Prévia do material em texto
W BA 04 61 _V 2. 0 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 2 Leandro José Cesini da Silva São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Karina Yamashita Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Silva, Leandro José Cesini da Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica / Leandro José Cesini da Silva. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 202. 32 p. ISBN 978-65-5356-166-3 1. Energia elétrica. 2. Geração de energia elétrica. 3. Distribuição de energia elétrica. I. Título. CDD 621.3121 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O S586g © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Geração de energia elétrica __________________________________ 07 Transmissão de energia elétrica ______________________________ 18 Distribuição de energia elétrica ______________________________ 30 Fundamentos básicos para projetos de sistemas de energia _ 42 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 5 Apresentação da disciplina A energia elétrica percorre um longo caminho até chegar nas casas, indústrias e comércios. Esse caminho inicia pela produção da energia em usinas (hidroelétricas, térmicas, eólicas, entre outras), transportada pelos sistemas de transmissão de energia e, por fim, distribuída aos consumidores pelos sistemas de distribuição, ramificados em todo o país. Nesta disciplina, você estudará várias formas de geração de eletricidade. Serão apresentadas as fontes hidráulica, térmica e eólica, elencando seus principais componentes que compõem sua estrutura, bem como entender o funcionamento de cada uma delas. A disciplina também traz como objetivo a apresentação dos sistemas de transmissão de energia elétrica. É apresentado o histórico da evolução das tecnologias de transmissão de energia, no mundo, e o gradual aumento das tensões utilizadas nesses sistemas. Além disso, aborda sobre a composição de toda a estrutura dos sistemas de transmissão, apresentando os principais componentes e suas funções. Os sistemas de distribuição de energia elétrica também são abordados, com um conteúdo rico sobre os equipamentos que compõem essas redes, bem como seu funcionamento. Além disso, apresenta os principais tipos de redes e ligações. Por fim, a disciplina traz os principais fundamentos utilizados na elaboração de projetos em sistemas de energia, englobando a geração, a transmissão e distribuição de energia elétrica. De forma objetiva, aborda sobre os projetos de usinas hidráulicas e térmicas, explorando 6 os principais conceitos e fluxogramas. Sobre a transmissão de energia elétrica, você poderá aprender a calcular os principais requisitos de projeto para construção de linhas. Sobre a distribuição, a disciplina aborda a classificação das cargas e consumidores, além dos cálculos dos fatores de cargas envolvidos em projetos de distribuição de energia elétrica. 7 Geração de energia elétrica Autoria: Leandro José Cesini da Silva Leitura crítica: Karina Yamashita Objetivos • Apresentar a fonte hidráulica como uma alternativa para a geração de energia elétrica. • Entender o funcionamento de uma usina termoelétrica e seus principais componentes. • Analisar os componentes que compõem um aerogerador e entender o seu funcionamento. 8 1. Introdução Olá, estudante! Você sabia que existem diferentes formas de gerar eletricidade? O desenvolvimento de novas tecnologias e a busca por mais sustentabilidade nos processos de geração de energia elétrica têm sido de extrema importância para a preservação ambiental. Aqui, abordaremos especificamente as hidroelétricas, as termoelétricas e as usinas eólicas. Você sabe quais são as fontes que cada uma delas utiliza? Logo mais veremos. Em um sistema elétrico, a produção de energia elétrica assume o início da cadeia até o fornecimento ao consumidor final. Portanto, para que se possa entender toda a cadeia, é importante segregar cada etapa e conhecer os fundamentos e os componentes que fazem parte da geração de eletricidade, e é justamente isso que você encontrará nessa leitura digital. 2. Geração de energia elétrica 2.1 Hidroelétricas O uso da água possui diferentes finalidades, desde a irrigação, o transporte fluvial, o uso humano até a geração de eletricidade. Veja que todos esses múltiplos usos concorrem entre si, uma vez que são essenciais para a sobrevivência humana. No contexto da geração de energia elétrica, a água, por ser um recurso renovável, torna-se uma fonte muito importante. No Brasil, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) (2021), o abastecimento de energia elétrica foi 65,2% 9 proveniente de fonte hidráulica. Mas, você sabe como funciona uma usina hidroelétrica? O ser humano, nos seus primórdios, descobriu que a força da água resultante de um desnível do terreno, por onde percorre um fluxo de água, gera trabalho. Você já ouviu falar do monjolo ou da roda d’água? Esses foram os primeiros equipamentos fabricados pelo homem que convertiam a força da água em trabalho, principalmente para a moagem de grãos (REIS, 2011). Com o avanço da tecnologia, surgiram as turbinas hidráulicas, que transformam toda a energia potencial e cinética da água em energia mecânica, que, através de geradores elétricos, convertem toda essa energia mecânica em eletricidade. A Figura 1 apresenta o esquema de funcionamento de uma hidroelétrica. Figura 1 | Componentes de uma hidroelétrica Fonte: armckw/iStock.com. https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 10 Veja que existe uma queda no relevo entre o reservatório (reservoir) e a turbina (turbine), ou seja, a lâmina d’água do reservatório é mais alta que o nível da turbina. Essa queda em metros (m), que podemos chamar simplesmente de H, combinada com a vazão de água Q (m3/s) que passa pela turbina, a aceleração da gravidade g (9,8 m/s2) e o rendimento total do sistema ηTOT, podemos escrever a seguinte expressão para calcular a potência elétrica a ser obtida através desse sistema: * * *TOTP g Q Hη= Portanto, veja que, quanto maior a altura H e a vazão Q, maior é a potência elétrica que pode ser gerada pela usina hidroelétrica. Além dessas características, existem outros componentes que fazem parte do conjunto de geração hidráulica, são eles: • Tela de proteção (screen): responsável por evitar que objetos não desejados passem pela turbina, evitando avarias no equipamento. • Barragem (dam): são as paredes de concreto que suportam a força da água do reservatório. • Portões (gate): são responsáveis por liberar o fluxo de água para o sistema. • Comporta (penstock): é por onde passa o fluxo turbinável de água até achegada à turbina. • Gerador (generator): é o equipamento que transforma a energia mecânica da turbina em energia elétrica. • Casa de força (powerhouse): local onde se encontram os equipamentos elétricos e de controle da usina hidroelétrica. • Transformador de elevação (step up transformer): é o transformador responsável por elevar a tensão elétrica da energia gerada pelo gerador. 11 • Linha de transmissão (transmission line): é a linha de transmissão que transportará a energia gerada até os consumidores. • Saída da água turbinada (outflow): após a passagem pela turbina, a água segue o fluxo normal do rio (river). No caso de um rio muito cheio, em que as turbinas da usina não suportam utilizar toda a água disponível, o que é possível fazer para que o reservatório não transborde? Nesse caso, existem os vertedouros, que são comportas que se abrem e transferem a água diretamente para a jusante do rio, sem passar pelas turbinas. 2.2 Termoelétricas A operação de usinas termoelétricas é baseada na conversão da energia térmica em energia mecânica e, posteriormente, em energia elétrica (REIS, 2011). A potência de produção de trabalho mecânico útil é proveniente de uma fonte de energia térmica, e o transporte de energia entre o reservatório térmico até a máquina térmica, que é a responsável por transformar o calor em trabalho útil, é realizado por um fluido de trabalho. O fluido mais comum é a água e, quando esta muda de fase (evaporação e condensação) durante o processo de geração de trabalho, dizemos que este é o ciclo a vapor de potência (MOREIRA, 2018). Mas, como gerar a energia térmica necessária para a conversão em energia elétrica? A utilização da energia química dos combustíveis é uma alternativa. Através da combustão deles, libera-se energia térmica para o processo. Veja que também é possível utilizar combustíveis radioativos para a produção de energia elétrica, porém a energia nuclear é gerada através da fissão nuclear. Portanto, define-se usinas termoelétricas as que utilizam a combustão em seus processos, e usinas nucleares, os processos que se utilizam da fissão nuclear. Porém, ambas possuem a água como fluido de trabalho. 12 Os combustíveis mais utilizados nas termoelétricas são os derivados de petróleo, biomassa, gás natural e carvão mineral. Veja, na Figura 2, o esquema de uma usina termoelétrica movida a carvão mineral, no entanto o esquema pode ser amplamente utilizado para qualquer outro combustível de interesse de análise, exceto para a utilização do gás natural, que necessita de uma câmara de combustão específica para realizar a queima do gás. Figura 2 - Esquema de uma termoelétrica movida a carvão mineral Fonte: blueringmedia/iStock.com. Note que a Figura 2 apresenta todos os componentes que fazem parte do processo de geração de energia elétrica através de uma termoelétrica. Vejamos, a seguir, cada um deles em detalhes: https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 13 • Suprimento de carvão (coal supply): no início do processo, o combustível necessita estar alocado em local seguro, e é necessário que haja um sistema de transporte desse combustível até o local de sua queima. Geralmente, combustíveis sólidos utilizam as correias e as roscas transportadoras para o transporte. Já os combustíveis líquidos possuem sistemas de bombeamento específicos. • Fornalha e caldeira (Furnance/boiler): o combustível deve ser transportado e alimentar a fornalha de uma caldeira. É nesse local que ocorre a queima do carvão, por exemplo. Veja que, de forma simplificada, existe uma espécie de serpentina com tubos cheios de água que atravessam a fornalha. É nesse momento que a água se aquece e se evapora devido ao calor gerado pela combustão do carvão, fazendo com que se acumule o vapor (steam) na caldeira. Com a temperatura e a pressão adequadas do vapor, ele segue o fluxo do processo até chegar à turbina. • Turbina (turbine): como você viu anteriormente, a turbina é a máquina térmica responsável por transformar toda a energia contida no vapor em energia mecânica. Através do seu formato construtivo, o vapor expandido que chega à turbina percorre todo o seu corpo e vai perdendo temperatura e pressão, fazendo com que a turbina gire na velocidade adequada para o processo, através de um sistema de controle. • Condensador (condenser): assim que o vapor termina de percorrer toda a turbina, perdendo temperatura e pressão, ele se condensa. Agora, faz-se necessário ser resfriado e voltar à fase líquida para realimentar o processo. Assim, o condensador é um equipamento dotados de tubos percorridos com água (water) fria. Note que a água de resfriamento utilizada para resfriar o condensado é diferente da água utilizada para a geração de vapor. Ambas utilizam tratamentos químicos diferenciados. 14 • Chaminé (stack): toda queima de combustíveis gera emissões para a atmosfera, assim uma chaminé é utilizada para canalizar os gases resultantes da queima. • Gerador (generator): assim como na Figura 1, é necessário que um gerador esteja acoplado à turbina para que também gire na velocidade adequada para a geração de energia elétrica. A eletricidade gerada é inserida na rede elétrica através das linhas de transmissão (transmission lines). De forma geral, as termoelétricas são divididas de acordo com o método de combustão utilizado. Quando o fluido de trabalho não entra em contato com combustível, dizemos que a termoelétrica é de combustão externa, pois, neste caso, o combustível aquece o fluido, assim como foi visto na Figura 2, em que a queima do carvão aquece a água para a geração de vapor. E quando o fluido tem contato com o combustível, dizemos que a termoelétrica é de combustão interna. Isso acontece no caso da combustão do gás natural para a geração de eletricidade (REIS, 2011). 2.3 Eólicas A energia contida nos ventos é chamada de eólica. Ela consiste na energia cinética, que é resultado do deslocamento de massas de ar oriundas de vários efeitos climáticos e por efeitos de superfície, tais como rugosidade do solo, obstáculos etc. Você deve ter visto que a energia eólica é muito utilizada há tempos pela humanidade. Por exemplo, barcos a vela utilizam a força dos ventos para realizar um deslocamento, ou seja, para realizar trabalho. Os moinhos de vento também são um outro ótimo exemplo de que a humanidade os utiliza para ajudar em suas tarefas há muito tempo (MOREIRA, 2018). A utilização da energia eólica para a geração de eletricidade não é tão recente. Em 1881, na Dinamarca, já existiam protótipos de torres eólicas, 15 porém, devido ao baixo preço dos combustíveis fósseis no início do século XX e alta disponibilidade, fizeram com que o desenvolvimento dessa tecnologia ficasse restrito às pesquisas. À medida que os derivados de petróleo assumiram preços mais elevados e maior escassez, o desenvolvimento de sistemas eólicos comerciais ganhou força. A faixa de aplicação das turbinas eólicas ou aerogeradores vai desde pequenas potências até potências que atingem a ordem de alguns MW. Os aerogeradores podem ser classificados de acordo com a orientação do eixo do rotor em relação ao solo. Os rotores que possuem eixo vertical são os menos aplicados comercialmente. Já os rotores com eixo horizontal são os mais utilizados. Nessa configuração, é interessante que haja um sistema que oriente a posição das pás do aerogerador, para que o vento possa incidir perpendicularmente à área circular percorrida pelas pás. Na Figura 3, você encontra um aerogerador com eixo horizontal e seus principais componentes. Figura 3 - Aerogerador Fonte: Reis (2011, p. 297). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 16 A composição de um aerogerador não é complexa, conforme você pode notar na Figura 3. As pás que captam a força dos ventos são acopladas ao cubo do rotor que transfere essa energia ao eixo do gerador elétrico, fazendo com que sofra ummovimento de rotação. Como a velocidade do vento não é constante, entre o eixo de baixa rotação e o de alta rotação, existe uma caixa de multiplicação. Esta é responsável por manter a velocidade de rotação do eixo adequada à operação do gerador elétrico, que está conectado logo em seguida. A base do bloco, constituída pelos equipamentos que citamos anteriormente, é chamada de acoplamento de nacele, onde está alojado o sistema de orientação das pás do aerogerador. A torre é uma peça fundamental, pois é ela que sustenta todo o bloco de geração e possui alturas variadas. Por fim, a energia elétrica gerada pelo gerador elétrico é conduzida por cabos que ficam alojados no interior da torre até atingir a base do sistema e se conectar à rede elétrica local. De forma geral, os aerogeradores são divididos em pequenos, médios e grandes, a depender de sua potência instalada ou do seu diâmetro e da sua área do rotor. Nesta leitura, você estudou sobre os principais componentes e conceitos sobre o funcionamento dos principais sistemas de geração de energia elétrica existentes no mundo. O aproveitamento hidráulico das quedas d’água dos rios no Brasil é a principal fonte geradora de energia elétrica no país, que, através da altura da queda entre reservatório e turbina e da vazão de água que a atravessa, é possível determinar a potência a ser gerada. O aproveitamento térmico através da combustão de combustíveis fósseis, renováveis ou nucleares para a geração de energia elétrica é o princípio de funcionamento das termoelétricas, que possuem, em sua maioria, a água como o fluido de trabalho. A partir do vapor gerado nas caldeiras, este, a depender de sua pressão e temperatura, faz girar uma turbina que, acoplada a um gerador elétrico, fornece energia elétrica aos sistemas em que estiverem conectados. Por fim, você aprendeu sobre a fonte eólica, que utiliza da força dos ventos para girar um aerogerador, que, através de uma caixa de 17 multiplicação, garante a rotação adequada para o sistema. Interessante também observar o sistema de orientação das pás, que está alojado na nacele, que garante o ângulo adequado para que o vento sempre esteja perpendicular às pás. Portanto, você estudou que existem várias maneiras de gerar eletricidade a partir do aproveitamento de outras fontes de energia e, através da utilização de equipamentos adequados, é possível convertê-las em energia elétrica. Referências EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Balanço Energético Nacional – Relatório síntese 2021. Ano base 2020. Brasília, DF: Ministério de Minas e Energia, 2021. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes- dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-601/topico-588/ BEN_S%C3%ADntese_2021_PT.pdf. Acesso em: 10 fev. 2021. MOREIRA, J. R. S. (org.). Energias renováveis, geração distribuída e eficiência energética. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2018. REIS, L. B. dos. Geração de energia elétrica. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2011. 18 Transmissão de energia elétrica Autoria: Leandro José Cesini da Silva Leitura crítica: Karina Yamashita Objetivos • Apresentar a classificação e o histórico da evolução das linhas de transmissão pelo mundo. • Estudar os principais componentes que constituem uma linha de transmissão. • Estabelecer critérios para a escolha de uma tensão de transmissão de energia elétrica. 19 1. Introdução Olá, estudante! Você sabia que as linhas de transmissão são um dos principais componentes de um sistema elétrico de potência? A sua principal função é transportar a energia elétrica gerada pelas usinas até as subestações, onde a energia elétrica é distribuída. Nesta leitura digital, abordaremos sobre os principais componentes que constituem esses sistemas de transmissão e suas principais funções. Estudaremos também que as linhas de transmissão possuem diferentes níveis de tensão. Além disso, mostraremos os métodos utilizados para a definição da melhor tensão a ser empregada em um sistema de transmissão de energia elétrica. 2. Classificação das linhas de transmissão Os níveis de tensão aplicados às linhas de transmissão no Brasil são de 750 kV, 500 kV, 230 kV, 138 kV, 69 kV e 34,5 kV. As linhas chamadas de ultra-alta-transmissão são as que possuem níveis de tensão acima de 765 kV (PINTO, 2018). As redes e linhas de transmissão acima de 230 kV são chamadas de rede básica, e as linhas abaixo de 230 kV e que pertencem às empresas de transmissão, de Demais Instalações de Transmissão (DIT) (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2014). Além disso, podemos classificar as tensões das linhas de transmissão por faixas de tensão. O grupo A corresponde ao fornecimento para consumidores em alta tensão, assim temos: a faixa de tensão superior a 230 kV é classificada como subgrupo A1; tensões entre 88 kV e 138 kV são classificadas no subgrupo A2; o subgrupo A3 corresponde à tensão de 69 kV; tensões entre 30 kV e 44 kV fazem parte do subgrupo A3a; o subgrupo A4 corresponde às tensão entre 2,4 kV até 25 kV. 20 De acordo com o comprimento das linhas de transmissão, podemos classificá-las em: • Longas: acima de 249 km. • Médias: entre 80 km e 249 km. • Curtas: abaixo de 80 km. Atualmente, no mundo, existem, basicamente, duas tecnologias que formam as estruturas de transmissão, são elas: FACTS (Flexible AC Transmission System) e HVDC (High Voltage Direct Current). As linhas de transmissão CA (corrente alternada) são as mais difundidas e utilizadas, possuindo um histórico de aplicação em altas tensões desde a década de 1950, conforme mostrado na Figura 1 e no Quadro 1. Figura 1 – Evolução das linhas de transmissão Fonte: Pinto (2018, p. 67). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 21 Quadro 1 – Evolução das linhas de transmissão 1952 Empresa American Electric Power instala sistema de 345 kV. Em construção na Suécia, uma linha de 380 kV. 1957 Na Rússia, implantação de uma linha de 420 kV. 1959 Linha de 525 kV na Rússia. 1965 Primeiro sistema canadense de 735 kV. 1967 Na Rússia, implantação de uma linha de 787 kV. 1969 Nos Estados Unidos, implantação de uma linha de 765 kV. 1973 Empresa japonesa inicia a operação de uma linha de 500 kV. 1981 Na China, comissionamento de linhas de 500 kV. 1985 Na Rússia, implantação de linha de 1200 kV. 1988- 1999 Construção e entrada em operação de linhas de 1100 kV no Japão, em circuito duplo. 2008 China implanta uma linha de 1100 kV. 2012- 2013 Linha de 1200 kV planejada a entrar em operação na Índia. Fonte: Pinto (2018, p. 67). A partir do histórico apresentado pela Figura 1 e pelo Quadro 1, é possível notar que as grandes economias do mundo, em cada época respectiva, foram as pioneiras na evolução de projetos específicos para o transporte de eletricidade. A tensão de trabalho desses sistemas mais que triplicou nas últimas décadas após 1950, chegando a projetar linhas com tensão na faixa dos 1200 kV. 3. Principais componentes de uma linha de transmissão Uma linha de transmissão é constituída por longos trechos de cabos que são sustentados por isoladores e estruturas apropriadas de metal ou concreto. Os principais componentes são as torres, os condutores, os para-raios e os isoladores (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2014). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 22 3.1 Torres Até na Segunda Guerra Mundial, era comum encontrar, na América do Norte, torres de transmissão confeccionadas de madeira com tensões de até 132 kV. Com o avanço das tecnologias, atualmente, existem vários tipos de materiais empregados na construção delas. As torres de aço, comumente empregadas, podem ser treliçadas ou de polos tubulares. Veja também que as torres são estruturas de grande porte, assim as fundações são muito importantes para a segurança e a instalação das estruturas. A depender do solo, podemos ter diferentes tipos de fundações: • Estacas: solos fracos. • Sapatas: bons solos com lençol freático. • Grelhas: bons solos sem lençolfreático. • Tubulões: bons solos com altos níveis de carregamento na estrutura. As torres de transmissão são classificadas de acordo com a disposição dos condutores, podendo ser triangulares, verticais ou horizontais. São classificadas também de acordo com o número de grupos de fases, ou circuitos, podendo ser simples, duplo ou quádruplo. A Figura 2a apresenta uma torre triangular; a Figura 2b, uma torre vertical; a Figura 2c, uma torre horizontal. 23 Figura 2 – Disposição dos condutores Fonte: Pinto (2018, p. 87). Note, na Figura 2, que, a depender da necessidade do projeto de uma linha de transmissão, pode-se escolher dentre os três tipos de torres e dispor os condutores de acordo com as especificidades de engenharia. Com relação à quantidade de circuitos, a Figura 3a apresenta uma torre com circuito duplo, e a Figura 3b, uma torre com circuito quádruplo. Lembrando que, apesar de a Figura 3 trazer torres com disposição horizontal dos condutores, é possível encontrar estruturas na vertical e triangulares com múltiplo circuitos. https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 24 Figura 3 – Número de circuitos (a) (b) Fonte: Barros e Borelli (2018, p. 23-34). Note que, na Figura 3a, os circuitos duplos estão relacionados aos pontos em cada extremidade, sendo dois pontos, indicando que em cada extremidade é possível suportar dois circuitos, ou seja, dois conjuntos de condutores. Na Figura 3b, existem quatro pontos nas extremidades, indicando, portanto, a possibilidade de suportar quatro diferentes circuitos. Em ambas as figuras, existem, nas extremidades superiores, dois pontos, um à esquerda e outro à direita, indicando o local dos para-raios. 3.2 Condutores e para-raios Os responsáveis pela condução da eletricidade em uma linha de transmissão são os condutores. Os materiais aplicados em sua confecção são, geralmente, o cobre e o alumínio. Usualmente, o condutor possui um condutor central, e várias camadas sucessivas de 25 condutores são enroladas em sentido contrário, trazendo uma maior fixação. No final do século XIX, o material mais utilizado na transmissão de energia elétrica era o cobre. Isso acontecia porque o preço do alumínio, na época, ainda era mais elevado. Outra questão que limitava a utilização do alumínio era o fato de ele possuir menor resistência mecânica. Veja que uma solução encontrada em 1908 é utilizada até os dias atuais: o condutor de alumínio com alma de aço, o ACSR (Aluminium Conductor Steel Reinforced). A primeira linha de transmissão a utilizar essa tecnologia se localizava na Califórnia, nos Estados Unidos, e se chamava Big Creek (PINTO, 2018). Os condutores ACSR, ou CAA (alumínio com alma de aço), possuem um núcleo de aço para dar resistência ao condutor e sobre ele existe uma camada de alumínio. Dependendo dessa combinação entre alumínio e aço, o condutor terá características distintas. No Brasil, a predominância é de cabos CAA em linhas de transmissão de alta e extra alta tensão. A escolha de um tipo de condutor nem sempre é uma tarefa trivial. Existem diversos fatores que precisam ser levados em conta, como: custos, perdas etc. O aterramento se faz necessário também nas linhas de transmissão, com o objetivo de garantir a segurança de toda a estrutura. O condutor de para-raios é instalado acima dos circuitos energizados, conduzindo para a terra qualquer eventual descarga atmosférica que possa atingir as linhas de transmissão. Os condutores mais utilizados são do tipo: • Aço galvanizado: condutores constituídos de aço galvanizado, com revestimento de zinco, e possui alta resistência. • Alumoweld: são cabos de aço com revestimento de alumínio. • ACSR: como visto anteriormente, cabos de alumínio com alma de aço. 26 O desempenho mecânico, as perdas, a capacidade de suportar correntes de curto-circuito, entre outros fatores, precisam ser analisados no momento da escolha de um tipo de cabo para ser utilizado em uma linha de transmissão. Uma escolha inadequada pode ocasionar algum efeito não desejável. Importante observar que, a depender da resistência do solo onde se encontra a torre, faz-se necessária a utilização de contrapesos, que são cabos enterrados ao longo de todo o percurso da linha de transmissão, garantindo, assim, um aterramento com baixa resistência (ROBA et al., 2020). 3.3 Isoladores Os isoladores, como o próprio nome diz, são os responsáveis por isolar toda a área energizada da estrutura da torre, que, sendo metálica, pode conduzir eletricidade e provocar acidentes. Além disso, os isoladores dão sustentação mecânica aos cabos. Isoladores funcionando em boas condições de uso oferecem ao sistema menor corrente de fuga. Esse tipo de corrente pode ocorrer por meio do próprio isolador ou criando um arco elétrico no ar entre o condutor e a estrutura de suporte ao isolador. Geralmente, é fabricado utilizando-se, como material, a porcelana. Essa oferece maior resistência mecânica e sofre menos com as variações de temperatura em comparação com o vidro, outro material também utilizado na fabricação de isoladores. A Figura 4 mostra um isolador do tipo cadeia de isoladores de campânula. Note que ele fica entre o cabo do condutor e a estrutura metálica da torre de transmissão. 27 Figura 4 – Isolador Fonte: Kateryna Mashkevych/ iStock.com. 4. Escolha da tensão Muitos fatores interferem no momento da escolha da tensão a ser utilizada na transmissão de energia elétrica. Quanto melhor o custo- benefício, mais chances de essa tensão ser empregada em algum projeto. Um ponto importante nessa análise é o estudo das outras linhas de transmissão que circundam o novo projeto, pois, devido às necessidades de interconexões, essas podem interferir na escolha da tensão de trabalho. Dois métodos são utilizados para o cálculo da tensão de uma linha de transmissão, são eles: • Critério Alfred Still: apresenta bons resultados para linhas de transmissão que apresentam comprimentos maiores que 30 km. 28 • Critério da potência natural: utilizada para cálculos de tensão para linhas de transmissão de grandes comprimentos. A escolha econômica da tensão de uma linha de transmissão, ou seja, o cálculo do custo, primeiramente deve-se levar em consideração três informações básicas: a tensão de geração, a potência a ser transmitida e o comprimento da linha de transmissão. Um exemplo interessante é o caso de linha de transmissão em corrente contínua, que pode apresentar um custo inferior que uma linha CA equivalente (PINTO, 2018). O cálculo utilizado no Estados Unidos para encontrar a tensão econômica é dada pela seguinte expressão: Sendo a tensão da linha dada em kV, o comprimento da linha de transmissão dado em km e a potência máxima por fase em kW. 5. Regulação do setor de transmissão de energia elétrica As empresas que operam linhas de transmissão no Brasil devem seguir as normas estabelecidas pelo órgão regulador de energia elétrica no Brasil, a ANEEL. A Resolução nº 281, de 1º de outubro de 1999, estabelece as condições gerais de contratação do acesso, que inclui o uso e a conexão aos sistemas de transmissão de energia elétrica. Segundo esta resolução, as empresas de transmissão devem assegurar um tratamento não discriminatório aos usuários, estimular novos investimentos na expansão do sistema elétrico e minimizar os custos de ampliação ou utilização dos sistemas. Além disso, deve induzir o uso do sistema elétrico de forma racional. 29 A Resolução Normativa nº 559, de 27 de junho de 2013, estabelece o procedimento de cálculo da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (TUST). A TUST deverá ser aplicada em base mensal considerando a metodologia locacional de cálculo e deve ratear os encargos na proporção de 50% para os geradores e 50% para os consumidores. Esta norma também define que o valor mínimo da TUST seja zero. Nesta leitura digital, você estudou sobreos principais assuntos relacionados à transmissão de energia elétrica. Você conheceu os principais componentes de um sistema de transmissão, bem como as classificações utilizadas por tensão e comprimento das linhas. Além disso, estudou sobre os tipos de torres e as normas que regulam esse setor tão importante para a sociedade. Portanto, quando você visualizar uma linha de transmissão na sua cidade, lembre-se de que existe uma série de particularidades que a tornam necessária e segura para nos proporcionar o bem-estar e possibilitar a chegada de energia elétrica em nossa sociedade. Referências AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução nº 281, de 1º de outubro de 1999. Estabelece as condições gerais de contratação do acesso, compreendendo o uso e a conexão, aos sistemas de transmissão de energia elétrica. Brasília, DF: ANEEL, [2022]. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução Normativa nº 559, de 27 de junho de 2013. Estabelece o procedimento de cálculo das Tarifas de Uso dos Sistemas de Transmissão – TUST. Brasília, DF: ANEEL, [2022]. BARROS, B. F. de; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica. São Paulo, SP: Érica, 2014. PINTO, O. M. Energia elétrica: geração, transmissão e sistemas interligados. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2018. ROBBA, E. J. et al. Análise de sistemas de transmissão de energia elétrica. São Paulo, SP: Blucher, 2020. 30 Distribuição de energia elétrica Autoria: Leandro José Cesini da Silva Leitura crítica: Karina Yamashita Objetivos • Apresentar os componentes básicos de uma rede de distribuição de energia elétrica. • Estudar os tipos de redes de distribuição de energia elétrica existentes. • Estabelecer as diferenças entre redes monofásicas e trifásicas de distribuição de energia elétrica. • Apresentar aspectos de operação e qualidade dos serviços de distribuição. 31 1. Introdução Olá, estudante! As redes de distribuição são responsáveis por levar a energia elétrica até as nossas casas. Você sabia que, devido à quantidade de consumidores espalhados pelo país, ela possui uma vasta extensão e capilaridade? Nesta leitura digital, estudaremos os principais componentes que constituem uma rede de transmissão e as principais características que fazem da distribuição de energia elétrica uma rede de extrema importância para o país. 2. A rede de distribuição de energia elétrica O sistema de distribuição de energia elétrica se une à topologia das cidades, percorrendo as ruas e avenidas, interligando os sistemas de transmissão ou geração de pequeno e médio porte aos consumidores. Assim, os sistemas de distribuição possuem maior ramificação e extensão do que as linhas de transmissão (ABRADEE, 2019). Além disso, os serviços públicos de distribuição de energia elétrica são um direito do cidadão assegurado pela lei de universalização dos serviços públicos de energia elétrica. Para regular esse setor tão importante para o Brasil, existem os Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST) e a Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010. O PRODIST trata de documentos que normatizam e padronizam as atividades técnicas da distribuição, e a REN nº 414/2010, das condições gerais de fornecimento de energia elétrica no país. Os consumidores conectados nas redes de distribuição do país pagam tarifas específicas para a distribuidora de energia elétrica que são regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). 32 2.1 Subestação de distribuição A distribuição de energia elétrica se conecta à rede de transmissão através da Estação Transformadora de Distribuição (ETD). É por meio dela que a tensão da transmissão é rebaixada, permitindo que a etapa de distribuição seja possível. Do mesmo modo que as linhas de transmissão, as redes de distribuição são constituídas por condutores, transformadores e vários outros tipos de equipamentos de fixação, controle e proteção. As subestações de distribuição de energia elétrica estão alocadas próximas às cidades, uma vez que distribuem a eletricidade para os consumidores. As empresas concessionárias se mantêm atentas à demanda de locais adequados para se instalar novas subestações de distribuição, uma vez que as cidades estão sempre se expandindo e consequentemente o número de consumidores. Porém, vem surgindo tecnologias de compactação dessas estruturas, reduzindo a necessidade de grandes áreas para implantá-las. 2.2 Componentes básicos de uma rede de distribuição Os três principais conjuntos de equipamentos que constituem um sistema de distribuição de energia elétrica são: manobra e proteção, transformação e estrutura. 2.2.1 Manobra e proteção As manobras e proteções das redes de distribuição são realizadas, principalmente, através de: • Chave faca: tensão máxima de operação 15 kV; corrente nominal mínima de 200 A; corrente nominal de curta duração 8 kA (NISKIER; MACINTYRE, 2021). 33 • Chaves fusíveis: tensão máxima de operação 15 kV; corrente nominal mínima de 100 A; corrente de ruptura mínima 12 kA (NISKIER; MACINTYRE, 2021). • Religador automático: é um equipamento que detecta correntes de curto-circuito na rede, desligando e religando automaticamente os circuitos em um número determinado de vezes. 2.2.2 Transformação Assim como os demais transformadores de energia elétrica, os transformadores que encontramos instalados nas redes de distribuição funcionam eletromagneticamente, transformando os níveis de média em baixa tensão. Na maioria das regiões brasileiras, os transformadores transformam a tensão de 13,8 kV em 220 V ou 127 V (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2018). Esses transformadores podem ser encontrados instalados nos postes que encontramos pelas ruas e avenidas das cidades. Alguns desses também podem ser encontrados no subsolo, em locais apropriados. Eles podem ser instalados isoladamente ou em conjunto com outros transformadores, e são eles que efetivamente entregam a eletricidade até as nossas residências e pequenos comércios e indústrias. 2.2.3 Estrutura Os itens relacionados à estrutura de uma rede de distribuição são, basicamente, os postes, os isoladores e as cruzetas. Os postes são responsáveis pela sustentação de condutores, isoladores e transformadores de redes aéreas de distribuição. A cruzeta recebe os condutores da rede primária sobre os isoladores. E isoladores, como o nome já diz, isolam os condutores energizados do restante da estrutura da rede. 34 2.3 Níveis de tensão da distribuição As redes de distribuição de energia elétrica possuem diferentes níveis de tensão. Para os sistemas com tensões entre 69 kV e 138 kV, dizemos que são sistemas de subtransmissão, desde que estejam sob responsabilidade da distribuidora de energia elétrica. Todavia, existem também redes com tensões mais baixas, operando entre 2,3 kV e 44 kV (média tensão). A essas redes damos o nome de circuitos primários. E, para tensões inferiores a 2,3 kV (baixa tensão), dizemos que são circuitos secundários, como pode ser visto na Figura 1 (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2018). Figura 1 – Redes primária e secundária Fonte: Barros, Borelli e Gedra (2018, p. 29). Note que, na Figura 1, a rede primária se encontra instalada na parte superior do poste, onde os condutores são alocados na horizontal sobre a cruzeta fixa no poste. A rede secundária fica logo abaixo da cruzeta, e os condutores são alocados na vertical. As tensões encontradas comumente nas redes primárias brasileiras são: 11,9 kV, 13,2 kV, 13,8 kV, 20 kV e 34,5 kV. Já nas redes secundárias, com tensões inferiores, encontramos comumente as tensões de 115 V, 127 V, 220 V, 230 V e https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 35 380 V. Essas tensões variam de acordo com a região do Brasil e com a distribuidora local. 2.4 Tipos de redes de distribuição As redes de média tensão possuem, frequentemente, alguns equipamentos auxiliares, como capacitorese reguladores de tensão, utilizados para minimizar e corrigir anomalias da rede prejudiciais à própria rede ou aos consumidores. As redes de distribuição podem ser divididas em quatro diferentes tipos: • Rede de distribuição aérea convencional: é o tipo de rede elétrica mais encontrada no Brasil. Pode possuir condutores com isolamento ou sem isolamento. Chamamos estes últimos de condutores nus. Esses condutores são apoiados em cruzetas metálicas ou de madeira, presas aos postes. Devido à exposição ao tempo, essas redes possuem alto grau de ocorrência de defeitos, pois ventos fortes, galhos ou abalroamento de postes devido às batidas de veículos podem danificar a rede e ocasionar faltas de energia elétrica para os consumidores. • Rede de distribuição aérea compacta: sua implantação teve início na década de 1990. Seus condutores possuem uma camada de isolação, sendo redes mais compactas, que são menos atingidas por perturbações, e mais protegidas, quando comparadas às redes convencionais. • Rede de distribuição aérea isolada: esse tipo de rede possui alto grau de proteção, pois os condutores possuem uma isolação capaz de propiciar o trançamento dos cabos. Por ser uma rede mais cara, somente é utilizada em casos especiais. • Rede de distribuição subterrânea: esse tipo de rede é a que proporciona melhor resultado estético e maior confiabilidade ao sistema. Devido aos seus condutores estarem enterrados, está 36 menos exposta às variações do tempo e não gera poluição visual com a instalação de postes e cabos pelas ruas, pois os cabos estão todos enterrados. Você reparou que não comentamos sobre as redes de iluminação pública? Essas são redes derivadas das redes de distribuição, e a responsabilidade sobre elas é da prefeitura local. 3. Ligação das redes de distribuição 3.1 Redes de distribuição trifásicas A Figura 2 apresenta o esquema de ligação de uma rede de distribuição trifásica. Figura 2 – Rede trifásica Fonte: Barros, Borelli e Gedra (2018, p. 30). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 37 Veja que, na Figura 2, existe um transformador trifásico sendo sustentado por um poste. A rede primária que passa pelas cruzetas também é uma rede trifásica, e cada fase desse circuito é conectada no primário do transformador, sendo representado pelas buchas H1, H2 e H3 do transformador. Perceba que a saída do transformador também possui três fases, representadas pelas buchas X1, X2 e X3. A bucha X0 representa o aterramento. Esse tipo de rede, geralmente, é empregada para alimentar redes elétricas de edifícios, comércios e indústrias que possuem cargas de médio porte, como também para alimentar uma rede secundária de distribuição, em que existem vários consumidores instalados. 3.2 Redes de distribuição monofásicas Existem vários tipos de configurações de redes monofásicas espalhados pelo país. Para a alimentação predominante de residências, geralmente, empregam-se transformadores monofásicos, cujos circuitos primários são interligados entre uma fase da rede primária e o terra. Esse transformador possui no secundário duas fases e um neutro, conforme apresentado pela Figura 3. Figura 3 – Rede monofásica Fonte: Barros, Borelli e Gedra (2018, p. 30). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 38 Na configuração da rede monofásica apresentada pela Figura 3, a tensão entre fases é o dobro da tensão entre fase e neutro no secundário do transformador. Por exemplo, se a tensão entre fase e neutro for 115 V, logo a tensão entre fases será 230 V. Mas, se o consumidor possuir alguma carga trifásica instalada e necessitar de três fases para acionar essa carga e a distribuidora disponibilizar somente uma fase da rede primária, o que fazer? Nesse caso, você pode utilizar a combinação entre transformadores. Veja, nas Figuras 4 e 5, a combinação entre dois transformadores. Figura 4 – Rede monofásica delta aberto Fonte: Barros, Borelli e Gedra (2018, p. 32). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 39 Figura 5 – Esquema elétrico de uma rede monofásica delta aberto Fonte: Barros, Borelli e Gedra (2018, p. 33). Em ambas as figuras, veja que existe uma definição do que seria o transformador para os circuitos de iluminação e para circuitos de força. Na Figura 4, é apresentado um esquema físico da configuração de dois transformadores em um poste. A partir de uma fase da rede primária, o condutor sustentado pelo isolador da cruzeta é conectado nas buchas H1 de cada transformador. Isso fica mais claro observando a imagem à direita da Figura 5. Os terminais H2 dos transformadores são conectados ao terra. Os terminais do lado secundário de cada transformador, como pode ser visto pela imagem à esquerda da Figura 5, possuem um esquema de conexão específico. Os terminais X1 e X3 de cada transformador são conectados, formando uma fase. O terminal X3 do transformador de luz constitui uma outra fase, e o terminal X1 do transformador de força constitui o terminal chamado de 4º fio, o que seria a terceira fase. Importante notar que o neutro é constituído a partir do terminal X2 do transformador de luz. As tensões exemplificadas na Figura 5 trazem algumas peculiaridades desse tipo de ligação monofásica. Entre as fases, a tensão é o dobro https://www.istockphoto.com/br/portfolio/stockdevil?mediatype=photography 40 entre as tensões entre fase e neutro. Neste caso, enquanto entre fases temos 230 V, entre fase e neutro, temos 115 V. Mas, note que a tensão entre neutro e o quarto fio apresenta um valor de 200 V. Assim, se alguma carga monofásica for ligada ao 4º fio, pode sofrer avarias, caso a sua tensão seja inferior a 200 V. Portanto, o 4º fio deve ser utilizado somente para ligação de cargas trifásicas. 4. Operação e qualidade dos serviços de distribuição de energia elétrica A operação de um sistema de distribuição de energia elétrica apresenta inúmeros benefícios ao cidadão quando operado de forma satisfatória, caso contrário, vários transtornos são enfrentados pelos consumidores. Do outro lado, a distribuidora depende da boa conduta dos consumidores para que não recaia em prejuízos. Uma dessas boas condutas é a não energização de casas ou estabelecimentos de forma clandestina, os famosos “gatos”. Isso traz consequências graves para as empresas de distribuição, que repassam para as tarifas partes dessas perdas não técnicas, além das perdas técnicas que ocorrem nos sistemas. A qualidade dos serviços de distribuição é intrínseca à operação do sistema. Oferecer um serviço com qualidade é manter a operação do sistema de forma adequada, ofertando ao consumidor um produto de qualidade. Essa qualidade está relacionada à forma de onda senoidal que é disponibilizada ao consumidor para seu uso interno. Nesse sentido, existem alguns fenômenos que necessitam ser sempre mitigados pelas empresas, a fim de manter um índice satisfatório de qualidade, tais como: variação de frequência, variação de tensão de longa e curta duração, distorções harmônicas e desequilíbrios de tensão e corrente e flutuação de tensão. Veja que são fenômenos que podem interferir nos infinitos processos utilizados pelo consumidor, desde uma 41 residência até grandes indústrias. A ANEEL é o órgão responsável por fiscalizar se cada distribuidora do país está fornecendo a energia de forma adequada e, caso não, existem algumas regras para que essas empresas façam a compensação financeira para os consumidores. Nesta leitura digital, você estudou sobre os principais conceitos relacionados à distribuição de energia elétrica. Verificou que existem diferentes componentes que compõem uma rede de distribuição, assim como alguns tipos diferentes de constituição de uma rede. Ainda, estudou sobre as ligações que podem fazer parte da distribuição de energia elétrica, podendo alimentar diferentes consumidores. E, por fim, aprendeu que as distribuidoras possuemem sua operação alguns fenômenos de rede que devem ser mitigados, e que a qualidade do serviço é sempre fiscalizada pela ANEEL. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA. O transporte da energia elétrica: distribuição. 2. ed. Brasília, DF: ABRADEE, 2019. BARROS, B. F. de; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica. São Paulo, SP: Érica, 2018. NISKIER, J.; MACINTYRE, A. Instalações elétricas. 7. ed. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2021. OLIVEIRA, C. C. B. et al. Introdução aos sistemas de distribuição de energia elétrica. 2. ed. São Paulo, SP: Blucher, 2000. 42 Fundamentos básicos para projetos de sistemas de energia Autoria: Leandro José Cesini da Silva Leitura crítica: Karina Yamashita Objetivos • Apresentar conceitos para o projeto de geração hidroelétrica e térmica. • Estudar o circuito equivalente de uma linha de transmissão de energia elétrica para elaboração de projetos. • Apresentar os fatores típicos da carga para elaboração de projetos na distribuição de energia elétrica. 43 1. Introdução Olá, estudante! Os empreendimentos em sistemas de energia (geração, transmissão e distribuição), geralmente, são de grandes proporções e de alta complexidade. Entender os principais fundamentos da teoria envolvida nesses projetos é o que você encontrará nessa leitura digital. Na geração de energia elétrica, você estudará os principais conceitos envolvendo a geração termoelétrica e hidroelétrica. Ainda, encontrará informações sobre os fundamentos para os projetos relacionados à transmissão e à distribuição de energia elétrica. 2. Geração 2.1 Geração hidroelétrica A geração hidroelétrica é a fonte mais utilizada para atender à demanda por energia elétrica no Brasil. Devido à extensão do país, existem usinas espalhadas por diferentes topologias e com desenhos construtivos distintos. Escolher o tipo de usina a ser projetado e implantado é um passo importante. Nesse sentido, podemos citar os seguintes tipos de usinas: • Usinas de acumulação: utilizam as barragens de acumulação, em que se faz o uso do armazenamento de água, permitindo o uso constante de uma vazão média maior do que a vazão naturalmente oferecida pelo rio. Esse tipo de usina pode utilizar o desvio do rio ou não. A essa vazão média damos o nome de vazão regularizada. • Usinas a fio d’água: não possuem reservatórios, utilizando-se somente da vazão primária do rio, sem regularização. 44 • Usinas reversíveis: a geração ocorre somente nos períodos de carga máxima. Nos outros períodos, a água utilizada é bombeada a um reservatório a montante para ser reutilizada posteriormente (BORGES NETO; CARVALHO, 2012). Veja, portanto, que, dependendo das questões ambientais envolvidas, dos recursos tecnológicos disponíveis e dos desafios da topologia do leito do rio, pode-se escolher diferentes tipos de usinas. Essas questões também são levadas em consideração no momento da escolha dos tipos de barragens, podendo ser barragem a arco, barragem a gravidade ou barragem a arco-gravidade. Lembrando que usinas a fio d’água não possuem grandes reservatórios, portanto mitigam o impacto ao meio ambiente, porém os projetos necessitam levar em consideração uma possível ociosidade das máquinas, pois, em períodos de seca, a vazão do rio diminui, não havendo uma vazão regularizada. Outro ponto é sobre as usinas reversíveis, que passam a ser um grande consumidor de energia quando estão em processo de bombeamento da água utilizada. Ainda, é preciso lembrar que os projetos devem prever mitigação dos impactos socioambientais que um empreendimento de hidroeletricidade pode causar em uma comunidade. A escolha do tipo de usina a ser utilizado também passa pela análise do fluxo de água que escoa pela seção do rio. Assim, faz-se necessário entender o comportamento da vazão de água em uma seção reta do rio ao longo do tempo. Aqui, introduzimos o conceito de fluviograma, que nada mais é do que a curva de vazões de um rio. Na Figura 1, apresentamos o fluviograma do rio Tietê entre os anos de 1953 e 1954. 45 Figura 1 – Fluviograma do rio Tietê Fonte: Reis (2011, p. 96). A curva de vazão do rio Tietê apresentada pela Figura 1 mostra um período crítico das vazões, quando o índice de ocorrência de chuvas foi baixo. Esse tipo de informação é muito importante de ser considerado em um projeto de hidroelétrica, pois, mesmo sendo de décadas atrás, o comportamento pode se repetir, como já aconteceu, e trazer transtornos. Dentre outros parâmetros e definição de equipamentos de uma hidroelétrica, a escolha do tipo de turbina a ser utilizada deve ter a rotação por minuto e suas dimensões como requisitos a serem considerados. Assim, a depender da rotação, diferentes tipos de turbinas possuem diferentes rendimentos atrelados. O Quadro 1 apresenta as rotações em que diferentes tipos de turbina podem ser utilizados com eficiência satisfatória. Quadro 1 - Tipo de turbina x rotação Tipo de turbina Rotação Turbinas Pelton < 90 rpm Turbinas Francis Entre 60 e 450 rpm Turbinas Kaplan > 400 rpm Fonte: Borges Neto e Carvalho (2012, p. 46). 46 Assim, pelo Quadro 1, tem-se que as turbinas Pelton possuem maior eficiência em baixas rotações. O contrário acontece com as turbinas Kaplan, com maior rendimento em altas rotações. 2.2 Geração termoelétrica O conceito das usinas termoelétricas é a utilização do calor para a geração de trabalho. Nesse sentido, a depender do ciclo motor escolhido, teremos diferentes tipos de usinas. O ciclo aberto corresponde ao ciclo em que o fluido termodinâmico utilizado possui uma composição diferente ou apresenta um estado distinto no final do processo, como exemplo estão as turbinas a gás de ciclo combinado. Já no ciclo fechado, o fluido termodinâmico retorna ao estado inicial no final do processo, como acontece em unidades motoras a vapor, que são usinas que geram vapor para geração exclusiva de eletricidade ou, através de extração, geram vapor para o processo também (REIS, 2011). Dois conceitos são muito importantes para o entendimento de sistemas térmicos utilizados para a geração de eletricidade: entalpia e calor específico. A partir da primeira lei da termodinâmica, tem-se que a entalpia é dada por: Sendo Q o calor líquido, U energia interna do sistema, o trabalho efetuado pelo sistema, a variação da energia interna, a pressão e V o volume do sistema. Como os elementos desta equação são todas propriedades termodinâmicas com as mesmas características, podemos reescrever entalpia como sendo: A potência a ser gerada por um sistema térmico pode ser dada pela seguinte expressão: 47 Sendo P a potência em kW, m a massa do fluido em kg/seg, h1 a entalpia de entrada e h2 a entalpia de saída da máquina térmica. Na prática, o processo sofre perdas, e o conceito de rendimento se faz necessário. A Figura 2 apresenta o Diagrama de Mollier do vapor d’água. Figura 2 – Diagrama de Mollier Fonte: Reis (2011, p. 206). Na Figura 2, é possível observar que o trecho 1 – 2 é a condição ideal de transformação. A condição real é dada pela transformação 1 – 2’. Assim, é possível definir o rendimento em termos de potência útil (Pu) e de potência disponível (Pd). Outro aspecto importante de ser evidenciado em projetos de usinas termoelétricas é com relação ao seu impacto no meio ambiente. 48 Esse tipo de usina emite grandes quantidades de gases de efeito estufa, devido à queima de combustíveis. Assim, ações de mitigação para redução desses poluentes na atmosfera devem ser inseridas na concepção dos projetos. 3. Transmissão As diretrizes técnicas que orientam na elaboração de projetos de linhas de transmissão no Brasil de 38 kV até 800 kV são dadas pela NBR-5422, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além disso, o Operador Nacional do Sistema (ONS) possui o documento intitulado de Procedimentos de Rede, que, em seu módulo 2, trata da instalação de linhas de transmissãoe seus sistemas agregados. Em um sistema de transmissão, as tensões e as correntes se comportam como ondas, e as análises matemáticas desses sistemas lançam mão da utilização de equações diferenciais, que geralmente são resolvidas no domínio da frequência. Os quatro parâmetros que compõem um condutor de uma linha de transmissão são: resistência (R), indutância (L), capacitância (C) e condutância (G). Esses parâmetros são uniformemente distribuídos ao longo do comprimento da linha, sendo que as grandezas R, L e C dependem do material de fabricação e das dimensões do condutor (PINTO, 2018). Uma linha de transmissão com comprimento menor que 80 km é uma linha curta e possui uma representação conforme mostrado na Figura 3. 49 Figura 3 – Circuito equivalente de linhas curtas Fonte: Pinto (2018, p. 72). Note, na Figura 3, que a resistência (R) e reatância indutiva (XL) sempre estarão em série no circuito equivalente. A indutância e a capacitância em um circuito são geradas pela presença de campos magnéticos e elétricos em volta dos condutores. A indutância é calculada pela relação entre o fluxo magnético (f) e a corrente que o produz e é dada em unidades de Henry/metro. Ela representa a capacidade que um condutor ou uma bobina possui de produzir força eletromotriz. A sua expressão é dada por: Sendo a permeabilidade magnética do espaço livre, D o espaçamento igual entre os condutores e r o raio do condutor. Como na prática os três condutores estão espaçados de forma equidistante, a reatância indutiva pode ser escrita como: Imagine uma linha de transmissão com extensão de 300 km. Você acredita que é possível manter a disposição entre os condutores simétrica durante todo o percurso? Na prática, isso não ocorre, devido às questões inerentes a esse tipo de projeto, que levam em consideração as questões de construção, relevos diversos etc. Se a distância entre os 50 condutores é desigual durante o percurso, logo a indutância também é diferente em cada fase, ocasionando quedas de tensão desequilibradas em cada condutor. Assim, em um projeto de linhas de transmissão, isso deve ser levado em consideração. Para ajustar este desbalanceamento entre fases, as posições dos condutores são alteradas em intervalos regulares ao longo da linha, e a isso damos o nome de transposição. A Figura 4 apresenta um exemplo de transposição. Figura 4 – Esquema de transposição Fonte: Pinto (2018, p. 75). Veja que, na Figura 4, as fases em cada 1/3 de comprimento possuem um distanciamento distinto com relação às outras. No cálculo da indutância L, o espaçamento D utilizado passa agora a ser substituído pelo espaçamento Dc , dado pela seguinte expressão: Sendo , e as distâncias entre os condutores a, b e c de cada comprimento em análise. Os projetos de transmissão de energia elétrica também consideram importantes outros cálculos envolvendo os condutores, tais como: cálculo da flecha; altura mínima de um condutor ao solo; faixa de segurança no solo para a operação das linhas. A ação das intempéries pode influenciar na segurança das torres, por isso, é importante o 51 cálculo dos esforços sofridos pelas estruturas pela ação do vento em projetos de transmissão. 4. Distribuição As cargas utilizadas pelos consumidores de energia elétrica possuem diferentes características que necessitam ser estudadas e agrupadas. Isso permite classificá-los em grupos específicos. Os critérios de classificação são importantes, pois ajudam, na elaboração de um projeto de distribuição, a determinar os hábitos de consumo, os instantes de máxima demanda do sistema e as possíveis implicações disso no equilíbrio do sistema. Sendo assim, podemos classificar os consumidores como: cargas residenciais; cargas comerciais de iluminação e de sistemas de ar condicionado dentro de lojas, prédios etc.; cargas industriais trifásicas, com predominância de motores elétricos; cargas rurais de irrigação e agroindústria; cargas dos poderes públicos; carga de iluminação pública. Na sequência, você estudará sobre os fatores típicos de carga. Além dos apresentados, existe também o fator de carga, o fator de demanda, o fator de utilização e o fator de perdas. 4.1 Fatores típicos da carga A demanda é um fator típico da carga e é definida como sendo a carga nos terminais tomada em um valor médio dentro de um intervalo de tempo definido. A demanda é medida em termos de potência ativa, reativa ou aparente. A Figura 5 apresenta uma curva de demanda genérica. 52 Figura 5 – Curva de demanda Fonte: Kagan, Oliveira e Robba (2010, p. 24). A Figura 5 simula a curva de demanda diária de algum consumidor. O intervalo de tempo escolhido para análise é de 24 horas, com demandas registradas a cada hora. Veja também que a área da curva, sendo a demanda dada em unidade de potência (W), representa a energia gasta por esse consumidor neste período de um dia. A imagem ainda destaca a demanda máxima desse consumidor, entre 20 e 25 W. Esse dado é também considerado um fator típico da carga, pois revela em qual momento do período em análise o consumidor ou o conjunto de consumidores, com suas cargas, apresenta a maior solicitação por potência da rede, devendo o projeto prever que, mesmo em um pequeno período, a demanda pode assumir valores elevados. É possível estudar também o comportamento da demanda através da curva de duração de carga, que exprime, em ordem decrescente de demanda, em um intervalo de tempo, um perfil para uma carga ou um conjunto delas. Uma pergunta interessante de se fazer é se a demanda máxima de um conjunto de consumidores representa a soma da demanda máxima de cada consumidor. Aqui, nós podemos dizer que não. Isso porque existe, em um sistema de distribuição, uma diversidade muito grande 53 de consumidores. Essa diversidade da carga é considerada também um fator típico da carga. Assim, a demanda máxima em um determinado momento é a soma das demandas individuais de cada consumidor, porém não significa a demanda máxima do consumidor, pois cada unidade de consumo possui suas próprias características de operação (KAGAN; OLIVEIRA; ROBBA, 2010). Para se definir e calcular a diversidade de carga de um consumidor, podemos utilizar o fator de diversidade, dado por: Sendo o numerador a soma das demandas máximas individuais de cada consumidor i. O denominador é a soma da demanda máxima registrada de um conjunto de consumidores em um período. A quantidade de consumidores varia de 1 até n. Assim, o fator de diversidade assume valores maiores que um, indicando que a demanda máxima registrada em um intervalo de tempo é menor que a soma das demandas máximas individuais. E assume o valor unitário quando a demanda registrada pelo conjunto de consumidores for igual à soma das demandas máximas individuais. O inverso do fator de diversidade é o fator de coincidência, ou seja: Neste caso, o fator de coincidência é sempre menor que a unidade, pois, no denominador, encontra-se a soma das demandas máximas individuais, assim esse se torna o valor máximo da demanda que pode ser registrado pelo conjunto de consumidores em um determinado intervalo de tempo. Nesta leitura digital, você estudou sobre os principais fundamentos para elaboração de projetos em sistemas de energia. Existem diversos parâmetros que precisam ser considerados em um empreendimento 54 de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica para que o projeto possa ser bem-sucedido. Referências BORGES NETO, M. R.; CARVALHO, P. C. M. Geração de energia elétrica: fundamentos. São Paulo, SP: Érica, 2012. KAGAN, N.; OLIVEIRA, C. C. B.; ROBBA, E. J. Introdução aos sistemas de distribuição de energia elétrica. São Paulo, SP: Blucher, 2010. PINTO, M. de O. Energia elétrica: geração transmissão e sistemas interligados. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2018. REIS, L. B. dos. Geração de energia elétrica. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2011. 55 Sumário Apresentação da disciplina Geração de energia elétricaObjetivos 1. Introdução 2. Geração de energia elétrica Referências Transmissão de energia elétrica Objetivos 1. Introdução 2. Classificação das linhas de transmissão 3. Principais componentes de uma linha de transmissão 4. Escolha da tensão 5. Regulação do setor de transmissão de energia elétrica Referências Distribuição de energia elétrica Objetivos 1. Introdução 2. A rede de distribuição de energia elétrica 3. Ligação das redes de distribuição 4. Operação e qualidade dos serviços de distribuição de energia elétrica Referências Fundamentos básicos para projetos de sistemas de energia Objetivos 1. Introdução 2. Geração 3. Transmissão 4. Distribuição Referências