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<p>O Ministério da Previdência Social</p><p>O desenvolvimento da Previdência Social brasileira, assim como em boa parte do globo, teve início privativo, voluntário, mediante a formação dos primeiros planos mutualistas. Em um plano mais abstrato, tratando genericamente dos direitos sociais no Brasil, e não especificamente da Previdência Social, a Constituição Imperial de 1824 fez alusão à assistência social, ainda que indefinidamente e sem disposições concretas sobre o Direito Previdenciário (SILVA, 2011).</p><p>Sempre coube ao Ministério da Previdência Social (MPS), por meio de seu Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), anteriormente Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), dar amparo aos trabalhadores vítimas de acidentes e doenças profissionais. A proteção acidentária brasileira começa antes mesmo do próprio nascimento da Previdência Social em 1923, quando, em 15 de janeiro de 1919, o governo editou o Decreto no 3.724, que instituiu a indenização às vítimas de acidentes, correspondente a três anos de trabalho. Logo, a Previdência, já apresentava uma função de seguradora, desde os seus primórdios dando proteção às consequências dos acidentes e doenças profissionais de caráter indenizatório, vinculados inicialmente a categorias profissionais mais organizadas da época, como ferroviários e da construção civil (CHAGAS, SALIM e SERVO, 2012).</p><p>Os benefícios acidentários foram se aperfeiçoando: as indenizações por partes do corpo perdidas passaram a ser benefícios continuados, pagos mês a mês. No período de 1944 a 1966, seguradoras privadas passaram a indenizar a acidentalidade concorrencialmente com os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) existentes por categoria profissional: industriários, bancários, comerciários, marítimos, entre outros (TODESCHINI e CODO, 2009).</p><p>É interessante observar que a ação de controlar e fiscalizar os acidentes e as doenças profissionais sempre foi função do Ministério do Trabalho que, durante muitos períodos, esteve unificado com o Ministério da Previdência e com a Assistência Social. A ação de fiscalização das condições de trabalho e do nascente contrato de trabalho iniciou-se na década de 1930, com a criação do então Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, já mencionado na aula anterior. A legislação que iniciou o detalhamento de cuidados com o ambiente de trabalho foi a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, quando foi editado o capítulo V, que definiu uma série de regras que as empresas deviam observar para manter as condições salubres de trabalho. Contraditoriamente, também se instituiu o adicional de insalubridade onde persistissem as condições insalubres, com desdobramentos nas chamadas aposentadorias especiais insalubres no início de 1960, por meio da Lei no 3.807, a Lei Orgânica da Previdência Social (CHAGAS, SALIM e SERVO, 2012).</p><p>Os anos 1960 e 1970 foram períodos em que se constatou um crescente número de acidentes, mortes e doenças profissionais no Brasil – que passou a ser conhecido mundialmente como “campeão de acidentes de trabalho”. Nesta época, pagamento dos benefícios monetários a eles relacionados sempre coube à Previdência Social. A média dos anos 1970 era de 1,5 milhão de acidentes, cerca de 4 mil óbitos e 3,2 mil doenças profissionais. Em 1975 o número de acidentes registrados bateu o recorde de 1,9 milhão, o que significava que nesse ano 14,74% dos 12,9 milhões de trabalhadores segurados sofrera algum acidente de trabalho. O governo militar da época, preocupado comessa situação e visando uma maior atenção às questões de Saúde e Segurança no Trabalho criou, em 1966, a Fundacentro, órgão que se dedica a estudos, pesquisas, a formação de profissionais e ao aperfeiçoamento da legislação trabalhista na área (CHAGAS, SALIM, SERVO, 2012). Esse fato evidenciou que, apesar da existência de leis trabalhistas aparentemente progressistas para a época, a aplicação desta legislação era falha e muito difícil.</p><p>Talvez, o avanço mais significativo na legislação trabalhista que tenha ocorrido, como fruto do início das pressões sindicais, foi a criação, por meio da Portaria no 3.214 de 1978, das Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho. Estas normas inicialmente estabeleceram exigências para que as condições de trabalho fossem melhoradas: ampliou-se o papel das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs); estabeleceram-se parâmetros e limites no manuseio de substâncias químicas perigosas, maiores controles dos riscos físicos em geral; ampliaram-se os serviços próprios de segurança e medicina do trabalho nas empresas (SESMTs); exigiram-se procedimentos de fiscalização e inspeção prévia das empresas que se instalavam, entre outras (CHAGAS, SALIM, SERVO, 2012).</p><p>De forma progressiva, a Previdência Social passou a reconhecer novas doenças profissionais, principalmente devido a pressão imposta pelos sindicatos mais combativos na época (bancários, metalúrgicos e químicos) – entre elas as LER/DORT, que foram objeto de Instruções Normativas no final dos anos 1980. Na mesma época</p><p>também ampliou-se o reconhecimento das doenças profissionais em geral.</p><p>O impulso maior no reconhecimento das doenças profissionais deu-se a partir do final dos anos 1980, quando se criaram programas de Atenção à Saúde do Trabalhador na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), também por pressão sindical junto à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (CHAGAS, SALIM, SERVO, 2012). De 1984 a 1985, o reconhecimento das doenças profissionais saltou de 3,2 mil casos para 4 mil casos junto à Previdência Social, mostrando a intervenção do Ministério da Saúde neste campo. Deve-se recordar que, nesse mesmo período, foram criados o Programa de Saúde dos Trabalhadores Químicos do ABC e da Construção Civil (Diadema São Bernardo) em parceria com a Secretaria de Saúde de São Paulo, e o Programa de Saúde do Trabalhador da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo na Zona Norte (MÉDICI, 2008). Esses programas foram precursores, e depois se disseminaram para outras regiões do estado de São Paulo e do Brasil. Com a ação desses programas em conjunto com ação do Ministério da Saúde porintermédio dos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador, após a Constituição de 1988, impulsionou o registro de doenças profissionais e do trabalho na Previdência Social, que saltou de 6 mil (1986) para 15 mil (1993).</p><p>A Lei Maior de 1988, marco da objetivação democrática e social do Estado Brasileiro, tratou de alargar em demasiado o tratamento constitucional dado à Previdência Social, dispondo pela primeira vez do termo “Seguridade Social”, como um conjunto de ações integradas envolvendo Saúde, Assistência e Previdência Social. Como bem salienta Silva (2011):</p><p>[...] a Seguridade Social é uma técnica moderna de proteção social, que se busca implementar em prol da dignidade da pessoa humana. As suas diversas facetas, quais sejam, a assistência, a saúde e a Previdência Social, no sistema de Seguridade Social, deveriam atuar de articulada e integradas, mas percebe-se a existência de uma nítida separação no respectivo campo de atuação extraída do próprio texto constitucional.</p><p>Ou seja, além dos Serviços de Medicina Ocupacional nas empresas para o diagnóstico das doenças, as diversas instâncias da rede de saúde pública influíram fortemente na descoberta do iceberg escondido de tais doenças nos ambientes laborais. As discussões sobre saúde do trabalhador tiveram forte impulso também a partir das três Conferências Nacionais de Saúde do Trabalhador organizadas pelo Ministério da Saúde entre 1986 e 2005.</p><p>image1.jpeg</p><p>image2.jpeg</p>

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