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<p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 01 - Dia 20/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: FLAVIA DA COSTA LIMMER</p><p>01 Tema: A organização dos Poderes. O princípio da separação dos Poderes. O controle recíproco</p><p>entre os Poderes. A organização dos Poderes nos Estados e nos Municípios.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, cotejando as características da</p><p>organização dos poderes brasileiros, se é constitucional lei federal que determina o cancelamento</p><p>automático, realizado diretamente pela instituição financeira oficial depositária e sem prévia ciência</p><p>do beneficiário ou formalização de contraditório, de precatórios e RPV federais não resgatados em</p><p>dois anos.</p><p>RESPOSTA:</p><p>STF - Informativo 1061 - julho de 2022</p><p>Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não resgatados</p><p>É inconstitucional o cancelamento automático - realizado diretamente pela instituição</p><p>financeira oficial depositária e sem prévia ciência do beneficiário ou formalização de</p><p>contraditório - de precatórios e RPV federais não resgatados em dois anos.</p><p>A medida infringe o princípio da separação dos Poderes, dada a impossibilidade de edição de medidas</p><p>legislativas para condicionar e restringir o levantamento de valores depositados a título de precatórios,</p><p>já que gestão de recursos destinados ao seu pagamento incumbe ao Judiciário por decorrência do</p><p>texto constitucional (CF/1988, art. 100), o qual não deixou margem limitativa do direito de crédito ao</p><p>legislador infraconstitucional (1).</p><p>Também há violação aos princípios da segurança jurídica, do respeito à coisa julgada (CF/1988, art.</p><p>5º, XXXVI) e do devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV), sendo certo que a simples previsão da</p><p>faculdade do credor requerer posteriormente a expedição de novo ofício requisitório com a</p><p>conservação da ordem cronológica anterior não repara os vícios inerentes ao cancelamento.</p><p>Ademais, como nesse momento processual da tutela executiva a Fazenda Pública não detém a</p><p>titularidade da quantia, a previsão legal ofende o direito de propriedade (CF/1988, art. 5º, XXII), além</p><p>de conferir tratamento mais gravoso ao credor, criando distinção que deriva automaticamente do</p><p>decurso do tempo, sem averiguar as reais razões do não levantamento do montante, afastando-se da</p><p>necessária obediência à isonomia (2).</p><p>Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a</p><p>inconstitucionalidade material do art. 2º, caput e § 1º, da Lei 13.463/2017 (ADI 5755/DF).</p><p>01/03/2024 - Página 1 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Determinado prefeito propõe demanda em que visa a infirmar lei municipal de iniciativa parlamentar,</p><p>que cria conselho de representantes da sociedade civil, integrante da estrutura do Poder Legislativo,</p><p>com atribuição de acompanhar ações do Executivo.</p><p>Em sua inicial, o autor alega que o órgão deveria ser criado por lei de sua iniciativa, já que criadora de</p><p>órgão com nítida atribuição do próprio Poder Executivo. Ademais, não há na CRFB88 órgão similar</p><p>ao criado.</p><p>Responda, fundamentadamente, se a lei é constitucional.</p><p>RESPOSTA:</p><p>RE 626946 / SP - Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO</p><p>Julgamento: 13/10/2020</p><p>Publicação: 17/12/2020</p><p>Órgão julgador: Tribunal Pleno</p><p>Repercussão Geral - Mérito</p><p>Publicação</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO</p><p>DJe-294 DIVULG 16-12-2020 PUBLIC 17-12-2020</p><p>Ementa</p><p>LEGISLATIVO - FISCALIZAÇÃO - CONSELHO DE REPRESENTANTES - PARTICIPAÇÃO</p><p>POPULAR. Surge constitucional lei de iniciativa parlamentar a criar conselho de representantes da</p><p>sociedade civil, integrante da estrutura do Poder Legislativo, com atribuição de acompanhar ações do</p><p>Executivo.</p><p>01/03/2024 - Página 2 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 02 - Dia 20/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: FLAVIA DA COSTA LIMMER</p><p>02 Tema: Os sistemas de Governo. Presidencialismo e parlamentarismo. A organização do Poder</p><p>Executivo na Constituição. O Poder Executivo nos Estados e Municípios.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>JOÃO CARLOS, indicado pelo Governador do Estado para o cargo de Presidente de uma sociedade</p><p>de economia mista prestadora de serviço público, impetra mandado de segurança contra ato da Mesa</p><p>Diretora da respectiva Assembléia Legislativa que, depois de sabatiná-lo, não aprovou sua indicação</p><p>para o cargo. Alega que a não aprovação é descabida, pois o fato de a Constituição Estadual</p><p>estabelecer este procedimento não condiz com os princípios republicanos. A Mesa Diretora, em suas</p><p>informações, manifesta-se no sentido de que somente fez cumprir a Constituição Estadual, como</p><p>forma de controle dos atos do Poder Executivo.</p><p>Responda fundamentadamente se o writ merece ser deferido.</p><p>01/03/2024 - Página 3 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>ADI 1642/MG, rel Min Eros Grau (Informativo 500)</p><p>EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ALÍNEA "d" DO INCISO XXIII</p><p>DO ARTIGO 62 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. APROVAÇÃO DO</p><p>PROVIMENTO, PELO EXECUTIVO, DOS CARGOS DE PRESIDENTE DAS ENTIDADES DA</p><p>ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA ESTADUAL PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA.</p><p>ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 173, DA CONSTITUIÇÃO DO</p><p>BRASIL. DISTINÇÃO ENTRE EMPRESAS ESTATAIS PRESTADORAS DE SERVIÇO</p><p>PÚBLICO E EMPRESAS ESTATAIS QUE DESENVOLVEM ATIVIDADE ECONÔMICA EM</p><p>SENTIDO ESTRITO. REGIME JURÍDICO ESTRUTURAL E REGIME JURÍDICO FUNCIONAL</p><p>DAS EMPRESAS ESTATAIS. INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL. INTERPRETAÇÃO</p><p>CONFORME À CONSTITUIÇÃO. 1. Esta Corte em oportunidades anteriores definiu que a</p><p>aprovação, pelo Legislativo, da indicação dos Presidentes das entidades da Administração Pública</p><p>Indireta restringe-se às autarquias e fundações públicas, dela excluídas as sociedades de economia</p><p>mista e as empresas públicas. Precedentes. 2. As sociedades de economia mista e as empresas</p><p>públicas que explorem atividade econômica em sentido estrito estão sujeitas, nos termos do disposto</p><p>no § 1º do artigo 173 da Constituição do Brasil, ao regime jurídico próprio das empresas privadas. 3.</p><p>Distinção entre empresas estatais que prestam serviço público e empresas estatais que empreendem</p><p>atividade econômica em sentido estrito 4. O § 1º do artigo 173 da Constituição do Brasil não se aplica</p><p>às empresas públicas, sociedades de economia mista e entidades (estatais) que prestam serviço</p><p>público. 5. A intromissão do Poder Legislativo no processo de provimento das diretorias das empresas</p><p>estatais colide com o princípio da harmonia e interdependência entre os poderes. A escolha dos</p><p>dirigentes dessas empresas é matéria inserida no âmbito do regime estrutural de cada uma delas. 6.</p><p>Pedido julgado parcialmente procedente para dar interpretação conforme à Constituição à alínea "d"</p><p>do inciso XXIII do artigo 62 da Constituição do Estado de Minas Gerais, para restringir sua aplicação</p><p>às autarquias e fundações públicas, dela excluídas as empresas estatais, todas elas.</p><p>ADI 2167, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Redator(a) do acórdão: Min.</p><p>ALEXANDRE DE MORAES</p><p>Órgão julgador: Tribunal Pleno</p><p>Julgamento: 03/06/2020; Publicação: 07/12/2020</p><p>Ementa</p><p>Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ALTERAÇÃO DOS ARTS. 33,</p><p>XVIII; 46, § 3°; 62, PARÁGRAFO ÚNICO, E 103 DA CONSTITITUIÇÃO DO ESTADO DE</p><p>RORAIMA POR EMENDA CONSTITUCIONAL ESTADUAL. PREJUÍZO PARCIAL.</p><p>MODIFICAÇÕES LEGISLATIVAS POSTERIORES À PROPOSITURA DA ADI. VIOLAÇÃO</p><p>AOS ARTS. 2º; 25 E 84, I, II, VI E XXV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. OCORRÊNCIA</p><p>PARCIAL. ARGUIÇÃO PRÉVIA PELO PODER LEGISLATIVO DE INDICAÇÕES DO PODER</p><p>EXECUTIVO PARA CARGOS DE DIRIGENTES DE AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES PÚBLICAS,</p><p>EMPRESAS DE ECONOMIA</p><p>o maior grau de transparência e</p><p>publicidade possível. Nesse caso, não se pode invocar como justificativa para o voto secreto a</p><p>necessidade de garantir a liberdade e independência dos congressistas, afastando a possibilidade de</p><p>ingerências indevidas. Se a votação secreta pode ser capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo</p><p>tempo, ela enfraquece o controle popular sobre os representantes, em violação aos princípios</p><p>democrático, representativo e republicano. Por fim, a votação aberta (simbólica) foi adotada para a</p><p>composição da Comissão Especial no processo de impeachment de Collor, de modo que a manutenção do</p><p>mesmo rito seguido em 1992 contribui para a segurança jurídica e a previsibilidade do procedimento.</p><p>Procedência do pedido. 6. A DEFESA TEM DIREITO DE SE MANIFESTAR APÓS A ACUSAÇÃO</p><p>(ITEM E DO PEDIDO CAUTELAR): No curso do procedimento de impeachment, o acusado tem a</p><p>prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação. Concretização da garantia</p><p>constitucional do devido processo legal (due process of law). Precedente: MS 25.647-MC, Redator p/</p><p>acórdão Min. Cezar Peluso, Plenário. Procedência do pedido. III. MÉRITO: DELIBERAÇÕES</p><p>UNÂNIMES 1. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS HIPÓTESES DE</p><p>IMPEDIMENTO</p><p>01/03/2024 - Página 24 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>ESUSPEIÇÃO AO PRESIDENTE DA CÂMARA (ITEM K DO PEDIDO CAUTELAR): Embora o art.</p><p>38 da Lei nº 1.079/1950 preveja a aplicação subsidiária do Código de Processo Penal no processo e</p><p>julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade, o art. 36 dessa Lei já cuida da</p><p>matéria, conferindo tratamento especial, ainda que de maneira distinta do CPP. Portanto, não há lacuna</p><p>legal acerca das hipóteses de impedimento e suspeição dos julgadores, que pudesse justificar a incidência</p><p>subsidiária do Código. A diferença de disciplina se justifica, de todo modo, pela distinção entre</p><p>magistrados, dos quais se deve exigir plena imparcialidade, e parlamentares, que podem exercer suas</p><p>funções, inclusive de fiscalização e julgamento, com base em suas convicções político-partidárias,</p><p>devendo buscar realizar a vontade dos representados. Improcedência do pedido. 2. NÃO HÁ DIREITO A</p><p>DEFESA PRÉVIA (ITEM A DO PEDIDO CAUTELAR): A apresentação de defesa prévia não é uma</p><p>exigência do princípio constitucional da ampla defesa: ela é exceção, e não a regra no processo penal.</p><p>Não há, portanto, impedimento para que a primeira oportunidade de apresentação de defesa no processo</p><p>penal comum se dê após o recebimento da denúncia. No caso dos autos, muito embora não se assegure</p><p>defesa previamente ao ato do Presidente da Câmara dos Deputados que inicia o rito naquela Casa,</p><p>colocam-se à disposição do acusado inúmeras oportunidades de manifestação em ampla instrução</p><p>processual. Não há, assim, violação à garantia da ampla defesa e aos compromissos internacionais</p><p>assumidos pelo Brasil em tema de direito de defesa. Improcedência do pedido. 3. A</p><p>PROPORCIONALIDADE NA FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL PODE SER AFERIDA EM</p><p>RELAÇÃO A BLOCOS (ITEM D DO PEDIDO CAUTELAR): O art. 19 da Lei nº 1.079/1950, no ponto</p><p>em que exige proporcionalidade na Comissão Especial da Câmara dos Deputados com base na</p><p>participação dos partidos políticos, sem mencionar os blocos parlamentares, foi superado pelo regime</p><p>constitucional de 1988. Este estabeleceu expressamente: (i) a possibilidade de se assegurar a</p><p>representatividade por bloco (art. 58, § 1º) e (ii) a delegação da matéria ao Regimento Interno da Câmara</p><p>(art. 58, caput). A opção pela aferição da proporcionalidade por bloco foi feita e vem sendo aplicada</p><p>reiteradamente pela Câmara dos Deputados na formação de suas diversas Comissões, tendo sido seguida,</p><p>inclusive, no caso Collor. Improcedência do pedido. 4. OS SENADORES NÃO PRECISAM SE</p><p>APARTAR DA FUNÇÃO ACUSATÓRIA (ITEM J DO PEDIDO CAUTELAR): O procedimento</p><p>acusatório estabelecido na Lei nº 1.079/1950, parcialmente recepcionado pela CF/1988, não impede que o</p><p>Senado adote as medidas necessárias à apuração de crimes de responsabilidade, inclusive no que</p><p>concerne à produção de provas, função que pode ser desempenhada de forma livre e independente.</p><p>Improcedência do pedido. 5. É POSSÍVEL A APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DOS REGIMENTOS</p><p>INTERNOS DA CÂMARA E DO SENADO (ITEM B DO PEDIDO CAUTELAR): A aplicação</p><p>subsidiária do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e do Senado ao processamento e julgamento</p><p>do impeachment não viola a reserva de lei especial imposta pelo art.</p><p>01/03/2024 - Página 25 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>85,parágrafo único, da Constituição, desde que as normas regimentais sejam compatíveis com os</p><p>preceitos legais e constitucionais pertinentes, limitando-se a disciplinar questões interna corporis.</p><p>Improcedência do pedido. 6. O INTERROGATÓRIO DEVE SER O ATO FINAL DA INSTRUÇÃO</p><p>PROBATÓRIA (ITEM F DO PEDIDO CAUTELAR): O interrogatório do acusado, instrumento de</p><p>autodefesa que densifica as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve ser o último ato de</p><p>instrução do processo deimpeachment. Aplicação analógica da interpretação conferida pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal ao rito das ações penais originárias. Precedente: AP 528-AgR, Rel. Min. Ricardo</p><p>Lewandowski, Plenário. Procedência do pedido. IV. ACOLHIMENTO PARCIAL DO PEDIDO</p><p>Convertido o julgamento da medida cautelar em definitivo, a fim de promover segurança jurídica no</p><p>processo de impeachment, foram acolhidos em parte os pedidos formulados pelo autor, nos seguintes</p><p>termos: 1. Item "f" (equivalente à cautelar "a"): denegação, de modo a afirmar que não há direito a defesa</p><p>prévia ao ato de recebimento pelo Presidente da Câmara dos Deputados previsto no art. 19 da Lei nº</p><p>1.079/1950; 2. Item "g" (equivalente à cautelar "b"): concessão parcial para estabelecer, em interpretação</p><p>conforme a Constituição do art. 38 da Lei nº 1.079/1950, que é possível a aplicação subsidiária dos</p><p>Regimentos Internos da Câmara e do Senado ao processo de impeachment,desde sejam compatíveis com</p><p>os preceitos legais e constitucionais pertinentes; 3. Item "h" (equivalente à cautelar "c"): concessão</p><p>parcial para: 1. declarar recepcionados pela CF/1988 os arts. 19, 20 e 21 da Lei nº 1.079/1950</p><p>interpretados conforme a Constituição, para que se entenda que as diligências e atividades ali previstas</p><p>não se destinam a provar a (im)procedência da acusação, mas apenas a esclarecer a denúncia, e 2. para</p><p>declarar não recepcionados pela CF/1988 os arts. 22, caput , 2ª parte (que se inicia com a expressão "No</p><p>caso contrário..."), e §§ 1º, 2º, 3º e 4º, da Lei nº 1.079/1950, que determinam dilação probatória e uma</p><p>segunda deliberação na Câmara dos Deputados, partindo do pressuposto que caberia a tal Casa</p><p>pronunciar-se sobre o mérito da acusação; 4. Item "i" (equivalente à cautelar "d"): denegação, por</p><p>reconhecer que a proporcionalidade na formação da comissão especial pode ser aferida em relação aos</p><p>partidos e blocos parlamentares; 5. Item "j" (equivalente à cautelar "e"): concessão integral, para</p><p>estabelecer que a defesa tem o direito de se manifestar após a acusação; 6. Item "k" (equivalente à</p><p>cautelar "f"): concessão integral, para estabelecer que o interrogatório deve ser o ato final da instrução</p><p>probatória; 7. Item "l" (equivalente à cautelar "g"): concessão parcial para dar interpretação conforme a</p><p>Constituição ao art. 24 da Lei nº 1.079/1950, a fim de declarar que, com o advento da CF/1988, o</p><p>recebimento da denúncia no processo de impeachmentocorre apenas após a decisão do Plenário do</p><p>Senado Federal, em votação nominal tomada por maioria simples e presente a maioria absoluta de seus</p><p>membros; 8. Item "m" (equivalente à cautelar "h"): concessão parcial para declarar constitucionalmente</p><p>legítima a aplicação analógica dos arts.</p><p>01/03/2024 - Página 26 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>44,45, 46, 47, 48 e 49 da Lei nº 1.079/1950, os quais determinam o rito do processo de impeachment</p><p>contra Ministros do STF e PGR ao processamento no Senado Federal de crime de responsabilidade</p><p>contra Presidente da República, denegando-se o pedido de aplicação do quórum de 2/3 do Plenário do</p><p>Senado para confirmar a instauração do processo; 9. Item "n" (equivalente à cautelar "i"): concessão</p><p>integral, para declarar que não foram recepcionados pela CF/1988 os arts. 23, §§ 1º, 4º (por</p><p>arrastamento) e 5º; 80, 1ª parte; e 81, todos da Lei nº 1.079/1950, porque estabelecem os papéis da</p><p>Câmara e do Senado Federal de modo incompatível com os arts. 51, I; 52, I; e 86, § 1º, II, da</p><p>CF/1988; 10. Item "o" (equivalente à cautelar "j"): denegação, para afirmar que os senadores não</p><p>precisam se apartar da função acusatória; 11. Item "p" (equivalente à cautelar "k"): denegação, para</p><p>reconhecer a impossibilidade de aplicação subsidiária das hipóteses de impedimento e suspeição do</p><p>CPP relativamente ao Presidente da Câmara dos Deputados; 12. Cautelar incidental (candidatura</p><p>avulsa): concessão integral para declarar que não é possível a formação da comissão especial a partir</p><p>de candidaturas avulsas, de modo que eventual eleição pelo Plenário da Câmara limite-se a confirmar</p><p>ou não as indicações feitas pelos líderes dos partidos ou blocos; e 13. Cautelar incidental (forma de</p><p>votação): concessão integral para reconhecer que, havendo votação para a formação da comissão</p><p>especial do impeachment, esta somente pode se dar por escrutínio aberto.</p><p>01/03/2024 - Página 27 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 04 - Dia 21/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: MARCELO LEONARDO TAVARES</p><p>04 Tema: O Poder Legislativo II. Organização das Casas Legislativas. Imunidade parlamentar.</p><p>Comissões permanentes e temporárias</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Determinado parlamentar é denunciado pelo MPF em virtude de ter divulgado em redes sociais</p><p>manifestações que objetivam a abolição do Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças,</p><p>do livre exercício de seus poderes constituídos e de suas instituições.</p><p>O parlamentar, em sua defesa, pugna pelo indeferimento do pedido de condenação: a uma, ainda que</p><p>confirmando a veracidade dos fatos, sua conduta está acobertada pela imunidade parlamentar; a duas,</p><p>porque a sua conduta está abarcada pela liberdade de expressão, contemplada na CRFB88.</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, como deve ser julgado o caso.</p><p>RESPOSTA:</p><p>Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF</p><p>Resumo:</p><p>A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até</p><p>mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado</p><p>Democrático de Direito e a democracia.</p><p>A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de expressão não</p><p>pode ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio, contra a</p><p>democracia ou contra as instituições.</p><p>Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a abolição</p><p>do Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes</p><p>constituídos e de suas instituições.</p><p>Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar (1)</p><p>incide apenas sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta,</p><p>não sendo possível utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.</p><p>Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional</p><p>(Lei 7.170/1983).</p><p>Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal, com a</p><p>manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual penal da</p><p>continuidade normativo-típica.</p><p>Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado de</p><p>Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defesa</p><p>do Estado, de suas instituições e de seus poderes.</p><p>Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos arts.</p><p>18 e 23, IV, da Lei 7.170/1983 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei</p><p>14.197/2021), bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei 7.170/1983 e o conduta típica</p><p>prevista no art. 286, parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei 14.197/2021.</p><p>Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente</p><p>ação penal.</p><p>(1) CF: "Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas</p><p>opiniões, palavras e votos."</p><p>AP 1044/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 20.4.2022</p><p>01/03/2024 - Página 28 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>O Deputado Federal Bruno imputou ao Deputado Federal Deco a prática de crime de difamação</p><p>agravada (artigos 139 c/c art. 141, II e III, do Código Penal), consistente em publicação ofensiva à</p><p>honra do querelante, divulgada na página do querelado no Facebook, uma vez que durante reunião da</p><p>Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a violência contra jovens e negros pobres no Brasil, da</p><p>qual participaram tanto o réu como o Autor, esse último, Deputado Federal Bruno, fez uso da palavra</p><p>para tecer as seguintes considerações: “E aí a fala da Fulana foi muito importante, porque ela traz essa</p><p>dimensão histórica, que envolve a escravidão de negros; depois, a abolição, sem nenhuma política de</p><p>inclusão no mercado de trabalho, a exclusão territorial; e, depois, toda uma produção de sentido que</p><p>desqualifica essa comunidade como humana. Então há um imaginário impregnado, sobretudo nos</p><p>agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa, é mais</p><p>perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse</p><p>é um imaginário que está impregnado na gente, uma dimensão aí. E os policiais partem desse</p><p>imaginário”.</p><p>No entanto, alguns dias depois, o querelado publicou em seu perfil do Facebook um vídeo contendo</p><p>trecho recortado da referida fala, previamente editado de modo a inverter seu conteúdo. No conteúdo</p><p>fraudulento veiculado, o Deputado Federal Bruno aparece falando o seguinte: “Uma pessoa negra e</p><p>pobre é potencialmente perigosa, é mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média, essa é a</p><p>verdade, então, dito isso...”.</p><p>Em síntese, o réu é acusado de ter divulgado vídeo editado de modo a dolosamente atribuir-lhe</p><p>conteúdo racista e preconceituoso, com finalidade de difamar a honra do Querelante.</p><p>O vídeo com trecho cortado e editado da fala do parlamentar autor foi publicado no Facebook e</p><p>recebeu 14.834 aprovações (“curtidas”), 252.458 visualizações e 12.272 compartilhamentos. O</p><p>conteúdo fraudulento somente foi excluído da página do querelado Deco no Facebook por</p><p>determinação da Justiça</p><p>A defesa alega a veracidade do conteúdo do vídeo divulgado pelo réu, que tão-somente reproduziu</p><p>trecho de debate parlamentar no âmbito de CPI da Câmara dos Deputados. Mas o Laudo de Perícia</p><p>Criminal do Instituto de Criminalística da Federal, concluiu que “o vídeo questionado foi editado” e</p><p>“que o processo de edição do vídeo questionado resultou na modificação da informação auditiva da</p><p>fala do Deputado Bruno originalmente registrada no material padrão, conduzindo a uma compreensão</p><p>diversa da realidade factual. Em outras palavras, o discurso do Deputado foi adulterado no vídeo</p><p>questionado”. O conteúdo original da manifestação sofreu vários cortes, após os quais passou a</p><p>revelar conotação racista e preconceituosa, contrária ao seu sentido original.</p><p>O fato de o vídeo</p><p>veicular trechos da fala do deputado autor é o elemento especioso, precisamente o ardil empregado</p><p>para conferir verossimilhança ao conteúdo, elemento mínimo de verdade necessário para impedir o</p><p>público de duvidar da postagem e acreditar na mentira resultante da edição.</p><p>O querelado alega que seus atos estão acobertados pela imunidade parlamentar,</p><p>01/03/2024 - Página 29 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>motivopelo qual deve ser absolvido no caso.</p><p>Responda, fundamentadamente, como deve ser julgado o caso.</p><p>01/03/2024 - Página 30 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RESPOSTA: AP 1021</p><p>AP 1021, Relator(a): Min. LUIZ FUX</p><p>Órgão julgador: Primeira Turma</p><p>Julgamento: 18/08/2020; Publicação: 21/10/2020</p><p>Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. AÇÃO PENAL PRIVADA. CRIME DE DIFAMAÇÃO.</p><p>ART. 139 DO CÓDIGO PENAL. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA QUEIXA-CRIME REJEITADA.</p><p>IMUNIDADE PARLAMENTAR. NÃO INCIDÊNCIA. PUBLICAÇÃO DE VÍDEO EDITADO</p><p>MEDIANTE CORTES, ATRIBUINDO-LHE CONTEÚDO RACISTA INEXISTENTE NA FALA</p><p>ORIGINAL. COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE E DA AUTORIA. CONFIGURAÇÃO DO</p><p>ANIMUS DIFFAMANDI. AÇÃO PENAL JULGADA PROCEDENTE. 1. PRELIMINAR (a) A</p><p>inépcia da inicial acusatória, devidamente afastada pelo órgão julgador no recebimento da queixa-</p><p>crime, é matéria preclusa. (b) In casu, constou do</p><p>acórdão de recebimento da queixa-crime: “Da análise do vídeo em questão, é possível, a princípio,</p><p>determinar o fato objetivamente imputado, não sendo este o momento adequado para se tecer maiores</p><p>considerações sobre o mérito da controvérsia. Preenchidos, desse modo, os requisitos do art. 41 do</p><p>Código de Processo Penal”. (c) Preliminar rejeitada. 2. PREJUDICIAL DE MÉRITO (a) A imunidade</p><p>parlamentar teve sua incidência afastada no caso ora em julgamento, por ocasião do recebimento da</p><p>exordial acusatória. (b) A imunidade parlamentar exige, para sua incidência, que o ato incriminado</p><p>tenha sido praticado in officio ou propter officio. Os atos delituosos praticados fora do recinto do</p><p>parlamento e desvinculados do exercício da função não se encontram ao abrigo da imunidade</p><p>material. Precedentes (Inq. 3932 e Pet 5243, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 9/9/2016; Inq.</p><p>3438, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber, DJe 10/2/2015; Inq. 3672, Primeira Turma, Rel. Min.</p><p>Rosa Weber, DJe 21/11/2014; RE 299.109-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe</p><p>1º/6/2011). (c) A veiculação dolosa de vídeo com conteúdo fraudulento, para fins difamatórios,</p><p>conferindo ampla divulgação (rede social) a conteúdo sabidamente falso, não encontra abrigo na</p><p>nobre garantia constitucional da imunidade parlamentar, insculpida no artigo 53 da Lei Maior, e que</p><p>protege a liberdade e independência dos eleitos para defender suas opiniões mediante suas palavras e</p><p>votos. (d) No acórdão de recebimento da inicial, restou assentado que “A liberdade de opinião e</p><p>manifestação do parlamentar, ratione muneris, impõe contornos à imunidade material, nos limites</p><p>estritamente necessários à defesa do mandato contra o arbítrio, à luz do princípio republicano que</p><p>norteia a Constituição Federal”. (e) Prejudicial rejeitada. 3. MÉRITO (a) In casu, (a) o Deputado</p><p>Federal Jean Wyllys de Matos Santos imputou ao Deputado Federal Eder Mauro a prática de crime de</p><p>difamação agravada (artigos 139 c/c art. 141, II e III, do Código Penal), consistente em publicação</p><p>ofensiva à honra do querelante, divulgada na página do querelado no Facebook. (b) Com efeito,</p><p>consta dos autos que, durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a Violência</p><p>contra jovens e negros pobres no Brasil, realizada em 14 de maio de 2015, da qual participaram tanto</p><p>o réu como o Autor, este último, Deputado Federal Jean Wyllys, fez uso da palavra para tecer as</p><p>seguintes considerações: “E aí a fala da Tatiana foi muito importante, porque ela traz essa dimensão</p><p>histórica, que envolve</p><p>01/03/2024 - Página 31 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>aescravidão de negros; depois, a abolição, sem nenhuma política de inclusão no mercado de trabalho, a</p><p>exclusão territorial; e, depois, toda uma produção de sentido que desqualifica essa comunidade como</p><p>humana. Então, há um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que</p><p>uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa, é mais perigosa do que uma pessoa branca de classe</p><p>média. Esse é um imaginário que está impregnado na gente, uma dimensão aí. E os policiais partem desse</p><p>imaginário” (pág. 37 das notas taquigráficas da CPI – Violência contra jovens negros e pobres). (c) Cinco</p><p>dias depois, em 19 de maio de 2015, o réu, Deputado Federal Eder Mauro, publicou em seu perfil do</p><p>Facebook um vídeo contendo trecho recortado da referida fala, previamente editado de modo a inverter</p><p>seu conteúdo. No conteúdo fraudulento veiculado, o Deputado Federal Jean Wyllys aparece falando o</p><p>seguinte: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa, é mais perigosa do que uma pessoa</p><p>branca de classe média, essa é a verdade, então, dito isso...”. (d) Em síntese, o Réu é acusado de ter</p><p>divulgado vídeo editado de modo a dolosamente atribuir-lhe conteúdo racista e preconceituoso, com</p><p>finalidade de difamar a honra do Querelante. (e) O vídeo com trecho cortado e editado da fala do</p><p>Parlamentar Autor foi publicado no Facebook e recebeu 14.834 aprovações (“curtidas”), 252.458</p><p>visualizações e 12.272 compartilhamentos. O conteúdo fraudulento somente foi excluído da página do</p><p>Querelado Eder Mauro no Facebook por determinação da Justiça (decisão pública da 14ª Vara Cível de</p><p>Brasília/DF, de 28 de agosto de 2015, disponível em:</p><p>http://www.omci.org.br/m/jurisprudencias/arquivos/2017/df_00209599520158070001_28082015.pdf 4.</p><p>(a) A defesa alega a veracidade do conteúdo do vídeo divulgado pelo réu, que tão-somente reproduziu</p><p>trecho de debate parlamentar no âmbito de CPI da Câmara dos Deputados. (b) Nada obstante, o Laudo de</p><p>Perícia Criminal 17.454/2017 (fls. 84/110) do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito</p><p>Federal, concluiu que “o vídeo questionado foi editado” e “que o processo de edição do vídeo</p><p>questionado resultou na modificação da informação auditiva da fala do Deputado Jean Wyllys</p><p>originalmente registrada no material padrão, conduzindo a uma compreensão diversa da realidade factual.</p><p>Em outras palavras, o discurso do Deputado Jean Wyllys foi adulterado no vídeo questionado”. (c) O</p><p>conteúdo original da manifestação sofreu vários cortes, após os quais passou a revelar conotação racista e</p><p>preconceituosa, contrária ao seu sentido original. O fato de o vídeo veicular trechos da fala do Deputado</p><p>Autor é o elemento especioso, precisamente o ardil empregado para conferir verossimilhança ao</p><p>conteúdo, elemento mínimo de verdade necessário para impedir o público de duvidar da postagem e</p><p>acreditar na mentira resultante da edição. (d) Depoimentos prestados em juízo certificaram o dano a honra</p><p>do Autor: (d.1) “essas informações geraram um impacto substantivo e absolutamente negativo da fala do</p><p>Deputado Jean Wyllys junto aos ativistas do movimento negro, aos ativistas dos movimentos sociais”;</p><p>“Eu sou do Estado da Bahia, em que há uma força enorme do movimento negro, e eu,</p><p>01/03/2024 - Página 32 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>comomilitante, fui intensamente questionado por que não combati a fala do Deputado Jean. E eu tentava</p><p>explicar que o contexto da fala não teria sido aquele produzido pelo vídeo” (depoimento do Deputado</p><p>Federal Adalberto Souza Galvão); (d.2) “isso é um estrago muito profundo. Porque o deputado que tem</p><p>esta bandeira, que é eleito com essa bandeira, que seu eleitorado aporta o voto, lhe oferta o voto em</p><p>função desta bandeira que ele tem</p><p>e isso é desse desconstruído através do vídeo” (depoimento da</p><p>Deputada Federal Érica Kokay). (f) Simultaneamente, há prova nos autos do impacto sobre a imagem do</p><p>Autor, como se extrai da ampla circulação conferida ao vídeo fraudulento a partir do perfil do Réu no</p><p>Facebook, observando exclusivamente os dados existentes na sua página, a partir da qual houve o</p><p>indevido propulsionamento do conteúdo falso. Ademais, a fraude revela nítido potencial de enganar os</p><p>cidadãos que a visualizaram e de produzir discursos de ódio contra a fala indevidamente alterada,</p><p>difamando seu opositor político. (g) Consectariamente, restou comprovada a materialidade do crime de</p><p>difamação. 5. (a) A publicação em perfil de rede social é penalmente imputável ao agente que,</p><p>dolosamente, tem o intuito de difamar, injuriar ou caluniar terceiros, máxime quando esteja demonstrado</p><p>o conhecimento da falsidade do conteúdo. (b) Inviável desresponsabilizar autores de perfis utilizados para</p><p>a disseminação dolosa de campanhas difamatórias, caluniosas ou injuriosas nas redes sociais, fundadas</p><p>em conteúdos falsos. (c) É irrelevante, para fins de determinação da autoria, o anonimato do “criador do</p><p>conteúdo” (editor ou programador visual, por exemplo) ou da terceirização das postagens (perfil</p><p>administrado por um preposto) pelo titular do perfil utilizado para divulgar a notícia falsa. Revela-se</p><p>bastante e suficiente, para fins de determinação da autoria dolosa, a demonstração do conhecimento do</p><p>titular do perfil quanto à fraude do conteúdo e sua intenção de causar danos à honra das vítimas. 6. (a) No</p><p>dizer de John Stuart Mill, opiniões equivocadas devem ser protegidas, enquanto tais, pois mesmo elas</p><p>contribuem, no procedimento dialógico da sua refutação, para o debate e o esclarecimento da verdade:</p><p>“(¿) a opinião que se tenta suprimir por meio da autoridade talvez seja verdadeira. Os que desejam</p><p>suprimi-la negam, sem dúvida, a sua verdade, mas eles não são infalíveis. Não têm autoridade para</p><p>decidir a questão por toda a humanidade, nem para excluir os outros das instâncias do julgamento. Negar</p><p>ouvido a uma opinião porque se esteja certo de que é falsa, é presumir que a própria certeza seja o mesmo</p><p>que certeza absoluta. Impor silêncio a uma discussão é sempre arrogar-se infalibilidade”. E conclui: “Se a</p><p>opinião é certa, aquele foi privado da oportunidade de trocar o erro pela verdade; se errônea,</p><p>perdeu o que constitui um bem de quase tanto valor — a percepção mais clara e a impressão mais viva da</p><p>verdade, produzidas pela sua colisão com o erro” (John Stuart Mill, On Liberty, capítulo 1). (b) A</p><p>liberdade de expressão no debate democrático distingue-se, indubitavelmente, da veiculação dolosa de</p><p>conteúdos voltados a simplesmente alterar a verdade factual e, assim, alcançar finalidade criminosa de</p><p>natureza difamatória, caluniosa ou injuriosa. (c) A alavancagem</p><p>01/03/2024 - Página 33 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>deconteúdos fraudulentos, mediante artifício ardilosamente voltado à destruição da honra de terceiros nas</p><p>redes sociais, revela alto potencial lesivo, tolhendo, até mesmo, o exercício de outros direitos</p><p>fundamentais das vítimas - direitos políticos, liberdade de locomoção e, no limite, integridade física e</p><p>direito à vida, não revelando qualquer interesse em contribuir para ganhos na construção de uma</p><p>sociedade democrática. (d) As instituições democráticas e os objetivos fundamentais da República,</p><p>anunciados no preâmbulo da Constituição de 1988, dependem da compreensão compartilhada no sentido</p><p>de que, na letra da nossa Lei Fundadora, “nós, o povo brasileiro, nos reunimos para instituir um Estado</p><p>Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,</p><p>o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade</p><p>fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e</p><p>internacional, com a solução pacífica das controvérsias”. (e) A Constituição, no Estado Democrático de</p><p>Direito, é o norte do Estado Juiz na verificação da regularidade do exercício do direito fundamental à</p><p>liberdade de expressão. (f) A criminalização da veiculação de conteúdo com finalidade difamatória,</p><p>caluniosa ou injuriosa não colide com o direito fundamental à liberdade de expressão, que resta protegida</p><p>também nos casos de desconhecimento da manipulação fraudulenta do conteúdo, a caracterizar hipótese</p><p>de erro, que exclui a ilicitude (artigo 20, §1º, do Código Penal). 7. (a) O delito contra a honra é de ação</p><p>múltipla, conglobando não apenas a criação do conteúdo criminoso voltada à divulgação como também a</p><p>sua postagem (“upload”, carregamento do vídeo na rede social) e a disponibilização de perfil em rede</p><p>social com fim de servir de plataforma à alavancagem da injúria, calúnia ou difamação, tendo por</p><p>elemento especial do tipo o dano à honra da vítima. (b) A autoria dos crimes contra a honra praticados por</p><p>meio da internet demanda: (b.1) demonstração de que o réu é o titular da página, blog ou perfil pelo qual</p><p>o conteúdo difamatório foi divulgado; (b.2) demonstração do consentimento, prévio, concomitante ou</p><p>sucessivo, com a veiculação da publicação difamatória em seu perfil; (b.3) animus injuriandi, caluniandi</p><p>ou diffamandi, que demandam a demonstração de que o réu tinha conhecimento do conteúdo fraudulento</p><p>da postagem. 8. (a) In casu, a defesa sustenta duas teses com propósito de refutar ou gerar dúvida</p><p>razoável quanto à autoria: (a.1) transfere para terceiros a responsabilidade pela edição; (a.2) transfere para</p><p>terceiros a responsabilidade pela divulgação do vídeo em seu perfil no Facebook. (b) Em seu</p><p>interrogatório judicial, o réu afirmou ter visualizado o conteúdo do vídeo e ter sido comunicado da</p><p>respectiva publicação em seu perfil no Facebook. (c) Como fiz constar de meu voto de recebimento da</p><p>Queixa-Crime, “Na lição especializada de Jacques Aumont e Michel Marie, na obra ‘Dicionário teórico e</p><p>crítico de cinema’, a edição ou montagem</p><p>01/03/2024 - Página 34 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>‘tempor objetivo guiar o espectador, permitir-lhe seguir a narrativa facilmente’ e ‘pode, também, produzir</p><p>outros efeitos: efeitos sintáticos ou de pontuação, marcando, por exemplo, uma ligação ou uma disjunção;</p><p>efeitos figurais, podendo, por exemplo, estabelecer uma relação de metáfora; [...] entre</p><p>outros’” (AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. 2ª ed. Campinas:</p><p>Papirus, 2006, p. 196). (d) Restou evidenciado o conhecimento da edição voltada à adulteração do</p><p>conteúdo por parte do Réu, porquanto se tratava de manifestação absolutamente contrária à proferida pelo</p><p>parlamentar Autor, em debate do qual o próprio réu participou e cujo conteúdo era de seu inteiro</p><p>conhecimento. Aliás, provou-se, no interrogatório judicial, a plena consciência do</p><p>Réu de que o vídeo divulgado em seu perfil no Facebook, com centenas de milhares de visualizações,</p><p>atribuía ao Autor, Jean Wyllys, ideias diametralmente opostas às que identificam a plataforma política</p><p>deste parlamentar. (e) A divulgação do conteúdo fraudado, invertendo-lhe o sentido com finalidade de</p><p>difamar o Autor, constitui etapa da execução do crime, estabelecendo a autoria criminosa do divulgador, a</p><p>qual não exclui a do programador visual ou do editor responsável pela execução material da fraude,</p><p>quando promovidas por outros agentes em coautoria. (f) A segunda linha argumentativa da defesa, que</p><p>surgiu no interrogatório judicial, é a de que o vídeo foi divulgado por um ajudante no perfil do réu no</p><p>Facebook. (g) A tese revela fragilidades, inabilitando-se como fonte de dúvida razoável quanto aos fatos:</p><p>(g.1) a defesa não pediu a oitiva do mencionado ajudante nos autos na qualidade de testemunha e, demais</p><p>disso, o réu alegou não se</p><p>lembrar do sobrenome dessa pessoa, inviabilizando a confirmação da própria</p><p>existência do álibi pelo juízo; (g.2) ainda que um “ajudante” houvesse, de fato, postado o vídeo</p><p>fraudulento veiculador da difamação, a coautoria criminosa do titular do perfil do Facebook somente seria</p><p>afastada se o réu desconhecesse o uso de sua página para a veiculação e, portanto, não tivesse consentido</p><p>com o emprego de sua plataforma em rede social para alavancar campanha difamatória contra o Autor;</p><p>(h) In casu, (h.1) o vídeo foi postado no perfil do acusado no Facebook; (h.2) o réu admitiu ter assistido</p><p>ao vídeo; (h.3) o réu admitiu ter sido informado da postagem quando o vídeo foi disponibilizado em sua</p><p>página no Facebook; (h.4) o réu sabia que o conteúdo não era fidedigno à fala do Parlamentar Autor e</p><p>manteve, ainda assim, o conteúdo difamatório disponível em seu perfil no Facebook; (h.5) Conforme</p><p>apontou a d. Procuradoria-Geral da República, o “vídeo só foi retirado de circulação após decisão</p><p>judicial” (decisão pública da 14ª Vara Cível de Brasília/DF, de 28 de agosto de 2015, disponível em:</p><p>http://www.omci.org.br/m/jurisprudencias/arquivos/2017/df_00209599520158070001_28082015.pdf</p><p>(h.6) o vídeo fraudulento elevou a popularidade do réu na rede social utilizada, revelando número de</p><p>visualizações superior à média de sua página, a revelar seu ganho pessoal com a campanha difamatória.</p><p>(i) Os testemunhos colhidos durante a instrução da</p><p>01/03/2024 - Página 35 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>açãopenal, corroboram a autoria criminosa, destacando-se os seguintes trechos de depoimentos prestados</p><p>em juízo: (i.1) “Ah, sim, o vídeo que ele fez, porque ele dizia o seguinte: Mas ele falou isso, eu não falei</p><p>nada, eu não divulguei nada que ele não tenha falado” (Deputada Federal Érika Kokay); (ii.2) “Com os</p><p>debates, no âmbito da própria CPI, chegou-se... não posso afirmar, porque não vi ele produzindo a</p><p>alteração, mas todas as informações levaram a um juízo de valor de que a autoria teria sido do próprio</p><p>Deputado Éder Mauro” (Deputado Federal Adalberto Souza Galvão); (iii.3) “o primeiro pronunciamento</p><p>dele sobre essa publicação era, justamente, reforçando a publicação, ou seja, ele foi ao Plenário da</p><p>Câmara afirmar que eu havia dito aquilo que estava na publicação dele” (depoimento da vítima). 9. (a) O</p><p>elemento subjetivo do tipo do crime de difamação é o animus diffamandi. (b) In casu, a defesa sustentou</p><p>ausência de dolo de difamar, por dois fundamentos: (b.1) alegou que o vídeo “continha palavras do</p><p>próprio querelante” e que estaria presente mero animus narrandi; (b.2) sustentou que os cortes realizados</p><p>no vídeo tiveram finalidade exclusivamente técnica, com o único fim de reduzi-lo, para adequá-lo ao</p><p>tamanho limite do suporte de mídia utilizado para veiculação. (c) As alegações não se sustentam: (c.1)</p><p>Primeiramente, restou demonstrado que, embora o vídeo reproduza trecho da fala do Querelante, o corte</p><p>realizado inverteu-lhe o sentido, atribuindo-lhe conotação racista. O uso, pelo réu, de trechos da fala do</p><p>próprio Parlamentar Querelante reforçou sua potencialidade difamatória, porquanto o único elemento de</p><p>verdade contido no vídeo induziu o público à ilusão de que todo o conteúdo correspondia à realidade,</p><p>típico artifício ardiloso empregado para a prática da difamação; (c.2) Portanto, ao contrário do que ocorre</p><p>na divulgação regida por mero animus narrandi, que se caracteriza quando há desconhecimento de sua</p><p>natureza fraudulenta, in casu o Acusado detinha todas as informações necessárias para conhecer o</p><p>descompasso entre o discurso efetivamente proferido pelo Autor e aquele divulgado no vídeo por ele</p><p>disponibilizado no Facebook, com adulterações aptas a inverter o sentido da fala e a conferir-lhe teor</p><p>racista; (c.3) Inverossímil, ainda, a alegação defensiva de que os cortes realizados tiveram não finalidade</p><p>difamatória, mas sim mera função de redução da extensão da fala do Deputado Querelante, para atender</p><p>às exigências do suporte midiático utilizado para sua divulgação; (c.4) Deveras, se a intenção fosse</p><p>unicamente reduzir o tamanho do vídeo, os cortes não teriam deturpado a fala do Querelante. Era possível</p><p>excluir outros trechos da referida manifestação para atender ao propósito técnico, mas executou-se o corte</p><p>cirurgicamente de modo a inverter diametralmente seu sentido. (d) Por fim, nas palavras da Procuradora-</p><p>Geral da República, “caso o querelante estivesse realmente de boa-fé, tendo sido surpreendido com o fato,</p><p>teria corrigido imediatamente e publicado alguma nota aclaratória e de desculpa sobre o ocorrido, atitude</p><p>não tomada até o momento”. (e) Conclui-se que as provas colhidas nos autos comprovaram, além de</p><p>qualquer dúvida</p><p>01/03/2024 - Página 36 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>razoável, amaterialidade e a autoria delitivas, assim como o elemento subjetivo do tipo. 10. Ex positis,</p><p>julgo procedente a acusação para condenar o réu Éder Mauro pela prática do crime de difamação</p><p>agravada. 11. (a) Em sede de dosimetria, considero presentes quatro circunstâncias judiciais</p><p>negativas, a conduzir a pena-base para 9 meses de detenção; ausentes atenuantes e agravantes, aplico</p><p>a causa de aumento prevista no art. 141, III, do Código Penal (afasto, nos termos do art. 68, parágrafo</p><p>único, a causa de aumento do inciso II do art. 141), alcançando a pena definitiva o total de 1 ano de</p><p>detenção, no regime inicial aberto, e multa, no montante de 36 dias-multa, no valor de 1 salário</p><p>mínimo cada. (b) Diante da presença dos pressupostos legais, substituo a pena privativa de liberdade</p><p>pela de prestação pecuniária (art. 45, §1º, do CP), consistente no pagamento de 30 salários mínimos à</p><p>vítima, que fixo como montante mínimo para reparação dos danos causados pela infração, nos termos</p><p>do art. 387, IV, do Código de Processo Penal.</p><p>01/03/2024 - Página 37 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 05 - Dia 22/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: CLAUDIO BRANDAO DE OLIVEIRA</p><p>05 Tema: Comissão Parlamentar de Inquérito. Atribuições. Limitações. Princípios aplicáveis.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>A Comissão Parlamentar de Inquérito, que funciona no Senado Federal para apurar prática de</p><p>irregularidades nos contratos durante a pandemia da COVID-19, instada por alguns parlamentares,</p><p>convoca alguns governadores de Estado a comparecerem para prestar esclarecimento sobre supostas</p><p>irregularidades na compra e fornecimento de vacinas.</p><p>O grupo de governadores convocados impetra mandado de segurança para não comparecerem à</p><p>Comissão, sob o fundamento de que a convocação viola suas prerrogativas constitucionais.</p><p>Em suas informações, a Comissão alega que o Senado Federal é órgão que representa os Estados na</p><p>Federação, o que legitima a convocação, e também é próprio de um governo republicano o controle</p><p>dos gastos, principalmente num período de crise, como o da pandemia.</p><p>Responda, fundamentadamente, como deve ser julgado o caso.</p><p>01/03/2024 - Página 38 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>CPI no Âmbito federal não pode convocar governador, inconstitucional.</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>Por uma ordem de autonomia federativa o Governador não se submete a CPI Federal.</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL - ORGANIZAÇÃO DO ESTADO; COMISSÃO PARLAMENTAR</p><p>DE INQUÉRITO; SEPARAÇÃO DE PODERES; TRIBUNAL DE CONTAS</p><p>CPI: Congresso Nacional, convocação de governadores de estados e poder investigativo - ADPF 848</p><p>MC-Ref/DF</p><p>Resumo:</p><p>Em juízo de delibação, não é possível a convocação de governadores de estados-membros da</p><p>Federação por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada</p><p>pelo Senado Federal.</p><p>A prerrogativa das CPIs de ouvir testemunhas não confere aos órgãos de investigação parlamentar o</p><p>poder de convocar quaisquer pessoas a depor, sob quaisquer circunstâncias, pois existem limitações à</p><p>obrigação de testemunhar. Entre elas, encontra-se a isenção constitucional do Presidente da República</p><p>à obrigatoriedade de testemunhar perante comissões parlamentares, extensível aos governadores por</p><p>aplicação do critério da simetria entre a União e os estados.</p><p>É injustificável a situação de submissão institucional. Ante a ausência de norma constitucional</p><p>autorizadora, o Congresso Nacional ou suas comissões parlamentares não podem impor aos chefes do</p><p>Poder Executivo estadual o dever de prestar esclarecimentos e oferecer explicações, mediante</p><p>convocação de natureza compulsória, com possível transgressão à autonomia assegurada</p><p>constitucionalmente aos entes políticos estaduais e desrespeito ao equilíbrio e harmonia que devem</p><p>reger as relações federativas.</p><p>Caracteriza excesso de poder a ampliação do poder investigativo das CPIs para atingir a esfera de</p><p>competência dos estados federados ou as atribuições exclusivas - competências autônomas - do</p><p>Tribunal de Contas da União (TCU).</p><p>Os governadores prestam contas perante a Assembleia Legislativa regional (contas de governo ou de</p><p>gestão estadual) ou perante o TCU (recursos federais), mas jamais perante o Congresso Nacional. A</p><p>amplitude do poder investigativo das CPIs do Senado Federal e da Câmara dos Deputados coincide</p><p>com a extensão das atribuições do Congresso Nacional.</p><p>Com base nesses entendimentos, o Plenário referendou decisão em que deferido o pedido de medida</p><p>cautelar em arguição de descumprimento de preceito fundamental, suspendendo as convocações dos</p><p>governadores realizadas pela CPI da Pandemia, sem prejuízo da possibilidade de o órgão parlamentar</p><p>convidar essas mesmas autoridades estatais para comparecerem, voluntariamente, a reunião da</p><p>comissão a ser agendada de comum acordo. Os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes,</p><p>Marco Aurélio, Roberto Barroso e Nunes Marques acompanharam com ressalvas a ministra Rosa</p><p>Weber (relatora).</p><p>ADPF 848 MC-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 25.6.2021</p><p>(sexta-feira), às 23:59</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Instalada determinada Comissão Parlamentar de Inquérito, esta delibera, por unanimidade, a quebra</p><p>de sigilo telefônico de certo investigado, bem como a interceptação telefônica de determinada ligação</p><p>efetuada por ele, com hora e data determinados.</p><p>Colhidas as provas decorrentes desses atos, a CPI delibera, também de forma unânime, sanções ao</p><p>investigado, dentre elas, multas punitivas e penas restritivas de direitos decorrentes da conversão das</p><p>penas privativas de liberdade, na forma do Código Penal.</p><p>De acordo com cada ponto narrado, responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze)</p><p>linhas, se a Comissão agiu corretamente.</p><p>01/03/2024 - Página 39 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>MS 38061 MC-AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Órgão julgador: Segunda</p><p>Turma</p><p>Julgamento: 09/10/2021; Publicação: 08/02/2022</p><p>Ementa</p><p>Ementa: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. COVID-19. QUEBRA DE SIGILO</p><p>ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADA. MEDIDA INSERIDA NA ESFERA DE</p><p>COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE</p><p>INQUÉRITO. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I- As comissões parlamentares de</p><p>inquérito não são dotadas de quaisquer competências sancionatórias, quer dizer, não têm o poder de</p><p>punir quem quer que seja. No entanto, desempenham um relevantíssimo papel institucional na</p><p>elucidação de fatos de interesse da coletividade, sobretudo daqueles que, em condições normais, não</p><p>viriam ao conhecimento da sociedade ou das autoridades competentes para avaliá-los, segundo as</p><p>óticas política e jurídica, respectivamente. II- Bem por isso a Constituição Federal, no seu art. 58, §</p><p>3º, investiu as CPIs de "poderes de investigação próprios das autoridades judiciais", facultando-lhes</p><p>"a realização de diligências que julgar necessárias", porquanto atuam em nome do povo soberano do</p><p>qual são representantes, não sendo possível, por isso mesmo, opor a elas quaisquer limitações no</p><p>exercício desse importante múnus público, salvo, como é evidente, se vulnerarem direitos e garantias</p><p>fundamentais dos investigados, o que não é o caso, na espécie. III- A reserva de jurisdição, apesar de</p><p>incidente sobre as hipóteses de busca domiciliar (art. 5º, XI, da CF), de interceptação telefônica (art.</p><p>5º, XII, da CF) e de decretação da prisão, salvo a determinada em flagrante delito (art. 5º, LXI, da</p><p>CF), não se estende às quebras de sigilo - inclusive fiscal e bancário -, por tratar-se de medida</p><p>abrigada pela Constituição, em seu art. 58, § 3º. IV- É longevo - e continua firme - o entendimento</p><p>consolidado nesta Corte segundo o qual as comissões parlamentares de inquérito têm como ponto</p><p>de partida elementos indiciários, longe ficando de revelar, ao primeiro exame, a convicção a respeito</p><p>de práticas ilícitas de autoridades públicas ou privadas, empreendendo investigações de natureza</p><p>política, não sendo exigível delas fundamentação exaustiva às diligências que determinam no curso de</p><p>seus trabalhos, tal como ocorre com as decisões judiciais (vide MS 24749/DF, relator Ministro Marco</p><p>Aurélio). V - Para a configuração de ato abusivo apto a embasar a concessão da medida requerida</p><p>seria preciso ficar inequivocamente demonstrada a falta de pertinência temática entre os atos aqui</p><p>questionadas e os fatos investigados pela Comissão Parlamentar de Inquérito. Tal descompasso,</p><p>contudo, não foi devidamente demonstrado. VI- Agravo regimental a que se nega provimento.</p><p>01/03/2024 - Página 40 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>Highlight</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 06 - Dia 22/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: CLAUDIO BRANDAO DE OLIVEIRA</p><p>06 Tema: O Processo Legislativo. As diversas etapas que compõem o rito parlamentar. Controle</p><p>judicial do processo legislativo. Processo legislativo no Estado e no Município.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, se é constitucional o texto de lei,</p><p>proveniente de emenda parlamentar, que permitiu o aumento das atividades desempenhadas pelos</p><p>oficiais do registro civil das pessoas naturais, transformando-os em "ofícios da cidadania", prestando</p><p>inclusive outros serviços remunerados, independente da atividade fiscalizatória do Poder Judiciário.</p><p>01/03/2024 - Página 41 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>Contrabando legislativo, poder fiscalizatório do Poder Judiciário. Não há contrabando legislativo desde guarde pertinência temática. A inconstitucionalidade está no momento em que teve a supressão do Poder Judiciário que não poderia ser tratado.</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>ADI: registro civil de pessoas naturais e ampliação de serviços remunerados -</p><p>O Plenário, por maioria, julgou procedente, em parte, pedido formulado em ação direta de</p><p>inconstitucionalidade para conceder interpretação conforme a Constituição Federal (CF) ao § 3º do</p><p>art. 29 da Lei 6.015/1973 e declarar a nulidade parcial, com redução de texto, da expressão</p><p>“independe de homologação” constante do § 4º do mesmo artigo (1), no sentido de possibilitar que os</p><p>ofícios do registro civil das pessoas naturais prestem outros serviços conexos remunerados, na forma</p><p>prevista em convênio devidamente homologado pelo Poder Judiciário local, em credenciamento ou</p><p>em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas, podendo o referido convênio ser firmado</p><p>pela entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial do</p><p>órgão ou da entidade interessada.</p><p>Os dispositivos impugnados a princípio (§§ 3º e 4º) foram incluídos no</p><p>art. 29 da Lei de Registros</p><p>Públicos (LRP) pela Lei 13.484/2017, decorrente do processo legislativo de conversão da Medida</p><p>Provisória (MP) 776/2017. Em decisões monocráticas, o ministro Alexandre de Moraes (relator)</p><p>deferiu medida cautelar para a suspensão da eficácia de ambos os preceitos e, após aditamento à</p><p>inicial, da eficácia do Provimento 66/2018 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que os</p><p>regulamentou.</p><p>Preliminarmente, o colegiado, em votação unânime, converteu a apreciação do referendo da cautelar</p><p>em exame definitivo do mérito, por estarem os autos devidamente instruídos. Em seguida, afastou a</p><p>inconstitucionalidade formal alegada pela suposta falta de relevância e urgência, pois o presidente da</p><p>República e o Congresso Nacional entenderam estarem presentes esses requisitos. Além disso,</p><p>segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Nacional (STF), o Poder Judiciário deve substituir a</p><p>análise subjetiva desses requisitos e apontar eventuais ausências somente em situações extremas.</p><p>Ponderou que a MP 776/2017, em sua proposição, pretendia alterar a LRP e tratava da “naturalidade</p><p>facultativa”, isto é, a possibilidade de que crianças nascidas em hospitais distantes de suas cidades de</p><p>origem sejam registradas como naturais da cidade do domicílio da mãe, e não necessariamente do</p><p>local do nascimento. Aduziu que a medida provisória quis ampliar a prestação de serviço público,</p><p>melhorar sua eficiência, diminuir o sub-registro, aumentar a acessibilidade da população, inclusive</p><p>em face da capilaridade das serventias extrajudiciais de registro civil de pessoas naturais.</p><p>A Corte verificou não estar caracterizado “contrabando legislativo”, pois a emenda parlamentar que</p><p>trouxe o acréscimo dos §§ 3º e 4º ao art. 29 da LRP ampliou a ideia original da medida provisória. Há</p><p>pertinência temática entre a redação originária da medida provisória e a emenda parlamentar</p><p>apresentada, que permitiu o aumento das atividades desempenhadas pelos oficiais do registro civil das</p><p>pessoas naturais. Inadmitir a ampliação da finalidade de medida provisória resultaria na compreensão</p><p>de ser o Congresso Nacional mero chancelador do ato normativo. A iniciativa parlamentar merece</p><p>deferência, uma vez que a emenda cuidou do mesmo</p><p>01/03/2024 - Página 42 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>escopo:favorecer acessibilidade da população a serviços e utilidades públicas que possam ser prestados</p><p>pelos registradores.</p><p>Reconheceu o mérito da ampliação das competências, que objetivou a maior comodidade no acesso a</p><p>serviços de cadastro e documentação. Isso melhora o exercício da cidadania pela população,</p><p>principalmente pela parcela socialmente desfavorecida econômica ou geograficamente. A transformação</p><p>em ofícios da cidadania caracteriza providência situada no domínio temático semelhante ao da proposição</p><p>encaminhada pelo presidente da República. Ademais, a legislação passou a regulamentar, no âmbito</p><p>federal, aquilo que as corregedorias e os tribunais de justiça estaduais e do Distrito Federal já realizaram.</p><p>Quanto à possibilidade de ampliação, não existe inconstitucionalidade material.</p><p>Entretanto, segundo o colegiado, há inconstitucionalidade formal nos pontos em que se buscou afastar a</p><p>fiscalização e a homologação dos convênios pelo Judiciário local, porquanto não versa sobre registros</p><p>públicos (CF, art. 22, XXV), e sim sobre atividade fiscalizatória que a CF confere aos tribunais de justiça,</p><p>por meio de suas corregedorias, e ao CNJ.</p><p>Ato contínuo, o Tribunal conferiu interpretação conforme à CF ao § 3º do art. 29 da LRP, para que os</p><p>“outros serviços remunerados” guardem alguma relação com o exercício das atividades delegadas, como,</p><p>por exemplo, emissão de certidões e de documentos públicos. É salutar a ampliação, desde que haja</p><p>pertinência temática. Nessa linha, o CNJ editou o Provimento 66/2018.</p><p>Ao cuidar do § 4º do art. 29 da LRP, o colegiado avaliou que a fiscalização prévia e posterior dos</p><p>convênios pelo Poder Judiciário é exigência constitucional e não pode ser suprimida por legislação</p><p>federal. Os convênios dependem de homologação. Por isso, retirou-se a expressão “independe de</p><p>homologação” do texto do § 4º.</p><p>Por fim, a Corte observou que a remuneração dos serviços deve ser previamente fixada em lei de</p><p>iniciativa do Poder Judiciário local.</p><p>Os ministros Roberto Barroso e Rosa Weber subscreveram o entendimento majoritário com a ressalva de</p><p>não se comprometerem com tese de interpretação alargada do poder de emenda parlamentar à medida</p><p>provisória.</p><p>Vencido o ministro Marco Aurélio, que reputou totalmente procedente a pretensão. Salientou sua</p><p>tendência a concluir pelo requisito da urgência, caso a MP tivesse permanecido com a redação inicial.</p><p>Sob sua óptica, houve modificação que não se coaduna com o instituto da conversão de medida</p><p>provisória. Enquanto a proposta do Poder Executivo versou formalidades das certidões, os novos</p><p>preceitos adentraram campo da feitura de convênio e da prestação de serviços remunerados pelos</p><p>cartórios.</p><p>(1) Lei 6.015/1973 (LRP): “Art. 29. Serão registrados no registro civil de pessoas naturais: (...) § 3º Os</p><p>01/03/2024 - Página 43 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>ofícios doregistro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão autorizados a</p><p>prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em credenciamento ou em matrícula</p><p>com órgãos públicos e entidades interessadas. § 4º O convênio referido no § 3º deste artigo independe de</p><p>homologação e será firmado pela entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma</p><p>abrangência territorial do órgão ou da entidade interessada.”</p><p>ADI 5855 MC-REF/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 10.4.2019. (ADI-5855)</p><p>Dessa forma, esta Corte reconheceu, no julgamento da referida ADI 425, por ampla maioria, a</p><p>constitucionalidade da instituição de medida provisória estadual, desde que, primeiro, esse instrumento</p><p>esteja expressamente previsto na Constituição do Estado e, segundo, sejam observados os princípios e as</p><p>limitações impostas pelo modelo adotado pela Constituição Federal. Do voto do eminente relator,</p><p>Ministro Maurício Corrêa, destaco as seguintes conclusões (DJ 19.12.03):</p><p>"Sem consistência, portanto, a tese que nega aos Estados a faculdade de editar medida provisória por ser</p><p>obrigatória a interpretação restritiva do modelo federal, e por constituir exceção ao princípio da tripartição</p><p>dos Poderes. É que o § 1º do artigo 25 da Carta Federal reservou aos Estados 'as competências que não</p><p>lhes sejam vedadas por esta Constituição'. Quis o constituinte que as unidades federadas pudessem adotar</p><p>o modelo do processo legislativo admitido para a União, uma vez que nada está disposto, no ponto, que</p><p>lhes seja vedado.</p><p>Ora, se a Constituição Federal foi silente em relação às espécies normativas que poderiam ser editadas</p><p>pelos Estados, não cabe colocar a questão em termos de interpretação restritiva ou ampliativa de preceito</p><p>inexistente. Ademais, essa exegese só se aplica às limitações ao poder constituinte estadual, com exceção,</p><p>é claro, das cláusulas pétreas, como observa JOSÉ AFONSO DA SILVA.</p><p>(...)</p><p>É tradição nesta Corte aplicar o princípio da simetria ao procedimento legislativo nos Estados-membros,</p><p>que também enfrentam situações excepcionais a reclamar providências urgentes e relevantescapazes de</p><p>saná-las, especialmente se considerarmos o fato de que vários deles possuem tamanho, população e</p><p>economia equiparáveis a diversos países do mundo.</p><p>(...)</p><p>Impende assinalar que são de observância compulsória os dois requisitos - relevância e urgência -</p><p>impostos à União pelo artigo 62 da Constituição Federal. A respeito do processo legislativo anoto que</p><p>esta Corte vem decidindo quanto à obrigatoriedade de os Estados-membros observarem as linhas básicas</p><p>do modelo federal (ADIs 216-PB, Redator p/ o acórdão</p><p>Celso de Mello, RTJ 146/388; 822-RS, Pertence,</p><p>RTJ 150/482; 1181-2-TO, de que fui relator, DJ 18/06/97). Essa vinculação deve ser seguida, inclusive,</p><p>em relação às modificações introduzidas pela EC 32/01, condição de validade do dispositivo estadual</p><p>desde então."</p><p>3. Acrescento, ademais, que, se a Constituição Federal não autorizou explicitamente os Estados-membros</p><p>a adotarem medidas provisórias,</p><p>01/03/2024 - Página 44 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>ofereceu forte esignificativa indicação quanto a essa possibilidade, ao estabelecer, no capítulo</p><p>referente à organização e à regência dos Estados, a competência desses entes da Federação para</p><p>"explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei,</p><p>vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação" (CF, art. 25, § 2º). Concluir de</p><p>forma diversa nos levaria a indagar, inevitavelmente, se teria sentido endereçar tal restrição ao</p><p>Presidente da República em dispositivo que trata apenas de atividade exclusiva de outros partícipes da</p><p>Federação que não a União ou, ainda, por que motivo a Constituição Federal imporia uma proibição</p><p>específica quanto à utilização, pelos Estados-membros, de instrumento legislativo que lhes fosse</p><p>vedado instituir.</p><p>A inexistência, ao que me parece, de respostas razoáveis a esses questionamentos, conduz à conclusão</p><p>obtida pela Corte na apreciação da ADI 425, no sentido da constitucionalidade da adoção de medidas</p><p>provisórias pelos Estados, com a condição inafastável de que esse instrumento esteja expressamente</p><p>previsto na Constituição Estadual e nos mesmos moldes impostos pela Constituição Federal, tendo em</p><p>vista a necessidade da observância simétrica do processo legislativo federal.</p><p>4. Por tais razões, julgo improcedente o pedido formulado na presente ação direta de</p><p>inconstitucionalidade.</p><p>É como voto.</p><p>* acórdão pendente de publicação</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, se o poder judiciário pode sindicar</p><p>os motivos pelos quais a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal inseriu determinado tema a ser</p><p>deliberado, nos casos de rito de urgência, excluindo, desta forma, a apreciação do tema de</p><p>determinadas comissões.</p><p>RESPOSTA:</p><p>Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF</p><p>Resumo:</p><p>É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam na</p><p>Câmara dos Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder Judiciário examinar</p><p>concretamente as razões que justificam sua adoção.</p><p>Inexiste violação ao devido processo legislativo, pois as normas dos Regimentos Internos reduzem as</p><p>formalidades processuais para casos específicos, devidamente reconhecidos pela maioria legislativa, o</p><p>que é permitido pela própria Constituição (1).</p><p>O silêncio constitucional quanto à indicação das Comissões das Casas Legislativas e à definição do</p><p>momento e oportunidade da intervenção deve ser interpretado como opção pela disciplina regimental,</p><p>sob pena de inviabilizar os próprios trabalhos legislativos.</p><p>Portanto, a adoção do rito é matéria interna corporis, sendo defeso ao STF adentrar em tal seara, o que</p><p>implicaria indevido controle jurisdicional sobre a interpretação do sentido e do alcance de normas</p><p>meramente regimentais, infringindo o princípio da separação dos Poderes (2).</p><p>Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.</p><p>(1) CF/1988: "Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e</p><p>temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato</p><p>de que resultar sua criação. (...) § 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I -</p><p>discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo</p><p>se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; (...)"</p><p>(2) Precedentes citados: MS 38.199 MC e RE 1.297.884.</p><p>ADI 6968/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-feira),</p><p>às 23:59</p><p>01/03/2024 - Página 45 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>Art. 24 Regimento interno - decisão entendimento política, poder judicário não pode deliberar no caso de separação de poderes.</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 07 - Dia 23/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: SYLVIO CLEMENTE DA MOTTA FILHO</p><p>07 Tema: Espécies normativas. Emendas Constitucionais. Lei Complementar. Lei Ordinária. Lei</p><p>Delegada. Medida Provisória. Decreto Legislativo. Resolução.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Em virtude do grande número de medidas provisórias que trancam a pauta da Câmara dos Deputados,</p><p>seu Presidente decidiu que o sobrestamento previsto no art. 62 § 6º da CRFB88 somente se aplica a</p><p>projetos de lei ordinária, bem como que o sobrestamento determinado não prejudica senão as sessões</p><p>ordinárias da Câmara.</p><p>Um grupo de parlamentares impetrou mandado de segurança com finalidade de afastar tal</p><p>determinação, já que a entendem inconstitucional, pois não há tal previsão na Carta Constitucional.</p><p>Responda, fundamentadamente, se a ordem deve ser concedida.</p><p>01/03/2024 - Página 46 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>MS 27931 / DF - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO</p><p>Julgamento: 29/06/2017; Publicação: 28/10/2020</p><p>Órgão julgador: Tribunal Pleno</p><p>Publicação</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-172 DIVULG 07-07-2020 PUBLIC 08-07-2020</p><p>REPUBLICAÇÃO: DJe-259 DIVULG 27-10-2020 PUBLIC 28-10-2020</p><p>E M E N T A: MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO – IMPUGNAÇÃO DEDUZIDA</p><p>CONTRA DELIBERAÇÃO EMANADA DO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS</p><p>DEPUTADOS QUE, RESOLVENDO QUESTÃO DE ORDEM, DEFINIU O CONTEÚDO E O</p><p>ALCANCE DA EXPRESSÃO “DELIBERAÇÕES LEGISLATIVAS” INSCRITA NO § 6º DO</p><p>ART. 62 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – TEMA QUE EXTRAVASA OS LIMITES</p><p>"INTERNA CORPORIS" DAS CASAS LEGISLATIVAS – POSSIBILIDADE DE CONTROLE</p><p>JURISDICIONAL DOS ATOS DE CARÁTER POLÍTICO, SEMPRE QUE SUSCITADA</p><p>QUESTÃO DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL – DIREITO PÚBLICO SUBJETIVO DO</p><p>PARLAMENTAR À CORRETA ELABORAÇÃO, PELO PODER LEGISLATIVO, DAS LEIS E</p><p>DEMAIS ESPÉCIES NORMATIVAS – A ANÔMALA SITUAÇÃO INSTITUCIONAL</p><p>DECORRENTE DO ABUSO PRESIDENCIAL NA EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS – A</p><p>QUESTÃO PERTINENTE AO PODER DE AGENDA DO LEGISLATIVO – GRAVE</p><p>COMPROMETIMENTO DA FUNÇÃO PRECÍPUA DO CONGRESSO NACIONAL</p><p>PROVOCADO PELO BLOQUEIO DA PAUTA DE CADA UMA DE SUAS CASAS, EM RAZÃO</p><p>DA EXISTÊNCIA DE MEDIDA PROVISÓRIA PENDENTE DE APRECIAÇÃO APÓS 45</p><p>(QUARENTA E CINCO) DIAS DE SUA PUBLICAÇÃO – INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA</p><p>CONFERIDA AO § 6º DO ART. 62 DA CONSTITUIÇÃO DA REP</p><p>SENTIDO DE QUE O REGIME DE URGÊNCIA PREVISTO EM TAL DISPOSITIVO</p><p>CONSTITUCIONAL, QUE FAZ SOBRESTAR “TODAS AS DEMAIS DELIBERAÇÕES</p><p>LEGISLATIVAS DA CASA” ONDE A MEDIDA PROVISÓRIA ESTIVER TRAMITANDO,</p><p>SOMENTE AFETA AQUELAS MATÉRIAS QUE SE MOSTREM PASSÍVEIS DE</p><p>REGRAMENTO POR MEDIDA PROVISÓRIA – EXEGESE VEICULADA NO ATO EMANADO</p><p>DO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS QUE, APOIADA EM</p><p>CONSTRUÇÃO ESTRITAMENTE JURÍDICA, TEM A VIRTUDE DE PRESERVAR, EM SUA</p><p>INTEGRALIDADE, O LIVRE DESEMPENHO, POR ESSA CASA DO CONGRESSO</p><p>NACIONAL, DA FUNÇÃO TÍPICA QUE LHE É INERENTE: A FUNÇÃO DE LEGISLAR –</p><p>MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. A LEGITIMIDADE ATIVA DOS IMPETRANTES</p><p>EM FACE DE SUA CONDIÇÃO DE MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL – Os membros</p><p>do Congresso Nacional dispõem, em caráter exclusivo, de legitimidade ativa “ad causam” para</p><p>provocar a instauração do controle jurisdicional sobre o processo de formação das leis e das emendas</p><p>à Constituição, assistindo-lhes, sob tal perspectiva, irrecusável direito subjetivo de impedir que a</p><p>elaboração dos atos normativos, pelo Poder Legislativo, incida em desvios inconstitucionais, podendo</p><p>insurgir-se, por tal razão, até mesmo contra decisões</p><p>que, emanadas da Presidência da Casa</p><p>legislativa, hajam resolvido questões de ordem pertinentes ao “iter” procedimental concernente à</p><p>atividade legislativa do Parlamento. Precedentes. POSSIBILIDADE DE CONTROLE</p><p>JURISDICIONAL DA DELIBERAÇÃO PARLAMENTAR QUANDO OCORRENTE SITUAÇÃO</p><p>CONFIGURADORA DE LITÍGIO CONSTITUCIONAL – O Poder Judiciário, quando intervém para</p><p>assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da Constituição,</p><p>desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições quelhe</p><p>01/03/2024 - Página 47 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>conferiu a própria Carta da República, ainda que essa atuação institucional se projete na esfera</p><p>orgânica do Poder Legislativo. Questões políticas. Doutrina. Precedentes. A COMPETÊNCIA</p><p>EXTRAORDINÁRIA DE EDITAR MEDIDAS PROVISÓRIAS NÃO PODE LEGITIMAR</p><p>PRÁTICAS DE CESARISMO GOVERNAMENTAL NEM INIBIR O EXERCÍCIO, PELO</p><p>CONGRESSO NACIONAL, DE SUA FUNÇÃO PRIMÁRIA DE LEGISLAR – Cabe, ao Poder</p><p>Judiciário, no desempenho das funções que lhe são inerentes, impedir que o exercício compulsivo da</p><p>competência extraordinária de editar medida provisória culmine por introduzir, no processo</p><p>institucional brasileiro, em matéria legislativa, verdadeiro cesarismo governamental, provocando,</p><p>assim, graves distorções no modelo político e gerando sérias disfunções comprometedoras da</p><p>integridade do princípio constitucional da separação de poderes. PROPOSIÇÕES LEGISLATIVAS</p><p>QUE NÃO SOFREM O BLOQUEIO RITUAL ESTABELECIDO PELO ART. 62, § 6º, DA</p><p>CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA: O EXAME DO TEMA CONCERNENTE À NECESSÁRIA</p><p>PROTEÇÃO AO PODER DE AGENDA DAS CASAS DO CONGRESSO NACIONAL – O regime</p><p>de urgência previsto no art. 62, § 6º, da Constituição da República – que impõe o sobrestamento das</p><p>deliberações legislativas das Casas do Congresso Nacional – incide, tão-somente, sobre aquelas</p><p>matérias que se mostram passíveis de regramento por medida provisória, excluídos, em consequência,</p><p>do bloqueio procedimental imposto por mencionado preceito constitucional as propostas de emenda à</p><p>Constituição e os projetos de lei complementar, de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo,</p><p>tratando-se de projetos de lei ordinária, aqueles que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de</p><p>incidência das medidas provisórias (CF, art. 62, § 1º, I, II e IV). – Essa fórmula interpretativa</p><p>constitui reação legítima ao inadmissível controle hegemônico, pelo Presidente da República, do</p><p>poder de agenda do Congresso Nacional, pois tem a virtude de devolver às Casas legislativas esse</p><p>mesmo poder de agenda, que traduz prerrogativa institucional das mais relevantes, capaz de permitir à</p><p>instituição parlamentar – livre da indevida ingerência de práticas de cesarismo governamental pelo</p><p>Chefe do Executivo (representadas pelo exercício compulsivo da edição de medidas provisórias) – o</p><p>poder de selecionar e de apreciar, de modo inteiramente autônomo, as matérias que considere</p><p>revestidas de importância política, social, cultural, econômica e jurídica para a vida do País, o que</p><p>ensejará – na visão e na perspectiva do Poder Legislativo (e não na vontade unilateral do Presidente</p><p>da República) – a formulação e a concretização, pelo Parlamento, de uma pauta temática própria.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Há dois dias do fim do prazo de vigência de determinada Medida Provisória, o Presidente da</p><p>República a revoga. Mas, dias após, tal autoridade edita uma outra medida provisória, que, em sua</p><p>maioria, repetiu o conteúdo da medida provisória anteriormente revogada.</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, se a edição da segunda medida</p><p>provisória é constitucional, nas hipóteses de ela ter sido editada na mesma ou na sessão legislativa</p><p>seguinte.</p><p>01/03/2024 - Página 48 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>ADI 5709, Relator(a): Min. ROSA WEBER</p><p>Órgão julgador: Tribunal Pleno</p><p>Julgamento: 27/03/2019; Publicação: 28/06/2019</p><p>Ementa</p><p>EMENTA CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. MEDIDA PROVISÓRIA.</p><p>ESTABELECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO BÁSICA DOS ÓRGÃOS DA PRESIDÊNCIA</p><p>DA REPÚBLICA E DOS MINISTÉRIOS. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 62, CAPUT e</p><p>§§ 3º e 10, CRFB. REQUISITOS PROCEDIMENTAIS. REJEIÇÃO E REVOGAÇÃO DE</p><p>MEDIDA PROVISÓRIA COMO CATEGORIAS DE FATO JURÍDICO EQUIVALENTES E</p><p>ABRANGIDAS NA VEDAÇÃO DE REEDIÇÃO NA MESMA SESSÃO LEGISLATIVA.</p><p>INTERPRETAÇÃO DO §10 DO ART. 62 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CONVERSÃO</p><p>DA MEDIDA PROVISÓRIA EM LEI. AUSÊNCIA DE PREJUDICIALIDADE</p><p>SUPERVENIENTE. ADITAMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. PRECEDENTES JUDICIAIS</p><p>DO STF. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE. 1.</p><p>O Supremo Tribunal Federal definiu interpretação jurídica no sentido de que apenas a</p><p>modificação substancial, promovida durante o procedimento de deliberação e decisão legislativa</p><p>de conversão de espécies normativas, configura situação de prejudicialidade superveniente da</p><p>ação a acarretar, por conseguinte, a extinção do processo sem resolução do mérito. Ademais,</p><p>faz-se imprescindível o aditamento da petição inicial para a convalidação da irregularidade</p><p>processual. Desse modo, a hipótese de mera conversão legislativa da medida provisória não é</p><p>argumento suficiente para justificar prejudicialidade processual superveniente. 2. Medida</p><p>provisória não revoga lei anterior, mas apenas suspende seus efeitos no ordenamento jurídico,</p><p>em face do seu caráter transitório e precário. Assim, aprovada a medida provisória pela</p><p>Câmara e pelo Senado, surge nova lei, a qual terá o efeito de revogar lei antecedente. Todavia,</p><p>caso a medida provisória</p><p>01/03/2024 - Página 49 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>sejarejeitada (expressa ou tacitamente), a lei primeira vigente no ordenamento, e que estava</p><p>suspensa, volta a ter eficácia. 3. Conversão do exame da medida cautelar em julgamento do mérito</p><p>da demanda. 4. O argumento de desvio de finalidade para justificar o vício de inconstitucionalidade</p><p>de medida provisória, em razão da provável direção de cargo específico para pessoa determinada</p><p>não tem pertinência e validade jurídica, porquanto, na espécie, se trata de ato normativo geral e</p><p>abstrato, que estabeleceu uma reestruturação genérica da Administração Pública. Esse motivo,</p><p>inclusive, autorizou o acesso à jurisdição constitucional abstrata. 5. Impossibilidade de reedição, na</p><p>mesma sessão legislativa, de medida provisória revogada, nos termos do prescreve o art. 62, §§2º e</p><p>3º. Interpretação jurídica em sentido contrário, importaria violação do princípio da Separação de</p><p>Poderes. Isso porque o Presidente da República teria o controle e comando da pauta do Congresso</p><p>Nacional, por conseguinte, das prioridades do processo legislativo, em detrimento do próprio Poder</p><p>Legislativo. Matéria de competência privativa das duas Casas Legislativas (inciso IV do art. 51 e</p><p>inciso XIII do art. 52, ambos da Constituição Federal). 6. O alcance normativo do § 10 do art. 62,</p><p>instituído com a Emenda Constitucional n. 32 de 2001, foi definido no julgamento das ADI 2.984 e</p><p>ADI 3.964, precedentes judiciais a serem observados no processo decisório, uma vez que não se</p><p>verificam hipóteses que justifiquem sua revogação. 7. Qualquer solução jurídica a ser dada na</p><p>atividade interpretativa do art. 62 da Constituição Federal deve ser restritiva, como forma de</p><p>assegurar a funcionalidade das instituições e da democracia. Nesse contexto, imperioso assinalar</p><p>01/03/2024 - Página 50 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>opapel da medida provisória como técnica normativa residual que está à serviço do Poder</p><p>Executivo, para atuações legiferantes excepcionais, marcadas pela urgência e relevância, uma</p><p>vez que não faz parte do núcleo funcional desse Poder a atividade legislativa. 8. É vedada</p><p>reedição de medida provisória que tenha sido</p><p>revogada, perdido sua eficácia ou rejeitada pelo</p><p>Presidente da República na mesma sessão legislativa. Interpretação do §10 do art. 62 da</p><p>Constituição Federal. 9. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente para declarar</p><p>a inconstitucionalidade da Lei n. 13.502, de 1º de novembro de 2017, resultado da conversão da</p><p>Medida Provisória n. 782/2017.</p><p>01/03/2024 - Página 51 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 08 - Dia 23/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: SYLVIO CLEMENTE DA MOTTA FILHO</p><p>08 Tema: O Tribunal de Contas. Natureza jurídica de suas decisões. Controles externo e interno. O</p><p>Ministério Público junto ao Tribunal de Contas.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>O TCU determinou ao BNDES o fornecimento de dados de determinada sociedade, sob o argumento</p><p>de que esta celebrou contratos vultosos com a Instituição. O Tribunal visa, dessa forma, a aferir, por</p><p>exemplo, os critérios utilizados para a escolha da referida sociedade empresária na concessão de</p><p>empréstimos, quais seriam as vantagens sociais advindas das operações analisadas, se houve</p><p>cumprimento das cláusulas contratuais, e se as operações de troca de debêntures por posição acionária</p><p>na empresa ora indicada originou prejuízo para o BNDES.</p><p>O Banco impetra mandado de segurança a fim de se abster de fornecer os dados exigidos, já que o</p><p>Tribunal de Contas agiu de forma imotivada e arbitrária, criando exigência irrestrita e genérica de</p><p>divulgação de informações protegidas pelo direito fundamental à privacidade da sociedade.</p><p>Responda, fundamentadamente, como se a ordem deve ser concedida.</p><p>01/03/2024 - Página 52 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RESPOSTA: :</p><p>MS 33340 / DF - DISTRITO FEDERAL</p><p>Relator(a): Min. LUIZ FUX</p><p>Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTROLE LEGISLATIVO FINANCEIRO.</p><p>CONTROLE EXTERNO. REQUISIÇÃO PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO DE</p><p>INFORMAÇÕES ALUSIVAS A OPERAÇÕES FINANCEIRAS REALIZADAS PELAS</p><p>IMPETRANTES. RECUSA INJUSTIFICADA. DADOS NÃO ACOBERTADOS PELO SIGILO</p><p>BANCÁRIO E EMPRESARIAL. 1. O controle financeiro das verbas públicas é essencial e privativo</p><p>do Parlamento como consectário do Estado de Direito (IPSEN, Jörn. Staatsorganisationsrecht. 9.</p><p>Auflage. Berlin: Luchterhand, 1997, p. 221). 2. O primado do ordenamento constitucional</p><p>democrático assentado no Estado de Direito pressupõe uma transparente responsabilidade do Estado</p><p>e, em especial, do Governo. (BADURA, Peter. Verfassung, Staat und Gesellschaft in der Sicht des</p><p>Bundesverfassungsgerichts. In: Bundesverfassungsgericht und Grundgesetz. Festgabe aus Anlass des</p><p>25jähringe Bestehens des Bundesverfassungsgerichts. Weiter Band. Tübingen: Mohr, 1976, p. 17.) 3.</p><p>O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se está</p><p>diante do interesse da sociedade de se conhecer o destino dos recursos públicos. 4. Operações</p><p>financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a</p><p>Lei Complementar nº 105/2001, visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios</p><p>da administração pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é</p><p>prerrogativa constitucional do Tribunal[TCU] o acesso a informações relacionadas a operações</p><p>financiadas com recursos públicos. 5. O segredo como "alma do negócio" consubstancia a máxima</p><p>cotidiana inaplicável em casos análogos ao sub judice, tanto mais que, quem contrata com o poder</p><p>público não pode ter segredos, especialmente se a revelação for necessária para o controle da</p><p>legitimidade do emprego dos recursos públicos. É que a contratação pública não pode ser feita em</p><p>esconderijos envernizados por um arcabouço jurídico capaz de impedir o controle social quanto ao</p><p>emprego das verbas públicas. 6. "O dever administrativo de manter plena transparência em seus</p><p>comportamentos impõe não haver em um Estado Democrático de Direito, no qual o poder reside no</p><p>povo (art. 1º, parágrafo único, da Constituição), ocultamento aos administrados dos assuntos que a</p><p>todos interessam, e muito menos em relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma</p><p>medida." (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 27ª edição. São</p><p>Paulo: Malheiros, 2010, p. 114). 7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu</p><p>militari, decretar a quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar condicionada</p><p>à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais, do Poder Legislativo. Precedente:</p><p>MS 22.801, Tribunal Pleno, Rel. Min. Menezes Direito, DJe 14.3.2008. 8. In casu, contudo, o TCU</p><p>deve ter livre acesso às operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito</p><p>privado da Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente porquanto</p><p>operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem pública. Inoponibilidade de sigilo</p><p>bancário e empresarial ao TCU quando se está diante de operações f</p><p>01/03/2024 - Página 53 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>undadas em recursos de origem pública. Conclusão decorrente do dever de atuação transparente dos</p><p>administradores públicos em um Estado Democrático de Direito. 9. A preservação, in casu, do sigilo das</p><p>operações realizadas pelo BNDES e BNDESPAR com terceiros não, apenas, impediria a atuação</p><p>constitucionalmente prevista para o TCU, como, também, representaria uma acanhada, insuficiente, e, por</p><p>isso mesmo, desproporcional limitação ao direito fundamental de preservação da intimidade. 10. O</p><p>princípio da conformidade funcional a que se refere Canotilho, também, reforça a conclusão de que os</p><p>órgãos criados pela Constituição da República, tal como o TCU, devem se manter no quadro normativo</p><p>de suas competências, sem que tenham autonomia para abrir mão daquilo que o constituinte lhe entregou</p><p>em termos de competências.(CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da</p><p>Constituição. 5ª edição. Coimbra: Almedina, 2002, p. 541.) 11. A Proteção Deficiente de vedação</p><p>implícita permite assentar que se a publicidade não pode ir tão longe, de forma a esvaziar,</p><p>desproporcionalmente, o direito fundamental à privacidade e ao sigilo bancário e empresarial; não menos</p><p>verdadeiro é que a insuficiente limitação ao direito à privacidade revelar-se-ia, por outro ângulo,</p><p>desproporcional, porquanto lesiva aos interesses da sociedade de exigir do Estado brasileiro uma atuação</p><p>transparente. 12. No caso sub examine: I) O TCU determinou o fornecimento de dados pela JBS/Friboi,</p><p>pessoa que celebrou contratos vultosos com o BNDES, a fim de aferir, por exemplo, os critérios</p><p>utilizados para a escolha da referida sociedade empresária, quais seriam as vantagens sociais advindas das</p><p>operações analisadas, se houve cumprimento das cláusulas contratuais, se as operações de troca de</p><p>debêntures por posição acionária na empresa ora indicada originou prejuízo para o BNDES. II) O TCU</p><p>não agiu de forma imotivada e arbitrária, e nem mesmo criou exigência irrestrita e genérica de</p><p>informações sigilosas. Sobre o tema, o ato coator aponta a existência de uma operação da Polícia Federal</p><p>denominada Operação Santa Tereza que apontou a existência de quadrilha intermediando empréstimos</p><p>junto ao BNDES, inclusive envolvendo o financiamento obtido pelo Frigorífico Friboi. Ademais, a</p><p>necessidade do controle financeiro mais detido resultou, segundo o decisum atacado, de um "protesto da</p><p>Associação Brasileira da Indústria Frigorífica (Abrafigo) contra a política do BNDES que estava levanto</p><p>à concentração econômica do setor". III) A requisição feita pelo TCU na hipótese destes autos revela</p><p>plena compatibilidade com as atribuições constitucionais que lhes são dispensadas e permite, de forma</p><p>MISTA, INTERVENTORES MUNICIPAIS E TITULARES DA</p><p>DEFESNORIA PÚBLICA E DA PROCURADORIA-GERAL ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE.</p><p>OFENSA À SEPARAÇÃO DE PODERES. 1. A Emenda Constitucional estadual 16/2005, posterior</p><p>à propositura da presente ADI, adequou o § 3º doart. 4</p><p>01/03/2024 - Página 4 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>6 da Constituição do Estado de Roraima ao art. 75 da Constituição Federal. Verificada perda</p><p>superveniente parcial do objeto quanto ao respectivo parágrafo. 2. É vedada à legislação estadual</p><p>submeter à aprovação prévia da Assembleia Legislativa a nomeação de dirigentes de Autarquias,</p><p>Fundações Públicas, Presidentes de Empresas de Economia Mista, Interventores de Municípios, bem</p><p>como de titulares de Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado; por afronta à separação</p><p>de poderes. 3. Declaração de inconstitucionalidade parcial, com redução de texto, do inciso XVIII do</p><p>art. 33 do dispositivo impugnado, retirando-se a expressão "antes da nomeação, arguir os Titulares da</p><p>Defensoria Pública, da Procuradoria Geral do Estado, das Fundações Públicas, das Autarquias, os</p><p>Presidentes das Empresas de Economia Mista". 4. Declaração de inconstitucionalidade do parágrafo</p><p>único do art. 62 da lei impugnada, bem como de inconstitucionalidade</p><p>arguição pelo Poder Legislativo". 5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada parcialmente</p><p>prejudicada e, na parte não prejudicada, julgada parcialmente procedente.</p><p>Decisão</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Determinado Governador de Estado impetra habeas corpus perante o STF, em que visa o trancamento</p><p>da ação penal na qual o MP o denunciou por crimes contra a administração pública e crimes da lei de</p><p>licitações.</p><p>Alega o impetrante que o STJ recebeu a denúncia sem cumprir o que prevê a Carta Constitucional</p><p>Estadual no que tange à expressa autorização da respectiva Assembleia Legislativa para o</p><p>processamento de ação penal em crimes imputados ao Chefe do Poder Executivo Estadual.</p><p>Aduz ainda que, mesmo na ausência de tal dispositivo, o cumprimento de tal exigência se faz</p><p>necessário em homenagem ao princípio da simetria, porque, nos casos de denúncias a que se imputam</p><p>crimes ao Presidente da República, faz-se necessária a autorização da casa do povo.</p><p>Responda, fundamentadamente, se a ordem deve ser concedida.</p><p>01/03/2024 - Página 5 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>NOVO: Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa para o recebimento de</p><p>denúncia ou queixa e instauração de ação penal contra governador de Estado, por crime comum,</p><p>cabendo ao STJ, no ato de recebimento ou no curso do processo, dispor, fundamentadamente, sobre a</p><p>aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo. (...) O relator afirmou a</p><p>necessidade de superar os precedentes da Corte na dimensão de uma redenção republicana e cumprir</p><p>a promessa do art. 1º, caput, da CF, diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência</p><p>deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o</p><p>processamento de governadores. (...) Esclareceu não haver na CF previsão expressa da exigência de</p><p>autorização prévia de assembleia legislativa para o processamento e julgamento de governador por</p><p>crimes comuns perante o STJ. Dessa forma, inexiste fundamento normativo-constitucional expresso</p><p>que faculte aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas Constituições estaduais. Não há,</p><p>também, simetria a ser observada pelos Estados-membros.</p><p>[ADI 5.540, rel. min. Edson Fachin, j. 3-5-2017, P, Informativo 863.]</p><p>APn 815 / DF, Relator(a) Ministro OG FERNANDES</p><p>Órgão Julgador CE - CORTE ESPECIAL</p><p>Data do Julgamento 07/06/2017; Data da Publicação/Fonte DJe 20/06/2017</p><p>Ementa</p><p>PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. GOVERNADOR DO ESTADO</p><p>DE MINAS GERAIS. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DA ASSEMBLEIA</p><p>LEGISLATIVA DO ESTADO PARA PROCESSAR A DEMANDA. JULGAMENTO DA ADIN</p><p>5.540/DF PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. APLICABILIDADE AO CASO EM EXAME.</p><p>ANÁLISE DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. CRIME PREVISTO NO ART. 89 DA LEI N.</p><p>8.666/1993. PENA MÁXIMA COMINADA AO DELITO DE 5 ANOS. PRESCRIÇÃO DA</p><p>PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL EM 12 ANOS. ART. 109, III, DO CÓDIGO PENAL. FATO</p><p>OCORRIDO EM 14/1/2004. AUSÊNCIA DE CAUSA INTERRUPTIVA. PRESCRIÇÃO</p><p>DECRETADA. CRIME PREVISTO NO ART. 1º, I, DO DECRETO-LEI N. 201/1967.</p><p>INEXISTÊNCIA DE QUALQUER INDÍCIO OU PROVA A INQUINAR DE ILÍCITA A</p><p>CONDUTA DO RÉU FERNANDO DAMATA PIMENTEL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.</p><p>DENÚNCIA REJEITADA QUANTO AO CRIME PREVISTO NO ART. 1º, I, DO DECRETO-LEI</p><p>N. 201/1967.</p><p>1. Com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da ADI 5.540/DF, ficou consolidado que</p><p>descabe solicitar da Assembleia Legislativa de Minas Gerais autorização prévia para processar o</p><p>Governador de Estado. Dessa forma, resta cabível a submissão da presente denúncia à deliberação da</p><p>Corte Especial, no estágio processual atual.</p><p>2. O crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/1993 tem cominada pena máxima de 5 anos de</p><p>detenção, operando-se a prescrição, na forma do art. 109, III, do Código Penal, em 12 anos.</p><p>3. Tendo em vista que, no caso, já transcorreu lapso de mais 12 anos desde a data do alegado</p><p>cometimento do fato - 14/1/2004 -, e não havendo qualquer causa interruptiva, a contar dessa data,</p><p>porque ainda nem recebida a denúncia, há de se decretar a prescrição da pretensão punitiva estatal em</p><p>relação ao delito descrito no art. 89 da Lei n. 8.666/1993.</p><p>4. A exordial acusatória expôs osuposto fato criminoso quando se reportou ao alegado</p><p>superfaturamento de R$ 5.092.116,69 (cinco milhões, noventa e dois mil, cento e dezesseis reais e</p><p>sessenta e nove centavos). No que concerne às circunstâncias, aduziu q</p><p>01/03/2024 - Página 6 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>ue tal teria ocorrido no âmbito de pagamentos realizados nas datas de 18/3/2004, 15/4/2004 e</p><p>20/7/2004, acrescentando, ainda, um montante pago que teria se originado de empréstimo obtido no</p><p>Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. De sua parte, o acusado foi devidamente qualificado e a</p><p>ele foi imputado, em razão dessa descrição fática, o delito descrito no art. 1º, I, do Decreto-Lei n.</p><p>201/1967.</p><p>5. Assim, no caso em exame, devidamente atendidos os requisitos do art. 41 do CPP. A jurisprudência</p><p>do Superior Tribunal de Justiça, no que concerne ao tema da inépcia da denúncia, entende que, se a</p><p>peça acusatória permite que a defesa exerça seu mister, não há que se falar em tal vício processual.</p><p>Precedente: "Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, 'não há como reconhecer a</p><p>inépcia da denúncia se a descrição da pretensa conduta delituosa foi feita de forma suficiente ao</p><p>exercício do direito de defesa, com a narrativa de todas as circunstâncias relevantes, permitindo a</p><p>leitura da peça acusatória a compreensão da acusação, com base no artigo 41 do Código de Processo</p><p>Penal' (RHC 46.570/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em</p><p>20/11/2014, DJe 12/12/2014)".</p><p>6. Do exame minucioso de todas as provas documentais e testemunhais acostadas aos 14 volumes de</p><p>autos e aos 32 apensos, não se tem qualquer prova ou mesmo elemento indiciário da participação do</p><p>acusado, seja na ciência de eventual desvio da verba reportada na inicial</p><p>acusatória, seja na efetivação de algum ato, a esse título, em favor de terceiro, no caso, a Câmara de</p><p>Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte.</p><p>7. A ausência de justa causa se revela na falta absoluta de lastro probatório mínimo que autorize a</p><p>instauração da instância penal. Precedente: "I - A peça acusatória deve vir acompanhada com o</p><p>mínimo embasamento probatório apto a demonstrar, ainda que de modo indiciário, a efetiva</p><p>realização do ilícito penal por parte do denunciado. Se não houver um lastro probatório mínimo</p><p>idônea, que a sociedade brasileira tenha conhecimento se os recursos públicos repassados pela União ao</p><p>seu banco de fomento estão sendo devidamente empregados. 13. Consequentemente a recusa do</p><p>fornecimento das informações restou inadmissível, porquanto imprescindíveis para o controle da</p><p>sociedade quanto à destinação de vultosos recursos públicos. O que revela que o determinado pelo TCU</p><p>não extrapola a medida do razoável. 14. Merece destacar que in casu: a) Os Impetrantes são bancos de</p><p>fomento econômico e social, e</p><p>01/03/2024 - Página 54 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>nãoinstituições financeiras privadas comuns, o que impõe, aos que com eles contratam, a exigência de</p><p>disclosure e de transparência, valores a serem prestigiados em nossa República contemporânea, de modo</p><p>a viabilizar o pleno controle de legitimidade e responsividade dos que exercem o poder. b) A utilização de</p><p>recursos públicos por quem está submetido ao controle financeiro externo inibe a alegação de sigilode</p><p>dados e autoriza a divulgação das informações necessárias para o controle dos administradores, sob pena</p><p>de restar inviabilizada a missão constitucional da Corte deContas. c) À semelhança do que já ocorre com</p><p>a CVM e com o BACEN, que recebem regularmente dados dos Impetrantes sobre suas operações</p><p>financeiras, os Demandantes, também, não podem se negar a fornecer as informações que forem</p><p>requisitadas pelo TCU. 15. A limitação ao direito fundamental à privacidade que, por se revelar</p><p>proporcional, é compatível com a teoria das restrições das restrições (Schranken-Schranken). O direito</p><p>aosigilo bancário e empresarial, mercê de seu caráter fundamental, comporta uma proporcional limitação</p><p>destinada a permitir o controle financeiro da Administração Publica por órgão constitucionalmente</p><p>previsto e dotado de capacidade institucional para tanto. 16. É cediço na jurisprudência do E. STF que:</p><p>"ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PUBLICIDADE. A transparência decorre do princípio da publicidade.</p><p>TRIBUNAL DE CONTAS - FISCALIZAÇÃO - DOCUMENTOS. Descabe negar ao Tribunal de Contas</p><p>o acesso a documentos relativos à Administração Pública e ações implementadas, não prevalecendo a</p><p>óptica de tratar-se de matérias relevantes cuja divulgação possa importar em danos para o Estado.</p><p>Inconstitucionalidade de preceito da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Ceará que implica</p><p>óbice ao acesso." (ADI 2.361, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 23/10/2014). 17.</p><p>Jusfilosoficamente as premissas metodológicas aplicáveis ao caso sub judice revelam que: I -</p><p>"nuclearmente feito nas pranchetas da Constituição. Foi o legislador de primeiríssimo escalão quem</p><p>estruturou e funcionalizou todos eles (os Tribunais deContas), prescindindo das achegas da lei menor. (...)</p><p>Tão elevado prestígio conferido ao controle externo e a quem dele mais se ocupa, funcionalmente, é</p><p>reflexo direto do princípio republicano. Pois, numa República, impõe-se responsabilidade jurídica pessoal</p><p>a todo aquele que tenha por competência (e consequente dever) cuidar de tudo que é de todos". (BRITTO,</p><p>Carlos Ayres. O regime constitucional dos Tribunais de Contas. In: Revista do Tribunal de Contas do</p><p>Estado do Rio de Janeiro. Volume 8. 2º semestre de 2014. Rio de Janeiro: TCE-RJ, p. 18 e 20) II - "A</p><p>legitimidade do Estado Democrático de Direito depende do controle da legitimidade da sua ordem</p><p>financeira. Só o controle rápido, eficiente, seguro, transparente e valorativo dos gastos públicos legitima o</p><p>tributo, que é o preço da liberdade. O aperfeiçoamento d controle é que pode derrotar a moral tributária</p><p>cínica, que prega a sonegação e a desobediência civil a pretexto da ilegitimidade da despesa pública.</p><p>(TORRES, Ricardo Lobo. Uma Avaliação das Tendências Contemporâneas do Direito Administrativo.</p><p>Obra em homenagem a Eduardo García de Enterría. Rio de Janeiro:</p><p>01/03/2024 - Página 55 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Renovar, 2003, p. 645) 18. Denegação da segurança por ausência de direito material de recusa da</p><p>remessa dos documentos.</p><p>RHC 133118 / CE - Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI</p><p>Julgamento: 26/09/2017; Publicação: 09/03/2018</p><p>Órgão julgador: Segunda Turma</p><p>Publicação</p><p>PROCESSO ELETRÔNICO</p><p>DJe-045 DIVULG 08-03-2018 PUBLIC 09-03-2018</p><p>Ementa</p><p>EMENTA Recurso ordinário em habeas corpus. Ação penal. Associação criminosa, fraude a licitação,</p><p>lavagem de dinheiro e peculato (arts. 288 e 313-A, CP; art. 90 da Lei nº 8.666/93; art. 1º da Lei nº</p><p>9.613/98 e art. 1º, I e II, do DL nº 201/67). Trancamento. Descabimento. Sigilo bancário. Inexistência.</p><p>Conta corrente de titularidade da municipalidade. Operações financeiras que envolvem recursos</p><p>públicos. Requisição de dados bancários diretamente pelo Ministério Público. Admissibilidade.</p><p>Precedentes. Extensão aos registros de operações bancárias realizadas por particulares, a partir das</p><p>verbas públicas creditadas naquela conta. Princípio da publicidade (art. 37, caput, CF). Prova lícita.</p><p>Recurso não provido. 1. Como decidido pelo Supremo Tribunal Federal, ao tratar de requisição, pelo</p><p>Tribunal de Contas da União, de registros de operações financeiras, “o sigilo de informações</p><p>necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se está diante do interesse da</p><p>sociedade de se conhecer o destino dos recursos públicos” (MS nº 33.340/DF, Primeira Turma,</p><p>Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 3/8/15). 2. Assentou-se nesse julgado que as “operações</p><p>financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a</p><p>Lei Complementar nº 105/2001, visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios</p><p>da administração pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal (¿)”. 3. O Supremo Tribunal</p><p>Federal reconheceu ao Ministério Público Federal o poder de requisitar informações bancárias</p><p>relativas a empréstimos subsidiados pelo Tesouro Nacional, ao fundamento de que “se se trata de</p><p>operação em que há dinheiro público, a publicidade deve ser nota característica dessa operação” (MS</p><p>nº 21.729/DF, Pleno, Relator para o acórdão o Ministro Néri da Silveira, DJ 19/10/01). 4. Na espécie,</p><p>diante da existência de indícios da prática de ilícitos penais com verbas públicas, o Ministério Público</p><p>solicitou diretamente à instituição financeira cópias de extratos bancários e microfilmagens da conta</p><p>corrente da municipalidade, além de fitas de caixa, para a apuração do real destino das verbas. 5. O</p><p>poder do Ministério Público de requisitar informações bancárias de conta corrente de titularidade da</p><p>prefeitura municipal compreende, por extensão, o acesso aos registros das operações bancárias</p><p>realizadas por particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela conta. 6. De nada</p><p>adiantaria permitir ao Ministério Público requisitar diretamente os registros das operações feitas na</p><p>conta bancária da municipalidade e negar-lhe o principal: o acesso ao real destino dos recursos</p><p>públicos, a partir do exame de operações bancárias sucessivas (</p><p>01/03/2024 - Página 56 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>v.g., descontode cheque emitido pela Municipalidade na boca do caixa, seguido de transferência a</p><p>particular do valor sacado). 7. Entendimento em sentido diverso implicaria o esvaziamento da própria</p><p>finalidade do princípio da publicidade, que é permitir o controle da atuação do administrador público</p><p>e do emprego de verbas públicas. 8. Inexistência de prova ilícita capaz de conduzir ao trancamento da</p><p>ação penal. 9. Recurso não provido.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>A Ordem dos Advogados do Brasil propõe demanda em que visa à desconstituição da decisão do</p><p>Tribunal de Contas da União, que a condenou em multas, por não ter a autora enviado documentos</p><p>para o controle de suas contas pela Corte.</p><p>Em resposta, o polo passivo alega que a obrigação</p><p>mostra-se imperativa em relação a qualquer</p><p>pessoa, natural ou jurídica, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e</p><p>valores, quer sejam públicos, quer sejam de responsabilidade da União, ou, em nome desta, assuma</p><p>obrigação pecuniária. Sublinha que, arrecadando e gerindo recursos públicos, a entidade está</p><p>submetida a controle. Evoca o disposto nos artigos 133 da Carta da República e 44, inciso I, da Lei nº</p><p>8.096/1994. Distingue a Ordem dos conselhos de fiscalização profissional, assinalando ter, além da</p><p>atribuição de fiscalizar, funções institucionais ligadas aos postulados da República Democrática</p><p>Brasileira. Afirma ser instituição não estatal investida de competências públicas, a justificar a</p><p>prestação de contas.</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, como deve ser resolvido o caso.</p><p>01/03/2024 - Página 57 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>STF - Informativo 1091 - abril de 2023</p><p>Ordem dos Advogados do Brasil e dever de prestar contas ao Tribunal de Contas da União - RE</p><p>1.182.189/BA (Tema 1.054 RG)</p><p>"O Conselho Federal e os Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil não estão</p><p>obrigados a prestar contas ao Tribunal de Contas da União nem a qualquer outra entidade</p><p>externa."</p><p>A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não se sujeita à prestação de contas perante o Tribunal de</p><p>Contas da União (TCU) e a ausência dessa obrigatoriedade não representa ofensa ao art. 70, parágrafo</p><p>único, da Constituição Federal de 1988 (1), já que inexiste previsão expressa em sentido diverso.</p><p>Esta Corte já afastou a sujeição da OAB aos ditames impostos à Administração Pública direta e</p><p>indireta, dada a sua categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas (2), na medida em que é</p><p>uma instituição com natureza jurídica própria e dotada de autonomia e independência.</p><p>Nesse contexto, considerada a sua função institucional, a OAB exerce serviço público independente</p><p>(3), que não se confunde com serviço estatal, e cujo controle pode ser realizado por vias diversas</p><p>da do TCU. Assim, é necessário conferir o mais alto grau de liberdade para que a OAB tenha</p><p>condições de cumprir suas funções constitucionalmente privilegiadas, tendo em vista que os</p><p>advogados são indispensáveis à administração da Justiça (CF/1988, art. 133).</p><p>Ademais, a Ordem gere recursos privados arrecadados de seus associados, distinguindo-se dos</p><p>demais conselhos de fiscalização profissional, os quais recolhem contribuição de natureza</p><p>tributária, que advém da movimentação financeira do Estado. Por essa razão,suas</p><p>01/03/2024 - Página 58 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>finanças não se submetem ao controle estatal, tampouco se enquadram no conceito jurídico de</p><p>Fazenda Pública, cujo controle se sujeita às regras da Lei 4.320/1964.</p><p>Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.054 da</p><p>repercussão geral, desproveu o recurso extraordinário, de modo a manter o acórdão recorrido,</p><p>proferido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.</p><p>01/03/2024 - Página 59 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 09 - Dia 26/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: MARCELO LEONARDO TAVARES</p><p>09 Tema: O Poder Executivo. A forma republicana de governo.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Responda fundamentadamente com base nos princípios constitucionais aplicáveis ao caso, se é</p><p>constitucional texto de Constituição Estadual que prevê que o afastamento do país do Governador e</p><p>do Vice-Governador, em qualquer tempo, necessita de autorização prévia da respectiva Assembleia</p><p>Legislativa, sob pena de perda do cargo.</p><p>RESPOSTA:</p><p>AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.373</p><p>RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO</p><p>Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na ação direta, para</p><p>declarar a inconstitucionalidade da expressão "em qualquer tempo" inscrita no art. 59 da Constituição</p><p>do Estado de Roraima, nos termos do voto do Relator. Plenário, Sessão Virtual de 14.8.2020 a</p><p>21.8.2020.</p><p>E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - GOVERNADOR E VICE-</p><p>GOVERNADOR DO ESTADO - AFASTAMENTO DO PAÍS "EM QUALQUER TEMPO" -</p><p>NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, SOB PENA</p><p>DE PERDA DO CARGO - ALEGADA OFENSA AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE</p><p>PODERES E SUPOSTA TRANSGRESSÃO AO MODELO NORMATIVO ESTABELECIDO</p><p>PELA VIGENTE CONSTITUIÇÃO (ART. 49, III, E ART. 83) - MEDIDA CAUTELAR</p><p>ANTERIORMENTE DEFERIDA PELO PLENÁRIO DESTA SUPREMA CORTE -</p><p>REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA PELO SUPREMO TRIBUNAL</p><p>FEDERAL NO TEMA - PRECEDENTES - AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE. - A</p><p>exigência de prévia autorização da Assembleia Legislativa para o Governador e o Vice-Governador</p><p>do Estado ausentarem-se, em qualquer tempo, do território nacional mostra-se incompatível com os</p><p>postulados da simetria e da separação de poderes, pois essa restrição - que não encontra</p><p>correspondência nem parâmetro na Constituição Federal (art. 49, III, c/c o art. 83) - revela-se</p><p>inconciliável com a Lei Fundamental da República, que, por qualificar-se como fonte jurídica de</p><p>emanação do poder constituinte decorrente, impõe ao Estado-membro, em caráter vinculante, em</p><p>razão de sua índole hierárquico-normativa, o dever de estrita observância quanto às diretrizes e aos</p><p>princípios nela proclamados e estabelecidos (CF, art. 25, "caput"), sob pena de completa desvalia</p><p>jurídica das disposições estaduais que conflitem com a supremacia de que se revestem as normas</p><p>consubstanciadas na Carta Política. Precedentes.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>O Procurador-Geral da República questiona a constitucionalidade do seguinte dispositivo de</p><p>determinada Carta Estadual:</p><p>"Art. 59: Substituirá o Governador, no caso de impedimento, e suceder-lhe á no de vaga, o Vice-</p><p>Governador.</p><p>(...) § 5º: Não se considera impedimento, para efeito de substituição prevista no caput, o afastamento</p><p>do Governador por até quinze dias, do país ou do Estado".</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, como deve ser julgado o pedido</p><p>de inconstitucionalidade.</p><p>01/03/2024 - Página 60 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>gisel</p><p>Art. 29 e art. 49 é norma de simetria</p><p>gisel</p><p>O STF considera que esse paragrafo viola que viola o pricipio da simetria. O estatuto do presidente da republica deve ser observado como simetria das constituições estatuais. Esse §5º não encontra referencia na CF ao permitir que se ausente sem passar o cargo. Ausencia por um dia tem que ter transferência.</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Resposta: ADI 3647, rel. Min. Joaquim Barbosa</p><p>CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUIÇÃO DO</p><p>ESTADO DO MARANHÃO. IMPEDIMENTO OU AFASTAMENTO DE GOVERNADOR OU</p><p>VICE-GOVERNADOR. OFENSA AOS ARTIGOS 79 E 83 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.</p><p>IMPOSSIBILIDADE DE "ACEFALIA" NO ÂMBITO DO PODER EXERCUTIVO.</p><p>PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE. A ausência do Presidente da</p><p>República do país ou a ausência do Governador do Estado do território estadual ou do país é uma</p><p>causa temporária que impossibilita o cumprimento, pelo Chefe do Poder Executivo, dos deveres e</p><p>responsabilidades inerentes ao cargo. Desse modo, para que não haja acefalia no âmbito do Poder</p><p>Executivo, o presidente da República ou o Governador do Estado deve ser devidamente substituído</p><p>pelo vice-presidente ou vice-governador, respectivamente. Inconstitucionalidade do § 5º do art. 59 da</p><p>Constituição do Estado do Maranhão, com a redação dada pela Emenda Constitucional Estadual</p><p>48/2005. Em decorrência do princípio da simetria, a Constituição Estadual deve estabelecer sanção</p><p>para o afastamento do Governador ou do Vice-Governador do Estado sem a devida licença da</p><p>Assembléia Legislativa. Inconstitucionalidade</p><p>do parágrafo único do artigo 62 da Constituição</p><p>maranhense, com a redação dada pela Emenda Constitucional Estadual 48/2005. Repristinação da</p><p>norma anterior que foi revogada pelo dispositivo declarado inconstitucional. Ação direta de</p><p>inconstitucionalidade julgada procedente.</p><p>Obs: Enunciado com a redação reformulada conforme R.D.A. nº 74, em 2013.2.</p><p>01/03/2024 - Página 61 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 10 - Dia 26/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: MARCELO LEONARDO TAVARES</p><p>10 Tema: O Poder Judiciário I. A estrutura judiciária. A autogestão dos Tribunais. O Supremo</p><p>Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Competências. Conselhos Nacional de Justiça e</p><p>do MP.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>DEMÉTRIO, funcionário do Tribunal de Justiça, impetra mandado de segurança contra ato do</p><p>Tribunal que, por resolução do seu Tribunal Pleno, alterou o horário do expediente forense, bem</p><p>como a jornada de trabalho dos servidores do Poder Judiciário local.</p><p>O impetrante alega que a competência para tratar dessas matérias não pertence ao Poder Judiciário,</p><p>mas sim ao chefe do Poder Executivo, motivo pelo qual requer a ordem para cumprir sua jornada de</p><p>trabalho na forma da legislação anterior.</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, se a ordem deve ser concedida.</p><p>RESPOSTA:</p><p>Tribunal de Justiça estadual: mudança do horário de expediente e da jornada de trabalho de seus</p><p>servidores por meio de resolução - ADI 4.450/MS</p><p>Resumo:</p><p>É constitucional resolução de Tribunal de Justiça estadual que altera o horário de expediente</p><p>forense, pois se trata de matéria abrangida pelo autogoverno dos tribunais. Contudo, esse ato</p><p>normativo não pode modificar a jornada de trabalho dos servidores do Poder Judiciário local,</p><p>porque o assunto diz respeito ao regime jurídico destes, cuja iniciativa é privativa do chefe do</p><p>Poder Executivo.</p><p>O texto constitucional prevê a iniciativa legislativa privativa do Presidente da República para dispor</p><p>sobre servidores públicos da União e dos territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos,</p><p>estabilidade e aposentadoria (CF/1988, art. 61, § 1º, II). Por se tratar de norma atinente ao processo</p><p>legislativo, essa norma configura princípio constitucional extensível ou de reprodução obrigatória</p><p>pelos estados-membros (CF/1988, art. 25, caput).</p><p>Na espécie, a resolução impugnada, ao mudar a jornada de trabalho dos servidores do respectivo</p><p>tribunal de justiça, atuou em ofensa ao princípio da separação dos Poderes, eis que infringiu iniciativa</p><p>privativa do chefe do Poder Executivo (CF/1988, arts. 2º e 61, § 1º, II, c) (1).</p><p>Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para</p><p>declarar a inconstitucionalidade do art. 3º, II e § 2º da Resolução 568/2010 do Tribunal de Justiça do</p><p>Estado de Mato Grosso do Sul , na redação original e na conferida por sua Resolução 164/2017 .</p><p>01/03/2024 - Página 62 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>gisel</p><p>gisel</p><p>gisel</p><p>1ª o art. 61, §1º CRFB dispoem que éda competencia privativa do Presidente da Republica o projeto de lei que cria o estaturo</p><p>gisel</p><p>A jornada de trablho é organização da administração. Em relação a jornda o TJ age inconstitucionlamente</p><p>gisel</p><p>Détrio está errado em relação ao expediente forense e atribuição do tribunal organiar as suas secretárisa.</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>A FUNDAÇÃO ABRICÓ propõe demanda em desfavor da UNIÃO e da AGÊNCIA NACIONAL</p><p>DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL, em que requer a expedição de ato que permita o</p><p>funcionamento de determinada rádio comunitária pertencente à autora, em caráter experimental e</p><p>provisório.</p><p>Alega que já cumpriu todas as exigências previstas para o regular funcionamento da rádio, mas, por</p><p>depender de manifestação dos Poderes Legislativo e Executivo, o procedimento administrativo é lento</p><p>e demorado, o que lhe causa diversos prejuízos.</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, como deve ser julgada a causa.</p><p>RESPOSTA:</p><p>EDv nos EREsp 1.797.663-CE , Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por unanimidade, julgado</p><p>em 10/08/2022.</p><p>DESTAQUE</p><p>A demora da Administração para apreciar o pedido de autorização para funcionamento de rádio</p><p>comunitária não legitima o Poder Judiciário a conceder, ainda que em caráter precário, o direito de</p><p>continuidade das atividades.</p><p>INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR</p><p>A presente controvérsia, consubstanciada em saber se há, ou não, possibilidade de o Poder Judiciário</p><p>autorizar o exercício precário do serviço de radiodifusão comunitária, ante a demora dos Poderes</p><p>Executivo e Legislativo em fazê-lo, não é nova nesta Corte, estando vinculada ao exame da Lei n.</p><p>9.612/1998.</p><p>A Constituição da República, em seu art. 223, expressamente define como competência do Poder</p><p>Executivo, com posterior referendo do Poder Legislativo, outorgar concessão, permissão e</p><p>autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de imagens. Não há espaço, portanto, para o</p><p>Judiciário interferir em tal questão, sob pena de ofensa ao princípio da separação dos Poderes.</p><p>Nessa perspectiva, não se revela adequada a adoção do entendimento segundo o qual poderia o Poder</p><p>Judiciário, no caso sob exame, suprir a omissão imputada aos demais Poderes, mormente</p><p>considerando-se que a hipótese não versa acerca de uma eventual inércia daqueles em intervir e agir</p><p>em prol da concretização de algum direito fundamental.</p><p>De fato, a espécie vertente aproxima-se mais de uma intervenção do Poder Judiciário em matéria</p><p>relacionada, em última análise, a um juízo de valor a ser proferido pelo Poder Executivo (embora</p><p>sujeito a referendo pelo Congresso Nacional) sobre a oportunidade e conveniência na outorga da</p><p>permissão pleiteada.</p><p>Nessa linha de ideias, conclui-se que a solução exegética mais apropriada é a de que "a demora da</p><p>Administração para apreciar o pedido de autorização para funcionamento de rádio comunitária não</p><p>legitima ao Poder Judiciário conceder o direito de continuidade das atividades. Permite-se apenas a</p><p>fixação de um prazo para a conclusão do procedimento, caso haja pedido expresso nesse sentido na</p><p>inicial" (AgRg no REsp 1.090.517/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe</p><p>14/11/2014).</p><p>01/03/2024 - Página 63 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>gisel</p><p>Art. 223 CRFB/88 - cabe ao poder executivo apresentar a proposta e CN aprecia - ato complexo.</p><p>gisel</p><p>gisel</p><p>gisel</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 11 - Dia 29/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: FLAVIA DA COSTA LIMMER</p><p>11 Tema: O Poder Judiciário II. Tribunais dos Estados - justiça itinerante. Justiça Eleitoral. Justiça</p><p>Militar. Justiça do Trabalho. EC/45.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>É competente a Justiça estadual para conhecer e julgar ação de reparação de danos com fundamento</p><p>no art. 7º, XXVIII, da Constituição, ajuizada antes de 31 de dezembro de 2004?</p><p>RESPOSTA:</p><p>Numa primeira interpretação, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações de indenização por</p><p>danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho, ainda que movidas pelo empregado</p><p>contra seu (ex) empregador, eram da competência da Justiça comum dos Estados Federados.</p><p>Posteriormente, concluiu o Plenário que a Lei Republicana de 1988 conferiu tal competência à Justiça</p><p>do Trabalho.</p><p>Oportuno destacar que, por motivo de política judiciária e, diante do elevado número de ações que já</p><p>tramitaram e, ainda tramitam nas instâncias ordinárias, bem como o relevante interesse social em</p><p>causa, o Plenário do STF decidiu, por maioria, que o marco temporal da competência da Justiça</p><p>trabalhista é o advento da EC 45/04. Referida orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça</p><p>comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito. Vale ratificar</p><p>que as ações que</p><p>tramitam perante a Justiça comum dos Estados, com sentença de mérito anterior à promulgação da</p><p>EC45/04, lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente execução. Com relação àquelas</p><p>cujo mérito ainda não foi apreciado, hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se</p><p>encontram, com total aproveitamento dos atos praticados até o momento.</p><p>TJRJ - 0050004-12.2018.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO</p><p>Des(a). ANDREA FORTUNA TEIXEIRA - Julgamento: 04/03/2020 - VIGÉSIMA QUARTA</p><p>CÂMARA CÍVEL</p><p>AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZATÓRIA COM PEDIDO DE DANOS</p><p>ESTÉTICO E MORAL EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRABALHO. DECISÃO</p><p>AGRAVADA QUE DECLINOU DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA DO TRABALHO.</p><p>SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. EXISTÊNCIA DE VÍNCULO ESTATUTÁRIO.</p><p>COMPETÊNCIA DE JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. 1. O ARTIGO 114, VI, DA CF/88, COM</p><p>REDAÇÃO CONFERIDA PELA EC 45/2004, FIXA NA JUSTIÇA DO TRABALHO A</p><p>COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR ¿AS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO POR DANO</p><p>MORAL OU PATRIMONIAL, DECORRENTES DA RELAÇÃO DE TRABALHO¿. RECURSO</p><p>QUE SE CONHECE E NEGA PROVIMENTO. 2. A SUPREMA CORTE, AO JULGAR A ADI</p><p>3.395-DF, EXCLUIU DA EXPRESSÃO ¿RELAÇÃO DE TRABALHO¿ AS DEMANDAS ENTRE</p><p>O PODER PÚBLICO E SEUS SERVIDORES, VINCULADOS POR TÍPICA RELAÇÃO DE</p><p>ORDEM ESTATUTÁRIA OU DE CARÁTER JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. 3. HIPÓTESE EM</p><p>QUE O AUTOR DA AÇÃO INDENIZATÓRIA É</p><p>SERVIDOR PÚBLICO DO MUNICÍPIO REGIDO POR LEI ESTATUTÁRIA E NÃO PELA</p><p>CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO, O QUE FIXA A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA</p><p>COMUM. 4. RECURSO PROVIDO.</p><p>01/03/2024 - Página 64 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>João foi excluído da Polícia Militar do Rio de Janeiro através de procedimento administrativo em que</p><p>não pode exercer o contraditório e a ampla defesa. Sob o fundamento de tal nulidade, através da</p><p>Defensoria Pública, ajuizou ação anulatória de decisão disciplinar junto à Vara de Fazenda Pública.</p><p>Na contestação, o Estado argüiu preliminar de incompetência da Vara Fazendária em face do disposto</p><p>no artigo 125, § 4º., da CRFB com a redação dada pela Emenda Constitucional nº.45 apontando assim</p><p>a inexistência de pressuposto processual de constituição do processo, vez que a organização judiciária</p><p>local não fala em órgão de justiça militar estadual. Resolva, fundamentadamente.</p><p>RESPOSTA:</p><p>A Constituição no artigo 125, § 4º. instituiu a função de Justiça Militar Estadual em norma de</p><p>aplicabilidade imediata, pois tem natureza funcional tal competência.</p><p>No Rio de Janeiro, segundo a organização judiciária, embora não com a discriminação de órgãos da</p><p>justiça militar estadual, existe auditoria de justiça militar do Estado, previsto no Código de</p><p>Organização e Divisão Judiciária deste Estado.</p><p>Não é caso de extinção do processo, o que representaria denegação de justiça e violação do disposto</p><p>no art.5º., XXXVI. Dê-se baixa e redistribua-se a tal órgão.</p><p>O art. 60 da nova Lei de Organização Judiciária (lei 6956/2015) dispõe:</p><p>Art. 60 Ao juiz auditor, além da competência prevista na legislação aplicável, compete:</p><p>I - presidir os Conselhos de Justiça e redigir as sentenças e decisões que profiram;</p><p>II - expedir todos os atos necessários ao cumprimento das decisões dos Conselhos ou no exercício de</p><p>suas próprias funções;</p><p>III - decidir os habeas corpus, habeas data e mandados de segurança em matéria de sua competência;</p><p>IV - processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais</p><p>contra atos disciplinares militares.</p><p>*ALTERADO PELO RDA 44/2015</p><p>01/03/2024 - Página 65 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 12 - Dia 28/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: CLAUDIO BRANDAO DE OLIVEIRA</p><p>12 Tema: O Poder Judiciário III. Nacionalização da Justiça. Regime Jurídico da Magistratura.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>O juiz substituto A impetrou mandado de segurança contra ato do Conselho Nacional de Justiça</p><p>(Portaria 228/2008), que considerou a inamovibilidade como uma garantia apenas dos juízes titulares.</p><p>Narra que ingressou na magistratura em 2006, tendo sido lotado em Alto Araguaia; que desde então</p><p>houve reiteradas remoções sem seu consentimento prévio.</p><p>O Conselho Nacional de Justiça, a seu turno, aduziu que os juízes substitutos gozam apenas da</p><p>garantia da vitaliciedade, havendo independência ontológica e teleológica entre esta e a</p><p>inamovibilidade, adquirida apenas com a titularidade.</p><p>a) Tem o Conselho Nacional de Justiça competência para expedir tal Portaria?</p><p>b) Deve ser concedida a segurança?</p><p>Respostas objetivamente justificadas.</p><p>01/03/2024 - Página 66 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>a) Art. 103-B §4º, I CF/88.</p><p>b) MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA QUE</p><p>CONSIDEROU A INAMOVIBILIDADE GARANTIA APENAS DE JUIZ TITULAR.</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE. A INAMOVIBILIDADE É GARANTIA DE TODA A</p><p>MAGISTRATURA, INCLUINDO O JUIZ TITULAR E O SUBSTITUTO. CONCESSÃO DA</p><p>SEGURANÇA. I - A inamovibilidade é, nos termos do art. 95, II, da Constituição Federal, garantia de</p><p>toda a magistratura, alcançando não apenas o juiz titular, como também o substituto. II - O</p><p>magistrado só poderá ser removido por designação, para responder por determinada vara ou comarca</p><p>ou para prestar auxílio, com o seu consentimento, ou, ainda, se o interesse público o exigir, nos</p><p>termos do inciso VIII do art. 93 do Texto Constitucional. III - Segurança concedida.</p><p>(STF. MS 27958 / DF - DISTRITO FEDERAL</p><p>MANDADO DE SEGURANÇA. Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Julgamento:</p><p>17/05/2012 Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO. DJe-170</p><p>DIVULG 28-08-2012 PUBLIC 29-08-2012).</p><p>TRF 5ª REGIÃO</p><p>PROCESSO Nº: 0805484-92.2018.4.05.8200 - APELAÇÃO CÍVEL APELANTE: UNIÃO</p><p>FEDERAL APELADO: DANIEL HENRIQUE GUIMARAES DE SA ADVOGADO: Adair Borges</p><p>Coutinho Neto RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Cid Marconi Gurgel de Souza - 3ª Turma</p><p>MAGISTRADO CONVOCADO: Desembargador(a) Federal Luiz Bispo Da Silva Neto JUIZ</p><p>PROLATOR DA SENTENÇA (1° GRAU): Juíza Federal Cristina Maria Costa Garcez EMENTA</p><p>ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REMOÇÃO PARA ACOMPANHAR CÔNJUGE</p><p>MAGISTRADO REMOVIDA A PEDIDO. ARTIGO 36, III, "A", DA LEI 8.112/90. REQUISITOS</p><p>ATENDIDOS. 1. Apelação interposta pela União em face da sentença que julgou procedente o pedido</p><p>formulado pelo Autor, de remoção para Natal/RN (15ª Superintendência Regional da PRF), com</p><p>fulcro no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 8.112/90. 2. A sentença considerou que a esposa</p><p>do Autor, na qualidade de Magistrada, foi removida no interesse da Administração, já que a remoção</p><p>de Magistrado, seja a pedido ou ex officio, sempre decorre do interesse público da Administração. 3.</p><p>A Recorrente, aduz, em suma, que a remoção da esposa do Requerente se deu por permuta, e, o</p><p>interesse em realizar a remoção por permuta é primordialmente das partes que a requerem, cabendo</p><p>ao órgão administrativo apenas a concordância para concretização de tal ato, sendo desarrazoado</p><p>afirmar que há algum interesse administrativo a ser atendido ao possibilitar a troca de dois servidores</p><p>ocupantes de cargos idênticos, em razão de a Administração apenas anuir para a permuta dos</p><p>servidores. 4. Conquanto o cônjuge do Autor não seja servidora pública, mas agente político, visto</p><p>que é Juíza Federal, tal fato não tem o condão de impedir a remoção na forma pleiteada, mormente</p><p>considerando que o disposto no art. 36, III, "a", da Lei 8.112/1990 deve ser interpretado em</p><p>consonância com o art. 226 da Carta Magna, ponderando-se os valores que visa proteger. 5. É certo</p><p>que a jurisprudência se mostra pacífica no sentido de que não há que se falar em direito à remoção se</p><p>a ruptura do núcleo familiar não decorreu de ato da Administração Pública,</p><p>mas de forma voluntária e</p><p>no interesse exclusivo do particular. 6. No caso vertente, mostra-se que o cônjuge do Autor era Juíza</p><p>do Trabalho da 9ª Região (Vara do Trabalhode</p><p>01/03/2024 - Página 67 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Cianorte/PR), desde 02/02/2015 (Id. 4058200.2471417), e foi empossada, em 15/01/2018, como Juíza</p><p>do Trabalho da 21ª Região (Rio Grande do Norte), em virtude de remoção por permuta com outro</p><p>Juiz (Id. 4058200.2471414). O deslocamento ocorreu para o mesmo cargo/carreira (Juiz do Trabalho</p><p>Substituto) e sem solução de continuidade. 7. A remoção por permuta constitui uma das modalidades</p><p>de remoção a pedido, a qual se submete ao critério da administração, dentro dos princípios da</p><p>oportunidade e conveniência, que pode deferir ou não o pedido, levando em consideração o interesse</p><p>maior: que é o interesse público. 8. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no</p><p>sentido que a remoção do Magistrado, seja a pedido ou ex officio, sempre decorre do interesse</p><p>público da Administração. (STJ - AgRg no REsp 1.472.062/RS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia</p><p>Filho, Primeira Turma, julgado em 27/06/2017, DJe 03/08/2017). Ademais, diante da garantia da</p><p>inamovibilidade prevista na Constituição Federal e na Lei Orgânica da Magistratura Nacional, a</p><p>remoção do Magistrado só poderia ocorrer, efetivamente, se feita a pedido deste. 9. Autor que faz jus</p><p>à remoção pretendida para acompanhar sua esposa, Magistrada. 10. Apelação improvida. Honorários</p><p>recursais a cargo da Recorrente, restando majorados os honorários sucumbenciais de 10%, para 11%,</p><p>nos termos do art. 85, § 11, do CPC. avna</p><p>(PROCESSO: 08054849220184058200, APELAÇÃO CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL</p><p>LEONARDO AUGUSTO NUNES COUTINHO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 27/08/2020)</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Ao chegarem ao Corregedor-Geral de Justiça de um Tribunal estadual peças de informação acerca de</p><p>suspeita de membros do Poder Judiciário local envolvidos com práticas de corrupção, aquela</p><p>autoridade envia as peças para o Conselho Nacional de Justiça, já que o Presidente do Tribunal e os</p><p>Vice-Presidentes encontram-se envolvidos com tais práticas e ele não tem atribuição para impor-lhes</p><p>sanções.</p><p>Responda, fundamentadamente, se a conduta da autoridade foi correta.</p><p>01/03/2024 - Página 68 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>Alterado o gabarito de acordo com o R.D.A. nº 39:</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 1</p><p>O Plenário iniciou julgamento de referendo em medida cautelar em ação direta de</p><p>inconstitucionalidade ajuizada, pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB, contra a</p><p>Resolução 135/2011, do Conselho Nacional de Justiça - CNJ. O diploma adversado dispõe sobre a</p><p>uniformização de normas relativas ao procedimento administrativo disciplinar aplicável aos</p><p>magistrados, acerca dos ritos e das penalidades, e dá outras providências. De início, reconheceu-se a</p><p>legitimidade da requerente para propor a presente ação, na esteira de precedentes da Corte, bem como</p><p>o caráter abstrato, geral e autônomo do ato questionado. Rejeitou-se, de igual maneira, a preliminar</p><p>suscitada pelo Procurador Geral da República no sentido de que, deferida a liminar pelo relator e</p><p>referendada pelo Colegiado, ter-se-ia, de modo automático, o restabelecimento da Resolução 30/2007,</p><p>que tratava da uniformização de normas relativas ao procedimento administrativo disciplinar</p><p>aplicável aos magistrados. Tendo em conta a revogação deste ato normativo pela resolução atacada na</p><p>ação direta, asseverou-se a inviabilidade do controle concentrado de constitucionalidade. Salientou-se</p><p>que se teria círculo vicioso caso se entendesse pela necessidade de se impugnar a resolução pretérita</p><p>juntamente com a que estaria em mesa para ser apreciada.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>1ª parte</p><p>2ª parte</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 2</p><p>O Min. Marco Aurélio, relator, em breve introdução, destacou que caberia à Corte definir se o CNJ,</p><p>ao editar a resolução em comento, teria extrapolado os limites a ele conferidos pela Constituição.</p><p>Assinalou que as competências atribuídas, pela EC 45/2004, ao referido órgão produziriam tensão</p><p>entre a sua atuação (CF, art. 103-B, § 4º, III) e a autonomia dos tribunais (CF, artigos 96, I, a, e 99).</p><p>Após, o Tribunal deliberou pela análise de cada um dos dispositivos da norma questionada. Quanto ao</p><p>art. 2º ("Considera-se Tribunal, para os efeitos desta resolução, o Conselho Nacional de Justiça, o</p><p>Tribunal Pleno ou o Órgão Especial, onde houver, e o Conselho da Justiça Federal, no âmbito da</p><p>respectiva competência administrativa definida na Constituição e nas leis próprias"), o STF, por</p><p>maioria, referendou o indeferimento da liminar. Consignou-se que o CNJ integraria a estrutura do</p><p>Poder Judiciário, mas não seria</p><p>01/03/2024 - Página 69 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>órgãojurisdicional e não interviria na atividade judicante. Este Conselho possuiria, à primeira vista,</p><p>caráter eminentemente administrativo e não disporia de competência para, mediante atuação colegiada ou</p><p>monocrática, reexaminar atos de conteúdo jurisdicional, formalizados por magistrados ou tribunais do</p><p>país. Ressaltou-se que a escolha pelo constituinte derivado do termo "Conselho" para a instituição interna</p><p>de controle do Poder Judiciário mostrar-se-ia eloquente para evidenciar a natureza administrativa do</p><p>órgão e para definir, de maneira precisa, os limites de sua atuação. Sublinhou-se que o vocábulo</p><p>"Tribunal" contido no art. 2º em tela revelaria tão somente que as normas seriam aplicáveis também ao</p><p>Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho da Justiça Federal. O Min. Ayres Britto ressalvou que o CNJ</p><p>seria mais do que um órgão meramente administrativo, pois abrangeria o caráter hibridamente político e</p><p>administrativo de natureza governativa. Vencidos os Ministros Luiz Fux e Cezar Peluso, Presidente, que</p><p>também referendavam o indeferimento da liminar, mas davam ao preceito interpretação conforme a</p><p>Constituição. O primeiro o fazia, sem redução de texto, para esclarecer que a expressão "Tribunal"</p><p>alcançaria o CNJ apenas para efeito de submissão deste órgão às regras da resolução. O Presidente</p><p>afirmava que os tribunais só poderiam ser abarcados pelos efeitos da resolução que caberiam no âmbito</p><p>de incidência do poder normativo transitório do CNJ e não atingidos por normas incompatíveis com a</p><p>autonomia que os próprios tribunais têm de se autorregularem nos termos da Constituição.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 3</p><p>Referendou-se o indeferimento da liminar quanto ao art. 3º, V, da mencionada resolução ("Art. 3º São</p><p>penas disciplinares aplicáveis aos magistrados da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da Justiça</p><p>Eleitoral, da Justiça Militar, da Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios: ... V -</p><p>aposentadoria compulsória"). Repeliu-se a alegação de que o preceito impugnado excluiria o direito ao</p><p>recebimento dos vencimentos proporcionais em caso de aposentadoria compulsória. Considerou-se que,</p><p>no silêncio deste dispositivo - que arrola a aposentadoria compulsória sem referência à percepção de</p><p>subsídios ou proventos proporcionais -, não se poderia presumir que o CNJ - órgão sancionador - atuasse</p><p>à revelia do art. 103-B, § 4º, III, da CF, preceito que determinaria expressamente aposentadoria</p><p>compulsória com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço. Registrou-se que a</p><p>declaração de inconstitucionalidade do art. 3º, V, da resolução em comento pressuporia conflito manifesto</p><p>com norma constitucional,</p><p>inexistente na espécie e, por isso, deveria ser mantida a sua eficácia.</p><p>ADI</p><p>01/03/2024 - Página 70 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>4638Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 4</p><p>No que concerne ao § 1º desse mesmo artigo ("As penas previstas no art. 6º, § 1º, da Lei nº 4.898, de 9 de</p><p>dezembro de 1965, são aplicáveis aos magistrados, desde que não incompatíveis com a Lei</p><p>Complementar nº 35, de 1979"), referendou-se, por maioria, o deferimento da liminar. Elucidou-se que,</p><p>embora os magistrados respondessem disciplinarmente por ato caracterizador de abuso de autoridade, a</p><p>eles não se aplicariam as penas administrativas versadas na Lei 4.898/65, porquanto submetidos à</p><p>disciplina especial derrogatória, qual seja, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional - Loman. Enfatizou-</p><p>se que esta estabeleceria, em preceitos exaustivos, os deveres e as penalidades impostos aos juízes. O</p><p>Min. Celso de Mello observou que o regime jurídico definido pela Loman, posto sob reserva de lei</p><p>complementar, não permitiria que o CNJ, ao atuar em sede administrativa, formulasse resolução</p><p>ampliativa do rol a que se refere o art. 42 do Estatuto da Magistratura. Vencidos os Ministros Cármen</p><p>Lúcia e Joaquim Barbosa, que indeferiam a cautelar. A primeira, ao fundamento de que preveleceria, em</p><p>exame precário, a presunção de constitucionalidade das leis, haja vista que o art. 103-B, § 4º, IV, da CF</p><p>estabeleceria a competência do CNJ para representar ao Ministério Público no caso de crime contra a</p><p>Administração Pública ou de abuso de autoridade e que este instituto seria disciplinado pela Lei 4.898/65,</p><p>ao passo que a Loman não trataria especificamente do tema. O último, por reputar que retirar a eficácia da</p><p>norma, neste momento e pelo tempo que perdurar a cautelar, significava criar excepcionalidade</p><p>injustificada aos magistrados.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 5</p><p>Ao prosseguir no julgamento, no tocante ao art. 4º da aludida resolução ("O magistrado negligente, no</p><p>cumprimento dos deveres do cargo, está sujeito à pena de advertência. Na reiteração e nos casos de</p><p>procedimento incorreto, a pena será de censura, caso a infração não justificar punição mais grave"),</p><p>referendou-se, por maioria, o indeferimento da liminar. Afastou-se a assertiva de que a supressão da</p><p>exigência de sigilo na imposição das sanções de advertência e censura deveriam ser aplicadas nos moldes</p><p>preconizados na Loman. Vencidos os Ministros Luiz Fux e Presidente. Aquele reputava existir uma</p><p>contraposição entre a resolução e o Estatuto da Magistratura, o qual, a exemplo de outras leis federais,</p><p>também preveria o sigilo na tutela de seus membros. Ademais,</p><p>01/03/2024 - Página 71 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>assinalava que naponderação de valores, consoante moderna doutrina, o princípio da dignidade da pessoa</p><p>humana prevaleceria sobre o interesse público. O Presidente, por sua vez, destacava que aqueles ligados,</p><p>de algum modo, ao sistema jurídico e Judiciário não deveriam ter penas e processos disciplinares em</p><p>segredo. Não obstante, enfatizava que se a própria Constituição admitiria o regime de publicidade restrita</p><p>aos processos criminais, em que a pena seria mais grave, indagava a razão de não admiti-la quanto à pena</p><p>considerada mais leve.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 6</p><p>No que diz respeito ao art. 20 ("O julgamento do processo administrativo disciplinar será realizado em</p><p>sessão pública e serão fundamentadas todas as decisões, inclusive as interlocutórias"), o qual estaria</p><p>estreitamente ligado ao art. 4º, referendou-se o indeferimento da cautelar. Ressaltou-se que o respeito ao</p><p>Poder Judiciário não poderia ser obtido por meio de blindagem destinada a proteger do escrutínio público</p><p>os juízes e o órgão sancionador, o que seria incompatível com a liberdade de informação e com a ideia de</p><p>democracia. Ademais, o sigilo imposto com o objetivo de proteger a honra dos magistrados contribuiria</p><p>para um ambiente de suspeição e não para a credibilidade da magistratura, pois nada mais conducente à</p><p>aquisição de confiança do povo do que a transparência e a força do melhor argumento. Nesse sentido,</p><p>assentou-se que a Loman, ao determinar a imposição de penas em caráter sigiloso, ficara suplantada pela</p><p>Constituição. Asseverou-se que a modificação trazida no art. 93, IX e X, da CF pela EC 45/2004</p><p>assegurara a observância do princípio da publicidade no exercício da atividade judiciária, inclusive nos</p><p>processos disciplinares instaurados contra juízes, permitindo-se, entretanto, a realização de sessões</p><p>reservadas em casos de garantia ao direito à intimidade, mediante fundamentação específica. Por fim,</p><p>explicitou-se que, ante o novo contexto, a resolução do CNJ, ao prever a publicidade das sanções</p><p>disciplinares e da sessão de julgamento não extrapolara os limites normativos nem ofendera garantia da</p><p>magistratura, visto que, a rigor, essas normas decorreriam diretamente da Constituição, sobretudo,</p><p>posteriormente à edição da EC 45/2004.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 7</p><p>Na sequência, o Plenário atribuiu interpretação conforme a</p><p>01/03/2024 - Página 72 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Constituiçãoaos artigos 8º e 9º, §§ 2º e 3º da citada resolução ("Art. 8º O Corregedor, no caso de</p><p>magistrados de primeiro grau, o Presidente ou outro membro competente do Tribunal, nos demais casos,</p><p>quando tiver ciência de irregularidade, é obrigado a promover a apuração imediata dos fatos, observados</p><p>os termos desta Resolução e, no que não conflitar com esta, do Regimento Interno respectivo. Parágrafo</p><p>único. Se da apuração em qualquer procedimento ou processo administrativo resultar a verificação de</p><p>falta ou infração atribuída a magistrado, será determinada, pela autoridade competente, a instauração de</p><p>sindicância ou proposta, diretamente, ao Tribunal, a instauração de processo administrativo disciplinar,</p><p>observado, neste caso, o art. 14, caput, desta Resolução. Art. 9º A notícia de irregularidade praticada por</p><p>magistrados poderá ser feita por toda e qualquer pessoa, exigindo-se formulação por escrito, com</p><p>confirmação da autenticidade, a identificação e o endereço do denunciante. § 1º Identificados os fatos, o</p><p>magistrado será notificado a fim de, no prazo de cinco dias, prestar informações. § 2º Quando o fato</p><p>narrado não configurar infração disciplinar ou ilícito penal, o procedimento será arquivado de plano pelo</p><p>Corregedor, no caso de magistrados de primeiro grau, ou pelo Presidente do Tribunal, nos demais casos</p><p>ou, ainda, pelo Corregedor Nacional de Justiça, nos casos levados ao seu exame. § 3º Os Corregedores</p><p>locais, nos casos de magistrado de primeiro grau, e os presidentes de Tribunais, nos casos de magistrados</p><p>de segundo grau, comunicarão à Corregedoria Nacional de Justiça, no prazo de quinze dias da decisão, o</p><p>arquivamento dos procedimentos prévios de apuração contra magistrados"), com o fim de que, onde</p><p>conste "Presidente" ou "Corregedor", seja lido "órgão competente do tribunal".</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 8</p><p>O relator realçou que o CNJ poderia exigir informações acerca do andamento de processos disciplinares</p><p>em curso nos tribunais, mas não caberia</p><p>ao órgão definir quem seria a autoridade responsável pelo envio</p><p>dos dados, sob pena de contrariedade aos artigos 96, I, e 99 da CF. O Min. Ayres Britto acresceu que o</p><p>fundamento de validade das competências tanto do CNJ quanto dos tribunais seria a Constituição.</p><p>Afirmou que, consoante o § 4º do art. 103-B da CF, o CNJ desempenharia função de controle, cuja</p><p>acepção compreender-se-ia em dois sentidos: o de prevenção e o de correição.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>01/03/2024 - Página 73 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Resolução135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 9</p><p>Ato contínuo, em juízo meramente delibatório, o Supremo, por maioria, conferiu interpretação conforme</p><p>a Constituição ao art. 10 do ato em tela ["Das decisões referidas nos artigos anteriores caberá recurso no</p><p>prazo de 15 (quinze) dias ao Tribunal, por parte do autor da representação"] para, excluindo a expressão</p><p>"por parte do autor da representação", entender-se que o sentido da norma seria o da possibilidade de</p><p>recurso pelo interessado, seja ele o magistrado contra o qual se instaura o procedimento, seja ele o autor</p><p>da representação arquivada. Enfatizou-se inexistirem, no sistema de direito público brasileiro,</p><p>especialmente no Judiciário, decisões terminais no âmbito de colegiados por parte de individualidades,</p><p>componentes do tribunal. Portanto, seria uma decorrência natural que houvesse um recurso para o</p><p>colegiado. Inferiu-se que o preceito tão só explicitaria o fato de decisão monocrática ser suscetível de</p><p>recurso. Assim, ressaltou-se que caberia sempre recurso do interessado para o tribunal. Desse modo, não</p><p>seria inovador, tratar-se-ia de dispositivo a explicitar princípio do sistema constitucional, o da</p><p>recorribilidade contra toda decisão, ainda que de caráter administrativo, dotada de lesividade teórica.</p><p>Vencidos o relator e os Ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, que mantinham a</p><p>cautelar conforme deferida, ou seja, em maior extensão. Vislumbravam que não seria dado ao Conselho</p><p>criar recursos contra decisões administrativo-disciplinares de tribunais tomadas em procedimento</p><p>reservado à normatização do legislador complementar ou deles próprios, a depender da sanção aplicável.</p><p>Vencida, também, a Min. Rosa Weber, que indeferia o pedido da AMB, por reputar, em cognição</p><p>sumária, inserir-se na competência transitória do CNJ, em virtude da redação da EC 45/2004, a</p><p>possibilidade de regrar e, inclusive, prever o mencionado recurso no âmbito de todos os tribunais.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 10</p><p>No que se refere ao art. 12, caput e parágrafo único, da Resolução 135/2011 do CNJ ("Art. 12. Para os</p><p>processos administrativos disciplinares e para a aplicação de quaisquer penalidades previstas em lei, é</p><p>competente o Tribunal a que pertença ou esteja subordinado o Magistrado, sem prejuízo da atuação do</p><p>Conselho Nacional de Justiça. Parágrafo único. Os procedimentos e normas previstos nesta Resolução</p><p>aplicam-se ao processo disciplinar para apuração de infrações administrativas praticadas pelos</p><p>Magistrados, sem prejuízo das disposições regimentais respectivas que com elas não conflitarem"), o</p><p>Plenário,</p><p>01/03/2024 - Página 74 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>por maioria, negou referendo à liminar e manteve a competência originária e concorrente do referido</p><p>órgão para instaurar procedimentosadministrativos disciplinares aplicáveis a magistrados. Para o Min.</p><p>Joaquim Barbosa, a EC 45/2004, ao criar o CNJ, não se limitara a criar mais um órgão para exercer,</p><p>concomitantemente, atribuições exercidas com deficiência por outros órgãos. A referida emenda teria</p><p>requalificado, de maneira substantiva, uma dada função, ao atribuir ao novo órgão posição de</p><p>proeminência em relação aos demais. Explicou que essa primazia decorreria, em primeiro lugar, do fato</p><p>de que a própria Constituição teria concedido ao CNJ extraordinário poder de avocar processos</p><p>disciplinares em curso nas corregedorias dos tribunais. Aduziu não se conferir poder meramente</p><p>subsidiário a órgão hierarquicamente superior, que teria a prerrogativa de tomar para si decisões que, em</p><p>princípio, deveriam ser tomadas por órgãos hierarquicamente inferiores. Em segundo lugar, destacou que</p><p>o aludido órgão superior teria o poder de agir de ofício, em campo de atuação em princípio demarcado</p><p>para a atividade de órgão inferior, de modo que jamais se poderia entender que a competência daquele</p><p>seria subsidiária, salvo sob mandamento normativo expresso. Reforçou que a EC 45/2004 nunca aventara</p><p>a hipótese da subalternidade da ação disciplinar do CNJ em relação às corregedorias.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 11</p><p>A Min. Rosa Weber acrescentou que o CNJ deteria competência para expedir normas de caráter genérico</p><p>e abstrato sobre as matérias do art. 103-B, I, II e § 4º, da CF, de sorte a não se falar em usurpação da</p><p>competência dos tribunais ou do legislador complementar. Entreviu que, enquanto não vigente o novo</p><p>Estatuto da Magistratura, caberia ao CNJ disciplinar, mediante resoluções, as matérias de sua</p><p>competência. Assim, o referido órgão poderia regulamentar matérias até então sediadas na Loman e nos</p><p>regimentos internos dos tribunais nos processos disciplinares que tramitassem no âmbito dessas Cortes,</p><p>diante do redesenho institucional promovido pela EC 45/2004. Advertiu que o potencial exercício</p><p>inadequado de uma competência não levaria, por si só, à declaração de inconstitucionalidade, presentes os</p><p>mecanismos legais para coibir excessos. Considerou que a uniformização das regras pertinentes aos</p><p>procedimentos administrativos disciplinares aplicáveis aos magistrados apresentar-se-ia como condição</p><p>necessária à plena efetividade da missão institucional do CNJ. Consignou, nesse sentido, o caráter uno do</p><p>Judiciário, a legitimar a existência de um regramento minimamente uniforme na matéria. Deduziu não</p><p>haver ameaça ao Pacto Federativo, à luz do art. 125 da CF. Concluiu, com base no art. 103-B, § 4º, I, II,</p><p>III e V, da CF, que a competência</p><p>01/03/2024 - Página 75 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>do CNJ na matéria seria originária e concorrente, e não meramente subsidiária.</p><p>ADI 4638Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 12</p><p>O Min. Dias Toffoli sublinhou que o CNJ não teria sido criado para substituir as corregedorias, mas</p><p>deveria trazer à luz da nação os casos mais relevantes, bem como decidir quais processos deveriam</p><p>permanecer nos tribunais locais. Ressurtiu que se estaria a defender a possibilidade de ampliação da</p><p>atividade do CNJ, sem, entretanto, retirar a autonomia dos tribunais. Discorreu, em obter dictum, sobre a</p><p>inadmissibilidade de o CNJ interferir nos trabalhos da justiça eleitoral. A Min. Cármen Lúcia salientou a</p><p>necessidade de o órgão exercer sua competência primária e concorrente sem necessidade de formalidades</p><p>além das dispostas constitucionalmente. Sob esse aspecto, o Min. Gilmar Mendes asseverou que</p><p>condicionar a atividade do CNJ a uma formalização - no sentido de obrigá-lo a motivar a evocação de sua</p><p>competência disciplinar no caso concreto - importaria na impugnação sistêmica de seus atos. Enfatizou</p><p>ser truísmo que a atividade correcional não seria efetiva, especialmente nas ações do próprio tribunal.</p><p>Rememorou que a resolução questionada teria sido obra do CNJ em conjunto com os tribunais, ao</p><p>perceberem incongruências, perplexidades e insegurança nas suas próprias disciplinas.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 13</p><p>Vencidos o relator e os Ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Presidente, que</p><p>referendavam a liminar, para exigir que o CNJ, ao evocar sua competência correcional, fizesse-o</p><p>mediante motivação. O relator aduzia que a Constituição, ao delimitar a atuação do CNJ no tocante à</p><p>matéria, estabelecera que lhe competiria o controle das atividades administrativa e financeira do</p><p>Judiciário, bem como dos deveres funcionais dos juízes. Caber-lhe-ia, também, o zelo pela autonomia</p><p>desse Poder e pela observância do art. 37 da CF. Poderia, assim, desconstituir atos, revê-los ou fixar prazo</p><p>para que se adotassem providências necessárias ao exato cumprimento da lei. Afirmava, ademais,</p><p>competir-lhe receber e conhecer de reclamações contra membros ou órgãos do Judiciário e contra seus</p><p>próprios serviços, sem prejuízo da atribuição disciplinar e correcional dos tribunais, podendo avocar</p><p>processos disciplinares em curso, mediante motivação socialmente aceitável - hipóteses de inércia,</p><p>simulação na investigação,</p><p>01/03/2024 - Página 76 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>procrastinação ou ausência de independência do tribunal de origem. Cumprir-lhe-ia, igualmente, rever, de</p><p>ofício oumediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há</p><p>menos de 1 ano, nos termos da primeira parte do art. 12 da Resolução 135/2011.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 14</p><p>Realçava que o CNJ não poderia escolher, de forma aleatória, os processos que devesse julgar, sob pena</p><p>de se fulminar o princípio da impessoalidade. Entendia que o art. 12 deveria compatibilizar-se com a</p><p>disciplina constitucional, especificamente com o art. 103-B, § 4º, da CF. Assim, a expressão "sem</p><p>prejuízo da atuação do CNJ" observaria a regra da competência do tribunal a que pertencesse ou estivesse</p><p>subordinado o magistrado, e a possibilidade de atuação do CNJ dar-se-ia, nos moldes da Constituição,</p><p>mediante situação anômala. Quanto ao parágrafo único, suspendia o preceito, para assentar que, no que</p><p>tange aos processos administrativos em curso em tribunal, seriam regulados pelo regimento interno local,</p><p>e não pelo regulamento do CNJ. O Min. Luiz Fux frisava que estabelecer ao CNJ - em casos motivados e</p><p>em situações anômalas - competência administrativa comum seria adaptar a realidade normativa à</p><p>realidade prática. Lembrava que, atualmente, o próprio órgão já ponderaria o que seria essencial ao</p><p>exercício de suas atribuições e o que deveria se sujeitar às corregedorias locais. O Min. Ricardo</p><p>Lewandowski explicitava - com base nos princípios federativo, republicano e democrático, bem como no</p><p>princípio da autonomia dos tribunais - que a competência correcional do CNJ seria de natureza material</p><p>ou administrativa comum, nos termos do art. 23, I, da CF, - assim como a desempenhada pelas</p><p>corregedorias dos tribunais - cujo exercício dependeria de decisão motivada apta a afastar a competência</p><p>disciplinar destes, em situações excepcionais.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 15</p><p>O Min. Celso de Mello mencionava que reduzir ou mitigar a autonomia dos tribunais locais significaria</p><p>degradar a autonomia institucional dos Estados-membros, e observava a importância da preservação da</p><p>integridade das garantias dos juízes, mecanismos de proteção dos próprios cidadãos. Nessa contextura, o</p><p>CNJ deveria se pautar pelo princípio da subsidiariedade, e interpretação contrária colocaria em jogo a</p><p>própria funcionalidade do órgão. O Presidente apontava que um dos fatores que teriam ditado a edição da</p><p>EC 45/2004 seria a relativa</p><p>01/03/2024 - Página 77 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>deficiência dos órgãos correcionais especialmente tribunais. Nesse sentido, o CNJ não teria sido criado</p><p>para extinguir ascorregedorias, mas para remediar sua inoperância. Consignava que qualquer</p><p>interpretação que pusesse em risco a sobrevivência prática das corregedorias envolveria uma contradição</p><p>no modo de conceber a EC 45/2004 e a função do CNJ. Haveria, portanto, a necessidade de</p><p>compatibilizar a concepção da competência do órgão com a necessidade de não prejudicar, como</p><p>determinaria a Constituição, a competência das corregedorias. Isso porque reconhecer-se a competência</p><p>primária do CNJ sem motivação implicaria reduzir um grau de jurisdição administrativa para os</p><p>magistrados. Por fim, deliberou-se suspender o julgamento.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1º e 2.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 16</p><p>O Plenário concluiu julgamento de referendo em medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade</p><p>ajuizada, pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB, contra a Resolução 135/2011, do Conselho</p><p>Nacional de Justiça - CNJ. O diploma adversado dispõe sobre a uniformização de normas relativas ao</p><p>procedimento administrativo disciplinar aplicável aos magistrados, acerca dos ritos e das penalidades, e</p><p>dá outras providências - v. Informativo 653. Na presente assentada, negou-se, por maioria, referendo à</p><p>cautelar quanto aos §§ 3º, 7º, 8º e 9º da cabeça do art. 14; aos incisos IV e V da cabeça do art. 17; e ao §</p><p>3º do art. 20 do ato questionado ("Art. 14. Antes da decisão sobre a instauração do processo pelo</p><p>colegiado respectivo, a autoridade responsável pela acusação concederá ao magistrado prazo de quinze</p><p>dias para a defesa prévia, contado da data da entrega da cópia do teor da acusação e das provas</p><p>existentes ... § 3º O Presidente e o Corregedor terão direito a voto ... § 7º O relator será sorteado dentre os</p><p>magistrados que integram o Pleno ou o Órgão Especial do Tribunal, não havendo revisor. § 8º Não poderá</p><p>ser relator o magistrado que dirigiu o procedimento preparatório, ainda que não seja mais o Corregedor. §</p><p>9º. O processo administrativo terá o prazo de cento e quarenta dias para ser concluído, prorrogável,</p><p>quando imprescindível para o término da instrução e houver motivo justificado, mediante deliberação do</p><p>Plenário ou Órgão Especial ... Art. 17 Após, o Relator determinará a citação do Magistrado para</p><p>apresentar as razões de defesa e as provas que entender necessárias, em 5 dias, encaminhando-lhe cópia</p><p>do acórdão que ordenou a instauração do processo administrativo disciplinar, com a respectiva portaria,</p><p>observando-se que: ... IV - considerar-se-á revel o magistrado que, regularmente citado, não apresentar</p><p>defesa no prazo assinado; V - declarada a revelia, o relator poderá designar defensor dativo ao</p><p>01/03/2024 - Página 78 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>requerido, concedendo-lhe igual prazo para a apresentação de defesa ... Art. 20 ... § 3º O Presidente e o</p><p>Corregedorterão direito a voto").</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 8.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 17</p><p>A Min. Rosa Weber reiterou que o redesenho do Poder Judiciário promovido pela EC 45/2004 imporia</p><p>releitura sistemática das normas constitucionais e infraconstitucionais envolvidas nesta ação, inclusive a</p><p>Lei Orgânica da Magistratura Nacional - Loman, à luz do novo paradigma instituído a partir da criação do</p><p>CNJ. Assim, tendo em conta a regra de transição do art. 5º, § 2º, da referida emenda, a qual</p><p>embasaria a</p><p>Resolução 135/2011, asseverou que, enquanto não editado o Estatuto da Magistratura, a uniformização</p><p>das regras referentes aos procedimentos administrativos disciplinares aplicáveis aos juízes representaria</p><p>conditio sine qua non à plena efetividade da missão institucional do Conselho. O Min. Ayres Britto</p><p>destacou que esse órgão seria um aparato do Poder Judiciário situado na cúpula da organização judiciária</p><p>do país, a conferir peculiaridade federativa ao aludido poder. Além disso, exerceria quarta função estatal,</p><p>a saber, a de controle preventivo, profilático e corretivo. Consignou, ainda, que o art. 96, I, a, da CF</p><p>referir-se-ia a norma geral para todo e qualquer processo, ao passo que o art. 14 da resolução impugnada</p><p>seria de cunho especial, de âmbito peculiarmente disciplinar. Frisou que o controle entregue, pela EC</p><p>45/2004, aos cuidados do CNJ exigiria interpretação sistemática, para que esse órgão administrativo não</p><p>se opusesse aos tribunais. O Min. Gilmar Mendes reputou que o preceito apenas estabeleceria modelo</p><p>correcional pertencente ao CNJ como órgão de cúpula, sem que houvesse comprometimento do modelo</p><p>federativo ou da autonomia do Judiciário.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 8.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 18</p><p>Vencidos os Ministros Marco Aurélio, relator, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Cezar Peluso,</p><p>Presidente, que referendavam a liminar por entenderem não ser permitido ao CNJ, via resolução, criar,</p><p>em processo disciplinar dos tribunais, novos procedimentos e definir quem participaria do julgamento.</p><p>Assinalavam que o art. 14, caput, do preceito reproduziria o conteúdo do art. 27 da Loman, a implicar</p><p>sobreposição passível de surtir efeitos normativos ou causar confusão caso esta fosse alterada. Vencido,</p><p>também, o Min. Luiz Fux, que a referendava parcialmente para fixar o prazo</p><p>01/03/2024 - Página 79 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>de 140 dias a fim de que as corregedorias locais apurassem os fatos que chegassem ao seu conhecimento</p><p>e, superado este, caberia aintervenção do CNJ, sem prejuízo da verificação da responsabilidade daquelas.</p><p>Explicitava que o mencionado prazo seria formado a partir da soma de 60 dias previstos no art. 152 da</p><p>Lei 8.112/90 com a sua prorrogação por idêntico período, acrescido de 20 dias para o administrador</p><p>competente decidir o procedimento administrativo disciplinar, consoante o art. 167 do mesmo diploma.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 8.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 19</p><p>No que concerne ao § 1º do art. 15 ("O afastamento do Magistrado previsto no caput poderá ser</p><p>cautelarmente decretado pelo Tribunal antes da instauração do processo administrativo disciplinar,</p><p>quando necessário ou conveniente a regular apuração da infração disciplinar"), o Colegiado referendou,</p><p>também por votação majoritária, a liminar concedida. Aduziu-se tratar-se de nova hipótese cautelar de</p><p>afastamento de magistrado do cargo. Realçou-se que eventual restrição às garantias da inamovibilidade e</p><p>da vitaliciedade exigiria a edição de lei em sentido formal e material, sob pena de ofensa aos princípios da</p><p>legalidade e do devido processo. Ademais, a própria Loman preveria essa medida quando da instauração</p><p>de processo administrativo disciplinar ou do recebimento de ação penal acusatória (artigos 27, § 3º, e 29).</p><p>O Min. Celso de Mello lembrou que o tema diria respeito à reserva de jurisdição. Vencida a Min. Rosa</p><p>Weber, que denegava a pretensão ao fundamento de que, em cognição sumária, o controle da observância</p><p>dos deveres funcionais dos magistrados estaria compreendido na competência do CNJ de editar normas</p><p>de caráter primário para regrar suas atribuições.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 8.2.2012. (ADI-4638)</p><p>Resolução 135/2011 do CNJ e uniformização de procedimento administrativo disciplinar - 20</p><p>Na sequência, relativamente ao parágrafo único do art. 21 ("Na hipótese em que haja divergência quanto à</p><p>pena, sem que se tenha formado maioria absoluta por uma delas, será aplicada a mais leve, ou, no caso de</p><p>duas penas alternativas, aplicar-se-á a mais leve que tiver obtido o maior número de votos"), o Tribunal,</p><p>por maioria, deu interpretação conforme a Constituição para entender que deve haver votação específica</p><p>de cada uma das penas disciplinares aplicáveis a magistrados até que se alcance a maioria absoluta dos</p><p>votos, conforme preconizado no art. 93, VIII, da CF. Salientou-se que essa solução evitaria que juízo</p><p>condenatório fosse convolado em absolvição ante a</p><p>01/03/2024 - Página 80 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>falta de consenso sobre qual a penalidade cabível. O Min. Ayres Britto enfatizou que a norma seria</p><p>operacional econsagraria uma atenuação punitiva. Vencidos os Ministros relator, Ricardo</p><p>Lewandowski e Celso de Mello, que, por considerarem linear o critério referente à maioria absoluta,</p><p>concluíam que o CNJ não poderia dispor, em sede meramente administrativa, sobre a questão e atuar</p><p>de forma aleatória escolhendo a penalidade mais benéfica para o envolvido no processo. Registravam</p><p>que a proposta olvidaria o voto médio. Por fim, o Supremo deliberou autorizar os Ministros a</p><p>decidirem monocraticamente a matéria em consonância com o entendimento firmado nesta ação</p><p>direta de inconstitucionalidade, contra o voto do Min. Marco Aurélio.</p><p>ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 8.2.2012. (ADI-4638)</p><p>ADI 4610, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO</p><p>Órgão julgador: Tribunal Pleno</p><p>Julgamento: 11/11/2019; Publicação: 18/12/2019</p><p>Ementa</p><p>AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL. LEI</p><p>FEDERAL Nº 11.798/2008. ARTS. 5º, IX, X E XI, E 7º, § 1º. COMPETÊNCIA CORRECIONAL</p><p>DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. DISPOSITIVOS QUE REGULAM COMPETÊNCIA</p><p>CONFERIDA PELA EC Nº 45/2004. REDAÇÃO EXPRESSA DO ART. 105, PARÁGRAFO</p><p>ÚNICO, II, CF/88. AUSÊNCIA DE INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL OU FORMAL.</p><p>PRECEDENTES. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE. 1. Não procede a alegação de</p><p>inconstitucionalidade material, ao argumento de que restaria ao Conselho da Justiça Federal somente</p><p>competência disciplinar em face dos servidores, e não dos magistrados. Com o advento da EC nº</p><p>45/2004, a competência correcional do Poder Judiciário federal passou a ser compartilhada entre as</p><p>corregedorias dos tribunais, o CNJ, e o CJF (ADI 4.638-MC-Ref, Rel. Min. Marco Aurélio). O texto</p><p>constitucional estabelece expressamente poderes correcionais a este Conselho, cujas decisões</p><p>possuem caráter vinculante (art. 105, parágrafo único, II). Ao assim dispor, a Constituição não fez</p><p>qualquer restrição, no sentido de que a competência limitar-se-ia aos servidores. 2. Também não</p><p>prosperam as alegações de vício formal dos dispositivos impugnados. Não há invasão de competência</p><p>do Supremo Tribunal Federal, na medida em que os atos não instituem novo regime disciplinar, o que</p><p>demandaria lei complementar de iniciativa desta Corte (art. 93, caput, CF/88). Tais atos apenas</p><p>regulam uma competência constitucionalmente instituída. 3. Igualmente, não há violação aos arts. 2º e</p><p>96, II, b, da CF/88, na medida em que o Poder Legislativo exerceu legitimamente seu poder de</p><p>emenda, ao introduzir alteração inteiramente pertinente ao projeto originário, este de iniciativa do</p><p>Superior Tribunal Justiça. Tal poder de emenda foi exercido em plena conformidade com a</p><p>jurisprudência dominante desta Corte: ADI 3.288, Rel. Min. Ayres Britto; RE 633.802-AgR, Rel.</p><p>Min. Cármen Lúcia; ADI 1.835-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. 4. Ação julgada improcedente.</p><p>01/03/2024 - Página 81 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 13 - Dia 29/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: FLAVIA DA COSTA LIMMER</p><p>13 Tema: Funções essenciais à Justiça. O Ministério Público e a Defensoria Pública. Procuradorias.</p><p>Advocacia.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>No que tange à organização do Ministério Público, responda fundamentadamente.</p><p>1) Pode o Ministério Público Estadual atuar nos Tribunais Superiores na condição de parte?</p><p>2) Pode o Ministério Público Estadual atuar nos Tribunais Superiores na condição de custus iures?</p><p>3) Pode o Ministério Público do Trabalho atuar nos Tribunais Superiores na condição de parte?</p><p>RESPOSTA:</p><p>AgRg no CC 122940 (INFO 670)</p><p>AgRg no CC 122940 / MS, Relator(a) Ministra REGINA HELENA COSTA</p><p>Órgão Julgador S1 - PRIMEIRA SEÇÃO</p><p>Data do Julgamento 07/04/2020</p><p>Data da Publicação/Fonte DJe 16/04/2020</p><p>Ementa</p><p>PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA.</p><p>CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973. APLICABILIDADE. MINISTÉRIO PÚBLICO</p><p>DO TRABALHO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DIRETAMENTE PERANTE O</p><p>SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE. ILEGITIMIDADE</p><p>RECURSAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO.</p><p>I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime</p><p>recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In</p><p>casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 1973.</p><p>II - Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na condição de partes,</p><p>perante os Tribunais Superiores, em razão da não existência de vinculação ou subordinação</p><p>entre o Parquet Estadual e o Ministério Público da União. Precedentes.</p><p>III - Tal orientação, todavia, não pode ser amoldada ao Ministério Público do Trabalho, órgão</p><p>vinculado ao Ministério Público da União, conforme dispõe o art. 128, I, b, da Constituição da</p><p>República.Ausente a legitimidade recursal do ora Agravante.</p><p>V - Agravo regimental não conhecido.</p><p>01/03/2024 - Página 82 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>A fim de instruir determinado processo, o Defensor Público JOSÉ enviou ofício solicitando</p><p>determinada certidão a um Oficial de Registro.</p><p>O Oficial respondeu no sentido de não poder atender tal requisição, já que a Defensoria não possui</p><p>atribuição para tanto, restando ao Ministério Público o poder de requisição.</p><p>Dessa forma, JOSÉ propôs demanda para que o Oficial forneça a documentação referida.</p><p>Responda, fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze) linhas, como deve ser julgado o pedido</p><p>de JOSÉ.</p><p>RESPOSTA:</p><p>Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI 6852/DF, ADI 6862/PR,</p><p>ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM, ADI</p><p>6875/RN</p><p>Resumo:</p><p>A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus</p><p>agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações,</p><p>esclarecimentos e demais providências necessárias à sua atuação.</p><p>Delineado o papel atribuído à Defensoria Pública pela Constituição Federal (CF), resta evidente não</p><p>se tratar de categoria equiparada à Advocacia, seja ela pública ou privada, estando, na realidade, mais</p><p>próxima ao desenho institucional atribuído ao próprio Ministério Público.</p><p>Ao conceder tal prerrogativa aos membros da Defensoria Pública, o legislador buscou propiciar</p><p>condições materiais para o exercício de suas atribuições, não havendo que se falar em qualquer</p><p>espécie de violação ao texto constitucional, mas, ao contrário, em sua densificação. Nesse sentido, a</p><p>retirada da prerrogativa de requisição implicaria, na prática, a criação de obstáculo à atuação da</p><p>Defensoria Pública, a comprometer sua função primordial, bem como a autonomia que lhe foi</p><p>garantida.</p><p>O Plenário, por maioria, em análise conjunta, julgou improcedentes os pedidos formulados em ações</p><p>diretas.</p><p>01/03/2024 - Página 83 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 14 - Dia 28/02/2024 - 20:10 às 22:00</p><p>Professor: CLAUDIO BRANDAO DE OLIVEIRA</p><p>14 Tema: Organização Judiciária do Estado do Rio de Janeiro. Organização administrativa.</p><p>Competência dos Órgãos Judiciais de 1ª e 2ª instâncias.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Por iniciativa do TJRJ, foi alterada a Lei de Organização Judiciário do Estado para fazer constar a</p><p>seguinte redação:</p><p>"§1º - O Presidente, os três Vice-Presidentes e o Corregedor-Geral da Justiça são eleitos, em votação</p><p>secreta, pela maioria dos membros do Tribunal de Justiça, pela forma prevista no Regimento Interno</p><p>do Tribunal, para servir pelo prazo de dois anos a contar do primeiro dia útil após o primeiro período</p><p>anual das férias coletivas da segunda instância, permitida a reeleição por um período.</p><p>§2º - Concorrerão à eleição para os cargos referidos no parágrafo anterior, os membros efetivos do</p><p>Órgão Especial, sendo obrigatória a aceitação do cargo, salvo recusa manifestada e aceita antes da</p><p>eleição".</p><p>Contra tal norma, o Conselho Federal da OAB propõe ADIn. Entende o Conselho que tal matéria, por</p><p>dizer respeito à organização e ao funcionamento do Poder Judiciário, acha-se sujeita, por efeito da</p><p>reserva constitucional, ao domínio normativo de Lei Complementar. Aponta a afronta tanto ao art. 93</p><p>da Constituição da República, quanto ao art. 102 da Lei Complementar 35/79. Não poderia, portanto,</p><p>a Lei de Organização Judiciária dispor sobre o franqueamento da eleição, indistintamente, aos</p><p>membros efetivos do Órgão Especial.</p><p>Em sede de informações, a Assembléia Legislativa alega que o art. 93 da Constituição não exige que</p><p>a matéria relativa à forma e às condições de provimento dos cargos de direção dos Tribunais de</p><p>Justiça dos Estados esteja incluída no chamado "Estatuto da Magistratura" (como o fazia</p><p>expressamente a Constituição anterior - verbis: "art. 115, I - eleger seus Presidentes e demais titulares</p><p>de sua direção, observando o disposto na Lei Orgânica da Magistratura Nacional" - com a redação</p><p>dada pela E.C. 01/69). Se a Constituição de 1988 não dispôs explicitamente sobre a cláusula</p><p>limitativa que existia na Carta de 69, é porque se entendeu ser prerrogativa autônoma dos Tribunais o</p><p>poder de eleger os seus órgãos dirigentes.</p><p>É razoável a tese da ALERJ?</p><p>Qual é o entendimento prevalente no STF?</p><p>01/03/2024 - Página 84 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>STF: ADIn 1422-RJ, relator Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, em 09/09/1999.</p><p>ADI 1422 / RJ - RIO DE JANEIRO</p><p>AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE</p><p>Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO</p><p>Julgamento: 09/09/1999 Órgão Julgador: Tribunal Pleno</p><p>Publicação</p><p>DJ 12-11-1999 PP-00089 EMENT VOL-01971-01 PP-00038</p><p>Parte(s)</p><p>REQTE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL</p><p>REQDO. : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>REQDO. : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Ementa</p><p>EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 2.432, DE 06.09.95, DO</p><p>ESTADO DO RIO DE JANEIRO, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AOS §§ 1º E 2º DO ART. 18 DO</p><p>CÓDIGO DE ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO JUDICIÁRIAS DO MESMO ESTADO.</p><p>Incompatibilidade com a norma do art. 93 da Constituição Federal, por regular matéria própria do</p><p>Estatuto da Magistratura, reservada, no dispositivo constitucional mencionado, à lei complementar</p><p>federal. Recepção pela Carta de 1988 da norma do art. 102 da Lei Complementar nº 35/79 (LOMAN).</p><p>Precedentes do STF (MS 20.911-PA, Rel. Min. Octavio Gallotti, e ADI 841-2-RJ, Rel. Ministro</p><p>Carlos Velloso). Procedência da ação.</p><p>ADI 2700, Relator(a): Min. GILMAR MENDES</p><p>Órgão julgador: Tribunal Pleno</p><p>Julgamento: 23/08/2019; Publicação: 09/09/2019</p><p>Ementa</p><p>AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – EMENDA CONSTITUCIONAL 28/2002,</p><p>QUE MODIFICOU O ARTIGO 156 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,</p><p>INSTITUI NORMAS SOBRE FORMA DE VOTAÇÃO NA RECUSA DE</p><p>a</p><p>respaldar a denúncia, de modo a tornar esta plausível, não haverá justa causa a autorizar a instauração</p><p>da persecutio criminis. [...] (Apn 290/PR, Rel. Ministro Felix Fischer, Corte Especial, julgado em</p><p>16/3/2005, DJ 26/9/2005, p. 159)".</p><p>8. Prescrição da pretensão punitiva estatal decretada em relação ao crime previsto no art. 89 da Lei n.</p><p>8.666/1993 e rejeição da denúncia, por ausência de justa causa, quanto ao crime descrito no art. 1º, I,</p><p>do Decreto-Lei n. 201/1967.</p><p>01/03/2024 - Página 7 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>Turma: CPV C 12024</p><p>Disciplina/Matéria: DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DO PODER</p><p>Sessão: 03 - Dia 21/02/2024 - 18:00 às 19:50</p><p>Professor: MARCELO LEONARDO TAVARES</p><p>03 Tema: O Poder Legislativo I. O sistema bicameral. O Senado Federal. A Câmara dos Deputados.</p><p>Competências. Impeachment.</p><p>1ª QUESTÃO:</p><p>Edvaldo Ramos, Deputado Federal, impetrou Mandado de Segurança, perante o STF, visando a</p><p>obtenção de ordem a fim de paralisar as atividades da Comissão de Sindicância, instituída pela Mesa</p><p>da Câmara dos Deputados em 03/02/2003, para apuração e oferecimento de relatório acerca de</p><p>condutas que teriam sido atentatórias ao decoro parlamentar.</p><p>Postulou, ainda, nessa especial sede, fosse declarada a nulidade do ato que instituiu a referida</p><p>Comissão, com o conseqüente arquivamento do inquérito administrativo cuja validade insistiu em</p><p>contestar.</p><p>Relatou que o ato supostamente atentatório ao decoro parlamentar fora praticado na legislatura</p><p>anterior e, em razão do princípio da unidade da legislatura, não poderia ser investigado; que o</p><p>Presidente da Câmara dos Deputados, ao agir na condição de Presidente da Mesa da referida Casa</p><p>Legislativa, desrespeitou princípios constitucionais básicos, tais como a isonomia, a legalidade e o</p><p>contraditório quando da edição do ato que instituiu a sindicância.</p><p>Pergunta-se:</p><p>a) Procede a alegação do impetrante de que o princípio da unidade da legislatura impede a</p><p>investigação?</p><p>b) O princípio do contraditório deve ser observado pela Comissão de Sindicância na investigação</p><p>preliminar e sumária?</p><p>c) Em que consiste o sistema bicameral?</p><p>01/03/2024 - Página 8 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>a)</p><p>Pet 7734, Relator(a): Min. EDSON FACHIN</p><p>Órgão julgador: Segunda Turma</p><p>Julgamento: 30/10/2018; Publicação: 13/02/2019</p><p>Ementa</p><p>Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. INQUÉRITO. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA. APLICAÇÃO</p><p>DE ENTENDIMENTO DO PLENO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA QUESTÃO DE</p><p>ORDEM DA AÇÃO PENAL 937. RETORNO DOS AUTOS AO JUÍZO DA 11ª VARA DA SEÇÃO</p><p>JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS. MANDATOS DISTINTOS EXERCIDOS SEM</p><p>SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE. ASSUNÇÃO A CARGO PARLAMENTAR VAGO NA</p><p>CONDIÇÃO DE SUPLENTE. PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE.</p><p>INSURGÊNCIA DESPROVIDA. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar Questão de</p><p>Ordem suscitada nos autos da AP 937, de relatoria do eminente Ministro Luís Roberto Barroso,</p><p>decidiu que a competência desta Corte para processar e julgar parlamentares, nos termos do art. 102,</p><p>I, “b”, da Constituição Federal, restringe-se aos delitos praticados no exercício e em razão da função</p><p>pública. 2. Em se tratando de mandatos políticos distintos, exercidos sem solução de continuidade,</p><p>não remanesce a unidade de legislatura dos cargos parlamentares para fins de prorrogação de</p><p>competência. Ao lado disso, a condição de suplente não confere ao assim nomeado as prerrogativas</p><p>decorrentes ao regime jurídico constitucional próprio dos congressistas, que decorre da efetiva</p><p>diplomação e posse no cargo. Precedentes. 3. À míngua das balizas estabelecidas pelo Pleno do</p><p>Supremo Tribunal Federal, não subsiste a competência de foro no âmbito da Corte, sendo imperativo</p><p>o declínio de competência do INQ 3.444 para o juízo responsável. 4. Agravo regimental desprovido.</p><p>MS 24.458 MC/DF - Distrito Federal; Relator Ministro Celso de Mello; STF.</p><p>INFORMATIVO Nº 298</p><p>TÍTULO</p><p>Princípio da Unidade de Legislatura e Falta de Decoro Parlamentar - MS (MC) 24.458-DF</p><p>(Transcrições)</p><p>PROCESSO</p><p>MS - 24458</p><p>ARTIGO</p><p>Princípio da Unidade de Legislatura e Falta de Decoro Parlamentar - MS (MC) 24.458-DF</p><p>(Transcrições) RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO DECISÃO: Trata-se de mandado de</p><p>segurança, com pedido de medida liminar, impetrado com a finalidade de obter, do Supremo Tribunal</p><p>Federal, ordem que paralise as atividades da Comissão de Sindicância instituída, em 03/02/2003, pela</p><p>Mesa da Câmara dos Deputados (fls. 44), para apurar e oferecer relatório a respeito de condutas</p><p>alegadamente atentatórias ao decoro parlamentar, em que teria incidido o Deputado Federal Francisco</p><p>Pinheiro Landim, supostamente envolvido em "tráfico de influência, junto à Justiça Federal, em</p><p>benefício de narcotraficantes" (fls. 45). Postula-se, ainda, nesta sede processual, seja declarada a</p><p>nulidade do Ato nº 01, de 03/02/2003 (fls. 44), com o conseqüente "arquivamento do inquérito</p><p>administrativo" (fls. 41), cuja validade é ora questionada na presente impetração mandamental. O</p><p>impetrante, para justificar a impugnação que deduz perante esta Suprema Corte, sustenta que o</p><p>eminente Presidente da Câmara dos Deputados, ao agir na condição de Presidente da Mesa dessa Casa</p><p>legislativa, teria desrespeitado, quando da edição do Ato nº 01/2003, postulados constitucionais</p><p>básicos, lesando, dentre outros, os princípios da isonomia, da legalidade, da presunção de inocência,</p><p>da garantia de defesa e aquele que veda o "bis in idem". Passo a a</p><p>01/03/2024 - Página 9 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>preciar o pedido de medida liminar. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL</p><p>FEDERAL PARA APRECIAR MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA A MESA</p><p>DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Reconheço, preliminarmente, que a qualidade do órgão estatal</p><p>ora apontado como coator - Mesa da Câmara dos Deputados - faz instaurar a competência originária</p><p>do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar, na espécie, a presente ação de mandado de</p><p>segurança (CF, art. 102, I, "d"). O ABUSO DE PODER, DE QUE DERIVA LESÃO A DIREITOS</p><p>SUBJETIVOS, ALEGADAMENTE PRATICADO COM SUPOSTO DESRESPEITO A</p><p>PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS, LEGITIMA A POSSIBILIDADE DE CONTROLE</p><p>JURISDICIONAL. Impõe-se observar, de outro lado, por necessário, que o exame da impugnação</p><p>deduzida na presente sede mandamental justifica - na estrita perspectiva do princípio da separação de</p><p>poderes - algumas reflexões prévias em torno das relevantíssimas questões pertinentes ao controle</p><p>jurisdicional do poder político e às implicações jurídico-institucionais que necessariamente decorrem</p><p>do exercício do judicial review. Como sabemos, o regime democrático, analisado na perspectiva das</p><p>delicadas relações entre o Poder e o Direito, não tem condições de subsistir, quando as instituições</p><p>políticas do Estado falharem em seu dever de respeitar a Constituição e as leis, pois, sob esse sistema</p><p>de governo, não poderá jamais prevalecer a vontade de uma só pessoa, de um só estamento, de um só</p><p>grupo ou, ainda, de uma só instituição. Na realidade, impõe-se, a todos os Poderes da República, o</p><p>respeito incondicional aos valores que informam a declaração de direitos e aos princípios sobre os</p><p>quais se estrutura, constitucionalmente, a organização do Estado. Delineia-se, nesse contexto, a</p><p>irrecusável importância jurídico-institucional do Poder Judiciário, investido do gravíssimo encargo de</p><p>fazer prevalecer a autoridade da Constituição e de preservar a força e o império das leis, impedindo,</p><p>desse modo, que se subvertam as concepções que dão significado democrático ao Estado de Direito,</p><p>em ordem a tornar essencialmente controláveis, por parte de juízes e Tribunais, os atos estatais que</p><p>importem em transgressão a direitos, garantias e liberdades fundamentais, assegurados pela Carta da</p><p>República. Vê-se, daí, na perspectiva</p><p>PROMOÇÃO DO JUIZ</p><p>MAIS ANTIGO, PUBLICIDADE DE SESSÕES ADMINISTRATIVAS DO TRIBUNAL DE</p><p>JUSTIÇA, MOTIVAÇÃO E PUBLICAÇÃO DOS VOTOS – VIOLAÇÃO AO ART. 93, CAPUT, E</p><p>INCISOS II, “d” E X, AO ART. 96, INCISO I, “a”, TODOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL –</p><p>EDIÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL 37/2006: PERDA DO OBJETO INEXISTENTE –</p><p>AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. O Tribunal entende que, nessa hipótese, ocorre violação à</p><p>própria Constituição (art. 93, caput), a qual reserva a lei complementar de iniciativa do Supremo</p><p>Tribunal Federal o tratamento dos temas atinentes ao Estatuto da Magistratura. 2. Até o advento da lei</p><p>complementar prevista no art. 93, caput, da Constituição, o Estatuto da Magistratura continua a ser</p><p>disciplinado pela Lei Complementar 35/79 (LOMAN). 3. Por sua vez, o art. 96, inciso I, “a”, da</p><p>Constituição Federal impõe a necessidade de provocação do Tribunal de Justiça, sem a qual haveria</p><p>interferência do Poder Legislativo na autonomia orgânico-administrativa afeta ao Poder Judiciário,</p><p>com ofensa ao art. 2º da Constituição Federal. 4. Feitas essas considerações, é de se concluir que</p><p>normas, como as questionadas, conforme seu alcance, devem resultar de lei complementar federal</p><p>(art. 93, caput, da Constituição Federal), ou, se for o caso, de lei de organização judiciária, por</p><p>iniciativa do tribunal competente (art. 93, II, “d”, da Constituição Federal), ou do respectivo</p><p>Regimento Interno, no que couber (art. 96, I, “a”, da Constituição Federal), inclusive em relação a</p><p>forma de votação nas decisões administrativas. 5. Em se tratando de Ação Direta de</p><p>Constitucionalidade, o interesse de agir só existe se a lei está em pleno vigor. Ocorre, todavia que</p><p>01/03/2024 - Página 85 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>aedição da Emenda Constitucional n. 37/2006 não esvaziou o objeto da presente demanda, notadamente</p><p>porque, de igual modo, disciplina matéria de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal</p><p>(regime jurídico da magistratura), por meio de Lei Complementar. 6. Ação julgada procedente,</p><p>confirmando a medida cautelar deferida pelo Plenário.</p><p>No entanto, a matério voltou à pauta do STF, que ainda não tem decisão definitiva:</p><p>INFORMATIVO Nº 666</p><p>TÍTULO</p><p>Magistratura: lei estadual e competência legislativa - 1</p><p>PROCESSO</p><p>ADI - 4393</p><p>ARTIGO</p><p>O Plenário iniciou julgamento de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada, pelo Procurador-Geral da</p><p>República, contra a Lei 5.535/2009, do Estado do Rio de Janeiro. O diploma adversado versa sobre fatos</p><p>funcionais da magistratura estadual, tais como regras relativas a provimento, investidura, direitos e</p><p>deveres. O Min. Ayres Britto, Presidente e relator, preliminarmente, afastou assertiva de que o requerente</p><p>não teria impugnado todo o complexo normativo sobre a matéria em foco. Sustentava-se que</p><p>remanesceriam, no ordenamento estadual, disposições sobre a mesma temática, visto que a Resolução</p><p>1/75, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, trataria daorganização, funcionamento,</p><p>disciplina, vantagens, direitos e deveres da magistratura. Afirmou que a citada resolução, quanto a esses</p><p>temas, estaria revogada. Logo, não haveria que se falar em sua subsistência no arcabouço normativo.</p><p>Explicou que, com a entrada em vigor da Lei Orgânica da Magistratura Nacional - Loman (LC 35/79),</p><p>todas as resoluções de tribunais de justiça, na parte em que disporiam dos assuntos veiculados por ela,</p><p>teriam sido revogadas. Assinalou que a lei ora contestada e a mencionada resolução não constituiriam um</p><p>único complexo normativo, de forma que eventual declaração de inconstitucionalidade da Lei estadual</p><p>5.535/2009 não teria, por consequência, a repristinação da resolução, porque esta teria sido revogada pela</p><p>Loman. Destacou, ainda, que a resolução disciplinaria matéria reservada a lei complementar, nos termos</p><p>do art. 93 da CF, o que corroboraria sua perda de eficácia. Rejeitou, de igual modo, a segunda preliminar</p><p>arguida, no sentido de que a impugnação à Lei fluminense 5.535/2009 seria genérica, sem apreciação</p><p>específica de cada um dos dispositivos. Considerou que o fundamento jurídico do pedido, em relação a</p><p>todas as normas contidas no aludido diploma, seria o de vício formal. Dessa maneira, a providência de</p><p>discriminá-los individualmente seria dispensável para o conhecimento da ação. Salientou que a questão</p><p>jurídico-constitucional teria sido exposta de forma clara, a permitir a compreensão da controvérsia. Por</p><p>fim, rechaçou a terceira preliminar, de suposta ofensa reflexa ao texto constitucional. Consignou que o</p><p>vício formal descrito na inicial deveria ser aferido mediante cotejo entre o art. 93 da CF e os preceitos da</p><p>lei estadual. Por conseguinte, se fosse necessária análise comparativa entre a Loman e o diploma</p><p>fluminense, isso decorreria da alegação de ofensa direta ao sistema constitucional de repartição de</p><p>competências legislativas. Resgatou posicionamento da Corte nesse sentido. ADI 4393/RJ, rel. Min.</p><p>Ayres Britto, 16 e 17.5.2012. (ADI-4393)</p><p>Íntegra</p><p>01/03/2024 - Página 86 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>doInformativo 666</p><p>01/03/2024 - Página 87 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>do caso ora em exame, que a intervenção do Poder Judiciário,</p><p>nas hipóteses de suposta lesão a direitos subjetivos amparados pelo ordenamento jurídico do Estado,</p><p>reveste-se de plena legitimidade constitucional, ainda que essa atuação institucional se projete na</p><p>esfera orgânica do Poder Legislativo, como se registra naquelas situações em que se atribuem, à</p><p>instância parlamentar, condutas tipificadoras de abuso de poder. Isso significa, portanto - considerada</p><p>a fórmula política do regime democrático - que nenhum dos Poderes da República está acima da</p><p>Constituição e das leis. Nenhum órgão do Estado - situe-se ele no Poder Judiciário, ou no Poder</p><p>Executivo, ou no Poder Legislativo - é imune à força da Constituição e ao império das leis. Uma</p><p>decisão judicial - que restaure a integridade da ordem jurídica e que torne efetivos os direitos</p><p>assegurados pelas leis - não pode ser considerada um ato de interferência na esfera do Poder</p><p>Legislativo, consoantejá p</p><p>01/03/2024 - Página 10 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>roclamou, em unânime decisão, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, qualquer que seja a natureza do</p><p>órgão legislativo cujas deliberações venham a ser questionadas em sede jurisdicional, especialmente</p><p>quando houver, como no caso, alegação de desrespeito aos postulados que estruturam o sistema</p><p>constitucional: "O CONTROLE JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOS POR COMISSÃO</p><p>PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NÃO OFENDE O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. -</p><p>A essência do postulado da divisão funcional do poder, além de derivar da necessidade de conter os</p><p>excessos dos órgãos que compõem o aparelho de Estado, representa o princípio conservador das</p><p>liberdades do cidadão e constitui o meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias</p><p>proclamados pela Constituição. Esse princípio, que tem assento no art. 2º da Carta Política, não pode</p><p>constituir e nem qualificar-se como um inaceitável manto protetor de comportamentos abusivos e</p><p>arbitrários, por parte de qualquer agente do Poder Público ou de qualquer instituição estatal. - O Poder</p><p>Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a</p><p>supremacia da Constituição, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe</p><p>conferiu a própria Carta da República. O regular exercício da função jurisdicional, por isso mesmo, desde</p><p>que pautado pelo respeito à Constituição, não transgride o princípio da separação de poderes. Desse</p><p>modo, não se revela lícito afirmar, na hipótese de desvios jurídico-constitucionais nas quais incida uma</p><p>Comissão Parlamentar de Inquérito, que o exercício da atividade de controle jurisdicional possa traduzir</p><p>situação de ilegítima interferência na esfera de outro Poder da República. O CONTROLE DO PODER</p><p>CONSTITUI UMA EXIGÊNCIA DE ORDEM POLÍTICO-JURÍDICA ESSENCIAL AO REGIME</p><p>DEMOCRÁTICO. - O sistema constitucional brasileiro, ao consagrar o princípio da limitação de poderes,</p><p>teve por objetivo instituir modelo destinado a impedir a formação de instâncias hegemônicas de poder no</p><p>âmbito do Estado, em ordem a neutralizar, no plano político-jurídico, a possibilidade de dominação</p><p>institucional de qualquer dos Poderes da República sobre os demais órgãos da soberania nacional. Com a</p><p>finalidade de obstar que o exercício abusivo das prerrogativas estatais possa conduzir a práticas que</p><p>transgridam o regime das liberdades públicas e que sufoquem, pela opressão do poder, os direitos e</p><p>garantias individuais, atribuiu-se, ao Poder Judiciário, a função eminente de controlar os excessos</p><p>cometidos por qualquer das esferas governamentais, inclusive aqueles praticados por Comissão</p><p>Parlamentar de Inquérito, quando incidir em abuso de poder ou em desvios inconstitucionais, no</p><p>desempenho de sua competência investigatória." (RTJ 173/806, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Em</p><p>suma: a observância dos direitos e garantias constitui fator de legitimação da atividade estatal. Esse dever</p><p>de obediência ao regime da lei se impõe a todos - magistrados, administradores e legisladores. É que o</p><p>poder não se exerce de forma ilimitada. No Estado democrático de Direito, não há lugar para o poder</p><p>absoluto. O CONTROLE JURISDICIONAL DOS ABUSOS IMPUTADOS AO PODER POLÍTICO -</p><p>PORQUE TRADUZ REAFIRMAÇÃO DAAUTORIDADE DA</p><p>01/03/2024 - Página 11 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - NÃO TRANSGRIDE O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE</p><p>PODERES. Ainda que em seu próprio domínio institucional, nenhum órgão estatal pode, legitimamente,</p><p>pretender-se superior ou supor-se fora do alcance da autoridade suprema da Constituição Federal e das</p><p>leis da República. O respeito efetivo pelos direitos individuais e pelas garantias fundamentais outorgadas</p><p>pela ordem jurídica aos cidadãos em geral representa, no contexto de nossa experiência institucional, o</p><p>sinal mais expressivo e o indício mais veemente de que se consolidou, em nosso País, de maneira real, o</p><p>quadro democrático delineado na Constituição da República. A separação de poderes - consideradas as</p><p>circunstâncias históricas que justificaram a sua concepção no plano da teoria constitucional - não pode ser</p><p>jamais invocada como princípio destinado a frustrar a resistência jurídica a qualquer ensaio de opressão</p><p>estatal ou a inviabilizar a oposição a qualquer tentativa de comprometer, sem justa causa, o exercício do</p><p>direito de protesto contra abusos que possam ser cometidos pelas instituições do Estado. As razões ora</p><p>expostas - que bem traduzem anterior decisão por mim proferida (MS 24.082/DF, Rel. Min. CELSO DE</p><p>MELLO, DJU de 03/10/2001) - justificam a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal conhecer da</p><p>presente ação mandamental, eis que a alegação de ofensa a princípios de índole constitucional -</p><p>precisamente por introduzir, no exame da controvérsia, um dado de natureza jurídica - descaracteriza a</p><p>existência de questão exclusivamente política, permitindo, desse modo, ante a inocorrência de ato interna</p><p>corporis, o pleno exercício, por esta Corte, de sua jurisdição constitucional. Lapidar, sob tal aspecto, o</p><p>magistério, erudito e irrepreensível, de PEDRO LESSA ("Do Poder Judiciário", p. 65/66, 1915, Francisco</p><p>Alves): "Em substância: exercendo atribuições políticas, e tomando resoluções políticas, move-se o poder</p><p>legislativo num vasto domínio, que tem como limites um círculo de extenso diâmetro, que é a</p><p>Constituição Federal. Enquanto não transpõe essa periferia, o Congresso elabora medidas e normas, que</p><p>escapam à competência do poder judiciário. Desde que ultrapassa a circunferência, os seus atos estão</p><p>sujeitos ao julgamento do poder judiciário, que, declarando-os inaplicáveis por ofensivos a direitos, lhes</p><p>tira toda a eficácia jurídica." (grifei) É por essa razão que a jurisprudência constitucional do Supremo</p><p>Tribunal Federal jamais tolerou que a invocação da natureza interna corporis do ato emanado das Casas</p><p>legislativas pudesse constituir um ilegítimo manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrários do</p><p>Poder Legislativo. Daí a precisa observação de PONTES DE MIRANDA ("Comentários à Constituição</p><p>de 1967 com a Emenda nº 1, de 1969", tomo III/644, 3ª ed., 1987, Forense), cujo magistério - embora</p><p>acentuando a incognoscibilidade judicial das questões políticas atinentes à oportunidade, à conveniência,</p><p>à utilidade ou ao acerto do ato emanado do órgão estatal - registra advertência, que cumpre não ignorar:</p><p>"Sempre que se discute se é constitucional ou não, o ato do poder executivo, ou do poder judiciário, ou do</p><p>poder legislativo, a questão judicial estáformulada, o</p><p>01/03/2024 - Página 12 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>elemento político foi excedido, e caiu-se no terreno da questão jurídica." (grifei) Assentadas essas</p><p>premissas, e considerando</p><p>que o Deputado Federal Pinheiro Landim, parte ora impetrante, alega múltiplas</p><p>transgressões ao que dispõe o texto da Constituição da República - notadamente no que se refere aos</p><p>postulados constitucionais da isonomia, da legalidade, da presunção de inocência, do contraditório e da</p><p>vedação ao "bis in idem" -, entendo, presente esse específico contexto, que se revela suscetível de</p><p>conhecimento esta ação de mandado de segurança, eis que a invocação de temas constitucionais faz</p><p>instaurar, de modo pleno, a jurisdição do Supremo Tribunal Federal, para apreciar a controvérsia exposta</p><p>nesta sede processual. O PRINCÍPIO DA UNIDADE DE LEGISLATURA NÃO IMPEDE A</p><p>INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE CASSAÇÃO DE MANDATO LEGISLATIVO, AINDA</p><p>QUE POR ATOS ATENTATÓRIOS AO DECORO PARLAMENTAR COMETIDOS, POR TITULAR</p><p>DE MANDATO LEGISLATIVO, NA LEGISLATURA ANTERIOR. Tenho para mim, ao examinar, em</p><p>sede de estrita delibação, a pretensão mandamental deduzida pelo ora impetrante - não obstante as razões</p><p>tão excelentemente desenvolvidas por seus eminentes Advogados - que tal postulação parece não se</p><p>revestir de plausibilidade jurídica, especialmente em face da existência de decisão plenária, proferida pelo</p><p>Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA,</p><p>ocasião em que esta Suprema Corte, tendo presente situação virtualmente idêntica à que ora se registra</p><p>neste processo ("Caso Talvane Neto"), rejeitou a tese de que a Casa legislativa não pode decretar a</p><p>cassação de mandato de qualquer de seus membros, por falta de decoro parlamentar, se o fato motivador</p><p>dessa deliberação houver ocorrido na legislatura anterior. Essa decisão, emanada do Plenário do Supremo</p><p>Tribunal Federal, acha-se consubstanciada em acórdão assim ementado: "Mandado de segurança. 2. Ato</p><p>da Mesa da Câmara dos Deputados, confirmado pela Comissão de Constituição e Justiça e Redação da</p><p>referida Casa legislativa, sobre a cassação do mandato do impetrante, por comportamento incompatível</p><p>com o decoro parlamentar. 3. Pretende-se a extinção do procedimento de perda do mandato. Sustenta-se</p><p>que a cassação do mandato, para nova legislatura, fica restrita à hipótese de, no curso dessa legislatura, se</p><p>verificarem condutas, dela contemporâneas, capituláveis como atentatórias do decoro parlamentar. 4. Não</p><p>configurada a relevância dos fundamentos da impetração. Liminar indeferida. 5. Parecer da Procuradoria-</p><p>Geral da República pela prejudicialidade do mandado de segurança, em face da perda de objeto; no</p><p>mérito, pela denegação da ordem. 6. Tese invocada, acerca da inexistência de contemporaneidade entre o</p><p>fato típico e a competência da atual legislatura, que se rejeita. 7. Não há reexaminar, em mandado de</p><p>segurança, fatos e provas (...). 9. Mandado de segurança indeferido." (grifei) Cabe destacar, neste ponto,</p><p>que o princípio da unidade de legislatura - que faz cessar, a partir de cada novo quadriênio, todos os</p><p>assuntos iniciados no período imediatamente anterior, dissolvendo-se, desse modo, todos os vínculos com</p><p>a legislatura precedente (JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Princípios do Processo de Formação das Leis no</p><p>DireitoConstitucional", p. 38/39,</p><p>01/03/2024 - Página 13 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>item n. 14, 1964, RT) - rege, essencialmente, o processo de elaboração legislativa, tanto que, encerrado o</p><p>período quadrienal a que se refere o art. 44, parágrafo único, da Constituição Federal, dar-se-á, na Câmara</p><p>dos Deputados, o arquivamento das proposições legislativas, com a só exceção de alguns projetos</p><p>taxativamente relacionados na norma regimental (Regimento Interno da Câmara dos Deputados, art. 105).</p><p>É por essa razão que o eminente Professor JOSÉ AFONSO DA SILVA, ao tratar do postulado da unidade</p><p>de legislatura, examina-o dentre os princípios que informam o processo constitucional de formação das</p><p>leis. De outro lado, e ao contrário da limitação de ordem temporal imposta à atividade investigatória das</p><p>Comissões Parlamentares de Inquérito - cujo âmbito de atuação não pode ultrapassar a legislatura em que</p><p>instauradas (HC 71.193/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - MS 22.858/DF, Rel. Min. CELSO</p><p>DE MELLO) -, cumpre rememorar que o Supremo Tribunal Federal, como precedentemente assinalado,</p><p>já firmou orientação no sentido de que o princípio da unidade de legislatura não se reveste de efeito</p><p>preclusivo, em tema de cassação de mandato legislativo, por falta de decoro parlamentar, ainda que por</p><p>fatos ocorridos em legislatura anterior (MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, Pleno). Isso</p><p>significa, portanto, que o princípio da unidade de legislatura não representa obstáculo constitucional a que</p><p>as Casas legislativas venham, ainda que por fatos anteriores à legislatura em curso, a instaurar - contra</p><p>quem já era titular de mandato na legislatura precedente - procedimento de caráter político- -</p><p>administrativo, destinado a viabilizar a decretação da perda do mandato, por fato atentatório ao decoro</p><p>parlamentar, cometido por quem então se achava investido na condição de membro de qualquer das Casas</p><p>do Congresso Nacional (CF, art. 55, I, "e", §§ 1º e 2º). Parece revelar-se essencial, portanto, para os fins a</p><p>que se refere o art. 55, § 2º da Constituição da República, a existência de uma necessária relação de</p><p>contemporaneidade entre a prática do ato contrário ao decoro parlamentar, de um lado, e o exercício do</p><p>mandato legislativo, de outro, mesmo que o ato ofensivo à dignidade institucional do mandato (e,</p><p>também, à honorabilidade do Parlamento), tenha ocorrido na legislatura imediatamente anterior, praticado</p><p>por quem, naquele momento, já era integrante do Poder Legislativo, tal como expressamente o</p><p>reconheceu o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no precedente mencionado. Cumpre identificar,</p><p>neste ponto, a "ratio" subjacente a esse entendimento que resultou do julgamento plenário do MS</p><p>23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA: é que a ordem jurídica não pode permanecer indiferente a</p><p>condutas de membros do Congresso Nacional - ou de quaisquer outras autoridades da República - que</p><p>hajam eventualmente incidido em censuráveis desvios éticos, no desempenho da elevada função de</p><p>representação política do Povo brasileiro. Foi por tal motivo que o Plenário desta Suprema Corte, atento</p><p>aos altíssimos valores que informam e condicionam todas as atividades governamentais - não importando</p><p>o domínio institucional em que elas tenham lugar -, veio a proferir o seu dictum, reconhecendo a</p><p>possibilidade jurídico-constitucional de qualquer das Casas do Congresso Nacional adotar medidas</p><p>destinadas areprimir, com a</p><p>01/03/2024 - Página 14 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>cassação do mandato de seus próprios membros, fatos atentatórios à dignidade do ofício legislativo e</p><p>lesivos ao decoro parlamentar, mesmo que ocorridos no curso de anterior legislatura, desde que, já então,</p><p>o infrator ostentasse a condição de membro do Parlamento. Sabemos todos que o cidadão tem o direito de</p><p>exigir que o Estado seja dirigido por administradores íntegros, por legisladores probos e por juízes</p><p>incorruptíveis, que desempenhem as suas funções com total respeito aos postulados ético-jurídicos que</p><p>condicionam o exercício legítimo da atividade pública. O direito ao governo honesto - nunca é demasiado</p><p>reconhecê-lo - traduz uma prerrogativa insuprimível da cidadania. O sistema democrático e o modelo</p><p>republicano não admitem, nem podem tolerar a existência de regimes de governo sem a correspondente</p><p>noção de fiscalização e de responsabilidade. Nenhum membro de qualquer instituição da República está</p><p>acima da Constituição, nem pode pretender-se excluído da crítica social ou do alcance da fiscalização da</p><p>coletividade. A imputação, a qualquer membro do Congresso Nacional, de atos que importem em</p><p>transgressão ao decoro parlamentar revela-se fato que assume, perante o corpo</p><p>de cidadãos, a maior</p><p>gravidade, a exigir, por isso mesmo, por efeito de imposição ética emanada de um dos dogmas essenciais</p><p>da República, a plena apuração e o esclarecimento da verdade, tanto mais se se considerar que o</p><p>Parlamento recebeu, dos cidadãos, não só o poder de representação política e a competência para legislar,</p><p>mas, também, o mandato para fiscalizar os órgãos e agentes dos demais Poderes. Qualquer ato de ofensa</p><p>ao decoro parlamentar culmina por atingir, injustamente, a própria respeitabilidade institucional do Poder</p><p>Legislativo, residindo, nesse ponto, a legitimidade ético-jurídica do procedimento constitucional de</p><p>cassação do mandato parlamentar, em ordem a excluir, da comunhão dos legisladores, aquele - qualquer</p><p>que seja - que se haja mostrado indigno do desempenho da magna função de representar o Povo, de</p><p>formular a legislação da República e de controlar as instâncias governamentais do poder. Não se poderá</p><p>jamais ignorar que o princípio republicano consagra o dogma de que todos os agentes públicos -</p><p>legisladores, magistrados, e administradores - são responsáveis perante a lei e a Constituição, devendo</p><p>expor-se, plenamente, às conseqüências que derivem de eventuais comportamentos ilícitos. Cumpre</p><p>insistir na asserção de que a prática de atos atentatórios ao decoro parlamentar, mais do que ferir a</p><p>dignidade individual do próprio titular do mandato legislativo, projeta-se, de maneira altamente lesiva,</p><p>contra a honorabilidade, a respeitabilidade, o prestígio e a integridade político-institucional do</p><p>Parlamento, vulnerando, de modo extremamente grave, valores constitucionais que atribuem, ao Poder</p><p>Legislativo, a sua indisputável e eminente condição de órgão da própria soberania nacional. É por essa</p><p>razão que o eminente Professor MIGUEL REALE ("Decoro Parlamentar e Cassação de Mandato</p><p>Eletivo", in Revista de Direito Público, vol. X/89), ao versar o tema em questão, adverte que o ato</p><p>indecoroso do parlamentar importa em falta de respeito à própria dignidade institucional do Poder</p><p>Legislativo: "O 'status' dodeputado, em</p><p>01/03/2024 - Página 15 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>relação ao qual o ato deve ser medido (e será comedido ou decoroso em razão dessa medida) implica, por</p><p>conseguinte, não só o respeito do parlamentar a si próprio, como ao órgão ao qual pertence (...). No</p><p>fundo, falta de decoro parlamentar é falta de decência no comportamento pessoal, capaz de desmerecer a</p><p>Casa dos representantes (incontinência de conduta, embriaguez, etc) e falta de respeito à dignidade do</p><p>Poder Legislativo, de modo a expô-lo a críticas infundadas, injustas e irremediáveis, de forma</p><p>inconveniente." Não é por outro motivo que PINTO FERREIRA ("Comentários à Constituição</p><p>Brasileira", vol. 3/28, 1992, Saraiva), em magistério lapidar sobre a matéria, assinala: "Outro motivo</p><p>mencionado pela Constituição do País para a perda do mandato de deputado ou senador é o procedimento</p><p>reputado incompatível com o decoro parlamentar. É, então, um poder discricionário que tem a Câmara de</p><p>expulsar os seus membros, quando sua conduta venha a ferir a própria honorabilidade da Assembléia.</p><p>Conquanto o deputado ou senador tenha todas as condições para continuar em seu cargo, a própria</p><p>Câmara ajuíza que ele é indesejável ou intolerável, surgindo a cassação como uma medida disciplinar.</p><p>....................................................... (...) A desqualificação do parlamentar não impede que ele venha a</p><p>candidatar-se novamente. Eventualmente pode reeleger-se. Mas sobra, ainda, à Câmara, o exercício do</p><p>seu poder para cassar novamente o mandato do dito membro." (grifei) A submissão de todos à supremacia</p><p>da Constituição e aos princípios que derivam da ética republicana representa o fator essencial de</p><p>preservação da ordem democrática, por cuja integridade devemos todos velar, enquanto legisladores,</p><p>enquanto magistrados ou enquanto membros do Poder Executivo. Não foi por outro motivo que o</p><p>Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao analisar a extensão do princípio da moralidade - que domina e</p><p>abrange todas as instâncias de poder -, proclamou que esse postulado, enquanto valor constitucional</p><p>revestido de caráter ético--jurídico, condiciona a legitimidade e a validade de quaisquer atos estatais: "A</p><p>atividade estatal, qualquer que seja o domínio institucional de sua incidência, está necessariamente</p><p>subordinada à observância de parâmetros ético-jurídicos que se refletem na consagração constitucional do</p><p>princípio da moralidade administrativa. Esse postulado fundamental, que rege a atuação do Poder</p><p>Público, confere substância e dá expressão a uma pauta de valores éticos sobre os quais se funda a ordem</p><p>positiva do Estado. O princípio constitucional da moralidade administrativa, ao impor limitações ao</p><p>exercício do poder estatal, legitima o controle jurisdicional de todos os atos do Poder Público que</p><p>transgridam os valores éticos que devem pautar o comportamento dos agentes e órgãos</p><p>governamentais." (ADI 2.661/MA, Rel. Min. CELSO DE MELLO - Pleno) Impõe-se uma última</p><p>observação a propósito do princípio da unidade de legislatura. No caso ora em exame, embora tratando-se</p><p>de fato ocorrido na legislatura anterior, ele só deixou de ser apurado, em virtude da extinção anômala do</p><p>respectivo procedimento, por efeito da livre e unilateral declaração de vontade emanada do próprio</p><p>impetrante, que renunciou ao mandato deque, então,</p><p>01/03/2024 - Página 16 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>era titular. Daí o fato de a nova Mesa da Câmara dos Deputados haver deliberado, em 03/02/2003,</p><p>sobre a necessidade de abertura de novo procedimento, em ordem a legitimar, em função de novas</p><p>investigações, a regular instauração, em momento oportuno, do processo de cassação de mandato, por</p><p>alegada falta de decoro parlamentar, que teria sido cometida pelo ora impetrante. Veja-se que, no</p><p>precedente referido (MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, Pleno), o fato - também</p><p>praticado em legislatura anterior (16/12/98) - veio a ser objeto de procedimento de cassação de</p><p>mandato, instaurado no último mês de determinada legislatura (janeiro/99), que teve prosseguimento</p><p>e conclusão no início da legislatura seguinte, quando certo Deputado Federal teve o seu mandato</p><p>cassado, por falta de decoro parlamentar (em 07/04/99), transitando, o respectivo processo de</p><p>cassação, de uma legislatura para outra, sem qualquer solução de continuidade. Presente referida</p><p>situação (fato ocorrido em legislatura anterior, em cujo âmbito foi instaurado o concernente</p><p>procedimento de cassação, encerrado na legislatura subseqüente, com os respectivos atos processuais</p><p>havendo sido praticados em seqüência ininterrupta) - situação essa em tudo aparentemente mais</p><p>desfavorável que a ora exposta pelo impetrante -, esta Suprema Corte, mesmo assim, veio a</p><p>reconhecer que a Carta Política não exige que haja necessária relação de contemporaneidade entre o</p><p>fato típico e a legislatura sob cujo domínio temporal teria ocorrido o evento motivador da</p><p>responsabilização política do legislador, por falta de decoro parlamentar, consoante esclareceu o</p><p>Plenário do Supremo Tribunal Federal: "3. Pretende-se a extinção do procedimento de perda do</p><p>mandato. Sustenta-se que a cassação do mandato, para nova legislatura, fica restrita à hipótese de, no</p><p>curso dessa legislatura, se verificarem condutas, dela contemporâneas, capituláveis como atentatórias</p><p>do decoro parlamentar (...) 6. Tese invocada, acerca da inexistência de contemporaneidade entre o</p><p>fato típico e a competência da atual legislatura, que se rejeita." (MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA</p><p>SILVEIRA - grifei) APARENTE INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO "NON BIS</p><p>IN IDEM". Vê-se, do próprio precedente resultante do julgamento do MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI</p><p>DA SILVEIRA (Pleno), que parece revelar-se inconsistente a alegação de que</p><p>a Mesa da Câmara dos</p><p>Deputados, com a edição do Ato nº 01/2003, teria infringido o postulado que veda o "bis in idem". Na</p><p>realidade, o procedimento de apuração preliminar da conduta alegadamente indecorosa do ora</p><p>impetrante, instaurado na legislatura anterior, não se concluiu, em decorrência de obstáculo</p><p>exclusivamente criado pelo próprio impetrante, que renunciou ao seu mandato (fls. 46/49),</p><p>impedindo, assim, ante a superveniente perda de objeto, a conclusão da sindicância. Torna-se</p><p>evidente, pois, que, em virtude dessa anômala extinção da sindicância administrativa - a que deu</p><p>causa, unicamente, o próprio impetrante (fls. 46/49) - o órgão legislativo dela encarregado não teve</p><p>condições de concluí-la e de relatá-la, o que, por si só, afasta a alegação de que a instauração de nova</p><p>sindicância, sob a responsabilidade de órgão legislativo composto por novos integrantes, teria</p><p>importado em ofensa ao princípio do "non bis in idem". Essedesrespeito ao postulado que v</p><p>01/03/2024 - Página 17 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>eda o "bis in idem" simplesmente não ocorreu, eis que, na legislatura anterior, não se registrou, contra o</p><p>ora impetrante, e a propósito dos mesmos fatos ensejadores da atual sindicância, a inflição de qualquer</p><p>sanção de índole político-administrativa, nem se verificou o encerramento de qualquer procedimento de</p><p>caráter disciplinar. Disso resulta que inexiste, no caso, qualquer possibilidade de dupla punição político-</p><p>administrativa, motivada pelo mesmo fato, a ser eventualmente imposta pela Casa Legislativa a que</p><p>pertence o ora impetrante, uma vez que - insista-se - a imputação existente contra o Deputado Federal</p><p>Pinheiro Landim, além de não haver constituído objeto de apreciação definitiva na legislatura anterior,</p><p>sequer resultou em qualquer sanção ao parlamentar em referência. PROCEDIMENTO INQUISITÓRIO</p><p>(FASE PRÉ-PROCESSUAL) E GARANTIA DE DEFESA. Também não me parece, em sede de estrita</p><p>delibação, que a Comissão de Sindicância tenha desrespeitado a garantia da plenitude de defesa, pois</p><p>ainda não se instaurou o processo político-administrativo a que se refere o art. 55, § 2º, da Constituição. É</p><p>que a Comissão de Sindicância - que constitui a longa manus do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar</p><p>- atua, no presente momento, numa fase estritamente pré-processual, realizando diligências investigatórias</p><p>destinadas a comprovar, ainda que de modo sumário e preliminar, os fatos que poderão substanciar, em</p><p>momento oportuno, o ulterior oferecimento de acusação formal ("representação") contra o ora impetrante,</p><p>por suposta prática de atos alegadamente incompatíveis com o decoro parlamentar. Isso significa,</p><p>portanto, que a fase ritual em que presentemente se aacha o procedimento de apuração sumária e</p><p>preliminar dos fatos não comporta a prática do contraditório, nem impõe a observância da garantia da</p><p>plenitude de defesa, eis que a investigação promovida pela Comissão de Sindicância reveste-se, no</p><p>presente momento, do caráter de unilateralidade, impregnada que se acha de inquisitividade, circunstância</p><p>essa que torna insuscetível de invocação a cláusula da plenitude de defesa e do contraditório. É por essa</p><p>razão que JOSÉ FREDERICO MARQUES ("Elementos de Direito Processual Penal", vol. I/157, item n.</p><p>82, 2ª ed., 1965, Forense), ao versar o tema da investigação penal, adverte que não tem pertinência, nessa</p><p>fase procedimental, caracterizada pela nota da unilateralidade da apuração dos fatos, a invocação do</p><p>princípio do contraditório, exatamente por ainda não haver sido instaurado o concernente processo: "Um</p><p>procedimento policial de investigação, com o contraditório, seria verdadeira aberração, pois inutilizaria</p><p>todo esforço investigatório que a polícia deve realizar para a preparação da ação penal." Essa lição revela-</p><p>se inteiramente aplicável à atividade igualmente investigatória desenvolvida pela Comissão de</p><p>Sindicância, instituída pela Mesa da Câmara dos Deputados, pois, também no caso ora em exame,</p><p>mostra-se prematura a pretendida observância da garantia do contraditório e da plenitude de defesa, eis</p><p>que ainda não se instaurou, na forma do art. 7º do Regulamento do Conselho de Ética e Decoro</p><p>Parlamentar da Câmara dos Deputados, e para osfins a que se refere o art. 55,</p><p>01/03/2024 - Página 18 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>§ 2º, da Carta Política, o pertinente processo de perda do mandato, por suposta falta de decoro</p><p>parlamentar. O fato irrecusável é um só: a Comissão de Sindicância - que promove a investigação</p><p>preliminar e sumária - atua como verdadeira fact-finding commission. Nela não há a figura do acusado,</p><p>porque ainda inexistente qualquer acusação formal e também porque inocorrente a própria instauração do</p><p>processo político-administrativo a que alude o art. 55, § 2º, da Carta Política, e cuja disciplina ritual</p><p>observará o que dispõe o art. 7º do Regulamento do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara</p><p>dos Deputados, oportunidade em que será, então, assegurada ampla defesa ao parlamentar, com todos os</p><p>meios a ela inerentes, inclusive aquele referente à garantia do contraditório (CF, art. 55, § 2º). É certo que</p><p>o Estado, em tema de punições de índole disciplinar ou de caráter político-administrativo, não pode</p><p>exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua atividade</p><p>censória, o postulado da plenitude de defesa, pois - cabe enfatizar -, o reconhecimento da legitimidade</p><p>ético-jurídica de qualquer sanção punitiva imposta pelo Poder Público exige, ainda que se cuide de</p><p>procedimento meramente administrativo (CF, art. 5º, LV), a fiel observância do princípio do devido</p><p>processo legal, consoante adverte autorizado magistério doutrinário (MANOEL GONÇALVES</p><p>FERREIRA FILHO, "Comentários à Constituição Brasileira de 1988", vol. 1/68-69, 1990, Saraiva;</p><p>PINTO FERREIRA, "Comentários à Constituição Brasileira", vol. 1/176 e 180, 1989, Saraiva; JESSÉ</p><p>TORRES PEREIRA JÚNIOR, "O Direito à Defesa na Constituição de 1988", p. 71/73, item n. 17, 1991,</p><p>Renovar; EDGARD SILVEIRA BUENO FILHO, "O Direito à Defesa na Constituição", p. 47-49, 1994,</p><p>Saraiva; CELSO RIBEIRO BASTOS, "Comentários à Constituição do Brasil", vol. 2/268-269, 1989,</p><p>Saraiva; MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, "Direito Administrativo", p. 401-402, 5ª ed., 1995,</p><p>Atlas; LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, "Curso de Direito Administrativo", p. 290 e 293-294, 2ª ed., 1995,</p><p>Malheiros, v.g.). Ocorre, no entanto, que essa diretriz constitucional (CF, art. 5º, LV), assim interpretada</p><p>pelo magistério da doutrina e pela jurisprudência dos Tribunais, somente terá aplicação, se e quando se</p><p>tratar de processo (administrativo ou judicial), não, porém, quando se cuidar, como no caso, de simples</p><p>apuração sumária, por Comissão de Sindicância, destinada a subsidiar futura acusação formal contra</p><p>qualquer parlamentar, a quem vier a ser imputada a prática de ato incompatível com o decoro inerente às</p><p>Casas legislativas. Uma vez instaurado o processo de decretação de perda de mandato, por suposta</p><p>infração ao que dispõe o art. 55, II, da Constituição, resultante de formal oferecimento da representação,</p><p>por parte de quem dispuser de legitimidade ativa para tanto (CF, art. 55, § 2º), aí, então, impor-se-á, por</p><p>efeito do que determina a própria Carta Política (CF, art. 55, § 2º), a observância da garantia indisponível</p><p>da plenitude de defesa. Antes, porém, tal como já enfatizado, não se revelará aplicável a garantia a que se</p><p>refere o art. 55, § 2ºda Constituição,</p><p>01/03/2024 - Página 19 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>pois, na fase pré-processual de apuração sumária e preliminar dos fatos e respectivos elementos</p><p>probatórios, inexiste - considerado o contexto emergente da presente causa - qualquer possibilidade</p><p>jurídica de imposição da sanção constitucional de perda do mandato, tal como se discutiu, amplamente,</p><p>no Plenário desta Corte, quando do julgamento do MS 21.861/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA.</p><p>AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR, AINDA QUE OS FATOS A SEREM</p><p>APURADOS POSSAM QUALIFICAR-SE COMO ILÍCITOS PENAIS. De outro lado, cumpre enfatizar</p><p>que a Comissão de Sindicância - considerada a extrema gravidade dos fatos submetidos à sua apuração -</p><p>dispõe de plena liberdade de atuação para investigar e para esclarecer os eventos que motivaram, no plano</p><p>institucional, a reação da Câmara dos Deputados. O aprofundamento e a extensão das investigações</p><p>promovidas pela Comissão de Sindicância, instituída pela Mesa da Câmara dos Deputados, visam a um só</p><p>propósito: o de permitir a apuração da verdade real sobre os fatos que caracterizariam a alegada falta de</p><p>decoro parlamentar. A circunstância de esses mesmos episódios constituírem objeto de investigação penal</p><p>não impede, nem inibe a Câmara dos Deputados, por intermédio da Comissão de Sindicância, de também</p><p>apurar os fatos, na exata medida em que as informações deles decorrentes mostrarem-se relevantes para</p><p>os fins a que alude o art. 55, II, da Constituição da República. Cabe relembrar, neste ponto, que o Plenário</p><p>do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, reconheceu a possibilidade de qualquer das Casas do</p><p>Congresso Nacional - agindo nos estritos limites de sua competência institucional - realizar investigações</p><p>ou promover inquéritos e sindicâncias, com o objetivo de apurar fatos sujeitos a procedimentos incluídos</p><p>em sua esfera de atribuições (precisamente como no caso), não obstante esses mesmos fatos possam</p><p>constituir objeto de inquéritos policiais ou, até mesmo, de processos judiciais em curso: "AUTONOMIA</p><p>DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. - O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI,</p><p>qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade</p><p>própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa - sempre respeitados os limites inerentes à</p><p>competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua</p><p>constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir,</p><p>eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos</p><p>judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual. Doutrina.</p><p>Precedente: MS 23.639-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno)." (MS 23.652/DF, Rel. Min. CELSO</p><p>DE MELLO) Esse entendimento jurisprudencial reflete-se, por igual, no magistério de eminentes autores</p><p>(JOÃO DE OLIVEIRA FILHO, "Comissões Parlamentares de Inquérito", in Revista Forense, vol. 151/9-</p><p>22, 13; ALCINO PINTO FALCÃO, "Comissões Parlamentares de Inquérito - Seus Poderes Limitados -</p><p>Relações com a Justiça - Testemunhas", in Revista Forense, vol. 185/397-399, item n. 4; JOSÉ LUIZ</p><p>MÔNACO DA SILVA, "Comissões Parlamentares de Inquérito", p. 34-35, 1999, Ícone; ROGÉRIO</p><p>LAURIA TUCCI, "Comissão Parlamentar deInquérito</p><p>01/03/2024 - Página 20 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>(Atuação - Competência - Caráter investigatório)", in Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol.</p><p>6/171-185, 180; CARLOS MAXIMILIANO, "Comentários à Constituição Brasileira de 1946", vol.</p><p>2/80, item n. 315, 5ª ed., 1954, Freitas Bastos): "Em virtude da natureza da investigação parlamentar,</p><p>nada impede, entre nós, que ela se realize paralelamente com o inquérito policial ou o processo</p><p>judiciário." (NELSON DE SOUZA SAMPAIO, "Do Inquérito Parlamentar", p. 45/46, 1964,</p><p>Fundação Getúlio Vargas - grifei) Presentes todas as razões ora expostas, mas considerando,</p><p>sobretudo, o precedente firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (MS 23.388/DF, Rel.</p><p>Min. NÉRI DA SILVEIRA, "Caso Talvane Neto"), entendo que resulta descaracterizada, na espécie,</p><p>a plausibilidade jurídica da pretensão mandamental ora deduzida. Cabe enfatizar, neste ponto, que o</p><p>deferimento da medida liminar, que resulta do concreto exercício do poder cautelar geral outorgado</p><p>aos juízes e Tribunais, somente se justifica em face de situações que se ajustem aos pressupostos</p><p>referidos no art. 7º, II, da Lei nº 1.533/51: a existência de plausibilidade jurídica (fumus boni juris), de</p><p>um lado, em concurso com a possibilidade de lesão irreparável ou de difícil reparação (periculum in</p><p>mora), de outro. Sem que concorram esses dois requisitos - que são necessários, essenciais e</p><p>cumulativos -, não se legitima a concessão da medida liminar. Orienta-se, nesse sentido, a</p><p>jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: "Mandado de segurança. Liminar. Embora esta medida</p><p>tenha caráter cautelar, os motivos para a sua concessão estão especificados no art. 7º, II da Lei nº</p><p>1.533/51, a saber: a) relevância do fundamento da impetração; b) que do ato impugnado possa resultar</p><p>a ineficácia da medida, caso seja deferida a segurança. Não concorrendo estes dois requisitos, deve</p><p>ser denegada a liminar." (RTJ 112/140, Rel. Min. ALFREDO BUZAID - grifei) Sendo assim, em</p><p>sede de mera delibação, e tendo em consideração os fundamentos que venho de expor, indefiro o</p><p>pedido de medida liminar. 2. Requisitem-se informações ao eminente Presidente da Câmara dos</p><p>Deputados, em sua condição de Presidente do órgão colegiado ora apontado como coator,</p><p>encaminhando-se, a Sua Excelência, cópia da presente decisão. Publique-se. Brasília, 18 de fevereiro</p><p>de 2003. * decisão publicada em 21.2.2003.</p><p>2ª QUESTÃO:</p><p>Em sede de ADPF, determinado partido da base de apoio do Governo, a fim de balizar o</p><p>procedimento de impeachment em que se visa ao afastamento do Presidente da República em</p><p>exercício, requer, entre outros pedidos, que as regras procedimentais do processo penal sejam</p><p>aplicadas no citado rito, sobretudo:</p><p>a) quanto à necessidade de se aplicar ao processo de impeachment as garantias típicas do Processo</p><p>Penal e do Processo Administrativo sancionador;</p><p>b) que os arts. 18, 22, § 1º, 27, 28 e 29 da Lei 1.079/50 devem ser lidos à luz dos princípios da ampla</p><p>defesa e do contraditório, de modo que toda a atividade probatória seja desenvolvida, em primeiro</p><p>lugar, pela acusação e, posteriormente, pela defesa, bem como que, em cada fase, a ouvida do acusado</p><p>seja o último ato da instrução;</p><p>c) que seja realizada interpretação conforme a Constituição do art. 19 da Lei n. 1.079/50, para se</p><p>fixar, com efeito ex tunc - abrangendo os processos em andamento -, a interpretação segundo a qual o</p><p>recebimento da denúncia referido no dispositivo legal deve ser precedido de audiência prévia do</p><p>acusado, no prazo de quinze dias.</p><p>Responda, fundamentamente, como deve ser decidida a questão, e ainda:</p><p>1) como é repartida a divisão de tarefas entre as casas legislativas e qual o tipo de controle efetuado:</p><p>jurídico ou político? Fundamente.</p><p>2) uma vez admitida a denúncia na Câmara, pode o Senado efetuar juízo de admissibilidade dessa</p><p>mesma denúncia, contrariando a casa do povo?</p><p>3) existe alguma etapa no procedimento, tanto na Câmara, quanto no Senado, em que se permite a</p><p>votação secreta?</p><p>01/03/2024 - Página 21 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>RESPOSTA:</p><p>RESPOSTA:</p><p>ADPF 378 MC / DF - DISTRITO FEDERAL</p><p>MEDIDA CAUTELAR NA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO</p><p>FUNDAMENTAL</p><p>Relator(a): Min. EDSON FACHIN</p><p>Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO</p><p>Julgamento: 17/12/2015 Órgão Julgador: Tribunal Pleno</p><p>Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DE</p><p>DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. PROCESSO DE IMPEACHMENT.</p><p>DEFINIÇÃO DA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO RITO PREVISTO NA LEI Nº</p><p>1.079/1950. ADOÇÃO, COMO LINHA GERAL, DAS MESMAS REGRAS SEGUIDAS EM 1992.</p><p>CABIMENTO DA AÇÃO E CONCESSÃO PARCIAL DE MEDIDAS CAUTELARES.</p><p>CONVERSÃO EM JULGAMENTO DEFINITIVO. I. CABIMENTO DA ADPF E DAS MEDIDAS</p><p>CAUTELARES INCIDENTAIS</p><p>1. A presente ação tem por objeto central analisar a compatibilidade</p><p>do rito de impeachmentde Presidente da República previsto na Lei nº 1.079/1950 com a Constituição</p><p>de 1988. A ação é cabível, mesmo se considerarmos que requer, indiretamente, a declaração de</p><p>inconstitucionalidade de norma posterior à Constituição e que pretende superar omissão parcial</p><p>inconstitucional. Fungibilidade das ações diretas que se prestam a viabilizar o controle de</p><p>constitucionalidade abstrato e em tese. Atendimento ao requisito da subsidiariedade, tendo em vista</p><p>que somente a apreciação cumulativa de tais pedidos é capaz de assegurar o amplo esclarecimento do</p><p>rito do impeachment por parte do STF. 2. A cautelar incidental requerida diz respeito à forma de</p><p>votação (secreta ou aberta) e ao tipo de candidatura (indicação pelo líder ou candidatura avulsa) dos</p><p>membros da Comissão Especial na Câmara dos Deputados. A formação da referida Comissão foi</p><p>questionada na inicial, ainda que sob outro prisma. Interpretação da inicial de modo a conferir maior</p><p>efetividade ao pronunciamento judicial. Pedido cautelar incidental que pode ser recebido, inclusive,</p><p>como aditamento à inicial. Inocorrência de violação ao princípio do juiz natural, pois a ADPF foi à</p><p>livre distribuição e os pedidos da cautelar incidental são abrangidos pelos pleitos da inicial. II.</p><p>MÉRITO: DELIBERAÇÕES POR MAIORIA 1. PAPÉIS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO</p><p>SENADO FEDERAL NO PROCESSO DE IMPEACHMENT (ITENS C, G, H E I DO PEDIDO</p><p>CAUTELAR): 1.1. Apresentada denúncia contra o Presidente da República por crime de</p><p>responsabilidade, compete à Câmara dos Deputados autorizar a instauração de processo (art. 51, I, da</p><p>CF/1988). A Câmara exerce, assim, um juízo eminentemente político sobre os fatos narrados, que</p><p>constitui condição para o prosseguimento da denúncia. Ao Senado compete, privativamente,</p><p>processar e julgar o Presidente (art. 52, I), locução que abrange a realização de um juízo inicial de</p><p>instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara.</p><p>1.2. Há três ordens de argumentos que justificam esse entendimento. Em primeiro lugar, esta é a única</p><p>interpretação possível à luz da Constituição de 1988, por qualquer enfoque que se dê: literal,</p><p>histórico, lógico ou sistemático. Em segundo lugar, é a interpretação que foi adotada pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal em 1992, quando atuou no impeachment do então Presidente Fernando Collor de</p><p>Mello, de modo que a segurança jurídica reforça a sua reiteração pela Corte na presenteADPF. E</p><p>01/03/2024 - Página 22 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>, em terceiro e último lugar, trata-se de entendimento que, mesmo não tendo sido proferido pelo STF com</p><p>força vinculante e erga omnes, foi, em alguma medida, incorporado à ordem jurídica brasileira. Dessa</p><p>forma, modificá-lo, estando em curso denúncia contra a Presidente da República, representaria uma</p><p>violação ainda mais grave à segurança jurídica, que afetaria a própria exigência democrática de definição</p><p>prévia das regras do jogo político. 1.3. Partindo das premissas acima, depreende-se que não foram</p><p>recepcionados pela CF/1988 os arts. 23, §§ 1º, 4º e 5º; 80, 1ª parte (que define a Câmara dos Deputados</p><p>como tribunal de pronúncia); e 81, todos da Lei nº 1.079/1950, porque incompatíveis com os arts. 51, I;</p><p>52, I; e 86, § 1º, II, todos da CF/1988. 2. RITO DO IMPEACHMENT NA CÂMARA (ITEM C DO</p><p>PEDIDO CAUTELAR): 2.1. O rito do impeachment perante a Câmara, previsto na Lei nº 1.079/1950,</p><p>partia do pressuposto de que a tal Casa caberia, nos termos da CF/1946, pronunciar-se sobre o mérito da</p><p>acusação. Em razão disso, estabeleciam-se duas deliberações pelo Plenário da Câmara: a primeira quanto</p><p>à admissibilidade da denúncia e a segunda quanto à sua procedência ou não. Havia, entre elas, exigência</p><p>de dilação probatória. 2.2. Essa sistemática foi, em parte, revogada pela Constituição de 1988, que,</p><p>conforme indicado acima, alterou o papel institucional da Câmara no impeachment do Presidente da</p><p>República. Conforme indicado pelo STF e efetivamente seguido no caso Collor, o Plenário da Câmara</p><p>deve deliberar uma única vez, por maioria qualificada de seus integrantes, sem necessitar, porém,</p><p>desincumbir-se de grande ônus probatório. Afinal, compete a esta Casa Legislativa apenas autorizar ou</p><p>não a instauração do processo (condição de procedibilidade). 2.3. A ampla defesa do acusado no rito da</p><p>Câmara dos Deputados deve ser exercida no prazo de dez sessões (RI/CD, art. 218, § 4º), tal como</p><p>decidido pelo STF no caso Collor (MS 21.564, Rel. para o acórdão Min. Carlos Velloso). 3. RITO</p><p>DOIMPEACHMENT NO SENADO (ITENS G E H DO PEDIDO CAUTELAR): 3.1. Por outro lado, há</p><p>de se estender o rito relativamente abreviado da Lei nº 1.079/1950 para julgamento doimpeachment pelo</p><p>Senado, incorporando-se a ele uma etapa inicial de instauração ou não do processo, bem como uma etapa</p><p>de pronúncia ou não do denunciado, tal como se fez em 1992. Estas são etapas essenciais ao exercício,</p><p>pleno e pautado pelo devido processo legal, da competência do Senado de processar e julgar o Presidente</p><p>da República. 3.2. Diante da ausência de regras específicas acerca dessas etapas iniciais do rito no</p><p>Senado, deve-se seguir a mesma solução jurídica encontrada pelo STF no caso Collor, qual seja, a</p><p>aplicação das regras da Lei nº 1.079/1950 relativas a denúncias por crime de responsabilidade contra</p><p>Ministros do STF ou contra o PGR (também processados e julgados exclusivamente pelo Senado). 3.3.</p><p>Conclui-se, assim, que a instauração do processo pelo Senado se dá por deliberação da maioria simples de</p><p>seus membros, a partir de parecer elaborado por Comissão Especial, sendo improcedentes as pretensões</p><p>do autor da ADPF de (i) possibilitar à própria Mesa do Senado, por decisão irrecorrível, rejeitar</p><p>sumariamente a denúncia; e (ii) aplicar o quórum de 2/3, exigível para o</p><p>01/03/2024 - Página 23 de 87DIREITO CONSTITUCIONAL - CP01 - 05 - CPV - 1º PERÍODO 2024</p><p>ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO</p><p>jjulgamento final pela Casa Legislativa, a esta etapa inicial do processamento. 4. NÃO É POSSÍVEL A</p><p>APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS OU CHAPAS AVULSAS PARA FORMAÇÃO DA</p><p>COMISSÃO ESPECIAL (CAUTELAR INCIDENTAL): É incompatível com o art. 58, caput e § 1º, da</p><p>Constituição que os representantes dos partidos políticos ou blocos parlamentares deixem de ser</p><p>indicados pelos líderes, na forma do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, para serem escolhidos</p><p>de fora para dentro, pelo Plenário, em violação à autonomia partidária. Em rigor, portanto, a hipótese não</p><p>é de eleição. Para o rito de impeachment em curso, contudo, não se considera inválida a realização de</p><p>eleição pelo Plenário da Câmara, desde que limitada, tal como ocorreu no caso Collor, a ratificar ou não</p><p>as indicações feitas pelos líderes dos partidos ou blocos, isto é, sem abertura para candidaturas ou chapas</p><p>avulsas. Procedência do pedido. 5. A VOTAÇÃO PARA FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL</p><p>SOMENTE PODE SE DAR POR VOTO ABERTO (CAUTELAR INCIDENTAL): No impeachment,</p><p>todas as votações devem ser abertas, de modo a permitir maior transparência, controle dos representantes</p><p>e legitimação do processo. No silêncio da Constituição, da Lei nº 1.079/1950 e do Regimento Interno</p><p>sobre a forma de votação, não é admissível que o Presidente da Câmara dos Deputados possa, por decisão</p><p>unipessoal e discricionária, estender hipótese inespecífica de votação secreta prevista no RI/CD, por</p><p>analogia, à eleição para a Comissão Especial deimpeachment. Em uma democracia, a regra é a</p><p>publicidade das votações. O escrutínio secreto somente pode ter lugar em hipóteses excepcionais e</p><p>especificamente previstas. Além disso, o sigilo do escrutínio é incompatível com a natureza e a gravidade</p><p>do processo por crime de responsabilidade. Em processo de tamanha magnitude, que pode levar o</p><p>Presidente a ser afastado e perder o mandato, é preciso garantir</p>