Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

<p>sepultado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro. Bonita, inteligente, jornalista e poetisa estimada e admirada nos meios literári- Narcisa Amália despertou grandes paixões; era compreensível que provocasse a ira de admiradores mais afoitos, por ela rejeitados. A sociedade da época ainda não Narcisa Amália está acostumada a ver sobressair um talento feminino do porte de Narcisa Amália e assusta. Uma das acusações mais abjetas, incitada provavelmente pelo marido despre- Sylvia Perlingeiro Paixão zado, parte de Múcio Teixeira, em "Memorias dignas de Segundo o Barão de Ergonte, como também era conhecido o difamador, Narcisa Amália não seria a autora dos versos de Nebulosas, tendo estes sido feitos por um poeta desconhe- cido: arcisa Amália de Campos nasceu em São João da Barra, RJ, a 3 de abril de Um professor do interior da província do Rio de Janeiro, chamado Jácome de 1852, filha do poeta Jácome de Campos e Narcisa Inácia de Campos, professora Campos, teve a leviandade de consentir que um poeta da geração de 1870 tomasse primária. Aos 11 anos, se transfere para Resende, RJ, com a família e, aos 14, casa-se para pseudônimo nome de sua filha Narcisa Amália, que tão lisonjeada ficou com com João Batista da Silveira, artista ambulante, de vida irregular, de quem se separa os elogios da imprensa, ao ponto de não impedir que esses versos fossem colecionados alguns anos mais tarde. Em 1872, publica seu primeiro e único livro de poesia, em um livro que, com título de Nebulosas e seu retrato, foi lançado aos quatro Nebulosas, que alcança grande repercussão nos meios literários. ventos da publicidade. Em 1880, novo casamento, dessa vez com Francisco Cleto da Rocha, também chamado Rocha Padeiro, por ser dono de uma padaria, a "Padaria das cm A infâmia só será desfeita mais tarde por Antônio Simões dos Reis, através de Resende. Ajudando o marido nos primeiros anos, nem por isso Narcisa Amália um minucioso estudo bibliográfico que termina de vez com todas as dúvidas a deixava de receber os amigos literatos em sua casa, chegando a promover um peque respeito de Narcisa no sarau. Na sua casa, estiveram nomes famosos, como Raimundo Correia, Embora seu livro tenha sido publicado em 1872, época em que Parnasianismo Murat, Alfredo O segundo casamento não poderia durar muito, devido às se afirmava como tendência literária, os poemas de Nebulosas são expressivos do diferenças intelectuais que separavam o casal. Narcisa Amália é forçada a deixar a Romantismo na exaltação da natureza, nas lembranças da infância e no amor à pátria. cidade que considerava sua terra, pressionada por campanha maledicente movida Narcisa Amália é, por certo, um dos raros nomes femininos que falam da identidade pelo marido enciumado. nacional, através da exaltação da terra brasileira. O Romantismo é o momento em que O Imperador Pedro II, por ocasião de sua visita a Resende, mostra interesse poeta investe na identidade nacional, tematizando a natureza e a pátria, enaltecendo em conhecer a poetisa, que desperta um certo mal-estar, pois Narcisa Amália pitoresco, grandioso, como forma de atrair a atenção no sentido de firmar o residia numa padaria. O fato provoca no imperador um comentário espirituoso e não conhecimento da terra. É preciso tomar posse dessa terra, possuí-la, o que se dá por impede que encontre a autora de Nebulosas, cujos versos conhecia e admirava: meio da palavra, que assume a função de guia. A poesia de Narcisa Amália reflete esse por isso não. Não dilatemos a visita. Vamos sem perda de tempo, porque enfim momento em que a invocação à pátria se repete incessantemente, como se mostrasse visitar a sublime padeira, por estar ansioso por lhe provar... do pão espiritual." desejo de ser levada de volta ao seio materno, numa poética uterina que imprime o No Rio de Janeiro, Narcisa Amália dedica-se ao magistério, publicando esparsos retorno ao lugar de origem, a fim de buscar a sua própria identidade. O pico do na imprensa, vindo a falecer a 24 de junho de 1924, cega e paralítica. Seu corpo foi Itatiaia durante muito tempo considerado o ponto mais alto do Brasil cidade 1. A interessante versão é de Lindolfo Gomes (Nemo), contemporâneo do Apud OSCAR, João 2. TEIXEIRA, Múcio. dignas de In: A Imprensa. Rio de Janeiro, 1. mar. 1912. Narcisa Vida e poesia. Campos: Lar Cristão, 1994, p.70. 3. REIS, Antônio Simões dos. Narcisa Bibliografia brasileira. Rio de Janeiro: Simões, 1949. 534 535</p><p>de Resende, a Festa de São João, as recordações de infância, nada mais são do que suplemento do que tinha como "folha dedicada ao belo sexo". complementos de uma outra temática que se alia à da com a mesma finalidade O estudo mais recente sobre Narcisa Amália foi publicado em 1994, por João a busca do autoconhecimento que se expressa também na temática da Sua obra completa o trabalho de Antônio Simões dos Reis, apresentando Quando Narcisa Amália publica Nebulosas, em 1872, é bem recebida pelos novos dados a respeito da poetisa fluminense, resultado de exaustivas pesquisas críticos da época, como Sílvio Romero. Defensor das idéias do cientificismo que realizadas pelo autor, destacando não apenas o seu valor poético, mas ressaltando a inovam a literatura sob o nome de Parnasianismo, Sílvio Romero reconhece talento sua contribuição na imprensa brasileira, como feminista, abolicionista, republicana, de Narcisa Amália, embora veja na sua poesia traços remanescentes da estética defensora dos oprimidos por uma sociedade nem sempre justa. mântica que o crítico abomina: OBRAS E por maior honraria nossa, seja um dos autores nacionais dos últimos tempos, e entre eles a inteligente sonhadora das A leitura desse livrinho deixa-nos (Poesia). Rio de Janeiro: Garnier, 1872. a mais grata impressão acompanhada de um sentimento menos estimável. des cobre-se um talento de nota que por certo podia ter uma florescência mais exube Nelúmbia. (Conto). In: Lux! Campos, 1. dez. 1874, p. 158-60. rante, se não fossem as manhas que o desfiguram, pálidas sombras saídas do centro Duas palavras sobre este livro. Prefácio a Flores do campo, de Ezequiel Freire. escuro da escola a que a autora se filiou.4 "A mulher no séc. XIX". In: Democratema. Comemorativa ao aniversário da do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1882, p. 31- O mesmo crítico destaca na poesia de Narcisa Amália, como qualidade maior, 35. o fato de ter silenciado a fala do desejo amoroso:"A autora das Nebulosas teve esse senso delicado e fez o sacrifício de emudecer a fibra mais agitável de todos os JORNAIS E REVISTAS ções: a do amor." Machado de Assis, a propósito do lançamento do livro de Ezequiel Freire, As Colaborou em: Astro Resendense, O Espirito Santense, A República (RJ), Correio do flores do campo, elogia Narcisa Amália, a autora do prefácio da obra: Brasil (RJ), O Espirito Santo (ES), Diário de Pernambuco (PE), Acadêmico (RJ), O Domingo (RJ), Lux! (Campos-RJ), Fluminense (Niterói-RJ), Diário Mer- As flores do campo, volume de versos dado em 1874, tiveram a boa fortuna de cantil (SP), Friburguense (Friburgo-RJ), Tymburitá (Resende-RJ), Garatuja trazer um prefácio devido à pena delicada e fina de Amália, essa jovem (Resende-RJ), A Família (SP), A República (Aracaju-SE), Correio Literário (RJ), e e bela poetisa, que há anos aguçou a nossa curiosidade com um livro de versos, e Almanaque das Senhoras (RJ). recolheu-se depois à turris eburnea da vida BIBLIOGRAFIA Narcisa Amália foi a primeira mulher a se profissionalizar como jornalista, alcançando projeção em todo Brasil com seus artigos em favor da Abolição da ALMEIDA, A. C. Uma estréia de Ezequiel Freire. A São Paulo, 1 maio 1875. Escravatura, em defesa da mulher e dos oprimidos em geral. Embora admirasse ANDRADE, Maria Rita S. de. A mulher na literatura. Aracaju: Casa Ávila, 1929, p. 124-25. Imperador Pedro II, a quem conheceu em 1874, era uma republicana, uma ASSIS, Machado de. A nova geração. Literária, Rio de Janeiro, 1938. abolicionista, colocando sua arte a serviço do seu ideário de libertação. BITTENCOURT, Nova História da Literatura Vol. IV. Rio de Janeiro: [s. n.] Sua colaboração nos jornais de Resende foi intensa, chegando mesmo a fundar BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionário bibliographico brazileiro. Rio de Janeiro: em 13 de outubro de 1884, o Gazetinha, jornal de pequeno formato, quinzenal, um Imprensa Nacional, 1900, 6, p. 303-304. BOPP, Itamar. Quatro personagens de Resende: [s. n.] 1985. 4. ROMERO Sílvio. A alegria e a tristeza na literatura. Estudos de literatura Rio de Janeiro: [s. n.] 1885, p. 121-8. 5. ASSIS, Machado de. A nova geração. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1985, v.3. OSCAR, João, op. cit. 536 537</p><p>BRAGA, Lisboa Francisco Artur da Silva, LYGIA [Georgina Macedo]. Dois nomes. Imprensa Resendense, Resende, 13 maio 1908. BROCA, Romanticos, São Paulo: Polis; INL, MAIA, João de A. C. Notícias históricas estatísticas do Município de Resende. Rio de Janeiro: [s. n.] CAMPOS, Jacome de. Ao Sr. Antero A Republicada, Rio de Janeiro, 19 Astro Resendense, Resende, 11 dez. 1870. Narcisa Amália. Resendense, Resende, 4 mar. 1880. CESARIO, Doria. As intelectuais brasileiras. A Cruzada, 1 fev. 1908. OSCAR, João. Apontamentos para a de São João da Barra. Teresópolis: Mini-Gráfica, 1977. CORDEIRO, L. Uma poetisa brasileira. In: Estros e palcos. Lisboa, [s.n.] 1874, p. 51-71. E os voaram. Mini-Gráfica, 1973. Introdução à história literária de São João da Barra. Mini-Gráfica, 1972. COSTA, Afonso. Poetas de outro sexo. Rio de Janeiro: [s.n.] 1930. Narcisa Amália. Vida e poesia. Campos: Lar Cristão, 1994. DANTAS, Mercedes. A precursora do feminismo no Brasil. Revista da Semana, Rio de Janeiro, 30 1929. PAIXÃO, Múcio da. Movimento literário em Campos. Rio de Janeiro: [s. n.] 1924. DORIA, Escragnolle. Narcisa Amália. Revista da Semana, Rio de Janeiro, 2 ago. 1924. PAIXÃO, Sylvia P. A fala a menos. A repressão do desejo na poesia feminina. Rio de Janeiro: Numen, FALCÃO, Rubens. Antologia de poetas fluminenses. Rio de Janeiro: Record, 1968. PÓVOA, Pessanha. Prefácio. In: AMÁLIA, Narcisa. Nebulosas. Rio de Janeiro: Garnier, 1872, p. V- FERREIRA, C. [Sem título]. Correio do Brasil, Rio de Janeiro, 14 jul.; 7 out.; 22 dez. 1872. Nebulosas. Correio do Brasil, Rio de Janeiro, 29 dez. 1872. PRISCO, Francisco. Narcisa Amália. In: Mundo Rio de Janeiro: 1923. FERREIRA, N. Folhetim. O Futuro, Rio de Janeiro, 12 jan. 1873. RAMOS, Duvitiliano. Narcisa Amália e sentido de sua poesia. Jornal, Rio de Janeiro, 15 abr. 1945. FLEIUSS, Max. Férias. Anthologia de actuaes escriptores brazileiros. Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho editor, 1902, p. 186 e 491. RAMOS, Sílvio da Silva [Sílvio Romero]. Uns versos de moça. A República, Rio de Janeiro, 12 jun. 1873. FREIRE, Ezequiel. Homenagem, Astro Resendense, Resende, 2 fev. 1873. REIS, Antônio Simões dos. Narcisa Rio de Janeiro: Simões, 1949. Livro posthumo. São Paulo: Weisflag Irmãos, 1910, p. 75. RODRIGUES, Herve S. Campos - na taba dos Goytacases. Niterói: 1988. Narcisa Amália. Diário Mercantil, São Paulo, 16 maio 1886. ROMERO, Sílvio. A alegria e a tristeza na literatura Estudos da literatura Rio de Poesia brasileira. Diário Mercantil, São Paulo, 1 jan. 1887. Janeiro: [s. n.] 1885. FREIRE, Moniz. Itinerário da viagem de Sua Majestade Imperial à do Rio de Janeiro. Rio de História da literatura brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: [s. n.] 1943. Janeiro: Typ. Austral, 1847. S. Flores do Campo por Ezequiel Freire. Tribunal Liberal, São Paulo: 29 dez. 1876. GOMES, Lindolfo. Centenário de Resende. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1 set. 1948. SILVA, Eliseu G. da. Narcisa Amália (poetisa). Correio do Brasil, Rio de Janeiro, 28 mar. 1872. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 22 set. 1948. SILVEIRA, Tasso da. As mulheres poetisas do Brasil. Terra do Sol, Rio de Janeiro, n. 5, maio 1924. Narcisa Amália. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 15 set. 1948. SINCERO, João. As nossas escritoras. Correio Literário, Rio de Janeiro, set. 1890. Perspectivas. Almanaque do Centenário de Resende, Resende, 1902. (Transcrito de Farol, Juiz de Fora, 29 set. 1901.) SIQUEIRA, Walter. Narcisa Campos: Academia Pedralva, 1960. Etc. e tal... A Imprensa, Juiz de Fora, n. 11, 1981. SODRÉ, Alfredo. Uma festa intelectual há 50 anos. Resende, 29 nov. 1925. João. Resende, Almanaque do Centenário de Resende, Resende, 1902. SOUZA, Gercy P. Narcisa Amália, sua vida e sua obra. Seis Pensadores. Campos: Academia Pedralva, 1962. FILHO, Despedida do Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 29 1872. SYLVIO. A nova poetisa. Gazeta de Campos, Campos, 16 jan. 1873. A nova poetisa. Despertador, São João da Barra, 16 fev. 1873. Narcisa Amália (Carta a Dom Domingo Artiaga Alemparte). Astro Resendense, Resende, 20 1873. (Versos em castelhano traduzidos pelo poeta D. Victor Torres Arce). TEIXEIRA, Múcio. dignas de memória. A Imprensa, Rio de Janeiro, 1 mar. 1912. Poetas e poesia. Diário Mercantil, São Paulo, 6 jul. 1887. (Trecho da carta que dirigiu ao poeta TORRES, Artur A. Poetas de Resende. [s. n.] 1949. chileno D. Domingo Artiago Alemparte). TORREZÃO, Guiomar. Narcisa Amália. A Província de São Paulo, São Paulo, 16 nov. 1877. Cristóvão Frederico. Os climas antigos. Apreciação crítica de Gaston de Saparata TYL. Narcisa Amália. Resende, 26 jul. 1924. vertido do por Narcisa Amália da Astro Resendense, Resende, 13 nov. 1870. O Itatiaia. Resende, 24 e 31 mar. 1923. reflexões sobre talentos. Humilde e veneradamente consagradas à jovem mas já VEIGA, Luiz F. da. Narcisa Amália. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de notável literata, a exma. Sra. D. Narcisa Amália da Silveira. Astro Resendense, Resende, 4 e 11 dez. Janeiro, V. 45, p. 1, 1892. JARDIM, Renato. Rio de Janeiro: [s. n.] 1946. VIDAL, Barros. Precursoras brasileiras. Rio de Janeiro: A Noite, 1952. LINS, Benjamim Franklin de Albuquerque. Nebulosas de Narcisa Amália. Resende, 29 ago, XAVIER, Francisco C. Poetas Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1969. 1909. Isaú A. Narcisa Amália. Revista do Ateneu Angrense de Letras e Artes, Angra dos Reis, mar. 1982. e VIEIRA, Waldo. Antologia dos imortais. Rio de Janeiro: FEB, 1983. 538 539</p><p>EXCERTOS Hoje escalda-me os lábios riso insano, É febre o brilho ardente de meus olhos: Resignação Minha voz só retumba em ai plangente, Só juncam minha senda agros abrolhos. No silêncio das noites perfumosas, Quando a vaga chorando beija a praia, Mas que importa esta dor que me acabrunha, Aos trêmulos rutilos das estrelas, Que separa-me dos cânticos ruidosos, Inclino a triste fronte que desmaia. Se nas asas gentis da poesia Eleva-me a outros mundos mais formosos?!... E vejo perpassar das sombras castas Dos delírios da leda mocidade; Do céu azul, da flor, da névoa errante, Comprimo coração despedaçado De fantásticos seres, de perfumes, Pela garra cruenta da saudade. Criou-me regiões cheias de encanto, Que a luz doura de suaves lumes! Como é doce a lembrança desse tempo Em que chão da existência era de flores, Quando entoava múrmur das esferas No silêncio das noites perfumosas A copla tentadora dos amores! Quando a vaga chorando beija a praia, Ela ensina-me a orar, tímida e crente, Aquece-me a esperança que desmaia. Eu voava feliz nos ínvios serros Empós das borboletas matizadas... Era tão pura a abóbada do elísio Oh! Bendita esta dor que me acabrunha, Pendida sobre as veigas rociadas!... Que separa-me dos cânticos ruidosos, De longe vejo as turbas que deliram, E perdem-se em desvios tortuosos!... 541 540</p><p>Invocação Sinto n'alma pungir-me o espinho! Quando a noite distende seu manto, Sinto o vácuo embargar-me o caminho Quando a Deus faz subir rude canto, Que procuram meus trenos de amor! Da lagoa o audaz pescador; Desse sol que dá luz e ventura, Quando rolam no éter mil mundos, Desses pampas de eterna verdura, Quando eleva plangentes, profundos, Ai! não vejo a beleza, esplendor! Seus poemas, feliz trovador; Se eu pudesse, qual cisne mimoso Quando a aragem perdida, faceira, Que nas águas campeia orgulhoso, Beija a flor do amaranto, e ligeira Demandar minha pátria adorada... Os olores lhe rouba tremente; Ou condor, em um vôo gigante, Quando a linfa se enrosca e murmura, Contemplar sob o céu palpitante - Na macia, relvosa espessura, Esses lagos de areia Qual argêntea, travessa serpente; Mas, ó pátria, são as asas! Quando fulge a rainha dos mares E se aos bardos mil vezes abrasas, Desdobrando, entornando nos ares Não me ofertas um mirto sequer!... Suavíssima e plácida luz, Quando intento librar-me no espaço, E descansa chorando na lousa As rajadas em tétrico abraço Onde a virgem dormente repousa, Me arremessam a frase - mulher!. Acolhendo-se à sombra da cruz; Seja embora! Se em leves harpejos Quando ao som das gentis cachoeiras Vem a brisa cercar-te de beijos Mil ondinas a flux, feiticeiras, E dormir sobre tuas campinas, Cortam rolos de espuma de prata; Dá-me um trilo dos plúmeos cantores! E desperta do abismo os mistérios, Dá-me um só dos ardentes fulgores E reboa nos campos aéreos De teu cálido céu sem neblina! O gemido tenaz da cascata; 543 542</p><p>Itatiaia Por sobre os seixos dos álveos Coleam brancas serpentes, E as águas soltam frementes, Ante o gigante brasílio, Doridos, brandos queixumes; Ante a sublime grandeza Ao perpassar pelas fráguas Da tropical natureza, Em prateados cachões, Das erguidas cordilheiras, Sacodeam nos turbilhões Ai! quanto me sinto tímida! Seu diadema de lumes. Quanto me embala o desejo De descrever num harpejo Brota a torrente cerúlea Essas cristas sobranceiras! Do Aiuruoca em cascata, Rola a treda catarata (*) Sobre coxins de esmeraldas; A linfa desmaia túmida, Vejo aquém os vales pávidos No coração da voragem, Que se desdobram relvosos; E terna lambendo a margem Profundos, vertiginosos, Vai perder-se além das fraldas! Cavam-se abismos medonhos! Quanto precipício indômito, Em três lagos vejo tálamo Quanto mistério assombroso Onde as agulhas se elevam, Nesse seio pedregoso, Neles constantes se cevam Nessa origem de mil Três espumosas vertentes; Do Paraná, galho ebúrneo Do Mirantão se desprende Ondulam ao longe múrmuras E, sem que banhe Resende, Aos pés de esguios palmares, Leva ao Prata os confluentes! As florestas seculares Cingidas pela espessura; Rompendo o celeste páramo A liana forma dédalos Nem mais um tronco viceja, Na grimpa das caneleiras, A ericínia rasteja Do cedro as vastas cimeiras Sobre as fendas do granito: Formam docéis verdura. Tapeta solo a nopália, Verte eflúvios a açucena, E a legendária verbena Coroa o negro quartzito! (*) De acordo com a edição original. 545 544</p><p>Mais alto, ostenta-se a anêmona De teu dorso assomam ínvio No caule raimunculoso; Feixes de pedra em pilastras, Pendem do seio mimoso Órgão gigante que enastras Flocos de virgem pureza: De mil grinaldas alpestres! Roubou-lhe a tinta das pétalas Quem lhes calca a base, intré O que adorna a aurora; Vendo o sublime portento, A vaga quando desfolha Liberta seu pensamento Imita-lhe a morbideza! Das amarguras terrestres! O Térglu, Asse e Pésciora Rasgando o horizonte plumb O sol te envia seus raios; Invejam esta altitude, As nuvens formam-te saios E da coma áspera e rude Os cabeços recortados. Quais ligeiras nebulosas! Miram-te as flores etéreas, Pendem rochedos erráticos Na vastidão da eminência, Cobrem-te espumas de neve Belezas que a Providência Dão-te o pranto fresco e leve Da noite as fadas formosas! Guarda a seus predestinados. E quando envolvem-te as Em derredor, às planícies, Queimando chão rociado, Nivelam-se as serranias; Funde-se tirso gelado, Envolto nas brumas frias Caem profusos fragmentos! Transparecem os outeiros; Muda-se o quadro de súbito E o olhar ardente e ávido Chovem cristais dos pilares Contempla os montes perdidos, E nu se perde nos ares Como troféus reunidos, O perfil dos monumentos! Como tombados guerreiros!... Salve! montanha Vai meu canto ao mundo sôfr Salve! brasílio Himalaia! Que ante os prodígios se incli Salve! ingente Itatiaia, Narrar a beleza alpina Que escalas a Das regiões em que trilhas; Distingo-te a fronte válida, Leva-lhes nas asas vélidas Vejo-te às plantas, rendido, Meu culto à serra gigante, O meteoro incendido, Pátrio ponto culminante, A soberba tempestade!.. Berço de mil maravilhas!... (*) De acordo com a edição original. 546 547</p><p>II Por que Sou Forte7 Como a pomba que geme solitária nas lezírias da selva brasílea, assim soluça a filha ardente da Ásia, vendo desaparecer ao longe a nave aventureira do Dirás que é falso. Não. É certo. Desço malaio pirata, seu amante. Ao fundo d'alma toda vez que hesito... A leoa do deserto, que volta à recondita gruta, onde há pouco deixara os filhos Cada vez que uma lágrima ou que um grito e apenas encontra ossos sangrentos, roídos pela presa do chacal; o pássaro, Trai-me a angústia ao sentir que que se recolhe ao ninho com o peito aberto para oferecer-se em holocausto à prole amada, e em vão a chama com seus gritos estridentes, maior desespero não sentem E toda assombro, toda amor, confesso, em Nelúmbia despertando solitária no leito do abandono. O limiar desse país bendito Ela salta como impelida por molas ocultas, e a pantera mosqueada que impera Cruzo: aguardam-me as festas do infinito! nos serros javaneses é menos violenta, pungida pela sede de sangue, do que essa O horror da vida, deslumbrada, esqueço! mulher pelas agonias do desengano: seus olhos límpidos, certeiros descobrem e no solo a pressão reveladora da planta Harlos... É que há dentro vales, céus, alturas, Sorriso trêmulo e triunfante arregaça-lhe os lábios rubros; sorriso doce e Que o olhar do mundo não macula, a terna acerbo, esplêndido e ameaçador como o relâmpago que sulca a nuvem incendiada Lua, flores, queridas criaturas, pelos fogos do poente! É que a tempestade dos sentimentos, retardada por uns vislumbres de espe- E soa em cada moita, em cada gruta, ruge surda nos íntimos recessos do seu seio. A sinfonia da paixão eterna!... Ela parte sobre os passos do amante fugitivo e seus pés delicados mal tocam o E eis-me de novo forte para a luta. solo na corrida infrene; mas quando, já na costa, sonda ofegante a undosa voragem descobre ao longe a nave graciosa de Harlos, que foge sobre o dorso da vaga Resende, 7.9.1886. longínqua; quando vê desaparecer para sempre, com esse lenho flutuante, a doce felicidade de sua existência inteira, a dor de Nelúmbia atinge o cúmulo do sofrimento. Ela vaga por instantes desvairada; sua longa cabeleira, esparsa pela rapidez dos movimentos, constringe-a como lúgubre mortalha, e seu colo arquejante quebra as telas preciosas que o comprimem. Pouco a pouco a energia lhe falece; a comoção arranca de suas ardentes pálpe- bras rios de lágrimas e seus lábios desatam flébeis queixumes à brisa, que, vendo-a desgraçada e só, vem acariciá-la gemendo... E caindo com a face gelada contra a areia abrasadora, Nelúmbia cerra os cílios... crise. 7. Dedicado ao amigo Ezequiel Freire, set. 1886, quando o casamento com Cleto de Rocha entra Conto publicado em Lux! Campos, 1 dez. 1874. p. 548 549</p>

Mais conteúdos dessa disciplina