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GENÉTICA AULA 6 Profª Fernanda Eliza Toscani Burigo 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, abordaremos novos tópicos relacionados à expressão gênica, a fim de concretizarmos a compreensão dessa importante ciência. O primeiro deles é a epigenética. A epigenética estuda as mudanças na expressão gênica, sem alterações na sequência de nucleotídeos. Assim, ela possibilita a compreensão de alguns fenômenos antes não compreendidos. As alterações epigenéticas, como a metilação, possuem intrínseca relação com algumas patologias, como o câncer, daí a importância de seu entendimento para desvendar causas e tratamentos relacionados. Já o imprinting genômico caracteriza-se como um fenômeno igualmente relacionado à expressão gênica, no qual determinados genes são expressos por somente um de seus alelos, ao passo que o outro é inativado, geralmente por metilação; dessa forma, o imprinting é considerado um mecanismo epigenético. Ainda, alguns fatores importantes que podem afetar a expressão gênica devem ser ressaltados: a expressividade e a penetrância, processos que se relacionam entre si, causando desvios nos padrões previstos pela herança mendeliana. Por fim, abordaremos a importância da compreensão da distribuição das frequências gênicas, genotípicas e fenotípicas de uma população, estabelecendo a relação com fatores evolutivos, a partir do entendimento da genética de populações, cuja base é a Lei de Hardy-Weinberg. São objetivos desta aula: Geral: • Compreender diferentes mecanismos de regulação da expressão gênica, bem como suas implicações na atualidade. Específicos: • Reconhecer a epigenética como um novo campo da genética, seus principais conceitos e aplicabilidades. • Identificar processos relacionados às mudanças hereditárias que não envolvem alterações no DNA, como metilação e modificação das histonas. • Buscar pesquisas na área da epigenética, relacionando-as com o câncer. • Descrever o processo de imprinting genético como fator de alteração da expressão gênica e sua transmissão a futuras gerações. 3 • Destacar a importância dos conceitos de expressividade e penetrância na compreensão de fenômenos genéticos. • Abordar a importância da genética de populações, compreendendo as condições para o estabelecimento da Lei de Hardy-Weinberg e suas aplicações. TEMA 1 – EPIGENÉTICA: HISTÓRIA, CONCEITOS E MECANISMOS EPIGENÉTICOS DE REGULAÇÃO GÊNICA Em 1942, o geneticista, biólogo e filósofo Conrad Hal Waddington foi o primeiro a definir o conceito de epigenética como "o ramo da biologia que estuda as interações causais entre genes e seus produtos, que trazem o fenótipo a ser observado". Nessa época, ainda não se conhecia a natureza e papel dos genes; assim, Waddington usou esse conceito para demonstrar que os genes poderiam interagir com o ambiente para produzir determinado fenótipo, relacionando-o, inclusive, com os conceitos apresentados por Lamarck. Mais tarde, Robin Holliday descreveu a epigenética como "o estudo dos mecanismos de controle temporal e espacial da atividade dos genes durante o desenvolvimento de organismos complexos". Dessa forma, ele propunha que essa ciência poderia ser utilizada para descrever qualquer alteração fenotípica que não envolvesse alteração na sequência de DNA. Ainda, esse pesquisador, em conjunto com seu aluno John Pugh, e paralelamente a Arthur Riggs, descreveram, em 1975, a metilação do DNA como um importante mecanismo de regulação da expressão gênica. Mas, com os conhecimentos atuais, como definir a epigenética? A epigenética envolve mecanismos de expressão gênica que não se relacionam às alterações nos genes, sendo tais variações adquiridas ao longo da vida de um indivíduo e podendo ser passadas às futuras gerações. São pequenas modificações na estrutura química do DNA ou na expressão de determinada proteína, influenciadas por fatores ambientais e hábitos de vida. As mudanças epigenéticas podem ser transmitidas a outras células a partir da mitose e envolvem alterações químicas no DNA, bem como nas histonas, proteínas especiais que permitem o empacotamento do DNA. Sabemos que a molécula de DNA é grande em relação ao tamanho do núcleo; assim, para que possa ser armazenada em seu interior, precisa ser empacotada. 4 Tal empacotamento é possível graças às histonas, proteínas em forma globular, nas quais o DNA se enrola, compactando-se. As unidades de DNA + histonas são denominadas nucleossomos, os quais, fazendo uma analogia, podem ser comparados a um ioiô, sendo o fio a molécula de DNA e a base, a histona, conforme mostra a Figura 1. Figura 1 – Analogia entre o nucleossomo e o ioiô Crédito: Designua/Shutterstock; Pringletta/Shutterstock. A partir do momento em que determinado gene precisa ser expresso, há necessidade de descompactá-lo, a fim de que possa ser transcrito em RNA. Diversos sinais são importantes para essa ativação, como hormônios, nutrientes, fatores físicos (frio e calor), entre outros. Todavia, após sua transcrição, o gene precisa retornar à forma compactada, o que está intrinsicamente relacionado a mecanismos epigenéticos, tanto no DNA quanto nas histonas. Vale ressaltar que cada célula expressa um número limitado de genes; genes expressos em determinada célula serão silenciados pela epigenética em outros grupos celulares. Por exemplo, as fibras musculares expressam a proteína mioglobina, mas não expressam a dopamina, proteína característica dos neurônios. São mecanismos epigenéticos relacionados ao DNA e às histonas: a) Metilação do DNA: adição de um radical metila (CH3) a um nucleotídeo citosina, na região promotora do gene, isto é, em regiões que controlam a expressão gênica. Com a metilação, ocorre a repressão do gene, o qual fica impossibilitado de codificar a proteína pela qual é responsável. Uma enzima, a DNA metilase, é responsável pela adição do radical metila. Assim, o principal efeito desse mecanismo é o silenciamento do gene. Pode ser considerada uma estratégia evolutiva, pois promoveu a 5 homeostase celular ao longo das gerações; caso ocorram alterações no padrão de metilação, pode ocorrer a ativação de genes antes silenciados, sendo transmitida às células filhas, caracterizando a memória epigenética. b) Remodelação da cromatina: utilizando a energia da hidrólise do ATP, ocorre a movimentação do nucleossomo, o que altera a compactação da cromatina, tornando-a mais densa ou empacotada, conforme alteração promovida. c) Modificações pós-tradução de histonas: alterações que envolvem a metilação, acetilação, fosforilação, entre outros mecanismos. Conforme destacado anteriormente, a metilação inativa lócus gênicos de heterocromatina. Já a acetilação das histonas relaciona-se com a adição de um radical acetil (COCH3) na região da histona com aminoácido arginina e/ou lisina, sendo um mecanismo de ativação gênica. d) Histonas variantes: diferentes variações das histonas, com propriedades específicas e diferentes funções, relacionadas ao aumento ou redução da estabilidade das proteínas, envolvidas no reparo do DNA, inativação do cromossomo X, entre outras possibilidades. e) Noncodding RNA: pequenos, médios e longos segmentos de RNA não codificantes, os quais possuem diferentes funções, como o silenciamento de genes pós-transcrição, direcionamento da metilação do DNA e inativação cromossômica. A herança epigenética traz implicações profundas para o estudo da evolução, sendo fundamental para a compreensão de lacunas acerca das heranças genéticas; enquanto as modificações no DNA são lentas e ocorrem ao acaso, a mudança epigenética pode ser rápida, em respostas às sinalizações ambientais às quais as células são submetidas. Assim, com o final do Projeto Genoma em 2003, hoje o grande desafio é o sequenciamento do epigenoma, a fim de compreender os mecanismosepigenéticos e sua atuação sobre a expressão gênica, sendo imprescindível para o melhor entendimento de como a função do genoma é regulada na saúde e na doença, e também como a expressão genética é influenciada pela alimentação e pelo ambiente. 6 TEMA 2 – MODELOS EXPERIMENTAIS PARA ESTUDOS DE EPIGENÉTICA E RELAÇÃO COM O CÂNCER A epigenética tem se mostrado promissora nos estudos sobre o câncer, em especial porque o mecanismo de metilação está diretamente relacionado com o silenciamento de alguns genes envolvidos nas neoplasias, principalmente os genes supressores de tumor (como visto em aulas anteriores). Os principais grupos de pesquisa na epigenética do câncer, como o grupo de epigenética de tumores do INCA (Instituto Nacional do Câncer), buscam determinar os padrões de metilação do DNA, modificações nas histonas e o perfil de expressão de RNAs não codificantes nos diversos tipos tumorais, a fim de identificar biomarcadores de diagnóstico e prognóstico. Além disso, espera-se investigar a contribuição dos mecanismos epigenéticos de regulação gênica no estabelecimento das alterações genéticas e também a realização de estudos pré-clínicos com as diferentes modalidades de drogas epigenéticas. Ainda, diversos estudos na obtenção de substâncias obtidas a partir de plantas, como os flavonoides, que possuem regulação epigenética sobre determinados tipos de neoplasias, têm sido realizados. Algumas dessas substâncias induzem à apoptose das células tumorais, possuem propriedades antitumorais e antiangiogênicas, promovem o silenciamento de genes, além de possuírem ação preventiva, impedindo o desenvolvimento de tumores: Já foi descrita uma correlação positiva e significativa entre pacientes com câncer e hábitos relacionados à qualidade de vida, sugerindo que a alimentação e o exercício físico podem influenciar nos níveis de metilação de DNA. Esses achados sugerem que a maquinaria epigenética possa exercer modulação no desenvolvimento de tipos específicos de câncer. (Elsner; Siqueira, 2016) Saiba mais Este tema, extremamente atual e inovador, requer maior aprofundamento a partir da leitura de artigos específicos. Algumas sugestões são: • Câncer e modelos experimentais de tumores murinos: <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/pdf/rial/v69n4/v69n4a01.pdf>; • Mecanismos epigenéticos na carcinogênese mamária – o papel das sirtuínas: <http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/145_478.pdf>; 7 • Alterações epigenéticas do gene p16 em ratos tratados com altas doses de l-metionina: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/60/60134/tde-16092009- 162116/publico/Resumida.pdf>. TEMA 3 – IMPRINTING GENÉTICO Conforme abordamos nas aulas anteriores, a expressão de determinado fenótipo se relaciona com a expressão de dois alelos, herdados de nossos pais, que se manifestam de acordo com a relação de recessividade ou dominância entre eles. No entanto, estudos atuais demonstram que essa relação equitativa entre os alelos nem sempre pode ser aplicada. Em alguns casos, somente um dos alelos – materno ou paterno – é expresso, comportando-se de forma distinta do outro que não se manifesta. A esse fenômeno, dá-se o nome de imprinting genético ou genômico, caracterizado pela expressão alélica de somente um dos alelos parentais – expressão monoalélica. Admite-se que um dos alelos parentais adquiriu uma marca natural (imprint) que o diferenciou. O imprinting foi descoberto na década de 1980, em experimentos com ratos, nos quais se observou a expressão diferenciada de alguns genes, conforme os alelos eram herdados do pai ou da mãe. Pode ser considerado um mecanismo epigenético, uma vez que a herança pode ser relacionada à metilação de alguns genes, silenciando-os, o que impede sua expressão. Os genes imprintados estão normalmente envolvidos no crescimento embrionário e desenvolvimento comportamental; entretanto, devido a uma expressão imprópria, eles podem funcionar como oncogenes (super expressos) ou como genes supressores de tumores (inativos). A principal conclusão para a importância desse fenômeno foi baseada em observações experimentais recentes de que o genoma feminino e masculino são complementares um ao outro e de que certos genes podem ter sua expressão reduzida em 50%. Isso sugere razões para que o imprinting ocorra em mamíferos como uma proteção evolutiva contra a reprodução assexuada, mas várias outras teorias também são investigadas, incluindo a participação do imprinting em fenômenos psicológicos e metabólicos. Assim, embora sejam necessários muitos estudos sobre o imprinting, já se tem certeza da importância das características epigenéticas na manutenção e regulação dos genes imprintados e no funcionamento correto dos processos biológicos. 8 TEMA 4 – PENETRÂNCIA E EXPRESSIVIDADE Vimos em nossas aulas que os genes podem se manifestar de diferentes formas, promovendo variações fenotípicas bem distintas. Em alguns genes, como o da cor das sementes de ervilha, a manifestação alélica é bem determinada, ou seja, não possui fenótipos intermediários (produz somente a cor amarela ou verde) – variação gênica descontínua. Em outros casos, há a possibilidade de manifestação de fenótipos intermediários, de forma gradual, com a determinação de fenótipos não tão definidos. Assim, a expressão da característica pode se manifestar de forma diferente em um mesmo indivíduo. A expressão de fenótipos mais ou menos acentuados, dependendo das condições às quais o indivíduo é submetido, possibilita a gradação da expressão de determinado gene, variando de uma expressão leve à sua expressão total, o que se chama expressividade. Por exemplo, indivíduos portadores do alelo dominante P serão portadores da polidactilia, anomalia genética na qual o indivíduo possui um ou mais dedos (Figura 2) nas mãos e/ou pés, dependendo de sua expressividade. Um indivíduo polidáctilo pode possuir dois dedos a mais nas mãos, em uma ou nas duas, e três dedos a mais nos pés, conforme demonstra a Figura 3. Ainda, poderia ter a quantidade de dedos normais nas mãos e possuir somente a alteração em um dos pés. Essa é a gradação de fenótipos à qual nos referimos anteriormente. A expressividade pode ser graduada como porcentagem, por exemplo, quando um gene apresenta 50% de expressividade, apenas metade das características está presente, ou a gravidade é de apenas metade da que poderia ocorrer com a expressão completa. A expressividade pode ser influenciada pelo ambiente e por outros genes; assim, indivíduos com o mesmo gene podem ter fenótipos variados. A expressividade pode variar mesmo entre os membros da mesma família. 9 Figura 2 – Raio-X demonstrando um indivíduo com polidactilia nas mãos Crédito: Flávio Oliveira. Figura 3 – Diferente expressividade em um indivíduo com polidactilia Crédito: Flávio Oliveira. A capacidade de um gene se expressar, ou a frequência com que é expresso, é denominada penetrância, definida como o percentual de pessoas portadoras de determinado gene que desenvolvem o fenótipo correspondente, podendo ser incompleta ou completa. No primeiro caso, portadores de determinado alelo podem não o expressar; por exemplo, 15% dos portadores do alelo para polidactilia não o expressam. No câncer de mama, por exemplo, 85% dos indivíduos que possuem o alelo mutante desenvolvem esse tipo de neoplasia. Já na penetrância completa, 100% dos indivíduos manifestam o fenótipo esperado, como o albinismo – todos os seres que possuírem o genótipo recessivo aa serão albinos. Outro exemplo é a doença de Huntington, neurodegenerativa, cuja mutação encontra-se no cromossomo 4. Quando o fenótipo é condicionado por um alelo dominante, ele pode não ser expresso, pois pode ser inativado e não se manifestar. Assim, a penetrância 10 incompleta normalmente se relaciona a características determinadaspor alelos dominantes. Por outro lado, se a herança for determinada por alelo recessivo, não poderá ser inativado, pois o alelo recessivo já se caracteriza por não produzir, ou produzir em baixa quantidade, a proteína pela qual é responsável. Portanto, é mais comum que a penetrância completa ocorra em caracteres relacionados a alelos recessivos. Os fatores que se relacionam à expressividade e penetrância ainda não são totalmente conhecidos, mas já se pode perceber a sua importância em termos de variabilidade e transmissão de características. TEMA 5 – GENÉTICA DE POPULAÇÕES Na genética, quando se aborda características dominantes e recessivas, é comum acreditarmos que a dominante sempre será mais frequente em uma população. No entanto, isso nem sempre acontece: por exemplo, a polidactilia é uma anomalia genética dominante, na qual o indivíduo portador possui um ou mais dedos a mais, seja nas mãos e/ou pés, enquanto o fenótipo recessivo caracteriza a normalidade. O que é mais comum: indivíduos polidáctilos ou normais? Normais, pois a frequência do alelo recessivo na população é muito maior do que a do alelo dominante. Assim, a frequência de determinado fenótipo, ou seja, a frequência fenotípica depende da frequência do gene em uma população (frequência gênica). A área da genética que estuda as frequências gênicas, genotípicas e fenotípicas em determinado grupo de indivíduos é chamada genética de populações. É fundamental para a compreensão da distribuição de genes nas populações, bem como dos fatores que atuam sobre eles. Permite entender como doenças hereditárias são mantidas em determinada população, além de avaliar a ação de efeitos mutagênicos sobre determinado alelo. A população caracteriza-se por ser a unidade evolutiva, sofrendo constante ação de fatores evolutivos, os quais podem afetar diretamente a frequência de genes (e genótipos) na população. Os principais fatores evolutivos que atuam sobre a população são: mutação, recombinação, migração, seleção natural e deriva genética. É possível calcular as frequências gênicas e genotípicas de uma população conhecendo-se sua composição genética, a partir da estruturação de alguns dados. 11 Considere as seguintes características hipotéticas de uma população: • Uma população é constituída por 24.000 indivíduos e um total de 48.000 alelos, uma vez que cada indivíduo possui duas cópias do referido gene, sendo: 7.200 homozigotos dominantes (AA), totalizando 14.400 alelos A (pois cada indivíduo possui 2 alelos), 12.000 heterozigotos (Aa), sendo 12.000 alelos A e 12.000 alelos a e 4.800 homozigotos recessivos (aa), caracterizando 9.660 alelos a. Um resumo dessa população pode ser explicitada na tabela a seguir: Tabela 1 – População exemplo Genótipos Número de indivíduos Número de alelos A Número de alelos a AA 7.200 14.400 0 Aa 12.000 12.000 12.000 aa 4.800 0 9.600 A frequência de um gene (frequência gênica) pode ser calculada dividindo-se o número total desse alelo pelo número total de alelos para tal lócus, conforme a fórmula: Frequência de um alelo = nº total do alelo nº total de alelos Por exemplo, a frequência do alelo A é: nº de alelos A = 14. 400 (AA) + 12.000 (aa) = 26.400, dividido pelo total de alelos = 48.000. Assim, tem-se: f(A) = 26.400 / 48.000 = 0,55 ou 55% A frequência do alelo a poderia ser calculada pelo mesmo raciocínio ou utilizando-se uma fórmula que estabelece a relação entre os alelos: f(A) + f(a) = 1 – Substituindo-se o valor de f(A) por 0,55, obtém-se que: f(a) = 1 – 0,55 = 0,45 ou 45% Já a frequência genotípica, cujo objetivo é o estudo da frequência de cada um dos genótipos, pode ser calculada pela fórmula: 12 Frequência genotípica = nº de indivíduos com o genótipo nº de indivíduos da pop. Para a população em análise, as frequências dos genótipos AA, Aa e aa são, respectivamente: • AA = 7.200/24.000 = 0,30 • Aa = 12.000/24.000 = 0,50 • aa = 4.800/12000 = 0,20 Esse cálculo é utilizado principalmente quando a população não é muito grande ou está sofrendo a ação de algum fator evolutivo. Para outros casos, a Lei de Hardy-Weinberg é mais utilizada. O alicerce no estudo da genética de populações é a Lei de Hardy- Weinberg, demonstrada pelo matemático Hardy e o médico Weinberg, cujo enunciado é: “para qualquer lócus gênico, as frequências relativas dos genótipos, em populações de cruzamento ao acaso, permaneceram constantes, de geração a geração, a menos que certos fatores perturbem este equilíbrio”. Os fatores aos quais se referem são os fatores evolutivos. Assim, para que esta lei seja válida e caracterize a população como em equilíbrio, deve obedecer algumas condições: • a população deve ser infinitamente grande; • deve estar isenta de fatores evolutivos; • os cruzamentos devem se dar ao acaso, ou seja, ser uma população panmítica; • o número de indivíduos do sexo feminino e masculino deve ser proporcional, em torno de 1:1; • deve ser formada por indivíduos da mesma espécie, capazes de se reproduzir sexuadamente e situarem-se dentro dos mesmos limites geográficos, favorecendo o intercruzamento. Hardy e Weinberg estabeleceram as seguintes relações matemáticas entre os alelos A e a: O alelo a tem sua frequência representada pela letra q, ou seja, q = f(a); já o alelo A é representado pela letra p, isto é, p = f(A). Dessa forma, conclui-se: a) p + q = 1 → f(A) + f(a) = 1 b) aa = a2 = q2 13 c) AA = A2 = p2 d) Aa e aA = 2Aa = 2pq e) p2 + 2pq + q2 =1, ou seja, AA + 2.Aa + aa = 1 – repare que tal resultado relaciona-se à proporção genotípica proposta por Mendel, para o cruzamento entre heterozigotos, de 1AA: 2Aa: 1aa (1:2:1). Antes de aplicarmos a Lei de Hardy-Weinberg, é importante ressaltar que os estudos da genética de populações são fundamentais para a compreensão de outras áreas, como a evolução. Isso porque, se os valores obtidos para as frequências gênicas e genotípicas forem muito diferentes do esperado, conclui- se que a população está sob influência de fatores evolutivos e, portanto, está evoluindo; caso os valores forem os esperados, a população está em equilíbrio, ou seja, não está evoluindo. A seguir, dois exemplos de aplicação da Lei de Hardy-Weinberg: 1. Considere uma população que obedece a todas as condições impostas pela Lei de Hardy-Weinberg. Nela, a frequência de determinado alelo B é 0,65. Assim, calcule as frequências genotípicas dessa população. • O primeiro passo, a partir do conhecimento da frequência do alelo B, é calcular a frequência do alelo b – f(B) + f(b) = 1→ f(b) = 1 – 0,65 → f(b) = 0,45. • A frequência de BB é igual a p2, ou seja, f(BB) = (0,65)2 = 0,4225 = 42,25%. • A frequência de heterozigotos, Bb, é igual a 2.Bb, isto é, f(Bb) = 2. 0,65. 0,45 = 0,585 = 58,5%. • A frequência de bb é igual q2, ou seja, f(bb) = (0,45)2 = 0,2025 ou 20,25%. 2. Suponha que uma população hipotética, em equilíbrio, possui 36% da sua população com albinismo. Qual a frequência dos alelos A e a e a proporção de indivíduos normais, heterozigotos, nessa população? • Primeiro, é preciso relembrar que o albinismo é ocasionado pelo alelo recessivo a, ou seja, os albinos possuem genótipo aa; • Dessa forma, a f(aa) = q2 = 36% ou 0,36 → q = √0,36 → q = f(a) = 0,6 ou 60%; 14 • A partir do conhecimento da frequência do alelo a, é possível calcular a frequência do alelo A – f(A) + f(a) = 1→ p + q = 1 → p = 1 – q → p = f(A) = 0,4 ou 40%; • Vale ressaltar que, além dos valores de p e q, o exercício solicita a proporção de indivíduos normais, mas heterozigotos; estes são representados por indivíduos que possuem um alelo dominante e outro recessivo, ou seja, Aa. Assim sendo, a frequência deindivíduos heterozigotos pode ser calculada por: f(Aa) = 2pq → f(Aa) = 2. 0,4 .0,6 → f(Aa) = 0,48 ou 48% NA PRÁTICA Alterações no imprinting têm sido relatadas como causa de diversas doenças humanas. As síndromes de Prader-Willi (PWS) e Angelman (AS) constituem patologias clinicamente distintas, embora ambas ocorram por perda (de função) de genes. Pesquise sobre essas duas síndromes, suas características e alterações fisiológicas e morfológicas. Saiba mais Para aprofundar os estudos sobre os temas discutidos nesta aula, acesse os links a seguir. Assista ao vídeo explicativo sobre epigenética e metilação do DNA, disponível em: <https://www.scienceinschool.org>content>desvendando- epigenetica.com>. Leia o artigo “Metilação de DNA e câncer”, disponível em: <https://rbc.inca.gov.br/site/arquivos/n_56/v04/pdf/11_revisao_metilacao_dna_c ancer.pdf>. Leia mais sobre expressividade e penetrância. Disponível em: <http://lineu.icb.usp.br/~bbeiguel/Variabilidade%20Humana/Cap.6.1.pdf>. 15 FINALIZANDO EXPRESSÃO GÊNICA EPIGENÉTICA: CONCEITOS, REGULAÇÃO, CÂNCER IMPRINTING GENÔMICO PENETRÂNCIA E EXPRESSIVIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES E LEI DE HARDY- WEINBERG 16 REFERÊNCIAS BORGES-OSÓRIO, M. R.; ROBINSON, W. M. Genética humana. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. ELSNER, V. R.; SIQUEIRA, I. R. Epigenética aplicada à saúde e à doença: princípios fundamentais baseados em evidencias atuais. Porto Alegre: Editora Universitária Metodista IPA, 2016. GRIFFITHS, A. J. F.; MILLER, J. H.; SUZUKI, D. T.; LEWONTIN, R. C.; GELBART, W. M.; WESSLER, S. R. Introdução à genética. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. LOPES, S.; ROSSO, S. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2005. PIERCE, B. A. Genética: um enfoque conceitual. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. SANDERS, M. Análise genética: uma abordagem integrada. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. SNUSTAD, P.; SIMMONS, M. J. 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