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D R A . M I L E N A C A B R A L UMA LEITURA AVANÇADA SEJAM BEM VINDOS! Sejam todos bem-vindos à Revolução Bioquímica! Um evento para você APRENDER, REFLETIR e SAIR FORA DA CAIXA, na sua profissão de analista clínico, profissional que lida com diagnóstico laboratorial ou estudante da área de saúde. Este e-book é um presente para agregar valor à sua fundamentação teórica, a qual é de suma importância, para que você se torne uma AUTORIDADE, em sua profissão. Não adianta ter apenas "pose"; você precisa de fato ter base e conhecimento por detrás. Um bom profissional NÃO se cansa de aprender mais e mais e busca desafiar-se, constantemente. A escolha deste tema para o e-book se deu a partir da extrema necessidade que TODOS NÓS temos em aprender mais e mais sobre uma das doenças crônicas não-transmissíveis, que mais matam no mundo inteiro: a Diabetes, mas também, falarmos das hipoglicemias. Aproveite a jornada! 02 SOBRE A AUTORA Prazer, sou a Milena Cabral CONECTE-SE COMIGO NAS REDES SOCIAIS @profamilacabral @profamilacabral 71 | 98786-1904 Depois de estagiar na UFBA por 2 anos, descobri minha vocação para ENSINAR. Nunca tinha imaginado fazer um mestrado, muito menos um doutorado. A vocação falou mais forte e decidi trilhar este caminho. Assim, eu, Milena Cabral, sou Farmacêutica Bioquímica, Mestre em Farmácia e Doutora em Imunologia, com ampla experiência na docência, em instituições públicas e privadas, além de ser Servidora Pública do Município de Salvador-BA, com o cargo de Farmacêutica Bioquímica. Hoje, também sou Especialista em Neuropsicologia, e me sinto à vontade para fazer de um profissional da área de saúde, alguém capacitado, com competência e expertise técnica, mas que vá além dos conceitos da ciência: eu quero que VOCÊ se torne um profissional da saúde HUMANIZADO, EMPÁTICO e que saiba atrelar sua experiência técnica com suas habilidades emocionais. Nossa jornada está só começando! Introdução e conceitos Resistência à insulina, Diabetes mellitus; Uso crônico de medicamentos como glicocorticóides; Uso hospitalar de drogas vasoativas; Nutrição enteral / parenteral; Falência pancreática ou hepática; Uso de glicose intravenosa excessivo; Hiperglicemia do estresse; Hiper e Hipoglicemia: o que representam clinicamente? a) Estado hiperglicêmico significa que os níveis de glicose no sangue estão muito elevados, acima dos valores referenciais preconizados pela OMS (Organização MUndial da Saúde), e cujo curso clínico pode agravar- se a tal ponto, de causar crises e culminar em óbito. b) Estado hipoglicêmico significa que os níveis de glicose no sangue estão abaixo dos valores referenciais, podendo causar coma e tembém, culminar em óbito. E quais as principais causas de um estado hiperglicêmico? Mas sabemos que a causa principal de um estado hiperglicêmico é a Diabetes mellitus. HIPER E HIPOGLICEMIAS 04 Como se caracteriza esta doença? A Diabetes Mellitus é uma doença metabólica, multissistêmica, caracterizada pela hiperglicemia crônica, que em longo prazo promove lesões em órgãos-alvo, podendo cursar também com descompensações metabólicas agudas. De acordo com a etiopatogenia, os fatores que contribuem para a hiperglicemia são: déficit de insulina (absoluto ou relativo), condição em que o pâncreas não produz) e/ou resistência à insulina (produz insuficientemente). De qualquer forma, o resultado final é sempre a diminuição da utilização periférica e aumento da produção hepática de glicose. (Pega essa dica). . Epidemiologia A diabetes Mellitus é considerada um grave problema de saúde pública, não sendo uma doença incomum, afetando todos os continentes, sendo que a América Central e do Sul possuem aproximadamente, 32 milhões de pessoas convivendo com a doença. No Brasil, o número eleva-se cada vez mais, sendo hoje considerado o 6º país do ranking mundial, com perspectivas de que em 2030, tenhamos cerca de 643 milhões de diabéticos. 05 HIPER E HIPOGLICEMIAS Quanto às manifestações e complicações clínicas: A Diabetes mellitus causa uma série de distúrbios nos diversos metabolismos corpóreos, dos carboidratos, lipídeos e proteínas, acarretando em diferentes manifestações clínicas, como por exemplo: polidípsia e poliúria, perda de peso pelo catabolismo proteíco, retinopatia, nefropatia, doenças cardiovasculares e distúrbios da coagulação, neuropatia periférica e por vezes, causando a necessidade de amputações (pé diabéticos) com a falta de oxigenação tecidual e também, um aumento à predisposição de infecções. Para direcionar o tratamento, a Diabetes foi originalmente classificada em diferentes tipos, de acordo com a sua etiologia: a) DM1 - 5 a 10% da população apresenta. Cursa com destruição primária das células beta e hipoinsulinismo "absoluto". É subdividida assim em Imunomediado, quando ocorre esta destruição por linfócitos TCD4+ e TCD8+, prinipalmente; e Idiopático, sem causa determinante, aparente. Pode ocorrer a produção de autoanticorpos, após destruição celular, e estes servem para ratificar o diagnóstico de autoimunidade. É RECOMENDADO que pessoas adultas com diabetes e anticorpos positivos, as quais não necessitam de insulina por pelo menos seis meses após o diagnóstico, sejam classificadas como tendo diabetes autoimune latente do adulto (Latent Autoimmune Diabetes in Adults (LADA). b) DM2 - 80 - 90% da população apresenta. Cursa primariamente com resistência periférica à insulina, que ao longo do tempo se associa à disfunção progressiva das células beta (exaustão secretória). O hipoinsulinismo é relativo, isto é, no início do quadro a insulina aumenta, porém esse aumento é insuficiente para controlar a glicemia. Predomina em adultos obesos com mais de 45 anos, mas tem se tornado cada vez mais frequentes em crianças e adolescentes por causa da epidemia da obesidade. HIPER E HIPOGLICEMIAS 06 c) DM Gestacional - modernamente definido como a intolerância à glicose diagnosticada durante a gestação que não configura um quadro de "franco" diabetes Mellintus, segundo os critérios diagnósticos, para pacientes não grávidas. Agora, quando os critérios diagnósticos de DM em não gestantes são observados durante a gestação, o mais correto é classificar como DM "não gestacional". d) Outros casos de DM - nesta categoria são incluídos os casos que possuem etiologia específica bem definida, como o DM associado ao uso de drogas, secundária às infecções, associado a endocrinopatias e doenças do pâncreas exócrino (ex: pancreatite) ou mesmo defeitos monogénicos nas funções das céulas beta pancreáticas e defeitos genéticos na ação da insulina. Falando da principal causa de hiperglicemia, tem-se a DM do tipo 2. É o tipo mais comum que tem forte componente genético, além de caráter inflamatório. A forma pode ser apresentada de maneira moderada a leve e o diagnóstico muitas vezes surge ao acaso. A incidência além de ser maior em adultos, também é em obesos, se caracterizando tanto por distúrbios da ação e da secreção da insulina, conhecido como um quadro de resistência à insulina. A obesidade HOJE é a maior vilâ! Lembre de avaliar perfil lipídico e inflamatório. O diagnóstico diferencial entre DM1 e DM2 DEVE SER CONSIDERADO apenas em bases clínicas. Exames complementares específicos só devem ser solicitados em casos de apresentações atípicas, destas doenças. 07 HIPER E HIPOGLICEMIAS Obesidade Sedentarismo Ter tido DM gestacional A etnia Já ter um histórico familiar A idade avançada Já ter um certo comprometimento no metabolismo da glicose Ser hipertenso ou ter algum tipo de dislipidemia. E quais são os fatores de risco para o seu desenvolvimento? Entendendo que tanto a hiperglicemia quanto a hipoglicemia acontecem por ações do pâncreas e na sua regulação hormonal, por muitas vezes, como funciona o que se chama de "Pâncreas Endócrino", ou seja, seu papel na produção e secreção de hormônios? Primeiro temos que entender como funciona o nosso metabolismo intermediário, que nada mais é do que o CONJUNTO DE REAÇÕES BIOQUÍMICAS ORGÁNICAStanto de SÍNTESE quanto de DEGRADAÇÃO de macromoléculas. Este metabolismo é controlado por HORMÔNIOS. A insulina, sintetizada e secretada pelas células beta das ilhotas pancreáticas, é o grande "maestro" de uma das etapas, deste metabolismo: o ANABOLISMO! E é também a insulina, o hormônio principal quando falamos de regulação endócrina tanto para hiper quanto para hipoglicemia. 08 HIPER E HIPOGLICEMIAS Por outro lado, os hormônios conhecidos como "contrarreguladores da insulina" (glucagon, adrenalina, cortisol e em menor grau GH- Hormônio do Crescimento) exercem efeito oposto, mediando o catabolismo. A fim de manter a homeostase, deve haver um equilíbrio dinâmico entre anabolismo e catabolismo, com pequenas variações em função da disponibilidade de nutrientes e das disponibilidades individuais. Diante disso, e entendendo as variações existentes neste metabolismo, quando o indivíduo está alimentado, período chamado de pós-prandial, predominam as reações de anabolismo, por estímulo de elevados níveis séricos de insulina, ao passo que no jejum, predominam as reações de catabolismo, movidos pela queda da insulina e aumento dos contrarreguladores, em particular, o glucagon. Ou seja, a insulina vai ser sensível ao aumento da glicose, e o glucagon, sensível à diminuição desta. Já que a insulina é o grande "maestro" das reações, é importante saber sobre a sua síntese, principalmente, porque auxilia no entendimento dos diferentes tipos de DM. Primeiro, a metabolização acontece a partir de uma molécula de pré-pró-hormônio, que sofre clivagem a pró-hormônio e este origina a molécula de insulina, biologicamente ativa, e a molécula de Peptídeo C, sem ação conhecida. No entanto, existem exames para dosar ambas as moléculas permitindo avaliar a capacidade produtiva do pâncreas endócrino. HIPER E HIPOGLICEMIA 09 Uma vez que a glicose é "percebida" ao adentrar o citoplasma das células beta pancreáticas, através dos transportadores de membrana GLUT1 e GLUT4, a glicose entra e sofre glicólise, participando do ciclo de Krebs, gerando energia sob a forma de ATP. O aumento energético citosólico promove o fechamento dos canais de K+ sensíveis ao ATP levando à despolarização da membrana plasmática e promovendo a abertura dos canais de cálcio, operados por voltagem sensíveis ao ATP. Com isso, permite-se que haja o influxo de Ca²+ capaz de liberar mais Ca²+ do Retículo Endoplasmático Liso, levando a um aumento de cálcio citosólico. Este aumento leva à migração e fusão das vesículas secretoras de insulina, que por exocitose liberam a insulina para a circulação. Logo, podemos inferir que o INFLUXO de CÁLCIO é o PRINCIPAL ESTÍMULO à DEGRANULAÇÃO, SECREÇÃO INSULÍNICA. E o que define se vai ocorrer secreção ou não, da insulina? E já que a insulina é SENSÍVEL à presença de glicose no sangue, como a sua secreção acontece? O estado alimentar: se é jejum ou pós-pandial! HIPER E HIPOGLICEMIA 10 No jejum, terminada a absorção intestinal de nutrientes os níveis séricos de glicose, aminoácidos e lipoproteínas tendem a se reduzir. Assim, visando à manutenção da glicemia, ocorre inibição da liberação de insulina, com estímulo à secreção de contrarreguladores, particularmente, o glucagon. Pode-se dizer, que no estado e jejum predomina o CATABOLISMO, marcado por glicogenólise, lipólise e proteólise, com utilização de ácidos graxos (e em menor escala, corpos cetônicos) para a produção de energia na maioria das células. Os níveis glicêmicos passam a servir exclusivamente aos neurônios, e são garantidos pela produção hepática de glicose atrevés da gliconeogênese. Tudo isso é devido a um aumento dos hormônios contrarreguladores, e queda da insulina. No pós-prandial predomina o ANABOLISMO, marcado pela síntese de glicogênio hepático e muscular, de triglicerídeos nos adipócitos e de proteínas em todos os tecidos, juntamente a utilização da glicose pela via glicolítica como principal substrato energético. Ocorre predomínio da insulina em relação aos hormônios contrarreguladores. Isso tudo faz parte do metabolismo de um indivíduo normal. @profamilacabral 11 HIPER E HIPOGLICEMIA "A insulina é o grande MAESTRO do metabolismo endógeno"! Agora, o que acontece no metabolismo de um indivíduo que seja diabético? Devido à carência de insulina ABSOLUTA ou RELATIVA, o organismo do diabético se comporta como se o indivíduo estivesse constantemente em estado de jejum, mesmo no período pós-prandial. Com isso, o catabolismo e a gliconeogênese ficam continuamente estimulados, e a utilização periférica de ácidos graxos (betaoxidação) predomina em relação à glicólise, explicando o surgimento de hiperglicemia crônica (pré e pós- prandial). Como os casos de DM2 são a maioria, no mundo inteiro, é importante entender o mecanismo que desencadeia esta doença: como acontece a "RESISTÊNCIA À INSULINA"? O que é e como esta condição leva ao mecanismo fisiopatológico da DM2? Tudo começa com a HIPERGLICEMIA; quanto maior a exposição ao açúcar, maior a produção de insulina. Agora, porque as células ficam resistentes, na periferia, à ação da insulina? Por ALTERAÇÕES nos RECEPTORES de INSULINA, principalmente na OBESIDADE, onde há uma distensão dos adipócitos e uma maior produção de adipocinas e recrutamento de macrófagos , que dessensibilizam estes receptores, pelo processo inflamatório que ocorre. E aí que claro, para que essa insulina exerça sua ação, ela precisa ser RECONHECIDA através destes receptores celulares específicos, na periferia. Lembrando, no entanto, que nem todo tecido precisa de insulina para captar a glicose, como o cérebro, por exemplo. Os tecidos que possuem receptores para a insulina e que precisam armazenar glicose são: fígado, músculo e tecido adiposo. 13 HIPER E HIPOGLICEMIA O tecido adiposo e a obesidade têm uma estreita relação com a resistência à insulina e o desenvolvimento da DM2. O adipócitos apresentam uma série de citocinas e mediadores inflamatórios como TNF-alpha, IL- 6, IL-1, PCR, Resistina, Viisfastina, Ferritina e radicais livres. Estes, em aumento concentrado inibem a tirosina quinose, importante enzima que fosforila a subunidade beta do receptor de insulina na membrana destas células, subunidade esta importante na cascata de atiivação/sinalização intercelular, após ligação interna da insulina. "O tecido adiposo é um órgão endócrino"! HIPER E HIPOGLICEMIA 14 Sem esta fosforilação desativa-se processos de ativação enzimática intracelular que permitem a TRANSLOCAÇÃO do GLUT4 à membrana plasmática, transportador este, específico para captar a glicose em excesso da circulação para dentro do tecido adiposo. Logo, todo este processo fica inibido, e a glicose permanece no sangue, sem ter como entrar na célula para ser armazenada. Com este processo inibitório acontecendo, e a falta de habilidade do pâncreas em produzir insulina suficiente para compensar esta resistência, as células beta começam a ficar disfuncionais. No início, há uma produção excessiva compensatória mas que vai causando uma estafa pancreática, progressivamente, que culmina com o estado hiperglicêmico, o qual ainda é otimizado pela internalização dos receptores de insulina, diminuindo a sua SENSIBILIDADE PERIFÉRICA. Agora, não só a estafa progressiva leva à disfunção pancreática; outras condições também podem propiciar este quadro, levando à hiperglicemia e diabetes. Tem-se: o próprio envelhecimento das células, fatores genéticos inerentes do paciente, lipotoxicidade para aqueles indivíduos que apresentam obesidade, a própria glicotoxicidade, devido à condição hiperglicêmica que as células são submetidas, o estado de inflamação crônica desencadeado pela própria obesidade, quando houver e o efeito da incretina diminuído. @profamilacabral 15 HIPER E HIPOGLICEMIA Estafa pancreática Na verdade são peptídeos secretados pelo tubo digestivo durante a absorção de nutrientes. Seu principal efeito é aumentar a secreção pancreática de insulina em resposta à glicose; ou seja, as incretinas "incrementam" a secreçãoinsulinêmica na presença de glicose, mas somente quando esta é absorvida a partir de uma refeição. Que peptídeos são estes secretados durante esse metabolismo? São os chamados GLP-1 (glucagon - like peptide 1) e o GIP (glucose - dependent insulinotiopic peptide). A enzima DPP-4 (dipeptidil peptidase IV), no entanto, atua inibindo a ação destas incretinas. O GLP-1 estimula a secreção pancreática de insulina e inibe a de glucagon; e o GIP aumenta a liberação de insulina dependente de glicose, e auxilia na absorção e degradação das gorduras. Alguns medicamentos, inclusive, inibem a DPP-IV melhorando o controle glicêmico, por aumentar o efeito "incretínico". Além da resistência à insulina e a perda funcional das células beta, tem-se outros fatores importantes na patogênese da DM 2: os genes diabetogênicos, ou seja, que inevitavelmente a pessoa possui e estes afetam a secreção de insulina ou regulam o peso corporal; e tem-se também , não menos importante, os fatores ambientais, como a dieta, o exercício (que eleva a sensibilidade à inulina no músculo e tecido adiposo) por exemplo. 16 HIPER E HIPOGLICEMIA E o que seria essa INCRETINA? O anti - ilhota (ICA) = 80% O anti - GAD = 70% O anti - IA2 = 60% 1. 2. 3. Afinal de contas, ela também causa hiperglicemia e pode levar a quadros gravíssimos que podem até mesmo culminar com o óbito do paciente. Esta doença tem o caráter autoimune, e não raramente coexiste com outras "imunopatias", como por exemplo, a tireoidite de Hashimoto, doença celíaca, vitiligo, anemia perniciosa, entre outras. E isso, sugere que existe um distúrbio imunológico por detrás. O modelo etiopatogênico mais aceito na atualidade se baseia na interação entre fatores genéticos e ambientais. A ocorrência de infecções virais e/ou exposição a antígenos ainda desconhecido, poderiam, através do MIMETISMO MOLECULAR, desencadeia o processo de insulite , em indivíduos, geneticamente predispostos. A partir daí, as ilhotas de hangerhans são invadidas por linfócitos T citotóxicos (CD8+), que destroem seletivamente as células beta. A partir da exposição de antígenos, após essa lesão surgem os auto anticorpos, que não são patogênicos, mas irão servir como MARCADORES DE AUTOIMUNIDADE, auxiliando no diagnóstico e classificação da doença. 20 HIPER E HIPOGLICEMIA E sobre a DM1? E que anticorpos são estes, que podem aparecer na DM1? Tais marcadores aparecem anos antes da expressão clínica a doença. Logo, fica claro que a DM1 possui uma fase assintomática, em que ocorre destruição progressiva das células beta, antes que o pâncreas se torne incapaz de produzir insulina em níveis satisfatórios. Quando a massa de células beta atinge um ponto crítico (80-90% de destruição), eventos como a puberdade e infecções intercorrentes - que promovem resistência à insulina - induzem a instalação abrupta dos sintomas. Assim, a presença de autoanticorpos em um paciente assintomático é um importante preditor de risco para DM tipo 1! É importante reconhecer também que ao longo do tempo a maioria das células beta serão destruídas (ausência ABSOLUTA de insulina endógena)! Portanto, os portadores de DM tipo 1 dependem, para o resto de suas vidas, da reposição de insulina enógena (caso contrário, desenvolvem cetoacidose diabética). Agora, uma nota importante: logo após o início da insulinoterapia (5 a 7 dias), a maior parte dos pacientes desenvolvem anticorpos contra a insulina exógena, podendo haver interferência no teste do anticorpo anti-insulina, o que limita o uso para a classificação do DM. E no Diabetes Gestacional, qual a diferença? É que o valor preconizado e seguro para a gestação, para a glicemia de jejum basal é inferior de 92mg/dL. Uma gestante com glicemia menor que 92mg/dL até a 24ª semana, deve ainda assim repetir entre a 24ª e 28ª para garantir que não adquiriu a desordem no final a gestação. Se continuar menor que 92mg/dL, ela é normoglicêmica; agora se estiver maior ou igual a 92mg/dL, pode-se inferir que ela adquiriu a diabetes na gestação. Agora, se durante o pré-natal, seu primeiro resultado já seja maior ou igual 126mg/dL, pode-se dizer que a gestante já era diabética, porém só diagnosticou na gestação. Importante ressaltar sobre oos fatores de risco para que este quadro se desenvolva como a idade materna avançada, o sobrepeso ou a obesidade, ter histórico familiar, presença de outras condições clinicas associadas à resistência à insulina, e novos achados têm sido evidenciado sobre ausências de vitamina D, distúrbios do sono e até mesmo idade da menarca precoce, antes dos 11 anos. 21 HIPER E HIPOGLICEMIA Diabetes mellitus tipo I Uma vez que a suspeita exista, dos diferentes tipos de Diabetes, como identificar? O diagnóstico se inicia com a observação dos sintomas clínicos, que na DM2 é mais difícil de ser identificado a priori, pois seu aparecimento é mais tardio. Mas, principalmente, os achados mais evidenciáveis que despertam a suspeita nos pacientes são a poliúria, polidipsia e a perda de peso. De acordo com a atualização da Sociedade Brasileira de Diabetes de 2022, o diagnóstico é estabelecido da seguinte forma: 22 HIPER E HIPOGLICEMIA O TOTG75 mede a glicose no sangue em dois momentos: após pelo manos 8h de jejum e após 2h de ingestão de um líquido com 75g de glicose diluída em água. Já a HbA1c é a determinação da glicose ligada à hemoglobina eritrocitária refletindo um valor médio de glicemia plasmática, equivalente a 2-3 meses precedentes à coleta. Isso devido à meia-vida do eritrócito de 120 dias. A glicose de jejum é o padrão-ouro para o diagnóstico porém, a fase pré- analítica é um grande vilão para obtenção de resultados confiáveis. Isso geralmente ocorre, pelo tipo de tubo utilizado para o processamento da amostra até a sua análise, onde a depender do tempo, sem separar a parte aquosa da parte celular, a estabilidade da glicose pode diferir, pois esta sofre metabolização pelos eritrócitos, o que ocasiona queda dos seus níveis em torno de 10% por hora. 1) Identificação da hiperglicemia, seja pela glicemia plasmática de jejum, pelo teste de tolerância oral à glicose e à hemoglobina glicada. E o que seriam estes exames? Para garantir que não haja uma perda expressiva, o ideal é centrifugar e processar o mais rápido possível e, caso isso não seja viável, usar o tubo com fluoreto de sódio, que permite um tempo maior para análise, entre 3-4 horas após a coleta. @profamilacabral 23 HIPER E HIPOGLICEMIA Alguns outros exames são também utilizados como ferramentas auxiliares no diagnóstico, ou como fornma de monitoramento clínico. Dentre eles, tem-se: a glicemia capilar pós-prandial ou a curva glicêmica; tem-se a frutosamina, a insulina sérica e sua curva, assim como a dosagem do peptídeo C, para avaliar a função pancreática e, além desses, a microalbuminúria, que geralmente ocorre em pacientes com hiperglicemia prévia e comprometimento renal, além dos cálculos, que são ferramentas de baixo custo e/ou complexidade, como os índices HOMA-IR, HOMA-B, para avaliar resistência à insulina, e a produção de insulina, respectivamente, o índice TYG (DCVS maior risco)=Trig/Gli e mais recentemente o TYGIS - index de senibilidade à insulina após TOTG, sendo ótimo biomarcador na gestação. Outros exames laboratoriais Resultado gerado 24 HIPER E HIPOGLICEMIA Vale ressaltar que: todos os métodos têm limitações metodológicas. A GJ necessita de jejum, sofre interferências decorrentes de condições agudas e tem menor taxa de reprodutibilidade quando comparadas à HbA1c. O TOTG é oneroso, desconfortável e consome mais tempo. A HbA1c tem maior custo e não leva em conta a variabilidade individual no fenômeno de glicação proteica, além de ter menor sensibilidade diagnóstica do que os outros métodos. Valor 01 Valor 02 Valor 03 Um indivíduo normal apresenta glicemia de jejumpré-diabético possui glicemia de jejum entre 100 e 125mg/dL, um TOTG entre 140 - 199mg/dL e uma glicada entre 5,7 - 6,4%. Já um paciente diabético tem glicose de jejum > 125g/dL, um TOTG75> 199mg/dL e uma glicada > 6,4%. No indivíduo assintomático, é recomendado utilizar como critério de diagnóstico de DM, a glicemia de jejum >= 126mg/dL, o TOTG75 >=200mg/dL ou a HbA1c >=6,5%. É necessário que 2 exames estejam alterados e se somente um estiver alterado, este deverá ser repetido para confirmação. Logo, sabendo dos exames existentes, como confirmar o diagnóstico? a) Se o paciente estiver sem sintomas, deve-se observar se há glicemia de jejum alterada e repeti-la em nova amostra, para confirmar a alteração. b) Já se o paciente estiver com sintomas, necessita apenas de uma glicemia aleatória >= 200mg/dL, não necessitando repetir para confirmar. Por outro lado, se os testes forem discordantes, aquele que estiver alterado deverá ser repetido para confirmação ou não, do diagnóstico. Atenção: HIPER E HIPOGLICEMIA os anticoagulantes utilizados; a temperatura; a ocorrência de contaminação bacteriana; lipemia; hemólise; uso de medicamentos. Quanto às metodologias empregadas para detecção da glicose sanguínea, HbA1c, insulina, frutosamina e microalbuminúria, tem-se a: turbidimetria (química úmida) e a química seca, usando para isso avalisadores automáticos. Tem-se também semi-automatizados para alguns destes exames, mas também a parte hormonal pode ser mensurada por Quimioluminescência e outros. O HPLC e a imunocRomatografia também são úteis para as dosagens da HbA1c e da glicemia capilar, respectivamente. Agora, é de suma importância ressaltar que, mesmo com a automação, e com técnicas mais específicas, alguns interferentes podem levar a resultados equivocados, como: Metodologias do diagnóstico 25 E o que é a CAD? É uma disfunção metabólica grave causada pela deficiência relativa ou absoluta de insulina, associada ou não a uma maior atividade dos hormônios contrarreguladores: cortisol, glucagon, GH, catecolaminas. Ela é caracterizada por glicemia > 250mg/dL, acidose metabólica (pH 3mmol/L ou 31mg/dL e cetonúria no sumário de urina. E nos casos de DM1? Como fazer a confirmação diagnóstica? Os estados hiperglicêmicos são diagnosticados pela observância das manifestações clínicas e a comprovação da hiperglicemia. A confirmação pode requerer, a depender do perfil do paciente, a solicitação dos autoanticorpos para ratificar a classificação como DM1. 26 HIPER E HIPOGLICEMIA O monitoramento é feito a partir dos mesmos exames como glicemia de jejum e HbA1c para avaliar a eficácia do insulinoterapia. Os pacientes, principalmente, com DM1, que não fazem este controle de forma adequada, podem apresentar quadros graves de hiperglicemia com cetonemia, ocasionando a Cetoacidose Diabética (CAD). Geralmente, um paciente HIPOGLICÊMICO pode apresentar distintas fases, a depender da concentração sérica da glicose. E, a cada quadro deste, o corpo responde de forma fisiológica, para tentar reestabelecer a homeostase glicêmica. Valoresconcluir é que às vezes, os quadros de hiperglicemia, se confundem, clinicamente, e o que os diferenciam são os achados laboratoriais distintos, na maioria das vezes. As metodologias de diagnóstico e monitoramento já estão amplamente padronizados e são úteis para diagnóstico e monitoramento do tratamento. Quanto ao tratamento, hoje existem diferentes opções para tratar a diabetes, que se comporta como uma doença crônica multifatorial, enquanto os quadros hipoglicêmicos se detectados, rapidamente, podem ser revertidos mais facilmente. E assim, podemos evidenciar a importância do laboratório de análises clínicas no manejo tanto clínico quanto farmacoterapêutico, auxiliando o corpo clínico nas tomadas de decisão.So br e tr at am en to HIPER E HIPOGLICEMIA @profamilacabral 31 Existe atualmente um grande número de opções terapêuticas para tratar a hiperglicemia do DM2, com eficácia demonstrada na redução da glicemia e com segurança cardiovascular estabelecida. Recentemente, benefícios cardiovasculares e renais especialmente relacionados aos inibidores do SGLT2 e aos agonistas do receptor GLP-1, vieram se somar ao potencial de tratamento e prevenção das complicações do diabetes tipo 2. As opções de tratamento, no entanto, precisam ser individualizadas de acordo com as características clínicas do paciente, considerando o risco de hipoglicemia, a tolerabilidade, os efeitos adversos e o custo. 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalhar em laboratório de Análises Clínicas é um desafio diário. Muitas dúvidas, muitas deficiências inerentes e dificuldades do próprio serviço, em si. É necessário que você, que trabalha dentro do laboratório, esteja preparado, com uma boa base teórica além da parte prática, para exercer seu trabalho com responsabilidade e racionalidade. Falar de doenças metabólicas é algo importante para TODO PROFISSIONAL E ESTUDANTE DA SAÚDE. Assim, espero ter contribuído para seu aprendizado e sua evolução profissional. Obrigada! @profamilacabral 33 Isenção de responsabilidade Todas as informações contidas neste livro digital são provenientes de minhas experiência pessoais, estudos e leituras de diretrizes , livros e artigos científicos. Embora eu tenha me esforçado ao máximo para garantir a precisão e a mais alta qualidade dessas informações e acredite que todas as técnicas e métodos aqui ensinados sejam altamente efetivos, eu não me responsabilizo por erros ou omissões. Sua situação e/ou condição particular pode não se adequar perfeitamente aos métodos e técnicas ensinados neste e-book. Assim, você deverá utilizar e ajustar as informações de acordo com sua situação e necessidades do laboratório em que trabalha. Direitos Autorais Este e-book está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele são reservados. Você não terá permissão para copiar/reproduzir o conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer outros veículos de distribuição de mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeita a ações legais. HIPER E HIPOGLICEMIA 34