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1-Geografia Politica

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Joires Castro

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
GeoGrafia Política
Prof.a Márcia da Silva 
Prof.a Tatiellen Cristina Prudentes
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Márcia da Silva 
Prof.a Tatiellen Cristina Prudentes
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S586g
Silva, Márcia da
Geografia política. / Márcia da Silva; Tatiellen Cristina Prudentes. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2020.
268 p.; il.
ISBN 978-65-5663-081-6
1. Geografia política. - Brasil. I. Prudentes, Tatiellen Cristina. II. 
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 320.12
III
aPresentação
Olá, caro estudante! Seja bem-vindo!
Este material foi planejado com a finalidade de colaborar para a sua 
formação acadêmica. Pensando nisso, discutiremos nesta disciplina sobre 
a Geografia Política, apresentando os fundamentos e conceitos que lhe 
ajudarão no seu processo de ensino e aprendizagem. 
Nesta disciplina, abordaremos diversos assuntos de grande 
importância para sociedade atual, pois queremos que você perceba as 
dinâmicas dos processos políticos que se desenvolvem no espaço geográfico. 
Então, vamos discutir os fundamentos básicos de uma área de conhecimento 
fascinante que é a Geografia Política. 
Entendemos que os conhecimentos que serão compartilhados, são 
de extrema importância para os acadêmicos do curso de Geografia, pois 
eles serão os responsáveis por compreender os conceitos como espaço 
geográfico, território, política, poder, globalização, conflitos, e outros que são 
fundamentais para o entendimento mais aprofundado sobre a realidade e as 
implicações da sociedade contemporânea. 
Assim sendo, a disciplina tem como objetivo apresentar as origens 
e a evolução da Geografia Política, seus temas e conceitos principais, 
compreendendo as mudanças ocorridas no espaço geográfico, interpretando 
as relações de poder com vários atores, que participam como agentes de 
criação, transformação e a elaboração dos espaços geográficos. 
As discussões sobre os temas que trataremos na disciplina serão, por 
muitas vezes, atuais. Tratamos também de esquematizar a disciplina em três 
unidades que se apresentam em uma ordem de tópicos e subtópicos. 
Na unidade 1, discutiremos sobre os conceitos básicos da Geografia 
Política, com uma abordagem evolutiva da Geografia Política através dos 
seus teóricos e clássicos. Passaremos, primeiramente, pelos fundamentos da 
Geografia Política e Geopolítica e, por fim, analisaremos a Geografia Política 
Brasileira. 
Já na Unidade 2, intitulada “Geografia Política no mundo 
contemporâneo”, serão apresentadas as análises sobre a configuração do 
mundo nestes últimos anos, advindos da Globalização e suas consequências 
na forma de organização mundial. Passando pelos conceitos básicos e 
exemplificando a nova conjuntura mundial. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Na Unidade 3, denominada “Temas e Problemas da Geografia Política 
Contemporânea”, discutimos os temas e problemas da geografia política 
contemporânea, a exemplo de conflitos que tenham dimensão territorial, 
deslocamentos populacionais, processos migratórios e situações de refúgio. 
Acreditamos que este material será útil para acompanhar a disciplina 
de Geografia Política, possibilitando, assim, conhecer e compreender o 
desenvolvimento da geografia. 
Portanto, o texto está estruturado a partir do desenvolvimento das 
unidades e tópicos. Em cada unidade, aparecem alguns ícones interativos 
UNI, como, por exemplo, dicas de estudo, glossário etc. Contamos com sua 
participação e empenho para extrair o máximo de proveito deste momento. 
Sucesso e mãos à obra!
Prof.a Márcia da Silva 
Prof.a Tatiellen Cristina Prudentes
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO 
BRASILEIRO ...................................................................................................................1
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA .................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 CONCEITOS, ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS .................................................3
3 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GEOPOLÍTICA.................................................12
4 A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA E O DISCURSO GEOPOLÍTICO .............................19
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................29
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................30
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS ..........................31
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31
2 GEOGRAFIA POLÍTICA: ESPAÇO E PODER ..............................................................................31
3 OS DIFERENTES CAMPOS DO PODER ........................................................................................36
4 O PODER E O TERRITÓRIO .............................................................................................................40
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................45
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................46
TÓPICO 3 – GEOPOLÍTICA BRASILEIRA .......................................................................................49
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................492 O PROJETO GEOPOLÍTICO DA MODERNIDADE NO BRASIL ...........................................49
3 A GESTÃO DO ESTADO CENTRALIZADOR ..............................................................................60
4 A CRISE E OS DESAFIOS DO PAÍS COMO POTÊNCIA REGIONAL ....................................62
5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E A TENDÊNCIA À GESTÃO PRIVADA DO 
TERRITÓRIO ........................................................................................................................................68
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................78
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................79
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................80
UNIDADE 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ..........................83
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO ..........................................................85
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85
2 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GLOBALIZAÇÃO ............................................85
3 ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS ..........................................................................93
4 ESTADO, FRONTEIRAS E SEGREGAÇÃO DO TERRITÓRIO ................................................97
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113
sumário
VIII
TÓPICO 2 – A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS 
DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS ..............................................115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 O SISTEMA MUNDIAL, HEGEMONIAS E CONTRA HEGEMONIAS................................115
3 O PODER GLOBAL DOS ESTADOS UNIDOS E OS NOVOS ATORES MUNDIAIS .......119
4 UMA NOVA CONJUNTURA MUNDIAL? A GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES NA 
ATUALIDADE DO SÉCULO XXI ...................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................134
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................135
TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER..................................137
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137
2 CONSTITUIÇÃO TEÓRICA DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER SOCIAL .....................137
3 BIOPOLÍTICA E DESLOCAMENTO DE MULTIDÕES: SEGURANÇA JURÍDICA E 
POLÍTICA .............................................................................................................................................141
4 BIOPODER: RAÇA, POPULAÇÃO E REPRODUÇÃO NO MUNDO GLOBAL ..................142
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................144
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148
UNIDADE 3 – TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA ....149
TÓPICO 1 – CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES ..............................................151
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151
2 CONFLITOS QUE PERSISTEM: AS GUERRAS DO SÉCULO XXI ........................................152
3 AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E O DRAMA DOS REFUGIADOS ..........................161
4 SOCIEDADES, MOBILIDADES, DESLOCAMENTOS: OS TERRITÓRIOS DA ESPERA .....173
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................181
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................182
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA ...................................185
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................185
2 A ÁFRICA É O MUNDO E O MUNDO NÃO É A ÁFRICA ......................................................185
3 CAMINHOS E DESCAMINHOS DA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA ..........................201
4 FORMAÇÕES NACIONAIS E DIFERENTES FORMAS DE INSERÇÃO REGIONAL .....212
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................217
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................218
TÓPICO 3 – GEOGRAFIA POLÍTICA E O MEIO AMBIENTE, GESTÃO DOS 
RECURSOS E SUSTENTABILIDADE .......................................................................221
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................221
2 GEOGRAFIA POLÍTICA E MEIO AMBIENTE............................................................................222
3 GEOGRAFIA POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................................229
4 GEOGRAFIA POLÍTICA E GESTÃO INTERNACIONAL DE RECURSOS NATURAIS ...241
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................246
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................250
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................251
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................253
1
UNIDADE 1
FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA 
POLÍTICA E O CONTEXTO 
BRASILEIRO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender as origens e a evolução da Geografia Política, seus conceitos 
principais, teorias, temas e pensadores;
• perceber as relações entre a Geografia Política e a Geopolítica, examinando 
a Geografia Política clássica e o discurso geopolítico;
• analisar as abordagens recentes sobre espaços, poder e território, com 
espaço na perspectiva do poder, que significa entender o espaço na sua 
complexidade e em diferentes escalas de relações, em sua dinâmica 
histórica e geográfica;
• identificar o projeto e o contexto da Geografia Política Brasileira, 
verificando as relações entre espaço e poder nas escalas nacional, regional 
e local. Entendendo a relação à questão do componente político sobre 
o território e da importância do Estado no processo de organização 
territorial e da força para dominar e gerir territórios.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. 
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
TÓPICO 3 – GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
Preparado para ampliar seus conhecimentos?Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, por meio de uma abordagem histórica, estudaremos a 
evolução do pensamento em Geografia Política, seus elementos e a sua finalidade. 
Para iniciarmos o estudo relacionado à produção da Geografia Política é necessário 
ter clareza acerca dos conceitos básicos que dão suporte à disciplina. Para tanto, 
discutiremos, neste primeiro tópico, alguns aspectos conceituais que permitem 
entender e inteirar como a Geografia Política é importante como disciplina no 
curso de graduação em Geografia.
Portanto, dividiremos o tópico em três partes. Na primeira serão 
abordados os fundamentos dos conceitos e origens da Geografia Política, a ciência 
que analisa as relações de poder no espaço geográfico. Diante disso, estudaremos 
também as relações de poder e a sua correlação com o espaço. Na segunda parte, 
abordaremos as teorias da Geografia Política e da Geopolítica, com uma grandeza 
de conceitos, termos e seus primeiros pensadores que corroboraram para a 
construção do conhecimento e foram fundamentais para a Geografia Política. Por 
fim, a terceira parte, com a discussão de dois geógrafos que produziram com 
todos os seus apontamentos conceituais, reflexões críticas, estudos pioneiros da 
historicidade e a contextualização dos temas sobre a Geografia Política.
2 CONCEITOS, ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS
Para começar, precisamos deixar claro sobre o que estamos falando. O que 
é Geografia Política? 
Para compreensão do significado de Geografia Política é importante 
definir o que é Geografia Política e Geopolítica, pois os dois termos terão em 
conjunto sua conceituação. Dessa forma, estes campos teóricos da Geografia 
apresentam importância ímpar para o entendimento do desenrolar dos fatos 
históricos no espaço geográfico, ajudando termos uma análise crítica em relação 
a ordem internacional vigente. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
4
A geografia política pode então ser compreendida como um conjunto 
de ideias políticas e acadêmicas sobre as relações da geografia com 
a política e vice-versa. O conhecimento por ela produzido resulta 
da interpretação dos fatos políticos, em diferentes momentos e em 
diferentes escalas, com suporte em uma reflexão teórico-conceitual 
desenvolvida na própria geografia ou em outros campos como a ciência 
política, sociologia, antropologia, relações internacionais etc. A dupla 
necessidade de dar uma resposta acadêmica sobre os fundamentos 
geográficos para eventos políticos e a preocupação de legitimar a sua 
análise a partir de um enquadramento intelectual em modelos teóricos 
reconhecidos resultaram em uma forte contextualização da disciplina, 
tanto em termos dos temas centrais como das opções metodológicas, 
além das práticas, de muitos dos seus formuladores. Desse modo, 
da mesma forma que em outras áreas do conhecimento, também na 
geografia política não é possível defender um total desinteresse ou 
imparcialidade dos pesquisadores e analistas. Pois, como bem lembra 
John Agnew, “em um mundo da ação humana não é possível falar em 
uma visão singular, de lugar nenhum, para justificar esta ou aquela 
perspectiva como melhor que outra” (AGNEW, 2002, p. 8), apesar do 
esforço da disciplina em oferecer coerência entre fundamento teórico e 
evidência empírica para discussão de situações particulares (CASTRO, 
2005, p. 17).
A Geografia Política é, portanto, a interpretação dos fatos políticos e 
relações políticas, nas suas diferentes escalas, ou seja, relações de poder de atores 
e agentes, que exercem autoridade e poder, e que geram por vezes conflitos e 
jogos de interesses. Pela natureza da Geografia, os pesquisadores e analistas não 
conseguem se desvincular de sua perspectiva, não conseguindo ter o desinteresse 
e a imparcialidade do estudo proposto. 
Neste contexto, vemos que a geografia política leva em consideração o 
território de um determinado país e região. Na geografia humana é percebida 
como a ciência que analisa as relações de poder no espaço geográfico, estudando 
as relações de poder e a sua correlação com o espaço. 
 
Temos a perspectiva do espaço geográfico conexo a uma Geografia Política 
com o território, da arena privilegiada da ação política e do poder (SUERTEGARAY, 
2001). Portanto, o objeto desta, é nas relações entre o território, poder e política, 
investigando as relações do poder, tanto dentro quanto entre os Estados-nação, 
em todo o processo intrínseco da apropriação do espaço geográfico. 
A identificação da geografia com a geografia política surge “através 
das análises dos conjuntos de estudos sistematizados mais afetos a geografia e 
restritos as relações entre o espaço e o Estado, como as questões relacionadas à 
posição, situação, características das fronteiras” (COSTA, 2010, p. 18). 
A Geografia Política, em sua origem, teve como compromisso de 
compreender o modo pelo qual a política era influenciada pela geografia (CASTRO, 
2005). Portanto, o objeto de estudo da Geografia Política são as relações entre o 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
5
espaço e o poder ou o estudo geográfico da política. Os estudos iniciam na obra 
de Ratzel, publicada em 1987, intitulada Politische Geographie. Ratzel era o principal 
agente que exercia poder sobre o território era o Estado, no início destes estudos. 
Você conhece Ratzel?
 Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um teórico pensador da institucionalização da 
Geografia, enquanto ramo autônomo do saber científico. Percursor dos “clássicos” da ciência 
geográfica, além de também ser um dos pensadores e teóricos da Geografia Política.
DICAS
Verifica-se, que na atualidade, em Geografia Política, teremos também as 
análises de questões ambientais como é o caso da Amazônia, que assume uma 
importância política muito grande, tanto nacional como internacional, visto que 
é uma fonte imensurável de riqueza naturais. Considerando o texto, observe as 
figuras, a seguir: 
FIGURA 1 – CHARGE SOBRE A DESTRUIÇÃO DA FLORESTA NA AMAZÔNIA, POR CHICO MARINHO
FONTE: <https://jornalggn.com.br/sites/default/files/2019/08/uma-charge-sobre-a-destruicao-
da-floresta-na-amazonia-por-chico-marinho-amazonia-chico-marinho-696x529.jpeg>. 
Acesso em: 5 set. 2019.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
6
FIGURA 2 – MANCHETE SOBRE A DISCUSSÃO DA AMAZÔNIA NA ONU EM 2019
FONTE: <https://cdn.domtotal.com/img/noticias/2019-09/1390166_419833.jpg>. 
Acesso em: 24 set. 2019.
Conforme figuras acima, Costa (2010, p. 25) esclarece que “são de suma 
importância as análises das formas de distribuição do poder no espaço nacional, 
regional, e internacional etc., e os modos de repartição desse poder no interior 
da sociedade, cada vez mais territorializada em suas práticas sociais cotidianas”. 
Bem como, vemos a importância do conceito de escala nos estudos da geografia, 
compreendida como “níveis em que o espaço é subdividido” para melhor ser 
compreendido e analisado. As diferentes escalas são interligadas, uma vez que 
todas são maneiras de compreender o espaço geográfico” (LISBOA, 2007, p. 30-31). 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
7
Lisboa (2007) exemplifica os níveis de escalas, bem como, cada fenômeno pode 
ser analisado em uma escala primária e se relacionar a outras análises escalares, quando 
se adquire a habilidade de reflexão transescalar. A influência dos EUA pode ser pensada 
internacionalmente e chegar a identificação de elementos dessa atuação nas pequenas 
cidades brasileiras; da mesma forma, um fenômeno que a princípio pareça apenas de nível 
local pode ganhar proporções mundiais como o gás carbônico liberado localmente, que 
pode contribuir para o fenômeno do aquecimento global.
IMPORTANT
E
Surge, assim, o campo de atuação da Geografia Política, “Geografia e a 
relação entre a políticae o território, expressão e modo de controle dos conflitos 
sociais e a base material e simbólica da sociedade” (CASTRO, 2005, p. 15-16).
As bases materiais e Simbólicas são consideradas por HAESBAERT (2004), como:
Base Material: relacionada com a dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração 
do terror, do medo – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados 
da terra, ou no territorium são impedidos de entrar. 
Base Simbólica: relacionada com a apropriação. Podemos dizer que, para aqueles que têm o 
privilégio de usufrui-lo, o território inspira a identificação (positiva) e a efetiva “apropriação”.
Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional 
“poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto e de dominação 
quanto ao poder no sentido mais simbólico de apropriação. Lefebvre distingue apropriação 
de dominação (“possessão”, “propriedade”), o primeiro sendo um processo muito mais 
simbólico, carregado das marcas do “vivido”, do valor de uso, o segundo mais concreto, 
funcional e vinculado ao valor de troca. Segundo o autor: o uso reaparece em acentuado 
conflito com a troca no espaço, pois ele implica “apropriação” e não “propriedade”. Ora, 
a própria apropriação implica tempo e tempos, um ritmo ou ritmos, símbolos e uma 
prática. Quanto mais o espaço é funcionalizado, mais ele é dominado pelos “agentes” que 
o manipulam tornando-o unifuncional e, menos ele se presta à apropriação. Por quê? 
Porque ele se coloca fora do tempo vivido, aquele dos usuários, tempo diverso e complexo 
(LEFEBVRE, 1986 p. 411-412). Como decorrência deste raciocínio, é interessante observar 
que, enquanto “espaço-tempo vivido”, o território é sempre múltiplo, “diverso e complexo”, 
ao contrário do território “unifuncional” proposto pela lógica capitalista hegemônica.
FONTE: HAESBAERT, R. Dos múltiplos territórios a multiterritorialidade. In: HEIDRICH, 
A.; COSTA, B.; PIRES, C.; UEDA, V. (Org.). A emergência da multiterritorialidade: a 
ressignificação da relação do humano com o espaço. Canoas/Porto Alegre: Editora ULBRA/
Editora UFRGS, 2008.
DICAS
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
8
Você saberia citar alguns exemplos de temas de estudo da Geografia 
Política?
Para ilustrar os estudos da geografia política, observe este resumo de uma tese 
de doutorado de Daniel Cirilo Augusto (2017, p. 13), com o título “Comportamento geográfico 
do voto: a identificação pessoal e a identificação partidária em Portugal e no Brasil”. 
Resumo: esta pesquisa tem como objetivo analisar a identificação pessoal e a identificação 
partidária na decisão do voto de eleitores portugueses e brasileiros no período entre as 
eleições de 2011 e 2013 (Portugal) e 2012 e 2014 (Brasil). Procurou-se, ainda, identificar 
a importância dos partidos políticos para a decisão do voto, bem como, os diferentes 
elementos que contribuem para o voto. As escalas de pleitos eleitorais são utilizadas aqui 
para averiguar os diferentes níveis de identificação pessoal e de identificação partidária no 
eleitorado. Metodologicamente, este trabalho foi desenvolvido através de três eixos: leituras 
para a construção do referencial teórico, entrevistas com políticos brasileiros e aplicação 
de questionários aos eleitores portugueses e brasileiros. Para estes, foram traçados critérios 
para as amostras que levaram a escolha de Braga, Évora e Lisboa (Portugal) e Curitiba, 
Laranjeiras do Sul e Maringá (Brasil). A pesquisa foi conduzida pelo comportamento 
geográfico do voto, através de vinculações (aproximações e distanciamentos) entre a 
realidade portuguesa e a brasileira. Os resultados apresentados revelam a decisão do voto 
fundamentada principalmente na identificação pessoal, com exceção às eleições de nível 
nacional em Portugal, que obtiveram uma considerável parte dos eleitores a votar por meio 
da identificação partidária. Ademais, concluiu-se que o voto é híbrido, em especial entre 
o eleitorado brasileiro. As mudanças ocorridas entre a decisão do voto do eleitor brasileiro 
permitem-nos identificar que este eleitor possui um caráter mudancista em suas decisões 
eleitorais, tornando-o sensível às variações ocasionadas no contexto territorial (sistema 
eleitoral, partidos políticos, meios de comunicação, efeito vizinhança etc.). Diante disso, 
considera-se que os elementos intrínsecos ao território contribuem para a formação dos 
cenários político partidários, condicionando o comportamento geográfico do voto.
DICAS
Como procuramos apontar, todas essas mudanças quanto aos novos 
temas são de suma importância, e quando em foco verificarem as relações de 
poder e o território, teremos espaços que são campos de grande importância de 
pesquisa da Geografia Política. 
Segundo as concepções de Castro (2005, p. 67), a contribuição do 
pensamento de Ratzel, que era um intelectual do seu tempo e, que ele, “foi quem 
melhor compreendeu e explicitou a importância do território como um suporte 
duradouro para o poder das instituições políticas”. 
Para Castro (2005, p. 19), “Ratzel procurou elaborar uma verdadeira 
teoria das relações entre a política e o espaço. A Geografia Política de Ratzel 
tinha, portanto, como tarefa demonstrar que o Estado é fundamentalmente uma 
realidade humana que só se completa sobre o solo do país”. 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
9
Castro (2005, p. 71) valoriza o trabalho de Ratzel e dá-nos uma nova 
dimensão da importância do seu trabalho em Geografia Política. Segundo o 
autor: “sua preocupação era compreender este poder que faz mover o mundo, 
que abre as rotas e desenvolve o comércio, joga as nações uma contra as outras, 
empurra as armas para frente e finalmente engendra desequilíbrios de todos os 
tipos, verificado em cada escala das relações.”
Outro autor de destaque na Geografia política foi La Blache, ao qual se 
atribui a ideia do possibilismo, teoria segundo a qual o homem tem a possibilidade 
de intervir no meio. Para La Blache (1982) a geografia política constitui, em sentido 
estrito, um desenvolvimento especial da geografia humana. Nas aplicações da 
geografia ao homem, trata-se sempre do homem por sociedades ou por grupos, 
de modo que se pode crer autorizado a dar ao nome de geografia política um 
sentido mais amplo, e estendê-lo ao conjunto da geografia humana. 
Indicamos, para a leitura mais aprofundada do tema, o livro: RATZEL, de Antônio 
Carlos Robert. Coleção de um dos grandes cientistas sociais. nº 59, São Paulo, Ed. Ática S/A. 
1990. Por meio do Link a seguir, você consegue acessar e baixar o livro: https://sites.google.
com/site/flamariongeografia/historia-do-pensamento. Acesso em: 20 jan. 2020.
DICAS
Por meio da análise de escalas dentro da Geografia Política, como a análise 
nacional e global, diante dos pressupostos constituídos por esta disciplina, surge 
como uma linha direta a geopolítica, a qual, segundo Costa (2010, p. 55), pode ser 
considerada: “[…] antes de tudo um subproduto e um reducionismo técnico e 
pragmático da geografia política, na medida em quem se apropria de parte de seus 
postulados gerais para aplicá-los na análise de situações concretas interessando 
ao jogo de forças estatais projetado no espaço”.
Para Costa (2010) a Geopolítica caberia a formulação das teorias e projetos 
de ação voltadas às relações de poder entre os Estados e às estratégias de caráter 
geral para os territórios nacionais e estrangeiros, como exemplo a União Europeia 
ou as conquistas marítimas, de modo que estaria mais próxima das ciências políticas 
aplicadas, sendo assim mais interdisciplinar e utilitarista que a Geografia Política. 
 O surgimento da Geografia Política e, sobretudo, da Geopolítica, “são um 
produto do contexto europeu na virada do século XIX para XX, marcados pela 
emergência das potências mundiais e o imperialismo como forma histórica de 
relacionamento internacional” (COSTA, 2010, p. 58).
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICAE O CONTEXTO BRASILEIRO
10
O pioneiro da Geopolítica foi Rudolf Kjellen, a quem se atribui o termo 
geopolítica “para expressar as suas concepções sobre as relações entre o Estado 
e o território”. Seus princípios tiveram muita discussão junto aos círculos de 
poder de diversos países. “Kjellen não escondia sua admiração pelo Estado Maior 
alemão e nem o desejo de que a Europa viesse a ser unificada sob um imenso 
império germânico” (COSTA, 2010, p. 57). 
Vários autores vão demostrar que a Geopolítica é uma ciência da ação e um 
campo de um saber estratégico. A geoestratégia (situações de conflito e emprego 
de meios de coerção) é apropriada pela Geopolítica, em seus mecanismos, pois 
tem como preocupação básica a correlação de forças entre os estados ou os agentes 
atuantes em determinado conflito. Considerado por um estudo das constantes e 
das variáveis do espaço. 
A Geoestratégia é o estudo das constantes e das variáveis do espaço que, ao 
objetivar-se na construção de modelos de avaliação e emprego de formas de coação, 
projeta o conhecimento geográfico na atividade estratégica (CORREIA, 2012). 
 Coação: coação consiste na ação de coagir, ou seja, forçar alguém a fazer algo 
contra a sua vontade. Do ponto de vista jurídico, o crime de coação é caracterizado como 
o ato de agir com pressão ou violência (física ou verbal) perante outra pessoa, com o 
propósito de obter algo contra a sua vontade.
IMPORTANT
E
Para mais detalhes sobre os conceitos de Geopolítica e Geoestratégia, leia os 
textos: Campello (2018). Atores, interesses e diferentes concepções sobre as reservas do 
pré-sal brasileiro: comparando os marcos regulatórios de 2010 e 2016. 24 p. Revista Oikos. 
Volume 17, n. 3. 
FONTE: http://www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/article/viewFile/515/287. Acesso em: 
11 fev. 2020.; MELLO, L. I. A. Quem tem medo da geopolítica? 1999. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782000000100011. Acesso em: 20 
jan. 2020.
ATENCAO
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
11
Vemos aqui, por meio das afirmações, o início uma reflexão: a Geopolítica 
não é uma abreviação de Geografia Política? 
De forma mais simplificada, a Geopolítica se diferencia da Geografia 
Política, pois a primeira é mais específica focada na atuação territorial estatal 
direta, e por outro lado, a Geografia Política é mais ampla e tem como foco outros 
atores além do Estado, como movimentos sociais, grupos de poderes, entre outros. 
A Geopolítica de forma clássica preocupa-se em compreender os diferentes 
conflitos que existem na posse e dominação territorial, é um instrumento analítico 
focado nas divergências territoriais. Trata-se de uma ciência do conflito.
Por fim, ressaltamos que a Geografia política estuda as relações políticas, 
sendo assim, relações em que existem atores exercendo poder, o que muitas vezes 
gera conflitos, interesses e intervenções políticas.
 A partir dos pressupostos estabelecidos por este ramo da ciência 
geográfica, abordam-se conflitos entre atores e agentes (movimentos sociais, as 
multinacionais, shopping centers, associações de bairro, sindicatos, traficantes 
ou milícias nos morros e favelas das grandes cidades, grupos terroristas, as 
empresas transnacionais, os governos de países) em que há um caráter espacial. 
No conjunto desses conflitos, podemos incluir conflitos entre nações e povos, 
conflitos urbanos, conflitos de natureza ambiental. Conforme as explanações de 
Costa (2010, p. 58): 
É sem sombra de dúvida que o surgimento da Geografia Política e, 
sobretudo, da Geopolítica são um produto de contexto europeu 
na virada do século XIX para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, 
respectivamente. Num plano mais geral, entretanto, não se pode 
esquecer que o interesse pelos fatores referentes à relação entre espaço 
e poder também manifesta um momento histórico que envolvia o 
mundo em escala global, caracterizado pela emergência das potências 
mundiais e, com elas, o imperialismo como forma histórica de 
relacionamento internacional. Em outros termos, as estratégias dessas 
potências tornaram-se antes de tudo globais, isto é, projetos nacionais 
tenderam a assumir cada vez mais um conteúdo necessariamente 
internacional.
Realizamos, até o momento, uma breve reflexão da origem e a 
sistematização da Geografia Política e Geopolítica como conceito. Assim, para 
conhecer e entender o processo e contexto de toda a sua formalização, é preciso 
aprender sobre seus conceitos e seus desdobramentos direcionados pelas 
pesquisas e produções clássicas. Estes conceitos ajudarão você, acadêmico, a 
iniciar um importante percurso acerca da geografia política clássica. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
12
3 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GEOPOLÍTICA
As teorias da Geografia Política e da Geopolítica tem uma grandeza de 
conceitos e termos. A Geografia Política se desenvolve na relação entre a política, o 
poder e o território, nomeadamente no que diz respeito a sua gestão (CASTRO, 2005). 
Com a evolução da Geografia Política, durante o século XIX, com 
características marcadas de um cenário de sistematização da Geografia na ciência, 
seguindo paradigmas como o Determinismo e o Possibilismo, origina-se como 
uma subárea, com autores e obras derivadas de teóricos renomados e respeitados 
da Geografia (COSTA, 2010). 
Você sabe o que é determinismo e possibilismo?
 Para compreender melhor esses conceitos, indicamos que assista ao vídeo: 
“Determinismo e Possibilismo Geográfico na Compreensão da Sociedade”, com o professor 
Thiago Hernandes, graduado em Geografia pela Unesp, mestre em Geografia pela UEM e 
doutorando em História pela Unesp. O vídeo tem cerca de cinco minutos. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=ZjkO1tlS1-E. 
 Outro material que pode acrescentar na temática sobre os conceitos da 
geografa é o vídeo do professor José Willian Vesentini, professor da USP e autor, em que 
explica de forma objetiva alguns conceitos básicos da Geografia que são espaço, escala, 
território, região, paisagem e lugar. Com duração de cerca de seis minutos, o professor 
explana sobre o cotidiano do fazer geográfico. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=kWeDhaNelyk.
DICAS
Seguindo orientações do Determinismo Ambiental, ou seja, uma visão 
naturalista aplicada ao estudo da sociedade, de Friedrich Ratzel, a Geografia 
Política conduz e inicia suas bases, com o pensamento sobre o poder e as 
estratégias de controle e de dominação do território, concebendo o Estado por 
meio desse território (COSTA, 2010). 
Por meio dessa problematização e contextualização, as diretrizes em torno 
da Geografia Política Clássica de Ratzel, uma “Geografia estatal”, foi defendida 
por Raffestin, com questões a uma categoria que constituía o Estado como um 
ator excepcional. 
Para o autor, a Geografia Política tem a particularidade de múltiplas 
relações de poder, determinados pelas mais diferentes ações antrópicas, adjacente 
há uma escala de atores e agentes sociais, onde atuam em articular ações, conflitos 
e intervenções a seus interesses (RAFFESTIN, 1993). 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
13
Nessa perspectiva, devemos reconhecer que os estudos e trabalhos de 
Ratzel contribuíram para a construção de um conhecimento fundamental para a 
Geografia Política, com todos os seus apontamentos conceituais, reflexões críticas, 
historicidade e a contextualização dos temas. Neste processo, durante as décadas 
de 1970 e 1980, entram as estratégias de temas e escalas que são agregados a 
esta, com a adoção de um conjunto de questões marcadas pelo contexto mundial. 
Com a direção a novas interpretações na análise espacial, conforme Castro 
(2005), o poder do Estado recebe novas organizações administrativas, a gestão 
administrativa em espaços nacionais, entre outros elementos, acrescentando-
se assim abordagens com grande amplitude e uma renovação a disciplina, 
estabelecendo novos interesses por açõespolíticas. 
Castro (2005, p. 78) esclarece em um capítulo do seu livro, que o tema 
Estado:
É um recorte explicativo importante para a geografia política porque 
constitui a escala dos fenômenos oriundos do universo decisório 
institucional da política territorialmente centralizada. É inegável que as 
decisões desse universo afetam a organização do espaço e o cotidiano 
dos seus habitantes, mesmo a partir do final do século XX o poder 
regulatório das instituições políticas localizadas no aparato estatal 
tenha que incorporar os interesses a outras instituições supranacionais, 
como o FMI, a OMC, o Banco Mundial e o mercado financeiro. Da 
mesma forma que nos séculos XIX os Estados incorporaram os 
interesses da burguesia industrial e, no século XX, incorporaram os 
interesses dos trabalhadores na constituição do Estado de Bem-Estar. 
 
Castro (2005) vai trazer a ideia de reencontrar a política na geografia, 
tentando relacionar como a política, no seu sentido institucional e operacional, 
invadiu as mais diferentes dimensões do mundo contemporâneo, recorrendo a 
um pluralismo teórico-conceitual, relevantes a compreender o espaço como arena 
de conflitos. Que foram definidos por temas e questões clássicos e outros que vem 
se impondo pela própria realidade do mundo contemporâneo: 
•	 A	geografia	política	do	século	XXI.
•	 A	Renovação	do	debate	temático	e	teórico	na	geografia	política.
•	 As	relações	entre	o	território	e	conflito:	o	campo	da	geografia	política.
Por outro lado, Costa (2010) trabalha sobre as tendências e perspectivas 
atuais da Geografia Política, disposta a interdisciplinaridade cada vez maior entre 
Geografia Política, Ciência Política e Economia, pois “não há política e poder 
dissociados da economia” (COSTA, 2005, p. 317). Para ele, existe um vasto campo 
de pesquisa para a Geografia Política, por exemplo, temas como:
•	 O	Estado	Moderno	e	o	seu	significado	atual.
•	 As	fronteiras,	seus	velhos	e	novos	significados.
•	 O	debate	recorrente	sobre	a	questão	das	nações	e	as	nacionalidades.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
14
Para Castro (2005), a geografia política do século XXI é mais abrangente, 
sendo composta por agentes/atores que não se deixam aprisionar pelos limites 
institucionais do Estado. 
Foram muitas as transformações a partir do capitalismo, acompanhada 
de guerras e conquistas de mercados, territórios, povos e nações (COSTA, 2010). 
Essas transformações alteram tanto a relação entre os Estados quanto dentro dos 
Estados.
Na atualidade, Costa (2010) concorda que o Estado perdeu força e o 
princípio da soberania nacional e as fronteiras como conteúdo militar não possui 
grande sentido, dada a facilidade de arrebentação dos limites pelas armas 
estratégicas. De acordo com Costa (2010, p. 282) restam apenas os conteúdos: 
•	 Legal: o conjunto das leis de um país.
•	 Fiscal: cada vez mais relativizado pelos acordos tarifários.
•	 Controle: especialmente o controle de migrações.
Desse modo, o autor relata o estudo sobre a Geografia Política “Universal”, 
que entenderá examinar os fenômenos fronteiriços contemporâneos na Europa, 
América, África e Ásia, e particularmente antigos e novos significados das 
fronteiras em cada macrorregião do globo. Veja a reportagem a seguir, do site 
História online, do dia 24 de novembro de 2018: 
• Fronteiras fortificadas e muros no mundo.
Da fronteira entre o México e os EUA à questão da Cisjordânia e das 
Coreias, passando pelos muros que visam impedir a entrada de imigrantes e 
refugiados na Europa, atualmente, há diversas crises para as quais os governos 
envolvidos optaram por um fechamento físico das fronteiras. O mundo de hoje 
tem mais muros do que o período da Guerra Fria, justamente às vésperas de 
entrarmos em 2019: ano que marca o trigésimo aniversário da queda do Muro de 
Berlim, o grande símbolo da era bipolar.
A seguir, você poderá analisar um mapa com as principais fronteiras 
fortificadas, muros e um resumo bem pontual das questões.
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
15
FIGURA 3 – PRINCIPAIS FRONTEIRAS NO MUNDO
FONTE: <https://historiaonline.com.br/fronteiras-fortificadas-no-mundo-atual/>. A
cesso em: 21 set. 2019.
FIGURA 4 – SOLDADOS NA FRONTEIRA ENTRE COREIA DO NORTE E COREIA DO SUL
FONTE: <https://jornalggn.com.br/sites/default/files/imagens/coreia_norte_sul.jpg>. 
Acesso em: 20 out. 2019
FONTE: <https://jornalggn.com.br/sites/default/files/imagens/coreia_norte_sul.jpg>. 
Acesso em: 20 out. 2019. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
16
Como se viu, Costa (2010) nos instiga a ver que as clássicas definições 
de conteúdo sobre a fronteira tem sido pouso úteis quando se tenta aplicá-las as 
situações geopolíticas encontradas na nossa realidade atual, sendo assim, é de 
grande importância verificar, mesmo que empiricamente, cada processo em si, 
pois cada fronteira é uma singularidade. 
O conceito de Fronteira é definido como limite ou linhas que dividem 
territórios político, sociais e jurídicos distintos. Um limite físico é uma barreira que ocorre 
naturalmente entre duas áreas. Rios, cadeias de montanhas, oceanos e desertos podem 
servir como limites físicos. Muitas vezes, fronteiras políticas entre países ou estados se 
formam ao longo de fronteiras físicas. Por exemplo, a fronteira entre a França e a Espanha 
segue os picos das montanhas dos Pirenéus, enquanto os Alpes separam a França da Itália. 
O Estreito de Gibraltar é a fronteira entre o sudoeste da Europa e o noroeste da África. Esta 
via navegável estreita entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo é uma importante 
fronteira política, econômica e social entre os continentes.
FONTE: https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/boundary/. Acesso em: 20 out. 2019.
IMPORTANT
E
Portanto, trazemos uma periodização realizada por um grande pensador 
e pesquisador sobre a Geografia Política, o Geógrafo José Willian Vesentini (1986, 
p. 24-27). Ele apresenta a Geografia Política em três fases/períodos: 
• 1a fase: “Inaugurada por Ratzel”, estende-se do final do século XIX até o final 
da segunda Guerra Mundial em 1945.
• 2a fase: entre 1945 e o início dos anos 1970, quando ocorre um “rompimento 
com a geopolítica”.
• 3a fase: a partir de meados da década de 1970 aos dias atuais.
Por outro lado, trazemos a contribuição de Becker (2012, p. 117): 
Embora o projeto político da Geografia remonte a sua origem, associado 
à sua prática estratégica, não foi ele desenvolvido no plano teórico. Nem 
a Geografia Política nem a Geopolítica conseguiram satisfatoriamente 
explicitar a dimensão política do espaço, o que certamente imobilizou 
a reflexão da própria Geografia. Hoje, a questão das relações entre 
a Geografia e a Geopolítica se insere no contexto de velocidade 
espantosa de transformação do planeta no segundo pós-guerra e da 
crise de ciência social, que não consegue dar conta do movimento da 
sociedade e das novas estruturas de poder nem propor soluções para o 
futuro. Novas problemáticas têm que ser incorporadas à explicação da 
crescente globalização e complexidade do mundo na era tecnológica. 
A busca de novos paradigmas da ciência e o rompimento das barreiras 
entre as disciplinas – a transdisciplinaridade – parecem hoje tornar-
se uma exigência, e o rompimento de barreira entre a Geografia e a 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
17
Geopolítica numa perspectiva crítica, integrado à natureza holística 
e estratégica do espaço, pode representar um passo importante nesse 
caminho, pois que o poder e o espaço e suas relações são, sem dúvida, 
problemáticas contemporâneas significativas. 
Nesse item, a autora considerava necessário “superar as concepções 
naturalizadas que têm imobilizado a contribuição maior a essa análise: os 
determinismos geográfico e econômico.” Como apresenta a seguir, em uma parte 
integral de seu texto original:
A Geografia Política, de Ratzel (1897), representou, sem dúvida, um 
avanço na teorização geográficado Estado. Ratzel foi dos poucos geógrafos 
a assumir explicitamente o valor estratégico do espaço e da Geografia. Sua 
obra pode ser considerada como o primeiro momento epistemológico da 
Geografia (RAFFESTIN, 1980), ainda que, sob influência do contexto histórico 
marcado pela consolidação e expansão dos Estados-Nação europeus, só, tenha 
proposto uma concepção unidimensional e naturalizada do político, encarado 
exclusivamente pelo Estado como um fato dado e fortemente condicionado 
pelo solo de seu território.
A herança de Ratzel, embora por alguns exacerbada, foi, em geral, 
negada pelos geógrafos, que, ao recusarem sua concepção determinista, 
negaram também toda a sua riqueza teórica. Sua herança foi por outro 
apropriada.
A legitimidade científica para a prática estratégica estatal, que crescente 
e sistematicamente instrumentalizada o espaço (e o tempo) visando objetivos 
econômicos e de controle social, passou a ser dada por uma nova disciplina, a 
Geopolítica, criada em 1917 a partir da apropriação justamente do organicismo 
contido na obra de Ratzel e também das informações descritivas e “apolíticas” 
produzidas pelos geógrafos.
As deformações da Geopolítica nazista afastaram os geógrafos dessa 
reflexão teórica ainda mais. Embora muitos, em sua prática, não deixassem 
de colaborar com o aparelho do Estado no planejamento da guerra e/ou do 
território.
Assim, a Geografia permaneceu à margem de todo um conjunto de 
técnicas e de um saber que instrumentalizam e pesam o espaço a partir da 
ótica do Estado (e também da grande empresa) – embora com ele colaborando 
direta ou indiretamente –, o que certamente a esvaziou de seu conteúdo.
Negar, portanto, a prática estratégica, seja das origens da disciplina ou 
da teoria dada por Ratzel, seja da Geopolítica explícita do Estado Maior, ou da 
implícita na prática dos geógrafos, é negar a própria Geografia, que foi, assim, 
prejudicada no seu desenvolvimento teórico e na sua função social.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
18
Repensar a Geografia envolve, necessariamente, o desvendar da 
Geopolítica, sua avaliação crítica e seu resgate, e trazer esse conhecimento 
para debate na sociedade.
Em outras palavras, nesse campo de preocupações, à Geografia caberia 
a teorização sobre a prática estratégica desenvolvida pela Geopolítica. Embora 
essa conscientização se faça sentir na retomada dos estudos de Geografia 
Política e Geopolítica na década de 1970, inclusive pela criação de um 
grupo de trabalho sobre “O Mapa Político do Mundo” na União Geográfica 
Internacional, em 1984, a questão teórica está longe de ser resolvida.
Dentre esses estudos, desenvolvidos com as mais várias abordagens e 
temáticas, destacam-se duas contribuições.
A de Lacoste, que privilegia a Geopolítica e o potencial político do 
espaço; sua proposta, contudo, é mais metodológica do que teórica. A de 
geógrafos neomarquixistas, que, por sua vez, privilegiam a teorização da 
Geografia Política à luz do materialismo histórico, mas reduzem o Estado e o 
espaço a meras derivações do econômico; é o determinismo econômico e, mais 
uma vez, uma concepção naturalizada e unidimensional do poder.
A naturalização do Estado e do espaço pelo determinismo geográfico 
e a reação extrema a essa postura criam, assim, um impasse para a análise das 
relações entre o espaço, o político e a sociedade em geral.
Ora se considera o espaço como determinante da ação humana e o Estado 
como única fonte de poder, ora se nega essa determinação substituindo-a pela 
econômica, mas sem precisar o papel do espaço e do Estado nessas relações 
(BECKER, 1983). E mais: tal impasse é simplificador do real, na medida em 
que não abre espaço para a identificação de novas fontes de poder e para a 
imprevisibilidade dos processos sociais.
FONTE: BECKER, B. K.; SILVA J. X. Espaço aberto. 2012. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/
index.php/EspacoAberto/issue/viewFile/217/52. Acesso em: 21 jan. 2020.
Por fim, podemos compreender que a tentativa desse resgate aqui 
apresentado por questões constituem e definem as Teorias Geopolíticas Clássicas 
e Contemporâneas, que surgem, em geral, “para as explicações da importância 
estratégica de determinados territórios e da necessidade de expansão territorial 
e/ou controle de espaços, bem como as rotas marítimas ou aéreas estratégicas, 
como forma de fortalecimento do Estado e de adquirir hegemonia” (VESENTINI, 
1986, p. 16).
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
19
4 A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA E O DISCURSO 
GEOPOLÍTICO
Vamos agora examinar as ideias acerca da Geografia Política Clássica, 
que trará em destaque dois geógrafos: o alemão Friedrich Ratzel e o geógrafo 
francês Camille Vallaux, que produziram, através de seus estudos e reflexões 
que formularam pioneiramente, conceitos e teorias fundamentais que marcaram 
profundamente o desdobramento posterior desse ramo do conhecimento. 
Observa-se nos conceitos e teorias fundamentais da Geografia Política, 
que há um consenso a importância que essa disciplina teria sido “fundada ou 
pelo menos redefinida por Friedrich Ratzel, que viveu entre os anos de 1844 e 
1904, período em que importantes acontecimentos marcavam a relação entre os 
grandes impérios da época” (COSTA, 2010, p. 31). Segundo o autor, Ratzel faz 
parte da Geografia Política Clássica. 
FIGURA 5 – FRIEDRICH RATZEL (1844-1904)
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/friedrich-ratzel-um-dos-
fundadores-geografia-moderna-519b866539cfc.jpg>. Acesso em: 24 set. 2019.
A Geografia Política Clássica, o estudo geográfico da política e das relações 
entre o espaço e poder surge com Ratzel, que redefine o seu conteúdo em seu 
contexto histórico, político e geográfico de sua época. 
Com a sua principal obra: antropogeografia – fundamentos da Aplicação 
da Geografia à História, Ratzel tornou-se um dos fundadores da Geografia 
Humana, bem como posteriormente um dos fundadores da Geografia Política. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
20
Trazendo em foco o objeto da Geografia: o estudo da influência que as 
condições naturais exercem sobre a humanidade. Para ele, o meio natural teria 
influência tanto na psicologia (caráter) dos indivíduos na sociedade quanto 
na constituição da sociedade como um todo em função dos recursos naturais 
disponíveis. 
Todo o estudo de Ratzel foi largamente utilizada para embasar conceitos, bem 
como: o determinismo, o colonialismo e o imperialismo. Faça uma pesquisa sobre como 
isso aconteceu.
DICAS
Para Ratzel, o senso geográfico ou o Estado territorial foi entendido pela 
ideia de organismo (biogeografia), que para ele o solo condicionava as formas 
elementares e complexas da vida, portanto “o Estado, como forma de vida, 
tenderia a comportar-se segundo as leis que regem os seres vivos da terra, isto é, 
nascer, avançar, recuar, estabelecer relações, declinar etc.” (COSTA, 2010, p. 35). 
Nesse sentido, é inegável a importância do alemão Friedrich Ratzel e do 
conjunto de suas contribuições, especialmente a obra Geografia	Política, de 1897, 
cuja segunda edição (1902) apareceu com o subtítulo de Uma	Geografia	 dos	
Estados,	do	Comércio	e	da	Guerra. “A geografia de Ratzel foi um instrumento 
poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado Alemão recém-
constituído” (COSTA, 2010, p. 31). Assim, para compreendermos a geografia de 
Ratzel, principalmente, em seus principais conceitos, retomaremos as suas bases 
no fragmento a seguir: 
Ratzel entra mais precisamente em uma geografia política pragmática, 
tentando dar cobertura científica ao comportamento territorial do Estado. Na 
obra Geografia Política (1897) entendem-se melhor estas explicações: sobre o 
Estado e o mar, a localização e a expansão dos Estados, a fronteira, a demografia 
e o potencial dos Estados, as imigrações – um tema que ele havia estudado 
durante a sua estadia nos Estados Unidos e que considerava fundamental. De 
acordocom Lescano apud Miyamoto (1995), em 1901, ao publicar a obra Sobre 
as Leis da Expansão Territorial do Estado. Baseando-se em sete princípios 
elementares, Ratzel consegue evidenciar a importância e a ligação existente 
entre o Estado e o espaço, princípios estes que ficariam conhecidos como 
Teoria do Espaço Vital (Lebensraum): 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
21
1- O espaço dos Estados aumenta com o crescimento da cultura.
2- O crescimento dos Estados apresenta sintomas de desenvolvimento cultural, 
ideias, produção comercial e industrial etc., os quais necessariamente 
precedem a expansão efetiva do Estado. 
3- O crescimento dos Estados verifica-se pela gradual integração e coerência 
de pequenas unidades, mediante a amalgamação e a absorção de elementos 
menores.
4- A fronteira é o órgão periférico do Estado e, como tal, a prova de crescimento 
estatal; é a força e as mudanças desse organismo.
5- Em seu crescimento o Estado tende a incluir seções politicamente valiosas, 
como os rios, as linhas de costa, as planícies e outras regiões ricas em 
recursos.
6- O primeiro impulso para o crescimento territorial chega ao Estado primitivo 
vindo de fora, de uma civilização superior.
7- A orientação geral para a conexão territorial transmite a tendência de 
crescimento territorial de espaço em espaço, incrementando sua identidade. 
Cabe ainda destacar que, segundo esta concepção, o Estado deveria 
assumir uma política de poder, de expansão territorial. É essa política de poder 
que deve orientar as diretrizes governamentais na realização de seus objetivos. 
Trata-se de uma teoria ratzeliana em grande medida eclipsada devido a sua 
implicação com os destinos da Alemanha. Isso porque, Ratzel intervém na 
Weltpolitik de Guilherme II (de quem será partidário), a qual possuía ideias 
opostas às ideias de um Bismarck que saía de cena. Aposta na consolidação 
de uma grande frota capaz de competir com a britânica, na Alemanha 
imperial, no fomento das migrações alemãs como estratégia colonial, em uma 
Mitteleuropa unida sob o comando do Kaiser, expressando novamente o sonho 
do pangermanismo, defendido anteriormente por Von Büllow, List, Herder e 
Fichte. Por fim, cabe salientar que Ratzel foi um dos teóricos capazes de “fazer 
escola” no campo da ciência geográfica, pois influenciou uma vasta gama de 
estudiosos por meio de suas obras. Sua influência é particularmente perceptível 
na França, onde Paul Vidal de La Blache (1845-1918) seguiu atentamente 
as publicações do geógrafo alemão. Já nos países anglo-saxônicos os temas 
ratzelianos foram divulgados por seus discípulos, que segundo Moraes (2003) 
foram os responsáveis pela radicalização de suas colocações, constituindo 
o que se denomina “escola determinista” de Geografia, ou a doutrina do 
“determinismo geográfico”. Os autores dessa corrente partiram da definição 
ratzeliana do objeto da reflexão geográfica e simplificaram-na. Orientaram seus 
estudos por máximas como “as condições naturais determinam a História” ou 
“o homem é um produto do meio” empobrecendo bastante as formulações de 
Ratzel, que falava de influências. Na verdade, todo o trabalho desses autores se 
constituía na busca de evidências empíricas para teorias formuladas a priori. 
Seus mais eminentes representantes foram: Ellen Churchill Semple (1863-1932) 
e Ellsworth Huntington (1876-1947). A primeira, geógrafa americana, aluna de 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
22
Ratzel, foi a responsável pela divulgação de suas teses nos Estados Unidos. 
Já as teorias do geógrafo inglês Huntington eram um pouco mais elaboradas. 
Este autor concebia um determinismo invertido, isto é, para ele, as condições 
naturais mais hostis seriam as que propiciariam o maior desenvolvimento. 
Outro desdobramento apontado por Moraes (2003) refere-se à proposta de 
Ratzel que se manifestou na constituição da Geopolítica. Esta corrente, dedicada 
ao estudo da dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas 
referentes à ação do Estado sobre o espaço. Esses autores desenvolveram 
teorias e técnicas que operacionalizaram e legitimaram o imperialismo, isto é, 
discorreram sobre as formas de defender, manter e conquistar os territórios. 
Os autores mais conhecidos dessa corrente foram: Rudolf Kjellén (1864-1922), 
Halford John Mackinder (1861-1946) e Karl Ernst Haushofer (1869-1946). O 
primeiro, um sueco, criador do termo Geopolítica. O segundo, um almirante 
inglês, trouxe a discussão para o nível dos estados maiores, tratando temas 
como o domínio das rotas marítimas, as áreas de influência de um país e 
as relações internacionais. Mackinder, cuja principal obra intitula-se O Pivô 
Geográfico da História (1904), desenvolveu uma importante teoria sobre 
as “áreas pivôs”, as quais seriam o coração de um dado território: para ele, 
quem as dominasse, dominaria todo o território. O general alemão Haushofer 
conferiu a Geopolítica um caráter diretamente bélico, definindo-a como parte 
da estratégia militar. Este autor, que desenvolveu teorias referentes à ação do 
clima sobre os soldados, criou uma escola e influenciou diretamente os planos 
de expansão nazista. Até hoje, a Geopolítica persiste, sendo debatida nos 
departamentos de estado e nas academias militares. Uma última perspectiva 
levantada por Moraes (2003) demonstra que a partir das formulações de Ratzel, 
originou-se a chamada “escola ambientalista”. Isso porque, o geógrafo alemão 
foi, sem dúvida, o formulador de suas bases. Esta corrente propõe o estudo do 
homem em relação aos elementos do meio em que ele se insere. O conjunto 
dos elementos naturais é abordado como o ambiente vivenciado pelo homem. 
O ambientalismo representa um determinismo atenuado, sem visão fatalista e 
absoluta. A natureza não é vista mais como determinação, mas como suporte 
da vida humana. Mantém-se a concepção naturalista, porém sem a causalidade 
mecanicista. Modernamente, o ambientalismo se desenvolveu bastante, 
apoiado na Ecologia. A ideia de estudar as inter-relações dos organismos, que 
coabitam em determinado meio, já estava presente em Ratzel, pela influência 
que ele sofreu de Haeckel, o primeiro formulador da Ecologia, de quem havia 
sido aluno. Entretanto, é mais ao determinismo que ao ambientalismo que o 
nome de Ratzel acabou identificado.
FONTE: ARCASSA, W. S. Friedrich Ratzel: a importância de um clássico. 2017. Disponível em: 
http://www.uel.br/seer/index.php/Geographia/article/viewFile/31840/22924. Acesso em: 21 
jan. 2020.
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
23
Portanto, demonstra a grande importância da compreensão do espaço 
e sua relação com a política, se apresentado como uma ferramenta de grande 
apoio para expansão territorial de um determinado país. Ratzel enfatizou que a 
existência de uma sociedade está representada em território, ou seja, a perda de 
território aponta a decadência de uma sociedade, e para a sociedade progredir, 
avançar, ela precisaria conquistar novas terras (MORAES, 1990).
Outro desdobramento da proposta de Ratzel manifestou-se na 
constituição da Geopolítica. Esta corrente, dedicada ao estudo da 
dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas, referentes 
à ação do Estado sobre o espaço. Estes autores desenvolveram teorias 
e técnicas, que operacionalizavam e legitimavam o imperialismo. Isto 
é, discorriam sobre as formas de defender, manter e conquistar os 
territórios. Os autores mais conhecidos dessa corrente foram: Kjellen, 
Mackinder e Haushofen. O primeiro, um sueco, foi o criador do rótulo 
Geopolítica. O segundo, um almirante inglês, trouxe a discussão para 
o nível dos estados-maiores, tratando temas como o domínio das rotas 
marítimas, as áreas de influência de um país, e as relações internacionais. 
Halford Mackinder, cuja principal obra intitula-se O pivô geográfico da 
História, desenvolveu uma curiosa teoria sobre as “áreas pivôs”, que 
seriam o coração de um dado território; para ele, quem o dominasse, 
dominariatodo o território. O general alemão Karl Haushofer, amigo 
de Hitler e presidente da Academia Germânica no seu governo, foi 
outro teórico da Geopolítica. Deu a esta um caráter diretamente 
bélico, definindo-a como parte da estratégia militar. Este autor, que 
desenvolveu teorias referentes à ação do clima sobre os soldados, criou 
uma escola e influenciou diretamente os planos de expansão nazistas. 
Até hoje, a Geopolítica persiste, sendo debatida nos Departamentos de 
Estado e nas Academias militares (MORAES, 2002, p. 20).
No que se refere a contribuição do pensamento de Ratzel, Castro (2005, p. 
67) ressalta que “Ratzel era um intelectual do seu tempo e, para ele, o nacionalismo 
como estratégia de consolidação do império alemão, era bem mais importante do 
que a adesão à ética política de defesa dos povos e dos Estados mais fracos”. 
Castro (2005, p. 67) enfatiza também:
 “O geógrafo alemão Ratzel foi quem melhor compreendeu e explicitou a importância 
do território como um suporte duradouro para o poder das instituições políticas”. 
 “A Geografia Política de Ratzel tinha, portanto, como tarefa demonstrar que o Estado 
é fundamentalmente uma realidade humana que só se completa sobre o solo do país”.
ATENCAO
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
24
Castro (2005) faz pensar que o legado de Ratzel é muito maior, valorizando 
o trabalho com uma nova dimensão da importância do seu trabalho em Geografia 
Política. Por outro lado, surge Camille Vallaux, que desde Ratzel, tem o mérito 
de apresentar o primeiro estudo completo e sistemático em geografia política. 
O título de seu trabalho, O solo e o Estado, é proposital, já que ao longo de 
toda exposição ele praticamente estabelece com o famoso geógrafo alemão um 
diálogo exaustivo, aceitando, contrapondo e superando cada conceito e teoria 
ali expostos. Abordando a relação do Estado com o solo, que se inicia com uma 
crítica as teorias sociológicas racionalistas e românticas sobre este, para ele o 
Estado deve ser considerado como uma forma essencialmente geográfica da vida 
social (COSTA, 2010). 
Vallaux coloca que o objeto da geografia política é o estudo das sociedades 
políticas e dos Estados como entidades particulares, sugerindo que o método 
da geografia política vai se desenvolver em duas metodologias: A Analogia e a 
Determinação do tipo (COSTA, 2010), que procedem de uma da outra. 
Analogia e a determinação
 Analogia é uma relação de semelhança estabelecida entre duas ou mais entidades 
distintas. O termo tem origem na palavra grega “analogía” que significa “proporção”. Pode 
ser feita uma analogia, por exemplo, entre cabeça e corpo e entre capitão e soldados. 
Cabeça (cérebro) e capitão são duas entidades análogas.
 Ao se expressar, desse modo, a sua concepção do problema metodológico em 
geografia, Vallaux se aproxima bastante das posições de Vidal de La Blache, que também 
vê na busca das analogias um recurso metodológico capaz de permitir ao geógrafo o 
estabelecimento de generalizações projetadas acima das descrições dos casos específicos 
(COSTA, 2010, p. 46). Portanto, a analogia é o princípio geográfico responsável por buscar 
semelhanças ou diferenças entre regiões geográficas. Junto com o princípio da extensão 
é fundamental nos estudos de geografia regional.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
25
Para ele, o Estado deve ser considerado como uma forma essencialmente 
geográfica da vida social. Definindo em dois tipos de Estados em Costa (2010): 
Os	Estados	Simples: caracteriza-se pelo fato de que seu nível de coesão 
interna é baixo, de modo que mesmo na hipótese de um desmembramento de 
partes de seu território, isso não alteraria em muito o curso da história dessa 
sociedade. Nesse aspecto, concorda com Ratzel em sua análise de alguns Estados-
Chefias africanos. 
Os	 Estados	 Complexos: apresentariam tendências a uma forte coesão 
interna, de modo que o domínio político sobre o território se faria de modo 
completo, havendo, assim, uma maior interdependência entre as suas partes. 
Essa distinção nada tem a ver com a dimensão dos territórios controlados pelos 
Estados, importando aí, antes de tudo, o grau do domínio político e de articulação 
interna dos estados em cada território, concordando também com Ratzel. 
Nas suas abordagens realizadas dentro da Geografia Política, Vallaux 
se destaca em três temas de análises: problemas	da	circulação,	problemas	das	
cidades	e	problemas	das	fronteiras. 
Segundo ele, dever-se-ia pensar na circulação sob outro prisma, uma 
dimensão essencialmente política. Com uma concepção mais estreita, porque 
o fenômeno da circulação não se restringe às “coisas”, e a “rede de circulação” 
esses fenômenos no geral desenvolvem-se sob a “sombra dos Estados”. 
Nas análises das cidades, considera sua expressão política do fenômeno 
urbano. Para ele, o Estado interfere nesse processo ao estabelecer uma hierarquia 
político-administrativa entre as cidades, como exemplo, distinguindo as capitais 
das demais. 
E em terceira análise, a interpretação das fronteiras, que deve ser concebida 
muito mais como zonas que como linhas formais. A zona-fronteira constituiria 
antes de tudo, uma área que se destinaria simultaneamente às interpenetrações 
e às separações entre os Estados sendo um campo de forças em muitos casos de 
disputa. Pela sua natureza complexa, as fronteiras constituiriam antes de tudo 
uma zona viva, sejam elas: 
•	 Naturais:	tem	identificação	com	elementos	naturais.	
•	 Artificiais:	linhas	formais.	
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
26
Formação de blocos econômicos
 A formação de blocos econômicos estreita as relações econômicas, financeiras e 
comerciais entre os países membros.
 Com o fenômeno da globalização, o mercado internacional tornou-se bastante 
competitivo, diante disso, somente os mais fortes prevalecem. O que acontece é uma 
disputa por mercados em âmbito global. 
 Muitos países, com o intuito de se fortalecer economicamente, unem-se para 
alcançar mercados e verticalizar a sua participação e influência comercial no mundo. A 
criação de blocos econômicos estreitou as relações econômicas, financeiras e comerciais 
entre os países que compõem um determinado bloco econômico.
 Atualmente existem muitos blocos econômicos, formados há décadas.
 O MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) foi fundado em 1991, constituído por 
Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, países da América do Sul que buscam a integração e 
o fortalecimento econômicos dos países-membros.
 A União Europeia (UE) foi instituída no final dos anos 50, embora tenha sido 
oficializada somente em 1992, os países que fazem parte são: Alemanha, França, Reino 
Unido, Irlanda, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Itália, Espanha, Portugal, Luxemburgo, Grécia, 
Áustria, Finlândia e Suécia, nesses países corre uma moeda única, o euro, com exceção da 
Dinamarca (coroa dinamarquesa), Suécia (coroa sueca) e Reino Unido (libra esterlina). 
 Exemplos como a UE e o MERCOSUL ocorrem a partir de acordos comerciais 
estabelecidos entre os países membros. Nesse caso, implantam medidas que eliminam 
total ou parcialmente as barreiras alfandegárias, como eliminação de tributos, além da 
circulação de mercadorias, capitais, serviços, pessoas e outros pontos que o bloco julgar 
necessário.
 O que se espera com a formação de blocos econômicos é a intensificação 
econômica e a flexibilização comercial entre os integrantes.
 Existem outros órgãos comerciais, como por exemplo, a OMC (Organização Mundial 
do Comércio), que integram todos os países que participam do comércio internacional, 
essas instituições têm como objetivo fiscalizar e mediar as relações comerciais para que 
não haja partes favorecidas.
 
 Os principais blocos econômicos do mundo são União Europeia (UE), MERCOSUL 
(Mercado Comum do Sul), Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) e o NAFTA 
(Tratado Norte-Americano de Livre Comércio).
 Para complementar seus estudos,assista ao vídeo sobre A Nova Ordem 
Mundial – com o Professor Vesentini. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=iC9mTkfDHn0 >. Acesso em: 21 out. 2019.
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/formacao-blocos-economicos.htm>. Acesso 
em: 20 out. 2019.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
27
Segundo Vallaux (apud COSTA, 2010, p. 54), toda “fronteira é uma 
demarcação política, portanto longe de poder ser considerada como Natural, 
mesmo que referenciada a um traço físico dos territórios em questão. Considerando 
como um campo de força e, em muitos casos, de disputa, o estabelecimento 
sempre envolvera negociações ou conflitos entre os Estados envolvidos”.
Para compreender melhor conceitualmente e terminologicamente a 
definição da geopolítica, iremos estudar através de Costa (2010), o discurso 
político, sendo que o autor direciona um capítulo de seu livro para embasar toda 
a discussão. Divide-a em três partes, sendo elas:
• O Imperialismo, as grandes potencias e as estratégias globais como contextos 
da geopolítica.
• T. Mahan, o poder marítimo e os Estados Unidos como potência mundial.
• H. J. Mackinder, o coração continental e o realismo geográfico. 
O	discurso	geopolítico
Assim, entendemos que a geopolítica é antes de tudo um subproduto 
e um reducionismo técnico e pragmático da geografia política. O pioneiro da 
geopolítica foi Rudolf Kjéllen, sua fama deve-se praticamente ao fato de ter 
cunhado o termo geopolítico para expressar as suas concepções sobre relações 
entre Estado e o Território, direcionado sua “nova ciência” aos “estados 
maiores” dos impérios centrais da Europa, em especial a Alemanha. Com 
isso, inaugura a mais controvertida de suas vertentes, a geografia política 
da guerra ou a geopolítica. A relação entre espaço e poder manifestava um 
momento histórico que envolvia o mundo em escala global, caracterizado pela 
emergência das potências mundiais e, com elas, o imperialismo como forma 
histórica específica de relacionamento internacional. O caráter imperialista 
da economia e das políticas territoriais das grandes potências assentavam-se 
em dois processos, envolvendo estratégias de dominação em escala global: 
disputas hegemônicas de vizinhanças e competição de domínio dos territórios 
de expansão colonial. Durante a segunda metade do século XIX essa política 
expansionista, além de intensificar-se, assume novos rumos que caracterizarão 
os EUA como uma nova potência mundial de fato, mesmo que situado à margem 
do jogo comandado pelas antigas potências europeias. O mundo agora estava 
divido por áreas de influência de cada uma delas. As fronteiras formais serão 
apenas uma das linhas de eventuais tensões, somadas às “zonas de Vallaux 
parte de uma ideia de espaço concreto, isto é, uma, “extensão fricções” em 
escala global. Dentro desse contexto surge A. T. Mahan com uma “ótica norte 
americana” é reconhecido como o precursor das teorias geopolíticas sobre o 
poder marítimo na época contemporânea. A sua argumentação baseia-se na 
premissa de que um governo só terá sucesso em sua política voltada para a 
construção de um poder marítimo. Ainda dentro dessa abordagem, surge o 
geografo inglês H. Mackinder que ocupara lugar de destaque na discussão da 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
28
geopolítica. O pragmatismo dele caracteriza-se por uma tentativa permanente 
de aliar a análise política do equilíbrio de poder do quadro internacional e os 
elementos empíricos (para ele concretos) fornecidos pelos estudos correntes 
produzidos pela geografia, ele defende a ideia de que a disputa pela hegemonia 
em escala global dependia da importância cada vez maior do que chamou 
“poder terrestre”, destacando assim pelo autor dois fatores recentes (na época) 
que produziram resultados diversos: primeiro o Canal de Suez e segundo as 
Ferrovias. 
FONTE: COSTA, W. M. Geografia política e geopolítica: discurso sobre o território e o 
poder. 2017. Disponível em: http://www.geoamazonia.net/index.php/revista/article/view/155/
pdf_104. Acesso em: 21 jan. 2020.
Após essa pequena abordagem sobre o discurso Geopolítico, acesse a obra 
base citada anteriormente e realize uma resenha crítica. Utilize de referência também a 
resenha de Araújo (2017).
DICAS
29
 Neste tópico, você aprendeu que:
• A Geografia Política é um dos ramos da Geografia, que busca compreender as 
relações de poder no espaço geográfico. A Geografia Política visualiza o Estado 
através da organização do espaço. 
• A Geopolítica é uma ciência da ação e um campo de um saber estratégico, tem 
uma preocupação fundamental com a correlação de forças, antes militar, hoje 
econômico e tecnológica, cultural e social a nível territorial e com ênfase no 
espaço mundial. 
• As teorias da Geografia Política e da Geopolítica têm uma grandeza de conceitos 
e termos.
• Os estudos e trabalhos de Ratzel contribuíram para a construção do 
conhecimento e foi fundamental para a Geografia Política, com todos os seus 
apontamentos conceituais, reflexões críticas, historicidade e a contextualização 
dos temas. 
• Cada fronteira é uma singularidade. 
• O conceito de fronteira é definido como limite ou linhas que dividem territórios 
político, sociais e jurídicos distintos. Um limite físico é uma barreira que ocorre 
naturalmente entre duas áreas.
• A Geografia Política Clássica foi sistematizada inicialmente através de dois 
geógrafos, o alemão Friedrich Ratzel e o geógrafo francês Camille Vallaux.
RESUMO DO TÓPICO 1
30
1 Quais são os conceitos fundamentais da Geografia Política?
a) ( ) Espaço, paisagem e lugar.
b) ( ) Espaço, rede e território.
c) ( ) Território, poder e política.
d) ( ) Território, Estado e região.
e) ( ) Política, espaço e lugar.
2 Quem foi o pioneiro da Geopolítica, a quem se atribui o termo geopolítica 
“para expressar as suas concepções sobre as relações entre o Estado e o 
território”?
a) ( ) Ratzel.
b) ( ) La Blache.
c) ( ) Camille Vallaux.
d) ( ) Humboldt.
e) ( ) Rudolf Kjellen.
3 Os conceitos da geopolítica começaram a ser desenvolvidos a partir da 
segunda metade do século XIX, em decorrência da redefinição de fronteiras 
na Europa e do expansionismo das nações europeias. Sobre a temática da 
geopolítica, julgue os itens a seguir:
I- Em 2004 fez um século que o geógrafo inglês Halford John Mackinder 
formulou, na Real Sociedade Geográfica de Londres, em uma conferência 
que leva por nome The Geografic Pivot of History, sua teoria geopolítica e 
estratégica do poder terrestre.
II- O surgimento da Geografia Política e sobretudo da Geopolítica são um 
produto de contexto europeu na virada do século XIX para o XX, com F. 
Ratzel e R. Kjéllen, respectivamente.
III- Vidal de La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola 
francesa de Geografia. Além disso, trouxe para a França o eixo da discussão 
geográfica, situação que se manteve durante todo o primeiro quartel do 
século XX. 
Estão CORRETOS:
a) ( ) Somente o item I.
b) ( ) Os itens I e III.
c) ( ) Todos os itens.
d) ( ) Os itens II e III.
4 Faça uma síntese do que você compreendeu sobre como cada fronteira é 
uma singularidade. Justifique e exemplifique.
AUTOATIVIDADE
31
TÓPICO 2
GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Vislumbramos, de maneira breve, a evolução do pensamento em Geografia 
Política desde a sua conceitualização até a discussão da Geografia Política clássica, 
que tinha Estado como tema central. Neste tópico, discutiremos e nomearemos os 
conceitos fundamentais para a Geografia Política, bem como, o espaço, o poder, 
a política e o território. 
O tópico que segue, procura apresentar as relações entre espaço e 
poder que se materializam no território e suas implicações. O estudo sobre tais 
processos é complexo e, aqui, pretendemos demonstrar uma apresentação síntese 
das principais ideias e autores dessa temática, buscando sempre a participação do 
personagem maisimportante dessas histórias: você, nosso caro leitor.
Esta unidade é composta de três seções: na primeira, discutiremos o 
espaço e o poder; na segunda, os diferentes campos do poder; e, por último, o 
poder e o território. 
Ao final deste tópico esperamos que você, acadêmico, possa compreender 
melhor qual a relação do espaço, poder e território, analisando como o poder 
é um processo complexo e profundo. Buscamos, assim, destacar os principais 
autores e ideias dessa temática, além de apontar novos caminhos de leitura e 
pesquisa para compreensão do papel do Estado e seus atores/agentes. 
2 GEOGRAFIA POLÍTICA: ESPAÇO E PODER 
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário 
e contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não 
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a 
história se dá […]. Os objetos não têm realidade filosófica, isto é, não 
nos permitem o conhecimento, se os vemos separados dos sistemas 
de ações. Os sistemas de ações também não se dão sem os sistemas de 
objetos (SANTOS, 2012, p. 63). 
Como sabemos, a Geografia Política Clássica foi relacionada com a 
geografia do Estado pelos seus pares e, com isso, atribui uma postura de que 
o poder exercido no espaço adquire uma visão relacional, multidimensional e 
interescalar. Portanto, como a geografia focaliza o espaço, que é constituído por 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
32
formas naturais e formas transformadas pelos seres vivos e, bem como as relações 
sociais, sendo este o espaço geográfico à geografia. Portanto, cabe à abordagem 
de problemas territoriais reais, fontes de transformações da paisagem natural e 
da dinâmica socialmente organizada espacialmente.
Nesse cenário, é importante entender que o espaço e o território não são: 
termos equivalentes. Por tê-los usado sem critério, os geógrafos 
criaram grandes confusões em suas análises, ao mesmo tempo que, 
justamente por isso, se privavam de distinções úteis e necessárias. Não 
discutiremos aqui se são noções ou conceitos, embora nesses últimos 
vinte anos tenham sido feitos esforços no sentido de conceder um 
estatuto de noção ao espaço e um estatuto de conceito ao território 
(RAFFESTIN, 1993, p. 143). 
Você sabe qual é a diferença entre os termos “noção” e “conceito”?
 Noção é conhecimento imediato, intuitivo, de algo; ideia, consciência.
 Conceito é a definição, concepção ou caracterização. É a formulação de uma ideia 
por meio de palavras ou recursos visuais.
ATENCAO
Raffestin (1993) conduz ao pensamento que o espaço geográfico atua 
como substrato, ou seja, é pré-existente ao território, sendo esse o resultado de 
uma ação conduzida por um ator ou por um grupo de atores. Sobre isso, devemos 
compreender que o espaço é anterior ao território: 
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação 
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) 
em qualquer nível. Ao seja apropriar de um espaço, concreta ou 
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" 
o espaço. Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para 
passar do espaço ao território: "A produção de um espaço, o território 
nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas 
redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas 
de ferro, circuitos comerciais e bancários, autoestradas e rotas aéreas 
etc." (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Cabe salientar que o território é o local, no qual as pessoas estão inseridas, 
onde as relações entre esses atores sociais ocorrem, construindo um ordenamento 
(ou desordenamento) do território, conforme a importância/força de poder de 
cada ator social. Raffestin (1993, p. 150-151) esclarece: 
 
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
33
Pode ser uma interação política, econômica, social e cultural que 
resulta de jogos de oferta e de procura, que provém dos indivíduos 
e/ou dos grupos. Isso conduz a sistemas de malhas, de nós e redes 
que se imprimem no espaço e que constituem, de algum modo, o 
território. Não somente se realiza uma diferenciação funcional, mas 
ainda uma diferenciação comandada pelo princípio hierárquico, que 
contribui para ordenar o território segundo a importância dada pelos 
indivíduos e/ou grupos às suas diversas ações. 
Observou-se, no decorrer da abordagem, que o processo de intervenção 
sobre o território acontece por meio dos diversos atores sociais – poder público, 
empresas, sociedade – e se constitui a partir do ordenamento ou desordenamento 
do território. Para Raffestin (1993, p. 143): “O território, nessa perspectiva, é 
um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por 
consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a "prisão original", 
o território é a prisão que os homens constroem para si”.
Em suma, considera-se que o espaço preexiste a qualquer ação e é o "Local" 
de possibilidades, que se manifesta como uma realidade preexistente a qualquer 
conhecimento e prática e, na concepção de Raffestin (1993), será o objeto, a partir 
do momento em que um ator manifestar, a intenção de dele se apoderar. 
Santos (1997) define o conceito de espaço “como um conjunto indissociável, 
solidário e também contraditório de sistemas de objetos e de sistemas de ações” 
(SANTOS, 1997, p. 51). 
Para que se possa entender melhor esse conceito, vamos delimitar alguns 
pontos: 
• O espaço é um sistema de objetos, ações e com comportamentos orientados, ou 
seja, que tem certos objetivos e finalidades.
• O domínio sobre o espaço, é, portanto, formas de criação de territórios, 
que permitem a implantação de materialidade no espaço, como exemplo as 
construções de estradas que são todas ações com algum fim.
Com isso, entendemos que o poder que se exerce no espaço significa a 
territorialização. E esse poder se manifesta através de ações. 
Significado de territorialização: Ato ou efeito de tornar ou tornar-se territorial 
(ex.: a territorialização da política através do poder local). Ato ou efeito de atribuir território. 
Segundo Haesbaert (2006), em um sentido mais amplo, multidimensional e multiescala, 
jamais se restringiu a um espaço uniescalar como o Estado-nação. Território é visto como 
controle de processos sociais e pelo controle da acessibilidade através do espaço.
NOTA
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
34
Justamente por se tratar de um processo complexo, emerge daí a 
necessidade de entender o espaço na perspectiva do poder, que significa entender 
o espaço na sua complexidade e em diferentes escalas de relações em sua dinâmica 
histórica e geográfica. 
De início, podemos dizer que: o poder é a capacidade de realizar ações, e 
para Castro (2005, p. 98) a “ideia de poder tem intrinsecamente um componente 
de relação e de assimetria, ou seja, o poder se manifesta em situações relacionais 
assimétricas”. 
Como exemplo de assimetria (onde há diferença, falta de igualdade e de 
semelhança) teremos as assimetrias regionais que vão representar as desigualdades nas 
atividades econômicas, existindo em vários níveis de desenvolvimento entre as regiões 
de um mesmo país ou entre países. Refletindo nos diferentes níveis de taxas, bem como, 
a de crescimento do produto interno bruto e a taxa de desemprego, e com esses níveis 
conseguimos identificar as regiões assimétricas, ou seja, mais ou menos desenvolvidas.
DICAS
Castro (2005, p. 98-99) também salienta cinco proposições sobre a condição 
do poder, através de Michel Foucault: 
1- Que o poder não é algo que se adquira, arrebate ou compartilhe, algo que se 
guarde ou se deixe escapar, o poder se exerce a partir de inúmeros pontos em 
meio a relações desiguais e imóveis.
2- Que as relações de poder não se encontram em posição de exterioridade a 
outras relações, como econômicas e de conhecimento, são efeitos imediatos das 
partilhas desigualdadee desequilíbrios que se produzem nas relações entre 
desiguais.
3- Que o poder vem de baixo, isto é, não há no princípio das relações de poder 
uma oposição binária e global entre os dominadores e os dominados. Deve-se, 
ao contrário, supor que as correlações de forças múltiplas se formam e atuam 
nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos sociais e nas instituições.
4- Que as relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas. 
São atravessadas de fora a fora por um cálculo: não há poder que se exerça sem 
uma série de miras e objetivos. Estes não são individuais, mas estão na base da 
rede de poderes que funciona em uma sociedade.
5- Que lá onde há poder, há resistência, as correlações de poder só podem existir 
em função de uma multiplicidade de pontos de resistência que representam, nas 
relações de poder, o papel de adversário, de alvo, de apoio. Estes pontos estão 
presentes em toda a rede de poder. As resistências são o outro termo das relações 
de poder, inscrevem-se nestas relações como um interlocutor irredutível. 
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
35
O conceito de poder engloba sempre a esfera da ação, ele designa uma 
capacidade de agir, direta ou indiretamente, sobre coisas ou pessoas. Por 
apresentar um significado complexo, a palavra poder envolve elementos em 
toda a sociedade, com abrangência social e se constitui por um campo de forças 
e de disputas, onde se ganha ou se perde. Dessa forma, não é possível analisar 
o poder fora dos marcos estabelecidos pelos contextos temporais e espaciais das 
sociedades (CASTRO, 2005). 
Em certo sentido, o poder, como se pode perceber, tem a probabilidade 
de impor-se à vontade própria, ou seja, ter o poder é uma capacidade de realizar 
ações com sucesso, relacionando o conceito com outros, bem como: 
FIGURA 6 – AÇÕES DO PODER
FONTE: A autora (2019)
Afinal, o poder compreende a esfera política, econômica, cultural e 
social. Assim, ele é considerado amplo, complexo e profundo, que ninguém está 
isento dele, ou de seus efeitos. Raffestin (1993, p. 6) afirma que “o poder não 
é nem uma categoria espacial nem uma categoria temporal, mas está presente 
em toda produção que se apoia no espaço e no tempo. O poder não é fácil de 
ser representado, mas, é, contudo, decifrável. Falta-nos somente saber fazê-lo, ou 
então poderíamos sempre reconhecê-lo.”
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
36
Tal é o contexto, de espaço e tempo como categorias universais, vê-se a 
complexidade do tema poder, mas, representar o poder não é fácil, mas ele é, contudo, 
decifrável, como veremos nas próximas páginas.
ESTUDOS FU
TUROS
3 OS DIFERENTES CAMPOS DO PODER
Nomeados os conceitos fundamentais para a Geografia Política, bem 
como, o espaço, poder e o território, apontamos que o território é a base material 
e também simbólica da sociedade, e que o poder se institui através de ações. 
Vimos que o espaço é político, se apresentando como um campo do poder, 
tanto no fenômeno de práticas e discursos, dentro das instituições e nas formas de 
governar quanto da organização da vida social. 
A partir desses avanços vamos definir os tipos de poder que foram definidos 
por vários autores ao logo da história. Sendo classificados essencialmente em 
duas vertentes: a primeira de acordo com a tipologia clássica, como ele é exercida, 
e a segunda de acordo com a tipologia moderna, os fins do seu exercício. 
Iniciaremos apresentando as três	formas	elementares	de	poder, reveladas 
por Castro (2005), fundamentadas nas elaboradas de Hannah Arendt, Max Weber, 
Michel Foucault, entre outros que: “são aquelas que se encontram na essência do 
poder. Estas surgem nas suas muitas manifestações e podem ser diferenciadas 
pelas sanções ou instrumentos mobilizados para exercê-lo, e são as mais comuns 
na literatura sobre o tema” (CASTRO, 2005, p. 101). 
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
37
QUADRO 1 – FORMA OU TIPO DE PODER
Formas e tipos de 
poder Conceitualização
Diferenças em 
um	modelo	ideal
Despótico - 
Dominação
Nesta forma, o motivo primeiro do acordo tácito em 
relação ao poder pode ser simplesmente o medo, e o 
instrumento do poder será então a coerção pela força, 
a ameaça da destruição do outro, ou seja, a violência. 
Esta é a potência desse poder. É a ação de uma força 
que contraria a vontade do outro. Este é um poder 
que, paradoxalmente, tem pouco poder porque não se 
fundamenta na vontade do outro e por isso encontra-se 
sujeito à possibilidade de uma escolha trágica, que o 
anula. É um poder que visa ao bem privado de quem 
o exerce. Está voltado sobre si mesmo e sobre a Força 
da Força.
Pelo bem privado 
daquele que o 
exerce.
Autoridade
Nesta forma, o poder é aquele fundado na autoridade. 
Este é um poder exercido como uma concessão, o que 
torna uma forma legitimada pela aceitação e pelo 
reconhecimento daqueles que a ele se submetem. 
É nesse reconhecimento e concordância dos que se 
submetem que ele se justifica e funda a sua legitimidade. 
A autoridade é a capacidade de se fazer obedecer 
através da mediação da lei, da tradição ou do carisma. 
Repousa no consentimento, na adesão das vontades pelo 
reconhecimento de uma superioridade de ordem moral, 
intelectual, de competência, de coragem, da experiência, 
ou seja, de valores ou de funções que aquele que detém a 
autoridade representa. O poder da autoridade tem mais 
força do que o poder da dominação, pois a autoridade 
repousa sobre o consentimento social como fonte de 
estima e legitimidade. Sua característica essencial é 
que ela visa ao bem daquele sobre o qual ela se exerce. 
A autoridade é concedida porque reivindicada para 
assegurar alguma forma de interesse individual ou 
coletivo.
Pelo bem daquele 
que é o objeto da 
ação.
Político
Nesta forma, o poder compreende, tanto a possibilidade 
de coerção, típica do poder despótico quanto a 
autoridade, de fundamento legal. Ambos constituem 
os dois polos opostos e extremos contidos nesta 
modalidade. Ambos colocam em jogo uma capacidade 
oriunda da interpretação de uma vontade dirigente, 
de um querer comum sem o recurso fundamental 
e exclusivo da coerção ou da transcendência da 
autoridade. Contudo, podendo fazer uso de ambos para 
alcançar o bem comum, que é a última justificativa da 
sua existência e aceitação.
Pelo bem comum. 
FONTE: Castro (2005, p. 101-106)
Aristóteles formulou a tipologia clássica das formas de poder com base no 
interesse em favor do qual o poder é exercido: 
• Poder paterno: exercido pelo pai sobre o filho no interesse do filho.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
38
FIGURA 7 – EXEMPLO DE PODER PATERNO
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/CSWb9nRW0AAP1ky.png>. Acesso em: 20 de set. 2019.
• Poder despótico: exercido pelo senhor sobre o escravo no interesse do senhor.
FIGURA 8 – A HISTÓRIA NA CHARGE, POR WALTER PINTO / EDIÇÃO 110
FONTE: <http://www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/images/beiradorio/beira110/
com%C3%A9rcio%20de%20escravos%20-%20C%C3%B3pia.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.
Coube ao presidente
da Província do Pará,
Francisco Xavier 
de Mendonça
Furtado, prever o
estabelecimento
de um verdadeiro
mercado de
escravos, uma 
feira pronta,
onde os senhores 
de engenho e das
fazendas fossem
escolhê-los.
(SALLES, Vicente,
O Negro do Pará)
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
39
FIGURA 9 – TRÁFICO DE NEGREIROS
FONTE: <https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2016/03/3c1b7312-7aaa-4469-8fc4-
d791fb6cac80.jpg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
• Poder político: exercido pelos governantes sobre os governados no interesse de 
ambos. 
FIGURA 10 – SISTEMA POLÍITICO: A CHARGE DO CARTUNISTA CACO GALHARDO
FONTE: <http://umbrasil.com/wp-content/uploads/2019/07/0107-845x438.jpg>/. 
Acesso em: 20 set. 2019. 
Baseado em Weber, a tipologia moderna das formas de poder, além de ser 
construída a partir dos meios pelos quais o poder éexercido, foi formulada por 
Bobbio (1984, p. 7-8):
• O poder econômico: é exercido por todo aquele que “[...] se vale da posse 
de certos bens, necessários ou considerados necessários, numa situação de 
escassez, para induzir aqueles que não os possuem a certo comportamento, 
que pode ser, principalmente, certo tipo de trabalho”.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
40
•	 O	poder	ideológico: “[...] influência que as ideias formuladas de certa maneira, 
ou emitidas em certas circunstâncias, por uma pessoa revestida de autoridade, 
e difundidas por certos meios, têm sobre o comportamento dos comandados.”
•	 O	poder	político: “[...] posse dos instrumentos através dos quais se exerce a 
força física, isto é, através das armas de qualquer espécie e grau.”
FILME - Título: 12 anos de escravidão, 2013 - Drama/História - 2h14m
 Sinopse: em 1841, Solomon Northup é um negro livre, que vive em paz ao lado da 
esposa e filhos. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, ele é sequestrado 
e acorrentado. Vendido como se fosse um escravo, Solomon precisa superar humilhações 
físicas e emocionais para sobreviver. Ao longo de doze anos, ele passa por dois senhores, 
Ford e Edwin Epps, que, cada um, a sua maneira, exploram seus serviços.
 Atividades: utilização conforme o objetivo de aprendizagem do conteúdo, e trata-
se de um filme muito interessante para quem já assistiu e para aqueles que ainda não 
assistiram devem vê-lo a fim de estabelecer a relação com os temas abordados nessa 
unidade, principalmente com os tipos de poder apresentados
DICAS
4 O PODER E O TERRITÓRIO
Em contrapartida, a tamanha reconversão do espaço e os movimentos 
reivindicatórios para uso do espaço tornam-se um fenômeno mundial; 
não se resumem às reivindicações por trabalho, mas sim também pelo 
espaço inteiro, pela vida cotidiana. No cerne desses movimentos está 
um conflito agudo pelo espaço e, no espaço, a oposição entre o espaço 
que se tornou valor de troca e o espaço que permanece valor de uso, 
de usos múltiplos do espaço vivido pela população. E, nesse contexto, 
a questão territorial começa a se colocar para cada um e para todos; 
coletividades, vilas, regiões, nações (LEFEBVRE, 1978, apud BECKER, 
2012, p. 127). 
O estudo do território sempre foi fundamental para a análise geográfica, 
pois, a geografia estuda as relações entre a natureza e a sociedade e as 
transformações e influências dessa relação no espaço geográfico. Neste vasto 
campo de investigação, a geografia tem cinco categorias/conceitos analíticos 
essenciais: o espaço, o lugar, a paisagem, o território e a região, que abordam as 
diferentes dimensões da realidade.
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
41
Essas categorias ou conceitos-chave representam diferentes 
abordagens sobre o espaço a partir de diferentes perspectivas, 
influenciadas por diferentes correntes do pensamento geográfico. É 
importante ressaltar que “cada conceito expressa uma possibilidade 
de leitura de espaço geográfico delineando, portanto, um caminho 
metodológico” (SUERTEGARAY, 2001, p. 1).
Aprender a ler e interpretar o espaço, facilmente nota-se que a categoria 
fundamental em geografia vai ser o espaço, que pode ser percebida nas várias 
dimensões da relação entre a técnica e o espaço geográfico. 
[...] o espaço organizado pelo homem é como as demais estruturas 
sociais, uma estrutura subordinada subordinante. É como as outras 
instâncias, o espaço, embora submetido à lei da totalidade, dispõe 
de uma certa autonomia (SANTOS, 1978, p. 145). O espaço deve ser 
considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade 
que lhe dá vida (...) o espaço deve ser considerado como um conjunto 
de funções e formas que se apresentam por processos do passado 
e do presente [...] o espaço se define como um conjunto de formas 
representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma 
estrutura representada por relações sociais que se manifestam através 
de processos e funções (SANTOS, 1978, p. 122).
De tal maneira, percebe-se que, na Geografia política, a categoria que mais 
nos interessa é o território. O conceito de território faz parte da esfera da política, 
refere-se ao espaço geográfico a partir de uma concepção que privilegia o político 
ou a dominação-apropriação. Portanto, compreende-se que o território e o poder 
podem contribuir com os estudos da Geografia Política e Geopolítica, permeando 
as espacialidades das ações humanas, ou seja, “a geograficidade como condição 
histórica” (SANTOS, 2006, p. 13). Ressalta-se, ainda, como indica o autor, que 
nenhuma realização é possível no mundo que não seja a partir do conhecimento 
do que é território, isso porque esse é o lugar em que desembocam todas as ações, 
todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é: no 
qual a história do homem realiza-se plenamente, a partir das manifestações de 
sua existência. Dessa forma, a geografia passa a ser a ciência melhor capacitada 
para mostrar os dramas do mundo, da nação e do lugar.
O território é o resultado de um processo de formação em sentido amplo, 
cabendo “à Geografia como ciência da relação sociedade e natureza, tomar 
consciência de sua importância técnica, teórica e política em qualquer processo e 
escala de planejamento, ordenamento e gerenciamento territorial” (CUSTÓDIO, 
2005, p. 103). O autor ainda afirma:
 
Particularmente, defendemos que a ciência geográfica, com seus 
vários ramos, disciplinas e concepções, tem fundamental papel na 
elaboração de políticas públicas (territoriais). A perspectiva da relação 
natureza-sociedade, por parte da Geografia Física Aplicada, contribui 
tecnicamente, e o aporte teórico das Ciências Sociais e Humanas da 
Geografia Humana, na perspectiva da relação sociedade-natureza, 
contribui social e politicamente para o diagnóstico de problemas 
territoriais e para arrolar alternativas. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
42
Isto é valido, pois, o elo entre a política e a ação pública é o território, com 
fundamentos das relações políticas. Conforme Mello-Théry (2011, p. 13) ressalta, 
cujo mecanismo está pautado em: 
A cada escala em que se considerem as relações sociais ocorrerão 
conflitos espaciais, pois a política representa o jogo de interesses 
sociais contrapostos. Os primeiros reflexos são representados pela 
dinâmica social, pois são significativos a apropriação, os processos de 
controle e a política como gestão. A política implica no estabelecimento 
de estratégia e táticas frente aos outros membros da sociedade para 
impor critérios e formas de atuação. Definir estratégias e organizar 
táticas requer articular a gestão do poder. Poder com a capacidade de 
intervir sobre o espaço e modificá-lo, aspecto pelo qual se distinguirão 
as políticas territoriais.
Você sabe o que são conflitos espaciais?
 São conflitos que se estabelecem espacialmente, ou seja, corresponde ao estudo 
da distribuição espacial de fenômeno de conflitos, à procura de padrões espaciais.
INTERESSA
NTE
Contudo, o conceito de território está ligado à ideia de poder, de domínio 
e de gestão de determinada área. Neste sentido, para Raffestin (1993, p. 7-8) o 
território é o produto dos atores sociais enquanto sociedade.
 
São esses atores que produzem o território, partindo da realidade 
inicial dada, que é o espaço. Há, portanto, um "processo" do território, 
quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que 
se traduzem por malhas, redes e centralidades cuja permanência é 
variável, mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias 
obrigatórias. O território é também um produto "consumido", ou, se 
preferirmos, um produto vivenciado por aqueles mesmos personagens 
que, sem haverem participado de sua elaboração, o utilizam como 
meio. É então todoo problema da territorialidade que intervém 
permitindo verificar o caráter simétrico ou dissimétrico das relações 
de poder (RAFFESTIN, 1993, p. 7-8). 
Observou-se, no decorrer da abordagem, que o processo de intervenção 
sobre o território acontece por meio dos diversos atores sociais – poder público, 
empresas, sociedade – e se constitui a partir do ordenamento ou desordenamento 
do território. Exemplificamos uma forma de perceber o conceito de território: o 
território como um campo de futebol (GOMES, 2002).
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
43
FIGURA 11 – EXEMPLO DE TERRITÓRIO: CAMPO DE FUTEBOL
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/07/quadra-de-futebol.jpg>. 
Acesso em: 23 set. 2019.
Neste exemplo, vemos o campo de futebol como um território, pois, em 
uma partida de futebol, é o seu controle que está em jogo. Aquele que controla 
e se mantém no campo do adversário é quem impõe o seu poder sobre o outro 
(GOMES, 2002).
Por meio desta análise, Raffestin (1993) conduz ao pensamento que o 
espaço geográfico atua como substrato, ou seja, é pré-existente ao território, sendo 
esse o resultado de uma ação conduzida por um ator ou por um grupo de atores. 
O território é o local, no qual as pessoas estão inseridas, onde as 
relações entre esses atores sociais ocorrem, construindo o território, conforme a 
importância/força de poder de cada ator social. Tendo como base o Estado, que 
passou a regular as normas que se estabelecem no território, mas mesmo sendo 
um dos principais agentes, o Estado não é o único na construção do território. 
Vejamos o que Raffestin (1933) defende sobre os agentes que produzem o 
território: 
 
Do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações pequenas 
ou grandes, encontram-se atores sintagmáticos que produzem o 
território. De fato, o Estado está sempre organizando o território 
nacional por intermédio de novos recortes, de novas implantações 
e de novas ligações. O mesmo se passa com as empresas ou outras 
organizações, para as quais o sistema precedente constitui um 
conjunto de fatores favoráveis e limitantes. O mesmo acontece com 
um indivíduo que constrói uma casa ou, modestamente ainda, para 
aquele que arruma um apartamento. Em graus diversos, em momentos 
diferentes e em lugares variados, somos todos atores sintagmáticos 
que produzem territórios (RAFFESTIN, 1993, p. 152).
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
44
A partir das contribuições de Raffestin (1993), podemos concluir que todos 
nós (o Estado, os indivíduos, os grupos econômicos ou empresariais) produzimos, 
de alguma forma, territórios em diferentes escalas de ação e de intensidade. Cada 
um desses agentes elabora estratégias de produção, que, muitas vezes, se chocam 
com outras relações de poder.
Esses atores não se opõem; agem e, em consequência, procuram manter 
relações, assegurar funções, se influenciar, se controlar, se interditar, 
se permitir, se distanciar ou se aproximar e, assim, criar redes entre 
eles. Uma rede é um sistema de linhas que desenham tramas. Uma 
rede pode ser abstrata ou concreta, invisível ou visível. A ideia básica 
é considerar a rede como algo que assegura a comunicação, mas, por 
natureza, a rede que desenha os limites e as fronteiras não assegura 
a comunicação. É uma rede de disjunção. Mas mesmo uma rede de 
comunicações pode, a um só tempo, assegurar aquilo para o que foi 
concebida e impedir outras comunicações. Quantas cidades foram 
cortadas em duas, secionadas por redes de comunicação rodoviárias ou 
ferroviárias! A ambivalência surge em escalas diferentes (RAFFESTIN, 
1993, p. 156).
Teoricamente, como foi exposto, o Estado representa um papel determinante 
na formação dos territórios, e como é visível, o território compreende um campo 
da ação política ou da dominação e da apropriação. No caso, vemos também que o 
território envolve uma teia de relações de poder projetadas no espaço.
Após essa pequena abordagem sobre o território e o poder, assista ao filme sugerido! 
Título: Getúlio (João Jardim) – 2014.
 Sinopse: o filme relata as intrigas da Presidência da República e as entranhas do poder 
nos últimos 19 dias de vida de Getúlio, mostrando as conspirações e tramas nos bastidores 
para que o presidente seja deposto ou renuncie. Getúlio foi um ditador confesso, admite no 
filme ter rasgado duas Constituições enquanto esteve no comando, com o objetivo de se 
manter no poder. Apesar de ter sido um ditador, voltou à presidência novamente por voto 
democrático. O filme mostra muito do que vivemos no território e nas relações de poder, 
expondo que o hábito das negociatas, lobby, conchavos, chantagem, alianças ilícitas vêm 
de muitos anos e não acontecem somente na atualidade. Getúlio é um filme que deve ser 
visto, seja para conhecer um pouco melhor a história da política do Brasil ou para conferir 
o homem por trás do presidente interpretado por Tony Ramos.
DICAS
45
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O espaço preexiste a qualquer ação, sendo o local de possibilidades, que se 
manifesta como uma realidade preexiste a qualquer conhecimento e prática. 
• Entender o espaço na perspectiva do poder, é ver sua complexidade e em 
diferentes escalas de relações, em sua dinâmica histórica e geográfica.
• O conceito de poder engloba sempre a esfera da ação, ele designa uma 
capacidade de agir, direta ou indiretamente, sobre coisas ou pessoas. 
• O poder compreende a esfera política, econômica, cultural e social. Assim, ele 
é considerado amplo, complexo e profundo, que ninguém está isento dele, ou 
de seus efeitos.
• O território é a base material e também simbólica da sociedade, e que o poder 
tem a realizações de ações. 
• Existem três formas elementares de poder: despótico/dominação, autoridade e 
o político. 
• A tipologia moderna das formas de poder é construída a partir dos meios 
pelos quais o poder é exercido: o poder econômico, o poder ideológico, o poder 
político.
• Na Geografia Política, a categoria que mais nos interessa é o território. 
• O conceito de território faz parte da esfera da política, refere-se ao espaço 
geográfico a partir de uma concepção que privilegia o político ou a dominação-
apropriação. 
• O território e o poder podem contribuir com os estudos da Geografia Política 
e Geopolítica, permeando as espacialidades das ações humanas, ou seja, “a 
geograficidade como condição histórica”.
• O território envolve uma teia de relações de poder projetadas no espaço.
46
1 O estudo do território sempre foi fundamental para a análise geográfica, 
pois a geografia estuda as relações entre a natureza, a sociedade e as 
transformações e influências dessa relação no espaço geográfico. Portanto, 
verifique as asserções abaixo: 
I- O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação 
conduzida por um ator sintagmático.
II- O território é a prisão que os homens constroem para si.
III- O território é o espaço na sua complexidade e em diferentes escalas de 
relações, em sua dinâmica tal e geográfica. 
IV- Território é visto como controle de processos sociais e pelo controle da 
acessibilidade através do espaço.
Acerca das asserções, assinale a opção CORRETA:
a) ( ) Os itens II, III e IV.
b) ( ) Os itens I, II e IV.
c) ( ) Os itens I e III.
d) ( ) Os itens II e III.
e) ( ) Todos os itens. 
2 As três formas elementares de poder apresentam conceitos diferentes. 
Identifique quais são as ideias principais de cada poder, colocando:
I- Poder de dominação. 
II- Poder de autoridade.
III- Poder político. 
( ) Pelo bem comum.
( ) Este é um poder exercido como uma concessão.
( ) Pelo bem daquele que é o objeto da ação.
( ) O instrumento do poder será então a coerção pela força.
( ) Pelo bem privado daquele que o exerce.
( ) Interpretação de uma vontade dirigente.
3 Explique com suas palavras o que é o poder familiar. Justifique e exemplifique. 
 
4 Explique o conceito de territorialização.5 Você consegue perceber como as formas e tipos de poder, conceitualizados 
no decorrer do Tópico 2, se materializam no espaço geográfico? A partir 
das definições apresentadas de poder econômico, poder ideológico e 
poder político, podemos, agora, desenvolvê-las por meio dos exemplos das 
charges. Portanto, analise a figura a seguir:
AUTOATIVIDADE
47
POLÍTICA
FONTE: <https://anexositecp.webnode.pt/_files/200000519-e1ebce2ea5-public/face%2029.jpg>. 
Acesso em: 17 jan. 2020.
Qual é a forma de poder exercida na charge apresentada? Justifique sua 
resposta.
48
49
TÓPICO 3
GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico será apresentada a Geopolítica Brasileira, com objetivos 
de melhor ocupação territorial, proteção nas fronteiras, que se desenvolvem e 
integram ações governamentais, surgindo querendo fortalecer o Estado-Nação, e 
que na atualidade se materializa como uma potência regional. 
Nesta parte do material, abordaremos as seguintes seções em ordem de 
apresentação. Na primeira, a questão do projeto geopolítico da modernidade 
no Brasil, em segundo a gestão do estado centralizador, no terceiro momento 
trabalharemos a crise e os desafios do país como potência regional, e por fim, 
analisaremos planejamento estratégico e a tendência à gestão privada do território. 
Com isso, busca-se apresentar diversos exemplos das áreas estudadas, 
além de indicar possibilidades teóricas de análise e interpretação do espaço 
geográfico. O nosso intuito é que você, acadêmico, possa ao final da unidade 
ter uma opinião, teoricamente fundamentada, a respeito dos processos políticos 
geográficos. 
Então, vamos aos estudos!
2 O PROJETO GEOPOLÍTICO DA MODERNIDADE NO 
BRASIL 
A Geopolítica do Brasil deve ser compreendida, historicamente, a 
partir da constituição do Estado nacional após a Independência e do 
seu papel essencial e crescente na formação de um país-continente 
cuja organização econômica, social e política foi forjada sob o domínio 
colonial. A insuficiência da iniciativa privada nacional, de uma classe 
burguesa stricto sensu devido à fraca disponibilidade de capital e de 
potência empresarial ou à falta de interesse –, a ideologia nacionalista, 
que coloca, a independência política no cerne da identidade nacional, 
e a motivações políticas e estratégicas quanto à unificação do território 
e da estrutura do poder em face dos interesses agrários regionais são 
alguns dos elementos que explicam a presença marcante do Estado 
brasileiro, que não pode ser reduzido a mero instrumento ou reflexo 
do capital privado (BECKER, 2012, p. 130-131).
50
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
A Geopolítica Brasileira advém e está vinculada ao papel crescente do 
Estado, na conformação da sociedade e do espaço nacional, não se desenvolvendo 
como potência, que é determinada por sua geografia. 
Tal como fazem supor obras e generais que justificam a forma 
autoritária de atuação estatal. Isto não significa que os militares não 
tenham um papel importante na constituição do próprio Estado e 
da sua Geopolítica, inicialmente na construção do espaço físico do 
Estado, o Território Nacional e, recentemente, construindo o espaço 
político. A constituição das Forças Armadas – FA foi parte ativa e 
integrante da história recente do país, particularmente na Proclamação 
da República. Atuando na conquista, defesa e ratificação das fronteiras 
e na sustentação da unidade territorial interna, em resposta aos 
diferentes interesses e pressões regionais, as Forças Armadas imperiais 
articularam-se profissionalmente. Parte da oficialidade média do 
Exército integra-se à nascente classe média urbana na luta pela 
valorização do trabalho não manual e pela conquista de um espaço 
no aparelho de Estado, rompendo com os critérios de recrutamento 
calcados em relações de favor (BECKER, 2012, p. 131). 
No Brasil, Becker (2012, p. 131) apresenta que os militares e a classe 
média promovem e dirigem a transformação do Estado brasileiro, constituindo-
se em uma modernização conservadora. Constituindo no pensamento militar a 
autopercepção de fundador de Nação e de ordem nacional, ou seja, quando no 
Brasil surge problemas em relação com outros países e o desenvolvimento na 
escala nacional, destaca-se o papel do Estado e dos militares. Além disso, como 
um fator de expansão do Estado, o nacionalismo condiciona a constituição do 
Estado:
Processo em que a constituição do Estado precede a constituição da 
Nação (Becker, 1986). Não é, portanto, de admirar que a Geopolítica 
brasileira remonte às décadas iniciais do século XX, precedendo 
o estabelecimento da Geografia como disciplina acadêmica, com 
os estudos pioneiros de Everardo Backheuser (1926), fortemente 
influenciado por Ratzel e as teorias orgânicas do Estado de Kjellen, 
e de Delgado de Carvalho (1929), pelo contrário, influenciado pela 
escola francesa de Vidal de la Blache (BECKER, 2012, p. 131). 
É nesse sentido, que com a nova crise mundial de 1929 e o Estado Novo de 
Getúlio Vargas, que o nacionalismo (com intervenção estatal) e a modernização se 
fundam. O Estado se aproxima dos meios de produção essenciais e a indústria de 
base ao desenvolvimento nacional, com o apoio de capital estrangeiro (BECKER, 
2012). 
Ao mesmo tempo, os estudos sobre a Geopolítica se intensificam nas 
décadas de 1930 e 1940, que se desenvolvem por professores de colégios militares, 
como Becker (2012, p. 312), salienta: 
 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
51
Destacando-se, dentre eles, Mário Travassos, com a sua “Projeção 
Continental do Brasil”. O tema central desses trabalhos era uma 
nova interpretação geopolítica da história brasileira, focalizando a 
marcha para o oeste do Estado, desde sua origem na costa atlântica, 
e enfatizando a necessidade de o Brasil continuar sua projeção para o 
oeste, especialmente ao longo de dois eixos, um em direção à Bolívia 
e o outro à Amazônia. A expansão política para o ocidente do século 
XIX (Acre) deveria ser seguida de ocupação efetiva e integração 
espacial, revitalizando as “fronteiras mortas” e tornando-as ”vivas”. 
Esse desenvolvimento interno era associado à ascensão de grandeza 
continental para o país, o que era visto elos Estados vizinhos como 
ameaça e expansionismo.
Você sabe como foi realizada a expansão do território brasileiro?
 A expansão territorial brasileira inicia com a ampliação dos limites do território 
brasileiro que aconteceu entre o descobrimento e o Tratado de Madri em 1750. Com 
o passar da história, o país aumentou sua área em mais de duas vezes. Essa expansão 
é decorrente do desenvolvimento econômico da colônia e dos interesses político-
estratégicos da colonização.
IMPORTANT
E
Na figura 12, verifique como foi realizada a marcha para o oeste do Estado, 
desde sua origem a costa atlântica e por fim, o estado do Acre. 
52
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
FIGURA 12 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil_(1534).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
FIGURA 13 – 1573 ESTADO DO MARANHÃO E ESTADO DO BRASIL
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e8/Brazil_%281572%29.
svg/800px-Brazil_%281572%29.svg.png>. Acesso em: 20 jan. 2020.
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
53
FIGURA 14 – 1709 SÃO PAULO NO SEU MÁXIMO TAMANHO
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil_(1709).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020. 
FIGURA 15 – DEPOIS DO TRATADO DE MADRID
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/83/Brazil_%281750%29.
svg/800px-Brazil_%281750%29.svg.png>. Acesso em: 20 jan. 2020.
54
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
FIGURA 16 – DEPOIS DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil_(1817).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.FIGURA 17 – PROVÍNCIAS IMPERIAIS
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil_(1822).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
55
FIGURA 18 – INÍCIO DA REPÚBLICA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil_(1889).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
FIGURA 19 – TERRITÓRIOS DE FRONTEIRA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil_(1943).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
56
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
FIGURA 20 – CONFIGURAÇÃO ATUAL DESDE A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/
Ficheiro:Brazil,_administrative_divisions_(states)_-_en_-_colored.svg>. Acesso em: 20 jan. 2020. 
Para o autor, a partir da Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou por um 
projeto geopolítico para a modernidade: 
A partir da Segunda Guerra Mundial, período marcado pela imbricação 
da Ciência e Tecnologia, com as estruturas sociais do poder, e pelo 
planejamento, constitui-se no Brasil um novo padrão de inserção na 
ordem política planetária. Se o papel político e a relativa autonomia 
da burocracia estatal, particularmente dos militares, foram uma 
constante na história recente do país, eles se alteram qualitativamente, 
manifestando-se num projeto geopolítico para a modernidade do 
Brasil (BECKER, 2012, p. 132). 
No entanto, surge um domínio da racionalidade em todos os setores e no 
pensamento social dentro da modernização, com vários projetos em diferentes 
segmentos, contudo, que convergem em um projeto governamental gerido por 
militares. Nesse sentido, o Estado atribui-se um papel cada vez mais abrangente, 
“pois que se entende que só ele poderá, através de um planejamento racional, 
acelerar o ritmo de desenvolvimento, permitindo ao país ingressar na nova 
era” (BECKER, 2012, p. 132). Por meio disso, o Estado produzirá o seu espaço 
político, não mais se reduzirá a conquista e a defesa do território (atuação setorial 
e pontual), e com uma ação sistemática e com acesso a todos os setores e a todo o 
espaço nacional. 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
57
Nesta fase de sistematização e de integração do projeto de modernização 
brasileiro, Becker (2012) baseada nas concepções e metodologias da Geografia 
Política Brasileira, aponta algumas características: 
• É na obra do General Golbery do Couto e Silva (1955, 1967 e 1981) que se 
encontraram mais explícitas as bases doutrinarias do projeto geopolítico da 
modernidade no Brasil, desenvolvidas pelo General Carlos de Meira Mattos na 
década de 1970 (1975, 1977, 1980). 
• Iniciado antes do golpe militar de 1964 que pôs em prática sistematicamente, 
o projeto assume novas feições a partir dos anos 1970, quando, em face das 
tensões internas e da prioridade de produção de tecnologia, o governo é 
transferido para os civis através de transição política, e os militares passam a 
participar diretamente na implantação de um complexo científico-tecnológico-
industrial, em que o setor bélico é parte expressiva.
• Como base da estratégia e da prática do novo papel dirigente do Estado, a 
Geopolítica brasileira se altera consideravelmente. 
• Sem abandonar as preocupações tradicionais de integração do Território 
Nacional, e sem abandonar os princípios gerais da Geopolítica, o General 
Couto e Silva amplia o seu escopo em vários pontos e gera um pensamento 
geopolítico nacional: uma visão global, e não mais apenas continental, é agora 
o quadro de referência para o Brasil; uma visão ampliada da Geopolítica em 
termos de preocupação com teorias realista sobre a natureza do Estado e o 
papel da política e do poder, em torno do tema central do conceito de Segurança 
Nacional; este, relacionado ao desenvolvimento, é entendido não mais apenas 
no sentido restrito militar ou econômico, mas em um sentido político muito 
mais amplo e em um sentido técnico, de planificação e racionalidade: uma 
preocupação não mais apenas com relações externas do Estado, mas com a 
segurança interna: enfim, uma preocupação com a especificidade do papel do 
Estado nos países subdesenvolvidos e, no Brasil, país entendido como um dos 
bastiões-chave dos valores ocidentais.
• Trata-se indiscutivelmente de um pensamento nacional para o crescimento de 
um Estado subdesenvolvido, o Brasil, segundo o modelo econômico vigente 
nos países capitalista. 
• É de se notar a antecedência com que foram captadas feições da 
Geopolítica contemporânea: a questão do tempo acelerado para superar o 
subdesenvolvimento, as questões tecnológicas da gestão, da logística – guerra 
permanente, contida nos conceitos de Poder Nacional, e no novo significado da 
Estratégia –, dos conflitos internos. 
• São de se notar, também, as ambiguidades contidas nesse pensamento 
– a necessidade de um planejamento democrático e, ao mesmo tempo, a 
necessidade de restrições à cidadania e ao bem-estar social e a total exclusão 
da participação social no projeto.
• Diante de tais pressupostos, que pelo menos em tese indicam as bases para se 
assentar um projeto de modernização brasileira, Hage (2015, p. 115), pensa a 
geopolítica brasileira a por meio de três peculiaridades: 
58
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
• Trata-se de manifestação que beira à experiência deixada pelos portugueses. 
Esse legado foi comum ao Itamaraty e ao Exército, e teve como ponto de 
sustentação a cartografia, a historiografia, o direito internacional e a geografia. 
A peculiaridade brasileira é que o ponto de amparo não estava exclusivamente 
nas forças armadas, mas no concurso entre elas e o patrimônio político-
diplomático (RODRIGUES; SEITENFUS, 1995, p. 28). 
• A geopolítica nacional é industrializante. A saber, nos primeiros anos da 
década do século XX, seus estudiosos acreditavam que o Brasil tinha de se 
industrializar nos níveis mais adiantados, como na indústria pesada e de bens 
de capital. O país deveria ter condições de fabricar aço e de dominar seus 
recursos naturais para fins produtivos. Poderíamos dizer que os estudiosos 
de geopolítica brasileira procuravam uma economia de progresso, de 
desenvolvimento, mesmo que esse conceito seja tão fluido para ser atribuído a 
teóricos, estudiosos e políticos da Primeira República (1889-1930).
• O desenvolvimento conceitual da geopolítica não se deu na universidade e nos 
centros de ensino superior. A preocupação para estudar e fazer da geopolítica 
um instrumento de ação se deu, à primeira vista, nos quadros do Exército 
brasileiro. Nossa hipótese para essa peculiaridade é que, historicamente, 
somente o Exército e Igreja Católica eram instituições, de fato, nacionais, 
encontradas em todo o território a partir de 1889; para a primeira, já que a 
história da segunda se confunde a do Brasil colonial.
Com relação às principais visões da Geopolítica Brasileira, Santos (2015), 
sistematiza em uma retrospectiva sobre os seus principais autores e concepções, 
como podemos verificar no quadro a seguir: 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
59
QUADRO 2 – RETROSPECTIVA DA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
FONTE: Santos (2015, p. 64) 
60
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
3 A GESTÃO DO ESTADO CENTRALIZADOR
A constituição do Estado nacional parte de duas dimensões estratégicas 
(CASTRO, 2005): 
•	 Externa: com disputas territoriais com outros Estados, objeto central de uma 
geografia política que pode ser chamada de clássica. 
• Interna: com a centralização do poder, controle social e estratégia territorial, 
um dos objetos da geografia política contemporânea. 
Conforme Castro (2005, p. 124), surgem duas escalas de ação do Estado 
“Ele é o locus primário do poder mundial e garante/responsável abonador e 
fiador da ordem territorial”. Assim, configuram-se a organização territorial 
do Estado Moderno, com o controlesobre o território e seus conteúdos. Tendo 
como marco de nascimento a centralidade territorial do poder político, com um 
processo simultâneo de formação de uma estrutura administrativa desse Estado, 
com a criação de uma rede conectiva, única e unitária. Se constituindo como 
“uma estrutura organizativa formal da vida associada, transformando-se em um 
autêntico aparelho de gestão do poder sobre a sociedade e o território” (CASTRO, 
2005, p. 126-127): 
A administração pública é constituída de um conjunto de organizações 
que participam da execução de múltiplas tarefas de interesse geral 
que cabem ao Estado. Neste sentindo, a função administrativa é o 
prolongamento da função política que compreende a função legislativa 
e a função governamental.
 
No Brasil, existe uma estrutura federativa definida pela Constituição de 
1988, na qual o exercício do poder sobre o território é responsabilidade partilhada 
da União (poder central), dos Estados (unidades da federação) e dos Municípios 
(poder local). De acordo com Castro (2005, p. 165):
No Brasil, o processo de construção de uma federação teve um 
movimento em sentido contrário, ou seja, a República adotou a 
estrutura federativa como mecanismo de descentralização do poder 
imperial, definindo três esferas político-administrativas: Federal, 
Estadual e Municipal. Porém, os mecanismos do federalismo no Brasil 
não garantiram nem a autonomia das decisões dessas esferas nem 
asseguraram o controle democrático da política. 
Pacto federativo: por definição é um acordo de base territorial no qual os grupos 
localizados em diferentes partes de um território organizam-se em busca da harmonização 
entre suas demandas particulares e os interesses gerais da sociedade que tem por objetivo 
construir (CASTRO, 2005).
ATENCAO
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
61
O pacto federativo fundador do Estado republicano brasileiro permitiu, 
nas décadas iniciais de sua implantação, situações contraditórias, como posto por 
Castro (2005): 
• A convivência com o centralismo, que apenas em curtos períodos da história, 
como aquele entre a implantação da República e a Revolução de 1930, foi mais 
brando. 
• O mandonismo local, que recentemente vem tendo o seu poder reduzido.
• Longos períodos de poder autoritário. 
Federalismo: “é uma forma de organização territorial das instituições políticas 
que tem por objetivo fundamental acomodar as tensões decorrentes da necessidade 
de uma união das diferenças para formar uma unidade. Este processo que incorpora e 
tenta resolver institucionalmente esta contradição faz emergir para a geografia uma dupla 
questão: aquela colocada pelo fundamento territorial do Estado, que se constitui através da 
soberania sobre um território, e aquela que surge a partir da territorialidade da sociedade, 
ou seja, das formas de inserção dos interesses, dos atores e sujeitos sociais no espaço” 
(CASTRO, 2005, p. 164).
ATENCAO
Nestas abordagens, emerge a organização federativa brasileira, com a 
contradição da perspectiva da unidade nos corações e mentes da elite dirigente 
do país. Caracterizada por um processo histórico de lutas para a consolidação do 
território e para a construção da nação (CASTRO, 2005). Estabelecendo-se, desde a 
República, por dois caminhos com alternâncias entre momentos de centralização 
e de descentralização político-administrativa: 
• Difusão entre um formato político-administrativo pensado e desenvolvido 
para acomodar a representação das diferenças territoriais.
• Perspectiva de manutenção de uma unidade que deveria ser preservada a 
qualquer custo. 
62
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
DICA DE LEITURA!
 HIRT, Carla. O desenvolvimento, a definição de um bloco no poder e as cenas 
políticas ao longo do período desenvolvimentista, 2016. Em seu capitulo II, a autora possui 
sua forma própria de expressar sobre o conteúdo que abordamos nesse Caderno de 
Estudos. 
 Por meio do que foi pontuado sobre a gestão do Estado centralizador a autora Carla 
Hirt, desenvolveu entender em suas pesquisas o Desenvolvimento Brasileiro, sendo assim, 
foi necessário realizar um resgate histórico sobre o Estado brasileiro, os blocos no poder, 
a sociedade brasileira e os ideários de desenvolvimento que guiaram as políticas públicas 
e definiram as estratégias e os projetos espaciais de Estado. Assim, buscou-se entender 
como o BNDES, enquanto principal instituição estatal de fomento ao desenvolvimento, foi 
redimensionado e reorientado a cada período. Só assim seria possível contribuir de forma 
consistente com a compreensão sobre o lugar e o papel desta instituição nas estratégias 
atuais de desenvolvimento no Brasil. 
 Para uma elucidação sobre os informes e propostas oriundas do BNDS (Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção de um recurso de 
poder, consulte o site do banco de teses do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e 
Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. 
FONTE: http://objdig.ufrj.br/42/teses/859255.pdf.
DICAS
4 A CRISE E OS DESAFIOS DO PAÍS COMO POTÊNCIA 
REGIONAL
Vários estudos contemporâneos, dos mais diversos matizes teóricos, 
concebem que o Brasil, foi considerado por muito tempo, como um país que não 
priorizava a região, vivenciando uma baixa identidade regional, privilegiando a 
sua relação com os EUA. Com isso, a partir de 1980, foi promovido a cooperação 
em relação à vizinhança, legitimando as relações regionais (CARVALHO; 
GONÇALVES, 2016). 
Carvalho e Gonçalves (2016) vão observar três tipos de liderança que se 
manifestam na política regional brasileira, buscando-se obter evidências a partir 
da análise do comportamento do país na América do Sul.
• A liderança cooperativa, consensual e empreendedora, que salienta a capacidade 
da potência regional de criar consensos e investir em uma relação cooperativa 
com seus vizinhos, seja através da ativa participação em organizações regionais, 
da proposição de criação de instituições ou de atitude conciliadora em crises 
regionais.
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
63
• A liderança normativa e intelectual, que se reflete na capacidade da potência 
regional de projetar ideias e valores que influenciam a região e sustentam o 
projeto regional.
• A liderança estrutural e distributiva, que implica um papel de paymaster, 
em que sua liderança se reflete na posse e utilização dos recursos materiais, 
através da provisão de bens públicos, sejam esses a estabilidade regional, a 
infraestrutura da região ou os custos econômicos da cooperação. 
FIGURA 21 – AMÉRICA DO SUL
FONTE: <http://nucleodeestudos.weebly.com/uploads/2/8/6/4/28646851/7297031.png?660>. 
Acesso em: 22. out. 2019.
64
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
O conceito de paymaster
 O Estado líder tem a função de paymaster, ou seja, o Estado líder a aderir uma 
parte maior dos custos gerados pelo próprio desenvolvimento da integração. Normalmente 
o Estado líder tem a atribuição de grande sustentador de todo o processo financeiro, e 
também fundamentalmente institucional e político.
NOTA
Colocadas essas observações preliminares, consideramos o Brasil como 
potência regional, no domínio da América do Sul, como podemos ver na Figura 
a seguir. Ocupando as potências secundárias os países da Argentina, Chile, 
Colômbia e Venezuela. Conforme Carvalho e Gonçalves (2016, p. 227) apresentam 
os dados de 2014, vemos os indicadores que permitem analisar comparativamente 
a capacidade material desses países na região:
“As potências secundárias são países que possuem recursos de poder 
ideacionais e materiais relativamente menores do que as potências regionais e, portanto, 
ocupam uma segunda posição de poder regional” (FLEMES, 2012; WEHNER, 2011 apud 
CARVALHO E GONÇALVES, 2016, p. 227).
IMPORTANT
E
TABELA 1 – RECURSOS MATERIAIS: BRASIL, ARGENTINA, CHILE, COLÔMBIA E VENEZUELA, 2014
FONTE: Carvalho; Gonçalves (2016, p. 227)
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA65
Uma forma de perceber a capacidade material, por meio da tabela acima, 
o Brasil se destaca como potência regional, como podemos ver: 
• Capacidade material com uma grande concentração no Brasil. 
• A população brasileira é a maior da região, correspondendo a quase 50% da 
população sul-americana. 
• O território brasileiro é três vezes maior que o argentino, que ocupa o 2º lugar 
no ranking. 
• Brasil possui uma localização geográfica privilegiada, com acesso ao Atlântico 
e o seu litoral se estende por mais de 7.000 quilômetros. 
• Faz fronteira com todos os países sul-americanos, com exceção do Chile e do 
Equador. 
• Abundância em recursos naturais, como florestas, recursos hídricos, petróleo, 
gás natural e minerais, terras férteis para a agricultura e enorme biodiversidade.
• Indicadores econômicos expressivos. O PIB brasileiro é o maior da região.
• O maior efetivo militar e os maiores gastos no setor em números absolutos.
• A capacidade de exportação e o peso de seus investimentos se mostraram 
elementos de barganha fundamentais nas negociações internacionais 
brasileiras. 
Assim, hoje facilmente pode ser percebida a potência regional que o Brasil 
buscou promover, pois, foi a partir dos anos 1990 que a região teve importância 
para a política externa brasileira, “seja como forma de ampliar a participação 
no mundo através da integração regional, seja como forma de ampliar o poder 
de negociação que se inscreve nas alianças Sul-Sul e que amplia a margem de 
manobra do país no exterior” (CARVALHO; GONÇALVES, 2016, p. 232).
Um exemplo disso foi a prioridade da agenda brasileira na América do 
Sul, com expressivas atuações, bem como: criação do MERCOSUL (ver Figura 
22), em 1991; o Brasil sediou a primeira reunião de presidentes da América do 
Sul, no ano 2000; a importante atuação como mediador no conflito entre Equador 
e Peru acerca da definição de limites territoriais; e a mediação com os EUA da 
criação da ALCA, conduzida pelo governo através do bloco regional. 
66
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
FIGURA 22 – PAÍSES QUE COMPOEM O MERCOSUL
FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/6107/img-1-small480.png>. 
Acesso em: 17 jan. 2020.
De modo geral, o Brasil, em diversas ocasiões, desempenhará a liderança 
como potência regional, desenvolvendo promoção consensual, cooperativa, 
empreendedora. Segundo Becker (2012), o Brasil transforma e se caracteriza 
como produtor de seu espaço transnacional, se tornando o oitavo PNB do mundo, 
não ficando apenas como potência regional do Atlântico Sul. Tais atividades 
envolveram a implantação da fronteira tecnológica, a expansão econômica e 
política. Becker (2012, p. 142.), ao propor sua interpretação na produção de um 
espaço extranacional, divide-a em três atores: 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
67
• O aparelho de Estado, através das negociações bilaterais ou 
multilaterais, que, por sua vez, abrem caminho para a atuação 
de empresas públicas e privadas. A intensificação das relações 
com a América Latina, com os países de língua portuguesa e com 
a Nigéria, na África, e a composição de cunho político com um 
“Terceiro Mundo” parecem comprovar a política de barganha leal.
• As empresas estatais que, em seu processo de expansão tecnológica 
e econômica, se transnacionalizam, como é o caso da PETROBRAS 
e da EMBRAER, e a tendência da CVRD e da ELETROBRAS nesse 
sentido.
• A corporação militar associada à empresa privada (e pública), que 
alarga a atuação do Brasil pela venda de armas, particularmente 
para o mundo árabe.
Você pode enriquecer sua leitura sobre o tema abordado com a leitura do 
artigo sobre O Brasil como potência regional e a importância estratégica da América do Sul 
na sua política exterior, do autor Luiz Alberto Moniz Bandeira (2016), conforme o resumo 
a seguir: 
 O artigo aborda a história da política externa brasileira em relação a América do 
Sul durante o século XX, bem como da diplomacia brasileira relacionada aos interesses dos 
Estados Unidos no Continente. O governo brasileiro considerou a América do Sul como 
um conceito geopolítico e sua principal referência para a formação de uma integração 
econômica, como caracterizam as relações com a Argentina, a criação do Mercosul e a 
cláusula democrática que orienta sua diplomacia nos casos de instabilidades de governos, 
como ocorreu no Paraguai, em 1996, e na Venezuela, em 2001. A política exterior do Brasil 
esteve orientada para a ampliação do Mercosul e em detrimento da ALCA, conforme vem 
sendo idealizado pelo projeto da União de Nações Sul-americanas (UNASUL). 
FONTE: BANDEIRA, L. A. M. O Brasil como potência regional e a importância estratégica 
da América do Sul na sua política exterior. 2008. Disponível em: http://e-revista.unioeste.
br/index.php/temasematizes/article/view/2477/1902. 
 Outro material que pode acrescentar na temática sobre o Brasil na América do Sul 
é o artigo do professor Wanderley Messias da Costa: O Brasil e a América do Sul: cenários 
geopolíticos e os desafios da integração. Confira o artigo e aproveite a leitura! Disponível 
em: <https://journals.openedition.org/confins/6107?amp%3Bid=6107&lang=pt>. Acesso em: 
20 jan. 2020.
DICAS
68
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E A TENDÊNCIA À 
GESTÃO PRIVADA DO TERRITÓRIO
Antes de discutir as características do planejamento estratégico e a gestão 
do território, vamos entender e propor significados sobre seus conceitos, por 
meio da discussão realizada por Becker (2012, p. 128). 
1	 Significado	da	Territorialidade
a. O território é o espaço da prática. Por um lado, é um produto da prática 
espacial: inclui a apropriação de um espaço, implica a noção de limite – um 
componente de qualquer prática –, manifestando a intenção de poder sobre 
uma porção precisa do espaço. Por outro lado, é também um produto usado, 
vivido pelos atores, utilizando como meio para sua prática (RAFFESTIN, 
1980).
b. A territorialidade humana é uma relação com o espaço que tenta afetar, 
influenciar ou controlar ações através do reforço do controle sobre uma área 
geográfica específica e, o território (SACK, 1986). É a face vivida do poder.
c. A territorialidade manifesta-se em todas as escalas, desde as relações 
pessoais e cotidianas até as complexas relações sociais. Ela se fundamenta 
na identidade e pode repousar na presença de um estoque cultural que 
resiste à reapropriação do espaço, i.e., em uma identidade de base territorial 
(BRODEUIL E OSTROWESKY, 1979).
d. A malha territorial vivida é uma manifestação das relações de poder, da 
oposição do local ao universal, dos conflitos entre a malha concreta e a 
malha abstrata, concebida e imposta pelos poderes hegemônicos.
2	 Significado	da	Gestão	do	Território
a. Gestão é um conceito associado à modernidade: é a prática estratégica 
científico-tecnológica que dirige, no tempo, a coerência de múltiplas decisões 
e ações para atingir uma finalidade.
b. A gestão é eminentemente estratégica: segue um princípio de finalidade 
econômica – expressa em múltiplas finalidades específicas – e um princípio 
de realidade, das relações de poder, i.e., de absorção de conflitos, necessários 
à consecução de suas finalidades; envolve não só a formulação das grandes 
manobras – o cálculo das forças presentes e a concentração de esforços em 
pontos selecionados – como dos instrumentos – tática e técnicas – para execução. 
c. A gestão é científico-tecnológica: para articular coerentemente múltiplas 
decisões e ações necessárias para alcançar as finalidades específicas e dispor 
da coisa de modo conveniente, instrumentalizou o saber de direção política, 
de governo, desenvolvendo-se, hoje, como uma ciência.
d. Como estratégia cientificamente formulada e tecnicamente praticada, a 
gestão é um conceito que integra elementos de administração de empresas 
e elementos governamentais (FOUCAULT, 1979); 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA69
e. A gestão tende a se identificar com a logística, no sentido da poderosa 
preparação de meios e da velocidade de sua atuação, referente esta não só à 
rapidez como à projeção para o futuro.
f. A gestão do território é a prática estratégica científico-tecnológica do poder 
no espaço-tempo. 
Becker (2012, p. 129 e 130), conforme os conceitos apresentados, vai 
verificar e embasar a discussão por ordens de grandezas, com uma base teórica, 
para definir e articular as escalas de análises, ou seja, apresenta cinco escalas 
com uma expressão de uma prática espacial coletiva embasada em conflitos de 
interesses e relações de poder. 
1. O espaço cósmico: corresponde à produção de uma escala extraplanetária 
pela máquina de guerra mundial, as corporações multinacionais e alguns 
Estados, somente os EUA e a URSS. Trata-se de uma nova fronteira do 
ecúmeno (universal), científico-tecnológica, povoada por satélites e naves 
espaciais. Laboratório avançado movido pela logística, é também um posto 
avançado de gestão do planeta Terra que tende a se constituir como um 
território no espaço cósmico. 
2.	O	 espaço	 global: corresponde ao espaço planetário unificado 
contemporaneamente pelas estratégias conjuntas, embora não isentas 
de conflitos, da economia mundial, da máquina de guerra e do sistema 
interdependente de Estados-Nação. Movimentos sociais de origem local 
e regional têm crescentemente atuado nessa escala, como é o caso dos 
movimentos ecológico e pacifista e do renascimento do regionalismo 
europeu, respectivamente.
3. O Estado-Nação: os Estados-Nação não são meros instrumentos manipulados 
pela acumulação do capital e a guerra; são também seus produtores e 
gestores e expressam processos em cursos nas escalas intra Estado, o 
que lhes confere um grau de autonomia relativa manifesto em projetos e 
políticas nacionais distintos e lhes atribui validade como escala de análise. 
A ideologia não se resume a uma visão distorcida imposta por interesses 
de um só grupo social; é um sistema particular de representações sobre o 
mundo capaz de dirigir o comportamento dos homens em uma situação, 
sistema de representações que, forjado em condições históricas e culturais 
diversas, é componente fundamental na atitude política diferenciada dos 
Estados-Nação. 
70
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
4. região: a região é fruto da prática dos detentores do poder e da prática 
social coletiva. Corresponde a um nível de agregação das comunidades 
locais no interior do Estado-Nação que têm em comum diferenças de base 
econômica, política e cultural em relação às demais, capazes de gerar uma 
identidade da população com seus territórios. Manifesta em uma finalidade 
social e política própria que determina contradições e modos específicos de 
relacionamento com o poder hegemônico. 
5.	O	lugar: corresponde à escala local, do espaço vivido das atividades da vida 
cotidiana, do uso do espaço – da família, da casa, do trabalho, do consumo, 
do lazer. A escala local é submetida às determinações de todas as demais e 
nela são mais visíveis as práticas estratégicas dos diferentes atores e mais 
materiais dos conflitos. Aí também os movimentos de resistência popular 
têm origem. 
A escala geográfica como princípio de organização é um princípio integrador, 
focalizando os vários processos em curso de forma integrada, bem como a forma como se 
manifestam em diferentes ordens de grandeza (BECKER, 2012).
NOTA
Embora se pode dizer que as escalas geográficas, apresentadas por 
Becker, tem um princípio de organização da investigação política, apreendida 
como arenas políticas que são articuladas e dinâmicas, vão permitir “quebrar 
compartimentações fossilizadas do espaço” (BECKER, 2012, p. 212): 
E não se trata apenas do Estado e da região. Trata-se também, por 
exemplo, da visão obsoleta do Terceiro Mundo. Projetos nacionais 
distintos alteraram a divisão internacional do trabalho, tais como 
os da URSS e da China, através da via socialista, e do Japão, que 
tende hoje a uma economia dominante no cenário internacional. Os 
países “semiperiféricos” ou “de industrialização recente”, como 
Brasil, México, Coreia, Cingapura, não são mais meros exportadores 
de produtos primários e importadores de bens manufaturados dos 
países centrais, representando uma alteração na divisão internacional 
do trabalho e o fim de um “Terceiro Mundo” calcado na pretensa 
homogeneidade de países periféricos. É claro que a pobreza não foi 
eliminada nesses países, mas há que se reconhecer que a dissolução do 
“Terceiro Mundo” é em grande parte decorrente de metas nacionais 
que têm o Estado como ator, e a manutenção desse conceito, hoje, 
serve a interesses ideológicos perversos. 
 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
71
No caso brasileiro, no que se refere aos ideais geopolíticos dentro do 
Estado-nação, pode-se dizer que o tema integração nacional, sempre esteve 
em primeira discussão, bem como um projeto político: as formas de ocupação 
do território (mudança da Capital Federal), proteção das fronteiras terrestres, 
comunicações viárias, e a divisão territorial (MIYAMOTO, 2002). Nesse sentindo, 
todo o processo de integração regional passa a ser dirigido pelo Estado. 
Você sabe o que é integração regional? Vamos entender o conceito por meio 
das elucidações sistematizadas por Santos (2017): 
INTEGRAÇÃO REGIONAL E REGIONALISMO
 Diversas são as definições de Integração Regional e Regionalismo, com muitos 
teóricos apontando uma interpretação específica para o significado de cada um dos 
termos. Por exemplo, o cientista político Karl Deutsch define integração como a obtenção, 
em determinado território, de um sentido de comunidade e de instituições de práticas 
fortes, suficientemente difundidas para assegurar as expectativas de mudança pacífica para 
as populações envolvidas (BATTISTELLA, 2014). Por sua vez, Ernst Haas, considera que 
integração é uma tendência de criação voluntária de unidades políticas amplas, evitando 
conscientemente o recurso à força em suas relações com outras unidades que participem 
do processo (BATTISTELLA, 2014).
 O autor Bela Balassa (1961), ao tratar sobre Integração Econômica Regional, 
estabelece cinco etapas. A primeira delas seria a Zona de Livre Comércio, os países 
participantes desta etapa eliminam as barreiras tarifárias e não-tarifárias de forma a favorecer 
a circulação de bens entre eles. A segunda etapa é a da União Aduaneira, cujos países 
adotam uma Tarifa Externa Comum (TEC). A terceira etapa é a do Mercado Comum, em 
que se estabelecem a livre circulação de pessoas, serviços e capitais e trabalho. A quarta 
etapa é a da União Econômica, esta estabelece a harmonização das legislações nacionais 
que tenham relação com as áreas integradas previamente. 
 A quinta e última etapa é a da Integração Econômica Total, em que as políticas dos 
países integrados são comumente discutidas e adotadas de forma integral.
 Haas pontua que a integração não deve ser vista como uma condição, mas como 
um processo. Faz parte do processo a interação entre diferentes grupos para além de suas 
fronteiras nacionais, de forma a resolver problemas comuns (HAAS, 2004). Desta forma, 
Haas define a integração política como a mudança de lealdades e das expectativas políticas 
de grupos em direção a um novo centro decisório, como órgãos supranacionais. Já o autor 
Andrew Moravcsik (1998) não foca na importância dos órgãos supranacionais, mas, sim, 
dos Estados. Nesta visão, os Estados são os atores centrais do processo de negociação e o 
processo avança através de negociações intergovernamentais, mais do que através de uma 
autoridade central que, caso exista, apenas toma e reforça decisões políticas já discutidas 
nas reuniões intergovernamentais (MORAVCSIK, 1998).
 
DICAS
72
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
 Hurrel (1995) auxilia a ter uma visão mais especificada do termo regionalismo, 
que pode ser entendido como a intensidade dacoesão social, econômica, política ou 
organizacional entre as unidades. Ele pontua cinco categorias que ao serem vistas em 
conjunto, ajudam no entendimento do que é regionalismo. A primeira é a ideia de 
Regionalização, caracterizando o aumento de circulação de pessoas e criações de canais 
de rede e comunicação, não necessariamente conduzidos de forma institucionalizada; a 
segunda categoria é a de Consciência e Identidades Regionais, com ênfase no discurso do 
regionalismo e nos processos políticos que procuram definir identidades em comum nas 
regiões; a terceira é a Cooperação Regional entre Estados, tanto formal como informal, que 
procuram responder aos desafios em comum dos países da região; A quarta é a Integração 
Econômica Regional Promovida pelo Estado, nesta existem decisões políticas de governo 
com o intuito de promover o comércio entre os atores, muitas vezes, eliminando barreiras 
comerciais; por fim, a quinta categoria é a de Coesão Regional, consolidando a formação de 
uma unidade regional coesa que acumula de maneira aprofundada as categorias anteriores 
(HURRELL, 1995).
 Logo, tanto a ideia de integração regional quanto a de regionalismo não devem 
ser entendidas de forma estanque. Dependendo de cada caso a ser estudado e analisado, a 
integração regional pode ter um viés mais econômico, sendo válidas as etapas propostas por 
Bela Balassa como ponto de partida. Da mesma maneira, dependendo do caso analisado, 
as definições de Deutsch, Haas, Moravcsik, entre outros, podem ser de fundamental 
relevância. Há também casos em que a definição de regionalismo e suas etapas, propostas 
por Hurrel, são extremamente válidas. Desta forma, de acordo com Mariano (2015), os 
processos de integração regional, bem como os casos de regionalismo, podem se originar 
por diversas motivações, logo, cada iniciativa tem seus motivos e impulsos. Nesse sentido, 
a integração regional é também uma cooperação entre países, mas que pode gerar 
mudanças e transformações institucionais entre ele, e, portanto, é mais ampla que uma 
mera cooperação regional (MARIANO, 2015).
FONTE: Disponível em: <http://observatorio.repri.org/artigos/glossary/integracao-regional-
e-regionalismo/>. Acesso em: 23 out. 2019. 
Para ilustrar o conceito de integração regional, vamos examinar alguns 
aspectos relacionados ao processo de integração regional da Amazônia, que 
a partir do ano de 1980 vai ser expressa a nova geopolítica das corporações 
transnacionais, configurando-se como uma nova fronteira para o século XXI. 
Com relações do Estado com empresas públicas e privadas, para apropriação 
do espaço, iniciada e marcada pelo Programa Grande Carajás: constituído pela 
implantação de grandes projetos de exploração mineral (BECKER, 2012). 
O papel do estado se amplia, para ser compatível com a nova escala 
de mobilização de recursos prevista: a) institucionaliza uma nova 
esfera de poder em 1980 (o Conselho Interministerial do PGC, junto à 
SEPLAN), diretamente vinculada ao novo governo central; b) cria um 
novo território (90 milhões de ha) superposto a parte dos territórios 
do Pará, Goiás e Maranhão; c) implanta a infraestrutura básica para a 
produção do espaço transnacional: o sistema viário logístico global e 
um novo tipo de rede, a hidrelétrica, que produz o insumo básico para 
a produção da alumina e do alumínio (BECKER, 2012, p. 141). 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
73
E ao longo do tempo inicia um projeto de modernidade no Brasil, com 
efeitos de homogeneização tecnológica da sociedade e do espaço nacionais, com 
planos e projetos governamentais que aceleram a modernização econômica, 
espacial e do Estado. Com isso, vemos a consolidação de uma industrialização 
orientada para as necessidades nacionais, permitindo a entrada de novos atores, 
formando a tecnoburocracia, e a classe médias nas cidades, intensificando o 
processo de urbanização e metropolização brasileira. 
Novos atores sociais entram em cena, alterando o conteúdo da 
sociedade nacional – forma-se a tecnoburocracia e a classe média 
nas cidades, subsidia-se a formação de empresários rurais e, em 
menor escala, de produtores capitalizados médios e pequenos; um 
verdadeiro substratum de população móvel é formado a através de 
políticas explícitas e implícitas, para atender à imposição de uma nova 
ordem espacial, que estimula a formação de polos de investimento 
na escala nacional, unificando-se o mercado de trabalho nacional à 
custa da desterritorialização de pequenos produtores rurais, de seu 
fracionamento social e forte impacto na cultura regional. Expande-se 
a fronteira e intensifica-se sobremaneira o processo de urbanização e 
metropolização. Todo o crescimento, contudo, se fez sem distribuição 
da renda e deixando pelo menos um terço da população brasileira à 
margem dos benefícios por ele trazidos (BECKER, 2012, p. 142). 
O termo tecnoburocracia, refere-se à ideia de um modelo de governabilidade 
funcional, que busca soluções mais eficientes possíveis do ponto de vista técnico, 
responsáveis pelo Estado e pela população.
NOTA
E a modernização do Estado se impõe em uma malha sociopolítica viva, 
que passa por uma transformação constante. Neste espaço de modernização 
vemos a tendência de um projeto privado para o território, sendo assim, um 
dos efeitos desde projeto geopolítico da modernidade, implantando de forma 
autoritária, e constando com o crescimento do Estado e não da nação. Becker 
(2012, p. 143), salienta que se forma um Estado moderno, mas “com a repressão 
à centralização da decisão e da informação, à exclusão de grande parcela da 
população da modernidade imposta, às formas violentas de reapropriação do 
espaço e que resultam na crise do projeto e do próprio Estado”. 
A consolidação do Geopolítico do Brasil demonstra que “a Geopolítica 
é uma expressão e um instrumento das relações de poder atuantes na produção 
do complexo espaço global contemporâneo e que seu resgate é um instrumento 
que amplia a leitura e a compreensão desse processo” (BECKER, 2012, p. 144). 
Portanto, vemos que a relação de poder econômico, político, ideológico com o 
espaço, ocorre de forma imperativa estratégica, variando no tempo e espaço. 
74
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
No espaço, em decorrência das especificidades da organização social 
em várias escalas; no caso dos Estados, desenvolvem eles geopolíticas 
nacionais que correspondem a vias específicas para a modernidade, 
como o Brasil que seguiu uma via autoritária em que cresceu o Estado, 
mas não a Nação, em que o país assumiu feições de país central, mas 
sem perder as de país periférico, como a URSS, que hoje caminha para 
a Perestroika etc. (BECKER, 2012, p. 144).
Como vemos, o Estado é histórico a organização da sociedade, mas no 
decorrer do espaço e tempo, se transforma criando novas formas e contextos, 
coerentes a novas estratégias. Para Becker (2012), em vários de seus estudos, 
entende o Estado como uma grande empresa, ampliando sua visão para os 
movimentos de privatização e estatização, e que inclui o Estado como ator 
fundamental participante. 
Hoje, essa visão, a partir do Brasil, se amplia: sua fragmentação está 
associada a um movimento de “privatização/estatização” que parece 
muito amplo e complexo, na medida em que incluem o próprio Estado 
como ator participante. É certo que as grandes empresas privadas 
com autonomia crescente assumem funções governamentais, tal 
como exposto em nosso conceito de gestão, configurando-se como 
verdadeiros Estados dentro do Estado. Mas, num sentido inverso, 
embora o Estado-Nação deixe de ser a unidade econômica da realidade 
histórica, o Estado recompõe sua intervenção como ator econômico 
internacional, competindo com o setor privado, segundo uma 
estratégia que concentra esforços no setor industrial, particularmente 
o bélico (BECKER, 2012, p. 145). 
Neste conjunto complexo de configuração, surge o próprio Estado que 
se privatiza, como verdadeira corporação formada no seio do Estado,se torna o 
Estado Corporado, respondendo a não mais o aparelho do Estado e a sociedade, 
mas a grandes empresas estatais, que tem autonomia e lógica empresarial, como 
exemplo PETROBRAS, EMBRAER, CVRD, ELETROBRAS (BECKER, 2012). 
Dessa forma, é nítido o processo da gestão privada dos espaços nacionais.
 
No entanto, deve ser lembrado que todo esse processo, representa 
interesses minoritários, passando bem longe dos reais interesses da sociedade 
brasileira em sua totalidade. Contando com a mídia massiva que legitima as 
práticas do Estado e da elite nacional, que é a verdadeira beneficiária de todo 
o projeto, desde a modernização ao o Estado corporado. E com todas essas 
contradições, inicia um novo conflito e novas tensões entre todos os atores sociais, 
econômicos, políticos e culturais, cada um defendendo suas práticas políticas com 
articulações convencionais e logicas próprias, em níveis espaciais que configuram 
o complexo Estado contemporâneo. 
No território, de um ponto de vista social, que os atores e agentes procuram 
um movimento de outra ordem, com a lógica mais profundamente na resistência 
e no contrapoder, exigindo contraespaços/tempo (BECKER, 2012). Nesta escala 
local, como exemplo, trazemos a defesa do território pela demarcação da Terra 
Indígena, que é uma luta grande contra os grandes proprietários de terra. 
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
75
A demarcação da Terra Indígena tem objetivo de garantir o direito indígena à 
terra, estabelecendo a real extensão da posse indígena, assegurando a proteção dos limites 
demarcados e impedindo a ocupação por terceiros. 
 Para complementar seus estudos, assista ao vídeo disponível no link a seguir, que 
discorre sobre Terras indígenas: por que tanta resistência? FONTE: https://www.youtube.
com/watch?v=UFmxlbttdEw.
INTERESSA
NTE
FIGURA 23 – ENTREVISTA SOBRE INVASÕES EM TERRAS INDÍGENAS 
FONTE: <https://www.conversaafiada.com.br/brasil/relatorio-contabiliza-160-invasoes-a-terras-
indigenas-em-2019/Indios.jpg/@@images/d5b71be0-f4a5-491d-b43a-7e840a8a753e.jpeg>. 
Acesso em: 2 out. 2019. 
76
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
Entrevista	sobre	invasões	em	terras	indígenas
Em entrevista à TV Afiada, Sonia Guajajara falou sobre o aumento 
dos ataques contra as terras indígenas desde a eleição de Jair Bolsonaro. 
Principalmente, sobre os crimes ambientais e as invasões de grileiros e 
garimpeiros.
Segundo a ativista – uma das mais importantes lideranças indígenas do 
Brasil atualmente – as declarações do presidente Jair Bolsonaro a respeito do 
meio ambiente e dos povos indígenas – como os recentes ataques ao cacique 
Raoni ou as críticas sem fundamento às demarcações de reservas – servem 
como um incentivo aos ataques e garantia de impunidade. Essa posição é 
compartilhada, também, por outros grupos dedicados à defesa dos direitos 
das populações originárias.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), grupo ligado à Conferência 
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou, na terça-feira (24/09), em 
Brasília, a nova edição do relatório "Violência contra os Povos Indígenas do 
Brasil".
Entre 2017 e 2018, o número de ataques a áreas indígenas cresceu de 
96 para 109. Entretanto, com a explosão da quantidade de registros desse tipo 
de ocorrência neste ano, o CIMI decidiu divulgar também dados preliminares: 
até setembro de 2019, o estudo contabilizou 160 casos de invasão em 153 terras 
indígenas de 19 estados.
Segundo o CIMI, as invasões agora seguem um novo padrão: os 
criminosos estabelecem bases dentro das próprias terras indígenas para 
demarcar lotes irregulares, derrubada ilegal de madeiras nobres ou abertura 
de pastagens e garimpos.
"Esses números mostram as consequências do discurso do presidente. 
Há um grande avanço das ocupações, as queimadas são um retrato disso", 
disse o presidente do CIMI, D. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, 
em entrevista à Piauí.
Na última terça-feira, o presidente Bolsonaro voltou a atacar os direitos 
da população indígena e a defesa do meio ambiente: segundo o Jair Messias, "o 
interesse na Amazônia não é no índio, nem na porra da árvore, é no minério"...
FONTE: <https://www.conversaafiada.com.br/brasil/relatorio-contabiliza-160-invasoes-a-
terras-indigenas-em-2019>. Acesso: 2 out. 2019.
TÓPICO 3 | GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
77
Vídeo sugerido para debate: Ao Sul da Fronteira
 Sinopse: O diretor Oliver Stone viaja por seis países da América do Sul e Cuba, em 
uma tentativa de compreender o fenômeno que levou esses países a terem governos de 
esquerda na primeira década do século XXI. Em conversas com Hugo Chávez (Venezuela), 
Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Fernando 
Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador) e Raul Castro (Cuba), é analisado o modo como a 
mídia acompanha cada governo e a maneira como esses governos lidam com os Estados 
Unidos e órgãos mundiais como o FMI.
 Orientações de utilização para objetivo do conteúdo: o documentário pode 
esclarecer e elucidar alguns dos mitos criados pela mídia, desmascarando as mentiras 
noticiadas frequentemente, trazendo uma mensagem de esperança para o surgimento 
de sociedades mais justas e equânimes. Pode servir, ainda, como discussão do tema 
da Integração Latina Americana, que está atualmente embasada no fortalecimento do 
MERCOSUL, da UNASUL (União das Nações da América do Sul) como foi tratado no texto.
DICAS
78
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO
LEITURA COMPLEMENTAR
GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI
BRAZILIAN POLITICAL GEOGRAPHY AND GEOPOLITICAL IN THE 
21ST CENTURY
Gutemberg de Vilhena Silva et Hervé Théry
Refletir sobre o pensamento geopolítico brasileiro em termos históricos 
nos faz recordar os estudos pioneiros de Everaldo Backheuser (1926; 1933; 1952), 
Mário Travassos (1935) e vários outros autores que edificaram tal pensamento no 
Brasil em consonância e de maneira adaptada com as grandes teorias geopolíticas. 
Inclusive, este país foi um dos pioneiros a produzir estudos geopolíticos strictu 
sensu no mundo (Miyamoto, 1981). De maneira imediata, e em certa medida 
objetiva e pragmática, avaliar o sobre o pensamento geopolítico brasileiro nos 
reporta aos escritos dos generais da época da ditadura militar deste país (1964-
1985), em especial aos estudos de Golbery do Couto e Silva (1957; 1967; 1981) e 
de Carlos de Meira Mattos (1975; 1977; 1980). Sem negar o uso histórico e factual 
muito ideológico feito com a palavra geopolítica e o peso que ela carregou durante 
muito tempo no mundo e no Brasil, devemos, no entanto, pôr os episódios que a 
relegaram a um estreito sentido de conhecimento produzido para a guerra e para 
o determinismo social e geográfico. Hoje, por exemplo, a geopolítica brasileira se 
“civilizou” (no sentido etimológico do termo), ao passar de um “conhecimento” 
eminentemente militar aos civis, como se vê, por exemplo, nos congressos 
CONGEO (Congressos de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território), 
nas reuniões da ABED (Associação brasileira de estudos de defesa), em dossiês 
organizados no Brasil e revelou-se produtora de uma série de textos em múltiplos 
caminhos, tendências e escalas.
A Geografia Política por seu turno ganhou destaque nos estudos geográficos 
brasileiros com os trabalhos produzidos por Bertha Becker nos anos 1970 em 
diante, mesmo que a autora tenha transitado também com bastante intensidade 
em escritos geopolíticos. Na última década do século passado autores como 
Lia Machado (2005; 2010; 2011), Iná de Castro (2005) e Wanderley Costa (1991; 
1992; 1995) também tomaram a dianteira e elaboraram vários estudos científicos 
de destaque na produção nacional. Neste século XXI, a relação entre espaço e 
política, alicerce da Geografia Política, e a interface entre espaço e poder, pilar da 
Geopolítica, têm sido repensadas na produção intelectual brasileira. No presente 
trabalho, nosso intuito éreunir textos que representem uma amostra da produção 
de pesquisadores brasileiros, tomando por eixos norteadores a Geografia Política 
e a Geopolítica. No entanto, nos pareceu necessário situar primeiro as pesquisas 
nestes dois campos na evolução da pesquisa brasileira nos últimos vinte anos, ou 
seja, na transição do antigo para o novo século.
FONTE: Gutemberg de Vilhena Silva et Hervé Théry. Geografia Política e Geopolítica Brasileira no 
século XXI, L’Espace Politique [En ligne], 31 | 2017-1, mis en ligne le 04 avril 2017. Disponível em: 
URL: http://journals.openedition.org/espacepolitique/4116. Acesso em 23 out. 2019.
79
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A geopolítica científica brasileira surgiu nos anos 30 do século XX, com vistas 
a fortalecer o Estado Nacional.
• A expansão territorial brasileira inicia com a ampliação dos limites do território.
• O Brasil passa por um projeto geopolítico de modernidade. 
• O exercício do poder sobre o território é responsabilidade partilhada da União 
(poder central), dos Estados (unidades da federação) e dos Municípios (poder 
local), uma estrutura federativa. 
• O Estado brasileiro é um líder que tem a função de paymaster, consideramos 
que Brasil vai desempenhar a liderança como potência regional. 
• O tema integração nacional, no caso brasileiro, sempre esteve em primeira 
discussão, bem como um projeto político: as formas de ocupação do território 
(mudança da Capital Federal), proteção das fronteiras terrestres, comunicações 
viárias, e a divisão territorial. 
• A Amazônia se configura como uma nova fronteira par o século XXI, iniciada 
e marcada pelo Programa Grande Carajás. 
• O Estado é histórico a organização da sociedade, mas no decorrer do espaço 
e tempo, se transforma criando novas formas e contextos, coerentes a novas 
estratégias.
• O Estado se transforma, existem no território os atores e agentes que surgem 
com o movimento de contrapoder e contraespaços.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
80
1 (SANTOS, 2017) Nessa conjuntura, a relação geopolítica do Brasil com 
os países da América do Sul aponta que não prevalece mais o quadro 
de concorrências entre os Estados Nacionais. Com a redemocratização 
e a decisão pela integração regional, constituíram se novas bases para as 
estratégicas dos Estados-Nacionais. Os impactos gerados nos sistemas de 
negociações acarretavam atritos nas relações de vizinhança. Atribui-se uma 
natureza civil aos procedimentos de elaboração das políticas de defesa 
nacional cujas finalidades fundamentam-se no direito internacional. Nesse 
sentido, a geopolítica do Brasil acoplou-se à da América do Sul. 
FONTE: <https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/5448/1/JULIANA_SOUTO_SANTOS.pdf>. Acesso 
em: 18 out. 2019. 
Com relação ao exposto no texto, assinale a opção INCORRETA:
a) ( ) A relação Geopolítica do Brasil com a América do Sul aponta que não 
prevalece mais as concorrências entre os Estados Nacionais.
b) ( ) Neste fragmento há a afirmação de que a nova Geopolítica brasileira 
congregou a sua relevância no contexto regional. 
c) ( ) Inicia a negociação entre as entidades nacionais, como o Mercado 
Comum do Sul (MERCOSUL) e a União das Nações Sul-Americanas 
(UNASUL).
d) ( ) Ao ingressar no século XXI, ocorreram debates sobre a brasilidade nos 
círculos geográficos, haja vista a consolidação do Estado-Nacional.
2 O pacto federativo fundador do Estado republicano brasileiro permitiu, nas 
décadas iniciais de sua implantação. Com relação às situações contraditórias, 
assinale a alternativa CORRETA: 
a) ( ) A convivência com a descentralização, que apenas em curtos períodos 
da história, como aquele entre a implantação da República e a Revolução 
de 1930, foi mais brando.
b) ( ) Longos períodos de poder econômico, político e social. 
c) ( ) O mandonismo local, que recentemente vem tendo o seu poder 
reduzido.
3 O Brasil se destaca como potência regional, EXCETO: 
a) ( ) A população brasileira é a maior da região, correspondendo a quase 
50% da população sul-americana. 
b) ( ) Abundância em recursos naturais, como florestas, recursos hídricos, 
petróleo, gás natural e minerais, terras férteis para a agricultura e 
enorme biodiversidade.
AUTOATIVIDADE
81
c) ( ) Faz fronteira com todos os países sul-americanos, com exceção do Chile 
e do Equador. 
d) ( ) Brasil possui uma localização geográfica privilegiada, com acesso ao 
Pacífico e o seu litoral se estende por mais de 7.000 quilômetros. 
e) ( ) Indicadores econômicos expressivos. O PIB brasileiro é o maior da 
região. 
4 Estabeleça as diferenças dos conceitos: territorialidade e gestão do território. 
82
83
UNIDADE 2
GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO 
CONTEMPORÂNEO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
• conhecer as transformações e a evolução do fenômeno globalização, suas 
origens, limites e variadas abordagens;
• compreender as relações do Estado e o território, processo em que o papel 
do Estado aparece enquanto regulador;
• reconhecer que o território é habitado por distintas ações e objetos, ele é 
configurado por um conjunto de agentes que modificam e modelam seu 
espaço;
• identificar os elementos constitutivos do Estado, bem como suas 
transformações frente à nova geopolítica mundial e quais seus discursos 
e práticas; 
• estudar e compreender a constituição da Biopolítica e do Biopoder, frente 
às discussões de seu pensador Michel Foucault.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
TÓPICO 2 – A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO 
DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
84
85
TÓPICO 1
GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na atualidade, a globalização se tornou um grande tema de discussão 
dentro da Geografia Política, pois é um fenômeno que transformou e altera nosso 
espaço geográfico até aos dias de hoje. Nesta unidade, apresentaremos uma breve 
discussão sobre a globalização e sua consequência frente à nova ordem mundial 
dos Estados, com suas fronteiras e a segregação do território. 
Esta disciplina envolve teorias da geografia política e da globalização, as 
origens, os limites, o Estado, as fronteiras e a segregação do território. Esperamos 
que você, acadêmico, tenha uma noção da complexidade envolvida no conceito 
de globalização e, ainda, tenha noção dos prós e contras desse processo para o 
desenvolvimento das nações. Por fim, esperamos que você saiba compreender as 
transformações existentes no território e na formação do Estado. 
2 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GLOBALIZAÇÃO
"O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo senão como 
metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há um espaço mundial. Quem 
se globaliza mesmo são as pessoas" (SANTOS, 1993, p. 16).
Iniciaremos este tópico com uma breve discussão sobre o tema globalização, 
lembrando que o assunto foi muito discutido pelo geógrafo Milton Santos. Entre 
esses estudos desenvolvidos com as mais várias abordagens e temáticas, destacam-
se: os aspectos econômicos, como o papel das empresas na internacionalização do 
capital, desenvolvendo críticas e teorias do mundo contemporâneo. 
Neste contexto, a globalização é um processo que possibilita a formação de 
uma tendência de relações culturais, econômicas, políticas e sociais, aprofundadas 
através das técnicas de informação, ciência e comunicação entre os atores políticos 
globais e entretoda a sociedade. Segundo Bezerra (2019), está caracterizada como: 
• Integração social, econômica e política.
• União de mercado mundial (relações comerciais e financeiras).
• Fortalecimento das relações internacionais.
• Aumento da produção e do consumo de bens e serviços.
• Avanço tecnológico e dos meios de comunicação.
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
86
• Instantaneidade e velocidade das informações (por exemplo, via internet).
• Aumento da concorrência econômica e do nível de competição.
• Surgimento dos blocos econômicos e desaparição das fronteiras comerciais.
• Ampliação do uso de máquinas na execução de tarefas.
• Crescimento da economia informal.
• Valorização de mão de obra qualificada.
• Privatização de empresas estatais.
A globalização tem sua origem por um longo processo de evolução da 
tecnologia e de seu uso, com formas espaciais específicas. A sua propagação 
ocorreu através da imprensa financeira internacional, na década de 1980. Assim, 
sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos, Ribeiro (2002, p. 1) 
corrobora para o fato: 
A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa 
financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, 
muitos intelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de 
novas tecnologias na área de comunicação, como satélites artificiais, redes 
de fibra ótica que interligam pessoas por meio de computadores, entre 
outras, que permitiram acelerar a circulação de informações e de fluxos 
financeiros. Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras 
e de investimentos pelo mundo afora. Além disso, ela foi definida como 
um sistema cultural que homogeneíza, que afirma o mesmo a partir 
da introdução de identidades culturais diversas que se sobrepõem aos 
indivíduos. Por fim, houve quem afirmasse estarmos diante de um 
cidadão global, definido apenas como o que está inserido no universo do 
consumo, o que destoa completamente da ideia de cidadania. 
Apresenta-se, então, a globalização baseada na política, segundo as 
categorias tempo e espaço, como um sistema mundo, como um paradigma para 
a ação, refletindo nos Estados-Nação, exigindo um protecionismo, para alguns 
teóricos, a globalização requer protecionismo estatal, enquanto outros, privilegiam 
práticas comerciais com menor intervenção do Estado, que em tese se contradiz 
com a demanda "livre e global" apregoada pelos liberais de plantão, evidenciando 
a perversidade e os conflitos existentes na globalização (RIBEIRO, 2002). 
O conceito de paradigma entende-se como: teorias, normas, metodologias, 
regras, técnicas e, sobretudo, consenso sobre algo.
NOTA
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
87
A globalização é discutida, segundo as categorias tempo/espaço, no 
âmbito do sistema-mundo, na pós-modernidade e à luz dos conceitos 
de nação, mercado mundial e lugar. Tornado paradigma para a ação, 
a globalização reflete nos Estados-nação. Porém, ao olhar para o lugar, 
para onde as pessoas vivem seu cotidiano, identifica-se o lado perverso 
e excludente da globalização, em especial quando os lugares ficam 
nas áreas pobres do mundo. Ao reafirmar o mesmo, a globalização 
econômica não consegue impedir que aflorem os outros, resultando em 
conflitos que muitos tentam dissimular como competitividade entre os 
Estados-nação e/ou corporações internacionais, sejam financeiras ou 
voltadas à produção. A globalização é fragmentação ao expressar no 
lugar os particularismos étnicos, nacionais, religiosos e os excluídos 
dos processos econômicos com objetivo de acumulação de riqueza ou 
de fomentar o conflito (RIBEIRO, 2002, p. 2). 
Estado-nação: é uma porção do espaço geográfico com características 
políticas, administrativas e econômicas particulares, e do ponto de vista da Geografia 
Política, o Estado está caracterizado pelo seu território.
NOTA
Como podemos definir o processo de globalização? Quais são as suas 
consequências para o Estado, para a geografia política e o território na atualidade?
De acordo com Ribeiro (2002), o processo de globalização está vinculado 
nas transformações e na predominância da competição desenfreada por mercados 
e tecnologias com a busca incessante por recursos naturais e a intensa exploração 
do trabalhador, mesmo diante da diminuição de postos de trabalho. 
Pode-se perceber na obra de Milton Santos, uma busca ao pensamento 
crítico a esse processo da vida contemporânea. Poderíamos pensar em: 
• Globalizar o conhecimento e seu uso.
• Definir a inserção dos lugares em uma rede de relações humanas de modo a 
valorizar a singularidade em meio à totalidade.
• Viver um mundo mais solidário (RIBEIRO, 2002).
Essas possibilidades de pensar, representar e propor relações humanas 
caminham na contramão da história. Santos, em várias passagens de seus livros 
e artigos ele afirmou pretender construir um mundo diferente daquele em que 
vivemos. Todas as obras de Milton Santos contribuíram para entender o fenômeno 
da globalização. Em um dos seus livros ele chegou a propor outra globalização, 
baseada na solidariedade, embora reconhecesse que ela afetou a cultura atual. 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
88
Propondo, ao final de sua vida, uma globalização solidária, baseada em outros 
valores que a da hegemônica. Estas ideias são tratadas em um diálogo com autores 
que também estudaram a globalização e suas consequências (RIBEIRO, 2002). 
Com isso, apresentamos três formas de análise do autor, tratada em sua 
dimensão cultural, econômica e por fim, solidária, promovendo um diálogo com 
outros autores que trataram do tema.
FIGURA 1 – TRÊS FORMAS DE ANÁLISE SOBRE GLOBALIZAÇÃO
FONTE: (RIBEIRO, 2002, p. 2)
Na globalização e cultura, Milton Santos entende que a globalização parte 
da dimensão que "cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de 
uma razão local, convivendo dialeticamente" (SANTOS, 1996, p. 273). Portanto, “a 
importância de estudar os lugares reside na possibilidade de captar seus elementos 
centrais, suas virtudes locacionais de modo a compreender suas possibilidades de 
interação com as ações solidárias hierárquicas” (RIBEIRO, 2002, p. 2). 
Santos entende que "o homem vai impondo à natureza suas próprias 
formas, a que podemos chamar de formas ou objetos culturais, artificiais, 
históricos" (SANTOS, 1988, p. 89). 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
89
O processo de culturalização da natureza torna-se, cada vez 
mais, o processo de sua tecnificação. As técnicas, mais e mais, vão 
incorporando-se à natureza e esta fica cada vez mais socializada, 
pois é, a cada dia mais, o resultado do trabalho de um maior número 
de pessoas. Partindo de trabalhos individualizados de grupos, hoje 
todos os indivíduos trabalham conjuntamente, ainda que disso não 
se apercebam. No processo de desenvolvimento humano, não há uma 
separação do homem e da natureza. A natureza se socializa e o homem 
se naturaliza (SANTOS, 1988, p. 89).
A tecnificação a que Santos se refere, permite um meio-técnico-científico 
internacional "no qual a construção ou reconstrução do espaço se dará com um 
conteúdo de ciência e de técnica" (SANTOS, 1991, p. 11), formando uma paisagem 
estética, como entende e exemplifica Ribeiro (2002, p. 3): 
Um tecido urbano que contém valores culturais transpassados pela 
afirmação do mesmo, que oprimem o singular, sintetizados, por 
exemplo, em formas urbanas reproduzidas a partir de modelos de 
arquitetura oriundos de países hegemônicos, uma das críticas às 
cidades contemporâneas, como aponta o geógrafo espanhol Horacio 
Capel (2001). Isso é facilmente observável na paisagem de São Paulo, 
uma megacidade brasileira localizada em plena faixa tropical, na qual 
identificam-se milhares de prédios envidraçados, tal qual preconiza a 
arquitetura de países temperados. Ora, os ambientes produzidos por 
tal concepção resultam extremamente quentes, gerando a necessidade 
do uso de aparelhos para resfriar o ar, aumentando o consumoenergético. Seria muito mais simples edificar prédios segundo a boa 
arquitetura colonial brasileira, com seus tetos elevados e amplas 
janelas que permitem desde a entrada de luz natural, abundante nos 
trópicos, quanto a circulação do ar, refrescando o ambiente. Mas o 
esteticismo a que se refere Jameson prevalece e a paisagem paulistana 
aquece quem vive nela. 
 
Na globalização econômica, Santos (1994) analisa e se interessa no fluxo 
que o sistema de objetos se permite fluir e como se conduz na forma de espaço 
geográfico. O espaço geográfico é uma funcionalização da globalização, sendo 
construído de acordo com as demandas de quem o idealiza, para permitir fluir 
suas necessidades. Entende que o espaço geográfico é um "conjunto indissociável 
de sistemas de objetos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas 
ou não" (SANTOS, 1994, p. 49). Assim, o espaço geográfico viabiliza a globalização, 
dado que ele materializa três de seus pressupostos: 
•	 A	unicidade	técnica: compreendida como a capacidade de instalar qualquer 
instrumento técnico produtivo em qualquer parte do mundo.
• A convergência dos momentos: é possibilitada pela unificação técnica, pela 
capacidade de comunicação em tempo real.
• A unicidade do motor: é a direção centralizada, exemplificada pela direção do 
mundo econômico e das finanças pelos executivos que atendem aos interesses 
dos donos das empresas transnacionais e do sistema financeiro internacional 
(SANTOS, 1994)
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
90
Santos enfatiza que existe um "mercado hierarquizado e articulado pelas 
firmas hegemônicas, nacionais e estrangeiras que comandam o território com 
apoio do Estado" (SANTOS, 1991, p. 13). Contudo, Ribeiro (2002) compreende 
que Santos reconhece uma subordinação aos imperativos externos: 
Os recursos totais do mundo ou de um país, quer seja o capital, a 
população, a força de trabalho, o excedente etc., dividem-se pelo 
movimento da totalidade, através da divisão do trabalho e na 
forma de eventos [...]. Cada momento histórico [...] acarreta uma 
diferenciação no interior do espaço total e confere a cada região ou 
lugar sua especificidade e definição particular. Sua significação é dada 
pela totalidade de recursos (SANTOS, 1996, p. 131).
Deste modo, Ribeiro (2002, p. 5) aponta que “conhecer os recursos e 
potencialidades de um estado-nação passam a ser vitais para a inserção no cenário 
da globalização relacionada à esfera do capital". 
O capitalismo se defronta com sua própria criatura, ou seja, quanto 
mais se mundializa valor, mais necessários se tornam os mecanismos 
nacionais e, mesmo, regionais, em alguns casos. A atual centralização 
descentralizada do Globo tem algo a ver com isso. De uma parte, a 
centralização dá origem ao seu contrário: os movimentos separatistas 
e regionalistas. De outra, obriga a formação de grandes alianças 
territoriais, ampliando espacialmente os mercados (SILVA, 1993, p. 77).
Neste tipo de ordem, as relações sociais contemporâneas apontadas 
por Ribeiro (2002) e Silva (1993) produzem arranjos, como os blocos de alguns 
países: a União Europeia, o Mercosul, o Nafta, entre outros, que buscam ampliar 
o território apenas para a circulação de mercadorias, restringindo o fluxo de 
pessoas ao limite do desejável. Portanto, Santos (1996, p. 271) nos alerta que: 
Não existe um espaço global, mas, apenas, espaços da globalização. 
O Mundo, porém, é apenas um conjunto de possibilidades, cuja 
efetivação depende das oportunidades oferecidas pelos lugares. Mas 
o território termina por ser a grande mediação entre o Mundo e a 
sociedade nacional e local, já que, em sua funcionalização, o ‘Mundo’ 
necessita da mediação dos lugares, segundo as virtualidades destes 
para usos específicos. Num dado momento, o ‘Mundo’ escolhe alguns 
lugares e rejeita outros e, nesse movimento, modifica o conjunto dos 
lugares, o espaço como um todo. É o lugar que oferece ao movimento 
do mundo a possibilidade de sua realização mais eficaz. Para se tornar 
espaço, o Mundo depende das virtualidades do Lugar. 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
91
Você se recorda qual é o significado da palavra virtualidade?
 
 O termo virtualidade significa algo que existe em potência e não em ato, resgatando 
a sua terminologia da escolástica medieval, o termo virtual vem de virtus, que significa 
força, potência. Indicamos, para a leitura mais aprofundada do tema, o artigo intitulado “Os 
sentidos do termo virtual em Pierre Lévy”, do autor Galvão (2017). 
FONTE: GALVÃO. C. L. Os sentidos do termo virtual em Pierre Lévy. Revista Filosofia da 
informação, Rio de Janeiro, v. 3 n. 1, p. 108-120, fev. 2017.
NOTA
Quando Milton Santos aponta a globalização solidária, ele estava 
preocupado em construir um caminho metodológico capaz de congregar pessoas 
em escala internacional, conduzidas pela solidariedade, em prol da cidadania, 
tornando os consumidores cidadãos (RIBEIRO, 2002). 
Quem seria, então, o cidadão para Milton Santos? "O cidadão é 
multidimensional. Cada dimensão se articula com as demais na 
procura de um sentido para a vida. Isso é o que dele faz o indivíduo 
em busca do futuro, a partir de uma concepção de mundo" (SANTOS, 
1987, p. 41-42). Poder projetar o futuro, vislumbrar perspectivas dignas 
da existência, poder expressar sua maneira de entender o mundo, por 
meio de crenças, manifestações culturais e práticas sociopolíticas, 
com qualidade de vida, isto é, habitando um ambiente agradável e 
sustentável, provido de água, calor e energia na medida adequada, 
com assistência médica e alimento de qualidade são características 
que sintetizariam o cidadão do mundo contemporâneo, em meu 
entendimento. Neste sentido, não há cidadão no mundo entre os 
que apregoam os valores da sociedade ocidental, ocaso e criação da 
cidadania (RIBEIRO, 2002, p. 6). 
Sobre o movimento das relações humanas, Milton Santos idealizava 
construir bases na solidariedade, revisando a globalização, com mais humanidade:
 
Essa é a proposta do geógrafo baiano: alterar o uso da base técnica 
criada para a circulação de capital para veicular valores humanos, 
para permitir uma efetiva integração de laços culturais distintos que 
permitam a construção do "acontecer solidário", como definiu. Enfim, 
Milton Santos queria um mundo diferente. Sua visão otimista do futuro 
é expressa no trecho: "Não cabe, todavia, perder a esperança, porque os 
progressos técnicos [...] bastariam para produzir muito mais alimentos 
do que a população atual necessita e, aplicados à medicina, reduziriam 
drasticamente as doenças e a mortalidade. Um mundo solidário 
produzirá muitos empregos, ampliando um intercâmbio pacífico entre 
os povos e eliminando a belicosidade do processo competitivo, que 
todos os dias reduz a mão de obra. É possível pensar na realização de 
um mundo de bem-estar, onde os homens serão mais felizes, um outro 
tipo de globalização (SANTOS, 2002, p. 80 apud RIBEIRO, 2002, p. 6).
 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
92
Por fim, compreende as rugosidades, como as marcas do tempo através 
do trabalho que instituem uma base material difícil de ser rompida. Indicando, 
por meio, de uma visão geográfica que a mudança poderia vir da política: 
As mudanças não virão "dos Estados Unidos ou da Europa. Virá dos 
pobres, dos ‘primitivos’ e ‘atrasados’, como nós, do Terceiro Mundo, 
somos considerados. Estas não poder vir das classes obesas. Estas não 
podem ver muito. São os pobres os detentores do futuro. O problema 
de todas as épocas é saber como vai se dar a ruptura. E as rupturas se 
deram antes que todos soubessem como elas iam se dar..." (SANTOS, 
2000a. p. 66).
Abordamos a visão do geógrafo professor Dr. Milton Santos, mas entendem-se 
que vários autores iram debater e compreender a globalização, mas com o olhar geográfico 
neste processo, Milton Santos foi e tem a grande contribuição para o entendimento deste 
fenômeno chamado globalização, por meio de várias obrasdedicadas a esse tema, bem 
como “O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade”.
 
 Vivemos em um mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto 
um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado 
o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os 
novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, 
também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, 
a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mundo físico 
fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo 
confuso e confusamente percebido. De fato, se desejamos escapar à crença de que esse 
mundo assim apresentado é verdadeiro, e não queremos admitir a permanência de sua 
percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num 
só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; o 
segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o 
mundo como ele pode ser: uma outra globalização.
FONTE: SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência 
universal. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 17-18.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
93
3 ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS
FIGURA 2 – QUEDA DO MURO DE BERLIN
FONTE: <http://entendendoaguerrafria.blogspot.com/p/charges.html>. Acesso em: 23 out. 2019.
A Charge da Figura 2 menciona o processo de globalização e faz referência 
a um momento que para alguns autores é entendido como o ponto de ruptura 
entre a nova e a velha ordem mundial: a queda do muro de Berlim. A queda 
da estrutura física simbolizou, na história, o fim de tudo aquilo que impedia o 
avanço sem fronteiras do capitalismo: a queda do socialismo. 
 
As grandes navegações europeias do século XVI e o imperialismo das 
grandes potências capitalistas dos séculos XIX e XX romperam essa 
situação e começaram a criar um mercado e uma sociedade globais. 
O termo globalização se refere, porém, a enorme aceleração desse 
processo nos últimos anos, quando a queda do bloco comunista abriu a 
última fronteira fechada ao capitalismo e a tecnologia de transportes e 
comunicações se desenvolveu a ponto de permitir o acesso instantâneo 
a todo o mundo (BERTONHA, 2006, p. 40). 
 
 E do ponto de vista geográfico, a intensificação da comunicação e 
circulação de mercadorias e pessoas foi fundamental para o funcionamento das 
relações entre os lugares, condicionando uma noção de progressiva redução do 
planisfério, conforme Figura 3. 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
94
FIGURA 3 – COMPRESSÃO ESPAÇO E TEMPO
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/as-caracteristicas-da-globalizacao/compressao-
espaco-tempo/>. Acesso em: 4 out. 2019.
1500-1840 A melhor média de velocidade 
das carruagens e dos barcos a vela 
era de 16 km/h.
1850-1930 As locomotivas a vapor 
alcançavam em média 100km/
hora, os barcos a vapor, 57km/h.
Anos 1950 Aviões e propulsão: 480-640 km/h.
Anos 1960 Jatos de passageiros: 800-11000 
km/h.
1500-1840
1850-1930
Anos 1950
Anos 1960
O que se apresenta na Figura 3 é a evolução dos meios de circulação, 
intensificando a circulação de mercadorias e pessoas, e com isso vai reduzindo 
as distâncias, realizando uma mudança na esfera política, econômica, social e na 
percepção de mundo. Surgindo várias teorias para o fenômeno de globalização, 
como nos apresenta Ianni (2007, p. 15-16): 
Há metáforas, bem como expressões descritivas e interpretativas 
fundamentadas, que circulam combinadamente pela bibliografia sobre 
a globalização: “economia-mundo”, “sistema-mundo”, “shopping 
Center global”, “Disneylândia global”, “nova visão internacional 
do trabalho”, “moeda global”, “cidade global”, “capitalismo 
global”, “mundo sem fronteiras”, “tecnocosmo”, “planeta terra”, 
‘’desterritorialização”, “miniaturização”, “hegemonia global”, “fim 
da geografia”, “fim da história” e outras mais. Em parte, cada uma 
dessas e outras formulações abrem problemas específicos também 
relevantes. Suscitam ângulos diversos de análise, priorizando aspectos 
sociais, econômicos, políticos, geográficos, históricos, geopolíticos, 
demográficos, culturais, religiosos, linguísticos etc.
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
95
Para entender e analisar o fenômeno da globalização, partiremos de 
algumas reflexões e apontamentos elaborados por Campos e Canavezes (2007) 
acerca de fatos, contextos e circunstâncias associados à globalização. Vamos aqui 
apresentar os exemplos elencados pelos autores dos diversos fatos, contextos e 
circunstâncias associados à globalização: 
a) da deslocalização de uma fábrica;
b) de grandes marcas de produtos desportivos, de cadeias alimentares etc.;
c) da utilização da internet;
d) dos produtos em um supermercado;
e) do funcionamento dos mercados (de trabalho, de capitais, de bens e serviços);
f) de problemas ambientais;
g) da competitividade das empresas;
h) das migrações internacionais;
i) do comércio internacional.
Notamos que a noção de globalização surge de vários domínios da vida 
e tem expresso em todas as grandes línguas do mundo, portanto, a noção de 
globalização nem sempre é clara, existindo em sentidos e usos muito diversos 
(CAMPOS; CANAVEZES, 2007). 
É, pois, importante clarificar a noção de Globalização. Um bom ponto 
de partida é nos atentarmos em diferentes discursos, aproximações e 
definições de globalização – oriundas não só do mundo acadêmico, 
mas também de organizações internacionais como a OIT e do mundo 
sindical. Deste modo, não fechamos a nossa visão sobre o fenômeno e 
podemos enriquecer a nossa noção com visões que, sendo diferentes, 
não são exclusivas, nem são necessariamente contraditórias entre si, 
podendo mesmo ser complementares e, sobretudo, convocam a debate 
diferentes dimensões e perspectivas sobre a Globalização (CAMPOS E 
CANAVEZES, 2007, p. 9). 
Os autores Campos e Canavezes (2007) consideram sete definições e formas 
de se definir a globalização, por meio do caráter multidimensional do processo; 
pela dimensão econômica da globalização e, em certos casos, associam o processo 
de globalização ao sistema econômico capitalista e à ideologia neoliberal; pelas 
dimensões políticas ou culturais que são particularmente sublinhadas; sublinham 
que se trata de um processo conduzido pelos homens; e por fim à globalização 
enquanto motor de um processo civilizacional, deixando implícita a sua naturalidade 
e inevitabilidade. E com esses pensamentos, os autores sublinham alguns aspectos 
comuns, por meio de seus entendimentos da globalização: 
• Trata-se de um processo à escala mundial, ou seja, transversal ao conjunto dos 
Estados-Nação que compõem o mundo. 
• Uma dimensão essencial da globalização é a crescente interligação e 
interdependência entre Estados, organizações e indivíduos do mundo inteiro, não 
só na esfera das relações econômicas, mas também em nível da interação social e 
política. Ou seja, acontecimentos, decisões e atividades em determinada região do 
mundo têm significado e consequências em regiões muito distintas do globo.
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
96
• Uma característica da globalização é a desterritorialização, ou seja, as relações 
entre os homens e entre instituições, sejam elas de natureza econômica, política 
ou cultural, tendem a desvincular-se das contingências do espaço.
• Os desenvolvimentos tecnológicos que facilitam a comunicação entre pessoas 
e entre instituições e que facilitam a circulação de pessoas, bens e serviços, 
constituem um importante centro nevrálgico da globalização. 
Para trabalhar com os diversos enfoques que a globalização reflete, estará 
no modo em que se pensa e define globalização, pois estamos em frente de um 
fenômeno complexo e abrangente, e, assim, estará este pensamento associado aos 
princípios, valores e visões demundo (CAMPOS E CANAVEZES, 2007, p. 11): 
O entendimento que se faz da globalização e dos seus impactos tem 
fortes implicações sobre as leituras possíveis do mundo contemporâneo, 
assim como sobre o papel dos homens e mulheres na sua construção e 
as suas possibilidades de atuação e de luta. Algumas perspectivas sobre 
a Globalização tendem a negar a possibilidade de intervir e governar 
o processo. A Globalização surge como uma entidade sagrada, do 
domínio estritamente econômico, que existe de um modo independente 
da atuação dos homens e mulheres e que deve ser aceite porque é 
inevitável. Nesta perspectiva a esfera política tende a ser secundarizada 
tanto nas suas responsabilidades pelo atual curso do processo de 
Globalização, como nas possibilidades de o regular ou alterar.
Portanto, Campos e Canavezes (2007) vão entender e sublinhar que nem 
todas as dimensões e consequências do processo de globalização estão dadas de 
uma vez por todas. A globalização é um processo em curso, dinâmico e mutável, 
e esclarecem suas concepções sobre ela: 
• A globalização tem uma história que se insere na trajetória do capitalismo e da 
economia de mercado.
• A globalização não é um fenómeno puramente econômico e tecnológico, é 
um processo complexo e multidimensional (envolvendo diferentes atores e 
tocando diversos âmbitos da vida dos homens e mulheres contemporâneos).
• A globalização não evolui de forma imparcial e os seus impactos podem e 
devem ser discutidos.
• Há um importante espaço para a atuação dos Estados-Nação, bem como para a 
intervenção individual e organizada das pessoas, com destaque para a atuação 
sindical. 
Partindo dessas abordagens desse grande tema de estudo, Costa (2010, 
p. 315) observa uma “multiplicidade de abordagens em Geografia Política e 
fora dela que reflete essa complexidade atual e aponta tendências e perspectivas 
bastante diversificadas”. Apoiando essa complexidade dos temas e problemas 
em Geografia Política, Castro (2005, p. 81) elenca que: 
 
O paradigma mais amplamente aceito por algumas correntes da 
Geografia política contemporânea, em que se examina a Globalização 
e seu impacto sobre localidades, encontra-se na teoria de sistemas-
mundo de Immanuel Wallerstein, com forte influência na elaboração 
da chamada “Nova Geografia Política”.
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
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Por consequência, vemos a globalização como uma matéria histórica, 
econômica, política e geográfica, sendo vista como complexa e articulada entre as 
múltiplas escalas de “ocorrência dos fenômenos políticos, nem sempre sincrônicos, 
e o modo como cada um reflete em escalas territoriais diferenciadas” (CASTRO, 
2005, p. 83). A partir das contribuições da autora, que considera os fenômenos 
políticos podem ser além de globais, nacionais, regionais ou locais, é necessário 
a Geografia política incorporar os fenômenos políticos, identificando os modos 
como eles se territorializam e recortam espaços significativos das relações sociais, 
dos seus interesses, solidariedades, conflitos, controle, dominação e poder 
(CASTRO, 2005). Portanto, vemos como é complexa, ampla e necessária a agenda 
dos debates nesta subárea do conhecimento.
4 ESTADO, FRONTEIRAS E SEGREGAÇÃO DO TERRITÓRIO
 [...] um dos principais papéis do Estado é mediar conflitos de interesses 
entre agentes-atores que expressam seu poder no território. Esse papel 
é exercido induzindo ações e agindo por meio de políticas públicas que 
contêm propostas voltadas para intervir sobre determinadas questões 
que constituem problemas da sociedade (STEINBERGER, 2013, p. 89).
Entretanto, as formas de poder são colocadas em pratica a partir de 
necessidades da população, onde essa necessidade é imposta muitas vezes 
pelo próprio Estado. Milton Santos (1982) evidência que o espaço reproduz a 
totalidade social na medida em que essas transformações são determinadas por 
necessidades sociais, econômicas e políticas. Silva (2009, p. 2) nos relata “tudo 
que está entrelaçado com temas do Estado ou a ele relacionados dá-se o nome de 
política”.
O Estado é definido como o soberano, aquele que está com o poder, uma 
organização social que detém o poder político. Bobbio (1986, p. 94) denomina 
que o Estado tem sido definido através de três elementos constitutivos “o povo, 
o território e a soberania”. Assim, o povo torna-se limite de validade pessoal 
do direito do Estado, onde este exerce seu poder. O poder político ao longo 
do tempo vai se identificando com o exercício da força, que para deter algo ou 
efeito desejado, tem direito de utilizar a força e se tornar o soberano do território. 
“Estado é o povo estabelecido territorialmente, que mantém sua soberania” 
(SILVA; BASSI, 2012, p. 23). 
Para os autores analisados, o Estado e a política têm em comum o fenômeno 
poder, Bobbio (1986) afirma que o “Estado” e a “política” têm em comum (e é 
inclusive a razão da sua intercambialidade) é a referência ao fenômeno do poder. 
Silva (2009, p. 2) nos relata que: 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
98
O Estado e a política têm em comum a referência ao poder. Não há 
teoria política que não parta, direta ou indiretamente, de uma definição 
de poder e de uma análise do fenômeno do poder. Assim, é no poder 
político, a princípio aquele que tem exclusividade do uso da força, mas 
não necessariamente a física, que se estabelece mais eficazmente essa 
relação. Além de concebido como órgão de produção jurídica, o Estado 
é uma forma de organização social e não se dissocia da sociedade e das 
relações sociais subjacentes.
Considera-se que o poder está em foco das relações do Estado com a 
política, onde o poder é representado por individualidades associadas pelo 
Estado, que é soberano. Considerando a possibilidade de que o poder esteja 
localizado em uma instituição ou em uma pessoa. Portanto, o Estado e a política 
são associados e interligados, constantemente criando relações, onde quem tem 
mais poder estabelece sua vontade. 
Em seu significado mais geral, poder é a capacidade ou a possibilidade 
de agir, de produzir efeitos em indivíduos e grupos humanos como objetos ou a 
fenômenos naturais. Contudo, se verticalizarmos para o homem em sociedade, o 
poder torna-se mais preciso, e tende-se a capacidade geral de agir, até a capacidade 
do homem em determinar o comportamento de outro homem. O poder de um 
homem consiste nos meios de alcançar alguma aparente vantagem, onde vemos 
o poder como algo que se possui. Onde, na sociedade, vemos o poder como forma 
de uma pessoa ou grupo tem ou exerce sobre outra pessoa ou grupo, sendo esta 
relação entre homens, relações de poder (BOBBIO, 2000).
Bobbio (1986, p. 77) afirma que na filosofia política o poder foi apresentado sob 
três aspectos, à base dos quais se podem distinguir as três teorias fundamentais do poder: 
“a substancialista, subjetivista e a relacional”. Segundo o autor, na primeira teoria temos 
o poder usado como convém, se possui e se usa, como outro bem qualquer. A segunda 
não se fundamenta em alcançar o objetivo, mas sim na capacidade do sujeito em obter 
certos efeitos, como o soberano tem o poder de fazer leis e, fazendo as leis, de influir sobre 
a conduta de seus súditos. A terceira teoria advém de relações entre sujeitos, onde um 
obtém um comportamento do outro pela sua influência.
NOTA
Com as teorias de poder vemos que o Estado tem muita força e exerce sua 
vontade política, temos um exemplo evidenciado por Castro (2005), que nem as 
empresas transnacionais e nem as instituições supranacionais dispõem de força 
normativa para impor, sozinhas, dentro de cada território, sua vontade político-
econômica. O Estado que regula o mundo financeiro, econômico, social e político, 
construindo infraestruturas, atribuindo assim, as políticas públicas escolhidas à 
condição de sua viabilidade.
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
99
Deve ser enfatizado que o Estado assume papel de gestor e articulador de 
políticas públicas por meio de instânciaspolíticos-administrativas (VITTE, 2003). 
Para a autora, nas cidades ocorrem várias ações e estratégias de desenvolvimento 
implementadas por vários agentes e, em especial, o Estado. 
O Estado é o que desencadeia a discussão sobre o seu desenvolvimento 
e quais as políticas que o fomentam sendo a instituição central do capitalismo 
moderno: 
O Estado é um ponto chave do debate atual sobre o desenvolvimento e 
as políticas que se voltam para estimulá-lo. A base territorial constitui 
uma condição vital de sua existência. E lhe cabe um papel importante 
nos arranjos político-institucionais que organizam a vida moderna e 
os projetos de desenvolvimento. Sua função de mediador dos conflitos 
e construtor de consensos possíveis justifica, em grande medida, seu 
enorme sucesso com instituição central do capitalismo moderno. 
(STEINBERGER, 2013, p. 17)
Gottdiener (1997) nos apresenta as que as investigações da relação 
entre Estado e o Espaço preservaram o mesmo enfoque sobre a importância da 
intervenção. De outra perspectiva, Pereira (2013) dispõe que o Estado surge na 
sociedade e se afasta dela com a finalidade de intervir no conflito de classes. Essa 
intervenção não se dá com o intuito de arbitrar as diferenças entre as classes, 
mas sim de evitar que elas se destruam no conflito. Exemplificando o conceito 
de Engels (1980) que define o Estado capitalista como “um produto da sociedade 
numa certa fase do seu desenvolvimento”.
O debate pode ser empreendido por meio da expansão nos padrões 
de consumo, sendo assim, uma maior dificuldade para se estabelecer as 
necessidades da sociedade, e de acordo com Rodrigues (2014, p. 154), “gestão, 
eficiência, transparência, flexibilidade e governança passaram a ser termos de uso 
corrente para se explicitar as expectativas em relação ao Estado”. Trata-se de uma 
reformulação da concepção clássica do Estado: 
A rigidez e inoperância da burocracia precisavam ser substituídas 
por meios racionais para o alcance de objetivos precisos. A eficácia 
do mercado na prestação de serviços foi valorizada, notadamente por 
aqueles partidários da perspectiva neoliberal de Estado mínimo. Sendo 
assim, a concepção clássica do Estado como exclusivo prestador de 
bens públicos foi sendo progressivamente substituída pelo formato do 
Estado como um aparato regulador que deveria estimular as iniciativas 
da sociedade civil e dos indivíduos (RODRIGUES 2014, p. 154).
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
100
Você sabe como é realizada a gestão, eficiência, transparência, flexibilidade e 
governança dentro do seu município? 
 Para atender a necessidades da população e executar políticas públicas, União, 
estados e municípios utilizam diversas formas de gerenciamento do seu território, e uma 
das formas é a captação de recursos junto ao governo federal. Confira o link a seguir, que é 
um vídeo sobre as transferências de recursos do governo federal. 
 Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=rGqukhYYjyg&pbjreload=10.
 Vale lembrar e entender o pacto federativo também, que tem sua base na 
Constituição Federal nos artigos 145 a 162. Que define que a União, os Estados, o Distrito 
Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: impostos, taxas, contribuição 
de melhoria. 
 Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=cgpT7fk6Pgg.
DICAS
Para Rodrigues (2014, p. 155) em face de esclarecimentos, o Estado deve 
assegurar a sociedade o acesso aos bens e serviços públicos essenciais: 
Em outras palavras, é ao Estado que cabe assegurar aos indivíduos 
acesso aos bens e serviços públicos essenciais para que o exercício 
dos seus direitos civis, sociais e políticos seja possível, ainda que a 
isonomia, ou melhor dizendo, a ausência dela, persista como desafio 
social, político e intelectual. Em suma, as políticas públicas, a despeito 
das mudanças nos modos de regulação, devem estar por princípio 
orientadas para a garantia de acesso a bens, serviços públicos e justiça 
social a todos os habitantes do território, indistintamente.
A isonomia é a igualdade material. Assegura às pessoas oportunidades iguais, 
considerando suas condições diferentes, ou seja, princípio geral do direito segundo o qual 
todos são iguais perante a lei; não devendo ser feita nenhuma distinção entre pessoas que 
se encontrem na mesma situação.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
101
Ferreira (2009) relata que o papel do Estado aparece enquanto regulador 
e, em muitos casos, facilitador das relações econômicas internacionais. Esse papel 
se estende aos níveis Federal, Estadual e Municipal, seguindo essa lógica aqui 
apresentada, vemos o Estado como grande regulador de todo esse processo 
espacial. 
O processo de intervenção sobre o território que acontece por meio 
dos diversos atores sociais – poder público, empresas, sociedade, se constitui 
da constante utilização do termo Ordenamento do território. Nessa acepção, é 
relevante levar em conta a interpretação do conceito de Ordenamento do Território 
estabelecido pela Carta Europeia de Ordenação do Território: 
O Ordenamento Territorial é a tradução espacial das políticas 
econômica, social, cultural e ecológica da sociedade. [...] O ordenamento 
do território deve ter em consideração a existência de múltiplos 
poderes de decisão, individuais e institucionais que influenciam a 
organização do espaço, o caráter aleatório de todo o estudo prospectivo, 
os constrangimentos do mercado, as particularidades dos sistemas 
administrativos, a diversidade das condições socioeconômicas e 
ambientais. Deve, no entanto, procurar conciliar estes fatores da forma 
mais harmoniosa possível (CONSELHO DA EUROPA, 1988, p. 9-10).
A Constituição Brasileira de 1988 colocou o ordenamento territorial como um 
instrumento de planejamento, elemento de organização e de ampliação da racionalidade 
espacial das ações do Estado, em seu artigo 21, inciso IX, que “compete à União elaborar 
e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento 
econômico e social”.
INTERESSA
NTE
O ordenamento do território em seu termo varia muito de uma área 
do conhecimento a outra, não apenas porque ele consiste em uma intervenção 
sobre e dentro do espaço. O espaço da intervenção é dotado de propriedades 
particulares, que concernem ao conjunto dos especialistas interessados no 
ordenamento (FISCHER, 2008).
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
102
Sobre o debate acerca do ordenamento do território, indicamos que assista 
ao vídeo: “Cidades: ação e reflexão”, entrevista da pesquisadora Raquel Ronik, professora 
titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. A autora construiu uma singular 
trajetória de pesquisa e intervenção na questão urbana, passando por movimentos sociais, 
instituições governamentais e organismos internacionais, além da docência e da produção 
científica. O vídeo tem cerca de 22 minutos e se encontra disponível no link: <https://www.
youtube.com/watch?v=CJGw3f91LEc>. Acessado em: 4 jan. 2020.
 Outro material que pode acrescentar na temática sobre ordenamento do território 
é o blog da pesquisadora Raquel Ronik, onde se encontram vários trabalhos, artigos e 
reportagens sobre as cidades e seus problemas. 
FONTE: <https://raquelrolnik.wordpress.com/>. Acesso em: 4 jan. 2010.
DICAS
Logo, no que concerne à concepção de território, aponta-se que esta 
categoria é apreendida como um espaço definido por e a partir de relações de 
poder, que têm origem nas apropriações e usos dos substratos físicos espaciais, 
mas que se materializam nas relações sociais presentes nessa espacialidade, desde 
sua gênese a sua gestão (SOUZA, 1995).
Quando se fala de planejamento e gestão, necessariamente se fala de um 
território, onde o objeto e a finalidade do planejamento e gestão do território são 
o ordenamento do território, significando esta expressão a análise da distribuição 
dos locais destinados à habitação e a atividades produtivas e outras num dadoespaço, bem como das formas de utilização pelos diversos agentes envolvidos 
(MAFRA; SILVA, 2004).
Fischer (2008) afirma que o ordenamento do território, por vezes, inicia 
com uma política objetivando a melhoria da acessibilidade do território em que 
se quer intervir, uma vez que o espaço só é atrativo na medida em que se torna 
acessível: 
O espaço de intervenção é, também, um espaço no qual se pode 
modificar o valor relativo, o lucro, a capacidade de atração, 
particularmente melhorando suas condições de acessibilidade; aí está 
uma das preocupações maiores do ordenamento (a importância das 
infraestruturas e dos equipamentos de transporte para tudo o que 
concerne às diferenciações e à segregação quantitativa dos espaços 
geográficos) (FISCHER, 2008, p. 109).
 
Para Fischer (2008, p. 79) o ordenamento supõe a “existência de um projeto 
social” que integra metas da sociedade ao todo, em que busca um “equilíbrio 
entre os imperativos econômicos e as necessidades sociais” e “o homem não 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
103
atua somente no espaço, ele atua igualmente no tempo. A dimensão temporal é 
uma dimensão fundamental de toda política de ordenamento do território. Não 
se pode planejar se não se dispõe de tempo”. O ordenamento é, também, “uma 
combinação de ações setoriais que correspondem a tantos objetivos particulares, 
como: habitação, emprego, equipamentos coletivos, grandes infraestruturas, 
dentre outras” (FISCHER, 2008, p. 83)
Complementando o conceito de ordenamento do território, Moraes 
(2005, p. 12) demonstra que o ordenamento do território “é uma questão política 
associada à mudança de natureza do Estado e do território, e da relação do Estado 
com seu território. É também, portanto, um desafio conceitual”. 
O conceito de território é amplo, para os geógrafos é de uns conceitos 
fundamentais, “onde há uma dimensão da realização da vida em sociedade que 
nomeamos de território [...] território é o fundamento do trabalho, o lugar da 
residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida” (SANTOS, 
2002, p. 10). 
Andrade (2004) destaca algumas considerações sobre o território, 
vinculando a questão do território à análise de espaço e tempo, a partir da 
superposição de estruturas de escalas diferentes. Atribuindo o território nas 
ciências naturais e sociais: 
Em ciências sociais, a expressão território vem sendo muito utilizada 
desde o século passado, por geógrafos, como Frederico Ratzel, 
preocupado com o papel desempenhado pelo Estado no controle do 
território, e por Elisée Reclus que procurava estabelecer as relações 
entre classes sociais e espaço ocupado e dominado. Os especialistas 
em Teoria do Estado costumam afirmar que o Estado se caracteriza 
por três elementos essenciais: o território, o povo e o governo, ao 
passo que a nação é caracterizada pela coexistência do território e 
do povo, mesmo inexistindo governo, e consequentemente, o Estado 
(ANDRADE, 2004, p.19)
Contudo, o conceito de território deve estar sempre ligado à ideia de 
poder, não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito 
ligado à ideia de domínio e de gestão de determinada área (ANDRADE, 2004). 
Raffestin (1993, p. 7-8) nos esclarece que o território poderia ser nada mais que: 
 
[...] o produto dos atores sociais. São esses atores que produzem 
o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há, 
portanto, um "processo" do território, quando se manifestam todas 
as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes 
e centralidades cuja permanência é variável, mas que constituem 
invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias. O território é 
também um produto "consumido", ou, se preferirmos, um produto 
vivenciado por aqueles mesmos personagens que, sem haverem 
participado de sua elaboração, o utilizam como meio. É então todo 
o problema da territorialidade que intervém permitindo verificar o 
caráter simétrico ou dissimétrico das relações de poder.
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
104
Conforme exposto acima, o território é o produto dos atores sociais e um 
produto consumido, um espaço urbano vivenciado, são eles que produzem o 
território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Evidenciando que 
o poder é conceito-chave para o estudo do território, agora compreendido não 
só como capacidade do Estado, mas também exercido por atores que emergem 
da população. O espaço geográfico atua como substrato, ou seja, pré-existente ao 
território, como podemos observar a seguir: 
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. 
O território se forma a partir do espaço, é resultado de uma ação 
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) 
em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou 
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" 
o espaço. Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para 
passar do espaço ao território: "A produção de um espaço, o território 
nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas 
redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas 
de ferro, circuitos comerciais e bancários, autoestradas e rotas aéreas 
etc." O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou 
um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, 
revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a "prisão original", 
o território é a prisão que os homens constroem para si (RAFFESTIN, 
1993, p. 143).
Em vista disto, o território é onde as pessoas estão e onde as relações entre 
esses indivíduos ocorrem, se configurando e interagindo, contribuindo para o 
ordenamento do território, conforme Raffestin (1993, p. 150-151) nos esclarece: 
Os indivíduos ou os grupos ocupam pontos no espaço e se distribuem 
de acordo com modelos que podem ser aleatórios, regulares ou 
concentrados. São, em parte, respostas possíveis ao fator distância 
e ao seu complemento, a acessibilidade. Sendo que a distância pode 
ser apreendida em termos espaciais (distância física ou geográfica), 
temporais, psicológicos ou econômicos. A distância se refere à 
interação entre os diferentes locais. Pode ser uma interação política, 
econômica, social e cultural que resulta de jogos de oferta e de 
procura, que provém dos indivíduos e/ou dos grupos. Isso conduz a 
sistemas de malhas, de nós e redes que se imprimem no espaço e que 
constituem, de algum modo, o território. Não somente se realiza uma 
diferenciação funcional, mas ainda uma diferenciação comandada 
pelo princípio hierárquico, que contribui para ordenar o território 
segundo a importância dada pelos indivíduos e/ou grupos as suas 
diversas ações. 
O ordenamento do território é literalmente “a organização dos elementos 
de um conjunto de acordo com uma relação de ordem, isto é, da disposição (ou 
arranjo) conveniente dos meios – segundo certas relações – para se obterem 
os fins desejados” (MORAES, 2005, p. 16). Propõe-se, assim como conceito de 
ordenamento territorial a partir da regulação das tendências de distribuição das 
atividades produtivas e equipamentos no território nacional ou supranacional 
decorrente das ações de múltiplos atores, segundo uma visão estratégica e 
mediante articulação institucional e negociação, de modo a alcançar os objetivos 
desejados (MORAES, 2005). 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
105
Em suma, considera-se que o conceito de ordenamento do território é a 
ideia de organizar a ocupação, uso e transformação do território com a finalidade 
de atender às demandas econômicas, sociais e ambientais, considerado como um 
modelo de governabilidade, como visto a seguir:
Parte-se do reconhecimento de que o ordenamento territorial 
é um conceito polissêmico. No entanto, na acepção proposta, 
contém implicitamente a ideia de organizar a ocupação, uso e 
transformação do território com o objetivo de satisfazer as demandas 
econômicas, sociais e ambientais. Implicatanto na incorporação 
da dimensão territorial no desenho das políticas públicas setoriais, 
quanto na elaboração de estratégias territoriais integradas para o 
desenvolvimento dos diferentes âmbitos espaciais ou escalas do país. 
O conceito de ordenamento territorial pressupõe, ainda, um modelo 
de governabilidade, que pode ser definido como as formas como se 
conjugam as ações do Estado com os outros dois âmbitos, o Mercado e 
a Sociedade Civil, para que exista uma capacidade de implementação 
e administração dos processos de decisão incorporados nas políticas 
territoriais. (MORAES, 2005, p. 18).
Moraes (2005, p. 18) ainda nos esclarece com uma visão histórica que o 
ordenamento do território é: 
[...] visto como um conjunto de arranjos formais, funcionais e 
estruturais que caracterizam o espaço apropriado por um grupo 
social ou uma nação, associados aos processos econômicos, sociais, 
políticos e ambientais que lhe deram origem. Sob uma ótica de 
gestão, o ordenamento territorial constitui-se de políticas públicas 
concertadas, ações que visam ao “equilíbrio” regional e organização 
física do espaço com o objetivo de criar uma racionalidade visando 
maior competitividade.
Tal perspectiva traz que o conceito não é claro e definido, mas em 
construção. Nessa linha, Galvão (2013) aponta como um aspecto importante o 
território, uma categoria de análise social, quando se presta atenção nele, torna 
explícitos os embates, as diferenças e as tensões que permeiam as relações sociais. 
Lembrando que existem vários e múltiplos atores:
Ele produz o curso da história, no qual indivíduos, classes e instituições, 
com engenho e arte, ocupam posições no cenário da disputa e 
procuram determinar o dia a dia e o desdobrar dos acontecimentos. 
Não é demais lembrar: múltiplos atores, variadas expectativas do uso 
do território (GALVÃO, 2013, p. 17). 
Compreendendo que a história dos espaços é efetivada das possibilidades 
que o mundo lhes oferece, ou seja, a efetivação de um conjunto de ações, que 
por sua vez se tornam materializadas no território. Deste modo, mesmo que o 
território seja habitado por distintas ações e objetos, ele é configurado por um 
conjunto de agentes que modificam e modelam seu espaço. Rodrigues (2014, p. 
161) nos esclarece que a partir que:
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
106
O território se torna a referência para se pensar problemas e soluções 
locais, cabe à geografia contribuir para uma reflexão acerca dos usos 
e desdobramentos espaciais de processos políticos que ocorrem em 
recortes territoriais e escalas diferenciados, e que podem contar com a 
participação dos mais diversos atores – de representantes do Estado, 
passando por associações de moradores, sindicalistas, empresários e 
outros setores da sociedade civil organizada.
Podemos aqui exemplificar, por meio dessas ações e objetos, como o 
nacionalismo tem sido um sentimento marcante na história, em nome de um 
país ou de uma bandeira, exércitos se formam, pessoas se identificam ou obras 
grandiosas são erguidas. Toda essa estrutura pode ser denominada como Estado-
nação. 
O Estado-nação é uma porção do espaço geográfico com particularidades 
políticas, administrativas e econômicas. Pensar sobre o olhar da Geografia 
Política o Estado está caracterizado pelo seu território. Como já mencionado no 
Tópico 1, vemos o território como condição de poder, de posse ou de domínio, 
estabelecendo determinadas regras e leis institucionais ou reconhecidas pela 
sociedade. 
O território, portanto, pode ser instituído nas mais variadas escalas, como 
veremos nos exemplos nas figuras a seguir: 
A) Um território nacional:
FIGURA 4 – TERRITÓRIO BRASILEIRO
FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/mapa-brasil.htm>. 
Acesso em: 27 fev. 2020. 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
107
B) Uma tribo indígena:
FIGURA 5 – TERRAS INDÍGENAS
FONTE: <https://mirim.org/terras-indigenas>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
C) Uma área controlada por um grupo de traficantes de drogas:
FIGURA 6 – TERRITÓRIO OCUPADO PARCIALMENTE PELAS FARC
FONTE: <https://onial.wordpress.com/2014/05/08/as-farc-e-o-governo-colombiano-meio-
seculo-de-conflito/>. Acesso em: 29 nov. 2019.
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
108
D) Por um conjunto de países, como a União Europeia, anu, o FMI, a OMC etc.
FIGURA 7 – PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/uniao-europeia/>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
A organização do Estado-nação se detém no controle sobre o território 
e seus conteúdos, sendo ele o fundador de organizações sociais políticas em 
todas as sociedades. A centralidade territorial do poder político só foi possível 
pela submissão e controle do território, destacando-se o principal meio 
utilizado: a racionalização do direito ou força militar profissional permanente 
(GUIBERNAU,1997). Não dependendo do tipo de organização política (estados 
liberais, democráticos, comunistas), toda forma de organização do Estado-
Nação vai possuir um exército, um território, uma bandeira e o sentimento de 
pertencimento das pessoas que ali vivem.
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
109
Castro (2005, p. 124), identificam-se dois modelos básicos de Estado-nação:
a) O estado unitário e centralizado: melhor exemplo é a França, em que existe muita 
homogeneidade interna e coesão e a administração se exerce somente a partir da capital.
b) O estado federalista: o melhor exemplo são os Estados Unidos, que se funda na 
diversidade e têm sua origem na aliança ou pacto de coexistência, e a administração é 
diferenciada para cada estado membro.
 Exemplo: O Estado-nação brasileiro é considerado um Estado centralizado 
aproximando-se do modelo francês como outros países latinos como a Argentina e o 
Uruguai. 
 O Estado-nação norte-americano é menos difundido. O que ambos possuem em 
comum é a presença marcante do Estado nas diversas esferas de interesse da sociedade 
desde a política à econômica.
NOTA
Quando falamos de Estado-nação com o fenômeno globalização, 
transforma-se o termo independência em um sinônimo de dependência. Que 
será dependente de duas maneiras: na economia internacional que ele não pode 
normalmente tentar influenciar individual e especificamente, na proporção inversa 
de seu tamanho, as das grandes potências e conglomerados transnacionais. Assim, 
a independência de um país está indiretamente relacionada às suas condições de 
negociação, em especial no cenário internacional (MAGNOLI, 1997). 
Os elementos constitutivos da soberania do Estado, bem como, a sua 
moeda, a capacidade de estruturar, as formas de comunicação, a língua nacional, o 
sistema educativo, correspondendo ao território, terão o controle efetivo exercido 
pelo governo central (o Estado territorial) e delimitados pelas fronteiras. 
Assim, a divisão dos diferentes territórios, para vários autores é um 
fenômeno historicamente dado, com a forma espacial e política transformadas, 
aparecendo assim, variadas tipologias de fronteiras. No início, as demarcações de 
fronteiras eram realizadas por montanhas, os rios e os elementos físicos naturais 
correspondendo barreiras mais ou menos estanques e permeáveis. No entanto, 
com as transformações das relações entre os países, outros fenômenos e fatores 
passam a delimitar na demarcação dos territórios. 
Sobre o movimento das fronteiras, Silva (2008, p. 8) expõe que é “um 
perímetro instaurado por um poder cujo projeto político é de afirmar e distinguir-
se das outras entidades territoriais”. Para o autor é uma fronteira política, pelo 
exposto, é um lugar privilegiado de afirmação e reconhecimento de poderes 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
110
políticos. É o atributo de um poder que fixa limites, muitas vezes imposto. Na 
esteira da definição e o papel da fronteira política, encontram-se outras duas 
noções: zona	de	fronteira	e	faixa	de	fronteira	(SILVA, 2008, p. 8): 
Zona de fronteira: é composta por 'faixas'territoriais de cada lado do 
limite internacional, sendo sua extensão geograficamente limitada a algumas 
dezenas de quilômetros a ambos os lados da linde. 
Faixa	de	 fronteira: a faixa de fronteira trata-se de uma extensão maior 
em relação à anterior (zona de fronteira), mas seu papel é restrito a cada Estado-
Nação, ou seja, o programa das ações conjuntas se define para ser aplicado às 
jurisdições políticas internas de cada país. São também denominadas de regiões 
de programação as quais abarcam em alguns países superfícies consideráveis. Na 
América do Sul, a região de programação mais extensa é a Brasileira com 150 km 
a partir do limite internacional. 
FIGURA 8 – FAIXA DE FRONTEIRA DO BRASIL
FONTE: Silva (2008, p. 8)
Conforme a Figura 8, conseguimos analisar que a faixa de fronteira 
brasileira tem 15.719 km, insere 588 municípios de 11 estados federados, total 
ou parcialmente, representando cerca de 27% do território nacional e com uma 
população de cerca de 10 milhões de habitantes (SILVA, 2008). 
TÓPICO 1 | GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
111
A Lei Ordinária nº 6.634, implementada pelo ex-presidente João Figueiredo 
em 1979, normativa a organização, competência e o funcionamento da faixa de fronteira 
brasileira.
IMPORTANT
E
Contudo, verifica-se que esses territórios localizados em zona e faixa de 
fronteira possuem, principalmente, nessas últimas décadas, papel estratégico do 
ponto de vista econômico e da circulação, por estarem em áreas mais avançadas 
da soberania do contexto de cooperação e da integração regional. E com isso, 
são identificados vários problemas e segregações dentro deste território, como 
exemplo: o fluxo de contrabando e drogas, prostituição, garimpo ilegal, e muitos 
mais que vão incidir negativamente no território. 
Em junho de 2011, o governo federal, por meio do Decreto nº 7.496, instituiu o 
Plano Estratégico de Fronteiras, pelo qual buscava “o fortalecimento da prevenção, controle, 
fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços e dos delitos praticados na faixa de 
fronteira brasileira” (art. 1º). A diretriz que norteia o decreto claramente aponta para a 
necessidade de integração: “I – a atuação integrada dos órgãos de segurança pública e das 
Forças Armadas; e II – a integração com os países vizinhos” (incisos I e II do art. 2º).
IMPORTANT
E
Neste tópico foi possível observar o que é o fenômeno da globalização 
e quais etapas e fases compõem essa estruturação no território. Assim, caro 
acadêmico, vamos juntos relembrar o que foi aprendido até o momento.
112
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A globalização é um processo que possibilita a formação de uma tendência de 
relações culturais, econômicas, políticas e sociais, aprofundadas através das 
técnicas de informação, ciência e comunicação entre os atores políticos globais 
e entre toda a sociedade.
• O processo de globalização está vinculado nas transformações e na 
predominância da competição desenfreada por mercados e tecnologias. 
• Milton Santos vai entender que a tecnificação permite um meio técnico-
científico internacional.
• O espaço geográfico viabiliza a globalização, dado que ele materializa três 
de seus pressupostos: a unicidade técnica, a convergência dos momentos, a 
unicidade do motor. 
• Milton Santos foi e tem a grande contribuição para o entendimento deste 
fenômeno chamado globalização, por meio de várias obras dedicadas a esse 
tema, bem como O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade. 
• A queda do muro de Berlim foi o ponto de ruptura entre a nova e a velha 
ordem mundial. 
• Um dos principais papéis do Estado é mediar conflitos de interesses entre 
agentes-atores que expressam seu poder no território.
• O Estado é definido como o soberano, aquele que está com o poder, uma 
organização social que detém o poder político.
• O conceito de território é amplo, para os geógrafos é de uns conceitos 
fundamentais, onde há uma dimensão da realização da vida em sociedade que 
nomeamos de território.
• O território, portanto, pode ser instituído nas mais variadas escalas.
• Toda forma de organização do Estado-Nação vai possuir um exército, um 
território, uma bandeira e o sentimento de pertencimento das pessoas que ali 
vivem.
• Na esteira da definição e o papel da fronteira política, encontram-se outras 
duas noções: zona de fronteira e faixa de fronteira.
113
AUTOATIVIDADE
1 Analise a afirmação: “A difusão do termo globalização ocorreu por meio da 
imprensa financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois 
disso, muitos intelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de 
novas tecnologias na área de comunicação, como satélites artificiais, redes 
de fibra ótica que interligam pessoas por meio de computadores, entre 
outras, que permitiram acelerar a circulação de informações e de fluxos 
financeiros” (RIBEIRO, 2002, p. 1).
Com base no fragmento de texto, assinale a alternativa CORRETA sobre os 
estudos da globalização:
a) ( ) A globalização é estar diante de um cidadão global, definido apenas 
como o que está inserido no universo do consumo, o que nos leva a 
ideia de cidadania.
b) ( ) A globalização é um fenômeno que interliga as pessoas por meio de 
computadores. 
c) ( ) Foi definida como um sistema cultural que homogeneíza, que afirma o 
mesmo a partir da introdução de identidades culturais diversas que se 
sobrepõem aos indivíduos.
d) ( ) Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de 
investimentos pelo Estados Unidos e França. 
2 Estado-nação: é uma porção do espaço geográfico com características 
políticas, administrativas e econômicas particulares que, do ponto de vista 
da Geografia Política, portanto o Estado está caracterizado: 
a) ( ) Em viver um mundo mais solidário.
b) ( ) Pelo seu território.
c) ( ) Por um mercado hierarquizado e articulado.
d) ( ) Pela comunicação e circulação de mercadorias.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas. 
3 (Enem-2015) Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na 
Itália e montado em Indiana, México e França, usando os mais avançados 
componentes eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados 
na Coreia. A campanha publicitária é desenvolvida na Inglaterra, filmada 
no Canadá, a edição e as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas 
no mundo todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme nacional que 
lhes for mais conveniente.
FONTE: REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. 
São Paulo: Educator, 1994 (adaptado).
 
114
A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupõe o uso de:
a) ( ) Linhas de montagem e formação de estoques.
b) ( ) Empresas burocráticas e mão de obra barata.
c) ( ) Controle estatal e infraestrutura consolidada.
d) ( ) Gestão centralizada e protecionismo econômico.
e) ( ) Organização em rede e tecnologia de informação. 
4 (UFPI) A organização dos países em blocos econômicos visa facilitar a 
economia dos países, estimulando as trocas e a produção. Sobre os principais 
blocos, suas características e finalidades, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) ALCA – constituída por países africanos, promove a valorização de 
seus produtos, possibilitando a concorrência com a economia asiática.
b) ( ) MERCOSUL – reúne todos os países da América Latina e visa ampliar 
as trocas comerciais e o fluxo de pessoas entre os seus membros.
c) ( ) CEI – reúne os países da Europa Ocidental que são liderados pela 
Inglaterra que, por sua vez, detém a hegemonia econômica desta parte 
de continente.
d) ( ) União Europeia – formada por todos os países da Europa, permite a 
livre circulação, no continente, de pessoas e mercadorias.
e) ( ) NAFTA – formado pelos países da América do Norte, eliminou as 
barreiras tarifárias entre os seus membros.
115
TÓPICO 2
A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO 
DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃONeste tópico, nós vamos discutir a evolução do sistema mundial e 
como dispõe o tema central de Estado até as discussões contemporâneas, nesta 
área de conhecimento, que investiga como as relações entre Estado e poder se 
materializam no território e suas implicações. Retomamos o pensamento sobre 
as reflexões dos processos derivados da globalização, discutindo as formas 
estratégicas da Globalização Hegemônica e Contra-hegemônica. 
Para o acadêmico do curso de Geografia, acreditamos que quanto mais 
informações e conhecimento ele dispuser sobre uma determinada área, mais 
compreensão terá a respeito da importância do trabalho a ser desenvolvido com 
os alunos dos ensinos fundamental e médio. 
Assim, este tópico está organizado da seguinte maneira: o sistema 
mundial, hegemonias e contra hegemonias, em seguida o poder global dos 
Estados Unidos e os novos atores mundiais, e por fim uma nova conjuntura 
mundial?, a geopolítica das nações na atualidade do século XXI.
Ao final do tópico é esperado que você tenha compreendido noções sobre 
a Geografia Política, passando pelo conceito de globalização, além dos temas 
atuais que compreendem uma área ampla, complexa e necessária.
2 O SISTEMA MUNDIAL, HEGEMONIAS E CONTRA 
HEGEMONIAS
É importante que façamos agora uma reflexão sobre os processos 
derivados da globalização, bem como as alterações sociais, políticas, econômicas 
e geográficas mundiais, que passam por vários processos de transformação, e 
que alguns autores fazem a análise de dois processos e formas de globalização: a 
estratégia da globalização	hegemônica	e	contra-hegemônica.
Boaventura de Sousa Santos (2001) traz um quadro teórico sobre os 
processos de globalização em hegemônicos e contra-hegemônicos, entendendo 
todo esse processo por meio dos conflitos dinâmicos de transição dos modelos 
de Estado, da economia, culturais e sociais, conforme Miranda E Merladet (2012). 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
116
1- Os processos hegemônicos são orientados para a acumulação e apropriação 
capitalistas, e a sua hegemonia assenta-se na identificação dos interesses do 
bloco no poder com interesses gerais, ou seja, em um consenso que favorece os 
grupos dominantes. 
2- Os processos contra-hegemônicos agrupam os diversos movimentos locais, 
por vezes articulados globalmente, que lutam contra os efeitos perversos 
da globalização hegemônica e são orientados para a solidariedade e o bem 
comum. Apesar de distintos, esses processos são complexos e, por vezes, 
interpenetram-se e confundem-se, sendo necessário analisá-los de caso a caso.
Acerca dos processos hegemônicos, Miranda e Merladet (2012) nos 
revelam que este não é um processo novo, e que se inicia com a descoberta da 
América, no século XV, desenvolvendo o processo de integração das diferentes 
partes do mundo em um sistema de acumulação de capital. 
Desde aquela época, os diferentes espaços foram sendo organizados 
em dominantes e dominados, o que transformou as periferias e 
semiperiferias do mundo em espaços de subordinação política e 
econômica para a expropriação de riquezas por parte dos países 
centrais, processo que, obviamente, não foi livre de contradições e 
oposições (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12).
E a intensificação desse processo acontece a partir da década de 1970: 
Foi, contudo, a partir da década de 1970 até os dias atuais, que a 
globalização hegemônica intensificou o processo de integração 
mundial com o avanço das tecnologias de comunicação e transporte 
que possibilitou transações internacionais mais rápidas e intensas. 
Essa integração, nos últimos anos, vem acompanhada da difusão dos 
pressupostos e das práticas econômicas e políticas do neoliberalismo. 
(MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12-13).
Você sabe o que é o neoliberalismo?
 O neoliberalismo defende medidas diversas para alavancar a economia de 
mercado, o sistema financeiro e a concorrência em nível mundial, apresentando soluções 
para a crise do período antecessor, marcado por forte intervenção estatal na vida econômica 
e social. Na prática, o que neoliberalismo busca defender é um Estado mínimo para as 
políticas sociais e, ao mesmo tempo, um Estado máximo para a economia. Além disso, esse 
paradigma considera a desigualdade um fator essencial para o bom funcionamento do 
mercado sendo, por isso, até mesmo desejável. Em suma, a acumulação flexível neoliberal 
baseia-se na desigualdade e a produz incessantemente (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12).
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
117
A partir do que foi acima exposto, na década de 1980, essas medidas foram 
empregadas com maior intensidade, e foram orientadas por cinco específicas, 
apresentadas por Miranda e Merladet (2012): 
• A liberalização do comércio internacional.
• A expansão dos investimentos externos.
• A crescente privatização de serviços públicos.
• A flexibilização de direitos trabalhistas.
• A crescente desregulação da economia.
“Por meio da leitura de David Harvey (2008), em seu texto O neoliberalismo: 
história e implicações, mostra como as mudanças estruturais na economia, promovidas 
pelas reformas neoliberais, deslocam o poder de classe, com a perda da qualidade de vida 
pela parcela da população correspondente à classe média e à classe baixa, e com a ascensão 
de um novo grupo de pessoas muito ricas relacionadas com as operações no sistema 
financeiro e com os novos ramos da produção, como as novas tecnologias de informação, 
a biotecnologia, as multinacionais de produção de energia, de cultivo de sementes 
transgênicas etc. Esse grupo poderia ser definido como uma espécie de classe hegemônica 
transnacional “porque seus membros, apesar da diversidade dos seus interesses setoriais, 
partilham uma situação comum de privilégio socioeconômico e um interesse comum de 
classe nas relações do poder político e do controle social que são intrínsecas ao modo de 
produção capitalista” (EVANS apud SANTOS, 2001, p. 38). Nos últimos anos, essa dita classe 
conseguiu manter uma relação privilegiada com o poder estatal dos diferentes países e 
com os organismos internacionais, constituindo uma enorme capacidade de influenciar 
processos políticos” (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 13).
NOTA
Diante do que foi visto até agora, percebe-se que com o déficit democrático 
e as consequências da globalização, surgem novas arenas e novos atores, e como 
um elemento essencial para a política, as organizações das sociedades civis, como 
exemplo, os sindicatos, organizam-se para a formulação de uma luta política global 
“Contra-hegemônica”, que vai aprofundar o olhar com traços antiglobalização, 
antineoliberalismo e anti-imperialismo (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 13). 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
118
Você já deve ter relacionado a palavra neoliberalismo e déficit democrático! 
 Para compreender melhor esses conceitos confira o artigo que discute a relação 
entre os regimes democráticos a partir da década de 1980 na América do Sul e o modelo 
econômico e político neoliberal implementado na região, e tem como exemplo os três 
atores sul-americanos que passaram por regimes autoritários e representam economias 
expressivas: Argentina, Brasil e Chile. 
 Disponível no link: https://revistas.ufpr.br/conjgloblal/issue/view/2878. 
FONTE: NASCIMENTO. V. M. Neoliberalismo e democracia na América do Sul um estudo 
sobre Argentina, Brasil e Chile. Revista Conjuntura Global v. 8, n. 2. 2019.
IMPORTANT
E
Na articulação desses movimentos, conseguimos identificar quatro 
características centrais fundadoras desse projeto contra-hegemônico, por meio 
das análises de Boaventura de Sousa Santos (2002) (apud MIRANDA; MERLADET, 
2012, p. 17): 
• a ampliação do conceito de opressão pela identificação de que a exclusão social não é 
única e monolítica (conjunto rígido, indivisível,) não diz respeito a uma classe e sim 
a toda a humanidade e, por isso, devem ser plurais as lutas emancipatórias;• a exigência de equivalência entre a igualdade e a diferença (os indivíduos 
têm o direito de expressar a sua pluralidade em condições iguais de direitos e 
dignidade e têm de ser tratados como diferentes quando a igualdade os oprime); 
• a valorização da via democrática, participativa, “desde abaixo” para a conquista 
do poder e para a realização de inovações no Estado, com a construção de vias 
mais diretas; 
• a construção de um “cosmopolitismo subalterno” (luta contra a exclusão social 
em nome da globalização alternativa) que envolve ações que combatem a 
opressão não apenas atacando o centro, o Estado e a Empresa, mas o vasto 
conjunto de interações sociais estruturadas pela desigualdade de poder.
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
119
Para ilustrar os estudos do projeto contra-hegemônico, observe o exemplo 
evidenciado sobre as comunidades tradicionais indígenas do artigo com o título: “A 
globalização hegemônica frente à problemática da identidade cultural e dos conhecimentos 
tradicionais indígenas: uma busca pelas significações locais”, no link: http://periodicos.
unesc.net/amicus/article/view/1296/1246.
FONTE: SPAREMBERGER, R. F. L. A globalização hegemônica frente a problemática 
da identidade cultural e dos conhecimentos tradicionais indígenas: uma busca pelas 
significações locais. Revista Amicus Curiae, v. 10, p. 1-25, 2013.
DICAS
3 O PODER GLOBAL DOS ESTADOS UNIDOS E OS NOVOS 
ATORES MUNDIAIS
Para relembrar, o campo político mundial após a Guerra Fria denomina-
se Nova Ordem Mundial ou Nova Ordem Geopolítica Mundial, visando a um 
plano geopolítico internacional dos poderes e forças entre os Estados Nacionais. 
Portanto, com a queda do Muro de Berlim, já citado anteriormente, em 1989, e 
com o esfacelamento da União Soviética, em 1991, se caracteriza em uma nova 
configuração política mundial (PENA, s.d.). E com isso, a soberania dos Estados 
Unidos e do capitalismo se proliferou por todo o mundo e a OTAN (Organização 
do Tratado do Atlântico Norte) se mantém como o maior e mais poderoso tratado 
militar internacional, e segundo o autor “o planeta, que antes se encontrava na 
denominada “Ordem Bipolar” da Guerra Fria, passou a buscar um novo termo 
para designar o novo plano político”. Seguem três expressões utilizadas por Pena 
(s.d. p. 1): 
• UNIPOLARIDADE – sob o ponto de vista militar, os EUA se tornaram 
soberanos diante da impossibilidade de qualquer outro país rivalizar com os 
norte-americanos nesse quesito.
• MULTIPOLARIDADE – após o término da Guerra Fria, o poderio militar não 
era mais o critério principal a ser estabelecido para determinar a potencialidade 
global de um Estado Nacional, mas sim o poderio econômico. Nesse plano, 
novas frentes emergiram para rivalizar com os EUA, a saber: o Japão e a União 
Europeia, em um primeiro momento, e a China em um segundo momento, 
sobretudo a partir do final da década de 2000.
•	 UNIMULTIPOLARIDADE	 –	 sendo	 a	mais	 casual,	 a expressão é utilizada 
para designar o duplo caráter da ordem de poder global: “uni” para designar 
a supremacia militar e política dos EUA e “multi” para designar os múltiplos 
centros de poder econômico.
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
120
Ordem de classificação hierarquia entre os Estados Nacionais. 
Outra mudança acarretada pela emergência da Nova Ordem Mundial foi a necessidade 
da reclassificação da hierarquia entre os Estados nacionais. Antigamente, costumava-se 
classificar os países em 1º mundo (países capitalistas desenvolvidos), 2º mundo (países 
socialistas desenvolvidos) e 3º mundo (países subdesenvolvidos e emergentes). Com o fim 
do segundo mundo, uma nova divisão foi elaborada. A partir de então, divide-se o mundo 
em países do Norte (desenvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos), estabelecendo uma 
linha imaginária que não obedece inteiramente à divisão norte-sul cartográfica, conforme 
podemos observar na figura a seguir.
FIGURA – MAPA COM A DIVISÃO NORTE-SUL E A ÁREA DE INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS 
CENTROS DE PODER
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm>. 
Acesso em: 25 de novembro de 2019. 
 É possível perceber, no mapa acima, que a divisão entre norte e sul não 
corresponde à divisão estabelecida usualmente pela Linha do Equador, uma vez que os 
critérios utilizados para essa divisão são econômicos, e não cartográficos. Percebe-se que 
alguns países do hemisfério norte (como os Estados do Oriente Médio, a Índia, o México 
e a China) encontram-se nos países do Sul, enquanto os países do hemisfério sul (como 
Austrália e Nova Zelândia), por se tratar de economias mais desenvolvidas, encontram-se 
nos países do Norte. No mapa acima também podemos visualizar as áreas de influência 
política dos principais atores econômicos mundiais. Vale lembrar, porém, que a área de 
influência dos EUA pode se estender para além da divisão estabelecida, uma vez que sua 
política externa, muitas vezes, atua nas mais diversas áreas do mundo, com destaque para 
algumas regiões do Oriente Médio.
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm>. Acesso em: 
25 de novembro de 2019.
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
121
Os Estados Unidos destacam-se como uma hegemonia, mesmo com vários 
momentos de dificuldades, se mantém com um papel de extrema importância no 
cenário econômico mundial, e para alguns autores, consideram que não esteja em 
declínio e não será substituído por outro país. 
 
Em um contexto de transformações, Menozzo (2008) relata que após 
as duas grandes guerras, o desempenho dos Estados Unidos na supremacia 
econômica mundial se estabeleceu, e, assim, em 1970, há uma diminuição do 
poderio mundial norte-americano, muito vem sendo dito e escrito sobre a questão 
da sua hegemonia mundial.
Arrighi (1996, p. 27) adota o conceito de hegemonia mundial como 
“capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema 
de nações soberanas”. Salientando que este poder é superior e diferente de uma simples 
dominação. Dominação pode ser vista neste sentido como algo fundamentado na coerção, 
e hegemonia como um poder conquistado, via uma capacidade superior de um grupo ou 
Estado dominante (MENOZZO, 2008, p. 10).
NOTA
Segundo Menozzo (2008), alguns autores mostram-se favoráveis e outros 
não ao poder global da hegemonia dos Estados Unidos, bem como alguns afirmam 
que setores econômicos estão em declínio, não sendo mais respeitado por outros 
Estados. Outros falam que os Estados Unidos estão sempre em ascensão, que são 
um poder global ou uma hegemonia, e alguns admitem “o período conturbado e 
crescentes dificuldades nos próximos anos para manter o controle global político e 
econômico, contudo não há sinais econômicos ou militares que estas dificuldades 
sejam parte de uma crise terminal” (MENOZZO, 2008, p. 10). Como exemplos, 
vemos algumas reportagens sobre os Estados Unidos nas figuras a seguir: 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
122
FIGURA 10 – REPORTAGEM DO SITE EL PAÍS SOBRE POLÍTICAS DOS EUA NA ECONOMIA GLOBAL
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/10/economia/1565433442_441047.html>. 
Acesso em: 2 fev. 2020.
FIGURA 11 – REPORTAGEM SOBRE O REINO UNIDO PÓS-BREXIT
FONTE: <https://brasil.elpais.com/internacional/2020-02-01/o-arduo-caminho-britanico-entre-
feridas-internas-e-a-inferioridade-frente-as-potencias.html>. Acesso em: 2 fev. 2020.
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
123
FIGURA 12 – REPORTAGEM SOBRE A POLÍTICA INTERNA DOS EUA
FONTE: <https://brasil.elpais.com/internacional/2020-02-05/discurso-do-estado-da-uniao-
exibe-a-hostilidade-politica-nos-eua.html>. Acesso em: 2 fev. 2020.
Como vemos nas reportagens, os EUA veem a hegemonia como uma 
relação de forças, até mesmo dentro do país, algunsautores adotam como 
argumento o fato de que neste momento “não há nenhum país, ou outro poder 
qualquer, que possa ser uma ameaça contra-hegemônica ao poder dos Estados 
Unidos, não há no mundo atual um movimento contra-hegemônico capaz de 
mudar tal situação” (MENOZZO, 2008, p. 10). E mesmo que a hegemonia dos 
EUA se estabeleça de forma “maléfica e arrogante”, ela existe desde sua retomada 
após a década de 1970 (MENOZZO, 2008)
De acordo com Harvey (2004 apud MENOZZO, 2008), a hegemonia e o 
domínio dos EUA estão mais uma vez sob ameaça, e desta vez o risco parece maior. 
Suas raízes estão no emprego desequilibrado do capital financeiro como meio de 
afirmar a hegemonia “o que parece ter sido uma manobra autodestrutiva” dentro 
de sua lógica territorial do poder (HARVEY, 2004, p. 65). Porém Harvey adverte 
que os EUA ainda detêm um grande poder – o artefato militar – e que com ele os 
EUA têm condições “de jogar a sua carta mais forte, se necessário coercitivamente”. 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
124
Só que para isso não vão ter que sacrificar apenas “sangue precioso em troca de 
petróleo e da sustentação de uma hegemonia adoecida; eles podem ter de sacrificar 
também todo o seu modo de vida” (HARVEY, 2004, p. 71-72).
Por meio da intensificação de fluxos econômicos e de comunicação 
existentes, desde a década de 1970, houve uma transformação no sistema 
internacional, bem como, Paiva e Scotelaro (2010, p. 91) apresentam as mudanças 
cruciais na redefinição do sistema internacional contemporâneo: 
A perda de centralidade da agenda de segurança na política 
internacional e a consequente ampliação da agenda temática das 
relações internacionais, sobretudo no que se refere à descentralização 
da execução política no cenário mundial, foram mudanças cruciais na 
redefinição do sistema internacional contemporâneo. Em decorrência 
dos impactos da globalização e da interdependência complexa, o 
Estado tem seu papel redefinido com a emergência das unidades 
subnacionais frente às demandas de níveis locais e regionais. 
Segundo Paiva e Scotelaro (2010, p. 106), com o fim da Guerra Fria, 
verificou-se a existência de novos atores além do Estado no sistema mundial, bem 
como, os múltiplos canais de comunicação e a ausência de hierarquia temática, 
sendo as “multinacionais e as demais agências não estatais seriam agentes 
igualmente importantes às negociações internacionais; e, por último, a ausência 
de hierarquia na agenda, uma vez que existem múltiplos atores interagindo no 
ambiente internacional”. 
O advento da globalização foi central para o surgimento desses 
novos atores e para a mudança da agenda internacional, tornando o 
mundo mais interligado e interdependente economicamente. Dentre 
o surgimento desses novos atores percebeu-se a ação internacional 
das unidades subnacionais, nesse caso, as cidades, com o escopo de 
possibilitar o desenvolvimento econômico de suas regiões, gerando 
maior renda e empregos, e melhorando a infraestrutura. A globalização 
modificou as transações econômicas, tornando-as mais complexas 
(PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 106). 
Complementando a análise sobre as transformações ocorridas a partir de 
1970, Paiva e Scotelaro (2010) nos evidenciam que a relação entre o livre comércio 
e os investimentos externos diretos demonstrou ser eficiente para melhorar 
a redistribuição da riqueza entre as empresas grandes e pequenas. Também 
verificou a geração de empregos locais e promoção do crescimento e possibilitou 
redes duradouras com as economias que abrigam as multinacionais. Além disso, 
com esse contexto da Nova Ordem Mundial, a regionalização e a globalização 
são duas faces da mesma moeda. Como exemplificado, vemos como toda decisão 
estava concentrada no Estado Central, responsável pelas ações de política 
externa, e com a existência de um novo papel político das unidades subnacionais, 
exemplificado na figura a seguir: 
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
125
Isso é fundamental na análise, na medida em que a cidade que abriga 
a multinacional é responsável por organizar as questões econômicas 
que concernem a sua região, viabilizando assim o desenvolvimento e 
a promoção local. Dessa maneira, a crescente participação das cidades 
nas transações econômicas e políticas transnacionais contemporâneas 
é resultado de um movimento de descentralização do poder estatal, 
concomitante à iniciativa delas para satisfazer suas demandas locais. 
Como processo em contínua ampliação, a inserção internacional dos 
atores não gera, de imediato, benefícios para o desenvolvimento 
regional, mas é cada vez mais um caminho promissor para as unidades 
subnacionais (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 106).
FIGURA 13 – REPORTAGEM SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE A UNIDADE 
SUBNACIONAL NO BRASIL
FONTE: <https://nacoesunidas.org/evento-em-brasilia-debate-alcance-dos-objetivos-globais-
em-nivel-subnacional-no-brasil/>. Acesso em: 4 fev. 2019.
Assim, em tese, o fenômeno da globalização define teoricamente bem a 
conjuntura econômica e política contemporânea (PAIVA; SCOTELARO, 2010, 
p. 100), e com o intuito de diminuir a importância de barreiras físicas para a 
promoção das relações internacionais, Paiva e Scotelaro (2010) evidenciam que é 
preciso verificar o novo processo que surge paralelamente a essa tendência: “uma 
reaproximação deliberada de atores políticos para a obtenção de ganhos, um 
novo conceito de região, ligado menos a questões fronteiriças do que a questões 
políticas concretas. Um rearranjo político: o regionalismo”. 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
126
Deixamos uma dica de vídeo no link a seguir, intitulado “O poder global dos 
Estados Unidos”, de José Luís Fiori. O vídeo apresenta o ponto de vista sobre as grandes 
potências mundiais, relatando a historicidade de todo o processo. 
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=uBF8qQ73b4I>. Acesso em: 26 nov. 2019.
DICAS
4 UMA NOVA CONJUNTURA MUNDIAL? A GEOPOLÍTICA 
DAS NAÇÕES NA ATUALIDADE DO SÉCULO XXI
As transformações no espaço internacional nos últimos anos resultaram em 
um novo arranjo político e econômico, conferindo uma nova importância à noção 
de região, bem como, ao desenvolvimento econômico mundial, a reorganização 
da produção e o lugar na economia global (PAIVA; SCOTELARO, 2010, P. 99). De 
tal modo, Paiva e Scotelaro (2010, p. 100) reconhecem que as regiões despontam 
no ambiente internacional de acordo com motivações de ordem: 
• Econômica, como a busca por investimentos, mercados e tecnologias 
para modernização.
• Cultural, como a atração de recursos e apoio internacional.
• Política, no intuito de buscar reconhecimento e legitimação de 
suas ações a fim de influenciar decisões públicas locais, bem como 
promover campanhas políticas internacionais. 
E com o fenômeno da globalização, as regiões passam a ter uma maior 
autonomia de ação e alteram as condições de administração dos Estados 
nacionais, e tendem a se organizar para serem competitivas na economia global 
e conseguirem estabelecer redes de cooperação no sistema mundial, com as 
instituições regionais e empresas, sendo cada vez mais dinâmicas (PAIVA; 
SCOTELARO, 2010, p. 100). 
O Estado passa por um processo de descentralização do poder político, 
cujo objetivo, além de desafogar as demandas para a União, também 
é atender à recente demanda de autonomia dos entes subnacionais 
que constituem determinado país. A despeito das mudanças, a 
União ainda legisla sobre os poderes cabíveis a cada um dos entes 
federados; contudo, uma vez adquiridos tais poderes, União, estados 
e municípios (ou quaisquer outras subdivisões interestatais) se tornam 
concorrentes diretos por recursos ao mesmo tempo em que precisam 
estar coordenados pela interdependência natural existente entre eles.
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
127
 Consideramos o termo “região” de acordocom Hocking (2004), para quem o 
termo abarca quaisquer atores além dos Estados centrais – espaços políticos como cidades, 
governos federados, organizações subcontinentais e continentais – que se lancem ao 
ambiente internacional em busca de objetivos concretos que beneficiem suas localidades 
(PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 99).
NOTA
Observe aqui, que surgem novas práticas e atores no cenário 
contemporâneo, e os Estados não surgem mais como os principais atores do 
sistema mundial, mesmo sendo tratados como os mais importantes. Podemos 
perceber, depois dos nossos estudos sobre a região que “é no nível local que 
as ações políticas se expressam de forma mais visível, e se estendem aos níveis 
nacional e internacional na medida em que as atividades sujeitas à regulação 
extrapolam o nível municipal” (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 101).
Como temos as chamadas “cidades-globais” (veja a figura 14, a seguir) que 
são conhecidas também como metrópoles mundiais, são grandes aglomerações 
urbanas que funcionam como centros de influência internacional. Sem dúvida, 
as cidades se modernizaram e são postos de comando da nova organização da 
economia mundial.
Lugares e mercados fundamentais para as indústrias, finanças e serviços 
especializados direcionados às empresas, incluindo a produção de 
inovações. Determinadas cidades já ocupam uma posição de destaque 
nessa nova dinâmica das estruturas mundiais, uma vez que são grandes 
centros financeiros ou comerciais internacionais, como Tóquio, Frankfurt, 
Paris, Londres, entre outros (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 102).
FIGURA 14 – CIDADES-GLOBAIS
FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/
mapa-das-cidades-globais.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019.
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
128
Para finalizar este tópico, vamos acompanhar a transcrição e a tradução da 
reportagem do autor Joseph Nye: mudança do poder global. O historiador e diplomata 
Joseph Nye apresenta a visão da mudança de poder entre China e EUA, e as implicações 
globais na mudança do poder econômico, do poder político e do "soft power" e as 
transformações no mundo.
IMPORTANT
E
Joseph Nye: mudança do poder global
Vou falar sobre o poder no século XXI. E, basicamente, o que eu gostaria 
de falar é sobre a mudança no poder. Há dois tipos de mudança que eu gostaria 
de discutir. Um é o poder de transição, que é a mudança de poder entre os 
Estados. E a versão simples da mensagem, o movimento do Ocidente para o 
Oriente. O outro é o poder de difusão o modo pelo qual o poder está se movendo 
de todos os Estados, do Ocidente ou do Oriente, para atores não-estatais. Essas 
duas coisas são as grandes mudanças de poder no nosso século. Eu quero falar 
sobre cada uma separadamente e depois sobre como elas interagem e por que, 
no final, talvez haja uma boa notícia. Quando falamos de transição de poder, 
com frequência falamos da ascensão da Ásia. Na verdade, deveria chamar-
se a recuperação, ou o retorno, da Ásia. Se olhássemos o mundo em 1800, 
encontraríamos mais da metade da população mundial morando na Ásia e 
eram responsáveis por mais da metade da produção mundial. Agora, dando um 
salto para 1900: metade da população mundial – mais da metade – ainda vive 
na Ásia, mas produzem apenas 1/5 da produção mundial. O que aconteceu? 
A Revolução Industrial, o que significou que, de repente, a Europa e os EUA 
tornaram-se o centro dominante do mundo. Vamos ver que no século XXI é a 
Ásia que, aos poucos, volta a ter mais da metade da população mundial e mais 
da metade da produção mundial. É importante, e é uma mudança importante. 
No entanto, deixe-me falar um pouco sobre outra mudança, que é a difusão 
de poder. Para entender difusão de poder tenham em mente o seguinte: o 
preço de produtos de computação e de comunicação ficaram mil vezes mais 
barato entre 1970 e o início deste século. Isso é um número muito grande e 
abstrato, mas para torná-lo mais real, se o preço de um carro caísse tão rápido 
quanto o preço da computação, hoje você poderia comprar um carro por cinco 
dólares. Quando o preço de algo tecnológica baixa tão drasticamente, caem as 
barreiras para a entrada; qualquer um pode entrar no jogo. Então, em 1970, 
se alguém quisesse se comunicar de Oxford para Johannesburg para Nova 
Deli para Brasília e qualquer outro lugar simultaneamente, conseguiria fazê-
lo, pois havia tecnologia para isso. Contudo, para conseguir, era preciso ser 
muito rico – governo, empresa multinacional, talvez a Igreja Católica – teria 
que se ter muito dinheiro. Hoje, qualquer um pode, o que antes estava restrito, 
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
129
em razão do preço, a poucos atores, basta ter dinheiro para entrar em um 
cybercafé – a última vez que eu vi custava algo como uma libra a hora – e se 
tiverem Skype, é de graça. Então as capacidades que antes eram restritas agora 
estão disponíveis para todos. Isso não significa que a era do poder do Estado 
tenha terminado. O Estado ainda importa. Mas o palco está cheio. O Estado 
não está sozinho. Há muitos, muitos atores. Em parte, isso é bom. Oxfam, um 
bom ator não-governamental. Em parte, isso é ruim. Al Qaeda, outro ator não-
governamental. No entanto, pense em como isso afeta como pensamos em 
termos e conceitos tradicionais. Pensamos em termos de guerra e guerra entre 
Estados. E vocês podem voltar a 1941, quando o Japão atacou os EUA em 
Pearl Harbor. Vale a pena notar que um ator não-estatal ao atacar os EUA em 
2001 matou mais americanos que o Japão em 1941. Vocês podem considerar 
isso como uma privatização da guerra. Então estamos observando uma grande 
mudança em termos de difusão do poder. 
O problema de agora é que nós não estamos pensando nisso de 
forma inovadora. Então, deixe-me voltar e perguntar: o que é poder? Poder 
é simplesmente a capacidade de afetar os outros para conseguir os resultados 
desejados, e vocês podem conseguir de três maneiras. Podem fazer ameaças, 
ou coerção – chicotes, podem fazer utilizando pagamentos – cenouras, 
ou podem fazer que os outros queiram o que você quer. E essa capacidade 
de fazer com que os outros queiram aquilo que você quer, para obter os 
resultados que você deseja, sem coerção ou pagamento, é o que eu chamo de 
'soft power' (poder brando). E o 'soft power' tem sido bastante negligenciado 
e bastante mal-entendido. E mesmo assim é bastante importante. De fato, 
se aprenderem a usar mais o soft power, podem poupar muitas cenouras e 
chicotes. Tradicionalmente, o modo que as pessoas pensavam sobre poder 
era basicamente em termos militares. Por exemplo, o grande historiador de 
Oxford que lecionou aqui nesta universidade, A. J. P. Taylor, definiu uma 
grande potência como sendo um país capaz de vencer a guerra. Precisamos 
de uma nova narrativa se vamos entender o que é poder no século XXI. Não é 
apenas ganhar a guerra, apesar de ainda haver guerras. Não é qual o exército 
que vence; é qual a história que prevalece. Precisamos pensar mais em termos 
de narrativas e quais dessas narrativas serão efetivas. 
Bem, agora vou voltar à questão da transição de poder entre os Estados 
e o que está acontecendo lá. As narrativas que usamos hoje tendem a falar da 
ascensão e queda das grandes potências. E a narrativa atual é sempre sobre a 
ascensão da China e o declínio dos Estados Unidos. Na verdade, com a crise 
financeira de 2008, muitas pessoas falaram que era o início do fim do poder 
americano. As placas tectônicas do mundo político estão se deslocando. O 
Presidente Medvedev, da Rússia, por exemplo, declarou, em 2008, que era 
o início do fim do poder dos Estados Unidos. No entanto, na verdade, está 
metáfora do declínio é frequentemente enganosa. Se observarem a história, a 
história recente, verão os ciclos da crença do declínio americano indo e vindo a 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
130
cada 10 ou 15 anos, mais ou menos. Em 1958, depois que os soviéticoslançaram 
o Sputnik, era: "Esse é o fim dos EUA." Em 1973, com o embargo do petróleo 
e o fim do padrão dólar-ouro, era o fim dos EUA. Na década de 1980, quando 
os EUA passavam por uma transição no governo Reagan, da economia do 
'rust belt' (cinturão da ferrugem) no meio Oeste para a do Vale do Silício na 
Califórnia, esse era o fim dos EUA. De fato, o que vimos é que nada disso era 
verdade. Na verdade, as pessoas estavam muito entusiasmadas no início dos 
anos 2000, pensando que os EUA poderiam fazer qualquer coisa, o que nos 
levou a algumas desastrosas aventuras na política externa, e agora estamos 
novamente de volta ao declínio. 
A moral da história é que todas essas narrativas sobre ascensão e queda 
nos falam mais sobre psicologia que sobre realidade. Se tentarmos enfocar na 
realidade, teremos de centrar no que acontece realmente em termos de China 
e EUA. A Goldman Sachs fez uma projeção que a China, a economia chinesa, 
vai superar os EUA em 2027. Então temos, o quê, 17 anos, mais ou menos, 
pela frente antes de a China nos ultrapassar. Agora, um dia, com 1,3 bilhão de 
pessoas ficando mais ricas, eles ficarão maiores que os Estados Unidos. Tenham 
cuidado com essas projeções, tais como a da Goldman Sachs, se quiserem fazer 
uma imagem precisa da transição de poder neste século. Deixe-me mencionar 
três razões do porquê de ser tão simples. Primeiro, é uma projeção linear. 
Vocês sabem, tudo diz: aqui está a taxa de crescimento da China, aqui está 
a dos EUA, aqui vai – linha reta. A história não é linear. Com frequência há 
obstáculos no meio do caminho, acidentes na estrada. A segunda razão é que 
a economia chinesa supere a economia dos EUA, digamos, em 2030, que é 
possível, considerando o tamanho da economia total, mas não da renda per 
capita – não vai lhes dizer sobre como se compõe a economia. A China ainda 
tem grandes áreas subdesenvolvidas. E a renda per capita é uma medida 
melhor da sofisticação da economia. E isso os chineses não vão igualar ou 
superar os americanos até a última parte deste século, depois de 2050. 
A outra questão que vale a pena ressaltar é que essa projeção é 
unidimensional. Como vocês sabem, a base é o poder econômico medido 
pelo PIB. Não fala muito sobre o poder militar, não fala muito sobre o 'soft 
power'. É apenas unidimensional. E mais, quando pensamos sobre a ascensão 
da Ásia, ou o retorno da Ásia, como eu chamei anteriormente, é importante 
lembrar que a Ásia não é uma coisa só. Se estiver no Japão, ou em Nova Deli, 
ou em Hanói, sua perspectiva da ascensão da China será um pouco diferente 
se você estiver em Beijing (Pequim). Na verdade, uma das vantagens que os 
americanos terão em termos de poder na Ásia é que todos aqueles países 
querem a política de segurança americana contra a ascensão da China. É como 
se o México e o Canadá fossem vizinhos hostis dos Estados Unidos, o que eles 
não são. Então essas projeções simples do tipo da Goldman Sachs não nos 
dizem o que precisamos saber sobre transição do poder. 
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
131
Vocês podem se perguntar, e aí? O que importa? Quem se preocupa? É 
apenas um jogo que os diplomatas e os acadêmicos utilizam? A resposta é que 
isso importa bastante. Porque, se acreditarem em declínio e tiverem as respostas 
incorretas, os fatos, não os mitos, terão políticas muito perigosas. Deixe-me 
dar um exemplo histórico. A Guerra do Peloponeso foi um grande conflito no 
qual o sistema de cidade-estado grego desmantelou-se há 2.500 anos. Qual foi 
a causa? Tucídides, o grande historiador da Guerra do Peloponeso, disse que 
foi o aumento do poder de Atenas e o medo que isso criou em Esparta. Notem 
as duas metades dessa explicação. 
Muitas pessoas argumentam que o século XXI repetirá o século XX, 
onde a Primeira Guerra Mundial, a grande conflagração na qual o sistema de 
estado europeu desmantelou-se e destruiu a centralidade do mundo, que foi 
causada pela ascensão do poder da Alemanha e o medo que isso criou na Grã-
Bretanha. Então, há pessoas que nos dizem que isso será reproduzido nos dias 
de hoje, que vamos ver isso neste século. Não, está errado. É uma leitura ruim. 
Por uma razão, a Alemanha superou a Grã-Bretanha no poderio industrial em 
1900. E, como disse antes, a China não superou os Estados Unidos. No entanto, 
se acreditarem nisso e isso criar uma sensação de medo, pode levar a uma 
reação exagerada. O perigo maior que há em lidar com essa transição de poder 
da mudança para o Oriente é o medo. Parafraseando Franklin Roosevelt, em 
um contexto diferente, a única coisa que devemos temer é o próprio medo. 
Não devemos temer a ascensão da China ou o retorno da Ásia. E, se tivermos 
políticas nas quais tomamos uma grande perspectiva histórica, seremos 
capazes de administrar esse processo. 
Agora, deixe-me falar um pouco sobre a distribuição de poder e como 
se relaciona com a difusão de poder e depois os dois conceitos. Se perguntarem 
como o poder está distribuído no mundo de hoje, a resposta será: bem 
parecido com um jogo de xadrez tridimensional. No topo: poder militar entre 
os Estados. Os Estados Unidos são a única potência, e parece que vai continuar 
desse jeito por duas ou três décadas. A China não vai substituir os EUA no 
tabuleiro militar. No tabuleiro do meio desse jogo de xadrez tridimensional: o 
poder econômico entre Estados. O poder é multipolar. Há os que equilibram. 
Os EUA, a Europa, a China, o Japão podem manter o equilíbrio entre si. A 
parte de baixo desse jogo tridimensional: a das relações transnacionais, coisas 
que cruzam as fronteiras sem o controle dos governos, coisas como mudança 
climática, tráfico de drogas, fluxos financeiros, pandemias, todas essas coisas 
que cruzam as fronteiras foram do controle dos governos, ninguém controla. 
Não faz sentido chamar de unipolar ou multipolar. O poder está distribuído 
de forma caótica. E a única forma de resolver esses problemas – e é aí que se 
localizam muitos dos grandes desafios deste século – é mediante a cooperação, 
por meio do trabalho conjunto, que significa que o “soft powe” torna-se mais 
importante, essa habilidade de criar redes para lidar com esse tipo de problema 
e ser capaz de conseguir a cooperação. 
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
132
Dito com outras palavras, é assim que pensamos em poder no século 
XXI, queremos fugir da ideia que o poder é sempre um jogo de soma zero – 
meu ganho é a sua perda e vice-versa. O poder também pode ser de soma 
positiva, no qual o seu ganho pode ser o meu ganho. Se a China desenvolver 
uma melhor segurança energética e uma maior capacidade para lidar com seus 
problemas de emissão de carbono, é tão bom para nós como é para a China 
e assim como é bom para todos os outros. Portanto, fortalecer a China para 
lidar com seus próprios problemas de emissão de carbono é bom para todos, 
e isso não é soma zero – eu ganho, você perde. É um caso em que todos nós 
podemos ganhar. Então, quando pensamos em poder neste século, queremos 
fugir dessa visão que é tudo: eu ganho, você perde. Eu não quero ser Pollyana 
a respeito desse tema. As guerras continuam. O poder persiste. O poder militar 
é importante. Manter o equilíbrio é importante. Tudo isso permanece. O “hard 
power” está aí, e permanecerá. Entretanto, somente se aprenderem a mesclar 
'hard power' e 'soft power' nas estratégias que eu chamo de "smart power" 
(poder inteligente), poderão lidar com esses novos tipos de problemas que 
enfrentamos. 
Então a pergunta-chave que precisamos fazer ao olhamos isso é como 
podemos trabalhar juntos para produzir bens públicos globais, coisas das 
quais todos nós possamos nos beneficiar? Como definimos nossos interesses 
nacionais de forma a não ser um jogo de soma zero, mas um de soma positiva. 
Nesse sentido, se definirmos nossos interesses, por exemplo, para os Estados 
Unidos do modo que a Grã-Bretanha definiu seus interesses no século 
XIX, mantendo um sistemacomercial aberto, mantendo uma estabilidade 
econômica, mantendo a liberdade de navegação – isso tudo foi bom para a 
Grã-Bretanha, e foi bom para os outros também. E, no século XXI, devem fazer 
algo análogo a isso. Como produzir bens públicos globais, que sejam bons 
para nós, e, ao mesmo tempo, sejam bons para todos? E essa vai ser a dimensão 
da boa notícia do que precisamos para refletir enquanto pensamos no poder 
no século XXI. 
Há formas de definir nossos interesses nas quais, enquanto nos 
protegemos com o “hard power”, podemos criar redes para produzir, não apenas 
bens públicos, mas formas que ampliarão nosso “soft power”. Então, se olharem as 
declarações feitas a esse respeito... fiquei impressionado quando Hilary Clinton 
descreveu a política externa do governo Obama; ela disse que a política externa 
do governo Obama seria de “smart power”, como ela colocou, "usando todas as 
ferramentas da nossa caixa de ferramentas da política externa." E, se formos 
lidar com essas grandes mudanças de poder que descrevi, a mudança de poder 
representada pela transição entre os Estados, a mudança de poder representada 
pela difusão do poder longe de todos os Estados, teremos de desenvolver 
uma nova narrativa do poder na qual combinamos 'hard' e 'soft power' com 
estratégias de 'smart power'. E essa é a boa notícia. Podemos fazer isso.
TÓPICO 2 | A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
133
Se você, acadêmico, preferir pode assistir a essa reportagem acima 
mencionada, é só acessar o link: https://www.ted.com/talks/joseph_nye_global_power_
shifts?language=pt-br.
DICAS
134
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Foi visto o quadro teórico sobre os processos de globalização em hegemônicos 
e contra-hegemônicos, entendendo todo o processo por meio dos conflitos 
dinâmicos de transição dos modelos de Estado, da economia, da cultura e dos 
processos sociais. Como foi caracterizado a ordem de classificação hierarquia 
entre os Estados Nacionais, surgindo novas práticas e atores no cenário 
contemporâneo, e os Estados não surgem mais como os principais atores do 
sistema mundial, mesmo sendo tratados como os mais importantes
• O neoliberalismo defende medidas diversas para alavancar a economia de 
mercado, o sistema financeiro e a concorrência em nível mundial, apresentando 
soluções para a crise do período antecessor, marcado por forte intervenção 
estatal na vida econômica e social.
• Na prática, o que neoliberalismo busca defender é um Estado mínimo para as 
políticas sociais e, ao mesmo tempo, um Estado máximo para a economia.
• O campo político mundial após a Guerra Fria denomina-se Nova Ordem 
Mundial ou Nova Ordem Geopolítica Mundial, visando a um plano geopolítico 
internacional dos poderes e forças entre os Estados Nacionais.
• A década de 1980 se caracteriza em uma nova configuração política mundial.
• A hegemonia mundial é a capacidade de um Estado exercer funções de 
liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas.
• O Estado passa por um processo de descentralização do poder político, cujo 
objetivo, além de desafogar as demandas para a União, também é atender 
à recente demanda de autonomia dos entes subnacionais que constituem 
determinado país.
• As cidades-globais se modernizaram e são postos de comando da nova 
organização da economia mundial, como lugares e mercados fundamentais 
para as indústrias, finanças e serviços especializados direcionados às empresas, 
incluindo a produção de inovações.
• Há dois tipos de mudança na nova ordem mundial dos Estados, um é o poder 
de transição, que é a mudança de poder entre os Estados. E a versão simples 
da mensagem, o movimento do Ocidente para o Oriente. O outro é o poder de 
difusão o modo pelo qual o poder está se movendo de todos os Estados, do 
Ocidente ou do Oriente, para atores não estatais.
135
AUTOATIVIDADE
1 O mundo é atualmente dividido entre países do Norte e países do Sul. Sobre 
essa divisão, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A divisão Norte-Sul não se trata de dividir o mundo em dois hemisférios, 
mas em ordenar a diferenciação entre os países ricos (majoritariamente 
localizados no Sul) e os países pobres (majoritariamente localizados no 
Norte).
b) ( ) A desigualdade mundial fica latente quando se observa que os países do 
Norte detêm 60% da riqueza mundial e apenas 26% da população total 
do globo terrestre. 
c) ( ) A inclusão da Austrália e da Nova Zelândia no eixo dos países do Norte 
é errônea, uma vez que esses países pertencem ao Hemisfério Sul.
d) ( ) O Norte se caracteriza por ter um PIB (Produto Interno Bruto) superior 
ao dos países do Sul, entretanto, as desigualdades sociais e os índices de 
miséria são mais acentuados.
e) ( ) A divisão Norte-Sul é imutável, não havendo possibilidades de nação 
subdesenvolvida se tornar desenvolvida e vice-versa.
2 Com relação às características centrais fundadoras do projeto contra-
hegemônico, por meio das análises de Boaventura de Sousa Santos, analise 
as informações a seguir e marque a opção INCORRETA:
 
a) ( ) A ampliação do conceito de opressão pela identificação de que a exclusão 
social não é única e monolítica, não diz respeito a uma classe e sim a toda 
a humanidade e, por isso, devem ser plurais as lutas emancipatórias.
b) ( ) A exigência de equivalência entre a igualdade e a diferença (os 
indivíduos têm o direito de expressar a sua pluralidade em condições 
iguais de direitos e dignidade e têm de ser tratados como diferentes 
quando a igualdade os oprime).
c) ( ) A valorização da via democrática participativa, “desde cima” para a 
conquista do Território e para a realização de inovações no Estado, com 
a construção de vias mais internas. 
d) ( ) A construção de um “cosmopolitismo subalterno” que envolve ações 
que combatem a opressão não apenas atacando o centro, o Estado e a 
Empresa, mas o vasto conjunto de interações sociais estruturadas pela 
desigualdade de poder.
3 Dominação pode ser vista neste sentido como algo fundamentado na coerção, 
e hegemonia como um poder conquistado, via uma capacidade superior 
de um grupo ou Estado dominante (MENOZZO, 2008, p. 10). Explique o 
conceito de hegemonia mundial. 
136
4 “Não podemos negar que a 'nova ordem' que está se desenhando começou 
a sua gestação dentro da Guerra Fria. Durante toda a sua evolução, de 
1945-1985, a Guerra Fria envolveu outros aspectos que para a época foram 
considerados secundários pelos analistas, mas que acabaram aflorando à 
superfície após o colapso do socialismo no Leste europeu. Talvez, o aspecto 
mais marcante das relações internacionais nos últimos anos tenha sido o 
deslocamento da preocupação essencial com a questão militar e a guerra 
nuclear que foi dando lugar a uma preocupação mais urgente com os 
movimentos da economia mundial”.
FONTE: MARTINEZ, A., TANAKA, H. Sobre a Geopolítica Atual. Akrópolis: Rev. de Ciências 
Humanas da UNIPAR. v. 4, n. 13, p. 15, 1996. 
A geopolítica da Nova Ordem Mundial diferenciou-se do cenário configurado 
no âmbito da ordem da Guerra Fria por:
a) ( ) Multiplicação dos centros de disputa global.
b) ( ) Alteração dos núcleos de poder.
c) ( ) Proliferação dos conflitos armados de grande porte.
d) ( ) Eliminação das intervenções imperialistas.
e) ( ) Bipartidarização do sistema econômico.
137
TÓPICO 3
A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O pensamento sobre os conceitos da geografia ocorre de várias formas 
e com enfoques de ordem cultural, econômica, estratégica e entre outras. A 
valorização do poder, pensando fora do campo do Estado, que é um gerador de 
conflitos de interesses de diversas ordens, altamente complexo, que na atualidade 
é uma fonte de conflitos e alianças, e que vários especialistas tentam explicar e 
descrever, dentre eles o grande pensador e filósofo Michel Foucault. 
Esta é a temática que abordaremos a seguir. Nesta parte do material de 
Geografia Política,abordaremos as seguintes seções em ordem de apresentação: 
na primeira, a questão constituição teórica da biopolítica e do biopoder social, em 
segundo biopolítica e deslocamento de multidões: segurança jurídica e política, 
no terceiro momento, analisaremos biopoder: raça, população e reprodução no 
mundo global. 
Com isso, busca-se apresentar diversos exemplos de áreas e além de 
indicar algumas possibilidades teóricas de análise e interpretação dos fatos. A 
nossa intenção é que você, acadêmico, possa ao final da unidade ter uma opinião, 
teoricamente fundamentada, a respeito dos fenômenos geopolíticos que compõem 
a vida social na atualidade. 
2 CONSTITUIÇÃO TEÓRICA DA BIOPOLÍTICA E DO 
BIOPODER SOCIAL
A constituição teórica do pensamento de Foucault é uma fonte de 
conhecimento para diversos interessados, como uma teoria e gestão estratégica, 
e que é utilizada por numerosas áreas de conhecimento, bem como, nas ciências 
sociais, história, geografia, entre outras. Uma de suas premissas é analisar e 
entender o exercício do poder humano em diversas particularidades: poder 
político, poder social, poder organizacional, micropoderes. O seu trabalho torna-
se uma reflexão sobre o poder, iniciada em suas primeiras publicações, e a partir 
de 1970 vai ter notoriedade. 
138
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
O trabalho de Foucault tornou-se conhecido por sua reflexão sobre 
o poder. Temática já encontrada em suas primeiras publicações, ela 
ganhará destaque a partir do ano de 1970, quando o filósofo passará a 
ministrar cursos no Collège de France, nos quais examinará as diversas 
estruturas políticas engendradas pelas sociedades ocidentais, desde a 
antiguidade greco-romana à contemporaneidade. Para ele, o poder 
encontra-se sempre associado a alguma forma de saber (FURTADO; 
CAMILO, 2016, s.p.). 
A metodologia que Foucault realizou em sua investigação sobre a questão 
do poder, que está escrito em quase toda a sua obra, constituindo-se como uma 
categoria de análise que se destaca em algumas obras implicitamente e em outras 
explicitamente, e não tem por meta fundar uma ciência, teoria ou formular 
sistemas (ALVES, 2006). Corroborando, Alves (2016, p. 234) relata que “uma 
coisa é certa: Foucault não estabelece, propositalmente, uma teoria única e geral 
do poder, pois o autor prefere deixar a questão conceitual do poder em aberto 
devido às múltiplas possibilidades de dispersão que as práticas do poder podem 
assumir no âmbito social”. 
A questão é que Foucault não formula teorias gerais universais. 
A metodologia empregada pelo autor, independente de seus 
objetos de investigação, se abstém dos conceitos universais, da 
ideia de totalidade, uma vez que Foucault lança mão das múltiplas 
possibilidades de dispersão das práticas sociais que possuem em seu 
cerne inúmeras variedades e descontinuidades, rompendo, assim, 
com a universalidade dos conceitos (ALVES, 2016, p. 234).
O autor supracitado explana sobre o fato de que para Foucault: 
A concepção marxista geral do poder é economicista, isto é, se restringe 
a esfera econômica, pois considera apenas a funcionalidade econômica 
do poder onde seu papel é “manter relações de produção e reproduzir 
uma dominação de classe que o desenvolvimento e uma modalidade 
própria da apropriação das forças produtivas tornaram possível”. A 
abordagem genealógica de Foucault concede um sentido muito mais 
amplo e profundo ao poder (ALVES, 2016, p. 235). 
Conforme Furtado e Camilo (2016, s.p.), essa abordagem de Foucault 
se constitui em reflexões que “exercer o poder torna-se possível mediante 
conhecimentos que lhe servem de instrumento e justificação”. Diante dessa 
afirmativa, os autores complementam: 
Em nome da verdade legitimam-se e viabilizam-se práticas autoritárias 
de segregação, monitoramento, gestão dos corpos e do desejo. 
Inversamente, é no centro de aparatos sofisticados de poder que sujeitos 
podem ser observados, esquadrinhados, de maneira que deles sejam 
extraídos saberes produtores de subjetividade. Atendo-se a uma análise 
nominalista, Foucault recusa-se a pensar o poder enquanto coisa ou 
substância, as quais seriam possuídas por uns e extorquidas de outros. 
O poder opera de modo difuso, capilar, espalhando-se por uma rede 
social que inclui instituições diversas como a família, a escola, o hospital, 
a clínica. Ele é, por assim dizer, um conjunto de relações de força 
multilaterais (FOUCAULT, 1999 apud FURTADO; CAMILO, 2016, s.p.). 
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
139
Cabe também observar que as reflexões de francês Michel Foucault se 
fundam em uma tentativa de instituir uma investigação que escape às teorias 
políticas tradicionais estabelecidas, ou seja, “para as quais as relações de força 
são pensadas a partir do modelo do contrato social, da luta de classes, ou ainda 
da figura de um Estado absoluto e opressivo em oposição à sociedade civil” 
(FURTADO; CAMILO, 2016, s.p.). Considerando que o poder atua não em 
conformidade à lógica binária dos dominadores versus dominados. 
Segundo a análise de Pogrebinschi (2004), Foucault se cerca de certas 
precauções metodológicas ao tecer a sua análise genealógica	do	poder, estão elas 
descritas a seguir: 
A primeira dessas precauções, talvez possamos denominar como 
princípio da localidade. O poder é analisado por Foucault em suas formas 
e em suas instituições mais locais. Ao afastar sua genealogia de um suposto 
centro do poder, ao optar pela exegese (significado) de mecanismos específicos 
e não daqueles gerais, Foucault também faz uma opção metodológica em prol 
do afastamento de uma compreensão juridicizada do poder. Seu desejo é o de 
ir para além das regras de direito que organizam e delimitam o poder: é atrás 
delas que estão as técnicas, os instrumentos e até mesmo as instituições que 
Foucault quer trabalhar. É neste contexto que, por exemplo, o poder de punir 
se consolida no suplício: trata-se de um olhar voltado para extremidades, com 
a ressalva de que essas extremidades se situem para além do jurídico.
O segundo cuidado da ordem do método chamaremos de princípio da 
exterioridade ou da objetivação. Trata-se, nas palavras de Foucault, "de não 
analisar o poder no nível da intenção ou da decisão", mas sim de estudá-lo 
sob a perspectiva de sua externalidade, no plano do contato que estabelece 
com o seu objeto, com o seu campo de aplicação. Trata-se, afinal, de buscar 
o poder naquele exato ponto no qual ele se estabelece e produz efeitos 
(FOUCAULT 1999, p. 33). É aqui que podemos identificar talvez o incessante 
desejo de objetivação, o 'objetivismo irremediável' sobre qual fala Habermas 
ao desbravar a obra de Foucault (HABERMAS, 2002, p. 387).
A terceira preocupação metodológica denominaremos como princípio 
da circularidade ou transitoriedade, tendo em vista que consiste na ideia de 
que o poder se exerce em uma espécie de rede na qual os indivíduos estão, a 
cada momento, seja em posição de exercer o poder, seja em posição de serem 
submetidos a ele. Em outras palavras, o poder é algo que circula incessantemente 
sem se deter exclusivamente nas mãos de ninguém: potencialmente, todos 
são, ao mesmo tempo, detentores e destinatários do poder, seus sujeitos ativos 
e passivos – se é que podemos falar em sujeito aqui. Como diz Foucault, "o 
poder transita pelos indivíduos, não se aplica a eles (...) o poder transita pelo 
indivíduo que ele constituiu" (FOUCAULT, 1999, p. 35).
140
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
A quarta preocupação, Foucault orienta-se metodologicamente por 
aquilo que chamaremos de princípio da ascensão. Em sua empreitada de 
romper com a visão jurídica do poder cunhada pela filosofia política moderna, 
Foucault rejeita uma análise descendente, isto é, que parta de cima, do alto 
(do soberano, por exemplo) para baixo. Ao contrário, a trajetória que Foucault 
quer fazer parte de baixo para cima. Essa é a genealogia foucaultiana: uma 
análise ascendente do poder, que partede seus mecanismos moleculares, 
infinitesimais, até chegar àqueles gerais e globais. Não é de se surpreender 
que, na contramão da produção teórica contemporânea – como a de Habermas 
e Rawls, por exemplo –, Foucault não busca compreender o poder pela via das 
instituições estatais, mas sim através de pequenas técnicas, procedimentos, 
fenômenos e mecanismos que constituem efeitos específicos – e não gerais ou 
globais – de poder.
A última das orientações metodológicas de que se cerca Foucault em 
sua análise do poder nos parece poder ser designada na forma de um princípio 
da não ideologização. Foucault quer afastar-se das compreensões ideológicas 
do poder e substituir, no lugar das ideologias; os saberes. O que está na base 
do poder, diz Foucault, não são as ideologias, mas instrumentos de formação 
e acúmulo de saber. Ao exercer-se, o poder forma, organiza e coloca em 
circulação um dispositivo de saber.
Para concluir, vemos o ponto de partida de Foucault ao analisar o tema 
do poder, portanto, parece ser o desejo de rompimento com aquilo que ele 
chama de teorias jurídicas do poder. Com efeito, trata-se de romper com todo 
o arsenal teórico produzido desde a filosofia política moderna no sentido de 
justificar o poder através do contratualismo. Quando Foucault afirma que é 
preciso estudar o poder fora do modelo do Leviatã, o que ele quer ressaltar 
é a necessidade de se pensar o poder fora do campo do Estado e, de forma 
mais específica, da soberania e de suas instituições. No entanto, isso também 
não significa que o poder deve ser pensado em termos marxistas. A noção 
de dominação também não é suficiente para dar conta do conceito de poder, 
diz Foucault; não se a ela não for concedida uma conotação eminentemente 
positiva – coisa que o marxismo, segundo ele, não fez.
FONTE: POGREBINSCHI, T. Foucault, para além do poder disciplinar e do biopoder. Lua 
Nova: Revista de Cultura e Política, n. 63, p. 179-201, 2004. Disponível em: https://dx.doi.
org/10.1590/S0102-64452004000300008. Acesso em: 3 mar. 2020.
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
141
O método análise genealógica do poder foi utilizado pelo filósofo francês 
Michel Foucault (1926-1984) em suas reflexões sobre as tecnologias e dispositivos de 
saber-poder, o método genealógico consiste em um instrumental de investigação 
voltado à compreensão da emergência de configurações singulares de sujeitos, objetos e 
significações nas relações de poder. 
FONTE: MORAES, M. V. M. Genealogia – Michel Foucault. In: Enciclopédia de antropologia. 
São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. 2018. Disponível 
em: http://ea.fflch.usp.br/conceito/genealogia-michel-foucault. Acesso em: 1 fev. 2020.
IMPORTANT
E
Assim, esse conjunto de reflexões referenciam as análises de Foucault 
sobre o biopoder e a biopolítica, portanto: 
O poder sobre a vida instala se como modo de administrar 
populações, levando em conta sua realidade biológica fundamental. 
Através dele, estabeleceu-se em nossas sociedades, desde o século 
XVII, um contingente significativo de conhecimentos, leis e medidas 
políticas, visando ao controle de fenômenos como aglomeração 
urbana, epidemias, transformação dos espaços, organização liberal da 
economia (FURTADO E CAMILO, 2016, s.p.).
3 BIOPOLÍTICA E DESLOCAMENTO DE MULTIDÕES: 
SEGURANÇA JURÍDICA E POLÍTICA
O termo “biopolítica” é utilizado por Foucault para nominar a forma na 
qual o poder tende a se modificar entre o século XIX e o século XX, conduzido que 
as práticas disciplinares utilizadas anteriormente alvejavam governar o indivíduo, 
e com isso a biopolítica tem como finalidade o conjunto dos indivíduos, ou seja, a 
população, e é a prática de biopoderes locais. Constituído pela população, que é 
tanto alvo quanto instrumento em uma relação de poder. Rabinow e Rose (2006, 
p. 28), esclarece que: 
enquanto Foucault é de algum modo impreciso em seu uso dos 
termos no campo do biopoder, podemos usar o termo ‘biopolítica’ 
para abarcar todas as estratégias específicas e contestações sobre 
as problematizações da vitalidade humana coletiva, morbidade e 
mortalidade, sobre as formas de conhecimento, regimes de autoridade 
e práticas de intervenção que são desejáveis, legítimas e eficazes. 
A biopolítica confronta como modelos tradicionais de poder baseados 
na ameaça de morte, representando uma “grande medicina social” que se aplica 
à população a fim de controlar a vida: a vida faz parte do campo do poder. O 
142
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
pensamento medicalizado utiliza meios de correção que não são meios de 
punição, mas meios de transformação dos indivíduos, e toda uma tecnologia do 
comportamento do ser humano está ligada a eles (FERNANDES; RESMINI, 2019). 
Além disso, a biopolítica vai aplicar à sociedade uma distinção entre o 
normal e o patológico e impor um sistema de normalização dos comportamentos 
e das existências, dos trabalhos e dos afetos. E por fim, “as disciplinas, a 
normalização por meio da medicalização social, a emergência de uma série de 
biopoderes e a aparição de tecnologias do comportamento formam, portanto, uma 
configuração do poder que, segundo Foucault, é ainda a nossa” (FERNANDES; 
RESMINI, 2019, p. 1). 
Verifique a sugestão que elencamos para ampliar o debate sobre o conceito 
de biopoder na atualidade. 
FONTE: RABINOW, P.; ROSE, N. O conceito de biopoder hoje. Revista de ciências sociais – 
política e trabalho, n. 24, p. 27-57, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.
php/politicaetrabalho/article/view/6600. Acesso em: 5 dez. 2019.
DICAS
4 BIOPODER: RAÇA, POPULAÇÃO E REPRODUÇÃO NO 
MUNDO GLOBAL
De acordo com Fernandes e Resmini (2019), o biopoder é uma tecnologia de 
poder, um modo de exercer várias técnicas em uma única tecnologia. Permitindo 
o controle de populações inteiras, sendo em uma era em que o poder deve ser 
justificado racionalmente, o biopoder é utilizado pela ênfase na proteção de vida, 
na regulação do corpo, na proteção de outras tecnologias. 
Rabinow e Rose (2006, p. 28) menciona que: 
Neste nível mais geral, então, o conceito de ‘biopoder’ serve para 
trazer à tona um campo composto por tentativas mais ou menos 
racionalizadas de intervir sobre as características vitais da existência 
humana. As características vitais dos seres humanos, seres viventes 
que nascem, crescem, habitam um corpo que pode ser treinado e 
aumentado, e por fim adoecem e morrem. E as características vitais 
das coletividades ou populações compostas de tais seres viventes.
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
143
Portanto, os biopoderes se ocuparão então da gestão da saúde, da higiene, 
da alimentação, da sexualidade, da natalidade, dos costumes, tornando-se, ao 
longo do tempo, preocupações políticas (FERNANDES; RESMINI, 2019). Os 
autores em análise deste pensamento verificam que a emergência do biopoder só 
se dá a partir da firmação da governamentalidade. 
Governamentalidade é um conjunto de instituições, práticas e 
formas de pensamento próprias desta forma de exercer o poder, 
em que temos a população como alvo principal, a economia 
política como saber mais importante e os dispositivos de 
segurança como instrumento técnico essencial (FERNANDES; 
RESMINI, 2019, p. 1).
Para finalizar este tópico, deixamos como sugestão a entrevista sobre 
biopolítica, biopoder e o deslocamento das multidões. Entrevista com a professora doutora 
e pesquisadora do Laboratório Território e Comunicação Leonora Corsini. O conteúdo 
está disponível no Portal do Instituto Humanitas Unisinos. Acesse o link: http://www.ihu.
unisinos.br/entrevistas/10015-biopolitica-biopoder-e-o-deslocamento-das-multidoes-
entrevista-especial-com-leonora-corsini.
DICAS
144
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
LEITURA COMPLEMENTAR
A DIMENSÃO ESPACIAL DO PODER: DIÁLOGOS ENTRE FOUCAULT 
E A GEOGRAFIA
Fernando Roberto 
Jayme ALVES
RESUMO: O poder constitui uma complexa e ampla categoriade análise que se 
apoia em toda a produção do tempo e do espaço. O poder extrapola os limites 
do Estado, não é exclusivo de nenhuma ciência e se encontra nas relações sociais 
que tecem toda a sociedade. A partir das análises de Michel Foucault sobre o 
poder, abordaremos a histórica e importante relação entre espaço e poder. Para 
Foucault, não existe uma teoria geral do poder, ou melhor: o poder em si não 
existe, ele não é um objeto e sim algo que se exerce, que se encontra nas relações 
sociais. A genealogia do poder de Foucault estabelece relações entre saber, poder 
e verdade. Ele estabelece uma visão ontológica do poder que, em sua condição 
de existência, se manifesta na organização do espaço dentro das instituições. As 
formas locais e os efeitos do poder determinam esta organização. A disciplina, a 
vigilância e o controle envolvem diretamente a questão espacial. Através dessas e 
outras considerações, será abordada a dimensão espacial do poder com o objetivo 
de estabelecer algumas ligações entre a perspectiva genealógica de Foucault e o 
pensamento geográfico. 
PALAVRAS-CHAVE: Foucault. Poder. Espaço. Corpo. Disciplina.
INTRODUÇÃO 
A palavra poder possui uma significação bastante complexa, pois envolve 
uma série de elementos que abarcam toda a sociedade. Sua abrangência é 
inestimável uma vez que o poder envolve as relações sociais, constituindo um 
campo de forças, um afrontamento, uma disputa onde se ganha ou se perde. 
A questão do poder constitui um velho tema que já foi discutido e debatido 
incansavelmente. Diversos autores já analisaram esta categoria classificando 
o poder como a capacidade de exercer domínio através do binômio ordem/
obediência, ou como mecanismo de controle e repressão social exercido 
predominantemente pelo Estado, dentre outras interpretações. 
O poder abrange as noções de soberania, potência, domínio, ordem, lei, 
regra, norma, obediência etc. Assim, o poder envolve a esfera política, econômica, 
cultural e social. Enfim, o poder é demasiadamente amplo, complexo e profundo, 
ao ponto de acreditarmos que ninguém está isento dele, ou pelo menos de seus 
efeitos. Raffestin (1993, p. 6) afirma que “o poder não é nem uma categoria 
espacial nem uma categoria temporal, mas está presente em toda produção "que 
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
145
se apoia no espaço e no tempo”. Considerando que espaço e tempo são categorias 
universais, percebe-se a amplitude e, portanto, a complexidade do tema poder. 
Com certeza isso torna a tarefa de pontuá-lo com propriedade mais difícil. 
Representar o poder não é fácil, mas ele é, contudo, decifrável. 
Em sua amplitude, o poder perpassa várias barreiras e delimitações que 
existem entre as diversas áreas do conhecimento, sendo que ele não é exclusivo 
de nenhuma delas. O poder é constituído enquanto categoria de análise para a 
filosofia, ciência política, sociologia, geografia, história, direito, economia; isto 
para citar alguns exemplos. Sabe-se que cada ciência lança uma perspectiva 
diferente sobre o poder de acordo com suas especificidades que a caracteriza 
enquanto uma área do conhecimento. O caso da geografia é notório, pois esta 
ciência possui um estreito laço com o poder uma vez que “a organização espacial 
é um eficaz mecanismo do exercício do poder” permitindo-nos falar em uma 
dimensão espacial do poder. 
A relação entre espaço e poder é antiga e sempre permeou assuntos 
relacionados às preocupações da geografia como as batalhas e as guerras o que 
ficou nítido nas formulações de alguns teóricos da geografia política clássica no 
final do século XIX e início do século XX. Posteriormente, Yves Lacoste explicitou 
esta relação entre a geografia e o poder do Estado nação na obra A Geografia – 
isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Uma característica forte desta 
abordagem do poder é entender o Estado como o aparelho central e exclusivo do 
poder, o que alguns autores chamarão de uma análise “estadocêntrica” do poder, 
como veremos adiante.
Compreendendo que o poder em sua plenitude extrapola os limites do 
Estado, pretende-se analisar esta complexa categoria, isto é, o poder, a partir 
das contribuições teóricas de Michel Foucault, pois acredita-se que este autor 
conseguiu introduzir algumas novidades no âmbito de suas análises acerca 
do poder, avançando, assim, nas discussões de tal categoria que, por sua vez, 
ecoaram no pensamento geográfico. 
Michel Foucault propõe um procedimento metodológico de análise do 
poder no qual recebe o nome de genealogia – metáfora biológica que o autor 
retira de Friedrich Nietzsche. Para Foucault não existe uma teoria geral do 
poder onde se encerra toda a problemática e complexidade que o envolve. Na 
perspectiva genealógica levantada pelo autor, o poder não é um objeto em si, 
ele não existe, pois o que existe são práticas ou relações de poder. Isto significa 
dizer que “o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona [...] como 
uma maquinaria, como uma máquina social que não está situada em um lugar 
privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura social. Não é um 
objeto, uma coisa, mas uma relação”. 
146
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
Portanto, nada está isento de poder, ele está em todos os lugares e é exercido 
constantemente. Se o poder realmente se estabelece através de uma relação, ele 
implica de forma irremediável em disputas e lutas que, consequentemente, se 
distribuem nas entranhas da dinâmica socioespacial das sociedades. Afinal, 
existe uma lógica espacial por trás do ordenamento dos mecanismos do poder? 
Há de fato uma dimensão espacial do poder em Michel Foucault? O que este 
autor tem a dizer para a geografia no que se refere à relação entre poder e espaço? 
Quais são as principais contribuições de Foucault para o pensamento geográfico 
contemporâneo? 
Tentaremos pontuar algumas características importantes da abordagem 
foucaultiana sobre o poder para que seja possível estabelecer alguns laços 
teóricos entre seu pensamento e algumas problemáticas espaciais que envolvem 
a geografia. Não pretendemos responder todas as questões suscitadas acima de 
forma pronta, acabada e fechada, pelo contrário, temos como objetivo levantar 
alguns debates e indagações pertinentes à geografia a partir da análise realizada 
por Foucault sobre o poder. Dessa forma, estamos em consonância com o 
pensamento de Raffestin (1993, p. 8) que afirma ser “pelo questionamento e não 
pelas respostas que se alcança a medida do conhecimento”.
FONTE: ALVES, F. R. J. A dimensão espacial do poder: diálogos entre Foucault e a Geografia. 
2013. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/geoemquestao/article/
view/6725/5793. Acesso em: 3 mar. 2020.
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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
147
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O professor e pesquisador Foucault é uma fonte de conhecimento para diversas 
áreas da ciência, como uma teoria e gestão estratégica, e que é inspiração e 
utilizada por numerosas áreas de conhecimento, bem como, nas ciências 
sociais, história, geografia e dentre outras.
• O trabalho de Foucault tornou-se conhecido por sua reflexão sobre o poder. 
Para ele, o poder encontra-se sempre associado a alguma forma de saber.
• O poder constitui uma complexa e ampla categoria de análise que se apoia 
em toda a produção do tempo e do espaço. O poder extrapola os limites do 
Estado, não é exclusivo de nenhuma ciência e se encontra nas relações sociais 
que tecem toda a sociedade.
• Para Foucault não existe uma teoria geral do poder, ou melhor, o poder em si 
não existe, ele não é um objeto e sim algo que se exerce, que se encontra nas 
relações sociais. Exercer o poder só é possível mediante conhecimentos que lhe 
servem de instrumento e justificação. 
• O poder opera de mododifuso, capilar, espalhando-se por uma rede social que 
inclui instituições diversas como a família, a escola, o hospital, a clínica. Ele é, 
por assim dizer, um conjunto de relações de força multilaterais.
• Essa é a genealogia foucaultiana: uma análise ascendente do poder, que parte 
de seus mecanismos moleculares, infinitesimais, até chegar àqueles gerais, 
globais.
• A genealogia do poder de Foucault estabelece relações entre saber, poder e 
verdade.
• Podemos usar o termo ‘biopolítica’ para abarcar todas as estratégias específicas 
e contestações sobre as problematizações da vitalidade humana coletiva, 
morbidade e mortalidade, sobre as formas de conhecimento, regimes de 
autoridade e práticas de intervenção que são desejáveis, legítimas e eficazes.
• O conceito de ‘biopoder’ serve para trazer à tona um campo composto por 
tentativas mais ou menos racionalizadas de intervir sobre as características 
vitais da existência humana. As características vitais dos seres humanos, 
seres viventes que nascem, crescem, habitam um corpo que pode ser treinado 
e aumentado, e por fim adoecem e morrem. E as características vitais das 
coletividades ou populações compostas de tais seres viventes.
148
1 A genealogia do poder de Foucault estabelece uma visão ontológica do 
poder que, em sua condição de existência, se manifesta na organização 
do espaço dentro das instituições. As formas locais e os efeitos do poder 
determinam esta organização. A disciplina, a vigilância e o controle 
envolvem diretamente a questão espacial. Portanto, a genealogia do poder 
estabelece relações entre: 
a) ( ) Inteligência, verdade e organização.
b) ( ) Saber, disciplina e controle. 
c) ( ) Organização, controle e poder. 
d) ( ) Saber, poder e verdade. 
e) ( ) Verdade, existência e saber. 
2 O conceito biopoder é considerado uma tecnologia de poder, um modo 
de exercer várias técnicas em uma única tecnologia. Ele permite o controle 
de populações inteiras. Em uma era onde o poder deve ser justificado 
racionalmente, o biopoder é utilizado pela ênfase na proteção de vida, 
na regulação do corpo, na proteção de outras tecnologias. Os biopoderes 
se ocuparão então da gestão da saúde, da higiene, da alimentação, da 
sexualidade, da natalidade, dos costumes etc., na medida em que essas se 
tornaram preocupações políticas (FERNANDES; RESMINI, 2019).
Analise as seguintes afirmativas:
I- É uma tecnologia de poder. 
II- É utilizado pela ênfase na proteção de morte.
III- Utilizado na regulação do corpo.
IV- Utilizado na proteção de outras tecnologias. 
V- Utilizado para a vitalidade humana coletiva.
É CORRETO o que se afirma em:
a) ( ) I e IV. 
b) ( ) II e III. 
c) ( ) III e IV. 
d) ( ) I, II e III. 
e) ( ) I, III e IV.
3 Michel Foucault propõe um procedimento metodológico de análise do 
poder que recebe o nome de genealogia – metáfora biológica que o autor 
retira de qual autor base? 
a) ( ) Paul Vidal de La Blache.
b) ( ) Friedrich Nietzsche.
c) ( ) Friedrich Ratzel.
d) ( ) Carl Ritter.
AUTOATIVIDADE
149
UNIDADE 3
TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA 
POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender os temas mais relevantes e os problemas característicos da 
geografia política contemporânea; 
• compreender os deslocamentos populacionais e as migrações como for-
mas gerais de produção e de transformação do espaço a partir de conflitos 
que persistem ao longo dos séculos e de novos conflitos produzidos no 
século XXI;
• entender as migrações internacionais e os processos que coadunam nas 
diversas formas de refúgios, produzindo outros territórios, inclusive, os 
territórios da espera;
• compreender a geopolítica mundial a partir do continente africano, ex-
plorado e em abandono e a América Latina, por meio de seus caminhos e 
descaminhos;
• identificar o que são e como se dão as formações nacionais e as diferentes 
possibilidades de inserção regional;
• aprender a geografia política pelo recorte do meio ambiente, da gestão 
dos recursos e da sustentabilidade, incluindo as práticas de gestão inter-
nacional dos recursos naturais.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. 
TÓPICO 1 – CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
TÓPICO 3 – GEOGRAFIA POLÍTICA E O MEIO AMBIENTE, GESTÃO 
DOS RECURSOS E SUSTENTABILIDADE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
150
151
TÓPICO 1
CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Esta unidade está dividida em três tópicos, sem perder o objetivo maior 
que os aglutina, ou seja, o estudo dos temas e problemas da geografia política 
contemporânea. Neles, perpassamos os conflitos mundiais em suas dimensões 
territoriais, os deslocamentos populacionais e os processos migratórios e as 
situações de refúgio. Além disso, será possível a compreensão da geografia 
política dos continentes considerados subdesenvolvidos, quais sejam, o africano 
e o latino americano. 
Neste tópico, por meio de uma abordagem teórico-empírica, estudaremos 
questões que margeiam o termo “conflito”: poder, disputas e guerras, que, 
somadas a outros elementos, fazem com que cada vez mais um contingente 
amplo de pessoas se desloque pelo planeta. 
A abordagem é textualmente única e remete às guerras ocorridas (e 
que ainda ocorrem) no século XXI. No seu interior, no entanto, destacamos os 
conflitos mais perenes e instáveis em termos geopolíticos, fundamentados por 
concepções teóricas e conceituais que permitem ao estudante a compreensão 
de termos, muitas vezes, banalmente utilizados no cotidiano das mídias. Os 
exemplos, então, são de eventos reais que transformaram a geopolítica mundial e 
regional das escalas nas quais ocorreram.
Além disso, apresentam-se os motivos indutores dos deslocamentos 
populacionais, especialmente, os socioeconômicos, os culturais e os geopolíticos, 
bem como aprofunda-se o conceito que fundamenta os deslocamentos, qual seja, 
o de migrações e seus derivados: migrações internacionais, migrações internas, 
emigração, imigração além do conceito de refúgio e de refugiado. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
152
2 CONFLITOS QUE PERSISTEM: AS GUERRAS DO SÉCULO XXI
O Jornal Argentino “El País”, em reportagem de 12 de fevereiro de 
2017 reproduzida a seguir, define com propriedade as duas características, 
dialeticamente opostas, que definem as guerras do século XXI das anteriores, 
quais sejam: a presença, compartilhada, de elementos bélicos muito específicos, 
tanques e ciberataques no mesmo campo de batalha. 
Assim, são também denominadas de guerras híbridas, de acordo com 
Korybko (2018, s.p.): 
As Guerras Híbridas são conflitos identitários provocados por agentes 
externos, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, 
socioeconômicas e geográficas, em países de importância geopolítica, 
por meio da transição gradual das revoluções coloridas para a guerra 
não convencional, a fim de desestabilizar, controlar ou influenciar 
projetos de infraestrutura multipolares por meio de enfraquecimento 
do regime, troca do regime ou reorganização do regime.
O autor afirma, ainda, que isso significa que países como os EUA se 
aproveitam de problemas identitários em um Estado-alvo a fim de mobilizar uma, 
algumas ou todas as questões identitárias mais comuns para provocar grandes 
movimentos de protesto, que podem então ser cooptados ou dirigidos por eles 
para atingir seus objetivos políticos.
Esses elementos tornam as chamadas “guerras modernas” conceitualmente	
híbridas	e	convencionais, de alta e de baixa intensidade, de vitórias e derrotas 
ambíguas, levando a história a escrever o momento de maiores incertezas dostempos recentes.
FIGURA 1 – AS GUERRAS DO SÉCULO XXI
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/10/internacional/1486742896_396520.html>. 
Acesso em: 3 jun. 2020.
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
153
Esta “nova” forma de fazer a guerra, assente na teoria da guerra 
híbrida, engloba uma combinação única de ameaças híbridas, Estados 
falhados e atores não estatais, apoiados por Estados), que exploram 
uma combinação de desafios, empregando todas as formas de guerra 
e táticas, mais frequentemente em simultâneo. É fundamental que 
entendamos essas características de mudança, a sua natureza, as 
suas relações e a sua história para uma compreensão aproximada do 
fenômeno (FERNANDES, 2016, p. 13).
FIGURA 2 – MODELO CONCEITUAL DE GUERRA HÍBRIDA
FONTE: U. S. Government Accountability Office (2010, p. 16)
E como começou o século das guerras híbridas? Ou como as guerras 
híbridas começaram no século XXI? 
O dia 11 de setembro de 2001 é considerado um marco para a geopolítica 
dos fluxos e dos fixos mundialmente e razoavelmente instáveis após o final da 
Guerra Fria. O ataque terrorista ao World Trade Center, um complexo formado por 
sete edifícios, sendo as Torres Gêmeas as mais conhecidas. Observe na figura as 
chamas decorrentes do impacto da queda de dois aviões comerciais tomados por 
terroristas, em Nova Iorque.
IRREGULAR
Defesa Interna
Terrorismo
Contra Terrorismo não convencional
Contrainsurgência (resistência a um 
movimento de insurgência)
Operações de Estabilização 
(operações de apoio à paz em conflitos)
HÍBRIDA
Convencional
Irregular
Criminalidade
Cyber
CONVENCIONAL
Conflito Internacional
Forças Regulares
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
154
FIGURA 3 – ATAQUE AS TORRES GÊMEAS, EM NOVA IORQUE, 2001
FONTE: <https://gazetaweb.globo.com/fotosPortal/portal_gazetaweb_com/noticias/foto_
grande/2017/09/201709110723_781ff506a4.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
O atentado foi realizado, com autoria declarada, pela organização 
terrorista conhecida como Al-Qaeda, surgida no final da década de 1980, durante 
a Guerra do Afeganistão. A organização tinha como líder Osama Bin Laden, além 
de ser um de seus fundadores.
O “11 de setembro” mudou tudo! Confira no link: https://brasil.elpais.com/
brasil/2017/02/10/internacional/1486742896_396520.html.
IMPORTANT
E
Os desdobramentos dos acontecimentos do 11 de setembro têm resquícios 
até os dias atuais e são responsáveis pelas guerras do século XXI, guardadas 
algumas especificidades. Ainda em outubro de 2001, o exército americano invade 
o Afeganistão, com o objetivo de eliminar o Talibã, seu governo, que também era 
de orientação fundamentalista e que havia dado abrigo à Al-Qaeda.
A invasão realizada pelos americanos derrubou o Talibã e o país 
ainda vive em situação de instabilidade, com combates internos contra e a 
favor do Talibã, que busca recuperar o poder. Entre os anos de 2001 e 2016 
aproximadamente 31 mil pessoas morreram, no Afeganistão, em consequência 
da guerra (BBC BRASIL, 2019b).
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
155
Os Estados Unidos, por sua vez, inflaram as normas de segurança de voos 
comerciais, tornando-as extremamente rígidas, bem como criou uma centena 
de duras medidas para combater o terrorismo. E assim, constituiu-se a primeira 
guerra declarada do século XXI, deflagrada, como não poderia deixar de ser, pela 
maior potência ou pela superpotência mundial. 
A única superpotência da atualidade [...] ocupa posição central nessa nova 
ordem capitalista "imperial". Seu espaço territorial, que não se confunde com as abertas 
fronteiras do Império capitalista, é o centro nervoso – dinâmico – de onde emanam e 
para onde convergem os fluxos dessa nova ordem econômica. Atores privilegiados, os 
EUA são também os "ordenadores" ou "regentes" do Império, extraindo dele os maiores 
dividendos. Natural, nesse contexto, que os EUA, império dentro do "Império", tenham 
logrado alçar-se, nos últimos anos, a uma situação de incontrastável superioridade em 
todos os campos do poder: econômico, tecnológico e militar. O poderio político, que nada 
mais é do que o exercício dessa superioridade no campo da relação entre os Estados, 
decorre direta e naturalmente dessa situação, que os EUA procurarão manter por todos os 
meios (BARBOSA, 2002, p. 73).
IMPORTANT
E
Rupturas e continuidades do 11 de setembro sobre a ordem 
internacional – a Guerra do Iraque, 2003.
 Após aprender sobre as Guerras do século XXI, você concorda que os eventos de 
11 de setembro transformaram, de fato, a ordem global a ponto de constituir um divisor de 
águas na geopolítica mundial?
 E a partir dessa geopolítica, quais seriam as consequências para os deslocamentos 
populacionais e para as migrações internas e externas?
ATENCAO
A Guerra do Iraque (2003-2010) foi a mais longa, até o momento, do 
século XXI. Ela envolveu um conjunto de elementos de cunho históricos, posto 
o Iraque ser parte da agenda americana de alertas, ou seja, de uma lista de 
países que são considerados ameaça ao país. Esses alertas, no entanto, eram 
como política de contenção e não de deposição do regime de Saddam Hussein. 
De acordo com Moura e Souza (2019), dois fatores indicaram a mudança na 
estratégia americana, que culminou com a guerra. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
156
O primeiro a eleição de George W. Bush e a nova equipe de governo 
contando com vários envolvidos na Guerra do Golfo de 1991, 
um grupo de pressão que acreditou ser o momento de terminar a 
tarefa inacabada na gestão de George Bush, pai do atual presidente 
americano. A Casa Branca considerou Saddam Hussein como uma 
ameaça aos interesses americanos na região, aos aliados dos Estados 
Unidos no mundo árabe e a Israel. O segundo motivo causa da 
guinada na política americana está nos atentados de 11 de setembro 
(MOURA; SOUZA, 2019, p. 10-11).
Assim, em 20 de março de 2003, as forças armadas americanas aliadas 
a britânicos e outras forças internacionais iniciaram a Guerra do Iraque ou a 
Segunda Guerra do Golfo, que perdurou até 2010. A troca de ofensivas foi iniciada 
a partir do discurso de Jorge W. Bush, que inseriu o Iraque, o Irã e a Coreia do 
Norte como “Eixo do Mal”, exaltando os ânimos entre os dois países. 
A alegação, além daquelas vinculadas ao 11 de setembro, era a de que o 
regime do presidente iraquiano Saddam Hussein desenvolvia armas químicas e 
de "destruição em massa". O conflito foi o mais longo, com participação norte-
americana, desde a guerra do Vietnã, com consequências de “efeito dominó” até 
os dias de hoje na região. As suspeitas consideradas verídicas do governo norte-
americano, ou seja, a existência de armas químicas e de destruição em massa 
nunca foram comprovadas. 
Uma cena emblemática, ocorrida em abril de 2003, foi a derrubada da 
estátua de Saddam Hussein, na praça Farduss, no coração de Bagdá, por comboios 
americanos. A cena foi transmitida para todo o mundo, pelos canais de TV, e 
demonstrava a ruína do regime do ditador no país. 
FIGURA 4 – Queda da Estátua de Saddam Hussein, na praça central de Bagdá, 
em 9 de abril de 2003.
FONTE: <https://home.img.uol.com.br/0803/j/1903iraque.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
157
Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xnx5VhwGKbA.
DICAS
Aproximadamente 650 mil iraquianos morreram na guerra, de acordo com a 
ONU (2010), entre eles o ditador Saddam Hussein, capturado pelo exército estadunidense. 
Entregue às autoridades iraquianas, foi condenado à morte e executado em dezembro 
de 2006. A guerra teve fim, mas não impediu o fortalecimento da Al-Qaeda, do Estado 
Islâmico e de outros grupos.
DICAS
Apesar de quase nenhum país no mundo se opor à queda do regime de 
Hussein, a maioria das nações e a opinião pública eram contrárias à guerra. Até hoje, 
questionam-se as razões para a invasão, visto que as armas de destruição em massa não 
foram encontradas e nãohouve comprovação da relação de Hussein com a Al-Qaeda. Em 
2016, um relatório feito pelo governo britânico para avaliar a decisão de participar da guerra 
concluiu que a ação militar não era o último recurso, e que as consequências da invasão 
foram subestimadas.
FONTE: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/08/o-que-voce- 
precisa-saber-sobre-guerra-do-iraque.html>. Acesso em: 8 jul. 2020.
ATENCAO
A Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) teve início no dia 12 
de julho de 2006. Por ela, o mundo presenciou mais um conflito armado, iniciado 
entre o Líbano e Israel, a partir de um ataque do grupo xiita libanês a Israel que 
levou à morte oito soldados (FREITAS, s.d.).
Esse ataque teve como pretexto testar os conhecimentos estratégicos do 
primeiro ministro israelense Ehudo Olmert e verificar como ele se comportaria 
em crises militares, devido a sua possível inexperiência com relação ao tema. 
Além desses fatos, a captura de dois soldados israelenses pelo grupo Hezbollah 
completou o conjunto de eventos que desencadeou a Guerra do Líbano. 
Rapidamente, essas ofensivas avançaram para um violento conflito armado. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
158
Várias tentativas de conter os acometimentos foram realizadas por 
diversos líderes mundiais e pela ONU que, por meio de seu Conselho de 
Segurança, propôs uma solução para o fim do conflito, ainda em 2006. 
FIGURA 5 – ISRAEL, LÍBANO, SÍRIA E JORDÂNIA, ALÉM DOS TERRITÓRIOS PALESTINOS
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Lebmap_3rd_day.
jpg/300px-Lebmap_3rd_day.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
O Conselho de Segurança aprovou, então, a Resolução nº 1701, elaborada 
por americanos e franceses, pondo fim aos ataques do Hezbollah. Além disso, 
colaboraram para a retirada das tropas de Israel do território libanês, bem como 
colocaram ao longo da fronteira sul do Líbano um grupo de missão de paz, da 
ONU, libertando todos os soldados israelenses e colocando fim ao conflito. Em 
meio a essas e outras estratégias, ressurge politicamente Benjamin Netanyahu 
que se encontra no poder até hoje.
Hezbollah é uma organização com atuação política e paramilitar que segue 
a corrente xiita do islamismo e, em árabe significa “partido de Alá ou “partido de Deus” 
(SOARES, 2001). O Hezbollah é, ainda, reconhecido, por grande parte do mundo islâmico e 
árabe, como um movimento de resistência legítimo. Apesar de a União Europeia e o Reino 
Unido (Principal aliado dos Estados Unidos) classificarem dessa forma tão somente o braço 
militar da organização, o grupo é considerado uma organização terrorista pelos Estados 
Unidos e outros países
NOTA
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
159
Segundo a organização Human Rights Watch (HRW, 2018, p. 8), “o conflito 
resultou em ao menos 1.109 libaneses mortos, a grande maioria civis, 4.399 feridos 
e uma estimativa de um milhão de deslocados”. A organização também revelou 
que 43 civis israelenses e 12 soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) foram 
mortos durante o confronto.
Ainda sobre as guerras do século XXI, o que se denomina de operação 
chumbo fundido é uma longa e complicada guerra, com séculos de duração, entre 
israelenses e palestinos, sendo parte de um contexto maior, o conflito árabe-
israelense. Quando pensamos em analisar as guerras do século XXI e como elas 
impactaram nos deslocamentos populacionais, era esse recorte escalar espacial e 
temporal que pensávamos expor. 
Assim, essa longa história não será explicada em detalhes aqui. Cabe a nós 
deixar um conjunto de indicações de literaturas para que seus estudos possam ser 
os mais produtivos possíveis.
SUGESTÕES DE LITERATURA
ARAGÃO, M. J. Israel X Palestina – Origens, história e atualidade do conflito. Rio de Janeiro: 
Revan, 2005.
BAEZA, C. O reconhecimento do Estado palestino: origens e perspectivas. Revista Meridiano 
47, v. 12, n. 126, p. 34-42, jul/ago. 2011.
CHOMSKY, N. Rumo a uma nova guerra fria. São Paulo: Record, 2007.
GRESH, A. Israel X Palestina – Verdade sobre um conflito. Lisboa: Campo das Letras, 2002.
OZ, A. Como curar um fanático: Israel e Palestina: entre o certo e o certo. São Paulo: Cia. 
das Letras, 2016.
SAID, E. Orientalismo – O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia das Letras, 
2007.
SANTOS, G. L. Direito humano de acesso à água pelos palestinos: o problema hídrico 
no conflito árabe-israelense. 2018. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Pós-
Graduação em Direito. UFSC: Florianópolis.
DICAS
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
160
A Operação Chumbo Fundido foi uma grande ofensiva militar das 
Forças de Defesa de Israel, realizada na Faixa de Gaza, a partir do dia 27 de 
dezembro de 2008, deixando um saldo negativo no plano humanitário: 1.417 
mortos e 4.336 feridos, em sua maioria civis, segundo o Centro Palestino para 
os Direitos Humanos (PCHR) da ONU (2010). 
FIGURA 6 – ÁREA DA OPERAÇÃO FERRO FUNDIDO, 2008
FONTE: <https://issuu.com/ochaopt/docs/ocha_opt_gaza_crisis_overview_20100704_174329>. 
Acesso em: 3 jun. 2020.
O principal objetivo, de acordo com os israelenses, era o de deter os ataques 
de foguetes do Hamas contra o seu território. Para os palestinos, os ataques eram 
respostas ao fato de Israel não ter cessado os ataques ao território palestino, bem 
como não ter interrompido o bloqueio à Faixa de Gaza, mesmo com o cessar-
fogo que vigorou por seis meses anteriormente a Operação Chumbo Fundido 
(BAEZA, 2011). 
Hamas é a denominação do partido político majoritário no Conselho 
Legislativo da Palestina, sendo responsável pelo controle da Faixa de Gaza. Considerado 
terrorista por vários países, o grupo radical islâmico governa a Faixa de Gaza desde 2006.
NOTA
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
161
Os meses que se seguiram foram marcados pelos esforços do presidente 
dos EUA, Barack Obama, para a retomada das negociações de paz, enfim seladas 
em setembro de 2010. Este acordo, no entanto, não põe fim aos conflitos nessa 
região do Oriente Médio que persistem até os dias atuais.
• Personagens atuais das relações Israel-Palestina.
• Benjamin Netanyahu (Primeiro Ministro israelense).
• Hamas (liderado por Ismail Haniyeh).
• Autoridade Nacional Palestina (ANP) (presidente Mahmoud Abbas).
De acordo com dados das ONU (2016), este tem sido um século de 
violência no Oriente Médio e no norte da África. Até 2015 eram nove guerras 
civis em países islâmicos entre o Paquistão e a Nigéria (Afeganistão, Iraque, Síria, 
sudeste da Turquia, Iêmen, Líbia, Somália, Sudão e nordeste da Nigéria). 
Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das 
ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas 
ou prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo, 
cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que os 
conflitos no país foram retomados no final de 2013 (ONU, 2016, p. 13).
É nesse sentido que os conflitos e disputas por meio de guerras colocam 
tantas pessoas em deslocamento, já que fogem por um motivo inquestionável, o 
de salvar suas vidas e dos seus familiares, abandonando pertences, em especial, 
suas identidades territoriais. 
3 AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E O DRAMA DOS 
REFUGIADOS
Os estudos de processos reais nos fazem compreender as mudanças e 
as permanências das relações entre as sociedades e a natureza, mediadas pelas 
técnicas, de um determinado período histórico. No entanto, faz-se fundamental 
que esses estudos sejam ancorados em teorias, conceitos e categorias de análise 
que deem sustentação às vertentes observadas e metodologicamente pesquisadas 
e apreendidas. A abordagem sobre os deslocamentos e as migrações da população 
pelo espaço não é diferente. 
Em termos espaciais e sociológicos, a dinâmica da população de um 
local muda, não apenas em termos quantitativos, quando as pessoas nascem, 
morrem ou se mudam do ou para o local analisado. Os especialistasafirmam, 
assim, que existem três componentes da dinâmica populacional: a fecundidade, a 
mortalidade e a migração. Das três, a migração é a mais difícil de se definir, ainda 
mais quando, nos últimos anos: 
[...] a população mundial passou a vivenciar uma maior intensidade 
em seus deslocamentos no espaço. As trajetórias tornaram-se mais 
complexas em termos de composição, distância e, sobretudo, no que se 
refere as suas causas e consequências (ZAPATA; GUEDES, 2017, p. 5).
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
162
Nesse sentido, nós gostaríamos de contribuir para a sua reflexão. Vamos 
continuar?
As pessoas se deslocam ou migram (e já vamos falar sobre o conceito de 
migrações!) por tantos motivos e em termos tão amplos que, por eles mesmos, 
incluem toda um conjunto de fenômenos muito distintos entre si. Por isso, 
possivelmente nenhuma explicação daria conta de abarcar a todos esses fenômenos. 
Buscamos, aqui, em termos de conhecimento-síntese, apresentar alguns desses 
fenômenos. As pessoas se deslocam, então, de forma geral e ampla, por:
1) Questões econômico-sociais, como a reestruturação recente dos mercados 
de trabalho (volatilidade de mercado, aumento da competitividade e do 
estreitamento das margens de lucros, enfraquecimento do poder sindical, 
grande quantidade de mão de obra excedente, dentre outros) que impôs 
regimes mais flexíveis, “reduzindo o emprego regular em favor do crescente 
uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado” (OLIVEIRA, 
2008, p. 5). 
2) Questões culturais, a exemplo da perseguição religiosa e ideológica. Por isso, 
para Lambert et al. (1980), a necessidade de aprofundamento na análise de 
enfoques interculturais, pois promovem uma visão ampla, dinâmica e flexível 
dos fenômenos psicossociais, entendendo o desenvolvimento humano e suas 
manifestações decorrentes da relação dialética entre o sujeito e os contextos.
3) Questões de ordem política e geopolítica como os conflitos por disputas de 
territórios, riquezas minerais, água, terras indígenas e de povos tradicionais e 
outros. 
4) Desastres naturais e ambientais. Em termos de valoração com relação a esses 
indivíduos, eles devem ser vistos ou respeitados como migrantes, ou seja, 
pessoas que se deslocam de um local para o outro em função de alguma 
necessidade ou induzidos por motivos para além de suas possibilidades de 
resolvê-las no local de origem. 
Aqui, para que você se aprofunde no tema, introduzimos o conceito de 
migração. De acordo Golgher (2004), a migração pode ser definida como uma 
mudança permanente de local de residência, mas somente isso não é suficiente 
para definir o que seja a migração. Uma grande ou pequena distância envolvida 
na troca de domicílio também não. No Brasil, uma definição comumente utilizada 
diz respeito a mudança de município. 
[...] o migrante é o indivíduo que morava em um determinado 
município e atravessou a fronteira deste município indo morar em um 
outro distinto. Se eu mudo de bairro em um mesmo município, eu 
não sou um migrante, pois continuei morando no mesmo município. 
Isso mesmo que a distância envolvida na troca de domicílio seja muito 
grande. Eu posso deslocar por muitos quilômetros, como no caso 
de São Paulo, e continuo não sendo um migrante se permanecer no 
mesmo município. Agora, se eu moro na cidadezinha na fronteira, 
mudo de lado na mesma rua e troco de país e de município, eu sou 
considerado um migrante (GOLGHER, 2004, p. 28). 
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
163
Outros conceitos de migração são utilizados de acordo com as áreas de 
conhecimento científico, como a Sociologia, a Demografia, a Economia etc. Cabe 
destacar, no entanto, que foi nos EUA, país que recebeu, ao longo do tempo, 
milhões de imigrantes de diferentes nacionalidades, que a migração se tornou 
um problema real com necessidades de ser analisado por essas e outras ciências, 
o que levou a problematização das concepções e imagens construídas sobre os 
migrantes. Quanto aos tratamentos jurídico, econômico e humanitário, estes são 
diferenciados de acordo com o local/país de destino e com o grupo de origem. 
Veja as duas figuras a seguir e busque pensar nos porquês dessa afirmação.
FIGURA 7 – IMIGRANTE DIANTE DO SÍMBOLO DA UNIÃO EUROPEIA CERCADO POR GRADES
FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_
legenda/861747e7ae5864200efc27db98cb18a0.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Em contraposição, a Alemanha tem sido um dos países mais sensíveis as 
causas das migrações (e de refúgios) na Europa/União Europeia, como mostra a 
ilustração a seguir.
FIGURA 8 – ALEMÃES RECEBENDO IMIGRANTES/REFUGIADOS
FONTE: <https://st2.depositphotos.com/1044737/8470/i/450/depositphotos_84705958-stock-
photo-germany-group-of-young-multi.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
164
Importante destacar, no entanto, que a recepção ao migrante é realizada 
de formas bastante diferentes em relação à sociedade civil. Aqui, porém, falamos 
das instituições e do papel dos Estados em relação à causa, ou seja, se e como 
recebem ajuda em todos os sentidos da vida.
Derivados do conceito de migração, emigração e imigração também 
precisam ser definidos conceitualmente. A etimologia ensina que imigrar decorre 
da junção entre migrare, “mudar de residência/condição” + in “para dentro”, 
ou seja, imigrar é o ato de entrar em um outro país. Por oposição, emigrar é 
resultante decorre da junção entre migrare, “mudar de residência/ condição” + 
e “para fora”, ou seja, emigrar é o ato de entrar em um outro país. Estes termos 
são bastante difundidos no Brasil e tem uma larga história de utilização, o que, 
imaginamos, deve facilitar seu aprendizado. 
Você percebeu que... nessa perspectiva teórica, todo imigrante no país de 
destino é um emigrante no país de origem?
IMPORTANT
E
Migrações internacionais são os deslocamentos que as pessoas fazem de 
imigrar e de emigrar. No entanto, essa dinâmica populacional é assim considerada 
quando espontânea ou planejada, por vontade própria, mesmo que o incentivo 
ao migrar seja algo aparentemente negativo, como o convite de uma empresa 
estrangeira para que a pessoa assuma um cargo em outro país. 
Migrações também ocorrem forçosamente, inclusive as internacionais. O 
que isso significa? Que eventos externos ao desejo da pessoa a obriga a migrar de 
um país para outro. Neste caso, muitos dos migrantes (emigrantes em seu país 
de origem e imigrantes no país de chegada) deslocam-se de um país para outro.
Quer conhecer histórias reais de imigrantes que chegaram ao Brasil ao 
longo do século XX? Visite (virtual ou pessoalmente) o Museu da Imigração, em 
São Paulo.
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
165
FIGURA 9 – QUAL CONCEITO USAR?
FONTE: <http://museudaimigracao.org.br/migrante-imigrante-emigrante-refugiado-estrangeiro-
qual-palavra-devo-usar/>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Em relação a termos teóricos relativos às migrações internacionais, há 
teorias que enfatizam os processos de (des)integração social e a assimilação 
cultural dos imigrantes, cuja matriz fundamental são os estudos da Escola de 
Chicago (escola formada nos EUA por iniciativa de sociólogos americanos do 
Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago). Análises críticas 
posteriores questionaram o melting pot (crisol de raças ou caldeirão de raças) e 
verificaram a complexa inserção dos imigrantes no mercado de trabalho. Outras 
abordagens, ainda, tratam os movimentos populacionais internacionais: 
[...] a partir das teorias de redes sociais e do transnacionalismo, as 
quais enfatizam as múltiplas relações que os migrantes estabelecem 
com as sociedades tanto de origem quanto de destino, evidenciando 
que as categorias pelas quais os migrantes são analisados necessitam 
ser problematizadas (SASAKI; ASSIS, 2016, p. 2).
Os dados comparativos de 2017 e 2019 da Agência da ONU para 
Refugiados (ACNUR) apresenta, que demonstram queo número de pessoas que 
se deslocaram pelo mundo, no período, ultrapassa os 70 milhões, num aumento 
de 2,3 milhões. A matéria traz, ainda, o exemplo do deslocamento recente de 
venezuelanos (emigrantes em seu país de origem) para a Colômbia (imigrantes 
no país de destino) em razão da grave crise político-econômica e social que ocorre 
no país. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
166
FIGURA 10 – FAMÍLIAS VENEZUELANAS CRUZAM O RIO TACHIRA PARA CHEGAR À COLÔMBIA
FONTE: <https://nacoesunidas.org/numero-de-pessoas-deslocadas-no-mundo-chega-a-708-
milhoes-diz-acnur/>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Neste exemplo, os venezuelanos são migrantes internacionais, emigrantes 
em seu país de origem e imigrantes no país de destino, ou seja, a Colômbia. Eles 
também têm se deslocado em grande número para o Brasil, posto o país fazer 
fronteira com a Venezuela, o que, de certa forma, facilita os deslocamentos. 
Os venezuelanos são exemplo recente na América do Sul, da afirmação 
de Baeninger (2014, p. 8) de que as “[...] migrações internacionais no século 21 
adquirem, cada vez mais, papel importante no cotidiano social, nos mercados 
de trabalho, nas sociedades de chegada e de partida, nos fluxos financeiros, na 
mobilidade da força de trabalho e na vida de populações imigrantes”. 
Esses são temas urgentes a serem pensados pelos governantes, que devem 
além de criar políticas públicas condizentes com as demandas impostas, também 
pensar em legislações que garantam aos imigrantes direitos humanitários, sociais, 
econômicos e outros daí decorrentes. E quando essas pessoas chegam aos países 
de destino em situação de refúgio ou como refugiados, o que acontece? Quem ou 
quais condições determinam que assim seja? Quais direitos lhe são garantidos, 
por que e como? 
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
167
As abordagens sobre o tema refúgio e refugiados contemplam um 
conjunto de estudos bastante importante na atualidade. Isso porque o tema é 
bastante sensível em termos de política internacional e perpassa legislações 
diferentes e divergentes em cada país ou Estado Nação, contemplando os aspectos 
socioculturais e humanitários.
Para a Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados 
(ACNUR, 2019, s.p.) estes são formados por:
[...] pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados 
temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, 
nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou 
opinião política, como também devido à grave e generalizada violação 
de direitos humanos e conflitos armados.
Importante destacar que os refugiados não podem ser considerados 
migrantes, pois migrante é aquela pessoa que por um motivo qualquer escolhe 
sair de seu país de origem para viver em outro. O refugiado, a seu turno, não tem 
escolha: ele sai do país de origem porque não pode mais viver ali, do contrário 
colocará sua vida e de sua família em risco.
Como já conversamos neste tópico de estudos, os conflitos mundiais (e em 
especial as guerras), bem como questões de ordem natural (desastres ambientais 
e outros), ao longo da “história da humanidade”, fizeram com que as pessoas 
fossem obrigadas a abandonar seus países. Num comparativo entre as duas 
Grandes Guerras Mundiais, por exemplo, a situação se agravou pois “enquanto 
a Primeira Guerra Mundial gerou 4 milhões de refugiados, a Segunda Guerra 
Mundial fez surgir mais de 40 milhões” (JUBILUT, 2007, p. 77). No século XXI 
não tem sido diferente. 
Diante dos conflitos emergentes, sempre haverá alguém que necessite 
de proteção. Por isso, a acolhida do refugiado é um ato humanitário 
de solidariedade. Todavia, muitas vezes, quando chegam a outro 
país, os refugiados se deparam com as fronteiras fechadas e, quando 
conseguem entrar, passam a ser estigmatizados (BELELLI; BORGES, 
2016, p. 18).
Como um dispositivo de segurança da ONU, em 1947 foi criada a 
Organização Internacional para os Refugiados (OIR), dedicada aos problemas 
residuais dos refugiados da Segunda Guerra Mundial.
Em 1951, a Assembleia Geral da ONU criou o Alto Comissariado 
das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), um órgão 
humanitário, apolítico e social, cujos objetivos básicos eram 
proteger homens, mulheres e crianças refugiadas e buscar 
soluções duradouras para que pudessem reconstruir suas vidas 
em um ambiente de civilidade (BELELLI; BORGES, 2016, p. 23). 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
168
Você percebeu que...
 No âmbito internacional global, o instituto do refúgio, em sua acepção moderna, 
surgiu apenas no século XX, à luz da Liga das Nações, precursora da atual Organização das 
Nações Unidas (ONU), como resposta aos problemas advindos da Primeira Guerra Mundial? 
 O que você pensa sobre o assunto/tema? Como você entende o recebimento de 
migrantes e refugiados pelo Brasil? Qual seu parecer sobre o tema? 
 Aproveite a oportunidade de sociabilidade e de debates sobre o tema e 
busque sugestões, por exemplo, para: quais políticas públicas e privadas poderiam ser 
implementadas para conciliar as necessidades dos refugiados que passam a residir em 
outro território (cidade, vila, comunidades etc.) com os anseios dos residentes locais?
NOTA
Em termos de serviços de saúde e de educação, por exemplo, como 
poderiam ser desenvolvidas políticas públicas para suprir as necessidades 
daqueles que chegam e dos residentes locais?
Discuta com seus colegas a partir de informações sobre os imigrantes/
refugiados recebidos pelo Brasil: bolivianos, haitianos, venezuelanos, sírios, 
senegaleses e outros. 
A figura a seguir mostra exemplos de alguns povos e grupos sociais que 
tiveram que deixar seus países em consequência de conflitos e pressões políticas 
e geopolíticas ao longo da história. O Brasil está presente. Busque informações e 
debata via Fórum do curso o porquê.
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
169
FIGURA 11 – RELEVANTES CONTINGENTES DE REFUGIADOS PELO MUNDO E SUA 
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-KyJt9UwpflI/V8mPIi8alNI/
AAAAAAAAAVw/7SXbFVsNvyw2Z3QVDRtww6y4kY7YCYoYACLcB/s640/REFUGIADOS.png>. 
Acesso em: 3 jun. 2020.
Os documentos mais importantes de garantias a pessoas refugiadas, de 
ordem internacional, são o Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados, de 
1967, instrumento de caráter universal e atemporal e o documento resultante da 
Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados (1951). O primeiro 
possui mais de 144 países signatários (PROTOCOLO ADICIONAL RELATIVO 
AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS, 1967).
FIGURA 12 – OS REFUGIADOS
FONTE: <https://www.un.org/fr/events/refugeeday/refugees.shtml>. Acesso em: 3 jun. 2020.
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
170
Em 1984, os dispositivos da Convenção de 1951 foram ampliados pela 
Declaração de Cartagena sobre Refugiados (DECLARAÇÃO DE CARTAGENA, 
1984), desta vez, estendendo o conceito de refugiado àquelas pessoas cujos 
países de origem tivessem entrado em processo de degradação política e social, 
e tivessem permitido violência generalizada, violação dos direitos humanos e 
outras circunstâncias de perturbação grave da ordem pública.
Quais	exemplos	atuais	você	daria	para	esta	condição	de	refugiado?	
Para ajudá-lo a pensar, somente no Brasil, de acordo com dados fornecidos 
pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), entre os anos de 2010 e 2013, 
o número total de pedidos de refúgio aumentou de 566 para 5.882 e de 2013 a 
2014 foram contabilizadas 8.302 solicitações, um vertiginoso aumento.
Episódios como o prolongamento do conflito armado na Síria, iniciado 
em 2011, e a persistência de conflitos como o do Afeganistão e do Sudão do Sul 
fizeram com que, em 2016, houvesse um novo recorde no número de pessoas que 
se deslocam de seus locais de origem por situações de violência e de perseguição 
(NEXOJORNAL, 2019). 
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados 
(NEXOJORNAL,2019), existem atualmente 65,6 milhões fora de suas casas por 
razões ligadas principalmente a conflitos armados. Essa população é dividida, 
principalmente, em dois grandes grupos. Os refugiados (22,5 milhões) são aqueles 
que cruzam fronteiras internacionais. Os deslocados internos (40,3 milhões) se 
movem dentro das próprias fronteiras do país de origem. 
Assim, é muito importante saber de onde partem os maiores deslocamentos 
causados por conflitos nos últimos anos. Uma visão ampla pode ser observada na 
figura 13 abaixo. 
FIGURA 13 – CONFLITOS QUE MAIS CAUSARAM DESLOCAMENTO NOS ÚLTIMOS 
5 ANOS (EM MILHÕES)
FONTE: Acnur (2018, s.p.)
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
171
• 55% dos refugiados do mundo têm origem na Síria, Afeganistão ou Sudão do 
Sul (ONU, 2016).
Com relação ao destino dos refugiados, ao contrário do que muitas 
vezes se pensa, a maior parte dos refugiados realiza deslocamentos para nações 
vizinhas. Apesar dos países desenvolvidos serem o grande chamariz para quem 
deseja mudar de vida, a maioria acaba permanecendo em países próximos ao 
seu continente. Deste modo, ainda segundo o Acnur (2019), os países que mais 
acolhem refugiados são Turquia: 3,5 milhões; Uganda: 1,4 milhões; Líbia: 1 milhão 
e Irã: 979 mil.
FIGURA 14 – PAÍSES QUE MAIS ACOLHEM REFUGIADOS NO MUNDO
FONTE: Acnur (2018, s.p.)
O Brasil, que projeta uma imagem de país tolerante e receptivo a migrantes 
e refugiados, havia se tornado, até 2018, segundo os dados a seguir, um destino 
de acolhida. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
172
FIGURA 15 – REFUGIADOS RECONHECIDOS NO BRASIL 
FONTE: <http://www.pf.gov.br/servicos-pf/imigracao/cedula-de-identidade-de-estrangeiro/
documentos-necessarios-para-registro/refugiado-pelo-conare>. Acesso em: 17 jun. 2020.
Ainda não contabilizados na figura anterior, que tem os sírios como 
principal população refugiada no país, dados da Organização Internacional para 
Migrações (OIM) e da Agência das Nações Unidas para Migrações revelam que 
o Brasil, de 2015 a 2018, recebeu cerca de 30 mil venezuelanos, sendo que destes, 
apenas pouco mais de 8 mil pediram asilo como pessoas em situação de refúgio 
até 2017. Sem contar, então, os venezuelanos, os refugiados no Brasil somam 
apenas 0,05% da população total. 
Uma das justificativas, além da legislação ser ainda muito recente e 
insipiente, é a própria crise política e econômica interna pela qual passa o país, 
bem como episódios de xenofobia registrados recentemente que têm se tornado 
barreiras a permanência desses imigrantes/refugiados no país.
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
173
4 SOCIEDADES, MOBILIDADES, DESLOCAMENTOS: OS 
TERRITÓRIOS DA ESPERA
O tema apresentado a partir das mobilidades e dos deslocamentos, qual 
seja, os territórios da espera, fundamentam-se, aqui, nos estudos realizados pelos 
pesquisadores Laurent Vidal, Alain Musset e Dominique Vidal.
Aqui, no entanto, a inspiração ofertada pelos textos produzidos pelos 
pesquisadores citados caminha em sentidos mais amplos e menos audaciosos. 
Utilizamo-nos do conceito de territórios da espera porque entendemos, também, 
que os fenômenos de deslocamento e de migrações são efetivamente características 
essenciais das sociedades contemporâneas. 
Para tanto, longe de serem fluidos, homogêneos ou lineares, estes 
deslocamentos são pontuados de tempos, mais ou menos longos, de 
espera. Tendo por origens razões técnicas, administrativas ou políticas, 
tais momentos encontram bem frequentemente uma tradução 
espacial: territórios acolhem estas sociedades em espera (VIDAL; 
MUSSET; VIDAL, 2011, p. 17).
Nas figuras a seguir é possível perceber tempos e espaços diferentes 
relacionados aos territórios da espera. Na primeira figura a espera é para matar 
a fome dentro de uma espera ainda mais longa: a de ter vida digna para além de 
seu país de origem e do campo de refugiados. 
A figura traz a espera forçada, mas desta vez pelo deslocamento 
espontâneo. Ambos, no entanto, são territórios que acolhem estas sociedades, ou 
parte delas, em espera, apesar de coercitivo ou o espaço a se descobrir, como as 
zonas de exceção apresentadas a seguir, nas quais o poder é exercido de outra 
forma.
FIGURA 16 – REFUGIADOS FAZEM FILA PARA COMER NO CAMPO DE KAWERGOST, IRAQUE
FONTE: Lynsey Addario/The New York Times, 2014.
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
174
FIGURA 17 – IMAGENS DENUNCIAM SUPERLOTAÇÃO NOS CENTROS DE DETENÇÃO DE 
IMIGRANTES NOS EUA
FONTE: <https://abrilveja.files.wordpress.com/2019/07/relatorio-imigrantes-eua-02072019-003.
jpg?quality=70&strip=info&w=321>. Acesso em: 2 jun. 2020.
Os territórios da espera, em termos analíticos, podem existir de três 
formas ou a partir de três campos de estudos, mas não mais motivados pelas 
mobilidades dos deslocamentos (migração, refúgio, asilo), mas, sim, pelos 
tempos de parada, de pausa e de espera que pontuam os fluxos, como afirmam 
Vidal, Musset e Vidal (2011, p. 5), sendo eles: 
[...] a tipologia dos territórios da espera, marcadamente as configurações 
territoriais das situações de espera (portos, aeroportos, barcos, trens, 
rodoviárias, salas de órgãos do Estado); a economia da espera, 
como as atividades sociais ou econômicas originárias desses lugares 
(prostituição, venda ambulante); memórias e identidades podem 
tomar forma no partilhamento da espera (situação de fragilidade 
permite novos valores – religiosos, étnicos, culturais). 
Assim, as principais questões que devem ser apontadas como reflexão 
para a compreensão dos territórios da espera levam em consideração, de acordo 
com Vidal, Musset e Vidal (2011), algumas questões como:
• Como se constituem os territórios da espera?
• Por que se dão/existem?
• Qual a multiplicidade de formas com que se revestem?
• Quais as suas dimensões?
• Como compreender seus estatutos jurídicos, suas articulações com o espaço 
circundante, suas temporalidades específicas?
• Como compreender a variedade dos jogos econômicos e sociais que se desenha 
a partir e por eles?
 As figuras 18 e 19 respondem em parte algumas dessas questões. Senão, 
vejamos:
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
175
O que consideramos importante na compreensão dos territórios da espera 
– e por isso seu conteúdo neste livro – contempla a perspectiva dos deslocamentos, 
das migrações e do refúgio, ou seja, apoia-se naquilo que a Geografia nos incita 
e conduz: a	 tradução	 espacial	 dos	 fenômenos.	 E	 é	 isso	 que	 você,	 estudante,	
precisa	saber	observar,	ler,	compreender,	explicar.
Estes (os territórios da espera) remetem “[...] ao lugar onde se vive esta espera” 
[...] fechado, saturado ou coercitivo, experiência da tirania da espacialidade realizada 
pelo próprio homem [...]. Mede-se, a partir daí, quanto os territórios da espera 
induzem ou constrangem a possibilidade de ação: sonhados, geram a mobilidade; 
sofridos, impõem a imobilidade” (VIDAL; MUSSET; VIDAL, 2011, p. 3). 
Como não enxergar sofrimento e drama na imobilidade da espera no 
território apresentado na figura 18?!
FIGURA 18 – RESGATE DE 569 IMIGRANTES NO MAR MEDITERRÂNEO DEPOIS DE 3 DIAS À DERIVA
FONTE: <https://d1j6x7vjta8ieo.cloudfront.net/uploads/noticias/lg-24b1479f-bf8e-4b51-bd3a-
e2653dca0363.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Os territórios da espera perpassam, ainda e como conteúdo, as cidades de 
fronteira onde os imigrantes/refugiados procuram um meio para cruzar o muro 
ou os arames farpados ou a autoestrada urbana engarrafada, ou a sala de espera 
de um serviço administrativo, onde nascem solidariedades efêmeras e se instala 
uma economia da espera (VIDAL; MUSSET; VIDAL, 2011).
Assim, os territórios da espera designam especificamente os espaços 
destinados voluntariamente ou servindo involuntariamente a pôr em espera 
populações deslocadas ou em deslocamento enquanto dimensão coletiva, de 
clandestinidade ou não, como pode ser observado na figura 19 na sequência. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DAGEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
176
FIGURA 19 – HOTEL NA PERIFERIA DE IZMIR – REFUGIADOS SÍRIOS E IRAQUIANOS ESPERAM A 
OPORTUNIDADE DE CHEGAR À EUROPA
FONTE: <http://twixar.me/mXdm>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Os territórios, assim, acolhem estes tempos de espera e as relações que 
nele se estabelecem, como questões de ordem social e econômica e as identidades 
que ali se constroem. Hoje, estes territórios da espera, em sua maioria, são 
ocupados por homens lentos de acordo com Santos (1994a), ou seja, os pobres, 
desprovidos e despossuídos, os excluídos da velocidade que a globalização 
impõe. Alguns deles, nesse sentido, podem alienar-se, perder a identidade 
individual e coletiva e muitas vezes renunciar ao futuro.
Assim, você, como futuro geógrafo, deverá se prender a observar e a 
explorar as maneiras como as sociedades de migrantes dão formas a territórios 
investidos do tempo de todo tipo de espera, como o observado na figura 20.
FIGURA 20 – SÍRIOS DORMEM FORA DAS TENDAS LOTADAS NO COMPO 
DE KAWERGOST, NO IRAQUE
FONTE: Lynsey Addario/The New York Times (2014)
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
177
Ao averiguarmos as configurações desse território no qual podem ocorrer 
diversas situações de espera, o que chama a atenção é o drama e a excepcionalidade 
em termos do valor da vida humana de migrantes e refugiados nas brechas que 
se abrem no cotidiano das sociedades que banalizam, cada vez mais, situações de 
espera como estas. 
Ainda sobre a figura 20, mais de 5 milhões de sírios foram forçados a 
se mudar dentro do país e outros 1 milhão e meio para fora do país. Segundo a 
ONU, a guerra civil síria já é o conflito com mais refugiados desde o genocídio 
de Ruanda, em 1994. Do total, 1,1 milhão são crianças, 75% com menos de 12 
anos. Muito possivelmente, trata-se de uma geração perdida de acordo com o 
Comissário das Nações Unidas para Refugiados (MAGALHÃES, 2016). 
Como geógrafos, ainda, cabe-nos analisar a maneira como os migrantes 
e refugiados dão forma a territórios investidos do tempo de todo tipo de espera. 
O que fazem enquanto esperam? A figura 21 apresenta um exemplo do tempo 
da espera, mas pode ser também um exemplo de territórios da espera? Quais 
as sociabilidades e as solidariedades dos tempos de espera? E as rugosidades? 
Discuta com seus colegas, via Fórum, e justifique.
FIGURA 21 – MEMBROS DA COMUNIDADE INDÍGENA VENEZUELANA WARAO DORMEM 
EM ABRIGO EM BOA VISTA
FONTE: <https://www.hrw.org/sites.d.efault/files/multimedia_images_2017/2017-04-americas-
venbrazil-photo-05.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Nesse sentido é possível afirmar também que, no mundo globalizado 
caracterizado por um “tempo desorientado”, ou seja, aquele em que “o tempo 
histórico está suspenso [...] situado entre dois abismos: um passado que não está 
abolido, mas que nenhuma orientação pode oferecer, e um futuro do qual não se 
faz ideia de como será” (JANSEN; PARADA, 2019, p. 407), os espaços da espera 
podem ser os lugares de reformulação da relação com o tempo, do simplesmente 
pensar e ver o tempo passar. 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
178
Nos fluxos de passagem de um lugar ao outro ou no ato do deslocamento 
ou da migração, as etapas das paradas, sejam elas necessárias ou forçadas, de 
imposição e de controle, duradouras ou passageiras, virtuais ou empíricas, oficiais 
ou informais criam oportunidades para a compreensão do que acontece em seus 
intersticiais ou nestes momentos de transição. O que se produz em termos de 
tempo da espera quando a clandestinidade do deslocamento é descoberta? O que 
valeu a travessia, como apresenta o momento registrado nas figuras 22 e 23, a 
seguir, na sua relação com a espera?
FIGURA 22 – IMIGRAÇAO ILEGAL PARA OS EUA
FONTE: <https://www.fontoura.com>. Acesso em: 4 jun. 2020.
FIGURA 23 – MIGRAÇÃO PARA A EUROPA
FONTE: <https://g1.globo.com>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Por fim, as duas figuras a seguir apresentam-se como possibilidades a 
esperança e as ilusões na vinculação entre migrações e refúgio (flexíveis) e os 
territórios da espera (fixos, a priori). Na primeira está a esperança (foto de José 
Medeiros) no olhar desvaído do migrante do tempo lento, mas que ainda pode 
TÓPICO 1 | CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
179
FIGURA 24 – A ESPERA
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-loHNHaGTOqk/Vv5SNfZ_8WI/AAAAAAAA3AA/
aLPGXSrcAYkRaYzK7l8n_eOyR6qHgREPA/s400/Medeiros_5.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
FIGURA 25 – CORPOS DE IMIGRANTES DE EL SALVADOR NO RIO BRAVO, NA FRONTEIRA
 DO MÉXICO COM OS EUA
Foto: Reuters
Fonte: <https://www.terra.com.br/noticias/foto-de-imigrantes-afogados-mostra-fracasso-em-
lidar-com-desespero-diz-acnur,5cda5f40754a64171f1b6813a2eaec444t83wtcs.html>. 
Acesso em: 4 jun. 2020.
lograr fluxos novos, apesar da espera. Na segunda, a espera significa o fim. 
Corpos de migrantes flutuam, mas não se movimentam por eles próprios porque 
a espera significa o fim da esperança, das ilusões e da produção de territórios que 
ultrapassem a lógica formal da vida. 
Para você, estudante, fica a possibilidade de pensar: 
Como apreender as invariáveis ou as constantes da multiplicidade das 
formas que produzem os territórios da espera? Quais são as formas sociais 
presentes nas figuras seguintes? Como superá-las? 
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
180
Na figura 24, José Medeiros, famoso fotógrafo brasileiro, capturou a 
paisagem do homem do tempo lento em seu território da espera. Na figura 25, pai 
e filho, abraçados, chocaram o mundo, mesmo que momentaneamente, enquanto 
mortos definhavam antes do recolhimento em seu último território da espera. 
É possível, através dos aportes e estatutos jurídicos suprimir a dor, 
o sofrimento e o drama produzidos nos deslocamentos de migrantes e de 
refugiados? Como isso pode ser feito mediatizado pelos territórios da espera?
181
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• As questões que margeiam o termo “conflitos” (como poder, disputas e 
guerras), somados a outros elementos, fazem com que um contingente amplo 
de pessoas se desloque pelo planeta. 
• As principais guerras ocorridas e em ocorrência no século XXI são aquelas 
originárias dos conflitos mais perenes e instáveis em termos geopolíticos.
• Os motivos indutores dos deslocamentos populacionais, em especial, são os 
socioeconômicos, os culturais e os geopolíticos.
• Os principais conceitos vinculados ao tema deslocamentos, quais sejam, as 
migrações e seus derivados: migrações internacionais, migrações internas, 
emigração, imigração, além do conceito de refúgio e de refugiado. 
• As imobilidades que marcam os territórios da espera são transitórias, mas 
permitem a produção de identidades diversas na coletividade.
182
1 Andrew Korybko (2018) afirma que países como os EUA se aproveitam de 
problemas identitários em um Estado-alvo a fim de mobilizar uma, algumas 
ou todas as questões identitárias mais comuns para provocar grandes 
movimentos de protesto, que podem então ser cooptados ou dirigidos por 
eles para atingir seus objetivos políticos, ou seja, utilizam-se de “guerras 
híbridas”. Tendo como fundamento esta afirmação e o que você aprendeu 
sobre o tema, assinale a alternativa CORRETA que apresenta a junção das 
duas tipologias de guerras que compõem as guerras híbridas 
FONTE: KORYBKO, A. Guerras híbridas, das revoluções coloridas aos golpes – das 
revoluções coloridas aos golpes. São Paulo: Expressão Popular, 2018. 
a) ( ) Guerras oficiais e clandestinas.
b) ( ) Guerras flexíveis e fixas.
c) ( ) Guerras irregulares e convencionais.
d) ( ) Guerras irregulares e regulares.
e) ( ) Guerras convencionais e inconvencionais.
2 A Guerra Fria foi um período histórico que durou do fim da Segunda 
Guerra Mundial, em 1945, até o declínio da União Soviética, em 1991. Esses 
anos foram marcados por tensões significativas entre o bloco capitalista 
(liderado pelos Estados Unidos) e o socialista (chefiado majoritariamentepor Josef Stalin, russo). No século XXI, no entanto, além das “guerras frias” 
(das ideologias e das estratégias), foram diversas também as denominadas 
“guerras quentes” de conflitos diretos. Assinale, a seguir, a alternativa 
CORRETA para as principais “guerras quentes” ocorridas no século XXI. 
a) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2021; a Guerra do Iraque em 
2003; a Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) em 2006 e; a 
Guerra da Operação Chumbo Fundido em 2008.
b) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 
2003; a Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) em 2006 e; a 
Guerra da Operação Chumbo Fundido em 2008.
c) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 
2003; a Segunda Guerra do Líbano (conflito Irã x Iraque) em 2006 e; a 
Guerra da Operação Chumbo Fundido em 2008.
d) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 
2003; a Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) em 2006 e; a 
Guerra do Golfo Pérsico em 2008.
e) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque 
em 2003; a Segunda Guerra do Sudão do Sul em 2006 e; a Guerra da 
Operação Chumbo Fundido em 2008.
AUTOATIVIDADE
183
3 Como forma de reflexão, observe a figura a seguir que demonstra as projeções 
de crescimento da população mundial de 2020 a 2100. Na sequência, 
assinale a alternativa que apresenta corretamente os três componentes que 
compõem a dinâmica populacional, influenciando no seu aumento e/ou na 
sua diminuição. 
TRÊS CENARIOS DE PROJEÇÕES POPULACIONAIS DO MUNDO: 2020-2100
a) ( ) A fecundidade, a mortalidade e a migração.
b) ( ) A fecundidade, a mortalidade e a emigração.
c) ( ) A fecundidade, a mortalidade e a imigração.
d) ( ) A migração internacional, a migração local e a migração regional.
e) ( ) A emigração, a imigração e a migração.
4 Os territórios da espera podem ser compreendidos de diversas formas. Uma 
delas pode ser o contado e cantado na música Pedro Pedreiro, do compositor 
e cantor Chico Buarque de Holanda. Leia a letra da música, abaixo, reflita 
e assinale a alternativa CORRETA para a definição de territórios da espera 
pensados por Vidal, Musset e Vidal (2011) (HOLANDA, Chico Buarque de. 
Pedro Pedreiro. Gravadora RGE, 1965).
184
a) ( ) São os territórios fluidos, homogêneos ou lineares.
b) ( ) São territórios destinados voluntariamente ou servindo 
involuntariamente a pôr em espera populações deslocadas ou em 
deslocamento pontuados de tempos, mais ou menos longos, na sua 
dimensão coletiva e transitória.
c) ( ) São os espaços luminosos e os espaços opacos estudados por Milton Santos.
d) ( ) São as rugosidades do espaço que compõem elementos fixos e fluxos no 
território.
e) ( ) São as multiplicidades que compõem os territórios usados, de Milton Santos.
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando para trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol, esperando o trem
Esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem [...]
185
TÓPICO 2
GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Neste Tópico 2, apresentamos o continente africano, iniciando pelos 
principais reinos da Era Comum. Em seguida, comentaremos sobre os impactos 
que o Imperialismo e a Guerra Fria trouxeram ao continente e sobre os conflitos 
atuais que assolam algumas nações africanas. Da Europa à China, ao longo dos 
séculos, mudaram as potências que exerceram controle sobre os povos africanos, 
mas algo recorrente foi a espoliação dos seus recursos. 
Analisamos, ainda, sob perspectiva histórica, a Geopolítica da América 
Latina, desde a independência do Haiti até as guerrilhas de esquerda do fim do 
século XX, comentando sobre o escravismo e o papel que a potência estadunidense 
exerce sobre os destinos dos países latino-americanos
Além disso, abordam-se as regionalizações da África e da América Latina, 
bem como os países que compõem cada uma das suas regiões e os principais 
blocos econômicos regionais.
2 A ÁFRICA É O MUNDO E O MUNDO NÃO É A ÁFRICA
A África é formada por 55 países, um território não autônomo (Saara 
Ocidental), Estados não reconhecidos (Somalilândia e outras áreas de fato 
autônomas) e territórios espanhóis (Ceuta, Melilla, Ilhas Canárias), portugueses 
(Ilha da Madeira), italianos (Ilhas Pelágias), britânicos (Ascensão, Santa Helena 
e Tristão da Cunha) e franceses (ilhas Mayotte, Juan de Nova, Europa, Bassas 
da Índia, Glorioso, Tromelin e Reunião), como vemos na Figura 26 a seguir 
(DORLING KINDERSLEY [DK], 2016; ONU, 2019). 
A origem do termo África não é definida. É uma região comumente 
lembrada pela pobreza extrema, mas esse discurso encobre a enorme quantidade 
de recursos que o continente possui. Entrou na esfera de influência direta da 
Europa devido às Grandes Navegações, quando países europeus passaram a 
ocupar alguns trechos do continente e a comercializar negros como mercadorias. 
A imagem do continente africano ainda é marcada pela escravidão e muitos 
apenas a tem como memória tanto do continente quanto da população negra. 
Contudo, cabe a nós desconstruir isso por meio do conhecimento.
186
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
Para mais detalhes sobre a origem da palavra África, consulte o primeiro 
volume da coleção História da África (UNESCO, 2010). Consulte o mapa a seguir para 
conhecer os países que formam a África.
NOTA
Foram basicamente oito os grandes reinos africanos: Axum, Gana, Núbia, 
Kanem-Bornu, Benin, Mali, Zimbábue e Songai (DK, 2018). O Império de Axum 
se tornou um poder comercial por conta do controle do Mar Vermelho exercido 
pela cidade de Adúlis entre os anos 100 e 715 da Era Comum. 
Em princípios do século IV, o então rei converteu-se ao Cristianismo, e 
a partir do século VII, em razão da crescente influência islâmica nos territórios 
vizinhos, foi cada vez mais se isolando. Ainda assim, a religião cristã permaneceu 
em trechos do território até os dias de hoje. O território desse reino compreende 
trechos que hoje fazem parte da Etiópia, da Eritreia, da Arábia Saudita e do Iêmen 
(DK, 2018; UNESCO, 2010). 
FIGURA 26 – MAPA POLÍTICO DA ÁFRICA
FONTE: <https://www.guiageo.com/pictures/africa-político.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
187
 O antigo Império de Gana não se confunde com a atual República de 
Gana, uma vez que abrangia um território que se situa entre os atuais Mali e 
Mauritânia. Sua existência ocorreu entre os anos 500 e 1200, com auge ao redor 
do ano 800. Seu poderio deveu-se às minas de ouro e ferro e às rotas comerciais 
transaarianas. A invasão pelos Almorávidas do Marrocos levou ao seu declínio. 
A Núbia, por sua vez, tem ocupação desde o Egito Antigo, e estabeleceu-se como 
reino entre 500 e 1500, tendo sido por muito tempo cristão. Não resistiu, contudo, 
ao avanço de beduínos árabes muçulmanos, que conseguiram avançar com a 
influência do Islã em direção ao Sul (DK, 2018; UNESCO, 2010).
O Império Kanem-Bornu existiu entre 800 e 1380, tendo sido fundado 
inicialmente por grupos nômades. Por volta das décadas de 1070 e 1080, esses 
grupos se sedentarizam e se converteram ao Islã, ocupando uma área estratégica: 
o entorno do Lago Chade. O Reino do Benin foi estabelecido no século XII e 
durou até 1897, tendo tido bastante contato com europeus em um território que 
hoje pertence à Nigéria. Seu poderio decorre do contato com povos africanos 
mais ao norte por meio de rotas comerciais e dos reconhecidíssimos artesãos e 
metalúrgicos. Sua capital, Benin, já no século XV era uma grande cidade murada 
(DK, 2018; UNESCO, 2010).
O Reino do Mali se desenvolveu entre 1235 e 1660 no curso superior do Rio 
Níger, abrangendo territórios que vão desde a costa da Mauritânia, do Senegal,de Gâmbia, da Guiné Bissau e da Guiné, até o Mali, Níger, a Nigéria, Benin, 
Burkina Faso e a Costa do Marfim, acompanhando o curso do rio. O antigo Reino 
de Gana se situa em parte do território malinês. Sua riqueza decorria do controle 
das rotas comerciais transaarianas e da mineração e metalurgia. O homem mais 
rico da História foi um de seus governantes: Mansa Musa, que reinou de 1312 a 
1337. Em 1324 realizou uma peregrinação a Meca tão enorme que causou súbita 
inflação de preços no Cairo e um grande aumento no preço do ouro (DK, 2018; 
UNESCO, 2010).
Além disso, estimulou o desenvolvimento de uma das mais importantes 
cidades do Mali. Timbuktu ou Tombuctu foi fundada no século V, e parte de seu 
esplendor posterior deve-se à fundação, em 989, da Mesquita Sankore, como vemos 
na Figura 27 a seguir, que se tornou epicentro de uma universidade e contribuiu 
para o desenvolvimento de Timbuktu como centro educacional e de difusão do 
conhecimento. Hoje, a cidade é considerada Patrimônio da Humanidade pela 
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
188
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
FIGURA 27 – MESQUITA DE SANKORE, TIMBUKTU, MALI
FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0119_0001-500--20180216142824.jpg>. 
Acesso em: 4 jun. 2020.
O Reino do Zimbábue existiu entre 1220 e 1450 em área que hoje engloba 
territórios de Moçambique, Zimbábue, Botsuana e África do Sul. Para a época, 
foi um Estado com grande contingente populacional e com fortes relações 
econômicas com as cidades-Estados suaílis da costa oriental africana (DK, 2018; 
UNESCO, 2010). 
Por fim, o Império Songai, que floresceu entre 1464 e 1591, ocupou terras 
que foram do antigo Reino de Gana e do Império do Mali. Sua opulência também 
esteve relacionada às rotas comerciais e ao ouro. O território songai estendeu-se 
pelos atuais Argélia, Mali, Mauritânia, Níger, Burkina Faso, contando com um 
exército que chegou a ter 200 mil homens espalhados por seus domínios (DK, 
2018; UNESCO, 2010).
Revisando os principais reinos da África da Era Comum: Axum, Gana, Núbia, 
Kanem-Bornu, Benin, Mali, Zimbábue e Songai.
IMPORTANT
E
Com efeito, o conhecimento sobre esses reinos nos ajuda a entender que a 
História da África é muito mais ampla que aquela cuja visão eurocêntrica nos traz 
apenas guerras, fome e miséria, consubstanciadas na escravidão que abasteceria 
as colônias americanas com mão de obra. Ao contrário do que diz usualmente, a 
utilização de africanos escravizados não ocorreu porque os indígenas conheciam 
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
189
o território e, por isso, conseguiam fugir. Após a antiguidade, a escravidão se 
tornará uma atividade econômica fundamental e será mais importante no Brasil 
que na América Espanhola, já que a maior parte da riqueza produzida no nosso 
país virá, inicialmente, das plantações de cana-de-açúcar. 
O domínio europeu sobre o continente africano se estenderá desde o século 
XV até 1956, quando ocorre a crise do Sinai e em definitivo a hegemonia política 
sobre a África será compartilhada por Estados Unidos e União Soviética. Nesse 
período, o continente foi retalhado entre diferentes nações europeias, a começar 
por Portugal. Acompanharam-no Espanha, França, Países Baixos, Inglaterra e 
tardiamente Bélgica, Alemanha e Itália (SARAIVA, 2007; UNESCO, 2010). Com 
o desenvolvimento do modo de produção capitalista, a África foi subordinada 
militarmente e passou a integrar diretamente a divisão internacional do trabalho, 
cujo ápice foi o Imperialismo do final do século XIX e início do século XX.
A industrialização, em seus primórdios, foi possível apenas devido à 
ferrenha competição entre os países e isso significou o controle geopolítico de 
grandes extensões – os Estados Unidos e o Destino Manifesto, com a submissão 
direta da América Central e do Caribe ao interesses norte-americanos; o Japão e a 
ocupação de áreas no Extremo Oriente; e a África, que foi dividida na Conferência 
de Berlim, ocorrida entre os anos de 1884 e 1885. 
A animosidade entre as nações europeias culminou nos horrores da I 
Guerra Mundial que, por sua vez, trouxe ao mundo o fantasma do comunismo 
por conta da fundação da União Soviética. Desse modo, passou a existir uma 
alternativa à ferocidade do modo de produção capitalista não apenas teórica, mas 
também concretizada no regime soviético.
Ademais, enquanto o inimigo passava a ser o comunismo, a década de 
1920 assistia ao surgimento de diversos governos fascistas. A fim de não permitir 
que o Reino Unido perdesse sua hegemonia, Mackinder havia proposto no 
início do século XX que Alemanha e Rússia não se aproximassem, mas o cenário 
europeu de 1914 a 1941 tornou ambos inimigos ferozes (ITAUSSU, 1999; SANTOS 
JUNIOR, 2016a).
Por conseguinte, o caminho para a Segunda Guerra Mundial estava 
pavimentado. Diversas áreas do continente foram utilizadas como local de 
confronto entre as metrópoles europeias, com a participação direta de africanos. Ao 
fim da guerra, com o objetivo de não repetir os erros do passado e de afastar tanto 
o fascismo como o stalinismo das massas, a Europa optará pelo desenvolvimento 
do Estado de Bem-Estar Social, que garantia benefícios sociais e direitos a todos os 
cidadãos. Isso, contudo, não se estende às colônias, que continuam sendo alvo de 
exploração violenta por parte dos europeus. Estes resguardavam direitos para si, 
mas em um mundo colonial, outros povos não dispunham de garantias mínimas, 
sequer a própria autonomia. 
190
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
Com o início da Guerra Fria, em 1947, Estados Unidos e União Soviética 
passaram a disputar entre si todo o planeta. A teoria geopolítica estadunidense 
pregava que o poder soviético deveria ser contido e, para isso, os Estados Unidos 
criaram alianças políticas, bases militares e instituições que impedissem qualquer 
possibilidade de ganho de influência pelos soviéticos. 
Na África, em um território ainda bastante marginal, houve várias guerras 
em que não ocorreu confronto direto entre norte-americanos e soviéticos, mas 
que eram consequência das quedas de braço entre ambas as potências. Boa parte 
do processo de descolonização da África esteve marcado por essa rivalidade.
Sobre a Guerra Fria, leia o artigo on-line de Ribera (2012): http://www2.marilia.
unesp.br/revistas/index.php/novosrumos/article/view/2374/1934.
NOTA
Na década de 1950, apenas Libéria, Etiópia, Egito, independente em 1922, 
e África do Sul, independente em 1931, estavam livres do colonialismo europeu. 
O primeiro país a se tornar independente foi a Líbia, em 1951, seguida por Sudão, 
Tunísia e Marrocos em 1956. No ano seguinte, foi a vez de Gana; em 1958, Guiné. 
Em 1960, foram 17 países; em 1961, Serra Leoa e Tanganica, a parte continental 
da atual Tanzânia; em 1962, havia mais três países independentes; entre 1963 e 
1966 foram mais dois novos países por ano. Em 1968, três novas nações. Entre 
1974 e 1976, mais nove países, relacionados, principalmente, ao fim das ditaturas 
em Portugal e na Espanha. Vejamos alguns desses processos de independência 
(UNESCO, 2010; SARAIVA, 2012). 
O Egito se tornou formalmente independente em 1922, mas a monarquia 
egípcia sempre foi considerada um fantoche dos britânicos e foi derrubada em 
1953. Anos depois, com a chegada ao poder de Gamal Abdel Nasser em 1956, 
houve a nacionalização do Canal de Suez, até então propriedade franco-britânica, 
e forte movimento nacionalista (UNESCO, 2010). 
Em vista disso, Israel, Reino Unido e França iniciaram uma guerra contra 
o Egito que foi rapidamente suprimida por Estados Unidos e União Soviética, 
a qual ameaçou intervir favoravelmente a Nasser. Isso aproximou os soviéticos 
das nações árabes e reafirmou a decadência colonial europeia. A figura a seguir 
mostra a localização do Canal de Suez, cuja importância reside na desnecessidade 
de contornar o continente africano, trazendo grandeeconomia nos fretes 
internacionais.
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
191
FIGURA 28 – CANAL DE SUEZ
FONTE: Adaptado de Google Earth (2020)
A África do Sul foi inicialmente ocupada por holandeses a partir da 
Cidade do Cabo, em 1652. Bôeres e britânicos se enfrentaram no final do século 
XIX, e após derrotar também os zulus, o Reino Unido conseguir finalmente ter 
o controle sobre o território, unificado em 1910 e formalmente independente 21 
anos depois (THE COMMONWEALTH, s.d.; UNESCO, 2010). 
O país nasceu sob a égide do racismo e da segregação e de fato estabeleceu 
um governo oficialmente racista – o apartheid – de 1948 até 1994. Gandhi 
contribuiu para a resistência contra a opressão, e nesse sentido foi imperativa a 
fundação do Congresso Nacional Africano, liderado posteriormente por Nelson 
Mandela, em 1912. Paulatinamente, a partir da década de 1960, a África do Sul foi 
sendo isolada da comunidade internacional.
A independência de Gana foi liderada por Kwame Nkrumah. Era pan-
africanista e socialista e atuava contra o colonialismo. Teve contato com Fidel 
Castro e Patrice Lumumba; acreditava no desenvolvimento industrial contra a 
subordinação aos interesses estrangeiros. Foi deposto por um golpe militar em 
1966 e se exilou em Conacri, governada então por Ahmed Sékou Touré, que 
exerceu a liderança no processo de independência da Guiné e se manteve no poder 
por 26 anos. Por diversas vezes, sofreu tentativas de deposição e é acusado de 
diversas violações aos direitos humanos de opositores do regime. De todo modo, 
as maiores reservas de bauxita do mundo não permitiram o desenvolvimento da 
Guiné (UNESCO, 2010; DW, 2018b).
Patrice Lumumba foi dos mais importantes políticos anticolonialistas da 
África e se tornou o primeiro governante do Congo independente da Bélgica. 
Logo depois, teve de enfrentar o movimento separatista, apoiado pela Bélgica, das 
províncias de Katanga e do Kasai Sul, ricas em minérios. Ao tentar contornar a crise, 
solicitou auxílio de diversos países, inclusive da União Soviética, o que atraiu a ira 
da antiga metrópole e dos Estados Unidos. Assim, ambos se aliaram ao então chefe 
do Exército, Mobutu Sese Seko, que orquestrou um golpe e se manteve no poder de 
1965 até 1997, quando foi deposto por uma guerrilha que se originou nos campos de 
refugiados ruandeses no leste do país (UNESCO, 2010; DW, 2018c).
192
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
A Guerra da Argélia, que ocorreu entre 1954 e 1962, foi um dos conflitos 
mais cruéis da África, em que técnicas de tortura foram testadas, aprimoradas 
e exportadas para outros regimes. Desde 1830, a França ocupava o território 
argelino, e decidiu que este era uma extensão do território francês, negando, 
obviamente, direitos básicos à população nativa, predominantemente árabe 
e berbere. A resistência teve liderança de Ahmed Ben Bella, que se tornaria o 
primeiro governante da Argélia independente, e o principal grupo político contra 
os franceses foi a Frente de Liberação Nacional (FLN). Houve diversos massacres, 
que muitas vezes foram comandados pelos franceses que tinham se fixado na 
Argélia, chamados pejorativamente de ‘pés pretos’ (pieds noirs) (UNESCO, 2010; 
DW, s/d).
A Rodésia se tornou independente de facto, em 1965, mas não obteve 
reconhecimento até 1980, quando terminou o governo racista e segregacionista 
da minoria branca. Rodésia é palavra derivada de Rhodes, o colono britânico 
oriundo da África do Sul que ocupou terras no país. Após a declaração 
unilateral de independência, surgiram as guerrilhas União Nacional Africana do 
Zimbábue (ZANU) e União Popular Africana do Zimbábue (ZAPU), liderados 
respectivamente por Robert Mugabe e Joshua Nkomo. Com o fim da guerra civil, 
Mugabe foi eleito, tornou-se ditador e permaneceu no poder por 37 anos, levando, 
por fim, o país a uma crise econômica profunda (UNESCO, 2010).
As colônias portuguesas somente conseguiram a independência em 
meados da década de 1970, por meio de guerras sangrentas e longas, que 
opuseram capitalistas e comunistas. O primeiro país a se tornar independente 
de Portugal foi a Guiné Bissau, após o episódio conhecido como Massacre de 
Pindjiguiti, quando soldados portugueses mataram estivadores em greve. Isso 
deu visibilidade ao Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde 
(PAIGC), que recebeu apoio da China e do Marrocos. A luta armada começou em 
1963 e, apesar de Portugal começar a ganhar terreno a partir de 1970, a Revolução 
dos Cravos contribuiu para o respeito à autodeterminação das então colônias 
(UNESCO, 2010; PAIGC, 2019).
A guerra pela independência de Angola começou em 1961, quando o 
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) passou a interiorizar as 
ações de guerrilha e tornou-se de fato o único movimento com abrangência 
nacional. A partir de 1970, outros dois movimentos adquirem maior projeção 
geopolítica: Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e União Nacional 
para a Independência Total de Angola (UNITA). O MPLA foi apoiado por Cuba 
e União Soviética, enquanto a UNITA e a FNLA eram apoiadas, respectivamente, 
pela África do Sul e pelo Zaire (atual República Democrática do Congo). Os 
Estados Unidos apoiavam ambas, uma vez que buscavam combater a influência 
do bloco soviético (UNESCO, 2010; VISENTINI, 2012). 
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
193
Após a independência em 1975, o país entrou em uma guerra civil que 
durou até 2002, com a vitória do MPLA, cujo líder, José Eduardo dos Santos, 
governou o país de 1979 a 2017, cercado por denúncias de corrupção. Hoje, o 
país tem uma grande quantidade de minas terrestres que afetam diretamente 
a economia e a população. Angola teve participação também na guerra de 
independência da Namíbia, que durou de 1966 a 1990. Depois de a Alemanha 
perder o controle das colônias, o mandato sobre a Namíbia foi transferido para a 
África do Sul, que também instituiu o apartheid no país. Teve papel importante 
para a independência a Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO) 
(UNESCO, 2010; VISENTINI, 2012).
Em Moçambique, a realidade da guerra civil também opôs dois lados 
que refletiam o conflito ideológico da Guerra Fria e que contou com participação 
dos regimes racistas da Rodésia e da África do Sul. A guerra de independência 
começou em 1964 e durou até 1974, quando houve um cessar-fogo entre tropas 
portuguesas e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), de orientação 
marxista. Em 1977, dois anos após o fim do jugo português, iniciou-se a guerra 
civil entre a FRELIMO e a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), que 
se estenderia até 1992 e tornaria o país um dos mais pobres do mundo (UNESCO, 
2010; VISENTINI, 2012; YAHOO NEWS, 2019b). A figura a seguir traz a situação 
atual do país.
FIGURA 29 – MOÇAMBIQUE HOJE
FONTE: <https://news.yahoo.com/tensions-rise-mozambique-vote-counting-under-
way-160458062.html>. Acesso em: 4 jun. 2020.
194
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
O Saara Ocidental foi colônia espanhola até 1975, quando o governo 
do território passou a ser compartilhado entre Mauritânia e Marrocos, que 
reivindicavam a soberania sobre aquela região. Ambos entraram em guerra e um 
movimento nacionalista saarauí chamado Frente Polisário emergiu durante o 
confronto, com um governo de exílio na Argélia. 
A Mauritânia desistiu posteriormente da reclamação de direitos e o 
Marrocos passou a ocupar militarmente a maior parte do território do país. Até 
hoje se espera a ocorrência de um referendo para legitimar ou não a independência 
do Saara Ocidental, e o Marrocos tem patrocinado movimentos migratórios no 
território. Por isso, o Saara Ocidental é considerado pela Organização das Nações 
Unidas um território não autônomo (HUGON, 2015; ONU, s.d.).
FIGURA 30 – SAARA OCIDENTAL HOJE
FONTE: <https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2018/08/Mapa-do-Sahara-Ocidental-
485x340.jpg>. Acesso em: 4jun. 2020.
Durante a Guerra Fria, alguns países foram aliados do bloco comunista, 
seja com apoio soviético, seja com apoio, mais restrito, de Cuba e da China. Os 
governos estáveis com tendência socialista ou marxista no continente foram 
Argélia, Egito, Guiné, Benin, Congo, Tanzânia, Senegal, Angola, Moçambique, 
Guiné Bissau, Madagascar, Etiópia e Somália. A Somália virou-se contra o bloco 
comunista após a União Soviética oferecer apoio à Etiópia durante a guerra do 
Ogaden, em 1977 (VISENTINI, 2012; UNESCO, 2010; HUGON, 2015). Muitos 
desses países foram governados sem participação democrática, algo recorrente 
também em países alinhados com o bloco capitalista.
O fim da União Soviética trouxe consequências globais e na África isso 
significou a hegemonia norte-americana isolada, com o reforço da influência de 
algumas das antigas metrópoles, especialmente a França. Dez anos depois, os 
atentados terroristas nos Estados Unidos criaram o novo inimigo a ser combatido: 
o extremismo político de cunho religioso. 
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
195
Os principais grupos terroristas no continente hoje são a Al-Qaeda no 
Magrebe Islâmico (AQIM), o Al-Shabab, com atuação na Somália e no Quênia; e o 
Boko Haram, com atuação na Nigéria, em Camarões, no Chade e no Níger; os três 
são ligados à Al-Qaeda e de fé islâmica sunita. Há, ainda, o Exército de Resistência 
do Senhor, de fé cristã e com atuação entre República Centro-Africana, República 
Democrática do Congo, Uganda e Sudão do Sul (ONU, 2019).
Sobre o fim da União Soviética, leia o artigo on-line de Suny (2008): http://www. 
scielo.br/pdf/ln/n75/05.pdf.
NOTA
Esses grupos se desenvolvem também diretamente relacionados a conflitos 
armados que, em geral, atingem escala regional. Os principais conflitos na África, 
hoje, ocorrem na Líbia, no Mali, na República Centro-Africana, na Nigéria, no 
Sudão do Sul, na Somália e na República Democrática do Congo. 
Neste país, desde a queda do ditador Mobutu Sese Seko, não houve paz. 
São mais de vinte anos ininterruptos de guerra no leste do país, e algo em torno 
de 130 grupos armados que lutam para controlar a extração de nióbio, tântalo, 
ouro e platina, minérios fundamentais para a indústria de bens tecnológicos, 
como laptops e celulares, além das indústrias aeronáutica e bélica. São minérios 
estratégicos e raros, com alto valor comercial. A figura 31 mostra a área do conflito: 
em vermelho, estão as áreas de guerra desde 1998; em marrom, áreas ricas em 
minério; em verde, a infraestrutura construída ou reformada pelos chineses.
FIGURA 31 – SITUAÇÃO POLÍTICA DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO
FONTE: <https://www.monde-diplomatique.fr/local/cache-vignettes/L890xH537/rdcGF-366fe.
jpg?1512062846>. Acesso em: 4 jun. 2020.
196
UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
A Somália colapsou em 1991, quando Mohammed Siad Barre foi deposto, 
após mais de vinte anos governando o país. Nesse mesmo ano, a Somalilândia 
se declarou independente. Houve intervenção militar da ONU no país, com a 
participação dos Estados Unidos, mas em 1995 as tropas se retiraram do país. 
Em 1998 foi a vez da Puntlândia se declarar independente. Em 2004 surgiu o 
grupo terrorista Al Shabab. Em 2006, Galmudug se declarou autônomo; em 
2009, a Somália do Sudoeste; em 2011 foi a vez de Jubalândia ou Azania; em 
2016, Hirshabelle também se tornou autônomo. A guerra tem continuado na 
região de Mogadíscio até hoje (DERSSO, 2009). A figura 32 seguir mostra a atual 
divisão da Somália.
FIGURA 32 – DIVISÃO DA SOMÁLIA DESDE 1991
FONTE: <https://www.hrw.org/pt/africa/somalia>. Acesso em: 4 jun. 2020.
O Sudão do Sul, de maioria negra, animista e cristã, conquistou sua 
independência do Sudão, de maioria árabe e muçulmana, em 2011, após décadas 
de guerra civil. Uma vez independente, outra guerra civil eclodiu em 2013, 
devido aos recursos minerais, especialmente petróleo. Quase 400 mil pessoas 
morreram no conflito. Houve tentativa de cessar-fogo em 2015, não cumprido, e 
outra tentativa em 2018, mas desde então o processo de paz tem avançado muito 
lentamente. Há grande número de refugiados e risco constante de ondas de fome, 
apesar da capacidade agrícola do país. A figura a seguir mostra o Sudão do Sul 
(ONU, 2019; CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2016).
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
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FIGURA 33 – GEOPOLÍTICA DO SUDÃO DO SUL
FONTE: <https://diplomatique.org.br/irmaos-inimigos-no-sudao-do-sul/>. Acesso em: 4 jun. 2020.
A Nigéria tem sua paz ameaçada desde 2009, quando o Boko Haram iniciou 
atividades terroristas. O episódio mais famoso ocorreu em 2014, quando 276 
meninas foram sequestradas no nordeste nigeriano, muitas ainda desaparecidas. 
Desde então, o grupo, que afirma integrar o Estado Islâmico, tem ampliado 
suas atividades para os países vizinhos Camarões, Chade e Níger (ONU, 2019; 
AMERICAN SECURITY PROJECT, 2019). 
A área é bastante pobre, e tem sofrido bastante com as mudanças 
climáticas e as ações antrópicas, uma vez o Sahel tem sofrido intenso processo de 
desertificação e o Lago Chade tem secado (ONU, 2019; AMERICAN SECURITY 
PROJECT, 2019). 
A República Centro-Africana está em guerra civil há mais de seis anos, 
quando em 2013 a oposição armada ao então governo tomou o controle do país. 
A partir do ano seguinte, vários grupos armados entraram em combate, em um 
país rico em diamante e ouro e com elevado grau de corrupção. 
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UNIDADE 3 | TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
Os muçulmanos do Norte, chamados de Seleka, se viam preteridos pelos 
governantes e se aliaram, marchando até a capital Bangui. Em seguida, milícias 
cristãs, nomeadas de Anti-Balaka passaram a combater os Seleka (YAHOO NEWS, 
2019b). A figura em seguida mostra a divisão entre esses grupos e a localização 
das minas. 
FIGURA 34 – OPOSIÇÃO ENTRE AS MILÍCIAS SELEKA E BALAKA
FONTE: <https://finance.yahoo.com/news/c-africa-14-armed-groups-one-poor-
country-130632235.html>. Acesso em: 4 jun. 2020. 
A Líbia entrou em guerra civil em 2011, quando Muammar Gaddafi, 
que governava há mais de 40 anos, foi deposto em consequência dos protestos 
da Primavera Árabe. O país entrou em colapso novamente após alguns anos 
de tensões. Hoje, o poder está dividido basicamente entre a Câmara dos 
Representantes da Líbia, liderado pelo general Khalifa Haftar, e o Governo do 
Acordo Nacional, liderado por Fayez al-Sarraj (MEGERISI, 2019). 
Contudo, outras milícias e o Estado Islâmico ainda atuam no território 
líbio, como vemos na figura em seguida. O colapso líbio foi fundamental para 
outra guerra civil, a do Mali, já que tuaregues apoiaram Gaddafi. Quando 
retornaram, em 2012, fundaram o Movimento Nacional de Libertação do Azauade 
(LIVERMORE, 2013).
TÓPICO 2 | GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
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FIGURA 35 – GUERRA CIVIL (LÍBIA)
FONTE: <https://www.spiegel.de/international/world/libya-s-grim-civil-war-escalates-a-1277817.html>. 
Acesso em: 4 jun. 2020.
O Azauade é a região norte do Mali, ao norte do rio Níger. É uma 
região rica em ouro e em hidrocarbonetos, de população predominantemente 
tuaregue e árabe e de religião muçulmana. A figura a seguir mostra a localização 
desse território que chegou a ter a independência decretada em 2012, antes da 
intervenção internacional (LIVERMORE, 2013). 
Houve assinatura de um acordo de paz em 2015, mas há grupos islâmicos 
armados em atuação, violência entre grupos étnicos e ações contraterroristas 
do Estado malinês. As Nações Unidas têm uma missão de paz na região, que 
é frequentemente alvo de ações militares e terroristas e têm elevado índice de 
mortalidade. 
Revisando os países africanos em guerra civil: Líbia, Mali, República Centro-
Africana, Nigéria, Sudão do Sul, Somália e República Democrática do Congo.
IMPORTANT
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FIGURA 36 – O PROCLAMADO AZAUADE E SEU ENTORNO
FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-hFcspIrFsMM/T4U0jw7fW2I/AAAAAAAABik/W7m-Me5dRGA/

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