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Unidade Curricular Direito Digital 2021.2 Professores Hercilio Emerich Lentz Pablo Pedra Branca Evolução do Direito O Direito Digital ou Informático ou Eletrônico consiste na evolução do próprio Direito, abrangendo todos os princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje, assim como introduzindo novos institutos e elementos para o pensamento jurídico, em todas as suas áreas (Direito Civil, Direito Autoral, Direito Contratual, Direito Econômico, Direito Financeiro, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Internacional etc). Sua idade é estimada em duas décadas. Costuma-se dizer que a Portaria Interministerial 147, de 31 de maio de 1995, editada pelos ministros da Comunicação e da Ciência e Tecnologia, que regulou o uso de meios da rede pública de telecomunicações para o provimento e a utilização de serviços de conexão à Internet, foi o primeiro diploma legal desse ramo. O Direito Digital nasceu da necessidade de se regularem as questões surgidas com a evolução da tecnologia e a expansão da internet, elementos responsáveis por profundas mudanças comportamentais e sociais, bem como para fazer frente aos novos dilemas da denominada “Sociedade da Informação”. O A doutrina tem assinalado um aspecto interessante desse Direito: afirma que o Direito Digital não tem objeto próprio. Seria um Direito com um “modus operandi diferente, sendo, na verdade, a extensão de diversos ramos da ciência jurídica, que cria novos instrumentos para atender a anseios e ao aperfeiçoamento dos institutos jurídicos em vigor” De acordo com Patrícia Peck Pinheiro, o Direito Digital é a evolução do próprio Direito e abrange “todos os princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje, assim como introduzindo novos institutos e elementos para o pensamento jurídico, em todas as suas áreas” (2008, p. 29). O Direito Digital é o resultado da relação entre a ciência do Direito e a Ciência da Computação sempre empregando novas tecnologias Enfim, o Direito Digital abrange todas as áreas do Direito, de maneira transversal, e congrega novos elementos para dirimir os conflitos surgidos com a tecnologia, especialmente a Internet, e regular as relações da denominada “sociedade da informação”. Direito Digital Negócios e Contratos Jurídicos Consumidor Tributário Empresarial Penal Relações Internacionais Nesse consenso, o usuário da Rede Mundial de Computadores, deve possuir conhecimento sobre ética, para avaliar o que é bem vindo ou não desse gigantesco aglomerado de informações, para saber extrair o que lhe é útil e descartar o fútil. Características do direito digital • Legislativo: criação de leis para regulamentar condutas online e estabelecer novos tipos penais, ocorridos no ambiente virtual • Interpretativo: aplicação das leis atuais a situações já conhecidas, considerando as particularidades de acontecerem no ambiente online. Características do direito digital • Interpretativo: celeridade, o dinamismo, a auto- regulamentação Objeto Jurídico Todos os bens e interesses juridicamente protegidos pelo Direito de forma ampla englobam os Objetos Jurídicos, estes que podem ser qualquer elemento passível de proteção nos mais determinados campos, muitos destes já pré-estabelecidos pela Constituição Federal vigente Tecnologia e o Direito Da criação do chip ao lançamento do primeiro computador com interface gráfica para utilização doméstica se passaram quase vinte anos. Depois, as mudanças não pararam mais, culminando na convergência — nada mais que a integração de várias tecnologias criando uma rede única de comunicação inteligente e interativa que utiliza vários meios para transmitir uma mesma mensagem, em voz, dados ou imagem. As relações comerciais migram para a Internet. A possibilidade de visibilidade do mundo atual traz também os riscos inerentes à acessibilidade, tais como segurança da informação, concorrência desleal, plágio, sabotagem por hacker, entre outros. No Direito Digital prevalecem os princípios em relação às regras, pois o ritmo de evolução tecnológica será sempre mais veloz que o da atividade legislativa. Nessa nova era do Direito os princípios jurídicos são muito mais relevantes do que as próprias leis, pois a tendência é que a atividade legislativa sempre esteja atrasada em relação às evoluções tecnológicas Tecnologia e o futuro do direito Zigmund Balman, sociólogo polonês (1925-1917), estabeleceu o conceito da modernidade liquida, para este, nos dias em que vivemos nada foi feito para durar, isso não somente por conta das relações em que nos colocamos, para o sociólogo tudo é muito dinâmico, permeado de incertezas, imprevisibilidade e insegurança. As profissões não ficam isentas desta análise, inclusive o direito Com isso também muda o perfil do profissional do direito, isso deve iniciar pelas instituições de ensino, algumas delas continuam pensando e ensinando o direito de uma forma “tradicional” e antiquada. Inteligência artificial, ODR (Online Dispute Resolution), Blockchain, Legal Analytics, Machine Learning e Internet das Coisas são algumas das novidades em tecnologia que estão sendo incorporadas à gestão jurídica com o objetivo de melhorar a eficiência e, consequentemente, a entrega dos serviços. O trabalho do advogado do futuro será muito mais colaborativo. Os fundamentos da advocacia não devem sofrer grandes alterações, mas o que muda drasticamente daqui por diante, é como os serviços jurídicos serão prestados. Os profissionais do Direito estarão cada vez mais conectados aos gerentes de projetos e especialistas de tecnologia, por exemplo, para co-criar soluções que alcancem as expectativas dos clientes e criem valor para o negócio. As tecnologias ajudarão os advogados a reduzir seus custos internos, delegando a algoritmos especialistas treinados as atividades elementares e triviais, tais como elaboração de petições (?), análise de jurisprudência etc. Construção de modelo próprios e do software. O primeiro “advogado” de inteligência artificial do mundo, criado pela IBM. “O robô advogado” Ross foi construído a partir do Watson, primeira máquina cognitiva, também da IBM. O Ross foi criado para declamar e interpretar o vocabulário oriundo, fabricar pressupostos quando interpelado, perquirir e construir soluções, e se provou um útil ajudante para os advogados de fato. Mas o operador do direito não precisará ter mais os conhecimentos do direito material e processual? Acredito que não! Normativo Nacional A CRFB em seu artigo 5º., visto que todos são iguais perante a lei e nos artigos “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: ... IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação” e no Art. 218. “O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação”; - Lei Nº 12.737/2012 (conhecida como Lei Carolina Dieckmann). Introduziu 03 tipos penais específicos envolvendo crimes informático; - Decreto Nº 7.962/2013 - Regulamentou o Código de Defesa do Consumidor, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico; - Lei Nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) - Estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, tanto para provedores de conexão, provedores de aplicação e usuários da Internet. É um marco mundial, no que concerne ao tratamento da Internet sob a ótica do Direito Civil, sendo referenciado por alguns como a "Constituição da Internet"; - Lei nº 13.709/18. Sucessora do Marco Civil da Internet, de 2014, a chamada Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) visa regulamentar a concessão e o uso de dados no ambiente virtual; - Lei nº 14.132/2021, que criminaliza o stalking e cyberstalking- LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 202 2, no art. 5º, da CF/88) http://planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc115.htm#art1 http://planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc115.htm#art1 Introdução ao Letramento Digital Assim, se há tão pouco tempo, iniciávamos os estudos do letramento no Brasil, avançamos para uma outra discussão que se insere na perspectiva do letramento digital pelos caminhos de uma sociedade da informação e da comunicação. A partir desse contexto, este trabalho organiza-se por uma revisão bibliográfica, intencionando apresentar alguns conceitos que se relacionam à necessidade da aquisição de habilidades e de competências que possam auxiliar no uso das tecnologias em seus mais diversos aspectos. ENTRE CONCEITOS Iniciamos a definição de letramento digital considerando que vários fatores interferem em qualquer contexto que ele possa assumir, pois o processo de letramento digital envolve o contexto sociocultural, político e histórico de cada indivíduo. Além disso, é preciso reconhecer que, em função da evolução tecnológica que se expande velozmente, torna-se complexo determinar quem é letrado digitalmente. Por uma forma mais literal, Serim (SERIM, 2002 citado por SOUZA, 2007, p. 57) define letramento digital como uso da "tecnologia digital, ferramentas de comunicação e/ou redes para acessar, gerenciar, integrar, avaliar e criar informação para funcionar em uma sociedade de conhecimento". Para o autor “ser letrado digitalmente pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens, desenhos gráficos, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela digital". (XAVIER, 2007, p. 2). COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Hoje já não cabe mais a discussão sobre a importância de ser letrado digitalmente ou não. Isso já é fato. O que precisa ser discutido é como oportunizar o letramento digital de forma a instrumentalizar as pessoas a lidar com as informações, dando sentido aos textos, verbais ou não, com o intuito de torná-las críticas e competentes para o uso das tecnologias. Competências e habilidades para o letramento digital Competência Computacional: relacionada aos conhecimentos básicos para o uso do computador Conhecer os elementos básicos do computador, suas funções, terminologias de sistemas operacionais, bem como softwares, programas e ferramentas disponíveis. Salvar e recuperar a informação no computador e em diferentes suportes (pen-drives, disco rígido, HD externo, pastas, nuvem, etc.) Manusear os recursos do computador, operando o básico das ferramentas do sistema operacional: explorar discos, copiar, executar programas etc.. Utilizar editor de textos para redigir documentos, armazená- los e imprimi-los. Utilizar editores gráficos para fazer trabalhos. Competência Comunicacional: relacionada à expressão oral, gestual e escrita Conhecer as diferentes Redes Sociais, utilizando-as para contatar pessoas. Digitar adequadamente. Conhecer as diferentes formas de escrita disponíveis, como bate-papo, e-mail etc. Competência Multimídia: relacionada à utilização de diferentes tipos de mídia Conhecer e manusear tipos de mídia. Ler e compreender textos digitais. Identificar design, páginas da web e outros recursos visuais. Competência Informacional: relacionada à busca, avaliação e utilização de informações Conhecer diferentes sites de busca. Conhecer e aprender a utilizar sites de download para programas, livros e filmes. Fazer juízos de valor informados por meio das tecnologias. Avaliar diferentes fontes da internet. Comparar e selecionar as informações relevantes. Desenvolver técnicas e instrumentos para a busca, exame e seleção de informações. Fonte: Saboia et al (2014) CONSIDERAÇÕES Saber empregar as tecnologias, utilizando-as com eficiência para atender aos propósitos da vida diária, tomando decisões e resolvendo problemas são pontos importantes para ser letrado digitalmente. No entanto, diante da complexidade dos meios digitais, em meio à efemeridade das tecnologias, isso considerando a velocidade que cada invenção se “reinventa”, isso não é tarefa fácil. Diante disso, como dominar as tecnologias se as mudanças ocorrem tão rapidamente? Como bancos, farmácias, supermercados e outros serviços (profissionais), que se valem cada vez mais do meio digital, poderão ser usufruídos de forma igualitária por todos seus usuários? Reflexões como essas precisam ser acompanhadas de discussões pela sociedade pensando o que realmente pode ser realizado para a inserção de todos ao mundo digital de forma justa. 3 Sociedade da informação e reflexos na produção do conhecimento A sociedade contemporânea, ou melhor, a chamada sociedade da informação, está se caracterizando pela influência e dependência das tecnologias. Sua dinâmica se funda no acesso às tecnologias. A presença e domínio das relações sociais via tecnologias muda a dinamicidade, concepções e também aspectos como o tempo, a velocidade e o espaço. As novas dinâmicas não são mais de poder físico, do mundo da força física, mas de uma capacidade mental, uma era imaterial e cerebral. De propriedade física, passou-se a valorizar a propriedade intelectual de patentes e direitos autorais. Da realidade pura e simples, passou-se a considerar a realidade virtual, a do ciberespaço, do abstrato, simbólico e o imaterial. A utilização intensiva de tecnologias de comunicação e informação para o movimento do mercado para gerar informação em menor intervalo de tempo, proporciona uma maior flexibilização na produção e também racionalidade nos processos produtivos. Rouanet (1987) aponta que o consumismo, a informação e o contato social mediado por tecnologias/imagens são características predominantes na nossa sociedade. O algoritmo não é o único mecanismo ou “ator” no ambiente numérico, se nos referirmos à teoria Ator-Rede, de Bruno Latour (1998, 2012), mas certamente não podemos mais ignorar nas nossas pesquisas no campo da comunicação digital, ou em estudos que de alguma forma tratam do ambiente digital, que este mecanismo de mediação na comunicação está ocupando um lugar de inevitável relevância. Ou seja, a ação dos influenciadores está sujeita ao comportamento do algoritmo, inevitavelmente. Se pensarmos no “eu como mercadoria” (Karhawi, 2016, p. 38) ou nas marcas que usam os “eus” como mercadorias e tentam, através deles, exercer influência sobre o seu público alvo, é preciso direcionar um ponto de vista institucional em relação ao algoritmo (Just & Latzer, 2016). É nas mídias sociais, como Facebook e Twitter, entre outras, que vemos a ação do algoritmo em “tempo real” e, apesar de muitas empresas no mundo todo terem um código de governança para essas mídias, como podemos observar no site especializado Social Media Governance5 , muitas vezes é preciso lidar com o evento que não foi previsto depois de uma campanha ou publicação. Avaliar o perfil do conteúdo, seu formato de publicação e voz institucional empregada não é o suficiente para lidar com a “caixa preta”. A seguir, exploramos essas premissas iniciais, as categorias de Gillispie e as relacionamos com o case proposto para análise, apontando, para os que querem influenciar digitalmente, a importância de dimensionarem diretrizes para uma política, seja pessoal ou institucional, de governança de algoritmos. O algoritmo dá uma certa “direção” para a informação, com um enquadramento de sentido, e se enquadra na categoria de dinâmica de “ciclos de antecipação”, como veremos mais abaixo . O exemplo do Google é muito claro neste quesito: Figura 1: Busca no Google para os termos “homens” e “mulheres”. Fonte: Autora, 13/6/2017 HOMENS MULHERESHomans sign Mulheres Homens bonitos Mulheres de areia Homens de honra Mulheres ricas Homens da luta Mulheres apaixonadas Homens de coragem Mulheres que amam demais Outro exemplo da dinâmica do algoritmo é a formação de bolhas. Para Pariser (2012), o centro da formação da bolha era a atividade do ser humano na interação com a internet. Arruda propõe um olhar territorial sobre a bolha, sendo que a construção desta é fundamentalmente a ação do algoritmo a partir do humano: (...) podemos analisar as bolhas algorítmicas como a formação de um território com códigos específicos que são compartilhados e ritualizados por aqueles que compartilham desse espaço de sentido. O território por onde a informação circula é determinado, em parte, pelas dinâmicas do algoritmo como observamos, por exemplo, nas categorias Gillispie como citamos anteriormente: 1. Padrões de inclusão: as opções anteriores de programação e que tornam o algoritmo um produtor de index; o que está excluído desse index e como os dados são preparados para o algoritmo; 2. Ciclos de antecipação: as implicações das tentativas dos provedores de algoritmos de conhecerem e preverem a interação dos seus usuários, e como as conclusões deles agem sobre o desenho dos algoritmos e como desenho importa; 3. A avaliação da relevância: os critérios pelos quais os algoritmos determinam o que é relevante, como esses critérios são obscuros e como eles implementam escolhas políticas sobre conhecimento apropriado e legítimo; 4. Promessa da objetividade do algoritmo: a maneira como o caráter técnico do algoritmo está posicionado como uma garantia de imparcialidade e como essa afirmação é mantida no cerne de uma controvérsia; 5. Emaranhamento com a prática: como os usuários remodelam suas práticas de acordo com os algoritmos dos quais eles dependem, e como eles podem transformar algoritmos em terrenos para competição política, às vezes até mesmo para interrogar a política do próprio algoritmo; 6. A produção de públicos calculáveis: como a produção e apresentação do público pelo algoritmo molda e é devolvida a estes mesmos públicos como percepção coletiva de grupo, e quem está melhor posicionado para se beneficiar deste conhecimento. (Gillispie, 2013, p.2-3) Parece-nos que a ligação de #homensrisque com as dinâmicas do algoritmo tem uma ressonância importante com a categoria 6, “A produção de públicos calculáveis”, pois a campanha teve o papel de fazer a percepção do público feminista e feminino reagir, formando uma imagem pública de si mesmo no uso da hashtag com o nome da campanha através do Twitter. A partir desta experiência, quem pode se beneficiar deste conhecimento? Pensamos que as marcas que trabalham com o público feminino não podem ignorar essa experiência; há aqui um ensinamento prático a respeito da tentativa de exercer influência nas mídias sociais sobre determinados públicos. https://www.youtube.com/watch?v=Xo1V_JL1yAg https://www.youtube.com/watch?v=Xo1V_JL1yAg Lei da transparência De acordo com a CRFB, alguns direitos que os cidadãos possuem que têm uma natureza autoaplicável. Um deles é o direito de receber informações sobre os órgãos públicos. Essas informações podem ser de natureza pessoal, coletiva e de interesse geral, além de atos e registros administrativos do próprio governo 5.Lei da transparência De acordo com a CRFB, alguns direitos que os cidadãos possuem que têm uma natureza autoaplicável. Um deles é o direito de receber informações sobre os órgãos públicos. Essas informações podem ser de natureza pessoal, coletiva e de interesse geral, além de atos e registros administrativos do próprio governo A Lei da Transparência é uma forma de combinar esses 3 aspectos em um único documento, que garantirá a sua aplicação por meio, por exemplo, do uso de tecnologias. Isto faz com que seja possível e fácil para os diversos órgãos manter e permitir acesso a essas informações Essa é a Lei da Transparência (Lei Complementar 131/2009), uma forma de regulamentar e explicar para o envolvido o que deve ser feito e em determinados casos. São mencionados a União, os Municípios e Estados, o Distrito Federal, mas até mesmo os poderes republicanos, todos os entes controlados e até empresas públicas ou de controle misto, em que haja associação com o Estado LC 101/2000 LC 131/2009 Lei 12.527/2011 As 3 Leis que lidam com Transparência Pública Uma delas é a Lei 12.527/2011, que é a conhecida LAI, ou a Lei de Acesso à Informação. Essa Lei também regulamenta o direito de acesso às informações públicas. Seu objetivo é que qualquer pessoa, seja física ou jurídica, possa solicitar e receber as informações públicas sem precisar nem mesmo esclarecer um motivo para isso. Esta lei é um marco no âmbito da Administração Pública brasileira. Ela se aplica a todos os órgãos que compõem o Estado. Ela se aplica aos três poderes da República, também; e mesmo para empresas estatais e até para entidades privadas que não possuem fins lucrativos e recebem dotações orçamentárias para desenvolver suas atividades. A principal diferença entre essas Leis é em relação à passividade e atividade. A Lei da Transparência exige que os órgãos sejam proativos na divulgação das informações. Por outro lado, a Lei de Acesso à Informação, garante que quem solicitar a informação irá recebê-la Exemplos de sites sobre Transparência https://www.cnj.jus.br/transparencia-cnj/ranking- da-transparencia/ranking-da-transparencia-2021/ https://www.cnmp.mp.br/portal/institucional/ comissoes/comissao-de-controle-administrativo-e- financeiro/atuacao/ranking-da-transparencia https://transparenciainternacional.org.br/ranking/ Quando o assunto é acesso à informação, manter esses princípios em mente. Eles são: Acesso é regra, sigilo é exceção. As hipóteses de sigilo são claras e estabelecidas na Lei. O requerente não precisa dizer para qual objetivo ele quer a informação. A divulgação de informações de interesses gerais deve ser proativa. A Lei de Responsabilidade Fiscal ( Lei 101/2000) também tem como objetivo a transparência pública. Nesse caso, o documento está mais voltado para orçamento e finanças públicas, através da gestão fiscal. O objetivo dessa Lei é garantir um maior controle das contas públicas, evitando que o governo contraia dívidas ou assuma empréstimos fora do cabível. Portanto, é uma forma de promover tanto a transparência, quanto a fiscalização. O conjunto desses três pontos – valores, leis e informatização – se transmuda na produção de direitos para a sociedade. É importante não perder isto de vista: a informação pública, a transparência na gestão e a democratização ao acesso só existem porque a sociedade isto anseia e requer. 6.Provedores de acesso e de conteúdo 6.1. Internet Com a publicação da Lei 12.965/2014, que institui o Marco Civil da Internet, muitos dos elementos que compõem a rede mundial de computadores foram definidos normativamente. A Internet foi definida como “o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes” (art. 5º, I). Classificação conforme a doutrina A natureza jurídica de cada espécie de provedor de internet é apresentada a seguir: Provedores de Backbone O backbone, ou “espinha dorsal”, representa o nível máximo de hierarquia de uma rede de computadores. Consiste nas estruturas físicas pelas quais trafega a quase totalidade de dados transmitidos através da internet, e é composto de múltiplos cabos de fibra ótica de alta velocidade Provedores de acesso É a pessoa jurídica fornecedora de serviços que possibilitem o acesso de seus consumidores à internet. Normalmente, essas empresas dispõem de uma conexão a um backbone ou operam a sua própria infraestrutura para a conexão direta Provedoresde correio eletrônico São aqueles que dependem do acesso prévio à internet. Seu funcionamento é relativamente simples: o provedor de correio eletrônico fornece ao usuário um nome e uma senha para o uso exclusivo em um sistema informático que possibilita o envio e o recebimento de mensagens Provedores de hospedagem É a pessoa jurídica que oferece o armazenamento de dados em servidores próprios de acesso remoto, possibilitando o acesso de terceiros a esses dados, de acordo com as condições estabelecidas com o contratante do serviço. Podem oferecer serviços adicionais como registro de nomes de domínio, cópias periódicas de segurança do conteúdo do web site armazenado entre outros Provedor de conteúdo, é toda pessoa natural ou jurídica que disponibiliza na internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação, utilizando para armazená-las servidores próprios ou os serviços de um provedor de hospedagem É frequente que provedores ofereçam mais de uma modalidade de serviço de Internet; daí a confusão entre essas diversas modalidades. Entretanto, a diferença conceitual subsiste e é indispensável à correta imputação da responsabilidade inerente a cada serviço prestado Classificação conforme o Superior Tribunal de Justiça (STJ) A partir do Marco Civil da Internet, em razão de suas diferentes responsabilidades e atribuições, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é possível distinguir simplesmente duas categorias de provedores: (i) os provedores de conexão; e (ii) os provedores de aplicação Provedores de conexão Os provedores de conexão são aqueles que oferecem “a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP” (art. 5º, V, MCI) No Brasil, os provedores de conexão acabam, em sua maioria, confundindo-se com os próprios prestadores de serviços de telecomunicações, que em conjunto detêm a esmagadora maioria de participação neste mercado. Provedores de aplicação Por sua vez, utilizando as definições estabelecidas pelo art. 5º, VII, do Marco Civil da Internet, uma “aplicação de internet” é o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet. Essas funcionalidades podem ser as mais diversas possíveis, tais como serviços de e-mail, redes social, hospedagem de dados, compartilhamento de vídeos, e muitas outras ainda a serem inventadas. Por consequência, os provedores de aplicação são aqueles que, sejam com ou sem fins lucrativos, organizam-se para o fornecimento dessas funcionalidades na internet. Decisão do STJ sobre os provedores de Internet RECURSO ESPECIAL Nº 1.193.764 - SP (2010/0084512-0) O PAPEL DA GOVERNANÇA DA INTERNET NA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS Lançada em 2006, o WikiLeaks é uma organização que obtém e divulga na Internet documentos confidenciais de empresas e de governos do mundo todo. Julian Assange é o líder e fundador do site. Em dezembro de 2010, o jovem Mohamed Boauzizi, tunisiano, ateou fogo ao próprio corpo em um ato desesperado, devido à ausência de oportunidades em seu país para jovens como ele. Iniciou-se aí a chamada Primavera Árabe. Segundo Castells (2015), os movimentos sociais na contemporaneidade apresentam a estrutura social da era da informação, com características da sociedade em rede. O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que "todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.”. O princípio fundamental da liberdade da Internet é que o gozo dos direitos humanos, para todos os indivíduos, também se aplica à Internet (BILDT, 2012). Os governos não atuam sozinhos no ambiente online, onde as companhias detêm e desenvolvem a maioria dos serviços e tecnologias. Contudo, o principal responsável em assegurar a proteção dos direitos humanos é o Estado, que deve, ao invés de aumentar a regulamentação da Internet ou criar mais leis, garantir que a competição entre as empresas, os direitos humanos e as licenças para comercialização sejam adequadamente aplicadas. (SCHAAKE, 2012). À medida que se promove a liberdade na Internet, deve-se também enfrentar a questão da segurança da Internet. Proteger os fluxos e sistemas digitais é a chave para seguir em direção ao sucesso da globalização. (BILDT, 2012) Bildt (2012) afirma que é de suma importância não permitir que questões legítimas de segurança crie pretextos para que regimes autoritários restrinja as liberdades individuais e os direitos humanos. Quanto mais importante se torna a utilização das TICs nos países em desenvolvimento, mais importante é proteger as liberdades digitais em sentido estrutural. Por exemplo, a disponibilização online do orçamento e dos gastos do Estado podem reduzir as oportunidades para corrupção. (SCHAAKE, 2012). Por outro lado, segundo Bildt (2012), o fato da governança de a Internet ter deixado de lado o controle exclusivo dos governos tem sido essencial para seu sucesso. Deve-se questionar o modelo atual da governança da Internet e refletir sobre como ele pode ser melhorado. Encontrar soluções de como, no mundo em desenvolvimento, efetivamente incluir mais usuários da Internet. BIBLIOGRAFIA BARTKOWIAK, Jaqueline Zandona; FONSECA, Thatiane de Almeida; MATTOS, Gabriel Motta; SOUZA, Vitor Henrique do Carmo. A Primavera Árabe e as Redes Sociais: o uso das redes sociais nas manifestações da Primavera Árabe nos países da Tunísia, Egito e Líbia. Cadernos de Relações Internacionais, v. 10, n. 1, p. 65- 95, 2017. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/30432/30432.PDF. Acesso em: 20 jul. 2019 BEDIN, Gilmar Antonio; CITTADINO, Gisele Guimarães; ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. O feminismo e os estudos da cidadania feminina. O feminismo e os estudos da cidadania feminina. In: Congresso Nacional do Conpedi - UFMG/FUMEC/Dom Helder Câmara, 24., 2015, Florianópolis. Poder, cidadania e desenvolvimento no estado democrático de direito. Florianópolis: CONPEDI, 2015. 374 p. Disponível em: http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/66fsl345/w8299187/qhtRfRHK92qr4WJ 1.pdf. Acesso em: 20 jul. 2019. BILDT, Carl. Internet is the new frontline in the work for freedom in the world. Internet&society Co:llaboratory. Disponível em: http://en.collaboratory.de/w/Internet_is_the_New_Frontline_in _the_Work_for_Freedo m_in_the_World. Acesso em: 20 jul. 2019. CAETANO, Ivone Ferreira. O Feminismo Brasileiro: uma análise a partir das três ondas do movimento feminista e a perspectiva da interseccionalidade. 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A desinformação é um conceito antigo que nasce ligado a projetos militares de contrainformação e espionagem, mas extrapola para os meios de comunicação e para aparelhos privados e estatais. A desinformação pode estar presente em livros de história ou em discursos políticos, em histórias em quadrinhos ou em jornais de ampla circulação. O conceito de desinformação de Pascual Serrano que destrincha os vários artifícios utilizados em veículos de comunicação é a base para uma primeira problematização. Serrano sublinha que “os mecanismos de desinformação e manipulação são mais complexos que a mentira grosseira” (SERRANO, 2010, p.31). A informação que circula hoje nos meios de comunicação tradicionais e nas redes digitais parece não ser mais o produto a ser comprado, e sim um meio de atração de leitores. Alguns dos mecanismos de desinformação são: a) O alinhamento aos interesses do poder econômico e do poder político nos meios de informação e comunicação; b) A dificuldade do usuário/leitor de interpretar as origens, fundamentos, contextos, funcionamentos e motivações das informações e fatos; c) O apartamento da ética de maneira geral; d) A elaboração da maioria das notícias que circulam nos meios de comunicação hegemônicos e nas redes sociais de forma resumida, sem crítica, sem contraste; e) A manipulação do silenciamento, frivolização, desvio de atenção, etc.; f) O excesso de informação; g) O excesso de comoção; h) A interpretação e visão de mundo que já vêm prontas; i) O tratamento desigual das garantias democráticas,; j) A produção e disseminação de informações sem contexto nem antecedentes; k) A definição de hierarquias pré-estabelecidas; l) A fetichização do imagético. Concordando com Serrano (2010), entendemos que aos indivíduos é ofertada uma concepção de mundo maniqueísta de bem/mal, branco/preto, certo/errado, de informações sem matizes. FAKE NEWS A definição de fake news que utilizaremos aqui, baseada em artigo de Allcott e Gentzkow (2017, p.213), é a de sinais distorcidos e desconectados da verdade, que dificultam a visão da verdade ou do estado verdadeiro do mundo. No entanto, o termo fake news tem sido utilizado de maneira abrangente, de forma a esbarrar no significado de desinformação. A significância fixada na descrição acima permite categorizar melhor as fake news bem como pensar criticamente os outros tipos de informação que são compartilhados. As polarizações em torno das ideologias também proporcionam um terreno fértil para as fake news, uma vez que cada lado, revestido de sentimentos negativos em relação ao “oponente”, tende a acreditar mais facilmente em informações falsas sobre o outro. Os algoritmos ajudam nesse sentido, bem como os bots, aproveitando-se da bolha informacional em que o usuário se encontra. Existem, pelo menos, duas motivações para a fabricação e circulação de fake news. Em primeiro lugar, fake news são um negócio lucrativo. A segunda motivação é ideológica. Pessoas que acreditam em uma determinada ideologia e querem atrapalhar, humilhar, desacreditar etc. o “outro lado”, “ajudando” assim o “seu lado”. REFERÊNCIAS ALLCOTT, H.; GENTZKOW, M. Social media and fake news in the 2016 election. Journal of Economic Perspectives, 31(2), 211-36. 2017. BAUDRILLARD, Jean. Televisão/Revolução: O Caso Romênia. In: PARENTE, A. (Org.). Imagemmáquina: a era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro, 1993. BELLUZZO, R. C. B. Competências na era digital: desafios tangíveis para bibliotecários e educadores. Educação Temática Digital, 6 (2), 30. 2005. BEZERRA, Arthur Coelho; SCHNEIDER, Marco; BRISOLA, Anna Cristina. Pensamento reflexivo e gosto informacional: disposições para competência crítica em informação. Informação & sociedade: estudos, João Pessoa, v.27, n.1, p. 7-16, jan./abr. 2017. Obrigado Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42 Slide 43 Slide 44 Slide 45 Slide 46 Slide 47 Slide 48 Slide 49 Slide 50 Slide 51 Slide 52 Slide 53 Slide 54 Slide 55 Slide 56 Slide 57 Slide 58 Slide 59 Slide 60 Slide 61 Slide 62 Slide 63 Slide 64 Slide 65 Slide 66 Slide 67 Slide 68 Slide 69 Slide 70 Slide 71 Slide 72 Slide 73 Slide 74 Slide 75 Slide 76 Slide 77 Slide 78 Slide 79 Slide 80 Slide 81 Slide 82 Slide 83 Slide 84 Slide 85 Slide 86 Slide 87 Slide 88 Slide 89 Slide 90 Slide 91 Slide 92 Slide 93 Slide 94 Slide 95 Slide 96 Slide 97 Slide 98 Slide 99 Slide 100 Slide 101 Slide 102 Slide 103 Slide 104 Slide 105 Slide 106 Slide 107 Slide 108 Slide 109