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<p>TEMA 1- SUJEITO E OBJETOS DO CRIME</p><p>AULA 1- SUJEITOS DO CRIME I</p><p>RESUMO:</p><p>Como é sabido, o conceito de crime é o essencial para a compreensão dos principais institutos do Direito Penal pátrio. Não é diversa a importância da compreensão dos sujeitos e objetos do crime.</p><p>Sujeitos do crime</p><p>Os sujeitos do crime são as pessoas ou entes vinculados à prática e aos efeitos da conduta delitiva. Podem ser divididos em sujeito ativo e sujeito passivo.</p><p>Sujeito ativo é a pessoa que pratica direta ou indiretamente a conduta prevista no tipo penal. Tal conduta pode ser realizada de forma isolada ou em concurso de agentes.</p><p>Praticado o crime de forma direta pelo sujeito ativo encontraremos a figura do autor e coautor, de outro lado, praticado de forma indireta, teremos a figura do partícipe e do autor mediato.</p><p>Como regra geral, apenas o ser humano poderá figurar como sujeito ativo de um crime. Os animais e coisas podem funcionar como instrumentos do crime, mas nunca serão tidos como sujeitos ativos ou autores de ações ante a ausência do elemento vontade.</p><p>Em que pese a clara impossibilidade de animais figurarem como subjetivo ativo de condutas criminosas, encontramos na história diversos registro de animais penalmente responsabilizados. Entre tais exemplos:</p><p>"Cita-se o caso do elefante Charlie que foi absolvido por legitima defesa; é notável o exemplo de um galo condenado à morte por ter bicado os olhos de uma criança; recorda-se também o processo instaurado contra o papagaio que dava vivas ao rei, infringindo assim as novas concepções revolucionárias; assinalam-se exemplos, por igual, de cavalos homicidas, veados infanticidas, e de cachorros acusados de crimen bestialitatis".</p><p>QUESTÃO 1-Caso 01 - Jonas, inconformado com sua demissão, resolve matar seu antigo chefe Ricardo. Em um determinado bar da cidade conhece Arnaldo, ao qual conta seu plano e solicita auxílio. Após muita conversa Arnaldo decide ajudar, emprestando sua arma de fogo à Jonas. Na mesma noite, Jonas mata Ricardo utilizando a arma de fogo emprestada por Arnaldo.</p><p>Caso 02 - Pedro e seu amigo Ricardo aproveitam determinado feriado para se divertir em uma conhecida casa noturna da cidade. Durante a madrugada, Pedro inicia uma discussão com Jorge, alegando que este havia flertado com sua namorada alguns dias antes. Durante a discussão, Ricardo imobiliza Jorge, enquanto Pedro saca uma faca e desfere diversos golpes. A vítima não resiste e falece no local dos fatos.</p><p>Caso 03 – Nelson possuía o hábito de passear toda manhã com seu cachorro em um parque próximo à sua casa. Em uma destas manhãs Nelson se depara com Wilson, seu inimigo capital. Tomado pelo ódio, ordena a seu animal de estimação que ataque seu inimigo. Em razão do ataque, Wilson falece.</p><p>Dentro do tema abordado em aula, indique:</p><p>a) Como podemos conceituar sujeitos do crime e sujeito ativo?</p><p>b) Animais e coisas poderão figurar como sujeito ativo de um crime? Justifique.</p><p>c) Considerando os casos acima apresentados, apresente quais envolvida figurarão como sujeito ativo da prática criminosa, especificando a condição de cada agente.</p><p>RESPOSTA 1- a) Como podemos conceituar sujeitos do crime e sujeito ativo?</p><p>Os sujeitos do crime são as pessoas ou entes vinculados à prática e aos efeitos da conduta delitiva. Podem ser divididos em sujeito ativo e sujeito passivo.</p><p>De outro lado, sujeito ativo é a pessoa que pratica direta ou indiretamente a conduta prevista no tipo penal. Tal conduta pode ser realizada de forma isolada ou em concurso de agentes.</p><p>Praticado o crime de forma direta pelo sujeito ativo encontraremos a figura do autor e coautor, de outro lado praticado de forma indireta estaremos frente à figura do partícipe e o autor mediato.</p><p>b) Animais e coisas poderão figurar como sujeito ativo de um crime? Justifique.</p><p>Não, os animais e coisas nunca serão tidos como sujeitos ativos ou autores de ação ante a ausência do elemento vontade. Entretanto, poderão figurar como instrumentos do crime.</p><p>c) Considerando os casos acima apresentados, apresente quais envolvida figurarão como sujeito ativo da prática criminosa, especificando a condição de cada agente.</p><p>Caso 01 – Jonas e Arnaldo serão os sujeitos ativos do crime de homicídio. Jonas, por praticar de forma direta a conduta criminosa possuirá a condição de autor. De outro lado, Arnaldo, por não realizar diretamente o núcleo do tipo penal, mas possuir o propósito de colaborar com a conduta de Jonas, figurará como partícipe.</p><p>Caso 02 – Pedro e Ricardo figurarão como sujeitos ativos do crime de homicídio. Nesta hipótese ambos serão coautores do delito, pois os dois praticaram atos de execução diversos, que somados produziram o resultado pretendido.</p><p>Caso 03 – Nelson será o sujeito ativo do crime de narrado, funcionando como autor do crime. Importante lembrar que o animal figurou como instrumento do crime, e jamais poderá ser tido como sujeito ativo da conduta.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-os animais e as coisas não podem figurar como sujeito ativo.</p><p>FUNDAMENTAÇÃO - Uma vez que os animais e coisas podem funcionar como instrumentos do crime, mas nunca serão tidos como sujeitos ativos ou autores de ação ante a ausência do elemento vontade.</p><p>AULA 2- SUJEITOS DO CRIME II</p><p>RESUMO:</p><p>Não podemos deixar de mencionar a discussão sobre a possibilidade de a pessoa jurídica ser considerada sujeito ativo de práticas criminosas.</p><p>Para adequada ponderação dos argumentos favoráveis e contrários, se faz necessário rememorar a natureza jurídica destes entes.</p><p>Teoria da ficção jurídica - Para a referida teoria, idealizada por Savigny, a pessoa jurídica não possui existência real, assim inexistindo nela vontade própria. Desta forma, seria impossível a prática de crime por um ente fictício.</p><p>Teoria da realidade (personalidade real) - Esta teoria defende ser a pessoa jurídica um ente autônomo e distinto de seus membros, possuidor de vontade própria. Portanto, é sujeito de direitos e obrigações, assim como as pessoas físicas. É a teoria prevalente.</p><p>Em linhas gerais, adotando-se a teoria da ficção jurídica, resta impossível a prática de condutas criminosas por pessoas jurídicas. De outro lado, elegendo-se a teoria da realidade, é admissível questionar a possibilidade de imputação de crimes às pessoas jurídicas.</p><p>Entre ambas as correntes, podemos elencar inúmeros argumentos, dos quais destacamos os de maior relevância.</p><p>1) Principais argumentos pela impossibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito ativo de crime:</p><p>a) A pessoa jurídica não tem vontade própria, não sendo assim possível configurar o dolo e a culpa (culpabilidade);</p><p>b) A Constituição Federal não autoriza expressamente a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, sendo à estas reservadas as sanções civis e administrativas;</p><p>c) Não é possível aplicar pena privativa de liberdade às pessoas jurídicas. A referida modalidade de pena constitui medida central entre as punições previstas pelo direito penal. Para aplicação de qualquer outro tipo de sanção, mostra-se suficiente o direito administrativo ou civil;</p><p>d) A aplicação de pena à pessoa jurídica alcançaria todos os sócios, inclusive eventual sócio inocente, violando o princípio constitucional da personalidade da pena.</p><p>QUESTÃO 1-Discorra brevemente sobre as teorias que lastreiam a natureza jurídica da pessoa jurídica (teoria da ficção jurídica e teoria da realidade).</p><p>RESPOSTA 1-Sustenta a teoria da ficção jurídica que a pessoa jurídica não possui existência real, não possuindo assim vontade própria. Nesta linha, apenas o homem pode ser sujeito de direito, sendo impossível que um ente ficto pratique algum crime.</p><p>De outro lado, sustenta a teoria da realidade que a pessoa jurídica é um ente autônomo e distinto de seus membros, possuidor de vontade própria. Portanto, é sujeito de direitos e obrigações, assim como as pessoas físicas.</p><p>QUESTÃO 2-Considerando a natureza jurídica das pessoas jurídicas, assinale a afirmativa correta:</p><p>RESPOSTA 2- para teoria da realidade a pessoa jurídica é sujeito de direitos e obrigações.</p><p>Fundamentação: para a teoria da realidade</p><p>aula vamos adentrar e aprofundas outras classificações de crimes como, por exemplo, os crimes vagos, de forma livre ou vinculada, crimes condicionados e crimes de atentado.</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Fulano e Sicrano foram denunciados por crime de associação criminosa (art. 288, CP), porque teriam, junto com mais cinco pessoas, mantido durante mais de um ano uma associação com o propósito de cometer crimes. Diz a denúncia que não foi possível a identificação dos demais componentes do grupo, conhecidos pelas alcunhas de Litrão, Berda, Zoinho e Cabeção.</p><p>É possível que em tal processo, Fulano e Sicrano sejam condenados?</p><p>RESPOSTA 1-O crime de associação criminosa (art. 288, CP) é um delito plurissubjetivo de condutas paralelas, que exige o concurso de, no mínimo 3 pessoas. Em princípio, parece inviável a condenação de apenas duas pessoas por associação criminosa. Contudo, caso esteja devidamente comprovada a existência de outras pessoas, componentes da associação, é possível a condenação dos dois réus. Nesse sentido já se decidiu:</p><p>“Quadrilha ou bando. Impossibilidade de identificação de algum membro do grupo. Circunstância que não impede a caracterização do delito se há certeza moral da existência de mais de três agentes participantes da empreitada criminosa. Inteligência do art. 288 do CP” (TJSP – 2.ª Câm. Crim. Férias – HC 367.064-3/0-00 – Rel. Silva Pinto – j. 28.01.2002 – Revista de Dout. e Jurisp. 80/316).</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa correta.</p><p>RESPOSTA 2-Os crimes unissubsistentes são os praticados mediante um ato único e não admitem tentativa.</p><p>Fundamentação: Os crimes unissubsistentes são cometidos mediante um único ato. Por essa razão, sendo impossível o fracionamento do iter criminis, é impossível a tentativa.</p><p>AULA IV - CRIMES VAGOS, DE FORMA LIVRE, CONDICIONADOS E DE ATENTADO</p><p>Introdução</p><p>Na classificação de crimes, é importante o estudo das seguintes espécies de crimes: crimes vagos, crimes de forma livre, crimes condicionados e crimes de atentado.</p><p>Crimes vagos</p><p>Na classificação de crimes quanto ao sujeito passivo, há os chamados crimes vagos, cometidos contra a coletividade, de modo que não existe um sujeito passivo definido. O sujeito passivo é a "coletividade, entidade sem personalidade jurídica". No mesmo sentido, diz Damásio que é o crime que tem "por sujeito passivo entidades sem personalidade jurídica, como a família, o público ou a sociedade".[1: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p. 337.][2: Jesus, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007. Cit.p. 209.]</p><p>Também são chamados de crimes "multivitimários ou de vítimas difusas", conforme os ensinamentos do professor Guilherme Nucci.[3: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p. 337.]</p><p>A importância de tal classificação é a identificação de que muitos crimes tutelam bens jurídicos que são de interesse coletivo e não individual. Um crime de furto, por exemplo, é cometido contra uma pessoa determinada e essa é a vítima do crime, porém, um crime de violação de sepultura, que é um crime vago, não tem como vítima o cadáver ou seus familiares. O bem jurídico tutelado nesse caso — respeito aos mortos — é de interesse coletivo, pois se trata de um valor cultural relevante. [4: Ibdem.]</p><p>Como exemplo de tais crimes, pode-se mencionar os crimes que têm por bem jurídico o respeito aos mortos, Capítulo II, do Título V, como os crimes de violação de sepultura e vilipêndio a cadáver:</p><p>Violação de sepultura</p><p>Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária.</p><p>(...)</p><p>Vilipêndio a cadáver</p><p>Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas.</p><p>Na jurisprudência, há julgado que trata do bem jurídico tutelado no art. 210, CP:</p><p>O objeto jurídico tutelado não é a chamada 'paz dos mortos', pois os mortos não são titulares de direito. Conforme afirma Magalhães Noronha, 'é um direito dos vivos que a lei protege' (Direito Penal, 4. ed., v. 3, p. 82). Tal como na 'calúnia aos mortos' (art. 138, § 2.º) o que, aqui, se tutela é o sentimento dos parentes ou amigos sobrevivos, de respeito e reverência aos que partiram desta vida. Neste sentido, também, a lição de Hungria" (TJSP - AC - Rel. Goulart Sobrinho - RJTJSP 21/459).</p><p>Também o crime de ato obsceno é dado como exemplo de crime vago por Damásio:</p><p>Ato obsceno</p><p>Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público.</p><p>Por isso, na avaliação do crime de ato obsceno não se leva em conta a avaliação da pessoa que presenciou o ato, e sim a valoração social, conforme se vê no julgado abaixo:</p><p>Os conceitos empregados pelo Código de 'pudor', 'bons costumes', 'escândalo' etc., deverão ser preenchidos com os conceitos valorativos que regem uma dada sociedade num momento determinado. Por isso, não deve causar estranheza que condutas qualificadas, há poucos anos, como escandalosas, sejam hoje consideradas lícitas ou, pelo menos, moralmente indiferentes, sobretudo, no campo erótico. (TACRIM-SP - AC - Rel. Silva Franco - JUTACRIM 53/326 e RT 515/363).</p><p>Também pode-se citar como exemplo de crime vago os crimes de perigo comum, como o de incêndio (art. 250, CP), em que "um número indeterminado de pessoas foi exposto a uma situação de risco". [5: MARTINELI, João Paulo Orsini; BEM, Leonardo Schimitt de. Lições fundamentais de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2016. Cit.p.371.]</p><p>Incêndio</p><p>Art. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.</p><p>Tais crimes não possuem uma vítima determinada e não é crime contra o patrimônio, de tal modo que ainda que seja colocado incêndio em coisas abandonadas, o crime se configura, desde que produza perigo concreto.</p><p>A importância da constatação de que o incêndio é crime vago, contra um número indeterminado de pessoas, pode-se ver no seguinte julgado, em que se decidiu inexistente o crime se foi colocado fogo em um barraco isolado:</p><p>Inocorrendo perigo comum, descaracteriza-se o crime de incêndio, como no caso em que o barraco queimado pelo acusado se achava em local isolado e não havia nas proximidades outras choupanas ou casas. A lei dispõe ser o incêndio crime de perigo comum. Sendo comum a tutela se estende a um grupo social, a um número indeterminado de pessoas. Assim, jamais poderia ser considerado como comum o perigo causado a uma, duas ou até mesmo três pessoas ou a um número determinado e certo de indivíduos residentes no mesmo local (TJSP - AP 131.054-3/8 - Rel. Silva Pinto - RT 710/264).</p><p>Crime de forma livre e forma vinculada</p><p>Quanto ao modo de execução, os crimes são classificados como de forma livre, que são cometidos de qualquer modo, e os de forma vinculada, cujo modo de execução é determinado pela lei.</p><p>Damásio define os crimes de forma livre, "os que podem ser cometidos por meio de qualquer comportamento que cause determinado resultado". Nessa espécie de crime não há, "no tipo incriminador, qualquer vínculo com o método." [6: JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007. Cit.212.][7: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p. 337.]</p><p>É o caso dos crimes de homicídio (art. 121, CP), infanticídio (art. 123, CP) e lesão corporal (art. 129, CP).</p><p>O Tribunal de Justiça de Minas Gerais entendeu configurado o crime de lesão corporal seguida de morte, no caso em que seguranças humilharam um idoso, de tal modo que isso lhe acarretou ofensa à saúde psíquica e, por consequência a morte:</p><p>Os seguranças de supermercado que abordam de forma ríspida, humilhante e agressiva um octogenário, em razão de suspeitarem haver ele deixado de pagar o produto que adquirira, fato que teria acarretado distúrbio psíquico na vítima, que caiu, desfalecida, no estacionamento do estabelecimento comercial, vindo a falecer pouco depois, cometem o crime de lesão corporal seguida de morte. A hipótese é de autêntico crime preterdoloso, havendo dolo no antecedente</p><p>(lesão à saúde) e culpa no resultado subseqüente (morte)" (TJMG - 2.ª C. - AP 1.0145.01.01324801/001 - Rel. Herculano Rodrigues - j. 11.11.2004 - JM 170/368).</p><p>Deve-se notar nesse caso, que mesmo que não tenha sido agredido fisicamente, a vítima sofreu danos à saúde. Evidencia-se que, se houve a produção do resultado, é irrelevante se saber qual foi o modo.</p><p>Em contraposição aos crimes de forma livre, há os de fórmula vinculada, "aqueles que somente podem ser cometidos por meio de fórmulas expressamente previstas no tipo penal". Nucci cita como exemplo o curandeirismo:[8: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p. 337.]</p><p>Curandeirismo</p><p>Art. 284 - Exercer o curandeirismo:</p><p>I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;</p><p>II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;</p><p>III - fazendo diagnósticos:</p><p>A lei contém no caput, a conduta típica genérica e nos incisos o modo de execução. Caso, alguém exerça algum tipo de curandeirismo, sem que tenha praticado um dos três modos previstos nos incisos, o crime não se configura.[9: JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007. Cit.212.]</p><p>Condicionados</p><p>Quanto à consumação, o crime pode ser condicionado. São "condicionados os delitos que dependem do advento de uma condição qualquer, prevista no tipo (interna) ou não (externa), para se configurarem". Como se vê, em tais crimes a consumação do crime condicionada a evento. [10: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p. 337.]</p><p>Nucci cita como exemplo, o crime falimentar que "depende, em regra, do advento da sentença de falência" (Lei 11.101/2005).[11: Ibdem.]</p><p>A condição de que depende a consumação do crime pode ser interna, quando previsto no próprio tipo, ou externa, quando depende de condição prevista fora do tipo.</p><p>Importante ressaltar que tais crimes não admitem a forma tentada, "pois a condição é o elemento fulcral para haver crime ou não. Ocorrendo a condição fixada pela norma penal, consuma-se o delito; não ocorrendo, cuida-se de fato atípico." [12: Ibdem.]</p><p>Damásio, por sua vez, sustenta que o crime condicionado tem a punibilidade — não a consumação — "condicionada a um fato exterior e posterior à consumação (condição objetiva de punibilidade)". Cita como exemplo um crime cometido por brasileiro no exterior, hipótese em que a punibilidade é condicionada aos requisitos descritos no art. 7º, § 2º, CP. [13: JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007. Cit.212.]</p><p>Crime de atentado</p><p>Há tipos em que há a equiparação entre a forma consumada e tentada, são os chamados crimes de atentado ou empreendimento.</p><p>São os exemplos dos arts. 352, CP, e 309 do Código Eleitoral:</p><p>Evasão mediante violência contra a pessoa</p><p>Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa.</p><p>Código Eleitoral</p><p>Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem.</p><p>Tais crimes não admitem tentativa, conforme leciona Nucci:</p><p>Cuida-se de categoria de delitos que não admite a tentativa, tendo em vista que a forma tentada é equiparada, para fins de configuração e aplicação da pena, à consumada. [14: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p. 338.]</p><p>Zaffaroni e Pierangeli que o sentido da expressão contida no parágrafo único do art. 14, CP, "salvo disposição em contrário" é usada na hipótese dos crimes de atentado:</p><p>... há casos em que a tentativa é punida com a mesma pena cominada ao crime consumado, vale dizer, sem a redução obrigatória consignada pelo parágrafo. Tal ocorre, v. g., no delito tipificado no art. 352 do CP — evadir-se ou tentar evadir-se. [15: ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Tentativa. São Paulo: RT, 1998. Cit.p. 131.]</p><p>Na jurisprudência, também se reconhece essa equiparação: "A lei equipara, para todos os efeitos penais, a evasão à tentativa de evasão." (TACRIM-SP - AC - Rel. Cunha Camargo - JUTACRIM 44/196)</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Foi instaurado inquérito policial, em razão de notitia criminis apresentada por uma associação intitulada Grupo de Defesa da Moral e dos Bons Costumes, para apuração de suposto crime de escrito ou objeto obsceno (art. 234, CP), em razão de exposição em que um dos quadros retratava uma pintura de uma mulher nua. Segundo a alegação do referido grupo, trata-se de pintura que ofende a moral de grupos religiosos, que tentam preservar os valores elementares da família. A questão que se apresenta é se para a configuração do referido crime, deve ser considerada os valores de um grupo específico ou se devem ser levados em conta os valores médios da sociedade?</p><p>RESPOSTA 1-O crime previsto no art. 234, CP, é classificado como crime vago, de modo que o sujeito passivo não é pessoa determinada. Por tal razão, deve-se levar em consideração os valores morais predominantes na sociedade. Se há um grupo social com valores específicos, ainda que seja legítima sua existência, não é esse grupo que irá nortear a interpretação da lei penal. O fato de aquele grupo sentir-se ofendido não é suficiente para a conclusão de que existiu crime. Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “A moral vigente não se dissocia do costume vigente. assim quando os costumes mudam, avançando contra os preconceitos, os conceitos morais também mudam. O conceito de obsceno hoje não é mais o mesmo da inspiração do legislador do Código Penal em 1940.” (STJ — HC 7809 — Rel. Min. Edson Vidigal — j. 24/11/1998)</p><p>QUESTÃO 2-São aqueles que não possuem sujeito passivo determinado, sendo este a coletividade, sem personalidade jurídica. Guilherme de Souza Nucci descreveu qual crime?</p><p>RESPOSTA 2- Crimes Vagos.</p><p>Fundamentação: Conforme conta do resumo a definição de Guilherme Nucci transcrita na questão é dos crimes vagos, que não possuem um sujeito passivo determinado.</p><p>TEMA 4- ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME</p><p>AULA 1- DOLO</p><p>Dolo, para o sistema criminal, é a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo legal. É a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.</p><p>O estudo do dolo nos apresenta os seguintes elementos constitutivos:</p><p>a) consciência (conhecimento do fato que constitui a ação típica) e</p><p>b) vontade (elemento volitivo de realizar esse fato).</p><p>Aníbal Bruno inclui dentre os componentes do dolo a consciência da ilicitude do comportamento do agente.</p><p>O dolo pertence à ação final típica, constituindo seu aspecto subjetivo, ao passo que a consciência da ilicitude pertence à estrutura da culpabilidade, como um dos elementos necessários à formulação do juízo de reprovação.</p><p>Conclusão: o dolo e a potencial consciência da ilicitude são elementos que não se fundem em um só, pois cada qual pertence a estruturas diversas do conceito de crime.</p><p>A respeito do dolo, podemos estudar as seguintes teorias:</p><p>a) Da vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.</p><p>b) Da representação: dolo é a vontade de realizar a conduta, prevendo a possibilidade de o resultado ocorrer, sem, contudo, desejá-lo. Denomina-se teoria da representação, porque basta ao agente representar (prever) a possibilidade do resultado para a conduta ser qualificada como dolosa.</p><p>c) Do assentimento ou consentimento: dolo é o assentimento do resultado, isto é, a previsão do resultado com a aceitação dos riscos de produzi-lo. Não basta, portanto, representar; é preciso aceitar como indiferente a produção do resultado.</p><p>Teorias adotadas pelo Código Penal: da análise do disposto no art. 18, I, do Código Penal, conclui-se que foram adotadas as teorias da vontade e do assentimento.</p><p>Dolo é a vontade de realizar o resultado ou a aceitação dos riscos de produzi-lo. A teoria da representação, que confunde culpa consciente (ou com previsão) com dolo, não foi adotada.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>"Inicialmente,</p><p>convém enfatizar que a regra é a de que o crime seja doloso, de modo que no tipo, não haverá menção ao dolo. Assim, quando o art. 121, CP, diz "matar alguém", cominando a pena de reclusão de 6 a 20 anos, não há menção ao dolo, pois ele é a regra, que não precisa ser dita na parte especial. O parágrafo único do art.18, CP, estabelece que "ninguém pode ser punido por fato previsto como crime", se não tiver agido como dolo, salvo se houver expressa previsão legal. Ou seja, quando o intérprete lê o art. 163, CP, que tipifica o dano, constata que não há menção ao dolo nem à culpa. Como o dolo é a regra, ele não constará do tipo, porém, se houver modalidade culposa para aquele tipo, isso deverá vir expresso. Como não há menção à culpa, no art. 163, conclui-se que só existe crime de dano doloso.</p><p>No caso do homicídio ou da lesão corporal, o legislador quis definir o crime culposo, fazendo-o expressamente, § 3º, do art. 121, e § 6º, do art. 129. (...).</p><p>Para íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>Crime doloso</p><p>QUESTÃO 1-A não comprovação do dolo pela acusação, no curso do processo, permite a condenação por crime culposo em todos os casos?</p><p>RESPOSTA 1-Não, apenas quando ficar provada a culpa, em suas modalidades (imprudência, negligência e imperícia), além da necessidade de previsão da modalidade culposa do crime.</p><p>EMENTA PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO DE MATERIAL ELETRÔNICO. AUSÊNCIA DE DOLO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL VIA HABEAS CORPUS. POSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. É certo que o dolo opera diretamente no tipo penal, que na hodierna estrutura funcionalista da teoria do crime, leva em consideração, também, os aspectos formais (conduta, resultado jurídico, nexo de causalidade e subsunção legal) e os materiais (imputação objetiva, desvalor da conduta e desvalor do resultado). 2. Por força do princípio da responsabilidade penal subjetiva ninguém pode ser punido senão a título de dolo ou culpa, sob pena de caracterizar a responsabilidade penal objetiva, rechaçada em nosso ordenamento. 3. Segundo a boa doutrina, dolo nada mais é do que a consciência (desejo ou aceitação) dos requisitos objetivos do tipo penal. Sua ausência descaracteriza o tipo e, por consequência, afasta a ocorrência do crime. 3. Inexistindo crime, não há justa causa para a deflagração da ação penal, nos termos do art. 397, III, do CPP. 4. O trancamento de inquérito policial ou de ação penal em sede de habeas corpus é medida excepcional, só admitida quando restar provada, inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, a atipicidade da conduta, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade, ou, ainda, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito. 5. No caso concreto, o Tribunal de piso reconheceu a atipicidade da conduta denunciada diante da ausência de dolo, sem a necessidade de um maior exame valorativo fático ou probatório, não havendo falar em ilegalidade nesta decisão. 5. Agravo regimental não provido. AgRg no REsp 1243193 / ES - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. 2011/0037965-7 Relator(a) Ministro JORGE MUSSI (1138). Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA. Data do Julgamento 22/05/2012. Data da Publicação/Fonte DJe 31/05/2012.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre o tipo dos crimes dolosos de ação, assinale a alternativa incorreta:</p><p>RESPOSTA 2-B realiza disparo de arma de fogo, com a finalidade específica de atingir pneu do veículo pilotado por C, levando a sério e se conformando com a possibilidade de atingir C mortalmente: se o projétil efetivamente atinge C, o resultado de morte é atribuível a B a título de dolo direto de 2º grau.</p><p>Fundamentação: A resposta está incorreta, porque a conformação com a previsibilidade de um resultado futuro desvalioso faz com que o agente responda por dolo eventual, e não por dolo direto.</p><p>AULA 2- QUESTÕES SOBRE O DOLO</p><p>Para o correto estudo do dolo, urge estudarmos as espécies de dolo.</p><p>a) Dolo natural: é dolo concebido como um elemento puramente psicológico, desprovido de qualquer juízo de valor. Trata-se de um simples querer, independentemente de o objeto da vontade ser lícito ou ilícito, certo ou errado. Esse dolo compõe-se apenas de consciência e vontade, sem a necessidade de que haja também a consciência de que o fato praticado é ilícito, injusto ou errado.</p><p>Dessa forma, qualquer vontade é considerada dolo, tanto a de beber água, andar, estudar, quanto a de praticar um crime. Afasta-se a antiga concepção de dolus malus do direito romano. Sendo uma simples vontade, ou está presente ou não, dispensando qualquer análise valorativa ou opinativa. Foi concebido pela doutrina finalista, integra a conduta e, por conseguinte, o fato típico. Não é elemento da culpabilidade, nem tem a consciência da ilicitude como seu componente.</p><p>b) Dolo normativo: é o dolo da teoria clássica, ou seja, da teoria naturalista ou causal. Em vez de constituir elemento da conduta, é considerado requisito da culpabilidade e possui três elementos: a consciência, a vontade e a consciência da ilicitude.</p><p>Assim, para que exista dolo, não basta que o agente queira realizar a conduta, sendo também necessário que tenha a consciência de que ela é ilícita, injusta e errada.</p><p>O dolo normativo, portanto, não é um simples querer, mas um querer algo errado, ilícito (dolus malus).</p><p>Deixa de ser um elemento puramente psicológico (um simples querer), para ser um fenômeno normativo, que exige juízo de valoração (um querer algo errado).</p><p>c) Dolo direto ou determinado: é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado (teoria da vontade). Ocorre quando o agente quer diretamente o resultado. Na conceituação de José Frederico Marques, "Diz-se direto o dolo quando o resultado no mundo exterior corresponde perfeitamente à intenção e à vontade do agente. O objetivo por ele representado e a direção da vontade se coadunam com o resultado do fato praticado".</p><p>d) Dolo indireto ou indeterminado: o agente não deseja diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-lo (dolo eventual), ou não se importa em produzir este ou aquele resultado (dolo alternativo). Na lição de Magalhães Noronha: "É indireto quando, apesar de querer o resultado, a vontade não se manifesta de modo único e seguro em direção a ele, ao contrário do que sucede com o dolo direto.</p><p>e) Dolo geral, erro sucessivo ou "aberratio causae": quando o agente, após realizar a conduta, supondo já ter produzido o resultado, pratica o que entende ser um exaurimento e, nesse momento, atinge a consumação.</p><p>Ex. pensando já ter matado, joga o corpo no rio para ocultar o cadáver que só morre pelo afogamento.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>Dolo é a vontade livre e consciente de realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador.</p><p>Para WELZEL, o dolo possui dois momentos, sendo um intelectual (o sujeito decide o que quer) e um volitivo (o sujeito decide fazer o que queria). Assim, o dolo possui um elemento intelectual e outro volitivo.</p><p>O erro de tipo, constante no artigo 20 do Código Penal, pode ter duas facetas:</p><p>- Erro de tipo escusável - é o erro de tipo invencível, em que qualquer pessoa normal poderia incorrer;</p><p>- Erro de tipo inescusável - é o erro de tipo vencível, que poderia ter sido evitado se o agente tivesse agido com as diligências ordinárias. (...)".</p><p>Para íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>Direito penal- Tipo Doloso</p><p>QUESTÃO 1-Com base na jurisprudência de nossos Tribunais Superiores, podemos afirmar que o excesso de velocidade somado com a embriaguez ao volante, caracterizaria dolo eventual?</p><p>RESPOSTA 1-Existe ainda uma divergência entre os Tribunais. No entanto, abaixo um julgado que retrata um pouco do entendimento sobre a possiblidade de se considerar dolo eventual ou culpa consciente para o crime questionado (excesso de velocidade e embriaguez ao volante):</p><p>QUINTA TURMA DO STJ. COMPETÊNCIA. JÚRI. ACIDENTE. TRÂNSITO. HOMICÍDIO. Trata-se de acidente de trânsito fatal com duas vítimas e quatro lesões corporais - segundo consta dos autos, o recorrente,</p><p>no momento em que colidiu com outro veículo, trafegava em alta velocidade e sob a influência de álcool. Por esse motivo, foi denunciado pela suposta prática dos delitos previstos nos arts. 121, caput, por duas vezes e 129 por quatro vezes, ambos do CP, e pronunciado para ser submetido a julgamento no tribunal do júri. Ressalta o Min. Relator que o dolo eventual imputado ao recorrente com submissão ao júri deu-se pela soma de dois fatores: o suposto estado de embriaguez e o excesso de velocidade. Nesses casos, explica, o STJ entende que os referidos fatores caracterizariam, em tese, o elemento subjetivo do tipo inerente aos crimes de competência do júri popular. Ademais, a atribuição de indícios de autoria e da materialidade do delito foi fundamentada nas provas dos autos, não sendo possível o reexame em REsp (óbice da Súm. n. 7-STJ). Quanto à desclassificação do delito de homicídio doloso para o crime previsto no art. 302 do CTB - conforme a alegação da defesa, não está provada, nos autos, a ocorrência do elemento subjetivo do tipo (dolo) -, segundo o Min. Relator, faz-se necessário aprofundado exame probatório para ser reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual, pois deve ser feita de acordo com as provas colacionadas. Assim, explica que, além da vedação da citada súmula, conforme a jurisprudência, entende-se que, de acordo com o princípio do juiz natural, o julgamento sobre a ocorrência de dolo eventual ou culpa consciente deve ficar a cargo do tribunal do júri, constitucionalmente competente para julgar os crimes dolosos contra a vida. Dessa forma, a Turma negou provimento ao recurso, considerando que não houve ofensa aos arts. 408 e 74, § 1º, do CPP nem ao art. 302, parágrafo único, V, da Lei n. 9.503/1997, diante de indícios suficientes de autoria e da materialidade delitiva. Quanto à reavaliação desses elementos, isso não seria possível em REsp, pois incide a citada súmula, bem como não cabe o exame de dispositivo da CF. Precedentes citados: HC 118.071-MT, DJe 1º/2/2011; REsp 912.060-DF, DJe 10/3/2008; HC 26.902-SP, DJ 16/2/2004; REsp 658.512-GO, DJe 7/4/2008; HC 36.714-SP, DJ 1º/7/2005; HC 44.499-RJ, DJ 26/9/2005; HC 91.397-SP, DJe 15/12/2008, e HC 60.942-GO, DJ 29/10/2007. REsp 1.224.263-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/4/2011.</p><p>QUESTÃO 2-A vista do ordenamento jurídico-penal brasileiro, e de acordo com a teoria finalista da ação, há crime doloso: (Glossário para a questão: Responsabilidade objetiva ("strict liability"), negligência ("negligence") e negligência dolosa ("gross negligence").</p><p>RESPOSTA 2-se o autor do fato, conquanto não deseje o resultado de dano ou perigo, esteja consciente de sua efetiva possibilidade, resignando-se com ela.</p><p>Fundamentação: Trata-se de dolo eventual.</p><p>AULA 3- CULPA</p><p>A culpa é o elemento normativo da conduta, pois depende de valoração por parte dos aplicadores da lei penal para identificar a sua ocorrência e, consequentemente, possível responsabilização. A culpa é assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente. Com efeito, os tipos que definem os crimes culposos são, em geral, abertos, portanto, neles não se descreve em que consiste o comportamento culposo. O tipo limita-se a dizer: "se o crime é culposo, a pena será de...", não descrevendo a conduta culposa, apenas o resultado desvalioso que o direito penal busca coibir.</p><p>Excepcionalidade do crime culposo: um crime só pode ser punido como culposo quando houver expressa previsão legal (CP, art. 18, parágrafo único). No silêncio da lei, o crime só é punido a título de dolo, por essa razão, em algumas situações a desclassificação de dolo para culpa significa a absolvição do agente.</p><p>Para a adequação típica, será necessário mais do que simples correspondência entre conduta e descrição típica. Torna-se imprescindível que se proceda a um juízo de valor sobre a conduta do agente no caso concreto, comparando-a com a que uma pessoa de prudência média teria na mesma situação.</p><p>Isso faz com que a culpa seja qualificada como um elemento normativo da conduta.</p><p>Elementos do fato típico culposo:</p><p>a) conduta (sempre voluntária);</p><p>b) resultado involuntário;</p><p>c) nexo causal;</p><p>d) tipicidade;</p><p>e) previsibilidade objetiva;</p><p>f) ausência de previsão (exceto na culpa consciente); e</p><p>g) quebra do dever objetivo de cuidado (por meio da imprudência, imperícia ou negligência)</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>Primeiramente, é de indispensável importância salientar que para o Código Penal brasileiro a conduta humana só pode ser traduzida em dolosa ou culposa. A culpa é uma exceção, ou seja, ela deve estar expressa no artigo penal, e.g., art. 129, §6º, do diploma repressivo, do contrário a situação fática é atípica, e.g., art. 155 do Código Penal, não é possível o furto culposo, se ocorrer não há crime pela atipicidade do fato.</p><p>Parafraseando o professor Júlio Fabbrini Mirabete, o crime culposo consiste em se alcançar um resultado antijurídico, não desejado, porém previsível, que poderia ter sido evitado se o agente tivesse dado a atenção necessária ao praticar determinado ato. (...)"</p><p>Para íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>Culpa - Uma análise simplificada</p><p>QUESTÃO 1-Vânia, enfermeira, deixou uma paciente sem assistência porque estava terminando grave discussão contra o seu marido pelo telefone. Tal omissão acabou por gerar a morte da vítima que não recebeu socorro médico em tempo hábil. Diante de tal situação, poder-se-ia imputar para Vânia algum crime?</p><p>RESPOSTA 1-Sim, Vânia praticou o crime de homicídio. Como não desejava a morte da paciente, não há que se falar em dolo. Porém, com a sua atitude, foi negligente (omissa) isso caracteriza crime culposo. Assim, deve ser imputado a ela o crime de homicídio culposo. Veja o julgado abaixo sobre o tema:</p><p>“QUINTA TURMA DO STJ. HOMICÍDIO CULPOSO. IMPRUDÊNCIA MÉDICA. A primeira recorrente, médica obstetra, foi denunciada como incursa no art. 121, §§ 3º e 4º, do CP, porque, durante seu plantão, demorou duas horas para atender parto de emergência e, durante o procedimento, abandonou a mãe da vítima para atender o celular, imprudência que ocasionou uma anorexia neonatal grave (falta de oxigênio no cérebro) do recém-nascido. O segundo recorrente, médico pediatra, foi denunciado como incurso no art. 135, parágrafo único, in fini, do CP, por não tomar as devidas providências para socorrer o recém-nascido durante o seu plantão, negando-se a encaminhá-lo à UTI, o que resultou na morte da criança. A Min. Relatora entendeu que o homicídio culposo se caracteriza com a imprudência, negligência ou imperícia do agente, modalidades da culpa que não se confundem com a inobservância de regra técnica de profissão, que é causa de aumento que denota maior reprovabilidade da conduta. Sendo assim, o julgador não pode se utilizar da mesma circunstância fática de condenar a recorrente por homicídio culposo por imprudência pela ausência do plantão e reconhecer esse mesmo fato na causa do aumento pela violação da regra técnica da profissão; bem como quanto ao recorrente, condená-lo por homicídio culposo por negligência no atendimento médico à falta de necessário acompanhamento a vítima e utilizar o mesmo fundamento para reconhecer a inobservância da regra técnica da profissão, sob pena de incorrer em vedado bis in idem. Pois, o réu em nosso sistema processual, defende-se da imputação fática, e não da imputatio libelli. Com esse entendimento, a Turma, ao prosseguir o julgamento, deu provimento ao primeiro recurso para excluir da condenação o aumento de pena pela inobservância da regra técnica da profissão e negou provimento ao segundo recurso. Concedeu, outrossim, habeas corpus de ofício ao segundo recorrente para, reconhecendo o bis in idem, também afastar de sua condenação a causa de aumento de pena prevista no § 4º do art. 121 do CP. REsp 606.170-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/10/2005.”.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre o tipo dos crimes culposos, assinale a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-no tipo dos crimes culposos, o desvalor do</p><p>resultado é definido pelo resultado de lesão do bem jurídico, como produto específico da violação do dever de cuidado ou do risco permitido.</p><p>Fundamentação: Traz o conceito de culpa, atrelando a violação do dever objetivo de cuidado com a produção do resultado que acarreta na responsabilidade criminal do agente.</p><p>AULA 4- QUESTÕES SOBRE A CULPA</p><p>Previsibilidade subjetiva: é a possibilidade que o agente tinha de prever o resultado, dadas as suas condições peculiares. Não importa se uma pessoa de normal diligência poderia ter previsto, relevando apenas se o agente, em concreto, poderia ou não tê-lo feito.</p><p>Atenção: A previsibilidade subjetiva: a ausência de previsibilidade subjetiva não exclui a culpa, pois não é seu elemento.</p><p>Na prática, devemos estar atentos para fazer o pedido correto. A ausência de previsibilidade subjetiva pode dar causa à ausência de potencial consciência da ilicitude, que é elemento da culpabilidade.</p><p>Em relação ao elemento subjetivo culpa, diversos princípios devem ser estudados para a correta aferição.</p><p>Princípio do risco tolerado: existem comportamentos perigosos imprescindíveis. São importantes para a sociedade e, por essa razão, o risco gerado pela sua prática é aceito socialmente. Mesmo arriscada, a ação deve ser praticada, e aceitos eventuais erros, dado que não há outra solução. Exemplo: médico que realiza uma cirurgia em circunstâncias precárias, podendo causar a morte do paciente.</p><p>Princípio da confiança: a previsibilidade também está sujeita a esse princípio, segundo o qual as pessoas agem de acordo com a expectativa de que as outras atuarão dentro do que lhes é normalmente esperado.</p><p>Exemplo: Motorista que, respeitando todas as regras de trânsito, atropela pedestre que atravessa no meio dos carros e fora da faixa. Aqui inexiste a culpa e não se pode falar em resultado previsível.</p><p>Inobservância do dever objetivo de cuidado: é a quebra do dever de cuidado imposto a todos. Manifesta-se por meio de três modalidades de culpa (art. 18, II, do CP):</p><p>a) Imprudência: é a culpa de quem age, ou seja, aquela que surge durante a realização de um fato sem o cuidado necessário. Pode ser definida como a ação descuidada. Implica sempre um comportamento positivo.</p><p>b) Negligência: é a culpa na sua forma omissiva. Consiste em deixar alguém de tomar o cuidado devido antes de começar a agir. Ao contrário da imprudência, que ocorre durante a ação, a negligência dá-se sempre antes do início da conduta. Implica, pois, a abstenção de um comportamento que era devido.</p><p>c) Imperícia: é a demonstração de inaptidão técnica em profissão ou atividade. Consiste na incapacidade, na falta de conhecimento ou habilidade para o exercício de determinado mister. Exemplos: médico vai curar uma ferida e amputa a perna, atirador de elite que mata a víti-ma, em vez de acertar o criminoso etc.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>"Ao ingressarmos em pleno Século XXI e, após passarmos por uma série de modificações na doutrinação do Direito Penal (impulsionada pela experiência proporcionada pelas Escolas Penais) alguns grandes temas deste ramo da ciência jurídica tornaram-se robustos e, dotados de solidez científica.</p><p>Dentre tais temas, que passaram a gozar de aceitação pacífica (ainda que não goze de imutabilidade) por parte dos doutrinadores, está aquele que se expressa no conceito analítico de crime. Tal teorização, busca, em síntese, trazer a lúmen a reunião de elementos jurídicos e, por isso, essencialmente conceituais, que caracterizem em essência o nascimento de um delito, ou seja, trata-se de um conjunto de valores e normas que denotam o nascimento/caracterização do fenômeno delitivo (sob um viés de subsunção).</p><p>Segundo os seus preceitos, em termos singelos, crime é um fato essencialmente típico, ilícito e culpável. Onde, logicamente, a ausência de um desses elementos denota a inexistência de um fato delituoso, muito embora, poder-se-á estar diante de um fato de repercussão extrapenal (relevância nas áreas cível, administrativa etc.). (...)".</p><p>Para íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>Dolo eventual e culpa consciente: conceitos e distinções</p><p>QUESTÃO 1-Gabriela, conduzindo o seu veículo automotor durante a madrugada, é surpreendida com um pedestre atravessando a via pública fora da faixa de pedestres e o atropelamento mostra-se inevitável. Diante desse problema prático, questiona-se:</p><p>Poderia Gabriela alegar, em sua defesa, o princípio da confiança para afastar a culpa pelo atropelamento?</p><p>RESPOSTA 1-Sim, é possível alegar a violação do princípio da confiança pela vítima. Tal tese já é admitida no Brasil desde o início da década de 90, como demonstrado abaixo em julgado</p><p>Ementa: DELITO DE TRÂNSITO - INSUFICIÊNCIA DE PROVA - INEXISTÊNCIA DE PERÍCIA E DE TESTEMUNHAS - VERSÃO EXCLUSIVA DO RÉU. 1. NÃO HAVENDO PROVAS, TESTEMUNHAIS OU PERICIAIS, DE QUE O RÉU AGIU COM NEGLIGÊNCIA, DEVE SER DADO CRÉDITO À SUA VERSÃO SOBRE O COMPORTAMENTO IMPRUDENTE DA VÍTIMA. 2. NO TRÂNSITO VIGORA O PRINCÍPIO DA CONFIANÇA RECÍPROCA. SOMENTE PESSOA COM DILIGÊNCIA ACIMA DO COMUM, DA QUAL NÃO CUIDA O DIREITO, SERIA CAPAZ DE PREVER QUE UM PEDESTRE, EM LOCAL MAL ILUMINADO, DURANTE INTENSO FLUXO DE VEÍCULOS, TENTARIA CRUZAR A PISTA CORRENDO. TJ-DF - APELAÇÃO CRIMINAL APR 131659519938070000 DF 0013165-95.1993.807.0000 (TJ-DF) Data de publicação: 24/11/1993</p><p>QUESTÃO 2-O peculato culposo</p><p>RESPOSTA 2-tem a punibilidade extinta se o agente repara o dano antes da sentença irrecorrível.</p><p>Fundamentação: por expressa previsão legal, a reparação do dano no peculato culposo extingue a punibilidade do agente. CP, art. 312, § 2º e §3º.</p><p>TEMA 05 - PENA</p><p>AULA 01: CONCEITO E FINALIDADES</p><p>Sanção penal é gênero, constituído por duas pptespécies: penas e medidas de segurança. Já o conceito de pena implica em: "É a sanção imposta pelo Estado, por meio de ação penal, ao criminoso como retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes¹".</p><p>Teorias da pena</p><p>A teoria absoluta, também denominada de retributiva, defende que a pena possui caráter eminentemente retributivo, ou seja, é uma forma de retribuição ao criminoso pela conduta ilícita realizada. Podemos dizer que significa a maneira pela qual o Estado irá fornecer o contrapeso relacionado ao mal causado à sociedade. Perceba, portanto, que a finalidade da pena não é outra senão punir o condenado e causar-lhe o prejuízo oriundo, portanto, de sua própria conduta. Cabe ao agente entender está sendo penalizado em razão do desrespeito para com as normas jurídicas e seus iguais.</p><p>Desta forma, não há nenhuma característica que considera a ressocialização, reeducação ou imposição de trabalho ao condenado, bem como não haveria razão para reparar o dano resultante do delito.</p><p>Assim como Hegel assinalava, a consiste na negação da negação do delito. Por sua vez, Kant vislumbrava que caso um estado fosse dissolvido voluntariamente, necessário seria antes executar o último assassino e, deste modo, sua culpabilidade não recairia sobre todo o povo².</p><p>Por sua vez, a teoria relativa ou, também conhecida como preventiva, possui outra finalidade e, por isso, seu objetivo supõe, simplesmente, a prevenção de novos delitos. Busca-se, portanto, suprimir a realização de condutas criminosas inovadoras. Seria uma forma de alcançar e manter a paz, bem como o equilíbrio social, pois os indivíduos que já delinquiram são, presumidamente, criminosos e possuem disposição para a prática de novos ilícitos. Para a doutrina clássica, Franscesco Carnelutti nos ensina que:</p><p>Para tanto serve, em primeiro lugar, o castigo que, provocando o sofrimento de quem cometeu o delito, cria um contra-estimulo ao cometimento de outros; por isso punitur ne peccetur, isto é, a fim de tentar dissuadir o condenado a pôr-se em condições de ter de ser punido novamente. Sob este aspecto, o Direito Penal opera sobre a necessidade, constituindo um vinculum quo necessitate adstringimur alicuius... Rei faciendae vel non faciendade; a obrigação penal, da qual se ocupa a ciência do Direito Penal material, é a expressão da finalidade preventiva do Direito Penal³.</p><p>Continuando,</p><p>a teoria em análise possui duas subclassificações, quais sejam: prevenção geral e prevenção especial. A prevenção geral possui a finalidade de inibição que gera seus efeitos relacionados a toda população. A prevenção específica, por sua vez, causa intimidação relacionada ao delinquente classificado como ocasional e reeducação do criminoso habitual, mas propenso à correção.</p><p>É o terceiro grupo a respeito das teorias da pena. Consiste em uma combinação da teoria relativa e da teoria absoluta e classifica-se como aquela predominante nos dias atuais. Sendo assim, a pena é tanto uma retribuição ao condenado pela prática do delito, como uma forma de prevenir a realização de novos delitos.</p><p>Noronha, nos ensina que:</p><p>As teorias mistas conciliam as precedentes. A pena tem índole retributiva, porém objetiva os fins da reeducação do criminoso e de intimidação geral. Afirma, pois, o caráter de retribuição da pena, mas aceita sua função utilitária4.</p><p>Essa teoria possui o condão de procurar justificar a aplicação da pena por meio de um fundamento moral, resumidamente, na aplicação da pena como retribuição ao mal praticado e, simultaneamente, é necessário objetivar metas utilitaristas como, por exemplo, no sentido de evitar e inibir a prática de novos crimes, além de prosseguir com a recuperação social do condenado.</p><p>QUESTÃO 1-Paulo envolve-se em acidente de trânsito, dando causa, por imprudência, à morte de sua esposa. Invocando as finalidades da pena, quais argumentos poderiam ser utilizados para pleitear a aplicação do perdão judicial, previsto no §5º, do artigo 121 do Código Penal? (Art. 121, § 5º, do CP - “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.</p><p>RESPOSTA 1-Seria possível alegar que as finalidades retributiva e preventiva da pena já teriam sido alcançadas em decorrência do próprio fato. Com efeito, a morte de um ente próximo já funciona como castigo pelo fato praticado (retribuição) e demonstra à sociedade a importância de dirigir prudentemente, evitando-se novos delitos (prevenção).</p><p>QUESTÃO 2-Selecione a assertiva CORRETA quanto às finalidades da pena:</p><p>RESPOSTA 2-A finalidade preventiva especial positiva diz respeito à ressocialização do condenado, sendo um dos objetivos da execução penal".</p><p>FUNDAMENTAÇÃO-A finalidade preventiva especial positiva consiste na busca pela ressocialização do sentenciado, sendo um dos objetivos da execução penal, conforme art. 1º da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984).</p><p>AULA 02: ESPÉCIES DE PENAS</p><p>Penas privativas de liberdade</p><p>- Evolução histórica</p><p>→ Bridewell Palace - Londres (1556);</p><p>→ Sistema pensilvânico ou filadélfico (1818);</p><p>→ Sistema alburniano (1821);</p><p>→ Sistema progressivo (1840)</p><p>O total de pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016, quase o dobro do número de vagas (368.049 no mesmo período). Em dezembro de 2014, eram 622.202 presos, o que representa crescimento de mais de 104 mil pessoas em 18 meses — mais de 5,7 mil por mês, em média.</p><p>Pena, conforme definição de René Ariel Dotti, "é a sanção imposta pelo Estado através de previsão legal específica e consistente na perda ou restrição de bens jurídicos do responsável pela infração, em retribuição à sua conduta e para prevenir novos ilícitos¹".</p><p>Em uma perspectiva histórica, verificam-se que todas as Constituições brasileiras possuíram disposições sobre o tema. A Constituição de 1824 proibia o açoite, a tortura, a marca de ferro quente e todas as demais penas cruéis (art. 179, X). A Constituição de 1891, por sua vez, abolia a pena de galés, o banimento judicial e a pena capital, em regra (art. 72, § 2º). A Constituição de 1934 vedava a pena perpétua, de banimento e de confisco, além de restringir a aplicação da pena de morte (art. 133, 29). A Carta de 1937 vedava as penas corpóreas perpétuas e limitava a pena capital (art. 122, 13). A Constituição de 1946, bem como a de 1967 (alterada pela Emenda n. 1, de 1969), proibiam a pena de banimento, de confisco, de caráter perpétuo e, em regra, a pena de morte (art. 141, § 31, da Constituição de 1946, e art. 150, § 11, da Constituição de 1967).</p><p>Todavia, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a trazer um rol de penas permitidas no ordenamento, já que as anteriores elencavam sanções criminais somente para proibir sua existência. Assim estabelece o art. 5º, XLVI: "a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos" .</p><p>Referida enumeração é meramente exemplificativa, sendo possível a criação de outras modalidades pelo legislador infraconstitucional. É certo, contudo, que as hipóteses contempladas na Constituição trazem um comando imperativo no sentido de sua efetiva criação.</p><p>Privação ou restrição da liberdade</p><p>A primeira modalidade de sanção mencionada na Constituição Federal é a "privação ou restrição de liberdade", que diz respeito, na verdade, às penas privativas de liberdade - seu nome técnico. Há, assim, uma "discrepância de nomenclatura", nos dizeres de Valdir Sznick².</p><p>Nos últimos séculos, a pena privativa de liberdade tem representado a forma de punição por excelência. Contudo, essa modalidade de sanção tem recebido severas críticas, fundadas na ideia de que ela não é apta a promover a ressocialização do condenado, além de caracterizar grave violação ao princípio da dignidade da pessoa humana.</p><p>A consequência natural da crise da pena de prisão é o entendimento de que deve ela ser usada o menos possível, somente em se tratando de delinquentes perigosos, como último recurso. Para os demais casos, tem sido crescente a busca por formas alternativas de cumprimento de pena, que permitam a punição e a ressocialização do infrator, sem os males do encarceramento.</p><p>Penas Restritivas de Direito</p><p>As penas privativas de liberdade podem ser substituídas pelas penas restritivas de direitos, desde que cumpridos os requisitos que permite a substituição, quais sejam:</p><p>Objetivos</p><p>Subjetivos</p><p>Aplicada PPL não superior a 4 anos para crimes dolosos</p><p>Não reincidente específico em crime doloso</p><p>Crime cometido sem violência ou</p><p>grave ameaça à pessoa</p><p>Culpabilidade, antecedentes, conduta</p><p>social e personalidade do condenado, bem como</p><p>motivos e circunstâncias indicarem suficiente</p><p>a substituição</p><p>A conversão ainda é possível:</p><p>→ Condenação igual ou inferior a 01 (um) ano = 1 (uma) restritiva de direitos ou multa.</p><p>→ Condenação superior a 01 (um) ano = 2 (duas) restritivas de direito ou 1 (uma) restritiva de direito cumulada com multa.</p><p>Nos termos do artigo 43 do Código Penal, temos as seguintes espécies de penas restritivas de direito:</p><p>→ Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas.</p><p>→ Prestação pecuniária.</p><p>→ Perda de bens e valores.</p><p>→ Interdição temporária de direitos.</p><p>→ Limitação de fim de semana.</p><p>Perda de bens</p><p>Estabelece a Constituição que "nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido" (art. 5º, XLV). Em seguida, determina que a lei adotará a pena de "perda de bens" (art. 5º, XLVI, b).</p><p>A redação vaga desses dispositivos dá margem a vários tipos de interpretação, surgindo grande controvérsia doutrinária. A polêmica reside, em essência, na identificação do que venha a ser "perdimento de bens" e "perda de bens".</p><p>Uma primeira corrente entende que há perfeita coincidência entre perdimento de bens (inc. XLV) e perda de bens (inc. XLVI, b), referindo-se, ambos os dispositivos, ao efeito da condenação consistente na perda, em favor da União, dos instrumentos do crime, bem como de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso (art. 91, II, do Código Penal). Sendo efeito da condenação,</p><p>e não pena, e atingindo o patrimônio ilícito, não constitui ofensa ao princípio da responsabilidade pessoal a possibilidade de ser estendido aos sucessores do agente e contra eles executado, até o limite do valor do patrimônio transferido.</p><p>Em sentido diverso, há quem sustente que, embora coincidentes os dispositivos, referem-se não aos instrumentos do crime ou bens que constituam proveito obtido com a prática do fato criminoso, mas àqueles bens adquiridos em função de danos causados ao erário ou em decorrência de enriquecimento ilícito, gerado pelo exercício de cargo, função ou emprego, na Administração direta ou indireta. Guardariam correspondência, assim, com a Lei 8.429, de 2 de junho de 1992, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na Administração Pública direta, indireta ou fundacional.</p><p>Existe, ainda, o entendimento de que o perdimento de bens se refere ao efeito extrapenal genérico da condenação - como preceitua a primeira corrente -, mas a perda de bens diz respeito à sanção instituída pelos arts. 43, II e 45, § 3º, do Código Penal.</p><p>Para outra corrente, perda de bens é uma denominação genérica e abrange toda e qualquer transferência de bens particulares para o Estado, seja em decorrência de ato ilícito, seja em consequência do confisco (art. 91 do Código Penal), seja como pena restritiva de direitos na modalidade perda de bens (arts. 43, II, e 45, § 3º) .</p><p>Há, por fim, um quinto raciocínio possível - e que nos parece mais acertado -, no sentido de que o perdimento de bens e a perda de bens são figuras distintas. Fazendo-se uma interpretação histórica, é possível afirmar que o perdimento de bens refere-se àqueles bens adquiridos em função de danos causados ao erário ou em decorrência de enriquecimento ilícito, gerado pelo exercício de cargo, função ou emprego, na Administração direta ou indireta. Aliás, o instituto sempre teve este significado: a Constituição de 1946 previa que a lei "disporá sobre o sequestro e o perdimento de bens, no caso de enriquecimento ilícito, por influência ou com abuso de cargo ou função pública, ou de emprego em entidade autárquica" (art. 141, § 31); nos mesmos moldes, dispunha a redação originária da Carta de 1967 que "a lei disporá sobre o perdimento de bens por danos causados ao erário ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de função pública" (redação primitiva do art. 150, § 11); por fim, a Emenda n. 1 de 1969 alterou a redação do dispositivo, passando a dizer que "a lei disporá sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na Administração Pública, direta ou indireta" (art. 150, § 11).</p><p>Quanto à perda de bens (inc. XLVI, b), não vemos razão plausível para concluir que se trata do mesmo instituto que o perdimento de bens (inc. XLV). O inc. XLVI trata e enumera espécies de pena. Logo, não faz sentido presumir, como quer a primeira corrente, que o dispositivo esteja se referindo ao art. 91, II, do Código Penal, cuja natureza é diversa, qual seja, a de efeito da condenação. Também as sanções por improbidade administrativa não têm caráter predominantemente penal, mas civil . Isso se pode depreender da própria redação do art. 37, § 4º, da Constituição Federal . Por fim, a terceira corrente, em nossa visão, não merece guarida, pois, se o perdimento de bens - que pode ser estendido aos sucessores - abrange a pena de perda de bens (arts. 43, II e 45, § 3º, do Código Penal), tem-se de chegar à desarrazoada conclusão de que houve violação intencional, por parte da Constituição, ao secular princípio da personalidade da pena, segundo o qual a pena não pode passar da pessoa do condenado - postulado este que, vale consignar, foi consagrado em todas as Constituições brasileiras, desde a Constituição de 1891 até a atual.</p><p>Outro argumento, trazido por Alceu Corrêa Junior e Sérgio Salomão Shecaira, é o de que seria desnecessário o legislador constituinte ter tratado da sanção no inc. XLVI, caso fosse a mesma do inc. XLV, a menos que se admita "que houve um grande equívoco na redação do texto, não sendo utilizados os mecanismos corretos da técnica jurídica indispensáveis a um texto legal, máxime em se tratando da lei maior de um país". Os dois conceitos, afirmam, não se complementam e possuem natureza jurídica completamente diversa, implicando consequências diferentes no mundo jurídico-social. O perdimento de bens visa à devolução aos cofres públicos de quantias subtraídas ao erário, ou em decorrência de enriquecimento ilícito resultante de cargo, função ou emprego na Administração Pública direta ou indireta . Já a perda de bens diz respeito ao confisco do patrimônio lícito do condenado e identifica-se com a pena restritiva de direitos estabelecida nos arts. 43, II e 45, § 3º, do Código Penal. Tanto isso é verdade, segundo eles, que a Constituição cidadã, ao contrário das anteriores, não fez menção expressa à vedação ao confisco .</p><p>Além disso, a própria Exposição de Motivos da Lei 9.714/1998 informa que a perda de bens e valores dá consequência ao disposto no art. 5º, XVLI, b, da Constituição Federal, e que esta pena não se confunde com as modalidades já inscritas no art. 91 do Código Penal.</p><p>Multa</p><p>É possível apontar, desde a antiguidade mais remota, ampla aplicação de penas pecuniárias. Entretanto, como aponta Hans-Heinrich Jescheck, seu triunfo ocorreu a partir do final do século XIX, como consequência da luta contra as penas privativas de liberdade de curta duração .</p><p>Leciona Eugenio Cuello Calón que a multa tem a cada dia maior número de partidários, sendo espécie de sanção que apresenta diversas vantagens: é aflitiva; adapta-se como nenhuma outra sanção à situação econômica do condenado; não degrada nem desonra a sua família; não é um obstáculo à sua reabilitação social; o condenado não se afasta de seus entes, nem perde seu emprego ou clientela; é também recomendável do ponto de vista econômico, pois constitui fonte de receita para o Estado e não lhe acarreta despesas, como ocorre com a pena de prisão. Segundo o autor, a única objeção que se pode apresentar em relação é a multa é a aparente desigualdade que gera, pois a multa irrisória para o rico pode arruinar a vida do pobre. Contudo, afirma, certa desigualdade há em todas as penas, podendo ser evitada, em grande parte, impondo-se a multa em proporção à situação econômica do condenado .</p><p>A pena de multa não se confunde com a perda de bens, havendo critérios diferentes de mensuração e aplicação. Tais aspectos serão estudados em tópicos destacados.</p><p>Antes da Lei 13.964/2019</p><p>Depois da Lei 13.964/2019</p><p>Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada</p><p>dívida de valor, aplicando-se-lhes as</p><p>normas da legislação relativa à dívida ativa</p><p>da Fazenda Pública, inclusive no que</p><p>concerne às causas interruptivas e</p><p>suspensivas da prescrição.</p><p>Art. 51. Transitada em julgado a</p><p>sentença condenatória, a multa será</p><p>executada perante o juiz da</p><p>execução penal e será considerada</p><p>dívida de valor, aplicáveis as</p><p>normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.</p><p>Súmula 521 do STJ - A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença</p><p>condenatória é exclusiva da Procuradoria</p><p>da Fazenda Pública.</p><p>Súmula superada</p><p>Prestação social alternativa</p><p>A Constituição Federal de 1988 determina que seja criada a prestação social alternativa. Este dispositivo também gera controvérsia doutrinária.</p><p>Uma corrente de entendimento afirma que a prestação social alternativa não se refere à pena restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade, mas sim à hipótese de escusa de consciência, que é prevista na Lei Magna nos seguintes termos: "Art. 5º (...) VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar</p><p>para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei".</p><p>Nesta esteira de entendimento é a lição de José Antonio Paganella Boschi: "É, no rol do inciso XLVI do art. 5º. da CF, a prestação social alternativa gênero de pena ainda não cominada em qualquer lei infraconstitucional³".</p><p>Parece-nos mais correta, contudo, conclusão diversa, no sentido de que o instituto previsto na Constituição é a prestação de serviços à comunidade (art. 43, I, do CP). Conforme magistério de Shecaira, "a 'prestação social alternativa', em essência, corresponde à pena de prestação de serviços à comunidade (espécie de restrição de direitos), prevista no Código Penal. A grande vantagem de sua enunciação constitucional - com a proibição dos trabalhos forçados no inciso subsequente - foi a de ter eliminado qualquer dúvida sobre a constitucionalidade do trabalho à comunidade. Dada sua gratuidade, que é parte de sua substância, poder-se-ia afirmar ser ele um 'trabalho forçado'. No entanto, este é vedado, enquanto o trabalho comunitário é consagrado" .</p><p>É também o entendimento da doutrina majoritáriaespécie, havendo, inclusive, decisão do Supremo Tribunal Federal neste sentido: "A Constituição Federal preconiza que a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a prestação social alternativa (art. 5º, XLVI, d). Seu conceito e condições estão definidos no art. 46 e seu § único, do Código Penal .</p><p>Chega-se a esta conclusão partindo-se da premissa de que a alínea, logicamente, deve guardar correlação com o inciso, sendo evidente que o inciso em questão versa sobre pena. Ora, se a Constituição diz que a lei individualizará a pena e adotará, entre outras, a prestação social alternativa, é forçoso concluir que a prestação em questão é uma espécie de pena. E, se é certo que a prestação de serviços à comunidade possui natureza de pena, o mesmo não se pode afirmar da prestação social alternativa do art. 5º, VIII, que é uma opção concedida aos indivíduos que, por motivos religiosos, filosóficos ou políticos, não quiserem cumprir determinada obrigação legal a todos imposta. Isso ocorre, por exemplo, no caso do serviço militar obrigatório (art. 143 da Constituição Federal) e do serviço do júri (art. 438 do Código de Processo Penal).</p><p>Suspensão ou interdição de direitos</p><p>Menos controvérsia paira sobre a alínea e do inc. XLVI do art. 5º da CF, que trata da suspensão ou interdição de direitos. Refere-se o dispositivo ao art. 47 do Código Penal. As antigas penas acessórias, previstas na redação original do Código Penal, foram extintas com a reforma da sua parte geral, em 1984. Algumas delas foram guindadas à condição de sanções autônomas, tornando-se modalidades de interdição de direitos.</p><p>São cinco as modalidades de interdição temporária de direitos previstas no Código Penal: a) proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo (art. 47, I); b) proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do Poder Público (art. 47, II); c) suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo (art. 47, III) - derrogada pela Lei 9.503/1997; d) proibição de frequentar determinados lugares (art. 47, IV); e) proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos (art. 47, V).</p><p>Além dessas modalidades de interdição de direitos, há outras em leis especiais. Pode-se citar, por exemplo, a medida de comparecimento a programa ou curso educativo, aplicável para condutas envolvendo uso de drogas ilícitas (art. 28 da Lei 11.343/2006); a proibição de comparecer a local em que se realize evento esportivo, prevista para torcedores que promovem tumulto, praticam ou incitam a violência (art. 39 da Lei 10.671/2003); e a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, aplicável para condutas lesivas ao meio ambiente (arts. 10 e 22 da Lei 9.605/1998).</p><p>Dever de indenizar preso em situação degradante</p><p>"Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento" (STF, RE 580252, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 16/02/2017).</p><p>QUESTÃO 1-Fernando, reincidente pela prática de furto, é condenado pelo crime de receptação. O juiz nega a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos sob o argumento de que “o acusado é reincidente”. Há, de fato, óbice legal à substituição?</p><p>RESPOSTA 1-Estabelece o artigo 44, caput, do Código Penal, que as penas restritivas de direitos substituem as privativas de liberdade, quando: a) aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; b) o réu não for reincidente em crime doloso; c) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.</p><p>Contudo, o § 3o do referido artigo prevê que se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.</p><p>Portanto, não se tratando de reincidência específica, é possível a substituição. Para não concedê-la, deveria o juiz fundamentar concretamente por que a medida não é socialmente recomendável.</p><p>QUESTÃO 2-Selecione a assertiva CORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-Nos termos do art. 46, caput, do Código Penal, “a prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.</p><p>Fundamentação: Está correta a seguinte alternativa: "De acordo com o Código Penal, a prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade". Nos termos do artigo 46, caput, do Código Penal.</p><p>AULA 03: REGIME FECHADO, SEMIABERTO E ABERTO</p><p>Penitenciária e Colônia Agrícola, Industrial ou Similar</p><p>Nos moldes do artigo 87 da Lei de Execuções Penais a penitenciária "destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado". O artigo 88 do mesmo diploma complementa que "o condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório aparelho sanitário e lavatório". Ademais, o parágrafo único do mesmo dispositivo impõe os requisitos da unidade celular:</p><p>a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;</p><p>b) área mínima de 6,00m2.</p><p>Além da penitenciária, ainda temos a colônia agrícola, industrial ou similar. Segundo o artigo 91 da LEP, o estabelecimento penal destina-se ao "cumprimento da pena em regime semiaberto". Desta forma, o condenado poderá ser alojado em compartimento considerado coletivo, desde que seja salubre e adequado à existência humana, nos termos do artigo 88, parágrafo único, a do mesmo diploma.</p><p>Possibilidade de permanência de presos em regime semiaberto em ala separada dos presos em regime fechado "Quando os detentos do regime semiaberto são mantidos separados dos presos em regime fechado, bem como não são negados os direitos correlatos ao regime intermediário, usufruindo de maior liberdade e menos vigilância, não há ilegalidade" (STJ, HC 398.142, 6ª T., rel. Maria Thereza, j. 06.06.2017).</p><p>Casa do Albergado</p><p>Destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, desde que o condenado responda em regime aberto ou pena de limitação de fim de semana. A legislação traz o requisito de exigir que o prédio esteja situado</p><p>em centro urbano, além de estar separado dos demais estabelecimentos, caracterizando-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.</p><p>O artigo 95 da LEP ainda nos traz a necessidade de cada região conter, pelo menos, uma Casa do Albergado devendo conter os aposentos para acomodar os presos e um lugar adequado para possibilitar que se ministre cursos e palestras. Ademais, "o estabelecimento terá instalações para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados".</p><p>Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico</p><p>Destina-se, exclusivamente, aos inimputáveis e semi-imputáveis que estão dispostos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal.</p><p>Cadeia Pública</p><p>Destina-se ao recolhimento de presos provisórios. Cada comarca terá, no mínimo, 01 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e familiar. A legislação ainda prevê, como requisito, as mesmas exigências mínimas do artigo 88 e parágrafo único da LEP.</p><p>Regras para fixação de regime inicial de cumprimento de pena</p><p>Prisão domiciliar</p><p>O artigo 117 da LEP prevê que apenas se admitirá o recolhimento do condenado em regime aberto em residência particular quando:</p><p>→ Condenado maior de 70 (setenta) anos;</p><p>→ Condenado acometido de doença grave;</p><p>→ Condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;</p><p>→ Condenada gestante.</p><p>A Jurisprudência tem admitido mesmo para regime fechado e semiaberto, quando grave problema de saúde e inaptidão do estabelecimento penal para prover o tratamento.</p><p>PRISÃO DOMICILIAR</p><p>(ART. 117 DA LEP)</p><p>PRISÃO DOMICILIAR</p><p>(ARTS. 317 E 318 DO CPP)</p><p>Forma de cumprimento de pena</p><p>privativa de liberdade</p><p>Forma de cumprimento de</p><p>prisão preventiva (medida cautelar)</p><p>Cabível durante a execução da</p><p>pena privativa de liberdade em</p><p>regime aberto</p><p>Cabível durante o inquérito ou</p><p>processo</p><p>I - Condenado maior de 70 anos</p><p>II - Condenado acometido de</p><p>doença grave</p><p>III - Condenada com filho</p><p>menor ou deficiente físico ou</p><p>mental</p><p>IV - Condenada gestante</p><p>I - maior de 80 anos</p><p>II - extremamente debilitado por</p><p>motivo de doença grave</p><p>III - imprescindível aos cuidados</p><p>especiais de pessoa menor de 6</p><p>anos de idade ou com deficiência</p><p>IV - gestante</p><p>V - mulher com filho de até 12</p><p>anos de idade incompletos</p><p>VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho</p><p>de até 12 anos de idade</p><p>incompletos.</p><p>A Lei 13.769/2018 estabelece a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar da mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência e disciplina o regime de cumprimento de pena privativa de liberdade de condenadas na mesma situação (art. 1º).</p><p>Essa modificação teve clara inspiração no HC coletivo 143.641/SP, concedido pela 2ª turma do STF em fevereiro de 2018. Nele, figuravam como pacientes "todas as mulheres submetidas à prisão cautelar no sistema penitenciário nacional" na "condição de gestantes, de puérperas ou de mães com crianças com até 12 anos de idade sob sua responsabilidade", bem como as crianças que estivessem em companhia de suas mães.</p><p>O artigo 318, incisos IV e V, do CPP, já previa a possibilidade de substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar para gestantes e mulheres com filho de até doze anos de idade incompletos. Contudo, enquanto este artigo prevê que o juiz "poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar", o novo artigo 318-A estabelece que a prisão preventiva "será substituída", salvo se presentes algumas das situações previstas no incisos I e II.</p><p>Ou seja, o novo dispositivo sinaliza uma determinação legal para que haja a substituição, e não mera faculdade, quando se tratar de (requisitos cumulativos):</p><p>- Mulher gestante, mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência</p><p>- Não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa</p><p>- Não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente</p><p>Nos termos do art. 318-B, a substituição da prisão preventiva pela domiciliar pode ser feita com aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 (ex.: proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; monitoração eletrônica).</p><p>Progressão de regime</p><p>A Súmula 491 do STJ veda a progressão per saltum no seguinte sentido: "É inadmissível a chamada progressão ´per saltum´de regime prisional". Progressão per saltum é a passagem do regime fechado diretamente ao aberto. Não é admissível.</p><p>O Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que, na ausência de vagas no regime adequado, o sentenciado não pode permanecer em regime mais gravoso. Aliás, essa posição hoje está cristalizada na Súmula Vinculante 56 do STF: "A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS".</p><p>Considerando os parâmetros fixados no RE 641.320/RS, havendo falta de vagas no estabelecimento adequado, deve-se determinar:</p><p>(I) saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas</p><p>Ex.: Paulo cumpre pena em regime fechado e preencheu os requisitos para progredir ao semiaberto, mas não há vaga em estabelecimento adequado (colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar). João está cumprindo pena em regime semiaberto, em vias de obter a progressão ao regime aberto.</p><p>Por questão de justiça, deve-se deferir a saída antecipada de João (para casa de albergado ou, se não houver vaga, prisão albergue domiciliar). Com isso, abre-se uma vaga e Paulo poderá será transferido ao regime semiaberto.</p><p>(II) liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas</p><p>(III) cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto</p><p>- Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado (STF. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, Pleno, j. 11/5/2016 - INFO 825).</p><p>QUESTÃO 1-Josué foi condenado em primeira instância pela prática de receptação (art. 180, caput, do CP). A pena aplicada foi de 01 (um) ano de reclusão, bem como 10 (dez) dias-multa, já que não havia circunstâncias judiciais e legais desabonadoras. Todavia, o juiz fixou o regime inicial fechado de cumprimento de pena, sob o argumento de que a receptação “fomenta a prática de inúmeros outros delitos patrimoniais”.</p><p>Como advogado de Josué, quais argumentos você utilizaria em defesa de seu cliente no tocante ao regime inicial aplicado?</p><p>RESPOSTA 1-A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não é motivo hábil para a fixação de regime mais gravoso do que o permitido segundo a pena aplicada.</p><p>O fato de a receptação fomentar a prática de outros crimes patrimoniais é um argumento genérico, já considerado pelo legislador na etapa da individualização legislativa da pena</p><p>(ver súmulas 718 e 719 do STF, e ainda súmula 440 do STJ).</p><p>QUESTÃO 2-De acordo com a Lei de Execução Penal, somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:</p><p>I - condenado maior de 60 anos;</p><p>II - condenado acometido de doença grave;</p><p>III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;</p><p>IV - condenada gestante.</p><p>Estão CORRETAS:</p><p>RESPOSTA 2-II, III e IV.</p><p>Fundamentação: Estão corretas as assertivas II, III e IV. Nos termos do art. 117 da LEP, “somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: I - condenado maior de 70 anos; II - condenado acometido de doença grave; III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - condenada gestante”.</p><p>AULA 04: PROGRESSÃO</p><p>Fundamento</p><p>É a transferência do acusado do regime mais gravoso para o mais</p><p>brando (do regime fechado para o semiaberto ou do semiaberto para o aberto). Sua justificativa é a readaptação gradativa à sociedade.</p><p>Antes da Lei nº 13.964/2019</p><p>Requisito subjetivo (bom comportamento carcerário) + requisito objetivo (lapso temporal)</p><p>- Subjetivo</p><p>- Bom comportamento carcerário, atestado pelo diretor do presídio</p><p>- Exame criminológico - Desde a Lei 10.792/2003, não é mais obrigatório. Pode ser solicitado, mas desde que o juiz fundamente no caso concreto.</p><p>Súmulas aplicáveis</p><p>Súmula Vinculante 26 do STF - Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.</p><p>Súmula 439 do STJ - Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada.</p><p>STF: Inadimplemento deliberado da pena de multa aplicada cumulativamente com privativa de liberdade impede a progressão de regime, porque ausente o requisito subjetivo (merecimento). Tal condição somente é excepcionada pela comprovação da absoluta impossibilidade econômica em pagar a multa, ainda que parceladamente. (EP 8 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, j. 01/07/2016).</p><p>Requisito objetivo</p><p>- Lapso temporal</p><p>- Crimes não hediondos: 1/6</p><p>- Crimes hediondos:</p><p>a) A redação original do art. 2º, § 1º, Lei 8.072/90 estabelecia: "A pena por crime hediondo será cumprida em regime integralmente fechado". impossibilidade de progressão</p><p>b) Em fevereiro de 2006, o STF declarou a inconstitucionalidade do dispositivo, sob o argumento de ofensa à individualização executória da pena. A manutenção obrigatória de todos os condenados por crime hediondo em regime fechado ao longo de toda a pena é uma padronização indevida (HC 82.959). Progressão passou a ser com 1/6 (posição benéfica, portanto retroativa)</p><p>c) Sobreveio a Lei 11.464/07, que alterou a redação do art. 2º, § 1º, prevendo que: "A pena por crime hediondo será cumprida inicialmente em regime fechado". Criados lapsos de progressão diferenciados: 2/5 se primário e 3/5 se reincidente</p><p>d) Em junho de 2012, no HC 111.840/ES, o STF reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade do dispositivo, sob o argumento de ofensa à individualização da pena, entendendo que cabe ao juiz a escolha do regime no caso concreto (aberto/semiaberto/fechado). Logo, o fato de ser o crime hediondo não implica necessariamente regime inicial fechado de cumprimento de pena. Isso deve ser analisado caso a caso, sendo a escolha do regime devidamente fundamentada.</p><p>Súmula 471 do STJ - Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional.</p><p>Requisito específico para crime contra a administração pública</p><p>Art. 33, § 4º - O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais (EP 22 ProgReg-AgR / DF, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, j. 17/12/2014 - INFO 772).</p><p>Regra especial para mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência</p><p>Lei 13.769/2018</p><p>LEP, art. 112, § 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente:</p><p>I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;</p><p>II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;</p><p>III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;</p><p>IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento;</p><p>V - não ter integrado organização criminosa.</p><p>§ 4º O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício previsto no § 3º deste artigo."</p><p>Após a Lei nº 13.964/2019</p><p>- Lapso temporal (art. 112 da LEP)</p><p>16%</p><p>se o apenado for primário e o crime tiver sido</p><p>cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça</p><p>20%</p><p>se o apenado for reincidente em crime cometido sem</p><p>violência à pessoa ou grave ameaça</p><p>25%</p><p>se o apenado for primário e o crime tiver sido</p><p>cometido com violência à pessoa ou grave ameaça</p><p>30%</p><p>se o apenado for reincidente em crime cometido com</p><p>violência à pessoa ou grave ameaça</p><p>40%</p><p>se o apenado for condenado pela prática de crime</p><p>hediondo ou equiparado, se for primário</p><p>50%</p><p>se o apenado for:</p><p>a. condenado pela prática de crime hediondo ou</p><p>equiparado, com resultado morte, se for primário,</p><p>vedado o livramento condicional;</p><p>b. condenado por exercer o comando, individual ou</p><p>coletivo, de organização criminosa estruturada para a</p><p>prática de crime hediondo ou equiparado; ou</p><p>c) condenado pela prática do crime de constituição de</p><p>milícia privada</p><p>60%</p><p>se o apenado for reincidente na prática de crime</p><p>hediondo ou equiparado</p><p>70%</p><p>se o apenado for reincidente em crime</p><p>hediondo ou equiparado com resultado morte,</p><p>vedado o livramento condicional</p><p>Requisito específico para crime contra a administração pública</p><p>Art. 33, § 4º - O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais</p><p>(EP 22 ProgReg-AgR / DF, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, j. 17/12/2014 - INFO 772).</p><p>O Supremo Tribunal Federal já decidiu que esse requisito é constitucional, afirmando que ele está preenchido no caso de parcelamento da dívida, enquanto as parcelas estiverem sendo regularmente quitadas.</p><p>Requisito específico negativo</p><p>Lei 12.850/2013, § 9º - O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo.</p><p>Requisito subjetivo</p><p>Boa conduta carcerária, comprovada pelo diretor do presídio</p><p>STF: Inadimplemento deliberado da pena de multa aplicada cumulativamente com privativa de liberdade impede a progressão de regime, porque ausente o requisito subjetivo (merecimento). Tal condição somente é excepcionada pela comprovação da absoluta impossibilidade econômica em pagar a multa, ainda que parceladamente. (EP 8 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, j. 01/07/2016).</p><p>A intenção do legislador foi eliminar definitivamente o exame criminológico como requisito para a progressão de regime. Contudo, a jurisprudência sedimentou o entendimento de que o juiz pode, fundamentadamente, requerer o exame criminológico.</p><p>Progressão de regime e prática de falta grave</p><p>Súmula 534 do STF - A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.</p><p>A prática de falta grave interrompe o lapso temporal para progressão de regime (ou seja, o lapso o zerado é recomeça a ser contado a partir da data da falta grave). A razão é que a prática de falta grave exclui o bom comportamento carcerário.</p><p>Obs.: O cálculo levará em conta o restante da pena, pois pena cumprida é pena extinta.</p><p>-RESUMO ESQUEMÁTICO</p><p>QUESTÃO 1-Marcos, preso em regime fechado, preenche o lapso temporal para progredir ao regime semiaberto. Na qualidade de advogado do sentenciado, você apresenta pedido de progressão ao juiz da execução, contendo o atestado de bom comportamento carcerário. O magistrado prolata a seguinte decisão: “Vistos. Para aferição do requisito subjetivo, prudente a realização de exame criminológico. Providencie-se o necessário e, com a vinda do respectivo laudo, tornem conclusos”.</p><p>a pessoa jurídica um ente autônomo e distinto de seus membros, possuidor de vontade própria. Portanto, é sujeito de direitos e obrigações, assim como as pessoas físicas.</p><p>AULA 3- SUJEITO DO CRIME III</p><p>RESUMO:</p><p>Entre ambas as correntes, podemos elencar inúmeros argumentos, dos quais destacamos os de maior relevância.</p><p>2 - Principais argumentos pela possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito ativo de crime:</p><p>a) Trata-se a pessoa jurídica de um ente autônomo, dotado de consciência e vontade. Portanto, pode a pessoa jurídica realizar condutas e compreender os seus atos;</p><p>b) Temos no direito penal hipóteses de responsabilidade objetiva, portanto, ainda que não se reconheça a existência de vontade própria, é possível a sua punição. Acrescenta-se que a própria pessoa física está sujeita a responsabilidade objetiva em determinados casos, como na hipótese da embriaguez voluntária;</p><p>c) A pena privativa de liberdade compõe o sistema de punição do Direito Penal, mas este não se limita à referida modalidade. Modernamente tem a pena privativa de liberdade se concretizado como ultima ratio, privilegiando-se a aplicação de penas alternativas ao encarceramento;</p><p>d) Não viola o princípio constitucional da personalidade da pena, pois a sanção recairá exclusivamente sobre a pessoa jurídica. Não se deve confundir a pena imposta e os efeitos desta condenação, tal como ocorre em relação às pessoas físicas.</p><p>Tem prevalecido a segunda corrente1, sustentando que a Constituição Federal admitiu a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes contra o meio ambiente, contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular, autorizando, nos termos do arts. 173, §5º e 225, §3º da CF, o legislador ordinário a esta estabelecer penas compatíveis com sua natureza, sem prejuízo da responsabilidade individual de seus dirigentes. Após a edição da Lei 9.605/1988 (Lei dos Crimes Ambientais), é admitida a de punição da pessoa jurídica por crime contra o meio ambiente. Neste sentido tem sido o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, seja em crimes ambientais dolosos ou culposo.</p><p>QUESTÃO 1-Analise a notícia abaixo transcrita e responda:</p><p>“Terça-feira, 14 de maio de 2013 - 1ª Turma analisará RE que discute criminalização de pessoa jurídica.</p><p>A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) irá analisar Recurso Extraordinário (RE 548181) no qual se discute um crime ambiental ocorrido no Estado do Paraná, supostamente de responsabilidade da Petrobras. A Turma deverá analisar questão envolvendo a criminalização de pessoa jurídica.</p><p>A decisão, unânime, foi tomada no exame de um recurso (agravo regimental) interposto contra decisão do ministro Menezes Direito (falecido) que, em abril de 2009, negou seguimento (arquivou) ao RE por entender que seria necessário o reexame detalhado e aprofundado de provas, procedimento inviável na sede de recurso extraordinário.</p><p>Segundo a atual relatora do processo, ministra Rosa Weber, um duto da Petrobras estourou no estado poluindo dois rios e áreas ribeirinhas. Após o recebimento da denúncia, foi instaurada ação penal contra a Petrobras, o presidente da empresa e o superintendente da unidade da refinaria em Araucária, no Paraná.</p><p>Durante a sessão da Primeira Turma desta terça-feira (14), a relatora lembrou que a Segunda Turma da Corte concedeu habeas corpus determinando o trancamento da ação penal com relação ao presidente da Petrobras, com fundamento de que não haveria nexo de causalidade para que o presidente da empresa fosse responsabilizado criminalmente.</p><p>O agravo regimental – provido hoje (14) por unanimidade dos votos a fim de que o RE seja julgado pela Primeira Turma – foi interposto pelo Ministério Público Federal (MPF) contra ato do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ao julgar recurso de autoria da Petrobras, o STJ determinou o arquivamento da ação penal contra o superintendente da empresa, assegurando a ele mesma decisão dada ao presidente da empresa, que também teve ação penal arquivada.</p><p>Aquela Corte entendeu também que, uma vez excluída a imputação aos dirigentes, a pessoa jurídica não poderia estar sozinha a fim de ser responsabilizada no âmbito da ação penal.”</p><p>Fonte: Noticias STF</p><p>Qual embasamento teórico permite sustentar a possibilidade da responsabilização das pessoas jurídicas por crimes ambientais?</p><p>RESPOSTA 1-Sustenta-se que a Constituição Federal admitiu a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes contra o meio ambiente, contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular, nos termos dos artigos abaixo transcritos:</p><p>Art. 173, § 5º, CF - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular</p><p>Art. 225, § 3º, CF - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.</p><p>Restou o legislador ordinário incumbido de estabelecer penas compatíveis com a natureza destes entes, sem prejuízo da responsabilidade individual de seus dirigentes.</p><p>Assim, com a edição da Lei 9.605/1988 (Lei dos Crimes Ambientais), é admitida a de punição da pessoa jurídica por crime contra o meio ambiente. Este é o entendimento atualmente prevalente no STJ e STF.</p><p>QUESTÃO 2-Diante do tema responsabilidade penal da pessoa jurídica, assinale a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-é admitida a responsabilização da pessoa jurídica por crime contra o meio ambiente.</p><p>Fundamentação: com a edição da Lei 9.605/1988 (Lei dos Crimes Ambientais), é admitida a de punição da pessoa jurídica por crime contra o meio ambiente. Neste sentido tem sido o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça</p><p>AULA 4- SUJEITOS DO CRIME E OBJETOS DO CRIME</p><p>RESUMO:</p><p>No que tange aos crimes contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular, até o presente momento não cuidou o legislador ordinário da criação de leis1 estabelecendo sanções penais para as pessoas jurídicas, restando apenas previsões de responsabilização das pessoas físicas.</p><p>Assim, podemos dizer que somente é possível a punição de pessoas jurídicas por crimes previstos no texto constitucional, desde que regulamentados por lei ordinária, que deverá expressamente estabelecer a responsabilidade penal de tais entes.</p><p>É possível afirmar, através do sistema paralelo de imputação2, que o reconhecimento da responsabilidade da pessoa jurídica não afasta a responsabilização da pessoa física coautora ou partícipe do crime.</p><p>Entretanto, a condenação da pessoa jurídica não acarretará automaticamente a sanção da pessoa física. Será necessário demonstrar nos autos do processo provas robustas acerca da autoria e materialidade, determinando quais agentes concorreram para prática da conduta delituosa.</p><p>Deste modo, é plenamente possível o cenário onde a pessoa física reste absolvida e, simultaneamente, reste condenada a pessoa jurídica.</p><p>SUJEITO PASSIVO</p><p>Sujeito passivo é o titular do bem jurídico protegido pela tipificação penal violada, podendo ser denominado de vítima ou ofendido. Pode ser dividido em:</p><p>a) Sujeito passivo formal (constante, mediato, geral, genérico ou indireto): É o Estado, detentor do interesse jurídico de punir. Atuará como sujeito passivo de todos os crimes.</p><p>b) Sujeito passivo material (eventual, imediato, particular, acidental ou direto): É o titular do</p><p>bem jurídico especificamente lesado pela conduta do agente. É possível que o mesmo sujeito figure concomitantemente como sujeito passivo formal e material (Ex.: Crimes contra a Administração Pública).</p><p>Existem também diversos crimes que não possuem sujeito passivo determinado, sendo este uma coletividade, sem personalidade jurídica. É o caso dos crimes vagos3.</p><p>Anota-se a impossibilidade de:</p><p>a) Figurarem como sujeitos passivos animais, coisas e os mortos;</p><p>O que poderia ser alegado contra essa decisão?</p><p>RESPOSTA 1-Com o advento da Lei 10.792/2003, o exame criminológico deixou de ser obrigatório, podendo ser solicitado excepcionalmente, desde que em decisão fundamentada. Nesse sentido a súmula vinculante 26 do STF (“Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”)(grifei) e a súmula 439 do STJ (“admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”)(grifei).</p><p>No mesmo sentido:</p><p>“HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 439/STJ. REQUISITO SUBJETIVO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. 1. A Lei n. 10.792/2003 deu nova redação ao art. 112 da Lei n. 7.210/1984, para suprimir a realização de exame criminológico como expediente obrigatório para a progressão de regime. 2. ‘Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada’ (Súmula 439/STJ). 3. No caso, o Tribunal de origem ao revogar a progressão de regime não logrou fundamentar a necessidade do referido exame, deixando de invocar elementos concretos dos autos que podem afastar a decisão do magistrado, levando em conta apenas a gravidade do delito praticado e a longa pena a cumprir, desconsiderando, ainda, a boa conduta carcerária da paciente. 4. Ordem concedida para restabelecer a decisão de primeiro grau que deferiu à paciente a progressão para o regime semiaberto” (TJSP, HC 398237 / SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, 6ª T., j. 06/06/2017, v.u.).</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa CORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-A alternativa correta é a que possui o seguinte enunciado: "A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo Juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 1/6 (um sexto) da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão".</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- Nos moldes do artigo 112 da LEP.</p><p>TEMA 06- DIREITOS DO PRESO</p><p>AULA 1- AULA 01: AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA NOS REGIMES FECHADO E SEMIABERTO</p><p>RESUMO</p><p>Autorizações de saída (gênero)</p><p>Permissões de saída</p><p>Saídas temporárias</p><p>Permissão de saída</p><p>Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:</p><p>I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão;</p><p>II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).</p><p>Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso.</p><p>Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à finalidade da saída.</p><p>Quem faz jus? (art. 120, caput)</p><p>- Condenados em regime fechado</p><p>- Condenados em regime semiaberto</p><p>- Presos provisórios</p><p>Competência (art. 120, p. único)</p><p>- Diretor do estabelecimento</p><p>Hipóteses legais (art. 120, incisos I e II)</p><p>- falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão;</p><p>- necessidade de tratamento médico</p><p>Jurisprudência</p><p>PLEITO DE CONCESSÃO DE PERMISSÃO DE SAÍDA PARA TRATAMENTO MÉDICO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO DESPROVIDO - COM O PARECER. Existindo a possibilidade de tratamento intramuros, não restando comprovado que o estado de saúde do agravante é grave a ponto de impossibilitar a permanência no cárcere, e, podendo a administração do presídio prover a assistência médica, não há motivos para a concessão da permissão de saída para o tratamento médico. (TJMS, EI 0014566-82.2016.8.12.0001, Rel. Maria Isabel de Matos Rocha, Seção Criminal, j. 24/08/2016)</p><p>Características</p><p>- realizada mediante escolta</p><p>- permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à finalidade da saída</p><p>Saída temporária</p><p>Quem faz jus? (art. 122, caput)</p><p>- Condenados em regime semiaberto</p><p>Competência</p><p>- Juiz da execução</p><p>LEP, art. 66. Compete ao Juiz da execução:</p><p>(...)</p><p>IV - autorizar saídas temporárias</p><p>Súmula 520 do STJ O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.</p><p>Jurisprudência</p><p>"COMPETÊNCIA PARA FIXAÇÃO DE CALENDÁRIO PRÉVIO DE SAÍDAS TEMPORÁRIAS. RECURSO REPETITIVO. O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo das execuções, não se lhe permitindo delegar à autoridade prisional a escolha das datas específicas nas quais o apenado irá usufruir os benefícios. Inteligência da Súmula n. 520 do STJ. ("O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional")(STJ, Resp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016.)</p><p>"POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE CALENDÁRIO ANUAL DE SAÍDAS TEMPORÁRIAS POR ATO JUDICIAL ÚNICO. É recomendável que cada autorização de saída temporária do preso seja precedida de decisão judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por deficiência exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do apenado e no escopo ressocializador da pena, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de fixação de calendário anual de saídas temporárias por ato judicial único, observadas as hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP" (STJ, Resp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016)</p><p>Finalidades (art. 122, caput)</p><p>- Visita à família</p><p>- Frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do segundo grau ou superior, na comarca do Juízo da Execução</p><p>- Participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social</p><p>Requisitos (art. 123)</p><p>- comportamento adequado</p><p>- compatibilidade do benefício com os objetivos da pena</p><p>- cumprimento mínimo de pena</p><p>1/6 primário</p><p>1/4 reincidente</p><p>Súmula 40 do STJ - Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado.</p><p>Jurisprudência</p><p>"AGRAVO EM EXECUÇÃO CRIMINAL. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. REGIME INICIAL SEMIABERTO. APENADO REINCIDENTE. LAPSO TEMPORAL INAPLICÁVEL. A eventual exigibilidade de transcurso de 1/6 da pena ao apenado, no presente caso, teria como consequência o adimplemento concomitante do requisito temporal do art. 123 da LEP e do requisito objetivo para sua progressão ao regime aberto. Manter tal entendimento aplicado resulta em esvaziar de objetivos as saídas temporárias, vez que o apenado só teria direito a elas quando ingressasse no regime aberto" (TJRS, AGV 70056596430, Rel. Ícaro Carvalho de Bem Osório, 6ª Câmara Criminal, j. 28/11/2013, v.u.)</p><p>Condições (art. 124, § 1º)(incluído pela Lei 12.258/2010)</p><p>- fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo do benefício</p><p>- recolhimento à residência visitada, no período noturno</p><p>- proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.</p><p>- utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução (art. 122, parágrafo único)</p><p>- outras que o juiz entender compatíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do condenado</p><p>Duração (art. 124)</p><p>- Prazo não superior a 7 dias, podendo ser renovada por mais 4 vezes durante o ano.</p><p>- As autorizações de saída somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra.</p><p>- Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das atividades discentes</p><p>Jurisprudência</p><p>"POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE MAIS DE CINCO SAÍDAS TEMPORÁRIAS POR ANO. Respeitado o limite anual de 35 dias, estabelecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a concessão de maior número de autorizações de curta duração" (STJ, Resp 1.544.036-TJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016)</p><p>"As autorizações de saída temporária para visita à família e para participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP" (STJ, Resp 1.544.036-TJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016)</p><p>Revogação (art. 125, caput)</p><p>- Praticar fato definido como crime doloso</p><p>- For punido por falta grave</p><p>- Desatender as condições impostas na autorização</p><p>- Revelar baixo grau de aproveitamento do curso</p><p>Restabelecimento (art. 125, p. único)</p><p>Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do merecimento do condenado.</p><p>QUESTÃO 1-Considere os seguintes casos:</p><p>(I) Comparecimento a velório em razão do falecimento do genitor de um preso.</p><p>(II) Saída temporária para fins de frequência a curso profissionalizante.</p><p>A quem deve ser dirigido o requerimento de saída em cada um desses casos? Ao Juiz da Execução Criminal ou ao diretor do estabelecimento prisional?</p><p>RESPOSTA 1-(I) Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento em razão do falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso (esfera administrativa)(art. 120, p. único, da LEP).</p><p>(II) Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento para frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos (art. 66, IV, “e”, e art. 123 da LEP).</p><p>QUESTÃO 2-No tocante às autorizações de saída, marque a assertiva INCORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-Nos termos da Lei de Execução Penal, a saída temporária poderá ser deferida por prazo não superior a 5 dias, podendo ser renovada por 7 vezes durante o ano.</p><p>Fundamentação- Conforme artigo 124 da Lei de Execução Penal, “a autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano”.</p><p>AULA 02: TRABALHO E REMIÇÃO</p><p>O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.</p><p>Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 do salário mínimo.</p><p>Porém, estabelece a CF:</p><p>Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado. ADPF 336</p><p>O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:</p><p>a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios;</p><p>b) à assistência à família;</p><p>c) a pequenas despesas pessoais;</p><p>d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.</p><p>Tem como características:</p><p>a) Obrigatório</p><p>Consoante dispõe o art. 31: O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade.</p><p>Obs.: Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do estabelecimento (art. 31, p. único)</p><p>Ainda, dispõe a LEP, art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: (...)</p><p>VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.</p><p>Art. 39. Constituem deveres do condenado: (...)</p><p>V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas</p><p>No mesmo sentido, caminha a jurisprudência:</p><p>DIREITO PENAL. RECUSA INJUSTIFICADA DO APENADO AO TRABALHO CONSTITUI FALTA GRAVE. Constitui falta grave na execução penal a recusa injustificada do condenado ao exercício de trabalho interno. O art. 31 da Lei 7.210/1984 (LEP) determina a obrigatoriedade do trabalho ao apenado condenado à pena privativa de liberdade, na medida de suas aptidões e capacidades, sendo sua execução, nos termos do art. 39, V, da referida Lei, um dever do apenado. O art. 50, VI, da LEP, por sua vez, classifica como falta grave a inobservância do dever de execução do trabalho. Ressalte-se, a propósito, que a pena de trabalho forçado, vedada no art. 5º, XLVIII, "c", da CF, não se confunde com o dever de trabalho imposto ao apenado, ante o disposto no art. 6º, 3, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto San José da Costa Rica), segundo o qual os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios vedados pela Convenção (HC 264.989-SP, STJ - 6ª TURMA - Rel. Min. Ericson Maranho, julgado em 4/8/2015, DJe 19/8/2015).</p><p>b) Adequado às condições pessoais do preso</p><p>Dispõe o artigo 131 que o condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade. Os maiores de 60 anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade. Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado.</p><p>c) Jornada de 6 a 8 horas diárias, em regra</p><p>O art. 33. e o parágrafo único asseguram que a jornada normal de trabalho não será inferior a 6 nem superior a 8 horas, com descanso nos domingos e feriados. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.</p><p>Trabalho Externo</p><p>Quanto ao trabalho externo, prevê o artigo 36, seus parágrafos e o artigo 37 que o trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. O limite máximo do número de presos será de 10% do total de empregados na obra. Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho. A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.</p><p>A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 da pena.</p><p>Dispensa do lapso temporal: "EXECUÇÃO PENAL. AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO. APENADO EM REGIME SEMIABERTO. PRESCINDIBILIDADE DO ADIMPLEMENTO DE 1/6 (UM SEXTO) DA PENA. FLAGRANTE ILEGALIDADE EVIDENCIADA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...) 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que, para os apenados que cumprem pena em regime semiaberto, afigura-se prescindível o adimplemento de requisito temporal para a autorização de trabalho externo, desde que verificadas condições pessoais favoráveis pelo Juízo das Execuções Penais. Precedentes. Assim, constitui constrangimento ilegal a negativa do trabalho externo ao apenado com fundamento somente</p><p>na ausência de cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena pelo condenado em regime semiaberto, como in casu. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a decisão do Magistrado das Execuções, que autorizara o trabalho externo pelo paciente" (STJ, HC 355674 / RS, Rel. Min. JOEL ILAN PACIORNIK, 5a. T., j. 10/11/2016, v.u.).</p><p>Para revogação da autorização (art. 36, p. Único) deverá ter ocorrido a pratica de fato definido como crime; for punido por falta grave; tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo (disciplina e responsabilidade).</p><p>Para remição no regime fechado e semiaberto a cada 3 dias de trabalho, 1 dia de cumprimento de pena.</p><p>A remição se dá por dias trabalhados, e não por horas, sendo que a contagem de tempo será feita à razão de um dia de pena a cada 3 dias trabalhados, exigindo-se, para cada dia a ser remido, o labor de no mínimo 6 e no máximo 8 horas (STJ, AgRg no HC n. 289.635/MG, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de 3/2/2015).</p><p>Apenas as horas trabalhadas após a jornada máxima legal poderão ser somadas a fim de que, atingindo 6 horas, sejam computadas como 1 dia para fins de remição" (STJ, HC 338.220/MG, j. 21/06/2016).</p><p>A culpa do Estado na falha fiscalização do cumprimento da carga horária de trabalho não afasta a necessidade de demonstrar que os requisitos para a remição foram cumpridos. (STJ, AgRg no HC 351.918/SC, j. 09/08/2016).</p><p>A remição pelo trabalho beneficia o condenado mesmo na situação em que a atividade laborativa efetivamente desempenhada o tenha sido sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, e ainda que em decorrência de trabalho desempenhado em domingos e feriados. (STJ, HC 346.948/RS, j. 21/06/2016).</p><p>EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. NOVA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL. TRABALHO EXTERNO EM EMPRESA FAMILIAR. POSSIBILIDADE. FISCALIZAÇÃO. RISCO DE INEFICÁCIA DA MEDIDA NÃO PODE SER ÓBICE AO BENEFÍCIO DO TRABALHO EXTERNO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...) III - A execução criminal visa o retorno do condenado ao convívio social, com o escopo de reeducá-lo e ressocializá-lo, sendo o trabalho essencial para esse processo. IV - In casu, o fato do irmão do apenado ser um dos sócios da empresa empregadora não constitui óbice à concessão do trabalho externo, sob o argumento de fragilidade na fiscalização, até porque inexiste vedação na Lei de Execução Penal. (Precedente do STF). Habeas Corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a decisão do Juízo da Execução que deferiu o trabalho externo ao paciente" (STJ, HC 310.515-HC 310515, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/9/2015, DJe 25/9/2015).</p><p>Estudo</p><p>Fechado, semiaberto, aberto, livramento condicional</p><p>Para cada 12 horas de estudo (divididas em 3 dias, no mínimo), 1 dia de cumprimento de pena</p><p>Acrescido de 1/3 no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.</p><p>Atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional</p><p>Forma presencial ou ensino a distância: Admissível mesmo durante regime aberto ou em livramento condicional (período de prova)</p><p>A remição pelo estudo não pressupõe frequência mínima no curso nem é condicionada a desempenho satisfatório. (STJ, AgRg no Resp 1.453.257/MS, Rel. Min. JOEL ILAN PACIORNIK, 5ª T., j. 02/06/2016j. 02/06/2016).</p><p>A remição por leitura deve ser concedida em analogia in bonam partem em relação à possibilidade de desconto da pena por meio do estudo. No entanto, para que o benefício seja criterioso o tribunal tem decidido que deve haver a instalação de projeto de leitura com a observância das diretrizes estabelecidas na Recomendação nº 44/13 do CNJ. (STJ, AgRg no Resp 1.616.049/PR, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., j. 27/09/2016).</p><p>Regras gerais:</p><p>- Cumulação trabalho + estudo - possível, desde que se compatibilizem</p><p>- Impossibilidade de prosseguir em razão de acidente - continuará se beneficiando</p><p>- Falta de trabalho/estudo - não (STJ, HC 175.718, 6ª T., Rel. Marilza Maynard, j. 05/12/2013)</p><p>- Prisão cautelar - admissível</p><p>- Tempo remido - computado como pena cumprida</p><p>- Relatório encaminhado mensalmente pela autoridade administrativa ao juízo da execução</p><p>- Perda dos dias remidos - perda de até 1/3 em caso de cometimento de falta grave.</p><p>A quantidade dos dias remidos perdidos em razão do cometimento de falta grave deve ser fundamentada. Por isso, o juiz não pode simplesmente declarar a perda do máximo de 1/3 sem especificar as circunstâncias que o levaram a decidir daquela forma. (STJ, HC 338.188/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., j. 02/06/2016).</p><p>A prática de falta grave impõe a decretação da perda de até 1/3 dos dias remidos, devendo a expressão "poderá" contida no art. 127 da Lei 7.210/1984 ser interpretada como poder-dever do magistrado, ficando no juízo de discricionariedade do julgador apenas a fração da perda, que terá como limite máximo 1/3 dos dias remidos. (STJ, AgRg no REsp 1.430.097-PR, Rel. Min. Felix Fischer, j. 19/3/2015).</p><p>O cálculo da remição deve ser efetuado com base no disposto no súmula nº 715 do STF, ou seja, a subtração dos dias incide no total da pena aplicada, não no máximo de trinta anos de que trata o art. 75 do CP. (STJ, HC 328.548/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 5ª T., j. 16/06/2016).</p><p>AULA 02: TRABALHO E REMIÇÃO</p><p>O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.</p><p>Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 do salário mínimo.</p><p>Porém, estabelece a CF:</p><p>Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado. ADPF 336</p><p>O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:</p><p>a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios;</p><p>b) à assistência à família;</p><p>c) a pequenas despesas pessoais;</p><p>d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.</p><p>Tem como características:</p><p>a) Obrigatório</p><p>Consoante dispõe o art. 31: O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade.</p><p>Obs.: Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do estabelecimento (art. 31, p. único)</p><p>Ainda, dispõe a LEP, art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: (...)</p><p>VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.</p><p>Art. 39. Constituem deveres do condenado: (...)</p><p>V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas</p><p>No mesmo sentido, caminha a jurisprudência:</p><p>DIREITO PENAL. RECUSA INJUSTIFICADA DO APENADO AO TRABALHO CONSTITUI FALTA GRAVE. Constitui falta grave na execução penal a recusa injustificada do condenado ao exercício de trabalho interno. O art. 31 da Lei 7.210/1984 (LEP) determina a obrigatoriedade do trabalho ao apenado condenado à pena privativa de liberdade, na medida de suas aptidões e capacidades, sendo sua execução, nos termos do art. 39, V, da referida Lei, um dever do apenado. O art. 50, VI, da LEP, por sua vez, classifica como falta grave a inobservância do dever de execução do trabalho. Ressalte-se, a propósito, que a pena de trabalho forçado, vedada no art. 5º, XLVIII, "c", da CF, não se confunde com o dever de trabalho imposto ao apenado, ante o disposto no art. 6º, 3, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto San José da Costa Rica), segundo o qual os trabalhos ou serviços normalmente exigidos</p><p>de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios vedados pela Convenção (HC 264.989-SP, STJ - 6ª TURMA - Rel. Min. Ericson Maranho, julgado em 4/8/2015, DJe 19/8/2015).</p><p>b) Adequado às condições pessoais do preso</p><p>Dispõe o artigo 131 que o condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade. Os maiores de 60 anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade. Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado.</p><p>c) Jornada de 6 a 8 horas diárias, em regra</p><p>O art. 33. e o parágrafo único asseguram que a jornada normal de trabalho não será inferior a 6 nem superior a 8 horas, com descanso nos domingos e feriados. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.</p><p>Trabalho Externo</p><p>Quanto ao trabalho externo, prevê o artigo 36, seus parágrafos e o artigo 37 que o trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. O limite máximo do número de presos será de 10% do total de empregados na obra. Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho. A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.</p><p>A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 da pena.</p><p>Dispensa do lapso temporal: "EXECUÇÃO PENAL. AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO. APENADO EM REGIME SEMIABERTO. PRESCINDIBILIDADE DO ADIMPLEMENTO DE 1/6 (UM SEXTO) DA PENA. FLAGRANTE ILEGALIDADE EVIDENCIADA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...) 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que, para os apenados que cumprem pena em regime semiaberto, afigura-se prescindível o adimplemento de requisito temporal para a autorização de trabalho externo, desde que verificadas condições pessoais favoráveis pelo Juízo das Execuções Penais. Precedentes. Assim, constitui constrangimento ilegal a negativa do trabalho externo ao apenado com fundamento somente na ausência de cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena pelo condenado em regime semiaberto, como in casu. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a decisão do Magistrado das Execuções, que autorizara o trabalho externo pelo paciente" (STJ, HC 355674 / RS, Rel. Min. JOEL ILAN PACIORNIK, 5a. T., j. 10/11/2016, v.u.).</p><p>Para revogação da autorização (art. 36, p. Único) deverá ter ocorrido a pratica de fato definido como crime; for punido por falta grave; tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo (disciplina e responsabilidade).</p><p>Para remição no regime fechado e semiaberto a cada 3 dias de trabalho, 1 dia de cumprimento de pena.</p><p>A remição se dá por dias trabalhados, e não por horas, sendo que a contagem de tempo será feita à razão de um dia de pena a cada 3 dias trabalhados, exigindo-se, para cada dia a ser remido, o labor de no mínimo 6 e no máximo 8 horas (STJ, AgRg no HC n. 289.635/MG, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de 3/2/2015).</p><p>Apenas as horas trabalhadas após a jornada máxima legal poderão ser somadas a fim de que, atingindo 6 horas, sejam computadas como 1 dia para fins de remição" (STJ, HC 338.220/MG, j. 21/06/2016).</p><p>A culpa do Estado na falha fiscalização do cumprimento da carga horária de trabalho não afasta a necessidade de demonstrar que os requisitos para a remição foram cumpridos. (STJ, AgRg no HC 351.918/SC, j. 09/08/2016).</p><p>A remição pelo trabalho beneficia o condenado mesmo na situação em que a atividade laborativa efetivamente desempenhada o tenha sido sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, e ainda que em decorrência de trabalho desempenhado em domingos e feriados. (STJ, HC 346.948/RS, j. 21/06/2016).</p><p>EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. NOVA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL. TRABALHO EXTERNO EM EMPRESA FAMILIAR. POSSIBILIDADE. FISCALIZAÇÃO. RISCO DE INEFICÁCIA DA MEDIDA NÃO PODE SER ÓBICE AO BENEFÍCIO DO TRABALHO EXTERNO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...) III - A execução criminal visa o retorno do condenado ao convívio social, com o escopo de reeducá-lo e ressocializá-lo, sendo o trabalho essencial para esse processo. IV - In casu, o fato do irmão do apenado ser um dos sócios da empresa empregadora não constitui óbice à concessão do trabalho externo, sob o argumento de fragilidade na fiscalização, até porque inexiste vedação na Lei de Execução Penal. (Precedente do STF). Habeas Corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a decisão do Juízo da Execução que deferiu o trabalho externo ao paciente" (STJ, HC 310.515-HC 310515, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/9/2015, DJe 25/9/2015).</p><p>Estudo</p><p>Fechado, semiaberto, aberto, livramento condicional</p><p>Para cada 12 horas de estudo (divididas em 3 dias, no mínimo), 1 dia de cumprimento de pena</p><p>Acrescido de 1/3 no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.</p><p>Atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional</p><p>Forma presencial ou ensino a distância: Admissível mesmo durante regime aberto ou em livramento condicional (período de prova)</p><p>A remição pelo estudo não pressupõe frequência mínima no curso nem é condicionada a desempenho satisfatório. (STJ, AgRg no Resp 1.453.257/MS, Rel. Min. JOEL ILAN PACIORNIK, 5ª T., j. 02/06/2016j. 02/06/2016).</p><p>A remição por leitura deve ser concedida em analogia in bonam partem em relação à possibilidade de desconto da pena por meio do estudo. No entanto, para que o benefício seja criterioso o tribunal tem decidido que deve haver a instalação de projeto de leitura com a observância das diretrizes estabelecidas na Recomendação nº 44/13 do CNJ. (STJ, AgRg no Resp 1.616.049/PR, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., j. 27/09/2016).</p><p>Regras gerais:</p><p>- Cumulação trabalho + estudo - possível, desde que se compatibilizem</p><p>- Impossibilidade de prosseguir em razão de acidente - continuará se beneficiando</p><p>- Falta de trabalho/estudo - não (STJ, HC 175.718, 6ª T., Rel. Marilza Maynard, j. 05/12/2013)</p><p>- Prisão cautelar - admissível</p><p>- Tempo remido - computado como pena cumprida</p><p>- Relatório encaminhado mensalmente pela autoridade administrativa ao juízo da execução</p><p>- Perda dos dias remidos - perda de até 1/3 em caso de cometimento de falta grave.</p><p>A quantidade dos dias remidos perdidos em razão do cometimento de falta grave deve ser fundamentada. Por isso, o juiz não pode simplesmente declarar a perda do máximo de 1/3 sem especificar as circunstâncias que o levaram a decidir daquela forma. (STJ, HC 338.188/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., j. 02/06/2016).</p><p>A prática de falta grave impõe a decretação da perda de até 1/3 dos dias remidos, devendo a expressão "poderá" contida no art. 127 da Lei 7.210/1984 ser interpretada como poder-dever do magistrado, ficando no juízo de discricionariedade do julgador apenas a fração da perda, que terá como limite máximo 1/3 dos dias remidos. (STJ, AgRg no REsp 1.430.097-PR, Rel. Min. Felix Fischer, j. 19/3/2015).</p><p>O cálculo da remição deve ser efetuado com base no disposto no súmula nº 715 do STF, ou seja, a subtração dos dias incide no total da pena aplicada, não no máximo de trinta anos de que trata o art. 75 do CP. (STJ, HC 328.548/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 5ª T., j. 16/06/2016).</p><p>QUESTÃO 1-Ao reconhecer a prática de falta grave, o Juiz da Execução decreta a perda da totalidade dos</p><p>dias remidos do sentenciado.</p><p>Está correta a sanção aplicada? Justifique.</p><p>RESPOSTA 1-Não. Estabelece o art. 127 da Lei de Execução Penal, com redação dada pela Lei 12.433/2011, que “em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar”.</p><p>Outrossim, conforme recente decisão do STJ:</p><p>“A quantidade dos dias remidos perdidos em razão do cometimento de falta grave deve ser fundamentada. Por isso, o juiz não pode simplesmente declarar a perda do máximo de 1/3 sem especificar as circunstâncias que o levaram a decidir daquela forma (STJ, HC 338.188/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., j. 02/06/2016).</p><p>QUESTÃO 2-No tocante à remição, marque a assertiva CORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos.</p><p>Fundamentação- De acordo com o artigo 128 da Lei de Execução Penal, com redação dada pela Lei 12.433/2011, “o tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos”.</p><p>AULA 03: EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA</p><p>Quanto à possibilidade de execução da pena antes do transito em julgado da sentença condenatória. Atualmente, é pacífica a admissibilidade (súmulas 716 e 717 do STF / Resolução 113 do CNJ , de 20 de abril de 2010).</p><p>Exemplo: sujeito permanece preso cautelarmente há 3 anos. É então condenado a 5 anos e recorre. Na pendência desse recurso, a condenação não é definitiva. Não seria razoável aguardar o julgamento de todos os recursos para se conceder os benefícios ao acusado, como progressão de regime.</p><p>Historicamente, tivemos 4 momentos (réu solto):</p><p>1- Até 2009, o STF entendia que a presunção da inocência não impedia a execução de pena confirmada em segunda instância.</p><p>2- Em 2009, no HC 84078, houve uma mudança de posição, passando o STF a condicionar a execução da pena ao trânsito em julgado da condenação, mas ressalvando a possibilidade de prisão preventiva. Fundamento - presunção de inocência (HC 84078/MG. Rel. Min. Eros Grau. j. 05/02/2009)</p><p>3 - Volta à posição anterior, entendendo que a presunção da inocência não impedia a execução de pena confirmada em segunda instância. (Habeas Corpus (HC) 126292, na sessão de 17/02/2016).</p><p>Argumentos adotados pelos Ministros:</p><p>A partir do esgotamento da matéria fática, que se dá com o julgamento em 2º grau, é possível a execução da pena. Não é necessário aguardar o julgamento dos recursos constitucionais.</p><p>Impedir a execução provisória privilegia a seletividade do sistema penal, pois apenas os ricos recorrem. Pessoas que não têm condições de levar os processos aos tribunais superiores ficam em liberdade. Aquelas que não têm essa condição não podem.</p><p>Aguardar o trânsito em julgado da sentença condenatória fomentava a indevida e sucessiva interposição de recursos com propósitos protelatórios, visando, muitas vezes, à configuração da prescrição</p><p>O princípio da presunção de inocência tem sentido dinâmico, o seu valor varia com o transcurso do feito. No inquérito, é quase absoluto. Depois do julgamento, com a confirmação da condenação, esse princípio merece ser flexibilizado, possibilitando a execução provisória</p><p>Em nenhum país do mundo, depois de respeitado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema.</p><p>Estatísticas de 2009 a 2016 - dos Recursos Extraordinários e Recursos Especiais ingressados nas cortes superiores, somente 1,7% teve sucesso; ainda assim, a maioria a favor da acusação. Apenas 0,48% a favor da defesa, muitas suscitando teses poderiam ser deduzidas em habeas corpus</p><p>A posição vencida se firmava no princípio constitucional da presunção de inocência, segundo o qual ninguém pode ser considerado culpado até o transito em julgado da sentença condenatória (art. 5º, 57).</p><p>4 - Em 2019, o STF voltou a entender que é inadmissível a execução provisória da pena como decorrência automática da condenação em segunda instância. Antes do trânsito em julgado da condenação, a execução provisória depende dos requisitos da prisão preventiva (ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio, pleno, j. 07/11/2019)</p><p>A Lei 13.964/2019 trouxe uma exceção, ou seja, uma hipótese em que haverá execução provisória automática (em regra): quando houve condenação em tribunal do júri a pena igual ou superior a 15 anos de reclusão.</p><p>Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:</p><p>I - no caso de condenação:</p><p>e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos;</p><p>§ 3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das penas de que trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da condenação.</p><p>§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo.</p><p>§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verificado cumulativamente que o recurso:</p><p>I - não tem propósito meramente protelatório; e</p><p>II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.</p><p>§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais peças necessárias à compreensão da controvérsia.</p><p>QUESTÃO 1-Imagine que um cidadão foi condenado em primeiro grau às penas de 6 anos, 3 meses e 18 dias de reclusão, no regime inicial semiaberto e multa pela prática de peculato. O juiz sentenciante deferiu o direito de recorrer em liberdade. Por meio do julgamento de Apelação, o Tribunal de origem deu parcial provimento ao recurso do paciente para reconhecer a atenuante da confissão espontânea, redimensionando a reprimenda imposta para 5 anos de reclusão e, de ofício, reduziu a pena de multa, mas determinou a expedição de mandado de prisão para execução provisória da pena. Como advogado do Réu, ao impetrar habeas corpus, qual seria a argumentação a ser utilizada?</p><p>RESPOSTA 1-A defesa deve sustentar que o Supremo Tribunal Federal, no recente julgamento das ADCs 43, 44 e 54, sedimentou o entendimento no sentido da impossibilidade do início da execução da pena antes do trânsito em julgado da condenação.</p><p>QUESTÃO 2-Qual das seguintes assertivas a seguir é CORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-Em 2019, julgou-se as ADCs 43, 44 e 54 e houve o assentamento da constitucionalidade do artigo 283 do CPP. Sendo assim, houve o restabelecimento da garantia fundamental de qualquer cidadão de ser considerado inocente até que a sentença condenatória transite em julgado.</p><p>Fundamentação- O acusado, portanto, apenas poderá ser preso antes de transitada em julgado a sentença condenatória em situações de fundamentada necessidade. Nestes casos, o magistrado poderá se valer da prisão temporária ou prisão preventiva.</p><p>AULA 04: DETRAÇÃO</p><p>No que toca a detração, computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos em lei (artigo 42, LEP). A fundamentação se dá para evitar a punição em duplicidade, competindo ao juiz da execução demandar acerca da detração (art. 66, LEP).</p><p>MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO</p><p>Possível a detração, desde que haja proporcionalidade entre a medida cautelar e a pena</p><p>definitiva (ex.: internação provisória e medida de segurança).</p><p>DETRAÇÃO ANALÓGICA</p><p>Detração envolvendo penas de espécies diferentes. Ex.: sujeito permanece perso cautelarmente e, ao final, vem a ser condenado a prestação de serviços à comunidade. Majoritariamente, admite-se.</p><p>Prestação de serviços à comunidade: 1 dia de prisão = uma hora de serviços prestados (STJ, HC 202618, Rel. Sebastião Reis Júnior, 6ª T, j. 19.06.2012)</p><p>No que toca a multa, vejamos a jurisprudência:</p><p>Agravo em Execução Penal. Indeferimento da extinção da pena de multa. Insurge-se a Defesa que o sentenciado faz jus ao beneficio, tendo em vista ter ficado preso por mais tempo que deveria. Requer o reconhecimento por força da detração analógica. Possiblidade. Nos termos do art. 51 do Código Penal, dívida de valor a ser executada pela Fazenda Pública. Cabível o entendimento analógico da detração prevista no artigo 41 do CP. Agravo provido para declarar extinta a pena de multa (TJSP, EP 00496867320148260000 SP, Rel. Des. Péricles Piza, 1ª Câmara de Direito Criminal, j. 24/02/2015, v.u.).</p><p>Quanto à aplicabilidade em processos distintos:</p><p>(...) é admitida a detração em relação a fato diverso daquele que deu azo à prisão processual; contudo, somente em relação a delitos anteriores à segregação provisória, sob risco de se criar uma espécie de crédito contra a Justiça Criminal (STJ, HC 276287 / RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 15/10/2015, v.u.).</p><p>LEI DE MIGRAÇÃO (LEI 13.445/2017)</p><p>No que tange a lei de migração não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o compromisso de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição.</p><p>EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA</p><p>A respeito da extraterritorialidade incondicionada a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.</p><p>PRESCRIÇÃO</p><p>Prescrição da pretensão punitiva - Não se admite cômputo da detração para cálculo da prescrição.</p><p>Prescrição da pretensão executória - Doutrina majoritária admite. Jurisprudência majoritária não admite:</p><p>STF: Pedido de reconhecimento da prescrição da pretensão executória com base na pena residual (artigo 113 do CP). (...) O tempo de prisão provisória não pode ser computado para efeito da prescrição. Precedentes (ARE 938056/SP, Rel. Gilmar Mendes, 2ª T., j. 08/03/2016, v.u.)</p><p>STJ: O cálculo da prescrição pela pena residual, conforme prevê o art. 113 do Código Penal, limita-se às hipóteses de evasão e de revogação do livramento condicional. Não é possível, portanto, a consideração do tempo de prisão provisória para fins de contagem do prazo prescricional, pois o citado dispositivo deve ser interpretado restritivamente (Precedentes do STF e do STJ)</p><p>(RHC 67403 / DF, Rel. Felix Fischer, 5ª T., j. 16/03/2017, v.u.)</p><p>ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE "Para efeito de detração, deve-se somar o período de internamento provisório, ao invés de diminuir, haja vista a medida sócioeducativa ser fixada no limite máximo legal de 03 (três) anos" (STJ, AgRg no Ag 442435/DF, Rel. Min. Paulo Medina, 6ª T., j. 08/04/2013, v.u.).</p><p>FIXAÇÃO DE REGIME INICIAL CPP, art. 387, § 2º "O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade". (Incluído pela Lei nº 12.736, de 2012)</p><p>QUESTÃO 1-José, acusado da prática de roubo, permanece preso cautelarmente durante 1 ano. Ao final, vem a ser absolvido por falta de provas. Contudo, em outro processo, no qual se apura a prática de furto, José é condenado.</p><p>De acordo com a jurisprudência majoritária, é possível que o tempo de prisão cautelar no primeiro processo seja utilizado no segundo, para fins de detração?</p><p>RESPOSTA 1- A jurisprudência majoritária admite a detração em relação a fato diverso daquele que deu azo à prisão processual. Todavia, isso somente é possível em relação a delitos anteriores à segregação provisória, de modo a se evitar a criação de um crédito contra a Justiça Criminal. Nesse sentido: STJ, HC 276287 / RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 15/10/2015, v.u. Seguindo essa lógica, se o furto foi anterior à prisão cautelar pelo roubo, é possível a detração.</p><p>QUESTÃO 2-Marque a assertiva correta no tocante à detração:</p><p>RESPOSTA 2-Para o Superior Tribunal de Justiça, é admitida a detração em relação a fato diverso daquele que deu azo à prisão processual; contudo, somente em relação a delitos anteriores à segregação provisória, sob risco de se criar uma espécie de crédito contra a Justiça Criminal.</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- Para o STJ, “(...) é admitida a detração em relação a fato diverso daquele que deu azo à prisão processual; contudo, somente em relação a delitos anteriores à segregação provisória, sob risco de se criar uma espécie de crédito contra a Justiça Criminal” (STJ, HC 276287 / RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 15/10/2015, v.u.).</p><p>TEMA 07- ASPECTOS DA EXECUÇÃO PENAL</p><p>AULA 01: VISITA ÍNTIMA E CUMPRIMENTO DE PENAL EM DOMICÍLIO</p><p>O artigo 41, X da Lei de Execução Penal prevê o direito do preso provisório ou definitivo de receber a "visita do cônjuge, da companheira, de parentes e de amigos em dias determinados".</p><p>Deste modo, verifica-se que na LEP ao prever o direito a visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias estipulados não fez distinção entre a visita simples e à visita íntima. Todavia, é possível que se extraia o direito à visita íntima das regras e princípios constitucionais e até mesmo de uma interpretação extensiva do texto constitucional com o escopo de que o direito à visita íntima seja considerada um direito e não uma regalia.</p><p>O que se verifica é que o disposto no inciso X deste artigo não atinge, por óbvio, tal direito. Assim, somente será considerado um direito se a administração do presídio permitir tal exercício generalizadamente. Por uma questão de aplicação do princípio constitucional da igualdade, não é permitido admitir que apenas alguns presos tenham contato sexual com suas parceiras e parceiros e outros não. Destaca-se que a visita íntima, por ser uma concessão da administração do presídio, está sujeita à suspensão ou restrição, havendo motivo prévio para tal.</p><p>Desta forma, em razão da ausência de legislação expressa, e, em especial, da compreensão de que a administração penitenciária tem a discricionariedade de conceder a visita íntima, o que se vê, na prática, é que em muitos estabelecimentos prisionais brasileiros a visita privada ainda não é tratada como um direito.</p><p>Quanto às penitenciárias femininas segundo o DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional) apenas 9,68% das mulheres recebe visita íntima o que demonstra um protecionismo discriminatório notadamente sexista e tem como sustentáculo argumentos de que a mulher engravida, tem necessidades sexuais diferentes das masculinas e, portanto, não necessitaria de relações sexuais.</p><p>Há vários anos presos e presas usufruem deste direito em estabelecimentos prisionais como forma de evitar a violência sexual e também com o escopo de incentivar o contanto com a família e com o mundo exterior. A visita íntima estimula a manutenção dos vínculos conjugais e familiares, reduzindo a violência entre os presos, em especial aquelas de natureza sexual.</p><p>Sob tutela estatal, com fiscalização e controle, o ganho para ressocialização será evidente. Por pior que tenha sido o crime praticado, a todos e, também porque não, ao preso, é garantida a dignidade, pilar, sustentáculo da República.</p><p>Existem algumas cautelas que devem ser tomadas para viabilizar o direito à visita íntima como, por exemplo, ao de que o visitante esteja previamente cadastrado e vinculado ao preso determinado, evitando-se à prática de atos de prostituição no interior dos estabelecimentos prisionais. É possível, ainda, a edição de norma pelo Poder Público que venha a limitar, restringir ou mesmo condicionar o direito da visita íntima à apresentação, prévia, de exames de saúde do (a) visitante e do (a) detento (a) visitado (a),</p><p>vez que a vida e a saúde são direitos fundamentais e sociais invioláveis do cidadão e nos termos do art. 196, CF/88, é dever do Estado protegê-los, inclusive com medidas preventivas que reduzam o risco de contaminação de doenças.</p><p>E, ainda, é dever do Estado garantir a incolumidade física e moral dos detentos (art. 5º, XLIX, CF), protegendo-os, assim como aos visitantes, do contágio de doenças (art. 14, LEP).</p><p>Se for detectada a doença sexualmente transmissível no (a) detento (a), o "direito" à visita íntima será limitado e condicionado à ciência formal de ambos os pretendentes, bem assim da assinatura de um termo de ciência e compromisso e de assunção de responsabilidade de utilizar produtos que garantam que a visitação íntima ocorrerá de forma segura. Caso haja recusa na assinatura do referido "termo", estará o Estado legitimado a restringir totalmente a visitação íntima.</p><p>Não se pode criar desigualdades permitindo o direito de visita íntima apenas àqueles presos casados ou que possuem união estável em face dos presos solteiros, sob pena de criarem uma desigualdade em relação ao preso solteiro.</p><p>Observe-se que o direito à visita íntima não tão somente destinada à satisfação das necessidades sexuais do preso, pois pode ser utilizada para que um familiar possa manter uma conversa em um ambiente com maior privacidade, por exemplo, uma mãe ou avó que desejam abraçar seus filhos jovens que estão cumprindo pena, de maneira a poderem dar carinho, afeto e até chorarem juntos.</p><p>Ressalte-se que uma vez exercido tal direito também não poderá ser compreendido de forma absoluta, pois deverá ser interpretado, se necessário, de modo limitado, condicionado e/ou restringido, de modo a ser compatibilizado com os demais pressupostos e obrigações do Estado previstos na Constituição Federal, tais como o de garantir a saúde e à segurança dos presos e das pessoas que com eles se relacionam, sobretudo intimamente dentro das dependências do Poder Público.</p><p>Parece necessário que se democratizar e legalizar o direito à visita íntima permitindo que o maior número de presos possa dele fazer uso, sem preconceitos, discriminações de qualquer ordem desde que com regras e critérios previamente estabelecidos. Não parece razoável que se possa encontrar barreira em critérios subjetivos e, por vezes, preconceituosos.</p><p>No que tange ao adolescente, a Lei 12.594/12 passou a regulamentar a possibilidade do adolescente em conflito com a lei que cumpre medida de internação, obter o benefício do direito de receber visitas de caráter íntimo com o intuito de manter relações sexuais.</p><p>Todavia, só poderá realizar a visita íntima a cônjuge ou convivente do adolescente internado, ou seja, para que o benefício seja concedido, o adolescente precisa ser casado ou ter constituído união estável anteriormente à aplicabilidade da privação de liberdade.</p><p>QUESTÃO 1-Josué foi condenado pela prática de tráfico internacional de entorpecentes e cumpre pena em estabelecimento penal federal. Ocorre que, há dois meses, teve seu direito de visita íntima suspenso por tempo indeterminado. O diretor do estabelecimento prisional aplicou a suspensão como sanção disciplinar alegando que o apenado faltou com o dever de urbanidade. Como advogado de defesa, indique os argumentos para fundamentação de recurso.</p><p>RESPOSTA 1-O advogado deverá apresentar Incidente de Excesso de Execução (arts. 185 e 186 da LEP), vez que, nos termos do art. 4ª da Portaria nº 1.190/2008 do Ministério da Justiça, que regulamenta a visita íntima no interior das penitenciárias federais, a visita íntima poderá ser restringida, por tempo determinado quando: do cometimento de falta disciplinar de natureza grave, apurada mediante processo administrativo disciplinar, que ensejar isolamento celular; de ato do cônjuge ou companheiro(a) que causar problemas à administração do estabelecimento de ordem moral ou risco para a segurança ou disciplina; da solicitação do preso; a título de sanção disciplinar, independentemente da natureza da falta, nos casos em que a infração estiver relacionada com o seu exercício.</p><p>Desta forma, como a mencionada Portaria não prevê a suspensão por prazo indeterminado, nem que a justificativa de falta de urbanidade enquadra-se como falta grave (previstas no art. 50 da LEP), nem está relacionada ao exercício do direito à visita íntima, a decisão do Diretor vai além do previsto nas normas legais, ensejando excesso de execução.</p><p>QUESTÃO 2-Com relação ao direito de visita a adolescente em cumprimento de medida socioeducativa de internação, a Lei nº 12.594/2012 dispõe que:</p><p>RESPOSTA 2-Será permitida a entrada de cônjuge ou companheiro para visita íntima, desde que identificado por documento específico para tal finalidade</p><p>Fundamentação- nos termos do artigo 68 da Lei nº 12.594/2012.</p><p>AULA 02: REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO</p><p>O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) foi criado em 2001 pela Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP), por meio da Resolução nº 26, com o escopo de responder diretamente à atuação de organizações criminosas, notadamente o PCC (Primeiro Comando da Capital) que dominava à época os presídios paulistas.</p><p>Somente a partir de 2003, com a edição da Lei 10.792, é que foi instituído de modo definitivo e, devidamente, expresso no 52 da Lei de Execução Penal, que trata das hipótese que autorizam inclusão do preso faltoso no regime disciplinar diferenciado (RDD) - uma espécie mais drástica de sanção disciplinar. Ressalta-se que o referido regime sofreu novas alterações com a vigência da Lei nº 13.964, de 2019 (Lei Anticrime).</p><p>O regime é válido para os presos, nacionais ou estrangeiros, provisórios ou definitivamente condenados, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade, suspeitos de participação ou envolvimento em organizações criminais, associação criminosa ou milícia privada, bem como pela prática de crime doloso que ocasione subversão da ordem e disciplina.</p><p>Tem cabimento em três hipóteses:</p><p>a) em razão da prática de fato previsto como crime doloso, que constituir falta grave, desde que ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sem prejuízo da sanção penal correspondente.</p><p>Não será todo e qualquer crime doloso, mas que ocasione a subversão da ordem ou disciplina internas.</p><p>Pode ser incluído aqui o crime preterdoloso ou preterintencional, pois este nada mais é do que um crime doloso agravado pelo resultado culposo.</p><p>Deve-se atentar que a tentativa de crime doloso também é capaz de causar uma desordem carcerária, pois o preso deverá ser punido com a sanção correspondente à falta consumada (art. 49, parágrafo único, da LEP), todavia devendo ser observado o prazo de duração da punição imposta.</p><p>b) quando o preso apresentar alto risco para a ordem e segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.</p><p>Trata-se de regime imposto ao interno que, mesmo dentro do presídio ou estabelecimento prisional, comanda crimes do lado de fora colocando desta maneira em risco a sociedade.</p><p>O risco apresentado pelo preso deve derivar de fato pretérito ou presente para o qual concorreu ou concorre, direta ou indiretamente, o reeducando.</p><p>c) quando existirem fundadas suspeitas de envolvimento ou participação do preso, a qualquer título, em organizações criminosas, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave.</p><p>Necessário observar o enquadramento da organização criminosa conforme descrita no art. 1º da Lei 12.850/13, associação criminosa prevista no art. 288 do CP ou milícia privada conceituada no art. 288-A, CP.</p><p>Para existência de fundada suspeita se faz necessário um certo caráter de normatividade intermediário, caracterizado por um grau de probabilidade suficiente a fundar realmente uma fundada suspeita do ilícito.</p><p>Ressalte que o §3º do artigo em comento determina que o preso deverá ser imediatamente transferido para estabelecimento prisional federal em caso de indícios de liderança em organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada ou de atuação criminosa em dois ou mais</p><p>Estados.</p><p>Ainda no referido artigo em seu §5º (referindo-se ao §3º) determina que o preso deverá ser submetido à alta segurança interna e externa, especialmente, para evitar seu contato com outros membros do determinado grupo criminoso ou seus rivais.</p><p>Suas características são as seguintes (LEP, art. 52, I a IV):</p><p>- Duração máxima de 2 (dois) anos, sem prejuízo da repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie;</p><p>Observe-se que o §4º do mencionado artigo, por sua vez, autoriza a prorrogação sucessiva do RDD para os períodos de um ano, caso haja indícios de que o preso:</p><p>i) continua apresentando alto risco para segurança e ordem; ou</p><p>ii) mantem vínculos com grupo criminoso (organização, associação ou milícia), considerando seu perfil, a função desempenhada no grupo, a atividade duradoura deste, a superveniência de novos processos e os resultados do tratamento penitenciário.</p><p>- Recolhimento em cela individual;</p><p>- Deverá haver acompanhamento psicológico. Deve-se observar a vedação de cela escura ou alojamentos inabitáveis ou insalubres (art. 45, §2º da LEP).</p><p>- Visitas quinzenais de 2 (duas) pessoas (inclusive crianças), por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com a duração de 2 (duas) horas;</p><p>Ressalte-se que anteriormente ao Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19) era permitida a visita semanal de 2 (duas) pessoas, sem contar as crianças. Todavia, esse direito foi restringido ainda mais, que agora prevê apenas visitas quinzenais.</p><p>Se a visita for de alguém de fora da relação familiar será necessária autorização judicial.</p><p>Conforme previsão expressa no §6º a visita será gravada e, mediante decisão judicial, fiscalizada pelo agente penitenciário.</p><p>A Lei Anticrime ainda trouxe um acréscimo no §7º ao prever que após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber esta visita poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com a pessoa de sua família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.</p><p>d) Direito do preso de sair da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com os presos do mesmo grupo criminoso.</p><p>e) Entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário.</p><p>Trata-se de inciso inserido pelo Pacote Anticrime e, portanto, mais uma medida que presta a garantir a segurança das unidades prisionais e da sociedade, de maneira a intensificar a vigilância sobre os presos que cumprem o regime diferenciado de pena.</p><p>f) Fiscalização do conteúdo da correspondência;</p><p>Muito embora o sigilo de correspondência seja uma garantia constitucional não se poderá admitir que essa cláusula de inviolabilidade epistolar constitua instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.</p><p>Desta forma o art. 41 da LEP já previa de forma expressa que o direito à comunicação com o mundo externo pode ser suspenso ou restringido por decisão da administração prisional, todavia, o referido artigo é silente em quais hipóteses esse sigilo pode ser violado.</p><p>Sendo assim, diante da expressa previsão agora constante no art. 52, da LEP, tem-se que a fiscalização de correspondência será expressamente permitida durante o cumprimento do RDD, pois é um regime mais rígido e tal possibilidade tem como objetivo principal isolar ou neutralizar o preso sancionado, restringindo drasticamente suas possibilidades de articulação intra ou entramuros.</p><p>g) Participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a participação do defensor no mesmo ambiente do preso.</p><p>Esta previsão inserida pela Lei Anticrime visa reduzir os deslocamentos do preso enclausurado e confere, notoriamente, uma maior celeridade ao processo que não deve ser vista como benéfica apenas para sociedade mas também e, principalmente, para o réu preso, que poderá ver sua situação rapidamente definida.</p><p>Verifica-se que a inserção do preso no regime disciplinar diferenciado depende de prévio e fundamentado despacho do juiz da execução competente, mediante requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa (exemplo: Secretário de Estado da Administração Penitenciária) - art. 54, LEP.</p><p>O Diretor do presídio poderá pedir a inclusão neste regime diferenciado somente após a decisão final do procedimento instaurado para apuração de falta disciplinar, onde decidirá pela natureza (leve, média ou grave) e a qualificação jurídica da falta com o escopo de também aplicar ao preso as sanções previstas no art. 53, da LEP.</p><p>Observe-se que embora o juiz tenha o prazo máximo de 15 (quinze) dias para decidir a respeito, a autoridade administrativa, em caso de urgência, poderá isolar o preso preventivamente, por até 10 (dez) dias, aguardando a decisão judicial.</p><p>Neste ponto do Regime Disciplinar Diferenciado Preventivo quando a autoridade administrativa determinar o isolamento cautelar, deverá comunicar, imediatamente, a autoridade judiciária, a qual irá ou não referendar a medida adotada preventivamente.</p><p>A decisão judicial sobre a inclusão de preso em regime disciplinar será precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de 15 (quinze) dias (LEP, art. 54, caput e §§1º e 2º) de modo a observar o contraditório e a ampla defesa.</p><p>Com a nova redação trazida ao artigo 57 da LEP, vislumbra-se que na aplicação de qualquer sanção disciplinar, deverá ser levada em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.</p><p>Ainda cumpre observar que o tempo de isolamento ou inclusão preventivo no regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar (art. 60, parágrafo único, LEP).</p><p>A severidade inconteste deste regime, infelizmente foi criado para atender às necessidades prementes de combate ao crime organizado e aos líderes de facções que, dentro dos presídios brasileiros, continuam a atuar na condução de negócios criminosos fora do cárcere, além de incitarem seus comparsas soltos à prática de atos delituosos graves de todos os tipos.</p><p>Diante da severidade imposta em tal regime (isolamento imposto de 22 horas por dia até 2 anos) muito se discute se esta afronta ou não o princípio constitucional da humanidade, visto ser vedado no brasil a existência de penas cruéis. Em contrapartida, há doutrinadores que defendem que a implementação do regime disciplinar diferenciado atende ao princípio da proporcionalidade, vez que busca dar efetividade à crescente necessidade de segurança nos estabelecimentos penais, bem como resguardar a ordem pública que vem sendo ameaçada por criminosos que, mesmo encarcerados, continuam comandando ou integrando facções criminosas que atuam no interior do sistema prisional liderando rebeliões que não raro culminam com fugas e mortes de reféns, agentes penitenciários e/ou outros detentos - e, também, no meio social.</p><p>QUESTÃO 1-Há mais de 30 dias, Laudicéia está submetida a regime disciplinar diferenciado sob a alegação de que seria responsável pela elaboração de plano de fuga e rebelião ocorrida no estabelecimento prisional em que cumpre pena. O procedimento foi determinado pelo Diretor do Presídio, em caráter excepcional, considerando que a apenada colocou em risco a vida de agentes penitenciários, motivo considerado suficiente para justificar a medida independentemente de manifestação judicial. Como advogado da condenada, apresente a medida judicial cabível.</p><p>RESPOSTA 1-EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA DAS EXECUÇÕES CRIMINAIS DA COMARCA DE X.</p><p>Execução n.º xxxx.xxxx.xxxx.xxxx</p><p>LAUDICÉIA, qualificada nos autos, presa e recolhida na Penitenciária X, em regime fechado, por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento</p><p>no art. 185 e 186 da Lei de Execução Penal, suscitar INCIDENTE DE DESVIO DE EXECUÇÃO, nos seguintes termos:</p><p>1. A requerente está submetida a regime disciplinar diferenciado sob a alegação de que seria responsável pela elaboração de plano de fuga e rebelião ocorrida no estabelecimento prisional em que cumpre pena.</p><p>2. O procedimento foi determinado pelo Diretor do Presídio, em caráter excepcional, considerando que a apenada colocou em risco a vida de agentes penitenciários, motivo considerado suficiente para justificar a medida independentemente de manifestação judicial.</p><p>2. Por outro lado, está sofrendo ameaças de agressão física por outros presos, em razão de sua condenação por delito contra a liberdade sexual, situação que é pública e notória nos presídios brasileiros.</p><p>3. Entretanto, nos termos do caput art. 54 da LEP, a inclusão no regime disciplinar diferenciado não pode ser determinada pelo Diretor do Presídio, pois depende de prévio e fundamento despacho do juiz competente.</p><p>4. Desta forma, a decisão do Diretor vai além do previsto nas normas legais, na medida em que até poderia, em caráter excepcional, decretar o isolamento preventivo da presa pelo prazo de até dez dias (art. 60 da LEP); mas, deveria apresentar requerimento circunstanciado ao juiz competente solicitando a inclusão da presa no regime disciplinar diferenciado (§ 1º do art. 54 da LEP) e, somente após autorização judicial, em regra, precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa (§ 2º do art. 54 da LEP), incluir a presa no RDD.</p><p>Ante o exposto, suscita o presente incidente para que os desvios de execução sejam corrigidos, apurando-se o alegado pelo peticionário e tomando-se as providências para sua transferência a estabelecimento que lhe possa assegurar o cumprimento da pena nos termos previstos em lei.</p><p>Termos em que,</p><p>Pede deferimento.</p><p>Local e Data</p><p>Advogado</p><p>OAB/UF</p><p>QUESTÃO 2-Com relação ao Regime Disciplinar Diferenciado, instituído pela Lei 10.792/2003, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa e despacho fundamentado da autoridade judicial competente”</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- Nos termos do art. 54, §1º da LEP.</p><p>AULA 03: DESVIO E EXCESSO DE EXECUÇÃO</p><p>A execução das penas e medidas de segurança está cercada por um conjunto de garantias que interessam ao indivíduo e à sociedade. Entre outras garantias, é de se destacar que a execução penal é regida pelo Princípio da Legalidade, de maneira que todos os atos que a envolvem devem obediência aos limites do título executivo judicial decorrente da sentença penal condenatória ou de absolvição imprópria, cujo consequência é a imposição da medida de segurança, conforme as disposições normativas que a informam.</p><p>Observe-se que a execução penal visa efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado ou do internado, aos quais serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela Lei.</p><p>Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci (2016, p. 587), a execução penal:</p><p>É, primordialmente, um processo de natureza jurisdicional, cuja finalidade é tornar efetiva a pretensão punitiva do Estado, envolvendo, ainda, atividade administrativa. [...] O entroncamento entre a atividade judicial e a administrativa ocorre porque o Judiciário é o órgão encarregado de proferir os comandos pertinentes à execução da pena, embora o efetivo cumprimento se dê em estabelecimentos administrados, custeados e sob a responsabilidade do Executivo. É certo que o juiz é o corregedor do presídio, mas a sua atividade fiscalizatória não supre o aspecto de autonomia administrativa plena de que gozam os estabelecimentos penais no País, bem como os hospitais de custódia e tratamento.</p><p>Consoante a Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal, pela própria natureza das atividades desenvolvidas dentro do processo executivo, é fácil concluir que, por vezes, poderão ocorrer excessos ou desvios na execução das penas ou medidas de segurança que consistem na prática de qualquer ato fora dos limites fixados pela sentença, por normas legais ou regulamentares.</p><p>Ainda conforme a Exposição de Motivos, o excesso ou desvio "caracterizam fenômenos aberrantes não apenas sob a perspectiva individualista do status jurídico do destinatário das penas e das medidas de segurança. Para muito além dos direitos, a normalidade do processo de execução é uma das exigências da defesa social".</p><p>Neste sentido, dispõe o artigo 185 da LEP que "haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além dos limites fixados na sentença, em normas legais ou regulamentares".</p><p>Cumpre ressaltar que, embora seja notório, a lei não faz diferença entre desvio e excesso. Distinção esta salutar que passaremos a abordar a seguir.</p><p>Excesso</p><p>Haverá excesso sempre que, na execução da pena ou medida de segurança, se constatar algo que vá além, que exceda ao decidido na sentença ou acórdão submetido à execução, de maneira que o excesso será sempre prejudicial, gravoso ao executado. Assim, o excesso é quantitativo em relação ao título que está sendo executado, pois vai além do que devia. Por exemplo: submeter o preso a regime mais rigoroso do que aquele a que tem direito em razão do fixado na sentença ou decisão que concedeu progressão; manter em cadeia pública ou estabelecimento inadequado aquele a que se impôs medida de segurança. Nucci (2016) exemplifica que "haveria excesso de execução se o condenado, sancionado administrativamente, pela direção do presídio, ficasse mais de trinta dias em isolamento".</p><p>Desvio</p><p>O desvio é a mudança no curso normal da execução. Diferentemente do excesso, o desvio se revela favorável qualitativamente ao executado. Ou seja, haverá desvio quando o condenado em regime fechado, é mantido em regime mais suave - aberto ou semiaberto - ou recebe benefícios descabidos, como a saída temporária ou o trabalho externo sem escolta.</p><p>Haverá desvio também se ao executado é concedido o beneficio da permissão de saída sem estrita observância das regras do art. 120 da LEP; ou, ainda, concessão de saída temporária além das hipóteses previstas no art. 122 da LEP, ou por prazo superior a sete dias, ou, ainda que observado esse limite, se for renovado o benefício por mais vezes durante o ano do que autoriza o art. 124 da LEP.</p><p>Nucci (2016) traz como exemplo de desvio de execução a hipótese de o sentenciado ser inserido em regime disciplinar diferenciado sem autorização judicial.</p><p>O incidente de desvio ou excesso de execução, consoante o previsto no art. 186 da LEP, poderá ser suscitado pelo Ministério Público, Conselho Penitenciário, sentenciado, Defensoria Pública ou qualquer órgão da execução penal (art. 61 da LEP). Ressaltando que o rol destes legitimados é taxativo, de maneira que não se admite, por exemplo, a instauração de incidente a pedido de assistente de acusação, cuja função se exaure com o trânsito em julgado da sentença condenatória.</p><p>Uma vez instaurado o incidente de excesso ou desvio de execução, ex officio, pelo juízo da execução, ou em razão de requerimento do sentenciado ou de um dos órgãos da execução penal, o procedimento deverá seguir os moldes dos arts. 194 e seguintes da LEP.</p><p>Da decisão proferida pelo juiz no incidente de excesso ou desvio caberá Agravo, a teor do disposto no art. 197 da LEP.</p><p>QUESTÃO 1-Leopoldina foi surpreendida utilizando aparelho telefônico dentro do estabelecimento prisional em que cumpre pena em regime fechado. Em razão disso, o Diretor do Presídio determinou seu isolamento por prazo indeterminado, como sanção pelo cometimento de falta grave. Como advogado da condenada, indique os argumentos para fundamentação de recurso.</p><p>RESPOSTA 1-O advogado deverá apresentar Incidente de Excesso de Execução (arts. 185 e 186 da LEP), vez que, nos termos do inciso VII do art. 50 da LEP, realmente comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que “tiver</p><p>em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo)”; entretanto, consoante previsto no art. 58 da LEP, o isolamento não pode exceder 30 dias, devendo ser sempre comunicado ao juiz da execução.</p><p>QUESTÃO 2-Sabendo que a execução penal tem por objetivo a eficácia da sentença condenatória, estando cercada por uma série de garantias ao condenado, é CORRETO afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2- O excesso ou desvio de execução caracterizam-se pela prática de algum ato além dos limites fixados na sentença, em normas legais ou regulamentares.</p><p>Fundamentação- nos termos do Art. 185 da LEP</p><p>AULA 04: MONITORAÇÃO ELETRÔNICA</p><p>A Lei nº 12.258/10 instituiu o monitoramento eletrônico no âmbito da execução penal (por ela denominado monitoração), alterando, desta forma, os dispositivos 122 e 124 e incluindo os artigos 146-B a 146-D.</p><p>A referida alteração constituiu um considerável avanço porquanto indispensável o enfrentamento da questão no âmbito executivo.</p><p>O Projeto que deu origem à Lei 12.258/10 tinha contornos mais amplos e buscava permitir o monitoramento eletrônico também em relação aos executados submetidos a regime aberto; penas restritivas de direito; livramento condicional e suspensão condicional da pena, mas, em razão dos vetos sofridos, vez que tal possibilidade iria ao encontro da sistemática de cumprimento de pena prevista no ordenamento jurídico brasileiro e, com isso, a necessária individualização, proporcionalidade e suficiência da execução penal, a lei que dele resultou passou a permitir o monitoramento apenas em relação àqueles beneficiados com saídas temporárias no regime aberto (arts. 122 a 125 c/c o art. 146-B, todos da LEP) e aos que se encontrarem em prisão domiciliar (arts. 117 c/c art. 146-B, IV, ambos da LEP).</p><p>A utilização do monitoramento eletrônico não pode ser considerada uma obrigação a ser, sempre, considerada pelo magistrado, para todos os casos viáveis. A situação concreta do sentenciado, a espécie do benefício pleiteado, o grau de confiabilidade do beneficiário e a estrutura de fiscalização da Vara de Execuções Criminais podem ser fatores determinantes para indicação de um monitoramento ou não.</p><p>Nos termos do art. 146-B da Lei de Execução Penal, autoridade competente para definir a fiscalização por meio de monitoramento eletrônico é somente a judiciária, ou seja, somente o Juiz ou o Tribunal. Desta foram, a autoridade administrativa (diretor do estabelecimento prisional, secretário de segurança pública, secretário de justiça, secretário de administração penitenciária, por exemplo) não pode imiscuir-se nesse tema.</p><p>Observe-se que, nos termos do art. 146-C, caput, da Lei de Execução Penal, o condenado será submetido à uma audiência de advertência será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico e de seus deveres, com vistas a garantir a eficácia da medida. Tudo será submetido a termo e assinado pelo Juiz, pelo representante do Ministério Público, a quem compete a fiscalização em todos os termos (art. 67 da LEP), pelo executado e seu defensor, que deverão estar presentes no ato judicial.</p><p>O monitoramento será acompanhado de visitas e orientações periódicas que serão realizadas e passadas por profissionais ligados ao Juízo da Vara das Execuções Criminais, sempre visando a efetividade da medida. Referidas visitas terão por escopo constatar as condições pessoais que se encontra o executado durante o monitoramento, efetivando as orientações que entender pertinentes, de tudo fazendo minucioso relatório que será encaminhado ao juízo incumbido do processo de execução respectivo, para preenchimento e eventuais providências.</p><p>Ressalte-se que no parágrafo único do art. 146-C da Lei de Execução Penal dispõe que a violação comprovada dos deveres nele previstos poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa: 1º) a regressão do regime; 2º) a revogação da autorização de saída temporária; 3º ) a revogação da prisão domiciliar; 4º) advertência, por escrito, em audiência onde o juiz colherá suas explicações, para todos os casos em que o juiz da execução decida não aplicar alguma das medidas anteriormente mencionadas.</p><p>No art. 146 - D da LEP, há duas hipóteses de revogação do benefício, uma positiva e outra negativa. Sob o aspecto positivo o monitoramento se torna desnecessário ou inadequado, demonstrando ter o sentenciado assumido um comportamento tão diligente e responsável que a vigilância indireta se torna inútil. Sob o aspecto negativo, revoga-se o benefício o benefício se forem violados os deveres do sentenciado durante a sua utilização. Neste caso, a retirada do aparelho normalmente implica em medidas mais radicais como, por exemplo, regressão de regime ou proibição de saídas temporárias.</p><p>Importante ainda trazer à baila o decreto nº 7.627, de 24 de novembro de 2011, que regulamenta a monitoração eletrônica de pessoas prevista no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal.</p><p>Segundo o referido decreto, considera-se monitoração eletrônica a vigilância telemática posicional à distância de pessoas presas sob medida cautelar ou condenadas por sentença transitada em julgado, executada por meios técnicos que permitam indicar a sua localização (art. 2º), sendo que a pessoa monitorada deverá receber documento no qual constem, de forma clara e expressa, seus direitos e os deveres a que estará sujeita, o período de vigilância e os procedimentos a serem observados durante a monitoração (art. 3º).</p><p>Ainda segundo o decreto (art.4º), compete aos órgãos de gestão penitenciária a administração, execução e controle da monitoração eletrônica, devendo:</p><p>a) Verificar o cumprimento dos deveres legais e das condições especificadas na decisão judicial que autorizar a monitoração eletrônica;</p><p>b) Encaminhar relatório circunstanciado sobre a pessoa monitorada ao juiz competente na periodicidade estabelecida ou, a qualquer momento, quando por este determinado ou quando as circunstâncias assim o exigirem;</p><p>c) Adequar e manter programas e equipes multiprofissionais de acompanhamento e apoio à pessoa monitorada condenada;</p><p>d) Orientar a pessoa monitorada no cumprimento de suas obrigações e auxiliá-la na reintegração social, se for o caso; e</p><p>e) Comunicar, imediatamente, ao juiz competente sobre fato que possa dar causa à revogação da medida ou modificação de suas condições.</p><p>De mais a mais, o equipamento de monitoração eletrônica deverá ser utilizado de modo a respeitar a integridade física, moral e social da pessoa monitorada (art. 5º). O sistema de monitoramento será estruturado de modo a preservar o sigilo dos dados e das informações da pessoa monitorada (art. 6º), sendo certo que o acesso aos dados e informações da pessoa monitorada ficará restrito aos servidores expressamente autorizados que tenham necessidade de conhecê-los em virtude de suas atribuições (art. 7º).</p><p>QUESTÃO 1-Foi concedido a Otávio o benefício de saída temporária no regime semiaberto. Entretanto, o Juiz determinou a fiscalização por meio de monitoração eletrônica. Ocorre que o condenado não respondeu aos contatos do servidor responsável pelo monitoramento e danificou o dispositivo eletrônico. O juiz da execução determinou a revogação da saída temporária e a regressão para o regime fechado. Como advogado responsável pelo caso, indique a medida e o argumento cabíveis.</p><p>RESPOSTA 1-O advogado deverá apresentar Incidente de Excesso de Execução (arts. 185 e 186 da LEP), vez que, o Magistrado aplicou dupla punição ao condenado ao revogar a saída temporária e regredir o regime para o fechado.</p><p>QUESTÃO 2-Introduzido pela Lei nº 12.258/2010, o monitoramento eletrônico instituiu-se como uma forma de vigilância indireta do condenado. De acordo com a Lei de Execução Penal, analise os itens a seguir:</p><p>I - o Juiz poderá determinar o monitoramento eletrônico quando autorizar a saída temporária em regime semiaberto ou quando determinar a prisão domiciliar;</p><p>II - definida a fiscalização por meio da monitoração eletrônica, é dever</p><p>Importante lembrar que a tipificação prevista no art. 138, § 2º, do Código Penal4, não impõe ao morto a condição de sujeito passivo do crime, figuram nesta condição seus familiares, que buscam zelar pelo respeito à sua memória.</p><p>b) Figurar como sujeito ativo e sujeito passivo a mesma pessoa, analisando-se uma única conduta.</p><p>Não é possível a prática de um crime contra si próprio. Para que fosse possível seria necessário que o ordenamento punisse a autolesão. Com base no princípio da alteridade, não será penalmente relevante a conduta que causar mal apenas ao agente que a praticou.</p><p>Devemos ter cautela com alguns tipos penais que aparentam se encaixar no princípio apontado, mas possuem sujeito passivo diverso do autor da conduta delituosa. Isto ocorre, por exemplo, no crime de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro (art. 171, § 2º, inciso V, do Código Penal), onde apesar de o agente atacar seu próprio patrimônio ou a própria saúde, a vítima é a seguradora que este pretendo enganar.</p><p>OBJETOS DO CRIME</p><p>Objeto do crime é o bem ou o objeto contra qual se dirige a prática criminosa. Pode ser dividido em objeto jurídico e objeto material:</p><p>Objeto material - É a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. (Ex.: No homicídio, é pessoa que sofre a conduta criminosa).</p><p>Objeto jurídico - É o interesse ou valor protegido pela norma penal. (Ex. No homicídio, é a vida humana).</p><p>QUESTÃO 1-Confira o texto extraído do informativo nº 713 do STF (5 a 9 de agosto de 2013), e responda à questão abaixo:</p><p>“CRIME AMBIENTAL: ABSOLVIÇÃO DE PESSOA FÍSICA E RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOA JURÍDICA.</p><p>É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma, por maioria, conheceu, em parte, de recurso extraordinário e, nessa parte, deu-lhe provimento para cassar o acórdão recorrido. Neste, a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas (Lei 9.605/98, art. 54) teria sido excluída e, por isso, trancada a ação penal relativamente à pessoa jurídica. Em preliminar, a Turma, por maioria, decidiu não apreciar a prescrição da ação penal, porquanto ausentes elementos para sua aferição. Pontuou-se que o presente recurso originara-se de mandado de segurança impetrado para trancar ação penal em face de responsabilização, por crime ambiental, de pessoa jurídica. Enfatizou-se que a problemática da prescrição não estaria em debate, e apenas fora aventada em razão da demora no julgamento. Assinalou-se que caberia ao magistrado, nos autos da ação penal, pronunciar-se sobre essa questão. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que reconheciam a prescrição. O Min. Marco Aurélio considerava a data do recebimento da denúncia como fator interruptivo da prescrição. Destacava que não poderia interpretar a norma de modo a prejudicar aquele a quem visaria beneficiar. Consignava que a lei não exigiria a publicação da denúncia, apenas o seu recebimento e, quer considerada a data de seu recebimento ou de sua devolução ao cartório, a prescrição já teria incidido. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013. (RE-548181)”.</p><p>Discorra sobre o fundamento que possibilita a imputação concomitante de responsabilidade criminal à pessoa jurídica e à pessoa física coautora ou partícipe do crime.</p><p>RESPOSTA 1-É necessário pontuar que o reconhecimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica não afasta, por si só, a responsabilidade da pessoa física coautora ou partícipe da conduta criminosa.</p><p>Isto é possível através do denominado sistema paralelo de imputação (teoria da dupla imputação), disposto no art. 3º, parágrafo único, da Lei n. 9.605/1988.</p><p>Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.</p><p>Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.</p><p>Porém, a condenação da pessoa jurídica não acarretará automaticamente a sanção da pessoa física. Será necessário se demonstrar nos autos do processo provas robustas acerca da autoria e materialidade, determinando quais agentes concorreram para prática da conduta delituosa.</p><p>Deste modo, é plenamente possível o cenário onde a pessoa física reste absolvida e, simultaneamente, reste condenada a pessoa jurídica.</p><p>QUESTÃO 2-É possível que a mesma pessoa figure, simultaneamente, como sujeito ativo e passivo do mesmo crime?</p><p>RESPOSTA 2-não, não é punida a autolesão pelo ordenamento pátrio.</p><p>Fundamentação: não é possível a prática de um crime contra si próprio. Para que fosse possível seria necessário que o ordenamento punisse a autolesão. Com base no princípio da alteridade, não será penalmente relevante a conduta que causar mal apenas ao agente que a praticou.</p><p>TEMA 2- CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES I</p><p>AULA 1- CRIMES COMUNS E PRÓPRIOS</p><p>RESUMO:</p><p>A divisão de crimes entre comuns e próprios está relacionada ao agente provocador do delito.</p><p>Importante apresentar o conceito de cada um deles:</p><p>a) Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa. A lei não exige nenhum requisito especial do agente delitivo para a prática da infração penal.</p><p>Qualquer pessoa pode roubar, matar, estuprar.</p><p>Não se exige qualidade especial do criminoso para que possa praticar tais delitos. Como acontece, por exemplo, com o médico, o funcionário público, a mãe etc.</p><p>b) Crime próprio: só pode ser cometido por determinada pessoa ou categoria de pessoas, como o infanticídio (só a mãe pode ser autora) e os crimes contra a Administração Pública (só o funcionário público pode ser autor).</p><p>Admite a autoria mediata, a participação e a coautoria.</p><p>IMPORTANTE: as circunstâncias de caráter pessoal não se comunicam, salvo quando elementares do crime.</p><p>c) Crime de mão própria (de atuação pessoal ou de conduta infungível): só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa, como o delito de falso testemunho (art. 342).</p><p>Somente admite o concurso de agentes na modalidade participação, uma vez que não se pode delegar a outrem a execução do crime.</p><p>Ex: advogado que orienta a testemunha para que oculte a verdade durante seu depoimento em juízo.</p><p>QUESTÃO 1-Xirley, advogada de renome em sua cidade, pediu a sua absolvição criminal alegando que, mesmo que tivesse orientado a testemunha a mentir, não poderia ser responsabilizada pelo crime de falso testemunho por ser esse crime de mão própria, logo, não admitiria coautoria.</p><p>Agiu certo a causídica? Fundamente a sua resposta.</p><p>RESPOSTA 1-Não, não agiu certo a advogada.</p><p>De acordo com a jurisprudência vigente dos tribunais superiores, apesar da impossibilidade de ser coautora em crimes de mão própria, o crime de falso testemunho admite a responsabilização na modalidade de participação.</p><p>Veja o julgado abaixo:</p><p>“Sem embargo de o crime de falso testemunho ser próprio ou de mão própria, no sentido de ter o autor de praticá-lo pessoalmente, admite-se o concurso de pessoas na modalidade participação (induzimento, instigação ou auxílio), conduta cometida por Bruno, a qual, desta forma, reveste-se de tipicidade. Da leitura do excerto transcrito, verifica-se que o acórdão recorrido se alinha ao entendimento assente por esta Corte Superior sobre a matéria, no sentido de que apesar do crime de falso testemunho ser de mão própria, pode haver a participação do advogado no seu cometimento. “Processo REsp 1072871 SP 2017/0066804-5 - PublicaçãoDJ 31/05/2017 Relator Ministro JORGE MUSSI).”.</p><p>QUESTÃO 2-Aponte a única alternativa na qual todas as quatro classificações são apropriadas ao delito definido no art. 269, do CP – Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória.</p><p>RESPOSTA 2-Crime omissivo puro, crime próprio, norma penal em branco e crime de mera conduta.</p><p>Fundamentação:</p><p>do condenado receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, assim como responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;</p><p>III - a violação comprovada dos deveres do condenado decorrentes da monitoração eletrônica acarretará necessariamente a regressão do regime de cumprimento de pena;</p><p>IV - a monitoração eletrônica poderá ser revogada quando se tornar desnecessária ou inadequada ou se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante a sua vigência ou cometer falta grave;</p><p>V - O juiz poderá determinar o monitoramento eletrônico no caso de concessão de livramento condicional ou suspensão condicional da pena, bem como se aplicar penal a ser cumprida nos regimes aberto ou semiaberto, ou conceder progressão para tais regimes.</p><p>Considerando as disposições da LEP, está CORRETO apenas o que se afirma em:</p><p>RESPOSTA 2- I, II, e IV</p><p>Fundamentação- nos termos dos arts. 146-B a 146-D da LEP.</p><p>TEMA 08- PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO</p><p>AULA 1- CONCEITOS E REQUISITOS</p><p>RESUMO:</p><p>Conceito</p><p>As penas restritivas de direito estão previstas em rol taxativo (art. 43 do Código Penal) e, nos moldes estipulados pelo art. 44 do Código Penal, são autônomas e substituem as privativas de liberdade.</p><p>Destarte, de plano, destacam-se como características:</p><p>· alternatividade = posto tratar de opção distinta ao cárcere, assim configurando alternativa de cumprimento de pena ao sentenciado, sem que este seja submetido a privação de sua liberdade;</p><p>· substituição = visto decorrerem de permuta conferida em relação a pena privativa de liberdade, originalmente imposta pela sentença condenatória;</p><p>· autonomia = porquanto uma vez permutadas, subsistem por si só, independentemente da pena originalmente conferida, portanto, sujeitas a execução de forma própria e dissociada da pena privativa.</p><p>Conforme se denota, malgrado condenado a uma reprimenda privativa de liberdade, poderá o sentenciado ser favorecido com a substituição da pena originalmente imposta, a depender do preenchimento de determinados requisitos, assim culminando na supressão ou limitação de determinado direito, por prazo semelhante àquele inicialmente estabelecido pela sentença.</p><p>Como tal, possui natureza jurídica de benefício penal, não sendo mera faculdade do magistrado, mas direito do sentenciado que atender aos requisitos legais.</p><p>Obs: não obstante ao caráter substitutivo, há previsão de aplicação cumulativa das penas restritivas de direito com a privativa de liberdade, senão vejamos:</p><p>Art. 292 CTB - A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades</p><p>Art. 302 CTB - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.</p><p>No mesmo passo, oportuno salientar que, recentemente, após a edição da atual Lei de Tóxicos (11.343/06), também restou contemplada a hipótese da aplicação direta da reprimenda restritiva, sem a necessidade de qualquer substituição, em face dos condenados por porte de drogas para consumo próprio:</p><p>Art. 28 da Lei nº 11.343/06</p><p>(...)</p><p>II - prestação de serviços à comunidade.</p><p>Requisitos</p><p>Estabelecidos pelo art. 44 do Código Penal, os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos se dividem em:</p><p>· Objetivos: relativos a pena/crime perpetrado.</p><p>- Penas privativas não superiores a 4 anos*;</p><p>- Crimes não cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;</p><p>- Para delitos culposos, qualquer que seja o montante de pena; e</p><p>- Durante a execução, aos que estiverem em regime aberto e resgatarem ao menos ¼ da pena, não sendo o saldo superior a 2 anos (art. 180 da LEP)</p><p>· Subjetivos: referente a pessoa do condenado.</p><p>- Não ser reincidente em doloso, salvo quando socialmente recomendável (mínima reprovabilidade da conduta e ausência de periculosidade) e a reincidência não for específica (MESMO CRIME - §3º, art. 44);</p><p>- Condições pessoais favoráveis (culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade).</p><p>*Obs: em tese, nada impede a substituição de pena privativa em caso de condenação decorrente de crimes hediondos, assim como ocorria na situação de sujeitos sentenciados por tráfico de drogas na forma privilegiada (art. 33, §4º da Lei 11.343/06), cuja pena reduzida pode chegar ao montante de 1 ano e 8 meses de reclusão. Contudo, após o julgamento do HC 118.533 pelo STF, foi afastada a hediondez dessa figura, inexistindo, atualmente, outro tipo hediondo passível de substituição, pois suas penas mínimas ultrapassam o limite de 4 anos.</p><p>Fixação e Prescrição executória</p><p>Uma vez atendidos os requisitos estipulados, a fixação das penas restritivas de direitos deve seguir o disposto no art. 44, §2º, do Código Penal, cuja fórmula resulta:</p><p>· Até 1 ano = aplica-se 1 restritiva OU multa;</p><p>· Mais de 1 ano = aplicam-se 2 restritas OU 1 restritiva + multa.</p><p>Uma vez fixada a substituição, a prescrição executória é interrompida (pois tem como marco inicial de contagem o trânsito em julgado da condenação para o Ministério Público) somente a partir do momento em que o beneficiário efetivamente iniciar o resgate da reprimenda, conforme disciplina o art. 117, V do CP: pelo início ou continuação do cumprimento da pena.</p><p>Portanto, não basta, por exemplo, o mero comparecimento do sentenciado a central de penas alternativas (providência adotada, mediante a qual é retirado o ofício de encaminhamento à unidade para a qual foi o sujeito designado), pois a prescrição só reinicia a partir do momento em que começar a executar a reprimenda.</p><p>Em plena sintonia, estabelece a LEP:</p><p>a) para prestação de serviços a comunidade - art. 149, § 2º = A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento;</p><p>b) para a limitação de final de semana - art. 151, Parágrafo único = A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento.</p><p>Reconversão</p><p>O benefício da substituição pode ser afastado, sendo a pena substitutiva reconvertida em privativa de liberdade, nas seguintes hipóteses:</p><p>Art. 44, § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta - mesma situação disciplinada pelo art. 181 da LEP.</p><p>Art. 44, § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior - reconversão somente ocorre quando incompatível o cumprimento simultâneo da substitutiva com a nova reprimenda.</p><p>Em quaisquer dos casos, a reconversão implicará no desconto do cômputo da quantidade já resgatada pelo sentenciado, respeitando-se o mínimo de 30 dias (ex: caso faltem apenas 10 dias de cumprimento, deverá o sentenciado resgatar 20 dias adicionais, perfazendo o mínimo de 30 dias)</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR:</p><p>"A execução antecipada da pena, permitida pelo Supremo Tribunal Federal, não vale para penas restritivas de direito. A decisão é da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná ao conceder Habeas Corpus a um homem condenado pelo crime de concussão.</p><p>Inicialmente condenado a 3 anos de prisão em regime aberto, o homem teve sua pena privativa de liberdade substituída por duas restritivas de direitos: prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária. Mantida a condenação em segundo grau, foi determinada a execução antecipada da pena, com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal que passou a permitir a execução da pena antes do trânsito em julgado.</p><p>Contra esta decisão, a defesa do réu ingressou com Habeas Corpus no TJ-PR alegando que o entendimento do Supremo é válido apenas para penas privativas de liberdade, e não para restritivas de direitos, que possui regramento próprio e exige o trânsito em julgado para sua execução. A defesa foi feita pelos advogados Adriano Bretas, André Pontarolli, Tracy Reinaldet e Matteus Macedo, do Bretas Advogados. (...)".</p><p>Para a íntegra do texto, segue link</p><p>abaixo:</p><p>Execução antecipada não se aplica a pena restritiva de direito, diz TJ-PR</p><p>QUESTÃO 1-Admite-se a execução provisória de pena restritiva?</p><p>RESPOSTA 1-Não se admite a execução provisória de pena restritiva, pois o art. 147 da LEP demanda o trânsito, senão vejamos:</p><p>Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.</p><p>No mesmo sentido, oportuno colacionar o entendimento jurisprudencial:</p><p>EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO. ART. 147 DA LEP. IMPOSSIBILIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. Segundo a jurisprudência da Quinta Turma desta Corte, não há falar em execução provisória de pena restritiva de direitos, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, tendo em vista que encontra-se em pleno vigor o art. 147 da LEP. (STJ, HC 389.676/SC, rel. Ribeiro Dantas, 04/04/2017).</p><p>QUESTÃO 2-São requisitos para a substituição por restritiva de direitos, exceto:</p><p>RESPOSTA 2- não ser o sujeito reincidente específico em culposo;</p><p>Fundamentação: não pode o sujeito ser reincidente específico em dolosos, de acordo com o art. 44, §3º do CP.</p><p>AULA 2- Prestação de serviços a comunidade</p><p>RESUMO:</p><p>Conceito</p><p>A prestação de serviços à comunidade é espécie de pena restritiva de direito prevista no art. 46, §1º, do Código Penal, segundo o qual:</p><p>A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.</p><p>Tal modalidade consiste no desempenho de determinadas atividades de forma não remunerada pelo sentenciando, diferindo, portanto, do trabalho do preso, o qual exige contraprestação sob a forma de pagamento de quantia não inferior a ¾ do salário mínimo (art. 29 da LEP). Ademais, no mesmo sentido rege o art. 30 da Lei de Execuções, senão vejamos:</p><p>As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas.</p><p>Em verdade, seria ilógico pensar em remuneração pela prestação do serviço, porquanto garantiria que os infratores auferissem renda mediante sua própria punição. Nota-se, pois, que eventual remuneração transformaria a prestação de serviços em mera relação de troca, entre o prestador e o tomador do serviço, portanto combalindo o caráter de sanção penal.</p><p>Com efeito, possível depreender que o objetivo da prestação de serviços é a edificação de novos valores pelo sentenciado, ante a obrigação de efetuar tarefas de cunho assistencial, desprovidas de contraprestação, cujos resultados se revertem em prol da sociedade, em última análise, prejudicada com a prática da infração penal.</p><p>Tal intenção resta acentuada pela disposição do art. 46, § 2o, ao prever que a prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais, mostra inequívoca do caráter social da atividade prestada.</p><p>Não obstante, também oportuno ressaltar que, diferentemente do trabalho do preso, a prestação de serviços não enseja a remição de pena, visto tratar da própria reprimenda a ser resgatada pelo sentenciado.</p><p>Fixação e Prescrição executória</p><p>Além dos requisitos estipulados pelo art. 44 do Código Penal - já estudados em aula anterior - a prestação de serviços exige como condição objetiva que a pena privativa originária seja superior a 6 meses, de acordo com a previsão expressa do caput do art. 46, in verbis:</p><p>A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.</p><p>Como tal, sendo a reprimenda originária inferior a 6 meses, em respeito a fórmula estabelecida pelo art. 44, §2º do CP, poderá ser fixada somente a multa ou uma das demais penas restritivas de direito, desde que distintas da prestação de serviços.</p><p>Atendidos os requisitos, a prestação será fixada de acordo com o §3º, do art. 46, da seguinte forma:</p><p>· As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do condenado - em respeito a individualização da pena;</p><p>· Cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho - obviamente não podem inviabilizar o desempenho do sentenciado em seu emprego, comprometendo sua fonte de subsistência, motivo pelo qual, são fixadas apenas 7 horas semanais1.</p><p>Vale lembrar que, conforme estudado em aula anterior, a prescrição executória interrompe-se somente a partir do momento de efetivo início do resgate da reprimenda (vide art. 117, V do CP) pelo sentenciado e, especificamente no caso da prestação, de acordo com o art. 149, § 2º, da LEP, terá início a partir da data do primeiro comparecimento, ao posto de trabalho, portanto, não bastando a mera retirada do ofício de encaminhamento, perante a central de penas alternativas.</p><p>Crimes de Trânsito</p><p>Especificamente nos casos de crime de trânsito, o juiz deve necessariamente fixar a prestação de serviços, ainda que cumulada com outra (quando a pena privativa superar 1 ano), a ser cumprida perante entidades voltadas ao socorro de acidentes de trânsito.</p><p>Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, esta deverá ser de</p><p>Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, em uma das seguintes atividades:</p><p>I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e em outras unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito;</p><p>II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que recebem vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados;</p><p>III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de acidentados de trânsito;</p><p>IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de vítimas de acidentes de trânsito.</p><p>Reconversão</p><p>A prestação de serviços pode ser afastada, sendo a pena substitutiva reconvertida em privativa de liberdade, nas hipóteses previstas no art. 181, §1º da LEP, as quais sejam:</p><p>a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital - evidencia a intenção em frustrar a reprimenda e, a depender da situação, também enseja o reconhecimento de falta grave (art. 51, I da LEP);</p><p>b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço - igualmente configura forma de se furtar à prestação, também permitindo o reconhecimento de falta disciplinar (art. 51, II da LEP);</p><p>c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto - por si só já configura falta grave prevista no art. 51 III da LEP (por desrespeitar o art. 39, V do mesmo codéx);</p><p>d) praticar falta grave - indicativo de que não está assimilando a terapêutica penal, merecendo, portanto, recrudescimento de sua reprimenda;</p><p>e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa - situação semelhante àquela estipulada pelo art. 44, §5º do CP, por tornar o cumprimento simultâneo incompatível.</p><p>Em quaisquer dos casos, a reconversão implicará no desconto do cômputo da quantidade já resgatada pelo sentenciado, respeitando-se o mínimo de 30 dias, de acordo com o art. 44, §4º do CP.</p><p>Antecipação</p><p>É facultado ao sentenciado antecipar o cumprimento da prestação de serviços à comunidade, desde que atendidas as condições estipuladas pelo art. 46, §4º do CP:</p><p>· A pena substituída for superior a um ano - portanto, vedada para penas entre 6 meses e 1 ano; e</p><p>· Em menor tempo nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada - somente é admitida a antecipação por prazo máximo semelhante a metade da pena (sendo a prestação de 2 anos, somente poderá ser antecipada em 1 ano).</p><p>Obs.: no caso de detração (desconto do período de detenção provisória),</p><p>o cálculo deve ser feito primeiramente em relação a pena privativa e, em seguida, substituir-se esse saldo pela prestação de serviços, não se podendo descontar a quantidade de horas de detenção provisória, da quantidade de horas de prestação de serviços - vide acordão juntado na leitura complementar.</p><p>EITURA COMPLEMENTAR:</p><p>"O sistema penitenciário no Brasil cada ano que passa demonstra o grande déficit quando se trata de pena de detenção, com condições subumanas e deletérias à saúde física e psíquica dos reclusos. As Penas alternativas surgem como uma solução para desinchar este sistema e apresentar aos autores de crimes de menor potencial ofensivo como: lesões corporais leves, desacatos, furtos, ameaças, crimes ambientais, crimes de trânsito, entre outros, uma forma de cumprir a pena de forma saudável e ressocializadora, com o principal objetivo de refletir e contribuir para uma sociedade mais justa. As penas alternativas também se aplicam às penas de dois até quatro anos de reclusão. As alternativas penais apresentam maior eficácia quanto aos cumprimentos, além de serem menos onerosas aos cofres públicos.. (...)".</p><p>Para a íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE: EFICIÊNCIA DA ALTERNATIVA PENAL</p><p>QUESTÃO 1-Dimitrius Fraga foi condenado às penas de 3 de meses de detenção, em regime aberto, e declarado como incurso no art. 129, § 9º, do Código Penal, substituída por prestação de serviços à comunidade, em igual prazo, porquanto teria ofendido a integridade física de sua ex- amasia, Karine Barbacoa, mediante socos e empurrões.</p><p>Considerando que a sentença publicada na data de ontem, como agiria na qualidade de advogado de Dimitrius?</p><p>RESPOSTA 1-O advogado deve interpor recurso de apelação e requerer a alteração da espécie de pena substitutiva para uma das modalidades previstas nos incisos III, V ou VI do art. 44, do Código Penal, visto não ser possível a prestação de serviços para penas inferiores a 6 meses, tampouco pagamento isolado (de multa, prestação pecuniária ou perda de bens) em casos de violência doméstica.</p><p>QUESTÃO 2-Quanto a prestação de serviços à comunidade é correto dizer:</p><p>RESPOSTA 2- somente pode ser antecipada para penas superiores a 1 ano;</p><p>Fundamentação: de acordo com o art. 46, §4º do CP.</p><p>AULA 3- PERDA DE BENS E VALORES E PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA</p><p>RESUMO:</p><p>Perda de Bens e Valores</p><p>A perda de bens e valores é espécie de pena restritiva de direito prevista no art. 45, §3º, do Código Penal, segundo o qual:</p><p>A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime.</p><p>Conforme se denota, tal reprimenda implica no perdimento de patrimônio constituído licitamente pelo sentenciado, em favor do Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN, em montante equivalente ao prejuízo ou ao lucro auferido mediante a infração perpetrada.</p><p>De plano, oportuno distinguir esta reprimenda da figura do confisco, disciplinada pelo art. 91, II, do Código Penal, o qual recai sobre os bens de origem ilícita (instrumentos, produtos ou proveito do crime), como efeito decorrente da condenação penal. Como tal, diferentemente da perda de bens e valores, o confisco não é reprimenda substitutiva, mas simples efeito da sentença condenatória.</p><p>Art. 91 - São efeitos da condenação:</p><p>II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:</p><p>a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;</p><p>b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.</p><p>Producente, também, distinguir a perda de bens e valores, das medidas assecuratórias previstas em nosso ordenamento (art. 125 e ss. do CPP), as quais visam a garantir a concretização futura de penas (pecuniária, de multa, indenização à vítima e a própria perda de bens e valores), bem como combalir o lucro por parte do infrator (retirando-lhe aquilo o que obteve com a prática criminosa, seja produto ou proveito):</p><p>a) Apreensão = voltada ao produto do crime (ex: apreensão de jóias subtraídas - art. 240 CPP);</p><p>b) Sequestro = voltada aos proveitos do crime, sejam eles bens móveis ou imóveis (ex.: sequestro de triplex/veículo adquirido com o dinheiro subtraído de um banco - art. 125 CPP);</p><p>c) Hipoteca Legal = incide sobre bem imóvel obtido licitamente, tornando-o indisponível (ex: hipoteca de apartamento de veraneio de propriedade do infrator);</p><p>d) Arresto = incide sobre bem móvel obtido licitamente (ex: arresto de art. 137 CPP).</p><p>Em síntese, as medidas assecuratórias de apreensão e sequestro têm como objeto bens ilícitos (produto ou proveito do crime), ao seu turno, sujeitas ao confisco, enquanto as medidas de arresto e hipoteca legal recaem sobre bens lícitos, por sua vez, suscetíveis de serem revertidos para o adimplemento da pena de perda de bens e valores.</p><p>Portanto, conforme se denota, esta modalidade de pena restritiva tem como objetivo punir o sentenciado mediante a decretação de perda de parte de seu patrimônio, frise-se, conquistado licitamente, em montante equivalente ao prejuízo por ele ocasionado ou o lucro que tenha auferido em razão da infração perpetrada.</p><p>Prestação Pecuniária</p><p>A prestação pecuniária é espécie de pena restritiva de direito prevista no art. 45, §1º, do Código Penal, segundo o qual:</p><p>§1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.</p><p>Tal modalidade consiste no adimplemento de determinado valor, em espécie, à vítima ou seus sucessores e, na sua falta, em favor de entidade assistencial, cuja quantia é fixada pelo magistrado em salários-mínimos, no montante mínimo de 1 e máximo de 360.</p><p>Natureza Jurídica = esta reprimenda tem autêntica natureza despenalizadora1, em razão do nítido cunho de antecipação civil - o que vem a ser reforçado pela parte final do artigo, no qual está expressamente previsto que o valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil -, se assim efetuada em favor da vítima/dependentes, justamente por se equiparar ao prejuízo por estas experimentado, representando, em última análise, tão somente o mero ressarcimento/reparação, pelo sentenciado, daquilo o que tenha ocasionado. Contudo, não se olvide que a reparação do dano é, igualmente, efeito lógico, decorrente da sentença condenatória penal, nos moldes disciplinados pelo art. 91, I, do Código Penal, in verbis:</p><p>São efeitos da condenação:</p><p>I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime</p><p>Destrate, sendo a indenização providência inerente ao próprio édito condenatório, a prestação pecuniária nada mais representa que a despenalização, mesmo indiretamente, operada pelo magistrado em benefício do sentenciado.</p><p>Por outro lado, o mesmo não se pode dizer quando fixada em favor de entidade assistencial, posto tratar pessoa alheia aos prejuízos ocasionados pelo condenado, portanto, distante de conotação civil.</p><p>Fixação = de acordo com o estipulado pelo art. 45, §1º, do Código Penal, a prestação pecuniária deve ser estabelecida em montante equivalente ao prejuízo (frise-se, por ser descontada de indenização civil), o que implica reconhecer a irrelevância da capacidade financeira do sentenciado, para a fixação desta reprimenda. Com efeito, diferentemente do que ocorre com as penas de multa, não há que se considerar eventual situação econômica do réu, para se estipular o montante da prestação, pois, como afirmando, tal reprimenda guarda relação de proporcionalidade</p><p>com o dano perpetrado.</p><p>Cestas Básicas = não foi contemplada pela lei a hipótese de fixação, tampouco conversão, do pagamento de prestação pecuniária sob a forma de entrega de cestas básica. Trata de criação jurisprudencial, maciçamente adotada pelos magistrados em geral, mediante a qual o sentenciado se submete a fornecer, em favor de entidades assistenciais, determinado número de cestas alimentícias. Não por menos, a própria Lei Maria da Penha (11.340/06) foi expressa ao dispor:</p><p>Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa</p><p>Contudo, em verdade, tal situação além de ilógica (não há qualquer fundamento palpável que justifique a entrega de cesta básica no lugar de dinheiro, pois o valor monetário há de ser semelhante), ofende a legalidade, visto permitir a criação de penalidade distinta daquela estipulada em lei.</p><p>Nesse sentido, inclusive por semelhantes razões, revela-se inconstitucional a denominada "prestação de outra natureza" (prevista no at. 45, §2º, do CP), ante a evidente afronta ao preceituado pela legalidade, cuja regra impõe "não há pena sem prévia cominação legal".</p><p>Reconversão</p><p>A perda de bens e valores e a prestação pecuniária podem ser afastadas em caso de descumprimento - leia-se, caso o sentenciado não entregue o bem ou deixe de arcar com o pagamento da prestação -, sendo a pena substitutiva reconvertida em privativa de liberdade.</p><p>Entretanto, há de se ressaltar que, não se cumprindo a reprimenda por impossibilidade devidamente demonstrada (como o perecimento do bem ou dificuldade financeira), pode o magistrado readequar sua forma, em analogia ao previsto pelo art. 148 da LEP, in litteris:</p><p>Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar, a forma de cumprimento das penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário ou estatal</p><p>Malgrado as referidas reprimendas não estejam expressamente previstas no mencionado dispositivo, porquanto frutos de reforma posterior (Lei nº. 9.714/98), de certo, partilha desta previsão, bem como das demais referentes ao restante das penas restritivas de direitos.</p><p>Observe-se, contudo, que ao permitir a alteração da forma, o legislador não autorizou ao magistrado a permuta de espécie da pena restritiva fixada pelo juiz sentenciante, ou seja, pode o magistrado nomear o perdimento de outro bem em substituição ao bem perecido, assim como pode parcelar em mais vez o adimplemento da prestação pecuniária, porém é defeso que transforme tais reprimendas em limitação de final de semana ou outra distinta - vide acordão juntado na leitura complementar.</p><p>QUESTÃO 1-Por qual razão se diz que a prestação pecuniária possui autêntica natureza despenalizadora?</p><p>RESPOSTA 1-Se fala em autêntica natureza despenalizadora, em razão do nítido cunho de antecipação civil – o que vem a ser reforçado pela parte final do artigo, no qual está expressamente previsto que o valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil –, se assim efetuada em favor da vítima/dependentes, justamente por se equiparar ao prejuízo por estas experimentado, representando, em última análise, tão somente o mero ressarcimento/reparação, pelo sentenciado, daquilo o que tenha ocasionado.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-a perda de bens de valores recai apenas sobre o patrimônio lícito do sentenciado</p><p>Fundamentação- pois a perda de bens e valores é espécie de pena restritiva de direito prevista no art. 45, §3º, do Código Penal.</p><p>AULA 4- Interdição de Direitos e Limitação de Final de Semana</p><p>RESUMO:</p><p>Interdição de Direitos</p><p>A interdição de direitos é espécie de pena restritiva de direito prevista no art. 47 do Código Penal, segundo o qual:</p><p>As penas de interdição temporária de direitos são:</p><p>I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;</p><p>II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;</p><p>III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.</p><p>IV - proibição de frequentar determinados lugares.</p><p>V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos</p><p>Tal modalidade consiste no impedimento, temporário, do exercício de determinados direitos ou atividades pelo sentenciado, geralmente relacionadas com a infração perpetrada, representando a modalidade mais autentica de pena restritiva.</p><p>Espécies = previstas em rol taxativo do art. 47 do CP.</p><p>a) Vedação ao exercício de atividades pública (cargo, função, mandato);</p><p>b) Vedação ao exercício de atividades privadas (profissão ou ofício) que demandem licença ou habilitação especial;</p><p>*conforme observa NUCCI, ambas são totalmente dissociadas dos propósitos regeneradores a pena1, visto ensejar o desgaste da figura do sentenciado perante seu meio profissional, agregando-lhe descrédito quanto a atividade que desempenha, a ponto de suspendê-lo temporariamente dessa função, praticamente aniquilando suas chances de retomar a carreira e, até mesmo, sua clientela, acarretando sérias implicações para a autossubsistência. Melhor seria, em casos graves, o afastamento definitivo da função pelo sentenciado que tenha praticado crime trágico no exercício desta atividade, ao invés de suspendê-lo temporariamente.</p><p>c) vedação a condução de veículos que, contudo, sofreu derrogação pelo CTB (que regulamenta todos os crimes de trânsito, impondo como pena principal, mas não alternativa, a suspensão da habilitação ou da permissão para dirigir - art. 292), remanescendo sua aplicação somente à autorização para condução de ciclomotores (art. 162, I, do CTB), veículos de propulsão humana ou animal (art. 141, §1º CTB);</p><p>d) proibição de frequentar lugares que, além de ofender a taxatividade - posto não indicar quais locais estão vedados, ficando a critério do magistrado, de forma discricionária, elenca-los -, é praticamente inexequível, ante a ausência de fiscalização, conforme já observado no que tange a sua fixação como condição para o livramento condicional, sursis (da pena e do processo) e regime aberto;</p><p>e) vedação quanto a participação em concursos públicos, aplicável nos casos de fraudes em certames públicos (art. 311-A do CP), sendo, portanto, medida punitiva razoável e eficiente àquele que almeja a carreira pública.</p><p>Início do Cumprimento = conforme já estudado em aula anterior, a prescrição executória é interrompida somente a partir do momento de efetivo início do resgate da reprimenda (vide art. 117, V do CP) pelo sentenciado e, especificamente no caso da interdição de direitos, de acordo com o art. 154, §§1º e 2º, da LEP, na hipótese do inciso I [atividade pública], a autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do ofício, baixar ato, a partir do qual a execução terá seu início; nas hipóteses dos incisos II e III [atividade privada e condução de ciclomotor], o Juízo da execução determinará a apreensão dos documentos, que autorizam o exercício do direito interditado, portanto, somente a partir do ato ou da entrega do documento/autorização.</p><p>Limitação de Final de Semana</p><p>A limitação de final de semana é espécie de pena restritiva de direito prevista no art. 48 do Código Penal, segundo o qual:</p><p>A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.</p><p>Tal modalidade consiste na imposição de que o sentenciado se desloque aos sábados e domingos à casa do albergado, onde permanece por 5 horas participando de cursos, palestras e atividades laborterápicas de cunho educativo.</p><p>Local adequado = de acordo com o estipulado pelo Código Penal, a unidade apropriada para recepcionar os sentenciados</p><p>à limitação de final de semana é a casa do albergado (estabelecimento penal destinado, também, ao cumprimento de pena em regime aberto). Nesse sentido estipula a LEP, in verbis:</p><p>Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.</p><p>Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.</p><p>Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e palestras.</p><p>Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados</p><p>Contudo, em vista da evidente defasagem por parte do Estado (existem pouco mais de 60 unidades2), o próprio Código Penal permite a possibilidade da limitação ser cumprida em outro estabelecimento adequado, como instituições de ensino, da rede pública, que contenham estrutura apta para que sejam ministrados os cursos e palestras mencionados pela LEP.</p><p>De certo, revela-se intangível que, na ausência de casa do albergado, a limitação seja cumprida em unidade prisional (penitenciária ou cadeia pública), sob pena de configurar patente excesso de execução, ao impor gravame maior ao sentenciado, assim configurando constrangimento ilegal - vide acordão juntado na leitura complementar.</p><p>Distinção com a Prisão Albergue Domiciliar = nos mesmos moldes, não se mostra razoável que, ante a ausência de casa do albergado, o sentenciado cumpra a limitação sob a forma de prisão albergue domiciliar que, em verdade, é modalidade de cumprimento do regime aberto, restritas às seguintes situações:</p><p>Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:</p><p>I - condenado maior de 70 (setenta) anos;</p><p>II - condenado acometido de doença grave;</p><p>III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;</p><p>IV - condenada gestante</p><p>Conforme se denota, a prisão domiciliar é destinada aos sentenciados em regime aberto e condicionada ao mencionado rol restritivo e, malgrado sua utilização tenha sido banalizada - aplicando-se a todos os condenados em regime aberto e, inclusive, em face de parte daqueles em regime aberto, em razão da ausência de vagas adequadas -, incompatível com o cumprimento da limitação de final de semana, uma vez absolutamente desprovida de fiscalização, restando inexequível.</p><p>Destarte, defende NUCCI que "nas comarcas onde não houver casa do albergado ou local específico para reter o condenado por 5 horas aos sábados e domingos, ministrando-lhe palestras ou cursos, deve ser essa pena evitada, para não gerar franca impunidade."3</p><p>Violência Doméstica = especificamente nos casos cuja condenação decorrer de delitos perpetrados no contexto da violência doméstica e familiar, a Leis de Execução Penal estabelece em seu art. 152, parágrafo único, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação, portanto, visando a restauração do bom convívio do sujeito em seu seio familiar.</p><p>Início do Cumprimento = nos mesmos moldes das demais penas alternativas, a prescrição executória se interrompe somente a contar a partir do momento de efetivo início do resgate da reprimenda (vide art. 117, V do CP) pelo sentenciado e, especificamente no caso da limitação de fim de semana, de acordo com o art. 151 da LEP:</p><p>Caberá ao Juiz da execução determinar a intimação do condenado, cientificando-o do local, dias e horário em que deverá cumprir a pena; a execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento, portanto, somente a partir da primeira vez que for a casa do albergado.</p><p>Reconversão</p><p>Ambas podem ser afastadas, sendo a pena substitutiva reconvertida em privativa de liberdade, nas hipóteses previstas no art. 181 da LEP, in verbis:</p><p>§ 2º A pena de limitação de fim de semana será convertida quando o condenado não comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras "a", "d" e "e" do parágrafo anterior.</p><p>§ 3º A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o condenado exercer, injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras "a" e "e", do § 1º, deste artigo.</p><p>a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital - evidencia a intenção em frustrar a reprimenda e, a depender da situação, também enseja o reconhecimento de falta grave (art. 51, I da LEP - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta);</p><p>d) praticar falta grave - indicativo de que não está assimilando a terapêutica penal, merecendo, portanto, recrudescimento de sua reprimenda;</p><p>e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa - situação semelhante àquela estipulada pelo art. 44, §5º do CP, por tornar o cumprimento simultâneo incompatível.</p><p>Em quaisquer dos casos, a reconversão implicará no desconto do cômputo da quantidade já resgatada pelo sentenciado, respeitando-se o mínimo de 30 dias, de acordo com o art. 44, §4º do CP.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR:</p><p>"Aplicar uma pena pecuniária para uma pessoa com vulnerabilidade econômica pode significar o comprometimento da subsistência desta e dos seus familiares, além de re-vitimização por parte do Estado. Assim, o juiz deve considerar as modalidades que melhor atendam à as condições socioeconômicas da pessoa. Caso opte por esta modalidade, o artigo 43, inciso I e 45, § 1º, do Código Penal</p><p>Brasileiro, dispõe que a prestação pecuniária deve se dar na forma de pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social. Vale destacar que a pena de prestação pecuniária se diferencia da pena de multa, uma vez que aquela possui caráter reparatório e esta, por sua vez, meramente retributivo. (...)".</p><p>Para a íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>MANUAL DE GESTÃO PARA ALTERNATIVAS PENAIS: PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS</p><p>QUESTÃO 1-Em que difere a limitação de final de semana da denominada prisão albergue domiciliar?</p><p>RESPOSTA 1-Enquanto a limitação de final de semana é pena alternativa, a prisão albergue domiciliar é hipótese restrita aos sentenciados a pena privativa de liberdade em regime aberto quando em determinadas situações*. Entretanto, atualmente há uma banalização dessa modalidade de prisão, inicialmente, pela falta de casa do albergado (assim sendo conferida para todos os sentenciados em regime aberto) e, agora, acentuada pela falta de vagas no semiaberto.</p><p>Vide art. 117 LEP:</p><p>“Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:</p><p>I - condenado maior de 70 (setenta) anos;</p><p>II - condenado acometido de doença grave;</p><p>III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;</p><p>IV - condenada gestante.”</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2- a limitação de final de semana tem duração de 5 horas diárias, perfazendo 10 horas semanais;</p><p>Fundamentação de acordo com o art. 48 do CP.</p><p>TEMA 09- MULTA E COMINAÇÃO DE PENAS</p><p>AULA 01: CONCEITO E REQUISITOS</p><p>A multa é espécie de sanção penal consistente no pagamento de valor em pecúnia, podendo ser prevista no Código Penal ou em legislação extravagante, com possíveis peculiaridades.</p><p>No Código Penal a multa é destinada ao Fundo Penitenciário e é calculada em dias-multa, conforme prevê o art. 49, in verbis:</p><p>Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.</p><p>Sobre a destinação da multa leciona Masson:</p><p>O Fundo Penitenciário Nacional foi instituído pela LC 79/1994, e constituem-se em seus recursos as multas decorrentes de sentenças penais condenatórias transitadas</p><p>em julgado. Como, entretanto, a citada lei não indica a origem das penas de multa, isto é, se provenientes da Justiça Estadual ou da Justiça Federal, bem como o respectivo destino de cada uma delas, entende-se que os Estados podem legislar sobre o assunto, com a finalidade de encaminhar a sanção pecuniária para o fundo sob sua gestão. Essa posição tem amparo no art. 24, I da CF, que fixa a competência concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal sobre o direito penitenciário (Código Penal Comentado, Forense, nota ao art. 49)</p><p>A multa pode ser aplicada diretamente no preceito secundário ou ser substituta da pena privativa de liberdade. Nesta segunda situação tem-se as seguintes possibilidades:</p><p>-A pena privativa igual ou inferior a 6 meses pode ser substituída por multa (art. 60, § 2º, CP) ou uma restritiva;</p><p>-A pena privativa superior a 6 meses até 1 ano não pode ser substituída por multa, apenas uma restritiva;</p><p>-A pena privativa superior a um ano pode ser substituída por multa mais um restritiva de direitos, ou duas restritivas.</p><p>Por fim, no tocante à substituição da pena privativa por multa cabe ressaltar o teor da súmula 171 do Superior Tribunal de Justiça:</p><p>STJ, súmula 171: Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa.</p><p>QUESTÃO 1-Márcia foi condenada pelo crime de furto simples tentado à pena de 8 meses de reclusão. O juiz sentenciante substituiu a pena privativa de liberdade por multa vicariante.</p><p>Com base na situação narrada, é correto afirmar que agiu com acerto o magistrado?</p><p>RESPOSTA 1-A resposta é negativa, uma vez que o magistrado não agiu com acerto tendo em vista que a pena superior a 6 meses até 1 ano deve ser substituída por pena restritiva de direito e não por multa, nos termos do art. 60, § 2º, do Código Penal.</p><p>QUESTÃO 2-O valor da multa será:</p><p>RESPOSTA 2-Pago ao fundo penitenciário.</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- nos termos do art. 49, caput, do CP.</p><p>AULA 02: AÇÃO CIVIL CUMULADA COM AÇÃO PENAL</p><p>Questão que, no passado, gerou controvérsia doutrinária e jurisprudencial, referia-se às consequências jurídicas do reconhecimento da multa como sendo dívida de valor.</p><p>Inicialmente, importante destacar que, embora se aplique as regras de execução próprias à execução fiscal, a multa continua possuindo natureza penal, posto ter origem em sentença penal condenatória. Por isso, continua a valer os princípios penais, tais como o da personalidade das penas.</p><p>Nesse sentido leciona Nucci:</p><p>Multa como dívida de valor: a lei 9.268/96 modificou o procedimento de cobrança da pena de multa, ao passar a considerá-la uma dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas relativas à dívida da Fazenda Pública. A meta pretendida era evitar a conversão da multa em prisão, o que anteriormente era possível. Não se deve, com isso, imaginar que a pena de multa transfigurou-se a ponto de perder a sua identidade, ou seja, passaria a ser, em sua natureza jurídica, uma sanção civil. Em hipótese nenhuma poderíamos admitir essa inversão. Continua, por certo, a ser sanção penal. (Código Penal Comentado, Forense, 2019)</p><p>A primeira consequência, sobre a qual não resta dúvidas, é que a multa não poderá ser convertida em pena privativa de liberdade, mesmo em caso de inadimplemento. Ou seja, diferentemente das penas restritivas de direitos, se o condenado não saldar a pena de multa, a única alternativa possível é a execução do valor, aplicando-se as regras referentes à execução fiscal.</p><p>Vale anotar que tal regra se aplica tanto à multa prevista no preceito secundário do tipo penal quanto à multa substitutiva, também chamada de multa vicariante.</p><p>Nesse sentido:</p><p>PROCESSUAL PENAL E EXECUÇÃO PENAL. MULTA SUBSTITUTIVA. ART. 44, § 2°, DO CÓDIGO PENAL. MULTA CUMULATIVAMENTE APLICADA COM PENA RESTRITIVA DE DIREITO EM RAZÃO DA CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. INADIMPLEMENTO DA MULTA SUBSTITUTIVA. CONVERSÃO EM PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. INVIABILIDADE. DÍVIDA DE VALOR. MULTA SUBSTITUTIVA QUE NÃO PODE SER CONSIDERADA COMO PENA RESTRITIVA DE DIREITO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ROL TAXATIVO DO ART. 43 DO CÓDIGO PENAL. EQUIPARAÇÃO À PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. NATUREZA JURÍDICA DISTINTA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.</p><p>I - No presente caso, a d. Juíza da Execução e o eg. Tribunal de origem consideraram, equivocadamente, que a multa substitutiva prevista no art. 44, § 2°, do Código Penal, seria uma espécie de pena restritiva de direito, cujo descumprimento autorizaria a reconversão em privativa de liberdade.</p><p>II - Contudo, a multa substitutiva prevista no art. 44, § 2°, do Código Penal, não está elencada no rol taxativo das penas restritivas de direitos fixado no art. 43 do Código Penal. Ademais, a multa substitutiva também não pode ser considerada como uma espécie de prestação pecuniária, pois tem natureza jurídica e finalidade diversa. Enquanto a prestação pecuniária destina-se ao pagamento de indenização à vitima do delito, ou de seus dependentes, sendo fixada em salários mínimos, a pena de multa substitutiva destina-se ao fundo penitenciário, sendo fixada em dias-multa.</p><p>III - A multa substitutiva (alternativa) prevista no art. 44, § 2°, do Código Penal, aplicada isolada ou cumulativamente com pena restritiva de direitos, trata-se de uma espécie de pena de multa, razão pela qual se submete ao mesmo regramento conferido à pena de multa originária prevista no preceito secundário do tipo penal.</p><p>Logo, a multa substitutiva constitui dívida de valor, sendo inviável a sua conversão em pena privativa de liberdade em caso de inadimplemento, nos termos do art. 51 do Código Penal. Precedentes.</p><p>Habeas Corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para cassar a r. decisão da d. Juíza da Execução que converteu a pena de multa substitutiva em pena privativa de liberdade, determinando-se ainda a revogação do mandado de prisão expedido em desfavor do paciente.</p><p>(STJ, HC 387.259/SP, 5ª T., Rel. Min. Felix Fischer, j. em 08/08/2017)</p><p>Outra questão, porém, refere-se à legitimidade ativa para promover a execução da pena de multa, noutras palavras, se a competência seria do Ministério Público, perante a Vara de Execuções Criminais, ou seria da Procuradoria da Fazenda, perante a Vara da Fazenda Pública?</p><p>Em um primeiro momento, o Superior Tribunal de Justiça fixou entendimento segundo o qual a competência seria da Procuradoria, editando a súmula 521:</p><p>A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.</p><p>Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a matéria em controle concentrado de constitucionalidade (ADI 3150), alterou o entendimento do STJ, passando a afirmar competir à execução ao Ministério Público, perante a Vara das Execuções Criminais. Ressaltou, porém, que havendo inércia do parquet, ultrapassado o prazo de 90 dias, a Fazenda Pública teria competência supletiva para promover a execução.</p><p>Recentemente, com a edição da Lei 13.964/2019, denominada Pacote Anticrime, a questão foi definitivamente superada, atribuindo-se ao Ministério Público a atribuição de executar a multa penal perante a Vara das Execuções Penais. Note-se que, a nova Lei não previu a atribuição subsidiária à Procuradoria da Fazenda, sendo atribuição exclusiva do parquet.</p><p>QUESTÃO 1-Agnaldo, seu cliente, foi condenado pelo crime de estelionato à pena de 1 ano e 4 meses de reclusão, e pagamento de 12 dias-multa.</p><p>A pena privativa foi substituída por prestação de serviços à comunidade e mais 10 dias-multa.</p><p>Após cumprir a pena de serviços, Agnaldo pagou apenas os 12 dias-multa, mas deixou de pagar a multa substitutiva de 10 dias-multa.</p><p>Por essa razão, aplicando a regra referente às penas restritivas, o juiz determinou a conversão da multa substitutiva em privativa de liberdade.</p><p>Na qualidade de advogado de Agnaldo, indique qual deve ser a peça cabível bem como a tese a ser arguida.</p><p>RESPOSTA 1-A peça deve ser o Agravo em Execução. Porém, havendo risco à liberdade, também é possível a</p><p>impetração de habeas corpus.</p><p>Deve-se alegar que à multa, independentemente de ser prevista no preceito secundário do tipo ou ser substitutiva, aplica-se a regra do art. 51, ou seja, não pode ser convertida em privativa de liberdade. Esse é o entendimento do STJ.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a execução da pena de multa é correto afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-Cabe ao Ministério Público perante a Vara de Execuções Penais”, conforme redação do art. 51 do Código Penal</p><p>AULA 03: EXTINÇÃO DA MULTA, UTILIZAÇÃO DO HC E PRESCRIÇÃO</p><p>Além dos pontos já analisados na aula anterior, outra discussão existente é se, mesmo com o inadimplemento da pena de multa, pode-se declarar extinta a punibilidade.</p><p>Mais uma vez nos posicionamos no sentido que a multa continua tendo caráter penal, de forma que não poderia ser julgada extinta a punibilidade enquanto não sobrevir o pagamento da pena. Nesse sentido:</p><p>Agravo em Execução. Pedido de cassação de decisão que não reconheceu a extinção da punibilidade, ante a ausência de pagamento de pena de multa. Impossibilidade. Embora considerada dívida de valor, a multa não perde seu caráter de sanção penal. Competência exclusiva do Juízo Criminal para o reconhecimento de extinção da punibilidade, mediante a comprovação do efetivo pagamento. Entendimento firmado pelo Pleno do STF. Improvido.</p><p>(...)</p><p>Ademais, note-se que, uma vez declarada a extinção da punibilidade, em eventual ação de execução fiscal proposta pela Fazenda Pública em face do condenado, bastará a este, com o intuito de se livrar do pagamento, alegar, em sede de Embargos à Execução, encontrar-se sua punibilidade extinta, de modo que a execução fiscal teria perdido seu objeto. Outrossim, mostra-se de todo ilógica a extinção da punibilidade quando ainda inadimplente o condenado em relação à pena de multa quando tal modalidade de reprimenda for a única cominada. Note-se, por exemplo, o art. 155, § 2º, do Código Penal, ou mesmo o art. 28 da Lei 11.343/06, os quais admitem a cominação isolada de pena multa. Ora, nestas hipóteses, chegar-se-ia ao absurdo de concluir pela extinção da punibilidade antes mesmo de haver o condenado cumprido qualquer reprimenda. Ou seja, imediatamente após o trânsito em julgado da decisão condenatória, declarar-se-ia extinta a pena nada mais paradoxal. A lógica do sistema punitivo impõe, portanto, que se aguarde o cumprimento da pena para, então, extingui-la. Em resumo, tal entendimento nos parece de todo assistemático, ocasionando diversas incongruências e injustiças. (TJSP, Agravo em execução nº 9001470-35.2015.8.26.0050, 16ª C. Crim, j. em 06/12/2016)</p><p>Contudo, o STJ se posiciona em sentido oposto:</p><p>AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE OU DE RESTRITIVA DE DIREITOS. INADIMPLEMENTO DA PENA DE MULTA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. POSSIBILIDADE. ORIENTAÇÃO FIRMADA NESTA CORTE EM RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC). RESP Nº 1519777/SP.</p><p>1. A Terceira Seção desta Corte Superior, sob a égide dos recursos repetitivos, art. 543-C do CPC, no julgamento do REsp n. 1519777/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, DJe 10/09/2015, firmou posicionamento no sentido de que extinta pelo seu cumprimento a pena privativa de liberdade ou a restritiva de direitos que a substituir, o inadimplemento da pena de multa não obsta a extinção da punibilidade do apenado, porquanto, após a nova redação dada ao art. 51 do Código Penal pela Lei n. 9.268/1996, a pena pecuniária passou a ser considerada dívida de valor e, portanto, possui caráter extrapenal, de modo que sua execução é de competência exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.</p><p>2. Agravo regimental não provido.</p><p>(STJ, AgRg no REsp 1673949/SP, 5ª T., Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. em 12/09/2017)</p><p>Prevalece, portanto, que a punibilidade estará extinta apenas pelo cumprimento da pena privativa de liberdade, independentemente do pagamento da multa.</p><p>Tal entendimento, contudo, poderá ser alterado em breve pelo STJ, pois o Pacote Anticrime deixou clara a natureza penal da multa ao determinar sua execução pelo Ministério Público perante a Vara de Execuções Criminais.</p><p>Prescrição</p><p>Importante anotar que a pena de multa possui regramento específico quanto à prescrição, previsto no art. 114 do Código Penal:</p><p>Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:</p><p>I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;</p><p>II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.</p><p>Ademais, já que se utiliza o procedimento da Lei de Execução Fiscal para a cobrança da multa, igualmente se aplicam as causas interruptivas e suspensivas da prescrição previstas em tal legislação:</p><p>Art. 8º</p><p>§ 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.</p><p>Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.</p><p>E justamente sobre o assunto, já que a multa é entendida como dívida de valor e executada no cível, leciona Damásio de Jesus:</p><p>Estamos entendendo que, diante da nova redação do art. 51 deste Código, dada pela Lei n. 9.268/96, não há mais falar-se em prescrição da pretensão executória da pena de multa. (Código Penal Anotado, Saraiva, 22ª edição)</p><p>QUESTÃO 1-Dionísio, condenado pelo crime de furto, já cumpriu a pena privativa de liberdade há mais de 2 anos e requereu sua reabilitação criminal.</p><p>O pedido foi indeferido sob o argumento que a multa não havia sido paga e, portanto, a não havia a extinção da punibilidade.</p><p>Na qualidade de advogado de Dionísio, qual recurso deve ser apresentado e qual tese?</p><p>RESPOSTA 1-Contra decisão que indefere pedido de reabilitação criminal cabe recurso de apelação.</p><p>Deve ser alegado que já se passou 2 anos desde o cumprimento da pena privativa de liberdade, e que a multa é considerada dívida de valor, de forma a não impedir a extinção da punibilidade, sendo executada apenas no cível.</p><p>Por esta razão, estão cumpridos os requisitos para a reabilitação criminal.</p><p>Atenção, é importante destacar que esta argumentação, atualmente aceita pelo STJ, poderá ser revista.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a prescrição da multa, é correto afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-Em 2 anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- conforme disposto no artigo 114, I, do Código Penal.</p><p>AULA 04: COMINAÇÃO DE PENAS</p><p>A fixação da pena de multa segue as regras estabelecidas nos artigos 49 e 60, ambos do Código Penal. A dosimetria da multa se dá em duas etapas: primeiramente é preciso estabelecer o número de dias-multa, para isso, utilizamos as circunstâncias do art. 59, as agravantes e atenuantes, bem como as causas de aumento e diminuição. Em seguida, é preciso estabelecer o valor de cada dia-multa.</p><p>O procedimento é explicado por Cezar Bitencourt:</p><p>Para que se possa aplicar a pena pecuniária com equidade, entendemos que o seu cálculo, de regra, deve ser feito em dois momentos, isto é, em duas operações e, excepcionalmente, em três:</p><p>1ª operação: estabelece-se o número de dias-multa dentro do limite estabelecido de 10 a 360. Na eleição desse número deve-se levar em conta a gravidade do delito, visto que não há mais a cominação individual para cada crime, como ocorria anteriormente; deve-se, por outro lado, considerar ainda a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade, os motivos, as circunstâncias e as consequências do crime, bem como todas as circunstâncias legais, inclusive as majorantes e minorantes. Enfim, como exame desses dados fixa-se apenas a quantidade de dias-multa a ser aplicado na sentença;</p><p>2ª operação: de posse do número de dias-multa obtido coma primeira operação, fixa-se o valor de cada dia-multa, nos limites estabelecidos no art. 49 e seus parágrafos, já referidos. Para a fixação do dia-multa, leva-se em consideração, tão somente, a situação econômica do réu, pois a gravidade do delito e a culpabilidade já foram valoradas na primeira operação para</p><p>fixar a quantidade de dias-multa. Para a verificação da real situação financeira do apenado, o magistrado poderá determinar diligências para apurar com mais segurança a verdadeira situação do delinquente e para se evitar a aplicação de pena exorbitante, algumas vezes (para o pobre), e irrisória e desprezível, outras vezes (para o rico). Dessa forma, atende-se à prescrição do ordenamento jurídico-penal, que determina que se leve em conta, principalmente, e não exclusivamente, a situação econômica do réu;</p><p>3ª operação: pode ocorrer, porém, que, mesmo aplicada no máximo a pena de multa, o juiz constate que, em virtude da situação econômica do acusado, ela será ineficaz. Nesses casos, poderá elevá-la até o triplo (art. 60, § 1º, do CP), ajustando-a ao fato e ao agente. (Tratado de Direito Penal, Parte Geral, RT)</p><p>No mesmo sentido é o ensinamento de Rogério Greco:</p><p>Críticas à parte, a multa, como pena que é, deve ser encontrada segundo os critérios reitores do art. 68 do Código Penal, pelo menos inicialmente. Dissemos inicialmente porque o art. 68, que prevê o critério trifásico de aplicação da pena, servirá de norte para o julgador a fim de que possa encontrar o total dos dias-multa que será aplicado ao sentenciado. Em primeiro lugar, analisam- -se as chamadas circunstâncias judiciais, previstas no art. 59 do Código Penal (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime e o comportamento da vítima), a fim de encontrar a pena-base, que variará entre um mínimo de 10 até o máximo de 360 dias-multa de acordo com o art. 49 do Código Penal. Em seguida, serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes. Por último, as causas de diminuição e de aumento.</p><p>Uma vez encontrado o total de dias-multa, parte-se, agora, para o cálculo do valor que será atribuído a cada dia-multa. Esse valor poderá variar entre um mínimo de um trigésimo até cinco vezes o valor do salário-mínimo vigente à época do fato. Se mesmo aplicado no seu valor máximo, ou seja, cinco salários-mínimos por dia-multa, o juiz verificar que, ainda assim, em virtude da capacidade econômica do réu, é ineficaz, poderá aumentar esse valor até o triplo, vale dizer, o valor de cada dia-multa poderá chegar até 15 salários-mínimos. (Curso de Direito Penal, Parte Geral, Impetus)</p><p>QUESTÃO 1-Um réu foi condenado por três crimes de roubo tentados, em concurso material, sendo os crimes cometidos com emprego de faca.</p><p>A tentativa ficou bastante longe da consumação, apenas no início dos atos executórios. Vale destacar que o réu é reincidente e portador de maus antecedentes, bem como é desempregado e com parca condição financeira.</p><p>Com base nas informações apresentadas, proceda à dosimetria da pena de multa.</p><p>RESPOSTA 1-A dosimetria pode comportar pequenas divergências, porém, basicamente é a seguinte:</p><p>Parte-se de 10 dias-multa.</p><p>Sendo o réu portador de maus antecedentes, aumenta-se em 1/6, alcançando 11 dias-multa (não se admite dias-multa fracionados, por isso arredonda-se para menos).</p><p>Por ser reincidente, aumenta-se mais 1/6, chegando-se em 12 dias-multa.</p><p>Pela causa de aumento do emprego de arma, aumenta-se 1/3, chegando em 16 dias-multa.</p><p>Pela tentativa reduz-se em 2/3, ficando em 5 dias-multa para cada roubo.</p><p>Aplicando-se o concurso de crimes, temos o total de 15 dias-multa.</p><p>Sendo o réu desempregado, o valor de cada dia-multa será no mínimo legal, em 1/30 do salário mínimo.</p><p>Conclusão: 15 dias-multa, no valor mínimo legal.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre o valor do dia-multa, assinale a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-O juiz, para fixar o valor do dia-multa, considerará a situação econômica do réu</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- nos termos do art. 60, caput, do Código Penal.</p><p>TEMA 10- APLICAÇÃO DA PENA</p><p>AULA 1- PENA-BASE</p><p>RESUMO:</p><p>Introdução Histórica</p><p>A Idade Média foi marcada pelo arbítrio judicial, em que os juízes, a serviço da tirania medieval, possuíam excessivo poder, pautados em um regime penal ilimitado para fins de determinação da sanção penal. Caracterizava, sem dúvidas, o sistema que mais se identificava com a ideia retribucionista, possibilitando ao julgador aplicar a pena conforme bem entendesse.</p><p>Os ideais iluministas, prezando pela segurança jurídica e pela garantia dos direitos fundamentais do cidadão, reagiram a essa extrema crueldade na execução das penas. Cesare de Beccaria (escola clássica) liderou um movimento em face desse Direito punitivo e o repúdio contra o ilimitado arbítrio judicial consistiu, justamente, na formulação de um sistema rígido de fixação de penas.</p><p>Na concepção de Beccaria, seguindo a de Montesquieu,</p><p>Ao juiz não deveria sequer ser admitido interpretar a lei, mas apenas aplicá-la em seus estritos termos. Assim, a um sistema largamente aberto na dosagem da pena sucedeu um sistema de pena rigorosamente determinada, consubstanciado no Código Penal francês de 17911.</p><p>O Código Penal francês de 1791, inspirado nos ideais humanitários e reagindo ao modelo tirânico anterior, adotou um sistema que retirava em absoluto o poder do juiz, de modo que ao julgador caberia apenas aplicar a lei, não lhe conferindo espaços para discricionariedades. As penas eram fixas e previamente estabelecidas pela legislação.</p><p>Ocorre que, consoante bem observado por Bitencourt,</p><p>Se a pena absolutamente indeterminada deixava demasiado arbítrio ao julgador, com sérios prejuízos aos direitos fundamentais do indivíduo, igualmente a pena absolutamente determinada impediria o seu ajustamento, pelo juiz, ao fato e ao agente, diante da realidade concreta.</p><p>Constatados os problemas gerados pelo rigoroso sistema de aplicação de penas, o Código</p><p>Penal francês de 1810 trouxe o equilíbrio entre os dois sistemas anteriores, mantendo as penas prefixadas, mas prevendo limites mínimo e máximo, possibilitando, assim, a ingerência do julgador em analisar as particularidades do caso concreto e do agente, individualizando, de maneira mais adequada, a pena (escola positiva).</p><p>Inaugurou-se, assim, o modelo contemporâneo de individualização da pena que ocorre em três etapas: individualização legislativa (selecionam-se os fatos puníveis e cominam-se sanções em intervalos mínimo e máximo); individualização judicial (objeto desta aula); individualização executória (cumprimento da pena definitiva).</p><p>Conceito</p><p>A aplicação da pena, conforme entendimento de Guilherme de Souza Nucci, consiste em um processo judicial de discricionariedade juridicamente vinculada visando à suficiência para prevenção e reprovação da infração penal. O juiz, dentro dos limites estabelecidos pelo legislador, deve eleger o quantum ideal, valendo-se do seu livre convencimento (discricionariedade), embora com fundamentada exposição do seu raciocínio (juridicamente vinculada)3.</p><p>Desse conceito é possível extrair dois pilares para a concretização da reprimenda: o princípio da individualização legislativa, posto competir ao Poder Legislativo a eleição de fatos puníveis e suas respectivas faixas (mínimo e máximo) de pena cominada abstratamente; princípio da individualização judicial, cabendo ao julgador, dentro das margens legais, estabelecer a pena mais justa ao acusado.</p><p>Não à toa, a exposição de motivos do Código de Processo Penal prevê, ipsis litteris: "A sentença deve ser motivada. Com o sistema do relativo arbítrio judicial na aplicação da pena, consagrado pelo novo Código Penal, e o do livre convencimento do juiz, adotado pelo presente projeto, é a motivação da sentença que oferece garantia contra os excessos, os erros de apreciação, as falhas de raciocínio ou de lógica ou os demais vícios de julgamento."</p><p>Consoante é possível notar, desde 1940, o legislador atribuiu ao juiz imensa discricionariedade na fixação da pena, determinando, contudo, parâmetros dos quais não se pode furtar.</p><p>A individualização da pena tem assento constitucional no artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal, deixando a cargo de lei ordinária a regulamentação quanto aos limites a serem observados pelo julgador.</p><p>Discricionariedade não se confunde com arbitrariedade, de modo que o Código Penal</p><p>brasileiro define critérios a serem seguidos quando da fixação da pena em concreto.</p><p>Individualizar a pena é buscar a aplicação justa da lei penal, afastando-se de meros cálculos matemáticos ou critérios unicamente objetivos. O juiz deve pormenorizar a reprimenda de acordo com a gravidade do fato e condições pessoais do agente.</p><p>Adverte Guilherme de Souza Nucci que se as penas forem matematicamente aplicadas, somente com critério objetivos, até mesmo entre primários, sem antecedentes, haverá injustiça, pois os comportamentos de ambos, no cometimento do mesmo crime, podem ser totalmente diversos. Somente aspectos subjetivos podem permitir ao juiz distinguir entre réus, ainda que use o fato praticado como parâmetro para julgá-los4.</p><p>Circunstâncias e Elementares</p><p>As elementares, também chamadas de elementos essenciais, são componentes do tipo penal, ou seja, integram a estrutura típica do delito, sem as quais a figura criminosa não se completaria.</p><p>Cite-se como exemplo o crime de roubo, cuja descrição típica prevê, no artigo 157, do CP:</p><p>"Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência".</p><p>As circunstâncias, ao seu turno, são condições acessórias que acompanham o tipo fundamental, sem, contudo, integrar a sua formação típica, de modo que, quando ausentes, em nada interfere na configuração típica de dada conduta.</p><p>Assim, é fácil notar que as elementares afetam a configuração do delito, ao passo que as circunstâncias atuam na dosagem da pena, elevando-a ou reduzindo-a.</p><p>Cite-se como exemplo o roubo majorado, disposto no artigo 152, § 2º, do Código Penal, em que o legislador destacou algumas situações em que entendeu merecedoras de maior rigorismo nas penas, como a utilização de arma própria (arma de fogo) ou imprópria (faca).</p><p>A respeito da distinção entre elementares e circunstâncias, Bitencourt propõe o método da exclusão hipotética:</p><p>"Se tal raciocínio levar à descaracterização do fato como crime ou fizer surgir outro tipo de crime, estar-se-á diante de uma elementar. Se, no entanto, a exclusão de determinado requisito não alterar a caracterização do crime, tratar-se-á de uma circunstância do crime.</p><p>É importante destacar que as elementares integram apenas os tipos básicos, não se confundindo com as qualificadoras, também chamadas de tipos derivados, em que, apesar de estipularem novos limites mínimo e máximo e servirem como ponto de partida para a fixação da pena-base (a exemplo do crime de furto qualificado, artigo 155, § 4º), são constituídas por circunstâncias, por dados acidentais, de modo que se excluídas, não alterariam a definição de crime.</p><p>Em suma, as circunstâncias, que não constituem (elementares) nem qualificam o crime (tipos derivados), são dividas pela doutrina em circunstâncias judiciais (artigo 59, do CP) e circunstâncias legais (agravantes, atenuantes, causas de aumento e causas de diminuição).</p><p>Circunstâncias Judiciais (Pena-base)</p><p>As circunstâncias judiciais estão previstas no artigo 59, do diploma penal, sendo elas: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos, circunstâncias do crime, consequências do crime e comportamento da vítima.</p><p>Esses oito elementos são chamados de circunstâncias judiciais justamente porque deverão ser levados em consideração pelo juiz, de acordo com as provas juntadas aos autos, no momento da fixação da pena-base, seja de maneira favorável ou desfavorável ao acusado.</p><p>Importante ter ciência de que as circunstâncias judiciais possuem caráter residual, isto é, o aplicador do direito deve ter uma visão geral sobre todas as circunstâncias que incidem naquele fato para, então, eleger como circunstância judicial as que não forem utilizadas como legais, sob pena de incorrer em bis in idem (dupla valoração do mesmo fato).</p><p>Nos dizeres de Guilherme de Souza Nucci,</p><p>"Encontrado o tipo básico, isto é, havendo prova da ocorrência do crime (ex: homicídio = matar alguém), passa o magistrado a aplicar a pena. Para tanto, serve-se de todas as circunstâncias (elementos que envolvem a infração penal), devendo ter a cautela de identificar, logo de início, as que são legais - previstas expressamente em lei (qualificadoras/privilégios; causas de aumento/diminuição; agravantes/atenuantes) - das que são judiciais - extraídas da construção do juiz, conforme dados fáticos encontrados nos autos6.</p><p>Em outras palavras, as circunstâncias legais preponderam sobre as judiciais. Por isso, embora o magistrado inicie a fixação da pena pela análise das circunstâncias do artigo 59, não é demais ressaltar que elas são residuais, ou seja, só poderão ser levadas em conta na eleição do quantum da pena-base se não constituírem qualificadoras/privilégios, causas de aumento/diminuição ou agravantes/atenuantes7.</p><p>Análise individual de cada circunstância judicial</p><p>· Culpabilidade: analisa-se a reprovabilidade da conduta do agente.</p><p>Culpabilidade, em linhas gerais, é definida como o juízo de reprovação social que incide sobre o autor e o fato por ele perpetrado, assim formando a estrutura do crime. Não obstante, constatada a prática de um crime, o juiz procede à análise da culpabilidade concreta com o fito de mensurar a reprimenda adequada ao caso, sopesando, para tanto, elementos de culpabilidade do fato (circunstâncias do crime, consequências do crime, comportamento da vítima) e elementos de culpabilidade do autor (antecedentes, motivos do crime, conduta social e personalidade), nos exatos moldes do artigo 59.</p><p>Como cediço, oportuno ressaltar que, no Brasil, em vista do Estado Democrático de Direito, foi instituído o denominado Direito Penal do Fato, mas não do Autor, o que implica dizer que ninguém é condenado pelo que é (o time para o qual torce, a religião a qual se dedica, o partido político filiado...), mas pelo o que fez e, como tal, os elementos pessoais a serem mensurados devem guardar estrita ligação com a violação perpetrada em concreto. Como exemplo, pode-se citar o sujeito cuja personalidade se mostra agressiva, egoística e violenta, fatores esses que certamente podem ser considerados pelo magistrado no caso em que se apura a prática de lesão corporal culposa na direção de veiculo automotor decorrente de uma briga de trânsito.</p><p>Por fim, há de se ressaltar que a culpabilidade concreta é o verdadeiro vetor mediante o qual se procede à individualização da pena, de acordo com o artigo 29, do CP, em razão do qual se afasta a enfadonha padronização de reprimendas àqueles que concorreram para a mesma prática criminosa.</p><p>Não obstante a reforma da parte geral de 1984, ainda é muito comum se deparar em decisões judiciais com os termos "dolo intenso" e "culpa grave" para mensurar a culpabilidade. A reforma justamente veio substituir essas expressões pelo termo "culpabilidade" (grau de reprovação), na tentativa de, corretamente, banir do sistema penal, essas referências.</p><p>Guilherme de Souza Nucci, de maneira bastante esclarecedora, explica que</p><p>"O dolo, definido como a vontade consciente de praticar a conduta típica, é incompatível com intensidade, vale dizer, com graduação. Inexiste, no âmbito anímico da pessoa humana, maior vontade de matar, por exemplo, ou menor vontade de matar. Quem deseja eliminar a vida de outrem age com dolo. E ponto. O mesmo se dá no campo da culpa. A questão é simples: há - ou não - um comportamento desatencioso (imprudente, negligente ou imperito), levando a um resultado danoso involuntário? Nessa avaliação, torna-se contraproducente afirmar que a culpa é grave; ou média; ou leve8."</p><p>· Antecedentes: são os precedentes penais do acusado. A vida criminosa pregressa.</p><p>O conceito de antecedentes se alterou ao longo dos anos, prevalecendo, atualmente, sobretudo após a edição da súmula 444, do Superior Tribunal de Justiça ("É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base"), que se referem às condenações pretéritas, transitadas em julgado, ultrapassado o tempo depurador (5 anos)</p><p>ou que não foram utilizadas como agravantes da reincidência.</p><p>A Súmula 241, do Superior Tribunal de Justiça, estabelece que:</p><p>"A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial". Por óbvio, sob pena de dupla valoração da mesma circunstância, vedada em nosso sistema penal.</p><p>Assim, caso o acusado possua mais de uma condenação anterior transitada em julgado, não ultrapassado o tempo depurador, o magistrado poderá valer-se de uma para agravar a pena, na segunda fase da dosimetria, e, da outra, para elevar a pena-base.</p><p>A doutrina majoritária propõe que os maus antecedentes devem ser analisados pelo magistrado de acordo com o caso concreto, devendo guardar alguma conexão com o delito sub judice. Ilustrando, não seria razoável elevar a pena-base por um antecedente de porte de droga para consumo próprio (pena de advertência) diante de uma condenação pelo delito de estelionato.</p><p>Importante constar que há precedentes no STF prevendo, tal como a legislação estipula para a reincidência, o prazo de 5 anos para a caducidade dos antecedentes, a fim de se evitar a sua consideração ad eternum. A questão ainda não foi contemplada pelo Pleno da Corte.</p><p>· Conduta social: traduz o papel do réu na comunidade, inserido no contexto da família, do trabalho, dos amigos, da escola, do bairro etc. O magistrado precisa conhecer a pessoa que estará julgando, a fim de saber se merece uma reprimenda maior ou menor, consoante bem observa Nucci9.</p><p>As tais "testemunhas de antecedentes", expressão bastante utilizada na prática forense, nada mais é do que depoentes que atestem a conduta social do réu, cabendo às partes e, até mesmo ao juiz, a inquirição dessas pessoas, além, é claro, de perguntas formuladas diretamente ao réu em seu interrogatório.</p><p>A reforma penal de 1984 acrescentou essa elementar, antes aferida como antecedentes - cuja prova se dá apenas por meio documental -, resultando na importância de arrolar testemunhas que efetivamente saibam da conduta do réu antes da prática do crime.</p><p>Bitencourt pondera que, embora sem antecedentes criminais, um indivíduo pode ter sua vida recheada de deslizes, infâmias, imoralidades, reveladoras de desajuste social. Por outro lado, é possível que determinado indivíduo, mesmo portador de antecedentes criminais, possa ser autor de atos beneméritos, ou de grande relevância social ou moral10.</p><p>A conduta social é de significante apuração, pois, no contexto de violência doméstica, por exemplo, um marido ou pai agressivo merece pena superior à mínima, em caso de eventual condenação por lesões corporais ou ameaça.</p><p>Embora de análise subjetiva, a conduta social é composta por fatos objetivos, bastando a sua inserção, por meio de provas, nos autos11.</p><p>· Personalidade: Trata-se do conjunto de caracteres exclusivos de uma pessoa, parte herdada, parte adquirida, valendo constar que a personalidade não é estática, estando em constante modificação.</p><p>Guilherme de Souza Nucci leciona que invadir o âmago do réu, por meio da análise de sua personalidade, para conhecê-lo melhor, não como mero objeto da aplicação da pena, mas como sujeito de direitos e deveres, enfim como pessoa humana torna a pena mais justa e sensata no seu quantum e no seu propósito12. A personalidade, inserida no contexto de aplicação da pena, deve ser extraída sob o ponto de vista do direito, não se tratando de mero juízo moral.</p><p>O mencionado jurista alerta não se tratar de um direito penal do autor, como muitos, sobretudo os defensores do direito penal do fato, costumam tachar. Em verdade, para individualizar corretamente a pena, torna-se fundamental analisar o fato e checar se a personalidade do autor liga-se a ele13.</p><p>· Motivos do crime: são os precedentes que levam à conduta criminosa. É a razão que levou o agente a praticar determinado fato punível. Não há crime sem motivo. O que pode ocorrer é o desconhecimento do móvel do agente, que não se confunde com ausência de motivo.</p><p>O juiz deve buscar as razões de ser da conduta, bem como os objetivos a serem alcançados pelo agente em qualquer delito. Encontrando-os, valorando-os, para bem ou para mal, terá um quadro concreto a respeito de um dos fatores a compor a maior ou menor reprovação do agente, conforme bem pondera Nucci14.</p><p>· Circunstâncias do crime: São os elementos acidentais não participantes da estrutura do tipo, embora envolvendo o delito15.</p><p>As circunstâncias do crime, como elementar do artigo 59, devem ser consideradas pelo magistrado caso não configurem circunstâncias legais, pois estas sempre preponderam.</p><p>É possível aumentar a pena-base com fulcro na gravidade do crime desde que seja analisada em concreto. Não basta a gravidade abstrata do delito, extraída do tipo penal e da pena cominada.</p><p>· Consequências do crime: constituem o mal causado pelo crime, que transcende ao resultado típico16.</p><p>As consequências do crime não se confundem com o resultado natural da prática criminosa. É um equívoco afirmar que, no crime de homicídio, as consequências foram graves porque a vítima morreu. Mas, é possível, valer-se de mencionada elementar para aumentar a pena-base do agente que assassina uma mulher na frente de seus filhos.</p><p>· Comportamento da vítima: é o modo de agir da vítima que pode levar o agente a ter o impulso delitivo.</p><p>O comportamento da vítima não justifica o crime, tampouco isenta o réu de pena, mas pode contribuir para amenizar a censura</p><p>QUESTÃO 1-Analise as duas situações seguintes e diga se a decisão do juiz está correta:</p><p>1) Sentença que condenou o acusado como incurso no artigo 121, caput, do CP, fixando a pena-base acima do mínimo legal em razão do instrumento utilizado na prática criminosa: faca de dimensões avantajadas.</p><p>2) O juiz, considerando covarde o réu por ter agredido uma criança, fixou a pena-base acima do mínimo legal, diante do fator negativo de sua personalidade. Em seguida, na segunda fase, aplicou a agravante disposta no artigo 61, inciso II, alínea “h”, do Código Penal.</p><p>RESPOSTA 1-As duas situações expostas na questão estão incorretas, não tendo agido com acerto o magistrado sentenciante.</p><p>A respeito da primeira situação, já decidiu o STF que a espécie de arma utilizada para a prática do crime de homicídio (se faca grande ou pequena, por exemplo) não deve ser levada em consideração na primeira fase da dosimetria, como circunstância judicial desfavorável, por constituir forma normal de execução do crime, ínsito ao tipo penal incriminador. STF, HC 124.954.</p><p>Em relação à segunda hipótese, o juiz incorreu na dupla valoração do mesmo fato (proibição do bis in idem), já que considerou o fator criança tanto na pena-base, como na segunda fase da dosimetria. Considerando que as circunstâncias legais preponderam sobre as judiciais, no caso exposto, somente é possível a incidência da agravante.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa incorreta:</p><p>RESPOSTA 2-A pena-base tem como ponto de partida apenas os tipos básicos.</p><p>Fundamentação: a pena-base tem como ponto de partida os tipos básicos e os tipos derivados, também chamados de qualificadoras.</p><p>AULA 2- AGRAVANTES E ATENUANTES</p><p>RESUMO:</p><p>Conceito</p><p>As agravantes e atenuantes são chamadas de circunstâncias legais porque são expressamente previstas no texto legal.</p><p>As agravantes genéricas estão previstas nos artigos 61 e 62, do Código Penal. As atenuantes genéricas, nos artigos 65 e 66, do Código Penal.</p><p>Nos ensinamentos de Nucci, são circunstâncias legais, objetivas ou subjetivas, que aderem ao delito sem modificar a sua estrutura típica, influindo apenas na quantificação da pena - para mais (agravantes) ou para menos (atenuantes) - em razão da particular culpabilidade do agente, devendo o juiz elevar ou minorar a pena dentro do mínimo e do máximo, em abstrato, previstos em lei1.</p><p>Na análise das agravantes e atenuantes, é de suma importância verificar se essas circunstâncias não constituem elementares, qualificadoras, causas de aumento ou de diminuição de pena, a fim de se evitar a dupla valoração.</p><p>O Código Penal, ao contrário do que fez com as causas</p><p>O crime é omissivo puro, pois no próprio tipo penal consta a conduta omissiva; o crime é próprio porque só pode ser praticado por médico; a normal é penal em branco porque precisa ser complementada com a lista das doenças de notificação compulsória e é um crime de mera conduta, pois a lei não descreve nem exige resultado concreto para a sua consumação.</p><p>AULA 2- CRIMES INSTANTÂNEOS E PERMANENTES</p><p>RESUMO:</p><p>Crime instantâneo: consuma-se em um dado instante, sem continuidade no tempo.</p><p>Exemplo: o crime de homicídio.</p><p>A conduta de "matar alguém" acontece quando a conduta comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa, atinge efetivamente o bem jurídico "vida humana", tutelado pelo artigo 121 do Código Penal.</p><p>Crime permanente: o momento consumativo se protrai no tempo, e o bem jurídico é continuamente agredido.</p><p>A cessação da situação ilícita depende apenas da vontade do agente.</p><p>Exemplo: extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP).</p><p>Enquanto a vítima estiver no cativeiro, a consumação do crime será renovada a cada segundo.</p><p>Crime permanente:</p><p>• Prisão em flagrante a qualquer momento</p><p>• Novatio legis in pejus</p><p>Início da contagem da prescrição:</p><p>Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:</p><p>(...)</p><p>III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;</p><p>Crime instantâneo de efeitos permanentes:</p><p>Consuma-se em um dado instante, mas seus efeitos se perpetuam no tempo.</p><p>A diferença entre o crime permanente e o instantâneo de efeitos permanentes reside em que no primeiro há a manutenção da conduta criminosa, por vontade do próprio agente, ao passo que no segundo perduram apenas as consequências produzidas por um delito já acabado, independentemente da sua vontade.</p><p>Exemplos: o homicídio e a lesão corporal.</p><p>QUESTÃO 1-Cláudio, policial militar, desconfiou que dentro de uma residência havia tráfico de drogas na modalidade ter em depósito. Entretanto, sem conhecer muito bem a jurisprudência atual sobre a necessidade de mandado de busca e apreensão, deixou de ingressar sem mandado na residência e foi embora.</p><p>Pergunta-se: agiu corretamente o policial por não ter certeza da situação de flagrância?</p><p>RESPOSTA 2-Em recente decisão (28.07.2017), o STJ entendeu que o tráfico de drogas é um crime permanente e, portanto, para a busca e apreensão é dispensável o mandado emitido pelo juiz.</p><p>Dessa forma, o policial poderia ter ingressado no domicílio em busca de drogas sem a necessidade de aguardar o mandado de busca e apreensão, diante da natureza permanente do crime de tráfico de drogas (art. 33, da Lei 1.343/2006).</p><p>Julgado sobre o tema: HC nº 404980 / PR (2017/0150169-8) autuado em 26/06/2017. RELATOR: Min. FELIX FISCHER - QUINTA TURMA.</p><p>QUESTÃO 2-Com relação aos fatos delituosos e a sua classificação, é INCORRETO afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2-na extorsão não é possível falar-se em exaurimento, pois se exige, para a inteira realização do tipo penal, a obtenção da vantagem econômica indevida.</p><p>Fundamentação: O crime de extorsão é formal e consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida pelo agente delitivo e, caso assim a obtenha, estaremos diante do mero exaurimento típico.</p><p>AULA 3- CRIMES DE ATIVIDADE E DE RESULTADO</p><p>RESUMO:</p><p>Crime de mera conduta:</p><p>O resultado naturalístico não é apenas irrelevante, mas impossível.</p><p>Exemplos: crime de desobediência ou violação de domicílio, em que não existe absolutamente nenhum resultado apto a modificar o mundo concreto.</p><p>Crime formal:</p><p>O tipo não exige a produção do resultado para a consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência. Assim, o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para que a infração penal seja consumada.</p><p>Exemplos:</p><p>* Crime de ameaça, em que o agente visa intimidar a vítima, mas essa intimidação é irrelevante para a consumação do crime;</p><p>* Crime de extorsão mediante sequestro, no qual o recebimento do resgate exigido é irrelevante para a plena realização do tipo.</p><p>Nesses tipos, pode haver uma incongruência entre o fim visado pelo agente — respectivamente, a intimidação do ameaçado e o recebimento do resgate — e o resultado que o tipo exige.</p><p>A lei exige menos do que o objetivo final do sujeito ativo (v. g., ele quer receber o resgate, mas o tipo se contenta com menos para a consumação da extorsão mediante sequestro). Por essa razão, esses tipos são denominados incongruentes.</p><p>Crime material:</p><p>A consumação depende da efetiva produção do resultado naturalístico.</p><p>Exemplos:</p><p>A morte no crime de homicídio;</p><p>A subtração no crime de furto;</p><p>A destruição no crime de dano;</p><p>A conjunção carnal ou outro ato libidinoso para o estupro.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR:</p><p>"Há dois critérios para analisar o resultado:</p><p>a) naturalístico: é a modificação sensível do mundo exterior. O evento está situado no mundo físico, de modo que somente se pode falar em resultado quando existe alguma modificação passível de captação pelos sentidos. Exemplo: a morte de uma pessoa é um resultado naturalisticamente comprovável;</p><p>b) jurídico ou normativo: é a modificação gerada no mundo jurídico, seja na forma de dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse protegido pela norma penal. Sob esse ponto de vista, toda conduta que fere um interesse juridicamente protegido causa um resultado. Ex.: a invasão de um domicílio, embora possa nada causar sob o ponto de vista naturalístico, certamente provoca um resultado jurídico, que é ferir o direito à inviolabilidade de domicílio do dono da casa. O critério jurídico foi o adotado pelo legislador, bastando analisar o disposto na Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, que a Reforma Penal de 1984 manteve, mencionando que "não há crime sem resultado (...) ".</p><p>Para íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>Conceito de resultado do crime</p><p>QUESTÃO 1-João entra em uma agência bancária e rouba as armas dos vigias, o dinheiro do banco e um automóvel para fugir.</p><p>Diante dessa situação, pergunta-se: ele praticou um único crime? Um crime em concurso formal? Ou diversos crimes em concurso material?</p><p>RESPOSTA 1-O roubo praticado contra vítimas diferentes em um único contexto configura o concurso formal e não crime único, ante a pluralidade de bens jurídicos ofendidos.</p><p>QUESTÃO 2-No que tange ao tempo do crime, assinale a única alternativa CORRETA.</p><p>RESPOSTA 2-Considera-se praticado o ato criminoso no exato momento da ação ou omissão, ainda que o resultado lesivo ocorra em momento diverso.</p><p>Fundamentação: O crime se considera praticado no momento da ação ou omissão, independente do momento do resultado. Seguindo a regra jurídica do art. 4.º do Código Penal.</p><p>AULA 4- CRIMES DE DANO E DE PERIGO</p><p>RESUMO:</p><p>Crime de dano:</p><p>Exige uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido para a sua consumação.</p><p>Exemplos:</p><p>Homicídio;</p><p>· Lesão corporal;</p><p>· Furto;</p><p>· Dano</p><p>Crime de perigo:</p><p>Para a consumação, basta a possibilidade do dano, ou seja, a exposição do bem jurídico protegido a perigo de dano.</p><p>Exemplos:</p><p>· Crime de periclitação da vida ou saúde de outrem — art. 132 do CP.</p><p>· Crime de direção sem habilitação - art. 309 do CTB.</p><p>Os crimes de perigo subdividem-se em:</p><p>a) Crime de perigo concreto, quando a realização do tipo exige a existência de uma situação de efetiva de perigo.</p><p>* Necessidade de a acusação comprovar a situação de perigo gerada, pois é elementar típica.</p><p>b) Crime de perigo abstrato: a situação de perigo é presumida, como no caso da associação criminosa, em que se pune o agente mesmo que não tenha chegado a cometer nenhum crime.</p><p>Ou no caso da embriaguez ao volante (art. 306 do CTB).</p><p>c) Crime de perigo individual: é o que atinge uma pessoa ou um número determinado de pessoas, como os dos arts. 130 a 136 do CP;</p><p>d) Crime de perigo comum ou coletivo: é aquele que só se consuma se o perigo atingir um número indeterminado de pessoas, por exemplo, incêndio (art. 250), explosão (art. 251) etc.;</p><p>e) Crime de perigo atual: é o que está acontecendo;</p><p>f) Crime de perigo iminente: é o que está prestes a acontecer;</p><p>g) Crime de perigo futuro ou mediato: é o que pode advir da conduta, por exemplo, porte de</p><p>de aumento e de diminuição, para as quais prevê um parâmetro, não estabelece o quantum de aumento ou de redução, deixando a critério do julgador o montante para agravar ou atenuar a pena.</p><p>A maioria dos magistrados se vale da fração de 1/6 (um sexto) por consistir o menor índice previsto no sistema penal para as causas de aumento e de diminuição.</p><p>O rol das agravantes é taxativo, não podendo ser ampliado. As hipóteses de atenuantes, contudo, são exemplificativas, eis que o artigo 66 abre a possibilidade para novas circunstâncias ser reconhecidas (atenuantes inominadas).</p><p>As agravantes somente incidem em delitos dolosos, salvo a reincidência, aplicável também aos culposos. As atenuantes incidem em todos os crimes, posto beneficiar o réu.</p><p>Agravantes: Artigos 61 e 62, do CP. As agravantes, em regra, só incidem em delitos dolosos, salvo a agravante da reincidência (art. 61, I), perfeitamente aplicável aos crimes culposos.</p><p>Reincidência: Artigo 61, inciso I, CP. O artigo 63, do diploma penal, traz o conceito de reincidência, consistente no cometimento de uma infração penal depois de o agente já ter sido condenado definitivamente, no Brasil ou no exterior, por crime anterior.</p><p>A Lei de Contravenções Penais possui o mesmo regramento, considerando reincidente aquele que pratica uma contração penal depois de ter sido anteriormente condenado em definitivo por contravenção.</p><p>or ausência de previsão legal, não se admite como reincidente o sujeito que pratica um crime depois de ter sido anteriormente condenado com trânsito em julgado por uma contravenção penal (contravenção anterior - crime posterior = não configura reincidência, sujeito deve ser considerado primário).</p><p>A espécie de pena imposta para o crime antecedente não interfere na configuração da reincidência. É irrelevante se o crime anterior foi punido com privativa de liberdade ou multa, não estabelecendo distinções a esse respeito o artigo 63, do CP, bastando o trânsito em julgado da condenação anterior.</p><p>Assim, a condenação anterior definitiva à pena de multa gera reincidência, sendo esse o entendimento majoritário.</p><p>Há, contudo, posição em sentido contrário, sustentando que a multa não gera reincidência, conforme sinaliza Guilherme de Souza Nucci3, explicando que seus defensores apontam, basicamente, duas razões: a) o artigo 77, § 1º, do Código Penal menciona que a pena de multa, anteriormente aplicada, não impede a concessão do sursis. Por isso, não é suficiente para gerar a reincidência, visto não ser cabível a suspensão condicional da pena ao reincidente por crime doloso (art. 77, I, CP); b) a multa é pena de pouca monta, aplicável a crimes mais leves, não sendo caso de reincidência.</p><p>O referido jurista critica essa posição, explicando que a exceção conferida pelo artigo 77, § 1º, do CP, é apenas para propiciar a concessão do sursis a quem já foi condenado por crime anterior a uma pena de multa, o que não significa ter afastado o reconhecimento da reincidência. Em relação ao outro argumento, ainda que a pena aplicada seja branda, é preciso considerar que houve condenação, logo, é o suficiente para o juiz levar em conta na próxima condenação que surgir.</p><p>Primariedade x Reincidência: primário, à evidência, é quem não é reincidente, estabelecendo o artigo 64, inciso I, do CP, o prazo de 5 anos para a caducidade da condenação anterior.</p><p>Reincidente é quem comete novo delito nos 5 anos seguintes da extinção de sua última pena. Após os 5 anos, o sujeito torna a ser primário, embora possa ter maus antecedentes.</p><p>Importante notar que o termo inicial do período depurador é a data do cumprimento da pena ou da extinção da punibilidade, e não da data do trânsito em julgado da condenação anterior.</p><p>A prova da reincidência deve ser feita por meio de certidão expedida pelo juízo da condenação, não bastando, para sua comprovação, mera folha de antecedentes.</p><p>Por motivo fútil ou torpe: artigo 61, II, "a", CP. Motivo fútil é o móvel insignificante que levou o agente a praticar o delito, representando uma dissonância entre a motivação para o cometimento da infração e o seu resultado. Ilustrando, marido que assassina a esposa por não ter feito o almoço. O motivo do agente é desproporcional ao resultado produzido.</p><p>A ausência de motivo não deve ser equiparada ao motivo fútil. Todo delito tem a sua motivação. Caso inexistam provas nos autos que demonstrem o móvel do agente, essa circunstância não deve ser levada em conta no momento da fixação da pena. Assim, motivo de somenos importância não se confunde com ausência de motivo.</p><p>O ciúme, para a maioria da doutrina, não traduz futilidade, por não ser insignificante. Tanto que, em alguns casos, pode configurar causa de diminuição de pena ou atenuante.</p><p>Motivo torpe é o motivo repugnante, vil, abjeto, moralmente reprovável. Agente que mata um parente para ficar com a herança.</p><p>É preciso ter cuidado quanto à vingança, que não necessariamente configura torpeza. Nem toda vingança pode ser considerada torpe. Imagine o pai que, por vingança, mata o estuprador de sua filha. No entanto, é torpe a conduta de um traficante que mata outro traficante para dominar o controle do tráfico.</p><p>Para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Artigo 61, II, "b". Também denominado de motivação torpe específica. Comete-se um crime para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.</p><p>Essa agravante repousa na conexão entre dois ou mais crimes. Se, eventualmente, consegue o agente atingir os resultados, pune-se utilizando a regra do concurso material.</p><p>É o agente que pratica o crime para facilitar ou assegurar a execução de outro delito ou, ainda, comete o delito para facilitar ou assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime.</p><p>Exemplos: roubar um banco para, com o dinheiro, adquirir veículo furtado. Praticar um homicídio para esconder uma corrupção passiva. Coagir uma testemunha para não imputar ao réu o comércio espúrio de drogas.</p><p>À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido: Artigo 61, II, "c". A traição pode ser material, consubstanciada na atitude de golpear a vítima pelas costas, ou moral, consistente em ocultar a intenção criminosa, enganado a vítima. De uma forma ou de outra, a traição traz em seu bojo a surpresa.</p><p>A emboscada, vulgarmente denominada de tocaia ou cilada, é o ato de se esconder surpreendendo a vítima em seu trajeto.</p><p>A dissimulação é o disfarce da real intenção criminosa, diferenciando-se da traição à medida que o agente aproxima-se da vítima, conquista-a para, somente depois, atacá-la. Na traição, a confiança já existe.</p><p>A elementar "ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido" representa a denominada interpretação analógica, recurso bastante utilizado pelo legislador diante da inviabilidade de se prever todas as situações concretas possíveis. O dispositivo contém uma fórmula casuística (traição, emboscada, dissimulação) seguida de uma fórmula genérica.</p><p>É natural perceber que a traição, a emboscada e a dissimulação são artifícios que reduzem a possibilidade de defesa da vítima, assim, quaisquer outros artifícios que provoquem o mesmo resultado estarão também por essa agravante englobados.</p><p>Com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum: Artigo 61, II, "d". O presente inciso apresenta meios para se praticar o crime, sendo três os gêneros: meio insidioso, meio cruel ou meio que podia resultar perigo comum, elencando o legislador exemplos específicos: emprego de veneno, fogo, explosivo e tortura.</p><p>O meio insidioso traduz ideia de ardiloso, astucioso.</p><p>O meio cruel é causar à vítima um sofrimento desnecessário para alcançar o resultado criminoso.</p><p>Meio que resulta em perigo comum é colocar em risco mais pessoas do que a visada pelo autor do crime.</p><p>O emprego de veneno pode espelhar meio insidioso, quando o agente, pretendendo matar seu</p><p>desafeto, insere uma substância letal em seu alimento, ou configurar meio cruel, quando a substância tóxica provocar uma morte lenta e dolorosa.</p><p>O uso de fogo pode representar tanto meio cruel quanto expor outras pessoas a perigo comum.</p><p>O explosivo, quando detonado, à evidência, traduz em perigo comum.</p><p>A tortura é, sem dúvidas, uma forma de crueldade.</p><p>Contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge: Artigo 61, II, "e". A interpretação restritiva, vigente, em regra, no Direito Penal, impõe a exclusão de relações de afinidade, tais como sogra e genro, e de relações advindas de união estável. Nesses casos, não se configura a agravante, sob pena de incorrer em analogia in malam partem.</p><p>Com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica: Artigo 61, II, "f". O abuso de autoridade autorizador da agravante é a civil, não englobando autoridade pública. É o vínculo de dependência e subordinação entre particulares no campo do direito civil, a exemplo do tutor e do tutelado.</p><p>Relações doméstica e de coabitação: são as ligações existentes entre membros de uma mesma vida familiar, podendo ou não existir vínculo de parentesco. A exemplo de moradores de uma mesma pensão, amigos que alugam um apartamento.</p><p>Observa-se que, embora não seja possível inserir a união estável na alínea anterior, sob pena de analogia in malam partem, é admissível enquadrar a companheira ou companheiro nesta alínea, no contexto "prevalecendo-se de relações domésticas".</p><p>Hospitalidade é a recepção eventual, durante a estadia provisória na residência de alguém, sem necessidade de pernoite (receber amigos para um jantar).</p><p>Violência contra a mulher na forma de lei específica: essa previsão é de pouca utilidade, pois já enquadrada na elementar "prevalecendo-se de relações domésticas" ou, até mesmo, na alínea anterior "contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge".</p><p>Com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão: Artigo 61, II, "g". O abuso de poder e a violação de dever pressupõe do agente a condição de funcionário público. A agravante somente estará caracterizada se o agente praticar o delito valendo-se de sua posição de autoridade, sendo imprescindível que o autor do fato se beneficie de sua condição funcional (imprescindibilidade do liame entre o abuso de poder e a prática do crime).</p><p>Contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida: Artigo 61, II, "h". A agravante, fundada na covardia, exige para sua configuração que o agente conheça a condição de criança, maior de 60 anos, enfermidade ou gravidez da vítima, sob pena de caracterização de responsabilidade objetiva.</p><p>Tratando-se de critério objetivo e de acordo com o ECA, criança é o menor de até 12 anos incompletos.</p><p>Quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade: Artigo 61, II, "i". O agente que ataca vítima protegida, de alguma forma, pelo Estado, merece maior reprovabilidade em sua conduta, à medida que, além do crime, desafia-se a autoridade estatal. A exemplo de pessoas que invadem uma delegacia para assassinar um preso ou capturá-lo.</p><p>Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido: Artigo 61, II, "j". Essa agravante representa a insensibilidade moral do agente que pratica crime aproveitando-se de situações calamitosas.</p><p>Em estado de embriaguez preordenada: Artigo 61, II, "l". O agente atinge o estado de embriaguez visando a prática do crime, eis a razão de ser punido com maior rigorismo. Conforme ensina Nucci,</p><p>"A finalidade da maior punição é abranger pessoas que, em estado de sobriedade, não teriam agido criminosamente, bem como evitar que o agente se coloque, de propósito, em estado de inimputabilidade, podendo dele valer-se mais tarde para buscar uma exclusão de culpabilidade."</p><p>Aplica-se a teoria da actio libera in causa.</p><p>Agravantes no caso de concurso de pessoas: Artigo 626. A expressão "agravantes no caso de concurso de pessoas" utilizada pelo legislador é tecnicamente incorreta, pois o artigo traz hipóteses de autoria mediata, sendo os demais envolvidos desprovidos de culpabilidade. Assim, inexiste autêntico concurso de pessoas ante a ausência de vínculo subjetivo entre os agentes.</p><p>Aplica-se a mencionada agravante no caso, por exemplo, de autoria mediata por coação moral irresistível. O importante é identificar a caracterização dessa agravante quando houver mais de dois envolvidos, não obrigatoriamente nos moldes do artigo 29, caput, do Código Penal.</p><p>O inciso I, do artigo 62, prevê o agravamento da pena ao agente considerado mentor intelectual do crime. Em face da adoção, em regra, da teoria monista, o autor intelectual do delito não é propriamente o autor, mas punido como partícipe, pois não realiza o núcleo do tipo penal (executor). Isso não significa que deva ter punição mais branda. Ao contrário, o agente que atua como dirigente da ação criminosa pode ter punição mais severa do que o executor. Preceitua o artigo 29, do CP, que qualquer concorrente do crime (autor ou partícipe) responde de acordo com sua culpabilidade (grau de reprovação) e, nessa esteira, o mandante, em muitos casos, merece pena mais severa que a aplicada ao executor.</p><p>A pena será agravada quando o agente coage (obrigar) ou induz (dar ideia) outrem à execução material do crime (artigo 62, inciso III, CP). O coator ou indutor que, obriga ou estimula a ação criminosa, merece mais rigorismo na conduta do que o mero executor.</p><p>Lembrar que a coação física irresistível exclui a conduta, tornando o fato atípico em relação ao coagido. A coação moral irresistível exclui a culpabilidade do coagido, ante a inexigibilidade de conduta diversa. Nessas duas hipóteses somente o coator responde pelo crime com a pena agravada.</p><p>Na coação moral resistível, há concurso de pessoas. O coator terá a pena agravada e o coagido, em razão da pressão suportada, será beneficiado pela atenuante prevista no artigo 65, III, "c", 1ª parte, CP.</p><p>Terá, ainda, a pena agravada o agente que instiga (reforçar a ideia criminosa já existente) ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade (seja pública ou particular) ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal (a exemplos das escusas absolutórias do artigo 181, II, CP). Instigar é reforçar a ideia criminosa já existente; determinar é ordenar a prática do delito. Exige-se que esteja o executor do crime sob a autoridade de quem instiga ou determina.</p><p>Se a ordem for de superior para subordinado, é possível que este não responda pelo delito, caso configurada a exclusão da culpabilidade por obediência hierárquica, ou responda, mas tenha a pena reduzida pela atenuante prevista no artigo 65, III, "c", CP.</p><p>A última agravante contemplada pelo artigo 62 diz respeito ao criminoso mercenário, que pratica o crime compelido pela ambição desmedida, pelo desejo imoderado de riqueza, ganância.</p><p>Atenuantes: Artigos 65 e 66, CP.</p><p>Ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença: Artigo 65, I, CP. Esse inciso contempla as atenuantes da menoridade relativa e da senilidade.</p><p>A menoridade relativa, introduzida como atenuante no sistema a partir do Código Criminal do Império de 1830, configura-se como preponderante no confronto com eventuais agravantes, sendo este o entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência, sobrepondo-se, inclusive, à reincidência. A prova da menoridade, nos termos da Súmula 74, do STJ, pode ser feita por qualquer documento hábil. A modificação trazida pelo novo Código Civil, considerando plenamente capaz o maior de 18 anos para os atos da vida civil, não afetou a referida atenuante, aplicável aos indivíduos entre 18 e 21 anos na data dos fatos.</p><p>Consoante bem contextualiza Nucci, da mesma forma que o menor de 21 anos comete o delito colhido pela imaturidade, merecendo a atenuação da pena, o ser humano acima de 70 anos pode fazê-lo</p><p>premido pelo abalo psíquico que a velhice pode trazer. Ambos merecem maior condescendência do juiz ao aplicar-lhes a sanção penal, justamente para que tenham melhores condições de reeducação.</p><p>O desconhecimento da lei: Artigo 65, II, CP. Preceitua o artigo 21, inciso I, do CP, que o desconhecimento da lei é inescusável. Não obstante, pode funcionar como atenuante genérica.</p><p>Ter o agente cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral: Artigo 65, III, "a". A diferença entre relevante valor social e relevante valor moral consiste no interesse visado, de modo que naquele o interesse é coletivo (sujeito que aprisiona o roubador do bairro); neste, é de ordem pessoal (pai que mata estuprador da filha).</p><p>Ter o agente procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano: Artigo 65, III, "b". O arrependimento do agente pode configurar o arrependimento eficaz (artigo 15), o arrependimento posterior (artigo 16) ou atenuante genérica do arrependimento (artigo 65, III, "b", CP). Consumado o delito e não sendo cabível o arrependimento posterior, o agente poderá ser beneficiado pela atenuante genérica caso, por sua espontânea vontade, tente amenizar ou evitar as consequências do crime. Exemplo: agente que matou pai de família passa a contribuir mensalmente com uma pensão.</p><p>Ter o agente cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima: Artigo 65, III, "c". São situações que afetam o juízo de culpabilidade do réu, passando sua conduta a apresentar menor reprovabilidade social.</p><p>A coação, quando física, exclui a tipicidade, não respondendo o coagido pelo crime. A coação, quando moral e irresistível, exclui a culpabilidade, não respondendo o coagido por inexigibilidade de conduta diversa. A coação, quando moral e resistível, configura atenuante genérica, respondendo o coagido pelo delito, mas com as penas reduzidas.</p><p>A obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal (ordem manifestamente legal) exclui a culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa. A ordem manifestamente ilegal cumprida pelo subordinado configura atenuação de pena, pois compreensível a dificuldade do subalterno em não obedecer uma ordem emanada pelo superior, mesmo que ilícita. O superior hierárquico, neste caso, responderá com as penas agravadas (artigo 62, III).</p><p>Se o agente pratica o crime sob influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima, responderá pelo delito, sendo beneficiado pela redução da pena. Quando se tratar de homicídio e de lesão corporal, essa circunstância configura causa de diminuição de pena, embora, é preciso atentar, exija-se "domínio" de violenta emoção "logo após" injusta provocação da vítima. Tratando-se de atenuante, basta a influência, não sendo preciso que o agente esteja dominado pela violenta emoção. A influência apenas perturba o ânimo psíquico do agente.</p><p>Ter o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime: Artigo 65, III, "d". A confissão, além de ser meio de prova quando voluntariamente ofertada, pode servir de atenuante, exigindo-se a espontaneidade. Para funcionar como atenuante, a confissão deve ser espontânea, não bastando a voluntariedade, e ocorrer perante a autoridade.</p><p>Após a edição da súmula 545, do STJ, a discussão sobre o momento da confissão, se perante o delegado ou o juiz, perdeu um pouco sentido, pois, caso o julgador utilize a confissão, seja extrajudicial ou judicial, na formação de sua convicção, deverá beneficiar o réu com a redução da pena.</p><p>A confissão parcial não configura atenuante, mas, consoante adverte Nucci, caso seja utilizada pelo magistrado para a condenação, a parte admitida pelo réu poderá ser usada como minorante de pena</p><p>Ter o agente cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou: Artigo 65, III, "e".</p><p>Atenuantes inominadas: Artigo 66, CP. Ao juiz é conferido o reconhecimento de atenuantes não previstas em lei, anteriores ou posteriores ao crime, anunciando o artigo 66 que o rol é exemplificativo. Assim, a pena poderá ser reduzida em virtude de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime.</p><p>A doutrina traz como exemplo a tese de coculpabilidade, desenvolvida por Pierangeli e Zaffaroni, segundo a qual a deficiência de um Estado, que não zela a contento pelo bem estar de todos, proporcionando igualdade de oportunidades, contribui para o aumento da criminalidade.</p><p>Concurso das agravantes e atenuantes: Artigo 67, do CP. Quando presentes, simultaneamente, agravantes e atenuantes genéricas, aplica-se a regra geral da equivalência das circunstâncias, ou seja, anula-se qualquer aumento ou redução, permanecendo a pena-base no seu patamar original.</p><p>A compensação é excepcionada quando presente alguma circunstância preponderante. O artigo 67, do CP, define como preponderantes as agravantes e atenuantes relacionadas aos motivos do crime, à personalidade do agente e à reincidência.</p><p>No conflito entre uma agravante preponderante (reincidência, por exemplo) e uma atenuante qualquer (não preponderante), deve o magistrado elevar a pena-base. Assim como no conflito entre uma atenuante preponderante e uma agravante não preponderante, o juiz deve reduzir a pena-base, caso não tenha sido ela fixada no mínimo legal (Súmula 231, STJ). Na hipótese confronto entre agravante e atenuante preponderantes, a lógica dita que ambas devem ser compensadas, não havendo acréscimos ou reduções.</p><p>A menoridade relativa, durante muito tempo, foi considerada como circunstância preponderante por excelência. Contudo, após o advento do novo Código Civil que alterou a capacidade civil plena dos 21 anos para os 18 anos de idade, essa posição vem perdendo força, mas ainda é a predominante no Superior Tribunal de Justiça.</p><p>Concurso entre reincidência (agravante preponderante) e confissão espontânea (atenuante): a questão inicia-se em saber se a confissão espontânea é, ou não, atenuante preponderante. O Supremo Tribunal Federal entende que a reincidência prepondera sobre a atenuante da confissão espontânea, não admitindo a compensação entre essas circunstâncias legais. O Superior Tribunal de Justiça, ao seu turno, possui posição distinta, julgando pela compensação entre elas, já que considera a atenuante da confissão igualmente preponderante.</p><p>Guilherme de Souza Nucci, em sintonia com o entendimento do STJ, entende que a confissão espontânea é fruto da personalidade positiva do agente e, como tal, enquadra-se como circunstancia preponderante, nos termos do artigo 67, do CP.</p><p>QUESTÃO 1-Situação 1) O agente, depois de efetuar disparos de arma de fogo contra a vítima, impelido por um momento súbito de solidariedade, decide socorrê-la, conduzindo-a ao hospital, onde consegue se recuperar.</p><p>Situação 2) O agente efetua disparos de arma de fogo contra a vítima, ocasionando a sua morte. Ocorre que, no dia seguinte, o agente, tendo conhecimento de que a vítima era pai solteiro e possuía dois filhos menores de idade, passa a contribuir com uma pensão mensal.</p><p>Considerando essas duas situações hipotéticas, em qual delas a atenuante prevista no artigo 65, inciso III, alínea “b”, poderá ser reconhecida?</p><p>RESPOSTA 1-A atenuante genérica disposta no artigo 65, inciso III, alínea “b”, do CP, não pode ser confundida com o arrependimento eficaz, previsto no artigo 15, do diploma penal.</p><p>No arrependimento eficaz, o agente, embora esgote os atos executórios, impede a consumação do crime, respondendo apenas pelos atos praticados. Não há tentativa, posto não ter o delito se consumado por vontade do próprio agente criminosa (e não por força de circunstâncias alheias à sua vontade).</p><p>Na atenuante genérica mencionada, o crime se consuma, respondendo o agente pelo tipo incriminador, mas, tendo em vista a sua conduta posterior, poderá ser beneficiado com uma redução de pena.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a aplicação</p><p>da pena, marque a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-As atenuantes aplicam-se a todos os crimes, enquanto as agravantes, salvo a reincidência, se aplicam somente aos crimes dolosos.</p><p>Fundamentação: Exige-se, para o agravamento da pena, a consciência e vontade do agente, caso contrário resultaria em responsabilidade penal objetiva.</p><p>Aula III: Causas de Aumento e de Diminuição. Cálculo da Pena</p><p>RESUMO:</p><p>Conceito: são causas obrigatórias ou facultativas de aumento ou de diminuição de pena, esparsas tanto na Parte Geral quanto na Parte Especial, do Código Penal, e em legislações especiais, em quantidade fixa ou variável estabelecida pelo legislador. Incidem sobre o montante resultante da segunda fase de aplicação da pena, constituindo a última fase do sistema trifásico.</p><p>Importante destacar que, ao contrário das circunstâncias judiciais e das agravantes e atenuantes, as causas de aumento e de diminuição são as únicas circunstâncias legais que podem romper com os limites mínimo e máximo contemplados no tipo penal secundário. Isto porque o legislador apenas aponta os limites extremos para o aumento ou diminuição da reprimenda.</p><p>Assim, no caso de furto tentado, por exemplo, caso seja a base fixada no patamar mínimo de 1 ano e inexistente agravantes e atenuantes, na terceira fase, presente a causa geral e obrigatória de diminuição da pena (tentativa), o magistrado deverá reduzir a reprimenda optando, a depender do iter criminis percorrido, pelas frações e 1/3 a 2/3. Caso opte pela menor redução, a pena definitiva resultará em 8 meses de reclusão, aquém do mínimo abstratamente cominado.</p><p>Caso a redução aquém do mínimo, por exemplo, não fosse possível, teríamos as mesmas penas para os crimes consumados e tentados, o que não há sentido.</p><p>Concurso entre causas de aumento e de diminuição: artigo 68, parágrafo único1, CP.</p><p>Várias combinações podem exsurgem, a seguir, individualmente, analisadas.</p><p>Concurso homogêneo (duas ou mais causas de aumento OU duas ou mais causas de diminuição) na Parte Geral - todas as causas de aumento e de diminuição previstas na Parte Geral do Código Penal (genéricas) são obrigatórias e devem ser aplicadas, sem possibilidade de compensação.</p><p>Exemplo: tentativa (art. 14, parágrafo único) e semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único). As duas causas de diminuição devem ser consideradas.</p><p>Concurso homogêneo, uma na Parte Geral e a outra na Parte Especial - o juiz, igualmente, não tem alternativa. Todas devem ser aplicadas.</p><p>Exemplo: roubo majorado, por duas vezes, em concurso formal.</p><p>Exemplo: furto privilegiado tentado.</p><p>Concurso homogêneo na Parte Especial - duas ou mais causas de aumento/diminuição previstas na Parte Especial: incidência do artigo 68, parágrafo único, do CP: o juiz tem alternativa, podendo fazer incidir a causa que mais aumente ou mais diminua ou, ainda, aplicar todas as causas. Tratando-se de duas ou mais causas de aumento ou duas ou mais causa de diminuição, o julgador pode aplicar a mais ampla delas ou todas2.</p><p>Exemplo: crime de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo, concurso de agentes e restrição à liberdade da vítima.</p><p>As causas de aumento e de diminuição remanescentes poderão ser utilizadas como agravantes e atenuantes, caso previstas como tais, e, residualmente, como circunstâncias judiciais.</p><p>Concurso heterogêneo, quando majorantes concorrerem com minorantes, não há compensação, como pode ocorrer entre agravantes e atenuantes. Uma não anula a outra. Primeiro aplica-se a causa de aumento e, sobre o montante resultante, a causa de diminuição.</p><p>Exemplo: roubo tentado com emprego de arma. O aumento incide primeiro e depois a diminuição.</p><p>Critério para aplicação dos aumentos e das diminuições: com o intuito de se evitar a chamada pena zero, o entendimento majoritário é a incidência das causas umas sobre as outras (juros sobre juros), alcunhado de sistema da incidência cumulativa.</p><p>A partir da pena determinada na segunda fase, o juiz passa a aplicar as causas de aumento umas sobre as outras e, em seguida, as causas de diminuição, igualmente umas sobre as outras.</p><p>QUESTÃO 1-1) Imagine que João, genitor de Maria, efetuou um disparo de arma de fogo contra Mário, causando sua morte, por ter ele estuprado Maria.</p><p>2) Imagine que João, traficante de drogas, efetuou um disparo de arma de fogo em face de Mário, causando sua morte, para dominar o comércio de drogas no bairro.</p><p>Relativamente ao crime de homicídio, indicar, em tese, o que cada uma dessas duas situações poderia significar num eventual Júri.</p><p>RESPOSTA 1-João, no primeiro caso, responderia por homicídio privilegiado, nos termos do artigo 121, § 1º, do Código Penal, pois, in casu, praticou o crime impelido por relevante valor moral, já que o agente estuprou sua filha, podendo ter a pena reduzida de 1/6 a 1/3.</p><p>João, no segundo caso, responderia por homicídio qualificado, nos termos do artigo 121, § 2º, do CP, pois praticou o delito valendo-se de um motivo fútil, cuja pena mínima, abstratamente prevista, é de 12 anos.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa correta, no que se refere ao procedimento de aplicação da pena:</p><p>RESPOSTA 2-as causas de aumento de pena incidem em fase posterior à consideração das agravantes e atenuantes.</p><p>Fundamentação: as causas de aumento e de diminuição de pena incidem na terceira fase da dosimetria da pena, logo após a análise das agravantes e atenuantes.</p><p>Aula IV: Cálculo da Pena – sistema trifásico</p><p>RESUMO:</p><p>Fixação da pena privativa de liberdade: dois foram os sistemas desenvolvidos para a determinação da pena: o sistema bifásico, idealizado por Roberto Lyra (maior promotor de Júri que o Brasil já teve, "príncipe dos promotores"), e o sistema trifásico, elaborado por Nélson Hungria, sendo esse o adotado pelo vigente Código Penal, em seu artigo</p><p>68: a pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.</p><p>Para o critério bifásico, a pena privativa de liberdade deveria ser aplicada em duas fases distintas, sendo a primeira fase composta pelas circunstâncias judiciais, atenuantes e agravantes, e a segunda fase, pelas causas de aumento e de diminuição. Esse sistema foi unicamente adotado para a fixação da pena de multa, que é feita em duas fases: fixa-se, inicialmente, o número de dias-multa, e, após, calcula-se o valor de cada dia-multa.</p><p>O sistema trifásico, ao seu turno, sustenta a dosimetria da reprimenda em três fases distintas, conforme estabelece o mencionado artigo 69. Na primeira, o juiz fixa a pena-base tomando por apoio as circunstâncias judiciais do artigo 59, do CP; em seguida, na segunda fase, são consideradas as agravantes e atenuantes e, sobre elas, na terceira fase, as causas de aumento e de diminuição.</p><p>O sistema Nélson Hungria foi a opção escolhida pelo legislador, acertadamente, pois, havendo a separação em três fases distintas, com as respectivas fundamentações, torna-se mais detalhada e clara a fixação da pena. Trata-se de direito de o réu acompanhar todas as etapas da individualização de sua pena (estágios e fases)1, o que garante, inclusive, a ampla defesa.</p><p>A ausência de fundamentação em cada etapa do sistema trifásico conduz à nulidade da sentença (art. 93, IX, CF) ou, no mínimo, à redução da pena quando revista pela instância superior. Em face da inexistência de prejuízo ao réu, a fixação da pena no mínimo legal dispensa aprofundada motivação.</p><p>1ª Fase - fixação da pena-base: incidência das circunstâncias judicias, artigo 59, CP: as circunstâncias judiciais foram individualmente analisadas no primeiro bloco da presente aula.</p><p>Cuida-se, neste momento, da aplicação dessas circunstâncias no campo prático, obedecendo a algumas regras construídas pela doutrina e pela jurisprudência.</p><p>A primeira fase tem por finalidade fixar a pena-base, tendo o juiz como instrumentos as circunstâncias judiciais. Essa fase inaugura a dosimetria da pena, cujo ponto de partida é a pena simples, aquela prevista no preceito secundário</p><p>do tipo básico, ou a pena qualificada, presente no tipo derivado, a exemplo do furto qualificado (artigo 155, § 4º), do roubo qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (artigo 157, § 3º), homicídio qualificado (artigo 121, § 2º) etc.</p><p>Encontrando o ponto de partida, firmado pela tipificação decorrente da condenação (ex: roubo simples, artigo 157, caput, do CP), o magistrado deverá fixar a pena-base dentro dos limites legais, mínimo e máximo, cominados abstratamente, valendo-se, para a eleição do quantum, das circunstâncias judiciais.</p><p>Nos dizeres de Nucci,</p><p>"A eleição desse quantum obedece às regras previstas no artigo 59 do Código Penal, em que se encontram as circunstâncias judiciais, compostas por oito fatores, divididos da seguinte forma: a culpabilidade, que representa o conjunto dos demais, acrescida dos antecedentes, da conduta social, da personalidade, dos motivos, das circunstâncias, das consequências do crime e do comportamento da vítima. Portanto, quando os sete elementos inseridos no quadro da culpabilidade forem favoráveis, haverá mínima censurabilidade; se forem desfavoráveis, ocorrerá máxima censurabilidade2."</p><p>O referido doutrinador, na tentativa de repelir a política da pena mínima e com vistas a cumprir, rigorosamente, com o princípio da individualização da pena, evitando-se a padronização matemática, elaborou um sistema para a valoração das circunstâncias judicias, atribuindo pontos (pesos) de acordo com a preponderância de cada circunstância. Ele alerta para a necessidade de se adotar um sistema de pesos, redundando em pontos, para o fim de nortear o juiz na escolha do montante da pena-base. Baseando-se nos pesos dos elementos do artigo 59 do Código Penal, deve o julgador pender para maior quantidade de pena ou seguir para a fixação próxima ao mínimo3.</p><p>Na opinião do jurista, as elementares "personalidade", "antecedentes" e "motivos" constituem fatores preponderantes, atribuindo-lhes peso 2, frente aos demais componentes rasos, que devem possuir peso 1.</p><p>Em seus dizeres,</p><p>"visualizada a distinção entre os fatores preponderantes e os componentes rasos, torna-se fundamental que o magistrado promova a verificação da existência de cada um deles, avaliando as provas constantes dos autos, para, na sequência, promover o confronto entre os elementos detectados. Dessa comparação surgirá a maior ou menor culpabilidade, leia-se, a maior ou menor censura ao crime e seu autor. Em nível ideal e abstrato, se os sete elementos foram favoráveis ou neutros, a culpabilidade é mínima, logo, a pena-base deve ser fixada no mínimo legal. Se os sete elementos forem desfavoráveis, a culpabilidade é máxima e, por conseguinte, a pena-base deve ser estabelecida no máximo legal4."</p><p>Prossegue Nucci, ilustrando, na prática, o seu raciocínio: a projeção dos pesos atribuídos aos elementos do artigo 59 em escala de pontuação forneceria o seguinte: personalidade = 2; antecedentes = 2; motivos = 2; conduta social = 1; circunstâncias do crime = 1; consequências do crime = 1; comportamento da vítima = 1. O total de pontos é 10. Logo, na fixação da pena-base de um furto simples, cuja variação da pena de reclusão é de 1 a 4 anos, teríamos: a) 10 pontos negativos = 4 anos de pena-base; 5 pontos negativos = 2 anos e 6 meses de pena-base; 3 pontos negativos = variação de 1 ano e 6 meses a 2 anos de pena-base; nenhum ponto negativo = 1 ano de pena-base. Os pontos favoráveis ao acusado são considerados positivos ou neutros. O ponto positivo tem o condão de confrontar com um negativo, podendo anulá-lo ou suplantá-lo. O ponto neutro apenas deixa de contribuir para a formação da culpabilidade elevada. Anote-se que o ponto positivo é decorrência, também, da análise do conjunto probatório (ausência de antecedentes criminais, por exemplo), enquanto o ponto neutro decorre da carência de provas (não se consegue apurar a conduta social do réu antes da prática criminosa5.</p><p>As circunstâncias judiciais possuem caráter residual, o que significa dizer que somente poderão ser levadas em consideração caso não constituem ou qualifiquem o crime ou não estejam previstas como agravantes, atenuantes, causas de aumento e de diminuição.</p><p>Exemplo: Na hipótese de estarem presentes duas ou mais qualificadoras (muito comum no crime de homicídio), o magistrado deve usar uma delas para qualificar o crime e as demais como agravantes genéricas, na segunda fase, desde que encontrem correspondência nos arts. 61 e 62. Se não houver correspondência, as demais qualificadoras passam a funcionar como circunstâncias judiciais desfavoráveis.</p><p>2ª Fase - Pena provisória: consideração das agravantes e atenuantes.</p><p>Determinada a pena-base na primeira fase, passa-se à análise das atenuantes e das agravantes, expressamente previstas no Código Penal, devendo o magistrado elevar ou minorar a pena dentro dos patamares legalmente estabelecidos.</p><p>As agravantes e atenuantes podem ser definidas como circunstâncias objetivas ou subjetivas que não integram a estrutura do tipo penal, mas se vinculam ao crime, devendo ser consideradas pelo juiz no momento de aplicação da pena.</p><p>Relembrar que as agravantes nem sempre agravam a pena, assim como as atenuantes nem sempre atenuam a pena.</p><p>As agravantes não agravam a pena quando constituírem ou qualificarem o crime ou, ainda, configurarem causa de aumento. Também não agravam a pena quando fixada no máximo legal ou no confronto com atenuante preponderante, como, em regra, é a confissão espontânea.</p><p>Inclusive, o artigo 61, do CP, é expresso ao estabelecer:</p><p>São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime</p><p>No tocante às atenuantes, a maioria entende pela impossibilidade de reconhecimento quando constitui ou privilegia o crime, assim como pela inviabilidade de fixação aquém dos patamares mínimos, não podendo, por exemplo, a confissão espontânea romper com a pena mínima. Esse entendimento está consolidado pelo STJ, na súmula 231. Por fim, a pena não será atenuada se presente agravante preponderante, como, por exemplo, a reincidência.</p><p>Em relação à possibilidade de determinação da pena, nesta segunda fase, aquém do mínimo legal, embora constitua entendimento majoritário, há vozes, em especial da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que lutam pelo reconhecimento de atenuantes mesmo tendo sido a pena-base determinada no mínimo permitido legalmente.</p><p>Rogério Greco assim se posiciona:</p><p>"Objeto de muita discussão tem sido a possibilidade de se reduzir a pena-base aquém do mínimo ou aumentá-la além do máximo nesse segundo momento de fixação da pena. O STJ, por intermédio da Súmula nº 231, expressou o seu posicionamento. Esse, infelizmente, tem sido a posição da maioria de nossos autores quem numa interpretação contra legem, não permitem a redução da pena-base, em virtude da existência de uma circunstância atenuante, se aquela tiver sido fixada em seu patamar mínimo. Dissemos que tal interpretação é contrária à lei porque o artigo 65 não excepciona sua aplicação aos casos em que a pena-base tenha sido fixada acima do mínimo legal. Pelo contrário. O mencionado artigo afirma, categoricamente, que são circunstâncias que sempre atenuam a pena. O argumento de que o juiz estaria legislando se reduzisse a pena aquém do mínimo não convence. Isso porque o artigo 59 do Código Penal, que cuida da fixação da pena-base, é claro em dizer que o juiz deverá estabelecer a quantidade de pena aplicável nos limites previstos. O juiz jamais poderá fugir aos limites determinados pela lei na fixação da pena-base. Contudo, tal proibição não se estende às demais etapas previstas pelo art. 68 do Código Penal6."</p><p>3ª Fase - Pena definitiva: incidência das causas de aumento e de diminuição</p><p>Na última fase do sistema trifásico, passa à análise das circunstâncias legalmente previstas como de aumento e de diminuição, geralmente estabelecidas no próprio tipo penal por meio de parágrafos, a exemplo do roubo majorado, artigo 157, § 2º, do CP.</p><p>Na</p><p>terceira fase, a pena pode romper os limites legais, pois a lei prevê o quantum de aumento ou de diminuição em índices variáveis.</p><p>Não podemos confundir as causas de aumento e de diminuição com as agravantes e atenuantes:</p><p>Não podemos confundir as causas de aumento com qualificadora:</p><p>Regime inicial de cumprimento de pena: finda a terceira fase, obtido o resultado definitivo da pena, passa-se à verificação do regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade, importante processo de individualização da pena.</p><p>A determina do regime deve obedecer aos critérios dispostos no artigo 33 e seguintes, do Código Penal, já estudados em aula anterior.</p><p>Agravantes / Atenuantes Majorantes / Minorantes</p><p>2ª fase do cálculo da pena 3ª fase do cálculo da pena</p><p>Quantum sem previsão legal Quantum com previsão legal</p><p>Não rompem os limites mínimo e máximo,</p><p>súmula 231, STJ Rompem os limites</p><p>Majorante Qualificadora</p><p>Aumenta a pena do delito Qualifica o delito substituindo seu preceito secundário, anunciando novos limites mínimo e máximo. Tipo derivado.</p><p>Considerada na 3ª fase É ponto de partida para o cálculo da pena-base</p><p>Súmula 440 STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.</p><p>Súmula 718 STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.</p><p>Súmula 719 STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.</p><p>QUESTÃO 1-João e outros dois comparsas não identificados, agindo com unidade de desígnios, abordaram a vítima quando ingressava em sua residência e, mediante grave ameaça, anunciaram o assalto, conduzindo-a para dentro do imóvel. Enquanto um dos agentes vigiava a vítima, João e o outro comparsa se apoderavam de inúmeros bens, tais como televisor, videogame, eletrodomésticos etc, inserindo-os no veículo da ofendida, utilizado, em seguida, para a fuga. Cerca de uma hora depois, João foi preso em flagrante na condução do veículo subtraído, logrando êxito na fuga os demais comparsas.</p><p>Durante a instrução processual, constatou-se que João possui uma condenação anterior definitiva pelo crime de furto, ultrapassado o tempo depurador.</p><p>O réu foi plenamente reconhecido pela vítima.</p><p>João foi condenado como incurso no artigo 157, § 2º, inciso II, do Código Penal.</p><p>Como resultaria a pena-base de João com fulcro no sistema de pesos adotado pelo doutrinador Guilherme de Souza Nucci?</p><p>RESPOSTA 1-Na 1ª fase da dosimetria, o magistrado deve analisar as circunstâncias judiciais.</p><p>Personalidade: neutro (não apurada durante a instrução processual).</p><p>Antecedentes: -2 (negativo).</p><p>Motivos: neutro (não apurada durante a instrução processual).</p><p>Conduta social: neutra (não apurada durante a instrução processual).</p><p>Circunstâncias do crime: -1 (negativo) – crime praticado no interior de residência, ambiente mais íntimo de um indivíduo, cuja violação configura, inclusive, crime.</p><p>Consequências do crime: neutro (não apurada durante a instrução processual).</p><p>Comportamento da vítima: neutro (não apurada durante a instrução processual).</p><p>Soma dos pesos no caso concreto: -3 (negativo).</p><p>Pena abstratamente prevista para o crime de roubo: 4 a 10 anos (metade em 7 anos).</p><p>Soma dos pesos em abstrato: 10 pontos (metade 5 pontos).</p><p>A pena-base de João, considerando a existência de 3 pontos negativos, deve ser fixada próxima a 5 anos de reclusão.</p><p>(-10 pontos = 10 anos de reclusão; -5 pontos = 7 anos de reclusão).</p><p>QUESTÃO 2-Na aplicação da pena:</p><p>RESPOSTA 2-É admissível o reconhecimento de atenuante em razão de circunstância relevante, posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.</p><p>Fundamentação: os animais e coisas podem funcionar como instrumentos do crime, mas nunca serão tidos como sujeitos ativos ou autores de ação ante a ausência do elemento vontade.Fundamentação: Atenuantes inominadas, podem ser reconhecidas em razão de causa existente mesmo após a prática do fato criminoso.</p><p>AVALIAÇÃO</p><p>image1.png</p><p>image3.png</p><p>image2.png</p><p>arma de fogo, associação criminosa etc.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR:</p><p>"Entregar veículo a motorista sem carteira de habilitação, com habilitação cassada ou com direito de dirigir suspenso, é crime previsto no CBT, mesmo se não houver um acidente durante a condução irregular. A decisão liminar é do ministro Nefi Cordeiro, do STJ, ao julgar uma causa do RS.</p><p>O MP recorreu ao STJ depois que o Juizado Especial Criminal gaúcho absolveu uma acusada que permitiu a condução de seu veículo por motorista sem carteira. No recurso especial, o MP salientou que a decisão descumpria um entendimento já firmado pelo STJ ao julgar, em março de 2015, uma causa semelhante de MG sob o rito dos repetitivos.</p><p>Na época, o STJ entendeu, acerca do crime previsto no artigo 310 do CTB, que "não é exigível, para o aperfeiçoamento do crime, a ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na conduta de quem permite, confia ou entrega a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com direito de dirigir suspenso, ou ainda a quem, por seu estado de saúde física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança". (...)".</p><p>Para íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>Permitir que motorista não habilitado dirija é crime mesmo se não ocorrer acidente</p><p>QUESTÃO 1-Maycon entrega para seu irmão Pedro a direção de seu veículo para que compre carvão e cerveja, para a festa de seu bairro.</p><p>Maycon tem ciência de que Pedro não possui carteira de habilitação e entrega seu veículo mesmo assim.</p><p>Maycon tem certeza de que Pedro é um bom motorista, mesmo sem ter habilitação, por isso entrega na certeza de que nenhum mal será causado a ninguém.</p><p>Realmente Pedro vai até as comprar e volta ileso, sem danificar o veículo e sem machucar nenhum pedestre.</p><p>Diante dessa situação prática, pergunta-se: Houve algum crime?</p><p>RESPOSTA 1-Sim, houve crime.</p><p>O crime do art. 310 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) é de perigo abstrato. Desta forma, a acusação não precisará comprovar dano ou perigo concreto. Basta provar que ele efetivamente conduziu veículo automotor sem a devida habilitação.</p><p>O STJ sumulou a questão.</p><p>Súmula 575 do STJ:</p><p>"Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo”.</p><p>QUESTÃO 2-O delito de sequestro ou cárcere privado é classificado como crime:</p><p>RESPOSTA 2-permanente e de dano.</p><p>Fundamentação: O crime é permanente porque a consumação se renova enquanto a vítima estiver com a sua liberdade restringida; é um crime de dano pois exige modificação do mundo exterior que consiste, no caso, na efetiva privação de liberdade da vítima.</p><p>TEMA 03- CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES II</p><p>AULA I - CRIMES SIMPLES E COMPLEXOS</p><p>Introdução</p><p>No crime simples, o tipo é formado por uma conduta única, enquanto no crime complexo, o tipo é formado pela junção de dois ou mais tipos.</p><p>É crime simples, por exemplo, o homicídio, em que existe apenas uma conduta e resultado, o tipo não é formado por dois outros. Outro exemplo de crime simples é a ameaça, no qual também há apenas uma conduta típica. Vejamos exemplos na legislação:</p><p>Homicídio</p><p>Art. 121. Matar alguém:</p><p>(...)</p><p>Ameaça</p><p>Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave.</p><p>Exemplo de crime complexo, o roubo é formado pela junção de mais de um crime, tendo o furto (art. 155, CP) como base, acrescida da lesão corporal (art. 129, CP) ou ameaça (art. 147, CP) (roubo = furto + lesão corporal + ameaça). Trata-se de um crime formado por outros. Do mesmo modo, a extorsão mediante sequestro é formada pela extorsão (art. 158, CP) e pelo sequestro e cárcere privado (art. 148, CP) (extorsão mediante sequestro = extorsão + sequestro e cárcere privado).</p><p>Roubo</p><p>Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:</p><p>Extorsão mediante sequestro</p><p>Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.</p><p>Importante destacar a doutrina e trazer para o texto os ensinamentos do ilustre professor Guilherme de Souza Nucci, patrono regente do nosso curso de pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal Aplicados:</p><p>Quanto à formação de tipos penais, existem os crimes simples e os complexos. Os primeiros são constituídos por uma conduta típica única; os complexos formam-se pela junção de tipos penais. Na forma simples, vê-se o homicídio. Na modalidade complexa, há o roubo, constituído da união do furto, da lesão corporal e da ameaça.[1: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1ºa 120 do código penal - 5. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. Cit.p. 297.]</p><p>O autor sintetiza e conceitua os crimes simples e compostos de forma clara e objetiva, o que nos fornece melhor compreensão sobre o assunto.</p><p>Continência</p><p>Continência significa que um crime está contido em outro. Na continência explícita, "um tipo engloba outro de maneira clara, bastando a simples leitura do modelo incriminador" Já a continência implícita pode se dar no delito simples, pois um crime, apesar de simples, pode conter outro, como no caso do homicídio que contém a lesão corporal. [2: Ibdem.]</p><p>Crimes complexos em sentido estrito e amplo</p><p>Essa classificação feita por alguns autores divide os crimes complexos em sentido estrito e sentido amplo. O crime complexo em sentido estrito é a formação do tipo pela junção de dois ou mais tipos, como nos citados exemplos do roubo, extorsão mediante sequestro. Já o crime complexo em sentido amplo é a junção de um tipo com outra conduta lícita, como o estupro (art. 213, CP) que é o constrangimento ilegal (art. 146, CP) acrescido de ato sexual (conjunção carnal ou outro ato libidinoso) que, por si só, é um ato atípico (estupro = constrangimento ilegal + ato sexual).</p><p>Há controvérsia na doutrina sobre a existência de crime complexo em sentido amplo.</p><p>Nucci sustenta existir os crimes "complexos em sentido amplo, cuja constituição se dá pela união de um tipo incriminador associado a uma conduta lícita qualquer. Exemplo disso é o estupro, que vincula o constrangimento ilegal ao ato libidinoso".[3: Ibdem.]</p><p>Damásio, por sua vez, não aceita essa classificação, sustentando que "inexiste entre nós a figura do crime complexo em sentido amplo". Só "há delito complexo na reunião típica de dois ou mais fatos que, de per si, configuram delitos." [4: JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007.][5: Ibdem.]</p><p>Mayrink da Costa afirma que é possível o crime complexo ocorra se o tipo é formado por outros tipos, ou seja, dois ou mais tipos são componentes de um outro tipo, como nos citados exemplos de roubo, extorsão mediante sequestro. Mas é possível que o tipo sirva para agregar uma circunstância que majore a pena, sem modificação do nomem juris. É o caso do crime de arremesso de projétil, no qual a lesão corporal e a morte não integram o tipo, mas funcionam como causas de aumento de pena. Essa situação se dá:</p><p>(...) quando um dos tipos particulares entra como elemento constitutivo e o outro como circunstância agravante, ficando sem modificação o nomen juris do tipo fundamental, ao qual se agrega a circunstância que implica um aumento de pena.[6: MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2013. Cit.p.41.]</p><p>Damásio afirma que tal hipótese ocorre se "um delito integra outro como circunstância qualificadora." Nesse sentido é crime progressivo todo tipo que possui qualificadora pelo resultado lesão corporal de natureza grave ou morte. Vejamos:[7: JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007. Cit.p.197.]</p><p>Arremesso de projétil</p><p>Art. 264 -</p><p>Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar:</p><p>Pena - detenção, de um a seis meses.</p><p>Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta morte, a pena é a do art. 121, § 3º, aumentada de um terço.</p><p>Pena no crime complexo</p><p>Importante destacar que a pena nos crimes complexos foi cominada levando-se em conta todos os elementos do crime, razão pela qual não há que se cogitar a existência de concurso de crimes, pois há nesse caso uma só pena que contém a "valoração conjunta dos fatos concorrentes". Ou seja, o legislador considera os vários elementos do tipo complexo e atribui uma pena correspondente.[8: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1ºa 120 do código penal - 5. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. Cit.p. 334.]</p><p>Ação penal no crime complexo</p><p>O Código Penal contém uma regra referente à ação penal no crime complexo no art. 101, CP. Assim é a íntegra da legislação:</p><p>Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público.</p><p>O sentido do artigo é que se para um dos crimes que é componente do crime complexo, a ação penal prevista é pública, deverá prevalecer para o crime complexo — que contém o crime de ação pública — a ação penal pública. Se for definir isso em uma equação é possível fazer o seguinte esquema: crime complexo = crime simples nº 1 + crime simples nº 2. Se, por exemplo, para o crime simples nº 2, for prevista ação penal pública, o crime complexo também será de ação penal pública.</p><p>Crimes progressivos e progressão criminosa</p><p>No crime progressivo, um tipo mais grave contém outro menos grave, de modo que não se comete o mais grave sem passar pelo menos grave, que é chamado de "delito de passagem". Segundo Mayrink, se dá "quando um tipo mais grave contém outro menos grave; sua realização não pode efetuar-se senão passando pela consunção no tipo em que se acha compreendido."[9: MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2013. Cit.p.41.]</p><p>É o que se dá no homicídio e na lesão corporal. É impossível cometer homicídio, sem antes cometer lesão corporal. Por exemplo, quando a faca penetra no abdome da vítima, produz lesão à integridade corporal da vítima, mas em razão disso há o resultado morte. Obviamente, o autor responderá apenas por homicídio que, por ser um crime progressivo, não poderia ter sido praticado sem causar lesão corporal.</p><p>Diferentemente, na progressão criminosa, há uma evolução do dolo do agente que inicialmente tinha dolo de cometer um crime menor mas, após o início do crime menor, toma a decisão de cometer crime mais grave. Isso se dá na situação em que o autor pretende cometer lesão corporal e durante a execução do crime, decide cometer homicídio. Ou seja, inicialmente o dolo era de cometer lesão corporal, mas no momento da execução da lesão, surgiu o animus necandi, que levou ao autor ao cometimento de crime mais grave, ou seja, o homicídio. Neste sentido:</p><p>A progressão criminosa é a evolução da vontade do agente, fazendo-o passar, embora em um mesmo contexto, de um crime para o outro, normalmente voltado contra o mesmo bem jurídico protegido.[10: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1ºa 120 do código penal - 5. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. Cit.p. 334.]</p><p>A distinção pode ser resumida no seguinte quadro:</p><p>Fato antecedente impunível</p><p>Espécie de progressão criminosa, ocorre quando um delito serve de meio para o mais grave, desde que tenha ocorrido no mesmo contexto fático, "o agente realiza um fato criminoso que se constitui em simples ato preparatório de outro crime que realmente quer realizar". [11: MARTINELI, João Paulo Orsini; BEM, Leonardo Schimitt de. Lições fundamentais de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2016. Cit.p.360.]</p><p>É a situação corriqueira do agente que porta arma de fogo para a prática de crime de roubo. A dúvida é: deve responder apenas pelo roubo (art. 157, CP) ou se também deve responder por porte ilegal de arma (art. 14 ou 16, da Lei 10.826/2003)?</p><p>Para o Superior Tribunal de Justiça, o porte ilegal de armas é absorvido pelo crime de roubo:</p><p>PENAL. HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO EM CONCURSO MATERIAL PELA PRÁTICA DOS DELITOS DE ROUBO MAJORADO PELO CONCURSO DE AGENTES TENTADO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO AO CASO. POSSIBILIDADE. ARMA UTILIZADA DENTRO DO MESMO CONTEXTO FÁTICO EM QUE PRATICADO O CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO.</p><p>I - "Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça, de acordo com o princípio da consunção, haverá a relação de absorção quando uma das condutas típicas for meio necessário ou fase normal de preparação ou execução do delito de alcance mais amplo." (HC 97872/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 21/09/2009).</p><p>II - Na hipótese dos autos, é de se reconhecer a aplicação do referido princípio, haja vista que os delitos de roubo majorado pelo concurso de pessoas tentado e o de porte ilegal de arma de fogo foram praticados no mesmo contexto fático, sendo que este último foi um meio empregado para a prática daquele. Habeas corpus concedido para reconhecer a aplicação do princípio da consunção, absolver o paciente da prática do crime de porte ilegal de arma de fogo. (STJ — HC 138530 / SP — 5ª T — Rel. Min. Félix Fischer — 02/10/2010)</p><p>No que se refere ao porte de arma e homicídio, o Supremo Tribunal Federal já decidiu em caso singular, que apesar da absolvição do homicídio, por legítima defesa, remanescia o porte ilegal de armas:</p><p>CRIME - HOMICÍDIO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO - EXCLUDENTE DE ILICITUDE - LEGÍTIMA DEFESA - EXTENSÃO - IMPROPRIEDADE. Não se comunica a excludente de ilicitude que é a legítima defesa, relativa ao homicídio, ao crime autônomo de porte ilegal de arma. (HC 120.678/PR — 1ª T — Rel. Min. Luiz Fux — Relator para o acórdão Min. Marco Aurélio — j. 24/02/2015.)</p><p>Interessante observar nessa decisão, que estavam presentes no julgamento da 1ª Turma, apenas três ministros, o relator Luiz Fux, a Presidente Min. Rosa Weber e o Ministro Marco Aurélio. O Relator Min. Luiz Fux concedia a ordem, para trancar a ação penal do crime de porte ilegal de armas, mas foi vencido pelos votos da Min. Marco Aurélio e Min. Rosa Weber. No voto vencido o Min. Luiz Fux deixou consignado:</p><p>Este o quadro, evidencia-se que o crime de posse e porte de arma de fogo configurou exclusivamente um meio para o exercício da legítima defesa pelo paciente, no momento em que se mostrou necessário.</p><p>Parece-nos que a melhor solução estava no voto vencido, já que a arma foi portada especialmente essa hipótese de legítima defesa, pois "a prática de um comportamento justificado, como a legítima defesa no homicídio, a ilicitude do segundo comportamento exclui a ilicitude do primeiro crime".[12: Ibdem. cit.p.362.]</p><p>Quanto à arma de fogo e homicídio, parece ser essa a melhor interpretação:</p><p>Há muito vem sendo alterado o entendimento dos tribunais no sentido de que a posse da arma sempre configura crime-meio para o homicídio, restando absorvida a conduta pelo crime mais grave. Isto porque os delitos em questão não mais se configuram como crime e contravenção como no passado, sendo hoje considerados delitos independentes, vez que suas tipificações visam à proteção de bens jurídicos diversos, quais sejam, a vida e a incolumidade pública. Assim, o posicionamento atual é que diante do caso concreto deve-se analisar se realmente a posse da arma, como meio de execução, esgotou-se tão-somente com a morte da vítima, ou seja, se o réu apenas teve-a sob sua posse para a consecução do homicídio. Se de outra forma, porém, o homicida já a levava consigo sem motivo ou mesmo guardava-a em sua residência, resta claro que o objetivo colimado não é a defesa ao perigo iminente que</p><p>lhe expõe a vítima ou mesmo para sua agressão, mas a utilização para outros fins, de modo que restará configurado, em tese, o delito autônomo de porte ilegal de arma" (TJSP - 4.ª C. - Rec. 391.996-3/3 - Rel. Canellas de Godoy - j. 16.12.2003 - JTJ-LEX 275/503).</p><p>Fato posterior impunível</p><p>Fato posterior impunível é a "sucessão de fato menos grave, contra objeto jurídico já atingido por delito mais grave, inexistindo motivo para a dupla punição." É a situação de quem comete furto e depois destrói a res furtiva, ou a hipótese em que logo após o estupro consumado, no mesmo contexto fático, há a ameaça do agente, de que se a vítima avisar a polícia ele voltará para matá-la. [13: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1ºa 120 do código penal - 5. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. Cit.p. 334.]</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Fulano aborda a vítima em seu carro, subtrai seus bens e, após isso, a deixa amarrada em uma árvore em local ermo. Fulano foi preso conduzindo o carro da vítima e foi denunciado por crime de roubo (art. 157, CP) e sequestro e cárcere privado (art. 148, CP).</p><p>Pergunta-se: é correta a dupla imputação ou deve ser condenado apenas por crime de roubo?</p><p>RESPOSTA 1-O crime de roubo é crime complexo, formado pelo crime de furto, ameaça, lesão corporal ou constrangimento ilegal. Se houver privação de liberdade para o fim da subtração, não há dúvida que o crime será apenas de roubo majorado pela restrição de liberdade (art. 157, § 2º, V, CP). Contudo, é da jurisprudência que, se houver a privação da liberdade após a subtração, como no caso concreto, haverá concurso de crimes entre roubo e sequestro e cárcere privado (art. 148). “Se o roubo já se havia consumado, quando o agente deu início à execução do crime de cárcere privado, não tendo sido este delito meio para a execução do crime patrimonial, nem imprescindível para assegurar tal execução, não se tratando, portanto, de exaurimento do primeiro crime, ocorre roubo e cárcere privado, isoladamente, em concurso material, não havendo que se falar em absorção do segundo pelo primeiro” (TJMG – Ap. – Rel. Mercêdo Moreira – j. 18.11.1997 – RTJE 168/390).</p><p>QUESTÃO 2-Quanto aos crimes progressivos, assinale a alternativa INCORRETA:</p><p>RESPOSTA 2-Não se relacionam em nenhuma forma com os crimes complexos".</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- O crime progressivo é aquele que para ser praticado, necessariamente, se comete outro anteriormente, que fica absorvido, chamado de delito de passagem. Tem total relação com o crime complexo, pois o delito de passagem está contido no crime progressivo.</p><p>AULA II - CRIMES HABITUAIS</p><p>Introdução</p><p>Na classificação de crimes, o crime habitual tem importância fundamental para a identificação do momento consumativo do crime, bem como na "sucessão de leis penais no tempo". [1: MARTINELI, João Paulo Orsini; BEM, Leonardo Schimitt de. Lições fundamentais de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2016. Cit.p. 372.]</p><p>No crime habitual, a lei define uma prática reiterada, que configura a conduta típica, ou seja, é tipificado um "estilo de vida indesejado pela lei penal". "Crime habitual consiste na reiteração da mesma ação, de modo a consitituir um hábito de vida que incide sob a reprovação penal (ex.: o curandeirismo)". Também pode ser citado como exemplo o exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica. Vejamos:[2: Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 16ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. Cit.p. 335.][3: HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.45.]</p><p>Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica</p><p>Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:</p><p>(...)</p><p>Curandeirismo</p><p>Art. 284 - Exercer o curandeirismo:</p><p>I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;</p><p>II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;</p><p>III - fazendo diagnósticos:</p><p>O crime habitual tem elementos constitutivos imprescindíveis para sua caracterização: Segundo Nucci: "a) reiteração de vários fatos; b) identidade ou homogeneidade de tais fatos; c) nexo de habitualidade entre tais fatos".[4: Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 16ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. Cit.p. 335.]</p><p>Classificação</p><p>Delito habitual próprio, ou propriamente o crime habitual, é um crime composto de condutas reiteradas. Vale dizer o tipo contém a reiteração das condutas, sem a qual não se configura o crime.</p><p>Por outro lado, o delito habitual impróprio, também chamado de habitualidade delitiva, ocorre se há reiteração de crimes instantâneos ou permanentes, como no exemplo de pessoa que vive de furtos.</p><p>É possível, também o uso da designação crime profissional, para o tipo de crime habitual em que a habitualidade decorre o ânimo de lucro, como no caso do rufianismo (art. 230, CP). "Se o agente procede lucri faciendi causa, fala-se em crime profissional." Assim:[5: HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.45.]</p><p>Rufianismo</p><p>Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: (...)</p><p>É possível, também, que a habitualidade, ao invés de compor o tipo incriminador, funcione como majorante do crime, como na hipótese de lavagem de dinheiro, em que o cometimento de crime de lavagem de forma reiterada leva ao aumento de 1/3 a 2/3 da pena. Vejamos:[6: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017.cit.p.336.]</p><p>Lavagem de dinheiro</p><p>Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (...)</p><p>§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa.</p><p>Distinção do crime continuado</p><p>A diferença é manifesta. Crime continuado, apesar do nome, não é a classificação de crimes, mas sim uma espécie de concurso de crimes (art. 71, CP). Para que ocorra o crime continuado é preciso que sejam cometidos vários crimes em continuidade delitiva. Assim, uma pessoa pode cometer diversos furtos em continuidade delitiva. Ocorrendo isso, será aplicada a pena de um só crime, aumentada de 1/6 até 2/3. Já no crime habitual, trata-se de um só crime, composto da reiteração das condutas. No crime habitual, diz Hungria, "ao contrário do crime continuado, as ações repetidas, aqui, consideradas isoladamente, não constituem crime (somente a reiteração é que faz surgir o crime)." [7: HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.45.]</p><p>Tentativa</p><p>Predomina o entendimento de que é impossível a tentativa de crime habitual, porquanto este crime é composto de reiteração, de modo que "atos isolados são penalmente irrelevantes". Desse modo, tentar praticar um ato não configura o crime, cometeu apenas um ato também não configura o crime, apenas com a prática de vários atos, se dá o crime, que será consumado.[8: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017.cit.p.576.]</p><p>Há, porém na doutrina autores que sustentem a possibilidade da tentativa de crime habitual excepcionalmente. É o que afirmam Zaffaroni e Pirerangeli, para quem é possível a tentativa, como na hipótese de:</p><p>...curandeirismo (art. 284, I, CP) na conduta de quem, havendo instalado um consultório médico — sem diploma e sem licença — está examinando um paciente, sem lhe haver receitado algum medicamento e nem aplicado qualquer tratamento, e que tem mais pacientes na sala de espera.[9: ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Tentativa. São Paulo: RT, 1998. Cit.p. 60.]</p><p>Mirabete afirma que em "em casos excepcionais" é possível a tentativa de crime habitual. Apesar de afirmar que "no crime habitual,</p><p>é difícil a hipótese de tentativa, visto que, ou a reiteração ocorreu, verificando-se o exercício a atividade ilegal, ou não se deu, e o fato é indiferente, não se corporificando a tentativa", Reale Jr., acompanha o entendimento de Zaffaroni e Pierangeli, afirmando que "importa se poder reconhecer, excepcionalmente, a tentativa em crime habitual dada a inequivocidade defluente do conjunto das circunstâncias." [10: MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal interpretado. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. Cit.p.150.][11: REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de Direito Penal: parte geral. 4ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2012. Cit.p. 290.][12: Ibdem.]</p><p>Prisão em flagrante</p><p>Questão controversa também diz respeito sobre a possibilidade de prisão em flagrante por crime habitual. Segundo a posição predominante na doutrina, é impossível, porquanto um único ato é irrelevante penalmente e flagrar o sujeito cometendo um ato não é suficiente para assegurar a "certeza visual" do flagrante. Nesse caso a percepção é sempre de um ato isolado, que é insuficiente para a configuração do crime. É o que leciona Badaró:</p><p>A prisão em flagrante no crime habitual também tem suscitado dúvidas. O crime habitual é composto por uma série reiterada de atos que, isoladamente, não caracterizam crime (por exemplo, exercício ilegal da medicina). Assim, um único ato (por exemplo, receitar uma única vez, um único remédio) não caracteriza o crime, pois não estará satisfeito o elemento da habitualidade, que exige a reiteração da conduta no tempo. Embora haja controvérsia na doutrina, tem prevalecido o entendimento de que é impossível o flagrante no caso de crime habitual, posto que a 'certeza visual' do cometimento do delito jamais cobriria o conjunto de atos necessários para caracterização da reiteração de condutas. Haveria, apenas, a percepção de um único ato isolado que, em si, não é crime. No momento da visualização do ato, o que se constata é um indiferente penal.[13: BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. Cit.p. 1004.]</p><p>No mesmo sentido, diz Nucci, que:</p><p>(...) a flagrância não se dá no delito habitual porque o seu cometimento é dilatado no tempo, não representando uma surpresa (como exigiria o flagrante), mas apenas uma comprovação da habitualidade, ou seja, da frequência de atos. [14: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017.cit.p.336.]</p><p>Sem sentido contrário, Castelo Branco, embora afirmando ser de "difícil solução prática", admite, desde que a polícia faça antes uma sindicância, para comprovar a habitualidade.[15: CASTELO BRANCO, Tales. Da prisão em flagrante. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1984. Cit.p.78.]</p><p>Na jurisprudência, destacamos dois julgados, o primeiro entendendo ser impossível o flagrante e o segundo em posição diversa:</p><p>Ainda que a habitualidade venha a ser demonstrada no curso da ação penal, não se justifica, sem a sua plena e pronta comprovação, sob qualquer pretexto, a detenção de quem quer que seja. O auto de prisão em flagrante, por si só, não prova habitualidade do crime de que é acusado o paciente. Logo, sofre ele inegável constrangimento ilegal, ferido que foi no seu indeclinável direito de liberdade, como cidadão" (TJSP - HC - Rel. Hoeppner Dutra - RJTJSP 37/241).</p><p>E ainda:</p><p>Como se faz a prova plena e cabal da indispensável habitualidade? Evidentemente pela sindicância administrativa prévia, presidida pela autoridade policial, responde a jurisprudência predominante (conf. Alberto Silva Franco in Código Penal e Sua Interpretação Jurisprudencial, Ed. RT 1990, p. 1.198 e 1.204 e Celso Delmanto em seu Código Penal Anotado, Ed. Saraiva, 19834, p. 288)" (TJSP - AC 103.0210318 - Rel. Márcio Bártoli).</p><p>Após analisar tais ementas é possível observar posicionamentos diversos na jurisprudência.</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Um homem foi visto por policiais militares em um conhecido ponto de prostituição de travestis, recebendo de duas travestis, valores em dinheiro. Os policiais abordaram o homem e ele admitiu que recolhia dinheiro porque dava proteção às pessoas que se prostituíam naquele quarteirão. Os policiais militares o levaram preso e ele foi autuado em flagrante por crime de rufianismo (art. 230, CP), pois segundo o delegado ele participava diretamente dos lucros de quem se prostituía.</p><p>A prisão em flagrante está correta?</p><p>RESPOSTA 1-Trata-se da velha questão sobre a possibilidade de prisão em flagrante nos crimes habituais. Há controvérsia doutrinária a respeito, mas, mesmo os autores que admitem a possibilidade de flagrante entendem ser imprescindível a demonstração, mediante sindicância, de demonstração da habitualidade. No caso concreto, não há demonstração da habitualidade, razão pela qual não seria possível a prisão em flagrante. “Ainda que a habitualidade venha a ser demonstrada no curso da ação penal, não se justifica, sem a sua plena e pronta comprovação, sob qualquer pretexto, a detenção de quem quer que seja. O auto de prisão em flagrante, por si só, não prova habitualidade do crime de que é acusado o paciente. Logo, sofre ele inegável constrangimento ilegal, ferido que foi no seu indeclinável direito de liberdade, como cidadão” (TJSP – HC – Rel. Hoeppner Dutra – RJTJSP 37/241).</p><p>QUESTÃO 2-São requisitos para o reconhecimento do Crime Habitual:</p><p>I - Reiteração de vários fatos.</p><p>II - Identidade ou homogeneidade dos fatos.</p><p>III - Nexo de habitualidade entre os fatos.</p><p>IV - No mínimo a prática de 3(três) fatos no período de 1(um) ano.</p><p>RESPOSTA 2-I, II e III estão corretas.</p><p>Fundamentação: A única afirmativa incorreta é a IV, pois não há quantidade estipulada pela doutrina, jurisprudência ou lei, quanto ao número de condutas que devem ser cometidas.</p><p>AULA III - CRIMES UNISSUBJETIVOS/UNISSUBSISTENTES E PLURISSUBJETIVOS/PLURISSUBSISTENTES</p><p>Na classificação de crimes, é importante a referente ao número de agentes, que divide os crimes entre unissubjetivos e plurissubjetivos. Quanto ao iter criminis, há a divisão entre os crimes unissubsistentes e plurissubsistentes.</p><p>Classificação quanto ao número de agentes: unissubjetivos e plurissubjetivos.</p><p>Unissubjetivos (monossubjetivos ou unilaterais), são "os que podem ser praticados por uma só pessoa". Por sua vez, os crimes plurissubjetivos são os crimes em que o tipo exige que mais de uma pessoa cometam o crime, ou seja, não podem ser praticados por uma só pessoa, "somente podem ser cometidos por mais de uma pessoa". [1: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p.332.][2: Ibdem. cit.p. 333.]</p><p>Os crimes plurissubjetivos são também chamados de crimes de concurso necessário de agentes, pois obrigatoriamente haverá concurso de pessoas. Daí a doutrina diferenciar o concurso necessário, nos crimes plurissubjetivos, do concurso eventual de pessoas, que ocorre na hipótese em que um crime unissubjetivo foi cometido por mais de uma pessoa. Isso significa dizer que a característica do crime unissubjetivo é que ele pode ser cometido por apenas uma pessoa, mas nada impede que, eventualmente, ele seja cometido por mais de um agente. O homicídio é unissubjetivo e não é raro que seja cometido em concurso de pessoas, vale dizer, concurso eventual de pessoas.</p><p>Os crimes plurissubjetivos dividem-se em condutas paralelas, convergentes e contrapostas. Os de condutas paralelas (crimes coletivos, de convergência), são aqueles em que os autores atuam na mesma direção, com o mesmo propósito criminoso, como nos crimes de associação criminosa (art. 288, CP) associação para o tráfico (Lei 11.343/2006). Embora usando outra nomenclatura — "crimes coletivos" —, Hungria define essa espécie de crime, como "os que tem como elemento constitutivo o concurso de várias pessoas para um fim comum". Vejamos a íntegra dos artigos:[3: HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.p. 50.]</p><p>Associação Criminosa</p><p>Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.</p><p>Lei 11.343/2006</p><p>Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:</p><p>Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.</p><p>Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.</p><p>Os crimes plurissubjetivos de condutas convergentes, são "os que, por sua própria natureza, exigem o encontro de duas pessoas". Segundo Damásio, "exigem o concurso de pessoas, mesmo que uma não seja culpável". É o exemplo do crime de bigamia (art. 235, CP). Essa é uma questão relevante, apenas nos crimes plurissubjetivos de condutas convergentes, é possível que apenas um dos agentes tenha dolo. Se o casado contrai novo casamento com pessoa que ignora essa condição, apenas o casado terá cometido crime, pois só ele tinha dolo. Obviamente, se a convergência do outro, não seria possível cometer crime de bigamia, já que não se casa sozinho, mas o que desconhece a condição de casado não age com dolo, portanto não comete crime. Neste sentido, vale conferir o que estabelece o artigo:[4: Ibdem.][5: Jesus, Damásio E. de. Direito Penal: 1º vol.: parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007. Cit.p. 205.]</p><p>Bigamia</p><p>Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento.</p><p>Os crimes plurissubjetivos de condutas contrapostas são os que, embora seja imprescindíveo o concurso de pessoas, não há um propósito comum, pelo contrário, há projetos antagônicos, como na rixa (art. 137, CP), veja:</p><p>Rixa</p><p>Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores.</p><p>Crime de dupla subjetividade passiva</p><p>Trata-se do crime que exige mais de um sujeito passivo, em sua definição legal. Segundo Damásio, "são crimes que têm, em razão do tipo, dois sujeitos passivos". Observe:[6: Ibdem. cit.p. 204.]</p><p>Violação de correspondência</p><p>Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem.</p><p>É o caso da violação de correspondência (art. 151, CP), em que há dois sujeitos passivos, que são as duas pessoas envolvidas na relação epistolar: tanto o remetente como o destinatário da carta.</p><p>Classificação quanto ao iter criminis: unissubsistentes e plurissubsistentes.</p><p>Crimes unissubsistentes são aqueles que se configuram com a prática de um ato único, o crime "se realiza com um só ato". Tratando-se de um ato único, não é possível o fracionamento do iter criminis. São exemplos de crimes unissubsistentes a injúria e a ameaça verbais, pois em tais situações não se pode falar em fracionamento do iter criminis. "Nos crimes unissubsistentes — diz Hungria —, o processo executivo consiste num só ato (único actu perficiuntur), coincidindo este, temporalmente, com a consumação, de modo que não admitem tentativa". E continua Mirabete: "Nesses crimes, não é possível desmembrar os atos de execução porque um único ato é suficiente para atingir a consumação. E, por isso, esses delitos não admitem a tentativa, pois após um ato o crime está consumado." [7: Ibdem.][8: HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.p. 48 - 49.][9: Hungria, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.p.372.]</p><p>Voz dissonante na doutrina nacional, é a posição de Zaffaroni e Pierangeli que após citação de Aníbal Bruno, no sentido de que não há tentativa no crime unissubsistente, opinaram o seguinte:</p><p>Este é, praticamente aceito pela doutrina nacional. Nós acreditamos que não se pode tê-lo como critério geral e absoluto, porque, contrariamente, haverá sempre necessidade de se considerar o plano concreto do autor, da mesma maneira que se faz no caso de limitação dos atos preparatórios e executivos. Com efeito, a injúria verbal pode ser constituída por uma só palavra, ainda mais, a injúria pode ser uma simples gesticulação, um único movimento do corpo. Mas também pode ser constituída de uma frase, que, embora breve, possui um começo e um final, e é ela, na sua totalidade, que forma uma unidade de sentido, uma totalidade simbólica. Assim, acreditamos que, em casos tais, o começo de uma frase é um começo de execução, quando não tenha ela abrangido o sentido total do símbolo injuriante.[10: ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Tentativa. São Paulo: RT, 1998. Cit.p. 377.]</p><p>Por sua vez, os crimes plurissubsistentes "exigem vários atos", a conduta, em tais crimes, é composta de vários atos. Em tais crimes, "há um iter, desdobrando-se a execução em etapas ou atos sucessivos." E continua Martinelli no seguinte sentido: "A maioria dos crimes necessita de vários atos para sua prática, o que autoriza o desmembramento dos atos de execução." [11: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p.336.][12: Hungria, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.p.49.][13: MARTINELI, João Paulo Orsini; BEM, Leonardo Schimitt de. Lições fundamentais de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2016. Cit.p. 372.]</p><p>Mayrink também elucida sobre a inviabilidade da tentativa nos crimes unissubsistentes, "que se caracterizam por seu início e consumação instantânea com a realização do ilícito da ação em um só ato".[14: MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2013. Cit.p.62.]</p><p>São exemplos o crime de homicídio, estupro, furto etc. É de fundamental importância a lição de Nucci, para que se faça a distinção entre conduta e ato:</p><p>Não se confunda o ato com a ação, que é o conjunto de atos. Ilustrando, para o cometimento de um homicídio, cujo verbo do tipo é matar, são necessários vários atos (carregar o revólver com projéteis, procurar pela vítima, desferir um tiro, etc.: vários atos, mas uma só ação).[15: NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Cit.p.336.]</p><p>A conduta é identificada pelo verbo núcleo do tipo (matar, subtrair, constranger). Na maioria das vezes, a conduta típica é praticada mediante vários atos, pois a maior parte dos crimes é plurissubsistente. Contudo, nos crimes unissubsistentes, a peculiaridade é que a conduta é praticada mediante ato único. Conforme Nelson Hungria:</p><p>É possível, ainda, nos crimes plurissubsistentes que haja uma separação no espaço entre a ação e o resultado, "fala-se em crime à distância ou de trânsito". Em tal situação, pode haver importância tanto para a identificação da aplicabilidade da lei penal brasileira, no que se refere à adoção da teoria da ubiquidade, pelo art. 6º, CP, como para a identificação da competência territorial (art. 70, CPP). Vejamos o que estabelece a Lei:[16: Hungria, Nélson. Comentários ao Código Penal. vol. I. tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1958. Cit.p.49.]</p><p>Lugar do crime</p><p>Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.</p><p>Código de Processo Penal</p><p>Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.</p><p>§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.</p><p>§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.</p><p>§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.</p><p>Assim, analisamos alguns aspectos e divergências doutrinárias que envolvem os crimes unissubsistentes e plurissubsistentes. Na próxima</p>

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