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Linguagem Fotográfica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Linguagem Fotográfica • Pintura x Fotografia; • Nascimento de uma Nova Linguagem; • Da Experimentação à Consolidação de uma Linguagem; • O Fotógrafo; • Fotógrafos e Linguagem Pessoal; • Por Que Fotografar? · Apreender o conceito de Linguagem Fotográfica por meio de aspec- tos conceituais, históricos e estéticos; · Apreciar, analisar significativamente, ler e criticar trabalhos de profissio- nais representantes de movimentos artísticos no mundo da Fotografia; · Valorizar a pesquisa sobre os aspectos conceituais, históricos, estéti- cos e operacionais da Linguagem Fotográfica. OBJETIVO DE APRENDIZADO Linguagem Fotográfi ca Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Linguagem Fotográfica Pintura x Fotografia “Essa indústria, ao invadir os territórios da arte, tornou-se sua inimiga mortal”. Charles Baudelaire (COSTA, 2006, p. 52). Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867), o poeta e teórico da Arte francesa do início do século XIX, sabia que a chegada da fotografia impactaria e transformaria completamente o ambiente da Arte. Muitos artistas se perguntaram: E, agora? Para eles, estava surgindo uma ferramenta mais eficiente na Arte do retrato e do registro: era rápida e eficiente. Já outros se sentiram aliviados de não mais precisarem se ocupar em retratar paisagens e pessoas de forma fidedigna, ficando livres para criar. Figura 1 – Louis-Jacques-Mandé Da guerre. Boulevard Du temple, Paris, 1838. Daguerreótipo Fonte: HACKING, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma das primeiras fotografias históricas conhecidas, mostrando uma vista de uma rua de Paris. A imagem é em preto e branco e apresenta uma qualidade granulada, com edifícios de estilo europeu dos séculos XVIII ou XIX e calçadas vazias. Há árvores alinhadas ao longo da rua e várias chaminés visíveis nos telhados. Fim da descrição. O novo causa grande estranhamento – é o diferente e o desconhecido chegando – e também insegurança naqueles que tinham uma posição privilegiada dentro daquele contexto. De fato, a invenção da Fotografia foi uma revolução: fragmentos do mundo podiam ser captados e aprisionados em uma superfície. No início, de tão surpreendente que era, as pessoas se submetiam a ficar paradas por muitos minutos na frente de uma Câmera Fotográfica, para passar pela experiência de terem sua imagem congelada e impressa: 8 9 Os retratos dessa época (...) insinuam, de fato, uma austeridade vitoriana. Mostram pessoas compenetradas, com fisionomias rígidas, em atitudes de profunda meditação ou com ares de graves preocupações (...) Para tentar um resultado mais ameno era preciso sorrir e continuar “sorrindo”, durante uns cinco ou dez minutos, deixando patentes na rigidez dos músculos que sustentam o sorriso as limitações da técnica (KUBRUSLY, p. 40). A Pintura sentiu profundamente que uma grande parte da sua clientela se deslumbraria com a nova técnica, mas, ainda que isso fosse verdade, logo se percebeu que se tratavam de Linguagens diferentes. A novidade no campo da representação fez com que a Pintura fosse obrigada a buscar a sua essência, enquanto Linguagem Pictórica, levando-a a encontrar sua verdadeira alma. Seus elementos – como cor, materialidade, luz, pincelada – começaram a ser explorados por meio das vanguardas, grupos de artistas que exploravam as diversas potencialidades da Linguagem. Nascimento de uma Nova Linguagem O homem sempre sentiu necessidade de se expressar, de se comunicar com as outras pessoas e também com o universo, por meio de seus rituais. A comunicação, seja ela verbal ou não verbal, dá-se por meio de uma determinada Linguagem, que tem características específicas e elementos próprios que se combinam para criar sentido e forma. Produzir linguagem é um ato criador! Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar (OSTROWER, 1986, p. 9). Assim é com a Música, a Literatura, as Artes... o poeta, por exemplo, cria suas poesias selecionando palavras e as organizando de tal forma a criar um determinado sentido para o todo. Seu elemento principal é a palavra e o que faz de seu trabalho significativo é a forma como as organiza. A Fotografia, capaz de captar as imagens a que se propunha, surgiu como um novo produto, a partir de muita pesquisa, estudo e experimentações. Sua invenção foi fruto do trabalho incansável de vários homens, encantados pelas imagens formadas pela Camera obscura (Figura 2), usada por Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), apaixonados pelo desafio de capturar imagens e deslumbrados pela máquina, que surgiu naquele momento, com o processo de industrialização. 9 UNIDADE Linguagem Fotográfica Figura 2 – Câmera escura de Joseph Nicéphore Niépce, c.1820-30. Museu Nicéphore Niépce. Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura de uma antiga câmera fotográfica de madeira em exposição. A câmera tem formato cúbico e é apoiada por pequenas pernas. Na frente, apresenta uma grande abertura circular com borda de metal onde se colocaria a lente. A superfí- cie de madeira é desgastada e apresenta marcas e imperfeições. Na parte superior, há uma pequena alça de metal. Fim da descrição. A Câmera escura foi a grande inspiração para os inventores da Fotografia. É uma caixa com paredes opacas e com um orifício em um de seus lados, por onde entra um feixe de luz, que reproduz em seu interior, na superfície da parede paralela ao orifício, uma imagem invertida de um objeto. Na Antiguidade, era usada por Aristóteles para fazer observações astronômicas e sabe-se que o famoso pintor renascentista Leonardo Da Vinci a utilizava como instrumento para auxiliar o desenho. Ele a chamava de Olho Artificial. Ex pl or O surgimento da Fotografia fez nascer uma nova Linguagem com elementosespecíficos que se relacionam a outros, próprios da Linguagem Visual, como ponto, linha, forma, cor e textura. O termo Fotografia, originário do grego, significa escrever com luz. Esse é o elemento essencial dessa nova forma de comunicação. No lugar da tinta, é a luz que registra a imagem de um objeto, com o auxílio da Câmera Fotográfica, a nova Câmera Escura. O fazer artístico se dá por meio do olhar do fotógrafo, que seleciona a parte do mundo que lhe interessa, através do visor da máquina, que delimita o campo a ser trabalhado. Assim, um fragmento do mundo é captado pela luz, depois de ser escolhido por um olhar, muitas vezes atento e curioso,com o auxílio de um equipamento fotográfico. Além da luz, o espaço e o tempo são fundamentais na criação de uma fotografia. Ao enquadrar um determinado assunto dentro do visor da máquina, o fotógrafo delimita um espaço, onde se dará a imagem, ao mesmo tempo em que apresenta ou sugere um lugar físico ou poético. 10 11 O tempo está presente na Fotografia; faz parte dela. A ação do dedo sobre o botão registra algo em um determinado tempo, congelando-o para sempre naquele instante. Torna-se uma ferramenta capaz de guardar a memória de uma pessoa, um lugar, um fato histórico que, seguramente, iria se perder na memória humana. Torna-se um documento histórico. Hoje, sabemos muito de nossa História graças aos fotógrafos que registraram os mais diversos temas do passado. Ela também registra o tempo com a ajuda da abertura do obturador, um recurso que deixa visível uma ação ocorrendo no tempo: De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-las voltar. Não podemos revelar ou copiar a memória (ZUANETTI, 2002, p. 17). Eadweard Muybridge. Man/horse (vehicle), 1872-81: https://goo.gl/LSmEqQ Ex pl or Da Experimentação à Consolidação de uma Linguagem Pensadores, cientistas e curiosos, desde muito tempo, começaram a pensar como captar uma imagem. Precisaram se dedicar muito ao estudo e à pesquisa para que começassem a ser possíveis as primeiras experimentações. Como já dissemos, a Câmera Escura foi o primeiro instrumento capaz de captar uma imagem. E como a mente humana não se satisfaz com pequenas descobertas, ao contrário, fica ainda mais estimulada a seguir adiante, isso foi só o começo. O pequeno orifício ganhou uma lente, a caixa ficou maior, procurou-se uma substância que fosse sensível à luz, até que o Joseph Nicéphore Niépce (1765- 1833) conseguisse fixar a imagem da fachada externa de sua casa sobre uma placa de estanho (Figura 3). 11 UNIDADE Linguagem Fotográfica Figura 3 – Joseph Nicéphore Niépce. Vista da janela em Le Gras, 1826-27. Heliografia. Fonte: environmentalhistory.org #paratodosverem A imagem mostra uma vista antiga e granulada de edifícios, com um telhado proeminente no primeiro plano e outra estrutura ao fundo. A fotografia é muito desfocada e manchada, típica das primeiras técnicas fotográficas, com contraste limitado e detalhes pouco claros. Fim da descrição. O pontapé inicial rumo à forma como fixar as imagens havia sido dado. A invenção gerou muita curiosidade e mostrou a muita gente um novo caminho a ser desbravado. Pintores viram a possibilidade de um registro mais rápido e eficiente; empresários perceberam que surgia um novo Mercado, cheio de oportunidades e muitas possibilidades de ganhos, e o público logo se interessou pelo novo produto que surgia. À medida que o equipamento foi se desenvolvendo, a qualidade da Fotografia foi melhorando, o processo foi se tornando mais rápido e ficando cada vez mais acessível às pessoas. Era caro, demorado e dependia de terceiros; hoje é de graça, instantâneo e qualquer um pode fazer. 12 13 Figura 4 – Fotografi a com celular Fonte:iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de duas mãos segurando um smartphone horizontalmente, capturando uma fotografia de uma paisagem de praia ao pôr do sol. A tela do telefone exibe a imagem que está sendo fotografada, enquadrando a cena natural dentro dos limites do dispositivo. Fim da descrição. Ao passo que os fotógrafos foram dominando as questões técnicas, começaram a perceber que, usando a criatividade, podiam criar fotos mais interessantes, surpreendentes, intrigantes e cheias de significados. Foi dessa forma que a Linguagem Fotográfica começou a se desenvolver. Seus elementos começaram a ser explorados com profundidade e a se inter-relacionarem de forma criativa para construir novos tipos de imagens. Cores, tons, luz, exposição e abertura eram as novas matérias-primas para os novos criativos. Muitos fotógrafos se destacaram trazendo para o universo da Fotografia novas possibilidades de trabalhar com essa linguagem, tão rica e poderosa na sua rapidez e potência simbólica. Assim como as vanguardas artísticas europeias tiveram de se aprofundar na essência da pintura, os fotógrafos foram em busca de explorar o grande potencial da Linguagem Fotográfica. O Fotógrafo É o equipamento fotográfico que registra um determinado tema ou assunto, mas a produção fotográfica só é possível com a atuação do fotógrafo. Ele é o agente responsável pela ação que dará origem à fotografia. Ainda que a fotografia seja o resultado da ação da luz sobre um material/ equipamento fotossensível, ela nasce de um desejo, uma curiosidade e uma intenção de uma pessoa: o fotógrafo. A formulação criada por Bóris Kossoy(1941-) (KOSSOY, 2003, p. 37) demonstra a importância do indivíduo nesse processo: 13 UNIDADE Linguagem Fotográfica Assunto/Fotógrafo/Tecnologia (elementos constitutivos) = Fotografia (produto final) Coordenação: Espaço/Tempo É o seu querer conjugado à sua maneira de ver e compreender o mundo, conteúdos e referências pessoais e artísticas que compõe que dão forma e conteúdo para as imagens. Esse conjunto de elementos, diferentes em cada indivíduo, é a combustão para a originalidade e a inventividade presente nas incontáveis e distintas produções fotográficas e o modo como esses elementos se inter-relacionam e se tornam visíveis nas composições é o que lhes confere personalidade. A alta Tecnologia e o baixo custo tornaram extremamente acessíveis os equipa- mentos fotográficos. O aparelho de celular, que carregamos conosco, praticamen- te, 24 horas por dia, é também uma máquina de fotografar. Fotografamos todos os dias, ainda que para registro de coisas e momentos banais. De qualquer forma, o exercício de seleção e registro de imagens se popularizou e a linguagem é usada por todos. Somos todos fotógrafos... Mas temos de levar em consideração a qualidade dessas imagens. Mas o que pode ser entendido como uma boa fotografia? Poderia ser uma nova formulação: Conhecimento técnico + conhecimento específico da linguagem visual e fotográfica + criatividade = boa fotografia Conhecimento técnico diz respeito à compreensão, com profundidade, de como usar um determinado equipamento, programas e aplicativos para captação, registro e edição de uma imagem. Conhecer a Linguagem Visual é saber como se estrutura uma composição, com todos os elementos que a compõem, como ponto, forma, textura, volume, cor, tom, escala, profundidade e planos entre outros e a Linguagem Fotográfica é conhecer seus elementos específicos como enquadramento, nitidez, luz, tempo e espaço. Tanto o primeiro elemento como o segundo dependem apenas de tempo e de dedicação para poder resolvê-los com perfeição. Ainda que dominemos essas questões técnicas e de Linguagem Visual, e a criatividade? Criatividade pode ser definida de diversas formas. O importante é perceber que todas dizem respeito à capacidade de o ser humano criar o novo, de reinventar coisas, de quebrar paradigmas, buscar novas soluções para novos e velhos problemas. O criativo, em geral, possui alto grau sensibilidade, inconformismo, facilidadena elaboração de hipóteses e muita coragem para empreender novos caminhos. 14 15 Figura 5 – Jeff Wall. A sudden gust of wind (after Hokusai), 1993 Fonte: tate.org.uk #OaraTodoVerem: Figura de uma fotografia que retrata várias pessoas correndo em um campo ao lado de um riacho. Uma árvore sem folhas à esquerda e folhas que parecem ter sido lançadas ao ar dão dinamismo à cena. O céu está nublado e ao fundo pode-se notar uma paisagem mais urbana com edifícios distantes. Fim da descrição. O homem é um ser criativo e o exercício da criatividade é necessário porque o impul- siona para o novo e para a solução de seus problemas, sejam eles simples ou complexos. Se não fosse dessa maneira, não teria sobrevivido, no início de sua existência, nos ambientes inóspitos e cheios de perigos, como a fúria da natureza e as grandes feras, com os quais se deparou na Pré-história. Assim, entendemos que todos somos criativos e que o que precisamos é desenvolver a criatividade. Para isso, temos de acreditar que somos capazes de criar coisas novas e melhorar aquelas que já existem. Nas áreas criativas como a Fotografia, é essencial, se pensarmos que milhares de imagens são feitas a cada segundo. Não devemos encarar esse fato como um problema, ao contrário. A criatividade é uma atividade ligada ao divertimento e à brincadeira e é por isso que os profissionais criativos encaram o trabalho como uma atividade prazerosa. Com o tempo, esses profissionais desenvolvem qualidades importantes que o diferenciam de todos os outros. São pessoas competitivas, querem sempre crescer e mostrar seu melhor; não descartam possibilidades – experimentam, testam e pro- põem novas formas de fazer as coisas; fogem das categorias estabelecidas e gostam de quebrar regras e testar novas receitas; produzem novidades com frequência; percebem formas diferentes de aplicar suas ideias; desenvolvem técnicas para so- lucionar problemas; tem uma postura mais produtiva diante da vida; conseguem romper com os padrões estereotipados e rígidos e possuem muita facilidade para interagir com o entorno. Logo, é muito bom ser criativo! Já sabemos que temos importante potencial criativo e queremos desenvolvê-lo! Talvez, a principal dica seja: estude muito, conheça bem as regras e pense em como 15 UNIDADE Linguagem Fotográfica melhorá-las e em possibilidades totalmente novas para realizar as mesmas tarefas. Entre o grande número de produções fotográficas, com as quais nos deparamos todos os dias, podemos encontrar inúmeras que contemplam o que entendemos como uma boa fotografia. Mais que isso, elas nos mostram estilo e personalidade, elementos fundamentais para criar uma linguagem pessoal. Cada fotografia ou conjunto delas é um reflexo da maneira como o fotógrafo enxerga o mundo. O tema que escolhe, a forma como o enquadra, a quantidade de elementos que utiliza dentro de suas composições, as cores e as texturas que privilegia dão caráter único para aquela produção e imprimem a marca de seu autor. Podemos chegar à conclusão que o exercício da criatividade leva à criação de uma linguagem pessoal. Eureka! John Heartfield. Adolf the Superman: swallows gold and spits tin, c.1932: https://goo.gl/FcvHnM Ex pl or Cabe ao fotógrafo conhecer profundamente seu equipamento fotográfico, ter uma intenção ao fotografar, compreender todos os elementos que compõem uma foto e uma forma de relacioná-los de maneira diferente. Vamos ver alguns fotógrafos que se destacaram no seu tempo, com produções que trouxeram inovações e foram e são até hoje surpreendentes. Fotógrafos e Linguagem Pessoal Vamos começar por Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), um professor de Matemática da Universidade de Oxford, que começou a fotografar aos 26 anos. Seu tema principal era as crianças. Alice Liddell, irmã de um de seus amigos, era uma de suas modelos preferidas, com quem realizou vários estudos fotográficos (Figura 8). Inspirado pelo poema The brigar maid, de Alfred Tennyson, Dodgson fez a foto Alice Liddell como a “pequena mendiga” (Figura 6). 16 17 Figura 6 – Charles Lutwidge Dodgson. Alice Liddell como a “pequena mendiga”, c.1859 Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco de uma menina descal- ça, com vestimentas rasgadas, de pé ao lado de uma parede com folhagens. Ela segura um objeto que parece ser uma boneca ou um pano contra o peito e olha diretamente para a câmera com uma expressão séria. Fim da descrição. As fotografias que fazia tinham ar fantasioso. As meninas pareciam personagens de histórias, como Alice Liddell na foto. Ao longo dos anos, exercitou muito sua criatividade, trabalhando com diversas linguagens artísticas. Escreveu contos, poesias, romances, era desenhista e fotógrafo. Seu trabalho criativo se expandia de tal forma que uma linguagem alimentava a outra, como o poema que inspirou sua foto e também suas fotos que serviram como inspiração para outros de seus trabalhos. Charles Lutwidge Dodgson criou o pseudônimo Lewis Carroll. Ele foi o autor do livro Alice nos país das maravilhas e Alice Liddell a inspiração para a famosa personagem da garota que cai dentro de uma toca de coelho e vai parar em um mundo cheio de fantasias. Mais tarde, a história se tornou um dos longa metragens mais famosos de Walt Disney, em 1951 (Figura 7). 17 UNIDADE Linguagem Fotográfi ca Figura 7 – Disney, Cena do fi lme Alice no país das maravilhas, ilustração Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura de um pôster colorido com o título “Walt Disney’s Alice in Wonderland” na parte superior. Abaixo, há imagens vibrantes e coloridas de persona- gens do filme, incluindo Alice e as figuras icônicas do Chapeleiro Maluco, a Rainha de Copas, o Coelho Branco, entre outros. A parte inferior do pôster diz “The all-cartoon Musical Wonderfilm!” e destaca que o filme é em “Color by TECHNICOLOR”. Fim da descrição. Gostou tanto da experiência, que se dedicou a estudar com profundidade a técnica e em pouco tempo se tornou um excelente fotógrafo. Fotografava objetos comuns, mas sua visão criativa fazia com ele imprimisse novas maneiras de enxergá-los, utilizando diferentes ângulos de visão, efeitos de luz e sombra. Suas fotografias representam muito bem a inventi- vidade e a espontaneidade do Dadaísmo, movimento do qual fazia parte. Dadaísmo é o nome de um movimento artístico, criado por poetas, escritores e ar- tistas plásticos, na Suíça, em 1916. Entre eles, além de Man Ray, estavam Hugo Ball, Tris- tamTzara e Marcel Duchamp. Tinham como meta quebrar as regras acadêmicas, a lógi- ca e a razão, representando o mundo sem sentido, reflexo dos efeitos terríveis da Primei- ra Guerra Mundial. Man Ray experimentou e trabalhou com muitas técnicas e seu espírito inventivo 18 19 ainda o levou às Raiografias, um tipo de fotografia sem câmera, na qual ele pousava objetos sobre superfícies sensíveis. Dessa série, surgiram as abstrações. Figura 8 – Man Ray. Raiografi a, c.1923. Fonte: Floresta, 2011 #ParaTodosVerem: Texto descritivo: Figura de uma fotografia em preto e branco que mostra uma pilha desordenada de tiras de filme fotográfico e um tampão de garrafa, ambos enrolados e espalhados de forma aleatória sobre uma superfície escura. Fim da descrição. Criou um estilo pessoal nos retratos também. Fotografava seus modelos a certa distância e depois os ampliava, o que lhes conferia certa suavidade. Retratou grandes personalidades como Gertrude Stein, Ernest Hemingway, Picasso, Jean Cocteau e Constantin Brancusi, entre muitos outros. Figura 9 – Man Ray. Constantin Brancusi, c.1930. Fotografi a Fonte: Floresta, 2011 #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia sépia mostrando um homem com barba, vestindo um chapéu e um casaco pesado, segurando um cão branco de pelagem fofa. Eles estão posando para a foto, e tanto o homem quanto o cão estão olhando para a câmera. Fim da descrição. Henri Cartier-Bresson (1908-2004) era um pintor formado em Paris, que descobriu19 UNIDADE Linguagem Fotográfica a Fotografia ao viajar em uma expedição etnográfica pelo México, em 1931. Sua produção fotográfica se destaca por captar o instante perfeito ou o momento decisivo, como o menino que sorri ao carregar duas garrafas de vinho, na fotografia intitulada Rue Mouffetard (Figura 10). Figura 10 – Henri Cartier-Bresson. Rue Mouffetard, c.1958. Fotografia Fonte: cameralabs.org #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco de um menino andan- do por uma rua. Ele sorri amplamente e carrega uma garrafa de vinho em uma mão e uma baguete na outra. Ao fundo, outras crianças podem ser vistas na rua, que parece ser de uma cidade europeia. Fim da descrição. [...] Cartier-Bresson era um observador astuto, o homem do olho, que sabia o que ele queria e o que interessava a ele. Um certa vez, ele se comparou com um pescador que tinha um peixe na ponta da sua linha. O mais importante era se aproximar cautelosamente e apertar o botão no momento certo (MISSELBECK, 1996, p. 101). Foi um dos mais importantes representantes da Fotografia Humanista, que retratava temas humanos. Durante o tempo em que trabalhou para jornais e revistas populares, fez grande quantidade de fotografias que diziam respeito à condição humana em cenas cotidianas. Muitas ficaram conhecidas nos livros que publicou. Já demonstrara interesse pelas questões sociais e políticas quando esteve no México e realizou uma série de fotos, as quais apresentou em uma exposição, ao lado do fotógrafo Alvares Bravo (1902-2002), como em Nacho Aguirre, Santa Clara, México (Figura 11). 20 21 Figura 11 – Henri Cartier-Bresson. Natcho Aguirre, Santa Clara, México, 1934-1935. Fotografi a Fonte: metmuseum.org #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco mostrando um homem sem camisa sentado, com sua cabeça fora de quadro, cruzando os braços sobre o peito. Ao lado dele, em um pequeno armário aberto, há vários sapatos desorganizados. Fim da descrição. Suas cenas apresentam certa tensão. Na fotografia Natcho Aguirre, Santa Clara, México (Figura 13), por exemplo, Bresson retrata um homem com o tórax despido, os braços cruzados e as mãos cerradas. O fato de seu rosto não aparecer confere a esse personagem a representação de uma categoria, já que sua identidade não é revelada. Ao seu lado, numa espécie de prateleira, há sapatos femininos de salto, representando uma outra classe social. Aqui podemos ver que o fotógrafo, a partir da escolha dos elementos e da organização, comenta uma questão social, que parece ser bem importante naquele lugar e tempo. Em Venda de ouro nos últimos dias de Kuomintang (Figura 12), de 1948, podemos ver a questão do momento decisivo combinada com o retrato social de Xangai, na China, antes de a cidade ser tomada pelos comunistas. Na foto, vemos pessoas que se amontoam em frente a um Banco Estatal, que distribuía 40 gramas de ouro por pessoa, a mando do Kuomintang, o Partido Nacionalista chinês, diante da desvalorização da moeda. Na sua composição, Bresson revela o caos causado pela ação do Governo. O efeito tremido da foto é resultado do acotovelamento da multidão nervosa e desesperada reagindo à nova situação política. Os corpos estão entrelaçados e, de tão juntos, seus braços e mãos parecem formar uma onda e as cabeças parecem procurar ar entre tantas pessoas. Segundo fontes, 10 pessoas morreram esmagadas na multidão. 21 UNIDADE Linguagem Fotográfica Figura 12 – Henri Cartier-Bresson. Venda de ouro nos últimos dias de Kuomintang, 1948. Fotografia Fonte: cameralabs.org #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco mostrando um grupo numeroso de pessoas aglomeradas. Elas parecem estar em uma situação de aperto ou tumulto, com algumas segurando-se umas às outras ou tentando passar por cima de outras. As expressões são mistas, algumas sérias, outras sorridentes, e a maioria está vestida com roupas de tons escuros. O cenário ao fundo é indistinto, sugerindo que o foco é a multidão em primeiro plano. Fim da descrição. A norte-americana Cindy Sherman (1954-) fez uma série de fotos, entre 1977 e 1980, intitulada Untitled film stills, nas quais se retrata como uma personagem inspirada em filmes do fim da década de 1950 e início da de 1960. Foram cerca de 69 fotos, em preto e branco, nas quais aparece dentro de uma visível narrativa, cujos elementos tentamos buscar para reconstruí-la. O trabalho encomendado pela revista Art fórum ganhou elementos especiais da artista. Para a série, ela fez composições que lembravam fotos de revistas pornográficas e escolheu o formato widescreen, usado no Cinema. Na obra Sem título nº 92 (Figura 13), vemos claramente um momento congelado de algo que está acontecendo. Ela está sentada no chão e olhando para fora do enquadramento, como se estivesse com medo de algo ou assustada. A câmera é posicionada de forma a dar maior dramaticidade à cena, elemento típico em suas fotografias. 22 23 Figura 13 – Cindy Sherman. Sem título nº 92, 1948. Fotografi a Fonte: broadfoundation.org #ParaTodosVerem: Figura de uma pessoa com camisa branca e saia xadrez olhando para o lado com uma expressão intensa e um pouco de apreensão. A pessoa está ajo- elhada no chão com as mãos apoiadas à frente do corpo, como se estivesse prestes a levantar-se ou tivesse sido capturada em movimento. O cabelo está úmido e grudado na testa e nas bochechas. A iluminação vem de cima, criando sombras marcantes no rosto e na roupa. Fim da descrição. Suas fotografias não são autorretratos. Sua escolha de se fotografar é por acredi- tar que pode dar o máximo na interpretação dos personagens, apresentando-os com muita profundidade. A produção das fotos é rica em detalhes, levando-nos a enxergar uma cena, por meio dos elementos que empresta da Linguagem Cinematográfica. A maquiagem e o figurino trazem uma série de detalhes sobre as personagens que Sherman interpreta, tornando difícil até encontrar a artista por traz da produção. As cenas são construídas a partir das imagens dos filmes que a inspiraram. Os cenários para suas fotos são meticulosamente pensados, podendo se apropriar de um lugar externo ou, ainda, a produção de um lugar interno, como uma sala ou um quarto. A designer gráfica Barbara Kruger (1945-) começa a se apropriar de elemen- tos da Linguagem Gráfica e da Propaganda para sua produção fotográfica. Ao vermos uma de suas fotografias, rapidamente sabemos a sua autoria, pois reco- nhecemos sua linguagem pessoal. As fotos de Kruger tem sua marca própria e é facilmente reconhecível. Kruger cria frases e textos e os sobrepõem à fotografias em preto e branco de Revistas e outras fontes dos Meios de Comunicação dos quais se apropria. O conjunto de elementos é forte e direto, quase um slogan de propaganda. É interessante que ela se utiliza da Linguagem Publicitária para fazer denúncias e críticas sobre a própria publicidade. Elementos gráficos como uma borda na imagem e frases em vermelho sobre fundos preto ou branco nos remetem à estética de anúncios de Revistas. A maioria de seus trabalhos traz uma crítica e uma discussão sobre a sexualidade e o consumismo, como na obra I shop therefore I AM (Eu compro, portanto eu 23 UNIDADE Linguagem Fotográfica sou) (Figura 14), fazendo referência à famosa frase Penso, logo existo, do filósofo francês René Descartes. Figura 14 – Barbara Kruger. I shop therefore I am, 1987. Fotografia Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura com fundo vermelho e uma fotografia em preto e branco de uma mão aberta no centro. Sobre a imagem da mão, um texto em letras maiúsculas brancas com bordas vermelhas diz “I shop therefore I am”. O texto é uma variação do famoso ditado filosófico “penso, logo existo” de René Descartes, substituindo a ação de pensar pela de comprar. Fim da descrição. Todos os fotógrafos que vimos aqui desenvolveram produções fotográficas cheias de estilo, pois combinaram suas preferências, seu olhar e sua técnica, que os diferen-cia de todos os outros. Mas isso só é possível depois de muita dedicação. Como dizia Picasso: “Criar é uma combinação de 99% de transpiração e 1% de inspiração”. É necessário começar, testar, experimentar, estudar e insistir na Linguagem escolhida para que, então, seja possível criar algo realmente inovador e criativo, com boa qualidade: Não importa a intensidade do esforço: parece que é necessário pelo menos 10 anos de trabalho constante em um tema ao linguagem artística para chegar a dominar uma especialidade (...) Inclusive Mozart, que se poderia considerar a exceção que confirma a regra, esteve compondo pelo menos por uma década antes de poder produzir com regularidade obras que se consideram dignas de serem incluídas no seu repertório (GARDNER, 1995, p. 50). 24 25 Importante! Experimente sair com sua Máquina Fotográfi ca ou mesmo seu celular e tire fotos de tudo o que lhe interessar, sem se preocupar em fazer uma grande Obra de Arte. Pode ser em apenas um quarteirão de sua cidade. Vamos começar devagar... Quando achar que tem uma boa quantidade de fotos, volte para casa e as analise com calma. Olhe cada uma das fotos, observe detalhes, pense nas composições que você fez e os elementos presentes em cada uma delas. Depois, separe aquelas que você mais gostou. Guarde em uma pasta de arquivo no seu computador com o nome Saída fotográfi ca nº 1. Algumas semanas depois, já com maior experiência em fotografi a, retorne ao mesmo quarteirão e fotografe. Agora, sim, está na hora de você comparar seus trabalhos e observar sua evolução. Ah! Salve em Saída fotográfi ca nº 2. Bom trabalho. Trocando ideias... Por Que Fotografar? A resposta mais precisa que posso dar do por que eu tiro fotos é uma metáfora. Para mim, tirar uma foto é como o ponto de ignição em um motor em combustão; ingredientes (vapores de gasolina, ar) são articulados em uma forma de engenharia magistral, compactados em um momento primorosamente cronometrado e sacudidos para produzir força e centelhas brilhantes. Na gênese de uma fotografia bem-sucedida, todos os esforços anteriores se congregam em um momento decisivo: o tempo de pesquisa para aprender aquela especialidade acadêmica, a longa ladeira íngreme para chegar ao local antes que a luz mude, o truque inteligente imaginado para que a própria história seja contada de um modo novo e intrigante, a metáfora prateada que envolve toda a ideia, a busca das condições climáticas favoráveis – e ainda se você não se esqueceu de carregar a bateria, montar o tripé, levar a objetiva certa etc. E quando tudo isso é congregado na mesma fração de segundo e alcança o ponto de ignição... bem, a sensação de satisfação é extasiante. É algo arrebatador (LOWE, 2017, p. 6). Dicas: • Busque assuntos do seu interesse, que agradam você, que mexam com suas emoções e que provoque sua curiosidade; • Saiba o que você quer dizer com sua fotografi a. Tenha um objetivo; • Tente imprimir uma marca pessoal em suas fotos; • Seja criativo, tente fazer diferente e fuja das receitas; • Dedique-se ao assunto. Pense, refl ita e gaste tempo com ele; • Aprenda profundamente as técnicas de fotografar. Experimente ao máximo!; • Conheça a História da Fotografi a; • Discuta com amigos e professores sua produção fotográfi ca. 25 UNIDADE Linguagem Fotográfica Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Instituto Moreira Salles Organização sem fins lucrativos criada pelo diplomata e banqueiro Walter Moreira Salles, em 1992, que se dedica à divulgar fotógrafos e suas produções fotográficas. https://ims.com.br/ Livros Caderno de artes visuais SESI-SP. Caderno de artes visuais. v. I. São Paulo: SESI/SP, 2016. Filmes Nascidos em bordéis Direção: Ross Kauffman e Zana Briski. Documentário, EUA/Índia, 2006, 85min. Sinopse: A fotógrafa. Leitura Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação MORAES, Adriano Cunha; AHLERT, Jacqueline. Barbara Kruger: os limites entre linguagem da publicidade e propaganda e da linguagem artística. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XVII CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUL – Curitiba – PR – 26 a 28 maio 2016. 26 27 Referências COSTA, Cacilda Teixeira da. Arte no Brasil 1950-2000: movimentos e meios. São Paulo: Alameda, 2006. FLORESTA, Merry. Man Ray. São Paulo: Cosac Naify, 2011. GARDNER, Howard. Mentes criativas. Barcelona: EdicionesPaidós Ibérica, 1995. HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. KOSSOY, Boris. Fotografia & história. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. MISSELBECK, Reinhold. 20th century photography: Museum Ludwig Cologne. Colgne: Taschen, 1996. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1986. SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Intermeios, 2011. ZUANETTI, Rose et al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2002. 27 Linguagem Fotográfica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Gêneros Fotográficos • Introdução; • Gêneros Fotográficos. · Conhecer os gêneros fotográficos como linguagem e seus elemen- tos constituintes; · Valorizar os gêneros fotográficos por sua complexidade estrutural e simbólica; · Desenvolver e realizar pesquisas sobre gêneros fotográficos e artistas representantes; · Apreciar, analisar, conhecer e criticar manifestações históricas e esté- ticas da fotografia por meio dos gêneros fotográficos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Gêneros Fotográfi cos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Gêneros Fotográficos Introdução Figura 1 – O rebelde desconhecido (1989) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura de uma cena histórica com quatro tanques de guerra em linha avançando por uma via ampla. Um indivíduo está de pé em frente ao primei- ro tanque, bloqueando seu caminho. A pessoa parece estar em uma posição calma e desarmada. A fotografia é frequentemente associada aprotestos por liberdade e resistência pacífica. Fim da descrição. Em 5 de junho de 1989, o fotógrafo norte-americano Jeff Widener registrou, da varanda de seu quarto em um hotel na Praça da Paz Celestial, em Pequim (China), um homem carregando sacolas de compras postado à frente de quatro gigantescos tanques de guerra, tentando impedir que eles avançassem. Até hoje não se sabe a identidade ou o paradeiro do homem. Fonte: https://goo.gl/GB5uei Para apreender o mundo, o homem sempre sentiu a necessidade de classificar as coisas, encontrar características semelhantes, agrupá-las em conjuntos a partir de elementos e propriedades comuns. É a categorização. Por sua vez, cada um desses conjuntos pode oferecer novas variantes. Assim, características como tamanho, volume, matéria, cor, peso etc., foram sendo utilizados como parâmetros para a definição de temas e gêneros. Esse processo gerou categorias fundamentais em um mundo complexo e variado como o das belas-artes, por exemplo. “É a natureza do representado, em vez da representação em si, que levou a uma divisão em classes que chamamos gêneros”, afirma o professor titular de fotografia na Faculdade de Belas-Artes da Universidade Complutense de Madri, Espanha, Joaquín Perea (2000). Em relação à fotografia, o termo gênero refere-se aos diferentes temas tratados, ou seja, imagens do mesmo assunto que compartilham as mesmas referências. Para Perea (2000), os principais usos do conceito de gênero são a reunião de fotografias pelo mesmo assunto, facilitando a localização de imagens em arquivos fotográficos, assim como para a categorização nos concursos de fotografia, por exemplo. 8 9 Uma das mais importantes publicações mundiais sobre fotografia, a revista norte- americana Popular Photography, trabalhava com as seguintes categorias: ação/ esportes, viagem, artes, retrato, natureza, digital manipulada, glamour, fotojornalismo, animais e humor. Essa categorização é compreensível: em um de seus últimos concursos, a revista precisou gerenciar sessenta mil fotografias. Criada em 1937, a Popular Photography encerrou as suas atividades em 2017, depois de oitenta anos de atividade. “Toda essa diversificação leva-nos a concluir que cada um estabelece suas próprias categorias e que elas são criadas de acordo com nossa conveniência”, pontua Perea (2000). Entretanto, podemos afirmar que existem gêneros fotográficos universais básicos derivados da pintura acadêmica – retrato, paisagem, natureza-morta e histórico –, uma vez que a grande maioria da primeira leva de grandes fotógrafos é oriunda das artes visuais como, por exemplo, o norte-americano Man Ray (1890-1976): Comecei minha carreira como pintor. Ao fotografar minhas telas, perce- bi o interesse de sua reprodução em preto e branco. Um dia, cheguei a destruir um original para ficar somente com a reprodução. Desde então, passei a acreditar que a pintura tornou-se uma forma de expressão ultra- passada e que a fotografia iria destroná-la quando o público fosse educado visualmente [...]. Só tenha certeza de uma coisa – preciso experimentar, com uma forma ou com outra. A fotografia me fornece meios para isso, meios mais simples e ágeis que a pintura (FLORESTA, 2011, p. 5). Para Man Ray, a fotografia era uma forma de revitalizar as artes visuais, capaz de quebrar barreiras entre a arte clássica – acadêmica – e a popular, o estilo e a moda, a pintura e a ilustração. Figura 2 – Combinação de sombras (1919) Fonte: museoreinasofia.es #ParaTodosVerem: a obra apresenta um objeto metálico circular com duas projeções arqueadas na parte superior, fixado em uma superfície vertical. As sombras projetadas pelo objeto e pelas projeções criam formas geométricas sobre a superfície. Ao lado, um conjunto de linhas retas verticais e pequenas linhas horizontais projeta uma sombra que forma um padrão paralelo. Abaixo do objeto circular, há duas linhas curvas delica- das que parecem ondulações. Fim da descrição. 9 UNIDADE Gêneros Fotográficos Figura 3 – As lágrimas (1932) Fonte: museoreinasofia.es #ParaTodosVerem: a Figura é uma fotografia em close de um olho humano. O olho tem cílios longos e está levemente voltado para cima. Duas lágrimas podem ser vistas na borda inferior do olho, prestes a cair. A imagem é granulada, sugerindo que pode ser de uma época anterior. Fim da descrição. Perea (2000), citando o Dicionário de termos artísticos e arqueológicos, de Estela Ocampo, apresenta as definições de gênero – natureza-morta, retrato, pai- sagem e histórico – para a pintura: • Retrato: representação artística do rosto ou de toda a figura de uma pessoa; • Paisagem: pintura de gênero que representa um lugar natural ou urbano. Paisagem heroica (séc. XVIII), destinada a evocar nobres sentimentos; • Natureza-morta: pintura de gênero em que são representados apenas objetos inanimados. Foi praticada extensivamente na Antiguidade Clássica, especial- mente nos mosaicos, e depois extinguiu-se para reaparecer no século XVI; • Histórico: gênero pictórico que ilustra cenas históricas ou lendárias em tom heroico. Nos séculos XVII e XVIII foi considerado pela Academia como a for- ma de arte mais respeitável, comparável à pintura religiosa. Assim, torna-se lógico que os gêneros fotográficos tenham sido originados da pintura – que, em um processo lento e gradual a partir do início do século XX, iniciou nova trajetória, livre de algumas amarras. A fotografia passou, então, a assumir funções anteriormente atribuídas à pintura – retratos, paisagens etc. –, entretanto, como veremos, logo a fotografia encontraria o seu próprio caminho. 10 11 Exemplo do gênero paisagem na pintura: Exemplo do gênero paisagem na fotografi a: Figura 4 – Nuvens passageiras (1820) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: a Figura é uma pintura representando uma paisagem ampla e aberta. No primeiro plano, uma área de terra escura com algumas pedras é visível. Além disso, há um campo verde que se estende até um pequeno lago. O horizonte é dominado por montanhas azuladas que se misturam com um céu amplo e nublado, onde a luz do sol parece tentar romper as nuvens. A pintura tem um estilo que sugere movimento nas nuvens e variações sutis de cor na vegetação e no céu. Fim da descrição. Figura 5 – North Palisade from Windy Point (1936) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma fotografi a em preto e branco de uma cadeia de montanhas. As montanhas são robustas e têm picos agudos, com várias elevações e vales visíveis. Algumas áreas das montanhas têm manchas de neve. A fotografi a parece ter sido tirada de uma altitude elevada, olhando para baixo sobre as cristas. O céu acima das montanhas tem nuvens dispersas, e a imagem tem um aspecto granulado, típico de fotos antigas. Fim da descrição. Exemplo do gênero retrato na pintura: Figura 6 – Nicolas Antoine Taunay (1811) Fonte: mnba.gov.br #ParaTodosVerem: a Figura é um retrato de um jovem com uma expressão séria. Ele tem cabelo escuro levemente encaracolado e usa um casaco de cor escura com gola alta e um lenço branco volumoso amarrado em volta do pescoço. A pintura tem um 11 UNIDADE Gêneros Fotográficos estilo realista, com o rosto do jovem iluminado contra um fundo marrom escuro, enfa- tizando seus traços faciais e a textura de suas roupas. Fim da descrição. Exemplo do gênero retrato na fotografia: Andy Warhol (1981): https://goo.gl/MYARqnEx pl or Os gêneros que a pintura tradicionalmente utilizou – retrato, paisagem e natureza- morta – estão também presentes no campo da fotografia. Já as pinturas históricas e religiosas não encontraram, inicialmente, um gênero equivalente na fotografia, uma vez que esse tipo de pintura necessita de uma referência – uma lembrança, um relato – para a criação da imagem. O gênero histórico da pintura que se aproxima da fotografia é o documental, com conexões de fotojornalismo e reportagem. Assim, temos quatro grandes gêneros na fotografia: retrato, paisagem, natureza-morta e documental. No início da fotografia, a baixa sensibilidade à luz dos primeiros materiais exigia exposições extremamente longas, impossibilitando o registro de temas nos quais o movimento e a mudança de posição, por exemplo, estavam presentes. O aumento da sensibilidade dos filmes e a diminuição do tamanho das câmeras permitiram, com o tempo, a abordagem de questões até então impossíveis. O que, hoje, é algo extremamente simples, como tirar uma fotografia digital, registrando uma cena do cotidiano, seja de um atentado terrorista ou de um surfista em uma onda gigante, há cem anos era impraticável. Importante! Que são raros os registros fotográficos de cenas de guerra do século XIX, especialmente devido aos longos tempos de exposição dos equipamentos e também pela dificuldade de transportar e operar os aparatos na linha de frente dos conflitos? Uma das imagens mais marcantes, que retratou recém-mortos no campo de batalha, é denominada Uma colheita da morte (figuras 7a e 7b), de 1863, do norte-americano Timothy H. O’Sullivan (1840-1882), tirada durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). Alexander Gardner, administrador do estúdio onde O’Sullivan trabalhava, assim registrou: “Tal fotografia transmite uma moral útil: ela demonstra o horror e a realidade nua e crua da guerra, em vez de embelezá-la” (HACKING, 2012, p. 131). Na Figura 7 b) destacamos um detalhe do trabalho de O’Sullivan: havia escassez de calçados, que eram retirados dos soldados mortos para serem usados pelos que seguiam na guerra. A fotografia começava a registrar detalhes reveladores e fidedignos de acontecimentos históricos. Você Sabia? 12 13 Figura 7a Uma colheita da morte (1863) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: a Figura é uma fotografi a histórica em sépia mostrando um campo de batalha após um confronto. Vários corpos de soldados estão espalhados pelo chão, alguns deles em primeiro plano, deitados de costas ou de bruços. A cena é desoladora, com a grama seca e o horizonte nebuloso ao fundo. A cena transmite um senso de devastação e perda. Ao fundo, com vida, pode-se discernir a silhueta de algumas pessoas e um cavalo. A qualidade da imagem é granulada, com manchas e imperfeições típicas de fotografi as de épocas passadas. Fim da descrição. Figura 7b Uma colheita da morte [detalhe] (1863) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: a imagem mostra um close de um soldado caído em um campo de batalha. Apenas a metade inferior do corpo é visível, com destaque para as pernas vestidas com uma calça de tecido grosso e botas. O soldado está deitado de costas e parece estar em repouso eterno. A grama ao redor está amassada e seca. A fotografi a é um detalhe de uma cena maior, capturando o sombrio rescaldo de um confl ito. Fim da descrição. Gêneros Fotográficos Nos quatro gêneros fotográficos – retrato, paisagem, natureza-morta e docu- mental –, os fatores espacial e temporal estão presentes, mas são representados de formas diferentes. Por meio de ações de representação do espaço, diferentes elementos de uma cena são articulados na imagem fotográfica. O espaço da cena escolhida ou pre- parada é definido por meio do enquadramento, constituindo o fundo em que se destaca a figura a que dirigimos a atenção. No retrato, por exemplo, o fundamental é a imagem do retratado – ou, dos retratados –, normalmente em primeiro plano. O fundo – que sempre existe, mesmo que seja infinito – fica, literalmente, em se- gundo plano; ainda assim, é importante termos atenção ao fundo a partir do uso adequado da iluminação ou da desfocagem. Na paisagem, é o primeiro plano que não importa – ou não existe –, sendo o fundo a figura principal da imagem. Entretanto, não é raro encontrarmos elementos em primeiro plano que não constituem a imagem, tal como um galho de árvore que serviria para delimitar ou decorar. No documental, devemos mostrar o que acontece, algo que ocorre em determi- nado espaço. Ambos os elementos – primeiro e segundo planos – são importantes. 13 UNIDADE Gêneros Fotográficos A figura se destaca do fundo, mas ambos são reconhecidos; já na natureza-morta, os elementos que constituem a figura tendem a se integrar ao fundo, desaparecen- do a “luta” visual entre os quais. Em relação ao fator temporal, é importante um cuidadoso controle do enqua- dramento, das condições da cena e do tempo de exposição – obturador. Vejamos como Perea (2000) vê o tempo nos quatro gêneros: Assim, o retrato parece condensar toda uma vida em um segundo: a marca do tempo. A paisagem parece tentar transformar um segundo em um infinito: tempo acumulado. A história finge que um instante parece um instante: o tempo parou, “o momento decisivo”. A natureza-morta, finalmente, parece tentar que a aparência estática da cena (sua aparente permanência no tempo) seja transmitida como ausência de tempo. Importante destacar que aqui tratamos de forma geral, de modo que não há impedimentos para experimentarmos alternativas e/ou novidades às regras. Aliás, isso é fundamental para as descobertas. Um exemplo é a fotografia intitu- lada After van Dongen, de 1959, do britânico Norman Parkinson (1913-1990), na qual subverte a lógica do gênero retrato, desfocando a pessoa e focando a cortina, que está ao fundo. Trata-se de hábil utilização da profundidade de cam- po. Resultado: a modelo se destaca das várias texturas da cortina. O objetivo de Parkinson era realmente realçar o chapéu feito pelo célebre chapeleiro alemão Otto Lucas. After van Dongen (1959): https://goo.gl/h7UJLu Ex pl or Assim, chegamos à conclusão de que retrato e documental são os gêneros nos quais o homem é o ator principal; enquanto que natureza-morta e paisagem são gêneros caracterizados pela ausência do homem. Ademais, é óbvio que existem paisagens onde a imagem do homem aparece, mas que não representa o elemento fundamental. Assim, podemos encontrar exceções em todos os gêneros, afinal, a criatividade está à solta! Retrato Se você não é bom ator, você nunca será um bom fotógrafo de retratos. Você tem de criar uma atmosfera sobre você mesmo que é apropriada para o tema e o ambiente, você precisa ser quase um camaleão e um manipulador muito bom (LOWE, 2017, p. 126). A figura humana exerce, há muito tempo, um grande fascínio sobre artistas e fotógrafos. O rosto humano, por sua vez, é fascinante, uma forma perfeita – ou imperfeita, não importa – e possuidora de infinitas variações, as quais podem ser captadas de diversas maneiras. Celebridades ou desconhecidos, pobres ou 14 15 ricos, desempregados ou trabalhadores, todos – individualmente ou em grupo – são temas para retratos. Enfim, o humano é o ator principal. As técnicas são as mais diversas: luz natural ou artificial, em estúdio ou em áreas externas, uso de acessórios e/ou cenários para a produção, entre outras possibilidades. Retratos podem ser feitos em estilos formal e espontâneo: no formal, modelo e fotógrafo têm consenso do evento e normalmente trabalham juntos na criação da imagem, ou seja, fazem-no de forma colaborativa, pois a intenção é que a imagem expresse a identidade do fotografado – afinal, quem não tem o seu “melhor” ângulo? O espontâneo é quando o fotógrafo deixa o seu fotografado à vontade, logo, sem posições pré-definidas, fazendo com que a personalidade do modelo venha à tona de forma natural. Fotos espontâneas e formais podem ser realizadas em estúdio ou fora deste. A questão é que no estúdio o profissional tem domínio das condições de iluminação, por exemplo. “Uma habilidade essencial é sentir como uma mudança sutil no ângulo ou na pose pode ser crucial para a fotografia final”, salienta Lowe (2017). Retrato no Estúdio: Controle Total da Luz Iago, estudo de um italiano, de 1867 (Figura 8), da britânica Julia Margaret Cameron (1815-1879), é um bom exemplo das primeiras fotografias do gênero retrato produzidas em estúdio. A fotógrafa usava uma teleobjetiva, o que achata a perspectiva, resultando em um efeitomais agradável à pessoa fotografada. Teleobjetivas têm menos profundidade de campo. Assim, trabalhava com a objetiva totalmente aberta para obter uma profundidade de campo rasa, destacando partes da pessoa fotografada. Em 1866, Julia adquiriu uma teleobjetiva de abertura fixa de f3.6, perfeita para as curtas distâncias em que trabalhava. A câmera exigia longos tempos de exposição – de três a sete minutos –, o que obrigava os fotografados a permanecerem o mais estáticos possível. Julia também utilizava luz natural em seus trabalhos. Em Iago, estudo de um italiano, utilizou uma iluminação que veio um pouco acima do homem em um uso cuidadoso da luz e sombra, revelando as fortes características do rosto. Controlou cuidadosamente o ângulo da luz e a posição da pessoa como formas de chamar a atenção aos olhos semifechados do fotografado. “Quando esses homens estavam em frente de minha câmera, toda a minha alma se esforçava para fazer seu dever de modo que a grandeza do homem interior, bem como [...] a do exterior, fosse registrada fielmente”, afirmava (apud LOWE, 2017). 15 UNIDADE Gêneros Fotográficos Figura 8 – Iago, estudo de um italiano (1867) Fonte: culture24.org.uk #ParaTodosVerem: a Figura mostra um retrato de um homem com uma expressão con- templativa. Ele tem cabelos médios e desalinhados, e um olhar intenso e ligeiramente desfocado. Seu rosto é magro e possui traços marcantes, como um nariz proeminente e queixo forte. A imagem tem um tom sépia, o que sugere que é uma fotografia anti- ga. Fim da descrição. Entre os fotógrafos contemporâneos, o também britânico Brian Griffin (1948-) se destaca por ter redefinido o estilo do negócio e dos retratos comerciais ao trabalhar para a revista Management Today, na década de 1980. Fez a capa de mais de du- zentos discos, dirigiu dezenas de vídeos musicais e comerciais de televisão e publicou dezoito livros. Griffin é mestre, tanto da luz quanto da composição, usando um con- trole preciso da exposição e do enquadramento para produzir imagens muitas vezes surreais e complexas. Diz que recorreu à arte da propaganda não necessariamente em termos de conteúdo, mas do poder na construção das imagens para tornar as suas fotos “poderosas e impressionantes” (apud LOWE, 2017, p. 126) – as figuras 9 e 10 demonstram bem isso. Griffin fotografou a cantora Siouxsie Sioux, da banda britânica Siouxsie & the Banshees, para a capa do single Dazzle, que o grupo lançou em 1984. O trabalho foi realizado com equipamento analógico. Embora seja especialista em criar efeitos sem a utilização de softwares de edição de imagens, Griffin, atualmente, usa uma mídia digital para atingir os seus objetivos estéticos, principalmente em relação ao cenário, para depois utilizar película nas exposições finais. 16 17 Figura 9 – Siouxsie Sioux (1984) Fonte: artimage.org.uk #ParaTodosVerem: a Figura apresenta uma pessoa com uma expressão intensa, olhando diretamente para a câmera. Seu rosto é parcialmente oculto por uma gola alta de tecido preto. A pessoa tem cabelo escuro e espetado, que se estende para cima e para fora, criando uma silhueta selvagem. Seus olhos são ampliados por uma maquiagem pesada, e uma boca aparece no meio do rosto onde não deveria estar, conferindo movimento e um efeito artístico surreal. Fim da descrição. Figura 10 - Capa do single Dazzle, do grupo britânico Siouxsie & the Banshees (1984) Fonte: Siouxsie & The Banshees - “Dazzle” (divulgação) #ParaTodosVerem: a Figura é uma edição da Figura 9, que apresenta um rosto parcialmente oculto por sombras, com destaque para os olhos que são penetrantes e expressivos. Sobre o lado esquerdo da imagem, há uma faixa com um padrão símbolos caindo em cascata. Na parte inferior, em uma tipografi a estilizada, lê-se a palavra “DAZZLE”. A paleta de cores é escura, com o rosto emergindo de um fundo preto, e a imagem tem um aspecto envelhecido ou danifi cado, com marcas e desgastes visíveis. Fim da descrição. Case: Como Montar um Estúdio Caseiro Um estúdio em casa – se você tem um espaço vago, pode ser um quarto, uma garagem ou até um canto na sala, ótimo, já é o primeiro passo para a criação de um estúdio caseiro. O ideal é que seja quadrado e tenha poucas janelas (lembre-se: o controle da luz deve estar nas suas mãos). O tamanho do espaço varia de acordo com o que você quer fotografar. Mas, atenção, isso não quer dizer que você não deva dar total atenção para a montagem desse espaço, pois isso determinará a qualidade de seu trabalho. Para iniciar, você precisará de boas referências, de um equipamento compatível aos seus objetivos (flash, câmera, lentes etc.), de técnica e, principalmente, do olhar. Vejamos algumas dicas básicas para você montar um estúdio caseiro simples: Luz: Sem luz não há imagem. As luzes variam conforme o gosto particular do fotógrafo, mas há opções que são muito utilizadas por serem versáteis e muito usadas no mercado de fotografia. Uma delas é o flash, usado como acessório externo à câmera. Ele é o primeiro “melhor amigo” do fotógrafo. Existem diversos tipos. Além do flash dedicado, há também as luzes de cabeça, ou refletores, que 17 UNIDADE Gêneros Fotográfi cos são aqueles spots que geralmente ficam em tripés. Existem também vários tipos, cada um oferece um clima, um efeito ou uma sensação para a sua foto. Para rebater luzes, por exemplo, é possível usar uma placa de isopor, que reflete a luz de forma suave e possibilita direcioná-la para onde se desejar. Figura 11 – Equipamento de luz para um estúdio fotográfi co Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra a perspectiva de um fotógrafo olhando através da tela de uma câmera DSLR posicionada em um tripé. A tela da câmera exibe um estúdio fotográfico com um fundo branco e diversos equipamentos de iluminação, incluindo refletores e sombrinhas, que estão montados em tripés e direcionados para o fundo. O estúdio tem um piso de madeira e paredes amarelas. Há uma sensação de preparação para uma sessão fotográfica. Fim da descrição. Fundo/Cenário: Uma dica interessante para iniciar um estúdio caseiro é buscar alguns fundos para cenas, os quais funcionam como cenários. Os fundos mais empregados são os pretos e brancos de cor sólida. São muito bons para composições e ajudam na edição das imagens. Além desses, há também os com desenhos, paisagens etc., tudo para criar cenários para as suas fotos. O material também varia muito: há fundos de papel, tecido, EVA etc., todos fáceis de comprar, dado que são encontrados em qualquer loja de fotografia. Claro que é possível improvisar, desde que o resultado alcance a qualidade que você deseja para as suas fotos. 18 19 Figura 12 – Há fundos de papel, tecido, Espuma Vinílica Acetinada (EVA) etc.,todos fáceis de comprar Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: a imagem mostra um estúdio fotográfico com um fundo infinito branco. À esquerda e à direita, painéis brancos de reflexão estão posicionados para ajudar a distribuir a luz de forma uniforme. No centro, um tripé alto com uma luz di- recional aponta para baixo, ao lado de uma luz menor com um softbox octogonal no chão. Acima, duas fileiras de luzes fluorescentes ajudam a iluminar o espaço. O piso é branco e reflete parte da luz do estúdio, criando um ambiente luminoso e preparado para uma sessão de fotos. Fim da descrição. Retratos com Luz Natural: Infinitas Possibilidades Os retratos requerem, de maneira geral, uma iluminação cuidadosa; por isso, é importante sabermos trabalhar com a luz do dia. Atraente pelas inúmeras possibilidades, a luz natural precisa ser muito bem administrada pelo fotógrafo, sob pena de prejudicar o trabalho. Ademais, a iluminação natural tem as suas particularidades, com os efeitos de luz e de sombra mudando a cada instante, da hora do dia, da estação do ano, se está nublado ou não, transformando-se também de acordo com o ângulo de visão. Se o Sol não estiver coberto por nuvens, a luz produzida terá característicadura e concentrada, na qual o contraste entre claro e escuro será marcante. A utilização de um difusor contribui para a redução das sombras nos rostos das pessoas, por exemplo. A luz que vai das 10 às 15h geralmente é dura e direta, o que resulta em sombras fortes e transições igualmente duras. Dependendo do ambiente, é possível evitar isso, buscando um local com sombra, por exemplo. Em um dia nublado, a luz tem uma característica difusa e suave, com sombras pouco pronunciadas, onde a linha de passagem entre luz e sombra se dá gradu- 19 UNIDADE Gêneros Fotográficos almente, às vezes de maneira tão suave que a sombra é quase imperceptível. Por isso, é muito importante observar bem o local e, se for o caso, o melhor horário para se obter o resultado esperado. Bruce Gilden (1946-) anda pacientemente pelas ruas de Manhattan, Nova Iorque, procurando personagens peculiares que representem a energia e vida dessa grande metrópole. “Amo as pessoas que eu fotografo. Quero dizer, elas são meus amigos. Eu nunca absolutamente conheci ou encontrei a maioria delas, mas, por meio de minhas imagens, vivo com elas”, afirma (apud LOWE, 2017, p. 131). Gilden trabalha de maneira instintiva, constantemente em movimento, comumente usando flash, mesmo durante o dia, para capturar os seus temas, equilibrando a luz artificial com a disponível na cena – o flash congela os movimentos, dando um efeito dramático à fotografia, conforme podemos constatar na imagem abaixo: Cidade de Nova Iorque – mulher caminhando na Quinta Avenida (1992): https://goo.gl/nAxC2FEx pl or Paisagem Por que fotografamos um lugar, uma paisagem? Pela beleza, pelo registro de um fenômeno da natureza, pela estratificação do tempo? Em grande parte da fotografia de paisagem do século XX preponderou o conceito romântico do sublime, majestoso. Um dos exemplos mais representativos é o norte-americano Ansel Adams (1902-1984), cujos trabalhos espetaculares de montanhas e vales remotos, intocados, principalmente de Yosemite Valley, Califórnia, Estados Unidos, criaram uma representação da natureza que, em muitas ocasiões, era mais intensa do que a própria realidade. Adams viveu no vale por cerca de dez anos e conhecia detalhadamente a sua geografia. Sabia exatamente onde se posicionar para encontrar a composição perfeita. Utilizava como poucos as condições meteorológicas e a direção da luz: “Uma boa fotografia é saber onde permanecer”, afirmava (apud LOWE, 2017, p. 50). Na Figura 13 observamos exatamente isso: esperou o momento logo após a tempestade para fotografar, garantindo contraste entre as nuvens com a parte mais clara no centro da imagem onde também é observada uma cachoeira canalizando o olhar do observador; temos preto, branco e um criativo intervalo de cinzas. 20 21 Figura 13 – Tempestade de inverno se dissipando (1935) Fonte: Lowe, 2017, p. 51 #ParaTodosVerem: a imagem é uma fotografia em preto e branco de uma paisagem montanhosa coberta de neve. As montanhas imponentes emergem de uma floresta densa de pinheiros. Nuvens baixas e nevoeiro envolvem os picos, criando um efeito dramático e etéreo. Há uma cascata visível caindo de um penhasco, destacando-se contra a paisagem escura. A luz parece vir do lado direito, iluminando parte da cena e dando profundidade e contraste à fotografia. Fim da descrição. Na passagem do século XX ao XXI, o britânico Darren Almond (1971-) apresen- tou a série de fotografias Lua cheia (Figura 14), com longas exposições de paisa- gens enluaradas, mantendo a linha de trabalho de Ansel Adams. As fotografias de Almond retratam lugares distantes à noite, sem figuras humanas ou qualquer tipo de presença do homem, levando o espectador a outros mundos. Há algo na luz dessas fotos que não é a luz do dia. Não se sabe ao certo se essa paisagem existe mesmo [...] ela parece fictícia, ou excessivamente ideal. A profundidade de campo é esquisita e, junto com a qualidade da luz, mantém o observador preso (apud HACKING, 2012, p. 513). 21 UNIDADE Gêneros Fotográficos Figura 14 – Luacheia@Yesnaby (2007) Fonte: Hacking, 2012, p. 512 #ParaTodosVerem: a imagem é uma fotografia que captura uma paisagem marítima com longa exposição. Há uma formação rochosa vertical isolada emergindo do mar calmo, que aparece suave e nebuloso devido à técnica fotográfica. A rocha está à es- querda, enquanto o penhasco contínuo se estende para a direita. O céu acima é nu- blado com raios de luz que se filtram através das nuvens. A vegetação no topo do penhasco é escura e contrasta com o céu relativamente mais claro. A atmosfera geral é serena e misteriosa. Fim da descrição. A Paisagem Nua e Crua Em 1975, a exposição Novas topografias: fotos de uma paisagem alterada pelo homem, realizada no Museu George Eastman – fundador da Eastman Kodak Company –, em Nova Iorque, começou a contestar o mito do panorama intocado. A nova abordagem – que se transformou em um movimento, o New Topographics –, distante de querer apresentar uma imagem ideal de espaços naturais, buscava demonstrar as alterações que o homem realizava nesses locais até então selvagens e também o que a própria natureza faz, tais como erosões, vendavais e enchentes, por exemplo. O resultado correspondeu a imagens simples, até certo ponto literais, que favo- receram o surgimento de uma estética pós-moderna com cenas recheadas de ves- tígios humanos. Os espaços fotografados passaram a ganhar significado por serem resultados de povoamentos, industrialização e de agricultura intensiva. O gênero paisagem iniciava, assim, uma nova trajetória, que vinculava esse tipo de fotogra- fia a ideias de tempo, memória e história, tal como vemos em Usina elétrica de Agecroft, Salford (1983) (Figura 15), de John Davies (1949-), fotógrafo britânico influenciado pelo New Topographics: 22 23 Figura 15 – Usina elétrica de Agecroft, Salford (1983) Fonte: Hacking, 2012, p. 516-517 #ParaTodosVerem: a imagem é uma fotografia em preto e branco de quatro torres de resfriamento de uma usina industrial. As torres são grandes estruturas em forma de cone com a parte superior alargada e estão dispostas em linha. A usina está situada em uma ampla paisagem aberta com campos ao redor. Em primeiro plano, há árvores sem folhas e o que parece ser uma área de descarte com vários itens e veículos espalhados. Ao fundo, podem-se ver mais estruturas industriais e linhas de transmissão de energia. O céu está nublado, e a imagem tem uma qualidade atmosférica e um tanto sombria. Fim da descrição. Em Usina elétrica de Agecroft, Salford, Davies retrata uma paisagem industrial do Norte da Inglaterra. Fotografou em preto e branco, de modo que os tons escuros realçam o caráter desolado da paisagem. A partida de futebol que se desenvolve na imagem fica literalmente em segundo plano, frente às monumentais torres de refrigeração da central elétrica, símbolo da ascensão e queda da indústria carvoeira britânica da qual dependia essa usina de energia – as torres foram demolidas em 1994. Confira algumas dicas para qualificar o seu trabalho com paisagens: • No caso de um lugar conhecido e/ou turístico, você terá de iniciar o trabalho bem cedo para prevenir o afluxo de visitantes – se esse for o seu objetivo. Outra vantagem de chegar cedo é aproveitar as espetaculares condições de iluminação encontradas nesse breve período, normalmente logo após o nascer do Sol. O poente, por sua vez, fornece luz e cores sensacionais, tais como ne- blinas róseas que se transformam em douradas à medida que o Sol desaparece; Importante! Uma regra de ouro, seguida por praticamente todos os profi ssionais de paisagens, sendo quase que uma lei, determina o seguinte: fotografar somente ao nascer do Sol, entre quinze e trinta minutos antes de o Sol nascer e cerca de trinta minutos a uma hora depois de nascer; e ao pôr do Sol, de quinze a trinta minutos antes do pôr do Sol e até trinta minutos depois. Importante! 23 UNIDADE Gêneros Fotográficos • Normalmente, um trabalhobem-sucedido de paisagem é resultado de uma abordagem planejada na qual o fotógrafo identificou diversos ângulos e variações sobre o mesmo tema ou aguardou uma mudança favorável de luz ou condições do tempo. A chegada de uma maré, por exemplo, comumente transforma uma paisagem, de modo que se conseguirmos captar a atmosfera do lugar, ótimo; • Se o Sol fizer parte de seu projeto fotográfico, redobre a atenção: incluir o Sol na foto visto através de uma cerração, por exemplo, pode produzir excelentes resultados. Para superar problemas de contrastes extremos, espere que as nuvens encubram o Sol ou que se coloquem de forma a evitar parte da luz por esse emitida. Natureza-Morta No início da fotografia, a grande maioria dos fotógrafos simplesmente imitava o gênero natureza-morta do seu correlato em pintura – principalmente em relação às origens holandesas –, dispondo frutas, animais abatidos e outros objetos. Os longos tempos de exposição necessários, à época, tornavam os modelos ideais para a fotografia de objetos inanimados. A partir da década de 1850, com a fotografia ganhando ares de belas-artes, a natureza-morta oferecia a chance de o fotógrafo aplicar o processo objetivo da fotografia ao simbolismo e à metáfora das artes plásticas. Um exemplo é a fotografia intitulada As areias do tempo (c.1855), de Thomas Richard Williams (1824-1871) (Figura 16). Além do tema, trazia ainda uma novidade: era uma imagem estereoscópica que, visualizada em um equi- pamento específico, apresentava uma perspectiva tridimensional – razão da duplicidade de imagens. A natureza-morta também desempenhou um papel importante no desenvolvi- mento da fotografia em cores, a partir de meados do século XIX. Em Natureza- -morta com galo (c.1879), Louis Ducos du Hauron (1837-1920) utilizou um galo e um pássaro empalhados. A imagem contém três camadas de gelatina pigmentada sobre goma-laca nas três cores visíveis nas extremidades da foto (Figura 17). 24 25 Figura 16 – As areias do tempo (c.1855) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: a imagem é uma fotografia estereoscópica mostrando duas ima- gens quase idênticas lado a lado. Ambas as imagens retratam uma cena com um crânio humano colocado sobre um livro aberto, apoiado em uma mesa. Ao lado do crânio, há uma ampulheta e óculos com lentes circulares repousando sobre o livro. O ambiente é escuro e texturizado, conferindo um tom sombrio e antiquado à fotografia. Fim da descrição. Figura 17 – Natureza-morta com galo (c.1879) Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura mostrando um galo e um periquito. O galo tem penas mar- rons e brancas, uma crista vermelha proeminente e está perfilado para a esquerda. O periquito é principalmente verde com manchas amarelas e está à direita, olhando para o galo. Ambos estão sobre o que parece ser musgo e pedras. O fundo é uma parede desgastada com manchas e descascados em tons azuis e brancos. Há números no can- to inferior direito, “3623”. Fim da descrição. 25 UNIDADE Gêneros Fotográficos Uma das grandes vantagens da natureza-morta é permitir ao fotógrafo exercer total controle sobre o tema, a estética e os aspectos técnicos da fotografia, expe- rimentar diversos tipos de iluminação – luz natural e de estúdio – e praticar com um modelo – ou vários – que não se move. Dessa forma, o fotógrafo pode criar a imagem antes mesmo de fotografá-la. As naturezas-mortas podem ser sem pro- dução, objetos não dispostos propositalmente à foto; e, com produção, fotografias em torno de um tema. Muitas vezes você se surpreende em momentos ociosos alterando ligei- ramente a posição de um objeto de adorno da sua casa – um abajur, um cinzeiro, uma foto de família, um vaso de flores. Quer você tenha consciência, quer não, essa escolha da disposição de objetos inanimados constitui uma natureza-morta não-produzida. O mundo está repleto delas (HEDGECOE, 1996, p. 158). Vejamos algumas dicas sobre fotografias de naturezas-mortas, as quais adaptadas de Hedgecoe (1996): • Naturezas-mortas sem produção – projeto de fácil produção e realização. Não requer determinada câmera, nem um tipo especial de teleobjetiva. Um tripé pode ser um equipamento muito útil, uma vez que fotografias de naturezas- mortas são resultados de alguma reflexão e, geralmente, são feitas lentamente. O que importa é você ser observador(a). Atento(a), você encontrará temas nos lugares mais improváveis. Podemos fotografar um elemento isolado (Figura 18) e temas cujos elementos sejam comuns ou antagônicos, entre outros; Figura 18 – Sem título [Memphis] (1970) Fonte: Lowe, 2017, p. 100-101 #ParaTodosVerem: Figura mostrando um triciclo infantil de cor predominante azul e preto. O triciclo está estacionado em uma rua asfaltada, com o guidão levemente enferrujado e manetes vermelhos. Tem um assento preto e rodas grandes com aros brancos e pneus pretos. Ao fundo, vê-se casas com telhado branco e um céu claro. Há um carro estacionado na garagem de uma das casas. Fim da descrição. 26 27 • Naturezas-mortas com produção – você poderá criar também as suas próprias naturezas-mortas, escolhendo um ou mais objetos e experimentando diversos ângulos da câmera e efeitos de iluminação. A escolha de temas é infinita. Novamente, precisaremos de um tripé para que você possa se movimentar livremente em torno do tema. Disponha os objetos, ilumine-os e confira a composição no visor da câmera. O norte-americano Alec Soth (1969-) produziu e fotografou duas toalhas dobradas que formam dois cisnes, representando o amor. A colcha floral remete à natureza e a suave iluminação vem de uma janela (Figura 19): Figura 19– Duas toalhas (2004) Fonte: Lowe, 2017, p. 104 #ParaTodosVerem: Figura de duas toalhas brancas dobradas em forma de cisnes sobre uma cama. As toalhas estão posicionadas de modo que as pontas se tocam, formando um coração com seus pescoços e cabeças. A cama tem uma colcha estampada com grandes flores em tons de vermelho, rosa, verde e preto. Ao fundo, há uma cabeceira de cama marrom e uma parede bege. Fim da descrição. Documental “A realidade nos oferece tanta riqueza que precisamos remover parte dela ime- diatamente para simplificar. A questão é: sempre removemos o que deveríamos remover?” A frase de Henri Cartier-Bresson (1908-2004) (apud LOWE, 2017) resume o seu brilhante trabalho como fotógrafo da vida cotidiana, um dos maiores de todos os tempos. No mesmo nível está Robert Capa (1913-1954) (apud LOWE, 2017), principalmente em relação à atuação como correspondente de guerra: “A verdade é a melhor imagem, a melhor propaganda”, sentenciou. 27 UNIDADE Gêneros Fotográficos Figura 20 – Coroação do rei George VI (Londres, 12 de maio de 1937) Fonte: Lowe, 2017, p. 260 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco mostrando um grupo de pessoas sen- tadas em uma escadaria ao ar livre. Todos estão olhando para o mesmo ponto, como se estivessem assistindo a um evento. As pessoas estão vestidas em trajes típicos de meados do século 20, com homens em ternos e chapéus e mulheres em casacos e cha- péus. No primeiro plano, um homem está deitado em uma pilha de jornais espalhados no chão, parecendo dormir. Fim da descrição. Figura 21 – Multidões correndo para o abrigo depois de um alarme antiaéreo soar (Bilbao, 1937) Fonte: Lowe, 2017, p. 262 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de pessoas olhando para cima, numa rua. À esquerda, cinco adultos, um usando bengala, com expressões atentas olhando para cima. No centro, uma mulher e uma criança de mãos dadas, a mulher olha para cima, a criança para frente. Todos vestem casacos e chapéus típicos de meados do século 20. Ao fundo, um carro antigo. Fim da descrição. 28 29 Na fotografia documental você deve mostrar o que acontece, algo que ocorre em determinado espaço e tempo. O potencial narrativo da fotografia se apresenta na sua forma mais intensa, seja no conteúdo ou convite para que o espectador construa a sua própria narrativa. Seria algo como uma crônica estática.Cabe ao fotógrafo identificar justamente esses momentos visuais, que representarão um ins- tante da história. Com o passar do tempo, as imagens captadas formarão uma nar- rativa, de modo que, mesmo que fragmentadas, contribuirão para explicar o todo. A fotografia tem uma força probatória. A verossimilhança aparente da câmera combinada com sua capacidade de identificar tendências sociais, políticas ou econômicas apresenta uma ferramenta poderosa para docu- mentar questões de toda a natureza (LOWE, 2017, p. 230). Uma das principais características que o fotógrafo documental deve ter é o gosto pela pesquisa, sendo este um importante componente no processo. Conhecer detalhes acerca do tema a ser fotografado contribui para uma eficiente narrativa personalizada. Assim, o fotógrafo passa a desempenhar um papel fundamental na descrição das mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais do mundo. O britânico Chris Killip (1946-) apresenta, em Juventude na parede, Jarrow, Tyneside (1976) (Figura 22), uma forte sensação desesperadora, contida e enjaulada de um jovem com botas grandes. O trabalho sintetiza a frustração e raiva de uma geração perdida da classe trabalhadora do Norte da Inglaterra, cujas perspectivas econômicas foram devastadas pelo colapso da base industrial da região. Figura 22– Juventude na parede, Jarrow, Tyneside (1976) Fonte: Lowe, 2017, p. 243 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um homem sentado no chão encosta- do em uma parede de tijolos. Ele está com a cabeça apoiada nas mãos, os cotovelos nos joelhos, e parece estar triste ou preocupado. O homem veste um casaco escuro e calças largas, e um de seus sapatos está visivelmente desgastado. Fim da descrição. A fotografia faz parte do livro In flagrante (1988). Na publicação, Killip também 29 UNIDADE Gêneros Fotográficos apresenta fotos de tripulantes de navios carvoeiros, uma comunidade de viajantes e ex-mineiros que viviam na praia, coletando pedaços de carvão trazidos pelo mar de uma mina mais acima, na costa (acesse link da imagem na página seguinte). Viveu nessa comunidade por mais de um ano. “O lugar misturava os tempos; aqui a Idade Média e o século XX se entrelaçavam”, afirmou (apud LOWE, 2017). Figura 23 – Moira hand picking in the very good fur coat, Seacoal Beach, Lynemouth, Northumberland Fonte: tate.org.uk #ParaTodosVerem: uma pessoa está agachada em uma praia de pedras, com o corpo curvado para frente e as mãos vasculhando o chão. Ela veste um casaco volumoso de cor escura e uma touca, também escura. Ao seu lado, há um saco plástico grande. O mar é visível ao fundo, sugerindo um dia nublado. Fim da descrição. Sebastião Salgado O brasileiro Sebastião Salgado (1944-) admite que a sua experiência profissional em negócios – economista que é – contribuiu para a sua visão de mundo como fotógrafo documental social. É reconhecido como um dos principais documentaristas, em nível mundial, das mudanças sociais e econômicas. Produziu uma série de livros importantes, cada qual levando muitos anos para ser concluído, tais como Workers (1993), Terra (1997), Migrations (2000), Sahel (2004) e Genesis (2013) (Figura 24), no qual retrata as últimas reservas florestais virgens do mundo. “Não são apenas as imagens que são importantes – também é importante estar em sintonia com o momento da sociedade que as fotos mostram. Se você entender isso, não haverá limites para você”, ensina Sebastião Salgado (apud LOWE, 2017, p. 219). 30 31 Figura 24 – Mulheres da aldeia Zo’é To-wari Ypy. Pará, Brasil (livro Genesis, 2013) Fonte: snpcultura.org #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma fotografia em preto e branco de mulheres da aldeia Zo’é To-wari Ypy. As mulheres estão sentadas ou deitadas sobre folhas de palmeira, e algumas estão em uma rede. Todas usam adornos de plumas brancas na cabeça e algumas têm colares brancos. Fim da descrição. Figura 25 – Baleia-franca-austral [Eubalaena australis] (livro Genesis, 2013) Fonte: cultura.pr.gov.br #ParaTodosVerem: a Figura é uma fotografia em preto e branco que mostra a ponta da calda de uma baleia emergindo da água. A textura da pele da baleia é lisa e aparecem linhas e sulcos naturais. A água ao redor está agitada, com respingos e espuma. Ao fundo, pode-se ver uma linha de montanhas ou colinas. Fim da descrição. Salgado fotografa quase que inteiramente em preto e branco, afirmando que a cor pode ser uma distração. Seu trabalho é marcado pelo uso fantástico da luz, com destaque para a sua sensibilidade à luz lateral e contraluz, criando profundidade e uma sensação tridimensional – a série de fotos sobre o garimpo de Serra Pelada, no Pará (Figura 26) mostra claramente isso. Afirma ser resultado de ter crescido no Brasil, onde usava chapéu de abas largas: “Fui criado nas sombras” (SALGADO apud LOWE, 2017, p. 219). 31 UNIDADE Gêneros Fotográficos Figura 26 – Mina de ouro, Serra Pelada, Brasil (1986) Fonte: Lowe, 2017, p. 445 #ParaTodosVerem: a Figura apresenta uma fotografia em preto e branco da Mina de ouro da Serra Pelada no Brasil, datada de 1986. A imagem mostra uma paisagem de mine- ração a céu aberto com centenas de mineiros em filas, subindo e descendo as encostas íngremes e escavadas. A cena é caótica, com mineiros espalhados por toda a extensão da mina. Fim da descrição. 32 33 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Museu da Fotografia Documental É uma experiência pioneira no reconhecimento da fotografia documental como fer- ramenta de reflexão à fotografia brasileira e de determinados cenários socioculturais, econômicos e políticos do País. Trata-se do primeiro webmuseu do Brasil voltado ex- clusivamente à fotografia documental. https://goo.gl/dTH5U2 Livros Profissão fotógrafo – no caminho do sucesso Profissão fotógrafo – no caminho do sucesso, de Dane Sanders. Editora Photos, publicado em 2012. Sinopse: este best-seller do aclamado fotógrafo norte-americano Dane Sanders lhe levará a descobrir os seus pontos fortes e como aproveitá-los para trilhar uma carreira de sucesso no mundo da fotografia. Trata-se de leitura indispensável para quem quer vencer nesse negócio. Este livro ensina a usar as suas características e o seu talento para esculpir um nicho completamente seu; evitar os erros que muitos fotógrafos incorrem e escolher um estilo de negócio que se encaixe com o tempo que você quer investir. Filmes Mil vezes boa noite Mil vezes boa noite – direção: Erik Pope. Drama, 2014, Noruega, Irlanda, Suécia. Sinopse: Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato. Ele e a filha do casal não suportam mais a sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas Rebecca, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão. O sal da terra Documentário O sal da terra – direção: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado. Documentário, 2015, Brasil, França, duração: 1h50. Sinopse: O filme conta um pouco da longa trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e apresenta o seu ambicioso projeto Gênesis, expedição que tem como objetivo registrar, a partir de imagens, civilizações e regiões do Planeta até então inexploradas. 33 UNIDADE Gêneros Fotográficos Referências FLORESTA, Merry. Man Ray. São Paulo: Cosac Naify, 2011. HACKING, Juliet (Ed.). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. HEDGECOE, John. Guia completo de fotografia. São Paulo: Martins Fontes, 1996. LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. PEREA, Joaquín. Los géneros fotográficos. Revista de Fotografia, Madri, v. 2, n. 2, abr. 2000. Disponível em: <http://webs.ucm.es/info/univfoto/num2/index. htm>. Acesso em: 2 fev. 2018. 34 Linguagem Fotográfica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites SubgênerosFotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho • Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho; • Fotografia Newborn, de Gastronomia e de Animais de Estimação (pets). · Conhecer os subgêneros contemporâneos da fotografia como lin- guagem e seus elementos constituintes; · Entender as peculiaridades dos subgêneros e suas possibilidades no mercado de trabalho; · Valorizar a pesquisa sobre linguagem fotográfica por meio dos seus subgêneros. OBJETIVO DE APRENDIZADO Subgêneros Fotográfi cos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 1 – Maurício Nahas. Campanha da agência Young & Rubicam Brasil para a empresa de sorvetes Freddo. O trabalho recebeu ouro e prata na categoria Print & Publishing no Festival de Cannes (França), em 2016. As imagens da campanha mostram o esforço de crianças para salvar o sorvete ao levarem um tombo. Fotografia publicitária. Fonte: oneclub.org #ParaTodosVerem: a Figura mostra um menino caído de bruços na calçada, com uma perna e um braço estendidos. Ele segura um copo de sorvete da marca “Freddo” na mão direita, que está elevada do chão, salvando o sorvete de cair. O menino veste calça jeans e camiseta listrada. Ao fundo, a rua está vazia e é possível ver árvores. Fim da descrição. Os quatro gêneros da fotografia que estudamos – retrato, paisagem, natureza- morta e documental – abrangem grande parte dos temas dentro da fotografia, entretanto, com o seu desenvolvimento, outras imagens foram sendo agrupadas em subgêneros, abrindo espaço para um número praticamente infinito de variantes. É como se a cada conceito ou ideia de tema, pudéssemos criar um subgênero. Bem, não há nada que impeça isso. Mas, para que possamos estudar e entender melhor as características de alguns subgêneros, teremos de delimitá-los, definindo algumas áreas. Assim, passaremos a estudar a fotografia de ação/esportes, de arte, de eventos (casamentos, formaturas), de moda, publicitária, newborn – fotografia de bebês recém-nascidos –, gastronomia e de animais de estimação (pets). Como dissemos, a lista é enorme. Seja qual for o seu objetivo pessoal – profissional ou amador –, a definição de uma área parece ser importante, ainda que você possa se interessar por diversas áreas. A fotografia oferece muitas oportunidades no mercado de trabalho em todos os seus segmentos; entretanto, fique atento: a qualificação e a criatividade são elementos fundamentais. 8 9 Fotografi a de Ação/Esportes Quanto maior for o seu conhecimento sobre o tema que você pretende fotografar, maiores serão as suas chances de realizar um bom trabalho. Por exemplo, caso o objetivo seja fotografar uma corrida de automóvel ou um jogo de voleibol, e você desejar ficar em uma posição pré-definida – como a linha de chegada ou perto da rede –, é melhor chegar cedo para se posicionar. Quando se está iniciando, acompanhar um evento esportivo amador pode ser uma boa dica para realizar experimentações. Figura 2 – Simonkr. Scoring a goal. Fotografi a de esporte Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: a Figura mostra um momento de um jogo de futebol. Um goleiro de uniforme amarelo está no ar, estendendo-se para defender o gol de uma bola que se aproxima. Na parte inferior da imagem, jogadores de uniformes vermelhos e azuis observam a ação. Eles estão no campo, que é de grama verde. Ao fundo, há uma placa com a palavra “FOOTBALL TEAM” e um escudo com um leão. Fim da descrição. Imagens esportivas fantásticas dizem algo sobre o esforço ou a realização de um atleta. “Não basta simplesmente capturar o ponto máximo de ação; embora isso possa atrair o fã de esportes, é preciso haver um elemento a mais para atrair o interesse do espectador em geral”, ressalta Präktel (2010, p. 147). Para tanto, é importante que o fotógrafo conheça minimamente as regras do esporte que irá fotografar e o seu funcionamento, tendo, assim, melhores condições de prever e reagir aos diferentes momentos que fatalmente surgirão. E atenção para o que disse um ex-fotógrafo de esportes do The New York Times: “Se você viu acontecer, perdeu a foto” (PRÄKTEL, 2010, p. 147). Antecipação, nesses momentos, é tudo. Fotógrafos de esportes e de ação precisam se antecipar, prever o que acontecerá. A ênfase será sempre nos participantes (atletas), mas reações do público também podem render boas fotos. Normalmente, essas reações ocorrem antes ou depois de lances cruciais, assim, não vá perder um lance desses para fotografar o público, certo? 9 UNIDADE Subgêneros Fotográfi cos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Uma técnica que oferece bons resultados é seguir o movimento com a câmera para bater a foto, isso contribui para que você capte o auge de uma ação. A velo- cidade do obturador, por exemplo, é fundamental para o registro e, se for o caso, para o “congelamento” do movimento. O importante é que, em grande parte dos casos, quanto mais perto você chegar da ação, seja por meio da posição da câmera ou da distância focal, melhores serão suas fotos. O equipamento necessário em relação a câmeras, objetivas e acessórios depende do quanto você estará perto daquilo que quer fotografar e do fluxo da ação. Para a maior parte dos eventos esportivos e de ação, uma teleobjetiva média (70-200 mm) será o suficiente. Figura 3 – MediaProduction. Capoeira na praia. Fotografi a de ação Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: a Figura mostra três homens praticando capoeira na praia ao pôr do sol. Dois deles estão no ar executando movimentos acrobáticos, um de cabeça para baixo com as pernas estendidas e o outro arqueado para trás em um salto. O terceiro homem está em pé, segurando um berimbau, um instrumento musical típico da ca- poeira. Eles usam calças brancas e estão descalços. O céu ao fundo tem tons suaves de roxo e azul. Fim da descrição. Fotografi a Contemporânea de Arte O contraste entre a subjetividade do fotógrafo e a objetividade aparente da câmera é uma questão fundamental. Enquadramento e composição seletivos podem criar conexões ou justaposiçõesque talvez revelem um significado mais profundo (LOWE, 2017, p. 160). 10 11 A afirmação de Lowe demonstra que a fotografia é um tema intrigante e com- plexo para os fotógrafos. Ao aplicar um modelo conceitual de pensamento com base na prática das belas-artes, a fotografia encontrou um novo mundo com pro- fundidade e ressonância. O pictorialismo foi o movimento de vanguarda que aplicou os princípios das belas-artes à fotografia de meados da década de 1880 até 1910. Henry Peach Robinson, em 1869, estabeleceu que a base da representação pictórica na fotografia seria uma mistura de arte, natureza, autenticidade, beleza e uma boa quantidade de artifícios de estúdio: “O fotógrafo tem permissão para usar qualquer tipo de artifício ou truque necessário” (HACKING, 2012, p. 160-161). Um exemplo importante de fotografia pictorialista é Primavera (Figura 4), de 1896, do francês Robert Demachy. O artista começou a usar o processo de goma bicromatada no qual é acrescentado um pigmento que confere cor de “sangue” ou sépia às fotos, mostrando um resultado próximo da pintura de forma artística e criativa. O processo produzia imagens pictóricas a partir de negativos fotográficos Figura 4 – Robert Demachy. Primavera, 1896. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosverem: a Figura mostra o perfil de uma criança com um fundo monocro- mático suave. A criança tem cabelo claro, penteado para trás da cabeça, e está olhando para baixo, o que deixa suas feições faciais parcialmente visíveis. A imagem tem uma tonalidade sépia, dando-lhe um aspecto antigo. Fim da descrição. Na segunda década do século XX, o fotógrafo norte-americano Alvin Langdon Coburn (1882-1966) escreveu em um artigo intitulado Por que a câmera tam- bém não deveria se livrar dos grilhões da representação convencional? e concluiu: “Pense na alegria de fazer algo que seria impossível de classificar, ou de saber qual a parte de cima ou de baixo!” (HACKING, 2012, p. 197). Coburn foi um dos primeiros a produzir fotografias não-figurativas (Figuras 5 e 6). 11 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 5 – Alvin Langdon Coburn. Vortógrafo, 1917. Fotografia Fonte: utexas.edu #ParaTodosVerem: a Figura é uma fotografia em preto e branco que mostra um conjunto de formas geométricas que se assemelham a cristais ou fragmentos de vidro. Os reflexos e as facetas criam um padrão complexo de linhas e ângulos, dando um efeito visual de caleidoscópio. Não há pontos de referência claros para indicar a escala ou a orientação dos objetos. Fim da descrição. Figura 6 – Alvin Langdon Coburn. Vortógrafo II, 1917. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma fotografia abstrata que parece retratar cristais ou fragmentos de vidro em um fundo desfocado. As formas são angulares e têm um aspecto tridimensional. A luz e a sombra criam um contraste forte na imagem, e a natureza exata dos objetos é difícil de discernir. Fim da descrição. O início do século XX, marcado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pela forte industrialização do mundo, quebra de paradigmas sociais e culturais, obviamente, influenciou a arte. Pouco tempo depois, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) fez com que artistas europeus migrassem para a América, proporcio- nando a aproximação e a mixagem de ideias dos dois continentes. Os fotógrafos, por sua vez, especialmente a partir dos anos 1960, passaram a criar estratégias, performances – manifestação artística interdisciplinar que pode combinar teatro, música, poesia ou vídeo, com ou sem público – e eventos feitos especialmente para a câmera de forma mais contundente e frequente, desafiando o estereótipo tradicional da fotografia, ou seja, a noção do fotógrafo solitário, remexendo a vida diária em busca de uma imagem de grande impacto visual ou de conteúdo profundo, especialmente social. “Essa estratégia foi pensada para não só mudar a maneira como pensamos sobre nosso mundo físico e social, mas também para levar esse mundo a dimensões extraordinárias”, analisa Cotton (2010). Era a fotografia contemporânea de arte abrindo e encontrando seu espaço. Território Preferencial Estamos vivendo um momento excepcional para a fotografia, pois hoje o mundo da arte a acolhe como nunca o fez e os fotógrafos consideram as 12 13 galerias e os livros de arte o espaço natural para expor seu trabalho. Ao longo de toda a história da fotografia, sempre houve quem a promovesse como uma forma de arte e um veículo de ideias, ao lado da pintura e da escultura, mas nunca essa perspectiva foi difundida com tanta frequência e veemência como agora. Atualmente, a aspiração de muitos fotógrafos consiste em identificar a “arte” como o território preferencial de suas imagens (COTTON, 2010, p. 7). Uma das principais características da fotografia contemporânea de arte é a utilização maciça da cor, ainda que alguns artistas realizem com competência trabalhos em preto e branco. Outra questão importante é que as fotografias resultam de estratégias ou de acontecimentos administrados pelos fotógrafos com o único propósito de criar uma imagem. Essa abordagem significa que o ato da criação artística começa muito tempo antes de a câmera ser efetivamente fixada na posição adequada e de a imagem ser registrada. Entretanto, essa estratégia não exclui trabalhos fantásticos que registram um momento específico de forma espontânea. Figura 7 – William Eggleston. The Hasselblad Award, 1998 Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: Figura mostrando botas de cano médio com salto grosso em uma prateleira de madeira vermelha. À esquerda, há sapatos pretos e à direita, sapatos brancos com salto alto e plataforma. Abaixo da prateleira, há uma tomada elétrica dupla, num fundo de madeira avermelhada. Fim da descrição. 13 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 8 – Philip-Lorca diCorcia. Cabeça nº 7, 2000. Fotografia Fonte: Cotton, 2010 #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma pessoa usando uma capa de chuva vermelha e um chapéu de abas largas amarelo com padrão quadriculado. O rosto da pessoa está oculto pelo chapéu. Ao fundo, aparece parcialmente um guarda-chuva aberto de cor escura. Fim da descrição. O artista norte-americano Robert Rauschenberg (1925-2008), conhecido como pintor e escultor e por seus trabalhos que “combinavam” objetos achados com pin- tura, passou, a partir dos anos 1980, a produzir suas próprias fotos. Céu japonês (1988) (Figura 8), da sua Série do Alvejante, mostra um uso altamente inovador da tecnologia fotográfica ao trabalhar com uma câmera Polaroid e aplicar alvejante de forma desordenada sobre folhas grandes de filme Polapan, resultando na elimi- nação de algumas imagens. A série explora a tensão entre realismo e abstração. Figura 9 – Robert Rauschenberg. Céu japonês, 1988. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma janela de vidro embaçado com quatro painéis, através da qual se pode ver uma cena urbana. A parte superior da janela revela postes de energia e a silhueta de edifícios ao fundo. A parte inferior da janela tem manchas que lembram tinta escorrida, distorcendo e obscurecendo parcialmente a visão. A ima- gem transmite uma sensação de melancolia ou abandono. Fim da descrição. 14 15 Atualmente, boa parte das melhores publicações fotográficas, tanto na for- ma tradicional do livro impresso quanto na forma digital – on-line ou não –, são decorrentes de trabalhos de fotógrafos de arte que trabalham em um estilo de observação, alheios a regras ou temas pré-estabelecidos. A fotógrafa norte- americana Eileen Quinlan (1972-) propõe na série Smoke & Mirrors (2005) um ato de fotografar totalmente autoconsciente. Figura 10 – Eileen Quinlan. Smoke & mirrors, 2005 Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: Figura mostrando fumaça colorida em tons de verde, amarelo e vermelho contra um fundo escuro. Há linhas geométricas coloridas que se sobrepõem à fumaça, criandoum efeito abstrato. Fim da descrição. Já profissionais mais jovens como Lisa Oppenheim (1975-) e Carter Mull (1977-) “debatem-se criativamente com a realidade hibridizada da fotografia de hoje” (COT- TON, 2010, p. 234). Esse conhecimento de dois mundos (o analógico e o digital) faz com que essa geração tenha consciência da herança material da fotografia de arte e também das mudanças significativas da imagem digital. Entre 2008 e 2009, Mull realizou uma série de fotografias com foco no jornal Los Angeles Times, cheias de cores e padrões vibrantes, explorando a linguagem, o relacionamento das pessoas com imagens em um mundo saturado de imagens e o espectro da morte da mídia impressa e da fotografia química. O artista enfoca o equilíbrio en- tre as motivações analítica e subjetiva, inerentes ao uso da abstração na fotografia contemporânea (Figura 11). 15 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 11 – Carter Mull. Los Angeles Times, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009, 2009. Fotografia Fonte: moma.org #ParaTodosVerem: a Figura é uma imagem colorida e abstrata que apresenta vários padrões e cores vibrantes. Ela mostra formas que se assemelham a taças de coquetel distribuídas de forma aleatória sobre um fundo que intercala faixas verticais claras e escuras. As taças parecem estar caindo ou suspensas no espaço, com manchas e res- pingos brancos que criam um efeito visual dinâmico. Fim da descrição. A japonesa Rinko Kawauchi (1972), por sua vez, configura narrativas sutis e até certo ponto melancólicas sem o auxílio de textos interpretativos. Na série AILA – que significa grande família em turco –, a sequência de imagens pontuais inclui fotos de animais e seres humanos, ninhos de insetos e matrizes de ovas de peixe, gotas de orvalho, quedas d’água, arco-íris e copas de árvores. Rinko não é a única no universo da fotografia de arte no mundo contemporâneo a simplificar as estratégias fotográficas, permanecendo fiel à noção de que tudo à nossa volta são imagens esperando para acontecer. 16 17 Figura 12 – Rinko Kawauchi. Sem título, 2004, da série AILA. Fotografi a Fonte: Cotton, 2010 #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma crisálida pendurada na parte inferior de uma folha verde alongada. A folha possui pequenos orifícios, que parecem ter sido feitos por insetos e está em um fundo desfocado de cor clara. A crisálida é amarela com pontos pretos e linhas pretas que correm verticalmente ao longo de seu corpo. Fim da descrição. O projeto on-line de Jason Evans (1968-), O bom de cada dia http://www.thedailynice.com/ é uma resposta criativa ao potencial da internet para a divulgação de seu pensamento fotográfi co contemporâneo, fora do sistema tradicional das galerias, por exemplo. Todo o dia, e por apenas 24 horas, o fotógrafo exibe uma imagem de algo que fotografou e que, ao mesmo tempo, é intrigante, atraente e transmite uma atmosfera de alegria. Ex pl or Os fotógrafos dos nossos dias propõem de forma inesgotável novas formas de expressão da fotografia como arte em um ambiente progressivamente digitalizado, ainda que haja espaço para o trabalho analógico. Fotografi a de Eventos Trabalhar com eventos é um outro bom nicho de mercado no mundo da foto- grafia. Congressos, seminários, feiras, casamentos, batizados, formaturas, nasci- mentos etc., outra lista que parece não ter fim. Nessa área, o profissional pode se especializar e obter bons resultados financeiros, especialmente se realizar um trabalho de alta qualidade, tanto técnica quanto artisticamente. Uma boa dica é tentar um estágio em um estúdio de primeira linha e que seja reconhecido pelos seus trabalhos. 17 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Uma das maiores qualidades de um fotógrafo de eventos é a discrição. “Só de- pois de meia hora da cerimônia religiosa começada é que eu fui perceber que havia um fotógrafo na igreja. Eu escolhi aquele profissional pela discrição, pela forma como ele se movimentava sem interferir na cerimônia.” A afirmação é de Rodri- go Lopes, fotógrafo profissional (ZUANETTI et al, 2002, p. 146), esse é um dos pontos mais importante na vida de um fotógrafo de eventos: ele deve saber transi- tar pelo local sem chamar a atenção. Quantas vezes vemos um fotógrafo sendo o centro das atenções? Figura 13 – Estúdio Aszmann. Casamento na igreja do Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro. Fotografia Fonte: Zuanetti et al., 2002 #ParaTodosVerem: a Figura mostra o interior da igreja durante uma cerimônia de casa- mento. Há convidados dos dois lados de um corredor central com um tapete vermelho, onde ao fundo, pode-se ver um casal de noivos em frente ao altar. As paredes são ricamente decoradas com detalhes dourados e esculturas. Fim da descrição. Conferiremos agora algumas dicas para fotografias de casamento e de formatu- ras, os eventos mais comuns nesse tipo de cobertura fotográfica. Dicas para Fotografias de Casamento O trabalho de fotografar um casamento começa muito antes do grande dia. Em primeiro lugar, converse com o casal e entenda sobre as fotografias que eles querem – por exemplo: mais clássicas ou informais, ou ambas, dependendo do momento da cerimônia. Vamos conferir algumas dicas do fotógrafo Joe Mcnally para fotografias de casamento (MCNALLY, 2018): 1. Você não terá todo o tempo do mundo Uma festa de casamento tem ações ininterruptas com todos os tipos de atraso e circuns- tâncias imprevisíveis. Em nenhum momento (na maioria das vezes), você terá tempo suficiente para fazer o seu trabalho. Prepare-se para correr o dia todo e fotografar apressadamente, mas cujo resultado passará a ideia de que você teve todo o tempo do mundo para configurar, compor, organizar e dirigir a ação. Por isso, saiba que você deve aproveitar todos os momentos para tirar fotografias maravilhosas em poucos segundos. 18 19 Figura 14 – Fotografi a de Joe McNally Fonte: McNally, 2018 #ParaTodosVerem: Figura de um casal sorridente posando para uma foto. A mulher está à esquerda segurando um buquê de flores cor-de-rosa e vestindo um vestido branco com detalhes em renda. O homem está à direita, usando óculos, um terno azul escuro risca de giz, uma gravata azul com padrão xadrez e um lenço no bolso. Eles estão em frente a um fundo preto aveludado. Fim da descrição. 2. Lista sobre o que fotografar Sobre a lista de o que fotografar, certifique-se de obter uma. Ou, se você tiver uma conversa com os noivos e eles não tiverem uma lista formal sobre o que desejam, converse com eles a respeito e anote tudo. Mantenha as anotações em um local acessível. 3. Fotografando grupos Se você for fotografar casamentos, com certeza trabalhará com grupos. O mantra de toda fotografia em grupo nesses cenários é simples e sucinto: faça rápido e de forma divertida. Dirija a ação! Atribua alguma atividade aos convidados! Certifique-se de que todos consigam ver a câmera com os dois olhos! Assim, você saberá que ninguém ficará parcialmente bloqueado. Use fontes de luz frontais. Quanto mais suave, melhor. 4. Organização é fundamental Imediatamente, organize uma estação de trabalho, caso seja possível. Alguma mesa pequena fora do caminho da ação e razoavelmente segura para deixar o equipamento extra, e que tenha uma fonte de energia para carregar várias baterias da câmera e do flash. Um computador também deve ser ligado nessa mesa, sendo conectado a duas unidades de disco rígido. Durante a festa, saia de cena nos momentos tranquilos e faça o download dos cartões de memória, troque as baterias e grave pastas das imagens em vários dispositivos de armazenamento. Sente-se quando possível, fotografar casamentos é uma atividade exaustiva e, por isso, faça algumas pausas durante o trabalho para continuar com disposição ao longo da festa. 5. Chegue cedo Chegue ao local do evento com antecedência. Negocie um horário antecipado para fotografar os bastidores dos preparativos dos noivos. Quanto mais próximo você estiverdemonstrando sua personalidade discreta e agradável, mais rápido os noivos ficarão 19 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho acostumados quando a ação começar. Familiarize-se com a festa de casamento. Fonte: adaptado de Mcnally (2018). Dicas para Fotografias de Formatura Formaturas são eventos emocionantes, tanto para os formandos quanto para seus parentes. Atualmente, não são apenas os estudantes de ensino médio e de faculdade que passam por cerimônias de formatura, mas até mesmo crianças do maternal e da pré-escola passam por cerimônias para marcar a passagem para os próximos níveis de escolarização. Sendo assim, atenção: o local dessas cerimônias é muito diversificado, desde teatros e auditórios até ginásios ou simples salas de aula. Vamos, então, conferir algumas dicas das fotógrafas Dixie Dixon e Lindsay Sil- verman para realizarmos um bom trabalho em formaturas (DIXON e SILVERMAN, 2018). 1. Fique o mais próximo possível Isso será mais fácil em grupos menores; geralmente, em formaturas de ensino médio e de faculdade, é pouco provável que você fique próximo dos formandos. Prepare-se trazendo uma teleobjetiva, você precisará de um zoom com um alcance de pelo menos 200 mm ou 300 mm. Figura 15 – Dixie Dixon Fonte: Dixon e Silverman, 2018 #ParaTodosVerem: Figura de duas mulheres jovens sorridentes vestindo becas e ca- pelos de formatura pretos com borlas amarelas. Uma tem cabelos loiros e cacheados, segura um diploma com uma fita vermelha e a outra tem cabelos lisos e castanhos, também segurando um diploma. Elas parecem estar em um evento de formatura ao ar livre. Fim da descrição. 2. Aumente a ISO Dependendo da sua câmera, você poderá aumentar a ISO significativamente, permitindo que você use uma velocidade de obturador maior, o que ajuda a obter fotos mais nítidas. 20 21 3. Ajuste a câmera Durante a cerimônia, não se preocupe com ajustes manuais, a menos que você conheça a sua câmera muito bem. Ajuste a câmera em Auto Programado (Modo P) e deixe a câmera fazer todos os ajustes por você. Você obterá belas fotos e conseguirá curtir a cerimônia de formatura. O mesmo vale para o foco, se você tiver uma lente com foco automático, use esse recurso; se você não tem uma lente com foco automático, é uma boa ideia conseguir uma emprestada para o grande dia. 4. Dê zoom e preencha todo o enquadramento Principalmente quando o seu formando estiver atravessando o palco para receber o diploma, você deverá focar nele. Tirar uma foto do formando recebendo o diploma do diretor ou do reitor é uma ótima foto. Isso sem dizer que você também deve tirar uma foto “mais aberta” de toda a turma. 5. Seja criativo Tire fotos espontâneas, além de retratos formais e fotos de todo o grupo. 6. Disparo contínuo Para imagens dos graduandos aceitando os seus diplomas, seja no palco ou não, ajuste a câmera para disparo contínuo, para que você possa capturar tantas fotos quanto a câmera permitir. Fonte: adaptado de Dixon e Silverman (2018) Fotografi a de Moda No final dos anos 1970, o diretor editorial da revista Vogue, Alexander Liber- man, descreveu a fotografia de moda como “uma operação sutil e complexa que envolve arte, talento, técnica, psicologia e vendas” (HACKING, 2012, p. 488). Na fotografia de moda, inevitavelmente, o fotógrafo adapta sua forma de trabalhar em função das tendências do mercado, ou até mesmo criando tendências visuais em conjunto com editores, produtores e até a indústria da moda. Terry Jones, fundador da icônica publicação de estilo, a revista britânica i-D, e o fotógrafo Steve Johnson criaram importantes documentos fotográficos durante a década de 1990. Eles foram pioneiros de um estilo documental de retratos de rua. Punks, jovens adeptos do estilo new wave – moda colorida e irreverente – e outras pessoas que passavam por um determinado lugar vestidas com estilo eram parados e fotografados em frente a um muro com suas próprias roupas. Atualmente, essa forma de registrar o estilo das ruas é utilizada por blogueiros em diversos países. 21 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 16 – Wolfgang Tillmans. Suzanne & Lutz, vestido branco, saia militar (1993). Fotografia Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura de um homem e uma mulher de pé, um ao lado do outro. A mulher está à frente e usa uma camisa branca longa e botas pretas; ela tem cabelos castanhos compridos e uma expressão neutra, com os braços dela por trás da cabeça e as mãos no próprio peitoral. O homem atrás dela usa uma camiseta verde com a ins- crição “U.S. ARMY” e também botas pretas. Ele tem a cabeça raspada e uma expressão séria. O homem coloca as mãos sobre os ombros da mulher Fim da descrição. A década de 1990 marcou sobremaneira a fotografia de moda. Ao assumir o cargo de editora da Vogue britânica, Alexandra Schulman, em 1992, a revista começou a assimilar um estilo de fotografia neorrealista, com modelos pálidas e extremamente magras, posando em ambientes desolados. Não tardou para a publicação começar a receber críticas. Em 1997, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, criticou publicamente a fotografia de moda no estilo “heroin chic”, afirmando que ela promovia o abuso de drogas. Hoje as imagens de moda são impulsionadas por narrativas coloridas e poéticas. Da mesma forma que designers de moda reinterpretam tendências passadas, os fotógrafos contemporâneos buscam, muitas vezes, inspiração no passado, mistu- rando influências de outras épocas. Miles Aldridge (1964-) em Festa com jantar nº 5 (2009) (Figura 16), trabalho realizado para a Vogue italiana, lembra uma obra fotográfica da década de 1930, de Madame Yevonde, especialista em um processo químico que produzia cores vibrantes (Figura 17). 22 23 Figura 17 – Madame Yevonde. Lady Bridgette Elizabeth Felicia Henrietta Augusta Poulett como Aretusa”, 1935. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura da estátua de uma pessoa com uma coroa de fitas pretas brilhantes na cabeça, inclinada para frente, focando em flores desfocadas na parte inferior. As flores são amarelas e parecem ser orquídeas. A fotografia tem um tom suave e sonhador, com uma iluminação que realça o brilho das fitas e a textura das flores. Fim da descrição. Figura 18 – Miles Aldridge. Festa com jantar nº 5, 2009. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de três pessoas em uma cena estilizada. Uma está deitada de costas em uma mesa de jantar decorada com velas, flores e frutas, usando um vestido preto, saltos altos e está de olhos fechados. Outra mulher, sentada e vestida com um traje preto e volumoso, observa a cena com uma expressão sombria. A terceira pessoa, de cabelo preso e vestido claro, está apoiada com a cabeça na mão sobre a mesa. O ambiente tem uma atmosfera teatral e é iluminado em tons esverdeados. Fim da descrição. 23 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Fotografia de Moda no Brasil A fotografia de moda é um mercado em ascensão no Brasil. Eventos de moda como o São Paulo Fashion Week (SPFW), uma das maiores semanas de moda do mundo, realizada anualmente na capital paulista, e a Fashion Rio, no Rio de Janeiro, estão aí para confirmar isso. O reconhecimento de modelos brasileiras nas passarelas da Europa e dos Estados Unidos e do trabalho de estilistas nacionais como Fause Haten, Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura e Reinaldo Lourenço também têm contribuído para essa expansão. Para os fotógrafos brasileiros, de maneira geral, é mais fácil seguir as tendências da moda e da fotografia de moda, pois, como os europeus estão uma estação à nossa frente, o que foi visto no mundo da moda no verão europeu vai, obviamente, influenciar o verão brasileiro – e assim ocorre em todas as estações. Bob Wolfenson Desde que iniciou sua trajetória profissional, aos dezesseis anos, no estúdio da Editora Abril, em São Paulo/SP, o paulistano Bob Wolfenson(1954-), um dos mais importantes fotógrafos do Brasil, trabalhou com os principais gêneros fotográficos, e com sucesso, tanto em seu estúdio quanto em viagens pelo Brasil e pelo mundo. Esse fotógrafo é uma das referências nacionais como retratista, fotógrafo de nus e, principalmente, de moda. Wolfenson transita entre a publicidade e a arte com muita desenvoltura. Já trabalhou para as principais revistas de moda e música, como Vogue, Elle, S/N, Playboy, Harper’s Bazaar, Marie Claire e Rolling Sones. Wolfenson publicou vários livros de fotografia: Jardim da Luz (Editora DBA/ Companhia das Letras, 1996), Moda no Brasil por brasileiros (Cosac Naify, 2003), Antifachada – Encadernação dourada (Cosac Naify, 2004), Cinépolis (Schoeler, 2009), Apreensões (Cosac Naify, 2010), Belvedere (Cosac Naify, 2013) e 24x36 (Schoeler Editions, 2013), entre outros. Wolfenson é também criador e editor da revista de arte e moda S/N. Muitas de suas obras fazem parte dos acervos do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Itaú Cultural, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Brasileira – Faap, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC/USP), Zacheta National Gallery of Art (Varsóvia), entre outras coleções. Além de seus projetos autorais, em 2016, foi cocurador da exposição de Otto Stupakoff ao lado de Sergio Burgi, no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro (WOLFENSON, 2018). 24 25 Figura 19 – Bob Wolfenson. Naomi Campbell para a revista Vogue, 2016. Fotografi a Fonte: Bob Wolfenson, Vogue - 2016 #ParaTodosVerem: Figura dividida em duas partes. À esquerda, a capa da Vogue Brasil com uma fotografia em preto e branco de Naomi Campbell, focada no seu rosto. Textos na capa incluem o nome “Naomi Campbell” e outros nomes como “Alcione”, “Majur” e “Marina Silva”. À direita, uma foto em preto e branco da Naomi Campbell usando um vestido branco volumoso e sapatos de salto alto, posando com o corpo girado e o tecido do vestido fluindo. Fim da descrição. J.R. Duran Outro nome de destaque na fotografia de moda no Brasil é Josep Ruaix Duran é conhecido como J.R. Duran (1952-), nascido na Espanha, mas desde 1970 radicado no Brasil. Em 1979, montou seu estúdio em São Paulo/SP e começou a fotografar para revistas de moda como Vogue e Elle Brasil. Ao mesmo tempo, começou a trabalhar para agências de publicidade como DPZ, McCann, Thompson, Talent e para clientes como Johnson & Johnson, General Motors, Volkswagen, Souza Cruz, British American Tobacco e outros. Em 1984, realizou sua primeira exposição, Beijos Roubados, na Galeria Paulo Figueiredo, em São Paulo/SP. Ganhou sete prêmios Abril de Jornalismo. Foi capa da edição nacional da Veja, em janeiro de 1988, com o título O mago das lentes. Tem ensaios a respeito de seus trabalhos publicados nas revistas Forum (alemã), Zoom (edições francesa, italiana e japonesa), Man (espanhola) e Photo (francesa). Em 1989, mudou-se para os Estados Unidos, onde trabalhou para Harper’s Bazaar USA, Elle (edições francesa, inglesa, italiana e espanhola), Mademoiselle, Glamour, Tatler, Vogue (alemã), assim como para agências de publicidade como Grey, Saatchi & Saatchi, DDB e outras. Em 1995, voltou a morar no Brasil. Duran é conhecido por saber contextualizar bem o local onde a foto é realizada. 25 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 20 – J.R. Duran. Aline Weber por J.R. Duran para Vogue Brasil, 2014. Fotografia Fonte: J. R. Duran, Vogue - 2014 #ParaTodosVerem: Figura de uma mulher loira com cabelo armado, maquiagem dramática e batom vermelho. Ela veste um vestido listrado em preto e branco com um casaco colorido, adornado com várias aplicações e luvas vermelhas. Ao lado, um reflexo borrado de um homem em trajes claros. A cena ocorre em um ambiente interno, com decoração clássica, incluindo um sofá estampado, uma mesa de vidro e quadros na parede. Fim da descrição. Figura 21 – J. R. Duran. Fiorella Mattheis para a revista Talk, 2016. Fotografia Fonte: J. R. Duran, Talk - 2016 #ParaTodosVerem: Figura de uma mulher com cabelos loiros longos e ondulados, usando um chapéu marrom e roupas com estilo boêmio. Ela tem um top bege com franjas e uma capa floral leve. Ela usa várias correntes e um colar longo com um pingente de pedra, além de brincos dourados. A mulher tem os braços levantados e apoia as mãos na parte de trás do chapéu. Fim da descrição. Fotografia Publicitária Os fotógrafos que atuam em publicidade têm um olhar diferente, por exemplo, dos fotojornalistas, que se comprometem exclusivamente com a verdade. Na foto- grafia publicitária, é preciso criar no público o desejo de consumo de um produto ou serviço ou mesmo de um estilo de vida por meio do apelo visual. Além disso, será preciso estar sempre atento aos lançamentos de novos produtos e tendências em um ambiente que, naturalmente, é dos mais competitivos. A fotografia de publicidade abrange tudo o que pode ser anunciado. É, portanto, um subgênero da fotografia híbrido e muito amplo. Para anunciar um piso, por exemplo, faz-se uma foto de arquitetura; de um banco, vende-se a satisfação do cliente; em um pacote turístico, uma viagem, o foco são as paisagens ou o confor- to de hotéis. Na parte técnica, por exemplo, uma joia normalmente exige grande experiência em macrofotografia. 26 27 Figura 22 – Campanha de divulgação do Teleton 2013, da Associação de Assistência à Criança Defi ciente (AACD), 2013 Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: Figura de um cartaz com um menino vestido de astronauta em uma superfície que simula a lua. O texto pergunta “Qual foi o passo mais importante da história?” e responde “Para nós da AACD foi o primeiro passo do Rafael”. Inclui in- formações sobre como participar de uma campanha de doação para a AACD, com datas e um número de telefone (0800 771 7878). O logo do Teleton está presente junto com uma chamada para entrar na história das crianças da AACD. Fim da descrição. Importante! Uma das maiores preocupações na fotografi a publicitária é o direito de imagem. É importante que o fotógrafo, ou a produção do trabalho, providencie as assinaturas de autorizações de modelos ou de propriedades de terceiros antes da realização das fotos, evitando questões judiciais. Em relação aos modelos, a autorização de uso de imagem com fi m comercial é feita por meio de um contrato de prestação de serviços e licença de imagem. Quando não há fi ns comerciais, como exposições, ilustração de artigos, etc., é necessário apenas uma autorização para uso de imagem. Um termo de compromisso que descreva as obrigações do modelo também deve ser elaborado. Da mesma forma, quando o profi ssional fotografa um imóvel, animal, objeto, obra de arte, automóvel ou qualquer bem que tenha um proprietário que possa ser identifi cado, precisa de uma autorização assinada do uso de imagem da propriedade (ZUANETTI et al, 2002). Importante! Os anos 1980 foram importantes na definição de uma nova estética na fotografia publicitária, especialmente na moda. Houve uma diluição forte nas barreiras que separavam foto publicitária das artes visuais. Guy Bourdin (1928-1991), fotógrafo francês de moda, revolucionou o setor, produzindo imagens publicitárias a serem publicadas em revistas que privilegiavam a inovação estética em vez do produto (Figura 23). Bourdin contribuiu efetivamente para a criação de uma vanguarda na 27 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho fotografia publicitária. A partir daí, limites foram rompidos e, ao mesmo tempo, instauradas muitas polêmicas. Figura 23 – Guy Bourdin. Charles Jourdan campaign, 1975. Fotografia Fonte: imgrum.org #ParaTodosVerem: Figura mostrando as pernas de uma pessoa usando um sobretudo laranja e botas vermelhas brilhantes. A pessoa está parcialmente oculta atrás de um poste cinza em uma calçada, com um muro de concreto ao fundo. Fim da descrição. O diretor de criação e fotógrafo italiano Oliviero Toscani (1942-) comandou,em 1992, a controversa campanha da Benetton que apresentava uma série de situações reais, entre as quais a de um homem morrendo de aids em um hospital. A foto original, Os últimos momentos de David Kirby, foi tirada por Therese Frare (1958-), em 1990, e publicada em preto e branco na revista norte-americana Life. A imagem retratava David, vítima de aids, à beira da morte. A Benetton utilizou uma versão colorizada para torná-la mais próxima de um anúncio. A intenção da empresa era a conscientização em relação à doença. Apoios e críticas marcaram a campanha, que foi acusada de homofóbica. A empresa contribuía financeiramente para uma fundação de combate a AIDS. 28 29 Fig 24 – Therese Frare. Os últimos momentos de David Kirby, 1990. Fotografi a colorizada para a campanha da Benetton, em 1992 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de três pessoas ao redor de uma cama, onde uma quarta pessoa está deitada. Um homem e uma mulher mais velhos estão inclinados sobre a pessoa deitada, que parece ser um homem mais jovem com barba e olhos fechados. Uma garota mais nova, abraçada à mulher mais velha, olha para o homem deitado. Todos têm expressões de preocupação. No canto inferior direito, há a inscrição “UNITED COLORS OF BENETTON”. Fim da descrição. Figura 25 – Therese Frare. Os últimos momentos de David Kirby, 1990. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de três pessoas ao redor de uma cama. À esquerda, um homem com expressão triste se inclina sobre um homem mais jovem deitado, que parece estar doente. Ao centro, uma mulher abraça uma menina, ambas com expressões de preocupação olhando para o homem deitado. A cena transmite uma atmosfera de cuidado e preocupação. Fim da descrição. 29 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Mercado de Trabalho Agências de publicidade, escritórios de design, editoras e clientes diretos – que procuram diretamente o profissional – são, basicamente, as grandes fontes de trabalho do fotógrafo publicitário. Normalmente, as agências de publicidade possuem uma estrutura maior, com departamentos e setores especializados, e é onde o fotógrafo pode ser melhor remunerado. Entretanto, muitas vezes, a criação do fotógrafo é limitada em função da atuação dos diretores de arte. A fotografia é a ponta do processo no qual o cliente encomenda o trabalho e a área de criação da agência produz o trabalho. Após ser aprovada, a peça publicitária é executada, em conjunto, pela criação e pelo fotógrafo. Já os escritórios de design têm estruturas mais enxutas e a criação se dirige à comunicação visual, cujo objetivo é a divulgação do trabalho. A atuação é realizada em conjunto, favorecendo à criatividade do fotógrafo junto ao criador da ideia. Fotografia Newborn, de Gastronomia e de Animais de Estimação (pets) Fotografia Newborn (bebê recém-nascido) Os primeiros dias de recém-nascidos são importantes para a família e, acredite, passam muito rápido. Esse é o período que a fotografia newborn – recém-nascido, em inglês – abrange. Esse subgênero, específico e especializado, é comum nos Estados Unidos e na Austrália, tendo crescido nos últimos anos no Brasil. O ensaio newborn tem por objetivo registrar os primeiros dias de vida do bebê, normalmente até o 15° dia, assim como suas feições e características. Há duas vertentes: pose/estúdio, que apresenta uma produção, tanto em relação ao cenário e acessórios quanto às poses do bebê e dos pais; e life style (estilo de vida), que resulta em fotos mais naturais e se preocupa com o registro do recém-nascido e sua família, em geral, na residência; são fotos mais espontâneas. Figura 26 – Katrinaelena. Newborn baby girl wearing angel wings, 2017 Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de um bebê recém-nascido dormindo pacificamente sobre um fundo branco felpudo. O bebê usa uma tiara de brilhantes prateados na cabeça. Nas costas, há pequenas asas brancas de anjo. A criança está em uma posição encolhi- da, com a mãozinha próxima ao rosto, transmitindo uma sensação de tranquilidade e inocência. Fim da descrição. 30 31 Figura 27 – Tempura. Pais millennials, movendo-se para um novo apartamento, 2017 Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de uma família nova. Um homem com cabelos encaraco- lados e vestindo uma camiseta vinho segura um recém-nascido dormindo em seus braços. Uma mulher com uma faixa rosa no cabelo e vestindo uma camiseta cinza inclina-se sobre o ombro do homem, olhando para o bebê e segurando brinquedo. Eles estão em um ambiente doméstico com uma parede clara ao fundo e uma pequena planta em uma banqueta de madeira. Fim da descrição. Fotografi a de Gastronomia O subgênero de fotografia de gastronomia pode ser vinculado à natureza-morta ou foto publicitária; entretanto, têm suas próprias especificidades. Caso o fotógrafo não queira se envolver com a produção, será indispensável um especialista que domine as técnicas de manipulação de alimentos. A questão é que o alimento tem de parecer saudável e o mais apetitoso possível, quer seja nos livros de culinária, revistas ou em embalagens de produtos. Na maioria dos casos, o ajuste de iluminação é fundamental. Uma das soluções pode estar na escolha de filtros coloridos que tornem a foto mais viva, ou no uso de uma luz intensa em alguma parte que queremos destacar. O profissional, no caso da gastronomia, precisa ter grande experiência para obter bons resultados. A preparação dos cenários também é importante. Nesse segmento, perfeição não é opção, é obrigação. O fotógrafo de gastronomia começa, frequentemente, escolhendo os ingredien- tes com melhor aspecto, selecionando-os, muitas vezes, entre dúzias de produ- tos, tendo o cuidado de selecionar alimentos reserva para o caso de imprevistos. O trabalho, na maioria dos casos, é demorado. Um dos grandes desafios é encon- trar um bom fornecedor de ingredientes. Você precisará, também, de adereços para a composição das fotografias, esses se dividem em dois grupos: a) adereços de cozinha: louças, talheres, pratos, tábuas de cozinha, cestos, tigelas; b) adereços que contribuem para a composição, mas que não fazem parte do prato, como flores ou objetos atraentes, por exemplo. 31 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Figura 28 – Ribeirorocha. Picanha, 2018. Fotografia Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de um prato de comida com um pedaço de carne grelhada ao ponto, mostrando o interior rosado. Ao lado da carne, há uma salada colorida com alface, tomate e croutons, e uma pequena tigela de molho branco. Ao fundo, desfoca- do, pode-se ver uma cozinha com fogo aceso, sugerindo que a comida foi preparada ali. Fim da descrição. Figura 29 – Yulkapopkova. Salada de abóbora, 2016. Fotografia Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de uma tigela de salada sobre um fundo azul texturizado. A salada contém folhas verdes, pedaços de abóbora laranja e sementes. Ao lado da tige- la, há um pano de prato azul e branco, talheres antigos, uma laranja inteira, um ramo de alecrim e alguns grãos de especiarias espalhados. A composição tem um aspecto rústico e saudável. Fim da descrição. 32 33 Fotografi a de Animais de Estimação (pets) Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013, o Brasil contava com mais de 132 milhões de animais de estimação, sendo 39,4% cães; 28,7% aves canoras (pássaros que cantam) e ornamentais; 16,7% gatos; 13,6% peixes; e, 1,6% outros (répteis e pequenos mamíferos) (BRASIL, 2013). Esses números demonstram o potencial do mercado para fotos de animais de estimação no país. Vamos conferir 10 dicas que Patrícia Zwipp (2018) sugere para se fotografar um bichinho de estimação, segundo o fotógrafo Andrew Darlow, autor da obra Pet photography 101: tips for taking better photos of your dog or cat. 1. Comece devagar Câmeras causam curiosidade nos animais de estimação. Coloqueo equipamento ao redor do pescoço ou segure-o na mão enquanto acaricia ou brinca com o pet, deixando com que o cheire e analise. Comece a tirar fotos com uma certa distância e se aproxime aos poucos, para que ele se acostume com seus sons e luzes. 2. Planeje o horário da foto Se o cão é muito agitado, fotografe-o depois da volta de uma caminhada. Assim, terá menos energia e melhor capacidade de escutar, o que facilita sua meta de fazer com que se sente e permaneça no lugar enquanto é clicado. Quer uma foto em movimento e o gato é preguiçoso? Espere para colocar a sessão em prática depois de sua soneca. 3. Escolha bem o local Fotografe o animal de estimação em um lugar já frequentado por ele e onde se sinta confortável. Levá-lo a um espaço desconhecido fará com que os novos cheiros, paisagens e sons o distraiam. 4. Avalie a luminosidade Os melhores momentos para fotografar fora de casa são 10h e 14h, quando o sol emite luz dourada. Evite o meio-dia, porque a posição solar faz com que a luz achate os objetos, animais e pessoas. 5. Pense no cenário Não é necessário colocar mil e um itens decorativos de Natal, por exemplo, para montar o cenário. Um objeto disposto no fundo, como uma guirlanda ou uma caixa de presente, basta. Se quiser incrementar, dê algum brinquedo em formato de boneco de neve, por exemplo, para o pet. 33 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho 6. Não perca o foco Para evitar imagens borradas, selecione a opção “ação” ou “modo pet” na câmera. Em relação ao flash, tenha cuidado, esse pode deixar os olhos do animal vermelhos. Se realmente precisar usá-lo, fique longe do “modelo” e use o zoom. 7. Escolha a pose Uma boa fotografia depende de a pose parecer natural. Alguns animais saem melhor deitados no sofá e outros em pé, por exemplo. 8. Fique atento ao ângulo Cães maiores podem ficar bem deitados no sofá enquanto você os fotografa localizado a poucos passos atrás. Também vale acompanhar com a câmera o movimento do gato enquanto caminha pela mesa. Teste vários ângulos. 9. Peça ajuda Fazer com que o pet olhe para a câmera no momento do clique não é tarefa simples. Peça a ajuda de alguém para que chame sua atenção ao falar seu nome ou mostrar recompensas. 10. Tenha paciência Ao contrário das pessoas, os animais não são treinados a sorrir e posar para fotos, ou seja: tenha calma. Clique o pet em intervalos de 10 a 15 minutos. Figura 30 – Andresr. Happy boy with a beautiful dog, 2016. Fotografia Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de um menino sorridente abraçando um grande cão retrie- ver dourado. O menino está de camiseta rosa e tem cabelos castanhos. Ele está com os olhos fechados e um grande sorriso, expressando alegria enquanto abraça o cão. Eles estão sentados na grama verde, com o foco da imagem no seu rosto e no cão. Fim da descrição. 34 35 Figura 31 – Rebecca Mack. Tippy, 2017. Fotografi a Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de um gato de perto, focando nos olhos. O gato tem pelo longo com padrão de listras cinzas e pretas e olhos verdes penetrantes. A foto captura detalhes como os pelos da face e os bigodes proeminentes, além da textura única da íris do gato. Fim da descrição. Importante! Se temos no Brasil 132 milhões de animais de estimação, conforme dados de 2013 do IBGE, não será difícil você encontrar um para fotografar. Se você tiver um, melhor, fi ca mais fácil; mas, se não, experimente convidar um amigo que tenha um pet para realizar um ensaio fotográfi co. Você já tem as dicas de como proceder, então, vá em frente! Fotografe o animal com e sem seu dono, em um ambiente fechado (um estúdio?) ou ao ar livre. Utilize as técnicas que você aprendeu, inclusive as de outros gêneros e subgêneros, todas são importantes. Faça uma série de fotografi as produzidas e espontâneas. Você vai se surpreender. Ah, depois mostre para o seu amigo. Trocando ideias... 35 UNIDADE Subgêneros Fotográficos Contemporâneos e o Mercado de Trabalho Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Canon College Técnicas de aprimoramento em fotografia. Dowload gratuito. https://goo.gl/icsnrM Leitura Fotografia na era digital: produção, protagonismo e performance – problemas para a Educação Física/Ciências do Esporte BITENCOURT, Fernando Gonçalves. Fotografia na era digital: produção, protagonismo e performance – problemas para a Educação Física/Ciências do Esporte. Motrivivência – Revista de Educação Física, Esporte e Lazer, Universidade Federal de Santa Catarina, v. 26, n. 43. 2014. https://goo.gl/ixjosn A Fotografia de Moda e a Produção de Sentidos KALIL, Samara. A fotografia de moda e a produção de sentidos. IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009. https://goo.gl/qiF4UL 36 37 Referências BRASIL. Ministério da Agricultura. IBGE – População de animais de estimação no Brasil – 2013 – Em milhões. 2013. Disponível em: <https://goo.gl/zFhrmC>. Acesso em: 19 fev. 2018. COTTON, Charlotte. A fotografia como arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2010. DEJEAN, Karen Lynne. Fotografia newborn. Relatório apresentado como parte das exigências para conclusão do Módulo 3 do curso de Fotografia – Focus. [2018]. Disponí- vel em: <https://focusfoto.com.br/wp-content/uploads/2017/08/FOTOGRAFIA -NEWBORN.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2018. DIXON, Dixie e SILVERMAN, Lindsay. 20 dicas para excelentes fotos de formatura. [2018]. Disponível em: <http://www.nikon.com.br/learn-and- explore/a/tips-and-techniques/20-dicas-para-excelentes-fotos-de-formatura. html?generate=pdf>. Acesso em: 18 fev. 2018. HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. HEDGECOE, John. Guia completo de fotografia. São Paulo: Martins Fontes, 1996. LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. MCNALLY, Joe. Sete dicas para melhores fotografias de casamentos, [2018]. Disponível em: <https://www.nikon.com.br/learn-and-explore/a/tips-and-techniques/ sete-dicas-para-melhores-fotografias-de-casamentos.html>. Acesso em: 18 fev. 2018. PEREA, Joaquín. Los géneros fotográficos. Revista de Fotografia, Universidade Complutense de Madri – Faculdade de Belas Artes, Madri, ano II, n. 2, abr. 2000. Disponível em: <http://webs.ucm.es/info/univfoto/num2/index.htm>. Acesso em: 02 fev. 2018. PRÄKEL, David. Composição. Porto Alegre: Bookman, 2010. WOLFENSON, Bob. Bob Wolfenson. [2018]. Disponível em: <https://www. bobwolfenson.com.br/copy-of-home>. Acesso em: 19 fev. 2018. ZUANETTI, Rose et al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2002. ZWIPP, Patricia. Confira 10 dicas para fotografar seu bichinho de estimação, [2018]. Disponível em: <http://vidaeestilo.terra.com.br/confira-10-dicas-para- fotografar-seu-bichinho-de-estimacao,8279430f5de27310VgnCLD100000bbcce b0aRCRD.html>. Acesso em: 19 fev. 2018. 37 Linguagem Fotográfica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Prof.ª Me. Natalia Conti Análise da Imagem – Nível Técnico • Introdução; • Análise da Imagem – Nível Técnico; • Anexo. · Conhecer os elementos básicos para a leitura de uma imagem fotográfica no nível técnico; · Identificar em fotografias os elementos que compõem o nível técnico de análise de uma imagem; · Realizar análise de imagem fotográfica a partir do uso de fichas específicas para o nível técnico. OBJETIVO DE APRENDIZADO Análise da Imagem – Nível Técnico Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentaçãosaudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Introdução Figura 1 – Paul Lowe. Sem título, s/d. “Ao analisar imagens noticiosas é fácil esquecer que os fotógrafos não são invisíveis. Na verdade, eles são tão protagonistas na situação como as pessoas que são o tema de sua reportagem” Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco mostrando dois fotógrafos ajoelhados, focando suas câmeras em um menino que está em pé. O menino, que parece estar em um ambiente ao ar livre e desértico, está com o braço levantado como se estivesse respondendo ou fazendo uma pergunta. No fundo, há mais pessoas e um caminhão, sugerindo um cenário de deslocamento ou migração. O cenário parece ser um país africano. Fim da descrição. Não são apenas as imagens que são importantes – também é importante estar em sintonia com o momento da sociedade que as fotos mostram. Se você entender isso, não haverá limites para você. Sebastião Salgado (Lowe, 2017, pagina 219) As teorias linguísticas atuais vêm ampliando o conceito de texto como sendo uma produção verbal, sonora, gestual, imagética, em qualquer situação de comunicação humana, estruturada com coerência e coesão. A partir dessa premissa, passamos a entender que as imagens se estruturam na forma de um texto visual, que pode ser lido. A questão passa a ser, então, como é possível lermos esse texto imagético? Os textos visuais, como a fotografia, por exemplo, são resultado de um conteúdo que envolve, necessariamente, três componentes básicos: o autor, o texto visual propriamente dito (imagem) e o leitor/espectador. De acordo com Mauad (2005), Cada um desses três elementos integra o resultado final à medida que todo o produto cultural envolve um locus de produção e um produtor, que manipula técnicas e detém saberes específicos à sua atividade; um leitor 8 9 ou destinatário, concebido como um sujeito transindividual cujas respostas estão diretamente ligadas às programações sociais de comportamento do contexto histórico no qual se insere; e, por fim, um significado aceito socialmente como válido, resultante do trabalho de investimento de sentido (MAUAD, 2005). A fotografia comunica-se, portanto, por meio de mensagens não-verbais, cujo signo que a constitui é a imagem. Como resultado de um trabalho humano de comunicação, ela está associada a códigos convencionalmente aceitos nos contextos em que está inserida como mensagem. É inquestionável, também, que somos reféns de nossos próprios olhos e de nosso referencial teórico e repertório cultural. Analisar uma imagem é muito mais do que simplesmente reconhecer seu traço. Durante anos privilegiou-se o autor, em seguida, a obra e, por fim, o espectador. Todos estes conceitos, na verdade, podem ser resumidos em um único: ler imagem é atribuir significados. Em relação ao autor, temos, além do olhar – elemento fundamental – o dispositivo de caráter tecnológico (câmera) que intermedia a relação entre o sujeito que olha e a imagem elaborada. Sobre o produto resultante se processada em uma dada temporalidade, que conta histórias (fatos/acontecimentos), registra memórias, inventa, imagina... E, na parte final desse processo está a recepção, o leitor/ espectador, que, em geral, tem uma relação simplesmente estética com a imagem, atribuindo-lhe valor informativo, artístico, pessoal, etc. Entretanto, para aqueles que vão além desses aspectos, existem as questões de análise da imagem, como, por exemplo, os níveis técnico e morfológico, compositivo e narrativo. Figura 2 – Wang Qingsong. Siga-me, 2003. Fotografi a encenada pelo artista chinês Wang Qingsong (1966-) Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de um homem sentado em frente a uma grande lousa cober- ta com escritas em várias línguas e cores de giz. O homem, que usa óculos e veste uma camisa escura com gravata, olha diretamente para a câmera, com uma mão no queixo, como se estivesse pensando ou avaliando. Em cima da mesa à sua frente, há livros, uma garrafa de água e um globo terrestre. A lousa atrás dele está cheia de palavras, desenhos e símbolos, criando uma composição densa e complexa. Fim da descrição. Nesta unidade, estudaremos a análise de imagem com base no nível técnico; na unidade posterior, no nível morfológico; e, adiante, nos níveis compositivo e narrativo. O material tem como base o método proposto por Felici (2004), a 9 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico partir de dados disponíveis como, por exemplo, nome do autor, título, data de sua produção, etc. Na verdade, esta última informação não é, segundo Felici, estritamente necessária – embora não seja a circunstância ideal –, uma vez que uma análise de imagem pode ser realizada sem serem conhecidos a autoria, o título ou o ano da fotografia. Análise da Imagem – Nível Técnico “O primeiro problema que enfrentamos é a constatação de que o investigador projeta sempre sobre a imagem uma carga importante de ideias feitas e de convicções particulares, gostos e preferências” (FELICI, 2004, on-line). O alerta do autor é para que o analista da imagem reconheça a existência desse “condicionamento inevitável”, mas que trate de corrigi-lo para que este fator não distorça a análise. O nível técnico recolhe as informações necessárias sobre a(s) técnica(s) utilizadas(s), o(a) autor(a) da obra, o momento a que se reporta a imagem, a origem da imagem (livro, catálogo, internet, etc.), seu formato original, a câmera, objetivas, o movimen- to artístico ou escola fotográfica a que pertence, assim como a pesquisa de outros estudos críticos sobre o trabalho analisado, entre outros dados. Finalmente, a própria experiência vem demonstrando que, a cada novo tipo de fotografia e objeto a ser estudado a partir da imagem fotográfica, o pesquisador vê-se obrigado a atualizar o método de análise e adequá-lo à sua matéria significante, guardando os imperativos metodológicos apresentados. Nesse sentido, é sempre importante lembrar que toda a metodologia, longe de ser um receituário estrito, aproxima-se mais de uma receita de bolo, na qual, cada mestre-cuca adiciona um ingrediente a seu gosto. (MAUAD, 2005) Dados Gerais Título e Data da Fotografia O título da fotografia costuma vincular o sentido da fotografia a partir da pers- pectiva do autor. Entretanto, devemos estar atentos em relação a reflexões realiza- das pelo autor da fotografia, uma vez que quase sempre a análise textual permite chegar muito além em significado que aquilo que o autor possa dizer sobre a sua própria obra. Um exemplo são as fotografias de Duane Michals (1932-), nas quais as legendas se constituem em uma boa reflexão sobreo sentido da imagem a partir da dimensão do autor. Em As coisas são estranhas (1973) (Fig. 3), o fotógrafo apresenta nove imagens sequenciais nas quais histórias são encenadas, registrando sua visão do mundo interior por meio de narrativas psicológicas. “Sempre afirmei que eu quero que minhas fotografias sussurrem. Enquanto um monte de fotografias grita para chamar a atenção”, relatou. Neste momento, também pode ser incluída a data em que foi tirada a fotografia. 10 11 Figura 3 – Duane Michals. As coisas são estranhas, 1973. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma sequência de nove fotografias em preto e branco, com a frase “THINGS ARE QUEER” na primeira imagem. As fotos mostram diversas perspectivas de um banheiro e corredores, brincando com a escala e a percepção. Uma imagem mostra somente parte das pernas de uma pessoa em frente a um vaso sanitá- rio, outra mostra um homem abaixado olhando para o vaso, e uma terceira foto revela que a cena está dentro de um quadro na parede de um corredor. A sequência cria um efeito de loop visual ou de imagem dentro de imagem. Fim da descrição. Autor(a), Nacionalidade, Nascimento/Morte Estas informações registram a autoria da imagem, a nacionalidade do fotógrafo e o ano de produção da fotografia, o que permite situá-la geográfica e historica- mente. Esses dados nos auxiliam no relacionamento da fotografia com o conjunto da obra do autor, se ele é conhecido, ou com outras produções artísticas do perí- odo e do país. O conhecimento prévio do autor e da sua obra é importante para possibilitar o reconhecimento de seu estilo. Neste item pode ser incluída uma foto do artista/fotógrafo. Entretanto, é frequente não dispormos dessas informações, especialmente no mundo digital onde as imagens são reproduzidas sem nenhum crédito ou informação sobre sua origem ou autoria. Mas, mais uma vez, nada disso deve ser obstáculo para analisarmos uma imagem. Fonte da Imagem Também é interessante especificarmos a fonte da imagem: museu, galeria, livro, ca- tálogo ou documento eletrônico, etc. Nesse aspecto, é importante tentarmos encontrar uma origem (fonte) extremamente confiável para que tenhamos certeza da veracidade dessas informações. Com o advento da internet ficou muito mais fácil chegarmos a esses dados, entretanto, todo cuidado é pouco, será preciso confirmar as informações coletadas, sob pena de nossa análise ficar comprometida. Um exemplo é a fotografia Guerrilheiro heroico (1960) (Fig. 4), de Alberto Korda (1928-2001). A imagem, uma das mais reproduzidas no mundo, foi recortada pelo próprio Korda (Fig. 5). 11 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Figura 4 – Alberto Korda. Guerrilheiro heroico, 1960. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um homem com uma expressão séria olhando para o horizonte. Ele está usando uma boina com uma estrela na frente e uma jaqueta com zíper. Ao lado dele, aparece parcialmente o perfil de outro homem. Há uma planta com folhas longas e finas à direita da imagem. Fim da descrição. Figura 5 – Alberto Korda. Guerrilheiro heroico, 1960. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um homem com uma expressão inten- sa e olhar distante. Ele está usando uma boina com uma estrela e uma jaqueta escura com zíper. A imagem captura o homem de perto, com foco em seu rosto e parte do ombro. Fim da descrição. Gênero e Local Onde Foi Tirada a Fotografia Outro aspecto importante é a classificação do gênero da fotografia, um aspecto muitas vezes difícil porque uma mesma fotografia pode apresentar vários atributos genéricos ao mesmo tempo, o que pode causar alguma polêmica. Assim, podemos classificar as imagens em gêneros básicos como retrato, conforme a fotografia de Malick Sidibé (1936-2016), A most seul (1978) (Fig. 6); paisagem, natureza-morta e documental, além de fotografia de arte, publicitária, de eventos, gastronomia, entre tantos outros. Muitas fotografias contemplam simultaneamente vários gêneros e subgêneros, por isso, na análise da imagem é importante registrarmos esse aspecto. Frede- rick Sommer (1905-1999), em seu trabalho Max Ernest (1946) (Fig. 7), mostra 12 13 claramente isso com o gênero retrato e o subgênero fotografia de arte, juntos. Ele im- primiu dois negativos em um só papel fotográfico. Neste momento também pode ser incluída a informação sobre o local onde foi tirada a fotografia, se estiver disponível. Figura 6 – Malick Sidibé. A most seul, 1978. Fotografi a. Gênero: retrato Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de um homem de pé em frente a um fundo listrado verti- calmente com várias cores. Ele veste um terno xadrez completo com calças, paletó e colete, além de uma camisa branca e uma gravata. O chão tem um padrão geométrico complexo, e o homem olha diretamente para a câmera com uma expressão séria. A foto é em preto e branco. Fim da descrição. Figura 7 – Frederick Sommer. Max Ernest, 1946. Gênero retrato e subgênero fotografi a de arte. Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco mostrando a imagem superposta de um rosto de homem sobre a textura de madeira envelhecida. O rosto, que aparece quase como uma transparência, está alinhado com as tábuas de madeira, dando a impressão de que é parte da superfície. O homem tem uma expressão séria e olha diretamente para a câmera, com detalhes de sua imagem misturando-se aos veios e imperfeições da madeira. Fim da descrição. 13 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Estilo, Escola ou Movimento Artístico Em alguns casos, é possível inclusive situar a fotografia ou o autor da imagem em uma determinada corrente ou movimento artístico, escola fotográfica, etc., cujo conhe- cimento pode ser de grande utilidade para a análise textual da fotografia. Neste caso, é importante apresentar, na análise, uma breve descrição dos principais pontos do movimento artístico e a sua época de ocorrência. Normalmente, características de um movimento artístico são observadas na fotografia, auxiliando o observador na leitura da imagem, a partir das características pertencentes a esses movimentos, no caso a ideia e o conceito. Entretanto, não é uma informação que impeça a realização da análise. Cena de perseguição (1969), de Vito Acconci (1940-2017) (Fig. 8), por exemplo, está ligada à arte conceitual – conjunto de práticas artísticas ocorrida nos anos 1960/1970, no qual o conceito e as ideias e não o meio (formalismo da arte) são a essência do movimento. Acconci trabalhou o papel da fotografia como um meio de vigilância e controle social. Em Cena de perseguição o artista seguia um estranho escolhido por acaso, em Nova York, até essa pessoa entrar em um espaço privado. As fotografias – que não foram tiradas por Acconci, que aparece de costas – documentam uma performance do artista. Figura 8 – Vito Acconci. Cena de perseguição, 1969. Fotografia conceitual Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de duas pessoas andando em uma rua de paralelepípedos, com a vista de suas costas. À esquerda, um indivíduo de cabelos longos e casaco escuro; à direita, alguém de camisa clara e calças escuras. Ao fundo, há edifícios, um estabelecimento com a palavra “SIGNS” na fachada e carros estaciona- dos. A foto tem um aspecto granulado, típico de imagens antigas ou de filmes de alta velocidade. Fim da descrição. Parâmetros Técnicos P/B, Cor A fotografia pode ser em preto e branco ou em cores; ser originalmente em preto e branco e ter sido colorizada posteriormente ou ser originalmente em cores e ter sido transformada em preto e branco. Nesses dois últimos casos, o ideal é que 14 15 essas informações estejam disponíveis, pois, caso contrário, não teremos como concluir que essas técnicas foram utilizadas. Uma fotografia também pode ser, simultaneamente, em preto e branco e em cores, caso tenha algum elemento ou parte da imagem com essas características. Formato OriginalOutro aspecto igualmente importante é o tamanho original da imagem que ana- lisamos. Por vezes, esta informação está presente na própria legenda da imagem. É obvio que as condições de recepção de uma fotografia por parte do espectador se alteram de forma substancial quando as imagens são de grandes dimensões ou quando apresentam dimensões muito reduzidas. Este aspecto apresenta importantes consequências na análise, quando se estuda a relação da imagem com o espectador. Câmera O tipo de câmara utilizada é outro aspecto igualmente relevante. Nas fotografias analógicas, caso não consigamos essa informação junto à imagem ou em bancos de dados, fica praticamente impossível identificar a câmera utilizada. Já nas imagens digitais, normalmente, essa informação está em “Informações do arquivo” ou em “Propriedades”, da fotografia. Suporte Em certas ocasiões, pode-se dispor de informação sobre o tipo de formato foto- gráfico empregado, como o universal ou 35 mm, o formato médio ou grande for- mato. Essas informações podem apresentar muitas alternativas, inclusive identificar a marca e o tipo de película utilizada, no caso de fotografia analógica. Estas informa- ções possibilitam a compreensão sobre como o autor conseguiu obter determinados efeitos visuais, mas, sobretudo, as condições de produção da fotografia. Objetiva(s) Esta informação, quando disponível, permite que conheçamos se foi utilizada uma teleobjetiva, uma lente grande-angular, uma objetiva normal, uma objetiva olho de peixe, etc. A seleção da objetiva produz importantes consequências na construção do ponto de vista físico da fotografia. Uma objetiva grande-angular, por exemplo, pode auxiliar o fotógrafo na inclusão de muitas informações no quadro ou destacar o primeiro plano, fazendo com que ele pareça enorme em comparação com o fundo. Já uma teleobjetiva pode compactar uma imagem e dar a impressão de que objetos aparentemente distantes estejam próximos um do outro. Henri Cartier-Bresson (1908-2004), por exemplo, fotografou quase todos os seus trabalhos com uma objetiva padrão de 50 mm. Foco Dentro das questões técnicas, o foco é um elemento que deve ser analisado. O fotógrafo tem a possibilidade de controlar a localização do foco e também os 15 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico objetos que ficarão nítidos. Um elemento da fotografia pode ser destacado sobre os demais como ponto de maior nitidez dentro do quadro. A força da mensagem se deve muito ao foco. Conforme Feijó (2018), uma “pequena falta de foco de todos os elementos que compõem a imagem pode servir para a suavização dos traços, o contrário acontece quando há total nitidez que demonstra a rudeza ou brutalidade da realidade”. Paolo Pellegrin (1964-), em Civis chegando a Tiro depois de fugir de suas al- deias no sul do Líbano (2006) (Fig. 9), mostra uma imagem sob condições precá- rias de luz, proporcionando desfoque e embaçamento devido à vibração da câmera causada por longas exposições. Ele procura intensificar o drama e a expressividade da cena. Figura 9 – Paolo Pellegrin. Civis chegando a Tiro depois de fugir de suas aldeias no sul do Líbano, 2006. Fotografia Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma menina olhando diretamente para a câmera com uma expressão pensativa. Sua face é parcialmente coberta por sombras de folhas, criando um padrão contrastante. Ela veste um macacão sem alça e sua postura sugere uma pausa ou um momento de reflexão. A fotografia tem um efeito granulado e artístico. Fim da descrição. Ângulo/Ponto de Vista A câmera pode ser situada na mesma altura do sujeito ou objeto a ser fo- tografado, como também abaixo ou acima dele. Feijó (2018) observa que, ao fotografarmos com a máquina de um ângulo superior (de cima para baixo) ou de um ângulo inferior (de baixo para cima) temos que nos preocupar com a impres- são subjetiva causada por esta visão. Segundo ele, a máquina na posição de um ângulo superior (Fig. 10) tende a diminuir o sujeito em relação ao espectador e pode significar derrota, opressão, submissão, fraqueza do fotografado; enquanto que em um ângulo inferior (Fig. 11) pode ressaltar a sua grandeza, sua força, seu domínio. Evidentemente, que essa análise vai depender do contexto em que a altura da câmera for usada. 16 17 Figura 10 – Cindy Sherman. Sem título nº 92 (série Centerfolds), 1981. Fotografi a Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de uma pessoa com cabelos molhados e camisa branca, olhando abaixo da câmera com uma expressão de surpresa ou ansiedade. A pessoa está ajoelhada no chão, que parece ser de madeira escura, e usa uma saia xadrez. A iluminação destaca o rosto e a parte superior do corpo. Fim da descrição. Figura 11 – Dmitri Baltermants. Ataque, 1941. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco capturando o movimento borrado de três figuras humanas. As silhuetas estão dispostas diagonalmente, com duas delas apa- rentemente em combate, empunhando um rifle. A terceira figura observa mirando de dentro de uma trincheira. A imagem é dinâmica e a ação é capturada em um instante que sugere movimento e intensidade. Fim da descrição. Dados Biográficos e Comentários Críticos Sobre o Autor Também é importante dispormos de informações sobre o fotógrafo como, por exemplo, uma pequena biografia e de comentários críticos e técnicos realizados por especialistas – e também realizados pelo próprio autor da imagem – sobre a obra fotográfica em análise. Esses dados podem auxiliar na melhor compreensão da imagem, ainda que uma crítica ou análise possam vir acompanhados de inter- pretações pessoais, mas, neste caso, é fundamental que fique claro sua intenção de personalizar a análise. 17 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Outras Informações Nesta seção, podem ser incluídos dados disponíveis como, por exemplo, a uti- lização de filtros fotográficos (ópticos ou digitais), utilização de imagens negativas, técnicas de revelação ou pós-produção, entre outras informações que podem estar disponíveis em catálogos ou nas fontes de origem da fotografia. Uma fotografia também pode incorporar inscrições de letras, palavras, textos, frases ou outros elementos verbais (Figs. 12 e 13) em duas dimensões diferentes: como objeto, resultado da presença de marcas, calendários, cartas, anúncios lumi- nosos, etc., ou como componente conceitual relativamente à expressão direta de uma palavra ou frase sub ou sobreposta. A legenda da foto pode ter sido delibera- damente inscrita pelo autor em algum lugar do texto fotográfico como um título. Este espaço também fica reservado para a inclusão de outros conceitos que podem estar relacionados com o nível morfológico da análise da fotografia. De 1977 a 1985, o fotógrafo norte-americano Jim Goldberg (1953-) documentou a vida de pessoas afetadas pela crise econômica e social nos Estados Unidos, na época. Ele fotografou hóspedes temporários em um hotel onde famílias viviam em situação de pobreza e tam- bém casas de ricos. Ele questionou as pessoas sobre suas vidas, esperanças e medos, per- guntando: “Se você morresse ou deixasse este espaço amanhã, e se esta foto fosse colocada na porta como uma lembrança de você, o que você diria?” (LOWE, 2017, p. 247). Na figura 12 lemos: “I love David. But he is to fragile for a rough father like me.” (“Eu amo David. Mas ele é frágil para um pai áspero como eu.”). E, na Figura 13: “I wish I could see more softness within myself. Most of the time, as though in limbo, I feel caught between an iceberg and a desert.” (“Eu queria poder ver mais suavidade dentro de mim. Na maioria das vezes, como no limbo, eu me senti atrapalhada entre um iceberg e um deserto.”). Conforme Lowe (2017), “a justaposição do texto escrito à mão e da imagem faz a conexão com as pessoas parecer tangível e visceral; ela explora o espaço entre o que pode ser visto e o que está sendo dito”. Ex pl or Figura 12 – Jim Goldberg. Ricos e pobres, 1979. Fotografia Fonte:Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco de um homem barbu- do e uma criança de pé em um quarto desordenado. O homem está sem camisa e usa óculos, enquanto a criança está parcialmente vestida. A sala tem uma cama desfeita, 18 19 uma cômoda aberta e diversos objetos espalhados. Na parte inferior da fotografia, há uma inscrição à mão que diz: “I love David. But he is too fragile for a rough father like me”, assinado por “Larry J. Clark”. Fim da descrição. Figura 13 – Jim Goldberg. Ricos e pobres, 1983. Fotografi a Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco que mostra uma pes- soa sentada em um sofá longo e escuro em uma sala de estar minimalista, com uma grande obra de arte abstrata na parede. A sala tem paredes brancas e um piso claro. No canto inferior direito da imagem, há uma inscrição manuscrita que diz: “I wish I could see more softness within myself most of the time, as though in limbo, I feel caught between an iceberg and a desert.” A assinatura é “Elizabeth”. Fim da descrição 19 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Anexos Ficha Para Análise Fotográfica – Nível Técnico Há uma grande quantidade de propostas de metodologias para a análise fo- tográfica, que contemplam várias etapas, desde a análise técnica até a narrativa. A partir do estudo de Felici (2004), e de sua proposta de fichas para esse tipo de análise, apresentamos, a seguir, a ficha 1 que contempla elementos do nível técnico, apresentados nesta unidade. A adaptação busca o desenvolvimento de uma análise fotográfica básica, por meio da identificação dos principais elemen- tos constantes nas imagens. ANÁLISE FOTOGRÁFICA FOTOGRAFIA Ficha 1 – Nível técnico ELEMENTO SIM / NÃO ANÁLISE 1. Dados gerais Título e data da fotografia Autor(a), nacionalidade, nascimento/morte Fonte da imagem Gênero(s) e local da fotografia Estilo, escola ou movimento artístico 2. Parâmetros técnicos P/B, cor Formato original Câmera Suporte Objetiva(s) Foco Ângulo/ponto de vista Dados biográficos sobre o autor Comentários críticos sobre o autor Outras informações: Análise realizada por: Fonte: ficha adaptada de Felici (2004) 20 21 Análise Fotográfica – Nível Técnico – Exemplo ANÁLISE FOTOGRÁFICA FOTOGRAFIA Figura 14 – Ansel Adams. Tempestade de inverno se dissipando, Yosemite Valley, c.1935. Fotografi a Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de uma paisagem montanhosa coberta de neve em preto e branco. As montanhas majestosas são cercadas por nuvens baixas, com destaque para uma cachoeira que flui de uma das formações rochosas. Árvores cobertas de neve preenchem a parte inferior da imagem, proporcionando um contraste texturi- zado contra o céu nublado e as montanhas ao fundo. Fim da descrição. Ficha 1 – Nível técnico ELEMENTO SIM / NÃO ANÁLISE 1. Dados gerais Título e data da fotografia Tempestade de inverno se dissipando, Yosemite Valley, 1944. 21 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Autor(a), nacionalidade, nascimento/morte Ansel Adams, norte-americano, 1902-1984 Figura 15 – Malcolm Greany. Ansel Adams, 1950 Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um homem com barba e bigode, usando um chapéu de abas largas e um casaco longo de veludo cotelê. Ele está ajoelhado ao lado de uma câmera fotográfica antiga montada em um tripé. O homem segura um fotômetro na mão e olha diretamente para a câmera com uma expressão de leve sorriso. Ao fundo, pode- -se ver parte de uma árvore de folhas densas. Fim da descrição. Fonte da imagem LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. Gênero(s) e local da fotografia Paisagem, Parque Nacional de Yosemite, Califórnia (Estados Unidos) Estilo, escola ou movimento artístico Não 2. Parâmetros técnicos P/B, cor P/B Formato original 39,5 x 48,5 cm Câmera Grande formato. Exposição 1/5 segundos e abertura f/16. Marca da câmera não identificada. Suporte Película negativa Isopan de 64 ASA de 8” x 10” (20 x 25 cm) Objetiva(s) Objetiva Cooke Series XV de 12 ¼ polegadas Foco Extremo Ângulo/ponto de vista Central Dados biográficos sobre o autor Após uma viagem ao Yosemite National Park, então com 14 anos, Adams começou a experimentar a fotografia. A partir de 1937, viveu por dez anos no parque onde conheceu profundamente sua geografia e condições meteorológicas de forma que sabia exatamente quando e onde fotografar para alcançar o resultado que queria. Ele era membro da organização ambiental Sierra Club, onde pode atuar pela preservação de áreas naturais americanas como um ativo ambientalista. Juntamente com Paul Strand e Edward Weston, fundou o influente Grupo f/64, nome referente à abertura mínima de uma objetiva que dá maior profundidade de campo. Comentários críticos sobre o autor Juntamente com o fotógrafo Fred Archer, Adams desenvolveu a ideia do Sistema de Zonas, método para exposição e revelação da fotografia em preto e branco, com dez zonas de densidade, de preto puro a branco puro com uma graduação sutil de tons de cinza no intervalo. Em algarismos romanos, 0 representa preto puro; X, branco puro; e V, cinza médio. 22 23 Outras informações: Não Análise realizada por: Rita Jimenez Fonte: ficha e conteúdo adaptados de Felici (2004 e 2009) Com base na ficha 1 – Análise fotográfica – Nível técnico, apresentada nesta Unidade, analise a fotografia de Peter Fraser (Figura 16), uma construção que parece estar viva. Dicas: confira o site do fotógrafo e também o livro Mestres da Fotografia, de Peter Lowe (Gustavo Gili, 2017, p. 106-107). Figura 16 – Peter Fraser Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de um copo de isopor com muitos palitos de madeira espeta- dos nele, criando uma forma que lembra um ouriço. O objeto está colocado sobre uma superfície de madeira com brilho reflexivo, e ao fundo há uma parede com uma faixa de pintura verde na base. A luz que incide sobre o objeto forma sombras complexas na parede. Fim da descrição. 23 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Técnico Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Calendário de concursos de fotografia https://goo.gl/S4u45c Vídeos Ansel Adams a documentary film Escrito e dirigido por Ric Burns, 2002. Documentário dedicado ao fotógrafo e ambientalista norte-americano Ansel Adams (1902-1984), mestre nos aspectos técnicos e estéticos da fotografia de paisagem em preto e branco. https://youtu.be/hNvMBvkmjvU Leitura Como descobrir informações técnicas de uma foto pelo PC https://goo.gl/Z6Wbo4 Da fotografia analógica à ascensão da fotografia digital https://goo.gl/X2QXn2 24 25 Referências FEIJÓ, Cláudio. Linguagem fotográfica. Universidade Estadual de Londrina/ Especialização em Fotografia [2018]. Disponível em: http://www.uel.br/pos/ fotografia/wp-content/uploads/downs-uteis-linguagem-fotografica.pdf. Acesso em: 13 mar. 2018. FELICI, Javier Marzal. Cómo se lee una fotografia – Interpretaciones de la mirada. Madri: Cátedra, 2009. ________, Javier Marzal. Proposta de modelo de análise da imagem fotográfica – Descrição dos conceitos contemplados. In: I Congresso de Teoria e Técnica dos Meios Audiovisuais, Castellón (Espanha), 2004. Disponível em: http://www. analisisfotografia.uji.es/root2/meto_por.html. Acesso em: 25 fev. 2018. HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. MAUAD, Ana Maria. Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas ilustradas cariocas, na primeira metade do século XX. In: Anais do Museu Paulista. v. 13. n.1. Jan.-Jun. 2005. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ anaismp/article/view/5417/6947. Acesso em: 26 fev. 2018 25 Linguagem Fotográfica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Prof.ª Me. Natalia Conti Análise da Imagem – Nível Morfológico •Introdução; • Análise da Imagem – Nível Morfológico; • Outras Informações; • Anexo 1. · Conhecer os elementos básicos para a leitura de uma imagem foto- gráfica no nível morfológico. · Identificar em fotografias os elementos que compõem o nível morfo- lógico para análise de uma imagem. · Realizar análise de imagem fotográfica a partir do uso de ficha espe- cífica para o nível morfológico. OBJETIVO DE APRENDIZADO Análise da Imagem – Nível Morfológico Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Figura 1 – Henri Cartier-Bresson. Venda de ouro, 1948. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um grupo de pessoas aglomeradas, algumas se abraçando firmemente. Elas estão vestidas com roupas de frio, e suas expressões variam entre preocupação e conforto mútuo. A cena parece capturar um momento de urgência ou necessidade de apoio. Fim da descrição. Introdução Você pode encontrar fotos em qualquer lugar. É simplesmente uma ques- tão de perceber as coisas e organizá-las. Você apenas tem de se preo- cupar com o que está ao seu redor e envolver-se com a humanidade e a comédia humana. Elliot Erwitt (1928-) (LOWE, 2017, p. 197) A análise de uma fotografia a partir de seus elementos morfológicos – que pos- suem natureza espacial e constituem a estrutura da imagem – auxilia na identificação das diferentes relações do texto visual. Se prestarmos atenção em uma foto, iden- tificaremos pontos, linhas, texturas, cores, entre outros elementos. O conjunto dos aspectos tratados no nível morfológico nos possibilita determinar se a imagem que analisamos é figurativa/abstrata, simples/complexa, possui um único significado/ mais de um significado, etc. Apesar de o nível morfológico estar centrado no exame dos elementos objetivos, não devemos perder de vista que o seu estudo não pode estar isento de uma carga subjetiva na atividade analítica. 8 9 Análise da Imagem – Nível Morfológico Descrição do motivo fotográfi co A análise propriamente dita da fotografia, conforme Felici (2004), deve ser iniciada a partir de uma detalhada descrição do motivo fotográfico, ou seja, aquilo que a foto- grafia representa em uma primeira leitura da imagem. Esta primeira informação auxilia o analista a identificar o grau de figuração ou de abstração da fotografia, oferecendo condições para que o estudo da imagem se desenvolva. Lembrando que figuração está relacionada à representação de seres, natureza e objetos em suas formas reconhecíveis para aqueles que as olham, conforme podemos observar na figura 2. Já a abstração busca expressar o mundo interior, o mundo dos sentidos, bem como relações concretas usando como referência apenas os recursos como a cor, as linhas, etc. (Fig. 3) (ARTE FIGURATIVA, 2018). Fig. 2 – Gabriel Orozco. Gato na selva, 2002. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de várias latas de feijão verde empilhadas em uma prateleira de supermercado. Entre as latas, uma delas tem o rótulo substituído pela imagem de um gato olhando para fora. O gato tem olhos grandes e atentos, e sua imagem se destaca entre os rótulos verdes que indicam “GRAND UNION French Style Green Beans, No Salt Added”. Fim da descrição. 9 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Fig. 3 – Garry Fabian Miller. Saciando o olhar de vermelho & azul, 2008. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma obra de arte abstrata consistindo em um retângulo vermelho centralizado sobre um fundo azul uniforme. A obra apresenta linhas limpas e um forte contraste entre as duas cores, com o vermelho parecendo flutuar sobre o azul. Fim da descrição. Ponto(s) de interesse Do ponto de vista da composição da imagem, uma fotografia é formada por grãos fotográficos, mais ou menos visíveis, no caso da fotografia fotoquímica (analógica); ou por pixels (picture elements), no caso da fotografia digital. O ponto é o elemento visual mais simples. Como conceito morfológico, o ponto também pode estar relacionado com a construção compositiva da imagem por meio da existência de centros de interesse em uma fotografia ou de focos de atenção. Os pontos podem coincidir ou não com os pontos de fuga quando se trata de uma composição em perspectiva, ou da existência de um centro geométrico da imagem (encontro das duas diagonais). Neste último caso, dependendo da posição do ponto no espaço da representação, a composição pode ter um maior ou menor dinamis- mo. Se o ponto coincide com os eixos diagonais da imagem (geralmente quadrada ou retangular) encontraremos uma composição na qual o ponto contribui para incre- mentar a tensão na imagem. a) Ponto único ou simples – Chama a atenção para si por ser a única con- centração de detalhe em uma imagem praticamente vazia. A mensagem transmitida pela imagem de apenas um ponto é a de isolamento (Fig. 4). 10 11 Fig. 4 – Paul Stefan. Tate Modern Turbine Hall, s/d. Fotografi a Fonte: Lowe, 2010 #ParaTodosVerem: Figura de uma pessoa em pé ao longe, isolada no centro de um grande espaço aberto com um piso que parece ser de concreto. Há uma linha reta no chão que se estende do ponto de vista do observador até a pessoa. A iluminação suave e a vastidão do espaço transmitem uma sensação de solidão. Fim da descrição. b) Ponto central – De forma geral é quando o ponto coincide com o centro geométrico da imagem (intersecção das duas diagonais), confi gurando uma composição estática (Fig. 5). Fig. 5 – George Hoyningen-Huene. Mergulhadores, 1930. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco mostrando duas pessoas sentadas de lado em uma plataforma de madeira, olhando para o mar. Uma pessoa está de traje de banho masculino, com cabelo curto, e a outra está de traje de banho feminino. O fundo é uma superfície lisa e calma de água e um céu claro. Fim da descrição. 11 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico c) Dois ou mais pontos – Assim que um outro ponto (além do único) é iden- tificado em uma imagem, imediatamente se estabelece uma relação entre eles, que passam a ser conectados por uma linha virtual, chamada de linha óptica. A existência de dois ou mais pontos pode facilitara criação de ve- tores de direção de leitura da imagem, o que multiplica a força dinâmica e tensional da composição (Fig. 6). Fig. 6 – Tina Modotti. Parada dos trabalhadores, 1926 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma multidão de pessoas vistas de cima, a maioria usando chapéus de abas largas. Os detalhes individuais não são distin- guíveis, mas o mar de chapéus cria um padrão texturizado. Fim da descrição. Em termos de posicionamento, o ponto de interesse de uma imagem pode estar localizado, conforme a regra dos terços (futuramente estudaremos com mais detalhes esse tema), em uma das quatro linhas (duas horizontais e duas verticais) e nas suas intersecções (Fig. 7). O ponto – ou pontos – de interesse pode estar localizado em mais de um quadro. Identificamos os pontos como ponto superior esquerdo, ponto superior direito; ponto inferior esquerdo e ponto inferior direito. Fig. 7 – Localização das linhas e dos pontos de interesse (em vermelho) em uma fotografia conforme a regra dos terços Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: Figura de um diagrama simples com duas linhas verticais e duas linhas horizontais formando uma grade sobre um fundo branco. Quatro pontos verme- 12 13 lhos marcam os cruzamentos das linhas. No topo, há textos que dizem “Linha vertical esquerda” e “Linha vertical direita” para as linhas verticais, e “Linha horizontal supe- rior” e “Linha horizontal inferior” para as linhas horizontais. Fim da descrição. Linha A linha é definida como uma sucessão de pontos que, pela sua natureza, transmite energia, sendo geradora de movimento. É um elemento plástico com força suficiente para veicular as características estruturais (forma, proporção, etc.) de qualquer objeto. A linha pode desempenhar diversas funções plásticas como, por exemplo: a) Constitui um elemento formal que permite separar os diferentes planos, formas e objetos presentes numa determinada composição (a linha de con- torno, por exemplo, é o elemento que possibilita distinguir uma fi gura de um fundo perceptivo. b) É um elemento-chave para dotar de volume os sujeitos ou os objetos dis- postos no espaço bidimensional da representação visual. c) Quando a linha coincide com os eixos diagonais, a sua capacidade dinami- zadora é mais evidente. Por outro lado, as linhas horizontais, verticais ou diagonais podem dotar a imagem de significados peculiares, dando conotações de materialismo, espiritualidade ou de di- namismo. As linhas diagonais transmitem ideia de movimento e passam a sensação de expectativa e tensão, como podemos observar em Transportadores entrecruzados, fábrica da Ford, Detroit (1927), de Charles Sheeler (1883-1965) (Fig. 8). Essas linhas não precisam ser reais, uma vez que pontos organizados diagonalmente podem fazer essa função. Sebastião Salgado faz isso com muita competência em Guatemala (1978) (Fig. 9), onde uma linha diagonal imaginária une as duas personagens da foto. Também é importante destacar que uma das linhas mais importantes na fotografia é a do horizonte. Ela dá uma sensação estável à imagem, pois está em repouso e é inerte. Fig. 8 – Charles Sheeler. Transportadores entrecruzados, fábrica da Ford, Detroit, 1927. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma estrutura industrial. Há uma série de grandes chaminés liberando fumaça ao fundo e uma construção complexa de vigas 13 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico de metal em primeiro plano, sugerindo uma passarela ou suporte de transporte. A cena transmite uma sensação de indústria pesada e manufatura. Fim da descrição. Fig. 9 – Sebastião Salgado. Guatemala, 1978. Fotografia Fonte: Fonte: Lowe, 2010 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco mostrando à esquerda uma menina co- mendo uma maçã do amor, com uma bandeja equilibrada na cabeça contendo várias outras frutas espetadas em palitos. À direita, uma mulher observa de dentro de uma construção de madeira através de uma pequena janela quadrada. O cenário ao fundo é de vegetação e céu nublado. Fim da descrição. As linhas curvas numa composição costumam transmitir movimento e dinamismo. Quando uma linha em forma de S aparece na imagem e vai diminuindo aos poucos – como na imagem de um rio sinuoso – sugere uma progressão lenta e natural, proporcionando uma sensação de atemporalidade sem que a imagem pareça estática (Fig. 10). Fig. 10 – Ansel Adams. Tetons and Snake River, 1942. Fotografia Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma paisagem natural. No primeiro pla- no, um rio sinuoso flui entre bancos arborizados. Ao fundo, um conjunto de montanhas 14 15 escarpadas com picos nevados se eleva sob um céu nublado e dramático. A luz do céu ilumina parcialmente o rio e a paisagem, criando um contraste de luz e sombra. Fim da descrição. Profundidade/planos A percepção da profundidade ou de planos em uma imagem é resultado de dois elementos: a sobreposição das figuras do enquadramento, o que permite distinguir entre objetos e sujeitos, por exemplo, situados mais próximos ou mais longe do ponto de observação (primeiro plano, segundo plano, etc.) e pela sua disposição a partir de um determinado ângulo, definido pela perspectiva. Em Portugal (1976), Josef Koudelka (1938-) (Fig. 11) mostra em primeiro plano uma criança angelical e uma mulher com o rosto parcialmente coberto por um véu, enquanto que, em segundo plano, aparece um homem sentado e, ao fundo, a sombra do homem em uma parede. Neste caso, o fotógrafo deixa para o espectador imaginar a narrativa da situação. Fig. 11 – Josef Koudelka. Portugal, 1976. Fotografi a Fonte: Lowe, 2010 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um interior simples com paredes claras e chão de madeira. À esquerda, há um cabide de pé. A luz do sol entra pela janela, criando um padrão de sombra geométrico no chão e na parede. À direita, um homem idoso está sentado de perfil, usando óculos e segurando um chapéu. Em frente a ele, de costas para a câmera, uma mulher em trajes escuros parece estar em conversa com uma criança de cabelos encaracolados, que olha para o homem, sentada no chão à esquerda. Fim da descrição Escala A escala refere-se ao tamanho da figura na imagem, sendo a dimensão do corpo humano no enquadramento o princípio organizador das diferentes opções que pode- mos considerar. Caso não haja pessoas, o tamanho dos elementos em uma imagem pode ser comparado a objetos presentes. Cuidado: frequentemente fotógrafos le- vam, deliberadamente, o espectador a uma interpretação equivocada dos tamanhos. 15 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Um exemplo clássico é Sem título (Menphis) (1970), de William Eggleston (1939-) (Fig. 12). O fotógrafo utilizava uma grande-angular para exagerar a perspectiva. Fig. 12 – William Eggleston. Sem título (Menphis), 1970. Fotografia Fonte: Lowe, 2017, p. 398-399. #ParaTodosVerem: Figura colorida mostrando um triciclo infantil em primeiro plano so- bre uma superfície de concreto. O triciclo tem o guidão branco com manoplas vermelhas, assento azul e rodas pretas com aros brancos. Ao fundo, uma casa de tijolos com um carro estacionado na garagem e um céu parcialmente nublado. Fim da descrição. Planos/enquadramento Plano é o distanciamento da câmara em relação ao objeto fotografado, levando- se em conta a organização dos elementos internos do enquadramento. Deste modo, é possível distinguirmos os seguintes tipos de planos: grande plano geral, plano geral, plano médio, primeiro plano, e plano de detalhe. A terminologia é utilizada também no campo da análise e da produção cinematográfica e de TV. A utilização de cada um destes tipos de planos produz um significado específico, dependendo do contexto visual. Geralmente, quanto mais próximo está o objeto ou o sujeito fotografado daquele que o observa, maior é o grau de aproximação emotiva ou intelectual do espectador perante o motivo da imagem. E, ao contrário, quanto mais geral é aescala do motivo fotografado, maior costuma ser o seu distanciamento. Vamos conferir, a partir de conceitos de Feijó (2018), definições básicas sobre alguns dos diversos tipos de planos: Grande plano geral – O ambiente é o elemento principal e, o sujeito/ personagem, quando aparece, é um elemento dominado pela situação geográfica. O quadro é preenchido pelo ambiente, deixando uma pequena parcela deste espaço para o sujeito que também o dimensiona. Pode enfatizar a dominação do ambiente 16 17 sobre o homem ou, simbolicamente, a solidão (Fig. 13). Plano geral – Tem grande valor descritivo, situa a ação e o homem no ambiente em que ocorre a ação. O dramático advém do tipo de relação existente entre o sujeito e o ambiente. O plano geral é necessário para localizar o espaço da ação (Fig. 14). Plano médio – É o enquadramento em que o sujeito preenche o quadro (os pés sobre a linha inferior, a cabeça encostando na superior do quadro, até o enquadramento cuja linha inferior corta o sujeito na cintura. “Como se vê, os planos não são rigorosamente fixados por enquadres exatos. Eles permitem variações, sendo definidos muito mais pelo equilíbrio entre os elementos do quadro, do que por medidas formais exatas”, afirma Feijó (2018). Os planos médios são bastante descritivos, diferem dos planos gerais que narram a situação geográfica, porque descrevem a ação e o sujeito (Fig. 15). Primeiro plano – Enquadra o sujeito dando destaque ao seu rosto. Sua função principal é registrar a emoção da fisionomia. O primeiro plano isola o sujeito do ambiente, portanto, orienta a atenção do espectador (Fig. 16). Plano de detalhe – Registra uma parte do rosto do sujeito ou de um objeto. Evidentemente, é um plano de grande impacto pela ampliação que dá a um detalhe. “Pode chegar a criar formas quase abstratas”, lembra Feijó (2018) (Fig. 17).Confira alguns exemplos de fotografias segundo os planos. Fig. 13 – Timothy O’Sullivan. Green River Buttes, 1872. Fotografi a Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma paisagem desértica. No centro, há uma formação rochosa proeminente que se eleva acima do terreno circundante. O solo é pontilhado com arbustos ou pedras pequenas, e a imagem apresenta um tom uniforme, com o céu quase se mesclando com o terreno devido à falta de contraste. Fim da descrição. 17 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Fig. 14 – Edward Burtynsky. Desmonte de navio nº 11, Chittagong, Bangladesh, 2000. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura colorida mostrando um estaleiro de desmontagem de na- vios. Há vários trabalhadores em atividade, com um grande navio chamado “KINGFI- SHER” em processo de desmonte ao fundo. Fumaça e chamas são visíveis em várias áreas, indicando o uso de ferramentas de corte e solda. Restos metálicos e equipa- mentos espalham-se pelo primeiro plano, enquanto o ambiente ao redor é árido e a paisagem ao fundo é plana e desolada. Fim da descrição. Fig. 15 – Alfred Eisenstaedt. Dia V-J em Times Square, 1945. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco capturando um marinheiro vestido de uniforme branco beijando uma mulher de branco em uma rua movimentada. A mulher está inclinada para trás com uma mão na nuca do marinheiro e a outra pendendo ao seu lado. A cena ocorre durante o dia e há várias pessoas ao redor, algumas olhando para o casal e outras passando por eles, desfocadas em movimento. O cenário urbano tem prédios altos com letreiros luminosos. Fim da descrição. 18 19 Fig. 16 – Walker Evans. Mulher de arrendatário de terras do Alabama, 1936. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma mulher sentada, com o rosto vira- do diretamente para a câmera. Ela tem cabelos escuros, puxados para trás, pele clara e uma expressão séria. Está usando um vestido com um pequeno padrão de estampa. Atrás dela, há uma parede de madeira horizontal. A fotografia transmite uma sensa- ção de simplicidade e austeridade. Fim da descrição. Fig. 17 – Jaromir Funke. Composição, 1923. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de objetos metálicos com formas curvas e reflexivas, sugerindo serem pratos ou tampas. Os reflexos criam padrões de luz e sombra, dando uma sensação de movimento e fluidez. A imagem tem um efeito abs- trato, com as formas e o contraste focando na textura e na forma em vez de detalhes específicos. Fim da descrição. 19 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Forma Na determinação das formas presentes numa composição desempenham papel decisivo o contraste de tons, a cor e a linha (em especial a linha de contorno que permite a discriminação de figuras sobre o fundo) e a perspectiva e a sobreposição. Quando o enquadramento apresenta uma grande complexidade de formas, afasta- das das geometrias elementares, tende-se a perceber a imagem como carente de organização interna. Em certos casos, a utilização de formas complexas pode apre- sentar efeitos discursivos de interesse na sua significação. A filha dos dançarinos (1933) (Fig. 18), de Manuel Álvarez Bravo (1902-2002), mostra, claramente, pelo menos dois círculos (janela e chapéu), além do quadriculado dos azulejos na parede. Fig. 18 – Manuel Álvarez Bravo. A filha dos dançarinos, 1933. Fotografia Fonte: MoMa, 2004 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma pessoa de costas, vestida com um chapéu de aba larga e uma saia branca, olhando para dentro de um grande buraco circular em uma parede. A parede tem um padrão xadrez em preto e branco desgas- tado pelo tempo. A pessoa está inclinada para frente, com um braço estendido para o buraco e o outro segurando a aba do chapéu. Fim da descrição. Textura Na fotografia, a textura tem qualidades ópticas, uma vez que podemos perceber as qualidades das matérias nos elementos que compõem a imagem. É um elemento visual que caracteriza materialmente as superfícies dos objetos ou dos sujeitos foto- grafados. A representação visual da textura pode gerar uma resposta emocional bas- tante forte, por meio de associação ou da memória. A textura é um elemento-chave para a construção de superfícies e de planos. Trata-se de um elemento importante na criação de profundidade na imagem onde a iluminação tem um papel essencial. 20 21 Vik Muniz (1961-) produz suas obras criando composições com objetos e mate- riais, que possuem cores, texturas e formas para depois fotografá-las. Em Valentina, a mais veloz (1996), o artista fotografou a criança, ampliou a imagem e a utilizou como base para criar a obra feita com açúcar. Seu trabalho final é a fotografia desse processo finalizado (Fig. 19). A imagem, então, é construída pela textura do açúcar. Fig. 19 – Vik Muniz. Valentina, a mais veloz, 1996. Fotografi a Fonte: Lago, 2009 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma criança sorridente com tranças. A fo- tografia tem um efeito granulado, o que dá um aspecto texturizado à imagem. A criança veste uma regata e o fundo é indistinto, mantendo o foco no seu rosto. Fim da descrição. Nitidez da imagem Sem dúvida, a nitidez e a opacidade de uma imagem são recursos expressivos dota- dos de uma dimensão objetiva que, por vezes, pode representar uma variedade notável de significações, especialmente quando combinadas com outros recursos. O controle da focagem é uma técnica que permite destacar uma figura sobre o fundo da imagem. A falta de nitidez da imagem pode representar uma ideia de dinamismo ou de tem- poralidade da fotografia e, muitas vezes, colocar em cheque a verdade da representa- ção (Fig. 20). Fig. 20 – Roni Horn. Você é o clima (detalhe), 1994-1996. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura mostrando uma série de sete retratos alinhados horizontal- mente contra uma parede branca. Os retratos são de um rosto que parece o mesmo em 21 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico todas as imagens, mas com expressões que variam do translúcido e quase invisívelao muito nítido e detalhado. O rosto torna-se progressivamente mais visível da esquerda para a direita. Fim da descrição A técnica também pode dotar a fotografia de um tratamento pictorialista, frequente nas primeiras décadas após a criação da fotografia. Os fotógrafos-artistas pretendiam atribuir à fotografia um nível artístico (Fig. 21) Um exemplo de artista-fotógrafo é o francês Edgar Degas (1834-1917), conhecido por ser um dos pintores mais importantes do século XIX e um dos principais representantes do movimento impressionista. Mas, ao contrário de muitos de seus contemporâneos, que renegaram a fotografia, ele era um amante dela, durante vários anos, e tornou-se sua grande paixão. Uma boa prova disso são algumas das composições de várias de suas obras mais importantes, que parecem típicas da imagem fotográfica, com enquadramento nervoso e menos frontal e preciso do que as referências pictóricas tradicionais. No final do século XIX e início do século XX, Degas usou a câmera com mais entusiasmo, deixando como legado um bom número de retratos, autorretratos e fotografias encenadas, feitos na maior parte com luzes fracas, lâmpadas e velas, à noite. Fig. 21 – Edgar Degas. Bailarina ajustando a alça de seu vestido, c.1895-1896 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma figura femi- nina dançando. A imagem é um tanto borrada e etérea, com a luz acentuando a forma do vestido da dançarina. A fotografia tem mui- tos arranhões e marcas que contribuem para a atmosfera antiga e misteriosa. Fim da descrição. Ex pl or 22 23 Iluminação A luz é, sem dúvida, o elemento morfológico mais importante no estudo da ima- gem. Aliás, a imagem é construída pela luz. Não é em vão que a etimologia de foto- grafia é “escrita da luz”. A percepção de formas, texturas ou cores só é possível pela sua existência. A utilização da luz pode ter uma infinidade de usos e de significações, com diversos valores: expressivo, simbólico, metafórico, etc. A iluminação, ou a luz, de uma forma genérica, é fundamental para podermos definir a morfologia do texto visual e, consequentemente, para definir estilos fotográficos como o expressionismo, o realismo, o pictorialismo, etc. Existem três tipos de fontes de luz: natural, artificial e ambiente: a) Iluminação natural – O sol, claro, é a principal fonte de iluminação natural, mas, também temos a iluminação da lua, das estrelas, de raios e auroras boreais. b) Iluminação artifi cial – É conseguida por meio do uso de fl ashes ou de iluminação contínua. Está em todos os lugares: lâmpadas, postes de luz, faróis dos carros, refl etores, holofotes, lanternas, etc. c) Iluminação ambiente – É tudo aquilo que faz parte do local, seja por meio de fontes naturais ou artifi ciais. A menos que a fotografi a seja feita em um estúdio, a luz ambiente sempre estará presente. A iluminação na fotografia pode ser, basicamente, dura ou suave/difusa. A Ilumi- nação dura apresenta um forte contraste de luzes, com presença de tons brancos e negros intensos. Incide diretamente sobre o objeto fotografado, causando uma som- bra bem marcada e nítida. Passa a ideia de mistério, força, de que há algo escondido nas sombras como vemos em Fotograma sem título nº 22 (1978) (Fig. 22), de Cindy Sherman (1954-). Fig. 22 – Cindy Sherman. Fotograma sem título nº 22, 1978. Fotografi a Fonte: MoMa, 1978 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma mulher descendo uma escadaria externa. Ela veste um casaco longo e uma saia, com um chapéu branco adornado com 23 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico uma faixa escura. A mulher está em movimento, com um pé no ar, prestes a dar o pró- ximo passo. O sol cria um padrão de sombras marcantes na escada. O ambiente sugere a entrada de um edifício público ou institucional. Fim da descrição. Já a iluminação suave, ou difusa, não apresenta fortes contrastes de tons, gera sombras sem contornos nítidos e não é possível dizer exatamente em que ponto essa sombra começa ou termina. Passa a impressão de delicadeza, fragilidade e calma. Em um dia nublado, a luz do sol se comporta dessa forma. Eve Arnold (1912-2012), em Malcom X durante sua visita a empresas de propriedade de muçulmanos negros (1962) (Fig. 23), apresenta uma iluminação suave, em preto e cinzas, praticamente sem sombras. Em relação à direção da luz, temos iluminação a partir de cima, a partir de baixo, iluminação lateral, contraluz, frontal, etc. Fig. 23 – Eve Arnold. Malcom X durante sua visita a empresas de propriedade de muçulmanos negros, 1962. Fotografia Fonte: Lowe, 2010, p. 124 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um homem usando um chapéu estilo fedora e óculos, visto de perfil. Ele está com a mão direita levantada, tocando seu queixo com o cotovelo dobrado. Um relógio de pulso e um anel com um emblema são visíveis em sua mão. A fotografia é focada no rosto e na mão, deixando o fundo desfocado. Fim da descrição. Contraste Este item não pode ser dissociado de iluminação ou dos conceitos de tonalidade e cor, com os quais está relacionado estreitamente. O contraste do motivo fotográfico corresponde à diferença de níveis de iluminação refletida entre as sombras e as luzes. Trata-se de um conceito que pode ser aplicado indistintamente à fotografia 24 25 em preto e branco ou em cores. Uma gama tonal ampla de cinzas, nas fotografias em preto e branco, por exemplo, é uma opção discursiva que nos aproxima ao realismo da representação. Ao contrário, um forte contraste da imagem pode expressar a ideia de conflito. Em relação à fotografia em cores, verificamos que as cores complementares apresentam um contraste maior nas combinações azul-amarelo, vermelho-ciano e verde-magenta. O contaste na cor também pode proporcionar um amplo leque de significações e pode ser útil para determinar o estilo fotográfico da imagem, como ocorre em muitas fotografias de Pete Turner (1934-2017) e a sua afinidade estética com a pop art, como movimento artístico (Fig. 24). Fig. 24 – Pete Turner. Push, 1970. Fotografi a Fonte: Turner, 1970 #ParaTodosVerem: Figura de uma lata de lixo de cor amarela com uma tampa verme- lha onde está escrito “PUSH”. A lata está posicionada sobre uma superfície de areia clara e diante de um fundo dividido horizontalmente entre uma faixa estreita de mar verde-azulado e um céu azul profundo. Fim da descrição. Tonalidade / P/B-Cor A cor é um elemento morfológico que possui uma natureza objetiva por meio do tom/tonalidade ou matiz, da saturação (intensidade da cor) e do brilho (luminosidade). A cor oferece uma variedade de significações graças às suas propriedades. Ela contribui para criar o espaço plástico da representação, ou seja, de acordo com o modo de emprego da cor, veremos uma representação plana (Fig. 25) ou uma representação com profundidade espacial, podendo contribuir para a definição de diferentes planos (Fig. 26). 25 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Fig. 25 – Sandy Skoglund. A vingança dos peixinhos dourados, 1981 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de um quarto com todos os móveis e paredes pintados de azul. Espalhados pelo quarto, existem muitos peixes laranja, alguns pendurados no ar e outros espalhados pelo chão. No centro, uma criança pequena está deitada em uma cama, enquanto outra criança está sentada no chão, interagindo com os peixes. A cena é colorida e surreal. Fim da descrição. Fig. 26 – Zhang Huan. Para elevar o nível da água numa lagoa de peixes, 1997. Fotografia Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de um grupo de pessoas em pé espalhados na água de um lago, submersos até o peito, e todos estão voltados para a câmera. O cenário ao fundo inclui árvores verdes e um prédio alto ao longe. O céu é claro, e o ambiente transmite tranquilidade. Fim da descrição. A cor também possui qualidades térmicas. As cores quentes (entre o verde e o amarelo) produzem uma sensação de aproximação ao espectador e as cores frias (entreo verde e o azul) produzem uma sensação de afastamento do espectador, favorecendo a aparição de processos de distanciamento relativamente à representação. 26 27 Também observamos que a cor pode qualificar temporalmente uma representação. Os trabalhos em sépia estão associados à antiguidade, já que é a dominante cromática de fotos antigas, devido às particularidades dos processos químicos empregados (esse processo também tem sido utilizado ao longo do tempo, inclusive no mundo digital). Já a utilização do preto e branco é uma opção carregada de significações. Seu uso dá à fotografia uma forte expressividade. Isso explica a razão de que inúmeros fotógrafos contemporâneos continuem usando essa técnica fotográfica, como, por exemplo, Sebastião Salgado (Fig. 27). Fig. 27 – Sebastião Salgado. Dinka cattle camp of Amak, 2006 Fonte: Sundaram Tagore Gallery, 2006 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um rebanho de gado com chifres lon- gos e curvados, levantando poeira em um cenário rural. Há várias pessoas entre os animais, algumas a pé e outras montadas, possivelmente pastores. A imagem captura um momento de atividade intensa e a atmosfera é dinâmica e um pouco caótica devi- do à poeira e ao movimento. Fim da descrição. Outras Informações Nesta seção, podem ser acrescentadas informações que não estão contempladas na ficha e que contribuem para a análise fotográfica da imagem como dicas de livros, filmes, documentários, exposições, etc. 27 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Anexo 1 Ficha para Análise Fotográfica – Nível Morfológico A ficha 2 (a ficha 1, apresentada na Unidade IV, se refere ao nível técnico) contempla elementos do nível morfológico apresentados nesta unidade, tendo como base Felici (2004). A adaptação busca facilitar a análise fotográfica por meio da identificação de elementos constantes nas imagens a serem avaliadas. Análise fotográfica – Nível morfológico FOTOGRAFIA Ficha 2 – Nível morfológico ELEMENTO SIM/NÃO INFORMAÇÕES Descrição do motivo fotográfico Ponto(s) de interesse Ponto único ou simples. Ponto central. Dois ou mais pontos. Linha(s) 28 29 Profundidade/Planos Primeiro plano Segundo plano Terceiro plano Escala Planos/enquadramento Grande plano geral Plano geral Plano médio Primeiro plano Plano de detalhe Forma Textura Nitidez da imagem Iluminação Iluminação natural Iluminação artificial Iluminação ambiente Contraste Tonalidade / P/B - Cor Outras informações Comentários Análise realizada por: Fonte: adaptado de Felici (2004) Análise Fotográfi ca – Nível Morfológico – Exemplo FOTOGRAFIA Fig. a1 – Kevin Carter. Sudão, 1993. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma criança ajoelhada no chão seco e rachado, aparentemente fraca ou desfalecida, com a cabeça baixa em direção ao solo. Ao fundo, um abutre está pousado, observando a cena. A fotografia captura um momento perturbador que sugere vulnerabilidade e perigo em um ambiente árido e desolado. Fim da descrição. 29 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Ficha 2 – Nível Morfológico ELEMENTO SIM/NÃO INFORMAÇÕES Descrição do motivo fotográfico Imagem figurativa. Mostra uma criança acocorada, abalada pela inanição, um abutre a espreitá-la e, ao fundo, casas de palha de uma aldeia. A foto foi tirada no Sul do Sudão (África). Ponto(s) de interesse Ponto único ou simples Ponto central Dois ou mais pontos Dois pontos de interesse: a criança e o abutre Linha(s) As imagens da criança e do abutre criam uma linha diagonal Profundidade/Planos Primeiro plano Segundo plano Terceiro plano Três planos: a criança, em primeiro plano, o abutre, em segundo plano, e as casas e a vegetação ao fundo Escala A criança, em primeiro plano, a deixa bem maior que o abutre, quando, na realidade, eles devem ter tamanhos semelhantes nas posições em que se encontram. Planos/enquadramento Grande plano geral Plano geral Plano médio Primeiro plano Plano de detalhe Plano geral Forma O corpo da criança forma uma elipse Textura A cena mostra um campo árido com habitações primitivas de palha. Uma terra completamente seca. Nitidez da imagem Foco na criança e no abutre; fundo desfocado Iluminação Iluminação natural Iluminação artificial Iluminação ambiente Natural, durante o dia. Oferece a sensação de seca. Contraste Alto / baixo Baixo contraste Tonalidade / P/B - Cor Poucas cores, praticamente somente tons marrons e verdes Outras informações Kevin Carter recebeu o prêmio Pulitzer de fotografia, de 1994, por Sudão. Comentários Análise realizada por: Rita Jimenez Fonte: ficha adaptada de Felici (2004) 30 31 Com base na fi cha 2 – Análise fotográfi ca – Nível morfológico, apresentada nesta unidade, analise a fotografi a Silêncio rebelde (1994) (Fig. 29), de Shirin Neshat (1960-). Dicas: confi ra uma palestra da artista em https://goo.gl/JrUsz7 e também o livro Mestres da Fotografi a, de Peter Lowe (Gustavo Gili, 2017, p. 473-474). Fig. a2 – Shirin Neshat. Silêncio rebelde, 1994. Fotografi a Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma mulher vestindo um niqab pre- to, com um padrão de texto em árabe cobrindo a área que revela seus olhos. Ela está segurando uma espingarda que divide sime- tricamente seu rosto ao meio. A imagem é em preto e branco, e a expressão da mulher é séria. Fim da descrição. Ex pl or 31 UNIDADE Análise da Imagem – Nível Morfológico Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Manual de iluminação fotográfica Instituto Politécnico de Tomar (Portugal). Manual de iluminação fotográfica. https://goo.gl/LzHMRf Livros Vik Muniz obra completa – 1987-2009 LAGO, Pedro Corrêa do (org.). Vik Muniz obra completa – 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009. O volume, de 710 páginas, traz a obra completa de Vik Muniz nos primeiros 22 anos de sua carreira, de 1987 a 2009. Neste catálogo, o leitor encontrará quase 1.200 obras, que representam mais de 1.600 imagens, muitas reproduzidas em página inteira, permitindo um contato com os materiais usados por Vik, tão importantes no impacto de seus trabalhos. Diante da dor dos outros SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Filmes The Bang Bang Club The Bang Bang Club (Repórteres de guerra). Direção: Steven Silver. Drama/guerra, Canadá/África do Sul, 2011. Sinopse: Um grupo de repórteres fotográficos, entre eles Kevin Carter, tem a difícil tarefa de cobrir as primeiras eleições na África do Sul após o Apartheid. Além de riscos físicos, esses jovens passam a acompanhar os problemas africanos como fome, miséria e descaso. 32 33 Referências ARTE Figurativa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasilei- ras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucul- tural.org.br/termo100/arte-figurativa>. Acesso em: 26 de mar. 2018. Verbete da Enciclopédia. FEIJÓ, Cláudio. Linguagem fotográfica. Universidade Estadual de Londrina/Es- pecialização em Fotografia [2018]. Disponível em: http://www.uel.br/pos/foto- grafia/wp-content/uploads/downs-uteis-linguagem-fotografica.pdf. Acesso em: 13 mar. 2018. FELICI, Javier Marzal. Cómo se lee una fotografia – Interpretaciones de la mi- rada. Madri: Cátedra, 2009. FELICI, Javier Marzal. Proposta de modelo de análise da imagem fotográfica – Descrição dos conceitos contemplados. In: I Congresso de Teoria e Técnica dos Meios Audiovisuais, Castellón (Espanha), 2004. Disponível em: http://www.ana- lisisfotografia.uji.es/root2/meto_por.html. Acesso em: 25 fev. 2018. HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. LAGO, Pedro Corrêa do (org.). Vik Muniz obra completa – 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009. LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. PRÄKEL, David. Composição. Porto Alegre: Bookman, 2010. ZUANETTI, Rose et al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rio de Janei- ro: Senac Nacional, 2002.33 Linguagem Fotográfica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Prof.ª Me. Natalia Conti Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo • Introdução; • Análise da Imagem – Nível Compositivo; • Análise da Imagem – Nível Narrativo; • Conclusão. · Conhecer os elementos básicos para a leitura de uma imagem foto- gráfica nos níveis compositivo e narrativo; · Identificar em fotografias os elementos que compõem os níveis com- positivo e narrativo para análise de uma imagem; · Realizar análise de imagem fotográfica a partir do uso de fichas espe- cíficas para os níveis compositivo e narrativo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Introdução Figura 1 – Astrid Kirchherr. Os Beatles, parque de diversões Hugo Hasse, 1960 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de quatro jovens homens com instrumentos musicais. Eles estão sentados e em pé em uma plataforma de madeira de um veículo que tem a inscrição “HUGO HAAS HANNOVER”. Os dois à esquerda seguram guitarras, o tercei- ro segura um banjo e o primeiro da esquerda está com baquetas. Todos vestem casacos escuros e parecem estar em uma sessão de fotos informal. Fim da descrição. O papel da composição é mais bem explicado em uma analogia com o mundo da música. A fotografia é mais ou menos como o jazz – um estilo de música baseado na improvisação e na expressão pessoal, mas cons- truído sobre uma estrutura sólida de acordes e de progressão de acordes. Quando falamos, não pensamos conscientemente na gramática de nossa língua; do mesmo modo, precisamos praticar a composição até que ela se torne algo totalmente natural. Podemos fazer isso experimentando com elementos formais isolados e examinando o maior número possível de imagens com boas composições. (PRÄKEL, 2010, p. 8) O processo de criação fotográfica se inicia quando você escolhe aquilo que quer fotografar – ou quando um objeto ou uma cena escolhem você. O trabalho se inicia com estudo, exploração e reflexão sobre o assunto, segue com a seleção e a análise daquilo que nos interessa e se conclui quando o olhar do espectador fixa na imagem final. Entretanto, o olho e a câmera não veem as mesmas coisas, uma fotografia não reproduz a mesma cena que enxergamos. A câmera grava apenas uma parte da cena maior, reduzindo-a a duas dimensões. Outra questão importante: quando olhamos para uma cena, naturalmente selecionamos alguns elementos, enquanto que a câmera registra tudo, todos os detalhes. “Elementos que não percebemos podem tornar-se dominantes quando vistos em uma foto” (LOWE, 2017, p. 23). Uma das melhores formas de entender os elementos que tornam uma imagem bidimensional interessante é analisar vários tipos de imagens, não apenas fotografias, mas também obras de arte, afinal, todo artista tem de trabalhar com a organização 8 9 do espaço dentro do quadro, por exemplo. Quanto mais imagens você analisar com atenção, mais irá melhorar a composição de suas próprias fotografias. Figura 2 – Mario Guti. Camera capturing a forest Fonte: iStock/Getty Images #ParaTodosVerem: Figura de uma câmera fotográfica DSLR segurada por mãos huma- nas. A tela LCD da câmera mostra uma imagem de uma floresta com árvores de folhas amarelas, sugerindo ser outono. O fundo da foto é desfocado, com cores quentes que combinam com a cena mostrada na tela da câmera. Fim da descrição. Desde o início da fotografia, no início do século XIX, a composição tem sido uma das questões de maior interesse de profissionais e amadores. Nesses primeiros anos, muitos dos princípios de composição da pintura foram praticamente impostos à fotografia. Mas fotógrafos mais ousados perceberam que podiam fazer mais, afinal, estavam com um meio único, com qualidades distintas, e encontraram seus próprios caminhos. Hoje, dispositivos popularizaram a fotografia e qualquer pessoa pode ser um fo- tógrafo, sem que haja necessidade de conhecimento formal das leis da composição. Isso se deu em grande parte pela popularização dos smartphones, pequenos e com- pactos, com interface amigável e várias opções de conectividade sem fio e com- partilhamento. No pós-moderno, fotógrafos e artistas fotográficos se apropriaram da fotografia casual, ou instantâneo, para fins criativos. As imagens jornalísticas e publicitárias, por exemplo, auxiliam na criação de novos tipos de composição e de forma muito mais estilizada. Como o fotógrafo escolhe a parte do mundo que vai enquadrar, a composição passa a ser a expressão da sua personalidade. Assim, quebrar regras pode represen- tar a criação do seu jeito de fotografar. Análise da Imagem – Nível Compositivo A composição é o processo de identificação e organização de elementos para a produção de uma imagem. Tudo o que está em uma imagem forma a sua composição. Existem vários itens que podem ser analisados na composição de uma fotografia 9 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo e inúmeras propostas de autores para essa análise. Destacamos, a partir de agora, alguns desses itens e seus aspectos mais relevantes no nível compositivo. Perspectiva Ao olharmos uma fotografia não temos dificuldades em identificar formas e pro- porções dos objetos retratados. Isso ocorre porque a imagem contém indicações que nos auxiliam a identificar essas características como, por exemplo, a perspec- tiva. A partir dela, obtemos informações sobre a forma e o tamanho de objetos e de pessoas, em decorrência da posição da qual são vistos. Assim, é importante dominar as propriedades da perspectiva como linhas convergentes, pontos de fuga e linha do horizonte. a) Linhas convergentes: Na fotografia, as linhas convergentes são uma das formas mais eficazes de se conferir profundidade à imagem (ZUANETTI, 2002). Exemplo: trilhos de uma li- nha férrea se estendendo por um longo caminho (Figura 3). Aparentemente, a dis- tância entre os trilhos vai se tornando cada vez menor à medida que eles se afastam do observador até que parecem se unir; entretanto, sabemos que essa distânciapermanece sempre a mesma. A perspectiva também pode sugerir que objetos e pessoas do mesmo tamanho pareçam diferentes. Quando olhamos ao longo de uma rua com edifícios da mesma altura, os mais distantes parecem menores e mais estreitos dos que os mais próxi- mos. Entretanto, nosso cérebro interpreta a imagem e nos leva a concluir que os prédios têm o mesmo tamanho. Figura 3 – Joel Sternfeld. Artefato ferroviário, Rua 30, maio de 2000, 2000 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma velha linha de trem elevada, com trilhos enferru- jados e cobertos por grama e vegetação rasteira. A paisagem urbana ao redor inclui edifícios de diferentes alturas, com o Empire State Building visível ao fundo. O céu está nublado, e não há pessoas visíveis na cena. Fim da descrição. 10 11 b) Ponto(s) de fuga: Em uma linha férrea, por exemplo, o ponto final para o qual os trilhos tendem é identificado como ponto de fuga (Figura 4). Mas, uma imagem pode ter mais de um ponto de fuga. Em uma fotografia de um edifício de esquina, por exemplo, podemos ver claramente dois pontos de fuga, um de cada lado do prédio (Figura 5). Figura 4 – Joel Sternfeld. Artefato ferroviário, Rua 30, maio de 2000, 2000 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura da mesma velha linha de trem elevada da descrição anterior, mas com duas linhas amarelas desenhadas sobre a imagem, convergindo para um ponto de fuga no horizonte, diretamente acima dos trilhos. O resto da cena permanece inaltera- do, com vegetação sobre os trilhos e prédios urbanos ao redor. Fim da descrição. Figura 5 – Autor desconhecido. Sucursal do Banco da Província do Rio Grande do Sul, em Pelotas (RS), s/d Fonte: Adaptado pelo conteudista #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia em preto e branco de um edifício de es- quina com dois andares e arcadas. Sobre a imagem, há duas linhas amarelas diagonais criando um triângulo que apontam para um ponto de fuga (PF) às laterais da fotogra- fia. O ponto de fuga está fora do edifício, sugerindo uma perspectiva em profundida- de. Fim da descrição. c) Linha do horizonte: A escolha da posição do horizonte é um dos recursos mais importantes para se dar ênfase ao tema, criar efeitos especiais ou equilibrar os elementos da fotografia. 11 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo A linha do horizonte (LH) atua ainda como uma escala de referência, conforme sua posição: LH no terço superior (Figura 6), LH centralizada (Figura 7) ou LH no terço inferior (Figura 8). Conforme sua posição, as proporções entre os elementos da foto se alteram. Figura 6 – Peter H. Emerson. Levando a turfa para casa de barco, 1886 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de uma pessoa sentada em uma pequena embarcação plana, semelhante a uma canoa, que está carregada com vegetação. A pessoa, vestindo um chapéu, está de costas para a câmera, olhando para a água calma e reflexiva que rodeia o barco. Ao fundo, pode-se ver uma linha de árvores e um céu suavemente iluminado, possivelmente ao amanhecer ou entardecer. Fim da descrição. Figura 7 – Hiroshi Sugimoto. Oceano Atlântico Norte, ilha de Cape Breton, 1996 Fonte: timeinart.altervista.org #ParaTodosVerem: Figura de uma paisagem minimalista, possivelmente um corpo de água, com um brilho intenso refletindo a luz. O cenário é predominantemente mono- cromático, variando do preto ao cinza claro. A luz cria uma faixa horizontal luminosa que se destaca no centro da composição, sugerindo a reflexão do sol ou da lua sobre a superfície da água. O resto da imagem é suave e sem detalhes distintos, dando uma sensação de calma e serenidade. Fim da descrição. 12 13 Figura 8 – John Stanmeyer. Sinal: migrantes africanos pobres se reúnem à noite na costa da cidade de Djibuti, 2013 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de várias pessoas de pé junto à costa, em silhueta contra um céu noturno iluminado por uma lua brilhante. Cada pessoa está segurando um celular acima de suas cabeças, tentando provavelmente capturar sinal ou tirar uma foto. A luz dos telefones é visível, e o reflexo da lua cintila sobre a superfície da água. Fim da descrição. Regra dos Terços Conforme Lowe (2017), o método de composição conhecido como regra dos terços já era usado na Grécia antiga. O sistema divide um quadro (uma fotografia, por exemplo) em terços, tanto horizontal quanto verticalmente, resultando em quatro linhas e quatro pontos de intersecção entre eles – chamados de “pontos de ouro” –, criando uma espécie de grade imaginária (Figura 9), justamente onde os nossos olhos têm maior atenção. Se os elementos da composição estiverem dispostos ao longo dessas linhas e pontos, a imagem parecerá bem composta e equilibrada com o objeto adquirindo maior força e peso visual (Figura 10). Linha horizontal superior Linha horizontal inferior Linha vertical direita Linha vertical esquerda Figura 9 – Localização das linhas e dos pontos de interesse (em vermelho) em uma fotografi a, conforme a regra dos terços Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: Figura de um diagrama simples com duas linhas verticais e duas linhas horizontais formando uma grade sobre um fundo branco. Quatro pontos vermelhos marcam 13 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo os cruzamentos das linhas. No topo, há textos que dizem “Linha vertical esquerda” e “Linha vertical direita” para as linhas verticais, e “Linha horizontal superior” e “Linha horizontal in- ferior” para as linhas horizontais. Fim da descrição. Figura 10 – Eddie Adams. Chefe da polícia nacional sul-vietnamita Nguyen Ngoc Loan executa um suporto vietcongue, 1968 Fonte: Adaptado pelo conteudista #ParaTodosVerem: Figura de uma fotografia histórica dividida por linhas amarelas for- mando uma grade de três colunas e três linhas. A imagem captura um momento antes de um homem ser baleado, com o atirador estendendo o braço com a pistola e a vítima com uma expressão de choque. A cena ocorre em uma rua da cidade com edifícios ao fundo. Fim da descrição. Pose A pose é importante na análise fotográfica, especialmente nos gêneros retrato e documental. Descrevemos se a fotografia pretende captar a espontaneidade de um gesto (Figura 11), ou se o modelo posa conscientemente, identificada como foto posada (Figura 12). Figura 11 – Weegee. O primeiro assassinato, 1941 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma fotografia em preto e branco de um grupo de jovens e adultos reunidos ao ar livre à noite. A expressão das pessoas varia de alegria a curiosidade. A imagem tem um aspecto granulado, típico das fotografias da época. Fim da descrição. 14 15 Figura 12 – Jeff Wall. Autorretrato duplo, 1979 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de dois homens idênticos em uma sala de estar. Um está de braços cruzados, encostado em um sofá marrom, vestindo uma camisa branca e calças vinho. O outro está de pé, ao lado de uma ventoinha branca, vestindo uma camiseta cinza e calças azuis. Ambos têm expressões sérias e olham diretamente para a câmera. A sala tem papel de parede listrado e uma porta fechada ao fundo. Fim da descrição. Outras Informações Nesta seção, podem ser acrescentadas informações que não estejam contempla- das na ficha e que contribuam para a análise fotográfica da imagem. Ficha Para Análise Fotográfica – Nível Compositivo A ficha 3 (a ficha 1, apresentada anteriormente, se refere ao nível técnico; e a ficha 2, apresentada na Unidade anterior, se refere ao nível morfológico), contem- pla elementos do nível compositivo apresentados nesta unidade, tendo como base Felici (2004). A adaptação busca facilitar a análise fotográfica por meio da identifi- cação de elementos constantes nas imagens a serem avaliadas. Quadro 1 − Ficha para análise fotográfi ca: Nível compositivo Fotografi a Quadro 2 − Ficha 3: Nível Compositivo Elemento Sim/Não Análise • Perspectiva; • Linhas convergentes; • Pontos de fuga; • Linha do horizonte. Regra dos TerçosPose 15 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Outras Informações Comentários Análise realizada por: Fonte: Adaptado de Felici (2004) Quadro 3 − Ficha para análise fotográfica: Nível compositivo (Exemplo) Fotografia Figura 13 – Arnold Newman. Alfried Krupp, Essen (Alemanha Ocidental), 1963 Fonte: Cátedra, 2009 #ParaTodosVerem: Figura de um homem em primeiro plano com as mãos jun- tas em frente ao rosto, como se estivesse pensando ou orando. Ele está vestido com um terno e está no centro da imagem. Atrás dele, há uma cena industrial - um galpão grande e escuro com vários trens e vagões de trem. A luz natural entra pelo teto, iluminando a área e destacando o homem em frente a este cenário complexo. Fim da descrição. Quadro 4 − Ficha 3: Nível Compositivo Elemento Sim/Não Análise • Perspectiva; • Linhas convergentes; • Pontos de fuga; • Linha do horizonte. Grande profundidade de campo; forte perspectiva, proporcionando dinamismo à imagem. Um ponto de fuga, exatamente no centro da imagem. Há uma simetria com o personagem ao centro. 16 17 Elemento Sim/Não Análise Regra dos Terços A imagem possui dois centros visuais bem demarcados: o centro geométrico, que coincide com o ponto de fuga (reforçado por uma luz); e o rosto do retratado, que é cortado pela linha horizontal inferior. Figura 14 – Arnold Newman. Alfried Krupp, Essen (Alemanha Ocidental), 1963 Fonte: Adaptado pelo conteudista #ParaTodosVerem: Figura da mesma fotografia anterior do homem mais velho em um galpão de trens, mas agora sobreposta por linhas amarelas criando uma grade de nove retângulos iguais. A grade divide a imagem em seções, com o homem centrado nos quadrados centrais, enfatizando a composição e o foco na figura humana em contraste com o cenário industrial ao fundo. Fim da descrição Pose Fotografia é posada. A imagem é estática, característica do gênero retrato. Outras Informações Comentários Composição extremamente calculada, com uma organização interna estudada. Análise realizada por: Rita Jimenez Fonte: Ficha e conteúdo adaptados de Felici (2009) 17 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Análise da Imagem – Nível Narrativo Figura 15 – Robert Capa. Multidões correndo para o abrigo depois de um alarme antiaéreo soar, Bilbao, 1937 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura em preto e branco de um grupo de pessoas olhando para cima com expressões de preocupação ou curiosidade. No primeiro plano, uma mulher mais velha está segurando a mão de uma menina pequena, ambas olhando para o alto. Atrás delas, vários outros indivíduos, incluindo um homem com bengala, também dirigem seus olhares para cima. Eles estão em uma calçada de cidade, com edifícios ao fundo e um carro antigo visível na direita. Fim da descrição. Introdução A realidade nos oferece tanta riqueza que precisamos remover parte dela imediatamente para simplificar. A questão é: sempre removemos o que deveríamos remover. Henri Cartier-Bresson (LOWE, 2017, p. 261) A fotografia possui presença frequente e marcante na vida das pessoas, seja em álbuns de família, jornais, revistas, na publicidade, ou em páginas, blogues e redes sociais que circulam pela internet, ampliando o registro de imagens de forma geométrica. Desde o advento da fotografia no século XIX, naturalizou-se a ideia de que o que está na fotografia é real, existe ou existiu de alguma forma, em algum momento. Entretanto, em um mundo dominado pela imagem digital, cuja produção e acesso estão ao alcance de um número cada vez maior de pessoas, “algumas certezas que temos em relação a estas imagens podem ser colocadas em dúvida, juntamente com a ideia de representação da realidade” (PAZ; OLIVEIRA, 2013, p. 36). Na internet, imagens podem ser modificadas, publicadas, copiadas, compartilhadas; podem ser usadas para diferentes fins e inúmeras interpretações podem ser feitas. De qualquer forma, seja analógica ou digital, a fotografia, na medida em que representa uma parte da realidade (ou simula sua representação, no caso de fotos modificadas), pressupõe a existência de um olhar narrativo. Neste sentido, Felici (2004) 18 19 propõe um conjunto de conceitos a partir dos quais é possível refletir, desde a atitude dos personagens, a presença ou ausência de qualificadores ou marcas textuais, a transparência narrativa, os mecanismos narrativos (identificação versus distanciamento), até o estudo das relações intertextuais, que a imagem fotográfica proporciona. Análise da Imagem – Nível Narrativo Atitude dos Personagens A atitude dos personagens em uma fotografia pode revelar ironia, sarcasmo, exaltação de determinados sentimentos, alegria, desafio, violência, etc., e, conse- quentemente, promover emoções no espectador. Essas atitudes podem ser estu- dadas a partir do exame da encenação e da pose dos participantes da fotografia. Em New Brighton, Inglaterra 1985 (1985) (Figura 16), o fotógrafo inglês Mar- tin Parr (1952-), um observador sutil – mas agudo – do cotidiano volta sua câme- ra para o resort litorâneo decadente, representando uma mudança na fotografia documental britânica e a sua aceitação como uma prática artística. São retratadas famílias se divertindo, comendo e tomando sol em meio aos seus próprios detritos sem qualquer problema ou constrangimento. No centro da foto, um casal de idosos consome tranquilamente alguns petiscos, enquanto olham para alguém ou algo fora do quadro. O bebê, no carrinho, toma um sorvete de casquinha. E a mulher em pé de blusa azul (à direita) aponta para algo também além do quadro. O uso de flash, em dias de verão brilhantes, lentes grandes-angulares e profundidade de campo, teve como resultado cores vivas e berrantes. Parr é reconhecido por seu fascínio por narrativas não relacionadas entre si (HOBSON, in Hacking, 2012). Figura 16 – Martin Parr. New Brigton, Inglaterra, 1985 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de uma cena cotidiana ao ar livre com várias pessoas. À es- querda, um bebê dorme em um carrinho ao lado de um cesto de lixo transbordando com resíduos no chão ao redor. No centro, uma mulher sentada em um banco parece preocupada, enquanto um homem ao lado dela come um lanche. À direita, uma mu- lher em pé aponta para algo fora do quadro. Ao fundo, há estacionamento com carros e o céu azul do início da noite. Fim da descrição. 19 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Olhar dos Personagens O exame dos olhares dos personagens é outro aspecto que pode dar muitas indica- ções sobre as suas atitudes. Em certas ocasiões, esses olhares constituem uma interpe- lação direta ao espectador, ou a outros personagens do campo visual. Por outro lado, os olhares podem dirigir-se para fora de campo, o que sublinha a sua importância. Conforme Felici (2004), o estudo deste parâmetro não está isento da carga subjetiva do analista, já que essas atitudes podem ser indefinidas. Em determinados gêneros, como a fotografia documental, por exemplo, a presença do fotógrafo é sistematicamente ocultada quando os personagens não olham direta- mente para a câmera. Assim, a fotografia obtida mostra uma ação, situação, relações de força, etc., que tem como efeito um maior realismo, o qual deve ser vinculado com o efeito discursivo da impressão de realidade. Já o olhar para a câmara do personagem protagonista constitui uma interpelação direta, desafiante, ao espectador da imagem. Em determinadas ocasiões, de acordo com Felici (2004), essa característica reforça a presença da câmera, rompendo, em parte, com a realidade fotográfica. Anna Fox (1961-) é da segunda geração de fotógrafos documentaristas britânicos, que trabalha com cores e que veio depois de Martin Parr, entre outros. Crítica mordaz da vida em escritórios na Grã-Bretanha, da primeira-ministra Margaret Thatcher (1925- 2013), nas décadas de 1980 e 1990, ela frequentemente isolava os personagens por meio do enquadramento e corte, muitas vezes fazendo parecerque as pessoas eram engolidas por seus ambientes. Em Estações de trabalho, café, a cidade. Vendedor (9) “Fazem-se fortunas que estão de acordo com os sonhos da avareza.” Negócios 1987 (Figura 17), da série Work Stations (1987-1988), Anna mostra os excessos do consumo no período. O flash congela o trabalhador no exato momento em que ele leva o alimento à boca, com seus olhos sugerindo êxtase naquele momento (Lowe, 2017). Figura 17 – Anna Fox. Estações de trabalho, café, a cidade. Vendedor (9) “Fazem-se fortunas que estão de acordo com os sonhos da avareza.” Negócios 1987, 1987 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de um homem vestido com terno e gravata, comendo em um restaurante. Ele está com a boca aberta, prestes a morder um pedaço de carne em seu garfo. O prato à frente dele contém uma variedade de alimentos. Ao fundo, outro 20 21 homem está sentado à mesa, também comendo. A cena é capturada de perto, com foco na expressão e ação do homem comendo. Fim da descrição Em gêneros como o retrato, é habitual (mas não obrigatório) que a pose do sujeito fotografado inclua o olhar para a câmera. Os retratos de Paul Strand (1890-1976) são um bom exemplo. Os temas são apresentados para a câmera de uma forma simples e direta, enfatizando as características do fotografado, normalmente pessoas comuns, sem efeitos visuais de luz ou de posicionamento, tanto do fotógrafo quanto do modelo. “Gosto de fotografar pessoas que têm força e dignidade em seus rostos, independentemente do que a vida tenha feito a elas”, afirmou Strand (Lowe, 2017, p. 120). Em Jovem rapaz, Gondeville, Charente, França (1951) (Figura 18), Strand apresenta um jovem cujos olhos extremamente expressivos exigem fortemente a atenção do observador. Além disso, a interação entre pele, textura e granulação do fundo de madeira têm uma harmonia, resultado da luz suave presente em grande parte da imagem. Conforme Lowe (2017), as pessoas posavam para o fotógrafo sempre na sombra, em um local onde a luz direta não incidia. Figura 18 – Paul Strand. Jovem rapaz, Gondeville, Charente, França, 1951 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: Figura de um jovem com expressão séria, olhando diretamente para a frente. Ele tem cabelo castanho penteado para trás e usa uma regata branca com um macacão de trabalho escuro por cima. O fundo é de madeira rústica, propor- cionando um contraste simples com a pessoa em primeiro plano. Fim da descrição. Interação Entre os Personagens e Com o Espectador Neste item são analisados o grau de interação do sujeito fotografado com o seu entorno e entre outros personagens, além do grau de proximidade ou de afastamento que a instância narrativa promove no espectador da fotografia. Um exemplo é a imagem de Allan Sekula (1951-2013), da série À espera do gás lacrimogêneo (globo branco vira preto) (2000) (Figura 19). Durante cinco dias, ele fotografou os protestos contra a reunião de cúpula da Organização Mundial do Comércio, em Seattle (Estados Unidos), em 1999. Politicamente engajado, ele acompanhou o fluxo das manifestações sem flash, teleobjetiva ou credencial de imprensa, movendo-se como parte integrante da multidão. Na figura 19, Sekula mostra um manifestante mascarado, usando uma fantasia vermelha de diabo com uma serra 21 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo elétrica de papelão na mão, olhando para o fotógrafo (e, consequentemente, para o espectador) como se o tivesse desafiando. A câmera de 35 mm, a iluminação da rua e a ausência de manipulação digital resultaram em imagens de baixa qualidade técnica, fundamentais para seu objetivo de realismo crítico e, consequentemente, de integração com o espectador. Figura 19 – Allan Sekula. Sem título, da série À espera do gás lacrimogêneo (globo branco vira preto), 2000 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de um indivíduo andando na calçada vestindo uma fantasia vermelha com detalhes pretos, incluindo um capacete que obscurece o rosto, lembran- do um diabo. A pessoa segura um objeto longo e decorativo com forma semelhante a uma motosserra, com engrenagens pretas e brancas e pontas. O fundo é borrado, mas mostra carros e luzes da cidade, sugerindo um ambiente urbano movimentado. Fim da descrição. Expressão do Fotógrafo Em uma análise de um texto visual é possível reconhecermos a marca expressiva do fotógrafo. Conforme Felici (2004), podemos identificar duas estratégias principais na expressão fotográfica. Por um lado, a que se serve de modelos realistas da encenação, presentes, principalmente na fotografia documental; e, por outro lado, a estratégia discursiva baseada em modelos não realistas. Esta última é muito mais ampla e complexa de se definir devido a sua natureza metafórica – na qual se estabelecem relações imaginárias entre os elementos ou signos visuais. “Na metáfora, a relação entre o signo e o referente não existe por continuidade, mas é absolutamente livre, o que explica a virtualidade de leituras múltiplas que motivam os discursos artísticos”, salienta Felici (2004). Neste aspecto, podemos citar a identificação e o distanciamento como duas estratégias narrativas que implicam efeitos discursivos muito diferentes no espec- tador. A identificação é mais frequente nas fotografias nas quais a impressão de realidade é o principal objetivo como, por exemplo, na fotografia documental, que procura, com frequência, uma resposta emotiva do espectador e um efeito de identificação do público. Henri Cartier-Bresson (1908-2004) foi um mestre nesse sentido. Em Sevilha, Andaluzia, Espanha (c. 1930) (Figura 20), ele fotografou crianças na Espanha durante os dias que antecederam a Guerra Civil no país. Já o distanciamento é um efeito discursivo que se produz, quando o espectador está consciente da natureza artificial da representação fotográfica, como acontece em algumas propostas estéticas de Duane Michals (1932-) (Figura 21), Joel-Peter Witkin (1939-) e Robert Mapplethorpe (1946-1989), entre outros. 22 23 Figura 20 – Henri Cartier-Bresson. Sevilha, Andaluzia, Espanha, c.1930 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: Figura de um ambiente interno destruído, com paredes parcial- mente derrubadas e escombros no chão. Há várias crianças, vistas a partir de uma grande abertura na parede. Algumas crianças olham para a câmera, enquanto outras estão ocupadas se movendo pelo local. A cena transmite um senso de urgência e con- fusão. Fim da descrição. Figura 21 – Duane Michals. O anjo caído, 1968 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: a Figura mostra uma sequência de oito imagens em preto e branco, representando uma cena em um quarto. Um anjo está de pé junto à janela na primeira imagem, parece estar agitado ou dançando. Nas seguintes, o anjo se deita, beija e parece fazer sexo, até que se levanta da cama, onde outra pessoa está deitada durante toda a sequência. A última imagem mostra o anjo inicial em pé, agora em trajes hu- manos e sem asas, com a mão na cabeça, como se estivesse pensativa ou frustrada. Fim da descrição. 23 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Henri Cartier-Bresson (1908-2004) não tirava apenas uma única fotografia decisiva. Conforme Präkel (2010, p. 131), em um filme no qual ele aparece trabalhando, o fotógrafo é visto tirando fotos quase que continuamente. “Seu talento estava em reconhecer o momento da união dos elementos emocionais e composicionais e encontrar esse quadro em meio às suas imagens”, afirma o autor. O estudo dos retratos de artistas feitos por Cartier-Bresson mostra exatamente isso. Em um retrato do artista suíço Alberto Giacometti (1901-1966), o fotógrafo captura uma imagem emblemática (segundo Präkel, sem intenção), na qual Giacometti parece imitar uma de suas próprias obras (Figura 22). Figura 22 – Henri Cartier-Bresson. Alberto Giacometti, 1961 Fonte: henricartierbresson.org #ParaTodosVerem: a Figura exibe uma fotografia em preto e branco de uma exposição de arte. No primeiro plano, à esquerda,há uma escul- tura esguia e escura com um formato que lembra uma figura humana alongada. Ao centro, aparece uma escultura mais clara e detalhada, tam- bém com uma forma que sugere uma figura humana estilizada e muito alta. No fundo, uma pessoa passa caminhando rapidamente, aparecendo como um borrão em movimento, carregando o que parece ser uma escul- tura pequena, enquanto fuma um cigarro. Fim da descrição. Ex pl or Relações Intertextuais É importante destacar que todo o texto se relaciona sempre com outros textos que o precederam. O fotógrafo, obviamente, sofre influência do trabalho de outros fotó- grafos, das artes – pintura, escultura, do cinema e também da televisão, da literatura, etc. Felici (2004) lembra que aparecem em trabalhos fotográficos motivos iconográfi- cos, “o que supõe estabelecer uma relação entre um conceito com figuras, alegorias, representações narrativas ou ciclos, como a paixão (como motivo religioso), os anjos (romantismo), o cemitério, etc.” (FELICI, 2004, online). O autor alerta, entretanto, que a competência de leitura do analista é fundamental para a detecção desses tipos de relações intertextuais presentes na fotografia estudada. Ele cita três formas de registro dessas influências no texto fotográfico: a) Citação – Consiste na presença literal de uma obra de outro fotógrafo, artista, criador, etc; 24 25 b) Colagem – Técnica que se baseia explicitamente no uso de fragmentos de outros textos visuais; c) Reprodução – Consiste na utilização de determinados elementos caracte- rísticos ou mesmo obras de um fotógrafo, artista ou criador e combiná-los de maneira que ofereçam ao espectador a impressão de se tratar de uma criação independente. Outras informações Na análise da imagem, em outras informações, podem ser agregados outros conceitos, fontes, filmes, documentários, livros, etc., que possam auxiliar ou estar relacionados com o nível interpretativo da análise fotográfica. Ficha para análise fotográfica – Nível narrativo A ficha 4, apresentada a seguir, contempla elementos do nível narrativo apre- sentados nesta unidade, tendo como base Felici (2004). A adaptação busca facilitar a análise fotográfica por meio da identificação de elementos constantes nas ima- gens a serem avaliadas. Quadro 5 − Análise Fotográfi ca: Nível Narrativo Fotografi a Quadro 6 − Nível Narrativo Elemento Sim/Não Análise Atitude dos personagens Olhar dos personagens Interação entre os personagens e com o espectador Expressão do Fotógrafo Relações intertextuais: • Citação; • Colagem; • Reprodução. Outras informações Comentários Análise realizada por: Fonte: adaptado de Felici (2004) 25 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Quadro 7 − Análise Fotográfica: Nível Narrativo (Exemplo) Fotografia Figura 23 – Annie Leibovitz. John Lennon e Yoko Ono, 1980 Fonte: Hacking, 2012 #ParaTodosVerem: uma pessoa vestida com uma blusa preta e calça jeans abraça outra pessoa desprovida de roupas. A pessoa de blusa está deitada de costas, en- quanto a pessoa nua está de lado, com uma perna dobrada sobre o corpo da pessoa de blusa, e a outra estendida ao longo do colchão.Fim da descrição. Quadro 8 − Ficha 4: Nível Narrativo Elemento Sim/Não Análise Atitude dos personagens John Lennon literalmente se desnuda em frente à câmera de Annie. Uma das maiores celebridades do mundo demonstra ser uma pessoa real, com seus medos e angústias, mas, que vê em Yoko seu porto seguro. Era a mais pura realidade. “Você retratou nosso relacionamento exatamente como ele é”, disse John a Annie. Olhar dos personagens Os olhos de John estão fechados, enquanto ele beija Yoko, indicando devoção. Os olhos de Yoko, entreabertos, estão direcionados para frente. Seu olhar parece estar longe. Face praticamente sem expressão. Interação entre os personagens e com o espectador A pose encolhida e agarrada de John (sem roupas) junto ao corpo de Yoko (vestida) enfatiza vulnerabilidade por parte do ex-beatle. A mão esquerda de John segura a cabeça de Yoko e, a sua mão direita, os cabelos. O beijo quem dá é Lennon. Yoko parece estar distante. Seria premonição? Expressão do Fotógrafo Annie Leibovitz se notabilizou por realizar retratos, especialmente de celebridades, cuja marca é a colaboração extrema entre ela e o retratado. Relações intertextuais: • Citação; • Colagem; • Reprodução. Não 26 27 Elemento Sim/Não Análise Outras informações Cinco horas depois de Annie ter tirado essa foto – para a revista Rolling Stone (Fig. 24) –, John seria assassinado, na tarde de 8 de dezembro de 1980. Figura 24 – Annie Leibovitz. Capa da revista Rolling Stone, de 22 de janeiro de 1981 Fonte: Annie Leibovitz, Rolling Stone - 1981 #ParaTodosVerem: a mesma figura do casal de antes, desta vez com a escrito no topo “RollingStonte”. Fim da descrição. Comentários Análise realizada por: Rita Jimenez Fonte: ficha adaptada de Felici (2004); análise baseada em Hacking, 2012, p. 471 Vamos tentar? Com base nas fi chas 3 e 4 – Análise fotográfi ca – Níveis compositivo e narrativo, apresentados nesta unidade, analise a fotografi a de Raghu Rai (Figura 25), que apresenta uma cena em uma estação ferroviária de Mumbai (Índia). Dicas: • Confi ra o site da Magnun Photos: https://goo.gl/aYK1HQ; • E também o livro Mestres da Fotografi a, de Peter Lowe (Gustavo Gili, 2017, p. 220-221). Figura 25 – Raghu Rai. Passageiros locais na estação ferroviária Church Gate, Mumbai, 1995 Fonte: Lowe, 2017 #ParaTodosVerem: em uma estação de trem movimentada, pessoas em movimento rápido aparecem como borrões ao redor de dois indivíduos parados. Um deles está sentado, lendo um jornal, e o outro está de pé ao seu lado, ambos aparentemente imóveis em meio ao caos ao seu redor. A cena transmite um contraste entre a agitação da multidão e a calma dos dois indivíduos. Fim da descrição. Ex pl or 27 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Conclusão Não queremos finalizar a exposição da nossa metodologia de análise, sem esquecer que o prazer visual é um fator-chave na recepção das imagens. Caberia acrescentar que a própria atividade analítica não está isenta de prazer, já que entender (ou crer entender) o sentido oculto (ou sentidos ocultos) na mensagem fotográfica é uma atividade que também propor- ciona prazer. Um sentimento aprazível que parece ser causado pelo fato de se ter alcançado o êxito na análise. (Felici, 2004, online). Como vimos, a interpretação do texto fotográfico, de caráter fundamentalmente subjetivo, conforme Felici (2004), contempla a possibilidade de reconhecer a pre- sença de oposições que se estabelecem no interior do enquadramento, a existência de significados para os quais podem remeter as formas, cores, texturas, ilumina- ção, etc.; como se constrói o texto fotográfico, por meio do exame da articulação dos modos de representação do espaço e do tempo; que tipos de relações intertex- tuais (com outros textos audiovisuais) podem ser identificados. 28 29 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Brasiliana fotográfica Iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles, o espaço objetiva dar visibilidade, fomentar o debate e a reflexão sobre os acervos do gênero documental, abordando-os enquanto fonte primária, mas também enquanto patrimônio digital a ser preservado. https://goo.gl/4CfKgT Filmes Annie Leibovitz – A vida através das lentes Direção: Barbara Leibovitz. Documentário, 90 min, Estados Unidos, 2007. Sinopse: A vida da fotógrafa que registrou grandes imagens e se tornou tão conhecida quanto as celebridades que fotografou. Annie Leibovitz produziu algumas das mais famosas imagens dos últimos 30 anos. Glamour, riqueza e poder foram algumas das características registradas por Annie em seus trabalhos para revistas renomadas no mundo como Vogue e Rolling Stone. Porém, não só isso faz parte de seu extenso portfólio, os horrores provocadospela guerra em Sarajevo e Ruanda também foram documentados com seu estilo único de registro. Leitura O olhar fotográfico: os princípios do design para a composição da fotografia SCHONARTH, Ana Júlia. O olhar fotográfico: os princípios do design para a composição da fotografia. Trabalho de Conclusão do Curso de Design – Linha de Formação Específica em Design Gráfico do Centro Universitário Univates. https://goo.gl/agQDsz Análise documentária de fotografias: um referencial de leituras de imagens fotográficas para fins documentários MANINI, Miriam Paula. Análise documentária de fotografias: um referencial de leituras de imagens fotográficas para fins documentários. Tese apresentada ao Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo (SP), 2002. https://goo.gl/Az1Lig 29 UNIDADE Análise da Imagem – Níveis Compositivo e Narrativo Referências FELICI, Javier Marzal. Cómo se lee una fotografia – Interpretaciones de la mirada. Madri: Cátedra, 2009. FELICI, Javier Marzal. Proposta de modelo de análise da imagem fotográfica – Descrição dos conceitos contemplados. In: I Congresso de Teoria e Técnica dos Meios Audiovisuais, Castellón (Espanha), 2004. Disponível em: <http://www. analisisfotografia.uji.es/root2/meto_por.html>. Acesso em: 25 fev. 2018. HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. PAZ, Thais Raquel da Silva; OLIVEIRA, Marilda de Oliveira. Narrativas a partir da fotografia. In: Cadernos de Educação, nº 45, 2013. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas. Disponível em: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ ojs2/index.php/caduc/article/viewFile/3816/3063>. Acesso em: 15 mar. 2018. PRÄKEL, David. Composição. Porto Alegre: Bookman, 2010. ZUANETTI, Rose et al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2002. 30