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IMAGENOLOGIA AULA 1 Profª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL O biomédico na imagenologia A biomedicina é conhecida por abranger diversas áreas de atuação, sendo uma delas a de diagnóstico por imagem. Mas o que exatamente faz um biomédico imagenologista? Sabe-se que, quando o assunto é diagnóstico, é muito importante que existam diversas áreas atuando de maneira conjunta para que seja possível chegar a uma conclusão. A imagenologia abarca todos os exames que geram, de fato, imagens a serem avaliadas e interpretadas por profissionais médicos a fim de, em conjunto com outros exames clínicos, diagnosticar determinadas doenças. Para que as imagens sejam geradas, é necessário – além, é claro, dos equipamentos – que exista um profissional legalmente habilitado e capaz de manusear essas máquinas e realizar os exames. Entre esses profissionais, encontra-se o biomédico imagenologista. Nesse campo, várias são as opções de exercício da profissão que incluem tomografia computadorizada, ressonância magnética, medicina nuclear, densitometria óssea, mamografia, raio X e outras. Em qualquer uma delas, é muito importante que o profissional tenha conhecimento e domínio não apenas sobre o equipamento que está sendo utilizado, mas também a respeito da anatomia e funcionamento dos sistemas do corpo humano. Pode-se afirmar que é básico para que atua no diagnóstico por imagem reconhecer todas as estruturas do corpo, sabendo distinguir até mesmo nos diferentes planos (sagital, coronal e axial). Até mesmo dentro das áreas que citamos, existem subespecialidades, como na medicina nuclear, na qual se pode atuar tanto na Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET/CT) quanto nos exames de cintilografia no geral. A imagenologia constitui um grande leque de possibilidades e requer conhecimentos básicos e aprofundados sobre o corpo humano – sem falar no interesse em se manter permanentemente atualizado para que os diagnósticos sejam cada dia mais precisos. 3 TEMA 1 – ANATOMIA DO CORPO HUMANO O conhecimento e o domínio da anatomia humana são essenciais para estudantes e profissionais de saúde. É aqui que todos os órgãos, sistemas e estruturas do corpo humano são estudados, e quando o assunto é diagnóstico por imagem, pode-se dizer que é a base para conseguir entender todo o restante da disciplina. O corpo humano pode ser dividido em cabeça, pescoço, tronco e membros. Já a anatomia humana pode ser classificada em: • anatomia sistêmica – estuda os sistemas do corpo humano (respiratório, digestório, esquelético, muscular, cardiovascular e endócrino). Cada um deles exerce determinadas funções e, dentro de cada função, existem órgãos responsáveis para que ocorra o funcionamento correto de tudo. • anatomia regional ou topográfica – estuda as regiões (com base na anatomia sistêmica), como tórax e abdômen. • Anatomia clínica – o estudo do corpo humano é feito com auxílio de aparelhos de imagem, como a tomografia computadorizada. • Anatomia palpatória ou de superfície – também com base na anatomia sistêmica, o profissional avalia por intermédio do toque. Como base para estudo da anatomia humana, existe a posição anatômica do corpo humano, padronizada dessa maneira para evitar erros de referência. Essa posição é o corpo humano de pé, ereto, cabeça e olhos voltados para o horizonte, queixo em paralelo com os pés, braços ao lado do corpo e palmas das mãos viradas para frente (Figura 1). É baseado nela que os outros posicionamentos são realizados. 4 Figura 1 – Posição anatômica Crédito: Lazuin/Shutterstock. Com base nisso, o corpo humano pode ser dividido em planos e eixos, conforme disposto a seguir. • Plano coronal: corta-se o corpo lateralmente, indo de orelha a orelha. Nesse plano, identifica-se se a estrutura é anterior ou posterior (Figura 2). Figura 2 – Corte coronal Crédito: Excellent Dream/Shutterstock. 5 • Plano sagital: corta-se o corpo em dois lados (direito e esquerdo), como ilustrado na Figura 3. Figura 3 – Corte sagital Crédito: Excellent Dream/Shutterstock. • Plano axial (ou transversal): corta-se o corpo ao meio, separando em parte superior e inferior (Figura 4). Figura 4 – Corte axial Crédito: Excellent Dream/Shutterstock. 6 É muito importante que esses planos sejam estudados e entendidos, visto que na área da imagenologia todos os exames requerem conhecimento dos cortes anatômicos, desde o posicionamento do paciente até a realização deles. Quando se fala em plano coronal, sagital e axial, deve-se lembrar que esses cortes englobam, além do esqueleto, os órgãos do corpo humano, como o cérebro, que pode ser visto nos três diferentes planos (Figura 5). Figura 5 – Cortes anatômicos do cérebro Crédito: Radiological Imaging/Shutterstock. Em determinados exames de imagem – a tomografia computadorizada é um deles –, as imagens adquiridas podem ser reconstruídas nos três planos, de maneira que facilitem a visualização médica para conclusão de diagnósticos. Além dos cortes, existem os eixos anatômicos: • eixo sagital – também chamado de eixo anteroposterior, é formado pelo encontro do plano sagital com o plano axial e possibilita os movimentos de adução e abdução; • eixo longitudinal – também chamado de eixo craniossacral, é formado pelo encontro dos planos coronal e sagital e possibilita os movimentos de rotação lateral e rotação medial; • eixo transversal – também conhecido como eixo látero-lateral, estende-se de um lado ao outro e possibilita os movimentos de flexão e extensão. Para designar a posição do membro conforme a distância entre a estrutura e a raiz dele, usam-se os termos proximal (quando se encontra mais próximo da raiz do membro) e distal (quando está mais afastado dela). É um conceito muito importante na imagenologia, visto que na aquisição de imagens o profissional muitas vezes deve ser bem específico quanto ao posicionamento do paciente para a realização das imagens corretas (Figura 6). 7 Figura 6 – Posição anatômica Crédito: Vectormine/Shutterstock. TEMA 2 – ÓRGÃOS E SISTEMAS Para que o corpo humano funcione de forma correta, é necessário que exista a chamada homeostase que, segundo Claude Bernard descreveu em 1929, é a constância do meio interno (Avila-Pires, 1976). Essa constância é feita mediante um processo de autorregulação dos sistemas biológicos para que se ajustem às condições ótimas de sobrevivência. Uma vez que ocorra algum tipo de mudança (seja interna, seja externa) que possa ocasionar desequilíbrio dessa homeostasia, há também a probabilidade de se desencadearem falhas e, consequentemente, doenças do meio interno. Os principais sistemas do corpo humano que são trabalhados na imagenologia são: • Sistema esquelético – o esqueleto é composto por ossos e cartilagens e tem duas partes principais: esqueleto axial e esqueleto apendicular. O axial consiste nos ossos da cabeça, pescoço e tronco, ou seja, crânio, 8 vértebras cervicais, costelas, esterno vértebras e sacro; e o apendicular, nos ossos dos membros (braços e pernas). • Sistema articular – as articulações são as junções entre duas ou mais peças esqueléticas e podem ser classificadas quanto ao número de ossos presentes (simples ou compostas), histologicamente (com base nos tipos de tecidos) e funcionalmente (com base na quantidade de movimentos permitidos entre os ossos que formam a articulação). • Sistema muscular – tem como principal função possibilitar o movimento, visto que é o único tecido do corpo que tem capacidade de contração e, consequentemente, fazer com que ocorram os movimentos do corpo. Também é responsável pela manutenção da postura e posição do corpo. Geralmente, os músculos se contraem para manter o corpo imóvel ou em umaposição específica. • Sistema cardiovascular – é responsável pelo fornecimento de nutrientes, retirada de metabólitos, regulação da pressão arterial, transporte de hormônios, regulação da temperatura corporal e outros ajustes homeostáticos em estados alterados. • Sistema respiratório – permite o transporte de oxigênio (O2) para o sangue com a finalidade de ser distribuído às células. Também é responsável pela retirada de gás carbônico (CO2) do sangue para o exterior. Pode ser dividido em porção condutora (que leva o ar para os locais onde acontecem as trocas gasosas), formada por cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e bronquíolos terminais, e porção respiratória (onde ocorre a troca de gases entre o ar e o sangue), formada pelos bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos. • Sistema nervoso – coordena as funções de todos os sistemas do organismo por meio da recepção e interpretação de estímulos dos meios interno e externo, desencadeando respostas adequadas. Com essa função, auxilia na manutenção da homeostase do organismo. Pode ser dividido em: • Sistema Nervoso Central (SNC), que é composto por encéfalo e medula espinhal e tem a função de processar e integrar informações. 9 • Sistema Nervoso Periférico (SNP), que é composto por nervos e gânglios e responde pela condução de informações entre órgãos receptores de estímulos, o SNC e órgãos efetores. • Sistema geniturinário – é formado pelo sistema urinário e pelos sistemas reprodutores feminino e masculino. As principais funções do sistema urinário são: armazenar, produzir e excretar a urina, fazer a regulação da composição química do sangue, eliminar todo o excesso de líquidos e resíduos existentes no organismo por meio da urina, garantir o equilíbrio dos minerais e ajudar na regulação da produção das hemácias. Ele é composto pela bexiga, uretra, rins, esfíncteres e ureteres. O sistema reprodutor feminino é composto por tuba uterina, ovário, vagina e útero (órgãos genitais internos) e lábios menor e maior, vestíbulo da vagina, monte púbico, clitóris, glândulas vestibulares maiores e bulbo do vestíbulo. Nos homens, os órgãos genitais são compostos pelos testículos, ductos deferentes, epidídimos, ductos ejaculatórios, vesículas seminais, glândulas bulbouretrais, próstata e pênis. • Sistema digestivo – responsável pela digestão e absorção dos alimentos, é formado pelo tubo gastrointestinal e pelas glândulas acessórias. Nesse sistema, existem segmentos que produzem hormônios que contribuem para o bom funcionamento da digestão dos alimentos. O trato gastrointestinal (TGI) é o segmento musculoso que transporta os alimentos desde a boca até a excreção pelo ânus mediante a defecação. Esse trajeto é formado por cavidade bucal, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto, canal anal e ânus. • Sistema linfático – é uma rede complexa formada por vasos linfáticos, capilares linfáticos, ductos linfáticos, linfonodos e órgãos linfoides que complementam o sistema sanguíneo, além de produzir linfa, formar células de defesa, impedir edema intersticial, armazenar sangue e destruir hemácias velhas. Os principais órgãos linfoides são o baço, o timo e as tonsilas. As funções desse sistema são manutenção das proteínas plasmáticas e dos líquidos, imunidade celular e humoral e absorção de lipídeos da dieta. • Sistema endócrino – realiza o controle das funções fisiológicas, pela produção e liberação de hormônios na corrente sanguínea. Esses hormônios são produzidos em pequenas quantidades pelas glândulas 10 endócrinas para agir em específicos órgãos. As glândulas endócrinas são tireoide, paratireoides, hipófise, suprarrenal, pineal e timo. Juntos, esses sistemas trabalham para garantir que as funções vitais do organismo estejam em pleno funcionamento. O equilíbrio desses sistemas em funcionamento é a homeostase. TEMA 3 – CONCEITOS BÁSICOS DE RADIAÇÃO Ao falar sobre imagenologia, é de extrema importância o conhecimento sobre o conceito de radiação e tudo o que ela engloba. A radiação é a energia em trânsito, ou seja, que se propaga de um ponto a outro no espaço por meio de partículas dotadas de energia cinética (radiações corpusculares) ou de ondas eletromagnéticas (radiações eletromagnéticas). Pode ser gerada por fontes naturais ou por dispositivos criados pelo homem. Um subconceito de radiação é a radioatividade, que é a capacidade que alguns elementos fisicamente instáveis possuem de emitir energia sob forma de partículas ou de radiação. As radiações podem ser: ionizantes e não ionizantes. As radiações ionizantes são aquelas cuja energia é superior à energia de ligação dos elétrons de um átomo com o seu núcleo. Energias emitidas de núcleos instáveis são capazes de causar ionização. Quando esse núcleo instável emite partículas, elas são tipicamente na forma de partículas alfa, beta ou nêutrons. No caso da emissão de energia, ela se faz em forma de ondas eletromagnéticas semelhantes aos raios-X: os raios gama. As partículas alfa, por terem massa e carga elétrica relativamente maior, podem ser facilmente detidas. A blindagem é uma folha de papel. Já as partículas beta têm capacidade de penetração maior do que as partículas alfa e são capazes de penetrar cerca de um centímetro dos tecidos, ocasionando danos à pele (sem prejudicar os órgãos internos). Pode ser blindada com acrílico. A radiação gama – ao contrário da alfa e beta, que são constituídas por partículas – é formada por ondas eletromagnéticas emitidas dos núcleos instáveis logo após a emissão de uma partícula alfa ou beta. Os raios gama são extremamente penetrantes, e a blindagem típica é o chumbo. Na Figura 7, é possível observar as radiações ionizantes. Figura 7 – Blindagem das radiações ionizantes alfa, beta, gama e nêutron, respectivamente, através de uma folha de papel, alumínio, chumbo e concreto 11 Crédito: Osweetnature/Shutterstock. Por sua vez, a radiação não ionizante tem baixa energia e baixa frequência. Também é denominada de campo eletromagnético, que se propaga através de uma onda eletromagnética constituída por um campo elétrico e um campo magnético. Nesse caso, pode ser gerada por fonte natural ou não natural. 3.1 Interação das radiações com a matéria Uma das principais dúvidas sobre radiação diz respeito aos efeitos que pode causar. Quando ela interage com a matéria, ocorre a transferência de energia, o que pode vir a provocar ionização e excitação dos átomos e moléculas, causando modificação (ao menos temporária) na estrutura dessas moléculas. O dano mais considerável é o que pode ser causado no DNA. Ao entrar em contato com a radiação, os efeitos físico-químicos não podem ser controlados e acontecem logo após alguns segundos. Os efeitos biológicos acontecem em maiores intervalos de tempo – podem variar de minutos a anos. Nesse caso, a resposta é natural, gerada pelo organismo devido à exposição a um agente agressor, e não necessariamente causa doença; pode provocar, por exemplo, redução nos leucócitos. Quando ocorre alguma doença, é causada pelo efeito orgânico. Isso acontece quando o organismo não consegue se recuperar devido à quantidade e/ou frequência dos efeitos biológicos. Podemos citar como exemplo a leucemia. 12 A exposição à radiação pode ser externa, ou seja, de fontes exteriores ao corpo, provenientes de fontes radioativas ou raios-x, ou de fontes internas, resultante da ingestão de materiais radioativos, por exemplo. Os danos podem ser somáticos (quando acontecem diretamente na pessoa irradiada) ou hereditários (quando os danos se manifestam nas gerações seguintes como resultado dos danos causados nos órgãos dos reprodutores). TEMA 4 – EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES Os efeitos biológicos podem ser estocásticosou determinísticos. O que difere os dois é que nos estocásticos ocorre apenas a transformação celular, ao passo que nos determinísticos há a morte celular. • Efeitos estocásticos – a probabilidade de ocorrerem é diretamente proporcional à dose de radiação, mas a gravidade independe da dose recebida. Podem acontecer com doses pequenas de radiação, ou seja, não apresentar limiar de dose para que se deem. Ocorre alteração aleatória do DNA de uma única célula que continua a se reproduzir, levando à alteração celular. A severidade dos danos causados é determinada pela localização e pelo tipo de tumor ou anomalia resultante. No entanto, o organismo possui excelentes métodos de defesa, e na maioria das vezes essas transformações neoplásicas não evoluem para câncer. Quando esses métodos falham, após um longo período de latência, o câncer aparece. Pode também ocorrer efeito hereditário, caso o dano ocorra em células germinativas. • Efeitos determinísticos – estão diretamente relacionados à dose de radiação absorvida, e, diferentemente dos efeitos estocásticos, a gravidade aumenta à medida que a dose cresce também, pois existe um limiar de dose. Nesse caso, ocorre a morte celular, e as alterações causadas são somáticas. Apesar da existência desses efeitos, o corpo humano apresenta um mecanismo chamado de reversibilidade, responsável pelo reparo das células mesmo quando os danos causados são profundos. 13 TEMA 5 – PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Como visto, existem muitos danos que podem ser causados pela exposição à radiação. Como na imagenologia essa exposição é frequente, existe a proteção radiológica para que o profissional atue de maneira segura. O objetivo dela é fornecer um padrão apropriado de proteção ao indivíduo que está atuando na área. A proteção radiológica baseia-se em princípios fundamentais: • Justificativa: o benefício tem que ser tal que justifique o detrimento, que se define como sendo a relação entre a probabilidade de ocorrência e o grau de gravidade do efeito. • Otimização: o número de pessoas expostas, as doses individuais e a probabilidade de ocorrência de efeitos nocivos devem ser tão baixos quanto razoavelmente exequíveis (princípio As Low As Reasonably Achievable – ALARA). • Limitação de dose: a dose individual dos trabalhadores e indivíduos públicos não deve exceder os limites de dose recomendados, excluindo- se as exposições médicas de pacientes. • Prevenção de acidentes: todo esforço deve ser direcionado do sentido de estabelecer medidas rígidas para prevenção de acidentes (CNEN, 2014). Esse sistema de proteção radiológica existe a fim de evitar os efeitos determinísticos, visto que há um limiar de dose e o objetivo é manter os indivíduos expostos abaixo dele. Para a proteção radiológica das exposições externas, consideram-se distância, tempo e blindagem. Sendo assim, quanto mais longe da fonte, melhor; quanto menos tempo exposto a essa fonte, melhor; e, quanto mais eficiente for a blindagem, melhor. Também é possível classificar as exposições dos seres humanos à radiação da seguinte maneira: • exposição ocupacional – ocorre no ambiente de trabalho; • exposição médica – é a exposição de indivíduos que passam por tratamento ou diagnóstico no meio da radiologia e também de pessoas que ajudam a conter ou amparar pacientes ou até mesmo de voluntários de pesquisas clínicas; • exposição ao público: todas as outras. 14 Quando falamos em frequência e intensidade de exposição, podem ser diferenciadas, por exemplo: • exposição única – radiografia convencional; • exposição fracionada – radioterapia (nesse caso, são necessárias várias sessões de tratamento); • exposição periódica – originada da rotina de trabalho com materiais radioativos; • exposição de corpo inteiro – acidente nuclear, por exemplo; • exposição parcial – pessoa que manipula os radionuclídeos; • feixe intenso – radioterapia e esterilização de alimentos. • feixe médio – radiodiagnóstico; • feixe fraco – radioatividade natural. Para que o profissional que tem contato com a radiação possa trabalhar de maneira segura, existe a avaliação de dose individual, ou seja, em locais que possam determinar algum tipo de risco, o indivíduo deve usar um dosímetro, sendo ele de tórax e de pulso (este é usado quando o profissional faz manipulação de materiais radioativos). Há um limite de dose individual a que se pode estar exposto, e este não deve ser ultrapassado. NA PRÁTICA Saber utilizar os materiais disponíveis, bem como livros e imagens facilmente encontradas quando o assunto é anatomia humana, ajuda muito na prática clínica. Esse é um conhecimento indispensável para quem atua na área da imagenologia. Os conceitos básicos são sempre tão importantes quanto os estudos mais profundos, e ter uma boa base torna o processo de aprendizado mais fácil. FINALIZANDO Os cortes anatômicos (sagital, coronal e axial), bem como as estruturas e sistemas do corpo humano e os conceitos básicos de radiação, são o início do caminho na imagenologia. Dominar esses assuntos a ponto de colocá-los em prática no dia a dia é um diferencial para o profissional que deseja atuar na área. Saber utilizar os princípios da proteção radiológica visando manter os cuidados 15 necessários durante a rotina de trabalho em situações que empregam radiação ionizante vai trazer benefícios não apenas ao paciente que está sendo tratado, mas principalmente ao profissional que tem contato direto com esse meio. 16 REFERÊNCIAS ANDRADE FILHO, E. P.; PEREIRA, F. C. F. Anatomia geral. Sobral: INTA, 2015. Disponível em: <https://md.uninta.edu.br/geral/anatomia- geral/pdf/anatomia-geral.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. AVILA-PIRES, F. D. A contribuição de Claude Bernard à ecologia médica. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 10, n. 4, p. 225-230, ago. 1976. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/VVCCvxN4h4CCHvkCG8H7b9L/?format=pdf&l ang=pt>. Acesso em: 13 ago. 2021. AZEVEDO, A. C. P. Radioproteção em serviços de saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, [S.d.]. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biossegurancahospitalar/dados/material10.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. CNEN − Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 3.01 − Diretrizes básicas de proteção radiológica. 2014. Disponível em: <http://appasp.cnen.gov.br/seguranca/normas/pdf/Nrm301.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. RAIDAN, C. Introdução ao estudo da anatomia humana. São Mateus: UFES, [S.d.]. Disponível em: <https://citogenetica.ufes.br/sites/nupea.saomateus.ufes.br/files/field/anexo/aul a_1_anatomia.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. UNEP – United Nations Environment Programme. Radiação – efeitos e fontes. Nairóbi: UNEP, 2016. Disponível em: <http://www.aben.com.br/Arquivos/544/544.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. XAVIER, A. M.; MORO, J. T.; HEILBRON, P. F. Princípios básicos de segurança e proteção radiológica. 3. ed. rev. Porto Alegre: UFRGS, 2006. Disponível em: <https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/centro-de- informacoes-nucleares/material-didatico-1/principios-basicos-de-seguranca-e- protecao-radiologica-terceira-edicao-revisada.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2021. IMAGENOLOGIA AULA 2 Profª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, iremos entender os conceitos de medicina nuclear e um pouco sobre alguns exames que são muito realizados neste meio. O conhecimento básico desse tema é muito relevante para entender melhor o fluxo e a rotina do profissional que trabalha nessa área. TEMA 1 – MEDICINA NUCLEAR Uma das principais áreas de atuação do biomédico imagenologista é na medicina nuclear, que é responsável pelo diagnóstico de diversas doenças utilizando materiais radioativos e equipamentos que são capazes de realizara captação desses materiais. Na medicina nuclear, os principais exames realizados são as cintilografias (que podem ser de todas as partes do corpo) e o PET/CT, um dos exames mais utilizados na oncologia. 1.1 As primeiras descobertas na radioatividade Em 1896, pela primeira vez na história, Henri Becquerel descreveu o fenômeno da radioatividade. Ele observou que o urânio emitia radiações semelhantes aos raios-x, que causavam impressões em chapas fotográficas e ionizavam gases. Em 1898, o casal Marie e Pierre Curie batizaram esse fenômeno, descoberto por Becquerel, com o nome que o chamamos até hoje: radioatividade. Eles destacaram que cada elemento radioativo possuía essa propriedade de forma particular, constatando, em sequência, nos elementos rádio, polônio e tório. Marie Curie foi a primeira pessoa na história a receber dois prêmios Nobel por criar a base científica para os futuros estudos desenvolvidos nesse campo por meio do livro Tratado de Radioatividade, publicado em 1910. Também foi a primeira mulher a tornar-se membro da Academia Francesa de Medicina. Já em 1899, Rutherford observou que as emissões radioativas são compostas de, no mínimo, dois tipos de “raios”, sendo um mais penetrante e outro facilmente absorvido, chamando-os de alfa (α) (os menos penetrantes) e beta (β), que ainda não possuía características muito conhecidas. 3 O casal Curie verificou que alguns raios eram defletidos pelo ímã e outros não eram. Os que eram defletidos, correspondiam à radiação beta de Rutherford, tendo o sentido da deflexão semelhante aos raios catódicos. Posteriormente, a radiação que não defletia foi identificada como raios alfa. Com essa experiência, foram determinadas as cargas elétricas das partículas radioativas e as suas massas. Figura 1 – O casal Curie Créditos: Everett Collection/Shutterstock. Em 1900, Paul Villard verificou que existia um tipo de radiação que não sofria nenhum tipo de influência de campos elétricos e magnéticos e que tinha um poder de penetração maior do que todas as outras anteriormente descobertas. Produzia efeito elétrico, luminoso e fotográfico muito maior que os das radiações alfa e beta. 4 Ele percebeu que, quando essa radiação atravessa um gás ou um sólido, produz um tipo de radiação secundária similar à radiação beta, que pode impressionar igualmente placas fotográficas, tornar o ar condutor e desviar por um campo magnético. Desta forma, a radiação gama (γ) foi a última descoberta. A radioatividade é um fenômeno natural, ocorre devido à desintegração de radionuclídeos (ou núcleos instáveis), onde há emissão de energia na forma de onda eletromagnética (γ) ou partículas (α, β ou nêutrons, dependendo das suas propriedades físicas, como carga e massa). Os raios-x para uso médico ou industrial são considerados uma radiação artificial, pois são gerados por meio de uma descarga elétrica de alta voltagem, onde, por aceleração, os elétrons (no catodo) se chocam com um alvo metálico polarizado positivamente (ânodo), gerando, assim, os raios-x. Tanto a radiação γ quanto os raios-x são ionizantes. Na medicina nuclear, a aplicação da radiação é utilizada em procedimentos não invasivos que possibilitam avaliações funcionais, anatômicas e morfológicas. 1.2 Princípios da medicina nuclear O uso dos radionuclídeos pode ser tanto como fontes, quando o meio biológico recebe apenas a radiação, como com traçadores radioativos. O primeiro exame que foi feito utilizando radioisótopos foi a captação de iodo pela tireoide. Desde 1938, o iodo radioativo é muito utilizado na medicina nuclear, em que também foi usado com fins de tratamento em pacientes com câncer de tireoide. Em 1958, Hal Anger desenvolveu a câmara de cintilação, um sistema que faz a formação de imagens que não exigia que o detector fosse movimentado e que apresentava maior resolução geométrica, além de ser possível obter projeções diferentes a partir de uma mesma distribuição do radiofármaco. Essas informações que as câmaras adquiriam eram transformadas em imagens e exibidas por um tubo de raios catódicos, de modo que se tornavam filmes ou chapas fotográficas. Os equipamentos que são utilizados hoje em dia são derivados desta câmara de Anger. Hoje, os equipamentos câmara gama são compostos por um Gantry, um sistema de movimentação, um sistema de processamento, um sistema de armazenamento de dados e o sistema de impressão. 5 • Gantry: é o componente que contém o sistema de detecção da radiação acoplado a uma parte eletrônica necessária para essa detecção. O sistema de detecção da radiação utiliza cristais cintiladores e nesses cristais estão acoplados vários tubos fotomultiplicadores. O tamanho e o formato desses cristais podem variar. • Sistema de movimentação: esse sistema envolve os movimentos do gantry e da mesa onde estará o paciente. Para que seja possível realizar imagens em diferentes planos, o gantry precisa se movimentar em diferentes ângulos. Além desses movimentos, ele também deve rotacionar em torno de um eixo fixo para adquirir as imagens tomográficas. • Sistema de processamento, armazenamento de dados e impressão: os dados que são coletados pelo gantry são armazenados por um computador e, posteriormente, processados para dar origem a uma imagem digital que poderá ser visualizada em um monitor. Uma vez que as imagens foram adquiridas e visualizadas, são impressas para avaliação para laudo. Diferente da tomografia computadorizada, que utiliza um espectro de raios-x com várias energias, na medicina nuclear são utilizados fótons de raios gama com apenas uma energia. As imagens são, então, processadas digitalmente em um processo chamado reconstrução tomográfica para a formação da imagem axial ou de um corte do paciente. 1.3 Tecnécio Este é um elemento radioativo pertencente à classe dos metais de transição obtido apenas a partir de formas artificiais. Na medicina nuclear, é usado na forma de isótopo 99 metaestável (Tc-99m). Este composto tem afinidade por tecidos como tireoide e intestino quando administrado sozinho, ou seja, sem ligação com algum fármaco. Historicamente falando, existem duas “fases” muito importantes que dividem a medicina nuclear, a fase pré-tecnécio e a fase pós-tecnécio. A primeira fase foi marcada pela publicação na revista Science, em 14 de Junho de 1945, de um artigo que anunciou a disponibilidade de radionuclídeos ao setor privado. Nesta época, esses materiais eram disponibilizados sem qualquer tipo de garantia em relação à sua esterilidade e apirogenicidade. Quando a Abbot 6 Laboratories comprou a produção desses radionuclídeos e decidiu transformá- los em radiofármacos para uso médico, os padrões de qualidade foram reavaliados, essa foi a primeira produtora de radiofármacos do mercado. O primeiro radiofármaco comercialmente disponível foi o Iodo 131. A comercialização desse material se iniciou em 1950. Já em relação à fase II, iniciou-se com a descoberta do tecnécio (Tc-99m), naquela época denominado de elemento número 43. Quando descoberto, foi questionado se o seu uso era realmente interessante para a medicina nuclear, visto que seu tempo de meia vida é de seis horas. Apesar disso, a energia gama produzida por esse elemento o tornava ideal para a formação de imagens (140 KeV). Em 1957, foi anunciado o desenvolvimento do gerador de tecnécio, pelo sistema Mo-99/ Tc-99m. No Brasil, em 1965, houve um convênio entre o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) e a USP (Universidade de São Paulo), quando foi criado o IEA (Instituto de Energia Atômica). Em 1959, começaram as primeiras produções de I-131 para aplicação médica. Quatro anos mais tarde, o IEA (atualmente IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), começou a produção de radioisótopos e, depois, com a inclusão de procedimentos farmacêuticos, os radiofármacos.Os radiofármacos compreendem: • Geradores de radionuclídeos. • Conjunto de reativos liofilizados (para marcação com Tc-99m). O gerador de radionuclídeo é um sistema de preparação de radiofármacos onde é utilizado um radionuclídeo de meia vida longa que decai em outro radionuclídeo, que será eluído para preparação do radiofármaco. Os agentes liofilizados são reconstituídos e/ou combinados com radionuclídeos na preparação final dos radiofármacos. 1.4 Gerador de tecnécio Consiste em uma coluna cromatográfica, contendo alumina como suporte, na qual é adsorvido o Mo99 de fissão. Este nuclídeo pai, que possui meia vida de 66 horas, decai para o filho Tc-99m, que possui meia vida mais curta de 6 horas. Como o tecnécio possui afinidade pequena pela alumina, pode ser eluído facilmente da coluna mediante passagem de solução salina 0,9% estéril. Em 7 ambas as extremidades, a coluna é fechada e duas agulhas de aço inoxidável permitem a entrada e a saída do líquido eluente, o qual é conduzido ao frasco coletor. O gerador é blindado e acondicionado em um recipiente plástico, o que garante proteção contra radiação ionizante. Figura 2 – Gerador blindado Créditos: Parilov/Shutterstock. TEMA 2 – EXAMES EM MEDICINA NUCLEAR Basicamente, a medicina nuclear é uma especialidade médica que utiliza métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos, fazendo uso de materiais radioativos com finalidades de diagnóstico e terapia. Atualmente, a medicina nuclear é aplicada aos campos da oncologia, cardiologia, hematolofia, neurologia, entre outros. Os exames de cintilografia podem ser usados para diagnóstico de diversas doenças, estadiamento de pacientes com câncer, marcações pré cirúrgicas, acompanhamento de metástases ósseas, entre vários outros diagnósticos. Para poder realizar os exames de cintilografia, é necessário que, além do Tc-99m, existam os fármacos que vão ser marcados com o pertecnetato 8 para avaliação de determinados órgãos. Para cada exame, é utilizado um radiofármaco. As principais cintilografias realizadas são: • Cintilografia óssea: é um dos principais exames de estadiamento para pacientes oncológicos para avaliação de metástases ósseas. Além de pacientes oncológicos, a cintilografia óssea também auxilia na avaliação de osteomielite, necrose avascular, doenças metabólicas (Paget e osteoporose), artropatias, fibrodisplasias e outras doenças congênitas raras, fratura por estresse, perda ou infecção de próteses articulares, dor lombar ou sacral, síndrome do reflexo simpático e qualquer outra lesão em estrutura óssea. O fármaco utilizado nesse exame é o MDP, que tem afinidade pelo tecido ósseo. O material é injetado via endovenosa e após três horas de intervalo, a imagem é realizada em um equipamento gama câmara. Figura 3 – Cintilografia óssea (1) Fonte: Santi, 2021. 9 Figura 4 – Cintilografia óssea (2) Fonte: Santi, 2021. O profissional que realiza o exame é o responsável pela avaliação das imagens antes de elas irem para laudo médico. Áreas com hipercaptação devem ser avaliadas observando a necessidade da realização de imagens mais específicas que facilitem a visualização da extensão da lesão. • Cintilografia do miocárdio: é um exame que tem como finalidade avaliar o fluxo sanguíneo nas artérias que nutrem o músculo cardíaco, tornando possível detectar falhas na irrigação de determinadas regiões do coração. É indicado para pacientes propensos a doenças cardiovasculares, de maneira que identifica e previne problemas cardíacos mais graves, como infarto do miocárdio. O radiofármaco utilizado para este exame é o MIBI, que, além de ter afinidade pelo miocárdio, também pode ser usado para cintilografia das paratireoides. A cintilografia do miocárdio é realizada em duas etapas: repouso e stress. Nas duas etapas, o radiofármaco é injetado no paciente e, após 45min a 1hora da injeção, é realizada a imagem do paciente no equipamento gama câmara. O resultado final é a comparação das imagens das duas etapas. A etapa do stress pode ser feita com esforço físico ou esforço farmacológico. O importante é que o material seja injetado no pico do esforço para que seja feita a comparação. 10 Figura 5 – Cintilografia do miocárdio Fonte: Santi, 2021. É muito importante saber avaliar as imagens antes da liberação do paciente, pois, como citado acima, a cintilografia do miocárdio pode diagnosticar casos graves de infarto, os quais podem até indicar que o paciente deve ser encaminhado diretamente para algum hospital para evitar complicações graves. • Cintilografia renal dinâmica: a cintilografia renal dinâmica permite avaliar a função glomerular dos rins e a perviedade das vias excretoras urinárias. O fármaco utilizado nesse exame é o DTPA, que fornece informações quanto ao fluxo sanguíneo renal, morfologia renal e a dinâmica das vias urinárias. Ao contrário da maioria dos exames, no DTPA, o material é injetado com o paciente deitado no equipamento, de maneira que possibilita a visualização do fluxo sanguíneo, ou seja, é possível avaliar o material chegando nos rins. É adquirida a imagem do fluxo sanguíneo, seguida da imagem do DTPA e pré e pós-micção. Quando algum resquício do material permanece no rim e não é excretado para a bexiga após a micção, é necessário fazer a injeção de um diurético. O mesmo processo de imagens é repetido após a administração desse material. 11 Figura 6 – Cintilografia renal dinâmica Fonte: Santi, 2021. • Cintilografia renal estática: é um exame utilizado para detecção de anormalidades parenquimais, diagnóstico de pielonefrite aguda e diagnóstico de rim ectópico. Basicamente, avalia estrutura renal, deixando a função renal para ser avaliada no DTPA. Figura 7 – Cintilografia renal estática Créditos: Hayirhah/Shutterstock. 12 • Linfocintilografia para detecção de linfonodo sentinela: a linfocintilografia é um exame pré-operatório no qual é realizada a marcação da localização do linfonodo sentinela na pele do paciente, geralmente um dia antes ou no próprio dia da cirurgia. Grande parte dos casos de linfocintilografia são de pacientes com câncer de mama ou melanoma. O fármaco utilizado é o Fitato. Figura 8 – Linfocintilografia para detecção de linfonodo sentinela Fonte: Santi, 2021. • Linfocintilogradia de drenagem: por se avaliar a dinâmica linfática através dos canais linfáticos e das cadeias linfonodais, a linfocintilografia é considerado um exame de escolha na avaliação de linfedema. O fármaco utilizado para este exame é o Dextran. 13 Figura 9 – Linfocintilogradia de drenagem Fonte: Santi, 2021. • Cintilografia das Paratireoides: é um exame indicado para pacientes que apresentam alterações nos exames laboratoriais compatíveis com hiperparatireoidismo primário, de forma que o exame procura localizar o adenoma na paratireoide que é responsável pela produção excessiva de PTH. Neste caso, também é utilizado o fármaco MIBI. Figura 10 – Cintilografia das paratireoides Fonte: Santi, 2021. 14 TEMA 3 – IODO131 Na medicina nuclear, o iodo131 pode ser utilizado para diagnóstico e terapia. Com relação ao uso diagnóstico, é indicado para: estudos de captação e cintilografia da tireoide, pesquisa de corpo inteiro (PCI), diferenciação entre tireoidite subaguda e hipertireoidismo por doença de Graves e outras formas de hipertireoidismo, confirmação do diagnóstico de hipertireoidismo por doença de Graves, avaliação geral da estrutura da glândula da tireoide em relação à sua função, avaliação de presença de tecido tireoidiano ectópico. Com relação ao uso terapêutico: tratamento de doenças benignas da tireoide, por exemplo, hipertireoidismo causado por doença de Graves, por doença autoimune ou bócio nodular tóxico. Tratamento de doençasmalignas da tireoide, como carcinoma papilar e carcinoma folicular. O exame é realizado para avaliar a existência de células cancerígenas provenientes da tireoide em outros locais do corpo. Para realizar a imagem, é necessário que o paciente seja submetido a uma dose de Iodo¹³¹ e, após alguns dias (que podem variar de acordo com o objetivo do exame), a imagem é feita no equipamento preparado para aquisição de alta energia. Figura 11 – Iodo131 Fonte: Santi, 2021. 15 TEMA 4 – RA²²³ Além do I¹³¹, existem outros radiofármacos que são utilizados com fins terapêuticos específicos, como é o caso do Ra²²³ (Xofigo). É um radiofármaco classificado como isótopo radioativo antineoplásico com objetivo de tratar adultos com câncer de próstata avançado e resistente à castração, ou seja, um tipo de câncer de próstata que não responde ao tratamento que reduz os hormônios masculinos. O Xofigo é utilizado quando a doença chegou a nível ósseo e causa sintomas como dor. O Xofigo contém o elemento radioativo Ra²²³ que imita o cálcio encontrado nos ossos. Quando é injetado no paciente, o Ra²²³ vai até o local em que o câncer afetou os ossos e emite radiação de curto alcance (partículas alfa) que vão eliminar as células tumorais circundantes. TEMA 5 – OCTREOTATO-DOTA-177LU O lutécio também é utilizado como terapia na medicina nuclear, tendo como principais objetivos a estabilização de tumores neuroendócrinos, redução do volume desses tumores, redução da função tumoral, melhora dos sintomas e da qualidade de vida. Tem boa eficácia em pacientes com captação elevada do radiofármaco pelo tumor, porém, não demonstra ser tão eficaz em pacientes terminais. Além de ser indicado para pacientes com tumores neuroendócrinos, o Lu177 também é, eventualmente, indicado para tumores não neuroendócrinos com expressão significativa de receptores de somatostatina subtipo 2, evidenciada pela cintilografia ou PET com análogo da somatostatina. NA PRÁTICA Apesar de não ser tão conhecida pela maioria das pessoas, a medicina nuclear tem grande impacto na detecção e até mesmo nos tratamentos de doenças no geral, sendo muito utilizada principalmente na área da oncologia, como estadiamento da doença. Ter conhecimento de que o trabalho na medicina nuclear vai além das noções básicas de anatomia e radiologia, deve-se lembrar sempre de priorizar a proteção radiológica não apenas do paciente, mas também do profissional atuante. 16 Cada tipo de exame dentro da medicina nuclear necessita de compostos específicos para que seja possível a realização dele, lembrando que esses compostos são marcados com materiais radioativos e que para que seja feita a captação, é necessário um equipamento específico também FINALIZANDO Os exames de medicina nuclear estão cada vez mais comuns entre os solicitados pelos médicos a fim de diagnóstico e tratamento de doenças que envolvem todos os sistemas do corpo humano. Como em todos os outros casos, é importante dominar o essencial para compreender o todo. Vale lembrar que é possível avaliar todas as estruturas do corpo humano quando se trata de medicina nuclear, desde a parte morfológica até a funcional dos órgãos e sistemas. São exames muito utilizados para estadiamento e diagnóstico de diversas doenças. 17 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. dos S. Medicina Nuclear: do surgimento à atualidade pela ótica dos radionuclídeos. 2009. Disponível em: <https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/6533/2/Rodrigo%20dos%20Santos%2 0Almeida.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. CONSELHO NACIONAL DE TÉCNICOS E TECNÓLOGOS EM RADIOLOGIA. Radioproteção: manual básico de proteção radiológica. 1. ed. Disponível em: <https://prorad.com.br/sis/storage/conteudos/271/2214_Manual_Radioprotecao _Conter.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. CRF SP. Radiofarmácia. 1. ed. 2019. Disponível em: <http://www.crfsp.org.br/images/cartilhas/radiofarmacia.pdf>. Aceso em: 10 set. 2021. OLIVEIRA, R. S. et al. Radiofarmácia e radiofármacos no Brasil: aspectos sanitários e fabris para a construção de uma linha de produção de radiofármacos PET. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, n. 2, abr.-jun. 2008. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbcf/v44n2/a03.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. IMAGENOLOGIA AULA 3 Prof.ª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é um mapa da distribuição de um radiofármaco emissor de pósitrons em um determinado corte do corpo. A ideia de realizar uma imagem a partir da emissão de pósitrons foi proposta para avaliar atividade cerebral em 1951 por Gordon L. Brownell para o neurocirurgião William H. Sweet e, separadamente, por Frank R. Wreen e colaboradores. Porém, apenas o sistema idealizado por Brownell foi capaz de produzir um mapa aproximado da distribuição do radiofármaco por meio da detecção do par de fótons de aniquilação com dois cristais de iodeto de sódio ativado com tálio, colocados em lados opostos da cabeça do paciente e acoplados a um sistema de varredura. Ainda na década de 1950, Michel M. Ter-Pogossian e William E. Powers detectaram o uso de oxigênio em neoplasias malignas com ¹5O. Para a produção dos radionuclídeos emissores de pósitrons são usados os cíclotrons, que são aceleradores de partículas eletricamente carregadas para produzir reações nucleares. É o bombardeio de núcleos atômicos com prótons acelerados pelo cíclotron que permite a produção dos radioisótopos radioativos utilizados nos estudos de PET/CT, sendo o principal deles o 18F, marcado com a fluordeoxiglicose (FDG), um análogo da glicose, que é consumido por células ativas, de maneira que sua presença indica função metabólica tecidual. TEMA 1 – PET CT O PET/CT é uma técnica híbrida que faz a união do exame da medicina nuclear (PET – Tomografia por Emissão de Pósitrons) com a tomografia computadorizada convencional. Com esta união, é possível encontrar informações metabólicas e anatômicas no mesmo exame, permitindo diagnósticos mais precisos. Como já citado, o traçador mais utilizado para este exame é o FDG (fluordeoxiglicose), que é um análogo da glicose, cujo acúmulo depende do metabolismo glicolítico nos diversos órgãos e tecidos. Nos tumores malignos, o consumo da glicose é aumentado, de forma que é possível avaliar esta diferença de metabolismo na aquisição da imagem do PET. Tumores com baixo metabolismo podem apresentar pouca avidez ao FDG. 3 Algumas lesões encontradas no PET podem ter a intensidade da captação quantificada, gerando um valor numérico SUV (standard uptake value), que expressa a atividade metabólica desta lesão, de maneira que torna o exame muito importante para detecção de tumores malignos em fases bem iniciais. O SUV fornece uma informação semiquantitativa do metabolismo da glicose nos tecidos, corrigido pela atenuação e normalizado pela dose injetada e pelo peso do paciente, na maioria dos casos. Também pode ser feita a normalização do SUV pela massa magra ou superfície corpórea, sendo esta particularmente muito indicada para crianças, em que o SUV normalizado pelo peso pode ficar subestimado. O PET/CT pode ser solicitado com diversas finalidades, mas acaba sendo muito utilizado quando se trata de acompanhamento oncológico, como por exemplo: • Confirmar diagnóstico suspeito pela avaliação clínica; • Definir extensão da doença, de maneira que possibilita a melhora no planejamento do tratamento; • Avaliar se o tratamento que o paciente está realizando contra a doença está sendo de acordo com o planejado; • Confirmar se a doença não está em progressão; • Ser utilizado como guia para biópsia. Para realização do exame é necessário que o paciente realize preparo, visto que o FDGé um análogo da glicose. É necessário que o paciente esteja em jejum de 4 a 6h (incluindo bebidas – exceto água) –, este jejum é feito para minimizar os níveis fisiológicos de glicose e insulina. Pacientes que fazem uso de soro glicosado e alimentação parental também devem suspender por 4 a 6 horas antes do exame. Alguns alimentos devem ser evitados no preparo para o PET/CT, como iogurte, leite e derivados, açúcar, mel, melado, glucose de milho, balas e doces em geral; arroz e massas; todos os tipos de grãos; cereais matinais; chocolates e sorvetes, entre muitos outros alimentos que possam induzir a produção de glicose. Também é recomendado que o paciente não pratique atividades físicas nas 24h que antecedem o exame. 4 Já no local que o exame será realizado, após a administração do material, o paciente deve permanecer deitado ou reclinado para que não haja captação muscular. Durante o tempo de espera (em torno de 1 hora), o paciente deve permanecer em repouso dentro de uma sala aquecida ou com um cobertor para minimizar a captação em gordura marrom, que pode causar dificuldade na interpretação das imagens, principalmente na região cervical, podendo ser crítico para neoplasias nesta região (cabeça e pescoço e tireoide, por exemplo). Antes da injeção do traçador, é necessário avaliar o índice glicêmico do paciente, pois estados de hiperglicemia reduzem a captação do marcador. Antes da realização do exame, é necessário que seja feita anamnese com o paciente, a qual deve conter informações como localização da neoplasia, tempo de diagnóstico, tratamentos já realizados, medicamentos que estão sendo utilizados, processos inflamatórios/infecciosos em vigência (que podem causar falsos positivos), se é diabético e realização correta do preparo. As imagens são normalmente realizadas após 1 hora da injeção do traçador. Antes de entrar no equipamento, o paciente deve esvaziar a bexiga e retirar todos os objetos metálicos. A produção do traçador utilizado para a realização do exame é feita em um acelerador de partículas do tipo cíclotron. TEMA 2 – 18-FDG A captação celular do 18F-FDG ocorre por sistemas carregadores tecidos-específicos, que são parcialmente insulinodependentes, podendo ser influenciados pela alimentação, condições nutricionais e existência de diabetes mellitus. O 18F-FDG é transportado via membrana celular de modo similar à glicose, mas realiza somente a primeira etapa de glicólise (conjunto de reações metabólicas cujos resultados são a degradação da glicose ou de outros carboidratos e a produção de energia), formando assim o fluordeoxiglicose18F- 6-fosfato que permanece na célula alterada, não sendo metabolizado. Cabe salientar que, em indivíduos sadios, o 18F-FDG é distribuído amplamente no organismo. 5 O uso do FDG na oncologia é baseado nas taxas diferenciais de metabolismo de glicose nos tecidos benignos e malignos. No entanto, a absorção do material também é acelerada em processos inflamatórios, assim como nas infecções, granulomas, abcessos, e outros processos que podem conduzir resultados falsos positivos e de menor especificidade. Além disso, a absorção de FDG-F18 é muito variável para diferentes tipos de tumores. Este radiofármaco apresenta finalidade diagnóstica. A manipulação e armazenamento deste material devem ser feitos em conformidade com as regulamentações nacionais relativas aos produtos radioativos, do mesmo modo que as precauções de assepsia e de radioproteção devem ser respeitadas. A eliminação de rejeitos radioativos deve ser feita também de acordo com as regulamentações nacionais. Crédito: Andressa Santi. 6 TEMA 3 – FORMAÇÃO DE IMAGENS A formação da imagem do PET/CT é feita por meio da fusão das imagens da Tomografia Computadorizada com o PET, de maneira que é feita a avaliação da parte anatômica (TC) e da parte metabólica (PET). Créditos: Springsky /Shutterstock. 3.1 Protocolos Quando a indicação clínica é de pacientes oncológicos, a aquisição da imagem é realizada na maior parte dos casos da base do crânio até a raiz das coxas. Os braços do paciente devem ficar acima da cabeça para evitar artefatos de imagem na região torácica. Quando a região de interesse é da cabeça e pescoço, deve-se adquirir imagem com os braços abaixados ou adquirir uma imagem dedicada à esta região após a aquisição do corpo inteiro. Para tumores que possuem alta probabilidade de metástases para crânio ou membros, a aquisição pode ser estendida, por exemplo, melanoma. 3.2 Interferências nas imagens Pouco antes de iniciar a imagem, é solicitado que o paciente use o banheiro para esvaziar a bexiga o máximo que puder, pois como o material é excretado pela urina, quando a bexiga está com urina radioativa, dificulta a 7 visualização e interpretação da região pélvica, que é de grande importância principalmente em casos de neoplasia nesta região, por exemplo, câncer de próstata, útero, reto e cólon. O PET/CT não deve ser solicitado em casos de o paciente estar realizando o “check-up”. Estudos japoneses mostraram que a chance de detectar um câncer primário utilizando PET/CT com FDG-F18 é de apenas 1%. Alguns tumores conhecidamente apresentam pouca captação de glicose e, portanto, nestes casos, este exame não é indicado ou é de pouca utilidade. Os principais exemplos deste caso são: • Adenocarcinoma usual de próstata • Carcinoma de células claras renais • Carcinoma lobular de mama • Cistoadenocarcinoma mucinoso de ovário • Tumores neuroendócrinos de baixo grau • Adenocarcinoma pleural in situ • Hepatocarcinoma • Linfomas de baixo grau • Leucemias • Gliomas de baixo grau TEMA 4 – GÁLIO-68 Dentre os radionuclídeos metálicos utilizados na marcação de peptídeos, o gálio-68 tem sido de grande destaque, com diversos trabalhos descrevendo a aplicação clínica de novos peptídeos radiomarcados no diagnóstico de diferentes patologias. O gálio-68 é um dos mais antigos radionuclídeos emissores de pósitrons utilizados na medicina nuclear, recebendo destaque na utilização clínica de rotina devido a sua fácil disponibilidade por meio do gerador de germânio-68, o que permitiu a obtenção de Ga68 sem a necessidade de um cíclotron. Este gerador de 68Ge/68Ga pode ser eluído diariamente. O radionuclídeo 68Ga é de grande utilidade para exames de imagem empregando a tecnologia PET. Possui meia vida de 68 minutos e decai principalmente por emissão de pósitrons de 1,92 MeV de energia e com 89% de abundância. O gerador de 68Ge/68Ga consiste em uma coluna de alumina, 8 dióxido de estanho ou titânio na qual o 68Ge está imobilizado e, à medida que este decai para o 68Ga, seu “isótopo filho”, pode ser eluído com HCl 0,1 M ou HCl 0,6 M de acordo com a matriz utilizada. Independentemente da matriz empregada, o eluato apresentará impurezas metálicas que devem ser separadas pelo fato de que podem competir com o 68Ga, dificultando sua complexação. A purificação do eluato do gerador é feita por meio de coluna de troca iônica capaz de fornecer solução com níveis adequados de impurezas para utilização em pacientes. Créditos: Andressa Santi. 9 Créditos: Andressa Santi. 4.1 PET com PSMA No início, o PET/CT com FDG-F18 era utilizado para avaliar pacientes com câncer de próstata, mas os resultados eram frustrantes. Devido ao baixo metabolismo glicolítico das células deste tipo de câncer, os resultados costumavam ser negativos até mesmo quando a recidiva bioquímica era evidente. Neste contexto, o PSMA revolucionou os estudos no diagnóstico por imagem de câncer de próstata. O termo PSMA vem do inglês Prostate-specific Membrane Antigen, que significa Antígeno de Membrana Específico da Próstata, este antígeno se trata de uma glicoproteína ligada à membrana no carcinoma prostático. Há uma superexpressãode PSMA em tumores resistentes à terapia de supressão androgênica e após tratamento com antiandrogênicos. A principal indicação de PET/CT com PSMA-Ga68 é a detecção de recorrências em pacientes com recidiva bioquímica após prostatectomia radical ou radioterapia. Ao ser marcado com o isótopo gálio-68, o PSMA é capaz de detectar metástases muito pequenas provenientes do câncer de próstata que dificilmente seriam detectáveis por outros métodos de imagens. 10 Os dados obtidos pela literatura e os resultados obtidos pelo PET/CT – PSMA na prática clínica para a detecção de recidivas de câncer de próstata são muito promissores. 4.2 PET com Dota Os radiotraçadores Dota são peptídeos análogos de somatostatina com grande afinidade pelos receptores de somatostatina expressos pelas células dos tumores neuroendócrinos. Em relação à cintilografia (Octreoscan), o PET/CT é mais rápido, capaz de detectar lesões menores, além de expor o paciente a doses menores de radiação. Contudo, é importante salientar que nem todas as neoplasias neuroendócrinas são detectadas por este método. As mais indiferenciadas perdem a expressão de receptores de somatostatina e aumentam o consumo glicolítico. Por este motivo, a indicação de PET/CT com FDG ou Dota para estes pacientes depende fundamentalmente do grau de diferenciação celular. Os tumores neuroendócrinos são um grupo heterogêneo de neoplasias com origem nas células endócrinas de diversos órgãos e tecidos como medular da adrenal, hipófise, paratireoide, tireoide, pâncreas ou do trato respiratório ou gastrointestinal. Existem várias formas de classificação destes tumores, esta classificação leva em consideração a contagem miótica e a expressão do Ki67 e divide os tumores em G1, G2 e G3. Os tumores G1 são mais diferenciados e apresentam maior expressão dos receptores de somatostatina, enquanto os classificados como G3, chamados carcinomas neuroendócrinos, são menos diferenciados e apresentam pouca ou nenhuma expressão de receptores e tendem a apresentar alto metabolismo glicolítico, sendo mais bem avaliados nas imagens de PET/CT com FDG-F18. Basicamente, o objetivo do PET com Dota é caracterizar a presença de lesões que tenham expressão dos receptores de somatostatina. A sensibilidade do exame está relacionada ao tamanho e ao grau de expressão dos receptores de somatostatina nas lesões. Algumas causas relevantes de falso positivo que podem afetar a especificidade do exame incluem: captação fisiológica no processo uncinado do pâncreas, captação fisiológica em baço acessório ou esplenose, captação inespecífica em processos inflamatórios e em alterações osteodegenerativas, fraturas, meningioma, outras neoplasias e contaminação urinária. A análise conjunta detalhada com a tomografia computadorizada, 11 preferencialmente contrastada, ajuda a excluir grande parte dos falsos positivos. Alguns tumores são grandes receptores de somatostatina, como tumores gastroenteropáticos funcionantes e não funcionantes, tumores do sistema simpático adrenal, carcinoma medular da tireoide, adenoma hipofisário, meduloblastoma, câncer de pulmão de pequenas células e meningioma. Estes exemplos representam as indicações mais frequentes do uso de Dota. Por outro lado, alguns tumores apresentam baixa expressão de receptores de somatostatina, por exemplo, câncer de mama, melanoma, linfoma, carcinoma de próstata, câncer de pulmão (não pequenas células), sarcomas, carcinoma de células renais, câncer diferenciado de tireoide, astrocitoma e ependimoma. Portanto, estes exemplos não são muito recomendados para avaliação com Dota. TEMA 5 – PET/RM O primeiro sistema integrado de PET e ressonância magnética (PET/RM) de corpo inteiro foi introduzido recentemente, em meados de 2010. As possíveis vantagens do PET/RM incluem o alto contraste de tecidos moles e a capacidade funcional da ressonância. Esta tecnologia, ainda não muito utilizada em comparação com o PET/CT, fornece informações anatômicas e moleculares e pode vir a atingir níveis de sucesso semelhantes aos do PET/CT, principalmente em casos oncológicos, em que a avaliação por RM é mais recomendada do que a tomográfica, tendo em vista o contraste superior de tecidos moles. Na oncologia, o PET/RM de corpo inteiro é especialmente indicado em casos que se beneficiam tanto das vantagens do PET na detecção de doença extramedular, como na superioridade da RM na detecção de compressão medular, doença extramedular e sítios residuais ativos após o tratamento. De todas as áreas do PET/RM, a neuroimagem apresenta o caminho mais promissor. Isto se deve principalmente às excelentes ferramentas disponíveis para ambas as modalidades, para avaliar vários aspectos da anatomia e a função cerebral, bem como a sua estrutura simétrica. Outras áreas que o PET/RM pode desempenhar um papel maior seria cabeça e pescoço, abdômen superior e aplicações musculoesqueléticas. 12 Até o surgimento da PET RM híbrida, não era possível integrar o PET com a RM numa mesma máquina devido os ímãs da ressonância magnética criarem o campo magnético para o exame de ressonância que interferem nos detectores da imagem do scanner PET. Foi desenvolvido pelos fabricantes um sistema de blindagem especializado para praticamente eliminar as interferências do campo magnético na cadeia de detecção e processamento PET. A solução deste problema foi o desenvolvimento de uma nova tecnologia de detectores PET compatível com campos magnéticos, ou seja, detectores com fotomultiplicadores de silício (SiPM), que possibilitam maior sensibilidade de detecção com maior flexibilidade dos protocolos de PET/RM. Para o funcionamento do equipamento, as aquisições das imagens PET/RM iniciam-se com o localizador de ressonância magnética, para definir a área de cobertura da imagem, servindo como base para a programação de aquisição de PET e RM. Após, as imagens PET são adquiridas em blocos sequenciais de posições do leito, de crânio a caudal e as sequências de RM são programadas para cada leito, de acordo com a sequência estipulada. Caso sejam necessárias sequências de RM mais longas em um segmento específico do corpo, o tempo de aquisição do PET deve ser o mesmo que o da RM. Da mesma forma que no PET/CT, para a realização do PET/RM deve ser utilizado um radiofármaco, neste caso, o 18F-fluordesoxiglicose (18F-FDG) como radiotraçador para a detecção de alterações anatômicas e funcionais do organismo, apresentando alta afinidade com áreas de aumento metabólico da glicose. Considerando as características do 18F-FDG, também é o principal radiofármaco utilizado para a identificação e visualização dos aspectos radiológicos das doenças neurodegenerativas. Para aquisição de imagens cerebrais nos equipamentos de PET/RM, o paciente deve ser mantido em sala silenciosa e com luminosidade reduzida, para administração do FDG-18F e na fase de captação subsequente. Existem três maneiras de integrar o PET com a RM: 1. Os aparelhos PET e RM ficam em salas separadas, sendo assim, a integração das imagens é feita por programas especializados, gerando uma flexibilidade, já que os sistemas podem ser usados separadamente; 13 2. O paciente permanece na mesa de exame, sendo que a mesa é transferida entre os equipamentos e as imagens são realizadas em aparelhos separados. Este sistema é “hardware-fused”. 3. Por meio de sistemas totalmente integrados em que se realiza a aquisição simultânea das imagens, ou seja, em uma única posição da mesa, nem o paciente e nem a mesa vão se mover. São estes os equipamentos híbridos. NA PRÁTICA O uso do PET/CT e do PET/RM na prática clínica é de grande importância para o conhecimento e diagnóstico de importantes doenças, principalmente na área da oncologia. Assim como na cintilografia é utilizado um material radioativo para detecção das estruturasanatômicas, no PET também é utilizado o FDG-F18, que tem afinidade por células que estão com alta atividade metabólica devido ao grande uso que estas fazem de glicose. FINALIZANDO É importante saber reconhecer o uso dos protocolos e adaptar as imagens que serão realizadas de acordo com cada caso de cada paciente. Dominar anatomia, como sempre, é necessário para realização de exames adequados e, consequentemente, imagens precisas para diagnóstico e reconhecimento de lesões que são, em sua grande maioria, reconhecidas e tratadas a partir de exames como o PET/CT e PET/RM. Como muitas vezes é utilizado como exame de estadiamento, é a partir dele que o médico decide qual tratamento será realizado, além disso, com base nele também é feito o acompanhamento e avaliação do tratamento, se este está sendo preciso ou se é melhor partir para uma nova tentativa. A tecnologia avança gradativamente, de modo que acompanhar este crescimento é muito válido para entender e utilizar melhor o que ela nos oferece. 14 REFERÊNCIAS ALCARDE, L. F. Estudo de radiomarcação com gálio-68 do inibidor de PSMA baseado em ureia – avaliação comparativa de método automatizado e não automatizado. Tese de Mestrado em Ciências na área de Tecnologia Nuclear. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São Paulo, 2016. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85131/tde-30112016- 103604/publico/2016AlcardeEstudo.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. DOT-IPEN-68. [Bula]. Ipen - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Disponível em: <https://www.ipen.br/portal_por/conteudo/geral/8676_293_Bula%20DOT-IPEN- 68%20Profissional%20da%20saude.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. FLUORDEOXIGLICOSE – 18F (FDG-18F). [bula]. Campinas: Cyclobrás. Disponível em: <https://www.cyclobras.com.br/uploads/produtos/84690930910006b.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. FLUR-IPEN. [bula]. São Paulo: Ipen - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Disponível em: <https://intranet.ipen.br/portal_por/conteudo/geral/BULA%20FLUR- IPEN%20Profissional%20da%20saude.pdf>. Acesso em: 3 set. 2021. GUIMARÃES, J. B. et al. A importância da PET/CT na avaliação de pacientes com tumores de Ewing. Radiol Bras. 2015 maio/jun.; 48(3):175–180. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rb/v48n3/pt_0100-3984-rb-48-03- 0175.pdf>. 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A técnica, que produz imagens por secção, permite um diagnóstico com melhor visualização das áreas avaliadas, tornando o estudo mais específico e, consequentemente, melhorando a avaliação de áreas para futuros tratamentos. Nas décadas de 1960 e 1970, com os relatos de Allan Cormack e Godfrey Hounsfield, foi desenvolvido o primeiro tomógrafo, o que rendeu aos dois o Prêmio Nobel de Medicina, em 1979. Entretanto, estudos sobre conceitos básicos de TC são datados de 1917, como o estudo de Johann Radon e suas reconstruções matemáticas. Em 1980, pesquisas mostraram o avanço no uso da TC, sendo essa de grande eficiência para estudos de câncer de pulmão. Além disso, a técnica também passou a ser utilizada para diagnóstico de lesões cerebrais. Atualmente, a TC é um dos métodos mais importantes no diagnóstico por imagem, pois possibilita a visualização das estruturas anatômicas em cortes, sem sobreposições e com melhor contraste, entre os tecidos se comparada à radiografia convencional. TEMA 1 – CONCEITOS DE TC A palavra tomografia tem origem no grego, em que tomos significa corte e grafia significa imagem. Originalmente, foi chamada de tomografia axial computadorizada (TAC). O tubo do equipamento de TC gira 360° e o seu detector acompanha o giro desse tubo, permitindo que as imagens sejam adquiridas em todos os ângulos. Os cortes originais são os axiais e coronais e, deles, faz-se a reconstrução do volume total escaneado, o que é conhecido como reconstrução multiplanar (RMP), gerando cortes sagitais, parassagitais e tridimensionais. Cada corte tem como finalidade determinar a composição de uma única secção do corpo e é formado por um conjunto de elementos de imagem digital (picture elements) denominados pixels. A quantidade e a espessura dos cortes estão diretamente relacionadas ao tamanho desses pixels, influenciando na qualidade final da imagem. O conjunto de pixels forma a imagem tridimensional, com elementos cúbicos de imagem denominados voxels. O voxel apresenta altura, 3 largura e espessura; dessa forma, é possível que ele forme uma imagem em terceira dimensão (3D). Figura 1 – Tomografia computadorizada Crédito: Triff/Shutterstock. As imagens adquiridas na TC apresentam uma grande variedade na escala de tons de cinza, de acordo com o valor relativo de atenuação da água em TC. O nome dessa escala é uma homenagem ao inventor da TC: escala de Hounsfield. Ela é composta de valores que vão de 1.000 a -1.000 unidades de Hounsfield (HU). De acordo com a estrutura estudada, haverá um valor correspondente na escala de Hounsfield, ou seja, essas unidades representam a quantidade de radiação absorvida no corpo e traduzem as variações existentes em uma escala de cinza. É importante ressaltar que os valores dessa escala são dependentes da energia dos fótons de raios X necessária para se atravessar um corpo. Em 1973, Hounsfield descreveu uma técnica de transmissão dos raios X realizada em múltiplos ângulos, obtendo, dessa forma, imagens em “fatias”. A formação das imagens em cortes foi possível devido à rotação da fonte e dos detectores ao redor do paciente. Os detectores mediam a densidade dos raios X absorvidos pelos diferentes tipos de tecidos e calculavam, por meio de um coeficiente de absorção, a densidade de cada um deles. Em seguida, o computador construía uma matriz com a imagem de cada corte. A decodificação do coeficiente de absorção de cada estrutura para feixes de raios X de 120 KV resultou na elaboração da escala de Hounsfield. Na escala de cores, o preto correspondia ao ar,passando por tonalidades de cinza, correspondentes à água 4 e a líquidos corpóreos, até finalizar no branco, que corresponde aos tecidos mais densos, como o ósseo. Essa técnica permitiu a diferenciação entre as estruturas. Na aquisição da imagem tomográfica, as informações adquiridas pelo sensor eletrônico são apresentadas na forma de sinais elétricos (de modo analógico. O computador não arquiva e nem modifica, em seus circuitos, nenhuma informação analógica, pois ele trabalha com números distintos, que não representam, diretamente, tons de cinza ou cores contínuas. Para que o computador possa operar com imagens, essas precisam ser convertidas em representações numéricas conhecidas como notação binária. Os dados digitais são, então, transmitidos para a unidade central de processamento (CPU) e transformados em imagem. Existem, basicamente, duas técnicas de obtenção de imagens tomográficas disponíveis no mercado: 1. técnica convencional (não helicoidal); 2. técnica helicoidal. Na técnica convencional (ou circular), os detectores permanecem parados enquanto o tubo de raios X executa um movimento circular em torno do paciente. Cada slice (corte) é obtido individualmente. Entre uma aquisição e outra, é necessário o reposicionamento da mesa, o que prolonga o tempo de obtenção de dados. Por outro lado, existe a técnica helicoidal, que foi um grande avanço na obtenção de imagens por TC. Os tomógrafos helicoidais são classificados como aparelhos de quinta geração, com aquisições extremamente rápidas, visto que um corte pode ser obtido em poucos segundos. Nessa técnica, o paciente é movido ao longo do eixo horizontal, enquanto o tubo de raios X executa um movimento rotacional contínuo. O feixe central de raios X incide no paciente seguindo uma trajetória helicoidal, ao longo do exame. 5 Figura 2 – Realização de exame Crédito: Golden Sikorka/Shutterstock. Já em 1998 surgiu a tomografia computadorizada espiral multislice, chamada assim devido aos seus múltiplos anéis de detectores. Sua técnica foi introduzida comercialmente no ano de 2000, com a apresentação de tomógrafos com quatro canais de detectores, os quais permitiam a aquisição de imagens mais rápidas, com menor dose de radiação e cortes com espessura de 0,5 mm e com intervalo de reconstrução de 0,25 mm. As imagens são obtidas por meio de uma fonte de raios X em forma de leque, que rotaciona o paciente de forma circular e em espiral, enquanto o paciente se move pelo tomógrafo. No mercado, existem tomógrafos de 4, 8, 16, 32, 40, 64 e 256 canais. Figura 3 – Tomografia computadorizada espiral multislice Crédito: Zlikovec/Shutterstock. 6 TEMA 2 – OBTENÇÃO DE IMAGENS Na obtenção das imagens no corte tomográfico, o feixe de raios X atravessa ou é absorvido pelas estruturas que estão interpostas entre a fonte de raios X e o detector, em diferentes quantidades, o que depende da densidade, da espessura, do número atômico da estrutura e do poder de penetração dos raios X. Isso é conhecido como atenuação do feixe de raios X. O detector é capaz de mensurar a atenuação de cada feixe de raios X que o atinge e o computador soluciona as equações geradas durante o escaneamento, interpreta as propriedades de atenuação de cada feixe e as correlaciona com a posição do respectivo feixe. O resultado dessa correlação é chamado de perfil de atenuação. O conjunto dos perfis de atenuação obtidos pelos detectores de raios X forma os dados brutos. O processo para obtenção da imagem com base nesses dados brutos é denominado reconstrução. Figura 4 – Obtenção de imagens Crédito: Wichudapa/Shutterstock. 2.1 Algoritmo de reconstrução nas imagens tomográficas de feixe em leque Na aquisição das imagens tomográficas, os algoritmos constituem filtros matemáticos utilizados para se criar uma imagem que represente o objeto escaneado de forma mais precisa possível. Os equipamentos oferecem 7 algoritmos diferenciados de reconstrução de imagens que variam de acordo com o tecido avaliado. Por exemplo, os filtros usados para tecido ósseo permitem a reconstrução de detalhes finos, nos quais as bordas das estruturas anatômicas apresentam contornos mais nítidos, resultando em uma imagem de alta resolução. Figura 5 – Algoritmo de reconstrução nas imagens tomográficas de feixe em leque (1) Crédito: Creativity Love/Shutterstock. Figura 6 – Algoritmo de reconstrução nas imagens tomográficas de feixe em leque (2) Crédito: Springsky/Shutterstock. TEMA 3 – MEIOS DE CONTRASTE O primeiro exame radiológico com contraste iodado foi feito em 1920, uma angiografia. Durante o século XXI, os meios de contraste foram evoluindo, de agentes iônicos de elevada osmolalidade para não iônicos de baixa 8 osmolalidade, reduzindo-se assim o número de reações adversas causadas por esses meios. O contraste é utilizado para evidenciar determinadas estruturas anatômicas. Em geral, o contraste altera a capacidade de absorção da radiação ionizante nos tecidos, durante o procedimento radiológico. Nas imagens, as partes mais opacas, como ossos, aparecem de forma clara, enquanto rins, estômago, vasos sanguíneos e outros tecidos têm a visualização um pouco mais complicada. Isso ocorre porque as áreas do corpo que são preenchidas por fluidos possuem densidade semelhante em toda a sua estrutura anatômica. Levando em consideração que as imagens radiográficas são formadas de acordo com a densidade da estrutura, por exemplo, os ossos são mais densos e, consequentemente, absorvem mais radiação, aparecendo em tons mais claros. Já os órgãos e partes moles absorvem menos radiação, aparecendo em tons mais escuros nos exames não contrastados. No caso das veias e artérias, por exemplo, o contraste possibilita a verificação da sua anatomia e do caminho percorrido pelo sangue, identificando possíveis obstruções. Os contrastes podem ser classificados com base em propriedades como a capacidade de absorção e a composição química. Na TC, o meio de contraste utilizado é o iodado. O contrate iodado pode ser administrado por via oral ou endovenosa. Ele se apresenta em compostos iônicos e não iônicos, sendo que os compostos iônicos têm alta concentração de contraste, que podem desencadear reações adversas com mais facilidade, enquanto os não iônicos apresentam menor concentração do contraste, raramente causando reações adversas. Existem algumas contraindicações para realização de exames contrastados, especialmente com contrastes iodados. Uma das principais é para pacientes diabéticos que usam medicamentos com cloridato de metformina, pois, quando associada ao iodo, a metformida pode auxiliar no desenvolvimento de insuficiência renal aguda. Quando o paciente apresenta histórico de algum tipo de alergia ou comprovação de alergia ao iodo, é necessário que tenha acompanhamento médico durante a realização do exame, visto que as reações que o contraste iodado pode causar nesses pacientes incluiriam: • urticária; • edema nas pálpebras e face; • náusea, vômito e diarreia; 9 • tontura; • dor de cabeça; • aumento da pressão arterial; • convulsões; • falta de ar; • edema de glote; • arritmias; • parada cardíaca. Figura 7 – Uso de contraste Crédito: Yok_Onepiece/Shutterstock. TEMA 4 – PROTOCOLOS DE TC Para cada exame realizado, utiliza-se determinado protocolo, que facilita a visualização da região a ser estudada. 4.1 Protocolo de TC de abdome e pelve A concentração de iodo comercialmente mais utilizada é de 300 mg/mL. Existem maiores concentrações no mercado, que determinam uma maior densidade/contrastação por mL do produto (350 mg/mL e 370 mg/mL), podendo ser utilizadas em estudos angiográficos e mesmo em outras áreas com menor volume administrado no paciente. Com o advento de equipamentos de múltiplas fileiras de detectores,reduziu-se a necessidade do uso do contraste pela via oral. Na maioria das vezes, pode-se utilizar água para distender o intestino e tornar a 10 visualização mais fácil. O contraste positivo pode ser útil em casos de estudos de fístula com trato digestivo, por exemplo. Isso vai depender do protocolo que o médico radiologista responsável pelo serviço prefira seguir. O filtro utilizado para aquisição de imagens do abdome em casos de rotina por dor abdominal é o de partes moles (que varia de acordo com o fabricante). Utiliza-se de 1,5 ml/kg a 2,05 ml/kg de contraste por paciente. As fases do exame são: pré-contraste e fase venosa. Em casos de trauma abdominal em pacientes adultos, também é empregado o filtro para partes moles com o mesmo cálculo de contraste. As fases nesse caso são pré-contraste, arterial, venosa e tardia. Já a rotina oncológica segue o mesmo filtro e o mesmo cálculo de contraste. Na maioria dos casos, são realizadas as fases pré-contraste e venosa; porém, algumas neoplasias hipervascularizadas podem ser mais bem identificadas na fase arterial, por exemplo, em tumores neuroendócrinos, na maioria dos tumores renais, em melanomas e em alguns tumores da tireoide. Figura 8 – TC de abdome e pelve Crédito: P.Varisa/Shutterstock. 4.2 Protocolo de TC de crânio No protocolo para aquisição de imagens do crânio, utiliza-se o filtro para partes moles e partes ósseas. A maior parte das tomografias de crânio é realizada sem contraste, porém, em alguns casos, como em suspeita de trombose, recomenda-se o uso do contraste e são realizadas as fases pré e pós- contraste. 11 Figura 9 – TC de crânio Crédito: Tossaporn Buttabut/Shutterstock. 4.3 Protocolo de TC de seios da face Para realização de tomografia de seios da face, é utilizado o filtro para partes moles e partes ósseas, assim como na tomografia de crânio. Não é empregado contraste, salvo em exceções como na avaliação de tumores na região do estudo. É um exame bastante utilizado para avaliação de sinusite. 4.4 Protocolo de TC para tórax O protocolo utilizado para tomografia de tórax depende do objetivo do exame, por exemplo: • suspeita de embolia pulmonar: utiliza-se contraste e é adquirida uma imagem da fase direcionada para a artéria pulmonar; • avaliação oncológica: usa-se o filtro de pulmão e de partes moles, também com contraste; • tórax de rotina: geralmente é realizado sem contraste e adquire-se uma imagem com 30 segundos de atraso. Figura 10 – TC para tórax 12 Crédito: Creativity Lover/Shutterstock. TEMA 5 – ANGIOTOMOGRAFIA A angiotomografia é um exame que permite a visualização dos vasos sanguíneos sem submeter o paciente a procedimentos invasivos. Entre os exames de angiotomografia, existem: • Angiotomografia de crânio: pode indicar aneurismas cerebrais, permitindo que esses sejam tratados antes que causem outras complicações. A angiotomografia de crânio ganhou relevância para a identificação precoce de acidente vascular cerebral (AVC), de maneira que revela sangramentos e outras anomalias de forma rápida e precoce. Figura 11 – Vasos sanguíneos Crédito: Mybox/Shutterstock. 13 • Angiotomografia de tórax: quando realizada na região do tórax, a angiotomografia pode identificar problemas na aorta torácica, acúmulo de cálcio nas paredes dos vasos sanguíneos, aneurismas e estenose. Figura 12 – Identificação de problemas nas artérias Crédito: Studiovin/Shutterstock. • Angiotomografia coronariana: mostra a anatomia dos vasos presentes na região cardíaca, ou seja, as coronárias, em imagens de alta resolução, sendo de grande importância no diagnóstico de obstruções e doenças coronarianas. Também pode ser solicitada para avaliar stents após a dilatação realizada no cateterismo e a angioplastia. Além disso, é utilizada em emergências, pois permite uma avaliação mais detalhada, em minutos. Figura 13 – Doença arterial coronariana Crédito: Maniki_Rus/Shutterstock. 14 NA PRÁTICA A TC é um dos métodos mais utilizados na prática clínica, tendo em vista a grande quantidade de opções que os equipamentos oferecem para realização de diversos tipos de imagens, em diferentes cortes anatômicos. É um exame rápido e seguro, sendo muito indicado pelos profissionais médicos. FINALIZANDO A TC permite a aquisição de imagens, em ângulos de 360º, que podem ser avaliadas nos três cortes anatômicos: sagital, axial e coronal. A visualização das estruturas em alta resolução, assim como os diferentes protocolos que o equipamento emprega, torna o exame muito útil para diversos diagnósticos, assim como para acompanhamento de doenças preexistentes. Os cuidados com a proteção radiológica devem ser respeitados por ser o tomógrafo um equipamento emissor de radiação e, nesse caso, também é necessário manter atenção em relação a pacientes que possam apresentar reações adversas ao meio de contraste usado no exame. IMAGENOLOGIA AULA 5 Profª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL Entre os exames de imagem mais conhecidos e recomendados na área da saúde está a Ressonância Magnética. Muitos sabem da importância deste método de imagem, bem como de sua capacidade de avaliação das estruturas do corpo com qualidade extremamente alta. Por outro lado, ainda é muito comum escutar depoimentos sobre o medo da realização deste exame, tanto por conta do equipamento quanto por conta do meio de contraste. É importante ressaltar que por meio do conhecimento aprofundado desse método de imagem, pode-se desmistificar muito do que é dito sobre a Ressonância Magnética. TEMA 1 – A RESSONÂNCIA MAGNÉTICA As primeiras publicações a respeito da Ressonância Magnética (RM) foram feitas por dois grupos de cientistas americanos independentes: Felix Bloch et al., da Universidade de Stanford, e Edward Purcell et al., da Universidade de Harvard. Em 1952, os dois foram vencedores do Prêmio Nobel de Física. Juntos, eles perceberam que ao submeter determinados núcleos à ação de um campo magnético intenso, este pode absorver energia de radiofrequência e gerar um sinal capaz de ser captado por uma antena receptora. Basicamente, a RM é uma técnica não invasiva de obtenção de imagens que não utiliza radiação ionizante. As imagens são fornecidas de acordo com o comportamento de determinados prótons ou nêutrons do núcleo do átomo e a velocidade com que eles se recuperam do estímulo. Nem todos os núcleos respondem ao campo magnético. Os que possuem números ímpares de prótons ou nêutrons são os que vão responder de maneira melhor, como o hidrogênio, que possui único próton, sendo o mais utilizado devido à grande quantidade de H+ presente no organismo, visto que o nosso corpo é formado por 85% de água, e cada molécula de água carrega dois átomos de hidrogênio. Para a aquisição da imagem, o paciente é colocado sob a influência de um campo magnético em que os núcleos de determinados átomos receberão ondas de radiofrequência. Estes sinais que são reemitidos contêm informações sobre o paciente, que serão captadas por um receptor de antenas (bobinas) e eles serão transmitidos através de um conversor analógico digital e enviados para o computador. A radiofrequência gerada no interior do magneto se constitui em ondas eletromagnéticas de baixa amplitude, que são capazes de induzir 3 correntes elétricas em condutores posicionados nas proximidades da região de onde partem essas ondas. Os dispositivos que geram a corrente elétrica induzida são denominados bobinas ou antenas. Essas bobinas devem ser posicionadas em contato próximo com a região de interesse como forma de se obter uma amplificação dos sinais gerados. 1.1 Intensidade magnética Para entender melhor a RM, deve-se compreender a palavra “magnética”. O maior e mais importantecomponente de um sistema de RM é o magneto. O magneto de um sistema de ressonância magnética é classificado por uma unidade de medida conhecida como tesla. Os magnetos utilizados no sistema da RM estão dentro da faixa de 0,5 a 3 tesla. 1.2 Principais componentes RM Os principais componentes que fazem parte do equipamento de RM são: • Magneto Principal; • Bobinas de gradiente; • Bobinas receptoras e transmissores de radiofrequência; • Sistema de Computadores e processadores de imagem. O Magneto principal é utilizado para produzir um campo magnético muito forte e uniforme. A sua potência é medida em Tesla (T), mas também pode ser medida em Gauss, onde 1 Tesla corresponde a 10.000 Gauss. Crédito: Fridas/Shutterstock. Existem diferentes tipos de bobinas: 4 • Bobina de volume ou gaiola: é uma bobina transceptora (transmite e recebe radiofrequência), apresenta aquisição abrangente (cabeça e extremidades) e reação sinal ruído (RSR) uniforme; • Bobina de superfície: para imagens de estruturas próximas, a RSR é proporcional ao contato da bobina com a estrutura estudada; • Bobina em Arranjo de Fase: bobinas e receptores múltiplos, RSR e cobertura maiores (combinação de sinais individuais), possibilidade de agrupar números maiores de bobinas e receptores para aumentar a cobertura longitudinal, exemplos: exames de coluna. TEMA 2 – FORMAÇÃO DE IMAGENS A imagem na RM é formada por meio de um campo magnético (magneto) e ondas de rádio, que serão reconstruídas matematicamente. A imagem é fornecida de acordo com o comportamento de determinados prótons ou nêutrons do núcleo do átomo e a velocidade com que eles se recuperam do estímulo que foi causado. Os campos gradientes atuam a partir do isocentro magnético, aumentando gradativamente a intensidade em uma direção e diminuindo também de forma gradativa a intensidade da direção oposta. No momento de formação da imagem, as bobinas geram os campos gradientes necessários para a seleção do corte e codificação especial de RM. O sistema de RM apresenta três eixos físicos: • Eixo Z – Longitudinal; • Eixo Y – Vertical; • Eixo X – Horizontal. O Gradiente Seletivo é o responsável pela determinação do plano de corte. Quando se escolhem imagens axiais, o gradiente seletivo fica posicionado ao longo do eixo Z do equipamento. Nestas condições, é possível observar que os prótons do paciente apresentam diferentes frequências de precessão entre os pés e a cabeça. Quando a imagem formada é coronal, o gradiente seletivo ficará ao longo do eixo Y. Neste caso, os prótons apresentam diferentes frequências de precessão entre a anatomia anterior e posterior do paciente. Nos cortes sagitais, o campo de gradiente estará ao longo do eixo X, e as frequências de precessão serão diferenciadas entre o lado esquerdo e direito do paciente. 5 O Plano Mediano divide o corpo em direita e esquerda (Sagital). Crédito: Radiological Imaging/Shutterstock. O Plano Frontal consiste nos paralelos ao plano ventral e dorsal (Coronal). O Plano Transversal consiste nos paralelos ao plano cranial e podácilo (Axial). Crédito: Tossaporn Buttabut/Shutterstock. TEMA 3 – INDICAÇÕES PARA RM 6 A RM é indicada para avaliar com precisão áreas anatômicas que não podem ser facilmente visualizadas em outros métodos de imagem. Como já visto, é possível avaliar as imagens em cortes axiais, coronais e sagitais, também em incidências oblíquas quando feita a combinação de bobinas de gradientes. A nível molecular, a RM é mais sensível e a resolução do contraste é melhor, de forma que torna mais clara a visualização dos tecidos das partes moles, como as da substância branca e cinzenta do encéfalo, por exemplo, tornando este exame muito indicado para análise do sistema nervoso central (SNC), em especial de patologias que acometem a substância branca. Para atuar na RM, assim como nos outros exames de imagem, o biomédico precisa ter elevado conhecimento de anatomia humana para utilização de técnicas adequadas e realização de imagens nítidas. Na oncologia, a RM pode fornecer informações do ponto de vista morfológico, como tamanho, contornos, quantidade de lesões, presença de edema e necrose, relação das estruturas adjacentes e alterações fisiológicas e do metabolismo celular. Além da oncologia, o exame de RM também é muito utilizado para: • Diagnosticar esclerose múltipla; • Diagnosticar tumores no cérebro; • Identificar ligamentos rompidos; • Diagnosticar Tendinite; • Avaliar massas em partes moles do corpo; • Avaliar tumores ósseos, cistos e hérnias na coluna; • Diagnosticar derrames em fases iniciais. O fato de o equipamento não utilizar radiação torna o exame mais confortável para o paciente. Além disso, o contraste utilizado na RM tem uma incidência muito baixa quando diz respeito a efeitos colaterais. 7 TEMA 4 – MEIO DE CONTRASTE E CONTRAINDICAÇÕES A maioria dos agentes de contraste utilizados para os exames de RM é à base de quelatos do íon paramagnético Gadolínio (Gd), que vem sendo utilizado desde os anos 1980. Os tipos de contraste que existem no mercado que são à base de gadolínio podem ser divididos em duas categorias: • Extracelular inespecífico; • Intracelular específico. A principal diferença entre os dois está na molécula quelante que carrega o Gd. As imagens de RM não mostram o Gd propriamente dito, mas sim seu efeito paramagnético sobre os tecidos ao seu redor. De modo geral, a maioria dos meios de contraste à base de gadolínio tem distribuição pelo corpo semelhante àquela apresentada pelo contraste iodado que é utilizado na Tomografia Computadorizada. Contudo, a sensibilidade da RM ao gadolínio é comprovadamente maior que a da Tomografia Computadorizada ao contraste iodado. As reações adversas agudas ao Gd podem ser divididas entre maiores ou graves e menores, bem como entre gerais e locais. A incidência total de reações adversas aos meios de contraste da RM varia, aproximadamente, entre 2% e 4%. As reações menores gerais mais comuns são náuseas, vômitos, urticária e cefaleia, enquanto as reações locais são irritação, ardor e sensação de frio. Casos de reações adversas agudas maiores ao Gd, como laringoespasmo e choque anafilático são raros. 8 Crédito: Radiological Imaging/Shutterstock. 4.1 Contraindicações RM As contraindicações para a realização dos exames de RM devem ser bem conhecidas para se evitar acidentes e até mesmo marcação de exame desnecessariamente. Estes riscos têm relação com o campo magnético, sendo que alguns são de maior importância à medida que a intensidade for elevada. Outra relação que existe e pode causar acidentes são os gradientes cujas ondas raio magnéticas podem induzir correntes e ser a origem de aquecimentos, principalmente quando se trata de prótese de metal. 4.1.1 Pacientes grávidas Não se conhece nenhum efeito biológico de campos magnéticos em relação aos fetos. Entretanto, não é recomendado que seja realizado o exame nas primeiras nove semanas de gestação (salvo em extremo saldo positivo risco/benefício), pois as células estão em intenso processo de divisão e são mais suscetíveis a alterações. Também é interessante evitar o uso do Gd. 4.1.2 Objetos metálicos Devido ao campo magnético da RM, objetos metálicos se tornam extremamente perigosos dentro de uma sala de ressonância magnética, fornecendo sérios riscos ao paciente e à equipe técnica. A presença de corpos metálicos estranhos desencadeia artefatos que podem alterar o campo 9 magnético do equipamento. Os implantes metálicos podem acarretar efeitos graves, desde aquecimento, queimaduras e artefatos de imagem. Pacientes que fazem uso de marcapassos cardíacos possuem extrema contraindicação para realização de RM, pois podem ser afetados de forma transitória ou até mesmo definitiva, levando ao risco de paradacardíaca ou de distúrbio de ritmo. Clipes vasculares cerebrais ferromagnéticos podem ser deslocados, especialmente se tiverem sido recentemente colocados, portanto, não devem ser expostos ao campo. Crédito: Radiological Imaging/Shutterstock. Crédito: Purnama Motion/Shutterstock. 10 Além disso, também são de contraindicação absoluta o Cateter de Swan- Ganz e outros com eletrodos, clipes de aneurisma, desfibrilador implantável, expansores mamários dos tipos McGhan ou Infail, fios metálicos de localização pré-cirúrgica mamária, fixadores ortopédicos externos metálicos não removíveis, bombas de infusão, holter, implantes dentários magnéticos, entre alguns outros itens. TEMA 5 – POP RM De maneira geral, para a realização de exames de RM, deve-se existir uma solicitação médica em que sejam especificados os motivos do exame e qual área anatômica será avaliada. Logo após a apresentação do pedido médico, é necessário que seja preenchido um questionário no qual o paciente descreve sintomas, histórico de alergias, uso de medicamentos, se é portador de algum tipo de doença, entre outras perguntas que podem variar de acordo com o serviço. Antes do exame, é necessário informar ao paciente sobre o exame e esclarecer eventuais dúvidas relacionadas ao procedimento e aos possíveis riscos. A equipe também deve se atentar e confirmar a existência de implantes de metal, alergias e se o paciente seguiu corretamente o jejum solicitado para a realização do exame. O protocolo que será seguido para a realização do exame varia de acordo com a necessidade de cada paciente. No caso de extravasamento de contraste, o paciente deve ser orientado a aplicar compressa fria no local nas primeiras 24 horas e compressa de água morna nas próximas 24 horas. 5.1 RM de crânio É utilizado para avaliação do parênquima cerebral e no estudo das doenças desta região. Entre as principais indicações, podemos destacar: tumores, processos inflamatórios, alterações da substância branca e cinzenta, malformações, estudo vascular venoso e/ou arterial, avaliação de isquemia encefálica, avaliação das alterações morfológicas nas síndromes convulsivas, estudos funcionais e estudo por espectroscopia. 11 Crédito: Triff/Shutterstock. 5.2 RM de abdômen A aquisição sequencial rápida permite o estudo desta região com contraste endovenoso nas fases arterial, portal, equilíbrio e tardias, de maneira bem parecida com as obtidas nos exames de Tomografia Computadorizada. Entretanto, na RM, o estudo da luz do trato digestório fica bastante prejudicado, de forma que grande parte das lesões oclusivas e da parede intestinal não encontra resposta boa nesse método de imagem, sendo preferível a realização da Tomografia Computadorizada. Em RM, o exame do abdome abrange apenas a parte superior. Para avaliação da parte inferior, deve-se realizar protocolo de RM de pelve. Quando o estudo abrande abdome total, é realizado protocolo de abdome superior e pelve. As principais indicações para a realização da RM de abdome são: estudo de fígado e pâncreas, estudo de vias biliares por meio da colangiorressonância, estudo das vias excretoras por meio da urorressonância, estudo da vascularização arterial, venosa e circulação portal, tumores e abcessos desta região. 12 Crédito: Tossaporn Buttabut/Shutterstock. 5.3 RM coluna lombar O exame para avaliação da coluna lombar apresenta diversas vantagens quando comparado ao mesmo pela Tomografia Computadorizada. Entre essas vantagens, destacam-se: • A visualização de todos os espaços intervertebrais e seus respectivos discos; • Visualização do cone medular e do canal raquidiano. Este estudo é muito indicado para pesquisas de compressões raquimedulares por hérnia de disco, artroses, estreitamento de canal, tumores, processos infecciosos e pós-operatórios. 13 Crédito: Kondor83/Shutterstock. NA PRÁTICA A RM é uma opção para auxiliar no diagnóstico devido à grande sensibilidade do método, levando em consideração a capacidade que o equipamento possui de realizar imagens em diferentes cortes e possibilitar a visualização das estruturas escolhidas em formas diversificadas. FINALIZANDO A RM é indicada pensado na visualização de órgãos e sistemas para apontar possíveis falhas que possam causar doenças desde a parte óssea, muscular e até mesmo acompanhamento de lesões por causas oncológicas. O contraste utilizado neste método é eficaz e possui baixa estatística de reações adversas, portanto, é considerado muito útil e seguro. IMAGENOLOGIA AULA 6 Prof.ª Andressa Santi 2 CONVERSA INICIAL Alguns exames são muito indicados pelos médicos por serem rápidos, seguros e, principalmente, eficazes. Dois exemplos: exames de raios X e mamografia, cada um com sua indicação, são exames com resultados praticamente imediatos, que podem definir lesões ósseas, como nos raios x, e neoplasias na mama, como na mamografia. Este exame, inclusive, é um dos mais importantes no diagnóstico e acompanhamento do câncer de mama. TEMA 1 – RAIOS X Um dos exames mais comuns no mundo da imagenologia. Pode-se dizer que a maior parte da população já realizou alguma vez na vida uma radiografia. A descoberta dos raios x veio com experimentos com “tubos catódicos”, equipamentos exaustivamente utilizados em experimentos no final do século XIX, que consistiam em um tubo de vidro ligado a uma bomba de vácuo, em que era aplicada uma diferença de potencial entre dois terminais opostos, gerando uma corrente eletromagnética dentro do tubo. Ao final do século XIX, foi constatado que a matéria absorvia os raios provenientes do cátodo, e que essa absorção era inversamente relacionada com a voltagem de aceleração. Em alguns casos, era possível visualizar a emissão de fluorescência através de “luz visível”. Em 1895, o físico alemão Wilhem Conrad Roentgen descobriu os raios x. A primeira radiografia foi realizada em 22 de dezembro de 1895, quando Roentgen pôs a mão de sua esposa Anna Bertha Roentgen no chassi, com filme fotográfico, fazendo incidir a radiação oriunda do tubo por cerca de 15 minutos. Tendo revelado o filme, lá estava a confirmação de seus estudos: a figura dos ossos da mão da sua esposa aparecia dentro das partes moles, menos densas. Créditos: FotoArtist Stockphoto/Shutterstock. 3 Roentgen estudou exaustivamente a radiação, tendo descoberto as principais propriedades do fenômeno, como a propagação em linha reta, a alta capacidade de penetração, a indiferença a campos magnéticos e a capacidade de impressionar chapas fotográficas. Tais propriedades, em certos momentos, aconteciam com a luz; em outros, com os “raios catódicos”. Ele tentou verificar reflexão, refração e difração, sem sucesso, o que o levou a supor que se tratava de algo diferente de todas as radiações já conhecidas. 1.1 Produção de raios X Para a formação dos raios X, é necessário que uma partícula de alta energia cinética seja desacelerada de maneira rápida. Para que isso ocorra, o método mais utilizado é fazer com que um elétron de alta energia (gerado no tubo catódico) colida com um alvo metálico (ânodo). Uma vez que o elétron atinge o alvo, um elétron da camada K de um átomo material é liberado em forma de fotoelétron, causando vacância na camada. Esse espaço deixado pelo elétron na camada K é ocupado por um outro elétron de uma camada mais externa, e assim acaba liberando energia na forma de um fóton dos raios X. Quando fazemos a análise do espectro, notamos que, para as voltagens mais altas, são produzidos certos comprimentos de onda em intensidade muito maior do que as demais – é a chamada radiação característica do alvo. Os demais comprimentos de onda são chamados de radiação branca, formada por vários comprimentosde onda. Quanto mais aumentamos a diferença de potencial, mais a radiação característica se destaca em relação à radiação contínua, o que possibilita a utilização de um comprimento de onda pré- determinado. A maneira como o espectro de raios X se comporta é explicada através das transições de níveis atômicos de energia. Para cada diferente transição de nível de energia, um comprimento de onda específico é emitido. Outra maneira de gerar raios x é com aceleradores sincrotron. Eles são equipamentos grandes, nos quais os elétrons são acelerados com grandes velocidades, próximas à da luz, por campos magnéticos. Ao serem desacelerados, produzem raios X em vários comprimentos de onda (neste caso, não há radiação característica). 4 Créditos: Erich Sacco/Shutterstock. 1.2 Difração de raios X O espalhamento e a consequente difração de raios X podem ser analisados em diferentes níveis. No nível mais básico, ocorre o espalhamento de raios X por um elétron. Este espalhamento pode ser classificado como coerente ou incoerente. No espalhamento coerente, a onda espalhada tem direção definida, mesma fase e mesma energia em relação à onda incidente. A colisão é elástica. No espalhamento incoerente, a onda espalhada não tem direção definida. Ela não mantém a fase nem a energia. A colisão é inelástica e a energia referente à diferença entre a onda incidente e a onda espalhada se traduz em ganho de temperatura. Em 1914, Laue montou um experimento em que um feixe de raios X incidia em um cristal; por trás do cristal, havia uma chapa fotográfica. Ao verificar a chapa fotográfica, Lauen observou a formação de um padrão de difração. Com a difração, estava provada a natureza ondulatória dos raios x. A difração se tornou útil para a determinação de estruturas cristalinas. A formação dos picos de difração está ligada à lei de Bragg, quando vista no nível dos planos cristalinos. 5 Créditos: Amalakanti Satya Sarada/Shutterstock. De maneira simplificada, os cristais são arranjos anatômicos ou moleculares, cuja estrutura se repete em uma forma periódica e tridimensional. TEMA 2 – PROTOCOLOS DE RAIOS X O posicionamento, nos exames de raios x, é um dos principais fatores que interferem nos resultados. É necessário que o profissional tenha conhecimento amplo de anatomia para que sejam geradas imagens de boa qualidade – capazes, consequentemente, de colaborar com um diagnóstico correto e preciso. Ao comparar um aparelho de raios X com outros equipamentos de imagem, percebemos que aqueles apresentam limitações no quesito de formação das imagens, pois elas são adquiridas em apenas duas dimensões. As estruturas anatômicas têm três dimensões; para que seja possível visualizá- las dessa maneira, é necessário realizar registros em mais de uma posição, quando se trata de raios X, o que possibilita o acesso a imagens em diferentes perspectivas. Fatores como ângulo de observação, densidade e proximidade entre a estrutura estudada com o aparelho de raios x determinam a nitidez das imagens. Por isso, é essencial enfatizar a importância do posicionamento correto. 6 2.1 Posições gerais Algumas posições são mais utilizadas para a realização dos exames de raios-x. Elas visam uma padronização para posterior análise e interpretação, pois há um consenso sobre a perspectiva adotada quando são descritos os achados pelo médico que avalia as imagens. A posição base para as demais posições é a anatômica. Créditos: CLIPAREA l Custom media/Shutterstock. • Ortostatismo: paciente em pé e ereto, exemplificada pela posição anatômica. 7 Créditos: CLIPAREA l Custom media/Shutterstock. • Decúbito dorsal: o paciente se encontra deitado de barriga para cima. • Decúbito lateral: o paciente ficará deitado sobre um lado do corpo, o esquerdo ou o direito. • Decúbito ventral: o paciente é posicionado de barriga para baixo. Créditos: ilusmedical/Shutterstock. 8 TEMA 3 – INCIDÊNCIAS RX Como se trata de um exame que emite radiação, é importante restringir a quantidade de radiografias, estabelecendo uma combinação entre diversas modalidades de incidências. Assim, é possível obter um ótimo resultado, com uma visão ampla dos órgãos e tecidos do corpo. Em geral, um pedido de radiografia contém pelo menos uma das cinco incidências a seguir: • Incidência póstero-anterior (PA): o feixe de raios x deve entrar pela parte posterior e sair pela anterior. A face mais próxima à placa é a que aparece mais nítida nas imagens. Essa incidência é recomendada para visualizar a porção anterior da área que está sendo avaliada. Créditos: Yok_onepiece/Shutterstock. • Incidência anteroposterior: ao contrário da incidência PA, neste caso a radiação entra pela parte anterior e sai pela posterior. Indicada para avaliação posterior das estruturas. 9 Créditos: Suttha Burawonk/Shutterstock. • Incidências oblíquas AP e PA: varia de acordo com o pedido médico, de modo a facilitar a visualização de um dos lados da porção anterior ou posterior. Se, por exemplo, o pedido for de OPA (incidência oblíqua posterior esquerda), a face posterior esquerda deve estar mais próxima da chapa do equipamento. Créditos: Suttha Burawonk/Shutterstock. • Incidência médio-lateral: é quando a trajetória do feixe de raios x entra pela face medial e sai pela face lateral. 10 Créditos: Suttha Burawonk/Shutterstock. TEMA 4 – MAMOGRAFIA Os casos de neoplasias malignas das mamas são responsáveis por um grande número de óbitos em mulheres. O controle de câncer de mama requer prevenção, detecção precoce e tratamento. Para detecção precoce, existem três estratégias, segundo a OMS. Elas atuam de forma complementar, de maneira preventiva: autoexame das mamas, exame clínico e mamografia. A mamografia tem alta sensibilidade e alta especificidade na detecção de lesões mamárias. Porém, o resultado correto do exame depende de fatores como qualidade do equipamento, além de posicionamento e técnica correta de realização. Há diversos casos em que a mamografia é indicada, por exemplo: • A mamografia de rotina é utilizada em mulheres que não apresentam sinais e nem sintomas de câncer de mama, por ser capaz de detectar lesões pequenas e não palpáveis. • Também pode ser indicada em casos de pré-terapia de reposição hormonal, com a finalidade de estabelecer padrão mamário e detectar lesões não palpáveis. • Como exame pré-operatório para cirurgia plástica. 11 • Seguimento de câncer de mama, após mastectomia. Deve ser realizado anualmente, sendo essencial comparar os exames. • Controle de lesões. A imagem na mamografia é formada do mesmo modo que a imagem em radiografia convencional. Um feixe de raios X, proveniente de uma fonte quase pontual, incide sobre a mama comprimida. A fração do feixe é transmitida através do tecido, sendo registrada em um receptor de imagem. Outra fração sofre um processo de espelhamento, que não contribui para a formação da imagem. O restante da fração é absorvida pelos tecidos da mama. As diferentes estruturas no interior da mama produzem atenuações diferenciadas, de acordo com as densidades e espessuras, durante o processo de penetração pelo feixe de raios X. A imagem formada é resultado da atenuação diferenciada dos raios X, ao longo do caminho, através dessas estruturas. Créditos: ilusmedical /Shutterstock. • O equipamento de mamografia deve ter contraste radiográfico e resolução espacial. • A detecção entre as diferenças de atenuação dos feixes de raios x entre os tecidos normais e os diferenciados é dada pelo contraste radiográfico de todas as partes da mama. • A origem do contraste é dada pela variação da atenuação dos fótons de raios X, devido a diferenças nas espessuras e densidades dos tecidos mamários. 12 • É necessárioresolução espacial suficiente para que seja possível visualizar os detalhes mais finos associados aos casos de câncer de mama, como contornos das lesões e microcalcificações. Como a mamografia é um exame que emite radiação, e a mama é considerada um órgão sensível, é necessário utilizar a menor dose possível de radiação durante o exame. Por outro lado, é preciso que a imagem seja considerada de alto padrão em termos físicos – ou seja, alto contraste, alta resolução espacial e baixo ruído. TEMA 5 – MAMÓGRAFO O equipamento da mamografia (mamógrafo) é composto por um gerador de alta tensão, uma torre mecânica com um braço em forma de arco em “C” e um painel de controle. O arco apresenta, em uma de suas extremidades, um cabeçote blindado onde está localizado o tubo de raios X. Na outra extremidade está o “bucky”, um suporte para a mama, com espaço para a inserção do receptor de imagem. Esse braço pode ser rotacionado sobre um eixo horizontal, considerando que a mama deve ser examinada em diferentes projeções, o que possibilita a realização de diversas incidências. Também é possível ajustar a altura do braço de acordo com a altura do paciente. Crédito: Peakstock/Shutterstock. 13 Crédito: Radiological imaging/Shutterstock. NA PRÁTICA Na radiologia, tanto os raios X quanto a mamografia são exames comuns, pois são rápidos, indolores e com resultados eficazes, tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento de lesões – cada um com a sua especificidade. FINALIZANDO É importante ressaltar que, como em todos os outros exames de imagem, é necessário ter conhecimento anatômico para a realização dos procedimentos, além de domínio dos equipamentos. Os cuidados com o paciente são tão importantes quanto os conhecimentos teóricos. É importante lembrar que os profissionais da saúde devem seguir princípios éticos, oferecendo cuidado a todos. BIOMEDICINA ESTÉTICA AULA 1 Profª Nathaly Tiare Jimenez da Silva Dziadek 2 CONVERSA INICIAL Pode-se definir estética como aplicação racional da beleza ou, ainda, promoção e prevenção da saúde por meio da beleza, o que leva a estética a se inserir na área da saúde, visto que o profissional da área desenvolve ações para equilíbrio do bem-estar físico, social e emocional dos seus clientes/pacientes. A promoção da saúde é um processo ativo, cujo objetivo é melhorar o estado geral de saúde das pessoas, incentivando a melhora de hábitos e estilo de vida, aumentando o bem-estar de maneira geral, por meio de autorresponsabilidade, consciência nutricional, redução e controle de estresse e boa forma física. Hoje, saúde está diretamente relacionada com o bem-estar e a qualidade de vida e não simplesmente como a ausência de doença. Nesse cenário, a biomedicina estética ganha cada vez mais espaço, pois trabalha a autoestima do indivíduo, o que é sabido que afeta diretamente a sua saúde mental e emocional e, consequentemente, a sua saúde física. E, junto com o ramo da estética, a figura do biomédico esteta ganha muito destaque, pelo fato de o profissional biomédico, com toda a sua competência, adquirida mediante estudos em anatomia, fisiologia, histologia, patologia, microbiologia, farmacologia, entre vários outros campos, ser um profissional que entende dos processos fisiológicos e dos reais efeitos estéticos oriundos dos processos de inflamação controlada e regeneração tecidual e celular. TEMA 1 – INTRODUÇÃO À BIOMEDICINA ESTÉTICA A palavra estética tem sua origem no termo grego aisthetiké e significa aquele que nota, que percebe. Também é conhecida como filosofia da arte ou estudo do que é belo nas manifestações artísticas e naturais. Pode-se dizer ainda que estética é algo que remete à beleza e faz referência ao sentimento de que alguma coisa bela desperta dentro de cada indivíduo. A influência da cultura grega na sociedade moderna ainda é muito forte, observada por meio do julgamento estético praticado por praticamente toda a humanidade, principalmente em uma sociedade que vive o consumo e o culto da imagem e das aparências, em que o corpo adquiriu uma centralidade e se transformou em mercadoria. A estética está presente no Brasil desde a década de 1950. Posteriormente, a profissão de esteticista foi devidamente reconhecida pela Lei 3 n. 13.643/2018 (Brasil, 2018) e seus profissionais fazem parte da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1946, citada por O que, 2020), saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade. A saúde estética tem como principal objetivo instruir e levar saúde às pessoas por intermédio da beleza, como forma de melhorar condições de bem-estar físico, mental e social, promovendo e proporcionando a prevenção de doenças, o rejuvenescimento fisiológico, melhorando a autoestima e os hábitos de vida. A estética deve ser considerada também uma questão de saúde pública, pois compreende o atendimento das necessidades humanas básicas das pessoas com direcionamento à prevenção e à promoção da saúde, contribuindo com um pensamento, para a sociedade, que mostre a beleza como reflexo de boa saúde física e mental, por compreender hábitos saudáveis e, principalmente, feitos de maneira responsável. Quando se fala em autoestima, observa-se que essa está diretamente ligada ao estado emocional das pessoas e, muitas vezes, uma autoestima baixa interfere e prejudica a saúde emocional do indivíduo. 1.1 Biomedicina estética A habilitação em biomedicina estética foi reconhecida pelo Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) em 10 de outubro de 2010, e da área não médica foi a primeira classe profissional reconhecida e autorizada a atuar com procedimentos minimamente invasivos, incluindo os injetáveis. O profissional só pode atuar na área da saúde estética com a devida titulação de biomédico esteta concedida pelo Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) de sua região. Para isso, esse profissional precisa ter bacharelado em Biomedicina e experiência nos procedimentos estabelecidos pela Resolução CFBM n. 200/2011 (CFBM, 2011c). Essas exigências dizem respeito a cumprimento de período de estágio e de pós-graduação, na área de estética, realizada em instituições reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC). Quem se especializa nessa área aprofunda- se no conhecimento da derme e de seus anexos (pelos, unhas, glândulas sebáceas e sudoríparas), assim como do tecido adiposo e do metabolismo. Nessa habilitação da biomedicina, o profissional atuará na área da saúde estética promovendo bem-estar físico e estético dos pacientes, realizando procedimentos e tratamentos preventivos do envelhecimento fisiológico do 4 organismo e das disfunções estéticas faciais, corporais, capilares e íntimas. O biomédico esteta pode atuar em clínicas de estética e bem-estar, inclusive respondendo tecnicamente por elas, como seu responsável técnico (RT); de forma autônoma, em parceria com clínicas e estabelecimentos da área; e, para os que o desejam, empreender e ter o seu próprio serviço de estética e bem- estar. O profissional atua em uma zona de trabalho de estética não invasiva, em que geralmente atuam os esteticistas (técnicos ou tecnólogos em Estética) e os profissionais médicos. Quadro 1 – Procedimentos realizados por profissionais médicos (dermatologistas e cirurgiões plásticos), biomédicos estetas e esteticistas e cosmetólogos Profissionais médicos (dermatologistas e cirurgiões plásticos) Biomédicos estetas Esteticistas e cosmetólogos Realizam procedimentos estéticos cirúrgicos, invasivos e minimamente invasivos, injetáveis, prescrição de dermocosméticos, nutracêuticos, medicações controladas, bloqueios anestésicos. Realizamprocedimentos estéticos minimamente invasivos, injetáveis, prescrição de dermocosméticos, nutracêuticos. Realizam procedimentos estéticos não invasivos, utilizam terapias térmicas, elétricas, fototerapêuticas, mecânicas, atuam em serviços personalizados de atendimento (SPAs) e salões de beleza, fazem maquiagem profissional, depilação. TEMA 2 – RESOLUÇÕES A biomedicina estética é uma área reconhecida pelo CFBM, cujo profissional pode atuar no desenvolvimento de tratamentos aplicados na estética facial e corporal. A busca acentuada por procedimentos estéticos está ligada diretamente com a autoestima, evidenciando cuidados estéticos fundamentais no cotidiano de um indivíduo, o que torna o mercado da estética cada vez mais promissor, capaz de oferecer a possibilidade de conquista de autonomia a 5 profissionais qualificados, que contribuam para a saúde e o bem-estar das pessoas por meio de tratamentos estéticos. A biomedicina estética teve início, no Brasil, em 2006, por iniciativa da biomédica Ana Carolina Puga. Em 10 de outubro de 2010, a atuação em biomedicina estética foi aprovada pelo CFBM, por unanimidade. A biomedicina abriu novos campos de trabalho para o biomédico, possibilitando a sua saída das bancadas e permitindo-lhe atuar como profissional liberal em clínicas especializadas, empresas da área e indústrias de produtos de beleza. Sua atuação esteta está envolvida com o desenvolvimento de tratamentos estéticos para disfunções faciais e corporais, envelhecimento fisiológico ligado à pele, metabolismo e tecido adiposo, além de pesquisas e procedimentos biomédicos na estética. A Resolução n. 197/2011 do CFBM (2011a) habilita o biomédico a atuar na área da estética como um profissional altamente capacitado a realizar tratamentos de disfunções faciais e corporais, elaborar tratamentos específicos mediante anamnese, cuidar da saúde e do bem-estar das pessoas. Por sua vez, a Resolução n. 200/2011 do CFBM (2011c) determina critérios para a habilitação em biomedicina estética. Já a Resolução n. 214/2012 do CFBM (2012) dispõe sobre os atos do biomédico e discrimina como se deve dar o uso de substâncias em procedimentos estéticos. A Resolução n. 241/2014 do CFBM (2014), de seu lado, classifica tratamentos para fotoenvelhecimento e procedimentos minimamente invasivos, ou seja, procedimentos não cirúrgicos, como aplicação de: • carboxiterapia; • preenchimento cutâneo; • toxina botulínica tipo A; • peeling químico; • microagulhamento; • escleroterapia; • intradermoterapia. Ainda segundo o art. 5º da Resolução n. 241/2014 do CFBM (2014), o biomédico torna-se prescritor das substâncias utilizadas em tais procedimentos. Seus cuidados podem envolver ainda emprego de laser de baixa, média e alta potência, além de outros recursos tecnológicos, para fins estéticos, 6 biotecnológicos, farmacológicos ou procedimentos invasivos não cirúrgicos, para fins estéticos. Com o conhecimento adquirido sobre segurança do paciente, o profissional habilitado e capacitado para atuar como biomédico o faz de forma consciente e cuidadosa, ao realizar seus procedimentos com todas as medidas de biossegurança, evitando a exposição do profissional a qualquer situação que ele não possa controlar. É importante que os procedimentos minimamente invasivos sejam conhecidos cuidadosamente pelo biomédico esteta, pois o domínio técnico, o aperfeiçoamento da aplicação e indicações corretas asseguram um bom resultado àqueles procedimentos. A adequada especialização do profissional biomédico, com conhecimento dos diferentes níveis de agressão à pele para indicação do melhor tratamento para o dano presente, garante a realização do procedimento mais correto e eficaz para cada caso, além da manutenção da saúde e beleza da pele. TEMA 3 – ÉTICA NA ESTÉTICA O profissional biomédico esteta precisa seguir algumas diretrizes para assegurar que seus procedimentos e tratamentos sejam feitos de maneira correta, ética e responsável, independentemente se o profissional é autônomo, trabalha no regime da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT (Brasil, 1943) ou é proprietário de serviço de estética e bem-estar. Algum dos requisitos que precisam atenção e devem ser seguidos são: situação cadastral compatível com área de atuação, registro e habilitação em biomedicina estética no CRBM, vistorias e licenças sanitárias e demais necessárias em conformidade. É importante que o profissional saiba o que é aplicável e recomendado a sua área de atuação e tenha suas atividades regulamentadas. No rol de atividades e atribuições permitidas ao biomédico esteta temos vários procedimentos, como injetáveis (carboxiterapia, aplicação de toxina botulínica e preenchedores, fios de dermossustentação, ozonioterapia, bioestimuladores de colágeno, intradermoterapia etc.), laserterapia, eletroterapia, luz intensa pulsada e peelings químicos e mecânicos, além de outros procedimentos. O profissional pode executar somente atribuições que lhe são permitidas, ou seja, ele precisa saber e respeitar o limite de suas atividades. Por exemplo, o biomédico esteta não pode realizar bloqueio anestésico como o dentista, tampouco utilizar, em seus procedimentos, bisturi e realizar suturas, 7 prescrição de medicamentos controlados como antibióticos, divulgar imagens sem autorização do paciente, valores e/ou formas de pagamento dos procedimentos efetuados, entre outras vedações. Aliás, algo que merece muita atenção por parte dos profissionais é a sua postura ética: mais do que não divulgar imagens de pacientes sem sua autorização, ele deve manter todo o histórico do paciente no prontuário em sigilo, também. Muitas vezes, o paciente chega fragilizado ao consultório e, pela confiança que adquire no profissional, se sente à vontade para se abrir e contar-lhe seus problemas, o que deve ser preservado e não tornado público. A atenção do profissional, como um todo, deve ser centrada no paciente/cliente, que carece ser respeitado, ter consideradas suas preferências individuais, necessidades, assegurando que a tomada de decisões para seu tratamento se guiará pelos melhores valores ético-profissionais. Sendo o biomédico esteta um profissional da saúde, sua assistência deve ser sempre benéfica e nunca maléfica, sempre indicando o procedimento adequado ao caso e esclarecendo o paciente sobre quaisquer contraindicações aos tratamentos. O profissional também deve seguir os princípios de equidade e, assim, prestar o atendimento com a mesma qualidade independentemente de características pessoais, de gênero, etnia, status socioeconômico e localização geográfica, do primeiro paciente do dia ao último. Atualmente, têm ganhado mercado as consultorias realizadas por advogados que atuam no direito médico, alguns especificamente em clínicas de estética. Esses profissionais realizam, nas clínicas, um trabalho de prevenção de problemas, instruindo os demais profissionais sobre códigos de ética, resoluções e normas pertinentes às atividades que eles desenvolvam, para assegurar que elas sejam feitas de maneira correta e legal, evitando erros que poderiam ocasionar danos, atribulações e desgaste para pacientes, proprietários, profissionais e até mesmo resultar em processos judiciais. 3.1 Código de Ética do Profissional Biomédico A Resolução n. 198/2011 do CFBM (2011b) regulamentou o Código de Ética do Profissional Biomédico, o qual regula os direitos e deveres do profissional com inscrição no respectivo CRBM. O descumprimento, a transgressão a esse Código de Ética podem resultar na aplicação de penalidades, sanções, a seu agente, que vão de advertência a cancelamento de 8 registro no CRBM, podendo ainda o caso adentrar outras esferas, tanto cível quanto penal. Posteriormente, o CFBM (2020) instituiu um novo Código de Ética por meio daResolução n. 330/2020, que impactou de forma bem positiva o trabalho dos biomédicos estetas e reforçou algumas proibições, também. Segundo o novo Código de Ética do Profissional Biomédico: CAPÍTULO V Dos Limites para Propaganda, Publicidade e Anúncio da Atividade Biomédica. Art. 7º A atividade do profissional biomédico é de sua exclusiva responsabilidade Art. 8º Considera-se propaganda, publicidade ou anúncio, qualquer divulgação relativa à atividade profissional oriunda ou promovida pelo profissional biomédico, independentemente do meio de divulgação. I- A participação do profissional biomédico na divulgação de assuntos de seu âmbito profissional deve-se pautar pela prévia condição de conteúdo que apresente evidências científicas, visando primordialmente o esclarecimento e a educação da população, além do interesse público, vedada a autopromoção, a prática enganosa, abusiva ou em desacordo aos direitos do consumidor; II- É obrigação do profissional biomédico observar os princípios éticos de sua profissão na publicidade, propaganda ou anúncio, em especial no campo dos procedimentos assistenciais; III- O profissional biomédico, responsável legal/administrador e/ou Responsável Técnico por estabelecimento, de igual forma torna-se responsável pela publicidade, propaganda e/ou anúncio que a Pessoa Jurídica realizar. Art. 9º Na propaganda, publicidade ou anúncio individual ou coletiva, deverão constar: a) nome do biomédico, da pessoa jurídica e seus respectivos números de inscrições no Conselho; b) habilitações devidamente registradas; c) títulos do profissional; d) endereços e horários de trabalho; Art. 10 O profissional biomédico poderá divulgar os títulos, cursos/capacitações/atualizações que participou, após sua inclusão na área de atuação. § 1º - O biomédico poderá utilizar mídia exterior e/ou mídia eletrônica, obedecendo a legislação pertinente. As mídias deverão obedecer às indicações constantes do artigo 9º e alíneas, ainda: I - A divulgação de autorretratos (selfies) de biomédicos, acompanhados de usuário ou não, desde que com autorização prévia do usuário ou de seu representante legal, através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE; II - Toda atividade passível de autorização do usuário deverá ser obrigatoriamente encaminhada ao respectivo conselho via digital, sob responsabilidade exclusiva do Responsável Técnico – RT; III - Divulgação de imagens por biomédico responsável pela sua execução cientificamente comprovada, com autorização prévia do usuário ou de seu representante legal, através de TCLE; IV - Publicar imagens e resultado final de procedimentos, salvo nos casos onde houver, além do TCLE para esse fim, os seguintes dizeres constantes na descrição ou legenda da peça publicitária: “Esta imagem não representa, em hipótese alguma, garantia de resultado. Cada ser humano tem características anatômicas e fisiológicas únicas”; V - No caso de divulgação de imagens relativas aos procedimentos, conhecidos como “antes” e “depois” deverá constar legenda nas 9 imagens contendo a seguinte informação autorizada em TCLE: divulgação autorizada pelo usuário”. Art. 11 É vedado ao biomédico: a) adulterar dados visando beneficiar-se individualmente ou a instituição/estabelecimento que representa, assessora ou integra. b) usar expressões que caracterizem ou garantam, prometam ou induzam a determinados resultados do procedimento, sem efetiva comprovação, bem como utilizar-se de expressões como “o (a) melhor”, “o (a) mais eficiente”, “o (a) único (a) capacitado (a)”, “resultado garantido” ou outras capazes de induzir o usuário ao erro, sensacionalismo, a autopromoção, a concorrência desleal, a mercantilização da Biomedicina ou a promessa de resultado; Parágrafo Único – São consideradas práticas de mercantilização indevida a divulgação de pacotes de serviços, promoções, ofertas, e/ou benefícios financeiros de qualquer natureza. c) publicar imagens de usuários, salvo com prévia e expressa autorização do usuário ou de seu representante legal; d) expor o usuário como forma de divulgar técnica, método ou resultado não efetivamente comprovado cientificamente. Ressalvando a divulgação de imagens relativas às atividades biomédicas, desde que haja a autorização expressa do usuário ou de seu representante legal. e) utilizar-se de qualquer imagem que possa induzir a um resultado enganoso, levando o usuário em erro. f) divulgação de imagens que permitam a identificação de equipamentos, instrumentais, materiais, substâncias e respectivas marcas visando autopromoção; g) divulgação de vídeos e/ou imagens que demonstrem as técnicas de procedimentos para leigos com conteúdo relativo ao transcurso e/ou à realização das atividades, exceto em publicações científicas. h) promover publicidade enganosa ou abusiva que afete ou prejudique a sociedade. i) ser conivente ou omisso às práticas lesivas ao usuário; j) fazer afirmações e citações ou exibir tabelas e ilustrações relacionadas a informações que não tenham sido extraídas ou baseadas em publicações de órgãos e entidades oficiais, de uso tradicional reconhecido, de valor acadêmico com fundamento em literatura consolidada e/ou baseada em publicações ou evidências científicas; k) adotar práticas contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; l) divulgar preços de serviços ou formas de pagamento para captação de usuário em desacordo aos direitos do consumidor e com o código de ética, evitando assim a mercantilização e a concorrência desleal m) oferecer vantagem, ganho ou benefício financeiro a terceiro em retribuição ou troca de obtenção de serviço; n) negar ao usuário ou seu responsável informação de qualidade, confiável e rastreável cientificamente dos procedimentos; o) anunciar títulos acadêmicos que não possa comprovar ou habilitação e/ou especialidade para a qual não esteja qualificado [...] (CFBM, 2020). TEMA 4 – BIOSSEGURANÇA NA ESTÉTICA Biossegurança pode ser definida como o conjunto de ações voltadas para proteção do trabalhador, minimização de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, manutenção da saúde humana, animal e do meio ambiente e busca de 10 qualidade nos resultados. A biossegurança visa também à segurança do paciente, visto que principalmente a falta dela pode ser a causa de eventos adversos no momento da prestação de serviços ou de assistência em saúde. Em serviços de saúde, em que se enquadram também os serviços de estética, existe a característica de se trabalhar em ambientes em geral com presença de agentes dos cinco grupos de risco: físico, químico, biológico, ergonômico e de acidente ou mecânico. Consistem em exemplos de agentes de risco físico: frio, calor, ruído, vibração, entre outros; de agentes de risco químico: algumas substâncias utilizadas nos procedimentos, como os ácidos em peelings, produtos de limpeza e desinfecção, entre outros; de agentes de risco biológico: pela própria manipulação dos pacientes, a exposição a bactérias, fungos, vírus, contaminação cruzada, entre outros; de agentes de risco ergonômico: postura inadequada, repetitiva, uso de maca e/ou cadeira em altura inadequada, iluminação inadequada, entre outros; de agentes de risco mecânico: fiação elétrica inadequada, piso molhado, realização de atos inseguros, acidentes com perfurocortantes, entre outros. Nesta aula, daremos ênfase aos riscos biológicos. Conhecimento técnico, atendimento personalizado, oferta de produtos de qualidade são alguns dos atributos que fazem um profissional de estética se destacar no mercado. Mas, além deles, há uma outra importante questão que deve ser priorizada: os cuidados básicos de higiene, manipulação e conservação de produtos, materiais e equipamentos existentes no espaço de trabalho. O primeiro cuidado em biossegurança, o mais básico, e de extrema importância, é a higienizaçãocorreta e constante das mãos. As mãos são a principal ferramenta de trabalho do esteta e elas tocam áreas externas e comuns, tocam produtos e materiais e tocam pacientes. Se as mãos do profissional estão contaminadas, podem ser um veículo de contaminação do próprio profissional, do paciente e também dos produtos e materiais utilizados. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) são materiais de uso individual, muitos deles descartáveis, pois não devem ser utilizados mais de uma vez, mesmo que se trate de procedimento em um mesmo cliente. Consistem em EPIs: • Luvas – devem ser utilizadas em todos os procedimentos e descartadas ao final de cada um deles. Seu emprego, contudo, não dispensa a lavagem (higienização) das mãos. Elas devem ser calçadas de maneira a 11 sobreporem os punhos do jaleco e, uma vez colocadas, não se deve tocar com elas em outros objetos. • Touca – o emprego da touca pelo profissional previne contaminação cruzada, do profissional para o cliente, por micro-organismos que possam estar presentes no cabelo. Também é uma forma de proteção do profissional contra uma possível contaminação dos cabelos por secreções que possam ocorrer conforme o procedimento estético a ser realizado. Protege o cliente, principalmente o de cabelos longos, também de ações indesejadas dos cosméticos utilizados. • Jaleco – o mais adequado é que seja comprido, de mangas longas, tecido fechado (não com rendas) e com botões. Existem aventais descartáveis para profissionais; porém, na rotina diária dos consultórios e clínicas, eles não são muito utilizados. Os jalecos de tecidos devem ser trocados diariamente e somente utilizados nos espaços de atendimento (sala, cabine, consultório...). • Óculos – protegem os olhos dos profissionais. Os olhos são áreas de fácil contaminação. • Máscara – protege a boca e o nariz do profissional, áreas de mucosas que também podem contaminar-se facilmente. A máscara deve ser descartável e/ou trocada com frequência. Em qualquer ambiente, estamos constantemente em contato com poeira e sujeiras em geral, provenientes do ar, do solo e do próprio homem. Juntamente com elas estão vários micro-organismos, como fungos, bactérias, vírus etc. Esses micro-organismos, dependendo do lugar onde se encontram, podem ser benéficos ou não. Por exemplo, na nossa pele existem vários micro-organismos de defesa, cuja retirada pode nos ser prejudicial, causando o enfraquecimento do sistema de defesa da pele. Porém, se esses mesmos elementos entrarem em contato com um cosmético, a água, os extratos e as matérias-primas existentes em sua composição podem servir de fonte de sua proliferação, tornando-os, assim, potencialmente perigosos à saúde humana. O mesmo acontece com os micro-organismos que vivem no ambiente. Quando um produto fica muito exposto, aberto por muito tempo, os micro-organismos entram em contato com esse produto, proliferando-se da mesma maneira como ocorre na pele humana. Com isso, uma pessoa que entra em contato com um produto ou material contaminado pode apresentar diferentes reações alérgicas e, em casos mais 12 graves, até infecções. Além da reação no corpo do paciente, o próprio cosmético ou outro produto pode sofrer alterações de acordo com a bactéria ou fungo que o contaminou. As alterações podem variar desde mudança de cor e cheiro do produto, até alterações em sua viscosidade e eficiência. Em relação aos produtos utilizados, a melhor forma de armazená-los é na sua embalagem original. Deve-se evitar trocá-la, devido ao risco de contaminação, mesmo que seja por uma embalagem do mesmo tipo de produto. Logo, não é aconselhado passar o conteúdo de um produto de uma embalagem para outra. Essas embalagens dos produtos devem ser bem fechadas após o uso, para evitar contaminação por micro-organismos provenientes do ambiente. Além disso, dependendo do produto, se ele permanecer muito tempo aberto, em contato com o ar, pode oxidar, alterando sua cor e odor. Após o uso do produto, as tampas, bem como a boca do frasco, devem ser devidamente limpas e, de preferência, feita a sua assepsia com produtos à base de clorexidina ou outro elemento similar existente no local de trabalho. Quando houver realmente necessidade de se retirar cosméticos e/ou outros produtos dos seus potes ou embalagens originais, deve-se utilizar espátulas, de preferência descartáveis ou, se isso não for possível, espátulas limpas e assépticas. Nunca se deve retirar nenhum produto do frasco diretamente com as mãos, nem que seja para remover apenas o que está na tampa, pois, conforme exposto anteriormente, a nossa flora cutânea possui bactérias que, ao entrarem em contato com o produto, podem vir a contaminá-lo. A aparência do frasco também é muito importante. Embalagens sujas externamente pelo próprio produto ou qualquer outra substância podem não oferecer risco de contaminação do conteúdo, mas deixam um péssimo aspecto. Todos os materiais, equipamentos, bancada de trabalho, macas, cadeiras devem ser higienizados em sua parte externa com produtos para higienização e desinfecção, a cada atendimento. Os lençóis que recobrem a maca e o cliente devem estar sempre limpos e impecáveis e podem ser de tecido ou descartáveis, em qualquer caso sempre trocados a cada atendimento. Todo o ambiente de atendimento deve estar sempre higienizado. Para os procedimentos injetáveis, a assepsia do ambiente é ainda mais importante, bem como a garantia de esterilidade dos produtos e insumos, a fim de evitar contaminações, que possam causar intercorrências sérias. A manutenção preventiva e corretiva dos aparelhos, macas e demais equipamentos do local de trabalho também 13 demanda atenção e é fundamental para a segurança do profissional e do cliente – uma maca que precise de manutenção pode ser a causa de queda de um paciente; um aparelho que utilize laser desregulado, a causa de uma queimadura. Sempre que for possível, deve-se dar preferência ao uso de material descartável. Quando isso não for possível, várias são as substâncias as quais podem ser utilizadas no processo de higienização, desinfecção e esterilização de objetos e ambientes. Realiza-se essa desinfecção com álcool 70% e/ou produtos degermantes ou esterilizados em autoclave. Produtos que não possam ser higienizados dessas duas formas devem ser porcionados em recipientes adequados, para realização da limpeza. Serviços de estética são considerados serviços de saúde e devem se atentar quanto à geração de seus resíduos, que se enquadram na categoria de resíduos sólidos em saúde (RSS) e devem ter seu descarte, acondicionamento e destino final adequados, principalmente os resíduos tipo A (potencialmente infectantes) e os perfurocortantes. Biossegurança em qualquer ambiente é importante, mas em serviços de saúde é algo obrigatório, pois os efeitos da sua falta ou mau uso são muito diretos e podem gerar intercorrências muito graves, tanto para o profissional quanto para o paciente. TEMA 5 – BELEZA, AUTOESTIMA E AUTOIMAGEM Podemos dizer que a aparência externa tem importância na autoestima e bem-estar físico e mental de cada indivíduo. Ela muda a forma de esse indivíduo se relacionar na sua vida pessoal e profissional. Independentemente do sexo, os benefícios proporcionados pela estética se refletem no convívio pessoal e social da humanidade. O seu envolvimento direto com a autoestima e o bem-estar relacionados à beleza requer responsabilidade do profissional da estética no seu papel fundamental de incentivar a aceitação, pelas pessoas, da sua aparência, de fazê-las enxergar sua própria beleza, principalmente quando da necessidade de se utilizar tratamentos na face, pois ela é quem mais nos diferencia externamente uns dos outros. Quando recebemos um elogio, uma atenção, um carinho, a nossa autoestima é trabalhada em nosso interior, poisnão nascemos com ela pronta e em alta. A autoestima mantém fortes relações com nosso equilíbrio psicológico 14 e com o convívio no meio social em que vivemos, até mesmo no familiar. A baixa autoestima pode ser exemplificada pela decepção com nossa imagem corporal, quando fora do que acreditamos ser a imagem mais aceitável ou desejável para esse corpo. Já o bem-estar está relacionado ao estado emocional de um indivíduo, a uma autoavaliação positiva, à noção que cada um tem de felicidade, satisfação, o que também recebe influência do ambiente, da cultura, do gênero, da idade. A satisfação de viver é o termômetro do bem-estar. 5.1 Pele e envelhecimento Ao falarmos de pele, podemos caracterizá-la como o maior órgão do corpo humano, que possui diversas funções, entre elas: proteção, controle da temperatura e metabolização. Com o avanço da idade, a pele apresenta seu envelhecimento e, com ele, o aparecimento, nela, de rugas, sulcos, linhas de expressão, hidratação reduzida, flacidez, perda da característica jovem de brilho e vigor. A pele é dividida em quatro camadas: hipoderme, derme e epiderme, sendo as últimas duas camadas as responsáveis pela aparência, além da camada de adipócitos (células de gordura). A estética age naquelas três primeiras camadas, proporcionando satisfação à tentativa de realizar a idealização que cada pessoa tem do seu corpo e da sua aparência refletida não somente no espelho como em seu estado psicológico e em seu convívio social. O envelhecimento é diário e contínuo, embora dependente de vários fatores internos e externos. Fatores intrínsecos estão relacionados com a genética de cada ser; já os extrínsecos sofrem influência do meio em que estamos expostos e dos hábitos que adquirimos. O aparecimento de manchas no rosto, mãos e pescoço, por exemplo, é comum porque são elas as áreas do corpo mais expostas. Tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas e alimentação desequilibrada também se refletem em nossa aparência e podem acelerar o nosso processo de envelhecimento. As rugas decorrem não somente do envelhecimento como do movimento muscular constante em nossa face quando expressamos nossas tristezas e alegrias, durante a vida. Essas rugas se formam dinâmicas e, com o passar dos anos, o processo de envelhecimento da pele, a falta de hidratação e a exposição ao ambiente, tornam-se permanentes e são denominadas rugas estáticas, que formam sulcos e não desaparecem quando não demonstramos nenhuma expressão, constituindo assim as marcas da realidade cronológica de cada um. 15 Manter uma boa aparência e não envelhecer fazem parte de uma cultura que vem desde a sociedade antiga, em que também já havia preocupação com a aparência e vaidade de homens e mulheres. Com isso, o aspecto psicológico do indivíduo está diretamente ligado ao seu bem-estar e autoestima. Com o avanço da tecnologia, em por volta dos anos 1930 o desenvolvimento de cosméticos a fim de amenizar as alterações cutâneas provocadas pelo envelhecimento ganha destaque. Mostra-se crescente também a preocupação da população com a saúde e a aparência física individual. A baixa autoestima decorre do que se reflete como negativo, para o indivíduo, quando ele se olha no espelho, o que acaba por se refletir também no seu estado psicológico, resultar em ansiedade, medos etc. Envelhecer é natural e inevitável: ocorre a todos, sem exceção. A satisfação de realizar tratamentos estéticos proporciona melhoria da autoestima e do bem-estar, mudando de forma significativa a relação de cada um com sua aparência, mexendo positivamente com seu estado psicológico e sua forma de ver e viver a vida. 5.2 Corpo, padrões e cultura A definição de imagem corporal representa a construção interna da estrutura corporal e da aparência física em relação a nós mesmos e aos outros. Peso, altura, corpo ideal, padrão de corpo, satisfação corporal e desordem da imagem são alguns componentes dessa construção. Na atualidade, homens e mulheres demonstram maior preocupação e insatisfação com a imagem corporal, modificando seus hábitos e desejos. O processo de imagem corporal também pode ser influenciado por alguns fatores como: idade, sexo, sistema de crenças, influência dos meios de comunicação e da cultura. Quanto mais a mídia expõe corpos belos e exuberantes, maior é a busca por um corpo ideal e mais insatisfeitos os indivíduos se tornam. Na infância, alguns fatores contribuem para que surjam problemas relacionados à imagem corporal da criança. A forma negativa com que algumas crianças se veem; o que ouvem, muitas vezes, da própria família, da mídia, dos amigos sobre serem gordas ou magras, feias ou bonitas condicionam a busca prematura desses indivíduos pelo corpo ideal. Na adolescência, acontecem várias mudanças físicas e psicológicas e as meninas demonstram ser mais insatisfeitas com essas mudanças que os meninos. As meninas apresentam uma tendência a aumentarem o seu 16 percentual de gordura. E os meninos apresentam ganho de massa e de estatura. Essa é uma fase em que episódios de comportamentos compulsivos ocorrem com mais frequência. Quando adultos, esses indivíduos costumam ter de lidar com pressões culturais e valores quase os mesmos: corpo magro para as mulheres e ganho de massa para os homens. Padrões, muitas vezes, inatingíveis, fazendo com que busquem formas não saudáveis de se encaixarem e mesmo assim tornando-se mais insatisfeitos. Já entre os idosos, a busca pelo corpo sarado abre espaço para a insatisfação com a estética facial e a preocupação com os aspectos funcionais do corpo. Fato é que a motivação estética observada em todas as idades é a busca pelo emagrecer, porém as pessoas confundem emagrecer com perder peso. Dietas radicais para emagrecer sofrem efeito rebote: o indivíduo não consegue manter por muito tempo a dieta e acaba recuperando, muitas vezes, seu peso e até o aumentando para além do que havia perdido. Atividade física e hábitos alimentares saudáveis aceleram o metabolismo: ocorre ganho de massa magra, que pode subir o peso na balança, porém reduz medidas, pois massa magra tem menos volume que gordura. A busca pelo padrão de beleza ganha um aliado: a estética. Procedimentos estéticos minimante invasivos, realizados de forma não cirúrgica, com rápida recuperação, apresentam bons resultados e um ótimo custo- benefício. NA PRÁTICA Qual o impacto da autoestima na saúde de um indivíduo? Em que a estética atua na promoção da saúde? Por que o biomédico se destaca na área da estética avançada? FINALIZANDO Ao longo do tempo, a saúde ganhou uma nova perspectiva: os avanços nas áreas humanas e tecnológicas auxiliam a busca de diferentes terapias e tratamentos direcionados à prevenção e promoção da saúde. Esses avanços fazem com que as pessoas mudem seus hábitos e estilos de vida, obtendo vida mais natural e saudável, além da melhora na sua qualidade de vida e autoestima 17 e de um entendimento de que é possível se produzir um envelhecimento físico mais tardio, saudável e esteticamente agradável. Nesse cenário, a biomedicina estética, com a possibilidade de realização de procedimentos não cirúrgicos, ganha destaque e é cada vez mais procurada por todas as classes sociais e gêneros, para correção de assimetrias, de disfunções estéticas, prevenção de envelhecimento precoce, manutenção de boas condições estéticas e, o mais importante, promoção de saúde. Seus procedimentos minimamente invasivos entregam excelentes resultados, com rápida recuperação e ótimo custo-benefício em relação aos procedimentos cirúrgicos invasivos antes tidos como única opção de tratamento estético. 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>.Acesso em: 10 ago. 2021. _____. Lei n. 13.643, de 3 de abril de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, 4 abr. 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/lei/L13643.htm>. Acesso em: 10 ago. 2021. CFBM – Conselho Federal de Biomedicina. Resolução n. 197, de 21 de fevereiro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 22 fev. 2011a. Disponível em: <http://cfbm.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/Res-2011-197.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2021. _____. Resolução n. 198, de 21 de fevereiro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 20 abr. 2011b. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/resolucaocfb198_2011.htm>. Acesso em: 10 ago. 2021. _____. Resolução n. 200, de 1º de julho de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 25 jul. 2011c. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/resolucaocfbm200_2011.htm>. Acesso em: 10 ago. 2021. _____. Resolução n. 214, de 10 de abril de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, 11 abr. 2012. Disponível em: <http://cfbm.gov.br/wp- content/uploads/2016/06/Res-2012-214.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2021. _____. Resolução n. 241, de 29 de maio de 2014. Diário Oficial da União, Brasília, 9 jul. 2014. Disponível em: <http://cfbm.gov.br/wp- content/uploads/2016/06/Res-2014-241.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2021. _____. Resolução n. 330, de 5 de novembro de 2020. Diário Oficial da União, Brasília, 6 nov. 2020. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/- /resolucao-n-330-de-5-de-novembro-de-2020-286734436>. Acesso em: 10 ago. 2021. 19 O QUE significa ter saúde? Saúde Brasil, 7 ago. 2020. Disponível em: <https://saudebrasil.saude.gov.br/eu-quero-me-exercitar-mais/o-que-significa- ter-saude>. Acesso em: 11 ago. 2021. BIOMEDICINA ESTÉTICA AULA 2 Prof.ª Nathaly Tiare Jimenez da Silva Dziadek 2 CONVERSA INICIAL Não há dúvidas de que as mudanças na sociedade culminaram em uma grande transformação na percepção que os indivíduos têm sobre o próprio corpo. A busca do que se julga como corpo ideal ou, ainda, simplesmente, de um aperfeiçoamento da forma física ou de prevenção e/ou manutenção da saúde faz com que a procura por tratamentos estéticos cresça exponencialmente. O Brasil é o terceiro maior mercado da beleza no mundo, movimentando bilhões de reais no segmento. Nesta aula, abordaremos o gerenciamento do envelhecimento e as sete quedas do envelhecimento facial, pelo que observamos que, além de investir em tratamentos para rejuvenescimento, é se importante pensar em prevenção e promoção de efeito estético por sinal de boa saúde. Pele amarelada e sem brilho, manchas marrons e/ou avermelhadas, além da perceptível perda de colágeno que se nota na pele fina e flácida, somados à diminuição da densidade dos ossos faciais, da camada de gordura e do efeito gravitacional, são os responsáveis pelo aspecto de cansaço, perda de harmonia e beleza do contorno da face, pela aparência envelhecida, sem luminosidade e com rugas. Esses danos, percebidos de forma mais precoce devido a irradiações e agressões externas, se mostram justo em locais mais expostos como a face, o pescoço e as mãos. A pele do restante do corpo não está imune por não estar exposta com tanta frequência, mas também sofre os impactos do tempo e da idade. Os sinais do envelhecimento não se tornam perceptíveis para todas as pessoas de forma igual. A idade em que isso ocorre pode variar de acordo com hábitos de vida, fototipo e genética – principalmente os hábitos de vida podem prevenir e retardar os sinais do envelhecimento e das patologias da pele. O aumento da procura, bem como a preferência por tratamentos minimamente invasivos se dá pela entrega de bons resultados. Alguns tratamentos surtem efeito quase que de forma instantânea, natural e duradoura, com fácil e rápida recuperação e não interferem na rotina das pessoas, que não deixam de executar suas atividades diárias por conta do pós-procedimento. Certos procedimentos e associações de várias técnicas hidratam a pele, induzem a síntese de colágeno, devolvem volume, promovem redução de flacidez cutânea, vincos, sulcos e rugas e resgatam o contorno facial perdido. Quando se trata de estética corporal, esses procedimentos conseguem auxiliar 3 na melhora de várias disfunções estéticas como gordura localizada, flacidez de pele e muscular, celulite, estrias, entre tantas outras. TEMA 1 – GERENCIAMENTO DO ENVELHECIMENTO Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o envelhecimento do organismo é algo cronológico, diário e contínuo, que não pode ser parado e que como um todo se relaciona com o fato de as células somáticas do corpo começarem a morrer e não serem substituídas por novas, como acontece na juventude. Isso está ligado, entre outros fenômenos, ao envelhecimento celular. Fisiologicamente, o envelhecimento está associado à perda de tecido fibroso, à taxa mais lenta de renovação celular e à redução da rede vascular e glandular. A função de barreira que mantém a hidratação celular também fica prejudicada [ao se envelhecer]. Dependendo da genética e do estilo de vida, as funções fisiológicas normais da pele podem diminuir em 50% até a meia-idade. Como a pele é o órgão que mais reflete os efeitos da passagem do tempo, sua saúde e sua aparência estão diretamente relacionadas aos hábitos alimentares e ao estilo de vida escolhido. A radiação ultravioleta, o excesso de consumo de álcool, o abuso de tabaco e a poluição ambiental, entre outros, são fatores que “aceleram” o trabalho do relógio biológico provocando o envelhecimento precoce. Além disso, o aumento do peso corporal e dos níveis de açúcar no sangue também colabora[m] para a pele envelhecer antes do tempo. (Envelhecimento, [S.d.]) Podemos classificar o envelhecimento em: Envelhecimento cutâneo intrínseco ou cronológico: é aquele decorrente da passagem do tempo, determinado principalmente por fatores genéticos, estado hormonal e reações metabólicas, como estresse oxidativo. Nele estão presentes os efeitos naturais da gravidade ao longo dos anos, como as linhas de expressão, a diminuição da espessura da pele e o ressecamento cutâneo. [...] Envelhecimento extrínseco da pele: é aquele provocado pela exposição ao sol e a outros fatores ambientais como: o estilo de vida (exercício físico, alimentação) e o estresse fisiológico e físico. Um dos agentes mais importantes é a radiação solar ultravioleta. As toxinas com as quais entramos em contato, como tabaco, álcool e poluição do ar, entre outros, também ajudam no processo de envelhecimento da pele e, dependendo do grau de exposição, podem acelerá-lo [...] (Envelhecimento, [S.d.], grifos do original). Envelhecer é inevitável, mas pode se dar de maneira saudável, minimizando os sinais do tempo e do avanço da idade, sem ocorrer de forma precoce. A ideia é que o principal motivo de um bom efeito estético seja sinal de boa saúde. Então, no que diz respeito a gerenciar esse envelhecimento que irá acontecer de qualquer maneira, deve-se incentivar o indivíduo a manter bons hábitos de vida, sono adequado, boa alimentação, hidratação adequada, não 4 tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas em excesso, praticar atividade física regular, fazer a hidratação e a proteção solar da pele, hábitos recomendados que, em conjunto com procedimentos estéticos indicados, previnem o envelhecimento precoce e atuam retardando esse processo visível. No gerenciamento do envelhecimento no que diz respeito aos procedimentos estéticos, o biomédico esteta deve dominar alguns aspectos como o funcionamento muscular da pele, o impacto do passar dos anos, com a perda de gordura e colágeno, como os tecidos respondem aos tratamentos e intervenções diante de cada produto, a relação da rotina de cada paciente com os resultados obtidos,entre outros elementos, assegurando, dessa forma, menos intervenções futuras e maior satisfação do paciente, a longo prazo. 1.1 As sete quedas do envelhecimento facial Procedimentos estéticos conhecidos como tratamentos de rejuvenescimento nada mais são do que tratamentos de gerenciamento do envelhecimento cutâneo da face. Com o passar dos anos, observamos a perda de volume facial devido à diminuição da produção de ácido hialurônico e de colágeno, à perda de volume dos coxins de gordura da face e à reabsorção óssea, ou seja, ao envelhecimento natural da pele. Esses fatores, somados, provocam uma ptose da face ou derretimento facial, com as chamadas sete quedas do envelhecimento, cujos primeiros sinais são perda de volume das partes moles da face, músculo, gordura e pele, em conjunto com a reabsorção óssea, principalmente na região da maçã do rosto. O gerenciamento do envelhecimento ou a minimização dos seus sinais começa na prevenção e tratamento dessas quedas da face. 5 Figura 1 – Envelhecimento da pele Crédito: Smile Ilustras. A Figura 1 mostra que, com o passar dos anos, ocorre uma mudança nas estruturas e tecidos da face, o que ocasiona, por sua vez, também mudança no seu formato e nos seus contornos. Uma face jovem terá o formato semelhante ao de um triângulo invertido, ao passo que a face envelhecida apresentará um formato semelhante ao de um quadrado. E é esse efeito natural do envelhecimento provoca o que se chama de as sete quedas da face (Figura 2). Figura 2 – As sete quedas da face Crédito: Smile Ilustras. 6 As sete quedas da face consistem em: 1. no complexo frontal, as sobrancelhas caem, abaixo do rebordo orbitário (queda das sobrancelhas); 2. no complexo da pálpebra superior, sobre os cílios, ocorre a queda dos supercílios; 3. no complexo da pálpebra inferior, formam-se olheiras, com queda das pálpebras inferiores; 4. no complexo Bichat, forma-se o sulco nasogeniano, conhecido como bigode chinês; 5. no canto da boca, há queda da comissura labial, bem como afinamento dos lábios, no que é conhecido como linha de marionete, o que deixa um aspecto de sorriso triste; 6. no músculo platisma, há o que é conhecido como efeito Joule, a quebra da linha da mandíbula, chamada de linha da juventude (muitas pessoas confundem essa flacidez com gordura); 7. queda da ponta do nariz. No processo de retardar o envelhecimento, muitos procedimentos podem ser utilizados, com tratamentos que entreguem qualidade, firmeza e sustentação da pele com o efeito de bioestimular a produção de colágeno e a hidratação da pele, que previnam manchas, controlem oleosidade, reponham precocemente o ácido hialurônico e apliquem toxina botulínica, por exemplo. E, o mais importante: esses cuidados devem ser realizados principalmente em casa, no home care, pois isso corresponde a 70% do sucesso do resultado final de um tratamento. TEMA 2 – DISFUNÇÕES ESTÉTICAS As disfunções estéticas são alterações orgânicas de diversas causas. Não patológicas, essas disfunções apresentam apenas efeito estético. Contra isso, procedimentos de estética não cirúrgicos, realizados por profissionais biomédicos estetas, são muito procurados atualmente, com possibilidade de se tratar e sanar as mais diferentes disfunções estéticas de forma minimamente invasiva, com rápida recuperação, com boa relação custo-benefício, o que faz aumentar a procura e, consecutivamente, a demanda por esse tipo de tratamento, que, atualmente, independe de gênero e classe social. 7 Os principais tratamentos para disfunções estéticas e manutenção buscados nos serviços de estética hoje são: • Faciais – rejuvenescimento; combate a flacidez, rugas, linhas de expressão, manchas, melasmas, poros dilatados, cicatrizes de acne, pele acneica, oleosidade excessiva; realização de hidratação e revitalização facial; bioestimulação de colágeno; tratamento de olheiras, telangiectasias; preenchimento facial; correção de assimetrias; rinomodelação; epilação (depilação definitiva); harmonização facial; implantação de fios de sustentação para ptoses faciais, entre outros. Alguns tratamentos, como os de rejuvenescimento e combate a manchas, se estendem a pescoço, colo e mãos. • Corporais – contra gordura localizada, estrias, flacidez, celulite, emagrecimento; epilação (depilação definitiva); remoção de tatuagens; eliminação de hiperidrose; combate a varicoses, entre outros. • Capilares – contra alopecia e queda excessiva de cabelos; combate à oleosidade excessiva no couro cabeludo e da dificuldade de crescimento dos fios; fortalecimento dos fios, entre outros. • Íntimos – clareamento de pele da região íntima; combate à flacidez, entre outros. • Para alta performance – por meio de ativos injetados por via intramuscular, visam à recuperação de atletas após treino de alto rendimento, à obtenção de ganho de massa magra, ao auxílio no emagrecimento, mediante ativação do metabolismo, à definição de regiões já com percentual e prega de gordura ideais, entre outros. Os diversos tratamentos estéticos existentes podem ser divididos em: • Procedimentos invasivos – procedimentos que atingem tecidos mais internos. Ex.: procedimentos cirúrgicos como blefaroplastia, bichectomia, rinoplastia, lipoaspiração. • Procedimentos minimamente invasivos – procedimentos invasivos, mas que atingem no máximo a camada da pele chamada derme, considerados procedimentos não cirúrgicos. Ex.: aplicação de fármacos e substâncias, de forma injetável, contra gordura localizada (intradermoterapia), aplicação de toxina botulínica, preenchimento com ácido hialurônico, uso de laser de alta potência, prática de acupuntura. 8 • Procedimentos não invasivos – procedimentos que não utilizam injetáveis, não perfuram nem invadem as camadas internas da pele. Ex.: massagens, emprego de laser de baixa potência, limpeza de pele, aplicação de cosméticos na pele. O biomédico esteta atua de forma não invasiva e minimamente invasiva, nunca invasiva. TEMA 3 – ANAMNESE Quando um paciente/cliente busca uma clínica de estética para sanar sua queixa em relação a uma disfunção estética, é de extrema importância que o primeiro passo do esteta seja a realização de uma correta anamnese, com uma avaliação detalhada do indivíduo de forma holística, ou seja, como um todo, em que se procure saber de seus hábitos, estilo de vida, fototipo, se ele possui alguma doença crônica ou autoimune, alergias, se faz uso contínuo de medicações e muitas outras informações que servem de base para planejamento de protocolos e tratamentos personalizados, que levem em conta todas as características do paciente. Essa análise, se correta, é responsável por uma maior chance de sucesso de um tratamento. Outro ponto é que, se no momento dessa avaliação, for identificada uma possível patologia ou desequilíbrio, é indicado que um tratamento médico ocorra antes do tratamento estético. Sendo assim, o profissional deve orientar o paciente a procurar a assistência médica correspondente ao caso. Essa atitude previne que seja agravado o problema de saúde do paciente e também otimiza o tratamento estético para que não se realize de forma a não resolver a queixa do paciente/cliente. Em resumo, a anamnese, também conhecida como avaliação ou consulta estética, esse primeiro passo do esteta ao receber um paciente, consiste, portanto, de uma coleta do histórico mais detalhado possível do paciente, com busca de informações sobre seus hábitos diários de vida, antecedentes patológicos, psicológicos e hereditários, bem como se houve realização prévia de procedimentos estéticos por parte dele. Como já dito, uma avaliação bem- feita garante maiores chances de sucesso no tratamento, pois se obtém com ela um diagnóstico estético que facilita a indicação do tratamento mais indicado para cada paciente e evita malefíciosde uma má recomendação. A anamnese deve contemplar: 9 • Identificação: coleta de dados pessoais do paciente como nome, endereço, telefone, idade, sexo, raça e profissão. • Primeiro diagnóstico: busca-se saber a queixa principal ou o que levou o paciente à consulta. • História clínica: procura-se identificar se há presença de patologias endócrino-metabólicas ou cardíacas como diabetes, hipertensão arterial, neoplasias, hipertireoidismo, asma brônquica, alterações renais, hemofilia, se há uso de marca-passo, de medicações, se houve realização de algum procedimento cirúrgico, se a paciente está gestante etc. • Pesquisa do quadro: o esteta deve saber se há presença de ecmoses ou outras afecções cutâneas, alergias a algum componente de uso sistêmico ou tópico, intolerâncias alimentares; existência de queloides ou distúrbios de cicatrização; descobrir sobre hábitos de vida do paciente – consumo de bebidas, cigarros e drogas, qualidade e quantidade de sono, prática de atividade física, ingesta diária de líquidos; manifestação de sintomas de estresse e ansiedade; realização de dieta alimentar restritiva; uso de hormônios, contraceptivos orais ou suplementação alimentar. • Pesquisa do histórico de cuidados gerais do paciente com a face (skincare): tem o fim de saber se o paciente tem hábitos diários de cuidados gerais com a pele, os tipos de produtos que utiliza para limpeza, higienização, tonificação e hidratação da pele, se se expõe de forma descuidada ao sol, o número de vezes que higieniza a pele por dia, se faz uso de filtro solar, maquiagem etc. • Levantamento do histórico de realização de tratamentos estéticos: busca- se conhecer os tipos de tratamento já feitos, quais produtos foram utilizados, em que duração, com que objetivos e os resultados obtidos; e se o paciente já fez uso de produtos para manutenção em casa (home care). Faz parte também da anamnese o exame físico do paciente. O exame físico da pele da face é feito mediante inspeção, em que se verifica a presença de manchas, sardas, verrugas, poros dilatados, oleosidade, ressecamento, entre outros aspectos gerais; palpação e classificação da pele por tipologia, fototipo e fotoenvelhecimento. 10 Para a classificação de fototipo cutâneo existem várias técnicas. A mais utilizada, por ser mais simples e prática, é a classificação de Fitzpatrick, em que se enumeram de 1 a 6 os tipos de pele, de acordo com a [...] capacidade de cada pessoa em se bronzear, assim como, sensibilidade e vermelhidão quando exposta ao sol, sendo: 1. Pele branca – sempre queima – nunca bronzeia – muito sensível ao sol; 2. Pele branca – sempre queima – bronzeia muito pouco – sensível ao sol; 3. Pele morena clara – queima (moderadamente) – bronzeia (moderadamente) – sensibilidade normal ao sol; 4. Pele morena moderada – queima (pouco) – sempre bronzeia – sensibilidade normal ao Sol; 5. Pele morena escura – queima (raramente) – sempre bronzeia – pouco sensível ao sol; 6. Pele negra – nunca queima – totalmente pigmentada – insensível ao sol. (Classificação, [S.d.]) Quadro 1 – Classificação de Fitzpatrick Fonte: Elaborado com base em Classificação, [S.d.]. Nas anamneses corporais, também no exame físico se faz uma inspeção e, se necessário, apalpação, aferimento de pressão arterial e temperatura, quando se aplica uma dosagem rápida de glicemia por meio de glicosímetro, bem como tomada de medidas como peso, índice de massa corporal (IMC), pregas cutâneas, grau de celulite, além de observação de aparente retenção hídrica e circulação sanguínea, principalmente a dos membros inferiores, entre outros elementos. No momento da avaliação, o profissional biomédico pode julgar necessário ainda solicitar a realização de exames para elucidar algo relacionado à tomada de decisão no planejamento do tratamento estético. A anamnese não é algo padronizado. O profissional pode criar um modelo de acordo com sua rotina, necessidade de informações, tipo de intervenção, entre outros aspectos. Porém, é importante que ela seja o mais detalhada possível, pois o bom resultado dos procedimentos estéticos começa numa 11 correta avaliação, em que será possível traçar o melhor plano de tratamento, feito de forma personalizada, levando em consideração as características individuais fisiológicas de cada paciente. A anamnese garante que o planejamento do tratamento a ser seguido pelo paciente seja, portanto, individualizado, e é isso que se deve buscar e incentivar nos atendimentos de estética: a não padronização dos procedimentos, pois cada organismo é único, com características fisiológicas diferentes, que irão responder de forma variável e diferente aos tratamentos estéticos propostos. A maior propaganda, em se tratando da estética, é o alto grau de satisfação do cliente, é o profissional ser conhecido pelo serviço de excelência que presta, e isso inclui procedimentos que geram resultado, sem infra ou suprautilização dos tratamentos. E o primeiro passo para se alcançar isso é dado quando se traça um protocolo personalizado, com maiores chances de sucesso no resultado. TEMA 4 – TRATAMENTOS ESTÉTICOS FACIAIS MINIMAMENTE INVASIVOS Considerada o maior órgão sensorial humano, a pele constitui o revestimento de toda a superfície do corpo humano, responsável pela proteção contra agressões biológicas, químicas e físicas, formando uma barreira de regulação e defesa. O envelhecimento cutâneo ocorre por intermédio de um processo multifatorial e complexo que tem por consequência alterações funcionais e estéticas. Com a perda de funções ao longo do tempo, a pele diminui sua capacidade de reagir às agressões sofridas intrínseca e extrinsecamente. A pele é composta por três camadas principais, epiderme, derme e hipoderme, cada uma delas composta, por sua vez, por subcamadas, que exercem diferentes funções. O envelhecer varia entre os indivíduos, dependendo dos hábitos e da etnia de cada um. A expectativa de vida aumentou ao longo dos anos, e uma aparência saudável reflete qualidade de vida. O brilho, a rigidez, a coloração da pele são fatores que chamam a atenção quando analisamos a qualidade e o seu nível de envelhecimento, além de serem fatores importantes para o indivíduo e a sociedade. 12 Crédito: Nora Bessarab/Shutterstock. Com a perda de elasticidade, colágeno, gordura tecidual e hidratação, a pele reflete um aspecto mais pálido, seco e fino, contribuindo para o aparecimento de rugas e linhas de expressão. O processo de envelhecimento leva a mudanças na estrutura facial, o que chamamos de triângulo invertido, em que se evidencia o terço inferior médio do rosto, contribuindo para a perda do contorno facial. Uma face mais simétrica entre as bochechas altas, com contorno harmônico e marcado, nos leva a considerar uma face mais atrativa que outra. Assim, a busca pela juventude e pela beleza ganha destaque entre ambos os sexos, e a realização de pesquisas científicas que procuram a prevenção do envelhecimento e o desenvolvimento de cosméticos que contribuam significativamente para retardar esse processo cresce a cada dia. Tratamentos a fim de minimizar os efeitos do envelhecimento facial cutâneo são considerados procedimentos minimamente invasivos, ou seja, procedimentos invasivos não cirúrgicos, que envolvem: • peeling químico; • microagulhamento; • intradermoterapia; • toxina botulínica tipo A; • preenchimento; • bioestimuladores de colágeno; • fios de sustentação; • carboxiterapia facial (contra flacidez, para rejuvenescimento); 13 • ozonoterapia facial (contra flacidez, para rejuvenescimento); • eletroterapia (contra flacidez, para rejuvenescimento); • laser. Como forma de melhorar as estruturas da face e atenuar o processo de envelhecimento, faz-se necessário profundo conhecimento anatômico da face e seusossos, musculatura, vascularização, estruturas definidas da pele e suas camadas, além da inervação motora e drenagem linfática facial. Técnicas como preenchimento e toxina botulínica contribuíram para o desenvolvimento de novas técnicas, com melhor resultado e menos intercorrências. TEMA 5 – TRATAMENTOS ESTÉTICOS CORPORAIS MINIMAMENTE INVASIVOS A busca pela beleza sempre existiu e, com o passar do tempo, os padrões estéticos foram modificados. Assim que um novo padrão surge, a estética e a noção de beleza vão mudando, para acompanhar o tempo histórico e contribuir para o surgimento de novos cosméticos, tratamentos estéticos e tecnologias. A construção da imagem corporal depende de alguns fatores como: concepções sociais, culturais, psicológicas e fisiológicas. Comumente associada a emoções, formas de interação social e influenciada pela qualidade de vida, a imagem corporal representa como cada indivíduo se imagina, de forma negativa ou positiva. Nos últimos tempos, a imagem corporal alçou um elevado nível de destaque socioeconômico, tecnológico e cultural, relacionada, quando de forma positiva, à autopercepção e à satisfação do indivíduo para consigo e, já de forma negativa, à não aceitação da própria imagem, muitas vezes sob influência dos padrões midiáticos, levando à busca por um padrão corporal predeterminado. Podemos dizer que os tratamentos estéticos oferecem, de certa forma, uma possibilidade de prevenção de patologias ou retardamento do envelhecimento. Em constante desenvolvimento, a área da estética inova sempre seus procedimentos, com uso de aparelhos novos para melhorar os seus tratamentos. Por isso, é necessário que o profissional dessa área esteja sempre atualizado e acompanhe a evolução do mercado. O biomédico esteta realiza procedimentos estéticos minimamente invasivos no corpo a fim de melhorar sua flacidez e combater gordura localizada, celulite, estrias, entre outros objetivos. Tratamentos realizados para minimizar as 14 disfunções corporais são considerados procedimentos minimamente invasivos, ou seja, procedimentos invasivos não cirúrgicos, tais como: • peeling químico; • microagulhamento; • intradermoterapia; • bioestimuladores de colágeno; • hidrolipoclasia; • carboxiterapia corporal; • ozonoterapia corporal; • eletroterapia; • laser; • escleroterapia. Causas das disfunções estéticas como envelhecimento cronológico, mudanças nas dimensões do corpo, perda de peso e gravidez geram depósito de gordura localizada, celulite e frouxidão tecidual, as queixas mais comuns nas clínicas de estética, que consistem em disfunções que podem causar problemas emocionais e funcionais, abalando a autoestima, o convívio social do indivíduo, com impacto negativo na sua qualidade de vida. O biomédico esteta tem a capacidade de analisar o indivíduo em sua totalidade para identificar se existe alguma distorção em relação à sua imagem corporal. Nesses casos, o profissional deve esclarecer o paciente sobre resultados inatingíveis e selecionar o tratamento adequado para suavizar a sua queixa principal, contribuindo para a melhoria de sua autoestima, bem-estar, qualidade de vida e visando a um processo de evolução de valor na percepção da própria imagem corporal. NA PRÁTICA Qual a importância do gerenciamento do envelhecimento? Por que realizar anamnese? O que seria um tratamento minimamente invasivo? 15 FINALIZANDO O mercado da estética cresce significativamente, procurado e utilizado por todas as classes sociais, com avanços nas suas técnicas, produtos, substâncias, ativos, associação de tratamentos, o que possibilita a atuação de profissionais da área de diversas formas, como em tratamentos faciais, corporais, capilares e de disfunções estéticas, auxiliando na melhoria das condições de saúde do paciente, pois se atua no incentivo à adoção de bons hábitos e estilo de vida, ao aperfeiçoamento e manutenção da saúde e da beleza estética. Entender do funcionamento do corpo humano, com todos os seus complexos sistemas, interações, de como os tecidos respondem a inflamações e intervenções permite que o biomédico esteta atue no mercado da estética avançada e nele se destaque, ao conseguir traçar planos de tratamento pensando e raciocinando de forma a colaborar com a anatomia e a fisiologia do corpo humano, prevenindo futuras disfunções estéticas, bem como se utilizando de inflamações controladas e intervenções a seu favor, para alcançar o efeito estético desejado. 16 REFERÊNCIAS CLASSIFICAÇÃO dos fototipos de pele. SBD, [S.d.]. Disponível em: <https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/cuidados/classificacao-dos-fototipos- de-pele/>. Acesso em: 4 set. 2021. ENVELHECIMENTO. SBD, [S.d.]. Disponível em: <https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e- problemas/envelhecimento/4>. Acesso em: 4 set. 2021. BIOMEDICINA ESTÉTICA AULA 3 Profª Nathaly Tiare Jimenez da Silva Dziadek 2 CONVERSA INICIAL Mudanças físicas e psicológicas são os primeiros efeitos do envelhecimento por volta dos 30 anos. A procura pela estética e diversas técnicas capazes de tratar e prevenir o envelhecimento por meio do cuidado facial, corporal e capilar agrada homens e mulheres. Cuidados com a pele do rosto, hidratação, renovação, tratamentos para amenizar o envelhecimento precoce, manchas e rugas, bem como disfunções estéticas corporais e capilares, como gordura localizada, flacidez, celulite, estrias, calvície, queda capilar excessiva, ou a eliminação definitiva de pelos, melhoram não somente a beleza, mas também a autoestima, proporcionando benefícios na forma física e psicológica na maneira como cada pessoa se vê, após o tratamento. TEMA 1 – ESTÉTICA CAPILAR Qualquer ameaça de perda ou dano aos cabelos gera na maioria das pessoas preocupação e abalo na autoestima, justamente por se tratar de um componente fundamental de identidade pessoal. Por isso, cada vez mais a saúde e a estética se voltam para uma ciência conhecida como tricologia. A tricologia, cujo nome vem da junção do termo grego thricos (cabelos) e logos (estudo), é o ramo da ciência que teve início em 1902 com o propósito de estudar cabelos, pelos e os problemas relacionados a eles. A estética relacionada aos cabelos é muito procurada, a queda capilar, calvície e afinamento dos fios afetam a autoestima de homens e mulheres. Os tratamentos estéticos capilares são uma opção com muito resultado antes do transplante capilar, cabe aqui ressaltar que em alguns casos é realmente necessário o transplante e se faz necessária a manutenção com os tratamentos estéticos. Os tratamentos capilares são indicados para: • Retardar a queda; • Restaurar e aumentar a microcirculação local e retardar o processo programado de involução folicular; • Controlar o pH e oleosidade do couro cabeludo, que muitas vezes é o agente causador de maior perda dos fios, visto que o folículo fica “obstruído” pelo sebo e o fio tem dificuldade de sair e se manter preso; • Fortalecer os fios; 3 • Acelerar o crescimento dos fios; • Estimular folículos que estão deficientes, para otimizar o seu funcionamento. Os tratamentos mais utilizados são: • Aplicação de medicamentos de forma intradérmica, por meio de pápulas no couro cabeludo, como vitaminas, minerais, ativos que estimulem o crescimento dos cabelos e medicamentos específicos para o tratamento da alopecia. As substâncias têm o objetivo de acelerar a fase anágena (crescimento) e diminuir a fase telógena (queda) do ciclo de crescimento dos cabelos. Exemplo de substâncias aplicadas (varia de acordo com a necessidade do paciente): finasterida, minoxidil, pantenol, biotina, silício orgânico, N acetil cisteina, entre outras. • Microagulhamento e drug delivery. Neste procedimento, enquanto o courocabeludo é microagulhado com agulha de no máximo 1,5 mm, os ativos são entregues ao mesmo tempo, ou pode ser microagulhado antes e posteriormente espalhando os ativos. Esta técnica permite o estímulo da microcirculação, regeneração celular devido à injúria do agulhamento e a entrega eficiente dos ativos de forma mais profunda e concentrada. • Infusão de gás carbônico terapêutico para melhora da circulação e oxigenação da região por meio da carboxiterapia. • Infusão de ozônio terapêutico para melhora da circulação e oxigenação da região por meio da ozonioterapia. • Uso de LEDs, o tratamento a laser é umas das técnicas utilizadas na tricologia e que de acordo com estudos inibe a absorção de D.H.T. (dihidrotestosterona) e o desvia para a circulação linfática. A dihidrotestosterona é a responsável pela perda da capacidade dos folículos de produzirem novos fios. A aplicação de laser provoca a bioestimulação das células, o que acarreta alterações bioquímicas dentro delas, aumentando a sua capacidade de produzir novos fios. Aumenta também a produção de ATP (adenosina trifosfato) e síntese de proteínas. • Nutracêuticos e dermocosméticos em forma de tônico capilar e demais soluções, entre outros. Como forma de potencializar os resultados, 4 fornecendo por meio da ingesta e, de forma local, “matéria-prima”, para as reações metabólicas necessárias. Os tratamentos estéticos são indicados também em caso de transplante capilar, pois é necessária uma manutenção das condições ideais do couro cabeludo para permanência do efeito. Nos tratamentos capilares é necessária a devida avaliação do paciente, para melhor resultado no tratamento, muitas vezes as causas da perda de fios estão relacionadas à condição genética, desequilíbrios hormonais, carência de vitaminas, stress e outros, sendo coerente o descarte destas condições antes do tratamento para um resultado efetivamente positivo. TEMA 2 – PEELING Com o desenvolvimento e pesquisas realizadas os peelings já existentes ganham novas formulações e associações, a fim de obter melhores resultados de forma menos agressiva. Considerados uma descamação controlada, os peelings são ótimos no tratamento contra algumas doenças e na abordagem da estética, como: manchas, cicatrizes, rugas e estrias na face e no corpo. Originado do termo em inglês to peel = descamar, pelar, é capaz de provocar a descamação da epiderme em partes ou em sua totalidade, podendo alcançar a derme por meio de um agente químico, levar esfoliação com remoção de lesões seguida pela regeneração de novos tecidos. Os peelings químicos são utilizados há mais de um século e continuam sendo, pela praticidade, baixo custo e agressão controlada. 2.1 Histórico Em 1550 a.C. já havia relatos dos peelings em papiro na medicina Egípcia, assim como a literatura Grega e Romana. Ciganos nos séculos passados transmitiram seus conhecimentos sobre peeling, mas em 1874, em Viena, o dermatologista Ferdinand Von Hebra utilizou da técnica em tratamento para melasma, efélides e doença de Addison. Em 1882, Paul G. Unna, em Hamburgo, descreveu as ações da resorcina, ácido salicílico, fenol e ácido tricloroacético (ATA) sobre a pele. Eller e Wolff apresentam a discrição sistemática sobra a utilização do ácido salicílico, resorcina e fenol. Na década de 1970, três concentrações do ATA chamam atenção nas bases científicas. Van Scott e Yu 5 desenvolvem os alfa-hidroxiácidos (AHA) com objetivo mais superficial. Brody e Hailey, e posteriormente Monheit, desenvolveram peeling com ácido glicólico, uma combinação de duas substâncias a fim de obter efeitos em profundidade média, contribuindo para o progresso no uso dos peelings. 2.2 Critérios Na escolha de qual será o melhor peeling indicado para cada paciente faz-se necessário avaliar a idade, o grau de fotoenvelhecimento, o fototipo, a área a ser tratada, o objetivo a ser alcançado e a rotina de cada paciente, por meio de anamnese. Sua absorção depende de fatores como: espessura epidérmica, fototipo, procedimentos anteriores recentes, uso de isotretinoína, além do preparo prévio. 2.3 Classificação Sua classificação é feita por meio da profundidade que o peeling atua, mudando o percentual de cada substância aplicada e suas combinações. Características físico-químicas, volume, concentração e tempo de exposição determinam o agente químico. São classificados em: • Muito superficiais: removem o extrato córneo; • Superficiais: esfoliação epidérmica da camada granulosa até a basal. Os peelings muito superficiais e os superficiais por atingirem somente a epiderme apresentam melhores resultados quando aplicados de forma seriada entre intervalos curtos. De forma fina e discreta a descamação não traz desconforto, melhora a textura da pele, estimulando a renovação do colágeno. Indicado para suavizar manchas, atenuar rugas finas, ajuda no tratamento de acne e estrias. • Médio: atinge a derme papilar. Com descamação mais espessa e escura, leva entre 7 a 15 dias o retorno da pele nova. Indicado para rugas mais profundas e ceratoses. • Profundo: atinge a derme reticular média. Mais agressivo e forte, o peeling profundo provoca a formação de crostas espessas. Tem recuperação em até três meses e pode haver a necessidade do uso de curativos no pós- peeling. Apresenta resultados significativos para rugas profundas. 6 2.4 Preparo É importante saber a rotina de atividade profissional do paciente, tempo disponível, pessoas com histórico de antecedentes de herpes devem fazer uso profiláctico de antivirais, tendência para queloide, sensibilidade à hiperpigmentação tardia, uso de isotretinoína nos últimos seis meses, exposição ao Sol. Cuidados com o Sol são fundamentais mesmo antes do início do tratamento, o uso de protetor solar com alto fator de proteção e fator hidratante contribui para uma melhor recuperação. Deve-se informar sobre o produto aplicado, cuidados e benefícios esperados. Esses fatores estão ligados diretamente com a efetividade do tratamento. Iniciar o preparo prévio duas semanas antes do procedimento contribui para uma cicatrização mais rápida, uma melhor penetração do agente químico e diminui o risco de hiperpigmentação pós-tardia. Peelings superficiais não necessitam de preparo prévio. 2.5 Cuidados durante a aplicação Evitar aplicar em pele irritada, inflama ou eritematosa. Ficar atento aos sinais visuais como branqueamento (frosting), eritema (ajuda a verificar o grau de profundidade e penetração alcançado pela substância), e avaliar em uma escala de sensibilidade entre 1 a 10. Ter sempre à mão produtos neutralizantes do agente químico em uso. 2.6 Complicações As complicações mais comuns são: hiperpigmentação pós-inflamatória, hipopigmentação (pode ser persistente e de difícil tratamento), infecções bacterianas, virais, fúngicas, cicatrizes são mais frequentes após peelings médios ou profundos. Uma avaliação bem-feita, escolha correta do agente químico, preparo adequado, assim como cuidados pós-tratamento, contribuem de forma significativa para a prevenção de possíveis complicações e um excelente resultado. 7 TEMA 3 – MICROAGULHAMENTO A pele desempenha um importante papel no ponto de vista estético e sensorial, a busca por uma aparência mais saudável, revigorada, menos envelhecida, aumenta a procura por tratamentos estéticos. Uma das causas das rugas é o fotoenvelhecimento, diminuição das fibras elásticas e de colágeno, pouca oxigenação dos tecidos e desidratação. Considerado um tratamento coringa por tratar uma grande variedade de disfunções estéticas da pele, o microagulhamento pode ser utilizado para tratamentos faciais (rugas, manchas, cicatriz de acne e rejuvenescimento), tratamentos corporais (estrias, lipodistrofia ginoide e cicatrizes) e tratamentos capilares (queda capilar, alopecia, calvície,fortalecimento e auxílio no crescimento dos fios). 3.1 Histórico Na década de 1960, na França, surgiu uma técnica conhecida como Nappage, caracterizada por pequenas incisões na pele para a administração de fármacos, cujo objetivo era o rejuvenescimento facial. Orentreich, em 1995, defendeu a técnica de subcisão para tratamentos das rugas periorais. Em 2006, Fernandes elaborou a técnica para indução de colágeno, por meio de um rolo com agulhas de aço com o objetivo de melhorar rugas finas e cicatrizes de acne. O microagulhamento induz a produção de colágeno na pele, por meio de um estímulo mecânico. Feito de polietileno, o rolo é composto por microagulhas de aço inoxidável e estéreis posicionadas em fileiras, totalizando entre 192 e 540 unidades de agulhas no total. Seu comprimento varia de 0,25 mm a 2,5 mm de diâmetro. Por meio das perfurações cutâneas ocorre um processo inflamatório com finalidade de estimular a produção de colágeno, liberando fatores de crescimento, proliferação de células de fibroblastos e estimulando a síntese das proteínas de sustentação, melhorando a textura, coloração e brilho das peles envelhecidas. 3.2 Técnica e forma de ação A técnica consiste em passar o rolo entre 15 e 20 vezes nos sentidos, horizontal, vertical e diagonal, resultando em hiperemia no local até um leve sangramento espontâneo e controlado. Realizado com anestésico local, leva 8 entre 40 minutos a uma hora e meia o procedimento como um todo. Seu mecanismo de ação é dividido em três etapas: indução percutânea de colágeno, cicatrização e maturação. • Indução percutânea de colágeno: perda da barreira cutânea, degradação dos queratinócitos liberando citocinas, interleucinas. As citocinas promovem uma vasodilatação dérmica além da migração dos queratinócitos para restauração do dano epidérmico. • Cicatrização: proliferação celular, troca de neutrófilos por monócitos, proliferação de fibroblastos, produção de colágeno tipo III, elastina, glicosaminoglicanos e proteoglicanos. Liberação de fatores de crescimento dos fibroblastos, em cinco dias ocorre o depósito de colágeno abaixo da camada basal da epiderme. • Maturação: uma lenta substituição do colágeno tipo III pelo colágeno tipo I mais duradouro. O tecido é regenerado, refletindo na melhora da aparência da pele. O microagulhamento é potencializado com a permeação de ativos, os microcanais facilitam sua absorção de forma eficaz e rápida, permitindo o transporte de moléculas até 80% maiores. Com isso, podemos afirmar que a ação conjunta do microagulhamento a ativos cosméticos potencializa seus resultados. 3.3 Indicações Os diferentes níveis de agulhas promovem processos de injúria tecidual diferentes dentro das indicações necessárias de cada paciente, são elas: • Agulhas de 0,25 a 0,50 mm: injúria leve (rugas finas e brilho excessivo); • Agulhas de 1,0 a 1,5 mm: injúria moderada (envelhecimento, rugas médias, flacidez cutânea, capilar, manchas e melasmas); • Agulhas de 2,0 a 2,5 mm: injúria profunda (estrias e cicatrizes de acne). Apresenta efetividades em tratamentos contra o melasma (disfunção hipercrômica) e envelhecimento, associado ao uso de ativos cosméticos e peelings. A técnica de microagulhamento se mostra eficaz em diversos tratamentos estéticos só estimulando colágeno ou agregando a permeação de ativos, além 9 de ser de fácil associação com outros protocolos, podendo tratar disfunções faciais e/ou corporais sempre em forma de otimizar seus resultados. Vale salientar que deve ser realizado por um profissional habilitado e todo material, como agulhas, deve ser estéril e descartado após seu uso, além do ativo cosmético utilizado em associação ser estéril, dose única, quando há sobra também deve ser descartado. TEMA 4 – INTRADERMOTERAPIA/MESOTERAPIA A intradermoterapia é um excelente complemento para outros procedimentos não cirúrgicos. Atualmente, técnicas minimamente invasivas com objetivo de atenuar os efeitos do envelhecimento cutâneo ganham cada vez mais espaço na estética. Utilizada na maior parte das vezes para tratamentos faciais, a intradermoterapia pode ser utilizada também na estética facial, corporal e capilar. 4.1 Histórico O Dr. Michel Pistor, francês que desenvolveu em 1952 a mesoterapia para tratamentos da dor e de desordens vasculares, fundou em 1964 a French Society of Mesotherapy. Pistor, em 1976, utilizava de uma técnica com injeções intradérmicas de procaína no mastoide para tratamento de surdez, em que ele resumia com uma frase: “Pouco, poucas vezes e no local adequado”. Em 1987, The French Nacional Academy of Medicine reconheceu oficialmente a mesoterapia como uma especialidade médica, estendendo para o uso cosmético e veterinário, tornando-se popular na Europa, Estados Unidos, América do Sul e na Ásia. Em 1993 houve o início da Sociedade Brasileira de Mesoterapia e em 2000 tivemos os primeiros trabalhos indexados. Um método não cirúrgico, minimamente invasivo, procedimento que consiste na aplicação de múltiplas injeções intradérmicas diretamente na região a ser tratada, difunde pela microcirculação procedendo pela ativação dos receptores dérmicos com substâncias farmacológicas em um percentual apropriado para cada tratamento. Uma alternativa para o paciente que não deseja ou não quer submeter-se a procedimento cirúrgico estético. Por exemplo: • Flacidez: melhora o tecido conjuntivo ao utilizar ativos que estimulam a contração dos músculos e melhora a sustentação da pele; promove o 10 rejuvenescimento facial por meio de intensa hidratação e reconstrução das fibras de colágeno; • Gordura localizada: enzimas lipolíticas destroem a célula de gordura e melhoram a circulação sanguínea local superficial e profunda; • Estrias: promove ação pró-inflamatória e anti-inflamatória por meio do estímulo da cicatrização e do recrutamento de fibroblastos. Por meio de substâncias ativas adequadas, estimula a reconstrução do tecido afetado; • Celulite: melhora a microcirculação e drenagem da área edemaciada; aumenta a espessura dérmica; trata o tecido adiposo envolvido no processo de formação da celulite; • Alopecia: restaura e aumenta a microcirculação local, fornece insumo, nutrientes e retarda o processo programado de involução folicular. A intradermoterapia possibilita a combinação de diversas técnicas no tratamento para flacidez, rejuvenescimento, manchas, gordura localizada, estrias, celulite, alopecia e outras desordens estéticas. Além de ser um procedimento rápido, seguro e com bons resultados, é mais acessível financeiramente do que cirurgias. 4.2 Técnica de aplicação • Pápula: intradérmica superficial, na junção entre a epiderme e a derme; com o bisel para cima. Pápula pálida, claramente delimitada aparece no momento da injeção e desaparece nos próximos 30 minutos. Mais utilizada para tratamentos de rugas e imunoestimulação facial. • Nappage: intradérmica superficial, agulha num ângulo de 30° a 60°, aplicado na epiderme, tem contato de 3 a 5 minutos até sua penetração total. • Ponto a ponto: injeção intradérmica profunda ou hipodérmica, injeções separadas entre 4 a 15 mm, mais utilizada em tratamentos para gordura localizada e celulite. 11 Figura 1 – Técnicas de aplicação Créditos: VectorMine/Shutterstock. 4.3 Efeitos adversos • Eritema leve; • Hematomas pequenos; • Possibilidade de reações alérgicas; • Leve sensação de coceira, queimação; • Não apropriado para envelhecimento severo. 4.4 Contraindicações • Alergia a algum ativo da fórmula; • Cicatrização hipertrófica; • Gravidez, amamentação; • Diabetes; • Epilepsia; • Infecções bacterianas; • Herpes; • Doenças inflamatórias na pele; • Procedimentos estéticos recentes (preenchimento, toxina botulínica). A substância ativa utilizada, a técnica aplicada em associação e aescolha adequada da via de administração de acordo com o perfil de tratamento apresentam um resultado melhor e mais duradouro. 12 TEMA 5 – TOXINA BOTULÍNICA Atualmente existe um cenário mais competitivo pela beleza e juventude no mundo contemporâneo, a aparência reflete diretamente no bem-estar e social do indivíduo. Levando cada vez mais a uma busca por procedimentos estéticos não cirúrgicos ou minimamente invasivos, a fim de melhorar sua aparência em frente ao espelho. A toxina botulínica do tipo A (TBA) ganha destaque, pois é um dos métodos mais acessíveis e menos invasivos mundialmente, utilizada como processo de rejuvenescimento facial com objetivo de diminuir e prevenir o aparecimento das rugas. Com o decorrer dos anos, o envelhecimento facial torna-se aparente, ocasionado por fatores intrínsecos (passagem do tempo, perda de colágeno e água, levando às rugas estáticas) ou extrínsecos (fatores externos: raios solares, drogas, poluição, tabagismo, estresse, alimentação desequilibrada, entre outros). As rugas dinâmicas originam da contração intensa dos músculos faciais. 5.1 Histórico Descoberta no final do século XVIII, por meio de relatos de envenenamento alimentar na Alemanha com sintomas de paralisia muscular progressiva, despertou o interesse dos pesquisadores o uso terapêutico da toxina botulínica. No início dos anos 1970, Alan B. Scott (oftalmologista, EUA) observou em pacientes com estrabismo uma melhora nas linhas orbiculares após aplicação de TBA. Na mesma época, um casal que utilizava da técnica para tratar blefaroespasmos observou o mesmo resultado. Após a comprovação dos estudos, a toxina botulínica tipo A foi aprovada como medicamento seguro e eficaz pelo Food and Drug Administration (FDA), nos anos 1990 para uso em estrabismo, espasmos faciais e blefaroespasmo. Com o passar dos anos, ganhou espaço na estética e, em 2003, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) aprovou para uso clínico. TBA é pioneira em tratamentos não invasivos para o envelhecimento, atenuando e prevenindo as rugas de expressão. Hoje, é um dos procedimentos não cirúrgicos mais realizados no Brasil e Estados Unidos. 13 5.2 Toxina botulínica tipo A (TBA) A toxina botulínica é uma potente neurotoxina, produzida por uma bactéria anaeróbica, bacilo gram-positivo, esporulada, encontrada no solo, em alimentos doces, salgados e na água, sendo conhecida como Clostridium botulinum. Essa bactéria é capaz de ocasionar paralisia muscular associada à intoxicação alimentar. Por meio do processo de fermentação, ela é capaz de produzir sete diferentes tipos de toxinas (A, B, C, D, E, F e G), sua forma usualmente utilizada pela estética e aplicações terapêuticas é o sorotipo A, decorrente de sua potência e efeito prolongado. 5.3 Mecanismo de ação Com diferentes sítios de ação no receptor, a toxina botulínica atua diretamente na placa das terminações nervosas, paralisando-as e impedindo que a acetilcolina seja liberada. Dentro do organismo humano ela apresentará duas ações distintas, entretanto complementares. Liga-se aos receptores terminais encontrados no nervo motor, bloqueando a condução neuromuscular, e entra nos terminais nervosos inibindo a liberação da acetilcolina. Quando injetada via intramuscular no local desejado, o resultado inicia após a ligação da TBA aos receptores do nervo motor, produzindo uma paralisia muscular localizada decorrente de uma degeneração química temporária. Essa degeneração atrofia o músculo, que posteriormente desenvolve novos receptores extrafuncionais para reverter a liberação de acetilcolina. Após 3 a 4 meses, a paralização é revertida pelos terminais nervosos, voltando a funcionar novamente. Como não tem a capacidade de atingir o Sistema Nervoso Central (SNC), não há bloqueio na liberação da acetilcolina em qualquer outro transmissor no SNC, pois a TBA não atinge em situações normais a barreira hematoencefálica. 14 Figura 2 – Mecanismo de ação Créditos: Daria Subkhangulova/Shutterstock. 5.4 Na estética Como forma de amenizar as alterações estéticas provocadas pelo envelhecimento na pele: rugas, elasticidade e tônus. A toxina botulínica tipo A é muito utilizada em procedimentos estéticos, apresentando resultados satisfatórios e benéficos como sorriso gengival, atenuação de rugas e paralisia facial. Apresentada em forma liofilizada em albumina, cristalina e em um frasco estéril, injetada via intramuscular no local desejado, ocorre a paralisação temporária do músculo e após um período de quatro meses ou mais as novas placas formadas voltam às atividades normais. A duração varia de indivíduo para indivíduo, alguns pesquisadores defendem que a durabilidade diminui devido à resistência à TBA decorrentes das aplicações repetidas. Diversos estudos apontam uma diminuição significativa nas linhas de expressão. Um estudo apresentou como forma de tratamento aplicações realizadas ao longo de cinco anos com intervalos de oito meses entre as sessões, confirmando que a toxina botulínica A contribuiu para a diminuição das rugas dinâmicas e estáticas. Além de sua aplicação estética, a TBA também é muito procurada na área médica/terapêutica para diversos tratamentos, contribuindo na melhoria da qualidade de vida. 15 5.5 Indicações na estética A contração dos músculos da face contribui para a formação das rugas e vincos, evidenciando o envelhecimento e as marcações como os sulcos, contribuindo para uma aparência mais marcada. A paralisia por meio da toxina botulínica tipo A diminui ou até elimina a contração muscular, favorecendo a redução das rugas e suas depressões dinâmicas. Figura 3 – Rugas e linhas de expressão Créditos: Irina Bg/Shutterstock. Outras indicações de uso na éstica são: hiperidrose (sudorese nas axilas, mão e pés), tem bons resultados com a TBA, conseguindo um bloqueio por vários meses. 16 5.6 Aplicação e efeito A aplicação é realizada com uma agulha fina na região previamente limpa e demarcada. Não é necessário anestésico, porém o paciente pode sentir uma ardência no local, além da picada da agulha. Após a aplicação, o paciente deve permanecer com a cabeça mais reta, evitando deitar-se, e massagear a região. Pode ocorrer hematoma na região, desaparecendo em poucos dias. O efeito da toxina botulínica A inicia entre 48-72 horas após a aplicação, obtendo um resultado final em 15 dias, com durabilidade média de seis semanas a seis meses. Figura 4 – Pontos de aplicação Créditos: Subbotina Anna/Shutterstock. Entretanto, a toxina botulínica A deve ser utilizada com cautela, pois pode apresentar efeitos colaterais como edema, ptose palpebral, eritema, cefaleia, reação local e infecções. Procedimentos estéticos devem ser realizados com segurança por um profissional capacitado, a fim de diminuir possíveis efeitos adversos. 17 5.7 Contraindicações • Pacientes com coagulopatias; • Uso de bloqueadores do canal de cálcio, as quinolonas (para duas semanas antes da aplicação); • Pacientes que fazem uso de AAS ou anticoagulantes; • Gravidez, amamentação; • Em tratamento com antibióticos; • Com reações inflamatórias ou infecções no local da aplicação. 5.8 Marcas Atualmente encontramos no mercado diversas marcas disponíveis, entre elas, as mais conhecidas são Botox, produzida pela Allergan; Dysport, produzida pela Ipsen; Xeomin, produzida pela Merz-biolab; Prosigne, produzida pela Cristália; Botulift, produzida pela Bergamo. Para as rugas provocadas pelo envelhecimento intrínseco e rugas muito acentuadas é necessária a associação de outras técnicas, pois a toxina botulínica tipo A não age diretamente nesses casos, é um método mais eficaz em rugas dinâmicas, sem excesso de pele. Seguro e bem tolerado, o uso da TBA na estética apresenta sucesso, porém é importantesalientar a necessidade de uma anamnese bem-feita e individual. Seguir um protocolo, normas e indicações em suas dosagens nas aplicações, além de ser realizada por um profissional qualificado e habilitado. A toxina botulínica A utilizada sozinha ou em associação a outros procedimentos contribui na qualidade de vida de muitos indivíduos. NA PRÁTICA Em quais regiões pode ser aplicada a toxina botulínica tipo A pelo biomédico esteta? Você consegue observar, quando se fala de procedimentos injetáveis, a particularidade de cada um? De acordo com o método e o efeito que se quer, a intervenção e aplicação serão de forma específica? 18 FINALIZANDO Nesta aula, observamos alguns dos procedimentos estéticos mais procurados e realizados por biomédicos estetas nos serviços de estética. Esses procedimentos são ferramentas valiosíssimas no consultório para diversos tratamentos. Cada vez mais procurados, pois deixaram de ser encarados como futilidade, sendo agora, com a prescrição e a execução corretas e de modo responsável, vistos como uma forma de melhorar a autoestima e, consequentemente, auxiliar na saúde mental e física. 19 REFERÊNCIAS ALBANO, R. P. S.; PEREIRA, L. P.; ASSIS, I. B. Microagulhamento: a terapia que induz a produção de colágeno. Revisão de literatura. Revista Saúde em Foco, n. 10, 2018. BARBOSA, D. B. M.; BRITO, A. de S. A utilização da toxina botulínica Tipo A para alcançar a estética facial. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, [S.l.], v. 36, n. 70, p. 75-86, jul. 2020. ISSN 2596-2809. BRATZ, P. D. E.; MALLET, E. K. V. Toxina botulínica Tipo A: abordagens em saúde. Artigo de revisão. Revista Saúde Integrada, v. 8, n. 16-16, 2015. ISSN 2447-7079. CHAVES, C. T. M.; PAULA, F. R. A utilização da toxina botulínica tipo A no rejuvenescimento facial. 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A estrutura da pele é constituída por colágeno, elastina e matriz extracelular, o ácido hialurônico ajuda no controle hídrico do tecido e o colágeno é o responsável pela sustentação. A perda de colágeno, de ácido hialurônico, de fibras elásticas e a influência dos radicais livres contribuem para o aparecimento de rugas e linhas de expressão. A expectativa de vida está mais longa, possibilitando a observação mais aparente do envelhecer facial, levando à busca por produtos e técnicas capazes de minimizar a aparência que o tempo traz à pele. A descoberta das causas do envelhecimento possibilitou o desenvolvimento de técnicas capazes de tratar os danos gerados pelo tempo, bem como produtos capazes de tratar linhas de expressão e reposição do volume facial. TEMA 1 – PREENCHEDORES Karl Meyer e seu assistente, John Palmer, em 1934, deram início no laboratório de Bioquímica na Universidade de Columbia a estudos de uma molécula versátil, o ácido hialurônico (AH), a partir do humor vítreo bovino. Na década seguinte, os pesquisadores se dedicaram a isolar o AH presente na pele, cordão umbilical, articulações e crista de galo. Kendall, em 1937, foi o primeiro a isolar o AH de Streptococcus hemolítico. Em 1950, Meyer e seus assistentes identificaram suas propriedades e determinaram a estrutura do AH. A nomenclatura deste biopolímero resultou da junção entre o termo grego hialoide, que significa vítreo, e ácido urônico, que é a denominação de uma das moléculas de monossacarídeo que o compõem. O termo hialoide descreve com precisão a sua aparência transparente relativa a vidro. (Pan et al., 2013; Garbugio; Ferrari, 2010) 3 1.1 Ácido hialurônico (AH) Um polímero formado por ácido glucurônico e a N-acetiglicosamina com função de elasticidade e hidratação, o ácido hialurônico é uma substância nativa do organismo humano que atua como preenchimento nos espaços intracelulares. Considerada a molécula mais higroscopia da natureza, é capaz de se ligar à água em uma quantidade até 1000 vezes o seu volume. Encontrado em todo nosso organismo, apresenta-se em maior parte no tecido tegumentar, ligando-se à água e mantendo a tonicidade e elasticidade dos tecidos. De consistência gelatinosa e espessa, alto grau de hidratação, visco e elasticidade na derme, atua como preenchedor de espaços oferecendo estabilidade, absorvendo choques e elasticidade, formando uma rede de estrutura. Produzida principalmente por fibroblastos e queratinócitos, o AH apresenta uma relação com as fibras de colágeno e as fibras elásticas, podendo influenciar a proliferação celular, diferenciação e reparo dos tecidos. Sua quantidade é inversamente proporcional ao tempo de vida do organismo. Responsável pela hidratação, volume e elasticidade e sustentação da pele, ocorre perda de sua produção ao longo dos anos, tornando assim evidente o aparecimento de rugas e sulcos, refletindo no envelhecimento, perda de volume e formação de manchas. Após anos de pesquisase desenvolvimento, seu uso sintético biocompatível tem fins de hidratação e preenchedor, sendo utilizado na estética com a finalidade de minimizar os efeitos visíveis do envelhecimento. 1.2 Na estética Pesquisadores estudam há anos uma forma de minimizar os efeitos do envelhecimento facial. A diminuição da produção de colágeno e a desidratação cutânea são fatores responsáveis em sua grande maioria por uma insatisfação pessoal. Com a descoberta dos efeitos fisiológicos do envelhecimento foi possível produzir técnicas e produtos para tratar os danos gerados. Utilizado como preenchimento facial, o AH (sintético e biocompatível) tem ganhado destaque com ação protetora, emoliente e sustentação entre os espaços dérmicos ocasionados com o passar dos anos. Com sua reposição, o equilíbrio hídrico se restabelece, melhora a elasticidade e estrutura da pele, reestruturando o volume facial, removendo e suavizando rugas e linhas de 4 expressão e proporcionando o rejuvenescimento facial. Eficaz e seguro, o AH entra no mercado brasileiro como uma das melhores técnicas para atenuar de forma natural o envelhecimento cutâneo. As principais marcas comercializadas no país são Juvederm, Restylane, Belotero, Princess, Rennova, Hialurox, Perfecta. 1.3 Aplicação O ácido hialurônico pode ser administrado de forma oral, tópica e injetável, sua viscosidade determinará a forma de aplicação. Como forma injetável por meio de uma avaliação bem realizada, podemos determinar sua reticulação e região anatômica depositada, sendo menos viscoso, mais superficial, e mais viscoso, mais profundo. Moléculas ligadas a ele produzem macromoléculas com a mesma biocompatibilidade. A apresentação do AH é geralmente em uma seringa de 1 ml em forma de gel espesso, incolor, hidrofílico e com alto peso molecular. Várias técnicas foram desenvolvidas para evitar a degradação rápida na pele, fornecendo efeitos a longo prazo. O ácido hialurônico aplicado com a finalidade de preenchedor pode ser injetado em bolos, retroinjeção, leque ou puntura. O que vai determinar a forma de injeção é a reticulação do produto e a finalidade do procedimento. Figura 1 – Principais regiões de aplicação do ácido hialurônico Créditos: Solarisys/ Shutterstock. 5 • Olheira: reduz a profundidade das olheiras; • Rinomodelação: suaviza imperfeições e suspende a ponta do nariz; • Malar: define a maçã do rosto; • Lábios: define o contorno labial e dá volume; • Sulco nasogeniano “bigode chinês” e “código de barras”: suaviza os sulcos e linhas nasolabiais; • Linha da marionete (sorriso triste); • Mandíbula: redefine o contorno da face; • Mento (queixo): projeção do queixo auxiliando no contorno da face; • Têmporas; • Lóbulo da orelha; • Linhas e rugas (de acordo com o indicado para a região e reticulação do AH). Como forma de correção das rugas, linhas, contorno e volume, o preenchimento do AH é minimamente invasivo, pode ser aplicado injetável por meio de uma agulha ou cânula. Após a deposição do AH no tecido, a região deve ser moldada com as pontas dos dedos. 1.4 Efeitos adversos e contraindicações Podem ocorrer complicações imediatas e/ou tardias. As mais comuns são: hipersensibilidade, eritema e edema (devido à injuria tecidual), hematomas e equimose (devido à lesão em algum vaso sanguíneo), infecções (contaminação no local aplicado ou manuseio errado do produto), alteração na pigmentação, lesões e necrose (dificilmente ocorre, devido a uma intensa inflamação ou injeção acidental intra-arterial). Reações alérgicas são relatadas em 0,1% dos casos apenas, aparecem em forma de edema/eritema nas três primeiras semanas e podem durar até seis meses. Complicações tardias podem ocorrer em forma de granulomas, podendo aparecer nódulos entre seis meses e dois anos após a aplicação. Isso ocorre pela presença de impurezas no processo de produção do AH e em pacientes com hipersensibilidade ao produto. Com o auxílio da enzima hialuronidase capaz de degradar o AH, realizamos a remoção do produto. A hialuronidase tem a capacidade de diminuir 6 a viscosidade intercelular e aumenta a permeabilidade e absorção dos tecidos. A possibilidade de utilizar a enzima hialuronidase em casos de complicações ocasionadas pela aplicação do AH, torna o preenchimento realizado com ácido hialurônico um padrão ouro na abordagem estética. Sua aplicação é uma opção não cirúrgica viável devido ao menor custo, menor tempo de recuperação e possíveis temores por procedimentos cirúrgicos. O tempo de duração varia de paciente para paciente, dependendo também da concentração, viscosidade e quantidade aplicada. Em média dura entre 10 a 18 meses. O tratamento de preenchimento com ácido hialurônico é contraindicado nas seguintes situações: • Gravidez, lactação; • Doenças autoimunes; • Imunodepressão; • Lesão ou existência de preenchedor definitivo no local a ser aplicado. O preenchimento com ácido hialurônico ajuda na prevenção do envelhecimento facial, hidratando, sustentando, proporcionando elasticidade e volume na pele. É uma nova opção de tratamento contra as indesejáveis rugas e linhas de expressão como forma menos invasiva, menor chances de complicações, inflamações e dores. Além de seguro, versátil e eficaz, atende as necessidades individuais dos pacientes com resultados imediatos, é natural e sofisticado. É importante salientar que suas complicações estão relacionadas à técnica de aplicação e à má higienização da pele, por isso a importância de realizar o procedimento com um profissional habilitado. TEMA 2 – BIOESTIMULADORES DE COLÁGENO Em busca de minimizar os efeitos do envelhecimento, procedimentos minimamente invasivos ganharam cada vez mais espaço no mercado. Os preenchedores dérmicos tratam, além das rugas e sulcos, a correção na perda do volume facial. Os bioestimuladores têm por objetivo melhorar o aspecto cutâneo, estimulando a formação de novas fibras de colágeno dérmico, agem de forma ativa nas camadas mais profundas da pele, contribuindo com o volume facial perdido. 7 Mais colágeno, pele mais firme, menos flácida, melhorando o aspecto da pele de forma sutil e natural. Podemos classificá-los quanto a sua absorção e durabilidade no organismo. Conhecidos como semipermanentes, os bioestimuladores possuem uma duração entre 18 meses e 5 anos, são eles: Ácido Poli-L-láctico (PLLA), Hidroxiapatita de Cálcio (CaHa) e a Policaprolactona (PCL). Existe um bioestimulador não biodegradável que permanece indefinidamente no organismo muito conhecido, é o Polimetilmetacrilato (PMMA). 2.1 Ácido Poli-L-láctico (PLLA) – Sculptra Polímero biodegradável, biocompatível e reabsorvido, tem o objetivo de estimular a neocolagênese. Composto por micropartículas de PLLA, quando injetado forma uma cápsula no entorno de cada microesfera, resultando no estímulo da deposição das fibras de colágenos pelos fibroblastos, levando ao aumento da espessura dérmica. O volume dérmico ganho logo após a aplicação some em poucos dias, pois o PLLA não é um preenchedor, e sim um estimulador de colágeno, com um efeito gradual e progressivo. Pode ser aplicado em três planos: subdérmico (frouxidão da pele), subcutâneo (onde não houver alicerce ósseo) e supra periosteal (área com suporte ósseo), o plano a ser escolhido depende das condições do paciente. A quantidade de aplicações deve ser avaliada de acordo com grau de envelhecimento do paciente. Considerado um bioestimulador semipermanente, seus resultados podem chegar em até 24 meses. O resultado varia entre 4 e 6 meses e, devido a esse tempo, é aconselhável tratar e esperar para reavaliar. • Indicação clínica: perda de volume facial, flacidez, rugas, sulcos. • Locais onde geralmente é aplicado: terço médio da face, mento, pescoço, mãos, nádegas, abdômen, braços, interno de coxas.• Efeitos adversos: eritema, edema e hematomas somem espontaneamente em poucos dias. Nódulos não inflamatórios, infecções, granulomas e necrose são raros e podem ocorrer por erro de técnica ou complicações associadas ao uso de diferentes produtos injetados na face. • Contraindicações: paciente em uso de aspirina, doenças autoimunes, preenchedor permanente, histórico de queloide, gestantes, lactantes, hipersensibilidade aos componentes. 8 2.2 Hidroxiapatita de Cálcio (CaHa) – Radiesse Em 2009, a hidroxiapatita de cálcio recebeu a aprovação do FDA para tratamentos de rugas e sulco nasogeniano. Considerado capaz de reparar áreas que necessitam de volume e preenchimento, por ser biodegradável, não causa reações inflamatórias crônicas ou imune. Por meio de estudos clínicos, comprovou-se sua segurança e eficácia. Para que o estímulo de colágeno seja eficiente, o CaHa deve ser aplicado na derme média ou profunda, quando aplicado mais superficial tem uma enorme chance de apresentar nódulos visíveis na derme. O resultado desejado será alcançado gradualmente, após várias sessões, pois é desaconselhável a injeção excessiva do produto. • Indicação clínica: flacidez cutânea, dar volume no local desejado e preencher região que necessita de reparo dérmico. • Locais onde geralmente é aplicado: malar, mandíbula, região temporal, terço médio da face, mento, pescoço, mãos, nádegas, abdômen, braços, interno de coxas. • Efeitos adversos: os mais comuns são os hematomas, eritema, edema e dor no local aplicado. Em 1 a 5 dias, desaparecem espontaneamente. Nódulos, granulomas, celulite e necrose são raros, porém podem ocorrer geralmente por mau planejamento e técnica inadequada. • Contraindicações: regiões da glabela, periorbicular e lábios, devido à movimentação da musculatura pode ocorrer nódulos não inflamatórios na região. Combinações com preenchedores permanentes são contraindicadas. 2.3 Policaprolactona (PCL) – Elanssé Preenchedor dérmico biocompatível e biodegradável, o PCL teve início no mercado estético em 2009, é um estimulador de colágeno que tem estudos documentados desde 1980, atuando como preenchedor cutâneo. Composto por microesferas sintéticas, o PCL estimula o novo colágeno, que substitui o volume inicial do bioestimulador, criando novas partículas de colágeno ao redor do PCL. A marca apresenta quatro versões, as quais têm como única diferença entre si a longevidade do produto. 9 O plano de aplicação pode ser subcutâneo ou mais profundo, em pequenas quantidades devido à possível necessidade de correções, observar três meses após a aplicação para reavaliar. • Indicações: flacidez cutânea, correção de rugas e dobras, reparar volume e rejuvenescimento das mãos. • Contraindicação: áreas como periorbicular, glabela e lábios, além de pacientes com alergias graves e manifestações de anafilaxia, doenças cutâneas aguda ou crônica, histórico de queloide, uso de corticoides e preenchedor permanente. • Efeitos adversos: os mais comuns são edema e equimose ocorrida pela injeção, sumindo espontaneamente em poucos dias. Granulomas são raros, porém, relatados por erros técnicos, como injeção em bolus e injeção superficial. Os bioestimuladores de colágeno são excelentes em prevenir ou reverter os efeitos do envelhecimento facial, porém é bom salientar que não existe um bioestimulador dérmico perfeito, pois podem ocorrer efeitos adversos, cabe ao profissional escolher o melhor bioestimulador para aplicar de acordo com a necessidade e histórico do paciente. TEMA 3 – FIOS DE SUSTENTAÇÃO O envelhecimento facial ocorre de forma natural e gradual, porém seu resultado em forma de vincos e sulcos na pele não agrada a maioria das pessoas. A busca por procedimentos minimamente invasivos, a fim de tratar o rejuvenescimento facial, é um desafio para a medicina atual. A busca constante por técnicas que amenizam e combatem os danos ocasionados pelo envelhecimento proporciona uma gama de pesquisas e desenvolvimento em tecnologia por produtos cada vez mais eficientes, seguros e minimamente invasivos. Com efeito lifting facial sem a necessidade de uma cirurgia, os fios de sustentação estão ganhando cada vez mais espaço no meio estético. 3.1 PDO – Polidioxanona Considerados bioestimuladores sólidos, os fios de polidioxanona. conhecidos como fios de PDO, estimulam um processo de proliferação das células de colágeno diferente dos fios permanentes. O PDO é liso e absorvível, 10 por meio de uma incisão mínima é fixado nos tecidos moles, possibilitando o reposicionamento dos tecidos faciais. O polidioxanona (PDO) é um polímero monofilamentar sintético, não alergênico e absorvível que se hidrolisa gradativamente. O PDO é o fio absorvível com maior tempo de retenção de força atualmente no mercado, permanecendo no tecido por tempo suficiente para a neocolagênese e indução de cicatrização. Consegue manter 28 dias de tensão no tecido, sendo absorvido em 182 a 238 dias após sua inserção. Os fios absorvíveis são aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA). Para aproximação dos tecidos moles, independentemente da técnica utilizada para procedimentos considerados lifting facial, precisam considerar o fato de que os tecidos mais profundos precisam ser reposicionados ou preenchidos antes de se tracionar. Os fios lisos são menos estáveis, menos resistentes, têm mínima capacidade de fixação e sustentação subdérmica. Com um período de recuperação rápida, poucos efeitos adversos e a absorção lenta contribuem significativamente na produção de colágeno. 3.1.1 Fios de PDO O fio de PDO apresenta alguns modelos no mercado: fios lisos, fios espiculados (com garras), fios em cones, fios parafuso etc., com diferentes finalidades. Os fios lisos são os mais simples, atuando de forma mais superficial, estimulando a produção de colágeno e melhorando a aparência da pele; não têm a capacidade de promover “lifting”. Os fios espiculados/cones apresentam um efeito rejuvenescedor, promovem uma tração, suspenção dos tecidos caídos. 3.2 Técnica Quando colocados corretamente, os fios resultam em um efeito lifting mecânico que permanecerá devido ao efeito da formação de colágeno, a associação dos fios lisos com espiculado apresentam um melhor resultado. Importante avaliar a espessura dérmica do paciente para que os fios não fiquem aparentes. A melhor idade de escolha para o procedimento é entre 30 e 60 anos, quando o paciente ainda não apresenta uma queda acentuada do terço inferior. 11 As regiões de aplicação são: • Contorno do rosto para redefinir; • Sulcos faciais; • Pescoço e papada; • Glabela, olhos; • Braço, abdômen, interno de coxa, entre outras áreas corporais. 3.3 Efeitos adversos e contraindicações Pequenas retrações, hematomas e exteriorização dos fios são efeitos transitórios, desaparecendo em cinco a sete dias. O fio de PDO deve ser aplicado na camada subcutânea, quando introduzido superficialmente, além de doloroso ao toque, poderá ser visível. Fora do plano correto não irá estimular a produção de colágeno. Assim como se introduzido no plano mais profundo poderá ocasionar lesão arterial, nas veias e nervo facial, podendo levar à paralisia facial. Tratamento contraindicado em casos de: doenças autoimunes, hepatite B e C, imunodeprimido, gestante e lactante, tratamento com anticoagulantes, histórico de queloide, infecções no local. Seguros e com bons resultados, os bioestimuladores de sustentação de PDO resultam em um “lifting facial” desde que colocados no plano correto. Ainda não há um consenso sobre a quantidade de fios a ser colocado e seu posicionamento, entretanto, com o conhecimento dos vetores musculares novos padrões estão surgindo. Vale lembrar que mesmo conhecido popularmente como “lifting facial” com fios, ele não deve ser apresentado como um liftingcirúrgico, visto apenas como um procedimento estético temporário, apresentando melhores resultados quando associado a outros tratamentos. TEMA 4 – ESCLEROTERAPIA Com a evolução dos tratamentos estéticos a procura pelo procedimento em eliminar os vasos de pequeno calibre em clínicas de estética ganha destaque. Os microvasos são dilatações capilares, veias ou artérias menores que 2 mm de calibre, uma disfunção estética que acomete 6 entre 10 mulheres na maioria dos casos localizados nas pernas, entre a população, 40% das mulheres e 15% dos homens. 12 Procedimento estético injetável de microvasos (PEIM), realizado para secar ou diminuir os microvasos em pacientes que não apresentam comprometimento circulatório. Destacam-se como capilares finos, avermelhados, ramificados, que na maioria das vezes causam distúrbios apenas do ponto de vista estético, sem cunho patológico. Também conhecidos cientificamente como telangiectasias, imagina-se que sua formação seja de predominância hereditária, obesidade, traumas, gravidez, uso de hormônios femininos com estrogênio e pessoas que permanecem muito tempo na mesma posição em pé, sentada ou com as pernas cruzadas. O National Library of Medicine define etimologicamente o termo escleroterapia como a oclusão venosa obtida por meio de injeção intravenosa e substâncias químicas. Com a finalidade de ocluir a luz do vaso, a utilização da sustância esclerosante induz um processo inflamatório que leva à fibrose e faz o vaso perder sua característica de cilindro (colaba), excluindo o caminho da circulação, o que resulta na melhora visual da área aplicada. O PEIM utilizando a glicose é uma forma de tratamento destinado basicamente a fibrosar tecidos, no qual essa substância age dispersando o filme protetor de fibrinogênio da camada íntima e lesando o endotélio venoso, a fibrina é depositada dentro e ao redor da parede venosa, causando uma reação inflamatória, que gradualmente se transforma em fibrose. Essa reação faz a veia colabar e deixar de ser visível. 4.1 Histórico A esclerose química, tão conhecida atualmente, já era utilizada na época de Hipócrates como raspagem e traumatização da veia (efeito mecânico) e por Celso como cauterização (efeito térmico). Elsbolt em 1667 utilizou uma técnica rudimentar para esclerose química de uma veia, nos três casos o objetivo era destruir a veia, cicatrizando uma úlcera varicosa. Foi somente em 1851, com a criação da seringa hipodérmica, que Pravaz descreveu a técnica do processo esclerosante químico com objetivo de ocluir um aneurisma. A partir deste fato a técnica foi aprimorada e com material adequado tornou-se mais eficiente e confortável para o tratamento das varizes, hoje é aceito como tratamento ideal para os microvasos. Kauch, em 1979, na Alemanha, foi o primeiro a utilizar a glicose hipertônica como substância esclerosante, uma solução osmótica de ação lenta, pois leva de 30 minutos a 4 dias seu resultado final. Em geral, as soluções esclerosantes disponíveis são agrupadas em três categorias: osmóticas, detergentes e químicas. As soluções 13 hiperosmóticas promovem a desidratação das células da camada endotelial e, consequentemente, acarretam sua destruição e desintegração. As soluções osmóticas, como a salina hipertônica (SH) e glicose hipertônica (GH), são mais lentas na destruição e consideradas mais leves e menos capazes de produzir grandes descamações endoteliais e inflamações, quando comparadas aos agentes detergentes. A glicose hipertônica tem uma eficácia de 54%. Assim, esses esclerosantes tendem a depositar menos hemácias no endotélio, reduzindo a incidência da pigmentação tecidual. (Miyake, 2006) O biomédico esteta usa como substância esclerosante a glicose 50% ou 75%, que é segura, eficiente, não produz reação alérgica e tem baixo custo. Entretanto, sua alta viscosidade dificulta a injeção em fluxo alto e o refluxo venocapilar. A hipercromia quando ocorre é caracterizada pela técnica de aplicação do profissional, que injeta a solução fora do vaso. Soluções hipertônicas, como é o caso da glicose, são consideradas mais dolorosas, além de seus resultados serem mais lentos, duas desvantagens que contribuem para o não retorno do paciente em alguns casos. Contraindicado nos casos de: gestação, antecedentes de trombose, diabetes descompensado, patologia oncológica ativa, hipercromia pós- inflamatória, sensibilidade à dor. Sabemos que o Peim é um tratamento intermediário. Ele não acaba com a causa em si, seus resultados dependem da resposta de cada paciente, quantidade de sessões realizadas de acordo com a avaliação prévia e informação da expectativa na melhora do resultado esperado. TEMA 5 – FARMACOLOGIA APLICADA À INTRADERMOTERAPIA Farmacologia é a ciência que estuda os mecanismos de ação das substâncias utilizadas para diagnóstico, tratamento ou cura de doenças, bem como seu comportamento no organismo. Fármaco é um agente químico que proporciona efeito terapêutico ou preventivo. As formulações que levam fármacos em sua composição são denominadas medicamentos. Intradermoterapia, ou mesoterapia, consiste na aplicação de medicamentos por meio da injeção na pele ou subcutâneo. • Trata pequenas desordens estéticas. • O melhor tratamento é sempre combinado com associação de técnica. • Cada mescla tem sua concentração de acordo com o local aplicado. 14 Indicado para tratamentos em protocolos para: celulite, flacidez, gordura localizada, estrias, capilar, aceleração metabólica, emagrecimento, ganho de massa, rejuvenescimento, manchas. 5.1 Ativos farmacológicos • Anestésico: disponibilizado em ampolas ou frascos multidose. Uso intradérmico ou subcutâneo. • Venolinfocinéticos: vasodilatadores e estimulantes da circulação periférica. Com efeitos drenantes, podem ser utilizados em tratamentos que visam o melhor funcionamento da microcirculação da pele e áreas edemaciadas. Disponíveis em ampolas. Uso intradérmico ou subcutâneo. • Esclerosante: estimuladores da diferenciação celular e da síntese de proteína. Indicados para recuperação de áreas danificadas da pele (estrias e flacidez). Disponíveis em ampolas ou frascos multidose. Uso intradérmico ou subcutâneo. • Reguladores metabólicos: ativos indicados para o controle do metabolismo de carboidratos e lipídeos. Diminuem as necessidades de ingestão calórica e promovem a utilização eficiente dos metabolitos pelo organismo. Disponíveis em ampolas ou frascos multidose. Uso intramuscular e endovenosa. • Antioxidantes: moléculas protetoras das células em geral. Promovem o equilíbrio químico no organismo, protegendo contra a ação nociva dos radicais livres. Disponíveis em ampolas ou frascos multidose. Uso intramuscular e endovenoso. • Suplementos: vitaminas, aminoácidos e minerais em doses preconizadas para a suplementação parenteral. Disponíveis em ampolas ou frascos multidoses. Uso intramuscular e endovenoso. • Capilar: ativos para o tratamento da alopecia e recuperação da saúde do couro cabeludo. Disponíveis em ampolas ou frascos multidose. Uso intradérmico ou subcutâneo. • Termogênicos: indicados como coadjuvantes em tratamentos para emagrecimento e ganho de massa muscular magra. Disponíveis em ampolas ou frascos multidoses. Uso intramuscular. 15 Os ativos são utilizados em vários tratamentos estéticos, os mais utilizados na estética são: • Anestésico: diminuição do impulso da dor, ação vasoconstritora, aumenta o tempo de ação do ativo no local de aplicação. o Lidocaína: bloqueia canais de sódio, impede a despolarização, interrompendo a transmissão do estímulo da dor. o Procaína: propriedade anestésica, apresenta efeito vasodilatador. • Flacidez: melhora o tecido conjuntivo, estimula a contração do músculo e melhora a sustentação da pele. Promove o rejuvenescimento por meio de intensa hidratação com reconstruçãodas fibras de colágeno. o Silício: estimula a síntese de fibra de sustentação (colágeno, elastina e proteoglicanas). Auto-hidratação: auxilia na retenção de água sobre a pele; firmeza e tonicidade, auxiliando no tratamento de flacidez e celulite. o DMAE: aumenta a produção de acetilcolina, que se ligam nas células da derme e epiderme, auxiliando na proliferação e migração de células novas, auxilia na flacidez da derme. o Ácido glicólico: estimula a síntese de fibras elásticas e colágeno. Promove biossíntese de glicosaminoglicanos, promove o aumento das fibras e a sua reorganização. • Estrias: inflamar tecido para estimular colágeno (lipocorticoide altera a remodelação do colágeno). o Vitamina C: cofator da síntese de colágeno, reduz radicais livres melhorando o aspecto de tecidos envelhecidos, desidratados e rompidos, auxilia no tratamento de estrias jovens (vermelhas). Nano encapsulada, vetorizada. o Ácido Hialurônico + Condroitin: constituintes fisiológicos, auxiliam na retenção hídrica e formação de células de sustentação (colágeno), melhorando o aspecto de tecidos envelhecidos, desidratados e rompidos. o Glicosaminoglicanos (GAG): incorporam-se à matriz, onde são aplicados, exercendo ação trófica no tecido conjuntivo e conferindo elasticidade, tonicidade e maciez a pele. 16 • Celulite: melhora da microcirculação e drenagem da área edemaciada, tratamento do tecido adiposo envolvido no processo de formação da celulite. o Pentoxifilina: melhora a irrigação e microcirculação nos tecidos, inibe a fosfodiesterase apresentada, efeito lipolítico (semelhante à cafeína), auxilia no tratamento de lipodistrofia e nos distúrbios da microcirculação. o Buflomedil: melhora o aporte de oxigênio e nutrientes, inibe a agregação plaquetária, favorece a drenagem linfática, o edema. o Benzopirona: reduz a resposta inflamatória, o edema local, favorece a permeabilidade dos ativos. • Gordura localizada: mobilizar a reserva de gordura armazenada para redução corporal (remodelamento). o Lisado de tireoide: tem ação lipolítica importante ao aumentar os gastos energéticos no organismo. O uso injetável de lisado de tireoide 2,5% permite atingir o tecido adiposo subcutâneo localizado, estimulando a lipólise. o L-Carnitina: é um aminoácido, transfere a gordura do citoplasma para a mitocôndria, geração de energia (formação ATP), auxilia nos tratamentos de obesidade pelo fato de atuar como agente carreador. o Desoxicolato de sódio e lipossoma de girassol: promovem o rompimento das células adiposas com consequente lipólise. Desencadeia reação inflamatória local. • Capilar: restaura e aumenta a microcirculação local, fornece insumos nutricionais, retarda o processo programado de involução folicular. o Minoxidil: aumenta o crescimento do cabelo, prolongando a fase anágena e induz novo crescimento do cabelo na alopecia androgenética. o Finasterida: eficaz na alopécia androgenética. Não deve ser utilizado em mulheres. o Buflomedil: é um antagonista alfa-adrenoceptor e um bloqueador de canal de cálcio fraco. 17 • Emagrecimento, acelerador metabólico (via intramuscular). o Picolinato de cromo: melhora o aparecimento da glicose da ingesta, consequentemente diminuindo o apetite por carboidratos. o Inositol + Colina: quando associado à colina produz lecitina, que reage com lipídios, impedindo seu depósito em parede de vasos e órgão. o L-Fenilalanina: converte-se em dopamina e adrenalina, inibindo (SNC) e estimulando lipólise. o BCAA: aminoácidos de cadeia ramificada: leucina, isoleucina, valina. Contribuem para o ganho de massa celular. o L-Ornitina e L-Arginina: aminoácidos estimuladores de liberação de GH promovendo reparação tissular e hipertrofia. o Taurina: acelerador metabólico. NA PRÁTICA Em quais regiões da face o biomédico esteta pode aplicar os preenchedores? Qual a diferença entre preenchedor e bioestimulador de colágeno? Qual a importância do conhecimento em farmacologia na área da estética? FINALIZANDO O envelhecimento cutâneo tem relação com as várias camadas da pele, principalmente a derme e a hipoderme. As mudanças que elas sofrem refletem na flacidez. A literatura sugere que existem quatro pilares estéticos interligados ao envelhecimento facial: perda de gordura subdérmica, ação muscular, remodelação óssea e envelhecimento da pele. Com isso, uma mudança em um dos tecidos pode influenciar no tecido vizinho, levando a um efeito cascata. Com as proporções das estruturas faciais modificadas decorrentes do processo do envelhecimento, o rosto juvenil que apresentava um terço médio bem definido perde o contorno facial e o volume dérmico. No envelhecimento cronológico, ocorrem mudanças biológicas nas estruturas das fibras de colágeno e elastina. Uma das consequências é a 18 diminuição da derme, a pele fica com uma aparência mais flácida e, ao palpá-la, conseguimos senti-la mais fina e sem consistência. A busca por beleza traz satisfação estética em relação à autoestima e ao bem-estar, sempre em busca de face mais jovial e natural. 19 REFERÊNCIAS ALMEIDA, T. R. A.; SAMPAIO, A. A. G.; QUEIROZ, L. P. N. Ácido hialurônico no rejuvenescimento do terço superior da face: revisão e atualização. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 9, n. 2, p. 113-121, 2017. BORTOLOZO, F.; BIGARELLA, R.L.; Apresentação do uso de fios de polidioxanona com nós no rejuvenescimento facial não cirúrgico. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR, v. 16, n. 3, p. 67-75, set.- nov. 2016. EGEA, R.; TEREZINHA, A. E.; OTA, C. C. C. Mecanismo de ação de injetáveis utilizados na biomedicina estética, 2015. FULCO, O. T.; SOUSA, E. P.; Efeitos da intradermoterapia na lipodistrofia localizada: farmacologia, histórico, análise histológica do tecido adiposo, contraindicações e intercorrências. IX Simpósio de Pesquisa e de Práticas Pedagógicas do UGB: “Desafios pedagógicos durante e pós- pandemia”. LIMA, N. 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Uso de ácido hialurônico injetável na estética facial: uma revisão da literatura. Ijuí–RS, 2018. 20 SANTOS, T. G. et al. Tipos de escleroterapia em telangiectasias e microvarizes em membros inferiores. Id on-line: Rev. Mult. Psic., v. 14, n. 51, p. 993-1007, Julho/2020 - ISSN 1981-1179. TAMURA, B. M. Anatomia da face aplicada aos preenchedores e à toxina botulínica - Parte I. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 2, n. 3, jul.-sept. 2010, p. 195-202. Sociedade Brasileira de Dermatologia. TAVARES, J. P. et al. Rejuvenescimento facial com fios de sustentação. Braz. J. Otorhinolaryngol., v. 83, n. 6. São Paulo, nov./dec. 2017. TONI, T. Z.; PEREIRA, P. P. Procedimento estético injetável de microvasos com glicose 75% e glicose 50%. Revista Iniciare, Campo Mourão, v. 2, n. 1, p. 53- 61, jan./jun. 2017.BIOMEDICINA ESTÉTICA AULA 5 Profª Nathaly Tiare Jimenez da Silva Dziadek 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos estudar uma modalidade de tratamento estético chamada de eletroterapia, com vários procedimentos que surgem a partir desse mecanismo de ação. A eletroterapia aplicada à estética usa correntes elétricas para melhorar o aspecto de determinadas condições de ordem estética. Os equipamentos usam correntes eletromagnéticas conduzidas por eletrodos que são fixados à pele do paciente. Outras formas de tratamento incluem a utilização de agulhas no lugar de eletrodos. Há uma diversidade de correntes em uso na eletroterapia. Cada uma delas apresenta particularidades quanto a indicações e contraindicações, mas todas têm o objetivo comum de produzir um determinado efeito no tecido submetido à terapia, por meio de reações físicas, biológicas e fisiológicas. TEMA 1 – ELETROTERAPIA O termo eletroterapia está associado ao uso de corrente elétrica ou, de forma mais ampliada, ao uso da energia eletromagnética, sempre com finalidade terapêutica. Tais correntes produzem efeitos fisiológicos sobre o metabolismo celular, a circulação, a musculatura, entre outros. A utilização da tecnologia tem se aperfeiçoado muito nas últimas décadas, com o desenvolvimento de novos recursos. Contudo, desde a Antiguidade, seu uso já era comum para os cuidados de saúde. Pessoas como Aristóteles e Plutão já utilizavam enguias elétricas visando, por meio da corrente elétrica, produzir certas reações nos doentes. Energia é a capacidade que um sistema tem de trabalhar. Há várias formas de energia, e ela não é comumente criada ou destruída, mas muitas vezes transformada de uma forma para outra, ou ainda transferida de um local para outro. Os recursos utilizados em eletrotermofototerapia são equipamentos que utilizam energia e a transformam em ondas sonoras (ultrassom), em cargas elétricas (corrente russa, corrente galvânica, microcorrentes, entre outras), em calor (mantas térmicas), em frio (compressas frias), ou em luz (laser, luz intensa pulsada). Vejamos algumas formas de energia utilizadas na eletrotermofototerapia: energia elétrica, energia eletromagnética, energia térmica, energia sonora e energia mecânica (Rosa; Lopes, 2018). 3 1.1 Energia elétrica A energia elétrica é uma forma de energia baseada na geração de diferenças de potencial elétrico entre dois pontos, o que gera uma corrente elétrica entre ambos. Tal energia pode ser transformada para uso na forma de luz ou calor. A energia elétrica está associada à geração de uma corrente elétrica, caracterizada por um movimento ou um fluxo de partículas carregadas, como os elétrons ou os íons, de um local para outro. Essa corrente pode ser conduzida por metais e soluções, sendo transferida para o corpo humano e provocando reações fisiológicas com resultados terapêuticos. A eletroterapia pode ser classificada como baixa, média ou alta frequência, de acordo com a repetição dos impulsos elétricos utilizados em tratamentos diversos. Essa classificação está associada à frequência de ciclos emitidos por segundo (Hertz [Hz]). Dessa forma, a corrente de baixa frequência utilizada em seres humanos não é superior a 1000 Hz (corrente galvânica, microcorrentes, entre outros). Já a média frequência varia de 1000 Hz a 100 KHz (corrente russa e interferencial), enquanto a alta frequência é maior que 300 KHz (ondas curtas e micro-ondas). A intensidade da corrente elétrica, por sua vez (ou seja, a quantidade de carga elétrica por unidade de tempo), é um indicador que se relaciona com o número de elétrons ou íons que passa por um local em um determinado tempo. Sua unidade de medida é o ampère (A), sendo frequente em equipamentos a utilização de miliampere (mA) ou microampere (μA). Com relação à corrente elétrica, existem dois tipos básicos de corrente elétrica com finalidades terapêuticas: a corrente contínua e a corrente alternada. A corrente contínua é polarizada, ou seja, a carga se movimenta sempre na mesma direção. Além disso, apresenta um fluxo constante e unidirecional de eletricidade, e assim os elétrons fluem continuamente em uma única direção. Já a corrente alternada pode se apresentar na forma polar ou apolar. A forma apolar (despolarizada) caracteriza-se por inverter a direção em intervalos regulares de tempo (Rosa; Lopes, 2018). São exemplos de aplicação de corrente elétrica: corrente russa, corrente aussie, corrente galvânica, microcorrentes, eletrolipólise, alta frequência, iontoforese, ozonioterapia, carboxiterapia. 4 As indicações clínicas são: desincrustação na limpeza de pele, eletrolifting, melhora do aspecto geral da pele, regeneração e cicatrização, estimulação da microcirculação (inclusive em couro cabeludo), rejuvenescimento, poros dilatados, manchas, redução de gordura localizada, lipodistrofia ginoide (celulite), flacidez cutânea, estrias, flacidez muscular, fortalecimento muscular, além de auxílio na eliminação de toxinas. Esse tipo de procedimento é contraindicado nos seguintes casos: tumores; lesões na região tratada; gestação; pacientes com marca-passo; problemas cardíacos, respiratórios e renais crônicos; hipertensão; e epilepsia. 1.2 Energia eletromagnética A energia eletromagnética é transmitida por radiação, em diferentes comprimentos de ondas. A radiação é um processo pelo qual a energia se desloca de sua fonte para fora, através do espaço. A luz solar constitui um tipo visível de energia radiante que produz calor. A luz é uma energia radiante que se manifesta através da luz visível, ou seja, da luz que conseguimos perceber com o sentido da visão. Um raio de luz estabelece a trajetória da luz em determinado espaço. Sua representação indica onde a luz é criada (fonte) e para onde ela se dirige. A energia luminosa ou fotônica é definida pelo produto de uma constante, ou seja, a energia de determinado raio luminoso, ou onda eletromagnética, é uma função exclusiva da frequência que o constitui. Com base nisso, a fototerapia compreende recursos que se baseiam no efeito da luz sobre os tecidos biológicos, o que envolve, além de agentes tradicionais (como a luz ultravioleta e o infravermelho), a laserterapia, a emissão de luz por diodo (LED) e a luz intensa pulsada (ILP). O mecanismo de ação da fototerapia requer a absorção de luz por uma molécula fotorreceptora, chamada cromóforo. Os cromóforos são geralmente organelas celulares presentes na derme e na epiderme, como melanina, citocromo, porfirinas, hemoglobina, entre outras. Ao absorver a luz, seu metabolismo é estimulado, induzindo reações químicas e dando origem a uma cascata de respostas celulares. Outro mecanismo que se baseia na utilização da energia eletromagnética está associado ao uso da radiofrequência como técnica de tratamento estético. Esse recurso atua a partir da conversão da energia eletromagnética em efeito 5 térmico sobre os tecidos. A radiofrequência é uma radiação no espectro eletromagnético, compreendida entre 30 KHz e 300 MHz, capaz de alcançar os tecidos mais profundos, gerando energia e forte calor sobre as camadas mais profundas da pele, o que mantém a superfície protegida, provocando a contração das fibras colágenas existentes e estimulando a formação de novas fibras. Elas se tornam, assim, mais eficientes para sustentar a pele. A energia eletromagnética também apresenta efeitos associados a recursos como o Gerador de Alta Frequência, aparelho que trabalha com correntes alternadas (elevada tensão e baixa intensidade). Ao ser usado na superfície da pele, provoca a formação de ozônio (O3). Seus efeitos estão associados à produção de calor, com vasodilatação periférica local e aumento da oxigenação celular. Como efeito terapêutico, destaque para a ação bactericida e antisséptica, associadaà formação do ozônio (Rosa; Lopes, 2018). São exemplos da aplicação de energia eletromagnética: ozonioterapia, ultrassom, radiofrequência, laserterapia, luz intensa pulsada, infravermelho, LED. As indicações clínicas são: lipodistrofia ginoide (celulite), estrias, flacidez cutânea, aderências e fibroses, redução de gordura localizada, auxílio na eliminação de toxinas e redução de edemas, melhoria do aspecto geral da pele, rejuvenescimento, eliminação e/ou redução de manchas, poros dilatados, cicatrizes, telangectasias da face, epilação, remoção de pigmentos, favorecimento da regeneração e cicatrização de tecidos e tratamento capilar. São contraindicações a esse tipo de procedimento: tumores; lesões na região a ser tratada (o calor poderá alterar o comportamento da região); hipertensão; gestação; uso de anticoagulantes; marca-passo; diabetes descompensada; DIU (radiofrequência). 1.3 Energia térmica A energia térmica está associada ao aumento ou à diminuição da temperatura tecidual, considerando agentes quentes ou frios. A energia térmica é uma forma de energia relacionada com a movimentação de moléculas a partir de um determinado corpo. Quanto maior o movimento e a velocidade dessas partículas, maior será a temperatura e mais intensa a energia térmica liberada. Há diferentes modos de transferência de energia térmica entre os corpos. A temperatura central permanece constante, sendo mantido um certo equilíbrio entre a produção de calor interno e a perda ou ganho de calor no nível da pele. 6 As modalidades condutoras produzem mudanças de temperatura de forma generalizada nos tecidos superficiais, com uma profundidade de penetração máxima de 1 cm ou menos. As modalidades condutoras podem acarretar aumento na temperatura dos tecidos (termoterapia) ou diminuição na temperatura dos tecidos (crioterapia). As modalidades de transferência de energia térmica, no âmbito dos tecidos, ocorrem principalmente por condução e convecção. A variação da temperatura do tecido depende da quantidade de energia convertida em calor, em uma determinada profundidade do tecido, e da capacidade de condutividade térmica do local. Outro elemento importante na variação da temperatura é a vascularização do local e a técnica de aplicação da modalidade térmica. A técnica de aplicação é estabelecida por meio de tratamento profundo, em que a conversão da energia ocorre à medida que há penetração no tecido (micro-ondas, ultrassom, entre outros). Já o tratamento superficial gera, por meio de condução ou convecção, a transferência de energia pelo contato entre os corpos (bolsas quentes, entre outros). Para que a termoterapia superficial seja capaz de provocar efeitos terapêuticos, a temperatura da pele deve aumentar de 40°C a 45°C em uma área de 2 cm de profundidade na pele (Rosa; Lopes, 2018). São exemplos de aplicação de termoterapia (aplicação de calor): mantas térmicas, compressas e bolsas quentes, sauna, radiação infravermelha, forno de Bohr, ultrassom, radiofrequência, eletrocautério e jato de plasma. Exemplos de crioterapia: criolipólise e criofrequência (nessa aplicação, temos termoterapia associada à crioterapia). As indicações clínicas são: redução de gordura localizada, lipodistrofia ginoide (celulite), flacidez cutânea, auxílio na eliminação de toxinas, melhora do aspecto geral da pele, rejuvenescimento, rugas e sulcos, além de retração de pele nos casos de flacidez facial. São contraindicações desse tipo de procedimento: hipertermia (febre), pois o calor poderá intensificar o aumento da temperatura; tumores, não sendo indicado qualquer tipo de estímulo que acelere o metabolismo; lesões na região a ser tratada, pois o calor poderá alterar o comportamento da região; período menstrual, já que o uso de calor poderá aumentar o fluxo menstrual. 7 1.4 Energia mecânica A energia mecânica, associada ao movimento dos corpos, é produzida a partir do trabalho de um corpo, podendo ser transferida para outro. Qualquer corpo em movimento é capaz de realizar trabalho – portanto, apresenta energia, que nesse caso é chamada de cinética. A energia mecânica está associada ao movimento ou à posição. Pode ser energia cinética (energia de movimento) ou energia potencial (energia armazenada de posição). Os objetos têm energia cinética quando estão em movimento; já a energia potencial é armazenada por um objeto e tem o potencial de ser criada quando esse objeto é alongado, dobrado ou comprimido. São modalidades de energia mecânica: compressão intermitente, técnicas de tração e massagem (Rosa; Lopes, 2018). São exemplos de aplicação de energia mecânica: ultrassom (efeito cavitação), pressoterapia, endermoterapia (vacuoterapia), peeling de diamante, peeling de cristal, peeling ultrassônico e plataforma vibratória. As indicações clínicas são: lipodistrofia ginoide (celulite), estrias, cicatriz de queimaduras, flacidez cutânea e muscular, aderências e fibroses, auxílio em conjunto com outras terapias para redução de gordura localizada, auxílio na eliminação de toxinas e redução de edemas, estimulação da circulação favorecendo o retorno venoso, melhora do aspecto geral da pele, suavização de rugas, e limpeza de pele através de esfoliação física dos peelings. São contraindicações a esse tipo de procedimento: tumores; lesões na região a ser tratada, pois o calor poderá alterar o comportamento da região; hipertensão; hérnia: veias varicosas; flebites e trombos; gestação; uso de anticoagulantes; marca-passo; diabetes descompensada. 1.5 Energia sonora A energia sonora consiste em ondas de pressão, devido à vibração mecânica das partículas. A relação entre velocidade, comprimento de onda e frequência é a mesma para as energias sonora e eletromagnética, mas as velocidades dos dois tipos de onda são diferentes. As ondas acústicas viajam na velocidade do som. O ultrassom utiliza uma forma de energia sonora não audível, produzindo ondas mecânicas que podem ser emitidas de forma contínua, produzindo efeito térmico, ou alternada, com menor elevação de temperatura. 8 TEMA 2 – CARBOXITERAPIA Ao longo dos anos, há um conjunto de alterações que provoca o envelhecimento da pele. De forma intrínseca e natural, pelo envelhecimento das células, e de forma extrínseca, como resultado de hábitos e fatores ambientais. As consequências incluem modificações estéticas na pele, na forma de rugas, sulcos, flacidez, linhas de expressão e ressecamento. O envelhecimento é um processo natural que tem início por volta dos 30 anos, ficando mais evidente na terceira idade. A pele apresenta importantes funções: proteção mecânica, excreção, barreira hídrica, controle de temperatura, defesa contra infecções, além de participação na síntese de vitamina D. A carboxiterapia consiste na permeação de gás carbônico medicinal (dióxido de carbono, ou CO2) medicinal com 99,9% de pureza, administrado em via subcutânea, o que causa vasodilatação periférica e melhora a oxigenação tecidual. Gás inodoro incolor e atóxico, é um endógeno produzido naturalmente das reações oxidativas eliminadas pelos pulmões durante a respiração. Com utilização ampla, a carboxiterapia ganha espaço na estética para tratamentos de flacidez, rugas, cicatrizes e gordura localizada. Na década de 30, teve início o seu uso terapêutico com bons resultados, chegando ao Brasil no início deste século, com foco na área estética. Seus efeitos fisiológicos apresentam vasodilatação e aumento significativo de O2 local. Após a sua administração, há uma resposta inflamatória no local, ocasionando uma série de eventos no tecido conjuntivo vascularizado e nas células circulantes, com o objetivo de restaurar e cicatrizar o tecido lesionado. Vejamos seus efeitos: melhoria da circulação local e da microcirculação da pele; estímulo à formação de fibras de colágeno e elastina, com reorganizaçãoestrutural, o que melhora o tônus e a flacidez tecidual; redução de medidas, por conta de seu efeito lipolítico; oxigenação dos tecidos. 2.1 Efeito Bohr Quanto mais gás carbônico disponibilizamos no tecido, mais hemoglobinas carregadas com oxigênio vão chegar através da circulação, porque a hemoglobina apresenta maior afinidade pela molécula de O2 para os 9 tecidos, além de captação da molécula de CO2 que será transportada e eliminada pela respiração. Isso caracteriza o efeito Bohr, que é analisado pela curva de dissociação da oxiemoglobina em resposta às alterações de CO2 e de íons de hidrogênio H+. Com auxílio de um equipamento próprio para carboxiterapia, o gás carbono medicinal será administrado de acordo com o fluxo e o volume adequado. Ligado a um cilindro a aço com regulação de pressão de CO2, alguns equipamentos aquecem o gás durante a trajetória para diminuir o desconforto do paciente. As indicações terapêuticas são: flacidez cutânea, olheiras, sequela de acne, rejuvenescimento facial, celulite, estrias, gordura localizada, tratamento capilar. As contraindicações são: alergia na pele, gravidez, lactantes, herpes ativo. Seus efeitos terapêuticos dependem do local anatômico da aplicação. Importante entender o objetivo do tratamento, pois a técnica envolve diferentes volumes de gás, fluxos e frequências para cada protocolo. Os cuidados com o corpo e a aparência se tornaram prioridades nos últimos anos. Com isso, os tratamentos estéticos ganharam mais visibilidade. A carboxiterapia é considerada um tratamento seguro, pois não apresenta efeitos adversos, como complicações locais ou sistêmicas. Porém, é importante realizar o procedimento com o protocolo adequado para cada paciente. TEMA 3 – OZONIOTERAPIA Ozônio é um gás presente na atmosfera, originado em grandes altitudes ou após uma tempestade no mar. O Brasil ocupa o quinto lugar em pesquisas realizadas com ozônio no mundo. O ozônio medicinal é composto por uma mistura de 95% de oxigênio 5% de ozônio. O ozônio puro é considerado um dos oxidantes mais potentes que conhecemos. Seu odor intenso e característico torna-o facilmente perceptível. É utilizado para vários tratamentos patológicos e estéticos. 3.1 Histórico Mak Van Marumom, químico holandês, registrou pela primeira vez, em 1785, a existência do ozônio O3. Em 1840, o químico alemão Christian Friedrich 10 Shoenbein o sintetizou, e o primeiro gerador foi patenteado em 1896, nos EUA, pelo inventor Nikola Tesla. Utilizado na primeira guerra mundial para desinfectar e tratar infecções, feridas e cicatrizes, posteriormente foi utilizado como tratamentos para hernias lombares e hepatites. A exposição prolongada ao O3 por via respiratória e por via cutânea e/ou radiação ultravioleta leva à formação de uma grande quantidade de compostos tóxicos, que penetram a corrente sanguínea, atingindo órgão vitais e produzindo danos intensos. Por conta disso, durante anos ele foi proibido, porque era visto como algo prejudicial à saúde. Pode ser produzido por radiação ultravioleta do sol, ou por equipamento que utilizam descargas de alta voltagem e frequência. Por ser metaestável, há dificuldades de armazenamento. É explosivo na forma líquida ou sólida. Seu tempo de meia vida depende da temperatura, assim como o processo endotérmico é reversível na velocidade de dissociação do O3, também dependente da temperatura. Em temperatura de 20º C, apresenta tempo de semivida de 40 minutos, porém na temperatura de 0º C a semivida é de 140 minutos. Por conta de sua instabilidade, deve ser produzido apenas no momento de aplicação. 3.2 Mecanismo de ação Apesar de muitos estudos ao longo dos anos, o seu mecanismo de ação ainda não é totalmente conhecido. Acredita-se que produz efeitos terapêuticos, como melhoria da oxigenação corporal, aperfeiçoamento dos mecanismos de defesa imunológica do organismo, regulação do sistema antioxidante, melhoria do metabolismo de O2, melhoria da irradiação dos produtos tóxicos do metabolismo celular, além de atua a nível mitocondrial, diminuindo as citocinas (Lopes, 2020, p. 36): Regulação do Sistema Antioxidante sendo dez vezes mais solúvel do que o O2, o O3 consegue penetrar com maior facilidade nos tecidos dissolvendo-se no plasma sanguíneo e nos fluídos extracelulares, reagindo de imediato com biomoléculas, como proteínas, carboidratos, antioxidantes e ácidos graxos. Logo de seguida desaparece e gera radicais livres, as Espécies Reativas de Oxigénio (ROS/EROS) e Produtos De Oxidação Lipídica (LOP) (Anon, 2007; Bocci, 2007). A molécula ROS é principalmente o peróxido de hidrogénio (H2O2), que é um oxidante não radical capaz de reagir como o O3 responsável por extrair diversos efeitos biológicos e terapêuticos. Para conseguir obter um efeito biológico sem provocar danos é importante a calibração da concentração de O3 (µg/ml de gás por ml de sangue1:1), sendo também importante a medição da capacidade antioxidante do sangue e caso seja necessário, reforçar com suplementos alimentares 11 antioxidantes, antes e durante o tratamento, pois os ROS em quantidades excessivas podem causar danos celulares. Segundo Philippi & Barreira (2018) as ROS apresentam mediadores de defesa e imunidade, ou seja, quando é introduzido O3 existe um aumento na ativação das plaquetas e consequentemente libertação de fatores de crescimento, que contribuem para a cicatrização. A Molécula de Ozono O3 e os LOP podem ser benéficos ou tóxicos, ou seja, quando se pretende ter um efeito terapêutico, as concentrações não devem ser nem muito baixas acabando por não ter eficácia, nem muito altas podendo causar toxicidade (Philippi et al., 2018). Quando o organismo está exposto ao O3 em doses controladas ocorre um stress oxidativo levando ao aumento gradual da produção de enzimas endógenas antioxidantes, que são a primeira linha de defesa na destruição dos radicais livres (RL) (Aydogan & Seda 2012; Oliveira & Wosch 2012). Pode provocar irritação no trata respiratório, quando inalado em doses altas. Contudo, apresenta efeitos benéficos quando aplicado em doses terapêuticas. Nas últimas décadas, tem ganhado destaque por se dissipar sem permanecer nas células. Consegue ainda estimular o organismo a produzir enzimas antioxidantes, além de oxidar os ácidos graxos. Seu poder anti- inflamatório, bactericida e antiviral relaciona0se ao sistema imunológico e à defesa dos antioxidantes. 3.3 Na estética Após a descoberta das vantagens obtidas com a técnica de ozonoterapia, começa a ser utilizada na estética para tratamentos faciais e corporais. Apresenta como principais benefícios na estética: • Liberação de fatores de crescimento que promovem a regeneração dos tecidos • Controle dos processos inflamatórios • Fibroedemageloide (celulite) • Protocolos para gordura localizada • Tratamento de acnes e hipercromias • Rosácea • Rejuvenescimento facial • Combate Flacidez • Uniformiza o tom da pele • Estrias; • Queda capilar e calvície O procedimento pode ser realizado de diversas formas, principalmente: 12 • Aplicações tópicas (na pele) • Banho e sauna • Subcutânea • Via endovenosa • Intramuscular • Retal • Auricular • Intra-articular Contraindicado para: gestante; hipotiroidismo descompensado; diabetes descompensada; portador da G6PD, pois pode levar à hemólise. A estética apresenta diversos protocolos para os tratamentos de ozônio. Apesar dos benefícios, quando aplicada de forma incorreta pode apresentar riscos. Por isso, é muito importante proceder a uma avaliação adequada para determinar o protocolo que vai ser seguido e quantas sessões serão necessárias. TEMA 4 – LASER Desenvolvido na década de 60, o nome raio laser é uma abreviação de Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, ou Luz Amplificada pela Emissão Estimulada de Radiação. Em termospráticos, chamamos de laser certos dispositivos que geram radiação eletromagnética (REM) com características próprias. Ao contrário da luz solar e da luz incandescente, que são caóticas, emitindo radiação em todas as direções e de todo o espectro de comprimento de onda, a luz laser tem características diferentes: é coerente, pois as ondas estão em fase no tempo e no espaço, de forma monocromática, com o mesmo comprimento de onda (luz pura, da mesma cor); é colimada, pois as ondas têm a mesma direção, a luz é paralela, não divergente, estreita, concentrada, 1 mm de diâmetro, de alta intensidade. Pelo fato de ser monocromática, pode interagir intensamente com certas substâncias e pouco com outras. Como é emitida na forma de um feixe altamente colimado, pode ser direcionada com grande precisão para distâncias significativas. Habitualmente, os lasers médicos são chamados pelo nome de meio ativo ou meio lasante. Em relação ao estado físico, o meio laser pode ser: gasoso, 13 líquido, sólido ou de elétrons livres. Quanto ao modo de emissão temporal da luz, os lasers podem ser: contínuos, quando emitem radiação de forma contínua, com mais de 1 segundo de duração, como CO2; ou pulsados, quando emitem radiação em pulsos regulares. Esses impulsos podem apresentar maior ou menor duração. Para gerar a luz responsável pelo tratamento, o aparelho de raio laser apresenta diferentes fontes. A alimentação do laser pode variar entre CO2, cobre, rubi e argônio, para citar alguns exemplos. Cada uma proporciona um tipo diferente de luz, que será específico para determinadas finalidades. No caso dos raios utilizados na pele, cada apresenta um comprimento de onda diferente, associado a um tipo de célula ou pigmento. A análise do processo leva à determinação do laser que será usado em cada tratamento estético. 4.1 Interação do laser com os tecidos O laser foi primeiramente aplicado no tratamento de doenças de pele e na eliminação de pequenos tumores. Com o avanço da tecnologia, descobriu-se que era possível aproveitar a luz em muitas outras técnicas, com as mais diversas finalidades. A tecnologia de radiação eletromagnética pode ser utilizada com diversas finalidades. Essa forma de energia atinge determinado alvo na pele, promovendo modificação física, química ou biológica. O efeito terapêutico do laser varia em função dos seguintes aspectos: comprimento de onda, duração do impulso, tamanho, tipo e profundidade do alvo, e interação entre a luz emitida pelo laser e o alvo determinado. Os principais alvos do laser médico são: pigmento natural, pigmento externo, água intracelular, aminoácidos e ácidos nucleicos. Os pigmentos naturais e externos são chamados de cromóforos. O cromóforo é um grupo de átomos que dá cor a uma substância e absorve a luz com um comprimento de onda específico no espectro visível. Os cromóforos da pele são: oxi-hemoglobina e desoxi-hemoglobina, melanina, carotenos, água e proteínas. As proteínas e a água não são absorvidas no espectro do visível, e teoricamente não deviam ser chamadas de cromóforos, mas na prática são moléculas orgânicas que absorvem REM. Por isso, falamos em cromóforos de uma forma geral, mesmo que absorvam os UV ou os infravermelhos. 14 Quando a radiação é absorvida pelo tecido biológico, alguns efeitos podem ser provocados: • Efeito fototérmico: a alta energia laser absorvida pelos tecidos pode gerar calor, que causa a destruição do tecido. Exemplo: laser CO2. • Fotodisrupção: uma onda de choque, cuja vibração causa explosão e a fragmentação do tecido alvo. • Efeito mecanoacústico e fotoacústico. Exemplo: laser Q-switched. • Fotoablação: rotura direta das ligações moleculares por fótons ultravioleta de alta energia. Exemplo: laser excímeros (ultravioletas). • Ablação induzida por plasma ablação através da ionização das moléculas e dos átomos quando se obtém a formação de plasma. Exemplo: Nd:YAG. A maioria das moléculas orgânicas absorve UV, por conta da forte absorção de proteínas nessa área do espectro. A oxi-hemoglobina tem um pico de absorção entre 490 nm e 595 nm, correspondente ao verde e ao amarelo. A desoxi-hemoglobina, aos 770 nm. A meta-hemoglobina, que resulta da transformação da hemoglobina após aquecimento sanguíneo, tem uma absorção preferencial a 1.000 nm. A melanina tem uma absorção muito larga no espectro óptico, mas que diminui lentamente dos UV aos infravermelhos. É máxima por volta dos 530 nm. A absorção da água predomina para comprimentos de onda superiores a 1.800 nm. Não há nenhum comprimento de onda que permita atingir um cromóforo de forma completamente específica. A janela óptica escolhida é apenas a mais seletiva possível para o tecido alvo. Daí a importância dos sistemas de arrefecimento que arrefecem a epiderme e a derme superficial, de modo que reforçam a seletividade da ação térmica no nível de um alvo mais profundo. TEMA 5 – CLASSIFICAÇÃO DOS LASERS Podemos classificar os lasers não só de acordo com o meio do laser e o comprimento de onda, mas também a partir das funcionalidades a que se destinam e de sua aplicação clínica. São diferenciados em ablativo e não ablativos. Os lasers ablativos vaporizam e destroem, por fototermólise, a epiderme e a derme superficial. São lasers de infravermelhos que atuam por estimulação da neosíntese de colágeno, sem destruição da epiderme, aspecto que dá nome ao método: subsurfacing. 15 Podem ainda ser fracionados, quando o feixe de laser é separado em vários microfeixes, como se fosse um chuveiro. Isso permite deixar ilhotas de pele sã entre as áreas de pele tratadas, o que facilita a reepitelização das áreas. • Lasers de corte e de vaporização (ablativo): laser CO2 (10.600nm), Erbium: YAG (2.940 nm). • Lasers vasculares: atuam seletivamente nos vasos. Emitem REM com comprimento de onda entre os 500 e os 600 nm. A esclerose dos vasos pode ser induzida por dois processos: fotocoagulação seletiva e ototermólise seletiva. • Lasers pigmentares: destinam-se ao tratamento de manchas pigmentadas por lasers que emitem um comprimento de onda específico, absorvido pela melanina ou pelo pigmento externo. O alvo do laser são: cromóforos da pele, manchas, pigmento externo e tatuagens. • Lasers epilatórios: destinam-se à epilação. O alvo é o pigmento melânico presente nos bulbos pilosos. O objetivo é a destruição do bulbo que leva à epilação permanente. São destruídos apenas os bulbos que se encontram em fase anagénica. Os comprimentos de onda dos lasers estão compreendidos entre 600 e 1.100 nm, que é a janela óptica ótima, pois a competição entre a melanina e os outros cromóforos cutâneos é menor: alexandrite 755 nm, díodo 800 nm, rubis 694 nm, Nd: YAG 1064 nm pulso longo, IPL 500-1.200 nm, combinação alexandrite 755 nm + Nd:YAG 1.064 nm. A explicação para a escolha dos Δ e da duração de pulso está na competição que existe entre a melanina folicular e a melanina da epiderme, para a absorção de energia de determinado comprimento de onda. Quanto maior o Δ, menor a probabilidade de ser absorvido pela melanina da epiderme, pois a radiação penetra mais profundamente na derme. • Fototerapia (LED): os LEDs (Light Emitting Diodes) são diodos de semicondutores submetidos a uma corrente elétrica. Emitem luz e podem ser utilizados para fototerapia. Apresentam comprimento de onda de 405nm (azul) a 940nm (infravermelho), com papel diferente do tratamento ablativo, pois não causam dano tecidual com base em fototermólise. A ação do LED é intracelular, ou seja, ocorre estimulação direta das células. Podemos citar mais especificamente: a estimulação das mitocôndrias, que leva à reorganização das células, inibindo certas ações e estimulando 16 outras; a síntese de ATP e proteínas, como colágeno e a elastina, resultando em um efeito que chamamos de foto bioestimulaçãoou foto biomodulação. Dependendo do comprimento de onda utilizado, os LEDs também atuam como antimicrobianos e anti-inflamatórios. • Lasers de rejuvenescimento não ablativo: o laser tem que penetrar 100- 400 µm para atingir o pigmento da junção dermoepidérmica, o colágeno e os vasos da derme. A absorção da luz pela água provoca efeito fototérmico e, consequentemente, resposta inflamatória, que estimula a atividade fibroblástica. Os lasers usados no rejuvenescimento não ablativo são: Nd:YAG 1.064 nm e 1.320 nm, Díodo 1.450 nm, Erbium 1.540 nm, Q-switched Nd:YAG 1.064 nm, Crípton/Nd:YAG 532 nm, Laser pulsado de corantes 595 nm, IPL (Luz Intensa pulsada). • Luz intensa pulsada: em meados dos anos 90, surgiu um novo sistema, chamado de luz intensa pulsada (IPL), que não é um laser, mas segue os mesmos princípios. Os sistemas de IPL são fontes pulsadas de alta intensidade. Emitem luz policromática em um espectro largo de comprimentos de onda, que vai dos 515 aos 1.200 nm. À semelhança do laser, o mecanismo de ação é a fototermólise seletiva; ao contrário do laser, os Δ e a duração de pulso podem ser selecionados com a ajuda de filtros. É um sistema muito versátil e flexível, de modo que pode ser usado na vertente vascular, pigmentar e epilatória, e também no fotorrejuvenescimento cutâneo. Figura 1 – Ressurfacing Crédito: Elias Aleixo. 17 As principais indicações para tratamentos com laser são: • Melanoses solares: pode-se utilizar Luz Intensa Pulsada, lasers ablativos ou não ablativos. • Melasma: utilizar apenas alguns tipos de lasers; a melasma tem piora com o calor; laser que emite calor pode induzir efeito rebote. • Pigmentos de tatuagem: lasers pigmentares Q-switched, como: Nd:YAG 1.064 e 532 nm, Alexandrite 755 nm, Rubi 694 nm. • Pelos: são usados lasers pulsados, mas com duração de pulso maior que nos lasers Q-switched. Alexandrite 755 nm, díodo 800 nm, rubis 694 nm, Nd: YAG 1064 nm pulso longo, IPL 500-1.200 nm, combinação alexandrite 755 nm + Nd:YAG 1.064 nm. Pode ser utilizado IPL, embora existam diferenças. Tanto os lasers quanto a luz intensa pulsada podem oferecer resultados satisfatórios. • Lesões vasculares: “vasinhos” na face, colo e pernas. Podem ser tratados efetivamente com lasers vasculares ou luz intensa pulsada. São lasers vasculares, lasers iônicos – laser de árgon (emite em vários Δ no visível e UV), laser de crípton (emite em vários Δ no visível), lasers de vapor metálico (quase contínuo) – vapor de cobre (578 nm). • Rejuvenescimento: luz intensa pulsada, lasers ablativos (laser fracionado de CO2, por exemplo) e não ablativos, infravermelho. • Estrias: tanto as estrias “vermelhas” quanto as “brancas”; podem ser usados lasers fracionados ablativos e não ablativos. • Cabelos: o uso dos lasers de baixa energia e LEDs é eficaz para complementar o tratamento de alguns problemas capilares. • Estética íntima e outros tratamentos genitais na mulher: laser fracionado não ablativo, CO2 fracionado, por exemplo. No momento dos procedimentos, é de extrema importância cuidar com a segurança do profissional e do paciente. Além disso, todas as pessoas que estiverem no ambiente em que o laser será usado devem usar óculos de proteção específicos para o Δ e a potência do laser. 18 NA PRÁTICA Qual a importância da anamnese no planejamento de tratamentos com eletroterapia? A eletroterapia tem muitos recursos não injetáveis. Eles seriam menos perigosos? São indicados a todos os pacientes? FINALIZANDO A preocupação com a aparência cresce conforme a expectativa de vida aumenta. No Brasil, os tratamentos estéticos são os mais procurados, com destaque para tratamentos faciais e corporais. Chama a atenção a corrida pela “perfeição”, mas também a procura por procedimentos minimamente invasivos, que auxiliem na recuperação da autoestima. Atualmente, esses tratamentos são muito mais acessíveis. A eletroterapia vem sendo cada vez mais utilizada nos tratamentos estéticos faciais e corporais, inclusive como opção aos pacientes que não querem realizar procedimentos injetáveis. Ela já é considerada como fundamental por muitos profissionais da área. Por conta disso, é imprescindível conhecer em profundidade as melhores técnicas e a sua correta utilização, de modo a evitar lesões. 19 REFERÊNCIAS ROSA, P. V.; LOPES, F. M. Eletroterapia facial e corporal básica. Porto Alegre: Sagah, 2018. LOPES, I. M. C. Ozonoterapia na acne. Dissertação (Mestrado) – Instituto Universitário Egas Moniz, Almada, Portugal, 2020. BIOMEDICINA ESTÉTICA AULA 6 Profª Nathaly Tiare Jimenez da Silva Dziadek 2 CONVERSA INICIAL Biomedicina estética A Estética também é uma forma de busca de equilíbrio e qualidade de vida, em que se tem incentivo a melhores hábitos e estilo de vida mais saudável, pensando em prevenção de disfunções estéticas, o que proporciona um bem- estar e melhora da condição de saúde de maneira geral. Há, ainda, uma melhora da autoestima, impactando diretamente a saúde em todas as dimensões do indivíduo. Nesta aula, veremos algumas áreas diferenciadas e possíveis, como a estética íntima e de alta performance, que atinge um público específico, veremos também a importância de, ao se realizar um procedimento, saber evitar e lidar com as intercorrências possíveis de acontecer em qualquer procedimento injetável ou não, pois o profissional biomédico esteta precisa estar preparado e capacitado para dar assistência ao seu paciente caso aconteça. E como otimizar os resultados fazendo boas associações de procedimentos, um potencializando o outro, o que traz resultados eficientes e duradouros em tempo menor de tratamento. TEMA 1 – HIDROLIPOCLASIA A gordura localizada é definida como um excesso de adipose encontrada de forma desorganizada em certas regiões do corpo. A quantidade de gordura é influída pelo sexo, idade, atividades de vida diária, fatores patogênicos, hormônios e também pelo físico corporal que define o tipo de adiposidade de acordo com o lugar que essa gordura se encontra. O aparelho de ultrassom (US) pode ser utilizado na gordura localizada e respalda-se de um gerador de uma corrente alternada de alta frequência. Para esse fim, transdutores piezoeléctricos são aplicados e resumem-se em um disco de um equipamento natural, tal como o quartzo, ou uma cerâmica sintética realizada de uma combinação de sais complexos, especificamente o zirconato e o titanato, a qual podem se reunir em processos de carga. Esse componente piezoeléctrico converte energia acústica em energia elétrica e seu adverso, energia elétrica em acústica. A corrente alternada que 3 sustenta o componente piezoeléctrico será modulada, gerando diversas modalidades de insonação: contínua ou pulsada. No Brasil, para fins terapêuticos, aplicam mais habitualmente as frequências de 1 ou 3 MHz. A utilização do US em tratamentos clínicos e estéticos é atual e a sua aplicação geralmente se associa ao tratamento da Lipodistrofia Ginoide (LDG) e da Gordura Localizada. A possibilidade para sua aplicação está relacionada aos seus efeitos mecânicos e térmicos. A adipose circunscrita, geralmente renomada como gordura localizada, superpõe-se constantemente à LDG, onde a gordura se conduz no organismo com uma repartição determinada geneticamente e pelo sexo (dimorfismo) e constitui-se num dos distúrbios fundamentais, além da LDG, tratada nos consultórios e clínicas de estética. As áreas tratadas com esse procedimento, geralmente, são abdômen, flancos, quadril, culote, braços e coxas, que apresentem prega cutânea de no mínimo 3cm. 1.1 Mecanismo de ação e forma de aplicação A hidrolipoclasia ultrassônica é a injeção em ângulo de 45° de uma solução hipotônica (soro fisiológicoinjetável mais/ou água destilada) em quantidade de 0,5 a 2mL por ponto no tecido hipodérmico na região a ser tratada, os pontos devem ter entre si de 2 a 3 cm, logo após, utiliza-se o ultrassom pressionando o cabeçote do US na região, que terá seu efeito potencializado. Para obter um resultado significativo, o ultrassom deve ser de 3MHz, além de estar no modo contínuo, com a intensidade de 2W/cm² a 3W/cm². O efeito é potencializado devido a região após a infiltração da solução estar com uma quantidade bastante aumentada de líquido, no caso a solução hipotônica, no espaço entre as células ou intercelular e, após um período, esse líquido migrar para o interior das células adiposas, fazendo um efeito de tensão na membrana celular, pois esta está expandindo seu tamanho e a tornando mais suscetível ao rompimento. O ultrassom age por modulação de amplitude e frequência, atingindo essa célula que, nesse momento, se encontra como uma bexiga de aniversário, resultando em implosão do adipócito ou rompimento da membrana externa, depositando a gordura que estava dentro da célula na região de tratamento, onde será excretada e metabolizada pelas vias normais do organismo através do 4 sistema linfático e metabolismo, consequentemente, reduzindo a gordura localizada. A relação quantidade de soro x tempo de ultrassom é, para cada 1mL de solução, de 1 minuto de ultrassom a 3mHz, no caso de ter injetado 20mL de solução, são necessários 20 minutos de ultrassom. Esse e qualquer tratamento corporal com objetivo de redução de gordura localizada ou lipodistrofia ginoide (celulite) deve ser sempre acompanhado de dieta e/ou exercícios físicos, para que os ácidos graxos liberados sejam utilizados como fonte de energia. Caso os pacientes não sigam as recomendações necessárias, a gordura mobilizada tende a ser redistribuída no tecido adiposo, porém, de forma mais heterogenia. Sendo assim, é imprescindível a colaboração do paciente em suas atividades de vida diária, mantendo hábitos de vida saudáveis para um bom resultado desses tratamentos e efeito duradouro. Créditos: lev.studio/Shutterstock; Sukanya White/Shutterstock. TEMA 2 – ESTÉTICA DE ALTA PERFORMANCE ESTÉTICA ÍNTIMA 2.1 Estética de alta performance O tratamento estético chamado de tratamento de alta performance é utilizado em pacientes que já estão com o percentual de massa magra e gordura corporal ideais, também muito procurado por atletas. Consiste na aplicação de medicamentos, enzimas, aminoácidos, entre outros, tanto de forma intradérmica (mesoterapia), como intramuscular, com o objetivo do aumento de massa e melhor definição muscular. As aplicações intradérmicas de ativos com ação lipolítica são realizadas de forma local, onde se quer “definir” a musculatura, na realidade o efeito produzido é o de evidenciar a musculatura, aplicando as enzimas em pontos 5 estratégicos, “desenhando” o músculo, o efeito se dá, pois a gordura será degradada somente no local onde foi aplicado a substância. Esse tratamento é indicado para pacientes que já não possuem gordura localizada na região, ou seja, quando a reserva de gordura da região fica com pregueamento cutâneo inferior a 1 cm, caso contrário não serão alcançados resultados satisfatórios e estéticos. Em pacientes que ainda possuem a gordura localizada, é indicado a perda e redução de gordura e, após esse processo, realizar alta performance. As aplicações intramusculares atuam de forma sistêmica, consistem em substâncias, geralmente aminoácidos, que auxiliam no desenvolvimento da musculatura, ou aumento da massa magra. Esse tratamento é indicado para pacientes que realizam atividade física regularmente, ou atletas, devendo se realizar atividade física sempre após a aplicação no prazo máximo de 24 horas. Ainda nessa modalidade, temos ativos que aceleram o metabolismo, auxiliando o emagrecimento e pode ser realizado sempre em paralelo a tratamentos corporais que visam emagrecimento ou perda de gordura localizada. Existem vários tratamentos de alta performance, como recuperação muscular de atletas após o exercício, redução de ansiedade, melhora de concentração, inibidor de apetite entre outros. Nesta modalidade de tratamento, é comum a associação de substâncias para obtenção de melhores resultados, a escolha dessas substâncias deve ser feita por meio de anamnese detalhada e objetivo de cada paciente. Os ativos mais utilizados são: BCAA Aminoácidos como L-arginina, L-ornitina, L-taurina, L-carnitina, L- theanina Cafeína Picolinato de cromo 5-HTP Inositol HMB NADH Vitaminas e antioxidantes 2.2 Estética íntima 6 Não existe um padrão ideal em relação a aparência e anatomia genital externa. Existe, no caso das mulheres, uma série de variações, conforme etnia, peso, idade, entre outros, quanto ao formato, tamanho, textura, pigmentação da pele. Também questões de musculatura da bexiga e assoalho pélvico, que ocasionam em incontinência e perda urinária. Já no caso dos homens, a maior queixa é em relação ao tamanho do pênis, devido a essa condição ser historicamente relacionada com virilidade. A pele das genitálias sofre os mesmos impactos do tempo e idade das demais áreas do corpo. Os principais tratamentos estéticos íntimos procurados são: Rejuvenescimento íntimo – Nas mulheres, nos primeiros 5 anos após a menopausa, é perdido 30% do colágeno cutâneo, em paralelo, devido à queda do hormônio estrogênio, ocorre uma quebra nas fibras de elastina, isso atinge a pele de todas as regiões do corpo, inclusive da região íntima. Essa perda de elasticidade da pele ocasiona enrugamento e flacidez da genitália. A tração constante e excessiva da depilação com cera também contribui para a perda de elasticidade, podendo, ainda, ocasionar hiperpigmentação (manchas). Para essa finalidade, são recomendados: o Tratamentos com radiofrequência e lasers, os quais estimulam síntese de colágeno pelos fibroblastos e melhora da circulação sanguínea da região. o Bioestimuladores de colágeno injetáveis, com o objetivo de induzir síntese de colágeno e melhora na hidratação, o que devolve a elasticidade e firmeza da pele. o Preenchimento com ácido hialurônico, em regiões com perda de volume, por exemplo, grandes lábios da vulva. Clareamento da região íntima – A pele da região íntima é mais escura naturalmente, essa coloração pode ficar mais escura, ou ainda chamado de hiperpigmentação, devido à constante depilação com cera, atrito com as roupas, processos de cicatrização de alguma lesão, condições hormonais, entre outros. Para essa finalidade, podem ser utilizadas técnicas de: o Clareamento com lasers, cremes e peelings com ativos clareadores, além de evitar atrito ou depilação com cera na região. Pode-se utilizar ativos clareadores, como ácido mandélico, ácido 7 tranexâmico, ácido kójico, niacinamida, alfabisabolol, belides, alfa arbutin. Perdas e incontinência urinária – Esta é uma condição que se observa em mulheres de todas as idades e está relacionada com a musculatura do assoalho pélvico e bexiga. O biomédico pode intervir nessa condição desde que descartada a hipótese de desequilíbrios fisiológicos de ordem patológico e desde que se trate de uma questão estética. Para essa finalidade, pode ser indicado o tratamento com equipamentos, como plataforma vibratória, onde, em cima do aparelho em funcionamento, pode ser orientado que a paciente realize exercícios de contrair e relaxar a musculatura, como se estivesse soltando e segurando a urina, na plataforma vibratória, existe um recrutamento muscular muito mais intenso que no exercício em solo, o que exercita de forma mais intensa a musculatura. TEMA 3 – INTERCORRÊNCIAS O aparecimento de rugas, linhas de expressão, flacidez e perda de gordura facial são os sinais mais comuns do envelhecimento. Sabemosda existência e finalidade de cada procedimento para diminuir seu impacto frente ao padrão de beleza estabelecido na sociedade contemporânea. Para o envelhecimento intrínseco, por exemplo, ajudamos a controlar seus danos com formular orais, a fim de amenizar a perda gradual das funções celulares e, para o envelhecimento extrínseco, a reposição de hidratação na textura da pele, estimulação de colágeno por meio de várias técnicas e o relaxamento da musculatura, evitando a demarcação das rugas, são os mais pedidos nas clínicas de estética, entretanto, não podemos deixar de lado um assunto importante, como as possíveis intercorrências que podem ocorrer em cada procedimento. O conhecimento anatômico é de suma importância para diminuir essas ocorrências. Costuma-se dizer que a possível intercorrência inicia assim que o paciente entra em seu consultório, pois uma anamnese mal realizada (falta de atenção) acarretará mais facilmente em um possível erro, seja a escolha errada do tratamento, região anatômica errada, produto não adequado ao tratamento a ser realizado, entre outros. 8 As intercorrências podem ocorrer em procedimentos faciais ou corporais. Com o objetivo de minimizar as possíveis intercorrências, podemos citar alguns cuidados essenciais para a maioria dos procedimentos minimamente invasivos: Anamnese (imunologia comprometida, desordem estética, déficit nutracêutico). Cuidados na assepsia (remover toda maquiagem). Manipulação do produto. Armazenamento/conservação do produto. Diluição correta, quando aplicável. Utilizar material estéril para qualquer injetável. Interação com medicação do paciente. Não criar e alimentar falsas expectativas. Foto antes e depois. Vamos destacar as possíveis intercorrências dos procedimentos mais procurados. Toxina Botulínica: o Ptose – Queda da pálpebra superior em direção a pupila. o Diplopia – Visão dupla. o Lagoftalmia – Incapacidade total ou parcial da pálpebra se fechar. o Xeroftalmia – Olho seco. Preenchimento: o Oclusão vascular localizada (principalmente região de nariz, glabela, têmpora) – limitação do fluxo sanguíneo. o Oclusão vascular extensa (atinge mais de uma região). o Embolismo venoso imediato – Injeção de produto dentro do vaso sanguíneo. o Inchaço e hematoma além do normal, esses sintomas geralmente se apresentam devido à intervenção injetável, porém de forma controlada. o Eritema. o Dor além do normal. o Pápulas e nódulos. o Complicações vasculares como Necrose – Em que a causa é o comprometimento da circulação sanguínea, seja por embolismo, 9 oclusão arterial, compressão externa do vaso, congestão venosa. A área apresenta mudança na coloração da pele, primeiramente, fica esbranquiçada e evolui para violácea com delimitação geográfica, o sintoma de dor é variável. É a intercorrência mais grave. Bioestimulador: o Atenção aos mesmos sintomas do preenchimento. o Branqueamento da região, a não normalização da coloração em 2 horas, suspeitar de necrose. o Inchaço e hematoma além do normal, esses sintomas geralmente se apresentam devido à intervenção injetável, porém de forma controlada. o Eritema. o Dor além do normal. o Pápulas e nódulos. Fios de sustentação: o Ondulações. o Inchaço e descoloração. o Dor além do normal. o Assimetria. o Superficialização de fios e fios fora da pele. o Hematoma e trauma. o Rompimento de estrutura. o Cicatrizes. o Pigmentação. o Infecção. o Migração. o Paralisia facial. o Granulações e fibrose. As principais intercorrências observadas em tratamentos corporais são: Queimaduras – Tanto em procedimentos que utilizam frio, quanto calor. Hipersensibilidade/alergias – A produtos e substâncias utilizados, principalmente ativos utilizados de forma injetável. Necrose por embolismo vascular – Procedimentos injetáveis com substâncias ou fármacos, principalmente por via intramuscular. O ideal é 10 que antes da ejeção, seja realizada a aspiração para visualização de retorno de sangue na agulha. A falta de assepsia correta pode levar a inflamações e/ou infeções. Todo e qualquer procedimento com agulha pode deixar hematoma na região aplicada. É importante ressaltar que, na estética, o paciente tem que estar saudável para realizar qualquer procedimento. TEMA 4 – PRESCRIÇÃO EM ESTÉTICA O profissional biomédico devidamente habilitado em biomedicina estética está autorizado para fins de diagnóstico estético e planejamento de tratamento para o paciente realizar determinadas prescrições. Segundo a Resolução n. 241, de 29 de maio de 2014, do Conselho Federal de Biomedicina: Art. 3º - Na prescrição devem constar: nome da substância ou formulação, forma farmacêutica e potência do fármaco prescrito (a potência do fármaco deve ser solicitada de acordo com abreviações do Sistema Internacional, evitando abreviações e uso de decimais); a quantidade total da substância, de acordo com a dose e a duração do tratamento; a via de administração, o intervalo entre as doses, a dose máxima por dia e a duração do tratamento; nome completo do biomédico prescritor, assinatura e número do registro no Conselho Regional de Biomedicina, local, endereço e telefone do prescritor de forma a possibilitar contato em caso de dúvidas ou ocorrência de problemas relacionados ao uso das substâncias prescritas; data da prescrição. A prescrição deverá seguir as instruções contidas na RDC67 de 08 de outubro de 2007 e demais normas regulamentadoras da ANVISA; Art.5º - O biomédico que possuir habilitação em Biomedicina Estética poderá realizar a prescrição de substâncias e outros produtos para fins estéticos incluindo substâncias biológicas(toxina botulínica tipo A), substâncias utilizadas na Intradermoterapia (incluindo substâncias eutróficas, venotróficas e lipolíticas), substâncias classificadas como correlatos de uso injetável conforme ANVISA, preenchimentos dérmicos, subcutâneos e supraperiostal (excetuando-se o Polimetilmetacrilato/PMMA), fitoterápicos, nutrientes (vitaminas, minerais, aminoácidos, bioflavonoides, enzimas e lactobacilos), seguindo normatizações da ANVISA; Art. 6º – Caberá ao profissional biomédico a prescrição de formulações magistrais ou de referência de cosméticos, cosmecêuticos, dermocosméticos, óleos essenciais e fármacos de administração tópica. Formulações magistrais e de referência de peelings químicos, enzimáticos e biológicos, incluindo a Tretinoína (ácido retinóico de 0,01 a 0,5% de uso domiciliar e até 10% para uso exclusivo em clínica) seguindo instruções da ANVISA. Art.8º – Cabe ainda ao profissional biomédico esteta a prescrição e a realização dos procedimentos que envolvam a utilização de lasers (de baixa, média e alta potência) e outros recursos tecnológicos utilizados para fins estéticos. 11 Art. 9º - O processo de prescrição biomédica deverá seguir as seguintes etapas: I - identificação das necessidades estéticas do paciente; II – definição e prescrição do tratamento para fins estético, seja de natureza farmacológica, biotecnológica ou que envolvam procedimentos invasivos não cirúrgicos para fins estéticos. III - seleção do tratamento ou intervenções relativas aos cuidados à saúde estética e qualidade de vida, com base em sua segurança, eficácia e bases científicas; IV -redação da prescrição; V - orientação ao paciente; VI - avaliação dos resultados; VII - documentação do processo de prescrição e do tratamento adotado. O biomédico pode também prescrever a formulação de nutracêuticos. Os nutracêuticos são indicados por possuírem concentração maior desses nutrientes do que nos alimentos e acabam sendo mais efetivos nos diversos tratamentos onde é indicado. Os chamados compostos bioativos (CB) que eles possuem estão presentes em diversos alimentos, mas neles, são disponibilizados de maneira concentrada, seja em forma de pós, cápsulasou comprimidos. Ainda são diferentes de suplementos, pois estes são compostos por uma única substância, enquanto os nutracêuticos possuem vários princípios ativos em uma só composto, várias possibilidades de combinações, variando de acordo com a necessidade do paciente. Por possuírem efeito colateral extremamente reduzido, podem ser utilizados em forma de auxílio a tratamentos médicos por causar pouca ou nenhuma reação adversa. São facilmente encontrados em farmácias, como fórmulas prontas, mas podem e, dependendo do caso pontual, devem ser realizados de forma personalizada para cada pessoa em farmácias de manipulação, por exemplo. Esses produtos seguem a forma de preparação medicinal, podendo ser encontrados na forma isolada ou purificada. Vejamos alguns alimentos que já possuem suas propriedades funcionais comprovadas e benefícios de nutracêuticos, inclusive com finalidades estéticas: A cenoura e o betacaroteno – Estimula a pigmentação da pele através da melanina, com a função de prolongar e uniformizar o bronzeado. Peixes e o ômega 3 – Alguns peixes possuem um nutriente chamado Ômega 3, uma gordura saudável que estimula o aumento do bom colesterol e reduz o triglicérides, atuando também nas células do sistema nervoso. E também atua estimulando a produção de colágeno. 12 Licopeno presente no tomate, melancia e goiaba – Excelente antioxidante com a ação de proteger as células dos radicais livres. Essa funcionalidade tem comprovadamente até o potencial de prevenir o câncer. Selênio – Ameniza os danos causados pela radiação ultravioleta (UV). Probióticos presentes nos leites fermentados e iogurtes – Auxiliam no bom funcionamento do intestino e reduzem o risco de câncer na região. Resveratrol presente na casca das uvas – Ajuda a inibir inflamações, coágulos e a formação de células cancerígenas. Também muito utilizado na estética em tratamentos faciais, como composto clareador. Catequinas presente nos chás verde e preto – Possuem ação antioxidante e inibem a formação de placas de gordura no sangue. Utilizados na estética como termogênicos e diuréticos leves, auxiliando nos tratamentos corporais, também possuem ação antioxidante, podendo ser utilizados em tratamentos faciais. Podemos ainda citar, cafeína, a vitamina C, o colágeno, as vitaminas do complexo B, os compostos diuréticos, os compostos que auxiliam na circulação sanguínea, entre vários outros. Pode-se realizar a prescrição ainda para realização de exames para auxílio no diagnóstico estético, visto que algumas disfunções estéticas são oriundas de desequilíbrios do estado geral de saúde ou patologias. E, em alguns casos, o paciente deve ser direcionado ao atendimento e tratamento médico antes do procedimento ou em paralelo, ou ainda, contraindicar determinado tratamento estético. Em estética, tudo que for indicado como tratamento ao paciente é considerado uma prescrição, o profissional prescreve determinado procedimento e, nesse caso, não está somente ligado a fármacos e substâncias, mas também procedimentos que se utilizam de equipamentos. Para aquisição de produtos controlados, no sentido de uso permitido somente a profissionais com determinada habilitação, no caso biomedicina estética, também é necessária a prescrição no momento da compra com identificação do biomédico, número do CRBM, carimbo e assinatura. Alguns dos produtos que exigem a prescrição para a compra são: Toxina botulínica Preenchedores Bioestimuladores de colágeno 13 Fios de sustentação Substâncias e fármacos usados em Intradermoterapia Formulação de peelings químicos Os biomédicos não estão autorizados a prescrever medicamentos controlados, pois estes têm a função de tratamento terapêutico, bem como substâncias com uso não permitido aos biomédicos, mesmo que estetas. TEMA 5 – ASSOCIAÇÃO DE PROTOCOLOS Muitas são as opções de tratamento em estética, para cada disfunção ou queixa, existe uma variedade muito grande de procedimentos que agem no mesmo objetivo, o que vai diferenciar e determinar a escolha é o que for mais indicado para cada paciente. Os procedimentos, na sua grande maioria, são eficazes desde que bem indicados, e entender dos processos biológicos, processos inflamatórios e patológicos, interações farmacológicas, permite ao profissional combinar dois ou mais procedimentos que sejam correlatos, para que se potencializem e entreguem melhores resultados. Essa associação de procedimentos é o que popularmente se conhece por pacote, combo, protocolo. Vale ressaltar que estes precisam ser personalizados, pois cada indivíduo tem características fisiológicas únicas. Veremos a seguir exemplos de associações. 5.1 Protocolo para rejuvenescimento Combinação de técnicas que estimulem síntese de colágeno para melhora da qualidade, tônus e aspecto da pele de maneira geral, podendo ser injetável, com uso de laser ou eletroterapia ou peelings químicos + aplicação de toxina botulínica para as linhas de expressão + fios de sustentação nos casos em que se observa ptose (queda acentuada) + preenchimento com ácido hialurônico para preencher sulcos e rugas, ou reestruturar, dando projeção em regiões como “maçã do rosto” + home care com dermocosméticos, nutracêuticos e obrigatoriedade de uso de filtro solar. Em casos de rejuvenescimento, avaliar a necessidade da paciente, não existe a necessidade de todos os procedimentos acima citados, pode ser a combinação de dois ou três. 14 Quando o paciente apresenta sinais de envelhecimento no pescoço, no colo e no dorso das mãos, estender o tratamento a essas regiões também. 5.2 Protocolo para clareamento de manchas Laser ou peeling clareador ou microagulhamento com ativo clareador + home care com nutracêutico específico com substâncias clareadoras (clareador via oral) + dermocosméticos com ativos clareadores, anti-inflamatórios, antioxidantes e nutritivos e obrigatoriedade de uso de filtro solar. Em protocolos de tratamento de manchas e melasmas, é fundamental avaliar e evitar as causas externas, evitando principalmente calor, vapor e radiação. Pacientes com melasma devem ser orientados de que essa disfunção estética é uma predisposição do paciente, assim como a calvície, sendo necessário o controle diário dos gatilhos, cuidados home care e tratamentos de manutenção com periodicidade. 5.3 Protocolo para gordura localizada Eletroterapia (criolipólise, criofrequência, correntes, ultrassom, hidrolipoclasia) ou intradermoterapia + massagem modeladora ou drenagem linfática + carboxiterapia, neste caso, a carboxiterapia atua como potencializados, visto que sozinha não traz resultados tão satisfatórios nessa disfunção e/ou radiofrequência + home care com nutracêutico específico com substâncias que promovam efeito de auxílio ao aumento do metabolismo, ativos que facilitem a lipólise e ativos que auxiliem na eliminação de toxinas e retenção de líquidos. Em tratamentos que possam causar hematoma, deve-se usar filtro solar e evitar a exposição ao sol. Pacientes em tratamento corporal, principalmente de gordura localizada, precisam ter a consciência da mudança ou manutenção de estilo de vida saudável, quanto a dieta, atividade física, ingesta de água. O tratamento sozinho e sem a colaboração do restante não traz resultados 100% eficientes e duradouros. 5.4 Protocolo para tratamento capilar 15 Uso de tratamentos injetáveis, como intradermoterapia ou microagulhamento + carboxiterapia ou ozonioterapia + correntes de baixa frequência + LED + home care com nutracêuticos específicos com substâncias antioxidantes, vitaminas, aminoácidos e tônicos tópicos com o mesmo tipo de substâncias, para que potencializem os resultados. As substâncias têm o objetivo de acelerar a fase anágena (crescimento) e diminuir a fase telógena (queda) do ciclo de crescimento dos cabelos.Antes de iniciar o tratamento capilar, o paciente deve descartar qualquer possibilidade de desordem do seu estado geral de saúde, muitas vezes, a causa é o desequilíbrio hormonal e, nesta situação, é preciso intervenção médica junto. Hábitos de vida também interferem, alimentação saudável, atividade física, qualidade de sono, ingesta de água e, para distúrbios capilares, existe um agravante considerável: a saúde mental e emocional. Muitas são as possíveis combinações, nem sempre é preciso combinar técnicas, o importante é pensar no que potencializa o que e não desperdiçar recursos com procedimentos que o resultado principal não é o que é indicado para o paciente, por exemplo, tratar gordura localizada somente com radiofrequência, por isso, a importância da anamnese bem feita e conhecimento do que está sendo provocado com a intervenção, ou ainda anular o resultado de um procedimento com a associação de outro. Não menos importante é observar os resultados obtidos e, se for necessário, mudar o procedimento ao longo do tratamento. NA PRÁTICA Biomédicos estetas podem prescrever medicamentos com o objetivo de tratar patologias? Qual o cuidado que se deve tomar ao associar protocolos? Qual o impacto da autoestima na saúde do indivíduo? Onde a estética atua na promoção da saúde? 16 FINALIZANDO Com os avanços, temos uma série de tratamentos estéticos que auxiliam em diversas disfunções estéticas, ou promovem um envelhecimento, que é um processo natural, de forma saudável. A área da estética é fascinante, muitos desejam entrar nessa área pensando no âmbito financeiro, mas o pensamento ideal adotado na estética é promover saúde aos pacientes por meio da estética. Vimos ao longo das nossas aulas o quanto é importante que o profissional biomédico esteta estude de forma aprofundada e tenha conhecimento e consciência dos processos fisiológicos e patológicos, o organismo e todos os seus sistemas, estruturas e tecidos, interações farmacológicas e também noções de bioética e biossegurança, as quais norteiam qualquer profissional da saúde. Tudo isso permite entender qual o efeito fisiológico da intervenção, independente da modalidade adotada, o motivo de se dar o efeito estético e assim tomar decisões assertivas, descartar o que não traz resultado ou é contraindicado, evita intercorrências, e traz resultados eficientes e duradouros aos seus pacientes. O paciente tem muito interesse em ter resultados, mas o maior interessado deve ser o profissional. 17 REFERÊNCIAS CASTRO, M. B.; ALCÂNTRA, G. A. Efeitos adversos no uso do ácido hialurônico injetável em preenchimentos faciais. Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p.2995-3005 mar.-apr. 2020. CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA. Disponível em: <http://cfbm.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/Res-2014-241.pdf>. Acesso em: 9 set. 2021. SIQUEIRA, A.C. et al. Hidrolipoclasia. Revista Saúde em Foco, n. 10, 2018. VIEIRA, K. K. V.; JUNIOR, W. V. M. Eventos adversos e demais incidentes no cuidado estético realizado pelo Biomédico. Acta Biomédica Brasiliensia, v. 9, n, 1, abr. 2018. ANATOMIA AULA 7 Profª Raphaela Y. M. Mordaski 2 CONVERSA INICIAL Como já sabemos, nosso corpo como um todo é formado por vários sistemas que trabalham de forma coordenada e em equilíbrio para manter sua homeostase, incluindo as estruturas faciais da cabeça e do pescoço. O conhecimento da anatomia facial é essencial para uma variedade de profissionais da saúde que realizam procedimentos e tratamentos que envolvem a face. Portanto, é crucial que esses profissionais tenham um entendimento completo e preciso da anatomia da cabeça e do pescoço para entender e diferenciar as estruturas anatômicas que compõem a face humana. A face é a região do corpo humano mais facilmente reconhecida e identificada pelos outros e é composta por diversas estruturas, incluindo a pele, músculos, ossos, cartilagens, vasos sanguíneos, nervos e órgãos dos sentidos. Por isso, o objetivo desta etapa é ajudá-lo(a) a entender e aprender mais sobre as estruturas faciais. TEMA 1 – SISTEMA ESQUELÉTICO O sistema esquelético ou sistema ósseo é o conjunto de ossos, cartilagens e ligamentos. Possui diversas funções, sendo a principal a proteção para estruturas vitais (como o cérebro). Também é responsável pelo armazenamento de minerais, como o Ca10(PO4)6(OH)2 (hidroxiapatita de cálcio e fosfato), que tem por função a contração muscular, transmissão de impulsos nervosos e coagulação sanguínea. O sistema é constituído por aproximadamente 70% de minerais, 20% de matriz orgânica e 10% de água. O crânio é constituído por 22 ossos, com exceção da mandíbula. Esses ossos são ligados entre si por meio de suturas que os tornam imóveis, e são divididos em duas porções: viscerocrânio (face) e neurocrânio. No Quadro 1, pode-se verificar a quantidade de cada osso e suas divisões. 3 Quadro 1 – Ossos do crânio e suas quantidades Fonte: HIATT, 2011. 1.1 Viscerocrânio A face propriamente dita, ou viscerocrânio, é formada pelos seguintes ossos: nasal, maxilar, mandibular, zigomático, vômer, lacrimal, palatino e concha nasal inferior (Figura 1). 1.1.1 Osso nasal O osso nasal é composto por um par, sendo considerado um osso plano, uma vez que apresenta uma espessura muito fina e pequena. Ele está localizado na parte central da face, na altura da ponte do nariz (região superior). É responsável por formar a parte superior do nariz e contribui para a forma e simetria do nariz. Além disso, ele também protege a cavidade nasal e ajuda a direcionar o fluxo de ar para as vias corretas. 1.1.2 Osso maxilar O osso maxilar é composto por um par, direito e esquerdo. É um osso irregular e pneumático com formato piramidal. Localiza-se na parte média da face, formando a maior parte da cavidade oral (céu da boca), da base do nariz, das paredes laterais da cavidade nasal e inferior da órbita. Sua parte lateralizada se relaciona com os ossos zigomáticos. A principal função do osso maxilar é fornecer suporte para os dentes superiores e dar forma à face humana. Ele também protege as estruturas 4 subjacentes, como os seios maxilares e a cavidade nasal, e fornece uma superfície de ancoragem para os músculos faciais. Além disso, o osso maxilar desempenha um papel importante na articulação da mandíbula durante a mastigação e fala. 1.1.3 Osso mandibular O osso mandibular, também conhecido como mandíbula, é um osso único localizado na região inferior da face, com formato de ferradura. Nele está presente a arcada dentária inferior. É o único osso da parte de viscerocrânio com movimentação, pois não se une com os outros através de suturas, mas através da articulação temporomandibular, sendo essa articulação responsável pelo movimento da boca, permitindo as ações de mastigação, fala e respiração. A mandíbula é composta por várias partes, incluindo o processo coronoide, que é uma projeção em forma de gancho que serve como ponto de ancoragem para os músculos da mastigação, o processo condilar, que é a articulação com o osso temporal na base do crânio, e o mento, que é a protuberância óssea na parte inferior da mandíbula. A principal função da mandíbula é permitir a mastigação, a fala e a respiração adequadas. Ela também protege as estruturas subjacentes, como os dentes e as raízes nervosas, e fornece uma superfície de ancoragem para os músculos faciais. 1.1.4 Osso zigomático O osso zigomático é composto por um par, direito e esquerdo, com forma de quadrilátero. Está localizado na parte lateral da face, formando as proeminências laterais da face, que se unem à têmpora e formam a parte lateral e inferior da órbita. Na parte anterior, une-se ao osso maxilar. É muito conhecido como osso malar ou maçã do rosto.A principal função do osso zigomático é fornecer suporte para as bochechas e a projeção óssea que dá à face humana sua forma característica. Ele também protege as estruturas subjacentes, como o globo ocular e o tecido nervoso, e fornece uma superfície de ancoragem para os músculos faciais. 1.1.5 Osso vômer 5 O osso vômer é um osso único mediano, localizado na parte posterior e inferior da cavidade nasal (abaixo do septo nasal), entre os ossos maxilares e esfenoides. Ele possui uma estrutura delgada e achatada, com uma forma de lâmina, que se estende verticalmente para baixo, dividindo a cavidade nasal em duas passagens. Desempenha um papel importante na respiração e na olfação, pois ajuda a direcionar e controlar o fluxo de ar dentro da cavidade nasal. Além disso, ele também contribui para a formação do septo nasal, que é a parede que separa as duas passagens nasais. É essencial para a estabilidade da estrutura da face, pois ajuda a suportar o peso do crânio e a distribuir a carga durante a mastigação e a fala. Fornece também uma superfície de ancoragem para os músculos faciais e os tecidos moles ao redor do nariz. 1.1.6 Osso lacrimal O osso lacrimal é composto por um par, direito e esquerdo, localizado na parte anterior e medial da cavidade orbital, que forma parte da parede lateral do nariz. Sua função é abrigar a glândula lacrimal, que produz lágrimas para lubrificar e proteger os olhos. Faz parte do sistema de drenagem lacrimal, que ajuda a drenar as lágrimas dos olhos para o nariz. Ele apresenta uma pequena abertura, chamada de ponto lacrimal, que se conecta ao canal lacrimal, que por sua vez desemboca no ducto nasolacrimal, que leva as lágrimas para o nariz. 1.1.7 Osso palatino O osso palatino é composto por um par, localizado na parte posterior da cavidade nasal e na porção anterior da cavidade oral. Ele faz parte da formação do palato duro, que é a parte óssea do céu da boca. Trata-se de uma estrutura plana e delgada, com uma forma de L, que se conecta ao osso esfenoide na sua porção posterior e ao osso maxilar na sua porção anterior. Ele também apresenta uma pequena abertura, chamada de forame palatino maior, que permite a passagem de nervos e vasos sanguíneos para a boca. Desempenha um papel importante na fala e na alimentação, pois ajuda a separar a cavidade nasal da cavidade oral e a direcionar o fluxo de ar e alimentos 6 para as vias corretas. Ele também fornece uma superfície de ancoragem para os músculos da mastigação e da fala. 1.1.8 Concha nasal inferior A concha nasal inferior é composta por um par, possui formato curvado e está localizada na porção lateral da cavidade nasal. É responsável por aumentar a superfície da mucosa nasal, ajudando a filtrar, umidificar e aquecer o ar que entra nas vias respiratórias. Ela também ajuda a direcionar o fluxo de ar para o sentido correto e a evitar que partículas estranhas entrem nos pulmões. Figura 1 – Ossos do viscerocrânio Créditos: Excellent Dream/Shutterstock. 1.2 Neurocrânio Os ossos do neurocrânio englobam o osso temporal, parietal, frontal, esfenoide, etmoide e occipital (Figura 2). 7 1.2.1 Temporal O osso temporal é composto por um par, possui formato irregular e está localizado na porção lateral inferior do crânio. É responsável por proteger e abrigar várias estruturas importantes, incluindo o ouvido interno, o nervo facial e o sistema vestibular. Além disso, ele também desempenha um papel importante na articulação da mandíbula e na mastigação. 1.2.2 Parietal O osso parietal é composto por um par, tem formato plano e está localizado na porção superior e lateral do crânio, sendo um osso muito importante na proteção do cérebro, é ele que forma a maior parte do teto do crânio. É responsável por proteger o cérebro e pela fixação de vários músculos, como o músculo temporal e o músculo occipital. Além disso, ele também é importante na manutenção da temperatura do cérebro, atuando como uma barreira térmica para prevenir a perda de calor. 1.2.3 Frontal O osso frontal é único e tem formato plano, está localizado na parte anterior do crânio, incluindo a testa e a borda superior das órbitas oculares. Ele é um dos ossos mais visíveis e proeminentes do crânio. É responsável por proteger o cérebro e pelos músculos envolvidos na expressão facial, como o músculo frontal que permite a elevação das sobrancelhas. Além disso, ele também abriga os seios frontais, que são cavidades de ar que ajudam a reduzir o peso do crânio. 1.2.4 Esfenoide O osso esfenoide é um osso único, localizado na base do crânio, entre as órbitas oculares e atrás do osso nasal. Ele é um dos ossos mais importantes do crânio, pois ajuda a sustentar o peso do cérebro e protegê-lo de lesões. É responsável por proteger o cérebro e pelas ligações musculares do crânio e da face, permitindo movimentos da cabeça e da mandíbula. Ele também 8 abriga a glândula pituitária, que é responsável por controlar as funções endócrinas do corpo. 1.2.5 Etmoide O osso etmoide é um osso único, que está localizado na base do crânio, na parte medial da cavidade orbital, entre os ossos nasais e esfenoides. Ele é um dos ossos mais complexos e anatomicamente importantes do crânio. Por estar localizado na região central do interior do crânio, ele se encontra em contato com quinze ossos cranianos, como o osso frontal, o esfenoide, o vômer e a concha nasal inferior. É responsável por fornecer suporte para as estruturas nasais, ajudando a moldar a cavidade nasal e a filtrar o ar respirado. Ele também abriga o órgão do olfato, que é responsável pela percepção dos odores. 1.2.6 Occipital O osso occipital é um osso único e grande, que se localiza na parte posterior e inferior do crânio. Ele se articula com outros ossos do crânio e da coluna vertebral, fornecendo suporte e proteção para o cérebro e outras estruturas importantes. É responsável por proteger a medula espinhal e o tronco cerebral, que controlam muitas funções vitais do corpo, como a respiração, a frequência cardíaca e a pressão arterial. Ele também serve como ponto de ancoragem para muitos músculos do pescoço e da cabeça, permitindo movimentos da cabeça e do pescoço. 9 Figura 2 – Ossos do neurocrânio Créditos: VectorMine/Shutterstock. 1.3 Ossos do pescoço Na região do pescoço existem 7 tipos de vértebras cervicais, numerados de C1 a C7, que são os ossos mais superiores da coluna vertebral (Figura 3). As vértebras cervicais são menores e mais delicadas em comparação com as vértebras torácicas e lombares, permitindo maior mobilidade para a cabeça e o pescoço. Elas também protegem a medula espinhal e os nervos cervicais que se ramificam para os braços, ombros e pescoço. Além das vértebras cervicais, o pescoço também contém outros ossos, como o osso hioide, que é um osso em forma de U localizado na base da língua, e os ossos do crânio, como falado anteriormente. Esses ossos fornecem suporte 10 e proteção para as estruturas dentro e fora do pescoço, incluindo a traqueia, esôfago, glândula tireoide e as artérias carótidas. Figura 3 – Vértebras cervicais Créditos: Vinichenko Ihor/Shutterstock. 1.4 Periósteo O periósteo é uma membrana fibrosa densa que cobre a superfície externa dos ossos, com exceção das superfícies articulares. Ele é rico em vasos sanguíneos, nervos e células ósseas que ajudam a nutrir e reparar o osso (Figura 4). Desempenha um papel importante na manutenção da integridade óssea, fornecendo uma fonte de células-tronco e osteoblastos, que são responsáveis pela formação óssea e regeneração. Além disso, ele ajuda a fixar os tendões e ligamentos aos ossos, fornecendo uma superfície de ancoragem para essas estruturas. Também é importante na proteção do osso de lesões externas e na 11 resposta a infecções e inflamações,ajudando a limitar a disseminação de doenças para o interior do osso. Figura 4 – Camadas da face Crédito: Elias Aleixo. 1.5 Sistema cartilaginoso Além dos ossos, o sistema esquelético também inclui as cartilagens, que são compostas de tecido conjuntivo elástico e fibrocartilagem, compostos por várias estruturas de cartilagem que fornecem suporte e forma à face, como por exemplo, a cartilagem nasal que forma a ponta do nariz e o septo nasal (Figura 5), as cartilagens alares que são responsáveis por formar as asas do nariz, as cartilagens do septo lateral que ajudam a separar as cavidades nasais, as cartilagens que formam as orelhas, a cartilagem cricoide que forma a base da laringe, a cartilagem da tireoide que é a maior cartilagem da laringe, formando o conhecido pomo de adão, as cartilagens corniculadas que ajudam a controlar o 12 fluxo de ar através das cordas vocais e as cartilagens cuneiformes que ajudam a manter a forma da laringe. Essas cartilagens trabalham juntas para fornecer suporte e estrutura à face e à laringe, além de ajudar na produção da fala e da respiração. Figura 5 – Cartilagem nasal Créditos: Solar22/Shutterstock. 1.6 Forames Os forames ósseos faciais são aberturas ou “furos” presentes nos ossos da face, através dos quais passam nervos, vasos sanguíneos e outros elementos anatômicos importantes (Figura 6). 1.6.1 Forame supraorbital O forame supraorbital é uma abertura presente na região supraorbital da fronte, acima da órbita ocular. Ele está localizado na porção mais lateral do osso frontal do crânio. Através desse forame passam o nervo supraorbital e as artérias correspondentes, que fornecem a sensibilidade e o suprimento sanguíneo para 13 a testa, couro cabeludo e parte superior das pálpebras. O nervo supraorbital é um ramo do nervo oftálmico, que é um dos três ramos do nervo trigêmeo, responsável pela inervação sensorial da face. 1.6.2 Forame infraorbital O forame infraorbital ou infraorbitário é uma abertura presente na maxila, abaixo da órbita ocular e ao lado do nariz. Esse forame permite a passagem do nervo infraorbitário e dos vasos sanguíneos correspondentes, que fornecem a sensibilidade para a região do lábio superior, das bochechas e das pálpebras inferiores. O nervo infraorbitário é um ramo do nervo maxilar, que faz parte do quinto par craniano (nervo trigêmeo), responsável pela inervação sensorial da face. 1.6.3 Forame mentual O forame mentual ou mentoniano é uma abertura presente na mandíbula, abaixo do mento (proeminência da mandíbula) e na linha média da mandíbula. Esse forame permite a passagem do nervo mentoniano e dos vasos sanguíneos correspondentes, que fornecem a sensibilidade para a região do queixo e dos lábios inferiores. O nervo mentoniano é um ramo do nervo alveolar inferior, que também é um ramo do nervo mandibular, o terceiro ramo do nervo trigêmeo. Existem outros forames ósseos faciais, mas estes são alguns dos mais conhecidos e estudados. 14 Figura 6 – Forames faciais Créditos: ilusmedical/Shutterstock. TEMA 2 – SISTEMA MUSCULAR O sistema muscular facial é composto pelos músculos responsáveis pelos movimentos e expressões faciais. Esses músculos estão conectados à pele e aos ossos do crânio e são controlados pelo sistema nervoso. Eles permitem a realização de ações como sorrir, franzir a testa, piscar os olhos, entre outras expressões faciais. Além disso, o sistema muscular facial também desempenha um papel importante na comunicação não verbal, permitindo que as pessoas expressem emoções e sentimentos de maneira clara e eficaz (Figura 7). 15 2.1 Músculos do terço superior O terço superior da face é composto por diversos músculos que atuam na região da testa, sobrancelhas e pálpebras. 2.1.1 Músculo frontal O músculo frontal é um músculo largo e plano localizado na região frontal do crânio, que se estende da testa até a linha do cabelo. Ele é um músculo importante na região do terço superior da face e é responsável por elevar as sobrancelhas e produzir rugas horizontais na testa quando contraído. A contração do músculo frontal é responsável por expressões faciais como surpresa e preocupação, que são caracterizadas pelo levantamento das sobrancelhas e formação de rugas na testa. Além disso, o músculo frontal também pode estar envolvido na produção de expressões de alegria e felicidade, quando combinado com outros músculos faciais. É controlado pelo nervo facial, que é responsável pela inervação dos músculos da face. 2.1.2 Músculo prócero O músculo prócero está localizado na região da testa, entre as sobrancelhas. É um músculo pequeno e delgado, com forma triangular. Sua principal função é produzir a contração das sobrancelhas e a formação de rugas verticais na testa, dando uma expressão de preocupação ou desaprovação. 2.1.3 Músculo corrugador do supercílio O músculo corrugador está localizado na região da testa, na região medial da sobrancelha. Ele é responsável pela produção de rugas verticais na testa e pelo movimento das sobrancelhas em direção ao centro do rosto, produzindo uma expressão de preocupação ou desaprovação. É controlado pelo nervo facial e pode ser ativado de forma involuntária em resposta ao estresse ou à ansiedade. A atividade excessiva do músculo corrugador pode levar à formação de rugas permanentes na testa ao longo do tempo, especialmente quando combinado com outros músculos faciais envolvidos na formação de expressões faciais. Por isso, alguns tratamentos 16 estéticos como a toxina botulínica podem ser utilizados para reduzir a atividade desse músculo e suavizar as rugas da testa. 2.1.4 Músculo orbicular dos olhos O músculo orbicular dos olhos é um músculo circular que está localizado ao redor dos olhos e é responsável pelo fechamento das pálpebras. Além de fechar as pálpebras, está envolvido na formação de rugas nos cantos dos olhos quando sorrimos, conhecidas como pés de galinha, sendo controlado pelo nervo facial. Trata-se de um músculo facial importante na região do terço superior da face e está envolvido na produção de expressões faciais como o sorriso e o franzir de sobrancelhas. 2.1.5 Músculo elevador das pálpebras O músculo elevador das pálpebras, também conhecido como músculo levantador da pálpebra superior, é um músculo que se origina na região da órbita ocular e se insere na pálpebra superior. Ele é responsável pela elevação da pálpebra superior e pela abertura dos olhos. É controlado pelo nervo oculomotor e é um músculo fundamental para a visão, pois permite que os olhos sejam mantidos abertos. Além disso, ele também contribui para a expressão facial, permitindo a produção de expressões como a surpresa e a curiosidade. A fraqueza ou paralisia desse músculo pode resultar em ptose palpebral, que é a queda da pálpebra superior e pode causar dificuldades na visão, desconforto ou até mesmo visão dupla. 2.1.6 Músculo temporal O músculo temporal está localizado na região temporal da cabeça, acima das orelhas. Ele é um dos músculos responsáveis pela mastigação e ajuda a fechar a mandíbula durante a mastigação. É um músculo grande e plano, com uma forma quadrangular. Ele se origina da linha temporal inferior, que é a borda inferior do osso temporal, e se insere na aponeurose temporal, que é uma camada de tecido conjuntivo denso que cobre o crânio. 17 Quando este músculo se contrai, ele puxa a mandíbula para cima, fechando a boca e auxiliando na mastigação. Ele é controlado pelo nervo trigêmeo e trabalha em conjunto com outros músculos da mastigação, como o músculo masseter e o músculo pterigoideo lateral. 2.2 Músculos do terço médio e inferior Os músculos do terço médio e inferior da face são responsáveis pelos movimentos que afetam a região das bochechas, nariz, lábios superior e inferior,mandíbula e queixo. 2.2.1 Músculo nasal O músculo nasal é um músculo que cobre o dorso do nariz, localizado superficialmente ao osso nasal e à cartilagem nasal lateral. É responsável pela dilatação e compressão das narinas. É controlado pelo ramo bucal do nervo facial e realiza a expressão facial que enruga a pele do dorso do nariz, muito usada como uma expressão de cheiro ruim ou “bichinho”. 2.2.2 Músculo levantador da asa do nariz O músculo levantador da asa do nariz é um músculo pequeno localizado na região lateral do nariz. Ele se origina na maxila e se insere na asa do nariz, sendo responsável por elevar a asa do nariz durante a inspiração. Esse músculo é controlado pelo nervo facial e é importante para a respiração nasal adequada, ajudando a abrir as vias aéreas nasais e permitindo uma respiração mais eficiente. Além disso, ele também contribui para a expressão facial, permitindo a produção de expressões como o sorriso lateral. 2.2.3 Músculo depressor nasal O músculo depressor nasal, também conhecido como depressor da ponta do nariz, é um músculo localizado na parte inferior do nariz, entre as duas narinas. Ele se origina na maxila e se insere na cartilagem alar, que forma a ponta do nariz, sendo controlado pelo nervo facial. A principal função do músculo depressor nasal é abaixar a ponta do nariz, contribuindo para expressões faciais como o franzimento do nariz e a expressão 18 de desgosto ou repulsa. Além disso, é importante para a função respiratória, permitindo a abertura das narinas durante a inspiração. No entanto, em algumas pessoas, sua atividade excessiva pode levar a uma aparência de nariz caído e obstrução nasal. 2.2.4 Músculo levantador do lábio superior O músculo levantador do lábio superior é um músculo da face localizado na região do lábio superior, abaixo do nariz. Ele se origina na parte frontal da maxila e se insere na pele do lábio superior. Sua principal função é levantar o lábio superior e contribuir para a formação do sorriso. Esse músculo é controlado pelo nervo facial e trabalha em conjunto com outros músculos da região do lábio, como o músculo orbicular dos lábios e o músculo elevador do ângulo da boca, para produzir uma variedade de expressões faciais, incluindo sorrisos, risos e expressões de surpresa. Além de sua função na expressão facial, também é importante na função oral, permitindo a elevação do lábio superior durante a fala e a mastigação adequadas. 2.2.5 Músculo orbicular da boca O músculo orbicular da boca é um músculo circular que está localizado ao redor da boca, é controlado pelo nervo facial e é responsável por movimentos relacionados à fala, à mastigação e à expressão facial. Ele é composto por fibras musculares que se originam na linha média do lábio superior e inferior e se inserem na mesma região, permitindo o fechamento da boca. Além disso, também é responsável por muitas das expressões faciais, como o sorriso e o franzimento dos lábios. Quando os lábios se esticam, esse músculo é responsável por manter os lábios juntos e, quando os lábios se abrem, ele é responsável por ajudar a esticá-los. 2.2.6 Músculo depressor do ângulo da boca O músculo depressor do ângulo da boca é um músculo localizado no terço inferior da face, abaixo dos lábios. Ele se estende do osso da mandíbula até o canto da boca e é responsável por baixar os cantos da boca, produzindo expressões faciais de tristeza e desgosto. 19 Quando ele se contrai, puxa o canto da boca para baixo e para o lado, criando a aparência de um rosto triste ou carrancudo. Por outro lado, quando ele se relaxa, os cantos da boca se elevam, produzindo um sorriso. O músculo depressor do ângulo da boca é controlado pelo nervo facial e trabalha em conjunto com outros músculos do terço inferior da face para produzir uma variedade de expressões faciais. Algumas pessoas podem sentir que este músculo está mais desenvolvido ou mais proeminente do que o normal, o que pode afetar a aparência do rosto. Em casos como esses, procedimentos estéticos, como a toxina botulínica, podem ser usados para enfraquecer a atividade deste músculo e suavizar a aparência do rosto. 2.2.7 Músculo mentoniano O músculo mentoniano é um músculo localizado no terço inferior da face, abaixo dos lábios. É controlado pelo nervo facial, se estende do osso da mandíbula até a pele do queixo e é responsável por mover o lábio inferior para baixo e para frente. Quando ele se contrai, puxa o lábio inferior para baixo e para frente, produzindo uma expressão facial de tristeza, frustração ou o chamado aspecto de queixo celulítico. Ele também pode ser ativado durante a fala e a mastigação. 2.2.8 Músculo zigomático maior e menor Os músculos zigomáticos maior e menor se estendem da região zigomática, osso da bochecha, até o canto da boca e ao redor do lábio superior e das narinas. São responsáveis pela elevação do canto da boca e contribuem para a formação do sorriso. São controlados pelo nervo facial e trabalham em conjunto com outros músculos da face para produzir uma variedade de expressões faciais. Além disso, também são importantes na mastigação adequada, ajudando a elevar a mandíbula durante o processo de mastigação e elevação do lábio superior na mastigação e fala. 2.2.9 Músculo risório O músculo risório é um músculo localizado no terço médio da face, abaixo do músculo zigomático maior. Ele se estende da parte lateral da face até o canto 20 da boca e é responsável por puxar a comissura labial para o lado, sendo controlado pelo nervo facial. Quando se contrai, ele produz uma expressão facial que é geralmente interpretada como um sorriso falso ou irônico. 2.2.10 Músculo bucinador O músculo bucinador é um músculo facial que se encontra na parte lateral da face, em cada uma das bochechas. Ele é responsável por auxiliar na mastigação e na fala, além de ajudar a manter os alimentos dentro da boca enquanto se mastiga e de manter o alimento na parte de trás da boca. Ele se origina do processo alveolar do maxilar superior e da mandíbula e se insere na borda da boca e na musculatura ao redor. É inervado pelo nervo facial e recebe suprimento sanguíneo da artéria bucal. Quando se contrai, ele comprime as bochechas contra os dentes e ajuda a mover os alimentos para os dentes posteriores durante a mastigação. Além disso, o músculo bucinador também é importante para a fala, pois ajuda a moldar o som produzido pelos lábios. 2.2.11 Músculo masseter O músculo masseter está localizado na parte lateral da face, estendendo- se do arco zigomático até a mandíbula inferior. Ele é responsável pela mastigação, elevação da mandíbula e projeção da mandíbula para frente. É inervado pelo nervo trigêmeo e recebe suprimento sanguíneo das artérias masseterina e temporal. É o músculo mais forte da mastigação, capaz de exercer uma grande força na mandíbula, permitindo a trituração de alimentos mais duros. Além de sua função na mastigação, o músculo masseter também pode estar envolvido na sustentação da cápsula articular da articulação temporomandibular. 2.3 Músculo platisma O músculo platisma é um músculo superficial do pescoço, localizado logo abaixo da pele. Possui inserções da mandíbula até aproximadamente a altura da segunda costela, cruzando a clavícula. 21 É inervado pelo nervo facial e recebe suprimento sanguíneo da artéria cervical transversa. É responsável por auxiliar na expressão facial, especialmente em expressões de tristeza ou tensão, além de ajudar na mobilidade do pescoço. Figura 7 – Músculos faciais Créditos: TimeLineArtist/Shutterstock. TEMA 3 – SISTEMA CIRCULATÓRIO O sistema circulatório é responsável por transportar nutrientes, oxigênio, hormônios e outras substâncias pelo corpo, além de remover dióxido de carbono e outros resíduos metabólicos. Os vasos sanguíneos sãodivididos em três tipos: artérias, veias e capilares. As artérias transportam o sangue rico em oxigênio do coração para o 22 resto do corpo, enquanto as veias levam o sangue pobre em oxigênio de volta ao coração. Os capilares são vasos sanguíneos microscópicos que conectam as artérias às veias, permitindo a troca de nutrientes e resíduos metabólicos entre o sangue e as células do corpo. O sangue é composto por células sanguíneas (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) e plasma. Os glóbulos vermelhos transportam oxigênio dos pulmões para as células do corpo, enquanto os glóbulos brancos são responsáveis pela defesa do corpo contra infecções e doenças. As plaquetas ajudam na coagulação sanguínea. O plasma é uma solução aquosa que transporta nutrientes, hormônios e outras substâncias pelo corpo. O sistema circulatório desempenha um papel vital na manutenção da homeostase do corpo, ajudando a regular a temperatura, o pH e o volume sanguíneo do corpo. A face recebe sangue através das artérias faciais e é drenada pelas veias faciais, que são ramos das artérias e veias carótidas externas, respectivamente. O sistema linfático também é importante para a circulação do rosto, pois ajuda a drenar o excesso de fluidos e resíduos metabólicos dos tecidos faciais. O sistema linfático facial inclui vasos linfáticos superficiais e profundos, além de gânglios linfáticos que estão localizados principalmente na área do pescoço. 3.1 Artérias da cabeça e pescoço Essas artérias (Figura 8) são importantes porque fornecem sangue para as estruturas que sustentam as funções vitais do corpo humano, como o cérebro, os olhos, os ouvidos, a face, a garganta e a língua. A artéria carótida comum é a principal artéria que fornece sangue para a cabeça e pescoço. Ela se divide em artéria carótida interna e externa. A artéria vertebral também fornece sangue para a cabeça e pescoço. Ela segue um trajeto pelo interior das vértebras cervicais até a base do crânio. A artéria occipital se origina da artéria carótida externa e fornece sangue para a parte posterior da cabeça. A artéria temporal superficial se origina da artéria carótida externa e fornece sangue para a região temporal da cabeça. A artéria maxilar se origina da artéria carótida externa e fornece sangue para a mandíbula e os dentes. A artéria lingual se origina da artéria carótida externa e fornece sangue para a língua. 23 A artéria facial se origina da artéria carótida externa e fornece sangue para a face, tanto para a pele, músculos e outras estruturas do rosto. Segue um trajeto sinuoso ao longo da face, passando através dos músculos faciais e fornecendo sangue para os tecidos circundantes. Ela dá origem a uma série de ramos, incluindo a artéria labial superior, artéria angular do olho, artéria temporal superficial, artéria auricular posterior, artéria submentoniana e outras. A irrigação sanguínea fornecida é importante para a nutrição das células da face, bem como para a manutenção da temperatura e regulação da pressão sanguínea. Figura 8 – Sistema arterial da cabeça e do pescoço Créditos: rob9000/Shutterstock. 3.2 Veias da cabeça e do pescoço As veias fazem parte do sistema venoso (Figura 9) que leva o sangue de volta ao coração. As veias jugulares são as principais veias do pescoço e são 24 responsáveis por drenar o sangue da cabeça e do pescoço para o coração. Existem duas veias jugulares: a jugular interna e a jugular externa. As veias vertebrais são veias que correm ao longo da coluna vertebral e drenam o sangue da medula espinhal e dos músculos do pescoço. As veias temporais drenam o sangue da região temporal (ao lado da cabeça, próximo às orelhas). As veias cerebrais drenam o sangue do cérebro. As veias faciais drenam o sangue da face, da pele dos músculos e tecidos subjacentes e do couro cabeludo. São uma das principais veias da cabeça e do pescoço. Elas se originam na região da ponta do nariz e ao redor da boca, e se estendem ao longo da face em direção às orelhas, onde se conectam com a veia jugular externa. Elas são um componente importante do sistema venoso superficial da cabeça e do pescoço e ajudam a regular a temperatura corporal e a distribuir os nutrientes e remover o dióxido de carbono dos tecidos. É importante lembrar que o sistema venoso é muito interligado, ou seja, as veias da cabeça e do pescoço se conectam com as veias de outras partes do corpo. Figura 9 – Sistema venoso da cabeça e do pescoço Créditos: Draw Man/Shutterstock. 25 3.3 Capilares faciais Os capilares faciais são pequenos vasos sanguíneos que conectam as arteríolas (vasos que levam sangue do coração aos tecidos) e as vênulas (vasos que levam sangue dos tecidos ao coração) na região da face. Eles são responsáveis por transportar sangue rico em oxigênio e nutrientes para as células da pele e dos tecidos subjacentes e ajudam a remover o dióxido de carbono e outros resíduos metabólicos. São essenciais para a saúde e o funcionamento da pele da face, incluindo a regulação da temperatura, a hidratação e a aparência geral. Eles também podem ser afetados por diversas condições, como a rosácea, uma doença inflamatória crônica que causa vermelhidão e erupções cutâneas na face. Além disso, são frequentemente afetados por fatores externos, como a exposição excessiva ao sol, o estresse, o tabagismo e outros hábitos de vida pouco saudáveis. 3.4 Sistema linfático facial O sistema linfático facial (Figura 10) é uma rede complexa de vasos linfáticos, gânglios linfáticos e órgãos linfoides presentes na região da face e do pescoço. Possui diversas funções importantes, incluindo a defesa do corpo contra infecções e doenças, coletar, transportar e remover a linfa (líquido incolor e transparente que contém células imunológicas, líquido intersticial e resíduos metabólicos), líquidos e substâncias que não foram absorvidas pelo sistema circulatório e o transporte de nutrientes da região da face e do pescoço. Os vasos linfáticos faciais começam na região da face e do pescoço e se estendem para os gânglios linfáticos, que são pequenos órgãos linfoides que filtram a linfa e removem bactérias, vírus e outras substâncias estranhas do corpo. Os gânglios linfáticos da região facial e cervical incluem os gânglios submandibulares, pré-auriculares, occipitais e cervicais. 26 Figura 10 – Sistema linfático Créditos: S K Chavan/Shutterstock. TEMA 4 – SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é responsável por controlar e coordenar as funções do corpo humano. No caso da cabeça e do pescoço, o sistema nervoso é composto por diversas estruturas, como já vistas anteriormente, como o encéfalo, a medula espinhal, o sistema nervoso autônomo, os nervos cranianos e os nervos cervicais. 27 4.2 Nervos cervicais São um grupo de oito pares de nervos que emergem da medula espinhal na região do pescoço (coluna cervical) e se ramificam para fornecer inervação para os músculos, a pele e as estruturas do pescoço e dos ombros. São numerados de C1 a C8, correspondendo ao nível vertebral onde eles emergem da medula espinhal. Cada nervo cervical tem uma área específica de inervação, que pode incluir músculos específicos, pele, articulações e estruturas vasculares. São responsáveis por controlar movimentos e sensações no pescoço e nos ombros, além de desempenhar um papel importante na transmissão de informações sensoriais para o cérebro, como a dor e a temperatura. Eles também controlam a função dos músculos do diafragma, que é importante para a respiração. 4.2 Nervos cranianos Os nervos cranianos são um conjunto de 12 pares de nervos que emergem diretamente do cérebro e passam pelos forames cranianos (orifícios na base do crânio) para fornecer inervação para as diferentes estruturas da cabeça, do pescoço e dos órgãos dossentidos (Figura 11). Cada nervo craniano tem uma função específica e é numerado de acordo com a sua ordem de emergência no cérebro. São eles: os nervos olfatório, óptico, oculomotor, troclear, trigêmeo, abducente, facial, vestibulococlear, glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso. Eles são importantes para diversas funções, incluindo visão, audição, paladar, olfato, movimentação dos olhos e dos músculos faciais, deglutição, fala, respiração, controle cardiovascular e outras funções autonômicas. 28 Figura 11 – Nervos cranianos Créditos: VectorMine/Shutterstock. 4.2.1 Nervo trigêmeo O nervo trigêmeo é o quinto dos 12 pares de nervos cranianos e é responsável pela inervação da face, dos dentes, da boca e dos músculos da mastigação. Ele é chamado de trigêmeo porque se divide em três ramos principais: o ramo oftálmico, o ramo maxilar e o ramo mandibular (Figura 12). O ramo oftálmico inerva a testa, o couro cabeludo e a pele da parte superior do nariz. O ramo maxilar inerva a parte média do rosto, incluindo as bochechas, os dentes superiores e as gengivas. O ramo mandibular inerva a mandíbula, os dentes inferiores e a pele da região inferior do rosto e do queixo. É responsável pela sensação de tato, dor e temperatura da face e da boca. Também é responsável pelo controle dos músculos da mastigação, 29 permitindo a abertura e o fechamento da boca, a movimentação da mandíbula e a mastigação dos alimentos. Figura 12 – Nervo trigêmeo Créditos: Masakra/Shutterstock. 4.2.2 Nervo facial O nervo facial (VII) possui uma ampla distribuição na face, pescoço e orelha. Tem origem no tronco cerebral e emerge do crânio através do forame estilo mastoideo (Figura 13). Ele é responsável pela inervação dos músculos da expressão facial, se dividindo em vários ramos que inervam diferentes regiões da face, incluindo as sobrancelhas, pálpebras, nariz, lábios e músculos da mastigação. Além disso, também controla os músculos que controlam a secreção das glândulas lacrimais, salivares e mucosas da boca e do nariz, bem como a sensação tátil e gustativa da região anterior da língua e fornece informações sensoriais do ouvido interno. Também são responsáveis por permitir uma série de funções, como a expressão facial, o movimento dos olhos e lábios, o piscar de olhos, o sorriso, a fala, a mastigação e a deglutição. Também são responsáveis pela sensação de 30 paladar em duas das quatro áreas gustativas da língua e pela sensibilidade de uma pequena região próxima ao ouvido. Figura 13 – Diferença entre o nervo trigêmeo e o nervo facial Créditos: Masakra/Shutterstock. TEMA 5 – SISTEMA TEGUMENTAR E SEUS ANEXOS O sistema tegumentar reveste toda a superfície do corpo, realizando uma barreira e um “escudo” contra atrito, desidratação, entrada de microrganismos e radiação ultravioleta. Possui neurônios sensoriais periféricos com a função de proporcionar sensações como dor, calor, tato e pressão, e mecanismos de regulação da temperatura corporal, função imunológica e hormonal. É composto pela pele, pelos, unhas e glândulas sudoríparas e sebáceas. Na face, a pele é mais fina e sensível do que em outras partes do corpo e está sujeita a uma série de fatores ambientais, como a radiação ultravioleta do sol e a poluição. 31 5.1 Pele A pele é o maior órgão do corpo humano e cobre toda a superfície externa do corpo. É composta por três camadas principais: a epiderme, a derme e a hipoderme ou tecido subcutâneo (Figura 14). 5.1.1 Epiderme A epiderme é a camada mais externa da pele. É composta principalmente por células epiteliais que formam uma barreira protetora contra o meio ambiente. A epiderme também é responsável pela regulação da perda de água do corpo e pela produção de melanina, que ajuda a proteger a pele dos efeitos nocivos da radiação ultravioleta. Além disso, a epiderme contém células especializadas, como os queratinócitos, que produzem a proteína queratina, responsável pela resistência e elasticidade da pele. A camada mais interna da epiderme é chamada de camada basal, que contém células-tronco e é responsável pela renovação contínua da pele. A epiderme é formada principalmente por epitélio pavimentoso estratificado queratinizado. 5.1.2 Derme A derme é a camada intermediária da pele. É composta por tecido conjuntivo originado do mesoderma, possui uma matriz extracelular densa, fibras de colágeno e elastina, vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Desempenha várias funções importantes, incluindo a regulação da temperatura corporal, fornecimento de nutrientes e oxigênio para as células da pele, além de ser responsável pela sensação de toque, dor, pressão e temperatura. A derme contém vários tipos de células, incluindo fibroblastos, que produzem as fibras de colágeno e elastina, e células imunológicas, que ajudam a combater infecções. Também é o local onde se encontram os folículos pilosos, as glândulas sebáceas e sudoríparas e os receptores sensoriais. 5.1.3 Hipoderme A hipoderme é a camada mais profunda da pele, composta principalmente por tecido adiposo (gordura) de origem mesodérmica e tecido conjuntivo frouxo 32 vascularizado, que ajuda a dar forma ao rosto e a preencher as áreas vazias entre os músculos e ossos. A quantidade de gordura na hipoderme facial pode variar de pessoa para pessoa e pode mudar ao longo do tempo. Por exemplo, à medida que envelhecemos, podemos perder gordura na hipoderme, o que pode levar a uma aparência mais magra e enrugada. Além disso, algumas pessoas podem ter depósitos de gordura excessivos em certas áreas do rosto, como as bochechas ou o queixo, o que pode afetar a aparência geral do rosto. O papel principal da hipoderme é armazenar reservas energéticas para o organismo. Ela serve como conexão entre a derme e as estruturas móveis situadas abaixo dela e também protege o organismo contra choques, constituindo uma manta térmica. Figura 14 – Tecido tegumentar Créditos: solar22/Shutterstock. Os coxins de gordura superficial são depósitos de gordura localizados logo abaixo da pele. Eles são responsáveis por preencher e dar forma às bochechas, lábios e outras áreas faciais, proporcionando uma aparência juvenil 33 e saudável. Esses coxins estão localizados em várias áreas, incluindo as bochechas (bolsas de Bichat), abaixo dos olhos (bolsas infraorbitais), no queixo (papada) e nas laterais da boca (sulcos nasogenianos). Eles também são encontrados em outras áreas do rosto, como as têmporas e a testa. À medida que envelhecemos, podem mudar de posição, perder volume ou tornar-se mais proeminentes, o que pode afetar a aparência do rosto. Os coxins de gordura facial profundos estão localizados abaixo dos coxins de gordura superficial e são responsáveis por preencher as áreas mais profundas do rosto. Eles são encontrados em várias áreas, incluindo as maçãs do rosto, as têmporas, a mandíbula e as laterais da boca (Figura 15). Figura 15 – Coxins de gordura facial Crédito: Elias Aleixo 5.2 Anexos da epiderme Na epiderme, podemos encontrar alguns tipos celulares que ajudam na proteção desse tecido. 34 5.2.1 Queratinócito Os queratinócitos sintetizam a queratina, protegendo a pele contra atritos e a perda de água por evaporação, além de regularem a absorção de cálcio pela ativação de precursores do colesterol pela luz UVB para a formação de vitamina D. 5.2.2 Melanócito Os melanócitos são responsáveis pela formação da melanina, que protege contra os raios ultravioleta e realiza a pigmentação da pele. 5.2.3 Células de Langherans e Células de Merkel As células de Langherans protegem contra a invasão de microrganismos, participando da resposta imune do organismo, enquanto as células de Merkel desempenham papel na função sensorial. 5.3 Anexos da derme Os anexos encontrados na derme sãoestruturas que se projetam a partir do tecido dérmico da pele. 5.3.1 Pelo Os pelos são filamentos flexíveis de células queratinizadas produzidos por folículos pilosos localizados na derme da pele. Possuem várias funções, como proteger a pele de ferimentos e irritações, regular a temperatura corporal e ajudar a detectar sensações táteis. Na face, os pelos faciais, como barba e bigode, são mais característicos dos homens, embora também possam ser encontrados em mulheres. Na puberdade, os folículos pilosos da face se tornam mais sensíveis aos hormônios masculinos, levando a um aumento no crescimento de pelos faciais nos homens. 35 5.3.2 Glândulas sebáceas As glândulas sebáceas estão ligadas aos folículos dos pelos e liberam sebo, uma substância gordurosa formada por triglicerídeos, ácidos graxos livres, colesterol e ésteres de colesterol, que ajuda a lubrificar e proteger a pele. 5.3.3 Glândulas sudoríparas As glândulas sudoríparas são células que secretam suor para o meio externo para ajudar a regular a temperatura corporal e a remover toxinas do corpo. As glândulas sudoríparas na face são mais numerosas do que em outras partes do corpo. A Figura 16 mostra todas as camadas do tecido epitelial, como epiderme, derme e hipoderme, e seus anexos. Figura 16 – Tecido epitelial com seus anexos Créditos: Net Vector/Shutterstock. 36 NA PRÁTICA Com base nos conteúdos estudados, vamos desenhar na figura abaixo (Figura 17) os principais músculos faciais de um lado e, do outro, os principais coxins de gordura encontrados na face. Para gravar os nomes e onde se encontra cada músculo e como cada coxim se distribui no rosto. Figura 17 – Figura em branco para atividade prática Créditos: first vector trend/Shutterstock. 37 FINALIZANDO Nesta etapa, foram abordadas as principais estruturas anatômicas e funções básicas das estruturas da cabeça e pescoço. Vimos que a anatomia da cabeça e pescoço é complexa e inclui várias estruturas importantes, como ossos, músculos, vasos sanguíneos, nervos e pele. O sistema ósseo, além de realizar a proteção de estruturas vitais, como o cérebro e os olhos, ainda é responsável pelo armazenamento de minerais. Os ossos da cabeça são interligados por articulações que permitem um certo grau de movimento, mas geralmente são imóveis e altamente resistentes para proteger o cérebro e outras estruturas delicadas. Esses ossos também têm aberturas e passagens para permitir a passagem de nervos e vasos sanguíneos para estruturas adjacentes. Os músculos faciais são responsáveis pelos movimentos e expressões faciais que fazemos. Esses músculos são pequenos, mas extremamente importantes para a comunicação e a expressão emocional. O sistema circulatório facial é uma rede complexa de vasos sanguíneos que fornecem sangue e nutrientes para as estruturas da face, incluindo a pele, músculos, ossos e órgãos sensoriais, como os olhos e os ouvidos. As artérias fornecem sangue oxigenado para a face, e as veias faciais drenam o sangue desoxigenado da face e o levam de volta ao coração para ser reabastecido de oxigênio. Os nervos faciais controlam as funções motoras e sensoriais em várias partes da face. A pele é o maior órgão do corpo e é responsável principalmente pela proteção contra agentes externos, a regulação da temperatura corporal, a prevenção da perda excessiva de água, a produção de vitamina D e a percepção de sensações táteis. A pele também desempenha um papel importante na modulação do sistema imunológico, ajudando a proteger o corpo contra infecções e doenças. 38 REFERÊNCIAS ALGHOUL, M., CODNER,M.A.; Retaining ligaments of the face: review of anatomy and clinical applications. Aesthet Surg J., v. 33, n. 6, p. 769-782, 2013. FITZGERALD, R.; CARQUEVILLE J.; YANG P.T. An approach to structural facial rejuvenation with fillers in women. Int J Womens Dermatol., v. 5, n. 1, p. 52-67, 2018. HIATT, J. L.; GARTNER, L. P. Anatomia: cabeça & pescoço. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2011. LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S. R. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed. 2006. _____. NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. WASCHKE, J.; BÖCKERS, T. M.; PAULSEN F. Sobotta anatomia clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. BIOTECNOLOGIA E BIOINFORMÁTICA AULA 1 Prof. Benisio Ferreira da Silva Filho CONVERSA INICIAL Desde o famoso experimento de Gregor Mendel e suas ervilhas que a Biologia não é mais a mesma. A cada novo avanço e a cada nova descoberta mais informações sobre genes, genética e estrutura molecular da célula estão disponíveis. Ao longo das aulas da disciplina iremos abordar diversas técnicas moleculares de uso rotineiro para biomédicos. Inicialmente, iremos abordar técnicas de extração, quantificação e análise do material genético e posteriormente técnicas de purificação e análise de proteínas. Sabemos que todas as células, eucarióticas e procarióticas, animais e vegetais, possuem a mesma composição bioquímica: lipídeos, proteínas, carboidratos e ácidos nucléicos. Baseados nesta informação, de uma composição universal similar entre os mais diversos tipos celulares, é que as técnicas de biologia molecular ganham destaque, pois podem ser aplicadas aos mais diversos tipos de seres vivos existentes. Apesar de ser uma área recente, a Biologia Molecular é cada vez mais estudada e seus avanços são notórios nos últimos anos: descobriu-se desde a estrutura molecular do DNA, até como sequenciá-lo e curar doenças por meio das terapias gênicas. TEMA 1 – IMPORTÂNCIA DA BIOLOGIA MOLECULAR NA BIOTECNOLOGIA A Biologia Molecular é a ciência que estuda os ácidos nucléicos e seus produtos. Os dois ácidos nucléicos presentes em uma célula são DNA e RNA e suas estruturas e funções já foram muito bem descritas em outras disciplinas deste curso. Por meio dos processos de transcrição e tradução, o DNA comanda a formação de proteínas, num processo denominado expressão gênica. Desta forma, o foco principal da Biologia Molecular é o estudo do DNA, RNA e das proteínas. A Biotecnologia é o conjunto de técnicas e análises, construído ao longo das últimas décadas que nos permite analisar e modificar ácidos nucleicos e proteínas e nos propiciou avanços tecnológicos importantes em diferentes áreas. Segundo a ONU, “biotecnologia é qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para a utilização específica. Ou seja, a biotecnologia é a ciência a partir da qual utilizam-se organismos vivos e a manipulação de suas macromoléculas (DNA, RNA e proteínas) para a produção de produtos que melhorem a forma como vivemos e compreendemos o mundo. No ano de 1866, Gregor Mendel publica seus postulados sobre hereditariedade. Ele não possuía o conhecimento necessário sobre estrutura da célula e genes, chamando naquele momento os genes de fatores relacionados à hereditariedade. Somente em 1869, Friedrich Miescher descobre a existência dos ácidos nucleicos e a expressão Biologia Molecular só foi criada em 1939 por Warren Weaver, com o intuito de designar o trabalho em conjunto da biologia, física e química na busca pelo conhecimento das moléculas. Com os avanços das técnicas bioquímicas e da microscopia, em 1944 Oswald Avery comprovou que as informações hereditárias estavam armazenadas no DNA. Mas afinal, nesta época, o que se considerava DNA? Foi apenas em 1953 que James Watson e Francis Crick demonstraram o que era uma molécula de DNA, qual era sua estrutura química e como a informação hereditáriaestava armazenada nesta molécula. Em 1966 Marchal Niremberg e Har Khorana decifram o código genético humano e 6 anos mais tarde, em 1972, Stanley Cohen e Herbert Boyer desenvolvem a tecnologia do DNA recombinante. Ainda na década de 70, Frederich Sanger desenvolveu o primeiro método de sequenciamento de DNA (1977) e no início da década de 80 os primeiros exemplares de clonagem foram criados por Richard Palmiter e Ralph Brinster. Em 1983, Kary Mullis cria a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR - Polymerase Chain Reaction) e em 1985 são desenvolvidas as primeiras técnicas de impressão digital por DNA (DNA fingerprint). O grande marco das ciências moleculares se deu em 1996 com a clonagem da ovelha Dolly por Ian Wilmut e sua equipe. Na mesma época se iniciava o projeto genoma humano que foi completado em 2001 com cerca de 99% do genoma humano sequenciado. Desde o início dos anos 2000 os avanços nas áreas de Biologia molecular têm sido cada vez mais pronunciados com diversas aplicações práticas. Dentre as aplicações práticas mais famosas estão a criação de organismos transgênicos, que ainda hoje suscitam discussões e polêmicas em meio a comunidade científica. Mas a biotecnologia não para por aí. Ela evoluiu com o desenvolvimento de testes moleculares para a detecção de diversos tipos de doenças como tuberculose, HIV e câncer; para a elucidação de crimes com a genética forense; para o tratamento e cura de doenças hereditárias por meio da terapia gênica; para a identificação de mutações causadoras de doenças; testes de paternidade e uma infinidade de outras aplicações demonstrando que a biologia molecular e suas aplicações biotecnológicas estão na vanguarda dos estudos científicos de ponta. TEMA 2 –EXTRAÇÃO DE MATERIAL GENÉTICO Todos os organismos vivos são compostos por células e estas possuem em seu interior o material genético. No caso dos procariotos o DNA está disperso no citoplasma, já nos eucariotos este DNA encontra-se compartimentalizado no núcleo. Independentemente de sua localização, para que se possa estudar o DNA é necessário de alguma forma extraí-lo, ou seja, retirá-lo de dentro da célula. A retirada do DNA de uma célula é denominada extração e compreende diversas etapas que serão descritas a seguir. Existem inúmeros protocolos na literatura e a escolha do mais adequado deve levar em conta qual material genético se deseja extrair (se DNA ou RNA), o tipo de amostra, o grau de pureza necessário ao ensaio e os recursos disponíveis em cada laboratório. 2.1 PREPARO DAS AMOSTRAS Diferentes tipos de amostras podem ter seu DNA/RNA extraídos, incluindo células sanguíneas, tecidos para biópsia, células de cultivo, bactérias, fungos e plantas. Independente da origem, o material deve ser preservado adequadamente até que a etapa de extração ocorra. Esta preservação pode ser feita por meio do congelamento em ultrafreezer (-80o.C), ou em nitrogênio líquido, ou ainda por meio de kits comerciais que estabilizam estas amostras. Amostras líquidas como sangue ou urina devem passar por uma etapa de centrifugação a fim de separar o pellet celular do sobrenadante. Nestes casos o pellet, que é mais denso, se deposita no fundo do tubo de ensaio, enquanto que o sobrenadante líquido pode ser descartado. Já para tecidos sólidos como por exemplo tecido hepático para um biópsia, é necessário um protocolo de dissociação do tecido visando aumentar a superfície de reação para os reagentes da etapa de lise celular. Esta dissociação pode ser feita picando-se o tecido em pequenos fragmentos com a ajuda de uma tesoura ou macerando-o com o auxílio de um pistilo. 2.2 LISE CELULAR Após obtidas e armazenadas adequadamente, as amostras precisam ter suas células lisadas, ou seja, rompidas. Tal lise é necessária pois libera os componentes citoplasmáticos, dentre eles os ácidos nucléicos. A lise deve ocorrer em soluções tamponadas contendo um detergente e os reagentes tris-hidroximetil aminometano (Tris), cloreto de sódio (NaCl) e ácido etileno diamino tetra- acético (EDTA). O detergente tem função primordial neste procedimento visto que atua solubilizando os lipídeos de membrana, facilitando a liberação do conteúdo celular. O Tris é uma solução tamponante que visa manter o pH em torno de 8, evitando desta forma que o DNA sofra a ação de enzimas DNAses que o degradam. O EDTA é uma agente quelante de íons divalentes Cálcio e Magnésio, que também atua inibindo a ação das DNAses. O NaCl promove desnaturação de proteínas, ruptura de ligações iônicas e aglomeração de moléculas de ácidos nucléicos. Alguns protocolos adicionam a enzima proteinase K ao tampão de lise com o objetivo de melhorar a digestão da célula e solubilizar mais facilmente o conteúdo intracelular. O beta-mercapto etanol em geral é adicionado ao tampão de lise para evitar a oxidação de ácidos nucleicos. 2.3 SEPARAÇÃO DOS CONSTITUINTES CELULARES Após a lise temos uma solução que é uma sopa de constituintes e restos celulares, sendo necessário separar os ácidos nucleicos de nosso interesse. Na etapa de separação dos constituintes celulares é adicionado um solvente como fenol e clorofórmio que desnatura e precipita proteínas; desta forma o DNA permanece solúvel no sobrenadante. A solução então é centrifugada formando um pellet contendo proteínas, que será descartado, e um sobrenadante com ácidos nucleicos. Este sobrenadante é coletado e separado para um novo tubo. Quanto mais vezes esta etapa de separação dos constituintes celulares for repetida, maior será a pureza da amostra. 2.4 PRECIPITAÇÃO DO DNA O NaCl presente no tampão de lise associado a baixas temperaturas e a adição de solventes orgânicos como etanol, isopropanol ou acetato de amônio promove a precipitação do DNA. Este DNA precipitado forma um conglomerado esbranquiçado com aspecto de um algodão em solução. Este “algodão” pode ser pescado com o auxílio de um bastão de vidro ou a amostra pode ser centrifugada. Nesta etapa de centrifugação o DNA formará um pellet no fundo do tubo e o sobrenadante será descartado (diferente do que ocorreu na etapa de lise, na qual o pellet foi descartado e o sobrenadante utilizado). 2.5 LAVAGEM E RESSUSPENSÃO DO DNA Para garantir maior pureza e eliminar resíduos de outros reagentes, as amostras provenientes da etapa anterior devem ser lavadas com etanol 70%. O etanol é eliminado das amostras por simples evaporação, dada sua elevada volatilidade. Após a evaporação, o pellet de DNA é ressuspenso em tampão Tris-EDTA ou água ultrapura. A água ultrapura é diferente de água destilada. A água destilada passa por um processo de destilação simples que remove os sais presentes nela. A água ultrapura, também chamada de água Mili-Q é uma água livre de qualquer sal, contaminantes e enzimas, ou seja, é apenas água sem nenhuma outra substância. TEMA 3 – MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO EXTRAÍDO Após sua extração é necessário ter certeza de que o que foi extraído era realmente DNA. Além disso, é necessário também saber a quantidade de DNA presente na amostra. Para avaliar a presença e quantificar o DNA são utilizadas diversas técnicas que serão descritas a seguir. 3.1 ESPECTROFOTOMETRIA A técnica de espectrofotometria se baseia no uso de um aparelho chamado espectrofotômetro, que incide uma radiação de determinado comprimento de onda sobre a amostra e mensura quanto desta radiação foi absorvida pela mesma. Por isso a unidade de medida lida pelo equipamento denomina-se absorbância, referindo-se à quantidade de luz absorvida pela amostra quando excitada por determinado comprimento de onda. Esta técnica relaciona a quantidade de luz absorvida por uma amostra a 260nm (comprimento de onda) com a quantidade de DNA presente nesta amostra. Quanto maior a absorção de luz, maior a quantidade de DNA na amostra. Esta técnica possui uma curva padrão que determina que uma absorbância igual a 1 corresponde a uma concentração de 50 µg de DNA por ml de solução. Desta forma, fazendo ouso de uma simples regra de três, é possível determinar a quantidade de DNA em uma amostra. Se houve necessidade de diluição da amostra, esta deve ser levada em conta na hora do cálculo da contração de DNA, segundo a fórmula abaixo: Concentração DNA = Absorbância(260 nm) x Diluição x 50. Além de quantificar, a espectrofotometria também permite avaliar a qualidade das amostras de DNA. Para isto deve-se medir a absorbância em 260 e 280 nm e fazer uma relação entre estes valores, ou seja, dividir o valor da absorbância em 260 nm pelo valor da absorbância em 280 nm; valores entre 1,4 e 2 indicam boa pureza das amostras e valores abaixo de 1,4 indicam presença de contaminante na amostra. A absorbância a 260 nm reflete a luz absorvida pelas ligações entre as bases nitrogenadas do DNA; já a leitura a 280 nm reflete a absorbância a 280 nm, comprimento de onda no qual as ligações peptídicas das proteínas fluorescem. Esta relação só é verdadeira se todo o fenol for removido da amostra, pois o mesmo fluoresce a 270 nm podendo gerar leituras incorretas. Embora a espectrofotometria seja a técnica mais utilizada rotineiramente ela possui um limiar de detecção alto, não sendo indicada quando a quantidade de DNA na amostra é da ordem de nanogramas. Nestes casos deve-se utilizar a fluorimetria, um método bastante similar mas que baseia sua leitura em fluorescência e é capaz de detectar DNA na ordem de nanogramas. 3.2 ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE A eletroforese é a principal técnica utilizada em biologia molecular para a análise de DNA. Ela permite separar, identificar e purificar os fragmentos de DNA quando não é possível utilizar outras técnicas, como os gradientes de centrifugação. É uma técnica rápida, que permite excelente resolução dos fragmentos de DNA. O gel é formado por agarose, um polissacarídeo que ao sofrer solidificação forma uma malha que retém as moléculas durante a migração. Dependendo da concentração de agarose, há diferenças no gradiente de separação. Quanto maior a concentração, mais fechados são os poros da malha do gel e maior retenção de fragmentos de DNA. Para se analisar amostras com fragmentos maiores deve-se dar preferência para géis de malha menos densa (ou seja, mais frouxa, com menor concentração de agarose), pois assim os fragmentos grandes terão facilidade em “correr” a malha do gel. O inverso também é verdadeiro, para fragmentos menores deve-se dar preferência para géis com poros menores, ou seja, maior concentração de agarose, pois desta forma os pequenos fragmentos ficarão retidos no gel. Esta técnica permite a separação de fragmentos de DNA de tamanho diversos por meio da aplicação de um campo elétrico. Os grupos fosfatos dos ácidos nucléicos possuem cargas negativas e, portanto, quando submetidos a um campo elétrico, por diferença de potencial, migram em direção ao polo positivo deste campo. Quanto menor o tamanho do fragmento de DNA, mais rápido ele migra pela malha de agarose e portanto maior será a distância percorrida no gel. Moléculas com maior número de pares de base possuem tamanho maior e portanto migram mais lentamente pela malha do gel, ocupando posições mais superiores no gel. Fragmentos de mesmo tamanho ocupam a mesma posição no gel, formando as denominadas bandas. Figura 1 – Na imagem acima, um aparelho de eletroforese com o polo positivo indicado em vermelho e o negativo em preto. As amostras são adicionadas nos poços do gel e irão migrar ao longo do gel do polo negativo para o polo positivo. A foto do gel (última imagem à direita) demonstrando bandas superiores (de maior peso molecular) e bandas inferiores (de menor peso molecular) Crédito: Soleil Nordic/Shutterstock. Figura 2 – Gel de agarose corado com brometo de etídio. Cada coluna corresponde a uma canaleta do gel na qual foi colocada uma amostra específica de DNA. Acima do gel estão os fragmentos maiores e abaixo os menores Crédito: Martinek Jan/Shutterstock. Para que se possa visualizar o resultado da separação das amostras de DNA em gel de agarose é necessário que este passe por um procedimento de coloração. Este processo consiste em corar o DNA com corantes fluorescentes como o brometo de etídio (altamente tóxico e carcinogênico). Este corante, sob luz ultravioleta, emite uma luz alaranjada formando bandas visíveis no gel. Outros corantes menos tóxicos como o GelGreen e SybrGreen vem suplantando o brometo de etídio. Nas extrações podem-se obter grandes moléculas, que incluem cromossomos inteiros ou cromossomos fragmentados. Amostras de boa qualidade formam bandas íntegras, enquanto amostras degradadas ou com presença de moléculas de RNA apresentam rastros ao longo do gel. A quantificação é feita pela comparação entre a intensidade da fluorescência das amostras extraídas com uma solução de DNA de concentração conhecida, como por exemplo, soluções contendo DNA do fago lambda. Após a obtenção de amostras de DNA e de sua avaliação quantitativa e qualitativa, pode ser realizada a etapa de análise de DNA que serão descritas nos temas 4 e 5 desta aula e na posterior. As análises dos ácidos nucleicos incluem o uso de enzimas de restrição, técnicas de hibridação molecular, técnicas de amplificação do DNA (PCR – reação em cadeia da polimerase), sequenciamento de DNA e outras técnicas de análise de ácidos nucleicos. TEMA 4 – USO DE ENZIMAS DE RESTRIÇÃO Enzimas de restrição são proteínas encontradas em bactérias que as protegem de infecções virais pois são capazes de clivar o DNA viral, impedindo que este se replique em seu interior. As enzimas de restrição, também chamadas de endonucleases Tipo II, são enzimas que quebram a dupla fita de DNA em regiões específicas gerando fragmentos de DNA sempre do mesmo tamanho e composição. Cada tipo de enzima de restrição é capaz de reconhecer um segmento específico do DNA, denominado sítio de restrição, realizando a clivagem da molécula de DNA nestes sítios específicos. Como resultado existirão vários fragmentos de DNA, sendo que todos foram clivados exatamente na mesma região. Diversas espécies de bactérias são usadas para a produção e isolamento das enzimas de restrição. Cada enzima tem seu nome acompanhado de uma inscrição que indica o sítio do DNA no qual ocorre a clivagem. Por exemplo a enzima Afe I 5´AGC-GCT 3´ / 3´TGC - CGA 5´, foi produzida no microorganismo Alcaligenes faecalis e cliva o DNA nas sequências especificadas. A descoberta das enzimas de restrição foi essencial para o surgimento da tecnologia do DNA recombinante, na qual moléculas de DNA de organismos diferentes podem ser cortadas e posteriormente unidas por complementaridade das duas fitas de DNA e ação da enzima DNA ligase, que refaz as ligações fosfodiéster. As enzimas de restrição também são utilizadas no diagnóstico de doenças genéticas, dado que mutações específicas no DNA podem alterar o sítio de clivagem deste pelas enzimas, alterando o tamanho dos fragmentos gerados, permitindo a diferenciação entre moléculas portadoras e não portadoras da mutação com base nos tamanhos dos fragmentos gerados pela clivagem. Figura 3 – As enzimas de restrição atuam como tesouras moleculares. Estas enzimas clivam a fita de DNA em sequências específicas Crédito: Mopic/Adobe Stock. Figura 4 – Uso das enzimas de restrição em técnicas de engenharia genética. Neste caso a enzima de restrição (em vermelho) foi utilizada para clivar duas regiões do DNA, permitindo a remoção de um gene causador de doenças. Créditos: designua/Adobe stock. TEMA 5 – HIBRIDAÇÃO MOLECULAR Os métodos de hibridização foram um dos primeiros métodos desenvolvidos para analisar o DNA extraído e fragmentado pelo uso de enzimas de restrição e consiste basicamente na separação dos fragmentos de DNA de uma amostra por eletroforese em gel de agarose, seguida da transferência destes fragmentos para uma membrana sólida com a posterior detecção dos mesmos por métodos enzimáticos, cromogênicos ou luminiferous. 5.1 HIBRIDAÇÃO SOUTHERN O método batizadoem homenagem ao seu criador Edwin Southern, também conhecido como hibridação southern ou hibridação DNA-DNA, permite o reconhecimento específico de certas moléculas de DNA. Imagine que você tem uma amostra de um tecido qualquer e realizou a extração de DNA dessa amostra. Na sequência você tratou essa amostra com enzimas específicas de restrição a fim de clivar o DNA e isolar um segmento específico do mesmo, ou seja, um gene. Como saber se o gene de interesse realmente estava presente na amostra e como saber se o processamento com a enzima de restrição obteve sucesso? É neste ponto que entra a técnica de hibridização DNA-DNA. Para a realização desta técnica é necessário conhecer a sequência do gene que se quer analisar (por ex 5´AATTGCGC 3´). Baseado nesta sequência, o pesquisador sintetiza em laboratório uma sonda de DNA que consiste basicamente em um fragmento de DNA sintético complementar a sequência do gene de interesse (por ex 3´ TTAACGCG 5´). Esta sonda sintética é marcada com uma substância que emite fluorescência quando uma sequência complementar se liga a ela. Ao misturar os fragmentos de DNA da minha amostra, que contém o gene de interesse, com a sonda sintética, é possível medir a fluorescência emitida e concluir se havia ou não o gene de interesse na minha amostra. A técnica denomina-se hibridação pois ocorre a formação de um fragmento de DNA híbrido, sendo uma das fitas composta pelo DNA da minha amostra e a outra pela sonda sintética. A amostra contendo o DNA deve ser separada em um gel de agarose e deste transferida para uma membrana de nylon ou nitrocelulose, onde as moléculas de DNA ficam estáticas. Antes da transferência, o gel é tratado com hidróxido de sódio promovendo a abertura das duplas fitas de DNA. A membrana é uma réplica exata de tudo que existe no gel, porém sobre esta membrana é possível se realizar uma série de experimentos que não seriam possíveis sobre o gel devido a sua malha porosa. A sonda é colocada em contato com essa membrana e irá se ligar especificamente apenas onde houver fragmentos de DNA complementares a ela. Lavagens removem sondas não ligadas e também sondas que se ligam incorretamente, pois ligações incorretas tem baixa especificidade se desfazendo facilmente. A sonda é previamente marcada com fosfato radioativo (32P) e desta forma os DNAs hibridizados quando expostos a determinado comprimento de onda irão emitir luminosidade/ fluorescência específicos, indicando e simultaneamente quantificando a hibridização. Figura 5 – Em 1 as bandas do gel de agarose sendo colocadas em contato com a membrana de nitrocelulose ou nylon. Em 2 os fragmentos de DNA do gel foram transferidos para a membrana. Em 3 a membrana é colocada em contato com sondas específicas de DNA. Em 4 as sondas se ligam especificamente ao DNA de interesse. Em 5 as moléculas de DNA que sofrem hibridização são detectadas Crédito: Daniele Dietrich Moura Costa. 5.2 HIBRIDAÇÃO NORTHERN A técnica de northern blot, também conhecida como hibridização DNA-RNA, visa a detecção de RNAs mensageiros (abreviados como mRNA). Recebeu esse nome devido ao trocadilho com o nome da técnica Southern. É muito similar a técnica de southern blot, no entanto a sonda desenhada é complementar ao um mRNA, permitindo a detecção deste tipo de molécula. Esta técnica é muito utilizada para avaliar a expressão gênica, dados que os mRNA são o resultado da transcrição dos genes e serão traduzidos em proteínas posteriormente. NA PRÁTICA Desde sua descoberta, as enzimas de restrição passaram a ser utilizadas em diversos tipos de ensaios para avaliar o DNA. Um de seus usos mais frequentes é nos testes de identificação de pessoas, sejam eles testes de paternidade, testes para identificação de possíveis criminosos ou vítimas de acidentes. Nestes ensaios, o DNA da pessoa que se quer identificar é extraído, quantificado e então fragmentado em regiões específicas pelas endonucleases. Após a fragmentação, o DNA é analisado em um gel de agarose. Relembrando que fragmentos diferentes migram de forma diferencial pelo gel de agarose, desta forma produzindo uma padrão de bandas específicas. Cada indivíduo possui seu DNA exclusivo que irá sofrer clivagem em sítios específicos pelas endonucleases gerando também um padrão específico de bandas no gel. No caso de um crime, se o padrão de bandas no gel for 100% similar ao padrão de bandas de um acusado, este é considerado culpado, pois a compatibilidade de bandas entre o indica que se trata da mesma pessoa. No caso de um teste de paternidade, o DNA do filho deve ter padrão de similaridade de 50% com DNA do suposto pai, pois o filho contém metade da carga genética da mãe e metade do pai. Observe a figura abaixo. Você consegue descobrir quem é o pai da criança? Figura 6 – Um filho, uma mãe e dois supostos pais. Os retângulos pretos indicam a presença da banda no gel de agarose e os retângulos brancos indicam a ausência de bandas no gel. Observe a banda 1: ela está ausente no filho, na mãe e em ambos pais, logo não permite concluir nada em relação à paternidade da criança. A banda 3 está presente no filho e na mãe, mas ausente em ambos os pais, indicando que de fato a criança é filho da referida mãe. A banda 7 está presente no filho, ausente na mãe e no pai 2, mas presente no pai 1. Esta banda é conclusiva em relação ao teste, pois o filho tem e deve ter herdado de um dos genitores; se a mãe não tem essa banda ela só pode ter sido herdada do pai Crédito: Daniele Dietrich Moura Costa. FINALIZANDO Trabalhar com ácidos nucléicos não é fácil e requer precisão e treinamentos específicos. Conforme visualizamos ao longo desta aula, primeiramente é necessário obter uma amostra e armazená-la corretamente. Na sequência o DNA contido na amostra deve ser extraído. O processo de extração possui várias etapas que devem ser realizadas sequencialmente: lise celular, separação dos constituintes celulares, precipitação e ressuspensão do DNA. Esse DNA extraído deve ser quantificado antes de prosseguir para análises. Esta quantificação pode ser feita dos espectrofotometria ou por eletroforese em gel de agarose. Verificada a pureza do DNA extraído por estas duas técnicas, o mesmo pode ser utilizado em diversos experimentos, entre eles: processamento com enzimas de restrição, ensaios de hibridização, amplificação, clonagem entre outros. REFERÊNCIAS ALBERTS, B. Biologia molecular da célula. 4. ed. São Paulo: Artmed, 2004. BROWN, T. A. Clonagem gênica e análise de DNA: uma introdução. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. COX, M. M.; DOUDNA, J. A.; O’DONNELL, M. Biologia molecular: princípios e técnicas. Porto Alegre: Artmed, 2012. FARAH, S. B. DNA: segredos e mistérios. 2. ed. São Paulo: Savier, 2000. KLUG, W. S. et al. Conceitos de genética. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. KREUZER, H.; MASSEY, A. Engenharia genética e biotecnologia. Porto Alegre: Artmed, 2002. WATSON, J. D. et al. DNA recombinante: genes e genomas. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. BIOTECNOLOGIA E BIOINFORMÁTICA AULA 2 Profª Daniele Dietrich Moura Costa CONVERSA INICIAL Na aula anterior, aprendemos como extrair o material genético, seja ele DNA ou RNA, de diferentes tipos de materiais (tecidos biológicos, sangue, urina, células em cultivo etc.). Uma vez extraído, esse material precisa ser quantificado para que possa ser utilizado em diversos tipos de ensaios. Os dois principais métodos de quantificação são a eletroforese em gel de agarose e a espectrofotometria. Conhecida a quantidade de DNA ou RNA, estes podem então ser processados e analisados por diferentes técnicas. Uma das técnicas mais utilizadas é o processamento utilizando enzimas de restrição. Essas enzimas reconhecem segmentos específicos do DNA, clivando a dupla fita e gerando fragmentos. Esses fragmentos podem ser então utilizados numa ampla gama de testes moleculares, entre eles a clonagem de DNA, diferentes tipos de reação de amplificação de DNA por reação em cadeia da polimerase(PCR – polymerase chain reaction) e sequenciamento de DNA. Nesta aula, iremos explorar mais algumas técnicas de processamento e análise de DNA (lembrando que algumas técnicas já foram descritas na aula anterior). Demonstraremos também aplicações práticas dessas técnicas na rotina do biomédico e por fim, na última aula sobre biotecnologia, abordaremos técnicas de expressão, purificação e análise de proteínas, encerrando nosso ciclo de aprendizagem sobre técnicas moleculares de análises de macromoléculas aplicadas à Biotecnologia. TEMA 1 – CLONAGEM DO DNA A primeira técnica de duplicação de moléculas de DNA em laboratório foi a clonagem de DNA. Nesse procedimento, fragmentos específicos de DNA, obtidos por meios de técnicas utilizando enzimas de restrição, são inseridos em bactérias (procariotos) ou leveduras (eucariotos). O procedimento de inserção de fragmentos específicos de DNA (correspondentes a genes específicos) em organismos é denominado transformação genética e origina organismos modificados geneticamente ou transgênicos. No caso dos organismos modificados geneticamente, a inserção do gene é feita entre indivíduos da mesma espécie, ou seja, eu retiro o gene de interesse do indivíduo 1 da espécie A e insiro no indivíduo 2 também da espécie A. No caso dos transgênicos, o gene é transferido entre espécies distintas; eu retiro o gene 1 da espécie A e insiro o gene 1 na espécie B, sendo a espécie B a transgênica. Esse processo é chamado transformação por causa das novas características que podem ser adquiridas pela bactéria com a introdução do novo gene (como a resistência a determinados antibióticos). O gene inserido é incorporado ao DNA plasmidial do organismo receptor (bactéria), e quando este for realizar a replicação do seu material genético, irá replicar também o DNA inserido no plasmídio. Devemos nos lembrar que procariotos se reproduzem muito rapidamente, dessa forma, a replicação do gene inserido também é muito rápida, gerando inúmeras cópias ou clones desse gene. Nessa técnica, o DNA é retirado de um organismo doador por meio de técnicas de extração de DNA já descritas na última aula. Esse DNA isolado é então digerido por endonucleases de restrição, e os fragmentos gerados que contêm os genes de interesse são ligados a um vetor de clonagem, geralmente um plasmídeo. Um vetor de clonagem é uma estrutura de DNA com capacidade de se introduzir em células bacterianas, um processo conhecido como transfecção. A união do gene de interesse, extraído da amostra e do plasmídeo (vetor), forma uma molécula de DNA recombinante. Esse DNA recombinante é inserido na bactéria/levedura por meio da técnica de transformação. Quando esse organismo se replicar, ele irá replicar também o DNA inserido. O conjunto dos fragmentos de DNA digeridos pela enzima de restrição e ligados aos vetores, que foram transferidos e replicados pelo procarioto, constitui uma biblioteca genômica, ou seja, uma biblioteca de genes. Se, ao invés do DNA, utilizarmos um RNAm nesse procedimento, convertendo-o em DNA complementar (cDNA) antes de realizar a transformação bacteriana, teremos uma biblioteca de expressão gênica, que corresponde aos mRNAs que são expressos pela célula doadora. Observe, na Figura 1, a técnica de clonagem de DNA por meio do uso de DNA recombinante. Em 1, o DNA é extraído da célula doadora e tratado com enzimas de restrição a fim de se isolar os genes específicos. Simultaneamente (ainda em 1), o plasmídio é extraído da bactéria. Em 2, ocorre a formação do DNA recombinante, no qual o DNA da célula doadora é unido ao DNA plasmidial. Em 4, há o processo de transformação, no qual o plasmídio contendo o DNA recombinante é inserido novamente na bactéria. Em 5, observe o processo de clonagem do DNA, sendo que, ao replicar o seu próprio material genético (que inclui o plasmídio), a bactéria replica também o DNA da célula doadora. Figura 1 – Clonagem do DNA Créditos: Why Design/Shutterstock. TEMA 2 – REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE Conhecendo o processo de replicação do DNA e o papel primordial da DNA polimerase (DNApol) neste processo, em 1983, Karry Mullis desenvolveu a primeira técnica de multiplicação de moléculas de DNA em laboratório, a PCR (Reação em cadeia da polimerase; do inglês polymerase chain reaction). A PCR consiste na síntese enzimática de fragmentos de DNA, em laboratório, sem a necessidade de uma célula hospedeira como ocorria na clonagem. O DNA é obtido de uma célula doadora, extraído e tratado com enzimas de restrição. Os fragmentos de DNA gerados pelos endonucleases são então utilizados na reação de PCR. 2.1 PRINCÍPIOS PCR A PCR é uma técnica que ocorre nas seguintes etapas sequenciais: desnaturação (separação das duplas fitas de DNA), anelamento (hibridação de primers) e polimerização (também chamadas de extensão ou elongação). A desnaturação consiste na separação das duplas fitas dos fragmentos de DNA parental (obtido da célula doadora) utilizando altas temperaturas (acima de 90 oC). Essas temperaturas são capazes de romper as ligações de hidrogênio que mantêm as duas fitas unidas. Na etapa de anelamento, a temperatura é reduzida para cerca de 60 oC (temperatura ideal para que ocorra o anelamento dos primers) e dois oligonucleotídeos iniciadores são adicionados à reação. Esses oligonucleotídeos são denominados primers e são complementares a sequências de DNA de cada uma das fitas parentais, ligando-se a elas por meio da complementaridade de bases. Em razão da característica antiparalela da dupla fita de DNA, é citado que um primer se liga na extremidade 3’ da região-alvo (primer direto ou forward), enquanto o outro se liga na extremidade 5’, na fita oposta (primer reverso ou reverse). Os primers fornecem extremidades 3´OH livres que, na etapa de polimerização, são utilizadas pelas DNA polimerases para sintetizar novas fitas de DNA, obedecendo ao princípio da complementaridade de bases. A temperatura é então elevada para cerca de 72 °C e a DNA polimerase promove a ligação fosfodiéster entre o último nucleotídeo da nova fita e nucleotídeo trifosfatado a ser adicionado. Essas três etapas são repetidas por inúmeros ciclos, sendo que a cada ciclo ocorre a duplicação de uma molécula de DNA, gerando ao final dos ciclos várias cópias da molécula de DNA parental. O equipamento no qual a PCR é realizada chama-se termociclador, pois ele tem a capacidade de realizar os ciclos de variação de temperatura necessários para as etapas de desnaturação e anelamento. Os microtubos contendo os reagentes necessários para que ocorra a reação enzimática são colocados no termociclador, o qual realiza sozinho o processo de elevação e redução sequencial da temperatura. Os reagentes utilizados nesse processo são: água ultrapura, moléculas de DNA a serem duplicadas (DNA molde ou DNA parental), desoxirribonucleotídeos trifosfatos (dNTPs, necessários para permitir a elongação do DNA), primers, enzima DNA polimerase, solução de cloreto de magnésio (cofator da enzima DNA polimerase) e solução tampão para a DNA polimerase. A DNA polimerase usada na reação é isolada da bactéria Thermus aquaticus, e por isso é chamada de Taq polimerase (em menção às iniciais do nome da espécie a partir da qual foi obtida). Esta é a DNA polimerase ideal, pois diferentemente das demais, ela não sofre desnaturação em altas temperaturas. Obviamente que todo esse processo requer o conhecimento prévio da sequência de DNA que se quer amplificar, pois é necessário que os primers sejam complementares a tal sequência. Tal conhecimento é altamente difundido e está presente nas inúmeras bibliotecas genômicas disponíveis on-line. Na Figura 2, a seguir, observe a reação em cadeia da polimerase. Em azul, a dupla fita de DNA; em verde, os primers iniciadores e em amarelo, os nucleotídeos necessários para a síntese e novas cadeias de DNA. Na etapa de desnaturação, a dupla fita de DNA é aberta por elevação da temperatura. Na etapa de anelamento, a temperatura é reduzida