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ANÁLISE DE CENÁRIOS ECONÔMICOS AULA 2 Profª Pollyanna Rodrigues Gondin 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo a mais uma aula! Espero que continuem empolgados e com sede de conhecimento para desvendar um pouco mais algumas questões econômicas. Hoje iremos nos debruçaremos sobre algumas questões da macroeconomia, visando a auxiliar e dar ferramentas para a análise de cenários e tomada de decisão. Vivemos num mundo em que a informação circula de forma muito rápida e acontecimentos locais acabam por influenciar o todo, de modo que o planejamento e as projeções se tornam cada vez mais essenciais para o futuro da empresa/organização. Assim, planejar, analisar e fazer projeções sobre determinado cenário se torna vital. Mas os cenários estão em constante modificação! Então, como nos antecipar e adivinhar o futuro? Infelizmente, essa mágica não existe, mas a partir do momento que você se prepara, tem acesso às informações, sabe como manuseá-las e conhece seus possíveis impactos, fica mais fácil fazer projeções e modificar a direção, mesmo que sua análise inicial não se concretize. Espera-se que ao final das nossas aulas você compreenda as variáveis econômicas e saiba traçar a tendência de cada uma e a forma como podem afetar sua organização/empresa. Visando cumprir o objetivo proposto nesta disciplina, esta aula está dividida em cinco temas. No primeiro, trabalharemos com os principais agregados macroeconômicos e sua relevância para a economia e sua análise. Na sequência, analisaremos o Produto Interno Bruto (PIB) e suas três formas de cálculo: pelo lado da oferta, pelo lado da demanda e segundo a renda. Nesse segundo tema veremos como a mensuração do PIB é relevante para os países e como pode afetar as atividades econômicas como um todo. No terceiro tema, destacaremos o sistema de contas nacionais e sua importância para medição dos agregados macroeconômicos. Já no quarto tema, analisaremos a balança de pagamentos, sua estrutura e as transações que a compõem. Por fim, atentaremos para a diferença entre os conceitos de risco e incerteza, conceitos estes que permeiam a análise de cenários econômicos. Espero que você aproveite ao máximo o material e mergulhem na disciplina, que é tão relevante e tão atual para o entendimento do dia a dia em sociedade e para a tomada de decisão. Bons estudos! 3 CONTEXTUALIZANDO Vamos iniciar nossos estudos com uma matéria a respeito das expectativas sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro1: Impactado pela pandemia do novo coronavírus e por uma forte desvalorização cambial, o Brasil deve deixar o 'top 10' de países com maiores PIBs (Produto Interno Bruto) em valores nominais em 2020, segundo estudo de pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas). No estudo, os economistas Marcel Balassiano e Claudio Considera utilizam dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgados em outubro para mensurar que o Brasil deve deixar o posto de nono maior PIB nominal do mundo em 2019 e se tornar o 12º maior em 2020. Em dólares, o PIB brasileiro passaria de US$ 1,8 trilhão em 2019 (R$ 7,1 trilhões na cotação média do ano passado, R$ 9,6 trilhões na atual) para US$ 1,4 trilhão em 2020 (R$ 7,182 trilhões na cotação média de 2020, R$ 7,5 tri na atual), seguindo o movimento recessivo de nove das dez maiores economias do mundo em 2020 (a exceção é a China) devido à crise gerada pela covid-19. Com a queda, o Brasil seria ultrapassado pelo Canadá, pela Coreia do Sul e pela Rússia, que ocupariam da nona até a 11ª colocação, respectivamente. TEMA 1 – PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS Vamos começar nossos estudos falando sobre os principais agregados macroeconômicos? Para isso, é importante relembrar o conceito de macroeconomia. Quando falamos em macroeconomia, fazemos referência ao agregado, ou seja, ao estudo da economia global em que se analisa a determinação e o comportamento de grandes agregados, como renda, produção, preço, emprego, moeda, política, taxa de juro, taxa de câmbio, dentre outros. Assim, quando falamos em agregados macroeconômicos nos referimos ao estudo dessas variáveis. Simonsen e Cysne (1985), afirmam que existem sete conceitos básicos para verificar o desempenho real de uma economia: produto, renda, consumo, poupança, investimento, absorção e despesa. Nesse momento, iremos atentar a cada um desses conceitos e à sua importância econômica para que adiante seja possível especificar algumas temáticas. Levando em consideração que a economia é a ciência que estuda a alocação de recursos limitados para satisfazer necessidades humanas que são ilimitadas, o produto diz respeito ao que é produzido dentro de um país em 1 O conteúdo completo está disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/1 1/09/fgv-ibre-estudo-brasil-dez-maiores-economias-pib.htm>. Acesso em: 27 jan. 2021. 4 termos de bens e serviços e satisfaz tais necessidades. Para que o produto seja elaborado, é necessário uma conjunção de insumos que são conhecidos como fatores de produção (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011). Por se tratar de um dos agregados mais relevantes, no Tema 2 abordaremos mais detalhadamente o produto e suas fórmulas de cálculo. A renda, por sua vez, diz respeito à remuneração dos fatores de produção. Quando falamos em remuneração dos fatores de produção é importante analisar o fluxo circular da renda, pois este mostrará que para produzir bens e serviços são contratados fatores de produção como capital, trabalho e terra, os quais são remunerados com salário, lucro e aluguel. Figura 1 – Fluxo circular da renda Fonte: Gondin, 2021. Ainda analisando a Figura 1, podemos avançar para o conceito de consumo, que nada mais é do que a prática de aquisição de bens e serviços. Os indivíduos precisam satisfazer suas necessidades e, para isso, ofertam seus fatores de produção, recebem uma renda por eles e com essa renda podem consumir, isto é, comprar bens e serviços que foram produzidos (Dicionário Financeiro). Mas, então, toda remuneração paga é gasta em consumo? Não necessariamente, pois parte dessa renda pode ser poupada. Assim, poupança refere-se à parte da remuneração que não é gasta com consumo. A poupança tem como finalidade o rendimento de juros, e se for depositada nas instituições financeiras pode ser emprestada para empresas que investirão em sua produção, ou para o governo, que pode utilizá-la para fazer frente às suas necessidades ou cobrir déficits. FAMÍLIAS EMPRESAS Ofertam bens e serviços para as famílias (produtos) Ofertam fatores de produção para as empresas Compram Demandam Pagam a renda 5 Em uma economia, podemos ter investimento produtivo. Investimento diz respeito à aquisição de bens de produção, bens de capital ou intermediários, com finalidade de aumentar a oferta de produtos no período subsequente (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011). De modo simplificado, podemos chamar de investimento a compra de maquinário, equipamento, edifício ou estoque que visam ao aumento da produção no período seguinte. Já a absorção interna refere-se ao somatório dos gastos com consumo, investimento e gastos do governo. Isso quer dizer que a absorção interna engloba bens e serviços que a sociedade absorve para o consumo ou aumento do estoque (Derolle, 2013). Absorção externa diz respeito ao mercado externo, ou seja, ao saldo da balança comercial (exportações menos importações), temática que acordaremos de forma mais ampla no Tema 2 desta aula. Finalizando o assunto referente aos agregados macroeconômicos, com o intuito de avançar nos estudos dos mesmos, devemos analisar o conceito de despesas, que são os gastos dos agentes/indivíduos econômicos na compra de bens e serviços. Assim, o que é produzido pelas empresas é consumido/adquiridopela população. Essa aquisição gera a despesa. Após analisar esses conceitos, podemos avançar para o Tema 2, em que estudaremos o conceito de Produto Interno Bruto. TEMA 2 – PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) SOB AS TRÊS ÓTICAS Trataremos neste tema de um assunto de grande relevância e que impacta diretamente os rumos que deverão ser tomados tanto no âmbito de políticas macroeconômicas para determinado país quanto de projeções para empresas/organizações. Você já deve ter ouvido frases do tipo: “o Brasil crescerá 2%” ou “o crescimento dessa economia ficará abaixo da meta”, não é? Mas, então, quando falamos em crescimento de uma economia, o que queremos dizer? Como mensurar esse crescimento? O crescimento de determinada economia é dado pelo cálculo do PIB. Assim, quando falamos em PIB, nos referimos ao crescimento econômico, isto é, à soma em valores monetários de bens e serviços finais produzidos em determinada economia. Resumidamente, o PIB mede a atividade econômica de um país/região dado momento. Pode ser calculado de três formas, mas independente disso, o valor 6 deverá ser o mesmo. E quais são essas três formas? Pela ótica da oferta, pela ótica da demanda e pela ótica da renda. Iniciaremos abordando a mensuração do PIB pela ótica da oferta. Segundo essa ótica, para obter o resultado final do deve-se somar o valor gerado pelas empresas que operam em determinado local/economia (ADVFN, 2019). Assim, para o seu cálculo, deve-se somar todos os bens e serviços finais produzidos em um período, em uma economia. A soma é feita em valores monetários, pois existe uma variedade muito grande de bens e serviços, o que dificultaria utilizar outra forma de mensuração. É preciso lembrar que para o cálculo do PIB consideram-se apenas bens e serviços finais para eliminar a dupla contagem que ocorreria caso bens intermediários fossem considerados. Sobre isso, analise a Tabela 1 que apresenta resumidamente as fases e os bens necessários para a produção de pão. Tabela 1 – Produção de pão Fases de Produção Valor das Vendas (1) Custo dos Bens Intermediários (2) Valor Agregado (3) = (1) - (2) Trigo 20 - 0 20 Farinha 30 - 20 10 Pão 55 - 30 25 Total 110 50 55 Fonte: Gondin, 2021. Assim, para o cálculo do PIB pela ótica da oferta, deve-se considerar o somatório de todos os bens e serviços finais produzidos em uma economia, em um período determinado, justamente para evitar a dupla contagem e a superestimação do PIB. E como devemos proceder para calcular o PIB pela ótica da demanda? Pela ótica da demanda considera-se tudo o que é gasto em uma determinada economia, em um dado período de tempo. Desse modo, calcula-se o que é consumido pelas famílias e pelo governo. Para calcular o PIB por essa ótica, considera-se: PIB = C + I + G + (X-M) Em que: • C = consumo das famílias; • I = investimentos produtivos; • G = gastos governamentais; • X = exportação; 7 • M = importação. É importante notar que não levamos em consideração o que foi produzido externamente e importado pelos brasileiros, uma vez que o cálculo deve considerar apenas o que foi produzido internamente. Por fim, o PIB pode ser calculado pela ótica da renda ou dos rendimentos. Mas o que isso quer dizer? Significa que, para saber se determinada economia cresceu ou não durante um período, pode-se considerar também os rendimentos gerados e distribuídos aos agentes econômicos, ou seja, a soma das remunerações dos fatores produtivos: � salários, lucros, juros, aluguéis É preciso considerar que independente da ótica utilizada para cálculo do PIB o resultado deverá ser o mesmo. Para além das formas de cálculo do PIB, é importante distinguir PIB nominal e PIB real. PIB nominal é o produto medido a preços correntes, ou seja, preços de mercado, sem descontar seu aumento. O PIB real refere-se ao produto medido a preços constantes, eliminando efeitos inflacionários (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011). Saiba mais Para ver a evolução do PIB, acesse: <www.ipeadata.gov.br> e pesquise por PIB. Com essa busca você poderá verá valores absolutos do PIB e sua evolução em percentual. A título de curiosidade, o PIB brasileiro de 2019 foi de R$7,3 trilhões, e o PIB do segundo trimestre de 2020 foi de R$1,7 trilhões. TEMA 3 – SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS Avançamos agora para a terceira temática de nossa aula e a partir desse momento analisaremos o sistema de contas nacionais. Mas por que isso é importante? Você já parou para pensar que toda organização faz sua contabilidade para ter seus controles e planejamento. Com o governo não seria diferente. Assim, quando falamos em contas nacionais, nos referimos à contabilidade social que nada mais é do que a técnica de registro e mensuração de variáveis econômicas. A ideia das contas nacionais, ou da contabilidade social, é a medição dos agregados econômicos, registrando contabilmente a atividade produtiva do país. Se você parar para analisar, já iniciamos nossos estudos sobre contas nacionais ao abordar a temática do PIB e os agregados macroeconômicos. A http://www.ipeadata.gov.br/ 8 partir desse momento, trataremos então mais especificamente do Produto Nacional Bruto (PNB) e dos sistemas de contabilidade social. Iniciaremos falando sobre o PNB, mas antes disso, você sabe dizer o que é PNB e por que sua aferição é importante para as contas nacionais? E mais: podemos considerar PNB e PIB como sinônimos? Então vamos aos nossos estudos? Produto Nacional Bruto (PNB) diz respeito ao agregado de tudo que é produzido na economia pelos nacionais. Isso significa que para mensurar o PNB leva-se em consideração bens e serviços produzidos por pessoas e/ou empresas do país, independentemente de onde seja, importando, nesse caso, a nacionalidade da organização ou indivíduo (Dicionário Financeiro). Assim, para calcular o PNB considera-se o que foi produzido por um nacional, mesmo que essa produção não tenha ocorrido dentro das fronteiras nacionais. Um exemplo bem conhecido e que entra no cálculo do PNB é o de uma empresa brasileira que possui fábrica no exterior. É importante considerar que PNB e PIB não são sinônimos; cada um apresenta suas peculiaridades. Se o PIB leva em consideração a produção de bens e serviços dentro do território nacional, o PNB se refere à produção nacional, independente se ela ocorreu em território nacional ou não. Na Figura 2, podemos observar que o PIB é a produção de bens e serviços dentro das fronteiras nacionais do Brasil. Já o PNB, pode ser produzido no restante do mundo, desde que tenha nacionalidade brasileira. Figura 2 – Relações do Brasil com o restante do mundo Fonte: Gondin, 2021. Em economias desenvolvidas, o PNB costuma ser maior que o PIB, pois tais economias têm capacidade produtiva nacional consolidada e, desse modo, são menos dependentes de empresas internacionais em termos de resultados. Para calcular o PNB, considera-se o PIB e a Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE): 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 BRASIL Importação RESTANTE DO MUNDO Exportação 9 A RLEE mede a diferença entre recursos enviados ao exterior (pagamento de fatores de produção internacionais alocados no país) e recursos recebidos do exterior a partir de fatores de produção do país de origem e que se encontram em atividade externa. TEMA 4 – BALANÇO DE PAGAMENTOS Neste tema, aprofundaremos a temática das relações de nosso país com o restante do mundo e abordaremos o balanço de pagamentos. Mas você sabe o que ele significa e exatamente o que ele registra? Balanço de pagamentos é o registro estatístico de todas as transações entre residentes de uma economia e o restante do mundo. Quando falamos em todas as transações, nos referimos ao fluxo de bens e serviços e direitos de valor econômico (Banco Central do Brasil, 2002). Esseregistro é importante, pois não vivemos isolados do restante do mundo e, para apurar de forma fidedigna a condição econômica de um país, é relevante ponderar todo o fluxo que entra e sai. Assim, segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011, p. 251), o balanço de pagamentos de um país é “um resumo contábil das transações econômicas que esse país faz com o resto do mundo, durante certo período de tempo. Com base nesse balanço pode-se avaliar a situação econômica internacional do país”. Mas quem elabora o balanço de pagamentos? No caso brasileiro, o responsável por essa elaboração é o Banco Central (Bacen). Para isso, o Bacen, baseia-se nos registros das transações que ocorrem entre residentes e não residentes do país. Nesse caso, entendem-se como residentes os agentes econômicos que possuem o centro de interesse no país (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011, p. 251). Assim, um turista americano no Brasil não é residente do país, enquanto um turista brasileiro no exterior é residente. Um diplomata brasileiro que esteja morando no exterior para prestar serviços diplomáticos continua sendo residente do país. Uma empresa multinacional, isto é, a filial de uma empresa estrangeira instalada no país, é residente, mas seus proprietários que moram no exterior não são residentes. Para contabilizar o registro do balanço de pagamentos, adota-se o método das partidas dobradas. Segundo Gomides (2016), esse método expõe que para cada débito existe um crédito correspondente, sendo que toda transação que cria um direito constitui um crédito, como as exportações. Por 10 outro lado, toda transação que cria uma obrigação são débitos, como as importações. De modo simplificado, o Quadro 1, apresenta a estrutura de um balanço de pagamentos. Quadro 1 – Balanço de pagamentos BALANÇO DE PAGAMENTOS A – Transações Correntes A1 - Balança comercial (exportações e importações) A2 – Serviços (transportes, viagens, seguros, financeiras etc.) A3 – Rendas (salários e ordenados, renda de investimento) B – Conta Capital C – Conta Financeira C1 – Investimento direto C2 – Investimento em carteira C3 – Outros investimentos D – Erros e Omissões A + B + C + D = Resultado do Balanço de Pagamentos Fonte: elaborado com base em Pro Educacional (2019); Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior, 2011. As transações correntes registram o total de exportações e importações de bens e serviços, sendo nesta conta também registrado o saldo das transferências unilaterais correntes. Assim, inclui-se em transações correntes, a balança comercial que contabiliza importações e exportações de bens conhecidos como tangíveis. Além da balança comercial, tem-se a balança de serviços, que registra a prestação e serviços entre residentes do país e o restante do mundo. Por fim, dentro dessas transações inclui-se a conta de rendas, que diz respeito ao registro dos rendimentos do fator trabalho e às rendas de investimento. Na conta capital, por sua vez, registra-se as transferências unilaterais que se referem ao patrimônio de migrantes internacionais e a aquisição de bens não financeiros não produzidos, como a cessão de marcas e patentes (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011). Já a conta financeira engloba investimento direto, investimento em carteira e outros investimentos, consagrando-se como uma conta que agrega todos os fluxos com ativos e passivos financeiros entre residentes e não residentes. Por fim, na conta erros e omissões a intenção é cobrir erros estatísticos cometidos e transações não registradas, uma vez que muitas das contas são estimadas, segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011). Ao somar todas essas contas, tem-se o resultado do balanço de pagamentos, podendo ser positivo, indicativo de superávit, ou negativo, representando um déficit. 11 TEMA 5 – RISCO E INCERTEZA Estamos chegando ao final da aula e mais uma vez o tempo passou muito rápido. Neste último tema, trabalharemos com os conceitos de risco e incerteza. Você sabe dizer se esses conceitos são sinônimos? E por que são importantes para a análise de cenários econômicos? Essas são algumas das questões que permeiam veremos a partir de agora. Em um primeiro momento, podemos falar que esses conceitos são sinônimos e, muitas vezes, os utilizamos em nosso cotidiano como se fossem iguais. Entretanto, existem diferenças fundamentais e que serão relevantes para realizar análises e projeções em relação ao futuro. Tanto o conceito de risco quanto o de incerteza estão associados ao fato de vivermos em um mundo não determinístico, isto é, um mundo em que não temos informações completas sobre todos os fenômenos que nos cercam (Bugarin, 2020). Risco é quando as variáveis de uma situação são conhecidas e assim é possível calcular as probabilidades de cada evento com base no que se é conhecido (Araújo, 2012), ou seja, é possível antecipar ou até mesmo determinar probabilidades razoáveis Bugarin (2020). Segundo Bugarin (2020), um exemplo é quando você precisa se deslocar da sua casa para outro ponto da cidade. Você sabe, devido a estatísticas e noticiários, que existe o risco de ser assaltado no trajeto, entretanto, por conhecer os bairros, você tem noção de quais regiões são mais perigosas e passíveis da ação de assaltantes. Isso significa que você não será assaltado? Não! Mas, por conhecer as regiões, você consegue se deslocar por um trajeto mais seguro, diminuindo o risco da ação dos assaltantes. Assim, após os cálculos das probabilidades (mesmo que mentalmente), você terá uma medida das chances de cada evento/variável ocorrer (Araújo, 2012). Isso significa que diante de uma situação de risco você sempre tomará a decisão assertiva? Não necessariamente, mas você não tomará decisões no escuro. Na Figura 3, um indivíduo está diante de seis escolhas, e cada uma irá gerar resultados e consequências diferentes. Diante do risco, ele tomará a decisão com base no conhecimento prévio das variáveis. 12 Figura 3 – Risco e incerteza Crédito: Clackboard/Shutterstock. Por outro lado, se esse mesmo indivíduo escolher entre as seis portas, frente à incerteza, ele não terá nenhuma noção do que o aguarda. Segundo Bugarin (2020), em uma situação de incerteza a informação é mais limitada, de tal modo que há grande dificuldade de prever o que é passível acontecer. Araújo (2012) complementa afirmando que em um cenário de incerteza tem-se a sensação de que a pessoa não sabe o que está fazendo. A incerteza é uma situação não passível de ser mensurada pela probabilidade, enquanto o risco pode ser mensurado pela probabilidade, pela medição de eventos semelhantes ou idênticos ocorridos anteriormente, sendo esses eventos influenciados por fatores indeterminados. Podemos pensar então numa situação em que investidores precisam escolher seus investimentos visando ao retorno futuro. Investidores, ao escolherem um investimento, dado que o futuro econômico é incerto, projetam vários cenários econômicos possíveis e, estudando movimentos passados, avaliam riscos do investimento nos cenários econômicos propostos. Quando o investimento escolhido for o mercado de ações, o investidor avaliará os papéis de uma empresa pelo nível do risco que ela oferece. Esse risco pode ser econômico, tal como uma alteração na tecnologia, no crescimento da concorrência, enfim, na economia; e também pode ser financeiro, como administração de seus recursos, capacidade de honrar suas dívidas, condições de gerar lucro etc. (Spolavori, 2010, p. 10) Mas por que é importante falar de risco e incerteza em nossa disciplina? Quando falamos em cenários estamos pensando em projeções de cenários futuros frente aos dados econômicos e às conjunturais atuais. Desse modo, diante de um cenário incerto, é importante conhecer as variáveis e estudar o ambientepara que as tomadas de decisões e projeções sejam feitas minimizando os riscos. 13 TROCANDO IDEIAS Chegamos ao final da aula e recomendamos que você pesquise os dados da balança comercial e da balança de pagamentos do Brasil. Com base nisso, veja as principais diferenças, o que esses instrumentos indicam e qual a realidade do cenário econômico. Para acessar os dados, busque sites confiáveis, como o Ipeadata (disponível em: <www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 27 jan. 2021). NA PRÁTICA Nesta aula, abordamos o conceito, as formas de cálculo e a relevância do PIB para determinada economia. A partir desse momento, você está apto a buscar informações sobre esse indicador e fazer uma análise prévia. Para isso, acesse o relatório Focus do Banco Central do Brasil e veja as projeções para o PIB. Depois, construa uma análise de como essas projeções podem afetar uma empresa e indique quais medidas você acredita que devem ser tomadas. É importante apresentar dados; para isso, você pode utilizar gráficos ou tabelas. FINALIZANDO O tempo passou muito rápido! Já estamos no final da aula. A ideia foi promover aproximação à temática relacionada com a macroeconomia, que complementará e será de grande importância para analisar o ambiente em que a empresa/organização se insere. Iniciamos verificando os principais agregados macroeconômicos e suas conceituações: produto, consumo, poupança, renda, investimento, absorção e despesa. Falamos sobre a conceituação dessas variáveis e sua aplicação em economia. Estudamos o PIB suas formas de cálculo. Analisamos a importância do seu cálculo e vimos que ele mede o crescimento econômico em um período de tempo. Também abordamos as contas nacionais, falando especialmente do PNB e sua diferença com o PIB. A economia brasileira não vive isolada, assim, tratar das relações com o restante do mundo faz parte do estudo da macroeconomia, de tal modo que, na quarta temática, analisamos a estrutura do balanço de pagamentos e suas principais contas. Por fim, atenção foi dada à distinção entre os conceitos de risco e incerteza, uma vez que para a projeção e análise de cenários tais conceitos 14 serão utilizados. Esperamos que você esteja empolgado e se sinta instigado a continuar os estudos! Nos vemos na próxima aula! 15 REFERÊNCIAS ADVFN. Como o PIB é calculado? 2019. Disponível em: <https://br.advfn.com/indicadores/pib/calculo#:~:text=O%20PIB%20pode%20se r%20calculado,sempre%20apresentar%20o%20mesmo%20resultado.> Acesso em: 22 jan. 2020. ARAÚJO, R. Você sabe a diferença entre incerteza e risco? 2012. Disponível em: <https://www.contabilidade-financeira.com/2012/10/voce-sabe- diferenca-entre-incerteza-e.html> Acesso em: 22 jan. 2020. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Informações Econômico-Financeiras: Balanço de Pagamentos. 2002. Disponível em: <https://www4.bcb.gov.br/pec/series/port/metadados/mg152p.htm> Acesso em: 22 jan. 2020. BUGARIN, M. S. Covid-19 e Teoria Econômica: a Diferença entre Risco e Incerteza. 2020. Disponível em: <http://www.brasil-economia- governo.org.br/2020/06/03/covidd-19-e-teoria-economica-a-diferenca-entre- risco-e-incerteza/> Acesso em: 22 jan. 2020. DICIONÁRIO FINANCEIRO. Consumo. Disponível em: <https://www.dicionariofinanceiro.com/consumo/> Acesso em: 22 jan. 2020. DICIONÁRIO FINANCEIRO. Produto Nacional Bruto: o que é e como é calculado o PNB. Disponível em: <https://www.dicionariofinanceiro.com/pnb/> Acesso em: 22 jan. 2020. DEROLLE, P. G. Macroeconomia: PIB e Poupança Pública e Privada. 2013. Disponível em: <https://pgderolle.wordpress.com/2013/07/10/macroeconomia- pib-e-poupanca-publica-e- privada/#:~:text=De%20acordo%20com%20Ana%20Cl%C3%A1udia,em%20de terminado%20per%C3%ADodo%20de%20tempo%E2%80%9D.> Acesso em: 22 jan. 2020.GOMIDES, P. Luca Pacioli e o Método das Partidas Dobradas. 2016. Disponível em: <https://administradores.com.br/artigos/luca-pacioli-e-o- metodo-das-partidas-dobradas> Acesso em: 22 jan. 2020. GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia Brasileira Contemporânea. Editora Atlas, 7. ed., 2011. PRO EDUCACIONAL. Balanço de Pagamentos. 2019. 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