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Capítulo R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 5 A civilização grega 5.1 Grécia: da origem ao período homérico O que sabemos da Grécia do período homérico baseia-se principalmente nos poemas Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero. 5.2 A formação da pólis grega e a invenção da democracia Atenas tornou-se conhecida por fundar a democracia, enquanto Esparta se organizava como uma oligarquia militarista. 5.3 O universo cultural da pólis A filosofia, o teatro e a matemática desenvolvidos pelos gregos cumpriram um papel muito importante na construção da cultura ocidental. 5.4 A crise das póleis e a conquista macedônica As contínuas guerras internas travadas pelas cidades gregas contribuíram para o seu esgotamento e facilitaram a conquista macedônica. Vista da acrópole de Atenas, Grécia, mostrando, à direita, o Partenon, 2000. A base da cultura ocidental A Grécia se localiza na Península Balcânica, no sudeste da Europa. A região é marcada por um litoral recortado, um relevo montanhoso e pela presença de centenas de ilhas. O território grego tem ainda muitas colinas e planícies, solos pobres e relativa escassez de água. Apesar dessas des- vantagens, o clima quente mediterrâneo e a facilidade de comunicação por mar possibilitaram o povoamento e os contatos culturais e econômicos entre os gregos ao longo da sua história. Embora as condições geográficas sejam semelhantes, é importante destacar que não há uma linha de continuidade entre a Grécia antiga e a Grécia atual, seja do ponto de vista da história política, da característica étnica da população ou do conjunto do seu patrimônio material e imaterial. A língua falada na Grécia atual, por exemplo, é muito diferente do grego antigo. O cristianismo ortodoxo, religião adotada pela maior parte dos gregos nos dias de hoje, surgiu muito tempo depois dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Até mesmo a arquitetura reúne obras construídas em diferentes períodos históricos. Ainda que a Grécia atual não seja a continuidade do mundo grego antigo, muitos valores, conhecimentos e padrões artísticos atuais têm sua origem entre os antigos gregos. Entre eles surgiu a prática da democracia (entre outros regimes políticos), o teatro, a filosofia, o pensamento político e a história. O fato de, ao longo dos séculos, a democracia ateniense ter servido de inspiração para os movimentos que lutaram por liberdade e igualdade, contra a tirania dos governantes ou a opressão estrangeira, demonstra a importância dessa sociedade para os países do Ocidente. HIST_PLUS_UN_B_CAP_05.indd 100 18.08.10 15:10:55 Capítulo Objetivo Compreender a formação histórica das civilizações minoica e micênica. Termos e conceitos • Civilização • Cultura material • Período homérico Seção 5.1 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 101 C ap ít u lo 5 • A ci vi liz aç ão g re ga Grécia: da origem ao período homérico A civilização minoica Por volta de 2200 a.C., floresceu, na Ilha de Creta, na Península Balcâni- ca, a civilização cretense ou minoica, palavra que deriva de Minos, lendário soberano de Creta [doc. 1]. A civilização minoica era formada por um conjunto de Estados teocráticos que governavam a ilha, cuja administração estava centrada nos palácios de Creta, como o de Cnossos. A escrita dessa cultura – a Linear A – ainda não foi decifrada pelos estudiosos. Escavações arqueológicas revelaram que a arte e a arquitetura minoicas eram complexas e refinadas. O comércio marítimo era a atividade econômica principal, posicionando Creta como intermediária comercial entre o Egito e todo o Mediterrâneo Oriental. Por volta do século XVI a.C., o território cretense começou a ser ocupado pelos micênicos, um povo indo-europeu originário do nordeste da Península Balcânica. Eles se expandiram por toda a região, ocupando as ilhas do Mar Egeu, a Grécia continental e a Ásia Menor. Nos antigos poemas gregos, esses povos são identificados como aqueus. Falavam um dialeto grego arcaico e introduziram na Grécia o carro e o cavalo, elementos característicos de so- ciedades guerreiras orientais. A civilização micênica A síntese entre elementos culturais locais e aqueus deu origem à civili- zação micênica, que recebeu esse nome por estar centralizada em palácios, como o de Micenas. Os micênios foram os primeiros a compor documentos escritos em língua próxima à grega (Linear B, hoje parcialmente decifrada), encontrados em tabuinhas de argila ou em vasos de cerâmica. No entanto, muito do conhecimento que temos dessa civilização deve-se principalmente às pesquisas arqueológicas, que revelaram uma vasta cultura material. Objetos de cerâmica, espadas, punhais, monumentos fúnebres e máscaras funerárias são alguns exemplos da rica cultura material micênica. A civilização micênica também se organizava em torno de um poder centralizado. Havia diversos palácios, ao redor dos quais surgiram os espaços urbanos. As decisões políticas eram tomadas pelos reis, cada qual instalado em seu palácio. As comu- nidades rurais, embora mais afastadas desses cen- tros, estavam submetidas à sua administração. Por volta de 1200 a.C., por motivos ainda con- troversos, o mundo micênico entrou em crise. Tradicionalmente os historiadores atribuíam o declínio dessa sociedade às migrações dos “povos do mar”, que os gregos chamavam de dórios. As novas pesquisas, no entanto, indicam que o fim da civilização micênica também teria sido provocado por dificuldades econômicas e ocorrências naturais, como terremotos. A crise da civilização micênica iniciou uma fase de transição entre o poder político centralizado, instala- do nos palácios, e o surgimento da pólis, da cidade, no século VIII a.C. Estendendo-se, aproximadamente, do século XII ao século VIII a.C., a nova fase da história grega ficou conhecida como período homérico. • Cultura material. Conjunto de objetos materiais produzidos e consumidos por uma sociedade. Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010. p. 89. Países da Península Balcânica (2009)DOC. 1 Istambul GRÉCIA Atenas PRAGA BULGÁRIA Sófia ROMÊNIA BucaresteCROÁCIA Zagreb ESLOVÊNIA Liubliana MAR MEDITERRÂNEO MAR NEGRO BelgradoBÓSNIA- -HERZEGÓVINA Sarajevo ALBÂNIA Tirana Podgorica MACEDÔNIA Skopje KOSOVO VOIVODINA TURQUIA EUROPEIA SÉRVIA Á F R I C A MONTENEGRO 220 km Conteúdo digital Moderna PLUS http:// www.modernaplus.com.br Mapa animado: Migrações Indo-europeias e povoamento da Hélade HIST_PLUS_UN_B_CAP_05.indd 101 18.08.10 17:14:00 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Seção 5.2 102 U n id ad e B • A A nt ig ui da de c lá ss ic a: G ré ci a e R om a Testemunhos do período homérico Os testemunhos escritos que servem de base para o estudo desse período são raros. Os mais conhecidos e utilizados são os chamados poemas homéricos, cuja importância explica o nome atri buído a esse período e que o tornou conhecido. Os poemas homéricos são constituídos por duas grandes obras, ambas do gênero literário conhecido como epopeia. A primeira é a Ilíada, que tem como foco central o último ano da famosa Guerra de Troia [doc. 2]. Conta-se que os gregos atacaram os troia- nos para vingar o rapto da bela Helena, esposa de Menelau (rei de Esparta), por Páris, filho de Príamo (rei de Troia). A outra obra é a Odisseia, que narra as façanhas do herói Odisseu, também conhecido como Ulisses, na sua viagem de retorno a Ítaca, seu lar, após combater na Guerra de Troia. Duas expressões bastante utilizadas nos dias de hoje têm origem nos poemas homéricos: “calcanhar deaquiles” e “presente de grego”. Maior guerreiro da Ilíada e um dos maiores heróis míticos de toda a Grécia, Aquiles era filho de Tétis e Peleu. Conta o mito que sua mãe Tétis resolveu banhá-lo no Rio Stix segurando-o pelos calcanhares, a única parte do seu corpo que se manteve frágil. As versões sobre a sua morte são todas posteriores aos poemas homéricos. A mais conhecida conta que Aquiles foi morto por uma flecha envenenada, disparada pelo troiano Páris, que atingiu justamente o seu calcanhar. Vem daí a expressão “calcanhar de aquiles”, que significa o ponto fraco de alguém. A expressão “presente de grego” refere-se a um episódio da Guerra de Troia relatado na Odisseia. Após longos anos de batalhas, o herói grego Odisseu, conhe- cido por sua astúcia, teve a ideia de mandar construir um cavalo de madeira para vencer os troianos. Ele os convenceu de que era um presente da deusa Atena e que, se o aceitassem, Troia nunca cairia. O cavalo, que escondia no seu interior alguns soldados gregos, foi aceito e conduzido ao interior da cidade. À noite, os gregos saíram de dentro do cavalo e destruíram Troia. A expressão “presente de grego” significa, portanto, ganhar algo que só nos trará problemas. Os poemas e a sociedade grega Tradicionalmente, a autoria dos poemas Ilíada e Odisseia é atribuída a Homero, poeta grego de quem pouco se sabe. Desde a Antiguidade, porém, há pen- sadores que questionam a autoria dessas duas obras ou que Homero tenha sido o seu único autor. O mais provável é que esses poemas representem o ponto cul- minante de uma longa e rica tradição de poesia oral. Os dois poemas eram recitados pelos aedos e pelos rapsodos. Os aedos do período homérico eram artistas que se deslocavam pela Grécia cantando os feitos heroicos, ao som de uma cítara, nas casas de homens nobres. Os rapsodos apareceram mais tarde, por volta do século VI a.C., e recitavam oralmente, sem música, os poemas para os cidadãos em oca siões festivas ou celebrações oficiais. Seja como for, as epopeias homéricas foram uti- lizadas na educação dos jovens aristocratas gregos. Os grandes heróis criados naquelas histórias funcio- navam como guia de conduta e sabedoria. Já para a história, os poemas constituem fontes preciosas, embora não haja um consenso entre os historiadores quanto aos períodos históricos neles descritos. Para alguns historiadores, a Ilíada e a Odisseia revelam ainda um mundo micênico; para outros, trata-se dos séculos X e IX a.C. DOC. 2 A Guerra de Troia Os historiadores ainda debatem se a Guerra de Troia foi um acontecimento lendário, criado pela imaginação poética grega, ou se realmente teria ocorrido. Escavações na Colina de Hissarlik, na atual Turquia, dirigidas por Heinrich Schliemann – um rico comerciante alemão – no final do século XIX, localizaram uma cidade que Schliemann identificou imediatamente como a Troia de Homero. Novas escavações, ao longo do século XX, re- velaram posteriormente ao menos nove camadas arqueológicas dessa cidade, indicando uma longa existência temporal, de 3000 a.C. até o século I a.C. É difícil identificar a que camada corresponderia a Troia homérica. De qualquer forma, os vestígios nos mostram que a cidade sofreu constantes ataques. Um desses ataques pode ter dado origem a um ciclo épico, cantado por poetas. A Guerra de Troia teria ocorrido em algum momento entre 1300 e 1100 a.C. Acima e ao lado, réplicas do “tesouro de Príamo”, conjunto de artefatos encontrados por Schliemann em Hissarlik. Museu Bode, Berlim. HIST_PLUS_UN_B_CAP_05.indd 102 18.08.10 15:11:05