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Marco Legal da Primeira Infância 
Para Todos 
 
UNIDADE I 
 
 
 
 
 
 
 
3 
UNIDADE I - Avanços e desafios na aplicação da 
regra da prioridade absoluta no contexto da primeira 
infância 
Introdução 
Nesta unidade, apresentaremos um panorama das infâncias e adolescências em 
nosso país, com foco na primeira infância, um histórico das conquistas de direitos em nossa 
legislação, culminando com o significado da construção de uma lei específica para a 
primeira infância, seus fundamentos, áreas prioritárias, políticas públicas a ela 
relacionadas, importância da parentalidade, do investimento e das estratégias de 
financiamento e de intersetorialidade, entre outros. 
Entre a lei e sua aplicação, há um caminho que depende de muitas pessoas, grupos 
e instituições, incluindo cada um dos profissionais que atuam cotidianamente com as 
crianças e suas famílias. Esperamos que os conhecimentos a serem apresentados 
contribuam para a compreensão do cenário atual e das perspectivas para a efetiva 
promoção da cidadania desde o começo da vida, como propõe o Marco Legal da Primeira 
Infância. 
A regra da prioridade absoluta é o primeiro ponto de convergência para unirmos 
esforços na promoção do desenvolvimento humano na primeira infância, em uma 
perspectiva de responsabilidade compartilhada. De fato, a Constituição Federal de 1988 
utiliza a expressão prioridade absoluta apenas quando se refere às crianças, aos 
adolescentes e aos jovens. 
Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, Constituição 
Federal, 1988). 
É possível imaginar que se a regra da prioridade absoluta tivesse sido cumprida 
amplamente desde 1988, teríamos outro cenário de desenvolvimento em nosso país. 
 
 
02 
 
 
 
 
 
 
 
4 
Segundo pesquisa nacional realizada pelo Datafolha e o Instituto Alana, em 2013, apenas 
24% da população brasileira conhecia o termo prioridade absoluta. Nem a sociedade nem a 
família conhecem amplamente os direitos de seus filhos (DATAFOLHA, INSTITUTO ALANA, 
2013). 
 
Diante dessa constatação, podemos concluir que a implementação legal se faz 
necessária, com ampliação do acesso ao conhecimento e aos direitos mais que com a 
criação de novas leis. 
Como será visto no decorrer do curso, o Marco Legal da Primeira Infância pode ser 
considerado um meio estratégico para compreensão da importância da absoluta 
prioridade, pois “se mudarmos o começo da história, mudamos a história toda” (REFFI-
CAVOUKIEN, 2016). 
 De acordo com o Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016, art. 2º), 
“considera-se primeira infância o período que abrange os primeiros 6 (seis) anos completos 
ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança” (BRASIL, 2016). E neste período a 
prioridade absoluta implica o dever do Estado de estabelecer políticas, programas e 
serviços que atendam às especificidades e relevância dessa faixa etária, visando a garantir 
seu desenvolvimento integral, em consonância com o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e outras leis (idem, arts. 1º e 3º). 
 
03 
 
 
 
 
 
 
 
5 
Aula 1: Panorama das infâncias e adolescências no 
Brasil: dados socioeconômico-culturais 
Atualmente, o Brasil conta com quase 20 milhões de crianças na primeira infância 
(PNAD, 2010). Elas representam cerca de 10% da população do País e vivem em contextos 
muito diversificados, pois vivemos em um país continental. Algumas se encontram em 
melhores condições de desenvolvimento, pois, em várias regiões do Brasil, temos índices 
de desenvolvimento humano (IDH) muito elevados. Outras vivem em contextos de 
vulnerabilidade e risco social, com difícil acesso a serviços e políticas públicas. Contudo, 
mesmo crianças que encontram-se em situação economicamente favorecidas podem 
vivenciar contextos de risco, por outros fatores. Por isso, este curso visa ampliar a 
implementação de ações e políticas inovadoras, assim como integrar muitas já existentes, 
mas ainda não suficientemente articuladas, com vistas a garantir o acesso a direitos para o 
desenvolvimento humano integral na primeira infância. 
Conhecer a realidade do público com o qual trabalhamos é muito importante para 
tomarmos decisões mais eficazes em relação às intervenções que realizamos. Em relação 
à primeira infância, nem sempre temos dados específicos, mas iniciativas estão em 
andamento, como o Diagnóstico Nacional da Situação de Atenção à Primeira Infância, que 
está sendo realizado no âmbito do Pacto Nacional pela Primeira Infância (CNJ, 2019), 
entre outras. 
Contexto familiar vinculado à situação de exclusão social 
Para melhor compreensão dos contextos de vida das crianças brasileiras, é 
importante começarmos do contexto familiar, pois toda criança vive em família ou 
excepcionalmente em serviço de acolhimento, de modo que as condições de vida das 
famílias afetam diretamente seu desenvolvimento. Segundo dados do Cadastro Único para 
Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), aproximadamente 76 milhões de pessoas 
em famílias brasileiras estavam em situação de risco e vulnerabilidade social antes da 
pandemia da COVID-19, sendo que a população total estimada pela última PNAD é de 
aproximadamente 209 milhões de habitantes. Com os efeitos da crise provocada pela 
situação de emergência em saúde, esse número aumentou (CECAD 2.0, 2020). 
04 
 
 
 
 
 
 
 
6 
A maior parcela de brasileiros e brasileiras em situação de pobreza ou extrema 
pobreza está na faixa da infância e da adolescência, correspondendo a um total de 
27.549.850 (CECAD 2.0). 
Gráfico 1 – Situação de pobreza, por faixa etária, no Brasil 
 
Fonte: CECAD 2.20, Site do Ministério da Cidadania. Referência do dado: 08/2020 
https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/cecad20/painel03.php 
 
05 
https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/cecad20/painel03.php
 
 
 
 
 
 
 
7 
Dos brasileiros em situação de pobreza ou extrema pobreza, aproximadamente 10 
milhões são crianças de até seis anos de idade. Desse modo, 50% das crianças na primeira 
infância, no Brasil, estão em potencial risco para o seu pleno desenvolvimento. 
Além disso, em 2018, tivemos 2.329.426 de gestantes no Brasil (SINASC/MS, 
2020), das quais 851.666 eram beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF), identificadas 
no acompanhamento da condicionalidade da saúde. Dessa forma, 36,5% das crianças em 
gestação estavam em potencial risco pelo contexto de pobreza de suas mães. Porém, 
graças à condicionalidade de saúde do PBF, 99% das gestantes beneficiárias identificadas 
nesse programa estavam com o pré-natal em dia, conforme registros do Sistema Bolsa 
Família na Saúde (2018). 
 
Mortalidade infantil 
De acordo com a pesquisa “Nascer no Brasil” (BRASIL; FIOCRUZ; 2014), nos anos 
2011 e 2012, a taxa de mortalidade foi de 11,1 por mil nascidos vivos, com maior incidência 
nas classes sociais mais desfavorecidas, nas regiões Norte e Nordeste, assim como 
relacionada à precariedade dos serviços de saúde. Essa mesma pesquisa identificou que 
aproximadamente metade das mulheres declarou que a gravidez não tinha sido desejada. 
No entanto, o Brasil se destacou internacionalmente na redução da mortalidade 
infantil, alcançando a meta prevista nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio antes do 
prazo, reduzindo em 2/3 a mortalidade infantil entre 1990 e 2015 (RASELLA e col., 
2013). Essa redução, segundo osmesmos autores, está relacionada às condicionalidades 
do Programa Bolsa Família, que elevou o número de acompanhamentos no pré-natal e na 
vacinação das crianças, possibilitando também outros benefícios como Benefício Nutriz. 
Excesso de cesarianas 
Em relação ao nascimento, um índice que se mostra preocupante e mais frequente 
nas classes economicamente favorecidas é o excesso de cesarianas. Victora (2016) 
realizou um estudo científico há cerca de 30 anos, chamando atenção para a “pandemia de 
cesarianas no Brasil, quando o índice era de 28%”, enquanto o recomendado pela 
Organização Mundial da Saúde é de no máximo 15%. Contudo, esse índice continua 
aumentando; em 2012, passou para 55,8%, segundo o Sistema de Informações sobre 
Nascidos Vivos (SISNASC/Ministério da Saúde), chegando a mais de 90% em alguns 
municípios brasileiros, tornando o Brasil o líder mundial em cesarianas. 
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8 
Dentre os vários fatores contrários a essa prática excessiva de cesarianas está a 
prematuridade. Victora (2016) observa que “nós temos muitas crianças nascendo antes do 
tempo”. 
“E o que as pesquisas identificam como consequência da prematuridade e do baixo 
peso ao nascer, em função de a criança sair antes do tempo do útero? 
• Aumento da morbidade e da mortalidade infantil; 
• Maior uso de serviços de saúde; 
• Maiores gastos hospitalares; 
• Retardo no desenvolvimento infantil; 
• Redução do capital humano na próxima geração.” (VICTORA, 2016, p. 116) 
 
Então, desde o nascimento, a prioridade não tem sido o ritmo da própria criança, de 
nascer a termo, principalmente nas classes que não estão em vulnerabilidade econômica. 
Gravidez na adolescência 
Mais de 430 mil bebês nascem de mães adolescentes anualmente, no Brasil, 
segundo o último relatório do Fundo de População da ONU (ONU/UNFPA). A taxa de 
fecundidade brasileira entre meninas de 15 a 19 anos se encontra em 62 a cada mil bebês 
nascidos vivos, acima da média mundial, que é de 44 a cada mil. Em relação à gravidez na 
adolescência, “as pesquisas indicam um discreto decréscimo no número de mães entre 15 
e 19 anos, pois entre 2004 e 2014 o registro de nascidos vivos passou de 78,8 para 60,5 
filhos por mil mulheres nesse grupo etário” (INDICA, 2017). 
 
Sub-registro de nascimento 
Segundo o Censo do IBGE de 2010, cerca de 600.000 crianças de zero a dez anos 
de idade, no Brasil, encontravam-se sem Registro Civil de Nascimento (RCN), 
praticamente sem condição de exercer uma relação formal com o Estado Brasileiro. 
Pessoas que, embora tenham nome, sobrenome, filiação, naturalidade, nacionalidade, do 
ponto de vista formal não existem, tampouco conseguem comprovar quem são e acessar 
os serviços a que têm direito. 
Filiação paterna 
Os dados do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (SIRC, 2020) 
revelam que das quase 2,8 milhões de crianças nascidas em 2019, que tiveram seus 
registros enviados pelos cartórios, 6,3% não tiveram filiação paterna informada. Desse 
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https://brazil.unfpa.org/pt-br/topics/swop2019
 
 
 
 
 
 
 
9 
modo, aproximadamente 173 mil crianças não tiveram o nome do pai inscrito no registro 
de nascimento, no ano de 2019. E o que isso repercute em suas vidas? 
 
Gráfico 2 – Número de crianças sem reconhecimento paterno no registro de nascimento, 
por Estado, em 2019 
 
 
Fonte: SIRC, 2020. Acesso em: 25 set. 2020. 
 
Famílias monoparentais 
Dados do IBGE também apontaram para o aumento de cerca de um milhão de mães 
responsáveis sozinhas por suas famílias, entre 2005 e 2015 (dados do Instituto Data 
Popular, divulgados pela Agência Brasil, em 2015). Ao final do período do levantamento 
dos dados, o Brasil somava 67 milhões de mães, 31% delas estavam na condição de mulher 
responsável familiar, um número que chegava a aproximadamente 20 milhões. 
Crianças com deficiências 
Segundo dados do IBGE (2010), 6,7% da população brasileira tem algum tipo de 
deficiência grave, das quais aproximadamente 3,5 milhões são crianças de até 14 anos e 
quase 30% dessa população está fora da escola . No caso dos beneficiários do Benefício de 
Prestação Continuada (BPC), esse acompanhamento tem sido melhor estruturado a partir 
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do Programa BPC Escola. O BPC tem 4.655.375 milhões de beneficiários, dos quais 82.769 
são crianças na primeira infância (SNAS/SEDS/MC, 2020). O público de crianças 
beneficiárias do BPC também é um público prioritário do Programa Criança Feliz, 
encontrando-se um total de 8.407 crianças na primeira infância com deficiência que 
passaram com suas famílias a contar com acompanhamento intersetorial com visita 
domiciliar semanal, visando à promoção de seu desenvolvimento (Prontuário SUAS, 2020). 
A partir do Programa Criança Feliz, 8.407 crianças na primeira infância, com 
deficiência, e sua família passaram a contar com acompanhamento intersetorial com visita 
domiciliar semanal, visando à promoção de seu desenvolvimento (Prontuário SUAS, 2020). 
Deficit de crescimento 
Outro dado basilar como parâmetro das condições para o desenvolvimento infantil 
diz respeito à nutrição e pode ser aferido pelo crescimento adequado à faixa etária. 
Segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN/MS, 2020), o déficit 
de altura em crianças de até 5 anos, acompanhadas pelo Programa Bolsa Família, no Brasil, 
apresenta variações regionais significativas: 
Figura 1 – Porcentagem de deficit de altura entre as crianças acompanhadas 
pelo Programa Bolsa Família 
 
 
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Fonte: SISVAN/MS, 2020. 
 
 
Desnutrição x obesidade infantil 
O Brasil vivencia um processo de transição nutricional, caracterizado pelo 
aumento do excesso de peso e obesidade e por prevalências ainda preocupantes de 
desnutrição, especialmente em populações de maior vulnerabilidade. Dados do ano de 
2019 sobre o estado nutricional de crianças menores de cinco anos acompanhadas na 
Atenção Primária à Saúde (APS) evidenciaram uma prevalência de déficit de estatura e 
déficit de peso iguais a 13,3% e 4,1%, respectivamente. Dados também de 2019 indicam 
uma prevalência de obesidade igual a 6,95% entre crianças nessa mesma faixa etária. Em 
relação aos marcadores de consumo alimentar de crianças acompanhadas na APS, os 
dados mostram uma prevalência de aleitamento materno exclusivo entre crianças 
menores de 6 meses igual a 53%, segundo os Relatórios Públicos do Sistema de Vigilância 
Alimentar e Nutricional - Sisvan. E, quanto à proporção de nascidos vivos com baixo peso ao 
nascer (peso abaixo de 2.500g), o resultado foi de 8,7%, considerando os registros no 
Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos – Sinasc/Ministério da Saúde, 2020. 
Vacinação 
Segundo dados do Sistema Bolsa Família na Saúde, 99,44% das crianças menores de 
7 anos, acompanhadas em função das condicionalidades do Programa Bolsa Família, 
apresentavam vacinação em dia, o que indica que a queda de vacinação na população 
brasileira esteja associada a outros fatores vivenciados no contexto das famílias com 
crianças de classe economicamente favorecidas. 
Acesso à creche 
Conforme o Relatório do 3º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional 
de Educação (PNE), em 2018, o Brasil alcançou a cobertura de 35,7% das crianças, o que 
representa cerca de 3,8 milhões de crianças atendidas (MEC, 2018). Em relação à Pré-
Escola, em 2018, a taxa de cobertura medida pelo Indicador 1A alcançou 93,8%, 
mostrando que ainda não se atingiu a universalização do atendimento para a população de 
4 a 5 anos, meta estabelecida para o ano de 2016 no PNE. Permanece o desafio de acesso 
à creche para muitas crianças brasileiras e suas famílias. 
 
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Crianças afastadas da família por medida de proteção 
Os dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), administrado pelo 
Conselho Nacional de Justiça, revelam, em maio/2020, a existência de 32.791 crianças e 
adolescentes vivendo em serviços de acolhimento, número que constata que a 
porcentagem de crianças acolhidas diminuiu em 25,47% em relação ao ano de 2013 (CNJ, 
2020). 
Apesar de mais de 10.000 crianças e adolescentes terem sido adotados nos últimos 
cinco anos no Brasil e existirem mais de 34.000 pretendentes à adoção cadastrados nas 
Varas da Infância e Juventude e habitados para adotar, aproximadamente 5.000 crianças e 
adolescentes se encontram aptos para adoção, sem encontrarem uma família disponível 
para acolhê-los, em função de apresentarem problemas de saúde, idade superior a 7 anos 
ou pertencerem a grupos de irmãos (CNJ, 2020). 
Outra importante fonte de informações sobre serviços de acolhimento no Brasil é 
o Censo SUAS, ferramenta de monitoramento do Sistema Único de Assistência Social, 
gerenciada pela Secretaria Nacional de Assistência Social e alimentada anualmente pelos 
estados e os municípios. O Censo SUAS 2018 identificou 33.146 crianças e adolescentes 
acolhidos no Brasil, sendo 26% na Primeira Infância. Portanto, atualmente, os dados do 
CNJ e do SUAS mostram os mesmos resultados, sendo as diferenças apenas uma questão 
da temporalidade da coleta dos dados. Essas crianças estão em um total de 2.834 Unidades 
de Acolhimento Institucional, onde estavam acolhidos 95,8% das crianças e dos 
adolescentes, e 332 em Serviços de Família Acolhedora, onde estavam 4,2% delas. 
 
Acesso a tecnologias de informação 
De acordo com o estudo do Cetic.br (2019), embora venha crescendo a cada ano o 
número de usuários da rede de internet no Brasil, há fortes contrastes entre diversas 
classes socioeconômicas. Nas classes A e B, 95% dos habitantes já fazem uso regular da 
rede mundial de internet, enquanto, nas classes D e E, esse índice não passa de 57%. Entre 
outros impactos, o acesso precário reduz a oportunidade de acessar informações e 
alcançar benefícios tangíveis e, assim, reproduz a desigualdade social, com implicações 
para os filhos dos adultos privados das tecnologias de informação. 
Exposição precoce ao meio digital 
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13 
Ao mesmo tempo que as famílias devem contar com acesso de qualidade à rede de 
internet e à comunicação cidadã, as crianças entre 0 e 6 anos necessitam de proteção 
contra a excessiva exposição a conteúdos de mídia, pois esta limita a interação da criança 
com outras pessoas e atividades, como as brincadeiras, a alimentação e o sono. De fato, a 
OMS (2019) enfatiza que bebês e crianças até dois anos de idade não deveriam ser 
entretidos por meio de telas digitais ou eletrônicas. Além disso, as crianças com mais de 
dois anos não deveriam passar mais de uma hora por dia em frente às telas, segundo 
pesquisa realizada em 2017 pelo conglomerado Viacom (2017), com foco em crianças de 
idades entre 2 e 5 anos de 12 países, que apontou que, no Brasil, elas passavam cerca de 
42 horas por semana diante das diversas telas – 50% a mais do que a média global, que é 
de 28 horas. 
 
Denúncias de violações contra crianças e adolescentes 
Em 2003, o Governo Brasileiro criou o Disque 100, proporcionando um sistema de 
recebimento de denúncias de violações de direitos humanos. Em 2019, o número de 
denúncias em relação a violências contra crianças e adolescentes aumentou 14% em 
relação a 2018, atingindo aproximadamente 55% do total de denúncias recebidas, com 
86.837 denúncias. Estas se referiam a mais de 118 mil crianças e adolescentes, entre os 
quais 20,2% tinha até 3 anos de idade, e 24,4%, entre 4 e 7 anos de idade (MMFDH, 2019). 
Trabalho infantil 
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 
em 2016, existiam 2,4 milhões de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, 
das quais 104 mil tinham entre 5 e 9 anos. Segundo o Fórum Nacional de Prevenção e 
Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI, s/d), o trabalho de crianças é mais prevalente 
nas áreas rurais em detrimento do trabalho dos adolescentes, que é mais urbano. O Censo 
Agropecuário IBGE de 2017 mostra que houve queda de quase 50% no número de crianças 
e adolescentes até 14 anos trabalhando na área rural. Ainda segundo o estudo do FNPETI, 
essa redução se deu em decorrência dos avanços de políticas públicas de educação, 
assistência social e geração de renda, entre outras. 
O número de crianças e adolescentes negros em situação de trabalho é maior do 
que o de não negros. As regiões Nordeste (39,5%) e Sudeste (25,1%) apresentam os 
maiores percentuais de crianças em situação de trabalho infantil. Também é mais visível o 
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14 
trabalho dos meninos do que o das meninas, uma vez que formas como o trabalho 
doméstico são mais difíceis de serem identificadas. É importante lembrar que essa 
pesquisa não mensura algumas das piores formas de trabalho infantil, como a exploração 
sexual, o tráfico de crianças e o aliciamento para o tráfico de drogas. 
 
Figura 2 – Panorama da situação da infância e da adolescência no Brasil, 
segundo o relatório do UNICEF (2018) 
 
 
Fonte: UNICEF (2018). 
 
Outros dados que corroboram o desafio de cumprimento da regra da prioridade 
absoluta de assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes são trazidos pelo 
Relatório de Atenção dos Municípios com a Primeira Infância (INSTITUTO ALANA; 
FMCSV, 2020): 42% das crianças e dos adolescentes entre 0 e 14 anos vivem abaixo da 
linha da pobreza, duas crianças morrem por dia no Brasil em razão de diarreia provocada 
pela falta de saneamento básico, 2,8 milhões de crianças se encontram fora da escola e 
79.000 crianças de 5 a 9 anos são submetidas ao trabalho infantil. 
13 
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15 
 
Figura 3 – Panorama sobre pobreza na infância e na adolescência no Brasil
 
Fonte: UNICEF, 2018. 
 
 
 
Figura 4 – Panorama sobre pobreza na infância e na adolescência no Brasil 
 
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Fonte: UNICEF (2018). 
 
Um estudo de linha de base de Avaliação de Impacto do Programa Criança Feliz 
analisou aproximadamente 3 mil crianças de até três anos idade e suas famílias, vinculadas 
ao Programa Bolsa Família. Observaram que mais de 90% das casas em que viviam eram 
construídas de tijolos, cerca de 87% das famílias dispunham de água encanada dentro de 
casa, e quase 80% dispunham de sanitário com descarga. As famílias eram compostas, em 
média, por cinco pessoas. A escolaridade média dos pais era de cerca de 8,5 anos, sendo 
que apenas metade trabalhava diariamente e mais de um quarto não trabalhavam. A 
maioria das crianças teve parto hospitalar, sendo metade aproximadamente partos de 
cesariana (VICTORA, BOTELHO, SAGI, 2019). Entre os achados nessa pesquisa, observou-
se alta prevalência de sintomas depressivos maternos e que menos de 10% das crianças 
possuíam algum livro ou revistinha em casa, o que teria um papel importante para a 
estimulação intelectual (ibdem). 
 
Você sabia? 
O Brasil acabou de ganhar duas ferramentas importantes para conhecimento dos 
dados específicos da atenção à primeira infância. 
Trata-se do Índice Município Amigo da Primeira Infância – IMAPI, que traz 
inicadores de saúde, assistência social, educação e cuidados responsivos às crianças de até 
6 anos de idade, em cada município brasileiro. Foi desenvolvido pela Universidade de 
Brasília, em parceria com a Universidade Federal da Bahia, com apoio da Fundação Bill e 
Melinda Gates. Você pode pesquisar os indicadores sobre a situação de atenção à primeira 
infância em seu município em: https://imapi.org/.Outra importante ferramenta é a Plataforma OBSERVA, desenvolvida pela Rede 
Nacional Primeira Infância, que contém dados detalhados sobre crianças de até seis anos 
de idade em saúde, educação e assistência social, por município. Você pode monitorar a 
implementação do Marco Legal da Primeira Infância com a ajuda dessa plataforma, em: 
mpiobserva@org.br. 
Consulte também: FUNDAÇÃO ABRINQ. A Criança e o Adolescente nos ODS: Marco zero 
dos principais indicadores brasileiros. São Paulo, 2019. Disponível em: 
<https://www.fadc.org.br/sites/default/files/2019-11/ODS-10.pdf>. 
 
15 
15 
https://imapi.org/
mailto:mpiobserva@org.br
https://www.fadc.org.br/sites/default/files/2019-11/ODS-10.pdf
 
 
 
 
 
 
 
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VÍDEO 1 
Para finalizar este tema, assista à pílula do documentário O Começo da Vida sobre 
os DIREITOS DAS CRIANÇAS: https://ocomecodavida.com.br/direitos-das-criancas/. E 
reflita sobre as condições de desenvolvimento em que se encontram as crianças de seu 
território de atuação. Você pode registrar em um portifólio quais situações problemas lhe 
chamaram mais atenção a partir da leitura realizada. 
 
Referências bibliográficas: 
AGÊNCIA BRASIL. 2105. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-05/brasil-
tem-mais-de-20-milhoes-de-maes-solteiras-aponta-pesquisa. Acesso em: 20.set.2020. 
BRASIL. Constituição Federal, de 5 de outubro 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2020. 
BRASIL. Marco Legal da Primeira Infância, de 8 de março de 2016. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13257.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20estabelece%20princ%C3%
ADpios,e%20diretrizes%20da%20Lei%20n%C2%BA. Acesso em: 16 set. 2020. 
CECAD 2.0. Cadastro Único, 2020. Disponível em: 
https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/cecad20/painel03.php. Acesso em: 24 set. 2020. 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20estabelece%20princ%C3%ADpios,e%20diretrizes%20da%20Lei%20n%C2%BA
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19 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-
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Cidadania. 
 
 
19 
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https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
 
 
 
 
 
 
 
20 
1.1.2. Panorama dos direitos da criança e do adolescente: a condição 
peculiar de desenvolvimento, do menorismo à proteção integral, o melhor 
interesse da criança, a prioridade absoluta dos direitos da criança e do 
adolescente e a responsabilidade compartilhada 
 
“Crianças e adolescentes: que experiência de vida estamos lhes ofertando 
hoje, neste presente que virá a ser um dia 
o seu passado moldador?” 
Edson Seda 
A citação de Edson Seda (2018 [1993]), um dos redatores do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, instiga a reflexão sobre como nossas tradições contemporâneas se 
portam na direção da efetivação da regra da prioridade absoluta e dos princípios 
estatutários e que passado estamos construindo. Um passado organizado em tradições 
que garantem, promovem e defendem direitos humanos de crianças ou um passado que se 
organiza em práticas que ignoram, menosprezam e violam direitos humanos de crianças, 
reproduzindo tradições anteriores? 
Durante a década de 90, o Brasil, assim como muitos países, experienciaram o 
surgimento de profundas mudanças no entendimento do significado da infância, dando 
origem ao chamado reconhecimento da criança e do adolescente como pessoas plenas de 
direitos - sujeitos de direitos - reconhecidos como pessoas em uma condição peculiar de 
desenvolvimento, própria das suas idades. Nesse sentido, surge a Doutrina da Proteção 
Integral, que representa um grande marco regulatório porque a criança passa a ser 
compreendida como sujeito de direitos. Isso se dá com a Convenção Internacional dos 
Direitos da Criança (1989), a Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (1990). A partir desses três elementos normativos, pode-se falar de uma 
doutrina jurídica da proteção integral (VERONESE, 2020). 
 
A CONDIÇÃO PECULIAR DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO PESSOAS EM 
DESENVOLVIMENTO 
 
Condição peculiar, segundo outro redator do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, Antônio Gomes da Costa (2016), “significa que a criança e o adolescente têm 
todos os direitos, de que são detentores os adultos, desde que sejam aplicáveis à sua idade, 
ao grau de desenvolvimento físico ou mental e à sua capacidade de autonomia e 
19 
 
 
 
 
 
 
 
21 
discernimento”. Essa compreensão tem respaldo nas ciências humanas e biológicas a 
respeito da condição de pessoas em desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e 
sociocultural, que merecem proteção especial por se encontrarem em um estágio 
importante e peculiar da vida. Segundo Gomes (2016), ao interpretar todos os demais 
artigos da legislação, esse princípio deve servir como critério: 
"Art. 6º - Na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a 
que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres 
individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente 
como pessoas em desenvolvimento" (BRASIL, Estatuto da Criança e do 
Adolescente, 1990). 
 Ainda sobre esse aspecto, Seda (2018 [1993]) afirma que “(...) qualquer medida 
adotada em relação a esta ou àquela criança, qualquer programa coletivo de trabalho, 
qualquer política pública formulada, deve sempre, defendendo a criança, defender 
também a sociedade”. De acordo com o autor, essa exigência é própria da cidadania, na 
qual fazer valer os interesses de cada um envolve também promover a exigência de 
preservação do bem comum, da coletividade. 
 
● DO MENORISMO à PROTEÇÃO INTEGRAL 
 
Os caminhos históricos da infância no Brasil são permeados por privações, 
omissões e estigmatizações, destacando-se as situações marcadas por maus-tratos, 
violações sexuais, mortalidade, miséria, fome, abandono, escravidão, discriminação etc. 
As primeiras ações dirigidas a corrigir essa situação estiveram a cargo dos jesuítas, 
em um modelo europeu que muito se diferenciava da realidade das crianças que viviam no 
Brasil Colônia, trazendo sérias dificuldades para a adaptação delas à proposta pedagógica 
jesuítica (DEL PRIORI, 1995, citado em PASSETI s/a, p. 4). 
 Segundo Neto, no século XVIII: “(...), um estrondoso número de bebês 
abandonados eram deixados pelas mães à noite, nas ruas sujas. Muitas vezes eram 
devorados por cães e outros animais que viviam nas proximidades ou vitimados pelas 
intempéries ou pela fome” (NETO, 2000, p. 107). 
Como solução a essa situação considerada caótica, foi instalada, na Colônia, a 
chamada Roda dos Expostos. De acordo com Passeti, “(...) a primeira foi aberta na Santa 
Casa de Misericórdia em Salvador, no ano de 1726. Ainda no período colonial, uma 
segunda e última roda é estabelecida em Recife. Mesmo, após a independência do Brasil, 
21 
20 
 
 
 
 
 
 
 
22 
essas rodas continuaram a funcionar. Em 1825, uma outra roda é instalada na Santa Casa 
de Misericórdia de São Paulo” (PASSETI, s/a, p. 10). 
Esta roda era uma espécie de dispositivo onde eram colocados os bebês 
abandonados por quem desejasse fazê-lo. Apresentava uma forma 
cilíndrica, dividida ao meio, sendo fixada no muro ou na janela da 
instituição. O bebê era colocado numa das partes desse mecanismo que 
tinha uma abertura externa. Depois, a roda era girada para o outro lado 
do muro ou da janela, possibilitando a entrada da criança para dentro da 
instituição. Prosseguindo o ritual, era puxada uma cordinha com uma 
sineta, pela pessoa que havia trazido a criança, a fim de avisar o vigilante 
ou a rodeira dessa chegada, e imediatamente a mesma se retirava do 
local (PASSETI, s/a, p. 9). 
Segundo os registros oficiais, a criança pequena foi, pela primeira vez, objeto de 
normatização legal da parte de seus interesses com o advento da Lei do Ventre Livre, 
instituída em 1871 – Lei nº 2.040. Em seus artigos 1º e 2º, essa lei assegurou que os filhos 
nascidos de escravos seriam pessoas livres, bem como proibiu a venda de crianças com 
idade inferior a 12 anos. 
Durante os séculos XVIII e XIX, a titularidade das ações de “amparo” às crianças 
esteve a cargo das Santas Casas de Misericórdia e das ações de algumas paróquias, em 
especial nas metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1911, o Governo da República 
criou o Instituto Sete de Setembro, na Capital da República, com a finalidade de recolher e 
atender as crianças abandonadas nas ruas da cidade, bem como aquelas envolvidas em 
delitos, sendo aquele o precursor das ações oficiais do Estado Brasileiro, transformando-
se, posteriormente, no Serviço de Assistência ao Menor (SAM), de 1941, que, por sua vez, 
deu origemà Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM), em 1964. 
Vale destacar que, na virada do século XIX para o XX, grupos de imigrantes 
chegavam ao país, inúmeros negros escravizados foram libertados e as principais cidades 
contavam com uma população em crescimento. Como ressaltado por Alvarez (2003, p. 
693), “o antigo medo das elites diante dos escravos será [foi] substituído pela grande 
inquietação em face da presença da pobreza urbana nas principais metrópoles do país”. 
Assim, para dar conta do novo “problema”, as atenções estatais se voltavam para hábitos, 
costumes, modos de pensar e relações interpessoais da população. Diante das mudanças 
no contexto político e social mencionadas, um grande número de pessoas não integradas 
ao novo mundo do trabalho assalariado dos centros urbanos passou a ser percebido pelas 
elites enquanto uma “classe perigosa”, tornando-se uma preocupação constante das 
22 
21 
 
 
 
 
 
 
 
23 
autoridades públicas e policiais (ALVAREZ, 2003). A juventude em situação de 
vulnerabilidade torna-se, então, um problema no Brasil: 
Vemos pelas ruas mais centrais da cidade inúmeras crianças vagando à 
toa, mendigando aos transeuntes, crianças, aliás, dotadas de robustez 
física, indicada por sinais que revelam uma boa constituição psicológica, 
mas que, entretanto, colocadas em um meio deletério, habituadas à vida 
minguada da terra donde partiram, acreditando que neste país a vida 
absolutamente nada custa, vivem à toa, à procura de seu destino, como 
se neste como em todos os países fosse possível a conquista da vida por 
outra lei que não a lei do trabalho (SÃO PAULO, 1893, citado 
em:ALVAREZ, 2003, p. 64). 
 
De acordo com Rizzini (2007), o Estado descobre a possibilidade de moldar novos 
cidadãos. No lugar de investir em uma política nacional de educação de qualidade para 
todos, optou-se por investir em uma política tutelar predominantemente jurídico-
assistencialista para a juventude em situação de vulnerabilidade econômica e social 
(RIZZINI, 2007). 
Surge, nesse sentido, uma nova forma de pensar o papel do Estado em relação a 
um determinado grupo de jovens. Juntamente com esse modelo, passaram a emergir, de 
forma mais robusta, debates a respeito de jovens “delinquentes, pequenos mendigos, 
vadios, viciosos, abandonados”, levantando-se a necessidade de mudanças legislativas e 
institucionais para dar conta da questão da chamada “menoridade” (ALVAREZ, 1989, p. 
50). Tais preocupações e discussões irão culminar, entre outras disposições, no Decreto n. 
16.272 de 1923, em que são criadas normas de assistência social visando “proteger os 
menores abandonados e delinquentes”, base para a criação do Código de Menores de 
1927. 
No âmbito da Justiça, somente em 1923 foi criado o primeiro Juizado de Menores 
no país, que, entre outras tarefas, teve a missão de trazer para a legislação brasileira a 
Doutrina da Situação Irregular, consumada no primeiro Código de Menores, em 1927, 
conhecido como Melo Mattos. 
O Código de Menores de 1927 reconhecia como objetivos principais a proteção 
e a assistência. Por um lado, foram criados dispositivos inovadores, estabelecendo a 
proibição do trabalho dos menores de 12 anos, bem como a proibição do trabalho infantil 
noturno. Por outro lado, foram criados artefatos legais voltados para aqueles que viviam 
em situação de vulnerabilidade econômica, estabelecendo, assim, um tratamento jurídico-
23 
22 
 
 
 
 
 
 
 
24 
penal especial para essa parcela da população jovem, a chamada Doutrina da Situação 
Irregular (CIFALI, 2019). 
O Código previa que a autoridade competente deveria se informar a respeito do 
estado psíquico, mental e moral do jovem, além da situação social, moral e econômica de 
pais, tutores ou pessoas incumbidas de sua guarda. Não havia uma diferenciação entre 
jovens que eram acusados de haver cometido atos contrários à lei e aqueles em situação 
de abandono. Além disso, nos casos envolvendo infrações penais, ainda que o jovem fosse 
absolvido, poderia ser encaminhado a uma instituição ou ser submetido à liberdade 
vigiada. O delito não era tão preponderante como a situação econômica e social do jovem 
e de sua família. Os pais, assim como os jovens, eram repreendidos por viverem em 
condições miseráveis, isolando-se o jovem em instituições estatais precárias sob o 
argumento de que era para o seu próprio bem (CIFALI, 2019). 
Já o Código Penal de 1940, em sua exposição de motivos, declarava que: “não 
cuida o projeto dos imaturos (menores de 18 anos) senão para declará-los inteira e 
irrestritamente fora do direito penal, sujeitos apenas à pedagogia corretiva da legislação 
especial”, o Código de Menores (BRASIL, 1940). Ou seja, optou-se por manter a 
intervenção estatal sobre os menores de 18 anos em um âmbito especializado. Em seguida, 
em 1942, foi criado o SAM (Serviço de Assistência aos Menores), órgão que atuaria como 
um equivalente ao sistema penitenciário para a população adolescente, tendo surgido 
diante do aumento da população juvenil institucionalizada (SARAIVA, 2005; RIZZINI, 
2007). 
Em 1964, foi estabelecida a Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM), 
executada pela Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM). A PNBEM tinha 
um caráter nacional. O Instituto Sete de Setembro, o SAM e a FUNABEM surgiram como 
integrantes do Ministério da Justiça, sendo a última transferida para o Ministério da 
Previdência Social, de 1972 até 1986. 
Com as constituições aprovadas por Vargas, o Código de Menores sofreu pequenas 
alterações, porém, prevaleceu na sua essência até 1979, quando o Brasil teve aprovado o 
Código Cavaliere, seu segundo Código de Menores Brasileiro. Este foi inspirado na mesma 
doutrina do anterior, inaugurada em 1927, embora nesse período outros países já 
tivessem iniciado uma outra concepção, representada pela Declaração dos Direitos da 
Criança de 1924, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e a Declaração 
Universal dos Direitos da Criança de 1959. 
24 
23 
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/DeclDirCrian.html
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/DeclDirCrian.html
https://www.oas.org/dil/port/1948%20Declara%C3%A7%C3%A3o%20Universal%20dos%20Direitos%20Humanos.pdf
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos-direitos-da-crianca.html
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos-direitos-da-crianca.html
 
 
 
 
 
 
 
25 
Curiosamente, nesse ano de 1979, a Organização das Nações Unidas (ONU) 
instituía, por provocação da Polônia, um grupo ad hoc para percorrer todos os territórios 
do planeta, durante 10 anos, visando à construção do texto-base para a Convenção 
Internacional dos Direitos da Criança, na perspectiva de avançar a legislação internacional 
na direção da Doutrina da Proteção Integral, que veio a ser aprovada na Assembleia Geral 
da ONU de 1989. 
 
 
 
 
Mas o que pretendia a Doutrina da Situação Irregular? 
 
A Doutrina da Situação Irregular estabelecia a atuação da Justiça em situações de 
abandono, prática de infração penal, desvio de conduta, falta de assistência ou 
representação legal, carência material, entre outros. A lei não pretendia a atuação na 
prevenção, mas se ocupava do conflito instalado. Calcada em uma concepção 
segregacionista em relação à criança e ao adolescente, considerava como conflito com a lei 
estar irregular perante a sociedade e o poder público: 
Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular 
o menor: 
I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instruçãoobrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: 
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; 
b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; 
Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou 
responsável; 
III - em perigo moral, devido a: 
a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons 
costumes; 
b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; 
IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos 
pais ou responsável; 
V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou 
comunitária; 
VI - autor de infração penal (BRASIL, Código de Menores, 1979). 
 
Os destinatários das disposições contidas na legislação “menorista” eram apenas 
algumas crianças e adolescentes, tão somente aquelas enquadradas em uma hipótese de 
situação irregular, então tratadas como objeto de intervenção da Justiça. 
25 
24 
 
 
 
 
 
 
 
26 
A Lei 6.697/79 surgiu em um momento em que a sociedade brasileira e, em especial, 
a maioria das pessoas que atuavam na atenção à infância entendiam que o modelo adotado 
no país para o atendimento às crianças só havia colecionado sucessivos fracassos, quer 
seja no que diz respeito às ações empreendidas pelo poder público, em que as FEBEMs se 
constituíam em “carros-chefe”, ou nas ações desenvolvidas pelas Organizações da 
Sociedade Civil, impregnadas pelo filantropismo assistencialista. Essa lei foi aprovada em 
um contexto de fortes críticas, inclusive internacionais, ao tratamento da questão no Brasil, 
sendo uma resposta ainda dentro do contexto do regime militar, que ignorou as discussões 
e as propostas que já estavam sendo realizadas, alinhadas às novas concepções de 
proteção integral. Dessa forma, em sua vigência, o Código de Menores foi mais objeto de 
críticas e contestações do que de apoio e alinhamento pelo conjunto das instituições e das 
iniciativas da sociedade. 
Por outro lado, o menorismo no Brasil foi invadido por inúmeras iniciativas que 
buscavam estabelecer outros parâmetros de atendimento e proteção à infância e à 
adolescência, destacando-se projetos como “Alternativas para Atendimento a Meninos e 
Meninas de Rua” - cujo processo de mobilização deu origem a uma Organização, o 
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua; as Casas Lares, com o intuito de 
reformular o modelo de institucionalização de crianças em pequenas unidades e as 
Repúblicas Juvenis, como estratégia para a retirada de meninos e meninas das ruas das 
grandes cidades (RIZZINI; PILOTTI, 2009). 
Todas as iniciativas nesse período tinham iluminação nos 10 pontos trazidos pela 
Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 1959, sendo essas as bases para a 
discussão do que viria a ser, em 1989, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança. 
Pode-se inferir que o período de vigência do último Código de Menores (10 anos) foi o 
período de efervescência da sua negação, com o amadurecimento da Doutrina da Proteção 
Integral. 
Até esse período, as ações privadas e públicas de atendimento às crianças 
pequenas no Brasil se sustentavam no viés assistencialista e de caráter meramente 
compensatório. Inexistia uma política nacional e integrada. Porém, nesse período, ocorreu 
uma marcante transformação na concepção sobre a finalidade social da Educação Infantil 
enquanto um direito das crianças, ainda que sobre forte influência da vertente do direito 
da família cujas mães eram trabalhadoras e que, portanto, deviam portar um direito de 
assistência aos filhos. 
26 
25 
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos-direitos-da-crianca.html
 
 
 
 
 
 
 
27 
As questões sociais, políticas e econômicas, amplamente constatadas por diversos 
segmentos envolvidos na atenção à criança pequena, fizeram com que ganhasse corpo a 
organização de um processo de mobilização das instituições públicas e sociais com vista a 
se ter garantida na nova Constituição Federal, em construção, a proteção integral aos 
direitos humanos de todas as crianças e os adolescentes, liderados pelo Movimento 
Nacional Criança e Constituinte. 
Figura 5 – As crianças na Constituinte (Fonte: Plenarinho, Câmara dos Deputados) 
 
No texto constitucional de 1988, ficou estabelecido o atendimento institucional 
educacional às crianças, conforme dispõe o artigo 208, inciso IV: “O dever do Estado com 
a educação será efetivado mediante a garantia de [...] atendimento em creche e pré-escola 
às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL, Constituição Federal, 1988). 
A concepção da criança e do adolescente como sujeitos portadores de direitos 
fundamentais foi ampliada no caput do artigo 227 de nossa CF, que convém ser 
compreendida em seu valor histórico pela leitura de seu preâmbulo: 
Constituição Federal do Brasil 
 
PREÂMBULO 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia 
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado 
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a 
27 
26 
 
 
 
 
 
 
 
28 
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como 
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem 
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, 
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
(...) 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação 
dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 
 
Essa conquista histórica foi seguida de diversas iniciativas visando à 
regulamentação do artigo 227, reunindo agentes/servidores públicos, profissionais 
liberais, educadores, juízes, promotores, defensores, lideranças religiosas e organizações 
internacionais em uma grande cruzada nacional para a construção do Marco Legal dos 
Direitos da Criança e do Adolescente, inspirados pelo resultado das discussões que viriam 
a dar origem ao texto da Convenção Internacional de 1989. 
Assim, em 13 de julho de 1990, esse marco legal foi aprovado por unanimidade no 
Congresso Nacional, constituindo a Lei n° 8.069 – o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA). 
VÍDEO 2 
Assista, a seguir, ao vídeo construído em homenagem aos 30 anos do ECA, retratando a 
importante conquista representada por sua promulgação. Disponível em: 
https://www.cnj.jus.br/agendas/congresso-digital-dos-30-anos-do-estatuto-da-crianca-
e-do-adolescente/. 
Na sua operacionalidade, nesses 30 anos de vigência, o ECA requereu algumas 
alterações na direção de um adequado detalhamento das normas, com vistas a ampliar sua 
capacidade de induzir a alteração da realidade vivida por crianças e adolescentes. Dentre 
essas alterações destacam-se a lei do direito à convivência familiar e comunitária, também 
conhecida como lei da adoção (Lei 12.010/2009), a lei contra maus-tratos (Lei 
13.046/2014), o sistema nacional de socioeducação (Lei 12.594/2012) e o marco legal da 
primeira infância (Lei 13.257/2016). 
2 
28 
27 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
https://www.cnj.jus.br/agendas/congresso-digital-dos-30-anos-do-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente/
https://www.cnj.jus.br/agendas/congresso-digital-dos-30-anos-do-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente/29 
A Lei 12.010/2009 foi de suma importância para uma maior efetividade dos 
direitos da criança e do adolescente na realidade concreta. Isso porque, no passado, a 
adoção de crianças tinha o único objetivo de suprir as vontades e as necessidades do 
adotante. Contudo, com o passar do tempo e o desenvolvimento das ideias democráticas, 
o interesse do infante foi sendo priorizado no ordenamento jurídico, de modo que, 
atualmente, o papel da adoção não é mais o de conceder uma criança a uma família, mas 
uma família para uma criança (GHESTI, 2010; RIBEIRO, 2019). 
No que tange ao sistema nacional de socioeducação, este representa um grande 
avanço também para a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo em 
vista que se constitui em uma importante conquista na atenção e na intervenção de 
adolescentes autores de atos infracionais. Com o SINASE (Lei 12.594/2012), por meio de 
ações articuladas e ações pedagógicas, estabelece-se um potencial para proporcionar a 
ressignificação das trajetórias infratoras, visando à não reincidência infracional e à 
construção de novos projetos de vida para esses jovens. 
A Lei 13.046/2014 contra maus-tratos determina a presença de especialistas em 
lugares públicos ou privados que saibam reconhecer suspeitas de maus-tratos. 
De acordo com pesquisa “Ocultos à plena luz”, divulgada em 2014 pelo Fundo das 
Nações Unidas para a Infância (Unicef), “6 em cada 10 crianças, de 2 a 14 anos de idade, no 
mundo, sofrem punições físicas dos cuidadores. Geralmente, o castigo físico vem 
acompanhado da agressão psicológica”. Portanto, a implementação dessa lei corroborou e 
corrobora para o avanço da efetivação da democracia na realidade, possuindo suma 
importância para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil. 
Com essas iniciativas por parte de instituições, segmentos sociais e profissionais, 
vem sendo gradativamente pavimentado o caminho para a construção de um passado 
marcado por valor, respeito, igualdade de direito e importância pessoal, social e econômica 
da criança cidadã. A construção dessa via bem estruturada é um enorme desafio e sua 
realização tem sido gradativa. 
Nessa trajetória, destaca-se o Marco Legal da Primeira Infância, que, para se 
estabelecer/detalhar como um conjunto de direitos específicos de um segmento etário da 
população de crianças, necessitou de um período de maturação da sociedade e das 
instituições sobre as normas gerais da cidadania infantojuvenil. 
Levando em conta a regra constitucional da prioridade absoluta, quanto mais tenra 
a idade da criança, maior deve ser o nível de prioridade dirigida à atenção das suas 
29 
28 
 
 
 
 
 
 
 
30 
necessidades e interesses – direitos fundamentais, pois é justamente nos primeiros anos 
de vida de uma criança, em função de suas naturais condições de maturações físicas, 
psíquicas, biológicas e sociais que elas mais necessitam da atuação dos adultos para fazer 
valer o direito de ter direitos. Essa concepção se encaixa perfeitamente na reflexão que 
Costa nos trouxe em seu texto sobre a Política de Atendimento, publicado no site Pro-
Menino em dezembro de 2012: 
O atendimento aos direitos da criança e do adolescente deve ser 
encarado como prioridade absoluta, devido ao fato de esses: 
1. não conhecerem suficientemente seus direitos; 
2. não terem condições de suprir por si mesmos suas necessidades 
básicas, 
3. serem pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, e, 
finalmente, 
4. possuírem um valor intrínseco (são seres humanos integrais em 
qualquer fase de seu desenvolvimento) e um valor projetivo (são 
portadores do futuro de suas famílias, de seus povos e da espécie 
humana) (COSTA, 2012). 
 
Uma expressão importantíssima sempre ouvida desse mestre em diversos 
momentos é que a implementação da Doutrina da Proteção Integral exige de todos – 
gestores, trabalhadores sociais, educadores, autoridades da justiça, defensores dos 
direitos da criança e da sociedade como um todo – uma mudança definitiva na maneira de 
“ver, pensar e agir” frente a uma criança e ao que ela demanda das providências dos 
adultos. 
 
● A PRIORIDADE ABSOLUTA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
Por muitos anos, a prioridade absoluta estabelecida nos Art. 227 da CF e Art. 4º do 
ECA foi considerada como um princípio para efetivação dos direitos da criança e do 
adolescente e, mesmo depois de três décadas, ainda são amplamente desconhecidos por 
grande parte da população e, por outros, incompreendidos ou mesmo contestados. 
Uma nova compreensão tem sido trazida a partir de ações desenvolvidas, por 
exemplo, pelo Programa Prioridade Absoluta, promovido pelo Instituto Alana, que difunde 
que não se trata de um princípio, mas de uma regra. Destaca-se, ainda, que em nenhum 
outro trecho da CF se fala em prioridade absoluta. Essa visão convoca a necessária 
mobilização para o cumprimento de nossa Constituição Cidadã, que, magistralmente, 
30 
29 
 
 
 
 
 
 
 
31 
reconhece que nada é mais importante para uma nação do que cuidar, com absoluta 
prioridade, dos cidadãos crianças, adolescentes e jovens. 
Além disso, a regra da prioridade absoluta, na CF (art. 227) e no ECA (art.4º), iguala 
e nomina quem deve cumpri-lo: “...é dever da família, (comunidade) sociedade do poder 
público garantir com absoluta prioridade a efetivação dos direitos...”. Para quem lê o caput 
desses dois artigos, não resta dúvida de que todos, absolutamente todos, devem garantir 
com absoluta prioridade a efetivação dos direitos. Trata-se de uma responsabilidade de 
todos, uma responsabilidade compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado. 
Figura 2 – Cartaz do Programa Prioridade Absoluta (Fonte: Instituto Alana, 2018) 
 
. 
Diante, então, da realidade repleta de tradições que se organizam de forma avessa 
(contrária do lado direito), prevalecendo o absolutismo das velhas prioridades, o que 
fazer? A tentativa de resposta exige resgatar a tríade destacada por Antônio Carlos 
Gomes: é preciso promover mudanças na forma de ver, pensar e agir em relação às 
crianças. Não é impossível, porém pouco provável, que se possa atuar priorizando a 
efetivação dos direitos de crianças, agindo sob a égide daquelas tradições que não 
conseguem reconhecer o valor humano e a condição especial, peculiar, singular das 
pessoas nessa faixa de idade. 
Prosseguindo nos ditames legais, é preciso resgatar a amplitude estabelecida na 
legislação sobre o que compreende a regra da prioridade absoluta. Isso fica expresso no 
Art. 4º do ECA, parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: 
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; 
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância 
pública; 
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas 
com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, Estatuto da Criança e 
do Adolescente, 1990, art. 4º) 
 
31 
30 
 
 
 
 
 
 
 
32 
Então, se levarmos em conta o que a ciência e as boas práticas de políticas públicas 
produziram no Brasil e no mundo, tão logo surge uma vida: a uma criança deve ser 
reservado o melhor que o poder público e a sociedade têm para garantir o seu pleno 
desenvolvimento. Embora não exista hierarquia na destinação de recursos específicos na 
efetivação da cidadania dessa ampla faixa que compreende crianças e adolescentes, é 
certo que quão mais cedo se puder atender a plenitude de direitos, demandas e 
necessidades, menos se terá o que compensar nos anos vindouros. 
● O Melhor Interesse da Criança 
 
Muitas vezes, não é fácil conciliar as necessidades e os interesses dos vários 
titulares de direitos, encontrando-se a criança frequentemente em meioa disputas de 
interesses dos adultos. Nesse contexto, em consequência da evolução normativa, é preciso 
ter um critério para balizar a tomada de decisões. Esse critério é: “o melhor interesse da 
criança” ou “interesse superior da criança”. 
Esse critério balizador não está explícito na CF nem no ECA, mas respalda-se 
claramente na Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, 
ratificada no Brasil com a promulgação do Decreto Legislativo nº 99.710/90. O Decreto 
torna norma legal todos os princípios e artigos da Convenção e, assim sendo, lá essa 
expressão é tácita: 
Art. 3.1 - Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por 
instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, 
autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, 
primordialmente, o interesse maior da criança". (ONU/UNICEF, 1989) 
Nesta trajetória de avanços legislativos, o Marco Legal da Primeira Infância, por sua vez, 
inscreve este critério na lei: 
 
Art. 4º As políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da 
criança na primeira infância serão elaboradas e executadas de forma a: 
I - atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito 
de direitos e de cidadã (...) (BRASIL, Lei 13.257/2016) 
 
Para alguns autores, como Gonçalves (2020), resta a necessidade de definição do 
sentido exato do melhor interesse, que não é de fácil apreensão e sujeito a interpretações 
controversas. Na CF e no ECA, tem-se o direito de liberdade, o direito ao respeito e 
dignidade às crianças e aos adolescentes, além do direito de participação, de ser ouvido 
32 
31 
 
 
 
 
 
 
 
33 
nas situações que lhes dizem respeito e que envolvem possíveis conflitos aos seus 
interesses. 
A menoridade criminal e civil e a ausência de condição de defender, administrativa 
ou judicialmente, os seus interesses, não anula o direito de crianças e adolescentes se 
manifestarem em qualquer situação, administrativa ou judicial, no que diga respeito aos 
seus direitos. 
(...) a participação da criança e do adolescente no processo de decisão 
sobre seu melhor interesse afigura-se essencial e obrigatória, em 
observância aos valores positivados pelo legislador e, em especial, para a 
concretização da dignidade que se realiza pela concepção da criança 
como sujeito de direito e não apenas como objeto de proteção 
(GONÇALVES, 2020). 
 
Esse direito, critério e condição de efetivação são ainda mais detalhados no Marco 
Legal da Primeira Infância, quando, em seu artigo 4º, prevê que também se deve incluir a 
participação da criança – mesmo na primeira infância – na definição das ações que lhe 
digam respeito, em conformidade com suas características etárias e de desenvolvimento. 
Essa é a forma de “promover sua inclusão social como cidadã”, reconhecendo-se que a 
participação da criança e sua escuta requerem a atuação de profissionais qualificados em 
processos de escuta adequados às diferentes formas de expressão infantil (Lei 
13.257/2016). 
● A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA 
No caso dos direitos assegurados a todas as crianças brasileiras pelo Art. 227 da 
CF, cabe ao Estado, à Sociedade e à Família o dever de cumpri-los. Trata-se, assim, de uma 
responsabilidade compartilhada. Ao contrário da doutrina anterior, que responsabilizava 
apenas as famílias pelas condições das crianças e dos adolescentes, as novas disposições 
vêm trazer a responsabilidade de toda a sociedade, assim como do Estado, no cuidado e na 
atenção à infância e à adolescência. 
Assim, cada um possui seu papel para efetivar os direitos constitucionais, 
estatutários e do Marco Legal da Primeira Infância. Este, mais ainda, prevê também a 
responsabilidade do setor empresarial, por meio do “conceito de responsabilidade social e 
investimento social privado” (BRASIL, Marco Legal da Primeira Infância, 2016, art. 12). No 
33 
32 
 
 
 
 
 
 
 
34 
entanto, para exercer a responsabilidade é necessário ter conhecimento dela e de como 
exercê-la. 
 
Você sabia? 
Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, “oitenta e um por cento (81%) dos brasileiros não 
se consideram informados o suficiente sobre os direitos das crianças previstos na 
Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)” (DATAFOLHA; 
INSTITUTO ALANA, 2013). 
 
Neste sentido, o Marco Legal da Primeira Infância buscou aprimorar no ECA o 
dispositivo para promover a todos o conhecimento sobre os direitos das crianças e 
adolescentes, inclusive para as crianças na primeira infância: 
Art. 36. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescida 
do seguinte art. 265-A: 
“ Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divulgação dos 
direitos da criança e do adolescente nos meios de comunicação social. 
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será veiculada em 
linguagem clara, compreensível e adequada a crianças e adolescentes, 
especialmente às crianças com idade inferior a 6 (seis) anos.” (Lei 
13.257/2016, art. 36) 
 
Depois de percorrer todas essas informações consistentes do ponto de vista 
normativo e doutrinário, pode-se fazer uma pausa para refletir sobre os efeitos dessas 
conquistas na realidade brasileira e formular alguns questionamentos. Retome o texto, se 
necessário, e se pergunte: 
● Qual a minha percepção sobre esse sujeito denominado criança? 
● Que condutas, atitudes e disposição revelam o meu comportamento perante esse 
sujeito? 
● Como tenho percebido minha responsabilidade sobre a realidade que lhes é 
ofertada cotidianamente? 
● Percebo-me responsável, de alguma forma, por todas as crianças, não apenas pelos 
meus filhos? 
Então, a que conclusões chegou? 
34 
33 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art265a
 
 
 
 
 
 
 
35 
É certo que leis, normas e regras, por si, não alteram a realidade, senão pelo seu uso 
cotidiano. Isso exige uma mudança interna, que vai do particular/individual para o 
geral/coletivo. Exige aceitação e reconhecimento da maneira como temos agido no 
particular e no geral e, mais ainda, percepção do que fazemos sob a influência de velhas 
tradições – aquelas que ignoram a condição de igualdade, respeito, dignidade que as 
crianças portam naturalmente na sua existência. 
Para que o novo se estabeleça como real, várias transformações são necessárias, 
iniciando pela percepção de que o que se tinha precisa ser alterado e aquilo de que se 
dispõe são instrumentos/ferramentas para a construção do novo. Então? Fazemos o novo 
– a nova realidade da cidadania da criança, usando as velhas tradições ou introduzindo 
novas tradições? Percebe-se, inclusive, que, com o advento do dever constitucional, 
algumas tradições foram construídas na direção da negação da responsabilidade, dando 
origem ao chamado “encaminhamento”, ou seja, a velha e conhecida transferência de 
responsabilidade. 
Para saber mais: 
● Cartilha Primeira Infância é Prioridade Absoluta, Instituto Alana. Disponível em: 
https://prioridadeabsoluta.org.br/wp-content/uploads/2017/11/cartilha_primeira-
infancia.pdf. 
 
● DIDONET, V. Trajetória dos direitos da criança no Brasil – de Menor e Desvalido a Criança 
Cidadã, Sujeito de Direitos. Em: Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. Câmara 
dos Deputados: Centro de Estudos e Debates Estratégicos (e-book), 2016, p. 60-75. 
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-
infancia. 
 
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institucional de assistência e proteção aos menores. 1989. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – 
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Departamento de Sociologia, USP, São Paulo. 
ALVAREZ, M.C. Bacháreis, criminologistas e juristas. São Paulo: IBCCrim, 2003. 
BRASIL. Constituição Federal, de 5 de outubro 1988. Disponível em: 
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https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
 
 
 
 
 
 
 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697impressao.htm. Acesso em: 16 set. 
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BRASIL. Lei 8069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. 13 de julho 1990. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 16 set. 2020. 
BRASIL. Lei 13.267, de 8 de março de 2016. Marco Legal da Primeira Infância. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13257.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20estabelece%20princ%C3%
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http://fundacaotelefonicavivo.org.br/promenino/trabalhoinfantil/colunistas/a-condicao-peculiar-
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http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/8884
http://fundacaotelefonicavivo.org.br/promenino/trabalhoinfantil/colunistas/a-condicao-peculiar-da-pessoa-em-desenvolvimento/
http://fundacaotelefonicavivo.org.br/promenino/trabalhoinfantil/colunistas/a-condicao-peculiar-da-pessoa-em-desenvolvimento/
about:blank
http://www.editoramagister.com/doutrina_23385195_BREVES_CONSIDERACOES_SOBRE_O_PRINCIPIO_DO_MELHOR_INTERESSE_DA_CRIANCA_E_DO_ADOLESCENTE.aspx
http://www.editoramagister.com/doutrina_23385195_BREVES_CONSIDERACOES_SOBRE_O_PRINCIPIO_DO_MELHOR_INTERESSE_DA_CRIANCA_E_DO_ADOLESCENTE.aspx
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/eca/evolucao-do-processo-adocao-no-brasil-procedimento-e-finalidade/
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/eca/evolucao-do-processo-adocao-no-brasil-procedimento-e-finalidade/
 
 
 
 
 
 
 
37 
SARAIVA, J. B. C. Adolescente em conflito com a lei. Da indiferença à proteção integral. Uma 
abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. 
SÊDA, E. Construir o passado ou como mudar hábitos, usos e costumes tendo como instrumento 
o Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Malheiros, 2018, Edição revista de 1993.. 
ONU/UNICEF. Convenção Internacional dos Direitos da Criança. 1989. Disponível: 
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca. Acesso em: 16 set. 2020. 
VERONESE, J. R. P. Estatuto da Criança e do Adolescente – 30 anos – entre avanços e desafios. 
Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2020. 
 
37 
36 
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca
 
 
 
 
 
 
 
38 
Aula 2: A Era dos Direitos Positivos: esforço histórico 
do Marco Legal da Primeira Infância 
Na trajetória de desenvolvimento dos direitos da criança no Brasil, você está sendo 
convidado a mobilizar diversos conhecimentos, buscar saberes especializados e integrar 
redes intersetoriais para contribuir na implementação de uma lei inédita no mundo, que é 
o Marco Legal da Primeira Infância. Esta nova legislação busca reforçar as conquistas 
anteriores construídas especialmente no Artigo 227 da Constituição Federal e no Estatuto 
da Criança e do Adolescente, ancorados na Convenção sobre os Direitos da Criança. 
Parte-se da compreensão de que ao se promover atenção específica no começo da 
vida se oportuniza com mais plenitude o desenvolvimento como um todo, possibilitando 
de fato a cidadania na infância. De fato, todos passam pela primeira infância, esta fase 
impacta a adolescência, a juventude, a vida adulta e a terceira idade. 
O Marco Legal da Primeira Infância compõe-se de 17 artigos específicos e outros 
que alteram outras leis, trazendo maior visibilidade às crianças na primeira infância: 
1º Esta Lei estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a 
implementação de políticas públicas para a primeira infância em atenção 
à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no 
desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano, em 
consonância com os princípios e diretrizes da Lei nº 8.069, de 13 de julho 
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) ; altera a Lei nº 8.069, de 
13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); altera os arts. 
6º, 185, 304 e 318 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 
(Código de Processo Penal) ; acrescenta incisosao art. 473 
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei 
nº 5.452, de 1º de maio de 1943 ; altera os arts. 1º, 3º, 4º e 5º da Lei nº 
11.770, de 9 de setembro de 2008 ; e acrescenta parágrafos ao art. 5º 
da Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012 . (BRASIL, 2016, Marco Legal da 
Primeira Infância, Lei 13.257). 
 
Disto se observa que as crianças brasileiras contam agora com uma lei que 
reconhece seu direito ao desenvolvimento integral, desde o início da vida. Com este 
objetivo, o Marco Legal da Primeira Infância estabeleceu princípios e diretrizes para a 
37 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11770.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11770.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12662.htm
 
 
 
 
 
 
 
39 
formulação e a implementação de políticas públicas voltadas às crianças de 0 a 6 anos no 
País. 
 
Art. 4º As políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da 
criança na primeira infância serão elaboradas e executadas de forma a: 
I – Atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito 
de direitos e de cidadão; 
II – Incluir a participação da criança na definição das ações que lhe digam 
respeito, em conformidade com suas características etárias e de 
desenvolvimento; 
III – respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento das 
crianças e valorizar a diversidade da infância brasileira, assim como as 
diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e culturais; 
IV – Reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam 
aos direitos da criança na primeira infância, priorizando o investimento 
público na promoção da justiça social, da equidade e da inclusão sem 
discriminação da criança; 
V – Articular as dimensões ética, humanista e política da criança cidadã 
com as evidências científicas e a prática profissional no atendimento da 
primeira infância; 
VI – Adotar abordagem participativa, envolvendo a sociedade, por meio 
de suas organizações representativas, os profissionais, os pais e as 
crianças, no aprimoramento da qualidade das ações e na garantia da 
oferta dos serviços; 
VII – articular as ações setoriais com vistas ao atendimento integral e 
integrado; 
VIII – descentralizar as ações entre os entes da Federação; 
IX – Promover a formação da cultura de proteção e promoção da criança, 
com apoio dos meios de comunicação social. 
Parágrafo único. A participação da criança na formulação das políticas e 
das ações que lhe dizem respeito tem o objetivo de promover sua 
inclusão social como cidadã e dar-se-á de acordo com a especificidade de 
sua idade, devendo ser realizada por profissionais qualificados em 
processos de escuta adequados às diferentes formas de expressão 
infantil (BRASIL, 2016) 
 
Ao trazer o foco para um momento da vida em que ações podem ser promovidas 
mais oportunamente e com mais intencionalidade antes que o agravo ou a violação já 
tenham ocorrido, com vistas à promoção do desenvolvimento humano integral da pessoa, 
podemos considerar que estamos diante da oportunidade de construção de uma Era de 
Direitos Positivos. 
 
38 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
1.2.1 As infâncias, as crianças e a era do direito 
 
Prestem atenção no que eu digo, 
Pois eu não falo por mal: 
Os muitos adultos que me perdoem, 
Mas infância é sensacional!... 
...Lá no seu tempo de infância, 
Será que não foram felizes? 
Mas se tudo o que fizeram 
Já fugiu de sua lembrança, 
Fiquem sabendo o que eu quero: 
Mais respeito, eu sou criança! 
Pedro Bandeira 
 
Todos profissionais que estão participando deste curso devem ter acesso a 
conhecimentos inerentes às infâncias e vivências junto a crianças, a começar da própria 
criança que já fomos um dia. 
Como podemos efetivamente garantir uma atuação que supere o senso comum, 
que não se restrinja apenas ao atendimento das necessidades básicas imediatas das 
crianças, mas que as levem a viverem experiências promotoras de desenvolvimento 
humano integral, a conhecerem e a explorarem os espaços sociais em que vivem, de 
maneira a apropriarem-se de referências cognitivas, afetivas e sociais para – em muitos 
casos – superarem, com o apoio dos adultos, as condições de vulnerabilidade em que 
muitas vezes se encontram? E a sentirem-se valorizadas em toda sua riqueza enquanto ser 
humano único e protagonista de sua própria história, em seu contexto cultural igualmente 
próprio e de valor intangível? Em uma Nação que se dispõe a ser “dos filhos deste solo, mãe 
gentil”? 
O ponto de partida pode ser ter a clareza das concepções de infâncias e de crianças 
que permeiam os diversos contextos em que cada um atua e então fazer prevalecer 
concepções que se sustentam no reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos, 
cidadãs. 
A perspectiva que se apresenta é de superação da visão tradicional das crianças 
como receptáculos vazios, vistas como tábulas rasas ou como devir (NASCIMENTO, 2008). 
Essa perspectiva manteve-se presente nos processos formativos durante muitas décadas, 
mas os contributos da Sociologia da Infância (CORSARO, 2002; DELGADO; MÜLLER, 
2005; PINTO; SARMENTO, 2005) tem auxiliado na superação dessa visão reduzida sobre 
39 
 
 
 
 
 
 
 
41 
as infâncias e as crianças. Apresenta novos conceitos, a partir de perspectivas teóricas que 
reconhecem que: 
 
A concepção de infância singular vai ganhando contornos diferentes 
quando conseguimos compreendê-la como categoria social, categoria 
humana, que é um período de vida de cada um – de 0 a mais ou menos 12 
anos de idade – e que, portanto, assume uma perspectiva plural – 
infâncias – que pode se constituir de diversas formas, a depender do 
contexto social e cultural em que se concretiza (ALMEIDA, 2016. p. 135) 
 
Esquematicamente, essa mudança de perspectiva pode ser assim esboçada: 
 
 
Essa nova configuração e reconhecimento da pluralidade das infâncias são 
substratos importantes para o desenvolvimento de ações de dimensão nacional, 
envolvendo profissionais que exercem papéis relevantes no reconhecimento dos direitos 
das crianças. 
O reconhecimento social das crianças gera uma mudança de olhar para o papel que 
desempenham na sociedade, na construção de seus saberes, suas culturas e nas relações 
com seus pares e adultos. À medida em que as valorizamos, permitimos que as mesmas 
participem ativamente do meio em que vivem, elas podem, inclusive, assumir papel ativo 
na explicitação das contradições sociais, já que, muitas vezes, encontram-se expostas e 
vulneráveis a essas contradições. 
O olhar das crianças permite revelar fenômenos sociais que o olhar dos 
adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar 
as representações sociais das crianças pode ser não apenas um meio de 
acesso à infância como categoria social, mas às próprias estruturas e 
dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das crianças. (PINTO 
e SARMENTO,1997, p. 25) 
INFÂNCIA
Categoria 
social 
geracional
Categoria da 
história 
humana
Período da 
vida (+- 0 a 12 
anos)
INFÂNCIAS
40 
 
 
 
 
 
 
 
42 
O reconhecimento do protagonismo social das crianças dá-se exatamente quando 
as incluímos em seus contextos de vida, valorizamos e respeitamos os seus discursos e suas 
ações e nos dispomos a apoiá-las em seu desenvolvimento, considerando sua centralidadee superior interesse. É importante reconhecê-las como cidadãs, sujeitos de direitos, seres 
pensantes, ativos, criativos e capazes. Dessa maneira, poderemos reconhecer a 
pluralidade das concepções de crianças que vivem as diversas infâncias, conforme 
expresso neste esquema: 
 
A apropriação dessas concepções é fundamental para que possamos dimensionar 
o espaço social de validação e implementação das políticas públicas para a primeira 
infância. As estratégias devem ser estabelecidas em conjunto para se qualificar 
instituições e profissionais das diversas áreas (educação, saúde, assistência social, direitos 
humanos, cultura, justiça, entre outros) e setores, em âmbito nacional, a fim de se 
promover a garantia dos direitos das crianças, especialmente das que se encontram na 
primeira infância, período determinante para a formação e desenvolvimento humano. Não 
se pode perder de vista que urge a necessidade de uma mobilização nacional para se 
construir estratégias conjuntas de aprimoramento das atuais práticas e processos do 
sistema de justiça e da rede de serviços. 
Importa ressaltar que as crianças, na era dos direitos positivos, estão respaldadas 
há 30 anos pela entrada em vigor da Doutrina de Proteção Integral e agora, com o Marco 
Legal da Primeira Infância, com uma doutrina de promoção do desenvolvimento integral 
desde o início da vida. Mais que proteção, elas tem direito a ações que impulsionem seu 
desenvolvimento, não apenas que não o deixem desprotegido. E levem em consideração a 
razão de ser de sua prioridade. 
 
CRIANÇA
Sujeito de 
direitos
Cidadã
Produtora de 
cultura e 
conhecimento
CRIANÇAS
41 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
 
 
 
SEU NOME É HOJE 
 
Somos culpados de muitos erros e faltas 
porém nosso pior crime é o abandono das crianças 
negando-lhes a fonte da vida 
 
Muitas das coisas de que necessitamos podem esperar. 
A criança não pode 
 
Agora é o momento 
 em que seus ossos estão se formando 
seu sangue também o está 
e seus sentidos estão se desenvolvendo 
 
A ela não podemos responder “amanhã” 
Seu nome é hoje. 
 
Gabriela Mistral, poetiza chilena 
 
Esta poesia é muito profunda, pois além de nos remeter ao fato de que o tempo da 
criança é hoje, também explicita que a criança é a protagonista do seu tempo e da sua 
História, a quem nos cabe ser afetuosamente responsivos, encorajadores, apoiadores, 
educadores, cuidadores, inspiradores. Por isso, o Marco Legal da Primeira infância nos traz 
a importância da escuta e o princípio do respeito ao ritmo de desenvolvimento de cada 
criança (Lei 13.257/2016, artigo 4º, III). Não nos cabe impor nosso ritmo de 
desenvolvimento, mas responder diante de sua prontidão e redimensionar o papel do 
adulto, da família e da comunidade na interação com a criança enquanto pessoa hoje, não 
apenas no futuro. 
§ 1º Os programas que se destinam ao fortalecimento da família no 
exercício de sua função de cuidado e educação de seus filhos na primeira 
infância promoverão atividades centradas na criança, focadas na família 
e baseadas na comunidade. (BRASIL, 2016, Lei 13.257/2016, art. 14). 
A abordagem positiva não pode prescindir da atuação dos diversos profissionais, 
que se disponham a assumir papel ativo na implementação da regra da prioridade absoluta, 
42 
 
 
 
 
 
 
 
44 
de maneira a promover processos sensíveis às necessidades e interesses das crianças na 
primeira infância, sem nunca deixar de promover as oportunidades possíveis para seu 
desenvolvimento integral. 
Art. 3º A prioridade absoluta em assegurar os direitos da criança, do 
adolescente e do jovem, nos termos do art. 227 da Constituição Federal e 
do art. 4º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , implica o dever do 
Estado de estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a 
primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, 
visando a garantir seu desenvolvimento integral. (BRASIL, 2016, Lei 
13.257/2016) 
 A Frente Parlamentar para a Primeira Infância tem 
atuado na perspectiva dos direitos positivos. Não apenas se ocupou de promover a 
capacitação de parlamentares e gestores a partir de um Programa de Liderança Executiva 
em Desenvolvimento da Primeira Infância, de propor e aprovar o Marco Legal da Primeira 
Infância, permanece proativamente envolvida em sua implementação. 
 
43 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art227.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art4
 
 
 
 
 
 
 
45 
Todas essas iniciativas contribuem para dar visibilidade ao Marco Legal da 
Primeira Infância e, especialmente, às ações que devem ser empreendidas para sua 
implementação, de tal modo que cumpra seu papel, levando os diversos atores sociais a 
deixarem o campo do discurso e a tomarem decisões efetivas para a garantia dos direitos 
das crianças. 
 
Saiba mais sobre o papel da Frente Parlamentar da Primeira Infância ouvindo o áudio 
que se segue e consultando o site: https://frentedaprimeirainfancia.com.br/blog/ 
Objetivos da Frente Parlamentar da Primeira Infância 
https://www.camara.leg.br/radio/programas/559554-leandre-pv-pr-frente-
parlamentar-em-defesa-da-primeira-infancia/ 
 
A Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) constituiu um conjunto de 
entidades civis e governamentais organizadas em rede e também trabalha como porta-voz 
das crianças na primeira infância. Além do esforço em traduzir a atenção que elas 
merecem, por meio da formulação do Plano Nacional pela Primeira Infância, em 2010, que 
em 2020 foi revisto e atualizado, esteve ativa durante todo processo de construção do 
Marco Legal da Primeira Infância. 
Além de estar em processo de proposição da versão atualizada do Plano Nacional 
pela Primeira Infância, agregando novos temas para as ações finalísticas e estendendo sua 
vigência até 2030, a Rede Nacional Primeira Infância está lançou no dia 8 de outubro de de 
2020 o Observatório de Implementação do Marco Legal da Primeira Infância (acessível na 
Plataforma OBSERVA, em: mpiobserva.org.br). 
44 
https://frentedaprimeirainfancia.com.br/blog/
https://www.camara.leg.br/radio/programas/559554-leandre-pv-pr-frente-parlamentar-em-defesa-da-primeira-infancia/
https://www.camara.leg.br/radio/programas/559554-leandre-pv-pr-frente-parlamentar-em-defesa-da-primeira-infancia/
 
 
 
 
 
 
 
46 
De fato, não se pode falar em uma legislação de promoção de direitos sem um 
processo de monitoramento de sua implementação (PAES DE BARROS, COUTINHO, 
MENDONÇA, 2016). As crianças vivem no mundo real, de modo que a lei de fato existe 
para elas quando se traduz em ações concretas. 
 
Saiba mais sobre a atuação da Rede Nacional Primeira Infância e também sobre as 
Redes Estaduais da Primeira Infância em: http://primeirainfancia.org.br/ 
 
 
O Sistema de Justiça ingressou de forma significativa no reconhecimento da importância 
do Marco Legal da Primeira Infância, realizando com a sociedade civil e o apoio do 
Ministério da Justiça o Seminário: “Justiça Começa na Infância: A Era dos Direitos Positivos”, 
em 18.set.2020, reunindo a alta cúpula do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria 
Pública em prol da implementação da regra da prioridade absoluta desde o começo da vida. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gd1llzC9YNE 
45 
http://primeirainfancia.org.br/
https://www.youtube.com/watch?v=gd1llzC9YNE
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
E em abril de 2020 foi lançado o Pacto Nacional pela Primeira Infância, por 
iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, com base no Projeto “Justiça começa na Infância: 
Fortalecendo a atuação do Sistema de Justiça na promoção do desenvolvimento humano 
Integral”, do qual o presente curso éuma das ações. 
Para saber maiores detalhes, acesse o Portal do Pacto Nacional pela Primeira 
Infância: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pacto-nacional-pela-primeira-
infancia/ 
 
1.2.2. Como o Marco Legal da Primeira Infância coloca o Brasil na Era dos Direitos 
Positivos? 
De acordo com Paes de Barros e colegas (2016), no Brasil, tradicionalmente, 
“temos monitorado aquilo que podemos chamar de direitos negativos, ou seja, temos 
cuidado para que ninguém impeça as crianças de se desenvolverem (...), ou seja, ninguém 
pode praticar uma violência contra a criança” (p. 197). Contudo, com o Marco Legal da 
Primeira Infância, “mais do que não atrapalhar, ou deixar de atrapalhar o desenvolvimento 
da criança, queremos também interagir de uma maneira afetiva e construtiva com ela (...), 
46 
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pacto-nacional-pela-primeira-infancia/
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pacto-nacional-pela-primeira-infancia/
 
 
 
 
 
 
 
48 
queremos começar a promover, a ajudar. Isso é o que chamamos de direito positivo” 
(idem). 
Nessa perspectiva, compreendemos a mudança de paradigma representada pelo 
Marco Legal da Primeira Infância como a passagem da era dos direitos negativos, tais como 
não morrer prematuramente, não passar fome, não ser vítima de maus tratos ou 
negligência para a era dos direitos positivos, tais como o direito ao brincar, a ser estimulada 
de acordo com sua faixa etária, a desenvolver seu potencial físico, emocional, social e 
cognitivo. 
Esta distinção também representa a passagem de ações como proteger, defender, 
prevenir, para ações mais construtivas como promover oportunidades para se 
desenvolver, promover condições para poder efetivamente usufruir das oportunidades 
oferecidas e estimular o aproveitamento das oportunidades disponíveis (BARROS, 2018). 
Outra mudança de paradigma nesta concepção é a compreensão do recurso 
destinado às ações para primeira infância como “investimentos”, não como “gastos”. 
Finalmente, Paes de Barros (2018) aponta que um dos fatores que geram 
diferenças entre países é justamente que os mais enriquecidos são os que investem nos 
direitos positivos e assim se fortalecem. Enquanto os países com economias menos 
sustentáveis despendem muitos gastos com direitos negativos, os quais não oferecem 
significativo retorno e desenvolvimento nem para os indivíduos nem para a Nação. O 
processo de criar mecanismos para investimento na atenção à primeira infância coloca o 
Brasil na era dos direitos positivos, conforme se observa: 
 
 
47 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
 
 
 
 
48 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
1.2.3 As crianças e o Marco Legal da Primeira Infância: história e políticas 
 
Dós filhos deste solo, és Mãe Gentil, 
Pátria amada, Brasil... 
 
Trecho do Hino Nacional Brasileiro 
 
Um breve histórico 
A Lei do Marco Legal da Primeira Infância – Lei º 13.257 foi aprovada em 08 de 
Março de 2016, e resultou da apresentação de Projeto de Lei 6.998/2013, de autoria do 
Deputado Osmar Terra e outros membros da Frente Parlamentar da Primeira Infância, 
propondo atualização do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, assim como de 
outras leis para dispor sobre a primeira infância. Sua tramitação se iniciou em dezembro 
de 2013, contou com seminários internacionais, seminários regionais, audiências públicas 
e reuniões técnicas, promovendo uma interlocução do parlamento com as diversas esferas 
do governo, sociedade civil, especialistas e universidades 
Esta lei tem grande relevância na busca da promoção dos direitos das crianças de 
até seis anos de idade, que hoje somam mais de 20 milhões no Brasil. Enseja o 
estabelecimento de princípios e diretrizes importantes para formulação e implementação 
de políticas públicas para a primeira infância, em atenção à especificidade e à relevância 
dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser 
humano. Além de criar um campo específico para a primeira infância, em seus primeiro 
dezessete artigos, na sequência a Lei do Marco Legal aperfeiçoa as seguintes legislações, 
trazendo maior visibilidade ao cuidado necessário na primeira infância em diferentes 
matérias, que serão objeto de atenção ao longo do curso: 
49 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
 
Principais inovações instituídas pelo Marco Legal da Primeira Infância: 
✓ A Política Nacional Integrada para atendimento aos direitos da criança na primeira 
infância; 
✓ A criação de comitês intersetoriais específicos, com a participação dos Conselhos 
de Direitos da Criança e do Adolescente, nos diversos níveis de governo; 
✓ O estabelecimento de um conjunto de áreas prioritárias para as políticas públicas 
voltadas à primeira infância, que devem atuar de forma integrada; 
✓ A criação/adequação de cursos especializados voltados à qualificação técnica dos 
profissionais que atuam na execução das políticas e programas destinados à 
primeira infância; 
✓ A instituição de mecanismos de monitoramento e coleta sistemática de dados, 
avaliação periódica dos elementos que constituem a oferta dos serviços à criança 
e divulgação dos seus resultados; 
✓ A divulgação do orçamento investido na primeira infância; 
✓ A criação de programas governamentais de apoio às famílias para promoção do 
desenvolvimento na primeira infância, considerando a visita domiciliar e a 
intersetorialidade como estratégicas. 
ECA
Lei 8.069/1990
Código de 
Processo Penal
Dec.-Lei 
3.689/1941
CLT
Dec.-Lei 
5.452/1943
EMPRESA 
CIDADÃ
Lei 
11.770/2008
Declaração de 
Nascido Vivo
Lei 
12.662/2012
POLÍTICAS 
PÚBLICAS 
PARA A 
PRIMEIRA 
INFÂNCIA
Marco Legal da 
Primeira Infância 
Lei 13.257/2016 
50 
 
 
 
 
 
 
 
52 
✓ O apoio à participação das famílias nas "redes de proteção e cuidado" da criança 
em seus contextos sociofamiliar e comunitário visando, entre outros objetivos, a 
formação e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, com 
prioridade aos contextos que apresentem riscos ao desenvolvimento da criança e 
às famílias em condição de vulnerabilidade; 
✓ A necessidade de ampliação da oferta de educação infantil de qualidade para 
crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos, assim como a criação de espaços lúdicos que 
propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e 
privados onde haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres 
e seguros em suas comunidades. 
✓ A prisão domiciliar em caso de gestantes ou mães cumprindo prisão preventiva, de 
modo a não se comprometer as condições de desenvolvimento da criança. 
✓ Entre muitos outros dispositivos que propiciam condições positivas para o 
desenvolvimento da criança, no momento oportuno. 
 Trata-se, portanto, de um artefato legal instituído no sentido de promoção de 
condições para o desenvolvimento integral da pessoa em sua fase mais oportuna, que é a 
primeira infância. Reforça-se que as crianças tem direito a serem tratadas com afetividade, 
respeito e estímulos apropriados ao desenvolvimento de todas suas competências. 
Deste modo, temos uma lei que nos proporciona melhores concepções e 
dispositivos para se efetivar a plena garantia dos direitos da criança, que historicamente 
reclama especial atenção do Poder Público e da sociedade civil. Esta ressalta estratégias 
desde o planejamento à implementação de ações específicas, voltadas ao atendimento 
qualificado das necessidades e interesses das crianças, em um momento tão relevante da 
vida e que, por certo, trará repercussões positivas em toda sua existência, assim como na 
sociedade como um todo. 
 Para saber mais: 
O processo de debates, fundamentos científicos e práticos que 
culminaramcom a aprovação do Marco Legal da Primeira Infância pode 
ser acessado por meio do e-book produzido junto ao Centro de Estudos 
e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, com apoio do Senado 
Federal. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-
 
51 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
 
 
 
 
 
 
 
53 
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-
da-primeira-infancia 
 
 
 
VÍDEO 3 
Vídeo sobre a Lei do Marco Legal da Primeira Infância, produzido pelo Senado Federal. 
Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=jTxb1w7F9jo 
 
Referências Bibliográficas: 
ALMEIDA, Ordália Alves de. O Marco Legal da Primeira Infância: quais infâncias, quais crianças? 
Em: Caderno de trabalhos e debates da Câmara Federal. Brasília, 2016, p. 133 a 140. 
BARROS, Ricardo Paes; COUTINHO, D.; MENDONÇA, R. Monitoramento e Avaliação: 
Desenhando e implementando programas de promoção do desenvolvimento infantil com base em 
evidências. Em: Brasil. Câmara dos Deputados. Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. 
Brasília: Cadernos de Trabalhos e Debates do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara 
dos Deputados, 2016, p. 133-141. 
BARROS, Ricardo Paes. Apresentação realizada na Conferência Internacional "O Poder do 
Investimento na Primeira Infância para o Desenvolvimento com Equidade". Brasília: Ministério da 
Cidadania, 2018. 
BRASIL. Lei 13.257/2016, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a 
primeira infância e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do 
Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a 
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 
1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm, acesso 23 de 
setembro de 2020 
CORSARO, W. A. A reprodução interpretativa no brincar ao faz-de-conta das crianças. Educação, 
Sociedade e Cultura, Porto, Portugal, n.17, p.113-134, 2002. 
DELGADO, Ana Cristina C.; MÜLLER, Fernanda. Sociologia da infância: Pesquisa com crianças. 
Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 351-360, Maio/Ago. 2005. 
FREEMAN, Michael. Taking Children´s Rights More Seriously. Em: Children, rights and the law. Alston, 
P.; Parker, S. Seymour, J. Oxford. Clarendon Press, pp. 52-71. 
NASCIMENTO, Claudia T.; BRANCHER, Vantoir Roberto, OLIVEIRA, Valeska F. A Construção 
Social do Conceito de Infância: algumas interlocuções históricas e sociológicas. Unijuí: Revista 
Contexto e Educação. v. 23 n. 79, 2008. 
PINTO, M.; SARMENTO, M.J. (Coord.). As crianças: contextos e identidades. Braga: Centro de 
Estudos da Criança, Universidade do Minho, 1997. 
52 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www.youtube.com/watch?v=jTxb1w7F9jo
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm
 
 
 
 
 
 
 
54 
SARMENTO, Manoel J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da Infância. 
Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-78, mai./ago, 2005. 
 
 
53
0 
 
 
 
 
 
 
 
55 
Aula 3: Teorias do Desenvolvimento e a Neurociência da 
Primeira Infância 
 
Neste tópico trataremos dos fundamentos e das teorias do desenvolvimento que 
justificaram a proposição de uma lei específica para a primeira infância e fornecem as bases 
para uma atuação promotora do direito ao desenvolvimento humano integral. 
Procuraremos, também, responder às seguintes perguntas: 
 
• Por que a primeira infância merece uma atenção específica? 
• Como a genética e o ambiente interagem na formação do ser humano? 
• Qual é o principal ingrediente para um desenvolvimento saudável? 
 
Entre os principais pensadores e cientistas que contribuíram para a construção da 
ciência do desenvolvimento humano, podemos citar os seguintes: 
Figura 1 – Formas de “cuidado” das crianças no século XVII (CANDILIS-HUISMAN, 1997). 
 
➢ No clássico “Emílio: Um Tratado sobre Educação” (1762), Rousseau (1712-1778) 
pediu liberdade para o desenvolvimento infantil, pois à época as crianças permaneciam 
enfaixadas desde o nascimento até o primeiro ano de vida. 
➢ Charles Darwin (1809-1882) ocupou-se do estudo da evolução do comportamento 
humano na obra “A Expressão das Emoções no Ser Humano e nos Animais” (1872). 
➢ A Psicanálise, criada por Sigmund Freud, trouxe uma teoria da subjetividade (id, ego e 
superego), com observação da gênese dos conflitos e da estrutura da personalidade na 
vida infantil. Em seus estudos sobre a angústia, destacou o fenômeno da “ansiedade de 
separação”, experimentada pela criança quando a mãe se ausentava. 
➢ Konrad Lorenz (1903-1989) cunhou o conceito de imprinting, ou estampagem, 
observando que todo animal desenvolve uma fixação com o primeiro ser vivo que 
encontra ao nascer. 
 
54 
 
 
 
 
 
 
 
56 
➢ Harry Harlow (1905-1981) observou, a partir de um experimento com primatas não 
humanos, que a necessidade de segurança e afeto sobressaía-se à necessidade de 
alimento. 
➢ John Bowlby (1907-1990) e Donald Woods Winnicott (1896-1971) desenvolveram a 
Teoria do Apego, observando a importância da relação inicial que se desenvolve entre 
o bebê e seu cuidador principal – geralmente a mãe. Notaram, ainda, que o vínculo 
afetivo, denominado apego, oferece a segurança necessária para a criança explorar o 
ambiente e assim aprender, como estabelece o padrão de relacionamentos 
subsequentes. 
➢ René Spitz (1887-1974) e Françoise Dolto (1908-1988) contribuíram para a 
compreensão das correlações entre o desenvolvimento, o apego e o ambiente, 
identificando efeitos da situação de privação afetiva, como a depressão anaclítica em 
bebês, o hospitalismo e a importância da comunicação com os bebês. 
➢ Wilhelm Reich (1897-1957) trouxe a compreensão da autorregulação do 
comportamento pela própria criança como importante aspecto de desenvolvimento 
humano. 
➢ A antropóloga Margaret Mead (1901-1978) iniciou o debate sobre o papel do 
aprendizado social na formação da identidade, questionando a crença em 
comportamentos instintivos e trazendo a compreensão do papel da cultura no 
desenvolvimento humano desde a infância. 
➢ Albert Bandura (1925-) iniciou a Teoria Social Cognitiva, ampliando a abordagem 
behaviorista para consideração dos aspectos sociais de aprendizado pela imitação. 
➢ Henri Wallon (1879-1962) observou que o desenvolvimento motor precede o 
cognitivo, enfatizando a importância da afetividade e dos aspectos físicos para a 
construção da inteligência. A Teoria de Wallon foi muito importante para os trabalhos 
relacionados à psicomotricidade, e ele foi precursor da superação da dicotomia entre 
natureza e cultura, ao considerar que “o ser humano é um ser biologicamente social”. 
➢ O psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934) postulou a Teoria Sócio-histórica, 
observando que as crianças aprendem ativamente e através de experiências práticas, 
e cunhou o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é o espaço entre o que 
a criança pode fazer com ajuda e o que ela pode fazer por conta própria. 
➢ Interessando-se pela gênese do pensamento, a partir da observação de seus próprios 
filhos, Jean Piaget (1896-1990) desenvolveu a Teoria dos Estágios de 
55 
 
 
 
 
 
 
 
57 
Desenvolvimento Infantil (sensório-motor, pensamento operacional, pensamentoformal e formal) e também inaugurou o estudo científico do desenvolvimento moral. 
➢ A partir de sua experiência no cuidado de crianças institucionalizadas em Lóczy, 
Budapeste, a médica austríaca Emmi Pikler (1902-1984) observou a importância do 
movimento livre e do cuidado realizado por figuras de referência para a promoção do 
desenvolvimento autônomo da criança. A Abordagem Pikler tem especial relevância 
para compreensão da importância do respeito à individualidade e ao ritmo de 
desenvolvimento de cada criança. 
➢ Ampliando a compreensão de como o contexto influencia o desenvolvimento, Urie 
Bronfenbrenner (1917-2005) criou a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano, 
definindo que este é um processo de mudanças e continuidade das características 
biopsicológicas dos indivíduos, no curso da vida e das gerações, em função de quatro 
elementos que interagem: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo (PPCT). 
Figura 2 – Esquemas da Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner) 
 
➢ Após atender cerca de 25 mil crianças, o pediatra do Hospital de Boston, Thomas Berry 
Brazelton (1918-2018) elaborou a Teoria dos Momentos Críticos do 
Desenvolvimento (Touchpoints), considerando que o período mais decisivo do 
desenvolvimento humano seria até os três anos. Ele observou que nessa fase, por um 
breve espaço de tempo, o comportamento da criança se desestrutura e, sem 
compreender esses processos, muitos pais ou cuidadores também se desestabilizam, 
56 
 
 
 
 
 
 
 
58 
destacando então a importância de ajudar os pais a entenderem o que acontece com 
seus filhos (BRAZELTON, 2002). 
➢ Abraham Maslow, em 1943, identificou uma hierarquia de necessidades humanas 
básicas que orientam a motivação dos adultos, destacando as necessidades de 
segurança e auto-realização. 
➢ Seguindo essa inspiração, Brazelton e seu colega Greenspan (2002) buscaram 
identificar as Necessidades Essenciais das Crianças para crescer, aprender e se 
desenvolver, identificando as seguintes: 
• Relacionamentos sustentadores contínuos. 
• Proteção física, segurança e regras. 
• Experiências que respeitem as diferenças individuais. 
• Experiências adequadas ao desenvolvimento. 
• Estabelecimento de limites justos, organização e expectativas. 
• Comunidades estáveis, amparadoras e de continuidade cultural. 
 
De acordo com esses autores, “a privação emocional pode causar tanto estrago 
quanto a privação física e nutricional. Em alguns aspectos, o impacto da privação 
emocional é ainda mais devastador devido à dor e à desorganização que ele causa” 
(BRAZELTON; GREENSPAN, 2002, p. 179). Mas há intervenções reparadoras, que, por 
meio da plasticidade cerebral e da resiliência, podem restaurar o curso do 
desenvolvimento. Eles enfatizam, ainda, que “apenas indivíduos bem-alimentados e 
educados são capazes de unir-se e abraçar uma ética mais ampla, de humanidade 
compartilhada” (BRAZELTON; GREENSPAN, 2002, p.182). 
 
1.4.1 Teorias do Desenvolvimento na perspectiva do ciclo de vida e da Neurociência: a 
janela de oportunidades na primeira infância 
 
Com os avanços tecnológicos foi possível realizar pesquisas com neuroimagens, 
mensuração da atividade cerebral, análise biomolecular das células e do DNA, Projeto 
Genoma e estudos longitudinais. A partir disso, pôde-se observar fenômenos como a 
concepção e a vida intrauterina, tão incríveis que podem ser considerados como a 
“Odisseia da Vida”. 
 
57 
 
 
 
 
 
 
 
59 
 VÍDEO 4 
Assista ao vídeo “A Odisseia da Vida” para experimentar as novas possibilidades de 
conhecimento sobre o processo de geração e nascimento de uma criança, que se tornaram 
possíveis a partir dos avanços tecnológicos e científicos. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=TajhWjYGADs> 
 
Com o advento das Neurociências foi possível aumentar o conhecimento sobre o 
que se passa no cérebro desde o início da vida, corroborando e aprimorando vários 
achados científicos. O investimento científico nesta área foi tão expressivo que a década 
de 1990 veio a ser conhecida como a década do cérebro, marcada por um grande 
investimento em pesquisas que permitiram compreender melhor a especificidade do 
desenvolvimento na primeira infância e perceber que as experiências vividas se inscrevem 
nos genes, gerando-se o campo da Epigenética. 
Os anos iniciais do desenvolvimento humano estabelecem a arquitetura 
básica e a função do cérebro. Esse período inicial de desenvolvimento – 
da concepção aos 6-8 anos de idade – afeta o estágio seguinte do 
desenvolvimento, assim como os estágios posteriores. Hoje, por meio da 
neurobiologia do desenvolvimento, compreendemos melhor como as 
experiências no início da vida interferem nessas diferentes fases 
(FRASER MUSTARD, 2010). 
 
Embora no Brasil a primeira infância tenha sido consensuada como o período que 
vai até os seis anos de idade, em outros países ela vai até os oito anos (FUJIMOTO, 2016). 
E na própria primeira infância há períodos ainda mais sensíveis, conhecidos como 
Primeiríssima Infância e Estratégia dos 1.000 dias. Cesar Victora, ex-presidente da 
Sociedade Internacional de Epidemiologia e professor emérito da Universidade Federal de 
Pelotas, destaca um período mais determinante dentro da primeira infância, que são os 
1.000 primeiros dias de vida, que vão da gestação até os dois anos de idade. 
 
9 meses x 30 dias + 365 dias + 365 dias = 1.000 dias 
 
 “Os primeiros mil dias de vida determinam a saúde e o capital humano do adulto”, 
explica Victora (2016). Por capital humano entende-se “a criança atingir a altura para a 
qual tem o potencial genético, atingir o nível de inteligência, avançar na escola, ser 
58 
https://www.youtube.com/watch?v=TajhWjYGADs
 
 
 
 
 
 
 
60 
economicamente produtiva como adulto e ter filhos saudáveis também” (idem). Deste 
modo, “os primeiros dois anos são muito mais críticos que o terceiro, o quarto e o quinto 
ano. São todos importantes, mas o começo da vida é mais crítico ainda” (VICTORA, 2016). 
Esta afirmação se dá a partir de estudos longitudinais, nos quais Victora e sua equipe 
acompanham o desenvolvimento de grupos de crianças de Pelotas-(RS desde o 
nascimento até a vida adulta. Seus primeiros estudos de Coorte iniciaram em 1982 e lhe 
permitiram correlacionar diversas variáveis, como aleitamento materno e quociente de 
inteligência na vida adulta. 
 
O dado mostra que aquela criança que foi amamentada por mais tempo, 
pelo menos por nove meses, tem o QI de 3 a 5 pontos mais alto aos 30 
anos de idade. Isso porque o leite materno é essencial para a formação do 
cérebro humano. O tipo de ácido graxo que forma a infraestrutura do 
cérebro só é encontrado no leite materno (VICTORA, 2016). 
 
Você sabia? 
 
Graças a pesquisas coordenadas pelo cientista brasileiro Cesar Victora, na 
década de 1990, milhões de crianças do mundo inteiro tiveram a chance de passar a se 
beneficiar do aleitamento materno exclusivo. Além de nutritivo e afetivo, o aleitamento 
materno previne a mortalidade por diarreia e tem um efeito de imunização. Isso 
aconteceu porque ele revisou as curvas de crescimento que se encontravam nas 
Cadernetas de Saúde das crianças. Antes de suas pesquisas, as curvas eram 
parametrizadas a partir de uma amostra de crianças americanas, amamentadas 
artificialmente, o que fazia os bebês ganharem mais peso em menos tempo. Ao utilizar 
essas curvas, os pediatras consideravam as crianças que recebiam aleitamento materno 
abaixo do peso, então recomendavam substituir o leite materno pelo leite artificial. Seus 
estudos corrigiram esse equívoco e a curva de crescimento por ele construída passou a 
ser adotada pela OMS em 142 países. O grande impacto disso revelou-se após 
aproximadamente duas décadas e rendeu-lhe a mais importante premiaçãocientífica do 
Canadá, o Prêmio Gardner, nunca antes concedido a um brasileiro, tornando-o um 
potencial candidato à indicação ao Nobel. 
 
Confirma mais detalhes no Portal do Ministério da Educação: 
http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/42411 
 
59 
http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/42411
 
 
 
 
 
 
 
61 
Os avanços das neurociências no campo do desenvolvimento humano na primeira 
infância 
 
As Neurociências estudam o sistema nervoso, com ênfase no cérebro, combinando 
conhecimentos da fisiologia, anatomia, biologia molecular, psicologia e ciências do 
desenvolvimento em geral. O cérebro é considerado o órgão mais importante do ser 
humano devido à sua extrema complexidade e ao seu papel preponderante de 
coordenação das funções do corpo e da mente. Desde a formação do feto, ele é que 
primeiro se desenvolve e se torna o aparato biológico responsável pela consciência, pelas 
emoções, pela memória, pela inteligência e pelo comportamento. 
Ao mesmo tempo em que é na primeira infância que o cérebro encontra seu maior 
desenvolvimento, também é nesta fase que ele é mais vulnerável às influências do 
ambiente. Em relação às outras espécies, o ser humano é o que nasce mais dependente de 
cuidados, pois seu cérebro termina de se formar após o nascimento – mas é justamente 
isso que lhe permitiu um nível maior de evolução, como discutido por Laredo (2016). 
Enquanto um primata não humano nasce com um cérebro já em 40% de seu tamanho 
quando adulto, o ser humano nasce com um tamanho de aproximadamente 25% (LAREDO, 
2016). Mas no período até os sete anos de vida, o cérebro humano alcança 
aproximadamente 70% de seu tamanho total (massa cerebral), o que se correlaciona à 
formação de sua estrutura e organização. Isso se dá pela formação dos neurônios e das 
conexões que se estabelecem entre eles, chamadas de sinapses, que configuram a 
arquitetura cerebral. Por isso a cabeça da criança é proporcionalmente maior do que as 
demais partes do corpo, que crescem proporcionalmente mais em outros momentos do 
desenvolvimento (Figura 3). 
 
 
60 
 
 
 
 
 
 
 
62 
Figura 3 – Mudanças nas proporções corporais do 2º mês fetal à idade adulta (AQUINO, 2011). 
 
As pesquisas realizadas no campo das neurociências permitiram observar que a 
criança nasce com aproximadamente 100 bilhões de células cerebrais que se formaram no 
período gestacional e que nos primeiros anos de vida uma criança realiza de 700 a 1.500 
sinapses por segundo. 
Por isso a primeira infância é um momento diferenciado, pois nela ocorre o 
desenvolvimento das sinapses em uma velocidade e quantidade que não se repetirão em 
nenhum outro momento da vida. Aos três anos de idade, a criança apresenta o dobro de 
conexões cerebrais que um adulto (SHORE, 1997). 
 
Neurônio 
 
Sinapse 
 
Mielinização 
 
Arquitetura cerebral 
 
Célula cerebral 
responsável por 
transmitir 
informações do 
cérebro para a 
periferia do corpo, e 
vice-versa, por meio 
de impulsos elétricos. 
É formado por um 
núcleo e uma 
ramificação, chamada 
axônio. 
 
Forma de comunicação 
entre as células cerebrais, 
por meio de um espaço 
virtual (os neurônios não se 
tocam). Quando um impulso 
chega à extremidade do 
prolongamento do neurônio 
(axônio), as vesículas 
sinápticas “despejam” 
neurotransmissores 
(emissários químicos) na 
fenda sináptica. Difundindo-
se por esta fenda, os 
neurotransmissores 
encontram a membrana do 
próximo neurônio e se 
conectam a receptores 
celulares que despolarizam 
a próxima célula, gerando 
um novo impulso elétrico, 
que ocorre em 
milissegundos. 
Mielina é a substância 
composta de proteína e 
gordura que envolve o 
prolongamento dos 
neurônios (axônios), 
facilitando a condução do 
impulso elétrico, 
melhorando assim a 
comunicação entre os 
neurônios. A mielinização 
acontece principalmente 
após o nascimento e pode 
ser afetada pela 
desnutrição. 
 
Durante a primeira 
infância a criança precisa 
se alimentar no mínimo de 
3 em 3 horas em função da 
formação da bainha de 
mielina (mielinização). 
Rede de neurônios que 
se estabelece a partir 
dos estímulos que 
promovem as 
conexões. O 
desenvolvimento na 
arquitetura cerebral na 
Primeira Infância pode 
ser comparado à 
construção de uma 
casa em que as etapas 
subsequentes são 
realizadas sobre uma 
fundação sólida. 
O desenvolvimento da 
arquitetura do cérebro 
de uma criança fornece 
a base para todo 
aprendizado, 
comportamento e 
saúde futuros. 
Figura 4 – Síntese sobre neurônios, sinapses, mielinização e arquitetura cerebral (ENCICLOPÉDIA 
SOBRE O DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA, s/d) 
 
61 
 
 
 
 
 
 
 
63 
Desenvolvimento sináptico 
A arquitetura do cérebro é construída por meio de um processo contínuo que 
começa antes do nascimento e continua até a idade adulta. Entre a terceira e quarta 
semana da gestação, o cérebro forma as conexões, ou sinapses, dos primeiros neurônios. 
Os circuitos cerebrais vão se definindo e construindo a arquitetura cerebral, que será 
moldada por algo em torno de 700 a 1.500 sinapses por segundo até os dois anos de vida 
da criança. Após esse período de rápida proliferação, na segunda década de vida, as 
conexões são reduzidas por meio de um processo chamado poda neural, que permite que 
os circuitos cerebrais se tornem mais especializados. 
A arquitetura do cérebro é composta por bilhões de conexões entre neurônios 
individuais em diferentes áreas do cérebro, que permitem a comunicação rápida entre 
neurônios especializados em diferentes tipos de funções cerebrais. As pesquisas indicam 
que as conexões que se formam no início fornecem uma base forte ou fraca para as 
conexões que se formam posteriormente (CENTER FOR DEVELOPING CHILD, 2013a). 
 
Mensagem básica 
 
O cérebro se alimenta de nutrientes e estímulos, a partir dos quais as crianças 
formam sinapses em quantidade e velocidade que não se repetirão em nenhum outro 
período da vida. Por isso, as experiências que ela tiver oportunidade de vivenciar na 
primeira infância, incluindo a amamentação e os vínculos afetivos de confiança, 
acompanhados de cuidados responsivos, serão a base de sua arquitetura cerebral 
saudável, isto é, dos padrões a partir dos quais ela estabelecerá seu relacionamento 
consigo mesma e com o mundo. 
 
 VÍDEO 5 
Para visualizar a formação da arquitetura cerebral nos primeiros anos de vida, assista ao 
vídeo “Arquitetura do Cérebro – Arquitetura Cerebral”, pílula do documentário: “O 
Começo da Vida”. Disponível em: 
<https://ocomecodavida.com.br/arquiteturadocerebrocc/>. 
 
 
62 
https://ocomecodavida.com.br/arquiteturadocerebrocc/
 
 
 
 
 
 
 
64 
 Janela de oportunidades 
 
A partir desses conhecimentos, foi estabelecido o conceito de “janelas de 
oportunidades” para denominar os períodos sensíveis (ou críticos) do desenvolvimento, 
nos quais o cérebro está com maior prontidão para receber estímulos relacionados a 
determinada função. Se o estímulo não é oferecido, a janela de oportunidade pode se 
fechar e a habilidade a qual ela se relaciona pode se tornar mais difícil de se desenvolver. 
As Neurociências identificaram os seguintes períodos sensíveis do desenvolvimento: 
 
 
Figura 5 – Períodos sensíveis do desenvolvimento cerebral (NELSON, 2000). 
 
Segundo o gráfico acima, o período mais oportuno para o desenvolvimento das 
habilidades auditivas, por exemplo, ocorre do 6º mês de gestação até os 6 primeiros meses 
de vida, enquanto que a linguagem encontra seu momento cerebral mais propício do 6º 
mês de gestação aos 4 anos de idade (aqui está o respaldo científico para a importância de 
se conversar com bebê ainda na barriga). E as funções cognitivas, por sua vez, têm seu 
período crítico de desenvolvimento dos seis mesesde gestação aos 16 anos. 
Emitir sons, falar, engatinhar, sentar e caminhar são capacidades sensório-motoras 
que são acrescidas de funções cognitivas cada vez mais complexas em função das 
experiências vividas. O processo de remodelação dos circuitos neurais é chamado de 
plasticidade cerebral, pelo qual o cérebro remodela a função e se organiza mais 
notadamente na primeira infância, mas continua se desenvolvendo sempre que acontece 
uma nova aprendizagem. 
63 
 
 
 
 
 
 
 
65 
 
Figura 6 – Habilidades de funções executivas construídas nos primeiros anos da vida adulta 
 (CENTER FOR DEVELOPING CHILD, 2013b). 
 
Funções executivas 
 
As funções executivas são habilidades complexas que possuem um forte 
componente neurobiológico e estão por trás das capacidades de autocontrole, tomada de 
decisão e responsabilidade, isto é, autonomia na vida (NCPI, 2016). São elas: 
 
• Memória de trabalho: permite armazenar, relacionar e pensar informações no curto 
prazo. Sem essa capacidade o indivíduo não se lembraria do que estava fazendo após 
ser interrompido. 
• Controle inibitório: possibilita controlar e filtrar pensamentos, ter o domínio sobre 
atenção e comportamento, e adiar gratificação. Conseguir ler um texto, mesmo na 
presença de barulhos incômodos, é um exemplo de uso dessa habilidade. 
• Flexibilidade cognitiva: permite mudar de perspectiva no momento de pensar e agir, e 
considerar diferentes ângulos na tomada de decisão. Essa capacidade é fundamental 
para o indivíduo perceber um erro e poder corrigi-lo. 
 
Certas habilidades, como criatividade, perseverança, cooperação, respeito mútuo, 
disciplina e flexibilidade são dependentes de funções executivas operantes e equilibradas. 
O córtex pré-frontal, associado a outras áreas do cérebro, é fundamental para o controle 
da atenção, do raciocínio e do comportamento. Na Primeira Infância, a arquitetura dessa 
região se desenvolve a partir de experiências, principalmente das interações sociais. O 
primeiro foco de atenção de uma criança é a face humana, por isso é muito importante 
manter o olhar sustentado para ela. 
64 
 
 
 
 
 
 
 
66 
 
Conhecimento aplicado 
 
Funções executivas prejudicadas no adulto podem ter sua raiz em situações 
adversas durante o período de desenvolvimento na primeira infância, portanto, é 
importante não culpabilizar ou julgar famílias que não conseguem cuidar bem das suas 
crianças. Elas podem não ter tido oportunidade de desenvolver essas capacidades 
operativas no momento oportuno de suas vidas e precisam ser ajudadas a aperfeiçoar suas 
funções executivas bem como proporcionar o bom desenvolvimento do autocontrole e da 
autonomia das crianças. 
Ao estudar as funções cerebrais, Shonkoff (2016) observou que “as habilidades 
para se capacitar a ser bons pais parecem ser as mesmas habilidades de que se necessita 
para se conseguir um emprego”. Ele se referiu às funções executivas, que se relacionam à 
mesma área cerebral, ilustrando como o desenvolvimento é sistêmico e uma habilidade 
facilita a outra. 
As pesquisas demonstram que memória, aprendizagem e comportamento, por 
exemplo, são funções codependentes das associações com outras áreas, como as 
sensoriais e motoras, que surgem primeiro na cronologia do desenvolvimento. A ruptura 
desse processo, que ocorre em situações de exposição ao estresse tóxico, por exemplo, 
poderá prejudicar o desenvolvimento escolar adequado, a saúde e as habilidades sociais e 
de relacionamentos duradouros (SHONKOFF; PHILLIPS; NELSON, 2000). 
 
Estresse tóxico 
 
O conceito de estresse tóxico cerebral tem sido o núcleo de um conjunto de 
avanços na compreensão da importância dos cuidados na primeira infância e suas 
consequências para a vida adulta. Seu autor, Dr. Jack Shonkoff (Professor de Pediatria na 
Faculdade de Medicina de Harvard e do Hospital Infantil de Boston, e Diretor do Centro 
da Criança em Desenvolvimento da Universidade de Harvard) usou teorias de diversos 
campos – da Biologia às Ciências Sociais, passando pela Teoria Política – para sustentar o 
impacto do estresse tóxico cerebral na saúde dos indivíduos e da sociedade. 
Agredir verbalmente uma criança ou menosprezá-la com frequência, mesmo que 
pareça banal para certos pais, é um exemplo de estímulo repetido de fraca a moderada 
intensidade, que pode ativar um processo de estresse tóxico por ser algo prolongado no 
65 
 
 
 
 
 
 
 
67 
tempo. Quanto mais experiências adversas na infância, maior a probabilidade de atrasos 
no desenvolvimento e problemas de saúde posteriores, incluindo doenças cardíacas, 
diabetes, abuso de substâncias e depressão, pois o elevado nível de cortisol no sangue por 
ativação prolongada do sistema de resposta ao estresse repercute sobre o sistema 
neuroendocrinoimunológico e pode destruir a ligação entre as sinapses que forma a 
arquitetura cerebral, ou mesmo os próprios neurônios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7 – Imagem do Cérebro de 
uma criança com desenvolvimento 
normal 
e uma criança que sofreu negligência 
na primeira infância (PEERY, 2002). 
 
 
Essas imagens ilustram o impacto negativo da negligência no cérebro em 
desenvolvimento. Na tomografia computadorizada, à esquerda, está uma imagem de uma 
criança saudável de três anos com um tamanho médio da cabeça (50º percentil). A imagem 
à direita é de uma criança de três anos sofrendo de grave negligência por privação 
sensorial e afetiva. O cérebro desta criança é significativamente menor do que a média (3º 
percentil) e tem ventrículos aumentados e atrofia cortical. 
 
Sistema de resposta ao estresse 
 
Apesar de o estresse ser algo indesejado, é importante saber que nem todo 
estresse é tóxico. Shonkoff (2016) reconhece que situações de estresse fazem parte da 
vida e que o sistema de resposta a ele existe nos animais para prepará-los para luta ou fuga, 
em um mecanismo de sobrevivência e evolução da espécie. O hipotálamo, que está na 
região central do cérebro, produz e secreta o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que, 
ao cair no sangue, estimula a produção do cortisol, também conhecido como “hormônio do 
estresse”. Quando ocorre um estímulo adverso, este sistema é ativado, mas cessado o 
estímulo, os níveis de cortisol retornam aos níveis normais, promovendo processos de 
adaptação e formando resiliência. 
 
66 
 
 
 
 
 
 
 
68 
Estresse positivo 
 
Experiências estressantes são muito comuns durante a infância, como receber uma 
vacina, ter ansiedade para ir à escola ou enfrentar a ausência temporária da mãe nos 
primeiros meses de vida. Estes são casos de estresse leve a moderado, em que a criança se 
recupera logo, porque o sistema de resposta volta a seu nível inicial. 
Quando a criança experimenta relacionamentos protetivos com a presença de 
adultos afetuosos e responsivos bem como ambientes seguros, o estresse positivo pode 
contribuir para o crescimento e desenvolvimento, desde que o estímulo não seja excessivo 
ou dure muito tempo, excedendo a capacidade de adaptação da criança às situações. Estes 
desafios são oportunidades para aprender diante de experiências negativas e adversas, 
desenvolvendo assim a capacidade de resiliência. 
O estresse é tolerável quando a criança responde a situações em que a exposição a 
experiências ou estímulos apresentam um nível mais elevado de ameaça ao indivíduo, mas 
em níveis toleráveis. Diante da perda de um membro da família, uma doença grave ou 
desastres naturais, o impacto para a criança pode ser moderado ou reduzido se ela estiver 
em ambientes protegidos ou amparada por um adulto. 
 O estresse fisiológico do organismo da criança pode ser minimizado ou amortecido 
quando o ambiente promove alguma resposta que transmita à criança sentido de poder 
contarcom um adulto que a ajude a compreender o que está acontecendo, ao favorecer 
uma sensação de controle sobre a situação. Isso facilita respostas adaptativas às 
experiências adversas. 
 
 VÍDEO 6 e FÓRUM 1 
Assista ao filme “O estresse tóxico prejudica o desenvolvimento saudável”, do Núcleo 
Ciência Pela Infância (NCPI), disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=Wczs5QAyxQ0>. 
Em seguida, reflita sobre alguma situação em sua vida pessoal ou profissional que ilustre 
os diferentes níveis de vivência do estresse e os fatores protetivos que estavam 
disponíveis para minimizar seus efeitos negativos. 
 
Registre no Fórum de discussão como, concretamente, sua atuação pode representar um 
fator protetivo contra o estresse tóxico de crianças que vivem em situações adversas. 
 
67 
https://www.youtube.com/watch?v=Wczs5QAyxQ0
 
 
 
 
 
 
 
69 
 
Epigenética: a conexão entre a genética e o ambiente = superação da dicotomia 
entre o inato e o adquirido 
 
As interações entre os genes e a experiência moldam o cérebro em 
desenvolvimento. Embora os genes forneçam o projeto para a formação dos circuitos 
cerebrais, esses circuitos são reforçados pelo uso repetido. Em última análise, os genes e 
as experiências trabalham juntos para construir a arquitetura do cérebro e, 
correlatamente, os padrões de comportamento que constituem a personalidade 
(SHONKOFF; PHILIPS, 2000). 
SAIBA MAIS! 
Para compreender como a experiência pode moldar a genética e ser transmitida de uma 
geração à outra, acesse o link e descubra o que é epigenética: 
<https://developingchild.harvard.edu/translation/o-que-e-epigenetica/>. 
 
 VÍDEO 7 (opcional) 
Assista ao Episódio 1 do Filme “O Começo da Vida”. O primeiro episódio da série, “O Bebê 
Fantástico”, explora a importância das interações humanas nos primeiros anos de vida, que 
se tornam um começo extraordinário para que os bebês alcancem seu verdadeiro 
potencial. 
Disponível em: https://www.videocamp.com/pt/movies/the-beginning-of-life-the-series-
fantastic-baby 
 
 
Interação responsiva é a base do desenvolvimento humano 
 
O ingrediente-chave das experiências que formam os circuitos cerebrais 
para o desenvolvimento do cérebro normal são as interações que 
crianças e bebês têm com os adultos na sua vida, a interação de serviço e 
retorno (pingue-pongue). A criança faz uma coisa e o adulto responde, e 
vice-versa. Ela começa a sorrir, a apontar, a fazer barulhinhos, e começa 
a usar palavras. As crianças pequenas aprendem a partir da interação 
com adultos e outras pessoas. Não podem aprender com a televisão. 
Crianças mais velhas podem aprender com a televisão – não a da 
violência, nós esperamos, mas a boa televisão. Bebês não podem 
68 
https://developingchild.harvard.edu/translation/o-que-e-epigenetica/
https://www.videocamp.com/pt/movies/the-beginning-of-life-the-series-fantastic-baby
https://www.videocamp.com/pt/movies/the-beginning-of-life-the-series-fantastic-baby
 
 
 
 
 
 
 
70 
aprender com a televisão, não podem aprender a partir de vídeos 
educacionais. Eles aprendem a partir da interação com as pessoas, e 
interação precisa ter resposta e apoio. O que a ciência tem a dizer é que 
se deve cuidar das crianças que não estejam em ambiente protegido, 
previsível e estável, que não estejam falando ou recebendo comunicação. 
O que elas mais ouvem é “não”, “não” e “não”, em vez de “olhe essa 
florzinha aqui”, ou “com que você quer brincar? (SHONKOFF, 2016). 
 
A interação positiva promove a arquitetura cerebral saudável e sistemas 
cardiovascular e imunológico positivos, reduzindo o risco de AVC, câncer, depressão e 
alcoolismo. Esse conhecimento deixa cada vez mais evidente a importância de oferecer 
ambientes seguros com adultos responsivos disponíveis para interagir positivamente com 
as crianças, especialmente na primeira infância. Por isso, as pesquisas ressaltam a 
importância da prevenção contra maus-tratos infantis. As crianças têm direito a viver sem 
violência, pois a violência sofrida nos primeiros anos de vida aumenta significativamente a 
chance de doenças e mortalidade precoce na vida adulta. 
Alguns eventos adversos merecem especial atenção durante a infância (BRANCO; 
LINHARES, 2018), já que relacionam exatamente a questões que interferem na 
capacidade de os cuidadores estarem disponíveis para a interação com os bebês e crianças 
na primeira infância, demandando especial apoio dos serviços: 
 
• A depressão materna. 
• A violência contra a criança ou a negligência. 
• O abuso de substâncias psicoativas pelos pais. 
 
 VÍDEO 8 
Assista ao filme “Construindo as competências do adulto” sobre desenvolvimento ativo de 
competências, do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), para consolidar a importância de 
apoio aos adultos para interação positiva com as crianças. 
Disponível em: <https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/construindo-
competencias/?s=construindo,compet%C3%AAncias>. 
 
A importância da somar saberes e competências 
 
69 
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/construindo-competencias/?s=construindo,compet%C3%AAncias
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/construindo-competencias/?s=construindo,compet%C3%AAncias
 
 
 
 
 
 
 
71 
Apesar dos importantes aportes trazidos pela Neurociência, é importante lembrar 
que a hegemonia sobre certo modelo de desenvolvimento pode resvalar em um 
reducionismo neurocientífico, restrito ao cérebro, como um dia foi hegemônico o 
paradigma biomédico. 
Cada vez mais, a Primeira Infância, terreno fértil para disputas, precisa estar 
transversalmente distribuída pela via interdisciplinar e interinstitucional para escapar da 
negação da diversidade humana e manter-se sensível às reivindicações de justiça social e 
econômica que permitam igualdade de oportunidade para todos e para toda integralidade 
que compõe o ser humano. 
O novo Modelo de Desenvolvimento Humano que está em curso e tem sido 
balizado pela valorização das especificidades de cada momento do desenvolvimento, que 
ocorre de forma integrada, representa antes um convite ao fortalecimento da 
intersetorialidade das Políticas Públicas e da parceria entre o Estado, a Sociedade e a 
Família, considerando sua interdependência com o campo dos Direitos e da Justiça Social. 
O que os novos achados da Neurociência, da Epigenética e das pesquisas 
longitudinais trazem como contribuição fundamental é que devemos de fato começar pelo 
começo, garantindo que os direitos sejam humanos e ecológicos, sem reducionismos, com 
mais igualdade de oportunidades para o desenvolvimento de meninos e meninas logo no 
começo da vida, em uma construção convergente entre os avanços das ciências e do 
principal valor da Primeira Infância, que é o direito ao desenvolvimento do pleno potencial 
humano, que tão bem se coaduna com o direito justíssimo à plena cidadania. 
 
Com a introdução desse ciclo de geração, haverá menos trabalho a ser 
feito e menos programas a serem financiados, além de resultados 
melhores e diminuição da violência que ameaça esta sociedade e 
qualquer outra sociedade no mundo. O que é empolgante sobre a posição 
em que nos encontramos hoje e como o Brasil está se movendo é o fato 
de que estamos vivendo uma revolução (SHONKOFF, 2016). 
 
Considerações finais 
 
Atualmente, sabe-se que a forma como o cérebro se desenvolve apoia-se em uma 
complexa interrelação entre carga genética herdada e experiências vivenciadas. A 
dicotomia entre inato e adquirido foi superada. O investimento de tempo e cuidados 
70 
 
 
 
 
 
 
 
72 
responsivos no início da vida trazem resultados para todas as fases posteriores do 
desenvolvimento humano. 
A maior janela de oportunidades para o desenvolvimento integral está na primeira 
infância.Sendo assim, sem ter a oportunidade de contar com um adulto de referência para 
apoiar seu desenvolvimento por meio de um relacionamento afetivo, estável e 
apropriadamente estimulante para cada fase, a criança perde uma importante e 
fundamental chance de desenvolver suas competências. 
 
71 
 
 
 
 
 
 
 
73 
Recapitulando os fundamentos do desenvolvimento humano na primeira 
infância 
 
Nesta seção, pudemos observar que o desenvolvimento infantil é o primeiro 
ciclo do desenvolvimento humano. A partir disso, podemos compreender que a primeira 
infância não é um fragmento do desenvolvimento humano, mas seu início (YOUNG, 
2010). 
 
 
Durante a primeira infância ocorrem mudanças quantitativas e qualitativas em 
uma velocidade que não se repetirá em nenhum outro momento da vida. Estas 
mudanças seguem uma sequência em que se interrelacionam fatores biológicos, 
psicológicos e sociais. O desenvolvimento começa bem cedo, desde a concepção, e 
depende de adultos cuidadores, que são mediadores do desenvolvimento, porque as 
crianças dependem dos seus pais ou cuidadores primários tanto para o cuidado físico, 
emocional e social, quanto para adquirirem a linguagem e a cultura que caracterizam o 
universo humano. 
 
O Desenvolvimento Infantil é parte fundamental do desenvolvimento 
humano, um processo ativo e único de cada criança, expresso por 
continuidade e mudança nas habilidades motoras, cognitivas, 
psicossociais e de linguagem, com aquisições progressivamente mais 
complexas nas funções da vida diária e no exercício de seu papel 
social. O período pré-natal e os anos iniciais da infância são decisivos 
no processo de desenvolvimento, constituído pela interação das 
características biopsicológicas, herdadas geneticamente e das 
experiências oferecidas pelo meio ambiente. O alcance do potencial 
72 
 
 
 
 
 
 
 
74 
de cada criança depende do cuidado responsivo às suas necessidades 
de desenvolvimento (SOUZA; VERÍSSIMO, 2015). 
 
 
Cada ser humano, desde criança, é um ser ativo e único 
Significa dizer que a criança é parte ativa do seu próprio desenvolvimento, 
superando a visão ultrapassada da criança como tábula rasa, passiva em seu processo de 
desenvolvimento. A criança é uma pessoa, também é um sujeito de direitos, e, portanto, 
cidadã. 
❖ Este é um fundamento que hoje faz parte da legislação brasileira, sendo o primeiro 
princípio determinado pelo Marco Legal da Primeira Infância: “atender ao 
interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã” 
(Lei 13.257/2016, art. 4º, inciso I). 
 
De fato, a pessoa é um ser em desenvolvimento e a ciência tem cada vez mais 
evidenciado que ao cuidar da criança, cuidados da pessoa desde o começo. Estudos 
retrospectivos em seres humanos mostraram que o desenvolvimento no período 
uterino e na infância influencia os riscos de doenças na fase adulta (diabetes tipo II, 
hipertensão, ataque cardíaco, obesidade, câncer e envelhecimento precoce). 
Experiências adversas nos primeiros anos de vida também aumentam o risco de 
problemas de saúde mental, e adições (GILBERT, 2015). E a recíproca é verdadeira, pois 
cuidado e educação nesta fase representam fatores de prevenção de doenças crônicas 
e problemas psicológicos e sociais (HUGES, 2017). 
Cada criança é única e traz ao mundo um conjunto de características que só 
existe com ela. Sendo assim, procedimentos padronizados no cuidado e educação das 
crianças precisam sempre ser questionados. A criança também precisa ser escutada, de 
acordo com sua forma de se expressar. 
 
❖ O Marco Legal da Primeira Infância também se baseou nessa premissa e para 
tanto determinou como 2º princípio: “incluir a participação da criança na definição 
das ações que lhe digam respeito, em conformidade com suas características 
etárias e de desenvolvimento” (Lei 13.257/2016, art. 4º, inciso II). 
 
Continuidade e mudança 
73 
 
 
 
 
 
 
 
75 
Esta belíssima contradição dialética desperta os sentidos para a inexistência de 
um desenvolvimento linear ou mecânico, nos quais as peças vão se encaixando em uma 
visão reducionista do desenvolvimento e da criança. O desenvolvimento acontece em 
várias direções, ao mesmo tempo. Certas habilidades desenvolvem-se em tempos 
diferentes para crianças diferentes, um apelo à valorização da diversidade. 
 
❖ Tomando como fundamento essa questão, o Marco Legal da Primeira Infância 
determinou como seu 3º princípio: “respeitar a individualidade e os ritmos de 
desenvolvimento das crianças e valorizar a diversidade da infância brasileira, 
assim como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e 
culturais”(Lei 13.257/2016, art. 4º, inciso III). 
 
A vida acontece do presente, no dia a dia da criança 
É no dia a dia dos cuidados que recebe e na interação com as pessoas e o 
ambiente em seu entorno que a criança constrói o sentido da sua existência e seus 
valores, com condições de aprender, crescer e se desenvolver por meio de rotinas e 
novos desafios. É na vida diária que a infância acontece, não no futuro. A criança não 
será: ela já é. 
 
❖ Por esse motivo, é fundamental atender com prioridade a primeira infância, sendo 
definido como 4º princípio do Marco Legal da Primeira Infância: “reduzir as 
desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança 
na primeira infância, priorizando o investimento público na promoção da justiça 
social, da equidade e da inclusão sem discriminação da criança” (Lei 13.257/2016, 
Art. 4º, inciso IV). 
 
Oportunidades de exercício de seu papel social 
Toda criança é cidadã e exerce um papel social, com leis que estabelecem seus 
direitos e deveres, em constante tutela dos seus responsáveis e do Estado. Porém, 
dependendo das concepções de infância operantes em cada núcleo da sociedade, a 
criança pode perder espaço de atuação e ver limitado o seu potencial de 
desenvolvimento. Por isso, é fundamental que ela conte com condições de exercício de 
seu protagonismo social. 
74 
 
 
 
 
 
 
 
76 
 
O período pré-natal e os primeiros anos de vida são decisivos 
Ainda no útero, organizam-se programações biológicas e psicológicas 
complexas, dentre elas a do sistema de resposta ao estresse. Do ponto vista psicológico, 
a criança é sensível não só ao psiquismo da sua genitora, mas do ambiente social que a 
cerca. O útero é um ambiente ativo em que várias transformações acontecem 
rapidamente, dependendo, porém, da qualidade do cuidado à gestante e à sua família. 
 
❖ Em resposta à importância do apoio às gestantes e no nascimento, o Marco Legal 
da Primeira Infância reforçou o disposto no artigo 8º do ECA: “É assegurado a 
todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de 
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção 
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal 
e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde” (ECA, art. 8º, 
modificado pelo art. 19 da Lei 13.257/2016). 
 
Interação das características biopsicológicas (herdadas geneticamente) e 
experiências oferecidas pelo meio ambiente 
A dicotomia entre genética e ambiente está ultrapassada. Ambos se entrelaçam 
e contribuem para o desenvolvimento na Primeira Infância. Esta dicotomia foi superada 
pela concepção da Epigenética, quando se constatou que as experiências vividas 
impregnam a genética. 
Assim, o alcance do potencial de cada criança depende do cuidado responsivo 
às suas necessidades de desenvolvimento. 
A relação entre potencial da criança e cuidado responsivo é estabelecida 
definitivamente no conceito de Desenvolvimento Infantil. Responder às aflições da 
criança reduz seus níveis de estresse epermite o desenvolvimento seguro das suas 
funções complexas: biológicas, psicológicas e sociais. Sem cuidado, não pode haver 
desenvolvimento da criança em seu máximo potencial. 
 
❖ Neste ponto, o artigo 14º do Marco Legal da Primeira Infância merece ser lido na 
íntegra, pois traz a previsão de políticas públicas específicas para promoção da 
75 
 
 
 
 
 
 
 
77 
responsividade, por meio de programas governamentais de apoio às gestantes e 
famílias com crianças na primeira infância. 
 
 
 
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https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
http://www.enciclopedia-crianca.com/importancia-do-desenvolvimento-infantil/segundo-especialistas/desenvolvimento-cerebral-inicial-ehttp://www.enciclopedia-crianca.com/importancia-do-desenvolvimento-infantil/segundo-especialistas/desenvolvimento-cerebral-inicial-e
https://www.youtube.com/watch?v=eSAHbDptGh4
https://www.youtube.com/watch?v=9QmT4sa--lc
https://www.youtube.com/watch?v=bsFXSH8Z5H0
https://www.youtube.com/watch?v=Wczs5QAyxQ0
https://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Treinamento_Multiplicadores_Coordenadores/Wp_FuncoesExecutivas.pdf
https://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Treinamento_Multiplicadores_Coordenadores/Wp_FuncoesExecutivas.pdf
 
 
 
 
 
 
 
80 
Marco Legal da Primeira Infância. 7 mai. 2014], 2016. Disponível em: 
<https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-
marco-legal-da-primeira-infancia>. Acesso em: 21 set. 2020. 
 
SHONKOFF, J. P.; PHILLIPS, D. (Eds.). From Neurons to Neighborhoods: The Science of Early 
Childhood Development. Washington: National Academy Press, 2000. 
 
SHORE, R. What have we learned?. Em: Rethinking the brain. New York: Families and Work 
Institute, 1997. p. 15-27. 
 
SOUZA, J. M; VERÍSSIMO, M. D. L .R. Desenvolvimento infantil: análise de um novo 
conceito. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 23, n. 6, p. 1697-1104, 
2015. 
 
TARDOS, A. A mão da Educadora. Infância, n. 11, 1992. 
 
TARDOS, A; SZANTO-FEDER, A. O que é autonomia na primeira infância? Em: FALK, Judit. Educar 
os 3 primeiros anos: A experiência de Lóczy. Araraquara: JM, 2011. 
 
TREMBLAY, R. E; BOIVIN, M.; PETERS, R. V. (Eds.). Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na 
Primeira Infância. 2013. Disponível em: <http://www.enciclopedia-crianca.com/cerebro/sintese>. 
Acesso em: 21 set. 2020. 
 
VICTORA, C. Evidências científicas sobre a importância da primeira infância: a Estratégia dos 1000 
dias. In: Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. [Adaptação de Conferência proferida com 
tradução simultânea no II Seminário Internacional do Marco Legal da Primeira Infância. 7 mai. 
2014], 2016. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia>. 
Acesso em: 21 set. 2020. 
 
WINNICOTT, D. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 2013. 
 
WINNICOTT, D. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 
 
YOUNG, M. (Org.). Do desenvolvimento da primeira infância ao desenvolvimento humano: 
investindo no futuro de nossas crianças. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 2010 
 
79 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
 
 
 
 
 
 
 
81 
 
Aula 4: As áreas prioritárias do Marco Legal da 
Primeira Infância 
Como vimos até aqui, o desenvolvimento humano na primeira infância é 
multidimensional e abrange várias questões, requerendo ações associadas a vários 
direitos estabelecidos em nossa legislação. 
Ao planejar ações e políticas para promoção do desenvolvimento integral, nos cabe 
então perguntar: - Quais são as áreas em que a criança e sua família precisam de mais 
atenção?Podemos começar a pensar em relação às ações de responsabilidade 
compartilhada que cabem ao Estado. Quais são as áreas prioritárias de atuação das 
políticas públicas para o cuidado no começo da vida? 
Segundo o Marco Legal da Primeira Infância (BRASIL, Lei 13.257/2016): 
 
Art. 5º – Constituem áreas prioritárias para as Políticas Públicas para a 
Primeira Infância: 
1. Saúde; 
2. Alimentação e Nutrição; 
3. Educação infantil; 
4. Convivência familiar e comunitária; 
5. Assistência social à família da criança; 
6. Cultura, o brincar e o lazer; 
7. Espaço e o meio ambiente; 
8. Proteção contra toda forma de violência e de pressão consumista; 
9. Prevenção de acidentes e 
10. Adoção de medidas que evitem a exposição precoce à 
comunicação mercadológica. 
 
Essas áreas estão indicadas no Plano Nacional pela Primeira Infância 
(RNPI/CONANDA, 2010). Nessa unidade, vamos explorar a razão de estas áreas serem 
prioritárias, quais ações desenvolvem-se em relação a elas e como podem começar a se 
articular com a família e intersetorialmente para promoção do desenvolvimento integral 
de cada criança. 
 
80 
 
 
 
 
 
 
 
82 
4.1. Saúde 
A saúde é uma área prioritária pois ela é condição para a própria vida e para o bem-
estar em geral. Na primeira infância, vários aspectos do cuidado com a saúde configuram 
um continuum do cuidado integral, entre as quais se destacam a Saúde da Gestante e da 
Criança, que se desenvolvem em três grandes momentos: 
• O Pré-natal – acompanhamento da gestação. 
• O Parto e o Nascimento. 
• A Puericultura – acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da 
criança. 
Nestes processos, os grandes protagonistas são a mulher, a criança e seus 
familiares, especialmente o pai ou parceiro. Os aspectos emocionais e sociais da gestação, 
crescimento e desenvolvimento estão sendo cada vez mais difundidos em uma perspectiva 
ampliada de atenção à saúde. Esses cuidados não são restritos ao que acontece no corpo 
gravídico durante o pré-natal nem às medidas de crescimento (antropometria), como 
pesar e medir o tamanho da criança. 
A atenção à gestante e à criança deve ser dispensada por uma rede integrada que 
ofereça o cuidado integral, respeitando a pessoa em suas dimensões físicas, psíquicas e 
sociais. Esta perspectiva ampliada do cuidado deve ser centralizada na família e numa rede 
integrada de serviços, que dê conta das adaptações necessárias à chegada da criança na 
família. 
 
Conheça o Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê. Disponível em: 
https://www.unicef.org/brazil/media/2351/file/Guia_dos_Direitos_da_Gestante_e_do_B
ebe. 
Pdf 
 
81 
https://www.unicef.org/brazil/media/2351/file/Guia_dos_Direitos_da_Gestante_e_do_Bebe.
https://www.unicef.org/brazil/media/2351/file/Guia_dos_Direitos_da_Gestante_e_do_Bebe.
 
 
 
 
 
 
 
83 
 
O Pré-natal e a Puericultura são cada vez mais desempenhados por uma equipe 
multiprofissional e interdisciplinar, uma vez que envolve médicos, enfermeiros, técnicos 
de enfermagem, agentes comunitários de saúde (caso da Estratégia Saúde da Família), 
fisioterapeutas, dentistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros. 
Seria possível falar em um Pré-natal e uma Puericultura intersetoriais? 
Acreditamos que sim, indicando algumas interfaces. 
Cada vez mais profissionais da Educação Infantil se dão conta de que podem 
desempenhar um grande papel interessando-se pelas mulheres grávidas e puérperas com 
seus desafios para a conquista do pré-natal e maternagem efetivos. Por exemplo, a 
chegada de um segundo bebê afeta o comportamento do filho mais velho, que não raro 
externaliza comportamentos desadaptativos enquanto frequenta os centros de educação 
infantil. Do mesmo modo, os profissionais da Educação podem acolher a mãe que leva a 
criança à creche e não deseja interromper a amamentação, precisando assim de espaço 
físico e incentivo para assegurar o direito do bebê a uma alimentação saudável, incluindo 
a amamentação em seus dois primeiros anos de vida. Também no Ensino Médio, muitas 
adolescentes grávidas e puérperas precisam de apoio para não abandonarem os estudos e 
conciliarem a amamentação e os cuidados do bebê com a vida escolar. 
Já para a Assistência Social, o atendimento às famílias grávidas e com crianças de 
até seis anos é mais comum, sendo as medidas de proteção social, concessão de benefíciosespecíficos (Ex.: Auxílio Nutriz, Auxílio Natalidade, Bolsa Maternidade), prevenção de 
agravos ou atuação contra a violação de direitos parte do corpo prático de ações dos 
Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e dos Centros Especializados de 
Referência em Assistência Social (CREAS), assim como também dos Serviços de 
Acolhimento de adolescentes grávidas e recém-nascidos. A partir do Marco Legal da 
Primeira Infância, uma atuação ainda mais específica tem sido ofertada a partir do 
Programa Criança Feliz, que realiza apoio às gestantes e às famílias com crianças na 
primeira infância, por meio de visitas domiciliares sistemáticas, em articulação com a rede 
intersetorial. 
Os operadores do Direito e os profissionais do Sistema de Justiça também 
desempenham um papel essencial na garantia dos direitos da família grávida e com 
crianças de até seis anos, sendo fundamentais para a atenção holística uma rede integrada 
82 
 
 
 
 
 
 
 
84 
de Primeira Infância e outras entidades que atuam no Sistema de Garantia de Direitos, 
como Conselhos Tutelares e organizações da sociedade civil. 
 
O que diz o Marco Legal da Primeira Infância? 
 
Art. 19. O art. 8º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar 
com a seguinte redação: 
“ Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às 
políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às 
gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto 
e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no 
âmbito do Sistema Único de Saúde. 
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção 
primária. 
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua 
vinculação, no último trimestre da gestação, ao estabelecimento em que 
será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher. 
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às 
mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta hospitalar responsável e 
contrarreferência na atenção primária, bem como o acesso a outros 
serviços e a grupos de apoio à amamentação. 
............................................................................................. 
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser prestada 
também a gestantes e mães que manifestem interesse em entregar seus 
filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem em 
situação de privação de liberdade. 
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua 
preferência durante o período do pré-natal, do trabalho de parto e do 
pós-parto imediato. 
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, 
alimentação complementar saudável e crescimento e desenvolvimento 
infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de vínculos 
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança. 
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a 
gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de 
cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos. 
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não 
iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem como da 
puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. 
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho 
na primeira infância que se encontrem sob custódia em unidade de 
privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e 
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em 
articulação com o sistema de ensino competente, visando ao 
desenvolvimento integral da criança.” (NR) 
 
 
VÍDEO 9 
83 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art8.
 
 
 
 
 
 
 
85 
O parto é uma das ações primordiais da atenção integral à saúde na primeira infância, 
envolvendo questões que podem não atender ao interesse superior da criança e da mãe. 
Nesse sentido, recomendamos assistir ao documentário “O Renascimento do Parto” 
Versão reduzida disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3B33_hNha_8 
 
As ações de Saúde da Criança são organizadas em uma robusta e eficaz Política 
Pública, conhecida como PNAISC – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da 
Criança. Compreender como esta Política se organiza facilita a compreensão da trajetória 
das crianças nos serviços de saúde e nos programas intersetoriais que a ela se articulam. 
Ela será melhor detalhada na Aula sobre Políticas Nacionais.. 
No Brasil, a Caderneta da Criança (ou Caderneta de Saúde da Criança) é o principal 
registro do desenvolvimento da criança, do nascimento até os nove anos de idade, e todos 
os profissionais da Primeira Infância podem consultá-la. Nela, inclusive, estão anotadas as 
informações sobre os Marcos do desenvolvimento (etapas em que as crianças mais ou 
menos estão desenvolvendo as habilidades psicomotoras, emocionais e cognitivas), numa 
seção dedicada à “Vigilância do Desenvolvimento”. 
Os direitos da criança, inclusive o direito ao registro de nascimento, estão contidos 
na Caderneta da Criança. Neste ano, ela foi lançada em uma versão intersetorial, 
tornando-se Caderneta da Criança. Agora ela inclui além da Saúde, questões da Educação 
e da Assistência Social, com uma versão Menino e uma versão Menina, porque há 
diferenças nas curvas de crescimento e desenvolvimento entre meninos e meninas. Os 
registros sobre o desenvolvimento da criança são muito importantes para a criança, a 
família e os profissionais da rede, pois servem para monitorar o desenvolvimento infantil 
pelas políticas públicas. 
 
O que diz o Marco Legal da Primeira Infância? 
Art. 11. (...) 
§ 1º A União manterá instrumento individual de registro unificado de 
dados do crescimento e desenvolvimento da criança, assim como sistema 
informatizado, que inclua as redes pública e privada de saúde, para 
atendimento ao disposto neste artigo (Lei 13.257/2016). 
 
Considerações finais 
 
84 
https://www.youtube.com/watch?v=3B33_hNha_8
 
 
 
 
 
 
 
86 
Em prol da atenção prioritária à primeira infância, no campo dos direitos à saúde, à 
alimentação e à nutrição, é importante: 
• Reconhecer que a saúde da criança começa no planejamento reprodutivo, na 
saúde pré-concepcional e no pré-natal. 
• Apoiar as ações do Pré-natal, da Humanização do Parto e Nascimento bem 
como da Puericultura em todos os seus âmbitos, principalmente imunização de 
gestantes, parceiros e crianças, alimentação saudável e combate à desnutrição 
e à obesidade da gestante e da criança, numa visão intersetorial, 
multiprofissional e interdisciplinar, sendo assim uma tarefa de todos. 
• Realizar a vigilância do estado de saúde da criança. 
• Promover sempre e garantir, de acordo com sua governabilidade e liderança, 
os direitos das famílias grávidas e/ou com crianças de até seis anos, pois isso 
permite o desenvolvimento integral da criança com repercussões na saúde, no 
aprendizado e no comportamento para toda a vida. 
 
 
Para saber mais: 
1. Linha de cuidado da Gestante, Parturiente e Puérpera (SÃO PAULO, 2018). 
• Documento Técnico da Linha de Cuidado da Gestante, Parturiente e Puérpera: 
Quadro, Sínteses e Fluxograma. 
• Manual de Consulta Rápida Para os Profissionais da Saúde. 
• Manual de Orientação ao Gestor. 
• Manual Técnico do Pré-Natal, Parto e Puérpera. 
Disponíveis em: http://saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-da-saude/areas-tecnicas-
da-sessp/hipertensao-arterial-e-diabetes-mellitus/linhas-de-cuidado-sessp/ 
 
2. Formação em Parto e Nascimento. 
Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-humanizacao-
do-parto-e-nascimento-v/ 
 
Trabalhar os aspectos físicos, sociais e emocionais do desenvolvimento no Pré-natal,Parto e 
Puerpério amplia o paradigma biomédico para o paradigma biopsicossocial da Saúde, uma 
importante evolução conceitual estabelecida pela OMS. As práticas ampliadas do Pré-natal, 
puerpério (pós-parto) e amamentação bem como a Puericultura ampliada consideram com 
IGUAL VALOR os aspectos físicos, sociais e emocionais do crescimento e desenvolvimento 
desde a gestação. 
85 
http://saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-da-saude/areas-tecnicas-da-sessp/hipertensao-arterial-e-diabetes-mellitus/linhas-de-cuidado-sessp/
http://saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-da-saude/areas-tecnicas-da-sessp/hipertensao-arterial-e-diabetes-mellitus/linhas-de-cuidado-sessp/
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-humanizacao-do-parto-e-nascimento-v/
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-humanizacao-do-parto-e-nascimento-v/
 
 
 
 
 
 
 
87 
3. Atenção Integral à Saúde da Criança (2016). 
Disponível em: 
https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/9258/1/livro_saude_crianca.pdf 
 
4. Compreenda as causas de morte materna das mulheres brasileira. 
Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46970-brasil-reduziu-
8-4-a-razao-de-mortalidade-materna-e-investe-em-acoes-com-foco-na-saude-da-
mulher#:~:text=O%20Brasil%20conseguiu%20reduzir%20em,anterior%20era%20de%
2064%2C5 
 
5. UNICEF – Brasil tem redução histórica na mortalidade infantil (2019). 
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-11/unicef-
mortalidade-infantil-tem-reducao-historica-no-brasil 
 
6. Coleção Primeiríssima Infância (2014): 
Formação em práticas ampliadas do pré-natal, puerpério e amamentação. 
Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-pre-natal-
puerperio-e-amamentacao-v/ 
 
7. Formação em Puericultura: Práticas Ampliadas. 
Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-puericultura-
praticas-ampliadas-v/ 
 
8. Conheça outros Direitos das Gestantes 
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-conheca-os-direitos-da-gestante-e-
lactante/#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20artigo,emprego%20e%20do%20sal%C3%A1r
io%20(art.) 
 
Referências Bibliográficas 
 
ANDRADE; LIMA, 2004. O Modelo Obstétrico e Neonatal que defendemos e com o qual 
trabalhamos. Em: Humanização do Parto e Nascimento. Caderno Humaniza SUS. Caderno 4, 2014. 
 
BRASIL. Atenção ao pré-natal de baixo risco – Cadernos da Atenção Básica. 2012. Disponível em: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf>. Acesso 
em: 6 out. 2020. 
 
BRASIL. Humanização do Parto e Nascimento. Caderno Humaniza SUS. Caderno 4, 2014. 
 
BRASIL. Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde da Criança – Orientações para 
implementação. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-
content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-
Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-
Eletr%C3%B4nica.pdf>. Acesso em: 6 out. 2020. 
 
FRACOLI, L. A. et al. Conceito e prática da integralidade na Atenção Básica: a percepção das 
enfermeiras. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n5/v45n5a15.pdf>. 
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf>. Acesso em: 6 
out. 2020. 
 
86 
https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/9258/1/livro_saude_crianca.pdf
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46970-brasil-reduziu-8-4-a-razao-de-mortalidade-materna-e-investe-em-acoes-com-foco-na-saude-da-mulher#:~:text=O%20Brasil%20conseguiu%20reduzir%20em,anterior%20era%20de%2064%2C5
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46970-brasil-reduziu-8-4-a-razao-de-mortalidade-materna-e-investe-em-acoes-com-foco-na-saude-da-mulher#:~:text=O%20Brasil%20conseguiu%20reduzir%20em,anterior%20era%20de%2064%2C5
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46970-brasil-reduziu-8-4-a-razao-de-mortalidade-materna-e-investe-em-acoes-com-foco-na-saude-da-mulher#:~:text=O%20Brasil%20conseguiu%20reduzir%20em,anterior%20era%20de%2064%2C5
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46970-brasil-reduziu-8-4-a-razao-de-mortalidade-materna-e-investe-em-acoes-com-foco-na-saude-da-mulher#:~:text=O%20Brasil%20conseguiu%20reduzir%20em,anterior%20era%20de%2064%2C5
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-11/unicef-mortalidade-infantil-tem-reducao-historica-no-brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-11/unicef-mortalidade-infantil-tem-reducao-historica-no-brasil
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-pre-natal-puerperio-e-amamentacao-v/
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-pre-natal-puerperio-e-amamentacao-v/
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-puericultura-praticas-ampliadas-v/
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/formacao-em-puericultura-praticas-ampliadas-v/
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf
https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n5/v45n5a15.pdf
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88 
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Manual para vigilância do desenvolvimento 
infantil no contexto da AIDPI. 2005. Disponível em: <https://www.paho.org/spanish/ad/fch/ca/si-
desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 6 out. 2020. 
 
SANTOS, M. D.; MARICONDI, A. M. Conversando sobre puerpério. Caderno da Equipe “Toda Hora 
é Hora de Cuidar”, p. 20-23, 2013. Disponível em: 
<http://www.ee.usp.br/site/dcms/app/webroot//uploads/arquivos/caderno_equipe.pdf>. Acesso 
em: 6 out. 2020. 
 
 
4.2. Alimentação e Nutrição 
 
O Plano Nacional pela Primeira Infância ressalta que o aleitamento materno é um 
fator essencial para o crescimento e desenvolvimento adequado do bebê, sendo uma das 
ações mais eficientes na redução da mortalidade infantil e no fortalecimento do vínculo 
entre mãe e filho. É fundamental que sejam asseguradas às gestantes e ao bebê as 
condições favoráveis de amamentação, em sintonia com a recomendação internacional de 
que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de idade e que, daí em diante, 
outros alimentos sejam introduzidos de forma gradual, mantendo o leite materno até os 
dois anos de idade (RNPI; CONANDA, 2010). 
A alimentação e a nutrição constituem-se em requisitos básicos para a promoção e 
a proteção da saúde, possibilitando a afirmação plena do potencial de crescimento e 
desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania, como bem contemplado na 
Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN (BRASIL, 2019). Esta área será mais 
detalhada na Aula 8 - Políticas Públicas. 
 
Para saber mais, recomendamos a leitura do capítulo: 
As prioridades da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) para a Primeira 
Infância, de LIMA, A. M. C. et al., p. 202-219. Disponível em: 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-
do-marco-legal-da-primeira-infancia 
 
 
87 
https://www.paho.org/spanish/ad/fch/ca/si-desenvolvimento.pdf
https://www.paho.org/spanish/ad/fch/ca/si-desenvolvimento.pdf
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infanciahttps://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
 
 
 
 
 
 
 
89 
 
4.3. Educação Infantil 
A Educação é o um direito fundamental da criança. Agora chegou a hora de saber um 
pouco mais sobre o que é Educação Infantil com qualidade e o quanto o envolvimento da família 
na educação das crianças na Primeira Infância é importante. 
 
O que é Educação Infantil 
A Constituição inovou o ordenamento jurídico ao garantir o acesso à educação 
infantil, em creches e pré-escolas, às crianças de zero a cinco anos de idade como dever do 
Estado. Ressaltando esse direito, a Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 
2009, determinou a obrigatoriedade da matrícula na educação básica (pré-escola) a partir 
dos quatro anos de idade. A inovação trazida por esses preceitos legais rompe com uma 
história de atendimento à infância configurada como amparo, filantropia ou assistência 
social, e confere uma nova identidade à educação infantil e um novo papel ao Estado. 
A educação infantil é um direito humano e social de todas as crianças até cinco anos 
de idade, sem distinção decorrente de origem geográfica, caracteres do fenótipo (cor da 
pele, traços de rosto e cabelo), etnia, nacionalidade, sexo, deficiência física ou mental, nível 
socioeconômico ou classe social. Também não está atrelada à situação trabalhista dos pais, 
nível de instrução, religião, opinião política ou orientação sexual. 
A Educação Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança 
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da 
família e da comunidade (LDB, art.29), e desta forma cumpre um papel importante no 
desenvolvimento humano e social. Configura-se como uma das áreas educacionais que 
mais retribui à sociedade os recursos nela investidos, contribuindo para a aprendizagem e 
o desenvolvimento das crianças. 
O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que 
buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que 
fazem parte dos patrimônios cultural, artístico, científico e tecnológico da Humanidade, 
efetivadas por meio de relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem 
com professores e outras crianças, e afetam a construção de suas identidades. 
88 
 
 
 
 
 
 
 
90 
Intencionalmente planejadas e permanentemente avaliadas, as práticas que 
estruturam o cotidiano das instituições de Educação Infantil devem considerar a 
integralidade e indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, 
linguística, ética, estética e sociocultural das crianças, apontar as experiências de 
aprendizagem que se espera promover às crianças e efetivar-se por meio de modalidades 
que assegurem as metas educacionais de seu projeto pedagógico. 
A Base Nacional Comum (BNCC) para a etapa da Educação Infantil, fixada pela 
Resolução 02/2017 do Conselho Nacional de Educação, considerando os princípios 
definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil MEC/2009), 
organiza-se a partir dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento, dos campos de 
experiências e dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, elementos esses que se 
integram na articulação entre necessidades, interesses, experiências e curiosidades das 
crianças de 0 a 5 anos e os patrimônios artístico, cultural, ambiental, científico e 
tecnológico. 
A educação infantil no Brasil registrou muitos avanços nos últimos anos. O direito 
à educação a todas as crianças pequenas desde seu nascimento representa uma conquista 
importante para a sociedade brasileira. Porém, para que esse direito se traduza realmente 
em melhores oportunidades educacionais para todos e em apoio significativo às famílias 
com crianças de até cinco anos de idade, é preciso que as creches e as pré-escolas garantam 
um atendimento de boa qualidade, destaque esse feito pelo Marco Legal da Primeira 
Infância: 
 
Art. 16. A expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a 
assegurar a qualidade da oferta, com instalações e equipamentos que 
obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da 
Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei nº 9.394, 
de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional) , e com currículo e materiais pedagógicos adequados à 
proposta pedagógica. 
Parágrafo único. A expansão da educação infantil das crianças de 0 (zero) 
a 3 (três) anos de idade, no cumprimento da meta do Plano Nacional de 
Educação, atenderá aos critérios definidos no território nacional pelo 
competente sistema de ensino, em articulação com as demais políticas 
sociais. (BRASIL, Lei 13.257/2016) 
 
Qualidade da Educação Infantil 
Pensando na Educação Infantil de qualidade, há que se ter um espaço adequado, 
profissionais habilitados, infraestrutura de trabalho, respeito às crianças e 
89 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm
 
 
 
 
 
 
 
91 
reconhecimento de seus direitos de frequentar um local que garanta as interatividades 
pedagógicas promovidas pelos professores. Estes por sua vez, na medida em que planejam 
os espaços e tempos, devem oportunizar às crianças a construção e desconstrução do seu 
brincar, bem como de suas pesquisas corporais e sonoras, possibilitando convivências 
diversas nestes espaços educacionais. 
 
A importância da participação da família na educação da criança 
A parceria com a Família é indispensável para o desenvolvimento e o aprendizado 
da criança, sendo que o âmbito familiar e o institucional complementam-se em suas 
especificidades e em sua participação. 
A Instituição de Educação Infantil e as famílias têm papéis complementares na 
formação integral da criança, por isso devem estabelecer relações de cooperação e troca 
de experiências e conhecimentos, tendo sempre em vista compreender mais 
detalhadamente a criança e pensar em estratégias para potencializar sua aprendizagem e 
desenvolvimento. 
 
 
 
Para saber mais: 
 
Publicações sobre Educação Infantil. Disponíveis em: 
http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-
basica/publicacoes?id=12579:educacao-infantil 
 
 
 
 
Referências bibliográficas 
 
 
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parecer CNE/CEB nº 20/2009. Diretrizes Curriculares 
Nacionais para a Educação Infantil. 2009. 
 
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Resolução CNE/CEB nº 02/2017. Base Nacional 
Comum Curricular. Brasília DF, 2017. 
 
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Básica. Parâmetros Nacionais 
de Qualidade da Educação Infantil. Brasília, 2018. 
 
 
90 
http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/publicacoes?id=12579:educacao-infantil
http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/publicacoes?id=12579:educacao-infantil
 
 
 
 
 
 
 
92 
 
4.4. Convivência Familiar e Comunitária 
 
Crianças e adolescentes têm o direito de serem criados e educados no seio de sua 
família (ECA, art. 19), que é reconhecida pela Lei Magna como a base da sociedade (CF, art. 
226). Visando fortalecer o acesso a esse direito o mais oportunamente possível, o Marco 
Legal da Primeira Infância enfatiza as convivências familiar e comunitária como uma área 
prioritária na primeira infância. 
Este direito é amplamente detalhado no Plano Nacional de Convivência Familiar e 
Comunitária – PNCFC (BRASIL, 2016), que enfatiza a capacidade da família, em sua 
diversidade de arranjos, exercer as funções de proteção e socialização de crianças e 
adolescentes, assim como o papel das políticas públicas no apoioàs famílias para a 
prevenção do afastamento do convívio familiar. 
O PNCFC (BRASIL, 2016) destaca que é no ambiente familiar que as crianças 
constroem seus primeiros vínculos afetivos, experimentam emoções, formam sua 
identidade, desenvolvem autonomia, aprendem a tomar decisões, exercem cuidados 
mútuos, vivenciam conflitos e aprendem a controlar seus impulsos e tolerar frustrações. 
Assim como é a partir da família que a criança se insere em uma comunidade, ampliando 
sucessivamente seu pertencimento social e cultural. 
No entanto, o reconhecimento da importância da família não pode ser confundido 
com o desconhecimento de que é também no seu próprio meio que ocorre a maior parte 
das violações dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. A depender da 
gravidade da violação, o afastamento do núcleo familiar se faz necessário para a proteção 
da integridade física e psicológica da criança e do adolescente. 
Nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, a medida protetiva de 
acolhimento tem caráter excepcional e provisório. Neste contexto, o direito às 
convivências familiar e comunitária se alicerça na interface entre a Doutrina da Proteção 
Integral trazida pela Constituição Federal e o ECA, cuja concretização requer 
convergência de esforços entre Família, Sociedade e Estado, com especial articulação 
entre os órgãos que integram o Sistema de Justiça e a rede das diversas políticas públicas, 
como de Assistência Social, Direitos Humanos, Educação e Saúde, entre outras. Medidas 
específicas para proteção, promoção e garantia do direito à convivência familiar e 
comunitária serão abordadas nas Unidades 3 e 4. 
91 
 
 
 
 
 
 
 
93 
 
Sobre o Conceito de Família 
É de senso comum em nossa sociedade a concepção de família como sendo a base 
de tudo, um lugar privilegiado para o desenvolvimento da criança. A carga de atribuições, 
compromissos e exigências contemporâneas que incidem sobre as famílias, 
independentemente de seus recursos e possibilidades reais, pode ser muito pesada, 
especialmente quando associada às tensões decorrentes de diversas situações, por 
exemplo, desemprego, violência urbana, pobreza, ausência de redes sociais de apoio e falta 
de acesso a serviços que a apoiem no exercício de sua função de cuidado, proteção e 
educação das crianças e adolescentes. 
Também é comum idealizarmos a família em sua composição nuclear conjugal, 
todavia é preciso considerar as diversidades socioculturais e de arranjos familiares. 
Portanto, na atenção às famílias é importante considerar as várias realidades, os múltiplos 
arranjos contemporâneos e as relações intrafamiliares e da família com o contexto no qual 
está inserida. É importante identificar limites e potencialidades da família para o exercício 
de sua função, suas redes de apoio, demandas por acesso a direitos e serviços, e a rede 
disponível localmente que possa acessar para superar dificuldades enfrentadas. 
Consideramos que a melhor concepção de família está expressa na Política Nacional de 
Assistência Social – PNAS/2004 (2005, p. 90): 
 
A família é um grupo de pessoas, vinculadas por laços consanguíneos, de 
aliança ou de afinidade, onde os vínculos circunscrevem obrigações 
recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de 
gênero. 
 
Sobre o Conceito de Comunidade 
Para Dalva Gueiros (2010), as famílias das camadas populares que estão mais 
comumente organizadas em rede (com participação de outros parentes e vizinhos no 
convívio e em prol da sobrevivência) e que têm como foco o sistema de obrigações e ajuda 
diferenciam-se das famílias das camadas sociais médias que se organizam em núcleos 
centrados no parentesco. Trata-se, portanto, de uma estratégia de sobrevivência e 
materialidade histórica (distante do modelo romântico ou idealizado). 
Dentre os primeiros espaços e instituições sociais que ampliam a convivência da 
criança além da família podemos identificar os parques públicos, os grupos de brincadeiras, 
92 
 
 
 
 
 
 
 
94 
a creche e a escola. Quando o afastamento da família é necessário e a aplicação da medida 
protetiva de acolhimento é inevitável, a manutenção da criança em sua comunidade de 
origem (relações de amizade no bairro e na escola) pode ser uma boa estratégia de redução 
de danos, razão pela qual o § 7º do Art. 101 do ECA dispõe que “o acolhimento familiar ou 
institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável”. 
Como vimos nas temáticas anteriores, a criança forma memórias a partir do 
convívio e do ambiente em que nasce e cresce, o que gera um sentimento de familiaridade 
e senso de pertencimento que precisa ser considerado ao se buscar formas de garantir 
seus direitos. 
 
Sobre o Direito às convivências familiar e comunitária 
Sabemos que famílias e espaços comunitários e institucionais são potencialmente 
ou efetivamente capazes de promover desenvolvimento infantil e proteção social, e que o 
contrário também é igualmente verdadeiro. Mas quantas crianças são cotidianamente 
desprotegidas, maltratadas e sofrem diferentes tipos de violações de direitos em seu 
núcleo familiar e sua comunidade? 
Várias circunstâncias acabam afetando e até mesmo inviabilizando a possibilidade 
de uma convivência familiar e comunitária saudável. Em face de tais realidades, fica 
evidente a necessidade da efetivação de promoção, proteção e defesa do direito às 
convivências familiar e comunitária de crianças, o que requer um conjunto articulado de 
ações que envolvem a família, a sociedade e o Estado, em situação de corresponsabilidade, 
conforme proposto nas Convenções Internacionais, na Constituição Federal, no ECA, no 
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa da Convivência Familiar e Comunitária 
bem como no Marco Legal da Primeira Infância. 
 
Para saber mais: 
BRASIL.. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa da Convivência Familiar e 
Comunitária. Políticas Públicas sobre Convivência Familiar e Comunitária. Brasília: 
CONANDA; CNAS, 2006. Disponível em: 
<www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Plano_Defesa_
CriancasAdolescentes%20.pdf>. Acesso em: 6 out. 2020. 
 
93 
 
 
 
 
 
 
 
95 
4.5. Assistência Social à Família da Criança 
Vimos anteriormente que a interação familiar é o principal ingrediente para o 
desenvolvimento humano na primeira infância. A proteção, o cuidado e a disponibilidade 
para estabelecer relacionamentos estáveis, afetivos e educativos são funções primordiais 
do núcleo familiar. Mas muitas vezes “os pais não estão disponíveis para interagirem com 
os filhos devido a uma série de circunstâncias desfavoráveis em sua vida, como a pobreza, 
o desemprego, o uso abusivo de drogas, a violência, entre outros desafios e fontes de 
estresse cotidiano” (SHONKOFF, 2016). 
Em nosso país, as circunstâncias sociais, culturais e econômicas das famílias para 
cuidarem dos filhos são marcadas por desigualdades e desafios históricos, configurando 
para grande parcela da população um contexto de exclusão social que expõe famílias e 
indivíduos a situações de risco e vulnerabilidade, que repercutem diretamente na 
capacidade de exercício da parentalidade. Diante disso, o Estado tem dado respostas com 
reconhecimento de direitos e organização de políticas públicas de apoio às famílias, dentre 
as quais se destaca a Política de Assistência Social, que organiza um conjunto de ofertas 
que apoiam as famílias por intermédio do Sistema Único de Assistência Social. 
Além de destacar a Assistência Social como uma área prioritária para a proteção 
das crianças na primeira infância e apoio à sua família em uma perspectiva preventiva, o 
Marco Legal da Primeira Infância destaca também o importante papel dos serviços e 
equipamentos desta políticaem casos de violações: 
 
As famílias identificadas nas redes de saúde, educação, assistência social 
e demais órgãos do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança que se 
encontram em situação de vulnerabilidade e de risco ou com direitos 
violados para exercer seu papel protetivo, de cuidado e educação à 
criança na primeira infância, bem como as que têm crianças com 
indicadores de risco ou deficiência, terão prioridade nas políticas sociais 
públicas”. (Lei 13.257/2016, art. 14, § 2º). 
Art. 13 § 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, 
os serviços de assistência social em seu componente especializado, o 
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAs) e os 
demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do 
Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das 
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação 
de violência de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico 
singular que inclua intervenção em rede e, se necessário, 
acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016). 
 
94 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art23
 
 
 
 
 
 
 
96 
É MUITO IMPORTANTE ENTENDER A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM DIREITO, NÃO COMO UMA 
BENESSE. FAMÍLIAS CIDADÃS SÃO FONTE DE CIDADANIA DE SEUS FILHOS. 
 
Sobre a Política Nacional de Assistência Social 
A Constituição Federal de 1988 operou mudanças fundamentais na agenda das 
políticas públicas, transformando necessidades antes consideradas pessoais ou individuais 
em direitos sociais. Na Assistência Social, essa mudança de paradigma significou uma forte 
contraposição às práticas filantrópicas correntes. A Política de Assistência Social será 
melhor abordada no tópico 1.8. 
A lógica que organiza esta política apoia-se na concepção de que a Assistência 
Social, articulada a outras políticas e ao Sistema de Justiça, deve contemplar no 
atendimento às famílias: 
 
• A atenção a vulnerabilidades e riscos sociais enfrentados pelas famílias. 
• A ampliação de acessos a direitos, serviços e oportunidades para a melhoria de 
condições de vida da família, inclusão e participação social. 
• A ampliação de acessos a serviços e outros suportes que possam apoiá-la no 
cuidado e na proteção de seus membros, sobretudo no caso daqueles em situação 
de maior vulnerabilidade, como crianças na primeira infância e pessoas com 
deficiência. 
• Ao enfrentamento da pobreza além da questão do acesso à renda, considerando 
outras vulnerabilidades vivenciadas pelas famílias e a necessária integração do 
acesso a serviços e benefícios para seu empoderamento e sua autonomia. 
• A articulação estreita com outras políticas e sistema de justiça em casos de 
violações de direitos que impliquem riscos à integridade física e psíquica, visando 
à interrupção e superação destas situações. 
 
Enfim, o Modelo Brasileiro de Proteção Social pode ser assim sintetizado: 
 
1. Política de direitos que opera serviços, benefícios, programas e projetos. 
2. Organizada como um Sistema, o SUAS, com comando único, gestão compartilhada 
e corresponsabilidades de todos os entes federados (União, estados, DF e 
municípios). 
95 
 
 
 
 
 
 
 
97 
3. SUAS hierarquizado por níveis de complexidade, em Proteção Social Básica e a 
Proteção Social Especial (de Média e Alta Complexidade), conforme o nível de 
agravamento das situações e especificidade do atendimento. 
4. Gestão democrática e participativa com instâncias de pactuação interfederativa – 
Comissões Intergestores Bipartites (CIBs), com representantes das esferas 
estadual e municipal, e Comissões Intergestores Tripartites (CITs), que agregam a 
área federal e o controle social – Conselhos de Assistência Social. 
 
A centralidade da família é uma diretriz da Política Nacional de Assistência Social 
(PNAS/2004) que orienta a concepção e a implementação de benefícios, serviços, 
programas e projetos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Isto pauta-se no 
reconhecimento da importância da família no contexto da vida pessoal e comunitária. 
Segundo a PNAS (2004, p. 40), “a matricialidade sociofamiliar se refere à centralidade da 
família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da 
política de assistência social”. Portanto, a matricialidade sociofamiliar constitui um 
avanço fundamental na Assistência Social, que anteriormente se detinha no atendimento 
de indivíduos. 
Para a Assistência Social, as atenções devem considerar a família como um todo e 
a atenção às especificidades de cada um de seus membros não pode estar dissociada de 
seu contexto familiar, comunitário e social. Assim, as atenções às crianças na primeira 
infância não podem desconsiderar sua família e seu contexto de vida. De igual forma, as 
famílias com crianças na primeira infância precisam ser compreendidas em sua 
integralidade, com suas especificidades, dificuldades e potencialidades. 
Mioto (2010) ressalta, todavia, que duas tendências opostas lutam entre si para 
ganhar hegemonia no âmbito do trabalho social com famílias: a familista e a protetiva. Na 
perspectiva familista, a família é considerada a principal responsável pelo bem-estar de 
seus membros, em detrimento do Estado, na garantia de direitos e na proteção social. 
 
O fracasso das famílias é entendido como resultado da incapacidade de 
gerirem seus recursos, de desenvolverem adequadas estratégias de 
sobrevivência e de convivência, de mudar comportamentos e estilos de 
vida, de se articularem em rede de solidariedade e também de serem 
incapazes de se capacitarem para cumprirem com as obrigações 
familiares (MIOTO, 2010, p. 170). 
 
96 
 
 
 
 
 
 
 
98 
Na perspectiva protetiva, pelo contrário, há centralidade da garantia de direitos 
sociais com base nos princípios da universalidade e equidade, pois somente através deles 
é possível consolidar a cidadania e caminhar para a equidade e justiça social. Nessa 
perspectiva, as políticas públicas são pensadas no sentido de apoiar as famílias e fortalecer 
sua capacidade protetiva. 
 
Referências Bibliográficas 
 
MARQUES L. A. Matricialidade Sociofamiliar do SUAS: diálogo entre possibilidades e limites.Em:. 
Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, Universidade Estadual de Londrina, 2014. 
 
MARICONDI, M. A; KREHAN, M. C. Concepções Fundantes do Modelo Brasileiro de Proteção 
Social e o Trabalho Social com Famílias: avanços e contradições. Em: Caderno de Textos do Projeto 
Inovações Metodológicas para o Trabalho Social com Famílias no SUAS. São Paulo, 2020. 
Disponível em: <https://psicologianosuas.com/2020/06/01/inovacoes-metodologicas-para-o-
trabalho-social-com-familias/>. Acesso em: 12 set. 2020. 
 
MIOTO R. C. Família, trabalho com famílias e Serviço Social. Serv. Soc. Rev., Londrina, v. 12, n. 2, p. 
163-176, jan./jun. 2010. 
 
SANTOS, B. R. et al. Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes 
brasileiros. Disponível em: <http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_288618255.pdf>. 
Acesso em: 10 set. 2020. 
 
SHONKOFF, J. Investindo em ciência para fortalecer as bases da aprendizagem, do comportamento 
e da saúde ao longo da vida. Em: Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. Câmara dos 
Deputados: Centro de Estudos e Debates Estratégicos, 2016. 
 
SPOSATI, A. Modelo Brasileiro de Proteção Social não Contributiva: concepções fundantes. 2009. 
Disponível em: <http://www.ceprosom.sp.gov.br/portal/wp-content/uploads/2015/05/TEXTO-
ALDAIZA-1.pdf>. Acesso em: 10 set. 2020. 
 
SPOSATI, A. Assistência Social: de ação individual a direito social. Revista Brasileira de Direito 
Constitucional – RBDC, n. 10, jul./dez. 2007. Disponível em: 
<http://www.esdc.com.br/RBDC/RBDC-10/RBDC-10-435-Aldaiza_Sposati.pdf>.Acesso em: 10 
set. 2020. 
 
97 
https://psicologianosuas.com/2020/06/01/inovacoes-metodologicas-para-o-trabalho-social-com-familias/
https://psicologianosuas.com/2020/06/01/inovacoes-metodologicas-para-o-trabalho-social-com-familias/
http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_288618255.pdf
http://www.ceprosom.sp.gov.br/portal/wp-content/uploads/2015/05/TEXTO-ALDAIZA-1.pdf
http://www.ceprosom.sp.gov.br/portal/wp-content/uploads/2015/05/TEXTO-ALDAIZA-1.pdf
http://www.esdc.com.br/RBDC/RBDC-10/RBDC-10-435-Aldaiza_Sposati.pdf
 
 
 
 
 
 
 
99 
 
4.6. A cultura, o brincar e o lazer 
4.6.1 Sobre a cultura 
A cultura é fundadora das ações e dos pensamentos das pessoas a todo o momento 
e reflete o modo de vida de cada um de nós (que é construído desde a primeira infância) e 
da sociedade. É apenas a partir da garantia do direito à cultura, ao brincar e ao lazer que a 
plenitude do desenvolvimento humano terá seu fluxo contínuo e a criança despertará para 
a realidade cultural em que está inserida, não apenas como receptora, mas como produtora 
de cultura. Com base nesse fundamento, o Marco Legal da Primeira Infância determina 
que: 
 
Art. 15. As políticas públicas criarão condições e meios para que, desde a 
primeira infância, a criança tenha acesso à produção cultural e seja 
reconhecida como produtora de cultura (Lei 13.257/2016). 
 
Neste sentido, é importante que os profissionais do Sistema de Garantia de 
Direitos atentem-se para a importância do reconhecimento, da valorização e do respeito à 
identidade cultural de cada criança e sua interação com os elementos culturais próprios 
dessa identidade, tendo em vista os diversos povos e etnias que compõem a Nação 
brasileira, como afrobrasileiros, indígenas, romanis (ciganos), orientais, latinos e europeus, 
além de outras características ligadas ao território, especialmente nos casos de população 
rural, ribeirinha e da floresta. 
É importante atentar-se também para o fato de que a promoção da igualdade e da 
diversidade cultural, ao ser tratada desde a infância, cria possibilidades e diminui 
preconceitos na relação com as múltiplas formas de constituição familiar, trabalhando de 
maneira positiva questões adversas sobre estigmas socialmente construídos. 
A atuação do Ministério da Cultura, especialmente em 2018 e 2019, no processo 
de implementação do Marco Legal da Primeira Infância, destacou-se pela busca de 
estratégias para fortalecer o papel dos jogos e das brincadeiras nos territórios, 
considerando sua importância no desenvolvimento da criança, inclusive para promoção da 
resiliência. As políticas públicas de Cultura têm importante papel na Mobilização da Rede 
de Pontinhos de Cultura, identificando novos atores que possam possibilitar maior fruição 
de atividades passíveis de execução para atender ao público da primeira infância. Além 
disso, tange às atribuições das políticas de Cultura a indicação trazida pelo artigo 26 do 
9*
8/ 
 
 
 
 
 
 
 
100 
Marco Legal da Primeira Infância quanto à importância de se assegurar às crianças o 
direito de acesso à transmissão das crenças e culturas familiares. 
Com vistas à efetivação desta área prioritária para o desenvolvimento de todas as 
crianças, nos âmbitos familiar, social e institucional, a seguir você terá subsídios para uma 
melhor compreensão sobre o direito de brincar, a natureza do brincar e seu papel no 
desenvolvimento da criança, os impedimentos à efetivação desse direito, a importância 
dos espaços para brincar e o papel do adulto, destacando a necessidade de capacitação 
ampla sobre o tema. Lembrando que a criança é fruidora e produtora de cultura por meio 
do brincar. O lúdico é fonte de confiança e autonomia à medida que a criança conhece os 
valores culturais de sua comunidade e cria formas de ver o mundo por meio desse brincar. 
 
Para saber mais: 
LAREDO, Carlos. A Origem da Cultura na Primeira Infância da Humanidade: O que 
deixaremos aos Arqueólogos do Futuro? Em: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Avanços do 
Marco Legal da Primeira Infância. Brasília: Centro de Estudos e Debates Estratégicos da 
Câmara dos Deputados, 2016, pp. 145-155..Disponível em: 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-
do-marco-legal-da-primeira-infancia 
 
 
4.6.2. Sobre o brincar 
 
O direito de brincar 
Sob o ponto de vista da legislação brasileira, o direito ao brincar e ao lazer são 
assegurados pelas seguintes legislações: 
 
• Constituição Federal (1988), Art. 227. 
• Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 1989), Arts. 4º e 16. Este último trata 
do direito à liberdade, abrangendo oito aspectos, entre os quais estão “brincar, 
praticar esportes e divertir-se” (inciso IV). 
• Lei 11.104/2005, conhecida Lei da Brinquedoteca Hospitalar, que assegura o 
direito de brincar, inclusive para as crianças em hospitais. 
99 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
 
 
 
 
 
 
 
101 
• Marco Legal da Primeira Infância (2016), Arts. 5º e 17. No seu artigo 5º assinala 
que: “Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas pela Primeira Infância 
a saúde, (...) o brincar e o lazer (...)” e no seu artigo 17 especifica que: 
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão organizar 
e estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o 
brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e privados onde 
haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres e 
seguros em suas comunidades (Lei 13.257/2016, art. 17). 
 
Essas leis são fundamentadas no direito internacional contido no Artigo 31 da 
Convenção dos Direitos da Criança (CDC/ONU 1989). O Artigo 31 “reconhece o direito 
de cada criança ao descanso, lazer, jogo, atividades recreativas e livres e plena participação 
na vida cultural e artística”, e foi considerado tão importante pela CDC que mereceu a 
aprovação, em fevereiro de 2013, de um documento complementar denominado 
Comentário Geral no 17 (GC 17), que definiu claramente as obrigações dos seus governos 
signatários, inclusive o Brasil, no que se refere aos direitos contidos no Artigo 31, 
reforçando ainda que devem ser desfrutados por toda criança, independentemente do 
lugar onde vive, de seu patrimônio cultural ou de sua condição social. 
 
Para saber mais: 
• Guia “O Direito de Brincar de todas as crianças”, da Rede Nacional da Primeira 
Infância (RNPI). Disponível em: https://www.ipabrasil.org/publicacoes 
 
• Comentário Geral sobre o Artigo 31 – ONU/CDC. Disponível em: 
http://www2.ohchr.org/english/bodies/crc/docs/GC/CRC-C-GC-17_en.doc 
• Guia “Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança: O Desenvolvimento Infantil e 
o Direito de Brincar”. Disponível em: https://www.ipabrasil.org/publicacoes 
 
100 
https://www.ipabrasil.org/publicacoes
http://www2.ohchr.org/english/bodies/crc/docs/GC/CRC-C-GC-17_en.doc
https://www.ipabrasil.org/publicacoes
 
 
 
 
 
 
 
102 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O que é o Brincar? 
O brincar é caracterizado pelos seguintes atributos: diversão, incerteza, desafio, 
flexibildade e não produtividade. O Comentário Geral nº 17 sobre o CDC, na sua página 
5, parágrafo 14C, oferece uma definição do brincar que é amplamente reconhecido por 
especialistas das mais diversas áreas: 
O brincar das crianças é um comportamento, atividade ou processo iniciado, 
controlado e estruturado pelas próprias crianças e tem lugar quando e onde 
as oportunidades surgirem. Os cuidadores podem contribuir para a criação de 
ambientes em que ele ocorre, mas brincar, por si mesmo, é não-obrigatório,impulsionado pela motivação intrínseca e é um fim em si mesmo, e não um 
meio para um fim. 
 
É importante destacar que o direito da criança ao brincar contempla seu direito de 
controlar e estruturar seu próprio brincar. Por isso, muitos especialistas se referem ao 
“brincar livre” ou “livre brincar”, sendo isso distinto de uma atividade lúdica ou brincadeira 
organizada, controlada e estruturada por um adulto, por exemplo, um professor de 
educação infantil ou de ensino fundamental, na sala de aula. 
 
Para saber mais: 
• Guia “Brincar é preciso! Guia prático para pais e educadores". Disponível em: 
https://www.ipabrasil.org/publicacoes 
 
 
101 
https://www.ipabrasil.org/publicacoes
 
 
 
 
 
 
 
103 
• Livro “A descoberta do brincar”, de Maria Ângela Barbato Carneiro e Janine Dodge. 
Disponível em: https://www.ipabrasil.org/publicacoes 
 
O Brincar e o Desenvolvimento Infantil 
Ao longo das últimas décadas, inúmeros estudos científicos de diversas áreas, 
incluindo a neurociência, psicologia, sociologia, pedagogia e economia vêm apontando e 
destacando as diversas maneiras pelas quais o brincar é intrínseco ao desenvolvimento 
saudável e pleno das crianças. Desde o seu nascimento, o brincar é um elemento 
fundamental no desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social das crianças, 
proporcionando condições para o desenvolvimento de relacionamentos afetivos positivos, 
da resiliência e da criatividade, entre outras habilidades de função executiva e de 
autorregulação, todas consideradas necessárias para que a criança exerça o papel que lhe 
cabe na comunidade em que vive, no presente e no futuro. 
 
Para saber mais: 
• Sobre brincadeiras e jogos que apoiam o desenvolvimento infantil, indicados por faixa 
de idade das crianças: 
o Cartilha “Jogos e brincadeiras das culturas populares na Primeira Infância”. 
Disponível em: 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaF
eliz_web.pdf 
o Guia “O Direito de Brincar de todas as crianças”, produzido pelas ONGs 
internacionais Terre des Hommes e IPA Brasil. Disponível em: 
https://www.ipabrasil.org/publicacoes 
 
102 
https://www.ipabrasil.org/publicacoes
http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf
https://www.ipabrasil.org/publicacoes
 
 
 
 
 
 
 
104 
 
• “Apostila brincar: Propostas práticas para brincadeiras inclusivas na educação infantil” 
produzido pela Fundação Volkswagen em parceria com a Associação Nova Escola. 
Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/apostila-brincar-
propostas-praticas-brincadeiras-inclusivas-educacao-infantil/ 
• Vídeos “O Jogo de Ação e Reação Modela os Circuitos do Cérebro” e “Ação e Reação”, 
produzidos pelo Centro para o Desenvolvimento da Criança da Universidade de 
Harvard. Disponíveis em: 
https://developingchild.harvard.edu/translationcategory/pt/ 
• Entrevista com a Profa. Tizuko Morchida, da Faculdade de Educação da USP, “Na 
Íntegra – Tizuko Morchida – O brincar na educação infantil”. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=09w8a-u-AUU (parte 1) e 
https://www.youtube.com/watch?v=QomXuPFJc8c (parte 2). 
• Entrevista com a psicóloga Rita Góes Bezerra de Moraes. Disponível em: 
https://lunetas.com.br/para-lidar-com-criancas-e-preciso-observa-las-diz-psicologa/ 
 
Os impedimentos ao Brincar 
Atualmente, o brincar é ainda, muitas vezes, reduzido a um tempo curto da rotina 
da criança, além de ser frequentemente entendido como premiação para certos 
comportamentos e relacionado a determinados brinquedos comercializados. Alguns 
paradigmas ultrapassados, mas ainda compartilhados por grande parte dos adultos, como 
“Brincar é perda de tempo”, também dificultam a compreensão de todos sobre o papel 
fundamental do brincar no desenvolvimento infantil. 
Além da carência de espaços qualificados e seguros para o brincar, a 
comercialização das oportunidades para brincar, as altas exigências educacionais e a 
crescente influência e uso das mídias digitais, quase onipresentes na vida das crianças, 
também influenciam profundamente o tempo dedicado ao brincar e as formas do seu 
envolvimento nas brincadeiras, atividades recreativas e nas atividades culturais e 
artísticas. 
 
Para saber mais: 
Sobre o brincar e a tecnologia: 
• Recomendações da Organização Mundial da Saúde sobre o uso de aparelhos 
eletrônicos por crianças pequenas. Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-
divulga-recomendacoes-sobre-uso-de-aparelhos-eletronicos-por-criancas-de-
ate-5-anos/ 
VÍDEO 10 
Série de vídeos “Infância e Tecnologia” produzidos pelo Instituto Alana. 
103 
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/apostila-brincar-propostas-praticas-brincadeiras-inclusivas-educacao-infantil/
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/apostila-brincar-propostas-praticas-brincadeiras-inclusivas-educacao-infantil/
https://developingchild.harvard.edu/translationcategory/pt/
https://www.youtube.com/watch?v=09w8a-u-AUU
https://www.youtube.com/watch?v=QomXuPFJc8c
https://lunetas.com.br/para-lidar-com-criancas-e-preciso-observa-las-diz-psicologa/
https://nacoesunidas.org/oms-divulga-recomendacoes-sobre-uso-de-aparelhos-eletronicos-por-criancas-de-ate-5-anos/
https://nacoesunidas.org/oms-divulga-recomendacoes-sobre-uso-de-aparelhos-eletronicos-por-criancas-de-ate-5-anos/
https://nacoesunidas.org/oms-divulga-recomendacoes-sobre-uso-de-aparelhos-eletronicos-por-criancas-de-ate-5-anos/
 
 
 
 
 
 
 
105 
Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=eKMTzYmuW0g&list=PLwtaWcfcrGsbDAJ
SXxCghgg3j30CaqI6b&index=1 
 
A importância dos espaços para Brincar 
A qualidade do brincar é fundamentalmente moldada pelo ambiente onde ele 
acontece. A população urbana vem aumentando significativamente, sendo que geralmente 
os espaços urbanos dispõem de menos áreas públicas para as crianças brincarem. A 
presença da violência em muitas casas, escolas e ruas bem como a persistência do trabalho 
infantil no País, também impedem que as crianças desfrutem do seu direito de brincar e 
assim tenham assegurado o direito a seu pleno desenvolvimento. 
A oferta de espaço para brincar nas cidades assume muitas formas, incluindo 
parques, playgrounds, escola, parques infantis, praças públicas abertas, ruas e espaços 
verdes – alguns são planejados para o brincar, outros não. Mesmo no ambiente mais 
desfavorável, o impulso espontâneo das crianças para brincar vai levá-las a procurar 
oportunidades para fazê-lo, o que pode expô-las a condições adversas e riscos para a sua 
própria segurança e saúde. E mesmo havendo praças ou parques aparentemente 
adequados para o brincar de crianças pequenas, uma pesquisa brasileira (WENETZ, 2013) 
demonstra que a praça pública vem se tornando um espaço vazio, que oferece poucas 
condições de sociabilidade (seguras) para as crianças brincarem. Por diferentes motivos, 
os responsáveis pelas crianças estão, cada vez mais, com medo do “estranho” e da rua, e 
não têm confiança nos espaços oferecidos. Há uma sensação de insegurança que configura 
tanto a escolha dos lugares para o lazer das famílias quanto a frequência dessas visitas. 
Frente à insegurança, a tendência é de restringir – e muito – a mobilidade e o livre brincar 
das crianças. 
Ao brincarem livremente ao ar livre e na natureza, as crianças espontaneamente se 
engajam em atividade física, exercitam sua liberdade e desenvolvem sua criatividade, 
imaginação, capacidade de observação e aceitação da diversidade. Apesar dos múltiplos 
benefícios, as crianças têm cada vez menos oportunidade de se conectarem com a 
natureza, de desfrutarem do livre brincar ao ar livre e de se movimentar, ao se permitir que 
assumam riscos enquanto brincam (LOUV, 2009). 
Definirespaços públicos compartilhados, acessíveis e inclusivos com um projeto 
sensível à criança é importante para promover o brincar – e isso não se restringe aos 
104 
https://www.youtube.com/watch?v=eKMTzYmuW0g&list=PLwtaWcfcrGsbDAJSXxCghgg3j30CaqI6b&index=1
https://www.youtube.com/watch?v=eKMTzYmuW0g&list=PLwtaWcfcrGsbDAJSXxCghgg3j30CaqI6b&index=1
 
 
 
 
 
 
 
106 
espaços tradicionais oferecidos para brincar, como parques e playgrounds. Podem 
também ser contemplados espaços informais e cotidianos, incluindo, por exemplo, 
mudanças ao nível da rua (sinalização, regulamentação do trânsito, procedimentos 
acessíveis para o fechamento de rua, intervenções de agentes do brincar, proteção de 
pequenos terrenos abandonados) e engajamento da comunidade (defesa de direitos, 
audiências públicas sobre o brincar, capacitação ampla sobre o papel do adulto no brincar) 
(LESTER; RUSSELL, 2008). 
 
Para saber mais: 
VÍDEO 11 
• Sobre espaços e materiais não estruturados para brincar: 
o Vídeo “Scrapstore PlayPods – Early Years”, com legenda em português. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bKuzWd5eSx8 
VÍDEO 12 
• Sobre brincar na natureza: 
o Conheça brincadeiras jogadas ao ar livre nas produções visuais do 
Território do Brincar. Disponível em: 
https://territoriodobrincar.com.br/videos-categorias/ 
• “A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno do 
déficit de natureza”, de Richard Louv (2009). 
• Sobre brincar no contexto urbano: 
o MARTINS, Edna. O brincar educa? A brincadeira como prática educativa 
na família. São Paulo: PUC-SP, 2003. Disponível em: 
https://tede2.pucsp.br/handle/handle/16425#preview-link0 
o LESTER, Stuart; RUSSELL, Wendy. Play for change. Play, policy and 
practice: a review of contemporary perspectives. Inglaterra: National 
Children’s Bureau, 2008. Disponível em: 
https://www.researchgate.net/publication/263087151_Play_for_a_Chan
ge_Play_Policy_Practice_A_Review_of_Contemporary_Perspectives 
o WENETZ, Ileana. As crianças ausentes na rua e nas praças. Etnografia dos 
espaços vazios. Civitas, Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 346-363, mai./ago. 
2013. Disponível em: 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
60892013000200346&lng=en&nrm=iso 
 
 
O papel dos adultos no brincar e a necessidade de capacitação sobre o tema 
105 
https://www.youtube.com/watch?v=bKuzWd5eSx8
https://territoriodobrincar.com.br/videos-categorias/
https://tede2.pucsp.br/handle/handle/16425#preview-link0
https://www.researchgate.net/publication/263087151_Play_for_a_Change_Play_Policy_Practice_A_Review_of_Contemporary_Perspectives
https://www.researchgate.net/publication/263087151_Play_for_a_Change_Play_Policy_Practice_A_Review_of_Contemporary_Perspectives
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-60892013000200346&lng=en&nrm=iso
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-60892013000200346&lng=en&nrm=iso
 
 
 
 
 
 
 
107 
O brincar é um direito da criança, mas a oferta das oportunidades para brincar é 
um dever dos adultos, já que as crianças dependem deles para ter esse direito assegurado. 
Mas, para isso, precisam primeiro reconhecer e valorizar a importância do brincar. 
Pesquisa Nacional de 2017 mostra que apenas 17% dos pais brasileiros concordaram que 
brincar e passear/ receber carinho e afeto é importante para o desenvolvimento das 
crianças na primeira infância. Aparentemente, o conhecimento dos brasileiros sobre a 
importância do brincar não mudou significativamente em mais de uma década. Em 2006, 
apenas 14% dos pais brasileiros de crianças de seis a doze anos espontaneamente 
reconheciam o brincar como importante para o desenvolvimento de seus filhos 
(CARNEIRO; DODGE, 2007). Sem sensibilizar os pais para o assunto, não há como esperar 
engajamento deles no tema, muito menos ação efetiva para mudar a realidade atual. 
A demanda por conhecimento, informações qualificadas e práticas efetivas sobre 
o brincar é muito grande. Além dos pais, há necessidade de sensibilizar, informar e 
capacitar todos aqueles que cuidam das crianças, incluindo jovens, idosos, profissionais e 
gestores públicos das mais diversas áreas que trabalham com ou para as crianças, sobre o 
brincar. Há cinco anos, juntamente com a organização Terre des Hommes e em parceria com 
o Centro Paula Souza (SP), a IPA Brasil ofereceu o primeiro curso de qualificação 
profissional sobre o brincar no Brasil. O curso, já na décima quarta turma, vem sendo o mais 
procurado na ETEC Parque da Juventude em SP, onde é oferecido: são mais de sete 
candidatos interessados por vaga. A demanda por conhecimento, informações 
qualificadas e práticas efetivas sobre o brincar é muito grande. Porém, ainda há muito a se 
fazer para sensibilizar os brasileiros. 
 
Para saber mais: 
 
• Sobre capacitação em brincar e o curso de qualificação profissional em “Agentes 
do Brincar”®, procure https://www.ipabrasil.org/agentesdobrincar 
 
• Guia “O Direito de Brincar: Guia Prático Para Criar Oportunidades Lúdicas e 
Efetivar o Direito de Brincar”. Disponível em: 
https://www.ipabrasil.org/publicacoes 
 
 
106 
https://www.ipabrasil.org/agentesdobrincar
https://www.ipabrasil.org/publicacoes
 
 
 
 
 
 
 
108 
 
4.7. O Espaço e o Meio Ambiente 
As crianças, assim como todos nós, vivem no espaço constituído pelo ambiente 
natural e pelo ambiente construído. A organização do ambiente tem especial impacto para 
o desenvolvimento da criança. 
 
A criança tem direito a uma vida saudável, em harmonia com a natureza, 
a inserir-se e viver como cidadã nas relações sociais, o que implica o 
direito ao espaço na cidade adequado às suas características biofísicas e 
de desenvolvimento, a participar da definição desses espaços e, 
finalmente, a participar da construção de uma sociedade sustentável 
(RNPI/CONANDA, 2010). 
 
Os espaços urbanos em geral não são planejados para o tamanho da criança nem 
para sua segurança. Diante dessa observação, a Fundação Bernard van Leer desenvolveu 
o projeto “Urban 95”, sendo que 95 refere-se a 95 centímetros, que é a altura aproximada 
de uma criança de três anos de idade. Como uma criança de três anos vive, percebe e 
experimenta os espaços de sua casa, de sua escola, de sua cidade? 
Entre os desafios observados para a primeira infância no contexto urbano estão a 
falta de locais para brincar e descansar, o distanciamento da natureza, a poluição sonora, a 
poluição do ar, as distâncias entre os vários locais que devem ser frequentados pela criança 
e sua família, o risco da solidão e do isolamento, devido ao modo como são construídas as 
habitações, sem espaços de convivência comunitária como praças, por exemplo. 
Este direito ao espaço e ao meio ambiente relaciona-se intimamente com a 
importância da construção de cidades e comunidades sustentáveis. É na primeira infância 
que a criança desenvolve as competências para uma relação amigável e sustentável com o 
meio ambiente e a natureza, a partir das experiências que tiver oportunidade de vivenciar 
no espaço em que vive. 
Uma das diretrizes do Estatuto da Cidade, que dialoga com a filosofia do Marco 
Legal da Primeira infância é a “(...) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido 
como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, 
ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as gerações presentes e 
as futuras (Estatuto da Cidade, art., 2º, inciso I). 
Nesta área, portanto está incluída a atenção à garantia e qualidade do espaço de 
moradia, com saneamento básico e acesso ao transporte e à rede de serviços. A casa é um 
107 
 
 
 
 
 
 
 
109 
espaço essencial para o desenvolvimento humano, especialmente na primeirainfância. 
Contudo, ainda precisamos avançar nas políticas de moradia vinculadas ao apoio às 
famílias para promoção do desenvolvimento integral na primeira infância. 
 
Para saber mais: 
Projeto URBAN 95. Disponível em: https://bernardvanleer.org/pt-br/solutions/urban95-
pt/ 
 
 
Referências: 
BRASIL. Estatuto da Cidade. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Estabelece diretrizes gerais da 
política urbana e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm 
 
REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA (RNPI) e CONANDA. Plano Nacional pela Primeira 
Infância. 2010. Disponível em: http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/PNPI-
Resumido.pdf 
 
 
108 
 
 
 
 
 
 
 
110 
 
4.8. A proteção da criança contra toda forma de violência 
Entre os adultos, antigamente, a criança não passava 
De um pequeno joguete. Não chegava a ser incômoda, 
porque nem mesmo tinha o valor de incomodar. 
Mal chegava aos quatro, cinco anos, 
Tinha qualquer servicinho esperando. 
Bem diziam os mais velhos: “serviço de criança é pouco 
E quem o perde é louco.” 
Era uma coisa restringida, sujeitada por todos os meios discricionários 
A se enquadrar dentro de um molde certo, cujo gabarito era o adulto. (...) 
Cora Coralina – Criança – Vintém de Cobre 
 
Desde o artigo 227 da Constituição Federal, regulamentado pelo Estatuto da 
Criança e do Adolescente, a proteção das crianças contra a violência é uma 
responsabilidade compartilhada entre Família, Sociedade e Estado. A Doutrina da 
Proteção Integral preconiza uma atuação em rede, a partir do Sistema de Garantia de 
Direitos, pois a violência é um fenômeno complexo e multicausal, que só pode ser 
enfrentado a partir de uma articulação entre vários serviços. 
Ao compreendermos mais profundamente, a partir da neurociência, o impacto 
epigenético das experiências vividas na primeira infância, o enfrentamento e a prevenção 
de maus tratos, castigos físicos e demais formas de violência sofridas desde a gestação até 
os seis anos de idade precisam ganhar ainda mais prioridade. 
A criança tem prioritariamente o direito humano de viver sem violência, e esse 
também é o caminho para interromper a perpetuação da violência. Conforme análise do 
pediatra Antônio Lisboa (2007), a fim de “prevenir a ‘fabricação’ de violentos, temos de 
atuar no período pré-patogênico, ou seja, da concepção aos 6 anos, principalmente antes 
dos 3 anos”. Na unidade referente à “Parentalidade positiva”, vamos conhecer os estilos 
parentais, visto ser importante promovermos uma nova cultura sobre a educação dos 
filhos que não seja pautada no uso de castigos físicos ou psicológicos. E esta situação é tão 
grave que ensejou a criação da Lei 13.010/2014, conhecida como Lei Menino Bernardo, 
para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem 
o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante. 
A violência representa uma das piores experiências adversas na infância (EAI), 
assim conceituadas aquelas que geram estresse tóxico e interferem no curso normal do 
desenvolvimento, pois tornam as crianças física, psíquica ou socialmente vulneráveis 
109 
 
 
 
 
 
 
 
111 
(GILBERTI, 2010). E um dos piores efeitos da violência é fragilização do vínculo de 
confiança necessário para um desenvolvimento saudável.. 
 
As violências praticadas contra a criança 
 
 
Do latim violentia, o termo violência pode ser definido como o ato de violar outrem 
ou de se violar. Refere-se a “algo fora do estado natural, algo ligado à força, ao ímpeto, ao 
comportamento deliberado que produz danos físicos, tais como ferimentos, tortura, morte 
ou danos psíquicos, que produz humilhações, ameaças, ofensas” e que expressa atos 
contrários à liberdade e à vontade de alguém (PAVIANI, 2016). Trazendo para o campo da 
Primeira Infância, a Lei 13.431/2017, em seu segundo artigo, ao referir-se ao gozo da 
criança e do adolescente dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, diz que 
para preservação da saúde física e mental e para o desenvolvimento moral, intelectual e 
social são necessárias oportunidade e facilidades para a proteção integral e para viver sem 
violências. Nos termos da citada legislação, são formas de violência: 
 
I – violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao 
adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe 
cause sofrimento físico; 
II – violência psicológica: 
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em 
relação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento, 
ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática 
(bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou 
emocional; 
110 
 
 
 
 
 
 
 
112 
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na 
formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou 
induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua 
autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que 
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este; 
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou 
indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua 
rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido, 
particularmente quando isto a torna testemunha; 
III – violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a 
criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou 
qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou 
vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda: 
a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do 
adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato 
libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para 
estimulação sexual do agente ou de terceiro; 
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do 
adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer 
outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, 
apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio 
eletrônico; 
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a 
transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do 
adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o 
fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma 
de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento 
de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, 
entre os casos previstos na legislação; 
IV – violência institucional, entendida como a praticada por instituição 
pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização (BRASIL, Lei 
13.431/2017, art. 4º). 
 
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os dados de totalização mais 
recentes referentes à violência contra a criança e ao adolescente no Brasil remontam ao 
ano de 2017, com uma média de 233 agressões de diferentes tipos (física, psicológica e 
tortura) por dia, segundo dados extraídos pela SBP do Sistema Nacional de Agravos de 
Notificação (SINAN, Ministério da Saúde), porém não estão computados violência e 
assédio sexual, abandono, negligência, trabalho infantil, entre outros tipos de agressões. 
Se levarmos em consideração que esses dados se referem ao atendimento de crianças e 
adolescentes na rede de saúde, e que, em muitos casos, os agressores não levam as vítimas 
para receberem os cuidados médicos – o que em geral só acontece quando a violência 
assume proporções graves –, podemos admitir que há uma enorme subnotificação e que 
os números da violência são alarmantes.111 
 
 
 
 
 
 
 
113 
Trabalho Infantil 
Outro tipo de violência é o trabalho infantil. Atualmente, por lei, o trabalho é 
permitido a partir dos 16 anos, desde que não seja em situação insalubre, perigosa ou no 
horário noturno. Aos 14, é permitido o ingresso como aprendizes. Na medida em que 
aumenta a vulnerabilidade das famílias, com a perda de renda, as crianças saem para ajudar 
no orçamento familiar. As consequências são o aumento da evasão escolar e danos físicos 
e emocionais, com grande prejuízo para o desenvolvimento da criança e do adolescente 
com menos de 14 anos. A consequência disso é a perpetuação ciclo da pobreza. 
O que se percebe hoje, em virtude do alto número do desemprego e da retração da 
economia, em virtude da pandemia, é um aumento do trabalho infantil, seja para o 
complemento da renda, seja pela ajuda no trabalho doméstico, conforme pesquisa 
realizada pelo UNICEF, em um levantamento com 52,7 mil famílias em São Paulo (MELLO, 
2020). 
 
Você conhece o que é violência comunitária? 
 
Não é suficiente intervir ou buscar a proteção apenas no âmbito da família da 
criança, pois a comunidade na qual ela está vive também tem um impacto fundamental em 
sua formação. A partir da compreensão da importância do ambiente no qual a a criança e 
sua família estão inseridas, o conceito de violência comunitária possibilita ampliar o 
espectro das ações que são necessárias para prevenção da violência na primeira infância. 
A violência comunitária é entendida como a violência interpessoal na 
comunidade, não perpetrada por um membro da família (...). Pode ser um 
subproduto de diferentes circunstâncias, variando de um crime na 
vizinhança até conflito civil contínuo ou guerra. A exposição à violência é 
também definida como a experiência da violência de segunda-mão (por 
exemplo, ouvir falar sobre violência), ser a vítima direta de um ato de violência 
ou testemunhar violência que envolva terceiros. (RICHTERS; MARTINEZ, 
199, citado em: GUERRA;DIERKHISING, 2011). 
 
Para aprofundar este tema, sugerimos a leitura do artigo completo, disponível na 
Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância: http://www.enciclopedia-
crianca.com/violencia-social/segundo-especialistas/os-efeitos-da-violencia-comunitaria-
no-desenvolvimento-
a#:~:text=A%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20viol%C3%AAncia%20influ
encia,que%20interferem%20com%20sua%20adequa%C3%A7%C3%A3o. 
112 
 
 
 
 
 
 
 
114 
 
Legislação e Sistema de Garantia de Direitos 
Na trajetória iniciada no art. 227 da Constituição Federal e no art. 5º do ECA, o 
Marco Legal da Primeira Infância reforça que a proteção contra toda forma de violência é 
uma área prioritária na formulação e execução das políticas públicas (Lei 13.257/2016, art. 
5º). Um dispositivo importante do Marco Legal da Primeira Infância é o fortalecimento das 
competências dos profissionais, por meio de capacitação continuada, para efetivamente 
promover a prevenção e a proteção contra toda forma de violência contra a criança (Lei 
13.257/2016, art. 10º). 
A articulação do Sistema de Garantia de Direitos é fundamental para mudar o 
cenário de violência contra nossas crianças, em uma nova abordagem de trabalho com as 
famílias, na perspectiva do atendimento integral mais precoce possível. Nas Unidade 2 e 3 
abodaremos maiores detalhes dessa atuação. 
 O que é o Conselho Tutelar? Qual é o papel da Assistência 
Social? 
 
 Qual é o papel da Saúde? Qual é o papel da Educação? 
113 
 
 
 
 
 
 
 
115 
 
 
Para saber mais: 
• Ouça a música Semente de Emicida que de modo poético trata de um tema delicado 
como o trabalho infantil. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=C7l0AB--I3c> 
 
• O filme “Um Crime entre nós” é um olhar ousado e provocativo para a luta pelo fim da 
exploração sexual de crianças e adolescentes. Disponível em: 
https://www.videocamp.com/pt/movies/um-crime-entre-nos> 
• Sobre o aumento da violência no contexto da Pandemia da COVID-19: 
<https://nacoesunidas.org/unicef-criancas-e-adolescentes-estao-mais-expostos-a-
violencia-domestica-durante-pandemia/> 
 
 
Referências bibliográficas 
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disque 100. 2020. Disponível 
em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/disque-100-1>. Acesso em: 17 set. 
2020. 
 
BRASIL. Constituição Federal. Título VIII. Capítulo VII. Da Família, da Criança, do Adolescente, do 
Jovem e do Idoso. Disponível em: 
<https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp>. 
Acesso em: 17 set. 2020. 
BRASIL. Marco Legal da Primeira Infância. Lei 13.257 de 8 de março de 2016. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm 
 
BRASIL. Lei Menino Bernardo. Lei 13.010 de 26 de junho de 2014. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13010.htm 
 
114 
https://www.youtube.com/watch?v=C7l0AB--I3c
https://www.videocamp.com/pt/movies/um-crime-entre-nos
https://nacoesunidas.org/unicef-criancas-e-adolescentes-estao-mais-expostos-a-violencia-domestica-durante-pandemia/
https://nacoesunidas.org/unicef-criancas-e-adolescentes-estao-mais-expostos-a-violencia-domestica-durante-pandemia/
https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/disque-100-1
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp
 
 
 
 
 
 
 
116 
BRASIL. Lei da Escuta Protegida. Lei 13.431 de 4 de abril de 2017. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13431.htm 
 
CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 2. ed. Goiânia: Editora da 
Universidade Federal de Goiás, 1984. 
 
GILBERT K. L. et al. Childhood Adversity and Adult Chronic Disease – An Update from Ten States 
and the District of Columbia. 2010. Disponível em: <https://www.ajpmonline.org/article/S0749-
3797(14)00512-1/pdf>. Acesso em: 17 set. 2020. 
 
GUERRA, N.;DIERKHISING, C. Os efeitos da violência comunitária no desenvolvimento da 
criança. University of Delawarea, EUA, University of California at Riverside, EUA, 2011. Em 
ENCICLOPÉDIA DO DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA. Disponível em: 
http://www.enciclopedia-crianca.com/violencia-social/segundo-especialistas/os-efeitos-da-
violencia-comunitaria-no-desenvolvimento-
da#:~:text=A%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20viol%C3%AAncia%20influencia,qu
e%20interferem%20com%20sua%20adequa%C3%A7%C3%A3o. 
 
LISBOA, Antônio M. A primeira infância e as raízes da violência: propostas para diminuição da 
violência. Brasília: LGE, 2006. 
 
MELLO, Daniel. Aumenta incidência de trabalho infantil em São Paulo durante pandemia. Agência 
Brasil. 2020. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2020-
08/aumenta-incidencia-de-trabalho-infantil-durante-pandemia-em-sao>. Acesso em: 17 set. 2020. 
 
PAVIANI, G. Conceitos e formas de violência. Conceitos e formas de violência. Caxias do Sul, RS: 
Educs, 2016. Disponível em: <https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/ebook-conceitos-
formas_2.pdf>. Acesso em: 17 set. 2020. 
 
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de Atendimento às crianças e adolescentes 
vítimas de violência. Sociedade Brasileira de Pediatria. 2. ed. Brasília: Conselho Federal de 
Medicina, 2018. 
 
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. 233 casos de violência física ou psicológica contra 
crianças e adolescentes são notificados todos os dias. Disponível em: 
<https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/233-casos-de-violencia-fisica-ou-psicologica-
contra-criancas-e-adolescentes-sao-notificados-todos-os-dias/>. Acesso em: 17 set. 2020. 
 
UNICEF. Violência contra crianças é crime e deixa traumas para toda a vida. Disponível em: 
<https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/violencia-sexual-contra-criancas-e-crime-e-deixa-traumas-para-toda-a-vida>. Acesso em: 17 set. 2020. 
 
 
 
 
 
115 
https://www.ajpmonline.org/article/S0749-3797(14)00512-1/pdf
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2020-08/aumenta-incidencia-de-trabalho-infantil-durante-pandemia-em-sao
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https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/233-casos-de-violencia-fisica-ou-psicologica-contra-criancas-e-adolescentes-sao-notificados-todos-os-dias/
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https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/violencia-sexual-contra-criancas-e-crime-e-deixa-traumas-para-toda-a-vida
https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/violencia-sexual-contra-criancas-e-crime-e-deixa-traumas-para-toda-a-vida
 
 
 
 
 
 
 
117 
4.9. A prevenção de acidentes 
É importante conciliarmos as medidas de prevenção de acidentes, pois geram 
intercorrências adversas no processo desenvolvimental das crianças, com a noção de que 
proteger não é tolher a liberdade da criança de explorar o mundo. As informações aqui 
compartilhadas são oriundas da Organização Criança Segura e do Plano Nacional pela 
Primeira Infância – Projeto Observatório Nacional da Primeira Infância – Mapeamento da 
Ação Finalística – Evitando Acidentes na Primeira Infância (2014), baseadas em dados do 
Ministério da Saúde l e da Organização Mundial de Saúde, assim como dos cadernos da 
Equipe e da Família “Toda Hora é Hora de Cuidar”. 
 
O que é acidente? 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, acidentes são lesões não intencionais 
identificadas como eventos de trânsito (atropelamento, passageiro de veículos e ciclista), 
afogamento, obstrução de vias aéreas (sufocação, estrangulamento e engasgamento), 
envenenamento, intoxicação, queimaduras, choques elétricos, acidentes com armas de 
fogo e outros. 
 
Fatores relacionados aos acidentes com crianças 
Os números são contundentes e apontam que milhares de crianças perdem 
oportunidades preciosas do desenvolvimento por adoecimento e/ou internações todos os 
anos no Brasil. Isto se deve ao fato de que a criança não possui todas as habilidades para se 
prevenir sozinha de acidentes (vulnerabilidade da criança), de modo que os adultos 
ocupam um lugar privilegiado nesta função. 
Crianças vivem em um mundo construído para adultos, muitas vezes realizando 
atividades em discordância com sua fase de desenvolvimento, com a reprodução de 
estratégias de prevenção feitas para os adultos. Assim, a possível falta de orientações 
sobre prevenção de acidentes contribui para aumentar a vulnerabilidade da criança aos 
acidentes. Compreendendo que os fatores socioeconômicos estão aliados aos fatores do 
Quase três mil e seiscentas crianças de até 14 anos morrem anualmente e outras 111 mil são 
hospitalizadas no Brasil. As crianças são mais vulneráveis a uma série de perigos porque suas 
habilidades sensório-motoras ainda não se desenvolveram totalmente. Assim, na Primeira 
Infância precisam de mais atenção e cuidados para não sofrerem acidentes, porque ainda não 
tem muita noção do que é perigo. 
116 
 
 
 
 
 
 
 
118 
desenvolvimento na prevenção de acidentes, as crianças socialmente mais vulneráveis são 
as que mais precisam estar no topo das prioridades da atenção e dos recursos contra 
acidentes. 
Diversos fatores socioeconômicos se relacionam à ocorrência de acidentes na 
Primeira Infância e podem afetar o risco de acidentes de diversas formas, incluindo renda 
familiar, educação materna, estrutura familiar, pais solteiros, idade da mãe, número de 
pessoas na casa, número de filhos, tipo de moradia, nível de superlotação etc. Em famílias 
pobres, os pais podem não ter disponibilidade para cuidar ou supervisionar 
adequadamente seus filhos e terão que deixá-los sozinhos ou com irmãos para irem 
trabalhar. Comprar equipamentos de segurança, como cadeirinhas para carro, protetores 
de tomada e capacetes, pode não ser possível para famílias nessas condições e que em 
muitos casos estão expostas a ambientes perigosos. 
 
 
Impacto negativo dos acidentes na vida das crianças e da família 
O trauma é a principal causa de morte de crianças e adultos jovens, e uma questão 
de saúde pública mundial, e o índice de sequelas temporárias ou permanentes também é 
elevado. Os acidentes que mais matam crianças entre 0 e 14 anos são acidentes de trânsito, 
afogamentos e sufocação. 
 
 
Figura 1. Distribuição de acidentes entre crianças menores de 1 ano a 14 anos por tipo de 
acidente. Disponível em: <https://criancasegura.org.br/dados-de-acidentes/> 
 
Medidas simples de prevenção, como mudança de comportamento, adaptação do ambiente ou 
uso de um equipamento de segurança poderiam evitar 90% da mortalidade infantil por causas 
acidentais. 
117 
https://criancasegura.org.br/dados-de-acidentes/
 
 
 
 
 
 
 
119 
O que trabalhar com as famílias 
Alguns cuidados com a criança são essenciais, como mantê-la sempre sob a 
vigilância de um adulto, não confiar que ela ainda não é capaz de rolar, evitar que crianças 
cuidem de outras, tornar o ambiente seguro, impedir o acesso a locais onde haja risco de 
queda, impedir o acesso a líquidos quentes ou inflamáveis, isqueiros, fósforos, fios e 
tomadas elétricas, evitar a ingestão de produtos tóxicos, proteger de ferimentos, 
afogamento e asfixias, e, principalmente, dar exemplo e ensinar medidas de segurança. 
 
 
O que trabalhar com os profissionais e o Poder Público 
Na área do brincar é necessário estabelecer padrões de segurança para os espaços 
físicos e equipamentos destinados ao brincar das crianças de até seis anos, respeitando as 
especificidades do desenvolvimento físico e psicomotor condizentes com as atividades 
lúdicas e as vulnerabilidades em relação aos acidentes. É preciso estimular a construção e 
a manutenção dos espaços de lazer segundo as normas de segurança e a criação ou 
ampliação de oportunidades de lazer, conforme o art. 71 do ECA, que diz que a criança e o 
adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos, 
produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 
No contexto do meio ambiente e dos espaços da criança, é importante promover a 
adoção de normas de segurança em todos os espaços públicos e privados nos quais as 
crianças vivem e naqueles que elas frequentam; estabelecer normas de segurança contra 
acidentes na construção de residências unifamiliares, conjuntos residenciais, centros de 
educação infantil e outros espaços públicos frequentados por crianças; fomentar a 
redução de impostos para fabricação e comercialização de equipamentos que visem à 
prevenção de acidentes; instituir normas de segurança para piscinas residenciais, de 
clubes, de escolas e de outras áreas públicas e privadas; e incluir a prevenção de acidentes 
na primeira infância como tema obrigatório nos cursos de graduação em áreas que formam 
profissionais. 
 
Prevenir acidentes não é retirar a liberdade da criança de descobrir o mundo, mas garantir que 
ela possa fazer isto em segurança! 
118 
 
 
 
 
 
 
 
120 
VÍDEO 13 
Assista ao vídeo “Acidentes na Primeira Infância, com isso não se brinca”. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=k3Ra3Hnnppo 
 
Para saber mais: 
• Casa segura, criança protegida – Prevenção de acidentes domésticos com 
crianças e adolescentes. Disponível em: http://www.sejus.df.gov.br/wp-
conteudo/uploads/2020/05/3.pdf 
 
• Plano Nacional da PrimeiraInfância: Evitando acidentes na Primeira Infância. 
Disponível em: <primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/PNPI-
Completo.pdf 
 
• Toda Hora é Hora de Cuidar – Caderno da Família – Projetos Nossas Crianças: 
Janelas de Oportunidade. Disponível em: 
<http://www.ee.usp.br/site/index.php/paginas/mostrar/493/925/85 
 
• Relatório de Mapeamento Evitando Acidentes, da Rede Nacional da Primeira 
Infância. Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-
content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-
ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf 
 
• Dicas, informações e vídeos sobre acidentes e prevenção – Criança Segura. 
Disponível em: https://criancasegura.org.br/ 
 
• Mapeamento da Ação Finalística Evitando Acidentes na Primeira Infância. 
Disponível em: http://primeirainfancia.org.br/wp-
content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-
ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf 
 
• Cartilha de Prevenção de Acidentes Domésticos. Disponível em: 
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/abril/ministerio-
publica-guia-de-prevencao-a-acidentes-domesticos-e-primeiros-
socorros/SNDCA_PREVENCAO_ACIDENTES_A402.pdf 
 
 
 
119 
https://www.youtube.com/watch?v=k3Ra3Hnnppo
http://www.sejus.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/05/3.pdf
http://www.sejus.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/05/3.pdf
http://www.ee.usp.br/site/index.php/paginas/mostrar/493/925/85
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf
https://criancasegura.org.br/
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/RELATORIO-DE-MAPEAMENTO-EVITANDO-ACIDENTES-versao-4-solteiras.pdf
 
 
 
 
 
 
 
121 
 
4.10. Proteção da criança contra a pressão consumista 
 
A criança como público-alvo de mensagens publicitárias 
O consumismo é uma das características mais marcantes da nossa sociedade. As 
pessoas são estimuladas a consumir acima de suas necessidades e impulsivamente. 
Estratégias e campanhas publicitárias cada vez mais sofisticadas e onipresentes buscam 
nos convencer a adquirir produtos e contratar serviços nem sempre úteis ou necessários, 
com a promessa de nos alçar a uma condição de pertencimento e destaque social. 
 
Somos tomados por uma sensação desagradável de exclusão, de não 
pertencimento. Ironicamente, quando não compramos coisas que são 
validadas pelo marketing como necessárias à felicidade, nos sentimos 
excluídos e até mesmo fracassados e deprimidos. Em casos extremos, o 
que um indivíduo consome passa a ser sentido como uma demonstração 
de sua identidade e da sua capacidade frente a seu grupo social. Algo ao 
estilo: “Sou o que consumo, e o que consumo estampa aos outros o que 
sou” (SILVA, 2014). 
 
As crianças, apesar de serem consideradas hipervulneráveis nas relações de 
consumo justamente por se encontrarem em um processo peculiar de formação física, 
cognitiva, social e emocional, não passam imunes a essa lógica de consumo sem limites. 
Desde a mais tenra idade, as crianças são estimuladas a desejar e consumir produtos e 
serviços. 
 
Atualmente, a conectividade e o consumo pautam nossa socialização e 
principalmente de nossas crianças e jovens. As crianças foram elevadas, 
pelo mercado, ao status de consumidoras antes de estarem ao exercício 
pleno de sua cidadania e são desde cedo, incitadas a fazer parte da lógica 
consumista. Isto gera impactos em seu desenvolvimento físico, cognitivo 
e emocional, além de contribuir para o agravamento de questões como 
obesidade infantil, erotização precoce e consumo de álcool e tabaco, 
estresse familiar, violência e diminuição do brincar. 
 
Mas qual é o interesse das empresas ao direcionar suas estratégias comerciais para 
o público infantil? As crianças são consideradas fonte de intensa rentabilidade por 
empresas de diversos segmentos, em razão de exercerem forte influência sobre os adultos 
para aquisição de produtos e serviços no âmbito de seus lares. Segundo pesquisa do 
Interscience (2003), as crianças brasileiras influenciam em até 80% as decisões de compras 
domésticas. Já estudo de 2019 promovido pelo Instituto Locomotiva aponta que 9 em cada 
10 pais/mães são influenciados pelas crianças nas compras do supermercado e 70% 
120 
 
 
 
 
 
 
 
122 
afirmam gastar mais nas compras quando estão acompanhados dos filhos. Ainda, além de 
ser entendida como a consumidora de hoje e promotora de venda dentro do seu círculo 
familiar, a criança também é percebida pelo mercado como a consumidora do futuro, visto 
que, como são expostas e impactadas por estratégias comerciais desde a mais tenra idade, 
tendem a ser mais fiéis a certas marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é imposto. 
 
O que diz a legislação 
Porém, a despeito de a veiculação de publicidade dirigida ao público infantil ser 
prática ainda habitual, ela é ilegal no Brasil. A Doutrina de Proteção Integral, firmada no 
artigo 227 da Constituição Federal, estabelece a responsabilidade compartilhada entre 
família, Estado e sociedade – o que inclui empresas, meios de comunicação social e 
população em geral – de assegurar direitos fundamentais às crianças com absoluta 
prioridade. 
No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) 
garante o melhor interesse da criança em qualquer tipo de relação, sua proteção integral, 
o respeito à sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e, ainda, o dever de toda 
a sociedade na prevenção de ameaças ou violação dos direitos da criança. 
Em observância ao disposto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990) aplica às relações de 
consumo o valor social de proteção dos direitos da criança. O artigo 37, parágrafo 2º, do 
CDC estabelece a ilegalidade da publicidade direcionada a crianças ao reconhecer que a 
publicidade infantil se vale da deficiência de julgamento e experiência das crianças, de 
modo a buscar a garantia o melhor interesse delas e protegê-las dos abusos praticados 
pelo mercado de consumo. E o artigo 39, inciso IV, proíbe práticas de fornecedores que 
buscam convencer o consumidor, valendo-se de suas fraquezas ou ignorância em razão de 
sua idade ou conhecimento. 
Além disso, com o objetivo de complementar o disposto no Código de Defesa do 
Consumidor e reforçar o caráter de ilegalidade da prática de publicidade infantil, a 
Resolução nº 163 do Conanda, publicada em 2014, definiu critérios para a identificação 
das estratégias de publicidade e comunicação mercadológicas dirigidas a crianças, assim 
consideradas aquelas cuja intenção é persuadir o público infantil ao consumo de marca, 
produto ou serviço, usando, para tanto, alguns elementos típicos, como promoções, 
linguagem infantil, personagens e celebridades infantis, animações, entre outros. A 
121 
 
 
 
 
 
 
 
123 
Resolução ainda considera abusiva a publicidade no interior de creches e instituições de 
ensino infantil e fundamental, inclusive em seus uniformes ou materiais didáticos. 
Por fim, o Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016), em seu artigo 5º, 
estabelece como prioridade na promoção de políticas públicas para a primeira infância a 
proteção contra toda a forma de pressão consumista e a adoção de medidas que evitem a 
exposição precoceà comunicação mercadológica. 
 
Impactos negativos das estratégias mercadológicas dirigidas a crianças 
A publicidade infantil é apontada como um dos elementos que acarreta impactos 
negativos que hoje são sentidos por toda sociedade, como: formação e incorporação de 
hábitos e valores materialistas e consumistas; adultização e erotização precoces; 
interferência nas liberdades de pensamento, opinião e cultura; competição entre pares; 
estresse familiar; superendividamento das famílias; prejuízos ambientais e modelos de 
consumo alimentar. 
 
Os maiores efeitos adversos da publicidade abusiva dirigida à criança 
dizem respeito à formação de sua personalidade, seu caráter e seus 
valores éticos, sociais, culturais e morais. Publicidades geram, no final 
das contas, tristezas, decepções e frustações por motivos fúteis e 
banais – tais como o de não possuir determinado produto ou o de não 
usufruir determinado serviço – que nunca seriam dessa forma 
vivenciados pela criança. Ou, quanto pior, geram inveja, ganância, gula 
e um consumismo despropositado (INSTITUTO ALANA, 2009). 
 
A pesquisa “Publicidade Infantil em Tempos de Convergência”, fruto de termo e 
cooperação celebrado entre a Universidade Federal do Ceará e o Ministério da Justiça, é a 
mais recente e abrangente análise de caráter público e nacional feita no Brasil sobre o 
grande volume de publicidade direcionada a crianças. Uma das questões levadas às 
crianças participantes da pesquisa foi sobre seu sentimento em relação a não ter coisas 
que desejavam, anunciadas a elas por meio da publicidade, mas que os amigos tinham: 
 
Tanto nas escolas públicas quanto particulares, quando os amigos 
apresentam produtos que elas desejam, mas não têm, muitas crianças 
relataram ficar chateadas; nutrirem os sentimentos de raiva, inveja e de 
inferioridade; e até mesmo ter tido desejos condenáveis de roubar o 
amigo ou quebrar a televisão que mostra o produto que o amigo tem. Se 
a chateação por não ter um objeto desejado é compreensível e, 
certamente, bastante comum, alguns sentimentos e desejos acima 
indicados são reveladores do nível de pressão a que essas crianças 
estão submetidas e do quanto o discurso desleal que associa posse e 
122 
 
 
 
 
 
 
 
124 
pertencimento é cruel em relação a elas, em especial em uma sociedade 
desigual como a nossa. 
 
A publicidade infantil de produtos alimentícios não saudáveis tem contribuído para 
mudanças nos padrões alimentares, por estimular o consumo excessivo e habitual de 
produtos com baixo valor nutricional e altos teores de gordura, sódio e açúcar, o que vem 
gerando impacto na saúde dos indivíduos, como o aumento de doenças crônicas não 
transmissíveis. Assim, merece destaque a versão do Guia Alimentar para a População 
Brasileira, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde, que cita a publicidade, 
especialmente quando direcionada a crianças, como um obstáculo à alimentação saudável 
por estimular o consumo habitual de produtos alimentícios ultraprocessados e influenciar 
o aumento dos índices de obesidade infantil no Brasil. 
Outros pontos também devem ser considerados quando refletimos sobre a 
prática de publicidade infantil. Por exemplo, não são incomuns anúncios publicitários em 
que pais e mães demonstram seu amor pelos filhos por meio da compra de bens. A partir 
da exposição a esse tipo de estratégia comercial, a criança está absorvendo conceitos, 
padrões, valores e modelos de que ela precisa ter, assim como o amiguinho tem; de que 
ela não precisa refletir sobre suas escolhas de consumo; de que ela precisa consumir 
determinado produto para ser aceita e admirada no círculo de amigos, e que presentes 
são a forma mais autêntica de demonstração de afeto e amor. 
O estresse familiar acontece quando o desejo da criança em adquirir os produtos 
anunciados leva a indagações e conflitos, gerados, preliminarmente, por uma publicidade 
infantil. É depois, na escola, no bairro e no círculo de amigos, que a criança se sente 
confrontada ao se dar conta de que outras crianças possuem produtos que ela não tem. 
A publicidade infantil incita a criança a suplicar pelos produtos e serviços anunciados, 
colocando pais, mães e responsáveis na situação complicada de ter que lhes dizer “não” 
inúmeras vezes. Com isso, em ver de fortalecer a autonomia das famílias, a prática de 
publicidade dirigida a crianças cria uma situação de rivalidade e enfraquece a autoridade 
dos adultos responsáveis ao permitir que empresas falem diretamente com seus filhos. 
Em 2016, a Organização das Nações Unidas, por meio de especialistas em dívida 
externa e direitos humanos e em direito à saúde, elaborou declaração com um alerta 
global sobre o impacto da publicidade dirigida a crianças. No documento, os especialistas 
destacam que a publicidade infantil tem o potencial de moldar o comportamento 
123 
 
 
 
 
 
 
 
125 
financeiro das crianças ao incutir, desde cedo, uma cultura de consumo excessivo e 
endividamento. O texto também aponta que a publicidade direcionada ao público infantil 
pode levar ao endividamento das famílias, que, pressionadas a suprir necessidades e 
desejos de seus filhos, acabam comprando itens desnecessários (geralmente à custa de 
outras necessidades domésticas importantes) que estão além do seu orçamento e sem 
levar em conta as consequências financeiras de longo prazo. 
 
Medidas que podem evitar o consumismo infantil 
Diante de a prática de publicidade infantil ser proibida pela legislação brasileira e 
do dever compartilhado de toda a sociedade para garantir com prioridade absoluta os 
direitos das crianças, esse tema não deve se restringir à esfera do indivíduo. Com vistas à 
garantia da prioridade absoluta dos direitos das crianças, seu melhor interesse e sua 
proteção integral, é necessária uma atuação conjunta entre os todos os atores da 
sociedade no combate à publicidade infantil: Estado, família, educadores, população em 
geral e empresas. 
É perverso sustentar que as famílias, sozinhas, seriam capazes de combater a 
indústria bilionária do marketing infantil e garantir uma melhor educação individualmente 
do que se amparadas por políticas públicas. Justamente por isso, diversos órgãos do poder 
público, no âmbito de defesa dos direitos de crianças e consumidores, e a própria justiça 
brasileira, em especial por meio do Superior Tribunal de Justiça, vêm reiterando o 
entendimento de ilegalidade da prática de publicidade dirigida a crianças por empresas de 
diferentes setores. 
Lógico que, além da aplicação do disposto na legislação brasileira, famílias e 
educadores também têm um papel fundamental na formação das crianças, para 
contribuírem com o desenvolvimento de cidadãos responsáveis e conscientes de suas 
escolhas de consumo. As famílias e toda a comunidade escolar podem, no dia a dia, adotar 
pequenas atitudes para proteger as crianças do consumismo. Em casa, por exemplo, os 
responsáveis pelas crianças podem criar o hábito de realizar junto com elas atividades que 
não envolvam mídia e consumo, como passeios a parques, leitura e teatro, e impor limites 
e controle sobre o uso da televisão e internet. Além disso, é importante orientar as crianças 
sobre a real finalidade da publicidade, ensinando-as a avaliar a necessidade de um produto 
antes de adquiri-lo. Pais e mães também podem contribuir na comunidade e nas escolas, 
124 
 
 
 
 
 
 
 
126 
fomentando a reflexão sobre o consumismo infantil por meio de rodas de conversa e 
organização de Feiras de Trocas de Brinquedos. 
 
Para saber mais: 
• “Criança e Consumo – 10 anos de Transformação”. Instituto Alana. Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2017/02/CRIANCA_CONSUMO_10-ANOS-DE-
TRANSFORMACAO.pdf 
VÍDEO 14 
• Documentário “Criança: a alma do negócio”.Disponível em: 
https://www.videocamp.com/pt/movies?query=crian%C3%A7a+a+alma+do+neg%C
3%B3cio 
VÍDEO 15 
• Documentário “Muito Além do Peso”. Disponível em: 
https://www.videocamp.com/pt/movies/muito-alem-do-peso 
 
• Como identificar publicidade infantil? Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/noticias/duvidas-publicidade-infantil/ 
 
• Publicidade Infantil na TV paga – Monitoramento de 2019. Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Monitoramento-
2019_Sum%C3%A1rio-Executivo-1.pdf 
 
• Os impactos da proibição da publicidade dirigidas às crianças no Brasil. Disponível 
em: https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2014/02/Relatorio_TheEconomist.pdf 
 
• Relatório sobre o Impacto do Marketing na Fruição dos Direitos Culturais. Disponível 
em: https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2014/02/RELATORIO_FARIDA_ONU.pdf 
 
• Parecer do Professor Bruno Miragem – A Constitucionalidade da Resolução nº 163 
do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2017/02/Parecer_ProfBrunoMiragem.pdf 
 
• Parecer do Professor Virgílio Afonso da Silva – A Constitucionalidade da Restrição da 
Publicidade de Alimentos e de Bebidas não alcoólicas voltada ao Público Infantil. 
Disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2017/02/Parecer_Virgilio_Afonso_.pdf 
 
125 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/CRIANCA_CONSUMO_10-ANOS-DE-TRANSFORMACAO.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/CRIANCA_CONSUMO_10-ANOS-DE-TRANSFORMACAO.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/CRIANCA_CONSUMO_10-ANOS-DE-TRANSFORMACAO.pdf
https://www.videocamp.com/pt/movies?query=crian%C3%A7a+a+alma+do+neg%C3%B3cio
https://www.videocamp.com/pt/movies?query=crian%C3%A7a+a+alma+do+neg%C3%B3cio
https://www.videocamp.com/pt/movies/muito-alem-do-peso
https://criancaeconsumo.org.br/noticias/duvidas-publicidade-infantil/
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Monitoramento-2019_Sum%C3%A1rio-Executivo-1.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Monitoramento-2019_Sum%C3%A1rio-Executivo-1.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/Relatorio_TheEconomist.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/Relatorio_TheEconomist.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/RELATORIO_FARIDA_ONU.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/RELATORIO_FARIDA_ONU.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Parecer_ProfBrunoMiragem.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Parecer_ProfBrunoMiragem.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Parecer_Virgilio_Afonso_.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Parecer_Virgilio_Afonso_.pdf
 
 
 
 
 
 
 
127 
• Consumismo infantil: na contramão da sustentabilidade. Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2013/02/A1.pdf 
• O que você precisa saber sobre a decisão do STJ. Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/noticias/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-decisao-
do-stj/ 
 
Legislação sobre publicidade infantil 
• Constituição da República Federativa do Brasil – Documento legislativo mais 
importante do país, fundante da República Federativa do Brasil e orientador de 
todo o sistema jurídico nacional. 
• Decreto nº: 99.710/1990 – Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da 
Criança – Estabelece um novo paradigma de proteção à infância e à adolescência, 
determinando que todas as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos 
titulares da chamada proteção integral. 
• Lei nº: 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Estabelece 
medidas concretas para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. 
• Lei nº: 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor (CDC) – Legislação 
fundamental para regulamentar no Brasil as relações de consumo, alterando 
regras tradicionais do direito civil e adequando-as para uma sociedade de 
consumo. 
• Resolução nº 163/2014 do Conanda – Dispõe sobre a abusividade do 
direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança e ao 
adolescente. 
• Lei 13.257/2016 – Marco Legal da Primeira Infância – Dispõe obre as políticas 
públicas para a primeira infância. 
 
Referências bibliográficas 
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: MS, 2014. 
Disponível em: 
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf>. 
Acesso em 7 out. 2020. 
 
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional. 
Brasília: MS, 2018. 
 
GRUPO DE PESQUISA DA RELAÇÃO INFÂNCIA, JUVENTUDE E MÍDIA (GRIM). Publicidade 
infantil em tempo de convergência. s/d. Disponível em: 
<https://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/manuais/publicidade_infantil.pdf>. Acesso em 
7 out. 2020. 
 
INSTITUTO LOCOMOTIVA. Crianças Brasileiras. 2019. Disponível em: 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2019/11/Crian%C3%A7as-brasileiras-
Locomotiva-Dotz-PPT-Outubro-de-2019.pdf>. Acesso em 7 out. 2020. 
 
INTERSCIENCE. Como atrair o Consumidor Infantil, atender expectativas dos Pais e ainda, 
ampliar as Vendas. 2003. Disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2014/02/Doc-09-Interscience-1.pdf>. Acesso em 7 out. 2020. 
OFFICE OF THE UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS (OHCHR). 
UN experts call for regulating advertising directed at children. 9 ago. 2016. Disponível em: 
126 
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2013/02/A1.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/noticias/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-decisao-do-stj/
https://criancaeconsumo.org.br/noticias/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-decisao-do-stj/
https://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/constituicao-da-republica-federativa-do-brasil/
https://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/decreto-no-99-71090-convencao-das-nacoes-unidas-sobre-os-direitos-da-crianca/
https://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/decreto-no-99-71090-convencao-das-nacoes-unidas-sobre-os-direitos-da-crianca/
https://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/lei-no-8-06990-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-eca/
https://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/lei-no-8-07890-codigo-de-defesa-do-consumidor-cdc/
https://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/resolucao-no-163-do-conanda/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
https://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/manuais/publicidade_infantil.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/Doc-09-Interscience-1.pdf
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/02/Doc-09-Interscience-1.pdf
 
 
 
 
 
 
 
128 
http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=20358&amp;LangID=
E>. Acesso em 7 out. 2020. 
 
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras. São Paulo: 
Globo, 2014. 
 
 
RECOMENDAÇÃO FINAL SOBRE AS ÁREAS PRIORITÁRIAS DO 
MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA 
 
Como leitura complementar, você pode aprofundar o conhecimento conceitual e em 
nível de metas sobre as áreas prioritárias para promoção do desenvolvimento na 
primeira infância, a partir do novo Plano Nacional pela Primeira Infância, atualizado e 
disponibilizado pela Rede Nacional Primeira Infância em 22out.2020. 
Além de contar com maior detalhamento sobre as áreas prioritárias aqui apresentadas, 
a nova redação do PNPI inclui novas áreas, como: 
❖ Justiça e Primeira Infância, 
❖ Povos e Comunidades Tradicionais, 
❖ Direito à Beleza, entre outros. 
 
 
 
 
 
127 
http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=20358&amp;LangID=Ehttp://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=20358&amp;LangID=E
 
 
 
 
 
 
 
129 
Aula 5: Parentalidade positiva, parentalidade 
brincante 
Parentalidade é um conceito relativamente novo, surgido na segunda metade do 
séc. XX, advindo do inglês parenting. Pode ser uma inovação positiva no sentido de oferecer 
recursos às famílias para o cuidado de seus filhos, mas também pode se tornar mais uma 
mercadoria na prateleira de produtos para consumo de pais e mães inseguros com a 
criação dos filhos, o que leva à coisificação daquilo que nos é mais precioso, nossa 
humanidade, que é diversa e imperfeita por natureza (IACONELI, 2019). 
Portanto, toda atenção e respeito no trabalho com as famílias é pouco. Cada povo, 
comunidade, célula familiar, pai ou mãe são constituídos de emoções, saberes, herança 
cultural, modo de funcionamento e contexto social próprios. Modelos e práticas de 
parentalidade podem servir como referência e inspiração, mas jamais devem ser impostos 
ou adotados de modo acrítico, sob pena de gerar-se falta de autenticidade e resultar em 
insegurança dos pais sobre suas próprias competências para cuidar e educar seus filhos – 
o que é muito negativo para as crianças, já que elas buscam uma base segura e confiável 
em seus pais. 
 
O que é Parentalidade? 
 
No reino animal, ao nascerem, os filhotes carecem de cuidados básicos para 
sobreviver, como alimentação, proteção e aprendizado para se adaptarem ao meio em que 
vivem. Onde quer que estejam na cadeia alimentar, aprendem com os pais ou com o grupo 
em que vivem o modo básico para a sobrevivência, ou seja, as habilidades e competências 
para se nutrir, enfrentar as intempéries, fugir, se defender do predador e/ou caçar a sua 
presa. A grande diferença dos seres humanos é que o tempo de aprendizado e dependência 
do bebê é muito maior que dos filhotes das outras espécies. Além disso, a vida em 
sociedade é mais complexa, o que torna necessária a aquisição de um número maior de 
competências e habilidades. 
Quando falamos de parentalidade, estamos falando de um “conjunto de atividades 
propositadas no sentido de assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento da criança” 
(BARROSO; MACHADO, 2015), ou seja, suprir as necessidades da criança para que ela 
possa se desenvolver em um ambiente seguro e relacionar-se socialmente, 
128 
 
 
 
 
 
 
 
130 
proporcionando autonomia para se tornar um adulto pleno, com a possibilidade de 
alcançar seu potencial em habilidades física, emocional e cognitiva. 
Ampliando a definição sobre o conceito de família hoje, também dizemos que ela é 
o espaço mais imediato onde a criança vai ser atendida (ou não) em suas necessidades de 
sobrevivência, afeto e socialização, constituindo assim sua principal rede de proteção e 
afeto – motivo pelo qual precisamos valorizar o protagonismo da família como principal 
responsável pelo desenvolvimento infantil. 
Isso não quer dizer que a família tenha que dar conta da tarefa sozinha. Cabe ao 
Estado, por meio de políticas públicas, fortalecer as famílias, em especial aquelas que se 
encontram em situação de vulnerabilidade, para que possam exercer o seu papel. 
Precisamos trabalhar com a perspectiva da responsabilidade compartilhada, oferecendo 
suporte social, apoio financeiro, condições dignas de moradia, espaços de aprendizado e 
convivência, proporcionando dignidade e reconhecimento de suas competências no 
cuidado dos filhos. 
 
Práticas parentais 
 
As práticas parentais podem ser consideradas positivas ou negativas com reflexos 
no desenvolvimento da criança. 
 
Positivas: Segundo Macana e Comim (2015), as práticas parentais positivas favorecem 
os desenvolvimentos cognitivo e socioemocional da criança, e relacionam-se a 
comportamento moral, expressões afetivas, envolvimento dos pais no brincar, reforço e 
disciplina adequados. 
 
• O comportamento moral está relacionado ao modelo de valores apresentado pelos 
pais ou cuidadores. As crianças aprendem pela observação da prática no cotidiano 
como se processam valores, como honestidade, generosidade, empatia, compaixão, 
respeito, amorosidade, entre outros. 
• As expressões afetivas também são uma prática de comunicação entre 
pais/cuidadores e crianças. A expressão de sentimentos por meio de abraços e beijos 
contribui para o estabelecimento de um relacionamento saudável, de orgulho e 
valorização da pessoa, e contribui para o desenvolvimento de competências 
socioemocionais, como a autoestima. 
129 
 
 
 
 
 
 
 
131 
• O envolvimento dos pais/cuidadores nas brincadeiras também fortalece os 
relacionamentos por meio da afetividade, contribuindo para uma melhor comunicação 
entre pais/cuidadores e crianças, favorecendo o sentimento de autoconfiança e 
promovendo a habilidade relacionada à resiliência no enfrentamento de desafios. 
• O reforço está relacionado ao modo como pais/cuidadores reagem diante de bons 
resultados obtidos pela criança. A demonstração de alegria e elogios diante de 
comportamentos adequados funcionam como reforço positivo. 
• A disciplina adequada envolve diálogo e explicações diante de comportamentos e 
atitudes indevidas da criança. Contribui para que ela compreenda as consequências de 
suas ações sobre si mesma e sobre os outros. Entre os muitos métodos disciplinadores, 
aqueles que têm maior impacto são os que promovem consciência - como retirar 
liberdade, não fazer elogios e chamar a atenção para os impactos da atitude e do 
comportamento errado sobre os outros e sobre si mesma – em vez daqueles centrados 
na privação de objetos e privilégios. 
 
Negativas: Segundo Macana e Comim (2015), as práticas parentais negativas são 
caracterizadas por: 
 
• Maus tratos físicos (bater, empurrar, puxar orelha etc.) e psicológicos (gritar, ameaçar, 
humilhar etc.) que têm impacto negativo no crescimento, no desenvolvimento e na 
aprendizagem da criança, ocasionando problemas psicológicos, emocionais, sociais e 
cognitivos ao longo da vida. 
• Disciplina relaxada: quando pais/cuidadores colocam regras e não as fazem cumprir. 
Consiste na falta de imposição de limites e ausência de correções em circunstâncias de 
mau comportamento. Essa prática pode levar as crianças a concluírem que regras não 
precisam ser cumpridas e que não devem respeito às autoridades. 
• A disciplina de contingência coercitiva caracteriza-se pelo uso de gritos, violência física, 
ameaças ou privação de privilégios e afeto. Em geral não leva à compreensão do erro 
pela criança. 
• Punição inconsistente acontece quando pais/cuidadores castigam as crianças de 
acordo com seus estados emocionais. Podem ignorar ou exagerar nas punições 
conforme o humor do momento. Esta prática leva a criança a ter dificuldade na 
identificação do certo e do errado, com possível prejuízo para sua autoestima. 
130 
 
 
 
 
 
 
 
132 
• Monitoria negativa acontece quando o controle é exercido de modo excessivo e 
estressante. Induz a criança a comportamento agressivo, ansiedade e depressão. 
• Excesso de críticas e ausência de elogios gera comunicação negativa entre a criança e 
os pais/cuidadores. Provoca desconfiança, insegurança, frustração e agressividade. 
 
Estilo Parental 
 
Pais e filhos constroem na relação que se estabelece pela convivência padrões de 
comportamento parental, denominados estilos parentais, que são a combinação de 
responsividade e exigência. A responsividade contempla as atitudes de aceitação, 
aprovação, afetividade e encorajamento, já a exigência compreende as atitudes de 
controle, monitoramento e imposição de limites aos filhos por parte dos pais (MACANA; 
COMIM, 2015). Mediante essas características, os estilos parentais se classificam em: 
 
• Participativos: ocorrequando existe uma comunicação aberta e de escuta entre pais e 
filhos. O controle também se baseia na empatia, com orientações claras e consistentes. 
Os pais se tornam um suporte emocional para os filhos. 
• Autoritários: caracteriza-se por uma relação de exigência em relação ao cumprimento 
de regras e normas rígidas, com muita punição e pouca empatia. Os pais não oferecem 
suporte emocional, levando ao distanciamento entre pais e filhos. 
• Permissivos: neste padrão, os pais muitas vezes são dominados pelos filhos, realizam 
todos os desejos e acatam todas as ações sem assumirem o papel de orientação e de 
imposição de limites. 
• Negligentes: ocorre quando os pais não se fazem presentes na vida dos filhos e 
demonstram baixo nível de aceitação, de suporte e de controle. 
 
Os estilos parentais também servem como orientação. Seres humanos são muito 
diferentes entre si, e a presença ou predominância de determinado comportamento está 
condicionada a muitas variáveis, como as características dos filhos de acordo com seu 
desenvolvimento, gênero, temperamento etc., assim como a maneira que os pais tendem a 
reproduzir ou modificar comportamentos recebidos. 
As evidências mostram que alguns estilos levam a melhores resultados 
cognitivos e socioemocionais que outros. Assim, por exemplo, estudos 
confirmam que, enquanto o estilo participativo promove o bom 
relacionamento e tende a levar a um bom desempenho escolar, os estilos 
131 
 
 
 
 
 
 
 
133 
autoritários e permissivos favorecem um baixo rendimento (MACANA; 
COMIM, 2015). 
 
O estilo participativo também tem demonstrado melhores resultados relacionados 
ao desenvolvimento socioemocional das crianças, porém é importante considerar que as 
boas práticas da parentalidade vão além da relação entre o pai, a mãe e o filho, pois ela se 
insere em um quadro abrangente com questões sociais, econômicas e culturais, e a 
responsabilidade é coletiva. 
 
Parentalidade Desenvolvimental 
 
A partir de estudos sistemáticos, os psicólogos Roggman, Boyce e Innocenti (2008) 
propõem o conceito de developmental parenting, que pode ser traduzido como 
parentalidade desenvolvimental. Eles consideram que um primeiro esforço dos pais volta-
se para manter os filhos seguros e saudáveis, e que é a partir das interações entre pais e 
filhos que se promove o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e cognitivas. 
Segundo eles, quatro domínios são fundamentais para uma parentalidade promotora do 
desenvolvimento na primeira infância: afetividade, responsividade, encorajamento e 
ensino. 
 
Parentalidade Brincante 
Trata-se da parentalidade associada à atitude do brincar. Segundo Patrícia 
Camargo (2020), atitude brincante é uma construção diária do espírito da brincadeira nas 
atividades cotidianas do cuidado e tem como objetivo transformar a relação entre pais e 
filhos, tornando-as mais leves, já que ela pode ser inserida em qualquer etapa da relação, 
principalmente na primeira infância. Para cultivar o hábito do brincar, a autora lista 10 
atitudes brincantes para pôr em prática a brincadeira no dia a dia. Veja no quadro a seguir: 
 
132 
 
 
 
 
 
 
 
134 
 
Quadro 1 – Esquema de Parentalidade Brincante (CAMARGO, 2020). 
 
Para saber mais: 
VÍDEO 16 
Assista ao vídeo “Como brincar na rotina”. 
Disponível em:<https://www.tempojunto.com/2018/07/20/10-atitudes-brincantes-
para-voce-adotar-ja-e-ter-um-dia-a-dia-muito-melhor/> 
 
• “Ser pai e mãe é quase sinônimo de culpa”, diz Vera Iaconelli sobre parentalidade nos 
dias de hoje. 
Disponível em: <https://paisefilhos.uol.com.br/familia/ser-pai-e-mae-e-quase-
sinonimo-de-culpa-diz-vera-iaconelli-sobre-parentalidade-nos-dias-de-hoje/> 
• Processo de parentalidade na construção da família contemporânea e seus reflexos 
jurídicos. 
Disponível em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53489/o-
processo-de-parentalidade-na-construo-da-famlia-contempornea-e-seus-reflexos-
jurdicos>. 
133 
https://www.tempojunto.com/2018/07/20/10-atitudes-brincantes-para-voce-adotar-ja-e-ter-um-dia-a-dia-muito-melhor/
https://www.tempojunto.com/2018/07/20/10-atitudes-brincantes-para-voce-adotar-ja-e-ter-um-dia-a-dia-muito-melhor/
https://paisefilhos.uol.com.br/familia/ser-pai-e-mae-e-quase-sinonimo-de-culpa-diz-vera-iaconelli-sobre-parentalidade-nos-dias-de-hoje/
https://paisefilhos.uol.com.br/familia/ser-pai-e-mae-e-quase-sinonimo-de-culpa-diz-vera-iaconelli-sobre-parentalidade-nos-dias-de-hoje/
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53489/o-processo-de-parentalidade-na-construo-da-famlia-contempornea-e-seus-reflexos-jurdicos
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53489/o-processo-de-parentalidade-na-construo-da-famlia-contempornea-e-seus-reflexos-jurdicos
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53489/o-processo-de-parentalidade-na-construo-da-famlia-contempornea-e-seus-reflexos-jurdicos
 
 
 
 
 
 
 
135 
VIDEO 17 
Tornar-se Pai, Tornar-se Mãe. 
Disponível em: <https://ocomecodavida.com.br/tornando-pais-ep-02/>. 
• Avaliação dos benefícios de Políticas para a Primeira Infância para apoio à 
parentalidade. 
Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-
content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdf>. 
 
 
Considerações finais 
Os programas de cuidado oferecidos pelas políticas públicas não são capazes de suprir 
integralmente as lacunas do desenvolvimento infantil no ambiente familiar. Trata-se, 
portanto, de um trabalho integrado entre família, sociedade e poder público, em que as 
práticas parentais como mediadoras do cuidado são de grande importância. 
 
Referências bibliográficas 
BARROSO, R.; MACHADO, C. Definições, Dimensões e Determinantes da Parentalidade. In: 
Fundamentos da família como promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade em foco. 
São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), 2015. 
 
BRASIL. Imprensa Nacional. Lei 13.257, de 8 de março de 2016. Marco Legal da Primeira Infância. 
Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21172863/do1-2016-03-09-lei-no-13-257-de-8-
de-marco-de-2016-21172701>. Acesso em: 29 set. 2020. 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. Síntese de evidências para Políticas de Saúde – Promovendo o 
Desenvolvimento na Primeira Infância. 2017. Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-
content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdf>. Acesso em: 29 set. 2020. 
 
CAMARGO, P. Atitude brincante te ajuda a ter uma parentalidade feliz. Tempojunto, 22 jan. 2020. 
Disponível em: <https://www.tempojunto.com/2020/01/22/atitude-brincante-te-ajuda-a-ter-
uma-parentalidade-feliz/>. Acesso em: 29 set. 2020. 
 
IACONELLI, Vera. Parentabilidades e Vulnerabilidades. Revista Cult, ed. 251, 2019. <Disponível 
em: https://revistacult.uol.com.br/home/dossie-parentalidade-e-vulnerabilidades/>. Acesso em: 
29 set. 2020. 
 
MACANA, E. C.; COMIM, F. O Papel das práticas e estilos parentais no desenvolvimento da primeira 
infância. In: Fundamentos da família como promotora do desenvolvimento infantil: parentalidade 
em foco. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), 2015. 
 
ROGGMAN, Lori; BOYCE, Lisa; INNOCENTI, Mark. Developmental Parenting: a Guide for Early 
Childhood Practioners. Baltimore: Paul Brookes Publishing, 2008. 
 
UNICEF. Convenção sobre os Direitos da Criança. 1989. Disponível em: 
<https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-
crianca#:~:text=A%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20os%20Direitos,Foi%20ratificad
o%20por%20196%20pa%C3%ADses.>. Acesso em: 29 set. 2020 
134 
https://ocomecodavida.com.br/tornando-pais-ep-02/
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdf
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdfhttps://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21172863/do1-2016-03-09-lei-no-13-257-de-8-de-marco-de-2016-21172701
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21172863/do1-2016-03-09-lei-no-13-257-de-8-de-marco-de-2016-21172701
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21172863/do1-2016-03-09-lei-no-13-257-de-8-de-marco-de-2016-21172701
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdf
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdf
https://www.tempojunto.com/2020/01/22/atitude-brincante-te-ajuda-a-ter-uma-parentalidade-feliz/
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https://revistacult.uol.com.br/home/dossie-parentalidade-e-vulnerabilidades/
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca#:~:text=A%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20os%20Direitos,Foi%20ratificado%20por%20196%20pa%C3%ADses
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca#:~:text=A%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20os%20Direitos,Foi%20ratificado%20por%20196%20pa%C3%ADses
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca#:~:text=A%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20os%20Direitos,Foi%20ratificado%20por%20196%20pa%C3%ADses
 
 
 
 
 
 
 
136 
Aula 6: A situação da parentalidade no Brasil: 
contexto, impacto e perspectivas 
Diante da importância da interação da criança com suas figuras de apego primárias, 
que são as figuras materna e paterna, cabe perguntar: “Como é ser mãe e pai em nosso 
País?”, “Qual é o contexto para o exercício da maternidade e da paternidade no Brasil?”, 
“Quais impactos o Marco Legal da Primeira Infância tem trazido em prol dessa experiência 
fundamental?” e “Quais perspectivas temos à frente?”. 
Anteriormente tratamos sobre a maternidade, e agora vamos discutir sobre o 
papel do pai na vida da criança, já que é de extrema importância, apesar de sabermos que 
historicamente se atribuía apenas à mulher a função de cuidar dos filhos. Neste sentido, o 
Marco Legal da Primeira Infância cumpre um importante papel ao destacar que a 
responsabilidade pelo cuidado e educação dos filhos é tanto da mãe quanto do pai, sendo 
assim uma responsabilidade compartilhada: 
 
A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e 
responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, 
devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas 
crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos 
nesta Lei (Incluído pela Lei nº 13.257/2016, art. 26) (BRASIL, 1990, 
Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 22, grifo nosso). 
 
A crescente participação da mulher no mercado de trabalho faz com que tanto a 
mãe como o pai precisem conciliar vida profissional e familiar, e tem produzido uma 
mudança no tradicional modelo de estrutura familiar, no qual os homens eram os únicos 
provedores e as mulheres cuidavam somente das atividades domésticas e dos filhos 
(SILVA, 2019). 
No Brasil, as leis trabalhistas, por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 
entraram em vigor em 1943. Segundo elas, a licença-maternidade atualmente pode chegar 
a seis meses, considerando a importância dos cuidados e do aleitamento materno. Já o 
direito à licença-paternidade foi incluído no rol de direitos trabalhistas (art. 473, III da CLT) 
com o objetivo de possibilitar ao pai que tinha carteira de trabalho ausentar-se sem 
desconto salarial para fazer o registro civil do filho recém-nascido. Nessa época, a licença 
era somente de um dia. 
Com o passar do tempo, notou-se a necessidade de um apoio maior da figura 
paterna, uma vez que, nos casos de cirurgia cesariana, a mãe precisa de mais tempo para 
135 
 
 
 
 
 
 
 
137 
se recuperar, e por essa razão entendeu-se que o pai precisava permanecer pelo menos 
cinco dias prestando o auxílio que se julgava necessário. A Constituição Federal de 1988 
foi promulgada com a determinação de cinco dias de licença-paternidade e 120 dias de 
licença-maternidade (art. 7º). 
O Equilíbrio Trabalho e Família é um dos âmbitos de políticas voltadas para famílias e 
também para a primeira infância. O equilíbrio trabalho e família consiste em síntese em um 
problema de escassez de tempo pela qual passa a maioria das famílias. Pais e mães enfrentam 
no dia a dia inúmeros desafios para arcar com suas diversas funções: profissionais e familiares 
(que incluem as funções de cuidado e o trabalho doméstico). Pode-se questionar se essa não é 
uma questão essencialmente de cunho privado das famílias. Porém, reconhecendo o impacto 
que a ausência dos pais tem nos primeiros anos de vida da criança e o impacto sobre a 
produtividade de muitos trabalhadores - dada a insatisfação e a ansiedade gerada por se 
sentirem incapazes de atenderem a todas as suas responsabilidades - esse tema emerge como 
prioritário na agenda de políticas públicas para a primeira infância. 
Dessa forma, os governos devem estimular políticas e programas que incentivem a 
adoção de boas práticas de equilíbrio trabalho e familia, tais como: teletrabalho, banco de horas, 
flexibilização do horário de trabalho, redução de jornada, licenças, incluindo licenças parentais, 
dentre outras. O objetivo principal de politicas nesse âmbito é aumentar a disponibilidade de 
tempo para que os pais possam se dedicar ao cuidado integral dos filhos especialmente nessa 
fase de intenso desenvolvimentos infantil. Tal objetivo só poderá ser concretizado a partir da 
promoção de um modelo de corresponsabilidade tanto no nível social (governo, empresas, 
sociedade civil e famílias) como no nível familiar (com a promoção de uma maior participação 
do pai nas funções de cuidado e doméstica). 
O impacto positivo do maior envolvimento dos homens na paternidade – sejam 
eles pais biológicos ou não – vem sendo comprovado, especialmente, para a saúde 
materno-infantil, o desenvolvimento cognitivo das crianças, o empoderamento das 
mulheres, a saúde e o bem-estar dos próprios homens (PROMUNDO BRASIL, 2016). 
Nesse contexto, a fim de viabilizar condições para o exercício da paternidade de 
forma mais presente e equitativa, o Marco Legal promoveu o aumento da licença 
paternidade para mais quinze dias, resultando agora em 20 dias. De fato, antes do Marco 
Legal da Primeira Infância, indiretamente o Estado passava aos pais a mensagem de que 
sua principal função era apenas de provedor, sendo o mais importante voltar logo às 
136 
 
 
 
 
 
 
 
138 
atividades laborais, enquanto que a mulher ficava sozinha como responsável pelos 
cuidados diretos do recém-nascido e de si mesma. 
A licença-paternidade estendida foi possível apenas para os trabalhadores 
vinculados ao Programa Empresa Cidadã, devido à dificuldade das empresas como um 
todo para conceberem a licença-paternidade como um investimento na promoção do 
desenvolvimento humano em vez de considerá-lo como um gasto. 
Diante da alçada do Estado sobre os servidores públicos e considerando a 
responsabilidade compartilhada também do Estado em relação à prioridade absoluta, 
este direito foi concedido a todos os servidores públicos imediatamente após a 
promulgação da Lei 13.257/2016. Assim, o aumento da licença paternidade foi o primeiro 
ato de implementação do Marco Legal da Primeira Infância em larga escala. 
 
Principais desafios para avançar no campo das paternidades no Brasil 
 
Ao considerar que aproximadamente 80% dos homens se tornarão pais biológicos 
em algum momento de suas vidas e a totalidade dos homens tem potencial para 
desempenhar algum papel relacionado ao cuidado na vida de crianças, como educadores, 
profissionais de saúde, tios ou padrinhos(PROMUNDO BRASIL, 2019), é fundamental 
tratarmos da importância da primeira infância com eles. 
Há uma série de questões a serem tratadas sobre a relação entre cuidadores e 
crianças, quando a responsabilidade pelo cuidado é compartilhada com as mulheres e 
incorporada ao cotidiano dos homens. Uma delas é o equilíbrio entre o sucesso profissional 
e o bem-estar da família, ou mesmo sobre o que significa ser homem nos dias de hoje. Ao 
mapear estudos, políticas e iniciativas produzidas sobre paternidade e cuidado, os 
relatórios da Rede MenCare têm evidenciado a conquista de espaço na agenda pública 
global de promoção da equidade de gênero, em questões como direitos sexuais e 
reprodutivos, saúde dos homens, educação, segurança pública, prevenção de violências, 
economia, (des)emprego e imigração. O envolvimento do pai no cuidado dos filhos tem se 
mostrado uma das maiores estratégias de prevenção da violência doméstica, uso de drogas 
e conflitos com a lei na adolescência, e da melhoria da saúde da mulher e do homem. 
 
Um breve olhar sobre a situação da paternidade no Brasil 
 
Como demonstrado no relatório sobre a paternidade no Brasil, realizado pelo 
Instituto Promundo em 2016, o Brasil tornou-se um dos países de maior destaque no 
137 
 
 
 
 
 
 
 
139 
campo da paternidade e cuidado, integrando ações da sociedade civil, do governo e do 
setor privado, assim como da integração desse campo com a promoção da equidade entre 
homens e mulheres. 
No entanto, apesar da maior visibilidade e a despeito do que está escrito em nossos marcos 
legais, a cobrança pelo cuidado das crianças continua recaindo sobre as mulheres. Para 
uma parte significativa da sociedade, persiste certa tolerância relacionada à não 
participação, ao abandono ou ao não reconhecimento de filhos por parte dos pais, o que 
pode ser ilustrado pela estimativa de que mais de 5.000.000 de estudantes brasileiros 
permanecem sem o nome do pai na certidão de nascimento e no documento de identidade 
(CNJ, 2015). Por outro lado, também persistem lacunas da responsabilidade 
compartilhada do Estado e da Sociedade em relação às condições para efetivação dos 
direitos necessários para o exercício pleno da paternidade e da parentalidade. O contexto 
de exclusão social que ainda caracteriza nosso país tem impactos também em relação ao 
usufruto da licença paternidade, que consistiria em uma estratégia de promoção do 
desenvolvimento integral das crianças na primeira infância. Segundo a Pesquisa Nacional 
Saúde do Homem Paternidade e Cuidado, realizada pela Coordenação de Saúde do 
Homem do Ministério da Saúde, em parceira com ouvidoria do SUS, aproximadamente 
metade dos homens cujos filhos nasceram em maternidades públicas não conseguem 
usufruir da licença paternidade, sendo que o principal motivo do não usufruto da licença 
paternidade é que a maioria dos pais trabalha por conta própria ou sem carteira assinada. 
A segunda razão apontada é o fato de estarem desempregados, em gozo de férias ou 
afastados pelo INSS no período. 
 
Gráfico 1 – Questão pesquisa “Por que o Sr. não tirou licença-paternidade?” 
 
 
 
 
 
 
 
 
138 
 
 
 
 
 
 
 
140 
 
 
Parentalidade compartilhada: reflexões e estratégias para os avanços necessários 
 
Apesar do reconhecimento da importância do pai no desenvolvimento dos filhos, 
uma parcela significativa da população mundial, inclusive no Brasil, continua acreditando 
que “cuidar” é uma qualidade e uma responsabilidade prioritariamente das mulheres. 
Felizmente, seguindo um processo de reflexão e transformação que há anos já vem sendo 
trilhado pelas mulheres em relação à maternidade, um número cada vez maior de homens 
tem vivenciado a paternidade com algo muito positivo para si mesmos. Alguns achados da 
pesquisa “HelpingDadsCare” (2019) no Brasil reforçam essa ideia, com informação 
corroborada por dados da pesquisa IMAGES (PROMUNDO – BRASIL, 2016), indicando 
que a maioria dos pais brasileiros relata brincar com as crianças (83%). No entanto, 
atividades como cozinhar (46%) e dar banho (55%) são bem menos citadas. 
85% dos pais entrevistados em sete países (e 82% dos pais brasileiros) 
disseram “concordar” ou “concordar fortemente” coma afirmação: “Eu 
farei tudo o que for necessário para estar muito envolvido com o cuidado 
do meu/minha filho/a recém-nascido/a ou adotado/a nas primeiras 
semanas e/ou meses” (PROMUNDO, 2016). 
 
Seguramente, este é um momento histórico importante não apenas para refletir 
sobre o maior envolvimento dos pais, como também para buscar formas concretas de 
apoiar os homens brasileiros a serem os pais envolvidos que eles dizem querer ser 
(PROMUNDO BRASIL, 2016). Contudo, os estudos recomendam atenção para a 
valorização de paternidades “saudáveis”, “responsáveis” e “ativas” serem acompanhadas 
de uma leitura crítica sobre as relações entre homens e mulheres, de modo a eles não 
passarem a ser elogiados por atividades que as mulheres sempre fizeram. 
Diante da importância de metodologias que respondam a essa complexidade e 
atuem objetivamente para a formação da nova cultura referendada nos avanços científicos 
e legislativos, o Pacto Nacional pela Primeira Infância premiou como 1º lugar em Boa 
Prática da Categoria Sociedade Civil o Programa P, desenvolvido em 2011 pelo Instituto 
Promundo, que possibilita um trabalho de ressignificação da masculinidade e engajamento 
em paternidade e cuidado para homens e suas famílias. 
 
 
139 
 
 
 
 
 
 
 
141 
 
VÍDEO 17 
Assista no vídeo a seguir o relato de um homem sobre a importância da sua relação com o 
filho e a ressignificação da experiência com seu próprio pai, a partir da participação no 
Programa P: <https://promundo.org.br/recursos/curta-mencare-brasil/>. 
 
A importância da inclusão do homem desde o começo 
 
 
É importante compreender as crenças e expectativas em relação ao ser pai e mãe. 
Segundo um estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Instituto 
Papai (2007), embora a gestação seja definida por mudanças observadas no corpo 
feminino desde o momento da concepção, ou seja, a gestação é “visceral para as mulheres”, 
para os homens a paternidade muitas vezes só se concretiza após o nascimento da criança. 
No entanto, quando se questionam diretamente os homens, muitos demonstram desejo de 
participar nas ações de planejamento reprodutivo ativamente durante toda a gestação, 
muitas vezes até antes da concepção, de modo a compartilhar, assim, todas as etapas desse 
processo gravídico. 
Contudo, na esfera das políticas públicas, as ações de saúde ligadas à saúde sexual 
e reprodutiva, incluindo de pré-natal, tradicionalmente são direcionadas somente para as 
mulheres (SILVA, 2019). Neste sentido, um grande avanço tem se configurado desde o 
lançamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), em 
2009, pelo Ministério da Saúde, uma vez que esta incluiu como um de seus eixos 
prioritários a Paternidade e o Cuidado. Isso resultou no desenvolvimento da Estratégia 
Pré-Natal do Parceiro (EPNP), que tem como objetivo contribuir significativamente para 
aumentar os vínculos afetivos entre pai, mãe e filhos; diminuir a violência intrafamiliar; 
prevenir e diminuir a transmissão de IST/HIV; promover a ampliação da licença-
paternidade; incentivar o aleitamento materno; reduzir as mortalidades materna e infantil; 
ampliar e melhorar o acesso e acolhimento dos homens aos serviços de saúde, e 
consequentemente diminuir os índices de morbimortalidade da população masculina. 
Para implantação da EPNP, são sugeridos cinco passos que os pais/parceiros 
devem ser orientados a seguir durante todo o processo de pré-natal, parto, pós-parto e ao 
longo do desenvolvimento da crianças. São eles: 
 
140 
https://promundo.org.br/recursos/curta-mencare-brasil/142 
 
Figura 1 – A paternidade em rede (SILVA, 2019). 
 
Você sabia? 
Durante o debate para aprovação do Marco Legal da Primeira Infância, na 
Câmara dos Deputados, houve receio de que o aumento da licença-paternidade 
gerasse, ao invés de apoio à mulher e à criança, mais sobrecarga decorrente de 
demandas do homem em casa. Optou-se, então, por incluir o seguinte dispositivo na 
Lei, para promoção da paternidade ativa: 
II – será garantida ao empregado da pessoa jurídica que aderir ao 
Programa (Empresa Cidadã), desde que o empregado a requeira no 
prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e comprove participação em 
programa ou atividade de orientação sobre paternidade 
responsável (BRASIL, Lei 13.257/2016, art. 38). 
 
O Ministério da Saúde teve um importante papel para essa implementação, ao 
emitir a Nota técnica conjunta: Recomendações do Ministério da Saúde para 
regulamentar as atividades de orientação sobre paternidade em relação ao Marco 
Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257 de 08 de março de 2016). Além disso, 
desenvolveu, com a PNAISH/Ministério da Saúde – Estratégia Pré-Natal do Parceiro, 
o Curso Pai Presente Cuidado e Compromisso – EAD – AVASUS, disponibilizado 
gratuitamente na plataforma do Ministério da Saúde para promoção da paternidade 
ativa e consciente. Atualmente este curso conta com o registro de 76.957 
participantes, dos quais 65.031 já foram certificados, tendo um aproveitamento de 
Como será a participação do homem no pré-natal, 
parto e puerperio no âmbito dos serviços de saúde.
Realizar exames de rotina e testes rápidos.
Atualizar seu cartão de vacinas.
Participar de atividades educativas durante o pré-natal 
com temas voltados para o público masculino.
Participar efetivamente no momento do pré-parto, 
parto, puerpério e cuidados com a criança.
141 
 
 
 
 
 
 
 
143 
conclusão de 84,5%. É o terceiro curso mais acessado do AVASUS, num rol 245 cursos 
disponibilizados pelo Ministério da Saúde. 
Caso deseje conhecer o curso e seus depoimentos acesse: 
<https://avasus.ufrn.br/local/avasplugin/cursos/curso.php?id=67>. 
 
Graças ao Marco Legal da Primeira Infância, milhares de crianças podem contar 
com a presença e o cuidado ativo por mais tempo de seu pai em seus primeiros dias de vida. 
Intervenções simples como esta para promoção da paternidade ativa ofereceram 
melhores condições para o desenvolvimento humano integral na primeira infância. 
 
VÍDEO 18 
No vídeo a seguir, disponível na plataforma Viva mais SUS sobre o Pré-Natal do Parceiro, 
você pode observar a importância da participação do pai desde o acompanhamento da 
gestação: 
<http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vivamaissus/prenatal_index.html> 
 
Perspectivas: licença parentalidade 
Uma das possíveis estratégias para a promoção de parentalidades compartilhadas é o 
instituto da licença parental. Segundo a Organização Internacional do Trabalho a licença 
parental “é uma licença relativamente longa concedida ao pai ou à mãe para cuidar de um bebê 
ou de uma criança pequena após o período da licença-maternidade ou licença-paternidade”1 . 
No entanto, sua configuração varia bastante de país para país. 
A promoção da licença parental vem sendo recomendada por organismos internacionais 
como estratégia para a promoção de cuidados adequados na primeira infância e da igualdade 
no mercado de trabalho. Em novembro de 2019, a Assembleia Geral das Nações Unidas 
recomendou aos países membros que investissem em uma ampla gama de políticas voltadas 
para o equilíbrio trabalho e família, como a expansão dos serviços de cuidado e de licenças 
 
1 https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-
brasilia/documents/publication/wcms_229658.pdf 
 
142 
https://avasus.ufrn.br/local/avasplugin/cursos/curso.php?id=67
http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vivamaissus/prenatal_index.html
https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/documents/publication/wcms_229658.pdf
https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/documents/publication/wcms_229658.pdf
 
 
 
 
 
 
 
144 
parentais, inclusive de licenças paternidade 2 , com o intuito de aumentar a participação 
masculina nas tarefas de cuidado. 
No Brasil, foi instalado desde o início de 2020, no âmbito da Comissão Interinstitucional 
da Frente Parlamentar da Primeira Infância da Câmara dos Deputados, um grupo de Trabalho 
sobre Licença Parental coordenado por Family Talks - uma iniciativa da Associação de 
Desenvolvimento da Família, organização da sociedade civil. Dado o contexto de crise 
econômica e pandemia que assola o país, um dos motivadores para instalação do GT foi o 
aproveitar as lições do momento, sobretudo as novidades nas relações de trabalho, tais como a 
ampla adoção do teletrabalho, para pensar alternativas para a configuração de uma licença 
parental viável para o Brasil. O GT ainda encontra-se em funcionamento contando com a 
participação de diferentes setores do governo, entidades da sociedade civil e organizações 
internacionais. Os três principais desafios que vêm sendo debatidos no âmbito do grupo são: 
1. A discussão sobre qual deve ser a diretriz prioritária em uma possível licença parental 
no Brasil: a expansão do tempo dos pais com a criança, garantindo o direito à 
amamentação até os 6 meses de vida, ou a promoção da igualdade de gênero nas 
funções de cuidado com o objetivo de reduzir, também, as desigualdades entre homens 
e mulheres no mercado de trabalho. 
2. Caso a prioridade seja a expansão dos tempos de licença disponíveis para pais e mães, 
a discussão se dirige para o campo das fontes de financiamento. Existem também outras 
possibilidades para enfrentar o desafio do financiamento nesse momento de crise, tais 
como a licença parental optativa não remunerada ou uma licença caracterizada pela 
flexibilização da jornada, com a opção de redução da jornada de trabalho, teletrabalho 
ou mesmo alternância dos dias de trabalho entre os pais. Outra possibilidade é de não 
haver expansão no tempo disponível para as licenças maternidade e paternidade, mas 
transformá-las em uma única licença parental, dando maior liberdade às famílias para a 
a divisão do trabalho de cuidado. 
3. A promoção de um duplo modelo de corresponsabilidade: seja no âmbito social, (entre 
governo, sociedade civil e empresas); seja no âmbito familiar, (entre homens e 
mulheres). Diante da promoção desse modelo o maior desafio a ser enfrentado é o 
envolvimento e convencimento tanto do setor empresarial quanto dos homens, ante os 
 
2 https://undocs.org/A/75/61-E/2020/4. “(d) Invest in a variety of work-family balance policies focused, 
inter alia, on expanding childcare services and parental leaves, including paternity leaves”. 
143 
https://undocs.org/A/75/61-E/2020/4
 
 
 
 
 
 
 
145 
benefícios evidentes da garantia de melhores condições de cuidado para todas as 
famílias. 
Considerações Finais 
A promoção da paternidade ativa, começando na primeira infância, acarreta benefícios para 
todos (SILVA, 2019): 
Benefícios para a Família: 
* Promoção do planejamento reprodutivo,pré-natal, parto e pós parto; 
* Proteção contra a mortalidade materna e infantil; 
* Melhoria da saúde emocional e física da mulher, pela participação do homem nos cuidados 
perinatais graças à licença paternidade estendida; 
* Estabelecimento de vínculos afetivos saudáveis entre pai-mãe-filho; 
* Melhoria do desenvolvimento escolar, cognitivo e afetivo da criança; 
 
Para os Homens: 
* Estímulo ao autocuidado com a saúde; 
* Redução dos índices de morbimortalidade masculina; 
* Incentivo ao exercício de práticas de cuidados; 
* Promoção do envolvimento ativo no processo gravídico, com a realização do Pré-Natal do 
Parceiro; 
* Encorajamentoà participação efetiva no momento do parto, com o corte do cordão 
umbilical e realização do método canguru quando necessário; 
* Ampliação do conhecimento de seus direitos legais em relação à licença paternidade; 
* Melhoria da saúde mental e satisfação com a vida e o trabalho; 
* Motivação para divisão igualitária das tarefas domésticas e consequente aumento da 
equidade de gênero; 
* Fomento ao ensino e aprendizado de valores de igualdade de direitos e respeito; 
* Estímulo a práticas de cuidado real, como segurar a criança, dar banho, trocar fraldas, 
colocar para dormir; 
* Promoção do exercício de masculinidades saudáveis. 
 
 Para o Setor Educação: 
* Estímulo à discussão de igualdade de direitos entre homens e mulheres; 
* Ensinamento sobre a importância do exercicio do cuidado, especialmente, para os meninos 
,como algo inerente ao ser humano, independente do gênero; 
* Destaque da importancia da participação dos meninos nas questões de saude sexual e 
saude reprodutiva; 
* Encorajamento para os homens terem profissões voltadas ao cuidado, saúde, educação, 
pois isso poderá acelerar mudanças sociais através da aceitação e valorização do cuidado por 
todos. 
 
Para a Sociedade: 
144 
 
 
 
 
 
 
 
146 
* Fomento de investimentos em estudos relacionados ao exercício da paternidade ativa; 
* Incentivo à criação de dispositivos de escuta de pais sobre suas dúvidas e anseios para o 
exercício da paternidade ativa, como a formação de grupos de apoio a homens. 
 
Para Setor Trabalho (Empresas e outros): 
* Diminuição de faltas ao trabalho, pois os homens que se envolvem no exercício da 
paternidade ativa e usufruem da licença paternidade, tornam-se mais saudáveis e 
comprometidos com o trabalho; 
* Aumento da produtividade nas empresas, pois os pais que desenvolvem vínculos afetivos 
saudáveis com a família trabalham mais satisfeitos e dispostos; 
* Promoção de equilibrio entre o exercício do cuidado com a saúde e a vida profissional. 
 
 Para o Governo: 
* Promoção da intersetorialidade para discussão sobre paternidade ativa, garantindo maior 
efetividade das políticas públicas; 
* Incentivo à qualificação dos trabalhadores de diversas áreas, como saúde, educação, justiça, 
desenvolvimento social, sobre a paternidade ativa ; 
* Fomento e apoio a ações relacionadas ao desenvolvimento da primeira infância. 
* Diminuição de gastos provenientes das violências e acidentes, onde os homens são os 
maiores envolvidos. 
 
 Para o Setor da Saúde: 
* Desenvolvimento de dispositvos para profissionais e gestores da saúde atuarem e 
envolverem os homens na paternidade ativa; 
* Ampliação do acesso e acolhimento dos homens na Atenção Primária à Saúde, prevenindo 
agravos e promovendo sua saúde; 
* Fomento à educação permanente de gestores, profissionais de saúde e população em geral 
sobre paternidade ativa; 
* Diminuição de gastos com internações, pois os homens serão mais saudáveis e cuidadosos 
com a sua saúde, aumentando-se comportamento de prevenção de doenças; 
* Promoção de ações voltadas para os homens, estimulando práticas de cuidado consigo, com 
a parceira e a criança. 
 
 
Para saber mais, materiais de apoio: 
 
• Projeção Econômico-demográfica da ampliação da licença-paternidade no Brasil. 
Disponível em: <https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/projecao-economica-
demografica-ampliacao-da-licenca-paternidade>. 
• Manual do Programa P (de Paternidade): acesse aqui. 
• Programa M(Mulheres): acesse aqui. 
• Cartilha: Maternidade também é lugar para o pai/parceiro. 
145 
 
 
 
 
 
 
 
147 
• Cartilha: Como envolver o homem trabalhador no planejamento reprodutivo, pré-
natal, parto e desenvolvimento da criança. Disponível em: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_trabalhador_envolver_planejamen
to.pdf>. 
• Cartilha para pais. Disponível em: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_pais_exercer_paternidade_ativa.pd
f>. 
• Folder Licença-Paternidade. Disponível em: 
<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/agosto/22/folder-licenca-
paternidade.pdf>. 
 
 
Referências bibliográficas: 
 
BRASIL. Lei 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e 
dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1990. 
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Glossário temático: saúde do homem [recurso eletrônico]. 
Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 140 p. 
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia do pré-natal do parceiro para profissionais de Saúde. 
Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: 
princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Pai presente: O reconhecimento que todo filho 
espera. 2015. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/destaques/arquivo/2015/04/b550153d316d6948b61dfbf7c07f13ea
.pdf. Acesso em: 29 set. 2020. 
PROMUNDO – BRASIL. A Situação da Paternidade no Brasil: Tempo de Agir. Rio de Janeiro: 
Promundo, 2016. 
SILVA, Michelle Leite da. A paternidade em rede: subsídios para o exercício da paternidade ativa 
dos pais/parceiros com base na Pesquisa Nacional Saúde do Homem-Paternidade e Cuidado-Etapa 
III no Distrito Federal. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Saúde Coletiva) – 
Universidade de Brasília, Brasília, 2019. 
 
 
146 
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/destaques/arquivo/2015/04/b550153d316d6948b61dfbf7c07f13ea.pdf
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/destaques/arquivo/2015/04/b550153d316d6948b61dfbf7c07f13ea.pdf
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/destaques/arquivo/2015/04/b550153d316d6948b61dfbf7c07f13ea.pdf
 
 
 
 
 
 
 
148 
 
Aula 7: A Importância do investimento na Primeira 
Infância e seus reflexos 
 
Investir na primeira infância é colocar em prática a regra da prioridade absoluta (CF, 
art. 227), possibilitando o mais cedo possível que as crianças tenham acesso aos direitos 
necessários para seu desenvolvimento. Assim, cumpre-se o dever constitucional de 
promover efetivamente a cidadania, valorizando a maior riqueza de uma Nação, que são 
seus cidadãos. Nesta compreensão, a Economia tem indicado que a primeira infância 
configura-se como o maior potencial de capital humano de um indivíduo, de sua família, da 
comunidade e do País. 
A qualidade do cuidado na primeira infância desde a gestação trará reflexos para a 
toda vida, principalmente, mas não somente, no comportamento, na saúde e na 
aprendizagem. O desempenho financeiro e social dos adultos também depende das 
experiências vividas na primeira infância. Quanto mais se investir na Primeira Infância, 
portanto, menor será a necessidade de maiores custos com diagnóstico, tratamento e 
reabilitação em fases posteriores do desenvolvimento, assim como maior a competência 
produtiva no trabalho, na educação dos próprios filhos, na participação do 
desenvolvimento da comunidade e na sociedade como um todo. 
Diante desse cenário, nesta subunidade iremos aprender sobre as correlações 
entre investimento na Primeira Infância, interrupção do ciclo de pobreza e redução da 
desigualdade social. Segundo o Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016): 
Art. 11 – §2º: A União informará à sociedade a soma dos recursos 
aplicados anualmente no conjunto dos programas e serviços para a 
primeira infância e o percentual que os valores representam em relação 
ao respectivo orçamento realizado, bem como colherá informações 
sobre os valores aplicados pelos demais entes da Federação. 
A contribuição da Economia sobre a importância do investimento na primeira 
infância 
Foi necessário traduzir em equação matemática o valor do retorno do 
investimento na primeira infância para esta ganhar força na agenda internacional daspolíticas públicas. Essa foi uma contribuição realizada pelo Prêmio Nobel em Economia, o 
147 
 
 
 
 
 
 
 
149 
americano James Heckman, juntamente com o economista português Pedro Carneiro e o 
economista brasileiro Flávio Cunha. Ao estudarem políticas de capital humano que 
buscavam a formação de habilidades para inclusão social e produtiva por meio de nutrição, 
práticas educativas e orientação parental, Heckman e Carneiro (2003) observaram que o 
retorno do investimento era significativamente maior quando as ações se iniciavam na 
primeira infância. 
A maior taxa de retorno do desenvolvimento na primeira infância ocorre 
quando se investe o mais cedo possível, desde o nascimento até os cinco 
anos de idade, em famílias carentes. Começar na idade de três ou quatro 
anos é um pouco tarde demais, pois significa não reconhecer que 
habilidades geram habilidades de uma forma complementar e dinâmica. 
Os esforços devem se concentrar nos primeiros anos em busca de maior 
eficiência e eficácia (HECKMAN, 2017). 
 
 
Figura 1 – Taxa de Retorno do Investimento em Capital Humano (HECKMAN, 2006). 
 
A partir de seus estudos, Heckman e Carneiro (2003) concluíram que cada dólar 
investido na primeira infância gera um retorno de 7 a 10 dólares no futuro e representa a 
melhor estratégia de ruptura do ciclo de pobreza e redução da desigualdade social que 
onera em políticas compensatórias a economia de muitos países. 
SAIBA MAIS! 
Para se aprofundar neste tema, acesse: 
148 
 
 
 
 
 
 
 
150 
https://heckmanequation.org/resource/perry-preschool-midlife-toolkit/ 
 
Heckman chegou a esta conclusão avaliando um projeto de desenvolvimento na 
primeira infância, denominado Perry Preschool, realizado na Jamaica, nos anos 1960, cuja 
metodologia consistia na oferta de suplementação nutricional e atividades educacionais 
de qualidade em um centro de educação infantil para crianças de 3 a 4 anos de idade, 
pertencentes a famílias em situação de extrema pobreza, paralelamente à realização de 
visita domiciliar semanal que incluía orientação aos pais por uma pessoa altamente 
treinada em desenvolvimento na primeira infância. Heckman e Carneiro (2003) 
analisaram variáveis na vida adulta das crianças que participaram do programa, incluindo 
desempenho dos próprios filhos delas. Os resultados mostraram que estas pessoas 
conseguiram obter rendas salariais mais altas por terem alcançado maior escolaridade e 
tiveram menos envolvimento com uso de drogas ilícitas e menos conflito com a lei, assim 
como se mostraram capazes de oferecer educação, saúde e cidadania para seus próprios 
filhos. Deste modo, observou-se que o programa integrado de desenvolvimento na 
primeira infância promoveu a ruptura do ciclo da pobreza. 
SAIBA MAIS! 
Para se aprofundar neste tema, acesse: https://highscope.org/perry-preschool-project/ 
 
Outro projeto que demonstrou o impacto do investimento na primeira infância foi 
o Nurse Family Partnership (NFP), ou “Parceria Família-Enfermeira” em português. Este 
programa foi inicialmente desenvolvido nos Estados Unidos como visita domiciliar por 
enfermeiras, da gestação até os 24 meses de vida do bebê, com o objetivo de apoiar jovens 
mães em situação de vulnerabilidade social a cuidarem adequadamente de seus bebês e de 
si mesmas (SCHNEIDER; GHESTI, 2016), e resultou em benefícios para a saúde da mãe e 
da criança, e redução de maus tratos contra as crianças. 
SAIBA MAIS! 
Para se aprofundar neste tema, acesse: https://www.nursefamilypartnership.org/ 
 
149 
https://heckmanequation.org/resource/perry-preschool-midlife-toolkit/
https://highscope.org/perry-preschool-project/
https://www.nursefamilypartnership.org/
 
 
 
 
 
 
 
151 
Um terceiro programa de impacto, internacionalmente citado, é o Projeto 
Abecedarian, também iniciado nos EUA, que consistiu na oferta de atenção de qualidade na 
Educação Infantil, utilizando a abordagem de Vigotsky, para crianças dos 8 meses aos 6 ou 
8 anos de idade. O estudo observou que crianças e suas famílias que tiveram igualmente 
apoio em nutrição, assistência social e saúde diferenciaram-se significativamente em 
medidas de desenvolvimento, incluindo QI, em função de um grupo ter recebido acesso à 
pré-escola de qualidade durante 60 meses em tempo integral e o outro grupo não. 
Observou-se que as mães também se beneficiaram, muitas que eram adolescentes tiveram 
a oportunidade continuar seus estudos. 
VÍDEO 19 
A seguir, você pode assistir uma breve apresentação desses projetos e seus resultados: 
https://ocomecodavida.com.br/tres-exemplos-de-intervencoes-na-primeira-infancia/ 
No Brasil, a Associação Saúde Criança, fundada em 1991, atualmente renomeada 
como “Instituto Dara”, também desenvolveu um programa de promoção da saúde e do 
desenvolvimento humano que demonstrou resultados positivos e retorno do investimento. 
Atuando a partir da compreensão dos “determinantes sociais da saúde” com famílias em 
situação de extrema pobreza que tinham crianças hospitalizadas, a pediatra do Hospital da 
Lagoa Dra. Vera Cordeiro e sua equipe de voluntários obteve uma redução de 86% nas 
taxas de reinternação hospitalar, segundo pesquisa realizada pela Georgetown University 
(2013). Este resultado adveio do acompanhamento integral da família em cinco áreas: 
saúde, renda, moradia, educação e cidadania - por um período de aproximadamente dois 
anos. Esta metodologia foi construída a partir da observação das necessidades da família, 
tendo critérios para conclusão do acompanhamento. A avaliação de resultados realizada 
pela Georgetown University, analisando as famílias antes de entrarem no programa e três 
a cinco anos após a alta constatou melhoria significativa nos indicadores de renda, moradia, 
educação e bem-estar da criança e da família, que se sustentaram após cinco anos de 
conclusão do acompanhamento (92% de aumento da renda, redução de 83% na percepção 
negativa sobre o próprio bem-estar, aumento de 92% na aquisição de moradia própria). E 
para os cofres públicos, observou-se a seguinte economia: 
 
150 
https://ocomecodavida.com.br/tres-exemplos-de-intervencoes-na-primeira-infancia/
 
 
 
 
 
 
 
152 
 
Quadro 1 – Cálculo do retorno do investimento no atendimento integral da criança hospitalizada 
(Fonte: INSTITUTO DARA, 2013). 
 
De acordo com o Quadro 1, para atendimento familiar de 82 crianças que haviam 
sido hospitalizadas por questões de pobreza estrutural, cujo acompanhamento foi 
concluído entre 1º/01/2019 e 31/12/2019, foram investidos R$ 1.476.000,00 em 2 anos, 
considerando o custo aproximado de R$750,00 por família, por mês. Este investimento 
gerou uma redução de 2.014 dias de hospitalização, o que equivale a aproximadamente 
R$ 2.014.000,00 de economia para o Governo, sendo o custo de um dia de internação em 
hospital público equivalente a R$ 1.000,00. O valor economizado pelos cofres públicos 
menos o custo operacional do trabalho realizado pelo Instituto Dara (economia líquida) foi 
de R$ 538.000,00, ou seja, retorno de 36,5% do investimento, em 2 anos. 
Conclusões de cientistas sobre a importância do investimento na primeira infância: 
➢ James Heckman, Prêmio Nobel em Economia, em 2003: 
 
Investir na primeira infância é uma estratégia de 
baixo custo para promover o crescimento econômico 
de um País. 
 
Como vimos, James Heckman demonstrou que o investimento na primeira infância 
é a melhor estratégia econômica de promoção do potencial humano que um País pode 
fazer. Investir em programas de suplementação alimentar e apoio aos pais, inclusive antes 
de a criança ingressar na educação infantil, favorece o aproveitamento das ofertas que se 
realizam pelo sistema educacional e consequente autonomia na vida adulta, reduzindo151 
https://www.google.com/search?q=james+heckman+frases&rlz=1C1GCEA_enBR832BR832&sxsrf=ALeKk01T7dYSul-V2vr4iJcq5_VN0DHbDw:1601313897976&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=bSX8nnIAJQ_HtM%252CAoZ2kqF2QDyUXM%252C_&vet=1&usg=AI4_-kQ5-0ZEN3whYIfXy-plhR__su-hnQ&sa=X&ved=2ahUKEwj_4r-Qr4zsAhXqEbkGHbkuAv4Q9QF6BAgJEAM#imgrc=bSX8nnIAJQ_HtM
https://www.google.com/search?q=james+heckman+frases&rlz=1C1GCEA_enBR832BR832&sxsrf=ALeKk01T7dYSul-V2vr4iJcq5_VN0DHbDw:1601313897976&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=bSX8nnIAJQ_HtM%252CAoZ2kqF2QDyUXM%252C_&vet=1&usg=AI4_-kQ5-0ZEN3whYIfXy-plhR__su-hnQ&sa=X&ved=2ahUKEwj_4r-Qr4zsAhXqEbkGHbkuAv4Q9QF6BAgJEAM#imgrc=bSX8nnIAJQ_HtM
 
 
 
 
 
 
 
153 
custos com saúde pública secundária e terciária, assistência social, sistema prisional, entre 
outros. 
➢ Joseph Sparling, em 2010: 
A intervenção educacional precoce com programas de 
DPI é com frequência citada como uma solução para o 
fracasso dos sistema de saúde ou educação, assim como 
um meio para o crescimento econômico. 
Sparling (2010) chama atenção para o fato de que apesar de inúmeras 
comprovações de que os programas de desenvolvimento da primeira infância (DPI) tem 
impactos estratégicos para a melhoria de resultados em todos níveis de saúde, educação, 
economia ou desenvolvimento social, eles ainda não são uma atividade totalmente aceita 
e estabelecida nas sociedades, como já o são o atendimento geral à saúde ou o ensino 
público. 
➢ Ricardo Paes de Barros, Economista do IPEA, em 2010: 
Os países mais desenvolvidos investem mais em direitos 
positivos que em direitos negativos. Quanto mais cedo 
for realizado o investimento, maior será o tempo 
disponível para sua recuperação (...). Embora existam 
potenciais complementaridades entre os investimentos 
nas diversas idades, os da primeira infância alimentam 
definitivamente os posteriores (BARROS e col, 2010, p. 
7). 
No Brasil, investir na primeira infância, enquanto ação positiva de propor cuidados 
para o desenvolvimento e não apenas ações para evitar riscos como fome, violência, 
abandono e morte, tornou-se segundo desafio após um período de avanço na garantia das 
condições mínimas para a sobrevivência. 
Mais do que não atrapalhar, ou deixar de atrapalhar o desenvolvimento 
da criança, queremos também interagir de uma maneira afetiva e 
construtiva com ela; não queremos só deixar de atrapalhar, queremos 
começar a promover, a ajudar. Isso é o que chamamos de direito positivo 
(BARROS; COUTINHO; MENDONÇA, 2016). 
 
➢ Cesar Victora, ex-presidente da Sociedade Internacional de Epidemiologia, em 
2016: 
 
Os primeiros mil dias de vida determinam a saúde e o 
capital humano do adulto” 
 
152 
 
 
 
 
 
 
 
154 
A amamentação aumenta a inteligência não só na infância, mas também na vida 
adulta, portanto é fundamental apoiá-la. Por isso, essa legislação sobre a primeira infância 
é tão importante: não é só para fazer a criança mais saudável, mas sim para criar um país 
mais rico, mais produtivo e mais equitativo na próxima geração, dando a todas as crianças 
a oportunidade de alcançarem o seu potencial de crescimento e desenvolvimento 
(VICTORA, 2016). 
➢ Mary Young, Consultora Sênior do Centro de Desenvolvimento da Criança da 
Universidade de Harvard, em 2010: 
 
Nós devemos às crianças e a nós mesmos algo melhor do 
que já tem sido feito. 
As crianças que nascem em situação de pobreza, vivem em condições de falta de 
saneamento, ganham pouco cuidado ou pouca estimulação mental, e recebem uma 
nutrição empobrecida nos primeiros anos de vida têm maior probabilidade que seus 
contrapartes ricos de crescerem com defasagem corporal e mental. Em consequência, 
tendem a ter um desempenho fraco em sala de aula, a repetir séries escolares e a não 
alcançarem bons índices de desenvolvimento. Futuramente, no mundo do trabalho, 
provavelmente serão capazes de desempenhar apenas trabalhos que requerem menos 
habilidades e obter salários mais baixos. E quando têm filhos, um ciclo de herança de 
pobreza recomeça – e isso se repete pelas futuras gerações (YOUNG, 2010). 
Mary Young (2010) nos ensina que “as políticas públicas precisam investir nos 
pais, para estes investirem emocionalmente em seus filhos”. Uma vez que Heckman 
conclui que as capacidades não estão definidas ao nascer, mas são afetadas causalmente 
pelo investimento dos pais em suas crianças e que uma medida apropriada de 
desvantagem está mais relacionada à falta de qualidade do cuidado oferecido pelos pais, 
do vínculo, da consistência e da supervisão que da renda familiar por si só (YOUNG, 2016). 
 
➢ Jack Shonkoff, diretor do Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade 
de Harvard, em 2009: 
O investimento em desenvolvimento na primeira 
infância cria os alicerces de uma sociedade próspera e 
sustentável. 
Shonkoff (2009) destaca que o que ocorre na primeira infância terá repercussões 
para toda a vida. Deste modo, recomenda que: 
153 
 
 
 
 
 
 
 
155 
• O desenvolvimento integral deve ser promovido. 
• Deve haver relacionamentos estáveis, responsivos, estimulantes e ricos em 
experiências de aprendizagem nos primeiros anos de vida que provêm benefícios 
permanentes para a aprendizagem, para o comportamento e para a saúde física e 
mental. 
• Os avanços da neurociências precisam ser considerados, para evitar desperdício 
de recursos que já são escassos. 
 
Reflexos do investimento 
O reconhecimento da importância de investimentos na Primeira Infância 
promoveu muitas iniciativas nas últimas duas décadas, como ilustrado a seguir. 
 
Figura 2 – Aumento de iniciativas e investimentos na Primeira Infância, em nível mundial 
(DARMSTADT, 2016). 
 
Na terceira edição do The Lancet, indicada acima, sobre Primeira Infância, intitulada 
“Advancing Early Childhood Development: From Science to Scale” (tradução livre: 
“Avanços no Desenvolvimento Infantil: da Ciência a programas em larga escala”) foi 
apresentado o modelo de Cuidado Integral multissetorial (Nurturing Care Framework), que 
foi indicado como referência para promoção de oportunidades equitativas de 
desenvolvimento humano na primeira infância, recomendando que todos os países com 
154 
 
 
 
 
 
 
 
156 
crianças em situação de risco ao não desenvolvimento implementassem programas 
integrados com esse objetivo. 
Nurturing Care Framework ou Cuidado Atencioso para o Desenvolvimento na 
Primeira Infância: um plano para a promoção da sobrevivência e do 
desenvolvimento das crianças pequenas para transformar a saúde e o potencial 
humano 
Os cinco componentes do Cuidado Atencioso para o Desenvolvimento na 
Primeira Infância (OMS; BANCO MUNIDAL; UNICEF, 2018) são parte de uma estratégia 
para a promoção do desenvolvimento integral e envolvem cinco componentes mínimos. 
 
 
 
Quadro 2 - Os cinco componentes do Cuidado Atencioso para o Desenvolvimento na Primeira Infância 
 
1. BOA SAÚDE 
- Monitorar a condição física e emocional das crianças e dar respostas afetuosas e 
adequadas às necessidades diárias das crianças; proteger as crianças dos perigos 
domésticos e ambientais e ter práticas de higiene que minimizem infecções; usar 
serviços de saúde promotores e preventivos e buscar atendimento e tratamento 
adequado para doenças infantis. 
- Prestar atenção à saúde e ao bem-estar dos cuidadores, bem como das crianças. 
 
2. NUTRIÇÃO 
ADEQUADA 
- Nutrição adequada da mãe durante a gestação. 
- Amamentação exclusiva até os 6 meses com contato pele a pele. 
- Alimentos complementares frequentes e diversos o suficiente, e que contenham 
os micronutrientes de que precisam para o rápido crescimento do corpo e do 
cérebro após os 6 meses junto com a amamentação. 
- Suplementação quando indicada ou tratamento para desnutrição eobesidade. 
 
 
- Combater a pobreza extrema e a baixa renda com assistência social que pode 
incluir transferências de renda. 
155 
 
 
 
 
 
 
 
157 
3. SEGURANÇA 
E PROTEÇÃO 
- Combater vulnerabilidade de gestantes e crianças a riscos ambientais, incluindo 
poluição do ar e exposição a produtos químicos. 
- Proteger a criança de ambientes inadequados, do abandono e das violências 
- Garantir a saúde mental dos cuidadores, trabalhando com eles para prevenir 
maus-tratos. 
4. OPORTUNIDAD
ES DE 
APRENDIZAGE
M OPORTUNA 
- Brincar e falar com a criança, aproveitando os momentos de alimentação e 
higiene para interação (o aprendizado começa na concepção). 
- Cuidados afetuosos e seguros dos adultos em um ambiente familiar com 
orientação nas atividades diárias e no relacionamento com os outros. 
 
5. CUIDADO 
RESPONSIVO 
- O cuidado responsivo inclui observar e responder aos movimentos, sons, gestos 
e solicitações verbais das crianças. 
- O cuidado responsivo também inclui alimentação responsiva, o que é 
especialmente importante para bebês com baixo peso ou doentes. 
- Vínculo emocional e interações sociais também estimulam conexões no cérebro. 
Figura 2 – Componentes do Cuidado Atencioso para o Desenvolvimento na Primeira Infância 
(OMS; UNICEF, 2018) 
 
Esta série do The Lancet também apresentou um cálculo do prejuízo decorrente da 
falta de cuidados nesta fase da vida, o “custo da inação”, segundo o qual 43% das crianças 
no mundo tenderão a obter 26% a menos de renda pessoal potencial com consequente 
redução da capacidade produtiva dos países, e indicou os gastos estimados com políticas 
de redução de danos. 
A trajetória brasileira tem acompanhado os períodos indicados na Figura 2, e nosso 
país tornou-se destaque mundial em várias iniciativas, com progressivo aumento do 
investimento na primeira infância. Acompanhe a linha do tempo de algumas de iniciativas 
brasileiras de investimento na primeira infância: 
2000 – Comitê de Desenvolvimento Integral da Primeira Infância – CODIPI 
(Comunidade Solidária/Governo Federal) 
2003 – Primeira Infância Melhor – PIM (RS) 
2003 – Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades (USP, UNICEF, Pastoral 
da Criança) 
2007 – Mãe Coruja Pernambucana (PE) 
2007 – Rede Nacional Primeira Infância – RNPI 
2009 – Comissão de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz (Senado 
Federal) 
2009 – Programa Primeiríssima Infância (SP) 
2011 – Rede Mãe Paranaense (PR) 
156 
 
 
 
 
 
 
 
158 
2010 – Estudo sobre Determinantes do Desenvolvimento na Primeira Infância no 
Brasil (IPEA) 
2010 – Plano Nacional pela Primeira Infância (RNPI e CONANDA) 
2011 – Frente Parlamentar da Primeira Infância – FPPI (Câmara dos Deputados e 
Senado) 
2011 – Programa de Liderança Executiva em Desenvolvimento da Primeira Infância 
(FPPI, Harvard, PUC RS, USP, FMCSV) 
2012 – Programa São Paulo pela Primeiríssima Infância (SP) 
2012 – Primeira Infância Ribeirinha – PIR (AM) 
2012 – Pacto pela Primeira Infância (DF) 
2013 – Programa Família que Acolhe (RR) 
2013 – Programa São Paulo Carinhosa (SP) 
2013 – Programa Cresça com seu Filho (Fortaleza/CE) 
2013 – Programa Ágape: Provedores de Amor (Arapiraca/AL) 
2013 – Projeto de Lei 6.998/2013 (Dep. Osmar Terra, Dep. Carmen Zanotto e 
outros) 
2015 – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (Min. da Saúde) 
2016 – Promulgação do Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016) 
2016 – Documentário “O Começo da Vida” (FMCSV, Alana, FvanLeer, UNICEF) 
2016 – Programa Primeira Infância Amazonense – PIA (AM) 
2016 – Programa Primeira Infância Manauara e Acreana – PIA (AC) 
2016 – Programa Primeira Infância no SUAS/Programa Criança Feliz (MDS) 
2019 – Pacto Nacional pela Primeira Infância (CNJ, FDDD/MJ e signatários) 
157 
 
 
 
 
 
 
 
159 
 
Este histórico representa algo muito importante em relação aos avanços que vêm 
sendo realizados no Brasil para o justo investimento na primeira infância: um diálogo 
continuado, cada vez mais multisetorial e interfederativo. 
 
Figura 3 – Reconhecimento do Primeira Infância Melhor (PIM) como 2º melhor programa de 
visitação domiciliar para primeira infância da América Latina e Caribe, segundo Avaliação 
realizada pelo Banco Mundial (2016). 
 
Na linha de iniciativas acima, o Programa Criança Feliz representa a 
implementação do artigo 14 do Marco Legal da Primeira Infância e promoveu um 
significativo aumento do investimento em promoção do desenvolvimento integral da 
primeira infância no Brasil, tendo inclusive sido lançado no mesmo dia em que foi lançada 
a 3ª edição do The Lancet recomendando que todos os países do mundo tomassem essa 
iniciativa. 
 
158 
 
 
 
 
 
 
 
160 
 
Figura 4 – Orçamento investido na Assistência Social a Crianças e Adolescentes – Programa 
Criança Feliz 2016-2020 (BRASIL, 2020). 
 
O Programa Criança Feliz foi inclusive reconhecido como o programa de maior 
cobertura do mundo, recebendo o Prêmio Wize Awards, em 2019, e está em processo de 
investimento em sua qualidade, com apoio do BID e de outros organismos internacionais, 
como a UNESCO, a OPAS, a Fundação Bernard van Leer, assim como instituições nacionais 
como a Petrobrás. A avaliação de impacto do Programa Criança Feliz está sendo realizada 
por um consórcio de universidades brasileiras, sob coordenação do Dr. Cesar Victora, com 
apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, visando ao monitoramento de sua eficácia 
e a prestação de contas do recurso investido. 
 
159 
 
 
 
 
 
 
 
161 
Equidade, o quarto caminho 
 
Para Jacques van der Gaag (2010), quatro “caminhos” fundamentais vinculam o 
desenvolvimento da Primeira Infância (DPI) ao Desenvolvimento Humano (DH): a 
Educação (investimento nos primeiros anos de vida afeta positivamente a progressão para 
os próximos anos escolares), a Saúde (investimento nos primeiros anos de vida melhora o 
capital humano e a saúde a longo prazo), o Capital Social (melhor comportamento 
decorrente do investimento nos primeiros anos de vida) e a Equidade (redução da 
desigualdade de oportunidades na sociedade). Estes levam ao maior crescimento 
econômico e, portanto, ao desenvolvimento humano em ampla escala. 
 
Figura 5 – Do desenvolvimento na primeira infância ao desenvolvimento humano 
(Fonte: VAN DER GAAG, 2010). 
 
Como promotores do desenvolvimento, devemos apoiar as ações de educação, 
saúde e assistência social, além de direitos humanos, cultura, moradia e outras ações para 
promover o círculo virtuoso do desenvolvimento da primeira infância ao desenvolvimento 
humano como um todo. Isso significa promover também equidade de oportunidades logo 
no início da vida, contribuindo para superação do ciclo da pobreza. A equidade é um 
caminho estratégico para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 
VÍDEO 20 
160 
 
 
 
 
 
 
 
162 
Para concluir essa reflexão, recomendamos assistr ao clipe “Políticas Públicas” do 
documentário “O Começo da Vida”, disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=7M6CoOD9QXU>. 
Em seguida, compartilhe no Fórum de Discussão sua conclusão sobre a importância do 
investimento na primeira infância, considerando o que já foi apresentado até esta aula. 
Para saber mais: 
• Importância do Desenvolvimento Infantil. 
Disponível em: 
http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/dossiers-complets/pt-
pt/importancia-do-desenvolvimento-infantil.pdf 
• Como investir na primeira infância: um guia para discussão de políticas e a 
preparação de projetos de desenvolvimento da primeira infância. 
Disponível em: 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/Como_Investir_na_Primeira_Infancia.pdf 
• Do Desenvolvimento na Primeira Infância ao Desenvolvimento Humano. 
Disponível em: 
https://issuu.com/fmcsv/docs/do_desenvolvimento_da_primeira_inf_ncia_ao_desenv
o 
• Desenvolvimento da Primeira Infância: da Avaliação à Ação. 
Disponível em: https://issuu.com/fmcsv/docs/livro_mary_young2 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
BARROS, R.P.; BIRON, L.; CARVALHO, M.; FANDINHO, M.; FRANCO, S.;MENDONÇA, 
R.;ROSALÉN, A.; SCOFANO, A.; TOMAS, R.. Determinantes do Desenvolvimento na Primeira 
Infância no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), março, 2010. 
Disponível em: 
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=5032 
BARROS, R. P.; COUTINHO, D.; MENDONÇA, R. Monitoramento e Avaliação: Desenhando e 
implementando programas de promoção do desenvolvimento infantil com base em evidências. In: 
Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. Brasília: Cadernos de Trabalhos e Debates do 
Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, 2016. p. 194-201. Disponível 
em: https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-
marco-legal-da-primeira-infancia 
161 
https://www.youtube.com/watch?v=7M6CoOD9QXU
http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/dossiers-complets/pt-pt/importancia-do-desenvolvimento-infantil.pdf
http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/dossiers-complets/pt-pt/importancia-do-desenvolvimento-infantil.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/Como_Investir_na_Primeira_Infancia.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/Como_Investir_na_Primeira_Infancia.pdf
https://issuu.com/fmcsv/docs/do_desenvolvimento_da_primeira_inf_ncia_ao_desenvo
https://issuu.com/fmcsv/docs/do_desenvolvimento_da_primeira_inf_ncia_ao_desenvo
https://issuu.com/fmcsv/docs/livro_mary_young2
 
 
 
 
 
 
 
163 
BARROS, R. P. Ministério da Cidadania. Apresentação realizada na Conferência Internacional "O 
Poder do Investimento na Primeira Infância para o Desenvolvimento com Equidade". Brasília: 
Ministério da Cidadania, 2018. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Síntese de evidências para Políticas de Saúde: Promovendo o 
Desenvolvimento na Primeira Infância. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 
BRASIL. Senado Federal. Siga Brasil Painel Cidadão. Orçamento investido na Assistência Social a 
Crianças e Adolescentes – Programa Criança Feliz 2016-2020. Brasília: Senado Federal, 2020. 
Disponível em: 
http://www9.senado.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=senado%2Fsigabrasilpainelcid
adao.qvw&host=QVS%40www9&anonymous=true&Sheet=shOrcamentoVisaoGeral 
DARMSTADT, G. Aumento de iniciativas e investimentos na Primeira Infância, em nível mundial. 
Em: Lançamento do The Lancet Advancing on Early Childhood Development: From Science to Scale. 
Apresentação na OPAS/Brasília-DF. 9 set. 2016. Disponível em: 
<http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/TheLancet_Avancos_no_Desenvo
lvimento_Infantil.pdf>. Acesso em: 21 set. 2020. 
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Breaking the vicious cycle of poverty and health shocks. Washington: Georgetown University, 2013. 
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HECKMAN, J. Schools, Skills and Synapses. Economic Inquiry, v. 46, n. 3, p. 289-324, 2008. 
HECKMAN, J. Investir no desenvolvimento na primeira infância: Reduzir déficits, fortalecer a 
economia. A Equação Heckman. 2017. Disponível em: 
<https://heckmanequation.org/www/assets/2017/01/D_Heckman_FMCSV_ReduceDeficit_0122
15.pdf>. Acesso em: 21 set. 2020. 
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312, n. 5782, jun. 2006. 
INSTITUTO DARA. Avaliando a Associação Saúde Criança. Sumário. out. 2013. Disponível em: 
<https://www.saudecrianca.org.br/wp-content/uploads/Saude-Crianca-Brief-Portuguese-Final-
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RICHARDSON, L. M. (Org.). Desenvolvimento da Primeira Infância: da Avaliação à Ação. São 
Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), 2000. 
SCHNEIDER, A.; GHESTI, I. Visitas domiciliares para a promoção do desenvolvimento infantil: lições 
do Programa Nurse-Family Partnership. Em: Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. Brasília: 
Cadernos de Trabalhos e Debates do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos 
Deputados, 2016. p. 345-363. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia 
SHONKOFF, J. P.; RICHMOND, J. B. O investimento em desenvolvimento na primeira infância cria 
os alicerces de uma sociedade próspera e sustentável. Em: Enciclopédia sobre o Desenvolvimento 
na Primeira Infância. 2009. Disponível em: <http://www.enciclopedia-crianca.com/importancia-
do-desenvolvimento-infantil/segundo-especialistas/o-investimento-em-desenvolvimento-na>. 
Acesso em: 21 set. 2020. 
SHONKOFF, J. P. Changing the Narrative for Early Childhood Investment. JAMA Pediatrics, v. 168, 
n. 2, fev. 2014. 
162 
https://www.saudecrianca.org.br/wp-content/uploads/scrianca-georgetown-final-report.pdf
https://www.saudecrianca.org.br/wp-content/uploads/scrianca-georgetown-final-report.pdf
https://heckmanequation.org/www/assets/2017/01/D_Heckman_FMCSV_ReduceDeficit_012215.pdf
https://heckmanequation.org/www/assets/2017/01/D_Heckman_FMCSV_ReduceDeficit_012215.pdf
http://www.enciclopedia-crianca.com/importancia-do-desenvolvimento-infantil/segundo-especialistas/o-investimento-em-desenvolvimento-na
http://www.enciclopedia-crianca.com/importancia-do-desenvolvimento-infantil/segundo-especialistas/o-investimento-em-desenvolvimento-na
 
 
 
 
 
 
 
164 
THE LANCET. Advancing on Early Childhood Development: From Science to Scale. Series. 4 out. 
2016. Disponível em: <https://www.thelancet.com/series/ECD2016>. Acesso em: 21 set. 2020. 
VAN DER GAAG, J. Do Desenvolvimento da Criança ao Desenvolvimento Humano. In: YOUNG, M. 
(Org). Do Desenvolvimento da Primeira Infância ao Desenvolvimento Humano. São Paulo: 
Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), 2010. p. 67-86. 
VICTORA, C. Evidências científicas sobre a importância da primeira infância: a Estratégia dos 1.000 
dias. In: Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. Brasília: Cadernos de Trabalhos e Debates 
do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, 2016. p. 103-117. 
YOUNG, M E.. (Org). Do Desenvolvimento da Primeira Infância ao Desenvolvimento Humano. São 
Paulo: FMCSV, 2010. 
YOUNG, M.E. Por que investir na Primeira Infância. Em: Avanços do Marco Legal da Primeira 
Infância. Brasília: Cadernos de Trabalhos e Debates do Centro de Estudos e Debates Estratégicos 
da Câmara dos Deputados, 2016. pp. 21-23. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia 
 
163 
 
 
 
 
 
 
 
165 
Aula 8: Políticas Públicas Nacionais para Primeira 
Infância 
Agora que percorremos a trajetória de conquistas na legislação, os fundamentos e 
teorias que evidenciam a importância do cuidado integral na primeira infância, as áreas 
prioritárias indicadas no Marco Legal da Primeira Infância e o valor do investimento em 
políticas para promoção do desenvolvimento humano nessa fase da vida, vamos conhecer 
mais detalhadamente as principais políticas públicas organizadas pelo Estado Brasileiro, 
que se relacionam à primeira infância. 
 
1.8.1. Políticas Nacionais de Saúde 
 
 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS 
 
 
Em 1988, por ocasião da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil,foi instituído no país o Sistema Único de Saúde (SUS), que passou a oferecer a todo cidadão 
brasileiro acesso integral, universal e gratuito a serviços de saúde. Considerado um dos 
maiores e melhores sistemas de saúde públicos do mundo, o SUS beneficia cerca de 212 
milhões de brasileiros e realiza cerca de 2,8 bilhões de atendimentos ao ano, desde 
procedimentos ambulatoriais simples a atendimentos de alta complexidade, como 
transplantes de órgãos. Os desafios, no entanto, são muitos, cabendo ao Governo e à 
sociedade civil a atenção para estratégias de solução de problemas diversos, identificados, 
por exemplo, na gestão do sistema e também no subfinanciamento da saúde (falta de 
recursos). 
Paralelamente à realização de consultas, exames e internações, o SUS também promove 
campanhas de vacinação e ações de prevenção de vigilância sanitária, como fiscalização de 
alimentos e registro de medicamentos. 
Além da democratização da saúde (antes acessível apenas para alguns grupos da 
sociedade), a implementação do SUS também representou uma mudança do conceito 
sobre o qual a saúde era interpretada no país. Até então, a saúde representava apenas um 
quadro de “não-doença”, fazendo com que os esforços e políticas implementadas se 
reduzissem ao tratamento de ocorrências de enfermidades. Com o SUS, a saúde passou a 
164 
 
 
 
 
 
 
 
166 
ser promovida e a prevenção dos agravos a fazer parte do planejamento das políticas 
públicas. (Fonte: https://pensesus.fiocruz.br/sus) 
O atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) acontece em três níveis de atenção: 
 
Atenção Primária à Saúde 
 
Porta de entrada do SUS. Atua 
na prevenção de doenças e 
promoção da saúde. Realiza 
consultas, exames e 
procedimentos menos 
complexos, como vacinação, 
consultas eletivas, atividades 
coletivas e curativos. Quando 
necessário, encaminha os casos 
mais complexos para os demais 
níveis de cuidado. Organiza 
ações para a promoção da 
saúde em espaços 
comunitários, campanhas de 
vacinação, pré-natal, grupo de 
idosos, hipertensos etc. 
Equipamento: Unidades de 
Saúde da Família (UFS) ou 
Postos de Saúde, CAPS etc. 
 Atenção Especializada à 
Saúde de Média 
Complexidade 
 
Presta atenção especializada 
em áreas como cardiologia, 
oftalmologia e 
endocrinologia. Oferta 
exames mais avançados 
como endoscopias e 
ecocardiogramas. Realiza 
intervenções e tratamentos 
de doenças agudas ou 
crônicas, bem como presta 
atendimentos de 
emergência. 
 
 
 
 
Equipamentos: Clínicas, 
Unidades de Pronto 
Atendimento (UPA), 
ambulatórios e hospitais. 
 Atenção Especializada à Saúde de 
Alta Complexidade 
 
Atende os pacientes com 
enfermidades que apresentam 
riscos contra sua vida. Conta com 
profissionais altamente 
especializados que realizam 
procedimentos mais invasivos e de 
risco à vida. Possuem aparelhos 
para exames complexos, como 
ressonâncias, tomógrafos. 
 
 
 
 
 
 
Equipamentos: Hospitais de 
grande porte, gerais ou 
especializados. 
 
 
Atenção Primária à Saúde – APS 
A atenção primária à saúde ou atenção básica é conhecida como a "porta de entrada" dos 
usuários nos sistemas de saúde. Seu objetivo é orientar sobre a prevenção de doenças, 
solucionar os possíveis casos de agravos e direcionar os mais graves para níveis de 
atendimento superiores em complexidade. A APS é capaz de resolver até 85% das 
demandas de saúde, sem a necessidade de ir a um serviço de emergência ou pronto-
socorro. A atenção primária funciona, portanto, como um filtro capaz de organizar o fluxo 
dos serviços nas redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos. 
No Brasil, há diversos programas governamentais relacionados à atenção primária, sendo 
um deles a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços multidisciplinares às 
165 
 
 
 
 
 
 
 
167 
comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família (USFs). Consultas, exames, 
vacinas, atividades coletivas de promoção da saúde e prevenção de agravos são 
disponibilizados aos usuários nas USFs. 
A atenção primária também envolve outras iniciativas, como: as Equipes de Consultórios 
de Rua, que atendem pessoas em situação de rua; o Programa Melhor em Casa, de 
atendimento domiciliar; o Programa Brasil Sorridente, de saúde bucal; o Programa de 
Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que busca alternativas para melhorar as 
condições de saúde de suas comunidades, o Programa Saúde na Escola, etc. 
Dentre os equipamentos que compõem a APS estão Unidades de Saúde da Família (USF), 
as Unidades de Saúde Fluviais, as Unidades Odontológicas Móveis (UOM), as Academias 
de Saúde e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que auxiliam as pessoas em 
sofrimento mental. 
 
Estratégia de Saúde da Família – ESF 
 
O que é? 
A Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da população 
brasileira e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, como falta de atividade física, 
má alimentação, uso de tabaco, etc. Com atenção integral, equânime e contínua, a ESF se 
fortalece como a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). 
A proximidade da equipe de saúde com o usuário permite que se conheça a pessoa, a 
família, a vizinhança e as condições sociais e ambientais a que estão expostas as famílias de 
um determinado território. Isso garante uma maior adesão do usuário aos tratamentos e 
às intervenções propostas pela equipe de saúde, bem como amplia o olhar da equipe para 
as necessidades da população, reforçando o princípio da integralidade da APS. O resultado 
é mais problemas de saúde resolvidos na Atenção Primária, sem a necessidade de 
intervenção de média e alta complexidade em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA 
24h) ou hospital. 
A Equipe de Saúde da Família está ligada à Unidade de Saúde da Família (USF) local. Esse 
nível de atenção é capaz de resolver até 85% dos problemas de saúde da população. 
Contudo, se a pessoa precisar de um cuidado de maior complexidade, a ESF é responsável 
por realizar este encaminhamento. 
166 
 
 
 
 
 
 
 
168 
A Estratégia Saúde da Família (ESF) é composta por equipe multiprofissional que possui, 
no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e 
comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou 
técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Também há equipe de 
Saúde Bucal, composta por cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da 
família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal. 
O número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, com um 
máximo de 750 pessoas por agente e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família, não 
ultrapassando o limite máximo recomendado de pessoas por equipe. 
Cada equipe de Saúde da Família deve ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas de 
uma determinada área. 
 
Atividades básicas de uma equipe de Saúde da Família 
● Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis e identificar os 
problemas de saúde mais comuns e situações de risco. 
● Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de 
vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida. 
● Garantir a continuidade do tratamento, pela adequada referência do caso. 
● Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à 
demanda, buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando promover a 
saúde por meio da educação sanitária. 
● Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais 
existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas. 
● Discutir, de forma permanente, com a equipe e a comunidade, o conceito de cidadania, 
enfatizando os direitosde saúde e as bases legais que os legitimam. 
● Incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no 
Conselho Municipal de Saúde. 
 
Importância do Agente Comunitário de Saúde (ACS) 
Os ACS têm como principal atribuição realizar atividades de prevenção de doenças e de 
promoção da saúde, a partir dos referenciais da Educação Popular em Saúde, mediante 
ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, desenvolvidas em 
conformidade com as diretrizes do SUS. 
167 
 
 
 
 
 
 
 
169 
Estudos de impacto indicam que a presença dos ACS tem impacto positivo na redução da 
mortalidade infantil e está diretamente relacionada à qualidade do atendimento 
realizado). Além da consulta médica e de enfermagem para redução da mortalidade 
infantil, salienta-se a importância do papel dos ACS no incentivo ao aleitamento materno, 
busca ativa das crianças com esquema vacinal em atraso ou que não foram às consultas de 
puericultura, incremento na adesão ao tratamento com sulfato ferroso, consumo de água 
potável, reforço dos aconselhamentos sobre acidente na infância e principalmente visitas 
domiciliares com ênfase na prevenção de negligências. 
 
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRADA À SAÚDE DA CRIANÇA 
 
 
A PNAISC reúne o conjunto de ações programáticas e 
estratégicas que visam garantir o pleno desenvolvimento da 
criança em todas as etapas do ciclo de vida, considerando as 
diferentes culturas e realidades, com foco na promoção da saúde, 
prevenção de doenças e agravos, assistência e reabilitação à 
saúde, e defesa dos direitos da criança desde a gestação até os 9 
anos de idade 
 
 
O objetivo da PNAISC é promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, 
mediante atenção e cuidados integrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, 
com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, 
visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições 
dignas de existência e pleno desenvolvimento (BRASIL, 2018). 
Referendada nos princípios de garantia do direito à vida e à saúde, no acesso universal de 
todas as crianças à saúde, na equidade, na integralidade do cuidado, na humanização da 
atenção e na gestão participativa, as ações da PNAISC se organizam a partir das Redes de 
Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes temáticas, em especial à Rede de 
Atenção à Saúde Materna e Infantil (BRASIL, 2018). A Atenção Básica coordena as ações 
do cuidado no território. 
VÍDEO 21 
168 
 
 
 
 
 
 
 
170 
Assista o vídeo do Ministério da Saúde sobre a Política Nacional de Atenção Integrada à 
Saúde da Criança, para facilitar a compreensão do que vem a seguir: 
<https://youtu.be/rzide7nnUp0 >. 
 
 
 
Para saber mais: 
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/pnaisc/ 
 
Pré-Natal 
 
Nem toda gestação é inicialmente planejada, embora possa ser desejada. Portanto, o Pré-
Natal deveria ser precedido do Planejamento Reprodutivo, oferecendo dupla proteção 
(prevenção da gravidez e de infecções como HIV, sífilis e outras) e pela Avaliação Pré-
concepcional para o bom desenvolvimento da gestação, minimizando o impacto negativo 
de doenças e fatores de risco dos genitores sobre o desenvolvimento saudável da criança 
na Primeira Infância. 
Toda gestante deve iniciar o pré-natal ainda no primeiro trimestre da gestação (captação 
precoce da gestante) e realizar o mínimo de seis consultas do pré-natal durante a gestação, 
além de participar de grupos educativos e ter acesso à realização de todos os exames e 
vacinas deste período. O pré-natal de baixo risco geralmente é realizado nas unidades 
169 
https://youtu.be/rzide7nnUp0
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/pnaisc/
 
 
 
 
 
 
 
171 
básicas de saúde. Quando há fatores de risco para a saúde do feto e/ou para a gestante 
(doenças sistêmicas e/ou obstétricas, condições sociodemográficas desfavoráveis etc.), o 
pré-natal é considerado de alto risco e a gestante é acompanhada em unidades de saúde 
designadas para este fim. 
A Caderneta da Gestante é outro potente instrumento de promoção do desenvolvimento 
na primeira infância, além de conter importantes registros do Pré-natal que são muito 
utilizados por profissionais das unidades de saúde e das maternidades. 
Os direitos trabalhistas, sociais, de entrega para a adoção, da situação da adolescente 
grávida, a vinculação a uma Maternidade para o parto, ao acompanhante durante o parto, 
prevenção de violência na gravidez são conteúdos deste importante documento, ao lado 
de informações sobre o desenvolvimento fetal, cuidados na gravidez, alimentação 
saudável, exercícios, sono e sexo durante a gestação. 
A evolução da gravidez é avaliada pelo acompanhamento da altura uterina para idade 
gestacional, além dos necessários cuidados como imunizações e realizações de exames 
laboratoriais, incluindo a ultrassonografia. A saúde bucal da gestante e o cuidado no 
puerpério, com incentivo à realização de primeira consulta dentro da primeira semana 
após o parto, também são abordadas. 
 
Caderneta da Gestante 
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/agosto/31/Caderneta-da-
Gestante-2018.pdf 
 
Estratégia Pré-Natal do Parceiro 
O Pré-Natal do Parceiro foi regulamentado pela Portaria nº 1.474, de 8 de setembro de 
2017. Esta ação incentiva a paternidade ativa e consciente, além de se articular com a 
Saúde do Homem por meio da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem 
(PNAISH). Esta é uma ação de grande impacto, pois favorece a vinculação do pai à criança, 
seu apoio à mulher durante a gestação, o parto e pós parto, e o pleno exercício da função 
paterna. 
Contra a cultura dominante de exclusão do pai, o pré-natal do parceiro afirma que o pai ou 
companheiro não é apenas coadjuvante na gestação. Além de poder realizar exames 
laboratoriais e avaliar a saúde, o pai pode clampear o cordão umbilical no momento do 
170 
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/agosto/31/Caderneta-da-Gestante-2018.pdf
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/agosto/31/Caderneta-da-Gestante-2018.pdf
 
 
 
 
 
 
 
172 
parto, levar o recém-nascido ao contato pele a pele, incentivar a amamentação, cuidar da 
criança e, caso a gestação seja de alto risco, com chances do recém-nascido nascer 
prematuro e/ou de baixo peso, ele e a mulher podem conhecer a unidade neonatal da 
maternidade de referência com antecedência. 
 
Para saber mais: 
• Guia do Pré-natal do Parceiro 
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/agosto/11/guia_PreNatal.pdf 
VÍDEO 22 
Vídeo Pré-natal do Parceiro em: 
http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vivamaissus/prenatal_index.html 
 
Política Nacional de Humanização do Parto e do Nascimento (PNHPN) 
A PNHPN foi criada em 2003 e tem como foco a assistência centrada na mulher e na família, 
acesso e acolhimento à família grávida, fortalecimento e participação da mulher na tomada 
de decisões, proteção e promoção da gravidez e parto como processos saudáveis e 
fisiológicos, uso apropriado da tecnologia e práticas baseadas em evidências científicas. 
Com grande repercussão ultimamente, a violência obstétrica vem sendo combatida 
principalmente por estudos baseados em evidência e pela luta das mulheres pelo 
protagonismo durante o parto e ao lado do seu acompanhante, pai ou companheiro(a). 
A gestante tem direito ao acompanhamento pré-natal, à vinculação prévia à maternidade 
na qual será realizado seu parto e à maternidade na qual ela será atendida nos casos de 
intercorrência pré-natal, a atendimento prioritário, a indicar um acompanhante durante 
todo o período de trabalho de parto, parto e pós-partoimediato, a licença maternidade, 
inclusive em casos de adoção e direito a dois intervalos, de meia hora cada, durante a 
jornada de trabalho, especificamente para a amamentação (CNJ, s/d). 
 
O que diz o Marco Legal da Primeira Infância? 
Art. 8º do ECA, alterado pelo art. 18 do Marco Legal da Primeira Infância: 
É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher 
e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à 
gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral 
no âmbito do Sistema Único de Saúde. 
 
171 
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/agosto/11/guia_PreNatal.pdf
http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vivamaissus/prenatal_index.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art8.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art8.
 
 
 
 
 
 
 
173 
Hospital Amigo da Criança – IHAC 
O que é? 
A IHAC é um título de qualidade conferido pelo Ministério da Saúde aos hospitais que 
cumprem os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, instituídos pelo Unicef 
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) 
além de respeitar outros critérios, como o cuidado respeitoso e humanizado à mulher 
durante o pré-parto, parto e o pós-parto, garantir livre acesso à mãe e ao pai (na ausência 
deles o responsável legal), permanência deles junto ao recém-nascido internado, durante 
24 horas, e cumprir a NBCAL – Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para 
Lactentes e Crianças na Primeira Infância. 
Bebês que nascem em Hospital Amigo da Criança têm menos chance de sofrer 
intervenções desnecessárias logo após o parto, como aspiração das vias aéreas, uso de 
oxigênio inalatório e uso de incubadora. O contato pele a pele com a mãe logo após o 
nascimento, a amamentação na primeira hora de vida, ainda na sala de parto e o alojamento 
conjunto também ocorre com mais frequência em Hospitais Amigos da Criança do que em 
maternidades que não têm o título. 
Nascer em Hospital Amigo da Criança também faz diferença nos indicadores de 
aleitamento materno. A duração média do aleitamento materno exclusivo (oferta apenas 
de leite materno para a criança até o 6º mês de vida) em crianças que nasceram nesses 
hospitais foi de 60,2 dias, contra 48,1 dias em crianças que não nasceram em Hospital 
Amigo da Criança. A pesquisa que mostrou esses dados revelou ainda que nascer em 
hospitais com o título aumenta em 9% a chance de o recém-nascido ser amamentado na 
primeira hora de vida. 
Atualmente, um em cada quatro nascimentos no país ocorre em Hospitais Amigos da 
Criança, uma média de 725 mil por ano. 
 
Para saber mais: 
• Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC)portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br › atencao-
mulher› i... 
• Iniciativa Hospital Amigo da Criança: histórico e implementação (2008) 
• Iniciativa Hospital Amigo da Criança: fortalecendo e sustentando a iniciativa hospital 
amigo da criança – um curso para gestores (2009) 
172 
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/iniciativa-hospital-amigo-da-crianca-ihac/
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/iniciativa-hospital-amigo-da-crianca-ihac/
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo1.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo2.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo2.pdf
 
 
 
 
 
 
 
174 
• Iniciativa Hospital Amigo da Criança: autoavaliação e monitoramento do hospital 
(2010) 
 
Política Nacional de Aleitamento Materno 
 
Esta política visa fortalecer as diversas ações de incentivo ao aleitamento materno 
desenvolvidas no País, adotando como estratégia a linha de cuidado; alinhamento aos 
princípios e diretrizes do SUS, no contexto de consolidação das Redes de Atenção à Saúde 
(RAS) e indução de ações intersetoriais, a fim de garantir o direito das crianças, suas mães 
e famílias à amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida e continuado até os 2 
anos de vida ou mais, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde 
(OMS) e Ministério da Saúde (MS). Segue essa orientação de passos para o sucesso do 
aleitamento: 
 
DEZ PASSOS PARA O SUCESSO DO ALEITAMENTO MATERNO: 
Passo 1 – Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente 
transmitida a toda equipe de cuidados de saúde. 
Passo 2 – Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias para 
implementar esta política. 
Passo 3 – Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento 
materno. 
Passo 4 – Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o 
nascimento. conforme nova interpretação: colocar os bebês em contato pele a pele com 
suas mães, imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora e orientar a mãe a 
identificar se o bebê mostra sinais de que está querendo ser amamentado, oferecendo 
ajuda se necessário. 
Passo 5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação mesmo se vierem 
a ser separadas dos filhos. 
Passo 6 – Não oferecer a recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o leite materno, 
a não ser que haja indicação médica e/ou de nutricionista. 
Passo 7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e recém-nascidos 
permaneçam juntos – 24 horas por dia. 
Passo 8 – Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda. 
173 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo4.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo4.pdf
 
 
 
 
 
 
 
175 
Passo 9 – Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a recém-nascidos e lactentes. 
Passo 10 – Promover a formação de grupos de apoio à amamentação e encaminhar as 
mães a esses grupos na alta da maternidade; conforme nova interpretação: encaminhar 
as mães a grupos ou outros serviços de apoio à amamentação, após a alta, e estimular a 
formação e a colaboração com esses grupos ou serviços. 
 
Para saber mais: 
Iniciativa Hospital Amigo da Criança: promovendo e incentivando a amamentação em um 
hospital amigo da Criança – curso de 20 horas para equipes de maternidade (2009) 
Amamentação muito mais do que alimentar a criança (BRASIL, 2010). Disponível em: 
VÍDEO 23 
Iniciativa Hospital Amigo da Criança: https://www.youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE 
 
MÉTODO CANGURU 
O que é? 
Em todo o mundo, nascem anualmente 20 milhões de bebês prematuros e de baixo peso 
(menores de 2,5kg). Destes, um terço morre antes de completar um ano de vida. 
No Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem antes do tempo. O avanço da 
medicina tem possibilitado que a grande maioria consiga se desenvolver e crescer com 
saúde. São considerados prematuros (ou pré-termos), os bebês que vem ao mundo antes 
de completar 37 semanas de gestação. 
O Método Canguru é considerado a forma mais adequada de atenção ao recém-nascido 
(RN) pré-termo ou de baixo peso, especialmente àqueles que necessitaram de internação 
em Unidade Neonatal. A Política de Atenção Humanizada ao Recém-Nascido – Método 
Canguru constrói uma linha de cuidado que tem início na identificação de risco gestacional 
no pré-natal realizado na Atenção Primária. Esse cuidado segue no pré-natal especializado 
e, após o nascimento, acompanha o percurso do bebê no serviço de neonatologia, seja 
Unidade Neonatal ou alojamento conjunto. Segue até o domicílio, quando, então, passa a 
ser acompanhado, se necessário, pelo ambulatório especializado e sempre pela Unidade 
Básica de Saúde. 
174 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo3.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/iniciativa_hospital_amigo_crianca_modulo3.pdfhttps://www.youtube.com/watch?v=d7syGErCbc4
https://www.youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE
 
 
 
 
 
 
 
176 
O Método Canguru é um modelo de assistência que tem início na gravidez de risco e segue 
até o recém-nascido atingir 2.500 g. Dessa forma, abrange pré-natal, internação materna, 
parto e nascimento, internação do recém-nascido e retorno para casa. Envolve cuidado 
humanizado, contato pele a pele entre o recém-nascido e seus pais, controle ambiental, 
redução da dor, cuidado com a família e suporte da equipe de saúde. O contato pele a pele, 
no Método Canguru, começa com o toque dos pais em seus bebês desde os primeiros 
momentos da internação, evoluindo até a posição canguru. 
Pilares do Método Canguru: 
1. Acolhimento ao bebê e à sua família. 
2. Respeito às individualidades do recém-nascido e de seus pais. 
3. Promoção do contato pele a pele precoce. 
4. Envolvimento da mãe e do pai nos cuidados com o bebê. 
Vantagens: 
1. Reduz o tempo de separação entre a criança e sua família. 
2. Favorece o vínculo pai-mãe-bebê-família. 
3. Possibilita maior confiança e competência dos pais. 
4. Proporciona estímulos sensoriais positivos. 
5. Melhora o desenvolvimento do bebê. 
6. Estimula o aleitamento materno. 
7. Favorece controle térmico adequado. 
8. Reduz o risco de infecção hospitalar. 
9. Reduz o estresse e a dor. 
10. Melhora a comunicação da família com a equipe de saúde. 
 
Para saber mais: 
VÍDEO 24 
Método Canguru na Atenção Básica: Cuidado Compartilhado (BRASIL, 2015). 
https://www.youtube.com/watch?v=zed8GTpgtag 
 
 
 
175 
https://www.youtube.com/watch?v=zed8GTpgtag
https://www.youtube.com/watch?v=zed8GTpgtag
 
 
 
 
 
 
 
177 
QualiNEO 
 
O que é? 
Qualificação da Assistência ao Recém-Nascido de Risco 
A promoção de saúde da criança e as estratégias de redução da mortalidade infantil são 
eixos centrais nas políticas de saúde do Brasil nas últimas décadas. No Brasil, nascem por 
ano, aproximadamente 3 milhões de crianças em 4.705 maternidades (públicas e privadas). 
Visando superar o desafio de diminuir a mortalidade neonatal o Ministério da Saúde 
apresenta a “Estratégia QualiNEO (EQN)”, que objetiva ofertar apoio técnico de forma 
sistemática e integrada às maternidades prioritárias para qualificação das práticas de 
gestão e atenção ao recém-nascido a fim de que possam contribuir para a redução da 
mortalidade infantil, em especial em seu componente neonatal. 
Além disto, esta estratégia pretende promover a integração dos programas estratégicos 
do Ministério da Saúde voltados à qualificação da assistência e redução da mortalidade 
neonatal, visto que hoje são ofertados e acompanhados de maneira isolada. 
Nessa direção, busca-se a formação e qualificação do cuidado e da gestão a partir do 
estabelecimento de relações colaborativas nos espaços coletivos de trabalho, 
promovendo interações, trocas de experiências e conhecimento. Incorporando também 
estratégias e instrumentos de pactuação de compromissos e corresponsabilização com as 
práticas sanitárias no campo materno-infantil. No mais, busca ofertar métodos de 
monitoramento cotidiano das práticas de atenção neonatal visando à correção de rumos 
de modo dinâmica e permanente. 
 
 
Para saber mais: 
portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br › qualineo 
 
 
ESTRATÉGIA AMAMENTA E ALIMENTA BRASIL (EAAB) 
 
O que é? 
A "Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação 
Complementar Saudável no SUS – Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB)", 
lançada em 2012, tem como objetivo qualificar o processo de trabalho dos profissionais da 
atenção básica com o intuito de reforçar e incentivar a promoção do aleitamento materno 
176 
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/qualineo/
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/qualineo/
 
 
 
 
 
 
 
178 
e da alimentação saudável para crianças menores de dois anos no âmbito do Sistema Único 
de Saúde (SUS). Essa iniciativa é o resultado da integração de duas ações importantes do 
Ministério da Saúde: a Rede Amamenta Brasil e a Estratégia Nacional para a Alimentação 
Complementar Saudável (ENPACS), que se uniram para formar essa nova estratégia, que 
tem como compromisso a formação de recursos humanos na atenção básica. 
 
Para saber mais: 
• Manual de Implementação da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil – 
EAAB (2015) 
• NOTA TÉCNICA DE CERTIFICAÇÃO EAAB 
• MODELOS DE OFÍCIO DA CERTIFICAÇÃO – EAAB 
 
MULHER TRABALHADORA QUE AMAMENTA (MTA) 
 
O que é? 
A estratégia de Apoio à Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA) consiste em 
incentivar nas empresas públicas e privadas uma cultura de respeito e apoio à 
amamentação como forma de promover a saúde da mulher trabalhadora e de seu bebê, 
trazendo benefícios diretos para a empresa e para o país. 
Desde 2010, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) 
orientam a implementação das salas de apoio à amamentação nas empresas por meio do 
Guia para Implementação de Salas de Apoio à Amamentação para a Mulher Trabalhadora. 
 
Para saber mais: 
• http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_implantacao_salas_apoio_amament
acao.pdf 
• Cartilha Mulher Trabalhadora que Amamenta (2015) 
• Manual de Implementação da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil – EAAB (2015) 
 
ATENÇÃO INTEGRADA ÀS DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA (AIDPI) 
 
O que é? 
177 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_promocao_aleitamento_materno.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_promocao_aleitamento_materno.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/julho/03/Nota-T--cnica-Certifica----o-EAAB-2015.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/julho/03/Modelos-Of--cio-Certifica----o-EAAB-2015.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_implantacao_salas_apoio_amamentacao.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_implantacao_salas_apoio_amamentacao.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_mulher_trabalhadora_amamenta.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_promocao_aleitamento_materno.pdf
 
 
 
 
 
 
 
179 
A estratégia “Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância” (AIDPI) tem por 
objetivo diminuir a morbidade e mortalidade de crianças entre zero a 5 anos de idade, por 
meio da melhoria da qualidade da atenção prestada à criança por profissionais de saúde, 
em especial na Atenção Primária à Saúde, promovendo ações de promoção e prevenção 
em saúde infantil, diminuindo a mortalidade por estas doenças, não apenas investindo na 
sobrevivência das crianças, mas também no seu pleno desenvolvimento infantil (OPAS, 
2005). 
 A estratégia da AIDPI inclui intervenções curativas e preventivas destinadas a melhorar 
as práticas de saúde em unidades de saúde, em casa e na comunidade. Essa estratégia inclui 
três componentes principais: 
(1) melhoria nas habilidades de gerenciamento de casos da equipe de saúde através do 
fornecimento de diretrizes localmente adaptadas sobre AIDPI e atividades para promover 
seu uso; 
(2) melhoria no sistema geral de saúde necessário para o gerenciamento eficaz de doenças 
da infância; e 
 (3) melhoria nas práticas de saúde da família e da comunidade. 
Caracteriza-se pela consideração simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior 
prevalência na infância, em vez do enfoque tradicional que busca abordar cada doença 
isoladamente, como se ela fosse independente das demais doenças que atingem a criança 
e do contexto em que ela está inserida. 
A Estratégia AIDPI, além de propor melhor organização dos serviços de saúde, ações de 
prevenção de agravos e promoção da saúde, há um melhor acompanhamento do 
crescimento e do desenvolvimentonos primeiros anos de vida. Estes são primordiais para 
criarmos condições que visam garantir futuras gerações de adultos e idosos mais 
saudáveis. 
 
Para saber mais: 
• http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/julho/12/17-0056-Online.pdf 
• http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/julho/12/17-0095-Online.pdf 
• caderno do participante aidpi neonatal (2014) 
• quadros de procedimentos aidpi neonatal (2014) 
• manual do aidpi neonatal (2014) 
178 
http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/julho/12/17-0056-Online.pdf
http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/julho/12/17-0095-Online.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/janeiro/21/CAD.%20DO%20PARTICIPANTE%20.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/janeiro/21/Manual-de-Quadros-.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/03/Manual-Aidpi-corrigido-.pdf
 
 
 
 
 
 
 
180 
 
 
NUTRISUS – Fortificação da Alimentação Infantil com Micronutrientes em pó 
 
O que é? 
Lançada oficialmente em março de 2015, a Estratégia de Fortificação da Alimentação 
Infantil com Micronutrientes (vitaminas e minerais) em Pó – NutriSUS consiste na adição 
de uma mistura de vitaminas e minerais em pó em uma das refeições diárias oferecidas às 
crianças de 06-48 meses de idade. Os micronutrientes em pó são embalados 
individualmente na forma de sachês (1g). 
Implantada inicialmente nas creches participantes do Programa Saúde na Escola, a 
iniciativa tem o objetivo de potencializar o pleno desenvolvimento infantil, a prevenção e 
o controle da anemia e outras carências nutricionais específicas na infância. 
Para saber mais: 
• https://aps.saude.gov.br/ape/pcan/nutrisus 
• Prevenção e Controle de Agravos Nutricionais 
 
EXAMES DE TRIAGEM NEONATAL 
 
O que são? 
Todo bebê que nasce no Brasil tem direito a realizar gratuitamente quatro exames muito 
importantes para a sua saúde. São os chamados exames da triagem neonatal: 
● Teste do Pezinho: é uma das principais formas de diagnosticar seis doenças que, quanto 
mais cedo forem identificadas, melhores são as chances de tratamento. São elas 
fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, 
fibrose cística, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita. O teste do 
pezinho é feito gratuitamente na maternidade ou na Unidade de Saúde, entre o 3° e o 5° 
dia de vida do bebê. É fundamental ter atenção a esse prazo. 
● Teste do Olhinho: É um exame simples, rápido e indolor, que consiste na identificação de 
um reflexo vermelho, que aparece quando um feixe de luz ilumina o olho do bebê. O 
fenômeno é semelhante ao observado nas fotografias. O “Teste do Olhinho” pode detectar 
qualquer alteração que cause obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congênito 
e outros problemas – cuja identificação precoce pode possibilitar o tratamento no tempo 
179 
https://aps.saude.gov.br/ape/pcan/nutrisus
https://aps.saude.gov.br/ape/pcan
 
 
 
 
 
 
 
181 
certo e o desenvolvimento normal da visão. O exame constitui uma das etapas do exame 
físico do recém-nascido realizado pelo profissional de saúde nas maternidades até a alta 
do recém-nascido. Se isto não ocorrer, o exame deve ser feito logo na primeira consulta de 
acompanhamento 
● Teste da Orelhinha: Entre os procedimentos realizados ainda na maternidade, logo após 
o nascimento do bebê, está a triagem neonatal auditiva ou o teste da orelhinha. Toda 
criança deverá ser submetida ao teste da orelhinha preferencialmente nos primeiros dias 
de vida (24 a 48h) ainda na maternidade, e, no máximo, durante o primeiro mês de vida, 
exceto em casos quando a saúde da criança não permita a realização dos exames. As 
crianças que apresentaram alterações nos testes deverão ser submetidas ao reteste em 
até 30 dias. 
● Teste do Coraçãozinho: Todo bebê tem direito de realizar o teste de coraçãozinho ainda 
na maternidade, entre 24h a 48h após o nascimento. O teste é simples, gratuito, indolor e 
é feito para identificar cardiopatias congênitas críticas na criança. Consiste em medir a 
oxigenação do sangue e os batimentos cardíacos do recém-nascido com o auxílio de um 
oxímetro – espécie de pulseirinha – no pulso e no pé do bebê. Caso algum problema seja 
detectado, o bebê é encaminhado para fazer um ecocardiograma. Se alterado, é 
encaminhado para um centro de referência em cardiopatia para tratamento. Problemas no 
coração são a terceira maior causa de morte em recém-nascidos. Por isso, quanto mais 
cedo for diagnosticado, melhores são as chances do tratamento. 
● Avaliação do frênulo lingual: Sugere-se que a avaliação do frênulo lingual seja realizada 
durante o exame físico do recém-nascido, antes da alta hospitalar (entre 24h-48h de vida 
do recém-nascido) por profissional de saúde capacitado que realiza assistência ao binômio 
mãe e bebê. Sugere-se também que o diagnóstico da anquiloglossia (língua presa) na alta 
hospitalar seja realizado por profissional habilitado para tal e amparado segundo o 
exercício legal de sua profissão. Nos casos duvidosos, preconiza-se que seja realizada, na 
consulta da primeira semana de vida do RN na Atenção Básica, uma avaliação minuciosa 
da dinâmica da amamentação. 
 
Para saber mais: 
Exames da Triagem Neonatal – Ministério da Saúdewww.saude.gov.br › ... › Assuntos › 
Saúde para Você 
 
180 
 
 
 
 
 
 
 
182 
REDE CEGONHA 
 
O que é? 
Conforme estabelecido na Consolidação n° 03/GM/MS, de 28/09/2017; Anexo II – Rede 
Cegonha, Art. 4°: A Rede Cegonha deve ser organizada de maneira a possibilitar o 
provimento contínuo de ações de atenção à saúde materna e infantil para a população de 
determinado território (região de saúde), mediante a articulação dos distintos pontos de 
atenção à saúde, do sistema de apoio, do sistema logístico e da governança da rede de 
atenção à saúde a partir das seguintes diretrizes: 
 
I – garantia do acolhimento com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, 
ampliação do acesso e melhoria da qualidade do pré-natal; 
II – garantia de vinculação da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro; 
III – garantia das boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento; 
IV – garantia da atenção à saúde das crianças de zero a vinte e quatro meses com 
V – garantia de acesso às ações do planejamento reprodutivo. 
Para tanto, a Rede Cegonha se divide em 04 componentes com ações definidas para 
garantia do acesso e cuidado no período perinatal. São eles: Componente pré-natal; 
Componente parto e nascimento; Componente puerpério e saúde da criança e 
Componente transporte sanitário e regulação. As ações propostas para o trabalho em rede 
em cada componente estão descritas na referida portaria. 
 
Princípios da Rede Cegonha: 
I – o respeito, a proteção e a realização dos direitos humanos; 
II – o respeito à diversidade cultural, étnica e racial; 
III – a promoção da equidade; 
IV – o enfoque de gênero; 
V – a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres, homens, jovens 
e adolescentes; 
VI – a participação e a mobilização social; 
VII – a compatibilização com as atividades das redes de atenção à saúde materna e infantil 
em desenvolvimento no Estado. 
 
Objetivos da Rede Cegonha: 
181 
 
 
 
 
 
 
 
183 
I – Fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da 
criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao 
desenvolvimento da criança de zero aos vinte e quatro meses. 
II – Organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil para que esta garanta acesso, 
acolhimento e resolutividade. 
III – Reduzir a mortalidade materna e infantil, com ênfase no componente neonatal.

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