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<p>15</p><p>'10.37885/230312523</p><p>15</p><p>UMA REVISÃO SOBRE AS PRINCIPAIS</p><p>ALTERAÇÕES NEUROANATÔMICAS</p><p>ENCONTRADAS EM INDIVÍDUOS COM</p><p>TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)</p><p>Lucas Barroso dos Santos</p><p>Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - UFVJM</p><p>Laís Vidal Martins</p><p>Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - UFVJM</p><p>Maria Clara Lima Senra de Oliveira</p><p>Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - UFVJM</p><p>Tiago do Amarante Paffaro</p><p>Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - UFVJM</p><p>Bento João Abreu</p><p>Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN</p><p>Ernani Aloysio Amaral</p><p>Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e</p><p>Mucuri - UFVJM</p><p>https://dx.doi.org/10.37885/230312523</p><p>RESUMO</p><p>O autismo é um distúrbio do desenvolvimento neurobiológico que geralmente se manifesta</p><p>antes dos três primeiros anos de vida, e que é reconhecido, atualmente, como Transtorno</p><p>do Espectro Autista (TEA). Os indivíduos que apresentam TEA possuem alterações na</p><p>socialização, na cognição e na comunicação. Embora não se conheça nenhuma alteração</p><p>morfológica que seja determinante para o desenvolvimento do TEA, algumas alterações es-</p><p>truturais no encéfalo têm sido identificadas em indivíduos com o transtorno, dentre as quais</p><p>vale ressaltar as mais recorrentes: alterações no volume cerebral total, nas dimensões do</p><p>corpo caloso e no volume do cerebelo. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo</p><p>abordar as alterações neuroanatômicas mais frequentes em indivíduos com TEA. Trata-se</p><p>de uma revisão narrativa por meio de estratégia de busca nas bases de dados BVS, Google</p><p>Acadêmico, Pubmed, ScienceDirect e Scielo, com inclusão das referências que possuíam</p><p>disponibilidade de acesso ao texto completo. A análise da literatura indica que o aumento</p><p>de volume cerebral total em indivíduos com TEA pode desencadear alterações funcionais na</p><p>comunicação, embora tal acometimento se manifeste em diferentes graus e o desempenho</p><p>em algumas tarefas seja essencialmente normal. Além disso, a diminuição no tamanho e</p><p>no volume do corpo caloso possui relação com alguns défices comportamentais, motores e</p><p>não-motores. Por sua vez, as alterações cerebelares podem determinar comprometimento</p><p>comportamental, à medida que se relacionam com a disfunção sensorial observada no TEA.</p><p>Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista, Autismo, Volume Cerebral, Corpo</p><p>Caloso, Cerebelo.</p><p>178</p><p>Variações Anatômicas: o avanço da ciência no Brasil- ISBN 978-65-5360-310-3 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O Transtorno do Espectro Autista (TEA) corresponde a um distúrbio no desenvolvimento</p><p>neurobiológico que se manifesta, geralmente, antes dos três anos de idade, e que afeta, prin-</p><p>cipalmente, a socialização, a cognição e a comunicação do indivíduo (REGO, 2012). As suas</p><p>principais características são défices na comunicação social e na comunicação verbal e não</p><p>verbal, além da ausência de reciprocidade social e da dificuldade em desenvolver e manter</p><p>relacionamentos interpessoais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).</p><p>Além do TEA apresentar repercussões fisiológicas, a literatura indica a proposição de</p><p>relação entre o desenvolvimento do transtorno e inflamações encefálicas de causas diversas,</p><p>que podem gerar mudanças na anatomia do encéfalo (RATAJCZAK, 2011). Considerando-se</p><p>a vasta gama de repercussões sobre aspectos cognitivos e comportamentais, levanta-se,</p><p>também, o questionamento sobre a existência de alterações neuroanatômicas que possam</p><p>ter relação com o quadro clínico observado no TEA. Piven et al. (1996) relataram a presença</p><p>de áreas cerebrais dilatadas em relação aos grupos-controle, o que sugere a correlação</p><p>entre alterações no volume cerebral e o TEA.</p><p>Assim, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão narrativa abor-</p><p>dando as relações entre o TEA e possíveis alterações neuroanatômicas encontradas</p><p>nesses pacientes.</p><p>METODOLOGIA</p><p>O presente trabalho envolveu a busca em bancos de dados (BVS, Google Acadêmico,</p><p>Pubmed, Science Direct e Scielo) entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023 dos seguintes</p><p>termos: transtorno do espectro autista; autismo; cérebro; neuroanatomia; neurologia e de</p><p>suas variações em inglês e espanhol. Não houve restrição quanto à data dos trabalhos coleta-</p><p>dos. Os trabalhos foram incluídos nessa revisão narrativa após averiguação por parte de pelo</p><p>menos dois autores de que continham informações válidas dentro dos objetivos propostos.</p><p>RESULTADOS</p><p>Dentre as alterações neuroanatômicas presentes em indivíduos portadores do TEA,</p><p>verificou-se, com base no levantamento bibliográfico, que as mais recorrentes são aumento</p><p>no volume cerebral total, redução das dimensões do corpo caloso e do volume cerebelar.</p><p>178 179</p><p>Variações Anatômicas: o avanço da ciência no Brasil- ISBN 978-65-5360-310-3 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br</p><p>Alterações no Volume Cerebral Total</p><p>Dentre todas as modificações estruturais identificadas em indivíduos com TEA, os</p><p>primeiros achados descritos foram de um aumento do volume cerebral e da circunferência</p><p>craniana. O primeiro relato associativo entre o autismo e aumento do volume craniano aponta</p><p>para um relatório de Leo Kanner, um psiquiatra austríaco, que, em 1943, verificou um aumen-</p><p>to na circunferência craniana em 5 de 11 crianças autistas por ele examinadas (KANNER,</p><p>1943). Desde essa primeira publicação, houve um considerável crescimento de relatos sobre</p><p>a circunferência craniana em pessoas com TEA (STEG AND RAPOPORT, 1975; WALKER,</p><p>1977; BOLTON et al., 1994; BAILEY et al., 1995; WOODHOUSE et al., 1996; LAINHART</p><p>et al., 1997; FOMBONNE et al., 1999; AYLWARD et al., 2002; COURCHESNE et al., 2003).</p><p>Em complemento, alterações no volume e área cerebrais totais também constam na</p><p>literatura como associadas ao TEA. Estudo publicado em 1996 por Piven et. al reportou a</p><p>presença de áreas cerebrais dilatadas em relação aos grupos-controle estudados, ao se</p><p>realizar ajustes quanto ao gênero e à classe social. As áreas afetadas descritas são o quarto</p><p>ventrículo e a área sagital média do cérebro. Outros estudos, alguns deles realizados post-</p><p>-mortem, relatam megaencefalia em autistas (CAMPBELL et al., 1982; BAILEY et al., 1993;</p><p>KEMPER AND BAUMAN, 1998; COURCHESNE et al., 1999).</p><p>É importante destacar que a dilatação cerebral evidenciada em portadores do autismo</p><p>é capaz de causar prejuízos nos circuitos envolvidos com linguagem e comunicação, embora</p><p>tais acometimentos se manifestem em diferentes domínios e em diferentes graus. Algumas</p><p>funções podem ser mais impactadas por essas alterações anatômicas, enquanto outras</p><p>podem ser essencialmente normais. A linguagem e o comportamento são funções de nível</p><p>superior e, devido a isso, são mais vulneráveis a comprometimentos diversos (HERBERT</p><p>et al., 2004). Dessa maneira, tais alterações neuroanatômicas podem determinar prejuízo</p><p>funcional em diferentes níveis para os indivíduos com TEA.</p><p>Trabalhos avaliando alterações no volume cerebral total apontaram alterações nos</p><p>lobos e na composição das massas cinzenta e branca. Há divergências autorais quanto aos</p><p>lobos afetados, mas alguns defendem que há dilatação em todos os lobos (frontal, occipital,</p><p>parietal e temporal) (BRUN et al., 2009); em todos os lobos exceto o frontal (PIVEN et al.,</p><p>1995) ou apenas no lobo frontal (CARPER et al., 2002). Conforme trabalho de Brun e co-</p><p>legas (2009), crianças autistas apresentaram lobos frontais significativamente aumentados</p><p>(3,6% à esquerda e 5,1% à direita) e todos os outros lobos do cérebro (occipital, parietal e</p><p>temporal) também acompanharam tal alteração.</p><p>Idade e gênero também são importantes fatores a serem analisados em autistas com</p><p>alteração no volume cerebral. Segundo pesquisas do início do século XXI, a expansão</p><p>cerebral em indivíduos com TEA é limitada às fases iniciais da vida. Aylward et al. (2002)</p><p>180</p><p>Variações Anatômicas: o avanço da ciência no Brasil- ISBN 978-65-5360-310-3</p><p>- Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br</p><p>procederam a medição da circunferência craniana e o volume do cérebro, encontrando valo-</p><p>res acima da média em crianças com TEA com idades inferiores a 12 anos. Sugeriu-se que</p><p>ocorre, inicialmente, um aumento no volume cerebral em crianças mais jovens. Contudo,</p><p>o volume atingido não é mantido com o passar dos anos, uma vez que indivíduos autistas</p><p>mais velhos possuem a circunferência craniana maior, embora o volume cerebral seja normal</p><p>(AYLWARD et al., 2002).</p><p>Conforme Zielinski et al. (2014), o crescimento incomum do cérebro e do crânio tende a</p><p>normalizar por volta dos 4 anos de vida, devido a um afinamento cortical acelerado. Assim, o</p><p>desenvolvimento cortical anormal no TEA passa por três fases distintas: expansão acelerada</p><p>na primeira infância; afinamento acelerado na infância e adolescência posteriores, e, por fim,</p><p>afinamento desacelerado no início da idade adulta (ZIELINSKI et al., 2014).</p><p>Quanto ao gênero, alguns estudos apontam para uma prevalência de volume cerebral</p><p>aumentado em mulheres (LAINHART et al., 1997), ao passo que outros sugerem esse predo-</p><p>mínio no sexo masculino (PIVEN et al., 1996). Mais recentemente, pesquisas avaliaram o TEA</p><p>com maior especificidade no sexo feminino e relataram que mulheres tendem a apresentar</p><p>alterações neuroanatômicas mais pronunciadas. Dentre essas mudanças, incluem-se o au-</p><p>mento acentuado da amígdala e o crescimento cerebral anormal mais severo e mais difuso</p><p>(SCHUMANN et al., 2009, 2010), características que não foram encontradas em homens.</p><p>Convém ainda destacar que tanto o aumento da circunferência craniana quanto do</p><p>volume cerebral não são elementos definidores de um diagnóstico de transtorno do espectro</p><p>autista, mas são características anatômicas encontradas com certa frequência em indivíduos</p><p>portadores de TEA.</p><p>Alterações Estruturais no Corpo Caloso</p><p>O corpo caloso (CC), maior das comissuras inter-hemisféricas, é formado por um</p><p>grande número de fibras mielínicas que cruzam o plano mediano, penetram de cada lado</p><p>no centro branco medular do cérebro e unem áreas simétricas do córtex cerebral de cada</p><p>hemisfério. Essa comissura telencefálica é o maior feixe de fibras do sistema nervoso e tem</p><p>como função a transferência de informações de um hemisfério para o outro, fazendo com</p><p>que eles funcionem harmonicamente (MACHADO, 2022).</p><p>Na perspectiva do TEA, alterações na estrutura do CC têm sido identificadas. Manes</p><p>et al. (1999) registraram uma diminuição significativa no tamanho e no volume do corpo ca-</p><p>loso em crianças com TEA em comparação a crianças com desenvolvimento típico. Embora</p><p>essa alteração morfométrica seja comprovada, ainda hoje não se sabe se a diminuição</p><p>do CC se deve a uma atrofia ou a uma hipoplasia. Apesar disso, é muito improvável que a</p><p>origem dessa alteração decorra de malformações congênitas. Isso se justifica, pois, como</p><p>180 181</p><p>Variações Anatômicas: o avanço da ciência no Brasil- ISBN 978-65-5360-310-3 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br</p><p>o CC se desenvolve entre a 8ª e a 17ª semana de gestação, alterações nesse processo</p><p>de formação repercutiriam não só em anormalidades graves (como agenesia completa ou</p><p>parcial do CC), como também em outras malformações cerebrais. Dessa forma, uma vez</p><p>que em estudos do cérebro de indivíduos autistas, através de ressonância magnética, essas</p><p>anormalidades mais graves não são evidentes, pode-se concluir que distúrbios congênitos</p><p>no desenvolvimento do CC de crianças com TEA são improváveis (MANES et al., 1999).</p><p>Nessa perspectiva de pensamento, como o CC cresce exponencialmente nos primei-</p><p>ros 4 anos de vida e, após isso, o crescimento lentifica até os 10-12 anos (HAYAKAWA</p><p>et al., 1989), acredita-se que os primeiros 4 anos de vida sejam o período de seu potencial</p><p>desenvolvimento anormal em crianças com TEA. Um estudo recente conduzido por Berkins</p><p>et al. (2023), feito na Índia, avaliou 62 indivíduos com TEA e 17 com desenvolvimento típico,</p><p>corroborando os achados de Manes et al. (1999) em relação à diminuição do CC em autis-</p><p>tas. A investigação feita por Berkins et al. (2023) é de suma importância para a neurociência,</p><p>pois, além de se ter avaliado um número substancial de indivíduos, excluiu as crianças que</p><p>apresentavam outras comorbidades em adição ao TEA e aquelas que faziam uso de algum</p><p>medicamento, na tentativa de se minimizar fatores que pudessem influenciar no resultado.</p><p>Em suma, as descobertas mais recentes apontam para diminuições da dimensão an-</p><p>teroposterior e da espessura do CC. Ademais, foi observado uma redução significativa na</p><p>largura do CC, com maior proeminência na região do joelho. Vale ressaltar, no entanto,</p><p>que essas diferenças entre as medidas do CC de indivíduos com TEA frente àqueles com</p><p>desenvolvimento típico não possuíram uma correlação direta com o grau de gravidade do</p><p>autismo (BERKINS et al., 2023).</p><p>Por fim, outro achado importante, detectado no uso de imagem por tensor de difusão</p><p>(DTI), foi a redução da anisotropia fracional por todo o CC, o que sugere um defeito de mie-</p><p>linização. Essa descoberta, associada ao papel do CC de promover a comunicação entre</p><p>os hemisférios cerebrais, pode justificar alguns défices comportamentais (a exemplo da</p><p>dificuldade de desenvolver relacionamentos), motores (como dificuldade de coordenação),</p><p>e não-motores (hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais) encontrados em indivíduos</p><p>autistas (BERKINS et al., 2023).</p><p>Alterações Estruturais no Cerebelo</p><p>A publicação do DSM 5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 2013),</p><p>desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria, incluiu a disfunção sensorial como</p><p>um dos critérios de diagnóstico do TEA. Essa alteração perceptual é tratada como hiper ou</p><p>hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do</p><p>ambiente, como a indiferença aparente a dor ou o fascínio visual por luzes, respectivamente</p><p>182</p><p>Variações Anatômicas: o avanço da ciência no Brasil- ISBN 978-65-5360-310-3 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br</p><p>(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Conforme Cardon et al. (2017), essa</p><p>disfunção sensorial está presente em mais de 90% dos casos em que o TEA é diagnosticado</p><p>e pode ter relação com alterações cerebelares.</p><p>Possíveis alterações cerebelares associadas ao TEA são a redução do córtex cere-</p><p>belar e das células de Purkinje. Dessa forma, o cerebelo deixa de ser associado apenas</p><p>ao aprendizado motor e passa a ser relacionado, também, ao comprometimento sensorial.</p><p>Essa teoria é sustentada por investigações com exames de ressonância magnética e tomo-</p><p>grafia por emissão de pósitrons que indicam conexões entre o cerebelo e áreas do córtex</p><p>cerebral associadas à cognição e ao afeto, como o circuito cérebro-cerebelo-tálamo-cortical.</p><p>Logo, a redução do córtex cerebelar resulta em comprometimento do circuito mencionado</p><p>(GONÇALVES et al., 2016).</p><p>Dentre as anormalidades cerebelares, as mais frequentes são a hipoplasia ou a hiper-</p><p>plasia do verme cerebelar (MACHADO et al., 2003). O verme está relacionado a funções</p><p>afetivas, já que possui conexão com o sistema límbico. Desse modo, a capacidade de ex-</p><p>plorar o ambiente por pessoas com TEA é comprometida no mesmo grau em que o verme</p><p>cerebelar sofre hipoplasia (GONÇALVES et al., 2016).</p><p>Em estudo com scanner de ressonância magnética, Cardon et al. (2017) compararam</p><p>imagens encefálicas obtidas de 36 portadores de TEA e 32 indivíduos com desenvolvimento</p><p>típico. Todos os indivíduos eram do sexo masculino. Foi possível observar uma diminuição</p><p>da conectividade entre o cérebro e o cerebelo em indivíduos com TEA, condição que com-</p><p>promete a função sensorial nesse grupo. A perturbação cerebelar pode gerar consequências</p><p>diversas, tais como a incapacidade de produzir respostas adequadas à cada situação, já que</p><p>o cerebelo atua na antecipação de eventos sensoriais, com base em experiências</p><p>pregressas.</p><p>Assim, o comprometimento cerebelar prejudica essa capacidade preditiva, ocorrendo, por</p><p>exemplo, a vinculação de estímulos ao medo, em virtude da inabilidade em reconhecê-los.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Aumento no volume cerebral total, diminuição do tamanho e volume do CC e redução</p><p>da conectividade entre o cérebro e o cerebelo são achados neuroanatômicos frequentemen-</p><p>te identificados em indivíduos com TEA. Essas alterações podem ter impacto em aspectos</p><p>comportamentais ou não. Sob essa perspectiva, a presença de áreas cerebrais dilatadas</p><p>e o aumento de volume cerebral total em indivíduos com TEA estão relacionadas a défices</p><p>na comunicação e na linguagem, embora nem sempre haja um comprometimento severo e,</p><p>em alguns casos, o desempenho em determinadas tarefas seja essencialmente normal em</p><p>alguns portadores de TEA. Por outro lado, a diminuição no tamanho e no volume do CC pos-</p><p>sui relação com alguns défices comportamentais, motores e não-motores. Por sua vez, as</p><p>182 183</p><p>Variações Anatômicas: o avanço da ciência no Brasil- ISBN 978-65-5360-310-3 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br</p><p>alterações cerebelares podem ter impacto em aspectos comportamentais, à medida que se</p><p>relacionam com a disfunção sensorial identificada em portadores de TEA.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>American Psychiatric Association. (2014). 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