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TEMA 02 – CONTESTAÇÃO – PARTE II 
 
 
Aula 01 – Contestação – parte II 
 
 A contestação parece ser uma peça processual simples, porém, existe 
uma série de aspectos formais e procedimentais eu acabam tornando-a um 
texto complexo para o profissional que possui uma boa qualificação. Já se 
observou que a contestação é a defesa do réu/demandado, e isso sempre 
deve estar muito claro na mente do operador jurídico, porque deve estar 
também clara a limitação da matéria que pode ser alegada em sede de 
contestação. Na contestação, apenas se podem alegar matérias defensivas, 
que representem uma resistência do réu/demandado diante da pretensão do 
autor/demandante. Não obstante, na contestação não se pode realizar 
pedidos, apenas requerimentos. Em casos excepcionais, como no 
procedimento dos juizados especiais ou nas ações possessórias, é admitido 
um pedido contraposto na contestação. Em outros casos, quando o réu quer 
contra-atacar a parte autora sob os mesmos fatos alegados em sede inicial, 
deve recorre à reconvenção, que será matéria de estudo mais adiante. 
 Deve-se recordar, neste sentido, os ensinamentos da doutrina, que 
explicam que, da mesma forma que o autor tem o direito de apresentar uma 
causa perante o judiciário, o réu também tem o direito de defender-se: 
 
Da mesma forma como garante a todos o direito de ação, isto é, o 
direito de demandar perante o Poder Judiciário (art. 5o, XXXIV e 
XXXV, CF), a Constituição Federal também garante aos 
demandados o direito a ampla defesa (art. 5o, inciso LV, CF); em 
outras palavras, o direito de resistir à pretensão do autor, podendo 
esta resistência tomar várias formas no processo civil, tais como: 
contestação, reconvenção, exceções, impugnações e embargos. 
(ARAÚJO JUNIOR, 2020, p. 11). 
 
 Deve-se ressaltar também que o réu/demandado não é obrigado a 
responder ao litígio judicial. Contudo, se não o fizer, estará sujeito a sofrer os 
efeitos da revelia, e reputar-se-ão verdadeiras as alegações da parte autora. 
 
 
 
(ARAÚJO JUNIOR, 2020). Apenas a parte ré/demandada é legítima para se 
defender, então, apenas essa parte pode arguir uma série de questões 
processuais que devem ser cautelosamente analisadas. 
 Nesse sentido, se deve prosseguir com as questões de ordem práticas 
iniciadas na última aula do bloco anterior. A primeira questão a ser abordada 
é a seguinte: 
 
Qual a diferença entre exceções e objeções? 
 
 No processo civil existem dois termos técnicos importantes: exceções 
e objeções. Compreender tais termos técnicos pode se mostrar útil para a 
prática profissional da advocacia. Ambas, exceções e objeções, são matérias 
que podem ser alegadas pela parte ré/demandada em sede de contestação. 
São, portanto, outras formas de classificar defesas processuais e materiais 
(mérito). Para a doutrina, as exceções não são defesas diante dos pedidos do 
autor. As exceções implicam questões de ordem processual e são, portanto, 
arguidas em sede de preliminar de contestação. Exceção, em sentido amplo 
(lato sensu) pode ser matéria arguida por ambas as partes em um processo. 
Porém, neste momento, deve-se ressaltar o sentido estrito (stricto sensu) de 
exceção, que se referem às matérias específicas de alegação da parte 
demandada/ré na contestação. Existem duas classes principais de exceções: 
a) Processuais; 
b) Materiais (de mérito). 
 
As exceções processuais são matéria de defesa preliminar e, em sua 
grande maioria, podem ser arguidas de ofício pelo magistrado. 
 
 Deve-se relembrar que o reconhecimento de ofício pelo magistrado se 
caracteriza pela apreciação de uma matéria sem que ela tenha sido provocada 
por uma das partes. Em razão do princípio da inércia processual, entende-se 
 
 
 
que um tema não pode ser analisado pelo magistrado se não for arguido por 
uma das partes. Contudo, existem matérias de ordem pública que não apenas 
podem, mas devem ser reconhecidos de ofício pelo juiz. O reconhecimento 
de ofício ocorre quando uma questão de ordem de preliminar processual ou 
preliminar de mérito são analisadas pelo poder judiciário, mesmo que 
nenhuma das partes a tenha alegado. 
 
 Portanto, observando-se o rol do artigo 337 do CPC/2015, existem 
treze matérias processuais que podem ser arguidas em sede de preliminar 
processual. Contudo, destas treze, apenas duas não se tratam de exceções. 
As exceções podem ser reconhecidas de ofício pelo magistrado e, no rol do 
artigo 337 do CPC/2015, a incompetência relativa e o compromisso arbitral 
não podem ser reconhecidos de ofício pelo magistrado. Portanto, são as duas 
únicas hipóteses de preliminares processuais que não são exceções. 
 Já as exceções materiais (também conhecidas como exceções de 
mérito ou exceções substanciais), são vinculadas à arguição de matéria de 
mérito em sede de contestação. As exceções são arguidas em sede preliminar 
de mérito, e as mais comuns são a prescrição e a decadência. As exceções 
de matéria de mérito não apenas podem, mas devem ser reconhecidas de 
ofício pelo magistrado. Diferentemente das exceções processuais, que podem 
levar a resolução do caso sem julgamento de mérito, as exceções materiais 
resolvem o processo com resolução de mérito, tamanha é sua incidência 
sobre o direito material pleiteado. 
Entende-se que a prescrição e a decadência são questões de ordem 
pública e, assim como as exceções processuais, esta é a justificativa para que 
o magistrado atue de ofício no seu reconhecimento. Lembre-se que 
 
A prescrição e a decadência devem ser alegadas dentro da defesa 
de mérito, pois, caso acolhida uma delas, o processo será extinto 
nos termos do art. 487, II, do CPC. Contudo, antes de adentrar na 
defesa de mérito propriamente dita. ( p. 129). 
 
 
 
 
 Observe-se também a redação do artigo 487, em especial, ao seu 
inciso II do CPC/2015, que dispõe que o processo será extinto com resolução 
de mérito se o magistrado “decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a 
ocorrência de decadência ou prescrição” (BRASIL, 2015, s.p.). 
 Contudo, mesmo que uma matéria de defesa processual ou de mérito 
possa ser reconhecida de ofício, isso não significa que ela não deva ser 
alegada pela parte ré/demandada. A boa técnica profissional indica que, por 
mais que a matéria possa ser reconhecida de ofício, ela deve ser interposta 
pelo procurador da parte demandada. Isso demonstra a técnica qualificada do 
profissional e também demonstra domínio do processo civil. Ainda, isso auxilia 
o próprio magistrado, que, muitas vezes, pode não estar a par de todas as 
informações sobre o litígio, o que pode prejudicar sua análise sobre a 
prescrição e a decadência. 
 
Portanto, mesmo que as exceções e objeções possam ser reconhecidas de 
ofício pelo magistrado julgador da causa, o procurador jurídico representante 
da parte ré/demandada deve argui-las em sede de contestação. 
 
É indispensável ressaltar que a prescrição e a decadência são 
matérias que podem ser arguidas em sede de defesa, mesmo que 
apresentadas de forma intempestiva. Isso significa que essas 
preliminares de mérito, por se tratarem de matéria de ordem 
pública, podem ser reconhecidas como parte da defesa do réu, 
mesmo que a contestação já tenha sito apresentada. Se o 
procurador da parte já tiver peticionado a contestação e, 
posteriormente, perceber a incidência da prescrição e decadência, 
poderá realizar uma petição simples informando o magistrado 
sobre tais preliminares de mérito. Mas isso só se aplica a esses 
casos específicos de matéria de mérito de ordem pública 
(prescrição e decadência). Nos demais casos, se a matéria não for 
arguida na contestação e não for de ordem pública, não poderá ser 
alegada em outro momento processual. 
 
 
 
Esses são, portanto, os aspectos principais de diferenças e 
semelhanças entre exceções e objeções na defesa do réu. Para melhorar o 
aprendizado sobre elas, observe-se o quadro síntese a seguir: 
 
Quadro síntese sobre as diferenças entre exceções e 
objeções na defesa do réu: 
 
 
Após esses esclarecimentos, é possível avançar para a próxima 
questão prática para o exercício da advocacia contenciosa. Essa questão é a 
seguinte: 
 
Qual a diferença entre preliminar e prejudicial? 
 
Como já destacado várias vezes neste estudo, as preliminares são 
defesas processuais, que indicam defeitos na formalidade do procedimento 
jurisdicional e que, se não sanadas, podem implicar na extinção do processo 
sem a resolução do mérito da demanda. São matérias arguidas em sede de 
preliminar de contestação e encontram-se elencadas no artigo 337 do 
CPC/2015. Observe-se o quadro síntese a seguir sobre a relação entre as 
 
 
 
preliminares arguidas em uma contestação e os requerimentos que delas 
devem se originar: 
 
 Quadro síntese sobre as alegações preliminares e os 
requerimentos e delas resultam: 
 
 
Fonte: BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática no processo civil. 9. ed. 
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 125-126. 
 
Quanto as preliminares, portanto, não restam dúvidas de que se 
referem às matérias que podem ser alegadas em tema de defesa processual, 
antes do ingresso no mérito da demanda. Por outro lado, restam as dúvidas 
 
 
 
quanto as prejudiciais. Se, por um lado, as preliminares são temas que podem 
ser arguidos em sede de defesa preliminar de contestação e se referem aos 
defeitos processuais da causa, por outro lado, as prejudiciais são questões 
essenciais ao mérito da demanda, que prejudicam a análise do direito. Nas 
prejudiciais não se está mais mencionando as preliminares processuais ou as 
preliminares de mérito (prescrição e decadência). As prejudiciais são 
questões que tangenciam o mérito da causa e representam um defeito para o 
seu julgamento. 
Para melhor compreensão do assunto, observe-se o seguinte exemplo: 
determinado negócio jurídico é levado a questionamento em juízo. O autor da 
demanda faz o pleito em ação judicial, exigindo o pagamento pela obrigação 
derivada do negócio jurídico. Por outro lado, a parte ré, exige o desfazimento 
do negócio jurídico, baseada em uma das hipóteses de vício no negócio 
jurídico. Verificada a nulidade do negócio jurídico pelo magistrado julgador da 
demanda, o mérito da demanda estará prejudicado, pois todos os direitos que 
derivam de tal negócio são considerados automaticamente nulos. Neste 
sentido, pode-se dizer que as prejudiciais são as questões que surgem diante 
do magistrado que impedem o julgamento do caso com base no direito 
pleiteado pela parte autora, ou seja, prejudicam o mérito da demanda. Elas 
solucionam o processo com resolução de mérito, porém, não sobre os 
mesmos fundamentos elencados pela parte autora da demanda. Assim, um 
exemplo de prejudicial são as hipóteses de nulidades dos negócios jurídicos. 
Deve-se ressaltar, portanto, que ambas as preliminares e prejudiciais 
são matérias de ordem da defesa do réu, que devem ser arguidas em sede 
de contestação. Todavia, a principal diferença entre elas é que as preliminares 
acarretam a extinção do processo sem resolução de mérito, enquanto que as 
prejudiciais resolvem o mérito do processo. Sobre o assunto, observe-se o 
quadro síntese a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 Quadro síntese sobre as principais diferenças entre 
preliminares e prejudiciais: 
 
 
 
Outro ponto muito importante a ser ressaltado é que as preliminares 
não podem ser objeto de processo autônomo. Essa informação parece ser 
óbvia, tendo em vista que se está tratando das defesas processuais, e isso 
significa que são as matérias que podem ser arguidas mediante provocação. 
Não há sentido em alegar preliminares em processo autônomo. Contudo, essa 
questão não é tão clara para quem obtêm profundo conhecimento da prática 
processual cível. Existem situações em que as prejudiciais podem ser 
alegadas em processo autônomo. Imagine-se, por exemplo, a questão da 
nulidade do negócio jurídico que é utilizada como base para uma ação judicial 
de rescisão contratual, enquanto que há outro processo de execução da 
obrigação firmada em tal negócio jurídico. Nestes casos, por força do artigo 
313 inciso V, alínea a do CPC/2015, o processo estará suspenso enquanto 
pender julgamento sobre a ação que versa sobre a prejudicial de sua matéria: 
 
Art. 313. Suspende-se o processo: 
(...) 
V - quando a sentença de mérito: 
 
 
 
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de 
existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o 
objeto principal de outro processo pendente. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
Portanto, outra diferença substancial entre as preliminares e as 
prejudiciais é que as preliminares só podem ser alegadas em contestação, 
não podem ser objeto de processo autônomo. Não se pode, por exemplo, 
ingressar com uma ação específica para reconhecimento da incompetência 
absoluta do juízo (matéria de preliminar processual). Isso deve ser um tema 
alegado na peça da contestação. Por outro lado, as prejudiciais podem ser 
objeto de ação autônoma. Assim, pode-se ingressar com uma ação de 
declaração de nulidade contratual, mesmo que se esteja na pendência de 
julgamento de ação que resulte das obrigações contraídas pelo contrato. 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 02 – Contestação – parte II 
 
 Nas aulas anteriores o enfoque recaiu sobre algumas questões de 
ordem prática para o exercício da advocacia contenciosa. Isso não significa 
que os demais temas aqui estudados não possuem aplicabilidade prática. 
Todos os conhecimentos adquiridos neste módulo são importantes porque 
lançam as bases teóricas necessárias para que o profissional jurídico 
desempenhe suas atividades práticas de forma coerente e qualificada. 
 Um desses conhecimentos teóricos importantes para uma defesa do 
réu/demandado eficaz é sobre os princípios que regem a contestação. Esse 
será o tema desta aula. Em específico, abordam-se os princípios da: 
eventualidade, eficácia preclusiva da coisa julgada, dedutível e ônus da 
impugnação específica. Antes de adentrar no estudo específico de cada um 
desses princípios, deve-se ressaltar que: 
 
Os princípios não são regras jurídicas. Isso significa que os princípios não são 
específicos e certos como são as regras do direito. Eles são como 
mandamentos de otimização, isto é, nortes a serem seguidos para 
potencializar a intepretação sobre determinadas regras jurídicas. Tanto os 
princípios quanto as regras jurídicas podem estar contidos em normas 
jurídicas, isto é, no texto de algum diploma legal. 
 
 Para melhor observação das características e diferenças entre regras 
e princípios, observe-se o quadro síntese a que dispõe sobre os critérios de 
diferenciação entre ambos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Características distintivas entre regras e princípios: 
 
 
Fonte: LYRA, Diane. Diferença Entre Princípios E Regras - Direito Constitucional. 
Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/91359326/diferenca-entre-principios-e-
regras-direito-constitucional Acesso em 15 nov. 2022. 
 
 
 
 
 Portanto, muitos dos princípios estudados possuem uma base legal. 
Porém, essa base legal deixa o princípio implícito ao texto normativo e isso 
advém da sua própria natureza flexível. Com base nessas informações 
iniciais, é possível partir para o estudo o primeiro princípio da contestação: o 
princípio da eventualidade. 
 
1. Pelo princípio da eventualidade: 
 
Por este princípio, compreende-se que o réu/demandado deve 
apresentar toda matéria de sua defesa na contestação, sob pena de 
preclusão. Tal princípio é extraído da redação do artigo 336 do CPC/2015: 
“Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, 
expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e 
especificando as provas que pretende produzir. (BRASIL, 2015, s.p. Grifo 
nosso). 
 A regra, portanto, é de que seuma matéria de direito não for 
devidamente alegada na defesa processual da contestação, estará preclusa 
e reputar-se-ão verdadeiras as alegações da parte autora/demandante. Nesse 
sentido, deve-se lembrar que: 
 
A preclusão é a perda do direito de manifestação no processo. Difere, 
portanto, da prescrição, que é a perda da capacidade de reivindicar o direito 
em juízo devido ao decurso do tempo. Na preclusão, perde-se o direito de se 
manifestar sobre algo, porque não houve manifestação no momento 
processual oportuno. A preclusão pode ser: temporal, lógica, consumativa 
ou punitiva. 
 A preclusão temporal é a mais comum, pois ocorre quando 
transcorre o prazo preclusivo de uma matéria que não foi alegada 
no momento processual oportuno. 
 A prescrição lógica, por outro lado, é aquela que decorre da 
incompatibilidade dos atos processuais praticados. 
 
 
 
 A prescrição consumativa é consequência da realização 
(consumação) do próprio ato processual, o que indica que, uma vez 
realizado, o ato processual não pode ser apresentado uma segunda 
vez. 
 E, por fim, a preclusão punitiva é aquela que decorre de uma 
sanção legal diante de ato processual ilícito. Assim, se o ato 
processual não for lícito, será desconsiderado e estar-se-á preclusa 
sua nova apresentação. 
 
Contudo, como basicamente todas as regras e princípio do direito, o 
princípio da eventualidade também admite exceções. Isso significa que 
existem alguns casos específicos em que mesmo que a matéria não tenha 
sido alegada no momento processual oportuno, ela não será objeto de 
preclusão e, portanto, poderá ser alegada em outro momento processual. Na 
defesa do réu, significa mais especificadamente que alguns temas podem não 
ser alegados na contestação e, ainda assim, serem passíveis de alegações 
futuras, porque não sofreram os efeitos da preclusão. 
Os primeiros temas de contestação que não sofrem os efeitos da 
preclusão são aqueles elencados no artigo 493 do CPC/2015: 
 
 Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, 
modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, 
caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento 
da parte, no momento de proferir a decisão. 
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as 
partes sobre ele antes de decidir. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
 Logo, tal dispositivo legal afirma que os fatos supervenientes podem 
ser alegados fora dos momentos processuais oportunos, justamente, porque 
não existiam à época da realização do ato processual. Da mesma forma, os 
fatos supervenientes podem ser reconhecidos de ofício pelo magistrado 
julgador da causa, porém, neste caso, ele deverá cientificar ambas as partes 
do fato e permitir o direito de resposta de ambas sobre o ocorrido. 
 
 
 
Portanto, a primeira hipótese de exceção ao princípio da eventualidade 
são os fatos supervenientes. A segunda hipótese já foi abordada neste 
estudo, e se trata das objeções. Matérias de preliminares de mérito 
(prescrição e decadência) podem ser reconhecidas a qualquer tempo, bem 
como em qualquer grau de jurisdição, de ofício pelo magistrado ou não. 
 
2. Princípio da eficácia preclusiva da coisa julgada 
 
O princípio da eventualidade produz efeitos, dentre os quais, se 
ressalta a produção de um novo princípio: a eficácia preclusiva da coisa 
julgada. Tal princípio aduz que as alegações apresentadas em um 
determinado processo do qual já há uma sentença transitada em julgado, não 
podem ser utilizadas como fundamentos para a propositura de uma nova 
ação. Isso advém da vedação de que uma mesma matéria seja analisada 
duas vezes pelo poder judiciária, ao mesmo tempo em que garante a 
produção dos efeitos característicos da coisa julgada. Nesse sentido, 
destaque-se que: 
 
Coisa julgada significa advém da sentença judicial que já teve esgotada 
seu prazo recursal, não cabendo assim, reanálise sua pelo poder judiciário. 
Ela se encontra descrita no artigo 502 do CPC/2015: “Denomina-se coisa 
julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de 
mérito não mais sujeita a recurso” (BRASIL, 2015, s.p.). Portanto, a coisa 
julgada não pode mais ser objeto de nova ação, bem objeto de recurso. 
Existem dois tipos de coisa julgada: 
 
 Coisa julgada material: é aquela que surge de uma sentença que 
proferiu julgamento de mérito. Há, neste sentido, a resolução do 
processo com apreciação do mérito (do direito material) da 
demanda. 
 Coisa julgada formal: é aquela que decorre de um julgamento sem 
análise do mérito da demanda. É comum nos casos em que há 
 
 
 
acolhimento de defeito processual que gera o julgamento da 
demanda sem resolução de mérito. 
 
Nesse sentido, tendo em vista que a coisa julgada impede que a 
demanda seja novamente analisada pelo poder judiciário, é possível também 
argumentar que a ela possui uma eficácia preclusiva, uma vez que, os 
argumentos que não foram arguidos no momento processual oportuno, isto é, 
no decorrer do processo, não poderão ser apresentados após o trânsito em 
julgado da demanda. Evidente que isso não significa que inexistem exceções 
a essa regra. O fato superveniente, a prescrição e a decadência podem ser 
arguidas a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, bem como, 
podem ser objeto de processo autônomo a fim de revisar a decisão 
anteriormente proferida. 
 
3. Princípio do dedutível: 
 
Tanto o princípio da eficácia preclusiva da coisa julgada, quando o 
princípio do dedutível, são ramificações do próprio princípio da eventualidade, 
e isso significa que ambos possuem relação com a ideia de que precluem as 
matérias de direito que não foram alegadas no momento oportuno, tanto da 
defesa, quanto da autoria da demanda judicial. O princípio do dedutível 
encontra-se subentendido na redação do artigo 508 do CPC/2015: 
 
Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-
ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a 
parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do 
pedido. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
Portanto, tal princípio explica que, transitada em julgado a ação, as 
alegações que existiam a época do processamento que não foram arguidas 
pelas partes no momento oportuno, serão consideradas deduzidas, isto é, 
repelidas pelas próprias partes e, portanto, não poderão mais ser objeto de 
ações futuras. Há, nesse sentido, mais uma vez a incidência da preclusão 
 
 
 
sobre os fatos e argumentos que poderiam ter sido ressaltados no momento 
processual oportuno. Deve-se reiterar que a preclusão vale tanto para 
alegações de fato, quanto para alegações de direito. 
 
4. Princípio da Impugnação Específica: 
 
Destacando-se das ramificações do princípio da eventualidade, que 
incorre na consequência jurídica da preclusão, existe o princípio da 
impugnação específica. Para compreender este princípio, antes de estuda-lo, 
deve-se realizar o seguinte questionamento: 
 
É possível cumulação de defesa na contestação? 
 
 Muito se discute sobre a cumulação de pedidos em uma petição inicial, 
porém, é raro verificar questionamentos sobre a cumulação de defesas em 
uma contestação. Assim como é possível a cumulação de pedidos em sede 
inicial, a cumulação de defesas na contestação é sim possível. Existem duas 
formas de as defesas se cumularem: 
a) Cumulação própria: ocorre quando a contestação apresenta diversas 
linhas defensivas e requere o acolhimento de todas elas pelo 
magistrado. Em um exemplo de ação de dano moral e material, uma 
defesa cumulativa pode ser reconhecida se houver a resistência contra 
ambos os pedidos da parte autora, isto é, quando a parte ré argumenta 
ser indevido tanto o dano moral, quanto o material. 
b) Cumulação eventual: ocorre quanto a contestação apresenta mais de 
uma linha defensiva e prevê, no caso de desconsideração da tese 
defensivaanterior por parte do magistrado, uma ou mais teses 
supervenientes para serem acolhidas. Um exemplo disso é uma ação 
de dano material na qual a parte ré alega tanto a prescrição quanto a 
inexistência do fato que gerou o dano material. Assim, se acolhida a 
prescrição pelo magistrado, haverá a resolução do conflito com 
resolução de mérito e sem ser analisado o argumento posterior sobre 
 
 
 
a inexistência do fato causador do dano material. Se o magistrado, por 
outro lado, não reconhecer a prescrição, poderá analisar a segunda 
tese defensiva, que impugna a materialidade do fato gerador do dano 
material. 
Com base nessas explicações, é possível analisar o princípio da 
impugnação específica, que dispõe que, na contestação, o réu deve 
impugnar especificadamente todos os fatos e argumentos apresentados 
pelo autor, sendo vedada, portanto, a negativa geral. Não significa, 
entretanto, que uma negativa geral não possa ser apresentada, mas significa 
que ela não possui quaisquer efeitos, sendo que, se apresentada, o réu se 
sujeitará aos efeitos da revelia. A contestação deve ser, portanto, específica, 
apresentando todos os fatos e argumentos que apresentam uma resistência 
a todas as alegações do autor. Se um fato ou argumento não for impugnado, 
será reputado verdadeiro, e o réu não poderá mais dele se defender (a 
preclusão é um efeito da revelia). Isso por força do artigo 344 do CPC/2015: 
“Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-
se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor” (BRASIL, 
2015, s.p.). 
Contudo, existem também exceções a este princípio. O defensor 
público, por exemplo, assim como o defensor dativo que não têm contato com 
o cliente, podem contestador por negativa geral dos fatos. Por outro lado, nos 
demais casos isto não se admite, incluindo, em causas em que a Fazenda 
Pública ou o Ministério Público fazem parte. 
 
Ainda, existem questões que, mesmo se não alegadas em sede 
defensiva, não gerarão a revelia. Nos casos de direitos indisponíveis, 
interesse de incapaz, ou de petição não acompanhada de documento 
fundamental que a lei exige para a veracidade da ação, mesmo que a 
defesa não alegue determinada tese defensiva, não haverá a incidência dos 
efeitos da revelia. 
 
 
 
Aula 03 – Contestação – parte II 
 
 Analisados alguns dos principais princípios que regem a contestação, 
é possível avançar no estudo de questões mais técnicas sobre a defesa do 
réu. Nesta terceira aula do segundo bloco de tema das defesas da parte ré 
em um processo cível, abordam-se temas relativos às hipóteses de 
indeferimento da contestação e também sobre a explicação e consequências 
do acolhimento ou não das defesas preliminares processuais. 
 Primeiramente, é importante definir que, no caminho processual, a 
contestação pode seguir diferentes rumos, dependo dos argumentos nela 
constantes. Nesse sentido, observe-se a síntese a seguir: 
 
 Possibilidades processuais após apresentação da 
contestação (processo cível) 
 
 
 
 
 
 
 Observe-se que, em caso de apresentação de contestação com vício, 
o magistrado indicará um prazo hábil para o seu saneamento. Se sanável, o 
procedimento seguirá com a apreciação da matéria de contestação pelo 
julgador. Se o vício não for sanado, a contestação será desmembrada do 
processo, isto é, não será juntada. Ela não terá, portanto, existência no mundo 
jurídico e isso acarreta ao réu todas as consequências jurídicas como se 
nunca tivesse apresentação sua resposta. Isso significa que, no caso de a 
contestação não ter seus vícios sanados, a parte demandada incorrerá nas 
penas da preclusão e da revelia, isto é, não poderá mais alegar matérias 
defensivas e reputar-se-ão verdadeiras as alegações do demandante. 
Existem, portanto, três grandes hipóteses de indeferimento da 
contestação: 
a) Intempestividade; 
b) Incapacidade processual; 
c) Irregularidade da representação quando não sanada no momento 
oportuno. 
Sobre o significado de cada uma dessas hipóteses, observe-se o 
quadro a seguir: 
 Hipóteses de indeferimento da contestação 
 
 
 
 
 Uma questão muito importante se der recordada, neste ponto do 
estudo, é relativa aos prazos para apresentação da contestação, que já foram 
objeto de estudo neste módulo. Via de regra, a contestação pode ser 
apresentada no prazo hábil de 15 dias úteis, excluindo-se o primeiro e 
incluindo-se o último dia nesta contagem. Contudo, o termo inicial da 
contagem é motivo de controvérsia tendo em vista os inúmeros caminhos 
processuais que a petição inicial pode tomar. Neste sentido, recorda-se a 
redação do artigo 335 do CPC/2015: 
 
 Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo 
de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: 
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão 
de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, 
comparecendo, não houver autocomposição; 
II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de 
conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a 
hipótese do art. 334, § 4º, inciso I ; 
III - prevista no art. 231 , de acordo com o modo como foi feita a 
citação, nos demais casos. 
§ 1º No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 
334, § 6º , o termo inicial previsto no inciso II será, para cada um dos 
réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de 
cancelamento da audiência. 
§ 2º Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º, inciso II , havendo 
litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu 
ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação 
da decisão que homologar a desistência. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
Neste contexto, é importante observar a seguinte imagem para melhor 
compreender a contagem dos prazos processuais da contestação no direito 
civil, tendo em vista que é matéria de confusão entre os iniciantes na carreira 
jurídica. Imagine-se que o termo inicial da contagem do prazo da contestação 
seja a realização da audiência de mediação e conciliação que restou 
inexitosa. Tal audiência se realizou no dia 07 de outubro de 2022, uma sexta-
feira. Tendo em vista a redação do inciso I do artigo 355 do CPC, a contagem 
do prazo processual para apresentação da contestação seguirá o seguinte: 
 
 
 
 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art334%C2%A74i
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art231
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art334%C2%A76
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art334%C2%A76
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art334%C2%A74ii
 
 
 
 Imagem 7: Exemplo para visualização da contagem do 
prazo processual de contestação (15 dias): 
 
 
 
Seguindo o exemplo, na imagem, o dia 7 de outubro, em amarelo, 
representa o dia da realização da audiência de mediação ou conciliação que 
restou inexitosa. Portanto, é o termo inicial para a contagem do prazo. O prazo 
processual da contestação é contato em dias úteis, portanto, finais de semana 
e feriados são excluídos da contagem. Da mesma forma, exclui-se o dia do 
início do prazo, isto é, o dia do termo inicial, e inclui-se o último dia (décimo 
quinto dia a partir do início da contagem do prazo). Portanto, o prazo inicia na 
segunda-feira, dia 10 de outubro, pois é o primeiro dia útil subsequente ao dia 
do termo inicial. O término do prazo é 31 de outubro, pois é o décimo quinto 
dia a partir do início da contagem do prazo. No exemplo, se a contestação for 
apresentada no dia primeiro de novembro, já será considerada intempestiva, 
 
 
 
isto é, apresentada fora do tempo hábil e, portanto, não será computada ao 
processo. 
Assim, a primeira hipótese de indeferimento da contestação, neste 
contexto, é a sua apresentação intempestiva,isto é, sua apresentação fora do 
prazo hábil, nos termos do artigo 335 do CPC/2015. Se intempestiva, a 
contestação será desmembrada do processo e o réu/demandado será 
considerado revel, inclusive, incorrendo sob as penas da preclusão, ou seja, 
não poderá mais alegar matérias defensivas que deixou de alegar no 
momento oportuno. 
 
Contudo, deve-se recordar que as exceções e objeções que são 
matérias de ordem pública e que podem ser reconhecidas de ofício pelo 
magistrado, podem ser apresentadas como tese defensiva a qualquer tempo, 
independentemente da tempestividade da apresentação da contestação. 
Assim, mesmo que o procurador jurídico não cumpra o prazo de apresentação 
da contestação, ainda poderá exercer a defesa de seu cliente, limitando-se a 
arguir as matérias preliminares processuais e de mérito que podem ser 
reconhecidas de ofício pelo julgador. São essas matérias: 
 inexistência ou nulidade da citação; 
 incompetência absoluta 
 incorreção do valor da causa; 
 inépcia da petição inicial; 
 perempção; 
 litispendência; 
 coisa julgada; 
 conexão; 
 incapacidade da parte, defeito de representação ou falta 
de autorização; 
 ausência de legitimidade ou de interesse processual; 
 falta de caução ou de outra prestação que a lei exige 
como preliminar; 
 indevida concessão do benefício de gratuidade de 
justiça; 
 prescrição; 
 decadência; 
 Fato Superveniente; 
 Demais hipóteses admitidas em lei. 
 
 
 
 
Nesse sentido, deve-se também observar a redação do artigo 342 do 
CPC/2015, que dispõe sobre as possíveis alegações de defesa que podem 
ser matéria arguida de forma intempestiva: 
 
 Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas 
alegações quando: 
I - relativas a direito ou a fato superveniente; 
II - competir ao juiz conhecer delas de ofício; 
III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em 
qualquer tempo e grau de jurisdição. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
Da mesma forma, o artigo 493 do CPC/2015 traduz importantes 
informações para o estudo da apresentação de defesas intempestivas: 
 
Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, 
modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, 
caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento 
da parte, no momento de proferir a decisão. 
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as 
partes sobre ele antes de decidir. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
É fundamental frisar, neste sentido, que tais dispositivos legais não se 
aplicam apenas às defesas no processo civil, mas também as próprias 
alegações do autor. Isso significa que eles se aplicam a ambas as partes 
conflitantes. Neste estudo, a ênfase que se exprime é nas defesas, pois é a 
temática do atual módulo abordado. 
A primeira hipótese, portanto, de indeferimento da petição inicial é a 
sua intempestividade. A consequência jurídica desse indeferimento sãos os 
efeitos da preclusão e da revelia, excetuadas as hipóteses legais que não 
sofrem esses efeitos. Sobre as duas outras hipóteses de indeferimento, isto 
é, a incapacidade processual e a irregularidade da representação, deve-se 
ressaltar que ambas são questões que podem ser arguidas como matéria de 
defesa preliminar, se atingirem a parte autora. Por outro lado, se atingem a 
parte ré, podem acarretar o indeferimento da contestação e, 
consequentemente, a incursão nos efeitos da preclusão e da revelia. 
 
 
 
A incapacidade processual tem relação com a capacidade que o 
indivíduo tem de ser parte do processo, não no sentido de sua capacidade 
civil (maioridade, saúde mental), mas sim de sua capacidade de se envolver 
na lide por conta de seu interesse. Apenas podem litigar em um processo as 
partes que possuem relação com o direito pleiteado em juízo. Se, por ventura, 
houver uma petição inicial em juízo, e uma parte totalmente estranha à lide 
resolver se manifestar, sem possuir quaisquer interesses sobre o direito ou o 
bem objeto da ação, será imediatamente afastada do processo pelo 
magistrado. Não obstante, pode ser comum a apresentação de contestações 
de forma equivocada, em processos cuja parte não possui, de fato, interesse. 
Se a falta de interesse processual for percebida, a contestação será 
indeferida. 
Já a questão da irregularidade da representação, se não sanada, é 
mais complexa. Diz respeito à capacidade postulatória da parte. A capacidade 
postulatória só pode ser exercida por profissional competente, advogado com 
registro no conselho da Ordem dos Advogados do Brasil. Imagine-se, nesse 
sentido, que a parte contesta uma ação sendo representada por bacharel em 
direito sem o devido registro na ordem dos advogados. Na ausência de tal 
registro, o bacharel não é advogado e, portanto, não possui capacidade 
postulatória. Afastando as questões éticas da discussão sobre esse assunto, 
no caso em tela prejudicou-se o direito de resposta do réu, uma vez que se 
constatou irregularidade na contestação. 
Muitas vezes essas irregularidades acontecem por alguma 
eventualidade, ou até mesmo por má-fé, no sentido de que a parte do 
processo não possui culpa sobre isso. É por esse motivo que, em caso de 
ausência de irregularidade na representação, a contestação não é 
imediatamente indeferida. O magistrado concede um prazo razoável para a 
correção do vício de representação. Se o vício for sanado, o procedimento 
continua. Se o vício não for sanado, não há alternativas senão indeferir a 
contestação. 
Estas são, portanto, as hipóteses de indeferimento da contestação. 
Analisadas estas hipóteses, pode-se seguir no estudo, promovendo um olhar 
 
 
 
minucioso sobre as hipóteses do artigo 337 do CPC/2015, isto é, sobre as 
defesas processuais preliminares. 
Nesse sentido, a primeira questão a ser observada diz respeito ao seu 
inciso I, que refere que é matéria de defesa processual a inexistência ou 
nulidade da citação. Aqui é importante uma diferença. Existem duas formas 
de uma citação ser considerada inexistente: a material e a jurídica. A citação 
é inexistente quando não é, de fato, realizada. Imagine-se, nessa hipótese, 
um oficial de justiça que vai até a residência do réu para citá-lo, mas não o 
encontra. O processo não pode continuar sem a cientificação do réu, porque 
ele deve ser devidamente citado. Assim, os procedimentos previstos em ei 
seguem, até que haja a devida citação legal do réu. 
A citação é considerada, por outro lado, inexistente de forma jurídica 
se viola alguma norma legal que determine sua validade. Um exemplo é a 
citação que de fato se realiza, porém, é entregue por profissional não 
habilitado. Ou ainda, uma citação por edital que não segue os procedimentos 
previstos em lei. Nestes casos, a citação é inexistente não porque, de fato, 
não se realizou, mas sim porque não seguiu os procedimentos que asseguram 
sua validade no mundo jurídico. 
O que é importante mencionar nessa questão de nulidade ou 
inexistência da citação é que ela é uma matéria preliminar que, se arguida, 
não leva à direta resolução da lide. Ela se trata de uma preliminar dilatória, 
pois, se acolhida, o magistrado irá definir um prazo hábil para saná-la. Se 
acolhida a preliminar, os prazos de contestação serão igualmente alterados. 
Isso nos termos do artigo 239 do CPC/2015: 
 
 Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do 
réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da 
petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. 
§ 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a 
falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para 
apresentação de contestação ou de embargos à execução. 
(BRASIL, 2015, s.p.). 
 
Assim, não há de se falar em intempestividade da contestação que foi 
apresentada diante da nulidade ou inexistência da citação. Mesmo que 
 
 
 
intempestiva, se a contestaçãofor apresentada sob essa matéria de defesa 
processual, e for acolhida pelo juízo, abre-se novo prazo para apresentação 
da defesa. 
 
 
 
Aula 04 – Contestação – parte II 
 
 Nesta última aula sobre o tema da contestação serão analisados os 
pormenores dos incisos do artigo 337 do CPC/2015, que trata das defesas 
processuais. Na última aula, abordou-se as defesas processuais do inciso I 
do artigo 337 do CPC/2015, isto é, os vícios processuais relacionados à 
nulidade ou inexistência da citação. Agora, é possível partir para a análise do 
inciso II do artigo supracitado, que trata da incompetência absoluta ou relativa 
como matéria de defesa preliminar processual. 
 
 Para compreender a incompetência, antes é necessário entender 
aspectos relacionados à competência. No direito, competência do juízo tem 
relação com os limites da jurisdição de determinada comarca ou juízo. É, 
portanto, o alcance do poder de dizer o direito que o magistrado possui. 
 
 Logo, dizer que um juízo é incompetente significa assumir que o 
magistrado não possui jurisdição sobre a causa e, portanto, não tem poderes 
para dizer o direito sobre o caso. Existem dois graus de incompetência: a 
absoluta e a relativa. 
a) Incompetência absoluta: é a competência que não pode ser atribuída 
a outro magistrado, em razão da matéria de ordem pública. Se um 
processo vier a ser julgado em foro absolutamente incompetente, a 
decisão proferida será nula. A incompetência absoluta é definida em 
razão da matéria (civil, penal, federal, trabalhista, etc.) e em razão das 
prerrogativas de função (julgamento de magistrados, governadores ou 
presidentes). 
b) Incompetência relativa: por outro lado, a incompetência relativa não 
leva em questão a ordem pública. Trata-se de uma incompetência que 
decorre do interesse privado das partes e, portanto, assim como foi 
convencionada, pode se convencionar que a incompetência relativa 
seja desconsiderada. Como exemplo, pode-se citar os casos de litígio 
 
 
 
sobre contratos que elegem determinado foro para a resolução de 
controvérsias sobre si. Mesmo que seja proposta ação em foro 
incompetente, essa incompetência é relativa e, se não oposta pela 
defesa, é considerada sanada e o processo pode seguir o julgamento 
no foro que a ação foi, de fato, proposta. Assim, a incompetência 
relativa decorre da vontade das partes. 
Dentre as principais dúvidas que possam surgir, neste sentido, pode-
se destacar a seguinte: 
 
Se alegada incompetência relativa ou absoluta pela defesa, em qual foro 
pode ser oposta a contestação? 
 
 à primeira vista, a resposta a este questionamento pode parecer óbvia, 
no sentido de que a contestação será oposta no mesmo foro da propositura 
da ação. Contudo, o artigo 340 do CPC/2015 traduz uma hipótese distinta. 
Refere o dispositivo legal: 
 
Art. 340. Havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, 
a contestação poderá ser protocolada no foro de domicílio do réu, 
fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, 
preferencialmente por meio eletrônico. (BRASIL, 2015, s.p.). 
 
 Neste sentido, se a defesa perceber a incidência de incompetência 
relativa ou absoluta e decidir alegá-la em sede de preliminar de contestação, 
poderá apresentar a defesa completa no foro da residência do 
réu/demandado. Após, caberá ao juízo comunicar o ocorrido ao foro que a 
ação foi proposta. 
 Contudo, a incompetência absoluta, diferentemente da relativa, pode 
ser arguida a qualquer tempo, pois é matéria de ordem pública e que pode ser 
reconhecida de ofício pelo magistrado. A incompetência relativa, se não 
arguida no momento processual adequado (preliminar de contestação), 
preclui. 
 
 
 
 Nesta senda, é importante também ser mencionado que o julgamento 
sobre a incompetência, seja ela relativa ou absoluta, ocorre no foro no qual foi 
apresentada a contestação. O julgamento da incompetência ocorre nos 
mesmos autos do processo de origem, porém, é um procedimento apartado. 
No caso de reconhecimento da incompetência, os autos são remetidos 
imediatamente ao juízo elencado como competente. 
 Analisados os aspectos mais importantes sobre a incompetência, é 
possível partir para um exame do inciso III do artigo 337 do CPC/2015, que 
trata sobre a incorreção do valor da causa. O que é importante ser 
mencionado, neste aspecto, é que pelo CPC antigo, de 1973, a incorreção do 
valor da causa não era matéria de contestação, sendo necessária uma petição 
simples ao magistrado indicando tal vício processual. A partir do CPC/2015, a 
incorreção do valor da causa deve ser arguida em sede de preliminar de 
contestação. Se, por ventura, a incorreção do valor da causa não for arguida 
neste momento processual, haverá preclusão. Isso, nos termos do artigo 293 
do CPC/2015: “Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da 
contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o 
juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas” 
(BRASIL, 2015, s.p.). 
Por isso a incorreção do valor da causa é matéria de atenção pelo 
profissional jurídico, para que não se confunda e se incorra a erro de utilizar o 
procedimento do antigo Código de Processo Civil. Ainda, é importante 
mencionar que, da decisão que negue a incorreção no valor da causa como 
preliminar de contestação, não cabe agravo de instrumento. Isso poderá ser 
tema de preliminar de apelação. 
 Prosseguindo com as defesas processuais do artigo 337 do CPC/2015, 
tem-se o inciso IV, que trata sobre a inépcia da petição inicial. Nesse sentido, 
a defesa deve observar atentamente os artigos 319 a 321 (dos requisitos da 
inicial), 322 a 329 do (dos pedidos da petição inicial), 330 e 331 (do 
indeferimento da inicial), ambos do CPC/2015. Em resumo, as hipóteses de 
inépcia da petição inicial são as seguintes: 
a) Falta de pedido ou causa de pedir 
 
 
 
b) Pedido indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se 
admite o pedido genérico; I 
c) Narração dos fatos que não decorrer logicamente a conclusão; 
d) Pedidos incompatíveis entre si. 
Nos casos em que for reconhecida a inépcia da inicial, haverá extinção 
do processo sem resolução de mérito, porque, via de regra, uma petição 
inepta não pode ser corrigida. 
Na sequência, o inciso V do artigo 337 do CPC/2015 trata sobre a 
perempção. 
 
A perempção é uma sanção estatal e significa que o Estado não irá 
mais julgar determinada demanda. Isso ocorre porque a parte ingressou três 
vezes com uma ação judicial, sob os mesmos fatos e fundamentos, e desistiu 
do prosseguimento com a ação 
 
 A perempção não se confunde com outros institutos, como prescrição 
ou decadência. Para vislumbrar tais diferenças, observe-se o quadro a seguir: 
 
 Quadro síntese sobre as diferenças entre prescrição, decadência 
e perempção: 
 
 
 
 
 A perempção encontra-se normatizada no artigo 486, § 3º do 
CPC/2015: 
 
 Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não 
obsta a que a parte proponha de novo a ação. 
(...) 
§ 3º Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada 
em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu 
com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a 
possibilidade de alegar em defesa o seu direito. (BRASIL, 2015, 
s.p.). 
 
Após a indicação da perempção como matéria de defesa processual, o 
legislador elencou, no inciso VI do artigo 337 do CPC/2015 a litispendência. 
 
A litispendência ocorre quando há duas ações ajuizadas, com as 
mesmas partes e as mesmas causas de pedir. Assim a litispendência se 
caracteriza por se tratar de dois processos simultâneos sobre o mesmo 
assunto. 
 
Nesse sentido, é importante mencionar que, para a litispendência se 
caracterizar, devem estar presentes os requisitos dos seguintes parágrafos do 
artigo 337 do CPC/2015, que definem objetivamente o que se considera 
litispendência: 
 
§ 1º Verifica-sea litispendência ou a coisa julgada quando se 
reproduz ação anteriormente ajuizada. 
§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, 
a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. 
§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso. 
(BRASIL, 2015, s.p.). 
 
Na verificação de litispendência, a ação proposta posteriormente será 
extinta sem resolução de mérito, pois deverá ser aguardada a resolução da 
primeira ação proposta. 
O inciso VII do artigo 337 do CPC/2015, por sua vez, trata da coisa 
julgada. A coisa julgada já foi objeto de estudo e, portanto, não cabe ser 
mencionada novamente. O que deve ser ressaltado é que, de acordo com a 
 
 
 
lei (artigo 337 CPC/2015), “§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que 
já foi decidida por decisão transitada em julgado” (BRASIL, 2015, s.p.). 
existem a coisa julgada processual e a coisa julgada material. Para fins da 
defesa do réu/demandado, atenta-se para a coisa julgada material. 
 
A coisa julgada processual ocorre quando há uma matéria processual 
que sofre os efeitos da preclusão e, portanto, não pode mais ser objeto de 
alegações. Já a coisa julgada material se refere ao mérito da questão, é 
definida pelo trânsito em julgado da sentença. 
 
Nesse sentido, havendo a percepção da coisa julgada, o processo será 
imediatamente extinto sem resolução de mérito, pois já há uma resposta 
jurisdicional sobre a causa. 
Em seguida, o inciso VIII, artigo 337 do CPC/2015 dispõe sobre a 
conexão. Contudo, a interpretação desse inciso se estende para abarcar 
também a continência. Assim, tanto conexão quanto continência são matérias 
de defesa processual preliminar. Segundo a doutrina, 
 
A diferença entre a conexão e a continência reside no fato de que, 
enquanto na conexão as causas veiculam segmentos diversos de 
uma mesma relação jurídica de direito material, na continência a 
causa contida veicula apenas uma parte da relação jurídica de 
direito material veiculada na causa continente. (OLIVEIRA NETO, 
2018, s.p.). 
 
Assim, na conexão há duas ou mais ações que possuem um vínculo 
entre si que representa a necessidade de que, para uma ação ser julgada, 
necessariamente uma ação anterior deverá ter sua sentença provida. Por 
outro lado, a continência ocorre quando há o ajuizamento de uma ação que 
está contida em uma ação maior já ajuizada. Consequentemente, a ação 
contida não pode ser julgada sem que antes se tenha uma decisão sobre a 
ação contingente. Para melhor compreender a diferença entre conexão e 
continência observe-se a figura a seguir: 
 
 
 
 
 Figura 8: diferença entre conexão e continência: 
 
Portanto, tanto a conexão quanto a continência são matérias que 
podem ser alegadas em sede de preliminar de contestação, como vício 
processual. Se reconhecidas essas matérias pelo juízo, o processo será 
extinto sem resolução de mérito. 
Dando seguimento às questões de ordem processual que podem ser 
alegadas como preliminar da defesa, tem-se o inciso IX do artigo 337 do 
CPC/2015, que trata da capacidade processual e do defeito na representação. 
A capacidade processual também já foi objeto de análise neste estudo. Ela se 
refere à capacidade que a pessoa possui em ser parte do processo, e isso 
inclui questões formais como a maioridade e saúde mental. O mais comum é 
que a incapacidade processual advenha do fato da parte ser menor de idade 
sem representação legal. Nestes casos, 
 
o Réu pede a V. Exa. que se digne a suspender o processo, nos 
termos do art. 76 do Código de Processo Civil, marcando ao Autor 
prazo para sanar o defeito, sob pena de nulidade do processo e sua 
consequente extinção sem resolução do mérito, tudo como dispõe 
o art. 485, IV, combinado com o § 1o, I do art. 76, ambos da Lei 
Processual em vigor. (BARROSO; LATIÉRRE, 2019, p. 135). 
 
Da mesma forma que a capacidade processual, o defeito na 
representação também já foi objeto de estudo neste módulo. Ele é o vício 
sanável sobre a representação jurídica, isto é, vinculado à pessoa do 
procurador. Nestes casos, o magistrado pode definir um prazo razoável para 
sanar o vício processual. Se o vício for sanado, o procedimento seguirá 
 
 
 
normalmente. Se não sanado, haverá extinção do processo sem resolução de 
mérito. Lembre-se que a incapacidade processual como causa de 
indeferimento da petição inicial é semelhante, porém, não possui o mesmo 
sentido da incapacidade processual como matéria de alegação processual. 
Isso porque, nos termos do artigo 337 do CPC/2015, a interpretação desse 
instituto legal pode ser mais restritiva, uma vez que o próprio artigo faz 
menção a ausência de legitimidade e falta de interesse processual como 
matéria de preliminar de defesa. 
 
A ausência de interesse processual significa que uma parte não pode 
ingressar com uma demanda judicial ou se defender de uma demanda judicial. 
A ausência de interesse processual é definida pelo fato de o autor não possuir 
relações com o objeto ou o direito pleiteado. Por outro lado, a ilegitimidade de 
parte significa que o objeto ou o direito pleiteado não é de titularidade da 
pessoa que ingressa ou se defende da ação. Uma pessoa só pode propor 
ação judicial em virtude de um interesse do qual é titular estar sendo violado. 
 
Assim, comprovada da incapacidade da parte ou a falta de interesse 
processual, se o vício processual não for sanado, haverá extinção do processo 
sem resolução de mérito. 
E, por fim, as três últimas questões que podem ser matéria da defesa 
preliminar são as seguintes: convenção de arbitragem (inciso X), falta de 
caução ou prestação que a lei exija (inciso XII) e indevida concessão do 
benefício da gratuidade da justiça (inciso XIII), todas elencadas no artigo 337 
do CPC/2015. O próprio texto legal é explicativo nestas questões. O 
compromisso arbitral é normalmente uma cláusula contratual, e pode ser 
arguido como preliminar dilatória, pois o processo deverá ser remetido ao 
árbitro estipulado pelas partes, e não para o judiciário. Já a falta de caução ou 
prestação exigida por lei pode ser exemplificada pela falta do recolhimento 
das custas processuais. E, no caso do indevido benefício da gratuidade da 
justiça, a defesa deve alegar e provar seu cabimento indevido. 
 
 
 
Assim, os aspectos principais sobre as defesas processuais 
preliminares estão esgotados. Pode-se partir para o próximo tema deste 
módulo, isto é, uma nova modalidade de defesa do réu: a reconvenção.

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