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22 R.I. (Revisão Intercalada) 2. (Ufu 2021) Abaixo estão o poema “Canção do Exílio” (publicado em 1846), de Gonçalves Dias; o poema “Nova Canção do Exílio”, do livro A rosa do povo, de Carlos Drummond e um trecho da letra Hino Nacional Brasileiro (composta por Joaquim Osório Duque Estrada e oficializada em 1922). CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem que ‘inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. DIAS, Gonçalves. Primeiros cantos. p. 2. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000115.pdf NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde é tudo belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.5) 23 R.I. (Revisão Intercalada) HINO NACIONAL BRASILEIRO (Excerto) Do que a terra mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; “Nossos bosques têm mais vida,” “Nossa vida” no teu seio “mais amores”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/hino.htm. Acesso em: 02 jun. 2021. a) Os versos de Gonçalves Dias “Nossos bosques têm mais vida,/ Nossa vida mais amores” foram replicados na letra do Hino Nacional Brasileiro. Esses versos apresen- tam uma figura de linguagem para caracterizar a terra natal. Identifique qual é a figura empregada e explicite que efeito de sentido ela promove tanto na “Canção do Exí- lio” quanto no Hino Nacional, levando-se em conta que o primeiro é um poema do Romantismo e o segundo é um texto cívico oficial. b) Em “Nova canção do Exílio”, os versos “Nossos bos- ques têm mais vida,/ Nossa vida mais amores” passam por uma intensa reelaboração, que resulta na segunda estrofe do poema de Drummond. Aponte, pelo menos, mais um exemplo de como Drum- mond se apropria do poema de Gonçalves Dias, alte- rando sua forma e sentido. Em seguida, analise como o processo de reelaboração em “Nova canção do Exílio” altera a concepção romântica da pátria, marcante no poema de Gonçalves Dias. 3. (Fuvest) Leia o texto e responda ao que se pede. – Não veem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai subindo às nuvens? A seus pés ainda está a seca raiz da murta* frondosa, que todos os invernos se cobria de rama e bagos vermelhos, para abraçar o tronco irmão. Se ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto. José de Alencar, Iracema. *murta: arbusto, árvore pequena. a) É possível relacionar a imagem da murta ao destino de Iracema no romance? Explique. b) A frase “Se ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto” pode ser entendida como uma alegoria do processo de colonização do Brasil? Expli- que. 4. (Pucrj) Prólogo Dei o nome de Primeiros Cantos às poesias que agora publico, porque espero que não serão as últimas. Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes, por- que menosprezo regras de mera convenção; adotei todos os ritmos da metrificação portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar melhor com o que eu pretendia exprimir. Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas diversas – debaixo de céu diverso – e sob a influência de impressões momentâneas. Foram compostas nas margens viçosas do Mondego e nos pín- caros enegrecidos do Gerez – no Doiro e no Tejo – sobre as vagas do Atlântico, e nas florestas virgens da Amé- rica. Escrevi-as para mim, e não para os outros; conten- tar-me-ei, se agradarem; e se não... é sempre certo que tive o prazer de as ter composto. Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o pensa- mento que me vem de improviso, e as ideias que em mim desperta a vista de uma paisagem ou do oceano – o aspecto enfim da natureza. Casar assim o pensamento com o sentimento – o coração com o entendimento – a ideia com a paixão – cobrir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com a vida e com a natureza, purificar tudo com o sentimento da religião e da divindade, eis a Poesia – a Poesia grande e santa – a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir. O esforço – ainda vão – para chegar a tal resultado é sempre digno de louvor; talvez seja este o só mereci- mento deste volume. O Público o julgará; tanto melhor se ele o despreza, porque o Autor interessa em acabar com essa vida desgraçada, que se diz de Poeta. Rio de Janeiro, julho de 1846. DIAS, Gonçalves. Disponível em: <http:// www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ bv000115.pdf>. Acesso em: 10 set. 2014. a) Gonçalves Dias é considerado um dos grandes poetas do Romantismo brasileiro. Destaque do texto dois aspectos da estética romântica citados pelo autor. b) Comente a noção de poesia que aparece no texto – “a Poesia grande e santa” (4º parágrafo) – comparando-a com a defendida pelos modernistas de 1922. 5. (Ufjf-pism 2) Texto I X Meu pobre leito! eu amo-te contudo! Aqui levei sonhando noites belas; As longas horas olvidei libando Ardentes gotas de licor dourado, Esqueci-as no fumo, na leitura Das páginas lascivas do romance... Meu leito juvenil, da minha vida És a página d’oiro. Em teu asilo 24 R.I. (Revisão Intercalada) Eu sonho-me poeta e sou ditoso... E a mente errante devaneia em mundos Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezes Do levante no sol entre odaliscas Momentos não passei que valem vidas! Quanta música ouvi que me encantava! Quantas virgens amei! que Margaridas, Que Elviras saudosas e Clarissas, Mais trêmulo que Faust, eu não beijava... Mais feliz que Don Juan e Lovelace Não apertei ao peito desmaiando! Ó meus sonhos de amor e mocidade, Porque ser tão formosos, se devíeis Me abandonar tão cedo... e eu acordava Arquejando a beijar meu travesseiro? AZEVEDO, Álvares. Ideias íntimas. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p. 208. Texto II Domingo na estrada (...) A terra é um universal domingo, as estampas não se destacam, desaparecem na série. Figura humana é que custa a aparecer. Só o garotinho que brincava no barro, entre galinhas, e o braço de homem, no fundo escuro da casa desbeiçada, erguendo a garrafa. Gente começa afinal a surgir, desembocando da ruazi- nha de arraial, em caminhões alegres, com inscrições: “Fé em Deus e pé na tábua”, “Chiquinha casa comigo”, e um ar de festa que é também domingueiro, festa nas roupas claras, nos lenços coloridos das cabeças; no riso largo, nos gritos. Rapazes de calção, viajando de pé, aos berros. Vão disputar a grande partida em um dos dez lugares da redondeza onde o futebol resolveu o pro- blema da felicidade repartindo-a com todos, do meritís- simo doutor juiz de direito aos presos da cadeia, que assistem atrás de grades ou por informação, e tomam conhecimento do gol do seu clube pelo ruído particular dos foguetes. As moças vão também, salve ó moças! Já não têm nenhum ar especificamente montanhês, o cabelo aparado em pontas irregulares, a calça comprida e justa internacionalizaram há muito o tipo feminino, as garotas não são mais da França, da Turquia ou do Ceará, são todasde capa de revista, e mesmo assim continuam sendo a bem-aventurança e o licor da terra, e passam chispando no caminhão Fenemê, e desacatam o policial do posto da divisa, e vão entoando o sagrado nome do clube e a vitória certa. Há também o bêbado da estrada. Não é patético como o dos poetas neorromânticos que exploram o gênero, é simplesmente bêbado, sem pretensões, também ele universal na pureza de sua irresponsabilidade. Está a mil sonhos do futebol, mas a parada do caminhão para tomar água lhe comunica a chama do esporte, e ei-lo que engrola a exortação enérgica: – Vocês me tragam a vitó... a vitóooria! Eu fico espe- rando a vit… Todos aplaudem freneticamente. Mas as pernas arriam, e ele fica ali, desmanchado, à sombra da goiabeira, dormindo na manhã de Minas Gerais… ANDRADE, Carlos Drummond de. A bolsa e a vida. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1963, p. 55-57. Explique, levando em conta a comparação entre os Tex- tos I e II, de que maneira a passagem “Não é patético como o dos poetas neorromânticos que exploram o gênero...”, presente no Texto II, representa uma crítica dos modernistas ao Romantismo. 6. (Uerj) Inocência Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o mineiro mais despreocupado. — Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha. — Com muito gosto, concordou Cirino. E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas cercas e rodear a casa toda, antes de tomar a porta do fundo, fronteira a magnífico laranjal, naquela ocasião todo pontuado das brancas e olorosas flores. 1— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser debaixo do arvo- redo. É uma menina esquisita... Parando no limiar da porta, continuou com expansão: 2— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e perguntas que me fazem embatucar... Aqui, havia um livro de horas da minha defunta avó... Pois não é que 3um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler? ... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados no pescoço e que manda nos homens... Fiquei meio tonto. 4E se o Sr. visse os modos que tem com os bichinhos?! ... Parece que está falando com eles e que os entende... (...) Quando Cirino