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Carga horária: 30h 2023. SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL – SENAR 1ª EDIÇÃO – 2023 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610) FOTOS Banco de imagens do Senar Acervo CocoaAction Brasil / Ana Lee Acervo Fundo Vale Shutterstock INFORMAÇÕES E CONTATO Senar Administração Central SGAN 601 – Módulo K Edifício Antônio Ernesto de Salvo – 1º andar Brasília – CEP 70830-021 Telefone: 61 2109-1300 https://www.cnabrasil.org.br/senar Presidente do Conselho Deliberativo do Senar João Martins da Silva Junior Diretor Geral do Senar Daniel Klüppel Carrara Diretora de Educação Profissional e Promoção Social Janete Lacerda de Almeida Diretora Adjunta da Diretoria de Educação Profissional e Promoção Social Ana Ângela de Medeiros Sousa Coordenador Técnico da Diretoria de Educação Profissional e Promoção Social Gabriel Zanuto Sakita Equipe técnica Senar Carolina Soares Pietrani Pereira Mateus Moraes Tavares Ficha técnica https://www.cnabrasil.org.br/senar Ficha técnica SENAR BAHIA Presidente do Sistema FAEB/SENAR e do Conselho Administrativo Humberto Miranda Superintendente do Senar Bahia Carine Magalhães Vice-presidente de Desenvolvimento Agropecuário da Faeb Rui Dias Vice-presidente Administrativo Financeiro da Faeb Guilherme Moura Gerente da Educação Profissional e Promoção Social Daniela Lago SUPERVISOR TÉCNICO - GEPPS Bruno Assis FUNDO VALE & PARTICIPAÇÕES Engenheira Agrônoma Bia Marchiori Gerente Fundo Vale e Participações Gustavo Luz COCOAACTION BRASIL | WORLD COCOA FOUNDATION Engenheiro Agrônomo – Consultor Técnico Vitor Stella Engenheiro Agrônomo – Diretor Pedro Ronca Sumário BOAS-VINDAS! ....................................................................................................10 Atividades .....................................................................................................13 MÓDULO 1 PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE CACAU .............................................................14 AULA 1 - IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA ...................................................17 A origem do cacau e da cacauicultura ..........................................................18 A cacauicultura no Brasil ...............................................................................20 AULA 2 - ASPECTOS BOTÂNICOS E VARIEDADES ............................................26 Botânica do cacaueiro ..................................................................................27 Características do cacaueiro .........................................................................29 Grupamentos genéticos ...............................................................................34 AULA 3 - MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO ..............................................................39 Métodos de propagação ..............................................................................40 Propagação por sementes ou seminal ..................................................................41 Método de propagação vegetativa ......................................................................45 ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM ......................................................................51 ANEXO - CACAU NO BRASIL ..............................................................................55 Sumário MÓDULO 2 SISTEMAS SUSTENTÁVEIS DE CULTIVO ...........................................................56 AULA 1 - SISTEMA AGROFLORESTAL ...............................................................58 Objetivos dos sistemas agroflorestais ..........................................................60 Classificação dos sistemas agroflorestais .....................................................61 Importância socioeconômica e ambiental dos sistemas agroflorestais .......63 Benefícios dos SAFs.........................................................................................63 Sistemas agroflorestais com cacaueiros ...............................................................66 Sistemas permanentes zonais ............................................................................69 Sistemas permanentes mistos ............................................................................71 AULA 2 - SISTEMA CABRUCA .............................................................................76 Conceituação e critérios técnicos .................................................................78 Corte e queima...............................................................................................78 Cabruca ........................................................................................................78 Derrubada total ..............................................................................................80 Cabruca tecnicamente formada ..........................................................................82 Aspectos legais ..............................................................................................83 AULA 3 - SISTEMA PLENO SOL ..........................................................................86 Critérios técnicos e sustentabilidade ...........................................................87 Sumário ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM ......................................................................92 MÓDULO 3 IMPLANTAÇÃO DA CULTURA ............................................................................96 AULA 1 - PREPARO DAS MUDAS .......................................................................98 Produção de mudas em viveiro ....................................................................99 O substrato ...................................................................................................100 Instalação do viveiro .....................................................................................103 Produção das mudas ....................................................................................105 Produção de mudas a partir de sementes .............................................................106 Produção de mudas por enxertia e estaquia (clones) ...............................................108 ESCOLHA DA ÁREA ............................................................................................114 MÓDULO 3 - AULA 2 ...........................................................................................114 Aspectos favoráveis à implantação do cacaueiro .........................................115 Clima ...........................................................................................................115 Tipo de solo ...................................................................................................117 Relevo .........................................................................................................118 AULA 3 - PREPARO DA ÁREA ............................................................................120 Tipos de preparo ...........................................................................................121 Análise e correção do solo ............................................................................123 Sumário Diz o Currículo… .............................................................................................123 Na prática .....................................................................................................124 Diz o Currículo… .............................................................................................126 Balizamento ..................................................................................................127 Na prática .....................................................................................................127 Preparo das covas e plantio das mudas ........................................................128 Atenção! .......................................................................................................128Manutenção no primeiro ano do plantio ......................................................129 Manejo do sombreamento ................................................................................129 Controle de plantas invasoras no cacaueiro ...........................................................131 Vá além! .......................................................................................................131 Na prática .....................................................................................................133 MÓDULO 4 MANEJO DA LAVOURA .......................................................................................139 AULA 1 - ADUBAÇÃO ..........................................................................................141 Adubação/nutrição de cacaueiros ................................................................142 Adubação de plantio ou fundação .......................................................................144 Adubação de manutenção e de produção .............................................................146 Adubação foliar ..............................................................................................147 Fertirrigação ..................................................................................................150 Sumário AULA 2 - CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS .................................................153 Controle de pragas e doenças ......................................................................154 Principais doenças do cacaueiro e manejo integrado ..................................156 Vassoura-de-bruxa ..........................................................................................157 Podridão-parda ..............................................................................................159 Monilíase ......................................................................................................160 Principais pragas do cacaueiro e manejo integrado .....................................162 Monalônio ....................................................................................................163 Cigarrinha .....................................................................................................164 Ácaro-da-gema ...............................................................................................166 AULA 3 - PODA ....................................................................................................170 Importância da poda do cacaueiro ...............................................................171 Poda de formação ...........................................................................................173 Poda de manutenção .......................................................................................175 ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM ......................................................................180 MÓDULO 5 COLHEITA E BENEFICIAMENTO .......................................................................184 AULA 1 - IMPORTÂNCIA DO MANEJO CORRETO DA COLHEITA E BENEFICIAMENTO .............................................................................................186 Importância do manejo correto da colheita e do beneficiamento ..............187 Sumário Critérios técnicos para a fase de fermentação .............................................194 Diferentes métodos e equipamentos de secagem ......................................197 Natural .........................................................................................................197 Artificial .......................................................................................................200 Armazenamento ...........................................................................................201 AULA 2 - CACAU FINO E COMERCIALIZAÇÃO..................................................204 Produção do cacau fino ................................................................................205 Métodos de beneficiamento específicos para a produção de cacau fino ....208 Acesso ao mercado do cacau fino ................................................................210 AULA 3 - GESTÃO FINANCEIRA .........................................................................214 Importância da gestão financeira nas propriedades rurais de cacau ...........215 Viabilidade econômica no Pará ...........................................................................218 CONCLUSÃO DO CURSO .....................................................................................226 REFERÊNCIAS ................................................................................................229 Boas-vindas! 11 Boas-vindas! Olá! É com muita alegria que lhe damos as boas-vindas ao curso Cultivo do cacau em sistemas susten- táveis! Este curso foi especialmente preparado para você, que quer compreender as principais práticas usadas na cacauicultura, o manejo e a produção de cacau sob a perspectiva da sustentabilidade. Aqui, nosso principal objetivo é apresentar informações bá- sicas essenciais, além de orientações que englobam a cadeia de produção, a fim de demonstrar todo o potencial produti- vo e colaborar para a exploração e a expansão da cultura. Mas, antes de começar, vamos conhecer o caminho que você vai percorrer? O curso está dividido em cinco módulos. Primeiro, vamos reconhecer a importância socioeco- nômica e o contexto histórico da cacauicultura. Além disso, ao longo das três aulas deste módulo, você vai conhecer os aspectos botânicos do cacaueiro e as principais técnicas de propagação. Módulo 1 - Produção sustentável de cacau O segundo módulo tem como objetivo apresentar os diferentes sistemas de cultivo do cacaueiro e fazer uma análise sob a perspectiva da sustentabilidade. Este módulo está dividido em três aulas que tratam dos seguintes sistemas: agroflorestal, cabruca e pleno sol. Módulo 2 - Sistemas sustentáveis de cultivo 12 Nas três aulas do terceiro módulo, vamos abordar os aspectos primordiais da produção de mudas de qua- lidade, a escolha certa da área de cultivo, a implanta- ção e manutenção da lavoura. Módulo 3 - Implantação da cultura Neste módulo, você vai conhecer os principais méto- dos de manejo do cacaueiro. Esse conhecimento vai ajudar a planejar essas ações tão importantes para o sucesso da produção. Ao longo de três aulas, você vai saber mais sobre adubação, controle de pragas e doenças e poda. Módulo 4 - Manejo da lavoura Para encerrar, no último módulo, você vai estudar aspectos de beneficiamento, produção e comerciali- zação de cacau, assim como aprender sobre gestão financeira da propriedade rural. Você vai percorrer três aulas para conhecer todos esses conceitos. Módulo 5 - Colheita e beneficiamento O curso tem carga horária total de 30 horas, então organize-se e faça seus estudos com tranquilidade! 13 Atividades No ambiente virtual de aprendizagem (AVA), você irá fazer algumas atividades. Confira! E na sua porteira? Atividade de aprendizagem Esta é uma atividade discursiva, na qual você poderá refletir sobre como aplicar o conteúdo recém-estudado para relacioná- -lo à propriedade em que atua. São questões de múltipla escolha com duas tentativas de acerto, e você deve respon- dê-las no ambiente virtual de aprendiza- gem para ter acesso ao feedback. Não se preocupe: essas atividades funcionam como um exercício e têm o objetivo de proporcionar um momento de reflexão sobre seu aprendizado. Não deixe de aproveitar essa oportunidade de se autoava- liar! Vale dizer que o ambiente virtual de aprendizagem é bastante interativo e dinâmico. Para uma experiência de aprendizagem mais interessante, procure estudar por lá sempre que possível! Agora que você já conhece o percurso e as informações necessárias, pode começar sua jornada de apren- dizado. Explore tudo o que temos disponível no curso e lembre-se: Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços repetidos dia a dia. (RobertCollier) Siga em frente e bons estudos! Módulo 1 Produção sustentável de cacau 15 Olá! Receba nossas boas-vindas ao Módulo 1 do curso! Nele, você vai aprender sobre a produção sustentável de cacau. Mas você sabe o que é isso? Vamos começar com uma reflexão sobre a palavra “sustentável”. De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, sustentável pode ser: 1. Que se pode sustentar. 2. Que se pode defender. 3. Que tem condições para se manter ou conservar (ex.: desenvolvimento sustentável). Então, quando se trata de “produção sustentável”, falamos sobre usar as melhores alternativas possíveis para minimizar custos ambientais e sociais, de forma que a produção possa se manter ou se conservar ao longo do tempo. Se o conceito ainda está obscuro para você, não se preocupe! Vamos falar muito sobre ele ao longo do curso. Nesta jornada, você vai acompanhar os desafios de Gabriela e da propriedade de sua família, o sítio Santo Isidoro. Após ter sua produção de cacau dizimada por uma praga que assolou nosso país, a moça busca caminhos que garantam a produtividade e a rentabilidade para trazer os anos de glória novamente à Santo Isidoro. No início de cada aula, você vai conhecer mais um trecho da história. Acompanhe como tudo começou! Essa é uma história de recomeço. Tem a ver com encontrar o seu passado para construir um futuro melhor. Gabriela viveu boas memórias no sítio do avô. As maiores aventuras da infância aconteceram sob os cacaueiros, correndo com os primos em tardes de verão. Ga- briela adorava aquele lugar, tinha uma mistura de liberdade e aconchego. Em suas memórias, o cheiro do cacau se mistura ao aroma do café amargo recém-coado, servido na mesa da cozinha da avó. Era ali que os adultos se reuniam, sempre em busca de uma saída para o sítio Santo Isidoro. Gabriela não entendia bem o que se passava, apenas escutava que antigamente tudo já tinha sido melhor... O tempo passou e a menina virou mulher. Gabriela, agora administradora, guarda a memó- ria com uma certa dor. A família nunca conseguiu uma solução que levasse o sítio de volta aos anos de glória. Foram para a cidade, mas o avô insistiu em ficar na pequena proprieda- de. Dizia que brigaria até o fim por aquela terra tão sagrada. Para ele, Santo Isidoro ainda seria grande de novo, só precisava descobrir como fazer isso. podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! 16 Os caminhos da vida a gente não escolhe, e às vezes nem entende. Um dia um rapaz cha- mou a atenção de Gabriela. Entre tantas coincidências, uma parecia encomenda do destino. Eduardo era agrônomo com grande interesse por pés de cacau. E como você deve estar imaginando, resgatar o sítio Santo Isidoro virou um capítulo importante na história do casal! Durante este curso, você vai descobrir, junto dos personagens, como uma produção sustentável de cacau pode garantir o futuro da Santo Isidoro. Vamos lá? Módulo 1 - Aula 1 Importância socioeconômica 18 - Sabe, Edu, o cultivo de cacau é mais do que uma fonte de renda pra minha família. A gente nem pensa em cultivar algo diferente. Parece que corre no nosso sangue, e eu sinto que preciso levar isso pra frente. - Gabi, entendo seu sentimento e tô contigo pra encontrarmos um caminho possível. Você sabe o que aconteceu na propriedade do seu avô? Foi atingida pela vassoura-de-bruxa, certo? - Olha... pra ser sincera, eu não sei direito o que aconteceu... - Opa, então vamos começar por aí! podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! A história da família de Gabriela é parecida com a de muitos cacauicultores no Brasil. Para saber quais desafios precisam ser enfrentados, não tem jeito: é preciso saber de onde viemos. Entender a história da cacauicultura e sua importância socioeconômica é o primeiro passo para consolidar uma cultura de sucesso. A origem do cacau e da cacauicultura Você sabe como e por que os homens passaram a cultivar o cacau? Descubra o início dessa história! O cacau tem origem nas antigas civilizações, princi- palmente nas sociedades maia e asteca. As sementes do fruto eram usadas para a produção de uma bebi- da considerada sagrada. Fonte: Imagem de índias americanas torrando, moendo e misturando os grãos de cacau. P. 22 “Cocoa and chocolate: their history from plantation to consumer” (1920), Flickr. CC0 1.0 Universal (CC0 1.0). 19 Após o domínio espanhol, os conquistadores têm o primeiro contato com o cacau e as amêndoas, leva- das para a Europa no século XVI. Fonte: Imagem demonstrando os primeiros métodos de fabricação do cacau. P. 133 de “Cocoa and chocolate: their history from plantation to consumer” (1920), Flickr. CC0 1.0 Universal (CC0 1.0). Com o consumo crescente, estabeleceram-se as primeiras plantações em colônias dominadas pelos espanhóis e franceses. Fonte: Cultivo de cacau. P. 21 “Cocoa and chocolate, a short history of their production and use” (1907), Flickr. CC0 1.0 Universal (CC0 1.0). Em 1828, Johannes van Houten desenvolveu a primeira prensa para extração da manteiga de cacau e criou um processo de tratamento para alcalinizar o pó do cacau. Fonte: Nationaal Archief (1910), Wikimedia. CC0 1.0 Universal (CC0 1.0). 20 O advento dessas tecnologias permitiu a produção do chocolate em barra e de chocolates solúveis. A cacauicultura no Brasil Pois bem! A história do cultivo do cacau em nosso país tem mais de 200 anos. Tradicionalmente, o fruto foi cultivado em um sistema de produção sustentável conhecido como cabruca, no qual as lavouras con- vivem em harmonia com a natureza. Essa atividade tem importância nacional e mundial, com destaque para o sul da Bahia. Em 1989, com a chegada da doença “vassoura-de-bruxa”, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, a cultura do cacau passou a enfrentar seu maior desafio: conviver com a doença, que causa perdas severas nas plantações e pode reduzir em até 50% o rendimento da cultura. Após décadas de cultivo, as pesquisas avançaram, instituições técnicas e produtores se reciclaram e, mes- mo com as dificuldades existentes, a cacauicultura brasileira está retomando o crescimento da produtivi- dade, agregando valor ao produto final, e, sobretudo, visando à sustentabilidade na atividade. 21 O cacau é uma das culturas mais importantes no Brasil, com impacto direto e indireto em diversas famí- lias. É tão importante que já foi até estrela de novela, numa época em que todo mundo parava para assis- ti-la. Estamos falando de Renascer (1993), de Benedito Ruy Barbosa, da TV Globo. A trama narra a história de José Inocêncio (Antônio Fagundes), poderoso fazendeiro de cacau, em Ilhéus, na Bahia. Mesmo que você não goste desse tipo de atração, são grandes as contribuições que ela trouxe para a valorização da cultura cacaueira! No Brasil, o berço da cultura cacaueira foi a região Amazô- nica, onde as primeiras plantas foram cultivadas no século XVII. No século seguinte, o cacau foi levado para o sul da Bahia, e o primeiro plantio foi feito por Antônio Dias Ribei- ro. As primeiras lavouras comerciais nesse estado datam no ano de 1822, estabelecidas na tentativa de iniciar um novo negócio agrícola. Desde então, muito tempo se passou, certo? Atualmente, o cacau é cultivado em outras regiões brasilei- ras também. Confira os dados no infográfico a seguir. 22 Região Norte Esta região possui 158 mil hectares de área cultivada com cacau, com destaque para o estado do Pará. 27% Região Sudeste A maior parte da produção está localizada nos estados de ES e MG, com 7 mil ha da área colhida nacionalmente. 2,8% Bahia A Bahia tem 403 mil hectares de área cultivada, sendo o único estado produtor do Nordeste. 69,7% Área cultivadano Brasil (2020) Este gráfico apresenta dados recentes, divulgados em 2020. É inegável a importância da Bahia em ter- mos de produção e de área cultivada. Dada essa relevância,que tal saber um pouco mais sobre a cacaui- cultura por lá? Olá, descubra agora como aconteceu o apogeu e o declínio da cacauicultura no sul da Bahia. Vamos partir dos anos 1900. Nessa época, os pioneiros plantavam as sementes no meio da mata nativa, que na Bahia é a Mata Atlântica. Assim, os cacaueiros se desenvolviam, apro- veitando a sombra e a umidade da floresta. Esse é o chamado sistema cabruca. Com o crescimento da produção, em 1931, o Governo Federal criou o Instituto de Cacau da Bahia, o ICB, e em 1957, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, a Ceplac. Essas instituições têm o objetivo de desenvolver tecnologias para a melhoria da produção e do beneficiamento do cacau na região. A produção seguia aumentando em escala, e foi du- rante essa época que surgiu a figura dos coronéis do cacau, produtores que comandavam todo cenário político e econômico regional. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. 23 Durante as décadas de 1970 e 1980, o porto de Ilhéus chegou a exportar 1 bilhão de dóla- res por ano com as amêndoas de cacau, tornando essa cultura a mais importante da Bahia. Nesse período, grandes produtores transformaram-se em compradores e exportadores de cacau, o comércio regional se desenvolveu e as cidades de Ilhéus e Itabuna consolidaram- -se como grandes polos industriais. Além disso, a região Sul da Bahia passou a produzir as melhores amêndoas de cacau para exportação, o que elevou o Brasil ao patamar de maior produtor e exportador mundial. Impressionante, não? O cacau brasileiro estava no auge, mas algo deu errado nos anos 1990. Essa década é mar- cada por um profundo declínio causado principalmente pelo avanço da doença do cacauei- ro chamada de vassoura-de-bruxa, que trouxe enormes perdas produtivas e econômicas. Nesse mesmo período, o preço internacional da amêndoa estava em declínio, aumentando as dificuldades dos cacauicultores. Na tentativa de sanar os problemas, ao longo dos anos, a Ceplac divulgou uma série de diretrizes para lidar com a doença. A primeira orientação era eliminar todas as plantas nas áreas infectadas. Depois, medidas menos severas foram adotadas, com a indicação de remoção apenas das vassouras. Ou seja, somente os ramos infectados pela doença seriam eliminados. Outras medidas de controle foram implementadas, como rebaixamento das copas das árvores e a utilização de clones de cacau resistentes ao fungo, além da recomen- dação do uso de fungicidas. Infelizmente, as medidas não foram suficientes para combater a vassoura-de-bruxa e o fun- go se adaptou ao clima da região. Além disso, surgiram dificuldades técnicas para o desen- volvimento de pesquisas sobre a doença. O cenário político e econômico do país também não ajudava os produtores de cacau e todos esses aspectos levaram muitos cacauicultores ao endividamento. Isso porque, sem ter condições financeiras para fazer o controle sanitá- rio necessário para lidar com a doença, os produtores recorriam a empréstimos bancários. Nesse período, o sul da Bahia teve sua área produtiva reduzida em cerca de 50%. O Brasil perdeu o status de exportador, passando a importar amêndoas de cacau da África e da Indonésia para suprir a capacidade de moagem das indústrias de Ilhéus. Pois é, esse não é o final que gostaríamos de contar, não é mesmo? Calma, lembre-se de que essa história não terminou. Continue seus estudos e conheça as perspectivas de recu- peração da cacauicultura em nosso país! Perspectivas de recuperação da cacauicultura brasileira Você conheceu um pouco melhor a história do cacau na Bahia e como o maior produtor e exportador mundial do produto acabou precisando importar amêndoas de cacau para suprir sua capacidade moagei- ra. Mas, você deve estar se perguntando: “como está o cenário atual? E, mais importante, há perspectivas de melhora?” Para responder a essa e outras perguntas, confira o que vem “direto do campo”. 24 Quais são as perspectivas para o futuro da cacauicultura brasileira? Para evitar a situação que causou o declínio dos anos 1990, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, juntamente com a Ceplac, têm buscado o desenvolvimento e implementação de tecnologias nas áreas de melhoramento genético, resistência a doenças e pragas, cultura de tecidos vegetais, sistemas agroflorestais, manejo, conservação do solo e capacidade de uso da terra. Há oportunidades e pontos para melhoria em toda a cadeia produtiva. É preciso implemen- tar tecnologias que aumentem a produtividade e a rentabilidade da lavoura, sempre bus- cando o desenvolvimento sustentável. Isso irá garantir o bem-estar das pessoas envolvidas no processo, integrando o produtor aos outros setores da cadeia. Dessa forma, teremos um produto final com identidade socioambiental, o que agrega muito valor. E isso é tudo o que queremos, certo? podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Graças às ações executadas pela Ceplac em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- tecimento, em 2020, tivemos avanços significativos. A produção e a produtividade aumentaram, o que gerou mais empregos, além de produtores capacitados para uma produção mais sustentável sob os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Que tal conhecer todos os números a respeito da área colhida, da produção, da pro- dutividade e do valor da produção da cacauicultura entre os anos 2018 e 2020? Acesse o material ao final deste módulo! Vá além! 25 Muito bem! Estamos concluindo a primeira aula deste curso, mas ainda há muito o que aprender! Até aqui, você conheceu: ⚫ a origem do cacau e da cacauicultura; ⚫ a cacauicultura no Brasil; ⚫ o apogeu e o declínio da cacauicultura na Bahia; e ⚫ as perspectivas de recuperação da cacauicultura brasileira. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, tudo indica que a praga que afetou a propriedade da famí- lia foi a vassoura-de-bruxa. Vou precisar descobrir quais novas tecnolo- gias estão disponíveis para que eu possa recuperar a lavoura que temos para, assim, aumentar a produtividade e a rentabilidade e associar a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento rural sustentável. Esse parece ser o caminho para um produto de alto valor agregado, e é isso que preciso: receber um valor maior por cada quilo de amêndoas que produzimos na Santo Isidoro!’ Agora, diante do cenário apresentado e pensando na sua realidade, quais aprendizados se aplicam à sua produção? Muito bem! Avance para a Aula 2 e saiba mais sobre os aspectos botânicos e as variedades do cacau. 26 Módulo 1 - Aula 2 Aspectos botânicos e variedades 27 - Edu, olha esse lugar, aqui é o paraíso... ou quase. Já sabemos que a vassoura-de-bruxa pas- sou por aqui, será que nossa lavoura teria solução? Dá pra ser rentável de novo? - Gabi, sempre tem caminhos possíveis, a gente só precisa de uma boa estratégia... - Tava pensando: não basta produzir mais, eu preciso de um produto com alto valor agrega- do. Posso não entender muito de cacau, mas entendo de mercado. - Então…, o caminho da sustentabilidade é uma ótima estratégia. E, pra isso, a gente preci- sa entender como a planta se desenvolve na natureza. Deixa eu te contar um pouco sobre os cacaueiros... podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! A botânica é a ciência que estuda as plantas e uma das áreas de pesquisa mais antigas do mundo. Entre outros aspectos, foca no desenvolvimento de pesquisas e de experiências para aumentar a resistência, o rendimento e o valor nutricional de espécies. Se você quer recuperar sua lavoura de cacau – ou iniciar uma com o pé direito – precisa entender o básico sobre a botânica do cacaueiro! Botânica do cacaueiro Você já parou para admiraro cacaueiro em todo seu esplendor? Já observou a planta além dos frutos que ela produz? Pois é exatamente o que vamos fazer agora. O cacaueiro é uma árvore frutífera de porte arbóreo, ou seja, alcança um grande porte e cresce como árvore. Ele também é perene, o que significa que é uma planta de ciclo de vida longo; vive por muitos anos. É originário de florestas tropicais úmidas da América Central e da América do Sul, nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco. O primeiro relato botânico desta planta foi feito no século XVII. 28 Para conhecer mais detalhes, confira a seguir: O cacau pertence à família Malvaceae, gênero Theobroma, cujo nome científico é Theobroma cacao L. A planta é classificada como dicotiledônea1 e cauliflora2. Do tronco também podem surgir ramos laterais que com- põem a copa da árvore. O florescimento aconte- ce várias vezes ao ano. Por isso, é possível en- contrar em uma mesma planta flores e frutos em diferentes estágios de desenvolvimento. O cacau é umbrófilo, ou seja, adaptado a ambientes sombrea- dos e úmidos. Em plantios comerciais, quando a propagação não é feita por semen- tes3, pode alcançar até 6 m de altura. Já na propa- gação via semente4, pode atingir 8 m de altura. 1. São plantas cujas sementes possuem 2 cotilédones, nada mais que 2 fontes de reserva de nutrientes, responsáveis pelo desenvolvimento do embrião. 2. Plantas cujas inflorescências (conjunto de flores) se formam ao longo do tronco. 3. Nesses casos, é feita por esta- quia. É a chamada reprodução assexuada ou clones. 4. Quando a semente é cultiva- da, é chamada de reprodução sexuada. 29 Características do cacaueiro Agora que você já conhece o cacaueiro em linhas gerais, vale se aprofundar em cada uma das suas par- tes: raízes, caule, folhas, flores e frutos. Ao estudar esses elementos, preste atenção à descrição forneci- da e tente relacionar com o que você encontra em seu cotidiano. Vamos começar pelo estudo das raízes. Aprofunde seus conhecimentos sobre essa parte tão importante da planta! Quando reproduzido via semente ou por enxertia, o sistema tem dois tipos de raízes: a principal e as secundárias. A raiz principal é conhecida como pivotante e pode chegar a 2 m de comprimento. Ela tem a função de fixar o cacaueiro ao solo. Da raiz pivotante surgem ramificações laterais, superficiais e bastante numerosas, conhecidas como raízes secundárias. Elas são responsáveis pela absor- ção de água e nutrientes pela planta. Se a planta vem de mudas propagadas por esta- quia, não há raiz pivotante. Nesse caso, forma-se um sistema com raízes adventícias, que se originam de outras partes da planta, como caule subterrâneo ou raízes velhas.Raízes adventícias Raízes secundáarias Raiz pivotante 30 Normalmente, uma parte desse sistema de raízes cresce com grande força. São as chamadas raízes axiais, responsáveis por fixar a planta no solo. Elas podem chegar ao comprimento máximo de 60 cm. O restante das raízes tem espessura mais fina e é responsável pela absorção de água e nutrientes. Atenção! Vale destacar: cacaueiros que não têm a raiz pivotante, ou seja, aqueles produ- zidos pelo método de estaquia, são mais suscetíveis ao tombamento quando manejados de forma indevida. Agora que você sabe tudo sobre as raízes, vamos tratar das outras partes do cacaueiro. Caule O caule é ereto e de casca lisa. Ramos jovens têm coloração verde. Quando mais velhos, tor- nam-se mais lenhosos e de cor cinza. A planta tem dois tipos de ramos/troncos, que crescem em sentidos diferentes. Atenção! Quando falarmos sobre métodos de propagação, você preci- sará saber identificar esses dois tipos de tronco. ramo ortotrópico é aquele que cresce verticalmente, de 10 a 18 meses. Pode alcançar 1,5 m de altura, e tem folhas longas com pe- cíolos, que crescem em todos os lados do caule. O pecíolo é a haste da folha que a liga ao caule, ou seja, o pé da folha. ramo plagiotrópico é aquele responsável por formar a coroa da planta, ou seja, a copa. Veja na imagem, abaixo. Raízes axiais 31 Folhas Flores As folhas são largas e pendentes com comprimento entre 15 e 35 cm e largura de 8 a 10 cm. Quando jovens, são maleáveis, com coloração entre rosa e bronze-escuro. Depois, tornam-se rígidas e verdes. Nos ramos ortotrópicos (verticais), crescem de forma alternada e em espiral. Nos ramos plagiotrópicos, crescem de forma alternada e oposta. As flores surgem das chamadas almofadas florais, têm colo- ração que varia do branco ao rosa e cinco pétalas. Elas são hermafroditas, isto é, apresentam tanto os órgãos reproduto- res femininos (estigmas) quanto os masculinos (estames) na mesma flor. A polinização é cruzada, com a participação de insetos polinizadores. A florada do cacaueiro está diretamente relacionada à produtividade da planta. Talvez você tenha nota- do muitas flores na sua lavoura, mas a quantidade de frutos não parece ser tão grande assim, certo? Será que há algum problema na sua lavoura? A B Ramos ortotrópicos Ramos plagiotrópicos 32 Meu cacaueiro dá muitas flores, mas poucos frutos. Isso é normal? Sim, isso é normal. Apesar de uma planta adulta ser capaz de produzir mais de 50 mil flores por ano, menos de cinco por cento delas são polinizadas e somente dois por cento resul- tam em frutos. Pouco, né? Essa baixa taxa de formação ocorre porque a flor precisa ser polinizada nas primeiras 10 horas após seu aparecimento. Caso isso não aconteça, as flores são abortadas pela planta. Um cacaueiro pode produzir em média 30 frutos por ano, se bem manejado, sendo que a produtividade varia conforme as condições da cultura, permitindo colheitas de 2500 quilos por hectare ou até mais! podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Falando sobre o fruto, ele é comumente denominado de vagem. É uma cápsula alongada, abaulada ou arredondada, que tem cinco lóculos (as cavidades do fruto em que sur- gem as sementes) com cinco fileiras de sementes. Os frutos apresentam variação quanto a aparência, forma- to, comprimento e rugosidade da casca, e pesam, normal- mente, entre 100 e 200 g. 1 2 3 4 5 33 As sementes têm diferentes formas, tamanhos e cores. As tonalidades variam do branco ao roxo intenso, com vários gradientes de coloração. Cada fruto pode gerar de 20 a 40 sementes, envoltas por uma polpa aquosa, mucilaginosa e de sabor adocicado e ácido. Cada semente pesa entre 0,5 e 2 g. Quando secas, são usadas para a fabricação de matérias-primas do chocolate e seus derivados. As sementes são o principal elemento comercial do cultivo. Condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo Agora que você já tem mais intimidade com o cacaueiro, precisa se atentar às condições edafoclimáticas que são ideais para o cultivo do cacau, ou seja, as características do meio ambiente, como: clima, o relevo, a litologia, a tempe- ratura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, vento, com- posição atmosférica e a precipitação pluvial. A cultura de cacau é muito exigente em temperatura elevada e umidade. Em condições espontâneas, se desenvolve na região da linha do Equador, num ecossistema com alto índice de chu- vas, sob a sombra de grandes árvores de florestas tropicais nativas. Mas como fica o cultivo comercial? Quais são as condições ideais para garantir a melhor produtividade? Confira a seguir! Temperatura Água O cultivo comercial é recomendado em re- giões com temperatura média anual entre 23 e 25 °C, com mínima de 21 °C durante o ano todo. Temperaturas inferiores a 15 °C interrompem o crescimento da planta. O crescimento e a produção estão direta- mente relacionados à quantidade de água disponível no solo. As chuvas devem ser abundantes e bem-distribuídas ao longo do ano. É desejável uma precipitação média anual de 1.500 mm e que não exceda 5.000 mm/ano. Caso seja menor que 1.400 mm anuais, recomenda-se o uso de irrigação. 34 Solo VentoPara um bom desenvolvimento, a lavoura precisa de solos com profundidade maior que 1 m, bem drenados, com boa fertili- dade e textura argiloarenosa. O cacaueiro prefere solos com uma faixa de pH pró- ximo a 7, pois uma acidez elevada (com pH próximo a 5,5) pode causar danos às plantas. Em relação à topografia, os plan- tios podem ser cultivados nas meias encos- tas ou nos vales dos rios. Deve-se levar em conta as condições em caso de necessidade de mecanização e de acesso de veículos de transporte. Um outro fator restritivo à cultura é a in- cidência de ventos, que podem danificar a folhagem nova, provocar a queda e pre- judicar a formação da copa da árvore. Em regiões com ventos frios e úmidos, deve-se fazer o uso de técnicas de preservação, como o uso de cercas vivas, por exemplo. Grupamentos genéticos Agora que você já conhece o cacaueiro em todos seus detalhes, está na hora de falarmos sobre os gru- pos genéticos, ou seja, os diferentes tipos de cacaueiros. Existem três grandes grupos genéticos: Criollo, Forastero e Trinitário. Cada grupo apresenta característi- cas específicas e particularidades quanto à produtividade, à resistência a fatores bióticos (por exemplo, pragas e doenças) e abióticos (como as características de solo e clima). Cada grupo também tem diferen- tes propriedades organolépticas, ou seja, que se referem ao aroma e ao sabor. Quer saber sobre as características de cada grupo? Que tal começar pelo que distingue o grupo Criollo? Esse tipo genético de cacau é conhecido desde a civilização maia e foi descoberto por Cristóvão Colom- bo, na ilha de Guanaja, Honduras, em 1502. Confira mais informações a seguir! 35 Quais as características do grupo Criollo? De todas as variedades de cacau, o Criollo é considerado a de maior qualidade e a mais cara, pois sua semente é bastante saborosa e seu sabor é fino. O cultivo é raro e menos frequen- te, representando apenas dois por cento dos plantios no mundo, por causa da baixa produ- tividade e da elevada suscetibilidade ao ataque de doenças fúngicas e pragas. Atualmente, pode ser encontrado na região do Lago de Maracaibo, na Venezuela. A casca do fruto do Criollo é mole e rugosa. Os frutos são grandes, contendo normalmente 30 sementes, com formato alongado e ponta proeminente. Quando imaturo, sua casca é fina e tem cor verde-escura. À medida que amadurece, adquire coloração amarelada ou alaranjada. As sementes são grandes e ovais, com coloração clara variando do branco ao violeta claro e ficam relativamente soltas na polpa. Esses frutos têm polpa abundante, o que confere ao produto uma qualidade superior, pois apresentam o odor característico de cacau, doce e delicado. Quando processadas correta- mente, suas sementes dão origem a chocolates e derivados com sabor mais frutado, suave, menos amargo e bastante aromático. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Agora que você já conhece as características do grupo de cacau mais antigo do mundo, que tal conhecer o mais popular, o cacau Forastero? 36 Quais as características do grupo Forastero? Este grupo é o mais amplo e tem diversas variedades. Ele é o mais resistente a pragas e doenças, é robusto e tem alto desempenho, correspondendo a 80 por cento da produção mundial de cacau. Os frutos são mais arredondados, com casca dura e praticamente lisa. Cada fruto pode conter de 30 a 50 sementes. Elas são achatadas, ovais e de coloração violeta e têm sabor mais ácido, adstringente e amargo, devido à alta concentração de compostos fenólicos, que variam de 30 a 60 por cento. Fazem parte desse grupo os cacaueiros do tipo Comum, como o Cacau Comum, o Pará, o Parazinho e o Maranhão. Seu cultivo é predominante nas regiões Norte e Nordeste do Brasil e também pode ser encontrado na África, Venezuela, América Central, México, Java, Ceilão e Samoa. O grupo forasteiro produz um cacau de tipo “básico”, resultando em um chocolate mais encorpado. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! E o que aconteceria se o grupo Criollo fosse cruzado com o Forastero? Sim! Isso foi feito e, então, surgiu o grupo Trinitários. Acompanhe! 37 Quais as características do grupo dos Trinitários? Este grupo surgiu do cruzamento acidental do cacau Forastero com o Criollo, na ilha de Trinidad, em 1727. Nessa região, era cultivado o cacau Criollo, mas as plantações foram destruídas por um furacão. Após o evento, foi plantado cacau Forastero, resultando em um cruzamento inesperado entre os dois grupos. O fruto possui atributos mais semelhantes ao cacau Criollo: suas sementes possuem colora- ção variando de branco a violeta pálido e apresentam um produto de qualidade intermediá- ria, com sabor e aroma suaves. O fruto pode ser longo ou curto, vermelho ou amarelo. Seu cultivo prevalece em Trinidad, mas se expandiu para a Venezuela, Equador, Colômbia, Camarões, Madagascar, Sri Lanka e Ásia. No Brasil, foi introduzido em programas de melho- ramento genético, com os híbridos TSH e TSA. A reprodução dessas plantas ocorre assexua- damente, seja por enxertia ou estaquia. Seu cultivo corresponde a aproximadamente 15 por cento da produção de chocolate mundial. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! 38 Esta segunda aula do curso está cheia de informações interessantes, não é mesmo? Você aprendeu sobre: ⚫ a botânica do cacaueiro; ⚫ as características do cacaueiro; ⚫ as condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo; e ⚫ os grupamentos genéticos: Criollo, Forastero e Trinitário. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, o que estudei sobre a botânica do cacaueiro me dá pistas so- bre o que pode estar errado no sítio Santo Isidoro… De fato, os cacaueiros do sítio produzem poucas flores e, se só 5% viram frutos, tenho um grande problema aqui. Também preciso verificar a média pluviométrica da região: acho que vai ser necessário investir num sistema de irrigação. Vou precisar da ajuda do Edu para investigar isso com mais profundidade. Também não sei qual é o tipo de cacau que tenho na propriedade. A visão do Edu vai ser essencial para descobrir essa informação. Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua: algum aspecto da produção pode estar inadequado às necessidades da cultura? Você poderia fazer algo a respeito? Muito bem! Agora, avance para a Aula 3 para aprender sobre os sistemas de propagação. 39 Módulo 1 - Aula 3 Métodos de propagação 40 - Edu, agora que sei da existência de outros tipos de cacau, fiquei pensando se não seria interessante substituir alguns cacaueiros que temos... - Sim, no nosso caso, um bom caminho é buscar variedades mais resistentes a pragas e doenças, Gabi! - Sei que existem várias técnicas pra se obter mudas, tem diferença entre elas? - Claro, cada técnica tem vantagens e desvantagens. Pra fazer a escolha mais vantajosa pro sítio Santo Isidoro você precisa conhecer um pouco de cada opção! podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Na última aula, você conheceu a botânica do cacaueiro, suas características e condições favoráveis ao cultivo. Também ressaltamos os principais grupos genéticos. Com esse conhecimento, você tem a base necessária para avançar e conhecer os métodos de propagação do cacau. Métodos de propagação Você sabia que as mudas de cacaueiro podem ser obtidas de diferentes formas? A mais comum, que usa sementes, foi amplamente usada na implantação e na recuperação de lavouras no estado da Bahia, nas décadas de 1970 e 1980, graças à facilidade de manejo das plantas e à adequada produção dos híbridos e das variedades cultivadas. Mas existem outras formas de propagação, confira! 41 A forma vegetativa,também conhecida como assexuada, usa várias partes da planta para produzir novos indivíduos, chamados de clones. Um clone é uma planta genetica- mente igual à que lhe deu origem, o que resulta em um material mais homogêneo. Há duas técnicas principais: ⚫ a estaquia, em que um ramo é estimulado a criar raízes e formar uma nova muda; e ⚫ a enxertia, em que um ramo é unido à outra planta e usa sua estrutura de raízes. Na prática Parece muita informação? E é mesmo! Mas não se preocupe: vamos detalhar cada um deles, a começar pelo sistema de propagação que usa sementes. Propagação por sementes ou seminal As primeiras lavouras de cacau implantadas sob a mata raleada (sistema cabruca) tinham como caracte- rística o sistema de plantio por meio de sementes. Apesar de ser um sistema pouco tecnificado, ele foi responsável pela formação de milhares de hectares de cacaueiros no Brasil e é amplamente sustentável. Mas esse plantio não era feito de qualquer maneira! Para ter sucesso, era preciso preparar a semente. Conheça essa técnica! 42 Para serem usadas na semeadura, as sementes precisam passar por um processo de limpeza da polpa. Podem ser esfregadas contra algum elemento que cause leve atrito, por exemplo, o pó de serra seco. Depois, abre-se uma pequena cova com o bico do facão e depositam-se três sementes, cobertas por uma camada de solo. Esse sistema era popularmente conhecido como “plantio no bico do facão”. Após a germinação, era feito o desbaste, que retira a planta menos vigorosa. Um ano após o cultivo, era feito um segundo desbaste para manter a planta mais vigorosa para a formação da lavoura. As plantas originadas deste tipo de propagação apre- sentam sistema radicular extenso, com raiz pivotante e secundária, e podem ter diâmetro três vezes maior do que as plantas oriundas por estaquia. Na prática 43 Após anos de estudos, este sistema foi aprimorado, e, hoje, sabe-se que a qualidade das sementes é um dos fatores-chave para o estabelecimento de uma área produtora de cacau. Mas como reconhecer a qualidade de uma semente? Bem, são diversas características que podem ser usadas como indicadores de qualidade, como o peso e o tamanho da semente. É isso que vai influenciar na germinação e no vigor das plantas. Atenção, pois as sementes de tamanho médio a grande têm maior índice de germinação e de vigor do que as de tamanho menor. Atenção! As sementes do cacau são consideradas recalcitrantes, isto é, não passam por um processo de secagem natural na planta-mãe e são libertadas com elevado teor de umidade. Isso acarreta problemas para a propagação seminal, pois o tempo de vida da semente é curto: pode durar apenas algumas semanas ou me- ses. Devido a isso, o armazenamento é um fator extremamente limitante para a propagação da espécie por este meio. Mas esse fator pode ser contornado! Veja como no próximo tópico. Propagação seminal em viveiros Com o desenvolvimento das pesquisas conduzidas pela Ceplac, o sistema de “plantio no bico do facão” foi substituído pelo sistema de propagação por meio de mudas seminais produzidas em sacos plásticos, conduzidas em viveiros. Confira mais sobre essa técnica! 44 A recomendação é que as mudas fossem preparadas a partir de sementes de mate- riais híbridos selecio- nados, distribuídas pela Ceplac. Todo o processo de formação da muda passou a ser conduzi- do em viveiros de tela sombrite. Estima-se que, du- rante as décadas de 1970 e 1980, foram implantados cerca de 150.000 hectares de cacaueiros por meio desse sistema. Elas são acondicio- nadas em sacos de polietileno com solo adequado5, com o controle de pragas e doenças e a adubação foliar das mudas. Nesse tipo de produ- ção, as mudas estão aptas a serem trans- plantadas para o cam- po em um período de 6 meses. 5. Com solo peneirado (textura média), previamente enriquecido com matéria orgânica, calcário e fertilizantes. 45 Método de propagação vegetativa Agora que você já conhece a propagação seminal, é importante ressaltar que esse método já não é tão popular quanto antes! A propagação vegetativa é a técnica de multiplicação mais usada nos últimos 20 anos. Mas como é feita a propagação por esse método? Trata-se de uma técnica antiga, capaz de reproduzir uma quantidade superior de plantas. Consiste na produção de mudas a partir de partes ou órgãos da planta, como ramos, gemas, estacas, folhas, raízes e outros. Essa técnica resulta em clones idênticos à planta-mãe, com características mais consistentes e homogêneas em relação à propagação sexuada (por sementes). Com o advento da vassoura-de-bruxa, esse tipo de propaga- ção avançou no campo das pesquisas e resultou em plantas com as seguintes características: ⚫ mais resistência/tolerância a doenças e pragas; ⚫ elevada produtividade; e ⚫ mais uniformidade no que diz respeito a altura, taxa de crescimento, época de florescimento e colheita. Muito bem! Você já sabe alguns aspectos sobre esse método de propagação, mas ainda há muito mais a aprender! Confira mais informações sobre o assunto. Olá, agora você vai conhecer um pouco mais sobre a propagação vegetativa do cacau, ou produção de clones, utilizando as técnicas de enxertia e estaquia. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. 46 A enxertia consiste na produção de mudas a partir de partes ou órgãos da planta-mãe, chamados enxertos, que são unidos ao tronco e ao sistema de raízes de outra planta, chamados porta-enxerto. O porta-enxerto é conhecido popularmente como “cavalo”. Em geral, é uma muda obtida a partir de sementes pré-germinadas semeadas diretamente no campo ou em saco de polietileno. Os enxertos são ramos da planta-mãe que carregam suas características, como a resistência a doenças. Os ramos selecionados devem apresentar ex- celente aspecto vegetativo. O método de união vai depender da maturidade desses brotos, podendo ser utilizada a garfagem lateral ou em fenda. A técnica de estaquia consiste em inserir estacas de cacau em tubetes previamente preen- chidos com substrato vegetal, para que criem raízes. Mas como escolher os ramos? Você viu que o cacaueiro produz ramos com crescimento ortotrópico, ou seja, na vertical, e plagio- trópico. Viu que cada tipo de ramo apresenta hábitos de crescimento distintos que influen- ciam o formato da planta e, consequentemente, o manejo da lavoura. Se você optar por fazer a propagação utilizando ramos plagiotrópicos, que têm cresci- mento horizontal, saiba que os cacaueiros resultantes terão uma copa densa, precisando de podas repetitivas para formar uma arquitetura de planta favorável para os tratos culturais e a colheita. O ponto positivo é que, como as hastes utilizadas nessa técnica têm maturidade avançada, geralmente o cacaueiro inicia a produção mais cedo. No entanto, o cacaueiro fica suscetível ao tombamento e ao estresse de umidade, já que a copa tende a ficar desequi- librada e o sistema de raízes na estaquia é mais frágil, porque não há raiz pivotante. Agora, vamos falar sobre a propagação por estaquia utilizando ramos ortotrópicos, que são os de crescimento vertical. Usar esses ramos é mais vantajoso do que os de cresci- mento horizontal, porque a arquitetura da planta resultante é semelhante à de árvores obtidas por sementes. O crescimento se dá no sentido vertical com formação de forquilha, também chamada de “coroa” ou “jorquette”, que é de onde surgem os ramos que formarão a copa definitiva do cacaueiro. Isso é importante, porque facilita os tratos culturais da lavoura e principalmente a poda das plantas. Esse tipo de muda acaba produzindo de uma a duas raízes chamadas pseudopivotantes, falsas raízes que contribuem para melhorar a sustentação das mudas, reduzindo a chance de tombamento no campo. O lado ruim é que a propagação vegetativa em grande escala com ramos de crescimento vertical é limitada, porque o cacaueiroproduz muito mais mudas horizontais: entre 20 e 30 vezes mais! Muito bem! Agora que você já conhece os sistemas de propagação, continue seus estudos! Agora que você já tem a visão geral dos métodos de propagação, conheça alguns detalhes sobre a enxertia. 47 Dicas práticas para enxertia Para cultivar os cavalos (porta-enxerto), use sacos de po- lietileno preenchidos com solo ou substrato agrícola por um período de 6 a 8 meses. Se preferir, você pode adquirir o cavalo direto com vivei- ristas. Mas, atenção: escolha apenas mudas que venham de viveiros certificados e em áreas livres de infestação de pragas e doenças. Busque também por variedade e vigor. Para coletar o broto que dará origem ao enxerto, observe o caule: o diâmetro deve ser maior que 1 cm e a altura, entre 20 e 30 cm. O método de enxertia deve ser escolhido de acordo com a maturidade dos brotos. Se os ramos forem jovens, use a técnica de garfagem em fenda. Se os ramos forem maduros, com diâmetro maior que 2 cm, recomenda-se a garfagem lateral. Na prática 48 A garfagem pode ser usada tanto em mudas seminais quanto em ramos basais. A principal diferença é que, na garfagem em fenda, o enxerto (chamado garfo) preenche parcialmente a fenda, pois seu diâmetro é menor que o do porta-enxerto. Esse método tem como vantagem o uso de brotos ainda herbáceos, o que permite um melhor aproveitamento das partes verdes das hastes de enxertia. A muda deve perma- necer em viveiro com telado de 50% de sombra. Agora, conheça mais detalhes sobre a estaquia: Dicas práticas para estaquia Ao escolher a estaca, atente-se às características que favo- recem o enraizamento das mudas: escolha estacas semile- nhosas, com folhas e de plantas-matrizes jovens, entre 1 e 3 anos. Use reguladores de crescimento para estimular o enraizamento das estacas. Na prática 49 Da mesma forma que as mudas de enxertia, as estacas devem ficar em viveiros para um bom enraizamento. O ambiente deve ter umidade relativa próxima de 100%, temperatura inferior a 30 °C, sombreamento de 50% e fornecimento adequado de água. Após 60 dias, as mudas devem passar por um processo de aclimatação com redu- ção da disponibilidade de água para que consigam sobrevi- ver em condições de campo. Estacas de ramos plagiotrópicos Para produzir estacas a partir de ramos de crescimento ho- rizontal, selecione estacas semilenhosas, com coloração verde-amarronzada, vindas de ramos de 15 e 20 cm e com 3 ou 4 gemas. A presença de folhas nas estacas é neces- sária para que haja um bom enraizamento. Mas atenção: reduza 50% da área foliar das primeiras folhas a partir da base da estaca e 80% nas demais. Isso é importante para diminuir a taxa de fotossíntese da muda e evitar um gasto energético maior. Diz o Currículo… O Currículo de Sustentabilidade do Cacau é um material elaborado de maneira co- letiva por diferentes atores da cadeira cacaueira e tem participação governamental. Ele consolida diversas práticas sustentáveis para que produtores de cacau, técnicos e instituições conheçam e implementem boas práticas agrícolas e de gestão da pro- priedade a fim de minimizar os impactos negativos que a produção de cacau possa causar. Especificamente sobre métodos propagativos, em seu item 1.2.1, o Currículo de Sustentabilidade orienta o produtor a usar um material propagativo adequado e recomendado tecnicamente, de origem conhecida. Deve-se também levar em conta as especificidades edafoclimáticas da região onde será usado e seu potencial produ- tivo. Ao longo do curso, você terá contato com trechos do Currículo, um excelente mate- rial de aprofundamento. Tenha-o sempre por perto! https://www.worldcocoafoundation.org/wp-content/uploads/2020/05/Curriculo-de-Sustentabilidade-do-Cacau-Dezembro-2021.pdf 50 Esta aula trouxe tudo o que você precisa saber sobre os sistemas de propaga- ção para implantar sua fazenda de cacau! Você aprendeu sobre: ⚫ o sistema de propagação seminal; ⚫ o sistema de propagação seminal em viveiros; ⚫ o sistema de propagação vegetativa por enxertia; ⚫ o sistema de propagação vegetativa por estaquia de ramos plagiotrópi- cos; e ⚫ o sistema de propagação vegetativa por estaquia de ramos ortotrópi- cos. ⚫ as perspectivas de recuperação da cacauicultura brasileira. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, acho que vou começar pelo processo de enxertia. Quero ampliar a minha lavoura, e esse método parece trazer resultados interessantes, já que as plantas terão um bom sistema de raiz. Talvez seja interessante adquirir os porta-enxertos de um viveirista. Vou buscar apoio do Edu para fazer uma boa seleção! Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua: algum aspecto da sua produção pode estar inadequado às necessidades da cultura? Você poderia fazer algo a respeito? Muito bem! Depois de todo esse aprendizado, você já pode fazer a próxima atividade. 51 Atividade de aprendizagem 52 Questão 1 A cacauicultura no Brasil teve início na região Amazônica e depois foi introduzida no estado da Bahia. Com base no contexto histórico e na importância da cultura do cacau, assinale Verdadeiro ou Falso. Atividade de aprendizagem Na Bahia, o início do cultivo de cacau se deu por volta de 1900, com plantios no meio da mata nativa, onde o sombreamento e a umidade eram favoráveis ao de- senvolvimento da cultura. As regiões Norte e Nordeste são as principais produtoras de cacau do Brasil. Pará e Bahia são os estados que detêm a maior área de cultivo de cacau. No apogeu da cultura, foram criadas instituições e órgãos públicos para o desen- volvimento de tecnologias voltadas à melhoria da produtividade e o beneficiamen- to do cacau. Graças aos avanços tecnológicos, a vassoura-de-bruxa foi contida, e essa doença não tem mais representatividade nas regiões produtoras de cacau em todo o Brasil. 53 Questão 2 Os principais agrupamentos genéticos do cacau têm características distin- tas. Assinale Verdadeiro ou Falso: Atividade de aprendizagem O grupo Forastero produz as melhores amêndoas para a produção de cacau fino. O grupo Criollo é responsável pela maioria do cacau produzido atualmente. O grupo Trinitário é resultado do cruzamento espontâneo entre o Criollo e Forastero. Os Trinitários têm as características desejáveis do Forastero e do Criollo, como maior resistência a pragas e doenças e melhores características sensoriais, como sabor e aroma. 54 Questão 3 Em relação aos sistemas de propagação, assinale a única alternativa cuja afirmação é falsa: Atividade de aprendizagem A propagação de mudas de cacau pode ser feita a partir de ramos ortotrópicos. As mudas podem produzir raízes “pseudo-pivotantes”, que contribuem para a melhor sustentação da planta em campo. A propagação vegetativa é uma das formas mais eficazes de multiplicação clonal, com maior rendimento e maior taxa de pegamento das mudas. Os ramos plagiotrópicos têm crescimento horizontal e são produzidos pelo ca- caueiro em quantidades bem maiores que os ortotrópicos. Na estaquia, são usados ramos provenientes do cacau denominados popularmente de “cavalo”. As mudas provenientes dessa combinação de ramos originam organis- mos completamente diferentes da planta-mãe. Plantas de cacau provenientes de mudas de ramos plagiotrópicos têm uma copa bastante densa, que demanda mais cuidados nos tratos culturais, principalmente na poda. Isso configura uma das principais desvantagens. 55 Anexo - Cacau no Brasil Cacau no Brasil | Área colhida, produção, produtividade e valor da produção da cacauicultura Fonte: Adaptado de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020). Brasil, regiões e estados Área colhida (ha) Produção (t) Produtividade (Kg/ha) Valor da produção (R$ mil) 2018 2019 2020 2018 2019 2020 2018 2019 2020 2018 2019 2020 Norte 138.845 151.068 157.776 114.409 134.739 140.677 824892 892 1.415.684 1.543.168 1.611.519 Pará 128.963 140.514 147.222 110.060 128.961 135.150 853 918 918 1.374.337 1.488.032 1.559.444 Rondônia 8.578 9.352 9.352 3.653 5.105 4.738 426 546 507 37.702 51.415 47.719 Amazonas 1.274 1.190 1.190 689 663 779 541 557 655 3.572 3.627 4.262 Roraima 30 12 12 7 10 10 233 833 833 73 94 94 Nordeste 420.523 413.051 402.989 113.939 113.039 111.439 271 274 277 1.302.576 1.431.012 1.410.755 Bahia 420.523 413.051 402.989 113.939 113.039 111.439 271 274 277 1.302.576 1.431.012 1.410.755 Sudeste 16.871 17.133 16.858 10.353 11.156 11.933 614 651 708 113.619 145.541 155.700 Espírito Santo 16.726 16.999 16.726 10.236 11.051 11.826 612 650 707 112.687 144.621 154.763 Minas Gerais 145 134 132 117 105 107 807 784 811 932 920 937 Centro Oeste 950 632 602 615 491 538 647 777 893 5.675 4.441 4.866 Mato Grosso 950 632 602 615 491 538 647 777 893 5.675 4.441 4.866 Brasil 577.191 581.884 578.225 239.318 259.425 264.586 415 446 458 2.837.554 3.124.163 3.182.840 Módulo 2 Sistemas sustentáveis de cultivo 57 Olá! Receba nossas boas-vindas ao Módulo 2 do curso! Nele, você vai aprender sobre os sistemas susten- táveis de cultivo. Vamos estudar três deles. O primeiro, o sistema agroflorestal, permite a conservação dos recursos naturais por meio da combina- ção de cultivos simultâneos de cacau com espécies arbóreas, culturas agrícolas, hortaliças e frutíferas. O seguinte é o já citado sistema cabruca, no qual é feito o cultivo de cacau em meio à Mata Atlântica raleada. E, por fim, você vai conhecer o sistema pleno sol, em que o cacau é plantado no modelo de monocultura, ou seja, o cultivo único do cacaueiro, sem o uso de sombreamento definitivo, como nos sistemas agroflo- restais (SAFs). Diz o Currículo… Segundo o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, observar a densidade das plantas é uma prática prioritária! Você deve adequar a densidade de plantas (n.º plantas/hectare) de cacau nas áreas em produção, no plantio de novas áreas e em áreas de renovação, para garantir produtividade com viabilidade econômica. E é isso que você vai aprender nesta aula! Tudo pronto para adquirir todo esse conhecimento? Então, avance para a Aula 1 e comece seus estu- dos! Módulo 2 - Aula 1 Sistema agroflorestal 59 - Edu, então o cacaueiro é uma planta que precisa da sombra de outras árvores pra se de- senvolver, né? - Isso mesmo, por isso que o sistema cabruca é tão eficiente, além de sustentável. - Mas devem existir outros sistemas de plantio que também sejam sustentáveis, permitam a produção de cacau e tragam um retorno financeiro interessante, certo? - Sim, o cacaueiro é uma planta que pode ser cultivada junto com outros cultivares. Vou te explicar algumas possibilidades, como o Sistema Agroflorestal. podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Nos últimos tempos, muito tem se falado sobre a conscientização dos valores ambientais, sociais, econô- micos e governamentais, certo? Você, provavelmente, tem acompanhado algumas dessas discussões. Mas, você conhece as boas práticas agrícolas nos cultivos agrícolas e para que servem? Bem, por meio dessas práticas, promove-se o uso consciente dos solos e dos recursos naturais, e é pos- sível fazer uma gestão rural eficiente. Todo esse entendimento consiste na base para se chegar a uma agricultura sustentável, em que cada tipo de solo deve ser classificado de acordo com sua aptidão agrícola. A partir desse princípio, a implementação de sistemas agroflorestais (SAFs) ganha destaque nas lavouras comer- ciais, pois o uso desse tipo de sistema proporciona diversas vantagens quando comparado aos sistemas de produção tradicional. 60 Por meio desse sistema, é possível conservar os recursos naturais por meio da combinação entre cultivos simultâneos de espécies arbóreas nativas e culturas agrícolas, hortaliças e frutíferas. Objetivos dos sistemas agroflorestais Tradicionalmente, o cultivo do cacaueiro representa um bom modelo para a abordagem SAF. Isso porque a planta é tolerante à sombra, o que permite o cultivo em associação a outras espécies. Confira de que forma isso pode ser feito. Sob mata raleada Cabruca Sob cultivos alimentícios Sombreamento provisório Com espécies arbóreas introduzidas na área Sombreamento definitivo A combinação entre cacau e espécies lenhosas e não lenhosas é um excelente exemplo de compatibi- lidade e complementaridade de diferentes espécies. Ao mesmo tempo, mostra a sustentabilidade de sistemas de produção multiestratificados, desde que seja feito o manejo do sombreamento para não prejudicar os ganhos de produtividade. São exemplos de espécies lenhosas a eritrina (Erythrina speciosa) e o cajá (Spondias mombin L.). E, como espécies não lenhosas, podemos citar a bananeira (Musa spp.) e a mandioca (Manihot esculenta L.). Não se preocupe, pois, até o fim deste módulo, você vai dominar todos esses conceitos! 61 Atenção! A atividade cacaueira é considerada a mais eficiente comunidade vegetal, quando se refere à proteção dos solos tropicais contra agentes de degradação. Esta atividade dispõe de muitos atributos de sustentabilidade da floresta heterogênea natural e pode se tornar um elemento socioeconômico-ambiental apropriado para a redução da pressão antrópica (fruto de ações causadas pelo ser humano) sobre a cobertura vegetal primária nos trópicos úmidos brasileiros. Em outras palavras, o cultivo de cacau pode ajudar a preservar a mata nativa da região. Não é ótimo? Classificação dos sistemas agroflores- tais Os SAFs podem ser classificados de várias maneiras, dependendo do ponto de vista de que se observa. Quer conhecer algumas dessas classificações? Confira a seguir! 62 Quais as classificações dos sistemas agroflorestais? Os SAFs podem ser classificados conforme suas características ecológicas, econômicas, funcionais ou de acordo com a distribuição dos seus componentes. Quando falamos sobre classificação ecológica, consideramos a localização, a topografia (por exemplo, áreas planas, com declives ou montanhosas) ou ainda a complexidade bioló- gica, ou seja, como os elementos se comportam na área de convívio. Já em relação à classificação econômica, os SAFs podem ser agrupados em comerciais, de subsistência ou intermediários. Sobre os fatores funcionais, a classificação consiste em SAFs de produção de alimentos, de fibras para consumo; ou ainda SAFS de proteção, cuja principal atividade é proteger os recursos naturais. Quando falamos sobre o arranjo dos componentes no espaço, temos três tipos. O primeiro é o sistema contínuo, quando a cultura principal é plantada por toda a área, e as demais es- pécies vegetais são distribuídas em seu entorno, prestando serviços como sombreamento ou, ainda, gerando um complemento de renda ao produtor. Um exemplo disso é o plantio de cacau como cultura principal junto com bananeiras, para prover a sombra necessária. O segundo tipo é o sistema zonal. Nele, áreas de plantio que contêm um determinado componente vegetal, como o cacaueiro, são alternadas por linhas de outras espécies de plantas, como o açaizeiro ou a pupunheira. O terceiro tipo são os sistemas mistos, que misturam espécies vegetais plantadas de manei- ra adensada. Eles podem ser formados por plantas frutícolas, florestais e culturas agrícolas. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir essa expli- cação! 63 Importância socioeconômica e ambien- tal dos sistemas agroflorestais Agora que você já conhece as várias características dos SAFs, deve estar se perguntando: e os benefícios? Quando bem manejados, os benefícios ambientais, sociais e econômicos resultantes do SAFs são muitos! Confira alguns no infográfico a seguir. Benefícios dos SAFs Conservação da umidade do solo. 02 Maior aporte de matéria orgânica, em virtude da queda das folhas das árvores sob a superfície do solo. 0� Menores perdas de nitrogênio. 0� Aumento da capacidadede absorção e infiltração de água. 0� Redução de processos de erosão e degradação do solo. 0� Estímulo da atividade biológica do solo, que contribui para o aumento da fertilidade. 0� 64 Fixação do homem no campo. 11 Refúgio para a biodiversidade animal, o que dificulta o estabelecimento de pragas e doenças. 08 Controle mais eficiente de plantas invasoras devido ao sombreamento. 0 Conservação de remanescentes florestais, de nascentes e de cursos de água. 0� Geração de mão de obra sem sazonalidade. 10 Criação e difusão de tecnologias e novos conhecimentos. 1� 65 Conservação de espécies arbóreas com função social, por exemplo, plantas medicinais. 13 Exploração comercial dos extratos sob e sobre a copa do cacaueiro. 1� Conservação de espécies arbóreas com finalidade econômica, como as espécies madeireiras. 1� Mas nem tudo são flores! Apesar dos benefícios inquestionáveis, alguns aspectos desse sistema deman- dam atenção especial, veja a seguir. 66 O cacaueiro necessita de sombreamento para o seu desenvol- vimento pleno, mas é necessário estabe- lecer a quantidade adequada de luz que chega a ele. É preciso definir as espécies arbóreas que crescem melhor em condições de consór- cio, dado o tipo de solo e o espaçamento, para que não ocorra competição entre as plantas. Sistemas agroflorestais com cacaueiros Depois de muita pesquisa feita pela Ceplac e com base em tudo o que você já estudou até aqui, foram estabelecidos alguns modelos de SAFs com o cacaueiro para serem usados principalmente por pequenos e médios produtores. Mas estes não são modelos definitivos; muitos outros vêm sendo testados e implantados. É possível alterá-los para adaptá-los a novas tecnologias agroflorestais e/ou a condições ecológicas de cada região produtora. Neste módulo, você vai conhecer: • sistemas permanentes contínuos; • sistemas permanentes zonais; e • sistemas permanentes mistos. Para começar, conheça os sistemas permanentes contínuos. 67 Agora você vai conhecer o SAF em sistemas permanentes contínuos e como ele pode ser implantado na sua lavoura. Acompanhe! Nos sistemas permanentes contínuos, são cultivadas espécies arbóreas ao redor da espé- cie principal para seu sombreamento, que também fornecem produtos com valor econô- mico, aumentando a rentabilidade da propriedade. São utilizadas prioritariamente plantas perenes, ou seja, que têm um longo ciclo de vida, cultivadas de forma regular e distribuídas por toda a área. Podem ser utilizadas espécies que produzem frutos, fibras, lenha, madeira, látex, palmito ou óleos. É preciso cuidado para evitar o excesso de sombra sobre o cacau! Para aproveitar a luz nas entrelinhas de cultivo e melhorar a rentabilidade do sistema, utilize espécies de sombra lateral provisória, como o milho, o feijão e o arroz. O arranjo pode ser feito associando-se o cacaueiro a espécies florestais. Nesse caso, os cacaueiros jovens devem estar consorciados com espécies de sombra provisória, como a bananeira. Isso dará tempo para as árvores de sombreamento definitivo crescerem. O som- breamento definitivo pode ser formado por espécies de importância econômica regional, como o mogno, o ipê-roxo e a castanha-do-brasil, por exemplo. Outra possibilidade é o sistema de cacaueiros com coqueiros. Aqui, há fileiras duplas de cacau estabelecidas entre fileiras de coqueiros. Você pode plantar a leguminosa gliricí- dia nas linhas do coqueiro. Muito bem, as possibilidades de plantio do cacau em consórcio com outras culturas é uma forma bastante interessante de aumentar a rentabilidade da sua propriedade, não é mes- mo? Mas não tome sua decisão ainda, pois há muitas outras combinações possíveis. Conti- nue seus estudos! Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. Para continuar, conheça alguns detalhes importantes sobre a implementação dos sistemas permanentes contínuos em sua propriedade. 68 Sombreamento provisório O plantio do cacau deve estar associado a outros dois componentes provisórios, que fornecerão sombra e ali- mento. É comum o uso de bananeira, mandioca, milho e feijão-guandu (Cajanus cajan) em espaçamento de 1 x 1 m ou 1,5 x 1,5 m. Nas entrelinhas do cultivo, você pode usar espécies de sombra lateral provisória, como milho, feijão (Phaseolus vulgaris) e arroz (Oryza sativa), desde que respeitado o espaçamento de 0,7 m do cacaueiro. Sombreamento definitivo com espécies florestais O sombreamento definitivo pode ser formado por diver- sas espécies relevantes na sua região, como mogno, ipê- -roxo, castanha-do-brasil, freijó , andiroba, cumaru, cedro, jatobá, eritina, seringueira, eucalipto, pinus, teca, entre outras. A distância do plantio entre as espécies tem relação direta com o rendimento. Na prática Use espaçamento de 3 x 3 m para as plantas de cacau e de 15 x 15 m até 24 x 24 m para as espécies sombreadoras. Confira o rendimento médio: • Mogno: a produção média aos 36 anos é de 2,99 me- tros cúbicos por árvore (m³/árvore); • Cacau: 800 (kg/ha/ano) quilos por hectare por ano de amêndoas de cacau. Varia de 0,91 a 1,25 kg/planta. • Banana: 0,9 a 1,8 kg/planta. • Castanha-do-brasil (amêndoa): de 1,5 a 12,5 kg/plan- ta. 69 Sombreamento definitivo em sistema com coqueiros Nesse sistema, o cacau é plantado em fileiras duplas com espaçamento de 3 x 3 m entre as fileiras de coqueiros (Co- cos nucifera). É estabelecido entre as fileiras de coqueiros no espaçamento de 9 x 9 m. Na fileira de cacau, entre as plantas, é implantada a bana- neira para que haja sombra provisória sobre o cacau. Já nas linhas do coqueiro, pode ser semeada uma leguminosa arbórea chamada gliricídia (Gliricidia sepium). A densidade populacional do cacaueiro e da bananeira é de 740 plantas/ha; o coqueiro, de 123 plantas/ha; e, a gliricídia, de 247 plantas/ha. Nesse modelo, a produtividade média é de 1.250 kg/ha de amêndoas secas para o cacau, e de 60 a 150 frutos/planta/ ano de coco, a depender da variedade (gigante, anão ou híbrido). Sistemas permanentes zonais Vamos tratar, agora, de outra possibilidade: os sistemas permanentes zonais. Nele, as espécies perenes intercaladas com o cacaueiro estão dispostas de forma não contínua na área. Consequentemente, há melhora na eficiência do sistema, pois são aproveitados a luz e o manejo tanto pelo cacaueiro quanto pelas culturas sombreadoras. 70 Isso possibilita amplo acesso à área, melhora a colheita dos produtos e permite, inclusive, o tombamento (derrubada) das plantas para o aproveitamento da madeira ou do palmi- to, o que reduz os custos de colheita. Mas quais são as combinações mais adequadas para esse sistema? Conheça algumas delas. Croqui de planta baixa da consorciação entre cacau e pupunha em renques: cacau, pupunha e freijó-louro. Na área de cultivo, são dispostas dez fileiras de cacau no espaçamento de 3 x 2,5 m, alternadas com zonas de plantios que contêm três fileiras de pupunheiras (2 x 1,5 m). A sombra definitiva é fornecida pelas árvores de freijó-louro (Cordia alliodora), plantadas no espaçamento de 12 x 10 m de forma contínua nas zonas do cacaueiro. A densidade populacional desse sistema é de 1.148 cacaueiros/ha; 571 pupunheiras/ha e 84 plantas de freijó/ha. Nesse modelo, a receita anual para 2 hectares de consórcio de cacau com pupunheira é de R$ 5.625,00, e uma produção de 112 m³ de madeira em tora/ha do freijó-louro. Cacaueiros com pupunheiras (Bactris gasipaes) 71 3m Croqui de planta baixa da consorciação entre cacau e café em renques: cacau, café e teca. Neste sistema, são dispostas dez fileiras de cacaueiros (3 x 2 m) intercaladas com onze fileiras de cafeeiros (3 x 1 m). Entre as zonas de plantio, são estabelecidas áreas que contêm árvores de teca (Tectona grandis), espécie produtora de madeira, com rápido crescimento vegetativo e elevado valor econômico, no espaçamento de 2,5 entre árvores e 3 m entre as zonascacaueira e cafeeira. A densidade populacional é de 947 cacaueiros/ha; 1042 cafeeiros/ha e 152 árvores de teca/ha. A produtividade média, a partir do 3.º ano do plantio, é de 0,18 kg/planta de amêndoas secas e de 1 kg/planta de café seco. Cacaueiros com cafeeiros (Coffea spp.) Sistemas permanentes mistos Vamos tratar, agora, do terceiro e último sistema: o permanente misto, que se caracteriza pela adoção dos sistemas zonal e contínuo na mesma área para os cultivos permanentes. Assim, as espécies usadas para sombreamento do cacau são dispostas de forma contínua na área, ao passo que os cultivos princi- pais são plantados em zonas. Conheça um exemplo: 72 Esse tipo de sistema é de grande importância na região Amazônica do Brasil e pode ser obtido a partir do arranjo de plantas de cacau dispostas com árvores de açaí (Euterpe oleracea) e taperebazeiros (Spondias mombin L.), uma árvore frutífera com bastante acei- tação no mercado de polpas. Assim, é possível a obtenção de diversos produtos provenientes deste sistema: os frutos in natura po- dem ser usados para a produção de bebidas e prepa- ro de sucos, licores, cremes, sorvetes e picolés. Neste caso, a taperebazeira tem função de sombrea- mento definitivo no sistema. 73 Mas essa não é a única combinação possível em sistemas permanentes mistos. Conheça outras possibili- dades a seguir: É um modelo muito usado na recuperação de áreas degradadas na região Amazônica. Além de proporcionar a atividade extrativista, o cupuaçu promove o sombreamento para o cacaueiro e permite maior obtenção de renda para o produtor. Cacau x cupuaçu É o modelo predominante no estado do Pará e configura uma alternativa de plantio para o pro- dutor, pois proporciona um aumento da renda, devido à obtenção de vários produtos, como o cacau e a borracha, extraída da seringueira. É importante fazer a escolha correta das variedades de seringueira para que o sombreamento seja adequado para o cacau. Alguns clones têm sido recomendados para serem usados neste consórcio, como o Sial 893, que tem uma arquitetura de copa mais fechada e baixa densidade foliar. O resultado é um sombreamento ideal para o cacaueiro. Existem diversos arranjos e espaçamentos indicados para esse modelo SAF, como os cacaueiros plantados em fila única (450 plantas/ha) ou em filas duplas (900 plantas/ha) com espaçamento de 3 x 3 m; e as seringueiras, dispostas nas entre linhas: 7 x 3 m (473 plantas/ha). Nesse arranjo, a produtividade média é de 750 kg/ha/ano de borracha e 780 kg/ha/ano de amêndoas secas de cacau. Cacau x seringueira É um sistema muito utilizado no Amazonas, consiste no plantio de treze fileiras de cacau (3 x 3 m) intercaladas com duas fileiras de açaí (4 x 4 m). Pode usar também espécies de sombreamento provisório como a mandioca e a bananeira, além do taperebazeiro, árvore que fornece sombreamento definitivo. Caso o produtor opte por usar, além do açaí, o taperebazeiro, ele deve ser disposto a partir da 3.ª fileira de cacaueiro com um espaçamento de 21 x 21 m. Assim, a densidade populacional é de 951 cacaueiros/ha, 109 açaizeiros/ha e 16 taperebazeiros/ ha. A produtividade média do cacau, nesse modelo de SAF, é de 0,36 kg de amêndoas seca por planta, 45 kg de frutos de açaí por planta, e 30 kg de frutos de taperebá por planta, a partir do 4.º ano de cultivo. Cacau x Açaí 74 Para saber mais sobre o sistema agroflorestal, que associa o cultivo de cacau ao de cupuaçu, acesse a cartilha SAF - Da implantação ao Manejo, Série AMAS Módulo 1, da Organização de Conservação da Terra clicando aqui. Vá além! Independentemente do sistema de SAF x cacau escolhido para implementação em áreas de cultivo, há obstáculos para o estabelecimento. Conheça alguns deles. Plantas invasoras Mão de obra O controle de plantas invasoras se torna bastante complexo, pois, com a derrubada da floresta ou da vegetação secundária, as plantas espontâneas se multiplicam rapida- mente. Como um dos principais métodos de controle é o físico, por meio da capina ou da roçagem, os custos de produção aumentam. A mão de obra passa a constituir mais de 60% dos custos. Para se ter ideia, para a formação da lavoura, a mão de obra re- presenta mais de 70% dos custos totais de implementação. Assim, é necessário ana- lisar os custos para operação dos SAFs, e, principalmente, investir em conhecimento técnico para que aumentar a eficiência do modelo e alcançar a rentabilidade espera- da. https://oct.org.br/download.php?i=396 75 Muito bem! Estamos concluindo a primeira aula deste curso, mas ainda há muito o que aprender! Até aqui, você conheceu: ⚫ o que são e quais são os objetivos dos sistemas agroflorestais; ⚫ a classificação dos sistemas agroflorestais; ⚫ a importância socioeconômica e ambiental dos sistemas agroflores- tais; e ⚫ sistemas com espécies florestais e com cacaueiros. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, vejo um caminho bastante interessante se usar os sistemas agroflorestais. Posso manejar a lavoura de cacau com uma segunda cultura, o que vai aumentar a rentabilidade do sítio. Só preciso estudar melhor as condições ambientais que tenho e a situação econômica da região para decidir quais espécies seriam mais rentáveis e interessantes para comercializar. É uma nova etapa para o sítio Santo Isidoro! Agora, diante do cenário apresentado e pensando na sua realidade, quais aprendizados se aplicam à sua produção? Agora, avance para a Aula 2 e saiba mais sobre o sistema cabruca. 76 Módulo 2 - Aula 2 Sistema cabruca 77 - Edu, entendi o que são os sistemas agroflorestais e achei a ideia muito atraente pra imple- mentar no Santo Isidoro. Mas tem uma área na propriedade onde a mata nativa se recupe- rou ao longo dos anos. Está tão preservado, não queria derrubar tudo. Ao mesmo tempo, preciso aumentar a produção pra recuperar a saúde financeira do sítio... Será que tem um caminho do meio? - Lembra que eu disse como era importante a gente conhecer a nossa história? No Brasil, tudo começou com o sistema cabruca, certo? E se eu dissesse pra você que o nosso futuro pode estar nesse sistema? - Você vai precisar me explicar isso melhor! podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Já falamos sobre o sistema cabruca algumas vezes durante o curso. Então, você deve querer saber do que se trata, certo? Pois bem, chegou a hora de nos aprofundarmos! No Brasil, os primeiros cultivos de cacau foram instalados no estado do Pará. Em 1749, as sementes oriundas dessas lavouras foram enviadas para a Bahia. As condições de temperatura, precipitação e o solo no sudeste do estado são ideais para o desenvolvimento da cultura. As áreas de cacau cabruca na Bahia estão situadas do litoral até o corredor central da Mata Atlântica. Acredita-se que o sistema tenha sido usado para ocupar a terra em regiões menos povoadas, ao norte de Ilhéus. No fim dos anos 1930, os municípios de Una, Mucuri e Cana- vieiras tinham grandes áreas de plantio de cacau. 78 Conceituação e critérios técnicos Antes de explicarmos o que é o sistema cabruca, é importante que você saiba como ele surgiu para com- preender o porquê de esse sistema ser tão relevante para a cacauicultura no Brasil. Então, vamos come- çar com o sistema antecessor? Conheça, agora, “corte e queima”, o primeiro método de cultivo de cacau adotado por aqui. Corte e queima Neste método, a vegetação florestal era totalmente derrubada e queimada. Em seguida, as sementes de cacau eram semeadas no espaçamento de 1,5 x 1,5 m. Também era feito o cultivo de culturas de som- breamento temporário, como a mandioca e o milho. Após a colheita das culturas provisórias, as plantas de cacau eram mantidas sem sombra, até que árvores espontâneas, como Curindiba (Trema micrantha L.), embaúba (Cecropia ssp.) e ingazeira (Inga ssp.), surgissempara promover som- bra. As árvores de sombra eram removidas dez anos após o plan- tio do cacau, e a plantação era mantida sem sombreamento durante toda a fase adulta. Apesar de a prática de queima da vegetação nativa proporcionar elevada produtividade nos primeiros anos de cultivo, facilitar as operações agrícolas na área e possibilitar o cultivo de culturas temporárias, essa técnica é extremamente prejudicial ao ambiente. Descubra agora o motivo. Destruição da fauna local Envelhecimento precoce Ataque de pragas e doenças Uma das consequências nega- tivas do método é a destruição de toda a parte viva do solo e a fauna local. Isso prejudica o processo de ciclagem de nu- trientes e, consequentemente, o fornecimento de alimento para as plantas. Neste método, as árvores en- velheciam em apenas 20 anos (o correto seria em 40 anos), devido à redução da fertilida- de do solo nas plantações não sombreadas. As plantas ficam mais sujei- tas ao ataque de pragas e doenças, além da incidência de espécies invasoras. Isso prejudicava o desenvolvimen- to, aumentava os custos de produção e da mão de obra. Cabruca A partir de alterações do método “corte e queima” nas primeiras décadas do século XX, surgiu o plantio feito na mata raleada, conhecido como cabruca. Nesse método, era feita a remoção de parte da vegeta- 79 ção arbórea nativa com o objetivo de abrir espaços para o cultivo de cacau. Essa ação era chamada pelos produtores de “cabrucar”. Ainda há muito para saber sobre esse sistema. Conheça agora suas características. Agora você vai conhecer o cultivo de cacau no sistema cabruca, que é quando plantamos o cacau em uma área de Mata Atlântica, como ocorre na Bahia. Nesse sistema, a vegetação herbácea e arbórea mais baixa é cortada, e as árvores de madeira de lei, ou seja, de grande porte, copa alta e folhagem pouco densa, são poupadas justamente para serem utilizadas como sombreamento para o cacau. Originalmente, o plantio do cacau era feito de forma aleatória e sem alinhamento, mas isso dificulta as operações culturais na lavoura. Outra prática que se tinha no passado era deixar os tocos das árvores cortadas até sua completa decomposição, o que também dificultava o manejo. Conforme os cacaueiros crescem, precisam de mais luminosidade. Uma prática que se reali- zava era o anelamento de árvores que dão sombra. Em seus troncos eram colocados anéis, o que levava à perda de folhas e ramos de forma lenta. Isso levava à morte da árvore em um período de 12 a 24 meses. Em alguns casos, os cacaueiros eram danificados pela queda de ramos secos ou até mesmo das árvores inteiras. Se compararmos a cabruca ao sistema de corte e queima, ela é muito mais econômica. Na cabruca, o sombreamento permanente permite o controle de plantas invasoras, redu- zindo o número de roçagens necessárias. Por isso, há uma redução de até quatro vezes no custo de mão de obra para sua implementação. Por isso, o sistema foi adotado em regiões da Bahia onde a mão de obra era limitada. Há algumas desvantagens: a produtividade é baixa, cerca de 525 quilos por hectare. Além disso, o sombreamento costuma ser irregular, porque é formado por diferentes espécies que exigem atenção e manejo. Porém a técnica tem seus méritos: o sombreamento diversificado é de extrema impor- tância e valor na conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, um bioma que está seriamente ameaçado de extinção, restando apenas 8% de sua cobertura natural. Mas o assunto não para por aqui! Continue seus estudos! Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. Um terceiro método para implementar cacauais na região consistia na derrubada de parte da mata nati- 80 va, poupando um número menor de árvores. Essa técnica resulta em um sistema menos denso, com sombreamento intermediário entre a cabruca e “o corte e queima”, em que as árvores com copa boa para o sombreamento do cacau eram mantidas. Assim, obtinha-se um sombreamento definitivo imediatamente, sem a necessidade de raleamento mais adiante. Na prática, essas árvores estavam mais sujeitas à ação do vento, o que resultava em maior queda de galhos e, conse- quentemente, mais danos aos cacaueiros. Essa, aliás, é uma das principais desvantagens dessa variação. Derrubada total Depois de 1964, o método denominado derrubada total passou a ser disseminado por toda a Bahia. Primeiro, para a implantação desse sistema, era feita a roçagem da vegetação rasteira, seguida da derru- bada de todas as árvores existentes na área, geralmente, ocupada por mata ou capoeira, uma vegetação composta basicamente por gramíneas que crescem após derrubada da vegetação original. Contudo, esse método é muito agressivo ao meio ambiente e desfavorece a conservação da mata nativa. Conheça mais detalhes sobre este método. 81 Na derrubada total, a queima ocorria de 30 a 60 dias após a derrubada da vegetação. Em seguida, era feita a demarcação do local onde seria feito o plantio do cacau e do sombreamento provisório e definitivo. O sombreamento definitivo era homogêneo, formado pela bananeira e árvores de crescimento rápido, do gêne- ro Erythrina. Na prática 82 Elas eram semeadas com um espaçamento entre plantas de 24 m, o que proporcionava a incidência de 50 a 60% de luz na lavoura. Diz o Currículo… Segundo o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, está na legislação e é im- portante proteger e preservar as Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e as Reservas Legais (RLs) para fazer a manutenção da flora e da fauna local. Portanto, identifique áreas da propriedade que estão degradadas, não limitadas às áreas de produção, e execute um plano de ação para recuperá-las. Cabruca tecnicamente formada Vamos conhecer, agora, mais uma variante do método cabruca, a chamada cabruca tecnicamente forma- da. Nela, a vegetação nativa rasteira é roçada, e as árvores de menor porte são cortadas. São mantidas apenas as árvores que atuam como sombreamento provisório. São plantadas bananeiras para criar o sombreamento se necessário. A existência do sombreamento provisório permitia que árvores de maior porte fossem derrubadas, e mantidas de 25 a 30 árvores de sombreamento definitivo por hectare. 83 A correção do sombreamento era feita entre o quarto e o quinto mês após o plantio dos cacaueiros, e eliminada a sombra provisória em excesso. Após o segundo até o quinto ano da plantação de cacau, era feito o raleamento por meio do anelamento das árvores de sombreamento. O método é indicado para áreas com características como solos rasos, de baixo nível de fertilidade, locais com dificuldade para obtenção de mudas de bananeira, escassez de mão de obra e risco de inundações constantes. Ele era visto como alternativa à “derrubada total”. Aspectos legais Agora que você já conhece os métodos que podem ser usados no sistema cabruca, vale a pena saber mais sobre os aspectos legais referentes a esse sistema. Devido à grande importância que o sistema agroflorestal cabruca desempenha na manutenção e na re- cuperação de áreas florestais remanescentes do Bioma Mata Atlântica, em 2019, foi publicada uma Por- taria Conjunta Sema/Inema que trata dos critérios e dos procedimentos para a concessão da Autorização de Manejo da Cabruca (AMC). Vale dizer que Sema é a Secretaria do Meio Ambiente. Inema é o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Quer saber o que diz essa Portaria? Então confira a seguir. 84 Quais os critérios para conseguir a Autorização de Manejo da Cabruca? De acordo com a Portaria Conjunta Sema/Inema nº 03 além da preservação da Mata Atlân- tica, foram estabelecidas novas metodologias que estimulam a manutenção do agros- sistema Cacau-Cabruca e o enriquecimento dele com espécies arbóreas nativas, para o planejamento e uso eficiente e racional dos recursos naturais, visando à manutenção e ao aumento da produtividade do cacaueiro. Para ser considerado cabruca, é necessário que sejamcumpridas algumas diretrizes como: ter densidade arbórea de 20 ou mais indivíduos de espécies nativas por hectare; não der- rubar a vegetação nativa, quando a propriedade estiver no bioma Mata Atlântica, entre outras. A perpetuação do sistema cabruca deve ser realizada como estratégia para melho- ria da rentabilidade do produtor rural e conservação da Mata Atlântica. Essa portaria também permite que os produtores retirem árvores que não são nativas da Mata Atlântica, ou seja, espécies exóticas, sem a necessidade de autorização prévia dos órgãos responsáveis. Alguns exemplos dessas espécies são: eritrinas, jaqueiras, seringueiras e cajazeiras. A retirada de espécies exóticas permite maior entrada de luminosidade para as plantas de cacau, favorecendo o aumento de produtividade. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Conheça a Portaria Sema/Inema nº 03 na íntegra clicando aqui. Vá além! http://www.inema.ba.gov.br/download/4910/ 85 Esta aula estava cheia de informações interessantes, não é mesmo? Até aqui, você conheceu: ⚫ o contexto histórico do sistema cabruca; a conceituação; ⚫ os critérios técnicos; e ⚫ os aspectos legais Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, a cabruca poderia ser um caminho interessante para a área do meu sítio que tem mata nativa. Porém, preciso ter atenção a dois sistemas de manejo: a cabruca e o sistema que uso no restante da lavoura. Talvez, nesse momento, seja melhor man- ter a mata nativa como está e focar meus esforços em recuperar a lavoura que já tenho. Agora, diante do cenário apresentado e pensando na sua realidade, quais aprendizados se aplicam à sua produção? Agora, avance para a Aula 3 para conhecer o terceiro sistema de cultivo do cacaueiro que vamos abor- dar neste curso: o pleno sol. 86 Módulo 2 - Aula 3 Sistema Pleno sol 87 - Edu, eu sei que o cacaueiro é uma árvore que precisa de sombra pro desenvolvimento e que pode ser cultivada junto com outras espécies pra aumentar o rendimento do sítio... Mas vejo na televisão aquele mar de soja que o pessoal cultiva em outros estados e me dá uma coceirinha.... não tem jeito de eu ter um campo só de cacau, pra produzir muito mais numa área pequena? - Olha, Gabi, as coisas não são tão simples quanto a gente gostaria, né? Até dá pra cultivar o cacau em monocultura, mas os resultados não serão tão bons quanto você imagina... podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Tradicionalmente, o cultivo do cacau ocorre em áreas de clima tropical, e isso causa entraves para a ex- pansão da atividade cacaueira, pois o clima é favorável para a disseminação de doenças e torna a ativida- de pouco atrativa para fins econômicos. No sistema pleno sol, o cacau é plantado no modelo de monocultura, ou seja, o cultivo único do cacaueiro em uma determinada área, sem o uso de sombreamento definitivo, como nos SAFs. Outras características são: ⚫ o uso de culturas que promovem o sombreamento provisório; ⚫ o uso de clones de cacau resistentes à vassoura-de-bru- xa. Critérios técnicos e sustentabilidade Se você acompanha de perto as notícias sobre o agronegócio, deve saber que, devido a avanços tecno- lógicos na produção agrícola, nos últimos anos, hoje é possível cultivar em áreas não tradicionais. Graças a técnicas de irrigação, fertirrigação, manejo e variedades melhoradas geneticamente, é possível obter sucesso na plantação de cacau onde antes não seria possível. Mas isso tem um preço. 88 O custo de implementação de um sistema pleno sol é alto: são necessários insumos e irrigação para que o cacaueiro se mantenha produtivo nesse sistema, que tem condições ambientais tão diferentes das que propiciam o desenvolvi- mento da planta na natureza. Atenção! Quando observados os aspectos de sustentabilidade, o modelo pleno sol é bem menos sustentável, pois a diversidade de espécies vegetais que compõem o sistema é menor em comparação à dos SAFs. Apesar dos problemas, quando manejado adequadamente, o sistema tem alta rentabilidade. No Brasil, o cultivo de cacau, neste modelo, representa uma escala pequena quando comparado ao cabruca ou a outros SAFs. Temos exemplos, na região do extremo sul da Bahia e na Chapada Diamantina, com árvores apenas nas bordas para proteção contra o vento, com irrigação e algumas operações meca- nizadas. Embora o rendimento seja superior, pesquisas recentes conduzidas pela Ceplac mostram que esse siste- ma estressa a planta, reduz a longevidade produtiva, além de ter um custo de produção mais elevado. Mas, como acontece a implantação do sistema pleno sol? Descubra agora. 89 Quais os principais cuidados no sistema pleno sol? Para áreas novas, é recomendado o uso de mudas propagadas por estaquia de ramos pla- giotrópicos, que devem permanecer em viveiro até os dez meses. Você precisará proteger os cacaueiros do vento, porque as folhas são muito sensíveis e têm uma alta taxa de perda de água. Use a bananeira como proteção temporária e o eucalipto como proteção definiti- va. Aliás, a água é um fator de atenção. A disponibilidade precisa ser complementada com sistema de irrigação de microaspersão ou gotejamento. Outro cuidado fundamental é a aplicação de fertilizantes de modo parcelado. Eles devem ser utilizados no momento do plantio e também quando as plantas começarem a emitir folhas novas. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Agora, conheça alguns detalhes sobre o sistema pleno sol. Use mudas propagadas por estaquia de ramos plagio- trópicos e transplantadas para sacos de polietileno aos sete meses de idade. Elas devem permanecer nos sacos até atingirem o ponto de “mudão”. Serão dez meses no viveiro. Na prática 90 Ventos com velocidade superior a 2,5 m/s causam diver- sos efeitos negativos para o cacaueiro, como a queima e a queda das folhas jovens e o comprometimento do desenvolvimento. Para evitar isso, use quebra-ventos para proteger o cacaueiro: as árvores de eucalipto servem como proteção definitiva, e a bananeira, como proteção temporária. A água precisa ser complementada por meio de um siste- ma de irrigação localizado de microaspersão ou de gote- jamento. A aplicação deve ocorrer na base da planta, de acordo com sua necessidade hídrica, e apenas uma parte da superfície do solo deve ficar molhada. Os fertilizantes são essenciais para alcançar a produti- vidade média de 2.250 kg/ha. Para tanto, faça o parcela- mento da adubação com nitrogênio e potássio. A aplica- ção deles é feita no plantio e em cobertura (quando as plantas começarem a emitir folhas novas). Diz o Currículo… Segundo o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, quando é necessário fazer o uso de irrigação, é importante ter um projeto técnico e um plano de manejo de acordo com a recomendação de um técnico. Também é necessário requerer a outorga ou a dispensa para captação de água dos recursos hídricos, conforme diz a legislação. 91 Esta aula apresentou os critérios técnicos e de sustentabilidade para im- plementar o sistema pleno sol. Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua: esse sistema poderia ser adequado para sua condição? Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? Penso que o sistema pleno sol não é para a minha propriedade. Deman- da um alto investimento e cuidado constante, além de domínio técnico para conseguir a rentabilidade que eu busco. Preciso resgatar minha propriedade por outro caminho! Muito bem! Depois de todo esse aprendizado, você já pode responder à próxima atividade. Atividade de aprendizagem 93 Este é um momento de autoavaliação, em que você vai poder refletir e validar o que aprendeu neste módulo. Leia comatenção a pergunta e, no ambiente virtual de aprendizagem, escolha a resposta ade- quada. D) No SAF, o manejo do sombreamento não é prioridade, visto que a intensidade de sombra não afeta o desenvolvimento das plantas. Assim, não há necessidade de definir as espécies arbóreas que farão parte do consórcio, pois a intensidade de sombra pouco importa. No SAF, o manejo do sombreamento não é prioridade, vis- to que a intensidade de sombra não afeta o desenvolvimento das plantas. Assim, não há necessidade de definir as espécies arbóreas que farão parte do consórcio, pois a intensidade de sombra pouco importa. C) Os benefícios socioambientais proporcionados pelo SAF não são muito signi- ficativos, visto que, para implantar o sistema, é necessária muita mão de obra, o que acarreta aumento nos custos de produção. Também não é possível observar ganhos ambientais significativos. B) No sistema agroflorestal (SAF), é possível obter diversas fontes de renda o ano todo, graças à exploração comercial de extratos na copa do cacaueiro e à comer- cialização da madeira de espécies arbóreas usadas como sombreamento. A) O cultivo de cacau no modelo SAF não é o mais recomendado, porque os cacaueiros não toleram a associação a outras espécies, nativas ou cultivos alimentí- cios, porque competem entre si, o que afeta a produção de amêndoas. E) Os SAFs podem ser usados por qualquer produtor rural, mas é importante se atentar aos recursos tecnológicos e às condições de cada região. Os SAFs podem ser do tipo permanentes contínuos; permanentes zonais e permanentes mistos. Questão 1 Nos sistemas agroflorestais (SAFs), árvores interagem simultaneamente com cultivos agrícolas. Sobre as características dos SAFs, assinale verda- deiro ou falso: Atividade de aprendizagem 94 A) No sistema “corte e queima”, há apenas a derrubada e a queimada de uma par- te da vegetação florestal. Logo em seguida, as sementes de cacau são plantadas e não há a necessidade de fornecer sombreamento temporário para elas. Questão 2 Ao longo da história do cultivo de cacau, o sistema de plantio passou por diversas adaptações a fim de alcançar a sustentabilidade e a rentabilidade dos cultivos. Atualmente, há vários métodos de cultivar o cacau. Sobre este assunto, assinale a alternativa correta. Atividade de aprendizagem B) O plantio feito sob a mata raleada, conhecido como cabruca, foi uma adaptação do método “corte e queima”. Nesse caso, era feita a derrubada da vegetação arbó- rea nativa para a abertura de espaços para o cacaueiro, sem a prática da queimada. C) No sistema cabruca, os custos com mão de obra são superiores ao método “cor- te e queima”, pois é necessário maior atenção ao sombreamento, ao aparecimento de plantas invasoras, pragas e doenças. D) O método de derrubada total teve grande disseminação na Bahia. Para a im- plantação do cacaueiro, era feita a roçagem da vegetação nativa, seguida das práti- cas de derrubada de todas as árvores existentes na área e queima da vegetação 60 dias após a derrubada. E) O sistema cacau x seringueira configura um dos maiores sucessos de cultivo de cacau sob sombreamento. Isso é devido à sombra ideal que as seringueiras propor- cionam aos cacauais. Consequentemente, há diminuição dos custos de produção, devido ao maior controle de plantas invasoras. 95 A) Independentemente da variedade de cacau usada, os ganhos de produtividades alcançados no sistema pleno sol não são compensatórios, visto que os custos de produção são altíssimos. Questão 3 O sistema pleno sol surgiu como uma alternativa de expansão e sustenta- bilidade da atividade cacaueira, devido ao fato de esses plantios estarem menos sujeitos ao ataque da vassoura-de-bruxa. Baseado no conhecimen- to sobre esse sistema, assinale verdadeiro ou falso: Atividade de aprendizagem B) No sistema pleno sol, não há a necessidade de formação de sombra temporária tampouco definitiva, visto que as plantas se desenvolvem de forma excelente. C) Para o estabelecimento de cacaueiros nessas novas áreas, é recomendado o uso de mudas de saco grande, conhecida como “mudão”, para que haja a formação de áreas uniformes e vigorosas. D) No sistema pleno sol, a irrigação pode ser suprimida, pois reduz os custos de mão de obra e de materiais necessários para a instalação dos sistemas de irrigação. Módulo 3 Implantação da cultura 97 Olá! Receba nossas boas-vindas ao Módulo 3 do curso! Como você deve imaginar, o momento de implantação da cultura é determinante para o sucesso produ- tivo da lavoura de cacau. Nesse momento, é definido um dos principais componentes de rendimento: o sombreamento, que pode afetar diretamente a produtividade do cacaueiro. Neste módulo, você vai conhecer os aspectos primordiais para a produção de mudas de qualidade, a escolha certa da área de cultivo, a implantação e a manutenção da lavoura no primeiro ano de plantio. Tudo pronto para adquirir todo esse conhecimento? Então, avance para a Aula 1 e comece seus estudos! 98 Módulo 3 - Aula 1 Preparo das mudas 99 - Bom, Edu, pra renovar e ampliar minha lavoura, sei que vou precisar de mudas. Já sei que posso conseguir mudas plantando a semente, por estaquia ou por enxertia, mas será que essas técnicas não são muito complicadas pra uma iniciante? Lembre que eu quero um resultado de alta qualidade! - Gabi, é muito possível que você produza mudas no sítio Santo Isidoro! Mas vamos cuidar pra fazer uma seleção genética boa, buscando uma ótima planta-mãe, combinado? podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Produzir mudas em viveiro é uma técnica usada como forma de obter maior produtividade no primeiro período de crescimento das plantas. As mudas são facilmente produzidas e têm baixo custo. Tanto para pequenos quanto para grandes produtores, conhecer como funciona a instalação de viveiros de produ- ção de mudas de cacaueiro é essencial para avaliar a melhor alternativa para a realidade da sua fazenda. Produção de mudas em viveiro Como vimos no módulo anterior, o cacaueiro pode ser reproduzido por propagação sexuada (sementes) ou assexuada (vegetativa, por estaquia ou enxertia). O intuito é sempre obter mudas com alta produti- vidade, tolerantes ao estresse hídrico e resistentes às principais doenças, como a vassoura-de-bruxa, a podridão-parda e o mal-do-facão. Essas e outras doenças serão abordadas no Módulo 4. Qualquer produtor pode produzir mudas de cacau, desde que para uso próprio, e não para comercialização. Para conseguir boas mudas, alguns aspectos técnicos devem ser observados, como a instalação de viveiros, os métodos de produção de mudas e os tratos culturais. Tudo isso, você vai aprender neste curso. 100 Atenção! Para as mudas provenientes de estaquia, desde 2007, o Mapa (Ministério da Agricul- tura, Pecuária e Abastecimento) recomenda que os viveiros comerciais tenham cer- tificação, uma garantia da qualidade genética e sanitária das mudas ali produzidas. O substrato O primeiro passo para a produção de mudas em viveiro é ter um bom substrato, que vai fornecer o ne- cessário para o cacau se desenvolver forte e saudável. O substrato usado para mudas seminais é chamado de terriço e é composto por solo, areia, matéria orgânica, fertilizantes químicos e calcário. Ele pode ser produzido pelo produtor ou adquirido comercial- mente por empresas especializadas. Caso seja produzido na propriedade, você deve considerar alguns atributos. Confira: Prefira solos ricos em matéria orgânica, livre de pragas (prin- cipalmente formigas e cupins) e isento de sementes de plantas invasoras. Use materiais orgâni- cos como pó de serra, casca de amêndoa de cacau decomposta, es- terco animal (bovino ou de aves) curtido. 101 Misture os componen- tes para preparação do terriço. Prepare os sacos com terriço para recebi- mento das sementes. Vale dizer que o uso de materiais orgânicos no terriço melhora a porosidadedo substrato e a infiltração de água, fornecendo nitrogênio e possibilitando uma melhor penetração da raiz. O substrato usado para mudas por estaquia deve ser adquirido em casas agropecuárias e é específico para este fim, já que o terriço não tem características adequadas para promover o bom desenvolvimento do sistema radicular das estacas. No viveiro, em canteiros, posicione os sacos de polietileno com fundo perfurado preenchidos com terriço. Para conservar a umidade e controlar as plantas invasoras, acrescente uma fina camada de serragem à superfície dos sacos. 102 Tratos culturais Os tratos culturais no viveiro devem ser rotineiros e seguir orientações específicas. Confira a seguir: Irrigação das mudas A irrigação varia de acordo com o estágio da planta. Siga este cronograma: ⚫ nos primeiros 30 dias: duas regas por dia; ⚫ entre 30 e 90 dias: uma rega por dia; e, ⚫ 90 dias após semeadura: uma rega em dias alternados. Adubação das mudas A adubação foliar deve ser quinzenal. Use um pulverizador manual com 0,05% ureia, que é fonte de N (50 g de adubo para 10 litros de água). A adubação com nutrientes pode ser feita 45 dias após a germinação. Controle de plantas invasoras nos viveiros Assim que notar a presença de plantas daninhas, aplique o método de controle mais adequado, que poderá ser feito de forma manual (arranquio), mecanizado ou químico. No último caso, deve, obrigatoriamente, seguir recomendação técnica. Controle de doenças nos viveiros As principais doenças são causadas por fungos patogênicos que infectam tanto as folhas novas quanto os tecidos mais maduros e podem causar danos irreversíveis. Os mais comuns são os gêneros Phytophthora, Colletotrichum e Moniliophthora. O manejo de controle consiste em: ⚫ diminuição das regas; ⚫ eliminação de plantas doentes; ⚫ redução do sombreamento; ⚫ uso de fungicidas comerciais a base de cobre (devem ser registrados no Mapa e depen- dem de recomendação técnica). 103 Controle de pragas nos viveiros Em viveiros, é comum o aparecimento das pragas. Fique atento a: ⚫ Brocas-da-muda: pequenos besouros que formam galerias circulares nas mudas e podem levá-las à morte. ⚫ Cochonilhas e ácaros: causam o amarelecimento das folhas e queda dos primórdios folia- res. ⚫ Vaquinhas: se alimentam da extremidade apical do ramo e causam danos significativos. Atenção! O controle deve ser feito de forma preventiva, de forma a monitorar as mudas e ob- servar a incidência dos insetos. Em caso de infestações acima do dano econômico, use inseticidas recomendados por um técnico, registrados no Mapa. Instalação do viveiro Os viveiros podem ser classificados em dois tipos, a depender da quantidade de mudas a serem produzi- das, veja a seguir: Trata-se de um local para produção de mudas em grandes quantidades, geralmente para fins comerciais. A construção com materiais mais resistentes torna as instalações mais duradouras. Viveiro permanente É usado para acondicionar as mudas por um curto período até o plantio para abastecer, exclusivamente, a demanda da propriedade, ou seja, não tem fins comerciais. Pode ser constru- ído com materiais alternativos, como bambu, palha e sombrite. Viveiro provisório 104 Nos viveiros permanentes, o produtor precisa seguir todos os procedimentos em relação à produção e à comercialização de mudas conforme determinação legal. Clique nos títulos e confira as leis na íntegra: Lei n.º 10.711, de 5 de agosto de 2003. Decreto n.º5.153, de 23 de julho de 2004. Confira também como fazer o registro: Inscrição no Renasem Registro no RNC Vá além! Para construir um viveiro, independentemente do tipo, é preciso considerar a localização e o dimensio- namento. A localização do viveiro é definida por algumas características: ⚫ o terreno deve ser plano ou com inclinação de até 3%; ⚫ o solo precisa ser permeável para evitar o encharca- mento, com textura arenoargilosa; ⚫ a irrigação das mudas deve ser feita com água prove- niente de boa fonte de captação, próxima ao viveiro; ⚫ o local deve ser próximo das áreas de plantio para faci- litar o transporte e a distribuição das mudas; e, ⚫ deve dispor de energia elétrica. Confira o dimensionamento mais adequado dos viveiros: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.711.htm#:~:text=LEI%20No%2010.711%2C%20DE%205%20DE%20AGOSTO%20DE%202003.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20o%20Sistema%20Nacional,Mudas%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5153.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%205.153%2C%20DE%2023%20DE%20JULHO%20DE%202004.&text=Aprova%20o%20Regulamento%20da%20Lei,que%20lhe%20confere%20o%20art. http://sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/RENASEM.html https://sistemas.agricultura.gov.br/snpc/cultivarweb/index.php 105 Quer saber quais são as dimensões adequadas para um viveiro oferecer boas condições de cultivo? Então, acompanhe! O viveiro deve comportar canteiros para todas as mudas que se deseja produzir, com uma margem de sobra de aproximadamente dez por cento. Então, se você quer produzir dez mil mudas, deverá construir um viveiro que comporte por volta de onze mil plantas. Um metro quadrado de canteiro suporta até cinquenta mudas em sacos plásticos de trinta e cinco por quinze centímetros. Os canteiros devem ter um metro de largura por dez metros de comprimento e ser separados por ruas com oitenta centímetros de largura, tamanho adequado para transitar com ferramentas ou equipamentos de transporte, como carrinho de mão, por exemplo. Os corredores devem ter um metro e vinte de largura, localizados na extremidade do vivei- ro, de modo que permita o trânsito de veículos de transporte maiores, como carretinhas de reboque. A cobertura do viveiro deve ter dois metros e meio de altura, estruturada por esteios distanciados a três metros um do outro. Faça a cobertura com tela sombrite de lu- minosidade cinquenta por cento para viveiros permanentes. Se você estiver preparando um viveiro provisório, pode optar por cobertura de bambu ou palha. Use mourões de madeira ou concreto para sustentar a cobertura e feche as laterais numa altura de um metro com cercas para evitar a entrada de animais e pessoas não autorizadas. Utilize cercas vivas para diminuir o vento, plantando bananeira, eucalipto ou capim-elefante. Muito bem! Agora você tem todos os conhecimentos necessários para a instalação de um viveiro. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. Produção das mudas No módulo anterior, você aprendeu os conceitos básicos da produção de mudas. Mas, nesta aula, vamos aprofundar esses conhecimentos. Para tanto, vamos retomar e detalhar alguns aspectos. Acompanhe! Existem vários tipos de mudas que podem ser usadas: clonais, de estaca enraizada, seminais, de varieda- des tradicionais, seminais enxertadas com enxertos tolerantes (que têm elevado potencial produtivo), dentre outras. A escolha vai depender da estratégia adotada e dos objetivos do produtor, além da capa- cidade de manejo do agroecossistema. Vamos abordar essas estratégias. 106 Diz o Currículo… De acordo com o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, você deve usar ma- terial propagativo adequado e recomendado tecnicamente, de origem conhecida, levar em conta as especificidades edafoclimáticas da região onde será usado e seu potencial produtivo. Não deixe de prestar atenção a todos esses itens! Produção de mudas a partir de sementes Produzir mudas a partir de sementes é uma técnica de fácil manejo. As sementes germinam de forma rápida, e, logo, as plântulas surgem no viveiro. As mudas obtidas por semente são usadas principalmente como porta-enxertos. Devem ser observados atributos como: ⚫ tamanho e desenvolvimento uniforme; ⚫ excelente vigor vegetativo; ⚫ boa sanidade; ⚫ presença de 5 a 8 pares de folhas; ⚫ caule com diâmetro de 0,7 a 1 cm; e ⚫ idadede 4 a 6 meses. Atenção! Alguns clones são mais indicados para o método de enxertia por serem resistentes ao mal-do-facão (Ceratocystis): o TSH 1188, o Cepec 2002 e o cacau comum (pará, parazinho, entre outros). Mas como a produção é iniciada? Descubra agora! 107 Primeiro, as sementes são retiradas de frutos maduros, e as extremidades dos frutos são eliminadas, pois as sementes dessas regiões têm baixa viabilidade. Em seguida, é feita a limpeza. É retirada a polpa por completo, e feita a secagem em local ventilado e sombreado por até 24 horas. Depois, pode-se fazer a pré-germinação, para que a se- mente emita sua raiz embrionária (radícula). Isso é feito em canteiros reduzidos, chamados sementeiras, em sacos que contêm substrato na proporção 2:1, ou seja, duas me- didas de serragem e uma medida de areia. Por exemplo: 100 kg de serragem para 50 kg de areia. As sementes são colocadas nesse local e cobertas com o substrato, com a parte mais larga da semente voltada para baixo. A irrigação deve ser feita de modo a manter o substrato sempre úmido, mas não encharcado. Após cinco dias, transplante as sementes para os sacos (ou tubetes) com terriço e enterre, aproximadamente, 1 cm da semente. As mudas são colocadas nos canteiros uma ao lado da outra e irrigadas imediatamente. Na prática 108 O trato cultural demanda monitoramento diário para que se observe o aspecto e o aparecimento de plantas invasoras, pragas, doenças e retirada de mudas mortas ou tombadas. Produção de mudas por enxertia e estaquia (clones) Você já sabe o que esses termos significam, pois já estudamos no módulo anterior. Vale lembrar que a propagação vegetativa, por meio de enxertia e estaquia, pode ser feita a partir de diversas partes da planta-mãe, como galhos, hastes ou ramos. Uma das vantagens é a obtenção de clones com excelente produtividade, vigor e tolerantes a doenças e pragas. Agora, você vai saber detalhadamente como esses processos acontecem. Vamos começar com a enxertia. Enxertia O porta-enxerto (cavalo) pode ser obtido de viveiros credenciados, a partir de mudas seminais prontas para enxertia, isentas de doenças e com excelente vigor. Você pode produzi-las a partir de sementes, como descrito anteriormente. A coleta dos enxertos é feita em plantas matrizes, de jardins clonais ou até mesmo na própria área de produção. Primeiro, são retirados hastes, galhos ou ramos plagiotrópi- cos (de onde sai a almofada floral). O comprimento deve ser de 50 cm, o diâmetro de 1 cm e um pouco lenhoso. O enxerto é dividido em garfos com 15 cm de comprimento e de 3 a 4 gemas. A enxertia, ou seja, a união do porta-enxerto com o enxerto pode ser do tipo garfagem em fenda cheia ou meia-fenda, brotos basais ou de topo. Agora, conheça as peculiaridades da garfagem em fenda cheia. 109 Usam-se mudas se- minais com 1 cm de diâmetro, cortadas a uma altura de 20 a 30 cm. Segue-se um cor- te transversal centra- lizado a uma profun- didade de 3 cm para a abertura da fenda. O corte no garfo é fei- to dos dois lados que não têm as gemas. Assim, forma-se uma cunha. A amarração é feita com um filme plástico no sentido da extremi- dade superior para a extremidade inferior. O garfo é unido ao porta-enxerto e apli- cada uma solução com fungicida. É necessário formar uma “câmara úmida”. Para tanto, é colocado um saco plástico so- bre a muda, que, em seguida, é amarrado. 21 dias após a enxer- tia, o saco pode ser retirado. 110 A enxertia em meia-fenda é indicada quando o garfo tem diâmetro menor que o do porta-enxerto. Os procedimentos são iguais aos da técnica de fenda cheia. A única diferença é no formato do corte no garfo, do tipo bisel (diagonal). Já a enxertia em brotos basais é indicada para a renovação de plantações com cacaueiros em decadên- cia ou improdutivos. Para tanto, são usadas variedades tolerantes a doenças e de elevada produtividade para substituir a copa de plantas velhas. Veja como deve ser feita: ⚫ use galhos grossos ou do próprio tronco do cacaueiro com idade inferior a 15 anos, por meio de um corte em uma parte da planta sadia; ⚫ os enxertos devem ser cortados no formato bisel e inseridos na fenda aberta no tronco da árvore; ⚫ a área deve ser protegida com uma fita plástica e um saco plástico transparente; ⚫ a planta adulta deve estar isenta de doenças e pragas; e ⚫ os brotos devem ser jovens; pode-se usar a técnica de garfagem de topo em fenda (para brotos com diâme- tro inferior a 2 cm) ou de garfagem de topo lateral (para os brotos maduros, com diâmetro superior a 2 cm). A B 111 Estaquia As estacas são usadas para o enraizamento das mudas, conheça esse processo. Coleta Substrato A coleta deve ser feita no início da manhã. Retire os ramos plagiotrópicos a uma distância de 30 cm da extremidade do ramo. Em seguida, os ramos devem ser transportados para o viveiro para que seja feito o estaqueamento. O substrato adicionado aos tubetes deve ser específico para a produção de estaquias: leve, poro- so e capaz de reter a umidade. Ele deve ser adquirido em casas de agropecuária e ter nutrientes minerais na sua composição. Preparação Estaqueamento Antes do estaqueamento, as estacas são cortadas em garfos com 16 cm de comprimento e 5 gemas. Nesse momento, é necessário o uso de um indutor de enraizamento, o chamado fitormô- nio. Um exemplo é o ácido indolbutírico (AIB). Durante o processo, borrife água sobre as estacas para que se mantenham túrgidas. O indutor deve ser colocado apenas na base dos garfos. Então, os ramos são colocados nos tubetes a uma profundidade de 5 cm e acondicionados no interior do viveiro até a completa formação da muda. Caso você não queira ou não possa produzir mudas, elas podem ser adquiridas de viveiros licenciados. Mas como é esse processo? Descubra a seguir! 112 Posso comprar mudas de cacaueiro? Sim! Você pode adquirir mudas para enxertar ou já enxertadas. Mas atenção: compre sempre de viveiros com certificação. As mudas devem possuir Certificado Fitossanitário de Origem e Guia de Trânsito Vegetal, documentos que asseguram a qualidade e a sanidade. Sempre peça Nota Fiscal de Venda ao viveirista, ela é a sua garantia da qualidade genética e fitossanitária! Transporte as mudas cuidadosamente para não danificar as folhas e o caule. Chegando na sua propriedade, você já pode plantar no campo. Se não conseguir fazer isso imediatamen- te, deixe as mudas em um viveiro ou local com características parecidas. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! 113 Esta aula teve por objetivo apresentar como deve ser feita a instalação de viveiros de produção de mudas de cacaueiro. Você aprendeu sobre: ⚫ a produção de mudas em viveiro; ⚫ a instalação do viveiro; ⚫ a produção das mudas; e ⚫ a manutenção das mudas. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, acho que encontrei um caminho. A enxertia por meio de brotos basais vai permitir que eu renove minha lavoura sem precisar plantar novos cacaueiros, que levariam anos para estabelecer suas raízes! Agora, diante do cenário que foi apresentado e pensando na sua realidade, registre quais conhecimentos podem ser aplicados à sua propriedade. Agora, avance para a Aula 2 para conhecer os fatores relevantes para a escolha da localização ideal para implantação definitiva dos cacaueiros. 114 Módulo 3 - Aula 2 Escolha da área Fonte: IdeflorBio 115 - Edu, já encontrei um caminho pra renovação da lavoura que tenho: usando a enxertia com brotos basais. Mas quero ir além: não seria ótimo aumentar a área de cultivo? Sem dúvidas você tem orientações valiosas pra que eu faça essa ampliação, né? - Claro, Gabi, vamos dar uma olhada no sítio e ver quais áreas seriam mais vantajosas pra essa ampliação! podcast O resgate de Santo Isidoro Acesseo ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Nas aulas anteriores, você aprendeu sobre a botânica do cacaueiro, os diferentes sistemas de cultivo e, principalmente, como produzir as mudas de cacau, com foco nas diferentes técnicas, como o uso de sementes ou clones (na enxertia e estaquia). Pois bem, todos esses conhecimentos são muito importantes, mas, na prática, podem ser postos a perder se as mudas não forem implantadas numa área adequada para a lavoura. Isso mesmo! A escolha da área é muito importante e, nesta aula, você vai aprender todos os aspectos que precisa observar ao iniciar sua plantação de cacau. Aspectos favoráveis à implantação do cacaueiro Antes de fazer o plantio das mudas, é necessário identificar e preparar o local para o cultivo do cacauei- ro. O recomendado é que o local seja próximo ao mercado consumidor, o que viabiliza a comercialização do produto, diminui os custos, facilita o trabalho e contribui para uma melhor gestão da propriedade. Mas existem outros aspectos a serem observados. Alguns fatores são determinantes para o sucesso do cultivo de cacau: a região onde a lavoura vai ser implantada deve ter clima, solo, ventos, chuvas e umi- dade propícios ao cultivo. Além disso, deve ter topografia adequada e dispor de energia elétrica. Vamos conhecer esses aspectos mais a fundo. Clima Você já sabe que o cacaueiro é uma planta que surgiu na região equatorial, em áreas sombreadas e com umidade abundante. Em termos mais práticos, para um bom plantio, é preciso: 116 Precipitação pluviométrica média/ano 1500mm Boa luminosidade Umidade relativa +70% Ventos fracos Temperaturas +21°C Mas, e se sua propriedade não está nessas condições, tudo está perdido? Descubra a resposta agora! O clima da minha propriedade não é o ideal. Consigo plantar os cacaueiros? Sim, é possível cultivar cacaueiros em condições climáticas diferentes, sob algumas condi- ções. No Semiárido e no Cerrado do Brasil, você deverá fazer irrigação e fertirrigação, usar cercas vivas para barrar o vento e escolher variedades mais produtivas. Se houver ventos fortes, utilize quebra-ventos plantando pinus, eucalipto, bambu, bananeira ou capim-ele- fante, por exemplo. Isso evita tombamento, queda das flores e frutos e aumento no consu- mo de água. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! 117 Tipo de solo Confira as características de solo mais adequadas para o cacaueiro. A profundidade deve ser superior a 1 m, sem camadas compac- tadas. Não deve haver ocor- rência de encharca- mento ou problemas de drenagem. Deve ter textura arenoargilosa ou argiloarenosa (textura mediana). Deve ser rico em matéria orgânica para propiciar o melhor desenvolvimento ao sistema radicular das plantas. 118 Atenção! A análise química do solo é muito importante! A amostra de solo deve ser obtida de um local homogêneo, a uma profundidade de 20 cm ou de 20 a 40 cm. O resul- tado da análise vai auxiliar nas práticas de calagem e adubação, para correção de acidez e fertilidade, respectivamente. Relevo O relevo da área também deve ser analisado. O mais adequado são terrenos com relevo plano ou leve- mente ondulado (declividade de até 5%). Essas características facilitam os tratos culturais do cacaueiro. Caso o plantio seja feito em encostas, é necessário o uso de práticas de conservação do solo, como o plantio em curvas de nível, cobertura permanente do solo ou cobertura morta (mulching) e o preparo manual da área. Observadas essas características, a área poderá ser dividida em hectares (ha), em quadras, glebas ou talhões, de acordo com a topografia, o solo, a vegetação e a idade da lavoura, caso já exista no local. Isso facilita o manejo, as práticas culturais e a colheita. Diz o Currículo… Sobre a gestão ambiental, o Currículo de Sustentabilidade do Cacau faz algumas recomendações durante o planejamento. Confira: ⚫ não deve haver desmatamento ou degradação da floresta primária e/ou flo- resta secundária desde 2008, a menos que estejam disponíveis licenças am- bientais governamentais; ⚫ não use lenha ilegal; ⚫ destine adequadamente os resíduos sempre que possível, promova a recicla- gem e a compostagem, evite a queima; e ⚫ não lance efluentes poluentes, inclusive esgoto doméstico, diretamente em corpos de água e buscando dar-lhes destinação adequada. 119 Esta aula trouxe muitas informações sobre os aspectos favoráveis à im- plantação do cacaueiro. Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua: algum as- pecto da produção pode estar inadequado às necessidades dessa cultura? Você poderia fazer algo a respeito? Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? Pois é! No meu caso, localizamos uma área com relevo interes- sante, mas a análise do solo indicou que precisarei fazer algum investimento para corrigir a acidez e a fertilidade. Ter o Edu por perto vai ser fundamental para que a ampliação da minha lavoura dê bons resultados financeiros. Agora, avance para a Aula 3 para conhecer como deve ser feita a preparação da área. 120 Módulo 3 - Aula 3 Preparo da área 121 - Edu, que bom te receber aqui no viveiro. Você viu como as nossas mudas estão crescidas? - Sim, foi um belo trabalho, hein? Logo elas estarão prontas pro plantio, então precisamos preparar o terreno pra esse momento. - Imagino que isso seja importante para que os cacaueiros se tornem muito produtivos, né? - Importante demais, Gabi, essa é uma etapa fundamental. podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Para preparar a área onde será implantado o cultivo de cacau, deve-se considerar o sistema de plantio a ser usado: cabruca ou outro modelo de SAF. A escolha vai depender do tipo de cobertura vegetal exis- tente na área e das condições do produtor para instalar e manter o modelo selecionado. Diz o Currículo… Você não deve produzir cacau ilegalmente em Unidades de Conservação de Prote- ção Integral, terras públicas em geral, terras indígenas e comunidades quilombolas, segundo o Currículo de Sustentabilidade do Cacau. Escolher o local adequado para sua lavoura é uma prática fundamental. Tipos de preparo Você sabia que, até a década de 1990, antes da Lei da Mata Atlântica e do Código Florestal Brasileiro, a queima da vegetação para instalação de novas áreas era prática normal? Hoje, sabe-se que é preciso atentar-se à conservação do meio ambiente, evitar a queima e o desmata- mento e preservar mananciais, matas ciliares e outras áreas de proteção permanente, como Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais (RLs). Por isso, o preparo da área deve fazer uso de práticas que foquem na conservação da água e do solo, como: 122 ⚫ o terraceamento e o plantio em curva de nível; ⚫ a manutenção da cobertura permanente do solo; ⚫ os cordões de contenção; ⚫ o uso de máquinas apenas em regiões onde o declive for menor que 10%. A limpeza é necessária para facilitar os próximos passos do preparo do solo, que consiste em: aração, gradagem, subsolagem (em casos de compactação subsuperficial), correção do solo e adubação. Confira como essas etapas devem ser conduzidas: O primeiro passo é a limpeza manual ou mecanizada. De- ve-se fazer a remoção das plantas indesejáveis presentes na área e, depois, remover suas raízes (destoca completa). As árvores de copas mais altas devem ser mantidas. A aração consiste em revirar as camadas do solo (até 20 cm) para descompactação superficial, aumentar sua poro- sidade, controlar as plantas invasoras e incorporar restos culturais. Na prática 123 Na sequência, temos a gradagem, cujo objetivo é nivelar a superfície do solo e incorporar calcário e gesso a fim de corrigir o pH. Abaixo dos 20 cm, pode haver áreas com camadas com- pactadas, queimpedem a infiltração de água e prejudicam o crescimento radicular do cacaueiro. Nesses casos, é usa- do um subsolador, implemento que rompe as camadas do solo em uma profundidade de até 40 cm. Análise e correção do solo Após o preparo, amostras de solo devem ser coletadas e analisadas para verificar a fertilidade da área. Ela vai indicar o pH, os nutrientes e outros elementos presentes. Diz o Currículo… Não deixe de estabelecer um plano de nutrição e correção de solo de acordo com recomendação técnica baseada na análise periódica. Essa é uma prática prioritária, de acordo com o Currículo de Sustentabilidade do Cacau. Para essa amostragem, são necessárias algumas ferramentas: trado holandês, pá reta ou enxadão, balde e saco plástico, confira a seguir. 124 Cada porção de solo coletada é chamada de “amostra sim- ples”, e a união de todas elas, quando homogeneizadas, resulta na “amostra composta”. Para garantir a representatividade da área, deve-se ter pelo menos 20 amostras simples, que compõem uma amostra composta, com aproximadamente 500g. Para coletar amostras simples, caminhe em zigue-zague por toda a área, use o trado holandês e armazene o solo no balde plástico. Devem ser coletadas amostras em duas profundidades diferentes, de até 20 cm e de 20 a 40 cm, pois o cacaueiro é uma planta perene. Na prática 125 Colete as amostras simples de cada profundidade e use baldes diferentes para conseguir a amostra composta. Ao fim da coleta, misture o conteúdo do balde para homo- geneizá-lo. O resultado será uma amostra composta. Coletada a amostra composta, coloque-a em um saco plás- tico, identifique cada uma e encaminhe-a para o laborató- rio que fará a análise. Mas o que fazer com o resultado dessa análise? Conheça a resposta a seguir! 126 Enviei a amostra para a análise. E agora? A interpretação da análise deve ser feita por um profissional capacitado, com registro no conselho de classe. Ele indicará como corrigir o pH por meio da adição de calcário, indican- do o tipo e a quantidade a ser aplicada. Em geral, essa ação deve ser feita dois meses antes do plantio, então envie suas amostras para análise o quanto antes! podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Diz o Currículo… De acordo com o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, é uma prática prioritária adotar técnicas de conservaçãodo solo no plantio e na condução do cacau, sem per- der de vista a taptidão edafoclimática (relativo ao solo e clima). Atente-se sempre à conservação do solo e à aptidão. Conheça mais detalhes sobre a calagem, a adição de calcário ao solo para corrigir seu pH. 127 Para o plantio de cacau, o pH entre 5,8 e 6,2 é o ideal. Caso você precise adicionar calcário ao solo para chegar a este resultado, saiba que poderá usar o dolomítico ou o calcítico, a depender da recomendação técnica. A aplicação deve ser feita em toda a área e em cobertura do solo. Posteriormente, deve ser incorporada ao solo com a grade. Tudo isso deve ser feito dois meses antes do plantio. Porém, em alguns casos, é aceitável a aplicação na cova de plantio, com efeito restrito àquele local. Como o calcário é pouco móvel no solo, em caso de eleva- da acidez nas camadas mais profundas, uma boa alterna- tiva é o uso de gesso. Como ele é mais móvel no solo que o calcário, consegue corrigir a acidez em profundidade. Assim, é favorecido o aprofundamento das raízes do cacau e a captação de água e nutrientes. Na prática Balizamento Antes do plantio das mudas, é necessário demarcar a área de modo a indicar as linhas de plantio. Essa operação, conhecida também como alinhamento, possibilita a localização exata das covas ou dos sulcos para o plantio do cacau. 128 As balizas (tocos de árvores, estacas ou outros materiais) são usadas para marcar a posição das covas em que as mudas de cacau e outras espécies (em caso de SAF) serão plantadas. Para as mudas de cacau, o recomendado é usar um espaçamento de 3 x 3 m (o que resulta em 1.111 plantas/ha) ou 4 x 3 m (833 plantas/ha). O balizamento correto permite um melhor aproveitamento da área, que resultará no desenvolvimento uniforme das copas e facilitará o manejo e a colheita do cacau. Em terrenos planos, as linhas de plantio devem seguir o sentido leste-oeste, ou seja, o nascer e pôr do sol. Em terrenos declivosos, é indicado o plantio em curvas de nível, para garantir a incidência adequada de luz. Nunca plante “ladeira abaixo”, no sentido do declive do terreno. Atenção! Aproveite este momento para planejar a implantação do sistema de irrigação a fim de suplementar o fornecimento de água. O ideal é que seja com microaspersores ou gotejamento, ok? Preparo das covas e plantio das mudas A próxima etapa é a demarcação das covas ou dos berços a partir da limpeza local, com a retirada de plantas invasoras. Confira os passos desse procedimento. 129 40cm 40 cm As covas são abertas nas dimensões de 40 x 40 x 40 cm com auxílio de pás, enxadecos ou cavador; ou mecanizada, com um perfurador de solo acoplado ao trator. 01 A adubação de fundação é feita durante a abertura das covas e usa fertilizantes químicos ou orgânicos, de acordo com as recomendações técnicas de um especialista. 02 O passo seguinte é o plantio nas covas, em que se pressiona o solo em torno da muda. 03 É aconselhável fazer o uso de cobertura morta para proteger o sistema radicular da muda e manter a umidade adequada, a fim de evitar perdas por evaporação. 04 O tutoramento de mudas pode ser feito com tutor ou vara de madeira para manter a muda erguida e evitar o tombamento pela ação do vento. 05 Para utilizar cobertura morta, cubra o solo ao redor da cova com material seco, como capim, palha de feijão, de milho ou de café. Manutenção no primeiro ano do plantio Depois do plantio, tem-se início a fase do cultivo, na qual é necessário fazer uso de algumas técnicas de manejo, próprias para que o cacaueiro se desenvolva e chegue ao ponto de colheita. Esse manejo inclui cuidados com o sombreamento e o controle de plantas invasoras, por exemplo. Confira agora os pontos que precisam da sua atenção nesta etapa! Manejo do sombreamento Conforme o cacaueiro cresce, precisa de cada vez menos sombra. Em certo momento, o sombreamento em excesso prejudica a produção, pois, ao reter mais umidade e tornar as temperaturas mais amenas, favorece o desenvolvimento de doenças. 130 Por isso, é necessário fazer o manejo do sombreamento, com o raleamento progressivo da sombra. O raleamento consiste na retirada de plantas que causam sombreamento em excesso sobre o cacau a fim de man- ter as condições ideais para o desenvolvimento da cultura principal. Quer saber mais detalhes sobre como o sombreamento deve ser feito? Então, confira a seguir! Agora, vamos conversar sobre o manejo do sombreamento na cultura do cacau. Acompa- nhe! O manejo de sombra deve ser realizado em todos os sistemas de plantio e é importante para fornecer a luminosidade adequada de acordo com a etapa de desenvolvimento do ca- caueiro. Quando a muda é recém-plantada, precisa de mais sombra. Isso porque o excesso de raios solares acelera seu metabolismo e faz com que consuma mais água e nutrientes do solo. A radiação solar intensa pode também tornar as flores do cacaueiro inférteis. Dois meses após o plantio definitivo das mudas, deve ser feito o raleamento leve da vege- tação de sombreamento provisório, caso da bananeira e do feijão-guandu. Isso vai permitir mais entrada de luz à planta. Aos sete meses, deve ser feito o coroamento ao redor do cacaueiro. Você vai remover totalmente as plantas de sombreamento provisório, deixando os resíduos ali mesmo, para melhorar a umidade e a proteção do solo. Isso também contribui com aspectos químicos e físicos do solo. Já na fase adulta, quando a planta está em plena produção, é necessário um sombreamen- to definitivo, fornecido por árvores de maior porte,que vão influenciar na quantidade de luz disponível e na ventilação da lavoura. O raleamento deve ser feito conforme a planta for ganhando maturidade, permitindo a adaptação das copas às novas condições de luz. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. 131 Se você estiver recuperando uma lavoura já implementada e com baixa produtividade, atenção! O raleamento é uma das práticas com maior impacto na produtividade do ca- caueiro. Fique atento ao sombreamento da sua lavoura e colha excelentes resultados! Aprofunde seus conhecimentos sobre o assunto: assista a um vídeo sobre o manejo de plantas exóticas na cabruca para o aumento de produtividade do cacau. Clique aqui e confira! Vá além! Controle de plantas invasoras no cacaueiro O controle de plantas invasoras exige atenção durante o ano todo. Esse é um dos itens que mais impac- tam o custo operacional de produção. As operações para controle de plantas invasoras podem ser feitas com técnicas de controle físico, biológico ou químico. Confira: Controle físico manual Controle físico mecânico É feito por meio de capina ou roçagem. Veja a diferença: ⚫ Capina: as plantas daninhas são retiradas com o sistema radicular, para conter o seu cresci- mento. ⚫ Roçagem: o corte é feito rente ao solo, e retirada apenas a parte aérea das plantas. Essas técnicas são eficientes, mas têm baixo rendimento e elevado custo com mão de obra. Por isso, são mais indicadas para pequenas e médias propriedades; áreas declivosas, onde a mecani- zação não é possível; e, em plantios mais adensados. Pode ser feito com grade cultivadora, enxada rotativa ou roçadeira acoplada ao trator. A vanta- gem é o excelente rendimento, pois há economia de tempo e recursos. https://www.youtube.com/watch?v=Xpz69-ANCYs 132 Controle biológico Controle químico Consiste no uso de tecnologias naturais, que mantêm a população de plantas invasoras em níveis baixos o suficiente para que não causem danos econômicos. Um exemplo é a alelopatia, obtida com o uso de coberturas vivas ou mortas. Consiste no uso de herbicidas registrados no Mapa. Devido à praticidade e ao baixo custo, esse método é bastante usado nas lavouras, principalmente no estabelecimento da cultura no campo. Os riscos e os benefícios do uso do produto devem ser avaliados por um profissional habilitado, devido à sua forma de uso e à presença de outras culturas sensíveis ao ingrediente ativo. Você viu que um exemplo de controle biológico é a alelopatia. Mas você sabe o que é isso? Descubra agora! O que é alelopatia? A alelopatia é a influência exercida por uma planta ou microrganismo em outras plantas, seja inibindo ou estimulando sua germinação ou crescimento. Essa influência se dá por meio de substâncias que são secretadas no solo. Você pode utilizar a alelopatia a seu favor utilizando coberturas vivas, com o plantio de feijão-de-porco, ou mortas, por meio da palhada. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Conheça algumas dicas práticas para usar a alelopatia na sua lavoura de cacau. 133 Para a alelopatia ter efeito, deve-se ter um volume signi- ficativo da planta de cobertura, que deve ser renovado periodicamente. No caso da cobertura viva, podem ser usadas espécies como feijão-de-porco, mucuna-preta ou crotalária planta- das nas entrelinhas da lavoura de cacau ou no sistema de consórcio com a cultura. Essas plantas favorecem a incor- poração de nutrientes no solo. Já o uso da cobertura morta é feito pela formação de palhada, que inibe a germinação e a emergência de plan- tas invasoras. A palhada pode ser composta pelas próprias invasoras ou por outras espécies e contribui, de forma sig- nificativa, para o incremento de matéria orgânica no solo. Na prática 134 Nesta aula, você ficou sabendo mais sobre o preparo da área para implan- tar sua fazenda de cacau! Você aprendeu sobre: ⚫ os tipos de preparo da área; ⚫ a análise e a correção do solo; ⚫ o balizamento; ⚫ o preparo das covas; ⚫ o plantio das mudas; e ⚫ a manutenção no primeiro ano do plantio. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? Na área em que vou plantar as mudas, já foi feita a aração e a gra- dagem. Pela análise que o Edu fez, não vamos precisar do subso- lador. Preciso preparar as covas para o momento do plantio, fazer o balizamento adequado e manter o distanciamento correto para a SAF que optei por usar no meu sítio: o sistema consorciado de cacau e coqueiro! Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua: algum aspecto da produção pode estar inadequado às necessidades dessa cultura? Você poderia fazer algo a respeito? Muito bem! Depois de todo esse aprendizado, você já pode responder à próxima atividade. Atividade de aprendizagem 136 Este é um momento de autoavaliação, em que você vai poder refletir e validar o que aprendeu neste módulo. Leia com atenção a pergunta e, no ambiente virtual de aprendizagem, escolha a resposta ade- quada. Questão 1 Em relação à produção de mudas de cacau, existem dois métodos de propagação: sexuada (sementes) e assexuada (vegetativa). Quanto ao método de propagação, assinale verdadeiro ou falso: Atividade de aprendizagem A produção de mudas de cacau por meio de sementes consiste em usar sementes ob- tidas de frutos maduros. Elas passam por um processo de limpeza e secagem para que possam ser semeadas diretamente nos tubetes e mantidas em ambiente aberto. A propagação vegetativa é uma multiplicação que usa qualquer parte da planta matriz para a obtenção de novos indivíduos. Uma das desvantagens é que as plan- tas provenientes desse método apresentam baixa produtividade e vigor no campo e são mais suscetíveis a doenças e pragas. A propagação por sementes produz mudas seminais, usadas principalmente para a produção de porta-enxertos. A técnica é muito viável, devido ao fácil manejo para seleção, ao tratamento e à velocidade de germinação das sementes e da emergên- cia das plântulas no viveiro. Na enxertia, o primeiro passo é a obtenção do porta-enxerto que dará origem ao sistema radicular da muda enxertada. Em seguida, os garfos (enxertos) podem ser obtidos a partir de hastes, galhos ou ramos plagiotrópicos, os quais são unidos ao porta-enxerto e mantidos em viveiro até 60 dias após o procedimento. A estaquia não é muito usada pelos cacauicultores por produzir mudas pouco está- veis no campo e muito suscetíveis a doenças, principalmente a vassoura-de-bruxa. A técnica compreende coletar estacas de plantas de cacau e semear em canteiros a céu aberto. 137 Questão 2 A escolha da área para o plantio de cacau é de extrema importância para obter sucesso com a atividade agrícola. De acordo com os aspectos a serem observados na escolha da área, assinale a alternativa correta: Atividade de aprendizagem Antes de fazer o plantio das mudas é necessário atentar-se a alguns aspectos como: proximidade ao mercado consumidor, topografia do terreno, acesso a fonte de energia e de água. O cacau é uma planta pouco exigente em água. Assim, os aspectos a serem obser- vados quanto ao clima são: intensa precipitação pluviométrica (superior a 2000 mm), umidade relativa superior a 85% e temperaturas mais amenas. A implementação de cacaueiros em áreas agrícolas novas, como o Semiárido e o Cerrado, não é indicada, já que essas regiões apresentam condições climáticas inadequadas para a cultura, como excesso de luminosidade e déficit de água. O tipo de solo ideal para o cultivo de cacau são os profundos, sem camada de impedimento, de textura argilosa, que melhor armazena água, necessária para o desenvolvimento do cacaueiro. Antes do plantio, é aconselhável fazer uma amostragem de solo a uma profundi- dade qualquer, para que seja possível conhecer seus atributos químicose físicos. 138 Questão 3 O preparo da área é uma das etapas mais importantes e mais trabalhosas do cacaueiro, pois envolve diversas etapas. No que diz respeito aos atri- butos necessários para o preparo da área, assinale verdadeiro ou falso: Atividade de aprendizagem No preparo da área, não é necessário considerar o tipo de sistema: cabruca ou derrubada total, pois a área precisa ser limpa e a vegetação, eliminada, indepen- dentemente do sistema adotado. Após a aração, a gradagem e a subsolagem, o produtor deve proceder com a amostragem de solo para que seja feita a correção da acidez e dos nutrientes presentes no solo. O balizamento é uma prática crucial, que deve ser feita no momento do trans- plantio. A principal função é facilitar a localização dos cacaueiros e a condução da muda em campo. O manejo do sombreamento depende do sistema adotado (cabruca ou derrubada completa) e consiste em manejar a sombra ideal para o cacaueiro, pois o sombrea- mento depende da idade das plantas. A abertura das covas pode ser feita manual ou mecanicamente. Nesse momento, é feita a adubação de fundação, de acordo com as recomendações técnicas, e o transplantio das mudas de cacau. Módulo 4 Manejo da Lavoura 140 Olá! Receba nossas boas-vindas ao Módulo 4 do curso! Você já deve saber que, para ter uma lavoura com boa produtividade, não basta apenas plantar boas sementes. É preciso cultivá-las, ou seja, cuidar do seu crescimento em todas as etapas. Por isso, neste módulo, você vai aprender sobre diferentes tipos de adubação, para garantir os nutrien- tes necessários às plantas. Vai aprender também como fazer o controle de pragas e doenças por meio do manejo integrado e, por fim, como fazer as podas no cacaueiro. Tudo pronto para adquirir todo esse conhecimento? Então, avance para a Aula 1 e comece seus estu- dos! 141 Módulo 4 - Aula 1 Adubação 142 - Edu, tô impressionada com os resultados que a gente tem alcançado nessa trajetória. Am- pliamos a lavoura e estamos renovando a área que já tínhamos... Vi que várias vezes você mexeu com adubo, mas ainda não te perguntei sobre o assunto... - É verdade, Gabi. Se você quer uma lavoura altamente produtiva, não pode descuidar dos nutrientes que são oferecidos aos cacaueiros. Tenho aplicado adubos tanto na lavoura nova quanto na antiga, e tem técnica pra isso. Deixa eu te explicar melhor... podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! A adubação é um processo de extrema importância numa plantação, pois é responsável pela qualidade dos produtos cultivados. A prática nutre a planta com substâncias necessárias para seu crescimento sau- dável, e isso se reflete na produtividade e na lucratividade do produtor. Nesta aula, você vai aprender sobre a nutrição dos cacaueiros e conhecer diferentes formas de aduba- ção. Adubação/nutrição de cacaueiros Você já sabe que, assim como os seres humanos, as plantas precisam estar nutridas para crescerem for- tes e saudáveis. Para a lavoura de cacau, como em muitas outras, o mais comum é o uso de fertilizantes. Seu uso tem relação com alguns aspectos, como: ⚫ o tipo de solo (disponibilidade de nutrientes e textura); ⚫ a produtividade esperada; e ⚫ a necessidade de reposição de nutrientes em cada ciclo ou safra. 143 No caso das plantas, os nutrientes essenciais podem ser de dois tipos, ambos essenciais para promover o desenvolvimento e a formação de flores e frutos saudáveis, veja a seguir: São requeridos em maior quantidade pela planta. Os principais são: nitrogênio (N), potássio (K), fósforo (P), cálcio (Ca), magné- sio(Mg) e enxofre (S). São necessários para os vegetais, mas em quantidade menor. Os principais são: boro (B), cloro (Cl), mo- libdênio (Mb), cobre (Cu), ferro (Fe), zinco (Zn) e manganês (Mn). Macronutrientes Micronutrientes N K PK Mg N Ca S P B Fe Zn Mg Cu Mb Cl A adubação é feita após a correção do pH do solo, no momento do plantio e durante o crescimento e o desenvolvimento da cultura em campo. Adubos orgânicos ou químicos, com diferentes teores de nu- trientes, podem ser usados como fertilizantes. Confira a diferença entre eles. Os adubos orgânicos são obtidos por meio de materiais de origem vegetal ou animal. São ricos em N, P e K e micronutrientes, disponíveis na for- ma de esterco, farinhas, bagaços, cascas e restos vegetais, decompostos ou em processo de decomposição. Eles melhoram a qualidade física, química e biológica do solo. Os adubos químicos são encontrados em três tipos principais. Confira: 144 Adubos químicos Outros Enxofre, boro, cobre, ferro, manganês, zinco Potássico Cloreto de potássio Sulfato de potássio Nitrogenados Ureia Sulfato de amônio Nitrocálcio Fosfatados Superfosfato simples Superfosfato triplo Monoamônio fosfatado Atenção! Não deixe de contar com o apoio especializado. Tanto a recomendação de correção de solo (com uso de calcário ou outro composto) quanto do fertilizante deverá ser feita pelo responsável técnico, engenheiro agrônomo ou técnico agrícola. Adubação de plantio ou fundação A matéria orgânica contida no solo é resultante de restos vegetais e animais que sofrem a ação de mi- crorganismos (fungos e bactérias) pelo processo conhecido como decomposição. É a parte mais rica do solo, porque a decomposição desses materiais resulta no fornecimento de nutrientes às plantas. Além disso, desempenha papel essencial na manutenção solo, pois influencia a estrutura e a estabilidade do solo, a retenção de água, a manutenção da biodiversidade, dentre outros. 145 Dada a diversidade de matéria orgânica existente, é neces- sário fazer a adubação com os macro e micronutrientes de acordo com a análise química do solo. Também é importante acrescentar uma fonte de matéria orgânica em estágio avançado de decomposição, como o húmus de minhocas. Neste tópico, você vai aprender a fazer a primeira adubação, confira: Em até três dias após o plantio das mudas de cacau, deve- -se abrir duas covas pequenas e rasas, chamadas covetas, a uma distância de 30 cm do caule do cacaueiro, onde serão aplicados fertilizantes que tenham fósforo (P). Esse ele- mento é fundamental para o desenvolvimento das raízes das mudas, e essa adubação é essencial, uma vez que os solos brasileiros são pobres em fósforo. Caso você tenha cacaueiros de baixa produtividade, pre- tenda fazer uma enxertia de topo e trazer novos clones para renovar o cultivo, faça a adubação de plantio em até 3 dias após o enxerto. Na prática 146 O cultivo intensivo de cacaueiros com o uso prolongado de fertilizantes químicos pode resultar numa necessidade maior de micronutrientes pela planta. Isso causa sintomas de deficiência nutricional pela falta de B, Mn, Fe e Cu. No sistema cabruca, por conta da maior diversidade de plantas e árvores, essa perda nutricional costuma ser menor. Para conhecer os sintomas da deficiência nutricional do cacaueiro, clique aqui e conheça o Manual de nutrição e adubação do cacaueiro. Vá além! Adubação de manutenção e de produção A adubação de plantio ou fundação é muito importante, mas não a única! Agora, conheça a adubação de manutenção e de produção. https://www.mercadodocacau.com.br/uploads/files/2022/07/manual-de-nutricao-e-adubacao-do-cacaueiro.pdf 147 Quer saber como é feita a adubação de manutenção e de produção? Então, acompanhe! A adubação de manutenção é feita durante os três primeiros anos de cultivo, utilizando adubos nitrogenados e potássicos, divididos em três parcelas e aplicados em cobertura depois que as mudas se estabeleceram na área, na projeção da copa. A primeira parcela deve ter quarenta por cento da dose total recomendada pelo agrôno- mo ou técnico, e é aplicada no início do período chuvoso. As demais devem ser colocadas em intervalos de cinquenta a sessenta dias, e cada parcela corresponde a trinta por centoda dose total. Caso use adubos de fonte de fósforo, a aplicação pode ser feita de uma única vez, no momento da primeira parcela de adubos contendo nitrogênio e potássio, porque a planta demora para absorver o fósforo. Nos dois primeiros anos, os fertilizantes devem ser incor- porados ao solo. Também são recomendadas as práticas de conservação do solo, como o uso de cobertura morta, como restos vegetais, na projeção da copa, para retenção de umidade e controle de plantas invasoras. A forma de aplicação depende da idade das plantas. Se tiver menos de dois anos, o adubo é depositado ao redor da coroa num raio de meio metro. Entre dois e três anos, num raio de um metro. Entre três e quatro anos, num raio de um metro e meio. A adubação de produção é feita após o quarto ano de cultivo, com adubos contendo nitro- gênio e potássio divididos em pelo menos três parcelas e aplicada a lanço, ou seja, não é necessário revolver a terra para incorporação. Fique atento! O adubo deve ser distribuído no quadrante formado pelas plantas, evitando o desperdício. Dessa maneira, as “ruas” não recebem adubo, gerando economia. A aplica- ção é feita conforme as recomendações citadas anteriormente: a primeira parcela, equiva- lente a quarenta por cento da dose total, é feita no período chuvoso e o restante em até sessenta dias. Muito bem! Agora você já sabe como é feita a adubação de manutenção e de produção. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. Adubação foliar A adubação foliar é importante, principalmente para evitar deficiências de micronutrientes que reduzem a produtividade, muito comum em regiões com solos de baixa fertilidade, como o sudeste da Bahia. 148 Além da análise de solo, é possível fazer a análise das folhas para conhecer os níveis de nutrientes absorvidos e a necessidade de suplementação. O método consiste na análise química que compara uma folha sadia (ou seja, com nutrição adequada) com outra com sintomas de deficiência. Conheça agora o passo a passo dessa adubação. Para isso, colete uma amostra de quatro folhas (amostra simples) de 10 plantas por gleba/talhão/hectare. A união de amostras simples é chamada amostra composta, que será analisada em laboratório. As folhas selecionadas devem ser a terceira da extremida- de de um ramo posicionado na altura mediana da árvore durante o verão (dezembro a janeiro). Evite aquelas com ataque de pragas, doenças, danos me- cânicos ou que tenham recebido produtos químicos. Na prática 149 As folhas devem ser acondicionadas em sacos de papel e enviadas para o laboratório no mesmo dia da coleta. Caso não seja possível fazer o envio em até 8 horas, as amostras devem ser mantidas em temperatura baixa (de 7 a 10 °C). Após a análise, você saberá o nível dos nutrientes presentes nas plantas, o que permitirá uma adubação mais precisa. Nos casos de deficiência de micronutrientes, é necessário fazer adubações mensais até que os sintomas desapareçam. Elas devem ser feitas em dias ensolarados até as 10h. Deve-se pulverizar a solução na parte inferior das folhas. Dos micronutrientes, o zinco é o que mais demanda atenção, já que sua deficiência pode causar a morte da planta. Por isso, consulte um técnico/agrônomo para saber a quantidade a aplicar. Alguns cuidados podem aumentar a eficiência da adubação e reduzir custos: Faça análise do solo e das folhas 1 Faça o controle de pragas e doenças 3 Aplique os adubos foliares em áreas de baixa incidência de ventos e com terreno pouco declivoso 5 Corrija o pH e a fertilidade do solo 2 Faça o manejo do sombreamento compatível com seu sistema de cultivo 4 150 Fertirrigação Uma opção para recuperar áreas dizimadas pela vassoura-de-bruxa é a produção de cacau com mudas clonais, com irrigação e fertirrigação, especialmente em regiões do Semiárido brasileiro. Mas você sabe o que é fertirrigação? Descubra agora! O que é fertirrigação? É o uso de fertilizantes diluídos em água e aplicados diretamente via água de irrigação. Essa é uma alternativa econômica porque otimiza o uso dos equipamentos, reduzindo o custo com a aplicação de agroquímicos. Com a técnica, é possível aumentar o peso das sementes, passando de 0,8 gramas para até 1,4 gramas. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Para a fertirrigação ser um sucesso, é preciso manter as condições de água ideais para o cacau e conhe- cer o nutriente mineral aplicado na cultura. Atente-se às necessidades nutricionais do cacaueiro. Agora que você já sabe que a fertirrigação é uma boa ideia, conheça outras vantagens: ⚫ suprimento ideal de nutrientes à cultura, disponibiliza- dos conforme a demanda de absorção da planta; ⚫ pouco desperdício de fertilizantes, já que os nutrientes são aplicados apenas na área irrigada; e ⚫ aplicação parcelada de adubos e, consequentemente, fornecimento uniforme de nutrientes. 151 Para que a fertirrigação seja bem-sucedida, a água deve ser de boa qualidade e os nutrientes usados devem ter alta solubilidade, pois a solução não deve formar precipitados (grumos), que podem entupir o sistema de irrigação. Use os sistemas por gotejamento ou microaspersão, pois a aplicação da água com fertilizante é feita na zona radicular do cacaueiro. A solução deve ter pH entre 5,0 e 6,3 para evitar a precipitação de nutrien- tes e o entupimento dos bicos de irrigação. A frequência de aplicação depende do clima, da textura do solo, da qualidade da água e da idade do cacaueiro, mas, normalmente, são feitas aplicações quinzenais. Confira a seguir a dose adequada de fertilizante. O nitrogênio é bastante requerido quando o cacaueiro está na fase de emis- são de folhas. Então, é necessário aplicar de 10 a 15% da dose total definida pelo agrônomo/técnico antes de cada emis- são foliar, quando as gemas ficam entume- cidas, inchadas. 20% da dose total de fósforo pode ser usada 30 dias após a floração; 70% nos quatro primeiros me- ses de formação dos frutos, e o restante, após esse período. No caso do potássio, 70% devem ser usa- dos no momento do plantio, e 30% aplica- do com o N e o K. Atenção! Elaborar um cronograma detalhado para a aplicação de fertilizantes é uma boa estratégia para alcançar altos rendimentos na lavoura. Não deixe de elaborar o seu! 152 Esta aula teve por objetivo apresentar como deve ser a adubação do ca- caueiro. Você aprendeu sobre: ⚫ A adubação/nutrição de cacaueiros; ⚫ A adubação de manutenção; ⚫ A adubação de produção; ⚫ A adubação foliar; e ⚫ A fertirrigação. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, preciso planejar bem os momentos de adubação. A lavoura que está em recuperação pode ter necessidades dife- rentes da área que recebeu novas mudas. Vou precisar coordenar esses dois calendários de forma prática. Como estou em busca de alta produtividade, se eu me descuidar da adubação, não terei os resultados que preciso para a saúde financeira do sítio Santo Isidoro! Agora, diante do cenário apresentado e pensando na sua realidade, reflita: quais técnicas pre- cisam ser aprimoradas na sua propriedade? Agora, avance para a Aula 2 e aprenda a identificar as principais pragas e doenças do cacaueiro, como controlá-las e a importância do manejo integrado nesse processo. 153 Módulo 4 - Aula 2 Controle de pragas e doenças 154 - Edu, sei que a gente tá fazendo um ótimo trabalho e que você tá me acompanhando em cada detalhe. Mas preciso ser sincera: tenho tanto medo que a vassoura-de-bruxa retorne à lavoura e a gente acabe perdendo todo esse esforço... O que podemos fazer pra evitar isso? - Sabe, Gabi, na verdade não é só com a vassoura-de-bruxa que a gente tem que se preocu- par. Existem outras pragas e doenças que podem afetar os cacaueiros...Deixa eu te expli- car. podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! No início deste curso, você aprendeu que a vassoura-de-bruxa foi uma das grandes responsáveis pelo declínio da produção de cacau no sul da Bahia. Você se lembra? As lavouras representam um grande atrativo para as pragas que, na maioria das vezes, se espalham rapidamente e cau- sam danos nas culturas. Como solução, temos o controle de pragas agrícolas que pode ser aplicado por meio de diversas técnicas. Nesta aula, você vai conhecer as principais pragas e doenças do cacaueiro, os métodos de controle e o manejo integrado delas. Controle de pragas e doenças O cacaueiro é uma planta bastante suscetível ao ataque de fitopatógenos (fungos e bactérias) e insetos 155 herbívoros. Uma produção sustentável parte da definição de manejos produtivos para prevenir o ataque dessas doenças e pragas. Mas o que é manejo integrado? Manejo integrado nada mais é do que um conjunto de técnicas que, quando unidas, garantem grande proteção aos cultivos contra doenças e pragas. Que tal darmos início ao assunto falando sobre como lidar com as principais pragas e doenças do ca- caueiro? Agora você vai saber mais sobre as pragas e as doenças que afetam o cacaueiro. Acompa- nhe! O cultivo de cacau possui uma diversidade de insetos associados às plantas, desde espé- cies que polinizam as flores até as que causam danos econômicos. No cacaueiro, os insetos herbívoros aparecem na época de lançamento das folhas novas e durante o crescimento dos frutos. No sistema pleno sol, esse momento coincide com temperaturas elevadas e falta de água, estimulando as pragas, que reduzem a produtividade e a qualidade das plan- tações. Por isso, quanto mais espécies vegetais diferentes plantadas em uma área de cultivo, menor a chance de um inseto se tornar uma praga agrícola, já que a diversidade de inimigos natu- rais estimula o equilíbrio entre os indivíduos. Isso torna os sistemas cabruca e agroflorestal mais vantajosos, não é? Mas não são apenas os insetos que causam preocupação! O cacaueiro é uma planta bastante suscetível ao ataque de bactérias e fungos causadores de doenças. Mas como evitá-los? Uma produção sustentável parte de manejos produtivos para prevenir o ataque dessas do- enças e pragas. A estratégia mais efetiva é optar por híbridos ou clones resistentes às principais ameaças no momento da seleção de mudas para cultivo. Outras ações, como a manutenção da diver- sidade vegetal e animal, o manejo do sombreamento, a nutrição das plantas, são fatores importantes para manter o cacaueiro sadio e diminuir os efeitos dos ataques em seu cultivo. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. 156 Porém, caso ainda ocorra a incidência de pragas e doenças na lavoura, é necessário entrar com práticas corretivas, como o uso de inseticidas e outros defensivos, na medida necessá- ria para controlar o problema. Os agroquímicos devem ser utilizados sob recomendação técnica! Quer conhecer em detalhes as principais doenças e pragas? Então, continue seus estudos! Principais doenças do cacaueiro e manejo integrado As doenças são anormalidades provocadas por bactérias, fungos, nematoides e vírus. Podem ser agrava- das por falta ou excesso de nutrientes, água e luz. Portanto, para que aconteça, são necessários: Agente causal (patógeno) Planta suscet�vel Planta �oente A��iente favorável 157 As principais doenças do cacaueiro são de origem fúngica, como: ⚫ a vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa); ⚫ a podridão-parda (Phytophthora spp.); ⚫ o mal-do-facão (Crinipellis perniciosa); e ⚫ a monilíase (Moniliophthora roreri). Outras de impacto econômico são o mal-rosado (Erythricium salmonicolor), a podridão-de-raízes (Roselli- nia sp.), a antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) e a morte-súbita (Verticillium dahliae). A seguir, você vai saber mais sobre as principais doenças. Vassoura-de-bruxa Muito já falamos sobre a vassoura-de-bruxa, mas, agora, vamos detalhá-la para que você possa reconhe- cê-la no campo. Por anos, a doença ficou restrita à Amazônia, mas se expandiu por todo o país, chegou aos grandes cen- tros produtores e ainda causa diversos problemas econômicos, sociais e ambientais. Com grande impac- to, pode causar perdas de até 90% da produtividade! Conheça agora os sintomas dessa doença: Os sintomas da vassoura-de-bruxa são a superbro- tação de folhas, o excesso de gemas laterais e o engrossamento (inchaço) dos ramos da planta, que causa o aparecimento de “vassouras”. 158 Elas podem ter forma e tamanho variados e alcançar o triplo do diâmetro, do tamanho e do volume de folhas de um ramo normal. Nos casos mais severos, há formação de tecido morto (necrose) e morte das gemas, sem que surja o aspec- to de vassoura. Pode também ocorrer a formação de flores anormais. Caso os frutos se desenvolvam a partir de flores in- fectadas, apresentam um formato que lembra o mo- rango e não crescem; a coloração também é alterada e passa do verde/vermelho para o preto. 159 Os sintomas da vassoura-de-bruxa são facilmente confundidos com a podridão-parda, doença que você conhecerá a seguir. Para diferenciá-las, apalpe o fruto infectado: o fungo ataca de dentro para fora, ao con- trário da podridão. Atenção! O manejo integrado consiste em impedir o aparecimento da vassoura-de-bruxa e o controle imediato logo quando aparecem os primeiros sintomas. Para isso, faça a poda constantemente, atente-se ao sombreamento e faça aplicação de defensivos à base de cobre. Além disso, ao renovar a lavoura, escolha mudas de híbridos e clones resistentes ao fungo. Podridão-parda Até 1989, era a principal doença do cacaueiro no sul da Bahia. O fungo atinge os frutos, as almofadas florais, os troncos e as raízes e causa o apodrecimento desses tecidos. A doença pode causar perdas que chegam a 30% da produção e ocorre em quase todas as regiões que cultivam o cacau pelo mundo. Os sintomas são pequenas lesões nos frutos, que com 14 dias, apodrecem completamente e apresentam um cheiro característico de peixe. Outras regiões da planta são afetadas: os ramos “chupões” e os lançamentos foliares apresentam lesões necróticas escuras. 160 O controle compreende o uso de medidas preventivas, como: ⚫ a aplicação de fungicidas protetores à base de cobre; ⚫ a retirada dos frutos infectados; ⚫ as colheitas frequentes; ⚫ a redução do sombreamento; ⚫ a poda; e ⚫ o uso de variedades resistentes. Monilíase Trata-se de uma doença muito grave, que ataca os frutos do cacau em qualquer fase do desenvolvimen- to e resulta em perdas totais da produção. Conheça mais sobre a doença: A monilíase está presente em todos os países da América Latina que produzem cacau. No Brasil, a doença ainda é quarentenária, o que significa que ela tem impacto econômico potencial, mas ainda não está amplamente distribuída nem oficialmente con- trolada. Atualmente temos focos detectados no Acre e no Amazonas. Nessas regiões, onde foi constatada o aparecimen- to da monilíase, os danos foram maiores do que os causados pela vassoura-de-bruxa e representam uma ameaça real aos cultivos de cacau no Brasil. 161 A disseminação da doença pode ocorrer pelo con- tato direto com plantios e material vegetal infectado ou pelo contato indireto, por meio de sacarias, equi- pamentos, roupas e até calçados. Observe os sintomas iniciais, que ocorrem nos frutos mais jovens, como a formação de inchaços e depres- sões. Durante o período de 5 a 12 dias após o surgi- mento dos primeiros sintomas, é possível observar a presença de um pó acinzentado na superfície dos frutos. Esse pó são os esporos do fungo, ou seja, as estruturas reprodutivas do patógeno, que vão disse- minar a doença por toda a área de cultivo. Cercade 45 a 90 dias após a infecção, aparecem manchas cor-de-chocolate ou castanhas-escuras nos frutos. 162 Atenção! Atente-se e monitore seu cultivo, principalmente durante o período de frutificação, para observar se existe algum fruto com os sintomas listados acima. Caso encontre, não retire os frutos das árvores; isole a área e comunique imediatamente às autori- dades competentes: entre em contato com a Ceplac e a Superintendência Federal de Agricultura e Agências de Defesa Estadual (SFA). Lembre-se de que o contato com o fruto contaminado pode disseminar a doença por toda a área! A prevenção é a principal forma de evitar que a monilíase chegue ao seu plantio de cacau. Evite transitar com frutos, sementes e mudas de viveiro não certificados e sacarias. Para conhecer o Protocolo de Biossegurança da Monilíase, clique aqui e consulte as recomendações do Mapa. Vá além! Principais pragas do cacaueiro e manejo integrado Como vimos anteriormente, as pragas reduzem a produtividade e a qualidade das plantações ao se ali- mentarem do cultivo. Além disso, podem transmitir doenças. No caso do cacaueiro, as principais pragas do cultivo são: ⚫ monalônio (Monalonion spp.); ⚫ cigarrinha (Hoplophorion pertusum); ⚫ tripes (Selenothrips rubrocinctus); ⚫ vaquinha (Taimbezinhia theobromae, Percolaspis ornata e Colaspis spp.); e ⚫ ácaro-da-gema-do-cacaueiro (Aceria Reyesi). Selenothrips rubrocinctus http://www.adab.ba.gov.br/arquivos/File/ASCOM2019/Publicacoes2019/14_02_19_Protocolo_de_Biosseguranca.pdf 163 A seguir, você vai saber mais sobre as principais pragas, confira. Monalônio São percevejos conhecidos popular- mente como “chupança”. Os adultos e as formas jovens (ninfas) sugam a seiva dos ramos novos e dos frutos. Até mes- mo as folhas e os pecíolos são atacados por esses insetos, e, caso o ataque seja extremo, o crescimento dos ramos é paralisado, seguido da seca e da queda das folhas. Isso ocorre pois, ao se ali- mentarem, injetam toxinas que causam a necrose dos tecidos. O manejo integrado de pragas e doenças deve ser feito com o monito- ramento da área, por meio de amos- tragens quinzenais da planta durante a fase de lançamento dos frutos, a pré- -formação dos frutos e a frutificação. Atente-se ao sombreamento da lavou- ra: selecione vinte plantas por hectare e observe o aspecto dos frutos. Caso encontre frutos contaminados, aja ime- diatamente: ⚫ colete e queime os frutos danificados; ⚫ limpe a área a fim de eliminar as plan- tas invasoras e podar as plantas; ⚫ use inseticidas registrados no Mapa; e ⚫ opte por clones resistentes. O que é a praga Como fazer o manejo 164 Cigarrinha Os insetos adultos medem cerca de 11 mm de comprimento e são de colora- ção castanha. As fêmeas introduzem os ovos no tecido vegetal, próximo ao pecíolo das folhas mais velhas. As ninfas surgem após a eclosão dos ovos e se alimentam da seiva dos ramos, o que confere a coloração amarelada às folhas, que caem logo em seguida. O manejo integrado compreende o monitoramento quinzenal da seguinte forma: ⚫ observe a presença de adultos, ninfas ou ramos lesionados; ⚫ faça o manejo do sombreamento, pois temperaturas elevadas associadas a períodos de estiagem favorecem a proliferação dos insetos; e ⚫ faça podas de limpeza para eliminar ramos atacados e use inseticidas. O que é a praga Como fazer o manejo 165 Vaquinha As vaquinhas verdes e pretas têm com- primento de 3 a 5 mm e são os insetos que mais atacam as plantas de cacau. Alimentam-se das folhas jovens, sem consumir as nervuras, o que causa um aspecto chamado “rendilhamento”. Também destroem os lançamentos fo- liares, a casca e os frutos do cacaueiro. O monitoramento deve ser feito por meio da divisão da área em glebas com, no máximo 5 ha, da seleção de vinte plantas que tenham o dano de “rendi- lhamento”. Siga este passo a passo: ⚫ coloque um tecido branco estendido sob o cacaueiro e aplique o inseticida recomendado pelo agrônomo/técnico; ⚫ faça a contagem das vaquinhas qua- tro horas após a aplicação. Por ser um predador natural que pode combater diversos insetos-pragas, só causa danos econômicos ao atingir a média de dez indivíduos por planta; ⚫ aplique o defensivo a cada dez dias e suspenda o uso imediatamente ao observar uma redução populacional dos insetos para menos de dez por planta. O controle cultural consiste no uso do sombreamento ideal, que crie condi- ções desfavoráveis para o desenvolvi- mento da praga. O que é a praga Como fazer o manejo 166 Ácaro-da-gema É um inseto pequeno, com cerca de 0,2 mm de comprimento e coloração ama- relo-alaranjada. Em 1979, foi encontra- do pela primeira vez na Bahia, quando causou danos severos à cultura. Os sintomas são o surgimento de folhas cloróticas, com aspecto retorcido e alongadas. Após o ataque, o cacaueiro perde a dominância apical e os ramos passam a emitir várias gemas laterais. O inseto se localiza nas gemas e causa a atrofia da gema terminal, que resulta em diminuição dos entrenós e queda das folhas. A depender da intensidade do ataque, o cacaueiro pode morrer pela queda dos primórdios foliares. O manejo integra- do é feito com inseticidas/acaricidas es- pecíficos para o gênero Eriophyidae, pois não há registros no Mapa de produtos químicos específicos para essa praga. O que é a praga Como fazer o manejo Além das pragas citadas aqui, é importante que você conheça também os tripes. Clique aqui e conheça mais sobre esse inseto. Conheça também os manuais de Manejo Integrado de Pragas (MIP). É só clicar sobre os títulos a seguir: • Manejo Integrado de Pragas: tudo o que você precisa saber sobre ele • Manejo Integrado de Pragas do Cacaueiro Vá além! São muitas pragas e doenças que podem causar danos ao cacaueiro, não é mesmo? Por isso, é preciso atentar-se à lavoura e observar atentamente os cacaueiros para agir logo ao primeiro sinal de anormali- dade. Você viu também que, em alguns casos, há a orientação de aplicar defensivos agrícolas, sempre sob a orientação de um técnico especializado. Também é fundamental o uso de EPIs. Mas você sabe o que é isso? Descubra agora! https://www.researchgate.net/publication/343430490_Tripes-do-cacaueiro_Selenothrips_rubrocinctus_Giard https://blog.aegro.com.br/manejo-integrado-de-pragas/ https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/bitstream/123456789/4123/1/Renan-queiroz-MIP-Cacaueiro.pdf 167 Para que usar EPIs? EPI significa Equipamento de Proteção Individual e se refere aos acessórios que garantem a segurança do trabalhador. Os principais EPIs na agricultura são as luvas, as máscaras, os óculos, uniforme cobrindo braços, peito e pernas e as botinas de proteção. Os itens devem ser aprovados pelo Ministério do Trabalho, garantindo que o EPI é capaz de resguardar o trabalhador dos riscos da atividade. podcast Direto do Campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Diz o Currículo… O Currículo de Sustentabilidade do Cacau traz algumas orientações específicas sobre o uso de defensivos agrícolas. Veja: ⚫ não manuseie e/ou aplique defensivos sem equipamento de proteção individual (EPI); ⚫ não use substâncias comerciais (químicas, biológicas ou orgânicas) para controle de pragas e doenças sem aprovação do Mapa/Anvisa no Brasil; ⚫ use apenas defensivos indicados por receituário agronômico, implemente estraté- gias de alternância de princípios ativos e respeite as dosagens propostas em bulas, o período de carência e o intervalo de reentrada nas áreas; ⚫ disponha de um lugar apropriado para tríplice lavagem (ou lavagem sob pressão em pulverizador) das embalagens vazias de defensivos. Armazene-as de maneira apropriada (lugar seguro, isolado e identificado) sempre lavadas e perfuradas, até sua correta devolução; ⚫ tenha um local adequado para manuseio de defensivos e misturas de caldas para aplicação; ⚫ não use embalagens dedefensivos para qualquer outra finalidade; ⚫ mantenha os defensivos em condições adequadas de armazenamento, com iden- tificação de perigo e riscos, em ambiente fechado e ventilado, de acesso restrito e adequado à legislação; 168 ⚫ os locais de armazenamento de defensivos devem ter sistema de contenção de vazamento e respeitar as distâncias recomendadas de mananciais, residências e estradas; e ⚫ separe os produtos vencidos dos demais e armazene-os em local seguro até o mo- mento da devolução. As embalagens vazias de defensivos devem retornar correta- mente quando houver chances de devolução. Para tanto, mantenha arquivados os recibos de devolução. O trabalhador responsável por aplicar os defensivos agrícolas deve seguir os pro- cedimentos estabelecidos na Normativa Regulamentadora n.º 31. Ela estabelece o uso obrigatório de EPIs e a posse do certificado de treinamento para exercer essa função. Lembre-se: segurança em primeiro lugar! Vá além! https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-31-atualizada-2020.pdf 169 Esta aula teve por objetivo apresentar as principais pragas e doenças do cacaueiro. Você aprendeu sobre: ⚫ as principais pragas e doenças do cacaueiro; ⚫ os métodos de controle de pragas e doenças; e ⚫ o manejo integrado de pragas e doenças. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? Realmente, há mais pragas que podem afetar minha lavoura do que a vassoura-de-bruxa. O monitoramento quinzenal, a observa- ção da lavoura e a busca por indícios de pragas ou doenças é algo que precisa entrar na minha rotina. E, caso eu identifique algo diferente, precisarei consultar esses materiais que o Edu sepa- rou para saber a forma mais adequada de agir. Preciso conseguir identificar a praga quando ela ainda não afetou grande parte da lavoura! Agora, diante do cenário apresentado e pensando na sua realidade, reflita: quais ações você poderia tomar para manter sua lavoura livre de pragas e doenças? Agora, avance para a Aula 3 e compreenda a importância das podas para o cacaueiro e os principais tipos usados. 170 Módulo 4 - Aula 3 Poda 171 - Edu, você comentou que semana que vem precisaremos fazer as podas dos cacaueiros que plantamos na área nova... Não seria melhor a gente deixar que a planta cresça natural- mente, pra ter mais galhos e produzir mais frutos? - Ah, Gabi, pra ter alta produtividade, as coisas não funcionam dessa maneira... Uma poda bem-feita faz com que a planta tenha mais equilíbrio, cresça com vigor e produza mais, além de manter a copa em uma altura que facilita o manejo. Vamos conversar mais sobre isso... podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! A poda da planta do cacau serve para dar forma e equilíbrio, além de melhores condições de produção, por meio de eliminação de ramos doentes, secos, sombreados e malformados. Sem ela, o cacaueiro pode atingir até oito metros de altura, como vimos lá no Módulo 2. Mas a altura descontrolada é um entrave tanto para a colheita comercial quanto para a distribuição nutri- cional da planta! Nesta aula, você vai aprender tudo sobre essa importante etapa do manejo da lavoura. Importância da poda do cacaueiro Poda é, basicamente, o ato de retirar parte de plantas e cortar ramos inúteis. No cacaueiro, ela é feita para dar forma à copa, promover melhor luminosidade e evitar o autossombreamento dos ramos, que prejudica o processo de fotossíntese. Veja algumas das vantagens dessa prática: 172 ⚫ contribui para o arejamento da plantação; ⚫ evita o aparecimento de doenças; ⚫ minimiza a invasão de copas por plantas vizinhas, que prejudica o manejo da cultura; e ⚫ garante que as plantas tenham uma altura que facilite o processo de colheita. Diz o Currículo… De acordo com o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, é fundamental imple- mentar práticas de poda conforme recomendação técnica e que considerem a otimi- zação da luz, a nutrição e a fitossanidade a fim de visar à produtividade e à eficiência operacional. Agora que você já sabe por que a poda é importante, deve estar se perguntando como ela deve ser feita. Mas, primeiro, vamos falar das ferramentas usadas no processo. Quais as ferramentas utilizadas na poda do cacau? Para cortar ramos flexíveis sem causar danos à planta nem propiciar o desenvolvimento de doenças e pragas, utilize tesouras de podas, facão ou faca. Para ramos grossos, escolha o serrote. O corte deve ser sempre no formato “bisel” para evitar assim o acúmulo de água e apodrecimento do ramo. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! 173 Quando a poda é feita em excesso ou sem critérios técnicos, com a retirada de ramos produtivos, sa- dios e expostos ao sol, podem ocorrer diversos problemas. Confira os principais no infográfico a seguir: Aumento da emissão de novos brotos e ramos no cacaueiro, o que dificulta e exige maior manejo e mão de obra Diminuição da produtividade, por causa da necessidade de nutrir ramos dispensáveis Aumento dos custos com controle, por causa da necessidade maior de roçagens Crescimento excessivo de plantas daninhas, devido à maior incidência de luz na área Problemas da poda malfeita Tipos de podas São quatro os tipos de poda para a manutenção do cacaueiro: de formação, de manutenção, de reabilita- ção e poda fitossanitária. Cada uma delas tem funções específicas e devem ser feitas conforme as orien- tações que você aprenderá a seguir. Poda de formação Também chamada de poda precoce, é feita nas plantas jovens, na fase de viveiro ou em áreas novas/em renovação. O objetivo é dar forma e equilíbrio à planta por meio da retirada de brotos e de galhos inde- sejáveis. Busca-se uma copa formada por 3 ou 4 galhos principais, em formato de cálice. Descubra como a poda de formação deve ser feita: 174 Os cacaueiros com idade média de 12 meses têm altura de 1,20 m. Nessa idade, o ramo principal tem o crescimento paralisado e emite de 3 a 5 ramos que vão formar a coroa. É a partir da coroa que inicia o processo de construção da arquitetura da copa, por meio da seleção dos ramos, que vão definir o equilíbrio da planta e eliminar os ramos com espessura diferenciada, que podem causar desequilíbrio ao cacau. A copa formada nessa etapa inicial de desenvolvimento do cacaueiro será a estrutura futura da árvore e, nos ramos primários, surgirão a maioria dos frutos. Nos anos seguintes (2.º e 3.º) são selecionados os ramos secundários e, assim, consecutivamente, até a formação da copa da árvore, em formato de taça. Os ramos que esti- verem muito próximos uns aos outros e os que crescerem no sentido interior da copa devem ser excluídos. Na prática 175 Algumas variedades, como a Criollo, tendem a ter uma ramificação voltada para baixo, que prejudica o sombrea- mento e a ventilação no interior da copa. Nesse caso, a poda de formação deve ser mais cautelosa, de modo a retirar ramos ou partes da planta que atingi- rem a superfície do solo para proporcionar o crescimento de ramos laterais fortes com direção ascendente. Poda de manutenção Esta poda busca formar uma planta com uma copa mais eficiente na captação de luz e favorecer a fase de reprodução (produção de flores e frutos). Também é feita para manter as plantas dentro do espaça- mento planejado inicialmente e evitar o autossombreamento. É feita quando o cacaueiro tem mais de 2 ou 3 anos de idade, por meio de uma poda leve, para retirar apenas os galhos mortos ou mal posicionados, uma ou duas vezes ao ano, no verão. Mas quais ramos devem ser retirados? Como vimos nas aulas anteriores, o cacaueiro produz ramos ortotrópicos (ramos com folhas que crescem no formato de leque aolongo da haste, de ambos os lados) e plagiotrópicos (conhecidos como “ramos chupeta” ou “chupão”, têm folhas que crescem ao redor do caule e surgem logo abaixo dos ramos orto- trópicos). Ambos são de grande importância no manejo da cultura, porque influenciam a arquitetura da copa da planta e a produtividade. 176 Ramos ortotrópicos Ramos plagiotrópicos A poda deve ser feita para retirar todos esses ramos abaixo do joguete. Se isso não for feito, o cresci- mento vertical será prejudicado e afetará todo o desenvolvimento e a produção de frutos. Ramos mortos, doentes, fracos, secos, que estão muito próximos uns aos ou- tros ou pendurados na árvore devem ser eliminados ainda novos. O objetivo é impedir o desvio de nutrientes destinados para os frutos. A poda estimula novos ramos vegetativos e busca alcançar um equilíbrio com a parte produti- va da planta. Evite remover ramos em leque. Poda de reabilitação A poda de reabilitação representa a reestruturação do cacaueiro que se tornou improdutivo, porque foi descuidado e cresceu livremente na área ou por abandono da plantação. Saiba agora como proceder nesses casos: 177 As podas devem ser parciais, manter os ramos mais vigo- rosos, com folhas bonitas e distribuição uniforme, que crescem no sentido da luz e não do solo. Mantenha o caule também, pois isso vai estimular o brota- mento de ramos ou “chupões” na parte basal da planta. Retire os ramos que não estejam bem-posicionados ou caídos ao solo e deixe apenas 25% dos ramos com melhor aspecto visual. Após o brotamento de novos ramos, os me- lhores rebentos serão selecionados para substituir a copa velha da árvore. Se a plantação estiver em péssimas condições, pode ser feita a poda completa do caule a uma altura média de 80 cm acima do solo e que deixe os rebentos ou “chupões” crescerem. Na prática 178 Atenção! Você sabia que a plantação de cacau costuma reagir muito bem à poda parcial? Quando associada a um bom manejo de adubação e a um programa eficiente de controle de pragas, doenças e plantas invasoras, a produtividade pode aumentar ano após ano. Poda fitossanitária Essa poda deve ser feita em todas as plantas, no viveiro ou no campo. Consiste em retirar todos os ramos ou as folhas doentes com o auxílio de uma tesoura de poda. Quando as plantas são adultas, pode-se eliminar toda a parte da planta atacada por doenças ou pragas, como folhas, botões florais, ramos ou frutos. A poda fitossanitária é primordial para o controle da vassoura-de-bruxa, pois remove os galhos atacados, verdes ou secos. Atente-se a essas orientações: ⚫ elimine os ramos contaminados para impedir a propaga- ção dos agentes infecciosos; ⚫ higienize as ferramentas usadas sempre que for passar de uma planta para outra, principalmente se houver incidência de mal-do-facão; ⚫ para isso, use uma solução de hipoclorito: água e água sanitária (100 ml de água sanitária para cada 1000 ml de água). 179 A desbrota (eliminação de ramos que não produzem frutos) e a limpeza geralmente são feitas ao fim da safra por meio do corte dos galhos secos e doentes. A desbrota é feita antes do período chuvoso (de setembro a no- vembro) e grande parte acontece durante a colheita dos frutos. Esta aula trouxe tudo o que você precisa saber sobre as podas, para que você possa manter os cacaueiros saudáveis e com alta produtividade! Você aprendeu sobre: ⚫ a importância da poda do cacaueiro; e ⚫ os tipos de podas: de formação, de manutenção, de reabilitação e a poda fitossanitária. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, vejo que descuidamos das podas de manutenção na lavoura antiga. Precisaremos fazer uma poda de reabilitação nessa área para dar nova forma aos cacaueiros que não foram substituídos para, assim, aumentar a produtividade. Também preciso planejar direitinho meu cronograma para incluir podas fitossanitárias na lavoura antiga, na lavoura nova e até no viveiro de mudas. Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua: as podas são feitas adequada- mente? Alguma técnica precisa ser revista? Muito bem! Depois de todo esse aprendizado, você já pode responder à próxima atividade. 180 Atividade de aprendizagem 181 Este é um momento de autoavaliação, em que você vai poder refletir e validar o que aprendeu neste módulo. Leia com atenção a pergunta e, no ambiente virtual de aprendizagem, escolha a resposta ade- quada. D) Para fazer a adubação foliar, é necessário fazer a amostragem periódica do solo para avaliar o teor de nutrientes disponíveis, principalmente os elementos N, P e K, bem como observar os aspectos físicos e químicos do solo para fazer a aplicação de adubo. C) A adubação de manutenção e de produção é feita a partir do primeiro ano de cultivo e consiste na aplicação de adubos ricos em N e K, aplicados a lanço ou in- corporados ao solo, de forma parcelada. B) Os micronutrientes (B, Mn, Fe e Cu) têm pouca importância para o cacau, pois a planta não necessita desses elementos para fazer os processos vitais de crescimen- to e desenvolvimento. Tampouco há expressão de sintomas na planta quando são escassos no solo. A) A adubação de plantio (fundação) é feita no momento do plantio por meio da abertura de covas rasas para aplicação de fertilizantes ricos em P. Este elemento químico tem função primordial nas fases iniciais de desenvolvimento do cacaueiro. E) A fertirrigação é uma prática muito comum em regiões do Semiárido brasileiro e consiste em fazer aplicações de adubos nitrogenados, potássicos e que contêm micronutrientes todas as vezes que for feita a rega das plantas. Questão 1 O fornecimento adequado de nutrientes é um aspecto crucial para se al- cançar bons rendimentos na lavoura de cacau. Assim, com base nos tipos de adubação do cacaueiro, assinale verdadeiro ou falso: Atividade de aprendizagem 182 D) As cigarrinhas ficam alojadas na face inferior das folhas e nas superfícies dos frutos e seu hábito de alimentação é do tipo raspador-sugador. Os sinais corres- pondem ao amarelecimento das folhas e a formação de frutos com coloração marrom. C) O monalônio é uma praga causada por vaquinhas que se alimentam das folhas e formam o efeito chamado “rendilhado”. O intenso ataque causa seca e queda das folhas e compromete o desenvolvimento e a produção de frutos. B) A podridão-parda pode causar perdas significativas, se não controlada no início. Os sintomas compreendem a formação de lesões nos frutos que apresentam odor fétido, parecido com o de peixe. Ramos e lançamentos foliares também são atingi- dos. A) A vassoura-de-bruxa foi, por muito tempo, a principal doença do cacaueiro. Hoje, não tem tanta importância. A doença, causada por uma bactéria, atinge ape- nas o fruto, o qual passa a ter uma coloração amarronzada. Questão 2 O cacaueiro é uma planta de clima tropical, nativa de florestas. Devido a essa característica, a cultura é bastante suscetível ao ataque de pragas e doenças que comprometem em até 100% as perdas de produtividade. A respeito das principais doenças e pragas do cacaueiro, assinale a alternati- va correta: Atividade de aprendizagem 183 D) A poda fitossanitária é feita apenas em viveiro e tem o objetivo de conduzir os ramos de forma a melhorar o sombreamento e a ventilação da área e, assim, criar condições desfavoráveis para o surgimento de pragas e doenças e retirar os ramos chupões que prejudicam o desenvolvimento da planta. C) A poda de reabilitação é indicada para áreas que se tornaram improdutivas. É feita com podas parciais, que mantêm os melhores ramos e caule, para estimular o brotamento de ramos ou “chupões” na parte basal da planta. B) A poda de manutenção é feita quando o cacau está na fase de produção de frutos e é feita para promover uma melhor ventilação no interior das copas das ár- vores.São retirados todos os galhos e os ramos desnecessários e mantidos apenas os ramos plagiotrópicos (chupões). A) A poda de formação é feita em mudas na fase de viveiro com o objetivo de con- trolar pragas e doenças por meio da remoção de partes infectadas. O corte pode ser feito com um canivete no formato de um ângulo reto. Questão 3 O cacaueiro é uma planta de crescimento dimórfico, o que demanda um calendário de poda bastante criterioso. A poda é feita para direcionar a arquitetura da copa e promover diversos benefícios à plantação. Sobre poda do cacaueiro, assinale verdadeiro ou falso: Atividade de aprendizagem Módulo 5 Colheita e beneficiamento 185 Olá! Receba nossas boas-vindas ao Módulo 5, o último deste curso! Durante esta jornada de aprendizado, você pôde conhecer muitos aspectos importantes do cultivo de cacau, sua história, botânica até aspectos da produção, como os diferentes sistemas sustentáveis de cultivo, a implantação da cultura e o manejo fitossanitário. Neste último módulo, vamos abordar aspectos de beneficiamento, produção e comercialização de cacau fino. Outro ponto importante, que não podemos deixar de lado, é a gestão financeira da propriedade rural. Tudo pronto para adquirir todo esse conhecimento? Então, avance para a Aula 1 e comece seus estudos! 186 Módulo 5 - Aula 1 Importância do manejo correto da colheita e beneficiamento 187 - Edu, finalmente tamo chegando na época mais esperada: a colheita! Isso lembra tanto mi- nha infância… Os cheiros, a movimentação, o cuidado com as amêndoas, a casa de benefi- ciamento… Agora quero construir novas lembranças com você, de uma safra perfeita! - Que bom, Gabi! Mas, pra uma safra perfeita, a gente precisa de alguns cuidados agora, tipo identificar o ponto exato da colheita. Vem cá que eu vou te mostrar como ver se o cacau tá maduro… podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! A colheita representa uma das principais etapas da cacauicultura. É nesse momento que o produtor, lite- ralmente, colhe os frutos de todo o árduo trabalho desde o início do trabalho na lavoura. Mas engana-se quem pensa que o trabalho é simplesmente retirar os frutos dos cacaueiros! Tanto a co- lheita quanto o beneficiamento exigem muito planejamento. Importância do manejo correto da co- lheita e do beneficiamento Nos módulos anteriores, você aprendeu uma série de conceitos e procedimentos para o cultivo do cacau e entendeu por que são tão importantes. Mas, agora, você vai saber como tudo isso se reflete na colhei- ta e no beneficiamento. Os frutos do cacau atingem a maturidade fisiológica, ponto no qual a semente não recebe mais nutrien- tes da planta-mãe, entre 140 e 200 dias. Portanto, o Brasil colhe duas safras por ano, confira. 188 O primeiro momento é conhecido como temporão e vai de maio a setembro. Temporão O segundo momento é a colheita principal, que vai de outubro a dezembro. Principal E o beneficiamento? Bem, este é o tratamento de produtos agrícolas sem a alteração das características fundamentais do produto in natura. É um conjunto de técnicas que varia conforme as peculiaridades de cada produto. No caso do cacaueiro, o processo compreende quatro fases. Observe: Após a retirada da casca das amêndoas e depois da moagem, obtemos os nibs. Crocantes e com um sabor singular, nibs são o chocolate em sua forma mais pura e menos processada. São basicamente sementes de cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas. 189 Atenção! A qualidade do cacau não depende apenas da variedade cultivada! A indústria precisa da semente beneficiada como matéria-prima para a produção de chocolate e derivados, e o mercado internacional requer um produto do tipo I ou superior, obtido apenas com cuidados específicos durante o beneficiamento. Portanto, tenha atenção a esta etapa! Critérios técnicos para a colheita Agora que você já sabe por que o manejo correto da colheita e o beneficiamento são importantes, va- mos pensar no passo seguinte: os critérios para a colheita. Você sabe quando o cacau está maduro? Para saber se está na hora certa de iniciar a colheita do cacau, é preciso observar o fruto. A colheita deve iniciar quando o cacau está maduro, cerca de cinco a sete meses a partir do momento em que as flores polinizadas passam para a fase de frutificação. Observe os frutos! Eles variam em coloração, formato e tamanho, dependendo da variedade. Dentre esses, o parâ- metro da cor é a informação mais relevante para estimar a maturação dos frutos. Pesquise sobre a variedade que você tem na sua lavoura e fique atento para não colher nem antes nem depois do previsto para não influenciar negativa- mente o seu produto! 190 Vamos ver como é o passo a passo desse processo? A colheita deve ser feita em um intervalo médio de 10 a 15 dias e não ultrapassar 21 dias. Os frutos devem ter coloração amarelo-ouro ou alaranjada, polpa brilhosa e de consistência viçosa. Evite os frutos com coloração verde, pois ainda não estão no ponto de maturação ideal. Eles têm sementes de me- nor peso e reduzido teor de açúcar. É necessário o uso de ferramentas adequadas para o processo. Para frutos com fácil acesso, use a tesoura manual (podão). Na prática 191 Mas o facão ou uma faca amolada também podem ser usados se os frutos estiverem a uma altura adequada. Para frutos localizados a uma altura maior, use uma vara com um dispositivo cortante para remover o pedúnculo do fruto sem causar danos aos ramos e ao tronco da árvore. Algumas tecnologias têm sido adotadas pelos produtores para determinar o ponto ideal de colheita, como o uso de refratômetro ou brixômetro, equipamento que faz leitu- ras sobre o valor de Brix, obtido pela compressão manual dos frutos. Ele apresenta o conteúdo de açúcares, ácidos orgânicos e outros constituintes do fruto necessários para a determinação da qualidade e da maturação. Durante a colheita, alguns cuidados devem ser tomados para não compromete a produção futura. Evite puxar os frutos com as mãos, pois isso pode causar dano ao tronco. Tam- bém é preciso evitar empurrar a ferramenta em direção ao tronco, pois pode ferir outras almofadas florais e, consequentemente, afetar a produtividade da planta. 192 Muito bem! Mas o trabalho não termina por aqui. Ainda há muito a ser feito ainda na lavoura depois de retirar os frutos do cacaueiro. Conheça agora quais atividades são estas. Os frutos foram colhidos. E agora? Eles devem ser recolhidos do chão com um apanhador ou uma haste com uma pinça de me- tal na ponta. Agrupe-os em montes ou bandeiras, também chamadas de rumas. Considere a variedade, a maturação, o tamanho e a data da colheita e não misture frutos colhidos em dias diferentes! Isso é muito importante para as próximas etapas do processo. Exclua os frutos que têm coloração variada e perfurações. Elimine também os doentes ou danifica- dos para não influenciar o resultado final da sua produção. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Depois dessa etapa, tem início a quebra, que pode ser feita no campo e deve acontecer até dois dias após a colheita. Descubra agora como proceder. Use um cutelo ou um facão não amolado para não dani- ficar as amêndoas. O golpe dado com o cutelo deve ser certeiro, atingir somente a casca para dividi-la em duas partes e expor as amêndoas. Na prática 193 A massa de cacau deve ser pura, sem a presença de amên- doas podres ou germinadas, casca, folha e placenta, pois esses materiais contaminantes prejudicam o processo de fermentação. As amêndoas devem ser transportadas no mesmo dia para os locais (cochos) de fermentação e nunca depois de seis horas da quebra. Para o transporte da massa de cacau, use sacos plásticos (próprios para o cacau) ou baldes plásticos, desde que limpos e possam ser completamente fechados, de formaa evitar o contato do cacau mole diretamente com o am- biente externo. As amêndoas devem ser acondicionadas em caixas de ma- deira ou baldes plásticos depois de soltas da placenta. 194 Critérios técnicos para a fase de fermentação A fermentação é a etapa mais importante do processo de beneficiamento do cacau, pois, nesta fase, ocorre a redução do amargor e da adstringência do fruto e a formação dos precursores do sabor, do aroma e da cor do chocolate. Atenção! Atenção! Nenhuma etapa posterior é capaz de corrigir as falhas que possam aconte- cer na fermentação ou melhorar a qualidade do chocolate. O processo deve ser feito em um galpão próprio, conhecido como casa de fermentação. Em algumas regiões, associações e cooperativas de produtores de cacau contam com essa estrutura para uso dos associados. Não é ótimo? Conheça mais sobre esse local. Agora você vai conhecer alguns critérios técnicos para a fase de fermentação, etapa essen- cial do beneficiamento. Acompanhe! Esse processo deve ser realizado em um galpão próprio para isso, conhecido como casa de fermentação. Em algumas regiões, as associações e as cooperativas de produtores de cacau contam com essa estrutura para uso dos associados. Então, procure saber como funciona onde você vive. Na casa de fermentação, os cochos têm formato quadrado. Eles são feitos com madeira e possuem canais de drenagem para a saída do mel do cacau, que é o líquido produzido durante a fermentação. A dimensão dos cochos depende do volume de produção. Os mais comuns são cochos com três a seis metros de comprimento, com divisórias a cada um metro, com um metro e vinte de largura por um de altura. Durante o processo, fique atento! Sempre que for iniciar uma nova fermentação, os cochos devem ser limpos e lavados com água e sabão. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. 195 Algumas informações, como a data da colheita e da quebra, a variedade de cacau, o volu- me de entrada, o tempo de fermentação e de secagem, devem ser anotadas para controle e monitoramento dos lotes. O processo fermentativo é uma etapa crucial para o beneficiamento do cacau, por isso exige alguns cuidados específicos. Por exemplo, evite a mistura de variedades genéticas de cacau, pois isso torna essa etapa menos homogênea. A massa deve ser revolvida de tem- pos em tempos para que mantenha a aeração do sistema. Outra dica é o planejamento. A fermentação pode durar de cinco a sete dias, dependendo do tipo de cacau, da época do ano e do método utilizado. Tenha atenção às condições meteorológicas da época: em dias mais frios, o tempo de fer- mentação tende a se prolongar. Muito bem! Agora, continue seus estudos para saber sobre o que acontece dia a dia na casa de fermentação. Diz o Currículo… Segundo o Currículo de Sustentabilidade do Cacau, o produtor deve sempre se atentar e registrar todas as operações feitas na propriedade. É importante manter atualizados os registros de uso de produtos, as variedades de cacau, a densidade de plantio, as práticas de manejo, a condução e o beneficiamento do cacau de todas as áreas da propriedade, sempre com data e nome do executor. Muito bem! Você já aprendeu muitas coisas sobre o beneficiamento do cacau. Mas que tal conferir o que acontece na casa de fermentação? 1.º dia O processo fermentativo tem início com a cobertura interna dos cochos com folhas de bananeira, e, por cima, a vedação é feita com a tampa dos cochos. Isso serve para evitar o contato da massa úmida com o ar e para controlar a temperatura interna. Preencha os cochos com a massa de cacau obtida dos frutos após a quebra e feche a parte superior com as folhas de bana- neira ou a própria tampa do cocho. A massa deve permanecer nessa condição, sem revolvimento, até a temperatura de 32 °C ou até 48 horas. O processo de fermentação ocorrerá adequadamente à medida que o mel do cacau estiver sendo escoado pelos drenos da parte inferior dos cochos. 196 2.º dia A partir do 2.º dia, ou quando a temperatura atingiu 32 C, faça o primeiro revolvimento da massa, passando de um com- partimento para o outro, com o auxílio de pás. Deixe sempre um cocho vazio para fazer o processo. Mexa a massa em todos os sentidos e aproveite para retirar qualquer impureza presente. Nesta etapa, é comum o odor pronunciado de álcool na massa. Ele é desejado, pois indica que está ocorrendo o pro- cesso de fermentação anaeróbica (sem a presença de ar). 3.º dia Logo após o primeiro revolvimento, a temperatura da massa começa a aumentar. Isso vai ocorrer constantemente durante todo o processo. O produtor deve adquirir um termômetro digital de haste longa para acompanhar a evolução do aumento da tempera- tura no interior dos cochos ao longo do dia. O equipamento é fundamental no controle do processo. Sempre que a temperatura diminuir, é importante fazer o revolvimento (sem trocar de cocho). E por que isso é importante? Essa prática além de elevar a temperatura, elimina os ácidos produzidos durante a fermentação, especialmente o acético, que pode deixar o lote com muita acidez, o que é indesejável. 4.º dia A partir do 4.º dia de fermentação a temperatura atinge valo- res elevados, entre 48 e 52 C, momento em que o embrião da semente morre. A casca da semente perde sua permeabilidade, ou seja, passa a acontecer a troca e a difusão de substâncias que vão alterar a coloração da semente e formar os precursores de aroma e sabor. Caso a temperatura ultrapasse 52 °C, faça o revolvimento do cocho mais vezes, para que ocorra a redução da temperatura. 197 5.º ou 6.º dia No 5.º ou 6.º dia, a massa apresenta um odor bem caracte- rístico de vinagre. Ele indica que a fermentação está aconte- cendo corretamente. Nesse período, faça o teste do aperto das amêndoas e obser- ve a saída do fel ou sangue do cacau, um líquido escuro que sai das amêndoas. Caso verifique a saída de fel, isso significa que o processo de fermentação está chegando ao fim e vai se encerrar em até 48 horas. 6.º ou 7.º dia No 6.º ou 7.º dia do processo, o produtor pode observar declínio ou manutenção da temperatura da massa do cacau, indicativo de que a fermentação está acabando. Outro parâmetro que também pode ser associado ao encer- ramento desse processo é a coloração, que passa de rosada e branca (no início do processo) para castanha. No final da fermentação, o lote deve ser levado imediata- mente para os locais de secagem, para a cura das amêndoas. Diferentes métodos e equipamentos de secagem Vamos conhecer, agora, o processo de secagem, feito para eliminar o excesso de umidade presente nas amêndoas após a fermentação. Essa etapa pode ser feita de forma natural ou artificial. Natural É o processo mais usado pelos cacauicultores, feito pela ação direta dos raios solares, em barcaças ou em estufas solares. Apresenta como vantagens os custos reduzidos com infraestrutura, a operação simplifi- cada e a obtenção de um processo mais prolongado e eficiente. Vamos, primeiro, conhecer como acon- tece o processo nas barcaças. 198 Barcaças são estruturas que têm uma superfície de madeira (lastro) e uma cobertura móvel de zinco onde é feita a secagem. Na prática Nos horários mais quentes do dia, entre 10h e 14h, a co- bertura deve ser fechada para que o cacau fique na som- bra a fim de obter uma secagem mais uniforme e prolon- gada. À noite, as amêndoas devem ser cobertas para não haver absorção de umidade do sereno. O teor de umidade passa de 50% para 7-8% durante o processo natural, com revolvimento manual frequente. Assim que o cacau fermentado for depositado na barcaça, espalhe-o, com o auxílio de um rodo de madeira dentado, de modo a formar camadas de, no máximo, 5 cm de espes- sura (aproximadamente 30 kg/m²). Nos dois primeiros dias do início da secagem, forme leiras (canteiros) no sentido da largura da barcaça e deixe uma parte do lastro exposta aosol. Isso vai acelerar a secagem e reduzir a incidência de mofo. 199 A secagem total é obtida quando não houver mais umida- de no lastro ou o cacau atingir o nível de umidade espe- rado, que pode ser medido por meio de equipamentos próprios, como um medidor de umidade digital. A umidade do lastro será sua referência: sempre que es- tiver seca, altere a posição das leiras com o auxílio de um rodo. No primeiro dia, o revolvimento do cacau deve ser feito a cada 1 hora; no 2.º dia, a cada 2 horas; no 3.º dia, a cada 3 horas. Aumente o intervalo de tempo do revolvi- mento dia a dia, até fazê-la apenas duas ou três vezes/dia para evitar a quebra das amêndoas. A secagem do cacau nas barcaças é a forma mais tradicional de continuar o beneficiamento do cacau. Mas será que existem outras formas de seguir com esse processo? Descubra agora! Existem outras formas de secar o cacau além das barcaças? A resposta é sim! A secagem natural, com as barcaças expostas ao sol, não é a única forma de seguir com esse processo. Uma nova tecnologia para secar o cacau naturalmente tem sido utilizada através do uso de estufas com cobertura plástica. Elas têm proteção aos raios UVs, laterais móveis e estrutura fixa. Nessas estruturas, as amêndoas são secas em pisos de madeira ou lastros suspensos. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! 200 Mas qual é o benefício em relação a sua antecessora? Bem, o uso de estufas é mais vantajoso, porque o processo de secagem não depende de fatores climá- ticos. O único cuidado é que, nos dias quentes, é preciso abrir as laterais da estufa para evitar a forma- ção de substâncias voláteis que podem retornar para as amêndoas. Já o revolvimento deve ser feito da mesma forma que nas barcaças. Ao compararmos essas duas formas de secar o cacau naturalmente, a seca- gem em estufa é mais lenta do que a feita em barcaça. Mas, para a obtenção de cacau com qualidade do tipo fino, é a mais indicada, porque permite a continuação e o término da cura que teve início na fermentação. Artificial A secagem artificial usa secadores que têm uma fonte de calor, como lenha, gás, biodiesel, entre outros, para a secagem do cacau. É uma prática que requer muito cuidado e atenção, pois os lotes podem ser contaminados com a fumaça produzida durante a secagem, o que pode prejudicar a qualidade e o valor final do produto! O processo é bastante rápido e acontece quando a tempe- ratura ultrapassa 65 °C, momento em que ocorre a inibição de enzimas presentes nas amêndoas. Entretanto, as amêndoas são mais ácidas devido à quanti- dade excessiva de ácido acético no seu interior. Portanto, não é indicada para a obtenção de cacau fino/superior, apenas para cacau comum. Para fazer a secagem, distribua a massa de cacau no lastro dos secadores em camadas finas de 5 cm de espessura e faça leiras. O revolvimento deve ser feito conforme as orientações para secagem natural, processo que deve durar entre 7 e 15 dias. 201 Armazenamento Nesta aula, você já aprendeu sobre os critérios técnicos durante a colheita do cacau, para a fase de fer- mentação, e os diferentes métodos de secagem. Agora, resta saber o que fazer a seguir. O armazenamento das amêndoas beneficiadas deve ser feito em um armazém com as seguintes caracte- rísticas: Armazém O local precisa ser seco para diminuir a influência da umidade Deve ter janelas voltadas para a direção dos ventos, protegidas com telas de malha fina O comprimento deve seguir o sentido nascente-poente do sol O piso e as paredes devem ser livres de infiltrações Atenção! A estocagem na propriedade deve ser de até 90 dias, pois o risco de desenvolvimen- to de mofo, ataques de insetos e pragas e absorção de odores é altíssimo. Mais do que apenas um espaço para guardar o produto, um armazém organizado ajuda na gestão de toda a cadeia produtiva. Descubra a seguir como armazenar o cacau corretamente. 202 Como armazenar o cacau corretamente? Para garantir a qualidade do seu produto, utilize coberturas plásticas de tipo lona sobre os sacos, que devem ser de juta ou material similar. As janelas do armazém devem ser abertas nos dias ensolarados, durante o período entre as nove e as dezesseis horas, e fechadas à noite ou nos períodos chuvosos. Observe o teor de umidade dos lotes para verificar se não está ocorrendo reumidificação, o que pode prejudicar a qualidade. É importante também fazer o monitoramento constante do armazém, buscando a presença de insetos ou roedo- res. Para manter a organização do local, identifique os sacos utilizando etiquetas com lote, variedade, data de armazenamento, teor de umidade, dentre outras informações importan- tes. Dessa forma, você protege todo o trabalho que foi feito desde antes de ser plantada a primeira semente e contribui para a rastreabilidade dos lotes! podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! 203 Esta aula teve por objetivo apresentar as boas práticas sobre a colheita e o beneficiamento do cacau, os diferentes métodos e os equipamentos usados. Você aprendeu sobre: ⚫ a importância do manejo correto da colheita e o beneficiamento; ⚫ os critérios técnicos para a colheita ⚫ os critérios técnicos para a fase de fermentação; e ⚫ os diferentes métodos e equipamentos de secagem. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, já sei que preciso me planejar melhor para a próxi- ma colheita, pois a quantidade de cacaueiros aumentou. Preciso providenciar mais ferramentas, já que vou precisar de mais tra- balhadores. Também vou precisar de alguém que treine e super- visione esse pessoal, para que tudo seja feito da forma correta, sem prejudicar a colheita. Ah, e vou pesquisar sobre o brixôme- tro, aquele aparelho que mostra as condições de qualidade e a maturação do cacau. Com certeza, o Edu vai me ajudar nessa! Agora, diante do cenário que foi apresentado e pensando na sua realidade, reflita: há algo que possa ser melhorado durante a colheita? Muito bem! Agora que você já conhece as boas práticas da colheita e do beneficiamento do cacau, avan- ce para a Aula 2 e saiba mais sobre o cacau fino e sua comercialização. 204 Módulo 5 - Aula 2 Cacau fino e comercialização 205 - Ah, Edu! Estou muito satisfeita com todo o progresso que fizemos até aqui! É impressio- nante ver o sítio Santo Isidoro voltar a produzir novamente! Agora, vou colocar minhas habilidades de administradora em ação: quero aumentar a lucratividade! Andei lendo sobre o cacau fino, mas ainda não entendi a diferença da produção na prática. - Tem razão, Gabi! O cacau fino é uma novidade no Brasil e pode ser muito lucrativo. Vou te explicar o que tem de diferente na produção dele… podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Produção do cacau fino No primeiro módulo deste curso, você aprendeu sobre a história do cacau no Brasil. Você se lembra de que, há mais de vinte anos, a cacauicultura busca alternativas para aumentar a rentabilidade dos pro- dutores de cacau? Resultado dessa busca, a produção de cacau fino surge como uma alternativa viável econômica, social e ambientalmente falando. O cacau fino pode ser definido como um cacau com sabores e aromas especiais. Dividimos os tipos de cacau em duas categorias. Conheça-as agora! 206 Conheça agora os dois tipos de cacau e as certificações que podem ser obtidas. O primeiro é o cacau comum, conhecido como cacau não aromático. É o cacau padrão, co- mercializado normalmente e representa 95% do mercado. A análise de qualidade é basea- da em três critérios. 1. O primeiro é o teor de umidade, que deve ser inferior a 8%. 2. O segundo é a própria amêndoa, cujo peso de cem amêndoas equivale a até cem gra- mas. 3. E como terceirocritério temos a prova de corte, que determina o nível de fermenta- ção, a coloração das amêndoas e o número de defeitos, como mofo, sementes germi- nadas, presença de insetos, entre outros. O segundo tipo de cacau é o fino, também conhecido como cacau flavor. A análise de qua- lidade considera os três parâmetros citados anteriormente, além de, principalmente, sabor e aroma. Existem também certificações de cacau como: orgânico, fair trade, rainforest, entre outros. Elas podem aumentar o valor das amêndoas na hora da venda.Para obter essas certifica- ções, é preciso seguir normativas desde a implantação, o manejo até a colheita, como a Lei de Orgânicos. Agora, continue seus estudos para saber mais sobre o cacau fino. Videoaula De olho no horizonte Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para assistir ao vídeo com este conteúdo. Para o cacau ser considerado orgânico, não basta ser produzido sem o uso de agrotóxicos. Ele precisa seguir a Lei de Orgânicos, que trata de outras etapas do processo, além do cultivo. Há orientações a respeito do manejo e da colheita e, por isso, todo cacau considerado orgânico é também considerado especial, ou seja, de qualidade mais alta que o cacau comum. Clique aqui para conhecer a Lei n.º 10.831, de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica. Vá além! https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.831.htm 207 No caso do cacau fino, existem três tipos de aromas formados durante o beneficiamento: o aroma de constituição, o aroma de fermentação e o aroma térmico. Confira a seguir. Aromas formados durante o beneficiamento Aroma de constituição Aroma de fermentação Aroma térmico É produzido durante o processo fermentativo e depende dos microrganismos que atuam nessa etapa, pois a ação deles produz substâncias que penetram na semente e enriquecem os precursores do aroma, com sabores de frutas frescas ou secas, madeira, tabaco, entre outros. Está presente na amêndoa fresca e depende da genética da variedade de cacau e do local de produção. A composição desses aromas varia também em função da maturidade do fruto no momento da colheita e do tempo de armazenagem da quebra. É formado durante a secagem das amêndoas. Durante a fermentação, são formados os precursores, que, na secagem, se propagam e formam o aroma. 208 Notou que o local de produção tem relação com o aroma? Por exemplo, algumas variedades cultivadas no Equador apresentam aroma floral inerente. As amêndoas frescas têm grupamentos químicos como ésteres, álcoois e ácidos que formam os aromas florais, frutais e doces do cacau. Métodos de beneficiamento específicos para a produção de cacau fino Para que o produtor possa obter amêndoas de cacau do tipo fino, são necessários dedicação e controle total dos processos adotados no cultivo, desde a escolha adequada da genética, das técnicas de manejo até o beneficiamento das amêndoas. Conheça mais sobre esse processo. Divida a área de cultivo em lotes homogêneos, baseados nas características do relevo e do solo. Escolha variedades indicadas para a região e que apresentem resistência às principais doenças e pragas do cacaueiro. Faça uso de Boas Práticas Agrícolas, desde o plantio em curvas de níveis (terrenos com declive), o uso de adubos orgânicos, o manejo integrado, que associa práticas pre- ventivas de controle de pragas e doenças e o manejo do sombreamento. Na prática Fonte: Adaptado de Ferreira, 2013. 209 Após a secagem, faça o “teste de corte” para avaliar a qualidade das amêndoas e, principalmente, as características organolépticas, que são as características que podem ser per- cebidas pelos sentidos humanos, como a cor, o brilho, a luz, o odor, a textura, o som e o sabor. Colete as amêndoas aleatoriamente no lote, aproximadamen- te 1 kg. Observe o odor, no que diz respeito a acidez, fumaça ou cheiros estranhos. Corte 100 amêndoas no sentido do comprimento e faça uma avaliação do odor individualmente. Depois, coloque-as sobre uma tábua de corte e observe a coloração interna, os compar- timentos e a presença de defeitos. A colheita do cacau fino segue os mesmos princípios e cuida- dos do cacau comum. Entretanto, retire apenas os frutos ma- duros e respeite o intervalo de colheita, que é de até 14 dias. Para a formação das rumas, forre o chão com lona plástica ou coloque um tablado de madeira debaixo delas. Obedeça aos padrões de coloração para fazer a separação das rumas e descarte os frutos doentes, com ataque de pra- gas ou qualquer dano mecânico. O processo para obtenção da massa de cacau e de fermen- tação é o mesmo usado para o cacau comum. Já durante a secagem, opte por secadores naturais e não conduza a prática próximo a casas e cozinhas com fogão a lenha, pois isso pode trazer odores artificiais às amêndoas. Ao fim do processo, aguarde as amêndoas esfriarem para en- sacá-las. O teor de umidade das amêndoas para o cacau fino é de exatamente 7%. 210 Se possível, faça uma análise sensorial das amêndoas para avaliar os potenciais aromas e sabores do cacau, feito por um profissional especializado, o degustador de cacau. É interessante fazer essa análise, porque ela contribui para aspectos do processo produtivo e fornece informações sobre as melhorias na qualidade do cacau fino. Diz o Currículo… O Currículo de Sustentabilidade do Cacau pode ser um aliado do produtor na im- plementação das BPAs. Não se esqueça dos critérios técnicos que envolvem as fases de colheita, pós-colheita, beneficiamento e armazenamento das amêndoas. Acesso ao mercado do cacau fino Já vimos que o cacau fino contém aromas e sabores diferenciados. Por isso, seu valor costuma ser supe- rior aos demais. Mas saiba que o mercado de cacau superior está em expansão. Estimativas apontam que, até 2024, ele deve representar 8,7% de todo cacau comercializado no mundo. Os preços dessa categoria podem ser até quatro vezes maiores que o alcançado pelo cacau comum. Isso ocorre porque seu estoque é instável e, durante a negociação, são necessárias amostras e avaliações. O método de comercialização é diferente do cacau comum: na entrega, o comprador faz um exame de uma amostra do lote, no qual é avaliado o aroma (as qualidades organolép- ticas são primordiais na decisão da compra das amêndoas e ou da massa de cacau superior). Caso o resultado seja satisfatório, o comprador adquire o produto. 211 Até 2010, o Brasil não fazia parte da comitiva de países produtores de cacau fino, mas isso mudou depois do concurso Internacional Cacau de Excelên- cia, promovido pelo Salão do Chocolate de Paris, onde um produtor brasilei- ro, de Rondônia, ficou na primeira colocação no ranking da América do Sul. O mapa dos países produtores de cacau fino mudou, e o Brasil entrou neste refinado grupo de produto- res. Confira agora os outros países e as características dos seus produtos: 2 1 3 4 5 7 8 9 10 11 6 1 - Ilhas do Caribe e República Dominicana (20%): aromas de madeiras, de frutas secas e de fumo 2 - América Central: aromas de madeira, frutos secos, amêndoa, avelã e tabaco 3 - Equador: produz o cacau “Nacional”, com notas florais e gosto “Arriba” 4 - Peru, Bolívia e Colômbia: cacau com notas de mel, caramelo, nozes doces, às vezes, até mesmo flores. 5 - Brasil: novato entre os produtores de cacau fino. O cacau apresenta um duplo aroma, com notas de alcaçuz, frutas secas e especiarias. 6 - Venezuela: Cacau “Porcelana”, que apresenta notas de mel, caramelo e nozes frescas 7 - São Tomé: Forastero Amelonado; aromas achocolatados sutis 8 - Amelonado Oeste Africano: sabor de chocolate básico e pronunciado, apropriado para as misturas e para os chocolates ao leite 9 - Madagascar: aromas de frutas vermelhas ou amarelas com acidez especial 212 10 - Malásia: aroma de chocolate com notas frutadas e especiarias 11 - Papua-Nova Guiné e Ilha de Java: notas de caramelo e de especiarias Como anda a produção decacau fino no Brasil? Por aqui, Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia se destacam na produção de cacau fino, com três por cento do cacau fino brasileiro. Atualmente, o país comercializa cacau fino para Europa, Estados Unidos, Japão e para o mercado interno. No Japão, empresas com desta- que mundial lançaram marcas exclusivas com o cacau brasileiro; o país prioriza a produção de chocolate com selo sustentável, chamado de “Ecochoco”. Na Europa, o cacau brasileiro está presente na linha de produção de grandes empresas. Antes do reconhecimento mundial, as indústrias chocolateiras do Brasil importavam cacau fino de outras regiões para confecção de chocolates finos. Com os avanços na produção, a visão sustentável dos processos produtivos e os cuidados tomados durante a colheita e o beneficiamento, o cacau nacional ganhou força e as empresas criaram uma linha de produ- ção exclusiva! podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Que tal aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto? Clique nos links a seguir e aproveite os materiais complementares, cuidadosamente selecionados para melho- rar sua aprendizagem! ⚫ Cacau Conecta: um evento do Mapa para conectar AgTechs a investidores ⚫ Notícia: Preço baixo da commodity incentiva produção de cacau premium na Bahia Vá além! https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/ceplac/cacau-conecta-agtechs-2022/cacau-conecta https://globorural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2022/08/preco-baixo-da-commodity-incentiva-producao-de-cacau-premium-na-bahia.html https://globorural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2022/08/preco-baixo-da-commodity-incentiva-producao-de-cacau-premium-na-bahia.html 213 Nosso objetivo nesta segunda aula foi apresentar a você o cacau fino e sua comercialização. Você aprendeu sobre: ⚫ a produção do cacau fino; ⚫ os métodos de beneficiamento específicos para a produção de cacau fino; e ⚫ o acesso ao mercado do cacau fino. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? Aqui, no sítio Santo Isidoro, estou planejando fazer as adequa- ções necessárias para que o nosso cacau seja considerado do tipo fino. Para isso, vou ter especial atenção aos aromas formados durante o beneficiamento. Vou contar com o Edu para me ajudar com o teste de corte e até mesmo fazer uma análise sensorial das amêndoas com um especialista. O próximo prêmio do concurso internacional de Cacau de Excelência vai ser nosso! Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua e reflita: você se vê produzindo cacau fino? Muito bem! Agora, avance para a Aula 3 e aprenda sobre gestão financeira. 214 Módulo 5 - Aula 3 Gestão financeira 215 - Então, Edu, mais uma vez vou colocar meus conhecimentos administrativos em ação! Tô acompanhando de perto os números da gestão financeira do sítio e tenho certeza que estamos no caminho certo! Mas às vezes eu fico me perguntando como as outras fazendas por aqui estão se saindo… - Gabi, pra saber individualmente, só se a gente bater de porta em porta e perguntar! Mas a gente pode dar uma olhada nos estudos de viabilidade econômica. Tem muita informação valiosa lá! podcast O resgate de Santo Isidoro Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta história! Você chegou à última aula deste curso! Durante esta jornada, você aprendeu sobre todo o processo da produção de cacau, desde os aspectos botânicos do cacaueiro até o beneficiamento das amêndoas com vistas ao comércio de cacau fino, certo? Mas há um ponto muito importante que ainda não foi tratado, a cereja do bolo: a gestão financeira. Amada por uns, odiada por outros, não há quem negue sua importância. Por isso, aproveite esta aula e descubra a importância da gestão financeira da atividade de produção de cacau. Importância da gestão financeira nas propriedades rurais de cacau Como você já deve imaginar, o produtor de cacau deve ter conhecimento e fazer a correta gestão dos custos de produção e das receitas geradas na produção de cacau. Apenas dessa forma é possível ter um bom direcionamento tanto na tomada de decisão quanto no acesso às políticas públicas. Outros pontos relevantes na gestão da propriedade é saber determinar o inventário da propriedade e, assim, poder estimar custos totais, dada a depreciação do cacaueiro, de benfeitorias e equipamentos, bem como os custos de opor- tunidade do capital investido. 216 Uma boa capacidade de gestão vai resultar na manutenção da capacidade de investimentos futuros na atividade. Viabilidade econômica na Bahia Já vimos, lá no Módulo 1, o quão relevante é o estado da Bahia quando falamos de produção de ca- cau. O estado é responsável por 45% do cacau produzido no Brasil, e sua região sul é a que concentra a maior parte da produção. Cerca de 79% dos estabelecimentos rurais têm como atividade agrícola o cultivo de cacau. Dessas propriedades, 78% cultivam no sistema cabruca, com densidade populacional de 850 plantas/ha. 79% 78% cultivam cacau cabruca Cultivo de cacau na Bahia Vamos a mais alguns números? ⚫ cada propriedade tem, em média, 10,9 hectares de cacau cabruca; ⚫ a produtividade delas é de cerca de 11,8 arrobas/ha anuais; ⚫ a renda bruta é de cerca de R$ 1.582 mensais; ⚫ dessa renda, apenas 40% desse valor provém da produ- ção de cacau; ⚫ somente 37% dos produtores já tiveram acesso ao cré- dito rural; e ⚫ apenas 5% receberam assistência técnica com frequên- cia. 217 No estado da Bahia, foram analisadas informações de campo disponibilizadas por diferentes elos da cadeia produtiva do cacau, desde os produtores rurais, a indústria, os órgãos de pesquisa até os especia- listas em cacau. Antes de acompanharmos os resultados, que tal entender melhor como é feita a análise de viabilidade? Como fazer uma análise de viabilidade? Ao analisar a viabilidade de um sistema de cultivo de cacau, tenha em mente que os primei- ros quatro anos (do ano zero ao ano três) são considerados como investimento do negócio. Isso significa que, mesmo havendo alguma renda nesse período, ela não é tão significativa. Quer um exemplo do que poderia ser essa renda? A venda dos produtos vindos das cultu- ras implantadas na área para fornecer o sombreamento provisório, por exemplo. Então, somente a partir do quarto ano de cultivo é possível estimar a média dos resultados finan- ceiros obtidos em cada modelo de cultivo. O pico de produtividade se dá até o sexto ano. Mas depois do décimo quinto ano, há uma redução de dois por cento ao ano na produção do cacau. Um parâmetro bastante importante para ser avaliado durante a gestão do seu empreendi- mento é o tempo de retorno necessário para recuperar o investimento feito, bem como os riscos e a viabilidade do seu negócio. Lembre-se de considerar o valor total do investimen- to, atentando para incluir todas as receitas, as despesas e os custos da sua plantação, desde o início da atividade até o beneficiamento do cacau. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Agora que você já sabe o que é considerado na análise de viabilidade, vamos acompanhar os resultados das pesquisas feitas na Bahia? Nessa região, prevalecem os modelos com produtividade média de amêndoas secas em dois sistemas: ⚫ Cabruca adensada: 0,8 kg/planta; e, ⚫ Cabruca rala: 1,5 kg/planta. O preço das amêndoas secas, no estudo, é de R$ 12,07 por kg. Conheça agora os resultados dos estudos de viabilidade econômica obtidos na análise da região da Bahia. 218 O tempo de retorno financeiro por hectare é de 21 anos. Dados os valores de renda livre média após o 3.º ano de cultivo, este modelo apresenta uma média de R$895 ha/ano. Cabruca adensada O tempo de retorno financeiro por hectare é de 13 anos. Dados os valores de renda livre média após o 3.º ano de cultivo, este modeloapre- senta uma média de R$5.414 ha/ano. Cabruca rala (30%de sombra) Como você pôde perceber, o modelo cabruca rala, além de ser ambientalmente correto e sustentável, que proporciona ganhos de produtividade elevados, também gera renda para o produtor e torna o culti- vo economicamente rentável. Viabilidade econômica no Pará A produção de cacau no Pará vem crescendo e ganhando importância nos últimos anos. O cacau é produ- zido em quase todo o estado, com destaque para as regiões transamazônica, sul e nordeste, com mode- los baseados no SAF. De acordo com estudos feitos na região, a produtividade nos sistemas agroflorestais com cacau varia de 0,91 a 1,25 kg/planta, com preço de R$9,80 por kg. Quer saber mais sobre os resultados desse estudo? Então confira a seguir. 219 E os sistemas agroflorestais, são mesmo viáveis? Um estudo de viabilidade econômica no Pará abordou os sistemas agroflorestais, os cha- mados SAF: de cacau e amêndoas, de cacau e açaí, além de cacau e castanha-do-brasil. A conclusão foi que todos esses modelos possuem viabilidade econômica! Vale dizer que, nos sistemas menos diversificados, o investimento inicial é inferior, devido ao uso reduzido de mão de obra. O SAF cacau e açaí demonstrou ter maior retorno financeiro, com renda elevada após o terceiro ano de implantação. O retorno do investimento para todos os sistemas é de oito a nove anos. Mas, é preciso ressaltar que, para que o sistema de cultivo do cacau traga retorno financei- ro, é crucial haver boa produtividade. Os sistemas que utilizam mais espécies de plantas se mostram bem menos sensíveis às oscilações de preços do mercado e também aos efeitos climáticos. Especialmente, no caso do modelo cabruca, o cuidado e a atenção devem ser re- dobrados: o manejo deve ser intensivo para garantir sombreamento adequado, mantendo níveis de produtividade elevados e, assim, obter rendimentos positivos. podcast Direto do campo Acesse o ambiente virtual de aprendizagem para ouvir esta explicação! Além dos parâmetros financeiros apresentados, o produtor deve levar em consideração outros aspectos que podem auxiliar o planejamento e a decisão do modelo a ser adotado, como: ⚫ seu perfil e sua experiência com o cacau; ⚫ o apoio de assistência técnica; ⚫ a estrutura e o conhecimento para as etapas de beneficiamento, que vão influenciar diretamente a qualidade do produto final; ⚫ o acesso aos mercados consumidores; e, principalmente, ⚫ a logística para escoamento da produção. 220 Atenção! Não esqueça do crédito rural! Independentemente do modelo adotado, o valor do investimento inicial é elevado. Os conhecimentos em gestão financeira e planejamento auxiliarão no acesso ao crédito. Lembre-se do papel das parcerias e das associações na cadeia produtiva do cacau, pois, sem dúvidas, elas facilitarão a gestão do seu empreendimento. Diz o Currículo… Além da gestão financeira da sua propriedade, é preciso se atentar a outros aspec- tos de gestão social! O Currículo de Sustentabilidade do Cacau traz recomenda- ções sobre a legislação trabalhista, o período de trabalho, a prevenção de acidentes e a saúde do trabalhador. Consulte o documento sempre que precisar. Que tal aprofundar seus conhecimentos sobre a gestão financeira e o estudo de viabilidade econômica? Então, confira os materiais complementares selecionados. É só clicar nos títulos a seguir. ⚫ Viabilidade econômica de sistemas produtivos com cacau ⚫ Notícia: Agricultores trabalham para modernizar a lavoura de cacau na BA ⚫ Acesse o portal do Senar e procure pelo programa Negócio Certo Rural – NCR Vá além! https://arapyau.org.br/wp-content/uploads/2021/11/viabilidade-economica-de-sistemas-produtivos-com-cacau.pdf https://globoplay.globo.com/v/4960676/ https://ead.senar.org.br/ 221 A última aula do curso teve por objetivo ressaltar a importância da gestão financeira da atividade de produção de cacau e apresentar dados atuais dos estudos de viabilidade feitos na Bahia e no Pará. Escreva sua resposta na caixa de texto abaixo. Salve este arquivo novamente em seu computador para registrar a reflexão. E na sua porteira? No meu caso, acho que ainda falta muito para alcançarmos os números descritos nos estudos. Mas isso é esperado: os quatro primeiros anos são considerados como investimento no negócio. Então, eu vou continuar me esforçando, pois sei que o resultado vem! Provavelmente, daqui a seis anos, o sítio Santo Isidoro es- tará no seu auge! Mas, pra isso acontecer, preciso acompanhar o dia a dia da produção e fazer a gestão financeira direitinho. Quem sabe está na hora de fazer uma especialização no assunto? Agora, pense na realidade da propriedade em que você atua e reflita: ela está dentro do que foi identificado nos estudos de viabilidade? Muito bem! Depois de todo esse aprendizado, você já pode responder à última atividade. Este é um momento de autoavaliação, em que você vai poder refletir e validar o que aprendeu neste mó- dulo. Leia com atenção a pergunta e, no ambiente virtual de aprendizagem, escolha a resposta adequada. Atividade de aprendizagem 223 Questão 1 O beneficiamento do cacau é uma etapa crucial para a comercialização das sementes, pois a indústria necessita da semente beneficiada como matéria-prima para a produção de chocolates e derivados. Assim, confor- me os cuidados necessários nessa etapa, assinale a alternativa correta: Atividade de aprendizagem A colheita do cacau pode ser feita a partir da observação de alguns aspectos do fruto, como a maturidade fisiológica: nesta fase, os frutos têm idade superior a 7 meses e coloração laranja, independentemente da variedade. A mucilagem deve ter consistência firme e é um indicativo de maturidade do fruto. Os frutos podem ser retirados com canivetes ou facas amoladas, os quais são agrupa- dos em rumas no chão conforme o grau de maturação. Não deve ser levado em consi- deração o tamanho e a incidência de pragas ou de doenças. Os frutos colhidos em dias diferentes também podem ser amontoados nas rumas, para posterior quebra. A quebra é uma etapa que antecede a fermentação e consiste em fazer o rompi- mento do fruto com o auxílio de cutelo não amolado em até dois dias após a co- lheita. O corte deve atingir somente a casca e expor as amêndoas que formarão a massa de cacau. A massa deve ser livre de contaminantes, como amêndoas podres ou germinadas, cascas e folhas. A fermentação é a etapa mais importante do beneficiamento e consiste em de- positar a massa de cacau em recipientes plásticos limpos, em locais apropriados, como galpões. Essa etapa dura cerca de 10 dias e necessita do empenho total do produtor, pois o controle da temperatura determina a formação dos precursores de sabor e aroma das amêndoas. A secagem vem logo após a fermentação e pode ser do tipo natural ou artificial. Durante essa etapa, a massa de cacau fermentada deve ser colocada sobre o piso de cimento no qual é feito o revolvimento constante até que não seja mais obser- vada umidade nas amêndoas e atinja-se o grau mínimo de umidade de 3%. 224 Questão 2 A produção de cacau fino é recente e viável nas três esferas: econômi- ca, social e ambientalmente. Esse novo ramo de produção surgiu como alternativa aos cacauicultores tradicionais para aumentar a rentabilidade do negócio. Com base no entendimento sobre cacau fino, assinale verda- deiro ou falso: Atividade de aprendizagem A qualidade do cacau fino ou flavour é baseada em alguns parâmetros, como: umidade das amêndoas superior a 8%, peso das amêndoas e “prova de corte”, pela qual é possível determinar a qualidade do processo fermentativo. Durante o beneficiamento do cacau fino, são formados dois aromas: de constituição e de fermentação. O primeiro é inerente à variedade de cacau, mas é determinado pela localização geográfica em que o cacau é cultivado. Já o segundo é formado apenas durante o processo fermentativo e sofre pouca influência da secagem. Para que o produtortenha amêndoas do tipo fino, são necessários dedicação e controle total dos processos adotados no cultivo, desde a escolha adequada das técnicas de manejo, os parâmetros escolhidos durante a colheita até o beneficia- mento e a secagem das amêndoas. O Brasil passou a ter destaque no mercado internacional de cacau fino após uma premiação em concurso mundial, em 2010, quando passou a ocupar posições importantes nesse cenário. Hoje, o país exporta cacau de qualidade superior para Europa, EUA, Japão e abastece o mercado interno. A forma de comercialização do cacau fino obedece aos mesmos padrões do co- mércio de cacau “comum”, no qual o preço se mantém constante, pois é reflexo da oferta e da demanda do produto no mercado. 225 Questão 3 O cacauicultor deve ter conhecimento sobre os custos diretos e indiretos de produção e as receitas geradas com a produção de cacau. Isso permi- te ter um melhor direcionamento na tomada de decisões e no acesso às políticas públicas. Conforme a gestão financeira usada na produção de cacau, marque a única alternativa correta: Atividade de aprendizagem O investimento na lavoura de cacau é um passo importante devido ao valor eleva- do de instalação. O retorno começa a ser alcançado a partir do 4.º ano de cultivo, quando é obtida a produtividade máxima, que permite a geração de renda líquida ao produtor durante os anos consecutivos. Os modelos de cultivo do cacau cabruca de alto sombreamento e rala são inviáveis economicamente na Bahia, principalmente devido à baixa produtividade, que se mantém estável durante todo o ciclo de vida do cacau. O modelo SAF cacau x açaí é o que apresenta maior rentabilidade econômica, com uma renda líquida alta após o 3.º ano de cultivo e retorno financeiro de 8 anos. Os sistemas SAF de cacau não são viáveis economicamente, mesmo com um inves- timento inicial baixo. A produtividade é inferior se comparada aos demais modelos e não proporciona um retorno financeiro significativo. Conclusão do curso 227 Estamos encerrando nosso curso. Parabéns por ter chegado até aqui! Foi uma longa jornada cheia de aprendizados! Nosso principal objetivo foi que você pudesse conhecer a cadeia produtiva do cacau. Ressaltamos as principais práti- cas utilizadas na cacauicultura, o manejo e a produção de ca- cau sob a abordagem do desenvolvimento rural sustentável. Vamos recapitular tudo o que aprendemos durante o curso? No Módulo 1, Produção sustentável de cacau, você conheceu o contexto histórico da cacaui- cultura e sua importância econômica, com destaque para o apogeu e o declínio da cacauicultura na Bahia. Você viu, ainda, os aspectos botânicos do cacaueiro e suas variedades, incluindo os grupamentos Criollo, Forastero e Trinitários. Você também pôde conhecer os principais métodos de propagação do cacaueiro: seminal, com estaquia e enxertia, e a propagação vegetativa, por meio de ramos plagiotrópicos e ortotrópi- cos. Módulo 1 No Módulo 2, Sistemas sustentáveis de cultivo, apresentamos os diferentes sistemas de cultivo do cacaueiro e ensinamos como fazer uma análise sob a perspectiva de sustentabilidade desses sistemas. Você conheceu em detalhes os sistemas agroflorestal, cabruca e pleno sol. Módulo 2 228 No Módulo 3, Implantação da cultura, você conheceu os aspectos primordiais da produção de mudas de qualidade, a escolha certa da área de cultivo, a implantação e a manutenção da lavou- ra nesse primeiro momento. Você aprendeu sobre a instalação de viveiros de produção de mudas de cacaueiro, como produ- zi-las, as diferentes técnicas de produção e sua manutenção no viveiro. Você também conheceu os fatores preponderantes para a escolha ideal da localização de im- plantação definitiva dos cacaueiros. Além disso, estudou sobre o preparo da área, com destaque para os sistemas de preparo da área de implantação, as técnicas usadas para o plantio e a manu- tenção da lavoura. Módulo 3 No Módulo 4, Manejo da lavoura, apresentamos os principais métodos de manejo do cacauei- ro. Você aprendeu sobre a nutrição de cacaueiros, com destaque para como devem ser feitas as adubações de manutenção, de produção, foliar, bem como a fertirrigação. Na sequência, você aprendeu sobre as principais pragas e doenças do cacaueiro, como controlá- -las e a importância do manejo integrado nesse processo. Por fim, você viu os diferentes tipos de poda do cacaueiro e seus impactos na produção. Módulo 4 No Módulo 5, Colheita e beneficiamento, você conheceu os aspectos de beneficiamento, produção e comercialização de cacau fino. Aprendeu as boas práticas sobre colheita e beneficia- mento do cacau, os diferentes métodos e os equipamentos usados. Você também aprendeu a produzir o cacau fino, seus métodos de beneficiamento específicos e o acesso a esse mercado. Por fim, mostramos a importância da gestão financeira da atividade de produção de cacau e demos destaque para a viabilidade econômica nas principais regiões produtoras do país. Módulo 5 Esperamos que você tenha aproveitado o curso e, mais ainda, que seja útil na sua vida diária e profissio- nal. Para encerrar, conheça as referências usadas. 229 REFERÊNCIAS ADAFAX - Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu. Cultivo e manejo de cacaueiros. 2013. 36 p. ALBUQUERQUE, E. M. B.; MELO, B. A.; GOMES, J. P.; QUEIROGA, V. P. Cacau (Theobroma cacao, L.) or- gânico sombreado: Tecnologias de plantio e produção da amêndoa fina. 1.ed. Arepb, 2021. 386 f. ALMEIDA, R. SILVA, et. al. Produção do cacaueiro submetido a diferentes lâminas de irrigação e doses de nitrogênio. Revista Caatinga, v. 27, n. 4, p. 171 – 182, 2014. ALVIN, R. et al. Agrossilvicultura como ciência de ganhar dinheiro com a terra: recuperação e remune- ração antecipadas de capital no estabelecimento de culturas arbóreas. Ilhéus: Ceplac. Boletim Técnico 161. 136 p. 1989. AMAZÔNIA 2030. Cacau fino ou commodity: Opções para a Amazônia, n.º 18, 2021. BRAINER, M. S. C. P. 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Vivencia Revista de Antrop- ologia, n.º 57, 2021. Boas-vindas! Atividades Produção sustentável de cacau Importância socioeconômica A cacauicultura no Brasil A origem do cacau e da cacauicultura Aspectos botânicos e variedades Grupamentos genéticos Características do cacaueiro Botânica do cacaueiro Métodos de propagação Métodos de propagação Propagação por sementes ou seminal Método de propagação vegetativa Atividade de aprendizagem Anexo - Cacau no Brasil  Sistemas sustentáveis de cultivo Sistema agroflorestal Importância socioeconômica e ambiental dos sistemas agroflorestais Benefícios dos SAFs Sistemas agroflorestais com cacaueiros Sistemas permanentes zonais Sistemas permanentes mistos Classificação dos sistemas agroflorestais Objetivos dos sistemas agroflorestais Sistema cabruca Conceituação e critérios técnicos Corte e queima Cabruca Derrubada total Cabruca tecnicamente formada Aspectos legais Sistema Pleno sol Critérios técnicos e sustentabilidade Atividade de aprendizagem Implantação da cultura Preparo das mudas Produção das mudas Produção de mudas a partir de sementes Produção de mudas por enxertia e estaquia (clones) Instalação do viveiro Produção de mudas em viveiro O substrato Escolha da área Módulo 3 - Aula 2 Aspectos favoráveis à implantação do cacaueiro Clima Tipo de solo Relevo Preparo da área Manutenção no primeiro ano do plantio Manejo do sombreamento Controle de plantas invasoras no cacaueiro Vá além! Na prática Preparo das covas e plantio das mudas Atenção! Balizamento Na prática Análise e correção do solo Diz o Currículo… Na prática Diz o Currículo… Tipos de preparo Manejo da Lavoura Adubação Adubação/nutrição de cacaueiros Adubação de plantio ou fundação Adubação de manutenção e de produção Adubação foliar Fertirrigação Controle de pragas e doenças Principais pragas do cacaueiro e manejo integrado Monalônio Cigarrinha Ácaro-da-gema Principais doenças do cacaueiro e manejo integrado Vassoura-de-bruxa Podridão-parda Monilíase Controle de pragas e doenças Poda Importância da poda do cacaueiro Poda de formação Poda de manutenção Atividade de aprendizagem Colheita e beneficiamento Importância do manejo correto da colheita e beneficiamento Armazenamento Diferentes métodos e equipamentos de secagem Natural Artificial fermentação Critérios técnicos para a fase de Importância do manejo correto da colheita e do beneficiamento Cacau fino e comercialização Acesso ao mercado do cacau fino Métodos de beneficiamento específicos para a produção de cacau fino Produção do cacau fino Gestão financeira Importância da gestão financeira nas propriedades rurais de cacau Viabilidade econômica no Pará Conclusão do curso REFERÊNCIAS Campo de texto 2: Campo de texto 9: Campo de texto 10: Caixa de seleção 1: Off Caixa de seleção 2: Off Caixa de seleção 3: Off Caixa de seleção 4: Off Caixa de seleção 5: Off Campo de texto 4: Campo de texto 6: Campo de texto 7: Campo de texto 13: Campo de texto 14: Campo de texto 15: Campo de texto 16: Campo de texto 17: Caixa de seleção 32: Off Caixa de seleção 33: Off Caixa de seleção 34: Off Caixa de seleção 35: Off Caixa de seleção 36: Off Campo de texto 18: Campo de texto 19: Campo de texto 21: Campo de texto 27: Caixa de seleção 6: Off Caixa de seleção 7: Off Caixa de seleção 8: Off Caixa de seleção 9: Off Caixa de seleção 10: Off Campo de texto 37: Campo de texto 38: Campo de texto 39: Campo de texto 40: Campo de texto 41: Campo de texto 8: Campo de texto 11: Campo de texto 12: Campo de texto 20: Campo de texto 22: Caixa de seleção 57: Off Caixa de seleção 58: Off Caixa de seleção 59: Off Caixa de seleção 60: Off Campo de texto 28: Campo de texto 29: Campo de texto 30: Campo de texto 31: Campo de texto 44: Campo de texto 46: Campo de texto 48: Caixa de seleção 11: Off Caixa de seleção 12: Off Caixa de seleção 13: Off Caixa de seleção 14: Off Caixa de seleção 15: Off Campo de texto 54: Campo de texto 55: Campo de texto 56: Campo de texto 57: Campo de texto 58: Caixa de seleção 21: Off Caixa de seleção 22: OffCaixa de seleção 23: Off Caixa de seleção 24: Off