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EXERCÍCIOS SOBRE INTERTEXTUALIDADE EM OBRAS LITERÁRIAS 2 Texto I XLI Ouvia: Que não podia odiar E nem temer Porque tu eras eu. E como seria Odiar a mim mesma E a mim mesma temer. HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento). Texto II Transforma-se o amador na cousa amada Transforma-se o amador na causa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br. (fragmento). Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é (A) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só. (B) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo. (C) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado. (D) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta. (E) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e lI, respectivamente, o ódio e o amor. Resposta Letra A Tanto o texto I como o II têm como tema principal a transformação do “outro” no eu lírico, numa espécie de fusão entre aquele que ama e o ser amado. Isso se evidencia no texto I, quando o eu lírico afirma “tu eras eu”. No texto II, tal ideia já se explicita no primeiro verso: “Transforma-se o amador na cousa amada”. A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo*: Contemos esta regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. Na quinta torce agora a porca o rabo; A sexta vá também desta maneira: Na sétima entro já com grã** canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi? Direi que vós, Senhor, a mim me honrais Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei. Nesta vida um soneto já ditei; Se desta agora escapo, nunca mais: Louvado seja Deus, que o acabei. Gregório de Matos *louvor **grande Tipo zero Você é um tipo que não tem tipo Com todo tipo você se parece E sendo um tipo que assimila tanto tipo Passou a ser um tipo que ninguém esquece Quando você penetra num salão E se mistura com a multidão Você se torna um tipo destacado Desconfiado todo mundo fica Que o seu tipo não se classifica Você passa a ser um tipo desclassificado Eu até hoje nunca vi nenhum Tipo vulgar tão fora do comum Que fosse um tipo tão observado Você ficou agora convencido Que o seu tipo já está batido Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado Noel Rosa O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem (A) o processo de composição do texto. (B) a própria inferioridade ante o retratado. (C) a singularidade de um caráter nulo. (D) o sublime que se oculta na vulgaridade. (E) a intolerância para com os gênios. Resposta Letra C O soneto de Gregório de Matos, do século XVII, e o samba de Noel Rosa, do século XX, embora distantes na forma e no tempo, aproximam-se por ironizarem a singularidade de tipos humanos vazios, vulgares. Apesar de dirigir um elogio à “certa personagem desvanecida”, o que Gregório de Matos de fato faz é uma crítica a um tipo arrogante e vazio. Noel Rosa, por sua vez, também irônico, canta ao “tipo que não tem tipo”, ao “desclassificado”, que não seria jamais tão observado quanto nos versos do samba.