Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
BOLETIM 
TÉCNICO 
ABRAVAS 
Publicação digital da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - Ano V - Out/2020 - nº51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profissional convidado: 
 
 
Foto da capa: 
Imagem: 
 
 
Todos os direitos são reservados a Associação 
Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens 
– ABRAVAS. É proibida a duplicação ou 
reprodução deste arquivo, no todo ou em parte, 
em quaisquer formas ou por quaisquer meios 
(eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, 
distribuição pela Internet ou outros), sem 
permissão, por escrito, da Associação. 
Caroline Weissheimer Costa Gomes 
carol_wcg@hotmail.com 
 
Mestre em Ciências Veterinárias - UFRGS 
Pós graduada em Ortopedia Veterinária - 
UFRGS 
Gestora do Parque Zoológico do Rio 
Grande do Sul - SEMA/RS 
mailto:carol_wcg@hotmail.com
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
 
NEONATOLOGIA DE ANIMAIS SILVESTRES 
 
RESUMO 
 
A neonatologia de animais silvestres é uma área encantadora e ao mesmo tempo repleta 
de desafios. Acompanhar o desenvolvimento de filhotes criados pelos pais ou realizar a 
criação artificial não são tarefas fáceis. Atualizar-se nesta área é fundamental para o 
aperfeiçoamento da criação, a fim de obter os melhores resultados, prezando sempre pelos 
aspectos biológicos e bem estar dos animais. 
 
Palavras-chave: criação artificial, órfãos, cuidados pediátricos 
 
 
Neonatologia de animais silvestres 
A neonatologia de animais silvestres é um ramo da medicina veterinária que estuda 
e cuida dos animais recém-nascidos. Na literatura especializada esse período não 
apresenta uma delimitação clara para cães e gatos1. Do mesmo modo, dada as grandes 
variações interespecíficas dos animais silvestres, torna-se ainda mais difícil uma 
definição graças a grande diferença de desenvolvimento e poucos estudos sobre o tema. 
Na prática, a neonatologia confunde-se com a pediatria, englobando a faixa etária do 
nascimento até o período do desmame para mamíferos ou de independência dos pais para 
as demais espécies. 
Na rotina veterinária, diversas são as razões para o aparecimento de filhotes de 
animais silvestres nas instituições. Clínicas veterinárias, centros de reabilitação, criatórios 
e zoológicos são exemplos de locais que se deparam com recém-nascidos, tanto dos 
animais nascidos em cativeiro, quanto de animais órfãos encontrados em vida livre. O 
conhecimento acerca dos cuidados a serem adotados nos primeiros dias de vida é 
fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento adequado dos filhotes. Entretanto, 
a maioria dos cursos na área não prepara os profissionais para esses desafios, levando a 
altos índices de perda, baixo desenvolvimento ou quadros de desnutrição. 
Em se tratando de animais que estão sob cuidados humanos, o nascimento de novos 
indivíduos também passa a ser nossa responsabilidade e, mesmo na presença de pais 
cuidadosos, essa competência precisa ser compartilhada com os técnicos responsáveis. 
Falar sobre neonatologia remete a cuidados com indivíduos órfãos, entretanto não 
são somente nesses casos que devemos estar atentos aos filhotes. Atualmente diversos 
animais encontram-se sob cuidados humanos, seja na forma de animais de estimação ou 
inseridos nas diferentes instituições autorizadas. Esses animais, muitas vezes 
influenciados pelas condições de cativeiro, desenvolvem diferentes níveis de cuidados 
parentais, necessitando de mais ou menos intervenção dos técnicos e cuidadores 
envolvidos2. A neonatologia de animais silvestres pode ser dividida em duas categorias 
de estudo e cuidados com os recém-nascidos: a neonatologia com e sem cuidados 
parentais. 
 
Neonatologia com cuidados parentais 
No Brasil e no mundo diversas instituições que mantém fauna silvestre, podem ter 
propósitos diferentes quanto ao objetivo de reproduzir espécies. Categorias autorizadas a 
manter a reprodução de espécies, como zoológicos, criatórios e centros de pesquisa, lidam 
constantemente com o nascimento de novos indivíduos. O sucesso na criação está 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
associado a capacidade dos pais criarem sua prole, ou nos casos em que isso não ocorre, 
na capacidade da equipe em criar os neonatos. 
Animais nascidos em cativeiro podem ter maior dificuldade de desenvolver 
adequado cuidado parental e, por isso, a atenção e observação constante do médico 
veterinário e equipe é imprescindível, tanto para a saúde do filhote quanto para o bem-
estar de todos os animais envolvidos. Entretanto, mesmo nos casos em que os pais 
demonstram atenção e zelo pelo filhote, é necessário o acompanhamento diário, a fim de 
garantir a saúde do novo indivíduo. O tipo e grau de acompanhamento vai depender da 
espécie em questão, nível de habituação e condicionamento dos pais, aspectos biológicos 
da espécie e desenvolvimento do filhote. Desordens de toda natureza podem ter evolução 
rápida em animais muito jovens e, muitas vezes, perde-se o animal caso não ocorra uma 
intervenção imediata3. 
Conhecer e entender o comportamento reprodutivo e forma de cuidado parental de 
cada espécie também é essencial para não cometer erros. Primatas, por exemplo, 
permanecem constantemente junto ao seu filhote, carregando-o em seus braços, nos 
primeiros dias de vida, dificultando muitas vezes a aproximação humana. Cervídeos, por 
sua vez, escondem seus filhotes e os mantém distantes do rebanho até que este tenha 
condições de acompanhar o bando. As fêmeas aproximam-se do filhote apenas no 
momento da amamentação2,4. Cada estratégia de sobrevivência exige uma abordagem 
diferente à mãe e ao filhote e cabe ao corpo técnico optar pelo melhor manejo. 
Nesse texto iremos abordar somente a criação de aves e mamíferos, pois são as 
classes que mais requerem cuidados neonatais. 
 
Acompanhamento pré-natal 
Além dos cuidados com os animais após o nascimento, cada vez mais tem surgido 
a preocupação com as fêmeas gestantes, que necessitam de observação e manejo 
diferenciado para obter sucesso reprodutivo, especialmente entre os mamíferos. 
Em animais de estimação ou em criatórios, o cuidado pré-natal ocorre influenciado 
pela vontade/necessidade de reproduzir a espécie, sendo que muitas vezes o pareamento 
dos animais acontece somente em períodos pré-determinados, facilitando o 
acompanhamento da gestante. 
Em instituições como mantenedores e zoológicos ou outros locais em que os 
animais vivam em grupos, a procriação pode ocorrer de forma não planejada, tornando 
mais difícil o acompanhamento da prenhez. Algumas evidências físicas de prenhez, como 
por exemplo abdômen distendido e ganho de peso da fêmea5, podem passar 
desapercebidas pelos cuidadores, principalmente em grupo com diversos indivíduos da 
mesma espécie. Além disso, características comportamentais também podem dificultar a 
identificação de animais prenhes, impedindo o reconhecimento da gestação até que os 
filhotes tenham nascido. 
Ter conhecimento da gestação e previsão da data de nascimento do filhote é muito 
importante para animais sob cuidados humanos, pois nem sempre os animais irão parir 
em condições e locais oportunos. Nesse sentido, o condicionamento de animais silvestres 
cativos permite um melhor acompanhamento gestacional, diminuindo os riscos para a 
fêmea e filhote, assim como reduzem o estresse durante os exames pré-natais e outras 
intervenções quando necessárias5. 
A ultrassonografia é o exame complementar mais indicado para acompanhar o 
crescimento do feto6. Por ser umexame não invasivo, pode ser realizado com bastante 
frequência em animais condicionados, sem causar danos à saúde destes (figura 1). Devido 
ao fato de ser um exame dinâmico, necessita de maior tempo para a realização, sendo 
possível somente em animais habituados ou que permitam contenção física tranquila. A 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
sedação para realização do ultrassom não é recomendada de forma rotineira, pelos riscos 
dos agentes sedativos à saúde dos filhotes,5,7,8. A ultrassonografia transretal, muito 
utilizada no diagnóstico de gestação de equinos e bovinos, tem seu uso mais restrito em 
animais silvestres devido ao manejo mais invasivo e ao porte dos animais, sendo mais 
utilizada a ultrassonografia transabdominal6. 
 
 
Figura 1. Ultrassonografia em hipopótamo pigmeu (Choeropsis liberiensis) e anta-malaia (Tapirus 
indicus) condicionadas, para acompanhamento gestacional (Fonte: arquivo pessoal). 
 
Diversos estudos sobre diagnóstico gestacional não invasivo, através de esteroides 
fecais, já foram desenvolvidos e são comumente utilizados em espécies ameaçadas de 
extinção. Esse tipo de diagnóstico é espécie-específico, necessitando de ampla pesquisa 
a fim de obter um resultado preciso e fidedigno, e não está disponível para todas as 
espécies silvestres9,10. A radiografia também é um método de diagnóstico de gestação, 
sendo uma boa escolha para avaliar a quantidade de fetos, mas não sua viabilidade. 
Devido aos riscos de exposição do animal em desenvolvimento à radiação, seu uso é 
limitado e exclusivo para casos específicos11. 
A partir do momento em que a gestação é detectada, a fêmea deve ser acompanhada 
dentro da sua rotina habitual. Mudanças bruscas, grandes manejos e situações estressantes 
devem ser evitadas na presença das fêmeas prenhas num grupo social. Retirar a gestante 
do grupo ou do recinto de exposição não é uma recomendação geral e deve ser avaliado 
em situações específicas5. Aproximando-se o período provável do parto, deve ser 
fornecido local reservado, protegido de intempéries, para que o animal possa parir com 
conforto e segurança, assim como fornecer substrato para a construção de ninho nas 
espécies que possuem esse hábito. A instalação de câmeras de vídeo para monitoramento 
auxilia a equipe a acompanhar o parto sem interferências desnecessárias. 
Partos distócicos podem ocorrer e o quanto antes forem diagnosticados, maiores 
são as chances de salvar o filhote e a mãe, assim como reduz o tempo em que ambos 
ficam expostos a dor e ao sofrimento. Em elefantes, por exemplo, diversos casos de 
distocia foram acompanhados e relacionados a fêmeas primíparas de idade mais 
avançada. Contudo, diversas são as causas que podem levar a essa condição12, não só em 
elefantes como nas demais espécies. A expulsão dos envoltórios fetais ocorre logo após 
o parto, mas há variação quanto ao tempo em que ocorre. Algumas espécies podem ingerir 
a placenta após o parto uma vez que este possui nutrientes, estimula a produção de leite 
e diminui a possibilidade de predadores serem atraídos pelo odor desta13,14. Sempre que 
possível a placenta deve ser inspecionada a fim de detectar qualquer alteração e avaliar 
se ocorreu sua expulsão total. 
 
 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
Acompanhamento do recém-nascido 
Este acompanhamento deve ser o mais discreto possível, porque caso a mãe sinta-
se ameaçada ela pode abandonar o filhote, ou até mesmo se tornar agressiva contra ele. 
Imediatamente após o nascimento do filhote, a fêmea deve mostrar interesse e 
realizar a limpeza do novo indivíduo retirando resíduos de sangue e membranas fetais, 
principalmente da boca e narinas, rompendo e limpando o cordão umbilical14. 
Sempre que possível, o neonato deve ser examinado nas primeiras 48 horas de vida. 
Esse exame deve ser rápido e preferencialmente não deixar vestígios no animal. O 
primeiro exame visa conseguir informações como peso, escore corporal, sexo, inspeção 
geral quanto a anomalias, assim como limpeza e desinfecção do umbigo. Todas as 
informações coletadas devem ser anotadas e servem como referência para outros animais 
da mesma espécie. 
Apesar de ser de grande importância, nem sempre é possível realizar a inspeção do 
neonato logo após o nascimento. Algumas espécies possuem maior dificuldade de manejo 
e não permitirão a aproximação ao infante. O recinto onde mãe e filhote se encontram 
também podem dificultar essa primeira aproximação. Caso não seja possível realizar o 
exame clínico no recém-nascido, outros métodos de acompanhamento devem ser 
estabelecidos, sempre respeitando os limites impostos pela fêmea. Quando a inspeção for 
realizada a distância, o uso de câmeras fotográficas e binóculos podem auxiliar em uma 
melhor visualização. Fazer fotografias do animal frequentemente ajudam a avaliar o 
desenvolvimento e ganho de peso. É importante que a avaliação seja realizada sempre por 
uma mesma pessoa, ou grupo de pessoas, evitando diferentes interpretações. 
Há muita variação quanto ao grau de independência entre os infantes. Filhotes de 
ungulados, como cervos e antas, e roedores histricomorfos, como ouriços e capivaras, são 
precociais e começam a alimentar-se sozinhos ainda bem jovens, mesmo seguindo com a 
ingestão de leite materno15. Carnívoros possuem uma dependência maior e a interação 
social será fundamental para o desenvolvimento de hábitos que garantam sua 
sobrevivência, como por exemplo a busca por alimento e abrigo13,16. Os infantes de 
primatas são ainda mais dependentes, podendo permanecer junto a mãe e ao grupo social 
por mais de um ano, dependendo da espécie17,18. 
Inicialmente o ganho de peso deve ser diário e constante. Na medida em que o 
animal começa a crescer a curva de ganho de peso vai diminuindo, podendo ocorrer perda 
de peso no período de transição alimentar e no início dos primeiros voos das aves19. O 
acompanhamento do infante deve ser mais intenso nos primeiros dias, período onde 
ocorre as maiores perdas e quando o filhote é mais frágil. Conforme o animal vai 
crescendo e se desenvolvendo de acordo com o esperado, a periodicidade das avaliações 
poderá diminuir. 
Diversas são as situações que resultarão na decisão de separar o filhote da fêmea e 
iniciar a criação artificial: rejeição por parte materna, perda de peso e enfermidades são 
alguns dos motivos. 
A criação artificial depende de uma equipe preparada para cuidar de forma intensiva 
do filhote e só deverá ser realizada quando a vida do animal estiver em risco. Os riscos e 
dificuldades da criação artificial devem ser conhecidos pela equipe, a fim de fornecer 
subsídios para uma melhor tomada de decisões. 
 
Neonatologia sem cuidados parentais 
Podemos separar em dois grupos quanto a origem os animais que serão criados 
artificialmente, ou seja, sem a presença dos progenitores biológicos: 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
1. Animais abordados anteriormente, nascidos em cativeiro, e que por algum motivo 
tiveram que ser separados de suas mães; 
2. Animais encontrados órfãos na natureza, que são encaminhados a diversos locais 
que prestam atendimento a fauna silvestre. 
Uma parte desses animais do grupo 2 provavelmente não precisaria ter sido retirado 
do seu habitat, mas pela falta de informação da população diversas intervenções 
desnecessárias acabam acontecendo. Aliado a essa questão, o crescimento urbano 
desordenado e o descaso com o meio ambiente faz com que muitos filhotes percam suas 
mães ou caiam de seus ninhos, sejam atropelados, eletrocutados ou atacados por animais 
domésticos, e então entregues para atendimento20,21. 
A criação desses dois grupos distintosem sua origem, acontecerá de forma 
semelhante. Obviamente, saber a origem do animal assim como seu histórico poderá 
ajudar na conduta clínica. Informações como idade correta, condições de saúde ou 
alimentação prévia podem facilitar sua criação. Receber um infante que está há horas ou 
dias sem cuidados, ou sendo assistido de maneira inapropriada, desconhecer histórico de 
trauma e afecções, entre outras informações torna a situação mais crítica, mas 
infelizmente é a realidade da maioria dos casos e pode diminuir as chances de sucesso em 
sua criação. 
Outro aspecto diz respeito a conduta quanto a sua criação. Um indivíduo nascido 
em cativeiro raramente retornará a vida livre, exceto em casos particulares de espécies 
ameaçadas de extinção, por isso a relação com as pessoas será permitida de maneira mais 
estreita. Entretanto, indivíduos criados artificialmente com o intuito de retornar a seu 
habitat natural devem ser manipulados minimamente, a fim de evitar a afeição aos 
humanos aumentando as chances de reabilitação e posterior soltura. 
 
Criação de órfãos 
Com a chegada de um órfão, o grande desafio está lançado. Cuidar de filhotes de 
animais silvestres não é tarefa fácil, principalmente quando o objetivo é reabilitação e 
retorno à vida selvagem. 
Em geral, o tempo é inversamente proporcional a possibilidade de devolução a 
natureza. Expresso de outra forma, quanto maior o período em cativeiro, menores as 
chances de o indivíduo retornar ao ambiente natural, dado o vínculo e dependência 
criados com os cuidadores humanos. Répteis, por não terem cuidados parentais na maioria 
das espécies, são os que chegam em menor quantidade e os que retornam com maior 
rapidez ao ambiente de origem. Aves provavelmente são a classe com maior número de 
atendimentos em centros de reabilitação e, devido ao rápido crescimento, o seu tempo 
para criação é menor, aumentando as chances de reabilitação. 
Pode-se dividir as aves infantes em dois grupos: altriciais e precociais. Cada um 
com necessidades e grau de dependência parental distintas. Essas características irão 
influenciar muita na forma de manejar, alimentar e reabilitar esses filhotes. 
Aves altriciais normalmente nascem em ninhos elevados, sem penas ou plumas e 
de olhos fechados, sendo extremamente dependentes de seus pais como pombas, sabiás, 
bem-te-vis, papagaios, corujas e gaviões. Já as aves precociais nascem em ninhos 
próximos ao solo, apresentam cobertura de plumas, habilidade de andar e se alimentam 
sozinhas, com orientação dos pais como marrecas, emas e quero-queros22,23. 
Mamíferos são com certeza o maior desafio. Seu crescimento lento e gradual, a 
necessidade de amamentação ao longo de semanas ou meses, a maior dependência de 
cuidados artificiais, e o vínculo afetivo com os cuidadores são algumas características que 
os tornam, em sua maioria, apegados aos seres humanos de uma maneira nada silvestre. 
Como consequência, serão indivíduos inaptos a natureza e problemáticos em cativeiro e 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
muitas vezes pouco sociáveis com indivíduos da mesma espécie24. Condutas 
desnecessárias e manipulações excessivas devem ser desencorajadas24. Nesse momento, 
entra o papel do médico veterinário de animais silvestres, juntamente com outros 
profissionais, que devem prezar pela conservação, bem-estar e saúde do animal em 
questão. 
A criação artificial de qualquer animal não é fácil, em especial de animais não 
domesticados, por diversos fatores. Nutricionalmente falando, substituir a alimentação 
fornecida pelos pais não é tão simples quanto parece. Mamíferos possuem diversas 
variações na composição do leite materno, com diferentes quantidades de proteína, 
gordura e carboidrato e, infelizmente, poucas espécies têm a composição do leite 
totalmente conhecidas24. 
Em relação a dieta oferecida às aves ocorre o mesmo, uma grande variedade na 
composição nutricional do alimento oferecido aos filhotes. Muitas espécies são 
alimentadas pelos pais, recebendo alimento, regurgitado ou não, diretamente na cavidade 
oral23. Nas pombas, por exemplo, além do alimento propriamente dito, secreções 
produzidas pelos progenitores são também ingeridas pelos filhotes, nesse caso conhecido 
como “leite do papo”25. Para as aves que se alimentam sozinhas, acompanhando os pais 
já desde os primeiros instantes de vida, ensinar como e o que comer sem a referência e o 
exemplo de sua espécie requer bastante esforço26. 
Para manter a saúde e o bem-estar dos neonatos, quatro itens básicos devem ser 
prioritários: temperatura, hidratação, nutrição e higiene13. Quando um desses pontos não 
estiver adequado para a espécie e idade do animal, problemas irão surgir, cedo ou tarde. 
Além desses quatro itens, um quinto elemento se faz necessário para permitir que o 
infante tenha alguma chance de reabilitação ou ao menos para viver junto de seus 
semelhantes: a interação humano-animal24. 
 
Temperatura 
Todo animal antes do nascimento se encontra em um local protegido e com 
temperatura constante, seja dentro do útero ou do ovo, pré-requisito básico para o 
desenvolvimento apropriado do embrião. 
Após o nascimento uma nova etapa se inicia, da qual aves e mamíferos irão 
depender dos seus pais para se adaptar. Todos os filhotes nascem com uma cobertura 
tegumentar mais pobre que a de um animal adulto. O recém-nascido apresentará cobertura 
da pele com plumas ou pelos finos e macios ou total ausência deles. Aliado a baixa 
proteção tegumentar, o infante apresenta reduzida reserva de gordura, que auxiliaria na 
manutenção da temperatura corporal. Em neonatos, a termorregulação é deficiente nas 
primeiras semanas de vida, pois o sistema termorregulador está imaturo e os animais não 
apresentam reflexo de tremor e piloereção27. Esses motivos fazem com que os animais 
recém-nascidos tenham dificuldade de manter estável a temperatura corporal, tornando-
se suscetíveis ao frio e ao calor extremo2. 
Na rotina veterinária é comum os animais órfãos chegarem hipotérmicos para 
atendimento e caso a temperatura não seja reestabelecida com brevidade, o animal pode 
ir a óbito. O fato de tentar elevar a temperatura rapidamente pode resultar em um quadro 
de hipertermia, com desfecho tão trágico quanto o anterior. Sendo assim, o aquecimento 
corpóreo do filhote deve ser lento, entre 1 e 3 horas28. 
Diversas são as formas de ajustar a temperatura do infante: bolsa de água quente, 
colchão térmico e incubadora são alguns exemplos mais comumente utilizados, cada um 
com seus prós e contras. As incubadoras, com controle de temperatura e umidade, são as 
mais recomendadas, pois conseguem manter a temperatura desejada constantemente, com 
pouca variação. Entretanto, em casos de animais hipotérmicos, elas podem ser mais lentas 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
no aumento da temperatura corporal. Nessas situações específicas, bolsas de água quente, 
colchões ou mantas térmicas podem ser usados, sempre com supervisão constante, pois o 
animal estará diretamente em contato com a fonte de calor podendo ocorrer queimaduras 
ou hipertermia23,24. 
À medida que o filhote cresce e ganha maior cobertura tegumentar, a manutenção 
da temperatura corpórea também vai sendo aprimorada, até o momento em que não será 
mais necessária uma fonte exógena de calor. 
O momento de retirar a fonte de aquecimento deverá ser avaliada individualmente 
e a remoção gradual é recomendada. Inicialmente, os animais devem ficar sem a fonte de 
calor durante o dia, momento em que a temperatura do ambiente está mais alta e quando 
o animal está com acompanhamento mais intensivo. Após alguns dias de adaptação e com 
boas respostas comportamentais, pode se iniciar a retirada do aquecimento durante anoite. 
O conhecimento da temperatura corporal de cada espécie é essencial para o sucesso 
da criação. De maneira geral, aves tem a temperatura corporal mais alta que mamíferos, 
e dentre os mamíferos marsupiais tem a temperatura corporal mais baixa. Entretanto 
devem ser pesquisadas referências para cada espécie, ou no caso em que não houver essa 
informação, de espécie semelhante. Quanto mais jovem for o animal, mais dependente 
ele será de fonte exógena de calor. A temperatura deve ser um dos primeiros itens a serem 
avaliados e corrigidos, pois animais hipo ou hipertérmicos não reagirão bem a quaisquer 
outras manobras, assim como não absorverão adequadamente alimentos ofertados, 
podendo morrer de impactação ou pneumonia aspirativa22,23. 
 
Hidratação 
Filhotes órfãos de vida livre frequentemente apresentam-se desidratados, devido ao 
tempo em que ficam expostos as intempéries sem assistência parental. O jejum 
prolongado, assim como a incidência solar direta podem resultar em hipertermia e 
contribuem para agravar o quadro. Além disso outros fatores como: extensa superfície 
corpórea, pele mais permeável e alta constituição de água em relação a um animal adulto, 
favorecem a desidratação em neonatos 28. 
A reidratação por via oral é preferível sempre que a função intestinal estiver normal 
e o animal não estiver hipotérmico. Porém, em casos mais severos pode ser necessário 
fluidoterapia aquecida por via parenteral. A via subcutânea pode ser utilizada em animais 
com leve grau de desidratação. Também é comumente utilizado em animais muito 
pequenos quando o acesso venoso é difícil, entretanto em casos graves o fluido deve ser 
administrado por via endovenosa ou intraóssea29. Após a reidratação inicial do infante, a 
mesma deve ser mantida através da alimentação13. 
Animais que não se alimentam adequadamente ou que apresentem diarreia devem 
ser monitorados e reavaliados diariamente. Animais desidratados poderão ter diminuição 
da motilidade gastrointestinal, o que poderá acarretar constipação22. 
 
Nutrição 
Assim como os itens anteriores, a nutrição do recém-nascido é fator fundamental 
para seu correto desenvolvimento. Quanto menor e mais jovem é o filhote, mais frequente 
deve ser sua alimentação, comparando com indivíduos da mesma espécie. Cabe ressaltar 
que a alimentação oral só deve ser fornecida após o animal apresentar temperatura 
corporal adequada28. 
O neonato depende da alimentação para manter os níveis normais de glicogênio, 
portanto, intervalos de 2 a 3 horas de jejum podem resultar, na maioria das espécies, em 
hipoglicemia neonatal, a qual se manifesta por incoordenação, flacidez, fraqueza ou 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
coma30. Algumas espécies de infantes de mamíferos, a exemplo dos coelhos, se 
alimentam uma ou poucas vezes ao longo do dia, apresentando longos intervalos entre as 
refeições, sem desenvolver crises hipoglicêmicas31,32. 
As aves por sua vez, por apresentarem taxa metabólica maior, podem necessitar de 
alimentações muito mais frequentes, com intervalos menores que uma hora, dependendo 
da espécie e fase de desenvolvimento22. 
Na medicina de animais silvestres talvez a nutrição seja o quesito mais desafiador, 
devido a ampla variedade de espécies animais, com diferentes exigências nutricionais, 
aliado ao pouco conhecimento difundido sobre o assunto, especialmente na nutrição 
neonatal. 
Todos os mamíferos têm em comum o consumo de leite na fase de crescimento, 
entretanto sua composição varia muito entre as diferentes espécies animais. A adaptação 
a um leite de origem diferente pode ser complexa, aliado ao fato da brusca mudança 
alimentar pelo qual o infante é submetido33. 
Diversos são os tipos de leite que podem ser usados para tentar compor a nova dieta 
animal, tentando sempre aproximar a espécie silvestre a algum animal doméstico. Devido 
ao fácil acesso, o leite de vaca e de cabra tem sido os mais comumente utilizados, 
entretanto na maioria dos casos precisam de suplementação para alcançar os níveis de 
proteína, gordura, lactose, vitaminas e minerais necessários4,32. Fórmulas prontas para 
cães e gatos também podem ser utilizadas na criação de felídeos, canídeos e outras 
famílias semelhantes, mas devem ser adaptadas para a necessidades nutricionais da 
espécie em questão. 
A alimentação das aves irá variar muito conforme a espécie, e mais facilmente 
adaptável em alguns casos. Aves carnívoras tendem a aceitar bem roedores abatidos ou 
carne crua, devendo dar preferência ao primeiro item. Deve-se ter cuidado para que o 
tamanho do alimento oferecido seja compatível com a ave e para que não apresente pontas 
cortantes (no caso do uso de roedores), a fim de evitar lesões na cavidade oral e 
dificuldade de deglutição. Quando a alimentação ocorrer somente com carne crua, além 
de variar o tipo de carne, deve ser realizada a suplementação com fonte de cálcio, a fim 
de evitar doenças osteometabólicas, muito comum em aves de rapina23,34. 
Para algumas famílias de aves mais comumente criadas como animal de estimação, 
como psitaciformes e passeriformes, existem fórmulas alimentares comerciais prontas, 
para substituir o alimento oferecido pelos pais. Tais fórmulas apresentam bom 
desempenho no crescimento e preço relativamente acessível, sendo amplamente 
utilizadas para algumas espécies e como forma de suplementar a alimentação de espécies 
similares35. 
Algumas aves precociais tem maior dificuldade de aceitar a alimentação artificial 
e, por isso, deve ser proporcionado alimento o mais similar ao encontrado na natureza. 
Determinadas espécies podem aceitar alimentos comerciais oferecidos a aves de 
produção, como galinhas e patos. O fato de se alimentarem sozinhas desde muito cedo 
pode facilitar o manejo, desde que já tenham desenvolvido essa habilidade. Uma 
estratégia adotada é o uso de filhotes de espécies domésticas, que aprendem mais rápido 
a alimentarem-se, estimulando as demais no aprendizado. 
Não se espera que um substituto do leite materno performe tão bem quanto o 
original. O objetivo é que o leite artificial forneça quantidades adequadas de nutrientes, 
permitindo o desenvolvimento adequado do animal até a dieta sólida. O mesmo também 
é válido para a dieta substituta, no caso das aves. Deve-se considerar também que a taxa 
de crescimento de um animal criado artificialmente não será a mesma dos animais criados 
pelos pais, principalmente devido a alimentação e outros fatores relacionados. 
 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
Alimentação e sondagem 
A alimentação de filhotes órfãos só deve ser realizada em animais conscientes, 
responsivos e com adequada temperatura corporal. Para a alimentação de mamíferos 
podem ser utilizadas mamadeiras, seringas com ponteira adaptadas e sondas (figura 2). 
As primeiras vezes da administração de alimento devem ser as mais cuidadosas, a fim do 
animal se adaptar ao novo método. 
 
Figura 2. Sondas para alimentação. A) Sonda uretral acoplada a seringa para alimentação oragástrica. B) 
Filhote de ouriço cacheiro (Coendou spinosus) com seringa acoplada a ponteira plástica. C) Filhote de 
ouriço mamando com auxílio da seringa (Fonte: arquivo pessoal). 
 
Para espécies de canídeos, felídeos, mustelídeos, primatas e outras semelhantes, o 
uso de mamadeira é bem aceito. A frequência da alimentação irá variar conforme a idade 
e espécie, mas inicialmente pode ser até 8 vezes ao dia13. 
Filhotes de gambás não se adaptam a mamadeira, devido ao pequeno tamanho e 
características do seu desenvolvimento extrauterino, por isso é necessário a sondagem 
orogástrica. A sondagem nasogástrica pode ser utilizada em animais de maior porte, 
principalmente em casos de recusa da mamadeira. Entretanto, astentativas de adaptação 
a mamadeira devem continuar diariamente, até sua aceitação, a fim de diminuir o risco 
de refluxo e aspiração e estimular a sucção13. 
Outro aspecto importante é a posição em que o filhote é amamentado. Canídeos, 
felídeos e mustelídeos mamam em decúbito esternal, normalmente apoiando as patas no 
abdômen na fêmea e realizam movimentos de estímulo a liberação do leite2. Por outro 
lado, primatas mamam em posição ereta, agarrados ao corpo da mãe. Filhotes de 
cervídeos, camelídeos e outros ungulados mamam em estação. Manter a posição em que 
o animal está habituado a mamar evita problemas na deglutição do leite e, 
consequentemente, pneumonia aspirativa. 
Para aves, o método de alimentação irá variar conforme a espécie. Rapinantes 
normalmente aceitam bem a alimentação picada oferecida com o auxílio de uma pinça 
longa. Passeriformes possuem o hábito de abrir o bico, dessa forma é possível oferecer 
alimento tanto através de uma seringa de 1 ml ou pequenos pedaços de alimento com 
auxílio de uma pinça. Psitacídeos não possuem ampla abertura do bico, devendo a 
alimentação ser oferecida através da sondagem com sonda rígida própria para aves (figura 
3), através do uso de seringas ou de colheres35. Em vida livre, esses animais recebem o 
alimento diretamente do bico dos seus pais, por regurgitação, e realizam um movimento 
de vai-e-vem com a cabeça para cima e para baixo, podendo o mesmo ocorrer na criação 
artificial. 
 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
 
Figura 3. Sondas rígidas de diversos tamanhos, próprias para alimentação de aves (Fonte: arquivo pessoal). 
 
Higiene 
A higiene dos filhotes órfãos é fator primordial para manutenção do bem-estar e 
saúde dos filhotes, entretanto é muitas vezes negligenciada. Como função dos pais, além 
de prover alimento a sua prole, manter a higiene do ninho, da toca e dos filhotes é 
atividade constante durante toda a criação. Mamíferos realizam essa tarefa com lambidas 
e catações, muitas vezes ingerindo urina e fezes dos animais, a fim de manter o ambiente 
limpo e livre de odores, contribuindo também para não atrair predadores2,5. 
Aves realizam a limpeza das penas e de seus ninhos constantemente23 e, na 
experiência da autora, filhotes altriciais usualmente defecam para fora do ninho. Após 
certa idade iniciam os banhos de água e de areia, de acordo com cada espécie, que 
auxiliam na manutenção e higiene das penas. 
Na criação artificial é muito comum os animais ficarem sujos com restos de 
alimentos, tanto aves como mamíferos, de alimentos líquidos ou mesmo mais sólidos. 
Resquícios de leite, papa, sangue e carne podem ficar presos ao pelo ou penas dos 
animais, gerando além de desconforto, odor desagradável e dermatites. Para evitar isso, 
sempre após a alimentação o animal deve ser adequadamente limpo, com um pano 
umedecido, preferencialmente sem sabão, pois o objetivo não é deixá-los cheirosos32. A 
limpeza deve ser feita de forma rápida e somente se o animal estiver sujo e sem 
manipulação excessiva. 
Outra questão muito importante é em relação a urina e fezes. A maior parte dos 
mamíferos necessitará ser estimulada para realizar a micção e defecação2,32. Isso pode ser 
realizado através de movimentos na região perianal, simulando uma lambida, com um 
algodão umedecido, preferencialmente em água morna. Essa também é uma oportunidade 
de avaliar as fezes e urina do indivíduo13. 
A estimulação deve ser realizada sempre após a alimentação e só deverá ser 
suspensa quando o animal estiver defecando e urinando sozinho de forma rotineira. 
Animais que necessitam desse tipo de manejo serão consequentemente mais 
manipulados, o que acarreta maiores chances de imprint humano. Entretanto a não 
realização dessas manobras pode resultar em problemas gastrintestinais graves. 
Aves não precisam ser estimuladas para defecar, contudo deve ser observado 
diariamente se estão defecando da maneira adequada e se estão ficando limpas, pois 
muitas vezes o acúmulo de fezes na região cloacal pode obstruir a saída das excretas. 
 
Interação 
A reabilitação de um animal órfão e sua posterior soltura em seu hábitat natural só 
é possível em indivíduos que, após seu desenvolvimento, mantenham características 
comportamentais selvagens, como instinto de caça e de fuga, busca por alimentos e 
interação com indivíduos da mesma espécie. Não serão abordados aqui outros pré-
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
requisitos para a soltura, como origem do animal e perfil sanitário, por não ser o foco 
desse texto. 
De qualquer forma, para que o comportamento do animal seja condizente para a 
soltura, a interação com o ser humano deve ser a mais restrita possível, o que muitas vezes 
é difícil em se tratando de filhotes muito jovens, que necessitam de cuidados intensivos. 
A manipulação deve ser realizada somente no momento da alimentação e higienização do 
filhote, evitando inclusive conversas durante esses momentos32. 
Contudo, mesmo em casos que já foi descartada a possibilidade de reabilitação para 
vida livre, o animal não deve ser criado com extremo contato com o ser humano, pois isso 
dificulta sua inserção em um grupo cativo com outros indivíduos na mesma espécie. Além 
disso, diversos são os casos de animais criados artificialmente, que quando se tornam 
adultos ou em período reprodutivo, se tornam agressivos contras pessoas, tornando difícil 
e arriscado o manejo sob cuidados humanos4,34. 
A interação humano-animal deve sempre priorizar o comportamento selvagem do 
animal, mimetizando ao máximo as atitudes parentais. A criação de mais de um indivíduo 
da mesma espécie em conjunto favorece a manutenção de comportamentos naturais2. 
Animais de diferentes faixas etárias e até mesmo de espécies semelhantes podem ser 
agrupados na tentativa de ensinarem os mais novos sobre alimentação, higiene, 
predadores, entre outros, sendo comumente utilizado na criação de anatídeos26. Quando 
se une animais de diferentes faixas etárias deve-se estar atento a alimentação e agressões, 
pois em alguns casos os animais maiores podem prejudicar os menores. A utilização de 
fantoches para alimentação também é uma alternativa a fim de evitar que o animal associe 
o ser humano à sua fonte alimentar, aumentando assim suas chances de sobrevivência em 
vida livre36. 
Outra questão muito importante na manutenção de órfãos é a oferta de itens comuns 
a vida selvagem, adaptados a criação artificial, itens que auxiliem no bem-estar dos 
animais e no desenvolvimento de atividades inerentes a espécie. 
A utilização de ninhos para aves é um exemplo. Usualmente evita-se o uso dos 
ninhos originais, pois esses são mais difíceis de higienizar e podem carrear parasitas no 
seu interior, principalmente piolhos, por isso a utilização de outros materiais para 
confecção do ninho é recomendável. O uso de um ninho adequado e superfícies 
antiderrapantes auxilia a evitar alterações do sistema locomotor, como a abdução das 
pernas, conhecido como splay leg34. 
O uso de animais de pelúcia ou mesmo cobertores também pode ser interessante, 
principalmente para animais que costumam ficar agarrados às suas mães ou mesmo para 
animais muito novos, que estão sozinhos. Quando possível pode ser colocado uma fonte 
de calor dentro da pelúcia, para tornar mais acolhedor. 
Outros itens para animais já maiores, como poleiros, rampas e troncos, acesso a 
grama, a areia e a água, auxiliam no desenvolvimento das atividades motoras e 
contribuem para a saúde mental do animal, através do enriquecimento ambiental2. 
No caso de espécies consideradas presa na natureza, deve ser evitado o contato com 
animais predadores, a fim de que o filhote não perca o medo e o instinto de fuga ou 
confrontamento. Espéciesdomésticas como cães e gatos também devem ser evitadas no 
momento da criação32, pois além de serem ameaças a diversas espécies silvestres, não é 
desejável que o órfão selvagem desenvolva hábitos de animais domésticos. 
 
Conclusões 
Criar um animal silvestre e prepará-lo para vida selvagem é uma tarefa que exige 
conhecimentos sobre nutrição, enfermidades, comportamento, além de requerer 
dedicação intensa, tanto física como emocional da equipe envolvida. O sucesso na criação 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
será alcançado quando o animal chegar a fase adulta ou subadulta, com ótimo 
desenvolvimento corporal e com capacidade de viver junto dos seus semelhantes, tanto 
em vida livre quanto em cativeiro. 
O aprimoramento das técnicas de criação artificial é constante e a troca de 
experiências entre profissionais da área é fundamental, visto que poucos estudos sobre o 
tema estão disponíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*As opiniões expressas no texto não representam, obrigatoriamente, a posição da ABRAVAS sobre o 
assunto. 
 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
Referências 
1. Tôrres AM, Zimmermann M. Transferência de imunidade passiva em cães e gatos 
neonatos. REVET - Revista Científica do Curso de Medicina Veterinária – 
FACIPLAC. 2016; 3(1): 12-26. 
2. Thompson KV, Baker AJ, Baker AM. Parental care and behavioral development in 
captive mammals. In: Kleiman DG, Thompson KV, Baer CK, editors. Wild 
mammals in captivity - Principles and techniques for zoo management, 2. ed. 
Chicago, USA: The University of Chicago Press, 2010. p. 367-385. 
3. Lawler DF. Neonatal and pediatric care of the puppy and kitten. Theriogenology. 
2008; 70(3): 384-392. 
4. Duarte JMB. Captive management. In: Duarte JMB, Gonzalez S, editors. 
Neotropical cervidology: biology and medicine of latin american deer. Jaboticabal, 
Brazil: Funep and Gland, Switzerland: IUCN; 2010. p. 240-247. 
5. Thomas P, Asa CS, Hutchins M. The management of pregnancy and parturition in 
captive mammals. In: Kleiman DG, Thompson KV, Baer CK, editors. Wild 
mammals in captivity - Principles and techniques for zoo management, 2. ed. 
Chicago, USA: The University of Chicago Press, 2010. p. 367-385. 
6. Kahn W. Ultrasonography as a diagnostic tool in female animal reproduction. 
Animal Reproduction Science. 1992; 28: 1-10. 
7. 5Broder JM, MacFadden AJ, Cosens LM, Rosenstein DS, Harrison TM. Use of 
positive reinforcement conditioning to monitor pregnancy in an unanesthetized 
snow leopard (Uncia uncia) via transabdominal ultrasound. Zoo Biology. 2008; 27: 
78–85. 
8. 6Houston EW, Hagberg PK, Fischer MT, Miller ME, Asa CS. Monitoring 
pregnancy in babirusa (Babyrousa babyrussa) with transabdominal 
ultrasonography. Journal of Zoo and Wildlife Medicine. 2001; 32(3): 366–372. 
9. Garnier JN, Green DI, Pickard AR, Shaw HJ, Holt WV. Non-invasive diagnosis of 
pregnancy in wild black rhinoceros (Diceros bicornis minor) by faecal steroid 
analysis. Reprod. Fertil. Dev. 1998; 10: 451–458. 
10. Schwarzenberger F. The many uses of non-invasive faecal steroid monitoring in 
zoo and wildlife species. Int. Zoo Yb. 2007; 41: 52–74. 
11. Purohit G. Methods of pregnancy diagnosis in domestic animals: the current status. 
WebmedCentral REPRODUCTION. 2010; 1(12):WMC001305 
12. Gage LJ. Neonatal Elephant Mortality. In: Fowler ME, Miller RE, editors. Zoo and 
Wild Animal Medicine Current Therapy, Volume Six. St. Louis, Missouri: 
Saunders; 2008. p. 365-368. 
13. De Paula TAR, Mascarenhas RM. Reprodução e obstetrícia em canídeos 
neotropicais. In: Cubas ZS, Silva JCR, Catão-Dias JL, editors. Tratado de animais 
selvagens, 2. ed. São Paulo: Roca; 2014. p. 2276-2293. 
14. Moreira N. Reprodução e obstetrícia em felídeos neotropicais. In: Cubas ZS, Silva 
JCR, Catão-Dias JL, editors. Tratado de animais selvagens, 2. ed. São Paulo: Roca; 
2014. p. 2294-2300. 
15. Baker A. Variation in the parental care systems of mammals and the impact on zoo 
breeding programs. Zoo Biology. 1994, 13. p. 413-421. 
16. Gittleman JL. Female brain size and parental care in carnivores. Proc. Natl. Acad. 
Sci. USA. 1994, vol. 91. P. 5495-5497. 
17. Verderane MP, Izar P. Estilos de cuidado materno em primatas: considerações a 
partir de uma espécie do Novo Mundo [tese]. Universidade de São Paulo, São 
Paulo, 2005. 
Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS 
 www.abravas.org.br 
Informações: contato@abravas.org.br 
18. Rapaport LG. Progressive parenting behavior in wild golden lion tamarins. 
Behavioral Ecology. 2011 Jul-Aug; 22(4): 745–754. 
19. Guedes NMR. Crescimento e desenvolvimento de filhotes de arara azul 
(Anodorhynchus hyacinthinus) na natureza. In: Anais do III Congresso Brasileiro 
de Ornitologia; Pelotas-RS, 1993. R53. 
20. Avelar ER, Silva R, Baptista LAML. 2015. Ameaças à Sobrevivência de Animais 
Silvestres no Estado de Goiás. Uniciências, 2015. 19, p. 132-140. 
21. Biondo D, Pletsch JA, Guzzo GB. Impactos da ação antrópica em indivíduos da 
fauna silvestre de Caxias do Sul e região: uma abordagem ex situ. Revista Brasileira 
de Biociências, 2019. 17, p. 14-24. 
22. Bewig M, Mitchell MA. Wildlife. In: Mitchell MA, Tully Junior TN, editors. 
Manual of exotic pet pratice. Missouri: Saunders Elsevier; 2009. p. 493-529. 
23. Duerr RS. General care. In: Gage LJ, Duerr RS, editors. Hand-Rearing Birds. 
Ames, IA: Blackwell Publishing, 2007. p. 3-15. 
24. Mohapatra RK, Sahu SK, Das JK, Paul S. Hand rearing of wild mammals in 
captivity. Nandankanan Biological Park, Forest and Environment Department, 
Government of Odisha. India, 2019. 
25. Becker R. Pigeons: nutrition. In: In: Chitty J, Lierz M, editors. Manual of raptors, 
pigeons and passerine birds. Gloucester, England: BSAVA - British Small Animal 
Veterinary Association; 2008. p. 299-304. 
26. Gibson MC. Ducks, geese, and swans. In: Duerr RS, Gage LJ. Hand-Rearing Birds, 
2. ed. Wiley-Blackwell. 2020 
27. Peixoto GCX, Bezerra Junior RQ. Cuidados básicos com o neonato canino: uma 
revisão. Pubvet. 2010; 4 (2): art. 721. 
28. Lawler DF. Neonatal and pediatric care of the puppy and kitten. Theriogenology. 
2008; 70(3): 384-392. 
29. Vannucchi CI, Abreu RA. Cuidados básicos e intensivos com o neonato canino. 
Rev. Bras. Reprod. Anim. 2017; 41(1): 151-156. 
30. Moon PF, Massat BJ, Pascoe PJ. Neonatal critical care. Vet Clin North Am: Small 
Anim Pract. 2001; 31(2): 343-365. 
31. Judah V, Nuttall K. Rabbits. In: Judah V, Nuttall K. Exotic animal care and 
management. Canada: Thomson Delmar Learning, 2008. p. 30-47. 
32. Stocker L. Rearing Orphaned Wild Mammals In: Stocker L. Practical wildlife care 
– 2. ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2005. p. 287-302. 
33. Zanetti ES, Duarte JMB. Reprodução e obstetrícia em cervídeos neotropicais. In: 
Cubas ZS, Silva JCR, Catão-Dias JL, editors. Tratado de animais selvagens, 2. ed. 
São Paulo: Roca; 2014. p. 2301-2320. 
34. Jones MP. Raptors: paediatrics and behavioural development and disorders. In: 
Chitty J, Lierz M, editors. Manual of raptors, pigeons and passerine birds. 
Gloucester, England: BSAVA - British Small Animal Veterinary Association; 
2008. p. 250-259. 
35. Harcourt-Brown NH. Psittacine birds. In: Tully TN, Dorrestein GM, Jones AK, 
editors. Handbook of avian medicine, 2. ed. New York, NY: Saunders Elsevier; 
2009. p. 112-143. 
36. Valutis LL, Marzluff JM. The appropriateness of puppet-rearing birds for 
reintroduction. Conservation Biology. 1999; 13 (3). p. 584-591.

Mais conteúdos dessa disciplina