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Estrutura da Matéria Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Francisco de Assis Cavallaro Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Relatividade Restrita • Teoria da Relatividade; • Relatividade Restrita; • Referenciais; • Dilatação Temporal; • Momentum Relativístico; • Massa Relativística; • Energia Relativística. • Permitir a obtenção de bases fundamentais sobre a Teoria da Relatividade Restrita de Albert Einstein, proporcionando conhecimentos sobre cinemática e dinâmica relativísticas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Relatividade Restrita Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Relatividade Restrita Teoria da Relatividade Até o final do século XIX, acreditava-se que as três leis do movimento de Newton e as ideias associadas acerca das propriedades do espaço e do tempo forneciam a base para que o movimento da matéria fosse completamente compreendido. Entretanto, a formulação de Maxwell de uma teoria unificada do eletromagnetismo rompeu com esse estado confortável – a teoria era muito bem-sucedida, mas, em um nível fundamental, ela parecia ser inconsistente com certos aspectos das ideias newtonianas de espaço e tempo. Como resultado, uma modificação radical desses conceitos e, consequente- mente, das próprias equações de Newton, foi necessária. Foi Albert Einstein quem, ao combinar os resultados experimentais e argumentos físicos de outros cientistas com suas próprias ideias, foi o primeiro a formular os novos princípios em termos, os quais espaço, tempo, matéria e energia foram bem compreendidos. A Teoria da Relatividade foi desenvolvida por Albert Einstein de 1905 (Rela- tividade Restrita) a 1916 (Relatividade Geral). Ela afirma que as propriedades de espaço e tempo dependem do estado de movimento do observador em relação a seu referencial (velocidade, aceleração) e de sua posição em relação a massas muito grandes e densas. A partir de agora, vamos iniciar nossos estudos a respeito da relatividade restrita de Einstein. Relatividade Restrita A teoria especial da relatividade foi uma das grandes teorias da física que surgiu no início do século XX, quando Albert Einstein fez sua apresentação à comuni- dade científica, em 1905. A teoria especial da relatividade de Einstein questiona pressupostos sobre a natureza do espaço e do tempo que eram fortemente aceitos. Aprendemos, na física elementar, que as leis de Newton do movimento devem ser consideradas em relação a algum sistema de referência. Um sistema de referência é chamado de sistema inercial se as leis de Newton forem válidas nesse sistema de referência. Se um corpo não está sujeito a uma força externa resultante, ele se moverá em linha reta e com velocidade constante. Se as leis de Newton são válidas em um sistema de referência, então, elas serão válidas em um sistema de referência que está se movendo em uma velocidade relativa uniforme em relação ao primeiro sistema. Essa afirmação é conhecida como o princípio newtoniano da relativida- de ou, também, a invariância de Galileu. Assim, de certa forma, a relatividade não é nova, pois Galileu já havia feito uma proposta nesse sentido, porém, sem pensar em questionar a relatividade do tempo e do espaço, apenas tentando estudar o comportamento de corpos em movimento em referenciais fixos e em referenciais com movimento relativo com velocidade 8 9 constante em relação ao fixo. Assim, algumas das ideias sobre a relatividade fazem parte da mecânica newtoniana, mais precisamente, da mecânica galileana. Einstein (Figura 1), no entanto, pensava que a relatividade deveria aplicar-se a todas as áreas da física e não somente à mecânica. Entretanto, há alguns aspectos da relatividade que parecem ser incompatíveis com as leis do eletromagnetismo, sobretudo as leis que regem a propagação de ondas luminosas. Com isso, alguns cientistas acredita- vam que a relatividade não se aplicava ao eletromagnetismo. O que Einstein fez foi mudar a nossa compreensão sobre a definição de espaço e tempo. Figura 1 – Foto de Albert Einstein em 1904 aos 25 anos Fonte: Wikimedia Commons Newton mostrou que não era possível determinar o movimento absoluto no es- paço por qualquer experimento, assim, ele decidiu usar o movimento relativo. Além disso, os conceitos newtonianos de tempo e espaço são completamente separáveis. Considere dois sistemas de referência inerciais, K e K’, respectivamente, com velo- cidade relativa uniforme v , conforme mostrado na Figura 2. v� y y’ z z’ x x’ O K O’ K’ Figura 2 – O sistema K está fi xo e o sistema K’ está se movimentando em relação a K com velocidade v 9 UNIDADE Relatividade Restrita Lá, é mostrado o sistema K’ movendo-se à direita com velocidade v em relação ao sistema K, que está fixo ou estacionário em alguma posição. É resultado da te- oria da relatividade que não há sistemas de referência absolutos (ou absolutamente fixos). Usamos o termo fixo para nos referir a um sistema que esteja fixo sobre um objeto particular, tal como um planeta, uma estrela ou uma espaçonave que está se movendo no espaço. A transformação das coordenadas de um ponto de um sistema para outro é dada por: x’ = x – vt (1a) y’ = y (1b) z’ = z (1c) De forma similar, a transformação inversa é dada por: x = x’ + vt (2a); y = y’ (2b); z = z’ (2c); em que fizemos t = t’, pois Newton considerava o tempo absoluto. As equações apresentadas são chamadas de transformações de Galileu. As leis de Newton do movimento são invariantes sob uma transformação galileana, ou seja, elas possuem a mesma forma algébrica nos sistemas K e K’. No final do século XIX, Einstein estava interessado em uma característica: em- bora as leis de Newton do movimento mantenham a mesma forma algébrica sob as transformações de Galileu, as equações de Maxwell do Eletromagnetismo não preservavam sua forma. Eistein acreditava muito nas equações de Maxwell, pois ele mostrou que havia um problema significativo em nossa compreensão do princípio da relatividade newtoniano. Em 1905, ele publicou as ideias que atacaram vários fundamentos da física e da ciência. Ele propôs que o espaço e o tempo não fossem mais entidades separadas e que as Leis de Newtonsão apenas aproximações de leis mais gerais. Essa teoria especial da relatividade e suas ramificações são o assunto desta Unidade. Conforme os conceitos de relatividade tornaram-se úteis na pesquisa e ao desen- volvimento, tornou-se também essencial compreender a transformação do momento, força e energia. Aqui, estudaremos, após o estudo da cinemática relativística (espa- ço, tempo e velocidade), a dinâmica relativística e a relação entre massa e energia, que conduz a uma das mais famosas equações da física e a uma nova lei de conser- vação de massa-energia. Em sua primeira teoria da relatividade, Einstein abordava os referenciais iner- ciais, cujo movimento é realizado em velocidade relativa constante, com aceleração nula. Esse movimento é dito “restrito”, pois se trata de uma restrição em relação à teoria geral da relatividade. Por essa razão, a primeira teoria foi denominada “Teo- ria da Relatividade Especial ou Restrita”. 10 11 Após dez anos, em 1915-16, Einstein publicou uma teoria mais abrangente, que considerava o movimento acelerado e sua relação com a gravidade, em que se des- creveram, a partir dela, os buracos negros (porém, isso não foi feito nem naquela ocasião e nem foi feito por Einstein), a evolução do universo (tempos depois) e a curvatura do espaço-tempo. O conteúdo e objetivo dessa teoria eram mais genera- lizados, sendo por essa razão denominada “Teoria da Relatividade Geral”. Pos tulados Fundamentais da Teoria da Relatividade Restrita Na virada do século XX, o experimento de Michelson-Morley tinha descartado a ideia de se encontrar um sistema inercial preferencial para as equações de Maxwell, mesmo porque a transformação de Galileu, que funcionou bem para as leis da mecânica, não funcionou para as equações de Maxwell. Esse inconveniente repre- sentou um ponto de virada na física. Introdução experiência de Michelson-Morley. Disponível em: https://youtu.be/bv2ataBdQ78 Ex pl or Einstein (1879-1955) tinha somente dois anos de idade quando Michelson anunciou seu primeiro experimento com resultado nulo para a existência do éter. Einstein disse que começou a pensar no problema da relatividade com apenas 16 anos, justamente acerca da conservação ou não da forma algébrica das equações de Maxwell em sistemas inerciais em movimento e, em 1905, quando tinha 26 anos de idade, ele publicou sua proposta inicial com o título “Acerca da eletrodinâ- mica dos corpos em movimento”, originalmente em alemão (Annalen der Physik 17, nº 04, 1905). Esse foi o ponto de partida e, trabalhando sem o benefício das discussões com os colegas fora de seu pequeno círculo de amizade, Einstein era, aparentemente, desprovido de interesse em relação ao resultado nulo da Experi- ência de Michelson-Morley. A questão se Einstein sabia ou não da experiência de Michelson-Morley é algo incerto. Pode-se ver, por exemplo, J. Stachel, “Einstein and Ether: Drift Experiments”, Physics Today (Maio de 1987, p.45). Einstein encarou o problema de maneira mais formal e acreditava que as equa- ções de Maxwell deveriam ser válidas em todos os sistemas inerciais. Com maes- tria, Einstein foi capaz de juntar resultados aparentemente inconsistentes relativos às leis da mecânica e ao eletromagnetismo com o auxílio de apenas dois postula- dos, que são: • Primeiro postulado (conhecido como princípio da relatividade): as leis da física são as mesmas em todos os referenciais de inércia. O Postulado 1 inclui todos os fenômenos físicos, como os mecânicos e os eletro- magnéticos. Uma consequência desse postulado é que não existe nenhum refe- rencial inercial principal, ou seja, o movimento absoluto não pode ser detectado; • Segundo postulado (invariância de c): a velocidade da luz no vácuo tem o mesmo valor em todos os referenciais de inércia. 11 UNIDADE Relatividade Restrita O Postulado 2 segue o primeiro e descreve uma propriedade comum a todas as ondas, ou seja, diz que as ondas luminosas, que se propagam no vácuo e, portanto, não necessitam de um meio material para se propagar, estão na mesma categoria que os outros tipos de onda (e.g. ondas sonoras), que neces- sitam de um meio para se propagar. Referenciais Referencial é definido como um sistema de coordenadas em que observadores, dispondo de réguas, de cronômetros ou de qualquer outro equipamento necessário às mensurações, medem a posição e o tempo de objetos em movimento, conforme ilustrado na Figura 3. Três ideias estão implícitas nessa definição: • Todo referencial estende-se infinitamente em todos os sentidos; • Os observadores estão em repouso em relação ao seu referencial; • O número de observadores e a qualidade do equipamento que foram usados nas observações são suficientes para medir as posições e as velocidades com alto nível de precisão estabelecido. Figura 3 – Referencial inercial. Sistema de coordenadas espaço-tempo Fonte: Wikimedia Commons Importante! Todos os observadores que estejam em repouso, uns em relação aos outros, pertencem ao mermo referencial. Importante! 12 13 Princípio da Relatividade de Einstein Em 1801, Thomas Young demonstrou que a luz é uma onda. Maxwell concluiu, em 1862, que a luz é uma onda eletromagnética, tudo isso, após a descoberta de Faraday, em 1831, do fenômeno da indução eletromagnética. A partir desses acon- tecimentos, a pergunta que se fazia era sobre qual meio a luz se propagava. O meio no qual se supunha que as ondas luminosas se propagavam foi chamado de éter luminífero. No entanto, os esforços feitos para detectar e medir as propriedades do éter não produziam resultados. Segundo Maxwell, consoante sua teoria do eletromagnetismo, as ondas lumino- sas propagam-se no vácuo com a velocidade c da luz: 8 0 0 1 3 10 /c m s e m = @ ´ (3) A História da Velocidade da Luz. Disponível em: https://youtu.be/bkRxUMvn_uA Ex pl or O que se pensava naquela metade do século XIX era que as leis de Maxwell do eletromagnetismo seriam válidas somente no referencial do éter, ou seja, a ideia- -chave era de que a velocidade da luz variava de acordo com o referencial utilizado. Ao final do século XIX, pensava-se que a teoria de Maxwell não obedecia ao princípio da relatividade clássica, pois somente se considerava o referencial do éter, onde, supostamente, seriam válidas as leis de eletromagnetismo. Ainda jovem, Einstein já se perguntava sobre as inconsistências da propagação das ondas eletromagnéticas. Uma onda eletromagnética se sustenta porque um campo magnético variável induz à formação de um campo elétrico, e um campo elétrico variável induz à formação de um campo magnético. Todavia, para alguém que se move junto com a onda, os campos não são variáveis. Nesse caso, como poderia existir uma onda eletromagnética se propagando? Vários anos de reflexão sobre a relação entre o eletromagnetismo e os referen- ciais levaram Einstein a concluir que todas as leis da física, e não apenas as leis da mecânica, obedeceriam ao princípio da relatividade, ou seja, o princípio da relativi- dade é o postulado fundamental do universo físico. O princípio da relatividade de Galileu, que privilegiava um referencial, foi modi- ficado e, então, Einstein propôs um princípio análogo muito mais geral: Importante! Princípio da Relatividade de Einstein: todas as leis da física preservam sua forma algébrica em relação a qualquer referencial inercial. Importante! 13 UNIDADE Relatividade Restrita As Transformações de Lorentz Os dois postulados de Einstein são usados para obter uma transformação entre sistemas de referência inerciais, tais que todas as leis físicas, incluindo as leis da di- nâmica de Newton e as equações de Maxwell do eletromagnetismo permanecerão com a mesma forma. Podemos assumir que o sistema fixo é o K e o sistema móvel é o K’. Em t = t’, as origens e os eixos de ambos os sistemas são coincidentes, e o sistema K’ está se movendo no sentido positivo do eixo x. Um sinal de luz é emiti- do da origem dos sistemas de referência em t = t’ = 0. De acordo com o segundopostulado, a velocidade da luz será c em ambos os sistemas e as frentes de onda observadas em ambos os sistemas deverãos ser esféricas e descritas por: x2 + y2 + z2 = (ct)2 (4a) x’2 + y’2 + z’2 = (ct’)2 (4b) Essas duas equações são inconsistentes com as transformações de Galileu, pois uma frente de onda pode ser esférica apenas em um dos sistemas se o segundo está se movendo com velocidade v em relação ao primeiro. As transformações de Lorentz necessitam que ambos os sistemas tenham a mesma frente de onda esféri- ca centrada na origem de cada um dos sistemas. Outra ruptura clara com a física galileana é a não suposição de que t = t’. Cada um dos sistemas terá seus próprios relógios e réguas de medida. Visto que os sistemas se movimentam apenas ao longo de seus eixos x, observadores em ambos os sistemas concordam pela observação direta que y’ = y (5a); z’ = z (5b). Sabemos que a transformação de Galileu x’ = x – vt está errada, mas podemos perguntar: qual é a transformação correta? Precisamos de uma transformação li- near de modo que, a cada evento no sistema K, há a correspondência de um, e apenas um, evento no sistema K’. A transformação linear mais simples é posta na forma: x’ = g(x – vt) (6) Veremos se tais transformações são suficientes. O parâmetro g não depende da escolha de x ou de t, pois a transformação deve ser linear. Ele deve ser próximo de 1 para v 0,1 ou g ≈ 1,005. Eventos e o Espaço-Tempo de Minkowski Um evento é algo que acontece em um ponto definido do espaço e em um ins- tante definido de tempo. Contudo, as coordenadas de um evento, medidas em relação a referenciais dife- rentes, são iguais, podendo concluir que as suas respectivas coordenadas espaço- -temporais também são diferentes. 16 17 Quando descrevemos eventos em relatividade, é algumas vezes conveniente re- presentar os eventos em um diagrama de espaço-tempo, conforme mostrado na Figura 4. Linha do Universo B A 0 x ct ctB ctA xA xB Figura 4 – Diagrama de espaço-tempo de Minkowski Por conveniência, utilizamos apenas uma coordenada espacial x para especifi- car a posição nessa única dimensão. Também usamos ct ao invés do tempo, de modo que ambas as coordenadas terão dimensão (ou unidades) de comprimen- to. Os diagramas de espaço-tempo foram concebidos por Hermann Minkowski em 1908 e, por esse motivo, são conhecidos como diagramas de Minkowski. Os eventos possuem quatro dimensões. Os eventos A e B da Figura 4 são denotados pelas respectivas coordenadas (χA, ctA) e (χB, ctB), respectivamente. A linha que concecta os eventos A e B representa a trajetória que vai de A para B e é chamada de Linha de Universo. Uma espaçonave lançada de x = 0 e ct = 0 com velocidade constante v possui uma linha de universo na Figura 5: é a linha com inclinação c/v. Já o sinal de luz enviado a partir da origem e tendo velocidade c, a linha de Universo é representada por uma reta com inclinação c/c = 1 ou ân- gulo de inclinação de 45º. Qualquer movimento real possui ângulo de inclinação maior do que 45º, pois qualquer objeto em movimento possui velocidade menor do que a velocidade da luz no vácuo. ct v c x 0 Espaçonave Sinal de luz Figura 5 – Reta designando um sinal de luz e uma espaçonave no diagrama do espaço-tempo 17 UNIDADE Relatividade Restrita Sendo assim, podemos definir as coordenadas espaço-temporais de um evento medidas por observadores fixos no referencial S como (x, y, z, t), enquanto que, para o mesmo evento, medidas por observadores fixos no referencial S’ são (x’, y’, z’, t’). Sendo diferentes as coordenadas de um evento medidas em referenciais diferentes, há uma variável em que os observadores, em seus respectivos referenciais, concor- dam. Essa variável, denominada intervalo espaço-temporal s, é definida a seguir: s2 = c2(Dt)2 – (Dx)2 (18) Exemplo 1: Uma bomba explode na origem de um referencial inercial. Após 2,0 µs, uma segunda bomba explode a uma distância de 300 m da origem. Astronautas que passam em um foguete medem a distância entre as explosões como sendo 200 m. De acordo com os astronautas, quanto tempo decorreu entre as duas explosões? Resolução: s2 = c2 (Dt)2 – (Dx)2 = (3 × 108)2 (2,0 × 10–6)2 – 3002 = (600 m)2 – (300 m)2 = 270 000 m2 O intervalo espaço-temporal é igual no referencial S’, ou seja, s = s’. Logo: s2 = s’2 = 270 000 m2 = c2 (Dt’)2 – (Dx’)2 = c2 (Dt’)2 – (200 m)2 (cDt’)2 = 270 000 m2 + 40 000 m2. Portanto, 2310000 576,8c t m m¢D = = . Assim: 8 576,8 3 10 / mt m s ¢D = = ´ Portanto: Dt’ = 1,86 µs. Simultaneidade A simultaneidade entre dois eventos é determinada quando os eventos realmente ocorreram e não quando eles foram observados. Contudo, eventos simultâneos não são vistos ao mesmo tempo devido à diferença dos tempos de propagação da luz entre os locais dos eventos e o observador. 18 19 Portanto, a simultaneidade depende do movimento do observador, sendo que, se a velocidade relativa entre os observadores for muito menor que a velocidade da luz, os desvios da simultaneidade não serão notados. Dilatação Temporal v 2 c t⋅∆ 2 v t⋅∆ d R v t⋅∆ Figura 6 – Ilustração sobre dilatação temporal Para um referencial R, que se move em relação ao local onde ocorrem eventos, o intervalo de tempo Dt entre os eventos é maior que o intervaloDt’ medido pelo referencial R’, em repouso em relação ao local dos eventos. A isso se dá o nome de dilatação do tempo. Podemos definir a dilatação do tempo por intermédio das seguintes fórmulas: Dt = gDt0 (19) 2 2 2 1 1ou 1 1 v c g g b = = - - (20) em que: • g é o fator de Lorentz; • v é a velocidade medida onde ocorreu o evento; • c é a velocidade da luz no vácuo. A Dilatação Temporal também pode ser escrita na seguinte forma: 2 21 tt v c ¢D D = - (21) 19 UNIDADE Relatividade Restrita Exemplo 2: Considerando a situação anterior, suponha que um relógio, no pulso do obser- vador de R’, registre, entre dois eventos, um intervalo de tempo Dt’ = 12 min e que a velocidade do vagão seja v = 0,8c. Calcule o tempo registrado por um relógio no pulso do observador de R: Resolução: ( )2 2 2 2 12 12 1 0,640,81 1 tt v c c c ¢D D = = = - - - Logo: Dt = 20min Tempo Próprio O tempo próprio é definido como o intervalo de tempo entre dois eventos que ocorrem na mesma posição espacial. Paradoxo dos Gêmeos. Disponível em: https://youtu.be/98OvQpOkOIU Ex pl or Contração Espacial ou Contração de Lorentz v R’ Túnel v R Figura 7 – Ilustração sobre a contração espacial ou contração de Lorentz O observador em movimento que vai atravessar o túnel medirá o mesmo comprimento deste túnel que o observado parado? 20 21 Para um corpo que está em repouso em relação a um referencial R, esse corpo tem comprimento l, e para um referencial R’, que se move em relação ao mesmo corpo, o comprimento desse corpo é l’, sendo l’ menor que l. A diminuição da distância entre dois objetos, medida por um observador que se move em relação a eles, chamada de contração espacial ou contração de Lorentz, só acontece na direção do movimento. Com isso, a contração espacial é escrita conforme a seguinte fórmula: 2 21 vl l c ¢ = - (22) O comprimento de um objeto é máximo em relação ao referencial em que o objeto se encontra em repouso e é menor quando é medido em relação a qualquer referencial em que o objeto esteja em movimento. A conclusão de que o espaço é diferente em relação a referenciais que se mo- vem um em relação ao outro é uma consequência direta do fato de que o tempo é diferente nesse caso e ele é dilatado na mesma proporção. Observadores fixos em ambos os referenciais concordam em relação à velocidade relativa v. Logo, l’ tem de ser menor do que l. Essa é a única maneira de os observadores fixos nos dois referenciais conciliarem suas medidas. Exemplo 3: Um foguete viaja em linha reta do Sol até Saturno com velocidade constante de 0,9c, relativo ao Sistema Solar. A distância entre Saturno e o Sol é de 1,43 × 1012 m. Calcule a distância entre o Sol e Saturno medida em relação ao referencial do foguete. Resolução: ( )2 2 12 121 1 0,9 1,43 10 0,62 10l l m mb¢ = - = - ´ = ´ Adição de Velocidades Relativísticas Consideremos a situação a seguir, em que as velocidades têm a mesma direção e mesmo sentido: Ilustração sobre a adição de velocidades relativísticas: http://bit.ly/31KrUE6 Ex pl or O vagão move-se com velocidade v em relação ao solo, e um objeto P move-se com velocidade u’ em relação ao vagão. Pode-se demonstrar que a velocidade u do objeto P em relação ao solo é dada por: 21 UNIDADE Relatividade Restrita 21 u vu u v c ¢+ = ¢ + (23) Ao usar essa expressão, cada velocidade terá um valor algébrico: positivo, quan- do tem o mesmo sentido do eixo de referência, e negativo, quando tem sentido oposto ao movimento nesse eixo. Se u e v forem muito menores que c, essas relações reduzem-se às equações newtonianas. Mas, se as velocidades forem comparáveis à da luz, é necessário usar a transformação relativística. O caso extremo ocorre quando v’ = c; então, qualquer que seja o valor de u tem-se v = c. Ou seja, está de acordo com o segundo postu- lado da relatividade. Exemplo 4: Uma nave no referencial R’ move-se com velocidade 0,80c em relação ao solo (referencial R), quando lança um projétil com velocidade 0,60c em relação a ela e no mesmo sentido. Calcule a velocidade u do projétil em relação ao solo. Resolução: 22 0,60 0,80 1,40 0,950,80 0,60 1,4811 u v c c cu cc cu v cc ¢+ + = = = = ¢ × ++ Momentum Relativístico Antes de definirmos o momentum (momento linear) ou momento relativístico, é necessário recordar alguns conceitos da dinâmica referentes a essa grandeza física chamada momento linear e de sua conservação durante as interações e as condi- ções para que isso ocorra. O momento linear, também conhecido como quantidade de movimento, é uma grandeza vetorial necessária ao estudo das interações entre corpos. É uma característica que todo sistema ou objeto tem relacionada à sua massa e velocidade, simultaneamente: p mv= (24) em que m é a massa do corpo e v sua velocidade. Há conservação do momento linear de um sistema se o momento linear ini- cial for igual ao momento linear final. Isso ocorre sempre que o sistema puder ser considerado isolado de forças externas. Pela segunda Lei de Newton, sendo assim, o momento linear é uma constante do movimento e, nesse caso, ele é conservado. 22 23 O momento total de um sistema é definido pela soma vetorial de seus momen- tos lineares, sendo dado por: i i i i iP p m v= =å å (25) Contudo, essa grandeza por si só não é invariante relativisticamente, ou seja, se o momento linear for conservado num referencial inercial S, não haverá conserva- ção em outro referencial inercial S’ em movimento em relação a S. Como sabemos, são necessárias modificações apropriadas nos princípios da dinâmica para se adaptarem aos postulados da relatividade. Com isso, para que a lei de conservação do momento linear seja válida em todos os referenciais inerciais, é preciso que a definição de momento de um corpo seja modificada, introduzindo-se o fator de Lorentz em sua definição. Sendo assim, pode-se definir o momentum relativístico por intermédio da seguinte equação: ( )0 02 21 m vp v m v v c g= = - (26) Com essa definição, o momento linear total de um sistema isolado de partícu- las é conservado em qualquer referencial inercial, e é dado por: ( )i i i i i iP p v m vg= =å å (27) Massa Relativística Analisemos a seguinte situação: sendo m0 a massa medida de um objeto em re- pouso em relação ao solo e estando, agora, esse objeto em movimento em relação ao chão, com velocidade v, pode-se demonstrar que, nessa nova situação, a massa do objeto passa a ser m, conforme a seguinte fórmula: 0 2 21 mm v c = - (28) em que m é chamada massa relativística, indicando que a massa em movimento é maior que a sua massa de repouso, isto é, a massa é função da velocidade. Assim, quanto maior for sua velocidade v, maior será a sua massa relativística m. Exemplo 5: Calcule a massa que teria uma pessoa se pudesse se mover com velocidade 0,8c, considerando sua massa de repouso igual a 60 kg. 23 UNIDADE Relatividade Restrita Resolução: ( ) 0 2 2 2 2 60 60 100 1 0,640,801 1 mm kg v c c c = = = = - - - Energia Relativística Espaço, tempo, velocidade e momento linear são transformados pela relativida- de; portanto, é adequado que também façamos uma modificação na definição de energia, em particular, a energia cinética, pois ela está relacionada com o momento linear da partícula. Energia Total Relativística Supondo a energia potencial igual a zero, a energia total relativística E é dada pela soma da energia cinética K com a energia de repouso E0. Com isso, podemos definir a energia total relativística por: E = K + E0 = K + m0c 2 (29) que é a energia cinética mais a energia de repouso. A energia total pode ser escrita na seguinte forma, usando-se o fator de Lorentz g: 2 2 20 0 2 21 m cE m c mc v c g= = = - (30) Energia de repouso (E0) É a energia da partícula em repouso, quando sua velocidade é igual a zero. É uma energia associada à massa da partícula, dada por: E = m0c 2 (31) Energia cinética (K) Da física clássica, a energia cinética édefinida pela expressão: 21 2 K mv= (32) 24 25 Partindo da expressão da Energia Total Relativística, podemos escrever a ener- gia cinética K como: K = E – E0 (33) K = gm0c 2 – m0c 2 (34) Trata-se de uma energia associada ao movimento. Contudo, existe uma energia inerente associada à massa. Assim, podemos definir a energia cinética relativística como sendo: K = m0c 2 (g – 1), (35) em que g é o fator de Lorentz. Equivalência massa-energia A relação massa-energia, dada pela fórmula de Einstein E = mc2, tem uma ca- racterística comum, pois a massa total do sistema é diferente no estado final do que era no estado inicial, ou seja, não há conservação de massa. Em todos os casos, observa-se uma mudança correspondente na energia, que é consistente com a as- sociação de uma energia mc2 com a massa m. Na fissão nuclear; um núcleo pesado como o de urânio, em repouso, quebra- -se em duas partes que saem com energia cinética considerável. A massa total dos fragmentos é menor que a do núcleo original e o aumento da energia cinética é explicado exatamente por essa associação. Importante! Partículas podem ser criadas a partir de energia e, também, podem se transformar em energia. Importante! Esse é um acontecimento frequente nos aceleradores de partículas, onde, em certos casos, uma partícula é acelerada para colidir com uma outra partícula alvo, podendo gerar maior massa final (com a produção de novas partículas) em relação à massa de repouso da partícula alvo e a consequente liberação de energia. É digno de esclarecimento que, em decorrência da equivalência entre massa e energia, todo sistema ligado, pelo fato da energia de ligação ser sempre uma quan- tidade negativa, possui a soma das massas dos constituintes separados menor do que os constituintes ligados. Por exemplo, se pesarmos dois prótons e dois nêutrons em separado (desprezando a massa dos dois elétrons), a soma de suas massas será menor do que as quatro partículas ligadas formando um núcleo de hélio. Ao ligar as partículas, parte da massa é usada na energia de ligação. Sirius: o maior e mais complexo laboratório brasileiro. Disponível em: https://youtu.be/lbxOSSUkgv0 Ex pl or 25 UNIDADE Relatividade Restrita Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos O Paradoxo dos Gêmeos Explicado https://youtu.be/98OvQpOkOIU Introdução Experiência de Michelson-Morley https://youtu.be/bv2ataBdQ78 A História da Velocidade da Luz https://youtu.be/bkRxUMvn_uA Sirius, o maior e mais complexo laboratório brasileiro https://youtu.be/lbxOSSUkgv0 Leitura O Eclipse de 1919: A Comprovação da Teoria da Relatividade Geral http://bit.ly/2qM0EID Teoria da relatividade de Einstein é comprovada fora da Via Láctea https://glo.bo/2NiC2Po 26 27 Referências HALLIDAY , D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: óptica e física moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica – relatividade e física quântica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. TIPLER, P. A.; LLEWELLYN, R. A. Física Moderna. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. 27