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WBA0953_v1.0 APRENDIZAGEM EM FOCO INTRODUÇÃO À TEORIA PSICANALÍTICA: GÊNESE E ESTRUTURA DA PSICANÁLISE 2 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Autoria: Isadora Di Natale Nobre Leitura crítica: Karla Cristina Gaspar Nesta disciplina, estudaremos o início do desenvolvimento da teoria psicanalítica. O objetivo será compreender a formação da teoria freudiana, no que se refere a formalização da Primeira Tópica, ou seja, a primeira concepção que Sigmund Freud desenvolve sobre o aparelho psíquico. Para tanto, iniciaremos problematizando o contexto de vida de Freud e seus estudos iniciais como médico clínico. O primeiro interesse é voltado ao estudo da histeria, a partir do qual Freud chega a importantes considerações sobre a formação dos sintomas histéricos e desenvolve um método particular de tratamento. Ele se dedica ao estudo da formação dos sintomas e de um outro fenômeno que desperta o seu interesse: os sonhos. A partir daí, compreende o funcionamento do inconsciente e em consequência, do psiquismo como um todo. A disciplina se dividirá em quatro blocos. O primeiro será dedicado a contextualização dos fundamentos da teoria psicanalítica, perpassando pelos estudos iniciais de Freud e a descoberta do inconsciente, assim como o desenvolvimento do método analítico de tratamento. 3 O segundo apresentará o desenvolvimento da Primeira Tópica, explicitando o funcionamento dos sistemas inconsciente, pré- consciente e consciente, segundo a primeira concepção do aparelho psíquico desenvolvida por Freud. O terceiro se dedicará a apresentar a teoria dos sonhos, compreendendo-os como o principal caminho para o estudo do inconsciente e seu funcionamento. O último bloco terá como foco o desenvolvimento das particularidades do trabalho onírico com a apresentação dos conceitos de condensação, deslocamento, figurabilidade e elaboração secundária à luz da Primeira Tópica. INTRODUÇÃO Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática profissional. Vem conosco! O desenvolvimento da teoria psicanalítica ______________________________________________________________ Autoria: Isadora Di Natale Nobre Leitura crítica: Karla Cristina Gaspar TEMA 1 5 DIRETO AO PONTO Freud nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, situada no Império Austríaco, onde, hoje, é a República Tcheca. De família judaica, muda-se com sua família para Viena, em 1860. Forma-se em Medicina, pela Universidade de Viena, em 1881, dedicando-se aos estudos de Neurologia. Em 1885-1886, Freud vai à Paris para realizar um estágio no Hospital de Salpêtrière, com Jean-Martin Charcot. Lá, tem contato com a técnica da hipnose no tratamento de pacientes que apresentam sintomas histéricos. Freud volta à Viena e começa a aplicar a técnica em seus atendimentos clínicos, percebendo que fornece importantes descobertas sobre os sintomas da histeria. Ele se junta ao seu colega Josef Breuer e juntos estudam tais quadros. Breuer compartilha com Freud um caso que ele atendeu em 1880, o de Anna O. Esse caso é considerado, posteriormente, o caso fundador da Psicanálise, uma vez que eles chegam à importantes considerações por sua análise. A hipótese que formulam é que os sintomas histéricos advém de lembranças de acontecimentos traumáticos na vida da paciente. No estado consciente, as pacientes não se recordam dos eventos traumáticos, porém, durante a hipnose conseguem revelá-los. Freud e Breuer chegam a duas explicações possíveis para que esses acontecimentos se tornem traumáticos. Uma delas é o fato da reação emocional produzida pelo evento não ter sido ab- reagida, ou seja, expressa. Justamente por apresentar conteúdos que contradizem os valores e ideias da consciência, produzindo vergonha, pavor, angústia, ou outros afetos que são insuportáveis para a consciência, sendo esses reprimidos, formando uma outra consciência que se manifesta como sintoma corporal no paciente. 6 Surge, então, o conceito de repressão. A lembrança do trauma se mantém viva mesmo passado muito tempo de sua ocorrência. Os histéricos fixam sua vida psíquica nos traumas patogênicos do passado, tal fenômeno é chamado de fixação. A outra explicação que formulam para que o acontecimento se torne traumático é o fato dele ter ocorrido em um estado psíquico peculiar, chamado por Breuer de estados hipnoides, nesses, os conteúdos psíquicos não conseguem ser associados com os demais conteúdos da consciência por sua intensidade afetiva. Concluem que a vida psíquica é formada por uma divisão, não sendo uma unidade, há uma cisão psíquica. O sintoma histérico permanente corresponderia à atuação do segundo estado de consciência na referência corporal consciente da paciente, o que Freud chama de conversão. Desenvolvem, então, o método catártico para o tratamento da histeria. Sob efeito da hipnose, o médico interroga a paciente sobre a origem do sintoma, sendo este provocado por um ou uma série de traumas psíquicos. A paciente consegue, então, rememorar tais acontecimentos e expressar a energia afetiva correspondente que estava, até então, represada, manifestando-a e fazendo, assim, com que o sintoma desapareça. A recordação em conjunto com a exteriorização afetiva da ocasião e motivo de seu aparecimento, faz o sintoma desaparecer. Dessa forma, concluem que, de alguma forma, esse afeto foi reprimido, porém, se manteve vivo em uma outra consciência, chamada por Freud de inconsciente. As ideais inconscientes, mesmo sem serem lembradas, exercem grande influência na vida das pacientes, produzindo os sintomas que seriam processos simbólicos dos conteúdos que originaram o trauma, necessitando serem decifrados. Nada acontece ao acaso na vida psíquica, há sempre um sentido oculto a ser revelado. 7 Ao longo de seus atendimentos, Freud se depara com uma nova descoberta. Os impulsos instintuais que causam os sintomas histéricos, quando revelados, tratam-se de ideias e ocorrências da vida sexual. O método catártico é utilizado por Freud até que ele começa a encontrar algumas barreiras, nem todos os pacientes conseguem ser hipnotizados. Isso faz com que ele investigue nova técnica para a rememoração dos acontecimentos traumáticos e percebe que pela insistência do médico, com alguns manejos específicos, o paciente consegue acessar lembranças mesmo sem estar sob efeito da hipnose. Entretanto, Freud encontra dificuldades nesse novo método, parece ter uma força que dificulta o querer saber do paciente e, para esse fenômeno ele dá o nome de resistência, que ocorre como uma defesa do Eu, uma vez que as lembranças causam desprazer, sendo intoleráveis pela própria consciência. Conclui ele que, para que o tratamento se efetive há de se vencer tais resistências para que as ideias patogênicas emerjam. Nesse novo método, tanto o médico quanto o paciente precisam se esforçar mais, sendo que a relação entre ambos também será primordial para que o tratamento se desenvolva. Freud pontua a importância da confiança na base de tal relação. Inicia-se, então, o caminho para o método psicanalítico. 8 Figura 1 – Linha do tempo de Freud e ocorrências significativas de sua vida para o início da Psicanálise Fonte: elaborada pelo autor. Referências bibliográficas BREUER, J.; FREUD, S. Obras completas, volume 2: estudos sobre a histeria (1893-1895). Tradução Laura Barreto. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. FREUD, S. Cinco lições de Psicanálise (1910). Tradução Saulo Krieger. São Paulo: Cienbook, 2019. PARA SABER MAIS O caso considerado fundador da Psicanálise, o de Anna O., não foi atendido por Freud, mas por seu colega Josef Breuer. O acompanhamento do caso, assim como o desenvolvimento de seu tratamento, ilustra importantes conceitos que Freud e Breuer desenvolverão posteriormente. Um dessesconceitos, que formará a base para a teoria psicanalítica, que fica muito claro ao acompanhar o relato do caso, é a noção da 9 existência de duas consciências que aparentemente nada sabem uma da outra. Aos poucos, durante um tratamento que durou aproximadamente dois anos, em diferentes fases de melhoras e pioras clínicas, paulatinamente, os sintomas foram desaparecendo cada vez que eram rememorados e expressados sob efeito de hipnose, eliminados pela narração, ou seja, pela palavra. Freud continua seus estudos e atendimentos clínicos, e chega a uma nova descoberta, ponto de divergência entre ele e Breuer, já elucidado nos escritos de Estudos sobre a histeria (1893-95). A partir de então, seguem caminhos distintos. Tais discordâncias residem, principalmente, na constatação de Freud quanto à primazia da sexualidade na etiologia da histeria. Também o conceito de estados hipnoides não continua sendo desenvolvido e utilizado por Freud. Referências bibliográficas BREUER, J.; FREUD, S. Obras completas, volume 2: estudos sobre a histeria (1893-1895). Tradução Laura Barreto. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. TEORIA EM PRÁTICA Em uma instituição de reabilitação para pessoas com deficiência física, o psicólogo faz parte de uma equipe multidisciplinar, composta por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, médicos, fonoaudiólogos, arteterapeutas, entre outros profissionais de diversas formações que compõem distintos olhares e intervenções. Uma mulher, de 23 anos, inicia o tratamento devido a um quadro de lesão medular por ferimento de arma branca após sofrer tentativa 10 de assalto há um ano no trajeto de retorno do seu trabalho para sua casa. Antes do ocorrido, morava sozinha e trabalhava na área administrativa de uma empresa. Após a lesão, mudou-se para a casa dos pais e encontra-se afastada do trabalho. Teve como principal sequela um quadro de paraplegia incompleta, utilizando- se de uma cadeira de rodas para locomoção. Inicia as terapias de fisioterapia, terapia ocupacional e Psicologia, comparecendo sempre acompanhada pela mãe que a auxilia, tanto para manusear a cadeira de rodas quanto em outras atividades em casa. Apresenta- se emocionalmente fragilizada, chorosa e refere quadro importante de insônia. Após alguns meses de tratamento, começa a apresentar melhora de seu quadro motor e emocional, consegue adquirir maior autonomia, mesmo em cadeira de rodas, passa a realizar suas atividades diárias de forma independente, também se apresenta emocionalmente mais fortalecida, conseguindo, aos poucos, se adaptar à sua nova imagem corporal. Faltando um mês para ter alta, a paciente começa a ficar mais ansiosa, traz sua preocupação frente à perícia que fora agendada, visando à reavaliação de sua condição para o retorno ao trabalho. Além disso, começa a se queixar de dores que impactam em sua rotina, voltando a depender de sua mãe para realizar atividades que já estava conseguindo fazer sozinha, como, por exemplo, tomar banho e se vestir. Os médicos solicitam exames e não descobrem novas causas para esse quadro álgico. O fisioterapeuta começa a desconfiar dos sintomas apresentados pela paciente, uma vez que não há nenhuma causa física que os justifique. A paciente mostra-se muito entristecida, pois refere que gostaria de estar menos dependente da mãe, principalmente, em um momento tão importante como esse (alta da instituição e possibilidade de retorno ao trabalho). A equipe, então, agenda uma reunião interna com todos os profissionais que atendem a paciente para discutir o caso. 11 Reflita sobre o papel do psicólogo frente à equipe multidisciplinar, assim como a conduta pertinente ao acompanhamento psicológico do caso. Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 O artigo consiste na análise da relação de Freud e Breuer, seus pontos de convergência e divergência, a partir da discussão do caso de Anna no que se refere à práxis da psicanálise. Indicações de leitura 12 RABÊLO, F. C. Sobre o legado de Breuer e Anna O. Tempo Psicanalítico, v. 43, p.391-407. Rio de Janeiro, 2011. Indicação 2 O livro consiste na apresentação completa de uma série de palestras que Freud proferiu nos Estados Unidos, em 1909, explicando alguns conceitos da psicanálise a partir de exposições de casos e exemplos para ilustrar sua teoria de fácil acesso à uma classe não médica. FREUD, S. Cinco lições de psicanálise (1910). Tradução Saulo Krieger, p.45-56. São Paulo: Cienbook, 2019. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. No trecho abaixo, retirado do livro Cinco lições de psicanálise, Freud (1910, p. 51-52) explicita dois conceitos por meio da parábola da palestra. Preencha a lacuna com a resposta correta. “Suponhamos que aqui, nesta sala e neste auditório, cuja calma e atenção exemplares eu não conseguiria louvar a 13 contento, estivesse um indivíduo que se comportasse de modo perturbador, e que, por suas risadas, tagarelices e movimentos dos pés, desvirtuasse a atenção de vocês de minha tarefa. E que eu declarasse que desse modo não prosseguiria a ministrar, e com isso entre vocês se levantassem alguns homens vigorosos e, após um breve embate, pusessem o elemento perturbador da porta para fora. Desse modo, eu posso continuar minha conferência. Mas, com isso, para que a perturbação não se repita, quando o expulso tenta novamente entrar na sala, os senhores, que fizeram valer minha vontade, colocam suas cadeiras contra a porta, e assim se estabelece um (a) _________ após um (a) consumado (a) _________”. a. Fixação; repressão. b. Resistência; repressão. c. Resistência; trauma. d. Repressão; resistência. e. Trauma; repressão. 2. A partir do acompanhamento do caso de Anna O., qual foi a principal descoberta de Freud e Breuer, que será a ideia fundamental para o desenvolvimento da Psicanálise? a. Sexualidade. b. Sintomas histéricos. c. Ideias patogênicas. d. Cisão da psique. e. Hipnose. GABARITO 14 Questão 1 - Resposta B Resolução: À força que resiste a entrada de conteúdos de desprazer à consciência Freud deu o nome de resistência. O processo pelo qual tais conteúdos não são aceitos pela consciência compreende-se por repressão. Já, a fixação, seria o fenômeno que faz com que os pacientes fixem sua vida psíquica ao passado, ao acontecimento traumático. O trauma consiste no próprio acontecimento ou série de acontecimentos em que o afeto não pode ser expresso, ficando então represado. Questão 2 - Resposta D Resolução: Dentre muitas contribuições realizadas a partir do caso de Anna O., o conceito fundamental é a ideia de que há uma divisão, uma cisão da psique, na qual Freud desenvolverá o conceito de inconsciente,que será a base para o desenvolvimento de outros conceitos dentro da Psicanálise. O modelo topográfico do aparelho psíquico: Primeira Tópica ______________________________________________________________ Autoria: Isadora Di Natale Nobre Leitura crítica: Karla Cristina Gaspar TEMA 2 16 DIRETO AO PONTO A primeira concepção do aparelho psíquico, elaborada por Freud, se refere aos três sistemas chamados de inconsciente, pré-consciente e consciente, que será desenvolvida a partir dos estudos de Freud com os sonhos. Nomeada de Primeira Tópica, utiliza-se do termo topografia referindo-se aos lugares psíquicos dos processos que descreverá e não a lugares anatômicos. Após abandonar o uso da hipnose e desenvolver o método analítico de associação de palavras para tratamento, enquanto os pacientes expressavam livremente seus pensamentos e ideias, Freud se depara com outros fenômenos clínicos, além dos sintomas histéricos, que também considerou substitutos do conteúdo inconsciente, como, por exemplo, os atos falhos, os esquecimentos e o relato de sonhos. Ao estudar esses fenômenos, compreende não somente o inconsciente, mas o funcionamento do aparelho psíquico como um todo. O aparelho psíquico comporta um funcionamento dinâmico e possui uma direção progressiva-regressiva, marcado pela relação consciente e pelo conflito entre os diferentes sistemas (inconsciente, pré-consciente, consciente). A direção progressiva se inicia com estímulos internos ou externos e termina com uma descarga motora, a motilidade. Alguns processos percorrem essa sequência temporal determinada, já outros, trabalham no caminho inverso, pela via regressiva, no sentido da extremidade motora para a extremidade sensorial e, para esse fenômeno Freud dá o nome de regressão, que estará presente tanto nos sonhos quanto no estado de vigília, sob a forma de imagens mnêmicas. 17 As percepções advindas dos estímulos são recebidas pela extremidade sensível do aparelho psíquico, deixando traços de memória, porém, o sistema responsável por associar e armazenar tais percepções não é o mesmo que as recebe, este permanece sempre aberto aos novos estímulos, sem nada conservar. Aqui já há uma diferenciação dos sistemas, daquele que recebe para o que armazena os traços mnêmicos. Os mesmos formam a base para associação, que ocorre por diminuição da resistência ou por estabelecimento de caminhos facilitadores. Dessa forma, a excitação se propaga de um dos elementos mnêmicos para outro. Figura 1 – Os três sistemas do aparelho psíquico Fonte: elaborada pelo autor.. O sistema chamado de pré-consciente estaria localizado na extremidade motora, indicando que os processos de excitação ocorridos nele podem chegar à consciência sem impedimento, caso atinjam certo grau de intensidade e chamem para si a atenção. Funciona como um filtro de passagem dos conteúdos para a consciência. O inconsciente só tem acesso à consciência através 18 dele, mas não antes de seus conteúdos serem modificados e de certa forma, distorcidos e, portanto, não reconhecidos, para que sejam aceitos pela consciência. O inconsciente quer garantir a descarga livre da excitação acumulada, já o pré-consciente trabalha na inibição dessa descarga, desviando-a para possibilitar uma satisfação parcial e indireta, que seja tolarada pela consciência. Freud compara a consciência à um órgão sensorial que capta as percepções de qualidades psíquicas. Sob a perspectiva dos sistemas, seria o último, após o pré-consciente. O desenvolvimento do aparelho psíquico é explicado por Freud desde a infância. Devido às condições de nossa espécie, o recém- nascido humano vive uma experiência de desamparo por ser totalmente dependente de cuidados para sua sobrevivência. Há nele uma certa organização psíquica, que se esforça para manter-se o mais livre possível de estímulos. Para eliminar a tensão decorrente de uma estimulação interna, por exemplo a fome, o recém-nascido precisa de auxílio. É por meio desse auxílio de um outro, normalmente a mãe, que o bebê atinge a experiência de satisfação, pondo fim ao estímulo interno. Tal experiência é acompanhada de uma percepção que produz um traço mnêmico (memória) que será associado à satisfação. Toda vez que o bebê experienciar essa tensão, surgirá um impulso psíquico que procurará reinvestir na imagem do objeto com a tendência de reproduzir de forma alucinatória a experiência de satisfação. Freud dará o nome de desejo a esse impulso que parte do desprazer e visa o prazer. Uma vez que o aparelho psíquico quer evitar o desprazer, a função do pré-consciente será inibir o avanço dessa carga mnemônica, 19 impedindo-a de reproduzir a percepção do objeto, pois essa regressão necessariamente produzirá decepção, não sendo possível tal satisfação que ocorreu no passado e que permanece somente enquanto memória. Freud denominará de processo primário aquele que apenas o inconsciente admite, e de processo secundário o que resulta da inibição, correspondente, portanto, ao pré-consciente. Referências bibliográficas FREUD, S. Obras completas, volume 4: a interpretação dos sonhos (1900). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. PARA SABER MAIS As considerações de grande importância para a teoria psicanalítica advindas do desenvolvimento da Primeira Tópica do aparelho psíquico, pontuadas por Freud, se referem a compreensão do funcionamento do inconsciente que segue suas próprias leis. O estudo da formação dos sonhos fornece à Freud a possibilidade de compreender o funcionamento psíquico normal e não somente voltado à psicopatologia, como inicialmente estudado nos sintomas histéricos. Assim, tais descobertas fornecem a base para o desenvolvimento da teoria psicanalítica. Freud começará a estudar outros fenômenos produzidos pelo inconsciente, por meio da análise de seus pacientes, não mais sob o efeito da hipnose, mas por meio de suas associações livres. Um dos fenômenos estudados por Freud e descrito em seu livro Conferências Introdutórias à Psicanálise (1916-17), será o de ato falho. 20 Ele considera que tudo o que o paciente fala tem sentido, principalmente os conteúdos que parecem ser insignificantes ou despropositados ou mesmo equívocos. Os atos falhos são, para Freud, atos psíquicos que estão relacionados a desejos inconscientes, que foram reprimidos. A diferença entre o que o paciente quer falar, sua intenção, e o que acaba falando, como, por exemplo, um nome próprio que à princípio parece ser um equívoco no discurso, Freud compreenderá como dotado de sentido e que carrega conteúdos reprimidos, portanto, inconscientes, apontando também ao caminho da análise. Referências bibliográficas FREUD, S. Obras completas, volume 13: conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917). Tradução Sergio Tellaroli São Paulo: Companhia das Letras, 2014. TEORIA EM PRÁTICA Um paciente chega ao consultório, homem, de 57 anos, empresário, sendo encaminhado pelo psiquiatra, com um quadro de ansiedade. Há um mês o paciente sofreu um infarto e procurou ajuda médica. O psiquiatra, em um primeiro momento, não prescreveu medicação e o encaminhou à psicoterapia. Em um primeiro atendimento, parece estar desconfiado, nunca havia sido atendido por um psicólogo ou realizado análise. Percebe- se um certo desconforto em estar ali, porém, veio a pedido do seu médico, como ele mesmo explica. Passam-se algumas semanas, o paciente continua frequentando semanalmente as sessões, apresentando queixas sobre seu 21 trabalho, sua rotina e funções etc. Mora sozinho, não tem filhos ou relacionamentos amorosos no momento, sua vida parece se centrar no trabalho. Até que em uma das sessões, suas associações o levam a uma temática que parece ser de difícil abordagem para ele: a relação com a mãe. Estava comentando sobre uma mulher do trabalho que o fazia se lembrarde sua mãe, o analista pergunta então como era sua relação com a mãe, ao passo que ele afirma ser normal e começa a falar de outro assunto. Na próxima semana, ele falta à sessão e na seguinte leva uma situação de trabalho que o preocupava. Reflita sobre a postura do paciente. Qual fenômeno se apresenta ao analista e como poderá ser sua conduta a partir dessa experiência clínica? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Indicações de leitura 22 Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 O artigo tem como objetivo analisar a primeira tópica freudiana a partir da possibilidade de uma representação se tornar consciente, explanando, dessa forma, o conceito de consciência para Freud. CAROPRESO, F. Representação, atenção e consciência na primeira teoria freudiana do aparelho psíquico. Natureza humana, v.10 n.1, p.47-72,2008. Indicação 2 O livro tem como objetivo apresentar, na forma de vocabulário, os principais conceitos da teoria psicanalítica, em ordem alfabética e descritiva. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. L. Vocabulário de Psicanálise. Tradução Pedro Tamen. São Paulo: Martins Fontes, 1991. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. 23 Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Quais desses fenômenos estão relacionados aos processos secundários? a. Pré-consciente; inconsciente. b. Inibição; inconsciente. c. Inconsciente; resistência. d. Pré-consciente; inibição. e. Consciente; atenção. 2. O sistema _________ quer garantir a livre descarga de excitações, já o sistema _________ tem a função de inibir tais descargas, tendo como objetivo evitar o desprazer. Preencha as lacunas com as respostas corretas. a. Consciente; inconsciente. b. Inconsciente; pré-consciente. c. Pré-consciente, consciente. d. Pré-consciente, inconsciente. e. Inconsciente; consciente. 24 GABARITO Questão 1 - Resposta D Resolução: A resposta correta é alternativa d: pré-consciente e inibição, pois os processos secundários correspondem ao funcionamento do sistema pré-consciente e duas de suas funções são a inibição e a atenção. O sistema inconsciente, apresentado nas alternativas a, b, c é relacionado aos processos primários, portanto, não se referem aos processos secundários. O sistema consciente, apresentado na alternativa e, é relacionado aos processos de consciência (percepção), consistem em conteúdos que passaram pelo filtro do segundo sistema, o pré-consciente. Questão 2 - Resposta B Resolução: O sistema inconsciente funciona visando a livre descarga de excitações, ao passo que o pré-consciente funciona como um filtro, inibindo as descargas de excitações advindas do inconsciente. O sonho na teoria psicanalítica ______________________________________________________________ Autoria: Isadora Di Natale Nobre Leitura crítica: Karla Cristina Gaspar TEMA 3 26 DIRETO AO PONTO A primeira concepção que Freud desenvolve sobre o aparelho psíquico (Primeira Tópica) se baseará, principalmente, nos estudos do sonho, publicado no livro de 1900, A interpretação dos sonhos, no qual apresentará conceitos fundamentais para o desenvolvimento da Psicanálise. A ideia principal que Freud apresenta é de que os sonhos possuem um sentido oculto que pode ser revelado pela interpretação, contrapondo-se às concepções dominantes da época. A formação do sonho obedece às leis inconscientes, que trabalham por meio de associações de representações, formando elos e nexos entre as ideias e os desejos, por isso, no sonho, algo que parece ser irrelevante trará em si um sentido. Para Freud, não há nada de acaso nas produções psíquicas, mesmo os elementos que parecem ser irrelevantes, contêm significados. Figura 1 - Relação entre conteúdo manifesto e latente do sonho Fonte: elaborada pelo autor. 27 Para que a interpretação ocorra, o sonho precisa ser dividido em seus elementos, pois é considerado um conglomerado de formações psíquicas em que cada parte necessita de um olhar e análise atenta. O paciente é solicitado então a fornecer todas suas associações sobre os elementos do sonho. Freud descobre que todo sonho tem seu conteúdo manifesto, que é o que o sonho exibe, em toda sua estranheza, contradição, ambiguidade, é tudo aquilo que o paciente relata do sonho. O seu conteúdo latente seriam os pensamentos ocultos por trás do sonho, que só serão descobertos pela interpretação. Esses conteúdos estão disfarçados no conteúdo manifesto, pelo sistema pré-consciente, através da deformação onírica. Ao interpretar tais conteúdos Freud descobre que os sonhos são realizações de desejos reprimidos e que se referem às lembranças infantis de impulsos sexuais. Portanto, a deformação onírica funciona como proteção, como uma defesa para que os desejos não sejam reconhecidos ou percebidos pelo sonhador. Quanto mais rigorosa for a censura, mais elaborado será o disfarce. Freud passa então a desenvolver a concepção de duas instâncias psíquicas que funcionam de forma diferente e que estão em constante relação. Enquanto uma quer realizar o desejo, a outra o inibe. Os sonhos penosos mostram-se penosos somente para a segunda instância (chamada, posteriormente, de pré-consciente), mas, ao mesmo tempo, realizam um desejo da primeira instância (inconsciente). Portanto, mesmo esses sonhos são realizações de desejos. O estímulo para a formação dos sonhos ocorrerá a partir dos eventos que ocorreram durante o dia anterior ao sonho. Ao selecionar seu material, o sonho obedece a princípios diferentes do estado de vigília, lembrando-se de que elementos tidos como 28 irrelevantes e não notados. Ele acessa impressões da nossa primeira infância, recuperando detalhes dessa fase de vida que pareciam terem sido esquecidos. Tais impressões precisam apresentar um vínculo com as experiências do dia do sonho. Freud consegue classificar os diferentes tipos de sonhos. Sonhos de comodidade são sonhos que substituem o ato da necessidade do estímulo somático, por exemplo, que se refere ao desejo de beber água resultante da sensação de sede, gerando o sonho em que a pessoa bebe água. Ao realizar o desejo em sonho, o sonhador não precisa despertar, assim sendo, tais sonhos servem-se ao propósito do sonhador continuar dormindo. Na maioria das vezes, esses sonhos se apresentam sem nenhum disfarce, são sucintos e simples, como os sonhos das crianças, em que suas produções psíquicas são mais simples do que as do adulto. Sonhos de contradesejo são os sonhos que Freud encontra em alguns de seus pacientes que, em atitude de resistência frente ao tratamento, desejam que ele esteja errado em relação a sua teoria dos sonhos, pois não concordam com a afirmação do médico de que os sonhos são realizações de desejo. Outro motivo para a formação desse tipo de sonhos são os que contém satisfaçãode tendências masoquistas, em que os componentes agressivos e sádicos são convertidos, pela deformação onírica, em sonhos de contradesejo. Há o sonho recorrente que seriam os sonhos que ocorreram na infância e, posteriormente, seguem ocorrendo de tempos em tempos no adulto. E os sonhos típicos que ocorrem em muitas pessoas, de forma semelhante, parecendo ter o mesmo significado. Exemplo deles são os sonhos de exibição, em que se experimenta um embaraço causado pela nudez; sonhos de mortes de pessoas queridas; sonhos de voar acompanhados de prazer ou de cair acompanhados de angústia; sonhos de exames que geram medo da 29 prova, por exemplo. Freud afirma que o método da interpretação não se mostra eficaz para esses sonhos típicos. De forma geral, em todos os sonhos, há subjacente lembranças e impressões da primeira infância, revelando-se realizações de desejos sexuais reprimidos e também de impulsos egoístas, características particulares da psique infantil. Freud afirma que há uma parte dos sonhos que é deixada na obscuridade, que não consegue ser interpretada, ele a chamará de umbigo do sonho. Ele chega à conclusão de que os sonhos têm vários significados e que, portanto, há sempre novas associações que podem surgir, aceitando outras interpretações. Tais fenômenos serão nomeados de sobredeterminação e superinterpretação. Referências bibliográficas FREUD, S. Obras completas, volume 4: a interpretação dos sonhos (1900). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. PARA SABER MAIS Freud ao estudar os sonhos faz a afirmação de que os sonhos são fenômenos psíquicos e não somáticos, como as teorias dominantes da época afirmavam. Por isso, mais uma vez Freud se vê na função de explicar minuciosamente, com inúmeros casos apresentados, seus pressupostos e hipóteses, baseando-se em seus atendimentos e seus próprios sonhos. A primeira parte do livro A interpretação dos sonhos (1900) é dedicada a exploração das teorias sobre os sonhos de sua época, para, 30 então, em um segundo momento, apresentar sua teoria e conceitos que desenvolve a partir da formação dos sonhos como produção psíquica. Um ponto que ele estuda é o simbolismo dos sonhos. Pela deformação onírica, encontramos outros fatores que servem igualmente à censura. Freud chamará de símbolo o elemento do sonho correspondente ao pensamento onírico latente. Relação simbólica será a relação estabelecida entre o elemento do sonho e sua tradução. Freud afirma que a maioria dos símbolos encontrados nos sonhos têm natureza sexual. Por exemplo, a genitália feminina pode ser representada simbolicamente com algum objeto que abriga algo dentro de si como um vaso, caixas etc. Sua função, assim como a censura onírica, é a de conduzir ao sonhador à estranheza e incompreensibilidade do sonho, disfarçando, portanto, os desejos e pensamentos oníricos latentes. O sonhador não conhece e não reconhece esses símbolos, são inconscientes, pertencentes à vida inconsciente do sonhador. Essas relações simbólicas não são exclusivas dos sonhos, mas estão presentes nos mitos, religiões, artes, linguagem, em provérbios e cantigas populares, contos de fadas etc. Apesar desses símbolos em outras áreas não serem exclusivamente de caráter sexual, nos sonhos aparecem quase que exclusivamente com relação à sexualidade do sonhador. 31 Referências bibliográficas FREUD, S. Obras completas, volume 13: conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917). Tradução Sergio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. TEORIA EM PRÁTICA Você, como psicólogo (a), é convidado (a) a participar de uma mesa em um congresso que abordará, entre os temas principais, os sonhos. A mesa será composta por um neurologista, um espiritualista e você convidado (a), como psicólogo (a), para debaterem sobre os sonhos, suas diversas explicações e hipóteses. Um caso é apresentado para fomentar a discussão. Um homem, de 45 anos, que sonha com a morte de seu pai e acorda atordoado com esse sentimento de perda e angústia. O que o psicólogo tem a dizer sobre esse sonho? Em que a Psicanálise pode contribuir nesse debate? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log Indicações de leitura 32 in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 O artigo tem como foco o sonho na Psicanálise, desde Freud, contribuindo às reflexões sobre a relação analítica, a arte do sonho e as implicações do analista no processo de análise dos sonhos. No artigo, o autor traz três casos clínicos como ilustração de suas reflexões. PERRINI. E. A. L. Me alugo para sonhar. Algumas ideias sobre sonhos e sonhar na Psicanálise. Jornal de Psicanálise, v. 50 n.93, 2017, p.67-78. Indicação 2 O capítulo retirado da biografia de Freud, tem como foco o desenvolvimento da Psicanálise e os fundamentos e contextos da vida de Freud na época em que escreve o livro A interpretação dos sonhos. GAY, P. Capítulo 3: Psicanálise. In: GAY, Peter. Freud: uma vida para o nosso tempo. Tradução Denise Bottmann. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 33 QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Sobre quais sonhos, Freud afirma que seu método parece ser ineficaz? a. Sonhos de comodidade. b. Sonhos recorrentes. c. Sonhos típicos. d. Sonhos de contradesejo. e. Freud não realiza tal afirmação. Para ele, seu método pode ser utilizado em todos os tipos de sonhos. 2. Ao conteúdo que o paciente relata sobre o sonho é dado o nome de _________. Já ao que será revelado pela interpretação, será o conteúdo _________. a. Primário; secundário. b. Latente; manifesto. c. Secundário; primário. d. Manifesto; latente. e. Manifesto; consciente. 34 GABARITO Questão 1 - Resposta C Resolução: Os sonhos típicos são sonhos que, para Freud, parecem apresentar dificuldades à interpretação, pois o material associativo que o sonhador oferece não basta para sua interpretação. Ele afirma isso diversas vezes no decorrer de seu livro A interpretação dos sonhos (1900). Questão 2 - Resposta D Resolução: O conteúdo manifesto é o nome dado ao conteúdo relatado pelo paciente, exibido pelo sonho. O conteúdo latente é o nome dado ao conteúdo oculto do sonho, que será interpretado a partir das associações do paciente ao médico. O trabalho do sonho ______________________________________________________________ Autoria: Isadora Di Natale Nobre Leitura crítica: Karla Cristina Gaspar TEMA 4 36 DIRETO AO PONTO Em seus estudos dos sonhos, Freud se depara com particularidades da formação dos sonhos, destacando quatro fenômenos: condensação, deslocamento, figurabilidade e elaboração secundária, que são responsáveis portransformar o conteúdo latente do sonho em manifesto. Por meio da interpretação, chega-se aos pensamentos oníricos por trás do conteúdo do sonho, que são compreensíveis. Já os conteúdos oníricos, utilizam-se de signos, representados por imagens e, por isso, demandam interpretação. Portanto, o sonho é uma representação metafórica, trata da pessoa do sonhador e é sempre uma realização de desejo inconsciente, que atua por meio de uma deformação, influenciada pela censura, que visa proteger o indivíduo de conteúdos desagradáveis. Tais conteúdos reprimidos são, majoritariamente, de ordem sexual. A condensação se refere a compressão dos pensamentos oníricos no material do sonho. Cada elemento do sonho se revela sobredeterminado, ou seja, um mesmo elemento contém inúmeros pensamentos oníricos por meio de associação de seus conteúdos. Podendo, assim, ter vários sentidos. Como, por exemplo, no sonho, uma pessoa que represente tantas outras, formando uma pessoa mista. O deslocamento é o fenômeno responsável pela transformação do conteúdo essencial dos pensamentos oníricos que no sonho pode estar centrado em torno de outros elementos, ou seja, transferindo a intensidade psíquica do elemento. Então, um pensamento de extremo valor pode ser tratado no sonho com valor inferior. Por isso, é de extrema importância que, ao interpretar um sonho, se 37 preste atenção nos pequenos detalhes e em figuras que, muitas vezes, parecem não ter tanta relevância. A figurabilidade refere-se a representabilidade visual, ou seja, às imagens (acústicas ou visuais) nas quais os pensamentos oníricos se transformam, formando grupos de representações. É uma nova linguagem para disfarçar seus conteúdos latentes. Assim, surge a aparência fantástica dos sonhos. Os símbolos podem ser usados nesse ponto. Quando isso ocorre, a interpretação recorre às associações do sonhador, mas também ao conhecimento simbólico do analista, uma vez que os símbolos são coletivos, podendo ter sentidos próprios. Esses sentidos podem se associar aos pensamentos do sonhador, assim, reconhece-se a possibilidade de inúmeras interpretações para um mesmo elemento do sonho, no fenômeno chamado de sobreinterpretação. O quarto elemento do trabalho do sonho é a elaboração secundária, responsável por produzir uma aparente coerência do sonho, criando ordens e estabelecendo relações, procura dar sentido ao sonho. Tem um papel ordenador e interpretativo. Freud chama de pensamentos-argamassa essas interpolações e acréscimos, que são criadas para dar sentido aos sonhos, entretanto, são os primeiros pensamentos a serem esquecidos pelo sonhador. Esse sentido criado é sempre muito distante do significado real do sonho. A elaboração secundária pode se utilizar de fantasias diurnas inconscientes que já estão prontas, reunidas, condensadas, introduzindo-as no contexto do sonho. Os sonhos podem conter tanto impressões sensoriais noturnas quanto pensamentos relacionados às atividades do estado de vigília, porém, esses estarão sempre associados a parte essencial do 38 conteúdo latente do sonho que provém dos conteúdos reprimidos inconscientes. Figura 1 - As quatro particularidades da formação do sonho Fonte: elaborada pelo autor. Referências bibliográficas FREUD, S. Obras completas, volume 4: a interpretação dos sonhos (1900). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 39 PARA SABER MAIS Um ponto importante sobre os sonhos é a consideração que Freud faz sobre os afetos que, segundo ele, seriam os menos influenciados pelo efeito da censura. A formação do sonho realiza algo curioso com os afetos, mantém o afeto reprimido em seu conteúdo original, porém, o associa a outro grupo de representações, desprendendo-o de seu pensamento onírico correspondente, inserindo-o em qualquer outro lugar do sonho. Dessa forma, o afeto fica separado de suas ligações originais. Por isso que, nos sonhos, alguma situação específica, muitas vezes, não é acompanhada dos afetos esperados, podendo causar estranheza ao sonhador. Entretanto, também pode ocorrer uma supressão dos afetos, em que a tonalidade emocional do pensamento onírico chega ao nível do indiferente, inibindo sua expressão. Ao mesmo tempo, pode transformar o afeto em seu oposto, realizando um deslocamento que trabalha à serviço da censura também. Esse último caso, da supressão e inversão dos afetos, Freud afirma que também ocorre em estados de vigília, servindo a dissimulação. Por exemplo, quando o sujeito quer dizer algo hostil, mas as convenções sociais o impedem, então fala palavras que não são grosseiras, mas acompanha com um olhar de ódio. A pessoa pode, muito bem, fingir o afeto oposto, sorrir quando estiver furiosa etc. Dessa forma, vemos uma analogia entre os mecanismos que a censura exerce na formação dos sonhos e também nos processos que ocorrem no estado de vigília. 40 Referências bibliográficas FREUD, S. Obras completas, volume 4: a interpretação dos sonhos (1900). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. TEORIA EM PRÁTICA Uma mulher jovem, de 25 anos, procura um psicólogo de abordagem psicanalítica, apresentando como queixa um sonho recorrente em que ela está voando e cai repentinamente ao chão. Acorda assustada, tremendo e não consegue mais voltar a dormir. Tem a lembrança de que no sonho ela se sente aliviada por estar caindo. Esse sonho a perturba há anos e ela gostaria de entendê-lo. Ela conta que já passou por neurologista e psicólogo de outras abordagens teóricas que parecem não dar tanta importância ao conteúdo do sonho, o que a incomoda. Mesmo após iniciar medicação para insônia, o sonho continua a ocorrer e a perturbá-la. Qual seria a postura do psicanalista referente a essa queixa? O que ele pode explicar à paciente sobre os sonhos? Qual o papel do psicanalista frente aos sonhos? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log Indicações de leitura 41 in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 O artigo visa explicar os sonhos traumáticos à luz da teoria freudiana na correlação com outros conceitos psicanalíticos, desenvolvidos posteriormente, e articulá-los com a função do analista de desenvolver o sonhar analítico. KLAUTAU, P.; WINOGRAD, M. Dos sonhos traumáticos ao sonhar analítico. Cadernos de Psicanálise (Rio de Janeiro) - CPRJ, v.35, n.29, 2013, p.41-55. Indicação 2 O artigo tem como objetivo apresentar o primeiro sonho que Freud descreve, sonho da injeção de Irma, analisando seu conteúdo e discutindo a relação entre memória, condensação e deslocamento nos processos inconscientes à luz da Primeira Tópica do aparelho psíquico. FONSECA-SILVA, M. da C.; PINHEIRO, C. C. de O. Memória, condensação e deslocamento nos processos primários do inconsciente do sonhador. Estudos da Lingua(gem), v.15, n.1, 2017, p.125-140. 42 QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partirde todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Qual o elemento de formação do sonho responsável pela organização e coerência de seu conteúdo? a. Condensação. b. Elaboração secundária. c. Figurabilidade. d. Deslocamento. e. Símbolos. 2. O fenômeno que consiste na possibilidade de o sonho ter diferentes interpretações é chamado de _________. a. Sobredeterminação. b. Censura. c. Deformação onírica. d. Sobreinterpretação. e. Pensamentos oníricos. 43 GABARITO Questão 1 - Resposta B Resolução: O elemento de formação do sonho responsável pela organização e coerência de seu conteúdo é a elaboração secundária, que tem como função dar sentido e estabelecer ordem e relações entre os conteúdos do sonho. Já a condensação, o deslocamento, a figurabilidade e os símbolos, trazem como consequência o aspecto fantástico e absurdo do sonho, uma vez que através da deformação onírica, distorcem os conteúdos latentes para que os mesmos não sejam reconhecidos. Questão 2 - Resposta D Resolução: O fenômeno que consiste na possibilidade de o sonho ter diferentes interpretações é chamado de sobreinterpretação, que consiste na junção de inúmeros pensamentos oníricos em um único elemento do sonho. A censura é a responsável por filtrar os conteúdos que formarão o sonho, que serão submetidos então a deformação onírica. BONS ESTUDOS! Apresentação da disciplina Introdução TEMA 1 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 2 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 3 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 4 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Quiz Gabarito Inicio 2: Botão TEMA 4: Botão TEMA 1: Botão TEMA 2: Botão TEMA 3: Botão TEMA 9: Inicio :