Prévia do material em texto
K 3000 E KTR 3000 Colheita versátil e eficiente para você que produz o melhor café do mundo. Novas Colhedoras de Café K 3000 e KTR 3000, desenvolvidas para as necessidades do pequeno ao grande produtor e pensadas para superar suas expectativas. 2d cb .c om .b r Use o QR Code e descubra as novas colhedoras de café da Jacto. K 3000 E KTR 3000 Colheita versátil e eficiente para você que produz o melhor café do mundo. Novas Colhedoras de Café K 3000 e KTR 3000, desenvolvidas para as necessidades do pequeno ao grande produtor e pensadas para superar suas expectativas. 2d cb .c om .b r Use o QR Code e descubra as novas colhedoras de café da Jacto. O Anuário do Café é imparcial em relação ao seu conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. (34) 3231-2800 ISSN 2316-6290 - 14ª Edição @campo_negocios /revistacen @campoenegocios Acesse nosso cartão virtual Diretora Administrativa Joana D’ark Olímpio Sandoval joana@revistacampoenegocios.com.br Diretora de Jornalismo Ana Maria Vieira Diniz - MTb 5.915MG anamaria@revistacampoenegocios.com.br Núcleo de Jornalismo Editora: Miriam Lins Oliveira - MTb 10.165MG miriam@revistacampoenegocios.com.br Produção: Caio Coutinho redacao@revistacampoenegocios.com.br Departamento Comercial Aline Brandão Araújo aline@revistacampoenegocios.com.br Renata Helena Vieira de Ávila renata.vieira@revistacampoenegocios.com.br Departamento Financeiro Rose Mary de Castro Nunes �nanceiro@revistacampoenegocios.com.br Mírian das Graças Tomé �nanceiro2@revistacampoenegocios.com.br Quer anunciar ou assinar? Aponte a câmera para o QR code Assinaturas Marília Gomes Nogueira marilia@revistacampoenegocios.com.br Raíra Cristina Batista dos Santos raira@revistacampoenegocios.com.br Foto capa Valéria Vidigal Fotos conteúdo Shutterstock Projeto Grá�co/Diagramação Horácio Sei (11) 99983-6777 Viviani Gasparini (11) 97386-3444 (34) 3231-2800 (34) 98721-0000 R. Bernardino Fonseca, 88 – B. General Osório Uberlândia-MG 38.400-220 www.revistacampoenegocios.com.br O Brasil é, indiscutivelmente, uma potência na produção de café, liderando as estatísticas como o maior produtor e exportador global. A área total de café em 2024 deve chegar a 2,25 milhões de hectares e uma produção de 58.082,2 mil sacas. A colheita, realizada com esmero, conrma a expertise dos produto- res brasileiros que, ao longo dos anos, aprimoraram técnicas para garan- tir não apenas quantidade, mas qualidade inigualável. A tendência agora tem sido a cafeicultura regenerativa, conrmando a consciência dos produtores e consumidores por um futuro mais susten- tável, inclusive com baixa emissão de carbono. As diferentes regiões do Brasil oferecem nuances distintas aos grãos, resultando em cafés com pers sensoriais únicos e diferenciados. Do sul de Minas Gerais, com seus cafés encorpados e notas de chocolate, ao cer- rado baiano, que proporciona grãos vibrantes com acidez equilibrada, o Brasil desdobra diariamente uma variedade de sabores que encontra eco nos quatro cantos do planeta. Entretanto, a produção de café não é isenta de desaos. Mudanças climáticas, pragas e questões socioeconômicas impactam diretamente a indústria, mas ainda assim, os produtores brasileiros não se curvam dian- te das adversidades. Em resposta, adotam práticas sustentáveis, investem em tecnologias de ponta e promovem iniciativas para melhorar as con- dições de manejo. Neste Anuário do Café 2024, você vai entender que a produção de café é mais do que um processo agrícola; é uma sinfonia de culturas, téc- nicas e paixões que se revelam em cada xícara. No Brasil, essa tradição �oresce, guiada pela determinação de produtores que moldam o presen- te e o futuro do café. Ao nalizarmos esse trabalho, celebramos com você, leitor, não ape- nas a bebida que nos desperta pela manhã, mas também a riqueza cultu- ral e o empenho humano que a sustentam. Enquanto o aroma do café es- tiver no ar, seremos sempre lembrados, com carinho, de que essa jornada aromática é, verdadeiramente, uma paixão nacional. Miriam Lins Oliveira Editora EDITORIAL 5 07 – PRODUÇÃO 08 - Safra, estoques e valor da produção 22 - Perfil produtivo das principais regiões cafeeiras 28 - Recuperação produtiva das lavouras 30 - Produtividade além dos limites 41 – CUSTOS 42 - Rentabilidade da cultura no Brasil 52 - Entenda como o preço do café é formado 54 - Qual o melhor momento de vender? 57 – MERCADO 58 - Conjuntura mundial da cafeicultura 62 - Balanço econômico das exportações 66 - Mercados mundiais mais promissores 70 - Cafés do Brasil em um mundo fraturado 74 - Os grãos de maior valor agregado 78 - Tendências de consumo 83 – ESPECIAIS 84 - Café brasileiro é eleito o melhor do mundo 91 - Os sabores do Brasil 94 - Dicas para tomar o cafezinho perfeito 96 -Empreendendo com inovação 98 - Indicações geográficas da cafeicultura ÍNDICE6 MERCADO CUSTOS ESPECIAIS PRODUÇÃO 8 P R O D U Ç Ã O SAFRA, ESTOQUES E VALOR DA PRODUÇÃO Os avanços tecnológicos na produção de café têm contrabalanceado a estabilidade na região brasileira, resultando em ganhos expressivos de produtividade. Tal cenário está diretamente ligado à mudança tecnológica observada no setor, justificando os resultados positivos. A área total de café em 2024 totaliza 2,25 milhões de hectares e uma produção de 58.082,2 mil sacas. 9 P R O D U Ç Ã O As safras de 2021 e 2022, por adversidades climáticas, tiveram baixas produtividades, modi�cando a tendência de crescimento que vinha se veri�cando na série de produção. Já em 2023, com as condições climáticas mais favo- ráveis, deu-se início à fase de recuperação das pro- dutividades. A área total, destinada à cafeicultura no país em 2024, espécies arábica e conilon, totaliza 2,25 milhões de hectares, aumento de 0,8% sobre a área da safra anterior, com 1,92 milhão de hectares des- tinados às lavouras em produção, crescimento de 2,4% em relação ao ano anterior, e 336,3 mil hec- tares em formação, redução de 7% em comparação ao ciclo anterior. Vale destacar que, nos ciclos de bienalidade ne- gativa, os produtores costumam realizar tratos cul- turais mais intensos nas lavouras, promovendo al- gum tipo de manejo como poda, esqueletamento ou recepas em áreas que só entrarão em produção nos próximos anos. Nas últimas safras, a estabilidade na área brasi- leira de café tem sido compensada pelos ganhos de produtividade, representados pela mudança tecno- lógica observada na produção cafeeira, fatores que justi�cam os ganhos de produtividade. Arábica A primeira estimativa para a área total da es- pécie indica crescimento de 1,1%, situando-se em 1,82 milhão de hectares. Desse total, 1,53 milhão de hectares estão em produção e 297,5 mil hec- tares em formação. O cultivo do arábica corres- ponde a 80,9% da área total destinada à cafeicul- tura nacional. Nesta temporada, de bienalidade positiva, ocor- re crescimento de 2,7% na área em produção e re- dução 6,2% na área em formação. Minas Gerais concentra a maior área com a espécie, 1.358,9 mil hectares, correspondendo, nesta safra, a 74,5% do total ocupado com café arábica no país. Conilon Expectativa de redução de 0,4% na área total, estimada em 430,5 mil hectares. A área destina- da à produção, prevista em 391,7 mil hectares, re- presenta um crescimento de 1%, e a área em for- mação, situada em 38,9 mil hectares, redução de 12,7% sobre a safra 2023. No Espírito Santo se encontra a maior área destinada ao café conilon do país, com 292 mil hectares no estado, seguido por Rondônia, com 67,7 mil hectares e a Bahia, com 46,5 mil hectares. Para a produtividade média nacional de café, a primeira estimativa indica 30,3 sc/ha, 3% maior em relação à safra anterior. A produtividade do café arábica está estimada em 26,7 sc/ha, aumento de 2% em relação à safra de 2023. A produtividade do café conilon está estimada em 44,3 sc/ha, 6,2% acima da safra anterior. Paraa nova safra, a previsão inicial, somando o café arábica e o conilon, indica o volume de pro- dução em 58.082,2 mil sacas de café bene�ciado, correspondendo a um crescimento de 5,5% sobre o resultado da safra passada. Comparativamente à safra 2022, último ano de safra de alta bienalidade, mas impactada por pro- blemas climáticos, com uma produção de 50.920,1 mil sacas, observa-se um crescimento de 14,1% ou de 7.162,1 mil sacas. 10 P R O D U Ç Ã O Tabela 1 . Comparativo de área em produção, produtividade e produção de café total (arábica e conilon) no Brasil Legenda: (*) Acre, Pará, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Estimativa em janeiro/2024. Fonte: Conab. NORTE 61.164,9 62.480,9 2,2 49,9 51,4 2,8 3.054,3 3.208,8 5,1 RO 60.621,0 61.937,0 2,2 50,2 51,6 2,8 3.041,4 3.195,9 5,1 AM 543,9 543,9 - 23,7 23,7 - 12,9 12,9 - NORDESTE 97.840,0 101.795,0 4,0 34,7 35,5 2,3 3.396,7 3.614,8 6,4 BA 97.840,0 101.795,0 4,0 34,7 35,5 2,3 3.396,7 3.614,8 6,4 Cerrado 5.180,0 5.200,0 0,4 39,6 44,0 11,2 205,0 228,8 11,6 Planalto 49.800,0 52.345,0 5,1 18,1 19,0 5,0 902,6 996,0 10,3 Atlântico 42.860,0 44.250,0 3,2 53,4 54,0 1,1 2.289,1 2.390,0 4,4 CENTRO-OESTE 16.870,0 17.454,0 3,5 27,4 29,8 8,6 462,1 519,4 12,4 MT 11.499,0 11.596,0 0,8 22,6 22,7 0,5 260,3 263,7 1,3 GO 5.371,0 5.858,0 9,1 37,6 43,6 16,2 201,8 255,7 26,7 SUDESTE 1.667.952,0 1.706.179,0 2,3 28,4 29,3 3,1 47.356,6 49.938,4 5,5 MG 1.082.447,0 1.117.289,0 3,2 26,8 26,1 (2,5) 29.005,9 29.181,3 0,6 Sul e centro-oeste 533.271,0 560.148,0 5,0 25,3 26,7 5,2 13.513,0 14.933,4 10,5 Região/UF ÁREA EM PRODUÇÃO (ha) Safra 2023 (a) Safra 2023 (c) Safra 2023 (e) Safra 2024 (b) Safra 2024 (d) Safra 2024 (f) VAR. % (b/a) VAR. % (d/c) VAR. % (f/e) PRODUTIVIDADE (scs/ha) PRODUÇÃO (mil sacas beneficiadas) ES 392.760,0 391.351,0 (0,4) 33,1 38,4 15,8 13.014,0 15.015,5 15,4 RJ 11.197,0 11.398,0 1,8 27,3 29,8 9,1 306,0 339,8 11,0 SP 181.548,0 186.141,0 2,5 27,7 29,0 4,7 5.030,7 5.401,8 7,4 SUL 25.826,0 25.826,0 - 27,8 27,8 - 718,5 718,5 - PR 25.826,0 25.826,0 - 27,8 27,8 - 718,5 718,5 - OUTROS (*) 4.127,0 4.116,0 (0,3) 20,4 20,0 (1,9) 84,1 82,3 (2,1) NORTE/NORDESTE 159.004,9 164.275,9 3,3 40,6 41,5 2,4 6.451,0 6.823,6 5,8 CENTRO-SUL 1.710.648,0 1.749.459,0 2,3 28,4 29,3 3,1 48.537,2 51.176,3 5,4 BRASIL 1.873.779,9 1.917.850,9 2,4 29,4 30,3 3,0 55.072,3 58.082,2 5,5 Triângulo, Alto Paranaíba e noroeste Zona da Mata, Rio Doce e Central Norte, Jequitinhonha e Mucuri 199.471,0 321.449,0 28.256,0 38,0 21,8 31,4 7.588,6 7.016,8 887,5 196.398,0 331.151,0 29.592,0 27,2 23,8 34,4 5.339,0 7.890,7 1.018,2 (1,5) 3,0 4,7 (28,5) 9,2 9,5 (29,6) 12,5 14,7 11 P R O D U Ç Ã O Fontes: Conab Embrapa Observatório do Café Cafés do Brasil chegam a R$ 49,37 bilhões de cálculo bruto No ano-cafeeiro de 2023, o valor total do fatu- ramento bruto dos cafés do Brasil atingiu o mon- tante estimado em R$ 49,37 bilhões. Tal cifra contempla R$ 37,62 bilhões da receita obtida com os cafés da espécie Co�ea arabica (café arábica), o que correspondeu a 76% do total arre- cadado e, adicionalmente, R$ 11,75 bilhões com os cafés da espécie Co�ea canephora (café robus- ta + café conilon), cujo montante, no caso, equiva- le a 24% do total do faturamento do ano-cafeeiro agora em destaque. Como os cafés do Brasil são produzidos nas cinco regiões geográ�cas brasileiras, caso seja ela- borado um ranking em ordem decrescente do fatu- ramento bruto dessa importante atividade agrícola nessas regiões no ano-cafeeiro objeto desta análise, constata-se que a região sudeste, de forma absolu- ta, liderou o faturamento com o cálculo total de R$ 42,49 bilhões, o que equivale a 86% do valor bruto geral em nível nacional. Na sequência, com R$ 3,24 bilhões de estima- tiva de receita com café, �gura a região nordeste, montante que representa 6,5% do total do valor bruto arrecadado. Assim, complementando este ranking, na ter- ceira posição destaca-se a região norte, que teve seu faturamento estimado em R$ 2,54 bilhões, o que corresponde a 5,1% do valor bruto nacional, seguido da região sul, na quarta posição, com R$ 696 milhões de receita, 1,4% do total nacional. E, por �m, vem a região centro-oeste, a qual �- gura em quinto lugar com o faturamento do setor cafeeiro calculado em R$ 396,78 milhões, cifra que representa menos de 1% do faturamento bruto dos cafés do Brasil no ano-cafeeiro 2023. Convém também destacar, nesta divulgação do Observatório do Café, que a análise do faturamen- to dos cafés do Brasil do ano-cafeeiro 2023 tem como base e referência os dados constantes do Va- lor Bruto da Produção (VBP – Dezembro 2023), estudo que é elaborado e divulgado mensalmen- te pela Secretaria de Política Agrícola (SPA), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o qual também está disponível na íntegra no Observatório do Café do Consórcio Pesquisa Café , rede integra- da de pesquisa coordenada pela Embrapa Café. “A área total de café em 2024 totaliza 2,25 milhões de hectares e uma produção de 58.082,2 mil sacas” 12 P R O D U Ç Ã O Acréscimo de 0,6% em comparação ao volu- me total colhido na safra anterior, justi�- cado pelo aumento da área em produção e, principalmente, pelo ciclo de bienalidade positi- va, além das melhores condições das lavouras, até o momento, nas fases de �oração e formação de chumbinho. A cafeicultura mineira é bastante tradicional e extremamente relevante para a produção nacio- nal do grão. O cultivo acontece em diversas áreas pelo estado, porém, existem algumas mesorregi- ões com características edafoclimáticas importantes, que concentram grande parte dessa área produtora, tal como o sul e centro-oeste mineiro, o Triângu- lo, o Alto Paranaíba, o Noroeste, a Zona da Mata, o Vale do Rio Doce e a Zona Central. De maneira geral, as estimativas iniciais para a safra mineira indicam aumento na área em pro- dução, especialmente pela adesão de áreas que foram reformadas nos últimos anos e que agora pas- sarão a apresentar produção, e aumento na produti- vidade média prevista em quase todas as grandes re- giões produtoras por conta dos efeitos �siológicos positivos previstos para esse ciclo com bienali- dade positiva - exceção apenas ao Cerrado Mi- neiro. Ali, os efeitos de uma alta carga produtiva, na temporada passada, devem impactar no potencial de produção do ciclo atual, já que as lavouras não possuem condições para suportar outra carga ele- vada simultaneamente, sem uma recuperação ve- getativa. MINAS GERAIS NO TOPO PRODUÇÃO ESTIMADA EM 29.181,3 MILHÕES DE SACAS Sul de Minas (sul e centro-oeste) F F F F/CH EF GF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Cerrado Mineiro (Triângulo, Alto Paranaíba e noroeste)* F F F F/CH CH/EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Zona da Mata, Rio Doce e Central F F F F/CH CH/EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Norte, Jequitinhonha e Mucuri F F F F/CH CH/EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set OutMeses 2023Ano 2024 Fases: (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos; (M)=maturação; (C)=colheita. *parte irrigada. 14 P R O D U Ç Ã O Expectativa de crescimento de 15,4% na pro- dução total. Vários fatores interferem posi- tivamente, como: a realização da adubação das plantas, feita pela maioria dos produtores, boa �oração, induzida pelas chuvas acima da média em julho e agosto de 2023, e pela bienalidade positi- va do café arábica. Para o café conilon, a produção está estimada em 11.065,5 mil sacas, aumento de 9% em relação à safra anterior, e para a espécie arábica a produ- ção deverá ser de 3.950 mil sacas, 38,2% acima do volume colhido na última safra. A produção de café arábica se concentra, ma- joritariamente, na região sul do estado. Ali, nesse início de ciclo, as condições se apresentaram rela- tivamente favoráveis à cultura, exceção feita a al- guns períodos de escassez de chuvas e outros, com altastemperaturas oriundas das ondas de calor, e, aliados à menor carga produtiva na safra passada, o cenário é de boa recuperação vegetativa das lavou- ras, permitindo maior viabilidade da carga �oral e da formação dos frutos. De maneira geral, as lavouras estão em fase de formação dos frutos e enchimento de grãos, e vêm se mantendo em boas e/ou regulares condições eda- foclimáticas e �tossanitárias. A perspectiva de um ciclo com bienalidade po- sitiva ajuda a projetar uma safra com crescimento, mesmo que limitado pelo clima, na produção total em comparação à temporada anterior. Pelo calendário agrícola previsto na região, a colheita só deve começar a partir de abril de 2024 e estender suas operações até dezembro do mes- mo ano. ESPÍRITO SANTO LÍDER EM CONILON PRODUÇÃO ESTIMADA EM 15.015,5 MIL SACAS Ano 2023 2024 Meses Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Fases* F F/CH F/CH/EF CH/EF GF GF GF GF/M M/C C C C C Legenda: * (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos. (M)=maturação; (C) colheita. 15 P R O D U Ç Ã O Crescimento de 7,4% em comparação ao re- sultado obtido em 2023. Tal crescimento se deve às condições climáticas considera- das satisfatórias na maioria das regiões produtoras, com chuvas bem distribuídas, independentemente da onda de calor ocorrida na metade de novembro, onde as temperaturas chegaram aos 40°C, mas ain- da assim havia umidade no solo. A cafeicultura no estado está pulverizada em diversas regiões, destacando-se os polos ou “pra- ças” consideradas referências na produção de café: a Alta Mogiana, a Média Mogiana e as regiões de Garça e Marília, Ourinhos, Avaré e outros municí- pios. A divisão das regiões é fundamentada nas se- melhanças em características geográ�cas, de clima e pacotes tecnológicos utilizados. Com relação à atual safra, 2024, o início do ci- clo demonstra um cenário favorável à cultura, po- rém, com algumas exceções. As condições climáti- cas, por exemplo, estiveram, no geral, satisfatórias para o desenvolvimento das lavouras na maioria das regiões produtoras. A previsão inicial é de incremento, tanto na área em produção quanto na produtividade mé- dia, ambas em comparação com a temporada pas- sada. SÃO PAULO TEM CENÁRIO POSITIVO PRODUÇÃO ESPERADA DE 5.401,8 MIL SACAS DA ESPÉCIE ARÁBICA Cultivo predominantemente de café arábica, com previsão de estabilidade na produção. Em linhas gerais, o começo do ciclo atual se mostra favorável à cultura. Mesmo com registros pontuais de intempéries climáticas, a fase de formação dos botões �orais e a �oração propriamente dita foram em condições climáticas mais amenas, se comparada ao referido período, além de uma etapa anterior que permitiu melhor recuperação do vigor vegetativo. PARANÁ INVESTE NO ARÁBICA PRODUÇÃO ESTIMADA EM 718,5 MIL SACAS 16 P R O D U Ç Ã O Crescimento previsto em 6,4% na produ- ção total. Arábica: 1.224,8 mil sacas. A alta da pro- dução é atribuída à bienalidade positiva, limitada pela previsão de chuvas abaixo da média. Conilon: 2.390 mil sacas, resultado do bom pa- cote tecnológico, mas limitado pela previsão de chu- vas abaixo da média. O cultivo de café arábica no estado se dá nas re- giões do Planalto (centro-sul e centro-norte baiano) e no Cerrado (extremo-oeste da Bahia). De manei- ra geral, o Planalto se caracteriza pelas áreas de maior altitude e clima ameno, favorecendo o desenvolvi- mento do café na região, especialmente aquele grão destinado à produção da bebida de melhor qualidade. As lavouras de café no Planalto estão divididas em três microrregiões: Chapada Diamantina, Vi- tória da Conquista e Brejões. No Cerrado se cultiva exclusivamente o café do tipo arábica, tendo manejo totalmente irriga- do e possuindo um cultivo concentrado em gran- des propriedades, conduzido por grupos empresa- riais, e tendo 100% das operações de colheita em caráter mecanizado. As lavouras de café no Cerrado estão dividi- das em quatro municípios: Barreiras, Luís Eduar- do Magalhães, São Desidério e Cocos. Para as lavouras do Cerrado baiano, as condi- ções estão mais favoráveis, especialmente em razão do manejo adotado, que inclui o uso de irrigação suplementar e pela alta tecni�cação empregada na cafeicultura local. Além disso, também há perspectiva de acrés- cimo na área em produção pela adição de novas áreas e/ou áreas recém-reformadas que passarão a produzir no atual ciclo. Grande parte das lavou- ras se encontra nas fases de fruti�cação e enchi- mento dos frutos, com bom aspecto �tossanitário e expectativa de bom rendimento, também pelo efeito da bienalidade positiva. BAHIA É FAVORECIDA PELA BIENALIDADE PRODUÇÃO DE 3.614,8 MIL SACAS Fases: (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos; (M)=maturação; (C)=colheita; * cultivos total ou parcialmente irrigados. Ano 2023 2024 Meses Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Cerrado* F F F CH EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C Planalto F F F F/CH CH/EF GF GF GF GF/M M/C M/C C C C 17 P R O D U Ç Ã O Acréscimo de 5,1% em comparação à sa- fra passada. Resultado impactado pela ex- pectativa de aumento na produtividade, estimulada pelas condições climáticas favoráveis, pela entrada de novas áreas em produção com clones com maior potencial produtivo, melhor manejo das culturas e à maioria das lavouras estarem equipa- das com dispositivos para irrigação. A cafeicultura no estado está concentrada prin- cipalmente nas regiões que englobam os municí- pios de Alto Alegre do Parecis, Alta Floresta do Oeste, Cacoal, Ministro Andreazza, Novo Hori- zonte, Nova Brasilândia do Oeste e São Miguel do Guaporé. O cenário atual, com a utilização de mudas clonais mais prolí�cas, tem proporcionado exce- lentes resultados, com boa homogeneidade das la- vouras, precocidade na produção, maior uniformi- dade de maturação dos grãos, melhor qualidade, escalonamento da colheita, ganhos constantes e expressivos na produtividade. A cafeicultura rondoniense passou por signi- �cativa mudança a partir da década de 2010, com um aumento expressivo da produtividade. Essa mudança se deve ao melhoramento do sistema de produção com manejo do solo, plantio em sulcos, adensamento da lavoura, podas de condução e pro- dução, irrigação, manejo integrado de pragas e do- enças, e ainda, o manejo nutricional com a prática da fertirrigação e monitoramento nutricional. Entretanto, o principal fator que impulsionou essa mudança foi a adoção da propagação vegetati- va, a clonagem, à qual foi associado o sistema “clo- ne em linha”, no qual se cultiva clones diferentes em uma linha de plantio diferente e o adensamen- to das lavouras. Estima-se que existam em torno de 70 clones presentes nas lavouras de Rondônia, sendo os mais cultivados os materiais 03, 05, 08, 25, 41, 66 (P50), 80, AS2, AR106 etc. A transformação tem origem no empreendedorismo dos agricultores locais e em pesquisas que auxiliaram na identi�cação das ca- racterísticas dos clones e sua adaptação no estado e na Amazônia Ocidental. RONDÔNIA É IMPACTADO PELA PRODUTIVIDADE PRODUÇÃO ESTIMADA EM 3.195,9 MIL SACAS DE CAFÉ CONILON 18 P R O D U Ç Ã O Acréscimo de 11% em relação à safra pas- sada, justi�cado pelo ciclo de alta bienali- dade. O estado é um tradicional produtor de café, embora nos últimos anos a área voltada à cafeicultura e o volume produzido sejam bem in- feriores. Ainda assim, persiste uma boa concentração de café na região serrana carioca, com destaque para os municípios de Bom Jardim, Duas Barras e São José do Vale do Rio Preto, que possuem tempera- turas mais amenas e maior umidade, além da re- gião noroeste �uminense, onde é encontrado o outro grupo de municípios produtores: Bom Je- sus do Itabapoana, Porciúncula e Varre-Sai, que apresentam um clima mais seco, com temperatu- ras mais altas, tendo o cultivo concentrado nas áre- as mais altas do município, as quaissão propícias para o café arábica. A perspectiva da bienalidade positiva eleva as estimativas de produtividade, se comparadas à tem- porada passada, assim como uma perspectiva inicial de incremento sobre a área em produção devido à adição de novas áreas ou lavouras reformadas que passarão a produzir nesse ciclo. RIO DE JANEIRO ELEVA ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO PRODUÇÃO ESTIMADA EM 339 ,8 MIL SACAS DE CAFÉ ARÁBICA Ano 2023 2024 Meses Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Fases* F F/CH CH/EF EF GF GF GF GF/M M/C M/C C C C Legenda: * (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos. (M)=maturação; (C)=colheita. 19 P R O D U Ç Ã O MATO GROSSO PRODUÇÃO ALCANÇA VOLUME DE 263, 7 MIL SACAS Previsão de crescimento de 1,3% na produ- ção. Tal aumento decorre da combinação da expansão de 0,8% na área em produção e do aumento do uso de fertilizantes, aliados ao início da produção dos cafezais clonais, resultando em me- lhores produtividades. A mudança no pacote tecnológico emprega- do, principalmente com o uso de materiais clo- nais mais prolí cos, a adoção de práticas de manejo mais sustentáveis e o uso e ciente dos recursos são alguns dos fatores que contribuem para essa evolução, que até mesmo se re�ete na destinação de área para a cultura. Nesse ciclo, por exemplo, a expectativa inicial é de incremento, tanto na área em produção quanto na área em formação de café, se comparado à safra passada. A irregularidade das chuvas levou a um uso mais intensivo dos sistemas de irrigação, re- sultando em um aumento nos custos de produção. No entanto, com a queda nos preços dos ferti- lizantes e defensivos, espera-se que o custo de pro- dução seja menor para esta safra e que a cultura consiga desenvolver seus frutos e ter o enchimento dos grãos em bom rendimento. Previsão de crescimento de 26,7% na produ- ção. Esse crescimento se deve ao aumento de 9,1% na área em produção e, principal- mente, à bienalidade positiva, aliada à entrada de cafezais mais novos, o que proporcionará uma pro- dutividade média de 43,6 sc/ha, 16,2% acima da colhida em 2023. Esse início de ciclo cou marcado por episó- dios importantes de altas temperaturas e períodos de estiagem que afetaram algumas lavouras, tra- zendo registro de alta incidência de bicho-minei- ro (Leucoptera co�eella), acentuando ainda mais os danos sobre a cultura e o seu potencial produti- vo na localidade. As perspectivas atuais são de incremento, tan- to na área em produção, oriundo da adição daque- las que estavam em formação e que agora produ- zirão nesse ciclo, quanto na produtividade média, essa ligado principalmente ao efeito da bienalida- de positiva prevista para esta temporada. Já para a área em formação, as estimativas apontam para drástica redução em comparação a 2023 por conta da erradicação de áreas velhas e pouco produtivas e também pelo planejamento mais otimista do produtor em manter áreas, mes- mo que menos produtivas, em um ciclo de biena- lidade positiva, na expectativa de obter resultados que ao menos lhes permitam algum retorno, para na bienalidade negativa adotar manejos mais drás- ticos. GOIÁS É AFETADO POR PRAGAS PRODUÇÃO ESTIMADA EM 255,7 MIL SACAS DE CAFÉ 20 P R O D U Ç Ã O Como será o amanhã? Estamos trabalhando nele agora. O futuro da agricultura é constantemente reescrito pela inovação. Cada descoberta pode ser um novo salto na produtividade de alimentos e uma esperança para nutrir as próximas gerações. O Grupo Santa Clara coloca a inovação a serviço da produtividade, contribuindo para um futuro sustentável para a agricultura mundial. santaclaragrupo.com.br Anuncio_Institucional_GRUPO_2023_21x28cm_Campo&Negocios.indd 1 01/03/24 12:14 O per�l produtivo das regiões cafeeiras em destaque pode ser in uenciado por uma série de características e peculiaridades que incluem, mas não se limitam a: Altitude: muitas regiões possuem altitu- des variadas, o que impacta diretamente nas ca- racterísticas do café. Altitudes mais elevadas, ge- ralmente acima de 800 metros, estão associadas a grãos de alta qualidade, com acidez mais pronun- ciada e sabores complexos. Clima: as condições climáticas, como tem- peratura e umidade, desempenham um papel cru- cial. Regiões com climas especí�cos podem favore- cer o cultivo de determinadas variedades de café e in uenciar as características de sabor. As altas tem- peraturas podem prejudicar o cafezal, caso o plantio não tenha irrigação. Solo: a composição do solo pode variar, afe- tando a nutrição das plantas de café. Solos ricos em minerais podem contribuir para per�s de sabores dis- tintos. Entretanto, atualmente o agricultor consegue realizar as correções e adubações necessárias para o plantio do café. Deve-se evitar solos com encharca- mento, que são um grande problema para a planta. Variedades de café: diferentes regiões podem ter predominância de variedades especí�cas de café, como arábica ou robusta, e até mesmo cultivares lo- cais adaptadas às condições especí�cas da região. O ideal é fazer um estudo da sua região, antes de de- �nir a variedade. PERFIL PRODUTIVO das principais regiões cafeeiras O perfil produtivo das principais regiões cafeeiras é influenciado por uma interseção complexa de fatores climáticos, geográficos e técnicos. As características únicas de cada região, como altitude, temperatura, solo e métodos agrícolas desempenham um papel crucial na determinação da qualidade e sabor do café produzido. 22 P R O D U Ç Ã O PERFIL PRODUTIVO das principais regiões cafeeiras Práticas agrícolas: métodos de cultivo, co- lheita e processamento do café podem variar. Al- guns agricultores preferem adotar métodos tra- dicionais, enquanto outros buscam inovações e técnicas modernas. Toda prática é válida, desde que seja economicamente viável e traga retorno. Topogra�a: a topogra�a do terreno, in- cluindo o relevo e a inclinação, podem in�uenciar o manejo agrícola, a exposição solar e a drenagem, afetando a qualidade do café. Normalmente, os ca- fezais tendem a �car em áreas um pouco mais de- clivosas quando se faz uma agricultura menor. En- tretanto, ultimamente grandes produtores estão escolhendo áreas com menor declividade para oti- mização e performance da operação. Sazonalidade: o ciclo de colheita e as esta- ções do ano podem in�uenciar a maturação dos frutos, afetando a qualidade do café. Entenda sua região, observe as plantas em volta e converse com seus vizinhos. Regime de chuva: estações de chuva bem de�nidas favorecem uma distribuição consistente de umidade, contribuindo para uma produção es- tável. Em contrapartida, regiões com secas pro- longadas ou chuvas excessivas enfrentam desa�os como estresse hídrico, exigindo adaptações nas práticas agrícolas e sistemas de irrigação, tradi- cionalmente via gotejamento ou pivô, para garan- tir a produtividade do café. “Terroir” do café Essas características, combinadas, criam o que é conhecido como “terroir” do café, como no vinho, que se refere à interação única entre o ambiente lo- cal e as práticas de cultivo. Cada região cafeeira tem seu próprio terroir, e isso pode se manifestar nos sabores, aromas e ca- racterísticas físicas distintas do café cultivado nes- sa região. Por exemplo, cafés cultivados em altitu- des mais elevadas podem apresentar uma acidez mais brilhante e complexidade de sabor, enquanto as condições climáticas podem in�uenciar o de- senvolvimento de notas especí�cas, como frutadas, �orais ou terrosas. O que muda? As diferenças nos métodos de cultivo e práti- cas agrícolas entre as diversas regiões cafeeiras são evidentes e resultam da interação complexa entre fatores geográ�cos, climáticos e culturais. Algu- mas distinções incluem: Espécies e variedades de café: cada região pode favorecer o cultivo de variedades especí�cas de café, adaptadas às suas condições únicas. Es- sas variedades contribuem para a diversidade de per�sde sabor. Sistemas de plantio (sistema agro�ores- tal, consorciado, sombreado ou pleno sol): a es- colha entre os cultivos pode ser estrategicamente utilizada em algumas regiões para in�uenciar as características climáticas e, consequentemen- te, o café produzido, ou simplesmente por uma otimização de espaço ou diversi�cação. E cada um desses métodos irá trazer uma qualidade e sabor diferenciados. Técnicas de colheita: métodos de colhei- ta, como colheita seletiva manual ou mecânica, são selecionados com base em considerações topo- grá�cas e na disponibilidade de mão de obra. Na mesma propriedade é comum ter os dois métodos, o que irá depender do objetivo do produtor quan- to àquela colheita. Nos cafeeiros jovens e algum talhão que tenha se destacado em qualidade, é co- mum utilizar a colheita manual, de forma a preser- var a árvore e a qualidade do fruto. Processamento do café: técnicas de proces- samento pós-colheita, como via seca, via úmida ou processos semi-lavados variam e desempenham um papel fundamental na de�nição do per�l sen- sorial do café. 23 P R O D U Ç Ã O 24 P R O D U Ç Ã O Tratos culturais: as práticas de manejo do solo são ajustadas de acordo com as característi- cas especí�cas do solo em cada região. Adubação, rotação de culturas e conservação do solo são as- pectos considerados pelos produtores. Já as práti- cas de aplicação de defensivos variam de acordo com o monitoramento das áreas ou do manejo do produtor de forma preventiva. Sustentabilidade: o compromisso com práticas agrícolas sustentáveis varia entre as re- giões, re�etindo-se em iniciativas como agro- �orestas, agricultura orgânica ou adesão a cer- ti�cações de comércio justo. E, na cafeicultura, é muito importante para as certi�cações existentes no mercado para valorização do produto. Essas nuances destacam a riqueza de aborda- gens adotadas pelos produtores, que moldam o ca- ráter distintivo dos cafés produzidos em diferen- tes regiões. Influência das condições climáticas As condições climáticas desempenham um pa- pel crucial na produção de café, com diferenças signi�cativas entre as regiões. Em altitudes mais elevadas, acima de 900 metros, o café geralmente amadurece mais lentamente, resultando em grãos mais densos e sabores mais complexos. Contu- do, temperaturas extremas podem comprometer a qualidade e reduzir a produção. A variabilidade no regime de chuvas também é crucial. Regiões com chuvas bem distribuídas podem experimentar até 25% mais colheitas, en- quanto aquelas sujeitas a secas prolongadas podem enfrentar perdas substanciais. Por isso, é importan- te ter outorga e uma irrigação efetiva em situações como essa. Além disso, eventos climáticos extremos, como tempestades, podem resultar em perdas imediatas de até 40%. A vulnerabilidade a geadas, especialmente em regiões propensas, pode reduzir drasticamente a produção em até 50%. Em resposta a esses de- sa�os, os produtores precisam adotar estratégias especí�cas, desde a escolha de variedades resisten- tes até práticas adaptativas, a �m de garantir a sustentabilidade e a qualidade consistentes na pro- dução de café. Tendência As variedades de café predominantes no Bra- sil são a arábica e a robusta, com distribuição ge- ográ�ca especí�ca. A arábica é cultivada em larga escala nas regiões centro-oeste, sudeste e sul, en- quanto a robusta tem destaque em áreas do sudes- te, nordeste e norte do país. Contudo, a escolha da variedade a ser cultivada é in�uenciada por diversos fatores, incluindo o sis- tema de produção e as condições ambientais. Entre as cultivares de arábica (Coffea Arabi- ca) mais comuns no Brasil, destacam-se o Mundo Novo e o Catuaí. Atualmente, existem aproxima- damente 140 cultivares registradas ou em proces- so de inscrição no Registro Nacional de Cultivares (RNC), cada uma apresentando características es- pecí�cas que variam de acordo com o ambiente e o sistema de produção. A espécie Coffea Canephora, englobando os grupos conilon e robusta, contribui com cerca de 25% da produção total de café no Brasil. No país, existem 30 cultivares registradas, a maioria delas clonais, desempenhando papel fundamental nas plantações e renovações das lavouras de conilon e robusta. A Embrapa, por sua vez, desenvolveu dez cul- tivares clonais híbridas de café, resultantes do cru- zamento entre conilon e robusta, especialmente adaptadas à região amazônica. Recomendações A drenagem do solo é um aspecto crucial na produção de café, especialmente em terrenos incli- nados. Sistemas de drenagem adequados são im- plementados para prevenir a acumulação de água, protegendo, assim, as raízes do café de possíveis da- nos. A altitude do terreno, que é determinada pela topogra�a, desempenha um papel signi�cativo na produção de café. Terrenos situados em altitu- des mais elevadas tendem a ter temperaturas mais amenas, o que favorece o cultivo de variedades de café de alta qualidade. A acessibilidade e o manejo em terrenos incli- nados são aspectos fundamentais, com os produto- res adaptando técnicas de colheita e irrigação para lidar com as características especí�cas do terreno. O zonamento do terreno é uma prática comum entre os produtores de café, que leva em conta as características únicas do solo e da topogra�a para alocar de maneira e�ciente variedades especí�cas de café. Além disso, sistemas de irrigação são estrategi- camente implementados em terrenos onde a dis- tribuição natural da água é irregular. Essas práticas de gestão adaptativas à topogra�a não só garantem a produtividade, mas também a sustentabilidade a longo prazo das plantações de café. Desafios da cafeicultura Os produtores de café enfrentam uma gama diversi�cada de desa�os relacionados a pragas, do- enças e outros problemas agrícolas que podem im- pactar signi�cativamente a produção. Produtores de café confrontam múltiplos desa- �os, desde doenças, como a ferrugem, e pragas, como 25 P R O D U Ç Ã O Características sensoriais dos cafés regionais Sul de Minas: frequentemente exibem notas sensoriais que variam de chocolate e caramelo a frutas maduras. Cerrado de Minas: corpo aveludado, acidez equilibrada e notas que variam de frutas a choco- late. Alta Mogiana: bastante frutado, com corpo cremoso e acidez média, com toques de carame- lo, chocolate e nozes. Sudoeste: corpo médio, acidez alta, adocicado, com notas �orais e cítricas. Montanhas: corpo aveludado, acidez alta, adocicado, com notas de caramelo, chocolate, amên- doa, cítricas e frutadas. Acre: cultivado com o robusta. Os cafeeiros são jovens, têm entre três e quatro anos, e recebem o emprego de tecnologias, como cultivo adensado e manejo de poda. Atlântico Baiano: localizado no sul da Bahia, esse polo, formado por 35 municípios, divide com outros dois (Cerrado e Planalto) a produção cafeeira do estado. Somente no Atlântico Baia- no é cultivado o café conilon, que encontra boa luminosidade e clima para a produção. Campo das Vertentes: em maio, essa região, que cultiva arábica e no ano passado produziu cerca de 750 mil sacas de café, foi reconhecida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) como mais uma área produtora de café em Minas Gerais. a broca, exigindo abordagens complexas de manejo, incluindo resistência genética e controle preciso. A ferrugem do café, uma doença fúngica co- mum, compromete a saúde das folhas e a qualida- de dos grãos, exigindo estratégias que incluem re- sistência genética e aplicação de fungicidas. A broca-do-café, um inseto prejudicial aos grãos, requer estratégias como colheita seletiva, uso de ini- migos naturais e aplicação criteriosa de inseticidas para controle e�caz. Além disso, nematoides, pequenos vermes pa- rasitas, representam uma ameaça às raízes do cafe- 26 P R O D U Ç Ã O Autoria: Daniela Andrade Engenheira agrônoma, mestra em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA), consultora e gestora em Planejamento e Controle de Produção eGestão de Dados daniela.andrade@eldoradoterra.com.br eiro, exigindo rotação de culturas e manejo do solo para minimizar os danos. As condições climáticas extremas, como secas e chuvas excessivas, destacam a necessidade de siste- mas e�cazes de irrigação e drenagem. Custos ele- vados, englobando insumos e mão de obra, junto com a dependência intensiva de mão de obra, im- pactam a viabilidade econômica. Além disso, a incerteza decorrente das mudan- ças climáticas exige ajustes nas práticas de mane- jo. Uma abordagem integrada, envolvendo práti- cas sustentáveis, inovações tecnológicas e pesquisa para variedades resistentes, é imperativa. Portanto, os produtores de café no Brasil en- frentam uma série de desa�os que exigem uma gestão cuidadosa e estratégias adaptativas para ga- rantir a produtividade e a sustentabilidade a longo prazo das plantações de café. 27 P R O D U Ç Ã O Nos últimos anos, os produtores de café en- frentaram grandes desa os por consequên- cia de eventos climáticos adversos que ocor- reram, principalmente na safra 2021/22. Durante o ano de 2023 as lavouras cafeeiras apresentaram uma expressiva recuperação produti- va, que re�etiu diretamente na safra 2023/24 e no incremento de produtividade. Mesmo sendo um ano de bienalidade negativa, as condições climáti- cas favoráveis permitiram uma recuperação produ- tiva expressiva, principalmente na região mineira. Os números expressivos nos resultados dessa safra são resultado da recuperação da produtivida- de das lavouras de café tipo arábica, que apresen- tou incremento na área em produção e na produ- tividade. Nesta safra, alguns estados se destacaram em ganhos de produtividade - Minas Gerais, São Pau- lo e Paraná, em relação ao volume total colhido na safra anterior. Porém, nem todas as regiões produtoras de café tiveram resultados tão expressivos em produ- tividade, principalmente aqueles estados produto- res de conilon. Isso é espelho das condições adver- sas que afetaram a cultura durante o seu ciclo de desenvolvimento, principalmente nos estados da Bahia e do Espírito Santo, principal produtor de café tipo conilon do país. Questão de qualidade Em geral, o clima apresentou um ciclo osci- lante, contudo, foi favorável à cultura. No início do ciclo registrou-se um cenário mais seco, entre os meses de maio e setembro de 2022, e em alguns momentos apresentou temperaturas médias acima 2023 RECUPERAÇÃO PRODUTIVA DAS LAVOURAS As plantas apresentaram melhores condições em relação à safra 2022, tendo em vista que naquele período a seca enfrentada pela cultura fez com que a planta utilizasse um maior percentual das suas reservas energéticas. 28 P R O D U Ç Ã O Autoria: Jaíne Cristina de Jesus Engenheira agrônoma - Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (monteCCer) jainecjesus.agro@gmail.com do normal, em especial antes do início do inverno. Entretanto, já no nal de setembro e início do mês de outubro, as chuvas retornaram com volu- me e frequência satisfatórios. Houve alguns mo- mentos adversos, como um veranico em outubro, mas logo as chuvas se restabeleceram de forma bem distribuída. Floração No que se refere ao desenvolvimento da cul- tura ao longo do ciclo, mesmo que no início o vo- lume de chuvas tenha sido levemente inferior ao período anterior, observou-se que a �orada e a ex- pansão dos frutos foi mais vigorosa, houve menor taxa de abortamento da �orada, maior pegamen- to dos chumbinhos e uma expansão de frutos me- lhor que a safra passada, ainda que sem irrigação. Pensando nas condições em que as lavouras atravessaram para a safra 2023, o engenheiro agrô- nomo e consultor especialista em cafeicultura no Cerrado Mineiro, Amarildo Queiroz Mundim, ex- plica que as plantas apresentaram melhores condi- ções em relação à safra 2022, tendo em vista que naquele período a seca enfrentada pela cultura fez com que a planta utilizasse um maior percentu- al das suas reservas energéticas, dessa forma, com- prometendo o cafeeiro em sua fase reprodutiva. Ainda segundo o consultor, mesmo com o au- mento das temperaturas em relação à média histó- rica em uma das lavouras em que presta consulto- ria, realizando o mesmo manejo da safra 2022 em que colheu cerca de 17 sacas por hectare em virtu- de da seca, na safra 2023 colheu mais de 96 sacas por hectare devido às condições climáticas ideais nos momentos essenciais para o desenvolvimen- to da lavoura. Reação do mercado Devido a essa importante recuperação na pro- dutividade do cafeeiro, o mercado também se com- portou de forma diferente e, de acordo com os pesquisadores do Cepea, como consequência do au- mento da oferta, o preço da saca caiu e operou na maior parte do ano de 2023 em queda. De acordo com a primeira estimativa para a sa- fra brasileira de café em 2024 divulgada no mês de janeiro/2024, as projeções são positivas e estima- -se que deverá se con rmar como ano de biena- lidade positiva. No entanto, a cafeicultura irá enfrentar desa os e incertezas devido às previsões incertas das condi- ções climáticas, principalmente em virtude do fe- nômeno El Niño, que segundo Amarildo Mundim, ainda traz muita dúvida em relação à de nição da produtividade para a próxima safra. Os cafeicultores devem car em alerta a cada fase do desenvolvimento, buscar um planejamento estra- tégico para adaptar-se às incertezas e garantir o cres- cimento sustentável para a cafeicultura brasileira. “A cafeicultura enfrentará desafios e incertezas devido às previsões incertas das condições climáticas, principalmente em virtude do fenômeno El Niño, que ainda traz muitos desafios em relação à definição da produtividade para a próxima safra”. 29 P R O D U Ç Ã O No passado, a produtividade média das la- vouras de café no Brasil se situava na fai- xa de 6,0 a 8,0 sacas bene�ciadas/ha. Até a década de 1960, o parque cafeeiro nacional tinha cerca de 4,0 milhões de hectares e as safras eram da ordem 25 a 30 milhões de sacas. Atualmente, o parque é de cerca de 2,2 milhões de hectares e as safras têm �cado na faixa de 50 a 60 milhões de sacas/ano. A área foi reduzida pela metade, enquanto a produção dobrou, tornando o Brasil o maior produtor do mundo, com 35% de todo o café produzido. A receita do sucesso O alcance de produtividades altas, além dos li- mites, nas lavouras de café, é possível, com uso con- junto das práticas, pois não adianta ter uma boa va- riedade, com potencial alto, se não há condições de expressar uma boa capacidade genética, seja com boa nutrição ou com a própria irrigação, quando o clima não ajudar. Os principais desa�os, na atualidade, para ob- ter safras de café com produtividades além dos ní- veis normais, têm sido o clima, que vem se mos- PRODUTIVIDADE além dos limites As lavouras cafeeiras atuais, tanto de cafés arábica quanto de robusta, vêm aumentando suas produtividades, com grandes avanços na genética das plantas e práticas de manejo. Conseguir boas produtividades exige cuidados especiais dos produtores, mas as tecnologias estão disponíveis a todas as regiões brasileiras. 30 P R O D U Ç Ã O Tabela 1. Efeito do espaçamento (número de plantas/área) sobre a produtividade dos cafeeiros em três ensaios, em distintas épocas. Locais Espaçamentos 4,0 x 4,0 m 4,0 x 0,5 m 5,0 x 2,0 m 3,5 x 2,5 m 2,0 x 0,5 m 3,8 x 2,0 m 3,5 x 1,7 m 1 ,0 x 0,5 m 3,8 x 1,0 m 1,5 x 1,0 m 1 – Ensaio Pindorama - SP (média de 21 safras/1938-1959) 3 - Ensaio Martins Soares (média de 11 safras/1996-2006) 2 – Ensaio Varginha (média de sete safras/1978-1985) Número de plantas ou covas/ha 625 5.000 1.000 1.142 10.000 1.315 1.680 20.000 2.630 6.666 Produtividade sc/ha 8,7 42,7 13,5 13,4 56,0 19,6 17,5 78,0 23,7 40,1 Para a melhoria da produtividade e das sa- fras, foram implementados avanços tecnológi- cos, principalmente em 10 setores, sendo: 1) Zoneamento agroclimático das áreas de cultivo; 2) Introdução de novos espaçamentos; 3) Novasvariedades; 4) Uso de técnicas de correção do solo e adubação; 5) Controle de pragas e doenças; 6) Aumento no uso de irrigação; 7) Maiores níveis de mecanização; 8) Podas para renovação e melhoria de pro- dutividade; 9) Clonagem de materiais genéticos supe- riores; 10) Cuidados na colheita e na pós-colheita. Como exemplos, três tecnologias básicas re�etem as melhorias tecnológicas implemen- tadas nas lavouras. A primeira foi quanto ao espaçamento, que evoluiu de 600 a 800 plantas por hectare para mais de 5.000 plantas. Esse estande tem sido muito importante para resultar em maiores produções. Antes se media a produção por planta, agora a métri- ca é por área. A segunda melhoria foi nas va- riedades, com uso de materiais genéticos com maiores capacidades produtivas. A terceira foi na correção do solo e na nutrição das plantas. Antes se contava com terras férteis para o café, hoje, boa parte da cafeicultura está im- plantada em solos naturalmente pobres, como os cerrados, ou desgastados por uso anterior. A Tabela 1 (pg 31), com dados de experi- mentos com espaçamentos, em períodos mais antigos e mais atuais, mostra a importância do espaçamento e do número de plantas por hec- tare na produtividade dos cafeeiros. Avanços tecnológicos 31 P R O D U Ç Ã O trando desfavorável. Outro fator é o aumento dos custos operacionais e, em algumas regiões, a di�- culdade na realização dos trabalhos, por falta de mão de obra. Produtividades e ganhos com irrigação A produtividade média da cafeicultura brasi- leira se situa na faixa de 28 a 30 sacas por hecta- re, sendo que a produtividade das lavouras de ro- busta, na média, são mais altas, na faixa de 45 a 50 sacas/ha. É possível e desejável aumentar mais essa pro- dutividade, sendo que um fator impeditivo tem sido as condições climáticas adversas, ora pelo efeito do frio intenso, por geadas (Figura 1) e chuvas de gra- nizo, ora por calor demasiado e, principalmente, por dé�cits hídricos (Figura 2). Deste modo, a irrigação é uma das práticas mais importantes no sentido de obter produtivi- dades superiores. No Brasil, 450 mil hectares, equivalentes a 21% da área plantada de café, são irrigados por diferen- tes sistemas de irrigação, como aspersão, pivô cen- tral, gotejamento, etc. Em Minas Gerais, onde a área plantada já supera um milhão de hectares, a Figura 1 – Efeito de geada no cafeeiro Figura 2 – Efeito de déficit hídrico no cafeeiro Marcelo Jordão Fabiano Odebrecht 32 P R O D U Ç Ã O Fotos: André Fernandes cada oito hectares, um é irrigado. A irrigação tem sido utilizada mesmo em regi- ões consideradas tradicionais para o cafeeiro, como o sul de Minas Gerais, Zona da Mata de Minas Gerais, Mogiana Paulista e Espírito Santo, com resultados excepcionais de produtividade. Em projetos bem estruturados, com uso das práticas adequadas, como irrigação, é viável e eco- nômico produzir na faixa de 60 a 70 sacas/ha, na média bienal, para lavouras de arábica e de 80 a 100 sacas/ha para o robusta. Tem sido possível, em áreas com estresse hí- 33 P R O D U Ç Ã O drico, na faixa de 100 a 200 mm anuais, obter ga- nhos de mais de 40% na produtividade por irriga- ção. Nas áreas normais, como no Sul de Minas, na média de seis safras, incluindo anos bons e maus de chuva, tem-se obtido ganhos de 30%. Na Mogiana, nesses últimos quatro anos, a ir- rigação aumentou mais de 60% a produtividade, e no Triângulo Mineiro existem ganhos de produti- vidade de mais de 100%. Opções Existem diferentes sistemas de irrigação capa- zes de irrigar o cafezal, e a escolha de um ou outro depende do tipo de solo, da topogra�a, do tama- nho da área, dos fatores climáticos, dos fatores re- lacionados ao manejo da cultura, do dé�cit hídrico, do custo do sistema de irrigação e da capacidade de investimento do produtor. Entre os sistemas utilizados para irrigação, destacam-se o pivô central, a aspersão e o goteja- mento. O pivô central aproveita cerca de 80% da área, já que o círculo irrigado não preenche totalmente se o plantio for feito em uma área quadrada. Con- vém salientar que o investimento em pivô central será muito alto se a área irrigada for menor que 30 hectares; porém, em áreas maiores, seu custo de implantação e manutenção são inferiores ao siste- ma de gotejamento. Os primeiros pivôs centrais utilizados para café foram adaptados de outras lavouras, com ir- rigação em área total, ou seja, tanto nas linhas de café quanto nas entrelinhas. Apesar de viabilizar a cafeicultura empresarial nas regiões de cerrado, o sistema pivô central “convencional” ainda apre- sentava o inconveniente da aplicação de grandes volumes de água e com irrigação das entrelinhas do café, exigindo controle mais intensivo das plan- tas invasoras. A partir dessas di�culdades, surgiu uma inova- ção, adaptada da irrigação de pomares de citros nos Estados Unidos, com emissores capazes de irrigar somente a faixa de absorção radicular das plantas. A partir desta tecnologia, pesquisadores e con- sultores brasileiros desenvolveram uma técnica ex- tremamente interessante para a irrigação do cafe- eiro com o pivô central, com plantio realizado em círculo, com emissores localizados sobre as linhas de café, denominados LEPA, sigla que representa, em inglês, Low Energy Precision Aplication, ou seja: aplicação precisa de água com baixo consumo de energia, já que a pressão requerida é menor (Fi- guras 3a e 3b). Figura 3. Irrigação via pivô central com plantio em círculo irrigado com emissor LEPA: a) Detalhes do equipamento; b) Vista aérea de vários equipamentos; c) Robusta irrigado por pivô central em plantio convencional adensado; d) Florada do robusta no pivô; e) Colheita de robusta irrigado por pivô central A B C D E “Em projetos bem estruturados, com uso das práticas adequadas, como irrigação, é viável e econômico produzir na faixa de 60 a 70 sacas/ha, na média bienal, para lavouras de arábica e de 80 a 100 sacas/ha para o robusta” 34 P R O D U Ç Ã O Figura 4. Irrigação por gotejamento superficialPara plantios mais adensados, como os de café robusta, a irrigação tem sido feita com pivôs con- vencionais, com emissores mais modernos, de alta e�ciência de aplicação, que têm permitido a obten- ção de altas produtividades (Figuras 3c, 3d e 3e). Particularidades O sistema de irrigação por gotejamento (Fi- gura 4) se desenvolveu em função da escassez de água. Este sistema aplica água em apenas parte da área, reduzindo assim a superfície do solo que �ca molhada, exposta às perdas por evaporação. Com isso, a e�ciência de aplicação é bem maior e o consumo de água menor. O gotejamento envol- ve vários componentes: Emissores (gotejadores ou microsprayers); Laterais (tubos de polietileno que suportam os emissores); Ramais (tubulação em geral de PVC 35, 50, 75 ou 100 mm); Filtragem (filtros separadores, tela, disco ou areia); Automação (controladores, solenoides e válvu- las); Válvulas de segurança (controladora de bomba, ventosa, antivácuo); Fertirrigação (reservatórios, injetores, agitado- res); Bombeamento (motor, bomba, transformador, etc.). Os gotejadores podem ser do tipo “on line”, que compreendem aqueles acoplados à tubulação de po- lietileno após perfurar a mangueira. São utilizados apenas em áreas muito pequenas. Os gotejadores “in line” são emissores que já vêm inseridos na tubulação de polietileno. Qual- quer que seja o tipo, eles podem ser normais ou au- tocompensáveis (gotejadores cuja vazão varia mui- to pouco se a pressão variar). O mercado já oferece também gotejadores an- ti-drenantes, que irrigam somente quando a pres- são da água estiver acima de um determinado valor mínimo, por exemplo, 8,0 mca (metros de colu- na de água). Esta característica é muito interessante, pois ao ligar o sistema, as pressões se equilibram rapida- mente, o que contribui muito para a uniformidade de aplicação da água. 35 P R O D U Ç Ã O Alternativas Outro tipo de irrigaçãoé o gotejamento sub- super cial (Figura 5), com linhas de emissores en- terradas em uma profundidade superior a 10 cm. Também existe um caso especí co do gotejamen- to enterrado, designado como gotejamento enco- berto, em que o tubogotejador é instalado a uma profundidade inferior a 10 cm. Para preservar o funcionamento do gotejador, é preciso considerar a injeção de algum herbicida para controlar a intrusão radicular. O herbicida Figura 5. Efeitos no enraizamento na irrigação por gotejamento Figura 6. Irrigação por aspersão convencional mais comum é a Tri�uralina (TFN), com mobili- dade muito reduzida em função de sua alta adsor- ção às partículas de argila ou à matéria orgânica. O sistema de gotejamento efetua a irrigação sobre o solo, na área de maior absorção das raízes do cafeeiro, com gotejadores de pequena vazão (1,0 a 10 litros/hora); porém, capazes de irrigar com alta frequência (até mesmo várias vezes ao dia), man- tendo-se a umidade do solo na zona radicular pró- xima à capacidade de campo, condição que facilita a absorção de água pelo cafeeiro. Método convencional A aspersão convencional (Figura 6) também é bastante empregada em áreas menores, embo- ra seja bastante afetada pela ocorrência de ventos de mais de 10 km/h, já que para lançar água em maiores distâncias, o jato de água alcança alturas em que a deriva (arraste da água pelo vento) é mui- to comum. Porém, por ser um sistema que aplica água em área total e de fácil operação e manutenção, tem sido muito utilizado para áreas de café robusta, no Espírito Santo, com excelentes produtividades. Sistema de tripa Outro sistema empregado principalmente no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba é o tubo per- furado a laser, muito conhecido como tripa. Trata- -se de um tubo de polietileno de cerca de 40 mm de diâmetro que possui pequenos orifícios (0,1 mm) que esguicham a água, porém, de forma me- nos e ciente e uniforme, se comparada ao goteja- mento. Na Figura 7, podemos visualizar as áreas irri- gadas dos principais estados brasileiros, com desta- que para Espírito Santo (robusta e arábica) e Mi- nas Gerais (arábica). Figura 7. Irrigação por gotejamento no café, em hectares Fonte: Atlas de Irrigação - ANA (2021) SP RO RJ PR MT MG GO ES DF BA 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 45.754 293 7.860 1.025 143 263 8.782 43.238 134.183 207.742 36 P R O D U Ç Ã O Rentabilidade em lavouras mais produtivas e seus desafios Produzir bem nas lavouras de café traz ga- nhos bem signi�cativos. Os aumentos de produ- tividade diluem os custos �xos, que são necessários para custear a lavoura. Os gastos, embora um pouco maiores nessas lavouras bem produtivas, podem ser divididos por um maior número de sacas produzidas e, assim, o custo por saca �ca menor. Existem muitos exemplos de sucesso de pro- dutores que vêm produzindo bem em suas lavouras de café, em todas as regiões do País, seja na cafei- cultura de montanha (Figura 8), onde os plan- tios são mais adensados, seja em áreas mecanizá- veis (Figura 9). Tratos culturais Tanto no arábica quanto no café robusta, as podas têm sido utilizadas como excelente prática de manejo para garantia de elevadas produtivida- des, pois permitem a renovação da lavoura e a oti- mização dos custos de produção. Na Figura 10 (a e b) estão exemplos de poda para o café arábica. Questões ambientais nas lavouras de café Não tem havido, no geral, problemas graves de meio ambiente nas propriedades cafeeiras, pois a cultura, sendo perene, cobre e protege o solo e o ambiente de forma semelhante a uma �oresta. Não são realizadas intervenções no solo, como aração. O uso de defensivos e de adubos é feito de forma racional. Trabalhos realizados para avaliar a pegada de carbono em lavouras de café têm mostrado que este apresenta balanço positivo. Um estudo encomendado ao Instituto de Ma- nejo e Certi�cação Florestal e Agrícola (Ima�o- ra) calculou quanto as plantações de café emitem de gases e analisou os manejos que mais seques- tram gás carbônico (CO2), seja pelas plantas ou pelo solo. O resultado indicou que as 34 propriedades brasileiras que participaram do inventário têm uma emissão de 4,02 toneladas de CO2 equivalen- te (tCO2e) por hectare ao ano – muito menor que a média global de emissão de fazendas cafeeiras, que é de 28 tCO2e/ha/ano. Os estudos indicaram que o balanço de emis- sões desse grupo de cafeicultores foi negativo: -5,66 tCO2e/ha/ano. Figura 10. Poda por decote e esqueletamento (safra zero), viabilizando altas produtividades a custos mais baixos Fotos: José Braz Matiello Figura 8. Lavoura racional e produtiva mesmo em área de montanha, pelo adensamento do plantio Figura 9. Exemplo de cafezal racional, produtivo, em região mecanizada, com plantio em renque e mais de 5.000 plantas/ha 38 P R O D U Ç Ã O Cafeicultura moderna Outras tecnologias que têm aumentado con- sideravelmente na cafeicultura moderna são as re- lacionadas ao uso de bioinsumos, como bioferti- lizantes e biodefensivos. A intensi�cação do uso destes produtos naturais tem permitido a melhoria da vida no solo, comprovado por meio de análi- ses biológicas do per�l (carbono da biomassa mi- crobiana; respiração basal do solo ou respiração microbiana; processos enzimáticos do solo, den- tre outros), que mostram que dentro das lavouras de café a população de microrganismos é superior ao próprio ambiente natural, por exemplo, de um bioma cerrado. É importante salientar que o uso de bioinsu- mos não se limita à cafeicultura orgânica, sendo também indicado para a cafeicultura tradicional. No geral, quando se pratica a cafeicultura or- gânica, tem-se menores produtividades, pelas di�- culdades de suprir e corrigir problemas de nutrição e de pragas e doenças em tempo hábil. Um fator que pode ser prejudicial a uma pro- dução sustentável de café é a proibição de produ- tos essenciais aos tratos, como alguns herbicidas, inseticidas e fungicidas mais e�cientes, bem como o uso inadequado de sistemas de irrigação e a au- sência do manejo da água e da energia. Práticas regenerativas Nos últimos anos, tem-se falado bastante da cafeicultura regenerativa, que pode ser entendida como um conjunto de práticas de restauração de áreas produtivas que levam à saúde do ambiente como um todo, estabelecendo o tripé da sustenta- bilidade: social, econômica e ambiental. O princípio básico é, portanto, a proteção, e não “O uso de bioinsumos não se limita à cafeicultura orgânica, sendo também indicado para a cafeicultura tradicional”. 39 P R O D U Ç Ã O o esgotamento de recursos naturais (solo e água), criando um ambiente sustentável para o cultivo de café. O objetivo é produzir enquanto se recupera a solo e preserva o meio ambiente. Na verdade, pelo fato de o café se tratar de cul- tura perene, praticamente sem revolvimento de solo ao longo do ciclo e com as novas tecnologias de cultivo de plantas nas entrelinhas (Figura 11), promovendo o equilíbrio das propriedades quími- cas, físicas e biológicas do solo, pode-se dizer que há muitos anos naturalmente a cafeicultura é rege- nerativa no Brasil. Isso pode trazer aos cafeicultores brasileiros benefícios estratégicos para o mercado nacional e internacional. Autoria: André Luís Teixeira Fernandes Pró-reitor da Uniube e sócio proprietário - C3 Consultoria e Pesquisa andre.fernandes@uniube.br José Braz Matiello Engenheiro agrônomo - Fundação Procafé jb.matiello@gmail.com Expectativas O futuro da cafeicultura, praticada para altas produtividades, se mostra promissor. Com o pas- sar dos anos, novas soluções tecnológicas vão sur- gir, como a clonagem, em maior escala, métodos de controle de irrigação com uso mais racional da água e energia, insumos mais adequados, plantas transgênicas, etc. A consolidação desses ganhos produtivos, no en- tanto, vai depender das condições de mercado do café. Na condição atual, com tendência de estabilida- de de preços, no patamaragora vigente, são previstas di�culdades para maiores lucratividades, especial- mente para café arábica, pois o custo de produção, onerado pelo uso de insumos, combustível e despe- sas com mão de obra, vem aumentando e, pode, se não houver mudanças no mercado, desestimular a adoção de novas tecnologias. Figura 11. Cultivo de espécies na entrelinha do cafeeiro 40 P R O D U Ç Ã O MERCADO ESPECIAIS PRODUÇÃO CUSTOS A rentabilidade da lavoura cafeeira é mui- to importante, pois dela depende a per- manência dos cafeicultores na atividade da produção, que constitui a base da cadeia do se- tor cafeeiro, responsável pelas safras, de modo su- �ciente, para favorecer, em seguida, os demais se- tores - do comércio, indústria e do consumo do café. Mas, debater sobre a rentabilidade da cultura de café no Brasil exige conhecimento das condi- ções de cultivo, em variadas regiões, cada qual com suas características. Mesmo dentro de uma deter- minada região, e também dentro de uma mesma propriedade, vão existir diferentes sistemas de ex- ploração e tipos de lavouras. A rentabilidade das lavouras de café está rela- cionada, de um lado, aos custos de produção, obti- dos em cada situação e, do outro, à evolução dos preços do grão. Deste balanço entre custos e recei- tas surge a rentabilidade do produtor. RENTABILIDADE DA CULTURA CAFEEIRA NO BRASIL SAFRA 2023/24 Os custos de produção do café são influenciados por diversos fatores, como a região produtora, sistema de cultivo, a produtividade alcançada e maior ou menor uso de tecnologias. 42 C U ST O S Figura 1. Despesas por hectare e custos de produção por saca em lavouras de café com cinco níveis de produtividade, no estado de Minas Gerais. Fonte: Sebrae Minas/Educampo, Amostra: 262 fazendas, em diferentes regiões do estado MG. Período: Biênio 22/23 Custo total médio por faixa de produtividade CT/saca (R$/sc) Menor que 25 (96 fazendas) Entre 25 a 30 (125 fazendas) Entre 35 a 45 (76 fazendas) Faixas de produtividade Maior que 45 (33 fazendas) R$ /s ac a R$ /h ec ta re CT/área em produção (R$/ha) 0 0 200 5.000 400 10.000 600 15.000 800 20.000 1.000 25.000 1.200 30.000 957,66 20.023,37 20.023,37 27.409,53 18.812,40 655,57 579,99 544,81 Custos de produção Os custos de produção do café são in�uenciados por diversos fatores, como a região produtora, cada qual com seu sistema de cultivo, manual ou mecani- zado, com a produtividade alcançada nas lavouras e com o uso racional das práticas de manejo dos cafe- zais, com maior ou menor uso de tecnologias. In�ui, também, o aspecto gerencial da proprie- dade cafeeira, com a boa administração dos recur- sos, materiais e �nanceiros, favorecendo menores custos de produção do café. Quanto aos sistemas de manejo, as áreas onde se utiliza maiores níveis de mecanização tendem a gerar menores custos de produção do café, em rela- ção aos sistemas manuais, estes mais onerados pelo menor rendimento do trabalho e pelo elevado cus- to da mão de obra. Sobre o uso de técnicas racionais de cultivo e o modo de gerenciamento das propriedades, é im- portante que o produtor utilize os serviços de as- sistência técnica especializados das Instituições o�ciais de AT, dos técnicos de Cooperativas ou de consultorias especializadas. Fonte: Sebrae Minas/Educampo, Amostra: 280 propriedades. Dados biênio 2021/2023 Figura 2 - Custo de produção por hectare em lavouras manuais e mecanizadas por estrato de produtividade O custo de produção varia conforme o estrato produtivo. Para maximizar os ganhos com a atividade cafeeira, é importante o cafeicultor realizar uma boa previsão de safra, para ajustar os custos em relação à produtividade prevista. <20 20 a 30 30 a 40 >40 25.000,00 20.000,00 18.306,30 18.715,11 19.273,97 23.501,75 14.830,77 17.360,60 19.853,79 21.577,43 15.000,00 10.000,00 5.000,00 Produtividade (sc/ha) COT fazendas mecanizadas (R$/ha) COT fazendas manuais (R$/ha) 43 C U ST O S Tabela 1. Custos de produção de café (COE, COT e CT), em 2023, em diferentes regiões, conforme levantamento do projeto Campo Futuro da CNA Estados MG ES RO SP Guaxupé - 28 sc/ha Brejetuba – 35 sc/ha Manhumirim – 27,5 sc/ha Jaguaré - 65 sc/ha conilon S. Miguel Guaporé – conilon - 45 sc/ha Franca - 25 sc/ha Monte Carmelo – 31,5 sc/ha Localidades e nível de produtividade da lavoura Custos de produção, R$ por saca, dados aproximados Operacional (COE) 705,57 549,82 802,98 421,11 613,93 607,84 766,57 COT 937,85 686,44 966,43 506,52 775,03 821,58 945,04 CT 1.242,27 767,41 1.319,00 630,16 895,11 1.095,30 1.174,80 44 C U ST O S No dia a dia devem ser acompanhados os tra- balhos, visando melhores rendimentos operacionais e o uso, de forma mais econômica, de insumos nas lavouras. O produtor também precisa �car atento aos processos de compra dos materiais necessários para suas lavouras, para obter preços mais favorá- veis e, ao �nal, procurar vender melhor os seus ca- fés produzidos. Produtividade Quanto ao efeito da produtividade no custo de produção, é bem marcante. Lavouras mais produti- vas apresentam custos menores por saca produzida, pois, no processo de produção, muitas despesas são �xas e, no conjunto com os custos variáveis, serão amortizadas pelo maior número de sacas. O exemplo da �gura 1 (pg 43) mostra bem isso. Pode-se ver, com base no levantamento feito pelo Sebrae-Educampo, em 262 propriedades situadas no estado de Minas Gerais, que, apesar das des- pesas totais por hectare se elevarem com o mane- jo das lavouras mais produtivas, o custo de produ- ção por saca vai decrescendo conforme o aumento da produtividade. Regiões representativas da cafeicultura Os custos de produção de café são levantados em diferentes níveis e em diversas regiões produto- ras mais representativas. Esses diferenciais podem ser observados com exemplos de custos, levantados pelo Projeto Campo Futuro da CNA, na tabela 1. Veri�ca-se que os valores variam de região para região, pois além de condições ambientais variadas, os padrões adotados, quanto ao sistema de cultivo e à produtividade representativa, em cada região, são diferenciados. 45 C U ST O S Pode-se observar, ainda, que os custos são esti- mados em três níveis. O custo operacional, ou COE, abrange as despesas diretas de produção, com mão de obra, operação de maquinário e insumos. Num segundo nível, para obtenção do custo to- tal (COT), são adicionadas as despesas de pro-labo- re para o produtor, mais as amortizações ou depre- ciações das instalações e do cafezal. Num terceiro nível são adicionados os custos de oportunidade. Análise econômica Numa análise econômica real, deve-se conside- rar o custo total, pois o produtor precisa ser remu- nerado e as instalações e o cafezal necessitam de amortização, pois necessitam, periodicamente, de renovação das lavouras e de manutenção ou aqui- sição de maquinários e benfeitorias. No entanto, em épocas de crises ou períodos de preços baixos do café, o produtor, especialmente aquele de pequenas propriedades, leva em con- ta apenas os seus desembolsos, ou seja, apenas o COE. No aspecto de custo nas diferentes localida- des ou sistema de cultivo, veri�ca-se que, nas con- dições de maior produtividade, como em Brejetu- ba (ES), o custo foi menor. Ainda, em São Miguel do Guaporé (RO) e em Jaguaré, no norte do Es- pírito Santo, com cafeeiros robusta/conillon, tam- bém com maiores produtividades, os custos se mos- tram menores em relação aos demais, levantados para cafeeiros arábica. Despesas adicionais Uma análise da participação dos diferentes itens de despesas no custo operacional de produção de café pode ser feita com base nos custos dos dois tipos de café, arábica e robusta, conforme �gu- ra 3, A e B. Figura 3 A e B. Participação percentual dos itens de despesas no custo operacional efetivo (COE) de produção em dois tipos de café, arábica e robusta/conilon, em 2023 Composição dos custos decafé arábica Mão de obra 33% Fertilizantes 25% Gastos gerais 20% Produtos fitossanitários 9% Mecanização 8% Juros de custeio 3% Corretivos 2% Irrigação 0% Composição dos custos de café conilon Mão de obra 41% Fertilizantes 20% Gastos gerais 19% Produtos fitossanitários 9% Juros de custeio 4% Mecanização 3% Corretivos 2% Irrigação 2% 46 C U ST O S Figura 4. Comparativo dos custos operacionais de produção (COE) nos anos de 2022 e 2023. Comparação COE 2022 x 2023 1.700,00 1.200,00 700,00 200,00 -300,00 -800,00 -1.300,00 -24% -11% 33% -20% -27% 1% -5%-5% -14% -20% -7% -5% -16% -20% 40 % 30 % 20 % 10 % 0% Va ria çã o ( % ) -10 % -2 0% -3 0% BJT GXP PÇF CPL FRN CIT JGRCCO NNR SRS LND NTC ITB RBN 2022 2023 Variação (%) 47 C U ST O S 48 C U ST O S Tabela 2. Preços do café, padrão bebida dura para melhor, verificados na Cooxupé, no decorrer dos anos 2022 a 2023 - Preços correntes em R$/sc Anos Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média 2022 1.480 1.488 1.258 1.253 1.259 1.256 1.119 1.075 1.098 1.033 915 994 1.190 2023 1.030 1.130 1.103 1.115 1.030 928 878 868 802 801 845 925 954 Veri�ca-se que no robusta/conilon, os itens que pesam mais no custo são a mão de obra e os ferti- lizantes. No entanto, observa-se que no cultivo do conilon o primeiro item é mais signi�cativo, repre- sentando cerca de 41% do total. 2022 x 2023 Outra análise importante é a comparação dos custos de produção da safra de 2022 com a de 2023. Na �gura 3 pode-se observar os custos operacionais efetivos (COE), que caíram ligeiramente em 2023, em função da queda dos preços dos fertilizantes. No entanto, no período de colheita do café houve di�culdade de mão de obra, o que onerou os trabalhos de colheita. Por outro lado, os preços do café caíram mais do que o custo de produção, afe- tando a rentabilidade. Preços do café Os preços de café vigentes nos meses de 2023 e sua média, tomando por base aqueles observados na Cooxupé, estão incluídos na tabela 2, e foram comparados com o ano de 2022. Veri�ca-se que, no início de 2022, os preços da saca estavam na fai- xa de R$ 1.400,00, caindo para R$ 1.100,00 em ju- lho e para R$ 990,00 em dezembro. Na média de 2022, o preço se situou em R$ 1.190,00. No ano de 2023, nos mesmos meses, os pre- ços foram de R$ 1.030,00, R$ 878,00 e R$ 935,00, com média, no ano, de R$ 954,00, ou seja, uma re- dução de cerca de 20% de 2022 para 2023. No entanto, se analisada a evolução desde janei- ro de 2022 até dezembro de 2023, em um período de dois anos, a variação com queda maior foi de 37,5%. No caso dos cafés robusta/conilon, baseado na praça de Vitória (ES) (preços do CCC-V), obser- va-se que, no início de 2022 os preços desse tipo de café se situavam na faixa de R$ 800,00/sc, caindo para a faixa de R$ 750,00 em julho de 2022, e mais ainda em janeiro de 2023, para R$ 560,00, daí se estabilizando em R$ 760,00/sc. O projeto Campo Futuro, da CNA, também tem um estudo comparativo dos preços de café. Estes pre- ços se referem a cotações em diferentes localidades do interior das zonas cafeeiras. Em resumo, pode-se veri�car que houve que- da signi�cativa dos preços do café, no ano de 2023, nos diferentes tipos do grão e nas variadas regiões. 49 C U ST O S Autoria: José Braz Matiello Engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Procafé jb.matiello@gmail.com Luiz Gonzaga de Castro Junior Doutor e professor – Universidade Federal de Lavras (UFLA) lgcastro@ufla.br Rentabilidade A margem de renda do cafeicultor brasileiro, na comparação entre os custos de produção levanta- dos no ano de 2023 (tabela 1) e os preços vigentes na maior parte do ano, cujos valores estão na tabe- la 2 e �gura 3, mostrou-se quase sempre negati- va, quando se considera o custo total de produção. Apenas para o café robusta, nas condições de alta produtividade, houve rentabilidade positiva. Quando se compara com o custo operacional (COE), que considera apenas os desembolsos efe- tivos, a rentabilidade foi positiva. Talvez por isso os produtores de café continuam o processo de ex- pansão de lavouras, em parte para substituição de lavouras mais velhas e menos produtivas. Adicionalmente, nas condições de cafeicultu- ra a pleno sol, como no Brasil, após uma safra que não foi tão alta em 2023, existe uma expectativa de aumento em 2024, o que pode gerar um valor bru- to de receita maior. Deve-se ressaltar que as despesas com insu- mos, sendo as principais com aquisição de fertili- zantes que estiveram em baixa em 2023, mais de- fensivos e óleo diesel, têm tendência de retomada da trajetória de aumento. Indicadores de lucro A rentabilidade do produtor de café, conforme análise anterior, depende do balanço entre o custo de produção e os preços recebidos pelo café. Como os preços são de�nidos pelas regras de mercado, ao pro- dutor resta trabalhar para obter menores custos na sua produção. Para alcançar tal objetivo por saca produzida, in- dica-se adotar práticas racionais de manejo, visando economias, sem afetar a produtividade. Dentre estas práticas de melhoria de produtividade e redução de despesas, indica-se o uso de fertilização, com níveis adequados, de forma equilibrada, o uso de podas no sistema safra zero e, quando possível, a irrigação. Os produtores devem, a cada ano, planejar a re- cuperação e/ou a renovação de lavouras pouco pro- dutivas. Também devem adotar melhorias na ad- ministração e controle dos materiais, maquinários e mão de obra, pois o rendimento operacional do trabalho é um dos itens que mais in�ui nos custos da produção. “Nas condições de cafeicultura a pleno sol, como no Brasil, após uma safra que não foi tão alta em 2023, existe uma expectativa de aumento em 2024, o que pode gerar um valor bruto de receita maior”. 50 C U ST O S Quando falamos no café, é importante lem- brar que se trata de uma mercadoria pro- duzida em grande escala e por diferentes produtores. Forma-se uma cadeia de fornecedores nacionais e internacionais, envolvendo uma dinâ- mica complexa. O custo do café é in�uenciado por um con- junto de fatores. A seguir, destacamos quais são os principais. Oferta e demanda: a lei da oferta e demanda global está relacionada ao balanço entre o preço de bens e serviços ofertados e a procura por eles. De forma geral, quanto maior for a procura pelo café, maior será o preço cobrado por ele. Por outro lado, quanto menor for a procura, menor será o seu pre- ço. Busca-se um equilíbrio entre eles para estabili- zar o valor do café. Bolsas internacionais: as bolsas internacio- nais são referência para a preci�cação do café. Para a cotação do arábica, a Bolsa de Nova York é a princi- pal fonte de preço. Já no caso do robusta, a referên- cia é a Bolsa de Londres. Custos de produção: os produtores precisam gastar com adubação, manejo, uso de tecnologia e insumos para produzir o café. Todas essas despesas afetam o cálculo do preço da commodity. Características do café: as características do café negociado também afetam diretamente a de- terminação dos preços. Atributos como origem, tamanho do grão, arábica ou robusta, certi�cações recebidas e rastreabilidade contribuem para a de- �nição do valor. Estoques no mercado interno e externo: os níveis de estoque de café acarretam alterações na es- tabilidade dos preços. Estoques baixos podem tor- nar o mercado mais sensível a eventos imprevistos que afetam a oferta, tanto local como mundialmen- te. Se os estoques (nacionais e internacionais) apre- sentarem elevação e demanda em queda, os preços tendem a baixar em relação à média histórica. Po- rém, se os estoques estiverem baixos e a demanda aumentar, os preços crescem. Condições climáticas: as condições climáti- cas, como secas ou chuvas excessivas, repercutem Entenda como o preço do café é formado O preço do café envolve a interação de fatores complexos, como os diferenciais de qualidade do tipo de café, que não é engessadoe está sujeito a alterações. 52 C U ST O S Autoria: hEDGEpoint Global Markets na produção de café em regiões produtoras impor- tantes. As consequências desses fenômenos modi- �cam a oferta, contribuindo para gerar a volatili- dade dos preços. Cotação do dólar: como mencionamos, o café sofre interferência de bolsas internacionais. Por isso, está sujeito à cotação do dólar. Se o dólar estiver alto, os exportadores de café são estimulados a ven- der mais. O aumento da oferta tende a forçar a que- da dos preços, caso a demanda não cresça no mes- mo ritmo de produção. Política e economia a nível local e mundial: decisões políticas e econômicas, como tarifas de importação, subsídios agrícolas e regulamenta- ções comerciais, podem in�uenciar os preços do café. Con�itos geopolíticos nos países produtores de café também apresentam chance de interrom- per o abastecimento e afetar os preços. Preferências do consumidor: mudanças nas preferências dos consumidores por tipos especí�- cos de café, como orgânicos, contribuem para al- terar os preços dessas variedades. A migração do consumo de café arábica para o robusta também ajuda a explicar o aumento na produção desta va- riedade. Con�ra na imagem abaixo a explicação deta- lhada da relação entre os principais fatores envol- vidos no cálculo do valor do café. 53 C U ST O S Preço sempre é informação sobre o mercado, tanto em termos do que realmente acontece quanto em relação às expectativas que po- derão vir a acontecer. Dessa forma, é preciso entender os preços de 2023/24 como resultado da relação passada entre a oferta e a demanda. Do lado da oferta, o efeito da supersafra 2020/21 ainda se faz visível, apesar dos efeitos da geada de 2021/22 e da seca em 2022/23, dado que os esto- ques aumentaram substancialmente naquele perí- odo. Em 2020/21, a produção mundial alcançou 102 milhões de sacas no café arábica, o que repre- sentou incremento de pouco mais de 7,0 milhões de sacas, em relação à safra 2019/20 (94,9 milhões de sacas). Dado que o consumo é praticamente com in- cremento marginal mínimo, o efeito foi a recom- posição nos estoques. O Brasil dobrou o seu esto- que, enquanto a Europa (maior importador mundial) acrescentou mais de 1 milhão de sacas de 60 kg. Até mesmo a China, que tem ampliado os vo- lumes importados gradativamente, multiplicou os seus estoquem por 2,4, saindo de 298 mil sacas (2019/20) para 717 mil sacas (2020/21). O resultado visível foi que, apesar dos efeitos da geada de 2021/22 e da seca em 2022/23, esses estoques estiveram em risco apenas em 2022. Tan- to que 2022 foi um ano excelente em termos de preço, com a saca alcançando valor médio de R$ 1.500,00 em janeiro de 2022, na região sul de Mi- nas Gerais. No entanto, a produção na safra 2022/23 no- vamente se mostrou boa, e apesar de ser menor do que a supersafra de 2020/21, foi capaz de segurar os preços em 2023/24, com os estoques dos gran- des compradores em alta. QUAL O MELHOR MOMENTO DE VENDER O CAFÉ? Assim como qualquer atividade econômica, o resultado sempre é dado pelo apetite do investimento em face ao risco. No café, não é diferente. 54 C U ST O S Flutuação dos preços Preço tem relação direta com a oferta e deman- da. Analisando separadamente esses dois pilares, oferta sempre será a produção do ano safra acresci- da do estoque de passagem disponível. Separando mais uma vez, a produção do ano é consequência direta da área plantada e do in- vestimento/hectare em tecnologia, que se traduzi- rá em produtividade. Sob essa perspectiva, o cus- to do crédito (taxa de juros) que o produtor acessa e faz uso para dispor dessas tecnologias exercerá um efeito tão intenso quanto o próprio clima, sa- bendo que a natureza tem capacidade de limitar ou expandir os benefícios disponíveis na tecnolo- gia utilizada. Por sua vez, a demanda é a parte relativamen- te mais simples, dado que o mercado de café tem se mantido quase que constante, com mínimo in- cremento marginal entre anos. Aqui, a variável que certamente poderia alterar expressivamente o pre- ço seria o aumento no consumo em países espe- cí�cos. Nesse caso, analiso isoladamente os mercados compradores maduros, como a Europa, em que a expansão poderia acontecer com o uso do café na formulação de outros produtos e de mercados em desenvolvimento, como China, em que a expansão poderia vir como consequência de renda ou desco- berta do café como bebida na dieta diária. O momento atual No Brasil, é comum a dedicação de tempo ser maior na operação agrícola, com o produtor esco- lhendo criteriosamente os fornecedores que irão compor o pacote tecnológico que será utilizado na lavoura, e mínima na etapa estratégica, onde incluo a comercialização. Infelizmente, todo cuidado que o cafeicultor tem, com a escolha dos insumos até todo trabalho realiza- do dia após dia no campo, pode ser perdido no mo- mento da venda. Portanto, ideal seria que o tempo dedicado nessa etapa fosse igualmente importante. Conhecer os custos é essencial, mas ter clareza do que deseja para o futuro da sua empresa agrí- cola, que eu separo do produtor (ainda que ele seja proprietário), é essencial. Remunerar o seu trabalho é diferente de remu- nerar a atividade dessa empresa agrícola. O pró-la- bore do produtor deve estar incluído no custo. O lucro é a remuneração da empresa, que o proprietá- rio pode decidir capturar uma parte, reinvestindo na empresa agrícola o resto, ou capturar a totalidade. O que percebo é que a maioria dos produto- res querem sempre acertar o “olho do mosquito” na hora da venda, enquanto o correto seria acertar “a direção em que esse mosquito voa”. O que quero dizer é que a maioria quer acertar o valor da ven- da do café sempre em sua segunda casa decimal (a saca bateu preço máximo de R$ 1.480,50 e eu ven- di a R$ 1.480,50), enquanto o correto seria com- preender que o preço, sempre que alcança valores altos, �ca mais próximo de cair, dado que o merca- do tenderá a corrigi-lo para baixo. Hoje, apesar dos valores comerciais com in- sumos terem tido queda, a clareza nos custos de produção/operação é somente uma parte do negó- cio do cafeicultor. A outra, que é a comercializa- ção, deveria vir sempre de uma margem adequada para remunerar e construir o futuro dessa empre- sa agrícola. “A produção na safra 2022/23 novamente se mostrou boa, e apesar de ser menor do que a supersafra de 2020/21, foi capaz de segurar os preços em 2023/24, com os estoques dos grandes compradores em alta”. 55 C U ST O S Autoria: José Carlos de Lima Júnior Sócio diretor da Consultoria Markestrat e cofundador da Harven Business School jclima@markestrat.com.br Se essa margem foi alcançada, o ideal é que se formalize o negócio da venda. Nesse caso, sem- pre vem a pergunta: “Mas, e se eu vender e subir mais?”. Minha resposta será “Sempre é possível que suba mais, mas você já conquistou o seu ob- jetivo. E, particularmente, eu pre�ro ganhar, ain- da que pouco, do que ver o preço subir para, logo mais, em sequência, assistir o meu lucro derreten- do e saber que perdi mais”. Sensato é evitar jogar dados com o mercado. O que quebra o produtor é quando o mercado está em alta. Relação direta Os custos de produção e os preços mais baixos do café são uma relação especí�ca aos estoques dos maiores compradores que estão em alta, o que li- mita as exportações do Brasil. Por outro lado, se é possível dar uma boa no- tícia, os estoques do Brasil estão em baixa e preci- sarão ser recompostos. Preliminarmente, o Brasil entrará a safra 2023/24 com, aproximadamente, 2,0 milhões de sacas de café a menos do que tinha em 2022/23, ou seja, 4,6 milhões de sacas (2023/24) contra 2,6 milhões (2022/23), segundo dados do relatório de dezembro de 2023, publicado pelo USDA. O que esperar? Penso que 2024 trará melhora nos preços, prin- cipalmente porque os estoques precisarão ser re- compostos internamente. O clima é uma realidade que poderá, sim, limitara oferta, o que poderia fa- zer com que os preços tivessem uma valorização. Tanto que os preços já têm mostrado uma re- cuperação, ainda que leve, desde outubro de 2023. O que poderia impulsionar ainda mais esses preços seria o aumento nas importações. Mas, como os estoques internacionais estão em alta, sou levado a crer que o volume de importação deverá ser menor nesse ano, o que limitaria essa va- lorização. Mas, para mim, o cenário é positivo, com os menores preços �cando para trás. Estratégias A estratégia precisa existir, independente se o mercado está em alta ou em baixa de preço. Separar a renda da empresa agrícola da renda do cafeicul- tor, ainda que esse seja proprietário, é fundamental. Como dito, o pró-labore do produtor deve en- trar no custo da saca, assim como insumos e valor da terra. Já a margem �nal deve ser entendida como re- muneração da empresa e utilizada para construir o futuro dessa empresa agrícola. Se a decisão for distribuir os resultados sob a forma de lucro ou reinvestir uma parte na constru- ção e manutenção da competitividade futura do ne- gócio, é uma decisão particular e que cabe exclusiva- mente ao produtor. Mas, insisto que a estratégia de negócio preci- sa existir, independente se o preço da saca está em alta ou em baixa. A�nal, o que realmente quebra o produtor são os momentos de alta, quando as deci- sões, que tanto incomodam no mercado de baixa, são feitas. 56 C U ST O S ESPECIAIS PRODUÇÃO CUSTOS MERCADO A produção mundial de café aumentou 0,1%, para 168,2 milhões de sacas, no ano cafe- eiro 2022/23. A taxa de crescimento es- tagnada contradiz as tremendas mudanças no nível regional, com o mundo do café nitidamente dividi- do entre as Américas em expansão e o resto do mun- do em retração. As reduções de 4,7% e 7,2% na produção da Ásia e Oceania e da África, para 49,84 milhões de sacas e 17,9 milhões de sacas, respectivamente, po- dem ser atribuídas a condições climáticas adversas que afetam negativamente os principais produto- res das regiões, particularmente Vietnã, Costa do Mar�m e Uganda. A magnitude da queda na produção das duas regiões foi totalmente mitigada pelas Américas, especialmente pelo aumento de 4,8% na América do Sul, que, por sua vez, foi impulsionada principal- mente pelo aumento de 8,4% no Brasil, in�uencia- da pelo ciclo de produção bienal. A produção com- binada das Américas foi de 100,5 milhões de sacas. A divisão das Américas versus o resto do mun- do também re�etiu na divisão da produção entre os arábicas e os robustas, com a produção dos primei- Conjuntura mundial A REALIDADE LÁ FORA O fenômeno antecipado do El Niño deve prejudicar as perspectivas na Ásia, especialmente para origens como a Indonésia. Enquanto isso, espera-se que o Vietnã se beneficie do clima mais seco/quente, pois a irrigação mitiga a redução da precipitação. 58 M ER C A D O ros aumentando 1,8%, para 94 milhões de sacas, em comparação com a queda de 2% dos últimos, para 74,2 milhões de sacas. Visão de longo alcance Olhando para o futuro, a produção para o ano cafeeiro 2023/24 deverá aumentar 5,8%, para 178,0 milhões de sacas, com a produção dos arábicas su- bindo para 102,2 milhões de sacas e a dos robustas aumentando para 75,8 milhões de sacas. O efeito da produção bienal terá um grande pa- pel nas perspectivas, especialmente para o Brasil e os arábicas, enquanto o impacto da geada de julho de 2021 continua a ser resolvido. Espera-se que o ano cafeeiro 2023/24 seja excepcional no ciclo de produção bienal. Deve parecer mais um ano de alta que de bai- xa, após os resultados médios de 2022/23. As con- dições climáticas adversas, observadas pela primei- ra vez em 2022 e persistindo em 2023, terão um impacto negativo nas perspectivas para o ano ca- feeiro 2023/24. Impactos climáticos O fenômeno antecipado do El Niño deve pre- judicar as perspectivas na Ásia, especialmente para origens como a Indonésia. Enquanto isso, espera-se que o Vietnã se bene�cie do clima mais seco/quen- te, pois a irrigação mitiga a redução da precipitação. O consumo mundial de café ainda está supe- rando as questões provocadas pela pandemia da Covid-19, com a tendência de consumo seguin- do um padrão estabelecido em resposta a um cho- que externo. Consumo A expectativa para o ano cafeeiro 2022/23 era de uma taxa de crescimento positivo menor; no en- tanto, o consumo mundial de café registrou uma queda de 2%, para 173,1 milhões de sacas. O consumo no ano cafeeiro 2022/23 não seguiu �elmente o padrão estabelecido devido ao impacto do alto custo de vida, da queda da renda disponível e de uma grande redução dos estoques. Apesar de o café ser relativamente inelástico, o ambiente econômico global desa�ador suposta- mente teve um impacto negativo em seu consu- mo. A taxa de in�ação mundial atingiu o seu nível mais alto em 2021, de 9,4%, enquanto a taxa de ju- ros de referência atingiu uma média de 4,9% no �- nal de setembro de 2023 na União Europeia, Rei- no Unido e EUA, o nível mais alto desde a média de 5,8% em 2000. Ao mesmo tempo, houve uma grande redução de estoques, em que os reportados pela Federa- ção Europeia do Café e os mantidos nos armazéns da Intercontinental Exchange nos EUA perderam 4,8 milhões de sacas, de 14,5 milhões para 9,8 mi- lhões. Essa redução dos estoques teria diminuído a ne- cessidade de compras no mercado internacional, re- �etindo-se aparentemente em taxas globais de con- sumo de café mais baixas e anômalas para o ano cafeeiro 2022/23. “Olhando para o futuro, a produção para o ano cafeeiro 2023/24 deverá aumentar 5,8%, para 178,0 milhões de sacas, com a produção dos arábicas subindo para 102,2 milhões de sacas e a dos robustas aumentando para 75,8 milhões de sacas” 59 M ER C A D O Fontes: Cecafé e OIC Perspectivas A perspectiva de consumo mundial de café para o ano cafeeiro 2023/24 é amplamente delineada pe- los pressupostos de que a economia global continu- ará a crescer acima de 3% (Perspectivas da Econo- mia Mundial, outubro de 2023), e que a indústria responderá à grande redução dos estoques, que se re�etirá positivamente no consumo aparente. Como resultado, espera-se que o consumo mun- dial de café cresça 2,2%, para 177,0 milhões de sacas, com os países não produtores contribuindo mais para o aumento geral. O consumo de café neste grupo de países deve crescer 2,1%. Balanço Como resultado, espera-se que o mercado ca- feeiro mundial tenha um superávit de 1,0 milhão de sacas no ano cafeeiro 2023/24. Esta perspecti- va é tirada da mais recente publicação da Seção de Estatísticas da Secretaria da Organização Interna- cional do Café (OIC), o Relatório e Perspectivas sobre o Mercado de Café (RPMC). O RPMC promove o conhecimento dos fato- res que movimentam a indústria global do café no passado mais recente e extrai os possíveis eventos que podem impulsionar a indústria no futuro pró- ximo. Tabela 1. Balanço mundial de oferta e demanda *estimativas preliminares Ano cafeeiro 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24* % variação PRODUÇÃO 169,8 168,4 170,8 168,0 168.2 178,0 5,8% Arábicas 99,5 96 ,4 100,6 92,3 94,0 102,2 8,8% Robustas 70,3 72,0 70,3 75,7 74,2 75,8 2,1% África 18,5 18,5 19,2 19,3 17,9 20,1 12,1% Caribe, América Central e México 21,3 19,2 19,7 18,9 19,2 18,7 -2,5% América do Sul 81,9 81,1 83,9 77,6 81,3 89,3 9,8% Ásia e Oceania 48,1 49,6 48,0 52,2 49,8 49,9 0,3% CONSUMO 171,2 168,6 169,9 176,6 173,1 177,0 2,2% Países exportadores 52,5 52,2 53,1 54,4 55,1 56,5 2,6% Países importadores 118,6 116,4 116,8 122,2 118,1 120,5 2,1% África 11,9 12,1 13,0 12,9 12,2 12,5 2,6% Ásia e Oceania 39,9 40,1 42,2 44,2 44,5l 45,7 2,7% Caribe, América Central e México 5,8 5,8 5,9 6,0 6,0 6,1 2,3% América do Norte 31,8 30,6 30,2 31,3 29,8 30,9 3,8% América do Sul 26,3 26,0 26,4 27,0 27,5 28,0 1,6% Europa 55,5 54,0 52,2 55,2 53,1 53,7 1,1% Balanço -1,3 -0,2 0,9 -8,6 -4,9 1,0 60 M ER C A D O © Sy ng en ta , 2 02 4. PARA RESTRIÇÃODE USO NOS ESTADOS, CONSULTE A BULA. CONTROLE DA MANCHA DE PHOMA DURANTE TODO O CICLO DO CAFÉ. MIRAVIS® Duo. Simplesmente poderoso. ADEPIDYN® technology MIRAVIS® Duo O Brasil exportou 39,247 milhões de sa- cas de 60 kg de café em 2023, volume praticamente estável (-0,4%) em relação aos 39,410 milhões aferidos em 2022. Em receita cambial, houve recuo de 13% no comparativo anu- al, com os embarques tendo rendido US$ 8,041 bi- lhões em todo o ano passado. Os dados fazem parte do relatório estatístico mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em dezembro de 2023, as remessas ao exterior do produto somaram 4,116 milhões de sacas, ge- rando US$ 800,1 milhões, o que representa altas de 27,1% em volume e de 11,6% em receita frente ao último mês de 2022. No acumulado dos seis primeiros meses do ano safra 2023/24, as exportações brasileiras de café tota- lizaram 22,993 milhões de sacas, aferindo crescimen- to de 18,5% ante o registrado entre julho e dezembro de 2022. No mesmo intervalo, a receita cambial re- gistra recuo de 2,2%, chegando a US$ 4,488 bilhões. Análise Segundo o presidente do Cecafé, Márcio Ferrei- ra, o desempenho dos embarques no ano passado é Brasil exporta 39,2 milhões de sacas de café em 2023 Continuidade de entraves logísticos interferiu no desempenho, que poderia ser de até 2,0 milhões de sacas superior. 62 M ER C A D O positivo diante dos entraves que toda a cadeia produ- tiva vivenciou. “O primeiro semestre foi marcado por exportações mais contidas devido à menor dispo- nibilidade de café após duas safras (2021 e 2022) me- nores impactadas por adversidades climáticas. Além disso, o segmento exportador continua enfrentan- do entraves logísticos, o que impacta a performan- ce. Sem essas questões da logística, provavelmen- te exportaríamos até 2,0 milhões de sacas a mais”, projeta. No ano passado, houve atraso nas embarcações de café em todos os 12 meses. Conforme o Bole- tim Detention Zero (DTZ), somente em dezem- bro foram registradas alterações em 76% das esca- las de navios no Porto de Santos (SP), atingindo o segundo maior índice em 2023, atrás somente dos 81% apurados em novembro. O boletim também indica que, no referido mês, apenas 15% dos procedimentos de embarque tive- ram prazo superior a quatro dias de gate aberto por navios. Outros 52% possuíram entre três e quatro dias e 32% tiveram menos de dois dias. Mi lhõ es de sa ca s d e 6 0 kg 0 30 10 40 20 50 2018 34,3 2021 42,4 2019 41,5 2022 39,8 2020 43,9 2023 39,2 Gráfico 1. Exportação brasileira de café - em quantidade Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Arábica 81,0% Solúvel 7,4% Robusta 11,6% Participação % por qualidade nas exportações brasileiras de café 63 M ER C A D O Ferreira, contudo, reforça o desempenho como positivo, principalmente pela disparada das expor- tações dos cafés canéforas, que subiram 212% em 2023. “Essa safra foi melhor que as duas anteriores, o que ajudou na performance dos embarques. Des- taco, em especial, a puxada do conilon e do robusta, cujas remessas ao exterior superaram 4,7 milhões de sacas, o segundo melhor desempenho na histó- ria, �cando atrás somente de 2020, quando o Bra- sil colheu safra recorde”, compara. Tipos de café Nos 12 meses de 2023, o café arábica foi o mais exportado, com 30,818 milhões de sacas, o que cor- responde a 78,5% do total. A variedade canéfora (conilon + robusta) teve 4,708 milhões de sacas embarcadas no período, com representatividade de 12%, acompanhada pelo segmento do solúvel, com 3,671 milhões de sacas (9,4%), e pelo produto tor- rado e torrado e moído, com 50.377 sacas (0,1%). Principais destinos Os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés do Brasil de janeiro a dezembro do ano passado, apesar da queda de 24,2% na comparação com as aquisições realizadas em 2022. Os norte-americanos importaram 6,067 mi- lhões de sacas, montante que representou 15,5% dos embarques totais. A Alemanha, com representatividade de 12,8%, adquiriu 5,014 milhões de sacas (-26,7%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vêm Itá- (*) cafés sem descrição de bebida ou de safras passadas Tabela 1. Exportações brasileiras de café - por classificação de bebida/tipo Arábica - total 3.207.526 674.981.185,17 210,44 Dura 2.311.775 492.651.114,26 213,11 Dura/riada 415.631 83.493.836,42 200,88 Dura ou dura/riada 180.447 33.854.521,41 187,61 Rio ou rio-zona 97.344 18.819.334,71 193,33 Especial ou gourmet 83.138 19.512.297,51 234,70 Mole 320 72.912,74 227,85 Arábica e outros (*) 118.871 26.577.168,13 223,58 Conilon 457.787 70.875.850,81 154,82 Solúvel - total 293.467 55.795.886,88 190,13 Spray dried 213.988 39.985.285,20 186,86 Freeze dried 68.911 14.581.314,61 211,60 Extract 10.339 1.112.024,45 107,56 Coffee preparation 229 117.262,62 512,06 Torrado 1.898 893.463,47 470,74 Sacas 60 kgClassificação bebida/tipo US$ FOB Preço médio US$/saca lia, com a compra de 3,131 milhões de sacas (-6,8%); Japão, com 2,386 milhões de sacas (+27,4%); e Bél- gica, com 2,201 milhões de sacas (-24,6%). Fator China Ao longo de 2023, a China sinalizou que alçaria voos mais altos no consumo de café, tendo superado, inclusive, os EUA como o maior mercado de cafete- rias de marca no mundo, com 49.690 pontos de ven- da, de acordo com análise do World Co¡ee Portal. No ano passado, a potência asiática saltou para o sexto lugar no ranking dos principais parceiros comerciais dos cafés do Brasil, importando 1,480 milhão de sacas, volume que representa um subs- tancial crescimento de 278,6%, frente aos 12 me- ses de 2022. 64 M ER C A D O Um ano antes, os chineses haviam importa- do 390.879 sacas e ocupavam apenas a 20ª posi- ção na tabela. Do sétimo ao décimo lugares aparecem, res- pectivamente, Turquia, com 1,365 milhão de sa- cas (+30,6%); Reino Unido, com 1,298 milhão de sacas (+64%); Holanda (Países Baixos), com 1,233 milhão de sacas (+34,6%); e a Colômbia, com 1,162 milhão de sacas (-32,6%). Quando se analisa as importações realizadas por outros países produtores, observam-se signi- �cativos avanços nos embarques realizados para México (+500,7%), Vietnã (+487,7%), o segun- do maior produtor do mundo, atrás do Brasil; e In- donésia (+134,9%). “Esses dois países asiáticos ampliaram as com- pras dos cafés brasileiros devido a quebras de safra que sofreram e à necessidade do conilon e do ro- busta nacionais para suprirem essa baixa. Já os me- xicanos importam nossos cafés verdes para proces- samento industrial voltado ao consumo interno e a importantes reexportações, principalmente de café solúvel”, revela Ferreira. Com o desempenho aferido nas exportações para China, Japão, Vietnã, Indonésia e Turquia, a Ásia totalizou a importação de 8,819 milhões de sacas (22,5% do total), ampliando em 46,2% suas compras frente a 2022 e ocupando o segundo lugar no ranking por continentes, que é liderado pela Europa, com a aquisição de 18,839 milhões de sacas (-7,9%) e representatividade de 48%. A América do Norte fecha o top 3, com a impor- tação de 7,306 milhões de sacas (-18,1%) e sha- re de 18,6%. Portos O Porto de Santos (SP) foi o principal expor- tador dos cafés do Brasil em 2023, com o embar- que de 28,157 milhões de sacas, o que representa 71,7% do total. Na sequência, aparece o comple- xo marítimo do Rio de Janeiro, que responde por 24,3% das exportações, ao ter remetido 9,545 mi- lhões de sacas, e o Porto de Paranaguá (PR), com a exportação de 521.102 sacas e representativida- de de 1,3%. Os cafés que possuem qualidade supe- rior ou certi�cados de práticas sustentáveis responderam por 17,8% das exportações to- tais brasileiras do produto no acumulado de 2023, com o envio de 6,968 milhões de sacas ao exterior. Esse volume representa aumento de 4% frente ao registrado entre janeiro e dezem- bro de 2022. O preço médio do produto foi de US$ 227,47 por saca, gerando uma receita cam-bial de US$ 1,585 bilhão nos 12 meses do ano passado, o que corresponde a 19,7% do obtido com os embarques totais de café. No comparativo anual, o valor é 15,9% inferior ao aferido no ano retrasado. No ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados em 2023, os EUA ocu- param o primeiro lugar, com a aquisição de 1,477 milhão de sacas, o equivalente a 21,2% do total desse tipo de produto exportado. Fechando o top 5, aparecem Alemanha, com 1,121 milhão de sacas e representativida- de de 16,1%; Bélgica, com 678.912 sacas (9,7%); Holanda (Países Baixos), com 442.206 sa- cas (6,3%); e Reino Unido, com 321.051 sa- cas (4,6%). Cafés diferenciados 65 M ER C A D O Antes de apontar os países com maior po- tencial de aumento de consumo, precisa- mos entender os três principais pilares por trás do consumo de café, que são a população, ou o crescimento populacional, a renda e o hábito. Obviamente, para que aconteça o consumo de café, é necessário pessoas que tenham uma renda, e essas variáveis são fáceis de serem analisadas, mas o hábito é um aspecto crítico, que é de difícil men- suração e depende dos aspectos culturais de deter- minado país. Um exemplo clássico é a China, que apesar de apresentar um expressivo crescimento nos últimos anos, tem um consumo per capita baixíssimo. Condições chinesas Na China não faltam pessoas, pois é o segundo país mais populoso do mundo – recentemente a Ín- dia tomou a primeira posição – e, apesar de não terem uma renda per capita como os EUA e países europeus, é quase 70% maior que a brasileira, por exemplo. Mesmo neste contexto, de acordo com o USDA, o país consumiu 5,0 milhões de sacas de café em 2023, enquanto o Brasil consumiu quase 22 mi- lhões, segundo dados da ABIC, mesmo tendo uma população quase sete vezes menor. Claramente, o fator-chave aqui é o hábito dos Mercados mundiais mais promissores O Brasil se destaca principalmente pela qualidade dos cafés produzidos e pela competitividade diante dos outros países. 66 M ER C A D O chineses de consumir chá ao invés de café. No últi- mo ano, o crescimento como destino das exporta- ções brasileiras ganhou grande destaque, chegando a mais de 278%, totalizando 1,48 milhões de sacas. De acordo com o USDA, o consumo de café chinês avançou 67% desde 2018, indo de 3,0 para 5,0 milhões de sacas no ano passado. Neste mesmo período, a produção chinesa de café recuou quase 12%, para 1,7 milhão de sacas. O aumento no consumo do país está relacio- nado a uma mudança cultural. Além disso, existe uma corrida entre a cafeteria Starbucks e as redes chinesas, como a Luckin Co�ee, que buscam con- quistar parte deste mercado em expansão. Consolidação de mercado Falando dos países com consumo consolida- do, como Estados Unidos, países europeus e Japão, “A busca dos produtores por variedades mais adaptadas e por processos pós- colheita mais adequados tem resultado em cafés de excelente qualidade, o que contribuiu para levar os cafés brasileiros ao mundo” por exemplo, é importante ter a consciência de que, apesar de não ter um crescimento tão expressivo, o volume absoluto das importações destes países é muito grande. Desta forma, além de pensar na expansão do mercado em outros países, é necessário investir na divulgação do café brasileiro lá fora para se man- ter na liderança como principal fornecedor. 67 M ER C A D O Preferência dos consumidores Dois aspectos principais de�nem a preferên- cia do mercado consumidor: a qualidade do café e o preço. Recentemente, uma pesquisa sobre o mer- cado americano, divulgada pela empresa Drive Re- search, mostrou que 73% dos respondentes bebem café todos os dias e que para 83% dos consumido- res o sabor é a principal razão da escolha. Para 67%, o motivo seria o aumento de energia, para 43% o aumento da produtividade e para 29% seriam os benefícios à saúde. Fica claro que a qualidade do café é um pon- to crucial para os consumidores, e tem uma for- te in�uência sobre o cliente na hora da escolha. Neste contexto, o Brasil tem apresentado grandes avanços nos últimos anos, tanto para o café arábi- ca como o robusta. A busca dos produtores por variedades mais adaptadas e por processos pós-colheita mais ade- quados tem resultado em cafés de excelente quali- dade, o que contribuiu para levar os cafés brasilei- ros ao mundo. Aspectos econômicos Apesar da grande importância dos aspectos qualitativos, não podemos ignorar o aspecto eco- nômico. O preço praticado também tem grande impacto na hora de conquistar o mercado consu- midor. Neste contexto, o Brasil tem grande vanta- gem, tendo em vista a forma como a cafeicultu- ra é conduzida no país e a competitividade dos cafés brasileiros. Falando sobre o café arábica, claro que ou- tros países, como Colômbia, países da Améri- ca Central e África têm sua importância e seu mercado nos países consumidores, mas estes não conseguem ter a mesma competitividade do Bra- sil. Robusta brasileiro sai à frente Para o café robusta, o Vietnã e a Indonésia tive- ram preços mais competitivos em vários momen- tos nos últimos anos, mas recentemente o Brasil tomou a dianteira e é, atualmente, a origem mais competitiva, o que pode ser notado pelo expressi- vo aumento nas exportações brasileiras de café ro- busta no último ano. Em 2023, de acordo com o Cecafé, as exporta- ções brasileiras de café robusta totalizaram 4,7 mi- lhões de sacas, representando um incremento de 212% no comparativo anual. Sustentabilidade é crucial A qualidade é, sem dúvida, um fator crucial, como já comentado, mas a sustentabilidade é outro tema de extrema importância. Os mercados consu- midores são exigentes e, atualmente, a sustentabili- dade está à frente neste quesito. Um exemplo claro é a nova lei anti-desmata- mento da União Europeia, que exige que a partir de 2025 as empresas europeias �scalizem suas ca- deias de suprimento para garantir que os produtos não estejam ligados ao desmatamento. Outro ponto é a agricultura de carbono zero ou carbono negativo, que também tem implicação na produção e na cadeia comercial de café. Neste sentido, vale a pena ressaltar o trabalho do Conselho dos Exportadores de Café do Bra- sil (Cecafé), que tem atuado junto às empresas, ao governo e aos países importadores para colocar o Brasil na dianteira desse processo de evolução sus- tentável. As inciativas envolvem a plataforma de rastre- abilidade Cecafé-Serasa Experian e a realização da análise de conformidade socioambiental para acesso ao mercado, que englobam os dados das negociações globais de café, por meio dos certi�cados de origem da Organização Internacional do Café (OIC), dados o�ciais do governo e do Cadastro Ambiental Rural. Além disso, o Cecafé tem, em parceria com a 68 M ER C A D O StoneX, uma inciativa ligada ao mercado de crédi- to de carbono voltado para a cafeicultura brasileira. Exploração de novos mercados Os eventos geopolíticos e as mudanças nas po- líticas comerciais podem ter um impacto direto nas exportações brasileiras de café e no merca- do de café em si. Um exemplo claro foi a ocorrência da pan- demia da Covid-19, a desaceleração da economia global, a guerra russo-ucraniana e a in�ação glo- bal, que afetaram diretamente as cadeias globais de transporte. Junto com alguns problemas na produção, o conjunto gerou uma forte in�ação nos preços de café nas gôndolas dos supermercados, o que im- pactou negativamente o ritmo de crescimento do consumo de café naqueles anos. Atualmente, alguns indicadores mostram que o consumo de café tem se recuperado, enquanto os preços nos supermercados seguem em um proces- so de de�ação. Recentemente, o desenrolar dos con�itos no Oriente Médio também impactou a dinâmica global no mercado de café e favoreceu o robusta brasileiro. Um passo atrás Antes de avançar, vamos contextualizar o mer- cado de robusta nos últimos anos. Desde 2022, a cafeicultura asiática enfrentou grandes desa�os cli-máticos, o que impactou a produção por lá. No Vietnã, maior produtor mundial de café ro- busta, a ocorrência do El Niño provou grandes per- das na produção, o que fez o USDA reduzir sua projeção da safra vietnamita em 3,8 milhões de sa- cas no �nal de 2023. Na Indonésia, o excesso de chuvas provocado pelo La Niña impactou a produção do país na úl- tima temporada, com perdas de mais de 2,0 mi- lhões de sacas, e a ocorrência do El Niño, mais re- centemente, também impactou a produção do país, o que pode resultar em uma menor produção pelo segundo ano consecutivo. Neste contexto, os preços de café na Ásia dis- pararam, colocando o Brasil como a origem mais competitiva para o tipo robusta. É neste contexto que o con�ito no Oriente Mé- dio acentua ainda mais a vantagem competitiva do café robusta brasileiro diante dos países asiáticos. Até antes do con�ito, os fretes saindo da Ásia para a Europa tinham um custo menor, comparativamen- te aos fretes saindo do Brasil, o que colocava os pa- íses asiáticos com uma certa vantagem. No entanto, os ataques do grupo rebelde ie- menita Houthi no mar vermelho provocaram uma grande mudança nas rotas entre a Ásia e a Euro- pa, o que aumentou o tempo de viagem e os cus- tos. Assim, o cenário desfavoreceu os cafés vindos do Vietnã e da Indonésia e deu dianteira aos cafés robustas brasileiros. Visão estratégica A expectativa para o café brasileiro é promis- sora, tanto nos mercados consolidados como nos novos, como a China. O país ainda tem alguns dos pontos críticos para continuar sendo o maior for- necedor mundial de café. Nosso café tem qualidade, que inclusive segue evoluindo, é competitivo e está na dianteira das exi- gências ambientais de sustentabilidade. Apesar des- te cenário positivo, ainda são necessários mais in- vestimentos em divulgação e marketing, mostrando para o mundo as características e a qualidade dos cafés brasileiros. Infelizmente, o baixo investimento em marke- ting é um ponto fraco e que deve ser melhorado. Autoria: Fernando Maximiliano Especialista em Inteligência de Mercado da StoneX Brasil fernando.maximiliano@stonex.com 69 M ER C A D O Restrições na oferta de café, em 2023, foram ocasionadas, majoritariamente, pela indis- ponibilidade do produto vietnamita, impulRponibilidade do produto vietnamita, impulR - sionando as cotações do robusta na Bolsa de Londres, porém, ao contrário do esperado, pouco atuando so- bre as cotações do arábica em NY. Encarecimento da logística marítima compli- cou a comercialização dos traders asiáticos. Com traders asiáticos. Com traders operações sob ataque bélico no Canal de Suez e Mar Vermelho, o contorno do Cabo da Boa Espe- rança para entregar as cargas nos portos europeus elevou sobremaneira os preços base dos contêine- res transportados. Estando o Brasil isento desse constrangimen- to, o redirecionamento das compras para o país tem sido um elemento determinante no incremento das exportações de conilon e um maior interesse pelo arábica de menor qualidade de bebida (substituto natural do robusta). Países concorrentes em arábica (especialmente Colômbia e centro americanos) não exibem qual- quer incremento na produtividade de suas lavou- ras, mas ao contrário, estabilidade ou declínio na produção global. CAFÉS DO BRASIL EM UM MUNDO FRATURADO 70 M ER C A D O Estoques A desorganização das economias do Equador, de Honduras e do Peru cerceiam as oportunida- des de investimento em sua agropecuária, inclusi- ve na cafeicultura. Concomitantemente, os estoques mundiais não exibem qualquer potencial recuperação, mas ao con- trário, mês a mês são progressivamente enxugados para suprir as necessidades de suprimento das tor- refadoras e das solubilizadoras dos países importa- dores. A expansão de cafeterias na China, ultrapas- sando em número as existentes nos EUA, deno- ta o crescente interesse de sua imensa população pela bebida. Não se espera uma mudança de hábi- tos de consumo dos chineses (ainda preferencial- mente tomadores de chá), mas a expansão da pro- cura pela bebida consiste num elemento capaz de reposicionar os vetores de dinamismo do mercado cafeeiro no médio prazo. Os demais importadores asiáticos de café bra- sileiro também contribuíram para essa escalada dos embarques para os diferentes destinos que com- põem a região. Em 2023, após ligeiro recuo nas compras, houve forte expansão nas exportações, totalizando US$1,83 bilhão, com 8,83 milhões de sacas embarcadas para esse destino. No Brasil Em 2023, os cafeicultores ainda experimen- tavam re�exos das geadas, seguidas por estiagem ocorrida em 2021 e início de 2022. Do ponto de vista �nanceiro, a rolagem de contratos futuros pos- tergados devido à restrição de oferta ou visando o aproveitamento momentâneo dos bons preços pra- ticados, cobra seu custo na safra 2022/23. A atual entrega de produto decorrente de con- tratos postergados/renegociados impôs pressão so- bre a receita da atividade. Esse aperto sobre a re- ceita somente não foi mais danoso ao negócio em função da expressiva redução nos custos de produ- ção (fertilizantes e diesel). Com o aquecimento das águas do Pací�co a partir do segundo semestre de 2023, intensi�cou- -se o fenômeno El Niño sobre os cinturões pro- dutivos do país, ocorreram elevadas temperaturas, tanto sobre as seguidas �oradas como também na fase de enchimento dos frutos. A má distribuição das precipitações tornou-se uma ocorrência frequente (municípios capixabas em situação de emergência decretada). Relatos de inten- sa fotoxidação (escaldadura), ramos com baixa fruti�- cação (banguelas), substancial queda de chumbinhos e frutos exibindo má formação (coração negro) são reiterados no meio especializado. Para os produtores medianamente tecni�cados, a adoção da denominada cafeicultura regenerativa tor- nou-se verdadeira coqueluche. Ainda que os protoco- los desse manejo produtivo não estejam plenamen- te sedimentados junto aos agrônomos, as iniciativas contemplando a transferência de fertilidade (circu- “Para os produtores medianamente tecnificados, a adoção da denominada cafeicultura regenerativa tornou-se verdadeira coqueluche”. 71 M ER C A D O laridade) associada ao cultivo de espécies vegetais, sem oferecer concorrência ao cafeeiro, trazem be- nefícios para a recomposição da fertilidade e vida do solo, evidenciando resultados promissores para consolidação de uma nova fase da produção cafe- eira no Brasil, em que o vetor da sustentabilidade encontra-se plenamente integrado ao sistema pro- dutivo. Sustentabilidade Não bastasse tal evolução agronômica (cafei- cultura regenerativa), estudos conduzidos por cen- tros de excelência brasileiros apontam que a lavou- ra contribui para a captura e armazenamento de carbono no solo, especialmente aquelas em mane- jo das daninhas e emprego de fertilizantes orga- nominerais. Resultado obtido por meio de procedimentos cienticamente mensuráveis recoloca a cafeicultu- ra brasileira em patamar inigualável frente aos de- mais concorrentes internacionais. Genética Os novos materiais genéticos recentemente lan- çados pelos centros de pesquisa cafeeira mostram- -se muito promissores. Tolerância a fatores bió- ticos e abióticos são continuamente melhorados, permitindo a redução de custos de condução da la- voura e incrementando a competitividade do café brasileiro. O banco de dados constituído pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR) passa por contínuas revi- sões na base de informações territoriais, sedimen- tando mapas acreditáveis. Esse conjunto de informações, entre outras, processados tanto por empresas de apoio como ór- gãos públicos, auxiliará na elaboração consistente de ações visando oferecer rastreabilidade plena ao produto, como requerem as autoridades europeias. Ademais, as leis ambientais e trabalhistas do país o posicionam dentro daquilo que se conven- cionou denominar de “quarta onda” do café. Tendências para a cafeicultura As perspectivas quantoà ocorrência de distúr- bios climáticos permanecem no radar. Disso resul- ta que a contratação de seguro rural é uma estraté- gia de gestão inadiável. Assim, políticas de subvenção do preço das apó- lices, implementadas tanto pelo governo federal como por algumas unidades da federação, bara- teiam substancialmente as contratações. Perdas de produção decorrentes da incidência de geada, de granizo, de estiagem ou, ainda, por infestações por pragas e doenças, são riscos inerentes a um siste- ma produtivo a céu aberto. Atualmente, contratar seguro rural para a lavoura é medida inescapável, 72 M ER C A D O esperando-se, portanto, aumento da decisão pela contratação de apólices por parte dos cafeicultores. Com a disseminação mais ampla do seguro ru- ral na cafeicultura, estratégias comerciais, como as operações pautadas pelas CPR’s (física e �nanceiro), mercado de opções e a termo e as operações bar- ter estruturam-se com riscos intrínsecos totalmente transferidos para os investidores/especuladores, garantindo a estabilidade �nanceira da exploração cafeeira e, consequentemente, do cafeicultor e de sua família. A trajetória de crescimento da oferta do segmen- to de conilon se manterá. Com a generalização do emprego da irrigação nas lavouras capixabas, haverá expansão da produção, oferecendo o suporte neces- sário para o crescimento da capacidade operacional das solubilizadoras brasileiras. No município de Linhares (ES), duas novas unidades entraram em funcionamento em 2023, afora as expansões ocorridas nas paranaenses, pau- listas e mineiras. Por sua vez, o consumo de café solúvel também disparou em 2023, crescendo mais de 5% no ano. A procura pelo produto é decorrente da comodida- de e da praticidade de preparo, acompanhada pelo aumento contínuo das famílias de per�l mononu- cleadas nas cidades. Sentido contrário No cinturão de arábica, a perspectiva já é con- traditória. Graças ao investimento em tecnologia agronômica, os níveis de produtividade se encon- tram em patamares elevados (média acima dos 30 a 35 sc/ha para lavouras de sequeiro). Diante disso, o aumento da oferta tende a de- pender cada vez mais da expansão da área cultiva- da, aspecto que não possui qualquer garantia, embo- ra exista o interesse dos cafeicultores em investir na atividade. Na verdade, as lavouras de grãos, dados os pacotes tecnológicos mais homogêneos e sis- temas comerciais mais so�sticados que os pra- ticados na cafeicultura, despertam crescente in- teresse. Aquelas áreas de lavouras plenamente meca- nizáveis e em fase de renovação podem ser mobi- lizadas para o cultivo de grãos. Diante da volatili- dade das cotações do café e sem uma perspectiva de recuperação do capital e alguma rentabilidade satisfatória a decisão pelos grãos, será uma conse- quência inevitável. Questão política A nova política industrial recentemente lança- da pelo Governo Federal estabeleceu em uma de suas missões a mecanização do segmento familiar de produção da agropecuária brasileira. Essa iniciativa se re�ete na cafeicultura, pois o maior número de propriedades sob esse ramo de atividade é desse per�l. Pequenos investimentos podem propiciar forte aumento da produtividade, compensando a queda esperada na oferta dos es- tabelecimentos empresariais que alternativamente dirigiram seus esforços para a produção de grãos. Análise macro A perspectiva para os preços recebidos pelos ca- feicultores não é muito animadora, devido às pre- visões de que 2024 será um ano de baixo cresci- mento da economia mundial. A expansão econômica acanhada freia o poten- cial de consumo, o que re�ete imediatamente na procura por commodities. A escassez de café na atualidade, somada aos constrangimentos logísti- cos, podem até impulsionar as cotações, porém, as- sim como já se observa para as cotações do petró- leo (que tem andado de lado), esperar escalada nas cotações pode ser um escorregão ao exagero. A real possibilidade de retorno dos republicanos ao governo estadunidense é uma ameaça às transa- ções internacionais. A adoção de políticas protecio- nistas na maior economia global se re�etirá em um ainda menor desempenho das economias do res- to do mundo. Apenas a incerteza econômica derivada desse cenário provável é su�ciente para não se criar ex- pectativas muito animadoras em 2024. En�m, este será um ano de desa�os para o agronegócio café. Autoria: Celso Luis Rodrigues Vegro Engenheiro agrônomo, MSc e pesquisador científico – Instituto de Economia Agrícola (IEA) celvegro@sp.gov.br Eduardo Heron dos Santos Cientista da Computação e diretor técnico do Cecafé eduardo@cecafe.com.br 73 M ER C A D O O café de maior valor agregado deve ser de qualidade, ou seja, de alto padrão, com boa classi�cação física (menor quantida- de possível de defeitos), apresentando característi- cas sensoriais distintas relacionadas a cafés espe- ciais. Além disso, destaca-se a rastreabilidade de pro- dução, a qual pode ser conferida pelas certi�cações, que também agregam valor aos cafés. Atributos especiais Atualmente, com o avanço das tecnologias, hou- ve o aumento do volume de cafés especiais de no- tas entre 80 e 82, de acordo com a escala da SCA. Por isso, para se destacar no mercado é neces- sário investir em técnicas que possibilitem a ob- tenção de notas sensoriais mais exóticas, como o �oral, além de uma bebida limpa, de elevados cor- po e doçura, o que certamente irá resultar em no- tas mais elevadas, acima de 85 pontos. Para isso, muitos produtores investem no plan- tio de variedades com maior potencial genéti- co para qualidade e em técnicas de fermentação dos seus cafés para elevar a complexidade das no- tas sensoriais. Com isso, é possível atingir as demandas do mercado de cafés especiais e agregar mais valor ao produto. Sustentabilidade é tendência irreversível Outra tendência está relacionada ao carbono, OS CAFÉS DE MAIOR VALOR AGREGADO A exportação do Brasil é de aproximadamente 20% dos cafés especiais, devendo apresentar pontuações acima de 80 na escala SCA (Specialty Coffee Associtation). 74 M ER C A D O pois em um cenário de mudanças climáticas há a preocupação com as emissões de gases do efeito estufa (GEE) em toda a produção do café, até che- gar ao consumidor. Assim, existe um mercado promissor para os cafés carbono neutro ou carbono negativo, os quais podem agregar valor ao produto devido à produ- ção com conscientização em relação às emissões de GEE. Outra oportunidade está no mercado de cré- ditos de carbono, no qual, além de obter o valor agregado por produzir cafés que contribuem para o ambiente, também há possibilidade de gerar re- ceita com o excedente de carbono sequestrado pela atividade cafeeira. Diferenciais O consumo de cafés que apresentam característi- cas únicas vem ganhando espaço, como os cafés exó- ticos, desde bebidas de frutos que passam pelo trato digestivo de animais, como o jacu, até cafés mais áci- dos, oriundos do processo de despolpamento dos fru- tos durante a secagem (cerejas descascados). Além disso, os blends possibilitam a harmoni- zação de cafés com características que podem não ser observadas em uma só bebida, como apresenta- rem mais corpo e também serem mais ácidas. Os cafés gourmands são uma tendência de con- sumidores que buscam experiências sensoriais mais so�sticadas, com grãos selecionados resultantes de processos que intensi�quem a qualidade. Um re�exo deste cenário é a expansão de ca- feterias no país, com ambientes mais interativos sobre o consumo de cafés, com alto valor agrega- do, além da acessibilidade de kits de preparo de cafés especiais. Valor agregado A produção de cafés especiais com alto valor agregado tem início na escolha do local, deven- do apresentar características como clima favorá- vel à produção. O solo sem impedimentos físicos, com maiores altitudes, latitude e distribuição das chuvas, dá origem ao terroir do café. Algumas regiões são tradicionalmente reconhe-cidas pela qualidade dos cafés produzidos, como o Cerrado Mineiro, que tem sua denominação de ori- gem consolidada. Mesmo com um ambiente propício para a pro- dução de cafés de qualidade, outros importantes atri- butos devem ser atendidos, como a cultivar adequa- da para a região, se apresenta maturação dos frutos precoce ou tardia, peneiras mais elevadas, teores de açúcares totais e tolerância a doenças que po- dem in�uenciar na perda da qualidade. Associado a isso, o manejo �tossanitário con- tribuirá para o controle de pragas que causam per- das de qualidade nos grãos de cafés. O ponto de colheita é outra prática que deve ser realizada com atenção, pois o café deve apresentar o máximo de uniformidade na maturação dos frutos cerejas, que têm maior acúmulo de açúcares. A classi�cação dos cafés no lavador permite a retirada dos tipos boia, verde e as impurezas, clas- si�cando os melhores frutos para seguirem para o terreiro. Posteriormente, a etapa da secagem ade- quada no terreiro permitirá a manutenção da qua- lidade dos frutos, sendo secos na proporção de 12 L/m², para uma operação lenta e homogênea, co- nhecida como grão a grão. Depois, dobrando as ca- madas de café, o objetivo é atingir uma umidade próxima a 12%. Tendências de mercado Os cafés especiais se destacam por atra- írem um nicho especí�co de consumidores que estão dispostos a pagar mais pelo produ- to. Para isso, além de buscarem a qualidade sensorial, a preocupação com os processos e rastreabilidade dos cafés torna-se cada vez mais crescente. Atualmente, somente uma boa pontu- ação na escala SCA não é mais su�ciente - os consumidores também se preocupam se o café foi produzido com sustentabilida- de, responsabilidade e, sobretudo, rastrea- bilidade. Então, cada vez mais se busca não só o aconchego da bebida, mas também a histó- ria que acompanha esses cafés diferencia- dos. Nesse aspecto, a construção de uma marca para o seu café ajuda a fugir do mercado commodity, onde a história da marca conquista o público e agrega valor ao café produzido. 75 M ER C A D O Regiões em destaque Algumas regiões produzem cafés com maior valor agregado, como o Cerrado Mineiro, Mogia- na e Sul de Minas. As regiões que apresentam alti- tudes superiores a 900 m, boa distribuição pluvio- métrica durante o ciclo de café, amplitude térmica adequada no período de dormência das gemas re- produtivas, responsáveis pela orada e outras con- dições necessárias para o bom desenvolvimento dos grãos de café se destacam. Inovações Alguns processos relativamente simples para classicação dos cafés contribuem para a manu- tenção da qualidade, separando os frutos verdes dos maduros, como as selecionadoras óticas. Além disso, também há classicadoras de pe- neiras que possibilitam a separação em até sete ta- manhos diferentes. Outra forma de obter cafés por processamentos que agreguem valor, responsáveis pelas experiências que oferecem aos consumidores a sensação de um café único, buscando complexar mais essas notas sensoriais, é a fermentação con- trolada dos frutos. Essa prática consiste em levar os cafés colhidos na lavoura para fermentar em recipientes anaeró- bicos, podendo ser realizada fermentação natural ou com leveduras. A fermentação é realizada em períodos que podem variar de 75 a 120 horas, de- pendendo do estádio de maturação dos frutos. Ao secar no terreiro, os cafés apresentam um tom mais escuro das cascas. Exigências de mercado Os produtores que investem em produzir cafés “Algumas regiões produzem cafés com maior valor agregado, como o Cerrado Mineiro, Mogiana e Sul de Minas” 76 M ER C A D O de maior valor agregado estão cada vez mais en- gajados em questões de sustentabilidade e práti- cas éticas. Isso é re�exo da demanda do mercado consu- midor por produtos rastreáveis desde sua origem, os quais devem ser produzidos com responsabili- dade ética e ambiental. Com isso, há a valorização da construção de uma relação de transparência e con�ança entre o produtor e o consumidor. Então, esses produtores, ao investirem em téc- nicas de manejo inovadoras e sustentáveis, compro- vando o compromisso com a produção de cafés ex- cepcionais, tanto em qualidade de bebida quanto em responsabilidade ambiental, estão, muitas vezes, dispostos a abrir as porteiras de suas fazendas para receber os futuros consumidores de seu café e cul- tivarem essa relação de con�ança e proximidade. Com isso, esses produtores atraem as pessoas que têm a curiosidade de conhecer de onde vem o Autoria: Alisson André Vicente Campos Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia (UFLA) e coordenador de Pesquisa - Fronterra alissonavcampos@yahoo.com.br Marina Scalioni Vilela Engenheira agrônoma, mestra e doutora em Fitotecnia - UFLA marina.scalioni@outlook.com Laís Sousa Resende Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ sialresende@gmail.com café que eles consomem, estando também dispos- tas a pagar mais por esse produto. Em um mercado no qual é crescente a consciência ambiental e so- cial, busca-se valorizar aqueles que produzem com respeito ao meio ambiente, gerando valor também para a sociedade em que está inserido. 77 M ER C A D O Nos últimos cinco anos a produção mundial de café arábica tem se mantido em tor- no de 95 milhões de sacas, sendo que em 2023 a chegou a 97 milhões. O que se percebe é que a produção apresenta um crescimento moderado, sendo o Brasil um dos poucos países que tem possibilidades imediatas de aumento de produção, seja por novas áreas ou por melhoramento de produtividade. Há que se ressaltar que nos últimos oito anos ti- vemos situações climáticas que afetaram negativa- mente o potencial produtivo das lavouras no Brasil. Nova era TENDÊNCIAS DE CONSUMO A nova geração de consumidores tem buscado produtos que sejam cultivados dentro de regras que respeitem o meio ambiente e a integridade humana. Eles agora querem saber a origem dos produtos. 78 M ER C A D O Demanda global A demanda global de café arábica tem mantido uma certa estabilidade quantitativa, com tendên- cia a um ligeiro crescimento. Ultimamente, o con- sumo de café conilon tem crescido um pouco mais que o café arábica, talvez devido à menor oferta de café arábica relacionada à queda de produção e ao aumento do preço. Pode-se estimar que, com a regularização do ciclo produtivo do café arábica, a tendência seja de um aumento no seu consumo. Cafés especiais O impacto negativo na produção de café ará- bica abriu espaço para mudança nos blends dos ca- fés industrializados. Um ponto signi�cativo obser- vado nos últimos anos é a busca por produção de café com sustentabilidade. Nesse contexto, a cafei- cultura regenerativa vem ocupando um espaço na demanda do consumidor. Esse cenário pode incentivar um aumento na produção de cafés sustentáveis (regenerativo, baixo carbono, orgânico), gerando condições para conso- lidação desse “novo mercado”. Os cafés especiais, em média, representam 10% de toda produção de café arábica. É um produto de alta qualidade que tem mercados especí�cos, po- dendo-se dizer que são nichos de mercado. Um maior número de produtores começou a produzir cafés especiais e com o melhoramento das técnicas produtivas percebe-se a melhora na pon- tuação desses cafés, o que signi�ca também uma melhora expressiva de qualidade, fazendo com que “a régua” esteja mais alta. Quando surgiu a nomenclatura cafés especiais, falava-se em 80 pontos, que algum tempo depois evoluiu para 84 pontos. Dada a melhoria na quali- dade, agora a “régua” está em 86 pontos. Fonte: Instituto Axxus Motivações para tomar café 2019 56% 37% 2% 4% 42% 2021 57% 39% 37% 3% 3% 2023 61% 40% 24% 8% 35% SIGNIFICADO/MOTIVAÇÕES Melhorar o humor e a disposição Ritual, prazer e bem-estar Momento para pausa, reflexão e paz Degustar e saborear a bebida Oportunidade de interação com pessoas Foi possível escolher mais de uma alternativa Pós-pandemia o cafévoltou a ser uma oportunidade de interação com as pessoas. Amostra: 4.072 Análise macro A questão climática foi o grande fator que inibiu o crescimento da produção. O Brasil, sendo o maior produtor mundial de café, teve desde a safra de 2021 crises cli- máticas severas, o que repercutiu na produ- ção mundial de café arábica. Hoje, as questões climáticas são o pon- to de maior observação pelos produto- res, visto que são variáveis independentes. Mesmo nas áreas irrigadas, a falta de chu- va ou irregularidade do ciclo chuvoso tam- bém afetam negativamente a produção, visto que a irrigação não gera o mesmo efeito que a chuva, na planta e no microclima. Essa progressão qualitativa faz com que o mer- cado de cafés especiais seja mais seletivo, o que chama atenção do consumidor, e em decorrência, do produtor. Procura x oferta Historicamente, o café arábica representa algo em torno de 60 a 70% do consumo mundial de café. Quanto ao café especial, há expectativa de um aumento no consumo, considerando que são con- sumidos na rua, ou seja, são oferecidos em cafete- rias, cujo número aumenta signi�cativamente to- dos os anos. Mudança de paradigmas A sustentabilidade é a palavra-mestre do mo- mento. Diferentemente de outros períodos, hoje a visão do consumidor para as questões de sustenta- bilidade, seja ambiental, econômica ou social, dei- xou de ser uma ideologia e passou a ser uma prática. 79 M ER C A D O A nova geração de consumidores tem buscado produtos que sejam cultivados dentro de regras que respeitem o meio ambiente e a integridade huma- na. Os consumidores buscam saber a origem dos produtos que eles consomem e se na cadeia de pro- dução e comercialização tem havido o respeito ao produtor, ou seja, o comércio justo. Isso se veri�ca quando o consumidor quer sa- ber quanto do preço pago por ele e quanto dos prê- mios pagos em função das certi�cações ou mesmo por qualidade chega ao produtor, e ainda, quan- to desses prêmios de certi�cação, recebidos pelo Fonte: Instituto Axxus Formas de preparo 2019 58% 26% 34% 7% 45% 3% 16% 5% 1% 2021 59% 42% 35% 13% 9% 6% 11% 6% 1% 2023 55% 32% 33% 9% 38% 5% 17% 4% 3% SIGNIFICADO/MOTIVAÇÕES Coador de pano Cafeteira elétrica com coador de papel Coador de papel Cafeteira italiana ou moka Espresso de máquina Solúvel Máquina de sachê ou cápsula Cafeteira prensa francesa Outros Foi possível responder até duas formas Em 2023, pós-pandemia, cresceram as máquinas de sachê ou cápsulas e o espresso. Amostra: 4.072 80 M ER C A D O produtor, é investido em sustentabilidade. Essa é a realidade. Esse comportamento do con- sumidor afeta diretamente a produção que busca o aprimoramento das técnicas e dos tratos produti- vos que melhor se ajustem ao meio ambiente. Consumo de café solúvel cresce 5,2% em 2023 Os brasileiros consumiram o volume recorde de 24,248 mil toneladas (equivalentes a 1,05 mi- lhão de sacas de 60 kg) de café solúvel no ano passado, o que representou evolução de 5,2% em relação a 2022 e implicou o oitavo avanço anual consecutivo na série histórica. Os dados fazem parte do relatório anual di- vulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS). Já as importações de café solúvel de todos os ti- pos, 100% realizadas pelas empresas �liadas à en- tidade, tiveram queda signi�cativa de 32,7% ante 2022, recuando a 423,4 toneladas, ou 18.345 sacas. “É um volume pequeno, mas que ajuda na ofer- ta de mais opções aos consumidores brasileiros”, comenta o diretor de Relações Institucionais da ABICS, Aguinaldo Lima. 81 Conforme ele, o crescimento contínuo no con- sumo de café solúvel no Brasil re�ete os investi- mentos realizados pelas indústrias do setor, que ampliam seu portfólio de produtos, e as ações de promoção e capacitação realizadas pelo segmen- to, como o projeto setorial “Cria e Curta”, desen- volvido com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil); a im- plantação do protocolo de análise sensorial, em con- junto com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL); os cursos de formação de especialistas na aplicação dessa metodologia, denominados “IC Grader” (Instant Co�ee Grader); e a campanha nas redes sociais “Descubra Café Solúvel”, que propor- Fontes: Simão Pedro de Lima Diretor superintendente da Expocacer ABICS – Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel Fonte: ABICS Desempenho do café solúvel no mercado interno Produto Spray Dried Freeze Dried Total kg Total sacas Evolução 2016 2018 2020 2022 18.432.442 19.228.469 20.470.140 21.776.677 297.999 786.344 995.265 1.269.516 18.730.441 20.014.813 21.465.405 23.046.193 811.652 867.309 930.168 998.668 2,4% 4,3% 2,8% 1,4% 2017 2019 2021 2023 18.640.687 20.041.815 21.619.674 22.784.502 539.172 842.680 1.117.479 1.463.263 19.179.859 20.884.495 22.737.153 24.247.765 831.127 904.995 985.277 1.050.736 4,4% 4,3% 5,9% 5,2% ciona maior percepção das qualidades e da versa- tilidade do produto pelos consumidores brasileiros. “Com essas ações, o café solúvel se torna mais conhecido pela população do Brasil e, ao cair no gosto popular, seja em forma de bebida ou no pre- paro de diversos pratos da gastronomia, vem regis- trando altas consecutivas no consumo”, �naliza. 82 M ER C A D O PRODUÇÃO CUSTOS MERCADO ESPECIAIS No coração do Cerrado Mineiro, nas fazen- das São Lourenço e Brasis, propriedades da São Mateus Agropecuária, pertencente ao Grupo BMG, um café extraordinário vem con- quistando o mundo. O Guima Café, produzido em terras promisso- ras, localizadas nos municípios de Patos de Minas e Varjão de Minas, na região do Cerrado Mineiro, no Alto Paranaíba (MG), recebeu recentemente o título de “Melhor Café do Mundo” no renomado Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. Eduardo Dominicale, CEO do Grupo BMG, conta que o café da espécie arábica é o principal cul- tivo, com um manejo focado na produção de cafés especiais destinados aos mercados mais exigentes. A história A grandiosidade da produção soma uma área total de 1.230 hectares, dos quais 680 são dedicados ao plantio de café. A capacidade de produção anu- al atinge 35 mil sacas, sendo que 70% dessa produ- ção é voltada para cafés especiais, em que Eduardo Dominicale ressalta o compromisso com a qualida- de excepcional. A história do Guima Café remonta quatro dé- CAFÉ BRASILEIRO Eleito o melhor do mundo Café produzido pela São Mateus Agropecuária, do Grupo BMG, é o 1º colocado no Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy pela complexidade aromática e práticas sustentáveis regenerativas. 84 ES P EC IA IS Fotos: Guima Café cadas atrás, quando o fundador do Grupo BMG, Flávio Pentagna Guimarães, conhecido como ‘Dr. Flávio’, investiu nas primeiras lavouras de café na região do Cerrado Mineiro, ao adquirir as áreas que compõem a Fazenda São Lourenço, nos municípios de Patos de Minas e Varjão de Minas, na região do Cerrado Mineiro, no Alto Paranaíba (MG). A área foi ampliada no ano de 2010, com a aquisição da fazenda Brasis - ambas compõem a marca Guima Café, produzida pela São Mateus Agropecuária. Pioneiro por tradição, Dr. Flávio viu na cafei- cultura uma oportunidade de diversi�car seus ne- gócios. Neste longo percurso de quatro décadas, as fazendas evoluíram por meio da implantação de melhorias contínuas nas lavouras e na expansão do pós-colheita. Com a pro�ssionalização da equipe e a busca constante por tecnologias para otimizar o “A capacidade de produção anual do Guima Café atinge 35 mil sacas, sendo que 70% é voltada para cafés especiais” sistema produtivo, o Guima Café conseguiu forta- lecer sua atuação no mercado. A trajetória O resultado do processo citado levou natural- mente a relevantes conquistas, pautadas por mui- ta dedicação, amor e trabalho, e também pela de- cisão de adotar, nas lavouras, práticas e processos sustentáveis de fazer café. 85 ES P EC IA IS Essa mudança teve início em 2007, quando o Guima,buscando agregar valor aos seus produtos, decidiu produzir o café especial. Com isso, a meta foi equilibrar a produção com as práticas agrícolas mais modernas e sustentáveis, com a sabedoria e aprendizados do passado. “Iniciamos a partir daí a jornada em busca de uma cafeicultura carbono zero, sustentada pelos pilares: processos produtivos que respeitam o solo, o ecossistema, gestão dos recursos hídricos e va- lorização do capital humano das fazendas. Con- quistamos, então, certi�cações relevantes para o setor do café especial, como RainForest Allian- ce desde 2008, além do Certi�ca Minas, AAA, Café Practices e Regenagri, corroborando os re- sultados dos nossos esforços”, orgulha-se Eduar- do Dominicale. Tais práticas produtivas permitiram ao gru- po fornecer cafés para diversos mercados, cada vez mais exigentes, e �rmar parcerias importantes no cenário internacional como referência em práticas sustentáveis de produção. Um exemplo é a parceria com a Illy, que iniciou em 2008. “Dentro de um processo rigoroso, temos participado de diversas avaliações, que em 2023 cul- minou no reconhecimento de ‘Melhor café do mun- do’”, detalha o CEO do grupo. Pioneirismo O Grupo BMG traz em seu DNA o pionei- rismo, empreendedorismo e obstinação na busca de produzir e oferecer sempre o melhor. O Gui- ma Café é fruto dessa iniciativa, além de buscar consonância com as melhores práticas sociais e ambientais. Mas, nem tudo são �ores. Eduardo deixa claro que a agricultura é uma atividade que exige plane- jamento, visão de futuro e resiliência para o enfren- tamento de adversidades climáticas. “No Guima Café, nossos valores são bem de�nidos: buscamos a qualidade do café produzido adotando soluções naturais, tendo muito respeito ao meio ambiente, ao local onde estamos inseridos e às pessoas que ali vi- vem e trabalham conosco”, a�rma. Questão de esmero Para conseguir os resultados atuais, cada muda plantada é irrigada, fertilizada, o solo é cuidado, as- Eduardo Dominicale, CEO do Grupo BMG 86 ES P EC IA IS sim como a água. “Temos consciência da nossa res- ponsabilidade com nossos consumidores; por isso, acreditamos que as práticas adotadas, aliadas ao nosso controle de qualidade, fecham esse ciclo pro- dutivo. Uma das práticas adotadas é a de rastrear os lotes de café, permitindo o controle total do ciclo de produção e recursos utilizados. A base para realiza- ção deste processo é o registro dos dados especí�cos e mais relevantes de todos os grãos colhidos por ta- lhão. Esses dados são signi�cativos, permitindo uma apropriada gestão de qualidade e transparência jun- to aos consumidores”, detalha o CEO. A colheita é mecanizada e, para a secagem dos grãos, são utilizados 40 mil metros quadrados de terreiros e 15 secadores rotativos, além de tulhas de madeira, com capacidade para armazenar mais de 10 mil sacas de café. Após esses processos, no pós-colheita é possível separar os lotes dos grãos pelo potencial de sua qua- lidade. Além disso, o grupo conta com terreiros sus- pensos, arborizados, e um processo de fermentação que potencializa ainda mais a parte sensorial do café. Agricultura regenerativa O manejo para o Guima Café usa plantas de co- bertura nas entrelinhas das lavouras, que após a prá- tica de roçadas, a palhada (biomassa) é aplicada ao redor dos pés de café, a conhecida “adubação verde”. Segundo Eduardo, essa ação contribui para a redução da temperatura do solo, favorecendo a retenção da umidade e a menor necessidade de irrigação, gera matéria orgânica e nutrição para as plantas, diminuindo o uso de fertilizantes quí- micos nas lavouras. Outra prática é o plantio de árvores e arbustos entre as lavouras que atraem insetos, inimigos na- turais das principais pragas do café, o que favorece a mitigação no uso de defensivos e a redução dos GEE com o “sequestro” de carbono. A irrigação é realizada por gotejamento localiza- do na projeção da copa do cafeeiro. Os gotejadores se estendem por toda a lavoura, permitindo uma irri- gação uniforme do cafezal, com otimização da água. “A colheita é mecanizada e, para a secagem dos grãos, são utilizados 40 mil metros quadrados de terreiros e 15 secadores rotativos, além de tulhas de madeira, com capacidade para armazenar mais de 10 mil sacas de café”. 87 ES P EC IA IS Premiações mais que merecidas Além da certi�cação RainForest Allian- ce que mantém desde 2008, e Certi�ca Mi- nas, AAA, Café Practices, em maio de 2022, o Guima recebeu o selo Regenagri®, concedido pela Control Union. Esta é uma empresa britânica, presen- te em mais de 70 países, que reconhece as boas práticas adotadas e o uso da tecnolo- gia aliada ao manejo responsável, garantin- do alta produtividade da lavoura em har- monia com o bioma onde a propriedade está inserida, no caso do Guima Café, o Cerrado. Toda a cadeia ganha O processo adotado hoje na Fazenda São Ma- teus, aliado às melhores práticas agrícolas cafeeiras, tornam nossos cafés cada vez mais saborosos. “A adoção dos vários métodos sustentáveis que usa- mos na agricultura regenerativa bene�cia o solo, o meio ambiente e, claro, o café, evitando o desper- dício de água e de insumos, garantindo maior e�- ciência nos processos de plantio, cultivo, amadure- cimento dos grãos e a colheita”, pontua Eduardo. Ainda segundo ele, a gestão do solo, gerencia- mento da energia e controle hídrico, otimização dos insumos agrícolas, introdução de soluções bio- lógicas e orgânicas, entre outras, têm um efeito di- reto sobre a saúde do solo, biodiversidade e cursos d’água, enquanto reduzem as emissões e sequestra carbono, e, consequentemente, sobre o produto �- nal, o grão de café. Essas novas práticas, que envolvem a cafeicul- tura regenerativa, ajudam o Grupo BMG a criar um sistema produtivo mais resiliente para enfren- tar os impactos climáticos, bem como reduzir os custos, diminuindo o uso de insumos químicos nas lavouras. 88 ES P EC IA IS Um exemplo citado por Eduardo é a econo- mia entre 80 e 90% da água, graças ao conjunto de equipamentos composto por eco�ltros e caixas de reciclagens da água que permitem a �ltragem e re- tirada de sólidos. Ao �nal do processo, a água e os resíduos do café são destinados à compostagem para transfor- mação em fertilizante orgânico que, por sua vez, é utilizado nas plantações de café - um ciclo susten- tável que evita o desperdício de recursos naturais. Impactos diretos As certi�cações são uma chancela para os mer- cados nacional e internacional, de que as práticas e processos sustentáveis são reais e reconhecidos pe- los mercados mais exigentes. A busca pela alta qualidade dos produtos des- te grupo - respeitando o meio ambiente onde está inserido e as pessoas que trabalham lá e vivem no entorno – está no DNA da empresa e é a bússola que pauta as diretrizes do Guima Café. “As certi�cações corroboram com a qualidade do nosso produto �nal, sendo conhecido global- mente, o que nos enche de orgulho”, diz o CEO, que garante que o processo não para por aqui. “Buscamos aprimorar constantemente nossos mé- todos de cultivo e processamento por meio de es- tudos, pesquisas e parcerias com entidades como Nutrade, Nespresso e Epamig, que têm como pro- pósito o aprimoramento das práticas produtivas sob a ótica da e�ciência, e também do resultado ESG. Mantemos um olhar com foco na inovação e novos métodos de manejo”, �naliza Eduardo Do- minicale. 90 ES P EC IA IS As condições climáticas únicas de cada re- gião brasileira contribuem para a diver- sidade de sabores nos cafés especiais. É importante salientar que um clima seco na época da colheita é essencial para a qualidade, principal- mente dos cafés naturais. Nas regiões úmidas, onde a qualidade pode ser afetada, temos que preparar o café por via úmida, despolpado ou cereja descascado, esse atualmente muito utilizado no Brasil. ‘Jeitinho brasileiro’ Os produtores de cafés especiais só passaram a investir em qualidade da bebida a partirde 1991, quando o Dr. Ernesto Illy veio ao Brasil para saber se o café tinha qualidade. A illyca�è, fundada em 1933, sempre comprou café de qualidade do Brasil para o seu blend num volume ao redor de 50%. No �nal da década de 80, a illy não estava encontrando mais os cafés de qua- lidade de que necessitava. Por isso, o Dr. Illy veio com uma missão: pas- sar a comprar diretamente do produtor e pagar um prêmio para os cafés de qualidade. Isso mudou o panorama da cafeicultura brasileira, que só vendia volume e os compradores sem interesse em pagar mais por um grão melhor. Com um preço maior, o produtor passou a in- vestir em qualidade e hoje o mundo reconhece que o Brasil também produz qualidade. Premiação Os Prêmios da Illy, já na 32ª versão, têm reve- lado cafés de excelente qualidade em diferentes re- giões produtoras. Neste ano, o Prêmio Internacio- nal realizado pela Illy com os outros nove países que compõem o seu blend, teve, pela primeira vez, o café brasileiro classi�cado como o melhor de todos. É importante salientar que o júri que analisou o café dos nove países era totalmente fora da equi- Aldir Alves Teixeira pe da empresa. Jornalistas, chefs de cozinha, espe- cialistas em café, dentre outros, analisaram todos esses cafés, inclusive na bebida Espresso. Vale a pena? Eu, como engenheiro agrônomo, sempre digo que café com produtividade e qualidade dá lucro. Assim, quem tiver uma cafeicultura implantada em regiões próprias e com qualidade, sempre será lucrativo. Poderíamos dizer que hoje um volume conside- rável de produtores já cultiva cafés especiais, susten- táveis, rastreáveis e muitos já praticando a cafeicul- tura regenerativa, que sequestra o carbono no solo. Ainda, as tendências globais em relação aos ca- fés especiais têm aumentado consideravelmente e o Brasil já está assegurado nesse segmento. Autoria: Aldir Alves Teixeira Engenheiro agrônomo, doutor e atual CEO da Experimental Agrícola do Brasil aldir.teixeira@illy.com OS SABORES DO BRASIL Em geral, o café brasileiro é muito apreciado, por ser achocolatado, doce e com bom corpo. 91 ES P EC IA IS A illyca�è lança o Arabica Selection Brasile Cerrado Mineiro, o primeiro café de agri- cultura regenerativa e certi�cado regena- gri®, criado em conjunto com a Federação dos Ca- feicultores do Cerrado. Comprometida em mitigar os efeitos das mu- danças climáticas em toda a cadeia de fornecimento, começando pelo cultivo do café, a illyca�è promo- ve o modelo sustentável de agricultura regenerativa, que permite regenerar naturalmente o solo e redu- zir as emissões de CO2. Na região do Cerrado Mineiro, onde a empre- sa trabalha lado a lado com produtores locais há mais de 30 anos, o café que compõe o Arabica Se- lection Brasile Cerrado Mineiro é cultivado apli- cando as melhores práticas regenerativas certi�ca- das pela regenagri®. Diferencial A especialidade do illy Arabica Selection Bra- sile Cerrado Mineiro, assim como de todos os Arabica Selection, está em sua origem geográ�- ca. A Região do Cerrado Mineiro é reconhecida mundialmente pelo café diferenciado, com iden- tidade e alta qualidade, resultante da combinação perfeita entre seu microclima, solo, relevo e altitu- de, além, é claro, do vasto conhecimento dos pro- dutores da região. “O Arabica Selection Brasile Cerrado Minei- ro é resultado da relação que construímos ao lon- go dos anos com os produtores de café e a Fede- ração dos Cafeicultores do Cerrado. Partilhamos a urgência de encontrar uma solução para os efeitos das alterações climáticas”, comenta Cristina Scoc- chia, CEO da illyca�è. A redução da exploração dos recursos naturais, a regeneração do solo, a preservação da biodiversi- dade e da produtividade futura da terra são alguns dos resultados obtidos com a aplicação de práti- cas agronômicas regenerativas selecionadas pela illyca�è. Um modelo que muda o foco da planta para o solo, propondo as melhores soluções naturais para nutrir, fortalecer e torná-lo fértil e resistente às ame- aças externas. Parceria de sucesso “Os produtores de café da nossa região, pre- sentes em 55 municípios, são extremamente gratos pelo reconhecimento e pela longa parceria com a illyca�è, e de levarmos agora um produto Illy com a marca da região, garantindo a Denominação de Origem para dezenas de países no mundo”, enfati- za Gláucio de Castro, presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. O novo Arabica Selection Brasile Cerrado Mi- neiro é um café especial e diferenciado, com notas de caramelo e frutas secas, e está disponível em la- tas de 250 g nas versões grão e moído. Você pode encontrá-lo em illy.com, nos pontos de venda di- retos da illy e em redes de supermercados selecio- nadas. ILLYCAFFÈ LANÇA O ARABICA SELECTION BRASILE CERRADO MINEIRO Os diferenciais deste café estão em sua origem geográfica e condução sustentável. Illycaffè 92 ES P EC IA IS Para compartilhar as ações e marcos da cafei- cultura do Cerrado Mineiro em 2023, com foco nas iniciativas socioambientais e metas, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Ex- pocacer) lançou o relatório “Iniciativas de Impac- to 2023”. A expectativa é elevar o patamar de pro- pósitos para os próximos anos, como por exemplo, chegar a 25 mil hectares de café regenerativo até 2027, com aumento de mais 92% em comparação ao número atual, que é de cerca de 13 mil hectares. O relatório mostra que, além de a Expocacer ter se tornado a primeira cooperativa do mundo a receber o selo pela Regenagri®, entidade global que tem como objetivo garantir a saúde e a preser- vação do solo, também atingiu um marco por meio da geração de energia solar fotovoltaica e obteve resultados de 143.346,71 kWh. “Estamos orgulhosos de nossos avanços em sus- tentabilidade ambiental. Reduzimos nossa pegada de carbono, implementamos práticas agrícolas inte- ligentes, sustentáveis e promovemos ideias regene- rativas com diálogos transparentes. Esses esforços re�etem nosso compromisso em preservar o plane- ta para as gerações futuras, estimulando e inspiran- do a transformação”, a�rma Simão Pedro de Lima, diretor superintendente da Expocacer. Pesquisa Um estudo feito pelo Instituto de Manejo e EXPOCACER META DE AUMENTO DE 92% SOBRE CAFÉ REGENERATIVO ATÉ 2027 Expocacer A Expocacer Criada em 1993 e situada em Patrocí- nio (MG), a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer) promove a quali- dade dos cafés e o trabalho dos cooperados no Brasil e no mundo. A infraestrutura da cooperativa con- templa dois armazéns com capacidade para mais de 1 milhão de sacas. Atualmente, são atendidos 680 produtores, com exportação para mais de 30 países, nos cinco continen- tes. Certi�cação Florestal e Agrícola (Ima�ora), reali- zado em 20 propriedades de café associadas à coo- perativa, também apontou que as fazendas seques- tram mais carbono do que emitem. O instituto constatou um valor de emissões negativo de -0,2 tonelada de dióxido de carbono, equivalente a um por hectare ao ano. Este fenôme- no acontece quando o sequestro do carbono oriun- do do solo e das plantas é maior que as emissões, e ao analisar as estimativas de emissão de GEE das fazendas, o Ima�ora chegou ao valor absoluto de 15.400 tCO2e.ano-1, número considerado baixo. 93 ES P EC IA IS Já conhece todos os tipos de cafés? Se não, mergulhe conosco nesse mundo sensacional de sabores. Café tradicional: são os mais comuns. Po- dem ser formados por diferentes espécies de grão. A torra geralmente é mais escura, e o gosto não é muito adocicado. O equilíbrio (doçura e amargu- ra) é variável. Café superior: apresenta certa �exibilida- de no “blend” (mistura de grãos), podendo ter até 20% da variedade de grão robusta, mais utilizado em cafés solúveis. A torra não é muito escura, e o sabor é suave, porém, mais amargo que o gourmet. Gourmet (ou especial): é produzido com 100% de grãos do tipo arábica, considerado o mais nobre dos cafés. Produz uma bebida normalmentemais doce, chegando muitas vezes a dispensar o uso de açúcar. O aroma e o sabor podem lembrar cere- ais torrados, �ores, frutas ou achocolatados. São encontrados geralmente em embalagens valvula- das, com mecanismo interno que impede a saída dos gases do café e a entrada de ar. A torra varia de moderadamente clara a moderadamente escura. Café aromatizado: contém aromatizante de amêndoa, chocolate com trufas, creme irlandês, men- ta, canela, damasco, entre outros. Café funcional: fazem parte desse grupo os descafeinados, com baixo teor de cafeína e os orgâ- nicos, produzidos sem uso de agrotóxicos e sem pre- judicar o ambiente. Café inovador: levam esse título os cafés do tipo cappuccino, “mocaccino” (café quente, com es- puma de leite e um bombom de chocolate sem re- cheio ou tablete de chocolate meio amargo), gela- do, entre outros. O preparo do café Con�ra, a seguir, as dicas para preparar um café mais que especial: É preciso escaldar o �ltro? Sim! Geralmente, a ideia de escaldar do �ltro é para tirar o gosto residual de celulose, ou seja, aquele gosto de papel que pode comprometer o sa- bor �nal do seu café. Ferver ou não ferver a água? Essa questão é polêmica, mas desmisti�care- mos. Sim, você pode ferver a água e seu café não DICAS PARA TOMAR O CAFEZINHO PERFEITO O café especial é uma experiência que convida e aguça os sentidos e a curiosidade dos consumidores. Por isso, os meios de extração também são um capítulo à parte, afinal, cada um traz uma sensação diferente. 94 ES P EC IA IS Fontes: Caio Tucunduva Mestre de Torrefação da No More Bad Coffee Sindicafé-SP queimará! O café passa pelo processo de torra em altas temperaturas, acima de 200°C. Além disso, na maioria das cidades do Brasil a água entra em ponto de fervura abaixo dos 100°C. Mesmo que a água ferva a temperatura alta, não tem capacidade para queimar o pó. Mas, para obter uma extração equilibrada, a água precisa de altas temperaturas. Os baristas recomendam temperaturas entre 92º e 96°C e, se você não tem como medir, a dica é, quando a água começar a bolhar, desligue o fogo e coe o café imediatamente. Preciso me preocupar com a grossura da mo- agem do grão? Se você é um entusiasta de café e tem alguns aparelhos para extração em casa, vale entender qual o método e escolher a granulometria corre- ta. Por exemplo: na prensa francesa, o ideal é que a moagem seja mais grossa para tentar minimizar o excesso de resíduo que normalmente o método oferece. As moagens médias vão bem no Hario, Kalita e Koar - um método brasileiro bem pareci- do com o Kalita. Já as moagens mais �nas vão bem com espresso, café turco, moka ou cafeteira italia- na, entre outros. Qual a quantidade de pó para a água? Para o café coado, vale a proporção de 10 g de pó para 100 ml de água (ou seja, uma colher de sopa) para 100 ml de água, que equivale a 1/5 do copo americano. Esta é uma medida base e o mais legal é variar conforme o método, grãos e paladar. Tem um jeito certo de despejar a água no café? Despejar a água da forma correta faz toda dife- rença no sabor, além de evitar o desperdício de pó. Uma boa forma de começar a extração é pela pré- -infusão, processo que umidi�ca todo o pó. Bas- ta adicionar água só até cobrir o pó e esperar 30 segundos - esta etapa pode ser feita em qualquer método. Após a pré-infusão, despeje a água lenta- mente em formato circular, garantido que todo o pó que está nas paredes do �ltro seja aproveitado. Assim a extração será completa e seu café terá um equilíbrio de sabores. Como comprar 1) Consuma café de qualidade: procure por cafés gourmets ou especiais. Algumas marcas são vendidas em mercados e outras em cafeterias. Para saber se o grão é de qualidade, a torra deve ser mé- dia ou clara. Fuja de torra extraforte, que na verda- de são grãos queimados para disfarçar todas as im- purezas que estão dentro do pacote. Ainda, a torra extraforte é tão amarga que só com muito açúcar é possível beber. 2) Dica: as torras mais claras ressaltam os aro- mas, sabores e a doçura natural do café. Assim, você pode tomar com menos açúcar, ou talvez não sinta necessidade de adoçar. 3) Fique de olho: outro fato importante - ca- fés de qualidade não contêm impurezas. Dentro do pacotinho só tem café e nada mais. 4) Validade: a data da torra também é impor- tante - quanto mais recente, melhor. Café não é igual vinho e o ideal é ser consumido até três me- ses após a torra. Com o tempo o café oxida e per- de suas propriedades. 5) Armazenamento: guarde o café em sua pró- pria embalagem e dentro de um pote hermético, e nunca dentro da geladeira. O café absorve todos os odores dos alimentos. Não é nada agradável beber um café aromatizado com cebola. 95 ES P EC IA IS Para Valéria Vidigal, artista plástica, cafeicul- tora e mãe de três �lhos, o mundo do café é um compromisso com o agronegócio e com a arte. Sua história é contagiante, motivo pelo qual, em 2023, foi vencedora do concurso “Melhor His- tória de um Agricultor”, realizado pelo canal No- tícias Agrícolas. Idealizadora e uma das coordenadoras do En- contro Nacional do Café, além de colaborar com o movimento das mulheres no agro, Valéria trans- formou a sua propriedade em uma fazenda expe- rimental junto com o seu marido, o engenheiro agrô- nomo Gianno Brito. Na Fazenda Vidigal acontecem várias ações do agro, e no mês de maio deste ano haverá a 15ª edi- ção do Encontro Nacional do Café e o 1° Agrote- ch Baiano, Inovação, Ciência e Tecnologia. Além de referência do empreendedorismo agrí- cola, a Fazenda Vidigal se tornou uma verdadeira ga- leria de arte a céu aberto, tendo obras de autoria de Valéria Vidigal e de outros artistas da região. Há 21 anos a sua temática nas artes plásticas é exclusivamente o café. Temos a honra de ter, há mais de uma década, a capa do nosso Anuário do Café ilustrado com a sua pintura. Seus trabalhos podem ser vistos na galeria de arte do Instagram @v.vidigalgaleriadearte e pelo QR-Code ao lado. Vale a pena conferir! Reconhecimento Na produção de cafés especiais, Valéria já ganhou vários concursos com a produção de sua fazenda e que leva a sua assinatura, além do rótulo ser ilustra- do com a sua pintura. Inovar, criar e movimentar o setor cafeeiro é sua missão. Nas palavras do ex-Ministro Carlos Melles, “Valéria é uma mulher do agro, com uma paixão única pela cafeicultura e artes plásticas, ta- lento que herdou da mãe. Ela é merecidamente re- conhecida como a artista do Café, capturando em suas obras as etapas dessa cultura de forma mag- ní�ca”. CAFÉ & ARTE EMPREENDENDO COM INOVAÇÃO 96 ES P EC IA IS O Instituto Nacional da Propriedade Indus- trial (INPI) registrou 16 certi�cações de Indicações Geográ�cas para o Café, sen- do 10 designadas como Indicação de Procedência (IP) e seis como Denominação de Origem (DO). As mais recentes (2023) são Sudoeste de Mi- nas (MG) e Região de Garça (SP), que conquis- taram o registro na categoria de Indicação de Pro- cedência, e o Café da Canastra (MG), que entrou para Denominação de Origem. Com esse novo reconhecimento, o café man- tém sua posição como o produto agrícola brasilei- ro com o maior número de certi�cações de Indica- ções Geográ�cas (IG). Caracterizações O primeiro café reconhecido foi a Região do Cerrado Mineiro, sendo o segundo IG brasileiro, com o registro de Indicação de Procedência con- cedido pelo INPI, em abril de 2005. Em 2011 foi a vez da Região da Serra da Mantiqueira, também em Minas Gerais, seguida pelo Norte Pioneiro do Paraná (2012), Alta Mogiana - SP (2013), Re- gião do Pinhal – SP (2016), Oeste da Bahia – BA (2019), Campo das Vertentes e Região das Matas de Minas – MG, ambas em 2020. As regiões do Cerrado Mineiro e da Manti- queira de Minas tiveram seus registros de IP alte- rados para registro de Denominação de Origem, respectivamente, em 2013 e 2020. Em 2021, Caparaó, Montanhas do Espírito Santo e Matas de Rondônia (RO) obtiveramregis- tros de Denominação de Origem, e o Café Coni- lon do Espírito Santo (ES) obteve Indicação de Procedência. Entenda Indicação de Procedência - nome geográ�co do país, cidade, região ou localização de seu terri- INDICAÇÃO GEOGRÁFICA BRASIL SE DESTACA NA CAFEICULTURA Indicações Geográficas (IGs) de café no Brasil 10 Indicações de Procedência (IP) Alta Mogiana (SP) Campo das Vertentes (MG) Região do Cerrado Mineiro (MG) Café Conilon do Espírito Santo Região de Garça (SP) Matas de Minas (MG) Norte Pioneiro do Paraná (PR) Oeste da Bahia (BA) Região de Pinhal (SP) Sudoeste de Minas (MG) 6 Denominações de Origem (DO) Caparaó (ES e MG) Região do Cerrado Mineiro (MG) Mantiqueira de Minas (MG) Matas de Rondônia Robustas Amazônicos (RO) Café Montanhas do Espírito Santo (ES) Café da Canastra (MG) Fontes: Ministério da Agricultura (MAPA) Cecafé Embrapa Café tório que tenha se tornado conhecido como cen- tro de extração, produção ou fabricação de deter- minado produto. Denominação de Origem - nome geográ�co do país, cidade, região ou localidade de seu territó- rio, que designa produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusivamente ou princi- palmente ao meio geográ�co, que os distinguem em relação aos seus similares disponíveis no mercado. 98 ES P EC IA IS Anuário Café 2024 DIGITAL_01 Anuário Café 2024 DIGITAL_02 Anuário Café 2024 DIGITAL_03 Anuário Café 2024 DIGITAL_04 Anuário Café 2024 DIGITAL_05 Anuário Café 2024 DIGITAL_06 Anuário Café 2024 DIGITAL_07 Anuário Café 2024 DIGITAL_08 Anuário Café 2024 DIGITAL_09 Anuário Café 2024 DIGITAL_10 Anuário Café 2024 DIGITAL_11 Anuário Café 2024 DIGITAL_12 Anuário Café 2024 DIGITAL_13 Anuário Café 2024 DIGITAL_14 Anuário Café 2024 DIGITAL_15 Anuário Café 2024 DIGITAL_16 Anuário Café 2024 DIGITAL_17 Anuário Café 2024 DIGITAL_18 Anuário Café 2024 DIGITAL_19 Anuário Café 2024 DIGITAL_20 Anuário Café 2024 DIGITAL_21 Anuário Café 2024 DIGITAL_22 Anuário Café 2024 DIGITAL_23 Anuário Café 2024 DIGITAL_24 Anuário Café 2024 DIGITAL_25 Anuário Café 2024 DIGITAL_26 Anuário Café 2024 DIGITAL_27 Anuário Café 2024 DIGITAL_28 Anuário Café 2024 DIGITAL_29 Anuário Café 2024 DIGITAL_30 Anuário Café 2024 DIGITAL_31 Anuário Café 2024 DIGITAL_32 Anuário Café 2024 DIGITAL_33 Anuário Café 2024 DIGITAL_34 Anuário Café 2024 DIGITAL_35 Anuário Café 2024 DIGITAL_36 Anuário Café 2024 DIGITAL_37 Anuário Café 2024 DIGITAL_38 Anuário Café 2024 DIGITAL_39 Anuário Café 2024 DIGITAL_40 Anuário Café 2024 DIGITAL_41 Anuário Café 2024 DIGITAL_42 Anuário Café 2024 DIGITAL_43 Anuário Café 2024 DIGITAL_44 Anuário Café 2024 DIGITAL_45 Anuário Café 2024 DIGITAL_46 Anuário Café 2024 DIGITAL_47 Anuário Café 2024 DIGITAL_48 Anuário Café 2024 DIGITAL_49 Anuário Café 2024 DIGITAL_50 Anuário Café 2024 DIGITAL_51 Anuário Café 2024 DIGITAL_52 Anuário Café 2024 DIGITAL_53 Anuário Café 2024 DIGITAL_54 Anuário Café 2024 DIGITAL_55 Anuário Café 2024 DIGITAL_56 Anuário Café 2024 DIGITAL_57 Anuário Café 2024 DIGITAL_58 Anuário Café 2024 DIGITAL_59 Anuário Café 2024 DIGITAL_60 Anuário Café 2024 DIGITAL_61 Anuário Café 2024 DIGITAL_62 Anuário Café 2024 DIGITAL_63 Anuário Café 2024 DIGITAL_64 Anuário Café 2024 DIGITAL_65 Anuário Café 2024 DIGITAL_66 Anuário Café 2024 DIGITAL_67 Anuário Café 2024 DIGITAL_68 Anuário Café 2024 DIGITAL_69 Anuário Café 2024 DIGITAL_70 Anuário Café 2024 DIGITAL_71 Anuário Café 2024 DIGITAL_72 Anuário Café 2024 DIGITAL_73 Anuário Café 2024 DIGITAL_74 Anuário Café 2024 DIGITAL_75 Anuário Café 2024 DIGITAL_76 Anuário Café 2024 DIGITAL_77 Anuário Café 2024 DIGITAL_78 Anuário Café 2024 DIGITAL_79 Anuário Café 2024 DIGITAL_80 Anuário Café 2024 DIGITAL_81 Anuário Café 2024 DIGITAL_82 Anuário Café 2024 DIGITAL_83 Anuário Café 2024 DIGITAL_84 Anuário Café 2024 DIGITAL_85 Anuário Café 2024 DIGITAL_86 Anuário Café 2024 DIGITAL_87 Anuário Café 2024 DIGITAL_88 Anuário Café 2024 DIGITAL_89 Anuário Café 2024 DIGITAL_90 Anuário Café 2024 DIGITAL_91 Anuário Café 2024 DIGITAL_92 Anuário Café 2024 DIGITAL_93 Anuário Café 2024 DIGITAL_94 Anuário Café 2024 DIGITAL_95 Anuário Café 2024 DIGITAL_96 Anuário Café 2024 DIGITAL_97 Anuário Café 2024 DIGITAL_98 Anuário Café 2024 DIGITAL_99 Anuário Café 2024 DIGITAL_100