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<p>1</p><p>U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D O E S T A D O D O R I O D E J A N E I R O</p><p>CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCH</p><p>LICENCIATURA EM HISTÓRIA</p><p>Monografia</p><p>O Partido Nazista em Nova Friburgo (1932-1941).</p><p>Aluno(a): Pedro Augusto Storck</p><p>Matrícula: 13116090133</p><p>Polo: Cantagalo</p><p>2018</p><p>2</p><p>O PARTIDO NAZISTA EM NOVA FRIBURGO</p><p>(1932-1941)</p><p>Pedro Augusto Storck</p><p>Monografia submetida ao corpo docente da Escola</p><p>de História da Universidade Federal do Estado do</p><p>Rio de Janeiro – UNIRIO, como parte dos</p><p>requisitos necessários à obtenção do grau de</p><p>Licenciado em História, sob orientação do(a)</p><p>Prof.(a) Mr.(a) Cinthia Annie de Paula Ferreira.</p><p>Rio de Janeiro</p><p>2018</p><p>3</p><p>O PARTIDO NAZISTA EM NOVA FRIBURGO</p><p>(1932-1941)</p><p>Pedro Augusto Storck</p><p>Aprovado por:</p><p>_________________________________________</p><p>Prof.ª Ma. Cínthia Annie de Paula Ferreira (UFRRJ)</p><p>_____________________________________</p><p>Prof.º Dr.º Pedro Spinola Pereira Caldas (UNIRIO)</p><p>Rio de Janeiro</p><p>2018</p><p>4</p><p>Dedicado à memória de meu avô, Pedro Sérgio</p><p>Storck, por ter me ensinado que são os homens que</p><p>fazem seu próprio destino.</p><p>5</p><p>Agradecimentos</p><p>Caminhos árduos foram percorridos para que este ponto fosse alcançado. Não foi fácil</p><p>chegar até aqui. Certamente, algumas pessoas foram fundamentais em minha vida, das quais</p><p>sem as palavras, a força, a cobrança e o incentivo, tudo seria ainda mais martirizante.</p><p>Em primeiro lugar, agradeço à Deus. Em todas as vezes que me faltaram forças,</p><p>encontrei o meu amparo e a partir dali, alcançava a motivação que me faltava. Sentia em meu</p><p>coração que não poderia desistir, que o caminho não seria fácil, e que não me faltariam forças</p><p>para continuar a caminhada.</p><p>Aos meus pais, Fernando e Maria Madalena Storck, por terem me proporcionado força</p><p>e incentivo para a conclusão deste sonho. Não há palavras para exprimir o meu agradecimento</p><p>a estes dois seres divinos. Também agraço aos meus irmãos Flávia e Fernando, por terem</p><p>compartilhado excelentes momentos comigo, uma amizade sincera e protetora.</p><p>Agradeço também à minha professora e orientadora, Cinthia Annie de Paula Ferreira,</p><p>Por todo o carinho, paciência e conselhos, por todos os ensinamentos ao longo desta trajetória.</p><p>Obrigado, Mestra. Sem você, eu certamente seria um aluno perdido em meio à tantas teorias e</p><p>possibilidades de pesquisa. Em mesma medida, agradeço à todos os meus professores, não</p><p>apenas pelo conhecimento transmitido, mas por toda a sabedoria transformada. E, obviamente,</p><p>à toda a equipe do Cederj, que em meio à tantos alunos, estresse cotidiano e dificuldades,</p><p>sempre esteve à prontos, com o brilho nos olhos e o sorriso no rosto.</p><p>Aos meus mentores, professores e amigos, Ronald Lopes e Mateus Barradas Teixeira,</p><p>os luzeiros em minha vida acadêmica, presentes antes mesmo de minha entrada na</p><p>Universidade. O meu muito obrigado por todos os incentivos, todos os ensinamentos e puxões</p><p>de orelha. Juntamente à vocês, agradeço aos meus companheiros de caminhada acadêmica,</p><p>Carlos Felipe Bento Bessa, Matheus Almeida Barrozo e Kevin Serafim. Meus grandes amigos,</p><p>não compartilhamos apenas a História, tampouco conhecimentos teóricos. Acima de tudo,</p><p>esteve a amizade, a camaradagem e boas risadas, principalmente nas reuniões de nossos grupos</p><p>de estudos, que acabavam se tornando gargalhadas enquanto compartilhávamos algumas</p><p>cervejas geladas. Nada seria possível sem vocês, meus grandes amigos.</p><p>Sei que devo agradecimentos à muitos. Aos que não foram citados, sintam-se</p><p>agradecidos por este pequeno historiador. Tenham a certeza de que todos vocês também fazem</p><p>parte de minha história.</p><p>Nova Friburgo, 25 de Dezembro de 2018.</p><p>6</p><p>"Quando olho para trás, para mais de trinta anos</p><p>pesquisando, lecionando e escrevendo, espero que se</p><p>possa dizer que também estou dando uma pequena</p><p>contribuição. Mas mesmo que não esteja, mesmo que</p><p>se negue haver progresso a ser feito, ninguém está em</p><p>condições de negar que eu esteja aproveitando</p><p>muitíssimo."</p><p>Eric J. Hobsbawm1</p><p>1 HOBSBAWM, Eric J. “Sobre História”. São Paulo, Companhia das Letras, 2013, p. 105.</p><p>7</p><p>Resumo</p><p>O Nacional-Socialismo ergueu-se sobretudo a partir de 1933, ano em que Adolf Hitler</p><p>alcançara o posto de Chanceler do Reich, nomeado após ter perdido as eleições presidenciais</p><p>de 1932. Adolf Hitler começou a implementar as diretrizes que sempre ambicionara para a</p><p>Alemanha, possibilitando à nação germânica que se reerguesse após as consequências da</p><p>Primeira Guerra Mundial e da Crise Econômica, impulsionada pela Grande Depressão em 1929.</p><p>Ainda que tudo tivesse um preço, como o antissemitismo, o autoritarismo exacerbado e a</p><p>ruptura com as cláusulas do Tratado de Versalhes, Adolf Hitler conseguira implementar o seu</p><p>modelo de fascismo. A recuperação econômica da Alemanha, aliada com a personalidade</p><p>carismática de Adolf Hitler, renderam ao führer alemão um grande contingente de apoiadores</p><p>por todo o mundo. A construção do Reich não se limitava à Alemanha, tão menos à Europa,</p><p>mas aos cinco continentes. Entre os nazistas, estava a ideologia de um só povo, uma única</p><p>nação, e por um único führer. Desta forma, o Brasil, que havia recebido grande contingente da</p><p>imigração alemã durante os séculos XIX e XX, além de possuir relações diplomáticas históricas</p><p>com o império alemão, acabaria vendo grupos alemães formarem núcleos do Partido Nazista.</p><p>Por estar em condições bem distintas da situação alemã e da Europa em si, o nazismo no Brasil</p><p>atuou de formas diferentes, sob diferentes circunstâncias, o que acabou formulando elementos</p><p>diferenciadores se comparados com a sede em Berlim. No cenário da Era Vargas, o Partido</p><p>Nazista no Brasil atuaria de formas distintas, ora com momentos de livre propagação e</p><p>notoriedade, ora em momentos de perseguição e clandestinidade. É neste contexto que se</p><p>encontra a célula do Partido Nazista na Nova Friburgo dos anos 1930. Friburgo, que era uma</p><p>cidade expressiva para o Estado do Rio de Janeiro – lembrando que, naquela época, a cidade</p><p>do Rio de Janeiro era a capital do Brasil –, contava com importantes indústrias de proprietários</p><p>alemães, a qual abrigava grande contingente de operários e notória produção industrial no</p><p>Brasil. Em mesma medida, a comunidade germânica, presente na cidade, ostentava o status de</p><p>ter transformado Nova Friburgo, sendo constantemente exaltada por autoridades políticas e</p><p>pelas mídias, como o rádio e os jornais. Assim, o Partido Nazista de Nova Friburgo atuou de</p><p>formas singulares, se comparados com as células de outras cidades brasileiras, ainda que</p><p>estivesse submetido à rígida estrutura burocrática e hierárquica da sede alemã. O presente</p><p>trabalho não se trata de uma análise definitiva, uma vez que há muito a se investigar. Contudo,</p><p>trata-se de uma análise construída com rigidez, fruto de muito trabalho árduo. Acredita-se que</p><p>esta investigação contribuirá para o enriquecimento da Literatura especializada nos estudos</p><p>sobre o Nazismo pelo mundo.</p><p>8</p><p>Lista de Abreviações</p><p>Auslandzorganization (AO): órgão submetido à rígida estrutura hierárquica do Partido Nazista,</p><p>responsável por cuidar dos interesses do Nazismo no exterior.</p><p>Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP): em português, “Partido Nacional</p><p>Socialista dos Trabalhadores Alemães”, ou simplesmente, “Partido Nazista”.</p><p>9</p><p>Lista de Tabelas</p><p>1. Número de votos direcionados ao Partido Nazista (1924-1933) ........................................</p><p>Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. A</p><p>seção brasileira do NSDAP estava submetida à rígida organização hierárquica e burocrática do</p><p>Reich, submetida diretamente à A.O., de forma que Berlim deveria saber tudo o que acontecia.</p><p>Para Moraes,</p><p>“O Partido Nazista no Brasil é uma seção partidária e não um partido</p><p>independente. Os vínculos formais que o relacionam com toda estrutura do partido</p><p>europeu são os mesmos que vinculam outras estruturas partidárias à hierarquia do</p><p>partido. De acordo com esta formalidade, as políticas, a constituição de estruturas</p><p>e várias outras ações da seção do partido no Brasil precisavam ser autorizadas</p><p>pela direção na Alemanha.”50</p><p>Aproximando-se da conceituação de Moraes, Ricardo Seitenfuss também associou a</p><p>subordinação do partido à A.O., demarcando a periodicidade do partido entre 1929 – quando</p><p>os grupos hitleristas já articulavam a chegada do führer ao poder –, e 1934, após a ascensão de</p><p>Adolf Hitler na Alemanha. Neste momento, as atividades partidárias se intensificaram,</p><p>aumentando consideravelmente o seu grau de relevância. De acordo com Dietrich, “A partir de</p><p>1934, o NSDAP envia ao Brasil o chefe geral do Partido Nazista, o alemão Hans Henning von</p><p>Cossel, e a Alemanha coloca em prática uma intensa propaganda que tinha como objetivo</p><p>cooptar os alemães residentes no Brasil.”51</p><p>O Brasil tornara-se relevante para a Alemanha hitlerista. Atuava a seção partidária do</p><p>NSDAP de acordo com as normas e estruturas burocráticas do partido. Cossel assumira a</p><p>48 Como consta no folhetim “A Quinta Coluna das Duas Américas - Objetivo final de Hitler: Conquista da América</p><p>Latina. In: DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia</p><p>Política”. São Paulo, Fapesp, 2007, p. 63</p><p>49 Idem DIETRICH, p. 134.</p><p>50 MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e</p><p>a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da</p><p>Universidade Federal do Rio de Janeiro. p. XXIV.</p><p>51 DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia</p><p>Política”. São Paulo, Fapesp, 2007, p. 74</p><p>36</p><p>liderança do partido, que estava diretamente subordinado à A.O. Contudo, de que forma este</p><p>partido atuava? Como destacado anteriormente, a organização possuiu total liberdade na década</p><p>de 1930, até o estabelecimento do Estado Novo, em 1938. Utilizando o contexto de ascensão</p><p>de Adolf Hitler e o sentimento de “germanidade”, os membros do partido utilizaram a</p><p>instituição como vínculo de união e expressão sentimentalista à Alemanha. De forma comum,</p><p>organizavam festividades e comemoravam energicamente datas especiais alemãs, como o Dia</p><p>do Trabalho. As atividades ligadas ao Reich também eram motivo de festividades, como o</p><p>aniversário de Adolf Hitler52. Além disso, a seção brasileira do Partido Nazista, sob ordem</p><p>direta da A.O., foi responsável pela criação de periódicos de grande circularidade. Os jornais</p><p>foram nomeados Deutsche Zeitung, Deutscher Morgen e Die Nationalsozialist53, sediados</p><p>respectivamente em Porto Alegre – RS, em São Paulo-SP e no Rio de Janeiro – RJ. Estes jornais</p><p>tinham dois objetivos principais: o primeiro, o de informar aos alemães residentes no Brasil</p><p>sobre o avanço dos ideais do Reich na Europa, visando manter os germânicos informados sobre</p><p>sua pátria mãe; e o segundo, o de atuar como veículo propagandístico do nazismo. As</p><p>manchetes foram produzidas em alemão até o ano de 193854, pois a polícia política do Estado</p><p>Novo condenava essa postura como exibição de um nacionalismo estrangeiro e antipatriótico.</p><p>Neste momento, as instituições germânicas foram forçadas a mudar a forma como atuavam. Os</p><p>jornais alemães passaram a publicar suas manchetes em português e mudaram o nome como se</p><p>apresentavam, a única forma de conseguirem passar pela censura varguista. O Deutscher</p><p>Morgen passou a se chamar, a partir de 1938, Aurora Alemã.</p><p>De acordo com Luís Edmundo de Moraes, o Partido Nazista contava com 2822</p><p>membros no Brasil, atuantes em 17 estados brasileiros. O senso de 1939 demonstrava um total</p><p>de 89.071 alemães residentes no Brasil. Destacavam-se as regiões Sul e Sudeste, que juntas</p><p>somavam 2490 partidários55. De acordo com orientação da A.O., os membros da Seção</p><p>Brasileira do NSDAP não poderiam interferir na política local. Significa dizer que o Partido</p><p>Nazista no Brasil não era institucionalizado ao ponto dos membros concorrerem à eleições, por</p><p>exemplo. Era imprescindível que os participantes mantivessem uma postura discreta. Os</p><p>52 Esta questão será melhor explorada no capítulo seguinte. No dia 3 de Maio de 1933, o jornal O Nova Friburgo</p><p>noticiava a reunião de alemães em comemoração ao aniversário do führer.</p><p>53 DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia</p><p>Política”. São Paulo, Fapesp, 2007, p. 74</p><p>54 No capítulo seguinte, será melhor explicitado os fatores que contribuíram para a “resistência” da comunidade</p><p>germânica e do Partido Nazista à polícia política de Getúlio Vargas.</p><p>55 MORAES apud DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007.</p><p>Tese (Programa de Pós-Graduação em História Social). p. 159</p><p>37</p><p>membros do Partido Nazista não poderiam, desta forma, atuar ou intervir de forma direta na</p><p>política local. Segundo Dietrich,</p><p>“Os nazistas deveriam se manter neutros com relação à política interna e não</p><p>poderiam divulgar suas ideias à estrangeiros. O teórico principal da A.O., Emil</p><p>Ehrlich, escreveu que havia dez deveres instituídos a partir do Decreto do Führer</p><p>de 1934, entre eles, os dois primeiros referem-se a este princípio de ‘não-</p><p>intervenção’: ‘1. Seguir as leis do país, no qual você é hóspede. 2. A política da</p><p>terra de hospedagem deve ser deixada para seus moradores. Você não deve entrar</p><p>na política de uma terra estrangeira. Não se intrometa nesta política, nem mesmo</p><p>por meio de conversas. A neutralidade na política local era, muitas vezes, utilizada</p><p>como bandeira de negociação para que o partido nazista continuasse suas</p><p>atividades em território estrangeiro.”56</p><p>Em linhas gerais, o serviço funcionava como uma pirâmide, cada esfera de forma</p><p>diretamente conectada. As tabelas a seguir, elaborada por Ana Maria Dietrich57, demostram a</p><p>rígida organização do partido.</p><p>Tabela 2 – Hierarquia do Governo Nacional Socialista – 1º, 2º e 3º escalões.</p><p>Führer Adolf Hitler</p><p>Reichsleiter – dirigentes do Reich. Eram em número de 18,</p><p>Entre eles estava Wilhelm von Bohle, chefe da A.O.</p><p>56 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 147.</p><p>57 Idem, p. 144.</p><p>Stellvertrete des Führers – vice</p><p>(Rudolf Hess)</p><p>38</p><p>Tabela 3 – Hierarquia da A.O. 1º, 2º e 3º escalão.</p><p>Chefe da A.O. Wilhelm von Bohle</p><p>Landesgruppenleiter – chefes de países. Atuavam</p><p>em 83 países onde a A.O. estava presente. Entre estes</p><p>chefes estava Hans Henning von Cossel.</p><p>Ortsgruppenleiter (chefes dos grupos regionais)</p><p>De forma geral, as sedes estavam concentradas nas áreas urbanas, podendo existir outras</p><p>células ao redor desta. As zonas de interior organizavam células menores, responsáveis por</p><p>subsidiarem a sede. Então, cabia aos nazistas do interior integrarem grupos de suporte ao Reich,</p><p>como a “Juventude Hitlerista” e a “Associação de Mulheres Alemãs”. Estes grupos tinham o</p><p>objetivo de agregar membros que obedecessem os critérios de adesão à causa do partido. A sede</p><p>nacional do Partido localizava-se primeiramente na cidade do Rio de Janeiro, em virtude que a</p><p>embaixada alemã estava instalada no mesmo local. Quando</p><p>Hans von Cossel se torna a</p><p>liderança do partido no Brasil, a sede da seção brasileira do NSDAP transfere-se para a cidade</p><p>de São Paulo, local onde estava instalado a redação do Deutscher Morgen, periódico no qual</p><p>Cossel publicava regularmente. 58</p><p>Falar sobre os membros do partido torna-se uma questão interessante. Não se pode</p><p>afirmar que todos os alemães eram nazistas59, parafraseando Hannah Arendt60, seja na</p><p>Alemanha hitlerista, sejam nas vinculações do partido ao redor do globo. Da mesma forma,</p><p>nem todos os alemães poderiam pertencer à organização. De acordo com as determinações da</p><p>58 Deutscher Morgen (Aurora Alemã) foi um periódico com sede em São Paulo, atuante como porta voz oficial do</p><p>Nacional-Socialismo no Brasil.</p><p>59 ARENDT, Hannah. “Eichman em Jerusalem”, São Paulo, Companhia das Letras, 1999.</p><p>60 Luís Edmundo de Moraes valeu-se de importante análise ao relativizar o conceito de “banalidade do mal”</p><p>cunhado por Arendt, além de sua errônea utilização pela historiografia sobre o Nazismo. O extermínio dos judeus</p><p>em si não se trata de uma “banalidade”. Não haveria “monstruosidade” inata aos comandantes das forças nazistas,</p><p>como muitas vezes o Eichman foi descrito, mas a atividade de membros embebedados por ideologia e que seguiam</p><p>friamente as determinações de seus superiores. O projeto de Adolf Hitler era executado por funcionários que</p><p>trabalhavam assiduamente para o führer, das secretárias que preenchiam dados, aos carregadores dos gases</p><p>utilizados nas câmaras de extermínio. MORAES, Luís Edmundo de. “A filósofa e a máquina de extermínio</p><p>nazista”. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/a-filosofa-a-maquina-de-exterminio-nazista-</p><p>504064.html. Acesso em 25 de Dezembro de 2018.</p><p>39</p><p>A.O., apenas os alemães com cidadania alemã poderiam adentrar ao partido. Isto porque os</p><p>membros não estavam subordinados à esfera local, mas diretamente à matriz na Alemanha. Esta</p><p>determinação mantinha relação com a ideologia ariana, a qual a pureza da raça era questão</p><p>primordial para a construção do Reich. Como afirma Dietrich,</p><p>“A questão da raça era tão importante que foi proibida a participação de não-</p><p>alemães – ainda que descendentes – no partido nazista. O partido seria formado</p><p>por esta grande ‘raça de eleitos’, que foi chamada de uma espécie de ‘elite do</p><p>Führer’. Os integrantes desta comunidade étnica nazificada eram os portadores da</p><p>cidadania alemã. Não haveria então a disposição de divulgação da ideologia</p><p>nazista para estranhos. Assim, esta elite viveria em uma espécie de gueto e o</p><p>nazismo funcionaria, então, como se fosse uma seita.”61</p><p>O Partido Nazista que se propaga pela Alemanha e estende sua influência pela Europa</p><p>“germanizada” não é, definitivamente, o mesmo que se espalha pela a América Latina e o</p><p>Brasil. A ideologia nacional-socialista formou-se em um contexto específico. A Alemanha</p><p>bismarckiana havia se tornado um poderoso império no século XIX. A perda da Grande Guerra,</p><p>a humilhação de uma nação diante das cláusulas do Tratado de Versalhes e o terror da</p><p>hiperinflação, aliado à depressão econômica, encontraram uma liderança que viveu todos estes</p><p>momentos, transformou-os em um elaborado discurso e o direcionou aos alemães “eleitos”. Os</p><p>nazistas ascendem gradativamente ao poder. Seu domínio político e militar sobre a Alemanha</p><p>se dá por um importante critério: o apoio expressivo e de diferentes setores da sociedade,</p><p>incluindo operários, burgueses, conservadores e religiosos. A Alemanha nazista tende ao</p><p>totalitarismo, passando a interferir diretamente na vida de cada cidadão, desde o seu</p><p>nascimento, de forma rígida, militarizada. Ein Reich, Ein Volk, Ein Führer.62</p><p>No Brasil, o nazismo precisa lidar com questões específicas e extremamente distantes</p><p>do contexto alemão. Assim que os ideais do nacional-socialismo chegam ao Brasil, estes sofrem</p><p>diretamente as influências da esfera local. Ocorre o processo de “tropicalização do nazismo”63.</p><p>A sessão brasileira do NSDAP encontra suas próprias especificidades no contexto brasileiro,</p><p>ainda que buscasse manter de forma ortodoxa os princípios do führer. Praticavam o</p><p>anticomunismo e o antissemitismo, como orientação da A.O; a repulsa aos comunistas era</p><p>61 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 146.</p><p>62 Pelo Reich, Pelo Povo, Pelo Führer!.</p><p>63 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social).</p><p>40</p><p>aceitável na medida em que Getúlio Vargas possuía aversão à esta ideologia, contando com o</p><p>apoio da própria GESTAPO para reprimir os revolucionários no Brasil; em relação aos judeus,</p><p>não seria permitido que alemães saíssem às ruas agredindo pessoas e depredando seus</p><p>patrimônios. O Brasil não era uma nação antissemita, pelo contrário. Contava com muitos</p><p>judeus, presentes em diversos estados. A forma que o partido encontrou para expressar o</p><p>antissemitismo se deu, acima de tudo, pela imprensa. O jornal Deutscher Morgen, por exemplo</p><p>publicou “muitos artigos anti-semitas e possuiu uma coluna dedicada exclusivamente ao</p><p>assunto”64. Ainda assim, direcionavam os ataques aos judeus alemães, com a finalidade de</p><p>minimizar o impacto no Brasil e desta forma, evitando ser cassados pelo Estado.</p><p>Além da questão dos judeus e comunistas, A sessão brasileira do NSDAP teve que lidar</p><p>com três pontos definitivos e específicos, diferentes do contexto da Alemanha. No Brasil, havia</p><p>grande número de negros e indígenas, considerados pelos nacional-socialistas como “sub-</p><p>raças”. Era inadmissível para a construção do Reich o contato com essas etnias. O próprio Adolf</p><p>Hitler discursara sobre essa questão. Em suas palavras,</p><p>“A América do Norte, cuja população decididamente na sua maioria se compõe de</p><p>elementos germânicos que só muito pouco se misturam com povos inferiores e de</p><p>cor, apresenta outra humanidade e cultura do que a América Central e do Sul, onde</p><p>os imigrantes, quase todos latinos, se fundiram, em grande número, com os</p><p>habitantes indígenas. Bastaria esse exemplo para fazer reconhecer clara e</p><p>distintamente o efeito da fusão de raças (...) 65</p><p>Outro ponto pertinente sobre a questão nacional gira em torno da distância entre</p><p>germânicos e teuto-brasileiros. Os alemães germânicos, os únicos que poderiam se filiar ao</p><p>partido, seguindo as orientações da A.O. (para manter a pureza de acordo com os princípios</p><p>ideológicos do Reich) tiveram de confrontar os teuto-brasileiros que aderiram à um movimento</p><p>fascista específico do contexto brasileiro: a Ação Integralista Brasileira (AIB). Esta organização</p><p>tivera laços estreitos com os nazistas em diferentes esferas. Simpatizavam com os mesmos</p><p>objetivos: eram conservadores, nacionalistas e anticomunistas. Prezavam por um Estado forte</p><p>e coeso. Contudo, disputavam o mesmo espaço de poder político, iniciado na esfera simbólica,</p><p>64 Idem, p. 128.</p><p>65 HITLER, Adolf. apud DIETRICH, Ana Maria. In: “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo,</p><p>2007. Tese (Programa de Pós-Graduação em História Social). p. 128.</p><p>41</p><p>como a cor das vestimentas, nas saudações, pois os integralistas utilizavam o “Anauê”, uma</p><p>palavra de origem tupi-guarani que significa “você é meu irmão”; e nos símbolos, uma vez que</p><p>este grupo usava o caractere grego “sigma” (Σ) como emblema, que possui significado de</p><p>“somatório”. Tudo isso equipara-se ao Heil Hitler e ao uso de suásticas pelos nazistas. Em</p><p>síntese, se os nazistas aproximaram-se dos integralistas, logo estariam em disputa simbólica</p><p>pela propagação ideológica e domínio do campo político, havendo inclusive o conflito entre</p><p>alemães germânicos e teuto-brasileiros.</p><p>O Partido Nazista no Brasil teve que lidar com um ponto extremamente delicado:</p><p>Getúlio Vargas. O presidente brasileiro possuía relações diplomáticas amistosas com a</p><p>Alemanha. Não havia objeções quanto aos nazistas no Brasil, que propagavam o ethos</p><p>germânicos nos periódicos, em festas e em instituições diversas. De 1928 à 1938, o partido</p><p>funcionou de forma livre. Com o advento do Estado Novo, entre os anos de 1937 e 1938, os</p><p>partidários passaram a sofrer processos de repressão por parte do Estado, a “caça às suásticas”.</p><p>Instituições trocaram de nome, o uso do alemão foi proibido nas igrejas, nas escolas e na</p><p>imprensa. Tudo pela nacionalização getulista. Acredita-se que até mesmo os alemães que nada</p><p>tinham ligação com o Nacional-Socialismo tenham sofrido forte repressão por parte da polícia-</p><p>política getulista. O Partido passa a atuar na clandestinidade a partir deste momento, atingindo</p><p>o ápice em 1942, quando o Brasil toma o lado dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Neste</p><p>ponto, os alemães passam a ser considerados inimigos do Estado e as organizações partidárias</p><p>passam a ser consideradas crimes de guerra. Era a queda sessão brasileira do Partido Nacional</p><p>Socialista dos Trabalhadores Alemães.</p><p>Desta forma, percebe-se como a atuação do nazismo no Brasil ocorre em aspectos muito</p><p>diferentes da atuação na Alemanha. As comemorações de datas especiais no Brasil pelos</p><p>alemães, por exemplo, estavam sujeitas às questões nacionais, como a obrigação em se executar</p><p>o hino brasileiro. O Partido precisou atuar, segundo as orientações da A.O., em esferas de apoio</p><p>à sede em Berlim, principalmente com subsídios financeiros, fruto de arrecadações dos</p><p>membros do partido no Brasil. Foi preciso também, respeitar as esferas locais, não interferindo</p><p>diretamente nas questões políticas nacionais. Então, em virtude de todas estas questões</p><p>singulares, acredita-se que o Partido Nazista no Brasil tenha sido “tropicalizado”.</p><p>42</p><p>Capítulo 03 – O Partido Nazista em Nova Friburgo.</p><p>Como apresentado no capítulo anterior, é possível dizer, com base em ampla literatura</p><p>acerca do nazismo e pautando-se na recente historiografia sobre os estudos do Nacional-</p><p>Socialismo e sua dispersão pelo globo, que estruturas específicas de cada local, sejam elas</p><p>políticas, culturais, sociais ou econômicas, influenciaram diretamente na forma de</p><p>funcionamento do Partido. Nesse sentido, Dietrich conceituou que no Brasil, o NSDAP foi</p><p>“tropicalizado”, significando que as questões nacionais brasileiras impossibilitaram ou</p><p>direcionaram os planos do partido. Durante a Era Vargas, como exemplo, o partido vivenciou</p><p>períodos de apoio e repulsão, mediante as ações getulistas do Estado Novo. Este capítulo tem</p><p>como objetivo investigar o funcionamento do Partido Nazista em Nova Friburgo, acreditando-</p><p>se que a “tropicalização” se afunila de região para região. Vale lembrar ainda, que não se trata</p><p>de uma análise definitiva, uma vez que faço uso de importante bibliografia como fonte</p><p>secundária, de historiadores que já analisaram estes aspectos. A diferença da abordagem que</p><p>será produzida consiste na relação com produções recentes sobre os estudos do nazismo no</p><p>Brasil e investigação de fontes primárias não abordadas em sua totalidade. Ainda há muito a</p><p>ser investigado.</p><p>Antes de iniciar a discussão específica deste item, é pertinente recapitular de forma</p><p>sintética alguns pontos da história de Nova Friburgo com ênfase na trajetória da imigração</p><p>europeia e alemã. Nova Friburgo era, durante o império, uma das maiores vilas da região</p><p>Centro-Norte fluminense e com notória capacidade produtiva. Ali, o comércio atuava de forma</p><p>considerável e de grande referência. Com a construção da estrada Leopoldina Railway, o café</p><p>produzido em Cantagalo, uma das mais importantes regiões do Vale do Paraíba, poderia ser</p><p>escoado até o Rio de Janeiro. Ainda durante o Primeiro Reinado, D. João VI iniciou um projeto</p><p>imigratório com a finalidade de “branquear” a população brasileira, tendo em vista que a Europa</p><p>era o modelo de civilização e sofisticação. Naquela altura do século XIX, propagava-se o</p><p>ethos66 burguês pelo mundo, e não existia exemplo melhor para personifica-lo do que o europeu.</p><p>No decorrer do Oitocentos, algumas levas de imigrantes se espalharam pelo Brasil, com</p><p>destaque para as regiões Sul e Sudeste. Gradativamente, a “Vila de São João Batista” crescia</p><p>em termos econômicos, populacionais e políticos até tornar-se a “Nova Friburgo”.</p><p>66 De acordo com Pierre Bourdieu, ethos são as características que classificam um grupo e orientam,</p><p>silenciosamente, a conduta de um indivíduo, de acordo com seus costumes, signos, tradições e outros vínculos de</p><p>sociabilidade comuns. BOURDIEU, Pierre. “O Poder Simbólico”. Rio de Janeiro, Edições 70, 2014, p. 57.</p><p>43</p><p>Os primeiros imigrantes foram os suíços, tão logo seguidos pelos alemães. No</p><p>centenário de Nova Friburgo, em 1918, Galdino do Valle Filho67, jornalista, médico e com</p><p>grande capital político68 foi o responsável pela criação do mito da “suíça brasileira”. Desta</p><p>forma, Nova Friburgo tentava apagar o seu passado com a escravidão, considerada retrógrada,</p><p>valendo-se do poder simbólico exercido por importantes personalidades políticas para criar o</p><p>mito da Suiça Brasileira: a terra construída por mãos de imigrantes europeus. Este contexto</p><p>demonstrava o plano de Galdino do Valle Filho, representante do grupo liberal que almejava</p><p>industrializar Nova Friburgo. Para isso, fazia-se necessário construir uma “comunidade</p><p>imaginada”69, que funcionasse como atrativo aos imigrantes e à industrialização. O potencial</p><p>populacional e simbólico aguardava apenas pelo capital econômico e industrial, para que estes</p><p>pontos somados construíssem a Nova Friburgo, industrializada, sofisticada e forjada pelas mãos</p><p>da civilização europeia. Mas, por que a preferência pela Suíça e não pela Alemanha, se os</p><p>alemães se encontravam em maior número e possuíam maior capital social, político e</p><p>econômico? A justificativa se dá em virtude do contexto da Primeira Guerra Mundial, pois a</p><p>Alemanha era inimiga do Brasil na Grande Guerra. Logo, optou-se pela Suíça como a grande</p><p>referência da imigração europeia na cidade de Nova Friburgo. Todavia, isso não era nenhum</p><p>empecilho ao projeto liberal modernizador, pelo contrário. Serviu muito bem aos interesses das</p><p>elites industriais do capital estrangeiro.</p><p>Nova Friburgo possui uma relação próxima com a história alemã. Desde o século XIX,</p><p>imigrantes alemães propagaram-se pela região e foram se estabelecendo gradativamente. Com</p><p>eles, muitas práticas culturais e de sociabilidade foram trazidas, destacando-se as instituições,</p><p>como a Igreja Luterana, a primeira da América Latina. Importantes famílias de alemães já</p><p>atuavam na cidade nos diversos ramos, desde as zonas agrícolas ao comércio, com destaque</p><p>para lojas, sapatarias e alfaiatarias. A ascensão germânica e sua expressiva atuação na cidade</p><p>se dá a partir de 1910, em virtude da conquista da concessão da exploração de energia na cidade</p><p>67 Importante político de Nova Friburgo, parte da corrente moderna favorável à industrialização, atuando na</p><p>oposição às oligarquias da Primeira República. Proprietário do jornal “A Paz”, militou assiduamente na imprensa</p><p>e na Câmara em favor da industrialização, conquistando a concessão da exploração de energia elétrica ao alemão</p><p>Julius Arp. COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova</p><p>Friburgo da República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 40.</p><p>68 O conceito de capital foi definido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieau em seu livro “O Poder Simbólico”.</p><p>Significa, em linhas gerais, a acumulação, de poderes em um determinado campo (político, econômico, social,</p><p>etc). Desta forma, permite ao indivíduo ou instituição</p><p>manifestar os status e prestígios acumulados em um</p><p>determinado campo, evidenciando sua posição de destaque. BOURDIEU, Pierre. “O Poder Simbólico”. Rio de</p><p>Janeiro, Edições 70, 2014.</p><p>69 O conceito de “comunidade imaginada” foi formulado por Benedict Anderson, com a tentativa de explicar</p><p>vínculos que unissem diferentes cidadãos por uma mesma causa ou propósito. Desta interação, formam-se laços</p><p>identitários intangíveis, que permitem a construção de uma comunidade tangível.</p><p>44</p><p>pelo industrial Julius Arp, com notória atuação de Galdino do Valle Filho na Câmara de Nova</p><p>Friburgo para a efetivação desta mudança. Galdino sofrera forte oposição, já que “o Legislativo</p><p>Municipal era contrário às pretensões de Galdino, pois a concessão da energia elétrica, de sua</p><p>competência, havia sido dada, em 1906, ao Coronel Antônio Fernandes da Costa, ligado à</p><p>facção política dominante”.70 A assídua militância de Galdino do Valle Filho na imprensa,</p><p>através de seu jornal “A Paz”, aliada com sua importância política na cidade e sua efetiva</p><p>participação na Câmara triunfaram, uma vez que a população passou a pressionar a Câmara</p><p>pela transferência da concessão. A exploração da energia era a condição primeira para a vinda</p><p>de indústrias teutônicas.</p><p>Nova Friburgo, que já contava com expressivo número de germânicos, seguiria com o</p><p>projeto de modernização industrial liderado por mãos alemãs. Com a conquista da exploração</p><p>de energia, o processo industrializador não tardaria acontecer.</p><p>“Logo, durante as décadas de 10 e 20, Friburgo via instaladas as primeiras</p><p>fábricas têxteis (Fábrica de Rendas ARP – MARKEIS SINJEN & CIA. – 1911;</p><p>Fábrica Ypu – MAXIMILIAN FALCK & CIA. – 1912; Fábrica Filó S/A – principais</p><p>acionistas: Gustav Siems e seu filho, Ernst Otto Siems – 1925) e outras, além da</p><p>criação da Companhia de Elitricidade, com capital privado do grupo Arp, o qual,</p><p>por sinal, teria ações em todas essas fábricas, constituindo-se no principal</p><p>representante dos capitais alemães em Friburgo.71</p><p>As fábricas tinham uma determinação fundamental para sua instalação na cidade de</p><p>Nova Friburgo. Além do conglomerado germânico atuante na região, a Alemanha enfrentava</p><p>uma forte crise pós Primeira Guerra Mundial. Vendo-se na necessidade de continuar com o</p><p>progresso dos negócios, coube aos industriais encontrar um local para a continuidade dos</p><p>processos produtivos. A cidade ofertava as condições necessárias para a instalação destes</p><p>industriais, como baixos impostos e mão-de-obra barata e abundante, que abrangia grande</p><p>número de mulheres, crianças, trabalhadores do campo e, obviamente, pessoas com raízes</p><p>teutônicas. Além disso, o historiador João Raimundo de Araújo determinou alguns fatores para</p><p>a instalação industrial em Nova Friburgo, tais como: 1) o Rio de Janeiro seria o principal</p><p>mercado consumidor dos artigos produzidos em Nova Friburgo, o que seria muito bom do</p><p>70 COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo</p><p>da República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 40.</p><p>71 Idem, p. 41.</p><p>45</p><p>ponto de vista econômico e estratégico, já que Friburgo detinha as condições necessárias para</p><p>ampla produção, e o Rio contava com um amplo mercado e capacidade de recepção e</p><p>exportação; 2) Julius Arp tinha como primeira intenção instalar as fábricas alemãs em Santa</p><p>Catarina, local que, assim como o Rio de Janeiro, contava com expressivo número de alemães.</p><p>Contudo, os altos impostos catarinenses, que eram inexistentes no Rio, influenciaram para a</p><p>tomada de decisão por Nova Friburgo; 3) por fim, Friburgo já contava desde o século XIX com</p><p>expressiva colônia alemã, incluindo a Igreja Luterana e um cemitério alemão, além do fato de</p><p>que a cidade ofertava forte infraestrutura urbana, pontos estes que garantiriam o sucesso e o</p><p>conforto. 72 Iniciada por Peter Julius Arp, considerado “Conselheiro” pelo Kaiser alemão, e</p><p>continuada por Maximilliam Falck e Otto Siems, foram os responsáveis por fundar as</p><p>respectivas fábricas Arp, Ypu e Filó, da qual concentrava grande contingente de trabalhadores</p><p>e contribuía de forma considerável para a produção industrial do Estado73. A atuação destes</p><p>personagens garantiu-lhes o status de formarem a “Trindade Teutônica”. Friburgo tornava-se,</p><p>a partir dos investimentos destes homens, uma cidade expressiva no cenário nacional. Desta</p><p>forma, os alemães constituíram forte capital econômico, político e simbólico na Nova Friburgo</p><p>republicana, da qual influenciaram de forma singular a sociedade friburguense dos anos 30.</p><p>Como afirma o historiador Ricardo Gama da Costa, Nova Friburgo chegava aos anos 30</p><p>como uma das principais cidades do interior do Estado, com uma população estimada em</p><p>37.000 mil habitantes, dos quais mais da metade residiam no Primeiro Distrito, local onde</p><p>concentrava-se as principais indústrias, que arregimentavam aproximadamente 5.000 mil</p><p>trabalhadores. Além do alto número de proletários, destacavam-se também o setor de turismo</p><p>e hotelaria, em conjunto com o comércio. 74</p><p>Os industriais alemães Julius Arp e Maximilliam Falck fundaram em 1921 a Deutscher</p><p>Schul und Kirchenverein, ou Sociedade Alemã de Escola e Culto, com a finalidade de</p><p>integralizar a colônia alemã de Nova Friburgo e difundir os costumes germânicos. A</p><p>comunidade germânica estaria reunida em um espaço de sociabilidade, na qual estava presente</p><p>a Igreja Luterana e também uma escola para filhos de operários. A Sociedade possibilitava aos</p><p>72 ARAÚJO, João Raimundo de. Indústria em Nova Friburgo. In: “Teia Serrana”. Rio de Janeiro, Editora Ao Livro</p><p>Técnico, 2003, p. 185.</p><p>73 O periódico germânico “Der Deutsche Zeitung”, publicado no Rio de Janeiro, noticiava em março de 1928, data</p><p>do aniversário de Arp, elogios através de um longo artigo, como “o que ele tem desenvolvido como membro da</p><p>colônia alemã, servindo a sua cultura em atuação extraordinária não deixa nada a desejar em relação a sua</p><p>atividade comercial [...]” FISCHER, E. C. “Uma História em Quatro Tempos”, N. Friburgo, Tipografia da</p><p>Fábrica de Rendas Arp, 1986.</p><p>74 COSTA, Ricardo Gama da. Os Anos Trinta: A Escalada Autoritária. In: “Teia Serrana”. Rio de Janeiro, Editora</p><p>Ao Livro Técnico, 2003, p. 242.</p><p>46</p><p>industriais consultar os sobrenomes das famílias filiadas e assim, priorizar os germânicos para</p><p>o trabalho nas indústrias alemãs. Até 1942, a Sociedade Alemã de Escola e Culto funcionaria</p><p>de forma aberta, com notoriedade na cidade de Nova Friburgo. Seu nome estaria presente em</p><p>importantes eventos e festas comemorativas do Brasil e da Alemanha. Para além das</p><p>manifestações culturais, a Sociedade tinha o papel fundamental de propagar a germanidade</p><p>entre os seus, tanto pela religião, como por aulas de alemão oferecidas aos membros e acima</p><p>de tudo, pelas festividades promovidas em memória à pátria mãe.</p><p>Os anos de 1930 seriam de muita importância para a comunidade germânica em todo o</p><p>mundo. A ascensão do Nazismo pelas mãos de Adolf Hitler era vista com muito bons olhos</p><p>pela comunidade alemã de Nova Friburgo. Logo, muitos teuto-friburguenses passariam a bradar</p><p>com orgulho a suástica que havia restaurado a glória da sua pátria-mãe, fazendo da Alemanha</p><p>uma potência mundial novamente. No mesmo caminho, importantes alemães que estiveram</p><p>envolvidos com Galdino do Valle Filho no processo de modernização e industrialização de</p><p>Friburgo passariam a aliar seus discursos com as bandeiras do Nacional-Socialismo, opondo-</p><p>se ferrenhamente ao Comunismo e o Liberalismo ocidental. O capitalismo deste grupo</p><p>preenchia-se de conservadorismo aos modos germânicos da Alemanha de Adolf Hitler.</p><p>Como já apresentado no primeiro capítulo, o historiador Luís Edmundo de Moraes</p><p>mapeou 2822 membros do Partido Nazista distribuídos no Brasil até o ano de 1941. O Brasil</p><p>contava com</p><p>um número de 89.071 alemães residentes, de acordo com o senso de 1939, dos</p><p>quais 2490 estavam filiados às células do Partido Nazista pelas regiões Sul e Sudeste. Deste</p><p>número, 1339 membros partidários estavam na região Sudeste, mais especificadamente, 41</p><p>membros no Espírito Santo, 66 membros em Minas Gerais, 447 membros no Rio de Janeiro e</p><p>785 membros em São Paulo. Dos 447 partidários no Rio de Janeiro, 44 estavam em Nova</p><p>Friburgo, que só ficava atrás de Niterói, com 53, e da capital, com 26775. Da análise destes</p><p>números, é possível perceber a expressão de Nova Friburgo para o funcionamento do Partido</p><p>Nazista no Brasil. Vale lembrar, como já destacado nas páginas anteriores, que a filiação ao</p><p>NSDAP não era por qualquer membro. Em determinado ponto, até mesmo os teuto-brasileiros</p><p>foram impedidos de se filiarem, quando a participação fora restringida, de acordo com a</p><p>Auslandsorganization (AO), aos alemães que possuíssem cidadania alemã.</p><p>75 MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e</p><p>a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade</p><p>Federal do Rio de Janeiro. pp. 195-197.</p><p>47</p><p>Como as principais lideranças do Partido Nazista de Nova Friburgo eram também</p><p>importantes membros das direções das indústrias e, consequentemente, membros eméritos da</p><p>Sociedade Alemã de Escola e Culto, a instituição passou a ser também a sede dos partidários</p><p>do Partido Nazista residentes em Nova Friburgo. A sociedade tinha por princípios integralizar</p><p>a comunidade germânica presente na cidade, promovendo eventos e comemorações, tendo por</p><p>finalidade criar vínculos entre as diferentes famílias teutônicas residentes na região. Além das</p><p>datas comemorativas alemãs, como o dia do Trabalho em 1º de Maio76, muito comemorado</p><p>pelos trabalhadores na Europa, a Sociedade Alemã também oferecia atividades diversas, como</p><p>curso de alemão aos integrantes, também adotado pela Escola que era voltada ao filho dos</p><p>membros, reconhecida por sua rigidez. O ponto primordial da Sociedade consistia na interação</p><p>entre os diferentes alemães. Ao se tornarem membros efetivados, além de desfrutarem das</p><p>instalações, dos espaços de lazer, dos serviços, ritos e festas promovidos pela Sociedade, os</p><p>associados eram também categorizados e classificados, formando uma espécie de irmandade</p><p>germânica. Uma vez que as principais indústrias friburguenses estavam sob controle de</p><p>dirigentes alemães, os membros eram gradativamente alocados nos postos das fábricas.77 No</p><p>ano de 1933, um fato muito inusitado foi responsável por grande comoção entre os operários</p><p>de uma fábrica, repercutindo em escala nacional e que culminou em um terrível desfecho. Este</p><p>episódio será melhor detalhado em parágrafos seguintes e comprova tal favorecimento dos</p><p>alemães pelos industriais de Nova Friburgo.</p><p>Os anos 1930 marcam também o apoio irrestrito aos regimes ditatoriais, devido à</p><p>falência das economias liberais após os eventos da crise norte-americana de 1929. A grande</p><p>depressão que atingia o mundo capitalista encontrava forte oposição e resistência por todo o</p><p>globo, enquanto simpatizantes se apegavam aos modelos centralizadores de Benito Mussolini</p><p>e Adolf Hitler como forma de oposição e superação. Em Nova Friburgo, o periódico O</p><p>Friburguense noticiava, após os eventos da Revolução de 1930 que depusera os antigos</p><p>princípios da República Oligárquica e lançara Getúlio Vargas ao poder, pelas mãos do colunista</p><p>Helio de Araújo Maia, a manchete “Ditadura de mais? Não. Ditadura de menos”78, defendendo</p><p>a força de um regime centralizado e forte, capaz de controlar uma nação.</p><p>76 COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo da</p><p>República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 80.</p><p>77 SILVA, Luiz Henrique da. Um Mundo na Sociedade. Nova Friburgo, Atlas Artes Gráfica, 1990, p. 35.</p><p>78 COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo da</p><p>República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 65.</p><p>48</p><p>Os impactos da Primeira Guerra Mundial e da Crise de 1929 lançaram à Alemanha ao</p><p>colapso econômico, como já apresentado no primeiro capítulo. Adolf Hitler, contudo, faria dos</p><p>anos 1930 primordiais para a recuperação econômica da Alemanha e consequentemente,</p><p>justificando o carisma de diversos simpatizantes ao redor do mundo por seu carisma. A</p><p>Sociedade Alemã de Escola e Culto atuou como palco de diversos encontros e reuniões da</p><p>comunidade germânica de Nova Friburgo, que comemoravam as festividades alemãs, como o</p><p>“Dia do Trabalho” instituído em Primeiro de Maio por Hitler desde 1932, e o “Dia do Colono”,</p><p>estabelecido pelo então prefeito Hugo Motta, em 1935. Além das recorrentes reuniões solenes</p><p>e das cerimônias que aconteciam na Sociedade, a recuperação econômica da Alemanha passou</p><p>a ser também motivo de grande euforia entre a comunidade teutônica de Nova Friburgo. Como</p><p>destaca o historiador Ricardo Gama da Costa, “Nos anos 30, a colônia alemã de Friburgo se</p><p>reunia com frequência na sede da Sociedade para comemorar o retorno de seu país natal à</p><p>condição de potência europeia, recuperando-se da situação considerada por eles humilhante</p><p>ao fim da Primeira Guerra Mundial.”79 Importantes jornais como O Friburguense e O Nova</p><p>Friburgo noticiaram diversas ocasiões de expressivas reuniões entre os anos de 1932 e 193980</p><p>ocorridas na Sociedade Alemã, com menção honrosa ao nome de Hitler e ostentação à suástica</p><p>do Reich Alemão, além de muitas colunas de apoio aos seus feitos políticos do período</p><p>antecedente à Segunda Guerra Mundial.</p><p>No editorial de 22 de Dezembro de 1932, O Nova Friburgo informava sobre a</p><p>solenidade de Natal ocorrida no salão principal da Sociedade Alemã, o qual estava</p><p>esplendorosamente ornamentado para a ocasião. Membros da comunidades germânica e italiana</p><p>desfrutaram de boa música, comida e bebida. Os partidários do Nacional-Socialismo estavam</p><p>à caráter com suas “camisas-pardas”, juntamente com membros apoiadores do fascismo</p><p>italiano, igualmente à rigor. A comemoração do Natal dava espaço para o enaltecimento de</p><p>Adolf Hitler e seus feitos na Alemanha81, o qual a coluna descrevia a doutrina Nacional-</p><p>Socialista como portadora de “milhões de apoiadores por todo o globo”. Desta forma, não seria</p><p>diferente que a comunidade alemã de Nova Friburgo se mobilizasse, pois havia motivos para</p><p>festejar. A manchete ainda descrevia que “à frente do palco estendiam-se os pavilhões</p><p>brasileiro e allemão, e ao fundo via-se uma allegoria, de onde se destacava entre flores e</p><p>79 Idem, p. 77.</p><p>80 Mesmo após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em pleno poder do Estado Novo, ainda circulava menções</p><p>ao Nacional-Socialismo. Este tipo de prática torna-se extinto de forma definitiva apenas em 1942, quando o Brasil</p><p>entra no conflito global ao lado dos aliados, declarando guerra à Alemanha.</p><p>81 no contexto das eleições presidenciais alemãs de 1932, que mesmo com a derrota de Hitler, o levaram à</p><p>nomeação ao posto de Chanceler do Reich pelo então presidente Hindenburg.</p><p>49</p><p>emblemas característicos, a esffigie de Adolf Hitler.”82 A festividade foi interrompida poucas</p><p>vezes, apenas para os discursos de Edmund Weber, membro da colônia alemã, que ao fim de</p><p>sua fala bradou “viva à Benito Mussolini”, sendo calorosamente correspondido. Emílio Cleff,</p><p>diretor da Fábrica Ypu e líder dos nacional-socialistas em Nova Friburgo, encerrou o discurso.</p><p>“Encerrando o programa, o Sr. Emilio Cleff, estimado diretor-gerente da Fábrica</p><p>Ypu, figura de elevado conceito na família friburguense, elemento de alto destaque</p><p>na Sociedade Alemã, e chefe dos nacionais-socialistas</p><p>nesta localidade, proferiu</p><p>emocionante alocução, enaltecendo a personalidade e os ideais de Hitler e</p><p>apontando os deveres que cabem aos alemães no Brasil para com a pátria e para</p><p>com a generosa terra que tão gentilmente os hospeda, sendo as suas últimas</p><p>palavras abafadas por uma estrepitosa salva de palmas.” 83</p><p>Terminada a fala de Emilio Cleff, o salão principal reverberaria novamente com o som</p><p>de violinos e demais instrumentos da orquestra local, muito elogiada na ocasião, dando</p><p>continuidade à festa.</p><p>Solenidades como a comemoração do Natal de 1932 pela comunidade germânica</p><p>tornaram-se comuns nos anos 30. O salão principal da Sociedade Alemã de Escola e Culto seria</p><p>por diversas vezes adornado com as cores do Reich Alemão, na qual erguiam-se suásticas,</p><p>cantavam-se o hino do Brasil e da Alemanha e professavam-se calorosos discursos em</p><p>homenagem à Adolf Hitler. O dia do Trabalho Alemão, comemorado em 1º de Maio de 1933,</p><p>foi também de grande comoção na Sociedade Alemã, noticiado pelo periódico O Friburguense.</p><p>Deste evento, participaram novamente, os executivos das principais indústrias, como Richard</p><p>Otto Ihns, que enalteceu a comunidade germânica.</p><p>No dia 20 de Abril de 1935, a Sociedade entrava em ritmo caloroso de festa para</p><p>comemorar o aniversário de 46 anos de Adolf Hitler. Nesta solenidade, estavam presentes o</p><p>presidente da Sociedade Alemã, Frederico Writte, além de Edmundo Weber, Richard Ihns,</p><p>Emilio Cleff e outros importantes nomes ligados aos industriais alemães e ao Nacional-</p><p>Socialismo. Sob os gritos eufóricos de “viva o Brasil” e “viva a Alemanha”, a cerimônia</p><p>prosseguiu com muita música, comes e bebes, com discursos acalorados e com a execução dos</p><p>hinos do Brasil e da Alemanha. Estavam presentes também membros da comunidade italiana e</p><p>82 O Nova Friburgo, 22/12/1932, p. 3</p><p>83 Idem.</p><p>50</p><p>simpatizantes do Fascismo, assim como membros da Ação Integralista Brasileira (AIB),</p><p>liderados pelo professor Júlio Ferreira Caboclo, do qual proferiu calorosa saudação à Adolf</p><p>Hitler. Os membros da AIB também estavam devidamente trajados, com suas vestimentas</p><p>oficiais e ostentando o emblema do sigma (Σ) em seus braços. As comemorações foram</p><p>iniciadas com o discurso de Hanz Abendroth, secretário da Sociedade Alemã, o qual proferiu a</p><p>trajetória de Adolf Hitler, enfatizando os dias de soldado na Primeira Guerra, o colapso da</p><p>Alemanha pós-Guerra, a ruína dos dias durante a depressão econômica e a escalada do Partido</p><p>Nacional-Socialista e sua triunfante ascensão ao posto de Chanceler do Reich. Outras ilustres</p><p>personalidades também participaram ativamente da festividade, como o professor J. Nunes da</p><p>Rocha e o Sr. José Mastrangelo, representante da Associação Comercial e da Liga dos</p><p>Proprietários, responsáveis por proferirem o principal discurso do dia, o qual parabenizava à</p><p>Adolf Hittler, chefe da “nobre nação alemã”, do qual os feitos possibilitaram a redenção e</p><p>crescimento da pátria. Também louvavam à Trindade Teutônica, composta por Julius Arp,</p><p>Maximillianus Falck e Otto Siems, fundadores das primeiras indústrias alemãs em Nova</p><p>Friburgo. Desta forma, a comunidade germânica abarrotava os salões da Sociedade Alemã e</p><p>comemorava o 46º aniversário de Adolf Hitler.84</p><p>No dia 06 de Agosto de 1936, a manchete principal do jornal O Nova Friburgo</p><p>divulgava a festividade ocorrida na Sociedade Alemã. Na ocasião, participaram muitas pessoas</p><p>e membros das comunidades alemã, italiana e suíça. Mais uma vez, o salão principal da</p><p>Sociedade resplandecia beleza, estando este altamente ornamentado e caracterizado com faixas</p><p>e cartazes, além das bandeiras da Suíça, do Brasil e da Alemanha Nazista. O motivo da</p><p>comemoração era o “Dia do Colono”, que havia sido instituído pelo então prefeito de Nova</p><p>Friburgo, Hugo Motta.</p><p>As festividades que ocorriam na Sociedade Alemã eram símbolo da força que a</p><p>comunidade germânica detinha na sociedade friburguense dos anos 30, evidenciando-se o poder</p><p>simbólico deste grupo. Não se tratava apenas das comemorações e reuniões; eles ostentavam o</p><p>título de “principal colônia” e matriz da industrialização de Friburgo. Isso está claro quando</p><p>importantes setores de Nova Friburgo garantiam apoio ao grupo germânico, como evidenciado</p><p>nos editoriais dos principais jornais da cidade – que em si, já garantiam apoio à comunidade</p><p>alemã. Personalidades notórias, atuantes nos ramos da indústria e comércio, participantes de</p><p>tradicionais instituições e que tinham, por algum motivo, ligações diretas com os membros da</p><p>84 O Nova Friburgo, 28/04/1935.</p><p>51</p><p>comunidade germânica e com o diretório do partido Nacional-Socialista friburguense, que por</p><p>sua vez, eram pessoas de muito prestígio social em virtude da concentração de capital político,</p><p>fruto de um processo histórico e da construção de uma comunidade imaginada.85 Emílio Cleff,</p><p>o líder dos Nacional-Socialistas de Nova Friburgo, era diretor-gerente da fábrica Ypu, homem</p><p>de muito prestígio na cidade e em meio à comunidade alemã. 86 Em conjunto com Cleff,</p><p>estavam Edmundo Weber e Richard Otto Ihns, pessoas que também ocupavam altos cargos nas</p><p>principais indústrias e gozavam de alto prestígio social.</p><p>Um episódio notório e que nos auxilia na ideia de que estes homens eram grandes</p><p>detentores de capital político foi a greve geral ocorrida na fábrica de Rendas Arp, no ano de</p><p>1933. Dentre os principais fatores da greve, estava a coerção do gerente da fábrica, Richard</p><p>Ihns, com os trabalhadores alemães, em conjunto com sua severidade com os demais operários.</p><p>Em editorial do dia 12 de Janeiro, o jornal O Nova Friburgo dedicou inúmeras páginas para a</p><p>tragédia ocorrida com grevistas, que reivindicavam melhores condições de trabalho e</p><p>condenavam assiduamente a postura de Richard Ihns frente à gerência da fábrica, com o</p><p>beneficiamento dos alemães e o martírio dos outros operários. Segundo o editorial,</p><p>“alegam os grevistas, em sua quase totalidade, que o senhor Richard Ihns, além de</p><p>admoestai-os, sem causas justificáveis, com palavras ásperas de não responder</p><p>sequer à um simples cumprimento de cortesia e de permitir que no fim das</p><p>quinzenas o envelope de pagamento contivessem quantias inferiores àquelas que</p><p>deviam encerrar, ainda teve o desplante de despedir seis operários, com a pseuda</p><p>paralização de várias máquinas, a fim de colocar com o salário assim obtido, um</p><p>de seu compatriota.87</p><p>Além da demissão de seis operários, houve a demissão de um sétimo, que ocupava o</p><p>cargo de supervisor e detinha 14 anos de fábrica, sendo respeitado por quase todos os operários</p><p>da fábrica de Rendas. Assim como o jornal relata, as somas dos funcionários demitidos eram</p><p>destinadas ao salário de trabalhadores alemães, assim como seus cargos.</p><p>85 O processo de industrialização, com a instalação das primeiras indústrias alemãs e consequentemente, com o</p><p>rápido crescimento econômico, garantiram o status que os membros da comunidade germânica ostentava na Nova</p><p>Friburgo dos anos 30, o de patriarcas do desenvolvimento da cidade.</p><p>86 Como noticiado pelo editorial do jornal O Nova Friburgo, dia 22 de Dezembro de 1932.</p><p>87 O Nova Friburgo, 12/01/1933, p. 1-2.</p><p>52</p><p>Este episódio rendeu fortes acusações ao senhor Richard Ihns, convocando a</p><p>participação de importantes pessoas na investigação dos acontecimentos, como o prefeito Hugo</p><p>Motta, o conselheiro Julius Arp – patrono da fábrica em que Ihns exercia o cargo de gerência –</p><p>, Dante Laginestra e Antonio Soares Macedo, suplente de delegado e subdelegado,</p><p>respectivamente e Augusto Cardoso, colaborador do jornal O Friburguense. Além destas</p><p>personas, estiveram presentes também a diretoria do sindicato de Nova Friburgo, o</p><p>representante da federação proletária do Estado do Rio e o representante do Ministro</p><p>do</p><p>Trabalho, Pedro dos Santos. Todos estes estiveram presentes na comissão que investigava e</p><p>acusava o senhor Richard Ihns, comprovando a notoriedade do caso não apenas em esfera</p><p>municipal, mas também estadual e federal. O Nova Friburgo criticava ferrenhamente o</p><p>desenrolar dos acontecimentos, afirmando que “engana-se redondamente o sr. Richard Ihns,</p><p>pretendendo implantar o seu velho regime na Fábrica de Rendas, porque com os que ali</p><p>trabalham estamos nós, estão as altas autoridades da República e está, finalmente, a população</p><p>de Nova Friburgo.”88 O editorial exigia a cabeça de Richard Ihns, por sua falta de compaixão</p><p>e destreza administrativa e o favorecimento de compatriotas, ao mesmo tempo que inocentava</p><p>Julius Arp, pela sua importante contribuição para o desenvolvimento da cidade de Nova</p><p>Friburgo.</p><p>A greve, por sua vez, não seria o apogeu dos acontecimentos. A principal manchete da</p><p>edição do Nova Friburgo trazia os dizeres “a polícia assassinou, miseravelmente, um inditoso</p><p>jovem, ferindo quatorze operários, sem causa justificável”. O jovem assassinado era Licinio</p><p>Teixeira, de 21 anos. Operário na fábrica de Rendas há algum tempo, acabou sendo vítima de</p><p>um acidente e perdendo uma de suas mãos. Sua mãe, com a saúde debilitada, não resistiu ao</p><p>brutal acontecimento com o filho e acabou morrendo. Licinio era responsável ainda por cuidar</p><p>de seu pai, que naquele momento, encontrava-se paralítico. Todo este cenário de plano de fundo</p><p>era ainda complementado pelos punhos de ferro do sr. Richard Ihns para com o jovem operário.</p><p>Na praça Julius Arp, com a esquina da rua Baroneza, aguardavam pacificamente um grupo de</p><p>grevistas, que ansiavam com esperança pela resolução dos recentes acontecimentos da greve,</p><p>quando foram surpreendidos por um grupo de policiais, que liderados pelo cabo Altamiro</p><p>Galdino da Silva, foram ordenados a disparar contra os grevistas. Licinio foi atingido e morreu</p><p>na hora, enquanto seus colegas ficaram feridos. No dia seguinte, enquanto seus colegas</p><p>encontravam-se feridos na Santa Casa, seu corpo passou por um procedimento de autópsia,</p><p>sendo posteriormente liberado para o sepultamento. Na Igreja Matriz, um grande número de</p><p>88 O Nova Friburgo, 12/01/1933, p. 1-2.</p><p>53</p><p>pessoas se fez presente para prestar as últimas homenagens à Licinio, havendo forte comoção</p><p>pela tragédia iminente. De acordo com O Nova Friburgo,</p><p>“chovia copiosamente, mas, mesmo assim, a esse enterro compareceram as</p><p>sociedades musicais Euterpe e Campezina, todas as autoridades, a Associação</p><p>Catholica da Juventude Friburguense, o funcionalismo municipal, estadual e</p><p>federal, o operariado do cidade, as diretorias de todas as associações de classe</p><p>que possuímos, representantes da imprensa local, de Nictheroy e de Bom Jardim e</p><p>compacta massa popular.89</p><p>Também estiveram presentes o prefeito de Nova Friburgo, Hugo Motta, o dr. Joubert</p><p>Silva, chefe de polícia, Gastão Reis, prefeito de Bom Jardim, Gusmão Filho, 1º delegado</p><p>auxiliar, Euclydes Solon de Pontes, promotor público da comarca de Nova Friburgo, o sr.</p><p>Arlindo Américo dos Santos, redator da “Gazeta Operária” de Niterói, Antonio Monteiro e</p><p>Benoir Sortain, representantes da Federação proletária do Estado do Rio; pela diretoria e pelos</p><p>membros do conselho fiscal do sindicato de Nova Friburgo, além dos representantes das</p><p>fábricas Ypú e Filó e de várias associações operárias de Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo.</p><p>Antes de chegar ao cemitério, o corpo do jovem seguiu em procissão. Parando na praça Julius</p><p>Arp, o tio de Licinio, Bazileu Dias, proferiu emocionante discurso em defesa de seu sobrinho,</p><p>afirmando este ser um rapaz bom, dotado de honestidade e trabalho árduo durante toda sua vida,</p><p>ao mesmo tempo que acusava a frieza da polícia e das diversas autoridades que compartilharam</p><p>com o terrível homicídio.</p><p>Dias após o ocorrido, o conselheiro Julius Arp negociava com as lideranças sindicais as</p><p>reinvidicações dos grevistas, chegando ambas as partes ao acordo. O curioso fato deste história</p><p>é que Richard Ihns, o grande responsável pela comoção operária, não seria exonerado do cargo</p><p>de gerente, como se especulava na matéria do Nova Friburgo. Muito pelo contrário. Ihns não</p><p>apenas manteve seu cargo, como tempos depois, seria promovido ao posto de diretor. É inegável</p><p>que ele concentrava inúmero capital político em suas mãos. O problema maior orbita a</p><p>recomendação da Auslandsorganization (AO)90, de que os membros não poderiam interferir</p><p>diretamente na política local ou colocar em evidência as diretrizes partidárias. As atitudes do</p><p>sr. Richard Ihns feriram diretamente esta recomendação, uma vez que a questão tomou maior</p><p>89 O Nova Friburgo, 12/01/1933, p. 1-2.</p><p>90 Como apresentado no Primeiro Capítulo.</p><p>54</p><p>proporção, atingindo as esferas estadual e federal, mobilizando não apenas a imprensa, como</p><p>também entidades políticas do município e da República, sem falar da grande comoção popular.</p><p>A imposição partidária sobre a Sociedade Alemã de Escola e Culto acarretou na cisão</p><p>entre os sócio proprietários, entre àqueles que eram favoráveis ao Nacional-Socialismo e aos</p><p>que não faziam questão de seguir a ideologia de Adolf Hitler. O patrono da “nazificação” da</p><p>Sociedade foi Maximilian Falck, este que seria confrontado pelo Conselheiro Julius Arp, Otto</p><p>Siems e Hans Gaiser, proprietários das fábricas Arp, Filó e Haga, respectivamente. Esta cisão</p><p>tornou-se um problema maior, uma vez que os germânicos professavam o luteranismo como fé,</p><p>e acabaram dividindo-se. A comunidade luterana, em crise, dividida por duas correntes</p><p>ideológicas, contou com o auxílio do pastor Johannes Schlupp91, que nos anos de 1935, seria</p><p>responsável por resolver os problemas e promover novamente a paz. De acordo com Maria</p><p>Janaína Botelho Correa, “Sua orientação para a união dos evangélicos luteranos foi a de que</p><p>deveriam ficar afastados da política interna da Alemanha e manter-se unidos em razão de</p><p>possuírem a mesma cultura, tradição e professarem o mesmo credo”.92 O pastor Schlupp</p><p>obteve sucesso em sua empreitada, apaziguando os ânimos entre os lados da Sociedade Alemã.</p><p>Ele permaneceria à frente da comunidade luterana até a década de 1980. Acredita-se que não</p><p>houve uma posterior tentativa de imposição ideológica, visto que não há relatos nos periódicos</p><p>da época, tamanha a importância da instituição e sua circularidade. Ainda assim, os eventos</p><p>pró-nazismo, como o aniversário de Adolf Hitler em 1936, seriam comemorados nos anos</p><p>seguintes.</p><p>Teria os partidários friburguenses alguma atividade de contribuição direta pelo</p><p>Nacional-Socialismo? Como abordado no Primeiro Capítulo, Dietrich informa que os partidos</p><p>eram comumente divididos em duas esferas: as sedes, situados nos centros urbanos, e as células,</p><p>localizadas nas zonas de interior. Em linhas gerais, as células eram responsáveis por dar suporte</p><p>às sedes. Nova Friburgo contava com 44 membros da Seção brasileira do NSDAP, e além</p><p>destes, estavam os simpatizantes do partido conhecidos como “Juventude Hitlerista”, jovens</p><p>que ostentavam as suásticas como manifestação de apoio ao Nacional-Socialismo alemão, e a</p><p>“Associação de Mulheres Alemãs”, que participavam na organização de eventos e nas questões</p><p>filantrópicas. Também fazia parte a Deutsche Arbeitsfront (DAF), popularmente conhecida</p><p>como “Frente do Trabalho Alemão”. Este grupo existia em função da substituição dos</p><p>91 Enviado pelo Sínodo no dia 1º de Fevereiro daquele ano.</p><p>92 CORREA, Maria Janaína Botelho. “Memórias sobre o Nazismo em Nova Friburgo”. In: Histórias e Memória</p><p>de Nova Friburgo. Rio de Janeiro, Educam, 2011, p. 362-367.</p><p>55</p><p>sindicados, que eram então considerados controlados por comunistas. Em editoriais do</p><p>periódico Deutscher Morgen (Aurora</p><p>Alemã), como do dia 30 de Abril de 1937, consta o nome</p><p>de Nova Friburgo como importante núcleo do DAF no estado do Rio de Janeiro, no qual os</p><p>membros deveriam contribuir com uma mensalidade, de acordo sua renda demarcada em uma</p><p>tabela, e teriam portanto alguns direitos e benefícios, como tratamento médico.</p><p>Em diversos editoriais do jornal, dos anos de 1933 aos anos de 1941, existem menções</p><p>à Friburgo, em propagandas de estabelecimentos como hotéis, bares e restaurantes. Todavia, o</p><p>enaltecimento da cidade serrana ocorre em diversos momentos. Na edição de 17 de Novembro</p><p>de 1933, é apresentada uma tabela que destaca as cidades e os valores arrecadados por cada</p><p>subsede do partido, valor este que seria destinado para auxiliar no inverno dos trabalhadores</p><p>alemães. Naquela ocasião, Nova Friburgo havia contribuído com a expressiva quantia de</p><p>5:511$000 (cinco contos de réis e quinhentos e onze mil réis)93, recebendo inúmeras felicitações</p><p>do editorial por tal feito. “Für Nova Friburgo ein glänzendes Ergebnis!”94</p><p>No dia 2 de Outubro de 1936, o Deutscher Morgen noticiava importante</p><p>confraternização na Sociedade Alemã, havendo a presença dos representantes do partido do Rio</p><p>de Janeiro. Já em 5 de Maio de 1939, meses antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o</p><p>Aurora Alemã estampava foto dos membros do Nacional-Socialismo em frente ao prédio da</p><p>nova sede, na Avenida Rui Barbosa, que contava com amplo salão, biblioteca e áreas de lazer</p><p>diversas, além de amplo espaço para a prática de esportes. Estiveram presentes à inauguração</p><p>da nova casa importantes pessoas filiadas ao Partido Nazista, como o Sr. Gödde, representante</p><p>de uma importante transportadora de negócios alemã no Rio de Janeiro, e o Sr. Steffin, chefe</p><p>da Confederação do Recreativo de Alemães. Estes foram recepcionados com as sinceras</p><p>palavras do Sr. Cleff,, líder dos nacional-socialistas de Nova Friburgo, que após caloroso</p><p>discurso que enfatizava a força da Comunidade Germânica e do Reich Alemão, prosseguiu com</p><p>as comemorações, incluindo execução do hino da Alemanha e exibição musical da orquestra</p><p>local. A coluna era concluída com um caloroso viva aos germânicos de Nova Friburgo,</p><p>exaltados porque, aos olhos dos simpatizantes do Nacional-Socialismo, em muito estavam</p><p>contribuindo em benefício do povo alemão.95</p><p>93 Se comparado ao real, o conto é equivalente ao milhão. Ou seja, algo em torno de cinco milhões e quinhentos e</p><p>onze mil. Desta forma, optamos em não levar em consideração o valor exato em números reais e inflacionários,</p><p>apenas o das unidades de medida.</p><p>94 “Para Nova Friburgo, um resultado brilhante!”</p><p>95 Deutscher Morgen, 05/05/1939.</p><p>56</p><p>A notoriedade do Nacional-Socialismo em Nova Friburgo pode ser compreendida</p><p>também pelas inúmeras visitas que a liderança da Seção brasileira do partido, Hans Henning</p><p>von Cossel, empreendia até a cidade. Contundo, ainda não foram investigadas fontes que</p><p>comprovem de forma concreta os objetivos de tais visitas, sejam elas pela imprensa local ou</p><p>pelo Deutscher Morgen, o qual o próprio Cossel chegou a exercer o cargo de editor. Estas visitas</p><p>podem ser comprovadas por depoimento de uma de suas filhas, concedidas em entrevista à</p><p>historiadora Ana Maria Dietrich, a qual destaca:</p><p>“Meu pai ficava pouco em casa, porque tinha que trabalhar muito. Meus pais</p><p>estavam sempre fora, porque tinha compromissos da sociedade pela embaixada</p><p>alemã. Portanto, tínhamos uma babá, porque minha mãe precisava ir junto. Eu</p><p>penso que ele esteve em Blumenau. Novo Hamburgo, Nova Friburgo, lá ele</p><p>sempre ia, porque havia muitos alemães nestes lugares. As escolas e a cultura</p><p>alemã deveriam ser cuidadas. Minha mãe também trabalhava muito.”96</p><p>O apagar das luzes para o Partido Nazista no Brasil se deu de forma definitiva a partir</p><p>de 1942, ano em que o Brasil de Getúlio Vargas opta por entrar na Segunda Guerra Mundial ao</p><p>lado dos aliados.97 Anterior à entrada brasileira na guerra foi o advento do Estado Novo em</p><p>1937. Getúlio Vargas propagou o que inúmeros historiadores chamam de getulismo, baseando-</p><p>se em vários fatores políticos e simbólicos, dentre eles, a construção de sua figura carismática</p><p>e a aproximação com setores populares. Um Estado forte e centralizado, desprovido de eleições</p><p>e que investia fortemente em propaganda e censura das oposições, acabaria colocando</p><p>quaisquer modelos alternativos de estado na mira. Tanto os opositores à esquerda, como os</p><p>Comunistas da Aliança Nacional Libertadora, quanto o movimento de direita da Ação</p><p>Integralista Brasileira, foram perseguidos e confrontados pela polícia política estadonovista.</p><p>Por questões de praxe, as comunidades formadas por imigrantes também sofreram com a “caça</p><p>às bruxas”, que impôs sanções aos simpatizantes do fascismo italiano e do nazismo alemão.</p><p>Neste contexto, é preciso que se considere dois aspectos distintos. O primeiro deles é sustentado</p><p>por Ana Maria Dietrich, a qual considera a implacável postura do Estado Novo contra os</p><p>imigrantes. Ficava proibido os cultos ou quaisquer comemorações que pudessem exaltar algum</p><p>tipo de nacionalismo contrário aos princípios getulistas. Ficava proibido a circularização de</p><p>96 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 347.</p><p>97 As negociações seguiam firmes desde 1941. Todavia, o bombardeio de navios brasileiros por forças alemãs em</p><p>1942 impulsionou a concretização da união entre o Brasil e os aliados.</p><p>57</p><p>jornais que não estivessem em português, assim como proibia-se o ensino nas escolas em outros</p><p>idiomas. Desta forma, o que Dietrich chama de “caça às suásticas” não coloca apenas os</p><p>nazistas em xeque, mas também muitos teuto-brasileiros que nada tinham a ver com o Nacional-</p><p>Socialismo e que sofreram com a perseguição da polícia política estadonovista. O segundo</p><p>aspecto a ser considerado é que esta postura do Estado Novo não se manifesta de forma imediata</p><p>sobre a comunidade germânica, não de uma forma linear. Como podemos perceber, jornais</p><p>como o Deutscher Morgen circularam de forma integral até 1940, ano em que passou a assumir</p><p>formalmente o título Aurora Alemã e a publicar seu conteúdo integralmente em português.</p><p>Como visto, em edição de 1939, os nazistas residentes em Nova Friburgo inauguravam o novo</p><p>espaço da Sociedade Alemã. As explicações mais plausíveis para isso orbitam a aproximação</p><p>diplomática ainda existente entre Brasil e Alemanha com o advento do Estado Novo. De mesma</p><p>forma, a concentração de poder simbólico e de capital político e econômico por grande parte</p><p>dos membros do Partido Nazista de Nova Friburgo garantiram certa blindagem contra as</p><p>perseguições do Estado. Hans Henning von Cossel não apenas se correspondia com Getúlio</p><p>Vargas, como o encontrou algumas vezes. Estes aspectos nos ajudam a compreender a</p><p>resistência das suásticas no cenário brasileiro, resistência esta que se torna insustentável no</p><p>momento em que a Alemanha é declarada inimiga de guerra do Brasil. É neste momento que a</p><p>caça às suásticas se radicaliza, no qual o Estado usa de sua força para prender e interrogar</p><p>membros das comunidades germânicas. Em Nova Friburgo, a Sociedade Alemã de Escola e</p><p>Culto, estando sob constantes ameaças, seria forçada a trocar de nome caso quisesse continuar</p><p>resistindo. Eis que surgia a “Sociedade Alemã de 1921”, que logo passaria a ter o nome que</p><p>levaria consigo pelos anos seguintes: Sociedade Esportiva Friburguense, ou seja, retirando-se</p><p>o “Alemã” do nome.98 Até o momento, não temos fontes que nos fazem acreditar que o Nacional</p><p>Socialismo tenha continuado nas instalações da Sociedade ou se manifestado de forma explícita</p><p>na cidade. Os periódicos como O Nova Friburgo e O Friburguense, que outrora cobriram e</p><p>apoiaram os passos do Nazismo na</p><p>cidade de Nova Friburgo, passariam a manifestar oposição</p><p>à ideologia hitlerista, ainda que não atacassem à comunidade germânica em sua totalidade,</p><p>mantendo, acima de tudo, o respeito e a admiração pelos alemães que instalaram as primeiras</p><p>indústrias na serra friburguense. Este episódio sobre a clandestinidade do Partido Nazista após</p><p>a declaração de guerra do Brasil à Alemanha merece ser investigado.</p><p>98 SILVA, Luiz Henrique da. Um Mundo na Sociedade. Nova Friburgo, Atlas Artes Gráfica, 1990, p. 61.</p><p>58</p><p>Conclusão</p><p>A trajetória do Partido Nazista não pode ser considerada linear, seguindo-se um único</p><p>caminho. A literatura especializada no assunto vem sendo construída com diferentes análises,</p><p>incluindo as mais diversas teorias e autores. Qualquer questão que envolva o nazismo no mundo</p><p>deve ser objeto de investigação e certamente, renderá algumas considerações.</p><p>Ao iniciar o estudo do presente trabalho, deparei-me com as mais adversas situações.</p><p>Era impensável aos meus olhos que a minha cidade natal pudesse um dia ter abrigado uma</p><p>importante célula do Nacional-Socialismo no Brasil. Ao decorrer de minhas investigações,</p><p>deparei-me com importante bibliografia que direcionaram minha pesquisa e auxiliaram em</p><p>minhas primeiras hipóteses. As conclusões foram sendo pautadas quando as fontes primárias</p><p>começaram a ser investigadas. Sobre as fontes, é inegável que ainda há muito a desbravar na</p><p>área. Optei pelo uso dos periódicos não apenas por uma questão de praticidade e estética, mas</p><p>como forma de trabalhar de forma mais explícita a primeira hipótese que havia sido formulada,</p><p>e esta era a circularidade do Partido Nazista na cidade. Ficou explícito que a comunidade</p><p>germânica que aderiu à bandeira hitlerista não se mantinha no escuro, muito pelo contrário.</p><p>Ostentavam com muito orgulho a nacionalidade alemã, expressando-as nas constantes reuniões</p><p>dos salões da Sociedade Alemã, nas comemorações nas ruas, nas solenidades. Em quase tudo</p><p>de notório que acontecia em Nova Friburgo dos anos 1930, lá estava a colônia alemã, sempre</p><p>exaltada. Os principais periódicos da cidade naqueles anos, O Friburguense e o Nova Friburgo,</p><p>ainda que divergissem em diversos aspectos entre si, quando o assunto era a Alemanha,</p><p>rasgavam-se os elogios página após página, edição após edição.</p><p>Nesta caminhada, vários historiadores estiveram ao meu lado, dos quais, sem suas</p><p>incríveis contribuições, não seria possível chegar até o ponto que atingi. Pude comparar seus</p><p>trabalhos, cruzar informações e enxergar as lacunas que faltavam, podendo tecer os caminhos</p><p>para investiga-las. Dentre minhas conclusões, é inegável dizer que o Partido Nazista funcionou</p><p>no Brasil de diferentes formas, de acordo com as regiões. Obviamente, não possuo um estudo</p><p>que contemple todos os casos, mas, ao menos de Nova Friburgo com outras cidades que</p><p>concentravam importantes sedes do Partido Nazista no Brasil, fica evidente inúmeras</p><p>diferenças. A história de Nova Friburgo, além de complexa, foi também forjada por pessoas</p><p>que detinham uma visão de sociedade a alcançar, pessoas estas dotadas de carisma, de capital</p><p>político e econômico. Os alemães que iniciaram o processo de industrialização de Nova</p><p>Friburgo possibilitaram que muitos imigrantes alemães exibissem o seu orgulho de ter a</p><p>59</p><p>Alemanha como pátria mãe. No contexto de ascensão do Partido Nazista, não tardou para que</p><p>se formasse em Friburgo importante núcleo do Nazismo não apenas para o Rio de Janeiro, mas</p><p>para todo o Brasil. Existia expressivo número de alemães entre a população friburguense, que</p><p>por si formava um grande contingente de trabalhadores nas fábricas friburguenses, nos serviços</p><p>e no comércio. Estes alemães brindavam à Adolf Hitler porque o consideravam o “salvador da</p><p>pátria”, aquele que ergueu novamente a Alemanha dos escombros da Primeira Guerra Mundial</p><p>e da Grande Depressão econômica. A repercussão no Brasil tornou-se muito produtiva à Adolf</p><p>Hitler, o que explica a dispersão do Partido Nazista pelo solo brasileiro e concomitantemente o</p><p>forte apoio de diversos setores aos partidários, com expressivo destaque à imprensa. O apoio</p><p>dos periódicos friburguenses ao Nacional-Socialismo foi uma questão política e de poder.</p><p>Elementos diferenciadores em escala regional e nacional estão presentes no Partido</p><p>Nazista de Nova Friburgo. Além da atuação alemã no início do século XX na industrialização</p><p>da cidade, o que garantiu aos germânicos concentração de poder simbólico e capital político e</p><p>econômico, o partido friburguense não existiu para orbitar a sede no Rio de Janeiro. Ana Maria</p><p>Dietrich descreveu, de forma generalizante, a atuação dos partidos, dividindo-os entre as sedes</p><p>– presentes nos centros urbanos – e as células, em cidades menores, orbitando a sede. Nova</p><p>Friburgo contava com 44 partidários, estando atrás apenas de Niterói e da capital Rio de Janeiro.</p><p>Nos editoriais do principal periódico nazista do Brasil, o Deutscher Morgen, constatou-se várias</p><p>vezes o nome de Nova Friburgo nas manchetes, sendo exaltado por seu importante serviço de</p><p>engrandecimento ao povo alemão. Os eventos que ocorriam na Sociedade Alemã recebiam</p><p>lideranças dos partidos das mais diversas regiões, o que nos ajuda a pensar na impossibilidade</p><p>de Nova Friburgo ter sido apenas uma célula orbitando uma sede. Pelo contrário. O Nacional-</p><p>Socialismo atuou de forma expressiva na serra friburguense, tornando a comunidade alemã da</p><p>cidade reconhecida em todo o território nacional. Fica evidente pelo fato de que a liderança do</p><p>Partido Nazista no Brasil, Hanns von Cossel, tenha visitado tantas vezes Nova Friburgo.</p><p>O envolvimento dos membros do Partido Nazista de Nova Friburgo com a política é</p><p>outro ponto que merece destaque. Como já apresentado, o órgão que cuidava dos interesses do</p><p>Partido no exterior, a A.O., determinava que os partidários não poderiam se inserir na política.</p><p>Todavia, em inúmeras situações, percebemos o envolvimento entre as duas esferas. A</p><p>concentração de capital político aos industriais alemães rendeu-lhes a influência sobre as</p><p>instituições mais notórias da cidade, que garantiam o apoio aos industriais alemães. Além do</p><p>apoio intenso que recebiam da imprensa e de importantes pessoas da sociedade friburguense,</p><p>os membros do Partido estiveram também envolvidos em algumas polêmicas, como foi o caso</p><p>60</p><p>da greve geral de 1933, na qual as atitudes do gerente da Rendas Arp, Richard Otto Ihns,</p><p>culminaram em uma greve dos trabalhadores e posteriormente, no assassinato de um jovem que</p><p>fazia parte do movimento grevista. Rapidamente, a imprensa de jornais respeitados por todo o</p><p>Estado estava à prontos para cobrir e noticiar o ocorrido, em conjunto com os principais</p><p>sindicatos e até mesmo com o representante do Ministro do Trabalho. Vale lembrar que estas</p><p>instituições eram extremamente importantes e influentes durante o contexto do acontecido,</p><p>recorte da Era Vargas. O fim do episódio não terminou de forma trágica para o Sr. Ihns. Ainda</p><p>que parte da imprensa e a grande massa de trabalhadores queriam a sua cabeça, Richard Ihns</p><p>acabaria se tornando diretor da fábrica de Rendas. Percebemos através destes pontos o alcance</p><p>da influência do Partido Nazista de Nova Friburgo.</p><p>Pelas análises dos historiadores Ana Maria Dietrich e Luís Edmundo de Moraes, foi</p><p>possível perceber também que o Partido Nazista funcionou no Brasil de forma diferente durante</p><p>a Era Vargas. De 1928, data da fundação do Partido, até o ano de 1937, com a eclosão do Estado</p><p>Novo, a agremiação entraria em seu período de clandestinidade, sendo perseguida pela “polícia</p><p>política” estadonovista. É o momento em que, mesmo os que não eram partidários, sofreriam</p><p>com a consequência da “caça às suásticas”. Em Nova Friburgo, contudo, o partido funcionou</p><p>de forma íntegra até o ano de 1939, o mesmo ano em a Sociedade Alemã inaugurou sua nova</p><p>sede, fato que foi comemorado com o envolvimento de partidários de diversos lugares, coberto</p><p>pela imprensa local e noticiado no periódico oficial dos nazistas, o Deutscher Morgen. Pode-se</p><p>considerar que esta resistência do grupo em Nova Friburgo se deu por alguns motivos, dentre</p><p>os quais pode-se destacar a influência da cidade para todo o Estado, considerando-se que o Rio</p><p>de Janeiro, que era a capital do Brasil na época, dependia dos produtos produzidos na serra</p><p>friburguense. A concentração de capital político e econômico destes industriais, o apoio dos</p><p>políticos, das autoridades, da imprensa e de grande parte da sociedade deram à comunidade</p><p>germânica um grande status na Nova Friburgo da Era Vargas, que teria inclusive, recebido a</p><p>visita do Presidente Getúlio em algumas ocasiões. Apenas em 1942, com a entrada do Brasil na</p><p>guerra ao lado dos aliados, em que os alemães seriam fortemente confrontados pelo Estado. A</p><p>Sociedade Alemã acabou sendo forçada a renunciar ao seu nome de fundação para persistir de</p><p>pé. Muitos alemães foram encaminhados à Niterói e ao Rio de Janeiro para prestar depoimentos,</p><p>sendo considerados criminosos. Se comparado ao partido de São Paulo, Nova Friburgo teve</p><p>maiores momentos de liberdade durante a “caça às suásticas”, al��m de ter resistido durante mais</p><p>tempo às pressões da polícia política getulista.</p><p>61</p><p>Outro ponto que merece ser investigado é a filiação dos membros ao Partido. Por</p><p>orientação do topo, apenas àqueles que tivessem cidadania alemã poderiam ser membros</p><p>efetivos, questão que orbitava a objeção do Nacional-Socialismo de manter a “pureza do</p><p>sangue”. Não podemos afirmar de forma precisa que todos os 44 membros possuíam cidadania</p><p>alemã. Esta é uma questão com potencial de investigação, o que pode contribuir em muito para</p><p>o enriquecimento dos estudos do Nazismo no Brasil.</p><p>Também merece destaque a relação do Nacional-Socialismo com a Ação Integralista</p><p>Brasileira. Dietrich considerou que o confronto dos nazistas com a AIB em si já seria um ponto</p><p>para a “tropicalização” do partido. Em Nova Friburgo, contudo, percebe-se, através da</p><p>investigação das fontes, que os integralistas estiveram presentes em muitos momentos com os</p><p>nazistas, confraternizando os feitos germânicos, e que em muitas oportunidades, brindaram</p><p>juntos à Adolf Hitler</p><p>Desta forma, não se trata de uma análise definitiva do movimento Nazista em Nova</p><p>Friburgo. De mesma forma que as fontes estudadas não são inéditas. Importantes historiadores</p><p>já se debruçaram e desbravaram estes caminhos. O presente trabalho teve como objetivo</p><p>investigar algumas lacunas que esta valorosa literatura detém. E desta investigação, fazendo</p><p>também a comparação do resultado com outras análises semelhantes, encontramos inúmeras</p><p>singularidades do Partido Nazista friburguense. As fontes investigadas vão, principalmente, dos</p><p>anos 1933, da chegada de Adolf Hitler à chancelaria do Reich, transitando pelos anos seguintes,</p><p>terminando em 1942, com a declaração de guerra do Brasil à Alemanha. Nos anos 1930,</p><p>percebemos que a atuação dos Nazistas em Nova Friburgo deu-se acima de tudo, pela história</p><p>da imigração alemã na cidade, e pela expressiva atuação da comunidade germânica em</p><p>Friburgo, que acabou aderindo o apoio de importantes personalidades e instituições</p><p>friburguenses, nos campos político, econômico e social. Em conjunto, estes grupos brindavam</p><p>à Adolf Hitler, pela recuperação econômica da Alemanha. Com a entrada do Brasil na guerra,</p><p>o Nazismo no Brasil passou a atuar definitivamente de forma clandestina, o que não foi</p><p>diferente com Nova Friburgo, as comunidades tiveram de conter os ânimos, e as instituições</p><p>tiveram que mudar seus nomes. Até o breve momento, não foram investigadas fontes que</p><p>indiquem o contrário.</p><p>Por fim, valho-me dizer que, apesar de não estar construindo uma análise definitiva,</p><p>creio estar ajudando no enriquecimento dos campos da História Regional e dos estudos sobre o</p><p>62</p><p>Nazismo no Brasil. Apesar de muito já ter sido feito, ainda há muitos caminhos a serem</p><p>percorridos. Espero estar contribuindo, mesmo que minimamente, para todas estas questões.</p><p>63</p><p>Fontes</p><p>Jornais pesquisados junto ao Departamento Pró-Memória da Secretaria de Cultura – Fundação</p><p>D. João VI – Secretaria de Cultura – Prefeitura Municipal de Nova Friburgo:</p><p>A Esquerda</p><p>A Paz</p><p>O Friburguense</p><p>O Nova Friburgo</p><p>Periódicos disponíveis na Biblioteca Digital da Unesp: Disponível em:</p><p>https://bibdig.biblioteca.unesp.br/handle/10/10395. Acesso 15 de Dezembro de 2018.</p><p>Deutscher Morgen (Aurora Alemã).</p><p>64</p><p>Bibliografia</p><p>ARAÚJO, João Raimundo de; MAYER, Jorge Miguel (orgs). “Teia Serrana: Formação</p><p>Histórica de Nova Friburgo”. Nova Friburgo, Editora Ao Livro Técnico, 2003.</p><p>ARENDT, Hannah. “Eichman em Jerusalem”, São Paulo, Companhia das Letras, 1999.</p><p>ARENDT, Hannah. “Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, Imperialismo, Totalitarismo”.</p><p>São Paulo, Cia das Letras, 2015.</p><p>EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014.</p><p>_______________ “O Terceiro Reich em Guerra”. São Paulo, Editora Planeta, 2015.</p><p>_______________ “O Terceiro Reich no Poder”. São Paulo, Editora Planeta, 2014.</p><p>BOTELHO, Janaína. “Histórias e Memória de Nova Friburgo”. Nova Friburgo, EDUCAM,</p><p>2011.</p><p>BOURDIEU, Pierre. “O Poder Simbólico”. Lisboa, Edições 70, 2012.</p><p>CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol.</p><p>2 (1941-1945). Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012.</p><p>COSTA, Ricardo da Gama Rosa. “Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder</p><p>Simbólico na Nova Friburgo da República”. Niterói, 1997. Dissertação (História Social das</p><p>Ideias).</p><p>DA SILVA, Luís Henrique. “Um Mundo na Sociedade”. Nova Friburgo, Atlas Artes Gráficas,</p><p>1990.</p><p>DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da</p><p>Polícia Política”. São Paulo, Fapesp, 2007.</p><p>DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007.</p><p>Tese (Programa de Pós-Graduação em História Social).</p><p>FAUSTO, Bóris. “A Revolução de 1930”. São Paulo, Cia das Letras, 2015.</p><p>FERREIRA, Jorge. DELGADO, Lucilia. “O Brasil Republicano vol. 2: Do início da década de</p><p>30 ao apogeu do Estado Novo”. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2004.</p><p>65</p><p>FISCHER, C. R. “Uma História Em Quatro Tempos”. Nova Friburgo, Tipografia da Fábrica</p><p>de Rendas Arp, 1986.</p><p>HOBSBAWM, Eric. “A Era dos Extremos: O breve século XX”. São Paulo, Cia das Letras,</p><p>2012.</p><p>HOBSBAWM, Eric J. “Sobre História”. São Paulo, Companhia das Letras, 2013</p><p>JARDIM, Eduardo. “Hannah Arendt: pensadora da crise e de um novo início”. Rio de Janeiro,</p><p>Civilização Brasileira, 2011.</p><p>KALBERG, Stephen. “Max Weber: uma introdução”. Rio de Janeiro, Zahar, 2010.</p><p>KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010.</p><p>LINHARES, Maria Yeda (org.) “História Geral do Brasil”. Rio de Janeiro, Elsevier, 1990.</p><p>MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do</p><p>Partido Nazista e a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social)</p><p>– Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.</p><p>NEVES, Lúcia P.; MOREL, Marco; FERREIRA, Tania Maria Bessone da C.; “História e</p><p>imprensa: representações culturais e práticas de poder”. Rio de Janeiro, DP&A: Faperj, 2006.</p><p>WEBER, Max. “Economia e Sociedade: fundamentos da Sociologia compreensiva”. Brasília,</p><p>Editora Universidade de Brasília, 2000.</p><p>26</p><p>2. Hierarquia do Governo Nacional Socialista – 1º, 2º e 3º escalões ...................................... 37</p><p>3. Hierarquia da AO – 1º, 2º e 3º escalão ................................................................................ 38</p><p>10</p><p>Sumário</p><p>Introdução ............................................................................................................................... 11</p><p>Capítulo 01: O Partido Nazista ............................................................................................. 15</p><p>Capítulo 02: O Partido Nazista no Brasil............................................................................. 30</p><p>Capítulo 03: O Partido Nazista em Nova Friburgo ............................................................ 42</p><p>Conclusão ................................................................................................................................ 58</p><p>Fontes ....................................................................................................................................... 63</p><p>Bibliografia ............................................................................................................................. 64</p><p>11</p><p>Introdução</p><p>O mundo contemporâneo do século XX, categorizado como a “Era dos Extremos” pelo</p><p>historiador Eric J. Hobsbawm, foi um período de ambiguidades. Ao mesmo tempo em que o</p><p>progresso tecnológico se propagava, a disputa por poder e hegemonia entre diferentes nações</p><p>culminou com o surgimento das Grandes Guerras, que quase levaram a civilização humana ao</p><p>extermínio. Neste contexto, surgiram diferentes ideologias e variadas formas de organização</p><p>do Estado, destacando-se de forma expressiva o Nazi-fascismo.</p><p>Adolf Hitler seria o grande difusor do Nacional-Socialismo durante os anos 1920, em</p><p>uma Alemanha que encontrava-se arruinada após a Primeira Guerra mundial. O colapso</p><p>financeiro da nação germânica proporcionavam à setores do povo alemão a sensação de</p><p>“humilhação”, fator que serviu como propulsor do engrandecimento do Partido Nacional</p><p>Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), ou simplesmente, Partido Nazista. Adolf</p><p>Hitler, impulsionado com o crescimento dos nazistas, que conquistavam cada vez mais espaço</p><p>no reichtag2, disputou as eleições presidenciais de 1932, e apesar de grande número de votos,</p><p>não sagrou-se vencedor. Em 1933, contudo, seria nomeado ao cargo de Chanceler do Reich</p><p>pelo presidente Hindenburg, posição em que concentrava grande poder político e que renderam</p><p>decisões cruciais ao futuro da Alemanha. Anos depois, Hindenburg acabaria deixando a vida,</p><p>o que faria Adolf Hitler conquistar o posto de führer do Reich. A Alemanha pouco a pouco se</p><p>recuperava do colapso econômico, ocupando novamente o posto entre as maiores nações</p><p>europeias.</p><p>O plano do nazismo consistia na criação do Reich universal, impondo a doutrina do</p><p>arianismo, como exaltavam os camisas pardas Ein Volk, Ein Reich, Ein Führer! Em outros</p><p>dizeres, ambicionavam a criação de uma única nação, para um único povo, e por um único líder.</p><p>O culto à personalidade de Adolf Hitler pode ser explicado pelo conceito de “autoridade</p><p>carismática”, cunhado pelo sociólogo alemão Max Weber. A recuperação alemã nos anos 1930,</p><p>em conjunto com as ações propagandísticas e os discursos de Adolf Hitler, renderam a dispersão</p><p>do Nacional-Socialismo pelo globo. Como o Brasil era uma nação que possuía muitas colônias</p><p>de alemães, acabaria se tornando plano de ambição dos nazistas, encontrando muitos adeptos.</p><p>Neste trabalho, desdobrei-me sobre importante literatura acerca do Nazismo. As</p><p>principais obras são extremamente conceituadas por sua precisão histórica e pela autoridade</p><p>dos historiadores enquanto cientistas políticos. E não apenas os historiadores por ofício</p><p>2 Parlamento alemão.</p><p>12</p><p>complementam meus estudos, mas também aqueles que eram dotados de conhecimento e</p><p>vivência do período, e que por suas contribuições, serão para sempre lembrados na História.</p><p>Refiro-me, essencialmente, à Sir. Winston Churchill.</p><p>Para o desenvolvimento desta pesquisa, parti do princípio de recentes estudos sobre o</p><p>fenômeno do Nazismo no Brasil, os quais demonstram que as características singulares do</p><p>Brasil fizeram com que o Nacional-Socialismo funcionasse de forma muito diferente, se</p><p>comparado à Alemanha. De acordo com esse princípio, a historiadora Ana Maria Dietrich</p><p>desenvolveu a tese de que houve a “tropicalização do nazismo”. De acordo com este ponto,</p><p>direcionei minha pesquisa, acreditando que existem elementos diferenciadores não apenas entre</p><p>o Partido Nazista do Brasil e sua matriz na Alemanha, mas também entre as diferentes regiões</p><p>brasileiras. Tudo isso está permeado por questões históricas. Ao investigar Nova Friburgo dos</p><p>anos 1930, pude elaborar algumas hipóteses, e em comparativo com o funcionamento do</p><p>Partido em outras cidades, acreditar que o Nazismo na serra friburguense foi extremamente</p><p>notório. Tudo isso por causa de um passado histórico, em muito forjado por grupos que</p><p>possuíam forte interesse na construção desta comunidade imaginada.</p><p>A estrutura do presente trabalho está dividia em três capítulos. O primeiro tem a</p><p>finalidade de abordar o surgimento do Partido Nazista, analisando o contexto global e a</p><p>condição que a Alemanha se encontrava, assim como o surgimento da personalidade política</p><p>de Adolf Hitler. O capítulo segundo teve como finalidade abordar a recepção dos ideais nazistas</p><p>no Brasil, a partir da conjuntura internacional e dos fatores que aproximavam a nação brasileira</p><p>com a Alemanha. Percebe-se que, no Brasil, o nazismo acabou sendo “tropicalizado”, diferindo-</p><p>se em vários aspectos com a Alemanha e até mesmo, de região para região no próprio território</p><p>brasileiro, ainda que estivesse sujeito à uma forte burocracia e estrutura hierárquica. O último</p><p>capítulo, por fim, trata da atuação do Partido Nazista em Nova Friburgo, analisando os fatores</p><p>históricos que possibilitaram a aceitação do nazismo na cidade, em virtude, principalmente, da</p><p>grande concentração de capital político e econômico de certas personalidades da Nova Friburgo</p><p>republicana, o que rendia inúmeros poderes simbólicos à comunidade germânica.</p><p>As fontes investigadas foram, em sua essência, jornais da época. Abordar a história de</p><p>acordo com a perspectiva da imprensa é um ponto muito interessante, pois nos ajuda a</p><p>compreender a dimensão da circularidade do objeto investigado. Além da imprensa</p><p>friburguense, investigamos também o principal periódico nazista do Brasil – veículo oficial da</p><p>13</p><p>ideologia hitlerista por aqui –, o Deutscher Morgen.3 O recorte de investigação rende-se,</p><p>essencialmente, de 1932 à 1942, ou seja, durante grande parte da “Era Vargas”. Optou-se por</p><p>este recorte em virtude da ascensão de Adolf Hitler e da recuperação da Alemanha frente às</p><p>potências europeias, tendo por fim o ano em que o Brasil declara oficialmente guerra à</p><p>Alemanha. Durante toda a dissertação foi discutida a questão de o Partido Nazista ter vivido</p><p>períodos de manifestação explícita e clandestinidade, sendo esta última em virtude do advento</p><p>do Estado Novo. Contudo, de forma precisa, a partir de 1942, as fontes impressas não</p><p>demonstram mais indícios do funcionamento do partido, o que nos dá indícios de que,</p><p>realmente, o partido entrou em sua fase de clandestinidade ou acabou encerrando suas</p><p>atividades. A imprensa passaria a atacar fortemente os princípios do Nacional-Socialismo,</p><p>criando-se em muitos casos a “germanofobia”, ainda que, como no caso friburguense,</p><p>mantivesse o respeito e a admiração pela comunidade germânica.</p><p>Para o embasamento desta pesquisa, optamos em utilizar de forma enfática os conceitos</p><p>de “autoridade carismática”, de Max Weber, em conjunto com a teoria de Pierre Bourdieu,</p><p>acerca do “Poder Simbólico”, do qual também elaborou os conceitos</p><p>de “campo político” e</p><p>“capital político”. Em linhas gerais, a partir da visão destes autores, foi possível pensar o</p><p>fenômeno de elevação do Nazismo, sua dispersão e recepção pela Alemanha, pela Europa e</p><p>pelo mundo. Em conjunto com estes teóricos, encontrar-se-á também as análises de Ian</p><p>Kershaw, o qual avaliou as ações do Partido Nazista sob o conceito de “trabalhar para o führer”.</p><p>Hannah Arendt, por usa vez, nos vale de importantes aspectos, como a conceituação de</p><p>“totalitarismo” e “antissemitismo”. Todos estes conceitos são aplicados e melhor explicitados</p><p>ao decorrer dos capítulos que sucedem esta introdução. É importante salientar que inúmeros</p><p>autores, historiadores e teóricos buscaram compreender e explicar o fenômeno do Nazismo e</p><p>suas consequências no mundo, produzindo análises que abraçavam diferentes recortes</p><p>temporais, conjunturas políticas, configurações sociais e modelos de Estado. Contudo, optamos</p><p>pelas análises dos autores citados.</p><p>Vale lembrar que este trabalho não se trata de uma análise totalizante ou definitiva. As</p><p>hipóteses foram formuladas com base em ampla literatura especializada em nazismo, política,</p><p>sociedade e poderes. Nada seria possível sem os incríveis autores que dedicaram boa parte de</p><p>sua vida para a construção historiográfica do tema. De mesma forma, a maioria das fontes não</p><p>são inéditas, uma vez que muitos historiadores já as investigaram e puderam tecer importantes</p><p>3 Em português, “Aurora Alemã”.</p><p>14</p><p>trabalhos sobre os assuntos aqui tratados. A especificidade deste trabalho consiste, em muita</p><p>das vezes, nas lacunas geradas por essas investigações, uma vez que boa parte delas foram feitas</p><p>nas últimas décadas, não acompanhando as produções historiográficas recentes. Desta forma,</p><p>podemos cruzar informações diferentes, que em muito nos auxiliou na construção das hipóteses.</p><p>Ainda que este seja um simples trabalho, foi produzido com muita dedicação, humildade e</p><p>contribuição de muitos. Espero estar contribuindo, mesmo que minimamente, para o</p><p>enriquecimento da história regional e da historiografia sobre os estudos do Nazismo.</p><p>15</p><p>Capítulo 01 – O Partido Nazista.</p><p>A história do Nacional-Socialismo alemão tem ligação direta com 1914. Ao eclodir a</p><p>Primeira Guerra Mundial, o império germânico avançava e empreendia inúmeras vitórias contra</p><p>seus inimigos. Como afirma Richard Evans, “o sentimento de invencibilidade era sustentado</p><p>pelo imenso crescimento da economia alemã ao longo das décadas anteriores, e ficou mais</p><p>exaltado com as formidáveis vitórias do exército alemão no front oriental em 1914-1915”. No</p><p>plano interno, os generais Hindenburg e Ludendorff aumentavam seu prestígio, em virtude do</p><p>andamento do conflito. Esbanjavam virtudes de liderança e inflamavam o nacionalismo no</p><p>coração dos soldados germânicos. Suas vitórias passaram a deixá-los com a aparência de</p><p>invencibilidade. Utilizavam o método austríaco de conflito, que consistia na rígida hierarquia e</p><p>estabelecimento da ordem, impondo a punição àqueles que não representavam o cumprimento</p><p>do dever.</p><p>“Hindenburg e Ludendorff estabeleceram uma “ditadura silenciosa” na</p><p>Alemanha, com o comando militar nos bastidores, repressão severa às liberdades</p><p>civis, controle central da economia e generais dando as cartas na formulação das</p><p>metas da guerra e na política externa.”4</p><p>O poderio bélico alemão dividia-se em duas frentes: a oeste, combatiam arduamente os</p><p>franceses que recebiam apoio direto da Inglaterra, e a leste, enfrentavam a força e o frio da</p><p>Rússia. Batalha após batalha, o nacionalismo germânico se dividia entre apoiar a causa da luta</p><p>ou abdicar da guerra, uma vez que a Primeira Guerra Mundial demonstrava ao mundo o poder</p><p>de destruição das armas contemporâneas, levando milhões à morte.</p><p>Com a Revolução que eclodira na Rússia em 1917, a nação de Vladmir Lênin se retirava</p><p>do conflito. Em contrapartida, os Estados Unidos da América, que apoiavam França e Inglaterra</p><p>com recursos, entrava de forma definitiva na Europa, mobilizando suas tropas para a batalha.</p><p>Este momento foi crucial para a conclusão da guerra, pois</p><p>“a mobilização da economia mais rica do mundo começou a pesar intensamente</p><p>em favor dos aliados, e, no fim do ano, tropas americanas chegavam ao front</p><p>4 EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 96.</p><p>16</p><p>ocidental em número cada vez maior. O único aspecto realmente brilhante do ponto</p><p>de vista alemão era a série contínua de sucessos no leste.”5</p><p>Os ideais da Rússia revolucionária chegavam até o seio da Alemanha, tão mesmo como</p><p>uma forma de insistência dos próprios russos. Lênin acreditava que a Revolução seria suprimida</p><p>caso não se expandisse entre todos os trabalhadores, fato este que impulsionou a criação da</p><p>Primeira Internacional. O monolítico partido Social-Democrata da Alemanha acabou aderindo</p><p>aos ideais revolucionários, de onde saíram personalidades como Rosa Luxemburgo, havendo a</p><p>fundação do Partido Comunista em 1918. Estes grupos não apoiavam o conflito, pois</p><p>acreditavam que este estava restrito ao imperialismo, que por si só era um elemento do</p><p>Capitalismo, como afirmara Vladmir Lênin. A Alemanha de Hindenburg e Ludendoff que</p><p>marchava de forma brutal e conquistadora via os desígnios da guerra transitarem para outro</p><p>lado. Em seu próprio seio, o nacionalismo político rompera-se, havendo a propagação de</p><p>diferentes ideais contrárias às ações germânicas. No plano externo, soldados passavam a</p><p>desertar e se rendiam aos montes, uma vez que as nações inimigas avançavam pelo front</p><p>ocidental, subsidiadas com o dinheiro e os soldados americanos. Hindenburg e Ludendorff,</p><p>supostamente invencíveis, foram obrigados a informar ao Kaiser Guilherme a derrota</p><p>inevitável. Rapidamente, a imprensa alemã passou a tecer profundas críticas ao sistema criado</p><p>por Bismarck em 1871. Mesmo com a tentativa de censura por parte do Estado, a queda da</p><p>Alemanha repercutiu de tal maneira que expressiva parte da sociedade civil voltou-se contra o</p><p>Império, apoiando o armistício e a alternativa democrática da República. O nazismo era forjado</p><p>nesse caldeirão de guerra e revolução.</p><p>“Sem a guerra, o nazismo não teria emergido como uma força política séria, nem</p><p>tantos alemães buscariam de forma tão desesperada uma alternativa autoritária</p><p>aos políticos civis que pareciam ter falhado de maneira tão notável com a</p><p>Alemanha na hora da necessidade. 6</p><p>Os exércitos inimigos, que haviam derrotado a Alemanha de Bismarck e Guilherme,</p><p>nem precisaram adentrar o território germânico. O armistício havia sido imposto aos alemães,</p><p>5 Idem.</p><p>6 EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 101</p><p>17</p><p>que eram obrigados a aceitar a amarga sensação da derrota, quando a vitória estivera tão</p><p>próxima. Para um determinado grupo de germanos, sobressaía a sensação de que a guerra havia</p><p>sido perdida por um ato de traição. Os traidores da pátria haviam apunhalado o Reich pelas</p><p>costas. Agora, eram obrigados a aceitar as cláusulas ocidentais dos vencedores, incluindo o</p><p>compromisso em substituir o modelo de Estado criado por Bismarck por uma democracia.</p><p>Era de conhecimento das lideranças alemãs que, em caso de derrota, a perda seria</p><p>expressiva, uma vez que a Alemanha marchava em larga escala, derrotando seus oponentes e</p><p>expandindo suas fronteiras desde 1871. Importantes territórios foram anexados, pertencentes à</p><p>Polônia, à Estônia, à Rússia e a França, como a Alsácia-Lorena. Com a rendição germânica em</p><p>1918, o Reich esfacelou-se, ocorrendo a gradativa desintegração territorial. As fronteiras</p><p>imperiais diminuíam e com elas, rígidas condições eram impostas pelo Tratado de Versalhes7.</p><p>Aos alemães ficava</p><p>compulsório a cessão de territórios, a restrição de sua força bélica, o</p><p>pagamento de débitos exorbitantes e acima de tudo, como evidenciado no Artigo 231 do acordo,</p><p>a obrigação de aceitar a “culpa exclusiva” pela deflagração da guerra em 1914.</p><p>Se o Tratado de Versalhes tinha como objetivo garantir a paz após a guerra, ou de</p><p>reestruturar nações diretamente atingidas pelo imperialismo alemão, como França e Bélgica,</p><p>aos olhos germânicos prevaleceu uma visão peculiar. “A maioria dos alemães sentiu de repente</p><p>que a Alemanha havia sido brutalmente expulsa da categoria das grandes potências e coberta</p><p>com o que consideravam uma vergonha indevida”.8 A Alemanha estava exposta à uma situação</p><p>humilhante, ao mesmo tempo que acompanhava o crescimento de uma “germanofobia”.</p><p>Por outro lado, o sentimento ultranacionalista se aflorava no coração da geração do</p><p>front, em grupos como os Capacetes de Aço, organização paramilitar composta principalmente</p><p>de ex-soldados e simpatizantes do modelo imperial. Os homens desta organização política</p><p>almejavam o retorno da ordem e os gloriosos dias do Reich e atribuíam a culpa da derrota aos</p><p>sociais-democratas e comunistas, acusando-os de cooptar com forças estrangeiras em</p><p>detrimento da “Sagrada Alemanha”9. Manifestações públicas e exibições nacionalistas</p><p>tornaram-se comum nas ruas da breve República de Weimar. Os Capacetes de Aço valiam-se</p><p>de ter cerca de 300 mil membros. Formavam uma presença expressiva e amplamente</p><p>7 O Tratado de Versalhes foi assinado como condição para o fim da Primeira Guerra Mundial. Dentre as cláusulas,</p><p>estava a perca de importantes territórios da Alemanha e o pagamento de altas indenizações pelos custos da Grande</p><p>Guerra. Alguns autores consideram o Tratado de Versalhes como uma das grandes causas da ascensão do Nazismo</p><p>na Alemanha e eclosão da Segunda Guerra Mundial.</p><p>8 EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 108</p><p>9 Idem.</p><p>18</p><p>militarizada quando realizavam marchas, manifestações e comícios nas ruas. Em uma</p><p>manifestação ocorrida nos anos 1920, mais de 100 mil membros exibiram seus uniformes</p><p>militares e participaram de uma parada em Berlim, visando demonstrar lealdade à velha ordem.</p><p>A Alemanha havia fracassado, pois não conseguira transitar de tempos de guerra para tempos</p><p>de paz. Em vez disso, permaneceu em guerra com o resto do mundo e consigo mesma, pois</p><p>“o choque do Tratado de Versalhes uniu virtualmente todas as partes do espectro</p><p>político em uma soturna determinação de derrubar suas cláusulas centrais,</p><p>recuperar os territórios perdidos, pôr fim ao pagamento de indenizações e</p><p>restabelecer mais uma vez a Alemanha como a potência dominante da Europa</p><p>central.”10</p><p>As condições do Tratado de Versalhes influenciaram acima de tudo para o colapso</p><p>econômico da Alemanha. Gradativamente, a produção industrial caía. O banco central alemão</p><p>fechara suas portas. A hiperinflação que vinha crescendo de forma descontrolada atinge seu</p><p>ápice em 1923, quando 1 marco alemão chega a custar 1.000.000.000.000.000.00011 (um</p><p>sextilhão) de dólar. O desemprego e a fome promovem o caos nas ruas da Alemanha. Crescem</p><p>as taxas de trabalhos subalternos, como a prostituição. Neste deteriorado cenário, os grupos</p><p>nacionalistas começavam a se impor contra a República de Weimar e reforçavam ainda mais</p><p>sua aversão às condições do Tratado de Versalhes. A Alemanha se encontrava destruída</p><p>política, econômica, militar e moralmente. Em 1926, havia cerca de 3 milhões de</p><p>desempregados, em 1927, 17 milhões. 12</p><p>“Os valores morais tradicionais pareciam estar em declínio junto com os valores</p><p>monetários tradicionais. A descida ao caos – econômico, social, político e moral,</p><p>- parecia ser total [...] Foi nessa atmosfera de trauma nacional, extremismo</p><p>político, conflito violento e sublevação revolucionária que o nazismo nasceu.”13.</p><p>10 EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 115</p><p>11 Idem, p. 152.</p><p>12 Idem, p. 164</p><p>13 Idem, p. 159.</p><p>19</p><p>No panorama político, alguns partidos expressivos e com ideais diferentes compunham</p><p>o Reichtag14. Imersa em conturbações sociais e ao caos econômico, a República de Weimar</p><p>possibilitou a disputa interna de diferentes grupos, concentrados em alguns partidos. O mais</p><p>expressivo era o Partido de Centro, dominado pela burguesia alemã, pois formava a base do</p><p>governo; além disso, as cadeiras eram também ocupadas por Social-Democratas e Comunistas,</p><p>que apesar de dialogarem quanto ao papel do Estado e a importância da classe operária,</p><p>divergiam quanto aos métodos. O primeiro grupo amedrontava-se do possível “terror</p><p>vermelho” que os comunistas implementariam aos moldes soviéticos, caso o poder os</p><p>favorecesse. Além destes, existia também os Liberais, composto por setores da classe média e</p><p>apoiadores do capitalismo, os Conservadores, formados pela ala da igreja católica e de</p><p>industriais alemães; os Nacionalistas, formados pela burguesia conservadora, que almejava o</p><p>retorno imediato do Reich e a suspensão instantânea do Tratado de Versalhes. Outro partido de</p><p>destaque era o Partido dos Trabalhadores Alemães, composto por setores variados da sociedade</p><p>germânica. Ambicionavam um Estado sólido, aos moldes do império, e tinham uma conotação</p><p>diferente de “trabalhadores”, uma vez que este grupo contava também com setores da</p><p>burguesia. Desta forma, distanciavam-se tanto dos Social Democratas quanto dos Comunistas.</p><p>Este seria o partido que funcionaria como o alicerce para a ascensão do Partido Nacional</p><p>Socialista dos Trabalhadores Alemães ou Partido Nazista. Todavia, é imprescindível que seja</p><p>falado sobre o homem que unificou grupos diversos sobre o princípio de construir uma</p><p>Alemanha sólida e coesa, e que ao povo alemão tudo fosse possibilitado. Era preciso apagar a</p><p>vergonha da guerra perdida e submeter os inimigos que humilharam os germânicos. Fazia-se</p><p>necessário conter os traidores que haviam apunhalado a nação pelas costas e instituir métodos</p><p>para superar a crise econômica. Parafraseando os historiadores Eric J. Hobsbawm e Sir. Ian</p><p>Kershawn, “nada teria sido possível sem Adolf Hitler”15 e “Pode-se dizer com certeza: Sem</p><p>Hitler, a história teria sido diferente”.16</p><p>Adolf Hitler cresceu na Áustria, transferindo-se para Viena entre os anos de 1908 e 1909</p><p>com o propósito de estudar na Academia de Belas Artes. Grande admirador de arte, passava os</p><p>dias pintando quadros e ouvindo música clássica, da qual Wagner era, sem dúvidas, seu</p><p>predileto. Hitler sonhava em ser um grande artista, reconhecido entre os melhores naqueles dias</p><p>luminosos de Viena, antecedentes à Grande Guerra. Os sonhos do jovem Adolf, contudo,</p><p>14 Na República de Weimar, o Reichtag representava o Parlamento alemão. KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo,</p><p>Companhia das Letras, 2010, p. 44.</p><p>15 HOBSBAWM, Eric J. “A Era dos Extremos: O breve século XX”. São Paulo, Cia das Letras, 2012, p. 46.</p><p>16 KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 20.</p><p>20</p><p>encontraram alguns obstáculos no meio do caminho. Havia algo em que ele não contava quando</p><p>ainda planejava sua ida para Viena: a rejeição. Rejeitado como artista na Academia de Belas</p><p>Artes, Adolf Hitler ainda tentaria mudar seu segmento de atuação, acreditando que possuía</p><p>talento para a Arquitetura. Para sua frustração, também não obteve aprovação nesta área. Os</p><p>sucessivos fracassos na vida de Adolf Hitler contribuíram para potencializar suas decepções e</p><p>seu ódio, impulsionados ainda mais quando ele passou a ter acesso à veículos de informação</p><p>que nutriam suas desilusões com a sociedade austríaca, à sua visão, corrompida por comunistas</p><p>e judeus.</p><p>“O abismo entre a imagem de grande artista ou arquiteto frustrado</p><p>que fazia de si</p><p>mesmo e a realidade de sua vida marginal precisava de uma explicação. É possível</p><p>presumir que a imprensa marrom antissemita vienense o tenha ajudado a achar a</p><p>explicação.”17</p><p>Os anos em Viena tornavam-se cada vez mais difíceis na vida de Adolf Hitler, que estava</p><p>sucumbindo em meio aos fracassos e desilusões. Ele passava a pensar que aquele lugar era um</p><p>antro de corrupção, na qual as principais instituições eram controladas por judeus. Do mesmo</p><p>modo, passava a consumir em maior escala ideias antissemitas e nacionalistas, fazendo-o a</p><p>nutrir uma aversão ao governo do império Austro-Húngaro, o que o fazia pensar em como seria</p><p>a vida em que o povo germânico estivesse unido entre os seus. De acordo com Kershaw,</p><p>“Aversão encarniçada ao império dos Habsburgos pelas políticas pró-eslavas que</p><p>deixavam em desvantagem a população germânica; ódio crescente à “mistura</p><p>estrangeira de povos” que estava “corroendo” a cultura germânica em Viena; a</p><p>convicção de que a Áustria-Hungria estava com os dias contados e, quanto mais</p><p>cedo acabasse, melhor; e o desejo intenso de ir para a Alemanha, para onde</p><p>levavam seus “desejos secretos e amor secreto de infância”.</p><p>Era chegada a hora de mudança, e o jovem austríaco decidiu mudar-se para Munique,</p><p>na esperança de que os novos ares o revigorassem. Por algum motivo, passara a nutrir um</p><p>profundo sentimento de ligação e emoção com a Alemanha, encantando-se pela história desta</p><p>17 Idem, p. 77.</p><p>21</p><p>nação e por sua gloriosa trajetória. A Alemanha passou a ser sua pátria de adoção. A maneira</p><p>que ele encontrou para tanto servir aos princípios que adotou, quanto construir uma nova</p><p>carreira, foi abandonar os devaneios da Arte e Arquitetura e se alistar no exército nacional. Não</p><p>seria necessário muito esforço para que o jovem aspirante a artista pegasse em armas para</p><p>defender de forma patriótica sua nação. E desta forma, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial,</p><p>em 1914, Adolf Hitler já estava a postos para o conflito. Após suas falhas e a decepção com sua</p><p>carreira, agora ele tinha um ofício, um propósito, uma missão, e estava muito entusiasmado</p><p>com a guerra.</p><p>Deslocado para lutar no front ocidental, Entre 1914 e 1915, Hitler vivenciou o desespero</p><p>da guerra e seu poder de destruição. Presenciou a morte de 70% de seu regimento18. Para ele, a</p><p>destruição da guerra era necessária não apenas para aniquilar os inimigos, como para</p><p>possibilitar a limpeza racial da Alemanha. O decorrer do conflito e sua postura fria e</p><p>determinada possibilitaram sua promoção a cabo, sendo este o posto de maior prestígio que</p><p>conquistou dentro do exército. Por não ser um dos melhores soldados em termos técnicos de</p><p>combate, ele se tornou mensageiro, ocupando um posto de extrema importância, mas que lhe</p><p>garantia certo conforto. Passava horas de prontidão, e utilizava este tempo para ouvir música</p><p>clássica, ler e pintar. Em 1918, Hitler foi condecorado com a Cruz de Ferro19 Primeira Classe,</p><p>em honraria à bravura demonstrada na entrega de uma importante mensagem, quando a</p><p>comunicação entre o quartel e o front havia sido cortada em virtude do fogo pesado da guerra.</p><p>No dia 18 de Outubro de 1918, durante uma importante missão, o jovem cabo sofreu um</p><p>acidente, sendo atingido junto com um grupo de companheiros pelo danoso gás mostarda</p><p>diretamente em seus olhos. Sem condições de permanecer em seu posto, foi deslocado para o</p><p>hospital militar. A guerra havia acabado para o jovem cabo, que nesta altura do campeonato,</p><p>encontrava-se cego sob uma cama de hospital. Ficaria também “cego de ódio” quando</p><p>descobrisse a rendição alemã. Ao abrir os olhos, passava a enxergar apenas os inimigos externos</p><p>e internos, atribuindo a culpa das falhas aos fracos que “apunhalaram a Alemanha pelas costas”.</p><p>De acordo com Winston Churchill, Hitler pensava que “A Alemanha fora apunhalada</p><p>pelas costas e aprisionada nas garras dos judeus, dos aproveitadores e dos conspiradores que</p><p>18 KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 87.</p><p>19 A Cruz de Ferro era importante condecoração dada aos heróis da Alemanha. KERSHAW, Ian. “Hitler”. São</p><p>Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 89.</p><p>22</p><p>operavam atrás da linha de frente, dos malditos bolcheviques em sua conspiração</p><p>internacional montada por intelectuais judeus. 20</p><p>Desta forma, “Resplandecendo à sua frente ele viu seu dever: salvar a Alemanha dessas</p><p>pragas, vingar-lhe as injustiças sofridas e conduzir a raça superior a seu destino havia muito</p><p>decretado.”21</p><p>Para Ian Kershaw, contudo, a revolução que se desencadeou durante os dias da guerra e</p><p>coincidiu com a rendição alemã e assinatura do armistício, dando início à República de Weimar,</p><p>nada mais era do que um símbolo da desordem social e insatisfação com o sistema vigente. “Na</p><p>realidade, não houve traição, nenhuma faca cravada nas costas. Isso foi pura invenção da</p><p>direita, uma lenda que os nazistas utilizaram como elemento central de seu arsenal de</p><p>propaganda.”22</p><p>Junto com a rendição da Alemanha, a Revolução Russa de 1917 possibilitou o aumento</p><p>do ódio de Adolf Hitler pelos comunistas, que chegavam ao poder no antigo império dos Czares</p><p>e promoviam as ideias revolucionárias de Karl Marx, tendo Vladmir Lênin como o grande</p><p>intelectual e líder desta revolução. Os ideais dos revolucionários russos chegariam em peso aos</p><p>germanos, dando suporte às aspirações dos revolucionários alemães. O crescimento do prestígio</p><p>dos comunistas e socialdemocratas na Alemanha impulsionaram em Hitler, além do</p><p>antissemitismo, o antibolchevismo.</p><p>Terminada a Grande Guerra, em 1919 só restava uma certeza para Adolf Hitler: ele</p><p>deveria entrar para a política. O fim da guerra significava também um ponto final em sua vida</p><p>no exército; tudo que sonhara e dedicara estava destruído. Mais uma vez, os fantasmas de suas</p><p>antigas desilusões com a carreira artística voltavam a assombrá-lo. Ele não sufocaria</p><p>novamente. Para Hitler, seguir na vida pública não era apenas uma opção de carreira, era, acima</p><p>de tudo, uma questão de honra. A partir deste momento, ele dedicaria todos os dias de sua vida</p><p>a lutar por seus princípios, naquilo que acreditava, pela nação que havia escolhido e pelo povo</p><p>que jurou defender. Acima de tudo, Hitler valeu-se do oportunismo que as condições históricas</p><p>e sociais o proporcionou. Ele usaria a boa sorte a seu favor, e acabaria descobrindo o seu talento</p><p>natural, aquele por qual tanto procurou: o de falar para pessoas.</p><p>20 CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol. 2 (1941-1945).</p><p>Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012, p. 40.</p><p>21 Idem.</p><p>22 KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 94.</p><p>23</p><p>Em Setembro de 1919, Hitler foi convidado a participar de uma reunião do Partido dos</p><p>Trabalhadores Alemães, sendo invitado por um oficial de segurança para quem prestava</p><p>serviços. Naquela ocasião, seria apenas um encontro entre os membros do partido político.</p><p>Discussões sobre o grupo e especulações sobre o futuro da pátria eram as questões em pauta,</p><p>como de praxe. Pela primeira vez, Adolf Hitler ouviu políticos afirmarem as mesmas</p><p>convicções que ele carregava consigo: antissemitismo, antibolchevismo, valorização da</p><p>germanidade, supressão de outros partidos, perseguição aos “traidores da pátria”, vingança aos</p><p>inimigos. Tudo pela redenção da Alemanha. Naquele dia, Hitler sentira-se extasiado. O Partido</p><p>não poderia contar com sorte maior a seu favor. Eles haviam encontrado a pessoa que</p><p>precisavam. Naquele mesmo ano, Hitler foi convidado a participar como membro efetivo do</p><p>partido e oficializou sua filiação.</p><p>Naqueles dias, eram muito comuns reuniões em cervejarias. Estas eram pontos de</p><p>encontro de políticos e membros</p><p>de um partido, atuando como locais de discussões,</p><p>confraternizações e comícios. Em sua primeira oportunidade de fala, ele colocou suas</p><p>experiências vividas durante a Grande Guerra e suas convicções em perspectiva com a delicada</p><p>situação da Alemanha. Para Hitler, os rumos da Grande Guerra acabaram se tornando uma</p><p>dádiva. A dramática situação da Alemanha atuou muito bem como plano de fundo durante suas</p><p>palestras. Era fácil enfatizar o seu discurso e atribuir os culpados pela derrota alemã. De forma</p><p>calorosa, utilizava gestos e expressões que faziam suas narrativas atingirem de forma intensa o</p><p>emocional de seus ouvintes. Fazendo uso do conceito de Max Weber, Adolf Hitler acabara</p><p>personificando a “autoridade carismática”. Na cervejaria de Sterneckbräu, durante eventual</p><p>reunião do partido, ocorreu um debate após as palestras, na qual um dos convidados enfatizou</p><p>o desejo de separação dos bávaros, quando Hitler</p><p>“interveio de forma tão veemente que Bauman, totalmente desanimado, pegou seu</p><p>chapéu e se retirou, como um ‘cachorro molhado’, enquanto Hitler ainda falava.</p><p>O presidente do partido, Anton Drexler, ficou tão impressionado com a intervenção</p><p>que, no fim da reunião, lhe entregou um exemplar de seu panfleto Meu despertar</p><p>político, convidando-o a retornar em poucos dias, caso estivesse interessado em</p><p>participar do novo movimento. ‘Meu Deus, que língua ele tem! Poderíamos usá-</p><p>lo’, consta que Drexler teria dito. Segundo o relato do próprio Hitler, ele leu o</p><p>panfleto de Drexler no meio de uma noite insone e lembrou-se de seu próprio</p><p>‘despertar político’, doze anos antes.23</p><p>23 KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 109.</p><p>24</p><p>Em 1920, após evidenciar aos partidários seu talento retórico e de oratória, Hitler foi</p><p>promovido pelo partido como responsável pela propaganda. Estipulou 25 pontos, os quais</p><p>compartilhavam os ideais dos partidários. Em síntese, os pontos pautavam-se</p><p>“No conjunto de ideais völkisch, a noção de um socialismo especificamente alemão</p><p>ou nacional, ao lado de um ataque ao capitalismo ‘judeu’ [...] Exigência de uma</p><p>Alemanha maior, terras e colônias, discriminação contra os judeus e negação da</p><p>cidadania a eles, rompimento da ‘escravidão dos juros’, confisco de lucros da</p><p>guerra, reforma agrária, proteção da classe média, perseguição dos especuladores</p><p>e regulamentação rígida da imprensa. ‘O bem comum acima do bem individual’</p><p>era uma banalidade sem objeções. A exigência de um ‘poder central forte’ no Reich</p><p>e ‘a autoridade incondicional’ de um ‘Parlamento central’ [...]”24.</p><p>Em meados de 1921, Hitler tornou-se a liderança do partido, eleito através de reunião</p><p>geral dos membros do Partido dos Trabalhadores Alemães por decisão unânime. De acordo</p><p>com o programa estipulado por ele, o primeiro passo foi institucionalizar o princípio de</p><p>liderança, atribuindo as responsabilidades maiores e o poder final em uma única persona. De</p><p>acordo com Kershaw, a atribuição da liderança à Hitler “acabou com o velho e ineficaz modo</p><p>quase parlamentarista de dirigir o partido, com comitês e democracia interna.”25. Deste modo,</p><p>o poder estava garantido em suas mãos. Algumas tentativas de retirá-lo do cargo não tardaram</p><p>a acontecer, assim como críticas de partidários aos seus métodos enérgicos e sugestões de</p><p>unificação com outros partidos. Insatisfeito, Hitler chegara a romper com o partido duas vezes.</p><p>Na segunda oportunidade, quase imploraram o seu retorno. Ele aceitou, com a condição de que</p><p>pudesse reformular o partido e que, desta vez, tivesse poderes plenos, e que todos os membros</p><p>aceitassem o princípio de liderança. Em seu primeiro comício ocupando o posto de líder</p><p>máximo, Adolf Hitler anunciou, sendo calorosamente aclamado por seus colegas partidários,</p><p>aquele que se tornaria o slogan do partido. Nosso lema é somente luta. Seguiremos nosso</p><p>caminho inabalável para nossa meta.”26. A partir de 1921, o Partido dos Trabalhadores</p><p>Alemães passou a se denominar Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães</p><p>(NSDAP). Além do slogan e da mudança de nome, Hitler desenhara pessoalmente a insígnia do</p><p>partido, sendo uma suástica negra num círculo branco sobre um fundo vermelho. Os comícios</p><p>passaram a ser repletos de cartazes vermelhos, suásticas e frases que remetiam ao ideário do</p><p>24 Idem, p. 115-119.</p><p>25 Idem, p. 117.</p><p>26 KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 121.</p><p>25</p><p>Partido Nazista. Estava claro que todos os comícios de Hitler seriam como fogos de artifício,</p><p>fazendo com que ano após ano, aumentassem de forma expressiva o número de participantes e</p><p>apoiadores do partido.</p><p>Na Baviera, o Partido Nacional-Socialista vai atuando de forma cada vez mais convicta</p><p>e expressiva, crescendo gradativamente e se propagando para outras províncias, como a</p><p>Francônia. Adolf Hitler passava a ser a personificação do partido. Tudo o orbitava, seguindo de</p><p>acordo com suas objeções. Segundo Kershaw,“em 1921, para o público de Munique, Hitler já</p><p>era o NSDAP. Era a voz do partido, sua figura representativa, sua personificação”.27 Na</p><p>Europa pós-guerra, era muito comum que os partidos políticos tivessem mais que um líder. O</p><p>sentido de “liderança” que Adolf Hitler exercia era apenas nos termos técnicos partidários, de</p><p>atuar como o homem que direciona o partido. Contudo, a ascensão ao poder por Benito</p><p>Mussolini na Itália acabaria servindo de inspiração para Hitler. Ele afirmaria mais forte do que</p><p>nunca aos seus partidários que a luta era necessária para a vitória. A liderança carismática vai</p><p>se tornando mais expressiva. O capital político de Hitler cresce de tal forma que os membros</p><p>do partido vão passando a atribuir um sentido diferente de liderança. A imagem do ein führer</p><p>estava sendo construída.</p><p>A afirmativa de que a Alemanha precisava de um ditador era mais convicta e mais</p><p>receptiva a cada discurso. Adolf Hitler não se considerava este homem, mas via-se como o</p><p>arauto, que anunciava a chegada daquele que restauraria o poder e a glória da Alemanha. Neste</p><p>ínterim, os Nazistas, valendo-se do exemplo da Marcha sobre Roma e da tomada do poder pelo</p><p>Partido Fascista na Itália, organizaram a tomada do poder na região Bávara, local onde eram de</p><p>maior expressão. Tudo começou em 1924, na cervejaria de Bürgerbräukeller, em um comício</p><p>que contava com cerca de 3.000 espectadores, incluindo as próprias lideranças da Baviera. Com</p><p>vários homens armados e seus capacetes de aço, Hitler anunciava que o governo estava deposto.</p><p>Em seguida, expandiu a conspiração para criar o governo provisório do Reich. A hiperinflação,</p><p>que atingia seu auge entre 1923 e 1924 era sua força motriz. Ele anunciava, naquela noite na</p><p>cervejaria, que a revolução tinha início. Contudo, a revolução não conseguiu se expandir e</p><p>tomar as proporções que Hitler e os nazistas esperavam. De acordo com Kershaw,</p><p>“Numa noite de caos, os golpistas fracassaram em assumir o controle de quartéis</p><p>e prédios do governo, graças, em larga medida, à sua desorganização. Os</p><p>27 Idem, p. 129.</p><p>26</p><p>primeiros e parciais sucessos foram, em sua maioria, rapidamente revertidos. Nem</p><p>o Exército nem a polícia estadual uniram forças com os golpistas”.</p><p>O golpe estava suprimido. Adolf Hitler seria preso e posteriormente julgado. O capital</p><p>político que carregava consigo atuou de forma a garantir algumas regalias. Ainda em seu</p><p>julgamento, fez-se de seu talento retórico e convenceu boa parte da corte que os planos do</p><p>partido seriam a solução para conter a crise. Condenado por fim, teve na cadeia o conforto de</p><p>um preso político de ordem especial. Havia sido condenado apenas para cumprir o protocolo e</p><p>servir de exemplo aos desordeiros. Do contrário, seria absolvido. Durante os dias que ficou em</p><p>cárcere, surgiu aquele que seria o coração do Terceiro Reich, a obra de sua vida: Mein Kampf.28</p><p>Com Hitler preso, os nacionalistas perdiam cada vez mais prestígio no reischtag. O movimento</p><p>estava desorganizado em sem rumos. O partido não precisava de seu arauto, mas sim de seu</p><p>líder. O acúmulo de capital político possibilitou que Hitler, ao sair da cadeia, tivesse convicção</p><p>do papel primordial que deveria exercer frente aos seus. Os partidários pronunciavam com</p><p>clamor: Heil Hitler!</p><p>Os anos seguintes serviram para a reorganização do movimento. A postura sólida do</p><p>partido se define na expressão agressiva de Adolf Hitler. Era preciso transitar rumo à vitória, e</p><p>já que a tentativa militar havia falhado, eles utilizariam os meios democráticos. Uma</p><p>personalidade importante adentraria o partido e se tornaria Ministro de Propaganda, auxiliando</p><p>na promulgação dos nazistas por toda a Alemanha. Tratava-se de Joseph Goebbels. Nas eleições</p><p>dos anos seguintes, os nazistas conquistaram cada vez mais cadeiras no reischtag. Em 1928,</p><p>eram apenas 12. Em 1930, se transformaram em 107. Em 1932, em 230. A explicação para este</p><p>salto pode-se pautar na grande crise econômica de 1929. A Alemanha, que já havia enfrentado</p><p>os terrores de uma hiperinflação era impactada novamente pela quebra da economia dos Estados</p><p>Unidos da América, que suspenderia os empréstimos aos alemães, ocasionando a quebra de</p><p>inúmeras indústrias. Sir Winston Churchill observou este momento como aquilo que</p><p>impulsionou a ascensão do nazismo. As massas alemãs temiam o desemprego. “O desemprego</p><p>na Alemanha elevou-se a 2,3 milhões de trabalhadores no inverno de 1930”.29 De acordo com</p><p>28 Minha luta, em alemão.</p><p>29 CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol. 2 (1941-1945).</p><p>Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012, p. 46.</p><p>27</p><p>Sir. Ian Kershaw, em 1930, “o número real, incluindo os postos com jornada reduzida, foi</p><p>estimado em mais de 4,5 milhões”.30</p><p>Impulsionados pela grande crise, o Partido Nazista conquistava o seu espaço de forma</p><p>considerável entre os anos de 1930 e 1933. Hitler estava extasiado com a ascensão dos adeptos</p><p>do movimento Nacional-Socialista por toda a Alemanha. A cereja do bolo estava cotada para</p><p>as eleições presidenciais. Naquela ocasião, o emblemático Hindenburg ocupava o cargo de</p><p>Presidente, e Franz Papen o de Chanceler. As disputas para as eleições presidenciais foram</p><p>calorosas e acirradas. Em termos propagandísticos, Goebbels atuava como um soldado,</p><p>determinado a tornar possível a chegada de Hitler ao poder. Desta forma, os nazistas estavam</p><p>impulsionados a “trabalhar para o führer”.31 Na eleição presidencial de 1932, o velho</p><p>Hindenburg derrotou Hitler e acabou reeleito. Hitler estava furioso com o resultado das</p><p>eleições. Papen, que havia sido Chanceler e possuía grande prestígio, aproximava-se dos</p><p>nacionalistas e de Hitler, aderindo aos seus ideais. Valendo-se de sua influência junto a</p><p>Hindenburg, ele pede em favor de Hitler, para que este ocupasse a chancelaria. Com relutância,</p><p>mesmo tendo negado a esta ideia em outra ocasião, o presidente Hindenburg consentiu ao</p><p>pedido de Papen. “Em 30 de Janeiro de 1933, Adolf Hitler assumiu o cargo de chanceler da</p><p>Alemanha.”32</p><p>Tabela 1 – Número de votos direcionados ao Partido Nazista.33</p><p>Ano Milhões de votos Percentual</p><p>Mai de 1924 1,8 6,5%</p><p>Dez de 1924 1,0 3,0%</p><p>Mai 1928 800 mil 2,6%</p><p>Set 1930 6 18,3%</p><p>Jan 1932 13 37,4%</p><p>Nov 1932 11 33,1%</p><p>Mar 1933 17 43,9%</p><p>30 KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 228.</p><p>31 O conceito de “trabalhar para o führer” foi formulado por Ian Kershaw, que observou que a esfera do poder</p><p>simbólico e político estava estipulada em níveis dentro do Partido Nazista. O mais alto nível era ocupado pelo</p><p>führer, desta forma, hierarquizando todo o partido.</p><p>32 Idem CHURCHILL, p. 51.</p><p>33 EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 374.</p><p>28</p><p>Nos dias que sucederam a ascensão de Hitler à chancelaria, um fato acabou</p><p>concomitante para o início da centralização do poder nas mãos dos nazistas. O Incêndio do</p><p>Reischtag foi atribuído aos comunistas e social-democratas. Adolf Hitler utilizou a força dos</p><p>nacional-socialistas do parlamento para pressionar o presidente Hindeburg, fazendo com que</p><p>este baixasse um decreto que garantia poderes amplos à chancelaria, perseguia a imprensa e</p><p>cassava partidos. A democracia dava seus últimos respiros, enquanto os nazistas tomavam o</p><p>poder. O Partido Comunista, a partir daquele momento, estava extinto. A repressão se estendeu</p><p>em seguida à todos os opositores do Reich. Os camisas pardas andavam pelas ruas, fazendo uso</p><p>da violência e dos poderes ocupados pelo Partido Nazista. Tomavam casas, lojas e patrimônios.</p><p>Em seguida, as instituições passaram a se submeter ao comando de Hitler. Primeiro, a Igreja</p><p>Católica e os sindicatos. Depois, os partidos e organizações paramilitares. O Partido de Centro</p><p>foi direcionado gradativamente a aceitação da causa. De forma compulsória, os nacionalistas,</p><p>aliados dos nazistas, foram obrigados a abdicar e a aderirem ao Partido Nazista. Por fim, a</p><p>emblemática organização dos Capacetes de Aço, a primeira inspiração aos ideais nacionalistas</p><p>de Hitler, aderiu ao Nazismo. Em síntese, os principais partidos e instituições sucumbiram</p><p>diante da violência e do poder político dos nazistas, em um trabalho de propaganda, negociação</p><p>e imposição. Destronados os principais opositores e conquistados os principais aliados, o</p><p>processo de consolidação do Partido Nazista estava praticamente concluído. A ascensão</p><p>definitiva do Nazismo na Alemanha se deu a partir da morte do Presidente Hindenburg, em</p><p>1934, o que fez com que Adolf Hitler ocupasse os cargos de Chanceler e Presidente da</p><p>Alemanha. O führer estava a postos para guiar a nação ao seu destino.</p><p>“A destruição dos partidos Comunista, Social-Democrata e de Centro foi a parte</p><p>mais difícil da ofensiva nazista para criar um Estado de partido único. Juntas, essas</p><p>três legendas representavam muito mais eleitores que o Partido Nazista jamais</p><p>conquistou em uma eleição livre. Em comparação aos problemas que esses três</p><p>apresentaram, livrar-se dos outros partidos foi fácil. A maioria deles havia perdido</p><p>virtualmente cada voto e cadeira que havia um dia possuído no Reichstag.”34</p><p>Democracia destruída. Criação de um Estado com partido único. Faltava pôr em prática</p><p>a doutrinação moralizadora característica do totalitarismo fascista. É o momento em que a vida</p><p>pública e privada se fundem. O Estado passa a intervir diretamente no âmbito familiar e</p><p>34 EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 445.</p><p>29</p><p>escolar.35 Manifestações artísticas consideradas degradadas são expurgadas da Alemanha. O</p><p>Jazz, ritmo de maior consumo no período, passa a ser considerado aversão de valores. Livros</p><p>de cunho judeu ou comunista eram queimados em piras erguidas nas ruas alemãs. No cinema,</p><p>na imprensa e no rádio, em tudo ocorre a nazificação, ponto central da revolução cultural de</p><p>Hitler.</p><p>A Alemanha estava conquistada. Um líder, um povo, uma raça. Era chegada a hora de</p><p>impor-se frente aos inimigos, conquistando a Europa para estabelecer uma nova ordem, em</p><p>busca da prioridade racial alemã. O ideário que há muito vinha se formando entre os nacional-</p><p>socialistas estava consolidado e o plano de governo estava estabelecido. Entre 1935 e 1939, os</p><p>alemães superaram a crise econômica e aumentaram consideravelmente sua capacidade bélica.</p><p>As imposições do Tratado de Versalhes, outrora símbolo da humilhação alemã, estavam</p><p>rompidas. As Nações Unidas estavam vendadas diante da ascensão germânica. Em sessão na</p><p>Câmara dos Comuns,</p><p>em 1934, Winston Churchill afirmou que</p><p>“A Alemanha já tem, neste momento, uma força aérea militar (...) e que esta (...) se</p><p>aproxima rapidamente da igualdade com a nossa. Em segundo lugar, (...) o poderio</p><p>aéreo militar alemão, dentro de um ano, será de fato pelo menos tão grande quanto</p><p>o nosso, e talvez até maior. Em terceiro lugar, (...) no fim de 1936, ou seja,</p><p>decorrido mais um ano – dois a contar de agora – o poderio aéreo militar alemão</p><p>será quase 50% maior e, em 1937, quase o dobro do nosso.”36</p><p>Aos nazistas, era preciso conquistar o espaço vital necessário ao Terceiro Reich. A</p><p>expansão seria uma questão delicada. O início seria unificando os povos de origem germânica,</p><p>e desta forma, a Áustria germânica seria o primeiro passo. Além de tudo, uma entrada triunfal</p><p>em Viena tinha um sentido pessoal para o führer. O partido Nazista crescia em solo austríaco</p><p>desde 1934, com o assassinato do chanceler Doulfuss. A cada sucesso nazi, crescia o número</p><p>de adeptos. A tomada da Áustria foi caracterizada por muito apoio aos nazistas e resistência</p><p>inexpressiva. Logo, o caminho para a Tchecoslováquia, Polônia e Rússia, para a Europa</p><p>Nórdica e Central, seria uma questão estratégica e de tempo.</p><p>35 ARENDT, Hannah. “Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo”. São Paulo,</p><p>Companhia das Letras, 2012, p. 474.</p><p>36 CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol. 2 (1941-1945).</p><p>Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012, p. 80.</p><p>30</p><p>Capítulo 02 – O Partido Nazista no Brasil</p><p>O projeto de construção do Terceiro Reich estava em curso na Europa. Iniciado de forma</p><p>mais expressiva na década de 1920, nos anos após a Grande Guerra, o Partido Nacional-</p><p>Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) ganhava força gradativamente. A Alemanha</p><p>pouco a pouco era conquistada, estabelecendo-se os princípios do partido, como a aversão ao</p><p>liberalismo ocidental, o antissemitismo, o antibolchevismo, a militarização e o autoritarismo.</p><p>A esfera do público e do privado passaram a estar diretamente conectadas. Antes arauto, depois</p><p>führer, Adolf Hitler conseguiu crescer no meio político, usando as experiências de sua vida</p><p>pessoal e dos anos durante a Primeira Guerra Mundial como motivação e plano de fundo de</p><p>seus discursos. O Partido Nazista chegava ao poder de forma definitiva em 1933, quando Hitler</p><p>era nomeado para ocupar o cargo de chanceler, após ter perdido as eleições presidenciais de</p><p>1932. A partir daí, apenas questão de momentos para que os nazistas emparelhassem o Estado,</p><p>baixassem decretos e instalassem o projeto político que almejavam para a construção da</p><p>gloriosa Alemanha: aquela que superaria a crise econômica, que puniria os “traidores da pátria”</p><p>e se ergueria de cabeça erguida frente aos inimigos. O Terceiro Reich era uma realidade, a</p><p>Alemanha estava dominada. Em seguida, seria preciso conquistar os territórios necessários ao</p><p>Reich, o “espaço vital” desejado ao princípio de pureza racial. A Europa seria o coração do</p><p>império alemão, pois o projeto nazista não se restringia apenas ao domínio do velho mundo. De</p><p>acordo com Ana Maria Dietrich, “O estudo do tema nazismo no exterior mostra a dimensão</p><p>ambiciosa de Hitler em sua proposta. Não era somente a Alemanha que interessava, nem a</p><p>Europa: eram cinco continentes.”37</p><p>O Brasil acabara se tornando a morada de muitos alemães, que imigraram com intenções</p><p>diversas, tais como construir uma vida no novo mundo, buscar novas oportunidades ou fugir da</p><p>Guerra. Nos séculos XIX e XX, o processo imigratório da Europa para o Brasil ocorreu em</p><p>larga escala, havendo grandes contingentes de populações germânicas. Austríacos e alemães se</p><p>estabeleceram pelo território brasileiro, com expressivo destaque para as regiões Sul e Sudeste,</p><p>que por si contavam com os estados que continham o maior número de alemães. Santa Catarina,</p><p>Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro foram as regiões em que a seção</p><p>brasileira do Partido Nazista tiveram maior expressão.38 Não é possível afirmar diretamente as</p><p>37 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 112.</p><p>38 MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e</p><p>a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade</p><p>Federal do Rio de Janeiro. pp. 193</p><p>31</p><p>causas de porque os estados com maior número de alemães serem também os que contavam</p><p>com mais adeptos ao nazismo, mas é possível dizer que a quantidade influencia neste número,</p><p>além do fato de que nestes Estados estavam presentes as principais instituições alemãs no</p><p>Brasil, como a Embaixada, situada no Rio de Janeiro, que também foi o primeiro estado a sediar</p><p>o Partido no Brasil, sendo sucedido por São Paulo. No Sul, muitas comunidades germânicas</p><p>expressavam de forma muito intensa ligações com a pátria mãe. Estas informações nos ajudam</p><p>a compreender o fenômeno de aceitação do Partido Nazista no Brasil.</p><p>O Partido Nazista possuiu teias de contato com diversos países do mundo, seja por</p><p>questões diplomáticas que antecedem o governo nazi, seja por articulações políticas de Adolf</p><p>Hitler. Para Dietrich,</p><p>“O Partido Nazista no exterior esteve presente em 83 países do mundo, com 29 mil</p><p>integrantes. É intrigante saber que países com realidades e histórias tão distintas</p><p>compartilharam deste ponto em comum: a presença do movimento organizado do</p><p>nazismo por meio de um partido político e a disseminação da ideologia nazista nas</p><p>décadas de 1930 e 1940”.39</p><p>Inúmeros documentos informam o envolvimento de governos com a Alemanha hitlerista. O</p><p>caso mais emblemático da história são os documentos de Marburg40, por sua repercussão e</p><p>circularidade. No caso do Brasil, não foi diferente. O governo de Getúlio Vargas, durante a Era</p><p>Vargas (1930-1945) manteve relações estreitas com a Alemanha nazista durante longo tempo.</p><p>A ruptura ocorreu apenas em 1942, quando Vargas aderiu às forças aliadas na Segunda Guerra</p><p>Mundial, momento em que o Eixo tornou-se inimigo do Brasil, fato que será melhor</p><p>apresentado no capítulo seguinte. Neste contexto, o Brasil conviveu com importantes</p><p>momentos. Nos episódios da Intentona Comunista41, liderada por Luís Carlos Prestes, o</p><p>governo de Getúlio Vargas conteve a revolta e deportou a ativista Olga Benário para a</p><p>39 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 118.</p><p>40 Após a Segunda Guerra Mundial, constatou-se que Edward VIII, que havia renunciado ao trono da Inglaterra</p><p>por questões matrimoniais, foram descobertos alguns telegramas entre o abdicado rei inglês e o alto comando dos</p><p>nazistas. Além das correspondências, Edward teve diversos encontros com Adolf Hitler, prestigiando comícios e</p><p>apresentações. Constatou-se que Hitler tinha o plano de invadir a Inglaterra, depor o governo e coroar Edward</p><p>como Rei.</p><p>41 A Intentona Comunista foi um episódio ocorrido em 1935, como tentativa de erradicar uma revolução aos</p><p>moldes soviéticos.</p><p>32</p><p>Alemanha de Hitler, enquanto estava grávida. Olga acabara dando a luz dentro de um campo</p><p>de concentração. Neste ínterim, a GESTAPO, polícia secreta do estado Alemão, atuava no</p><p>Brasil e treinava as forças nacionais para conter comunistas. Desta forma, foi possível para que</p><p>o Partido Nazista funcionasse livremente no Brasil entre 1928 e 1938, oito anos da Era Vargas.</p><p>De acordo com Dietrich,</p><p>“Só depois de uma década – quando a existência deste partido entrou em confronto</p><p>com as diretrizes nacionais que proibiam atividades políticas estrangeiras e, ao</p><p>mesmo</p><p>tempo, procuravam “nacionalizar” as minorias estrangeiras, intervindo em</p><p>escolas, clubes, bancos e demais associações estrangeiras, proibindo o uso de</p><p>outros idiomas em público – o partido nazista se tornou alvo de investigação e</p><p>controle e foi finalmente proibido em 1938.”42</p><p>A historiografia do nazismo em diferentes partes do mundo aponta para a intenção do</p><p>partido nazi em expandir as fronteiras do Terceiro Reich. De acordo com os 25 pontos do</p><p>programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, era necessário que a</p><p>Alemanha empreendesse colônias, visando se tornar um império consolidado. Dois autores que</p><p>trabalharam o tema do nazismo na América Latina buscaram categorizar de qual forma</p><p>ocorreria a atuação germânica sobre o mundo.</p><p>Esnesto Giudici, jornalista argentino, debate sobre a presença do nazismo na América</p><p>Latina, analisando a dimensão do imperialismo alemão. Para o autor, a atuação germânica tinha</p><p>a necessidade de estabelecer uma economia de guerra e, por isso, havia grande necessidade por</p><p>matérias-primas.</p><p>“As colônias destas nacionalidades (Alemanha e Japão) não se fundaram ao azar</p><p>ou em quaisquer lugares que não fossem estratégicos do ponto de vista econômico</p><p>e militar. (...) [Nestes países] se estudaram determinadamente as regiões mais ricas</p><p>do mundo e as zonas necessárias para a expansão econômica destes imperialismos;</p><p>e no sentido para onde a imigração se dirigia oficialmente. (...) Isto nos explica</p><p>como uma colônia estrangeira pode servir aos fins da expansão imperialista.</p><p>(...)</p><p>As ‘colônias’ servem: primeiro, como avançadas ideológicas do imperialismo</p><p>fascista, utilizadas para a difusão de ideias políticas reacionárias, para a</p><p>42 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 120.</p><p>33</p><p>propaganda fascista no exterior, etc.; segundo como sustento das oligarquias</p><p>reacionárias dos respectivos países, com as quais se põem em contato em prol de</p><p>seus comuns planos ditatoriais e antidemocráticos; terceiro, como centros de</p><p>espionagem fascista, quarto, como consumidores dos produtos de exportação [dos</p><p>respectivos países] e como vendedores destes produtos (como se referiu Goering);</p><p>quinto, como base de apoio para o imperialismo do ponto de vista estratégico,</p><p>guerreiro, militar ...”43</p><p>Aproximando-se da abordagem do argentino Ernesto Giudici, o uruguaio José</p><p>Fernandes Artúcio decorre sobre o plano nazista para a construção de uma rede “subterrânea”</p><p>na América Latina. Em suas palavras,</p><p>“O Estado Alemão e o Partido Nacional-Socialista existem em qualquer lugar que</p><p>existam membros da comunidade germânica. Então, nenhum indivíduo, nenhuma</p><p>instituição – ainda que política, econômica, religiosa ou cultural – podem possuir</p><p>direitos superiores aos membros do partido. O partido tem prioridade sobre todos</p><p>os indivíduos e instituições. O partido possui moral absoluta, jurídica, e</p><p>precedência material através do mundo. Consequentemente, aonde existam</p><p>indústrias alemães, negócios, escolas, igrejas ou simplesmente membros da</p><p>comunidade germânica, lá será encontrada a “Grandiosa Alemanha”, o qual o</p><p>direito de ocupar e depois possuir as terras ocupadas se tornam um direito de</p><p>conquista, o qual o próprio Hitler mantém-se livre para utilizar qualquer estratégia</p><p>necessária para criar o Grande Império Alemão de 250 milhões de pessoas.”44</p><p>Estas abordagens não são totalizantes sobre o tema, todavia, merecem destaque por não</p><p>se tratarem de meras especulações, mas de associações diretas com a matriz do partido em</p><p>Berlim. O Partido Nazista possuía rígida hierarquia e múltiplas estruturas burocratizadas, com</p><p>a finalidade de manter o funcionamento pleno das atividades do Reich. Em meio a este</p><p>emaranhado político, encontrava-se a Auslandsorganization der NSDAP45, órgão responsável</p><p>por cuidar dos interesses do Partido Nacional-Socialista no exterior.</p><p>A Auslandsorganization foi fundada em 1931, passando a ser dirigida por Ernst</p><p>Wilhelm Bohle – membro do alto escalão do führer – a partir de 1933. A fundação desta</p><p>43 GIUDICI, p. 108 e 110-111 apud MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A</p><p>Seção Brasileira do Partido Nazista e a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia</p><p>Social) – Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. pp. 79-80</p><p>44 Idem. ARTÚCIO, p. 23 apud MORAES, p. 80.</p><p>45 Popularmente conhecida por sua sigla: A.O.</p><p>34</p><p>estrutura partidária se dá pela necessidade da organização de membros do nacional-socialismo</p><p>em outros países, a se iniciar com a Áustria. A organização não se restringia apenas à pátria</p><p>natal de Adolf Hitler, mas à todos os países onde houvessem membros potenciais do Reich.</p><p>Como afirma Dietrich, no período das guerras, os nazistas circulavam por todo o mundo,</p><p>inclusive em países considerados inimigos do Reich, como França, Inglaterra, Estados Unidos</p><p>e União Soviética46. Desta forma, a A.O. cuidava dos interesses do nazismo no exterior,</p><p>subsidiando, informando, instruindo e suportando o Nacional-Socialismo de forma universal</p><p>para a construção do Terceiro Reich em escala global. Moraes afirma que, além do povo</p><p>germânico, era “perspectiva também da A.O. “o controle das firmas alemães que operassem</p><p>no estrangeiro”47. Desta forma, evidencia-se que a organização tinha papel fundamental dentro</p><p>da estrutura do NSDAP.</p><p>No panorama político brasileiro, o Partido Nazista atuou livremente durante oito anos</p><p>da Era Vargas, uma vez que o presidente brasileiro mantinha relações políticas, diplomáticas e</p><p>econômicas com a Alemanha. Em 1938, com o estabelecimento do Estado Novo, Getúlio</p><p>Vargas reprimiu todas as organizações que não compartilhassem com o nacionalismo brasileiro</p><p>direcionado pelo getulismo. Desta forma, não só a seção brasileira do NSDAP, como todas as</p><p>manifestações germânicas foram proibidas em solo nacional, evidenciando conflitos simbólicos</p><p>de poder. A historiadora Ana Maria Dietrich contextualizou os fatos como o período de “caça</p><p>às suásticas”, concluindo que os alemães, de uma forma geral, sofreram com a repressão da</p><p>polícia política varguista, mesmo aqueles que não possuíam nenhuma identificação com o</p><p>Partido Nazista. Apenas pelo fato de serem alemães, tiveram seus periódicos censurados,</p><p>escolas fechadas e foram proibidos até mesmo de falar o idioma nativo. Acredita-se que o</p><p>partido tenha funcionado na clandestinidade a partir de 1938, sendo definitivamente caçado</p><p>como inimigo da pátria a partir de 1942, quando o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial ao</p><p>lado das forças aliadas.</p><p>Considerando-se o contexto político específico do Brasil durante os anos 1930 e 1940,</p><p>coube a A.O. tecer estratégias de atuação para os nazistas que aqui residiam. O Brasil era visto</p><p>com muito interesse pela Alemanha, por seu potencial produtivo, sua expansão territorial na</p><p>46 DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa</p><p>de Pós-Graduação em História Social). p. 118.</p><p>47 MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e</p><p>a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade</p><p>Federal do Rio de Janeiro. p. 69.</p><p>35</p><p>América e por ter abrigado inúmeros alemães nos séculos XIX e XX48. Desta forma, “acredita-</p><p>se que o partido nazista no Brasil era para a Alemanha muito mais importante do que para o</p><p>Brasil.”49</p><p>É imprescindível categorizar a atuação do Partido Nazista no Brasil. De acordo com</p><p>Luís Edmundo de Moraes, a organização não pode ser vista como um partido político em si,</p><p>mas como uma seção brasileira do Partido</p>