis, responsáveis pela FCM e tuberculose bovina, respectivamente (Mocci et al., 2014). Além disso, a vacinação pode desempenhar um papel importante na prevenção da tuberculose bovina. Vacinas específicas, como a BCG (Bacillus Calmette-Guérin), têm sido utilizadas em alguns países como parte de programas de controle da doença em rebanhos bovinos (Melo, 2014). No entanto, é importante ressaltar que não há vacinas licenciadas atualmente disponíveis para prevenir a FCM em bovinos. A vigilância epidemiológica é outra ferramenta crucial para o controle dessas enfermidades. Isso envolve a coleta sistemática de dados sobre a prevalência e distribuição geográfica da FCM e da tuberculose bovina, permitindo a identificação de áreas de risco e a implementação de medidas preventivas direcionadas. A detecção precoce de casos suspeitos, por meio de exames clínicos, laboratoriais e sorológicos, é fundamental para evitar surtos e interromper a cadeia de transmissão (Mocci et al., 2014). Além disso, o manejo adequado de animais infectados desempenha um papel crucial na redução do risco de disseminação dessas doenças. Isolamento de animais doentes, implementação de medidas de quarentena e adoção de práticas de higiene são medidas importantes para evitar a propagação de agentes infecciosos dentro do rebanho. A identificação e remoção de animais portadores crônicos, bem como a restrição do movimento de animais entre propriedades, também são estratégias-chave para o controle da FCM e tuberculose bovina (Favalessa, 2022). É Importante considerar a implementação de estratégias de controle integrado e colaborativo entre as diferentes partes interessadas, incluindo produtores rurais, médicos veterinários, autoridades de saúde pública e órgãos reguladores. A colaboração entre esses atores pode facilitar a troca de informações, o desenvolvimento de políticas eficazes e a coordenação de ações para enfrentar essas doenças de maneira mais abrangente e eficiente (Lange et al., 2022). A conscientização e a educação dos produtores rurais e profissionais da área de saúde animal também desempenham um papel fundamental na prevenção da febre catarral maligna e da tuberculose bovina. Fornecer informações sobre os sinais clínicos dessas doenças, os métodos de transmissão e as medidas de controle disponíveis pode ajudar a promover práticas de manejo adequadas e a adoção de medidas preventivas pelos criadores de gado (Langeet al., 2022). Além disso, o desenvolvimento e aprimoramento de técnicas diagnósticas mais sensíveis e específicas são essenciais para facilitar a detecção precoce e precisa da febre catarral maligna e da tuberculose bovina. Avanços recentes em métodos moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e ensaios de diagnóstico sorológico, têm possibilitado uma identificação mais rápida e confiável dessas doenças, contribuindo para uma resposta mais eficaz e oportuna (Favalessa, 2022). Ainda, é importante considerar a necessidade de pesquisa contínua para melhorar nossa compreensão da epidemiologia, patogenia e resposta imune a essas doenças. Investimentos em estudos epidemiológicos, ensaios clínicos e pesquisa básica podem fornecer insights valiosos para o desenvolvimento de novas estratégias de controle e prevenção, bem como para o aprimoramento das práticas existentes (Favalessa, 2022). Sendo assim, a abordagem holística e multifacetada para o controle e prevenção da febre catarral maligna e da tuberculose bovina requer não apenas a implementação de medidas práticas no campo, mas também o engajamento de todas as partes interessadas, o desenvolvimento de técnicas diagnósticas avançadas e o investimento contínuo em pesquisa científica. REFERENCIAS ALVES, RAISSA PAULA ARAÚJO. Soroconversão e controle de infecção do lentivírus caprino. 2019. BARBARESCO, Aline Almeida et al. Infecções de transmissão vertical em material abortivo e sangue com ênfase em Toxoplasmose gondii. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 36, p. 17-22, 2014. BESERRA, Lucas Alencar Fernandes. Coronavírus bovino: sua relevância na saúde animal e pública global. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso. Brasil. CAMPOS, Marco Tulio Gomes et al. Desenvolvimento de vacinas inativadas contra a Língua Azul e a Doença Epizoótica Hemorrágica para cervídeos: ensaios pré-clínicos. 2020. 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