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Parte IV – Física Moderna330 3. Polarização da luz Introdução Vamos aqui abordar o fenômeno da polarização da luz. Serão estudadas duas leis, ambas descobertas por meio de experimentos e de uma teoria mecanicista para as oscilações das ondas de luz, mas que, poste- riormente, puderam ser explicadas pela teoria eletro- magnética de Maxwell, segundo a qual as ondas de luz consistem em dois campos que se propagam: o campo elétrico, representado pelo vetor E , e o campo magné- tico, representado pelo vetor B. No estudo da polarização dessas ondas, entretan- to, opta-se por representar apenas o vetor E. Em uma fonte comum de luz, átomos ou moléculas emitem ondas em que o vetor E pode ter as mais diver- sas orientações: trata-se de uma luz não polarizada. Um feixe dessa luz, imaginado saindo do plano desta página, perpendicularmente a esse plano, con- tém campos elétricos variáveis no tempo, que podem estar vibrando em qualquer direção no referido plano: Se os vetores E do feixe citado se tornarem res- tritos a uma única direção de vibração – eliminados, portanto, todos os que vibram em outras direções –, passaremos a ter luz plano-polarizada ou linear- mente polarizada (única direção significa uma po- larização ideal): E Vetores E da luz proveniente de uma fonte luminosa comum, saindo perpendicularmente do plano desta página e dirigindo-se aos olhos do leitor. E Vetor E da luz polarizada saindo perpendicularmente do plano desta página e dirigindo-se aos olhos do leitor. Em perspectiva, temos: E Direção e sentido de propagação Onda plano-polarizada (ou linearmente polarizada). O plano que contém o vetor E e a direção de propa- gação é denominado plano de vibração da onda. Quando o feixe de luz é plano-polarizado, todos os planos de vibração são paralelos entre si e qualquer um deles é o plano de polarização do feixe. Polarização por transmissão seletiva Observe a figura a seguir, que representa uma rede de fios metálicos paralelos entre si: E Luz polarizada Luz não polarizada Rede de fios metálicos Eixo de transmissão E Se uma luz não polarizada incidir na rede, como mostra a figura, os vetores E que já estão na direção dos fios, bem como as componentes, nessa mesma direção, dos demais vetores E, acelerarão os elétrons de condu- ção dos fios, gerando assim, uma corrente elétrica ao longo desses fios, que vão se aquecer. Assim, por efeito Joule, haverá dissipação de energia do campo eletro- magnético constituído pelo campo elétrico E (e compo- nentes) na direção dos fios e pelo correspondente cam- po magnético B. Consequentemente, a transmissão do referido E (e componentes) através da rede condutora será muito pequena, podendo praticamente anular-se. Entretanto, os vetores E (e componentes), na di- reção perpendicular aos fios, não geram corrente elétrica significativa, razão pela qual o vetor campo elétrico total, nessa direção, é muito pouco atenuado: atravessa muito bem a rede, obtendo-se luz polariza- da (veja a figura anterior). Note que o E transmitido através da rede é per- pendicular aos fios. Por isso, a direção perpendicular aos fios é denomi- nada eixo de transmissão da rede. Os polarizadores mais usados atualmente são as lâminas polarizadoras denominadas polaroides. Um dos tipos de polaroide é uma lâmina de ál- cool polivinílico, um polímero orgânico sintético constituído de cadeias de moléculas de hidrocarbo- netos muito longas. TF3-327_358_P4T1_5P.indd 330 20/08/12 11:08 Tópico 1 – Noções de Física Quântica 331 A lâmina é estirada de modo que as longas cadeias moleculares se alinhem e se disponham paralelamente uma à outra. Após serem impregnadas de iodo, essas moléculas passam a ter elétrons de condução: Lâmina de álcool polivinílico Representação simbólica de algumas das cadeias de moléculas Eixo de transmissão Vetores E na direção dessas longas cadeias molecu- lares são bastante atenuados, de modo análogo ao que ocorreu na rede de fios metálicos. Portanto, o eixo de transmissão é perpendicular às longas cadeias moleculares. Lei de Malus Na figura a seguir, luz não polarizada, representa- da por seus vetores E, incide em um primeiro polaroide de eixo de transmissão ET1. Esse primeiro polaroide é denominado polarizador. Na onda transmitida pelo polarizador, o vetor campo elétrico E tem amplitude E0. Essa luz incide em um outro polaroide, frequen- temente denominado analisador, cujo eixo de trans- missão é ET2. Sendo θ o ângulo entre ET1 e ET2, o vetor campo elétrico da onda transmitida pelo analisador tem am- plitude igual a E0 cos θ. E E 0 Eixo de transmis- são ET 1 Eixo de transmis- são ET 2 Luz polarizada, de intensidade I 0 Luz polarizada, de intensidade I E 0 cos θ u ET 1 Analisador (ideal) ET 2 Polarizador (ideal) Luz não polarizada É importante destacar que I0 é a metade da in- tensidade, ILNP, da luz não polarizada incidente no polarizador. Lembre-se de que essa luz contém vetores E para os quais todos os planos de vibração são possíveis. Por isso, esses planos formam com ET1 ângulos θLNP quais- quer e, por meio de cálculo integral, pode-se demons- trar que o valor médio da função f (θLNP) 5 cos² θLNP é igual a 1 2 , o que justifica o destaque feito: 5I I 20 LNP Polarização por reflexão Na figura a seguir, luz não polarizada proveniente do vácuo (ou do ar) incide em um bloco dielétrico – de vidro, por exemplo. Por conveniência, todos os vetores E da luz inciden- te foram substituídos por suas componentes perpen- diculares ao plano de incidência – representadas por pontos (?) e por suas componentes paralelas ao plano de incidência – representadas por setas ( ): 90° U 1 5 U p Normal Raio incidente, não polarizado Raio refletido polarizado Raio refratado parcialmente polarizado n 1 n 2 U 2 A intensidade do feixe luminoso é proporcional ao quadrado da amplitude do vetor campo elétrico. Assim: I0 5 k E2 0 e I 5 k E2 0 cos2 θ Chegamos, então, à expressão da lei de Malus, publicada em 1809 por Étienne Malus, capitão e en- genheiro militar do exército de Napoleão: I 5 I0 cos2 θ (Lei de Malus) I0 Lembrete: o plano de incidência é o plano determi- nado pela reta normal e pelo raio incidente. Para um ângulo de incidência θp, denominado ân- gulo de polarização, a luz refletida está totalmente polarizada, não apresentando componentes de E para- lelas ao plano de incidência: a luz refletida, de baixa in- tensidade, está plano-polarizada, contendo apenas com- ponentes de E perpendiculares ao plano de incidência. A onda refratada contém integralmente as compo- nentes de E paralelas ao plano de incidência e, parcial- mente, as componentes perpendiculares a esse plano. Portanto, o feixe refratado está apenas parcialmen- te polarizado. Isso é a lei de Brewster, constatada em 1815 por Sir David Brewster, que foi professor de Física na Uni- versidade de St. Andrews. TF3-327_358_P4T1_5P.indd 331 20/08/12 11:08 Parte IV – Física Moderna332 Exercícios nível 1 O ângulo de polarização θp (ou ângulo de Brews- ter) ocorre em uma situação em que o raio refletido e o raio refratado são perpendiculares entre si (veja a última figura). Pela lei de Snell: n1 sen θ1 5 n2 sen θ2 Para θ1 5 θp, θ1 1 θ2 5 θp 1 θ2 5 90°. Então: n1 sen θp 5 n2 sen θ2 5 n2 cos θp ⇒ tg θp 5 n n 2 1 Notas: diferente de θp, a polarização da luz refletida também é parcial. E perpendiculares ao plano de incidência, refrata-se como na última figura, tanto a onda refletida como a refratada são plano-polarizadas, com os vetores E perpendiculares ao plano de incidência. Por outro lado, se a onda incidente é plano-polari- zada, com os vetores E paralelos ao plano de incidên- cia, e θ1 1 θ2 é igual a 90°, a onda refletida desaparece. Toda a luz incidente é refratada. 1. Raios X são radiações eletromagnéticas cujos comprimentos de onda, no vácuo, podem variar de 10–9 m a 10–11 m, ou seja, de 10 Å a 0,1 Å. A figura a seguir representa um equipamento paraa produção de raios X, em que T é um tubo de vidro, G é um gerador que aquece o filamento de tungstênio F (cátodo) e A é um alvo metálico que também pode ser de tungstênio. G Raios X Elétrons Vácuo Fonte de alta-tensão+ F – – + T A + + + + + + + + + O filamento aquecido libera elétrons (efeito termiônico), que são acelerados pela fonte de alta-tensão e, em seguida, bombardeiam o alvo A, ocorrendo aí a produção dos raios X. Do ponto de vista da teoria de Maxwell, como se explica essa produção? 2. (Fuvest-SP) Considere três situações em que um raio de luz se desloca no vácuo: I. nas proximidades de uma esfera carregada eletricamente, re- presentada na figura I. II. nas proximidades do polo de um ímã, representada na figura II. III. nas proximidades de um fio percorrido por corrente elétrica i, representada na figura III. Luz (I) (II) fio Luz (III) i LuzÍmã N+ + + + + + + + S Podemos afirmar que o raio de luz: a) não é desviado em qualquer das três situações. b) é desviado nas três situações. c) só é desviado nas situações I e II. d) só é desviado nas situações II e III. e) só é desviado na situação I. 3. O efeito Cherenkov, fenômeno sugerido para pesquisa na seção Descubra mais deste tópico, consiste na emissão de ra- diação eletromagnética por partículas portadoras de carga elétrica, em movimento retilíneo e uniforme (MRU) no interior de um meio material, quando se deslocam com velocidade vp maior que a velocidade vr com que a radiação emitida se pro- paga nesse meio (obviamente, transparente à radiação). As ondas eletromagnéticas produzidas avançam pelo meio se- gundo uma frente de onda resultante cônica, estando a partí- cula (P) sempre no vértice do cone, como na figura a seguir: B θ A P v p Nos dois itens seguintes, é dada a velocidade das radiações eletromagnéticas no vácuo: c 5 3,00 ? 108 m/s. a) Suponha que elétrons se desloquem em MRU no interior da água, mas não ocorra o efeito Cherenkov. O que se pode concluir a respeito do módulo vp da velocidade desses elé- trons? Considere o índice de refração da água igual a 1,33. b) Em uma outra situação, elétrons em MRU na glicerina, com velocidade vp 5 2,35 ? 108 m/s, produziram o fenômeno. Dado que o índice de refração da glicerina é igual a 1,47, determi- ne o ângulo θ indicado na figura. TF3-327_358_P4T1_5P.indd 332 20/08/12 11:08