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Como se desenvolveu o contexto
histórico da ditadura militar no Brasil?
A ditadura militar no Brasil (1964-1985) teve início na madrugada de 31 de março para 1º de abril de
1964, quando tropas militares de Minas Gerais, lideradas pelo General Olympio Mourão Filho, marcharam
em direção ao Rio de Janeiro. O pretexto para o golpe foi o discurso do presidente João Goulart no dia
13 de março, na Central do Brasil, onde anunciou as reformas de base, incluindo a reforma agrária que
previa a desapropriação de terras a 10 km das rodovias federais. O regime militar rapidamente se
consolidou com o apoio de empresários como Augusto Trajano de Azevedo Antunes e veículos de
comunicação como O Estado de São Paulo e O Globo.
O aparato repressivo do Estado foi sistematicamente organizado. O AI-5, decretado em 13 de dezembro
de 1968, foi redigido pelo ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva e deu poderes quase
ilimitados ao presidente Costa e Silva. A Operação Bandeirantes (OBAN), criada em 1969 em São Paulo,
foi o embrião do que se tornaria o DOI-CODI, responsável por mais de 50% dos casos de tortura
registrados no período. No prédio da Rua Tutoia, em São Paulo, o delegado Sérgio Paranhos Fleury
comandou algumas das sessões mais brutais de interrogatório, incluindo a que levou à morte do
guerrilheiro Carlos Marighella em 4 de novembro de 1969.
O "milagre econômico" (1969-1973), comandado pelo ministro Delfim Netto, alcançou taxas de
crescimento de até 13% ao ano. Obras faraônicas como a Transamazônica (BR-230), iniciada em 1970, e
a Ponte Rio-Niterói, inaugurada em 1974, simbolizavam o desenvolvimentismo do período. Porém,
enquanto o PIB crescia, o salário mínimo real caiu 25% entre 1964 e 1974, e a dívida externa saltou de
US$ 3,7 bilhões em 1964 para US$ 49,9 bilhões em 1979.
Em 28 de março de 1968, a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, no restaurante Calabouço
no Rio de Janeiro, desencadeou uma onda de protestos que culminou na Passeata dos Cem Mil, em
26 de junho. Na UnB, a invasão de 29 de agosto de 1968 resultou em 500 prisões e na demissão de
15 professores. O jornalista Vladimir Herzog foi assassinado em 25 de outubro de 1975 nas
dependências do DOI-CODI em São Paulo, com um cenário forjado para parecer suicídio.
O projeto Brasil: Nunca Mais, coordenado pela Arquidiocese de São Paulo, documentou 1.843 casos
de tortura entre 1964 e 1979. A Casa da Morte em Petrópolis, comandada pelo coronel Paulo
Malhães, foi um dos centros clandestinos mais notórios, onde pelo menos 22 presos políticos foram
mortos, incluindo a militante Inês Etienne Romeu, única sobrevivente.
A resistência incluiu ações como a guerrilha do Araguaia (1967-1974), o sequestro do embaixador
americano Charles Burke Elbrick pela ALN e MR-8 em 1969, e a imprensa alternativa representada
por jornais como O Pasquim (1969) e Opinião (1972). O movimento estudantil, mesmo após o AI-5,
manteve sua militância através de organizações clandestinas como a UNE.
Escritores como Chico Buarque ("Fazenda Modelo", 1974), Carlos Drummond de Andrade ("As
Impurezas do Branco", 1973) e Lygia Fagundes Telles ("As Meninas", 1973) criaram obras que driblaram a
censura usando alegorias sofisticadas. O conto "O Cobrador" de Rubem Fonseca foi censurado em 1978
por "atentar contra a moral e os bons costumes", demonstrando como a censura atuava de forma
arbitrária e imprevisível.
A redemocratização começou com a revogação do AI-5 em 1978 e a Lei da Anistia em 1979. O
movimento das Diretas Já realizou seu maior comício em 16 de abril de 1984 no Vale do Anhangabaú,
reunindo 1,5 milhão de pessoas. Mesmo com a derrota da emenda Dante de Oliveira em 25 de abril de
1984, o movimento foi decisivo para a eleição indireta de Tancredo Neves em 15 de janeiro de 1985,
marcando o fim formal do regime militar, embora a Constituição só viesse a ser promulgada em 5 de
outubro de 1988.