Prévia do material em texto
3 BLOCOS ECONÔMICOS Paralelamente às negociações multilaterais para a liberalização comercial no âmbito da OMC, são conduzidas diversas negociações de caráter regional, entre dois países (bilaterais) ou num grupo mais amplo, para a formação de blocos eco- nômicos ou para ampliar os acordos nos blocos já constituídos. Na seção Contexto, você discutiu sobre alguns aspectos relacionados a esses blocos. A maior parte dos países que participam da OMC está também envolvida em negociações e acordos comerciais regionais ou faz parte de algum bloco econômico. Os acordos de livre-comércio trazem uma série de consequências para as empre- sas e a população dos países integrantes dos blocos. Para a atividade produtiva, haverá ganhadores e perdedores. Geralmente, os ganhadores serão empresas ou produtores mais competitivos, ou seja, aqueles que têm melhores condições de venda, pois podem conquistar mercados nos outros países do bloco. Os perdedores serão os pequenos produtores ou empresas menos competitivos que perderam mercado, com o aumento da concorrência. A população pode se beneficiar com a entrada de produtos mais baratos no país, mas pode ser atingida pelo aumento do desemprego, em virtude da falência ou da redução da produção das empresas nacionais. Leia o Entre aspas. MODALIDADES DE BLOCOS ECONÔMICOS Na seção Contexto, foram apresentadas as modalidades de blocos econômicos. Em todas elas, o objetivo é a redução ou a eliminação das tarifas ou dos impostos de importação entre os países-membros. Por isso, os países que integram esses blocos adotam, logo de início, a redução das tarifas de importação de várias mercadorias. As modalidades de blocos econômicos são: • Zona de livre-comércio: pressupõe acordos comerciais que visam exclusiva- mente à redução ou à eliminação de tarifas aduaneiras entre os países-membros do bloco. O principal exemplo é o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), formado por Estados Unidos, Canadá e México. • União aduaneira: além de reduzir ou eliminar as tarifas aduaneiras entre os países do bloco, estabelece as mesmas tarifas de exportação e importação para o comércio internacional fora do bloco, com a implantação da Tarifa Externa Comum (TEC). A união aduaneira exige que os países mantenham pelo menos 85% das trocas comerciais totalmente livres de taxas de exportação e importa- ção entre os países-membros. É uma abertura de fronteiras para mercadorias, capitais e serviços, mas não permite a livre circulação de trabalhadores. Um exemplo desse tipo de bloco é o Mercado Comum do Sul (Mercosul), composto de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela (este último teve sua adesão aprovada definitivamente em 2012). Na verdade, os países do Mercosul formam uma união aduaneira incompleta, pois muitos produtos não são comercializados pela TEC. Chile, Bolívia, Peru, Colômbia e Equador são países associados ao Mercosul, ou seja, participam do livre-comércio, mas não da união aduaneira. • Mercado comum: visa à livre circulação de pessoas, mercadorias, capitais e serviços. O único exemplo é a União Europeia (UE), que, além de eliminar as tarifas aduaneiras internas e adotar tarifas comuns para o mercado fora do bloco, permite a livre circulação de pessoas, mão de obra, investimentos e todo tipo de serviços entre os países-membros. • União econômica e monetária: é o caso, novamente, dos países da União Europeia, que, na fase atual, adotaram o euro como moeda única, administrada pelo Banco Central Europeu. Nessa forma de integração, como veremos mais detalhadamente a seguir, é necessário que os países estipulem limites comuns máximos de inflação e de déficit público. A sociedade e a formação dos blocos econômicos Apesar de todas as impli- cações, o processo de forma- ção de blocos econômicos, de modo geral, acontece sem que haja grande participação da sociedade nas decisões tomadas pelos governantes e pela elite econômica. Durante o processo de formação da União Europeia, ao menos nas etapas finais, porém, antes de decisões mais importantes, os governantes consultaram a população por meio de plebiscitos. A composição dos blocos econômicos analisados neste capítulo, suas inten- ções e objetivos têm se alterado nos últimos anos, justamente porque os países se aliam e se integram a outros blocos de acordo com seus interesses políticos e econômicos. 96 Unidade 2 | Economia mundial e globaliza•‹o TS_V2_U2_CAP04_090_107.indd 96 17/05/16 19:35 Atualmente, existem vários blocos econômicos em vigência no mundo todo. Muitos outros se encontram em processo de formação. Observe o mapa da seção Olho no espaço. Países reunidos em blocos econômicos Leia as informações do mapa e resolva as questões a seguir. 0º CÍRCULO POLAR ÁRTICO CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO TRÓPICO DE CÂNCER TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO EQUADOR M E R ID IA N O D E G R E E N W IC H OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO 0º Principais organizações/ano de criação Nafta – Associação de Livre Comércio da América do Norte – 1989 Mercosul – Mercado Comum do Sul – 1991 MCCA – Mercado Comum Centro-Americano – 1960 CAN – Comunidade Andina das Nações – 1969 CCG – Conselho de Cooperação do Golfo – 1981 UE – União Europeia –1993 EFTA – Associação Europeia de Livre Comércio – 1960 CEI – Comunidade dos Estados Independentes – 1991 Asean – Associação dos Países do Sudeste Asiático – 1967 Cemac – Comunidade Econômica e Monetária da África Central – 1969 UMA – União do Magreb Árabe – 1989 Ecowas – Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental – 1975 Anzcerta – Acordo Comercial sobre Relações Econômicas entre Austrália e Nova Zelândia – 1983 Apec – Cooperação Econômica Ásia-Pacífico – 1989 Opep – Organização dos Países Exportadores de Petróleo – 1960 Caricom – Comunidade do Caribe – 1972 SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral – 1980 Sacu – União Aduaneira da África Austral – 1969 AP – Aliança do Pacífico – 2011 Parceria Transpacífico – 2016 N 0 2.470 km Mundo: blocos econômicos – 2015 Fonte: elaborado com base em CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 188. 1. Identifique as organizações que provavelmente têm maior destaque econômico-comercial. 2. Observando a quantidade de países que fazem parte de organizações em comparação com a totalidade de países, a que conclusão se pode chegar? 3. Em que sentido as informações do mapa podem ser relacionadas com o processo de globalização? 4. Levando-se em conta a soberania dos países, que análise pode ser feita com base na leitura do mapa? S O N IA V A Z 97Capítulo 4 – Globalização, comércio mundial e blocos econômicos TS_V2_U2_CAP04_090_107.indd 97 17/05/16 19:35 Os primeiros blocos econômicos Os acordos para intensificar o comércio entre países remontam aos anos 1940, com a criação do Benelux, área de livre comércio formada por Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Após a Segunda Guerra Mundial, a ideia de integração econômica assentada em uma economia supranacional come- çou a ganhar força na Europa Ocidental. Diante da perspectiva de concorrer isolada- mente com os Estados Unidos, a superpotência mundial que emergia, os países europeus firma- ram uma série de acordos com o objetivo de rees- truturar, fortalecer e garantir a competitividade de suas economias. Os governantes e a elite eco- nômica dos países da Europa Ocidental percebe- ram também que era necessário fazer frente ao crescimento da União Soviética e reduzir o risco de os nacionalismos provocarem novos conflitos no território europeu. Criado em 1944, o Benelux integrou a economia da Bélgica, da Holanda e de Luxemburgo num único mercado. Em 1952, a Comunidade Euro- peia do Carvão e do Aço (Ceca), formada por seis países – Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Alemanha e Itália –, estabeleceu um mercado siderúrgico comum, promovendo a livre circulação de matérias-primase mercadorias da indústria siderúrgica, com o objetivo de acelerar o desenvol- vimento da indústria de base. Os países-membros da Ceca ampliaram os objetivos dessa organiza- ção e criaram, em 1957, o mais eficiente bloco econômico entre países até então: a Comunidade Econômica Europeia (CEE). A CEE, desde a sua criação, tinha um grande objetivo de médio prazo, pautado em quatro prin- cípios fundamentais: a livre circulação de mer- cadorias, de serviços, de capitais e de pessoas, entre todos os países-membros da organização. Entretanto, eles só vieram a acontecer em 1o de janeiro de 1993, quando passou a ser chamada de União Europeia (UE). O aprofundamento da competitividade no mer- cado internacional nas últimas décadas do século XX, o desenvolvimento de novas tecnologias de produção e a entrada de novos competidores (países do sudeste e leste da Ásia – Cingapura, Taiwan, Coreia do Sul e China), que disputavam fatias cada vez mais expressivas do comércio mundial, sinalizaram à CEE a necessidade da concretização de seus objetivos originais, for- mando a UE. • Tanto no início da formação do bloco quanto mais recentemente, um dos motivos para reforçar a integração entre os países tem uma mesma causa. Explique. UNIÃO EUROPEIA A UE foi criada pelo Tratado de Maastricht, assinado em 7 de fevereiro de 1992 pelos membros da CEE, em Maastricht (Países Baixos). Desde sua implementação, os países integrantes vêm aumentando a cooperação em questões como combate ao crime organizado e ao narcotráfico, meio ambiente, imigração, educação, proteção do consumidor, saúde pública e defesa do território, entre outras. Em 1o de janeiro de 2002, entrou em circulação a moeda única, o euro. Nos países que optaram por não adotar a moeda única, como Reino Unido, Dinamarca e Suécia, o euro, apesar de não circular, serve de referência em negócios privados, como transações entre empresas, e pode ser utilizado na abertura de contas. Essa opção é consequência de um receio por parte desses países em perder a soberania sobre suas políticas monetárias. Outro motivo, no caso do Reino Unido, é o fato de a libra esterlina ser uma moeda mais valo- rizada que o próprio euro. Veja os países da zona do euro no mapa da página ao lado (figura 7). 98 Unidade 2 | Economia mundial e globalização TS_V2_U2_CAP04_090_107.indd 98 17/05/16 19:35