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GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL G eografia Política, Econôm ica e Industrial Jaime Sergio Frajuca Lopes Jaime Sergio Frajuca Lopes GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Capa para impressão 1,3Capa para impressão 1,3 21/02/2022 03:49:2421/02/2022 03:49:24 GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Jaime Sergio Frajuca Lopes E d u ca çã o G E O G R A F IA P O L ÍT IC A , E C O N Ô M IC A E I N D U S T R IA L Ja im e S er g io F ra ju ca L op es Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba- seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 Unidade 1 Jaime Sergio Frajuca Lopes IESDE BRASIL S/A Curitiba 2017 Geografia política, econ mica e industrial CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ L853g Lopes, Jaime Sergio Frajuca Geografia política, econômica e industrial / Jaime Sergio Frajuca Lopes. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 184 p. : il. ; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6359-8 1. Geografia. I. Título. 17-45466 CDD: 910 CDU: 910 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa SukanPhoto/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Carta ao aluno O livro GeoGrafia Política, Econômica e Industrial norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, baseado prin- cipalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobre- tudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Iniciando o livro, o capítulo 1 aborda conceitos inerentes à organização do território, tanto político quanto administrativo, distinguindo estudos da geografia política e da geopolítica. No capí- tulo 2, é discutido o conceito e a organização do Estado, bem como as práticas e os fenômenos sociais e materiais humanos. – 6 – Geografia política econômica e industrial O capítulo 3 compreende a importância do conjunto de leis que per- meiam as formas de organização das nações e que podem evitar conflitos, enquanto o capítulo 4 apresenta o papel do capitalismo mundial e sua evolu- ção, que justifica o comércio internacional produtivo e especulativo. No capítulo 5, a democracia liberal é tratada sob o viés das concepções geoeconômicas que explicam a economia global, incluindo a atuação dos povos no estabelecimento da organização dos Estados como força representa- tiva, no que tange aos modelos produtivos das nações. Já o capítulo 6 identi- fica as formas de produção e o setor industrial, os mercados consumidores e as necessidades e aspectos inerentes ao consumo. O capítulo 7 discute os sistemas econômicos – capitalismo, socialismo e economia mistas – como formas de transformação, estruturação e construção do espaço geográfico, bem como apresenta a evolução do capitalismo nas sociedades. Por sua vez, o capítulo 8 compreende as necessidades industriais e a forma de alocação das indústrias no espaço geográfico, demonstrando sua influência socioeconômica na atualidade. O capítulo 9 demonstra como a produção industrial se consolidou no mundo, identificando fatores históricos dessa evolução e a transformação do espaço geográfico, além da associação entre a indústria e a demanda ambien- tal e de matérias-primas. Finalizando a obra, no capítulo 10 são identificadas as formas de consolidação da indústria no Brasil, bem como a relação entre a economia e a geração de riquezas no mercado mundial. Boa leitura! Geografia política x geopolítica Introdução Desde o período colonial, as divergências entre as nações fizeram aparecer conflitos territoriais e econômicos, transfor- mando as relações entres os povos, o desenvolvimento social e o processo evolutivo. No século XV, com advento das grandes navegações, Portugal e Espanha travaram uma disputa pelas novas descobertas no Mundo Novo, em um primeiro momento, por terras das quais na época não se sabia a dimensão. Na sequência, a luta foi pelas riquezas dos ter- ritórios, o que perdurou por três séculos, ou, dependendo da óptica, permanece até os dias atuais. O caminho das Índias deixou de ser objeto de desejo e os conflitos geopolíticos começaram, transformando então o processo de leitura e registro do mundo conhecido na época. Os primeiros 1 Geografia Política, Econômica e Industrial – 8 – escribas, na sua maioria ligados à Igreja Católica, tiveram de rever seus con- ceitos e redesenhar a Terra, suas formas e os novos territórios. Neste capítulo, desvendaremos esse universo conceitual, apresentando os elementos epistemológicos presentes nas rupturas entre a geografia, a geo- política e a geografia política. Devemos entender que alguns autores as tratam como homônimas, no entanto, diferenças básicas dão cabo da confusão conceitual, necessária à ciência geográfica. Cabe aqui desmembrarmos os elementos conceituais, próprios do processo de ensino e aprendizagem da área. Outrossim, a geografia tem suas bases físicas consolidadas, mas a geo- grafia política e das nações está em constante evolução, dadas as complexas relações do comércio internacional, os conflitos religiosos, territoriais e arma- dos. Cabe ressaltar que essas relações são e sempre foram influenciadas pelas potências imperialistas. 1.1 Conceituando a geografia política Desde que a humanidade se sedentarizou, passando a ocupar espaços e transformar a paisagem, logo surgiram conflitos por territórios de caça e áreas de plantio, estabelecendo os primeiros dissabores entre os indivíduos socializados. No mundo moderno, houve, principalmente na França, a dicotomia entre geografia política e geopolítica. A primeira estava cerceada pelo ensino acadêmico, sendo que “as concepções da geograficidade1 se ampliaram, e os geógrafos universitários levam em consideração problemas urbanos, e industriais, evocando as estruturas econômicas e sociais” (LACOSTE, 2005, p. 131). O que se pode notar nesse contexto é que os geógrafos queriam se afastar dos campos conflitantes e não tomar partido nas questões de Estado e terri- tórios de guerra, assim focados em assuntos de desenvolvimento econômico e questões sociais, que lhes pareciam prioridade, em detrimento das geopolíti- cas, que seriam problema do Estado. 1 Geograficidade: estudos próprios da geografia ou conceitos formulados na epistemologia da ciência geográfica. – 9 – Geografia política x geopolítica A dinâmica dos espaços econômicos nas regiões em processo de indus- trialização e o crescimento das cidades tomaram mais tempo de estudo do que os princípios da “geopolítica”. Entretanto, “o repúdio político provocou uma considerável redução do campo da geograficidade, uma vez que o econô- mico e o social foram esquecidos” (LACOSTE, 2005, p. 132). Assim, os elementos norteadores da “mesma ciência”, em um primeiromomento, tiveram caráter de interesse pessoal dos profissionais do ensino uni- versitário, já que priorizavam temas que lhes pareciam corretos para a época. Como elemento conceitual, a geografia foi e continuará tendo o papel de compreender as inter-relações do ser humano com o meio ambiente; entretanto, todo desenvolvimento econômico atual tem sido garantido com uso intensivo dos recursos naturais. Porém, como formação de conceito, a geografia política, de cunho epistemológico, teve como base de suas primeiras divergências a “grande preocupação com a desigual distribuição da população sobre a superfície da terra. Preocupou-se então com o estudo das relações entre homem e meio” (SANTOS; BOVO, 2011, p. 5). Nessa proposição, os estudiosos tinham em mente que as guerras e/ou os acordos entre governos não mereciam destaque, haja vista a demanda concei- tual que lhes parecia lógica e com mais mérito. Nesse sentido, a geografia política deve encontrar o seu lugar entre as ciências geo- gráficas, atentando para o fato de que os fenômenos de que trata estão sujeitos às influências do meio físico e das formas de vida, aos homens cabem as escolhas diante do que o meio lhe oferece, cabe as observa- ções que a própria natureza nos apresentam como fatos que estão em constante movimento. (SANTOS; BOVO, 2011, p. 6) Nesse contexto, houve a instrumentalização da ciência para ser estática na avaliação dos elementos. Desde o princípio, foi complicado verificar as diferenças entre os dois conceitos, sobretudo quando um deles trata de questões próprias da ciência em uma época na qual os cientistas tinham uma visão, em termos de pes- quisa, muito mais restrita que a atual e com outros interesses políticos. Geografia Política, Econômica e Industrial – 10 – Então, para fins conceituais, e no arcabouço dos elementos históricos, a geografia política é uma raiz da geografia, enquanto a geopolítica é nor- teada pela política e pelos interesses geoeconômicos. Na prática, os fundamentos físicos, tais como linhas de relevo, funda- mentais para os estudos que nortearam a construção dos saberes geográficos, ou tudo aquilo que poderia ser cartografado, como espacialização territorial nas fronteiras, seriam diretamente ligados à geografia política. Porém, as demandas estratégicas de território, como áreas de interes- ses comuns, energias, água e/ou reservas minerais com potencial econômicos estariam dentro da geopolítica. Ou seja, a geografia política, ligada aos elementos estáticos estudados no início do século XIX, condicionou os governantes a refletir e traçar estratégias de uso e exploração dos recursos naturais, demanda criada pela geografia que dá ênfase aos interesses geopolíticos. Surgem então, intuitiva e conceitualmente, demandas de interesses políti- cos, já que, agora com o conhecimento dos elementos estratégicos de território (clima, relevo e vegetação), os estudos que norteavam os interesses estatutários – ou seja, leis ou o conjunto de normas a serem seguidas – foram “condicionantes/ condicionadas de práticas reguladas e estimuladas pela conjuntura e a disputa pela autoridade e legitimidade configura[ram] um jogo e luta concorrencial pelo monopólio, tanto interna como externamente” (KAROL, 2013, p. 47). Os interesses são diversos, tanto para a epistemologia da ciência geográfica – pois todas as práxis são norteadas por um contexto histórico – quanto para autores que discutem o tema e também na concepção da política como interesse dos mandatários. Se um governante tem interesse em uma área em específico, busca demandas legais para ter acesso a um bem, às vezes como subterfúgio por ser essencial ao desenvolvimento social. Então, o investigador (cientista) tenta explicar as necessidades de aquele bem ser essencial para a sociedade, dada sua importância econômica à população. Surge então um panorama no qual as políticas estatais transformam a geo- grafia em geopolítica, que passa a ser vislumbrada na ciência geográfica, pois, ao – 11 – Geografia política x geopolítica aceitarmos tal conceito, o Estado passa a ser o feitor das formas organizacionais no cotidiano dos indivíduos e da organização da sociedade (KAROL, 2013). Na Alemanha do século XIX, os interesses geopolíticos eram intensos, como retrato da intervenção do Estado nas políticas públicas e econômicas. Cabe ressaltar que, após o fim da Primeira Guerra Mundial, alguns líderes como Adolf Hitler buscaram subterfúgio no armistício promovido pela Inglaterra. Essa liderança política consolidada como hegemonia local trouxe à tona ques- tões geopolíticas que se sobrepuseram aos interesses naturais e humanos. Revigorado como líder, Hitler trouxe uma profunda transformação geopolítica com a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, esse redesenho da Europa ocidental com a derrota para os aliados trouxe uma nova configuração geopolítica, com supremacia das potências imperialistas no lado ocidental, que se impuseram econômica e militarmente, baseadas no modo capitalista, com forte influência da sociedade de consumo. Do outro lado, estava a União Soviética (URSS), baseada em uma economia planificada com forte interven- ção do Estado, em um modelo econômico estatal que durou até 1989. Figura 1 – Bunker alemão da Segunda Guerra Mundial, na Normandia (França). Fonte: okfoto/iStockphoto Geografia Política, Econômica e Industrial – 12 – Assim, podemos observar a geopolítica em ação, sem atenuação do con- ceito, pois a Guerra marcou profundamente a Europa e o mundo, transfor- mando territórios e os modelos sociais que existiam há séculos nessas regiões. A influência americana, com o fortalecimento das economias capi- talistas, pautadas no modelo industrial, ganha vulto em todo o mundo. Principalmente na reconstrução do Japão e em alguns países da Europa, renasce uma nova ordem mundial baseada na produção industrial, com acesso a novos tipos de produtos e mercadorias, que circulavam de um ponto a outro do globo com mais velocidade, como podemos observar: O desenvolvimento industrial criou novos meios de transporte e de circulação, que substituem relações aleatórias por meios de comuni- cação cada vez mais regulares e mais numerosos. Não se trata mais de jogar com dificuldade, mas de explorar a facilidade de transporte entre os continentes. (GEORGE, 1976, p. 52) Atualmente, dispomos de tecnologia e agilidade para, por exemplo, comprar em sites especializados da internet. No século XIX, porém, nem todos tinham acesso às tecnologias da época, por isso, países inteiros ficavam isolados por conta dessas restrições. Com isso, podemos mostrar a sutil dife- rença da ciência que tem o papel de demostrar essa fluidez entre o processo de desenvolvimento dos produtos, com sua fabricação, transporte e variação de preço: a geografia política. Ao optarmos por uma configuração espacial dos elementos da interação da sociedade com a natureza, que é objeto de estudo da geografia, e a trans- formação do espaço geográfico, cabe aqui uma definição: A Geografia estuda os lugares, não os homens. O estudo das paisa- gens (que formam uma região) é feito pelo método descritivo, em que se define, se classifica e se deduz. Falar em homem significa falar em população em movimento (já que o homem não age sozinho no meio), indicando uma divisão do trabalho. O homem transforma o meio através da técnica que tende a fixá-lo ou enraizá-lo no ambiente. A cultura (modo de vida) é vista como enraizamento ambiental que forma um território. (BRAGA, 2007, p. 66) Nesse sentido, nossa reflexão se dá na forma de pensamento sobre o “espaço”, já que a sociedade e a natureza coexistem retratando um momento histórico, e esse seria o espaço geográfico da geografia política. – 13 – Geografia política x geopolítica Outrossim, vislumbramos compreender essa inter-relação e suas nuances, já que elas evoluem em função do modelo de desenvolvimento econômico, da exploração dos recursos naturais, associados aos interesses dedesenvolvimento, ou ainda de equilíbrio entre as forças atuantes, fornecendo mais subsídios con- ceituais à geografia política. Com essa reflexão, podemos perceber a “geografia política que considera a organização dos estados como imutáveis, e/ou estáticas, fundamentadas sobre alicerces mais ou menos fixos, por estarem com bases físicas consolida- das” (KAROL, 2013, p. 50). Esses elementos físicos, que dão parâmetros de estudo à ciência geográ- fica, não podem ser confundidos com a “geografia física”, que estuda outras dimensões do espaço geográfico, como solos, relevo, vegetação e clima. Um escorregamento de uma encosta, uma enchente repentina ou ainda uma forma de exploração florestal são próprios da compreensão da geografia física, que pode dar sustentação às políticas públicas, que é objeto da geografia política. Assim, a geografia política está relacionada às questões de ordem do estudo em si, como forma de epistemologia da ciência geográfica. “Paradoxalmente é fre- quente que a geografia, a mais “tradicional” que se concilia entre muitas ciências, juntando e elaborando conceitos próprios e associando economistas, ecologistas e fazem a propósito de espaço e sempre insinuando a forma de descrever e ver as questões mundiais” (LACOSTE, 2005, p. 186). Podemos perceber que os pontos estratégicos de uma configuração geo- gráfica são consolidados pela geopolítica, que reverencia acordos entre as nações, dilemas ou crises sociais, econômicas e energéticas, que na maioria das vezes resultam em emprego de forças ou restrições econômicas – especifi- camente por parte das economias imperialistas. Vejamos essa proposição de Lacoste (2005): [...] descobre-se agora é o confronto dos “blocos” econômico-ideo- lógicos de envergadura planetária não explicam tudo, que povos oprimidos se batem com ferocidade uns contra os outros, nos dife- rentes “pontos quentes”2, que se podem recensear a superfície do globo, a situação é muito complicada por causa da confusão de velhos 2 Áreas de conflitos entre nações, por interesses territoriais, étnicos, religiosos e econômicos. Geografia Política, Econômica e Industrial – 14 – antagonismos locais , rivalidades “regionais” e do papel mais ou menos contraditório das grandes potências. (LACOSTE, 2005, p. 258) O autor salienta ainda que “as reflexões geopolíticas não se situam somente em nível planetário ou em função de vastíssimos conjuntos terri- toriais ou oceânicos, mas também no quadro de cada Estado” (LACOSTE, 2005, p. 258). Os problemas dos conceitos, tanto da geopolítica quanto da geografia política, é que eles são empregados dentro de um tempo histórico, tendo sido aprimorados de acordo com os estudiosos e em uma evolução conceitual. Um termo era empregado para descrever situações regionais de identificação ou configuração, e outro, para conceituar as necessidades das demandas políticas. 1.2 Desmitificando a geopolítica A geopolítica é aplicada, na maioria das vezes, de modo geral para expli- car elementos políticos, acordos e interferências regionais das potências impe- rialistas. “Apoiando-se na geopolítica, muitos Estados buscavam definir sua estruturação nacional, quais [eram] seus objetivos centrais e onde se localizam no ‘concerto das nações’” (CARMONA, 2012, p. 7). Nesse sentido, a geopolítica é resultado de fatos e acontecimentos políti- cos, como questões de ordem econômica, conflitos de comércio entre nações, ou mesmo religiosos, e os descreve, mas também busca fornecer e fomentar o debate a respeito dos elementos políticos, sobretudo a ciência da geografia do Estado. A geopolítica considera que o estado supera as condições e leis do espaço e faz com que essa sirva a seu propósito, a geografia política encara o estado do ponto de vista do espaço, a geopolítica encara do ponto de vista do Estado, esta deseja fornecer elementos à ação polí- tica e quer ser um guia pra a vida prática, fornecendo saber ao poder, é o planejamento da política. (VESENTINI, 1986, p. 77) A geopolítica está a serviço do Estado, na configuração de elementos que os geógrafos dominam, sejam de origem conceitual, sejam aqueles que dão suporte aos elementos de interesse do Estado, como políticas públicas, e de interesse comerciais, energéticos ou fronteiriços. – 15 – Geografia política x geopolítica Essas são variantes necessárias aos modelos de apresentação conceitual para a compreensão dos elementos geográficos que são objeto de estudo da geografia, mas também são motivos de dicotomia conceitual por parte da literatura. A geopolítica é base para a tomada de decisões políticas; já serviu para a guerra, mas substancialmente para a paz. Ela é motivo de compreensão dos países em conflitos e nações com grandes reservas estratégicas de recursos naturais, ou de grande quantidade de petróleo. No âmago das discussões, o geógrafo está dos dois lados, descrevendo e informando aqueles que estiverem dispostos a compreender e/ou usar os conhecimentos geográficos. Esse assunto não se esgota simplesmente, pois acordos, leis e manifesta- ções comerciais estão em constante evolução. Consideremos, por exemplo, o caso da China, uma das potências mun- diais que mais tem influenciado a economia global, a qual se inseriu no cenário internacional com todas as “garras” que lhe concederam, desde que abriu sua economia aos investimentos externos diretos, expandindo fronteiras comerciais por todo o mundo. Sobre a influência das economias em ascensão, vejamos: Reconhecer o caráter de vanguarda ou de progresso de uma dada civi- lização não é o mesmo que falar em ascensão de um Estado como “potência” ou como “grande potência”. Tais conceitos parecem mais comodamente aplicáveis às relações internacionais pós-Westphalia3, com a consolidação dos estados-nacionais modernos, mas há evidentes paralelos entre o grau de desenvolvimento de uma nação e a sua capa- cidade de exercer poder com relação às demais. (LYRIO, 2010, p. 15) Nesse sentido, podemos observar que, na geopolítica, do ponto de vista mundial, é notório que nos últimos três milênios a China esteve na liderança das grandes economias. Podemos reconhecer o vanguardismo dessa civiliza- ção como “potência ou demonstração de poder econômico, sua história e o pensamento oriental resguarda esse caráter empreendedor, próprios dessa região” (LYRIO, 2010, p. 15). 3 “Os princípios de Westfália – não intervenção e soberania – forneceram a base da ordem internacional dos últimos séculos, prevalecendo em todo o direito internacional e nos docu- mentos das Nações Unidas” (MELLO, 1999). Geografia Política, Econômica e Industrial – 16 – Figura 2 – Navios de carga no Porto de Hong Kong (China). Fonte: Only5/iStockphoto Nas políticas mundiais de expansão comercial, sempre estiveram envoltas as economias desenvolvidas. Eis que surgem, nesse entrevero, paí- ses emergentes, como a China. Entretanto, as economias de cunho capi- talista e desenvolvidas continuam em expansão, mas não encontram um rumo. Vejamos o que diz o relatório da UNCTAD (2013): A economia mundial ainda não pôde encontrar o seu caminho, polí- ticas monetárias expansionistas agressivas que levaram a cabo gran- des economias desenvolvidas não conseguiram promover a geração de crédito ou fortalecer a demanda agregada. A austeridade fiscal e a compressão (compactando, diminuindo) salarial de muitos países desenvolvidos, perspectivas ainda mais obscuras, não só a curto mas também a médio prazo. A carga do ajustamento dos desequilíbrios mundiais que contribuíram para eclosão da crise financeira perma- nece com os países deficitários, alimentando assim forças deflacioná- rias na economia mundial. (p. 1) Nesse gargalo das economias desenvolvidas, a China aparece na con- tramão, agressiva em comércio internacional. Esse país apresenta um gran- dioso patrimônio como recursos territoriais – sua vastidão garante o 3° maior – 17 – Geografia política x geopolítica território do globo –, o maior contingente populacional,uma acelerada difu- são do sistema produtivo, principalmente na área industrial, que lhe garante o notório reconhecimento de potência mundial na atualidade. Em 2010, a China se tornou a segunda potência econômica mun- dial, deslocando o Japão do lugar que ocupava havia 45 anos. No ritmo de crescimento atual, superará a primeira colocação dos Estados Unidos por volta de 2020. A ofensiva é primordialmente comercial. O crescimento do poderio chinês no comércio mundial é notável. (BENACHENHOU, 2013, p. 18) Nesse sentido, a geopolítica têm um caráter desmitificador e esclarecedor de modelos econômicos, supremacia bélica das nações, estudos populacionais que influenciam demandas de mão de obra e uso do solo. Esse ramo da geografia, além de buscar a compreensão dos fenômenos políticos mundiais, garante uma literatura vasta de elementos de construção do espaço geográfico, que está em constante evolução. Nas últimas décadas, o modelo econômico, as demandas por uso de energias, os conflitos étnicos e religiosos vêm trazendo uma nova configuração geoespacial na Europa e na África, mas a China continua tendo recordes de crescimento na economia. 1.3 As inter-relações entre economia e geopolítica As transformações recentes no mundo e o domínio do capitalismo têm influenciado a economia global. Isso é verificado, sobretudo, em mudanças cambiais, juros de dívidas públicas e ajustes na economia de mercado, crises sucessivas em que países com histórico de produção industrial e com moeda forte sofrem para se reerguer, às vezes a custo de retirada de direitos sociais, a fim de se garantir o fortalecimento econômico. É o caso, por exemplo, da Argentina nas últimas décadas – após a dolarização da economia – e do Brasil, a partir de 2017, com o governo de Michel Temer. A predominância de finanças sobre as atividades da economia real persiste e pode ter aumentado. No entanto, as reformas financeiras nacionais têm sido tímidas na melhor das hipóteses e mal avançaram. Em 2008 e 2009, as autoridades de vários países com poder econômico pediram reformas urgentes do sistema monetário e financeiro inter- nacional, mas desde então, o impulso reformista quase desapareceu Geografia Política, Econômica e Industrial – 18 – da agenda internacional. Consequentemente, as perspectivas para a economia global e o meio ambiente global para o desenvolvimento permanecem muito incertas. (UNCTAD, 2013, p. 1) Esses fatores transformam o cenário econômico, já que países em pro- cesso de expansão imperialista dependentes ainda das grandes economias para se estabelecer, exportar e importar sofrem diretamente os efeitos de crises econômicas globais. Assim, as grandes economias de cunho capitalista baseadas na sociedade de consumo, influenciam tanto países desenvolvidos quanto emergentes, mas cabe aqui apresentar alguns elementos que conceituam e diferenciam esses países. Os países desenvolvidos tiveram seu processo de industrialização muito antes que os emergentes. Os EUA, por exemplo, considerada a maior eco- nomia global, já possuíam refinarias e siderúrgicas no fim do século XVIII, e suas minas de carvão deram suporte ao modelo industrial e de crescimento das cidades com base no aço, no século XIX. Atualmente, os países desenvolvidos têm alto padrão de industriali- zação de atuação variada, com siderúrgicas, petroquímicas, indústrias de metalmecânica, eletrônica, microeletrônica e têxtil, além de diversificado parque automobilístico, o que lhes garante uma economia pujante. Cabe aqui lembrar do constante desenvolvimento do Vale do Silício, nos EUA, que tem contribuído no processo de transformação das tecnologias de informação e comunicação. Desse modo, os emergentes sofrem para poder se estabelecer no comér- cio mundial ou não conseguem novos mercados, haja vista a superioridade das potências imperialistas. Como afirma Benachenhou (2013), O atual momento de crise econômica na comunidade europeia e nos Estados Unidos levanta novos questionamentos quanto à atua- ção concertada dos países emergentes e sua capacidade de assumir um papel de destaque na conformação de uma nova ordem mun- dial. Os desafios que se apresentam põem à prova a solidariedade econômica e financeira, intensificando a instabilidade interna e por vezes estimulando atritos entre eles. Mas abrem também oportuni- dades consideráveis, desde que as estratégias corretas sejam escolhi- das e os benefícios da ação solidária triunfem. A cooperação entre os países emergentes é, sem dúvida, um caminho necessário para – 19 – Geografia política x geopolítica navegar os [sic] tempos de transição e incerteza e atingir o porto seguro do desenvolvimento sustentável. (p. 8) Os países emergentes têm economias baseadas, na maioria dos casos, na agricultura ou na exploração mineral, o que lhes assegura seu local na divisão internacional do trabalho como fornecedores de matérias-primas. Outrossim, a geografia econômica com cunho social nesses países se esboça com novo olhar. Essas nações visam estar inseridas de maneira cada vez mais ofensiva nas trocas internacionais de tecnologias, capitais, bens e serviços, pois tentam moldar em suas economias grandes reestruturações. Pretendem, assim, aumentar os investimentos e todo modo de fortalecer o comércio, como foi o caso do Brasil entre 2002 e 2014, incentivando o comércio interno e melhorando o desempenho econômico. Então, os países emergentes são aqueles que só vieram a se inserir na economia global após a Segunda Guerra Mundial, pois as potências imperia- listas, na época focadas nos conflitos na Europa e no Pacífico, centraram suas indústrias no fornecimento de alimentos e materiais bélicos. Nesse contexto, os países emergentes viram-se obrigados a desenvolver a indústria interna, com economias baseadas em sistemas agrícolas rudimen- tares. Atendiam apenas a demandas internas de consumo e tiveram na guerra a oportunidade de reestruturar sua planta produtiva, tanto na agricultura quanto no modelo industrial, mas ficaram carentes nas áreas de tecnologias e em pensadores/cientistas. Assim, podemos compreender que as demandas econômicas são influen- ciadas por políticas, muitas vezes norteadas pela demanda crescente de capital e suas nuances. Vamos agora verificar alguns pontos importantes sobre for- mas econômicas que atingem o mundo constantemente (Quadro 1). Quadro 1 – Modelos econômicos de influência. Economia de aglomeração Vantagens de custo de produção, garantidas por empreendimentos, sendo beneficiadas pelo conjunto de ganhos (conjunto de obras em um município, estado ou país). Economia de escala Diminuição do custo do produto com base na diminuição do custo unitário; quanto maior a produção, menor o custo do produto. Geografia Política, Econômica e Industrial – 20 – Economia de mercado Baseada na demanda de compra do consumidor, ou oferta sazonal, tendo em vista o período de produtividade (agrícola), com oscilação de preços. Quando o produto tem muita ou baixa procura, existe a oscilação do preço. Economia informal Ocorre quando o montante não passa pelo conjunto de normas legais de mercado, sem que haja conhecimento oficial. Fonte: GARRIDO; COSTA, 2006, p. 60. Adaptado. Conforme estudado, a economia é influenciada por processos transi- cionais, sejam eles elementos políticos, crises ambientais, guerras, adversi- dades políticas institucionalizadas e/ou, ainda, elementos internos de uma nação gerados por um avanço muito grande da economia informal, sem o domínio dos governantes. Conclusão Neste capítulo, pudemos evidenciar a dicotomia entre a forma de com- preensão da geografia política e a da geopolítica. As duas são ramos da mesma ciência, pautadas na compreensão do universo racionalista das economias e suas políticas inerentes à organização dos territórios. Assim, a ciência da geo- grafia tem como base a análise e a interpretação de fatos e momentos histó- ricos do espaço humano e a conjuntura que os influencia – omodo de vida das pessoas e seu cotidiano –, pois nele a sociedade é constituída e formada. A geografia política é caracterizada pela apresentação de elementos geográficos, com análise de reservas de petróleo, minerais etc., enquanto a geopolítica enfoca aspectos como a qual nação estes pertencem e como será a partilha da exploração, bem como a divisão de lucros. As vivências políticas, o trabalho gerador de riquezas, o universo de con- tradições existentes na economia globalizada, os conflitos mundiais advindos de interesses difusos que influenciam novas demandas, como diferentes for- mas de energia e reservas estratégicas de petróleo (na Venezuela, no Oriente Médio e na Crimeia) são exemplos de influências geopolíticas mundiais, ou, ainda, grandes áreas ambientais de preservação, como a Amazônia brasileira. – 21 – Geografia política x geopolítica Nesse sentido, os modelos econômicos são pautados em instrumentos da geografia política, nas orientações geopolíticas que respondem aos interesses geoeconômicos mundiais, com fortalecimento das economias capitalistas, uso irrestrito dos países subdesenvolvidos e emprego direto das economias emer- gentes, com base no conceito da clássica divisão internacional do trabalho. Ampliando seus conhecimentos No período atual, em que os conflitos estão longe das nossas casas, como podemos imaginar um mundo sem uma ordem política, sem um pensamento estratégico? No passado, quando as tensões tinham origem no território, vislumbrava-se uma organização do pensamento que se segue, para compre- ender a geografia política e a geopolítica. Origens e fundamentos da geopolítica (BONFIM, 2005, p. 18) [...] Rudolf Kjëllén (1846-1922), natural da Suécia, professor na Universidade de Gotemburgo, foi, além do criador do termo geopolítica, o responsável pelo reconhecimento da autono- mia do seu estudo, elevando-a à categoria de ciência aplicada e continuada por seus seguidores. Impressionado pelas teorias de Ratzel, sobre a natureza orgânica dos Estados, abandonou a orientação jurídico-filosófica que até então predominava no estudo da Ciência Política, passando a analisar o fenômeno do Estado por processos rigorosamente científicos, nos mol- des usados pelas ciências físicas, naturais e sociais. Passou a analisar o Estado em sua estrutura mais íntima, sob o ponto de Geografia Política, Econômica e Industrial – 22 – vista jurídico, social e econômico, procurando em aspectos tangíveis as bases em que o mesmo se fundamenta. Para Kjëllén, não é possível analisar o Estado somente sob o aspecto jurídico e subsidiariamente enriquecido das contri- buições da sociologia e da economia. Era necessário analisá- -lo com visão global, investigando com igual ênfase todos os fatores que o compõem. Dentro desse raciocínio, adotou um novo método de estudo da Política, analisando-a sob os seguintes aspectos: 2 Geopolítica: determina a influência do solo (situação, valor do território ocupado) nos fenômenos políticos; 2 Ecopolítica (atualmente Geoeconomia): influência dos fatores econômicos nos fenômenos políticos; 2 Demopolítica: estudo do Estado como nação (povo); 2 Cratopolítica: estuda a política do governo como poder. Atividades 1. Qual é a diferenciação entre o conceito de geografia política e o de geopolítica com base na vivência dos geógrafos? 2. A geografia política teve influência nas guerras, já que ela tinha o pa- pel de desmitificar o território e as suas riquezas estrátégicas? 3. Qual é o papel e a realidade dos países emergentes na geopolítica mundial? 4. Como a globalização pode influenciar no modelo das economias emergentes? – 173 – Referências Referências Geografia Política, Econômica e Industrial – 174 – ALMEIDA, P. R. 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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Jaime Sergio Frajuca Lopes E d u ca çã o G E O G R A F IA P O L ÍT IC A , E C O N Ô M IC A E I N D U S T R IA L Ja im e S er g io F ra ju ca L op es Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba- seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 Unidade 2 Concepção de Estado no idealismo e no materialismo Introdução O mundo é repleto de contradições. Desde os primórdios da humanidade, o ser social vive e é organizado sob lideranças. Neste capítulo, vislumbraremos a organização social, tanto dos indivíduos em comunidade quanto aquela baseada em um conjunto de leis advindas do Estado. O Estado tem base legal constitucional com os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) constituídos e norteadores das políticas para o cidadão e a sociedade em geral. 2 Geografia Política, Econômica e Industrial – 24 – Nós, como seres sociais e sociáveis, vivemos em uma organização de Estado paradigmática1 e, sobretudo, em processo contínuo de construção, pois os elementos econômicos e sua dinâmica obrigam as pessoas a evoluir diante dessas transformações. Nossas vivências têm base globalizante, pautadas no idealismo da socie- dade ocidental, de cunho capitalista e baseada no consumo. Em nosso imaginário, somos propositalmente condicionados a uma forma de idealismo, de acordo com uma lógica que nos faz querer ser donos dos meios de produção. Esse é um erro grande do ponto de vista conceitual, pois compreendemos a sociedade com uma visão materialista. Nesse sentido, averiguaremos a seguir, de maneira conceitual, essa temá- tica e desmembrá-la. 2.1 O papel do Estado e suas nuances Nos estudos de geografia, a transformação do espaço geográfico é inerente a seu tempo histórico, fruto de rupturas temporais, haja vista a influência social, econômica e cultural de cada época. A construção do espaço geográfico, no século XXI, é norteada pelos agentes globalizantes, mas o Estado e o capitalismo são fundamentais nesse processo de ocupação e transformação. A produção do espaço é consequência das atividades de cunho sociopo- lítico; assim, a organização espacial é resultado do trabalho humano acumu- lado ao longo do tempo (CORRÊA, 1998). Nesse sentido, veremos o conceito de Estado e sua influência no pro- cesso de transformação do espaço geográfico, que é resultado dessas ações de maneira direta ou indireta. Na concepção histórica, a forma de configuração do Estado como ele- mento regente da vida das pessoas e da sociedade nasce de uma evolução que é resultado de intensas lutas políticas. No caso específico do Brasil, para 1 Modelo ou padrão a ser seguido ou sucessão de resultados controversos em função da orga- nização social na qual estamos inseridos. – 25 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo compreendermos esse conceito, esse processo ocorre desde a proclamação da República, em 1989. Como afirma Bresser-Pereira, “a história do surgimento do Estado moderno e da formação do Estado-nação é uma história de grandes lutas políticas que deixam claro como as nações veem seu Estado – como seu ins- trumento fundamental de defesa de seus próprios interesses” (2017, p. 156). Nesse sentido, o Estado como o percebemos é fruto de disputas históricas, e os que o construíram buscam subterfúgios legais para atender a interesses próprios, muitas vezes deixando questões sociais em segundo plano. Assim, o processo histórico de conquistas sociais e econômicas vem há muito tempo sendo construído com a intervenção estatal. As Constituições brasileiras que se sucederam desde a primeira, de 1934, vêm garantindo um Estado democrático regido por um conjunto de leis, que deram oportunidade a profundas transformações no país. Assim, temos que o Estado é um sistema baseado em leis de natureza política e pode exercer influência sobre determinado território, sendo soberano. A teoria política e a lei constitucional ainda conhecem somente o Estado como soberano. E nos últimos 200 anos esse Estado tem ficado cada vez maisforte e dominante, transformando-se em um “mega-estado”2 [...] até agora é a única estrutura política que com- preendemos, com a qual estamos familiarizados e que sabemos construir a partir de partes pré-fabricadas e padronizadas, um poder executivo, um legislativo, tribunais, serviços diplomáticos e as forças armadas. (DRUCKER, 1993, p. 81) Nesse sentido, toda nossa organização social, pautada em um modelo histórico e/ou sociocultural, está a serviço do Estado. Nossa configuração territorial, as cidades, os estados, as formas de uso dos recursos minerais e energéticos são gerenciados pelas forças impositivas do Estado. Vejamos o que diz a Constituição Federal de 1988 (art. 1º) a respeito dos princípios fundamentais que regem a República Federativa brasileira (Quadro 1), com base em direitos indissolúveis aplicáveis a todo território nacional e em todas as esferas de governo: 2 “Os cidadãos possuem somente aquilo que o Estado expressa ou tacitamente lhes permite possuir” (DRUCKER, 1993, p. 88). Geografia Política, Econômica e Industrial – 26 – Quadro 1 – Constituição Federal: princípios fundamentais. Soberania Todo o território nacional está protegido de qualquer invasão ou ocupação de estrangeiros. Cidadania Todos têm direito ao livre arbítrio, garantidos os direitos ao trabalho, à justiça social e à empregabilidade, a votar e ser votado. Dignidade da pessoa humana É dever da nação garantir a seguridade social para que seus cidadãos tenham assegurados o princípio à vida. Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa Estão assegurados um processo de formação, capacitação técnica, moradia digna, emprego, de modo que cada indivíduo possa estar inserido de maneira íntegra na sociedade. Pluralismo político A diversidade de ideias é importante num regime democrático, garantindo os direitos da multiplicidade social de conceitos que sejam de interesse da sociedade e para o desenvolvimento. Fonte: BRASIL, 1988. Nesse sentido, nossas vidas são regidas pelo Estado em todas as suas formas, desde os produtos que consumimos até a velocidade com que transi- tamos em locais públicos, além do modelo econômico de cunho capitalista. Podemos entender, assim, que a formação social é baseada em um con- junto de regras, mesmo que norteada por demandas capitalistas, pois dá con- dições à construção territorial de cada sociedade. Nesse contexto, o território pode apresentar intensos contrastes geográficos, havendo uma coalizão na forma de se pensar essa estrutura do ponto de vista socioeconômico, mas dentro de uma lógica organizacional. Vejamos o seguinte: Estado e estado-nação, sociedade civil e nação, classes e as coalizões de classe são conceitos políticos situados no quadro da revolução capi- talista que tende a acontecer em cada país, ou seja, da formação do estado-nação e da revolução industrial nesse país. Cada povo que par- tilha uma etnia e uma história comum busca se constituir em nação, controlar um território e construir seu próprio Estado, dessa forma se constituindo em estado-nação. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 156) Essa configuração de regência é permitida porque em muitos países, como no caso do Brasil, o Estado-nação tem uma organização oligárquica histórica. Desde as capitanias hereditárias, as regiões geográficas da nação – 27 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo estão sob o domínio de grupos familiares muito arraigados, ou seja, as mes- mas famílias detêm a maior parte do capital, semeiam indústrias a seu bel pra- zer e se fortalecem, muitas vezes favorecendo a formação de cartéis3 ligados a grupos políticos com interesses próprios. Devemos ter clareza: nos estudos geográficos, compreender a impor- tância do Estado na organização sociocultural e histórica faz-se necessário, pois são as políticas econômicas que podem dar suporte ao desenvolvimento, desde que sejam utilizadas com base em critérios determinados e em áreas específicas de crescimento. Outrossim, o Estado é responsável pelo saneamento das finanças públi- cas, que devem ser administradas com padrões de razoabilidade às necessi- dades do território. Por exemplo, uma grande área de proteção ambiental não deve (e nunca deveria) ser liberada para outros fins sem um estudo prévio dos impactos inerentes ao uso e conservação da área, além das obri- gações de seguir os acordos nacionais e internacionais. Essas áreas de pre- servação permanente têm como principal objetivo conservar os processos ecológicos e garantir a qualidade ambiental. Nesse sentido, o Estado atua na gestão pública, na organização, na formulação e reformulação de leis, de acordo com a necessidade social das localidades. Mas, em muitos casos, ele atua também como um empresário, diversificando investimentos. O Estado age, então, na construção dos espaços, respondendo a interes- ses socioeconômicos, mas reconfigurando o que for necessário ou atendendo às formas de desenvolvimento econômico. Isso possibilita a modificação do espaço de vivência, de acordo com as especificidades locais. As sociedades coletoras, por exemplo, nunca extrapolam o limite de suas demandas alimen- tares e, por vezes, modificam esse conjunto espacial para garantir a sobrevi- vência do grupo. Já nos centros urbanos contemporâneos, as condições de estrutura são muito diferentes e complexas, exigindo uma demanda muito maior de recursos e novas ordenações. Vejamos: Enquanto antigamente cada homem, vivendo em autossubsistência, podia conscientizar outro (e se fazer conscientizar) da maioria das suas 3 Acordos comerciais entre empresas para formação de preços de forma coordenada, a fim de eliminar a concorrência. Geografia Política, Econômica e Industrial – 28 – práticas referindo-se a um pequeníssimo número de conjuntos espaciais (para o essencial, o território, de sua comunidade), hoje é preciso, para viver em sociedade, utilizar um grande número de conjuntos espaciais, mais ou menos bem construídos. (LACOSTE, 2005, p. 190) Atualmente, as organizações sociais dos centros urbanos, com seu orde- namento, suas formas e funções específicas, devem obrigatoriamente ser fis- calizadas, gerenciadas pela ação do Estado, o que em outros tempos não se fazia necessário. Nesse contexto, à medida que as sociedades vão se estruturando, surgem novos postos de trabalho, novas demandas comerciais e industriais e há então a necessidade de replanejamento territorial e gestão da vida social por parte do Estado. Isso porque Em cada Estado-nação existe uma “sociedade nacional ampla”, ou seja, uma sociedade no sentido mais amplo do termo, incluindo as relações de família, afetivas, profissionais e culturais, além das mais especificamente políticas, existe um sistema de intermedia- ção política entre o Estado e essa sociedade, que é constituído de instituições formais como os partidos políticos, os sindicatos e as associações de classe, e de associações políticas informais, que pro- pomos serem a nação, a sociedade civil e as coalizões de classe. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 156) Esse agrupamento de pessoas de certa forma é indissociável, já que, mesmo estando sob a organização do Estado, pertencemos a um grupo de indivíduos, na nossa família, no nosso bairro, na nossa classe de trabalho. Nesse contexto, muitas vezes esquecemos de nosso papel social, priorizando nossas individualidades e, quando isso ocorre, comprometemos um número substancial de pessoas. Um exemplo claro de negligência social ocorreu em novembro de 2015, com o rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, no estado de Minas Gerais. A falta de fiscalização do Estado, ou a ingerência de uma grande empresa colocou em risco a vida de pessoas e ocasionou grandes perdas ambientais, comprometendo a biota4 local. Outrossim, essa inadimplência, tanto do Estado quanto da multinacional responsável, afe- tou diretamente a vida de muitos por um longo período de tempo, cujos resultados ainda não são inteiramente conhecidos. 4 Trata-sedo conjunto de seres vivos que compõem ou habitam determinada região. – 29 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo O desastre de Mariana afetou um grande rio brasileiro, o Rio Doce, e prejudicou as condições sanitárias e ecológicas ao longo de sua extensão. O Estado não deve ser omisso diante dos interesses sociais. É necessário imputar as responsabilidades à empresa, nesse caso, pelas causas e consequên- cias da transformação do espaço geográfico. Cabe a ele tomar as medidas cabíveis para que sejam recuperadas tanto a qualidade ambiental quanto a qualidade socieconômica. 2.2 A intervenção do Estado nas relações econômicas Ao observamos o crescimento econômico de alguns países nas últimas décadas, percebemos que a intervenção do Estado é inerente às demandas industriais de exploração mineral e de energia. Um exemplo foi o caso da construção da usina de Três Gargantas, na China, o maior lago artificial já erigido, que atendeu a uma demanda espe- cífica da economia. O Estado chinês, como gestor social, usou argumentos ambientais – como o controle da vazão de cheias dos três maiores rios desse país – para justificar a construção de uma usina hidrelétrica. Isso permitiu dar continuidade ao crescimento industrial necessário. Nesse sentido, as demandas sociais e históricas foram levadas em consi- deração como consequência do desenvolvimento, com a realocação de pes- soas e parques arqueológicos em outras áreas e vilas construídas. As demandas ambientais foram compreendidas e estudadas, mas a construção da usina não foi interrompida. Podemos perceber, assim, que as demandas econômicas são maiores e norteiam o processo de desenvolvimento. Na estrutura do Estado, são neces- sários órgãos de fomento aos investimentos financeiros, possibilitando a apli- cação deles em infraestruturas e serviços. Atualmente, vivemos em uma sociedade constituída e formulada no contexto capitalista, modelo liberal com desoneração das responsabilidades do Estado. Entretanto, a fórmula do progresso é baseada na supervalorização do capital sobre as demandas sociais. Geografia Política, Econômica e Industrial – 30 – As demandas de território e o saneamento global dos recursos financeiros apresentam-se como um conjunto de normas que regem as economias capi- talistas, muitas vezes diminuindo investimentos em serviços públicos básicos, como hospitais e escolas, e modificando, assim, as necessidades da estrutura social ou as que vigoram em determinado tempo histórico (SANTOS, 2008). Nesse contexto, o emprego do “capital homogeneizador agrava hete- rogeneidades e aprofunda as dependências. É assim que ele contribui para quebrar a solidariedade nacional, criando ou aumentando as fraturas sociais e territoriais e ameaçando a unidade nacional” (SANTOS, 2008, p. 56). O mesmo capital que gera emprego, transforma a configuração espa- cial e promove as disparidades sociais, muitas vezes aprofundando-as. Resta ao Estado fazer o saneamento das finanças ou aplicar políticas econômicas que minimizem os efeitos sobre a fome, a seguridade social etc. Isso já foi realizado por meio do New Deal5, nos EUA, e pelas forças de coalizão no pós-Guerra para a reconstrução do Japão e na Alemanha, fortalecendo ainda mais as potências imperialistas e os grandes grupos oligárquicos. A Segunda Guerra, por mais cruel que tenha se apresentado, com consequências sociais jamais imaginadas, não foi muito diferente de outros períodos de crises mundiais. Nela apenas se configurou avanços primor- diais nas tecnologias bélicas, que se fortalecem no atual modelo industrial e econômico. No seu âmago, a guerra teve e tem os mesmos interesses dos períodos das monarquias absolutistas. Vejamos: “os Estados-nação nascerão mais tarde, na França e na Inglaterra, em torno das monarquias absolutas, que se constituem na Europa depois da revolução comercial, da emergência de uma burguesia associada ao monarca absoluto, e das lutas fratricidas que se sucederam à Reforma” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 158). Mesmo com necessidade de lucro incessante, poder e glória, os Estados têm caráteres mais ou menos difusos, interesses comuns e, na maioria das vezes, relegam a devida proteção aos que podem lhe dar mais poder: os cidadãos. Do ponto de vista da gestão macro da sociedade, é do Estado a responsabilidade de garantir o acesso à saúde, à educação e à formação técnica em todos os níveis. 5 Com o objetivo de sanar as consequências da Crise de 1929, o governo americano criou, por meio de políticas socioeconômicas, novas áreas de investimento, gerando empregos em massa. – 31 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo Além disso, o Estado tem seu papel de representação, com fundamentos próprios de regulação do modelo econômico, porém isso não pode tirar do cidadão seus benefícios em uma democracia social. No Brasil, o emprego do capital “vadio” – capital de exploração, garan- tido por meio de investimentos em juros e busca de dividendos – tem como subterfúgio a geração de emprego por meio das plantas produtivas industriais, com o argumento de que novos postos de trabalho são ofertados e impostos são arrecadados. Enquanto os governos usam dessa falácia, as empresas con- seguem anos de isenções de impostos e toda estrutura para instalação de suas unidades de produção. Com casos absurdos de concorrência fiscal, os Estados oferecem subsídios às empresas, não levando em consideração as necessidades da população. Considerando isso, vejamos o seguinte: A revisão de alguns registros históricos e da mídia aponta que [...] as guerras fiscais teriam ocorrido tipicamente em apenas dois momen- tos históricos: na segunda metade dos anos [19]60, quando se ini- ciam os conflitos decorrentes dos incentivos fiscais e na década dos [19]90, principalmente a partir de 93/94, quando se generaliza a concessão de incentivos estaduais, envolvendo principalmente as regiões Sul e Sudeste em torno dos grandes projetos do setor auto- motivo. (ALVES, 2001, p. 5) Podemos então observar as distorções entre o entendimento do justo e do manter. Ao conceder garantias às empresas, as questões sociais são detur- padas em benefício do capital. Vale lembrar que nos dias atuais estamos vivenciando uma época de transição. Muitas políticas sociais foram transformadas em políticas neoli- berais, com intensa abertura econômica, privatizações e concessões de recur- sos minerais e energéticos aos interesses internacionais. As consequências, a longo prazo, ainda parecem um tanto quanto duvidosas. 2.3 Uma visão da dialética do materialismo Quando éramos crianças, a percepção que tínhamos das coisas, dos obje- tos e das pessoas eram instigantes e misteriosas; o mundo era visto como um elemento sobrenatural, e as forças da natureza como destrutivas. Qual criança não olhou para o céu e se imaginou comendo algodão-doce ou pensou quão catastrófico seria se uma nuvem caísse sobre nossas cabeças? Geografia Política, Econômica e Industrial – 32 – A ânsia por descobertas do ponto de vista da ciência é mais ou menos igual à das crianças, pois a curiosidade própria delas é também a dos cientis- tas. Assim, tanto as crianças quanto os cientistas buscam novas experiências e, por meio delas, suas hipóteses podem ou não ser comprovadas e vivenciadas. Por um longo período, por exemplo, a Terra foi tida como plana, e todos aqueles que discordavam dessa ideia eram punidos por grupos que utiliza- vam suas crenças como forma de comprovação dos elementos de formação do Universo. Portanto, o mundo sempre foi estudado por inúmeros cientistas com enfoques diferentes, e a isso damos o nome de dialética do conhecimento6. Desse modo, a ciência busca amplo aprofundamento conceitual, discutindo for- mas e conceitos próprios para aplicá-los quando for o caso. Porém, em alguns momentos, os aplicam com finalidades difusas, como as invenções durante a Segunda Guerra Mundial. As ciências tomam vulto no idealismo do imaginário humano, tentandocompreender e dar sentido ao universo do desconhecido: a botânica, no conhecimento das plantas; a biologia, na compreensão dos animais; a física na concepção dos materiais e de tudo que eles possam representar, incluindo a composição da Terra e do sistema solar. Outro elemento que impulsionou o avanço da ciência foi a religiosidade. O medo do desconhecido levou a humanidade à intenção de compreender o imaterial, algo de que as ciências, até o presente momento, não deram conta, por terem clareza de que os elementos “palpáveis”, mensuráveis, ou cartesia- nos, são os que podem ser comprovados. Em outras palavras, a ciência trata da negação de uma energia desconhecida, ainda envolta em paradigmas, pois não há como medi-la e comprová-la cientificamente. Desse modo, a ciência busca configurar-se nos elementos matemáticos conceituais na forma de construir o mundo, enquanto as populações têm buscado “força” em uma energia própria, que não pode ser representada pelos estudos sistemáticos da ciência. “Não existe uma concepção do mundo admi- tida por todos, como existe uma Física, uma Química, uma Botânica. Pelo contrário, existem numerosas concepções de mundo, opostas umas às outras 6 Buscar a comprovação da verdade com base na ciência e na ampla discussão, verificando hipóteses com base em processos teóricos e experimentação. – 33 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo e que se combatem reciprocamente. O que para um é verdade, para outro é falso e vice-versa” (THALHEIMER, 2014, p. 3). As observações anteriores nos apresentam uma ampla discussão de pos- tulados, já que as ciências tratam de explicar modelos ou formulações teóricas próprias a cada área do conhecimento e sua dialética, enquanto as religiões dão conta do universo espiritual do ser humano. As convivências sociais e econômicas não são e nunca serão harmonio- sas, pois a sociedade vive em intensas contradições e em função de muitos elementos paradigmáticos. Assim, o materialismo dialético nasceu “de uma ou de várias concepções do mundo que lhe eram diametralmente opostas, chegando, assim, à aplicação dessa outra característica fundamental: a ideia de que o desenvolvimento se processa por meio das contradições e que uma coisa se desenvolve sempre partindo de sua contrária” (THALHEIMER, 2014, p. 3). Isso porque nossas crenças e valores são próprios do nosso modo de vida e de nossa cultura. No quadro a seguir, apresentamos uma dialética de classes do materialismo. Quadro 2 – Dialética do materialismo histórico. Proletariado A classe dos trabalhadores assalariados modernos que, não tendo meios próprios de produção, são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviverem. Burguesia Classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado. Fonte: RODRIGUEZ, 2013, p. 59. Adaptado. Nesse contexto de contraste social, os trabalhadores, com o fruto da sua mão de obra, dão base a uma sociedade burguesa, produzem para o capita- lismo e ele continua seu ciclo de acúmulo de riquezas, explorando o proletá- rio e os meios de produção. Em épocas conflituosas, no Brasil e no mundo, com influência da glo- balização, construindo uma sociedade cada vez mais consumista, o papel do capitalismo é pujante. Sobretudo há, no contexto da dialética do materialismo, o casamento entre a técnica e a ciência, compreendendo que essa relação no período da história moderna é condicionada pelos contrastes mercadológicos. Geografia Política, Econômica e Industrial – 34 – Como afirma Milton Santos, “a produção de uma materialidade dá con- dição à produção econômica” (2008, p. 52), fortemente arraigada nas potên- cias imperialistas que fomentam o American way of life7. Ou seja, estamos nos habituando a viver do jeito ocidental, consumindo massivamente, alimentan- do-nos rapidamente, sobrepondo o trabalho à qualidade de vida. Atributos conceituais na forma de exploração do trabalho sempre foram e sempre serão motivos conflitantes do ponto de vista epistemoló- gico. No Brasil, estamos passando por um período intrigante, já que classes sociais – como a classe C – ascenderam, em função das melhorias eco- nômicas do país entre 2002 e 2014. Esses novos consumidores da classe C, agora com poder de compra e ascensão salarial, influenciados por um movimento internacional, buscam melhores condições de vida, tendo como base o combate à corrupção. Do ponto de vista econômico, tal atitude é importante para um país que chegou a ser a 6° economia mundial em 2013 e continua entre as dez maiores do mundo. A classe trabalhadora sempre esteve envolta em conflitos, sendo histori- camente explorada, pois não lhe foram proporcionadas as prerrogativas das classes dominantes. Podemos observar, assim, que: O fenômeno aqui descrito é claro: o proletariado surge como classe antagônica da burguesia. A construção da classe operária acontece em decorrência da constante e crescente exploração por parte da burgue- sia de uma massa de pessoas que, aos poucos, vai tomando a forma de uma classe. O proletariado surge, então, na medida em que passa a possuir interesses de classes opostos aos da burguesia. É esse enfrenta- mento de interesses que acaba fazendo com que vários trabalhadores separados formem uma verdadeira classe social, unida na luta teó- rica e prática contra os interesses de uma burguesia que os explora. (RODRIGUEZ, 2013, p. 60) Na dialética materialista, as lutas de classes sempre estiveram presentes, ora influenciadas pelos sistemas político-econômicos, ora pelas religiões. As diferenças entre as classes sociais são um dos problemas enfrentados pelos 7 No atual processo de globalização, as pessoas têm absorvido o estilo estadunidense de viver, comprar e se alimentar; somos uma sociedade de consumo baseada no estilo e na cultura dos norte-americanos. – 35 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo governantes, mas é papel primordial do Estado contribuir com políticas públicas para diminuir esses contrastes históricos. Vejamos mais uma vez o caso da China. O camponês, em um modelo econômico que passou por profundas transformações políticas, foi “esque- cido” no campo por duas ou três décadas. No entanto, com a mudança do modelo educacional e econômico do país, surge uma configuração nacional diferente, impulsionada pela revolução cultural8. A exigência da sociedade pela modernização do sistema e valorização do ser humano resultou em uma transformação econômica. Assim, temos uma população ativa e participativa no processo: A revolução cultural buscou incisivamente estimular a iniciativa das massas populares, principalmente àqueles que não pertenciam for- malmente ao Partido [Comunista], por meio da queda das barreiras burocráticas, que era o grande obstáculo à participação política. O fervor revolucionário também foi estimulado, pois os dirigentes do Partido acreditavam que era a melhor forma de aumentar a produti- vidade. (OLIVEIRA, 2008, p. 4) Com esse exemplo, podemos perceber que as sociedades, de tempos em tempos, emergem como força maior do Estado. Esse “gestor-mediador”, de modo mais ou menos conflituoso, acaba tendo de escutar as necessidades sociais, já que coibir violentamente não cabe bem aos olhos do capital inter- nacional, que necessita da exploração da mão de obra para se perpetuar. Conclusão Conforme estudamos, a história do homem moderno é pautada na cons- trução de dissabores entre ciência e técnica mercantilista, pois a sociedade, dicotômica por si só, tem buscado favorecimentos econômicos em detri- mento das garantias sociais. O capitalismo, que é baseado na sociedade de consumo, tem modificado os hábitos das pessoas em um mundo globalizado, 8 “O governo promoveu uma campanha para persuadir camponeses e operários a se agruparem em torno do Partido Comunista Chinês, perseguindo todos aqueles que se opunham a seus ideais” (OLIVEIRA, 2008, p. 6). Geografia Política, Econômica e Industrial– 36 – em que se vive em função do trabalho e de melhores salários – seguindo uma forma de pensamento liberal clássica. Para essa condição mudar, são necessárias políticas de valorização do trabalhador em detrimento do capital. A melhoria da qualidade de vida é intrínseca à redução das jornadas de trabalho, com melhores salários e mais tempo para a família e para o lazer. No Brasil, a atual liberalização da economia ocorre de modo contur- bado, pois as crises sucessivas no modelo econômico do país resultam em demandas sociais que acabam por ser consideradas como de responsabilidade do Estado. Nesse sentido, essas transformações econômicas, como a privatização gene- ralizada, devem transfigurar o modelo econômico, principalmente de nações como o Brasil, que têm um resgate social baseado em um Estado assistencialista. Outrossim, a economia mundial, principalmente nos países emergentes, passa por um período de complexas relações políticas, que em médio prazo podem se configurar em um estado geral de recessão, reforçando ainda mais a luta de classes histórica entre trabalhadores proletários e detentores dos meios de produção, aprofundando as desigualdades. Ampliando seus conhecimentos Todos os dias nos deparamos com um conjunto de regras sociais. A lombada eletrônica, o radar, o voto obrigatório etc. são parâmetros norteadores da nossa organização em sociedade. Essas regras são determinadas e garantidas por lei e resultam de contextos históricos e culturais, haja vista que os “seres sociais” são ordenados, seguem princípios normativos de comando e organizacionais. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê direi- tos e garantias fundamentais válidos a todos os cidadãos. – 37 – Concepção de Estado no idealismo e no materialismo Especificamente no artigo 5° da Carta Magna, são apresenta- dos alguns fundamentos importantes relacionados à liberdade, à igualdade e à segurança dos brasileiros, conforme destaca- mos no trecho citado a seguir. DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (BRASIL, 1988) Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; [...] Geografia Política, Econômica e Industrial – 38 – Atividades 1. Construa um quadro comparativo da dialética de classes do materia- lismo histórico. 2. Como podemos compreender a evolução do pensamento científico nas sociedades e o papel das religiões do ponto de vista econômico? 3. Explique o American way of life e cite situações que poderão envolver o brasileiro nas próximas décadas no tocante a esse conceito. 4. No seu cotidiano, você observa a dialética entre proletários e capita- listas? Explique. – 173 – Referências Referências Geografia Política, Econômica e Industrial – 174 – ALMEIDA, P. R. A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 44, n. 1, p. 112-136, jan./jun. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0034-73292001000100008>. Acesso em: 13 nov. 2017. ALVES, A. L. A. Constiticionalismo e democracia: soberania e mito cons- titucional. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito de Minas Gerais, Pouso Alegre, 2012. ALVES, M. A. 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GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Jaime Sergio Frajuca Lopes E d u ca çã o G E O G R A F IA P O L ÍT IC A , E C O N Ô M IC A E I N D U S T R IA L Ja im e S er g io F ra ju ca L op es Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba- seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Jaime Sergio Frajuca Lopes E d u ca çã o G E O G R A F IA P O L ÍT IC A , E C O N Ô M IC A E I N D U S T R IA L Ja im e S er g io F ra ju ca L op es Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba- seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 Unidade 3 O Estado como entidade representativa da centralidade mundial Introdução A convivência das pessoas, no trabalho, em casa, na facul- dade etc. é baseada em um conjunto de regras. Na sociedade, de maneira geral, o Estado é elemento fundamental como gestor, pois ele cria e remodela o conjunto de leis que regem a vida das pessoas e das empresas. Então, toda a conjuntura de nossas necessidades, nossos sonhos e vivências tem como base o Estado na sua representação. Isso reflete um conjunto de elementos que norteiam as atividades comerciais e reguladoras urbanas e as necessidades dos municípios. Sabemos que todas as nossas rotinas sociais, desde a compra da passagem de ônibus até a observação de limite de velocidade, são baseadas no conjunto de normas da constituição estadual e federal. Muitas vezes, somos obrigados a enfrentar condições adversas na sua implementação, mas elas são regras sociais. 3 Geografia Política, Econômica e Industrial – 40 – Isso pode ser extrapolado a outras instâncias, que também seguem um conjunto de leis e podem influenciar nossa rotina. Um conflito armado pela questão de energias (petróleo) é regulado pela “mão grande” dos gestores; essa representação é papel do Estado como gestor dos conflitos mundiais. Assim, neste capítulo, conceituaremos as contradições do Estado na regulamentação e de nossas vidas. 3.1 Estado como gestor Vamos elencar neste capítulo a importância do planejamento das ações do Estado no gerenciamento das atividades que são de primeira ordem e resultam da necessidade primeira, no contexto social e econômico de um município, estado e nação. É da natureza do Estado a responsabilidade para com seus cidadãos, gerindo o que for necessário para garantir a plenitude de ascensão social eco- nômica e de qualidade de vida. Assim, “o Estado é o responsável pelas con- dições para o desenvolvimento da pessoa humana de forma digna, e cabe a ele oferecer os meios necessários para o pleno desenvolvimento da pessoa humana” (SOARES, 2010, p. 13). A evolução histórica do Estado e suas contradições, incluindo as lutas de classe, nunca foram e nunca serão homogêneas. Nesse sentido, O Estado, suas leis e suas políticas, são sempre a expressão do poder presente nas formas sociais de intermediação política entre a sociedade e o Estado, mas o poder que encontramos na nação, na sociedade civil e nas coalizões de classe está longe de ser o poder do conjunto dos cidadãos iguais perante a lei. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 155) O cidadão, que historicamente foi explorado pelo capital, vê-se agora na mão do gestor macro, o Estado e as desigualdades entre as classes foram implementadas em um sistema oligárquico perverso em tempo histórico. Muitas nações desenvolvidas vêm tentando mitigar essas distorções ao longo das décadas, entretanto, o efusivo sistema econômico, quando não explora, aprofunda as desigualdades. – 41 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial É necessário compreendermos que o Estado é, como gestor, responsável pela organização e ordenamento territorial, formulando e modificando as leis, atendendo aos anseios e as necessidades sociais econômicas e ambientais, com propósito de desenvolvimento. A evolução do Estado e da pessoa humana, que têm sido por séculos objeto de legitimidade da criação ou modificação de alguns Estados, que surgiram com o objetivo de desenvolver a pessoa humana, para que, com isso, a existência desse modelo de Estado seja totalmente voltada às necessidades de sua população, através da efetivação das políticas públicas, principalmente a de saúde e de educação, de forma legítima e responsável, promovendo um desenvolvimento real e sus- tentável de toda a sociedade. (SOARES, 2010, p. 11) O Estado então surge como conceito, criador das leis que regem a vida dos cidadãos, da economia e regulador do uso integrado das energias e do meio ambiente. Diante disso, agorao Estado está organizado, pois foram evidenciados os elementos mais importantes e de primeira necessidade. Vamos elencar pon- tualmente elementos de gerenciamento do Estado com fiscalização do cidadão: 1. Educação, em todos os níveis. 2. Segurança e soberania nacional. 3. Saúde, com prioridade a crianças e adolescentes, atendendo ainda o Estatuto do Idoso. Diante disso, em um Estado com políticas neoliberais intensas – como é o caso do Brasil atual –, esses são os três e mais importantes eixos, pois atual- mente existem instituições reguladoras com interesse nacional, mas que não estão mais sob o domínio estatal. É o caso de rodovias, portos, aeroportos, sistemas de telefonia e produção e distribuição de energias. Cabe aqui lembrar que o neoliberalismo é focado em “fundamentar a estrutura de mercado, no qual o indivíduo, enquanto proprietário, deve se encontrar livre” (HOLANDA, 2004, p. 58). No Brasil, essas evidências têm se tornado incisivas nas políticas do Estado como gestor, pois fomentam a economia de mercado. Entretanto, o Geografia Política, Econômica e Industrial – 42 – capital especulativo está sendo valorizado em detrimento do capital produ- tivo, sobrepondo-se às políticas de Estado. Na função do Estado brasileiro, como sistema organizacional, as polí- ticas de favorecimento do capital têm histórico que remonta a 1994, com a abertura dos portos ao interesse internacional e, na sequência, a telefonia e as empresas de mineração. Um dos elementos que deve ser prioridade do Estado como gestor é a formação incondicional do indivíduo, já que a economia “liberal” carece cada vez mais de mão de obra qualificada, a fim de aumentar seu potencial produtivo. Os Estados-nação “[...] promovem essa integração cultural e polí- tica através da educação pública, transferindo para todos os conceitos e a prática da produtividade, que é essencial para o desenvolvimento econômico” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 159). Nesse sentido, em uma economia na qual o povo foi esquecido do ponto de vista da educação sofre em termos absolutos na produção, sobretudo nas áreas que demandam maior formação técnica e científica, como tecnologia, robótica, microeletrônica e computacional. Outro vislumbre sobre isso é que, no Brasil, o Estado tem feito divisões nas áreas educacionais, promovendo o flagelo das universidades públicas e a fragilização do Ensino Médio, com caráter técnico formador de mão de obra. Cabe ressaltar, ainda, que o cerceamento das atividades produtivas de tecnologia no Brasil faz parte de um contexto único. Em Campinas, no estado de São Paulo, está localizado nosso único tecnopolo, local onde se exige a disseminação do desenvolvimento de técnicas e tecnologias para atender às demandas econômicas e à evolução das indústrias e entidades que utilizam tecnologia em suas atividades, sobretudo para as áreas aeronáutica e espacial. Por exemplo, o avião Tucano desenvolvido no Brasil pela Embraer para fins militares, possui aviônica estadunidense, pois só poderia ser exportado se tivesse em seu pacote a tecnologia de localização americana. Essas polí- ticas de gestão de Estado comprometem, na maioria das vezes, a indústria interna, pois fabricamos com interesses internacionais, favorecendo o mer- cado externo em detrimento da população local. – 43 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial Com demandas externas, a economia sempre estará à mercê dos inte- resses do “debate liberal, que é a base do Estado Liberal, no qual o interesse social é sobreposto pela liberdade individual, criando um conflito de interes- ses entre o bem de um sobre o bem de todos” (SOARES, 2010, p. 17). Nessa lógica, geradora de novas demandas à sociedade, a responsabili- dade por garantir questões sociais, como segurança, saúde e educação, sempre foi do Estado. A iniciativa privada ainda não conseguiu supri-las de modo integral, mesmo em economias imperialistas. Da forma com que se apre- sentam no modelo econômico, essas questões nos parecem muito recentes na história da gestão do Estado brasileiro, por isso, não há interesse em seu suprimento, mesmo que seja um processo lento e de profunda transformação nos ideais da sociedade. Existe um vislumbre nas políticas públicas do povo brasileiro, que está focado em uma economia liberalizante como sonho. Entretanto, em um país de mais de 207 milhões de habitantes, com contrastes sociais intensos e mui- tas regiões ainda carentes de investimentos nas áreas de infraestrutura, educa- ção, industrialização, no qual o primeiro setor da economia é regra, ou seja, a base da organização econômica ainda é extrativista e agrícola, como acreditar que a população investirá em um plano de saúde, em uma previdência pri- vada ou em um curso superior, se seus ganhos econômicos mal dão conta do sustento familiar? Para agravar esse quadro, a aposentadoria também se torna incerta, em um contexto de garantias sociais que o Estado deveria suprir. Vejamos o seguinte: Isso pode ser facilmente observado no dualismo que se demonstra entre o mercado e as necessidades sociais, onde [sic] as teorias contratua- listas (com ênfase na sociedade), e as teorias coletivistas (com ênfase no Estado) são base para o aparecimento de outro dualismo que trata da concepção moral (idealismo e universalidade) e a concepção social (materialismo e historicidade) do Estado. Desta forma, o Estado se caracteriza pela razão e o bem comum. (SOARES, 2010, p. 17) O Estado tem o papel de zelar pelo bem comum em detrimento do individualismo de mercado. As questões sociais são mais importantes se pensarmos do ponto de vista do coletivismo, pois ter uma população com melhores níveis de educação é fundamental, inclusive para o mercado capi- talista. No entanto, conforme as teorias liberais clássicas, isso só é possível se Geografia Política, Econômica e Industrial – 44 – os próprios indivíduos tiverem condições de pagar seu curso superior. Apenas depois dessa formação, eles estarão disponíveis para o mercado de trabalho. Assim, alcançarão o mérito necessário para o mercado, adquirindo uma base de conhecimentos suficientes para a sociedade de consumo ou sendo capazes de usar do próprio esforço para se inserirem nessa lógica econômica. 3.2 O Estado e sua representação A figura paterna do Estado, que supre todas as demandas sociais, sem- pre foi uma falácia e sempre será. De acordo com um pensamento marxista incutido na sociedade, as pessoas acreditam que tudo é dever e responsabi- lidade do Estado, imaginando-o como “Estado supridor”. No entanto, isso deve deixar de existir em breve, pois a tendência neoliberal de reorganização das políticas econômicas surgiu, em nosso país, com raízes no imperialismo oligárquico, no qual grandes famílias comandam historicamente grupos polí- ticos, e esse contexto se reflete nas políticas sociais. Apesar de uma transformação constitucional intensa não ter sido efe- tuada, as pequenas mudanças vão, em curto prazo, fazer uma profunda alte- ração nas relações de trabalho, dando à sociedade mais responsabilidades. Após a Segunda Guerra Mundial, o Estado passou a fixar políticas sociais a fim de melhorar as condições gerais da população. O governo era visto como um agente político ou uma agência social, transformando suas políticas em medidas de bem-estar, com a implementação de seguro saúde, contagem de acidentes de trabalho, pensão e aposentadoria. Em 1960, todos os países desenvolvidos ocidentais haviam aceitado a doutrina pela qual o governo é o agente adequado para todos os pro- blemas sociais e todas as tarefas sociais. Na verdade, a atividade pri- vada na esfera social tornou-se suspeita dos assim chamados liberais, que a consideravam reacionária ou discriminatória. (DRUCKER, 1993, p. 89) As transformações sociais assistencialistas tiveram seu tempo, e a economia liberal, baseada no capitalismo, ganhou vulto. Assim, a sociedade de consumo almejada pela política norte-americana aflora na América Latinacomo postu- lado de ocupação, sem precisar gastar milhões em tecnologias armamentistas. – 45 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial De acordo com essa concepção, uma democracia com poderes limitan- tes e limitados deve ter a atuação de um gestor de Estado que: Mantenha a lei e a ordem, defina o direito de propriedade, sirva de meios para modificação dos direitos de propriedade e outras regras do jogo econômico e julgue disputas sobre a interpretação das regras, reforce contratos, promova a competição, forneça uma estrutura monetária, envolva-se em atividades para evitar monopólios técni- cos e evite os efeitos colaterais considerados como suficientemente importantes para justificar as intervenções do governo, suplemente a caridade privada. (FRIEDMAN, 1998, p. 39) Assim, o Estado com funções múltiplas é agora um mediador dos inte- resses do capitalismo, baseado na propriedade privada. Todas as ações governa- mentais devem ser regidas por normas previamente estabelecidas e divulgadas. Permite-se, desse modo, que o conjunto da sociedade tenha plena cons- ciência das formas de planejamento do governo e suas políticas, de como e quando os indivíduos poderão usufruir dos direitos que lhes são garantidos, sabendo que estes são poderes coercitivos, mas que lhes permitem planejar suas atividades e exercer sua liberdade, conscientes de que essas ações são norteadas pelo conjunto das regras do jogo. Desse modo, o neoliberalismo defende o Estado de direito como confi- guração para garantir certa ordem que possa atender às necessidades impos- tas, já que tudo está submetido ao poder de coerção do Estado. Esse vislumbre de um Estado gestor é suplementado pela transfigura- ção constitucional na forma de decretos de leis que modificam os direitos da sociedade e, na prática, modificam uma construção histórica, já que no neoli- beralismo as ações governamentais seguem a cartilha do modelo da sociedade de consumo. Então, o Estado como figura de representação foi substituído por grupos com interesses escusos aos interesses sociais. No entanto, o Estado deve, ou deveria, na condição de Estado democrático de direito, criar um pacto de políticas democráticas, valores e princípios que seriam fixados em seu modelo constitucional, sendo que os direitos humanos, como também os direitos sociais, são parte integrante dessa nova legislação. Os valores e princípios desse novo modelo de Estado reorganizaram as funções e as competências do Estado sob o pretexto de que o Estado agora não iria intervir de forma única na economia; Geografia Política, Econômica e Industrial – 46 – ele deveria intervir, contudo, de forma democrática, respeitando os direitos individuais e procurando uma interação entre o coletivo e o privado, na busca pelo bem da população. (SOARES, 2010, p. 23) Nesse contexto, voltamos a falar da China. País asiático com poderio econômico e populacional, que possui o controle estatal de pelo menos duas grandes petroleiras mundiais, apresenta políticas de ampliação de sua matriz energética e tem realizado reformas que buscam coibir a corrupção em todos os níveis de gestão do Estado. Assim, grandiosos feitos na política industrial, mesmo que com contrastes sociais intensos, buscam no modelo educacional uma alternativa para implantação e aceleração de sua planta de desenvolvi- mento econômico. Essa economia de Estado, pautada na solução dos problemas sociais, geração de empregos, modernização da indústria, diversificação da matriz energética e implantação de parques tecnológicos e tecnopolos, atualmente é a terceira na corrida espacial, inclusive como parceira do Brasil no desenvol- vimento de satélites. Com uma política comercial fugaz, porém sem deixar sua função pri- mordial de proporcionar o bem-estar social da população, “a China não tem medo ou vergonha de copiar ou melhorar tudo que deu certo no Ocidente. Investiu maciçamente em educação, na preservação de sua identidade cultural, na valorização de sua história e, principalmente, na formação de cientistas” (OLIVEIRA, 2008, p. 5). Nesse contexto, se a China buscar melhorar sua abertura econômica, poderá em pouco tempo ser a maior economia do mundo, caracterizando-se como poder hegemônico do Oriente. Isso pode ofuscar o domínio estaduni- dense e de alguns países europeus. Podemos observar, então, que o Estado como figura representativa, quando responde às mudanças do comportamento global, pode atender aos interesses de todos, tanto em relação ao universo capitalista quanto no que diz respeito às necessidades sociais. Isso ocorre quando há melhoria nas condições de ensino, com formação de técnicos e cientistas, modernização das plantas industriais, sobretudo com a valorização das indústrias de transformação, colocando a força do Estado a serviço da nação, reforçando o contingente de novos trabalhadores, que – 47 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial podem assim ascender em termos econômicos e de potencial consumidor. Por outro lado, as políticas liberalizantes provocam diferenças, sendo que “os neo- liberais reconhecem que o Estado de direito produz desigualdade econômica” (HOLANDA, 2004, p. 42), já que grupos são privilegiados em detrimento de outros. 3.3 Papel do Estado como gestor dos conflitos mundiais Na Primeira Guerra Mundial, no ano de 1915, o transatlântico RMS Lusitania – na época, de última geração – foi afundado pelos alemães, pois eles haviam declarado guerra irrestrita à Inglaterra e, assim, todo navio – mer- cante ou de passageiros – que se aproximasse da costa inglesa seria abatido. Na época, os EUA não tinham interesse em conflitos internacionais, inclu- sive eram contra demandas bélicas, e o presidente estadunidense Woodrow Wilson (1856-1924), mesmo sabendo das ameaças alemãs a quem adentrasse o território de conflito, permitiu que o navio rumasse em sua viagem. Em sua decisão de deixar o navio zarpar, mesmo sabendo das tensões que se abatiam sobre a Europa, o então presidente utilizou o argumento do livre-arbítrio, dizendo que todo cidadão americano que quisesse viajar pelo mundo deveria exercer seu direito. Contudo, alertou ao comandante do navio e aos passageiros sobre a tensão regional e para que não embarcassem na aventura náutica. O resultado foi catastrófico: um chefe de Estado, com sua decisão política, fez com que centenas de estadunidenses morressem no dia do naufrágio, pois o navio foi torpedeado por um submarino alemão (SINKING..., 2017). Esse fato histórico deixa claro que o Estado deve garantir a segurança de seu povo mesmo não estando em seu território. Nesse sentido, o Estado tem a maior responsabilidade de segurança e proteção à sua população, incondicionalmente. Cabe ao Estado tomar decisões políticas que possam proteger a integri- dade econômica e física dos cidadãos e a soberania nacional, pois são assegu- rados constitucionalmente direitos a estes, mas também deveres para com seu país. Assim, nas nações democráticas, não importando o regime econômico, Geografia Política, Econômica e Industrial – 48 – o Estado deve dar garantias de que, como representante do povo, busca parâmetros norteadores para que exista equilíbrio social, com base nos direi- tos humanos universais. Nesse contexto, o Estado prioriza o atendimento a crianças, adolescentes e idosos, destinando estatutos específicos a eles, e garantias de estabilidade política e econômica. Desse modo, o Estado, do ponto de vista da representatividade, é tido e respeitado como autoridade suprema, dando base à lei universal. É, ainda, a instituição organizacional e normativa dotada de poder coercitivo. É, por um lado, a ordem jurídica à qual cabe o papel de coordenar e regular toda a atividade social, e, por outro, o aparelho formado por oficiais públicos (políticos e burocratas e militares) dotados do poder exclusivo e extroverso de legislar e tributar. Poder “extroverso” porque o Estado é uma organização que tempoder para regular a vida social, econômica e política de quem não é seu membro direto: os cidadãos. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 163) É papel do Estado resguardar a integridade da sociedade e dar possibili- dade de vida plena aos seus integrantes, garantindo direitos constitucionais, como saúde, segurança e educação, em todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal). Na organização mundial, é garantido aos Estados o direito de exercício de sua soberania. No Brasil, está resguardado o direito de defesa a toda inva- são de território por terra, mar ou ar. Nossa defesa é composta por força área, exército e aeronáutica, indivisíveis, já que compomos o mesmo território, o mesmo povo e a mesma cultura. Por mais que existam “poderes” paralelos – a mídia, por exemplo –, o Estado deve ser superior, soberano e uno, pois os poderes que o compõem (Executivo, Legislativo, Judiciário) exercem força do ponto de vista de organização política e econômica, não apenas de modo autônomo, mas sim em conjunto, fazendo parte de um todo. É notório que sua soberania nunca perderá essa condição – não havendo, portanto, uma soberania com prazo determinado –, e ela é inalienável, ou seja, não se pode transferir a soberania para outro Estado ou organização (ALVES, 2012). Assim, está garantido a cada poder sua autonomia, mas compondo um todo democrático sob um poder soberano. Ou seja, cada poder responde ao outro quando houver a real necessidade e todos estão a serviço da nação. Toda sociedade precisa de um instrumento político para a realização do que – 49 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial entende serem objetivos políticos ou destino comum. “O conceito de ‘destino comum’ é amplo, mas envolve sempre três objetivos fundamentais: autono- mia nacional ou segurança externa, ordem pública interna e desenvolvimento econômico” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 171). Ainda sobre a organização de direitos no contexto mundial, podemos destacar não apenas a autonomia desses poderes, mas também que eles for- mam um conjunto de regras que, na maioria dos casos, corrobora o direito internacional, de acordo com os direitos humanos universais. O Estado nacional, com base no direito internacional, é mecanismo de construção e ação coletiva da sociedade, sendo que, de acordo com Bresser-Pereira: É através dele e da ação política (que é sempre uma ação coletiva) que a sociedade politicamente orientada sob a forma de nação ou de socie- dade civil alcança seus objetivos políticos. Listo sempre cinco deles (segurança, liberdade, desenvolvimento econômico, justiça social e proteção do meio ambiente), enumerados na ordem histórica apro- ximada em que se tornaram objetivos sociais, mas o mais importante deles, porque acaba de alguma forma englobando os demais, é o da segurança ou da proteção dos cidadãos. (2017, p. 164) Podemos perceber, desse modo, que o Estado, na mediação dos confli- tos, deve obrigatoriamente utilizar da prerrogativa do direito internacional. O Estado, na condição de soberano, deve garantir que todos os cida- dãos estejam protegidos, quer seja dentro do seu território, “Estado-nação”, quer seja em qualquer outra parte do mundo, pois o direito internacional e os acordos de direitos humanos têm prerrogativas que dão suporte à tese de respeito à soberania – a não ser que o indivíduo, ou país, atente contra as leis daquela nação, com ato criminoso ou invasão de território que violem os acordos internacionais. Nesse contexto, no caso de ato infracional que atente contra a segurança nacional ou as leis do país (tanto de uma pessoa quanto de um Estado), um tribunal internacional deve ser agenciado para mediar o conflito. Se o ato for contra um indivíduo, a nação de origem deve intermediar as negociações. A negociação e a mediação têm sido os mecanismos que mais tem atraído a atenção dos atores internacionais no processo de gerencia- mento e resolução de conflitos. Na contemporaneidade, os conflitos são permeados por uma sofisticação e uma capacidade bélica altamente destrutiva, que poderia tornar um litígio doméstico em uma ameaça Geografia Política, Econômica e Industrial – 50 – internacional. Nesse contexto, a mediação surgiu como uma alterna- tiva para a resolução de conflitos por vias pacíficas e que oferece uma maneira eficaz de lidar com as diferenças entre os Estados antagônicos. (FREITAS, 2014, p. 18 apud BERCOVITCH, 1991, p. 737) Nesse sentido, todo processo de mediação surge por conta de um con- flito, que muitas vezes vai além das vias de fato, como em muitos casos no Oriente Médio ou na África Subsaariana. Assim, a mediação torna-se funda- mental, passando por um tribunal qualificado, no qual as partes poderão ou não ser ouvidas, haja vista os conflitos de interesse. Nesse sentido, o processo é acompanhado pelas partes interessadas, já que um conflito internacional pode resultar em reciprocidade de aplicação de leis. Conclusão Neste capítulo, estudamos o Estado como regente empoderado de força política, já que as demandas sociais não são mais sua prioridade, em consequência das políticas neoliberais de maneira geral. As demandas capi- talistas, por mais excludentes que sejam, forçam o Estado a gerir leis para uso a seu bel-prazer. O Estado como órgão regulador tem o papel primordial de garantir as demandas próprias do capitalismo, suplementando as leis que são necessá- rias para o uso e a ocupação de todas as formas da natureza, do material humano como força do trabalho e da gestão política, que segue o comando do empresariado. Outrossim, o Estado como gestor ainda tem a responsabilidade de garantir a sobrevivência social, em todas as instâncias, seja na elaboração e reformulação das leis que regem o modelo educacional, seja na exploração das riquezas minerais e florestais ou na garantia de um potencial de explora- ção energética. Afinal, esse mesmo Estado tem carências de desenvolvimento histórico e, para supri-las, precisa de novas áreas de produção de energias e parque industrial diversificado. Verificamos que as economias globalizadas, como no caso do Brasil e da China, apresentam vieses diferentes, pois as duas nações têm regimes econô- micos diferentes, valores, história e culturas diversas, mas seguem a mesma – 51 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial lógica econômica, com o Estado gestor fortalecendo parcerias comerciais, não deixando em nenhum momento que suas soberanias sejam afetadas. Estudamos também que as políticas de Estado para a nação atendem a um conjunto de leis internacionais, asseguradas nos direitos humanos uni- versais e nos acordos comerciais, de acordo com os mesmos fundamentos, valorizando a negociação entre os países. Ampliando seus conhecimentos O Estado tem papel importante na organização territorial; per- cebemos isso na vida social diária, já que tudo é sistematizado por um conjunto de leis. Sob essa ótica, o mundo agora glo- balizado vive uma realidade de conflitos territoriais, mapeando confluências sociopolíticas, econômicas e, principalmente, militares. Nesse sentido, leia o texto a seguir, que apresenta mais sobre esse assunto. A gestão de conflitos: uma introdução à problemática (BERNARDINO, 2013, p. 165-166) Se pretendermos caracterizar a situação internacional atual, podemos afirmar que esta permanece volátil, incerta e muito complexa, como resultado das características de um sistema global marcado pela heterogeneidade de modelos políticos, culturais e civilizacionais, conduzindo recorrentemente ao sur- gimento de conflitos regionais. [...] Com o final da Guerra-Fria, a perspectiva da resolução de conflitos tem vindo a mudar, principalmente porque a “relação entre as superpotências da guerra-fria fez desaparecer o mito dos conflitos regionais pela ideologia e pela simples competi- ção militar ”, tornando os conflitos mais político-ideológicos e Geografia Política, Econômica e Industrial – 52 – menos estratégico-operacionaise de cariz militar (Miall et al., 2004, p. 2). Estes aspetos contribuem para relançar novos e complexos fatores na análise da multiplicidade de contendas de caráter regional que proliferam atualmente um pouco por todo o mundo e em particular na África Subsaariana. Neste contexto geoestratégico em mudança, a sociedade internacional viu-se na contingência de estabelecer uma base terminológica e dou- trinal entendível, que congrega o mundo em torno de objeti- vos lineares considerados vitais, tais como o desenvolvimento sustentado e a segurança (nas suas múltiplas dimensões), já que esta última vem assumindo um papel de maior destaque no nexo “Segurança-Diplomacia-Desenvolvimento”. Assim, a necessidade de se estabelecer um diálogo comum na cena internacional levou ao aparecimento recente de várias teorias especializadas na abordagem de conflitos e dos fenô- menos da paz e da guerra. Da retórica acadêmica, ao discurso político, constatamos, contudo, que os termos utilizados nem sempre definem a mesma linearidade de pensamento, sig- nificam o mesmo propósito ou se enquadram num idêntico contexto estratégico-operacional. Por este motivo, tornou-se imperioso definir um quadro conceptual próprio no quadro das Relações Internacionais. [...] Atividades 1. Construa um panorama do Estado como gestor no contexto atual, sabendo que as políticas têm forte viés capitalista, e apresente seu papel como organização socioeconômica. – 53 – O Estado como entidade representativa da centralidade mundial 2. Quais são os deveres do Estado garantidos no momento atual da po- lítica brasileira? 3. Mesmo separadas, as instituições que fazem o Estado soberano estão juntas? Explique sua resposta. 4. Em relação à questão da mediação, de que forma a geografia política poderia justificar um conflito de interesses? O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial Introdução De modo geral, o Estado é o gestor primeiro da sociedade. Ele é o mediador das regras e da convivência social, pois estabelece critérios de acordo com o contexto histórico de cada época. A evolução da sociedade cria necessidades e demandas, como as econômicas, de trabalho, de segurança, de soberania, e as mais diversas exigências sociais. Mas qual seria esse universo periférico do qual nós, como seres sociais organizados, precisamos? Esse universo gerador de necessidades nasce da carência que um Estado tem de crescimento e da quantidade de recursos disponíveis para manter um nível satisfatório de ascensão social e atingir patamares desejados de qualidade de vida ou, como nação, de desenvolvimento econômico. 4 Geografia Política, Econômica e Industrial – 56 – Sabemos que o capitalismo é baseado na sociedade de consumo, que busca na exploração da mão de obra do trabalhador suas necessidades de capi- tal. Então, os instrumentos periféricos, ou supostamente necessários, estão na divisão do trabalho, como recursos naturais, reservas minerais estratégicas, mão de obra, matriz energética diversificada e, atualmente, também por meio de tecnologias limpas. Com esse panorama, neste capítulo, estudaremos elementos conceituais que possam elucidar o quanto é necessário para uma sociedade ter ascensão econômica, garantindo seguridade social – que é papel do Estado suprir, em um regime baseado na social democracia – e os “satélites necessários”, ou seja, o que está no entorno das demandas ou na periferia. 4.1 Estado e capitalismo As sociedades primitivas, do ponto de vista antropológico, tinham forte relação com o território no começo da organização social humana. Os vínculos de relacionamento entre política, economia e cultura eram transparentes, pois, ao se relacionarem com a natureza, esses indivíduos construíam a história. Tudo era gerido da maneira mais simples, pois as necessidades sociais, dado o nível tecnológico que possuíam, exigiam uma quantidade menor de recursos. Entretanto, já no fim do século XVIII, com o crescimento industrial, a descoberta do petróleo, o uso do carvão mineral como energia, a inserção do aço como produto de desenvolvimento urbano e o advento da eletricidade, o Estado passa a ter um papel maior na gestão social e de desenvolvimento. Na atualidade, as transformações técnicas e tecnológicas trazem novas demandas ao Estado como gestor, pois, além das demandas sociais, surgem sobre- tudo as exigências do capitalismo, muito diferente de como ocorria no passado: No Estado antigo, não havia uma sociedade política propriamente dita, porque ele se confundia com a oligarquia de militares e religio- sos. No Estado moderno, essa sociedade se expande, primeiro porque agora a classe dominante é ampla, é a burguesia; e segundo porque duas outras grandes classes sociais – a trabalhadora e a tecno-burocrá- tica – passam gradualmente a ter um peso maior tanto na sociedade civil quanto na nação. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 162) – 57 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial Na organização primitiva social, a transparência dava condição de uma organização mais equilibrada. Já nos Estados modernos, a burguesia como elemento social, formada majoritariamente por capitalistas modernos, pro- prietários dos meios de produção que exploram a mão de obra dos trabalha- dores, exerceu uma força dominante muito maior e por muito tempo. Então, o Estado moderno tem responsabilidades sociais, mas é, sobre- tudo, “a principal e mais abrangente instituição que a sociedade utiliza para definir e buscar o interesse público, ou, em outras palavras, para promover seus objetivos políticos” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 164). A robusta caracterização do papel do Estado nos interesses capitalistas faz com que ele, mesmo em uma economia que passe por crises sucessivas, busque equilíbrio entre o certo, como a recuperação econômica, e o justo, que é atender às demandas sociais. Nessa intermediação do Estado com o capitalismo, estão os consumido- res. Uma sociedade falida não tem poder de compra, como comprovado nas inúmeras crises que se sucederam desde 1929. Surge então a globalização de pessoas, do comércio e de consumo – o comprador. “O consumo, tornado um denominador comum a todos os indivíduos, atribui um papel central ao dinheiro nas suas diferentes manifestações; juntos, o dinheiro e o consumo aparecem como reguladores da vida individual” (SANTOS, 2008, p. 99). O Estado, além de suas rotinas administrativas, tem agora um novo ele- mento a gerir, capacitando a sociedade a ir à compra ou dando a ela condições de poder de compra. Assim, mais uma vez, o Estado é responsável por uma integração entre as demandas sociais, buscando implementar políticas públi- cas e regulagem de mercado, como subsídios a impostos, fiscalização do preço de produtos de necessidades básicas ou incentivos financeiros às empresas, com o intuito de gerar empregos e capacitar os trabalhadores para o consumo. No Brasil, desde a superação da crise política (redemocratização) e a abertura de mercado que ocorreu a partir de 1994, os inúmeros governos que se sucederam buscaram melhorar as condições de trabalho e de renda do brasileiro. Isso ocorreu primordialmente até 2014, quando o salário mínimo passou de US$ 90 (100 reais, em 1994) para aproximadamente US$ 332 (cerca de 724 reais, em 2014). Geografia Política, Econômica e Industrial – 58 – No fim dos anos de 1980, As grandes inovações da Constituição de 1988 centraram-se na construção de uma política social efetiva. Estabeleceu as bases para um desenvolvimento centrado no mercado interno que pudesse ser caracterizado pela justiça social. Assim, esperava-se que os anos [19] 90 fossem marcados pela retomada do crescimento com geração de emprego e distribuição de renda. (DEDECCA, 2005, p. 103) Nesse sentido, após a Constituição de 1988, o Estado brasileiro passou a dar condição a uma poética de justiça social mais aplicada, pois a população carecia de cuidados, no que tange, por exemplo, àgeração de novos postos de trabalho. Outrossim, a valorização salarial, garantida na Constituição, é um pos- tulado para melhorar não apenas a qualidade de vida dos trabalhadores, explorados pelo capital há décadas, mas também as condições de consumo, movimentando assim a economia. Entretanto, uma política de proteção social trouxe um agravamento ao Estado brasileiro: a indústria forjada em exportação de matérias-primas, commodities agrícolas e minerais não gera empregos como um parque indus- trial diversificado, com indústrias de transformação e bens de consumo. Essa conjuntura nos aproxima de um colapso econômico, pois a capacidade pro- dutiva atrelada à exportação de matérias in situ, ou seja, na origem e sem beneficiamento, configura-se como uma política de Estado para atender aos interesses escusos que não o da demanda social de geração de emprego. Isso resulta em uma economia fragilizada, já que o problema social do país se agrava. Vejamos o seguinte: Desprezando os elementos estruturais do problema do emprego, posição que permitia desconsiderar as raízes históricas do problema social no país, a política conservadora assume o discurso e as dire- trizes recentes que foram dominando as políticas públicas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nessa perspectiva, o problema de emprego passa a ser, sistematicamente, vinculado ao funciona- mento inadequado do mercado de trabalho, explicado pela regula- ção excessiva das relações de trabalho imposta pela proteção social. (DEDECCA, 2005, p. 105) Nesse sentido, as demandas geradas por essa nova configuração e novo ordenamento político do Estado brasileiro, com a Constituição de 1988, pro- porcionaram garantias sociais, mas de aparato ordinário, pois os contrastes – 59 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial econômicos regionais de norte a sul do Brasil carecem de novos investimen- tos, novas estruturas. O semiárido nordestino, por exemplo, ainda não tinha e/ou não tem as condições necessárias para propósitos desenvolvimentistas. Essa configuração geográfica de território, com sua vastidão, requer atenção nas políticas para sanear o desenvolvimento, pois, para se ter a pos- sibilidade de novas estruturas, é necessário investimento, modernização de estradas, portos, aeroportos, ferrovias e ampliação de produção de energias. Desse modo, não basta abrir as portas a investimentos internacionais, ou leiloar a preços irrisórios as riquezas locais, se não houver uma política de seguridade do patrimônio nacional. As áreas de exploração mineral, rios e flo- restas devem ser geridas pela imposição da legislação federal, com fiscalização diuturnamente. Isso porque o Estado age de maneira desigual, à semelhança das grandes corporações, beneficiando frações do capital. Ele é representado por empreiteiras, multinacionais, investimentos estrangeiros, que, transfor- mados em empresas, têm em suas mãos aberturas de estradas, asfaltamento, uso do solo, ordenamento urbano etc. Esses são exemplos de gerenciamento e aproveitamento do capital; é a forma de o Estado capitalista interferir na planta de desenvolvimento. Desse modo, o Estado, como eixo central nas políticas econômicas de crescimento, tem poder de negociar as demandas de infraestrutura, cabendo às empresas capitalistas a exploração de benefícios em busca do lucro. 4.2 Conceituando capitalismo As sociedades coletoras, os povos da floresta (ameríndios), as comuni- dades indígenas, os aborígenes australianos, entre outros, têm necessidades muito diferentes das sociedades capitalistas. A organização social e as demandas são próprias desses grupos, ou têm pouquíssimas interferências, de modo geral, da sociedade moderna e tecno- lógica. Cada uma dessas sociedades cria, a seu tempo, suas demandas organi- zacionais e em cada época histórica elabora seus sistemas de representações, suprindo necessidades materiais e imateriais. Arraigadas em simbologia e por intermédio da força de seu significado, buscam construir e produzir os ele- mentos necessários à sua própria existência. Geografia Política, Econômica e Industrial – 60 – Você já pescou seu peixe hoje, buscou sua lenha, coletou água, apro- visionou mantimentos para seu futuro? Bom, se isso não faz parte do seu cotidiano, é certo que você está integrado a uma coletividade urbana, com demandas sociais diferentes das primitivas, vivendo em uma sociedade moderna e globalizada. A globalização é o encurtamento das distâncias relativas em função dos avanços nos meios de transporte, nas tecnologias e nos meios de telecomu- nicação. Em outras palavras, tudo acontece de maneira muito mais rápida em um mundo globalizado, pois o tempo de deslocamento é muito dife- rente do século XVIII, e a comunicação acontece em tempo real, com uso de smartphones, smart TVs, computadores etc. Figura 1 – Contrastes globais da atualidade: enquanto integrantes do povo étnico hadza, na Tanzânia, ainda caçam seu próprio alimento, nas sociedades ocidentais muitas pessoas já pedem suas refeições pela internet. Fonte: alexerich/iStockphoto. Fonte: Dragonimages/ iStockphoto. Atualmente, é possível ir ao mercado sem se deslocar muito, economi- zando tempo e, por vezes, dinheiro. Podemos estar na China, em uma loja virtual, ou comprando um livro nos EUA, já que a comodidade da internet possibilita esse processo. Na área de turismo, podemos transitar livremente pelas ruas de uma metrópole como Londres, percorrer a Cordilheira dos Andes e seguir até os Alpes italianos, pois existem softwares de navegação e – 61 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial realidade virtual, que nos dão uma boa ideia dos muitos lugares que o mundo pode nos oferecer. Assim, estamos integrados pelos avanços sistemáticos da tecnologia computacional de hardware e software, e esse universo globalizado está à dis- posição da sociedade atual. Nesse sentido, vivemos, então, longe e perto ao mesmo tempo. Podemos dizer que essa diferença histórica acontece, na prática, com as demandas capitalistas na sociedade de consumo, pois estamos inseridos em um mesmo espaço-tempo. Então: a aldeia global tanto no espaço-tempo contraído permitiram imaginar a realização de um sonho só, já que pelas mãos do mercado global, coisas, relações, dinheiros, gostos largamente se difundem por sobre continentes, raças, línguas, religiões, como se as particularidades teci- das ao longo tempo de séculos houvessem sido esgarçadas, e tudo conduzido ao mesmo tempo homogeneizados pelo mercado global que é regulador. (SANTOS, 2008, p. 41) Percebemos que essa sociedade, agora integrada, faz parte de um todo articulado e fragmentado, mas influenciado pelas condições generalizadas, impostas por um novo jeito de consumo e de visão de mundo. O capitalismo baseado na exploração da mão de obra, nas condições atuais dessa aldeia global, é favorecido pelas facilidades do comércio internacional de mercadorias – como a rapidez na entrega dos produtos – e o acirramento da competição nos mercados mais fragilizados, principalmente em países onde não há seguridade social ou nos quais ela é praticamente inexistente. Esse sistema aumenta ainda mais as disparidades entre ricos e pobres, espalhando pelo mundo políticas assistencialistas, próprias de um regime de servidão histórico. Desse modo, o Estado contribui para a diferenciação entre as classes, como mediador, exercendo poder de influência e auxiliando finan- ceiramente as classes privilegiadas. Nesse contexto, em oposição ao capita- lista, o proletariado: surge como classe antagônica da burguesia. [...] a construção da classe operária acontece em decorrência da constante e crescente exploração por parte da burguesia de uma massa de pessoas que, aos poucos, vai tomando a forma de uma classe. O proletariado surge, então, na Geografia Política, Econômica e Industrial – 62 – medida em que passa a possuir interesses de classes opostos aos daburguesia. É esse enfrentamento de interesses que acaba fazendo com que vários trabalhadores separados formem uma verdadeira classe social, unida na luta teórica e prática contra os interesses de uma bur- guesia que os explora. (RODRÍGUEZ, 2013, p. 60) O operariado está à serviço do grande capital e dos donos dos meios de produção. Vale lembrar aqui que o capital está dividido em duas formas: capital produtivo e capital especulativo. O capital produtivo é aquele que é capaz de gerar novos postos de trabalho, grandes conglomerados industriais, estaleiros na construção de navios e plataformas de petróleo, investimentos em plantas de exploração mineral, parques siderúrgicos, polos tecnológicos e de conhe- cimento científico, polos automobilísticos e têxteis. Já o capital especulativo investe em papel moeda, fundos de pensão, flutuação da bolsa de valores, e é formado em sua maioria por correntistas, que vivem de juros e aplicam seu capital em médio e longo prazo, não trazendo enriquecimento real à nação. Percebemos, então, as profundas diferenças nos modos de exploração, tanto do trabalhador quanto das oportunidades de negócios que surgem com o capital. Nesse contexto, cabe ainda ao Estado socorrer as grandes empre- sas quando se instaura uma crise nacional, como ocorreu nos EUA após a “bolha” imobiliária de 2008. 4.3 As fases do capitalismo mundial e suas nuances Em 1492, Cristóvão Colombo chega às Antilhas, no Caribe, determinado a explorar um mundo novo e provar a todos que, como homem e navegador, detinha suas convicções e havia de encontrar esse território singular e rico. Desde a chegada do genovês ao que atualmente chamamos de América, muitas contradições ocorreram nesse território. A “Terra Rica” foi saqueada, usurpada e muitas tradições até então existentes simplesmente desapareceram, pois os europeus promoveram o extermínio das populações que aqui habitavam. A vinda de espanhóis e portugueses à “terra nova” abriu uma janela para o mundo, tanto do ponto de vista do fluxo de mercadorias e pessoas quanto do intercâmbio de povos, promovido voluntariamente ou pela escravização. – 63 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial Já sabemos que o capitalismo se baseia na exploração do trabalhador. Nesse sentido, sua gênese ocorreu justamente no tempo das Grandes Navegações e sua implementação historicamente foi dada em função da necessidade crescente de mão de obra, à medida que novas descobertas tecnológicas foram surgindo. Então, esse modelo evoluiu ao longo do tempo em função da demanda e dos avanços impostos pela sociedade, que o implementa na prática do trabalho. São chamados de fases do capitalismo os períodos em que houve grandes transformações tecnológicas que obrigaram a reforçar a demanda de trabalhado- res nas diversas atividades comerciais e industriais, bem como a evolução das for- mas de obtenção de lucro pelo modelo capitalista instaurado desde o século XIV. Essas etapas ocorreram, na prática, com o ingresso e a exploração de novas matérias-primas. Podemos citar a descoberta de novos materiais, como o petróleo e o carvão para gerar energia, na 1ª Revolução Industrial; o advento das indústrias petroquímicas, nos Estados Unidos; e a melhoria na forja e no tratamento do aço, no fim do século XVIII, após a guerra civil americana. Vejamos o esquema a seguir: Figura 2 – Fases do capitalismo. Grandes navegações Século XV e XVII Portugal e Espanha comandaram o pro- cesso ocupação e exploção Transformação social e econômica Mais quantidade de produtos maior o lucro, caracterizado pela mais-valia Expansão do mer- cado de capitais Mais quantidade de produtos maior o lucro, caracterizado pela mais-valia Meio técnico- -científico-infor- macional Globalização: com a disse- minação de mercadorias, capitais, serviços, informações, pessoas (tecnologias) Fases do capitalismo Comercial Industrial Financeiro Informacional Fonte: BRESSER-PEREIRA, 2011, p. 10. Adaptada. Geografia Política, Econômica e Industrial – 64 – Conforme apresentado na Figura 2, podemos verificar que cada momento histórico, motivado por demandas específicas, foi importante para a formalização e a consolidação do processo do capitalismo mundial. Então, essas etapas tiveram sua importância à sua época, pois o capital, carro-motor do processo de desenvolvimento desde as Grandes Navegações e a Revolução Industrial, possibilitou a transformação pelo uso das tecnologias (cada uma a seu tempo), modificando a sociedade e o modelo de construção de mundo. Assim, temos que: foi essa mudança no significado do conhecimento que tornou o moderno capitalismo inevitável e dominante e, acima de tudo, a velo- cidade das mudanças técnicas criou uma demanda por capital muito acima da capacidade de qualquer artesão. As novas tecnologias tam- bém exigiram a concentração da produção e substanciais mudanças na fábrica, então o conhecimento não poderia ser aplicado em milha- res de pequenas oficinas individuais, nas indústrias ou nas vilas rurais, pois era exigida a concentração da produção em um mesmo local. (SANTOS, 2008, p. 66) Esse vislumbre capitalista na forma da produção se consolida a partir do momento em que se cria necessidade de consumo. Nos EUA, por exemplo, a utilização do querosene para iluminação das residências, no século XVIII, proporcionou o desenvolvimento da indústria do petróleo, que, por sua vez, pôde ser transportado por uma longa malha ferroviária, abastecendo todo o território nos dias atuais. A construção da ponte de Eads, sobre o rio Mississipi, também nos EUA – a primeira ponte totalmente feita em aço – possibilitou a amplia- ção e modernização das poderosas metalúrgicas estadunidenses e também os primeiros embates entre os industriais e os trabalhadores, pois as cargas de trabalho eram longas e os salários baixíssimos. Para facilitar a compreensão, vamos esclarecer a seguir os principais pon- tos dessa evolução do processo de desenvolvimento do capitalismo. Na etapa do capitalismo comercial (primeira fase), que ocorreu entre os séculos XV e XVIII, a busca por novos territórios fazia-se necessária e foi de fato formalizada tanto pela Espanha quanto por Portugal, que eram as potências econômicas da época. Buscando o acúmulo de riquezas, foram – 65 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial estabelecidas novas rotas e trocas comerciais, e a grandeza capital foi preconi- zada como resultado do fortalecimento desse comércio. O acúmulo de capital foi gerado nas barganhas ou acordos comerciais, sendo o lucro acumulado advindo principalmente das reservas de ouro e prata. Posteriormente, a Revolução Industrial consolidou-se como a segunda etapa (segunda fase) do capitalismo. A transformação do processo industrial deu condição de melhorias ao processo produtivo, tornando-se fugaz a velo- cidade de produção, com maiores lucros, forjada principalmente pelo uso da máquina a vapor movida pela principal energia da época, o carvão mineral. Nessa fase, como em todo sistema capitalista, o trabalhador assalariado e o fim da escravidão possibilitaram o surgimento de uma nova classe de consumidor, que dispunha de remuneração como fruto do trabalho, o que melhorou o desempenho do comércio. O desenvolvimento do processo produtivo exigia cada vez mais matérias-primas e energias e abriu novas possibilidades de investimento por parte dos empresários capitalistas em novas áreas de exploração comercial. A mão forte do Estado deixou de ser importante, seguindo a lógica do mercado. O capitalismo financeiro (terceira fase), já no século XIX, estabeleceu- -se com o fortalecimento do segmento industrial e a consolidação das empre- sas multinacionais com a abertura de capitais. Foram criadas novas estruturas de fomento para investimento e/ou exploração, como as agências bancárias e casas de comércio. Alguns dos fatores que possibilitaram a pujança dessa fase foram a introdu-ção das modernas tecnologias e de novas fontes de energia, como a eletricidade, e a modernização das plantas produtivas nas áreas de siderurgia e petroquímica. Outro fato marcante foi a consolidação da divisão internacional do tra- balho. Os territórios ocupados – falar em colônias aqui é um disparato –, cujas riquezas eram roubadas, consolidaram-se como fornecedores de matérias- -primas às potências imperialistas, aumentando ainda mais os níveis de indus- trialização dos países desenvolvidos. O capitalismo informacional (quarta fase), período marcado por profun- das transformações científicas, aceleradas após a Segunda Guerra Mundial, teve Geografia Política, Econômica e Industrial – 66 – auge a partir da década de 1970, com a Guerra Fria entre os EUA e a URSS. A corrida espacial e as demandas técnicas e tecnológicas marcaram esse período. Os avanços culminaram em novidades tecnológicas, robótica, informática e microcomputadores, melhorias genéticas, sistemas de telefonia e telecomuni- cações e progressos em aviônica e aeronaves, que permitiram o acirramento do processo de globalização. Assim, podemos compreender que as fases do capitalismo se fundamen- taram pelo desenvolvimento de técnicas, cada uma a seu tempo. Elas trou- xeram benefícios incomensuráveis para a era moderna, mas aprofundaram os contrastes econômicos de alguns países. Esse processo resultou também na globalização da economia, dos costumes, de culturas e, principalmente, no fortalecimento das grandes multinacionais. Com um sistema arraigado na planta produtiva mundial, são notórios os contrastes causados pelo capitalismo nas economias. As desigualdades entre países subdesenvolvidos, emergentes e desenvolvidos são aprofundadas, pois estes últimos controlam os preços das tecnologias, influenciam mercados pro- dutores de energias como o petróleo e detêm os melhores pesquisadores em todas áreas das ciências. Nesse contexto, a ideia da irreversibilidade da globalização atual é aparentemente reforçada cada vez que constatamos a inter-relação atual entre cada país e o que chamamos de “mundo”, assim como a interdependência, hoje indiscutível, entre a história geral e as histórias particulares. Na verdade, isso também tem a ver com a ideia, também estabelecida, de que a história seria sempre feita a partir dos países centrais, isto é, da Europa e dos Estados Unidos, aos quais, de modo geral, o presente estado de coisas interessa. (SANTOS, 2008, p. 149) Assim, em oposição às potências mundiais, os países subdesenvolvidos e os emergentes têm imenso potencial, mas ainda não dispõem, por enquanto, de recursos necessários e de atitudes políticas e econômicas de desenvolvi- mento centradas na melhoria da qualidade de vida de seu povo. Conclusão Neste capítulo, evidenciamos que o processo de evolução histórica cul- minou no uso dos diversos tipos de tecnologias, cada uma à sua época, mas o verdadeiro beneficiado foi o capitalismo. – 67 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial Desde a abertura comercial, nas Grandes Navegações, a acumulação de riquezas foi inerente ao emprego dos diferentes tipos de matérias-primas e técnicas e o uso da mão de obra dos povos explorados, fossem eles escra- vizados ou imigrantes (que, da mesma forma, serviram de mão de obra na construção do capital). O capitalismo foi uma consequência histórica da evolução das sociedades. Na fase comercial, foi inerente às trocas comerciais com supremacia da Espanha e de Portugal, fortalecendo suas riquezas por meio do comércio internacional. Na fase industrial, as relações de produção, emprego de máquinas e energias deram suporte ao acúmulo de capital, com utilização de mão de obra assalariada e com base na mais-valia1. Estudamos também que o processo de globalização foi construído com base nos avanços de técnicas e de tecnologias próprias de cada fase do capita- lismo. A exploração dos países ocupados a partir da divisão internacional do trabalho, que deu suporte às diferentes fases do sistema capitalista, culminou em avanços nos meios de transporte e nas telecomunicações, abrindo possibili- dades a uma maior integração comercial e mundial. Com esse processo global de desenvolvimento, as empresas de capital aberto se expandem cada vez mais. Ampliando seus conhecimentos Vivemos em uma sociedade bombardeada de elementos que nos influenciam na forma de ver e desejar produtos. Mas será que todos os produtos a nós oferecidos são necessários? Esse desejo material se reflete na dedicação de nosso tempo ao trabalho, em parte por buscarmos melhores condições de vida ou um “prazer” no ato de consumir. O excerto do texto de Padilha (2000), apresentado a seguir, discute sobre a utiliza- ção do “tempo livre” na atualidade. 1 Processo em que o trabalhador usa o tempo de seu trabalho para produzir um número maior de mercadorias e receber em troca um salário menor do que o valor agregado ao produto. Essa diferença é apropriada pelo capitalista (empregador) e representa a base desse sistema econômico. Geografia Política, Econômica e Industrial – 68 – Breve panorama do mundo de hoje: globalização, centralidade do trabalho e tempo livre (PADILHA, 2000, p. 122) [...] Entende-se que uma sociedade emancipada é aquela que per- mite a seus membros o livre desenvolvimento sem que eles tenham de sacrificar as próprias vidas em função de interesses que não são diretamente as necessidades humanas, coletivas e sociais. Na verdade, homens emancipados são aqueles capa- zes de identificar os seus próprios interesses e alcançá-Ios, articulando atividades individuais com necessidades sociais. Partindo desse entendimento e da racionalidade econômica que rege o capitalismo, acredita-se que não pode haver uma sociedade emancipada enquanto o trabalho for extrínseco ao homem, enquanto seu produto pertencer a um outro e levar o trabalhador à perda de si mesmo; ou seja, não pode haver emancipação sob o universo capitalista. Parece impossível que o homem possa transformar o seu tempo livre em momentos que propiciem uma autêntica liber- dade à medida que ele está inserido na sociedade capitalista, cuja lógica de valorização do capital privilegia o produtivismo e o consumismo desenfreados, em detrimento das efetivas necessidades humanas e sociais. Assim, a conquista de um tempo livre potencialmente emancipador depende de uma profunda mudança nas estruturas econômica, política, social e cultural da sociedade moderna, de forma a ferir esta lógica do capital. Seria preciso, antes de tudo, ultrapassar o reducio- nismo econômico que direciona as práticas governamentais no mundo todo para que esferas muito mais amplas da vida humana fossem valorizadas. [...] – 69 – O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial Atividades 1. A navegações do século XV possibilitaram a expansão da Europa. O que esses eventos determinaram do ponto de vista das relações comerciais? 2. A evolução das riquezas e do capital distribui-se ao longo da história. Caracterize as fases que desenharam cada um desses períodos. 3. Na fase do capitalismo informacional, qual fator foi determinante? 4. Caracterize a globalização com base no capitalismo, como isso vem ocorrendo desde que as máquinas e as novas energias passaram a mo- dificar a vida em sociedade. – 173 – Referências Referências Geografia Política, Econômica e Industrial – 174 – ALMEIDA, P. R. A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 44, n. 1, p. 112-136, jan./jun. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0034-73292001000100008>. Acesso em: 13 nov. 2017. ALVES, A. L. A. Constiticionalismo e democracia: soberania e mito cons- titucional. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito de Minas Gerais, Pouso Alegre, 2012. ALVES, M. A. Guerra fiscal e finanças federativas no Brasil: o caso do setor automotivo.122 f. 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GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Jaime Sergio Frajuca Lopes E d u ca çã o G E O G R A F IA P O L ÍT IC A , E C O N Ô M IC A E I N D U S T R IA L Ja im e S er g io F ra ju ca L op es Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba- seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 GEOGRAFIA POLÍTICA, ECONÔMICA E INDUSTRIAL Jaime Sergio Frajuca Lopes E d u ca çã o G E O G R A F IA P O L ÍT IC A , E C O N Ô M IC A E I N D U S T R IA L Ja im e S er g io F ra ju ca L op es Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba- seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6359-8 CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59 Unidade 4 A democracia liberale a nova ordem econômica mundial Introdução Você sabe como vivem as abelhas? Elas são insetos da ordem hymenóptera, vivem organizadas em função da construção de um grande grupo de indivíduos, no qual cada um tem a sua função, sendo liderados pela rainha, protegidos pelos “soldados” e tendo como fundamento a proteção e o crescimento da colmeia. O interessante nesse grupo de insetos voadores é a sua estru- tura social, que nos desperta curiosidade e metaforicamente nos deixa uma reflexão sobre esse sistema democrático de organização. Nele, há um governo central, com o qual os indivíduos seguem uma ordem para a sobrevivência de todos, perpetuando de modo organizado, pois sua existência depende de uma estrutura complexa, em que obrigatoriamente esse lar deve estar protegido. A manutenção constante do sistema é feita por um exército de traba- lhadores e, ao mesmo tempo, a carência de suprimentos é mantida 5 Geografia Política, Econômica e Industrial – 72 – pela relação entre defesa, reprodução e aumento da população, a qual é garan- tida pela rainha, que se relaciona socialmente com todos os indivíduos da colmeia. Nesse sentido, a carga de feromônio1 da organização social é que, instintivamente, faz com que todos estejam preocupados com o bem comum. Nossa analogia entre as abelhas e o processo democrático de governo é exatamente essa. Os governos que se sucedem, em certa lógica social, devem estar pautados no bem-estar da população, sendo que todos exercem uma liber- dade pré-estabelecida, em uma sociedade que tem base na social-democracia, corroborando os termos determinados em sua Constituição. Acima de todos há a governança proposta por governos eleitos pelo povo, com o intuito de promover um gerenciamento das condições econômicas e sociais que assegu- rem o bem-estar social e as garantias econômicas, assim como ocorre em uma grande colmeia. Neste capítulo, estudaremos mais sobre esse processo e suas consequências na sociedade. 5.1 Democracia e suas nuances Nos últimos anos, a história da humanidade tem sido construída sob dile- mas a respeito de que tipo de vida é melhor ou o quanto devemos ter em termos de bens materiais para sermos felizes – isso tudo pautado em modelos econô- micos impostos por diferentes sistemas de governo, em toda parte do planeta. No Brasil, vivemos sob o comando de um governo eleito democrati- camente, pois o povo lhe concedeu o direito de governar, de acordo com o que está preconizado na Constituição. Um governo que, desde 1988, busca implementar a vontade do povo na construção econômica e objetiva o bem- -estar social. Nesse contexto, A base do conceito de democracia (Estado Democrático) é a noção de governo do povo. Este conceito é aceito tanto no Estado atual quanto foi no Estado Grego na antiguidade. Porém, na Grécia significava apenas “governo do povo” e hoje, no inconsciente coletivo ocidental, adquiriu o significado mais preciso de “governo da maioria”. Hoje, por meio do sufrágio universal, com o exercício do voto, a maioria do povo é quem escolhe seus representantes no governo. (BORGES, 2015, p. 64) 1 Substância química secretada e espalhada no ambiente por espécies de insetos e mamíferos, com função de demarcação de território ou caminhos, atração sexual e comunicação. – 73 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial Nas últimas décadas, desde a redemocratização, a economia brasileira tem sistematicamente se modernizado, graças a uma democracia fortalecida, cujo papel do povo e suas representações vêm sendo importantes dentro de um modelo neoliberal, mas com garantias sociais. Entretanto, em meados de 2016, nossa democracia sofreu um abalo constitucional, tendo em vista o afastamento da presidente eleita por supostas irregularidades em sua gestão. Um dos argumentos para o impeachment foi a suposta manobra fiscal, para não deixar o Estado deficitário na passagem de um ano para outro. Nesse sentido, podemos entender que até em regimes democráticos, com poder de voto do povo, o Congresso nacional pode intervir, mesmo se houver interesses difusos. Além disso, se o Congresso não concorda com a política do Poder Executivo, pode tomar medidas para seu impedimento. Cabe aqui ressaltar que existe uma hierarquia entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O Legislativo é responsável pela criação das leis, ou por modificar as já existentes, como é o caso de uma PEC – Proposta de Emenda Constitucional –, cabendo ao Executivo aprovar determinada lei ou rejeitá-la, se for o caso. Em um governo democrático, estamos abrindo, assim, um grande prece- dente jurídico, que não deve ser compactuado em uma democracia fortalecida como a brasileira. Esse momento histórico intenso vem sendo condenado pela imprensa internacional. Nessa democracia efetiva, inúmeras são as possibilida- des de intervenção no Executivo, desde que atendidos os parâmetros legais com base no conjunto de leis descritos na Carta Magna. Vejamos o seguinte: Os instrumentos de competição e participação política são de fun- damental importância, mas não são suficientes para afirmar que determinado país é uma democracia consolidada, sem riscos de retro- cesso, sobretudo na América Latina, onde há fraco ethos democrático. Eleições devem ser seguidas de observações a respeito das instituições coercitivas tais como as polícias, as Forças Armadas, o Ministério Público, o sistema de justiça criminal. Numa concepção submínima, tais instituições ficam em segundo plano, apesar de elas serem funda- mentais para as garantias da soberania nacional e da integridade física dos cidadãos. (NÓBREGA JR., 2010, p. 77) Geografia Política, Econômica e Industrial – 74 – Nesse sentido, podemos observar um jogo de interesses políticos, em uma democracia que vinha sendo referência mundial. Esse governo que emana do povo tem se apresentado com tons de radicalismo no discurso de uma classe política que não vem merecendo muito crédito, envolta em casos de corrupção. O Legislativo acaba servindo ao capital internacional, e o Executivo corrobora isso, transformando o Estado em um balcão de negócios. O governo é um agente de mediação dos impostos do Estado e molda seus gastos. Assim, ele “se transforma no senhor da sociedade civil, capaz de moldá-la e dar-lhe forma. Acima de tudo, através de impostos e gastos, o governo pode redistribuir a renda da sociedade. Através do poder que emana do dinheiro, ele pode moldar a sociedade à imagem do político” (DRUCKER, 1993, p. 91). Quando o governo busca, por intermédio de um regime democrático, con- solidar suas bases políticas pautadas na centralidade de poder – em que os inte- resses são exclusivamente relacionados ao capital –, há um aprofundamento das desigualdades entre classes sociais, sendo que as regiões pobres tornam-se ainda mais pobres e violentas, e as ricas ficam mais ricas e cercadas nos seus próprios territórios. A classe dominante atribui ao governo a responsabilidade de coibir as zonas de violência, mas ela mesma não dá condição de melhoria a esse quadro. O disparate da divisão de classes criada pelo Estado ainda está longe de ter um fim. Essa realidade se reflete, por exemplo, no ensino universitário: até há pouco tempo, eram poucas as grandes instituições de ensino superior no Brasil – e a maioria da população não tinha acesso a essas universidades. Isso só se modificaria a partir da década de 1990, com a criação de centros tecno- lógicos de educação e novas universidades federais, como a Universidade Federal Fronteira Sul e a Unila, no sul do país. Mesmo assim, ainda é irrisório o número de vagas garantido à população em risco social, que tem um histó- rico de estudo em escolas sem o mínimo de infraestrutura. Nesse sentido, a democracia no Brasil e no mundo, por mais antiga que seja em sua forma conceitual, tem de buscar medidas que possam diminuir as diferenças sociais entre as classes. No Brasil, depois de implementadas as políticas de distribuição derenda, o número de filhos por família diminuiu nas regiões de risco social. No sul do país, o desenvolvimento econômico e industrial tem se refletido expressivamente em menores taxas de fecundidade e aumento da expectativa de vida: – 75 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial Do Censo de 2000 para o de 2010, a população da região envelheceu, reduzindo a proporção de pessoas na primeira idade e aumentando de forma significativa a proporção de pessoas com mais de 60 anos. Apesar do crescimento populacional de mais de 11% da região, a população de pessoas com menos de 15 anos diminuiu, não apenas em comparação a outras faixas de idade, mas em termos absolutos. No Censo de 2010, eram 14.077.788 pessoas com menos de 15 anos, contra 15.741.793 de 2000, indicando uma continuidade na redução na taxa de natali- dade. Estas alterações fizeram a proporção de jovens na população total passar, em termos relativos, de 32,97% para 26,52%, ao mesmo tempo em que a proporção de pessoas com mais de 60 anos atingiu 10,26%, ante 8,42% em 2000. (LEITE; SOUZA, 2012, p. 34) Isso demostra claramente que, com a melhoria nas condições de vida – como aumento do acesso à educação, saúde e alimentação –, há uma tendência natural de equilíbrio populacional. O Estado, nesse contexto, tem o papel de governar em um regime demo- crático para o povo, promovendo políticas econômicas e sociais de integração e de desenvolvimento. 5.2 A ordem econômica globalizada Desde a bolha imobiliária2 gerada nos Estados Unidos em 2008, o mundo passa por uma transformação econômica. Isso não é novidade, uma vez que historicamente é nas crises econômicas que o capitalismo mais lucra, pois o capital especulativo acaba retirando das classes menos privilegiadas o que lhes resta, por meio de alta de preços nos produtos de primeira necessidade e nos combustíveis, além de reservas de estoques, operando, muitas vezes, em cartéis que mantêm preços únicos em todas as regiões de consumo. A nova ordem mundial instaurada – que remonta ao período da Guerra Fria, com a fragmentação da União Soviética, a única potência imperialista que não teve uma bomba sequer caída em seu território – vem saqueando as pequenas economias. Os EUA, como polo centralizador econômico com o dólar, têm e sempre tiveram o disparate de produzir moeda quando há neces- sidade, desde que suas próprias “necessidades capitalistas” e sua economia não estejam sendo colocadas em risco. 2 Movimento especulativo no mercado de imóveis que cria um cenário de crédito e oferta artificial, resultando em perdas capitais de bancos e empresas. Geografia Política, Econômica e Industrial – 76 – Uma potência econômica desenvolvida como os EUA tem, desde o século XVIII, um parque industrial diversificado, com grandes siderúrgicas, as maiores petroleiras e gigantes plantas de refino de petróleo – com suas indústrias químicas e petroquímicas – e um dos maiores polos automoti- vos do mundo. Tudo isso graças à pouquíssima intervenção do Estado, mas com a ferocidade de grandes empreendedores do fim do século XVIII, como John D. Rockefeller, Tom Scott, Cornelius Vanderbilt e Andrew Carnegie3 – homens que construíram a história capitalista dos EUA. Um dos maiores feitos dessa potência no período foi a melhoria nas técnicas de refino e tratamento do aço, como material que viria a suplementar a indústria moderna no início do século XIX. O que seriam das indústrias automobilísticas sem uma liga de metais agora mais resistente e mais flexível? O petróleo foi importante e as ferrovias ligaram regiões isoladas daquele país, mas a melhoria nas ligas metálicas é que fez de Nova Iorque uma gigante e verticalizada cidade – e à frente disso estava o industrial Andrew Carnegie (Figura 1), um visionário para sua época na produção de aço. Figura 1 – Retrato do empresário americano Andrew Carnegie, em 1913. Fonte: The Library of Congress/Wikimedia Commons. 3 Esses empreendedores foram os primeiros a formar grandes monopólios de petróleo, aço, bancos e redes ferroviárias. – 77 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial Por mais que a história nos conte que foi na Inglaterra onde ocorreram as grandes transformações na indústria, a nação mais à frente no início do século XIX, com demanda humana e material, era a dos EUA – uma nação globalizada já à sua época, com potencial produtivo grandioso e que reflete até os dias de hoje. Entretanto, o processo de transformação econômica atual, obrigatoria- mente, passa pela China e pela Rússia. No século XXI, os Estados Unidos devem passar de protagonista para coadjuvante, pois a China, gigante asiá- tico, emerge com performance inigualável, chegando a ser o segundo maior PIB de 2013, inserindo-se na economia mundial com maestria, pois decola com voracidade nos negócios. Um dos maiores segredos dessa potência globa- lizada é a imersão na formação técnica e profissional de sua população. No entanto, devemos ter a clareza de que nada acontece da noite para o dia, e não foi diferente nessa nação: O movimento de Educação Socialista foi a base para a revolução cul- tural iniciada em 1965, sob a liderança de Mao Tse-Tung que, inclu- sive, estava afastado da presidência do Partido. A revolução cultural buscou incisivamente estimular a iniciativa das massas populares, principalmente àqueles que não pertenciam formalmente ao Partido, por meio da queda das barreiras burocráticas, que era o grande obstá- culo à participação política. O fervor revolucionário também foi esti- mulado, pois os dirigentes do Partido acreditavam que era a melhor forma de aumentar a produtividade. O Movimento de Educação Socialista, além de atingir os objetivos específicos determinados pelo Partido Comunista, preparou a China para o grande desenvolvimento econômico e social, evidenciados no final do século XX e início do século XXI. (OLIVEIRA, 2008, p. 6) Assim, como podemos conferir, a China emerge como potência, por mais que contrastes sociais ainda perdurem. O processo contínuo de for- mação da população é considerado primordial: o fenômeno de crescimento chinês é resultado de políticas específicas na área educacional e suprimento de outras demandas de governança que trouxeram à tona essa potência eco- nômica no século XXI. Além disso, Na verdade, houve uma coincidência de fatores geográficos, históri- cos, políticos e econômicos, que não podem ser replicados em outros países ou outras ocasiões ainda que a experiência chinesa ofereça lições importantes – que não obstante podem diferir de acordo com Geografia Política, Econômica e Industrial – 78 – a abordagem ao desenvolvimento econômico. (NONNENBERG, 2010, p. 203) Nas áreas de governança, a China buscou criar situações para a popula- ção crescente que pudesse atender aos ideais de desenvolvimento, seguindo a ordem do comércio internacional, com viés capitalista. No entanto, criou sub- terfúgios, como a lei de patentes, que não é e nunca foi respeitada, fazendo da sua engenharia reversa a mais eficaz do mundo globalizado. Vejamos alguns elementos importantes dessa economia globalizada (Quadro 1). Quadro 1 – Aspectos da macroeconomia chinesa. Liberalização de preços O Estado tratava de construir cotas de produção fixas e as comunidades deveriam produzir com preços determinados previamente. O excedente poderia ser negociado no comércio e, na sequência, a taxação era liberada de acordo com a demanda, gradativamente. Liberalização do comércio exterior A comercialização internacional tinha toda a estrutura do governo na forma de planejamento. Todo processo de exportação era estatizado e o preço era determinado pelo Executivo. Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) Era permitida a criação de empresas com capital do investimento estrangeiro e houve deslocamento do eixo produtivo para a capital, nas áreas onde havia incentivos de mão de obra. Na região mais produtiva da capital, fixaram-se as áreas de tecnologia com maior nível dedesenvolvimento. Grande contingente de mão de obra favorável A população do campo, em busca de melhor qualidade de vida, foi em busca de trabalho nas áreas industriais, próximas aos grandes centros urbanos. Isso permitiu o barateamento e a exploração da mão de obra. Ausência de proteção à propriedade intelectual Sem segurança na propriedade intelectual, as empresas poderiam copiar, modificar e vender com preços inferiores seus produtos, que também não apresentavam a qualidade esperada. Os negócios locais eram favorecidos pela parceria com sócios locais. As empresas se apropriavam ilegalmente do conhecimento que vinha de fora e passaram a produzir as mercadorias e negociá-las no mercado interno. – 79 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial Grandiosidade da população A mão de obra em grande número pôde produzir produtos em grande escala e com mais horas de trabalho, barateando o custo geral da produção. Investimentos Diretos Externos (IDEs) As empresas iam diretamente para as ZEEs, pois ali recebiam todos os incentivos necessários para iniciar a produção, com isenção de impostos, infraestrutura e logística necessária, energia, fornecedores, áreas de desenvolvimento de pesquisa aplicada, laboratórios e núcleos incubadores. Fonte: NONNENGERG, 2010, p. 204. Adaptado. O processo de integração econômica do mundo foi primordial para fazer da China um gigante no comércio internacional, favorecida pelo con- tingente de mão de obra, a falta de proteção de propriedade intelectual e a engenharia reversa realizada com qualidade. Ela também é detentora de grande potencial mineral e energético que continua em ampliação, como no caso de uma das maiores barragens artificiais do mundo, a Três Gargantas, no rio Yan Tzé, cuja produção de energia hidrelétrica só perde para a usina brasileira Itaipu Binacional. Assim, o processo de globalização vem transformando a economia glo- bal, que é baseada no capitalismo e na sociedade que se transforma, sedenta por novos e melhores produtos. Abrem-se novas possibilidades para empre- sas, produtos e serviços, que agora se tornam mundiais, mas com exigências locais e regionais, tendo em vista padrões culturais diferentes, conforme vem ocorrendo com muitas empresas multinacionais, nas áreas de tecnologia, ves- tuário e alimentação. 5.3 A influência do capitalismo globalizado nas geoeconomias Atualmente, é possível ter, em nossas residências, a comodidade do mundo globalizado, favorecida pelo avanço das tecnologias e dos meios de comunicação. A internet tem ofuscado o sonho capitalista de alguns monopólios his- tóricos. É o caso, por exemplo, das empresas de táxi, que vêm perdendo para os motoristas autônomos de aplicativos de transporte privado. Geografia Política, Econômica e Industrial – 80 – Outro exemplo é a Netflix – provedor de séries e filmes via internet –, na qual podemos escolher séries, filmes e documentários e assistir a esses pro- gramas quantas vezes julgarmos necessário. Em consequência, as empresas de TV a cabo estão sucumbindo, pois não é mais preciso aguardar a programa- ção comercial das monopolistas televisivas. Nesse sentido, a globalização com base na velocidade de informação tem transformado o comércio global nas áreas de entretenimento. A difusão da pira- taria de produtos de entretenimento tem feito com que as empresas busquem alternativas comerciais que minimizem os efeitos globais em seus lucros. Não é necessário mais aguardar meses para ver a sequência de filmes ou séries lançados nos EUA, por exemplo. As empresas têm feito lançamentos simultâneos, não mais com reserva de mercado, mas fazendo com que o con- sumidor globalizado adquira antecipadamente sua cota de desejo. Assim, a globalização transforma as economias usando as armas de sempre: o poder de compra das pessoas, a modernização de seus sistemas e a implemen- tação de inovações tecnológicas em seus produtos, mercadorias e serviços. “De fato, para grande parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades” (SANTOS, 2008, p. 19). E os elementos ideoló- gicos dessa “fábrica” são contrastantes dentro do modelo capitalista, já que, em vez de promoverem uma transformação social, aprofundam as desigualdades. Como produto mercadológico, os filmes, que antes eram projetados apenas em cinemas, passam a ocupar novos papéis no cenário de consumo. A proliferação das inúmeras telas, por meio de televisores, computadores, celulares e tablets, deixam o consumidor escolher em qual plataforma deseja consumir o produto audiovisual. Essas opções oferecidas pelas marcas aos consumidores desencadeiam a necessidade de um olhar mais pontual a quem consome os produ- tos. O uso do mercado de nicho aparece justamente dentro deste cenário, no qual é possível segmentarmos produtos por perfis pes- soais, significando a passagem da mídia de massa ao planejamento de produtos direcionados a uma parcela potencial de consumo, oca- sionando rentabilidade financeira e foco nas campanhas publicitá- rias. (HERMANN, 2012, p. 226) Nessa demanda, observamos que, mesmo se alguns elementos comer- ciais deixarem de existir como instrumentos físicos, abrem-se novas oportu- nidades de compra de produtos, para a comodidade das pessoas. Atualmente, – 81 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial por exemplo, por intermédio da tecnologia, podemos assistir a filmes e pro- gramas nos momentos de folga, no trabalho, na escola, no ônibus, no con- forto de nossas camas, já que temos acesso a eles por meio de aplicativos das mais diversas tecnologias. O novo consumidor está à mercê do capital que explora o trabalhador. As séries, filmes e documentários, além de entretenimento, trazem consigo uma grande carga de anúncios publicitários implícitos, por vezes introduzi- dos por meio de mensagens subliminares. Ao assistirmos a esses anúncios, eles podem causar o desejo de consumo. A transformação na forma de consumir com base no mercado virtual tem ganhado força nos últimos anos. A energia comercial vem do aumento do poder de compra, da ascensão social e da melhoria na qualidade de vida, que torna as pessoas potenciais consumidores. Numa sociedade agora altamente conectada em rede e orientada para o consumo, na qual as pessoas têm necessidade de um modelo econô- mico centrado no indivíduo, os mercados não são os inimigos. Esta é a maior diferença entre um pós-capitalismo baseado da tecnolo- gia da informação e um pós-capitalismo baseado em planejamento autocrático. Não há razão em abolir os mercados por decreto, desde que abolidos os desequilíbrios básicos de poder que a expressão “livre mercado” mascara. (MASON, 2017, p. 400) O consumidor, imbuído de poder, nos dias atuais tem as ferramentas necessárias ao mercado global de capitais. Esse potencial consumidor pode estar em uma loja virtual da China, favorecendo uma fábrica na Turquia, na Noruega, na Finlândia, na Escócia etc., pois o comércio eletrônico lhe per- mite buscar um produto determinado, com o preço que ele se dispõe a pagar e que seja adequado a seu desejo. O mercado global deve passar por uma regulamentação no tocante ao e-commerce, mas, enquanto isso não ocorre, o consumidor ainda é benefi- ciado, pois os impostos no comércio tradicional ainda não estão totalmente embutidos nos produtos. O resultado de uma regulamentação geral ainda é incerto, visto o que já ocorreu, por exemplo, com o setor de telefonia, cuja privatização trouxe a ampliação de serviços, mas não o barateamento. As grandes multinacionais que necessitam de lojas físicas já permitem que o consumidor faça suas escolhas na “pré-compra”, buscando acessórios, Geografia Política, Econômica e Industrial – 82 – mudando a cor do produto e verificando os adicionais de compra. Então, mesmo as grandes lojas de varejo já estão no rumo de uma modernização no contato entre fabricantes, produtos e consumidores. “O ato de inovar e criar, seja um tipode motor, seja uma faixa de dance music, tem sido recompen- sado, até agora, pela capacidade da firma em colher ganhos de curto prazo, por conta das vendas maiores e custo menores” (MASON, 2017, p. 185). Um dos elementos de supremacia já realizados são as patentes voláteis de curto prazo4. Isso faz com que, na maioria dos países em desenvolvimento, as empresas simplesmente não respeitem as legislações internacionais, pois o que está em evidência é o desejo do consumidor. Nesse sentido, podemos observar que os países em desenvolvimento, principalmente os do Hemisfério Sul, sempre desfavorecidos em uma demanda desigual de comércio, devem buscar maior integração entre si, já que o mercado global faz malabarismos comerciais, ou simplesmente não cumpre as demandas sociais, com consequências à seguridade social e à explo- ração da mão de obra em nações com profundas desigualdades sociais. Então, os emergentes devem consolidar parcerias e acordos bilaterais que possam fortalecer seu mercado interno, buscando o crescimento regio- nal com políticas desenvolvimentistas e promovendo a geração de emprego e renda às populações. Conclusão Como vimos, as demandas de crescimento das economias emergentes estão à mercê de uma economia globalizada. No caso da China, ela buscou fortalecer sua economia interna criando zonas econômicas especiais (ZEEs), não respeitando as normas internacionais de patentes, o que fez com que essa nação ficasse entre as cinco maiores economias do mundo. Uma economia globalizada promove contrastes intensos, aprofundando as desigualdades entre as classes sociais. A Divisão Internacional do Trabalho se aprofunda quando as economias imperialistas buscam apenas a exploração 4 São produtos fáceis de reproduzir, de engenharia reversa duvidosa, sem respeitar as patentes originais e geralmente de qualidade inferior. – 83 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial de recursos humanos e commodities nos países com histórico de produção agrícola e extração mineral. A internet, como facilitadora da integração do comércio mundial, vem provocando mudanças, porque o consumidor busca aquilo que lhe é ofere- cido pela propaganda, agora embutida em séries e filmes. Com o encurta- mento das distâncias e o tempo relativizado, a internet tem favorecido, do ponto de vista conceitual, o intenso processo da globalização humana, e isso, sobretudo, por estar influenciada pelo jeito ocidental. Desse modo, percebemos que o capitalismo não mudou sua proposta, ele a modernizou atendendo aos anseios do novo consumidor. A comodidade e a facilidade na logística de compra e entrega dos mais diversos tipos de pro- dutos e mercadorias têm se intensificado com o e-commerce. Assim, atualmente somos cidadãos globalizados, atendendo às necessi- dades do capitalismo, agora na palma de nossas mãos. Ampliando seus conhecimentos A democracia sempre nos é apresentada como o governo que emana do povo, conceito pregado desde a Grécia Antiga. Mas será que vivenciamos isso na prática? As realidades atual e da Antiguidade vêm sendo alvo de muitas comparações, inclusive no Brasil, como demonstra o texto a seguir. Paralelo entre a democracia grega e a atual (BORGES, 2015, p. 64-65) A base do conceito de democracia (Estado Democrático) é a noção de governo do povo. Este conceito é aceito tanto no Estado atual quanto foi no Estado Grego na anti- guidade. Porém, na Grécia significava apenas “governo do povo” e hoje, no inconsciente coletivo ocidental, adquiriu o Geografia Política, Econômica e Industrial – 84 – significado mais preciso de “governo da maioria”. Hoje, por meio do sufrágio universal, com o exercício do voto, a maioria do povo é quem escolhe seus representantes no governo. Também a noção de “povo que deve governar” é divergente: para os gregos a regra era a restrição, ou seja, somente uma parcela da sociedade era considerada apta a participar das decisões políticas. Atenas (450 a.C.), por exemplo, tinha aproximadamente 200.000 habitantes, dos quais apenas 20.000 eram considerados cidadãos gregos, aptos à partici- pação política. Observe-se que “aptos” eram os homens livres e proprietários de bens materiais. Outra curiosidade sobre a democracia grega é que para os atenienses o método demo- crático era o sorteio. Atualmente, no Brasil, homens e mulhe- res, maiores de dezesseis anos, inclusive os analfabetos, são aptos, por meio do voto, a governar. Outras características importantes da democracia na Grécia Antiga [...]: a) a participação do cidadão grego nas decisões políticas era mais um dever do que um direito; b) o Estado intervinha grandemente na vida privada das pessoas, como, por exemplo, impondo o tipo de traje que homens e mulheres deviam usar. Percebe-se que, em algumas situações, especial- mente nas questões privadas, o ideal totalitário se acomodava na prática da democracia grega. Hoje, a Constituição Federal brasileira assegura inúmeras liberdades individuais, como, por exemplo, a intimidade e a privacidade, valorizando a autono- mia da vontade. [...] Atividades 1. Caracterize a democracia conforme abordado no capítulo. O que po- deria mudar no sistema democrático brasileiro? – 85 – A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial 2. As políticas sociais, em um regime democrático, são necessárias. Como seria o cenário de um país como o Brasil, em sua opinião, se todas as universidades públicas se tornassem privadas? Esse é um caso de política social garantida na Constituição Federal? 3. A globalização pode ser abandonada? É possível vivermos isolados? Explique sua resposta. 4. Como seria se a internet deixasse de ser importante? A sociedade mo- derna tem condições de se adaptar ou retroceder ao mundo analógi- co? Explique sua resposta. Produção e consumo em nível mundial e nacional Introdução Imerso no mundo do trabalho, na busca por melhorias na qualidade de vida, o ser humano moderno tem seu tempo ocupado com sua formação e capacitação e suas rotinas laborais. As condições gerais da sociedade estão relacionadas ao investimento material, sendo que poucas horas são reservadas às ati- vidades físicas e de descanso e, sobretudo, a convivência familiar fica restrita a férias escolares ou feriados prolongados. No Brasil, um país substancialmente tropical, constata-se que não há um planejamento de longo prazo por parte da gestão pública, o qual faça uma associação entre as condições climáticas regionais, o lazer e o estudo da população. 6 Geografia Política, Econômica e Industrial – 88 – Nesse sentido, ainda é necessário planificar o modo de consumo do tempo e analisar como isso pode influenciar nas condições gerais de compra. Com mais tempo livre e melhor condição financeira, os indivíduos estariam mais aptos às compras, proporcionando solidez ao mercado regional. No mundo, ao que parece, as populações dos países desenvolvidos estão buscando mais tempo para o lazer, fato que modifica o mercado consumidor e o setor de serviços. No Brasil, as redes hoteleiras, por exemplo, estão ade- quando o poder de compra médio do brasileiro, já que a maioria da popula- ção pertence à classe C1, o que faz com que seu consumo seja restrito. O comércio internacional busca atualmente alternativas sustentáveis para suplementar seu desenvolvimento. As formas de produção e de consumo se expandem rapidamente, formando novas redes e nichos de atuação. 6.1 As formas de produção industrial e suas nuances Desde que a humanidade, como parte de sociedades organizadas, pas- sou a morar nas cidades, a demanda crescente por produtos e serviços vem aumentando vertiginosamente. O Brasil, populoso e povoado, tem uma necessidade muito grande de bens duráveis e não duráveis, haja vista sua sociedade altamente urbanizada. O processo de transformação do Brasil, principalmente após a década de 1980, com a fragilização das atividades da agricultura familiar e um grande aporte financeiro à agricultura comercial, fezcom que as pessoas buscassem nas cidades a melhoria de vida. A falta de estrutura fundiária afetou o espaço agrícola no Brasil. O investimento em áreas de tecnologia por meio do fomento agrícola, o parco 1 A população brasileira é classificada em diferentes classes de acordo com o chamado Critério Brasil. A distinção entre as classes A, B, C, D e E é feita pela análise do nível de escolarida- de, patrimônio e serviços públicos disponíveis na vida de cada família, além da presença de bens por domicílio, como eletrodomésticos, computadores e automóveis. Nessa classificação, também é considerada – apesar de não ser determinante – a faixa de renda das famílias. Nesse particular, são consideradas como de classe C as famílias cuja renda domiciliar total some, aproximadamente, de 3 a 5 salários mínimos. – 89 – Produção e consumo em nível mundial e nacional investimento em infraestrutura – como máquinas e equipamentos – e em pesquisa nas áreas agronômicas fizeram com que a população rural buscasse nas áreas urbanizadas condições de trabalho e emprego. Os mais necessita- dos – os pequenos produtores – passaram a não conseguir financiamentos e, portanto, tiveram suas condições produtivas limitadas. Além disso, a pequena propriedade, baseada na agricultura familiar e de subsistência, deixou de ser importante no plano federal, em detrimento dos grandes latifúndios, que recebem vultosas quantidades de recursos, caracterizando assim um disparate na gestão agrícola. Vejamos o seguinte: O espaço agrícola é seletivamente o receptáculo de dois tipos de capi- tal: um capital novo, valorizado, que escolhe lugares privilegiados onde, ajudado pelo Estado, pode reproduzir-se mais rapidamente, e um capital desvalorizado, velho, que deve se refugiar nas atividades mais rentáveis, prejudicado ainda pela má qualidade ou mesmo pela inexistência de infraestrutura. (SANTOS, 2007, p. 142) Assim, verificamos que determinados lugares são escolhidos para receber investimento, em detrimento de outros, como é o caso da região da Grande São Paulo, que historicamente tem recebido mais atenção do que outros esta- dos, e isso prejudica principalmente o pequeno produtor. Sem a estrutura necessária para continuar produzindo, fragilizado e desmotivado, esse produ- tor acaba por se desfazer das suas terras e busca nas áreas urbanizadas melho- res condições de vida para sua família. A questão agrária dentro de um modelo de desenvolvimento, em um país com histórico agrícola como o Brasil, transfigura-se também como um problema social. O descaso dos governantes com as questões de investimento no campo e para o produtor rural só foi modificado a partir de 2002, com a disponibilização de carteiras de créditos específicas, voltadas ao cooperati- vismo. Isso permitiu uma alavancada na produção agrícola, principalmente para o pequeno agricultor. Desse modo, no Brasil e nos países emergentes, vem-se buscando alter- nativas para fomentar a questão fundiária. Nossa agroindústria tem sido uma propulsora da área, já que os ramos de produção de proteína animal, tais como carne de frango, suíno e o gado de corte, lideram em números de exportação, principalmente com forte parceria comercial com a China e a Rússia. Geografia Política, Econômica e Industrial – 90 – Em comparativos de crescimento, estamos nos igualando às grandes potências imperialistas nesse segmento de produção. Vejamos os números da produção de frango em 2011: Em 2011, o produto brasileiro manteve sua posição no ranking do comércio internacional e, mais uma vez, recordes foram batidos. Os números da produção de carne de frango fecharam em 13,058 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 6,8% em relação a 2010. Com este desempenho, o Brasil, terceiro maior pro- dutor mundial de carne de frango, encurtou ainda mais a distância que o separa da China, o segundo país no ranking, abaixo dos Estados Unidos. De acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos EUA, a produção chinesa de carne de frango teria somado 13,2 milhões de toneladas em 2011, contra 16,757 milhões da norte-ame- ricana. (TURRA, 2012, p. 4) Esse produto da agropecuária brasileira tem se mostrado importante, em comparação a outros segmentos, tendo em vista que o país sempre se apresen- tou no cenário internacional como exportador de commodities. O modelo agrícola intensivo vem apresentando bons resultados, sobre- tudo pelo forte investimento do governo federal, já que é uma área competi- tiva e geradora de muitos postos de trabalho, se comparada ao modelo indus- trial, no qual as empresas buscam substituir a mão de obra do trabalhador pelos modernos sistemas robóticos. O crescimento da produção da atividade rural demonstra como o Brasil mantém suas raízes ligadas a essa atividade. Então, temos nas áreas rurais um modelo pautado na história de desenvolvimento do país. De acordo com Bertolini, Brandalise e Nazzari (2010), Reconhece-se que o meio rural amplia suas funções, dadas as distintas produções e formas de consumo. Os circuitos de produção, distribui- ção e consumo são, portanto, reinterpretados pelo rural em função das correlações entre oferta e demanda em diferenciadas estruturas produti- vas vinculadas ao território, atenta para o fato de que “a ruralidade é um processo dinâmico de constante reestruturação de elementos da cultura local, com base na incorporação de novos valores, hábitos e técnicas”. (BERTOLINI; BRANDALISE; NAZZARI, 2010, p. 118) Nesse sentido, compreendemos que as atividades do campo contribuem para a formação de um modelo econômico pujante, que impulsiona o país para além da “zona de desenvolvimento”, enquadrando-o entre as dez maiores – 91 – Produção e consumo em nível mundial e nacional potências econômicas mundiais. O país agrário, no entanto, aos poucos tam- bém se sobressai em produção de petróleo e máquinas agrícolas e bate recor- des de exportação de minério de ferro. A Tabela 1 apresenta os faturamentos obtidos com os dez principais produtos de exportação brasileiros. Tabela 1 – Principais produtos exportados pelo Brasil (2015-2016). Os 10 produtos mais exportados pelo Brasil 2015/2016 2015 2016 Item US$ (FOB) Item US$ (FOB) Soja, mesmo triturada, exceto para semeadura 20.981.829.291 Soja, mesmo triturada, exceto para semeadura 19.327.390.501 Óleos brutos de petróleo 11.781.308.300 Minérios de ferro e seus concentrados não aglomerados 11.575.969.901 Minérios de ferro e seus concentrados não aglomerados 10.378.928.216 Óleos brutos de petróleo 10.073.797.268 Outros açúcares de cana 5.899.281.601 Outros açúcares de cana 8.279.525.308 Café não torrado, não descafeinado, em grão 5.555.373.845 Pastas químicas de madeira, à soda ou ao sulfato, de não coníferas 5.128.887.287 Pastas químicas de madeira, à soda ou ao sulfato, de não coníferas 5.342.874.857 Café não torrado, não descafeinado, em grão 4.842.976.634 Bagaços e outros resíduos sólidos da extração do óleo de soja 5.003.245.433 Bagaços e outros resíduos sólidos da extração do óleo de soja 4.331.444.427 Milho em grão, exceto para semeadura 4.932.413.460 Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/ galinhas, congelados 3.952.487.378 Geografia Política, Econômica e Industrial – 92 – Os 10 produtos mais exportados pelo Brasil 2015/2016 2015 2016 Item US$ (FOB) Item US$ (FOB) Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/ galinhas, congelados 3.958.788.803 Milho em grão, exceto para semeadura 3.651.440.897 Carnes desossadas de bovino, congeladas 3.953.397.095 Barcos-faróis/ guindastes/docas/ diques flutuantes etc. 3.644.586.871 Fonte: SEBRAE, 2016, p. 2. Mesmo com toda essa produção, não deixamos nossa herança agrícola para trás: ela deu base ao modelo brasileiro de crescimento suplementado por uma planta industrial, nas áreas de petroquímica, levando desenvolvimento a áreas com tradição agrícola. Essa industrialização tem alavancado setores como os de metalurgia e metal-mecânica e a construçãode plataformas de petróleo, navios petro- leiros, distribuídos por todo o litoral da nação. “O setor metal-mecânico é um dos setores que a refinaria Abreu e Lima2 mais demanda bens e serviços, tanto para o momento da construção quanto na fase de operacionalização” (MELO, 2011, p. 16). Nesse sentido, as demandas da indústria petroquímica no Brasil têm transformado a economia nas últimas décadas. Vale ressaltar que o processo de privatização da Petrobras deve diminuir a demanda de empregabilidade direta, ou seja, muito do que é feito por pes- soal qualificado e concursado será realizado por empresas terceirizadas, o que abre possibilidade de barateamento do processo de prospecção, exploração e refino do petróleo brasileiro. Isso porque as empresas ficam livres para contra- tar externamente a construção ou melhoria tecnológica. 2 Refinaria localizada no estado de Pernambuco, com capacidade de processar 230 mil barris de petróleo por dia. – 93 – Produção e consumo em nível mundial e nacional 6.2 O consumo e a sociedade consumista O mercado propulsor da economia deve obrigatoriamente fortalecer o comércio, visto que inevitavelmente as pessoas têm necessidade de compra. As empresas, de maneira geral, visam compreender o desejo social da população e, por isso, aliam-se ao mercado do entretenimento, possibili- tando incremento às demandas de consumo. Atualmente, existem empresas e pessoas especializadas em estudar o comportamento de compra dos con- sumidores. O chamado perfil de consumo é fornecido pelas organizações que administram o capital individual, como as operadoras de cartão de crédito e as instituições bancárias. No mundo, os países emergentes são objeto de desejo do mercado inter- nacional, pois apresentam crescimento em número de consumidores. As mul- tinacionais fazem lançamentos simultâneos de produtos para não perderem esses potenciais clientes, sendo que os locais de concentração do desejo de compra ainda são os shopping centers. Assim, O shopping center configura-se, então, no mais capitalista templo de consumo, onde os desejos, os projetos, as paixões e as relações pessoais materializam-se em signos e objetos a serem consumidos. As vitrines, uma do lado da outra, parecem nos chamar para irmos ao encontro da sua loja, o que certamente nos parece satisfatório. (PADILHA, 2000, p. 119) As possibilidades de consumo estão sempre ao nosso alcance, até mesmo pela facilidade e segurança que os templos de compra apresentam, como as lojas de departamento e os grandes outlets. Assim, o mercado consumidor global é vultoso. As economias capitalistas modificam as formas de ver e pensar o mundo, no qual os países emergentes são grandes áreas de negócio das multinacionais. Um dos agravantes nessa sociedade ávida por comprar é a obsolescência programada3, isto é, quando o prazo de vencimento do produto é previamente definido pelo fabricante, de modo a fazer com que o consumidor tenha de 3 “Obsolescência é a ação ou coisa que se encontra fora de uso, ultrapassado, antiquado. Programação é ação humana de planejamento e execução do que fora planejado. Assim, obso- lescência programada seria a ação humana de planejar e determinar o que se tornará obsoleto e ultrapassado sem que a coisa tenha em essência deixado de ser (ou existir)” (BELLANDI; AUGUSTIN, 2015, p. 513). Geografia Política, Econômica e Industrial – 94 – adquiri-lo novamente em curto prazo. Isso está relacionado à exploração da mão de obra e à clássica divisão internacional do trabalho. A obsolescência programada, quando não associada a uma política pública de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos e à obrigatoriedade da logística reversa no processo produtivo, intensifica os problemas ambientais nas grandes metrópoles e nos centros consumidores que não têm histórico de preservação do meio ambiente. Nesse sentido, a sociedade baseada apenas no consumo vem causando muitos transtornos ambientais. Alguns países que não possuem áreas de des- carte e não têm políticas de gerenciamento ambiental internalizados estão simplesmente adquirindo terras em países subdesenvolvidos para depósito de resíduos. O maior agravante nesse contexto é a exportação de supostos materiais recicláveis – produtos com base em poliestireno (plástico) e pneus de segunda linha ou de reuso – a nações com sistema sanitário desqualificado, deficiente ou ineficiente e sem fiscalização, como alguns países da África e da América Latina. Outrossim, devemos entender então que os países desenvolvidos veem algumas nações apenas como áreas de subaproveitamento de matérias-primas indesejadas ou que têm custo de reciclagem muito alto. Políticas de educação ambiental são fundamentais nas sociedades de consumo, uma vez que o consumidor deve estar inteirado sobre o tipo de matéria-prima utilizada na fabricação dos produtos, além de saber quais seriam suas formas de reutilização e reciclagem, uma vez que para cada maté- ria existe um cuidado de descarte, armazenamento e transporte. Uma sociedade preocupada com os recursos naturais e certa das suas res- ponsabilidades com o meio ambiente deve compreender que existe uma maneira adequada de consumir as reservas minerais, em médio e longo prazos, dando assim condições para que o uso da água e de energias seja melhor gerenciado. Um dos problemas que enfrentamos historicamente na sociedade de con- sumo está nos processos de fabricação. Quando determinado tipo de produto tem boa durabilidade, as próprias empresas produtoras buscam alternativas de engenharia para que o tempo de vida útil seja menor, garantindo lucros – 95 – Produção e consumo em nível mundial e nacional exorbitantes com o volume fabricado e vendido. Então, cabe aos consumi- dores optar pelas empresas que apresentem um histórico de respeito ao meio ambiente, com políticas de gestão e gerenciamento ambientais de acordo com as normas internacionais ou que tenham recebido selos de certificação de qualidade, atendendo à legislação vigente. Nesse entendimento, uma vez que as empresas têm demandas capita- listas baseadas no consumo, novos produtos nos são apresentados constante- mente, e os compramos muitas vezes sem realmente necessitar deles. Ou seja, Essa nova fase do capitalismo de consumo nada mais é do que a sociedade de hiperconsumo, onde o imperativo é mercantilizar todas as experiências de consumo em todo lugar, a toda hora e em qualquer idade, diversificar a oferta adaptando-se às expectativas dos compradores, reduzir os ciclos de vida dos produtos pela rapi- dez das inovações, segmentar os mercados, favorecer o crédito ao consumo, fidelizar o cliente por práticas comerciais diferenciadas. (BELLANDI; AUGUSTIN, 2015, p. 515) Nessa lógica social, o ser humano busca a felicidade dentro de um uni- verso de sonho, que muitas vezes não é seu, mas do mercado, que impõe um jeito de pensar e de ser baseado na lógica do consumo. 6.3 Fluxos do comércio mundial Desde o século XV, o mundo passa por transformações em processos de integração regionais, de pessoas, de mercadorias e serviços. Inevitável na atual era da revolução tecnocientífica, a globalização vem fazendo com que o mundo esteja cada vez mais integrado. Entretanto, a influência imperialista e os conflitos internacionais na disputa por energias fazem com que mais pessoas fiquem à margem desse processo. Inclusive, cresce o número daqueles que se encontram à beira da pobreza, refletindo o aprofundamento das desigualdades sociais. Os territórios de interesse têm governabilidade política dos países com maior hegemonia, mas apresentam um histórico geoeconômico contrastante e, sob o ponto de vista ideológico, têm características muito diferentes, mar- cados por anos de lutas ou combate às desigualdades – como é o caso da Geografia Política, Econômica e Industrial – 96 – África Subsaariana, com padrões culturais e econômicos e embates em uma sociedade de classes. Então, temos que, “No território, a finança global instala-se comoregra das regras, um conjunto de normas que escorre, imperioso, sobre a totalidade do edifício social, ignorando estruturas vigentes, para melhor poder contra- riá-las, impondo outras estruturas em seu lugar” (SANTOS, 2008, p. 101). A demanda do poder hegemônico nos territórios não respeita as regras locais para poder melhor fazer uso das terras conquistadas, vendo-as do ponto de vista do capitalismo, usando a seu bel prazer as riquezas e, muitas vezes, a força de trabalho. Nesse contexto, o poder de expansão comercial se dá em função da demanda crescente de novas redes de comércio, criando e gerenciando novas estruturas e nichos de mercado, que passam a se apresentar como possibili- dade de mercado. O comércio mundial nunca foi e nunca será hegemônico, como um sonho utópico dos países de social-democracia. A liderança das economias capitalistas sobrepõe-se às necessidades sociais, pois não há interesse em dimi- nuir as desigualdades, mas em explorar de todas as formas a fragilização das pessoas e/ou empresas. Como exemplo disso, podemos citar a questão de ter- ritórios com maioria islâmica. Nações são invadidas usando-se como subter- fúgio o intenso combate ao terrorismo, que perdura desde o ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque, em 2001. No eixo geopolítico e comercial, a questão energética imposta pelo controle do preço do petróleo e das empresas que o exploram faz com que as nações que detêm as maiores reservas estejam sob constante ameaça das potências imperialistas. Um exemplo foi a desculpa sobre a existência de arse- nal nuclear na Guerra do Golfo, no início dos anos de 1990, que movimen- tou todo o Oriente Médio, causando a invasão do Iraque. Naquele evento, os parques de exploração de petróleo foram incendiados e o Kuwait tornou-se livre do controle da ditadura de Saddam Hussein. – 97 – Produção e consumo em nível mundial e nacional Mais uma vez, giramos nossos satélites em torno das demandas de explo- ração de petróleo. Com a justificativa de proteção mundial dos produtos que têm base nesse hidrocarboneto fóssil, países como os Estados Unidos cha- mam de inimigo as nações que detêm as reservas minerais. Para melhorar as demandas de implementação comercial, as potências imperialistas buscam o domínio das áreas de interesse nas regiões de conflito entre países, muitas vezes com negociatas escusas. Para Roos (2013), O contexto geopolítico encorajou os países árabes a utilizarem seu potencial petrolífero como instrumento de barganha política, com objetivo de influenciar Washington de mudar sua política sobre terri- tórios com as reservas, para redirecionar os interesses árabes na região, principalmente sobre Israel. (ROOS, 2013, p. 26) Como percebemos, às vezes os territórios são ocupados sob a ótica do comércio local e de domínios de interesse no jogo internacional, no intuito de atender a objetivos de liderança ou influenciar a economia regional. Vale lembrar que esses territórios são historicamente governados por califados com tradição cultural e de governança muito diferente do pensamento ocidental. Nessa linha de raciocínio, os EUA forneceram armas e treinamento a grupos guerrilheiros do Afeganistão, na década de 1990, para fazer frente à URSS, eficaz do ponto de vista bélico. No entanto, anos depois, essa atitude teve como resultado nada desejado o ataque em Nova Iorque aos dois símbo- los do capitalismo mundial que formavam o World Trade Center. Nesse sentido, o comércio mundial é influenciado pelas potências impe- rialistas que movimentam enormes volumes bélicos para atender a interesses dúbios. Isso porque o processo geopolítico nas áreas de litígio por conta do petróleo está relacionado ao comércio internacional de material bélico e às demandas relacionadas, como suprimentos de guerra, alimentação, veículos de transporte, munição e aparelhamento tecnológico. Sob a ótica do capitalismo, os países dominantes costumam fazer acor- dos comerciais em troca da chamada ajuda militar, com interesses escusos, mas que servem como moeda de troca na intermediação do poderio bélico em detrimento das atividades mercantis. Desse modo, Geografia Política, Econômica e Industrial – 98 – A ideia da ajuda militar é, em si mesma, improdutiva, a ajuda militar não cria aliados confiáveis. Com toda probabilidade, os beneficiá- rios irão se voltar contra o doador, como o Irã contra os EUA, e o Afeganistão contra a URSS. Uma razão para isso é que os beneficiá- rios se ressentem da sua dependência e esse ressentimento cresce com a ajuda, os beneficiários desviam sua visão, e passam a se preocupar com os interesses do seu grupo econômico, ou sua liderança política regional. (DRUCKER, 1993, p. 120) Assim, o ocorrido no Oriente Médio tem certa intencionalidade externa, uma vez que essa região apresenta uma das maiores reservas petrolíferas, cuja exploração tem influenciado o espaço global de comércio há décadas. Atualmente, no entanto, o uso de fontes de energias limpas – eólica, solar, das marés etc. – pode representar um enfrentamento direto às econo- mias que usam o petróleo como energia, combatendo inclusive o aqueci- mento global. “Um único setor em que é imperativo suprimir por completo a força do mercado é o da energia limpa” (MASON, 2017, p. 387). Para isso, os Estados nacionais deveriam assumir o gerenciamento das energias locais, garantindo um equilíbrio universal nas demandas e passando a direcionar as áreas comerciais de interesse social. Do mesmo modo, outras demandas comerciais são importantes para os Estados. A construção de acordos bilaterais de comercialização e produção e a diminuição de embargos fazem-se necessária às economias emergentes, visto que assim essas nações podem fugir da lógica imperialista, na qual predomi- nam as grandes oligarquias, formando cartéis que manipulam o mercado. Podemos verificar atualmente um importante destaque econômico dos países que compõem o chamado BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, os quais têm feito frente às potências capitalistas. O fortalecimento comercial desses países vem alavancando as áreas comerciais de tecnologia, robótica e, principalmente, a produção no setor agropecuário. O Brasil, como grande produtor de oleaginosas, soja, milho e proteína animal, tem fornecido commodities à grande população da China, por exem- plo, com preços aceitáveis em termos absolutos no comércio internacional. Em contrapartida, a China nos fornece matérias das áreas de microeletrônica, – 99 – Produção e consumo em nível mundial e nacional eletrônica e computação e, ainda, commodities minerais que abastecem o mer- cado interno brasileiro. Vejamos um comparativo entre essas duas potências: A China é atualmente o maior produtor mundial de televisores, com uma produção anual de aproximadamente 83 milhões de unidades. A produção anual de aço bruto é de cerca de 420 milhões de toneladas, enquanto a do Brasil é de 31 milhões. A China produz atualmente cerca de 1,3 milhão de caminhões por ano, dez vezes a produção bra- sileira. Enquanto o Brasil produz cerca de 40 milhões de toneladas de cimento por ano, a produção anual da China atinge aproxima- damente 1,2 bilhão de toneladas. (NONNENBERG, 2010, p. 205) Podemos perceber que as duas economias têm se esforçado para abas- tecer seus mercados internos e garantir uma demanda de exportação com os países parceiros, proporcionando um processo constante de modernização, inovação e desenvolvimento de tecnologia. Desse modo, integram seus inte- resses de crescimento e desenvolvimento aos dos investidores estrangeiros. Os centros de pesquisa e desenvolvimento e as parcerias comerciais estão atrelados à implementação tecnológica, mas esses acordos preveem a transfe- rência de tecnologias, permitindo sua disseminação nas áreas de abrangência comercial desses países. É preciso lembrar que a China, ao longo das três últimas décadas, vem buscando aumentar sua capacitação tecnológica das formas mais variadas. Ao mesmotempo, o aumento da produtividade total dos fatores, principalmente a partir da década de 1990, mesmo que em ritmo declinante, vem sendo um dos principais responsáveis pelo extraordinário crescimento econômico da China. (NONNENBERG, 2010, p. 210) Nesse sentido, com o aproveitamento tecnológico os países emergentes vêm buscando alternativas às grandes potências imperialistas, implementando políticas de valorização da produção interna em detrimento da exportação. Por outro lado, um elemento que fragiliza as economias do BRICS são as restrições à produção industrial e nas áreas agrícolas e minerais que as potências mundiais instituem historicamente, ainda promovendo embargos a alguns produtos, o que impede a competição, ou impondo taxas de importa- ção que não representam uma realidade condizente com o mercado. Geografia Política, Econômica e Industrial – 100 – Conclusão O mercado consumidor vem crescendo em todo o mundo. O capita- lismo é fugaz e não respeita fronteiras físicas, uma vez que é implementado por grandes empresas multinacionais, formando muitas vezes cartéis de pro- dutos e serviços. O problema do consumo exacerbado está muitas vezes no processo de fabricação. A obsolescência programada tem causado verdadeiro caos ambien- tal, sobretudo porque o consumidor tem de buscar novos produtos, pois o que ele possui está com tecnologia ultrapassada ou não tem mais suporte técnico ou peças de reposição. Assim, a logística reversa deve dar suporte às demandas de descarte e reutilização como matéria-prima, proporcionando aos produtos alto valor agregado. O comércio internacional vem sendo influenciado por conflitos regio- nais pelo controle de energias, principalmente do petróleo, que é base de muitas economias globalizadas que não dispõem internamente de reservas para o desenvolvimento de energias. Fazendo frente a essa realidade, a formação de acordos bilaterais tem favorecido as economias emergentes, sobretudo pelo comércio entre elas e a transferência de tecnologias, com redução ou isenção de carga tributária, dependo da necessidade de cada país. Nesse sentido, as economias emergentes são influenciadas pelas grandes potências imperialistas, mas se esforçam nas parcerias para a integração e o desenvolvimento econômico e social. Ampliando seus conhecimentos Na sociedade de consumo, passamos muito mais tempo nos dedicando às atividades de trabalho e estudo do que às de lazer. O texto apresentado a seguir nos permite refletir sobre a real necessidade de nossa dedicação diária ao acúmulo de capital em detrimento da qualidade de vida. – 101 – Produção e consumo em nível mundial e nacional Tempo livre, lazer e consumo sob a racionalidade econômica do capital (PADILHA, 2000, p. 125) [...] Parece inevitável que [em] uma sociedade capitalista, o lazer implique numa relação de consumo, com raras exceções. Em outras palavras, para ocupar o tempo livre, as pessoas acabam consumindo algo: é o chamado “lazer passivo”. Como esta sociedade é dividida em classes sociais com poderes econômi- cos distintos, pode-se dizer que o consumo de lazer também difere conforme a camada social. Nesse sentido, será que o patrão e o empregado consomem o mesmo tipo de lazer no seu tempo livre? Mothé, tomando como referência a sociedade francesa das últimas décadas, responde esta questão dizendo que o tempo livre não é igual para todas as camadas sociais: “Quando se fala de tempo livre, evoca-se tempos diferentes segundo as rendas e segundo os níveis de cultura, pois o tempo livre não é o mesmo para todos” (MOTHÉ, 1997: 300). Este autor vê diferenças no consumo dos lazeres mesmo no interior de camadas sociais homogêneas, porque os indivíduos não têm a mesma escala de utilização dos bens, sejam primários ou de entretenimento. Na sua linha de raciocínio, o consumo dos bens não visa somente à satisfação de necessidades essen- ciais, mas, também uma distinção social. O consumo de alimen- tos, roupas, casas e carros também serve para oferecer prestígio social. Ele diz: “O consumo perde, então, toda lógica utilitária para uma lógica de reconhecimento social” (Idem: 313). Para Mothé, o tempo livre implica a relação do cidadão com o consumo, manifestando uma separação social entre ricos e pobres. Assim, este tempo só é verdadeiramente livre para aqueles que possuem renda suficiente para pagar o seu preço. São do autor as seguintes palavras: “Enfim, esta sociedade do tempo livre tal qual nos é apresentada é de um preço tão Geografia Política, Econômica e Industrial – 102 – elevado em consumo de riqueza que ela fica confinada às classes médias de países ricos. O que impede a possibilidade de realizar o sonho do século das Luzes: o acesso de todos os humanos aos bens comuns” (Id. Ibid: 316). Atividades 1. Com a ampliação econômica e a melhoria social, os shopping centers são vistos como uma solução ao comércio. Como esses espaços influenciam as grandes redes em detrimento dos pequenos comerciantes? 2. Vivemos na era das tecnologias, redes de comunicação e entretenimento. Nesse contexto, como a agricultura pode influenciar a transformação do espaço, caracterizando a subsistência e a planta comercial agrícola, consi- derando que somos totalmente urbanizados? 3. O petróleo é o combustível do mundo. Como ele tem influenciado a geopolítica mundial e as interações comerciais? Qual seria uma alter- nativa atual a essa fonte de energia? 4. O Brasil vem fortalecendo as parcerias com países membros do BRICS. Haveria alternativa econômica para um país com tantos con- trates sociais, de modo a melhorar a qualidade de vida das pessoas? Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico Introdução Vivemos em um período conturbado na política brasileira, que se reflete diretamente no pensamento crítico dos cidadãos. Podemos verificar na formação educacional da população que praticamente não existem profissionais qualificados no mercado de trabalho. A maioria dos brasileiros ainda não tem formação em curso técnico ou superior, e isso se agrava nas regiões norte e nordeste do país, que têm um histórico de abandono político. A insipiente formação educacional repercute na forma de pensamento econômico e político, sem postura crítica e reflexiva por parte dos indivíduos, pois, ao serem apresentados a conceitos simplistas sobre o atual momento, acabam deturpando a realidade. Muitos são manipulados por um sistema midiático que poderia ser- vir para ajudar o país, mas que, por vezes, destrói a imagem do que 7 Geografia Política, Econômica e Industrial – 104 – foi construído nas políticas sociais e dá destaque a alguns privilegiados, em detrimento das classes em risco social. Na prática, as crises sociopolíticas abastecidas pela corrupção deveriam ser investigadas por autoridades, como as do judiciário, resultando em uma maior confiança econômica e de investimentos, passando então o Estado a gerenciar com eficiência as questões de ordem política. Isso resultaria em uma credibili- dade econômica por parte das empresas que visam investir no capital produtivo. Ficamos, assim, à mercê do capital especulativo, que sempre se benefi- ciou das crises instauradas em qualquer economia fragilizada. Nesse sentido, compreender o sistema econômico e como ele contribui para a construção do espaço geográfico nos dá a possibilidade de sermos cidadãos mais críticos e com propriedade conceitual, entendendo cada momento histórico vivenciado em um país de social-democracia, com políticas neoliberais intensas. 7.1 Sistemas econômicos: conceitos e formas O Brasil atual passa por uma crise de identidade. As implicações dos fatores políticos e administrativos têm confundido o brasileiro, que, sem for- mação adequada, pensa ter se tornado especialista em economia e política. No entanto, esse falso “aprofundamento” provém das mídias sociais. O primeiro fator (o político) foi manipulado, principalmente pela falta de formação do brasileiro, que em geralnão conhece o quadro histórico do país, deixando-se levar por uma grande massa de manobra, na televisão e na internet. Fica a impressão de que o revanchismo do futebol no país – que não constrói nada, a não ser o marketing esportivo – foi transferido, em termos político-econômicos, aos aspectos de crescimento e desenvolvimento social. Em relação ao segundo fator (o econômico), os indivíduos raramente sabem diferenciar recessão de crise econômica. Grosso modo, a recessão é desencadeada por uma crise econômica, tendo como base mudanças na macroeconomia1 de um país, principalmente causada por alguns setores indus- triais. Isso resulta em desemprego, diminuição dos salários, desabastecimento 1 Refere-se a um ramo da economia que estuda as relações econômicas regionais e nacionais em escala ampla. – 105 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico do mercado e transferência dos prejuízos das empresas aos consumidores, per- fazendo, assim, um “período em que a economia sofre declínio em sua taxa de crescimento, e [uma época] de depressões, caracterizadas por um estado agra- vado da recessão, que leva à redução da atividade econômica” (PIGNATA; CARVALHO, 2015, p. 6). Uma crise econômica tem aspectos políticos e institucionais, assim como crises político-sociais estão envoltas em elementos econômicos críticos. São momentos importantes de tomadas de decisão com base no julgamento da realidade econômica, que resultam em um grande prejuízo ao capitalismo. Vejamos o seguinte sobre o Brasil: [A crise política] inicia-se por séries de divergências entre partidos polí- ticos, que na maioria das vezes se contrapõem ao governo, associada a um colapso do sistema administrativo de um país, estado, ou muni- cípio. Esta pode ser desencadeada por um golpe ou revolta popular. Quando perdura por mais tempo, além da normalidade, pode [sic] os resultados afetar a governabilidade de forma geral, como também, criar empecilhos que travam as agendas institucionais e, como ocorre no Brasil hoje, atinge [sic] sobremaneira, criando uma crise econômica, instalando na economia a incerteza, desacertos e elevados custos ao país e ao cidadão. (PIGNATA; CARVALHO, 2015, p. 6-7) As condições que podem gerar uma ou outra crise contribuem para o prejuízo material – o capital – e o prejuízo do elemento humano, com perdas de empregos e desvalorização dos salários. Então, os condicionantes econômicos e políticos dentro de cada sistema contribuem, cada um à sua maneira, para o desenvolvimento de uma econo- mia. As economias capitalistas sempre estiveram ao centro, construindo conflitos internacionais, e economias comunistas/socialistas aprofundaram desigualdades sociais, pois, em uma economia planificada, a governança por parte do Estado, na maioria das vezes, favorece certos grupos em detrimento de outros, o que ocorre nos modelos socialistas e é fortalecido nos sistemas capitalistas. Nesse sentido, a transformação social e econômica em detrimento dos modelos econômicos vem dividindo o mundo, pois as riquezas geradas e os avanços tecnológicos sistematicamente caracterizam a divisão internacional do trabalho (DIT). Geografia Política, Econômica e Industrial – 106 – Economias fragilizadas, com histórico de colonização e de exploração tiveram seus territórios usurpados e saqueados pelas grandes potências impe- rialistas. Cabe aqui destacar que esse modelo de colonização causou grandes desastres sociais, como a escravização dos povos de origem africana, com imple- mentação de sua mão de obra na condição de escravizados por essas nações. As riquezas desses países foram gradativamente abastecendo as capitais, monarquias e oligarquias, e muitas delas perduram até os dias atuais. Nesse sentido, a população paga o custo social da exploração do seu povo. Podemos citar como exemplo a Inglaterra, que por décadas saqueou os países africanos e atualmente fomenta grandes empresas multinacionais, as quais ainda exploram as riquezas e o povo dessas regiões. Essa é a mesma situação das empresas estadunidenses e alemãs, que dominam grande parte do capital internacional e estão presentes, além da África, na América Latina, na China e na Índia, caracterizando a DIT. Vejamos o seguinte sobre esse primeiro período da DIT: A primeira [divisão], caracterizada pela repartição da produção mun- dial entre os países situados no hemisfério sul, responsáveis pelo for- necimento de bens agrícolas e matérias-primas para a indústria, e os países do norte, industrializados, fornecedores de bens industriali- zados. Tal repartição era de certa forma, uma atualização do antigo Pacto Colonial, pré-capitalista e extremamente desfavorável às colô- nias. (MOLINA, 2011, p. 48) A exploração do capital nas economias emergentes, do ponto de vista da exploração material, fez com que as potências imperialistas estivessem à frente, pois as riquezas eram garantidas por intermédio da intensa utilização dos recursos naturais e das atividades agrícolas. Essa foi a base do processo de colonização, reforçando as riquezas dessas potências, em detrimento do desenvolvimento social da nação explorada. Outrossim, na atual conjuntura, as empresas multinacionais e transna- cionais, de cunho capitalista, instalam-se nas colônias abandonadas, man- tendo o quadro histórico de exploração da mão de obra e das riquezas minerais e energéticas, ampliando os ganhos capitais. Muitas vezes, essas empresas se aproveitam das crises políticas nesses territórios para garantir recursos, isen- ção de impostos, pagamento de baixos salários e longas jornadas de trabalho tornando insalubres os ambientes de trabalho, o que aprofunda a crise social. – 107 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico 7.2 Diferenciando os sistemas econômicos Na conjuntura instaurada no Brasil nos últimos anos, conspirações de cunho conceitual emergiram nos meios de comunicação. Grupos oligárquicos que comandam a grande mídia são favorecidos, na geração atual, quase exclu- sivamente nas mídias sociais, divulgando informações que vêm ao encontro de seus próprios interesses. Assim, muitas pessoas se autodeclaram estudiosos em geopolítica ou grandes historiadores e sociólogos detentores de saber. Porém, esses indivíduos esquecem que tiveram uma formação socialista, que foi incu- tida na população de maneira geral no período pós-ditadura militar, pois as próprias mídias são responsáveis por dizer que os problemas instaurados são de responsabilidade do governo. Esquecem também que vivemos em uma social-democracia, ou seja, há mais de três décadas as políticas neoliberais estão sendo implantadas em todas as esferas de governo, e isso resulta na desoneração das responsabilidades do Estado. O mais agravante é que nós, cidadãos comuns, somos iludidos pelas pro- messas de campanha política, nas quais os candidatos afirmam que o governo vai fazer o melhor em termos de condições sociais para a sociedade. De acordo com Francisco Xavier de Holanda (2004), Na compreensão Neoliberal, a reivindicação da igualdade na lei não pode ter como base a argumentação de que somos naturalmente iguais. As razões da existência da igualdade perante a lei são; que o trabalhador seja livre e objetive a mais alta produtividade de que possa receber, através dos salários os frutos de seu trabalho, que haja manutenção da harmonia social. É impossível preservar a paz dura- doura numa sociedade que existe diferentes direitos e deveres entre os indivíduos. Portanto, a propriedade perante a lei está em função da preservação da propriedade privada e da economia de mercado. (HOLANDA, 2004, p. 42) Desse modo, os liberais saem na defesa de que se deve ter um sistema único, o qual garantiria benefícios sociais em função da divisão do trabalho, salvaguardando assim o capitalismo, sendo todas as outras formas de organi- zação social infundadas e falidas, incluindo o socialismo. Com essa contextualização, podemos aqui assumir um posicionamento mais crítico em relaçãoaos diferentes sistemas que regem o globo, que cor- roboram com os avanços sociais e que dão suporte ao modelo capitalista. Geografia Política, Econômica e Industrial – 108 – Esse modelo é alimentado pelos trabalhadores de forma fugaz, pois, além de terem sua mão de obra explorada, passam a acreditar que possuem intensas necessidades de compra. Podemos agora apresentar outras formas de organização econômica de forma conceitual, o que dará uma base mais crítica para entendermos os com- portamentos sociais, suportando nossas ideias e servindo inclusive de forma material à nossa compreensão e nosso comportamento. As organizações econômicas mundiais são pautadas em economia de mer- cado e economia planificada, como podemos conferir no Quadro 1 a seguir: Quadro 1 – Sistemas econômicos. E co no m ia d e m er ca do Capitalista Concorrência pura (Liberalismo econômico) O mercado trata de dar conta dos problemas fundamentais, modo de produção, quantidades, mercado-alvo. Há intervenção do Estado de forma neutra, criando formas de controle de preços para dar equilíbrio ao mercado (redução de preço, estoques, demanda de oferta). O consumidor exerce papel primordial nos negócios. Mercado misto Os mercados sozinhos não funcionam sem interferência e atuação do poder público na gestão da macroeconomia, e a economia não opera garantindo o pleno emprego dos recursos. Onde atuam os governos: – Formação de preços. – Complemento à iniciativa privada. – Fornecimento dos bens públicos. – Fomento do mercado, com a compra do setor privado. E co no m ia p la ni fic ad a Socialista Estado controla os meios de produção Os preços são produtos contábeis com os quais se possa permitir maior eficiência no processo produtivo das empresas. Os produtos são distribuídos com base na intenção, por parte do governo, de controle dos preços. Os lucros gerados no processo produtivo são distribuídos aos funcionários logo após a empresa gerida pelo governo elencar áreas de investimentos necessários à melhoria dela. Fonte: DRUCKER, 1993; MASON, 2017. Adaptado. – 109 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico Podemos observar que os dois modelos apresentados são dissonantes dos inte- resses sociais, mas que estão a serviço de cada parcela da sociedade separadamente. O sistema de economia de mercado, definido pela propriedade privada e com políticas liberais clássicas, tem como carro-chefe o capitalismo baseado na sociedade de consumo. Essa sociedade atualmente marcada pela inserção midiática e pela influência do marketing, que visa entender os desejos do mer- cado, por meio de incessante propaganda televisiva e, de forma mais atuante, nas mídias sociais. No outro viés, a economia planificada, resguardada pela propriedade pública sob domínio de governos centrais, que dão conta da organização eco- nômica de interesse público, estão salvaguardados os interesses sociais e as políticas voltadas a essas necessidades, tais como educação pública e de quali- dade, segurança, soberania e saúde pública. Vale ressaltar que as economias que tentaram se impor contra as eco- nomias capitalistas, as quais detêm em seus territórios grandes reservas energéticas e minerais, acabaram submetidas ao regime capitalista, princi- palmente o estadunidense, que lhes aplica como pena regras e proibições de comércio internacional. Essa política dos EUA de salvaguardar sua economia é histórica do ponto de vista do capitalismo, impondo sanções às economias socialistas e comunistas desde o fim da Segunda Guerra Mundial, imperando sozinha e soberana, sobretudo após 1989, quando houve a fragmentação da URSS. 7.3 Os sistemas econômicos na produção de espaço na sociedade de consumo Como vimos, os sistemas econômicos são modelos de administração econômica pautados em desenvolvimento econômico e social. Assim, esses modelos, cada um à sua maneira, caracterizam-se por for- mas de organização da economia e são considerados elementos de gestão que influenciam diretamente no crescimento econômico de cada país, seja capi- talista, seja socialista. Geografia Política, Econômica e Industrial – 110 – Cada economia faz a organização de seu espaço geográfico atendendo às próprias necessidades de crescimento. As economias liberais o fazem com ideais de propriedade privada, de acordo com o investimento do capital pri- vado, regulado sob a lógica de mercado. Para melhor entender essa dinâmica, podemos citar o centro-oeste brasi- leiro, que teve sua potência produtiva ampliada após a transferência da capi- tal federal do Rio de Janeiro para Brasília, em 1960, quando ainda era uma região “deserta” do Brasil. Na prática, ela só pode ser melhor explorada a par- tir da década de 1990, quando proprietários de terras puderam fazer grandes investimentos, já que houve maior desenvolvimento de infraestruturas para atender à demanda econômica. Um processo ainda mais intenso ocorreu em outra região, o sudeste do Brasil. De acordo com Cavalcanti et al. (2014), A partir da década de 1930, com a estruturação do centro de dina- mismo industrial no Sudeste do país, essa região passou a estender influência progressiva sobre outras regiões, promovendo uma divi- são interna do trabalho no Brasil. Especificamente no pós-guerra, o centro industrial passou a ser indutor de novas funções de mesma natureza às várias regiões, procurando atingir um conjunto espacial cada vez mais amplo na constituição do sistema econômico-industrial brasileiro. Tratava-se, de fato, de um processo de expansão da base geográfica, acompanhado de redistribuição de recursos humanos e financeiros, que envolvia implantação de cidades e meios geográficos de tecnologia inovada, em um constante avanço para o interior do país. (CAVALCANTI et al., 2014, p. 268) Nesse sentido, a construção do espaço geográfico em uma economia neo- liberal como a brasileira se dá de modo diretamente proporcional aos investi- mentos privados, já que são condicionantes para a transformação econômica. Vale lembrar que para haver a consolidação da vasta região centro-oeste do país, em um contexto no qual o sudeste se apresentava como o grande centro econômico e industrial, os governantes deram enfoque a um modelo desenvol- vimentista de alta produção, com olhares voltados à modernidade, pois essa região não tinha um histórico produtivo de crescimento econômico. Esse processo ocorreu também na China, com a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), a partir década de 1970, quando a economia passou a ser influenciada pela – 111 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico [...] liberalização do comércio exterior, uma das primeiras e mais importantes medidas tomadas após 1978. Até então, o comércio exte- rior era inteiramente planejado pela autoridade central. Além disso, as exportações eram realizadas integralmente por empresas públicas. Como resultado, tanto exportações quanto importações cresciam len- tamente. Inicialmente, os controles sobre as importações foram subs- tituídos por elevadas tarifas aduaneiras, reduzidas posteriormente. O sistema de planejamento de importações foi também substituído por barreiras não tarifárias tradicionais, a partir do início da década de 1980. (NONNENBERG, 2010, p. 204) Nesse mesmo contexto liberal, no Brasil, principalmente nas regiões norte e nordeste, as demandas industriais, principalmente em petroquímica, metal-mecânica, metalurgia e mineração, devem cada vez mais representar uma importante fonte econômica para a nação. Assim que houver melhores condições políticas e econômicas para essas duas regiões, devem ser abertas novas frentes de trabalho, mais uma vez com profunda transformação do espaço geográfico. Novas cidades e centros surgirão como consequência do avanço econô- mico, mas isso só poderá ocorrer adequadamente se as necessidades econômi- cas forem equilibradas com o devido desenvolvimento social. A nova frente industrial tão vislumbrada pelos governos deveser acom- panhada de uma nova postura de exploração por parte das empresas mul- tinacionais, com ampla defesa de garantias aos trabalhadores e respeito aos recursos naturais das áreas ricas em biodiversidade. 7.3.1 O espaço e consumo A transformação do espaço geográfico está sob a constante influência das economias capitalistas e globalizadas. As empresas multinacionais formam agora grandes redes no mercado que, muitas vezes, detêm o monopólio de marcas e patentes no mundo todo. Essa configuração geoespacial tem influenciado fortemente a economia, impondo à sociedade de consumo tudo aquilo que é de interesse das corpo- rações oferecer ao mercado. Então, a construção do espaço geográfico está a serviço das necessida- des sociais e também das grandes economias capitalistas. Isso porque, sem a Geografia Política, Econômica e Industrial – 112 – demanda essencial para geração de emprego e renda, essa sociedade de con- sumo baseada na compra de todo tipo de produto e serviço tem suas necessi- dades criadas pelas urgências do capitalismo. Cabe aqui frisar o ideário de vida das pessoas de maneira geral, pois cada um tem suas necessidades. Se compararmos as sociedades urbanas com as comunidades tradicionais, por exemplo, os quilombolas e suas pequenas propriedades rurais, veremos a grade lacuna existente entre elas, já que os produtos disponíveis para ambas são completamente diferentes e ofertados de formas muito diferentes. O espaço rural (campo) está atrelado a uma visão de qualidade de vida muito distinta da que é ofertada nos centros urbanos. O ar tem mais quali- dade, as águas são muito mais puras e livres dos problemas de saneamento dos grandes centros urbanos. Nesse contexto, A Agricultura Brasileira se destaca entre as maiores do mundo e representa uma fonte de alimentos e de matéria-prima para muitos países. Nela estão presentes diversos modos de fazer Agricultura, entre os quais a produção Agrícola Familiar, encontrada em extensas e importantes regiões do país. A agricultura familiar no Brasil é crescentemente uma forma social de produção reconhe- cida pela sociedade brasileira, por suas contribuições materiais e imateriais. Às diversas expressões de sua organização social, às quais correspondem múltiplos discursos identitários e demandas sociais, somaram-se, nas últimas décadas, o grande esforço de pesquisa da comunidade acadêmica, ao desvendar a extensão e a profundidade de sua presença no mundo rural, e a convergência de políticas públicas de apoio à sua reprodução. (DELGADO; BERGAMASCO, 2017, p. 9) Assim, o modelo agrícola da nossa nação tem contribuído para a imple- mentação de políticas sociais e de crescimento econômico. Fica claro que a transformação do espaço geográfico é inerente às transformações sociais, tanto no campo quanto nas cidades. A grandiosidade da agricultura no Brasil transformou o país em uma das maiores potências agrícolas do mundo. Essa atividade faz parte de nos- sas tradições e de nossa cultura, trazendo grande contribuição econômica, especialmente com o desenvolvimento que vivenciamos há décadas. Isso tem – 113 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico transformado a configuração geográfica do centro-oeste e do norte e fortale- cido a do sul. Contudo, com a maioria da população vivendo nas cidades, os proble- mas urbanos têm se agravado, até porque essa sociedade de consumo cada vez mais tem comprado de modo desenfreado, causando grandes mudanças no espaço geográfico. Cidades verticalizadas, com intenso fluxo de produtos, mercadorias e serviços, promovem novas dinâmicas de mobilidade urbana. Esse processo e as políticas de modernização de frota em todas as regiões geográficas suscitam a preocupação dos governantes, já que os sistemas de reci- clagem não evoluíram no mesmo nível e até mesmo o aproveitamento ener- gético, de alto valor agregado, nos países emergentes está longe de ser o ideal. No tocante à produção de lixo urbano e resíduos sólidos, o gerencia- mento fica a cargo de grandes grupos de coleta e limpeza. Essas empresas estão mais preocupadas com os meios de coleta e transporte do lixo, pois, para o armazenamento dele, já existem consórcios de municípios que garan- tem as áreas de descarte. No Brasil, em agosto de 2010 foi aprovada pelo governo federal a Lei n. 12.305 (BRASIL, 2010), que traz avanço e modernização à gestão dos resíduos sólidos urbanos. Essa lei prevê que todo bem industrializado passe por um estudo e que seja garantido o ciclo de vida do produto, com análises sobre suas matérias-primas, a necessidade dos consumidores e a destinação final dos resíduos. A legislação ainda prevê a responsabilidade compartilhada, cujo resul- tado é a ampliação de novas formas de gerenciamento dos resíduos, por parte da população e das empresas, garantindo o processo de logística reversa. No primeiro caso, as pessoas, quando compram um produto, buscam compreender a necessidade de adquiri-lo, saber qual é a origem dele e qual será o seu fim quando descartado, ou seja, se o produto também passará por um processo de reciclagem. Assim, o consumidor, o fabricante, o distribuidor e, em último caso, os governantes tornam-se, juntos, responsáveis pelo pro- duto e pela fiscalização de seu descarte. Geografia Política, Econômica e Industrial – 114 – No caso da logística reversa, em uma sociedade consumista, os volumes de resíduos têm preocupado a todos, inclusive pela grande quantidade de material encontrado nos oceanos. Isso faz com que as empresas implantem em suas políticas ambientais formas de reaver os produtos, para poderem fazer a destinação correta deles, garantindo que, ao serem descartados, reinte- grem-se à cadeia produtiva, como matéria-prima ou energia. Vale lembrar que a Terra tem recursos finitos e que já se sabe por expe- riência o quão degradante se torna a natureza quando não respeitamos seus limites. Nesse contexto, o capitalismo tem influenciado a geração de gran- des quantidades de produtos, que posteriormente são descartados em ater- ros sanitários2, lixões3 ou aterros controlados4, causando a transfiguração da paisagem geográfica. Outro fator que tem contribuído para a transformação espacial além das sociedades urbanas é o crescimento populacional do país sem o devido con- tingenciamento, com áreas residenciais não planejadas e zonas de risco social. Em um país com cerca de 210 milhões de habitantes, com graves pro- blemas sociais, fazem-se necessárias melhores condições gerais de saúde, habi- tação, educação e trabalho, novas áreas de desenvolvimento de tecnologias e polos de conhecimento científico, como ocorre nas grandes economias. Muitas regiões do país ainda representam uma vastidão aos campos de exploração econômica, mas esse processo deve ser feito com critérios técni- cos, para garantir os parâmetros de seguridade social e de preservação dos recursos locais. Conclusão As transformações do espaço geográfico mundial nas últimas décadas são inerentes aos avanços das sociedades capitalistas globalizadas. A exploração da 2 Área preparada para receber o lixo total que dispõe de total controle dos materiais de descar- te, incluindo a fundação do aterro. 3 Resíduos depositados a céu aberto. 4 Área com controle parcial dos materiais depositados ou sem estudo prévio do local de des- carte dos resíduos. – 115 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico mão de obra, o consumo exacerbado, o inchaço das cidades pelo mundo são o reflexo imediato desse processo. Os sistemas econômicos vêm de maneira enfática promovendo essas transformações. No período pós-Guerra os avanços tecnológicos e tecno- -científicos foram aprofundados nas áreas de robótica, microeletrônica e aeroespacial, fazendo com que surgissem novas economias em detrimento das potências imperialistas. A políticas econômicas de integração regional são representadas pelas mesmas forças que se fizeram presentes na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, atualmente,com a mundialização do capital, não há mais neces- sidade da imposição da força nas antigas colônias, pois naturalmente elas se submeteram ao capital internacional e estão postulando uma nova agenda econômica nos mesmos moldes do EUA. Isso ocorre, por exemplo, com a intensificação das políticas neoliberais e o liberalismo clássico sendo funda- mentado, principalmente no Brasil, a maior economia latino-americana. O processo de privatização que vem ocorrendo desde 1994 no país é fruto da aproximação das grandes potências mundiais e da influência delas para a adoção de ideias neoliberais. Entretanto, países como a Rússia e a China mantêm-se à margem desse processo, fortalecendo empresas nacionais para garantir a seguridade social da sua população. E a aproximação dessas nações com o Brasil nos garante o fortalecimento comercial com essas duas potências. Vivemos então envoltos em uma sociedade de consumo, com proble- mas inerentes a um capitalismo que busca nas crises seu fortalecimento e nas recessões a contínua exploração do trabalhador, aprofundando desigualdades. Ampliando seus conhecimentos Nos estudos geográficos, a ruptura com a visão neoclás- sica e quantitativista permitiu a formulação de uma noção de espaço como elaboração social e resultado dos meios e modos produtivos. Dessa forma, passa-se a questionar a Geografia Política, Econômica e Industrial – 116 – espacialidade construída no contexto capitalista, em que a economia não seria mais considerada como produto de forças e conceitos abstratos, mas sim como resultado de relações – e contradições – sociais, em um modo de pro- dução historicamente identificado. O excerto apresentado a seguir traz essa visão do espaço com base na abordagem da economia política. A abordagem da economia política (VARGAS; JATOBÁ; CIDADE, 2012, p. 42-43) [...] R. L. Correa (1986) mostra sua preocupação com a orga- nização espacial surgida dos processos históricos nos modos de produção específicos e a necessidade de caracterizar essa espacialidade a partir das categorias que recolhem as relações sociais que os produzem. O desenvolvimento desigual, trabalhado por autores como Harvey e Smith (1982; 1986), constitui um fio condutor para compreender a produção do espaço capitalista e explicita a contradição básica entre o capital e o trabalho. Daí que seja fundamental na geografia econômica marxista. Explica a forma como se dão no capitalismo duas tendências simultâneas e contraditórias: a alta mobilidade do capital e a sua tendên- cia a se fixar em determinados lugares para completar o pro- cesso de acumulação. Segundo Harvey e Smith, o capital tem uma necessidade de se fixar num lugar determinado por um período de tempo de forma que possa criar um entorno de fábricas, empresas, infraestrutura de transporte, redes de comunicação etc., para permitir a produção de bens e servi- ços, e assim a sua própria reprodução. Essa tendência se opõe à sua necessidade de permanecer em movimento, de modo que as empresas possam responder às condições econômicas cambiantes e consigam encontrar os lugares que oferecem a maior possibilidade de lucro – pelas condições de trabalho, – 117 – Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico espaciais, regulamentação ambiental etc. menos restritivas. Isso pode significar ter de “migrar” dos centros de produção já conquistados para outros por colonizar. O capital nunca é completamente móbil, porém precisa criar raízes em lugares particulares para poder se reproduzir. [...] O capital supera a fricção do espaço ou da distância através da produção do espaço, criando ambientes construídos que facilitam a produção e o consumo. Porém, na medida em que as condições econômicas mudam, esses ambientes constru- ídos de infraestrutura de produção, distribuição e consumo podem converter-se em barreiras para a expansão futura do capital, ficando obsoletas e redundantes frente a novas con- dições e espacialidades existentes em outras coordenadas. Nessas circunstâncias, o capital abandona esses centros de produção e migra para outros lugares para se fixar mediante investimentos num novo entorno produtivo. Atividades 1. Como você poderia caracterizar um momento de crise político-eco- nômica, haja vista o modelo de consumo atual? 2. Você já foi ao supermercado, posto de combustível etc. e observou a falta de algum tipo de produto por mais de uma semana? Presenciou vizinhos e amigos tendo que dividir alimentos? Nesse contexto, como você compreende um processo de profunda recessão e desemprego? 3. A globalização pode comprometer uma crise econômica? Justifique. 4. Como a sociedade de consumo tem comprometido a organização do espaço urbano? Quais efeitos podem ser presenciados nas cidades? Teoria e método em geografia industrial Introdução Neste momento, possivelmente você esteja lendo este livro em casa, em uma praça, na faculdade ou no ônibus. Um objeto como este, assim como tantos outros, em algum momento pas- sou por um processo industrial, desde a extração da matéria-prima necessária até a entrega do produto em sua residência. Devido à evolução desses processos, atualmente, estamos envoltos pelas tecnologias, com tablets, smartphones, TVs de alta defi- nição e todo aparato tecnológico que um dia já foi tido como impos- sível ou visionário aos olhos do cinema e dos indivíduos em geral. Entretanto, os passos trilhados para a elaboração desses pro- dutos e sua disponibilização no mercado não ocorreram de forma homogênea e nem sempre foram tão frutíferos como o desejado. 8 Geografia Política, Econômica e Industrial – 120 – Nesse sentido, esse processo histórico teve seus percalços, mas deu base à modernização, ao desenvolvimento e à melhoria de condições de vida em muitos países. Para tanto, a evolução industrial e a alocação das indústrias também seguiram uma lógica nesse processo, dentro do contexto de um modelo capitalista de consumo, conforme estudaremos seguir. 8.1 Teorizando sobre as indústrias no mundo A industrialização do século XVIII contribuiu para uma alavancagem econômica na Inglaterra, exercendo importante papel na história mundial. Muito do que conhecemos só foi possível graças a indivíduos que vislumbra- ram novos horizontes produtivos naquela época. Na Primeira Revolução Industrial, o processo artesanal de construção de objetos (fabricação) era tido como uma arte, uma habilidade de poucos e passada de geração a geração ou herdada com a história do contexto familiar. O artesão era o senhor da transformação, moldando e elaborando itens que seriam úteis àqueles a quem interessava seu trabalho. Era um profissional hábil em novas descobertas e curioso, pela própria necessidade de construir objetos mais avançados ou melhorar aquilo que já existia. Naquele período, foram elementos-chave a construção de novas fer- ramentas de trabalho, como a máquina a vapor, o tear mecânico, a utiliza- ção de ferro nas fundições e o carvão como principal elemento na matriz energética, que era muito rudimentar se compararmos a todas as energias disponíveis na atualidade. No início do século XIX, o processo industrial mostrava-se promissor. As grandes refinarias e as melhorias nas ligas metálicas deram possibilidade para que o aço fosse usado em todo tipo de máquinas e equipamentos e, inclusive, houve um aprimoramento das técnicas de transporte do petróleo por oleodutos. Na área de refino do petróleo, as modificações impostas para agregar valor a esse óleo, que antes era utilizado apenas para produção de quero- sene, possibilitaram um novo viés do produto como combustível: a gasolina. As parcerias entre os gigantes do petróleo estadunidenses com inventores de – 121 – Teoria e método em geografia industrial veículos viabilizaram a ampliação do processo produtivo nas refinarias, e isso proporcionou uma supremacia das indústrias de automóveis. Nesse período, conhecido como Segunda Revolução Industrial, outros elementos foram cruciais,como o advento da eletricidade. Essa foi uma época de grande produtividade em diferentes áreas de conhecimento e estu- diosos de excelência em invenções disputavam espaço, como Nikola Tesla e Thomas Edison, que buscavam comprovar a eficiência e a segurança na produção e no transporte de energia. As condições eram propícias ao avanço científico no século XIX, pois havia uma real necessidade de desenvolvimento técnico nas áreas industriais, haja vista a modernização das plantas produtivas e os interesses sociais. Essa Revolução Industrial significou, também, o início do processo de acumulação rápida de bens de capital e o fortalecimento do capitalismo como sistema econômico dominante. Antes dela, o progresso econômico era mais lento, a renda per capita da população levava séculos para aumentar sensivelmente. Com a industrialização, a renda começou a crescer de forma nunca vista na história da humanidade. (MORAES; ABREU, 2006, p. 26) As indústrias pujantes evoluíram cada vez mais com o processo da mais- -valia, e nos dias atuais o petróleo está presente em produtos de uso diário, em todos os lares, além de mover máquinas e veículos. O trabalhador agora pode adquirir mais facilmente o próprio veículo e as cidades estão se vertica- lizando, com a construção de arranha-céus. As plantas industriais e o processo de fabricação carecem de mão de obra, por isso, os parques fabris empregaram milhares de trabalhadores, que, com o fruto do seu trabalho, impulsionaram o progresso das cidades, for- mando novos bairros, fomentando novas áreas de comércio e de infraestru- tura urbana. Isso ocorreu sobretudo nos países desenvolvidos, onde as plantas industriais tiveram a sua gênese. Assim, o desenvolvimento da industrialização também esteve envolto em uma melhoria da qualidade de vida da população, como consequência do trabalho dela, fato recorrente nas potências industriais. Porém, os enor- mes ganhos capitais dos detentores dos meios de produção resultaram no que trataremos aqui como segunda fase do capitalismo, associada aos grandes Geografia Política, Econômica e Industrial – 122 – avanços no processo de industrialização. “O ponto central foi a mudança na produção, [...] do artesanato para a tecnologia, e, como resultado dessa trans- formação, o capitalista assumiu rapidamente um papel central na economia e na sociedade” (DRUCKER, 1993, p. 11). Essa transformação no processo e na planta industrial foi fundamen- tal para a sociedade. É certo que os trabalhadores eram maltratados nas indústrias, pois tinham longas jornadas de trabalho, salários baixos, locais de trabalho insalubres, sem auxílio-saúde, mas, mesmo assim, vislumbravam melhores condições que as encontradas no campo, onde estavam sujeitos a um regime de semisservidão. Alguns fatores foram essenciais nesse processo: a mudança da matriz tecnológica, com a substituição das ligas metálicas do ferro pelo aço, a invenção do motor de combustão interna (ciclo Otto, que até os dias atuais dá propulsão a veículos e aeronaves) e a eletricidade, que modifica a vida das pessoas nas cidades e nas indústrias. A modernização do campo e a invenção do arado modificaram as rela- ções do homem do campo e suas condições de trabalho, proporcionando então uma maior produtividade nas áreas rurais. Assim, o processo de industrialização é resultado das necessidades sociais de cada época. Mesmo que o capitalismo tenha explorado por séculos a mão de obra dos indivíduos, é inegável a sua contribuição na construção social, e isso pôde ser observado em três momentos decisivos: A Revolução Industrial foi a possibilidade de acionar máquinas por meio da máquina a vapor de James Watt, sem uso de força humana. Outro momento crucial foi a produção em série com as máqui- nas automáticas, detonada por Henry Ford e logo copiada mundo afora. Já a terceira revolução, a das máquinas computadorizadas, bem essa começa com uma guerra. Foi na Segunda Guerra Mundial que, realmente, nasceram os computadores atuais. (MORAES; ABREU, 2006, p. 43) O processo evolutivo das indústrias levou o homem à Lua, no século XX. Atualmente essa evolução possibilita a realização de cirurgias a distância e tem levado a educação até onde não há escolas, mas sim computadores e mídias que fazem com que as pessoas possam trocar conhecimentos e cultura sem estarem presentes fisicamente. – 123 – Teoria e método em geografia industrial 8.2 A espacialização da indústria O mundo é integrado por diversos sistemas, um deles é a transforma- ção que a indústria faz em todas as partes do globo. Temos equipamentos industriais na Antártica investigando as geleiras; no espaço sideral, existem sondas buscando alternativas de vida e exploração mineral, entre outros avanços da atualidade. Entramos em um período no qual as pessoas buscam as máquinas em detrimento dos humanos; smartphones, tablets e mídias sociais estão trans- formando as relações pessoais e também a configuração espacial. É possível estarmos em território chinês ou americano, com ferramentas que podem transferir dados em tempo real ou operar um sistema de alarme de qualquer lugar do globo terrestre, desde que exista sinal de internet. Quando falamos no processo de espacialização da indústria, vislumbra- mos as necessidades desta, tanto em relação ao material humano quanto às matérias-primas e energias, em um contexto em que as fronteiras físicas foram rompidas com as novas tecnologias. Cabe agora ao capital produtivo demons- trar interesse em fazer investimentos em um território e aos governantes bus- car os meios legais para tanto, além de garantirem a infraestrutura e logística de operação. Mudam-se as leis e substanciais subsídios de impostos são ofe- recidos para ter essa planta produtiva gerando riqueza e renda à sociedade. Desse modo, a configuração espacial naturalmente segue a lógica industrial, mudando o curso de rios, ampliando as áreas de energias, construindo estradas de ferro para facilitar o escoamento da produção, ampliando portos e aeroportos. Isso tudo acarreta em grandes transforma- ções no espaço, já que, por exemplo, uma usina hidrelétrica pode alagar grandes quantidades de terra, realocando populações e causando danos ambientais e, por vezes, antropológicos. Nesse sentido, todas as transformações ocorrem em detrimento das con- dições geradas pelo modelo político e econômico. Podemos afirmar que Este espaço diferencial representa a possibilidade de um espaço pas- sível de apropriação entre o valor de uso e o valor de troca. É a pos- sibilidade de ruptura do silêncio dos usuários do espaço frente aos agentes dominantes e é também uma forma de repensar a propriedade privada privilegiando o valor de uso. (BRAGA, 2007, p. 71) Geografia Política, Econômica e Industrial – 124 – Essa alteração é inerente ao potencial que a região espacial possa oferecer como moeda de troca: as riquezas minerais, o excedente de mão de obra, a fle- xibilidade das leis ambientais e trabalhistas ou, ainda, o potencial energético e a possibilidade de um grande mercado consumidor. E isso ocorre no atual período de revolução do conhecimento, com uma exploração inerente ao capitalismo. Uma indústria pode causar grande mudança no espaço quando insta- lada, mas isso também ocorre se ela abandonar a área, fechar ou pedir falên- cia, pois as consequências a trabalhadores, fornecedores, transportadoras e toda a estrutura de fornecimento de serviços e matérias-primas podem estar atreladas à dinâmica econômica que essa indústria venha garantir. É fato que, na maioria dos casos, as empresas se mudam por perdas de benefícios econômicos ou crises políticas institucionalizadas, os quais fazem com que elas tenham de buscar novas oportunidades de investimento, ale- gando necessidade de repatriamento de recursos. Na prática, essas mudanças ocorrem por más condições financeiras, perda nas vendas, alto custo dos pro- cessos produtivos ou por imposições políticas locais. Não devemos esquecerque a transformação espacial é intrínseca ao inte- resse do capital, fruto, na maioria das vezes, de empresas multinacionais ou grandes grupos oligárquicos. Assim, na geografia da transformação espacial, analisam-se as atividades econômicas presentes num determinado espaço geográfico e se indaga acerca dos tipos de vínculos existen- tes para estabelecer, de urna parte, como se definem os espaços da produção, distribuição e consumo, e de outra, o papel do espaço – a espacialidade – na consolidação da atividade. (VARGAS; JATOBÁ; CIDADE, 2012, p. 36) Nas transformações ocorridas com a modernização do sistema produ- tivo do século XX, quando as indústrias passaram do sistema de Ford (for- dismo) para o sistema Toyota (toyotismo), os setores produtivos começaram a se organizar em determinados territórios de acordo com esse novo modelo de gestão da produção industrial. Em relação ao contexto brasileiro, podemos salientar, ainda, que: A indústria não se estendeu uniformemente pelos espaços nacionais, já que havia uma alta seletividade espacial que conformou os “cinturões industriais” em regiões específicas. A escala da produção do fordismo produziu grandes espaços fabris, de conformação urbano-industrial, – 125 – Teoria e método em geografia industrial de alta especialização setorial e que, posteriormente, transformaram-se sob o regime da produção flexível. (VARGAS; JATOBÁ; CIDADE, 2012, p. 38) Houve então uma especialização produtiva dos lugares, possibilitando uma melhoria em termos de eficiência e complexidade da planta produtiva, na qual são combinados os fluxos logísticos, os transportes, as políticas de Estado e as comunicações. 8.3 Fatores locacionais da indústria Desde o século XVIII, o carro motriz da alteração espacial está envolto na disseminação do processo produtivo e na criação de novas indústrias, com as empresas buscando adequações de espaço de acordo com as suas necessidades. Essa transformação ocorre então de acordo com a disponibilidade de energia, portos, aeroportos, ferrovias, centros consumidores e matérias-pri- mas. Para se definir a localização das indústrias, são observadas as áreas que possam trazer vantagem competitiva às empresas e diminuir os custos de seu processo produtivo. No Brasil, desde 2001, a Lei n. 10.257 (BRASIL, 2001) – Estatuto da Cidade – prevê áreas que possam ser destinadas a atividades industriais, para evi- tar possíveis conflitos de interesse entre o poder público e as restrições impostas pela legislação federal, diferenciando as zonas propícias ao crescimento urbano, como as áreas comerciais e residenciais, daquelas aptas para a indústria. A mesma lei garante, no seu inciso VII, “integração e complementari- dade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico na esfera municipal e toda a região que poderá ser influen- ciada pela demanda de crescimento” (BRASIL, 2001). Outro fator importante previsto na lei é que o processo produtivo ocorra de acordo com padrões preestabelecidos de “produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana”, desde que seja respeitada a demanda de sus- tentabilidade ambiental, social e econômica da localidade. A dinâmica industrial por vezes exerce influência e traz oportunidades a outros setores produtivos, pois pode impulsionar indústrias de transformação Geografia Política, Econômica e Industrial – 126 – de matéria-prima in situ, ou seja, na origem, e atividade-fim, como o comér- cio, alavancando a economia local e, dependendo do aporte financeiro, favo- recer o crescimento regional e nacional. Assim, compreendemos que o setor industrial é diversificado. Normal- mente, as grandes indústrias estão atreladas a corporações internacionais, bus- cando sua inserção em um processo produtivo integrado, já que são plantas industriais presentes nos países desenvolvidos e nos emergentes. Esse processo ocorre para que seja garantida a homogeneização dos pro- dutos, com as mesmas características de produção. Desse modo, um mesmo produto, quando adquirido no mercado estadunidense, apresentará as mes- mas características quando comercializado no mercado europeu. 8.3.1 Classificação das indústrias Os segmentos industriais são classificados de acordo com o tipo de tecnologia que é empregada na planta produtiva e com a finalidade da pro- dução, tendo em vista que as indústrias são disseminadas de acordo com a fonte de matéria-prima. Quadro 1 – Divisão das indústrias por tecnologia empregada. Características Exemplos Tradicionais São caracterizadas pelo uso de métodos produtivos tradicionais, mas ultrapassados. Indústrias têxteis, de calçados, de alimentos e bebidas, que empregam mão de obra exclusiva de trabalhadores. Modernas Possuem maquinários modernos e têm grande investimento de capital. Parques automobilísticos têm essas características, com mão de obra especializada e produção automatizada. De ponta De alta tecnologia, apresentam volumosos investimentos de capital e aplicação de áreas científicas no seu processo de análise e implementação. Áreas de informática, aeronáutica, espacial, biotecnologia e produção de medicamentos. Fonte: SOUZA et al., 2016, p. 91. Adaptado. – 127 – Teoria e método em geografia industrial Como podemos observar, os distintos eixos de produção industrial pos- sibilitam o atendimento das demandas de desenvolvimento, tanto dos países mais desenvolvidos quanto dos países emergentes, que ainda dispõem de um grande número de trabalhadores sem qualificação e com baixa remuneração. No caso da indústria de ponta, é notório o alto potencial tecnológico, com sistemas completamente desenvolvidos por cientistas e profissionais for- mados e especializados para esse fim. São indústrias de elevado investimento financeiro e com potencial de competitividade muito grande, pois o processo produtivo demanda emprego de pouca mão de obra, apesar de ser alto o nível de especialização dos empregados. Assim, sabendo que existem setores mais tradicionais no processo pro- dutivo e setores com maior nível de especialização e uso de tecnologias de ponta, podemos agora tratar dos setores industriais por finalidade (Figura 1). Vale lembrar que são três os setores da economia que nos dão condição de diferenciar os processos produtivos, cada um com sua contribuição para a riqueza de um país: 1) o setor extrativista; 2) o da indústria e construção civil; 3) e o setor terciário ou de prestação de serviços. Figura 1 – Classificação das indústrias por finalidade. Finalidade Siderúrgicas, metalúrgicas, materiais elétricos. Bens de produção Bens intermediários ou bens de capital Bens de consumo Móveis, eletrodomésticos, automóveis. Máquinas, equipamentos motores, ferramentas. Fonte: Elaborada pelo autor. Geografia Política, Econômica e Industrial – 128 – Apesar dessa classificação das indústrias, os países apresentam diferenças em suas plantas produtivas, tendo em vista o histórico de desenvolvimento de cada um. Na tradicional divisão do trabalho, os países que tiveram processo de colonização exploratório só puderam buscar melhores níveis de desenvol- vimento econômico após os esforços do capitalismo de modernização indus- trial, no fim do século XX. Esse processo industrial há décadas vem se modernizando e buscando alter- nativas mais eficientes do ponto de vista da produção. Os parques fabris atual- mente contam, por exemplo, com profissionais da área de segurança do trabalho e, na maioria dos casos, um moderno controle de gerenciamento ambiental, cumprindo medidas legais impositivas previstas na legislação de cada país. Como vimos na Figura 1, as indústrias, de acordo com a classificação por finalidade, estão associadas à matéria-prima de origem, sendo direciona- das para fins específicos. Seguindo essa ordem, no caso das indústrias de bens de produção, o minério de ferro dá origem a ligas metálicas e, logo, deve ser moldado nas siderúrgicas; já o petróleo originasubprodutos como gasolina, óleo diesel e seus derivados, processados nas petroquímicas. As indústrias de bens intermediários buscam material nas de bens de produção; seu processo fabril produz ferramentas, equipamentos, autopeças e materiais elétricos. Já as de bens de consumo, como o próprio nome revela, levam-nos a consumir, dando origem aos produtos que chegarão às nossas residências e que apresentam uma maior volatilidade em sua utilização. Na maioria das vezes, esses produtos já são concebidos com a ideia da obsoles- cência programada, que é então embutida em suas tecnologias, como nos móveis, eletrodomésticos, automóveis e alimentos. Podemos concluir que os fatores de localização das unidades de produ- ção estão diretamente relacionados aos tipos de indústria: [...] os fatores específicos – economias de custo que podem ser auferidas por um número reduzido de indústrias, e gerais – economias de custo que podem ser auferidas por qualquer tipo de indústria, podendo estas últimas ser classificadas quanto à escala geográfica em que atuam: a) fatores regionais e b) fatores aglomerativos e desaglomerativos (técnico- -locacional). Os fatores regionais são capazes de explicar a escolha loca- cional entre regiões (custo de transporte e custo de produção). Os fatores técnico-locacionais [são] capazes de explicar a concentração ou dispersão da indústria em certa região [...]. (DONDA JÚNIOR, 2002, p. 30) – 129 – Teoria e método em geografia industrial Assim, os fatores que norteiam a escolha de determinada área para a instalação de uma fábrica estão diretamente relacionados aos elementos que lhe darão suporte e aporte no processo produtivo, incluindo questões políti- cas, econômicas, de logística e infraestrutura, para que seja garantido o pleno desenvolvimento da região. As fontes de matéria-prima são elementos essenciais a serem considera- dos nessa escolha. Se for para uma siderúrgica, deve-se considerar a localiza- ção das jazidas dos minérios a serem explorados, além dos meios de transporte para escoar a produção e do material humano necessário, ou seja, os trabalha- dores, assim como as fontes de energias, ou a cogeração delas, dependendo da situação produtiva. No caso da indústria de bens de consumo, o mercado consumidor é de extrema importância – e por isso a planta produtiva deve ser instalada nas intermediações de grandes aglomerados urbanos –, assim como os acor- dos bilaterais de cooperação internacional de comércio, pois, para não haver exploração indevida dos recursos naturais, ou mesmo dos trabalhadores, deve-se garantir que a legislação vigente seja plenamente respeitada e, até mesmo, que as leis locais sejam ajustadas quando se fizer necessário. Conclusão Como vimos, o processo de transformação do espaço geográfico decorre da evolução histórica da sociedade, e as indústrias contribuem para essa con- formação espacial, impondo novas formas de exploração dos territórios. O espaço geográfico é, sobretudo, construído pelas inter-relações dos seres humanos como produto de seu meio. Em uma visão positivista, as con- dições impostas pelo homem no modo de exploração do espaço causam pro- fundas transformações antropogênicas que resultam tanto em danos ambien- tais na sociedade de consumo quanto na transformação econômica imposta pelo processo produtivo. As mudanças sociais que a planta industrial impõe a um mundo cada vez mais globalizado são resultado da exploração do capital em detrimento da qualidade de vida das pessoas. Isso porque, em uma sociedade de consumo, itens materiais são mais valorizados que o tempo livre do homem e sua vida pessoal junto a seus familiares e amigos. Geografia Política, Econômica e Industrial – 130 – O modelo capitalista vem tentando construir nos limites fabris a espe- cialização da mão de obra em detrimento do uso massivo de máquinas no processo de produção industrial. Isso ainda não ocorre em larga escala nas indústrias tradicionais brasileiras, que ainda utilizam massivamente a mão de obra humana, em função das necessidades da planta produtiva, embora essa realidade venha sendo modificada nas últimas décadas no país. As indústrias em geral ainda têm buscado modernizar seus parques fabris para baratear os custos de produção, tendo assim melhores condições de comércio e favorecimento dos lucros. Ampliando seus conhecimentos Diversas variáveis são apontadas para explicar a decisão de localização de uma indústria. Muitos modelos também são construídos para explicar a relação entre essas variáveis e o processo de escolha dos locais de produção e de comerciali- zação de produtos. O texto apresentado a seguir discute sobre esses estudos em relação à concentração ou desconcentração industrial, explicando o desenvolvimento de pesquisas na área. Da concentração industrial (PERLOTTI; SANTOS; COSTA, 2016 p. 149-150) A fundamentação econômica sobre localização e concentra- ção da atividade econômica tem início nos anos 1920, com os trabalhos seminais de Marshall (1920) e Weber (1929), e este último classificou os fatores que determinam a localização das firmas como regionais (relacionados à dotação geográfica) e locais (independentes da geografia, como qualidade da infraestrutura urbana, custo da terra, economias de escala). A linha de pesquisa conhecida como Nova Geografia Econômica refere-se a esses fatores como forças centrípetas, – 131 – Teoria e método em geografia industrial quando estimulam a concentração espacial, e forças centrífu- gas, quando promovem a desconcentração (Krugman, 1991). [...] A literatura nacional dentro desse tema é escassa, mas existem indicativos de que preço e disponibilidade de energia podem representar importante fator de localização de indústrias energo-intensivas (Santos, 2012). Particularmente, a disponi- bilidade de gás natural no Brasil, por conta das características de transporte e distribuição, é um potencial candidato à gera- ção de padrões de localização da indústria nacional (Pequet; Miranda, 2009). Fundamentos teóricos da economia de localização [...] A chamada Ciência Regional fornece o arcabouço con- ceitual para os fatores locacionais da atividade econômica (Resende; Wyllie, 2005). Particularmente, em economias de grande porte e heterogêneas, como a brasileira, há um espe- cial interesse no desenvolvimento de análises que orientem políticas de desenvolvimento regional. Os primeiros trabalhos desenvolvidos dentro dessa área tra- tavam as chamadas externalidades marshallianas como fatores de aglomeração industrial. As externalidades também foram fundamentais para a teorização em torno das aglomerações urbanas e das diversas linhas de pesquisa da Geografia Econômica. Nos anos 1990, o foco das pesquisas foi a micro- fundamentação dos argumentos para explicar a aglomeração das atividades econômicas (Silva; Silveira Neto, 2009). Esses modelos da década de 1990 analisaram as razões pelas quais as firmas se localizam próximas aos compradores e ven- dedores (Krugman, 1991; Tirole, 1988). Fujita e Thisse (2001) demonstram que a proximidade com os insumos de produção favorece a aglomeração, enquanto a produtividade marginal decrescente e os efeitos de congestão podem conduzir à dis- persão das atividades econômicas. Geografia Política, Econômica e Industrial – 132 – Com relação aos determinantes de aglomeração da atividade econômica, a literatura aponta para dois tipos principais de externalidades. As economias de localização se referem aos determinantes que beneficiam firmas da mesma indústria, onde os fatores explicativos são específicos do setor de atividade. As economias de urbanização se referem aos determinantes que afetam indistintamente diferentes indústrias. Atividades 1. O processo de industrialização histórico atende a que demanda espa- cial, já que passamos da fase do artesanato ao processo de mecaniza- ção ou robotização na indústria? 2. Como vem ocorrendo a transformação espacial desde o advento da indústriae de que forma isso implica na vida diária das pessoas? 3. Como você descreveria a transformação do espaço geográfico em um bairro populoso, no qual uma indústria química se instalasse sem atender às devidas medidas legais impositivas? 4. Quais são os fatores de localização industrial que poderíamos julgar como fundamentais em um país emergente? Estrutura do espaço industrial Introdução Desde o início do século XIX, com a chegada dos imigrantes ao Brasil, uma nova massa de trabalhadores deu um viés diferente à capacidade industrial de nosso território, mesmo não tendo seguido a lógica mundial no processo de industrialização, pois a produção do país era basicamente agrícola. A primeira fase da industrializa- ção brasileira ocorreu no período compreendido entre 1930, com o governo de Getulio Vargas, e 1950, com Juscelino Kubitschek. Porém, somente na segunda metade do século XX, particularmente a partir da década de 1970, o Brasil passa a buscar incentivos e par- cerias para sua planta industrial e empresas se instalam no Sudeste, em sua maioria, em São Paulo e no Rio de Janeiro. 9 Geografia Política, Econômica e Industrial – 134 – Assim, As transformações de ordem espacial decorrentes da implantação industrial foram enormes. Delas podemos citar como exemplos as próprias mudanças ocorridas na Inglaterra do século XlX, em que a indústria, associada à modernização do campo, gerou a expulsão de milhares de camponeses em direção às cidades, o que gerou a consti- tuição de cidades industriais. (AZEVEDO, 2010, p. 13) Desse modo, o espaço urbano foi se configurando de acordo com uma lógica industrial. A reorganização do processo produtivo foi motivada em parte pela demanda do homem do campo, que buscava novas oportunidades na cidade, pois a ausência de estrutura fundiária fez com que o espaço rural deixasse de ser interessante a ele, visto que não havia investimentos governa- mentais. A falta de modernização das técnicas empregadas no plantio e na colheita, a seleção de sementes e o melhoramento genético causou uma migra- ção do trabalhador para as áreas em início de processo de industrialização. Nesse sentido, a industrialização se configura como um processo radi- cal na configuração socioeconômica do país, pois a intensificação industrial implementa novas técnicas produtivas, com novas demandas de mão de obra. Então, temos dois fatores preponderantes no desenvolvimento industrial brasileiro: a transformação na estrutura produtiva, com ampliação de áreas industriais, principalmente pela substituição da importação no período pós- -Guerra; e o excedente de trabalhadores que se tornaram mão de obra barata. No contexto internacional, as condições de domínio imperialistas e as políticas liberais impulsionaram a indústria estadunidense, e, no pós-Guerra, a readequação das indústrias alemãs e japonesas converteu suas indústrias armamentistas em de bens de consumo, deixando então de exportar para as nações em que já havia essas plantas produtivas. 9.1 O processo industrial na construção e transformação do espaço geográfico As cidades são aglomerados humanos com necessidades próprias, já que nelas ocorrem as atividades comerciais e de vivência social. Elas formam, – 135 – Estrutura do espaço industrial portanto, centros de consumo, e as transformações do espaço urbano são inerentes às suas funções. Uma planta industrial nas intermediações de uma cidade eleva essa área ao status de região industrial. Logo, as demandas dessa cidade por infraestrutura vão se estabelecer de acordo com o modelo produtivo e a quantidade de pessoas que dependem dessa planta industrial. Todos os serviços e as especialidades técnicas se voltam então às ativi- dades da produção industrial, e a formação e capacitação dos profissionais se relacionam com essa demanda da indústria. As demandas de tecnologia também são adequadas às atividades-fim da área urbano-industrial, perfazendo áreas adjacentes às indústrias com as especia- lidades necessárias ao processo produtivo, dando suporte a essa planta produtiva. As cidades têm características diversas, podem preencher as mais varia- das funções e devem ser compreendidas de acordo com suas adequações de maneira particularizada, fazendo parte de um mesmo conjunto industrial e de suas necessidades. “Os mais diversos tipos de cidades, então, preenchendo as mais variadas funções, necessitam ser vistos, para sua adequada compreen- são, como partes de um mesmo sistema industrial” (LOPES, 2008, p. 8). Nessa lógica, podemos verificar que as cidades podem ter origens diver- sas, mas que as indústrias contribuem para sua fixação e fortalecimento. Mesmo apresentando funções específicas, como suas próprias unidades político-administrativas, elas dão suporte e atendem às necessidades das grandes empresas, fornecendo os serviços e demandas técnicas necessárias. Como já evidenciamos anteriormente, os grandes aglomerados urbanos no Brasil do século XIX proporcionaram novas exigências de manufaturas, com necessidades específicas, tendo em vista a ampliação do contingente populacional. Essa demanda surge por conta do desenvolvimento de diferen- tes produtos e pela real necessidade de atender o mercado. Na última década do século XIX, portanto, havia “áreas de mercado”, mais ou menos extensas, em cidades já de certa expressão (e em uma quase metrópole, o Rio) e nas zonas rurais que lhes eram tributá- rias. A demanda de produtos industriais dessas “ilhas” de mercado era Geografia Política, Econômica e Industrial – 136 – atendida pela importação. Os centros urbanos constituíram-se, pois, numa das precondições do desenvolvimento industrial posterior: a existência de mercados para produtos manufaturados. (LOPES, 2008, p. 18) Nesse processo de urbanização, as indústrias tiveram e têm papel preponde- rante, pois elevam o número de empregos, tanto diretos quanto indiretos, melho- ram os sistemas logísticos e dão um grande aporte à infraestrutura das cidades, ampliando as condições de transporte e embarque de cargas e suprimentos. No Brasil e no mundo, as indústrias têm obrigado os governantes a buscar novas formas de produção de energias, elevando mais uma vez o potencial pro- dutivo nas áreas industriais, como no caso da indústria de energias renováveis. Isso porque o mundo passa por uma transformação no modelo energético, já que há o comprometimento de muitas nações em reduzir as emissões atmosfé- ricas que contribuem para o aquecimento global. Assim, o investimento em energias alternativas alavanca a indústria global e dá suporte às áreas de tecnologia e aprimoramento da matriz energética e desenvolvimento social. Entre os benefícios proporcionados pelo investimento em energias renováveis, estão: “a inovação tecnológica e o desenvolvimento industrial; a geração distribuída e a universalização do acesso à energia; o desenvolvimento regional e local, especialmente em zonas rurais; e a criação de empregos” (SIMAS; PACCA, 2013, p. 101). Nesse panorama, podemos perceber uma transformação do cenário industrial para poder atender ao consumo de energias alternativas, em fun- ção da demanda mundial de redução dos gases de efeito estufa. Esse é um segmento em plena ascensão, que vem gerando novos postos de trabalho e criando áreas técnicas que antes eram incipientes. Outrossim, as regiões produtoras de energias passam a abrigar novos contingentes de trabalhadores especializados, pois os sistemas de produção necessitam de pessoal qualificado em relação ao processo produtivo, por exemplo, na instalação e operação dos sistemas de planta eólica. Essa nova demanda da indústria deve trazer maiores investimentos por parte dos governos, que darão cada vez mais prioridade a essa área, cons- truindo novos parques industriais especializados. – 137 – Estrutura do espaço industrial Engenheiros elétricos, técnicos em manutenção industrial, técnicos em programação industrial, engenheiros mecânicos, entre outros estarão em con-sonância nessa nova planta produtiva, no desenvolvimento, na execução e na implantação de grandes parques eólicos no Brasil e no mundo. Esse upgrade1 na matriz produtiva, na área de energias, causa uma transformação do espaço geográfico, agora com demandas ambientais intensas, sobretudo na produção de energias limpas/renováveis. Vejamos o seguinte: A presença de projetos de energias renováveis em áreas rurais, espe- cialmente em áreas que carecem de desenvolvimento econômico, pode trazer diversos benefícios para a comunidade. Características socioeconômicas de muitas regiões, como alto desemprego, falta de alternativas de desenvolvimento econômico e altas taxas de migra- ção da população economicamente ativa, fazem que seja vantajoso o investimento nessas tecnologias. (SIMAS; PACCA, 2013, p. 102) Podemos argumentar, ainda, que essas novas demandas mundiais por projetos sustentáveis na produção de energias devem motivar grandes inves- timentos industriais em equipamentos, tanto para áreas domésticas quanto para exportação. Em um primeiro momento, estudos da demanda de matriz eólica terão destaque nas áreas técnicas e científica, motivando pesquisadores a compreen- der as necessidades industriais da área. A formação de pessoal qualificado para implantação dos parques eólicos nas regiões de maior predominância de vento irá favorecer a produção energética dessa matriz. Nas indústrias, plantas produtivas de construção de pás geradoras, de estruturas de suporte a geradores, grupos geradores, cabos de transmissão e sistemas de conversão de energias devem ser as novas estruturas que prevale- cerão nesse modelo industrial ascendente. A exigência de qualificação profissional e novas vagas de emprego pode gerar gargalos tecnológicos nas áreas de implantação dessa matriz produtiva, suscitando assim demandas de formação e capacitação técnica, novamente impulsionando, além da indústria, a área de educação, que modifica e forma- liza o crescimento do setor de serviços. 1 Melhoria nos sistemas de produção, com aprimoramento técnico e tecnológico. Geografia Política, Econômica e Industrial – 138 – 9.2 Indústrias de bens de produção e bens de consumo A atividade industrial remonta à 1ª Revolução Industrial e tem por fina- lidade a transformação de matérias-primas em produtos remanufaturados, com diversos fins. Sua aplicabilidade se dá de acordo com as necessidades sócio-históricas de cada época. Desde os primórdios da era moderna, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, os caminhos da modernização industrial levam em consideração as fontes de matérias-primas, principalmente no primeiro setor da economia, o extrativista. O processo de transformação das matérias-primas do primeiro setor é executado primordialmente na chamada indústria de base, que, como o pró- prio nome sugere, proporciona a base de uma planta industrial. Logo, estando disponível a matéria-prima, ela passa às indústrias de bens de produção, que a transforma em insumos para outras cadeias produtivas, como em indústrias petroquímicas, siderúrgicas e de material elétrico, como já evidenciamos em capítulos anteriores. No primeiro caso, a indústria petroquímica “é o ramo da indústria quí- mica orgânica que emprega como matérias-primas o gás natural, gases lique- feitos de petróleo, gases residuais de refinaria, naftas, querosene, parafinas, resíduos de refinação de petróleo e alguns tipos de petróleo cru” (TORRES, 1997, p. 49). O modelo de exploração dessa área industrial teve origem na moderni- zação da planta fabril, com a petroquímica estadunidense Standard Oil, no fim do século XVIII, quando o querosene era o principal produto para ilumi- nação das residências norte-americanas. Essa empresa foi umas das primeiras a deter o monopólio de um combustível, em plena recessão americana, após a guerra civil, pois não havia concorrentes e seus diretores atuavam agressiva- mente no modelo industrial da época. A indústria petroquímica é um segmento que pode se desmembrar em vários outros, já que os subprodutos do petróleo estão em quase todos os produtos industrializados. Desse modo, – 139 – Estrutura do espaço industrial A petroquímica é o setor industrial de mais alto poder germinativo e mais alto relacionamento com os demais setores da vida econômica. Produz insumos para fertilizantes, plásticos, fibras químicas, tintas, corantes, elastômeros, adesivos, solventes, tensoativos2, gases indus- triais, detergentes, inseticidas, fungicidas, herbicidas, bernicidas, pes- ticidas, explosivos, produtos farmacêuticos. (TORRES, 1997, p. 49) Assim, as empresas dessa área têm grandioso papel no desenvolvimento econômico do mundo globalizado, pois o petróleo, base para esse segmento industrial, tem preços controlados pelos grandes produtores, o que há déca- das afeta as economias emergentes. As indústrias de base, como as petroquímicas, fazem parte de grandes cartéis que detêm e controlam a exploração, o refino e a comercialização desse hidrocarboneto, que é o combustível fóssil mais utilizado na matriz energé- tica mundial. Além disso, seus derivados são amplamente utilizados na fabri- cação de roupas, móveis, eletrodomésticos, entre outros variados produtos. Muitas economias e países dependem única e exclusivamente dessa área de produção no segmento industrial, que está sujeita às flutuações econômi- cas. Essa oscilação acontece em decorrência dos ciclos produtivos, das desco- bertas de novos poços de petróleo e do controle dos monopólios. Assim, A indústria petroquímica mundial é submetida a ciclos de preços. Durante a fase de alta, normalmente acarretada por crescimentos ele- vados das principais economias mundiais, há grandes investimentos em ampliações da capacidade, o que em três ou quatro anos leva a um excesso de oferta e à consequente queda geral de preços. (GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005, p. 78) A oscilação de preços ocorre de maneira desigual no mundo por conta de fatores externos aos territórios, como os interesses políticos, que se sobres- saem aos de demanda de produção. Outra área industrial de excelência no mundo e que remete ao desen- volvimento industrial estadunidense é a siderurgia, que atualmente fornece ligas metálicas para todos os outros setores da indústria. Esse segmento é um dos mais antigos do mundo e modificou a história de muitas civilizações com seus diversos tipos de uso, como o emprego do 2 Produtos que quebram a tensão superficial da água e servem para indústrias que produzem sabão, sabonetes, xampu e outros materiais de limpeza. Geografia Política, Econômica e Industrial – 140 – aço na produção de armamentos no período medieval. Na história recente, as técnicas de trabalho e retrabalho do ferro e do aço transformaram as cidades, principalmente nos EUA, onde foram aprimoradas. Na atualidade, a indústria siderúrgica é muito utilizada na construção civil, na indústria metal-mecânica, de automóveis e de equipamento pesados. Portanto, A indústria siderúrgica é importante fornecedora de insumos para produtos de diversas indústrias e para a construção civil. É formada por grandes empresas, em geral verticalizadas, que operam as diversas fases do processo produtivo, da transformação do minério em ferro primário (gusa ou ferro-esponja) à produção de bobinas laminadas a quente, a frio ou galvanizadas, para aplicação em produtos na indús- tria automotiva, de bens de capital, naval, de linha branca, entre outras (CARVALHO; MESQUITA; ARAÚJO, 2014, p. 182). Assim, esse é um segmento industrial que tem modificado a concepção de desenvolvimento de muitas nações que detêm e exploram esse setor. Cabe aqui a ressalva de que os países emergentes, dentro da clássica divisão interna- cional do trabalho, apenas exportam o minério de ferro e não tem know-how de beneficiamento e exportação das ligas metálicas oriundas deste e de outros componentes da siderurgia. No caso do Brasil, estamos evoluindo na produção interna de ligas metá- licas, sendoque o mercado interno é suprido de maneira paliativa. A indústria siderúrgica brasileira consegue atender à quase totalidade da demanda do mercado doméstico, produzindo uma ampla gama de pro- dutos de aços planos e longos. A maior parte da produção siderúrgica nacional é de aço carbono comum. Vale observar que todos os produ- tos fabricados em aço carbono também podem ser produzidos em aço especial ou ligado. No entanto, pela complexidade dos processos de elaboração dos aços especiais e pelo valor intrínseco dos chamados ele- mentos de liga (níquel, cromo, cobalto, nióbio, vanádio, entre outros), geralmente são produzidos em pequenos volumes e têm aplicações específicas. (CARVALHO; MESQUITA; ARAÚJO, 2014, p. 182) Nesse sentido, a evolução da indústria brasileira de ferro e aço tem acom- panhado a flutuação de crescimento do país. O Brasil não tem aporte finan- ceiro, técnico ou tecnológico para alcançar o mercado mundial, haja vista as limitações energéticas que acompanham os interesses das grandes produtoras – 141 – Estrutura do espaço industrial de aço, ficando comprometido com a exportação apenas do minério de ferro (commodities3). As suas subsidiárias internacionais, com plantas instaladas no Brasil, buscam a mão de obra mais barata, garantindo seus próprios lucros. Essas grandes indústrias fazem com que o aço retorne com valor agre- gado, sem custos de impostos ou dos encargos trabalhistas, ou seja, expor- tam-no para um país que o industrializa, transformando-o em outras ligas metálicas, sem os custos sociais que teria na produção nacional. O processo produtivo na área de siderurgia enfrenta forte concorrência no mercado mundial, principalmente com os países que têm tradição nessa planta industrial, como EUA, China, Rússia e Índia, os quais têm merca- dos internos de produção muito diferentes, que envolvem desde políticas de exploração, com automatização dos processos, liberação ambiental com legis- lação flexível, até questões sociais e econômicas, muitas vezes sem garantias aos trabalhadores. Assim, a siderurgia mundial passa por grandes desafios e incertezas, con- forme demonstra o Quadro 1: Quadro 1 – Desafios da planta produtiva siderúrgica mundial. Capacidade produtiva Aumento da concorrência e pressão sobre os insumos no processo produtivo. Impactos ambientais Medidas legais impositivas mais eficientes, com maior fiscalização, dando garantias aos três eixos da sustentabilidade e melhor qualidade de vida às sociedades. Energias Redução da dependência da matriz energética do petróleo; diversificação das matrizes de energia. Fonte: CARVALHO; MESQUITA; ARAÚJO, 2014, p. 189. Adaptado. Conforme estudado anteriormente, a siderurgia tem papel importante no modelo de desenvolvimento das nações, sobretudo nas emergentes, que visam se estabelecer no processo produtivo siderúrgico. Essa área apresenta intensa concorrência e tem sérios problemas com a matriz energética, haja vista os competitivos preços internacionais, pois empregam mão de obra 3 Produtos do comércio de baixo valor agregado. Geografia Política, Econômica e Industrial – 142 – barata e sem garantias trabalhistas. Isso ocorre até mesmo nas grandes jazidas exploradas na Europa e na Ásia, que suplementam as altas demandas dos países desenvolvidos e altamente industrializados. A indústria de base – ou de bens de produção – tem, portanto, grande participação no comércio mundial, estando alinhada às estratégias produtivas globais e possuindo ampla rede de distribuição dos produtos fabricados em escala internacional, envolvendo as maiores economias do globo, como EUA, França e Japão. 9.3 A mineração na atividade industrial No mundo globalizado, motivado pela crescente onda de consumo, as matérias-primas são fundamentais no processo de fabricação e transformação de manufaturas. Quando elencamos nossas necessidades básicas, evidenciamos água, ali- mentação, vestuário, moradia e saúde. Nesse sentido, produtos de primeira necessidade estão fortemente atrelados à exploração ambiental, já que não vivemos mais em sociedade coletoras, mas sim em regiões urbano-industriais, onde as demandas de recursos naturais são infinitamente superiores. Assim, faz-se necessário a exploração e o uso do solo em todas as suas formas, desde a areia na construção civil até a água que abastece nossos lares e os alimentos produzidos pela agricultura familiar que chegam às nossas mesas. Nossas demandas por recursos ocorrem em função do grande cresci- mento populacional nas sociedades urbanas, que buscam, por intermédio do seu trabalho, o suprimento das necessidades dessa organização do espaço em torno de um novo modo de vida, que é a sociedade de consumo. A água, o sal de cozinha, a energia que abastece nossas residências foram garantidos por intermédio da transformação dos espaços naturais em áreas de exploração, que conhecemos como áreas de mineração, dando suporte ao inchaço urbano, atendendo a uma demanda de produto que não consegui- mos suprir sozinhos. A atividade de mineração remonta aos tempos da colonização no mundo, quando foram exploradas muitas áreas que continham as riquezas – 143 – Estrutura do espaço industrial necessárias aos interesses daqueles que as ocupavam. O ouro, por exem- plo, sempre foi objeto de desejo de potências imperialistas como Portugal e Espanha e motivou disputas, até meados do século XVIII, pelo domínio das áreas conquistadas. Minerar significa tirar da terra, explorar um determinado recurso que tenha função econômica ou social. O mineral é um produto bruto que está armazenado no solo e constitui parte da história da evolução do planeta Terra. Atualmente, na sociedade urbana industrial, as grandes jazidas minerais ser- vem como base a uma planta produtiva. Assim, a construção de grandes empresas de mineração está associada a uma forma de organização econômica do primeiro setor da economia, já que é uma atividade extrativista que contribui para a riqueza e o desenvolvimento econômico e social de muitas nações. Uma das atividades de mineração mais conhecidas é a exploração e pros- pecção do petróleo, um antigo bem de riqueza mineral utilizado na indústria, que tem moldado muitas outras atividades, como já evidenciamos. A mine- ração do petróleo é nos dias atuais uma das mais concorridas atividades eco- nômicas, em função da necessidade e dependência que o mundo globalizado tem desse hidrocarboneto4 e de sua matriz energética. Plantas da indústria de prospecção do petróleo necessitam de equipa- mentos pesados e de alta especialidade, como plataformas de exploração e navios petroleiros. Desse modo, muitas regiões mineradoras de petróleo têm se associado às indústrias petroquímicas como importantes parceiras. Assim, podemos compreender que a extração de minérios tem forte apelo industrial e tecnológico na era moderna e que muitas plantas industriais e cidades surgem em torno da atividade mineradora. Outro fator que deve ser considerado na atividade mineradora e que dá aporte à planta industrial são os volumosos investimentos capitais na investigação científica e identificação das jazidas minerais. Por mais que o mercado do petróleo apresente uma oscilação mundial, esse mineral continua sendo importante no 4 Elemento de origem fóssil, em forma líquida de carbono, encontrado em bacias sedimenta- res, dando origem a uma cadeia extensa de carbono. Seus subprodutos podem ser utilizados como combustível e na indústria em geral. Geografia Política, Econômica e Industrial – 144 – segmento metal-mecânico. “Mesmo com as recentes quedas de alguns subsetores do metal-mecânico, como o caso da metalurgia básica, o setor envolve importan- tes fornecedores da indústria de petróleo e gás natural; merece, portanto, destaque por sua transformação produtiva” (MELO, 2011, p. 63). No Brasil, esse mineral tem influenciado políticas regionais, principal- mente no Nordeste, com acréscimo de novos postos de trabalho e a implan- tação de novasrefinarias, como a Abreu e Lima, que vem contribuindo para o aporte de desenvolvimento econômico e social dessa região que apresenta contrastes sociais intensos. A contribuição da atividade extrativa de petróleo no Nordeste pode ser comprovada com base na análise de Melo (2011, p. 68), que afirma que “o setor metal-mecânico expandiu 38,66% o número de emprego total, saindo de 17.069 para um patamar de 23.668. E os subsetores que expandiram mais, ‘fabricação de outros equipamentos de transporte’ e ‘máquinas e equi- pamentos’, são subsetores com maior intensidade tecnológica”. Assim, as regiões mineradoras têm se firmado como áreas com grandes possibilidades de investimento socioeconômico e comercial, como é o caso do estado de Pernambuco, “que apresenta elevado índice de crescimento, tanto em indica- dores econômicos e sociais, quanto em indicadores de inovação e competiti- vidade” (MELO, 2011, p. 74). Para além do desenvolvimento regional, a mineração também molda macropolíticas de integração, pois acordos entre nações, com interesses econô- micos, ou de investimentos, são constituídos com base nos recursos minerais provenientes dos Estados que detêm as jazidas. Nesse contexto, parcerias são ajustadas e acordos bilaterais fomentam o crescimento da exploração mineral em detrimento das demandas e necessidades econômicas específicas de cada país-membro, fortalecendo, assim, a macroeconomia de ambos. Conclusão As demandas capitalistas proporcionam as bases para o crescimento da indústria mundial e também suplementam os modelos econômicos das nações emergentes, como é o caso do Brasil, da Rússia, da Índia e da China. – 145 – Estrutura do espaço industrial Esses países, que tiveram de fazer uma substituição das importações durante a Guerra, forjaram seus parques fabris nas adjacências das áreas de maior número populacional, acarretando, na maioria dos casos, contrastes geográficos regionais. Assim, essas nações moldaram sua planta produtiva no primeiro setor da economia, o extrativista, já que modernizar sua indústria nos moldes dos paí- ses ricos era algo oneroso, demandando altos investimentos técnicos e tecno- lógicos e volumosos investimentos de capitais. Outro fator evidenciado neste capitulo é a transformação do espaço, visto que uma planta industrial requer diferentes elementos estruturais, rodovias, fer- rovias, áreas residenciais, áreas de estique de matérias-primas, entre outros, e uma diversidade muito maior de fontes de energia. Isso acarreta também uma mudança econômica e social, pois gera novos postos de trabalho, melhorando a saúde econômica do Estado e as condições gerais da população. Em nossa sociedade moderna e exigente, o mercado pujante é alimen- tado por empresas transnacionais em todos os territórios, modificando a forma de pensar e agir das pessoas e dos governos. Atualmente, uma empresa que prospecta petróleo no Golfo do México, por exemplo, possui também grandes áreas de extração de ferro na África Subsaariana e detém capitais de exploração de minérios no Brasil. Assim, a integração mundial por meio do capital modifica as relações comerciais de exploração das matérias-primas. Logo, a transformação do pro- cesso produtivo por vezes gera riquezas com a implantação de novas indús- trias e, em outros casos, com o abandono das plantas industriais que não são mais competitivas. Ampliando seus conhecimentos O excerto a seguir trata sobre o início do processo de indus- trialização brasileiro, quando o setor industrial começou a se expandir e se diversificar, mas ainda era restrito, devido a entraves da economia. Geografia Política, Econômica e Industrial – 146 – Processo de industrialização brasileiro: uma periodização (CURADO; CRUZ, 2008, p. 407-408) [...] Somente a partir de 1933 deu-se, seguindo essa proposta de periodização, o início do processo de industrialização no Brasil, já que a partir desse ano o ritmo de crescimento da eco- nomia passou a ser determinado pelo ritmo de expansão do setor industrial. Verificou-se também um processo de diversi- ficação da estrutura industrial, com aumento relativo dos seto- res produtores de bens de capital concomitantemente com a redução da importância relativa do setor de bens de consumo não duráveis. Em outras palavras, a partir de 1933 o processo de acumulação de capital no interior da economia passou a se estruturar em um novo padrão. O ritmo de crescimento da economia não se encontrava mais vinculado à demanda externa, mas sim ao ritmo endógeno de acumulação de capital no setor industrial. Porém, esse processo de diversificação da estrutura industrial era restrito, já que o crescimento da atividade industrial encon- trava-se diretamente associado à capacidade de importação de bens de produção, que dependia das divisas obtidas pelo setor primário exportador. Assim, embora o ritmo de expansão da economia não esteja mais vinculado à demanda externa, os entraves impostos pela capacidade de importação, fortemente dependente do setor agroexportador, continuam a limitar a capacidade de crescimento da economia. Em suma, as crises de natureza cambial continuam a desempenhar papel funda- mental como limitadoras do processo de desenvolvimento brasileiro durante o período de industrialização restringida. – 147 – Estrutura do espaço industrial Atividades 1. Quais elementos podem ser modificados com o processo de transfor- mação do espaço geográfico quando uma planta industrial é instalada? 2. Caracterize uma planta de bens de produção, elencando as fontes de matérias-primas. 3. Diferencie bens de produção de bens de consumo. 4. Sabemos que a água é um importante elemento, tanto no ciclo hidro- lógico quanto na cadeia produtiva. Qual outra fonte de energia alter- nativa pode ser considerada infinita no processo de transformação de energia e que deve ser utilizada na era moderna? A atividade industrial no Brasil e no mundo Introdução O Brasil agroexportador iniciou o século XXI com a maior transformação econômica da sua história, modificando os enlaces de comércio internacional como nunca visto desde a Proclamação da República, em 1989. De 2002 a 2014, o PIB do país foi praticamente quadripli- cado, quando não havia ainda sintomas da crise política instaurada anos mais tarde. No entanto, deixamos de crescer em 2014 o mon- tante equivalente ao PIB de toda a Argentina. Isso demonstra o caminho de potência econômica que está- vamos seguindo, juntamente com a China, a Rússia, entre outros, exatamente pela valorização da economia interna em detrimento das políticas externas, mesmo sendo o país um dos maiores exporta- dores de commodities, com supremacia do setor primário. 10 Geografia Política, Econômica e Industrial – 150 – As políticas econômicas estabelecidas nas últimas décadas e até 2014, com fortalecimento econômico dos países do BRICS, elevaram o Brasil à sexta economia do mundo. Isso ocorreu com a modernização dos parques industriais, principalmente de petroquímica e metal-mecânica, pois o cresci- mento da exploração do petróleo nacional deu a possibilidade de surgimento de novas demandas no setor, com parcerias importantes na construção e no desenvolvimento de plataformas petrolíferas e em mais duas novas refinarias. O Brasil segue o rumo das economias emergentes, com a formação de parcerias coesas nessa nova planta industrial, modernizada e forte. Abrem-se possibilidades de novas indústrias em território nacional, principalmente sino-brasileiras, como as montadoras chinesas estabelecidas no país, que estão agora concorrendo com as alemãs e estadunidenses. Isso dá ao brasileiro novas oportunidades de escolha, já que até 2002 tínhamos em nosso país apenas as montadoras das grandes economias capitalistas. E essa é uma realidade que hoje vislumbramos em diversos setores da indústria nacional. 10.1 Distribuição espacial e evolução da indústria Atualmente, as informações presentes nos rótulos dos produtos e em manuais de operaçãoestão normalmente redigidas em três ou quatro idio- mas. Isso nos remete ao fato de que os produtos podem ser vendidos em tan- tos territórios quanto o manual apresentar ou que seu processo de fabricação passou por diversos países. Nesse sentido, as indústrias estão distribuídas em todas as regiões do globo e os produtos abrangem outros mercados em sua fabricação, pois ques- tões econômicas e comerciais podem ser sanadas por intermédio de acor- dos entre as nações. Isso viabiliza tanto a comercialização dos produtos em diferentes locais do mundo quanto a inserção de novas técnicas no processo produtivo. Assim, “não é apenas a velocidade das técnicas que sustenta estas transformações atuais. Existe, de forma crescente, um compartilhamento dos objetos, que são produtos mundializados e marcas facilmente identificáveis” (PADILHA, 2000, p. 120). – 151 – A atividade industrial no Brasil e no mundo Podemos, por exemplo, encontrar um produto nos Estados Unidos que foi idealizado pela Alemanha e projetado por um inglês, cuja montagem pode ter sido realizada no México ou no Brasil. Isso é possível no período atual da globalização, mas em outras épocas já tivemos patentes muitíssimo protegidas e resguardadas a sete chaves. No processo de transformação e espacialização da indústria mundial, muitos elementos vêm tomando novas configurações, mas tiveram o mesmo contexto histórico de evolução. A utilização da tecnologia teve de evoluir de acordo com a evolução das ciências, atendendo aos contextos históricos, pois não houve a invenção de uma técnica antes que houvesse a melhoria de outras. Por exemplo: primeiro o ser humano começou a usar o carvão como energia, para, somente depois de uma evolução intensa, utilizar o petróleo. Assim a história da industriali- zação tem se apresentado, pois a ciência e o seu contexto histórico, com suas diversas rupturas, sempre resultam em novos acontecimentos. Vamos aqui traçar um breve histórico do processo industrial pelo mundo, bem como o tipo de tecnologia apresentada em cada época e os fatos que culminaram em cada uma delas (Quadro 1): Quadro 1 – Evolução da industrialização no mundo. Origem Tecnologia Energias 1ª Revolução Industrial Inglaterra. Século XVIII Artesanato - Tear mecânico; - Máquina a vapor. Carvão mineral 2ª Revolução Industrial Inglaterra, EUA, Alemanha e Japão. Século XIX. Linha de produção; organização da produção. - Eletricidade; - Motor de combustão interna; - Ferro e aço. Carvão e petróleo 3ª Revolução Industrial Inglaterra, EUA, Alemanha e Japão, França, Rússia. Século XX. Robotização dos processos; sistemas Ford e Toyota de produção. - Eletricidade; - Motor de combustão interna; - Ferro e aço; - Engenharia de produção; - Genética; - Biotecnologia; - Telefone; - Microcomputador. Petróleo, eletricidade, energia nuclear Geografia Política, Econômica e Industrial – 152 – Origem Tecnologia Energias 4ª Revolução Industrial Globalizada; clássica divisão internacional do trabalho; era moderna. Robotização do processo produtivo. Velocidade Multifacetado e interconectado Renováveis Teses de 4° revolução - Inteligência Artificial; - evolução na saúde com uso da impressão 3D; - uso da impressão 3D em outras áreas do conhecimento; - computadores de bolso; - armazenamento de dados compartilhados; - neurotecnologia. Amplitude Revolução digital, combinando várias tecnologias. Impacto sistêmico - países; - empresas; - sociedade. Fonte: SCHWAB, 2016, p. 13. Adaptado. Como podemos observar, cada fase do processo de alavancagem da industrialização foi motivada por questões próprias à transformação espacial de cada época. A necessidade de se fazer um processo produtivo melhor e mais eficiente é evidente em cada fase, como fruto da influência do capita- lismo no modelo de produção. No mundo, essa espacialização ocorreu em função das demandas produ- tivas. Oferta de energias e matérias-primas, mercado consumidor e excedente de mão de obra nunca ocorreram em função da melhoria na qualidade de vida das sociedades impactadas. As transformações no mundo industrial têm contribuído, desde o século XVIII, com a melhoria de vida das pessoas – isso é inquestionável. Mas os sistemas de produção que compõem esse cenário precarizam o processo pro- dutivo, sobretudo na exploração da mão de obra. Vejamos o seguinte: São indubitáveis as rápidas e significativas transformações que vêm ocorrendo no mundo todo nas últimas décadas. O mundo do tra- balho, especialmente, vem sofrendo inovações tecnológicas e orga- nizacionais que estão diminuindo o número de trabalhadores, – 153 – A atividade industrial no Brasil e no mundo principalmente das indústrias, além de estarem modificando o perfil do trabalhador que resta no mercado de trabalho. Este vem sendo terceirizado, precarizado, parcializado, subcontratado, informalizado. O tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho também estão sendo alterados. (PADILHA, 2000, p. 120) Nesse sentido, garantir que haja uma evolução faz-se necessário, mesmo sabendo das transformações nas relações de trabalho e como elas se desen- volvem nas regiões do mundo com maior crescimento populacional, como na Índia, onde a organização social ainda remete a uma hierarquização em regime de castas. No mundo globalizado, onde opera o encurtamento das distâncias relativas, com avanços nos meios de transporte, na tecnologia em saúde, na telecomunicação e em plena ascensão da robótica e da nanotecnologia, a velocidade da informação é surpreendente. Esse contexto nos coloca na atual Quarta Revolução Industrial. O computador de mão hoje é operado até por crianças de um ano de idade; acessamos mídias sociais e de entretenimento, mecanismos de busca são operados por voz e somos orientados no trânsito por uma voz mecânica na navegação urbana, o que facilita nossas vidas e dá maior mobilidade às cidades, uma vez que identifica pontos de maior fluidez nas ruas. Agora pode- mos inclusive armazenar dados em nuvens de informação, que funcionam como HDs externos de computação. Nesse sentido, há uma maior abrangência da tecnologia, rapidez na informação e mais capacidade de processamento da informação. Isso tem se apresentado com diversas facetas, pois impacta diretamente as pessoas na sua forma de ver e agir no mundo, agora em tempo real. Essa revolução deve dar condição de diminuir os contrates sociais, pos- sibilitando o acesso não apenas às tecnologias, mas ao conhecimento que está agregado a elas, como no caso da formação pelo ensino distância, com as mesmas garantias que o ensino presencial. Outro exemplo são os avanços na medicina, em que a tecnologia de resposta rápida dos modernos equipamen- tos não necessita da presença física do médico. Isso possibilita a assistência médica em regiões isoladas do globo, diminuindo as diferenças de atendi- mento e trazendo rapidez à cura de doenças cotidianas. Geografia Política, Econômica e Industrial – 154 – Ressaltamos que a evolução da tecnologia pode trazer grandes benefí- cios, desde que operada com prudência, uma vez que essa gama de informa- ções está disponível a um número cada vez maior de pessoas. Um exemplo são os serviços de cartões de crédito, que possuem banco de dados com o perfil de todos os usuários, bem como o poder de compra destes. Esse tipo de informação serve de poder de barganha inclusive para redes sociais como o Facebook, que as utilizam como meio de negócios e comércio, tendo como base os dados dos usuários de sua plataforma. 10.2 Indústrias periféricas e sua atuação na economia regional O termo periferia é comumente utilizado para denominar os elementos que estão em torno de grandes centros ou que demonstram atuar como saté- lites próximos de algo maior. Nesse sentido, as indústrias periféricas são aquelas que dão suporte às grandes empresas, estando inseridas no contexto industrial do capitalismo global. Elas ocupam áreas de disseminação da produçãoe fecundam o desen- volvimento regional, pois sem os componentes que produzem não há condi- ção de finalizar os produtos. Esse tipo de indústria contribui para a formação de centros econômicos, levando a uma melhor capacidade produtiva, pois têm uma especificidade dentro do processo de industrialização, qual seja, a de indústria germinativa. Esta tem como papel fornecer matérias-primas a outras indústrias, que farão o processo de transformação desses materiais em outro produto. Então, segundo sua função, as indústrias periféricas são também indús- trias germinativas, pois buscam, exploram e fornecem os materiais necessários a diversos segmentos industriais. Atualmente, novas regiões industriais vêm surgindo no Brasil, graças à abertura de mercado das últimas décadas, como já evidenciamos, e a uma proposta de integração regional, principalmente na região Nordeste. Essa condição facilita a introdução, nos mercados local e mundial, dos estados que passaram pela substituição do modelo de importação por uma planta industrial nacional, inseridos na chamada industrialização tardia. – 155 – A atividade industrial no Brasil e no mundo Assim, o país tem buscado moldar sua competitividade em uma trans- formação industrial pautada nas exportações e no fortalecimento do mercado interno, condicionada a um ajuste ao sistema socioeconômico. Essas mudanças devem ocorrer, e vem ocorrendo, com ajustes econô- micos dos estados e municípios, estimulando o investimento, a inovação, a qualificação da mão de obra e garantindo o aprimoramento e a qualidade dos bens e serviços. A estratégia de desenvolvimento nacional ocorre basicamente de duas maneiras: a) por meio da ampliação das trocas inter-regionais, suprindo a região mais desenvolvida de matérias-primas e de produtos industrializados regionais; b) mediante contribuições à receita cambial líquida do País, por meio da geração de dívidas (decor- rentes de exportações), da economia de dívidas (pela sua contribuição no processo de substituição de importações de insumos básicos) e da liberação de produção exportável (que estava comprometida pela demanda interna). (LIRA; SILVA; PINTO, 2009, p. 156) Nesse sentido, podemos compreender que o modelo de aproximação regional deve ocorrer com base em mudanças nas políticas públicas de desen- volvimento, agregando as indústrias que já estão consolidadas e dando novas oportunidades às que querem se fixar nas regiões geográficas em processo de transformação industrial, como a Amazônia brasileira e o já citado Nordeste. No caso da disseminação das indústrias germinativas ou periféricas na Amazônia, a legislação ambiental brasileira apresenta entraves legais, haja vista essa região ser de interesse internacional, como patrimônio da humani- dade, do ponto de vista do bioma e do equilíbrio de ecossistemas. Essa grande área geográfica preserva a maior diversidade do mundo em termos absolutos de espécies, tanto de fauna quanto de flora, o que se apresenta como um obstáculo ao processo de industrialização. Entretanto, devemos entender que, mesmo pautada em um modelo de sustentabilidade, existe a possibilidade clara de exploração de algumas áreas, conforme o modelo de desenvolvi- mento, desde que garantidos os estudos prévios de impacto ambiental. Muitas são as áreas de potencial produtivo nessa região geográfica, o que possibilita uma maior integração da indústria periférica e germinativa, pois ainda existem oportunidades reais de uso econômico dos recursos desse grande território a ser explorado. Vejamos: Em termos setoriais, como a prioridade teria de se voltar para aqueles produtos que apresentavam vantagens comparativas, deixando em Geografia Política, Econômica e Industrial – 156 – plano secundário os demais, foi definido como de responsabilidade da Amazônia a geração dos seguintes produtos: madeira (serradas, laminados e compensados), minérios (ferro, bauxita, manganês, salgema, calcário e cassiterita), lavouras selecionadas (dendê, cacau, juta, arroz, pimenta-do-reino e cana-de-açúcar), pecuária (gado de corte) e pesca empresarial (piramutaba e camarão). (LIRA; SILVA; PINTO, 2009, p. 157) Como podemos observar, o Brasil continua dando grande aporte mundial ao primeiro setor da economia, de acordo com a clássica divisão internacional do trabalho, fornecendo matérias-primas de origem in situ, sem passar por processos de industrialização. Ou seja, no Brasil vendemos produtos de baixo valor agregado, quando deveríamos estar fazendo com que regiões como a Amazônica pudessem industrializar os produtos e ven- dê-los como matérias-primas próprias das indústrias germinativas. Nessa grande região geográfica, podemos citar o caso da exploração mineral na Serra de Carajás, no Pará, como indústria periférica que dá base à grande indústria do aço mundial, contribuindo com as riquezas de muitos países. Isso fica claro no relatório do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO): A crescente demanda mundial de aço, impulsionada pelo vertiginoso crescimento de países emergentes e liderados pela China, reflete dire- tamente sobre a demanda e produção de minérios de ferro. Desde o início da última década as minas em operação têm trabalhado a pleno vapor em todo o mundo. Neste cenário, os minérios brasileiros de alto teor e baixos contaminantes, em especial o de Carajás, têm pro- nunciado destaque, uma vez que se apresentam como minérios corre- tivos às operações siderúrgicas e fundamentais na produção mundial de aço. Existe uma preocupação global em torno da manutenção do fornecimento de minério com qualidade e em cadeia a continuidade da produção de aços de qualidade superior. (BRASIL, 2016, p. 18) Assim, podemos entender que muitas regiões brasileiras necessitam de novos estudos e formas de exploração industrial. Basicamente, as indústrias germinativas ou periféricas são de extrema importância no desenvolvimento dessas localidades, tanto para a melhoria das condições socioeconômicas regionais como para garantir que os produtos de baixo valor agregado sejam processados e vendidos como matérias-primas da indústria de transformação. – 157 – A atividade industrial no Brasil e no mundo Esse cenário possibilita geração de empregos, com a valorização das áreas de jazidas minerais nacionais e a venda dos minérios no comércio mundial com baixos preços, seguindo o ritmo das grandes empresas internacionais, que buscam nos países emergentes as fontes de matérias-primas necessárias para garantir ainda mais os lucros dos investidores. 10.3 As transnacionais na industrialização do mundo contemporâneo Vivemos em um mundo onde o modelo econômico predominante é o neoliberal, pautado nas economias capitalistas. Nesse contexto, o Brasil hoje é uma economia emergente. O país detém grandes riquezas minerais, é um dos maiores em produção de petróleo do mundo, além de ser a maior economia latino-americana, promovendo o desenvolvimento regional por intermédio de parcerias com outras nações emergentes do globo. Quando buscamos conceituar a mundialização do capital, é inevitável compreendermos o papel das grandes multinacionais, que são detentoras dos meios de produção e influenciam os países pobres e em desenvolvimento. A transnacional é a representação do grande capital, obedecendo à lógica de mercado, pois recorre à exploração econômica de nações que buscam se inse- rir na economia global ou que estão tentando diminuir as diferenças socioe- conômicas históricas. Desse modo, Os grandes capitais, representados essencialmente pelas companhias e empresas multinacionais, obedecem a uma lógica que é ao mesmo tempo internacional, por sua dispersão geográfica, e interna aos gru- pos financeiros que estão numa situação de concorrência. A localiza- ção no interior do país obedece à regra do lucro, porém, na escolha dos países, as preocupações com a segurança do investimento não estão ausentes. Os países considerados politicamente estáveis atraemmais os grandes capitais. (SANTOS, 2007, p. 151) Portanto, o que dá suporte às tomadas de decisões do grande capital é a busca incessante pelo lucro, com a exploração dos mercados. As empresas internacionais buscam os países em desenvolvimento que oferecem melhores oportunidades e taxas de lucro do que as economias mais desenvolvidas, que, por sua vez, deixaram de ser atrativas. Geografia Política, Econômica e Industrial – 158 – As empresas transnacionais são integradas ao comércio mundial atra- vés das demais filiais da corporação ao redor do mundo, o que lhes dá acesso facilitado a um número de mercados muito maior do que os acessíveis às empresas domésticas. Além disso, estas empresas podem desfrutar de economias de escala provenientes da maior especialização de suas filiais, podem aproveitar as dotações de fatores diferenciados dos países em que atuam, têm acesso facilitado a novas tecnologias e, ainda, dispõem de capital a custos mais baixos do que suas congêneres uninacionais. (MATEUS; OLIVEIRA, 2004, p. 890) Nesse sentido, podemos entender que as empresas multinacionais estão integradas ao comércio mundial por diversos motivos, incluindo a busca por novas regionalizações do capital, mão de obra excedente e o incremento de novas tecnologias produtivas e de barateamento dos custos, com investimen- tos em médio e longo prazos que estejam abaixo das médias mundiais. No Brasil, assim como em outros países emergentes, as empresas multi- nacionais têm influenciado não apenas o processo produtivo, mas também a cultura, o modo de vida e a mentalidade da população em geral. Elas alteram as formas de trabalho de acordo com a sua origem, ou seja, uma empresa americana instalada na China, por exemplo, busca influenciar o processo pro- dutivo chinês nos mesmos moldes estabelecidos nas fábricas nos EUA. Isso é reflexo do predomínio da cultura organizacional dessas empresas, uma vez que carregam consigo os padrões estruturais de suas respectivas sociedades. Fica claro, destarte, que [...] o desenvolvimento das sociedades organizacionais influencia de tal modo o dia a dia das pessoas, que gera uma desintegração dos padrões tradicionais de ideias, crenças e valores sociais, que são subs- tituídos por outros mais fragmentados e diferenciados, baseados na estrutura ocupacional da nova sociedade. (MORGAN, 1996 apud FREITAS, 2002, p. 28) Dessa maneira, as empresas estão arraigadas em princípios normativos no sistema organizacional que modificam a forma de pensar e agir dos seus integrantes, pois o processo produtivo passa a seguir os interesses e padrões preestabelecidos de acordo com a planta produtiva. A integração, em território nacional, das empresas multinacionais ocorre de forma lenta e gradual. Em um primeiro momento, ela se insere no mercado – 159 – A atividade industrial no Brasil e no mundo regional importando e exportando produtos. Na fase seguinte, buscam capi- tais em mercados atrativos e a integração regional, fortalecendo parcerias com organizações locais. Procuram então se estabelecer com o licenciamento de novas mercadorias e um modelo estratégico de parceria comercial, que tem como objetivo a idealização das formas de comércio, firmando acordos de fornecimento e disseminação de tecnologias e abrindo campo as novas opor- tunidades de fusão. Como já evidenciamos, o atual período da globalização – a Quarta Revolução Industrial – deve atrair cada vez mais investimentos nas áreas tecnológicas, com substituição massiva de mão de obra. Assim, a instrumen- tação dos processos produtivos evidenciados na Terceira Revolução Industrial, com a mundialização do capital e o crescimento das empresas transnacionais, deve dar lugar a uma nova forma de gestão, como no caso do Uber, já desta- cado nesta obra. Sabemos que os processos produtivos, nesse contexto, devem se manter em sinergia, principalmente nos países em desenvolvimento, pois ainda são áreas de reserva de mercado para as economias capitalistas, com espaços de exploração que ainda permanecem inalterados. O modelo de industrialização por parte das transnacionais ainda está garantido, principalmente nesses países que apresentam intensos contrastes sociais e econômicos, com aprofundamento das desigualdades sociais. Cabe a essas empresas buscar novas áreas de investimentos, promovendo empregos e melhoria de vida à população local, de modo a aumentar o potencial de compra da sociedade e, assim, garantir o comércio. Nas economias emergentes, “os relacionamentos entre as empresas e as instituições normalmente envolvem assimetrias consideráveis de informa- ção e altos custos de transação, e a diversificação dos produtos é estimulada para minimizar os riscos” (MONTICELLI et al., 2017, p. 359). Assim, os países com economias fragilizadas continuam com grandes oportunida- des de lucro para as empresas transnacionais, pois estas lhes garantem um amplo campo de exploração. Geografia Política, Econômica e Industrial – 160 – Conclusão A transformação do espaço geográfico se emoldura na fragmentação das atividades industriais, valorizando os aspectos transnacionais da indústria em detrimento dos centros consumidores regionais, haja vista a intensa comerciali- zação mundial, garantida principalmente pela divisão internacional do trabalho. As indústrias hoje são globalizadas, de acordo com os interesses do capi- tal internacional, explorando recursos e objetivando o lucro nos cenários em que atuam. Isso viabiliza um processo produtivo no qual há busca de territó- rios fornecedores de matérias-primas mais baratas, legislação flexível e exce- dente de mão de obra. Essa mutação do espaço geográfico é inerente à transformação das cida- des, que deixaram de ser centros político-administrativos para se transforma- rem em grandes áreas industriais. As áreas agrícolas de subsistência deram lugar às agroindústrias de capital internacional, moldando o processo produ- tivo em função dos aspectos estruturais da nova cadeia produtiva. Os sistemas organizacionais são agora culturais, de acordo com o modelo de produção capitalista, que coloca em primeiro lugar as demandas de organi- zação da produção, em detrimento das necessidades do trabalhador. A internacionalização do capital nessa transformação do espaço é fruto da disseminação das empresas multinacionais pelo mundo, as quais, seguindo uma perspectiva histórica, continuam nas mãos de pequenos grupos oligárquicos. Ampliando seus conhecimentos No atual período econômico, faz-se necessária uma indústria forte, tendo em vista a acirrada concorrência mundial. Desde o fim do século XX, os países industrializados e os em desen- volvimento vêm passando por novas e intensas transformações no setor industrial, principalmente tendo em vista o desenvol- vimento acelerado das tecnologias. No caso do Brasil, por exemplo, cada vez mais são importantes as parcerias com – 161 – A atividade industrial no Brasil e no mundo outras nações concorrentes, a fim de que a indústria nacional siga no caminho do tão almejado crescimento superior a 4% ao ano. As grandes tendências da economia mundial no século XX (ALMEIDA, 2001, p. 113-114) [...] O século XX econômico termina, não numa suposta era “pós-industrial” (pois a indústria, e não os serviços, conti- nua a ser o traço dominante e característico de nossa civiliza- ção), mas numa fase de combinação crescente dos sistemas produtivos e administrativos com as novas características da sociedade da informação, na qual os elementos brutos da produção — terra, capital, trabalho — são necessariamente permeados e dominados pela nova economia da inteligência. Os componentes de matéria-prima e o valor extrínseco de um bem durável passaram a valer bem menos, no final do século XX, do que o valor intrínseco e a inteligência humana embutida nesses produtos, sob a forma de concepção e design, propriedade intelectual sobre os processos produ- tivos e sobre os materiais compostos utilizados em suafabri- cação, royalties pela cessão e uso de patentes, trade-secrets e transferência de know-how, marcas registradas, marketing, distribuição e publicidade. O setor de serviços certamente cresceu no decorrer do século — e seu valor agregado supe- rou, na metade do século, o da agricultura e o da indústria combinados — mas trata-se de uma enorme variedade de serviços, alguns velhos, muitos novos, vários deles combina- dos à atividade primária (no chamado agribusiness), outros inextricavelmente ligados à produção manufatureira (como o controle informatizado das linhas de montagem e a automa- ção crescente dos processos produtivos). Geografia Política, Econômica e Industrial – 162 – Uma rápida verificação dos números brutos pode dar uma ideia da profundidade e da dimensão das imensas transfor- mações ocorridas na economia mundial ao longo do século. Três elementos decisivos devem ser levados em conta nesta avaliação preliminar: a mão de obra, a estrutura da produção (e o produto per capita) e os sistemas financeiros nacionais e internacionais. A população do planeta foi quadruplicada, [...] com diferenças notáveis entre as taxas de fecundidade dos países desenvolvidos — que realizaram sua transição demográfica ainda nas primeiras décadas do século — e dos países em desenvolvimento, cujas taxas de natalidade ainda se situam em níveis relativamente elevados. [...] A estrutura da produção foi radicalmente transformada pelas mudanças introduzidas nos padrões de trabalho (especializa- ção) e pelos avanços tecnológicos, que aumentaram dramatica- mente o produto per capita, muito mais do que o crescimento da população. [...] Atividades 1. Do ponto de vista do capital, como ocorre a distribuição da indústria e sua espacialização? 2. Como se estabelece uma transformação da indústria na hipótese de uma Quarta Revolução Industrial, como apontado neste capítulo? 3. No Brasil, existem grandes reservas minerais estratégias. Do ponto de vista das indústrias periféricas, como isso poderia influenciar o cresci- mento industrial nas regiões Norte e Nordeste do país? 4. As empresas multinacionais influenciam a rotina, o modo de vida e os produtos que as pessoas consomem. Evidencie isso tendo por base os conteúdos deste capítulo. Gabarito Geografia Política, Econômica e Industrial – 164 – 1. Geografia política x geopolítica 1. A geopolítica é um arcabouço dos elementos e fatos históricos, que foram fundamentados em um jogo de interesses estratégicos em bus- ca de energias, territórios ou com base étnica e religiosa. A geografia política é uma raiz da geografia, e a geopolítica é norteada pela políti- ca e pelos interesses geoeconômicos. 2. Nessa questão, deve-se evidenciar que os geógrafos queriam se afastar dos campos conflitantes e não tomar partido nas questões de Estado e nos territórios de guerra, então, a geografia política tem a responsabi- lidade conceitual de apresentar elementos que possam meramente ser qualitativos, enquanto a geopolítica tem o caráter teórico das ques- tões políticas, apresentando hipóteses dos interesses entre as nações ou povos em conflito. 3. A cooperação entre os países emergentes é um caminho necessário para navegar nos tempos de transição e incertezas e atingir o porto seguro do desenvolvimento sustentável, servindo de uma construção social digna, geradora de emprego e renda à população, dando ascen- são a outras classes sociais, com melhoria da qualidade de vida. 4. O chamado American way of life tem sido o grande responsável pelo enorme contraste social no mundo globalizado. Modificar as condi- ções sociais nas economias emergentes e nos países pobres deve ser apresentado como uma demanda global. Deve-se nortear as políticas econômicas não apenas para “assistencialismos”, mas para gerar qua- lificação e trabalho digno. – 165 – Gabarito 2. Concepção de Estado no idealismo e no materialismo 1. Proletários Trabalhadores que compõem a força de trabalho. Burgueses Banqueiros, donos de terras, donos das indútrias. 2. O ser humano, desde os primórdios da civilização e do reconhecimento das forças da natureza, acredita em um ser superior. Mesmo na atua- lidade, as forças produtivas buscam evidências espirituais que possam reforçar a busca pelo capital. O desenvolvimento técnico da sociedade moderna foi norteado pelo pensamento científico, movido pelas forças atuantes do capital, e as religiões passaram a exercer um papel de alento e refúgio na demanda por qualidade de vida das pessoas. 3. Vivemos influenciados pelo cinema hollywoodiano, pelos fast foods, pelo hip-hop e pelo rock ‘n’ roll. Viajar para a Disneyworld e usar mar- cas de vestuário estadunidense são sonhos de consumo da maioria dos jovens brasileiros. Esses símbolos e produtos culturais estarão ainda mais presentes na realidade brasileira, pois a ascensão de classe deu maior poder de compra às pessoas. 4. Devemos saber diferenciar quem são trabalhadores e os potenciais donos dos meios de produção capitalista e globalizada, então os tra- balhadores são os proletários e os donos dos meios de çrodução são os banqueiros, latifundiários e donos das indústrias. Geografia Política, Econômica e Industrial – 166 – 3. O Estado como entidade representativa da centralidade mundial 1. O Estado com funções múltiplas é agora um mediador dos interesses do capitalismo, baseado na propriedade privada. Todas as ações gover- namentais devem ser regidas por normas previamente estabelecidas e divulgadas. Permite-se, desse modo, que o conjunto da sociedade tenha plena consciência das formas de planejamento do governo e suas po- líticas, de como e quando os indivíduos poderão usufruir dos direitos que são garantidos, sabendo que são poderes coercitivos, mas que lhes permitem planejar suas atividades, exercer sua liberdade, conscientes de que essas ações são norteadas pelo conjunto das regras do jogo. Então, o neoliberalismo defende o Estado de direto como configuração para garantir certa ordem que possa atender às necessidades impostas, já que tudo está submetido ao poder de coerção do Estado. 2. É dever do Estado garantir saúde, segurança e educação em todos os níveis, pois as políticas neoliberais impostas dão cargo das outras demandas, como a exploração mineral e energética. 3. Os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário estão sob a jurisdição do mesmo Estado soberano, sobretudo por garantias de jurisprudência. 4. Problemas como aquecimento global, direitos humanos universais e regulação e fiscalização de processos produtivos industriais que afe- tam todo o mundo podem ser resolvidos em conferências mundiais. 4. O papel político do Estado na periferia do sistema capitalista mundial 1. Foi possível uma maior integração econômica do mundo, explorando novos territórios e novas riquezas. – 167 – Gabarito 2. Ficaram conhecidas como as fases do capitalismo – comercial, indus- trial, financeiro e informacional –, sendo que modelos de explora- ção capitalista do uso dos recursos caracterizaram esses períodos. Por exemplo, a telefonia deixou os fluxos de informações mais velozes. 3. As empresas puderam expandir seu limites, pois as inovações tecnoló- gicas aumentaram a produtividade. 4. As tecnologias do século XX possibilitaram uma invasão de novas mercadorias, modos de vida e costumes e a troca rápida de informa- ções, aumentando a sociedade de consumo. 5. A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial 1. O governo do povo para o povo, com políticas voltadas ao desen- volvimento, com geração de emprego, renda e melhoria no sistema educacional, baseado na social-democracia. 2. Em contexto histórico de curto prazo seria um caos, pois o brasileiro está incrustado nas teorias marxistas, atribuindo toda a responsabili- dade ao Estado, que agora é neoliberal. 3. Dentro do atual modelo econômico isso seria utópico, já que há uma integração entre os povos. As economias nunca estiveram tão próximas, já que o comércio eletrônicotem favorecido as transações comerciais. 4. Isso só seria possível em um caso extremo, como em uma guerra mundial ou um colapso energético global. As novas tecnologias tor- naram-se parte da vida das pessoas, e a indústria e o comércio estão integrados às tecnologias; assim, seria uma utopia moderna viver sem a internet no mundo globalizado. Geografia Política, Econômica e Industrial – 168 – 6. Produção e consumo a nível mundial e nacional 1. Os shopping centers vêm influenciando o hábito de consumo do bra- sileiro de classe média, e isso causa um processo de fragilização dos pequenos comerciantes, que muitas vezes pagam altas cargas tributá- rias. Entretanto, de modo geral, a melhoria nas condições sociais dá conta de atender tanto o grande lojista quanto os comércios de bairro. 2. O processo de transformação do Brasil, principalmente após a década de 1980, com a fragilização das atividades da agricultura familiar e grande aporte à agricultura comercial, fez com que as pessoas buscas- sem nas cidades a melhoria de vida. Além disso, a pequena proprie- dade, baseada na agricultura familiar e de subsistência, deixou de ser importante no plano federal, em detrimento dos grandes latifúndios, que recebem vultosas quantidades de recursos, caracterizando assim um disparate na gestão agrícola. Assim, verificamos que determina- dos lugares são escolhidos para receber investimento, em detrimento de outros, como é o caso da região da Grande São Paulo, que histo- ricamente tem recebido mais atenção do que outros estados, e isso prejudica principalmente o pequeno produtor. 3. Os países emergentes devem diversificar sua matriz energética, sobre- tudo voltando-se para a produção de energias renováveis, fugindo do mercado internacional de energia que tem base em hidrocarbonetos. 4. Deve-se buscar o fortalecimento do mercado interno em detrimen- to as exportações, já que o grande gerador de empregos no Brasil está relacionado ao terceiro setor, de serviços, e essa demanda tende a aumentar quando há valorização do trabalhador e fortalecimento da economia interna. – 169 – Gabarito 7. Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico 1. O primeiro sintoma a ser presenciado em uma crise política é a alta de preços dos produtos sem prévia justificativa, sobretudo com abusivo aumento em detrimento de sua sazonalidade, ou com o objetivo de controle da inflação. Nesse contexto, podemos verificar a força das mídias em manipular a população, construindo teorias conspiratórias sobre problemas econômicos onde eles não existem, para denegrir pessoas ou grupos políticos, favorecendo outros grupos que poderiam “teoricamente” devolver a riqueza ao país. 2. Nos graves períodos de recessão, o desemprego é altíssimo, há falta de alimento nas prateleiras dos supermercados, falta de combustível e filas de pessoas em busca de um prato de comida ou dividindo alimentos entre amigos e familiares. Os produtos baixam de preço, pois não há de- manda de compra, visto que as pessoas não detêm capital para consumo. 3. Sim, apesar do encurtamento das distâncias relativas, os avanços tecnológicos não conseguiram diminuir a amplitude entre ricos e po- bres, sendo que as desigualdades ainda são intensas nos países subde- senvolvidos e emergentes. 4. As cidades tornam-se grandes aglomerações humanas. Há grande vo- lume de carros nas ruas, imensa produção de resíduos sólidos urba- nos, agravamento da poluição industrial e urbana, lançada nos rios, no ar, e grande quantidade de lixo acumulado nos lixões. 8. Teoria e método em geografia industrial 1. A mudança histórica do artesanato à mecanização industrial alterou o espaço geográfico, pois a maioria das pessoas passou a viver nas cidades e, nos dias atuais, apresentam demandas espaciais específi- Geografia Política, Econômica e Industrial – 170 – cas relacionadas às indústrias, já que não produzem mais de forma artesanal para seu sustento. A indústria, por sua vez, atende funda- mentalmente à demanda urbana, estando a serviço do comércio e das necessidades socioeconômicas. 2. O crescimento populacional foi fundamental para aumentar as de- mandas fabris e as indústrias foram responsáveis por consolidar a realidade urbana. As vidas das pessoas se modificam diariamente, na medida em que cada vez mais consumimos e dependemos dos produtos industrializados. 3. Os grandes problemas ambientais, como poluição do ar e das águas, seriam os primeiros sintomas da instalação de uma indústria química que não respeita a legislação federal. 4. Produção de energias, fontes de matérias-primas e mercado consumidor. 9. Estrutura do espaço industrial 1. O espaço geográfico está em constante transformação na sociedade globalizada, por estar inserido em um contexto industrial. Mesmo em regiões agrícolas, as agroindústrias dão o tom na paisagem. 2. Metal-mecânica tem origem em minerais metálicos; siderúrgicas têm origem em minerais in situ, ou seja, na fonte; petroquímicas têm base química e, principalmente, em hidrocarbonetos; o papel tem origem na celulose. 3. Os bens de produção têm origem na matéria-prima bruta, como o miné- rio de ferro, por exemplo. Os bens de consumo são aqueles que são con- sumidos pela população em geral; caracterizam-se pelo tempo de uso nas nossas residências, como eletrodomésticos e itens alimentícios e têxteis. – 171 – Gabarito 4. Como fonte mineral, a água tem um grande papel na geração de energia. Como produtores de energia, o etanol e o biodiesel são fon- tes infinitas e sustentáveis e estão gradativamente sendo inseridos na produção energética mundial, assim como o uso da luz solar na con- versão fotovoltaica. 10. A atividade industrial no Brasil e no mundo 1. Ocorre em função da clássica divisão do trabalho, em que os países subdesenvolvidos ou emergentes são campo frutuoso de exploração das matérias-primas e energias e do excedente de mão de obra. 2. O uso de alta tecnologia no processo industrial, a inteligência artificial e o fim das grandes redes corporativistas tradicionais (redes de trans- porte rodoviário), sendo substituídas por ferramentas de software, na organização e no planejamento. 3. É preciso utilizar os recursos naturais respeitando a legislação ambien- tal, criando formas de estimular o uso do solo de maneira sustentável, garantindo o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação. Deve-se também incentivar as empresas e as pessoas a utilizarem os recursos de acordo os interesses regionais de crescimento, e não na forma de mundialização da atividade produtiva. 4. Quase todos os produtos ao qual a sociedade tem acesso no merca- do brasileiro têm assinatura do capital internacional, que está sob o domínio de grupos oligárquicos tradicionais. Assim, com exceção do mercado da esquina de casa, que muitas vezes busca fornecedores nos cinturões verdes, e da agroindústria regional, as grandes redes de varejo e grandes redes supermercadistas nos fornecem os mesmos produtos comercializados no mercado internacional. – 173 – Referências Referências Geografia Política, Econômica e Industrial – 174 – ALMEIDA, P. R. A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 44, n. 1, p. 112-136, jan./jun. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0034-73292001000100008>. 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