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<p>MEDICINA LEGAL E PERÍCIAS</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 5</p><p>1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................... 6</p><p>2- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL .............................. 7</p><p>2.1 - A MEDICINA LEGAL COMO ESPECIALIDADE .................................. 8</p><p>2.2 - RELAÇÕES COM AS DEMAIS CIÊNCIAS MÉDICAS E JURÍDICAS . 9</p><p>2.3 - IMPORTÂNCIA DE SEU ENSINO NAS FACULDADES DE DIREITO</p><p>.............................................................................................................................. 10</p><p>3 – HISTÓRICO ......................................................................................... 11</p><p>4 – HISTÓRICO NO BRASIL ..................................................................... 16</p><p>4.1 - DIVISÃO DIDÁTICA DA DISCIPLINA ................................................ 17</p><p>5 – FINALIDADE DA MEDICINA LEGAL ................................................... 19</p><p>5.1 – AUTONOMIA DA MEDICINA LEGAL ............................................... 20</p><p>5.2 - O OBJETO DE ESTUDO DA MEDICINA LEGAL .............................. 21</p><p>6 – DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS ...................................................... 21</p><p>6.1 – ESPÉCIES ........................................................................................ 21</p><p>7 - O BOLETIM MÉDICO .......................................................................... 26</p><p>7.1-A RECEITA MÉDICA ........................................................................... 26</p><p>7.2- CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O ATESTADO DE ÓBITO</p><p>.............................................................................................................................. 26</p><p>8 – PERÍCIAS E PERITOS ........................................................................ 29</p><p>8.1 - PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS ............................................................. 32</p><p>8.2 - CORPO DE DELITO .......................................................................... 33</p><p>8.3 – PERITOS .......................................................................................... 34</p><p>8.4 - IMPEDIMENTOS DOS PERITOS ...................................................... 36</p><p>9 - ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL ..................................................... 36</p><p>9.1 - IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO ..................................................... 39</p><p>9.2 - IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL ................................................... 41</p><p>9.3 - IDENTIFICAÇÃO JUDICIÁRIA OU POLICIAL ................................... 42</p><p>10 – TRAUMATOLOGIA FORENSE .......................................................... 43</p><p>10.1 - CONCEITO DE TRAUMATOLOGIA FORENSE .............................. 43</p><p>10.2 - CONCEITO DE LESÃO CORPORAL .............................................. 44</p><p>10.2.1- TIPOS DE LESÃO CORPORAL .................................................... 45</p><p>2</p><p>10.3 - AS LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO MECÂNICA ..................... 48</p><p>11- TANATOLOGIA FORENSE ................................................................. 51</p><p>11.1 - FENÔMENOS CADAVÉRICOS, NECROPSIA E EXUMAÇÃO ....... 53</p><p>11.2 - TANATOGNOSE OU CRONOTANATOGNOSE ............................. 55</p><p>11.3 - DIREITOS SOBRE O CADÁVER .................................................... 57</p><p>12 - SEXOLOGIA FORENSE ..................................................................... 58</p><p>12.1- PARAFILIAS ..................................................................................... 59</p><p>12.2 - QUAIS TRANSTORNOS PODEM LEVAR À CRIMINALIDADE? .... 61</p><p>12.3 - PERÍCIAS SEXUAIS ........................................................................ 62</p><p>12.4 - PERÍCIAS NOS CRIMES ABORTO ................................................ 62</p><p>12.5 - MEIOS ABORTIVOS........................................................................ 63</p><p>12.5.1 – EVIDÊNCIAS ............................................................................... 65</p><p>12.6 - PERÍCIAS NOS CRIMES DE INFANTICÍDIO .................................. 66</p><p>12.7- EVIDÊNCIAS NO CRIME DE INFANTICÍDIO ................................... 67</p><p>13 - ASFIXIOLOGIA FORENSE ................................................................. 69</p><p>13.1 - DA DISPNÉIA INSPIRATÓRIA ........................................................ 70</p><p>13.2– DA DISPNÉIA EXPIRATÓRIA ......................................................... 71</p><p>13.3 – DO ESGOTAMENTO ...................................................................... 71</p><p>13.4 - DAS CARACTERÍSTICAS GERAIS (TANATOSINIOLOGIA) .......... 71</p><p>13.5 – EXTERNOS .................................................................................... 72</p><p>13.6 – INTERNOS ...................................................................................... 72</p><p>13.7- DAS CLASSIFICAÇÕES DOS TIPOS .............................................. 72</p><p>13.8 – DETALHAMENTO DOS PRINCIPAIS TIPOS ................................. 72</p><p>13.8.1- SUFOCAÇÃO ................................................................................ 73</p><p>13.8.2 - ENFORCAMENTO........................................................................ 73</p><p>13.8.3– ESTRANGULAMENTO ................................................................. 74</p><p>13.8.4– ESGANADURA ............................................................................. 74</p><p>13.8.5 – CONFINAMENTO ........................................................................ 75</p><p>13.8.6 – SOTERRAMENTO ....................................................................... 75</p><p>13.8.7 – AFOGAMENTO ............................................................................ 75</p><p>13.8.8 – GASES INERTES ........................................................................ 76</p><p>14 - TOXOLOGIA ....................................................................................... 77</p><p>14.2 - TOXICOLOGIA FORENSE: ANÁLISES TOXICOLÓGICAS EM</p><p>AMOSTRAS BIOLÓGICAS .................................................................................. 77</p><p>3</p><p>14.3 - TOXICOLOGIA FORENSE: TRIAGEM DA AMOSTRA BIOLÓGICA</p><p>.............................................................................................................................. 78</p><p>14.4 - COLETA DE SANGUE, URINA E OUTROS TECIDOS ................... 80</p><p>14.5 - ENCONTRANDO O MOTIVO DA MORTE ...................................... 82</p><p>14.6- ASPECTOS POST MORTEM DE RELEVÂNCIA TOXICOLÓGICA . 83</p><p>14.6.1 - AÇÃO DE MICRORGANISMOS POST-MORTEM ....................... 85</p><p>14.7 - TÉCNICAS ANALÍTICAS COMUMENTE EMPREGADAS NA</p><p>TOXICOLOGIA FORENSE ................................................................................... 86</p><p>14.8 - TOXICOLOGIA AMBIENTAL ........................................................... 87</p><p>................................................................................................................... 87</p><p>14.9 - TOXICOLOGIA ALIMENTAR ........................................................... 88</p><p>15 – PSICOLOGIA JUDICIÁRIA ................................................................ 88</p><p>16 – PSIQUIATRIA FORENSE .................................................................. 92</p><p>16.1 - A SITUAÇÃO DA PSIQUIATRIA FORENSE EM MEADOS DO</p><p>SÉCULO XXI ........................................................................................................ 94</p><p>16.2 - A INFLUÊNCIA DA PERÍCIA PSIQUIÁTRICA NA APLICAÇÃO DA LEI</p><p>DE EXECUÇÃO PENAL ....................................................................................... 97</p><p>16.3 - A VERIFICAÇÃO DA PERICULOSIDADE SOCIAL E CRIMINAL A</p><p>PARTIR DOS PARECERES PSIQUIÁTRICOS FORENSES ............................. 103</p><p>17- POLICIOLOGIA CIENTÍFICA ............................................................. 111</p><p>17.1 - O QUE É CRIMINALÍSTICA? ........................................................ 112</p><p>17.1.1- AS ORIGENS DA CRIMINALÍSTICA ...........................................</p><p>as</p><p>identificações médico-legais funcionais e psíquicas (movimento, escrita, função</p><p>sensorial, voz).</p><p>9.3 - Identificação Judiciária ou Policial</p><p>A Identificação Judiciária ou Policial é aquele ocorrida no âmbito civil ou criminal,</p><p>ocorrem independentemente do conhecimento do profissional de medicina, são</p><p>executadas pelos Institutos de Identificação de cada Estado e se dividem em:</p><p> Bertilonagem: conjunto de medidas corporais (antropometria)</p><p>complementado pelo retrato falado, a fotografia e as impressões digitais</p><p>(datiloscopia).</p><p> Datiloscopia: produzida pelo registro das pontas dos dedos deixados em</p><p>superfícies pela gordura que os indivíduos carregam nas mãos. Esse tipo de</p><p>identificação tem a vantagem de se encaixar em todos os critérios técnicos e</p><p>biológicos garantidores da segurança dos métodos de identificação,</p><p>perenidade, imutabilidade, variedade, praticabilidade e classificabilidade.</p><p>43</p><p>Atualmente, o Brasil utiliza o Sistema Datiloscópio de Vucetich, baseado na presença</p><p>de cristais papilares das extremidades digitais. Segundo Vucetich, existem quatro</p><p>formas básicas de desenhos das polpas digitais, são elas:</p><p>Presilha Interna (figura I=2): Um delta (Δ) está presente à direita do examinador.</p><p>Presilha Externa (figura E=3): Um delta (Δ) está presente à esquerda do examinador.</p><p>Verticilo (figura V=4): Estão presentes dois deltas (Δ Δ), um à direita e um à esquerda</p><p>do examinador.</p><p>Arco (figura A=1): As linhas que atravessam o campo digital apresentam formas mais</p><p>ou menos paralelas, não há formações em delta (Δ).</p><p>Ressalta-se que nos exames datiloscópicos os polegares recebem letras, os demais</p><p>dedos recebem números, e a impressão do polegar direito é chamada de</p><p>fundamental. Os dedos inexistentes são identificados pelo “0” e as cicatrizes são</p><p>marcadas com “x”.</p><p>10 – TRAUMATOLOGIA FORENSE</p><p>10.1 - Conceito de traumatologia forense</p><p>A Traumatologia Médico Legal é responsável pelo estudo das lesões e estados</p><p>patológicos, que são produzidos na forma de violência sobre o corpo humano, sendo</p><p>44</p><p>elas recentes ou tardias, com maior interesse nas áreas, penais e trabalhistas, e</p><p>menor na área cível.</p><p>Para Hélio Gomes,</p><p>“Estuda as lesões corporais, que são infrações consistentes no dano ao</p><p>corpo ou à saúde, física ou mental, e resultantes de traumatismos, tanto</p><p>materiais como morais".</p><p>O estudo da Traumatologia forense para FRANÇA (2008) é o ramo da Medicina Legal</p><p>que estuda a ação de uma energia externa sobre o organismo do indivíduo (FRANÇA,</p><p>2008), ou seja, é o estudo das lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios,</p><p>produzidos por violência sobre o corpo humano.</p><p>10.2 - Conceito de lesão corporal</p><p>É o que atinge a integridade física ou psíquica dos ser humano, representam os</p><p>elementos que determinaram o crime, determinadas legalmente no Código Penal</p><p>Brasileiro no art.129 e parágrafos, são classificadas quanto a sua intensidade em :</p><p>leve, grave e gravíssimas.</p><p>“Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:</p><p>Pena - detenção, de três meses a um ano.</p><p>Lesão corporal de natureza grave”</p><p>(...)</p><p>Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.</p><p>Sujeito passivo é o que padece da lesão.</p><p>Para Nelson Hungria no Direito penal, a lesão corporal é "toda e qualquer ofensa</p><p>ocasional à normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja do ponto de</p><p>vista anatômico, seja do ponto de vista fisiológico ou psíquico".</p><p>Para FRANÇA, (2008) as lesões corporais são, vestígios deixados pela ação da</p><p>energia externa ou agente vulnerante, que podem ser, fugazes, temporárias ou</p><p>permanentes, podendo ser superficiais ou profundas.</p><p>45</p><p>10.2.1- tipos de lesão corporal</p><p>As lesões Corporais podem ser de natureza:</p><p>LESÃO LEVE:</p><p>A lesão de natureza leve é aquela onde há ausência das lesões grave e gravíssima,</p><p>onde é registrado de forma pericial a existência da ofensa, consubstanciada em dano</p><p>anatômico (comprometimento da integridade corporal) ou perturbações funcionais</p><p>(comprometimento da saúde).</p><p>Usualmente a lesão apurada no primeiro exame ( corpo de delito) requer novo exame</p><p>dentro de 30 dias ( exame complementar), para se confirmar a inexistência das</p><p>consequências mencionadas nos parágrafos do artigo 129 do CP, concluímos assim</p><p>que é configurada como lesão leve, as lesões não tidas como grave ou gravíssima.</p><p>A pena para esses casos é de três meses a um ano de detenção, e, conforme a Lei</p><p>n.9.099/95, em seu art.88, a instauração de inquérito policial e a ação penal</p><p>dependem da representação da vítima.</p><p>As consequências das lesões leves são equimoses, escoriações e feridas contusas,</p><p>o percentual em relação ao total das lesões corporais é de 80%.</p><p>LESÃO GRAVE:</p><p>Lesão Corporal Grave ocorre quando o agente utiliza-se de culpa, a vontade de</p><p>causar e ofender à sua vitima, será considerada grave se causar: Incapacidade para</p><p>46</p><p>as ocupações habituais normais durante 30 dias, ou debilidade permanente de</p><p>membros, sentido ou funções.</p><p>A debilidade é a perda de força o enfraquecimento, resultado de um dano anatômico</p><p>ou funcional, portanto, as funções passíveis de debilitação são as atividades de órgão</p><p>ou aparelhos do corpo Humano (rins,coração,olhos,ouvidos e mastigação).</p><p>A determinação legal encontra - se no § 1o do art.129, CP, que em seus incisos</p><p>resultem em:</p><p>I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias;</p><p>II - perigo de vida;</p><p>III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;</p><p>IV - aceleração de parto:</p><p>O perigo de vida, antes não era considerada uma lesão grave, por a recuperação</p><p>ocorrer menos de um mês, se enquadrando nas lesões leves, com o advento do</p><p>Código Penal de 1940 esta falha foi corrigida, sendo relacionado a gravidade com o</p><p>risco que o paciente estaria correndo, decorrente da ofensa recebida.</p><p>Aceleração de parto, trauma físico ou psíquico, existe a antecipação do parto com</p><p>expulsão do feto, desrespeitando o período fisiológico, quando ocorrer o óbito fetal, e</p><p>o resultado for aborto, a lesão transforma-se em gravíssima.</p><p>A perícia médica deve ser realizada logo após a lesão no menor espaço de tempo, e</p><p>pode ser repetida após trinta dias, buscando constatar se a vítima já está apta a</p><p>exercer suas atividades e ocupações habituais.</p><p>Para a doutrina, e essa é uma posição majoritária, a incapacidade cessa quando a</p><p>vítima reúne condições razoáveis de retomar suas ocupações, sem que haja risco de</p><p>agravamento da lesão.</p><p>Conforme estudos, as lesões causadas por fraturas, são as que mais incapacitam,</p><p>alcançando período superior a trinta dias, com exceção das fraturas nasais, onde a</p><p>recuperação da vítima é menor.</p><p>47</p><p>LESÃO GRAVÍSSIMA:</p><p>A definição doutrinária para lesões corporais de natureza gravíssima é decorrente do</p><p>agravamento punitivo elencado no § 2o do art.129 do Código Penal brasileiro, e</p><p>vinculam-se com as lesões que venham a causar:</p><p>I - incapacidade permanente para o trabalho;</p><p>II - enfermidade incurável;</p><p>III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;</p><p>IV - deformidade permanente;</p><p>V – aborto.</p><p>As lesões com maior probabilidade de colocar em risco a vida da vítima são:</p><p> Feridas penetrantes do abdômen e do tórax;</p><p> Hemorragias abundantes; Estados de choque;</p><p> Queimaduras generalizadas;</p><p> Fraturas de crânio e da coluna vertebral, sendo assim, só cabe ao perito</p><p>determinar se há risco que levem o paciente a morte por se tratar de um</p><p>prognóstico médico.</p><p>Debilidade permanente de membro, sentido ou função, ocorre quando há perda de</p><p>força, o enfraquecimento, resultante de um dano anatômico ou funcional. Inclui-se</p><p>ainda nesta categoria a perda de um ou dois dedos, os membros, braços e pernas,</p><p>são os apêndices do corpo, podendo ficar debilitados permanentemente em</p><p>consequência de lesões.</p><p>Os Sentidos são visão, audição, tato, olfato e paladar, mecanismos</p><p>sensoriais</p><p>responsáveis pelo relacionamento do indivíduo com o mundo, podem ser afetados</p><p>causado por traumas direto sobre um desses órgãos, ou no crânio, embora, os órgãos</p><p>como, rins, coração, olhos, ouvidos, mastigação, também ficam passiveis de parcial</p><p>debilitação.</p><p>A Incapacidade pode ser permanente para o trabalho, sendo definitiva, porém, a lei</p><p>trata de qualquer atividade, não apenas ao trabalho específico da vítima.</p><p>48</p><p>A enfermidade Incurável, é qualquer estado mórbido de lenta evolução, que venha a</p><p>resultar na morte da vítima ou que, mesmo tendo cura, está se dê a longo prazo.</p><p>Perda ou Inutilização: de membros, sentido ou função: Decorre da Mutilação ou</p><p>Inutilização permanente de membro, sentido ou função. Mesmo que continue</p><p>existindo o apêndice físico sua inoperância, ou perda de funcionamento, caracterizam</p><p>o tipo penal.</p><p>Deformidade Permanente: Os danos aparentes, estéticos que afetem a</p><p>subjetividade da vítima aborrecendo ou causando-lhes incômodo; podendo inclusive</p><p>afetar sua autoestima.</p><p>Aborto: A situação aqui descrita faz referência ao aborto preterintencional, quando o</p><p>agente quer apenas lesionar a vítima, mas acaba provocando o aborto.</p><p>LESÃO SEGUIDA DE MORTE:</p><p>Quando correr a lesão corporal e o resultado for morte, o artigo 129 § 3º - e as</p><p>evidencias apontarem que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de</p><p>produzi-lo, a Traumatologia Médico Legal será, essencial para oferecer os elementos</p><p>técnicos e científicos ao juízo, pois esta fornece dados objetivos de que forma a à</p><p>pessoa foi efetuada, observados a natureza e os resultados graves.</p><p>10.3 - AS LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO MECÂNICA</p><p>Energia mecânica é aquela capaz de modificar um corpo em seu estado de repouso</p><p>ou de movimento, produzindo neste, lesões. Podem ser causados por armas,</p><p>punhais, revólveres, facas, foices, machados, ou por punhos, pés, dentes, ou</p><p>qualquer outro meio, máquina, animais, veículos, explosões.</p><p>Os resultados podem repercutir interna ou externamente, podendo ocorrer com o</p><p>impacto de um objeto em movimento contra um corpo parado, ou o contrário, ou</p><p>ainda, com os dois em movimento.</p><p>49</p><p>FERIDA PUNCTÓRIA: Os instrumentos perfurantes, como chave de fenda, é capaz</p><p>de produzir uma lesão punctória.</p><p>FERIDA INCISA: A faca é instrumento cortante, contem gume e produz a ferida</p><p>incisa.</p><p>FERIDA CONTUSA: O choque de superfícies pode se dar de forma ativa ( quando o</p><p>instrumento é projetado contra a vítima) ou passiva ( quando a vitima vai de encontro</p><p>ao objeto, como ocorre numa queda). Devido à elasticidade da pele, esta se conserva</p><p>íntegra e a lesão se produz em nível profundo.</p><p>São várias:</p><p> escoriação: quando o atrito do deslizamento lesa a superfície da pele;</p><p> raspão/arrastamento, atropelamentos etc. sendo a equimose a contusão mais</p><p>frequente causada pelo soco, que geram bossas e hematomas, que podem ser</p><p>sanguíneas.</p><p>50</p><p>AS LESÕES MISTAS são aquelas causadas por instrumento que reúnem dois lados,</p><p>o Pérfuro cortante ( punhal- canivete) Lesão pérfuro-incisa, Instrumento corto</p><p>contundente ( machado-foice) Lesão cortocontusa, Instrumento pérfuro contundente</p><p>( projétil) Lesão pérfurocontusa, causam fraturas, cicatrizes, infecção.</p><p>Os Instrumentos cortantes atuam pelo deslizamento de um gume sobre uma linha,</p><p>seccionando os tecidos. Ex. lâmina de barbear, bisturi, já os Instrumentos</p><p>contundentes, agem pela pressão exercida sobre uma superfície pelo seu peso ou</p><p>energia cinética de que estejam animados, esmagando os tecidos.</p><p>Percebam nas imagens acima onde se inicia o deslizamento e onde termina o deslizamento. Busque,</p><p>sempre, localizar a cauda de escoriação.</p><p>51</p><p>A mesma energia que lesa as estruturas superficiais do corpo humano, pode ser</p><p>transmitida às estruturas profundas. Dependendo de sua intensidade, da resistência</p><p>natural das estruturas profundas e da sua condição momentânea, fisiológica ou</p><p>patológica, a energia transmitida pode ser suficiente para dar causa a lesões das</p><p>estruturas profundas (fraturas ósseas, luxações, rupturas ou contusões de órgãos</p><p>internos).</p><p>Ex: porrete, solo, pedra arremessada;</p><p>11- TANATOLOGIA FORENSE</p><p>A Tanologia estuda a causa da morte e as circunstâncias em que ela ocorreu.</p><p>Entende-se por morte a cessação total e permanente das funções vitais, fato que</p><p>ocorre de forma assíncrona nos organismos pluricelulares (COSTA FILHO, 2010).</p><p>Os diagnósticos da morte em seres humanos são realizados a partir de morte cerebral</p><p>e morte encefálica. A morte cerebral ou cortical é atribuída pela perda das funções</p><p>cerebrais relacionadas com a consciência do ser humano, já a morte encefálica é a</p><p>perda das funções cerebrais como um todo. Segundo a Resolução n. 1.480/1997 do</p><p>Conselho Federal de Medicina são utilizados como parâmetros para a constatação</p><p>da morte encefálica o coma perceptivo com ausência de atividade motora</p><p>supraespinal e apneia.</p><p>O Brasil utiliza do diagnóstico da morte encefálica para casos de transplantes de</p><p>órgãos entre seres humanos.</p><p>52</p><p>A morte pode ser classificada de diversas formas:</p><p>a) Quanto à extensão:</p><p>Celular ou histológica: quando os sistemas celulares se tornam inutilizados;</p><p>Anatômica: morte total do organismo.</p><p>b)Quanto à reversibilidade:</p><p>Aparente: é o estado patológico passageiro que simula a morte. Caracteriza-</p><p>se por inconsciência, movimentos respiratórios e batimentos cardíacos</p><p>imperceptíveis, imobilidade. Exemplo: como epilético e a morte aparente do</p><p>recém-nascido;</p><p>Relativa: as funções nervosas, circulatórias e respiratórias param, porém,</p><p>podem ser revertidas por manobras terapêuticas;</p><p>Absoluta ou real: Inatividade encefálica causando a ausência definitiva das</p><p>atividades biológicas.</p><p>c) Quanto à maneira:</p><p>Natural: provocada por agentes naturais, alterações orgânicas, patogenia, entre</p><p>outras;</p><p>Violenta: provocada por agentes externos, pode ser acidental, criminosa ou</p><p>voluntária;</p><p>Suspeita: quando não há indícios que determinem se a morte foi natural ou</p><p>violenta.</p><p>d) Quanto ao processamento:</p><p>Súbita: sem causa aparente, instantânea, pode advir de doença</p><p>desconhecida;</p><p>Agônica: aquela que leva tempo.</p><p>e) Quanto à causa jurídica:</p><p>Homicídio: por ação ou omissão de outro agente;</p><p>Suicídio: por ação ou omissão do próprio agente;</p><p>53</p><p>Acidente: causas externas.</p><p>Enquanto a morte natural resulta de uma patologia, pois é natural que um dia se</p><p>morra, a morte violenta é consequência de ato praticado por outra pessoa (homicídio),</p><p>ou por si mesma (suicídio), ou em razão de acidentes, sempre existindo</p><p>responsabilidade penal a ser apurada.</p><p>Já a morte presumida poderá ser declarada se for extremamente provável a morte de</p><p>quem estava em perigo de vida ou se alguém, desaparecido em campanha ou feito</p><p>prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. O Código Civil</p><p>estabelece as hipóteses de aplicação da declaração de morte presumida. A</p><p>comoriência ocorre quando dois ou mais indivíduos falecem na mesma ocasião não</p><p>se podendo averiguar se um precedeu o outro (CC, Art. 8º).</p><p>Art. 8º- Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se</p><p>podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-</p><p>se-ão simultaneamente mortos.</p><p>11.1 - Fenômenos Cadavéricos, Necropsia e Exumação</p><p>O exame necroscópico ou a popularmente chamada necropsia deve ser realizado</p><p>pelo médico objetivando a identificação das causas e circunstâncias que levaram a</p><p>morte, a necropsia também objetiva a identificação da vítima. A autópsia (outro termo</p><p>utilizado para o exame necroscópico) poderá ser solicitada pelo Ministério Público,</p><p>por autoridade judiciária ou pela autoridade judicial. Durante a necropsia, o médico-</p><p>legista deve cumprir o protocolo realizando todos os exames necessários, bem</p><p>como</p><p>os complementares utilizando-se de recursos documentais, como fotografia e</p><p>radiografia a fim de subsidiar o laudo do exame.</p><p>Nos casos de exumação, esse procedimento ocorre quando uma segunda necropsia</p><p>deva ser realizada tendo em vista a suspeita de morte violenta no curso do processo,</p><p>a identificação da vítima gerar dúvida necessária de esclarecimento ou devido à</p><p>54</p><p>necessidade de revisão da necropsia inicial. A</p><p>exumação não é procedimento simples, o Art.</p><p>163 do Código de Processo Penal estabelece</p><p>que nos casos de exumação para exame</p><p>cadavérico, a autoridade providenciará para</p><p>que, em dia e hora previamente marcados, se</p><p>realize a diligência, da qual se lavrará auto</p><p>circunstanciado e os profissionais devem</p><p>seguir protocolos rígidos, como: fotografar a</p><p>área durante todos os passos da operação;</p><p>anotar cuidadosamente, todos os achados;</p><p>deve-se realizar o isolamento e a limpeza do corpo, no próprio local, para</p><p>posteriormente ser retirado e acondicionado para o transporte; amostras de terra</p><p>devem ser coletadas.</p><p>Ainda sobre a análise cadavérica, é importante que eu te informe sobre alguns</p><p>fenômenos que se apresentam após a morte instalada:</p><p> Fenômenos abióticos imediatos: são aqueles comuns, ocorridos logo</p><p>após a morte, como parada respiratória e circulatória, palidez, faces</p><p>hipocráticas e imobilidade.</p><p> Fenômenos abióticos consecutivos: aqueles que se sucedem a partir</p><p>da morte declarada, como rigidez cadavérica, machas de hipóstase,</p><p>desidratação do cadáver, resfriamento corporal e ainda os espasmos</p><p>cadavéricos.</p><p> Fenômenos transformativos: podem ser destrutivos ou conservadores.</p><p>Destrutivos: autólise (processo anaeróbico intracelular), putrefação (atividade</p><p>bacteriana, apresenta coloração esverdeado ou enegrecida do cadáver e segue</p><p>quatro fases, a gasosa, de coloração, coliquativa e esqueletização) e maceração</p><p>(diminuição da consistência corporal).</p><p>55</p><p>Conservadores: saponificação/adipocera (corpo com aspecto de sabão – sinal de</p><p>Thouret), mumificação (desidratação intensa do cadáver), corificação (a pele do</p><p>cadáver apresenta aspecto, cor e consistência de couro curtido – processo de Della</p><p>Volta), calcificação ou petrificação (infiltração dos tecidos do cadáver por sais de</p><p>cálcio, gerando aparência pétrea).</p><p>11.2 - Tanatognose ou Cronotanatognose</p><p>A Cronotanatognose observa os meios para determinação do tempo decorrido entre</p><p>a morte e o exame cadavérico.</p><p>Para tanto, o perito deve observar certos aspectos com fins de determinar o tempo</p><p>da morte, quanto maior o intervalo de tempo, maior a dificuldade que o perito terá em</p><p>determinar o lapso transcorrido.</p><p>Resfriamento do cadáver: em média ocorre de 1ºC a 1,5ºC por hora, contudo sofre</p><p>influência de diversos fatores, como posição do corpo, vestuário, ambiente, idade,</p><p>entre outros.</p><p>Rigidez cadavérica: tem início na primeira hora e ocorre de cima para baixo, e se</p><p>generaliza entre duas e três horas, atinge o pico máximo entre cinco e oito horas após</p><p>o óbito (regra de Fávero). Sofre influência de temperatura, ambiente, causa mortis,</p><p>entre outras.</p><p>56</p><p>Livores cadavéricos: surgem nas primeiras três horas após a morte e tornam-se</p><p>fixos por volta da 12ª hora e atingem a intensidade na 14ª hora. Sofrem influência da</p><p>gravidade, entretanto não se forma mais depois de 24 horas.</p><p>Putrefação: esse fenômeno é utilizado para determinar o tempo de morte não</p><p>recente, as fases da putrefação são:</p><p>a) Fase de coloração – tem início entre a 18ª e 24ª hora após a morte e</p><p>apresenta macha verde abdominal;</p><p>b) Fase gasosa – inicia-se por volta da 48ª hora após o óbito (circulação</p><p>póstuma de Brouardel), com duração de aproximadamente trinta dias, atingindo</p><p>o grau máximo entre o 5º e 7º dia após o óbito;</p><p>c) Fase coliquativa – inicia-se no fim da segunda semana e se prolonga</p><p>indefinidamente (pele rompe, orifícios abrem);</p><p>d) fase de esqueletização – inicia-se na 3ª semana após o óbito, mais ou</p><p>menos e dura aproximadamente seis meses.</p><p>Existe também uma classificação que deve ser observada pelo perito quando da</p><p>análise de estimativa do tempo de morte fetal intrauterino, qual seja:</p><p>Grau 0 – óbito de menos de oito horas apresentam pela de aspecto bolhoso;</p><p>Grau 1 – óbito entre oito e vinte e quatro horas apresenta o início do descolamento</p><p>da epiderme;</p><p>Grau 2 – Óbito de mais de vinte quatro horas apresenta grande descolamento</p><p>cutâneo e derrame serossanguinolento avermelhado nas cavidades serosas;</p><p>57</p><p>Grau 3 – óbito de aproximadamente quarenta e oito horas apresenta derrames das</p><p>cavidades serosas e o fígado aparenta cor amarelo-amarronzada.</p><p>11.3 - Direitos sobre o Cadáver</p><p>O Código Civil Brasileiro preconiza que a personalidade, qualidade do ente</p><p>considerado pessoa, cessa com a morte. Nesse sentido e considerando que a morte</p><p>é irreversível, em que se perde a capacidade corporal e cerebral, o cadáver passa a</p><p>ser compreendido como coisa, que no Direito Civil, é tudo aquilo que carece de</p><p>personalidade.</p><p>Entretanto, a lei conferiu respeito ao que um dia foi pessoa, de modo que instituiu</p><p>alguns ordenamentos jurídicos que tratam dos direitos do cadáver.</p><p>Além do Código Civil, a Lei n. 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que trata da remoção</p><p>de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento,</p><p>permitiu que os órgãos e as partes do corpo humano, post mortem, podem ser</p><p>dispostos gratuitamente para fins de transplante ou tratamento.</p><p>Outra lei que trata sobre o direito do cadáver é a Lei n. 8.501, de 30 de novembro de</p><p>1992, que dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos</p><p>ou pesquisas científicas. O texto normativo trata que será destinado para estudo o</p><p>cadáver não reclamado que se apresente sem qualquer documentação ou</p><p>identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de parentes ou</p><p>responsáveis legais e dá outras providências.</p><p>Ainda sobre o direito do cadáver, a lei penal traz em seu escopo, um capítulo</p><p>específico que trata sobre os crimes contra o respeito dos mortos, vejamos:</p><p>Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária:</p><p>Art. 209. Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária:</p><p>Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.</p><p>Parágrafo único. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um</p><p>terço, sem prejuízo da correspondente à violência.</p><p>58</p><p>Violação de sepultura:</p><p>Art. 210. Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:</p><p>Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.</p><p>Destruição, subtração ou ocultação de cadáver.</p><p>Art. 211. Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:</p><p>Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. Vilipêndio a cadáver.</p><p>Vilipêndio a cadáver:</p><p>Art. 212. Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:</p><p>Pena – detenção, de um a três anos, e multa.</p><p>12 - SEXOLOGIA FORENSE</p><p>A sexologia forense, em síntese, pode ser definida como o “estudo dos problemas</p><p>médico-legais ligados ao comportamento sexual”. Seu objeto de estudo refere-se a</p><p>todos os fenômenos ligados à sexualidade e suas implicações no âmbito jurídico.</p><p>Por um lado, encontramos um padrão de condutas típicas de criminosos sexuais, tais</p><p>quais líderes religiosos, em que o conteúdo das mensagens se aproveita das</p><p>vulnerabilidades de suas vítimas para obter vantagens sexuais; molestadores de</p><p>crianças e vulneráveis, que possuem uma vítima específica; e os oportunistas que</p><p>aproveitam a situação para molestarem e obter favores sexuais.</p><p>Para a Criminologia, ainda encontramos dentro dos molestadores cinco tipos de perfis</p><p>e motivações, porém todos aproveitam de vulnerabilidades de suas vítimas, de sua</p><p>ingenuidade.</p><p>Colocamo-nos, assim, diante das seguintes questões: todas essas condutas fariam</p><p>parte da mesma estrutura de personalidade? O que estaria na base da conduta do</p><p>criminoso sexual? Estaríamos capacitados</p><p>a reconhecer tais estruturas e</p><p>motivações? Certos transtornos levariam a um comportamento criminoso? E, por fim,</p><p>qual o papel do operador do direito diante de tais questões?</p><p>59</p><p>Diante da complexidade das questões apresentadas, uma coisa é certa: o papel da</p><p>psicologia forense é de fundamental importância para o esclarecimento e</p><p>compreensão de cada conduta.</p><p>E cabe aos operadores do direito estarem capacitados ao reconhecimento de tais</p><p>questões para o êxito em sua atuação. O profissional que tenha tal capacitação se</p><p>diferencia dos demais.</p><p>Conceitua-se como o estudo dos problemas médico-legais ligados ao sexo. É objeto</p><p>de estudo da sexologia forense todos os fenômenos ligados ao sexo e suas</p><p>implicações no âmbito jurídico.</p><p>É o ramo da medicina legal que se dedica ao estudo dos fenômenos relacionados</p><p>com a reprodução humana, desde a concepção até o puerpério.</p><p>A expressão sexualidade anômala e criminosa, era o antigo nome do ramo da</p><p>medicina legal denominado atualmente sexologia forense, que, deixou de ser utilizado</p><p>em razão do evidente caráter preconceituoso da expressão.</p><p>A sexologia forense tem grande importância, pois traz conhecimentos acerca de</p><p>“problemas sexuais”; fornece elementos que nos orientam à observância das</p><p>leis (jurídicas e naturais); e auxilia na educação dos filhos e disseminação do</p><p>respeito.</p><p>12.1- Parafilias</p><p>São fantasias ou comportamentos frequentes, intensos e sexualmente estimulantes</p><p>que envolvem objetos inanimados, crianças ou adultos sem consentimento,</p><p>ou o sofrimento ou humilhação de si próprio ou do parceiro.</p><p>Transtornos parafílicos são parafilias que causam angústia ou problemas com o</p><p>desempenho de funções da pessoa com parafilias ou que prejudicam ou podem</p><p>prejudicar outra pessoa.</p><p>60</p><p>Genival Veloso de França em sua obra de Medicina Legal, 9ª Edição, 2011, diz que</p><p>“os transtornos sexuais são distúrbios qualitativos ou quantitativos,</p><p>fantasias ou comportamentos recorrentes e intensos que surgem de forma</p><p>inabitual, também chamados de parafilias, de origem orgânica ou simplesmente</p><p>por preferências sexuais.</p><p>Os exemplos mais comuns, citados por renomados autores, são:</p><p> Anafrodisia;</p><p> Frigidez;</p><p> Erotismo;</p><p> Autoerotismo;</p><p> Anorgasmia;</p><p> Erotomania;</p><p> Frotteurismo;</p><p> Exibicionismo;</p><p> Narcizismo;</p><p> Gerontofilia</p><p> Cronoinversão;</p><p> Dolismo;</p><p> Donjuanismo;</p><p> Travestismo;</p><p> Pedofilia;</p><p> Riparofilia;</p><p> Necrofilia;</p><p> Mixoscopia/Voyerismo;</p><p> Lubricidade Senil;</p><p> Fetichismo;</p><p> Vampirismo;</p><p> Bestialismo;</p><p> Sadismo;</p><p> Masoquismo; dentre outros.</p><p>61</p><p>12.2 - Quais transtornos podem levar à criminalidade?</p><p>O frotteurismo é a “mania”, que alguns homens têm de “roçar”, encostar, seus</p><p>órgãos genitais ou mesmo tocar nas partes íntimas de mulheres que estão em</p><p>aglomerações (ônibus, trens, shows, etc). Homens que se aproveitam das</p><p>mulheres dessa forma podem ser criminalizados, pois caracteriza crime diverso</p><p>da conjunção carnal, dificultando a livre manifestação de vontade da vítima, conforme</p><p>interpretação do artigo 215 do Código Penal.</p><p>A pedofilia está disposta no Código Penal, no artigo 217-A, com o nome – Estupro</p><p>de vulnerável).</p><p>“Ter conjunção carnal ou praticar outro ato</p><p>libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”,</p><p>sob pena de reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze)</p><p>anos.”</p><p>A necrofilia é caracterizada pela excitação</p><p>decorrente da visão ou da violação sexual do cadáver. Poderá caracterizar “vilipêndio</p><p>de cadáver” quando é realizado com o morto atos sexuais. Entretanto, vilipendiar é</p><p>mais comum quando alguém escarra, corta membros, derrama líquidos asquerosos</p><p>sobre as cinzas com a finalidade de menosprezo e aviltação ao cadáver. Está previsto</p><p>no artigo 212 do Código Penal.</p><p>O sadismo, se praticado de forma demasiada pode levar até à morte do parceiro ou</p><p>parceira. O sofrimento do outro é o que dá prazer; para tanto poderá chegar ao</p><p>inimaginável da violência. Poderá caracterizar desde lesões corporais à morte – Artigo</p><p>129, parágrafos 1º, 2º, 3º e seus incisos e artigo 121 do Código Penal.</p><p>62</p><p>12.3 - Perícias sexuais</p><p>Através do exame de sexologia forense procede-se à verificação dos sinais médico-</p><p>legais (sinais corporais genitais, para e extra genitais) identificadores ou indicadores</p><p>da prática de determinado pressuposto num tipo legal de crime sexual,</p><p>desempenhando ou podendo desempenhar relevante papel na apreciação da prova.</p><p>O auxílio prestado no esclarecimento dos pressupostos de apreciação da prova pode</p><p>ser determinante para a formulação de conclusões acerca de determinado fato ou</p><p>comportamento num específico tipo legal de crime. Isto porque permite a análise</p><p>científica de vestígios do crime, sustentadores ou despistadores a prova da prática</p><p>do fato, bem como a afirmação da existência de dano e da definição da sua</p><p>natureza e extensão, do nexo de causalidade entre o fato e o dano, e da imputação</p><p>do fato a determinado agente (suspeito) através da sua identificação médico-legal.</p><p>12.4 - Perícias nos crimes aborto</p><p>Perante a lei, aborto é a interrupção dolosa da gravidez, à qual se segue a morte do</p><p>concepto, independentemente da duração da gestação.</p><p>Enquanto a obstetrícia preocupa-se com a capacidade de sobrevivência do novo ser</p><p>fora do útero, a legislação volta-se para a causa jurídica, não importando a época em</p><p>que se realize a intervenção.</p><p>63</p><p>O que preocupa o legislador é o aborto provocado, o caráter doloso da interrupção, o</p><p>seu animus necandi. Assim o médico legista e o perito se tornam peças fundamentais</p><p>na caracterização deste crime.</p><p>O Código Penal prevê seis modalidades de aborto:</p><p> Aborto provocado pela própria gestante, ou autoaborto (art. 124, primeira</p><p>parte);</p><p> Aborto com consentimento da gestante, para que outrem lhe provoque o</p><p>abortamento (art. 124, segunda parte);</p><p> Aborto provocado sem o consentimento da gestante. Este não consentimento</p><p>da gestante pode decorrer de violência, ameaça ou de fraude (art. 125),</p><p>ou de certas condições que façam presumir a incapacidade da gestante para</p><p>consentir (art. 126, parágrafo único);</p><p> Aborto consentido ou consensual (art. 126);</p><p> Aborto qualificado, pela lesão grave ou morte da gestante (art. 127);</p><p> Aborto permitido, nos casos do art. 128,1 e II, do CP. No caso de estupro (art.</p><p>128, II, do CP), temos o chamado aborto moral, sentimental, ético,</p><p>humanitário.</p><p>O art. 128, I, do Código Penal admite o chamado aborto necessário, que é aquele</p><p>praticado como único meio de salvar a vida da gestante. Também é chamado de</p><p>aborto terapêutico. A lei não permite o aborto quando houver risco para a saúde, mas</p><p>apenas no caso de risco de vida.</p><p>12.5 - Meios abortivos</p><p>Os meios químicos são substâncias tóxicas abortivas podem ser de origens vegetal</p><p>e mineral. Entre as de origem vegetal, tem sido usada grande parte da flora brasileira:</p><p>a jalapa, o sene, a sabina, o apiol, a arruda, o quinino, o centeio espigado, a</p><p>cabeça-de-negro, a quebra-pedra, entre outros. Até mesmo a Thujaoccidentalis,</p><p>flor de rara beleza, por ser tóxica, é usada na prática abortiva.</p><p>64</p><p>Entre as substâncias de origem mineral, as de emprego mais largo foram o fósforo, o</p><p>arsênico, o antimônio, o bário, o chumbo e o mercúrio. Na Inglaterra, usou-se muito</p><p>o chumbo em forma de pílulas. Na Áustria e na Suécia, o ácido arsênico. Na Grécia</p><p>e na Finlândia, cabeças de fósforos maceradas em leite.</p><p>Os meios mecânicos podem ser divididos em diretos e indiretos. Os meios diretos são</p><p>aqueles usados na cavidade vaginal, no colo do útero e na cavidade uterina.</p><p>Na cavidade vaginal: tamponamentos, duchas alternadas de água fria e quente,</p><p>cópulas repetidas.</p><p>No colo</p><p>uterino: a cauterização, esponjas, dilatadores mecânicos, o emprego das</p><p>laminárias colocadas no canal cervical com a finalidade de dilatá-lo.</p><p>Na cavidade uterina: a punção das membranas, embora seja um método muito</p><p>antigo, é ainda hoje usado por curiosas, parteiras e leigos ou pela própria gestante.</p><p>Os instrumentos utilizados são os mais variáveis, como as sondas de borracha,</p><p>agulhas de croché, penas de ganso, varetas de bambu, palitos de picolé, aspas de</p><p>sombrinhas etc. Também o desprendimento da membrana e o esvaziamento do útero</p><p>pela curetagem, pela aspiração a vácuo e pela histerotomia (microcesárea).</p><p>Outro método empregado é o descolamento das membranas feitas pela curagem,</p><p>pela introdução de uma sonda que permaneça na cavidade uterina ou pela injeção de</p><p>líquidos. O mais empregado é a colocação de uma sonda, na cavidade uterina, que,</p><p>agindo como corpo estranho, determina contrações ao mesmo tempo em que</p><p>desloca as membranas fetais.</p><p>O descolamento por meio de líquidos na cavidade amniótica é o método de Cohen e</p><p>consiste na introdução de líquido pelo canal cervical à cavidade uterina, líquido esse</p><p>que vai desde a água potável até as soluções cáusticas.</p><p>A curagem é empregada por pessoas habilidosas no trato da genitália feminina,</p><p>consistindo no descolamento das membranas fetais com o dedo.</p><p>65</p><p>A curetagem, no entanto, é o meio mais largamente usado, principalmente pelos</p><p>abortadores, que têm nessa técnica uma manobra rápida e de fácil execução.</p><p>12.5.1 – Evidências</p><p>Para o exame físico da paciente, é sugerido seguir um protocolo para detectar as</p><p>evidências de um aborto criminoso. Se destacam:</p><p>1-Comprovação da gravidez</p><p>2- Comprovação da existência de aborto:</p><p>A) Aborto em gravidez incipiente: Ausência de sinais de probabilidade;</p><p>microbiópsia da mucosa uterina para detectar formação de vilosidades coriais;</p><p>B) Aborto em gravidez avançada:</p><p>Na viva: Verificar sinais de probabilidade, testes biológicos e a histopatológica dos</p><p>restos ovulares e membranosos.</p><p>Na morta: Exame do corpo lúteo ovariano (anátomo patológico dos ovários), das</p><p>lesões e modificações uterinas e da presença de embolia das células trofoblásticas</p><p>em vasos do pulmão (tese do Prof. Hygino Carvalho).</p><p>C) Aborto de gravidez antiga:</p><p>Na viva: Restos de membrana, cicatrizes e de fúrcula e períneo.</p><p>Na morta: Estudo do útero e dos ovários.</p><p>3- Excluem a origem patológica ou acidental:</p><p>A) Aborto patológico: Patologia da gravidez, patologia materna.</p><p>B) Aborto acidental: Traumas físicos e traumas psíquicos.</p><p>66</p><p>4- Origem da prática abortiva</p><p>A) Evolução: Dores, hemorragias, expulsão e evolução clínica,</p><p>B) Lesões maternas: Lesões mecânicas, químicas e físicas.</p><p>C) Provar o mecanismo causador: Presença do meio provocador ou</p><p>das suas lesões específicas.</p><p>5- Exame dos restos fetais:</p><p>Lesões vitais ou pós morte.</p><p>6- Exame do instrumento suspeito.</p><p>7- Comprovação da presença de vilosidades coriais.</p><p>12.6 - Perícias nos crimes de infanticídio</p><p>A perícia no delito de infanticídio tem grande importância, uma vez que objetiva</p><p>analisar os elementos essenciais que caracterizam o delito.</p><p>Segundo o Código Penal de 1940, estabeleceu em seu artigo 123:</p><p>“Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante ou logo</p><p>após o parto”, sob pena de detenção de dois a seis anos.</p><p>Para se demonstrar a materialidade, o crime de infanticídio exige para sua</p><p>caracterização uma prova da condição de recém-nascido, de vida extrauterina, o</p><p>diagnóstico da causa de morte e o exame da puérpera.</p><p>67</p><p>A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infanticídio o conceito</p><p>biopsíquico do “estado puerperal”, que justifica o infanticídio como delictum exceptum,</p><p>praticado pela puérpera sob influência daquele tal estado puerperal.</p><p>A adoção deste critério biopsíquico não é um consenso e tem resistência dentro da</p><p>Medicina Legal.</p><p>Não existe elemento biopsíquico capaz de fornecer à perícia provas consistentes e</p><p>seguras para afirmar que uma mulher matou seu próprio filho, durante ou logo após</p><p>o parto, motivada por uma alteração chamada de “estado puerperal”, que seria uma</p><p>alteração temporária em mulher previamente sã, com colapso do senso moral e</p><p>diminuição da capacidade de entendimento seguida de liberação de instintos,</p><p>culminando com a agressão ao próprio filho.</p><p>Também porque tal distúrbio não existe como patologia nos tratados médicos atuais.</p><p>Por haver resistência da medicina legal em reconhecer o estado biopsiquico e não</p><p>existir como patologia nos tratados médicos, quando acionado para examinar</p><p>esse crime, deve se concentrar num exame físico da puérpera bem feito, que é o</p><p>período de tempo entre a dequitação placentária e o retorno do organismo materno</p><p>às condições pré-gravídicas, tendo duração média de 6 semanas.</p><p>Somente desta forma será possível esclarecer se a mãe encontrava no momento do</p><p>crime sofrendo de distúrbios biopsíquicos derivados do estado puerperal, que é um</p><p>dos elementos essenciais que caracterizam o delito, levando com isso a uma pena</p><p>mais branda.</p><p>12.7- Evidências no crime de infanticídio</p><p>De acordo com Genival Veloso França, em sua obra Medicina Legal, 9ª edição de</p><p>2011, o exame pericial será orientado na busca dos elementos constituintes do delito</p><p>a fim de caracterizar:</p><p>68</p><p> Estados de natimorto, o de feto nascente, o de infante nascido ou o de recém-</p><p>nascido (diagnóstico do tempo de vida);</p><p> A vida extrauterina (diagnóstico do nascimento com vida);</p><p> A causa jurídica de morte do infante (diagnóstico do mecanismo de morte);</p><p> O estado psíquico da mulher (diagnóstico do chamado “estado puerperal”);</p><p> Comprovação do parto pregresso (diagnóstico do puerpério ou do parto</p><p>recente ou antigo da autora).</p><p>Sendo um dos pontos de grande relevância no exame pericial, a avaliação do estado</p><p>mental da infanticida deve consistir em apurar determinados quesitos:</p><p> Se o parto transcorreu de forma angustiante ou dolorosa;</p><p> Se a parturiente, após ter realizado o crime, tratou ou não de esconder o</p><p>cadáver do filho;</p><p> Se ela se lembra ou não do ocorrido ou se simula;</p><p> Se a mulher tem antecedentes psicopáticos ou se suas consequências</p><p>surgiram no decorrer do parto;</p><p> Se há vestígios de outra perturbação mental cuja eclosão, durante o parto ou</p><p>logo após, foi capaz de levá-la a praticar o crime.</p><p>O cerne desse tipo de perícia é a constatação de parto pregresso.</p><p>O diagnóstico leva-se em conta o aspecto geral, os aspecto dos órgãos genitais</p><p>externos, a presença de corrimento genital, o aspecto das mamas, a presença de</p><p>colostro ou leite, as paredes abdominais com vergões e a pigmentação</p><p>clássica e os exames de laboratório para comprovação dos lóquios, induto</p><p>sebáceo, colostro, leite e mecônio.</p><p>A perícia médico-legal é de extrema importância para a esfera processual penal, visto</p><p>que sem essa prova técnica, a Justiça jamais teria condições de fundamentar e</p><p>alicerçar o conteúdo disciplinador de uma sentença, dentro de um critério</p><p>legalista e justo com o "mundo dos fatos", pois, certamente, lhe faltariam elementos</p><p>técnicos consistentes e convincentes.</p><p>69</p><p>13 - ASFIXIOLOGIA FORENSE</p><p>O termo “Asfixia” (do grego “asphyxía”) significa “sem pulso”. Tal interpretação tem</p><p>origem histórica na literatura médica através da concepção dos intelectuais da</p><p>antiguidade clássica – período que se estendeu aproximadamente pelo Séc. VIII a.C</p><p>até o Séc. V d.C – que acreditavam que, por meio das artérias, circulava o “pneuma”.</p><p>Hoje é notório que tal pensamento acumulava erros que no decorrer dos anos</p><p>seriam rechaçados pelo empirismo crítico científico. Atualmente a medicina forense</p><p>deu passos largos em</p><p>busca do entendimento de casos que colaborem com o Poder</p><p>Judiciário na busca da solução de lides bastante específicas; ou seja, que apenas sua</p><p>expertise poderia ser considerada capaz de tratar, entre eles o tema da Asfixiologia</p><p>Forense.</p><p>Asfixiologia nada mais é que o estudo das causas</p><p>físicas e químicas que impedem, por quaisquer</p><p>motivos, a passagem de ar pelas chamadas “vias</p><p>respiratórias”. As circunstâncias que podem impedir</p><p>tais movimentos levam à hipóxia (hipoxemia), anóxia</p><p>(anoxemia) e finalmente, à morte.</p><p>70</p><p>Os movimentos respiratórios são assim intitulados por tratarem-se da articulação</p><p>orgânica do corpo em busca da inspiração de oxigênio e emissão de gás carbônico.</p><p>Em caso de ausência dos movimentos respiratórios temos a chamada Apnéia, já em</p><p>movimentos respiratórios plenos (normais) tratamos de Eupnéia. Por fim, a dificuldade</p><p>respiratória – que não necessariamente levaria à Apnéia – chama-se Dispnéia.</p><p>13.1 - Da Dispnéia Inspiratória</p><p>A chamada “Dispnéia Inspiratória” dura cerca de 60 segundos, permanecendo o</p><p>indivíduo consciente. Neste instante inicia-se a já catalogada “Hipoxemia”, ou seja,</p><p>um grande esforço do indivíduo para receber oxigênio, pois este vai se escasseando</p><p>até a proximidade dos níveis residuais em seus pulmões.</p><p>71</p><p>13.2– Da Dispnéia Expiratória</p><p>A chamada “Dispnéia Expiratória” dura de 2 minutos até 3 minutos, por conta da</p><p>hipercapnia (ou seja, a grande concentração de gás carbônico), o indivíduo está</p><p>inconsciente e apresenta convulsões.</p><p>13.3 – Do Esgotamento</p><p>O chamado “Esgotamento” dura de 2 minutos até 3 minutos, ocorrendo a</p><p>possivelmente fatídica parada respiratória, com morte aparente, após os últimos</p><p>movimentos respiratórios e, por fim, a parada respiratória definitiva.</p><p>13.4 - Das características gerais (tanatosiniologia)</p><p>As características – sinais tanatológicos – da Asfixia são divididos em duas espécies:</p><p>Externas e Internas. As lesões provocadas pela asfixia quase sempre resultam em</p><p>sequelas e no surgimento de disfunções nervosas, já que o cérebro não dispõe da</p><p>mesma capacidade de regeneração que os demais órgãos do corpo humano. Estas</p><p>lesões são configuradas como de ordem mecânica, físico-química, e biofísica.</p><p>Trataremos das principais expressões da Tanatosiniologia (Sinais Tanatológicos) a</p><p>seguir:</p><p>72</p><p>13.5 – Externos</p><p>Cianose da pele extremidades (cor arroxeada-azulada decorrente do acúmulo de gás</p><p>carbônico no sangue. Além disso apresentando: Esquimoses conjuntivais, cogumelo</p><p>de espuma da boca, resfriamento lento do corpo e parada respiratória.</p><p>13.6 – Internos</p><p>Petéquias de Tardieu: Esquimose Subpleural, machas puntiformes avermelhadas.</p><p>Manchas de Paltauf: hemorragia subpleural, semelhantes as de Tardieu, mas</p><p>maiores. Fluidez sanguínea.</p><p>13.7- Das classificações dos tipos</p><p>Classificasse os tipos de asfixias em “Por obstrução das vias respiratórias”, “Por</p><p>restrição aos movimentos do tórax”, “Por modificação do meio ambiente” e, por fim,</p><p>“Por parada respiratória central”. Por sua vez, tais divisões possuem suas</p><p>subdivisões. Gerando maior especificidade. Entendamos melhor:</p><p> Por obstrução das vias respiratórias:</p><p>Divide-se em: Por sufocação direta e por constrição cervical (esta última ainda se</p><p>divide em “estrangulamento” e “esganadura”).</p><p> Por restrição aos movimentos do tórax:</p><p>Divide-se em: Compressão torácica (sufocação indireta), Fraturas costais mútiplas,</p><p>Por Fadiga, Paralisia dos músculos respiratórios ou por espasmos.</p><p> Por modificação do meio ambiente:</p><p>Divide-se em: Por confinamento, soterramento e afogamento.</p><p> Por para respiratória centra:</p><p>Divide-se em: Traumatismo cranioencefálico, eletroplessão, e drogas depressoras do</p><p>sistema nervoso central.</p><p>13.8 – Detalhamento dos principais tipos</p><p>Citaremos agora os principais casos de asfixia na prática forense:</p><p>73</p><p>13.8.1- Sufocação</p><p>É asfixia provocada por mecanismos que obstaculizam a entrada de ar nos pulmões,</p><p>não sendo produzida pela submersão, nem pela constrição cervical.</p><p>Os seus tipos são: Direta e Indireta.</p><p> Na direta: temos obstáculos mecânicos nas aberturas aéreas (narinas, boca e</p><p>glote).</p><p> Na indireta: o indivíduo sofre o processo de asfixia por impossibilidade de</p><p>realizar movimentos de inspiração e expiração devido a força ou peso</p><p>excessivo que lhe impede.</p><p>13.8.2 - Enforcamento</p><p>É a modalidade de asfixia mecânica determinada pela constrição do pescoço por um</p><p>laço cuja extremidade se acha fixa a um ponto dado, agindo o próprio peso do</p><p>indivíduo como força viva.</p><p>74</p><p>13.8.3– Estrangulamento</p><p>É a asfixia mecânica por constrição do pescoço por laço tracionado por qualquer outra</p><p>força que não seja o próprio peso da vítima.</p><p>13.8.4– Esganadura</p><p>É a figura contundente constritiva efetivada pelas mãos do oponente ou por qualquer</p><p>parte do corpo que lhe permita, como membros superiores e inferiores do próprio</p><p>corpo.</p><p>75</p><p>13.8.5 – Confinamento</p><p>É a asfixia do indivíduo enclausurado em: Espaço restrito ou fechado; Sem renovação</p><p>de ar atmosférico; Por esgotamento de oxigênio; e Aumento gradativo de gás</p><p>carbônico.</p><p>13.8.6 – Soterramento</p><p>Ocorre quando o meio gasoso (ar) foi substituído por meio sólido (terra, areia, farinha</p><p>ou outros). A natureza jurídica desta asfixia é, na maioria dos casos, acidental,</p><p>podendo, no entanto, ser criminosa.</p><p>13.8.7 – Afogamento</p><p>É a modalidade de asfixia, na qual ocorre a troca do meio gasoso por meio líquido,</p><p>impedindo a troca gasosa necessária à respiração.</p><p>76</p><p>13.8.8 – Gases Inertes</p><p>Gerada pela permanência em ambientes saturados de gases inertes e pouco tóxicos</p><p>como: butano; metano e propano.</p><p>Nota-se que a busca da catalogação e do didatismo da matéria se faz pelo encontro</p><p>de subdivisões e domínios específicos de variedades de eventos e seus tipos de</p><p>asfixias. A medicina legal trata em reduzir as esferas de possibilidades, e assim</p><p>buscar os sinais mais específicos, para que deste modo possa restringir o seu foco</p><p>encontrando a causa morte da vítima.</p><p>As medidas a serem postas em prática em caso de asfixia variam, devido à</p><p>multiplicidade dos possíveis fatores causais, mas todas têm de ser aplicadas com</p><p>urgência. O princípio básico do tratamento da asfixia é a reativação da função</p><p>respiratória ou, no caso de recém-nascidos, o início da ventilação pulmonar. O</p><p>método mais simples é a respiração boca a boca, o qual, não obstante, apresenta</p><p>inconvenientes como a falta de assepsia. Existem equipamentos de emergência,</p><p>entre eles as máscaras faciais, os tubos orais ou orofaríngeos e as bolsas infláveis</p><p>com máscaras e válvulas, que evitam a respiração repetida de um mesmo volume de</p><p>ar. Outro recurso empregado em situações de máxima urgência, devido à obstrução</p><p>das vias respiratórias, é a incisão praticada diretamente na traqueia, técnica</p><p>conhecida como traqueotomia.</p><p>77</p><p>14 - TOXOLOGIA</p><p>A toxicologia forense tem a finalidade de identificar a presença de substâncias</p><p>químicas em casos de investigação de violência, homicídios, suicídios, acidentes e</p><p>uso de drogas de abuso.</p><p>No Brasil o número de intoxicações e óbitos causados por substâncias químicas tais</p><p>como, medicamentos, agrotóxicos e as drogas de abuso com motivos de interesse</p><p>legal, nos últimos anos têm apresentado alto índice de notificação nos principais</p><p>sistemas de registro de informação: o Sistema Nacional de Informações Tóxico-</p><p>Farmacológicas (SINITOX) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação</p><p>(SINAN), levando-se em conta os casos de subnotificação.</p><p>Tendo como objetivo conhecer os tipos de drogas de abuso, mostrar seus efeitos</p><p>adversos, e diante desses fatos este trabalho traz</p><p>também alguns efeitos que estas</p><p>substâncias causam no organismo humano, a identificação e as técnicas de análise</p><p>das drogas de abuso que é de interesse da área da toxicologia forense. Para a</p><p>realização da presente revisão bibliográfica foi realizada uma busca na literatura</p><p>baseada em trabalhos científicos. Pôde-se observar por meio dos estudos a</p><p>importância da Toxicologia Forense no controle do uso abusivo das drogas visando à</p><p>proteção do indivíduo e da sociedade.</p><p>14.2 - Toxicologia Forense: análises toxicológicas em amostras</p><p>biológicas</p><p>A coleta de amostras é uma das fases mais difíceis e delicada do processo de exame</p><p>toxicológico. As amostras de fios de cabelo e pelos são as mais complicadas de serem</p><p>executadas, devido à complexidade da matriz.</p><p>Para garantir o resultado preciso dos exames toxicológicos, é necessária a boa</p><p>execução do trabalho do coletador. Ele deve ser ético e ter cuidado para não alterar</p><p>o material colhido. Então, existe um protocolo que deve ser respeitado, começando</p><p>78</p><p>pela correta identificação do doador por meio de documento oficial com foto e</p><p>etiquetagem correta.</p><p>Além disso, deve-se ter cuidado com a transferência segura da amostra até o</p><p>laboratório de análise. Tudo isso para que possa comprovar a rastreabilidade da</p><p>amostra coletada. Após garantir a devida condição para análise, contendo a</p><p>assinatura do responsável pela coleta com a embalagem vedada sem sinais de</p><p>alteração, o analista pode iniciar o exame para averiguar substâncias toxicológicas</p><p>na amostra.</p><p>14.3 - Toxicologia Forense: Triagem da amostra biológica</p><p>No geral, o ensaio imunoenzimático é utilizado para a realização da triagem da</p><p>amostra. Quando há necessidade de realização de mais um teste, este geralmente é</p><p>realizado em cromatografia líquida ou gasosa, pois esse tipo de equipamento possui</p><p>a sensibilidade necessária para a confirmação de substâncias toxicológicas presentes</p><p>na amostra.</p><p>Um passo importante é garantir a extração adequada das substâncias de interesse</p><p>da amostra, para isso são utilizadas técnicas específicas para a detecção dessas</p><p>substâncias, variando de acordo com o analito a ser monitorado e de acordo com o</p><p>tipo de amostra a ser analisada.</p><p>79</p><p>Esse tipo de procedimento tem essa metodologia empregada de acordo com os</p><p>parâmetros internacionais, onde necessita-se de validação do método e garantia da</p><p>exatidão e reprodutibilidade do dado encontrado, evitando assim erros e falsos</p><p>positivos que podem comprometer o doador da amostra coletada.</p><p>Em relação ao resultado após a análise das amostras, é importante saber interpretar</p><p>o resultado obtido do teste. Para isso, se torna importante a interpretação de alguém</p><p>que possua conhecimento no assunto para analisar o resultado, averiguando se</p><p>houver biotransformações do analito na amostra.</p><p>Um fato importante é que para cada tipo de amostra, há um tipo de mecanismo</p><p>químico e bioquímico diferente, portanto é importante ter o conhecimento desses</p><p>mecanismos, a fim de monitorar possíveis intermediários do analito que podem ser</p><p>metabolizados e transformados pelo corpo.</p><p>Assim, é importante garantir que a execução da coleta da amostra, assim como o</p><p>emprego das técnicas analíticas de extração e detecção dos compostas sejam</p><p>executadas conforme está estabelecido nos critérios de qualidade que avaliam os</p><p>resultados obtidos, evitando assim resultados divergentes.</p><p>80</p><p>14.4 - Coleta de Sangue, Urina e Outros Tecidos</p><p>No caso de coletas in vivo, amostras como soro, urina, cabelo e conteúdo gástrico</p><p>podem ser analisadas, enquanto que em situações de post-mortem é de maior</p><p>relevância a análise de sangue, urina, conteúdo gástrico, humor vítreo e órgãos</p><p>humanos, (especialmente o fígado, mas podem ser investigados também o rim, a bile,</p><p>o pulmão, o baço, o músculo esquelético e o cérebro).</p><p>Para escolher qual amostra será utilizada nas análises toxicológicas, é importante</p><p>considerar a especificidade de cada situação, bem como o tipo de análise que se</p><p>deseja realizar, isto é, o que será investigado, a partir das suspeitas levantadas.</p><p>Isso variará de caso para caso, pois pode ocorrer de se precisar apenas de uma coleta</p><p>em específico ou casos em que mesmo com várias amostras coletadas, ainda se terá</p><p>determinada incerteza.</p><p>Nesse sentido, somente as amostras de sangue não são suficientes quando se tem</p><p>o corpo em condições de putrefação avançada, exumação do corpo ou morte por</p><p>choque traumático. Assim, é preciso apelar para outras matrizes alternativas e</p><p>complementares, a fim de que se tenha com exatidão a determinação analítica da</p><p>quantidade do provável tóxico presente no sangue.</p><p>81</p><p>82</p><p>14.5 - Encontrando o motivo da morte</p><p>Conforme a legislação europeia, em qualquer situação de suspeita de intoxicação</p><p>e/ou em que a autópsia não foi suficiente para encontrar o motivo da morte, deve-se</p><p>incluir à análise as seguintes amostras:</p><p> sangue periférico;</p><p> urina;</p><p> conteúdo gástrico;</p><p> bile;</p><p> fígado;</p><p> rim.</p><p>Uma vez que essas matrizes permitem a identificação de uma larga variedade de</p><p>grupos tóxicos, como as substâncias psicoativas, os hipnótico-sedativos, os</p><p>cardiotônicos, os analgésicos e as várias classes de pesticidas.</p><p>Por fim, cabe destacar que para garantir a reprodutibilidade dos resultados, são feitos</p><p>ensaios e, no mínimo, triplicata, sendo preciso então se ter uma quantidade de</p><p>amostra considerável, onde o ideal é sempre realizar a coleta em excesso, garantindo</p><p>assim o sucesso analítico dos resultados obtidos.</p><p>83</p><p>14.6- Aspectos post mortem de relevância toxicológica</p><p>Quando as análises laboratoriais são feitas em situação de Post Mortem, essas são</p><p>utilizadas com o intuito de investigar as causas da morte do indivíduo, por meio de</p><p>amostras de fluidos corporais e outros tecidos coletados durante a autópsia.</p><p>Para isso, é preciso que as análises laboratoriais forenses sejam realizadas em um</p><p>Instituto de Medicina Legal (IML). Isso se deve ao fato de se tratarem de situações</p><p>legais, como nos casos de crimes, violência, suicídios, acidentes ou quaisquer outros</p><p>tipos de negligência contra a vida.</p><p>Salienta-se que nesse tipo de análise, o tempo é um fator determinante, visto que à</p><p>medida em que se transcorre, torna-se cada vez mais complicado coletar amostras</p><p>de qualidade para o ensaio laboratorial devido às alterações autolíticas e putrefação</p><p>que ocorrem naturalmente após a morte.</p><p>Dessa forma, as análises devem ser feitas rapidamente, pois isso evita que os</p><p>processos de redistribuição e lise celular alterem as concentrações dos xenobióticos</p><p>no organismo.</p><p>Xenobióticos são substâncias estranhas ao corpo, que possuem a capacidade de</p><p>alterar os mecanismos funcionais do sistema neuroendócrino e a toxicidade genética.</p><p>Ainda nesse sentido, a concentração dos xenobióticos é dada de forma gradativa, o</p><p>que pode interferir diretamente na interpretação dos resultados, visto que entre o</p><p>intervalo do momento da morte e a amostragem para a autópsia as concentrações</p><p>aumentam exponencialmente, logo quanto maior o tempo para a coleta da amostra,</p><p>maior a concentração de xenobióticos nos tecidos circundantes.</p><p>84</p><p>85</p><p>14.6.1 - Ação de microrganismos post-mortem</p><p>Um outro fator que deve ser levado em conta nas análises post-mortem é quanto a</p><p>ação de microrganismos no corpo. Assim como o processo de fermentação da</p><p>glicose. Esses processos fazem com que se produza uma quantidade de álcool no</p><p>organismo. E é muito importante que isso seja levado em conta na hora da</p><p>interpretação dos resultados obtidos.</p><p>Pode haver casos em que os resultados apresentados gerem incertezas quanto à</p><p>quantidade analítica das determinadas drogas analisadas nas amostras coletadas,</p><p>decorrente de um fenômeno conhecido como Redistribuição Post-Mortem (RPM),</p><p>que nada mais é do que a difusão e redistribuição dos xenobióticos.</p><p>Nessas ocasiões, é preciso então coletar múltiplas amostras de locais diferentes do</p><p>corpo, a fim de realizar a comparação entre esses resultados e ter um panorama mais</p><p>preciso e exato sobre o resultado.</p><p>Para ajudar nas interpretações dos resultados, é fundamental que o analista tenha</p><p>conhecimento sobre o indivíduo da autópsia. Informações como estilo de vida,</p><p>antecedentes pessoais, histórico clínico, dose presumível do xenobiótico são muito</p><p>importantes. Além disso, informações sobre o local em que o corpo foi encontrado,</p><p>circunstâncias imediatas da morte, entre outras, também podem ajudar muito.</p><p>86</p><p>14.7 - Técnicas Analíticas Comumente Empregadas na Toxicologia</p><p>Forense</p><p>O procedimento analítico na Toxicologia Forense deve ser feito com todo cuidado e</p><p>conhecimento, a fim de evitar resultados errôneos.</p><p>Na figura 1 abaixo você acompanha a sequência dos procedimentos aplicados na</p><p>análise das amostras.</p><p>Assim, com relação à parte analítica, primeiramente é feito um teste de triagem.</p><p>Que tem por objetivo detectar diversas substâncias presentes na amostra coletada.</p><p>Garantindo que seja feita uma triagem nas amostras negativas. Somente após isso</p><p>que se dá início aos métodos analíticos de confirmação da substância suspeita.</p><p>Dentre as principais técnicas de análise toxicológica forense, as com maior</p><p>sensibilidade e especificidade são os imunoensaios, a cromatografia gasosa (GC) e</p><p>a cromatografia líquida (LC).</p><p>87</p><p>As técnicas cromatográficas apresentam diversos benefícios nesse tipo de análise</p><p>toxicológica. Elas podem identificar e detectar drogas e compostos secundários, pois</p><p>são técnicas analíticas de referência na Toxicologia Forense. Além disso, elas</p><p>apresentam sensibilidade, seletividade e confiabilidade nos resultados gerados. O</p><p>que promove uma análise satisfatória.</p><p>14.8 - Toxicologia Ambiental</p><p>Incide sobre os impactos dos poluentes químicos no ambiente de organismos</p><p>biológicos. Estuda os efeitos dos produtos químicos em organismos como peixes,</p><p>aves, animais terrestres e plantas.</p><p>88</p><p>A ecotoxicologia, uma área especializada da toxicologia ambiental, é voltada</p><p>especificamente para o impacto das substâncias tóxicas na população de um</p><p>ecossistema.</p><p>14.9 - Toxicologia Alimentar</p><p>Abrange vários aspectos da segurança alimentar e tem grande importância para</p><p>indústria, agências governamentais e consumidores. Estuda os mais variados efeitos</p><p>adversos produzidos por agentes químicos presentes em alimentos, sejam eles</p><p>naturais ou sintéticos.</p><p>Qualquer contaminação ou manifestação tóxica pode causar efeitos graves na saúde</p><p>da população. Por isso, uma das funções mais importantes dessa área é estabelecer</p><p>as condições nas quais os alimentos podem ser ingeridos sem causar danos.</p><p>Avalia desde substâncias</p><p>moduladoras de câncer,</p><p>toxinas microbianas (algas,</p><p>fungos e bactérias) até os</p><p>grupos de pesticidas,</p><p>poluentes orgânicos, metais, materiais de embalagem, hormônios e resíduos de</p><p>drogas animais.</p><p>15 – PSICOLOGIA JUDICIÁRIA</p><p>Psicologia Jurídica é o campo da psicologia que agrega os profissionais que se</p><p>dedicam à interação entre a psicologia e o direito. A principal função dos psicólogos</p><p>no âmbito da justiça é auxiliar em questões relativas à saúde mental dos envolvidos</p><p>em um processo.</p><p>A Psicologia Jurídica é um dos campos de conhecimento e de investigação dentro</p><p>da psicologia, com importantes colaborações nas áreas da cidadania, violência e</p><p>direitos humanos.</p><p>O termo Psicologia Forense também é utilizado para designar a psicologia jurídica,</p><p>embora menos utilizado no Brasil.</p><p>89</p><p>Um dos campos de atuação dentro da psicologia jurídica é a Psicologia Criminal, que</p><p>se dedica mais propriamente ao Direito Penal. Este tipo de psicólogo é chamado a</p><p>atuar em processos criminais de diversas formas, como na avaliação de suspeitos,</p><p>compreensão das motivações do crime e detecção de comportamentos perigosos.</p><p>O objeto de estudo da psicologia jurídica, assim como toda a psicologia, são os</p><p>comportamentos que ocorrem ou que possam vir a ocorrer, porém não é todo e</p><p>qualquer tipo de comportamento. Ela atua apenas nos casos onde se faz necessário</p><p>um inter-relação entre o Direito e a Psicologia, como no caso de adoções, violência</p><p>doméstica, novas maneiras de atuar em instituições penitenciarias, entre outros.</p><p>A Psicologia Jurídica emergiu da Psicologia do Testemunho cuja prática, em âmbito</p><p>internacional, ajudou a consolidar a Psicologia enquanto ciência, dada a necessidade</p><p>de sua contribuição na comprovação da fidedignidade de testemunhos,</p><p>principalmente com o surgimento e aplicação dos testes psicológicos, em meados do</p><p>século XX, assim como o desenvolvimento de estudos sobre os funcionamentos dos</p><p>interrogatórios, dos delitos, dos falsos testemunhos e falsas memórias etc.,</p><p>colaborando para a criação dos primeiros laboratórios de Psicologia.</p><p>No Brasil, apesar de a prática psicológica jurídica ser reconhecida apenas no ano</p><p>2000, pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP, ela teve início junto ao</p><p>reconhecimento da profissão, em 1960, por meio de trabalhos voluntários na área</p><p>Criminal, na avaliação de pessoas em situação prisional e de adolescentes infratores.</p><p>Em torno de 1979, a atuação do psicólogo na esfera jurídica é estendida à área Civil,</p><p>desenvolvendo trabalho voluntário e informal com famílias em vulnerabilidade</p><p>econômico-social, no Tribunal de Justiça de São Paulo.</p><p>A psicologia jurídica, é uma vertente de estudo da psicologia, consistente na aplicação</p><p>dos conhecimentos psicológicos aos assuntos relacionados ao Direito, principalmente</p><p>quanto à saúde mental, quanto aos estudos sócio jurídicos dos crimes e quanto a</p><p>personalidade da Pessoa Natural e seus embates subjetivos. Por esta razão, a</p><p>Psicologia Forense tem se dividido em outros ramos de estudo, de acordo com as</p><p>matérias a que se referirem.</p><p>A Psicologia Jurídica tem diversas ramificações: vai desde o cuidado da saúde mental</p><p>de funcionários de um tribunal ou fórum até casos de verificação de abuso infantil.</p><p>90</p><p>Apesar de ser uma área muito ampla, são poucos os psicólogos que se dedicam a</p><p>ela – o que significa mais possibilidades de carreira para quem busca essa</p><p>qualificação.</p><p>Podemos encontrar os seguintes objetos de estudo e prática:</p><p> Psicanálise forense (mais genérica e aborda o sistema jurídico</p><p>como um todo sob perspectivas psicológicas;</p><p> Psicologia criminal;</p><p> Psicologia obrigacional e do consumidor (também denominado</p><p>de psicologia civil);</p><p> Psicologia da família;</p><p> Psicopatologia trabalhista;</p><p> Psicologia judiciária, que também envolvem os cartórios judiciais</p><p>e extrajudiciais, devido ao aumento significativo de processos;</p><p> Psicologia e direitos humanos.</p><p>Funções do Psicólogo Jurídico:</p><p> Avaliação de psicodiagnóstico;</p><p> Assessoramento como perito a órgãos judiciais;</p><p> Intervenção: planejamento e realização de programas de</p><p>prevenção, tratamento, reabilitação e Integração ao meio social;</p><p> Planejamento de campanhas de combate à criminalidade;</p><p> Vitimologia: pesquisa e atendimento às vítimas de violência;</p><p> Mediação: alternativas à via judicial.</p><p>Dedica-se à proteção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão, através da</p><p>perspectiva psicológica. Juntamente com a Psicanálise Forense, constitui o campo</p><p>de atuação da Psicologia conjuntamente com o Direito.</p><p>Este ramo da Psicologia dedica-se às situações que se apresentam sobretudo nos</p><p>tribunais e que envolvem o contexto das leis. Desse modo,</p><p>na Psicologia Jurídica,</p><p>são tratados todos os casos psicológicos que podem surgir em contexto de tribunal.</p><p>Dedica-se, por exemplo, ao estudo do comportamento criminoso, ao estudo das</p><p>doenças envolventes de situações familiares e de separação civil. Clinicamente, tenta</p><p>construir o percurso de vida dos indivíduos no dia-a-dia na sociedade em constantes</p><p>91</p><p>relações jurídicas e todos os processos psicológicos que possam conduzido a</p><p>doenças do Consumidor, de estrutura familiar e do Trabalho.</p><p>A Psicologia jurídica não se confunde com a psicologia forense, posto que o Psicólogo</p><p>Forense, tenta descobrir a raiz do problema, uma vez que só assim se pode partir à</p><p>descoberta da solução. Descobrindo as causas das desordens, sejam elas mentais</p><p>e/ou comportamentais, também se pode determinar um processo justo, tendo em</p><p>conta que estes casos são muito particulares e assim devem ser tratados em tribunal.</p><p>O primeiro ramo da psicologia Forense a surgir foi a psicologia criminal, pois realiza</p><p>estudos psicológicos de alguns dos tipos mais comuns de delinquentes e criminosos</p><p>em geral, como, por exemplo, os psicopatas. De facto, a investigação psicológica</p><p>desta subárea apresenta, sobretudo, trabalhos sobre homicídios e crimes sexuais,</p><p>talvez devido à sua índole grave.</p><p>A psicologia forense também tem relações com a psicanálise e em especial a</p><p>psicanálise forense e a sexologia forense, traçando as causas psíquicas que levam</p><p>certos indivíduos à sexualidade doentia.</p><p>A demanda por esses profissionais tem sido cada vez maior por conta aos altos</p><p>índices de violência e de encarceramento de pessoas no país. Eles são cada vez</p><p>mais necessários nos quadros das equipes interdisciplinares dos tribunais,</p><p>defensorias e varas da Infância, da Juventude e do Idoso.</p><p>É de extrema importância o papel do psicólogo que atua nessas esferas da justiça,</p><p>contribuindo para sua efetivação e na busca de possibilidades para o bem-estar e</p><p>recuperação do indivíduo. Nesse ponto vale chamar a atenção, tendo em vista ser</p><p>essa uma questão social, pois reflete plenamente na sociedade, na qual, todos, de</p><p>alguma maneira fazemos parte. Destaca-se ainda que há um longo caminho a trilhar</p><p>no entendimento e caracterização da área.</p><p>A psicologia jurídica brasileira atinge quase a totalidade de seus setores. Porém,</p><p>ainda temos uma concentração de psicólogos jurídicos atuantes nos setores mais</p><p>tradicionais, como na psicologia penitenciária, na psicologia jurídica e as questões da</p><p>infância e juventude, na psicologia jurídica e as questões da família. Por outro lado,</p><p>permite verificar outras áreas tradicionais pouco desenvolvidas no Brasil, como a</p><p>92</p><p>psicologia do testemunho, a psicologia policial/militar e a psicologia jurídica e o direito</p><p>cível.</p><p>16 – PSIQUIATRIA FORENSE</p><p>A psiquiatria forense é um tema que merece relevo no</p><p>âmbito acadêmico. No Brasil denomina-se psiquiatria</p><p>forense como a subespecialidade da psiquiatria clínica que</p><p>traz uso dos saberes psiquiátricos à serventia do órgão</p><p>julgador, mas, para que o profissional seja apto para</p><p>desenvolver a função de perito psiquiatra forense, terá que</p><p>possuir graduação em medicina, posto que a psiquiatria</p><p>forense se organiza por meio das artes médicas.</p><p>Desse modo, analisando o prestígio da perícia médica na aplicação da lei de</p><p>execução penal, constata-se que os pareceres técnicos são cruciais, já que norteiam</p><p>todo o processo de execução da pena. Ao verificar a periculosidade social e criminal,</p><p>detecta-se, que são métodos periciais distintos, o primeiro, através do Exame de</p><p>Verificação da Periculosidade que tem como objetivo verificar se o doente mental tem</p><p>a periculosidade cessada, e, se poderá voltar ao convívio social, porém, no último, o</p><p>encarcerado é sujeitado ao Exame Criminológico que serve para certifica-se se a</p><p>periculosidade criminal está cessada, neste caso, o único beneficiado é o preso</p><p>imputável, com progressão de regime.</p><p>Em relação a psiquiatria forense é necessário ressaltar que ela é multiforme, e,</p><p>poderá ser utilizada nas áreas de atuação civis, trabalhistas, previdenciárias e</p><p>administrativas etc. No entanto, o objeto da pesquisa é a atuação do psiquiatra</p><p>forense nas causas criminais. Para sustentar a pesquisa serão utilizadas outras</p><p>ciências, quais sejam: criminologia e psicologia jurídica, ambas estão voltadas para a</p><p>análise da causa do comportamento do delinquente.</p><p>A Associação Brasileira de Psiquiatria afirma que a psiquiatria forense é uma</p><p>especialidade da psiquiatria, e vem incentivando seu ensino. Constata-se na obra do</p><p>Psiquiatra Forense, Guido Arturo Palomba (2016), que ainda existe carência desses</p><p>profissionais no Brasil e que atualmente é tudo improvisação na perícia psiquiatra</p><p>93</p><p>forense: juízes nomeiam neurologistas, psiquiatras infantis, psiquiatras clínicos, que</p><p>não poderão realizar a perícia, pois não possuem conhecimento aprofundado.</p><p>O trabalho do psiquiatra forense difere-se do psiquiatra clínico, o último estuda a</p><p>medicina, e posteriormente, se especializa na área da psiquiatria, para descobrir e</p><p>tratar as doenças mentais, com o emprego dos fármacos. Já o psiquiatra forense</p><p>labora com a junção entre Psiquiatria e Direito, e estuda o caso concreto em que</p><p>possa haver dúvidas sobre as capacidades mentais de uma pessoa, facilitando a</p><p>fundamentação do julgador em decidir sobre a responsabilidade penal</p><p>(imputabilidade) ou a ausência dela (inimputabilidade).</p><p>Verificam-se problemas tanto no contexto das ciências jurídico-penal, quanto social.</p><p>Pela falta dos psiquiatras forense, os magistrados atêm-se aos laudos dos psiquiatras</p><p>clínicos, para verificar a cessação da periculosidade social (inimputável) e</p><p>periculosidade criminal do (imputável). Os laudos dos psiquiatras clínicos serão</p><p>considerados de pouca valia, pois eles não têm conhecimentos na área da</p><p>psiquiátrica forense, para detectarem o nível de periculosidade.</p><p>Portanto, a perícia psiquiatria forense tem extremo valor para o direito Processual</p><p>Penal, pois encadeirar-se-á a parte médica com a parte judicial. Os pareceres do</p><p>perito psiquiatra forense formarão a convicção do juiz, garantindo a mais justa</p><p>aplicabilidade da lei, de acordo com o caso concreto.</p><p>Contudo, as técnicas aplicadas para verificar a cessação da periculosidade social e</p><p>criminal deverão ser realizadas pelos peritos psiquiatras forense. Os métodos</p><p>empregados por eles carecem de análise minuciosa afim de averiguarem os sujeitos</p><p>que praticaram o crime.</p><p>Entretanto, a verificação da periculosidade social diz respeito a análise</p><p>comportamental do doente mental, que estará sujeito ao tratamento. Não debelada a</p><p>periculosidade, faz-se necessário continuar o tratamento, pois é uma forma de</p><p>salvaguardar a sociedade daqueles que ainda são perigosos no seio social. De outro</p><p>modo, a cessação da periculosidade criminal é inserida para aqueles que já</p><p>praticaram algum crime e tem a possibilidade de voltar a reincidir, os únicos</p><p>beneficiados serão os próprios presos, com benefícios voltados para a</p><p>ressocialização (progressão de regime, suspensão condicional da pena ou livramento</p><p>condicional).</p><p>94</p><p>Constata-se que a psiquiatria forense no Brasil ainda é pouco estudada em termos</p><p>científicos, as universidades não abrem vagas para incentivar o ensino, por falta de</p><p>interesse do poder público. Existem vagas para especializar-se em psiquiatria clínica,</p><p>porém, para a psiquiatria forense, as vagas ainda são poucas, e, para um público</p><p>restrito. Mesmo que os psiquiatras forenses não sigam a carreira de peritos, a</p><p>administração pública deveria incentivar o crescimento da referida profissão, para que</p><p>assim despertasse o interesse dos profissionais da área médico psiquiátrica.</p><p>16.1 - A situação da psiquiatria forense em meados do século XXI</p><p>A ciência médica é um ramo de conhecimento variado e possui vários campos de</p><p>domínio de especialidades da medicina. Na</p><p>maioria das vezes essas especialidades</p><p>estarão relacionadas com a alguma estrutura física do corpo humano. A psiquiatria</p><p>clínica, por exemplo, está atrelada às questões da psique, estuda as psicopatologias</p><p>e tem o propósito de tratar e reabilitar os distúrbios da mente do ser humano.</p><p>Na concepção de Xavier; Moreira (2015, p.1) a psiquiatria clínica:</p><p>A psiquiatria estar relacionada às questões da mente humana e tem como</p><p>finalidade o estudo das perturbações psíquicas, as chamadas doenças</p><p>mentais ou transtornos mentais. Essa é denominada psiquiatria clínica que</p><p>tem como escopo diagnosticar, tratar e regenerar os distúrbios mentais.</p><p>Vale ressaltar que a preocupação da psiquiatria clínica é estudar as perturbações</p><p>mentais, diagnosticar, empregar o fármaco e recuperar aqueles que são portadores</p><p>de anormalidade cerebrais. Diferente é a forma de atuação da psiquiatria forense, que</p><p>atua articulando os conhecimentos médicos psiquiátricos com os jurídicos, buscando</p><p>compreender as causas da delinquência. A psiquiatria clínica é uma especialidade da</p><p>medicina, enquanto a psiquiatria forense é uma área de atuação da psiquiatria.</p><p>Todavia, os únicos autorizados a fazer a interseção entre a psiquiatria e o direito é o</p><p>perito psiquiatra forense, pois, além de entender sobre psicopatologias e</p><p>comportamento dos criminosos, tem o domínio das técnicas de entrevistas. Essas</p><p>técnicas facilitarão a atuação do psiquiatra forense, na descoberta de mentiras dos</p><p>sujeitos criminosos que almejam transparecerem, ser doentes mentais, no intuito de</p><p>abster-se da aplicação da lei penal.</p><p>95</p><p>Nas sucintas palavras de Palomba (2016, p.228) em relação ao desenvolvimento da</p><p>psiquiatria forense “no Brasil, a psiquiatria forense desenvolveu-se rápida e</p><p>solidariamente. Entre os grandes luminares da psiquiatria nacional (...)”. Ao referir-se</p><p>sobrea terminologia psiquiatria nacional menciona-se a psiquiatria que predomina</p><p>atualmente, instituída como psiquiatra clínica. Através dela foi desenvolvida a</p><p>psiquiatria forense.</p><p>Nesses termos, constata-se que a psiquiatria clinica é específica em diagnosticar e</p><p>empregar o fármaco. De outra banda os psiquiatras forenses além de exercer as</p><p>mesmas funções que o psiquiatra clinico também estruturarão parecer de cessão de</p><p>periculosidade dos indivíduos que cometeram crimes, juntamente com uma equipe</p><p>multidisciplinar. Nota-se deficiências nesse campo de atuação pelo número reduzido</p><p>de profissionais gabaritados. Sendo assim, descreve-la esmiuçadamente é tarefa</p><p>custosa e inviável, devido sua dimensão, como também, as poucas publicações a</p><p>respeito.</p><p>Contudo, se a medicina e a psiquiatria não tivessem chegado ao Brasil, não haveria</p><p>que se falar em psiquiatria forense. Através do nascimento delas ter-se-á a</p><p>oportunidade de conhecer uma nova espécie de perícia, que contribuirá bastante com</p><p>o Poder Judiciário, em especial, verificando a periculosidade social dos sujeitos que</p><p>tenham transtornos mentais, bem como verificarão a periculosidade criminal dos</p><p>encarcerados.</p><p>Cabe, ainda, explicitar, conforme Xavier; Moreira (2015, p.7) sobre a chegada da</p><p>psiquiatria forense no Brasil:</p><p>A chegada da psiquiatria forense ao Brasil teve forte influência de Portugal.</p><p>Pois, com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro no início do</p><p>século XIX, foram criadas as primeiras faculdades de medicina aqui, uma na</p><p>Bahia e outra no Rio de Janeiro, e com isso surgiram os primeiros relatos</p><p>científicos e acadêmicos que talvez tenham ensejado o nascimento da</p><p>psiquiatria forense brasileira.</p><p>Acontece que Portugal influenciou para que a psiquiatria forense chegasse no Brasil.</p><p>Tendo em vista que, a corte portuguesa veio para o Rio de janeiro no início do século</p><p>XIX. Nesta época foram criadas as primeiras faculdades de medicina, na Bahia e no</p><p>Rio de Janeiro, a partir disso surgiram os primeiros relatos científicos e acadêmicos,</p><p>96</p><p>facilitando o nascimento da psiquiatria forense brasileira e os primeiros relatos</p><p>científicos de psiquiatria forense começaram a surgir com esse acontecimento</p><p>Constata-se que o desenvolvimento dos cursos médicos começou a partir da chegada</p><p>dos portugueses no país. As faculdades de medicina que foram criadas naquela</p><p>época serviram para que os pesquisadores se interessassem pela psiquiatria forense,</p><p>e produzissem conhecimentos científicos.</p><p>A medicina e as especialidades médicas são importantes para toda a humanidade,</p><p>pois, sem elas não conseguiriam tratamento para certas doenças que envolvem o</p><p>corpo humano, principalmente para aquelas que são acometidas da psique</p><p>Nas precisas palavras de Palomba (2016, p. 239) preceitua sobre a domínio da</p><p>psiquiatria clínica:</p><p>A psiquiatria forense mundial ainda resiste bravamente a banalização</p><p>dominante da psiquiatria americana, mas o que também a compromete neste</p><p>momento dado de sua história é que, como fenômeno quase universalizado,</p><p>as faculdades de direito, de medicina e de psicologia, as casas de</p><p>tratamentos psiquiátricas que deveriam promover o ensino da especialidade</p><p>estão cada vez mais indiferentes à situação e, assim os grandes centros de</p><p>psiquiatria forense, com profissionais de formação, tornam-se cada vez mais</p><p>raros e a psiquiatria americana, mais dominadora.</p><p>Dessa forma, por falta de incentivo e investimento por parte do poder público, a</p><p>psiquiatria forense ainda vai ser dominada por muito tempo pela psiquiatria americana</p><p>(psiquiatria clínica). Até as casas de tratamento psiquiátrico, faculdades de direito,</p><p>medicina e psicologia que deveriam promover ensino estão cada vez mais</p><p>indiferentes com a situação, tornando assim, os profissionais em formação, cada vez</p><p>mais escassos.</p><p>Atualmente, observa-se que os juízes que não tem conhecimento da medicina e</p><p>psiquiatria forense, aceitam pareceres de psiquiatras clínicos, pareceres favoráveis,</p><p>considerados imprestáveis, dados aos inimputáveis que praticaram crimes e não têm</p><p>a mínima condição de voltar ao convívio social. A continuidade no tratamento ocorre</p><p>porque a periculosidade deles ainda não estará cessada, mas, mesmo assim, os</p><p>magistrados dão liberdade para os inimputáveis, de maneira equivocada.</p><p>97</p><p>Portanto, o Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução nº 2.162/2017,</p><p>dispõe sobre as especialidades médicas reconhecidas no Brasil, e dentre tantas</p><p>especialidades ofertadas está a psiquiatria, englobada como área de atuação a</p><p>Psiquiatria Forense. Para atuarem como psiquiatras forenses, é necessário a</p><p>certificação nessa área, a formação durará 1 ano.</p><p>Esclarece Filho et al (2016, p.73) acerca das regiões afetadas no conhecimento da</p><p>psiquiatria forense:</p><p>A heterogeneidade do Brasil, sob tantos aspectos contrastantes, não poderia</p><p>deixar de se refletir no ensino e na prática da psiquiatria forense.</p><p>Dependendo da região analisada, o ensino vai desde a total inexistência até</p><p>níveis altíssimos de especialização. Dessa forma, observa-se um</p><p>desenvolvimento importante nas regiões Sul e Sudeste, em contraste com</p><p>as regiões Norte e Nordeste.</p><p>Logo, constata-se a estagnação do ensino da perícia psiquiatria forense no Brasil.</p><p>Mas qual a causa da desproporcionalidade no ensinamento da psiquiatria forense?</p><p>Porque nas regiões Norte e Nordeste, não se tem a valorização de tal especialidade?</p><p>A resposta para as questões é certa: a falta de incentivo e investimento do Poder</p><p>Público poderá contribuir para a desvalorização desta perícia psiquiatra forense,</p><p>importante para a justiça brasileira.</p><p>Os beneficiados no ensino profissional dessa ciência, não são apenas o Poder</p><p>Judiciário, mas também a sociedade de maneira geral. Assim, por meio dos pareceres</p><p>do psiquiatra forense evitar-se-á que aqueles que possuam alto nível de</p><p>periculosidade voltem ao convívio social e causem algum mal para a sociedade, que</p><p>poderá ser irreparável, tal como a morte.</p><p>16.2 - A influência da perícia psiquiátrica na aplicação da lei de</p><p>113</p><p>17.2 - A CIÊNCIA FORENSE NO BRASIL ............................................... 118</p><p>18 - CRIMINOLOGIA ............................................................................... 121</p><p>18.1 - TEORIA DA ANOMIA: DURKHEIM ............................................... 122</p><p>18.1.1 - A NORMALIDADE DO CRIME ................................................... 124</p><p>18.2 - A UTILIDADE DO CRIME .............................................................. 125</p><p>18.3 - A FUNÇÃO DA PENA .................................................................... 126</p><p>18.4- CRIMINOLOGIA É CONHECIMENTO ESSENCIAL PARA A POLÍCIA</p><p>JUDICIÁRIA ........................................................................................................ 128</p><p>19- VITIMOLOGIA .................................................................................... 132</p><p>19.1 – VITIMOLOGIA ............................................................................... 133</p><p>19.2 - ORIGEM HISTÓRICA .................................................................... 134</p><p>19.3 - FINALIDADE DA VITIMOLOGIA .................................................... 136</p><p>4</p><p>19.4 - VITIMOLOGIA E CRIMINOLOGIA ................................................. 137</p><p>19.5 - A VÍTIMA ........................................................................................ 139</p><p>19.6 - VITIMIZAÇÃO ................................................................................ 141</p><p>20 – INFORTUNÍSTICA ........................................................................... 142</p><p>20.1 - TEORIA DO RISCO ....................................................................... 143</p><p>20.2 - ACIDENTES DE TRABALHO ........................................................ 144</p><p>20.3 - DOENÇAS DE TRABALHO ........................................................... 144</p><p>20.4 – INDENIZAÇÃO .............................................................................. 145</p><p>20.5 - PERÍCIA MÉDICA .......................................................................... 145</p><p>21 - BIBLIOGRAFIA ................................................................................. 148</p><p>5</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,</p><p>em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-</p><p>Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo</p><p>serviços educacionais em nível superior.</p><p>A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação</p><p>no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.</p><p>Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que</p><p>constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de</p><p>publicação ou outras normas de comunicação.</p><p>A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma</p><p>confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições</p><p>modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,</p><p>excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.</p><p>6</p><p>1 – INTRODUÇÃO</p><p>Vamos iniciar os estudos de Medicina Legal portanto falaremos sobre os conceitos</p><p>importantes e divisões da Medicina Legal, além do Corpo de Delito, perícia e peritos</p><p>em Medicina Legal e também os Documentos Médicos Legais. Antes de iniciar os</p><p>estudos é importante uma observação. Ao longo do estudo terão várias citações de</p><p>doutrinadores consagrados. Isso é feito com proposito único: trazer aos alunos</p><p>diversas correntes existentes. O estudo dessa parte é totalmente teórico e conceitual,</p><p>afinal, são diversas as correntes de pensamentos que, ao longo da História, moldaram</p><p>o direito.</p><p>7</p><p>2- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL</p><p>Até hoje não existe uma definição precisa do conceito de Medicina Legal. Isso se</p><p>deve ao fato da disciplina abranger muitas áreas e por guardar relação de</p><p>proximidade com as ciências jurídicas e sociais. Entretanto, vários doutrinadores</p><p>tentam conceituar a matéria. Vejamos alguns conceitos que se destacam:</p><p>De acordo com Ambroise Paré é “a arte de produzir relatórios na justiça”.</p><p>Para Nerio Rojas é a “aplicação dos conhecimentos médicos aos problemas judiciais</p><p>que podem ser por eles esclarecidos”.</p><p>Já para Afrânio Peixoto é a “aplicação de conhecimentos científicos e misteres da</p><p>justiça”.</p><p>"A arte de pôr os conceitos médicos a serviço da administração da Justiça</p><p>(Lacassagne).</p><p>"A Aplicação dos conhecimentos médico-biológicos na elaboração e execução das</p><p>leis que deles carecem" (Flamínio Fávero).</p><p>"A Aplicação dos conhecimentos médicos a serviço da Justiça e à elaboração das leis</p><p>correlatas" (Tanner de Abreu).</p><p>"O conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito,</p><p>cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução</p><p>dos dispositivos legais, no seu campo de ação de medicina aplicada" (Hélio Gomes).</p><p>"É a Medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais" (Genival V. de França).</p><p>Ou, finalmente: Medicina Legal é a ciência e arte extrajurídica auxiliar alicerçada em</p><p>um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos destinados a</p><p>defender os direitos e os interesses dos homens e da sociedade.</p><p>E, para fazê-lo, serve-se de conhecimentos médicos especificamente relacionados,</p><p>com a Patologia, Fisiologia, Traumatologia, Psiquiatria, Microbiologia e Parasitologia,</p><p>Radiologia, Tocoginecologia, Anatomia Patológica, enfim, com todas as</p><p>8</p><p>especialidades médicas e biológicas, bem como o Direito; por isso, diz-se Medicina</p><p>Legal.</p><p>Sinonímia: É muito extenso, o que demonstra que ainda não se encontrou expressão</p><p>que nomeie essa ciência e arte a serviço dos interesses jurídicos e sociais,</p><p>satisfatoriamente.</p><p>Registrá-la-emos: Medicina Legal Forense (A. Paré); Questões Médico-Legais (P.</p><p>Zacchias); Medicina Judiciária (Lacassagne); Medicina Judiciária ou dos Tribunais</p><p>(Prunelle); Jurisprudência Médica (Alberti); Medicina Política (Marc); Medicina</p><p>Forense (Sydney Smith); Antropologia Forense (Hebenstreit); Bioscopia Forense</p><p>(Meyer); Medicina Forense Jurídica (sábios de Roma); e, ainda, Medicina Pericial;</p><p>Medicina Criminal; Medicina da Lei; Biologia Legal; Medicina Crítica. Biologia</p><p>Forense; Medicina Política e Social (França).</p><p>O nome consagrado, por menos imperfeito, é Medicina Legal.</p><p>2.1 - A Medicina Legal como especialidade</p><p>Os autores divergem sobre o assunto. Há quem afirme ser a Medicina Legal</p><p>especialidade médica. Pensamos que sendo ela um conjunto de conhecimentos</p><p>médicos, paramédicos e biológicos objetivando servir às ciências jurídicas e sociais,</p><p>não é especialidade, mas sim, disciplina aplicada que admite especialismos.</p><p>França, afirma,</p><p>"é uma disciplina de amplas possibilidades e grande dimensão pelo fato de</p><p>não se ater somente ao estudo da ciência hipocrática, mas de constituir na</p><p>soma de todas as especialidades médicas acrescidas de fragmentos de</p><p>outras ciências acessórias, sobrelevando-se entre elas a ciência do Direito".</p><p>O perito médico-legal há de possuir, portanto, amplos conhecimentos de Medicina,</p><p>dos diversos ramos do Direito e das ciências em geral. Hélio Gomes asseverava ter</p><p>o perito indispensável educação médico-legal, conhecimento da legislação que rege</p><p>a matéria, noção clara da maneira como deverá responder aos quesitos, prática na</p><p>redação dos laudos periciais. Sem esses conhecimentos puramente médico-legais,</p><p>toda a sua sabedoria será improfícua e perigosa. E, mais: "o laudo pericial, muitas</p><p>vezes, é o prefácio de uma sentença".</p><p>9</p><p>Com efeito, informações</p><p>execução penal</p><p>A princípio a perícia médica psiquiatra instruirá o magistrado na aplicação correta da</p><p>norma. No sentido de verificar a cessação periculosidade do imputável como também</p><p>do inimputável. Desse modo, cumprirá o que dispõe a lei de execução penal Lei</p><p>7.210/84. Entretanto, o Estado-Juiz formará sua convicção, antes, de proferir a</p><p>sentença condenatória ou absolutória, através dos diagnósticos do psiquiatra forense.</p><p>98</p><p>Para que seja efetivadas premissas abarcadas na lei 7.210/84 é imprescindível a</p><p>atuação do perito psiquiatra forense, preleciona o art.183:</p><p>Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade,</p><p>sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a</p><p>requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade</p><p>administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de</p><p>segurança (BRASIL, 1984).</p><p>Visto que, os psiquiatras forenses averiguarão meticulosamente a substituição do</p><p>encarceramento por medida de segurança, no curso do cumprimento da pena, estes</p><p>verificarão, se o acriminado possui algum transtorno mental. Por essas razões,</p><p>apenas a demonstração do imputável em ser doente mental não lhe dá o direito de</p><p>substituição da pena pelo tratamento. Da mesma maneira, para que sejam</p><p>submetidos ao tratamento, é indispensável a realização do exame médico</p><p>psiquiátrico, assim, detectar-se-ia a existência da patologia.</p><p>Com efeito, a medida de segurança é o meio adequado para tratamento daqueles</p><p>tiveram doença mental no curso do cumprimento da pena? Conquanto o tratamento</p><p>no âmbito familiar poderá conter a ação humana criminosa do doente mental</p><p>paralelamente ao acompanhamento de psiquiatras, psicológico e assistentes sociais.</p><p>Decerto, tornar-se-ia imprescindível a atividade psiquiátrica, no sentido de analisar a</p><p>progressão do quadro clinico do imputável. Sem dúvida, os doentes mentais sentir-</p><p>se-ão mais seguros no seio familiar. Além do que, não se sentirão excluídos, como</p><p>se não pudessem viver na coletividade.</p><p>Nos dizeres de Cunha (2015, p.493) sobre a periculosidade social “no prazo mínimo</p><p>fixado pelo juiz, será realizada perícia médica para a verificação da cessação ou</p><p>permanência da situação de periculosidade do agente (...)” porquanto, o prazo mínimo</p><p>da medida de segurança será fixado pelo juiz. Consequentemente, o exame de</p><p>cessação da periculosidade social poderá ser realizado a qualquer tempo no prazo</p><p>estipulado pelo magistrado.</p><p>A finalidade da medida de segurança é o caráter curativo, posto que buscará tratar</p><p>as anormalidades psíquicas, promovendo a inserção dos doentes mentais no seio</p><p>social, sem periculosidade. Além do mais, é crucial que eles fiquem em ambiente</p><p>99</p><p>diverso dos presos submetidos a pena privativa de liberdade. No entanto, dessa</p><p>forma, o tratamento terá um resultado mais eficiente e digno.</p><p>Assim, os pareceres dos profissionais da psicologia, assistentes sociais, psiquiatras</p><p>forenses poderão ajudar na formação do juízo de certeza do magistrado. Além do</p><p>que, esses múltiplos laudos ou pareceres periciais serão usados como meio de prova</p><p>nos autos do processo criminal.</p><p>No entendimento de Marcão sobre a periculosidade social debelada “se</p><p>constatada pericialmente a cessação da periculosidade do agente, antes ou depois</p><p>do vencimento do prazo mínimo, o juiz a declarará encerrada” (MARCÃO, 2017, p.11,</p><p>grifo do autor). De certo, a periculosidade mencionada pelo autor é a social, pois,</p><p>somente ela tem duração mínima, eventualmente destinada aos inimputáveis.</p><p>De fato, não é tarefa fácil sentenciar, pois os magistrados estarão decidindo sobre</p><p>vida do sujeito que praticou o injusto penal. Realmente, tanto o juiz quanto a defesa</p><p>ficarão adstritos aos laudos dos peritos nomeados no sentido de fundamentarem a</p><p>decisão (órgão julgador). De outro lado, a defesa encontrará dificuldades em</p><p>contraditar a sentença do magistrado, tanto quanto, uma das formas de contradita-la</p><p>será com a efetuação de outra perícia.</p><p>Desse modo, os magistrados são profundos conhecedores da lei. Entretanto, na</p><p>maioria das vezes não possuem conhecimentos periciais. Assim, a defesa poderá</p><p>contraditar a sentença designando um perito de sua confiança, procurando novos</p><p>argumentos, para que possam mudar a decisão do juiz.</p><p>Portanto, durante a formação profissional, tanto de quem julga como daqueles que</p><p>realizam a defesa, poderiam adquirir conhecimentos periciais. Logo, os seus</p><p>argumentos seriam mais precisos na fundamentação de sua decisão ou na</p><p>contradição da instrução criminal, realizada pela defesa. Porém, nem sempre haverá</p><p>aprofundamento na área pericial, devido a sua falta de afinidade com áreas</p><p>especificas da área do Direito.</p><p>Expõe Filho et al (2016, p.115) acerca da avaliação pericial psiquiátrica:</p><p>O exame pericial psiquiátrico é uma espécie de avaliação psiquiátrica, cuja a</p><p>finalidade é elucidar fato de interesse de autoridade judiciária, (...)ou</p><p>eventualmente particular, sendo utilizado como prova. Tem por base e</p><p>fundamento o exame psiquiátrico clínico, valendo-se o examinador do</p><p>100</p><p>domínio da técnica de entrevista, do conhecimento da psicopatologia e de</p><p>sua capacidade diagnóstica(...).</p><p>De tal maneira, o exame pericial psiquiátrico poderá auxiliar tanto a autoridade</p><p>judiciária quanto a defesa no processo criminal. Porém, o autor menciona que ele tem</p><p>como fundamento o exame psiquiátrico clinico, assim, dispõe Filho, e significa dizer</p><p>que; por vezes, os profissionais que atuarem como perito psiquiatra forense poderão</p><p>utilizar os laudos dos psiquiatras clínicos, pois em certos casos eles optarão em não</p><p>clinicar. Talvez seja pelo livre arbítrio deles em não seguirem a carreira de psiquiatra</p><p>clínico.</p><p>Inegavelmente os laudos dados por psiquiatras clínicos farão com que se descubram</p><p>a psicopatologia acometida ao sujeito criminoso. Logo, depois saberão qual o</p><p>tratamento adequado, posto que a atuação da equipe multidisciplinar (psicólogos,</p><p>assistentes sociais, psiquiatras clínicos e forense) servirá no sentido da realização,</p><p>tanto do diagnóstico quanto do prognóstico do homem criminoso. Dado que, o</p><p>prognóstico poderá determinar o que acontecerá ao inseri-los no seio social, com</p><p>elevada periculosidade.</p><p>Averba Venturini et al (2016, p.137) sobre o mal da medida de segurança na</p><p>atualidade ‘‘é a maior violência que um indivíduo sofre, mas não só em seu direito de</p><p>liberdade, como também de singularidade, como de dignidade humana, dentre</p><p>outros(...). A par de tratar o indivíduo segregando-o”. Desta maneira, para que o</p><p>doente mental seja tratado é necessário segregar a liberdade? Logo, ao serem</p><p>enclausurados poderão regredir ao invés de progredir no tratamento, assim, o</p><p>tratamento poderá se tornar ineficaz com a aplicação da medida de segurança.</p><p>Sobre a reforma psiquiatra, a lei nº10.216/2001, em seu art. 2º, VI, expõe sobre os</p><p>direitos da população com transtornos mentais.</p><p>Art. 2º VIII “ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos</p><p>possíveis” (BRASIL, 2001).</p><p>Por mais que os direitos dos que possuem transtornos mentais estejam resguardos</p><p>na referida lei, notadamente é importante levar-se em consideração que somente</p><p>aqueles que não tem um nível elevado de periculosidade, exclusivamente, deverão</p><p>ser submetidos ao ambiente terapêutico e aos meios menos invasivos possíveis, para</p><p>que a cura deles não seja morosa.</p><p>101</p><p>Desse modo, quando o tratamento dado pelos médicos psiquiatras forense não surtir</p><p>efeitos, não há porque coloca-los no seio social, pois a família dos inimputáveis</p><p>poderá correr risco de vida, assim como a coletividade de modo geral. Dito isso, o</p><p>Estado precisa resguardar a coletividade. Além do mais, outras vidas precisam ser</p><p>protegidas. Por isso, são necessários profissionais capacitados no sentido de</p><p>averiguar a periculosidade dos criminosos.</p><p>Cabe, ainda, mencionar o art. 4º, da mesma</p><p>lei, dispõe que a internação deve ser</p><p>realizada na última hipótese, “portanto, a internação psiquiátrica só será permitida</p><p>quando os recursos extra hospitalares se mostrarem insuficientes”. Desta forma, os</p><p>acometidos pelo transtorno mental deveriam ser submetidos a internação psiquiátrica</p><p>diante da impossibilidade de trata-los em outros ambientes. Um exemplo: o ambiente</p><p>comunitário e familiar, âmbitos que poderão trazer resultados eficazes no tratamento</p><p>dos que são acometidos por transtornos mentais.</p><p>Nas definições de Carolo (2005, p.8) acerca da perícia psiquiatra “geralmente um</p><p>exame pericial em psiquiatria é composto (...) história pessoal e familiar, exame clínico</p><p>e psicopatológico, avaliações psicológicas, discursões e conclusões”. Através dessas</p><p>particularidades será averiguado o comportamento do sujeito criminoso. Assim, os</p><p>psiquiatras forenses chegarão ao diagnóstico e prognostico adequado tanto para o</p><p>imputável quanto para o inimputável.</p><p>Registre-se que a história pessoal familiar do examinando tem enorme relevância, no</p><p>sentido de verificar o desenvolvimento da personalidade da criança na infância. Desse</p><p>modo, todas as vivencias durante essa etapa da existência é preponderante, com</p><p>destino a construção da personalidade.</p><p>Por isso, os psiquiatras forenses analisarão as vivências do passado do examinando.</p><p>Em razão disso, talvez consigam detectar o que fora vivido de negativo e prejudicara</p><p>os criminosos na interação com a sociedade. Desse modo, os transtornos mentais</p><p>poderão ser tratados com medicamentos empregados por (psiquiatras clínicos ou</p><p>forense) ou com sessões de terapia realizadas por (psicólogos). Entretanto, cada</p><p>caso deve ser analisado com cautela e prudência. Afinal, o que preponderará para o</p><p>sujeito poderá ser o fator biológico, social ou familiar. No sentido da análise da</p><p>personalidade criminosa do agente delituoso.</p><p>102</p><p>Acontece que, qualquer dos fatores mencionados por Carolo poderá contribuir para a</p><p>proliferação dos transtornos mentais, desde cedo. Porquanto não existe um fator</p><p>especifico para determinar a conduta criminosa. Sendo assim, os casos sobre</p><p>imputabilidade e inimputabilidade deverão ser analisados em separado, pois cada</p><p>pessoa tem histórias de vida diferentes.</p><p>No entendimento de Rigonatti et al (2003, s/p) em relação a investigação da vida</p><p>psíquica do criminoso:</p><p>O contexto médico legal no que se refere ao estudo do crime deverá centra-se na</p><p>díade saúde mental e justiça. Não parece possível conhecer-se por completo o</p><p>homem criminoso sem a investigação de sua vida psíquica(...) sua ação tem seu</p><p>comando no psiquismo. Tudo o que ocorre na vida do homem reflete na sua estrutura</p><p>mental.</p><p>Contudo, o comportamento criminoso poderá ser identificado com estudo de outras</p><p>ciências, medicina, assistência social, criminologia, psicologia e psiquiatria forense.</p><p>Logo, essas ciências farão com que compreendam a expressão do comportamento</p><p>humano criminoso.</p><p>Em contraste, ao entendimento de Rigonatti notadamente o homem criminoso deverá</p><p>ser analisado de uma forma geral, histórico pessoal, familiar, social e os fatores</p><p>biológicos. Tão somente o estado da vida psíquica não trará resultados satisfatórios.</p><p>Adiante, poderá ser inserida a questão judicial (submetendo os infratores da lei ao</p><p>cárcere ou ao tratamento). Desse modo, o órgão julgador aplicar a justa medida</p><p>conforme os pareceres e diagnósticos dados pelos psiquiatras forenses.</p><p>Logo, toda ação humana é praticada no comando da mente. Porém, o estudo deverá</p><p>ser aprofundando na busca da compreensão dos atos delinquenciais. Com destino a</p><p>percepção da causa da ação do homem criminoso é oportuno buscarem respostas</p><p>para as seguintes perguntas: no cerne familiar, biológico e social: O sujeito criminoso</p><p>teve uma infância negligenciada e a partir disso desenvolveram o comportamento</p><p>criminoso? Existem familiares que tiveram distúrbio mental, e houve intervenção da</p><p>predisposição genética na anomalia psíquica? O seio social teve interferência no</p><p>desencadeamento da conduta criminosa? São perguntas que demandam respostas.</p><p>No entanto, para que sejam dadas é necessário a análise de cada caso</p><p>individualmente. Posto que, cada pessoa é única.</p><p>103</p><p>Então, tanto os leigos quanto os profissionais do ramo do direito, psiquiatra forense,</p><p>psicologia e assistente social, deverão ter cuidado com preconceitos. Sem dúvida</p><p>somente um diagnóstico com múltiplos profissionais detectará a anomalia psíquica</p><p>bem como a raiz da delinquência dos que praticaram a ilicitude penal.</p><p>16.3 - A verificação da periculosidade social e criminal a partir dos</p><p>pareceres psiquiátricos forenses</p><p>Inicialmente menciona-se as duas formas de realização da perícia psiquiatra forense.</p><p>O exame de verificação da cessação de periculosidade social é destinado ao</p><p>inimputável. De outra banda, o da cessação de periculosidade criminal é realizado no</p><p>imputável.</p><p>Esclarece Palomba (2016, p.155) sobre a periculosidade criminal e social:</p><p>A periculosidade criminal é a potência que o indivíduo tem para praticar</p><p>novos delitos (…) apenas se aplica em indivíduos que já praticaram delitos e</p><p>podem voltar a praticar. A periculosidade social estar relacionada com a</p><p>potência real e presumida da volta à prática de delitos relacionados aos</p><p>transtornos mentais daquele sujeito (...).</p><p>Logo, a periculosidade criminal é reconhecida em indivíduos que praticaram delitos e</p><p>vieram a ser condenados a cumprirem uma pena privativa de liberdade, têm a</p><p>possibilidade de voltarem a reincidir. Os sujeitos que nunca praticaram crimes não</p><p>poderão apresentar periculosidade, seja imputável ou inimputável, pois perante a lei</p><p>de execução penal, somente apresentam periculosidade aqueles que já praticaram</p><p>crimes.</p><p>Apesar do exame criminológico não ser obrigatório, e sim uma faculdade do juiz,</p><p>averígua-se que o magistrado não poderá conceder benefícios da execução penal</p><p>sem que haja pareceres e diagnósticos do perito psiquiatra forense, juntamente com</p><p>a equipe interdisciplinar. Contudo, é arriscado libertar os acriminados sem submetê-</p><p>los a uma análise criminológica.</p><p>Os inimputáveis, por falta de capacidade mental, apresentam periculosidade</p><p>presumida, no entanto, somente os que apresentam alto nível de periculosidade</p><p>deveriam ser submetidos às medidas de segurança, posto que praticaram conduta</p><p>104</p><p>delitiva por conta do seu desenvolvimento mental incompleto ou retardado (doença</p><p>mental).</p><p>Contudo, a motivação para não serem punidos é a inimputabilidade. Os que possuem</p><p>transtornos mentais são considerados infratores da lei penal, o fato é típico, ilícito,</p><p>porém não culpável. Por certo, eles não estarão sujeitados a pena, e sim ao</p><p>tratamento, deveriam ser tratados em ambiente menos invasivos possíveis a fim do</p><p>quadro clinico deles ter uma progressão satisfatória.</p><p>Durante o cumprimento da pena, o imputável poderá apresentar transtorno mental,</p><p>no entanto, antes dos juízes substituírem a pena privativa de liberdade por tratamento,</p><p>é necessária a comprovação da anomalia psíquica, através de exame psiquiátrico</p><p>clínico ou forense, caso em que não ficarão isentos de pena se a doença cessar.</p><p>Assim, deverão voltar para ao estabelecimento prisional para cumprimento da pena.</p><p>França (2015, p.36) esclarece a missão do perito médico legal. “(...) talvez seja essa</p><p>a mais fundamental missão da perícia médico legal: orientar e iluminar a consciência</p><p>do magistrado”. Dessa maneira, o psiquiatra forense, através dos pareceres e laudos,</p><p>formará o juízo de certeza do Estado-juiz, antes da prolação da sentença.</p><p>As perícias poderão ser falhas e demonstrarem a necessidade da reanálise dos</p><p>laudos ou pareceres periciais. O magistrado, com vistas a obter ajuda técnica</p><p>fundamental, poderá nomear o perito de ofício para atuar na demanda criminal.</p><p>Noutro ponto, a defesa e o Ministério Público deverão provocar o órgão julgador.</p><p>Com base na lei</p><p>nº 13.105/2015, em seu art. 480, §1º, o magistrado “(..) determinará,</p><p>de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia quando a matéria</p><p>não estiver suficientemente esclarecida” (BRASIL, 2015).</p><p>Em determinadas situações, o conteúdo pericial não se apresentará esclarecido.</p><p>Neste caso, as partes envolvidas no processo criminal poderão requerer a realização</p><p>de uma nova perícia, a fim de preencher as lacunas e esclarecer as dúvidas existente</p><p>no processo criminal.</p><p>No mesmo contexto legal: “a segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre</p><p>os quais recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos</p><p>resultados a que está conduziu”. Assim, a primeira perícia não será desconsiderada,</p><p>pois, a nomeação de outro perito é para corrigir eventual omissão da perícia anterior,</p><p>105</p><p>quanto aos fatos e aos resultados apresentados pelo perito incumbido da realização</p><p>da perícia.</p><p>Beccaria (2001, p.191) expõe sobre a motivação para pratica delituosa “para um</p><p>motivo que leva os homens a cometer um crime, há mil outros que os levam a ações</p><p>indiferentes”. Em regra, toda pratica criminosa é impulsionada por uma vontade íntima</p><p>e particular do agente. As variáveis da motivação dos crimes são diversas. Diante</p><p>disso, os atos delinquenciais poderão ocorrer em meio aos choques de paixões, dos</p><p>sentimentos da dor e da vingança etc.</p><p>As ações indiferentes poderão resultar no cometimento de um crime. Trata-se</p><p>daqueles crimes praticados sem motivo, na primeira análise. Tal que, a motivação</p><p>poderá ser o transtorno mental. Assim, os inimputáveis, em tese, agem de forma</p><p>inesperada quando estão em surto (delírios e alucinações). São considerados</p><p>anormais psiquicamente e precisam de ajuda medicamentosa e terapêutica na</p><p>contenção das ações agressivas e possivelmente criminosas.</p><p>Nesse ínterim, Sá (2007, 191) dispõe sobre a perícia realizada no imputável:</p><p>O exame criminológico é uma perícia (...) visa o estudo da dinâmica do ato</p><p>criminoso, de suas “causas” dos fatores a ele associados. Oferece a primeira</p><p>vertente o diagnóstico criminológico. A vista desse diagnóstico, conclui-se</p><p>pela maior ou menor probabilidade de reincidência (...).</p><p>Nesse ponto, o exame criminológico visa detalhar o teor da periculosidade criminal</p><p>do delinquente, como também a probabilidade de sua correção. A primeira análise</p><p>versa sobre o diagnóstico do criminoso. Em seguida, será analisado o prognostico do</p><p>acriminado com vistas a garantir a reinserção social. Dessa maneira, a equipe</p><p>multidisciplinar ajudará na análise do desenvolvimento do criminoso, bem como as</p><p>causas da delinquência e os fatores associados a ela: biológico, psicológico e social.</p><p>Sendo assim, é importante buscarem o histórico pessoal de cada sujeito criminoso,</p><p>pois cada pessoa é única e os diagnósticos e prognósticos tendem a serem</p><p>diferentes. Assim, os resultados das análises poderão divergir.</p><p>No entendimento de (FREITAS, 2011, s/p apud SONIA, 1984, s/p) o psicólogo jurídico</p><p>deverá ter atenção:</p><p>Quer no atendimento à vítima, quer na escuta ao réu, o psicólogo jurídico</p><p>deve demonstrar alta capacidade de ouvir e de entrevistar, visto que a partir</p><p>106</p><p>da fala do outro é que elaborará grande parte de seu parecer e balizará seu</p><p>posterior trabalho de perícia. A perícia é um procedimento realizado para que</p><p>a verdade dos fatos se torne mais visível, para favorecer a justiça e para</p><p>evitar que alguém seja culpado indevidamente. Ademais, é importante que o</p><p>psicólogo jurídico consiga transmitir seus conhecimentos e produções</p><p>técnicas com clareza, já que juízes, advogados, procuradores e outros</p><p>profissionais do Direito não têm obrigação de deter conhecimentos</p><p>psicológicos em profundidade.</p><p>De acordo com a contribuição de Freitas, citado por Sonia, a fala do encarcerado é</p><p>um dos elementos para a elaboração do parecer do psicólogo jurídico. Desta forma,</p><p>a capacidade deles em ouvir fará com que descubram o que está por trás do discurso</p><p>do apenado. No entanto, é necessário ir além, pois, às vezes, poderá haver fontes</p><p>externas que comprometeram o discurso do réu: má alimentação ou até o calor do</p><p>ambiente em que se encontram.</p><p>A forma de atuação do psiquiatra forense é distinta, ele analisará o estado</p><p>comportamental do delinquente e procurará identificar se os agentes externos</p><p>comprometeram o seu discurso. Sendo assim, o psicólogo se prende ao discurso dos</p><p>criminosos, em contrapartida o psiquiatra forense procura diagnosticar as causas das</p><p>expressões do inimputável ou imputável.</p><p>Assim, é preciso diagnosticar o apenado com mais profundidade. A realidade fática</p><p>precisa estar visível para os julgadores, com vistas a garantir um julgamento justo e</p><p>imparcial. A elaboração dos laudos, pelos psicólogos, deverá ser realizada com</p><p>clareza, a fim de que se entenda o que está contido no seu parecer. Da mesma</p><p>maneira acontece a atuação dos psiquiatras forenses. O jurista não tem a obrigação</p><p>em possuir conhecimentos psiquiátricos e psicológicos, no entanto, acredita-se que</p><p>deveriam desenvolver com mais profundidade seus conhecimentos pericias, pois são</p><p>de extrema importância para o entendimento completo das circunstâncias que rodeio</p><p>o fato.</p><p>Sustenta Sumariva (2017) que “(...) a interrupção dos reais motivos que conduzem o</p><p>cometimento dos ilícitos penais é uma forma de prevenção da criminalidade”.</p><p>Acontece que, a criminalidade precisa ser prevenida e para que isso aconteça, é</p><p>necessário descobrir os reais motivos que conduzam a criminalidade.</p><p>107</p><p>E nesse cenário, uma das formas de prevenção da criminalidade é buscar a raiz da</p><p>delinquência, e aplicar políticas públicas efetivas para os delinquentes: oportunidade</p><p>de emprego, cursos profissionalizantes com bolsas remuneradas com intuito de que</p><p>eles saiam do mundo do crime.</p><p>Sendo assim, as condutas delitivas poderão ser geradas pela falta de educação e</p><p>ausência do aspecto socioeconômico. Isso não significa que os crimes serão sempre</p><p>cometidos por pessoas de classe baixa e sem instrução educacional. Esses fatores</p><p>contribuirão no sentido de que o sujeito adentre o mundo do crime, pois não</p><p>encontram oportunidades na sociedade.</p><p>Vale ressaltar que nem todos irão pelo mesmo caminho. É necessário analisar o</p><p>contexto de vida de cada indivíduo. Os sujeitos da classe alta poderão cometer crimes</p><p>tão cruéis quanto os da classe baixa. Por exemplo: a pedofilia, prática silenciosa que</p><p>desestrutura famílias e corrompem a infância de muitas crianças, sem que se</p><p>estabeleça um padrão de idade e classe econômica do criminoso.</p><p>Portanto, o ambiente em que o indivíduo vive na infância poderá influenciar a</p><p>construção da personalidade criminosa. Assim, é essencial interromper os motivos</p><p>que a conduzem a criminalidade. Desse modo, fará com os indivíduos desviantes se</p><p>reestruturem junto à sociedade e sejam agentes transformadores.</p><p>Por esse motivo, o papel da família é de grande valia, na vigilância e interrupção dos</p><p>fatores que influenciam a personalidade criminosa, de modo que a falta de orientação</p><p>e cuidado dos pais, possibilitará que os menores adquiriram transtornos mentais ou</p><p>até personalidades criminosas. Dessa forma, os pais deverão educar os infantes até</p><p>que tenham seu discernimento completo. Caso contrário, o seio social poderá ficar</p><p>com o encargo da instrução deles, provavelmente, trará malefícios, pois poderão ir ao</p><p>encontro da criminalidade.</p><p>Com base nos estudos de (GONÇALVES, 2013, p.37 apud CORRÊA; et al, 1982,</p><p>p.60-61):</p><p>(...) todas as mães, sendo conscientes de que as crianças perversas,</p><p>rebeldes, violentas, impulsivas, indiferentes e desatentas são as principais</p><p>que precisam receber cuidados especiais para que, assim, não se tornem</p><p>elementos perigosos em nosso meio social.</p><p>108</p><p>Diante do exposto, os cuidados especiais também deverão ser dados pelo genitor,</p><p>cuidador ou tutor. Com as atitudes de proteção e cuidado,</p><p>possibilitarão que os</p><p>incapazes não sejam elementos da criminalidade, uma vez que a conduta criminosa</p><p>poderá ser projetada no seio social, por conta das negligências familiares.</p><p>Com base nos estudos de Sumariva (2017) “o comportamento do criminoso é</p><p>analisado como uma unidade biopsicossocial e não tão somente, como um elemento</p><p>psicopatológico”. Dessa forma, o indivíduo não deverá ser analisado como uma</p><p>unidade psicopatológica. Os atos delinquências deverão ser averiguados com mais</p><p>extensão, pois, nem todos os criminosos serão doentes mentais. Os estudos</p><p>biológicos, psicológico e social ajudarão na compreensão da conduta criminosa no</p><p>sentido de averiguar se tal advém de um problema social, psicológico ou</p><p>hereditariedade. Os fatores abordados anteriormente serão determinantes no</p><p>reconhecimento dos fatores que ocasionou a delinquência do acriminado.</p><p>O Estado-Juiz, autoridade administrativa ou diretor do estabelecimento prisional não</p><p>detêm da capacidade técnica para a análise do comportamento satisfatório do</p><p>acriminado, pois teriam que ter formação em psiquiatria forense no sentido de</p><p>detectarem o que há por trás da linguagem corporal do apenado. Dessa forma, os</p><p>pareceres técnicos dos peritos serão de grande valia para o reconhecimento da</p><p>capacidade mental de cada um dos agentes que possam estar envolvidos em práticas</p><p>criminosas, além de avaliar a possibilidade de cada um retornar ao convívio social,</p><p>extramuros.</p><p>Finalmente, o papel do psiquiatra forense na seara criminal e a verificação da</p><p>cessação da periculosidade social e criminal, tanto do inimputável quanto do</p><p>imputável. Contudo, a análise efetuada permitiu compreender que os exames de</p><p>verificação da periculosidade deverão ser analisados sob dois enfoques distintos: o</p><p>exame de verificação da periculosidade social e o exame criminológico. Com eles,</p><p>averiguar-se-ão os pontos biológicos, psicológicos e sociais para que sejam</p><p>estruturados diagnósticos e prognósticos corretos, necessários ao estudo e aplicação</p><p>do Direito.</p><p>Assim sendo efetivamente demonstrado, na primeira seção constata-se a estagnação</p><p>do ensino da psiquiatria forense no Brasil, com foco nas regiões norte e nordeste,</p><p>assim apresentadas como as mais afetadas. Desse modo, percebe-se que a</p><p>109</p><p>psiquiatria clínica dominará no Brasil por muito tempo, em razão da falta de</p><p>investimento do Poder Público e incentivo das entidades que deveriam promover o</p><p>ensino as faculdades de direito, medicina, psicologia e as casas de tratamentos</p><p>psiquiátricas. A partir do exposto, assevera-se que a origem da psiquiatria forense no</p><p>Brasil possui como marco a vinda da corte portuguesa, em meados do século XIX e,</p><p>com isso, foram criados os primeiros cursos médicos no Rio de Janeiro e na Bahia,</p><p>ocasião em que se obtém os primeiros relatos científicos da perícia psiquiátrica.</p><p>Visto que, a psiquiatria forense surgiu por meio da psiquiatria clínica. A última labora</p><p>com os diagnósticos dos transtornos mentais e tratamentos adequados aos que</p><p>possuem anormalidades cerebrais. Seus laudos servirão como meio de comprovação</p><p>do transtorno mental na demanda criminal. O psiquiatra forense atuará com a</p><p>interseção entre a Psiquiatria e o Direito, bem como resolvendo causas de interesse</p><p>da justiça. Entretanto, os seus pareceres ajudarão o Magistrado a decidir sobre a</p><p>responsabilidade penal (imputabilidade) ou a ausência dela (inimputabilidade), como</p><p>também verificarão a cessação da periculosidade.</p><p>Constata-se que o criminoso é analisado como uma unidade biopsicossocial e não</p><p>como um elemento psicopatológica. A primeira analisa o comportamento do criminoso</p><p>através de alguns aspectos, a saber: biológico, psicológico e social. O primeiro deseja</p><p>conhecer o comportamento criminoso através dos genes biológicos que ajudam a</p><p>detectar anormalidades nos cérebros dos criminosos. De outro lado, a matéria</p><p>psicológica oportunizará uma análise sobre a linguagem corporal do acusado, bem</p><p>como eventuais dissimulações. A última tende a analisar o criminoso no meio social,</p><p>verificando se há influência sobre a personalidade do homem criminoso.</p><p>Dessa forma, para analisar a raiz da delinquência e o que ocasionará a pratica delitiva</p><p>é necessário estudar o comportamento do sujeito desde os primeiros anos de vida.</p><p>Os desvios sociais na infância contribuirão para que adquiram algum transtorno</p><p>mental ou até influenciarão às práticas criminosas, muito embora não exista fator</p><p>especifico para determinar a conduta delinquencial.</p><p>Destaca-se que, antes da demanda criminal chegar ao Poder Judiciário, é viável que</p><p>o Estado, sociedade e a família se unam para proteger o infante, assim, com vistas a</p><p>evitar o desenvolvimento de personalidades criminosas. A sociedade também precisa</p><p>110</p><p>ser protegida dos sujeitos encarcerados e submetido a medida de segurança com alto</p><p>grau de periculosidade. Desse modo, é uma forma de prevenção da criminalidade.</p><p>Como foi abordado, os laudos periciais, de natureza clínica, são considerados</p><p>ineficientes em estruturar um parecer de cessação da periculosidade, pois neles não</p><p>há especificidade necessária para a realização da perícia medico psiquiátrica.</p><p>Conforme evidenciado, o psiquiatra clínico especializa-se em psiquiatria clínica e, em</p><p>contrapartida, o psiquiatra forense subespecializa-se em psiquiatria forense, que lhe</p><p>garante o exercício da função de perito. Desse modo, os psiquiatras forenses,</p><p>juntamente com a equipe multidisciplinar, psicólogos e assistentes sociais, formarão</p><p>a convicção do Magistrado no intuito de verificar a periculosidade dos sujeitados ao</p><p>cárcere e à Medida de Segurança.</p><p>Acerca da Medida de Segurança, destaca-se que deveria ser usada como última</p><p>alternativa para o tratamento daqueles que possuem transtornos mentais e praticam</p><p>o injusto penal. O tratamento no âmbito familiar ou comunitário, em conjunto com</p><p>acompanhamento psiquiátrico e psicológico, trará efeitos mais eficazes, ensejando</p><p>reinseri-lo na coletividade sem periculosidade.</p><p>De fato, a perícia psiquiátrica forense influenciará na aplicação na lei, a exemplo da</p><p>Lei de Execução Penal, posto que com base nos pareceres dos psiquiatras forenses,</p><p>os indivíduos que apresentam qualquer distúrbio cerebral deverão submeter-se a</p><p>Medida de Segurança e os imputáveis serão submetidos ao cárcere. Sendo assim,</p><p>os julgadores deverão ter prudência antes de formarem sua convicção, além de</p><p>cercarem-se de todo o arcabouçou instrumental que viabilize o julgamento tanto dos</p><p>inimputáveis quanto dos imputáveis.</p><p>Por fim, os conhecimentos científicos acerca da perícia psiquiátrica forense poderão</p><p>orientar os magistrados e facilitar com que os acadêmicos, bacharéis em direito e a</p><p>defesa da demanda criminal compreendam sobre as condutas delinquenciais. Então,</p><p>se o sujeito que praticou ilícito penal tiver elevado grau de periculosidade carecerá de</p><p>medidas positivas e efetivas do estado, a fim de reequilibrar a estrutura social e impor</p><p>medidas pedagógicas, além de garantir que seu retorno seja desenhado pela figura</p><p>da ressocialização.</p><p>111</p><p>17- POLICIOLOGIA CIENTÍFICA</p><p>Apesar dos avanços tecnológicos que acompanham a Criminalística ou Ciência</p><p>Forense atualmente, a utilização de técnicas voltadas para a elucidação de crimes</p><p>remonta a épocas pré-científicas. Entretanto, foi a partir do século XVI que se</p><p>promoveu uma sistematização de dados de maneira a formar um corpo de</p><p>conhecimento estruturado.</p><p>Para alguns, a Criminalística seria filha da Medicina Legal. No entanto, para outros as</p><p>origens dessas ciências se confundem. Na realidade, as diferentes disciplinas que</p><p>atualmente compõem a Ciência Forense tiveram origem, na maioria das vezes,</p><p>independente e, em alguns casos, até incidental. A Criminalística como a</p><p>conhecemos teria seu início quando Hans Gross, no final do século XIX, propôs que</p><p>os métodos da Ciência moderna fossem utilizados para</p><p>solucionar casos criminais.</p><p>Em 1908, foi criado o “Instituto de Polícia Científica” na Universidade de Lausanne na</p><p>França. Todavia, fora da Europa, as instituições voltadas às atividades criminalísticas</p><p>foram tardias. Apesar de originada na Academia, a Criminalística foi aos poucos</p><p>sendo tutelada pelo estado e incorporada às forças policiais. A criação de laboratórios</p><p>policiais nos EUA, ocorreu entre 1920 e 1930 e na década de 1950, a solicitação do</p><p>trabalho pericial científico já se tornara rotina aceita pelas autoridades judiciais e</p><p>policiais.</p><p>Semelhante ao restante do mundo, no Brasil, a origem da Criminalística confunde-se</p><p>com a da Medicina Legal, deixando, ainda no início, a Universidade. Os primeiros</p><p>estudos de vestígios de disparos em armas de fogo e a produção de reagentes para</p><p>a identificação de manchas de sangue foram feitos por peritos legistas.</p><p>112</p><p>Nesse estudo, a partir do levantamento de manuais técnicos, realizou-se uma</p><p>caminhada pela história da Criminalística, procurando demonstrar suas origens e seu</p><p>desvio dos Centros de Pesquisa e Universidades em direção das instituições policiais.</p><p>Pretendeu-se também, oferecer pistas que demonstrassem que esse</p><p>redirecionamento, em grande parte, foi responsável pelas perdas na evolução do</p><p>conhecimento criminalístico, principalmente em regiões periféricas.</p><p>17.1 - O que é Criminalística?</p><p>O termo Criminalística foi lançado por Hans Gross para designar o “Sistema de</p><p>métodos científicos utilizados pela polícia e pelas investigações policiais”. Em uma</p><p>definição do 1° Congresso Nacional de Polícia Técnica, ocorrido em São Paulo no</p><p>ano de 1947, a Criminalística seria a “disciplina que tem como objetivo o</p><p>reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais extrínsecas, relativos ao</p><p>crime ou à identidade do criminoso”. Podia-se ainda definir a Criminalística não como</p><p>uma ciência, mas como a aplicação do conhecimento de diversas Ciências e Artes.</p><p>De um modo geral, esta utiliza métodos desenvolvidos e inerentes às diversas áreas</p><p>para auxiliar e informar as atividades policiais e judiciárias de investigação criminal.</p><p>Em uma análise atual, a Criminalística é uma ciência aplicada que utiliza conceitos</p><p>de outras ciências firmadas nos princípios da física, da química e da biologia, no bojo</p><p>de métodos e leis próprias embasadas nas normas específicas constantes na</p><p>legislação, principalmente a processual penal. Não devemos confundir o campo da</p><p>Criminalística com o da Medicina Legal. Embora ambas se responsabilizem pelos</p><p>exames de corpo de delito e, assim, apresentem interseção em vários momentos, a</p><p>Medicina Legal tem como objetivo os exames de vestígios intrínsecos (na pessoa),</p><p>relativos ao crime.</p><p>Durante sua evolução, várias foram as denominações doutrinariamente impróprias</p><p>dadas à Criminalística. Essa Ciência foi chamada de Criminologia Científica; Ciência</p><p>Policial; Investigação Criminal Científica; Policiologia, os quais se aplicam também à</p><p>administração policial e aos métodos de elucidação geral. O termo Criminalística é,</p><p>na verdade, oriundo da escola alemã, sendo utilizado por toda Europa, já naquela</p><p>época os termos “Kriminalistik e Criminalistique”. O próprio termo Ciência Forense</p><p>não é sinônimo de Criminalística em toda parte do mundo. Para Gialamas, Ciência</p><p>113</p><p>Forense deve ser definida como a aplicação das ciências à matéria ou problemas</p><p>legais cíveis, penais ou mesmo administrativos. Dessa forma, a Criminalística seria</p><p>apenas uma das matérias da Ciência Forense.</p><p>17.1.1- As Origens da Criminalística</p><p>Apesar dos avanços tecnológicos que acompanham a Ciência Forense na atualidade,</p><p>a utilização de técnicas específicas voltadas para a elucidação de crimes e</p><p>indiciamento de criminosos remonta a épocas pré-científicas. Um exemplo do uso da</p><p>habilidade e imaginação individual relacionado à resolução de crimes pode ser</p><p>vislumbrado no texto bíblico de em Daniel: no século VI a.C., Daniel com grande</p><p>perícia foi capaz de provar ao rei da Babilônia, Ciro, o Persa, que as oferendas</p><p>prestadas ao ídolo Bel eram, na verdade, consumidas pelos sacerdotes e seus</p><p>familiares. Para tanto, Daniel fez que espalhassem cinzas por todo o piso do templo,</p><p>onde eram colocadas diariamente oferendas. No dia posterior, verificou que, apesar</p><p>da porta continuar lacrada, pegadas compatíveis com a dos sacerdotes eram</p><p>observadas no chão e que as oferendas haviam sido consumidas.</p><p>Já no século III a.C. há a clássica história do “Princípio de Arquimedes”. Conta</p><p>Vitrúvio, que o rei Hierão de Siracusa mandou fazer uma coroa de ouro. Entretanto</p><p>quando a coroa foi entregue, o rei suspeitou que o ouro fora trocado por prata. Para</p><p>solucionar tal dúvida, o rei pediu que Arquimedes investigasse o fato. Arquimedes</p><p>pegou uma vasilha com água e mergulhando pedaços de ouro e prata, do mesmo</p><p>peso da coroa, verificou que o ouro não fazia a água subir tanto quanto a prata. Por</p><p>fim, inseriu a coroa que por sua vez elevou o nível da água até altura intermediária,</p><p>constatando então que a coroa havia sido feito com uma mistura de ouro e prata.</p><p>Assim desvendou-se a fraude e desmascarou-se o artesão.</p><p>A fase pré-científica da Criminalística também pode ser observada em informes da</p><p>antiga Roma descritos por Tácito: Plantius Silvanus, sob suspeita de ter jogado sua</p><p>mulher, Aprônia, de uma janela foi levado à presença de César. Este, por sua vez, foi</p><p>examinar o quarto do suposto local do evento e encontrou sinais certos de violência.</p><p>O relato deixa claro que, desde a antiguidade foram desenvolvidas técnicas e exames</p><p>com o intuito de solucionar crimes.</p><p>114</p><p>Na verdade, a necessidade de utilizar conhecimentos técnicos na elucidação de</p><p>crimes já era observada desde o séc. XVIII a.C., em artigos do Código de Hammurabi.</p><p>No entanto, a polícia de investigação se originou em Roma com a lei Valéria (82 a.C.)</p><p>que instituía dois questores (quoestores parricidii) para presidirem os trabalhos</p><p>criminais. Porém, nada técnico-científico sistematizado, os orientava, persistindo</p><p>assim por quase mil e quinhentos anos.</p><p>Foi somente no século XVI que se observou uma sistematização de dados de maneira</p><p>a formar um corpo de conhecimento estruturado. Isso ocorreu inicialmente com os</p><p>trabalhos de Ambroise Paré sobre ferimento por arma de fogo em 1560, os quais</p><p>foram seguidos por estudos de Paolo Zachias em 1651, este último sendo</p><p>considerado o Pai da Medicina Legal. Na realidade a diferentes disciplinas que</p><p>atualmente compõem a Ciência Forense tiveram origem, na maioria das vezes,</p><p>independente e, em alguns casos, até incidental como podemos vislumbrar nos</p><p>exemplos da Papiloscopia e da Balística forense que seguem:</p><p>Em 1563, João de Barros, publicava em Portugal suas observações sobre a obtenção</p><p>de impressões palmares e plantares nos contratos na China. Entretanto, as primeiras</p><p>referências sobre as papilas epidérmicas foram descritas no século XVII por Malpighi,</p><p>na Itália, e por Nehemidr Crew, na Inglaterra. As impressões papilares e datilares</p><p>também foram alvo do estudo de Purkinje, na Alemanha. A real sistematização de</p><p>conhecimentos no campo da identificação humana surgiu com Bertillon e seu método</p><p>antropométrico que dominou o século XIX.</p><p>No início da Revolução Científica, cabia à Medicina Legal toda pesquisa, busca e</p><p>interpretação de elementos relacionados à materialidade do fato penal e não só o</p><p>exame do corpo humano. Posteriormente, com o advento dos inúmeros ramos da</p><p>ciência, a Criminalística foi ganhando terreno, criando seus próprios métodos e</p><p>maneiras de correlacionar esses conhecimentos em prol da investigação criminal.</p><p>Conforme Codeço, a Criminalística é filha da Medicina Legal. No entanto, para Dorea,</p><p>não seria possível distinguir a precedência da Medicina Legal, uma vez que as origens</p><p>se confundem. Isto se deveria à indeterminação temporal do desejo humano de</p><p>conhecer a verdade dos fatos quando seu</p><p>semelhante é vítima de uma morte violenta,</p><p>por exemplo. Apesar de alguns insistirem que a Criminalística faz parte da Medicina</p><p>Legal, segundo Porto a própria Medicina Legal faz parte da Criminalística que seria</p><p>115</p><p>um sistema onde se reúnem diversos conhecimentos oriundos de várias ciências e</p><p>algumas artes.</p><p>Um dos primeiros registros da origem de um ramo da Medicina Legal preocupado</p><p>com o exame dos Locais de Crimes, por exemplo, data de 1248, quando surgiu na</p><p>China o livro intitulado Hsi Yuan Lu - “Registro Oficial da Causa de Morte”. Segundo</p><p>Fávero o começo da era científica da Medicina Legal teve início em 1575, na França,</p><p>com Ambrósio Paré. Embora, Paré tenha reunido vários trechos desta disciplina,</p><p>segundo Lima não representava um corpo doutrinário, metódico e sistemático desta</p><p>ciência. Em 1601 apareceram as “Questões Médico-Legais” de Paulo Zacchia, a</p><p>quem esse mesmo autor considera o fundador desta ciência. No século XVIII a</p><p>Medicina Legal se constituiu como disciplina científica, definitivamente.</p><p>Em resumo, foi a partir 1844 quando uma bula do Papa Inocêncio VIII recomendou a</p><p>intervenção médica nas pesquisas criminais, que os trabalhos nesta área tomaram</p><p>verdadeiro fôlego. A origem do uso das impressões papilares para a identificação de</p><p>criminosos, no entanto, surgiu em 1877, quando William Herschel, funcionário</p><p>administrativo britânico na Índia, sugeriu um método de identificação de pessoas para</p><p>o Inspetor Geral da Prisão de Bengala. Seus estudos de mais de 20 anos não foram</p><p>levados em consideração na época pois seriam resultado de delírio de Herschel, o</p><p>qual apresentava saúde debilitado.</p><p>De forma Paralela e independente, o médico escocês Henry Faulds, trabalhando em</p><p>Tóquio, observou marcas de dedos em cerâmica japonesa pré-histórica, o que o levou</p><p>a propor um possível sistema de classificação baseado nas impressões digitais. Este</p><p>trabalho foi enviado a Charles Darwin para apreciação. No entanto, devido ao estado</p><p>precário de saúde, o pai da teoria da evolução passou o material para seu primo</p><p>Francis Galton, um antropologista britânico. Alguns anos depois, Francis Galton após</p><p>examinar e sistematizar os trabalhos de Fauld e de Herschel, publicava o livro</p><p>"Fingerprints", estabelecendo os princípios de individualidade e permanência das</p><p>impressões digitais. Os resultados permitiram o desenvolvimento de um sistema de</p><p>classificação que deu origem ao Sistema Galton-Henry. Este sistema foi introduzido</p><p>na Índia em 1897, e na Inglaterra e Estados Unidos em 1901.</p><p>Na Argentina, Juan Vucetich elaborou seu próprio sistema de classificação de</p><p>desenhos papilares, com base no trabalho dos ingleses, sendo prontamente utilizado</p><p>116</p><p>pela Polícia Argentina, a partir de 1891, com o nome “icnofalangometria”. O trabalho</p><p>de Vucetich possibilitou à justiça de Necochea, província de La Plata, condenar</p><p>Teresa Rojas pelo homicídio brutal de seus dois filhos ao identificar as impressões de</p><p>seus dedos repletos de sangue na arma.</p><p>Já a Balística Forense, de acordo com Dorea, Stumvoll e Quintela, teve como</p><p>iniciativa estudos de Boucher do ano de 1753, na França. Em 1835, na Inglaterra,</p><p>Henry Goddard notou um defeito num projétil retirado do cadáver de uma vítima. Na</p><p>casa de um dos suspeitos ele encontrou um molde para projéteis que produzia defeito</p><p>semelhante padrões nele moldados. Fazendo com que o assassino fosse condenado,</p><p>Goddard tornou-se o precursor da Balística Forense.</p><p>Apenas na década de 1910, que Calvin Goddard publicou seu trabalho sobre</p><p>comparação de armas de fogo. No entanto, foi Alexandre Lacassangne (1844-1921)</p><p>que primeiramente percebeu a importância do estriamento deixado nos projetis após</p><p>disparos. Este perito vinculou os estriamentos com o cano raiado de uma arma de</p><p>fogo. Apesar das iniciativas, para Carvalho, somente após a criação do microscópio</p><p>de comparação, na década de 20 do século XX, que a Balística Forense ganhou</p><p>notoriedade e passou a ser aceita irrestritamente nos tribunais.</p><p>Ainda segundo Carvalho, a Criminalística, como a conhecemos, teria seu começo no</p><p>final do séc. XIX, quando Hans Gross, Professor e Magistrado, ao perceber que os</p><p>métodos utilizados pela polícia, baseados na tortura e castigos corporais, não mais</p><p>se mostravam eficazes. Assim, propôs que os métodos da Ciência moderna fossem</p><p>utilizados para solucionar crimes. A partir do estudo de diversas ciências produziu a</p><p>obra “Handbuch für Untersuchungsrichter als System der Kriminalistik”, ou</p><p>simplesmente “System der Kriminalistik”, que pode ser traduzido como “Manual para</p><p>Juízes de Instrução”. A literatura deixa dúvidas quanto a data da primeira edição deste</p><p>trabalho: 1870, 1883 ou após 1890.</p><p>Em continuação, Edmond Locard, médico e advogado, aluno de Lacassagne e de</p><p>Bertllon, passou a estudar os indícios deixados pelos criminosos nos locais de crime.</p><p>Em 1910, Locard criava o Laboratório de Polícia Técnica de Lion.</p><p>Apesar de contraditório, a origem da Criminalística pode ser vislumbrada até mesmo</p><p>na ficção dos romances policiais. Antes do juiz Hans Gross publicar seu trabalho,</p><p>Edgar Alan Poe publicara “Os crimes da Rua Morgue”, “A Carta Roubada” e O Mistério</p><p>117</p><p>de Marie Roget”, onde apresentava, pela primeira vez, a figura do detetive Técnico-</p><p>Científico. No entanto, foi após Conan Doyle publicar em 1887 “Um estudo em</p><p>vermelho” com Sherlock Holmes que a história policial ganha caráter sistemático e</p><p>científico. No livro de 1883 do autor Mark Twain “Life on the Mississipi” um assassinato</p><p>era identificado pelo uso das impressões digitais.</p><p>No que diz respeito às instituições criminalísticas, em 1908, foi criado o “Instituto de</p><p>Polícia Científica” na Universidade de Lausanne na França. Esta instituição teve</p><p>origem na anexação do laboratório do Dr. Archibald Rudolf Reiss, um dos mais</p><p>eminentes Peritos Criminais da história, pela Universidade. O Dr. Reiss publicou</p><p>várias obras criminológicas dentre elas destaca-se “O Manual de Polícia Científica” o</p><p>que muito contribuindo à ascensão da Criminalística.</p><p>Fora da Europa, em especial da França, as instituições voltadas às atividades</p><p>criminalísticas são tardias. Apesar da constatação de que à luz da ciência moderna,</p><p>a prova material adquire significado novo, a criação de laboratórios policiais nos EUA,</p><p>só ocorreu entre 1920 e 1930. Essa ciência alcançou a academia no fim da década</p><p>de 1930 e o primeiro curso de Criminologia surgiu apenas no final da década de 1940</p><p>na Universidade da Califórnia em Berkeley.</p><p>Assim, já na década de 1950, a solicitação do trabalho pericial científico se tornara</p><p>rotina aceita pelas autoridades judiciais e policiais. Até mesmo o local de crime, havia</p><p>deixado de ser lugar para inquirir testemunhas, para se tornar um laboratório externo</p><p>na busca de provas. A íntima associação entre o Perito de laboratório e o homem de</p><p>serviço externo, mostrou-se de inestimável importância durante as operações</p><p>militares da II Guerra Mundial.</p><p>No entanto, segundo Wallander, apesar de desde o início do séc. XX vários órgãos</p><p>policiais terem crescido significativamente, o laboratório policial foi o último desses</p><p>setores a despontar. Assim, por sua criação recente e rápido desenvolvimento, até os</p><p>anos de 1950, o laboratório policial ainda não havia assumido forma bem definida,</p><p>apresentando capacidade científica bastante heterogenia entre cidades e estados.</p><p>De acordo com O'Hara, com exceção de poucas cidades grandes e capitais de</p><p>estados, a investigação criminal nos EUA, nos anos de 1950, não se mostrava</p><p>adequada às mais simples necessidades. Isto se deveria principalmente a</p><p>incapacidade dos serviços policiais em atrair pessoas competentes e à carência de</p><p>118</p><p>literatura sistematizada, a qual era fortemente influenciada pela literatura médico-</p><p>legal relacionada com crimes contra a vida. Assim, as técnicas utilizadas nos exames</p><p>da prova material não mostravam novidades</p><p>e o número de laboratórios policial não</p><p>apresentavam um crescimento significativo.</p><p>17.2 - A Ciência Forense no Brasil</p><p>No Brasil, a origem da Criminalística também se</p><p>confunde com a Medicina Legal. Essa última</p><p>teve forte influência da escola francesa.</p><p>Segundo Fávero, no período colonial</p><p>praticamente não foram produzidos trabalhos</p><p>científicos de Medicina Legal. Este autor situa a</p><p>primeira publicação nacional de Medicina Legal</p><p>em 1814, do autor Gonçalves Gomide, médico e senador do Império: “Impugnação</p><p>analítica ao exame feito pelos clínicos Antônio Pedro de Sousa e Manuel Quintão da</p><p>Silva”.</p><p>A partir de 1832 foram criadas as Faculdades de Medicina que exigiram teses como</p><p>pré-requisito à obtenção do grau de doutor. Com isso avultaram-se os trabalhos em</p><p>medicina no Brasil e em 1839 aparecem as primeiras teses de Medicina Legal. Ainda</p><p>segundo Fávero, de 1839 a 1877 não há nenhum trabalho realmente original, a</p><p>exceção ficou por conta da Toxicologia, onde foram produzidos trabalhos inovadores,</p><p>principalmente por Francisco Ferreira de Abreu, O Barão de Teresópolis.</p><p>A partir de 1877 inicia-se uma nova fase da Medicina Legal brasileira, com a entrada</p><p>de Agostinho José de Sousa Lima para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.</p><p>Dentre suas várias contribuições, está a criação do ensino prático de Medicina Legal,</p><p>desenvolvendo a parte de laboratório; inauguração do primeiro curso prático de</p><p>tanatologia forense no necrotério da Polícia da Capital Federal, em 1881, além de</p><p>vasta produção em revistas científicas da época19.</p><p>Posteriormente, com Raimundo Nina Rodrigues, inaugura-se uma época de grande</p><p>evolução científica e a nacionalização da Medicina Legal. Nina Rodrigues considerava</p><p>que os problemas médico-legais e de criminologia brasileira diferiam dos europeus,</p><p>uma vez que as condições físicas, psíquicas e sociais de nosso país eram totalmente</p><p>119</p><p>diferentes. Diversos discípulos originaram-se da escola baiana de Nina Rodrigues,</p><p>destacando-se Afrânio Peixoto, Oscar Freire, Leonídio Ribeiro e Flamíneo Fávero.</p><p>Durante este período a Medicina Legal das academias estava estreitamente</p><p>associada ao serviço médico legal do Estado realizado pelos peritos oficiais. Assim,</p><p>Oscar Freire consegue viabilizar um acordo entre a Faculdade de Medicina e o</p><p>Governo do Estado da Bahia, em 1913. Em 1914, Freire funda a Polícia Científica em</p><p>Salvador ao trazer da Suíça para palestras na cidade o Perito Criminal Reiss. Em</p><p>seguida, vai para São Paulo onde inaugura a pesquisa Médico-Legal no estado,</p><p>contribuindo para o início do Instituto de Medicina Legal da Faculdade de Medicina</p><p>(atual Instituto Oscar Freire) a partir de 1922. Posteriormente, este instituto foi dirigido</p><p>por Flaminio Fávero por 32 anos. Entretanto, nesta época já funcionava o serviço</p><p>Médico Legal oficial de São Paulo, o qual havia sido oficializado em 1886.</p><p>No Rio de Janeiro, a Medicina Legal oficial foi transferida da autoridade judiciária para</p><p>a Polícia, em 1856. Para isso, criou-se uma assessoria médica junto à Secretaria de</p><p>Polícia da Corte. A assessoria era composta por dois médicos efetivos, ligados à</p><p>Polícia, e dois consultantes, professores universitários de Medicina Legal,</p><p>responsáveis principalmente pelos exames toxicológicos. Segundo Aldé, em 1900, a</p><p>assessoria médica foi transformada em Gabinete Médico-Legal e dois anos depois,</p><p>Afrânio Peixoto, renomado pesquisador acadêmico da época, apresentou um plano</p><p>de reformulação do Gabinete Médico-Legal da Polícia para implantar as mais</p><p>avançadas práticas de Medicina Legal utilizadas na Alemanha. Posteriormente, o</p><p>Gabinete é transformado em Serviço Médico-Legal através de decreto de 1907.</p><p>Segundo Ribeiro, as relações entre a Medicina Legal acadêmica e a oficial logo</p><p>desandaram, surgindo uma grande resistência dos peritos oficiais em dividir o espaço</p><p>do IML com as aulas públicas da Faculdade de Medicina. Alguns diretores chegaram</p><p>inclusive a proibir as aulas da faculdade no IML do Rio de Janeiro, levando à cisão</p><p>entre o conhecimento produzido nas faculdades e a atuação dos profissionais oficiais.</p><p>Em 1949, foi inaugurado o novo “Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto”. Esse prédio</p><p>abrigaria na década de 50 as melhores tecnologias em Medicina Legal do mundo. E</p><p>seu prestígio ainda estaria relacionado ao intenso intercâmbio com a academia.</p><p>Como exposto, no início do séc. XX, as funções do perito legista e perito criminal</p><p>ainda se confundiam. Por exemplo, Gomes, dá instruções sobre o exame de local</p><p>120</p><p>para legistas, inclusive de coleta de vestígios (manchas, objetos, pegadas e</p><p>impressões digitais), além de fotografias e custódia de evidências. Ferreira menciona</p><p>como pesquisadores pioneiros da datiloscopia os seguintes nomes: Felix Pacheco,</p><p>Afrânio Peixoto, Elísio de Carvalho, Manoel Viotti e Leonídio Ribeiro, todos legistas.</p><p>Em relação à perícia de armas de fogo, este mesmo autor apregoa que o legista</p><p>deveria possuir conhecimentos indispensáveis sobre as armas de fogo e sua</p><p>munição, pois seria esse profissional que orientaria e dirigiria a perícia para fornecer</p><p>à justiça os informes necessários. Apesar de reconhecer a colaboração de um perito</p><p>especialista em armas de fogo.</p><p>Não se pode negar que os primeiro estudos de vestígios de disparos de armas de</p><p>fogo foram feitos no Brasil por peritos legistas. Oscar Freira, Moisés Marx e Gastão</p><p>Fleury da Silveira, sob orientação de Flamínio Fávero, reviu-os em tese que publicou</p><p>e defendeu em 1926 na Cadeira de Medicina Legal da Faculdade de Medicina de São</p><p>Paulo.</p><p>Diversos reagentes para identificação de manchas de sangue foram desenvolvidos</p><p>por Amado Ferreira, médico formado na Faculdade de Medicina de São Paulo. Já o</p><p>sistema Vocetich, de identificação papiloscópica, foi implantado no Brasil a partir de</p><p>1902. Este sistema já se encontrava em uso no Gabinete de Identificação fundado</p><p>em 1903 no Rio de Janeiro, Capital Federal. Grandes nomes como Félix Pacheco,</p><p>Carlos Éboli, Evaristo de Veiga, Hélio Gomes e Leonídio Ribeiro são destacados</p><p>iniciadores da Criminalística, apesar da formação médica da maioria.</p><p>No estado fluminense, apenas entre os anos de 1943 e 1944 foi criada a Diretoria</p><p>Geral de Investigações que englobava o Instituto de Identificação Félix Pacheco, o</p><p>Instituto Médico Legal e o Gabinete de Pesquisas Científicas, originário do Instituto</p><p>de Criminalística. A Criminalística e a Medicina Legal tiveram sua época de ouro no</p><p>Rio de Janeiro durante as décadas de 40 a 60. No entanto, segundo Aldé, a partir do</p><p>golpe militar de 64, houve uma crescente deterioração das condições de trabalho e</p><p>de desvalorização salarial. Aliado a isto, soma-se a prioridade do Governo em investir</p><p>mais em aparatos de repressão do que em inteligência investigativa e científica. Isso</p><p>fez com que a Criminalística e a Medicina Legal durante os anos que se seguiram</p><p>após 1964 fossem sempre relegadas a segundo plano no que concerne aos</p><p>121</p><p>investimentos da Segurança Pública, chegando à década de 1990 em condição de</p><p>penúria.</p><p>Atualmente, a carência de materiais e equipamentos; o atraso tecnológico e teórico e</p><p>a desvalorização profissional é tamanha que se poderia dizer que muitos institutos</p><p>pararam no tempo há cerca de 40 anos. Certamente, nesse período as atividades</p><p>periciais foram quase totalmente desvinculadas da produção de saber das</p><p>universidades, o que contribuiu ainda mais para o atual cenário. A total desvinculação</p><p>desse conhecimento só não ocorreu pela manutenção da Medicina Legal como</p><p>disciplina de cursos de Direito e Medicina nas principais instituições de ensino</p><p>superior brasileiras. Assim, manteve-se algum contato com a forma de produção do</p><p>saber acadêmico, lugar que a Criminalística vem tentando recuperar nos dias atuais.</p><p>Não se pode datar com exatidão a origem da Criminalística, sabe-se, no entanto, que</p><p>seu início foi fragmentada, proveniente de disciplinas</p><p>independente. Grande parte dos</p><p>conhecimentos de Criminalística derivaram da Medicina Legal e, posteriormente,</p><p>constituíram corpo de conhecimento próprio.</p><p>No Brasil, a Ciência Forense surgiu de investigações individuais realizadas no seio</p><p>das universidades, por Médicos Legistas, na sua maioria. À medida que a</p><p>Criminalística se tornou atividade de polícia, distanciou-se cada vez mais da</p><p>academia, sofrendo grande decadência. Isso se acentuou sobremaneira após o golpe</p><p>de 1964, onde a existência de uma perícia autônoma não era vista com bons olhos.</p><p>Os descaminhos históricos da Criminalística através da tutela pelos órgãos policiais</p><p>contribuíram para as condições inadequadas e tecnologicamente atrasadas e para a</p><p>atual desvalorização profissional encontrada na maioria dos Institutos de</p><p>Criminalística brasileiros.</p><p>18 - CRIMINOLOGIA</p><p>Nos fins do século XIX e início do século XX, a Criminologia dos Estados Unidos</p><p>orientava-se sob a perspectiva sociológica. A mola propulsora para o</p><p>desenvolvimento da sociologia criminal naquele período foi o grande fenômeno</p><p>migratório pelo qual passavam os Estados Unidos, aliado ao êxodo rural para as</p><p>grandes cidades e o crescente desenvolvimento industrial. Como consequência</p><p>122</p><p>desse cenário, a Criminologia norte-americana se desenvolve como disciplina</p><p>independente do Direito Penal e com vocação de disciplina sociológica e social-</p><p>psicológica.</p><p>Esse fenômeno descortinou graves problemas como crime, prostituição,</p><p>desorganização social e fez surgir a necessidade de encarar o crime não como</p><p>fenômeno biológico-individual, mas como fenômeno social. Entre os sociólogos que,</p><p>àquela altura, questionavam as premissas do determinismo individual, a teoria da</p><p>anomia de Émile Durkheim merece destaque, porquanto era levante contra o</p><p>determinismo biológico que dominava a Criminologia europeia; no Novo Mundo, é</p><p>digna de menção a teoria de Robert K. Merton.</p><p>Antes da apreciação de cada uma dessas teorias, cumpre sinalizar o cuidado ao</p><p>utilizar o termo anomia, não raras vezes empregado de forma vaga e imprecisa, em</p><p>termos pouco criteriosos. Convém, portanto, pontuar que o termo será utilizado no</p><p>sentido macrossociológico, ou seja, ausência ou desintegração entre o sistema de</p><p>valores e o sistema das normas sociais.</p><p>A teoria da anomia se insere no tronco das teorias estruturais funcionalistas, teorias</p><p>que se caracterizam, fundamentalmente, por interpretar e analisar o crime como</p><p>fenômeno social, normal e funcional.</p><p>18.1 - Teoria da anomia: Durkheim</p><p>Durkheim foi o criador do moderno pensamento sociológico. Ao dialogar com</p><p>pensadores de sua época, ainda que fossem seus inimigos intelectuais, a exemplo</p><p>dos positivistas italianos, ele provocou uma aberta polêmica com os sociólogos e</p><p>criminólogos positivistas, (re)construindo e fundando, a partir daí, a sociologia de</p><p>matriz funcionalista.</p><p>O enfoque macrossociológico encetado por Durkheim aparece em um contexto</p><p>histórico bastante preciso, qual seja, a França de fins do século XIX, sacudida pela</p><p>Revolução Francesa e pela rápida industrialização.</p><p>O novo fenômeno da vertiginosa industrialização e as consequências que vêm a</p><p>reboque de ambas as revoluções, a exemplo da desintegração da solidariedade dos</p><p>123</p><p>membros da sociedade, animam e impulsionam Durkheim a criar as bases teórico-</p><p>explicativas de uma sociedade racional e solidária.</p><p>Foi sobretudo nas obras “A divisão do trabalho social” e “As regras do método</p><p>sociológico” que ele enfrentou o tema da anomia. Basicamente, os conceitos</p><p>elementares são solidariedade social e consciência coletiva.</p><p>A nova programação social, derivada das sociedades altamente industrializadas, é a</p><p>divisão social do trabalho, em suas expressões de especialização e individualismos,</p><p>por um lado; e, por outro, a constatação de que os indivíduos, mesmo nesta</p><p>singularidade, estão vinculados a uma consciência coletiva, entendida como o</p><p>sistema de representações coletivas comuns à média dos membros de uma</p><p>sociedade.</p><p>O nível de coesão dessa consciência coletiva, contudo, varia de acordo com o tipo de</p><p>sociedade. Durkheim apontava que existem dois tipos de sociedades, a sociedade</p><p>primitiva e a contemporânea. Na primeira, existe um tipo de solidariedade mecânica;</p><p>é a que ocorre em sociedades que não possuem ou que possuem pouca</p><p>diferenciação entre os membros que a integram, considerando-se que eles</p><p>partilhariam os mesmos valores, sentimentos e crenças religiosas. São sociedades</p><p>que correspondem aos estágios mais primitivos da evolução social, a exemplo do clã.</p><p>Nas sociedades contemporâneas – caracterizadas por serem mais complexas,</p><p>dinâmicas e evoluídas – existiria a solidariedade orgânica. Os indivíduos, em</p><p>decorrência da divisão do trabalho, não compartilham as mesmas metas e a</p><p>diferenciação entre eles provoca a desintegração dos valores e o enfraquecimento da</p><p>consciência coletiva, podendo levar ao estado de anomia.</p><p>A importância da teorização de Durkheim, especialmente considerando que, àquela</p><p>altura, o positivismo era a teoria por excelência é compreender o crime a partir das</p><p>estruturas sociais, ou seja, o fenômeno criminal como um fenômeno social cultural.</p><p>Durkheim não se questiona sobre a causa da criminalidade a partir de um fator</p><p>individual, mas, sim, a partir da função do crime na sociedade e das circunstâncias</p><p>de desenvolvimento social que influenciam na criminalidade. Não por outra razão,</p><p>como logo adiante será observado, o crime não é compreendido como fator social-</p><p>patológico, mas sim como algo normal e necessário nas modernas estruturas social.</p><p>124</p><p>Em síntese, a teoria da anomia caracteriza-se por ser teoria estrutural, pelo</p><p>determinismo sociológico, pela normalidade e funcionalidade do crime e pela ideia de</p><p>que a perda das referências coletivas normativas que orientam a vida em sociedade</p><p>leva ao enfraquecimento da solidariedade social.</p><p>Em linhas próximas, segundo Baratta, a teoria da anomia ensaia as seguintes razões:</p><p> as causas da desviação não devem buscar-se nem em fatores</p><p>bioantropológicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica da</p><p>estrutura social;</p><p> a desviação é um fenômeno normal de toda estrutura social;</p><p> somente quando se ultrapassem certos limites, o crime é um fenômeno</p><p>negativo. Do contrário, ou seja, dentro de certos limites, o crime é necessário</p><p>e útil para o equilíbrio e desenvolvimento sociocultural.</p><p>Vamos aqui nos deter em duas destas características: a normalidade e a utilidade</p><p>do crime.</p><p>18.1.1 - A normalidade do crime</p><p>A frequência do número de crimes, em determinados</p><p>períodos, assim como chamou atenção dos membros</p><p>da estatística moral, também despertou o interesse de</p><p>Durkheim. Em “As regras do método sociológico” ele</p><p>expôs: “O crime não se produz só na maior parte das</p><p>sociedades desta ou daquela espécie, mas em todas as</p><p>sociedades, qualquer que seja o tipo destas. Não há</p><p>nenhuma em que não haja criminalidade (...) Não há,</p><p>portanto, um fenômeno que apresente de maneira tão</p><p>irrefutável como a criminalidade, todos os sintomas da normalidade. (...) Pode, sem</p><p>dúvida, acontecer que o crime tome formas anormais; é o que acontece quando, por</p><p>exemplo, atinge uma taxa exagerada. Mas é normal a existência de uma criminalidade</p><p>que atinja mas não ultrapasse, para cada tipo social, um certo nível (..)]”.</p><p>Partindo do pressuposto de que o crime se apresenta em toda sociedade, pode-se</p><p>dizer, dentro da concepção durkheimiana, ser ele inevitável. Para que uma sociedade</p><p>125</p><p>não tenha crime, seria necessário que todos os sentimentos e valores merecedores</p><p>de proteção se encontrassem distribuídos igualmente em todas as consciências</p><p>individuais e com força tal que fossem capazes de conter os sentimentos e impulsos</p><p>criminosos.</p><p>O normal, portanto, é o contínuo e longo processo de verificação da existência de</p><p>crimes. Mais ainda, em boa medida,</p><p>conforme se acentua logo abaixo, em algumas</p><p>hipóteses, o crime anuncia ou até mesmo antecipa a mudança social.</p><p>Embora a tese de normalidade seja sedutora, o grande equívoco de Durkheim decorre</p><p>da confusão entre constância estatística e normalidade. A normalidade à qual</p><p>Durkheim se refere não é, como aponta Manzanera, a normalidade moral ou filosófica,</p><p>senão a normalidade estatística; o crime é normal quando se apresenta de maneira</p><p>frequente na sociedade.</p><p>Contrariando a doutrina do sociólogo francês, pode-se dizer que o crime é um</p><p>fenômeno social anormal, embora constante. A presença dele em todos os tipos de</p><p>sociedades não lhe empresta o predicado da normalidade, senão que põe acento na</p><p>inclinação do homem para a prática daquilo que, na segunda metade do século XX,</p><p>passa a ser encarado como etiquetamento.</p><p>18.2 - A utilidade do crime</p><p>Durkheim avança na construção de sua teoria para defender que o crime é um fator</p><p>de saúde pública e é parte integrante de toda sociedade sã. Aliás, uma sociedade</p><p>que não apresente crime é uma sociedade primitiva e, consequentemente, pouco</p><p>evoluída.</p><p>Ressalta que o crime “está ligado às condições fundamentais de qualquer vida social</p><p>e, precisamente por isso, é útil; porque essas condições às quais está ligado são</p><p>indispensáveis para a evolução normal da moral e do direito”. Portanto, o crime abre</p><p>o caminho para as necessárias mudanças dos sentimentos coletivos, às vezes,</p><p>inclusive, prepara essas mudanças, significando uma simples antecipação da moral</p><p>futura. Pontua que a liberdade de pensamento de que gozamos hoje nunca poderia</p><p>ter sido proclamada se as regras que a proibiam nunca tivessem sido violadas.</p><p>126</p><p>A conclusão a que chega Durkheim é ainda mais interessante. Ora, se o crime prepara</p><p>e, às vezes, antecipa a moral futura, o criminoso também tem um importante papel</p><p>na sociedade, “o criminoso já não parece ser um ser radicalmente insociável, como</p><p>uma espécie de elemento parasitário, de corpo estranho e inassimilável, introduzido</p><p>no seio da sociedade; é um agente regular da vida social”. Essa visão contraria toda</p><p>a tradição da criminologia precedente que colocava acento na patologia do criminoso.</p><p>A normalidade e utilidade do crime, atributos aparentemente incompatíveis, explicam-</p><p>se perfeitamente na teorização de Durkheim: se o delito provoca e estimula uma</p><p>reação social, ele estabiliza e reforça o sentimento coletivo em torno dos valores,</p><p>proporcionando a transformação social.</p><p>18.3 - A função da pena</p><p>Ao antecipar as modernas concepções funcionalistas, como a de Jakobs, Durkheim</p><p>também desenvolve uma importante noção sobre a teoria da pena. O sociólogo</p><p>francês discorda das conhecidas teorias da prevenção geral e da prevenção especial.</p><p>Como é cediço, ele define crime em função da pena, daí porque o único ponto de</p><p>semelhança entre os crimes seria a pena. O ato é criminoso quando ofende</p><p>intensamente o estado da consciência coletiva. Ele parte da premissa de que o crime</p><p>não possui uma realidade ôntica ou operacional, mas sim uma realidade construída</p><p>e modificável. Assim, afirma que “(...) não é preciso dizer que um ato fere a</p><p>consciência comum porque é criminoso, mas que é criminoso porque fere a</p><p>consciência comum. Não reprovamos porque é um crime, mas é um crime porque</p><p>reprovamos”. Noção que, anos mais tarde, seria revigorada pela reação social.</p><p>Assim, se o crime é normal e não tem nada de patológico, a pena não é um remédio</p><p>para o mal. Defende Durkheim: “Embora (a pena) proceda de uma reação</p><p>completamente mecânica, de movimentos passionais e em grande parte irrefletidos,</p><p>não deixa de desempenhar um papel útil.</p><p>Este papel apenas não está ali onde se o vê ordinariamente. Ela não serve, ou não</p><p>serve senão secundariamente para corrigir o culpado ou intimidar seus imitadores</p><p>possíveis; sob esse duplo ponto de vista, sua eficácia é justamente duvidosa e, em</p><p>127</p><p>qualquer caso, medíocre. Sua verdadeira função é manter intata a coesão social</p><p>mantendo toda vitalidade da consciência comum”.</p><p>Sendo assim, a leitura precisa da teoria durkheimiana põe acento no fato de que o</p><p>comportamento criminoso debilita o valor universal das normas que regem o convívio</p><p>social; por esta razão, a pena desempenha a nodal função de reforçar a consciência</p><p>coletiva sobre valores dominantes.</p><p>No artigo “Deux lois de l’évolution pénale”, a teoria da pena recebe outras precisões.</p><p>À luz da noção de progresso e modernidade, escreve o sociólogo francês que a</p><p>evolução do sistema repressivo sofreu dois tipos de variações: quantitativas e</p><p>qualitativas. Em relação às quantitativas, afirmava que a intensidade do castigo é</p><p>maior à medida que a sociedade pertence a um tipo menos desenvolvido e à medida</p><p>que o poder central tem um caráter mais absoluto. Essa afirmação deixa evidente</p><p>como o processo civilizatório tende a suavizar a repressão. Há que se destacar a</p><p>importância do fator político como influenciador da intensidade das penas; a maior ou</p><p>menor intensidade da repressão penal é diretamente proporcional ao modelo político:</p><p>democracia é indicativo de maior benevolência; absolutismo, maior severidade penal.</p><p>No que se refere às variações qualitativas, ele expressava que as penas privativas de</p><p>liberdade, por períodos de tempo que variam com a gravidade do crime, tendem, mais</p><p>e mais, a tornar-se o tipo normal de sanção. Essa segunda formulação complementa</p><p>e conecta-se com a anterior, à medida que o autor aponta que a pena privativa de</p><p>liberdade, e somente ela, é um exemplo da benevolência dos Estados modernos.</p><p>Essa afirmação, conforme esclarece Anitua, rendeu ao autor críticas de</p><p>superficialidade, por não compreender outras funções sociais que esse tipo de pena</p><p>desempenha nas sociedades modernas.</p><p>Seja como for, impossível não reconhecer vitalidade no pensamento durkheimiano,</p><p>especialmente no que se refere à teoria da pena. Com efeito, as novas roupagens</p><p>com que o funcionalismo veste a teoria da pena não são suficientes para</p><p>desconsiderar a marca de Durkheim.</p><p>128</p><p>18.4- Criminologia é conhecimento essencial para a polícia judiciária</p><p>A palavra criminologia, criada em 1883 por Paul Topinard e difundida por Raffaele</p><p>Garofalo em 1885, tem origem etimológica híbrida, pois une um elemento oriundo da</p><p>língua latina, crimino, que significa crime, e outro da língua grega, logos, que quer</p><p>dizer estudo. Portanto, através de uma análise etimológica da expressão, temos o</p><p>estudo do crime.</p><p>Pode-se conceituar criminologia a ciência empírica (baseada na realidade) e</p><p>interdisciplinar (que congrega ensinamentos de sociologia, psicologia, filosofia,</p><p>medicina e direito) que possui como objeto de estudo o crime, o criminoso, a vítima e</p><p>o comportamento social.</p><p>Destarte, a criminologia é uma ciência autônoma porque possui funções, métodos e</p><p>objetos próprios.</p><p>O gênero ciências criminais (ciências penais) possui como espécies o Direito Penal,</p><p>a criminologia e a política criminal. São ciências autônomas e coexistentes, cada qual</p><p>com sua vertente. A criminologia, a política criminal e o Direito Penal são os três</p><p>pilares do sistema das ciências criminais, inseparáveis e interdependentes.</p><p>Como instância superior, não cabe à criminologia se identificar com nenhum dos</p><p>saberes parciais criminológicos, pois todos têm a mesma importância científica.</p><p>Adota-se um modelo não piramidal. Logo, criminologia entende o fenômeno criminal</p><p>como problema não meramente individual, mas também social. Estuda a questão</p><p>criminal sob o ponto de vista biopsicossocial (métodos biológicos e sociológicos),</p><p>investigando as causas do crime, a personalidade do delinquente, a vitimização e as</p><p>formas de prevenção e ressocialização no contexto do controle social.</p><p>A criminologia é considerada uma ciência interdisciplinar, pois soma o conhecimento</p><p>de várias ciências, e não meramente multidisciplinar, com distintas visões tratadas</p><p>de</p><p>maneira compartimentada.</p><p>Cuida-se de ciência lógica e normativa, busca determinar o homem delinquente</p><p>utilizando para isso métodos físicos, psicológicos e sociológicos. Entre outros</p><p>aspectos, estuda as causas e as concausas da criminalidade e da periculosidade</p><p>preparatória da criminalidade.</p><p>129</p><p>A criminologia busca reunir conhecimentos sobre o crime, o criminoso, a vítima e o</p><p>controle social para compreender cientificamente o fenômeno criminal, para assim</p><p>possibilitar que o crime possa ser prevenido e reprimido com eficiência (intervenção</p><p>no delinquente) e que os diferentes modelos de resposta ao fenômeno criminal</p><p>possam ser valorados.</p><p>Destarte, a criminologia deve orientar a política criminal possibilitando a prevenção</p><p>de crimes, e influenciar o Direito Penal na repressão das condutas indesejadas que</p><p>não foram evitadas. Essa ciência busca adotar programas de prevenção eficaz do</p><p>comportamento delitivo, técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos</p><p>diversos sistemas de resposta ao delito.</p><p>Foi na Escola Positiva que a criminologia começou a ser tratada como ciência, e isto</p><p>se deu especialmente em razão do método científico utilizado nas experiências do</p><p>médico italiano Cesare Lombroso, que escreveu a obra O Homem</p><p>Delinquente (considerada o marco científico da criminologia).</p><p>Qualifica-se por ser ciência empírica de observação da realidade, que opera no</p><p>mundo do ser, e emprega o método indutivo e experimental. Diferentemente do Direito</p><p>Penal, ciência cultural que atua no plano do dever ser, por meio do método dedutivo.</p><p>Logo, a criminologia investiga as causas do fenômeno da criminalidade segundo o</p><p>método experimental, isto é, analisando o mundo do ser. Além disso, vale-se do</p><p>método indutivo, ou seja, trabalha com casos concretos, específicos, para extrair uma</p><p>ideia geral. Parte de uma característica específica para fixar uma premissa maior.</p><p>Pretende primeiro conhecer a realidade para depois explica-la.</p><p>Na visão da criminologia, o crime é um fenômeno social, o qual exige uma percepção</p><p>apurada para que seja compreendido em seus diversos sentidos. Para a criminologia,</p><p>somente se pode falar em delito se a conduta preencher os seguintes elementos</p><p>constitutivos:</p><p> Incidência massiva na população: reiteração na sociedade;</p><p> incidência aflitiva: produção de dor à vítima e à sociedade;</p><p> persistência espaço-temporal: prática ao longo do território por um</p><p>período de tempo relevante;</p><p>130</p><p> consenso sobre sua etiologia e técnicas de intervenção: concordância</p><p>sobre suas causas e métodos de enfrentamento.</p><p>Em relação ao delinquente, é visto de maneira diferente segundo as Escolas da</p><p>Criminologia:</p><p> Escola Clássica: ser pecador que escolheu o mal apesar de poder optar pelo</p><p>bem;</p><p> Escola Positivista: reflexo de sua deficiência patológica (caráter biológico –</p><p>hereditário ou não) ou formação social (caráter social);</p><p> Escola Correcionalista: ser inferior e incapaz de se autodeterminar, a merecer</p><p>do Estado resposta pedagógica e piedosa;</p><p> Escola Marxista: vítima da sociedade e das estruturas econômicas</p><p>(determinismo social e econômico); essa visão se desenvolveu por estudiosos</p><p>de Marx, e seus conceitos convergiram na chamada criminologia crítica;</p><p> Escola Moderna: homem real e normal que viola a lei penal por razões diversas</p><p>que merecem ser investigadas e nem sempre são compreendidas.</p><p>Quanto à vítima, historicamente foi colocada em segundo plano, tendo em vista que</p><p>o objetivo principal da persecução penal era a punição do criminoso. Com o avanço</p><p>dos estudos criminológicos, o ofendido é revalorizado e passa a ter papel de</p><p>destaque, especialmente a partir da Escola Clássica da criminologia. Os estudos</p><p>sobre o ofendido ganham destaque após a 2ª Guerra Mundial, em decorrência das</p><p>atrocidades praticadas naquele evento.</p><p>A vítima desempenha papel importante pois influencia no fato delituoso, toma atitudes</p><p>que a colocam como potencial sujeito passivo e possui características pessoais (cor,</p><p>sexo, condição social) relevantes.</p><p>A principal classificação nessa discussão se refere aos processos de vitimização:</p><p> vitimização primária: são os efeitos diretos e indiretos da própria</p><p>conduta criminal. Decorre do delito, e compreende todos os prejuízos e</p><p>danos sofridos pela vítima (lesão ao bem jurídico como integridade</p><p>física, patrimônio, etc), bem como as demais decorrências (incluindo-se</p><p>aí vergonha, raiva, medo, dentre outros abalos psicológicos);</p><p>131</p><p> vitimização secundária: deriva do tratamento conferido pelas</p><p>instâncias formais de controle social (polícia, Ministério Público,</p><p>Judiciário), consistindo em sofrimento adicional causado à vítima por</p><p>órgãos estatais. Pode emanar do mau atendimento dado pelo agente</p><p>público, que leva a vítima a se sentir como um objeto nas mãos do</p><p>Estado, e não um sujeito de direitos. Também é chamada de</p><p>revitimização, por consistir em processo emocional no qual o ofendido</p><p>torna-se vítima novamente, podendo se relacionar com outras pessoas</p><p>ou instituições (heterovitimização) ou com sentimentos autoimpositivos</p><p>de culpa (autovitimização);</p><p> vitimização terciária: decorre de familiares e do grupo social da vítima</p><p>(instâncias informais de controle social), que segregam e humilham a</p><p>vítima em virtude do crime por ela sofrido. Pode resultar em desestímulo</p><p>para a formalização da notitia criminis, ocasionando a cifra negra</p><p>(diferença entre a criminalidade real e a registrada pelos órgãos</p><p>policiais). Essa falta de amparo da família, dos colegas de trabalho e</p><p>dos amigos, e a própria sociedade acaba incentivando a vítima a não</p><p>denunciar o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra</p><p>negra.</p><p>Por fim, vale mencionar que controle social é o conjunto de instituições e sanções da</p><p>sociedade para submeter os indivíduos às normas de convivência em comunidade.</p><p>Esse conhecimento é fundamental para entender o papel da polícia judiciária no</p><p>fenômeno criminal.</p><p>O controle social formal é formado pelos órgãos estatais: polícia judiciária,</p><p>Judiciário, Ministério Público, Administração Penitenciária, etc. Os agentes do</p><p>Estado atuam de forma subsidiária (ultima ratio), quando o controle informal não foi</p><p>capaz de evitar o crime. O controle formal organiza-se em 3 seleções, conforme a</p><p>função que desempenham:</p><p> 1ª seleção: Polícia judiciária (investigação);</p><p> 2ª seleção: Ministério Público (acusação);</p><p> 3ª seleção: Judiciário (julgamento).</p><p>132</p><p>Já o controle social informal é aquele exercido de forma difusa pela sociedade,</p><p>através da família, escola, associações, igreja, opinião pública, etc. Em regra, o</p><p>processo de socialização do indivíduo se dá nos meios informais. Desse modo, o</p><p>controle formal é subsidiário, pois só entra em ação quando o controle informal falhou</p><p>e não foi suficiente para coibir a prática delitiva, na medida em que atuará de maneira</p><p>coercitiva, estabelecendo sanções diversas das que são impostas no âmbito informal.</p><p>A efetividade do controle formal é bem menor em relação ao controle informal.</p><p>Fácil perceber que a criminologia hodiernamente constitui-se em ciência</p><p>indispensável para a boa atuação da polícia judiciária e também dos demais órgãos</p><p>de persecução penal. Evidentemente o delegado de polícia, na tomada de suas</p><p>decisões, não pode abrir mão da aplicação das ciências jurídicas (principalmente o</p><p>Direito Penal, Processual Penal, Constitucional e Administrativo), que continuam</p><p>sendo o substrato imediato de conhecimento a incidir no caso concreto.</p><p>Entretanto, nada impede (ao contrário, é recomendável) que a autoridade policial se</p><p>valha do saber criminológico para que possa prestar o melhor serviço público à</p><p>sociedade. Afinal, o estudo científico da criminologia revela pontos cruciais para a</p><p>compreensão do multifacetado fenômeno criminal que sempre assombrou as</p><p>relações sociais dos indivíduos.</p><p>19- VITIMOLOGIA</p><p>O estudo da vitimologia</p><p>periciais equivocadas, ainda que involuntariamente, podem</p><p>constitui-se na chave da poeta das prisões para a saída de marginais ou para nelas</p><p>trancafiar inocentes, pois, conforme Ambroise Paré, in Oeuvres complètes, os juízes</p><p>julgam segundo o que se lhes informa.</p><p>O perito médico-legal há de ter, ainda, uma conceituação universalista dos seres</p><p>humanos, auxiliar, por sua cultura, indispensável que é da Justiça, herói anônimo</p><p>capaz de deslindar crimes indecifráveis através de paciente e penoso trabalho só</p><p>conhecido das autoridades policial-judiciárias.</p><p>A Medicina Legal é a arte estritamente científica que estuda os meandros do ser</p><p>humanos e sua natureza, desde a fecundação até depois de sua morte.</p><p>Exige de seus obstinados professores, além do conhecimento da Medicina e do</p><p>Direito, o de outras ciências, para emitirem pareceres minudentes, claros, concisos e</p><p>racionais, objetivando criar, na consciência de quem tem por missão julgar, um quadro</p><p>o mais preciso da realidade.</p><p>2.2 - Relações com as demais ciências médicas e jurídicas</p><p>A Medicina Legal serve mais ao Direito, visando defender os interesses dos homens</p><p>e da sociedade, do que à Medicina. A designação legal emprestada a essa ciência</p><p>indica que ela se serve, no cumprimento de sua nobre missão, também das ciências</p><p>jurídicas e sociais, com as quais guarda, portanto, íntimas relações. É a Medicina e o</p><p>Direito complementando-se mutuamente, sem engalfinhamentos.</p><p>Ao Direito Civil empresta sua colaboração no que concerne a questões relativas a</p><p>paternidade, impedimentos matrimoniais, erro essencial, limitadores e modificadores</p><p>da capacidade civil, prenhez, personalidade civil e direitos do nascituro, comoriência</p><p>etc. Ao Direito Penal, no que diz respeito a lesões corporais, sexualidade criminosa,</p><p>aborto ilegal e ilícito, infanticídio, homicídio, emoção e paixão, embriaguez etc.</p><p>Serve ao Direito Constitucional quando informa sobre a dissolubilidade do matrimônio,</p><p>a proteção à infância e à maternidade etc.; ao Direito Processual Civil e Penal quando</p><p>cuida da psicologia da testemunha, da confissão, da acareação do acusado e da</p><p>vítima.</p><p>10</p><p>Contribui com o Direito Penitenciário quando converge seus estudos para a psicologia</p><p>do detento, no que tange à concessão de livramento condicional e à</p><p>psicossexualidade das prisões.</p><p>Entrosa-se com o Direito do Trabalho quando estuda a infortunística, a insalubridade</p><p>e a higiene, as doenças e a prevenção de acidentes profissionais; com a Lei das</p><p>Contravenções Penais quando trata dos anúncios de técnicas anticoncepcionais, da</p><p>embriaguez e das toxicomanias.</p><p>A Medicina Legal engranza-se ainda, intimamente, com vários outros ramos do</p><p>Direito, a saber: Direito dos Desportos, Direito Internacional Público, Direito</p><p>Internacional Privado, Direito Canônico, Direito Comercial.</p><p>Ciência médico-jurídico-social indispensável em toda diligência que necessite de</p><p>elucidação médica, em progressiva e franca ascenção, relaciona-se também com a</p><p>Química, a Física, a Toxicologia, a Balística, a Dactiloscopia, a Economia e a</p><p>Sociologia e com a História Natural (Entomologia e Antropologia).</p><p>2.3 - Importância de seu ensino nas faculdades de Direito</p><p>Assim, sendo a Medicina Legal a única disciplina nas Faculdades de Direito que se</p><p>relaciona com a Biologia, seu estudo se reveste de fundamental importância, pois</p><p>ninguém ignora que os conhecimentos biológicos, médicos e paramédicos ampliam</p><p>aos acadêmicos de Direito a consciência universalista do homem e da gênese de</p><p>suas ações. Como exemplo, o estudo das socioneuropatias, permitindo ao estudante</p><p>conhecer os intrincados emaranhados da mente humana, abre-lhe maiores</p><p>perspectivas de percepção sobre o seu semelhante e sobre si mesmo, já que o</p><p>conceito de normalidade é sobremaneira vago: normal é o que funciona harmoniosa</p><p>e silenciosamente em sociedade. É o conhece-te a ti mesmo" socrático, ao qual</p><p>acrescentamos: por ti mesmo! A Medicina Legal é, portanto, verdadeiro elo de ligação</p><p>entre o pensamento jurídico e a Biologia, ciência e arte cooperadora na elaboração e</p><p>na aplicação das leis.</p><p>Aos juristas, autoridades policiais e advogados importa à Medicina Legal orientar com</p><p>minudência, concisão e clareza sobre a realidade de um fato de natureza específica</p><p>e caráter permanente que interesse à Justiça, e como pedir, o que pedir e o modo de</p><p>11</p><p>interpretar os laudos periciais, para evitar que suceda o ocorrido com delegado de</p><p>polícia da Capital, que, segundo relatou o insigne professor Hélio Gomes, sabedor</p><p>por informação pericial de que havia espermatozóides na mancha da camisa de um</p><p>suicida, solicitou ao Instituto Médico-Legal determinasse ser o gameta encontrado de</p><p>homem ou de mulher! "O delegado", ironiza o mestre, "por não conhecer Medicina</p><p>Legal, não soube interpretar a resposta simples e clara que lhe fora enviada".</p><p>Certa feita, ouvimos, perplexos, a confusão estabelecida por um representante do</p><p>Ministério Público, data venia, pouco versado em Medicina Legal, sobre coito vulvar</p><p>e coito interfemora, expressões para ele não similares. E mais recentemente, nova</p><p>conclusão sobre a fase obstétrica puerperal e o conceito médico-legal de "influência</p><p>do estado puerperal", a que alude a lei, no infanticídio.</p><p>A maioria dos médicos também prescinde, infelizmente, de conhecimentos de</p><p>Jurisprudência Médica. É por isso que sentenciava Hélio Gomes: "Levando-se em</p><p>conta o desconhecimento da legislação pelos médicos, esta lhes deverá ser ensinada,</p><p>de maneira clara e resumida, o suficiente para a perfeita compreensão dos</p><p>dispositivos legais referentes ao assunto da perícia".</p><p>A Medicina Legal estuda a vida, em sua essência, e a morte.</p><p>É a ciência social vivaz e realista, embasada na Verdade e na Justiça, que desnuda</p><p>o indivíduo desde enquanto ovo, e depois, até o âmago do ser e seduz e apaixona,</p><p>irremediavelmente, desde o início, os seus profissionais.</p><p>3 – HISTÓRICO</p><p>A história da Medicina Legal divide-se em cinco períodos: Antigo, Romano, Médio ou</p><p>da Idade Média, Canônico e Moderno ou Científico.</p><p> Período Antigo</p><p>Dada a importância da Medicina Legal no conjunto das atividades sociais,</p><p>compreende-se a existência de referências esparsas e isoladas, rudimentares,</p><p>despidas de caráter científico, portanto, nas legislações de povos antigos.</p><p>A Medicina, nessa época, era muito mais arte que ciência, estatelada na fase deísta</p><p>explicativa, onde se procurava atribuir origens extraterrenas às doenças, e tida como</p><p>12</p><p>profissão subalterna; a lei era a própria religião aplicada aos homens pelos</p><p>sacerdotes, misto de religiosos, médicos e juízes, em sanções idênticas às cometidas</p><p>pelo imputado, ou em parente próximo num arremedo de Medicina Judiciária.</p><p>A necrópsia e a vivissecção eram proibidas, por serem os cadáveres considerados</p><p>sagrados.</p><p>No Egito embalsamavam-se os cadáveres e, nos crimes de violência sexual,</p><p>condenava-se o suspeito se, atado sobre o leito em uma sala do templo, apresentava</p><p>ereção peniana ante a estimulação sexual desencadeada pela visão de belas virgens</p><p>dançando nuas ou apenas com roupas transparentes, e as leis de Menés</p><p>preceituavam o exame das mulheres condenadas, pois, se grávidas, não eram</p><p>supliciadas.</p><p>O Hsi yuan lu, tratado elaborado por volta de 1240 a.C., na China, instruía sobre o</p><p>exame post-mortem, listava antídotos para venenos e dava orientações acerca de</p><p>respiração artificial.</p><p>A lei era a própria religião aplicada aos homens. Era a legislação teológica, que foi</p><p>paulatinamente se transformando para, finalmente, graças ao Cristianismo e aos</p><p>ideais morais que cada geração foi nela introduzindo, emancipar também o Direito.</p><p>Autópsia (1890) Enrique Simonet.</p><p>13</p><p> Período Romano</p><p>Em Roma, na fase anterior à reforma de Justiniano, a Lex Regia atribuída a Numa</p><p>Pompílio prescrevia a histerotomia na morte na morte da mulher grávida. Aqui uma</p><p>curiosidade: há quem afirme</p><p>atualmente é objeto de muitas pesquisas, contudo nem</p><p>sempre foi assim, antigamente se deu maior atenção a outros aspectos e</p><p>circunstâncias voltada ao delito e a vítima era tida como meramente a parte ofendida</p><p>de mais um crime.</p><p>133</p><p>Hoje a vítima se tornou peça em foco na resolução de conflitos, deixou com isso de</p><p>ser mera coadjuvante do crime para ocupar papel de destaque, amparada por</p><p>análises e estudos voltados a sua conduta, sua influência, a relação vítima-</p><p>delinquente, bem como os danos e as suas reparações.</p><p>Em síntese e de uma forma objetiva, o tema traz diversos aspectos, o conceito de</p><p>vitimologia, a sua origem e finalidade, a divergência entre vitimologia e criminologia,</p><p>debatida até os dias atuais, onde se discute a natureza jurídica de tal estudo.</p><p>Mister frisar o conceito de vítima, as espécies de vítima definidas pela doutrina, o</p><p>processo de vitimização, onde o individuo acaba por se tornar uma vítima diante das</p><p>circunstâncias a qual lhe foi submetido.</p><p>Outro sim, se faz necessário elucidar a importância da vítima no direito penal</p><p>brasileiro, sua participação como circunstância judicial para obter a dosimetria da</p><p>pena ao delinquente e a maneira que o artigo 59 do Código Penal dispõe sobre o</p><p>tema.</p><p>Por fim, e não menos importante, demonstrar a aplicação da vitimologia, os</p><p>programas implantados oriundos dos seus estudos e a aplicação efetiva diante do</p><p>Código Penal Brasileiro.</p><p>19.1 – vitimologia</p><p>Vitimologia é o estudo da vítima sob todos os aspectos, possuindo assim, um caráter</p><p>multi e interdisciplinar. Segundo ensinamento de Eduardo Mayr, vitimologia constitui</p><p>o estudo da vítima no que se refere à sua personalidade, quer do ponto de vista</p><p>biológico, psicológico e social, quer o de sua proteção social jurídica, bem como dos</p><p>meios de vitimização, sua inter-relação com o vitimizador e aspectos interdisciplinares</p><p>e comparativos. (RIBEIRO, 2001).</p><p>Sobre o tema, Edgar de Moura Bittencourt (1974, p. 248) interpreta que Mendelsonhn,</p><p>in verbis:</p><p>“Vê a vítima sob a ótica psicológica e social, como sujeito passivo do crime</p><p>em sua relação com o criminoso. Examina causas e efeitos, propondo a</p><p>134</p><p>sistematização de pesquisas e estudos sobre o assunto, subordinados não</p><p>a um simples departamento da Ciência penal, mas via necessidade de se</p><p>erigirem os conhecimentos e sua metodização sobre o tema, em ciências,</p><p>unida à criminologia, sob a denominação de vitimologia.”</p><p>Denota-se que o estudo da vitimologia compreende-se na analise de tais pontos</p><p>fundamentais: o estudo meticuloso do comportamento da vítima, sua personalidade,</p><p>a contribuição para a ocorrência do delito, relações com o agente criminoso, e a</p><p>reparação do dano causado pelo delito. (MILTON, Prof., 2008).</p><p>19.2 - Origem histórica</p><p>Na doutrina antiga, não era relevante a análise da vítima quanto ao delito, dava-se</p><p>ênfase somente ao crime, ao delinquente e a pena, não havendo interesse em saber</p><p>até que ponto a vítima colaborou para a ocorrência do delito.</p><p>As escolas penais, tanto a Escola Clássica de Beccaria e Fuerbach, como a Escola</p><p>Positiva de Lombroso, Ferri e Garafalo, estavam centradas nos elementos</p><p>delito/delinquente/pena, que deram origem ao estudo da criminologia, do qual não há</p><p>grande preocupação com a vítima. (MILTON, Prof., 2008).</p><p>Edgar de Moura Bittencourt (1974, p. 23) ensina, in verbis:</p><p>“A antropologia de Lombroso e os consequentes estudos, que contribuíram</p><p>para a formação da Escola Positiva, concentravam-se de tal modo na analise</p><p>do delinquente que, durante o longo tempo que a vítima passou a ser</p><p>elemento quase que totalmente esquecido na etiologia do crime. Em</p><p>contrapartida, o desencadeamento de estudos, mais ou menos recentes,</p><p>sobre o seu papel na ocorrência delituosa, assumiu proporções de</p><p>verdadeira descoberta cientifica, mas em verdade o que ocorreu foi a</p><p>renovação, em termos de valoração, de pesquisas e observações em torno</p><p>da vítima e do fenômeno vitimal.”</p><p>Muitos escritores fizeram uma breve abordagem sobre a vitimologia, contudo,</p><p>nenhum apresentou estudos mais aprofundados sobre o tema.</p><p>Benjamin Mendelsohn, advogado israelense, e Hans Von Hentig, professor alemão,</p><p>são considerados os pioneiros da vitimologia.</p><p>135</p><p>O termo “vitimologia” foi criado por Mendelsohn, em 1945, nos seus primeiros estudos</p><p>feito sobre a matéria. Entretanto, há divergência doutrinária sobre quem é o</p><p>verdadeiro pai da Vitimologia. Mendelsohn foi o primeiro a cunhar a expressão</p><p>vitimologia. Von Henting, professor alemão radicado nos Estados Unidos, já vinha</p><p>aprofundado seu conhecimento com a problemática da vítima.</p><p>Em 1941 publicou trabalho em que propõe uma concepção dinâmica e interacionista</p><p>da vítima, não só como sujeito passivo do delito, mas também como sujeito ativo, que</p><p>contribui para a gênese e execução do crime ‘The Criminal And His Victim’ escrito em</p><p>1948, ao invés de falar em Vitimologia, usou o termo Vitimogênese. É com este</p><p>estudo, entretanto, que Von Hentig desenvolve a relação criminoso vítima, colocando</p><p>esta como elemento prepoderante e decisivo na realização do delito, em que,</p><p>consciente ou não, coopera, provoca ou conspira na ocorrência do crime, a noção de</p><p>vítima e vitimologia de Mendelsohn supera a de Von Hentig, embora não tenha ficado</p><p>imune às críticas, porquanto discorrera sobre sua concepção ampla e abrangente,</p><p>não se restringindo à vítima do crime, apenas Mendelsohn buscou levar a vitimologia</p><p>como um ramo independente da criminologia, com investigação e objeto próprio, por</p><p>isso que a parte substancial da doutrina o considera como o pai da vitimologia.</p><p>(MORAIS, 2005).</p><p>Sobre Mendelsohn, após ser vítima da segunda guerra mundial, deu origem ao estudo</p><p>da vitimologia, motivo pelo qual o levou a sistematizar uma nova ciência, ou</p><p>desenvolver um ramo da criminologia, denominado “vitimologia”’.</p><p>Sua obra “Horizonte Novo na Ciência Bio-psicosocial – A Vitimologia”, publicada em</p><p>1956 passou a ser um marco no assunto, seguindo posteriormente, de vários outros</p><p>estudos iniciando uma fase de redescoberta da vitima, pois até então não passava de</p><p>um subdesenvolvido sujeito passivo no crime ou no processo penal. Importante ainda,</p><p>ressaltar no processo evolutivo, a Resolução nº 40/34 denominada Declaração</p><p>Universal dos Direitos da Vítima, promulgada pela ONU em 29 de novembro de 1985.</p><p>(MORAIS, 2005).</p><p>Em 11 de dezembro de1985, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a</p><p>Resolução nº 40/34, em que definiu mais claramente o conceito de vítima e cuidou de</p><p>fixar os contornos de seus direitos em relação ao processo criminal no que se refere</p><p>ao dano que tenha suportado.</p><p>136</p><p>No Brasil, a primeira e mais completa obra sobre vitimologia foi de Edgard Bittencourt,</p><p>intitulada Vítima (Vitimologia: a dupla penal delinquente-vítima, participação da vítima</p><p>no crime, contribuição da jurisprudência brasileira para a nova doutrina), lançado no</p><p>ano de 1971. (MORAIS, 2005).</p><p>No ano de 1990, Ester Kosovski, Eduardo Mayr e Heitor Piedade Júnior coordenaram</p><p>uma obra Vitimologia em Debate, com vários artigos de escritores nacionais e</p><p>estrangeiros sobre tema. (MORAIS, 2005).</p><p>Segundo a referida obra, percebe-se que atualmente o estudo da vitimologia vem</p><p>ganhando maior número de adeptos, sendo desenvolvida por diversos autores</p><p>nacionais e internacionais, isso contribui para o desenvolvimento dessa ciência.</p><p>19.3 - Finalidade da Vitimologia</p><p>A vitimologia tem como principal finalidade estudar o comportamento da vítima em</p><p>relação ao delinquente, e vice versa, visando à analise do ponto de vista</p><p>biopsicossocial, na gênese do delito, vez em que, tal análise se tornará benéfica a</p><p>justiça, conforme ensina João Farias Júnior, quando afirma que não só em relação ao</p><p>julgamento da responsabilidade e culpabilidade, diante da sistemática atual, como,</p><p>também em relação ao julgamento do estado perigoso à sistemática</p><p>recuperacional</p><p>que preconizamos. (FARIAS JÚNIOR, 1996).</p><p>No mesmo sentido, Edgard Bittencourt, diz que a relação delinquente-vítima pode</p><p>revelar e fornecer, como tem sido alcançado pelos adeptos da doutrina, uma espécie</p><p>de chave quanto à gênese do delito, tal relação poderá auxiliar o juiz a resolver de</p><p>forma humana e justa a questão da culpabilidade. (BITTENCOURT, 1974).</p><p>Luiz Flávio Gomes e Antonio Garcia Pablos de Molina (2000, p. 73) comentam, in</p><p>verbis:</p><p>“O abandono da vítima do delito é um fato incontestável que se manifesta em</p><p>todos os âmbitos: no Direito Penal (material e processual), na Política</p><p>Criminal, na Política Social, nas próprias ciências criminológicas. Desde o</p><p>campo da Sociologia e da Psicologia Social, diversos autores, têm</p><p>denunciado esse abandono: o Direito Penal contemporâneo – advertem –</p><p>137</p><p>acha-se unilateral e equivocadamente voltado para a pessoa do infrator,</p><p>relegando a vítima a uma posição marginal, no âmbito da previsão social e</p><p>do Direito Civil material e processual.”</p><p>Contudo, é notório que a principal finalidade do estudo da criminologia é preencher a</p><p>lacuna fundamental da moderna ciência criminológica. Para isso, a vitimologia</p><p>preocupa-se em que a justiça não conheça somente o criminoso e o destaque,</p><p>elevando-o ao grau principalíssimo, mas que tenha consideração também ao papel</p><p>preponderante que representa a vítima. (BITTENCOURT, 1974).</p><p>Com o advento da Lei 7.209/84, inseriu-se em nosso Código Pena, no Art. 59 a</p><p>circunstância judicial, a qual coloca o comportamento da vítima como elemento de</p><p>peso na aferição da pena.</p><p>Atualmente já é reconhecido que a vítima é, quase sempre, fator imprescindível na</p><p>origem do crime, sendo adotado alguns aspectos concernentes ao objeto da</p><p>vitimologia na legislação penal, como exemplo, temos os dispositivos atenuantes, nos</p><p>casos de crimes praticados sob “injusta provocação da vítima”, ou quando esta é</p><p>causadora indireta do evento, bem como a obrigação de reparação do dano causado</p><p>pelo sujeito ativo do crime, como um pressuposto para usufruir de certos benefícios</p><p>penais.</p><p>Entendimentos mais recentes classificam a vitimologia como um ciência voltada para</p><p>os direitos humanos, uma vez que, o resultado da análise da vítima favorece a</p><p>aplicação de políticas públicas para reparar os danos causados pelo crime.</p><p>Por fim, o grau de inocência da vítima em confronto com o grau de culpa do autor</p><p>compõe precisamente os aspectos que tem sido negligenciados e que podem</p><p>contribuir para a explicação de numerosos casos. O conhecimento apenas dos pontos</p><p>que se referem ao crime não é suficiente. Basta essa afirmação para justificar a</p><p>necessidade da vitimologia. (BITTENCOURT, 1974).</p><p>19.4 - Vitimologia e criminologia</p><p>Diante de estudo tão complexo elaborado por Mendelsohn, muito se questiona sobre</p><p>a natureza da vitimologia, havendo diversas divergências entre críticos da matéria, se</p><p>é dada como uma ciência autônoma, ou uma ramificação do estudo da criminologia,</p><p>mais precisamente na infortunística¹ criminal.</p><p>138</p><p>Cumpre assinalar, em princípio, o que seja ciência para, após, ter-se a resposta.</p><p>Ciência é, pois todo o estudo que possui método, objeto e funções e, nesse sentido,</p><p>cita-se lições de Antonio Molina Garcia-Pablos (MOLINA, 2002, p. 37), a saber, in</p><p>verbis:</p><p>Infortunísitica é um ramo da Medicinal Legal “Criminologia é ciência empírica</p><p>e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da</p><p>vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de</p><p>subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica</p><p>e variáveis principais do crime, assim como sobre os programas de</p><p>prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva do homem</p><p>delinquente”.</p><p>Para Mendelsohn, a vitimologia devido ao seu complexo e sistematizado estudo, que</p><p>remete-se a diversos áreas das ciências humanas, como a psicologia, sociologia,</p><p>psiquiatria, psicanálise, até mesmo a criminologia, ocupando posição de ciência</p><p>autônima.</p><p>Em contraparte, os defensores da posição da não autonomia da vitimologia, alegam</p><p>que o conjunto de fatores que influenciam no ato delituoso, a atitude da vítima pode</p><p>representar importante papel, mas não suficiente para ser considerada disciplina</p><p>autônoma, pois estão elas incluídas nos deveres da criminologia.</p><p>Muito se tem discutido por criminólogos do mundo todo que estudam a Vitimologia se</p><p>ela já pode ser considerada uma ciência autônoma. Alguns penalistas e consideram</p><p>uma ciência auxiliar da criminologia, alguns somente um ramo da criminologia. A</p><p>questão norteadora é podemos saber se vitimologia pode ser considerada um ciência</p><p>autônoma ou não.</p><p>Segundo Mendelsohn, atualmente existem três grandes grupos internacionais bem</p><p>definidos acerca da discussão sobre a natureza científica da vitimologia</p><p>(MENDELSOHN, 2002):</p><p> Tratadistas, que consideram a vitimologia uma ciência autônoma, com objeto,</p><p>método e fim próprios;</p><p> Uma corrente que é formada por aqueles que consideram que a vitimologia é</p><p>uma parte da criminologia;</p><p> Aqueles que negam a autonomia e a existência da vitimologia. Orlando Soares</p><p>(SOARES, 2003) comenta que, in verbis:</p><p>139</p><p>“(...) se na atualidade os estudos sistematizados não permitem incluir a</p><p>vitimologia no rol das ciências autônomas, muito menos se poderá dizer que</p><p>esteja ela simplesmente ligada a criminologia. O fenômeno vitimal não me</p><p>parece que seja de peculiar interesse da criminogênese. Atinge outros</p><p>campos de especulação, o que explica a necessidade de especialização de</p><p>estudos ligados à vítima. O conjunto de conhecimento sobre o seu papel na</p><p>gênese do delito e nas relações sociais, econômicas e jurídicas, já assume</p><p>de forma nítida: não se prende a uma ciência apenas (muito menos se</p><p>prenderá exclusivamente à criminologia), mas se intercomunica com outras</p><p>muitas. A necessidade de sua autonomia poderá perfeitamente, com a</p><p>evolução e progresso dos estudos e resultados, ser levado em boa</p><p>consideração.</p><p>19.5 - A vítima</p><p>Escreve De Placido e Silva, vítima como: Do latim victma, geralmente entende-se</p><p>toda pessoa que é sacrificada em seus interesses, que sofre um dano ou é atingida</p><p>por qualquer mal. E sem fugir do sentido comum, na linguagem penal designa o</p><p>sujeito passivo de um delito ou de uma contravenção. É, assim, o ofendido, o ferido,</p><p>o assassinado, o prejudicado, o burlado. (SILVA, 2006, p.1493).</p><p>O conceito de vítima se estende, pois, a vários sentidos: (BITTENCOURT, 1974):</p><p> Originário: com que se designa a pessoa ou animal sacrificado à divindade;</p><p> Geral: significando a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios</p><p>atos, dos de outrem ou do acaso;</p><p> Jurídico-geral: representando aquele que sofre diretamente a ofensa ou</p><p>ameaça do bem tutelado pelo direito;</p><p> Jurídico penal-restrito: designando o indivíduo e a comunidade que sofrem</p><p>diretamente as consequências do crime.</p><p>Para João Farias Jr., entende-se por vítima qualquer pessoa que sofra de infaustos</p><p>resultados, seja de seus próprios atos, seja dos atos de outrem, seja de influxos</p><p>nocivos ou deletérios, seja de fatores criminógenos, ou seja, do acaso. (FARIAS JR.,</p><p>1990).</p><p>A vítima também pode ser entendida como sujeito que sofre diretamente a</p><p>lesão ou ofensa protagonizada pelo infrator. Esclarece Jaume Solé Riera que</p><p>“La Declaración de La Sociedad Internacional de Victimologia presentada en</p><p>140</p><p>El Congresso Intenacional de Las Naciones Unidas de 1985 define a La</p><p>victima como toda persona que há sufrido una pérdida, daño o lesión, ya sea</p><p>como individuo o como integrante de un grupo o colectividad, incluso</p><p>refiriendo el término ‘persona’ a entidades legales, organizaciones,</p><p>asociaciones, comunidades, el Estado e la sociedad en un todo”. (RIERA,</p><p>1997, p. 21).</p><p>Porém, a palavra serve hoje para designar pessoa que sucumbe ou que sofre as</p><p>consequências de um ato, de um fato ou</p><p>de um acidente.</p><p>A vítima passou de protagonista – estrela – para o esquecimento total, em todas as</p><p>esferas do Direito, seja ele penal, processual, político-criminal ou social, onde apenas</p><p>o infrator é peça principal, relegando a vítima a um “abandono”, à perda de sua</p><p>dignidade.</p><p>Deparando-se com esta cruel realidade é que Antonio Molina Garcia-Pablos assim</p><p>escreveu, in verbis:</p><p>O Estado – e os poderes públicos – orienta a resposta oficial ao delito com</p><p>base em critérios vingativos, retributivos (castigo ao culpável), desatendendo</p><p>às mais elementares exigências reparatórias, de maneira que a vítima resulta</p><p>relegada a um total desemparo, sem outro papel que o de puramente</p><p>“testemunhal”. Por último – e ainda de acordo com a denúncia dos sociólogos</p><p>e psicólogos – as sempre escassas inversões públicas parecem destinadas</p><p>sempre ao punido (novas prisões, infra-estruturas penitenciárias, etc.), como</p><p>se a ressocialização da vítima não fosse um objetivo básico do Estado “social</p><p>de Direito.” (GARCIA-PABLOS, 1997, p. 66).</p><p>A situação atual da vítima frente aos organismos estatais chega, quase, a beirar uma</p><p>inversão de valores, ou seja, o delinquente tem todo o aparato judicial a seu favor,</p><p>com garantias penais, constitucionais, processuais etc., e a sua vítima nada mais</p><p>pode fazer do que testemunhar, e muitas vezes frente a frente com o agressor,</p><p>sentindo-se amedrontada e novamente ofendida, o que levou alguns doutrinadores</p><p>modernos a falar em vitimização secundária, termo que pela sua importância, exige</p><p>a citação da obra já referida de Antonio Molina Garcia-Pablos:</p><p>“Sem incorrer em generalizações, pode-se afirmar que o dano que se</p><p>experimenta a vítima não se esgota, desde logo, na lesão ou no perigo de</p><p>lesão do bem jurídico e, eventualmente, em outros efeitos colaterais e</p><p>secundários que possam acompanhar ou suceder a lesão. A vítima sofre,</p><p>com frequência, um severo impacto, “psicológico” que se acrescenta ao dano</p><p>141</p><p>material ou físico provocado pelo delito. A vivência criminal se atualiza, revive</p><p>e perpetua. A impotência frente ao mal e o temor de que se repita produz</p><p>ansiedade, angustia, depressão, processos neuróticos etc. A tudo isso se</p><p>acrescentam, não poucas vezes, outras reações psicológicas, produto da</p><p>necessidade de se explicar o fato traumático: a própria atribuição da</p><p>responsabilidade ou autoculpatibilização, os complexos, etc. A sociedade</p><p>mesma, por outro lado, “estigmatiza” a vítima. Não a comtempla com</p><p>solidariedade e justiça, tratando de neutralizar o mal sofrido, senão com mera</p><p>compaixão e, às vezes, com desconfiança e receio. As pessoas próximas da</p><p>vítima vêem-na depreciativamente como pessoa “tocada”, como ‘perdedora’.</p><p>A vitimização produz isolamento social e, em último caso, marginalização.</p><p>Tudo isto costuma provocar uma modificação dos hábitos e estilo de vida,</p><p>com frequentes transtornos nas relações interpessoais. A atuação das</p><p>instâncias de controle penal formal (polícia, juízes etc.) multiplica e agrava o</p><p>mal que ocasiona o delito mesmo. Em parte porque estas repartições</p><p>altamente burocratizadas parecem esquecer os danos já experimentados</p><p>pela vítima, sua psicologia, sua especial sensibilidade e suas legítimas</p><p>expectativas, necessidades etc. Por outro lado também porque a vítima se</p><p>sente menosprezada, maltratada por elas, como se fosse simplesmente</p><p>objeto ou pretexto de uma rotineira investigação. Algumas situações</p><p>processuais, como a confrontação pública da vítima com o agressor, são</p><p>experimentadas por ela como uma verdadeira e injustificada humilhação.</p><p>Com essa razão já se disse que, por desgraça, a vítima do delito costuma</p><p>ser convertida com demasiada frequência em vítima do sistema legal; e que</p><p>esta vitimização “secundária” é mais preocupante que a “primária”. Diversas</p><p>investigações, de outro lado – e não é de se estranhar – constatam que são</p><p>muitos os infratores que contam em suas biografias experiências vitimarias</p><p>prévias. É dizer: antes de se tornarem delinquentes foram também vítimas</p><p>de delito.” (GARCIA-PABLOS, 1997, p. 84-85)”.</p><p>19.6 - Vitimização</p><p>Podemos considerar a vitimização como o processo que leva uma pessoa a se vitimar</p><p>ou se tornar vítima.</p><p>Defendem os doutos do estudo da vitimologia que desde muito novo, ou até mesmo</p><p>antes de nascer, o ser humano poderá passar pelo processo de criminalização ou</p><p>vitimização, como nos casos de crianças entregues aos mais diversificados abusos,</p><p>142</p><p>ou até mesmo aquelas nascidas de relações incestuosas, de estupros, pais violentos,</p><p>mães prostitutas, dentre outros casos, nascidas no meio de toda miséria.</p><p>Da comprovação da existência desse tipo de inclinação originou-se o entendimento</p><p>de que certas pessoas podem trazer consigo uma natureza provocadora, e por essa</p><p>razão, chamam a atenção dos delinquentes e atraem para si o chamado processo de</p><p>vitimização.</p><p>Conclui-se que, da mesma forma que existem fatores criminógenos, há fatores</p><p>vitimógenos, sendo esses o influxo, endógeno ou exógeno, capaz de levar o homem</p><p>a cair em desgraça. O fator envolve causa/condição/ocasião, e tudo que gera ou</p><p>concorre para o resultado, nesse contexto, se o homem nascer e viver em condições</p><p>desfavoráveis terá maior propensão, haja vista que ao nascer o ser humano não tem</p><p>predisposição para facultar o local onde nasce ou as pessoas da qual terá convivência</p><p>e dos influxos maléficos que poderá vir a receber. (FARIAS JUNIOR, 1990).</p><p>No mesmo sentido, ao se tratar de fator vitimógeno João Faria Junior entende que</p><p>quando as condições lhe foram desfavoráveis, quando os influxos nele incidentes</p><p>foram deletérios e, em vista disso, ele se torna um marginal, ou um delinquente, não</p><p>se lhe pode dar outra qualificação senão a se Vítima do Infortúnio. (FARIAS JUNIOR,</p><p>1990).</p><p>Finalmente, rememorando os ensinamentos de Rousseau do qual afirma que o</p><p>homem é fruto do meio, podemos concluir que o sujeito que vive em condições sub-</p><p>humanas, em meio a criminalidade, tem maior propensão para se tornar um</p><p>delinquente, muitas vezes nem por sua vontade, mas pelas condições a qual lhe</p><p>restaram à sobreviver, estando desestruturado financeira e intelectualmente o homem</p><p>criminoso pode ser considerado uma vítima social, devido ao infortúnio a qual foi</p><p>submetido a viver.</p><p>20 – INFORTUNÍSTICA</p><p>A infortunística é a parte da</p><p>Medicina Legal que estuda os</p><p>acidentes de trabalho e as</p><p>doenças profissionais.</p><p>143</p><p>Importante matéria porque também busca meios de prevenir e reparar as doenças e</p><p>acidentes de trabalho, resguardando o bem da vida: saúde. O assunto se encontra</p><p>na Lei 8.213/91 que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, e</p><p>pelo decreto 3.048/99 que regulamenta a mesma. O Art. 19 da Lei 8.213/91 nos dá o</p><p>conceito de acidente do trabalho, qual seja, aquele que ocorre pelo exercício do</p><p>trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais,</p><p>provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou</p><p>redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.</p><p>De acordo com França, Genival Veloso de (1985) o tema trata-se de acidentes de</p><p>trabalhos e doenças do trabalho. O grande desenvolvimento e o avanço de ideias</p><p>pois nos dias de hoje o trabalho se torna a cada dia que se passa mais preciso, útil e</p><p>imprescindível. Não apenas pelo ponto de vista econômico mais também pelo fator</p><p>indispensável a realizada das pessoas.</p><p>Retrataremos alguns pontos relevantes como acidentes e doenças, benefícios, tipos</p><p>de culpa e pericia; no qual veremos os pontos importantes de cada um.</p><p>20.1 - Teoria do Risco</p><p>O risco profissional é especifico em relação ao próprio trabalho, não tendo a</p><p>preocupação de apurar a culpa do patrão, do funcionário. O risco profissional pode</p><p>ser genérico, especifico e genérico agravado.</p><p> Genérico: é aquele que incide sob todas as pessoas de qualquer atividade ou</p><p>ocupação</p><p> Específico: é aquele que está ligado aos funcionários de natureza do trabalho</p><p>que lhe cabe fazer.</p><p> Genérico Agravado: é aquele sujeito ao empregado em atividades especiais</p><p>ou em situações em que este realiza.</p><p>144</p><p>20.2 - Acidentes de Trabalho</p><p>São aqueles realizados no local de</p><p>trabalho que provocam lesões corporais e</p><p>perturbações mentais como físicas, ou</p><p>seja, causados no trabalho.</p><p>Conforme o artigo 86 da lei 8.213/91</p><p>devem ser preenchidos os requisitos</p><p>quais seja a redução da capacidade de</p><p>trabalho pela qual exercia.</p><p>Acidentes de trabalho é caracterizado pelos seguintes elementos: existência de</p><p>lesão corporal, incapacidade temporária ou permanente, prova de nexo de</p><p>causalidade entre trabalho e moléstia.</p><p>São considerados acidentes de trabalho:</p><p> Problemas de coluna, audição, visão e etc. (Doenças provocadas pelo</p><p>trabalho);</p><p> Dermatoses causadas por cal e cimento ou problema de respiração por</p><p>causa da poeira. (Doenças causadas pelas condições do trabalho);</p><p> Acidentes que acontecem fora do trabalho pela prestação de serviços.</p><p>20.3 - Doenças de Trabalho</p><p>Doença profissional é aquela que resulta diretamente com as condições de trabalho</p><p>com está no Decreto Regulamentar nº 76.2007, de 17 de julho e causa incapacidade</p><p>de trabalho ou morte.</p><p>As doenças mais comuns são:</p><p> Tendinite</p><p> Esforço repetitivo</p><p>Os profissionais que mais apresentam essas doenças são:</p><p> Digitadores</p><p>145</p><p> Secretários</p><p> Bancários</p><p> Operadores de Call Center</p><p>Os que são causados por substâncias químicas como:</p><p> Bronquite</p><p> Problemas respiratórios</p><p> Pele</p><p>20.4 – Indenização</p><p>As indenizações, que a lei prefere denominar benefícios, variam conforme a espécie</p><p>de incapacidade, e então reguladas pelo art. 5º e seus parágrafos da Lei 6.367, de 19</p><p>de outubro de 1976.</p><p>Os empregadores são obrigados a segurar seus empregados contra acidentes do</p><p>trabalho, a fim de que os protejam contra possíveis insolvências.</p><p>As tabelas de incapacidades parciais preveem numerosas eventualidades práticas,</p><p>mas não todas; quando haja dúvida, dever-se à ouvir o Ministério da Previdência e</p><p>Assistência Social. As tabelas, amplamente divulgadas, trazem todas as indicações</p><p>de seu manuseio e são fáceis de utilizar.</p><p>Indenização acidentária por danos materiais:</p><p> Indenização no caso de morte da vítima (art. 948, CC);</p><p> Indenização no caso de incapacidade temporária da vítima</p><p>(art. 949, CC);</p><p> Indenização no caso de incapacidade permanente, total ou parcial</p><p>(art. 950, CC).</p><p>20.5 - Perícia Médica</p><p>A perícia médica tem relevo marcante em matéria de acidente do trabalho. A opinião</p><p>do perito será, quase sempre, o dado fundamental para a solução do caso.</p><p>146</p><p>A perícia do acidentado deve ser feita com muita cautela, a fim de estabelecer uma</p><p>solução para os problemas de Infortunística.</p><p>Há três aspectos relevantes e exigidos no exame do acidentado:</p><p> Esclarecer a causa, natureza do acidente ou doença profissional no</p><p>nexo de causa e efeito;</p><p> Afastar as possibilidades de simulação;</p><p> Avaliar o grau de incapacidade.</p><p>Em juízo a perícia será feita por perito nomeado pelo Juiz, que deverá arbitrar-lhes a</p><p>respectiva remuneração. Sempre que possível, os exames periciais, que forem</p><p>ordenados pelo Juiz, deverão ser realizados na sede do respectivo Juízo.</p><p>Quando a morte resultar de um acidente do trabalho ou for ao mesmo atribuída, dever-</p><p>se à proceder à necropsia, que poderá ser ordenada pela autoridade judiciária ou</p><p>policial, por sua própria iniciativa, a pedido de qualquer das partes, ou do médico</p><p>assistente da vítima.</p><p>A autoridade que ordenar a necropsia nomeará o perito que deverá realizá-la e</p><p>arbitrar-lhe à os honorários, salvo quando a perícia deva ser efetuada em instituto ou</p><p>Serviço Médico-Legal oficial.</p><p>A remuneração dos peritos, nos casos de acidentes do trabalho, será feita de acordo</p><p>com o disposto no regimento de custas.</p><p>Salvo quando procedido com finalidade especial, determinada pela autoridade</p><p>competente, todo laudo de perícia médica realizada no vivo, com fundamento num</p><p>acidente do trabalho, deverá conter:</p><p> Os dados relativos à identificação do examinado (nome, cor, sexo,</p><p>idade, nacionalidade, estado civil e residência);</p><p> O histórico da lesão ou doença, com informações sobre a sua evolução,</p><p>extensão e gravidade;</p><p> A descrição dos antecedentes pessoais, mórbidos ou não, que se</p><p>possam relacionar com a incapacidade atribuída ao acidente;</p><p> Conclusões sobre a existência ou não de relação de causalidade entre</p><p>as alterações mórbidas verificadas e o fato alegado decorrente do</p><p>exercício do trabalho;</p><p>147</p><p> A avaliação da incapacidade por acaso resultante do acidente, com a</p><p>determinação da época provável da cura ou da consolidação das</p><p>lesões, ou, no caso de prognóstico letal, de tempo de vida provável</p><p>acidentado;</p><p> Informações sobre a natureza e duração dos cuidados médicos ainda</p><p>necessários ao acidentado; sobre a natureza do aparelho de prótese</p><p>para ele indicado ou sobre os característicos e eficiência do aparelho já</p><p>usado.</p><p>Nas perícias no morto, orientar-se à sempre o perito no sentido de bem esclarecer a</p><p>relação de causa e efeito entre o acidente e a morte.</p><p>Atualmente o acidente do trabalho está regulamentado pela Lei nº 8.213/91, sendo</p><p>conceituado como aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,</p><p>provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, redução ou</p><p>perda da capacidade laborativa.</p><p>Ao pesquisar os acidentes do trabalho e as situações extremas percebe-se a</p><p>importância de uma legislação específica possibilitando a elaboração de um sistema</p><p>adequado de proteção ao trabalhador, enfim um novo modelo que acima de qualquer</p><p>situação, seja antes de tudo humanitário.</p><p>Conclui-se, dessa forma, que uma nova legislação deverá corrigir substancialmente</p><p>aspectos ainda não contemplados pela Previdência Social, garantindo a proteção</p><p>integral do trabalhador, promovendo, acima de tudo condição saudável de trabalho.</p><p>148</p><p>21 - BIBLIOGRAFIA</p><p>ABCMED, 2014. 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As necrópsias, como já mencionado, por respeito ao cadáver, eram</p><p>proscritas.</p><p>Com a reforma, em Roma, emanciparam-se a Medicina e o Direito, como se</p><p>depreende dos códigos de Justiniano, que têm implícita a Medicina Legal. Assim,</p><p>determinava o Digesto: "Medici non sunt proprie testes, sed magis est judicium quam</p><p>testimonium", ou seja, não testemunham, ajuízam.</p><p>Registra ainda o Digesto que a intervenção das</p><p>parteiras era exigida para o exame da prenhez,</p><p>suposta ou duvidosa. Nas Pandectas e Novelas,</p><p>trata-se de disposições relativas ao casamento,</p><p>à separação de corpos, à impotência, à</p><p>viabilidade fetal, à data do parto etc.</p><p>A lei Aquilia trata da letalidade dos ferimentos.</p><p>14</p><p> Período Médio ou da Idade Média</p><p>Nesse período houve contribuição mais direta do médico ao direito, como se nota "na</p><p>lei sálica, na germânica e nas Capitulares de Carlos Magno, que contêm detalhes de</p><p>anatomia sobre ferimentos e</p><p>sobre a reparação devida às</p><p>vítimas, conforme a sede e a</p><p>gravidade das mesmas" (Hélio</p><p>Gomes). Esse período foi</p><p>indelevelmente marcado,</p><p>portanto, pelas Capitulares de</p><p>Carlos Magno, que estabelecem</p><p>que os julgamentos devem</p><p>apoiar-se no parecer dos médicos.</p><p>Infelizmente, após Carlos Magno sobreveio na Idade Média a onda de vandalismo</p><p>que extinguiu a Medicina Legal, substituindo-a pela prática absurda e cruel nordo-</p><p>germânica das provas inquisicionais em que a penalidade depende do dano causado,</p><p>e às provas invoca-se o Juízo de Deus ("ordálias").</p><p> Período Canônico</p><p>Compreende 400 anos (1200 a 1600).</p><p>Nesse período foi restabelecido o concurso das perícias médico-legais, como se</p><p>depreende da bula do Papa Inocêncio III, em 1219, que trata dos ferimentos em juízo</p><p>como revestidos de habitualidade.</p><p>Chamado Canônico, o quarto período é influenciado beneficamente pelo</p><p>Cristianismo, que, pela codificação das Decretais dos Pontifíces dos Concílios, dá</p><p>normas ao Direito Moderno dos povos civilizados.</p><p>A sexologia é tratada exaustivamente nas Decretais, pois "a moralidade tem aí seus</p><p>fundamentos". A perícia é obrigatória, tendo sido instituído, nesse período, o</p><p>axioma medici creditur in sua medicina: tem fé pública o médico nos assuntos</p><p>médicos.</p><p>A anulação do casamento por impotência enseja a "prova do congresso", realizada</p><p>por três parteiras e posteriormente por três médicos que, separados do casal por uma</p><p>15</p><p>cortina, em aposento contíguo, confirmavam a realização ou não da conjunção carnal,</p><p>em burlesca caricatura de perícia. Foi proibida em 1677 pelo Parlamento de França.</p><p>O período Canônico é indefectivelmente assinalado pela promulgação do Código</p><p>Criminal Carolino (de Carlos V), pela Assembléia de Ratisbonna, em 1532. A</p><p>Constituição do Império Germânico impõe obrigatoriedade à perícia médica antes da</p><p>decisão dos juízes nos casos de ferimentos, assassinatos, prenhez, aborto, parto</p><p>clandestino. É o primeiro documento organizado de Medicina Judiciária, imputando-</p><p>lhe indispensabilidade à Justiça e determinando o pronunciamento dos médicos antes</p><p>das decisões dos juízes.</p><p>A Alemanha tem, assim, no dizer de Souza Lima, "o mais legítimo e inconusso direito</p><p>de considerar-se o berço da Medicina Legal".</p><p>Em 1512, foi necropsiado o cadáver do Papa Leão X, por suspeita de</p><p>envenenamento.</p><p>Finalmente, em 1575 surge o primeiro livro de Medicina Legal, de</p><p>Ambroise Paré, intitulado Des rapports et des moyens d'embaumer</p><p>les corps morts, e a França aclama seu autor como o pai da Medicina</p><p>Forense, a despeito de a obra, de inegável valor, não constituir corpo</p><p>doutrinário e sistemático.</p><p> Período Moderno ou Científico</p><p>Inicia-se em 1602, em Palermo, na Itália, com a publicação do livro intitulado De</p><p>Relatoribus Libri Quator in Quibus e a Omnia quae in Forensibus ac Publicis Causis</p><p>Medici Preferre Solent Plenissime Traduntur, de Fortunato Fidelis.</p><p>Em 1621, Paulus Zacchias publica o verdadeiro tratado da disciplina, Quaestiones</p><p>Medico Legales Opus Jurisperitis Maxime Necessarium Medicis Peritilis, obra</p><p>monumental com 1200 páginas, distribuídas em três volumes, na qual compendia</p><p>tudo o que se sabia e em que se estudam com discernimento e cultura numerosos</p><p>problemas médico-legais. É por isso considerado pela maioria dos autores como o</p><p>verdadeiro fundador da Medicina Legal.</p><p>16</p><p>Entretanto, foi no século XIX que a Medicina Legal se firmou no conceito que a Justiça</p><p>lhe emprestou a partir do momento em que o suspeitado pode, enfim, ser confirmado</p><p>pelo exame necroscópico.</p><p>E desde então, graças aos nomes de Orfila, Divergie, Lacassagne, Rollet, Thoinot,</p><p>Tardieu e Brouardell, na França; Bernt, Hoffman, Schanesteir e Paltauf, em Viena:</p><p>Telchmeyer, na Alemanha; Hunter e Cooper, na Inglaterra; Barzelloti, Martini,</p><p>Perrone, Garófolo, Virgílio, Nicéforo, Falconi e Ferri, na Itália; Balk, Gromev, Schmidt</p><p>e Poelchan, Dragendorff e Pirogoff, na Rússia, e, no Brasil, Alcântara Machado, Alves</p><p>de Menezes, Armando Canger Rodrigues, Alírio Batista, Arnaldo Amado Ferreira,</p><p>Arnaldo Ramos de Oliveira, Arnaldo Siqueira, Agenor Lopes Cançado, Álvaro Dória,</p><p>Clóvis Meira, Camargo Júnior, Costa Pinto, Carneiro Belford, Celestino Prunes, César</p><p>Celso Papeleo, César Francisco Ribeiro Júnior, Clóvis das Neves, Ernâni Simas</p><p>Alves, Edgar Altino, Estácio de Lima, Flamínio Fávero, García Moreno, Gualter Luiz,</p><p>Geraldo Vasconcelos, Genival Veloso de França, Hélio Gomes, Hilário Veiga de</p><p>Carvalho, Hermes Rodrigues de Alcântara, Halley Alves Bessa, Hugo Santos Silva,</p><p>José Hamilton, João Henrique de Freitas Filho, José Lima de Oliveira, João Batista</p><p>de Oliveira, João Carlos da Silva Teles, João Otávio Lobo Joaquim Madeira Neves,</p><p>José Barros de Azevedo, José Lages Filho, José Ludovico Maffei, Júlio Afrânio</p><p>Peixoto, Leonídio Ribeiro, Luiz Duda Calado, Marco Segre, Nilton Sales, Napoleão</p><p>Teixeira, Neiva de Sant'Ana, Oscar de Castro, Oscar Negrão de Lima, Oscar Freire,</p><p>Paulo A. Prado, Ramon Sabaté Manubens, Raymundo Nina Rodrigues, Souto Maior,</p><p>Teodorico de Freitas, Tarcizo L. Pinheiro Cintra, Tasso Ramos de Carvalho, Telmo</p><p>Ferreira, Thales de Oliveira, entre outros, a Medicina Legal está em constante e</p><p>vertiginoso progresso, por aquisições científicas, aprimoramento dos métodos de</p><p>pesquisa e encadeamento doutrinário.</p><p>4 – HISTÓRICO NO BRASIL</p><p>A Medicina Legal nacional desfruta da admiração e respeito do mundo, conforme ficou</p><p>patenteado (1985) na perícia de determinação da identidade, por especialistas do IML</p><p>de São Paulo e da Unicamp, do carrasco nazista Joseph Mengele, conhecido pelos</p><p>17</p><p>prisioneiros de Auschwita como o "anjo da morte", cuja ossada foi encontrada sepulta</p><p>em Embu, São Paulo.</p><p>Na época colonial, a Medicina Legal nacional foi decisivamente influenciada pelos</p><p>franceses e, em menor escala, pelos italianos, alemães, sendo praticamente nula a</p><p>participação portuguesa, estando representada por esparsos documentos médico-</p><p>legais, compilados de trabalhos referentes à Toxicologia e por "um ou outro laudo</p><p>pericial feito por leigos, mais interessantes pelo lado pitoresco do que pelo aspecto</p><p>médico propriamente dito ". (Pedro Salles).</p><p>Numa fase seguinte surge Souza Lima, insigne mestre a quem reverenciamos por ter</p><p>sido o iniciador, em 1818, do ensino prático da Medicina Legal no Brasil,</p><p>desenvolvendo a pesquisa laboratorial,</p><p>então reduzida à Toxicologia, e por ter feito,</p><p>sem ser advogado, uma tentativa de interpretação e comentários médico-legais em</p><p>relação às leis nacionais.</p><p>A verdadeira nacionalização da nossa Medicina Legal e se deve à criação, por</p><p>Raymundo Nina Rodrigues, de uma autêntica Escola brasileira da especialidade na</p><p>Bahia, constituída, entre outros, por Alcântara Machado, Júlio Afrânio Peixoto,</p><p>Leonídio Ribeiro, Oscar Freire e Estácio Luiz Valente de Lima, que</p><p>originariamente "orientou a diferenciação da disciplina, dos seus métodos e da sua</p><p>doutrina para as particularidades do meio judiciário, das condições físicas, biológicas</p><p>e psicológicas do ambiente" (Geraldo Vasconcelos). E a partir de então sucederam-</p><p>se sadiamente nas capitais brasileiras as escolas de Medicina Legal, interessando</p><p>aos juristas, advogados, delegados de polícia, médicos, psicólogos e psiquiatras o</p><p>conhecimento dessa disciplina, tal o grau de entrosamento que ela guarda com todos</p><p>os ramos do saber.</p><p>4.1 - Divisão didática da disciplina</p><p>Por interesse didático, a Medicina Legal admite uma parte geral, na qual se estuda a</p><p>Jurisprudência Médica, ou seja, a Deontologia e a Diceologia Médica que ensejam</p><p>aos profissionais da Medicina conhecimentos sobre os seus deveres e direitos, e o</p><p>Código de Ética dos Advogados, e uma parte especial cuja divisão registraremos ao</p><p>longo do estudo.</p><p>18</p><p> Antropologia Forense: Estuda a identidade e a identificação, seus métodos,</p><p>processos e técnicas.</p><p> Traumatologia Forense: Trata das lesões corporais e das energias</p><p>causadoras do dano.</p><p> Sexologia Forense: Versa sobre a sexualidade normal, patológica e</p><p>criminosa. Analisa as sutis questões inerentes à Erotologia, à Himenologia e à</p><p>Obstetrícia forense.</p><p> Asfixiologia Forense: Vê as asfixias em geral, do ponto de vista médico e</p><p>jurídico. Detalha as particularidade próprias da esganadura, do</p><p>estrangulamento, do enforcamento, do afogamento, do soterramento, da</p><p>imersão em gases irrespiráveis etc., nos suicídios, homicídios e acidentes.</p><p> Tanatologia: Preocupa-se com a morte e o morto em todos os seus aspectos</p><p>médico-legais, os fenômenos cadavéricos, a data da morte, o diagnóstico da</p><p>morte, a morte súbita e a morte agônica, a inumação, a exumação, a necropsia,</p><p>o embalsamento e a causa jurídica da morte.</p><p> Toxicologia: Estuda os cáusticos, os envenenamentos e a intoxicação</p><p>alcoólica e por tóxicos, pelo emprego de processos laboratoriais. Graças à sua</p><p>notável evolução é, atualmente, especialidade que empresta seu saber à</p><p>Medicina Legal.</p><p> Psicologia Judiciária: Versa sobre os fenômenos volitivos, afetivos e mentais</p><p>inconscientes que podem influenciar na formação, na reprodução e na</p><p>deformação do testemunho e da confissão do acusado e da vítima. Analisa,</p><p>ainda, o depoimento dos idosos e dos menores etc.</p><p> Psiquiatria Forense: Estuda as doenças mentais, a periculosidade do</p><p>alienado, as socioneuropatias em face dos problemas judiciários, a simulação,</p><p>a dissimulação, os limites e modificadores da capacidade civil e da</p><p>responsabilidade penal.</p><p> Policiologia científica: Visualiza os métodos científico-médico-legais</p><p>empregados pela polícia na investigação criminal e no deslindamento de</p><p>crimes.</p><p> Criminologia: Estuda os diferentes aspectos da gênese e da dinâmica dos</p><p>crimes.</p><p> Vitimologia: Trata da análise racional da participação da vítima na eclosão e</p><p>justificação das infrações penais.</p><p>19</p><p> Infortunística: Preocupa-se com os acidentes do trabalho, com as doenças</p><p>profissionais, com a higiene e a insalubridade laborativas.</p><p>5 – FINALIDADE DA MEDICINA LEGAL</p><p>A medicina legal tem como finalidade orientar os legisladores e os magistrados na</p><p>elaboração e aplicação das leis, respectivamente, além disso a medicina legal</p><p>possibilita o esclarecimento de questões processuais criminais, cíveis, administrativa,</p><p>trabalhistas dentre outras.</p><p>Para auxiliar na busca pela solução dos problemas judiciais, a medicina legal se</p><p>socorre de diferentes fontes, como por exemplo da fotografia, radiografia, balística,</p><p>toxicologia, biomedicina, anatomia normal e patológica, biologia, microbiologia,</p><p>parasitologia, psicologia, psiquiatria, geologia, etc.</p><p>Na elaboração das leis a medicina tem importância na medida em que a criação de</p><p>uma norma visando proteger um Bem Jurídico pode exigir conhecimentos específicos</p><p>afetos a uma determinada área.</p><p>Exemplo: Art. 129, § 1º, III do Código Penal.</p><p>Lesão corporal</p><p>“Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:</p><p>Pena - detenção, de três meses a um ano.</p><p>Lesão corporal de natureza grave</p><p>§ 1º Se resulta:</p><p>III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;”</p><p> proteção do bem jurídico “Integridade Física”.</p><p>Existe um escalonamento da lesão:</p><p> Leve</p><p> Grave</p><p> Gravíssima</p><p>Ou seja, através da realização do do exame de corpo de delito configura-se o grau da</p><p>lesões. Importante também a medicina legal na execução das leis. Assim, temos:</p><p>20</p><p>Ex.: Lesão corporal.</p><p>Como dito acima a detecção da intensidade da lesão somente poder· ser constatado</p><p>com realização de perícia médica.</p><p>5.1 – Autonomia da Medicina Legal</p><p>Discute-se se a Medicina Legal é uma ciência autônoma. Existem três correntes:</p><p>Pelo esquema acima nota-se que a primeira corrente coloca a medicina legal como</p><p>algo dispensável e sem importância, já a segunda corrente não é bem aceita pois o</p><p>método da medicina legal é comum aos demais ramos da medicina, seu objeto não é</p><p>próprio já· que várias ciências estudam o homem (como por exemplo a sociologia) e</p><p>o objetivo (auxiliar o Direito) também é o mesmo de outras disciplinas. Assim, a</p><p>corrente que mais se adequa é a terceira – Intermediária ou Mista.</p><p>21</p><p>5.2 - O objeto de estudo da medicina legal</p><p>É possível dizer que o objeto de estudo da medicina legal é o ser humano, seja ele</p><p>vivo ou morto, saudável ou doente, o que significa dizer que no campo da medicina</p><p>legal todas as áreas da medicina são importantes. A</p><p>Assim, a atuação da medicina legal inicia-se com a fecundação e se encerra com o</p><p>desaparecimento do último vestígio cadavérico.</p><p>Nos dizeres de Delton Croce:</p><p>A Medicina Legal estuda a vida, em sua essência, e a morte. É a ciência</p><p>social vivaz e realista, embasada na Verdade e na Justiça, que desnuda o</p><p>indivíduo desde enquanto ovo, e depois, até o âmago do ser e seduz e</p><p>apaixona, irremediavelmente, desde o início, os seus profissionais.</p><p>6 – DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS</p><p>"Documento: Qualquer base do conhecimento fixada materialmente e disposta de</p><p>maneira que se possa utilizar para consulta, de estudo, prova etc.". (A. B. de</p><p>Holanda).</p><p>"Título ou diploma ou declaração escrita que serve de prova”.(da Cunha).</p><p>"Documentos médico-judiciários: São instrumentos escritos, ou simples</p><p>exposições verbais mediante os quais o médico fornece esclarecimentos a justiça”.</p><p>6.1 – Espécies</p><p>A) Notificações</p><p>B) Atestado</p><p>C) Relatório</p><p>D) Consulta</p><p>E) Parecer</p><p>22</p><p>F) Depoimento Oral</p><p> NOTIFICAÇÕES:</p><p>Definição: “São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades</p><p>competentes de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária, como</p><p>acidente do trabalho, doenças infecto-contagiosas, uso habitual de substâncias</p><p>entorpecentes ou crime de ação pública que tiverem conhecimento e não exponham</p><p>o cliente a procedimento criminal”.</p><p>Legislação:</p><p>Art. 269 CP: “Deixar o médico de denunciar a autoridade pública, doença de</p><p>notificação compulsória”.</p><p>Pena - detenção de 6 meses a 2 anos e multa.</p><p>Art. 154 CP: “Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão</p><p>de função de ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a</p><p>outrem”.</p><p>Pena - detenção de 3 meses a 1 ano ou multa.</p><p>Lei 6259 de 30/10/75: “Constituem objeto de notificação compulsória as doenças</p><p>seguintes relacionadas”:</p><p>I - Em todo território nacional: cólera, coqueluche, difteria, doença meningocócica e</p><p>outras meningites, febre amarela, febre tifóide, hanseníase, leishmaniose,</p><p>oncocercose, peste, poliomielite, raiva humana, sarampo, tétano, tuberculose,</p><p>varíola;</p><p>II - Em área específica: esquistossomose, filariose e malária.</p><p> ATESTADO:</p><p>Definição:</p><p>É a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências”.</p><p>classificação:</p><p>23</p><p>a) Quanto a procedência ou destino:</p><p>Oficioso - É aquele fornecido por um médico na atividade privada com destino a uma</p><p>pessoa física ou privada. Justifica situações menos formais.</p><p>Administrativo - É aquele fornecido por um médico servidor público ou um particular</p><p>mas que vai desempenhar seu papel junto a uma repartição pública, ou seja, servem</p><p>aos interesses dos serviços públicos.</p><p>Judicial - É aquele expedido por solicitação do Juiz ou que integra os autos</p><p>judiciários. Atende a administração da justiça.</p><p>b) Quanto ao “Modus faciendi” ou conteúdo Idôneo:</p><p>É aquele expedido pelo profissional habilitado e o seu conteúdo expressa a</p><p>veracidade do ato.</p><p>Gracioso - É aquele fornecido sem a prática do ato profissional que o justifique, não</p><p>importando se gratuitamente ou pago “caridade, humanidade, amizade, político”. É</p><p>sempre antiético e pode se transformar em imprudente ou falso.</p><p>Imprudente - É aquele fornecido por um médico particular para fins administrativos,</p><p>sabendo-se que a empresa ou repartição tem serviço médico próprio.</p><p>Falso - É o que na sua expressão falta com a verdade, dolosamente. É crime previsto</p><p>no Código Penal como falsidade ideológica.</p><p>Tipos:</p><p> De vacina;</p><p> De sanidade física ou mental;</p><p> De óbito;</p><p> De insanidade física ou mental.</p><p>Legislação:</p><p>Art. 302 CP - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:</p><p>Pena - detenção, de um mês a um ano.</p><p>Código de Ética Médica:</p><p>Art. 110 – “Fornecer atestado sem ter praticado ato profissional que o justifique, ou</p><p>que não corresponda à verdade”.</p><p>24</p><p> RELATÓRIO</p><p>Definição:</p><p>É a descrição minuciosa de um fato médico e de suas consequências, requisitadas</p><p>por autoridade competente.</p><p>Tipos:</p><p>O relatório recebe o nome de AUTO quando é ditado pelo perito ao escrivão, durante</p><p>ou logo após, e denominado de LAUDO quando é redigido pelo(s) próprio(s) perito(s),</p><p>posteriormente ao exame.</p><p>Partes:</p><p> Preâmbulo: É a parte onde os peritos declaram suas identificações, títulos,</p><p>residências, qualificam a autoridade que requereu e a autoridade que autorizou</p><p>a perícia, e o examinado; hora e data em que a perícia é realizada e a sua</p><p>finalidade.</p><p> Quesitos: São as perguntas formuladas pela autoridade judiciária ou policial,</p><p>pela promotoria ou pelos advogados das partes.</p><p> Histórico: Consiste no registro dos fatos mais significativos que motivam o</p><p>pedido da perícia ou que possam esclarecer e orientar a ação do legisperito.</p><p> Descrição: Contém o “visum et repertum” É a descrição minuciosa, clara,</p><p>metódica e singular de todos os fatos apurados diretamente pelo perito.</p><p>Constitui a parte essencial do relatório.</p><p> Discussão: É a análise cuidadosa dos fatos fornecidos pelo exame e</p><p>registrado na descrição, compará-los com os informes disponíveis relatados</p><p>no histórico, encaminhando naturalmente o raciocínio do leitor para o</p><p>entendimento da conclusão.</p><p> Conclusão: É o sumário de todos os elementos objetivos observados e</p><p>discutidos pelo perito, constituindo a dedução sintética natural da discussão</p><p>elaborada.</p><p> Resposta aos Quesitos: As respostas aos quesitos formulados devem ser</p><p>precisas e concisas.</p><p>25</p><p> CONSULTA MÉDICO-LEGAL</p><p>É a solicitação na qual o(s) interessado(s) ouvem a opinião de um ou mais</p><p>especialistas a respeito do valor científico de determinado relatório médico-legal,</p><p>quando o mesmo deixa dúvidas a respeito de seu conteúdo.</p><p> PARECER MÉDICO-LEGAL</p><p>É a resposta escrita de autoridade médica, de comissão de profissionais ou de</p><p>sociedade científica, a consulta formulada com o intuito de esclarecer questões de</p><p>interesse jurídico (Preâmbulo, Exposição, Discussão, Conclusão).</p><p> DEPOIMENTO ORAL</p><p>São os esclarecimentos dados pelo perito, acerca do relatório apresentado, perante</p><p>o júri ou em audiência de instrução e julgamento.</p><p>Considera-se ainda o prontuário médico, o boletim, e até mesmo a receita médica</p><p>como documentos de importância médica e jurídica.</p><p>Considera-se ainda o prontuário médico, o boletim médico, e até mesmo a receita</p><p>médica como documentos de importância médica e jurídica.</p><p> PRONTUÁRIO MÉDICO</p><p>Definição:</p><p>É o registro feito pelo médico dos comemorativos do paciente. O médico incorre em</p><p>falta ética grave se deixar de elaborá-lo. (Art. 69 do CEM).</p><p>Itens / Roteiro:</p><p>a) Identificação; b) Queixa e Duração; c) Anamnese; d) Exame Físico Geral; e) Exame</p><p>Físico Especial; f) Exames Complementares; g) Diagnóstico h) Conduta; i)</p><p>Prognóstico</p><p>Outros Elementos Integrativos:</p><p>a)Ficha de Serviço Social;</p><p>26</p><p>b)Ficha de Serviço de Enfermagem;</p><p>c)Ficha do Serviço de Nutrição;</p><p>d)Controle Metabólico;</p><p>e)Controle Anestesistas;</p><p>f)Descrição da Cirurgia;</p><p>g)Opiniões de Especialistas;</p><p>h)Exames Específicos;</p><p>i)Ficha Radioterapia e/ou Quimioterapia;</p><p>j)Prontuário do RN + Declaração de Nascido Vivo;</p><p>l)Resumo de Alta;</p><p>m)Relatório Necropsia / AO.</p><p>Importância:</p><p>a) Interesse Médico: Pesquisas, Acompanhamentos etc.;</p><p>b) Interesse Jurídico: -Questões Civis, Penais, Trabalhistas etc.</p><p>7 - O BOLETIM MÉDICO</p><p>7.1-A receita médica</p><p>7.2- Considerações preliminares sobre o atestado de óbito</p><p>A organização de saúde da Liga das Nações constituiu no início desse século uma</p><p>comissão para o estudo e criação de um modelo único de Atestado de óbito. Até então</p><p>todo país possuía um modelo próprio. Este foi publicado em 1925 posteriormente</p><p>adotado pela Inglaterra (1927) e Estados Unidos (1939).</p><p>Em 1948 na Sexta Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças na</p><p>Conferência Internacional da Revisão da Classificação foi adotado o “Modelo</p><p>Internacional de Atestado de Óbito” usado até hoje, cuja finalidade é uniformizar as</p><p>informações, compatibilizar os dados e permitir sua comparabilidade.</p><p>27</p><p>Definição:</p><p>É um documento simples, escrito e fornecido exclusivamente por um médico, que tem</p><p>como finalidade confirmar a morte, determinar a causa morte e satisfazer alguns</p><p>interesses de ordem civil, estatístico-demográfico e político sanitário.</p><p>Importância:</p><p>GERAL:</p><p>O Atestado de óbito é o mais importante dos documentos assinados pelo médico,</p><p>porque com ele é feito o registro do óbito e por conseguinte cessada juridicamente a</p><p>vida de uma pessoa, (Art. 10 do C.C.B.).</p><p>JURÍDICA:</p><p>Efeito Jurídico da morte (Ver capítulo de Tanatologia).</p><p>MÉDICA:</p><p>Peças Anatômicas:</p><p>No caso de descoberta de ossadas, fatos ou partes do cadáver, esse material deve</p><p>ser removido para o IML, pois passa a ser da esfera policial.</p><p>Quanto as peças anatômicas retiradas por ocasião de atos cirúrgicos ou amputação</p><p>de membros, devem ser cremados ou incinerados no próprio hospital, ou</p><p>encaminhado para estabelecimento responsável pela inumação ou para o Instituto</p><p>Médico Legal nos casos resultantes de violência.</p><p>Eventos em caso de morte:</p><p> A Morte por moléstia e “causas mortis” bem definidas: SEM AUTÓPSIA /</p><p>MÉDICO ASSISTENTE.</p><p> Morte por moléstia bem definida e “causas mortis” indeterminada: S.V.O. /</p><p>ANÁTOMO PATOLOGISTA.</p><p> Morte por moléstia e “causa mortis” indeterminada: S.V.O. / ANÁTOMO</p><p>PATOLOGISTA.</p><p> Morte por moléstia bem definida e “causa mortis” violenta. I.M.L./ MÉDICO</p><p>LEGISTA.</p><p>28</p><p>Legislação:</p><p> Lei 6.015/73</p><p> Decreto-lei nº 20.931/32;</p><p> Lei 4.436/84 Estado de São Paulo</p><p> Resolução 1.290/89 C.F.M.;</p><p> Lei 9.434/97;</p><p> C.P. Art. 302</p><p>Aspectos Éticos:</p><p>Princípios basilares fundamentais:</p><p> Sinceridade no diagnóstico de morte;</p><p> Ter</p><p>verificado pessoalmente o óbito;</p><p> Ter assistido o paciente ou ter delegação para isto;</p><p> Atestar o óbito é um ato obrigatório;</p><p> O atestado é gratuito;</p><p> Confirmar as informações da Declaração de Óbito.</p><p>Precauções para o médico:</p><p> Não assinar Atestado de Óbito em branco;</p><p> Não deixar Atestado de Óbito previamente assinado;</p><p>29</p><p> Verificar, antes de assinar a D.O., todos os itens do formulário;</p><p> Não assinar Atestado de Óbito do enfermo que não prestar assistência;</p><p> Não assinar Atestado de Óbito a pedido de outro colega.</p><p>8 – PERÍCIAS E PERITOS</p><p>É indispensável o conhecimento da legislação que normatiza a atividade pericial no</p><p>Brasil e em Minas Gerais, que é o Estado de aplicação do seu exame.</p><p>No caso de Minas Gerais, o Decreto n. 5.141 de 25 de outubro de 1956 traz, em seu</p><p>conteúdo, o formulário de quesitos para exames periciais que deverá ser utilizado</p><p>pelos profissionais que exercem a atividade naquele Estado. O Conselho Regional de</p><p>Medicina do Estado aprovou, por meio da Resolução CFM n. 1931/2009, o Código de</p><p>Ética Médica que traz no Capítulo XI texto que normatiza a atuação do médico perito.</p><p>No campo nacional, as perícias médico-legais oficiais estão disciplinadas na Lei n.</p><p>12.030/2009, que dispõe sobre as perícias criminais.</p><p>Outro normativo que disciplina a atividade pericial é o Código de Processo Penal, que</p><p>traz em diversos artigos a figura do perito. É importante, que você realize a leitura de</p><p>todo o Código, principalmente os arts. 158 a 184 do CPP, que tratam do exame do</p><p>corpo de delito e das perícias em geral, assim como a Resolução CFM n. 1.497/1998,</p><p>Resolução n. 1.480/1997 (morte encefálica); Resolução CFM n. 1.617/2001 (Código</p><p>de Processo Ético-profissional); Resolução CFM n. 1.779/2005 (normatiza o</p><p>preenchimento da Declaração de óbito) e a Resolução CFM n. 1.826/2007</p><p>(suspensão de procedimentos na morte encefálica).</p><p>A perícia médico-legal é atividade legalmente atribuída a profissional qualificado</p><p>responsável pela produção de prova técnica em inquéritos e/ou processos judiciais.</p><p>O exame pericial é realizado sob a égide de normas técnicas, científicas e jurídicas,</p><p>sendo a atividade oficial vinculada ao serviço público de oferta obrigatória pelo Estado</p><p>e serve ao interesses das partes sob litígio.</p><p>30</p><p>A Resolução 1.497, de 8 de julho de 1998, do Conselho Federal de Medicina atribui</p><p>aos Estados a competência de fiscalizar os atos profissionais do médico designado</p><p>como perito, de modo que, conforme preconizado na mencionada resolução, os</p><p>Conselhos Regionais deverão:</p><p>Art. 1º Determinar que o médico nomeado perito, execute e cumpra o</p><p>encargo, no prazo que lhe for determinado, mantendo-se sempre atento às</p><p>suas responsabilidades ética, administrativa, penal e civil. Parágrafo único. O</p><p>médico fará jus aos honorários decorrentes do serviço prestado.</p><p>Art. 2º O médico designado perito pode, todavia, nos temos do artigo 424 do</p><p>Código de Processo Civil, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo.</p><p>Art. 3º O descumprimento da presente Resolução configura infração ética,</p><p>sujeita a ação disciplinar pelos respectivos Conselhos Regionais de Medicina.</p><p>Desse modo, o perito médico-legal oficial é um agente público em sua origem, e o</p><p>perito médico-legal nomeado é considerado agente público transitório, tendo em</p><p>vista que ambos estão sujeitos aos princípios constitucionais e administrativos</p><p>inerentes às atividades públicas e ainda às obrigações advindas do exercício da</p><p>profissão.</p><p>O perito médico-legal deve observar, na execução de suas atividades, os princípios</p><p>da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, da razoabilidade e da</p><p>supremacia do interesse público.</p><p>Além das atribuições concernentes aos agentes públicos em geral, os profissionais</p><p>peritos médicos devem conhecer e respeitar os preceitos estabelecidos pelo Código</p><p>de Ética Médica que consigna normas que devem ser seguidas pelos médicos no</p><p>exercício de sua profissão, inclusive pelos profissionais no exercício de atividades que</p><p>se utilizem o conhecimento advindo do estudo da Medicina, como é o caso das</p><p>perícias médicas.</p><p>O Código de Ética Médica, aprovado pelo Conselho Federal de Medicina, por meio</p><p>da Resolução CFM n. 1931/2009, preconiza, entre outras normas, as vedações</p><p>impostas ao médico perito:</p><p>31</p><p>AUDITORIA E PERÍCIA MÉDICA</p><p>É vedado ao médico:</p><p>Art. 92. Assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal</p><p>quando não tenha realizado pessoalmente o exame.</p><p>Art. 93. Ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família</p><p>ou de qualquer outra com a qual tenha relações capazes de influir em seu</p><p>trabalho ou de empresa em que atue ou tenha atuado.</p><p>Art. 94. Intervir, quando em função de auditor, assistente técnico ou perito,</p><p>nos atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação em</p><p>presença do examinado, reservando suas observações para o relatório.</p><p>Art. 95. Realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres</p><p>humanos no interior de prédios ou de dependências de delegacias de polícia,</p><p>unidades militares, casas de detenção e presídios.</p><p>Art. 96. Receber remuneração ou gratificação por valores vinculados à glosa</p><p>ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou de auditor.</p><p>Art. 97. Autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor</p><p>ou de perito, procedimentos propedêuticos ou terapêuticos instituídos, salvo,</p><p>no último caso, em situações de urgência, emergência ou iminente perigo de</p><p>morte do paciente, comunicando, por escrito, o fato ao médico assistente.</p><p>Art. 98. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir</p><p>como perito ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de suas</p><p>atribuições e de sua competência.</p><p>Parágrafo único. O médico tem direito a justa remuneração pela realização</p><p>do exame pericial.</p><p>A exclusão dos pressupostos éticos na realização da atividade pericial compromete</p><p>a confiança do documento técnico. O documento pericial deve trazer ao processo</p><p>conteúdo técnico isento, com argumentos científicos capazes de atingir o objetivo de</p><p>auxiliar no esclarecimento de fato de interesse legal.</p><p>32</p><p>8.1 - Perícias Médico-Legais</p><p>O Termo Perícia vem do latim peritia, que quer dizer habilidade, experiência, daí</p><p>entende-se que perícia é a atividade técnica realizada no sentido de verificar</p><p>situações, buscando esclarecer um fato de interesse legal. A atividade pericial será</p><p>sempre executada por especialista técnico ou douto em determinado assunto.</p><p>Para nós, interessa quando o fato de relevância legal diz respeito à saúde ou à vida,</p><p>pois são nesses casos que se invoca a chamada perícia médico-legal, realizada por</p><p>peritos oficiais, portadores de diploma de curso superior. É importante destacar que</p><p>na falta dos peritos oficiais, excepcionalmente, o exame poderá ser realizado</p><p>por dois profissionais idôneos, portadores de diploma de curso superior,</p><p>preferencialmente na área técnica relacionada à natureza da atividade.</p><p>As perícias médico-legais podem ser realizadas em seres humanos vivos, mortos</p><p>(necroscópico), cadáver já enterrado (exumação), laboratoriais, animais presentes na</p><p>cena do crime, em objetos e também sobre documentos ou quaisquer outros</p><p>elementos que se refiram ou que guardem relação com a efetividade do exame, além</p><p>disso, podem ocorrer sobre o fato a analisar (peritia percipiend) ou sobre uma perícia</p><p>já realizada (perícia deducendi).</p><p>Nesse sentido e buscando demonstrar a função das perícias médicas, podemos</p><p>afirmar que essa atividade busca a definição do nexo de causalidade, principalmente,</p><p>entre:</p><p> a doença e a morte;</p><p> a lesão e a morte;</p><p> a doença ou sequela e a incapacidade ou invalidez física e/ou mental;</p><p> o acidente e a lesão;</p><p> a doença e a atividade laboral.</p><p>É importante ainda mencionar que mesmo que não exista vinculação na tomada de</p><p>decisão do juiz, o exame de corpo</p><p>de delito é indispensável, não podendo ser suprido</p><p>pela confissão do acusado.</p><p>33</p><p>8.2 - Corpo de Delito</p><p>É comum ouvir dizer: “Fulano foi agredido e vai</p><p>fazer corpo de delito”, “Beltrano morreu e o</p><p>levaram para fazer corpo de delito”.</p><p>Pois bem, levando em consideração a lógica</p><p>advinda da palavra “corpo”, é fácil associar o</p><p>exame de corpo de delito ao corpo da pessoa</p><p>humana, contudo, esse exame vai além.</p><p>Corpo de delito é o conjunto de vestígios deixados quando do cometimento da</p><p>infração penal (Costa Filho, 2010).</p><p>Quais são esses vestígios? Resíduos, fragmentos, pegadas, sangue, impressões</p><p>digitais, ou seja, uma gama de elementos que podem levantar a materialidade da</p><p>produção do crime.</p><p>Sobre o termo, devemos tecer algumas considerações no que diz respeito às</p><p>diferenças entre “corpo de delito” e “exame de corpo de delito”. A doutrina afirma que</p><p>Corpo de Delito é a materialidade do crime e Exame de Corpo de Delito é a perícia</p><p>que se faz para apontar a referida materialidade. Essa diferença apontada cria uma</p><p>certa confusão em muitos alunos no momento de responder uma prova.</p><p>Para que essa dúvida não o(a) incomode, proponho que você tenha em mente que o</p><p>perito realiza Exame de Corpo de Delito com a finalidade de constatar e</p><p>interpretar todos os vestígios envolvidos no delito, sejam eles diretos ou indiretos.</p><p> Delito Direto: aquele realizado diretamente por meio dos vestígios produzidos</p><p>para execução da infração.</p><p> Delito Indireto: realizado por meio de documentos e/ou testemunhas, quando</p><p>não existem vestígios a serem examinados.</p><p>Atenção: Caso o delito apresente caráter transitório e não havendo a incidência de</p><p>vestígios, será admitida prova testemunhal, contudo, quando a infração deixar</p><p>vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não sendo</p><p>suprido pela confissão do réu. (CPP, art. 158).</p><p>34</p><p>Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de</p><p>corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do</p><p>acusado.</p><p>Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,</p><p>proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou</p><p>judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido, do acusado</p><p>ou de seu defensor (CPP, art. 168)</p><p>Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido</p><p>incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da</p><p>autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério</p><p>Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.</p><p>8.3 – Peritos</p><p>Entende-se como peritos aqueles especialistas técnicos ou o profissionais doutos em</p><p>certos assuntos, que possuem a função de auxiliar a justiça no esclarecimento de fato</p><p>delituoso. São classificados em:</p><p> Perito oficial: os peritos oficiais são investidos</p><p>no cargo mediante concurso público, em que</p><p>prestam compromisso com a verdade na</p><p>emissão de seus laudos no momento da</p><p>investidura do cargo.</p><p> Peritos nomeados, designados ou ad hoc:</p><p>na falta de perito oficial, o exame será realizado</p><p>por 2 (duas) pessoas idôneas, como já</p><p>mencionado, portadoras de diploma de curso</p><p>superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem</p><p>habilitação técnica relacionada com a natureza do exame, que prestam</p><p>compromisso com a verdade a cada perícia que realizam.</p><p>35</p><p>Existe ainda a figura do assistente técnico, sua função é a de acompanhar o perito</p><p>oficial quando solicitado para atender os interesses das partes, seus custos cabem</p><p>exclusivamente ao demandante.</p><p>Atenção: Os peritos, ainda quando não oficiais, estarão sujeitos à disciplina</p><p>judiciária e a eles é assegurada autonomia técnica, cabendo ao profissional</p><p>escolher a melhor técnica empregada no caso, conforme preconizado no art. 2º da</p><p>Lei n. 12.030/2009, verbis:</p><p>Art. 2o No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é</p><p>assegurado autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso</p><p>público, com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de</p><p>perito oficial.</p><p>O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, de</p><p>modo que o profissional realizará os exames necessários e emitirá laudo pericial</p><p>contendo, minuciosamente, os dados do que examinou e as respostas aos quesitos</p><p>formulados. A elaboração desse documento deverá ser realizada no prazo de 10</p><p>(dez) dias, podendo ser prorrogada, em casos excepcionais, a requerimento do</p><p>profissional.</p><p>Caso seja identificado que na elaboração do laudo pericial não houve a observância</p><p>de algumas formalidades ou que o documento apresenta indícios de obscuridade,</p><p>omissão ou contradição, o juiz mandará suprir a formalidade, complementar ou</p><p>esclarecer o laudo. E ainda poderá ordenar que se proceda a novo exame, por outros</p><p>peritos, se julgar conveniente (CPP, art. 181).</p><p>Ressalta-se que os peritos nomeados, chamados a juízo, poderão recusar o convite,</p><p>contudo, os peritos oficiais deverão apresentar justificativa para a recusa nos moldes</p><p>do art. 468 do Código de Processo Civil e art. 277 do Código de Processo Penal.</p><p>Art. 468. O perito pode ser substituído quando:</p><p>I – faltar-lhe conhecimento técnico ou científico;</p><p>II – sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi</p><p>assinado.</p><p>36</p><p>Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o</p><p>encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil réis, salvo escusa</p><p>atendível.</p><p>Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa,</p><p>provada imediatamente:</p><p>a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;</p><p>b) não comparecer no dia e local designados para o exame;</p><p>c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos</p><p>estabelecidos.</p><p>Nos casos em que se não houver justificativa relevante para o não comparecimento</p><p>do perito é possível que seja determinada pelo juízo sua condução coercitiva, nos</p><p>moldes do art. 278, também do Código de Processo Penal.</p><p>Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a</p><p>autoridade poderá de terminar a sua condução.</p><p>8.4 - Impedimentos dos Peritos</p><p>Os impedimentos atribuídos aos profissionais da atividade pericial encontram-se</p><p>consignados no art. 279 e 280 do Código de Processo Penal, sendo que os casos de</p><p>impedimento previstos atingem a figura do perito oficial e do perito nomeado.</p><p>Não poderão ser peritos: i) os que estiverem sujeitos à interdição de direito</p><p>mencionada nos incisos I e IV do art. 69 do Código Penal; ii) os que tiverem prestado</p><p>depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia; iii) os</p><p>analfabetos e os menores de 21 anos; e iv) é extensivo aos peritos, no que lhes for</p><p>aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.</p><p>9 - ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL</p><p>A Antropologia Médico-Legal é o ramo da medicina legal que estuda a identidade e a</p><p>identificação através dos restos mortais, sejam eles humanos ou de animais.</p><p>37</p><p>É por meio da Antropologia Médico-Legal que conseguimos realizar a identificação</p><p>de informações importantes com relação ao gênero, estatura, etnia, idade, ou seja,</p><p>identificar a individualização de cada</p><p>pessoa dentro de um grupo.</p><p>Para tanto, a Antropologia Forense</p><p>desenvolve algumas atividades</p><p>objetivando a individualização:</p><p> Cranotanatognose:</p><p>Busca conhecer o intervalo de tempo</p><p>volvido após a morte. Para identificação de óbitos mais recentes, comumente são</p><p>utilizadas a temperatura corpórea, a presença e fixação de livores hipostáticos e a</p><p>rigidez cadavérica. Na identificação de óbitos não recentes, são verificadas,</p><p>principalmente, as fases de putrefação do corpo.</p><p>Livor cadavérica em pessoa que permaneceu em decúbito ventral após a morte. Observe a</p><p>geometria dos livores, que correspondem à</p><p>forma dos objetos contra os quais esteve apoiado.</p><p>38</p><p>Livores de hipostase em enforcado.</p><p>Identificação humana:</p><p> Genérica: busca determinar a espécie do material biológico examinado, se é</p><p>humano ou animal.</p><p> Específica: a idade pode ser estimada por meio da análise de centros de</p><p>ossificação, da sínfise pubiana, da contagem de osteócitos e da mineralização</p><p>e erupção dos dentes. A partir da puberdade e por meio da morfologia óssea</p><p>da pelve e do crânio, pode-se estabelecer o gênero do indivíduo. A estatura</p><p>por meio da medida dos ossos, e a etnia por meio das medidas</p><p>antropométricas (estudo das medidas e dimensões das diversas partes do</p><p>corpo humano), ainda que comum a miscigenação.</p><p> Individual: busca determinar a identidade do cadáver por meio da comparação</p><p>de dados de provável indivíduo com os da ossada.</p><p>Verifica-se, portanto, que antropologia busca, por meio de pesquisas específicas</p><p>envolvendo conhecimentos científicos, reconhecer a identidade antropológica (pela</p><p>antropometria) e a identidade civil através de informações peculiares e imutáveis que</p><p>caracterizam cada indivíduo, como, por exemplo, a arcada dentária, o DNA, íris e a</p><p>papiloscopia (digital).</p><p>39</p><p>9.1 - Identidade e Identificação</p><p>A Antropologia Forense ou Antropologia Médico-Legal é o estudo da identidade e</p><p>identificação.</p><p>A identidade relaciona-se às características físicas, psíquicas e funcionais que</p><p>individualizam os indivíduos; essas características intrínsecas podem ser originárias</p><p>do ser humano ou adquiridas com o tempo. Os tipos de identidade podem ser</p><p>apresentados como subjetivos e objetivos. O tipo objetivo é aquela identidade</p><p>fornecida pelos caracteres físicos, funcionais e psicológicos, e o tipo subjetivo é a</p><p>maneira de ser de cada indivíduo.</p><p>Já a identificação é um conjunto de procedimentos adotados para se estabelecer a</p><p>identidade da pessoa, que não se confunde com o reconhecimento, uma vez que</p><p>neste ocorre uma comparação, e naquela a identidade se materializa de forma</p><p>objetiva e inequívoca.</p><p>Os métodos de identificação, ainda que classificados pela doutrina como simples e</p><p>complexos, não possuem hierarquia de importância, devendo ser aplicados visando</p><p>à economia e precisão nos resultados, são eles:</p><p> Métodos Simples: cédulas de identidade ou registros, fotografias,</p><p>testemunhas, retrato falado, vídeo e sinais individuais.</p><p> Método Complexo: estudo Antropológico (antropometria – medição dos</p><p>ossos), métodos laboratoriais, químico/físicos (exames de DNA), superposição</p><p>de imagens, datiloscopia (papiloscopia), arcada dentária e íris.</p><p>Para que os métodos de identificação sejam cientificamente seguros é necessário</p><p>que estejam presentes os seguintes critérios técnicos e biológicos:</p><p> Praticabilidade: o processo deve se mostrar seguro, simples e rápido, tanto</p><p>na obtenção quanto no registro dos caracteres.</p><p>40</p><p> Classificabilidade: os métodos de arquivamento das informações devem</p><p>possuir sistematização que permitam a comparação rápida e precisa.</p><p> Unicidade: as características tornam o indivíduo único, diferente dos demais.</p><p> Imutabilidade: as características intrínsecas não sofrem modificações com o</p><p>tempo.</p><p> Perenidade: as características permanecem com o indivíduo durante toda a</p><p>vida.</p><p>Vale mencionar o que a Constituição Federal, o Código Penal, a Lei de</p><p>Contravenções Penais, o Código de Processo Penal e o Código Civil abordam em</p><p>seus textos normativos, que tratam de crimes envolvendo a identidade do indivíduo,</p><p>no que diz respeito aos crimes de falsificação, como, por exemplo:</p><p> Art. 5º, inciso LVIII, da CRFB/1988: “O civilmente identificado não será</p><p>submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.</p><p> Art. 68 da Lei de Contravenções Penais: “Recusar a autoridade, quando por</p><p>esta justificadamente solicitados ou exigidos, dados ou indicações</p><p>concernentes à própria identidade, estado profissão, domicílio ou residência.”</p><p> Art. 307 do Código Penal: “Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para</p><p>obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.</p><p>Pena – Detenção de três meses a um ano.”</p><p> Art. 166 do Código de Processo Penal: “Havendo dúvida sobre a identidade do</p><p>cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de</p><p>Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de</p><p>testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e identidade, no qual se</p><p>descreverá com todos os sinais e indicações.”</p><p>Dessa forma, verifica-se que a identidade do indivíduo se mostra importante não</p><p>somente para diferenciar um ser humano do outro, mas também e principalmente</p><p>para dirimir dúvidas relativas de identificação de indivíduos em dívida junto ao foro</p><p>civil e criminal, podendo ser dividida em Identificação Médico-Legal e Identificação</p><p>Judiciária ou Policial.</p><p>41</p><p>9.2 - Identificação Médico-Legal</p><p>A identificação médico-legal é aquela que necessita de conhecimentos médicos para</p><p>ser executada, sendo realizada em função de:</p><p> Espécie: distinção entre seres humanos e</p><p>animais. Essa distinção pode ser obtida pela</p><p>análise óssea, pelo material sanguíneo</p><p>(verificando se o material é sangue mesmo –</p><p>Técnica de Teichmann, e se é humano ou não –</p><p>Técnica de Uhlenhuth). Microscopicamente, a</p><p>diferença é dada pela análise da disposição do</p><p>tamanho dos Canais de Havers, que são em</p><p>menor número e mais largos no homem (FRANÇA, 2011).</p><p> Raças: distinção entre grupos étnicos (caucásico, mongólico, negroide,</p><p>indiano e australoide) por meio de características como a forma e medidas do</p><p>crânio e dimensão da face (método de Giles e Elliot); os índices cefálicos; a</p><p>envergadura (índice tibiofemural negros > 83 e Índice radioumeral negros ></p><p>80); a capacidade do crânio, branca (1558cm³), amarela (1518cm³), vermelha</p><p>(1437cm³) e negra (1430cm³); o ângulo facial (Jacquart, Cloquet e Cuvier); a</p><p>cor da pele; o tipo de cabelo, entre outros.</p><p> Gênero: a determinação do gênero em cadáveres em putrefação é trabalho,</p><p>muitas vezes difícil, contudo, o útero e a próstata são órgãos resistentes e</p><p>demoram a se decompor, facilitando o trabalho dos peritos. Contudo, nos</p><p>casos em que o corpo já se encontra em estágio bastante avançado de</p><p>decomposição, os ossos, principalmente do crânio, tórax, mandíbula e pelve,</p><p>podem ser utilizados no exame de determinação do gênero. Também pode ser</p><p>utilizado o índice de Aitchison, por meio da análise dos dentes e, caso</p><p>necessário, o perito poderá recorrer ao exame genético forense, que é a</p><p>investigação da cromatina sexual ou o chamado Corpúsculo de Barr (aplicação</p><p>de corante nas células humanas, em que a presença da cromatina indica</p><p>feminino e ausência indica masculino).</p><p> Idade: na avaliação para determinação da idade, considera-se a aparência,</p><p>observando elementos como a pele (surgimento de rugas); pelos (presença de</p><p>42</p><p>pelos pubianos e axilares); globo ocular (arco senil); dentes (desgaste, erupção</p><p>– Técnica de Gustafson); ângulo da mandíbula (Tabela de Ernestino Lopes);</p><p>imagens ósseas (punho, cotovelo, joelho, tornozelo, bacia e crânio) e massa</p><p>corporal.</p><p>Atenção: O exame ósseo é de grande importância para a determinação da idade do</p><p>indivíduo tendo em vista a quantidade de detalhes e variedade de pontos de</p><p>observação.</p><p> Estatura: o Fêmur é o principal osso utilizado na avaliação de estatura no</p><p>cadáver, em que para tanto são utilizadas as tabelas de Broca e Trotter e</p><p>Glesser, as tábuas de Etienne-Rollet e as fórmulas de Breitinger e Dupertuis e</p><p>Haden. O índice de Carrea3 também é utilizado para estimar a estatura do</p><p>indivíduo.</p><p>Podemos ainda mencionar as formas de identificação realizadas por meio de</p><p>malformação, estigmas profissionais, cicatrizes, tatuagens, comparação de dados</p><p>odontológicos, íris, biometria, análise de DNA, análise da abóbada palatina e</p>