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<p>Economia</p><p>e Mercado</p><p>Otto Nogami</p><p>Econom</p><p>ia e M</p><p>ercado</p><p>Otto Nogam</p><p>i</p><p>Código Logístico</p><p>58799</p><p>Fundação Biblioteca Nacional</p><p>ISBN 978-85-387-6518-9</p><p>9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 1 8 9</p><p>6</p><p>A moeda e sua importância</p><p>Moeda, em uma definição bem simples, pode ser entendida como um meio de pagamento</p><p>na economia. Um detalhe importante, que veremos ao longo deste capítulo, é que o montante de</p><p>moeda em circulação pode afetar a atividade econômica. E essa é a razão que leva governos ao</p><p>redor do mundo a se preocuparem com o quanto de moeda está disponível para sua população.</p><p>Ao longo deste capítulo, portanto, vamos desvendar alguns dos mistérios que cercam a</p><p>moeda, a fim de esclarecer seu significado e sua importância no contexto da economia. Além</p><p>disso, explicaremos as preocupações do governo em mantê-la sob controle e analisaremos os</p><p>instrumentos utilizados por ele para esse monitoramento.</p><p>6.1 Moeda: definição e origem</p><p>O economista russo Wassily Leontief, radicado nos Estados Unidos e ganhador do</p><p>prêmio Nobel de Economia, em 1973, define moeda como a “mercadoria que serve de</p><p>equivalente geral para todas as mercadorias” (NOGAMI; PASSOS, 2016, p. 447). De</p><p>fato, ao analisarmos a evolução histórica da moeda, percebemos que ela veio substituir</p><p>uma das mercadorias no exercício do escambo.</p><p>A definição padrão de moeda, na prática, é formada pelo papel-moeda, pelos</p><p>depósitos em conta corrente, pelos certificados de depósito bancário e pelos títulos</p><p>públicos. Mas o que eles têm em comum? Por que são incluídos na definição de moeda,</p><p>enquanto outras formas de pagamento (como os cartões de crédito) não o são?</p><p>Primeiro, porque apenas ativos – coisas de valor que as pessoas possuem – podem</p><p>ser vistos como moeda. O papel-moeda, os cheques, os depósitos em conta corrente e</p><p>as cotas de fundos de investimentos podem ser considerados ativos, mas o direito de</p><p>tomar empréstimos não é considerado ativo, portanto não faz parte da oferta de moeda.</p><p>É por isso que os limites de crédito – em conta corrente ou em cartões de crédito – ou a</p><p>capacidade de tomar empréstimos junto a instituições financeiras não são considerados</p><p>oferta de moeda.</p><p>Segundo, porque apenas as coisas amplamente aceitas como um meio de</p><p>pagamento podem ser vistas como moeda. Papel-moeda, cheques, cartões de débito</p><p>podem ser utilizados para comprar bens e serviços e pagar contas. Outros ativos –</p><p>como aplicações financeiras em fundos – não podem ser utilizados para pagar pelos</p><p>bens, portanto falham no teste de aceitabilidade.</p><p>Assim, podemos concluir que apenas os ativos altamente líquidos podem ser</p><p>vistos como moeda. Um ativo é considerado líquido quando ele possibilita a rápida</p><p>conversão em moeda a um custo bastante baixo. Um ativo de baixa liquidez, em</p><p>Vídeo</p><p>Economia e Mercado90</p><p>contrapartida, pode ser convertido em moeda somente depois de um certo tempo e/ou a custo</p><p>considerável.</p><p>Mas, de onde vem a moeda? A origem da moeda está na forma como nossos antepassados,</p><p>milhares de anos atrás, realizavam suas transações: por meio de escambo. Porém, esse ato de trocar</p><p>uma mercadoria por outra mercadoria enfrentava um grande inconveniente para que as transações</p><p>pudessem se concretizar: as partes precisavam ter necessidades e desejos duplamente coincidentes,</p><p>ou seja, cada uma delas deveria ter o produto que a outra desejasse.</p><p>Assim, para simplificar e contornar esse problema é que as sociedades decidiram eleger um</p><p>produto, que fosse desejado por todos, como um meio de troca. Um único produto que tivesse algum</p><p>valor e que pudesse servir como referencial de troca. E foi com essa passagem das trocas diretas, de</p><p>um produto por outro, para as indiretas, intermediadas por algum outro bem aceito por todos, é que</p><p>a humanidade entrou na chamada Era da Mercadoria-Moeda, segundo Nogami e Passos (2016).</p><p>Ainda de acordo com os autores, nesse período, vários tipos de produtos foram utilizados</p><p>como moeda, tais como animais domésticos, conchas, sal, fumo, azeites, gado etc. Ao longo da</p><p>história, vemos que diversas mercadorias foram utilizadas como mercadoria-moeda, cada uma</p><p>apresentando vantagens e desvantagens, até que, pouco a pouco, o uso de metais – cobre, barras</p><p>de ferro, ouro e prata – começou a se proliferar. Assim, diante da constante necessidade de se</p><p>encontrar formas mais simples e mais raras (para que tivessem valor) é que o uso do ouro e da prata</p><p>começou a se intensificar.</p><p>De acordo com Nogami e Passos (2016), a utilização do ouro e da prata nas transações</p><p>comerciais acabou trazendo grandes vantagens. Pequenas e fáceis de carregar, as moedas eram</p><p>padronizadas e tinham um valor intrínseco, ou seja, seu poder de compra era equivalente ao valor</p><p>do material utilizado em sua fabricação. Nesse momento, a humanidade passava para a Era da</p><p>Moeda Metálica.</p><p>Essas moedas metálicas permitiam às pessoas que as guardassem, esperando o melhor</p><p>momento para trocá-las por alguma mercadoria. Apesar das vantagens que a moeda metálica</p><p>proporcionava, existia, na época, um inconveniente, que era o transporte dessa moeda para longas</p><p>distâncias. Além do peso, os viajantes e comerciantes estavam sujeitos a emboscadas e assaltos.</p><p>Ainda de acordo com Nogami e Passos (2016), para contornar esse problema, especialmente após o</p><p>século XIV, com o crescimento do comércio dentro do continente europeu, começaram a surgir as</p><p>casas de custódia, local onde os comerciantes, antes de empreenderem suas viagens, depositavam</p><p>os metais que pretendiam levar em suas expedições comerciais e recebiam em troca os chamados</p><p>recibos de custódia.</p><p>A difusão desse instrumento monetário mais flexível fez com que se ingressasse em um</p><p>novo período denominado Era da Moeda-Papel. Agora, em vez de partirem para suas expedições</p><p>carregando moedas metálicas, os comerciantes precisavam apenas levar um pergaminho</p><p>representativo da custódia feita e, no destino, procurar uma casa de custódia correspondente à</p><p>casa emissora para trocar o recibo pelas moedas metálicas.</p><p>91 A moeda e sua importância</p><p>À medida que o uso desses recibos de custódia se proliferou nos grandes centros comerciais, os</p><p>comerciantes acabaram encontrando uma maneira mais simples de utilizá-los, apenas transferindo</p><p>a titularidade por meio do endosso. Dessa forma, gradativamente, os recibos de custódia passaram</p><p>a substituir as moedas metálicas. Como esses recibos representavam a exata quantidade de metal</p><p>(moeda metálica) depositado na cidade de origem, ou seja, possuíam 100% de lastro e tinham</p><p>plena conversibilidade, tornaram-se a forma preferida para a liquidação financeira das transações</p><p>comerciais, além de desempenharem, também, a função de reserva.</p><p>Com o passar do tempo, as casas de custódia perceberam que os detentores dos recibos de</p><p>custódia não faziam a reconversão imediatamente. E enquanto alguns faziam a troca da moeda-</p><p>-papel por moeda metálica, outros faziam novos depósitos em ouro e prata. As casas de custódia</p><p>começaram, então, a emitir certificados sem lastro em moeda metálica, o que, segundo Nogami e</p><p>Passos (2016), dá origem à moeda fiduciária – moeda aceita em confiança – ou papel-moeda.</p><p>Algumas características devem ser ressaltadas acerca do surgimento do papel-moeda: essas</p><p>novas moedas tinham menor conversibilidade, pois o lastro correspondente era inferior a 100%, e</p><p>eram emitidas por qualquer casa de custódia e também por particulares. Com o passar do tempo,</p><p>essas casas de custódia, pela emissão de recibos sem lastro, fizeram com que o sistema não se</p><p>sustentasse e as casas começassem a quebrar, levando os governos a assumirem e controlarem esses</p><p>mecanismos de emissões de moeda.</p><p>Nogami e Passos (2016) salientam que, no início, as emissões eram lastreadas em ouro, ou</p><p>seja, o volume de emissão de papel-moeda estava atrelado à quantidade de ouro existente no país.</p><p>Mas com o tempo, com o rápido crescimento das economias e as reservas limitadas do metal na</p><p>natureza, os países começaram a suspender a conversibilidade de suas moedas em ouro e, então, o</p><p>chamado padrão-ouro começou</p><p>a entrar em colapso. Em função disso, os governos começaram a</p><p>emitir moedas inconversíveis, levando ao abandono do padrão-ouro.</p><p>Dessa forma, a moeda passou a ter curso forçado, ou seja, passou a ser amparada por lei e</p><p>deixou de ter lastro em metais preciosos, tornando-se uma convenção social, as pessoas aceitam</p><p>porque aceitam o papel-moeda. Hoje, a maioria dos sistemas é fiduciária, apresentando as seguintes</p><p>características: inexistência de lastro metálico, inconversibilidade absoluta e monopólio estatal das</p><p>emissões. Veremos, mais adiante, o que isso significa.</p><p>6.2 Funções da moeda</p><p>Em função desses aspectos – inexistência de lastro metálico, inconversibilidade</p><p>absoluta e monopólio estatal das emissões –, para que a moeda seja entendida</p><p>como moeda, deve exercer um conjunto de funções. A mais importante delas,</p><p>indiscutivelmente, é de ser meio ou instrumento de troca. Isso porque, desde a</p><p>antiguidade, diferentes formas de moeda têm sido utilizadas, mesmo quando estas</p><p>eram as próprias mercadorias usadas na prática do escambo. Essa função indica,</p><p>também, que a moeda deve ser aceita por todos os indivíduos na realização das mais</p><p>diferentes transações, permitindo à economia o alcance da sua eficiência.</p><p>Vídeo</p><p>Economia e Mercado92</p><p>Como afirmam Abel, Bernanke e Croushmore (2008), ao funcionar como instrumento</p><p>de troca, a moeda permite que as pessoas negociem com menos uso de tempo e esforço. Isso</p><p>também faz elevar a produtividade, já que possibilita que as pessoas se especializem em atividades</p><p>econômicas nas quais são mais qualificadas.</p><p>Outra função importante é a de medida de valor, que significa que a moeda tem que permitir</p><p>a atribuição dos mais diferentes valores a todas as mercadorias e todos os serviços disponíveis na</p><p>economia. E a unidade monetária que a moeda representa é o que permite essa valoração.</p><p>Ao destacarmos as vantagens que essa função traz à moeda, podemos apontar, por exemplo,</p><p>a simplificação nos sistemas de controle, como os contábeis, racionalizando e aumentando o</p><p>número de informações por meio do sistema de preços. Sem essa função de medida de valor, seria</p><p>impossível apurar, por exemplo, o consumo das famílias, os gastos do governo, os investimentos, as</p><p>exportações líquidas, ou seja, o Produto Nacional Bruto.</p><p>Se perguntarmos, por exemplo: quanto o país produziu em um determinado período?</p><p>Milhares de dúzias de laranjas, milhares de automóveis, milhões de toneladas de roupas etc. Não</p><p>seria mais simples dizer que a economia produziu x reais de laranjas, y reais de automóveis, z reais</p><p>de roupas, ou n milhões de reais desses produtos? Dessa forma, por meio da moeda, podemos</p><p>comparar e agregar o valor de diferentes bens e serviços. De uma maneira bem simples, essa função</p><p>tem que ter a capacidade de responder a uma pergunta básica: quanto custa?</p><p>Outro ponto importante sobre a moeda é que, quando retirada de circulação, ela tem que ter</p><p>a capacidade de preservar o seu poder de compra enquanto guardada ao longo do tempo. Segundo</p><p>Nogami e Passos (2016), essa função, denominada reserva de valor, é um importante elemento de</p><p>entesouramento, de estoque de riqueza. E como a moeda pode ser transformada em bens e serviços</p><p>a qualquer momento, pode também ser definida como representante universal de riqueza.</p><p>De modo mais amplo, é possível dizer que a moeda exerce a função de reserva de valor do</p><p>momento em que a recebemos até o instante em que a utilizamos para efetuar alguma compra. Pelo</p><p>fato de podermos guardar moeda em qualquer quantidade, fica claro que somente a moeda, que</p><p>não se deprecia com os efeitos da inflação, pode exercer essa função, em suma, ela tem que ter um</p><p>poder de compra estável.</p><p>Outra função da moeda é a de padrão de pagamentos diferidos, que permite receber a</p><p>mercadoria no ato da compra, porém com a possibilidade de postergar o pagamento no maior</p><p>prazo possível, sem nenhum acréscimo. Essa função é a que ampara as operações de crédito, tendo</p><p>a moeda como o meio de pagamento.</p><p>O dólar norte-americano ser aceito em qualquer parte do mundo, por exemplo, decorre do</p><p>fato de ele atender plenamente às quatro funções básicas que uma moeda tem que exercer. Tanto é</p><p>que, nos momentos de instabilidade econômica dos países, os especuladores tendem a se ancorar</p><p>na moeda norte-americana, que transmite maior sensação de segurança. Isso tudo sem falar do</p><p>lado folclórico da moeda dos Estados Unidos: notas de dois dólares servem, para muitas pessoas,</p><p>como talismãs, dobradas e escondidas em algum canto da carteira.</p><p>À medida que uma moeda começa a perder suas funções, gradativamente vai deixando</p><p>de ser moeda. Foi o que aconteceu com as moedas brasileiras ao longo do período republicano</p><p>93 A moeda e sua importância</p><p>(como pode ser visto no Quadro 1). Um exemplo claro dessa deterioração do meio circulante</p><p>brasileiro está na década de 1980, quando as quatro funções da moeda começaram a perder sua</p><p>importância. A função instrumento de troca começou a se deteriorar à medida que as pessoas não</p><p>mais aceitavam a moeda corrente como elemento de liquidação financeira, pois sua deterioração</p><p>era diária. Assim, as transações, principalmente as de vulto, eram liquidadas com a utilização de</p><p>uma moeda mais forte, como o dólar norte-americano.</p><p>No que diz respeito à medida de valor, podemos citar o fato de, nessa época, em algumas</p><p>vitrines, os preços estarem em moeda estrangeira, assim como anúncios em jornais para a</p><p>comercialização de imóveis e automóveis. Guardar moeda em casa? Sem dúvida, mas só em dólares</p><p>norte-americanos, marcos alemães (padrão monetário da Alemanha antes do euro) ou libras</p><p>esterlinas (moeda da Grã-Bretanha). Empréstimos ou dívidas estavam sempre indexados a alguma</p><p>moeda forte. Essa era a nossa realidade.</p><p>Quadro 1 – Síntese dos padrões monetários do Brasil (1889 a 2018)</p><p>Cédula Padrão Monetário Vigência Base Legal</p><p>Mil-réis: Rs. 1$000</p><p>Conto de réis: Rs.</p><p>1:000$000</p><p>equivalente a 1 milhão</p><p>de réis</p><p>Do início da colonização</p><p>até 31/10/1942</p><p>Cruzeiro (Cr$ 1,00),</p><p>equivalente a um mil-réis</p><p>(Rs. 1$000)</p><p>01/11/1942 a 12/02/1967</p><p>Decreto nº 4.791</p><p>(05/10/1942)</p><p>Getúlio Vargas</p><p>Cruzeiro Novo (NCr$ 1,00),</p><p>equivalente a Cr$ 1.000</p><p>13/02/1967 a 14/05/1970</p><p>Decreto nº 60.190</p><p>(08/02/1967)</p><p>Castello Branco</p><p>Cruzeiro (Cr$ 1,00)</p><p>equivalente a NCr$ 1,00</p><p>15/05/1970 a 27/02/1986</p><p>Resolução nº 144 do BCB</p><p>(31/03/1970)</p><p>Cruzado (Cz$ 1,00)</p><p>equivalente a Cr$ 1.000</p><p>28/02/1986 a 15/01/1989</p><p>Decreto-Lei nº 2.283</p><p>(27/02/1986)</p><p>José Sarney</p><p>Cruzado Novo (NCz$ 1,00)</p><p>equivalente a Cz$ 1.000</p><p>16/01/1989 a 15/03/1990</p><p>Lei nº 7.730 (31/01/89)</p><p>José Sarney</p><p>W</p><p>ik</p><p>im</p><p>ed</p><p>ia</p><p>C</p><p>om</p><p>m</p><p>on</p><p>s</p><p>(Continua)</p><p>Economia e Mercado94</p><p>Cédula Padrão Monetário Vigência Base Legal</p><p>Cruzeiro (Cr$ 1,00)</p><p>equivalente a NCz$ 1,00</p><p>16/03/1990 a 31/07/1993</p><p>Medida Provisória nº 168</p><p>(15/03/1990)</p><p>Fernando Collor</p><p>Lei nº 8.024 de</p><p>12/04/1990</p><p>Cruzeiro Real (CR$ 1,00)</p><p>equivalente a Cr$ 1.000</p><p>01/08/1993 a 30/06/1994</p><p>Medida Provisória nº 336</p><p>(28/07/1993)</p><p>Itamar Franco</p><p>Lei nº 8.697 de</p><p>27/08/1993</p><p>Real (R$ 1,00)</p><p>equivalente a CR$ 2.75</p><p>A partir de 01/07/1994</p><p>Medida provisória nº 542</p><p>(30/06/1994)</p><p>Itamar Franco</p><p>Lei nº 9.069 de</p><p>29/06/1995</p><p>Fonte: Adaptado de Banco Central do Brasil, 2007.</p><p>Tivemos várias moedas que, por razões diversas, acabaram perdendo suas quatro funções</p><p>básicas. É possível dizer que uma das principais razões que levaram o país a ter inúmeros padrões</p><p>monetários em seu período republicano foi o processo inflacionário, que insistentemente deteriorava</p><p>o poder de compra das famílias.</p><p>W</p><p>ik</p><p>im</p><p>éd</p><p>ia</p><p>C</p><p>om</p><p>m</p><p>on</p><p>s</p><p>6.3 Características da moeda</p><p>Além das funções exercidas pelas moedas, elas devem ter algumas características.</p><p>Segundo Nogami e Passos (2016), são elas:</p><p>• Indestrutibilidade e inalterabilidade: como a moeda será utilizada em</p><p>inúmeras transações, ela deverá ser confeccionada com material resistente,</p><p>para que não perca suas características, de modo a impossibilitar sua</p><p>adulteração. Para tanto, na sua confecção utiliza-se celulose pura, que,</p><p>associada às técnicas modernas de impressão, dá maior resistência às cédulas.</p><p>• Homogeneidade: o padrão monetário pode ser constituído de cédulas e</p><p>moedas. Entretanto, independentemente do material utilizado, na medida</p><p>em que possuem o mesmo valor de compra, elas devem ser rigorosamente</p><p>iguais. Uma moeda de R$ 1,00 deve ter o mesmo poder de compra de uma</p><p>cédula de R$ 1,00, por exemplo.</p><p>• Divisibilidade: a moeda deve possuir múltiplos e submúltiplos, para que</p><p>transações de diferentes valores possam ser realizadas na economia. No Brasil,</p><p>hoje vigoram as moedas de R$ 0,01, R$ 0,05, R$ 0,10, R$ 0,25, R$ 0,50 e R$ 1,00</p><p>e notas de R$ 2,00, R$ 5,00, R$ 10,00, R$ 20,00, R$ 50,00 e R$ 100,00.</p><p>• Transferibilidade: a moeda deve circular na economia sem nenhuma</p><p>dificuldade, facilitando o processo de troca. A razão principal para essa</p><p>Vídeo</p><p>95 A moeda e sua importância</p><p>característica é o curso legal imposto pelo Estado, que emite e garante o papel-moeda em</p><p>circulação.</p><p>• Facilidade de manuseio e transporte: o papel-moeda de uma economia deve ser</p><p>confeccionado de modo a evitar que sua utilização e transporte sejam dificultados e que,</p><p>consequentemente, ele seja descartado.</p><p>Assim, podemos observar que, além das funções atribuídas a ela, a moeda tem que</p><p>apresentar também essas características para que as mais diferentes transações possam ser</p><p>realizadas da forma mais fluida possível.</p><p>6.4 Formas de moeda e as quase-moedas</p><p>O sistema monetário de um país tem três tipos de moeda: a metálica, o papel-</p><p>moeda e a moeda escritural. A moeda metálica é uma peça em metal, emitida pelo</p><p>Banco Central, que tem por objetivo facilitar as operações de pequeno valor ou de</p><p>valores fracionários – o que também facilita o troco. Normalmente, os submúltiplos</p><p>de uma moeda são confeccionados sob essa forma.</p><p>As cédulas emitidas pelo Banco Central, por sua vez, são denominadas papel-</p><p>moeda. Utilizado na compra e na venda de mercadorias, esse tipo de moeda representa</p><p>uma parcela significativa da quantidade de dinheiro que circula na economia. O</p><p>papel-moeda tem curso legal, ou seja, a circulação é amparada por lei. A partir do</p><p>momento em que esse tipo de moeda deixou de ter lastro em metal precioso, passou</p><p>a ser uma moeda fiduciária.</p><p>A moeda escritural, por fim, é uma ordem de pagamento que se originou da</p><p>generalização do uso do papel-moeda. A abertura de uma conta corrente, mediante</p><p>depósito em dinheiro, nos permite movimentar esse dinheiro depositado no banco</p><p>por meio de cheque, a moeda escritural mais utilizada nos dias de hoje, ou uma ordem</p><p>de pagamento como o documento de crédito (DOC) ou transferência eletrônica</p><p>disponível (TED), ou ainda por meio de cartões de débito em conta corrente, que é</p><p>uma forma de pagamento eletrônico, a qual deduz o valor da compra diretamente da</p><p>conta corrente do seu titular.</p><p>Esse conjunto de moedas utilizadas em um país é que constitui o seu sistema monetário.</p><p>As quase-moedas, por sua vez, compreendem um conjunto de ativos</p><p>denominados não monetários, que são constituídos por compromissos assumidos</p><p>pelo governo e pelas instituições financeiras, tais como títulos da dívida pública (letras</p><p>do Tesouro Nacional, letras financeiras do Tesouro e notas do Tesouro Nacional),</p><p>depósitos em caderneta de poupança e depósitos a prazo (certificados de depósito</p><p>bancário, recibos de depósito bancário e recibos de depósito cooperativo).</p><p>Esses ativos se caracterizam pela extrema liquidez e por carregarem muitas</p><p>propriedades da moeda, à exceção da mais importante que é ser instrumento de troca.</p><p>Não podemos pagar contas com esses títulos, daí o fato de serem definidos como</p><p>quase-moedas.</p><p>Vídeo</p><p>Economia e Mercado96</p><p>6.5 Demanda, oferta e equilíbrio monetário</p><p>Como toda e qualquer mercadoria, a moeda, na medida em que veio substituir</p><p>uma das mercadorias na prática do escambo, também deve ser tratada como uma</p><p>mercadoria, devendo passar também pela lei da oferta e da demanda; ou seja, deve</p><p>existir uma relação de preço e quantidade na condição de equilíbrio. Nesse sentido,</p><p>torna-se importante entender quem são os demandantes e os ofertantes de moeda, e</p><p>em que situação se dá o equilíbrio.</p><p>6.5.1. Demanda de moeda</p><p>Esse tema pode parecer, em um primeiro momento, estranho, pois as pessoas</p><p>não querem ter cada vez mais dinheiro? Então, podemos pensar, elas devem demandar</p><p>moeda para poder satisfazer suas necessidades e seus desejos. Mas quando falamos</p><p>em demandar algo, não falamos exatamente sobre as quantidades desejadas se</p><p>pudéssemos ter tudo o que queremos, sem ter que sacrificar nada por isso.</p><p>Pelo contrário, nós, tomadores de decisões econômicas, sempre enfrentamos</p><p>restrições no sentido de termos que sacrificar alguma coisa para que possamos ter</p><p>mais de outra. Assim, a demanda por moeda não significa quanto de dinheiro nós</p><p>gostaríamos de ter no melhor de todos os mundos. Em vez disso, significa dizer</p><p>quanto de dinheiro as pessoas gostariam de ter, dadas as restrições com que se</p><p>deparam, como a renda disponível. Nesse sentido, defrontamo-nos com duas formas</p><p>de utilizar a nossa renda disponível (renda menos os impostos): para nosso consumo</p><p>e para nossa poupança. Isso significa que, se quisermos consumir mais, teremos que</p><p>abrir mão da poupança, ou então, se quisermos economizar mais, teremos que abrir</p><p>mão do consumo.</p><p>O que determina, então, quanto dinheiro queremos ter? Enquanto as reações</p><p>variam de pessoa para pessoa, podemos destacar três razões que impactam nosso</p><p>comportamento enquanto demandantes de moeda:</p><p>• Nível de preços: quanto mais reais nós gastamos em uma semana ou em</p><p>um mês, mais dinheiro nós vamos querer ter na mão para poder consumir.</p><p>Um aumento generalizado nos preços (inflação) aumenta também o custo</p><p>das mercadorias que queremos comprar e a quantidade de dinheiro que</p><p>desejamos ter.</p><p>• Renda: vamos imaginar que os preços dos produtos que costumamos comprar</p><p>se mantenham inalterados ao longo do tempo, e que nossa renda aumente.</p><p>O nosso poder de compra vai crescer, fazendo com que a quantidade de reais</p><p>que vamos gastar também aumente. Mais uma vez, sempre que você estiver</p><p>gastando mais dinheiro, você vai querer ter mais dinheiro à sua disposição.</p><p>• Taxa de juros: à medida que decidimos manter a liquidez em dinheiro para</p><p>efetuar nossas compras, estamos abrindo mão dos juros, que poderíamos</p><p>estar ganhando em uma aplicação financeira. Desse modo, quanto maior a</p><p>Vídeo</p><p>97 A moeda e sua importância</p><p>taxa de juros, maior é o custo de oportunidade de manter essa liquidez. Dentro dessa</p><p>lógica, quanto maior a taxa de juros, mais somos levados a manter uma aplicação</p><p>financeira, reduzindo a quantidade de moeda disponível para nosso consumo.</p><p>Assim, podemos afirmar que nossa demanda de moeda depende de dois importantes</p><p>componentes: a renda disponível e a taxa de juros. Isso nos permite escrever a seguinte equação:</p><p>L = LT(Y) + LE(i)</p><p>na qual L representa a liquidez total de moeda que queremos demandar, distribuída entre a LT,</p><p>liquidez transacional, que vai depender da nossa renda disponível (Y) e do nível geral de preços da</p><p>economia, e LE, a demanda especulativa, que vai depender da taxa de juros (i).</p><p>Até agora, nossa discussão sobre a demanda de moeda está focada em nós, famílias. Porém,</p><p>boa parte do dinheiro que circula está nas mãos dos empresários, nos caixas ou nas contas</p><p>correntes de suas empresas. E os empresários também se defrontam com tomadas de decisões</p><p>relacionadas ao uso do dinheiro, tais como: quanto dinheiro manter em caixa para fazer frente aos</p><p>meus compromissos? Quanto manter em outros ativos?</p><p>No fim das contas, os princípios adotados por eles são semelhantes aos nossos: tendem a</p><p>manter maior liquidez quando a renda disponível é maior ou quando a inflação está alta, e menos</p><p>dinheiro em caixa quando a taxa de juros está mais alta.</p><p>O Gráfico 1, a seguir, mostra a curva da demanda</p><p>por moeda, a qual relaciona a quantidade</p><p>de moeda que a sociedade está disposta a demandar a cada nível de taxa de juros. Note que essa</p><p>curva tem declividade negativa, o que significa que as relações entre taxa de juros e quantidade</p><p>de moeda são inversas. Ou seja, quanto maior a taxa de juros, menor a liquidez que as pessoas</p><p>pretendem manter, e quanto menor a taxa de juros, maior a liquidez que se deseja manter.</p><p>Gráfico 1 – Demanda por moeda</p><p>0</p><p>0</p><p>2</p><p>4</p><p>6</p><p>8</p><p>Ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e j</p><p>ur</p><p>os</p><p>(%</p><p>)</p><p>Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)</p><p>1</p><p>3</p><p>5</p><p>7</p><p>9</p><p>50 100 150 200</p><p>B</p><p>A</p><p>L = LT(Y) + LE(i)</p><p>250 300 350</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor.</p><p>Economia e Mercado98</p><p>O ponto A, por exemplo, mostra que quando a taxa de juros estiver em 4%, a quantidade</p><p>demandada será de 100 bilhões de unidades monetárias. Se a taxa de juros cair para 2%, haverá</p><p>um movimento em direção ao ponto B na curva da demanda, que indica que a quantidade</p><p>demandada nessa nova condição será de 200 bilhões de unidades monetárias. Dessa forma,</p><p>à medida que nos movemos ao longo da curva da demanda, a taxa de juros muda, mas</p><p>assumimos que outras determinantes da demanda da moeda (como inflação e renda disponível)</p><p>permanecem inalteradas.</p><p>No entanto, conforme se modificam esses outros fatores que influenciam a demanda de</p><p>moeda, a curva da demanda de moeda se moverá para a direita ou para a esquerda. Vamos supor</p><p>que a renda disponível aumente: à medida que isso acontece, a sociedade (famílias e empresários)</p><p>tende, a cada nível de taxa de juros, a querer manter maior liquidez para suas despesas de consumo.</p><p>Nessas condições, a curva da demanda por moeda tende a se deslocar para a direita, como</p><p>ilustrado no Gráfico 2, a seguir, no qual a curva da demanda por moeda se desloca de L1 para L2.</p><p>Agora, a uma taxa de juros de 4%, a quantidade de moeda demandada aumenta para 150 bilhões</p><p>de unidades monetárias; a uma taxa de 2%, o montante de moeda demandada sobe de 200 bilhões</p><p>para 300 bilhões.</p><p>Gráfico 2 – Deslocamento da curva da demanda</p><p>0</p><p>Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)</p><p>50 100 150 200 250 300 350</p><p>0</p><p>2</p><p>4</p><p>6</p><p>8</p><p>Ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e j</p><p>ur</p><p>os</p><p>(%</p><p>)</p><p>1</p><p>3</p><p>5</p><p>7</p><p>9</p><p>B</p><p>EA</p><p>L2 = LT(Y) + LE(i)</p><p>L1 = LT(Y) + LE(i)</p><p>F</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor.</p><p>Em resumo, uma mudança apenas da taxa de juros faz com que nos movamos ao longo da</p><p>curva da demanda de moeda. A mudança dessa curva é causada por alguma outra coisa além da</p><p>taxa de juros, como a mudança na renda disponível ou a inflação, que fazem a curva se deslocar.</p><p>Portanto, de acordo com Abel, Bernanke e Croushore (2008), a demanda por moeda é a</p><p>quantidade de ativos monetários, como dinheiro e contas correntes, que as pessoas decidem ter</p><p>em seu portfólio. Dessa forma, definir quanto de moeda se demanda é parte de uma decisão mais</p><p>ampla de alocação de portfólio.</p><p>99 A moeda e sua importância</p><p>6.5.2. Oferta de moeda</p><p>A moeda é um produto institucional e, por isso, é controlado pelas chamadas autoridades</p><p>monetárias – Conselho Monetário Nacional (CMN) e Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB).</p><p>Ademais, a moeda é, como já vimos, o meio de pagamento utilizado nas mais diferentes transações</p><p>que ocorrem dentro da economia. Assim, o Bacen deve ter a preocupação de ofertar moeda na</p><p>quantidade necessária e suficiente para que todas as transações possam ser realizadas.</p><p>Levando em consideração que o conceito de PIB diz respeito à produção de bens e serviços</p><p>para o consumo final das famílias, é de se imaginar que as famílias tenham dinheiro para adquirir</p><p>essa produção. E conforme as famílias realizam o seu consumo de acordo com a renda que recebem,</p><p>que normalmente é em bases mensais, o dinheiro que elas recebem e que usam no consumo sai</p><p>das empresas e retorna para elas a cada mês, para que possam efetuar os pagamentos no mês</p><p>subsequente, ou seja, o dinheiro gira na economia. Assim, na medida em que o dinheiro sai das</p><p>empresas e retorna a elas em um prazo de 30 dias, podemos dizer que o dinheiro gira 12 vezes em</p><p>um ano. Esse giro da moeda é conhecido na teoria monetária como velocidade-renda da moeda (V).</p><p>A teoria quantitativa da moeda, equação que os economistas clássicos utilizam para definir</p><p>o quanto de moeda deve ser ofertada na sociedade, é dada por:</p><p>M x V = P x PIB</p><p>na qual M é a quantidade de moeda a ser ofertada; V é a velocidade-renda da moeda; P é a inflação;</p><p>Q é o produto da economia (PIB). Então, colocando de outra forma:</p><p>M = (PIB / V) x P</p><p>Isso significa que a oferta de moeda é determinada pela relação entre o PIB e a velocidade-renda</p><p>da moeda (giro) e ajustada de acordo com a inflação verificada em determinado período de tempo.</p><p>Podemos observar, portanto, que a oferta de moeda independe da taxa de juros, ou seja, ela é</p><p>totalmente inelástica à taxa de juros, como pode ser visto no Gráfico 3.</p><p>Gráfico 3 – Oferta de moeda</p><p>Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)</p><p>Ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e j</p><p>ur</p><p>os</p><p>(%</p><p>)</p><p>0</p><p>0</p><p>2</p><p>4</p><p>6</p><p>8</p><p>1</p><p>3</p><p>5</p><p>7</p><p>9</p><p>M</p><p>50 100 150 200 250 300 350</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor.</p><p>Economia e Mercado100</p><p>Exemplificando de maneira simples: suponhamos que o PIB tenha sido de R$ 6 trilhões,</p><p>a inflação tenha sido zero e a moeda tenha girado, na média, a cada 15 dias (considerando</p><p>mensalistas, categorias profissionais que recebem a cada quinze dias, trabalhadores da construção</p><p>civil, que recebem a cada semana, além de profissionais liberais e empresários do comércio que</p><p>recebem por dia), ou seja, 24 vezes num ano. Assim temos:</p><p>M = (R$ 6 trilhões / 24)</p><p>M = R$ 250 bilhões</p><p>Essa é a quantidade de moeda a ser colocada em circulação. A teoria quantitativa da moeda</p><p>admite que, no decorrer do tempo, tanto o PIB como a velocidade-renda da moeda podem sofrer</p><p>variações. Isso porque é de se esperar que, ao longo do tempo, a economia cresça, ou seja, que o</p><p>PIB cresça.</p><p>A velocidade-renda da moeda também pode sofrer alterações ao passo que as formas de</p><p>pagamento na economia sofram modificações. Os economistas defensores dessa ideia assumem</p><p>que as mudanças na velocidade-renda da moeda são previsíveis e defendem também a ideia</p><p>de que o crescimento do PIB está estreitamente relacionado aos aumentos na oferta de moeda.</p><p>Argumentam ainda que a estabilidade dos preços é alcançada à medida que a oferta monetária</p><p>esteja relacionada ao crescimento da própria capacidade de produção da sociedade.</p><p>Portanto, podemos concluir que, se a velocidade-renda da moeda permanecer constante em</p><p>curto prazo, o efeito de um aumento na oferta monetária sobre a inflação e o emprego dependerá</p><p>de a economia estar operando ou não com recursos ociosos – em outras palavras, dentro, sobre ou</p><p>fora da fronteira de possibilidades de produção.</p><p>6.5.3. Equilíbrio monetário</p><p>Agora, combinando o que sabemos a respeito da demanda e da oferta de moeda, podemos</p><p>encontrar a taxa de juros de equilíbrio da economia. Porém, antes de fazermos isso, temos que</p><p>considerar alguns detalhes importantes.</p><p>O modelo econômico clássico nos diz que a taxa de juros é determinada no equilíbrio de</p><p>mercado entre ofertadores e tomadores de recursos, como veremos mais adiante, dentro de uma</p><p>perspectiva de longo prazo.</p><p>Aqui, no entanto, estamos interessados em analisar como a taxa de juros é determinada</p><p>no curto prazo. Por isso, observamos como a taxa de juros de equilíbrio se forma no mercado</p><p>monetário: a taxa de juros em que as quantidades de moeda demandada pela sociedade e ofertada</p><p>pelo Bacen são iguais. O Gráfico 4, a seguir, combina as curvas de demanda e oferta de moeda.</p><p>101 A moeda e sua importância</p><p>Gráfico 4 – Equilíbrio do mercado monetário</p><p>Ta</p><p>xa</p><p>d</p><p>e j</p><p>ur</p><p>os</p><p>(%</p><p>)</p><p>0</p><p>0</p><p>2</p><p>4</p><p>6</p><p>8</p><p>1</p><p>3</p><p>5</p><p>7</p><p>9</p><p>Quantidade de moeda (bilhões de unidades monetárias)</p><p>50 100 150 200 250 300 350</p><p>M</p><p>EM</p><p>L1 = LT(Y) + LE(i)</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor.</p><p>Como podemos observar, o equilíbrio ocorre no ponto EM, na intersecção das duas curvas.</p><p>Nesse ponto, as quantidades de moeda demandada e de moeda ofertada são iguais a 100 bilhões de</p><p>unidades monetárias, e a taxa de juros de equilíbrio é</p><p>de 4%.</p><p>É importante saber o que significa esse equilíbrio no mercado monetário. Para isso,</p><p>recordemos que a curva de oferta de moeda nos informa a quantidade de moeda que circula na</p><p>economia. Todo real – seja em espécie, seja depositado em conta corrente – pertence a alguém.</p><p>Assim, a curva de oferta de moeda, além de nos informar a quantidade de moeda ofertada pelas</p><p>autoridades monetárias, também nos informa a quantidade de moeda que as pessoas estão detendo</p><p>em determinado momento.</p><p>Por outro lado, a curva de demanda por moeda nos informa também quanto de moeda as</p><p>pessoas desejam portar a cada taxa de juros. Assim, quando a quantidade de moeda ofertada é</p><p>igual à quantidade de moeda demandada, toda a moeda disponível na economia está atendendo às</p><p>necessidades da sociedade. Isso significa que as pessoas estão satisfeitas com o montante de moeda</p><p>que estão portando.</p><p>6.6 Política monetária</p><p>Todo o controle da oferta de moeda e da taxa de juros é feito pela política</p><p>monetária, que pode ser definida como um conjunto de medidas adotadas pelo Bacen</p><p>para assegurar a liquidez ideal da economia.</p><p>A execução da política monetária tem, desse modo, o objetivo de, por meio do</p><p>controle da oferta de moeda, elevar o nível de emprego da economia, manter os preços</p><p>estáveis (combate aos efeitos inflacionários) e manter a taxa de juros em um patamar</p><p>ideal. Tudo isso para assegurar um adequado crescimento econômico.</p><p>Vídeo</p><p>Economia e Mercado102</p><p>6.6.1. Instrumentos de política monetária</p><p>As autoridades monetárias, na execução da política monetária, utilizam um conjunto de</p><p>instrumentos para mexer na oferta de moeda e regular a taxa de juros da economia, como apontam</p><p>Nogami e Passos (2016). Como essas autoridades não têm como intervir diretamente na atividade</p><p>econômica – para aumentar o nível de consumo, por exemplo –, atuam indiretamente, mexendo</p><p>na moeda que circula na economia.</p><p>Dessa forma, por meio da ação sobre reservas bancárias e sobre as taxas de juros, por</p><p>exemplo, induzem a sociedade a alterar seu perfil de gastos. Os principais instrumentos para essas</p><p>ações são:</p><p>• Controle direto da quantidade de moeda em circulação: diz respeito, diretamente, à</p><p>emissão de dinheiro e sua circulação de acordo com as diretrizes fixadas pelas autoridades</p><p>monetárias. Normalmente, a emissão de moeda se destina ao financiamento de déficits</p><p>orçamentários do governo, à concessão de empréstimos de liquidez às instituições</p><p>bancárias e à realização de operações de compra e venda de moeda estrangeira, como</p><p>apontam Nogami e Passos (2016).</p><p>• Operação no mercado aberto: esse controle se faz diariamente, por meio do mercado</p><p>monetário, no qual o Banco Central controla a liquidez da economia, comprando ou</p><p>vendendo títulos públicos. Quando há excesso de oferta monetária, o Bacen realiza</p><p>operações de venda de títulos públicos, que são adquiridos pelas instituições financeiras</p><p>mediante pagamento em espécie, contraindo-se, assim, a quantidade de moeda nas</p><p>instituições e reduzindo sua capacidade de financiar e de emprestar. Caso o Bacen sinta</p><p>que a oferta de moeda é insuficiente, ele entra no mercado monetário comprando títulos</p><p>públicos e pagando em espécie, a fim de injetar dinheiro na economia e provocar, dessa</p><p>forma, um aumento nos meios de pagamento.</p><p>• Fixação da taxa de reserva compulsória: segundo Nogami e Passos (2016), esse é um outro</p><p>instrumento utilizado pelo Bacen para controlar a oferta de dinheiro, atuando diretamente</p><p>sobre os bancos. Essas taxas, também conhecidas como depósitos compulsórios, são</p><p>mantidas pelas instituições bancárias junto ao Bacen, proporcionalmente aos depósitos à</p><p>vista e a prazo, e às cadernetas de poupança mantidos nessas instituições. Esse instrumento</p><p>atua diretamente sobre o nível de reservas dos bancos, com reflexos diretos no nível de</p><p>expansão ou contração dos meios de pagamento. A elevação dessas taxas de reserva</p><p>provoca a diminuição dos meios de pagamento, uma vez que reduz a disponibilidade dos</p><p>bancos para empréstimos. Por outro lado, à medida que o Bacen reduz a taxa de reserva</p><p>do compulsório, provoca um aumento nas disponibilidades bancárias.</p><p>• Fixação da taxa de redesconto: quando os bancos comerciais enfrentam eventuais</p><p>problemas de liquidez, eles recorrem ao Bacen para a obtenção de empréstimos conhecidos</p><p>como redesconto; a taxa de juros praticada nessas operações é conhecida como taxa</p><p>de redesconto. Assim, uma elevação nessa taxa induzirá os bancos a se atentarem ao</p><p>problema de liquidez, reduzindo suas operações de concessão de crédito – o que, por</p><p>consequência, reduz a oferta de moeda na economia. Por outro lado, se for desejo das</p><p>reservas</p><p>bancárias: moeda</p><p>disponível nas</p><p>instituições</p><p>financeiras</p><p>que atuam</p><p>emprestando</p><p>dinheiro ou</p><p>financiando a</p><p>aquisição de bens.</p><p>103 A moeda e sua importância</p><p>autoridades monetárias expandir os meios de pagamentos mediante uma redução das</p><p>reservas bancárias, bastará reduzir a taxa de redesconto. Conforme esclarece Blanchard</p><p>(2011), emprestar aos bancos é muito semelhante a comprar títulos em uma operação do</p><p>mercado aberto, criando moeda e aumentando a liquidez do mercado.</p><p>• Controle seletivo de crédito: o Bacen, quando percebe que o nível de consumo da</p><p>sociedade está alto, principalmente pelo uso do crédito, pode criar restrições para as</p><p>operações de financiamentos e de empréstimos, limitando montantes e prazos. Ou,</p><p>no sentido contrário, querendo dar mais dinamismo ao mercado, permite o aumento</p><p>de prazos para determinados bens de consumo durável. Em linhas gerais, o Bacen</p><p>tem condições de controlar o volume e a distribuição de linhas de crédito, impor um</p><p>determinado patamar às taxas de juros e orientar a finalidade na concessão dos créditos,</p><p>determinando prazos, limites e condições, de acordo com Nogami e Passos (2016).</p><p>Não podemos esquecer que, além desses instrumentos, o Bacen utiliza sua autoridade</p><p>moral e sua reputação para induzir os bancos a adotarem, voluntariamente, o comportamento</p><p>considerado apropriado às circunstâncias particulares.</p><p>6.6.2. Efeitos da política monetária</p><p>Os impactos da política monetária sobre o setor real da economia podem ser observados</p><p>por meio da taxa de juros praticada pelas instituições financeiras, da disponibilidade de crédito, da</p><p>expectativa com relação às taxas futuras de juros e da composição da riqueza privada.</p><p>Isso significa dizer que as ações de política monetária modificam os rendimentos dos ativos</p><p>financeiros, além de alterarem o custo e a disponibilidade de crédito na economia.</p><p>Considerações finais</p><p>Ao longo deste capítulo, procuramos desvendar alguns mistérios que cercam a moeda que</p><p>circula na economia, expondo seu real significado e sua importância no nosso dia a dia. Buscamos</p><p>apresentar, também, as preocupações que o governo tem em deixá-la circular livremente, sem</p><p>descuidar do seu controle, para evitar consequências não desejadas e que podem causar impactos</p><p>no sistema econômico.</p><p>Ampliando seus conhecimentos</p><p>• WEATHERFORD, Jack M. A história do dinheiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.</p><p>Nesse livro, o autor retrata a trajetória de nossa relação com o dinheiro, abrangendo</p><p>desde a época em que o homem primitivo trocava conchas até a chegada dos amplamente</p><p>usados cartões eletrônicos.</p><p>Economia e Mercado104</p><p>• FERGUSON, Niall. A ascensão do dinheiro: a história financeira do mundo. São Paulo:</p><p>Planeta, 2009.</p><p>Esse livro foi best-seller do jornal The New York Times, apresenta um estudo brilhante</p><p>da história financeira e expõe como uma nova revolução financeira está impulsionando</p><p>alguns dos maiores países do mundo, levando alguns países da pobreza para a riqueza ao</p><p>tempo de uma geração.</p><p>• Banco Central do Brasil. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/. Acesso em: 24 ago. 2019.</p><p>Vale a pena uma visita ao site do Bacen. Nele, estão disponíveis informações e dados sobre</p><p>a política monetária (meta para a inflação, Conselho de Política Monetária, atas do Copom</p><p>etc.) e estabilidade financeira (Sistema Financeiro Nacional,</p><p>Sistema de Pagamentos</p><p>Brasileiro, câmbio, capitais internacionais etc.), além de estatísticas, informações acerca</p><p>de cédulas e moedas, e publicações diversas.</p><p>Atividades</p><p>1. Cartões de crédito são considerados moeda? Explique.</p><p>2. Por que as pessoas querem manter menos dinheiro guardado quando as taxas de juros se elevam?</p><p>3. Qual é o principal objetivo da política monetária?</p><p>4. Quais são os principais instrumentos de política monetária no Brasil?</p><p>5. De que forma as autoridades monetárias podem estimular o nível de investimentos das empresas?</p><p>Referências</p><p>ABEL, Andrew B.; BERNANKE, Ben S.; CROUSHORE, Dean. Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson</p><p>Prentice Hall, 2008.</p><p>BANCO CENTRAL DO BRASIL. Síntese dos padrões monetários brasileiros. Brasília, maio 2007. Disponível em:</p><p>https://www.bcb.gov.br/content/acessoinformacao/Documents/museu/pub/SintesePadroesMonetariosBrasileiros.</p><p>pdf. Acesso em: 23 ago. 2019.</p><p>BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.</p><p>NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos R. M. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.</p><p>https://www.bcb.gov.br/</p>

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