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FISIOLOGIA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rafael Luciano de Mello 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
O sistema digestório é responsável por transferir os nutrientes, a água e 
os eletrólitos daquilo que comemos para o organismo. Afinal, o alimento ingerido 
é essencial como fonte energética nas diversas atividades dependentes de 
adenosina trifosfato (ATP), como a contração muscular, além de fornecer 
moléculas para a construção, renovação e adição dos tecidos. 
No entanto, o ato de comer não torna o alimento ingerido 
automaticamente disponível. Para que isso ocorra, é necessário que ele seja 
triturado e transformado em moléculas simples, as quais serão absorvidas pelo 
sistema circulatório e utilizadas pelas células dos diferentes tecidos. A parte 
inicial desse processo é realizada pelo sistema digestório, por meio da ingestão, 
digestão e absorção dos nutrientes, que será detalhada a seguir. 
Ao final desta aula, esperamos que você identifique os principais 
componentes do sistema digestório, compreenda o funcionamento mecânico e 
químico do trato gastrointestinal, e como ocorre a regulação desse sistema. 
Os temas abordados nesta aula são: 
• mastigação e deglutição; 
• motilidade; 
• secreção gástrica; 
• secreção pancreática; e 
• regulação do TGI. 
TEMA 1 – MASTIGAÇÃO E DEGLUTIÇÃO 
A primeira etapa do processo digestivo é a mastigação, que envolve 
cortar, rasgar, triturar e misturar os alimentos. Os dentes são admiravelmente 
projetados para essa função. Os anteriores (incisivos), por exemplo, fornecem a 
ação de corte, enquanto os posteriores (molares) favorecem a trituração. Esse 
processo é controlado por áreas específicas do tronco cerebral, e, quando 
estimuladas pelos centros gustativos, causarão movimentos ritmados de 
mastigação, que são parcialmente voluntários, embora a maioria tenha ação 
reflexiva. 
A presença do bolo alimentar na boca ocasiona, inicialmente, uma inibição 
dos músculos da mastigação, o que permite o relaxamento da mandíbula inferior. 
 
 
3 
Essa queda, por sua vez, inicia um reflexo de estiramento dos músculos 
da mandíbula que levará à contração de rebote. Com isso, a mandíbula subirá e 
causará o fechamento dos dentes. Por outro lado, o bolo alimentar será 
comprimido contra as paredes da boca, o que inibirá os músculos da mastigação 
mais uma vez, permitindo que a mandíbula relaxe, estire e contraia novamente 
de maneira cíclica até que se encerre a mastigação. 
A mastigação é importante para a digestão de todos os alimentos, 
especialmente das frutas e vegetais crus, porque esses alimentos possuem 
membranas indigeríveis que devem ser quebradas antes que a comida possa 
ser digerida. Além disso, as enzimas digestivas atuam apenas na superfície das 
partículas de alimentos, ou seja, a taxa de digestão depende da área da 
superfície exposta a tais secreções. Por fim, triturar o alimento em partículas 
muito finas evita a escoriação do trato gastrointestinal (TGI), facilita o 
esvaziamento gástrico e a defecação (Guyton; Hall, 2016). 
Um outro aspecto essencial que acontece nessa etapa da mastigação é 
a produção de saliva. Essa secreção é produzida por três pares de glândulas 
salivares localizadas do lado de fora da cavidade oral, sendo liberada na boca 
através de ductos curtos. As principais funções da saliva são as que se seguem 
(Sherwood, 2011). 
1. Iniciar a digestão do carboidrato na boca por meio da ação da amilase 
salivar, uma enzima que quebra polissacarídeos em maltose 
(dissacarídeo formado por duas moléculas de glicose). 
2. Facilitar a deglutição, umedecendo as partículas de alimentos e 
mantendo-as unidas. 
3. Exerce alguma ação antibacteriana. 
4. Servir como solvente para moléculas que estimulam as papilas gustativas, 
por exemplo o açúcar. 
5. Auxiliar na fala, facilitando os movimentos dos lábios e da língua. 
6. Ajuda a limpar os resíduos dos alimentos, das partículas estranhas e das 
células epiteliais antigas, contribuindo na higiene bucal. 
7. Neutraliza os ácidos dos alimentos, bem como os produzidos por 
bactérias na boca, por ser rica em tampões de bicarbonato. 
Como vimos, embora a saliva seja liberada na boca e atue diretamente na 
mastigação, ela acaba exercendo outras funções também, inclusive na 
 
 
4 
deglutição, que é a etapa seguinte do sistema digestório e será detalhada a 
seguir. 
A deglutição é a passagem do bolo alimentar da cavidade oral para o 
estômago através de um tubo de músculo liso composto pela faringe e pelo 
esôfago. Esse caminho é anatomicamente compartilhado com a via aérea. 
Assim, além de direcionar os alimentos para o estômago, o mecanismo de 
deglutição atua como um protetor vital das vias aéreas, bloqueando a passagem 
de alimento para a traqueia e consequentemente para os pulmões, por meio do 
reposicionamento da epiglote (Figura 1). 
O modelo atualmente aceito para deglutição descreve três estágios 
principais e sequenciais: 1) a fase oral (voluntária); 2) a fase faríngea 
(involuntária); e 3) a fase esofágica (involuntária). Embora alimentos sólidos e 
líquidos compartilhem das mesmas fases, eles diferem ligeiramente no processo 
de transporte dos bolos na orofaringe durante a fase oral. 
Durante a fase oral, existe um momento preparatório no qual o bolo 
alimentar é selado pela língua e pelo palato duro, em caso de alimentos líquidos. 
Processo este que não ocorre para alimentos sólidos, que são processados por 
meio da mastigação e manipulação. Em seguida, dá-se início à propulsão oral, 
que seria o ato de elevar a língua para que o bolo alimentar seja direcionado 
posteriormente para a orofaringe. Ambos os processos da fase oral estão, em 
sua maioria, sob controle muscular voluntário. 
A fase faríngea é a primeira etapa irreversível do mecanismo de 
deglutição e começa quando o bolo alimentar atinge o arco palatoglosso. Nessa 
etapa, estímulos sensoriais são transmitidos ao núcleo do trato solitário e as 
fibras musculares eferentes coordenam uma resposta muscular reflexiva na 
faringe e, posteriormente, no esôfago. A fase faríngea tem o objetivo de 
direcionar o alimento para o esôfago e proteger as vias aéreas da aspiração 
errônea do bolo alimentar (Figura 1), sendo caracterizada por uma onda de 
estímulos coordenados (movimentos peristálticos) com duração de cerca de um 
segundo, que termina quando o bolo alimentar atinge o esfíncter esofágico 
superior, ou esfíncter faringoesofágico. Esse esfíncter permanece tonicamente 
contraído em repouso para evitar que o ar entre no esôfago, mas é aberto por 
três mecanismos sequenciais que permitem a passagem do bolo alimentar para 
o esôfago: 1) contração do músculo tireo-hióideo para mover a laringe e o hioide 
 
 
5 
superiormente e anteriormente; 2) relaxamento do músculo cricofaríngeo; e 3) 
distensão do esfíncter esofágico superior, dependente da pressão exercida pelo 
bolo alimentar (Guyton; Hall, 2016; Reinus; Simon, 2014). 
Figura 1 – Fase orofaríngea da deglutição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Jefferson Schnaider. 
 
 
6 
O bolo alimentar continua a ser inferiormente direcionado por uma onda 
de peristalse autônoma (Figura 2), muito parecido com o ocorrido na fase 
faríngea. No entanto, a peristalse da fase esofágica é mais lenta do que na fase 
faríngea, ocorrendo a uma taxa de cerca de 3 a 4 centímetros por segundo. Essa 
etapa encerra quando o bolo alimentar passa pelo esfíncter esofágico inferior, 
ou esfíncter gastroesofágico, e chega ao estômago. 
Do mesmo modo que o observado no esfíncter esofágico superior, o 
esfíncter esofágico inferior também permanece tonicamente contraído em 
repouso. Nesse caso, para evitar o refluxo do estômago (Guyton; Hall, 2016). 
TEMA 2 – MOTILIDADE 
A motilidade nada mais é do que a movimentação da comida ao longo do 
TGI, desde os movimentos exercidospela boca na chegada do alimento até a 
excreção do bolo fecal pelo ânus. Esses movimentos são coordenadamente 
controlados por ondas de contração e relaxamento da musculatura envolvida 
(Figura 2). 
Figura 2 – Movimentos peristálticos 
 
Crédito: Designua/shutterstock. 
https://www.shutterstock.com/pt/g/designua
 
 
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Para que seja mantida a sequência lógica do sistema digestório, daremos 
continuidade na chegada do bolo alimentar ao estômago após a fase de 
deglutição previamente descrita. Mas para isso é necessário compreender, 
primeiramente, a anatomia e a motilidade do estômago. 
O estômago é um órgão em forma de J localizado entre o esôfago e o 
intestino delgado. Esse órgão apresenta algumas subdivisões (Guyton; Hall, 
2016) (Figura 3). 
• O fundo: é a parte do estômago que fica acima da abertura esofágica e 
possui camadas de músculo liso relativamente finas. 
• O corpo: é a parte central ou principal do estômago e possui camadas de 
músculo liso relativamente finas. 
• O antro: é a parte inferior do estômago e possui uma musculatura muito 
mais grossa. Essa diferença na espessura muscular distingue a 
motilidade entre as regiões. 
• O piloro ou esfíncter pilórico: esta é a porção terminal do estômago, 
que serve como barreira entre o estômago e a parte superior do intestino 
delgado, denominada de duodeno. 
Figura 3 – Anatomia do estômago 
 
 
Fonte: Jefferson Schnaider. 
O estômago apresenta três funções motoras: 
 
 
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1. armazenar grandes quantidades de alimentos até que a comida possa 
ser processada ao longo dos órgãos (estômago, intestino delgado e 
intestino grosso); 
2. misturar o alimento com as secreções gástricas até formar um composto 
denominado quimo (o bolo alimentar transportado pela deglutição passa 
a ser chamado de quimo no estômago); 
3. esvaziar lentamente o quimo do estômago, em um ritmo que favoreça a 
digestão e a absorção desse composto pelo intestino delgado. 
De maneira mais detalhada, ao chegar no estômago, o bolo alimentar 
ocasiona a distensão desse órgão, gerando um estímulo de reflexo vasovagal 
do estômago para o tronco cerebral. Como resposta, há uma redução na 
tonicidade da parede muscular do corpo do estômago, o que permite acomodar 
quantidades cada vez maiores de alimentos, até que a capacidade máxima do 
estômago completamente relaxado seja atingida (≈ 0,8 a 1,5 litros). A pressão 
no estômago permanece baixa até que esse limite seja alcançado. 
Em seguida, os sucos digestivos secretados pelas glândulas do estômago 
entram em contato com aquela comida armazenada na mucosa estomacal e 
inicia-se uma onda de movimentos peristálticos fracos, denominados de ondas 
de mistura, as quais começam na porção médio-superior da parede do estômago 
e se propagam em direção ao antro a cada 15 a 20 segundos em média. À 
medida que essas ondas se aproximam do antro, a intensidade se torna cada 
vez mais forte. No entanto, a abertura do piloro é muito pequena para que o 
conteúdo do antro seja expelido no duodeno, indicando que o esvaziamento do 
quimo não depende exclusivamente da motilidade estomacal. 
Na realidade, o esvaziamento do estomago é parcialmente controlado por 
fatores estomacais. O controle mais importante é feito por sinais de feedback 
inibitório do duodeno, tanto os enterogastricos quanto o feedback hormonal da 
colecistocinina (CCK) (detalhes sobre a CCK são observados na Tabela 1). 
Esses mecanismos de feedback inibitórios trabalham harmonicamente para 
diminuir a velocidade de esvaziamento gástrico quando há muito quimo no 
intestino delgado ou quando o conteúdo do quimo é excessivamente ácido, 
contém muita proteína ou gordura não processada ou é irritante para a parede 
intestinal. Ou seja, a taxa de esvaziamento do estômago é limitada à quantidade 
de quimo que o intestino delgado pode processar. 
 
 
9 
Ao chegar no duodeno, o quimo continua a ser impulsionado através do 
intestino delgado por ondas peristálticas em segmentação (Figura 4) que 
seguem em direção ao ânus a uma velocidade que varia de 0,5 a 2,0 cm/s. 
Dificilmente uma onda percorre mais do que 10 centímetros, o que dá a 
característica lenta de segmentação no intestino delgado. Tão lenta que o 
deslocamento médio do quimo nessa etapa é de apenas 1 cm/min. Ou seja, são 
necessárias de 3 a 5 horas para que o quimo chegue à válvula ileocecal e 
continue o processo no intestino grosso. Esse mecanismo de propulsão lento é 
vantajoso por permitir uma maior digestão e absorção dos nutrientes. Afinal, é 
no intestino delgado que a maior parte desses dois processos ocorre. 
Já no intestino grosso, movimentos em massa ocorrem do ceco até o 
colón sigmoide (Figura 4) para que o TGI continue a desempenhar o seu papel 
propulsivo. Esses movimentos normalmente ocorrem de uma a três vezes ao 
dia, e para boa parte das pessoas, por cerca de 15 minutos durante a primeira 
hora após o café da manhã. 
Os movimentos em massa seguem esta sequência: 1) um anel constritivo 
ocorre em resposta à distensão do cólon transversal; 2) rapidamente, os 20 
centímetros do cólon descendente se contraem como uma unidade, 
impulsionando o material fecal ao longo deste segmento; 3) há um aumento 
progressivo na força de contração por cerca de 30 segundos e há um 
relaxamento durante os 2 a 3 minutos seguintes; 4) em seguida, outro movimento 
de massa ocorre e assim sucessivamente por cerca de 10 a 30 minutos até 
cessarem; 5) esses movimentos retornam mais tarde e empurram uma massa 
de fezes no reto; 6) a movimentação das fezes para o reto causa uma distensão 
da parede retal, levando ao reflexo de defecação; 7) o esfíncter anal interno 
(formado por músculo liso – contração involuntária) relaxa, enquanto o reto e 
cólon sigmoide contraem mais intensamente; e 8) se o esfíncter anal externo 
(formado por músculo esquelético – contração voluntária) estiver relaxado, 
ocorre a defecação. 
Vale ressaltar que como o esfíncter anal externo está sob controle 
voluntário, é possível contraí-lo se as circunstâncias forem desfavoráveis, 
mesmo que a distensão da parede retal cause o reflexo de defecação (Guyton; 
Hall, 2016; Sherwood, 2011). 
 
 
 
10 
Figura 4 – Anatomia e motilidade do sistema digestório 
 
Fonte: Jefferson Schnaider. 
TEMA 3 – SECREÇÃO GÁSTRICA 
O TGI possui o controle motor (motilidade), que foi previamente descrito, 
e o controle químico, realizado pela liberação de secreções, como a saliva, por 
exemplo, que participa da digestão de carboidratos por meio da ação da enzima 
amilase salivar. Devido à abrangência de secreções regulatórias, nessa seção 
serão descritas apenas as principais secreções gástricas e seus mecanismos de 
ação. 
Sendo assim, a mucosa do estômago possui dois importantes tipos de 
glândulas tubulares, as quais secretam substâncias específicas e estão 
localizadas em diferentes porções do estômago. 
 
 
11 
• As glândulas oxínticas (também chamadas de glândulas gástricas) 
estão localizadas nas superfícies internas do corpo e do fundo do 
estômago. Essas glândulas secretam ácido clorídrico, pepsinogênio, 
fator intrínseco e muco. 
• As glândulas pilóricas estão localizadas na região do antro e secretam 
principalmente muco para proteção da mucosa pilórica contra o ácido do 
estômago, além de secretar o hormônio gastrina. 
As glândulas oxínticas são compostas por três tipos de células: as células 
mucosas do colo, que secretam principalmente muco; as células pépticas, que 
secretam pepsinogênio; e as células parietais, que secretam ácido clorídrico e 
fator intrínseco. 
Quando as células parietais são estimuladas, elas secretam uma 
substância extremamente ácida (pH ≈ 0,8), denominada de ácido clorídrico. 
Esse ácido não atua diretamente na digestão, mas é responsável por ativar a 
enzima precursora pepsinogênio para ser convertida na sua forma ativa, 
denominada de pepsina, e fornecer um meio ácido que é ideal paraa atividade 
dessa enzima. Além disso, o ácido clorídrico ajuda na degradação do tecido 
conjuntivo e das fibras musculares, reduzindo grandes partículas de alimentos 
em partículas menores e matando a maioria dos microrganismos ingeridos com 
os alimentos. 
Uma vez que a enzima pepsinogênio foi convertida à sua forma ativa, 
pepsina, pela ação do ácido clorídrico, inicia-se uma formação ainda maior de 
pepsina por meio do processo de autoativação. A pepsina inicia a digestão das 
proteínas ao dividi-las em fragmentos peptídicos (pequenas cadeias de 
aminoácidos) e funciona de forma mais eficaz no ambiente ácido promovido pelo 
ácido clorídrico. 
Como a pepsina digere proteínas, é importante que ela seja armazenada 
e secretada em uma forma inativa para que não faça a digestão das células que 
lhes formam. Portanto, a pepsina é mantida na forma inativa de pepsinogênio 
até que atinja o lúmen gástrico, onde é ativada pelo ácido clorídrico. 
Outra substância produzida pelas células parietais é o fator intrínseco, 
que é fundamental na absorção de vitamina B12 e pode afetar a produção de 
eritrócitos. Afinal, essa vitamina só consegue ser absorvida se ligada ao fator 
intrínseco, e sabe-se que a vitamina B12 tem papel importante na formação dos 
 
 
12 
glóbulos vermelhos. Ou seja, na ausência de fator intrínseco, essa vitamina não 
consegue ser absorvida e a produção de eritrócitos se torna deficitária, o que 
pode levar a quadros de anemia perniciosa, por exemplo. 
Em outra linha de atuação está o muco. Essa secreção ajuda a 
contrabalançar os possíveis efeitos prejudiciais de outras substâncias, como o 
ácido clorídrico, e serve como uma barreira protetora contra as diferentes formas 
de potencial lesão da mucosa gástrica. 
• O muco protege a mucosa gástrica contra lesões mecânicas, devido às 
suas propriedades lubrificantes. 
• Ajuda a proteger a parede do estômago da autodigestão, já que ação da 
pepsina é inibida quando entra em contato com a camada de muco no 
revestimento do estômago (o muco não afeta a atividade da pepsina no 
lúmen, onde ocorre a digestão das proteínas advindas da alimentação). 
• Por ser alcalino, o muco ajuda a proteger o estômago das lesões 
derivadas do ácido, a partir da neutralização do ácido clorídrico no 
revestimento gástrico. Mas não interfere na função desse ácido no lúmen, 
assim como foi descrito para a pepsina. 
Por fim, podemos destacar a ação da gastrina, que é um hormônio 
peptídico secretado pelas glândulas pilóricas na região distal do estômago. A 
secreção desse hormônio é estimulada pela chegada de alimentos proteicos ao 
antro do estômago. Algumas dessas proteínas têm efeito estimulador das células 
G localizadas nas glândulas pilóricas, levando à produção e liberação desse 
hormônio. A gastrina, por sua vez, é um poderoso estimulante de ácido clorídrico 
e pepsinogênio, além de auxiliar na liberação de histamina, que aumenta ainda 
mais a secreção ácida (Guyton, Hall, 2016; Reinus; Simon, 2014). 
TEMA 4 – SECREÇÃO PANCREÁTICA 
O pâncreas é um órgão composto com funções exócrinas e endócrinas 
(Figura 5). A porção endócrina é organizada em ilhotas de Langerhans, 
compostas por cinco tipos de células, que são responsáveis por secretar 
diferentes hormônios, incluindo a insulina e o glucagon (Guyton, Hall, 2016; 
Reinus; Simon, 2014). No sistema digestório, a função exócrina do pâncreas tem 
maior relevância e será abordada nesta seção. 
 
 
13 
A porção exócrina do pâncreas é responsável por secretar o suco 
pancreático, que é formado por dois componentes: 
1. As enzimas pancreáticas, que são secretadas ativamente pelas células 
acinares; 
2. A solução alcalina aquosa, que é secretada pelas células do ducto 
pancreático. 
O suco pancreático é secretado mais abundantemente em resposta à 
presença de quimo nas porções superiores do intestino delgado, e as 
características da secreção são parcialmente determinadas pelo conteúdo de 
alimento contido no quimo. Nesse sentido, as células acinares são capazes de 
secretar três tipos de enzimas pancreáticas, cada qual responsável pela 
digestão de um macronutriente específico. 
• Enzimas proteolíticas: responsáveis pela digestão das proteínas. A 
enzima mais abundante e importante desse processo é a tripsina. 
• Amilase pancreática: responsável pela digestão de carboidratos. 
• Lipase pancreática: responsável pela digestão dos lipídios. 
Assim como foi visto para o pepsinogênio, as enzimas pancreáticas são 
armazenadas dentro do zimogênio em sua forma inativa e são liberadas por 
exocitose quando necessárias. É importante ressaltar que elas são capazes de 
digerir quase que completamente os alimentos mesmo na ausência das outras 
secreções digestivas. 
Em relação à solução alcalina aquosa, vale destacar que este é o 
componente mais abundante do suco pancreático e, por ser uma secreção rica 
em bicarbonato de sódio (NaHCO3), exerce um papel de tamponamento do suco 
gástrico liberado pelas glândulas estomacais. 
 
 
 
14 
Figura 5 – Anatomia e divisão funcional do pâncreas 
 
Crédito: Alila Medical Media/ shutterstock. 
TEMA 5 – REGULAÇÃO DO TGI 
O sistema digestório é controlado por outros sistemas do organismo e 
diferentes mecanismos de regulação, incluindo os neurais e os endócrinos. Do 
ponto de vista neural, a atividade do TGI sofre influência direta do sistema 
nervoso autônomo (denominado de sistema nervoso entérico no sistema 
digestório), que regula tanto a motilidade quanto as secreções. Nessa 
perspectiva, sabe-se que a estimulação parassimpática aumenta a atividade do 
sistema nervoso entérico por secretar acetilcolina em suas terminações, o que 
leva ao incremento da motilidade. Ainda, como as fibras parassimpáticas 
fornecem uma extensa inervação para o esôfago, estômago, pâncreas e da 
metade distal do intestino grosso até o ânus, com maior proeminência no reto e 
no ânus, fica evidente que a estimulação dessas fibras aumenta a atividade 
gastrointestinal e estimula o reflexo de defecação. 
Por outro lado, a estimulação simpática inibe a atividade do TGI pelo fato 
de essas fibras secretarem noradrenalina nas suas terminações, o que reduz a 
motilidade gastrointestinal e a atividade do sistema entérico como um todo. 
Embora o sistema nervoso entérico atue a todo momento na regulação do 
controle do TGI, vale destacar o papel regulatório exercido pelos hormônios 
 
 
15 
gastrointestinais secretados pelas glândulas endócrinas do trato digestório, 
que são transportados através do sangue para outras áreas do TGI, onde 
exercem funções excitatórias ou inibitórias nas células musculares e nas 
glândulas exócrinas (Guyton; Hall, 2016; Sherwood, 2011) (Tabela 1). 
Tabela1 – Ações dos hormônios gastrointestinais e estímulos para a secreção 
Hormônio Estímulo para secreção Ações 
Gastrina 
Proteína 
Distensão 
Atividade neural 
 
Estimula as secreções gástricas 
Estimula o crescimento da mucosa 
 
 
Colecistocinina 
Proteína 
Lipídios 
Ácido 
 
Estimula as secreções pancreáticas 
Estimula a contração da vesícula biliar 
Inibe o esvaziamento gástrico 
 
Secretina 
Lipídios 
Ácido 
 
Estimula a secreção de pepsina 
Estimula a secreção de bicarbonato no 
pâncreas 
Inibe a secreção gástrica 
 
Motilina 
Lipídios 
Ácido 
Atividade neural 
 
Estimula a motilidade gástrica 
Estimula a motilidade intestinal 
Fonte: elaborado com base em Guyton; Hall, 2016, p. 802. 
NA PRÁTICA 
Como vimos nesta aula, a motilidade do sistema digestório faz o 
transporte, absorção e excreção dos alimentos ao longo do TGI. Mas, para isso, 
uma série de mecanismos de controle precisam entrar em ação, inclusive outros 
sistemas (sistema circulatório e sistema nervoso autônomo). Pensando na 
atividade do profissional e do professor de educação física, e considerando os 
diferentes sistemas, será que há alteração na atividade do TGI durante a prática 
deexercícios físicos? 
Sim, durante a prática de exercícios físicos, especialmente os de alta 
intensidade, ocorre uma redistribuição do sistema circulatório para atender à 
demanda da atividade. Nesse caso, um maior volume de sangue é direcionado 
aos músculos esqueléticos ativos, para entregar os nutrientes necessários, 
enquanto menos sangue flui para o estomago e o intestino, ocasionando a 
diminuição da atividade desses órgãos. Além disso, com o aumento da atividade 
simpática estimulada pelo exercício, há uma redução da motilidade no sistema 
digestório, o que inibe a passagem do alimento ao longo do TGI. Por outro lado, 
 
 
16 
existem evidências de que podem ocorrer episódios de diarreia durante 
exercícios prolongados (maratonas e ultramaratonas), devido à aceleração da 
passagem dos alimentos pelo trato digestório, como forma de “defesa” do 
organismo. 
FINALIZANDO 
A sobrevivência humana depende da disponibilidade de recursos 
alimentares que forneçam nutrientes para as diferentes ações fisiológicas. Nesse 
sentido, o sistema digestório é essencial, afinal, é ele que recebe, transporta, 
digere, absorve e excreta o alimento ingerido. A sua atividade segue uma 
cascata de eventos, que são marcados pelos movimentos peristálticos ao longo 
do trato gastrointestinal e pela ação das secreções digestórias que atuam sobre 
o bolo alimentar / quimo. Além disso, a regulação desse sistema é dependente 
da ação neural e hormonal, que podem variar de acordo com o estado do 
indivíduo e com as características do alimento processado. 
Portanto, é importante que os profissionais e professores de educação 
física compreendam a base do sistema digestório para identificar, entre outras 
coisas, possíveis efeitos adversos devido à falta de alimentos no organismo ou 
à ingestão excessiva de líquidos, que podem ocasionar desconforto e prejudicar 
a prática de exercícios físicos. 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Textbook of medical physiology. 13. ed. 
Elsevier, 2016. 
REINUS, J. F.; SIMON, D. Gastrointestinal anatomy and physiology: the 
essentials. Willey Blackwell, 2014. 
SHERWOOD, L. Fisiologia humana: das células aos sistemas. 7. ed. São 
Paulo: Cengage Learning, 2011.

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