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OS DOIS FILHOS UNGIDOS ou As testemunhas fiéis para a Magistratura e o Ministério com base nas Escrituras Por Rev. Samuel B. Wylie, A.M. “E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco. Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra.” Apocalipse 11:3-4. Com “Um Ensaio Sobre a Submissão ao Governo Civil” Contribuidores da obra: Design: Wallas Pinheiro Tradução: Rodrigo Varoni / Filipe Macedo/ Jadson Targino Junior Revisão: Diego Henrique Trentini Gehm / Maycon Maia Ribeiro / Luiz Castaldi / Filipe Macedo / Gabriel Lago Este livro não pode ser revendido ou distribuído para vendas sem a permissão escrita da Editora Caridade Puritana. Todos os direitos autorais pertencem à ECP. Para a distribuição gratuita, temos a versão em PDF disponível em nosso site: https://www.editoracaridadepuritana.com.br Sumário A Vida de Samuel B. Wylie PREFÁCIO INTRODUÇÃO Capítulo 1: Pressupostos Estabelecidos Capítulo 2: A Diferença Entre O Governo Civil e a Igreja Capítulo 3: A Concordância Entre os Dois Poderes Capítulo 4: O Relacionamento Entre o Ramo Civil e o Ramo Eclesiástico Capítulo 5: A Função do Governo Civil Capítulo 6: A Função da Igreja Capítulo 7: O Dever Pessoal para com o Governo Civil Legal Capítulo 8: Análise da Autoridade Civil na América do Norte Capítulo 9: O Dever Pessoal diante um Governo Civil Ímpio Capítulo 10: Respondendo Objeções Capítulo 11: Aplicação N A VIDA DE SAMUEL B. WYLIE ascido em County Antrim, Irlanda, em 21 de maio de 1773. Entrou para a Universidade de Glasgow, na Escócia, onde se distinguiu como académico, tendo-se licenciado com o grau honorário de Mestre em Artes em 1797. Começou a ensinar numa escola em Ballymena, na Irlanda, mas foi obrigado a fugir da sua terra natal em consequência da sua ligação com os esforços em prol da independência irlandesa. Emigrou para os Estados Unidos em outubro de 1797, estabelecendo-se em Filadélfia. Em 1798, foi nomeado Tutor na Universidade da Pensilvânia. Estudou teologia em privado e sob a direção do Rev. William Gibson, sendo licenciado pelo Reformed Presbytery, em Coldenham, Nova York, em 24 de junho de 1799. Foi ordenado sine titulo pelo Presbitério Reformado, em Ryegate, Vermont, em 25 de junho de 1800, e foi o primeiro ministro Covenanter ordenado na América do Norte. Acompanhou o Rev. James McKinney por todo o Sul para abolir a escravatura da Igreja Covenanter. Pregou durante algum tempo nas novas sociedades organizadas da Filadélfia, Pensilvânia, e Baltimore, Maryland. Foi nomeado pastor da congregação da Filadélfia, em 20 de novembro de 1803. Na organização do Seminário Teológico da Filadélfia foi escolhido o Professor e permaneceu na função desde 1810 até sua demissão em 1817. Foi reeleito e serviu desde 1823 até a sua demissão em 1828. A sua publicação mais notável, "The Two Sons of Oil" [Os Dois Filhos Ungidos], publicada pela primeira vez em 1803, foi elogiada como a melhor apresentação da posição da Igreja Covenanter nos Estados Unidos. Além disso, seu sermão sobre a "Obrigação dos Pactos", expõe em termos mais claros a antiga doutrina dos pactos. Wylie morreu na sua residência em Filadélfia, em 13 de outubro de 1852. O PREFÁCIO s princípios da reforma não estão na moda. Eles foram uma vez, no entanto, considerados como a glória dos presbiterianos. Foi-se o tempo quando todo o corpo de presbiterianos, na Escócia, Inglaterra e Irlanda, unanimemente os subscrevia. Pela reforma civil e eclesiástica, por uma gloriosa causa pactual, milhares sangraram e morreram. No seguinte discurso, empenhei-me em defender esta causa. Não porque é uma causa antiga; não porque muitos a selaram com seu sangue; mas porque a considero a doutrina da Bíblia e a causa de Cristo. Não faço nenhuma apologia — não solicito o favor de ninguém. Uma convicção da verdade foi a causa da publicação. Pode haver, sem dúvidas, expressões suscetíveis a ataques. Qualquer coisa assim, se demonstrada, será francamente reconhecida. Samuel B. Wylie. E INTRODUÇÃO “Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra”. Zacarias 4:14. sse capítulo está repleto de conforto abundante aos cativos que retornaram. Nas suas circunstâncias embaraçosas, eles estavam em grande necessidade de consolação. Eles estavam inclinados a considerar sua situação como desamparada e deplorável; e duvidavam muito se o templo que eles estavam prestes a erigir algum dia adquiriria a respeitabilidade do primeiro, ou se a cidade deles abundaria com a população habitual. Eles mal podiam acreditar que “a glória desta última casa seria maior do que a da primeira” (Ageu 2:9). O escopo dessa visão, portanto, é mostrar que Deus, por seu próprio braço onipotente, consumaria a obra, a despeito da imbecilidade de seus aliados e da oposição maligna de seus inimigos. Para esse propósito, Ele os informa, por seu profeta, que a pedra de esquina seria posta com brados de júbilo; e que isso não deveria ser tão atribuído à instrumentalidade visível quanto às influências superintendentes de seu próprio Espírito onipotente (versículos 1 a 10). Do versículo onze ao fim do capítulo, temos uma breve explicação dessa visão, aplicada como uma ilustração das certezas já dadas. Isso é feito pelo anjo, a pedido do profeta, no versículo 11: “O que são essas duas oliveiras do lado direito e esquerdo do castiçal?”. O anjo, tendo-o humilhado suficientemente, deixando-o repetir seu pedido, baixar seus termos (limitando-se aos ramos das duas oliveiras) e confessar sua ignorância, responde nas palavras do texto: “Estes são os dois ungidos…”. A própria resposta requer explicação. Quem é visado por esses dois Ungidos, ou Filhos do Óleo, como se lê no original? Quem são esses talvez seja melhor verificado atendendo-se às funções que eles executam em comparação com os textos colaterais. Comparando conjuntamente os versículos dois, três e doze desse capítulo, o que parece é que eles derramam o puro óleo dourado no vaso sobre a cabeça do castiçal de ouro. Que esse castiçal de ouro representava a Igreja de Cristo, isso é abundantemente evidente das diversas passagens na Escritura: veja Êx 24:7, 1Rs 7:49 e Ap 1:20. Os sete castiçais dourados, como expressamente declarado pelo Espírito de Deus, representam as sete igrejas. A Igreja de Cristo pode ser considerada sob um duplo ponto de vista, a saber, invisível e visível. Em relação ao primeiro, os dois ramos da oliveira podem ser emblemáticos de Cristo e seu Espírito, o Redentor e Consolador. Jesus não é apenas o Messias, o próprio Ungido, mas Ele é também a boa Oliveira de sua igreja. “E de sua plenitude todos nós recebemos, e graça sobre graça” (Jo 1:16). O Espírito é o Bálsamo ou Unção, aquele que reabastece a mente com a iluminação divina. “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas” (1Jo 2:20). De Cristo, a Oliveira, por seu Espírito, o Ramo da Oliveira, comunica-se aos crentes todo o óleo dourado de graça, por meio do qual suas lâmpadas são mantidas acesas e luminosas. Em relação ao segundo, a saber, a igreja visível, eles podem ser símbolos das duas grandes ordenações da Magistratura e do Ministério, investidos naquele tempo nestes dois ilustres personagens, Zorobabel e Josué, o primeiro no Estado e o último na Igreja. Eles foram caracterizados como “Filhos do Óleo”. Os reis e sacerdotes eram ungidos e, assim, solenemente separados para suas respectivas funções. Eles “estão diante do Senhor de toda a terra”, indicando que eles eram fiéis adeptos de sua causa e testemunho, continuamente esvaziando-se no vaso dourado, contribuindo com suas respectivas influências para o avanço da reforma civil e religiosa, como objetos de seu cuidado peculiar. Em alusão a essa passagem em Zacarias, as duas Testemunhas mencionadas em Ap 11:4 são designadas pelos mesmos emblemas, a saber,“as duas oliveiras que ficam diante do Deus da terra”. A analogia da Escritura, como também a corrente dos melhores comentaristas, concorda que, por essas duas Testemunhas, quer-se dizer aquela sucessão de homens que, em todas as gerações, e contra toda oposição, têm valentemente lutado pela pureza dessas ordenações divinas, tanto em constituição quanto em administração. Nesse sentido, considere esses dois Ungidos. CAPÍTULO 1 Pressupostos Estabelecidos No prosseguimento do assunto, devemos: I. Pressupor algumas coisas, as quais, se devidamente observadas, podem ser úteis na posterior ilustração deste texto: 1. Primeiro, que Deus, o Pai, o Filho e o Espírito, é o Governante Supremo do universo. “…o Senhor Deus onipotente reina” (Ap 19:6). Isso será comumente admitido. 2. Todo poder físico e moral está natural, necessária e independentemente em Deus. “Eu sou o Deus Todo- Poderoso” (Gn 17:1). Isso foi admitido até mesmo pelo altivo monarca babilônico. “…Ele faz conforme a sua vontade no exército do céu, e entre os habitantes da terra, e ninguém pode paralisar a sua mão ou dizer-lhe: O que fazes Tu?” (Dn 4:35). 3. Todo poder a ser encontrado entre as criaturas é necessariamente derivado dele. Ele é a origem e a fonte da qual o poder flui. “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17:28). 4. Todo esse poder delegado ou derivado deve ser exercido para a sua glória e regulado por sua lei. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31). Para efetuar tal fim, todos os poderes devem ser direcionados, e, para isso, sua lei é a regra inerrante. Pela lei, portanto, todos os seres racionais estão indispensavelmente limitados. Deus não lhes deu nenhum direito de fazer o que é proibido. Supor que os homens possuem tal direito é perverso e blasfemo. Isso seria o mesmo que supor que Deus lhes diz: “Eu, como o Legislador Supremo, vos dou minha lei. À menor transgressão desta, anexarei a pena de condenação eterna; ainda vos dou um direito de violar esta minha lei e de fazer guerra com vosso Deus e direcionar vossa artilharia contra o Soberano do Universo!”. As Escrituras nos informam de outro modo: “Tudo o que te ordeno, observarás e farás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Dt 12:32). 5. Esse poder delegado surge mais notável na pessoa do Mediador. Às suas mãos o domínio universal é confiado. “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28:18). Aqui, a doação é universal. Sua extensão é ilimitada quanto à natureza criada. 1Co 15:27: o apóstolo expressamente declara que nada escapa de seu domínio, a não ser a própria Divindade. Digno de nota a esse respeito é João 5:22: “Porque o Pai a nenhum homem julga, mas confiou ao Filho todo o juízo”. Como Mediador, portanto, Ele pronuncia sentença sobre o réprobo: “Apartai-vos de mim, malditos…”, pois isso é uma parte de suas funções judiciais. Que esse poder, e seu exercício, pertence a Ele, como Mediador, é abundantemente evidente, não apenas da circunstância da doação, o que em nenhum sentido pode-se aplicar a Ele enquanto Deus (pois nesse caráter nada poderia ser dado a Ele, sendo necessariamente Deus de tudo), mas também da afirmação explícita e positiva, no versículo vinte e sete, de que toda essa autoridade foi entregue a Ele, “porque Ele é o Filho do Homem”. 6. Esse domínio universal, confiado a Ele, considerando a família humana em sua administração, consiste em dois grandes ramos, a saber, Magistratura e Ministério. Por meio desses canais, o domínio flui para a humanidade, contribuindo com suas influências para melhorar o caráter desses que são destinados à vida eterna, aos quais “todas as coisas contribuem juntamente para o bem” (Rm 8:28), ao mesmo tempo em que decreta a obstinação daqueles que continuam inimigos implacáveis, sobre os quais toda a dispensação divina terá uma operação contrária. 7. Embora ambos os ramos estejam sob o controle do Mediador, ainda assim estão sob diferentes regulações. O poder eclesiástico é delegado a Ele de tal maneira que todas as ordenanças e instituições, necessárias para a organização formal da igreja visível, fluem imediatamente dele enquanto Mediador. Mt 16:18: Ele é o construtor da igreja, o autor de todas as suas instituições sagradas. Todos os funcionários eclesiásticos, de igual modo, recebem autoridade dele, no mesmo caráter, por toda a parte de sua administração. Consequentemente, em Mt 16:19, Ele lhes entrega as chaves do reino, e o poder exclusivo de ligar e desligar. Mas o poder civil está sob uma regulação diferente. Ele flui imediatamente do Deus Criador, enquanto Governante do universo. “Quem não temeria a ti, ó Rei das nações?” (Jr 10:7). O poder civil existia antes da queda, e necessariamente teria existido mesmo que nunca tivéssemos nos revoltado contra Deus; embora, sem dúvida, nesse caso, não teria sido revestido de algumas de suas presentes modificações. A sujeição do homem ao governo moral de seu Criador teria sido, assim, similar àquela de uma ordem mais dignificada. O governo civil não se origina, como alguns políticos modernos afirmam, quer no povo, como sua fonte, quer nos vícios consequentes da queda. Entre os anjos que mantiveram sua retidão primitiva, encontramos certas ordens, sugeridas pelas denominações de Arcanjos, Tronos, Dominações, Principados e Potestades. Cl 1:16: isso testifica subordinação regular entre eles, de acordo com as leis constitucionais de sua natureza, e sua subserviência a Deus, seu Criador e Senhor. Mas, embora o governo civil não seja nenhuma nova ordem de coisas atribuída na queda, nem, como o ministério, em todas as suas circunstâncias fluindo imediatamente de Cristo enquanto Mediador, ainda está, como todas as demais coisas, entregue a Ele pela doação do Pai. Ef 1:22: seus oficiais, de igual modo, são ordenados, sob pena de ruína, a fazerem suas administrações curvarem-se à honra do Emanuel; e o corpo político indispensavelmente obrigado a modificar suas constituições pela palavra dele, quando em sua bondade Ele lha tem revelado. “Agora, portanto, ó vós reis, sede sábios; sede instruídos, vós juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e regozijai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que Ele não se ire, e pereçais do caminho, porque em breve sua ira se inflamará” (Sl 2:10,12). Pode alguma coisa ser mais explícita em demonstrar as obrigações das autoridades civis a render reverência e respeito ao Messias? Mas, como se sugere que esses dois ramos estão sob diferentes regulações, empenhar-nos-emos a: II. Mostrar um pouco mais particularmente no que eles se diferem. CAPÍTULO 2 A Diferença Entre O Governo Civil e a Igreja 1. Eles se diferem em sua origem imediata, como já foi sugerido. A magistratura flui imediatamente do Deus Criador e se baseia em seu domínio universal sobre todas as nações. “Deus é o Rei de toda a terra” (Sl 47:7). Para o mesmo propósito somos informados, em Jr 10:7: “Quem não temeria a ti, ó Rei das nações? Pois a ti isto pertence”. E, como ela flui do Deus Criador, o Pai comum e cabeça de todos, a lei da natureza, comum a todos os homens, deve ser a regra imediata de todas as suas administrações. Uma relação comum a todos deve ser regulada por uma regra comum a todos. Todos estão na mesma relação para com Deus, considerado como Governante Moral e Criador. O padrão para regular essa relação deve, obviamente, ser comum. Esse padrão é a lei da natureza, que todos os homens necessariamente possuem. A revelação é introduzida como uma regra, pelas requisições da lei da natureza, que compele os homens a receberem com gratidão tudo o que Deus quiser revelar; e aderirem a ela, como a regra perfeita, sob pena de condenação, e sendo tratados como rebeldes contra sua autoridade moral. Mas o poder Eclesiástico flui imediatamente de Cristo, enquanto Mediador, e é fundado em sua liderança econômica sobre a igreja. Deus “…sobre todasas coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo…” (Ef 1:22-23). Como esse poder flui assim de Cristo, enquanto Mediador, a lei da revelação, anunciada por Ele como o Anjo da Aliança, deve, consequentemente, ser o padrão imediato para a regulação de cada parte do sistema: e a lei da natureza entra em cena para ser uma regra, apenas em subserviência às regras gerais das Escrituras. “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4:8). 2. Eles se diferem quanto a seus objetos imediatos. A magistratura considera coisas externas, relacionando-se imediatamente com o homem exterior. 2Cr 26.16,20: quando Uzias usurpou as funções sacerdotais e ousou queimar incenso, contrariamente à ordem expressa de Deus, os sacerdotes valentemente resistiram a ele e disseram: “Não compete a ti, Uzias, queimar incenso para o Senhor, mas aos sacerdotes, aos filhos de Arão, que são consagrados para queimar incenso; sai do santuário…”. Sim, o Senhor castigou sua presunção ferindo-o com lepra, e o expulsaram do templo. Quaisquer que sejam as provisões de acomodações externas que ele esteja autorizado a fazer, convocando assembleias sinódicas e emitindo processos compulsórios para que se frequentem tribunais espirituais, estas dizem respeito aos homens como membros da comunidade e súditos do reino. Sua ratificação de decretos da igreja nada mais é do que a adoção destes civilmente, como leis boas e sadias determinadas a promover o bem-estar do Estado. Mas todo poder eclesiástico é exercido sobre as coisas espirituais. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas…” (2Co 10:4). Os homens são considerados membros do corpo místico de Jesus; e, se é necessária alguma preocupação com o homem externo, tal como para com os olhos e ouvidos, é somente para que se possa, assim, atingir suas consciências. Para aqueles que estão fora dos limites da igreja visível, sua jurisdição não se estende. “Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?” (1Co 5:12). 3. Eles se diferem em sua forma. O poder magistrático é nobre e imperial. Compete aos seus funcionários exercer o domínio, como os vice-gerentes de Deus; usar medidas compulsórias para com os desobedientes e impor a obediência às leis das quais eles são os executores. “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm 13:1). E, em caso de desobediência à sua autoridade legítima, o magistrado não deve “trazer a espada em vão”. Ele não deve, de fato, exercer o domínio caprichosamente, mas agir como “ministro de Deus para o bem” de seus súditos. Todavia, o poder eclesiástico é totalmente ministerial. Seus funcionários são considerados administradores dos múltiplos mistérios do reino espiritual e são encarregados positivamente de agir como “Senhores sobre a herança de Deus” (1Pe 5:3). Como seu grande mestre, eles não devem vir a ser ministrados, mas a ministrar às exigências espirituais de pecadores que perecem. Eles são, no entanto, merecedores de atenção e da obediência às suas ministrações espirituais. “Obedecei àqueles que têm domínio sobre vós no Senhor…” (Hb 13:17). Mas, ainda assim, eles não podem exercer coação sobre as pessoas dos homens. Isso pertence exclusivamente ao magistrado civil. E, considerando que os governantes civis podem e devem punir as transgressões, como crimes desonrosos a Deus enquanto Rei das nações, e prejudiciais ao Estado, os governantes da igreja devem considerá-los como escândalos, que ferem a honra de Jesus Cristo, desonram a Deus e arruínam as almas dos homens. 4. Eles se diferem quanto ao seu próprio fim. O fim imediato e próprio de todo poder civil é que o bem da comunidade possa ser provido para sua segurança temporal e liberdade civil, garantidas com base na lei moral (Rm 13:4). O magistrado é chamado de “ministro de Deus para o bem” dos homens. O fim último a ser atingido é o avanço da glória de Deus, enquanto Rei das nações, e um interesse em promover a prosperidade da igreja; e a propagação da verdade deve ser exercida como o meio mais bem- determinado para obter esse fim. Ou o bem da igreja pode ser considerado como um fim consequente. Quanto mais fiel for a administração da justiça, menos violações da lei divina haverá; e, consequentemente, menos escândalos para aborrecer a paz e a felicidade da igreja. Mas o fim próprio e imediato de todo poder eclesiástico é que a convicção, conversão e edificação das almas dos homens sejam promovidas. Ef 4:11-12: aqui vemos que o fim imediato da designação de todos os oficiais da igreja era: “para o aperfeiçoamento dos santos, […] para a edificação do corpo de Cristo”. O fim último é a glória de Deus, como aquele que está “em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2Co 5:19). O bem-estar do Estado é apenas um fim consequente, ao qual os oficiais da igreja, como súditos do Estado, devem visar. Quanto melhor eles exercerem suas funções eclesiásticas, menos serão os crimes no Estado, e mais fielmente todo dever civil relativo será desempenhado, e, assim, o bem-estar da nação será grandemente promovido. 5. Eles se diferem em seus efeitos. Os efeitos de todos os poderes civis ou são próprios, ou são redundantes. O efeito próprio do poder civil é a segurança e o bem-estar temporais da comunidade, junto ao gozo ininterrupto de todos os privilégios civis. O efeito redundante é o bem da igreja, na medida em que isso resulte da justa administração da lei divina em recompensar os justos e punir os ofensores (Rm 13:3), e da remoção de todos os impedimentos que obstruiriam a propagação da religião de Jesus; como Josias e outros reis reformadores de Israel fizeram. Mas o efeito próprio de todo poder eclesiástico é totalmente espiritual, agradável à natureza espiritual do reino de Cristo. “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36). É espiritual, e seu exercício produz efeitos espirituais, operando nas almas e nas consciências dos homens. O bem-estar do Estado, como tal, é apenas um efeito redundante ou acessório. Pode, no entanto, ser muito considerável. A melhoria do caráter, produzida pelas influências benignas da religião de Jesus sobre o coração humano, pode ser altamente vantajosa para a prosperidade nacional; pois a verdadeira piedade tem a promessa da vida que agora é, assim como daquela que está por vir. 6. Eles se diferem em seus sujeitos. O poder civil pode ser concedido a um ou a mais de um. Isso é deixado a critério do corpo político e, portanto, é chamado de uma “ordenação do homem” (1Pe 2:13). Qualquer que seja a forma particular, seja monárquica ou republicana, é legítima e merece obediência, desde que a constituição seja concordante com a lei moral. Também pode ser delegado de um para outro. 1Pe 2:14: somos ordenados a obedecer conscientemente, não apenas ao supremo magistrado, mas também aos seus representantes. “Quer aos governadores, ou àqueles por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem”. Mas o poder eclesiástico de jurisdição não deve se concentrar em apenas um homem. 2Co 2:6: ao falar da restauração da pessoa incestuosa, que havia sido excomungada, o apóstolo nos informa que sua censura “foi infligida por muitos”. Embora o poder de ordem, ou a administração da palavra e sacramentos, pertença a todo ministro regular do evangelho, o poder de jurisdição pertence exclusivamente a um consistório de presbíteros. Nem pode um oficial eclesiástico delegar autoridade a outro para que este desempenhe funções ministeriais. Ela só pode vir de Cristo, o cabeça, por meio de oficiais próprios. Veja Mt 16:19 comparado a Tt 1:5. 7. Eles se diferem quanto a seus correspondentes, ou nas pessoas em quem eles são exercidos, respectivamente. O poder civil estende-se a todasas pessoas residentes no reino, sejam quais forem seu estado, caráter ou condição. “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm 13:1). Aqui não há exceção de qualquer classe ou condição de homens. Porém… …A jurisdição eclesiástica se estende apenas àqueles que são membros professos do corpo místico de Jesus Cristo e opera neles exclusivamente sob esse caráter. Em 1 Coríntios 5:12-13, somos informados de que todo o poder de jurisdição da igreja está limitado somente àqueles que estão dentro. Portanto, aqueles que não são membros da igreja, se forem culpados de qualquer coisa escandalosa, exigindo censura pública, devem tornar-se membros da igreja antes que possam se tornar objetos próprios de censura eclesiástica. A jurisdição da igreja não se estende além das paredes da casa de Deus. 8. Eles se diferem em seu exercício distinto e dividido. Assim, se um negligenciar a execução do seu dever, isso não é motivo para que o outro seja negligente, e sim o contrário. Se o Estado não tomar conhecimento do assassino, ou do adúltero, sua negligência de modo algum desencoraja o braço da jurisdição eclesiástica, tampouco deve diminuir o rigor da censura da igreja. Igualmente acontecerá em uma mudança de casos. Novamente, quando um ou outro faz o que é justo e correto, por um processo que resulta na absolvição ou condenação da pessoa acusada, o outro é obrigado a tomar conhecimento da ofensa e proceder em conformidade. Assim, quando um membro da igreja houver satisfeito a lei civil por um crime cometido contra o Estado, a autoridade eclesiástica deverá processá-lo por isso, como um escândalo, e privá-lo de privilégios, até que ele dê as devidas evidências de contrição e satisfaça as leis nesse caso feitas e fornecidas. Assim, tanto a autoridade civil quanto a eclesiástica podem, e em muitos casos devem, punir pelo mesmo delito; no entanto, o processo deve ser inteiramente distinto e os poderes independentes um do outro. Mas, como temos nos esforçado para mostrar onde eles se diferem, será necessário também: III. Mostrar onde eles concordam. CAPÍTULO 3 A Concordância Entre os Dois Poderes 1. Eles concordam com isto: que Deus o Pai, o Filho e o Espírito é a fonte original da qual eles fluem. Supor que qualquer poder, ou autoridade, não fosse originado em Deus, essencialmente considerado, levaria necessariamente a princípios ateístas. O poder deve, portanto, emanar dele. “Não há poder que não venha de Deus” (Rm 13:1). Com o mesmo propósito se diz em 2Co 5:18: “Todas as coisas são de Deus”. O poder civil, como demonstrado, origina-se em Deus, enquanto Criador, e é fundado em seu domínio universal enquanto Rei das nações (Jr 10:7). E, embora todo o poder eclesiástico flua imediatamente de Cristo, enquanto o Mediador, ainda assim está radical e originalmente num Deus três-em-um. Todo o direito e toda a autoridade de Cristo, enquanto Mediador, são originalmente derivados de Deus, assim como o poder civil. Eles estão, com certeza, sob diferentes regulamentações: estas já foram declaradas. Em virtude desse direito derivado, Jesus é constituído como o único Legislador em Sião, e é o imediato, como o Pai é a fonte última de toda a autoridade eclesiástica. Consequentemente, a autoridade dos oficiais da igreja é análoga à do próprio Cristo, ou seja, por delegação. Jo 17:18: o próprio Cristo declara sua posse e sua comissão de embaixador como sendo paralelas neste ponto particular — “assim como Tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”. 2. Eles concordam nisto: que ambos estão sujeitos ao Mediador, embora sob diferentes considerações. Mt 28:18, Jo 5:22,27 e Ef 1:21,23, com muitas outras porções da Escritura, não deixam espaço para a mente sincera duvidar da universalidade da doação. Mas as diferentes regulações sob as quais esses dois ramos estão sujeitos a Ele são muito importantes e altamente dignas da mais séria atenção. Em questões civis, Ele não comissiona governantes e oficiais. Estes recebem suas comissões de Deus, de quem sua autoridade emana, e em quem a soberania sobre as nações foi fundada, anteriormente ao e independente do desenvolvimento da nova economia da aliança. Mas, em virtude da doação do Pai, Ele tem um direito de exigir a execução das ordens dadas aos governantes civis. “Agora, portanto, ó vós reis, sede sábios…”; “Beijai o Filho, para que Ele não se ire…” (Sl 2:10,12). À obediência eles estão obrigatoriamente vinculados. Se recusarem, correm o risco de serem despedaçados por seu cetro de ferro. Assim, Jesus, enquanto Governante no reino da Providência (cujas rodas Ele dirige; Ez 1:26), conduz o óleo dourado das benignas influências, tanto do ramo civil quanto do eclesiástico, para a taça dourada de sua mediadora plenitude; dali a ser dispensado às lâmpadas de reforma civil e religiosa, até que os reinos deste mundo se tornem os reinos de nosso Senhor e de seu Cristo. Por isso, Efésios 1:22-23 diz: “Ele é a cabeça sobre todas as coisas, para o uso da igreja, seu corpo”. 3. Eles concordam em sua independência mútua. Eles são coordenados. Podem belamente subsistir juntos, independentemente um do outro; mas não são colaterais, mutuamente dependentes, e não podem subsistir se separados. O ramo civil não tem poder algum sobre o eclesiástico, como tal; nem tem o eclesiástico poder sobre o civil. No entanto, as mesmas pessoas, em referência a diferentes relações, podem ser superiores ou inferiores a outra pessoa; alguém pode requerer outro, ou serem eles requeridos, a cumprir deveres relativos; e, em caso de inadimplência, podem denunciar outros, ou serem eles próprios denunciados, de acordo com as leis de suas respectivas cortes. Assim, os ministros, enquanto embaixadores de Cristo, têm o direito de exigir que os magistrados, enquanto membros da igreja, executem fielmente seu poder magistral, de modo a melhor promover a honra de Cristo e o bem-estar de sua igreja; e, no caso de atos grosseiros de má administração, podem infligir sobre eles as censuras da casa de Deus. E, por outro lado, os magistrados têm o direito de exigir que os ministros, enquanto seus súditos, executem fielmente o poder ministerial, como um excelente meio de tornar a nação piedosa e virtuosa, a fim de que sua felicidade possa assim ser promovida. Esse princípio, se devidamente observado e judiciosamente aplicado, libertará a Confissão de Fé de Westminster das falsas imputações de erastianismo, infligidas pelos reformistas modernos. Há vários artigos nos capítulos vigésimo, vigésimo terceiro e trigésimo primeiro, os quais têm sido muito atacados, como se dessem ao magistrado civil muito poder na igreja de Cristo. Consideremos que ele possa convocar sínodos, não formalmente, como judicatórios eclesiásticos, mas apenas como membros da comunidade, em cujo caráter eles são seus súditos. “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores…” (Rm 3:1). Quando convocados, certamente eles são obrigados a fazer o que é mais determinado a promover a glória de Deus. Se suas deliberações sinódicas forem determinadas a fazê-lo, não deveriam eles esboçá-las? Deveriam eles tornar-se negligentes; não deveria ele exigir que, como seus súditos, cumprissem seu dever? Deveriam eles adulterar a fonte pura da doutrina evangélica com o absinto e o fel, ou erros e heresias, e não deveria ele proibi-los de envenenar as almas de seus súditos, pervertendo seus sentimentos morais e, assim, trazendo a vingança de Deus sobre a comunidade? Se ele vê essas coisas com indiferença, como pode ele ser o ministro de Deus para o bem dos homens? 4. Eles concordam em serem ambos obrigados a tomar a lei moral como o padrão infalível de todas as suas administrações. Que o ramo civil é assim vinculado está evidente não apenas pela voz da natureza, que anuncia a lei moral como a regra suprema, regulando nossa relação com Deus como nosso Senhor e Soberano, e requer que o corpo político enxertesobre ela suas constituições civis, sob pena do alto desprazer do céu; mas também do comando expresso de Deus em sua própria palavra. Para esse propósito, veja Deuteronômio 17:18-19, quando, falando do supremo magistrado, observa-se: “Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas. […] e nele lerá todos os dias da sua vida […]”. Que a obrigação permanece sob o Novo Testamento está evidente, não só pela moralidade do dever, mas também pela circunstância de que o detalhamento de tal constituição, como é aqui mencionado, seria produtivo tanto do caráter como da administração indispensavelmente requeridos (Rm 13:1,6). A negação disso parece tão irracional, que até mesmo as Escrituras silenciaram sobre o assunto. A lei divina não é a regra completa de fé e prática? Não é assim para todo indivíduo como tal? Se cada um está individualmente ligado a isso, a união deles, numa sociedade nacional, dissolverá a obrigação? Existe alguma incompatibilidade entre o governo civil e o cristianismo, de modo que os homens devam ser despojados do último antes de embarcarem no primeiro? Se não, não deveriam eles, em todas as partes de sua administração, considerar-se cristãos e lembrar-se de sua responsabilidade de se submeter à lei divina? Por isso, toda ação deve ser provada. “…e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2:12). Que o ramo eclesiástico é limitado por essa regra divina é óbvio para todos. “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei…” (Ml 2:7). E, em sua comissão, os embaixadores de Jesus são estritamente intimados a ensinar a humanidade a observar todas as coisas ordenadas por seu divino Mestre (Mt 28:20). 5. Eles concordam na medida em que ambos têm judicatórios supremos e subordinados, nos quais exercem jurisdição, conforme Mt 18:15,18, onde temos um mandado divino para as sessões da igreja. São subordinados a (e dois ou mais deles constituem) uma judicatura presbiteral, que é divinamente reconhecida (1Tm 4:14 e também At 8:1 e 13:1). São subordinados a (e dois ou mais deles constituem) uma assembleia sinódica, que também é reconhecida nos capítulos de Atos 15 e 16. Aqui temos uma referência, uma convocação, uma discussão e os decretos sinódicos daí resultantes. Isso pode ser regularmente estendido a Assembleias Ecumênicas ou Gerais sobre todo o globo habitável, como implica a palavra, e como a necessidade de unidade em conselho e cooperação entre os membros do corpo místico evidentemente requer. Os judicatórios supremos e subordinados no Estado são diversamente modificados, à discrição do corpo político, o que, se não for contrário à lei moral, deve ser considerado legítimo. 6. Eles concordam na medida em que ambos, por causa de sua autoridade divina, autorizam a seus fiéis executores a dupla honra. “Os presbíteros que governam bem sejam honrados com dupla honra” (1Tm 5:17). Aqui, a honra e o respeito são ordenados para o ramo eclesiástico, cujo caráter deve ser venerado, e suas pessoas estimadas pelo seu trabalho. Reverência e honra também são devidas ao ramo civil. Com esse propósito somos ordenados, em Provérbios 24:21, a “temer a Deus e ao rei”. Os governantes legítimos são vice-gerentes de Deus e devem ser honrados por causa daquele a quem eles representam. E, em Rm 13:7, ao falar do magistrado civil, o apóstolo ordena: “dai a cada um o que deveis; a quem temor, temor; a quem honra, honra”. 7. Eles concordam nisto: que o fim último de ambos, em cada parte de seu procedimento, deve ser a glória de Deus. Em Is 61:1,4, somos informados de que o grande fim de cada parte da administração econômica de Cristo em proclamar liberdade aos cativos, em abrir as portas da prisão para os que estavam presos e em anunciar o ano aceitável do Senhor era “que Deus possa ser glorificado”. De igual modo, para esse fim todos os movimentos do ramo civil devem ser dirigidos. É uma ordenança divina. Seus executores são os vice-gerentes de Jeová. Cada ato de sua administração deve, naturalmente, ser um desenvolvimento mais profundo de seu caráter e uma nova manifestação de sua glória. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31). Mas, como parece que os dois ramos concordam em várias outras coisas, pode ser apropriado seguir ainda mais adiante: IV. Para mostrar que preocupações o ramo civil deve levar ao eclesiástico, ou para saber quão longe o poder civil, circa sacra, pode avançar. CAPÍTULO 4 O Relacionamento Entre o Ramo Civil e o Ramo Eclesiástico Que os magistrados têm oficialmente, por autoridade divina, algo a ver com a religião, para impor os mandamentos de Deus e suprimir as violações de sua lei, parece claro até mesmo nos documentos do Novo Testamento. “…ele (o magistrado) é o ministro de Deus para o teu bem” (Rm 13:4). Ora, como pode ser ele o ministro de Deus e, ainda assim, ser independente da honra e das leis dele, de quem derivou sua autoridade? Além disso, os mandamentos de Deus são obrigatórios para todos em sua respectiva posição e relação na sociedade. Quando Deus diz: “compra a verdade, e não a vendas”, “batalha pela fé que uma vez foi entregue aos santos”; quando Ele proíbe “não vos desvieis para a direita, ou para a esquerda”; numa palavra, quando fala de idólatras (Dt 7:5), Ele ordena: “destruireis os seus altares, e quebrareis as suas imagens, e derrubareis os seus bosques, e queimareis a fogo as suas imagens de escultura”; sobre quem são essas injunções obrigatórias? É somente sobre pessoas privadas? O magistrado está isento? A circunstância de ele ser ministro de Deus livra-o da obrigação da lei divina? Isso, de fato, seria uma doutrina digna da iluminação moderna. Mas está em contradição direta com todo o volume do livro de Deus. Veja uma passagem: Dt 17:18-19. Devemos proceder mais particularmente e inquirir: o que concerne ao magistrado oficialmente na religião? 1. Ele não tem poder diretivo sobre nenhuma coisa eclesiástica. Ele não tem nenhum direito de prescrever regras, introduzir novas modificações ou alterar um único pino do tabernáculo sagrado. As leis constitucionais da igreja são derivadas de uma autoridade superior. A esta ela é submissa. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem de acordo com esta palavra, é porque nenhuma luz existe neles” (Is 8:20). A igreja judicativa, como tal, possuindo o sagrado depósito dos oráculos celestiais, deve, como em Mt 23:10, não chamar quaisquer homens “de mestres, porque um só é o vosso Mestre, o Cristo”. 2. Ele não tem poder nas, mas apenas quanto às preocupações eclesiásticas. Cada ato dele, relativo à religião, deve ser essencial e formalmente civil. Ele não pode ousar tocar na chave ou ordem, ou na chave da jurisdição. Se ele, como Uzias, atrever-se a interferir nas funções ministeriais sagradas, deixe-o temer as tremendas consequências. Ele deve, como Asa, Jeosafá e Ezequias, contribuir com todos os esforços, na medida em que sua influência política possa se estender, para promover a reforma religiosa. Assim, vemos em 1Tm 2:2 que este é o fim desejável a ser efetuado por sua justa administração, a saber: “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”. 3. O magistrado civil deve defender e proteger a igreja de Cristo. “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as tuas amas…” (Is 49:23). Isso não implica proteção? As metáforas selecionadas pelo Espírito de Deus envolvem o maior cuidado e ternura possíveis. Eu sei que tem sido objetado por alguns que o carinho e a preocupação aqui pretendidos não são oficiais, mas meramente pessoais, como um membro individual da igreja. A razão atribuída é que o epíteto que envolve a preocupação não se limita aos reis, mas é comum a todas assuas rainhas: e isso deve ser reconhecido como não oficial. Claro que ninguém está isento de se preocupar com os interesses da religião. A irrelevância da objeção surgirá atendendo a uma observação feita anteriormente, a saber, que os mandamentos de Deus são obrigatórios para cada um, em sua respectiva posição e setor de vida. As rainhas são obrigadas a exercer toda a influência, que na providência de Deus é conferida a elas, na promoção da religião de Jesus. Reis ou magistrados civis, da mesma maneira, estão indispensavelmente obrigados a exercer todo o poder que possuem em suas posições para promover o mesmo fim desejável. Qualquer que seja a quantidade retida desse poder, torna-se uma imensa dívida não liquidada com o Messias, pelo comando expresso daquele Deus o qual os magistrados representam. “Beijai o Filho, para que Ele não se ire” (Sl 2:12). Quando o corpo místico de Cristo precisa desse poder e o magistrado retém o benefício deste, não corre ele o risco de ser cobrado por Jesus no último dia, como lemos em Mt 25:42,45? “Porque eu tive fome, e não me destes de comer; eu tive sede, e não me destes de beber…”. “Quando não fizestes ao menor destes, não o fizestes a mim”. Essa mesma ideia de proteção, ternura e cuidado como uma bênção a ser esperada nos tempos do Novo Testamento é apresentada em Is 60:10,16: “e os seus reis te servirão”, e “e alimentar-te-ás ao peito dos reis”. Todas essas passagens evidentemente indicam que o poder civil deve ser exercido administrando oficialmente à igreja todo conforto que se pode esperar que resulte da união da autoridade magistrática e o cuidado paterno; tal como defendê-la de seus inimigos e garantir a ela todos os seus privilégios. Além disso, quando em 1Tm 2:2 somos ordenados a orar pelos magistrados, o fim proposto é que a igreja e o povo de Deus, sob a asa de sua proteção, “tenha uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”. Tanto a indiferença, portanto, por parte do Estado em relação à igreja, como a igual proteção aos seus inimigos são notoriamente incompatíveis com as ideias obviamente contidas nessas passagens sagradas. 4. Ele deve, por seu poder civil, remover todos os impedimentos externos à verdadeira religião e adoração a Deus, sejam eles pessoas ou coisas; tal como perseguição, profanação, heresia, idolatria e seus instigadores, como fizeram Asa, Ezequias, Josias e outros reis piedosos. Assim, somos informados, no nono capítulo de II Reis, de que Jeú foi ungido para cortar a casa idólatra de Acabe. No décimo capítulo nos é dito, no 25º versículo, que ele destruiu os adoradores de Baal; e, no 30º versículo, Deus o elogia por fazer isso. E, expressamente por causa disso, promete a seus filhos o trono de Israel até a quarta geração. Mais adiante, com o mesmo propósito, temos a conduta aprovada de Asa (1Rs 15:12,25). “E ele retirou os sodomitas da terra, e removeu todos os ídolos que os seus pais haviam feito. E também Maaca, a sua mãe, ele removeu da posição de rainha, porque ela havia feito um ídolo em um bosque; e Asa destruiu o seu ídolo, e o queimou junto ao ribeiro de Cedrom”. E, nisso, nos é dito: “E Asa fez aquilo que era reto aos olhos do Senhor, como fez Davi, o seu pai” (v. 11). Sim, ele até se queixa, no 14º versículo, porque os altos também não foram removidos. Isso, no entanto, ele realizou depois, como aparece em 2Cr 14:2,5, em que temos mais alguns fragmentos de sua história: “ele removeu os altares dos deuses estranhos, e os lugares altos, e demoliu as imagens, e cortou os bosques”; e neste: “Asa fez aquilo que era bom e reto aos olhos do Senhor seu Deus”. Um exemplo aprovado equivale a um preceito; mas os preceitos não estão em falta. Veja Dt 13:5,18,20; Zc 13:3 e Ap 17:16. Se fosse necessário, poderíamos citar também a autoridade das mais reformadas igrejas da Europa, como também os mais eminentes mártires. “Estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas.” Os sentimentos daquela venerável assembleia que escreveu o Catecismo Maior são completos e explícitos sobre esse assunto. “Os deveres exigidos no segundo mandamento são […] o desaprovar, detestar e opor-nos a todo o culto falso, e, segundo a posição e vocação de cada um, removê-lo e todos os monumentos de idolatria.” Veja o Catecismo Maior, p. 108. Nesse ponto, podemos razoavelmente supor que todos os presbiterianos na América do Norte devem concordar como a questão acima do Catecismo Maior foi adotada, palavra por palavra, no credo e nas constituições da igreja de cada denominação deles, sem exceção. Veja o dito Catecismo, conforme ratificado e adotado em suas constituições. 5. Ele deve usar todo esforço lícito para promover a pureza, unidade e reforma na igreja. Ao fazê-lo, ele não tolerará que outros administrem as ordenanças além daqueles devidamente autorizados pela autoridade eclesiástica. Independentemente disso, eles são apenas impostores que, como os gafanhotos, devoram tudo o que é verde, suscetível de sua influência venenosa, e subvertem a pureza e a unidade da igreja do Evangelho. Ele também pedirá aos eclesiásticos, enquanto seus súditos, que sejam ativos e diligentes no desempenho do dever (2Cr 29:5). Ezequias ordenou aos ministros do altar que observassem as respectivas funções: “Ouvi-me, ó levitas, santificai-vos agora, e santificai a casa do Senhor Deus de vossos pais, e tirai do santuário a imundícia”. Nisso ele não agiu como um legislador, mas apenas cumpriu as leis de seu Deus, de acordo com a constituição do reino, e exigiu que seus súditos cumprissem fielmente seu dever. No trigésimo capítulo, ele exorta, roga e ordena ao povo que venha à casa de Deus e celebre a páscoa. E, quando o magistrado ordena o que é expressamente exigido pela lei de Deus, seus súditos são obrigados a obedecer. “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm 13:1). Talvez se possa inquirir quais são as coisas que ele pode legitimamente ordenar contidas na constituição, prescritas por aquele a quem ele representa. Dt 17:18 nos diz o que é isto, a saber, a Lei Divina. Quaisquer que sejam as penalidades especificadas nessa lei, e em nenhum lugar revogadas ou mitigadas, devem ser devidamente infligidas, em caso de desobediência. Onde a lei é silenciosa ou indefinida com relação a crimes particulares contra qualquer preceito do decálogo, assim como sua respectiva punição, grande prudência e discrição serão necessárias para averiguar se tais crimes são puníveis por sofrimentos civis, posto que há muitas violações da lei moral a que nenhuma penalidade civil específica pode se vincular. Nada deve ser censurado pela igreja, ou punido pelo Estado, além do que é claramente contrário à lei de Deus; e tornar-se devidamente público, independentemente de exigir autoacusação. Mas, mesmo quando se apura que o crime é, em sua natureza e em suas circunstâncias, punível, é necessária uma grande discrição para fixar tanto a quantidade quanto a qualidade da penalidade. Talvez, em certos estados particulares da sociedade, a tolerância, sem punição, mesmo de muitos crimes reais contra ambos, Igreja e Estado, seria mais prudente e elegível. Porém, aqui, a sabedoria é peculiarmente necessária para direcionar. Mas, quando fosse impróprio remir a punição desses crimes, observamos que a qualidade e a quantidade deveriam ser particularmente observadas. Em muitos deles, a qualidade deve ser negativa, consistindo na privação de privilégios que de outra forma poderiam ser usufruídos. Pela quebra do décimo mandamento, a lei divina não forneceu outra punição civil. Isso está claramente implícito em Êx 18:21, onde nos é dito que o magistrado deve ser um homem “temente a Deus, que aborreça a avareza”. Se apenas tais são elegíveis, o homem cobiçoso é, obviamente, desclassificado. O mesmo poderia, talvez, se aplicar àqueles que são habituais na negligência dos deveres religiosos, como também com outras descrições demasiado tediosaspara enumerar. Com respeito à quantidade de uma penalidade, em crimes de uma natureza particular, não especialmente previstos na lei divina, pode haver muito poder discricionário exercido, de acordo com emergências específicas; cuidando, entretanto, para que a lei divina nunca seja violada. Em tais casos, a luz da natureza será muito subserviente às regras gerais da Escritura. Em Ed 7:26, Artaxerxes ordena: “todo aquele que não quiser executar a lei do teu Deus, […] seja o juízo executado prontamente sobre ele, seja ele para a morte, ou para o banimento, ou para o confisco de bens, ou para o aprisionamento”. E, no verso seguinte, Esdras bendiz ao Senhor seu Deus, por colocar isso no coração do rei. Mas, retornando a Ezequias: nós o encontramos, pela autoridade civil, esforçando-se para efetuar a pureza, unidade e reforma na igreja, e seus esforços são acompanhados dos sorrisos da aprovação de Jeová; pois, no décimo segundo versículo do trigésimo capítulo de II Crônicas, lemos que “em Judá esteve a mão de Deus, para dar-lhes um coração para cumprirem o mandamento do rei e dos príncipes, pela palavra do Senhor”. A fim de realizar esses fins desejáveis, ele tem o direito de convocar sínodos e concílios, que consistam de pessoas eclesiásticas, para consultar e aconselhar como a igreja deve ser expurgada das corrupções, e as verdades de Deus propagadas com mais sucesso. Para isso, temos o exemplo aprovado de magistrados piedosos sob o Antigo Testamento, como Asa, Josias, Ezequias etc. Além disso, esses quatro Concílios Ecumênicos foram convocados por magistrados cristãos. Constantino convocou o primeiro Concílio de Niceia; Teodósio, o mais velho, o primeiro Concílio em Constantinopla; Teodósio, o mais novo, o primeiro Concílio de Éfeso; Marciano, o Concílio de Calcedônia. 6. Eles devem sustentar as leis de Deus, por sua autoridade secular, como guardiões de ambas as tábuas da lei, impondo e ordenando a todos que as observem sob tais punições civis que possam ser calculadas para efetuar seu desempenho. Assim, no 34o capítulo de II Crônicas, o bom Josias, depois de ter removido todas as imagens idólatras, altares e bosques, e ter limpado Judá e Jerusalém, ordenou aos sacerdotes que perguntassem ao Senhor por ele e por todos os que restaram em Judá e Jerusalém a respeito de todas as palavras do livro que Hilquias, o sacerdote, encontrara na casa do Senhor, e ordenou a todos os que estavam presentes em Jerusalém e em Benjamim que se atentassem a ele e observassem seu conteúdo. Assim, a autoridade civil está preocupada em sancionar e ratificar as leis do Deus Altíssimo, agindo como um terror para os malfeitores e um louvor para aqueles que fazem o bem. O quarto mandamento, cuja obrigação é perpétua, é dirigido a todo relacionamento. Todo indivíduo privado deve observar a lei de Deus; mas chefes de família e outros superiores não devem apenas observá-la, mas fazer com que aqueles sob sua autoridade o façam de igual modo, na medida em que sua influência possa se estender, e também punir seus violadores obstinados. “Eu sei”, diz Deus, “que Abraão ordenará a seus filhos e sua casa depois dele”. Assim, o magistrado deve prover que o Sabbath seja santificado em todas as suas portas; isto é, até onde sua autoridade civil se estende. Sim, encontramos até reis pagãos ratificando as leis do Deus Altíssimo (Ed 7:23). O decreto de Artaxerxes é: “Tudo quanto se ordenar, segundo o mandado do Deus do céu, prontamente se faça para a casa do Deus dos céus…”. Como é seu dever ratificar a lei de Deus, da mesma maneira ele deve sancionar, por sua autoridade civil, os decretos das cortes eclesiásticas, quando forem de acordo com a lei de Deus e planejados para promover sua glória. Aquelas que ele civilmente adota, enquanto boas e saudáveis leis, tendem a promover a felicidade do reino e a glória de Deus, o Rei das nações. Por isso, uma boa proximidade deve ser promovida entre igreja e Estado, e a harmonia e a cooperação mútua entre o testemunho de Israel e os tronos da casa de Davi (Sl 123:4). 7. Ele deve, também, exercer um poder compulsório e punitivo sobre as coisas religiosas. Isso se estende a todas as pessoas dentro de sua jurisdição. Rm 13:1: toda alma é estritamente intimada a estar sujeita à sua autoridade. Caso se inquira: qual é o padrão que regula essa sujeição? Nós respondemos: a lei de Deus. Essa é a regra infalível pela qual o exercício de sua autoridade e a sujeição daqueles a ela serão julgados. “À lei e ao testemunho! […]” (Is 8:20). Essa lei ele é obrigado a executar, sob pena do desprazer de Jeová (Dt 17:18). Quanto àqueles que se recusam a obedecer e, assim, obstruem as rodas do governo e desonram o Deus das nações, ele está autorizado a puni-los. Que as ofensas contra a segunda tábua da lei moral são puníveis é admitido por todos. Isso, portanto, não requer prova. Que as violações da primeira tábua também devem ser punidas é igualmente justificado pela razão e pela palavra de Deus. Examinemos as penalidades anexas à violação obstinada dos quatro primeiros preceitos do decálogo. Com relação ao primeiro deles, veja Dt 13:1,5. “Se entre vós se levantar um profeta, ou um sonhador de sonhos, será morto, porque falou mentiras, para vos afastar do Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito”. Deve o magistrado punir o homem que se rebela contra sua própria autoridade e passa impunemente, ou estender a proteção ao homem que, “sem tremer, abre sua boca contra os céus” e aponta sua artilharia contra o trono do Onipotente? Com relação ao segundo mandamento, a penalidade anexa à sua violação também é expressamente declarada em Dt 13:6. “Se teu irmão, o filho da tua mãe, ou o teu filho, ou a tua filha, ou a esposa do teu seio, ou o teu amigo, que é como a tua própria alma, te seduzir secretamente, dizendo: Vamos e sirvamos outros deuses […]; não consentirás com ele, nem lhe darás ouvidos; mas certamente o matarás”. Compare com Êx 32:27. Deve um ladrão de uma pequena propriedade terrena ser severamente punido? E deve aquele que rouba a glória de Deus para entregá-la a imagens, madeiras e pedras esculpidas e que, como está escrito em Hc 1:16, sacrifica à sua rede, e queima incenso à sua varredoura, ser permitido a passar impunemente? Ouça o que Jó, o caldeu (que não viveu sob a economia judaica), diz no capítulo 31:26,28. “Se eu contemplei o sol, quando resplandecia, ou a lua, caminhando em esplendor; e o meu coração foi seduzido em secreto, ou a minha boca beijou a minha mão, isto também seria uma iniquidade a ser punida pelo juiz”. Com relação ao terceiro preceito do decálogo, somos informados em Lv 24:15-16: “Todo aquele que amaldiçoar o seu Deus carregará o seu pecado. E aquele que blasfemar o nome do Senhor certamente morrerá; e toda a congregação certamente o apedrejará…”. Deve um homem ser punido por uma expressão de traição contra um magistrado terrestre e ser protegido quando blasfema contra Cristo, negando sua divindade, difamando e reprovando seu abençoado Espírito?! “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:28-29). Com respeito ao quarto, podemos consultar Neemias 13:15,19. Quando o povo de Jerusalém se ocupou de empregos seculares, carregando fardos e comercializando dentro e fora da cidade, ele protestou contra eles, fechou o portão da cidade e pôs seus servos para verificar se nenhuma carga seria trazida no Sabbath. E, no 21º versículo, ele testifica contra os mercadores que se alojavam ao redor dos portões e das muralhas, dizendo: “Por que passais a noite defronte do muro? Se outra vez o fizerdes, hei de lançar mão de vós”. Aqui temos um exemplo aprovado de punição aos violadoresobstinados do santo Sabbath. Assim, os transgressores de todos os preceitos da primeira tábua são puníveis por penas civis. Não posso aqui deixar de citar o seguinte parágrafo do Miscellaneous Questions [“Questões Diversas”], de Gillespie. “Não é (diz ele) o dano de um guia cego maior do que se ele desempenhasse traição? E a perda de uma alma por sedução, maior dano do que se ele explodisse o Parlamento e cortasse a garganta de reis ou imperadores? Tão preciosa é aquela joia inestimável de uma alma! E (diz ele) quando a igreja de Cristo afunda em um Estado, que esse Estado não pense em nadar. Religião e justiça florescem e desvanecem, permanecem ou caem, juntas. Aqueles que são falsos para com Deus nunca serão fiéis aos homens”. 8. Ele tem o direito de julgar os decretos das assembleias eclesiásticas, se estão de acordo com a lei de Deus, a lei suprema da terra. 1Ts 5:21: a ordem para “provar todas as coisas” é obrigatória para o magistrado, assim como para os outros. Ele também é obrigado a usar a regra da retidão infalível. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Is 8:20). Antes de dar sua sanção a qualquer ato eclesiástico, ele deve levá-la a essa pedra sagrada basilar; se ela concordar com isso, ele deve ratificá-la, senão, ele não só tem o direito de rejeitá-la, mas também é obrigado a carimbar seu voto negativo sobre ela. Essa ratificação é apenas civil e semelhante à sua sanção das ordenanças civis. Se esse poder lhe for negado, ele deve ser considerado como um ser sem discernimento e, consequentemente, inapto para ser um magistrado civil. Supor que ele seja obrigado a ratificar o que a igreja decretar, sem exame prévio e convicção da sua decência, faria dele um mero instrumento, não servindo para nada além de apoiar a louca cadeira do homem do pecado. Mas, como nos esforçamos para mostrar o que o poder civil deve fazer pela igreja, será necessário, em quinto lugar: V. Mostrar qual é o caráter do ramo civil, do qual isso é esperado. Isto é: CAPÍTULO 5 A Função do Governo Civil 1. Deve possuir sabedoria e compreensão. Êx 18:21: “Além disso, de todo o povo, proverás homens capazes”. E Dt 1:13: “Tomai vós, sábios e compreensivos, e fazei-os governar sobre vós”. Devem ser homens capazes, possuidores de sabedoria e prudência, e bem conhecedores das leis do Deus Altíssimo. Assim é que “sabedoria e conhecimento serão a estabilidade” de sua administração (Is 33:6). E, sem isso, não pode haver expectativa razoável de que eles responderão aos fins da sua nomeação. 2. Outra parte do seu caráter é uma profissão de cristianismo. Para um povo cristão, nomear um deísta para governá-lo, para não dizer nada da sua repugnância à lei divina, é vergonhoso. É como as árvores da parábola de Jotão, em Juízes 9:14: “Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós”. Porque não podiam encontrar uma árvore de crescimento mais generoso para governá-las. Mas isso é contrário à ordem expressa de Deus: “Porás certamente sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor teu Deus; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos” (Dt 17:15). Pode-se esperar que o homem que não é um irmão na profissão da religião de Jesus, mas um infiel obstinado, faça sua administração ceder aos interesses de Emanuel, cuja existência ele nega, de cuja religião ele zomba e cujo reino ele acredita ser fictício? 3. Outro aspecto de seu caráter é a retidão e a integridade. Êxodo 18:21 nos informa que eles devem ser “tementes a Deus, homens de verdade, que odeiam a avareza”. A alta responsabilidade ligada ao seu posto requer homens de retidão e integridade de caráter; assim diz II Samuel 23:2-3: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra estava na minha língua. Aquele que governa sobre os homens deve ser justo, governando no temor de Deus”. 4. Eles devem ser um terror para os malfeitores. Rm 13:3,5: “Porque os governantes não são um terror para as boas obras, mas para o mal — os ministros de Deus, vingadores para executar a ira sobre aquele que faz o mal”. Assim, somos informados de que “ele não carrega a espada em vão”, suprimindo, até onde sua influência pode se estender, toda violação da lei divina. 5. Eles devem “louvar os que fazem o bem” (1Pe 2:14). Recompensar e encorajar os virtuosos, “para que vivam vidas tranquilas e pacíficas em toda a piedade e honestidade”. A administração de Salomão é representada como sendo desta descrição, no Salmo 72:7: “Em seus dias florescerão os justos e possuirão abundância de paz”. 6. Eles devem estar continuamente atentos ao dever oficial. Rm 13:6: “Porque eles são ministros de Deus, atendendo continuamente a esta mesma coisa”. Se isso fosse devidamente atendido, não só as funções magistrais seriam mais bem executadas, mas o absurdo do erastianismo[1] desapareceria imediatamente. O funcionário da igreja também é ordenado a atender continuamente ao seu departamento. “Medita estas coisas; ocupa-te nelas” (1Tm 4:15). Evidentemente, alguns são providos (exclusivamente do magistrado civil), cujo negócio é administrar as preocupações eclesiásticas. Mas se esse também era formalmente o dever oficial do magistrado, por que deveriam ser nomeados outros pertencentes a outro departamento? Além disso, como poderia o magistrado atender continuamente a isso mesmo, isto é, ao seu próprio dever oficial, que é puramente civil, e ao mesmo tempo atender a outra preocupação que não é civil? O bom senso ensina que, se ele atender continuamente a um, o outro, naturalmente, será negligenciado. 7. O magistrado civil deve ser um guardião de ambas as tábuas da lei de Deus. “Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas. E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para cumpri-los…” (Dt 17:18-19). Como ele pode ser ministro de Deus, se ele é independente da lei deste? E onde ele pode encontrar tal constituição, como a que lhe é dada pelo Espírito de infinita sabedoria? Por essa ele está indispensavelmente vinculado, na sua capacidade oficial, assim como os seus súditos estão, na sua capacidade privada individual. Mas, como temos procurado caracterizar o ramo civil, do qual se pode esperar proteção à igreja, será então apropriado, em sexto lugar: VI. Caracterizar o ramo eclesiástico, que tem direito a essa proteção, ou seja: CAPÍTULO 6 A Função da Igreja 1. A sua constituição deve ser concordante com a palavra de Deus e fundada sobre ela: “[…] Olha (diz Deus), faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou” (Hb 8:5). Isso convém a todos os propósitos possíveis de edificação: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3:16-17). 2. Os seus oficiais devem ser regularmente introduzidos nas funções ministeriais, através da imposição presbiteral das mãos: “Não negligencies o dom que está em ti pela profecia e pela imposição das mãos do presbitério” (1Tm 4:14). A terrível catástrofe de Corá, Datã etc. deve ser vista como um farol para todos aqueles que, por suas disposições ambiciosas, correram o risco de se dividir sobre essa tremenda rocha. Cristo denomina aqueles que não entram pela porta de “ladrões e salteadores”; e Mateus 7:15 nos ordena a “ter cuidado com os falsos profetas, que vêm até nós em pele de ovelha, mas interiormente são lobos devoradores”. Que ninguém espere tirar proveito de suas ministrações. “Eu não os enviei (diz o Senhor), mas eles correram; portanto, não trarão proveito a este povo”.3. Ela deve “lutar seriamente pela fé uma vez entregue aos santos” (Jd 1:3). “Ó Timóteo, guarda o que está confiado aos teus cuidados” (1Tm 6:20). Ao fazê-lo, como com rostos de pedra e sobrancelhas de bronze, devem ser explícitos, ousados e valentes, quer a geração a que são enviados ouça, quer resista. Não há neutralidade no serviço de Cristo. “Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor, acremente amaldiçoai aos seus moradores; porquanto não vieram ao socorro do Senhor, ao socorro do Senhor com os valorosos” (Jz 5:23). A própria luz da natureza sugere a justeza de sermos simples e explícitos com os nossos irmãos da humanidade. Se víssemos o nosso próximo em perigo de cair num poço, sendo inevitável a destruição, não violaríamos as leis naturais da humanidade, se não o advertíssemos do seu perigo? Não seríamos nós, até certo ponto, considerados, pela lei divina, como cúmplices da sua ruína? Infinitamente mais importante é a salvação da alma, diz nosso Senhor: “… que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Mc 8:37). Para que o testemunho seja fiel, as seguintes coisas são necessárias: (1) Uma declaração justa, sumária e clara das verdades contidas nos oráculos sagrados. (2) Uma refutação clara dos erros contrários, e especialmente daqueles que transtornam a verdade aqui presente, ou a paciência da palavra de Cristo. (3) Uma vida e uma conversação que demonstrem o evangelho; sem isso, os outros dois pontos são apenas uma zombaria da religião de Jesus. 4. A sua disciplina deve ser imparcial. “Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor” (1Tm 5:20). Isso deve ser feito com singeleza de coração e uma profunda consciência da nossa responsabilidade para com o Cabeça da Igreja. Portanto (v. 21): “Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade”. Os ricos não devem ter preferência sobre os pobres: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos…” (1Tm 6:17). 5. Seu culto deve ser puro e livre de todas as invenções humanas. “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina…” (1Tm 4:16). É uma questão de grande importância, não só pela consideração de que incorre na vingança do Deus Todo- Poderoso sobre os inovadores, mas também porque envenena as almas dos homens. O culto deve, portanto, ser tal, e somente tal, como Deus ordenou. “Mas em vão (diz Cristo) me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mt 15:9). Aqueles que acrescentam ao volume do livro de Deus ou dele diminuem terão de suportar as terríveis consequências (Ap 22:18-19). Um questionamento: Não é uma questão de importância saber se o canto de uma “Imitação dos Salmos de Davi”, em algum sentido, incorre na punição acima? 6. O seu ministério deve ser instruído e piedoso. Sem o primeiro, eles só trairão, por ignorância, sua causa perante o inimigo; sem o segundo, poluirão o santuário sagrado. Considere, por um momento, que figura ridícula o embaixador enviado para negociar com uma nação estrangeira que não conseguisse ler a comissão de seu mestre. Estaria tal pessoa qualificada para ser um embaixador de uma potência terrena? A negociação do Rei dos Reis não é muito mais importante do que o ajuste das diferenças entre estados e impérios? Quando Cristo chamou seus ministros de maneira extraordinária, deu-lhes qualificações extraordinárias: e entre elas encontramos o dom de línguas. Em 1Tm 1:7, aqueles que presumem entrar em um cargo sem as devidas qualificações são severamente repreendidos: “Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam”. Tais são as nuvens de gafanhotos analfabetos, os metodistas, que escurecem o horizonte desses estados. Sem habilidades, naturais ou adquiridas, eles jorram como torrentes sobre a face da Terra e levam consigo os ingênuos e incautos. O zelo enfurecido com que propagam suas doutrinas venenosas assemelha-se muito ao caráter dos escribas e fariseus mencionados em Mt 23:15: “…percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós”. Sem a devida medida de aprendizagem, como eles podem encontrar os deístas críticos, e impostores astutos, e assim agirem como um evangelista, como é requerido em Tt 1:9, ou seja, serem capazes de convencer os contradizentes e silenciar os adversários? 7. Eles devem ser exemplares na vida e na conversação. Mesmo antes de serem revestidos de caráter oficial, é necessário “que tenham bom testemunho dos que estão de fora” (1Tm 3:7). E para esse propósito é a bênção de Moisés para a tribo sacerdotal. “E de Levi, disse: Que o teu Urim e o teu Tumim estejam com o teu Santo” (Dt 33:8). Que a iluminação da mente e a retidão e integridade de caráter sejam a porção daquele que se dedica às funções sagradas. A influência que o seu exemplo terá sobre a geração é de grande importância. O provérbio “como os sacerdotes, as pessoas” geralmente pode ser positivo. Daí que se diga desse mesmo Levi, quando “a lei da verdade esteve na sua boca, e a iniquidade não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão, e da iniquidade converteu a muitos” (Ml 2:6). Mas quando se diz no oitavo versículo que “os sacerdotes se desviaram do caminho”, qual é a consequência? “A muitos fizeram tropeçar na lei.” Desse modo, nos é ordenado em Mt 5:16: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”. Isso é eminentemente obrigatório para os ministros do altar, que devem ser exemplares para a sociedade, em cada parte da sua conduta. Mas, como agora nos esforçamos por caracterizar tanto o ramo civil como o eclesiástico, esforçar- nos-emos, em sétimo lugar: VII. Para mostrar qual é o nosso dever para com o ramo civil, quando assim legalmente constituído. CAPÍTULO 7 O Dever Pessoal para com o Governo Civil Legal 1. Devemos render sujeição com reverência e temor. “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm 13:1,4). Para isso, temos o mandamento de Deus, na passagem agora citada; e isso também, sob as penas mais severas. Da mesma forma, em Tt 3:1, o apóstolo ordena: “que os tenham em mente, que estejam sujeitos aos principados e poderes, que obedeçam aos magistrados” etc. Com o mesmo propósito nos é dito em 1Pe 2:13,17: “Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior…”. 2. Devemos pagar tributo de forma consciente, ou seja, sabendo que pagamos aos legítimos administradores da ordenança de Deus. “Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus” (Rm 13:6). Aqui, a legitimidade e a administração correta da ordenança são a razão formal atribuída pela qual o tributo deve ser pago; consequentemente, onde a causa não existe, cessa a obrigação de outra forma estabelecida. 3. Devemos orar pelo seu bem-estar e dar graças a Deus por eles (1Tm 2:1-2). O apóstolo nos exorta a fazer súplicas, orações e ações de graças pelos reis e pelos que estão em autoridade. Aqui, certamente, ele quer dizer sobre aqueles que fazem da lei de Deus o seu governo e se curvam em suas administrações para a honra de Emanuel. Se esse não for o caso, o fim proposto não pode ser alcançado, a saber, “que possamos viver vidas pacíficas e tranquilas, com toda a piedade e honestidade”. 4. É nosso dever honrá-los e estimá-los, e não injuriá- los ou amaldiçoá-los. “Honrai ao rei” (1Pe 2:17). Com o mesmo propósito Romanos 13:7 nos orienta: “Dai honra a quem a honra é devida”. Todos os insultos oferecidos aos magistrados, no devido exercício do seu cargo, Deus considerará como oferecidos a si mesmo, nas pessoas dos seus representantes. Isso Ele proíbe, sob pena de suaforte desaprovação. “Os juízes não amaldiçoarás e o príncipe dentre o teu povo não maldirás” (Êx 22:28). 5. Obedecer “não só por causa do castigo, mas também por causa da consciência” (Rm 13:5). Aqui estão duas razões ou motivos designados para exercermos a obediência. (1) Por causa do castigo. O versículo nos diz que não é apenas por causa do castigo, mas que o castigo é um dos motivos, embora não seja o único. A obediência por causa do castigo é uma sujeição que faz o indivíduo se render pela consequência da pena que será infligida em caso de desobediência. Isso deve estimular à execução das ordens do superior, e isso é proposto em todo tipo de penalidade, e é a grande razão pela qual as leis têm sanções penais anexadas a elas, e é considerado como motivo de obediência em todas as leis, tanto divinas como humanas. Esse motivo de temor e castigo é permitido para influenciar a obediência em todas as coisas lícitas, sob governos legítimos e ilegítimos. (2) O segundo motivo da nossa obediência aos magistrados é por razões de consciência. Isso implica duas coisas: primeiro, que a coisa ordenada deve ser feita porque é correta; segundo, porque é comandada pela autoridade legítima. Quanto à primeira coisa — isto é, que devemos fazer o que é ordenado, porque é certo em si mesmo —, a obrigação surge da lei moral que exige esse dever, mesmo que o poder que o ordena seja ilegítimo. Isso, naturalmente, não implica nenhuma aprovação da autoridade existente. A segunda coisa, isto é, a coisa em si, porque é ordenada, compete exclusivamente a governos legítimos, e isso é o seu tessera [sinal] de lealdade. 6. Devemos viver vidas pacíficas e tranquilas, suportar uma verdadeira e fiel lealdade e opor-nos a todas as práticas desordeiras e traiçoeiras. Àquilo que é contrário a essa conduta Deus anexou as penas mais severas. “Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação” (Rm 13:2). Deus considerará tais pessoas rebeldes contra a sua própria autoridade real, exibida na legítima administração de seus legítimos representantes. Ele os carimba com marcas mais do que comuns de desaprovação. Em Judas 1, Ele os chama de “sonhadores imundos, profanando a carne, desprezando os domínios e falando mal das dignidades”. A abominação do seu pecado e a vingança de Deus sobre ele são terrivelmente marcadas na destruição de Coré e da sua companhia (Nm 16), ao que o apóstolo Judas aqui alude. 7. Devemos apoiar as suas administrações justas com nosso sangue e nosso tesouro. Se um magistrado pode legitimamente ir à guerra em defesa dos justos direitos e privilégios da comunidade, seja o que for que o justifique, impõe-se aos seus súditos a obrigação de apoiá-lo, em todas as medidas justas e necessárias, com as suas propriedades e consigo mesmos. Repelir a força pela força é um ditado antigo da lei da autopreservação. A isso estamos também vinculados pelo pacto social, no qual a proteção mútua é solenemente estipulada. O perigo de perder os privilégios inestimáveis da religião e da liberdade pode legalmente nos convocar às armas. Nesses casos, o magistrado civil é o órgão público da vontade da nação e tem direito a exigir obediência. Assim, nossos renomados antepassados, por um solene pacto, obrigaram-se a defender com suas propriedades e vidas a majestade do rei, na proteção de sua religião e liberdade (confira a Liga Solene e Aliança[2]). Tais são os deveres que nos obrigamos a cumprir para com o ramo civil, quando legalmente constituído. Temos algum direito, então, de ser estigmatizados como homens antigoverno? Se o “anti” deve ser a palavra usada, ela deve imediatamente preceder a palavra “imoral”, e então é completamente aplicável. Nós sempre fomos, e pretendemos uniformemente continuar sendo, homens “anti” governos imorais. Tendo assim mostrado alguns dos deveres que temos para com um governo, quando moralmente constituído, pode ser apropriado expor, em oitavo lugar: VIII. As razões pelas quais não podemos render obediência, por razões de consciência, à atual autoridade civil na América do Norte. CAPÍTULO 8 Análise da Autoridade Civil na América do Norte 1. A constituição federal, ou o instrumento de união nacional, não reconhece sequer a existência de Deus, o Rei das nações. Nessas obras civis, embora o fim imediato possa ser a felicidade da comunidade, o fim último, tanto nisso como em qualquer outra coisa que façamos, deve ser a glória de Deus. Não deveriam os homens, na formação das suas obras, considerar a sua responsabilidade perante o Governador moral, bem como essa obrigação de reconhecer a sua autoridade? “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3:6). É verdadeiramente lamentável, para não dizer pior, que um ato nacional, empregado sobre as estipulações fundamentais da magistratura, como uma ordenança de Deus, e a investidura de magistrados, como seus ministros, não reconheçam a existência do Governador do universo. Que não seja dito desta nação como se disse de Israel: “Eles fizeram reis, mas não por mim; constituíram príncipes, mas eu não o soube; da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos para si, para serem destruídos” (Os 8:4). Não agiram os autores deste documento não só como se não tivesse havido revelação divina para o padrão supremo da sua conduta, mas também como se não existisse Deus? Não se assemelhavam nisso ao tolo mencionado no Salmo 14:1, que “disse em seu coração que não há Deus”? Cada ato oficial do governador de uma província deve ter algum selo específico de sua dependência da autoridade que o nomeou. E deve uma nação agir como se fosse independente do Deus do universo, e ainda pensar não ter culpa? 2. Outra objeção que temos é que a maioria, se não todas, das constituições dos estados contêm imoralidade positiva, pois testemunham seu reconhecimento de tais direitos de consciência como sanção a toda blasfêmia que um coração depravado pode acreditar ser verdadeira. Além disso, as constituições estaduais vinculam-se necessariamente ao apoio do federal, como o vínculo da existência nacional; e, portanto, a imoralidade contida nesse documento torna-se comum a todos eles. O reconhecimento de tais direitos de consciência é insultuoso para a Majestade do Céu e repugnante para a carta expressa da palavra de Deus (Dt 17:18). Deus prescreve ao magistrado a lei divina como o padrão supremo de todas as suas administrações, o que obriga os homens, em qualquer ofício, a se comportarem de acordo com ela. Deuteronômio 12:32: “Tudo o que eu te ordeno observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás”. Mas, no enquadramento dessas constituições, a lei revelada de Deus não é atendida, embora até mesmo a lei da natureza exija a adoção de toda nova comunicação que Deus, em misericórdia, possa ter o prazer de revelar. A rejeição da lei divina, tal como revelada nas Escrituras da verdade, consideramos como um desprezo pela beneficência do Céu e um obstinado retrocesso ao paganismo. 3. O governo dá segurança jurídica e estabelecimento à heresia, à blasfêmia e à idolatria grosseiras sob a noção de liberdade de consciência. Seria muito tedioso examinar cada uma das constituições dos estados nesta matéria. Uma pode ser suficiente. Vamos escolher a do estado da Pensilvânia. Veja o prefácio com a terceira e a vigésima sexta seções do nono artigo. Aqui, a constituição reconhece e estabelece inalteravelmente o direito indefectível de adorar ao Deus Todo-Poderoso, seja qual for a forma que a consciência do homem ditar; e declara que isso permanecerá, para sempre, inviolável. Acreditamos que nenhum homem tem o direito de adorar a Deus de outra forma a não ser a prescrita por Ele mesmo em sua lei. Também consideramos criminoso que a consciência de um homem aprove qualquer forma repugnante a essa regra sagrada; e que esse crime não pode legitimar outro,ou corrigir uma ação, que Deus expressamente condena sob pena de ira eterna. Se a consciência pode legitimar o que a lei de Deus condena, ela deve ser predominante sobre a lei divina e, consequentemente, também sobre o Legislador, ao ter uma negativa sobre as requisições tanto de uma como do outro. Se assim fosse, não só estaria livre da criminalidade, mas tornaria virtuosos, elogiáveis e louváveis os erros mais condenáveis, as blasfêmias mais horríveis e abominações detestáveis quando ditadas pelas consciências de pagãos, maometanos etc. Então, os egípcios que adoram a Deus sob a forma de uma serpente ou crocodilo o fariam de forma lícita, sim, louvável; isso seria considerado precisamente de acordo com a maneira que Ele prescreveu em sua palavra, desde que, em ambos os casos, a consciência deles dissesse “amém!”. Mas, supondo por um momento que os homens tivessem esse direito, devemos então perguntar como é que eles o conseguiriam ter? Ou eles o teriam por derivação de Deus, ou independentemente dele. Não poderia ser por derivação de Deus; naturalmente, isso seria absurdo e incompatível com a santidade essencial do seu caráter. Supor que Deus dá uma lei aos seus sujeitos morais, a cuja violação Ele anexa a punição eterna, e ao mesmo tempo lhes dá o direito de quebrá-la, é inconsistente e impossível. Um direito seria oposto a outro. Um direito de obedecer e um direito de não obedecer! Tão absurdo quanto possa parecer, encontramos tal doutrina defendida tanto pelo púlpito como pela imprensa. No entanto, dificilmente em algum lugar ela é mantida de forma mais descarada do que na seguinte declaração: “Adorar a Deus da forma e maneira que eles julgam mais agradável à sua vontade é um direito comum a todos os homens. Eles podem, e frequentemente erram e ofendem o Altíssimo, substituindo por uma religião falsa aquilo que Ele requer, mas nenhum poder na Terra pode tirar-lhes o seu direito”. Aqui há certo direito estabelecido. Para fazer o quê? Para adorar a Deus da maneira que um homem possa achar mais apropriada. Mas ele pode pensar — e muitas vezes pensa — de uma maneira falsa sobre aquilo que acha ser mais apropriado. Bem, ele tem o direito de adorar da maneira falsa! Mas adorar de maneira falsa ofende a Deus. Não importa, ele tem o direito de ofender a Deus, pois, se adorar falsamente e ofender a Deus são equivalentes, logo, se ele tem o direito de fazer um, tem o direito de fazer o outro! “Não o noticieis em Gate, não o publiqueis nas ruas de Ascalom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus, para que não saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos” (2Sm 1:20). Sustentar que os homens têm o direito de violar a lei divina é demasiadamente gritante. Não parece muito uma blasfêmia pensar que Deus lhes tenha dado tal direito? Se eles o têm, então, é um dever independente dele. Seria muito belo traçar a linha discriminatória entre isso e o ateísmo. Esse direito fingido, porém, é garantido a todos pela constituição deste Estado. Tudo que, sugerido pela consciência, não pode interferir na segurança temporal é inalteravelmente estabelecido pela lei permanente da região. Se esta ditar obstinadamente a profissão da mais condenável heresia e zelosamente praticar e propagar toda forma absurda e abominável de idolatria, coisas que um coração entregue a fortes delírios, a vis afetos e a uma consciência reprovável poderia fazer alguém considerar inocentes, as boas pessoas deste Estado reconheceram seu direito de fazê-lo — e comprometeram-se solenemente, em seu instrumento constitucional, a dar-lhe segurança e proteção, não obstante a solene proibição do Deus Todo-Poderoso! Isso não equivale à institucionalização da religião? Que os governantes civis devem exercer seu poder, protegendo e defendendo a religião de Jesus, nós sustentamos, como sempre o fizemos. A disputa, então, não se voltará para o ponto “deve a religião ser civilmente estabelecida?” (partimos do princípio de que os americanos pensam assim, visto que o estabeleceram), mas no que diz respeito a qual religião deve ser civilmente estabelecida e protegida. Deve apenas a religião de Jesus ser protegida pela autoridade civil? Ou toda abominação blasfema, herética e idólatra, que a maldade sutil da antiga serpente, e um coração enganador acima de todas as coisas e desesperadamente perverso, pode enquadrar e conceber, deve ser posta em pé de igualdade com aquela? Nós lutamos pela primeira; a segunda rejeitamos. A segunda, porém, é a doutrina simples da constituição. Para que isso não pareça tratar-se de um comentário injusto sobre os artigos daquele instrumento, vamos, por um momento, prestar atenção à sua aplicação à prática por parte do órgão legislativo. A opinião dele será considerada como imparcial. No cumprimento do seu dever legislativo, não incorporaram uma sociedade católica romana na cidade de Filadélfia, e não lhes concederam privilégios especiais, tais como arrecadar dinheiro por loteria etc., para a construção de uma capela? Quem ouviu algum dos aprovadores da constituição reclamar que a referida lei de incorporação era inconstitucional? Na verdade, nenhum homem de bom senso poderia permitir que isso fosse assim. Se esse for um mal, a constituição deve ser limpa dos princípios que a sancionam; a menos que se argumente que o povo destes estados tem entre eles direitos, dos quais um os autoriza a dar o seu poder à besta e a sustentar a trama conturbada daquele homem de pecado, a quem Deus ameaçou “destruir com o sopro da sua boca e o esplendor da sua vinda” [2Ts 2:8]. Não podemos, em consciência, apesar de outros o verem com maus olhos, jurar fidelidade a uma constituição tão amistosa com os inimigos de Jesus. Estamos ligados a Ele e não podemos servir a dois senhores. Essa colocação de todas as seitas religiosas em pé de igualdade é consistente com a declaração relativa aos tempos do Novo Testamento? “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as tuas amas” (Is 49:23). Não seria Ele, então, um pai de coração de pedra, que coloca seu filho em pé de igualdade com lobos, tigres e outras bestas vorazes? O pai político que abandona sua filha Verdade nas mandíbulas assassinas dos inimigos não pode possuir sentimentos muito mais brandos. Gozará a Igreja de Cristo de nenhum privilégio além deste, por “alimentar-se ao peito dos reis” (Isaías 60:16), quando “seus oficiais serão pacíficos, e seus exatores justos” (v. 17)? 4. Nós também objetamos contra o governo civil deste país porque os seus oficiais, por necessária implicação, juraram defender aquilo que o Deus Todo-Poderoso proíbe, em seu voto para o seu ofício. “Os membros da assembleia geral, e todos os demais dirigentes, executivos e judiciais, serão obrigados por juramento ou afirmação a apoiar a constituição desta comunidade”.[3] Se, então, a constituição da Pensilvânia, como foi demonstrado, apoia e estabelece legalmente malditas heresias, blasfêmias e idolatria, segue-se necessariamente que aqueles que juram defendê-la estão ligados por juramento solene a defender os princípios e práticas anteriormente citados, que nada mais são do que uma aplicação prática do referido instrumento, em suas respectivas administrações. Não é isto uma clara contradição da lei moral? Não apenas em seus preceitos gerais, como o primeiro, segundo, terceiro mandamento etc, mas também na ilustração desses preceitos. Leia Deuteronômio 7:5, quando é falado sobre os idólatras: “Porém assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas estátuas; e cortareis os seus bosques, e queimareis a fogo as suas imagens de escultura.”. Mas essa obrigação de apoiar heresias grosseiras etc. não está limitada aos oficiais sob a constituição. Ela se estende a todos os que lhe juram fidelidade e, assim, incorpora a sociedade nacional sobre a base desse vínculo, dessa união. Para qual propósito haveria uma constituição senão o de conter uma solene estipulaçãopara cada um dos indivíduos, e todo o resto da sociedade, para a garantia mútua dos privilégios específicos nela? Nós, então, não podemos jurar apoio porque não ousamos estar ligados a isso, sob pena de perjúrio, e, se necessário, derramamos nosso sangue e perdemos o nosso salário para negar apoio ao homem do pecado, ou a qualquer um de seus aliados. Nunca pude entender como alguém que professa o presbiterianismo faz um juramento que envolve a defesa de idolatria etc. e, ao mesmo tempo, em seus credos e constituições na igreja, reconhece solenemente a sua obrigação, em seus cargos respectivos, de remover qualquer monumento ou vestígio disso em sua terra.[4] 5. Eles não fazem provisão para o interesse da verdadeira religião. E, embora haja alguma aparência da religião cristã em algumas das constituições estaduais, tais como a de Massachusetts, parte 1, art. 3o, no entanto, esse artigo que respeita os direitos de consciência, que estabelece o fundamento e termina no estabelecimento de toda coisa chamada religião, que não pode interferir na segurança temporal, é “uma mosca morta” para esse precioso bálsamo. Essa indiferença quanto à religião de Jesus é contrária à lei da natureza, que exige que os governantes “se preocupem principalmente com a honra de Deus, o Governador das nações, e adotem e cumpram suas leis como o melhor meio para promover o fim supremo — que exige que os homens sejam governados como tendo almas imortais, e não como meros animais brutos, sobre cujos corpos somente nós estamos preocupados”; essa indiferença contraria a palavra de Deus, que ensina: “A justiça exalta os povos, mas o pecado é a vergonha das nações” (Pv 14:34). Essa indiferença quanto à religião de Jesus também é contrária às bênçãos prometidas na Palavra de Deus. O exercício do poder do magistrado em favor da verdadeira religião é prometido como uma bênção no período do Novo Testamento. “E os reis serão os teus aios…” (Is 49:23). Que a Lei de Deus seja estabelecida como regra, e isso irá — é claro — estabelecer a verdade. A alegação geralmente trazida contra essa posição é de que “a lei de Deus é tão equivocada, que não pode ser entendida e, por isso, não pode ser tida como base de legislação”, mas isso é inválido. Se isso for admitido, então a lei divina não é mais uma regra de fé e ordem, e Deus apenas a impôs a seus súditos racionais, dando-lhes uma lei que era ininteligível e ao mesmo tempo anexando as mais tremendas penalidades por sua violação. Nós, porém, somos ensinados a ter outra visão do Deus de misericórdia e verdade.[5] Mas pode haver algo mais claro, ou mais evidente, do que os preceitos do decálogo, no qual temos um resumo da lei moral, uma transcrição brilhante das perfeições de Javé? O que é toda a parte perceptiva da Bíblia, senão uma elucidação, ou comentário, sobre os preceitos, respectivamente? O que são todas as promessas e ameaças, senão as sanções dessa lei, aplicadas por Deus aos respectivos casos, a fim de fazer cumprir o dever e impedir a desobediência? Seria considerado como justificável, em um tribunal de justiça, absolver um criminoso acusado porque ele alega que “a lei, com respeito à violação da qual sou acusado, era ininteligível”, ou por afirmar “eu tinha o direito de explicar essa lei como qualquer outro. Seu verdadeiro significado eu acho que cumpri. Exijo a minha liberdade”? Essa lei deve, para sempre, deixar de ser uma regra? Se isso for admitido, trará o fim para todo governo; e os homens, como naqueles dias em que não havia rei em Israel, “farão, cada um, o que é certo aos seus próprios olhos”. Mas, em oposição a isso, veja a conduta dos reis piedosos de Judá: II Crônicas 31. 6. Outra razão pela qual nós não podemos nos unir à sociedade nacional é porque nós a consideramos em estado de rebeldia nacional contra Deus (Jr 10:7). Deus anuncia a Ele mesmo como Rei das nações, a quem o temor e a reverência pertencem: a sua vontade, é claro, deve ser a lei suprema. Essa sua vontade — como revelada no livro da natureza e impressa no coração do homem, em sua primeira criação — foi, em grande medida, obliterada pela queda. Deus, em sua misericórdia, deleitou-se em nos enviar uma cópia escrita de sua vontade com valiosas ampliações, superiores a qualquer coisa que pudesse ter sido descoberta pela mera luz da natureza. Se nós rejeitarmos essa transcrição e obstinadamente preferirmos os fragmentos obscuros, revelados pela luz da natureza, na rejeição da revelação divina, será que não desprezamos o Legislador e demonstramos o sinal da rebelião? Esta nação, na sua capacidade nacional, adotou ou não essa lei? Esse ponto será determinado por um exame de suas ações nacionais. Se não o fizeram, qual é o seu caráter? Como o governo de qualquer país vê uma província ou condado que se recusa a receber as leis que constitucionalmente promulgaram? Ele os considera em estado de rebelião e manda seus exércitos suprimi-los, como rebeldes. As províncias serão consideradas rebeldes por se recusarem a receber as leis dos governantes terrenos; e poderiam as nações se recusar a reconhecer as leis do Governador Moral do universo e serem tidas por inocentes? Mas isso não é tudo. A nação não apenas se rebelou contra Deus ao recusar o reconhecimento da lei divina, mas também tem ajudado e apoiado os seus inimigos, dando suporte àqueles que estão em guerra com o Todo-Poderoso. Testemunhe a proteção da idolatria e todo tipo de ilusão anticristã. Por causa disso Deus está cheio de ciúme; Ele não dará a sua glória para outro, nem sua adoração para imagens de escultura. Quisera Deus que, enquanto “os reis da terra se reúnem para conspirar contra o Senhor e o seu Ungido” [Sl 2], estas terras, altamente favorecidas pela Providência benevolente, não tocassem, nem provassem, nem lidassem com o impuro. Ó, que eles pudessem dizer como as duas tribos e meia no oeste do Jordão: “Nunca tal nos aconteça, que nos rebelássemos contra o Senhor ou que hoje nós abandonássemos ao Senhor, edificando altar para holocausto, oferta de manjares ou sacrifício, fora do altar do Senhor, nosso Deus, que está perante o seu tabernáculo” (Js 22:29). 7. Deístas, e até ateístas, podem ser chefes magistrados: veja a Constituição Federal. Nesse documento, não se faz da fé na existência de Deus uma qualificação necessária para exercer aquele cargo! Tal requisito também não está essencialmente envolvido no compromisso assumido anteriormente à ocupação de um cargo. Veja o último parágrafo da primeira seção do segundo artigo da Constituição Federal: uma simples afirmação, sem ao menos citar o nome de Deus, é considerada suficiente! A alegação de que “esse juramento envolve um apelo a Deus” não é uma objeção real ao que aqui é afirmado. Nós admitimos que isso seja verdade. Mas será que se seguirá, então, que uma simples afirmação é um apelo a Deus? A Escritura não conhece tal doutrina. Se conhecesse, a instituição de um juramento teria sido inútil, pois não contém nada especificamente diferente de uma simples afirmação. Então estaríamos constantemente jurando, ou fazendo algo que fosse equivalente, em nossas conversas comuns. Mas, em uma palavra, o povo, em cujo favor geralmente se concede a liberdade de afirmação, nega a propriedade de todos esses apelos a Deus. Se for contestado “que apenas aos quakers[6] isso é destinado, e que todos reconhecem o ser de Deus”, pode-se responder que eles não são especificados, outros não são excluídos — os ateus poderiam demandar o privilégio —, e, se eles fossem especificados exclusivamente, ainda assim não há nada no próprio documento que torne essencial uma profissão de fé em um Ser Supremo. Uma simples afirmação não implica, necessariamente, a profissão de uma crença em um Ser Supremo como um juramento faz. Também não é incompatível com os princípios de um ateu afirmá-la ou declará-la. Assim, a crença na existência de uma Deidade não é, pela Constituição Federal— diretamente ou por implicação —, feita necessária para o magistrado principal. Onde está o tributo que, espera-se, um povo que professa o cristianismo deveria pagar ao Messias? Onde está o respeito que até mesmo uma sociedade deísta deveria prestar ao Rei das nações? De fato, em um período não tão distante, no ano 1797, o bom povo dos Estados Unidos da América, concentrado por representação no conselho senatorial e magistrado principal, renunciou a religião de Jesus e jogou fora os laços do Ungido do Senhor, na ratificação do tratado de paz e amizade com o Bey de Trípoli[7]. O plenipotenciário americano aproveitou-se disso, como uma circunstância importante no artigo de negociação: que o governo americano não estava baseado na religião cristã, e, consequentemente, era um governo com o qual o Bey poderia tratar com segurança. Veja nas palavras do próprio tratado: “O governo dos Estados Unidos da América não está, em nenhum sentido, fundado na religião cristã. Não tem, por si só, nenhum caráter de inimizade contra as leis ou religião de um Musselman[8]”.[9] E, o que é ainda mais digno de nota, pelo sexto artigo da Constituição Federal, esse tratado se torna a lei suprema da pátria! Não deve ser desonroso para Cristo, e um feito que mereça o golpe de sua vara de ferro, assim, nacionalmente, em tantas palavras, renunciar à sua santa religião, e querer parentesco, ou, pelo menos, negar inimizade contra Maomé, o vil impostor? 8. A maior parte dos estados reconhece o princípio da escravatura. Alguns o reconhecem parcialmente, e outros sem darem, por enquanto, nenhum passo para a sua abolição. É realmente estranho que uma pátria que se gaba tanto de sua liberdade tolere uma desumanidade tão horrível! Isso contradiz a Declaração de Independência e a maioria das constituições estaduais que justamente declaram que “todos os homens são criados livres e iguais, e que a Liberdade é um dos direitos inestimáveis que o seu Criador lhes conferiu”. Não é estranhamente inconsistente que a constituição — a lei suprema do território — declare todos os homens livres, e as leis que deveriam ser constitucionais condenem certa parte deles à escravidão sem esperança, e os submetam à barbaridade irresponsável dos senhores selvagens e desumanos que, em muitos casos, tratam seus animais com mais cuidado? O tempo não permitiria uma refutação extensa sobre isso. É verdade que é chocante encontrarmos defensores entre quaisquer outros além daqueles cuja consciência está queimada como com um ferro quente. É suficiente dizer, hoje em dia, que há um preceito dado pelo Salvador, declarado como o sumário da lei e dos profetas, isto é, “portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7:12), pelo qual a prática da escravidão é, categoricamente, repugnante. Mas, mesmo que suponhamos que a Escritura é silenciosa neste assunto, isto é algo antipolítico e perigoso. Que tipo de interesse tem o homem a quem eu injustamente detenho para trabalhar para mim, vendo que ele não recebe quase nenhuma outra compensação pelo seu trabalho, a não ser um ventre faminto e golpes duros contra ele? Com que vínculo ele está obrigado a poupar a minha vida, vendo que eu o roubo daquilo que é mais caro que a própria vida, e sem o qual a vida é miserável? Não deve o filósofo execrar esse tráfico nefasto? Não deve o filantropo derramar uma lágrima sobre as feridas sangrentas da humanidade ultrajada? Desse tráfico bárbaro os tribunais da nossa igreja têm dado a sua contundente desaprovação, e todos os que o aprovam, ou se dedicam a ele, estão excluídos da sua comunhão. 9. A última razão pela qual rejeitamos essas constituições é que somos vinculados à lei moral, como sujeitos do céu de Deus, para obedecer à sua vontade, e tudo que seja contrário a isso somos obrigados a rejeitar. E a todos que censuram a nossa conduta na prática nós respondemos: “julguem vocês mesmos se devemos obedecer a Deus ou ao homem”. Essa obrigação necessariamente segue de nossa relação com Deus, como o Governador Moral. Veja Êxodo 20:1-17, onde nós temos o epítome de suas leis, e através disso estamos indispensavelmente obrigados. E, além disso, no exercício desse poder delegado que detemos da parte de Deus, reconhecemos solenemente essa obrigação moral por nosso próprio ato e ação. No prefácio dos dez mandamentos, tal como foram entregues no Sinai, Deus se compromete a ser o nosso Deus: “Eu sou o Senhor teu Deus”. Somos chamados pelo exemplo louvável dos santos, pela nossa relação pessoal com Deus e pelo seu próprio mandamento expresso a nos apegarmos ao seu pacto, a testemunhá-lo como nosso próprio Deus em Cristo Jesus. Nós nos esforçamos para fazê-lo. Nós nos pactuamos com os nossos antepassados — em nossos compromissos batismais e por nosso próprio comportamento pessoal — a reconhecer solenemente todas essas obrigações, ao celebrar a morte de nosso Redentor crucificado. Nós, então, juramos aliança ao Rei do céu e devemos rejeitar tudo que lhe seja inconsistente. Ousamos nos vincular a esses pactos que nos obrigam a usar todo meio lícito para eliminar heresias, idolatria e tudo contrário à sã doutrina e ao poder da piedade e, ao mesmo tempo, fazer um juramento que necessariamente envolve a defesa e proteção dessas coisas? Resolvamos isso, então, como o bom e velho Josué: “Que outros façam o que eles quiserem, porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” [Js 24:15]. Mas, como já declaramos nossas objeções às constituições civis desses estados, a franqueza exige que declaremos, ao mesmo tempo, que consideramos o governo americano, com todos os seus males, o melhor agora existente no mundo cristão; e, se conhecemos os sentimentos de nossas próprias almas sobre esse assunto, nada mais desejamos do que sua reforma, felicidade e prosperidade; embora nos sintamos obrigados pelo nosso dever para com Deus a testemunhar contra todas as suas imoralidades. Será, porém, apropriado, vendo que o consideramos imoral e, na providência de Deus, vivemos debaixo dele, indagar em nono lugar: IX. “Como deve ser a nossa conduta diante disso?” CAPÍTULO 9 O Dever Pessoal diante um Governo Civil Ímpio 1. É nosso dever lamentar diante de Deus todas as abominações prevalecentes. Essa é uma das características daqueles que estão marcados com o amplo selo do Espírito Santo. “E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela” (Ez 9:4). Nós devemos também confessar e lamentar os nossos próprios pecados, que, sem dúvidas, contribuem para a busca e a continuidade desses males. 2. Devemos orar pela reforma com seriedade diante do trono de graça. Em I Timóteo 2:1, ordena-se-nos que façamos oração e súplicas por todos os homens; e, em Jeremias 29:7, aos cativos na Babilônia é ordenado que “orem pela paz da cidade, e clamem ao Senhor por ela, para que na sua paz tenham paz”. Essa oração, porém, não deve reconhecê-los [os governantes] em sua capacidade de ofício, pois isso seria como dizer “amém” para a imoralidade da constituição na qual eles se firmam. Em II João 10-11, somos ordenados a fazer isto: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras”. Isso é sobre enganadores, e não sobre os demais homens, pois somos ordenados a “orar por todos os homens” (2Tm 2:1). 3. Devemos usar todos os esforços legítimos para promover a reforma, tais como argumentos racionais e protestos decentes. “Porque mandaram chamá-lo; veio, pois, Jeroboão e toda a congregação de Israel, e falaram a Roboão, dizendo: Teu pai agravou o nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura servidão de teu pai, e o pesado jugo que nos impôs, e nós te serviremos” (1Rs 12:3-4). Pararaciocinar, protestar e expor este assunto a esta geração, bem como sobre outros de verdade ou dever, estamos obrigados, pelo amor que devemos exercer para com nossos irmãos da humanidade, a não cometer o pecado de mentir sobre isso ou não informá-los disso — pela obrigação que temos de promover o interesse da religião e o avanço do reino de Emanuel, e pelo comando expresso de Deus. “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados” (Is 58:1). Veja também Ezequiel 33:1,9, em que nos é dito que, se um vigia falhasse em avisar o povo da chegada do seu inimigo, e esse povo morresse em seus pecados, o sangue deste seria requerido de suas mãos, mas, se o vigia fosse fiel e o avisasse, ouvindo o povo ou não, o vigia salvaria sua própria alma. 4. Não devemos fazer nenhum ato que possa ser considerado justamente uma homologação da sua autoridade ilegítima. Aqueles que, direta ou indiretamente, consentem com os atos malignos de outros participam de sua criminalidade. “Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros” (Salmo 50:18), o que Deus severamente repreende. Se, então, a constituição está em guerra contra a religião de Jesus, uma aprovação sobre aquela é fechar um acordo com seus inimigos. Não podemos, então, fazer esse juramento, porque nós acreditamos na constituição como sendo contrária à lei moral e aos nossos engajamentos pactuais. No mais, não podemos eleger funcionários públicos para preencher os vários ofícios do estado, pois entre o eleitor e eleito há uma união representativa, de modo que todo ato oficial, feito constitucionalmente pelo segundo, é virtualmente feito pelo primeiro, por meio de seu órgão representativo. Ele também é introduzido nesse ofício por meio de um juramento que ratifica a constituição. Portanto, seja o que for que não possamos fazer por causa da sua imoralidade, não devemos empregar outros para o executar. Também não podemos aceitar nenhum cargo em que se anexe um juramento, obrigando, em primeiro lugar, a apoiar uma constituição imoral, ou, em segundo lugar, a aplicar ou julgar sob a direção de uma lei imoral. Primeiro, apoiar uma constituição imoral: todos esses cargos são considerados pela constituição como pertencentes aos departamentos executivo ou judicial deste Estado. Um juramento, para essa importância, é expressamente exigido de todos os oficiais, executivos e judiciais.[10] Em segundo lugar, aplicar ou julgar sob a direção de uma lei imoral: para esse exemplo, consideramos servir no júri. O jurado deve estar sob a obrigação de determinar a lei e os fatos.[11] Isso deve, certamente, ser determinante para o verdadeiro espírito e significado da lei, e sua aplicação ao fato particular em consideração. Isso significa uma determinação a respeito de a lei ser moral ou imoral, e assim, como deve ou não ser posta em prática, os júris teriam uma negativa sobre o legislador e tornariam suas decisões não obrigatórias e inúteis? São, portanto, obrigados a aplicar a lei existente imediatamente, em seu verdadeiro espírito e significado, ao caso em deliberação.[12] Se o código civil contém leis em si mesmas imorais, não devemos ser obrigados a determinar casos por elas ou a julgar sob a sua direção. Embora acreditemos que a maioria das leis do código civil seja justa e equitativa, ainda assim existem algumas exceções. Tais leis são conformadas à parte imoral da constituição e baseadas nela, como, por exemplo, as leis que incorporam as sociedades católicas romanas etc. Tais, também, são algumas leis inconstitucionais, por exemplo, as que reconhecem o direito de manter escravos por toda a vida e indenizam senhores quando seus escravos são punidos com a pena capital.[13] Suponha que um caso ao qual qualquer uma dessas leis imorais se refira chegue ao júri. Por exemplo, um processo no qual um escravo invoca o seu direito de ser livre: o que é que os membros do júri estão obrigados a fazer nesse caso em particular? O pobre homem, infelizmente (mas sem culpa sua), nasceu antes de 1o de março de 1780 e foi registrado, na forma da lei, antes de 1o de novembro do mesmo ano, sendo, portanto, legalmente um escravo. A lei moral diz que ele é livre. De acordo com qual dessas leis, por conseguinte opostas entre si, o juramento do jurado o obriga a encontrar um veredito? Se concordar com a lei moral, a lei do Estado é posta de lado e o legislador é controlado pelo júri.[14] Mas, se o seu jurado estiver de acordo com a lei do Estado, nesse caso criada e provida, a lei de Deus é posta de lado — a Majestade do Céu é insultada, e os direitos da humanidade ultrajados e espezinhados por aqueles que deveriam protegê-los. Nós não podemos, conscientemente, colocar-nos em tal situação.[15] Mas, além disso, não podemos nos envolver em nenhum serviço que seja regulado por qualquer lei imoral ou nos coloque sob seu controle. O engajamento nas forças policiais, quando chamados ao serviço real, pode estar sob essa consideração. Assim, nós nos comprometemos, por nosso próprio ato e comportamento, se necessário, a lutar em defesa de qualquer uma das leis existentes, sob todas as penalidades existentes, em tais casos criadas ou providas. Quem sabe, enquanto em serviço, seja-lhe ordenado derramar seu sangue em apoio a uma casa de missas[16], ou, na boca do canhão, proteger as imagens esculpidas do idólatra grosseiro, que Deus expressamente ordenou que fossem destruídas (Dt 7:5)? Não devemos, portanto, colocar-nos numa situação em que sabemos que uma coisa em si mesma imoral possa ser legalmente ordenada, sob as penas específicas, enquanto nos comprometemos, por nosso próprio ato e comportamento, a prestar obediência. 5. Podemos fazer tudo o que nos é ordenado, o que em si mesmo é justo e lícito; desde que não seja obstruído por alguma circunstância imoral. Isso explicará a nossa recusa em exercermos os direitos, em executarmos os ofícios ou em nos engajarmos nos serviços mencionados no último item: embora não haja criminalidade nas coisas em si, ainda assim elas estão ligadas a tais circunstâncias que consideramos imorais. Muitas coisas, não criminosas em si mesmas, deveriam ser evitadas por essa razão. Por exemplo, não seria considerado ilegal, por si só, que um presbiteriano fosse a Roma. Suponhamos, por exemplo, que fosse fazer alguns negócios mercantis. Mas, se a lealdade à Santa Sé e a adoração à hóstia fossem estabelecidas como condição para a entrada naquela cidade, ele certamente não deveria ir para lá. Da mesma forma são os cargos etc. que recusamos, embora todos lícitos, considerados em si mesmos; no entanto, como não podem ser exercidos sem alguma imoralidade, não devem ser aceitos de forma alguma. Mas todas as outras coisas ordenadas pelas autoridades constituídas que não são em si mesmas ilegais, nem ligadas a circunstâncias ilegais, estas sejam, então, feitas. Não porque sejam comandadas por autoridade legítima (que é a verdadeira tessera da lealdade), mas, ou porque a lei moral as exige, ou porque podemos ser compelidos a fazê-las pela força física. Isso pode acontecer naquelas coisas que não são em si mesmas moralmente más; e, quando ordenados a fazer tais coisas sob pesadas dores, desses dois males físicos podemos licitamente escolher o menor. Assim, posso ceder parte dos meus bens para salvar o restante, embora o homem que o exige não tenha outro direito senão a força física, ou um poder de constranger à obediência. 6. Devemos esperar pacientemente debaixo dessas desvantagens, enquanto não aprouver ao Senhor trazer de volta Sião do cativeiro. Ademais, o profeta choroso observa em Lm 3:26: “É bom que o homem tenha esperança, e espere pacientemente a salvação do Senhor”. Nossos princípios podem, de fato, nos sujeitar a muita inconveniência, mas nós devemos, como Moisés, preferir a aflição com o povo de Deus aos tesourosdo Egito e os prazeres do pecado, os quais duram apenas um momento; mantendo nossos olhos na recompensa do galardão (Hb 11:25-26). É razoável esperar que, enquanto os sucessores do Dragão estão no poder e os governantes da terra se esforçam para cumprir a vontade da besta, a mulher e sua semente retornem do deserto? Ap 12:14,17: o tempo, e tempos, e metade de um tempo, ou mil duzentos e sessenta anos, ainda não foram encerrados, desde que ela voou longe em asas de águias, período durante o qual ela deverá preparar suas causas com constrangimentos e tribulações. Não, há uma razão para aguardar, que permanece sendo a mais tremenda das cenas de perseguição e carnificina que aguardam a Igreja, mais do que qualquer outra que ela tenha experimentado até agora. A testemunha ainda não terminou de finalizar seu testemunho. Um ponto ainda resta para ser selado por seu sangue, nomeadamente, a liderança do Mediador sobre as nações. Não é improvável que esse seja um dos artigos pelos quais as testemunhas serão mortas, como podemos ler: “as nações verão seus corpos mortos por três dias e meio” (Ap 11:8-9), o que equivale a três anos e meio, na linguagem profética. Mas elas terão uma ressurreição gloriosa, quando esses três dias e meio expirarem. E, embora não vivamos para ver esses dias felizes, vamos nos alegrar com a consideração de que estamos nos esforçando, em nossos sistemas civis e religiosos, para antecipar o período milenar em que Jesus reinará em Jerusalém, no Monte Sião e ante seus anciãos, gloriosamente. E, se formos fiéis e conscientes ao fazê-lo, Deus nos dirá, como Ele fez com Davi, respeitando sua intenção de construir o templo: “Bem fizeste em o propor no teu coração” [1Rs 8:18]. 7. Devemos viver vidas pacíficas e regulares, “sem ofender os judeus, os gentios ou a igreja de Deus” (1Co 10:32). “Adornar a doutrina de Deus, nosso Salvador, em todas as coisas” (Tt 2:10). Devemos nos opor a todas as práticas tumultuosas e sediciosas que possam surgir para prejudicar a paz e a prosperidade da terra em que vivemos; cumprir a ordem comum da sociedade, em todas as coisas em si mesmas lícitas; viver como cidadãos do mundo, e não nos incorporar à sociedade nacional, em nenhum de seus movimentos políticos; olhando para o dia de nossa redenção, quando chegará o tempo designado por Deus para favorecer Sião. Porém, como as doutrinas avançadas na parte anterior deste discurso são impopulares para a geração atual, pode ser necessário, em décimo lugar: X. Refutar algumas das principais objeções que geralmente são feitas. CAPÍTULO 10 Respondendo Objeções Objeção 1. “O apóstolo, em Rm 13:1, informa-nos que todo poder é de Deus — ‘Não há poder senão de Deus’; consequentemente, devemos obediência consciente a todo poder.” Resposta: existem dois tipos de poder, vale dizer, físico e moral; ambos são de Deus, pois “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28). Pelo exercício do primeiro, todas as ações justas e injustas são executadas. No exercício desse poder físico, Paulo perseguiu a igreja de Jesus: pelo mesmo poder, ele trabalhou, com incansável diligência, na propagação das doutrinas da cruz. Esse poder, portanto, é comum a todas as ações, morais ou imorais, que acontecem na providência de Deus. O segundo não é apenas providencial, mas também moral e perceptivo, e respeita as coisas que Deus em sua lei exige como dever moral e perceptivo, e respeita aquelas coisas que Deus em sua lei exige como dever dos sujeitos morais executar. É ao primeiro tipo de poder ou ao segundo que toda alma é ordenada a sujeitar-se, sob a penalidade da condenação mencionada na passagem agora em consideração? Se for ao primeiro, é um pecado condenável resistir ao diabo! Pois ele é um “poder” e, na providência de Deus, como príncipe deste mundo, ele governa no coração dos filhos da desobediência (Ef 2:2). Mas esse não pode ser o caso, pois Deus nos ordenou estritamente que resistíssemos a ele (Tg 4:7). Se assim fosse, incorreríamos na ira de Jeová ao resistir a leões, tigres e outros animais de rapina: pois, na providência de Deus, eles possuem mais poder físico do que nós, e também o derivam de Deus. Então, sob o risco de condenação, os tiranos e usurpadores seriam resistidos, e a doutrina justamente aumentaria a obediência passiva, e a não-resistência seria reconhecida sob a dor do grande desagrado de Jeová! E, para completar tudo, o povo desses estados, que justa e valentemente resistiram ao domínio perverso do tirano britânico, teriam se tornado desagradáveis e passiveis de condenação! Essa doutrina, no entanto, é grosseiramente ridícula demais para merecer muita atenção. Concluo, portanto, que o poder em questão é do tipo moral e perceptivo: ao qual a obediência é ordenada, sob penalidades tão pesadas. A isso subscrevemos com entusiasmo; e acreditamos que ninguém mais pode vincular a consciência ou ter direito à sujeição consciente. Ademais, isso parecerá evidente, atendendo às qualificações daquele poder ao qual somos ordenados a nos sujeitarmos, na passagem mencionada. Veja Rm 13:1,7. Objeção 2. “Mas Deus ordenou que nos sujeitemos a eles por causa da consciência (Rm 13:5 e 1Pe 2:13).” Resposta: o poder a que se alude na primeira das citações já foi provado moral e perceptivo. Esse deve necessariamente ser o caso, com todo poder autorizado à obediência, pelo bem da consciência. Se um poder contrário à lei divina tem direito à obediência conscienciosa, Deus não é mais o Senhor exclusivo da consciência, mas está sujeito até ao domínio ilegítimo dos homens. É verdade que muitas coisas comandadas por poderes imorais, quando em sua natureza pecaminosa, podemos ser obrigados a realizar, e mesmo essas ações, assim como outras, devem ser realizadas conscientemente. Por exemplo, se eu fosse escravizado por um pirata argelino e vendido a um mestre cruel, não deveria, por conduta rebelde e obstinada, tomar o bastão ou transformar a vara do castigo em uma serpente venenosa. Estou no poder dele e, portanto, deveria obedecer, consequentemente, em todas as coisas em si mesmas lícitas, para aliviar minha corrente e aliviar os males que não posso evitar. Esse tipo de conduta a minha consciência deveria aprovar. Mas por que motivo? É porque minha consciência aprova o direito dele de me manter em escravidão? Não; antes, não é porque minha consciência aprova o uso de todos os meios inocentes que as leis da autopreservação possam ditar, para aliviar minha miséria atual? Esse princípio é igualmente aplicável a um povo sob governos injustos e imorais; e a nenhum outro tipo de sujeição estava Nero, o monstro à frente do império romano, quando o apóstolo deu as instruções acima, autorizado. Possuía ele algum dos personagens ligados a esse poder, ao qual a obediência por causa da consciência é imposta? Se dermos crédito aos historiadores de sua época, ele foi o contrário de tudo isso. As barbaridades brutais de seu reinado são notórias demais para exigir ensaios e chocantes demais para os sentimentos a serem contados, quando a necessidade não o exige. Mas, ainda assim, contesta-se “que, embora ele fosse um monstro, todos os seus mandamentos legais deveriam ser obedecidos”. Para isso, pode-se observar que aquele que não tem direito moral de comandar não pode dar ordens legais. Uma ordem pressupõe um comando de poder. A legalidade ou ilegalidade do comando é determinada pela legitimidade ou ilegitimidade do poder do qual ele flui. “Quem (diz o homem inspirado) pode tirar algo limpo de algo imundo? Ninguém” [Jó 14:4]. Um poder imoral pode comandar o que é em si lícito e o que pode e deve ser feito; no entanto, como uma autoridade moral é necessária para constituir um mandamento legal, o último não pode existir onde o primeiro está faltando. Suponha, por exemplo, que meu vizinho, que não tem autoridade civil ou religiosa sobre mim, venha a minha casa e autoritariamente ordene que eu adore a Deusem minha família e execute conscientemente os deveres de minha posição: a tudo isso estou obrigado porque é certo, mas alguma parte da minha obrigação surge do seu comando? Seu comando era sem autoridade; e, quando isso impõe uma obrigação moral, não precisamos achar estranho encontrar filhos que não tiveram pais — esposas que não têm marido — e coisas que existem em abundância sem os correlatos necessários. É mais objetado aqui “que o apóstolo não poderia ter tido outro particularmente em vista, senão Nero, ou, pelo menos, que ele o tinha em mente; porque isso tornaria inútil o preceito, como qualquer aplicação imediata às circunstâncias existentes”. Essa objeção é repugnante à experiência diária. Fosse isso justo, então toda a instrução aos jovens, para preencher os vários departamentos da vida social, aos quais eles foram destinados, quando alcançassem maturidade, seria inútil e inconveniente. Com que propósito, então, Deus teria dado a Israel uma constituição e leis, para que seus reis caminhassem através delas enquanto ainda estivessem no deserto? Veja Dt 17:15. Objeção 3. “Mas mesmo os piores governantes, como Hazael etc., são considerados ungidos por Deus (1Rs 19:15), e, assim, devem ser considerados legítimos.” Resposta: o significado geral da unção é uma distinção para algum serviço específico. Assim, embora Deus denomine os assírios, medos e persas a “vara da sua ira”, ele também os designa pelo nome de seus “separados” ou “ungidos” (Is 13:3). Quanto à unção de Hazael, ela apenas o separava para ser um flagelo e uma praga para Israel, por causa de seus pecados — “…porás fogo às suas fortalezas, e os seus jovens matarás à espada, e os seus meninos despedaçarás, e as suas pejadas fenderás” (2Rs 8:12). Foi separado para tal trabalho, que, quando predito pelo profeta Eliseu, ele responde: “É teu servo um cachorro, para que ele faça isso?”. Deus, em sua providência, às vezes separa terremotos, pestes, gafanhotos etc. como ministros de sua ira e executores de sua vingança; mas que argumento pode ser trazido a partir disso para provar que devemos render obediência, por causa da consciência, ao poder imoral, se a imoralidade está na constituição ou na administração? Objeção 4. “Mas os santos aceitaram ofícios e mantiveram lugares de confiança sob príncipes pagãos. Veja os casos de Esdras, Neemias e Daniel, nos livros chamados por seus nomes. Se os santos assim aceitaram ofícios etc., podemos concluir, primeiro, que o poder era legítimo; ou, segundo, que os ofícios podem ser mantidos sob governos ilegítimos; ou, terceiro, que os santos pecaram ao aceitá- los.” Resposta: admitimos a segunda proposição. A primeira e a terceira negamos. Questionemos se, porque Daniel legalmente ocupou um cargo na Babilônia, qualquer uma destas duas proposições seguirá necessariamente, a saber: primeiro, que ele reconheceu o governo na Babilônia como legítimo; ou, segundo, que podemos legalmente manter e executar todos os ofícios, sem exceção, sob a constituição americana? Quanto ao primeiro, eu observaria o seguinte: os princípios estabelecidos no quarto item do tópico anterior deste discurso, referentes à posse de cargos etc., se aplicados de maneira justa, resolverão tal questão. Foram estabelecidos naquele item certos princípios, determinando quais cargos não podem ser ocupados sem homologar uma constituição imoral. Aqui eu estabeleceria um princípio que pode ser útil para determinar positivamente quais cargos podem ser ocupados sem criminalidade, para que o governo nunca seja tão perverso. Qualquer ofício pode ser aceito ou exercido sob essas três condições seguintes: Primeira: Que os deveres que lhe pertencem sejam corretos em si mesmos. Segunda: Que seja regulado por lei justa. Terceira: Que não se exija outro juramento de ofício, a não ser o de fielmente executar deveres oficiais. Sejam essas as estipulações, e um cargo pode ser exercido sob qualquer poder, por mais imoralmente constituído que seja, sem uma homologação de sua imoralidade. Suponha que eu estivesse em Argel, residindo lá por prazer; se eu aceitasse um cargo do Dey, de acordo com os regulamentos agora especificados, digamos que professor de uma universidade instituída por ele para instrução dos jovens, isso seria uma homologação de sua regência imoral — pirataria — ou do sangue e do assassinato sobre os quais seu trono é erguido? Se estivesse lá como escravo, o compromisso não seria ainda mais aceitável? Isso corresponde à situação dos cativos na Babilônia: não se segue, portanto, que ocupar um cargo necessariamente supõe ou que o governo seja lícito, ou, se não, que a pessoa que ocupa o cargo está implicada na imoralidade. Com relação à segunda proposição, supostamente decorrente de Daniel ocupar um cargo na Babilônia, a saber, que podemos ocupar qualquer cargo, sem exceção, segundo a constituição americana, pode-se observar que, para isso, os casos devem ser paralelos, aí a proposição será prontamente aceita. Mas os casos são muito diferentes. A imoralidade do governo babilônico era indefinida. Eles não tinham constituição fixa. O monarca era legislador. Sua vontade era a lei do reino. “A quem queria matava e a quem queria dava a vida” (Dn 5:19). Não temos certeza se havia algo essencial para esse governo além da mera força física, e isso não é moral nem imoral em si. Mas nas constituições americanas quase tudo é específico e essencial ao pacto social. E, embora não sejamos defensores do governo absoluto, no qual a vontade do monarca é a lei; mais ainda, embora pensemos que constituições e leis não podem ser muito específicas e definidas; todavia, somos da opinião de que os cargos podem ser mantidos sob príncipes absolutos, cujas vontades não são limitadas por nenhuma constituição fixa, sem estarem implicados em nenhuma criminalidade, quando não podem ser mantidos sob alguns constituídos mais especificamente. Nestes, os ofícios costumam ser enredados na imoralidade da constituição, à qual também é necessária a lealdade, em quase todos os casos. Naqueles, não há constituição imoral a que jurar lealdade. E, se a vontade do monarca, que se assemelha a uma legislatura permanente, ordena o que é imoral, não deve ser obedecida mais do que uma lei injusta, mesmo quando existe uma constituição justa e moral. Daniel não jurou, portanto, apoiar uma constituição imoral, pois não havia uma. Se for alegado que a vontade do monarca era a constituição, isso, mesmo que admitido, não faz diferença. O ofício era o que requeria lealdade a esta constituição ou não. Nesse último caso, é o que sustentava, a saber, que não havia obrigação imoral relacionada ao seu cargo. No primeiro caso, ele foi perjurado, não apenas por quebrá-lo em várias situações, mas também por tomá-lo, pois ele jurou um “espaço em branco”, isto é, executar o que não sabia. Mas não há relato de que Daniel estivesse sob essa obrigação. De fato, teria sido inconsistente com o agrado do céu que ele e outros membros do cargo evidentemente desfrutavam. Suponhamos um caso semelhante ao de Daniel e outro semelhante à nossa situação, atualmente, sob as constituições americanas. Isso pode servir como ilustração do princípio geral aqui discutido. Imagine que um homem seja preso por um grupo de índios, com a intenção de explorar as águas do rio Mississipi. Eles não têm um sistema específico estabelecido para regular sua conduta durante a expedição. Eles estão sob o comando de um chefe, cuja vontade é a lei, e que tem poder para punir em caso de desobediência. Imagine que outro, em Providence, esteja residindo entre um grupo nas atividades pacíficas da agricultura e, de vez em quando, traficando peles, produto de suas excursões de caça. Suponha que esse grupo tenha um pequeno sistema de regras que provê especificamente todos os ofícios que possam ser necessários na comunidade, e que todas as regras desse pequeno sistema sejam justas e equitativas, excetouma. Suponha que o excepcional seja que, todas as manhãs e noites, os oficiais cuidem para que os que estão sob seus respectivos comandos façam piadas ou adorem o diabo, como é dito que algumas das tribos indianas estão acostumadas a fazer. Que um juramento de apoio e manutenção desse pequeno código seja tornado pela comunidade uma qualificação essencial de qualquer cargo. Agora, supondo que esses dois homens sejam chamados a aceitar cargos em suas respectivas tribos, ambos podem obedecer com boas consciências? Ou melhor, que aquele de quem não se exige estipulação imoral o faça com segurança, e, se ordenado a fazer o que está errado, imite Daniel, que, sob risco de morte, desobedeceu ao mandamento do rei; enquanto o outro pode não o aceitar, pois ele é apresentado ao cargo por uma estipulação que viola a lei moral. A aplicação disso é abundantemente evidente. Objeção 5. “Mas os santos oraram por eles (Gn 20:7,10 e Dn 4:21). E também, em 1Tm 2:2, somos ordenados a fazê-lo. Isso não deveria nos fazer considerá-los governantes legítimos?” Resposta: se eles são imoralmente constituídos, orarmos por eles como tais é claramente contrário à ordenança de Deus (2Jo 1:10-11). Como homens, devemos orar por eles, de acordo com o comando de Deus (1Tm 2:1), no qual nos é ordenado fazer orações e intercessões por todos os homens. Quanto ao comando para orar por reis (1Tm 2:1), é evidente que se refere a governadores morais, que conduzem sua administração de tal modo que a santidade, a verdadeira piedade e a honestidade sejam promovidas entre seus súditos. Objeção 6. “Os santos citaram-nos para justiça (At 25:10-12; 26:32), em que o apóstolo apela para César.” Resposta: um apelo a seus tribunais não envolve uma homologação de seu domínio legal mais do que um apelo de um assassino a um ladrão que estivesse disposto a salvar a vida de alguém seria uma homologação da sua vida em habitual violação do oitavo mandamento. Suponha, por exemplo, que as montanhas Allegheny estejam infestadas por um bando de ladrões, cujo capitão ainda retém tanta humanidade a ponto de estabelecer uma lei segundo a qual nenhum homem pobre deve ser roubado de mais de dez dólares. Você está atravessando a montanha, e cinco homens da gangue se aproximam de você e roubam cem dólares, o que é quase tudo o que você tem. Então você se encontra com o mestre da fraternidade (você conhece a lei) e acredita que ele ainda tem tanta humanidade restante, que será induzido a executar aquela lei. Você apelará para que ele faça com que seus noventa dólares sejam reembolsados, os quais lhe são devidos pela própria lei do capitão dos ladrões? Se você o fizer, isso o implicará na imoralidade dos bandidos, ou significará que você diz “amém” à sua prática ilegal? Certamente não. Se isso se sustenta no maior, certamente se sustentará no menor. Se um apelo pode ser feito ao capitão de um bando de ladrões, sem implicar sua criminalidade, muito mais a essas instituições que, embora erradas em alguns fundamentos, ainda visam ao bem da sociedade civil. Objeção 7. “O próprio Cristo pagou impostos e ordenou aos discípulos pagá-lo, e isso era para César (Mt 17:27; 22:21). Isso não é um reconhecimento de sua autoridade?” Resposta: o simples pagamento do tributo nunca foi considerado como qualquer homologação da autoridade que o impôs. Pode ser dado ao pior dos tiranos, se não for exigido como um tessera de lealdade. Poderíamos perguntar aqui: o povo dos Estados Unidos homologa a autoridade do Dey de Argel ou, por uma questão de consciência, o reconhece como seu governante legítimo, quando presta homenagem anual ao altivo Musselman? Eles acham que o Dey tem algum direito moral de exigir uma coisa dessas? Eles não preferem seguir o princípio de que é melhor dar uma parte para salvar o restante, do que, retendo, perder tudo? Tal conduta pode ser prudente e inocente com qualquer grupo de ladrões. A alegação feita através de Mt 17:27 é evidentemente improcedente. Veja a passagem. Os melhores comentaristas consideram o tributo mencionado aqui como o dinheiro do templo, o resgate da alma mencionado em Êx 30:12-13. Que esse fosse o caso parecerá evidente, primeiro, porque o dinheiro encontrado na boca do peixe é visto, pelos melhores críticos, como igual em valor a dois meios siclos, um para Cristo e outro para Pedro. E, segundo, do argumento pelo qual nosso Senhor pede isenção, a saber, do exemplo dos reis da terra. “O que você acha, Simão? De quem os reis da terra cobram censo ou tributo? De seus próprios filhos, ou de estranhos? Pedro disse a Ele: de estranhos. Jesus lhe disse: então as crianças são livres”. Aqui encontramos, pelo exemplo dos reis terrestres, que Cristo era livre. Como Ele estava livre? Por ser o Filho do Rei a quem o tributo pertencia. Quem era esse rei? Não poderia ser césar. O filho de Cristo César? Não. Pois, se Ele era filho de César, deve ter sido por geração natural, adoção ou cidadania. Nada disso aconteceu. E, mesmo que o último tivesse ocorrido, que é a única suposição plausível (embora falsa), não teria adquirido essa imunidade, porque a cidadania não eximia o tributo. Mas Jesus era o Filho do Deus do céu, aquele rei a quem pertencia o tributo; por isso Ele diz “não obstante”, isto é, embora eu seja livre, pela relação de Filiação etc. A outra alegação trazida através de Mt 22:21: “Dai a César o que é de César…”, é igualmente infundada. É abundantemente evidente, a partir da passagem, que a pergunta pretendia armar para o Senhor Jesus Cristo, ao responder como Ele respondeu. Foi proposta pelos herodianos e fariseus; aqueles, votantes pelo domínio romano, estes, os defensores das imunidades judaicas. Se Ele tivesse dito: “Dai a César”, os fariseus, sempre prontos para acusá-lo, o representariam ao povo como um inimigo de seus privilégios antigos. Se Ele tivesse dito: “Não deis”, os herodianos o teriam representado a Herodes como um inimigo do governo de César. No décimo quinto verso, relata-se que eles vieram até Ele com o objetivo de “envolvê-lo em sua estratégia”. Mas Ele, “conhecendo sua astúcia”, cortou seu dilema e deixou a pergunta indecisa. Ele, em várias outras ocasiões, assim confundiu seus adversários; como em Jo 8:4,12, no caso da “mulher apanhada em adultério”, e em Lc 7:14, quando lhe foi apresentado um pedido sobre o estabelecimento da herança terrena. Alguns objetam, aqui, “que essa explicação da resposta de nosso Salvador representa o Senhor como que se recusando a declarar todo o conselho de Deus — dando nenhuma resposta em um caso que diz respeito ao pecado e ao dever”. A inferência é falsa. Eles não ficaram sem informações sobre esse assunto. Eles tinham a lei e os profetas. O Senhor Jesus Cristo havia dado instruções específicas a respeito do caráter de licitude do pagamento de impostos por causa da consciência. Mas não era a informação que eles desejavam; queriam induzi-lo, deixá-lo responder como Ele faria, como já foi mostrado. Se o silêncio, ou a recusa de responder em todos os casos, mesmo quando diz respeito ao pecado e ao dever, seja qual for o desígnio do inquisidor, são considerados criminosos, sob qual ponto de vista o objetor enxergará o Senhor Jesus Cristo quando o descobrir recusando-se a responder a uma questão referente ao pecado e ao dever, no caso de sua própria autoridade? “Nem eu te digo (diz Ele) com que autoridade faço essas coisas” (Mc 11:27). Seria bom que os homens considerassem as terríveis consequências de algumas de suas objeções antes de fazê-las. Mas, supondo que Cristo, nos dois casos mencionados, tenha ordenado que o tributo fosse pago a César, o que isso prova? A menos que Ele tenha ordenado que fosse pago como um tessera de lealdade, isso não prova mais a moralidade do direito de César do que um ministro do evangelho aconselhando um de seus ouvintes a dar ao ladrão parte de sua propriedade, para garantir o restante, provaria que o ministro consideraque o ladrão tenha moralmente tal direito. Objeção 8. “Mas você usa o dinheiro que recebe o seu valor pela sanção deles; e você os suporta pangando impostos, e os apoia prestando tributo etc. Nós também ao ladrão, a quem damos uma parte para salvar o restante. Contudo, segue-se que eu possa jurar lealdade a ele, ou me tornar um de seus oficiais, nos negócios de roubo e pilhagem?” Objeção 9. “Você faz juramentos administrados por eles e mantém escrituras de terra etc., cuja validade repousa inteiramente em sua sanção.” Resposta: a administração não é essencial para um juramento. Não faz parte disso. Um juramento é um apelo solene a Deus, no qual o chamamos para testemunhar a verdade do que afirmamos ou prometemos, e para ser um vingador em caso de perjúrio. A administração nada mais é do que organizar a questão e a expressão do juramento na devida forma. Isso pode ser feito pela própria pessoa que jura ou proposto por outra; e, se por si só equitativo, pode ser adotado pelo jurado, seja o proponente quem for. Se um ladrão me encontrar na estrada e, ao descobrir que eu não tenho dinheiro, colocar sua baioneta no meu peito; supondo que pareça evidente que ele pretende me matar, a menos que eu me comprometa a pegar ou enviar uma certa quantia de dinheiro em um determinado momento, digamos cinquenta dólares, não o devo cumprir? Em caso afirmativo, o juramento é o resultado de estipulação mútua, que as circunstâncias existentes tornam aceitável. Parece-me irrelevante se a proposta se origina com ele ou comigo. Em ambos os casos, considero lícito dar cinquenta dólares para salvar minha vida. Fazer esse juramento, se proposto pelo assaltante, seria algum reconhecimento do seu direito à minha propriedade? Onde estaria a diferença, se minha vida fosse salva por outro que estivesse sob compromissos semelhantes para comigo com meu consentimento? Qualquer que seja a diferença existente entre essa ilustração e a manifestação em tribunais de justiça comuns, para pleitear, ou implorar, em que juramentos são necessários para uma decisão, é a favor da posição reivindicada; na medida em que as pessoas perante as quais o caso é tratado são consideradas possuidoras de honra e respeitabilidade. Com relação à outra alegação (9), “A posse de terras por escrituras cuja validade depende de sua sanção”, esta também é infundada. A barganha com um homem por qualquer artigo, em todos os casos, reconhece a moralidade dos meios pelos quais ele se tornou dono do referido artigo? Se isso acontecer, se algum poder estrangeiro conquistar a América (que Deus o proíba) e declarar todas as propriedades da terra que não procedam da nova ordem das coisas nulas e sem efeito, seria criminoso mantê-las assim: e assim a terra deve ser desocupada e seus agricultores devem fugir para outro lugar em busca de asilo. Mas, supondo que eles encontrassem coisas semelhantes aonde quer que fossem, deveriam deixar este mundo completamente? Eles não devem comer nem beber os produtos da terra mantida por essa posse imoral; pois, pela hipótese, o cultivador a mantém sob um domínio imoral e, portanto, nenhuma barganha deve ser feita com ele, mais do que com o poder do qual o ato originalmente emana. Não posso alugar um quarto de minha própria casa, da qual um homem me privou, e agora legalmente detém, embora por um mandato imoral, sem assim reconhecer a moralidade de seu direito? Se posso alugá-lo, não posso dar um artigo por escrito, garantindo o pagamento a ele e o mandato a mim? Se posso fazê-lo com um quarto, não posso fazê-lo com toda a casa e cortiço pertencente a ele? Se eu posso alugar o todo, também não posso comprá-lo, colocando a barganha em títulos semelhantes aos mencionados acima? Se isso for legal, como o caso em consideração pode ser ilegal? Objeção 10. “Mas, quando os governantes estão em posse pela voz da maioria, eles não reivindicam, portanto, obediência consciente?” Resposta: nações, assim como indivíduos, são obrigadas a agir de acordo com a lei divina. Se sua conduta for repugnante, não poderá conferir nenhum direito, nem estabelecer qualquer obrigação. O ato da maioria nunca pode legitimar o que Deus proibiu sob pena de seu descontentamento. Se pudesse, seguir-se-ia necessariamente que todas as coisas geralmente chamadas de certas ou erradas são, em si mesmas, indiferentes; que a Bíblia não tem um significado definido por si só, mas o deriva completamente das opiniões dos homens, e assim também autentica dois sistemas, embora diametralmente opostos um ao outro! Nenhuma posse, portanto, nem maioria, pode conceder um direito em oposição à lei divina. A posse pode ser exercida em um, e o direito em outro, como no caso de Salomão e Adonias (1Rs 5). Tanto a posse como a maioria podem ser atribuídas a uma pessoa e o direito a outra, como no caso de Davi e Absalão (2Sm 15:10 e 17:14). A voz do povo deve ser considerada como a voz perceptiva de Deus somente quando eles agem de acordo com essa lei; mas, ao contrário, não estabelece direito nem constitui obrigação. Portanto, “eles criaram reis, mas não por mim: eles formaram príncipes, e eu não o sabia” (Os 8:4). A acusação, aqui, deve necessariamente respeitar a negligência do preceito, pois ninguém poderia ser promovido à dignidade civil sem a sua providência. Um pardal não pode cair no chão sem sua permissão providencial. Objeção 11. “A repressão e a punição de idólatras, blasfemadores e grosseiros hereges, pelas quais você contende, pertenciam à teocracia judaica, que era um caso específico e, portanto, não deve ser imitado.” Essa objeção é extremamente popular e merece atenção minuciosa. Não pode ser melhor respondida do que nas palavras do falecido Rev. John Brown, ministro da Igreja Seceding, em Haddington, no norte da Grã-Bretanha, em seu “Tratado sobre a Tolerância”, página 57. Ele desafia seu antagonista a provar que esses exemplos da repressão e da punição da idolatria etc. pelos governantes judeus eram meramente locais. Ele observa: “Os magistrados locais da nação judaica também exerceram leis relativas a assassinato, roubo, falta de castidade, traição e outros assuntos da segunda tábua da lei. Agora, portanto, não devem os magistrados fazê-lo? As leis que diziam respeito aos deveres da segunda tábua pertenciam tanto à teocracia judaica quanto as relativas à primeira. Portanto, o magistrado cristão, por medo de copiar a teocracia judaica, deve evitar qualquer moral? Todas as coisas que antes eram típicas devem estar agora, sob o evangelho, excluídas da autoridade reguladora? Todos os excelentes padrões de Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Jó, Moisés, Arão, Samuel, Davi e outros santos hebreus devem ser rejeitados como simbólicos e inúteis? Devem todas as leis dirigidas para eleger homens tementes a Deus e odiadores da cobiça como magistrados, ou dirigidas a instruir os homens a julgar com justiça, imparcialidade e prudência, e a punir assassinos, adúlteros, ladrões, assaltantes etc., ser descartadas como simbólicas? O sábado semanal, jejuns públicos e ações de graças devem ser deixados de lado como simbólicos, mero sinal entre Deus e os israelitas? Os dez mandamentos e todas as explicações deles no Antigo Testamento devem ser descartados, como publicados de maneira representativa e para um povo típico, e usados como parte principal de seu governo na teocracia judaica? Como a Igreja Judaica era uma igreja real, e não apenas simbólica, seu Estado era uma comunidade ou um reino real, e não apenas simbólico: o que, portanto, lhe pertencia, como uma comunidade real, é imitável em qualquer outra. A igreja e o Estado judaico eram tão realmente distintos quanto a igreja e o Estado são agora, embora eu não diga exatamente da mesma maneira”. Esse autor erudito e piedoso passa a mostrar onde eles eram distintos, o que ele faz em dez diferentes detalhes; o que seria muito grande para detalhar aqui. Aqueles que desejam veresse assunto amplamente e criteriosamente investigado o encontrarão na primeira parte de Rod Blossoming, de Aaron Gillespie, livro I, capítulos 1, 2, 3 etc. O sr. Brown mostra ainda mais adiante em que concordam o magistrado judeu e o cristão. Isso ele faz em catorze detalhamentos diferentes, que o leitor curioso encontrará nas páginas 60 a 62 do tratado acima. Objeção 12. “Seus princípios são contrários à quarta seção do vigésimo terceiro artigo da Confissão de Fé de Westminster, que ensina ‘que a infidelidade ou diferença na religião não anula a autoridade justa e legal do magistrado, nem liberta o povo de sua devida obediência a ele’.” Resposta: o sentido em que a Assembleia Geral, como também a corrente dos reformadores e mártires do século XVII, compreendeu essa passagem, é plenamente afirmado em nosso testemunho, como também na carta de Stirling, do Rev. John M. Millan. Eles distinguiram entre terras reformadas e iluminadas e aquelas que não foram reformadas e não foram iluminadas. No último, muitas coisas podem ser suportadas com as quais não se deve sofrer no primeiro; particularmente quando, por um ato nacional solene, eles tornaram as qualificações das Escrituras essenciais para a constituição civil. Nossos antepassados o fizeram em suas Alianças, Liga Nacional e Solene. Todas as categorias e condições do reino juraram solenemente usar todos os esforços legais para extirpar papais, prelados etc. Poderia se indagar: jurar aliança a uma constituição após erguer-se sobre sua ruína, da qual o suporte e o estabelecimento de qualquer dessas detestáveis abominações foram feitos um apoio essencial, seria um meio bem calculado para promover a intenção do seu juramento? Essa era exatamente a situação das terras de nossa natividade. A prelazia, que havia sido ajustada nacionalmente, tornou-se essencial à constituição britânica; e o rei jurou solenemente, em seu juramento de coroação, apoiá-la. Não foram esses dois juramentos, a saber, um para extirpar a prelazia, e outro para apoiá-la, totalmente contraditórios? Jurar o último é declarar o primeiro sem compromisso e, consequentemente, criminoso, quando originalmente celebrado. Alguém que professa amizade para com a reforma destes tempos pode, assim, sem vergonha pronunciar sua sentença de condenação! Se a autoridade do magistrado for justa e legal, nós nos manteremos conscienciosamente vinculados a render obediência. Nenhuma autoridade pode ser justa e legal, se a ela uma contradição à lei moral é essencialmente incorporada. A simples infidelidade não a tornará injusta, nem em um país pagão ou em um país emergente da escuridão pagã. Tampouco a simples diferença de religião a tornará nula, quando a nação, por seu próprio ato solene e instrumento, não fez da conformidade um artigo essencial de sua constituição. Pode haver muitos defeitos em uma constituição civil, e ainda é moralmente vinculante para uma nação: mas onde a imoralidade pura ou uma obrigação solene de apoiar o que o Legislador do universo proíbe, sob as mais severas penalidades, é essencialmente incorporada, a consciência não pode ser amarrada. Objeção 13. “Seus princípios embasam a perseguição, são cruéis e impiedosos.” Resposta: a igreja de Cristo nunca perseguiu. Se nossos princípios levam a isso, eles certamente estão errados. Mas o que é perseguição? Consiste na execução da lei de Deus? Se isso acontecer, Ele deve ser o autor. Não consiste, em vez disso, em ferir os homens em seu caráter, propriedade ou pessoa, por sua aderência tenaz e firme aos seus mandamentos divinos? Se isso não é perseguição, os mártires sofreram não pela causa e pelo testemunho de Jesus, mas por sua obstinada rebelião contra ela. Como isso corresponde ao caráter daquelas almas que João viu caídas sob o altar, “que foram mortas pela palavra de Deus e pelo testemunho que tinham?” (Ap 6:9). Tudo o que a lei de Deus ordena que seja punido deve ser punido com as penalidades nela feitas e previstas; mas Deus ordenou que hereges grosseiros, blasfemadores e idólatras sejam punidos com certas sanções especificadas. Portanto, devem ser punidos. Esses comandos não poderiam pertencer à lei cerimonial; pois então eles teriam fluído inteiramente da vontade arbitrária de Deus e seriam meros sinais entre Ele e Israel. Quem ousaria pensar tal heresia grosseira? Tampouco poderiam pertencer à parte da lei judicial que dizia respeito particularmente aos judeus. Quem ousaria dizer que apenas os judeus estavam ou estão sob a obrigação de adorar a Deus com pureza ou de se abster de blasfemar contra seu nome e dignidade? Devem, portanto, pertencer à lei moral e fluir da natureza moral de Jeová, que declarou que não dará sua glória a outro, nem seu louvor a imagens esculpidas. Assim, encontramos o primeiro, o segundo e o terceiro preceitos da lei moral que proíbem claramente essas coisas e exigem os deveres contrários. Todos os preceitos e ameaças que se encontram referentes a essas questões espalhados pela Bíblia são apenas elucidações desses mandamentos. Eu deixaria isso em particular, propondo uma pergunta que o leitor criterioso resolverá facilmente. Elias foi um perseguidor quando fez com que a lei de Deus fosse executada sobre os profetas de Baal? Objeção 14. “Mas a constituição prevê sua própria emenda; se, portanto, você pensa que está errada, por que não se junta e elege bons representantes, que podem ser instrumentais para corrigi-la?” Resposta: um representante deve jurar apoiar a constituição antes de poder se sentar na assembleia legislativa. Já demonstramos que esse juramento é imoral e, como tal, não podemos, em sã consciência, fazê-lo; portanto, o que não podemos fazer por conta de sua imoralidade não devemos empregar outros para fazer por nós. Somos obrigados pela lei moral e pelos compromissos da aliança a extirpar toda heresia, blasfêmia e idolatria, na medida em que nossa influência possa se estender. Temos em vista considerar não apenas ilegal, mas também um meio muito improvável de alcançar esse fim desejável, primeiro fazer um juramento que necessariamente envolve apoiá-los. Isso não seria “fazer o mal, para que o bem venha”? Isto o apóstolo condena veementemente. Supondo que tivéssemos certeza de que uma reforma nesses males seria obtida no dia seguinte, ou mesmo na hora seguinte; se fizermos um juramento ilegal para obtê-lo, estaríamos violando o comando do Altíssimo e incorrendo em seu severo descontentamento. Mas, além disso, por nossos próprios atos solenes e instrumentos, amarraríamos nossas mãos de realizar a coisa desejada, a menos que considerássemos o juramento inicial imperativo e zombássemos de Deus ao aceitá-lo. Um projeto de lei deveria ser trazido para dentro da casa para tornar a Bíblia a lei suprema da terra? Esse projeto de lei seria constitucional? Não é necessária prova de que não o seria. Juro apoiar a constituição. Como devo me comportar? Não há alternativa, a não ser rejeitar a lei que é uma transcrição das perfeições morais de Jeová ou cometer perjúrio: a menos que eu considere meu juramento de apoiar a constituição sem obrigatoriedade, zombando de Deus e o impondo à sociedade. Certamente não devo me colocar em nenhuma situação em que possa ser levado ao terrível dilema de rejeitar a Bíblia ou de cometer perjúrio! Tampouco satisfaria a consciência ficar calada e não dar voto. Isso seria uma aquiescência silenciosa na violação da constituição que eu jurei apoiar. O silêncio estaria apoiando isso? Também não é lícito a nenhum cristão colocar fora de seu próprio poder falar em favor da verdade, quando a verdade, ou a Bíblia de Deus, vier a ser tratada com favor ou contrariedade. Objeção 15. “Mas vocês são majoritariamente estrangeiros e não têm ligação com nossos acordos governamentais.” Admitindo que somos todos estrangeiros, o que isso prova? “Do Senhor é a terra e a sua plenitude” (Sl 24:1). Somos sujeitos morais do Senhor de todaa terra. Enquanto mantemos uma verdadeira e fiel lealdade a Ele, e obedecemos conscientemente às suas leis, temos o direito de viver em qualquer parte de seus domínios, onde, em sua providência, Ele pode, por favor, lançar nossa sorte. Não devemos infringir nenhum dos direitos justos de terceiros, pois isso seria inconsistente com a lealdade fiel ao Governador moral. Deus “deu a terra aos filhos dos homens”; e, para os fiéis em Cristo Jesus, uma nova aliança, direito a tudo o que eles possuem. Vamos manter esse caráter e deixar as consequências para um Pai bondoso e benevolente, que nos informou que “aqueles que buscam ao Senhor de nada têm falta”. Não nos envolvemos com seus assuntos governamentais além do que diz respeito à moralidade ou imoralidade deles. Temos o direito de opinar. Fazemos isso e apresentamos a razão sobre a qual nossa opinião está fundada. Muitas vezes nos perguntam por que não nos filiamos à sociedade nacional. Desejamos “estar sempre prontos para dar a cada um que nos pede uma razão da esperança que está dentro de nós”. Lamentamos que não possamos nos juntar a você em sua capacidade nacional. A culpa não é nossa, mas sua. Por mais que o amemos, e por mais que prefiramos o seu governo, comparativamente, não podemos nos filiar inteiramente a você, para que não pequemos contra Deus e sejamos infiéis àquele que é o Rei das nações. Como testemunhas do Senhor Jesus Cristo, também devemos testemunhar contra toda imoralidade nas constituições da terra em que habitamos. Como é possível sermos fiéis nesse assunto, se não devemos, de alguma forma, “interferir nos seus assuntos governamentais”? Prestar testemunho de fé é uma parte do caráter das “duas testemunhas”. É nosso dever indispensável imitá-las. Somos ordenados a andar “pelos passos do rebanho”. Elas ofenderam profundamente aqueles contra quem testemunharam. Diz-se que “atormentam os homens que habitam na terra”. Se formos fiéis como elas eram, faremos o mesmo. E, embora nos seja dito, como os homens de Sodoma disseram a Ló, “como estrangeiro, este indivíduo veio aqui habitar e quereria ser juiz em tudo?” (Gn 19:9), ainda assim, a aprovação de Deus e a resposta de uma boa consciência mais do que compensarão esses males temporários. Essas são algumas das principais objeções às doutrinas contidas na parte anterior deste discurso. CAPÍTULO 11 Aplicação Agora, encerro com algumas práticas. 1. Da informação. A partir do texto e da doutrina, podemos aprender que magistratura e ministério são duas ordenanças muito importantes: os dois “Filhos Ungidos” que representam o Senhor de toda a terra. Eles estão entre suas preocupações íntimas e próximas. Ambos são de instituição divina e visam responder aos propósitos mais importantes. Sem estes, nada além de anarquia e confusão prevaleceria aqui, e um horror sombrio cobriria as perspectivas da eternidade. Essas ordenanças muito importantes, às quais a felicidade de nossa espécie muito concerne, devem ser reguladas pela lei divina. Isso implica necessariamente uma obrigação para todos os sujeitos morais a quem é revelado de modificarem sua conduta de acordo com suas requisições. Aqueles que se recusam a aceitar essa regra como padrão de sua conduta civil e religiosa, se rebelam contra a autoridade do Governador Moral e correm grande risco de sofrer seus julgamentos severos. É dever daqueles que desejam prestar um testemunho verdadeiro e fiel de Jesus serem muito cautelosos em realizar qualquer ato que possa envolvê-los na criminalidade de se rebelarem contra Deus. “Não diga que é uma confederação” etc. Embora Deus possa aguardar muito tempo, Ele “se vingará de seus adversários”. Embora Ele seja o Senhor Deus, misericordioso e bondoso, longânimo e tardio em se enfurecer, ainda assim, Ele de maneira alguma livrará os culpados. Ele não permitirá que “sua glória seja dada a outro, nem seu louvor a imagens esculpidas”. 2. Do exame. Indaguemos como atendemos a essas preocupações muito importantes. Temos procurado, em todas as nossas dificuldades, sermos fiéis? Quando preocupações mundanas e o gozo de privilégios e ofícios civis no Estado competem com a honra de Emanuel, nós os abandonamos pela causa de nosso Cabeça e Senhor? Revolvemos em nossas mentes o caráter que Cristo dá ao discípulo real? “Se algum homem (diz Ele) deseja ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, pegue sua cruz e siga-me.” Se vocês, meus irmãos, portanto, são seguidores de Jesus, a abnegação é indispensável. Você calculou o custo quando embarcou em sua causa? Pode custar-lhe muito, mas Ele reembolsará suas despesas, pois não envia ninguém em guerra por conta própria. Em uma palavra, você resolveu, como Rute, a moabita, com sua sogra, seguir o testemunho de Jesus: “… aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus”? 3. Do consolo. Embora as rodas da carruagem da reforma se movam lentamente, embora a visão espere, não deixe cair a sua expectativa. Embora demore, aguarde. A palavra de Deus promete que chegará no tempo determinado e não se demorará mais. Aproxima-se o tempo em que o poder magistrático e ministerial será estabelecido com base nas Escrituras. “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as tuas amas; diante de ti se inclinarão com o rosto em terra, e lamberão o pó dos teus pés; e saberás que eu sou o Senhor, que os que confiam em mim não serão confundidos” (Is 49:23). E, ainda que não vivamos para ver estes dias felizes, desde que sejamos testemunhas fiéis, chegará o tempo em que, do alto do monte Sião, veremos os reinos deste mundo se tornarem os reinos de nosso Senhor e do seu Cristo. Embora possamos ser pressionados com muitas dificuldades, e cercados pelas circunstâncias mais embaraçosas, enquanto corremos nossa carreira cristã, e “prosseguindo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” — quais são todas essas dificuldades, se comparadas àquelas alegrias indescritíveis e cheias de glória que serão reveladas em nós? Embora, na Divina Providência, devamos ser chamados para selar o testemunho com nosso sangue, Jesus prometeu: “Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti”. E, quando Ele nos levar ao fim de nossa jornada, fará de nós pilares no templo de nosso Deus, para não sairmos mais. 4. Da repreensão. Isso pode ser endereçado às três seguintes descrições: Primeiro: para aqueles que, como Gálio, não se importam com nada disso. Há um ai pronunciado sobre aqueles que estão à vontade em Sião. Deus classificará os neutralistas entre seus inimigos. “Aqueles que não são por nós estão contra nós.” Eles estão envolvidos na mesma maldição com aqueles que são encontrados em hostilidade aberta. “Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do Senhor; acremente amaldiçoai os seus moradores, porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os valorosos” (Jz 5:23). Segundo: para aqueles que se opõem à reforma. Considere isso: eles estão lutando contra Deus e correm o risco de serem consumidos pelo fogo de sua indignação. “… quem me poria sarças e espinheiros diante de mim na guerra (diz o Senhor)? Eu iria contra eles e juntamente os queimaria.” Eis que o Senhor é um homem de guerra. Cuidado ao lançar-se sobre os numerosos chefes do broquel de Jeová. Aqueles que são encontrados no caráter de inimigos têm motivos para temer, para que o Senhor não os consuma com o sopro da boca e com o brilho de sua vinda. Terceiro: para amigos fingidos. As feridas são consideradas como que recebendo agudeza adicional, devido à circunstância de serem infligidas na casa do amigo. Dos inimigos abertos nada além de hostilidade é esperado. Se tivesse sido um inimigo, disse o salmista, eu poderia ter suportado. Aqueles que professam amizade à reformae, ao mesmo tempo, minam seu fundamento, lembrem-se de que serão considerados igualmente inimigos (se não piores) como aqueles que, com machados e martelos, quebram o trabalho esculpido. Que se lembrem da pergunta afetuosa: “Trairás o Filho do homem com um beijo?”. 5. Da exortação. De maneira geral, meus irmãos, sejam advertidos a serem cuidadosos e conscientes em manter essas ordenanças puras e íntegras. Para isso, exorto a todos, pelo exemplo dos santos: “Segui os passos do rebanho”. Cercado por uma nuvem de testemunhas tão grande, deixe de lado todo peso e os pecados que mais facilmente o cercam. Por sua obrigação de aliança. Você jurou lealdade a Deus. Após votos solenes, não ouse fazer perguntas. Pela obrigação da lei divina. Isso vincula a todos sobre os quais ela vem. Seus vizinhos pagãos na floresta se levantarão contra você e o condenarão, caso negligencie essa regra infalível. Pela lei da natureza. Isso exige que recebamos a lei divina como regra e padrão de todas as nossas ações. Pelo seu relacionamento com Deus. Se Ele é nosso Mestre, não devemos temê-lo? Se Ele é nosso Pai, não devemos honrá-lo? Pelo preço incomparável, uma coroa de imortalidade. “Sê fiel até a morte, e eu te darei uma coroa da vida.” Uma coroa da salvação — uma coroa da glória eterna. Lembre-se de que nos é dito que os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração do homem concebeu sua excelência e glória. Amém. Confira também outras obras da Editora Caridade Puritana: www.editoracaridadepuritana.com.br http://www.editoracaridadepuritana.com.br/ [1] N. do T.: Doutrina de Erasto (alcunha de Thomas Lieber, médico suíço do século XVI), que defendia a superioridade do Estado perante a Igreja, a qual devia subordinar-se àquele. (Fonte: <https://www.dicio.com.br/erastianismo/>.) [2] N. do T.: Esse foi um pacto nacional feito entre os puritanos. Confira o documento traduzido: <https://issuu.com/iprbsp/docs/1643_- _a_liga__solene_e_alian__a_1351253ae9584f>. [3] N. do A.: Veja o juramento para o ofício: art. 8 o da Constituição do Estado da Pensilvânia. [4] N. do A.: Veja a Emenda do Art. 3 o da Constituição Federal. [5] N. do A.: Veja o Catecismo Maior, Questão 108 — e como isso é ratificado nas constituições de suas igrejas. [6] N. do T.: Os quakers eram um grupo religioso, uma seita derivada do protestantismo britânico, que defendia a doutrina da “Luz Interior”, uma suposta orientação do Espírito baseada em sensações. Rejeitavam o ministério formal e diziam-se “sob inspiração direta do Espírito Santo”. [7] N. do T.: É um título nobiliárquico turco adotado por diferentes governantes dentro dos territórios dos antigos Império Seljúcida e Império Otomano. Foi também o título dos monarcas da Tunísia. Originalmente era o título atribuído ao chefe de clã turcomano — geralmente fiel a um determinado sultão. Um beilhique era um território governado por um bey. [8] N. do T.: Um termo arcaico para “muçulmano”. [9] N. do A.: Veja a citação no Art. XI do Tratado de Paz e Amizade entre os Estados Unidos da América e o Bey e súditos de Trípoli de Barbária, arquivado nas leis dos Estados Unidos, Volume IV. [10] N. do A.: Veja a Constituição da Pensilvânia, Art. 8 o . [11] N. do A.: Veja a Constituição da Pensilvânia, Art 9 o , Sessão 7. [12] N. do A.: Não será verdadeira objeção ao acima exposto que, em alguns tribunais, o juramento é administrado aos jurados “para determinar de acordo com as provas”, sem mencionar a lei. A lei ainda está implícita; caso contrário, o júri está acima da lei, e acaba-se toda a legislação. É de se temer que os jurados se imponham frequentemente nesse detalhe. [13] N. do A.: Veja “Read’s Digest”, p. 265. [14] N. do A.: Nesse caso, o juramento do jurado deve ser considerado nulo e sem efeito, ou corrompido, pois ele agiu de forma totalmente contrária à lei do Estado. https://www.dicio.com.br/erastianismo/ https://issuu.com/iprbsp/docs/1643_-_a_liga__solene_e_alian__a_1351253ae9584f [15] N. do A.: Em nenhum caso a violação da lei divina aparece mais flagrante do que na lei da Pensilvânia a respeito do assassinato. Deus ordena expressamente, da maneira mais contundente, em Gênesis 9:6: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado”. E, em Números 35:31: “E não recebereis resgate pela vida do homicida que é culpado de morte; pois certamente morrerá”. Versículo 33: “…e nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que nela se derramar, senão com o sangue daquele que o derramou”. [16] N. do T.: “Casa de missas”: igreja católica romana. A Vida de Samuel B. Wylie PREFÁCIO INTRODUÇÃO Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11