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OS DOIS FILHOS UNGIDOS
ou
As testemunhas fiéis para a
Magistratura e o Ministério
com base nas Escrituras
Por Rev. Samuel B. Wylie, A.M.
“E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão
por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco. Estas
são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do
Deus da terra.”
Apocalipse 11:3-4.
Com
“Um Ensaio Sobre a Submissão ao Governo Civil”
Contribuidores da obra:
Design: Wallas Pinheiro
Tradução:  Rodrigo Varoni / Filipe Macedo/ Jadson Targino Junior
Revisão: Diego Henrique Trentini Gehm / Maycon Maia Ribeiro / Luiz Castaldi /
Filipe Macedo / Gabriel Lago
Este livro não pode ser revendido ou distribuído para vendas sem a permissão
escrita da Editora Caridade Puritana. Todos os direitos autorais pertencem à ECP.
Para a distribuição gratuita, temos a versão em PDF disponível em nosso site:
https://www.editoracaridadepuritana.com.br
Sumário
A Vida de Samuel B. Wylie
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
Capítulo 1: Pressupostos Estabelecidos
Capítulo 2: A Diferença Entre O Governo Civil e a Igreja
Capítulo 3: A Concordância Entre os Dois Poderes
Capítulo 4: O Relacionamento Entre o Ramo Civil e o Ramo Eclesiástico
Capítulo 5: A Função do Governo Civil
Capítulo 6: A Função da Igreja
Capítulo 7: O Dever Pessoal para com o Governo Civil Legal
Capítulo 8: Análise da Autoridade Civil na América do Norte
Capítulo 9: O Dever Pessoal diante um Governo Civil Ímpio
Capítulo 10: Respondendo Objeções
Capítulo 11: Aplicação
N
A VIDA DE SAMUEL B.
WYLIE
ascido em County Antrim, Irlanda, em 21 de maio de
1773. Entrou para a Universidade de Glasgow, na
Escócia, onde se distinguiu como académico, tendo-se
licenciado com o grau honorário de Mestre em Artes em
1797. Começou a ensinar numa escola em Ballymena, na
Irlanda, mas foi obrigado a fugir da sua terra natal em
consequência da sua ligação com os esforços em prol da
independência irlandesa. Emigrou para os Estados Unidos
em outubro de 1797, estabelecendo-se em Filadélfia. Em
1798, foi nomeado Tutor na Universidade da Pensilvânia.
Estudou teologia em privado e sob a direção do Rev. William
Gibson, sendo licenciado pelo Reformed Presbytery, em
Coldenham, Nova York, em 24 de junho de 1799. Foi
ordenado sine titulo pelo Presbitério Reformado, em
Ryegate, Vermont, em 25 de junho de 1800, e foi o primeiro
ministro Covenanter ordenado na América do Norte.
Acompanhou o Rev. James McKinney por todo o Sul para
abolir a escravatura da Igreja Covenanter. Pregou durante
algum tempo nas novas sociedades organizadas da
Filadélfia, Pensilvânia, e Baltimore, Maryland. Foi nomeado
pastor da congregação da Filadélfia, em 20 de novembro de
1803. Na organização do Seminário Teológico da Filadélfia
foi escolhido o Professor e permaneceu na função desde
1810 até sua demissão em 1817. Foi reeleito e serviu desde
1823 até a sua demissão em 1828. A sua publicação mais
notável, "The Two Sons of Oil" [Os Dois Filhos Ungidos],
publicada pela primeira vez em 1803, foi elogiada como a
melhor apresentação da posição da Igreja Covenanter nos
Estados Unidos. Além disso, seu sermão sobre a "Obrigação
dos Pactos", expõe em termos mais claros a antiga doutrina
dos pactos. Wylie morreu na sua residência em Filadélfia,
em 13 de outubro de 1852.
O
PREFÁCIO
s princípios da reforma não estão na moda. Eles foram
uma vez, no entanto, considerados como a glória dos
presbiterianos. Foi-se o tempo quando todo o corpo de
presbiterianos, na Escócia, Inglaterra e Irlanda,
unanimemente os subscrevia. Pela reforma civil e
eclesiástica, por uma gloriosa causa pactual, milhares
sangraram e morreram.
No seguinte discurso, empenhei-me em defender esta
causa. Não porque é uma causa antiga; não porque muitos
a selaram com seu sangue; mas porque a considero a
doutrina da Bíblia e a causa de Cristo.
Não faço nenhuma apologia — não solicito o favor de
ninguém. Uma convicção da verdade foi a causa da
publicação. Pode haver, sem dúvidas, expressões
suscetíveis a ataques. Qualquer coisa assim, se
demonstrada, será francamente reconhecida.
Samuel B. Wylie.
E
INTRODUÇÃO
“Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão
diante do Senhor de toda a terra”.
Zacarias 4:14.
sse capítulo está repleto de conforto abundante aos
cativos que retornaram. Nas suas circunstâncias
embaraçosas, eles estavam em grande necessidade de
consolação. Eles estavam inclinados a considerar sua
situação como desamparada e deplorável; e duvidavam
muito se o templo que eles estavam prestes a erigir algum
dia adquiriria a respeitabilidade do primeiro, ou se a cidade
deles abundaria com a população habitual. Eles mal podiam
acreditar que “a glória desta última casa seria maior do que
a da primeira” (Ageu 2:9).
O escopo dessa visão, portanto, é mostrar que Deus,
por seu próprio braço onipotente, consumaria a obra, a
despeito da imbecilidade de seus aliados e da oposição
maligna de seus inimigos. Para esse propósito, Ele os
informa, por seu profeta, que a pedra de esquina seria posta
com brados de júbilo; e que isso não deveria ser tão
atribuído à instrumentalidade visível quanto às influências
superintendentes de seu próprio Espírito onipotente
(versículos 1 a 10).
Do versículo onze ao fim do capítulo, temos uma breve
explicação dessa visão, aplicada como uma ilustração das
certezas já dadas. Isso é feito pelo anjo, a pedido do
profeta, no versículo 11: “O que são essas duas oliveiras do
lado direito e esquerdo do castiçal?”. O anjo, tendo-o
humilhado suficientemente, deixando-o repetir seu pedido,
baixar seus termos (limitando-se aos ramos das duas
oliveiras) e confessar sua ignorância, responde nas palavras
do texto: “Estes são os dois ungidos…”.
A própria resposta requer explicação. Quem é visado
por esses dois Ungidos, ou Filhos do Óleo, como se lê no
original? Quem são esses talvez seja melhor verificado
atendendo-se às funções que eles executam em
comparação com os textos colaterais. Comparando
conjuntamente os versículos dois, três e doze desse
capítulo, o que parece é que eles derramam o puro óleo
dourado no vaso sobre a cabeça do castiçal de ouro. Que
esse castiçal de ouro representava a Igreja de Cristo, isso é
abundantemente evidente das diversas passagens na
Escritura: veja Êx 24:7, 1Rs 7:49 e Ap 1:20. Os sete castiçais
dourados, como expressamente declarado pelo Espírito de
Deus, representam as sete igrejas.
A Igreja de Cristo pode ser considerada sob um duplo
ponto de vista, a saber, invisível e visível.
Em relação ao primeiro, os dois ramos da oliveira
podem ser emblemáticos de Cristo e seu Espírito, o
Redentor e Consolador. Jesus não é apenas o Messias, o
próprio Ungido, mas Ele é também a boa Oliveira de sua
igreja. “E de sua plenitude todos nós recebemos, e graça
sobre graça” (Jo 1:16). O Espírito é o Bálsamo ou Unção,
aquele que reabastece a mente com a iluminação divina. “E
vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas” (1Jo
2:20). De Cristo, a Oliveira, por seu Espírito, o Ramo da
Oliveira, comunica-se aos crentes todo o óleo dourado de
graça, por meio do qual suas lâmpadas são mantidas
acesas e luminosas.
Em relação ao segundo, a saber, a igreja visível, eles
podem ser símbolos das duas grandes ordenações da
Magistratura e do Ministério, investidos naquele tempo
nestes dois ilustres personagens, Zorobabel e Josué, o
primeiro no Estado e o último na Igreja. Eles foram
caracterizados como “Filhos do Óleo”. Os reis e sacerdotes
eram ungidos e, assim, solenemente separados para suas
respectivas funções. Eles “estão diante do Senhor de toda a
terra”, indicando que eles eram fiéis adeptos de sua causa e
testemunho, continuamente esvaziando-se no vaso
dourado, contribuindo com suas respectivas influências para
o avanço da reforma civil e religiosa, como objetos de seu
cuidado peculiar. Em alusão a essa passagem em Zacarias,
as duas Testemunhas mencionadas em Ap 11:4 são
designadas pelos mesmos emblemas, a saber,“as duas
oliveiras que ficam diante do Deus da terra”. A analogia da
Escritura, como também a corrente dos melhores
comentaristas, concorda que, por essas duas Testemunhas,
quer-se dizer aquela sucessão de homens que, em todas as
gerações, e contra toda oposição, têm valentemente lutado
pela pureza dessas ordenações divinas, tanto em
constituição quanto em administração. Nesse sentido,
considere esses dois Ungidos.
CAPÍTULO 1
 Pressupostos Estabelecidos
 
No prosseguimento do assunto, devemos:
I. Pressupor algumas coisas, as quais, se devidamente
observadas, podem ser úteis na posterior ilustração deste
texto:
1. Primeiro, que Deus, o Pai, o Filho e o Espírito, é o
Governante Supremo do universo. “…o Senhor Deus
onipotente reina” (Ap 19:6). Isso será comumente admitido.
2. Todo poder físico e moral está natural, necessária e
independentemente em Deus. “Eu sou o Deus Todo-
Poderoso” (Gn 17:1). Isso foi admitido até mesmo pelo altivo
monarca babilônico. “…Ele faz conforme a sua vontade no
exército do céu, e entre os habitantes da terra, e ninguém
pode paralisar a sua mão ou dizer-lhe: O que fazes Tu?” (Dn
4:35).
3. Todo poder a ser encontrado entre as criaturas é
necessariamente derivado dele. Ele é a origem e a fonte da
qual o poder flui. “Porque nele vivemos, e nos movemos, e
existimos” (At 17:28).
4. Todo esse poder delegado ou derivado deve ser
exercido para a sua glória e regulado por sua lei. “Portanto,
quer comais, quer bebais ou façais qualquer coisa, fazei
tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31). Para efetuar tal
fim, todos os poderes devem ser direcionados, e, para isso,
sua lei é a regra inerrante. Pela lei, portanto, todos os seres
racionais estão indispensavelmente limitados. Deus não
lhes deu nenhum direito de fazer o que é proibido. Supor
que os homens possuem tal direito é perverso e blasfemo.
Isso seria o mesmo que supor que Deus lhes diz: “Eu, como
o Legislador Supremo, vos dou minha lei. À menor
transgressão desta, anexarei a pena de condenação eterna;
ainda vos dou um direito de violar esta minha lei e de fazer
guerra com vosso Deus e direcionar vossa artilharia contra o
Soberano do Universo!”. As Escrituras nos informam de
outro modo: “Tudo o que te ordeno, observarás e farás;
nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Dt 12:32).
5. Esse poder delegado surge mais notável na pessoa
do Mediador. Às suas mãos o domínio universal é confiado.
“Foi-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28:18).
Aqui, a doação é universal. Sua extensão é ilimitada quanto
à natureza criada. 1Co 15:27: o apóstolo expressamente
declara que nada escapa de seu domínio, a não ser a
própria Divindade. Digno de nota a esse respeito é João
5:22: “Porque o Pai a nenhum homem julga, mas confiou ao
Filho todo o juízo”. Como Mediador, portanto, Ele pronuncia
sentença sobre o réprobo: “Apartai-vos de mim, malditos…”,
pois isso é uma parte de suas funções judiciais. Que esse
poder, e seu exercício, pertence a Ele, como Mediador, é
abundantemente evidente, não apenas da circunstância da
doação, o que em nenhum sentido pode-se aplicar a Ele
enquanto Deus (pois nesse caráter nada poderia ser dado a
Ele, sendo necessariamente Deus de tudo), mas também da
afirmação explícita e positiva, no versículo vinte e sete, de
que toda essa autoridade foi entregue a Ele, “porque Ele é o
Filho do Homem”.
6. Esse domínio universal, confiado a Ele, considerando
a família humana em sua administração, consiste em dois
grandes ramos, a saber, Magistratura e Ministério. Por meio
desses canais, o domínio flui para a humanidade,
contribuindo com suas influências para melhorar o caráter
desses que são destinados à vida eterna, aos quais “todas
as coisas contribuem juntamente para o bem” (Rm 8:28), ao
mesmo tempo em que decreta a obstinação daqueles que
continuam inimigos implacáveis, sobre os quais toda a
dispensação divina terá uma operação contrária.
7. Embora ambos os ramos estejam sob o controle do
Mediador, ainda assim estão sob diferentes regulações. O
poder eclesiástico é delegado a Ele de tal maneira que
todas as ordenanças e instituições, necessárias para a
organização formal da igreja visível, fluem imediatamente
dele enquanto Mediador. Mt 16:18: Ele é o construtor da
igreja, o autor de todas as suas instituições sagradas. Todos
os funcionários eclesiásticos, de igual modo, recebem
autoridade dele, no mesmo caráter, por toda a parte de sua
administração. Consequentemente, em Mt 16:19, Ele lhes
entrega as chaves do reino, e o poder exclusivo de ligar e
desligar. Mas o poder civil está sob uma regulação diferente.
Ele flui imediatamente do Deus Criador, enquanto
Governante do universo. “Quem não temeria a ti, ó Rei das
nações?” (Jr 10:7). O poder civil existia antes da queda, e
necessariamente teria existido mesmo que nunca
tivéssemos nos revoltado contra Deus; embora, sem dúvida,
nesse caso, não teria sido revestido de algumas de suas
presentes modificações. A sujeição do homem ao governo
moral de seu Criador teria sido, assim, similar àquela de
uma ordem mais dignificada.
O governo civil não se origina, como alguns políticos
modernos afirmam, quer no povo, como sua fonte, quer nos
vícios consequentes da queda. Entre os anjos que
mantiveram sua retidão primitiva, encontramos certas
ordens, sugeridas pelas denominações de Arcanjos, Tronos,
Dominações, Principados e Potestades. Cl 1:16: isso testifica
subordinação regular entre eles, de acordo com as leis
constitucionais de sua natureza, e sua subserviência a
Deus, seu Criador e Senhor. Mas, embora o governo civil
não seja nenhuma nova ordem de coisas atribuída na
queda, nem, como o ministério, em todas as suas
circunstâncias fluindo imediatamente de Cristo enquanto
Mediador, ainda está, como todas as demais coisas,
entregue a Ele pela doação do Pai. Ef 1:22: seus oficiais, de
igual modo, são ordenados, sob pena de ruína, a fazerem
suas administrações curvarem-se à honra do Emanuel; e o
corpo político indispensavelmente obrigado a modificar suas
constituições pela palavra dele, quando em sua bondade Ele
lha tem revelado. “Agora, portanto, ó vós reis, sede sábios;
sede instruídos, vós juízes da terra. Servi ao Senhor com
temor, e regozijai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que
Ele não se ire, e pereçais do caminho, porque em breve sua
ira se inflamará” (Sl 2:10,12). Pode alguma coisa ser mais
explícita em demonstrar as obrigações das autoridades civis
a render reverência e respeito ao Messias? Mas, como se
sugere que esses dois ramos estão sob diferentes
regulações, empenhar-nos-emos a:
II. Mostrar um pouco mais particularmente no que eles
se diferem.
CAPÍTULO 2
 A Diferença Entre O Governo
Civil e a Igreja
1. Eles se diferem em sua origem imediata, como já foi
sugerido. A magistratura flui imediatamente do Deus
Criador e se baseia em seu domínio universal sobre todas as
nações. “Deus é o Rei de toda a terra” (Sl 47:7). Para o
mesmo propósito somos informados, em Jr 10:7: “Quem não
temeria a ti, ó Rei das nações? Pois a ti isto pertence”. E,
como ela flui do Deus Criador, o Pai comum e cabeça de
todos, a lei da natureza, comum a todos os homens, deve
ser a regra imediata de todas as suas administrações. Uma
relação comum a todos deve ser regulada por uma regra
comum a todos. Todos estão na mesma relação para com
Deus, considerado como Governante Moral e Criador. O
padrão para regular essa relação deve, obviamente, ser
comum. Esse padrão é a lei da natureza, que todos os
homens necessariamente possuem. A revelação é
introduzida como uma regra, pelas requisições da lei da
natureza, que compele os homens a receberem com
gratidão tudo o que Deus quiser revelar; e aderirem a ela,
como a regra perfeita, sob pena de condenação, e sendo
tratados como rebeldes contra sua autoridade moral. Mas o
poder Eclesiástico flui imediatamente de Cristo, enquanto
Mediador, e é fundado em sua liderança econômica sobre a
igreja. Deus “…sobre todasas coisas o constituiu como
cabeça da igreja, que é o seu corpo…” (Ef 1:22-23). Como
esse poder flui assim de Cristo, enquanto Mediador, a lei da
revelação, anunciada por Ele como o Anjo da Aliança, deve,
consequentemente, ser o padrão imediato para a regulação
de cada parte do sistema: e a lei da natureza entra em cena
para ser uma regra, apenas em subserviência às regras
gerais das Escrituras. “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o
que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama,
se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”
(Fp 4:8).
2. Eles se diferem quanto a seus objetos imediatos. A
magistratura considera coisas externas, relacionando-se
imediatamente com o homem exterior. 2Cr 26.16,20:
quando Uzias usurpou as funções sacerdotais e ousou
queimar incenso, contrariamente à ordem expressa de
Deus, os sacerdotes valentemente resistiram a ele e
disseram: “Não compete a ti, Uzias, queimar incenso para o
Senhor, mas aos sacerdotes, aos filhos de Arão, que são
consagrados para queimar incenso; sai do santuário…”.
Sim, o Senhor castigou sua presunção ferindo-o com lepra,
e o expulsaram do templo. Quaisquer que sejam as
provisões de acomodações externas que ele esteja
autorizado a fazer, convocando assembleias sinódicas e
emitindo processos compulsórios para que se frequentem
tribunais espirituais, estas dizem respeito aos homens como
membros da comunidade e súditos do reino. Sua ratificação
de decretos da igreja nada mais é do que a adoção destes
civilmente, como leis boas e sadias determinadas a
promover o bem-estar do Estado.
Mas todo poder eclesiástico é exercido sobre as coisas
espirituais. “Porque as armas da nossa milícia não são
carnais, mas poderosas…” (2Co 10:4). Os homens são
considerados membros do corpo místico de Jesus; e, se é
necessária alguma preocupação com o homem externo, tal
como para com os olhos e ouvidos, é somente para que se
possa, assim, atingir suas consciências. Para aqueles que
estão fora dos limites da igreja visível, sua jurisdição não se
estende. “Porque, que tenho eu em julgar também os que
estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?” (1Co
5:12).
3. Eles se diferem em sua forma. O poder magistrático
é nobre e imperial. Compete aos seus funcionários exercer o
domínio, como os vice-gerentes de Deus; usar medidas
compulsórias para com os desobedientes e impor a
obediência às leis das quais eles são os executores. “Toda
alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm 13:1). E,
em caso de desobediência à sua autoridade legítima, o
magistrado não deve “trazer a espada em vão”. Ele não
deve, de fato, exercer o domínio caprichosamente, mas agir
como “ministro de Deus para o bem” de seus súditos.
Todavia, o poder eclesiástico é totalmente ministerial.
Seus funcionários são considerados administradores dos
múltiplos mistérios do reino espiritual e são encarregados
positivamente de agir como “Senhores sobre a herança de
Deus” (1Pe 5:3). Como seu grande mestre, eles não devem
vir a ser ministrados, mas a ministrar às exigências
espirituais de pecadores que perecem. Eles são, no entanto,
merecedores de atenção e da obediência às suas
ministrações espirituais. “Obedecei àqueles que têm
domínio sobre vós no Senhor…” (Hb 13:17). Mas, ainda
assim, eles não podem exercer coação sobre as pessoas dos
homens. Isso pertence exclusivamente ao magistrado civil.
E, considerando que os governantes civis podem e devem
punir as transgressões, como crimes desonrosos a Deus
enquanto Rei das nações, e prejudiciais ao Estado, os
governantes da igreja devem considerá-los como
escândalos, que ferem a honra de Jesus Cristo, desonram a
Deus e arruínam as almas dos homens.
4. Eles se diferem quanto ao seu próprio fim. O fim
imediato e próprio de todo poder civil é que o bem da
comunidade possa ser provido para sua segurança temporal
e liberdade civil, garantidas com base na lei moral (Rm
13:4). O magistrado é chamado de “ministro de Deus para o
bem” dos homens. O fim último a ser atingido é o avanço da
glória de Deus, enquanto Rei das nações, e um interesse em
promover a prosperidade da igreja; e a propagação da
verdade deve ser exercida como o meio mais bem-
determinado para obter esse fim. Ou o bem da igreja pode
ser considerado como um fim consequente. Quanto mais fiel
for a administração da justiça, menos violações da lei divina
haverá; e, consequentemente, menos escândalos para
aborrecer a paz e a felicidade da igreja.
Mas o fim próprio e imediato de todo poder eclesiástico
é que a convicção, conversão e edificação das almas dos
homens sejam promovidas. Ef 4:11-12: aqui vemos que o
fim imediato da designação de todos os oficiais da igreja
era: “para o aperfeiçoamento dos santos, […] para a
edificação do corpo de Cristo”. O fim último é a glória de
Deus, como aquele que está “em Cristo, reconciliando
consigo o mundo” (2Co 5:19). O bem-estar do Estado é
apenas um fim consequente, ao qual os oficiais da igreja,
como súditos do Estado, devem visar. Quanto melhor eles
exercerem suas funções eclesiásticas, menos serão os
crimes no Estado, e mais fielmente todo dever civil relativo
será desempenhado, e, assim, o bem-estar da nação será
grandemente promovido.
5. Eles se diferem em seus efeitos. Os efeitos de todos
os poderes civis ou são próprios, ou são redundantes. O
efeito próprio do poder civil é a segurança e o bem-estar
temporais da comunidade, junto ao gozo ininterrupto de
todos os privilégios civis.
O efeito redundante é o bem da igreja, na medida em
que isso resulte da justa administração da lei divina em
recompensar os justos e punir os ofensores (Rm 13:3), e da
remoção de todos os impedimentos que obstruiriam a
propagação da religião de Jesus; como Josias e outros reis
reformadores de Israel fizeram.
Mas o efeito próprio de todo poder eclesiástico é
totalmente espiritual, agradável à natureza espiritual do
reino de Cristo. “O meu reino não é deste mundo” (Jo
18:36). É espiritual, e seu exercício produz efeitos
espirituais, operando nas almas e nas consciências dos
homens.
O bem-estar do Estado, como tal, é apenas um efeito
redundante ou acessório. Pode, no entanto, ser muito
considerável. A melhoria do caráter, produzida pelas
influências benignas da religião de Jesus sobre o coração
humano, pode ser altamente vantajosa para a prosperidade
nacional; pois a verdadeira piedade tem a promessa da vida
que agora é, assim como daquela que está por vir.
6. Eles se diferem em seus sujeitos. O poder civil pode
ser concedido a um ou a mais de um. Isso é deixado a
critério do corpo político e, portanto, é chamado de uma
“ordenação do homem” (1Pe 2:13). Qualquer que seja a
forma particular, seja monárquica ou republicana, é legítima
e merece obediência, desde que a constituição seja
concordante com a lei moral.
Também pode ser delegado de um para outro. 1Pe 2:14:
somos ordenados a obedecer conscientemente, não apenas
ao supremo magistrado, mas também aos seus
representantes. “Quer aos governadores, ou àqueles por ele
enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos
que fazem o bem”.
Mas o poder eclesiástico de jurisdição não deve se
concentrar em apenas um homem. 2Co 2:6: ao falar da
restauração da pessoa incestuosa, que havia sido
excomungada, o apóstolo nos informa que sua censura “foi
infligida por muitos”.
Embora o poder de ordem, ou a administração da
palavra e sacramentos, pertença a todo ministro regular do
evangelho, o poder de jurisdição pertence exclusivamente a
um consistório de presbíteros. Nem pode um oficial
eclesiástico delegar autoridade a outro para que este
desempenhe funções ministeriais. Ela só pode vir de Cristo,
o cabeça, por meio de oficiais próprios. Veja Mt 16:19
comparado a Tt 1:5.
7. Eles se diferem quanto a seus correspondentes, ou
nas pessoas em quem eles são exercidos, respectivamente.
O poder civil estende-se a todasas pessoas residentes
no reino, sejam quais forem seu estado, caráter ou
condição. “Toda alma esteja sujeita às autoridades
superiores” (Rm 13:1). Aqui não há exceção de qualquer
classe ou condição de homens. Porém…
…A jurisdição eclesiástica se estende apenas àqueles
que são membros professos do corpo místico de Jesus Cristo
e opera neles exclusivamente sob esse caráter. Em 1
Coríntios 5:12-13, somos informados de que todo o poder de
jurisdição da igreja está limitado somente àqueles que estão
dentro. Portanto, aqueles que não são membros da igreja,
se forem culpados de qualquer coisa escandalosa, exigindo
censura pública, devem tornar-se membros da igreja antes
que possam se tornar objetos próprios de censura
eclesiástica. A jurisdição da igreja não se estende além das
paredes da casa de Deus.
8. Eles se diferem em seu exercício distinto e dividido.
Assim, se um negligenciar a execução do seu dever, isso
não é motivo para que o outro seja negligente, e sim o
contrário. Se o Estado não tomar conhecimento do
assassino, ou do adúltero, sua negligência de modo algum
desencoraja o braço da jurisdição eclesiástica, tampouco
deve diminuir o rigor da censura da igreja. Igualmente
acontecerá em uma mudança de casos. Novamente,
quando um ou outro faz o que é justo e correto, por um
processo que resulta na absolvição ou condenação da
pessoa acusada, o outro é obrigado a tomar conhecimento
da ofensa e proceder em conformidade. Assim, quando um
membro da igreja houver satisfeito a lei civil por um crime
cometido contra o Estado, a autoridade eclesiástica deverá
processá-lo por isso, como um escândalo, e privá-lo de
privilégios, até que ele dê as devidas evidências de
contrição e satisfaça as leis nesse caso feitas e fornecidas.
Assim, tanto a autoridade civil quanto a eclesiástica podem,
e em muitos casos devem, punir pelo mesmo delito; no
entanto, o processo deve ser inteiramente distinto e os
poderes independentes um do outro.
Mas, como temos nos esforçado para mostrar onde eles
se diferem, será necessário também:
III. Mostrar onde eles concordam.
CAPÍTULO 3
 A Concordância Entre os
Dois Poderes
 
1. Eles concordam com isto: que Deus o Pai, o Filho e o
Espírito é a fonte original da qual eles fluem. Supor que
qualquer poder, ou autoridade, não fosse originado em
Deus, essencialmente considerado, levaria necessariamente
a princípios ateístas. O poder deve, portanto, emanar dele.
“Não há poder que não venha de Deus” (Rm 13:1). Com o
mesmo propósito se diz em 2Co 5:18: “Todas as coisas são
de Deus”. O poder civil, como demonstrado, origina-se em
Deus, enquanto Criador, e é fundado em seu domínio
universal enquanto Rei das nações (Jr 10:7). E, embora todo
o poder eclesiástico flua imediatamente de Cristo, enquanto
o Mediador, ainda assim está radical e originalmente num
Deus três-em-um. Todo o direito e toda a autoridade de
Cristo, enquanto Mediador, são originalmente derivados de
Deus, assim como o poder civil.
Eles estão, com certeza, sob diferentes
regulamentações: estas já foram declaradas. Em virtude
desse direito derivado, Jesus é constituído como o único
Legislador em Sião, e é o imediato, como o Pai é a fonte
última de toda a autoridade eclesiástica.
Consequentemente, a autoridade dos oficiais da igreja é
análoga à do próprio Cristo, ou seja, por delegação. Jo
17:18: o próprio Cristo declara sua posse e sua comissão de
embaixador como sendo paralelas neste ponto particular —
“assim como Tu me enviaste ao mundo, também eu os
enviei ao mundo”.
2. Eles concordam nisto: que ambos estão sujeitos ao
Mediador, embora sob diferentes considerações. Mt 28:18,
Jo 5:22,27 e Ef 1:21,23, com muitas outras porções da
Escritura, não deixam espaço para a mente sincera duvidar
da universalidade da doação.
Mas as diferentes regulações sob as quais esses dois
ramos estão sujeitos a Ele são muito importantes e
altamente dignas da mais séria atenção.
Em questões civis, Ele não comissiona governantes e
oficiais. Estes recebem suas comissões de Deus, de quem
sua autoridade emana, e em quem a soberania sobre as
nações foi fundada, anteriormente ao e independente do
desenvolvimento da nova economia da aliança. Mas, em
virtude da doação do Pai, Ele tem um direito de exigir a
execução das ordens dadas aos governantes civis. “Agora,
portanto, ó vós reis, sede sábios…”; “Beijai o Filho, para que
Ele não se ire…” (Sl 2:10,12). À obediência eles estão
obrigatoriamente vinculados. Se recusarem, correm o risco
de serem despedaçados por seu cetro de ferro. Assim, Jesus,
enquanto Governante no reino da Providência (cujas rodas
Ele dirige; Ez 1:26), conduz o óleo dourado das benignas
influências, tanto do ramo civil quanto do eclesiástico, para
a taça dourada de sua mediadora plenitude; dali a ser
dispensado às lâmpadas de reforma civil e religiosa, até que
os reinos deste mundo se tornem os reinos de nosso Senhor
e de seu Cristo. Por isso, Efésios 1:22-23 diz: “Ele é a cabeça
sobre todas as coisas, para o uso da igreja, seu corpo”.
3. Eles concordam em sua independência mútua.
Eles são coordenados. Podem belamente subsistir
juntos, independentemente um do outro; mas não são
colaterais, mutuamente dependentes, e não podem
subsistir se separados.
O ramo civil não tem poder algum sobre o eclesiástico,
como tal; nem tem o eclesiástico poder sobre o civil. No
entanto, as mesmas pessoas, em referência a diferentes
relações, podem ser superiores ou inferiores a outra pessoa;
alguém pode requerer outro, ou serem eles requeridos, a
cumprir deveres relativos; e, em caso de inadimplência,
podem denunciar outros, ou serem eles próprios
denunciados, de acordo com as leis de suas respectivas
cortes. Assim, os ministros, enquanto embaixadores de
Cristo, têm o direito de exigir que os magistrados, enquanto
membros da igreja, executem fielmente seu poder
magistral, de modo a melhor promover a honra de Cristo e o
bem-estar de sua igreja; e, no caso de atos grosseiros de
má administração, podem infligir sobre eles as censuras da
casa de Deus. E, por outro lado, os magistrados têm o
direito de exigir que os ministros, enquanto seus súditos,
executem fielmente o poder ministerial, como um excelente
meio de tornar a nação piedosa e virtuosa, a fim de que sua
felicidade possa assim ser promovida.
Esse princípio, se devidamente observado e
judiciosamente aplicado, libertará a Confissão de Fé de
Westminster das falsas imputações de erastianismo,
infligidas pelos reformistas modernos.
Há vários artigos nos capítulos vigésimo, vigésimo
terceiro e trigésimo primeiro, os quais têm sido muito
atacados, como se dessem ao magistrado civil muito poder
na igreja de Cristo. Consideremos que ele possa convocar
sínodos, não formalmente, como judicatórios eclesiásticos,
mas apenas como membros da comunidade, em cujo
caráter eles são seus súditos. “Toda alma esteja sujeita às
autoridades superiores…” (Rm 3:1). Quando convocados,
certamente eles são obrigados a fazer o que é mais
determinado a promover a glória de Deus. Se suas
deliberações sinódicas forem determinadas a fazê-lo, não
deveriam eles esboçá-las? Deveriam eles tornar-se
negligentes; não deveria ele exigir que, como seus súditos,
cumprissem seu dever? Deveriam eles adulterar a fonte
pura da doutrina evangélica com o absinto e o fel, ou erros
e heresias, e não deveria ele proibi-los de envenenar as
almas de seus súditos, pervertendo seus sentimentos
morais e, assim, trazendo a vingança de Deus sobre a
comunidade? Se ele vê essas coisas com indiferença, como
pode ele ser o ministro de Deus para o bem dos homens?
4. Eles concordam em serem ambos obrigados a tomar
a lei moral como o padrão infalível de todas as suas
administrações.
Que o ramo civil é assim vinculado está evidente não
apenas pela voz da natureza, que anuncia a lei moral como
a regra suprema, regulando nossa relação com Deus como
nosso Senhor e Soberano, e requer que o corpo político
enxertesobre ela suas constituições civis, sob pena do alto
desprazer do céu; mas também do comando expresso de
Deus em sua própria palavra. Para esse propósito, veja
Deuteronômio 17:18-19, quando, falando do supremo
magistrado, observa-se: “Será também que, quando se
assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si
num livro, um traslado desta lei, do original que está diante
dos sacerdotes levitas. […] e nele lerá todos os dias da sua
vida […]”. Que a obrigação permanece sob o Novo
Testamento está evidente, não só pela moralidade do dever,
mas também pela circunstância de que o detalhamento de
tal constituição, como é aqui mencionado, seria produtivo
tanto do caráter como da administração
indispensavelmente requeridos (Rm 13:1,6). A negação
disso parece tão irracional, que até mesmo as Escrituras
silenciaram sobre o assunto. A lei divina não é a regra
completa de fé e prática? Não é assim para todo indivíduo
como tal? Se cada um está individualmente ligado a isso, a
união deles, numa sociedade nacional, dissolverá a
obrigação? Existe alguma incompatibilidade entre o governo
civil e o cristianismo, de modo que os homens devam ser
despojados do último antes de embarcarem no primeiro? Se
não, não deveriam eles, em todas as partes de sua
administração, considerar-se cristãos e lembrar-se de sua
responsabilidade de se submeter à lei divina? Por isso, toda
ação deve ser provada. “…e todos os que sob a lei pecaram,
pela lei serão julgados” (Rm 2:12).
Que o ramo eclesiástico é limitado por essa regra divina
é óbvio para todos. “Porque os lábios do sacerdote devem
guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens
buscar a lei…” (Ml 2:7). E, em sua comissão, os
embaixadores de Jesus são estritamente intimados a
ensinar a humanidade a observar todas as coisas ordenadas
por seu divino Mestre (Mt 28:20).
5. Eles concordam na medida em que ambos têm
judicatórios supremos e subordinados, nos quais exercem
jurisdição, conforme Mt 18:15,18, onde temos um mandado
divino para as sessões da igreja. São subordinados a (e dois
ou mais deles constituem) uma judicatura presbiteral, que é
divinamente reconhecida (1Tm 4:14 e também At 8:1 e
13:1). São subordinados a (e dois ou mais deles constituem)
uma assembleia sinódica, que também é reconhecida nos
capítulos de Atos 15 e 16. Aqui temos uma referência, uma
convocação, uma discussão e os decretos sinódicos daí
resultantes. Isso pode ser regularmente estendido a
Assembleias Ecumênicas ou Gerais sobre todo o globo
habitável, como implica a palavra, e como a necessidade de
unidade em conselho e cooperação entre os membros do
corpo místico evidentemente requer.
Os judicatórios supremos e subordinados no Estado são
diversamente modificados, à discrição do corpo político, o
que, se não for contrário à lei moral, deve ser considerado
legítimo.
6. Eles concordam na medida em que ambos, por causa
de sua autoridade divina, autorizam a seus fiéis executores
a dupla honra. “Os presbíteros que governam bem sejam
honrados com dupla honra” (1Tm 5:17). Aqui, a honra e o
respeito são ordenados para o ramo eclesiástico, cujo
caráter deve ser venerado, e suas pessoas estimadas pelo
seu trabalho.
Reverência e honra também são devidas ao ramo civil.
Com esse propósito somos ordenados, em Provérbios 24:21,
a “temer a Deus e ao rei”. Os governantes legítimos são
vice-gerentes de Deus e devem ser honrados por causa
daquele a quem eles representam. E, em Rm 13:7, ao falar
do magistrado civil, o apóstolo ordena: “dai a cada um o
que deveis; a quem temor, temor; a quem honra, honra”.
7. Eles concordam nisto: que o fim último de ambos, em
cada parte de seu procedimento, deve ser a glória de Deus.
Em Is 61:1,4, somos informados de que o grande fim de
cada parte da administração econômica de Cristo em
proclamar liberdade aos cativos, em abrir as portas da
prisão para os que estavam presos e em anunciar o ano
aceitável do Senhor era “que Deus possa ser glorificado”.
De igual modo, para esse fim todos os movimentos do
ramo civil devem ser dirigidos. É uma ordenança divina.
Seus executores são os vice-gerentes de Jeová. Cada ato de
sua administração deve, naturalmente, ser um
desenvolvimento mais profundo de seu caráter e uma nova
manifestação de sua glória. “Portanto, quer comais, quer
bebais ou façais qualquer coisa, fazei tudo para a glória de
Deus” (1Co 10:31). Mas, como parece que os dois ramos
concordam em várias outras coisas, pode ser apropriado
seguir ainda mais adiante:
IV. Para mostrar que preocupações o ramo civil deve
levar ao eclesiástico, ou para saber quão longe o poder civil,
circa sacra, pode avançar.
CAPÍTULO 4
 O Relacionamento Entre o
Ramo Civil e o Ramo
Eclesiástico
 
Que os magistrados têm oficialmente, por autoridade
divina, algo a ver com a religião, para impor os
mandamentos de Deus e suprimir as violações de sua lei,
parece claro até mesmo nos documentos do Novo
Testamento. “…ele (o magistrado) é o ministro de Deus para
o teu bem” (Rm 13:4). Ora, como pode ser ele o ministro de
Deus e, ainda assim, ser independente da honra e das leis
dele, de quem derivou sua autoridade? Além disso, os
mandamentos de Deus são obrigatórios para todos em sua
respectiva posição e relação na sociedade.
Quando Deus diz: “compra a verdade, e não a vendas”,
“batalha pela fé que uma vez foi entregue aos santos”;
quando Ele proíbe “não vos desvieis para a direita, ou para
a esquerda”; numa palavra, quando fala de idólatras (Dt
7:5), Ele ordena: “destruireis os seus altares, e quebrareis
as suas imagens, e derrubareis os seus bosques, e
queimareis a fogo as suas imagens de escultura”; sobre
quem são essas injunções obrigatórias? É somente sobre
pessoas privadas? O magistrado está isento? A
circunstância de ele ser ministro de Deus livra-o da
obrigação da lei divina?
Isso, de fato, seria uma doutrina digna da iluminação
moderna. Mas está em contradição direta com todo o
volume do livro de Deus. Veja uma passagem: Dt 17:18-19.
Devemos proceder mais particularmente e inquirir: o que
concerne ao magistrado oficialmente na religião?
1. Ele não tem poder diretivo sobre nenhuma coisa
eclesiástica. Ele não tem nenhum direito de prescrever
regras, introduzir novas modificações ou alterar um único
pino do tabernáculo sagrado. As leis constitucionais da
igreja são derivadas de uma autoridade superior. A esta ela
é submissa. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem de
acordo com esta palavra, é porque nenhuma luz existe
neles” (Is 8:20). A igreja judicativa, como tal, possuindo o
sagrado depósito dos oráculos celestiais, deve, como em Mt
23:10, não chamar quaisquer homens “de mestres, porque
um só é o vosso Mestre, o Cristo”.
2. Ele não tem poder nas, mas apenas quanto às
preocupações eclesiásticas. Cada ato dele, relativo à
religião, deve ser essencial e formalmente civil. Ele não
pode ousar tocar na chave ou ordem, ou na chave da
jurisdição. Se ele, como Uzias, atrever-se a interferir nas
funções ministeriais sagradas, deixe-o temer as tremendas
consequências. Ele deve, como Asa, Jeosafá e Ezequias,
contribuir com todos os esforços, na medida em que sua
influência política possa se estender, para promover a
reforma religiosa. Assim, vemos em 1Tm 2:2 que este é o
fim desejável a ser efetuado por sua justa administração, a
saber: “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada,
em toda a piedade e honestidade”.
3. O magistrado civil deve defender e proteger a igreja
de Cristo. “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as
tuas amas…” (Is 49:23). Isso não implica proteção? As
metáforas selecionadas pelo Espírito de Deus envolvem o
maior cuidado e ternura possíveis. Eu sei que tem sido
objetado por alguns que o carinho e a preocupação aqui
pretendidos não são oficiais, mas meramente pessoais,
como um membro individual da igreja. A razão atribuída é
que o epíteto que envolve a preocupação não se limita aos
reis, mas é comum a todas assuas rainhas: e isso deve ser
reconhecido como não oficial. Claro que ninguém está
isento de se preocupar com os interesses da religião. A
irrelevância da objeção surgirá atendendo a uma
observação feita anteriormente, a saber, que os
mandamentos de Deus são obrigatórios para cada um, em
sua respectiva posição e setor de vida. As rainhas são
obrigadas a exercer toda a influência, que na providência de
Deus é conferida a elas, na promoção da religião de Jesus.
Reis ou magistrados civis, da mesma maneira, estão
indispensavelmente obrigados a exercer todo o poder que
possuem em suas posições para promover o mesmo fim
desejável. Qualquer que seja a quantidade retida desse
poder, torna-se uma imensa dívida não liquidada com o
Messias, pelo comando expresso daquele Deus o qual os
magistrados representam. “Beijai o Filho, para que Ele não
se ire” (Sl 2:12). Quando o corpo místico de Cristo precisa
desse poder e o magistrado retém o benefício deste, não
corre ele o risco de ser cobrado por Jesus no último dia,
como lemos em Mt 25:42,45? “Porque eu tive fome, e não
me destes de comer; eu tive sede, e não me destes de
beber…”. “Quando não fizestes ao menor destes, não o
fizestes a mim”.
Essa mesma ideia de proteção, ternura e cuidado como
uma bênção a ser esperada nos tempos do Novo
Testamento é apresentada em Is 60:10,16: “e os seus reis te
servirão”, e “e alimentar-te-ás ao peito dos reis”. Todas
essas passagens evidentemente indicam que o poder civil
deve ser exercido administrando oficialmente à igreja todo
conforto que se pode esperar que resulte da união da
autoridade magistrática e o cuidado paterno; tal como
defendê-la de seus inimigos e garantir a ela todos os seus
privilégios.
Além disso, quando em 1Tm 2:2 somos ordenados a
orar pelos magistrados, o fim proposto é que a igreja e o
povo de Deus, sob a asa de sua proteção, “tenha uma vida
quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”.
Tanto a indiferença, portanto, por parte do Estado em
relação à igreja, como a igual proteção aos seus inimigos
são notoriamente incompatíveis com as ideias obviamente
contidas nessas passagens sagradas.
4. Ele deve, por seu poder civil, remover todos os
impedimentos externos à verdadeira religião e adoração a
Deus, sejam eles pessoas ou coisas; tal como perseguição,
profanação, heresia, idolatria e seus instigadores, como
fizeram Asa, Ezequias, Josias e outros reis piedosos.
Assim, somos informados, no nono capítulo de II Reis,
de que Jeú foi ungido para cortar a casa idólatra de Acabe.
No décimo capítulo nos é dito, no 25º versículo, que ele
destruiu os adoradores de Baal; e, no 30º versículo, Deus o
elogia por fazer isso. E, expressamente por causa disso,
promete a seus filhos o trono de Israel até a quarta geração.
Mais adiante, com o mesmo propósito, temos a conduta
aprovada de Asa (1Rs 15:12,25). “E ele retirou os sodomitas
da terra, e removeu todos os ídolos que os seus pais haviam
feito. E também Maaca, a sua mãe, ele removeu da posição
de rainha, porque ela havia feito um ídolo em um bosque; e
Asa destruiu o seu ídolo, e o queimou junto ao ribeiro de
Cedrom”. E, nisso, nos é dito: “E Asa fez aquilo que era reto
aos olhos do Senhor, como fez Davi, o seu pai” (v. 11).
Sim, ele até se queixa, no 14º versículo, porque os altos
também não foram removidos. Isso, no entanto, ele realizou
depois, como aparece em 2Cr 14:2,5, em que temos mais
alguns fragmentos de sua história: “ele removeu os altares
dos deuses estranhos, e os lugares altos, e demoliu as
imagens, e cortou os bosques”; e neste: “Asa fez aquilo que
era bom e reto aos olhos do Senhor seu Deus”.
Um exemplo aprovado equivale a um preceito; mas os
preceitos não estão em falta. Veja Dt 13:5,18,20; Zc 13:3 e
Ap 17:16. Se fosse necessário, poderíamos citar também a
autoridade das mais reformadas igrejas da Europa, como
também os mais eminentes mártires. “Estamos rodeados de
uma tão grande nuvem de testemunhas.”
Os sentimentos daquela venerável assembleia que
escreveu o Catecismo Maior são completos e explícitos
sobre esse assunto. “Os deveres exigidos no segundo
mandamento são […] o desaprovar, detestar e opor-nos a
todo o culto falso, e, segundo a posição e vocação de cada
um, removê-lo e todos os monumentos de idolatria.” Veja o
Catecismo Maior, p. 108. Nesse ponto, podemos
razoavelmente supor que todos os presbiterianos na
América do Norte devem concordar como a questão acima
do Catecismo Maior foi adotada, palavra por palavra, no
credo e nas constituições da igreja de cada denominação
deles, sem exceção. Veja o dito Catecismo, conforme
ratificado e adotado em suas constituições.
5. Ele deve usar todo esforço lícito para promover a
pureza, unidade e reforma na igreja. Ao fazê-lo, ele não
tolerará que outros administrem as ordenanças além
daqueles devidamente autorizados pela autoridade
eclesiástica. Independentemente disso, eles são apenas
impostores que, como os gafanhotos, devoram tudo o que é
verde, suscetível de sua influência venenosa, e subvertem a
pureza e a unidade da igreja do Evangelho.
Ele também pedirá aos eclesiásticos, enquanto seus
súditos, que sejam ativos e diligentes no desempenho do
dever (2Cr 29:5). Ezequias ordenou aos ministros do altar
que observassem as respectivas funções: “Ouvi-me, ó
levitas, santificai-vos agora, e santificai a casa do Senhor
Deus de vossos pais, e tirai do santuário a imundícia”. Nisso
ele não agiu como um legislador, mas apenas cumpriu as
leis de seu Deus, de acordo com a constituição do reino, e
exigiu que seus súditos cumprissem fielmente seu dever.
No trigésimo capítulo, ele exorta, roga e ordena ao povo
que venha à casa de Deus e celebre a páscoa. E, quando o
magistrado ordena o que é expressamente exigido pela lei
de Deus, seus súditos são obrigados a obedecer. “Toda alma
esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm 13:1).
Talvez se possa inquirir quais são as coisas que ele
pode legitimamente ordenar contidas na constituição,
prescritas por aquele a quem ele representa. Dt 17:18 nos
diz o que é isto, a saber, a Lei Divina. Quaisquer que sejam
as penalidades especificadas nessa lei, e em nenhum lugar
revogadas ou mitigadas, devem ser devidamente infligidas,
em caso de desobediência. Onde a lei é silenciosa ou
indefinida com relação a crimes particulares contra
qualquer preceito do decálogo, assim como sua respectiva
punição, grande prudência e discrição serão necessárias
para averiguar se tais crimes são puníveis por sofrimentos
civis, posto que há muitas violações da lei moral a que
nenhuma penalidade civil específica pode se vincular.
Nada deve ser censurado pela igreja, ou punido pelo
Estado, além do que é claramente contrário à lei de Deus; e
tornar-se devidamente público, independentemente de
exigir autoacusação.
Mas, mesmo quando se apura que o crime é, em sua
natureza e em suas circunstâncias, punível, é necessária
uma grande discrição para fixar tanto a quantidade quanto
a qualidade da penalidade. Talvez, em certos estados
particulares da sociedade, a tolerância, sem punição,
mesmo de muitos crimes reais contra ambos, Igreja e
Estado, seria mais prudente e elegível. Porém, aqui, a
sabedoria é peculiarmente necessária para direcionar. Mas,
quando fosse impróprio remir a punição desses crimes,
observamos que a qualidade e a quantidade deveriam ser
particularmente observadas. Em muitos deles, a qualidade
deve ser negativa, consistindo na privação de privilégios
que de outra forma poderiam ser usufruídos. Pela quebra do
décimo mandamento, a lei divina não forneceu outra
punição civil. Isso está claramente implícito em Êx 18:21,
onde nos é dito que o magistrado deve ser um homem
“temente a Deus, que aborreça a avareza”. Se apenas tais
são elegíveis, o homem cobiçoso é, obviamente,
desclassificado. O mesmo poderia, talvez, se aplicar àqueles
que são habituais na negligência dos deveres religiosos,
como também com outras descrições demasiado tediosaspara enumerar.
Com respeito à quantidade de uma penalidade, em
crimes de uma natureza particular, não especialmente
previstos na lei divina, pode haver muito poder
discricionário exercido, de acordo com emergências
específicas; cuidando, entretanto, para que a lei divina
nunca seja violada. Em tais casos, a luz da natureza será
muito subserviente às regras gerais da Escritura. Em Ed
7:26, Artaxerxes ordena: “todo aquele que não quiser
executar a lei do teu Deus, […] seja o juízo executado
prontamente sobre ele, seja ele para a morte, ou para o
banimento, ou para o confisco de bens, ou para o
aprisionamento”. E, no verso seguinte, Esdras bendiz ao
Senhor seu Deus, por colocar isso no coração do rei.
Mas, retornando a Ezequias: nós o encontramos, pela
autoridade civil, esforçando-se para efetuar a pureza,
unidade e reforma na igreja, e seus esforços são
acompanhados dos sorrisos da aprovação de Jeová; pois, no
décimo segundo versículo do trigésimo capítulo de II
Crônicas, lemos que “em Judá esteve a mão de Deus, para
dar-lhes um coração para cumprirem o mandamento do rei
e dos príncipes, pela palavra do Senhor”. A fim de realizar
esses fins desejáveis, ele tem o direito de convocar sínodos
e concílios, que consistam de pessoas eclesiásticas, para
consultar e aconselhar como a igreja deve ser expurgada
das corrupções, e as verdades de Deus propagadas com
mais sucesso. Para isso, temos o exemplo aprovado de
magistrados piedosos sob o Antigo Testamento, como Asa,
Josias, Ezequias etc.
Além disso, esses quatro Concílios Ecumênicos foram
convocados por magistrados cristãos. Constantino convocou
o primeiro Concílio de Niceia; Teodósio, o mais velho, o
primeiro Concílio em Constantinopla; Teodósio, o mais novo,
o primeiro Concílio de Éfeso; Marciano, o Concílio de
Calcedônia.
6. Eles devem sustentar as leis de Deus, por sua
autoridade secular, como guardiões de ambas as tábuas da
lei, impondo e ordenando a todos que as observem sob tais
punições civis que possam ser calculadas para efetuar seu
desempenho. Assim, no 34o capítulo de II Crônicas, o bom
Josias, depois de ter removido todas as imagens idólatras,
altares e bosques, e ter limpado Judá e Jerusalém, ordenou
aos sacerdotes que perguntassem ao Senhor por ele e por
todos os que restaram em Judá e Jerusalém a respeito de
todas as palavras do livro que Hilquias, o sacerdote,
encontrara na casa do Senhor, e ordenou a todos os que
estavam presentes em Jerusalém e em Benjamim que se
atentassem a ele e observassem seu conteúdo.
Assim, a autoridade civil está preocupada em sancionar
e ratificar as leis do Deus Altíssimo, agindo como um terror
para os malfeitores e um louvor para aqueles que fazem o
bem.
O quarto mandamento, cuja obrigação é perpétua, é
dirigido a todo relacionamento. Todo indivíduo privado deve
observar a lei de Deus; mas chefes de família e outros
superiores não devem apenas observá-la, mas fazer com
que aqueles sob sua autoridade o façam de igual modo, na
medida em que sua influência possa se estender, e também
punir seus violadores obstinados. “Eu sei”, diz Deus, “que
Abraão ordenará a seus filhos e sua casa depois dele”.
Assim, o magistrado deve prover que o Sabbath seja
santificado em todas as suas portas; isto é, até onde sua
autoridade civil se estende. Sim, encontramos até reis
pagãos ratificando as leis do Deus Altíssimo (Ed 7:23). O
decreto de Artaxerxes é: “Tudo quanto se ordenar, segundo
o mandado do Deus do céu, prontamente se faça para a
casa do Deus dos céus…”.
Como é seu dever ratificar a lei de Deus, da mesma
maneira ele deve sancionar, por sua autoridade civil, os
decretos das cortes eclesiásticas, quando forem de acordo
com a lei de Deus e planejados para promover sua glória.
Aquelas que ele civilmente adota, enquanto boas e
saudáveis leis, tendem a promover a felicidade do reino e a
glória de Deus, o Rei das nações. Por isso, uma boa
proximidade deve ser promovida entre igreja e Estado, e a
harmonia e a cooperação mútua entre o testemunho de
Israel e os tronos da casa de Davi (Sl 123:4).
7. Ele deve, também, exercer um poder compulsório e
punitivo sobre as coisas religiosas. Isso se estende a todas
as pessoas dentro de sua jurisdição. Rm 13:1: toda alma é
estritamente intimada a estar sujeita à sua autoridade.
Caso se inquira: qual é o padrão que regula essa
sujeição? Nós respondemos: a lei de Deus. Essa é a regra
infalível pela qual o exercício de sua autoridade e a sujeição
daqueles a ela serão julgados. “À lei e ao testemunho! […]”
(Is 8:20). Essa lei ele é obrigado a executar, sob pena do
desprazer de Jeová (Dt 17:18). Quanto àqueles que se
recusam a obedecer e, assim, obstruem as rodas do
governo e desonram o Deus das nações, ele está autorizado
a puni-los.
Que as ofensas contra a segunda tábua da lei moral são
puníveis é admitido por todos. Isso, portanto, não requer
prova.
Que as violações da primeira tábua também devem ser
punidas é igualmente justificado pela razão e pela palavra
de Deus. Examinemos as penalidades anexas à violação
obstinada dos quatro primeiros preceitos do decálogo. Com
relação ao primeiro deles, veja Dt 13:1,5. “Se entre vós se
levantar um profeta, ou um sonhador de sonhos, será
morto, porque falou mentiras, para vos afastar do Senhor
vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito”. Deve o
magistrado punir o homem que se rebela contra sua própria
autoridade e passa impunemente, ou estender a proteção
ao homem que, “sem tremer, abre sua boca contra os céus”
e aponta sua artilharia contra o trono do Onipotente?
Com relação ao segundo mandamento, a penalidade
anexa à sua violação também é expressamente declarada
em Dt 13:6. “Se teu irmão, o filho da tua mãe, ou o teu filho,
ou a tua filha, ou a esposa do teu seio, ou o teu amigo, que
é como a tua própria alma, te seduzir secretamente,
dizendo: Vamos e sirvamos outros deuses […]; não
consentirás com ele, nem lhe darás ouvidos; mas
certamente o matarás”. Compare com Êx 32:27. Deve um
ladrão de uma pequena propriedade terrena ser
severamente punido? E deve aquele que rouba a glória de
Deus para entregá-la a imagens, madeiras e pedras
esculpidas e que, como está escrito em Hc 1:16, sacrifica à
sua rede, e queima incenso à sua varredoura, ser permitido
a passar impunemente? Ouça o que Jó, o caldeu (que não
viveu sob a economia judaica), diz no capítulo 31:26,28. “Se
eu contemplei o sol, quando resplandecia, ou a lua,
caminhando em esplendor; e o meu coração foi seduzido
em secreto, ou a minha boca beijou a minha mão, isto
também seria uma iniquidade a ser punida pelo juiz”.
Com relação ao terceiro preceito do decálogo, somos
informados em Lv 24:15-16: “Todo aquele que amaldiçoar o
seu Deus carregará o seu pecado. E aquele que blasfemar o
nome do Senhor certamente morrerá; e toda a congregação
certamente o apedrejará…”. Deve um homem ser punido
por uma expressão de traição contra um magistrado
terrestre e ser protegido quando blasfema contra Cristo,
negando sua divindade, difamando e reprovando seu
abençoado Espírito?! “Quebrantando alguém a lei de
Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou
três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será
julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver
por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e
fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:28-29).
Com respeito ao quarto, podemos consultar Neemias
13:15,19. Quando o povo de Jerusalém se ocupou de
empregos seculares, carregando fardos e comercializando
dentro e fora da cidade, ele protestou contra eles, fechou o
portão da cidade e pôs seus servos para verificar se
nenhuma carga seria trazida no Sabbath. E, no 21º
versículo, ele testifica contra os mercadores que se
alojavam ao redor dos portões e das muralhas, dizendo:
“Por que passais a noite defronte do muro? Se outra vez o
fizerdes, hei de lançar mão de vós”. Aqui temos um exemplo
aprovado de punição aos violadoresobstinados do santo
Sabbath. Assim, os transgressores de todos os preceitos da
primeira tábua são puníveis por penas civis.
Não posso aqui deixar de citar o seguinte parágrafo do
Miscellaneous Questions [“Questões Diversas”], de
Gillespie. “Não é (diz ele) o dano de um guia cego maior do
que se ele desempenhasse traição? E a perda de uma alma
por sedução, maior dano do que se ele explodisse o
Parlamento e cortasse a garganta de reis ou imperadores?
Tão preciosa é aquela joia inestimável de uma alma! E (diz
ele) quando a igreja de Cristo afunda em um Estado, que
esse Estado não pense em nadar. Religião e justiça
florescem e desvanecem, permanecem ou caem, juntas.
Aqueles que são falsos para com Deus nunca serão fiéis aos
homens”.
8. Ele tem o direito de julgar os decretos das
assembleias eclesiásticas, se estão de acordo com a lei de
Deus, a lei suprema da terra. 1Ts 5:21: a ordem para
“provar todas as coisas” é obrigatória para o magistrado,
assim como para os outros. Ele também é obrigado a usar a
regra da retidão infalível. “À lei e ao testemunho! Se eles
não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz
neles” (Is 8:20).
Antes de dar sua sanção a qualquer ato eclesiástico, ele
deve levá-la a essa pedra sagrada basilar; se ela concordar
com isso, ele deve ratificá-la, senão, ele não só tem o direito
de rejeitá-la, mas também é obrigado a carimbar seu voto
negativo sobre ela. Essa ratificação é apenas civil e
semelhante à sua sanção das ordenanças civis.
Se esse poder lhe for negado, ele deve ser considerado
como um ser sem discernimento e, consequentemente,
inapto para ser um magistrado civil. Supor que ele seja
obrigado a ratificar o que a igreja decretar, sem exame
prévio e convicção da sua decência, faria dele um mero
instrumento, não servindo para nada além de apoiar a louca
cadeira do homem do pecado. Mas, como nos esforçamos
para mostrar o que o poder civil deve fazer pela igreja, será
necessário, em quinto lugar:
V. Mostrar qual é o caráter do ramo civil, do qual isso é
esperado. Isto é:
CAPÍTULO 5
 A Função do Governo Civil
 
1. Deve possuir sabedoria e compreensão. Êx 18:21:
“Além disso, de todo o povo, proverás homens capazes”. E
Dt 1:13: “Tomai vós, sábios e compreensivos, e fazei-os
governar sobre vós”. Devem ser homens capazes,
possuidores de sabedoria e prudência, e bem conhecedores
das leis do Deus Altíssimo. Assim é que “sabedoria e
conhecimento serão a estabilidade” de sua administração
(Is 33:6). E, sem isso, não pode haver expectativa razoável
de que eles responderão aos fins da sua nomeação.
2. Outra parte do seu caráter é uma profissão de
cristianismo. Para um povo cristão, nomear um deísta para
governá-lo, para não dizer nada da sua repugnância à lei
divina, é vergonhoso. É como as árvores da parábola de
Jotão, em Juízes 9:14: “Então todas as árvores disseram ao
espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós”. Porque não podiam
encontrar uma árvore de crescimento mais generoso para
governá-las. Mas isso é contrário à ordem expressa de
Deus: “Porás certamente sobre ti como rei aquele que
escolher o Senhor teu Deus; dentre teus irmãos porás rei
sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não
seja de teus irmãos” (Dt 17:15). Pode-se esperar que o
homem que não é um irmão na profissão da religião de
Jesus, mas um infiel obstinado, faça sua administração
ceder aos interesses de Emanuel, cuja existência ele nega,
de cuja religião ele zomba e cujo reino ele acredita ser
fictício?
3. Outro aspecto de seu caráter é a retidão e a
integridade. Êxodo 18:21 nos informa que eles devem ser
“tementes a Deus, homens de verdade, que odeiam a
avareza”. A alta responsabilidade ligada ao seu posto
requer homens de retidão e integridade de caráter; assim
diz II Samuel 23:2-3: “O Espírito do Senhor falou por mim, e
a sua palavra estava na minha língua. Aquele que governa
sobre os homens deve ser justo, governando no temor de
Deus”.
4. Eles devem ser um terror para os malfeitores. Rm
13:3,5: “Porque os governantes não são um terror para as
boas obras, mas para o mal — os ministros de Deus,
vingadores para executar a ira sobre aquele que faz o mal”.
Assim, somos informados de que “ele não carrega a espada
em vão”, suprimindo, até onde sua influência pode se
estender, toda violação da lei divina.
5. Eles devem “louvar os que fazem o bem” (1Pe 2:14).
Recompensar e encorajar os virtuosos, “para que vivam
vidas tranquilas e pacíficas em toda a piedade e
honestidade”. A administração de Salomão é representada
como sendo desta descrição, no Salmo 72:7: “Em seus dias
florescerão os justos e possuirão abundância de paz”.
6. Eles devem estar continuamente atentos ao dever
oficial. Rm 13:6: “Porque eles são ministros de Deus,
atendendo continuamente a esta mesma coisa”. Se isso
fosse devidamente atendido, não só as funções magistrais
seriam mais bem executadas, mas o absurdo do
erastianismo[1] desapareceria imediatamente.
O funcionário da igreja também é ordenado a atender
continuamente ao seu departamento. “Medita estas coisas;
ocupa-te nelas” (1Tm 4:15). Evidentemente, alguns são
providos (exclusivamente do magistrado civil), cujo negócio
é administrar as preocupações eclesiásticas. Mas se esse
também era formalmente o dever oficial do magistrado, por
que deveriam ser nomeados outros pertencentes a outro
departamento? Além disso, como poderia o magistrado
atender continuamente a isso mesmo, isto é, ao seu próprio
dever oficial, que é puramente civil, e ao mesmo tempo
atender a outra preocupação que não é civil? O bom senso
ensina que, se ele atender continuamente a um, o outro,
naturalmente, será negligenciado.
7. O magistrado civil deve ser um guardião de ambas
as tábuas da lei de Deus. “Será também que, quando se
assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si
num livro, um traslado desta lei, do original que está diante
dos sacerdotes levitas. E o terá consigo, e nele lerá todos os
dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu
Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes
estatutos, para cumpri-los…” (Dt 17:18-19). Como ele pode
ser ministro de Deus, se ele é independente da lei deste? E
onde ele pode encontrar tal constituição, como a que lhe é
dada pelo Espírito de infinita sabedoria? Por essa ele está
indispensavelmente vinculado, na sua capacidade oficial,
assim como os seus súditos estão, na sua capacidade
privada individual. Mas, como temos procurado caracterizar
o ramo civil, do qual se pode esperar proteção à igreja, será
então apropriado, em sexto lugar:
VI. Caracterizar o ramo eclesiástico, que tem direito a
essa proteção, ou seja:
CAPÍTULO 6
 A Função da Igreja
 
1. A sua constituição deve ser concordante com a
palavra de Deus e fundada sobre ela: “[…] Olha (diz Deus),
faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou”
(Hb 8:5). Isso convém a todos os propósitos possíveis de
edificação: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e
proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça; para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”
(2Tm 3:16-17).
2. Os seus oficiais devem ser regularmente introduzidos
nas funções ministeriais, através da imposição presbiteral
das mãos: “Não negligencies o dom que está em ti pela
profecia e pela imposição das mãos do presbitério” (1Tm
4:14). A terrível catástrofe de Corá, Datã etc. deve ser vista
como um farol para todos aqueles que, por suas disposições
ambiciosas, correram o risco de se dividir sobre essa
tremenda rocha.
Cristo denomina aqueles que não entram pela porta de
“ladrões e salteadores”; e Mateus 7:15 nos ordena a “ter
cuidado com os falsos profetas, que vêm até nós em pele de
ovelha, mas interiormente são lobos devoradores”. Que
ninguém espere tirar proveito de suas ministrações. “Eu não
os enviei (diz o Senhor), mas eles correram; portanto, não
trarão proveito a este povo”.3. Ela deve “lutar seriamente pela fé uma vez entregue
aos santos” (Jd 1:3). “Ó Timóteo, guarda o que está confiado
aos teus cuidados” (1Tm 6:20). Ao fazê-lo, como com rostos
de pedra e sobrancelhas de bronze, devem ser explícitos,
ousados e valentes, quer a geração a que são enviados
ouça, quer resista. Não há neutralidade no serviço de Cristo.
“Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor, acremente
amaldiçoai aos seus moradores; porquanto não vieram ao
socorro do Senhor, ao socorro do Senhor com os valorosos”
(Jz 5:23).
A própria luz da natureza sugere a justeza de sermos
simples e explícitos com os nossos irmãos da humanidade.
Se víssemos o nosso próximo em perigo de cair num poço,
sendo inevitável a destruição, não violaríamos as leis
naturais da humanidade, se não o advertíssemos do seu
perigo? Não seríamos nós, até certo ponto, considerados,
pela lei divina, como cúmplices da sua ruína? Infinitamente
mais importante é a salvação da alma, diz nosso Senhor: “…
que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Mc 8:37).
Para que o testemunho seja fiel, as seguintes coisas são
necessárias: (1) Uma declaração justa, sumária e clara das
verdades contidas nos oráculos sagrados. (2) Uma refutação
clara dos erros contrários, e especialmente daqueles que
transtornam a verdade aqui presente, ou a paciência da
palavra de Cristo. (3) Uma vida e uma conversação que
demonstrem o evangelho; sem isso, os outros dois pontos
são apenas uma zombaria da religião de Jesus.
4. A sua disciplina deve ser imparcial. “Aos que
pecarem, repreende-os na presença de todos, para que
também os outros tenham temor” (1Tm 5:20). Isso deve ser
feito com singeleza de coração e uma profunda consciência
da nossa responsabilidade para com o Cabeça da Igreja.
Portanto (v. 21): “Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor
Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que sem prevenção
guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade”. Os
ricos não devem ter preferência sobre os pobres: “Manda
aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham
a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que
abundantemente nos dá todas as coisas para delas
gozarmos…” (1Tm 6:17).
5. Seu culto deve ser puro e livre de todas as invenções
humanas. “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina…” (1Tm
4:16). É uma questão de grande importância, não só pela
consideração de que incorre na vingança do Deus Todo-
Poderoso sobre os inovadores, mas também porque
envenena as almas dos homens. O culto deve, portanto, ser
tal, e somente tal, como Deus ordenou. “Mas em vão (diz
Cristo) me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos
dos homens” (Mt 15:9). Aqueles que acrescentam ao
volume do livro de Deus ou dele diminuem terão de
suportar as terríveis consequências (Ap 22:18-19).
Um questionamento: Não é uma questão de
importância saber se o canto de uma “Imitação dos Salmos
de Davi”, em algum sentido, incorre na punição acima?
6. O seu ministério deve ser instruído e piedoso. Sem o
primeiro, eles só trairão, por ignorância, sua causa perante
o inimigo; sem o segundo, poluirão o santuário sagrado.
Considere, por um momento, que figura ridícula o
embaixador enviado para negociar com uma nação
estrangeira que não conseguisse ler a comissão de seu
mestre. Estaria tal pessoa qualificada para ser um
embaixador de uma potência terrena? A negociação do Rei
dos Reis não é muito mais importante do que o ajuste das
diferenças entre estados e impérios?
Quando Cristo chamou seus ministros de maneira
extraordinária, deu-lhes qualificações extraordinárias: e
entre elas encontramos o dom de línguas. Em 1Tm 1:7,
aqueles que presumem entrar em um cargo sem as devidas
qualificações são severamente repreendidos: “Querendo ser
mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o
que afirmam”. Tais são as nuvens de gafanhotos
analfabetos, os metodistas, que escurecem o horizonte
desses estados. Sem habilidades, naturais ou adquiridas,
eles jorram como torrentes sobre a face da Terra e levam
consigo os ingênuos e incautos. O zelo enfurecido com que
propagam suas doutrinas venenosas assemelha-se muito ao
caráter dos escribas e fariseus mencionados em Mt 23:15:
“…percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e,
depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes
mais do que vós”.
Sem a devida medida de aprendizagem, como eles
podem encontrar os deístas críticos, e impostores astutos, e
assim agirem como um evangelista, como é requerido em Tt
1:9, ou seja, serem capazes de convencer os contradizentes
e silenciar os adversários?
7. Eles devem ser exemplares na vida e na
conversação. Mesmo antes de serem revestidos de caráter
oficial, é necessário “que tenham bom testemunho dos que
estão de fora” (1Tm 3:7). E para esse propósito é a bênção
de Moisés para a tribo sacerdotal. “E de Levi, disse: Que o
teu Urim e o teu Tumim estejam com o teu Santo” (Dt 33:8).
Que a iluminação da mente e a retidão e integridade de
caráter sejam a porção daquele que se dedica às funções
sagradas. A influência que o seu exemplo terá sobre a
geração é de grande importância.
O provérbio “como os sacerdotes, as pessoas”
geralmente pode ser positivo. Daí que se diga desse mesmo
Levi, quando “a lei da verdade esteve na sua boca, e a
iniquidade não se achou nos seus lábios; andou comigo em
paz e em retidão, e da iniquidade converteu a muitos” (Ml
2:6). Mas quando se diz no oitavo versículo que “os
sacerdotes se desviaram do caminho”, qual é a
consequência? “A muitos fizeram tropeçar na lei.” Desse
modo, nos é ordenado em Mt 5:16: “Assim resplandeça a
vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.
Isso é eminentemente obrigatório para os ministros do altar,
que devem ser exemplares para a sociedade, em cada parte
da sua conduta. Mas, como agora nos esforçamos por
caracterizar tanto o ramo civil como o eclesiástico, esforçar-
nos-emos, em sétimo lugar:
VII. Para mostrar qual é o nosso dever para com o ramo
civil, quando assim legalmente constituído.
CAPÍTULO 7
 O Dever Pessoal para com o
Governo Civil Legal
 
1. Devemos render sujeição com reverência e temor.
“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Rm
13:1,4). Para isso, temos o mandamento de Deus, na
passagem agora citada; e isso também, sob as penas mais
severas. Da mesma forma, em Tt 3:1, o apóstolo ordena:
“que os tenham em mente, que estejam sujeitos aos
principados e poderes, que obedeçam aos magistrados” etc.
Com o mesmo propósito nos é dito em 1Pe 2:13,17:
“Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do
Senhor; quer ao rei, como superior…”.
2. Devemos pagar tributo de forma consciente, ou seja,
sabendo que pagamos aos legítimos administradores da
ordenança de Deus. “Por esta razão também pagais
tributos, porque são ministros de Deus” (Rm 13:6). Aqui, a
legitimidade e a administração correta da ordenança são a
razão formal atribuída pela qual o tributo deve ser pago;
consequentemente, onde a causa não existe, cessa a
obrigação de outra forma estabelecida.
3. Devemos orar pelo seu bem-estar e dar graças a
Deus por eles (1Tm 2:1-2). O apóstolo nos exorta a fazer
súplicas, orações e ações de graças pelos reis e pelos que
estão em autoridade. Aqui, certamente, ele quer dizer sobre
aqueles que fazem da lei de Deus o seu governo e se
curvam em suas administrações para a honra de Emanuel.
Se esse não for o caso, o fim proposto não pode ser
alcançado, a saber, “que possamos viver vidas pacíficas e
tranquilas, com toda a piedade e honestidade”.
4. É nosso dever honrá-los e estimá-los, e não injuriá-
los ou amaldiçoá-los. “Honrai ao rei” (1Pe 2:17). Com o
mesmo propósito Romanos 13:7 nos orienta: “Dai honra a
quem a honra é devida”. Todos os insultos oferecidos aos
magistrados, no devido exercício do seu cargo, Deus
considerará como oferecidos a si mesmo, nas pessoas dos
seus representantes. Isso Ele proíbe, sob pena de suaforte
desaprovação. “Os juízes não amaldiçoarás e o príncipe
dentre o teu povo não maldirás” (Êx 22:28).
5. Obedecer “não só por causa do castigo, mas também
por causa da consciência” (Rm 13:5). Aqui estão duas
razões ou motivos designados para exercermos a
obediência. (1) Por causa do castigo. O versículo nos diz que
não é apenas por causa do castigo, mas que o castigo é um
dos motivos, embora não seja o único. A obediência por
causa do castigo é uma sujeição que faz o indivíduo se
render pela consequência da pena que será infligida em
caso de desobediência. Isso deve estimular à execução das
ordens do superior, e isso é proposto em todo tipo de
penalidade, e é a grande razão pela qual as leis têm
sanções penais anexadas a elas, e é considerado como
motivo de obediência em todas as leis, tanto divinas como
humanas. Esse motivo de temor e castigo é permitido para
influenciar a obediência em todas as coisas lícitas, sob
governos legítimos e ilegítimos. (2) O segundo motivo da
nossa obediência aos magistrados é por razões de
consciência. Isso implica duas coisas: primeiro, que a coisa
ordenada deve ser feita porque é correta; segundo, porque
é comandada pela autoridade legítima. Quanto à primeira
coisa — isto é, que devemos fazer o que é ordenado, porque
é certo em si mesmo —, a obrigação surge da lei moral que
exige esse dever, mesmo que o poder que o ordena seja
ilegítimo. Isso, naturalmente, não implica nenhuma
aprovação da autoridade existente. A segunda coisa, isto é,
a coisa em si, porque é ordenada, compete exclusivamente
a governos legítimos, e isso é o seu tessera [sinal] de
lealdade.
6. Devemos viver vidas pacíficas e tranquilas, suportar
uma verdadeira e fiel lealdade e opor-nos a todas as
práticas desordeiras e traiçoeiras. Àquilo que é contrário a
essa conduta Deus anexou as penas mais severas. “Por isso,
quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os
que resistem trarão sobre si mesmos a condenação” (Rm
13:2).
Deus considerará tais pessoas rebeldes contra a sua
própria autoridade real, exibida na legítima administração
de seus legítimos representantes. Ele os carimba com
marcas mais do que comuns de desaprovação. Em Judas 1,
Ele os chama de “sonhadores imundos, profanando a carne,
desprezando os domínios e falando mal das dignidades”. A
abominação do seu pecado e a vingança de Deus sobre ele
são terrivelmente marcadas na destruição de Coré e da sua
companhia (Nm 16), ao que o apóstolo Judas aqui alude.
7. Devemos apoiar as suas administrações justas com
nosso sangue e nosso tesouro. Se um magistrado pode
legitimamente ir à guerra em defesa dos justos direitos e
privilégios da comunidade, seja o que for que o justifique,
impõe-se aos seus súditos a obrigação de apoiá-lo, em
todas as medidas justas e necessárias, com as suas
propriedades e consigo mesmos. Repelir a força pela força é
um ditado antigo da lei da autopreservação. A isso estamos
também vinculados pelo pacto social, no qual a proteção
mútua é solenemente estipulada. O perigo de perder os
privilégios inestimáveis da religião e da liberdade pode
legalmente nos convocar às armas. Nesses casos, o
magistrado civil é o órgão público da vontade da nação e
tem direito a exigir obediência. Assim, nossos renomados
antepassados, por um solene pacto, obrigaram-se a
defender com suas propriedades e vidas a majestade do rei,
na proteção de sua religião e liberdade (confira a Liga
Solene e Aliança[2]). Tais são os deveres que nos obrigamos
a cumprir para com o ramo civil, quando legalmente
constituído. Temos algum direito, então, de ser
estigmatizados como homens antigoverno? Se o “anti” deve
ser a palavra usada, ela deve imediatamente preceder a
palavra “imoral”, e então é completamente aplicável. Nós
sempre fomos, e pretendemos uniformemente continuar
sendo, homens “anti” governos imorais.
Tendo assim mostrado alguns dos deveres que temos
para com um governo, quando moralmente constituído,
pode ser apropriado expor, em oitavo lugar:
VIII. As razões pelas quais não podemos render
obediência, por razões de consciência, à atual autoridade
civil na América do Norte.
CAPÍTULO 8
 Análise da Autoridade Civil
na América do Norte
 
1. A constituição federal, ou o instrumento de união
nacional, não reconhece sequer a existência de Deus, o Rei
das nações. Nessas obras civis, embora o fim imediato
possa ser a felicidade da comunidade, o fim último, tanto
nisso como em qualquer outra coisa que façamos, deve ser
a glória de Deus. Não deveriam os homens, na formação
das suas obras, considerar a sua responsabilidade perante o
Governador moral, bem como essa obrigação de reconhecer
a sua autoridade? “Reconhece-o em todos os teus
caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3:6). É
verdadeiramente lamentável, para não dizer pior, que um
ato nacional, empregado sobre as estipulações
fundamentais da magistratura, como uma ordenança de
Deus, e a investidura de magistrados, como seus ministros,
não reconheçam a existência do Governador do universo.
Que não seja dito desta nação como se disse de Israel: “Eles
fizeram reis, mas não por mim; constituíram príncipes, mas
eu não o soube; da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos
para si, para serem destruídos” (Os 8:4). Não agiram os
autores deste documento não só como se não tivesse
havido revelação divina para o padrão supremo da sua
conduta, mas também como se não existisse Deus? Não se
assemelhavam nisso ao tolo mencionado no Salmo 14:1,
que “disse em seu coração que não há Deus”? Cada ato
oficial do governador de uma província deve ter algum selo
específico de sua dependência da autoridade que o
nomeou. E deve uma nação agir como se fosse
independente do Deus do universo, e ainda pensar não ter
culpa?
2. Outra objeção que temos é que a maioria, se não
todas, das constituições dos estados contêm imoralidade
positiva, pois testemunham seu reconhecimento de tais
direitos de consciência como sanção a toda blasfêmia que
um coração depravado pode acreditar ser verdadeira. Além
disso, as constituições estaduais vinculam-se
necessariamente ao apoio do federal, como o vínculo da
existência nacional; e, portanto, a imoralidade contida
nesse documento torna-se comum a todos eles.
O reconhecimento de tais direitos de consciência é
insultuoso para a Majestade do Céu e repugnante para a
carta expressa da palavra de Deus (Dt 17:18). Deus
prescreve ao magistrado a lei divina como o padrão
supremo de todas as suas administrações, o que obriga os
homens, em qualquer ofício, a se comportarem de acordo
com ela. Deuteronômio 12:32: “Tudo o que eu te ordeno
observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem
diminuirás”. Mas, no enquadramento dessas constituições, a
lei revelada de Deus não é atendida, embora até mesmo a
lei da natureza exija a adoção de toda nova comunicação
que Deus, em misericórdia, possa ter o prazer de revelar. A
rejeição da lei divina, tal como revelada nas Escrituras da
verdade, consideramos como um desprezo pela
beneficência do Céu e um obstinado retrocesso ao
paganismo.
3. O governo dá segurança jurídica e estabelecimento à
heresia, à blasfêmia e à idolatria grosseiras sob a noção de
liberdade de consciência.
Seria muito tedioso examinar cada uma das
constituições dos estados nesta matéria. Uma pode ser
suficiente.
Vamos escolher a do estado da Pensilvânia. Veja o
prefácio com a terceira e a vigésima sexta seções do nono
artigo. Aqui, a constituição reconhece e estabelece
inalteravelmente o direito indefectível de adorar ao Deus
Todo-Poderoso, seja qual for a forma que a consciência do
homem ditar; e declara que isso permanecerá, para sempre,
inviolável. Acreditamos que nenhum homem tem o direito
de adorar a Deus de outra forma a não ser a prescrita por
Ele mesmo em sua lei. Também consideramos criminoso
que a consciência de um homem aprove qualquer forma
repugnante a essa regra sagrada; e que esse crime não
pode legitimar outro,ou corrigir uma ação, que Deus
expressamente condena sob pena de ira eterna. Se a
consciência pode legitimar o que a lei de Deus condena, ela
deve ser predominante sobre a lei divina e,
consequentemente, também sobre o Legislador, ao ter uma
negativa sobre as requisições tanto de uma como do outro.
Se assim fosse, não só estaria livre da criminalidade,
mas tornaria virtuosos, elogiáveis e louváveis os erros mais
condenáveis, as blasfêmias mais horríveis e abominações
detestáveis quando ditadas pelas consciências de pagãos,
maometanos etc. Então, os egípcios que adoram a Deus sob
a forma de uma serpente ou crocodilo o fariam de forma
lícita, sim, louvável; isso seria considerado precisamente de
acordo com a maneira que Ele prescreveu em sua palavra,
desde que, em ambos os casos, a consciência deles
dissesse “amém!”. Mas, supondo por um momento que os
homens tivessem esse direito, devemos então perguntar
como é que eles o conseguiriam ter? Ou eles o teriam por
derivação de Deus, ou independentemente dele. Não
poderia ser por derivação de Deus; naturalmente, isso seria
absurdo e incompatível com a santidade essencial do seu
caráter.
Supor que Deus dá uma lei aos seus sujeitos morais, a
cuja violação Ele anexa a punição eterna, e ao mesmo
tempo lhes dá o direito de quebrá-la, é inconsistente e
impossível. Um direito seria oposto a outro. Um direito de
obedecer e um direito de não obedecer!
Tão absurdo quanto possa parecer, encontramos tal
doutrina defendida tanto pelo púlpito como pela imprensa.
No entanto, dificilmente em algum lugar ela é mantida de
forma mais descarada do que na seguinte declaração:
“Adorar a Deus da forma e maneira que eles julgam mais
agradável à sua vontade é um direito comum a todos os
homens. Eles podem, e frequentemente erram e ofendem o
Altíssimo, substituindo por uma religião falsa aquilo que Ele
requer, mas nenhum poder na Terra pode tirar-lhes o seu
direito”. Aqui há certo direito estabelecido. Para fazer o quê?
Para adorar a Deus da maneira que um homem possa achar
mais apropriada. Mas ele pode pensar — e muitas vezes
pensa — de uma maneira falsa sobre aquilo que acha ser
mais apropriado. Bem, ele tem o direito de adorar da
maneira falsa! Mas adorar de maneira falsa ofende a Deus.
Não importa, ele tem o direito de ofender a Deus, pois, se
adorar falsamente e ofender a Deus são equivalentes, logo,
se ele tem o direito de fazer um, tem o direito de fazer o
outro! “Não o noticieis em Gate, não o publiqueis nas ruas
de Ascalom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus,
para que não saltem de contentamento as filhas dos
incircuncisos” (2Sm 1:20).
Sustentar que os homens têm o direito de violar a lei
divina é demasiadamente gritante. Não parece muito uma
blasfêmia pensar que Deus lhes tenha dado tal direito? Se
eles o têm, então, é um dever independente dele. Seria
muito belo traçar a linha discriminatória entre isso e o
ateísmo. Esse direito fingido, porém, é garantido a todos
pela constituição deste Estado.
Tudo que, sugerido pela consciência, não pode interferir
na segurança temporal é inalteravelmente estabelecido
pela lei permanente da região. Se esta ditar
obstinadamente a profissão da mais condenável heresia e
zelosamente praticar e propagar toda forma absurda e
abominável de idolatria, coisas que um coração entregue a
fortes delírios, a vis afetos e a uma consciência reprovável
poderia fazer alguém considerar inocentes, as boas pessoas
deste Estado reconheceram seu direito de fazê-lo — e
comprometeram-se solenemente, em seu instrumento
constitucional, a dar-lhe segurança e proteção, não obstante
a solene proibição do Deus Todo-Poderoso!
Isso não equivale à institucionalização da religião?
Que os governantes civis devem exercer seu poder,
protegendo e defendendo a religião de Jesus, nós
sustentamos, como sempre o fizemos. A disputa, então, não
se voltará para o ponto “deve a religião ser civilmente
estabelecida?” (partimos do princípio de que os americanos
pensam assim, visto que o estabeleceram), mas no que diz
respeito a qual religião deve ser civilmente estabelecida e
protegida. Deve apenas a religião de Jesus ser protegida
pela autoridade civil? Ou toda abominação blasfema,
herética e idólatra, que a maldade sutil da antiga serpente,
e um coração enganador acima de todas as coisas e
desesperadamente perverso, pode enquadrar e conceber,
deve ser posta em pé de igualdade com aquela? Nós
lutamos pela primeira; a segunda rejeitamos. A segunda,
porém, é a doutrina simples da constituição.
Para que isso não pareça tratar-se de um comentário
injusto sobre os artigos daquele instrumento, vamos, por
um momento, prestar atenção à sua aplicação à prática por
parte do órgão legislativo. A opinião dele será considerada
como imparcial. No cumprimento do seu dever legislativo,
não incorporaram uma sociedade católica romana na cidade
de Filadélfia, e não lhes concederam privilégios especiais,
tais como arrecadar dinheiro por loteria etc., para a
construção de uma capela? Quem ouviu algum dos
aprovadores da constituição reclamar que a referida lei de
incorporação era inconstitucional? Na verdade, nenhum
homem de bom senso poderia permitir que isso fosse assim.
Se esse for um mal, a constituição deve ser limpa dos
princípios que a sancionam; a menos que se argumente que
o povo destes estados tem entre eles direitos, dos quais um
os autoriza a dar o seu poder à besta e a sustentar a trama
conturbada daquele homem de pecado, a quem Deus
ameaçou “destruir com o sopro da sua boca e o esplendor
da sua vinda” [2Ts 2:8].
Não podemos, em consciência, apesar de outros o
verem com maus olhos, jurar fidelidade a uma constituição
tão amistosa com os inimigos de Jesus. Estamos ligados a
Ele e não podemos servir a dois senhores. Essa colocação
de todas as seitas religiosas em pé de igualdade é
consistente com a declaração relativa aos tempos do Novo
Testamento? “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas
as tuas amas” (Is 49:23). Não seria Ele, então, um pai de
coração de pedra, que coloca seu filho em pé de igualdade
com lobos, tigres e outras bestas vorazes? O pai político que
abandona sua filha Verdade nas mandíbulas assassinas dos
inimigos não pode possuir sentimentos muito mais brandos.
Gozará a Igreja de Cristo de nenhum privilégio além deste,
por “alimentar-se ao peito dos reis” (Isaías 60:16), quando
“seus oficiais serão pacíficos, e seus exatores justos” (v.
17)?
4. Nós também objetamos contra o governo civil deste
país porque os seus oficiais, por necessária implicação,
juraram defender aquilo que o Deus Todo-Poderoso proíbe,
em seu voto para o seu ofício. “Os membros da assembleia
geral, e todos os demais dirigentes, executivos e judiciais,
serão obrigados por juramento ou afirmação a apoiar a
constituição desta comunidade”.[3]
Se, então, a constituição da Pensilvânia, como foi
demonstrado, apoia e estabelece legalmente malditas
heresias, blasfêmias e idolatria, segue-se necessariamente
que aqueles que juram defendê-la estão ligados por
juramento solene a defender os princípios e práticas
anteriormente citados, que nada mais são do que uma
aplicação prática do referido instrumento, em suas
respectivas administrações.
Não é isto uma clara contradição da lei moral? Não
apenas em seus preceitos gerais, como o primeiro, segundo,
terceiro mandamento etc, mas também na ilustração desses
preceitos. Leia Deuteronômio 7:5, quando é falado sobre os
idólatras: “Porém assim lhes fareis: Derrubareis os seus
altares, quebrareis as suas estátuas; e cortareis os seus
bosques, e queimareis a fogo as suas imagens de
escultura.”.
Mas essa obrigação de apoiar heresias grosseiras etc.
não está limitada aos oficiais sob a constituição. Ela se
estende a todos os que lhe juram fidelidade e, assim,
incorpora a sociedade nacional sobre a base desse vínculo,
dessa união. Para qual propósito haveria uma constituição
senão o de conter uma solene estipulaçãopara cada um
dos indivíduos, e todo o resto da sociedade, para a garantia
mútua dos privilégios específicos nela? Nós, então, não
podemos jurar apoio porque não ousamos estar ligados a
isso, sob pena de perjúrio, e, se necessário, derramamos
nosso sangue e perdemos o nosso salário para negar apoio
ao homem do pecado, ou a qualquer um de seus aliados.
Nunca pude entender como alguém que professa o
presbiterianismo faz um juramento que envolve a defesa de
idolatria etc. e, ao mesmo tempo, em seus credos e
constituições na igreja, reconhece solenemente a sua
obrigação, em seus cargos respectivos, de remover
qualquer monumento ou vestígio disso em sua terra.[4]
5. Eles não fazem provisão para o interesse da
verdadeira religião. E, embora haja alguma aparência da
religião cristã em algumas das constituições estaduais, tais
como a de Massachusetts, parte 1, art. 3o, no entanto, esse
artigo que respeita os direitos de consciência, que
estabelece o fundamento e termina no estabelecimento de
toda coisa chamada religião, que não pode interferir na
segurança temporal, é “uma mosca morta” para esse
precioso bálsamo.
Essa indiferença quanto à religião de Jesus é contrária à
lei da natureza, que exige que os governantes “se
preocupem principalmente com a honra de Deus, o
Governador das nações, e adotem e cumpram suas leis
como o melhor meio para promover o fim supremo — que
exige que os homens sejam governados como tendo almas
imortais, e não como meros animais brutos, sobre cujos
corpos somente nós estamos preocupados”; essa
indiferença contraria a palavra de Deus, que ensina: “A
justiça exalta os povos, mas o pecado é a vergonha das
nações” (Pv 14:34).
Essa indiferença quanto à religião de Jesus também é
contrária às bênçãos prometidas na Palavra de Deus. O
exercício do poder do magistrado em favor da verdadeira
religião é prometido como uma bênção no período do Novo
Testamento. “E os reis serão os teus aios…” (Is 49:23). Que
a Lei de Deus seja estabelecida como regra, e isso irá — é
claro — estabelecer a verdade.
A alegação geralmente trazida contra essa posição é de
que “a lei de Deus é tão equivocada, que não pode ser
entendida e, por isso, não pode ser tida como base de
legislação”, mas isso é inválido. Se isso for admitido, então
a lei divina não é mais uma regra de fé e ordem, e Deus
apenas a impôs a seus súditos racionais, dando-lhes uma lei
que era ininteligível e ao mesmo tempo anexando as mais
tremendas penalidades por sua violação. Nós, porém,
somos ensinados a ter outra visão do Deus de misericórdia
e verdade.[5]
Mas pode haver algo mais claro, ou mais evidente, do
que os preceitos do decálogo, no qual temos um resumo da
lei moral, uma transcrição brilhante das perfeições de Javé?
O que é toda a parte perceptiva da Bíblia, senão uma
elucidação, ou comentário, sobre os preceitos,
respectivamente? O que são todas as promessas e
ameaças, senão as sanções dessa lei, aplicadas por Deus
aos respectivos casos, a fim de fazer cumprir o dever e
impedir a desobediência?
Seria considerado como justificável, em um tribunal de
justiça, absolver um criminoso acusado porque ele alega
que “a lei, com respeito à violação da qual sou acusado, era
ininteligível”, ou por afirmar “eu tinha o direito de explicar
essa lei como qualquer outro. Seu verdadeiro significado eu
acho que cumpri. Exijo a minha liberdade”? Essa lei deve,
para sempre, deixar de ser uma regra? Se isso for admitido,
trará o fim para todo governo; e os homens, como naqueles
dias em que não havia rei em Israel, “farão, cada um, o que
é certo aos seus próprios olhos”. Mas, em oposição a isso,
veja a conduta dos reis piedosos de Judá: II Crônicas 31.
6. Outra razão pela qual nós não podemos nos unir à
sociedade nacional é porque nós a consideramos em estado
de rebeldia nacional contra Deus (Jr 10:7). Deus anuncia a
Ele mesmo como Rei das nações, a quem o temor e a
reverência pertencem: a sua vontade, é claro, deve ser a lei
suprema. Essa sua vontade — como revelada no livro da
natureza e impressa no coração do homem, em sua
primeira criação — foi, em grande medida, obliterada pela
queda. Deus, em sua misericórdia, deleitou-se em nos
enviar uma cópia escrita de sua vontade com valiosas
ampliações, superiores a qualquer coisa que pudesse ter
sido descoberta pela mera luz da natureza. Se nós
rejeitarmos essa transcrição e obstinadamente preferirmos
os fragmentos obscuros, revelados pela luz da natureza, na
rejeição da revelação divina, será que não desprezamos o
Legislador e demonstramos o sinal da rebelião? Esta nação,
na sua capacidade nacional, adotou ou não essa lei? Esse
ponto será determinado por um exame de suas ações
nacionais. Se não o fizeram, qual é o seu caráter? Como o
governo de qualquer país vê uma província ou condado que
se recusa a receber as leis que constitucionalmente
promulgaram? Ele os considera em estado de rebelião e
manda seus exércitos suprimi-los, como rebeldes. As
províncias serão consideradas rebeldes por se recusarem a
receber as leis dos governantes terrenos; e poderiam as
nações se recusar a reconhecer as leis do Governador Moral
do universo e serem tidas por inocentes?
Mas isso não é tudo. A nação não apenas se rebelou
contra Deus ao recusar o reconhecimento da lei divina, mas
também tem ajudado e apoiado os seus inimigos, dando
suporte àqueles que estão em guerra com o Todo-Poderoso.
Testemunhe a proteção da idolatria e todo tipo de ilusão
anticristã. Por causa disso Deus está cheio de ciúme; Ele
não dará a sua glória para outro, nem sua adoração para
imagens de escultura. Quisera Deus que, enquanto “os reis
da terra se reúnem para conspirar contra o Senhor e o seu
Ungido” [Sl 2], estas terras, altamente favorecidas pela
Providência benevolente, não tocassem, nem provassem,
nem lidassem com o impuro. Ó, que eles pudessem dizer
como as duas tribos e meia no oeste do Jordão: “Nunca tal
nos aconteça, que nos rebelássemos contra o Senhor ou
que hoje nós abandonássemos ao Senhor, edificando altar
para holocausto, oferta de manjares ou sacrifício, fora do
altar do Senhor, nosso Deus, que está perante o seu
tabernáculo” (Js 22:29).
7. Deístas, e até ateístas, podem ser chefes
magistrados: veja a Constituição Federal.
Nesse documento, não se faz da fé na existência de
Deus uma qualificação necessária para exercer aquele
cargo! Tal requisito também não está essencialmente
envolvido no compromisso assumido anteriormente à
ocupação de um cargo. Veja o último parágrafo da primeira
seção do segundo artigo da Constituição Federal: uma
simples afirmação, sem ao menos citar o nome de Deus, é
considerada suficiente! A alegação de que “esse juramento
envolve um apelo a Deus” não é uma objeção real ao que
aqui é afirmado. Nós admitimos que isso seja verdade. Mas
será que se seguirá, então, que uma simples afirmação é
um apelo a Deus? A Escritura não conhece tal doutrina. Se
conhecesse, a instituição de um juramento teria sido inútil,
pois não contém nada especificamente diferente de uma
simples afirmação. Então estaríamos constantemente
jurando, ou fazendo algo que fosse equivalente, em nossas
conversas comuns.
Mas, em uma palavra, o povo, em cujo favor
geralmente se concede a liberdade de afirmação, nega a
propriedade de todos esses apelos a Deus. Se for
contestado “que apenas aos quakers[6] isso é destinado, e
que todos reconhecem o ser de Deus”, pode-se responder
que eles não são especificados, outros não são excluídos —
os ateus poderiam demandar o privilégio —, e, se eles
fossem especificados exclusivamente, ainda assim não há
nada no próprio documento que torne essencial uma
profissão de fé em um Ser Supremo. Uma simples afirmação
não implica, necessariamente, a profissão de uma crença
em um Ser Supremo como um juramento faz. Também não
é incompatível com os princípios de um ateu afirmá-la ou
declará-la. Assim, a crença na existência de uma Deidade
não é, pela Constituição Federal— diretamente ou por
implicação —, feita necessária para o magistrado principal.
Onde está o tributo que, espera-se, um povo que
professa o cristianismo deveria pagar ao Messias? Onde
está o respeito que até mesmo uma sociedade deísta
deveria prestar ao Rei das nações? De fato, em um período
não tão distante, no ano 1797, o bom povo dos Estados
Unidos da América, concentrado por representação no
conselho senatorial e magistrado principal, renunciou a
religião de Jesus e jogou fora os laços do Ungido do Senhor,
na ratificação do tratado de paz e amizade com o Bey de
Trípoli[7]. O plenipotenciário americano aproveitou-se disso,
como uma circunstância importante no artigo de
negociação: que o governo americano não estava baseado
na religião cristã, e, consequentemente, era um governo
com o qual o Bey poderia tratar com segurança. Veja nas
palavras do próprio tratado: “O governo dos Estados Unidos
da América não está, em nenhum sentido, fundado na
religião cristã. Não tem, por si só, nenhum caráter de
inimizade contra as leis ou religião de um Musselman[8]”.[9]
E, o que é ainda mais digno de nota, pelo sexto artigo da
Constituição Federal, esse tratado se torna a lei suprema da
pátria! Não deve ser desonroso para Cristo, e um feito que
mereça o golpe de sua vara de ferro, assim, nacionalmente,
em tantas palavras, renunciar à sua santa religião, e querer
parentesco, ou, pelo menos, negar inimizade contra Maomé,
o vil impostor?
8. A maior parte dos estados reconhece o princípio da
escravatura. Alguns o reconhecem parcialmente, e outros
sem darem, por enquanto, nenhum passo para a sua
abolição.
É realmente estranho que uma pátria que se gaba tanto
de sua liberdade tolere uma desumanidade tão horrível!
Isso contradiz a Declaração de Independência e a maioria
das constituições estaduais que justamente declaram que
“todos os homens são criados livres e iguais, e que a
Liberdade é um dos direitos inestimáveis que o seu Criador
lhes conferiu”. Não é estranhamente inconsistente que a
constituição — a lei suprema do território — declare todos
os homens livres, e as leis que deveriam ser constitucionais
condenem certa parte deles à escravidão sem esperança, e
os submetam à barbaridade irresponsável dos senhores
selvagens e desumanos que, em muitos casos, tratam seus
animais com mais cuidado?
O tempo não permitiria uma refutação extensa sobre
isso. É verdade que é chocante encontrarmos defensores
entre quaisquer outros além daqueles cuja consciência está
queimada como com um ferro quente. É suficiente dizer,
hoje em dia, que há um preceito dado pelo Salvador,
declarado como o sumário da lei e dos profetas, isto é,
“portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos
façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os
profetas” (Mt 7:12), pelo qual a prática da escravidão é,
categoricamente, repugnante. Mas, mesmo que
suponhamos que a Escritura é silenciosa neste assunto, isto
é algo antipolítico e perigoso. Que tipo de interesse tem o
homem a quem eu injustamente detenho para trabalhar
para mim, vendo que ele não recebe quase nenhuma outra
compensação pelo seu trabalho, a não ser um ventre
faminto e golpes duros contra ele? Com que vínculo ele está
obrigado a poupar a minha vida, vendo que eu o roubo
daquilo que é mais caro que a própria vida, e sem o qual a
vida é miserável? Não deve o filósofo execrar esse tráfico
nefasto? Não deve o filantropo derramar uma lágrima sobre
as feridas sangrentas da humanidade ultrajada?
Desse tráfico bárbaro os tribunais da nossa igreja têm
dado a sua contundente desaprovação, e todos os que o
aprovam, ou se dedicam a ele, estão excluídos da sua
comunhão.
9. A última razão pela qual rejeitamos essas
constituições é que somos vinculados à lei moral, como
sujeitos do céu de Deus, para obedecer à sua vontade, e
tudo que seja contrário a isso somos obrigados a rejeitar. E
a todos que censuram a nossa conduta na prática nós
respondemos: “julguem vocês mesmos se devemos
obedecer a Deus ou ao homem”. Essa obrigação
necessariamente segue de nossa relação com Deus, como o
Governador Moral. Veja Êxodo 20:1-17, onde nós temos o
epítome de suas leis, e através disso estamos
indispensavelmente obrigados.
E, além disso, no exercício desse poder delegado que
detemos da parte de Deus, reconhecemos solenemente
essa obrigação moral por nosso próprio ato e ação. No
prefácio dos dez mandamentos, tal como foram entregues
no Sinai, Deus se compromete a ser o nosso Deus: “Eu sou
o Senhor teu Deus”. Somos chamados pelo exemplo
louvável dos santos, pela nossa relação pessoal com Deus e
pelo seu próprio mandamento expresso a nos apegarmos ao
seu pacto, a testemunhá-lo como nosso próprio Deus em
Cristo Jesus. Nós nos esforçamos para fazê-lo. Nós nos
pactuamos com os nossos antepassados — em nossos
compromissos batismais e por nosso próprio
comportamento pessoal — a reconhecer solenemente todas
essas obrigações, ao celebrar a morte de nosso Redentor
crucificado. Nós, então, juramos aliança ao Rei do céu e
devemos rejeitar tudo que lhe seja inconsistente. Ousamos
nos vincular a esses pactos que nos obrigam a usar todo
meio lícito para eliminar heresias, idolatria e tudo contrário
à sã doutrina e ao poder da piedade e, ao mesmo tempo,
fazer um juramento que necessariamente envolve a defesa
e proteção dessas coisas? Resolvamos isso, então, como o
bom e velho Josué: “Que outros façam o que eles quiserem,
porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” [Js 24:15].
Mas, como já declaramos nossas objeções às
constituições civis desses estados, a franqueza exige que
declaremos, ao mesmo tempo, que consideramos o governo
americano, com todos os seus males, o melhor agora
existente no mundo cristão; e, se conhecemos os
sentimentos de nossas próprias almas sobre esse assunto,
nada mais desejamos do que sua reforma, felicidade e
prosperidade; embora nos sintamos obrigados pelo nosso
dever para com Deus a testemunhar contra todas as suas
imoralidades. Será, porém, apropriado, vendo que o
consideramos imoral e, na providência de Deus, vivemos
debaixo dele, indagar em nono lugar:
IX. “Como deve ser a nossa conduta diante disso?”
CAPÍTULO 9
 O Dever Pessoal diante um
Governo Civil Ímpio
 
1. É nosso dever lamentar diante de Deus todas as
abominações prevalecentes. Essa é uma das características
daqueles que estão marcados com o amplo selo do Espírito
Santo. “E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade,
pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos
homens que suspiram e que gemem por causa de todas as
abominações que se cometem no meio dela” (Ez 9:4). Nós
devemos também confessar e lamentar os nossos próprios
pecados, que, sem dúvidas, contribuem para a busca e a
continuidade desses males.
2. Devemos orar pela reforma com seriedade diante do
trono de graça. Em I Timóteo 2:1, ordena-se-nos que
façamos oração e súplicas por todos os homens; e, em
Jeremias 29:7, aos cativos na Babilônia é ordenado que
“orem pela paz da cidade, e clamem ao Senhor por ela, para
que na sua paz tenham paz”. Essa oração, porém, não deve
reconhecê-los [os governantes] em sua capacidade de
ofício, pois isso seria como dizer “amém” para a imoralidade
da constituição na qual eles se firmam. Em II João 10-11,
somos ordenados a fazer isto: “Se alguém vem ter
convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa,
nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte
nas suas más obras”. Isso é sobre enganadores, e não sobre
os demais homens, pois somos ordenados a “orar por todos
os homens” (2Tm 2:1).
3. Devemos usar todos os esforços legítimos para
promover a reforma, tais como argumentos racionais e
protestos decentes. “Porque mandaram chamá-lo; veio,
pois, Jeroboão e toda a congregação de Israel, e falaram a
Roboão, dizendo: Teu pai agravou o nosso jugo; agora, pois,
alivia tu a dura servidão de teu pai, e o pesado jugo que nos
impôs, e nós te serviremos” (1Rs 12:3-4). Pararaciocinar,
protestar e expor este assunto a esta geração, bem como
sobre outros de verdade ou dever, estamos obrigados, pelo
amor que devemos exercer para com nossos irmãos da
humanidade, a não cometer o pecado de mentir sobre isso
ou não informá-los disso — pela obrigação que temos de
promover o interesse da religião e o avanço do reino de
Emanuel, e pelo comando expresso de Deus. “Clama em
alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a
trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à
casa de Jacó os seus pecados” (Is 58:1). Veja também
Ezequiel 33:1,9, em que nos é dito que, se um vigia falhasse
em avisar o povo da chegada do seu inimigo, e esse povo
morresse em seus pecados, o sangue deste seria requerido
de suas mãos, mas, se o vigia fosse fiel e o avisasse,
ouvindo o povo ou não, o vigia salvaria sua própria alma.
4. Não devemos fazer nenhum ato que possa ser
considerado justamente uma homologação da sua
autoridade ilegítima.
Aqueles que, direta ou indiretamente, consentem com
os atos malignos de outros participam de sua criminalidade.
“Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte
com adúlteros” (Salmo 50:18), o que Deus severamente
repreende. Se, então, a constituição está em guerra contra
a religião de Jesus, uma aprovação sobre aquela é fechar
um acordo com seus inimigos. Não podemos, então, fazer
esse juramento, porque nós acreditamos na constituição
como sendo contrária à lei moral e aos nossos
engajamentos pactuais.
No mais, não podemos eleger funcionários públicos
para preencher os vários ofícios do estado, pois entre o
eleitor e eleito há uma união representativa, de modo que
todo ato oficial, feito constitucionalmente pelo segundo, é
virtualmente feito pelo primeiro, por meio de seu órgão
representativo. Ele também é introduzido nesse ofício por
meio de um juramento que ratifica a constituição. Portanto,
seja o que for que não possamos fazer por causa da sua
imoralidade, não devemos empregar outros para o executar.
Também não podemos aceitar nenhum cargo em que se
anexe um juramento, obrigando, em primeiro lugar, a apoiar
uma constituição imoral, ou, em segundo lugar, a aplicar ou
julgar sob a direção de uma lei imoral. Primeiro, apoiar uma
constituição imoral: todos esses cargos são considerados
pela constituição como pertencentes aos departamentos
executivo ou judicial deste Estado. Um juramento, para essa
importância, é expressamente exigido de todos os oficiais,
executivos e judiciais.[10] Em segundo lugar, aplicar ou julgar
sob a direção de uma lei imoral: para esse exemplo,
consideramos servir no júri. O jurado deve estar sob a
obrigação de determinar a lei e os fatos.[11] Isso deve,
certamente, ser determinante para o verdadeiro espírito e
significado da lei, e sua aplicação ao fato particular em
consideração. Isso significa uma determinação a respeito de
a lei ser moral ou imoral, e assim, como deve ou não ser
posta em prática, os júris teriam uma negativa sobre o
legislador e tornariam suas decisões não obrigatórias e
inúteis? São, portanto, obrigados a aplicar a lei existente
imediatamente, em seu verdadeiro espírito e significado, ao
caso em deliberação.[12]
Se o código civil contém leis em si mesmas imorais, não
devemos ser obrigados a determinar casos por elas ou a
julgar sob a sua direção. Embora acreditemos que a maioria
das leis do código civil seja justa e equitativa, ainda assim
existem algumas exceções. Tais leis são conformadas à
parte imoral da constituição e baseadas nela, como, por
exemplo, as leis que incorporam as sociedades católicas
romanas etc. Tais, também, são algumas leis
inconstitucionais, por exemplo, as que reconhecem o direito
de manter escravos por toda a vida e indenizam senhores
quando seus escravos são punidos com a pena capital.[13]
Suponha que um caso ao qual qualquer uma dessas leis
imorais se refira chegue ao júri. Por exemplo, um processo
no qual um escravo invoca o seu direito de ser livre: o que é
que os membros do júri estão obrigados a fazer nesse caso
em particular? O pobre homem, infelizmente (mas sem
culpa sua), nasceu antes de 1o de março de 1780 e foi
registrado, na forma da lei, antes de 1o de novembro do
mesmo ano, sendo, portanto, legalmente um escravo. A lei
moral diz que ele é livre. De acordo com qual dessas leis,
por conseguinte opostas entre si, o juramento do jurado o
obriga a encontrar um veredito? Se concordar com a lei
moral, a lei do Estado é posta de lado e o legislador é
controlado pelo júri.[14] Mas, se o seu jurado estiver de
acordo com a lei do Estado, nesse caso criada e provida, a
lei de Deus é posta de lado — a Majestade do Céu é
insultada, e os direitos da humanidade ultrajados e
espezinhados por aqueles que deveriam protegê-los. Nós
não podemos, conscientemente, colocar-nos em tal
situação.[15]
Mas, além disso, não podemos nos envolver em
nenhum serviço que seja regulado por qualquer lei imoral
ou nos coloque sob seu controle. O engajamento nas forças
policiais, quando chamados ao serviço real, pode estar sob
essa consideração. Assim, nós nos comprometemos, por
nosso próprio ato e comportamento, se necessário, a lutar
em defesa de qualquer uma das leis existentes, sob todas
as penalidades existentes, em tais casos criadas ou
providas. Quem sabe, enquanto em serviço, seja-lhe
ordenado derramar seu sangue em apoio a uma casa de
missas[16], ou, na boca do canhão, proteger as imagens
esculpidas do idólatra grosseiro, que Deus expressamente
ordenou que fossem destruídas (Dt 7:5)? Não devemos,
portanto, colocar-nos numa situação em que sabemos que
uma coisa em si mesma imoral possa ser legalmente
ordenada, sob as penas específicas, enquanto nos
comprometemos, por nosso próprio ato e comportamento, a
prestar obediência.
5. Podemos fazer tudo o que nos é ordenado, o que em
si mesmo é justo e lícito; desde que não seja obstruído por
alguma circunstância imoral.
Isso explicará a nossa recusa em exercermos os
direitos, em executarmos os ofícios ou em nos engajarmos
nos serviços mencionados no último item: embora não haja
criminalidade nas coisas em si, ainda assim elas estão
ligadas a tais circunstâncias que consideramos imorais.
Muitas coisas, não criminosas em si mesmas, deveriam ser
evitadas por essa razão. Por exemplo, não seria considerado
ilegal, por si só, que um presbiteriano fosse a Roma.
Suponhamos, por exemplo, que fosse fazer alguns negócios
mercantis. Mas, se a lealdade à Santa Sé e a adoração à
hóstia fossem estabelecidas como condição para a entrada
naquela cidade, ele certamente não deveria ir para lá. Da
mesma forma são os cargos etc. que recusamos, embora
todos lícitos, considerados em si mesmos; no entanto, como
não podem ser exercidos sem alguma imoralidade, não
devem ser aceitos de forma alguma. Mas todas as outras
coisas ordenadas pelas autoridades constituídas que não
são em si mesmas ilegais, nem ligadas a circunstâncias
ilegais, estas sejam, então, feitas. Não porque sejam
comandadas por autoridade legítima (que é a verdadeira
tessera da lealdade), mas, ou porque a lei moral as exige,
ou porque podemos ser compelidos a fazê-las pela força
física. Isso pode acontecer naquelas coisas que não são em
si mesmas moralmente más; e, quando ordenados a fazer
tais coisas sob pesadas dores, desses dois males físicos
podemos licitamente escolher o menor. Assim, posso ceder
parte dos meus bens para salvar o restante, embora o
homem que o exige não tenha outro direito senão a força
física, ou um poder de constranger à obediência.
6. Devemos esperar pacientemente debaixo dessas
desvantagens, enquanto não aprouver ao Senhor trazer de
volta Sião do cativeiro. Ademais, o profeta choroso observa
em Lm 3:26: “É bom que o homem tenha esperança, e
espere pacientemente a salvação do Senhor”. Nossos
princípios podem, de fato, nos sujeitar a muita
inconveniência, mas nós devemos, como Moisés, preferir a
aflição com o povo de Deus aos tesourosdo Egito e os
prazeres do pecado, os quais duram apenas um momento;
mantendo nossos olhos na recompensa do galardão (Hb
11:25-26). É razoável esperar que, enquanto os sucessores
do Dragão estão no poder e os governantes da terra se
esforçam para cumprir a vontade da besta, a mulher e sua
semente retornem do deserto? Ap 12:14,17: o tempo, e
tempos, e metade de um tempo, ou mil duzentos e sessenta
anos, ainda não foram encerrados, desde que ela voou
longe em asas de águias, período durante o qual ela deverá
preparar suas causas com constrangimentos e tribulações.
Não, há uma razão para aguardar, que permanece
sendo a mais tremenda das cenas de perseguição e
carnificina que aguardam a Igreja, mais do que qualquer
outra que ela tenha experimentado até agora. A
testemunha ainda não terminou de finalizar seu
testemunho. Um ponto ainda resta para ser selado por seu
sangue, nomeadamente, a liderança do Mediador sobre as
nações. Não é improvável que esse seja um dos artigos
pelos quais as testemunhas serão mortas, como podemos
ler: “as nações verão seus corpos mortos por três dias e
meio” (Ap 11:8-9), o que equivale a três anos e meio, na
linguagem profética. Mas elas terão uma ressurreição
gloriosa, quando esses três dias e meio expirarem. E,
embora não vivamos para ver esses dias felizes, vamos nos
alegrar com a consideração de que estamos nos esforçando,
em nossos sistemas civis e religiosos, para antecipar o
período milenar em que Jesus reinará em Jerusalém, no
Monte Sião e ante seus anciãos, gloriosamente. E, se formos
fiéis e conscientes ao fazê-lo, Deus nos dirá, como Ele fez
com Davi, respeitando sua intenção de construir o templo:
“Bem fizeste em o propor no teu coração” [1Rs 8:18].
7. Devemos viver vidas pacíficas e regulares, “sem
ofender os judeus, os gentios ou a igreja de Deus” (1Co
10:32). “Adornar a doutrina de Deus, nosso Salvador, em
todas as coisas” (Tt 2:10). Devemos nos opor a todas as
práticas tumultuosas e sediciosas que possam surgir para
prejudicar a paz e a prosperidade da terra em que vivemos;
cumprir a ordem comum da sociedade, em todas as coisas
em si mesmas lícitas; viver como cidadãos do mundo, e não
nos incorporar à sociedade nacional, em nenhum de seus
movimentos políticos; olhando para o dia de nossa
redenção, quando chegará o tempo designado por Deus
para favorecer Sião. Porém, como as doutrinas avançadas
na parte anterior deste discurso são impopulares para a
geração atual, pode ser necessário, em décimo lugar:
X. Refutar algumas das principais objeções que
geralmente são feitas.
CAPÍTULO 10
 Respondendo Objeções
 
Objeção 1. “O apóstolo, em Rm 13:1, informa-nos que
todo poder é de Deus — ‘Não há poder senão de Deus’;
consequentemente, devemos obediência consciente a todo
poder.”
Resposta: existem dois tipos de poder, vale dizer, físico
e moral; ambos são de Deus, pois “nele vivemos, nos
movemos e existimos” (At 17:28). Pelo exercício do
primeiro, todas as ações justas e injustas são executadas.
No exercício desse poder físico, Paulo perseguiu a igreja de
Jesus: pelo mesmo poder, ele trabalhou, com incansável
diligência, na propagação das doutrinas da cruz. Esse poder,
portanto, é comum a todas as ações, morais ou imorais, que
acontecem na providência de Deus. O segundo não é
apenas providencial, mas também moral e perceptivo, e
respeita as coisas que Deus em sua lei exige como dever
moral e perceptivo, e respeita aquelas coisas que Deus em
sua lei exige como dever dos sujeitos morais executar.
É ao primeiro tipo de poder ou ao segundo que toda
alma é ordenada a sujeitar-se, sob a penalidade da
condenação mencionada na passagem agora em
consideração? Se for ao primeiro, é um pecado condenável
resistir ao diabo! Pois ele é um “poder” e, na providência de
Deus, como príncipe deste mundo, ele governa no coração
dos filhos da desobediência (Ef 2:2). Mas esse não pode ser
o caso, pois Deus nos ordenou estritamente que
resistíssemos a ele (Tg 4:7). Se assim fosse, incorreríamos
na ira de Jeová ao resistir a leões, tigres e outros animais de
rapina: pois, na providência de Deus, eles possuem mais
poder físico do que nós, e também o derivam de Deus.
Então, sob o risco de condenação, os tiranos e usurpadores
seriam resistidos, e a doutrina justamente aumentaria a
obediência passiva, e a não-resistência seria reconhecida
sob a dor do grande desagrado de Jeová! E, para completar
tudo, o povo desses estados, que justa e valentemente
resistiram ao domínio perverso do tirano britânico, teriam se
tornado desagradáveis e passiveis de condenação! Essa
doutrina, no entanto, é grosseiramente ridícula demais para
merecer muita atenção.
Concluo, portanto, que o poder em questão é do tipo
moral e perceptivo: ao qual a obediência é ordenada, sob
penalidades tão pesadas. A isso subscrevemos com
entusiasmo; e acreditamos que ninguém mais pode vincular
a consciência ou ter direito à sujeição consciente. Ademais,
isso parecerá evidente, atendendo às qualificações daquele
poder ao qual somos ordenados a nos sujeitarmos, na
passagem mencionada. Veja Rm 13:1,7.
Objeção 2. “Mas Deus ordenou que nos sujeitemos a
eles por causa da consciência (Rm 13:5 e 1Pe 2:13).”
Resposta: o poder a que se alude na primeira das
citações já foi provado moral e perceptivo. Esse deve
necessariamente ser o caso, com todo poder autorizado à
obediência, pelo bem da consciência. Se um poder contrário
à lei divina tem direito à obediência conscienciosa, Deus
não é mais o Senhor exclusivo da consciência, mas está
sujeito até ao domínio ilegítimo dos homens. É verdade que
muitas coisas comandadas por poderes imorais, quando em
sua natureza pecaminosa, podemos ser obrigados a realizar,
e mesmo essas ações, assim como outras, devem ser
realizadas conscientemente.
Por exemplo, se eu fosse escravizado por um pirata
argelino e vendido a um mestre cruel, não deveria, por
conduta rebelde e obstinada, tomar o bastão ou transformar
a vara do castigo em uma serpente venenosa. Estou no
poder dele e, portanto, deveria obedecer,
consequentemente, em todas as coisas em si mesmas
lícitas, para aliviar minha corrente e aliviar os males que
não posso evitar. Esse tipo de conduta a minha consciência
deveria aprovar. Mas por que motivo? É porque minha
consciência aprova o direito dele de me manter em
escravidão? Não; antes, não é porque minha consciência
aprova o uso de todos os meios inocentes que as leis da
autopreservação possam ditar, para aliviar minha miséria
atual? Esse princípio é igualmente aplicável a um povo sob
governos injustos e imorais; e a nenhum outro tipo de
sujeição estava Nero, o monstro à frente do império
romano, quando o apóstolo deu as instruções acima,
autorizado. Possuía ele algum dos personagens ligados a
esse poder, ao qual a obediência por causa da consciência é
imposta? Se dermos crédito aos historiadores de sua época,
ele foi o contrário de tudo isso. As barbaridades brutais de
seu reinado são notórias demais para exigir ensaios e
chocantes demais para os sentimentos a serem contados,
quando a necessidade não o exige. Mas, ainda assim,
contesta-se “que, embora ele fosse um monstro, todos os
seus mandamentos legais deveriam ser obedecidos”. Para
isso, pode-se observar que aquele que não tem direito
moral de comandar não pode dar ordens legais. Uma ordem
pressupõe um comando de poder. A legalidade ou
ilegalidade do comando é determinada pela legitimidade ou
ilegitimidade do poder do qual ele flui. “Quem (diz o homem
inspirado) pode tirar algo limpo de algo imundo? Ninguém”
[Jó 14:4].
Um poder imoral pode comandar o que é em si lícito e o
que pode e deve ser feito; no entanto, como uma
autoridade moral é necessária para constituir um
mandamento legal, o último não pode existir onde o
primeiro está faltando. Suponha, por exemplo, que meu
vizinho, que não tem autoridade civil ou religiosa sobre
mim, venha a minha casa e autoritariamente ordene que eu
adore a Deusem minha família e execute conscientemente
os deveres de minha posição: a tudo isso estou obrigado
porque é certo, mas alguma parte da minha obrigação
surge do seu comando? Seu comando era sem autoridade;
e, quando isso impõe uma obrigação moral, não precisamos
achar estranho encontrar filhos que não tiveram pais —
esposas que não têm marido — e coisas que existem em
abundância sem os correlatos necessários. É mais objetado
aqui “que o apóstolo não poderia ter tido outro
particularmente em vista, senão Nero, ou, pelo menos, que
ele o tinha em mente; porque isso tornaria inútil o preceito,
como qualquer aplicação imediata às circunstâncias
existentes”. Essa objeção é repugnante à experiência diária.
Fosse isso justo, então toda a instrução aos jovens, para
preencher os vários departamentos da vida social, aos quais
eles foram destinados, quando alcançassem maturidade,
seria inútil e inconveniente. Com que propósito, então, Deus
teria dado a Israel uma constituição e leis, para que seus
reis caminhassem através delas enquanto ainda estivessem
no deserto? Veja Dt 17:15.
Objeção 3. “Mas mesmo os piores governantes, como
Hazael etc., são considerados ungidos por Deus (1Rs 19:15),
e, assim, devem ser considerados legítimos.”
Resposta: o significado geral da unção é uma distinção
para algum serviço específico. Assim, embora Deus
denomine os assírios, medos e persas a “vara da sua ira”,
ele também os designa pelo nome de seus “separados” ou
“ungidos” (Is 13:3). Quanto à unção de Hazael, ela apenas o
separava para ser um flagelo e uma praga para Israel, por
causa de seus pecados — “…porás fogo às suas fortalezas,
e os seus jovens matarás à espada, e os seus meninos
despedaçarás, e as suas pejadas fenderás” (2Rs 8:12). Foi
separado para tal trabalho, que, quando predito pelo profeta
Eliseu, ele responde: “É teu servo um cachorro, para que ele
faça isso?”. Deus, em sua providência, às vezes separa
terremotos, pestes, gafanhotos etc. como ministros de sua
ira e executores de sua vingança; mas que argumento pode
ser trazido a partir disso para provar que devemos render
obediência, por causa da consciência, ao poder imoral, se a
imoralidade está na constituição ou na administração?
Objeção 4. “Mas os santos aceitaram ofícios e
mantiveram lugares de confiança sob príncipes pagãos. Veja
os casos de Esdras, Neemias e Daniel, nos livros chamados
por seus nomes. Se os santos assim aceitaram ofícios etc.,
podemos concluir, primeiro, que o poder era legítimo; ou,
segundo, que os ofícios podem ser mantidos sob governos
ilegítimos; ou, terceiro, que os santos pecaram ao aceitá-
los.”
Resposta: admitimos a segunda proposição. A primeira
e a terceira negamos.
Questionemos se, porque Daniel legalmente ocupou um
cargo na Babilônia, qualquer uma destas duas proposições
seguirá necessariamente, a saber: primeiro, que ele
reconheceu o governo na Babilônia como legítimo; ou,
segundo, que podemos legalmente manter e executar todos
os ofícios, sem exceção, sob a constituição americana?
Quanto ao primeiro, eu observaria o seguinte: os
princípios estabelecidos no quarto item do tópico anterior
deste discurso, referentes à posse de cargos etc., se
aplicados de maneira justa, resolverão tal questão. Foram
estabelecidos naquele item certos princípios, determinando
quais cargos não podem ser ocupados sem homologar uma
constituição imoral. Aqui eu estabeleceria um princípio que
pode ser útil para determinar positivamente quais cargos
podem ser ocupados sem criminalidade, para que o governo
nunca seja tão perverso.
Qualquer ofício pode ser aceito ou exercido sob essas
três condições seguintes:
Primeira: Que os deveres que lhe pertencem sejam
corretos em si mesmos.
Segunda: Que seja regulado por lei justa.
Terceira: Que não se exija outro juramento de ofício, a
não ser o de fielmente executar deveres oficiais.
Sejam essas as estipulações, e um cargo pode ser
exercido sob qualquer poder, por mais imoralmente
constituído que seja, sem uma homologação de sua
imoralidade.
Suponha que eu estivesse em Argel, residindo lá por
prazer; se eu aceitasse um cargo do Dey, de acordo com os
regulamentos agora especificados, digamos que professor
de uma universidade instituída por ele para instrução dos
jovens, isso seria uma homologação de sua regência imoral
— pirataria — ou do sangue e do assassinato sobre os quais
seu trono é erguido? Se estivesse lá como escravo, o
compromisso não seria ainda mais aceitável? Isso
corresponde à situação dos cativos na Babilônia: não se
segue, portanto, que ocupar um cargo necessariamente
supõe ou que o governo seja lícito, ou, se não, que a pessoa
que ocupa o cargo está implicada na imoralidade.
Com relação à segunda proposição, supostamente
decorrente de Daniel ocupar um cargo na Babilônia, a saber,
que podemos ocupar qualquer cargo, sem exceção,
segundo a constituição americana, pode-se observar que,
para isso, os casos devem ser paralelos, aí a proposição
será prontamente aceita. Mas os casos são muito diferentes.
A imoralidade do governo babilônico era indefinida. Eles não
tinham constituição fixa. O monarca era legislador. Sua
vontade era a lei do reino. “A quem queria matava e a quem
queria dava a vida” (Dn 5:19). Não temos certeza se havia
algo essencial para esse governo além da mera força física,
e isso não é moral nem imoral em si. Mas nas constituições
americanas quase tudo é específico e essencial ao pacto
social. E, embora não sejamos defensores do governo
absoluto, no qual a vontade do monarca é a lei; mais ainda,
embora pensemos que constituições e leis não podem ser
muito específicas e definidas; todavia, somos da opinião de
que os cargos podem ser mantidos sob príncipes absolutos,
cujas vontades não são limitadas por nenhuma constituição
fixa, sem estarem implicados em nenhuma criminalidade,
quando não podem ser mantidos sob alguns constituídos
mais especificamente. Nestes, os ofícios costumam ser
enredados na imoralidade da constituição, à qual também é
necessária a lealdade, em quase todos os casos. Naqueles,
não há constituição imoral a que jurar lealdade. E, se a
vontade do monarca, que se assemelha a uma legislatura
permanente, ordena o que é imoral, não deve ser obedecida
mais do que uma lei injusta, mesmo quando existe uma
constituição justa e moral. Daniel não jurou, portanto,
apoiar uma constituição imoral, pois não havia uma.
Se for alegado que a vontade do monarca era a
constituição, isso, mesmo que admitido, não faz diferença.
O ofício era o que requeria lealdade a esta constituição ou
não. Nesse último caso, é o que sustentava, a saber, que
não havia obrigação imoral relacionada ao seu cargo. No
primeiro caso, ele foi perjurado, não apenas por quebrá-lo
em várias situações, mas também por tomá-lo, pois ele
jurou um “espaço em branco”, isto é, executar o que não
sabia. Mas não há relato de que Daniel estivesse sob essa
obrigação. De fato, teria sido inconsistente com o agrado do
céu que ele e outros membros do cargo evidentemente
desfrutavam.
Suponhamos um caso semelhante ao de Daniel e outro
semelhante à nossa situação, atualmente, sob as
constituições americanas. Isso pode servir como ilustração
do princípio geral aqui discutido. Imagine que um homem
seja preso por um grupo de índios, com a intenção de
explorar as águas do rio Mississipi. Eles não têm um sistema
específico estabelecido para regular sua conduta durante a
expedição. Eles estão sob o comando de um chefe, cuja
vontade é a lei, e que tem poder para punir em caso de
desobediência. Imagine que outro, em Providence, esteja
residindo entre um grupo nas atividades pacíficas da
agricultura e, de vez em quando, traficando peles, produto
de suas excursões de caça. Suponha que esse grupo tenha
um pequeno sistema de regras que provê especificamente
todos os ofícios que possam ser necessários na
comunidade, e que todas as regras desse pequeno sistema
sejam justas e equitativas, excetouma. Suponha que o
excepcional seja que, todas as manhãs e noites, os oficiais
cuidem para que os que estão sob seus respectivos
comandos façam piadas ou adorem o diabo, como é dito
que algumas das tribos indianas estão acostumadas a fazer.
Que um juramento de apoio e manutenção desse pequeno
código seja tornado pela comunidade uma qualificação
essencial de qualquer cargo.
Agora, supondo que esses dois homens sejam
chamados a aceitar cargos em suas respectivas tribos,
ambos podem obedecer com boas consciências? Ou melhor,
que aquele de quem não se exige estipulação imoral o faça
com segurança, e, se ordenado a fazer o que está errado,
imite Daniel, que, sob risco de morte, desobedeceu ao
mandamento do rei; enquanto o outro pode não o aceitar,
pois ele é apresentado ao cargo por uma estipulação que
viola a lei moral. A aplicação disso é abundantemente
evidente.
Objeção 5. “Mas os santos oraram por eles (Gn 20:7,10
e Dn 4:21). E também, em 1Tm 2:2, somos ordenados a
fazê-lo. Isso não deveria nos fazer considerá-los
governantes legítimos?”
Resposta: se eles são imoralmente constituídos,
orarmos por eles como tais é claramente contrário à
ordenança de Deus (2Jo 1:10-11). Como homens, devemos
orar por eles, de acordo com o comando de Deus (1Tm 2:1),
no qual nos é ordenado fazer orações e intercessões por
todos os homens. Quanto ao comando para orar por reis
(1Tm 2:1), é evidente que se refere a governadores morais,
que conduzem sua administração de tal modo que a
santidade, a verdadeira piedade e a honestidade sejam
promovidas entre seus súditos.
Objeção 6. “Os santos citaram-nos para justiça (At
25:10-12; 26:32), em que o apóstolo apela para César.”
Resposta: um apelo a seus tribunais não envolve uma
homologação de seu domínio legal mais do que um apelo de
um assassino a um ladrão que estivesse disposto a salvar a
vida de alguém seria uma homologação da sua vida em
habitual violação do oitavo mandamento.
Suponha, por exemplo, que as montanhas Allegheny
estejam infestadas por um bando de ladrões, cujo capitão
ainda retém tanta humanidade a ponto de estabelecer uma
lei segundo a qual nenhum homem pobre deve ser roubado
de mais de dez dólares. Você está atravessando a
montanha, e cinco homens da gangue se aproximam de
você e roubam cem dólares, o que é quase tudo o que você
tem. Então você se encontra com o mestre da fraternidade
(você conhece a lei) e acredita que ele ainda tem tanta
humanidade restante, que será induzido a executar aquela
lei. Você apelará para que ele faça com que seus noventa
dólares sejam reembolsados, os quais lhe são devidos pela
própria lei do capitão dos ladrões? Se você o fizer, isso o
implicará na imoralidade dos bandidos, ou significará que
você diz “amém” à sua prática ilegal? Certamente não. Se
isso se sustenta no maior, certamente se sustentará no
menor. Se um apelo pode ser feito ao capitão de um bando
de ladrões, sem implicar sua criminalidade, muito mais a
essas instituições que, embora erradas em alguns
fundamentos, ainda visam ao bem da sociedade civil.
Objeção 7. “O próprio Cristo pagou impostos e ordenou
aos discípulos pagá-lo, e isso era para César (Mt 17:27;
22:21). Isso não é um reconhecimento de sua autoridade?”
Resposta: o simples pagamento do tributo nunca foi
considerado como qualquer homologação da autoridade que
o impôs. Pode ser dado ao pior dos tiranos, se não for
exigido como um tessera de lealdade. Poderíamos
perguntar aqui: o povo dos Estados Unidos homologa a
autoridade do Dey de Argel ou, por uma questão de
consciência, o reconhece como seu governante legítimo,
quando presta homenagem anual ao altivo Musselman? Eles
acham que o Dey tem algum direito moral de exigir uma
coisa dessas? Eles não preferem seguir o princípio de que é
melhor dar uma parte para salvar o restante, do que,
retendo, perder tudo? Tal conduta pode ser prudente e
inocente com qualquer grupo de ladrões.
A alegação feita através de Mt 17:27 é evidentemente
improcedente. Veja a passagem. Os melhores comentaristas
consideram o tributo mencionado aqui como o dinheiro do
templo, o resgate da alma mencionado em Êx 30:12-13.
Que esse fosse o caso parecerá evidente, primeiro, porque o
dinheiro encontrado na boca do peixe é visto, pelos
melhores críticos, como igual em valor a dois meios siclos,
um para Cristo e outro para Pedro. E, segundo, do
argumento pelo qual nosso Senhor pede isenção, a saber,
do exemplo dos reis da terra. “O que você acha, Simão? De
quem os reis da terra cobram censo ou tributo? De seus
próprios filhos, ou de estranhos? Pedro disse a Ele: de
estranhos. Jesus lhe disse: então as crianças são livres”.
Aqui encontramos, pelo exemplo dos reis terrestres, que
Cristo era livre. Como Ele estava livre? Por ser o Filho do Rei
a quem o tributo pertencia. Quem era esse rei? Não poderia
ser césar. O filho de Cristo César? Não. Pois, se Ele era filho
de César, deve ter sido por geração natural, adoção ou
cidadania. Nada disso aconteceu. E, mesmo que o último
tivesse ocorrido, que é a única suposição plausível (embora
falsa), não teria adquirido essa imunidade, porque a
cidadania não eximia o tributo. Mas Jesus era o Filho do
Deus do céu, aquele rei a quem pertencia o tributo; por isso
Ele diz “não obstante”, isto é, embora eu seja livre, pela
relação de Filiação etc.
A outra alegação trazida através de Mt 22:21: “Dai a
César o que é de César…”, é igualmente infundada. É
abundantemente evidente, a partir da passagem, que a
pergunta pretendia armar para o Senhor Jesus Cristo, ao
responder como Ele respondeu. Foi proposta pelos
herodianos e fariseus; aqueles, votantes pelo domínio
romano, estes, os defensores das imunidades judaicas. Se
Ele tivesse dito: “Dai a César”, os fariseus, sempre prontos
para acusá-lo, o representariam ao povo como um inimigo
de seus privilégios antigos. Se Ele tivesse dito: “Não deis”,
os herodianos o teriam representado a Herodes como um
inimigo do governo de César. No décimo quinto verso,
relata-se que eles vieram até Ele com o objetivo de
“envolvê-lo em sua estratégia”. Mas Ele, “conhecendo sua
astúcia”, cortou seu dilema e deixou a pergunta indecisa.
Ele, em várias outras ocasiões, assim confundiu seus
adversários; como em Jo 8:4,12, no caso da “mulher
apanhada em adultério”, e em Lc 7:14, quando lhe foi
apresentado um pedido sobre o estabelecimento da
herança terrena. Alguns objetam, aqui, “que essa
explicação da resposta de nosso Salvador representa o
Senhor como que se recusando a declarar todo o conselho
de Deus — dando nenhuma resposta em um caso que diz
respeito ao pecado e ao dever”. A inferência é falsa. Eles
não ficaram sem informações sobre esse assunto. Eles
tinham a lei e os profetas. O Senhor Jesus Cristo havia dado
instruções específicas a respeito do caráter de licitude do
pagamento de impostos por causa da consciência. Mas não
era a informação que eles desejavam; queriam induzi-lo,
deixá-lo responder como Ele faria, como já foi mostrado. Se
o silêncio, ou a recusa de responder em todos os casos,
mesmo quando diz respeito ao pecado e ao dever, seja qual
for o desígnio do inquisidor, são considerados criminosos,
sob qual ponto de vista o objetor enxergará o Senhor Jesus
Cristo quando o descobrir recusando-se a responder a uma
questão referente ao pecado e ao dever, no caso de sua
própria autoridade? “Nem eu te digo (diz Ele) com que
autoridade faço essas coisas” (Mc 11:27). Seria bom que os
homens considerassem as terríveis consequências de
algumas de suas objeções antes de fazê-las.
Mas, supondo que Cristo, nos dois casos mencionados,
tenha ordenado que o tributo fosse pago a César, o que isso
prova? A menos que Ele tenha ordenado que fosse pago
como um tessera de lealdade, isso não prova mais a
moralidade do direito de César do que um ministro do
evangelho aconselhando um de seus ouvintes a dar ao
ladrão parte de sua propriedade, para garantir o restante,
provaria que o ministro consideraque o ladrão tenha
moralmente tal direito.
Objeção 8. “Mas você usa o dinheiro que recebe o seu
valor pela sanção deles; e você os suporta pangando
impostos, e os apoia prestando tributo etc. Nós também ao
ladrão, a quem damos uma parte para salvar o restante.
Contudo, segue-se que eu possa jurar lealdade a ele, ou me
tornar um de seus oficiais, nos negócios de roubo e
pilhagem?”
Objeção 9. “Você faz juramentos administrados por eles
e mantém escrituras de terra etc., cuja validade repousa
inteiramente em sua sanção.”
Resposta: a administração não é essencial para um
juramento. Não faz parte disso. Um juramento é um apelo
solene a Deus, no qual o chamamos para testemunhar a
verdade do que afirmamos ou prometemos, e para ser um
vingador em caso de perjúrio. A administração nada mais é
do que organizar a questão e a expressão do juramento na
devida forma. Isso pode ser feito pela própria pessoa que
jura ou proposto por outra; e, se por si só equitativo, pode
ser adotado pelo jurado, seja o proponente quem for.
Se um ladrão me encontrar na estrada e, ao descobrir
que eu não tenho dinheiro, colocar sua baioneta no meu
peito; supondo que pareça evidente que ele pretende me
matar, a menos que eu me comprometa a pegar ou enviar
uma certa quantia de dinheiro em um determinado
momento, digamos cinquenta dólares, não o devo cumprir?
Em caso afirmativo, o juramento é o resultado de
estipulação mútua, que as circunstâncias existentes tornam
aceitável. Parece-me irrelevante se a proposta se origina
com ele ou comigo. Em ambos os casos, considero lícito dar
cinquenta dólares para salvar minha vida. Fazer esse
juramento, se proposto pelo assaltante, seria algum
reconhecimento do seu direito à minha propriedade? Onde
estaria a diferença, se minha vida fosse salva por outro que
estivesse sob compromissos semelhantes para comigo com
meu consentimento? Qualquer que seja a diferença
existente entre essa ilustração e a manifestação em
tribunais de justiça comuns, para pleitear, ou implorar, em
que juramentos são necessários para uma decisão, é a favor
da posição reivindicada; na medida em que as pessoas
perante as quais o caso é tratado são consideradas
possuidoras de honra e respeitabilidade.
Com relação à outra alegação (9), “A posse de terras
por escrituras cuja validade depende de sua sanção”, esta
também é infundada. A barganha com um homem por
qualquer artigo, em todos os casos, reconhece a moralidade
dos meios pelos quais ele se tornou dono do referido artigo?
Se isso acontecer, se algum poder estrangeiro conquistar a
América (que Deus o proíba) e declarar todas as
propriedades da terra que não procedam da nova ordem
das coisas nulas e sem efeito, seria criminoso mantê-las
assim: e assim a terra deve ser desocupada e seus
agricultores devem fugir para outro lugar em busca de asilo.
Mas, supondo que eles encontrassem coisas semelhantes
aonde quer que fossem, deveriam deixar este mundo
completamente? Eles não devem comer nem beber os
produtos da terra mantida por essa posse imoral; pois, pela
hipótese, o cultivador a mantém sob um domínio imoral e,
portanto, nenhuma barganha deve ser feita com ele, mais
do que com o poder do qual o ato originalmente emana.
Não posso alugar um quarto de minha própria casa, da qual
um homem me privou, e agora legalmente detém, embora
por um mandato imoral, sem assim reconhecer a
moralidade de seu direito? Se posso alugá-lo, não posso dar
um artigo por escrito, garantindo o pagamento a ele e o
mandato a mim? Se posso fazê-lo com um quarto, não
posso fazê-lo com toda a casa e cortiço pertencente a ele?
Se eu posso alugar o todo, também não posso comprá-lo,
colocando a barganha em títulos semelhantes aos
mencionados acima? Se isso for legal, como o caso em
consideração pode ser ilegal?
Objeção 10. “Mas, quando os governantes estão em
posse pela voz da maioria, eles não reivindicam, portanto,
obediência consciente?”
Resposta: nações, assim como indivíduos, são
obrigadas a agir de acordo com a lei divina. Se sua conduta
for repugnante, não poderá conferir nenhum direito, nem
estabelecer qualquer obrigação. O ato da maioria nunca
pode legitimar o que Deus proibiu sob pena de seu
descontentamento. Se pudesse, seguir-se-ia
necessariamente que todas as coisas geralmente chamadas
de certas ou erradas são, em si mesmas, indiferentes; que a
Bíblia não tem um significado definido por si só, mas o
deriva completamente das opiniões dos homens, e assim
também autentica dois sistemas, embora diametralmente
opostos um ao outro!
Nenhuma posse, portanto, nem maioria, pode conceder
um direito em oposição à lei divina. A posse pode ser
exercida em um, e o direito em outro, como no caso de
Salomão e Adonias (1Rs 5). Tanto a posse como a maioria
podem ser atribuídas a uma pessoa e o direito a outra,
como no caso de Davi e Absalão (2Sm 15:10 e 17:14). A voz
do povo deve ser considerada como a voz perceptiva de
Deus somente quando eles agem de acordo com essa lei;
mas, ao contrário, não estabelece direito nem constitui
obrigação. Portanto, “eles criaram reis, mas não por mim:
eles formaram príncipes, e eu não o sabia” (Os 8:4). A
acusação, aqui, deve necessariamente respeitar a
negligência do preceito, pois ninguém poderia ser
promovido à dignidade civil sem a sua providência. Um
pardal não pode cair no chão sem sua permissão
providencial.
Objeção 11. “A repressão e a punição de idólatras,
blasfemadores e grosseiros hereges, pelas quais você
contende, pertenciam à teocracia judaica, que era um caso
específico e, portanto, não deve ser imitado.”
Essa objeção é extremamente popular e merece
atenção minuciosa. Não pode ser melhor respondida do que
nas palavras do falecido Rev. John Brown, ministro da Igreja
Seceding, em Haddington, no norte da Grã-Bretanha, em
seu “Tratado sobre a Tolerância”, página 57. Ele desafia seu
antagonista a provar que esses exemplos da repressão e da
punição da idolatria etc. pelos governantes judeus eram
meramente locais. Ele observa: “Os magistrados locais da
nação judaica também exerceram leis relativas a
assassinato, roubo, falta de castidade, traição e outros
assuntos da segunda tábua da lei. Agora, portanto, não
devem os magistrados fazê-lo? As leis que diziam respeito
aos deveres da segunda tábua pertenciam tanto à teocracia
judaica quanto as relativas à primeira. Portanto, o
magistrado cristão, por medo de copiar a teocracia judaica,
deve evitar qualquer moral? Todas as coisas que antes eram
típicas devem estar agora, sob o evangelho, excluídas da
autoridade reguladora? Todos os excelentes padrões de
Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Jó, Moisés,
Arão, Samuel, Davi e outros santos hebreus devem ser
rejeitados como simbólicos e inúteis? Devem todas as leis
dirigidas para eleger homens tementes a Deus e odiadores
da cobiça como magistrados, ou dirigidas a instruir os
homens a julgar com justiça, imparcialidade e prudência, e
a punir assassinos, adúlteros, ladrões, assaltantes etc., ser
descartadas como simbólicas? O sábado semanal, jejuns
públicos e ações de graças devem ser deixados de lado
como simbólicos, mero sinal entre Deus e os israelitas? Os
dez mandamentos e todas as explicações deles no Antigo
Testamento devem ser descartados, como publicados de
maneira representativa e para um povo típico, e usados
como parte principal de seu governo na teocracia judaica?
Como a Igreja Judaica era uma igreja real, e não apenas
simbólica, seu Estado era uma comunidade ou um reino
real, e não apenas simbólico: o que, portanto, lhe pertencia,
como uma comunidade real, é imitável em qualquer outra.
A igreja e o Estado judaico eram tão realmente distintos
quanto a igreja e o Estado são agora, embora eu não diga
exatamente da mesma maneira”.
Esse autor erudito e piedoso passa a mostrar onde eles
eram distintos, o que ele faz em dez diferentes detalhes; o
que seria muito grande para detalhar aqui. Aqueles que
desejam veresse assunto amplamente e criteriosamente
investigado o encontrarão na primeira parte de Rod
Blossoming, de Aaron Gillespie, livro I, capítulos 1, 2, 3 etc.
O sr. Brown mostra ainda mais adiante em que concordam o
magistrado judeu e o cristão. Isso ele faz em catorze
detalhamentos diferentes, que o leitor curioso encontrará
nas páginas 60 a 62 do tratado acima.
Objeção 12. “Seus princípios são contrários à quarta
seção do vigésimo terceiro artigo da Confissão de Fé de
Westminster, que ensina ‘que a infidelidade ou diferença na
religião não anula a autoridade justa e legal do magistrado,
nem liberta o povo de sua devida obediência a ele’.”
Resposta: o sentido em que a Assembleia Geral, como
também a corrente dos reformadores e mártires do século
XVII, compreendeu essa passagem, é plenamente afirmado
em nosso testemunho, como também na carta de Stirling,
do Rev. John M. Millan. Eles distinguiram entre terras
reformadas e iluminadas e aquelas que não foram
reformadas e não foram iluminadas. No último, muitas
coisas podem ser suportadas com as quais não se deve
sofrer no primeiro; particularmente quando, por um ato
nacional solene, eles tornaram as qualificações das
Escrituras essenciais para a constituição civil. Nossos
antepassados o fizeram em suas Alianças, Liga Nacional e
Solene. Todas as categorias e condições do reino juraram
solenemente usar todos os esforços legais para extirpar
papais, prelados etc. Poderia se indagar: jurar aliança a uma
constituição após erguer-se sobre sua ruína, da qual o
suporte e o estabelecimento de qualquer dessas detestáveis
abominações foram feitos um apoio essencial, seria um
meio bem calculado para promover a intenção do seu
juramento? Essa era exatamente a situação das terras de
nossa natividade.
A prelazia, que havia sido ajustada nacionalmente,
tornou-se essencial à constituição britânica; e o rei jurou
solenemente, em seu juramento de coroação, apoiá-la. Não
foram esses dois juramentos, a saber, um para extirpar a
prelazia, e outro para apoiá-la, totalmente contraditórios?
Jurar o último é declarar o primeiro sem compromisso e,
consequentemente, criminoso, quando originalmente
celebrado. Alguém que professa amizade para com a
reforma destes tempos pode, assim, sem vergonha
pronunciar sua sentença de condenação! Se a autoridade
do magistrado for justa e legal, nós nos manteremos
conscienciosamente vinculados a render obediência.
Nenhuma autoridade pode ser justa e legal, se a ela uma
contradição à lei moral é essencialmente incorporada. A
simples infidelidade não a tornará injusta, nem em um país
pagão ou em um país emergente da escuridão pagã.
Tampouco a simples diferença de religião a tornará nula,
quando a nação, por seu próprio ato solene e instrumento,
não fez da conformidade um artigo essencial de sua
constituição. Pode haver muitos defeitos em uma
constituição civil, e ainda é moralmente vinculante para
uma nação: mas onde a imoralidade pura ou uma obrigação
solene de apoiar o que o Legislador do universo proíbe, sob
as mais severas penalidades, é essencialmente incorporada,
a consciência não pode ser amarrada.
Objeção 13. “Seus princípios embasam a perseguição,
são cruéis e impiedosos.”
Resposta: a igreja de Cristo nunca perseguiu. Se nossos
princípios levam a isso, eles certamente estão errados. Mas
o que é perseguição? Consiste na execução da lei de Deus?
Se isso acontecer, Ele deve ser o autor. Não consiste, em
vez disso, em ferir os homens em seu caráter, propriedade
ou pessoa, por sua aderência tenaz e firme aos seus
mandamentos divinos? Se isso não é perseguição, os
mártires sofreram não pela causa e pelo testemunho de
Jesus, mas por sua obstinada rebelião contra ela. Como isso
corresponde ao caráter daquelas almas que João viu caídas
sob o altar, “que foram mortas pela palavra de Deus e pelo
testemunho que tinham?” (Ap 6:9). Tudo o que a lei de Deus
ordena que seja punido deve ser punido com as penalidades
nela feitas e previstas; mas Deus ordenou que hereges
grosseiros, blasfemadores e idólatras sejam punidos com
certas sanções especificadas. Portanto, devem ser punidos.
Esses comandos não poderiam pertencer à lei
cerimonial; pois então eles teriam fluído inteiramente da
vontade arbitrária de Deus e seriam meros sinais entre Ele e
Israel. Quem ousaria pensar tal heresia grosseira?
Tampouco poderiam pertencer à parte da lei judicial que
dizia respeito particularmente aos judeus. Quem ousaria
dizer que apenas os judeus estavam ou estão sob a
obrigação de adorar a Deus com pureza ou de se abster de
blasfemar contra seu nome e dignidade? Devem, portanto,
pertencer à lei moral e fluir da natureza moral de Jeová, que
declarou que não dará sua glória a outro, nem seu louvor a
imagens esculpidas. Assim, encontramos o primeiro, o
segundo e o terceiro preceitos da lei moral que proíbem
claramente essas coisas e exigem os deveres contrários.
Todos os preceitos e ameaças que se encontram referentes
a essas questões espalhados pela Bíblia são apenas
elucidações desses mandamentos. Eu deixaria isso em
particular, propondo uma pergunta que o leitor criterioso
resolverá facilmente. Elias foi um perseguidor quando fez
com que a lei de Deus fosse executada sobre os profetas de
Baal?
Objeção 14. “Mas a constituição prevê sua própria
emenda; se, portanto, você pensa que está errada, por que
não se junta e elege bons representantes, que podem ser
instrumentais para corrigi-la?”
Resposta: um representante deve jurar apoiar a
constituição antes de poder se sentar na assembleia
legislativa. Já demonstramos que esse juramento é imoral e,
como tal, não podemos, em sã consciência, fazê-lo;
portanto, o que não podemos fazer por conta de sua
imoralidade não devemos empregar outros para fazer por
nós.
Somos obrigados pela lei moral e pelos compromissos
da aliança a extirpar toda heresia, blasfêmia e idolatria, na
medida em que nossa influência possa se estender. Temos
em vista considerar não apenas ilegal, mas também um
meio muito improvável de alcançar esse fim desejável,
primeiro fazer um juramento que necessariamente envolve
apoiá-los. Isso não seria “fazer o mal, para que o bem
venha”? Isto o apóstolo condena veementemente. Supondo
que tivéssemos certeza de que uma reforma nesses males
seria obtida no dia seguinte, ou mesmo na hora seguinte; se
fizermos um juramento ilegal para obtê-lo, estaríamos
violando o comando do Altíssimo e incorrendo em seu
severo descontentamento. Mas, além disso, por nossos
próprios atos solenes e instrumentos, amarraríamos nossas
mãos de realizar a coisa desejada, a menos que
considerássemos o juramento inicial imperativo e
zombássemos de Deus ao aceitá-lo. Um projeto de lei
deveria ser trazido para dentro da casa para tornar a Bíblia
a lei suprema da terra? Esse projeto de lei seria
constitucional? Não é necessária prova de que não o seria.
Juro apoiar a constituição. Como devo me comportar? Não
há alternativa, a não ser rejeitar a lei que é uma transcrição
das perfeições morais de Jeová ou cometer perjúrio: a
menos que eu considere meu juramento de apoiar a
constituição sem obrigatoriedade, zombando de Deus e o
impondo à sociedade.
Certamente não devo me colocar em nenhuma situação
em que possa ser levado ao terrível dilema de rejeitar a
Bíblia ou de cometer perjúrio! Tampouco satisfaria a
consciência ficar calada e não dar voto. Isso seria uma
aquiescência silenciosa na violação da constituição que eu
jurei apoiar. O silêncio estaria apoiando isso? Também não é
lícito a nenhum cristão colocar fora de seu próprio poder
falar em favor da verdade, quando a verdade, ou a Bíblia de
Deus, vier a ser tratada com favor ou contrariedade.
Objeção 15. “Mas vocês são majoritariamente
estrangeiros e não têm ligação com nossos acordos
governamentais.”
Admitindo que somos todos estrangeiros, o que isso
prova? “Do Senhor é a terra e a sua plenitude” (Sl 24:1).
Somos sujeitos morais do Senhor de todaa terra. Enquanto
mantemos uma verdadeira e fiel lealdade a Ele, e
obedecemos conscientemente às suas leis, temos o direito
de viver em qualquer parte de seus domínios, onde, em sua
providência, Ele pode, por favor, lançar nossa sorte. Não
devemos infringir nenhum dos direitos justos de terceiros,
pois isso seria inconsistente com a lealdade fiel ao
Governador moral. Deus “deu a terra aos filhos dos
homens”; e, para os fiéis em Cristo Jesus, uma nova aliança,
direito a tudo o que eles possuem. Vamos manter esse
caráter e deixar as consequências para um Pai bondoso e
benevolente, que nos informou que “aqueles que buscam
ao Senhor de nada têm falta”. Não nos envolvemos com
seus assuntos governamentais além do que diz respeito à
moralidade ou imoralidade deles. Temos o direito de opinar.
Fazemos isso e apresentamos a razão sobre a qual nossa
opinião está fundada.
Muitas vezes nos perguntam por que não nos filiamos à
sociedade nacional. Desejamos “estar sempre prontos para
dar a cada um que nos pede uma razão da esperança que
está dentro de nós”. Lamentamos que não possamos nos
juntar a você em sua capacidade nacional. A culpa não é
nossa, mas sua. Por mais que o amemos, e por mais que
prefiramos o seu governo, comparativamente, não podemos
nos filiar inteiramente a você, para que não pequemos
contra Deus e sejamos infiéis àquele que é o Rei das
nações. Como testemunhas do Senhor Jesus Cristo, também
devemos testemunhar contra toda imoralidade nas
constituições da terra em que habitamos. Como é possível
sermos fiéis nesse assunto, se não devemos, de alguma
forma, “interferir nos seus assuntos governamentais”?
Prestar testemunho de fé é uma parte do caráter das “duas
testemunhas”. É nosso dever indispensável imitá-las. Somos
ordenados a andar “pelos passos do rebanho”. Elas
ofenderam profundamente aqueles contra quem
testemunharam. Diz-se que “atormentam os homens que
habitam na terra”. Se formos fiéis como elas eram, faremos
o mesmo. E, embora nos seja dito, como os homens de
Sodoma disseram a Ló, “como estrangeiro, este indivíduo
veio aqui habitar e quereria ser juiz em tudo?” (Gn 19:9),
ainda assim, a aprovação de Deus e a resposta de uma boa
consciência mais do que compensarão esses males
temporários.
Essas são algumas das principais objeções às doutrinas
contidas na parte anterior deste discurso.
CAPÍTULO 11
 Aplicação
 
Agora, encerro com algumas práticas.
1. Da informação.
A partir do texto e da doutrina, podemos aprender que
magistratura e ministério são duas ordenanças muito
importantes: os dois “Filhos Ungidos” que representam o
Senhor de toda a terra. Eles estão entre suas preocupações
íntimas e próximas. Ambos são de instituição divina e visam
responder aos propósitos mais importantes. Sem estes,
nada além de anarquia e confusão prevaleceria aqui, e um
horror sombrio cobriria as perspectivas da eternidade. Essas
ordenanças muito importantes, às quais a felicidade de
nossa espécie muito concerne, devem ser reguladas pela lei
divina. Isso implica necessariamente uma obrigação para
todos os sujeitos morais a quem é revelado de modificarem
sua conduta de acordo com suas requisições. Aqueles que
se recusam a aceitar essa regra como padrão de sua
conduta civil e religiosa, se rebelam contra a autoridade do
Governador Moral e correm grande risco de sofrer seus
julgamentos severos.
É dever daqueles que desejam prestar um testemunho
verdadeiro e fiel de Jesus serem muito cautelosos em
realizar qualquer ato que possa envolvê-los na
criminalidade de se rebelarem contra Deus. “Não diga que é
uma confederação” etc. Embora Deus possa aguardar muito
tempo, Ele “se vingará de seus adversários”. Embora Ele
seja o Senhor Deus, misericordioso e bondoso, longânimo e
tardio em se enfurecer, ainda assim, Ele de maneira alguma
livrará os culpados. Ele não permitirá que “sua glória seja
dada a outro, nem seu louvor a imagens esculpidas”.
2. Do exame.
Indaguemos como atendemos a essas preocupações
muito importantes. Temos procurado, em todas as nossas
dificuldades, sermos fiéis? Quando preocupações mundanas
e o gozo de privilégios e ofícios civis no Estado competem
com a honra de Emanuel, nós os abandonamos pela causa
de nosso Cabeça e Senhor? Revolvemos em nossas mentes
o caráter que Cristo dá ao discípulo real? “Se algum homem
(diz Ele) deseja ser meu discípulo, negue-se a si mesmo,
pegue sua cruz e siga-me.” Se vocês, meus irmãos,
portanto, são seguidores de Jesus, a abnegação é
indispensável. Você calculou o custo quando embarcou em
sua causa? Pode custar-lhe muito, mas Ele reembolsará
suas despesas, pois não envia ninguém em guerra por conta
própria. Em uma palavra, você resolveu, como Rute, a
moabita, com sua sogra, seguir o testemunho de Jesus: “…
aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à
noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus
é o meu Deus”?
3. Do consolo.
Embora as rodas da carruagem da reforma se movam
lentamente, embora a visão espere, não deixe cair a sua
expectativa. Embora demore, aguarde. A palavra de Deus
promete que chegará no tempo determinado e não se
demorará mais. Aproxima-se o tempo em que o poder
magistrático e ministerial será estabelecido com base nas
Escrituras. “E os reis serão os teus aios, e as suas rainhas as
tuas amas; diante de ti se inclinarão com o rosto em terra, e
lamberão o pó dos teus pés; e saberás que eu sou o Senhor,
que os que confiam em mim não serão confundidos” (Is
49:23). E, ainda que não vivamos para ver estes dias felizes,
desde que sejamos testemunhas fiéis, chegará o tempo em
que, do alto do monte Sião, veremos os reinos deste mundo
se tornarem os reinos de nosso Senhor e do seu Cristo.
Embora possamos ser pressionados com muitas
dificuldades, e cercados pelas circunstâncias mais
embaraçosas, enquanto corremos nossa carreira cristã, e
“prosseguindo para o alvo, pelo prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus” — quais são todas essas
dificuldades, se comparadas àquelas alegrias indescritíveis
e cheias de glória que serão reveladas em nós? Embora, na
Divina Providência, devamos ser chamados para selar o
testemunho com nosso sangue, Jesus prometeu: “Quando
passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios,
eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te
queimarás, nem a chama arderá em ti”. E, quando Ele nos
levar ao fim de nossa jornada, fará de nós pilares no templo
de nosso Deus, para não sairmos mais.
4. Da repreensão.
Isso pode ser endereçado às três seguintes descrições:
Primeiro: para aqueles que, como Gálio, não se
importam com nada disso. Há um ai pronunciado sobre
aqueles que estão à vontade em Sião. Deus classificará os
neutralistas entre seus inimigos. “Aqueles que não são por
nós estão contra nós.” Eles estão envolvidos na mesma
maldição com aqueles que são encontrados em hostilidade
aberta. “Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do Senhor;
acremente amaldiçoai os seus moradores, porquanto não
vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com
os valorosos” (Jz 5:23).
Segundo: para aqueles que se opõem à reforma.
Considere isso: eles estão lutando contra Deus e correm o
risco de serem consumidos pelo fogo de sua indignação. “…
quem me poria sarças e espinheiros diante de mim na
guerra (diz o Senhor)? Eu iria contra eles e juntamente os
queimaria.” Eis que o Senhor é um homem de guerra.
Cuidado ao lançar-se sobre os numerosos chefes do broquel
de Jeová. Aqueles que são encontrados no caráter de
inimigos têm motivos para temer, para que o Senhor não os
consuma com o sopro da boca e com o brilho de sua vinda.
Terceiro: para amigos fingidos. As feridas são
consideradas como que recebendo agudeza adicional,
devido à circunstância de serem infligidas na casa do
amigo. Dos inimigos abertos nada além de hostilidade é
esperado. Se tivesse sido um inimigo, disse o salmista, eu
poderia ter suportado. Aqueles que professam amizade à
reformae, ao mesmo tempo, minam seu fundamento,
lembrem-se de que serão considerados igualmente inimigos
(se não piores) como aqueles que, com machados e
martelos, quebram o trabalho esculpido. Que se lembrem
da pergunta afetuosa: “Trairás o Filho do homem com um
beijo?”.
5. Da exortação.
De maneira geral, meus irmãos, sejam advertidos a
serem cuidadosos e conscientes em manter essas
ordenanças puras e íntegras. Para isso, exorto a todos, pelo
exemplo dos santos: “Segui os passos do rebanho”. Cercado
por uma nuvem de testemunhas tão grande, deixe de lado
todo peso e os pecados que mais facilmente o cercam.
Por sua obrigação de aliança. Você jurou lealdade a
Deus. Após votos solenes, não ouse fazer perguntas.
Pela obrigação da lei divina. Isso vincula a todos sobre
os quais ela vem. Seus vizinhos pagãos na floresta se
levantarão contra você e o condenarão, caso negligencie
essa regra infalível.
Pela lei da natureza. Isso exige que recebamos a lei
divina como regra e padrão de todas as nossas ações.
Pelo seu relacionamento com Deus. Se Ele é nosso
Mestre, não devemos temê-lo? Se Ele é nosso Pai, não
devemos honrá-lo?
Pelo preço incomparável, uma coroa de imortalidade.
“Sê fiel até a morte, e eu te darei uma coroa da vida.” Uma
coroa da salvação — uma coroa da glória eterna. Lembre-se
de que nos é dito que os olhos não viram, nem ouvidos
ouviram, nem o coração do homem concebeu sua
excelência e glória. Amém.
Confira também outras obras da Editora Caridade
Puritana:
www.editoracaridadepuritana.com.br
http://www.editoracaridadepuritana.com.br/
[1] 
N. do T.: Doutrina de Erasto (alcunha de Thomas Lieber, médico suíço do
século XVI), que defendia a superioridade do Estado perante a Igreja, a qual
devia subordinar-se àquele. (Fonte: <https://www.dicio.com.br/erastianismo/>.)
[2]
 N. do T.: Esse foi um pacto nacional feito entre os puritanos. Confira o
documento traduzido: <https://issuu.com/iprbsp/docs/1643_-
_a_liga__solene_e_alian__a_1351253ae9584f>.
[3]
 N. do A.: Veja o juramento para o ofício: art. 8
o
 da Constituição do Estado da
Pensilvânia.
[4]
 N. do A.: Veja a Emenda do Art. 3
o
 da Constituição Federal.
[5]
 N. do A.: Veja o Catecismo Maior, Questão 108 — e como isso é ratificado nas
constituições de suas igrejas.
[6]
 N. do T.: Os quakers eram um grupo religioso, uma seita derivada do
protestantismo britânico, que defendia a doutrina da “Luz Interior”, uma suposta
orientação do Espírito baseada em sensações. Rejeitavam o ministério formal e
diziam-se “sob inspiração direta do Espírito Santo”.
[7]
 N. do T.: É um título nobiliárquico turco adotado por diferentes governantes
dentro dos territórios dos antigos Império Seljúcida e Império Otomano. Foi
também o título dos monarcas da Tunísia. Originalmente era o título atribuído ao
chefe de clã turcomano — geralmente fiel a um determinado sultão. Um
beilhique era um território governado por um bey.
[8]
 N. do T.: Um termo arcaico para “muçulmano”.
[9]
 N. do A.: Veja a citação no Art. XI do Tratado de Paz e Amizade entre os
Estados Unidos da América e o Bey e súditos de Trípoli de Barbária, arquivado
nas leis dos Estados Unidos, Volume IV.
[10]
 N. do A.: Veja a Constituição da Pensilvânia, Art. 8
o
.
[11]
 N. do A.: Veja a Constituição da Pensilvânia, Art 9
o
, Sessão 7.
[12]
 N. do A.: Não será verdadeira objeção ao acima exposto que, em alguns
tribunais, o juramento é administrado aos jurados “para determinar de acordo
com as provas”, sem mencionar a lei. A lei ainda está implícita; caso contrário, o
júri está acima da lei, e acaba-se toda a legislação. É de se temer que os jurados
se imponham frequentemente nesse detalhe.
[13]
 N. do A.: Veja “Read’s Digest”, p. 265.
[14]
 N. do A.: Nesse caso, o juramento do jurado deve ser considerado nulo e
sem efeito, ou corrompido, pois ele agiu de forma totalmente contrária à lei do
Estado.
https://www.dicio.com.br/erastianismo/
https://issuu.com/iprbsp/docs/1643_-_a_liga__solene_e_alian__a_1351253ae9584f
[15]
 N. do A.: Em nenhum caso a violação da lei divina aparece mais flagrante do
que na lei da Pensilvânia a respeito do assassinato. Deus ordena
expressamente, da maneira mais contundente, em Gênesis 9:6: “Quem
derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado”. E,
em Números 35:31: “E não recebereis resgate pela vida do homicida que é
culpado de morte; pois certamente morrerá”. Versículo 33: “…e nenhuma
expiação se fará pela terra por causa do sangue que nela se derramar, senão
com o sangue daquele que o derramou”.
[16]
 N. do T.: “Casa de missas”: igreja católica romana.
	A Vida de Samuel B. Wylie
	PREFÁCIO
	INTRODUÇÃO
	Capítulo 1
	Capítulo 2
	Capítulo 3
	Capítulo 4
	Capítulo 5
	Capítulo 6
	Capítulo 7
	Capítulo 8
	Capítulo 9
	Capítulo 10
	Capítulo 11

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