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Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br BOLETIM TÉCNICO ABRAVAS Publicação digital da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - Ano V - Out/2020 - nº51 Profissional convidado: Foto da capa: Imagem: Todos os direitos são reservados a Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens – ABRAVAS. É proibida a duplicação ou reprodução deste arquivo, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da Associação. Caroline Weissheimer Costa Gomes carol_wcg@hotmail.com Mestre em Ciências Veterinárias - UFRGS Pós graduada em Ortopedia Veterinária - UFRGS Gestora do Parque Zoológico do Rio Grande do Sul - SEMA/RS mailto:carol_wcg@hotmail.com Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br NEONATOLOGIA DE ANIMAIS SILVESTRES RESUMO A neonatologia de animais silvestres é uma área encantadora e ao mesmo tempo repleta de desafios. Acompanhar o desenvolvimento de filhotes criados pelos pais ou realizar a criação artificial não são tarefas fáceis. Atualizar-se nesta área é fundamental para o aperfeiçoamento da criação, a fim de obter os melhores resultados, prezando sempre pelos aspectos biológicos e bem estar dos animais. Palavras-chave: criação artificial, órfãos, cuidados pediátricos Neonatologia de animais silvestres A neonatologia de animais silvestres é um ramo da medicina veterinária que estuda e cuida dos animais recém-nascidos. Na literatura especializada esse período não apresenta uma delimitação clara para cães e gatos1. Do mesmo modo, dada as grandes variações interespecíficas dos animais silvestres, torna-se ainda mais difícil uma definição graças a grande diferença de desenvolvimento e poucos estudos sobre o tema. Na prática, a neonatologia confunde-se com a pediatria, englobando a faixa etária do nascimento até o período do desmame para mamíferos ou de independência dos pais para as demais espécies. Na rotina veterinária, diversas são as razões para o aparecimento de filhotes de animais silvestres nas instituições. Clínicas veterinárias, centros de reabilitação, criatórios e zoológicos são exemplos de locais que se deparam com recém-nascidos, tanto dos animais nascidos em cativeiro, quanto de animais órfãos encontrados em vida livre. O conhecimento acerca dos cuidados a serem adotados nos primeiros dias de vida é fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento adequado dos filhotes. Entretanto, a maioria dos cursos na área não prepara os profissionais para esses desafios, levando a altos índices de perda, baixo desenvolvimento ou quadros de desnutrição. Em se tratando de animais que estão sob cuidados humanos, o nascimento de novos indivíduos também passa a ser nossa responsabilidade e, mesmo na presença de pais cuidadosos, essa competência precisa ser compartilhada com os técnicos responsáveis. Falar sobre neonatologia remete a cuidados com indivíduos órfãos, entretanto não são somente nesses casos que devemos estar atentos aos filhotes. Atualmente diversos animais encontram-se sob cuidados humanos, seja na forma de animais de estimação ou inseridos nas diferentes instituições autorizadas. Esses animais, muitas vezes influenciados pelas condições de cativeiro, desenvolvem diferentes níveis de cuidados parentais, necessitando de mais ou menos intervenção dos técnicos e cuidadores envolvidos2. A neonatologia de animais silvestres pode ser dividida em duas categorias de estudo e cuidados com os recém-nascidos: a neonatologia com e sem cuidados parentais. Neonatologia com cuidados parentais No Brasil e no mundo diversas instituições que mantém fauna silvestre, podem ter propósitos diferentes quanto ao objetivo de reproduzir espécies. Categorias autorizadas a manter a reprodução de espécies, como zoológicos, criatórios e centros de pesquisa, lidam constantemente com o nascimento de novos indivíduos. O sucesso na criação está Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br associado a capacidade dos pais criarem sua prole, ou nos casos em que isso não ocorre, na capacidade da equipe em criar os neonatos. Animais nascidos em cativeiro podem ter maior dificuldade de desenvolver adequado cuidado parental e, por isso, a atenção e observação constante do médico veterinário e equipe é imprescindível, tanto para a saúde do filhote quanto para o bem- estar de todos os animais envolvidos. Entretanto, mesmo nos casos em que os pais demonstram atenção e zelo pelo filhote, é necessário o acompanhamento diário, a fim de garantir a saúde do novo indivíduo. O tipo e grau de acompanhamento vai depender da espécie em questão, nível de habituação e condicionamento dos pais, aspectos biológicos da espécie e desenvolvimento do filhote. Desordens de toda natureza podem ter evolução rápida em animais muito jovens e, muitas vezes, perde-se o animal caso não ocorra uma intervenção imediata3. Conhecer e entender o comportamento reprodutivo e forma de cuidado parental de cada espécie também é essencial para não cometer erros. Primatas, por exemplo, permanecem constantemente junto ao seu filhote, carregando-o em seus braços, nos primeiros dias de vida, dificultando muitas vezes a aproximação humana. Cervídeos, por sua vez, escondem seus filhotes e os mantém distantes do rebanho até que este tenha condições de acompanhar o bando. As fêmeas aproximam-se do filhote apenas no momento da amamentação2,4. Cada estratégia de sobrevivência exige uma abordagem diferente à mãe e ao filhote e cabe ao corpo técnico optar pelo melhor manejo. Nesse texto iremos abordar somente a criação de aves e mamíferos, pois são as classes que mais requerem cuidados neonatais. Acompanhamento pré-natal Além dos cuidados com os animais após o nascimento, cada vez mais tem surgido a preocupação com as fêmeas gestantes, que necessitam de observação e manejo diferenciado para obter sucesso reprodutivo, especialmente entre os mamíferos. Em animais de estimação ou em criatórios, o cuidado pré-natal ocorre influenciado pela vontade/necessidade de reproduzir a espécie, sendo que muitas vezes o pareamento dos animais acontece somente em períodos pré-determinados, facilitando o acompanhamento da gestante. Em instituições como mantenedores e zoológicos ou outros locais em que os animais vivam em grupos, a procriação pode ocorrer de forma não planejada, tornando mais difícil o acompanhamento da prenhez. Algumas evidências físicas de prenhez, como por exemplo abdômen distendido e ganho de peso da fêmea5, podem passar desapercebidas pelos cuidadores, principalmente em grupo com diversos indivíduos da mesma espécie. Além disso, características comportamentais também podem dificultar a identificação de animais prenhes, impedindo o reconhecimento da gestação até que os filhotes tenham nascido. Ter conhecimento da gestação e previsão da data de nascimento do filhote é muito importante para animais sob cuidados humanos, pois nem sempre os animais irão parir em condições e locais oportunos. Nesse sentido, o condicionamento de animais silvestres cativos permite um melhor acompanhamento gestacional, diminuindo os riscos para a fêmea e filhote, assim como reduzem o estresse durante os exames pré-natais e outras intervenções quando necessárias5. A ultrassonografia é o exame complementar mais indicado para acompanhar o crescimento do feto6. Por ser umexame não invasivo, pode ser realizado com bastante frequência em animais condicionados, sem causar danos à saúde destes (figura 1). Devido ao fato de ser um exame dinâmico, necessita de maior tempo para a realização, sendo possível somente em animais habituados ou que permitam contenção física tranquila. A Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br sedação para realização do ultrassom não é recomendada de forma rotineira, pelos riscos dos agentes sedativos à saúde dos filhotes,5,7,8. A ultrassonografia transretal, muito utilizada no diagnóstico de gestação de equinos e bovinos, tem seu uso mais restrito em animais silvestres devido ao manejo mais invasivo e ao porte dos animais, sendo mais utilizada a ultrassonografia transabdominal6. Figura 1. Ultrassonografia em hipopótamo pigmeu (Choeropsis liberiensis) e anta-malaia (Tapirus indicus) condicionadas, para acompanhamento gestacional (Fonte: arquivo pessoal). Diversos estudos sobre diagnóstico gestacional não invasivo, através de esteroides fecais, já foram desenvolvidos e são comumente utilizados em espécies ameaçadas de extinção. Esse tipo de diagnóstico é espécie-específico, necessitando de ampla pesquisa a fim de obter um resultado preciso e fidedigno, e não está disponível para todas as espécies silvestres9,10. A radiografia também é um método de diagnóstico de gestação, sendo uma boa escolha para avaliar a quantidade de fetos, mas não sua viabilidade. Devido aos riscos de exposição do animal em desenvolvimento à radiação, seu uso é limitado e exclusivo para casos específicos11. A partir do momento em que a gestação é detectada, a fêmea deve ser acompanhada dentro da sua rotina habitual. Mudanças bruscas, grandes manejos e situações estressantes devem ser evitadas na presença das fêmeas prenhas num grupo social. Retirar a gestante do grupo ou do recinto de exposição não é uma recomendação geral e deve ser avaliado em situações específicas5. Aproximando-se o período provável do parto, deve ser fornecido local reservado, protegido de intempéries, para que o animal possa parir com conforto e segurança, assim como fornecer substrato para a construção de ninho nas espécies que possuem esse hábito. A instalação de câmeras de vídeo para monitoramento auxilia a equipe a acompanhar o parto sem interferências desnecessárias. Partos distócicos podem ocorrer e o quanto antes forem diagnosticados, maiores são as chances de salvar o filhote e a mãe, assim como reduz o tempo em que ambos ficam expostos a dor e ao sofrimento. Em elefantes, por exemplo, diversos casos de distocia foram acompanhados e relacionados a fêmeas primíparas de idade mais avançada. Contudo, diversas são as causas que podem levar a essa condição12, não só em elefantes como nas demais espécies. A expulsão dos envoltórios fetais ocorre logo após o parto, mas há variação quanto ao tempo em que ocorre. Algumas espécies podem ingerir a placenta após o parto uma vez que este possui nutrientes, estimula a produção de leite e diminui a possibilidade de predadores serem atraídos pelo odor desta13,14. Sempre que possível a placenta deve ser inspecionada a fim de detectar qualquer alteração e avaliar se ocorreu sua expulsão total. Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br Acompanhamento do recém-nascido Este acompanhamento deve ser o mais discreto possível, porque caso a mãe sinta- se ameaçada ela pode abandonar o filhote, ou até mesmo se tornar agressiva contra ele. Imediatamente após o nascimento do filhote, a fêmea deve mostrar interesse e realizar a limpeza do novo indivíduo retirando resíduos de sangue e membranas fetais, principalmente da boca e narinas, rompendo e limpando o cordão umbilical14. Sempre que possível, o neonato deve ser examinado nas primeiras 48 horas de vida. Esse exame deve ser rápido e preferencialmente não deixar vestígios no animal. O primeiro exame visa conseguir informações como peso, escore corporal, sexo, inspeção geral quanto a anomalias, assim como limpeza e desinfecção do umbigo. Todas as informações coletadas devem ser anotadas e servem como referência para outros animais da mesma espécie. Apesar de ser de grande importância, nem sempre é possível realizar a inspeção do neonato logo após o nascimento. Algumas espécies possuem maior dificuldade de manejo e não permitirão a aproximação ao infante. O recinto onde mãe e filhote se encontram também podem dificultar essa primeira aproximação. Caso não seja possível realizar o exame clínico no recém-nascido, outros métodos de acompanhamento devem ser estabelecidos, sempre respeitando os limites impostos pela fêmea. Quando a inspeção for realizada a distância, o uso de câmeras fotográficas e binóculos podem auxiliar em uma melhor visualização. Fazer fotografias do animal frequentemente ajudam a avaliar o desenvolvimento e ganho de peso. É importante que a avaliação seja realizada sempre por uma mesma pessoa, ou grupo de pessoas, evitando diferentes interpretações. Há muita variação quanto ao grau de independência entre os infantes. Filhotes de ungulados, como cervos e antas, e roedores histricomorfos, como ouriços e capivaras, são precociais e começam a alimentar-se sozinhos ainda bem jovens, mesmo seguindo com a ingestão de leite materno15. Carnívoros possuem uma dependência maior e a interação social será fundamental para o desenvolvimento de hábitos que garantam sua sobrevivência, como por exemplo a busca por alimento e abrigo13,16. Os infantes de primatas são ainda mais dependentes, podendo permanecer junto a mãe e ao grupo social por mais de um ano, dependendo da espécie17,18. Inicialmente o ganho de peso deve ser diário e constante. Na medida em que o animal começa a crescer a curva de ganho de peso vai diminuindo, podendo ocorrer perda de peso no período de transição alimentar e no início dos primeiros voos das aves19. O acompanhamento do infante deve ser mais intenso nos primeiros dias, período onde ocorre as maiores perdas e quando o filhote é mais frágil. Conforme o animal vai crescendo e se desenvolvendo de acordo com o esperado, a periodicidade das avaliações poderá diminuir. Diversas são as situações que resultarão na decisão de separar o filhote da fêmea e iniciar a criação artificial: rejeição por parte materna, perda de peso e enfermidades são alguns dos motivos. A criação artificial depende de uma equipe preparada para cuidar de forma intensiva do filhote e só deverá ser realizada quando a vida do animal estiver em risco. Os riscos e dificuldades da criação artificial devem ser conhecidos pela equipe, a fim de fornecer subsídios para uma melhor tomada de decisões. Neonatologia sem cuidados parentais Podemos separar em dois grupos quanto a origem os animais que serão criados artificialmente, ou seja, sem a presença dos progenitores biológicos: Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br 1. Animais abordados anteriormente, nascidos em cativeiro, e que por algum motivo tiveram que ser separados de suas mães; 2. Animais encontrados órfãos na natureza, que são encaminhados a diversos locais que prestam atendimento a fauna silvestre. Uma parte desses animais do grupo 2 provavelmente não precisaria ter sido retirado do seu habitat, mas pela falta de informação da população diversas intervenções desnecessárias acabam acontecendo. Aliado a essa questão, o crescimento urbano desordenado e o descaso com o meio ambiente faz com que muitos filhotes percam suas mães ou caiam de seus ninhos, sejam atropelados, eletrocutados ou atacados por animais domésticos, e então entregues para atendimento20,21. A criação desses dois grupos distintosem sua origem, acontecerá de forma semelhante. Obviamente, saber a origem do animal assim como seu histórico poderá ajudar na conduta clínica. Informações como idade correta, condições de saúde ou alimentação prévia podem facilitar sua criação. Receber um infante que está há horas ou dias sem cuidados, ou sendo assistido de maneira inapropriada, desconhecer histórico de trauma e afecções, entre outras informações torna a situação mais crítica, mas infelizmente é a realidade da maioria dos casos e pode diminuir as chances de sucesso em sua criação. Outro aspecto diz respeito a conduta quanto a sua criação. Um indivíduo nascido em cativeiro raramente retornará a vida livre, exceto em casos particulares de espécies ameaçadas de extinção, por isso a relação com as pessoas será permitida de maneira mais estreita. Entretanto, indivíduos criados artificialmente com o intuito de retornar a seu habitat natural devem ser manipulados minimamente, a fim de evitar a afeição aos humanos aumentando as chances de reabilitação e posterior soltura. Criação de órfãos Com a chegada de um órfão, o grande desafio está lançado. Cuidar de filhotes de animais silvestres não é tarefa fácil, principalmente quando o objetivo é reabilitação e retorno à vida selvagem. Em geral, o tempo é inversamente proporcional a possibilidade de devolução a natureza. Expresso de outra forma, quanto maior o período em cativeiro, menores as chances de o indivíduo retornar ao ambiente natural, dado o vínculo e dependência criados com os cuidadores humanos. Répteis, por não terem cuidados parentais na maioria das espécies, são os que chegam em menor quantidade e os que retornam com maior rapidez ao ambiente de origem. Aves provavelmente são a classe com maior número de atendimentos em centros de reabilitação e, devido ao rápido crescimento, o seu tempo para criação é menor, aumentando as chances de reabilitação. Pode-se dividir as aves infantes em dois grupos: altriciais e precociais. Cada um com necessidades e grau de dependência parental distintas. Essas características irão influenciar muita na forma de manejar, alimentar e reabilitar esses filhotes. Aves altriciais normalmente nascem em ninhos elevados, sem penas ou plumas e de olhos fechados, sendo extremamente dependentes de seus pais como pombas, sabiás, bem-te-vis, papagaios, corujas e gaviões. Já as aves precociais nascem em ninhos próximos ao solo, apresentam cobertura de plumas, habilidade de andar e se alimentam sozinhas, com orientação dos pais como marrecas, emas e quero-queros22,23. Mamíferos são com certeza o maior desafio. Seu crescimento lento e gradual, a necessidade de amamentação ao longo de semanas ou meses, a maior dependência de cuidados artificiais, e o vínculo afetivo com os cuidadores são algumas características que os tornam, em sua maioria, apegados aos seres humanos de uma maneira nada silvestre. Como consequência, serão indivíduos inaptos a natureza e problemáticos em cativeiro e Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br muitas vezes pouco sociáveis com indivíduos da mesma espécie24. Condutas desnecessárias e manipulações excessivas devem ser desencorajadas24. Nesse momento, entra o papel do médico veterinário de animais silvestres, juntamente com outros profissionais, que devem prezar pela conservação, bem-estar e saúde do animal em questão. A criação artificial de qualquer animal não é fácil, em especial de animais não domesticados, por diversos fatores. Nutricionalmente falando, substituir a alimentação fornecida pelos pais não é tão simples quanto parece. Mamíferos possuem diversas variações na composição do leite materno, com diferentes quantidades de proteína, gordura e carboidrato e, infelizmente, poucas espécies têm a composição do leite totalmente conhecidas24. Em relação a dieta oferecida às aves ocorre o mesmo, uma grande variedade na composição nutricional do alimento oferecido aos filhotes. Muitas espécies são alimentadas pelos pais, recebendo alimento, regurgitado ou não, diretamente na cavidade oral23. Nas pombas, por exemplo, além do alimento propriamente dito, secreções produzidas pelos progenitores são também ingeridas pelos filhotes, nesse caso conhecido como “leite do papo”25. Para as aves que se alimentam sozinhas, acompanhando os pais já desde os primeiros instantes de vida, ensinar como e o que comer sem a referência e o exemplo de sua espécie requer bastante esforço26. Para manter a saúde e o bem-estar dos neonatos, quatro itens básicos devem ser prioritários: temperatura, hidratação, nutrição e higiene13. Quando um desses pontos não estiver adequado para a espécie e idade do animal, problemas irão surgir, cedo ou tarde. Além desses quatro itens, um quinto elemento se faz necessário para permitir que o infante tenha alguma chance de reabilitação ou ao menos para viver junto de seus semelhantes: a interação humano-animal24. Temperatura Todo animal antes do nascimento se encontra em um local protegido e com temperatura constante, seja dentro do útero ou do ovo, pré-requisito básico para o desenvolvimento apropriado do embrião. Após o nascimento uma nova etapa se inicia, da qual aves e mamíferos irão depender dos seus pais para se adaptar. Todos os filhotes nascem com uma cobertura tegumentar mais pobre que a de um animal adulto. O recém-nascido apresentará cobertura da pele com plumas ou pelos finos e macios ou total ausência deles. Aliado a baixa proteção tegumentar, o infante apresenta reduzida reserva de gordura, que auxiliaria na manutenção da temperatura corporal. Em neonatos, a termorregulação é deficiente nas primeiras semanas de vida, pois o sistema termorregulador está imaturo e os animais não apresentam reflexo de tremor e piloereção27. Esses motivos fazem com que os animais recém-nascidos tenham dificuldade de manter estável a temperatura corporal, tornando- se suscetíveis ao frio e ao calor extremo2. Na rotina veterinária é comum os animais órfãos chegarem hipotérmicos para atendimento e caso a temperatura não seja reestabelecida com brevidade, o animal pode ir a óbito. O fato de tentar elevar a temperatura rapidamente pode resultar em um quadro de hipertermia, com desfecho tão trágico quanto o anterior. Sendo assim, o aquecimento corpóreo do filhote deve ser lento, entre 1 e 3 horas28. Diversas são as formas de ajustar a temperatura do infante: bolsa de água quente, colchão térmico e incubadora são alguns exemplos mais comumente utilizados, cada um com seus prós e contras. As incubadoras, com controle de temperatura e umidade, são as mais recomendadas, pois conseguem manter a temperatura desejada constantemente, com pouca variação. Entretanto, em casos de animais hipotérmicos, elas podem ser mais lentas Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br no aumento da temperatura corporal. Nessas situações específicas, bolsas de água quente, colchões ou mantas térmicas podem ser usados, sempre com supervisão constante, pois o animal estará diretamente em contato com a fonte de calor podendo ocorrer queimaduras ou hipertermia23,24. À medida que o filhote cresce e ganha maior cobertura tegumentar, a manutenção da temperatura corpórea também vai sendo aprimorada, até o momento em que não será mais necessária uma fonte exógena de calor. O momento de retirar a fonte de aquecimento deverá ser avaliada individualmente e a remoção gradual é recomendada. Inicialmente, os animais devem ficar sem a fonte de calor durante o dia, momento em que a temperatura do ambiente está mais alta e quando o animal está com acompanhamento mais intensivo. Após alguns dias de adaptação e com boas respostas comportamentais, pode se iniciar a retirada do aquecimento durante anoite. O conhecimento da temperatura corporal de cada espécie é essencial para o sucesso da criação. De maneira geral, aves tem a temperatura corporal mais alta que mamíferos, e dentre os mamíferos marsupiais tem a temperatura corporal mais baixa. Entretanto devem ser pesquisadas referências para cada espécie, ou no caso em que não houver essa informação, de espécie semelhante. Quanto mais jovem for o animal, mais dependente ele será de fonte exógena de calor. A temperatura deve ser um dos primeiros itens a serem avaliados e corrigidos, pois animais hipo ou hipertérmicos não reagirão bem a quaisquer outras manobras, assim como não absorverão adequadamente alimentos ofertados, podendo morrer de impactação ou pneumonia aspirativa22,23. Hidratação Filhotes órfãos de vida livre frequentemente apresentam-se desidratados, devido ao tempo em que ficam expostos as intempéries sem assistência parental. O jejum prolongado, assim como a incidência solar direta podem resultar em hipertermia e contribuem para agravar o quadro. Além disso outros fatores como: extensa superfície corpórea, pele mais permeável e alta constituição de água em relação a um animal adulto, favorecem a desidratação em neonatos 28. A reidratação por via oral é preferível sempre que a função intestinal estiver normal e o animal não estiver hipotérmico. Porém, em casos mais severos pode ser necessário fluidoterapia aquecida por via parenteral. A via subcutânea pode ser utilizada em animais com leve grau de desidratação. Também é comumente utilizado em animais muito pequenos quando o acesso venoso é difícil, entretanto em casos graves o fluido deve ser administrado por via endovenosa ou intraóssea29. Após a reidratação inicial do infante, a mesma deve ser mantida através da alimentação13. Animais que não se alimentam adequadamente ou que apresentem diarreia devem ser monitorados e reavaliados diariamente. Animais desidratados poderão ter diminuição da motilidade gastrointestinal, o que poderá acarretar constipação22. Nutrição Assim como os itens anteriores, a nutrição do recém-nascido é fator fundamental para seu correto desenvolvimento. Quanto menor e mais jovem é o filhote, mais frequente deve ser sua alimentação, comparando com indivíduos da mesma espécie. Cabe ressaltar que a alimentação oral só deve ser fornecida após o animal apresentar temperatura corporal adequada28. O neonato depende da alimentação para manter os níveis normais de glicogênio, portanto, intervalos de 2 a 3 horas de jejum podem resultar, na maioria das espécies, em hipoglicemia neonatal, a qual se manifesta por incoordenação, flacidez, fraqueza ou Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br coma30. Algumas espécies de infantes de mamíferos, a exemplo dos coelhos, se alimentam uma ou poucas vezes ao longo do dia, apresentando longos intervalos entre as refeições, sem desenvolver crises hipoglicêmicas31,32. As aves por sua vez, por apresentarem taxa metabólica maior, podem necessitar de alimentações muito mais frequentes, com intervalos menores que uma hora, dependendo da espécie e fase de desenvolvimento22. Na medicina de animais silvestres talvez a nutrição seja o quesito mais desafiador, devido a ampla variedade de espécies animais, com diferentes exigências nutricionais, aliado ao pouco conhecimento difundido sobre o assunto, especialmente na nutrição neonatal. Todos os mamíferos têm em comum o consumo de leite na fase de crescimento, entretanto sua composição varia muito entre as diferentes espécies animais. A adaptação a um leite de origem diferente pode ser complexa, aliado ao fato da brusca mudança alimentar pelo qual o infante é submetido33. Diversos são os tipos de leite que podem ser usados para tentar compor a nova dieta animal, tentando sempre aproximar a espécie silvestre a algum animal doméstico. Devido ao fácil acesso, o leite de vaca e de cabra tem sido os mais comumente utilizados, entretanto na maioria dos casos precisam de suplementação para alcançar os níveis de proteína, gordura, lactose, vitaminas e minerais necessários4,32. Fórmulas prontas para cães e gatos também podem ser utilizadas na criação de felídeos, canídeos e outras famílias semelhantes, mas devem ser adaptadas para a necessidades nutricionais da espécie em questão. A alimentação das aves irá variar muito conforme a espécie, e mais facilmente adaptável em alguns casos. Aves carnívoras tendem a aceitar bem roedores abatidos ou carne crua, devendo dar preferência ao primeiro item. Deve-se ter cuidado para que o tamanho do alimento oferecido seja compatível com a ave e para que não apresente pontas cortantes (no caso do uso de roedores), a fim de evitar lesões na cavidade oral e dificuldade de deglutição. Quando a alimentação ocorrer somente com carne crua, além de variar o tipo de carne, deve ser realizada a suplementação com fonte de cálcio, a fim de evitar doenças osteometabólicas, muito comum em aves de rapina23,34. Para algumas famílias de aves mais comumente criadas como animal de estimação, como psitaciformes e passeriformes, existem fórmulas alimentares comerciais prontas, para substituir o alimento oferecido pelos pais. Tais fórmulas apresentam bom desempenho no crescimento e preço relativamente acessível, sendo amplamente utilizadas para algumas espécies e como forma de suplementar a alimentação de espécies similares35. Algumas aves precociais tem maior dificuldade de aceitar a alimentação artificial e, por isso, deve ser proporcionado alimento o mais similar ao encontrado na natureza. Determinadas espécies podem aceitar alimentos comerciais oferecidos a aves de produção, como galinhas e patos. O fato de se alimentarem sozinhas desde muito cedo pode facilitar o manejo, desde que já tenham desenvolvido essa habilidade. Uma estratégia adotada é o uso de filhotes de espécies domésticas, que aprendem mais rápido a alimentarem-se, estimulando as demais no aprendizado. Não se espera que um substituto do leite materno performe tão bem quanto o original. O objetivo é que o leite artificial forneça quantidades adequadas de nutrientes, permitindo o desenvolvimento adequado do animal até a dieta sólida. O mesmo também é válido para a dieta substituta, no caso das aves. Deve-se considerar também que a taxa de crescimento de um animal criado artificialmente não será a mesma dos animais criados pelos pais, principalmente devido a alimentação e outros fatores relacionados. Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br Alimentação e sondagem A alimentação de filhotes órfãos só deve ser realizada em animais conscientes, responsivos e com adequada temperatura corporal. Para a alimentação de mamíferos podem ser utilizadas mamadeiras, seringas com ponteira adaptadas e sondas (figura 2). As primeiras vezes da administração de alimento devem ser as mais cuidadosas, a fim do animal se adaptar ao novo método. Figura 2. Sondas para alimentação. A) Sonda uretral acoplada a seringa para alimentação oragástrica. B) Filhote de ouriço cacheiro (Coendou spinosus) com seringa acoplada a ponteira plástica. C) Filhote de ouriço mamando com auxílio da seringa (Fonte: arquivo pessoal). Para espécies de canídeos, felídeos, mustelídeos, primatas e outras semelhantes, o uso de mamadeira é bem aceito. A frequência da alimentação irá variar conforme a idade e espécie, mas inicialmente pode ser até 8 vezes ao dia13. Filhotes de gambás não se adaptam a mamadeira, devido ao pequeno tamanho e características do seu desenvolvimento extrauterino, por isso é necessário a sondagem orogástrica. A sondagem nasogástrica pode ser utilizada em animais de maior porte, principalmente em casos de recusa da mamadeira. Entretanto, astentativas de adaptação a mamadeira devem continuar diariamente, até sua aceitação, a fim de diminuir o risco de refluxo e aspiração e estimular a sucção13. Outro aspecto importante é a posição em que o filhote é amamentado. Canídeos, felídeos e mustelídeos mamam em decúbito esternal, normalmente apoiando as patas no abdômen na fêmea e realizam movimentos de estímulo a liberação do leite2. Por outro lado, primatas mamam em posição ereta, agarrados ao corpo da mãe. Filhotes de cervídeos, camelídeos e outros ungulados mamam em estação. Manter a posição em que o animal está habituado a mamar evita problemas na deglutição do leite e, consequentemente, pneumonia aspirativa. Para aves, o método de alimentação irá variar conforme a espécie. Rapinantes normalmente aceitam bem a alimentação picada oferecida com o auxílio de uma pinça longa. Passeriformes possuem o hábito de abrir o bico, dessa forma é possível oferecer alimento tanto através de uma seringa de 1 ml ou pequenos pedaços de alimento com auxílio de uma pinça. Psitacídeos não possuem ampla abertura do bico, devendo a alimentação ser oferecida através da sondagem com sonda rígida própria para aves (figura 3), através do uso de seringas ou de colheres35. Em vida livre, esses animais recebem o alimento diretamente do bico dos seus pais, por regurgitação, e realizam um movimento de vai-e-vem com a cabeça para cima e para baixo, podendo o mesmo ocorrer na criação artificial. Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br Figura 3. Sondas rígidas de diversos tamanhos, próprias para alimentação de aves (Fonte: arquivo pessoal). Higiene A higiene dos filhotes órfãos é fator primordial para manutenção do bem-estar e saúde dos filhotes, entretanto é muitas vezes negligenciada. Como função dos pais, além de prover alimento a sua prole, manter a higiene do ninho, da toca e dos filhotes é atividade constante durante toda a criação. Mamíferos realizam essa tarefa com lambidas e catações, muitas vezes ingerindo urina e fezes dos animais, a fim de manter o ambiente limpo e livre de odores, contribuindo também para não atrair predadores2,5. Aves realizam a limpeza das penas e de seus ninhos constantemente23 e, na experiência da autora, filhotes altriciais usualmente defecam para fora do ninho. Após certa idade iniciam os banhos de água e de areia, de acordo com cada espécie, que auxiliam na manutenção e higiene das penas. Na criação artificial é muito comum os animais ficarem sujos com restos de alimentos, tanto aves como mamíferos, de alimentos líquidos ou mesmo mais sólidos. Resquícios de leite, papa, sangue e carne podem ficar presos ao pelo ou penas dos animais, gerando além de desconforto, odor desagradável e dermatites. Para evitar isso, sempre após a alimentação o animal deve ser adequadamente limpo, com um pano umedecido, preferencialmente sem sabão, pois o objetivo não é deixá-los cheirosos32. A limpeza deve ser feita de forma rápida e somente se o animal estiver sujo e sem manipulação excessiva. Outra questão muito importante é em relação a urina e fezes. A maior parte dos mamíferos necessitará ser estimulada para realizar a micção e defecação2,32. Isso pode ser realizado através de movimentos na região perianal, simulando uma lambida, com um algodão umedecido, preferencialmente em água morna. Essa também é uma oportunidade de avaliar as fezes e urina do indivíduo13. A estimulação deve ser realizada sempre após a alimentação e só deverá ser suspensa quando o animal estiver defecando e urinando sozinho de forma rotineira. Animais que necessitam desse tipo de manejo serão consequentemente mais manipulados, o que acarreta maiores chances de imprint humano. Entretanto a não realização dessas manobras pode resultar em problemas gastrintestinais graves. Aves não precisam ser estimuladas para defecar, contudo deve ser observado diariamente se estão defecando da maneira adequada e se estão ficando limpas, pois muitas vezes o acúmulo de fezes na região cloacal pode obstruir a saída das excretas. Interação A reabilitação de um animal órfão e sua posterior soltura em seu hábitat natural só é possível em indivíduos que, após seu desenvolvimento, mantenham características comportamentais selvagens, como instinto de caça e de fuga, busca por alimentos e interação com indivíduos da mesma espécie. Não serão abordados aqui outros pré- Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br requisitos para a soltura, como origem do animal e perfil sanitário, por não ser o foco desse texto. De qualquer forma, para que o comportamento do animal seja condizente para a soltura, a interação com o ser humano deve ser a mais restrita possível, o que muitas vezes é difícil em se tratando de filhotes muito jovens, que necessitam de cuidados intensivos. A manipulação deve ser realizada somente no momento da alimentação e higienização do filhote, evitando inclusive conversas durante esses momentos32. Contudo, mesmo em casos que já foi descartada a possibilidade de reabilitação para vida livre, o animal não deve ser criado com extremo contato com o ser humano, pois isso dificulta sua inserção em um grupo cativo com outros indivíduos na mesma espécie. Além disso, diversos são os casos de animais criados artificialmente, que quando se tornam adultos ou em período reprodutivo, se tornam agressivos contras pessoas, tornando difícil e arriscado o manejo sob cuidados humanos4,34. A interação humano-animal deve sempre priorizar o comportamento selvagem do animal, mimetizando ao máximo as atitudes parentais. A criação de mais de um indivíduo da mesma espécie em conjunto favorece a manutenção de comportamentos naturais2. Animais de diferentes faixas etárias e até mesmo de espécies semelhantes podem ser agrupados na tentativa de ensinarem os mais novos sobre alimentação, higiene, predadores, entre outros, sendo comumente utilizado na criação de anatídeos26. Quando se une animais de diferentes faixas etárias deve-se estar atento a alimentação e agressões, pois em alguns casos os animais maiores podem prejudicar os menores. A utilização de fantoches para alimentação também é uma alternativa a fim de evitar que o animal associe o ser humano à sua fonte alimentar, aumentando assim suas chances de sobrevivência em vida livre36. Outra questão muito importante na manutenção de órfãos é a oferta de itens comuns a vida selvagem, adaptados a criação artificial, itens que auxiliem no bem-estar dos animais e no desenvolvimento de atividades inerentes a espécie. A utilização de ninhos para aves é um exemplo. Usualmente evita-se o uso dos ninhos originais, pois esses são mais difíceis de higienizar e podem carrear parasitas no seu interior, principalmente piolhos, por isso a utilização de outros materiais para confecção do ninho é recomendável. O uso de um ninho adequado e superfícies antiderrapantes auxilia a evitar alterações do sistema locomotor, como a abdução das pernas, conhecido como splay leg34. O uso de animais de pelúcia ou mesmo cobertores também pode ser interessante, principalmente para animais que costumam ficar agarrados às suas mães ou mesmo para animais muito novos, que estão sozinhos. Quando possível pode ser colocado uma fonte de calor dentro da pelúcia, para tornar mais acolhedor. Outros itens para animais já maiores, como poleiros, rampas e troncos, acesso a grama, a areia e a água, auxiliam no desenvolvimento das atividades motoras e contribuem para a saúde mental do animal, através do enriquecimento ambiental2. No caso de espécies consideradas presa na natureza, deve ser evitado o contato com animais predadores, a fim de que o filhote não perca o medo e o instinto de fuga ou confrontamento. Espéciesdomésticas como cães e gatos também devem ser evitadas no momento da criação32, pois além de serem ameaças a diversas espécies silvestres, não é desejável que o órfão selvagem desenvolva hábitos de animais domésticos. Conclusões Criar um animal silvestre e prepará-lo para vida selvagem é uma tarefa que exige conhecimentos sobre nutrição, enfermidades, comportamento, além de requerer dedicação intensa, tanto física como emocional da equipe envolvida. O sucesso na criação Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br será alcançado quando o animal chegar a fase adulta ou subadulta, com ótimo desenvolvimento corporal e com capacidade de viver junto dos seus semelhantes, tanto em vida livre quanto em cativeiro. O aprimoramento das técnicas de criação artificial é constante e a troca de experiências entre profissionais da área é fundamental, visto que poucos estudos sobre o tema estão disponíveis. *As opiniões expressas no texto não representam, obrigatoriamente, a posição da ABRAVAS sobre o assunto. Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Informações: contato@abravas.org.br Referências 1. Tôrres AM, Zimmermann M. Transferência de imunidade passiva em cães e gatos neonatos. REVET - Revista Científica do Curso de Medicina Veterinária – FACIPLAC. 2016; 3(1): 12-26. 2. Thompson KV, Baker AJ, Baker AM. 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