Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS DE ASTRONOMIA AULA 4 Prof. Daniel Guimarães Tedesco 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa de estudos, vamos conversar sobre as galáxias! Vamos começar com a descoberta das galáxias e da Via Láctea, elucidando a transição histórica da percepção da Via Láctea, desde uma faixa luminosa no céu noturno até o reconhecimento de sua estrutura galática, composta por bilhões de estrelas. Discutiremos suas características intrínsecas, incluindo o papel da mitologia na interpretação do cosmos. Sobre as características das galáxias, enfatizaremos a evolução do entendimento astronômico desde as primeiras observações de nebulosas até a classificação moderna das galáxias, guiada pela sequência de Hubble. Falaremos também sobre os aglomerados de galáxias, examinando a formação de estruturas em grande escala no universo e a importância da matéria escura na coesão desses aglomerados, evidenciando a teia cósmica que interliga galáxias e superaglomerados. Por fim, abordaremos a formação e a evolução das galáxias, discutindo teorias como o modelo monolítico e o modelo hierárquico. Explicaremos a Lei de Hubble, detalhando a expansão do universo e suas implicações para a cosmologia moderna, incluindo a observação pioneira do deslocamento para o azul na Galáxia de Andrômeda e a formulação da lei que correlaciona a velocidade de recessão de galáxias com sua distância, estabelecendo um marco para a teoria do Big Bang. TEMA 1 – DESCOBERTA DAS GALÁXIAS E A VIA LÁCTEA A Via Láctea, também conhecida como Caminho de Leite, é aquela faixa luminosa que perpassa o firmamento noturno, tendo sido um foco de fascínio e inspiração através das eras, além de servir como inspiração para inúmeras culturas, em suas interpretações e mitologias únicas. 1.1 Mitologia grega e romana Dentro do panteão grego, a Via Láctea é frequentemente associada à deusa Hera (filha de Reia e Cronos), que tem relação com a fertilidade. O mito relata que Zeus, esposo e irmão de Hera, desejoso de conferir imortalidade a seu filho Héracles (Hércules), fruto de uma relação extraconjugal com a mortal Alcmena, recorreu a Hera para amamentá-lo. Aproveitando-se do sono de Hera, 3 Hermes (outro filho de Zeus) colocou Héracles em seu seio. Ao despertar e se deparar com uma criança desconhecida, ela o repeliu, fazendo com que seu leite se espalhasse pelos céus, o que originou a Via Láctea. Esse mito é emblemático por representar o esforço grego para explicar a formação desse fenômeno celeste de maneira alinhada com seus deuses e mitologias. Herdeiros da mitologia grega, os romanos incorporaram a Via Láctea em seu corpus mitológico, mantendo a essência da narrativa grega, mas adaptada aos seus deuses. Assim, a Via Láctea era também fruto do leite da deusa Juno (contraparte romana de Hera), esposa de Júpiter (Zeus). Figura 1 – Pintura do Mito grego da Via Láctea, feita por Tintoretto em 1575 Crédito: Collection de la Maison d'Orléans/National Gallery/PD-CC. 1.2 Mitologia dos povos indígenas brasileiros Dentro da diversidade cultural dos povos indígenas do Brasil, várias tribos apresentam interpretações próprias a respeito da Via Láctea. Os guaranis, especificamente, a consideram como um orientador para o "Caminho do Peabiru". Essa rota transcontinental tinha também um propósito espiritual, servindo como um caminho para acompanhar o percurso do sol, lar das divindades, guiado pela Via Láctea. A maioria das etnias tupis-guaranis conhece a Via Láctea como o Caminho da Anta (Tapi`i Rape) ou a Morada dos Deuses. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jacopo_Tintoretto_-_The_Origin_of_the_Milky_Way_-_Google_Art_Project.jpg?uselang=pt#Licenciamento 4 Figura 2 – Constelação Anta do Norte Fonte: Observatório Virtual/Planetário-Observatório Itinerante/Germano Afonso. Outras tribos a enxergam como um rio celestial, espelhando os rios terrenos no firmamento, e desempenhando um papel crucial em suas mitologias sobre a criação do mundo e a jornada após a morte. Cada mito, mais do que uma tentativa de explicação dos fenômenos celestes, reflete uma visão de mundo profundamente enraizada em valores e tradições, bem como na espiritualidade de cada sociedade. Figura 3 – O céu e a Via Láctea Crédito: Kateryniuk/Shutterstock. 1.3 Nossa galáxia A Via Láctea, vista da Terra, é uma faixa nebulosa que atravessa o céu noturno. Essa visão, especialmente clara longe da poluição luminosa das áreas urbanas, tem fascinado a humanidade ao longo dos séculos. Longe da poluição 5 luminosa e sem a lua, é possível ver a Via Láctea como uma faixa nebulosa no céu, um fenômeno já observado na antiguidade como um "caminho leitoso". Galileo Galilei, em 1609, usando um telescópio, descobriu que essa faixa era composta por inúmeras estrelas. William Herschel, ao tentar mapear a galáxia, errou ao assumir que todas as estrelas tinham a mesma luminosidade, colocando inicialmente o Sol no centro de um disco galáctico. A dificuldade de medir distâncias estelares limitou a compreensão da Via Láctea até a primeira medição de paralaxe estelar em 1838. No século XX, Jacobus Kapteyn estimou o tamanho da Via Láctea em cerca de 20.000 parsecs com o Sol no centro, usando dados de paralaxe e movimentos próprios das estrelas. Paralelamente, Harlow Shapley, observando aglomerados globulares, propôs que a Terra estava a cerca de 30.000 anos-luz do centro galáctico, uma estimativa que não considerou a extinção interestelar, superestimando o tamanho da galáxia. Pesquisas mais recentes corrigiram a posição do Sol para cerca de 8,3 kiloparsecs do centro galáctico, refletindo avanços nas técnicas de medição e compreensão da estrutura galática. Figura 4 – Esquema de Herschel Fonte: Transações Filosóficas da Royal Society of London 75 : 216-266/PD-CC. 1.3.1 Medição de distâncias na galáxia Na exploração astronômica, a determinação das distâncias entre estrelas é crucial. Dois métodos principais são usados: a paralaxe heliocêntrica, que utiliza triangulação, e a paralaxe espectroscópica, que usa propriedades espectrais para calcular a magnitude absoluta de uma estrela com base na sua posição no diagrama Hertzsprung-Russell (HR). Enquanto a paralaxe heliocêntrica é eficaz até 1.000 parsecs (𝟏𝟎𝟎𝟎𝒑𝒄 = 𝟑 × 𝟏𝟎𝟏𝟔𝒌𝒎), a paralaxe https://pt.wikipedia.org/wiki/Gal%C3%A1xia#/media/Ficheiro:Herschel-Galaxy.png 6 espectroscópica estende essa capacidade até cerca de 10.000 pc. No entanto, ambos os métodos são limitados em comparação com o diâmetro da nossa galáxia, estimado em 25.000 pc. Assim, surge a necessidade de um método adicional para medir distâncias ainda maiores1. É aí que entram as estrelas variáveis como indicadores de distância. Entre esses fenômenos celestes, destacam-se as estrelas variáveis pulsantes, que exibem flutuações regulares de brilho devido a mudanças em seu tamanho – especialmente as cefeidas e as RRLyrae, que se encontram na faixa de instabilidade do diagrama HR, marcando a fase de ignição do hélio no núcleo. O mecanismo de pulsação dessas estrelas é impulsionado por um ciclo de desequilíbrios térmicos e de pressão: a ionização do hidrogênio aumenta a pressão interna, expandindo a estrela; a recombinação subsequente do hidrogênio, ao diminuir o número de partículas, reduz a pressão e contrai a estrela, iniciando o ciclo novamente. As estrelas variáveis pulsantes fornecem um método para medir distâncias astronômicas através da relação período-luminosidade. Esse princípio correlaciona diretamente o período de pulsação de uma estrela com sua luminosidade intrínseca, permitindo estimativas precisas de distância para objetos situados muito além dos limites alcançáveis pelos métodos de paralaxe. 1.3.2 Estrelas RRLyrae e cefeidas como ferramentas cosmológicas • Estrelas RRLyrae:representam uma classe de estrelas evoluídas com massas compreendidas entre 0,5 e 0,7 vezes a massa solar (MSol). Caracterizadas por tipos espectrais entre B8 e F2, essas estrelas apresentam uma magnitude absoluta média de 𝑴𝑽 = 𝟎, 𝟔 ± 𝟎, 𝟑. Com períodos de pulsação curtos, variando de 0,5 a 1 dia, e variações de magnitude inferiores a uma unidade, as RRLyrae são amplamente utilizadas como indicadores de distância para aglomerados globulares. A aplicação do módulo de distância 𝒎 − 𝑴 = −𝟓 + 𝟓 𝐥𝐨𝐠 𝒅 permite a determinação precisa das distâncias desses objetos astronômicos. • Cefeidas: as cefeidas, por outro lado, são estrelas supergigantes com massas variando de 3 a 18 MSol, apresentando tipos espectrais entre F 1 Vamos explicar, em etapas posteriores, o que são esses nomes estranhos que são usados para determinar as medidas de distância. 7 e K. Essas estrelas também pulsam regularmente, mas com períodos que podem variar de 1 a 100 dias e amplitudes de pulsação de 0,3 a 3,5 magnitudes. Uma característica distintiva das cefeidas é a relação direta e estreita entre o período de pulsação e a luminosidade, permitindo estimativas precisas de sua luminosidade com base no período de pulsação observado. As cefeidas mais luminosas, com magnitudes absolutas entre -2 e -6, tendem a apresentar períodos de pulsação mais longos, devido a raios maiores. Tanto as estrelas RRLyrae quanto as cefeidas desempenham o papel de serem faróis cósmicos, fornecendo meios para medir distâncias astronômicas com grande precisão. Essa capacidade é fundamental na determinação da escala e da estrutura do universo, permitindo aos astrônomos mapearem a distribuição de aglomerados globulares e outras estruturas galaticas, além de contribuir para a compreensão da expansão do Universo. John Goodricke, responsável pela descoberta da variabilidade de Delta Cephei, em 1784, e Henrietta Swan Leavitt, que estabeleceu a relação período- luminosidade para as Cefeidas, em 1912, são figuras centrais no estudo das estrelas variáveis. As investigações de Leavitt revelaram que existe uma correlação direta entre a magnitude bolométrica absoluta 𝑴𝒃𝒐𝒍 das Cefeidas e o período 𝑷 de suas variações de brilho, expressa em dias. A relação é descrita pela fórmula: 𝑴𝒃𝒐𝒍 = −𝟑, 𝟏𝟐𝟓 𝐥𝐨𝐠 𝑷 − 𝟏. 𝟓𝟐𝟓 Essa equação demonstra que a luminosidade intrínseca de uma cefeida pode ser determinada com base em seu período de pulsação, tornando estas estrelas ferramentas preciosas para medir distâncias no universo. As variáveis cefeidas são empregadas tanto para estimar distâncias a estrelas distantes dentro de nossa própria galáxia quanto para medir as distâncias até outras galáxias, desempenhando um papel fundamental na cosmologia observacional. 8 1.4 Morfologia Observações em rádio e infravermelho revelaram a estrutura da Via Láctea, uma galáxia com forma de disco de cerca de 100.000 anos-luz de diâmetro e 300 parsecs de espessura, envolta em um halo esférico de aglomerados globulares e matéria escura. O halo estende-se além do disco, enquanto o bojo central denso tem um raio de 2.000 parsecs. A rotação diferencial do disco foi identificada pelo deslocamento Doppler em estrelas próximas ao Sol. O disco também contém matéria interestelar, incluindo gás hidrogênio neutro, essencial para a formação de estrelas. Regiões HII, formadas por hidrogênio ionizado próximo a estrelas jovens, são visíveis como nebulosas de emissão. Figura 5 – Anatomia da Via Láctea Crédito: NASA/JPL-Caltech; right: ESA; layout: ESA/ATG medialab 1.5 Estrutura em espiral Ao observarmos galáxias com um meio interestelar rico, semelhante ao da Via Láctea, notamos que as nebulosas gasosas tendem a se agrupar em estruturas espirais. Isso nos leva a crer que a nossa própria galáxia também tem uma forma espiral. No entanto, essa estrutura espiral é difícil de observar diretamente de nossa posição, já que estamos situados dentro do disco galáctico, e a visão é obstruída por poeira interestelar. 9 Para entender melhor a disposição dos braços espirais da Via Láctea, os astrônomos recorrem a objetos celestes que servem como indicadores dessas estruturas. Entre os principais indicadores ópticos, estão estrelas jovens e brilhantes do tipo OB, regiões HII (áreas onde o gás hidrogênio é ionizado por estrelas quentes) e estrelas variáveis cefeidas. Na faixa do rádio, o hidrogênio neutro, abundante em nossa galáxia, emite uma linha espectral de 21 cm que é usada para mapear a estrutura espiral, pois essa emissão pode ser detectada em praticamente todas as direções. Até o ano de 2005, com base em observações óticas e de rádio, acreditava-se que a Via Láctea tinha quatro braços espirais principais. Contudo, estudos mais recentes, utilizando especialmente a luz infravermelha, sugerem que nossa galáxia tem dois braços espirais principais – o braço de Scutum- Centaurus e o braço de Perseus –, além de outros braços menores. O Sol se localiza na borda interna de um desses braços menores, conhecido como braço de Órion, ou Orion Spur, que abriga várias características notáveis, incluindo a Nebulosa de Órion. Figura 6 – Braços da Via Láctea Crédito: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (SSC/Caltech). https://science.nasa.gov/resource/the-milky-way-galaxy/ 10 1.6 Massa da galáxia O movimento orbital do Sol e outros componentes da Via Láctea decorre da força gravitacional do denso núcleo galático, similar à rotação dos planetas ao redor do Sol. Estrelas mais próximas ao centro galáctico movem-se mais rapidamente que o Sol, que orbita o centro a 220 km/s, completando uma volta a cada 233 milhões de anos, o que é conhecido como ano galático. Esse entendimento veio dos estudos de Jan Oort. Através da análise do movimento orbital das estrelas localizadas nas regiões periféricas da galáxia, é possível aproximar a massa total da Via Láctea, 𝑴𝑽𝑳, utilizando a distância dessas estrelas ao núcleo galático. Considerando o Sol em uma trajetória circular ao redor do centro galático com uma velocidade específica 𝒗, a força que mantém o Sol nessa órbita pode ser equiparada à força de atração gravitacional emanada pela massa da galáxia localizada internamente a essa órbita. Assim, estabelece-se a relação: 𝑭𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓í𝒑𝒆𝒕𝒂 = 𝑴⨀𝒗𝟐 𝑹 , 𝑭𝑮𝒓𝒂𝒗𝒊𝒕𝒂𝒄𝒊𝒐𝒏𝒂𝒍 = 𝑮 𝑴⨀𝑴𝑽𝑳 𝑹𝟐 Como a força gravitacional age como força centrípeta 𝑭𝒈𝒓𝒂𝒗𝒊𝒕𝒂𝒄𝒊𝒐𝒏𝒂𝒍 = 𝑭𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓í𝒑𝒆𝒕𝒂, podemos reorganizar a fórmula para solucionar a massa da Via Láctea: 𝑴𝑽𝑳 = 𝒗𝟐 ⋅ 𝑹 𝑮 ≈ 𝟏, 𝟖 × 𝟏𝟎𝟒𝟏𝒌𝒈 Levando em conta que a velocidade do Sol em sua órbita galática é de 𝟐𝟐𝟎𝒌𝒎/𝒔 e que a distância do Sol ao centro galático é de 𝟖. 𝟑𝟎𝟎 𝒑𝒂𝒓𝒔𝒆𝒄𝒔 (𝒑𝒄), ou 𝟐, 𝟓 × 𝟏𝟎𝟐𝟎 𝒎, e aplicando a constante gravitacional 𝑮 = 𝟔, 𝟔𝟕 × 𝟏𝟎−𝟏𝟏𝒎𝟑𝒌𝒈−𝟏 𝒔−𝟐, obtemos a seguinte a massa da galáxia, em função da massa solar da ordem de 𝑴𝑽𝑳 ≈ 𝟏𝟎𝟏𝟏𝑴⨀. Este cálculo sugere que a Via Láctea abriga um mínimo de 100 bilhões de estrelas, considerando o Sol como exemplo de uma estrela de massa média. Essa estimativa serve como um limite inferior, visto que leva em conta apenas a massa que se encontra dentro da órbita solar. 11 1.7 Últimas características da Via Láctea Curva de rotação da Via Láctea: • A curva de rotação mostra que a massa até um raio de 𝟏𝟓 𝒌𝒑𝒄 é de 𝟐 × 𝟏𝟎𝟏𝟏 massas solares, o dobro da contida na órbita do Sol. • Contrariamente ao esperado, a curva de rotação fica plana para distâncias maiores, indicando que as velocidades orbitais se mantêm constantes e a massa continua a crescer. Presença de matéria escura: • A estabilidade das velocidades orbitais a grandes distâncias sugere a existência de matéria escura, que constitui pelo menos dois terços da massa total da galáxia. •A matéria escura é distribuída em um halo extenso ao redor da Via Láctea. Populações estelares: • Dividem-se em População I (estrelas jovens, azuis, ricas em metais, localizadas no disco e braços espirais) e População II (estrelas antigas, vermelhas, pobres em metais, no bojo e halo). • Essa distinção ajuda a entender a composição e a evolução estelar na galáxia. Centro galático: • Observações em rádio revelam um anel molecular em torno de Sagitário A, uma intensa fonte de rádio no centro galáctico. • O núcleo abriga um buraco negro supermassivo com 4,3 milhões de massas solares, evidenciado por atividade intensa e flares diários observados em raio-X (chamado de Sagittarius A* ou SgrA*). Essas são informações finais que destacam a estrutura e dinâmica complexas da Via Láctea, incluindo a influência dominante da matéria escura e a diversidade das populações estelares. 12 TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS DAS GALÁXIAS A compreensão das galáxias evoluiu significativamente desde o século XVIII, quando astrônomos começaram a observar corpos celestes difusos, inicialmente chamados de nebulosas. Immanuel Kant, inspirado por Thomas Wright, sugeriu em 1755 que algumas dessas nebulosas poderiam ser sistemas estelares distantes, similares à nossa galáxia, introduzindo a ideia dos universos- ilha. Contudo, essa teoria não foi amplamente aceita na época. Até o início do século XX, milhares de nebulosas foram catalogadas, mas a natureza de muitas permanecia um mistério, em parte porque suas distâncias eram desconhecidas. A situação começou a mudar em 1917, quando Harlow Shapley demonstrou que o Sol não se encontrava no centro da galáxia, que era muito mais extensa do que se acreditava anteriormente. A virada definitiva ocorreu em 1923, com Edwin Powell Hubble, que observou uma variável cefeida na nebulosa de Andrômeda, permitindo calcular sua distância em 2,2 milhões de anos-luz, claramente fora dos limites da Via Láctea. Esse achado confirmou que Andrômeda era uma galáxia independente. Figura 7 – Sequência de Hubble com a morfologia: Elíptica (E) Espiral (S) e Espirais Barradas (SB) Crédito: Designua/Shutterstock. 13 2.1 Classificação de galáxias de Hubble As galáxias, esses aglomerados gigantescos de estrelas, gás e poeira, são incrivelmente diversas. Apesar de suas diferenças, a maioria delas apresentar formas regulares quando observadas no céu noturno. Em 1936, o astrônomo Edwin Hubble propôs um sistema de classificação que ainda hoje é utilizado para categorizar as galáxias em três tipos principais: elípticas, espirais e irregulares. 2.1.1 Galáxias espirais As galáxias espirais, quando vistas de frente, revelam um padrão espiral em seus braços, além de apresentarem um núcleo proeminente e de serem envolvidas por um halo galático. Temos a Via Láctea e a Andrômeda como exemplos de galáxias espirais. A diferenciação entre essas galáxias ocorre principalmente por conta do tamanho de seus braços espirais e da forma de seus núcleos. Figura 8 – Galáxia espiral barrada na constelação de Eridanus. NGC 1300 Crédito: Allexxandar/Shutterstock. Algumas galáxias, apesar de partilharem características semelhantes com as espirais, não apresentam braços espirais evidentes. Elas são conhecidas como galáxias lenticulares, apresentando uma morfologia que transita entre as espirais e as elípticas, caracterizando-se por uma estrutura mais achatada, sem a presença marcante de braços espirais. Essa categorização mais ampla, que 14 inclui tanto as galáxias espirais quanto as lenticulares, é chamada de galáxias discoidais, refletindo sua forma discoidal comum. Figura 9 – Centaurus A (NGC 5128): galáxia lenticular Crédito: NASA images/Shutterstock. Mais da metade das galáxias discoidais apresentam um núcleo em forma de barra, uma estrutura linear que atravessa o centro da galáxia, da qual os braços espirais frequentemente emanam. Essa característica sugere uma dinâmica interna que pode influenciar a formação de estrelas e a evolução da galáxia. Os braços das galáxias espirais são locais de intensa formação estelar, abrigando estrelas jovens, nebulosas e aglomerados abertos de estrelas. Em contraste, o halo galático contém aglomerados globulares, constituídos por estrelas mais velhas, evidenciando a complexidade e a variedade de processos que ocorrem dentro dessas galáxias. Com diâmetros variando entre 20.000 anos-luz a mais de 100.000 anos-luz, e massas estimadas entre 10 bilhões a 10 trilhões de massas solares, as galáxias espirais, incluindo a Via Láctea e Andrômeda, destacam-se não apenas por sua estrutura e beleza, mas também por sua massa e tamanho significativos. 15 2.1.2 Galáxias elípticas e irregulares As galáxias elípticas são caracterizadas por suas formas esféricas ou elipsoidais e por uma distribuição uniforme de estrelas que apresentam pouca diferenciação entre o núcleo e as regiões externas da galáxia. Essas galáxias são dominadas por estrelas mais velhas, de cor mais avermelhada, conhecidas como estrelas de População II. Uma característica das galáxias elípticas é a ausência de estruturas em forma de disco, como os braços espirais, e uma quantidade muito pequena de poeira e gás interestelar, indicando uma atividade de formação estelar praticamente inexistente. As galáxias elípticas variam consideravelmente em tamanho, desde as gigantes, como ESO 325-G004, até as anãs, como a Galáxia Anã Esferoidal de Leão I. Os aglomerados globulares são frequentemente encontrados em torno dessas galáxias, especialmente nas maiores. Figura 9 – Galáxia elíptica gigante NGC 1316 Crédito: Allexxandar/Shutterstock. Galáxias irregulares não apresentam forma definida, parecendo desorganizadas. Muitas vezes, estão passando por intensa formação estelar. Elas contêm tanto estrelas jovens da População I quanto as mais antigas, da População II. As galáxias irregulares são menos massivas e luminosas em comparação com as galáxias espirais. Entre as mais conhecidas, estão a Grande e Pequena Nuvem de Magalhães, que são vizinhas relativamente próximas da Via Láctea, de modo que oferecem aos astrônomos uma excelente oportunidade 16 para estudar a formação de estrelas e a dinâmica galática em um contexto diferente do nosso. Figura 10 – Pequena Nuvem de Magalhães Crédito: NASA images/Shutterstock. TEMA 3 – AGLOMERADOS DE GALÁXIAS Ao estudar o universo em grande escala, observa-se que as galáxias não estão espalhadas ao acaso, mas tendem a agrupar-se em estruturas maiores, conhecidas como aglomerados de galáxias. Esses aglomerados podem incluir desde pequenos grupos, como o Grupo Local, que contém a Via Láctea, Andrômeda e cerca de outras 52 galáxias, até enormes conjuntos com milhares de galáxias, como o Aglomerado de Virgem. A existência desses aglomerados sugere uma intrincada teia cósmica, em que galáxias e aglomerados estão conectados por filamentos em uma vasta rede, formando o que é conhecido como o cosmic web (Marov, 2014). Figura 11 – Ilustração da teia cósmica 17 Crédito: Keenahmee/Shutterstock. No coração de alguns aglomerados, como o de Virgem, encontram-se enormes galáxias elípticas, que abrigam buracos negros supermassivos. A galáxia M87 é um exemplo notável, conhecida por seu buraco negro central, de aproximadamente um bilhão de massas solares, cujo disco de acreção foi recentemente fotografado, evidenciando a interação complexa entre matéria e gravidade em escalas cósmicas (Dietrich et al., 2012). Figura 12 – Aglomerado de Virgem Crédito: Reinhold Wittich/Shutterstock. A coesão desses grandes aglomerados e a formação da estrutura em larga escala do universo não podem ser explicadas apenas pela matéria visível. A matéria escura desempenha um papel crucial, fornecendo a massa adicional necessária para explicar as forças gravitacionaisobservadas. A detecção direta de filamentos de matéria escura, conectando aglomerados de galáxias, fornece 18 evidências convincentes do papel estrutural da matéria escura na arquitetura do universo (Dietrich et al., 2012). Além dos aglomerados, o conceito de superaglomerados (aglomerados de aglomerados de galáxias) destaca ainda mais a estrutura hierárquica do universo. O Cúmulo Local, por exemplo, estende-se por 100 milhões de anos- luz, incluindo o Grupo Local, o Aglomerado de Virgem, entre outros, formando uma das muitas estruturas gigantescas que compõem o universo observável (Bahcall, 1996). Laniakea, definido em setembro de 2014 por astrônomos liderados por R. Brent Tully da Universidade do Havaí, é um superaglomerado que abriga a Via Láctea, Andrômeda e outras 100 mil galáxias, estendendo-se por 520 milhões de anos-luz. Essa nova definição baseia-se nas velocidades relativas das galáxias, introduzindo um método inovador para delinear os superaglomerados. O Superaglomerado de Virgem é agora visto como uma parte de Laniakea (Tully et al., 2014). O coração de Laniakea é marcado pelo Grande Atrator, um ponto gravitacional central que direciona o movimento das galáxias para si. Esse método de definição permitiu uma compreensão mais precisa das estruturas em grande escala do universo e das dinâmicas galácticas (Dupuy; Courtois, 2023). Figura 13 – Superaglomerado de galáxias Laniakea Fonte: Brent Tully, da Universidade do Havaí, edição de 4 de setembro de 2014 - Revista Nature. TEMA 4 – FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DAS GALÁXIAS 19 Por que existem galáxias com diferentes formas? Por que as galáxias elípticas praticamente contêm apenas estrelas velhas? Pensar como as galáxias são formadas e evoluem ajuda a entender essas diferenças. As diferentes formas das galáxias e a predominância de estrelas velhas nas galáxias elípticas são temas centrais no estudo da formação e evolução galática. Duas teorias principais têm sido propostas para explicar esses fenômenos: • Modelo monolítico: sugere que as galáxias se formam a partir do colapso rápido de nuvens de gás em um único evento de formação estelar, resultando em galáxias elípticas compostas majoritariamente por estrelas velhas. A falta de rotação significativa nessas nuvens conduziria à forma elíptica dessas galáxias, enquanto uma alta taxa de formação estelar inicial explicaria a presença predominante de estrelas antigas (Chiosi; Carraro, 2002). • Modelo hierárquico: contrapondo-se ao modelo monolítico, o modelo hierárquico propõe que as galáxias se formam através da fusão de subunidades menores ao longo do tempo. Esse processo de fusão e acumulação levaria à diversidade de formas galáticas observadas, incluindo galáxias elípticas formadas por colisões e fusões de galáxias espirais. Nesse cenário, as galáxias elípticas teriam uma mistura de estrelas jovens e velhas inicialmente, mas as interações frequentes em ambientes densos, como aglomerados de galáxias, poderiam acelerar a formação estelar e eventualmente levar à dominação de estrelas mais velhas (Thomas, 1999; Cole et al., 2000) Ambos os modelos buscam explicar a evolução galática e a diversidade nas propriedades galáticas, incluindo morfologia, composição estelar e histórico de formação estelar. O modelo monolítico é eficaz ao explicar a presença de galáxias elípticas compostas principalmente por estrelas velhas e sua formação rápida e precoce. Já o modelo hierárquico oferece um quadro mais dinâmico e gradual da formação galática, alinhado com o paradigma da matéria escura fria, em que as estruturas maiores são construídas a partir da fusão de estruturas menores. 20 TEMA 5 – LEI DE HUBBLE Ao analisar o espectro de emissão da Galáxia de Andrômeda, Vesto Melvin Slipher realizou uma descoberta pioneira: as linhas espectrais dessa galáxia estavam deslocadas para o azul, indicando que Andrômeda estava se aproximando da Terra a uma velocidade de cerca de 300 km/s. Esse fenômeno, conhecido como deslocamento para o azul (blueshift), contrasta com o deslocamento para o vermelho (redshift), observado na maioria das outras galáxias, que denota um afastamento em relação à Terra. A contribuição de Slipher foi fundamental para o desenvolvimento da astronomia extragaláctica e precedeu as descobertas de Edwin Hubble sobre a expansão do universo (Thompson, 2011). Edwin Hubble expandiu esse entendimento ao demonstrar que havia uma relação direta entre a distância de uma galáxia e sua velocidade de afastamento, conhecida hoje como Lei de Hubble. Por meio da análise de fotografias do céu profundo, Hubble observou que galáxias mais distantes apresentavam um maior redshift, sugerindo que o universo está em expansão (Kirshner, 2003). Essa descoberta revolucionou a cosmologia, ao fornecer a primeira evidência observacional da expansão do universo, um conceito central para a teoria do Big Bang. Figura 14 – A lei de Hubble e a expansão do universo Fonte: E. Hubble, PROC. NAT. ACAD. SCI. 15, 168 (1929). 21 Edwin Hubble utilizou o brilho aparente e os períodos de pulsação de estrelas cefeidas nessas galáxias para suas medições. Hubble e seu colaborador, Milton Humason, ao fotografarem os espectros de várias galáxias usando o telescópio de 2,50 m de Monte Wilson, notaram que as galáxias mais distantes tinham maiores velocidades de afastamento, um fenômeno determinado a partir de seus redshifts. Ao plotar esses dados em um gráfico de velocidade em função da distância, eles observaram que os pontos se alinhavam ao longo de uma linha reta, fundamentando a Lei de Hubble (Kirshner, 2003). A Lei de Hubble pode ser expressa pela seguinte fórmula: 𝒗 = 𝑯𝟎𝒅 Em que 𝒗 representa a velocidade de recessão da galáxia, 𝒅 é a distância da galáxia até nós, e 𝑯𝟎 é a chamada constante de Hubble. Essa relação evidencia que o universo está se expandindo, com a constante de Hubble indicando a taxa dessa expansão. Por exemplo, um valor de 𝑯𝟎 = 𝟕𝟏𝒌𝒎/𝒔/𝑴𝒑𝒄 significa que a velocidade de recessão das galáxias aumenta 71 km/s para cada megaparsec de distância. A expansão do universo, ilustrada pela Lei de Hubble, é um dos pilares da cosmologia moderna, indicando que, semelhantes a um bolo de passas que cresce no forno, todas as galáxias se afastam umas das outras. Esse afastamento não se deve ao movimento das galáxias pelo espaço, mas à expansão do próprio tecido espacial. Portanto, não existe um ponto central de expansão; de qualquer galáxia que se observe, parecerá que todas as outras estão se afastando, demonstrando que a expansão do universo é uniforme e isotrópica, sem um centro definido. NA PRÁTICA Vamos praticar com os dados reais? Para finalizar o tema da expansão do universo e da constante de Hubble de uma forma interativa e educativa, uma prática interessante seria a realização de um projeto de observação astronômica e análise de dados, que permita aplicar e visualizar os conceitos aprendidos. 22 Projeto: Medindo a Expansão do Universo. Objetivos: • Compreender a relação entre redshift, distância e a constante de Hubble. • Aplicar o conceito de redshift para estimar a velocidade de recessão de galáxias. • Utilizar dados reais para calcular uma aproximação da constante de Hubble. A tabela a seguir apresenta duas amostras de dados. Tabela 1 – Dados usados por Hubble e com as atualizações destes em novas medições Galáxia (NGC) Hubble Atualizados Distância (Mpc) Velocidade (km/s) Distância (Mpc) Velocidade (km/s) S, Mag 0,032 170 0,063 158 L, Mag 0,034 290 0,05 278 6822 0,214 -130 0,52 -77 598 0,263 -70 0,869 -179 221 0,275 -185 0,768 -200 224 0,275 -220 0,275 -220 5457 0,45 200 6.855 241 4736 0,5 290 5.107 308 5194 0,5 270 7.185 463 4449 0,63 200 3.864 207 4214 0,8 300 2.979 291 3031 0,9 -30 3.674-34 3627 0,9 650 9.592 727 4826 0,9 150 5.405 408 5236 0,9 500 6.422 513 1068 1 920 10.582 1137 5055 1,1 450 7.718 484 23 7331 1,1 500 13.444 816 4258 1,4 500 7.276 448 4251 1,7 960 14.732 1066 4382 2 500 15.243 729 4472 2 850 16.031 981 4486 2 800 16.747 1284 4649 2 1090 16.926 1110 Fonte: Elaborado com base em Eddington, 1923. Agora, usando esses dados, faça os gráficos de dispersão no Excel. Depois, use a ferramenta “linha de tendência” para encontrar os valores da constante de Hubble2. Você encontrará os valores de 𝟒𝟓𝟒, 𝟏𝟔 𝒌𝒎/𝒔/𝑴𝒑𝒄 para os dados originais e 𝟕𝟎, 𝟗𝟖 𝒌𝒎/𝒔/𝑴𝒑𝒄 para os valores atuais. Gráfico 1 – Gráficos de dispersão dos dados Fonte: Guimarães Tedesco, 2024. 2 Se tiver dificuldades de fazer, procure a tutoria que ajudaremos! 24 É interessante que esses dados dão a estimativa de idade do universo, pois a idade do universo é dada por 𝟏 𝑯𝒐 Dados originais: 𝑰𝒅𝒂𝒅𝒆𝟏 = 𝟏 𝑯𝟎 = 𝟏 𝟒𝟓𝟒, 𝟏𝟔 ( 𝐤𝐦 𝐬 ) /𝐌𝐩𝐜 = 𝟐, 𝟏𝟓 bilhões de anos Dados atualizados: 𝑰𝒅𝒂𝒅𝒆𝟏 = 𝟏 𝑯𝟎 = 𝟏 𝟕𝟎, 𝟗𝟖 ( 𝐤𝐦 𝐬 ) /𝐌𝐩𝐜 = 𝟏𝟑, 𝟕𝟖 bilhões de anos Sabendo que 𝟏𝑴𝒑𝒄 = 𝟑, 𝟎𝟖𝟔 × 𝟏𝟎𝟏𝟗𝒌𝒎. FINALIZANDO Falamos sobre as galáxias na astronomia, começando pela análise da Via Láctea, seguindo para a classificação e as características das galáxias, com uma abordagem sobre aglomerados galácticos, e concluindo com a discussão sobre a formação e a evolução das galáxias, com a aplicação da Lei de Hubble Enfatizamos a importância da observação e teoria na compreensão da estrutura e da dinâmica do universo. Fechando com a Lei de Hubble, como ponto culminante, apresentamos que se trata não apenas de um marco na cosmologia, mas de um indicativo da constante evolução do conhecimento científico. Destacamos a relevância da pesquisa astronômica na resolução de questões fundamentais sobre a origem e o futuro do universo, reforçando que a astronomia é um campo de estudo dinâmico e em contínua expansão. 25 REFERÊNCIAS BAHCALL, N. A. Clusters and superclusters of galaxies. Arxiv, p. 1-15, 1996. CHIOSI, C.; CARRARO, G. Formation and evolution of elliptical galaxies. Monthly Notices Of The Royal Astronomical Society, v. 335, n. 2, p. 335-357, set. 2002. COLE, S. et al. Hierarchical galaxy formation. Monthly Notices Of The Royal Astronomical Society, v. 319, n. 1, p. 168-204, 4 abr. 2002. DIETRICH, J. P. et al. A filament of dark matter between two clusters of galaxies. Nature, v. 487, n. 7406, p. 202-204, jul. 2012. DUPUY, A.; COURTOIS, H. M.. Dynamic cosmography of the local Universe: laniakea and five more watershed superclusters. Astronomy & Astrophysics, v. 678, p. 176-195, out. 2023. EDDINGTON, A. S. The Mathematical Theory of Relativity. London: CUP, 1923. KIRSHNER, R. P. Hubble's diagram and cosmic expansion. Proceedings Of The National Academy Of Sciences, v. 101, n. 1, p. 8-13, 26 dez. 2003. MAROV, M. Y. The Structure of the Universe. The Fundamentals Of Modern Astrophysics, p. 279-294, 4 set. 2014. THOMAS, D. Abundance ratios in hierarchical galaxy formation. Monthly Notices Of The Royal Astronomical Society, v. 306, n. 3, p. 655-661, jul. 1999. THOMPSON, L. A. Vesto Slipher and the First Galaxy Redshifts. Arxiv, p. 1-35, 2011. TULLY, R. et al. The Laniakea supercluster of galaxies. Nature, v. 513, n. 7516, p. 71-73, set. 2014.