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MINISTÉRIO DA SAÚDE DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS GUIA DE BOLSO 8a edição revista BRASÍLIA - DF 2010 MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Epidemiológica DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS GUIA DE BOLSO 8a edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde BRASÍLIA - DF 2010 © 1999 Ministério da Saúde. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs Série B. Textos Básicos de Saúde Tiragem: 8a edição revista – 2010 – 90.000 exemplares Elaboração, edição e distribuição: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância Epidemiológica Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício-Sede, 1o andar CEP: 70058-900 Brasília – DF E-mail: svs@saude.gov.br Home page: http://www.saude.gov.br Projeto Gráfico: Edite Damásio da Silva e Fabiano Camilo Capa: Fabiano Camilo Diagramação: Edite Damásio da Silva Revisão e copidescagem: Regina Coeli Pimenta de Mello Impresso no Brasil/Printed in Brazil Títulos para indexação: Em inglês: Infectious and Parasitic Diseases: pocket guide Em espanhol: Enfermedades Infecciosas y Parasitarias: guía de bolso Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias : guia de bolso / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 8. ed. rev. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 444 p. : Il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) ISBN 1. Doenças transmissíveis. 2. Vigilância epidemiológica. 3. Saúde pública. I. Título. II. Série. CDU 616.9 Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2010/0092 Ficha Catalográfica Agradecimentos As várias edições deste Guia de Bolso têm sido fruto de um trabalho coletivo que envolve profissionais e dirigentes das áreas técnicas afins do Ministério da Saúde. Os editores têm o papel de coordenar esse pro- cesso e revisar os capítulos, com vistas a imprimir certa uniformidade à publicação, além de elaborar capítulos sobre temas específicos. Assim, centenas de profissionais vêm participando ativamente dessa constru- ção, de modo que parte dos conteúdos das edições anteriores perma- necem nas edições seguintes. Nesse sentido, os editores desta 8ª edição expressam o seu reconhecimento e agradecem o empenho e contribui- ções de todos os autores e colaboradores. Prefácio 11 Introdução 13 PARTE I Vigilância Epidemiológica: procedimentos técnicos e situação das doenças infecciosas no Brasil 15 1 Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 17 2 Situação Epidemiológica das Doenças Transmissíveis no Brasil 38 3 Vigilância Epidemiológica 46 4 Estrutura para Respostas às Emergências em Saúde Pública 51 5 Sistemas de Informações 56 6 Acidentes por Animais Peçonhentos 62 PARTE II Doenças Infecciosas de Interesse para a Saúde Pública 75 1 Aids 77 2 Amebíase 92 3 Ancilostomíase 95 4 Ascaridíase 97 5 Botulismo 99 6 Brucelose 105 7 Cancro Mole 108 8 Candidíase 111 9 Coccidioidomicose 114 10 Cólera 117 11 Coqueluche 121 Sumário 12 Criptococose 126 13 Criptosporidíase 129 14 Dengue 131 15 Difteria 139 16 Doença de Chagas 145 17 Doença de Lyme 152 18 Doenças Diarreicas Agudas 155 19 Doença Meningocócica 158 20 Donovanose 162 21 Enterobíase 166 22 Escabiose 169 23 Esquistossomose Mansônica 171 24 Estrongiloidíase 176 25 Febre Amarela 179 26 Febre Maculosa Brasileira 184 27 Febre Purpúrica Brasileira 188 28 Febre Tifóide 192 29 Filaríase por Wuchereria bancrofti 198 30 Giardíase 202 31 Gonorreia 205 32 Hanseníase 208 33 Hantaviroses 219 34 Hepatite A 224 35 Hepatite B 229 36 Hepatite C 236 37 Hepatite D 241 38 Hepatite E 246 39 Herpes Simples 250 40 Histoplasmose 255 41 Infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) 259 42 Influenza 263 43 Leishmaniose Tegumentar Americana 271 44 Leishmaniose Visceral 277 45 Leptospirose 284 46 Linfogranuloma Venéreo 293 47 Malária 296 48 Meningite por Haemophilus Influenzae 313 49 Meningite Tuberculosa 316 50 Meningites Virais 321 51 Mononucleose Infecciosa 323 52 Oncocercose 325 53 Paracoccidioidomicose 328 54 Parotidite Infecciosa 331 55 Peste 333 56 Poliomielite 338 57 Psitacose 344 58 Raiva 346 59 Rubéola e Sindrome da Rubéola Congênita 353 60 Sarampo 365 61 Shigelose 370 62 Sífilis Adquirida e Congênita 373 63 Teníase / Cisticercose 387 64 Tétano Acidental 391 65 Tétano Neonatal 399 66 Toxoplasmose 404 67 Tracoma 408 68 Tuberculose 412 69 Varicela / Herpes Zoster 429 Equipe Técnica 439 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 11 Prefácio O Guia de Bolso de Doenças Infecciosas e Parasitárias tem sido re- conhecido pelos profissionais de saúde como um manual prático e de grande utilidade. Certamente, essa deve ser uma das razões pelas quais ele tem se constituído no veículo técnico de grande procura por esses usuários e, consequentemente, de maior tiragem dentre as publicações do Ministério da Saúde. Como é especialmente dirigido aos médicos, em particular para aque- les que desempenham as suas funções nos serviços de saúde pública de nosso país, esta obra deve oferecer informações atualizadas sobre aspectos clínicos, epidemiológicos, laboratoriais, tratamento e medidas de prevenção e controle daquelas doenças que em função de sua mag- nitude ou gravidade com que acomete a população brasileira apresen- tam potencial para, além de danos à saúde dos indivíduos, tornarem-se um importante problema de saúde pública. Atento a relevância social desta publicação entendemos ser oportuna a publicação desta Edição atualizada e ampliada, especialmente nes- te momento. Entre as razões para esta decisão destacam-se a recente produção de informações acerca da conduta diagnóstica e terapêutica oriunda de reuniões de consenso dos Comitês Técnicos Assessores do Ministério da Saúde que, dentre outros profissionais, são constituídos por representantes das Sociedades Científicas Brasileiras de algumas doenças transmissíveis, bem como em razão da ocorrência da grave pandemia de Influenza A, produzida pelo vírus A(H1N1) 2009, que colocou em alerta as autoridades nacionais de países nos cinco conti- nentes e autoridades internacionais, tais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas (ONU. O Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde vêm adotando um conjunto de ações estratégicas para fazer frente ao desafio de enfrentamento da referida pandemia que, segundo previ- sões, poderá recrudescer nos próximos meses no Hemisfério Sul em razão da característica sazonal dessa enfermidade. Em face dessa pre- visão e da importância que esta epidemia assumiu no Brasil, decidimos incluir neste Guia um capítulo especial sobre Influenza Pandêmica A(H1N1)2009, precedendo todos os demais, mesmo que extrapolando a estrutura sintética adotada nos outros temas abordados, característi- ca desta publicação. O propósito é possibilitar que os profissionais de saúde possam sempre ter à mão para consulta, no curso de sua rotina de trabalho, este Manual. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS12 Esperamos que a participação de toda a classe médica no monitora- mento e na detecção precoce de eventos de maior importância para a saúde pública resulte no aumento da sensibilidade do sistema de vi- gilância epidemiológica para que este possa de modo constante, atuar oportunamente quando medidas individuais e coletivas de prevenção e controle de doenças se fizerem necessárias. José Gomes Temporão Ministro de Estado da SaúdeSecretaria de Vigilância em Saúde / MS 13 Introdução Reiterando o propósito de apresentar aos médicos do nosso país infor- mações essenciais e atualizadas acerca de doenças infecciosas e parasi- tárias que se apresentam como de maior relevância para a população brasileira, a exemplo das edições anteriores, atualizações importantes são aqui oferecidas. Destacam-se aquelas que se referem às doenças que são objeto de interesse para a Vigilância Epidemiológica, como as relativas aos esquemas de tratamento da Malária, Tuberculose e Hepa- tites Virais. Um capítulo sobre a moderna estrutura do sistema de respostas às emergências de saúde pública que o SUS implantou em anos recentes, ganhou destaque na presente edição deste Guia de Bolso. Entretanto, a maior novidade diz respeito a sua ampliação com um capítulo que traz informações mais completas sobre a Influenza A (H1N1)2009, virose declarada pela OMS como uma pandemia e que continua sendo motivo de preocupação para autoridades de saúde, na- cionais e internacionais, em virtude do seu crescimento no Hemisfério Norte o que aponta para o aparecimento de uma segunda onda pandê- mica nos próximos meses, no Hemisfério Sul. As três esferas de atuação do SUS, além das redes de atenção de saú- de suplementar e privada do país, já estão sendo preparadas para dar continuidade e fortalecer as iniciativas governamentais voltadas para prestar a devida atenção médica e preventiva aos indivíduos acometi- dos por esta doença. Por esta razão, a tiragem desta nova edição foi ampliada no propósito de somar esforços para garantir que a atenção necessária seja de qua- lidade em todos os recantos deste país continental, na medida em que teremos assegurado aos profissionais de saúde informações sobre os avanços no que se refere à vigilância epidemiológica, além do diagnós- tico e tratamento dessa e de outras doenças transmissíveis de interesse para a saúde coletiva. Gerson Oliveira Penna Secretário de Vigilância em Saúde PARTE I Vigilância Epidemiológica: procedimentos técnicos e situação das doenças infecciosas no Brasil Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 17 Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 CID 10: J10 a J11 Os vírus da influenza A e B possuem vários subtipos que sofrem con- tínuas mutações, surgindo novas cepas. Em geral, as novas cepas que passam a infectar humanos apresentam diferentes graus de distinção em relação àquelas até então circulantes, devido ao referido processo de mutação, possivelmente por meio da recombinação de genes en- tre cepas que infectam diferentes espécies animais. Em abril de 2009, foi detectado no México um novo vírus da Influenza A, o (H1N1), colocando em alerta a Saúde Pública mundial. Esta nova cepa rapida- mente se disseminou causando uma pandemia e o agente passou a ser denominado vírus influenza pandêmico (H1N1) 2009. Até a semana epidemiológica 47, que terminou em 28 de novembro de 2009, casos de influenza provocados por este agente haviam sido confirmados la- boratorialmente em 207 países, incluindo 8.768 óbitos. Para o enfren- tamento dessas situações, planos para as fases de contingência e miti- gação do problema foram elaborados e vêm sendo sistematicamente atualizados pelo Ministério da Saúde com base nas orientações ema- nadas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e OPAS, bem como do conhecimento que está sendo produzido no curso desse evento. Até o momento de edição deste livro, cerca de 1.329 artigos foram publica- dos nos principais jornais científicos do mundo sobre o tema. Agente etiológico - Vírus da Influenza pertence à família Ortomi- xiviridae. São vírus RNA de hélice única, que se subdividem em três tipos antigenicamente distintos: A, B e C. Os tipos A, responsáveis pela ocorrência da maioria das epidemias de gripe, são mais suscetíveis a variações antigênicas, razão pela qual, periodicamente, suas variantes sofrem alterações na estrutura genômica, contribuindo para a existência de diversos subtipos. São classificados de acordo com os tipos de proteí- nas que se localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteína H está associada à infecção das células do trato respiratório superior, onde o vírus se multiplica; enquanto a proteína N facilita a saída das partículas virais do interior das células infectadas. Nos vírus influenza A humanos, já foram caracterizados três subtipos de hemaglutinina imunologicamente distintos (H1, H2 e H3) e duas neuraminidases (N1 e N2). A nomenclatura dos vírus influenza definida pela OMS inclui, na seguinte ordem: tipo de vírus influenza; localização geográfica onde o vírus foi isolado pela primeira vez; o nú- mero da série que recebe no laboratório e; ano do isolamento. Quando é influenza do tipo A, a descrição dos antígenos de superfície do vírus, 1 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS18 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ou seja, da hemaglutinina e da neuraminidase, é apresentada entre pa- rênteses, como, por exemplo, A/Sydney/5/97(H3N2). Sinonímia - Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica, influen- za suína, Gripe pandêmica, influenza humana pandêmica. Reservatório - Os reservatórios conhecidos na natureza para o vírus da influenza são os seres humanos, os suínos, os equinos, as focas e as aves. As aves migratórias, principalmente as aquáticas e as silvestres, desempenham importante papel na disseminação natural da doen- ça entre distintos pontos do globo terrestre. Em geral, a transmissão ocorre dentro da mesma espécie, exceto no porco, cujas células têm receptores para os vírus humanos e aviários. Os vírus influenza do tipo A infectam seres humanos, suínos, cavalos, mamíferos marinhos e aves; os do tipo B ocorrem exclusivamente em seres humanos; e os do tipo C, em seres humanos e suínos. Modo de transmissão - O modo mais comum é a transmissão direta (pessoa a pessoa), por meio de pequenas gotículas de aerossol (>5 mi- limicras de diâmetro) expelidas pelo indivíduo infectado com o vírus (ao falar, tossir e espirrar) às pessoas suscetíveis. Também há evidên- cias de transmissão pelo modo indireto, por meio do contato com as secreções do doente. Nesse caso, as mãos são o principal veículo, ao propiciarem a introdução de partículas virais diretamente nas mucosas oral, nasal e ocular. A eficiência da transmissão por essas vias depende da carga viral e fatores ambientais (umidade e temperatura) e ao tempo transcorrido entre a contaminação e o contato com a superfície conta- minada. O modo indireto também ocorre por meio do contato com as secreções do doente. Nesse caso, as mãos são o principal veículo, ao propiciarem a introdução de partículas virais diretamente nas mucosas oral, nasal e ocular. Período de incubação - Dados produzidos por alguns países, in- dicam que, atualmente, o período de incubação relacionado ao novo vírus da Influenza Pandêmica A(H1N1) 2009, pode variar de 1 a 7 dias, sendo mais comum entre 1 a 4 dias. Período de transmissibilidade - Informações preliminares dos casos de Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica investigados até o momento indicam que, para o adulto, o período pode variar de 1 dia antes até o 7° dia após o início dos sintomas e, para menores de 12 anos, 1 dia antes até o 14° dia após o início dos sintomas. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 19 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 ASPECTOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS Manifestações clínicas - Clinicamente, a doença inicia-se com a instalação abrupta de febre alta, em geral acima de 38°C, seguida de mialgia, dor de garganta, prostração, cefaleia e tosse seca. A febre é, sem dúvida, o sintoma mais importante e perdura em torno de 3 dias. Os sintomas sistêmicos são muito intensos nos primeiros dias da do- ença. Com a sua progressão, os sintomas respiratórios tornam-se mais evidentes e mantêm-se em geral por 3 a 4 dias, após o desaparecimento da febre. É comum a queixa de garganta seca, rouquidão, tosse seca e queimação retro-esternal ao tossir, bemcomo pele quente e úmida, olhos hiperemiados e lacrimejantes. Há hiperemia das mucosas, com aumento de secreção nasal hialina. O quadro clínico em adultos sadios pode variar de intensidade. Nas crianças, a temperatura pode atingir níveis mais altos, sendo comum o achado de aumento dos linfonodos cervicais. Quadros de bronquite ou bronquiolite, além de sintomas gas- trointestinais, também podem fazer parte da apresentação clínica em crianças. Os idosos quase sempre apresentam-se febris, às vezes sem outros sintomas, mas em geral a temperatura não atinge níveis tão al- tos, ou mesmo cursam sem febre. As situações reconhecidamente de risco para desenvolvimento de for- mas graves e de óbito incluem gestação, idade menor do que 2 anos ou maior que 60 anos e presença de comorbidades, como doença pulmo- nar crônica (asma e doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC), cardiopatias (insuficiência cardíaca crônica, por exemplo), doença metabólica crônica (diabetes, obesidade mórbida, por exemplo), imu- nodeficiência ou imunodepressão, doençaAs complicações são mais comuns em idosos e indivíduos vulneráveis. As mais frequentes são as pneumonias bacterianas secundárias, sendo geralmente provocadas pelos seguintes agentes: Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus e Haemophillus influenzae. Uma complicação incomum, e muito grave, é a pneumonia viral primária pelo vírus da influenza. Nos imunocom- prometidos, o quadro clínico é geralmente mais arrastado e, muitas vezes, mais grave. Gestantes com quadro de influenza especialmente no segundo ou terceiro trimestre da gravidez estão mais propensas à agravamento do quadro clínico o que exige internação hospitalar. Dentre as complicações não pulmonares em crianças, destaca-se a sín- drome de Reye, que também está associada aos quadros de varicela. Esta síndrome caracteriza-se por encefalopatia e degeneração gordu- rosa do fígado, após o uso do ácido acetil salicílico (AAS), na vigência Secretaria de Vigilância em Saúde / MS20 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS de um desses quadros virais. Recomenda-se, portanto, que não sejam utilizados medicamentos do tipo ácido acetil salicílico, em crianças com síndrome gripal ou com varicela. Entre outras complicações incluem miosite, miocardite, pericardite, síndrome do choque tóxico, síndrome de Guillain-Barré e, mais rara- mente, encefalite e mielite transversa. Influenza pandêmica ou com potencial pandêmico - A descrição dos poucos casos de pacientes hospitalizados infectados por influenza pandêmica A(H1N1) 2009 pandêmica, em alguns países (ex.: Tailân- dia, Vietnã, Indonésia), revela que as manifestações iniciais são febre alta (>38°C), acompanhada de tosse, dor de garganta e sintomas do trato respiratório inferior. Há relato da presença de diarreia, vômitos, dor abdominal, dor pleurítica e sangramento do nariz e gengiva. Em- bora rara, pode ocorrer também conjuntivite. Além disso, já foram identificados dois pacientes com doença encefalopática e diarreia, sem sintomas respiratórios. Tem sido observado o desenvolvimento de ma- nifestações respiratórias baixas, no início da doença, com dispneia em média 5 dias após o início dos sintomas (variando de 1 a 16 dias), sibi- los inspiratórios e escarro (frequentemente hemoptóico). A evolução para insuficiência respiratória aguda (IRA) é comum e tem sido associada a infiltrado pulmonar com aparência de vidro fosco, di- fuso e bilateral, evoluindo, em média, 6 dias (intervalo de 4 a 13 dias) após os sintomas iniciais. É frequente a constatação clínica de pneumonia viral primária, em praticamente todos os pacientes. Em geral, as alterações radiológicas surgem, em média, 7 dias após o início dos sintomas (intervalo de 3 a 17 dias) e incluem: infiltrado pulmonar localizado multifocal ou di- fuso; infiltrado intersticial e consolidação lobular ou segmentar, com broncograma aéreo. O derrame pleural é incomum. Falência de múltiplos órgãos com sinais de insuficiência renal e com- prometimento cardíaco (dilatação e taquiarritmias supraventriculares) tem sido habitual. Outras complicações identificadas são: pneumonia associada ao ventilador, hemorragia pulmonar, pneumotórax, pancito- penia, síndrome de Reye e sepsis sem bacteremia documentada. Os achados laboratoriais mais presentes são: leucopenia com linfoci- topenia, trombocitopenia e aumento de transaminases de leve a mo- derada. Pode ocorrer ainda hiperglicemia e aumento de creatinina. É importante realizar o monitoramento clínico para detecção do agrava- mento dos quadros. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 21 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 Como visto, as situações de risco para desenvolvimento de formas gra- ves e óbito incluem gestação, idade menor do que 2 anos e presença de comorbidades, como doença pulmonar crônica, cardiopatias, doen- ça metabólica crônica, imunodeficiência ou imunodepressão, doença crônica renal e hemoglobinopatias. As complicações são mais comuns em idosos e indivíduos vulneráveis. Tem sido ainda relatado que a po- pulação indígena também apresenta risco acrescido para desenvolver forma grave ou óbito. O quadro, na maioria dos casos de Influenza Pandêmica A(H1N1) 2009 pandêmica, é benigno e autolimitado, clinicamente moderado, carac- terizado por febre, tosse, coriza, dor de cabeça e mal-estar. No entanto, tem-se observado uma proporção de pacientes que apresentam a forma grave, com importante acometimento pulmonar, que pode evoluir rapi- damente para insuficiência respiratória, principalmente em grupos de risco já conhecidos para complicações para influenza sazonal. Cerca de 90% dos pacientes apresentam início abrupto, com febre alta, em geral acima de 38°C, seguida de mialgia, dor de garganta, rinorreia, artralgias, prostração, dor de cabeça e tosse seca. Diarreia, vômitos e fadiga podem estar presentes. Atualmente, os casos que apresentam febre alta (>38°C), tosse e dispneia são classificados como síndrome respiratória aguda gra- ve, devendo ser cuidadosamente avaliados. Desde 16 de julho de 2009, após a declaração de transmissão sustenta- da, o Ministério da Saúde, em articulação com as secretarias de saúde dos estados e municípios, realiza a vigilância epidemiológica de sín- drome respiratória aguda grave (SRAG) e de surtos por síndrome gri- pal, com os objetivos de melhorar o conhecimento do comportamento epidemiológico da doença e de reduzir a ocorrência de formas graves e óbitos. Diagnóstico diferencial - As características clínicas não são espe- cíficas e o principal diagnóstico diferencial é com a Influenza Sazonal (vide capítulo na página 261). Podem também ser similares àquelas causadas por outros vírus respiratórios, que também ocorrem sob a forma de surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo, tais como rinovírus, vírus parainfluenza, vírus respiratório sincicial, ade- novírus e coronavírus. Mesmo sendo mais intensos os sintomas sistê- micos da Influenza pandêmica (H1N1)2009 são os mesmos que o da gripe sazonal e o diagnóstico diferencial, apenas pelo quadro clínico, entre as mesmas, pode se tornar difícil. Diagnóstico laboratorial - Os procedimentos apropriados de cole- ta, transporte, processamento e armazenamento de espécimes são de Secretaria de Vigilância em Saúde / MS22 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS fundamental importância no diagnóstico dessa infecção viral, sendo que pode haver particularidades para cada etapa De forma geral, o espécime preferencial para o diagnóstico laboratorial é a secreção da nasofaringe (SNF), colhido de preferência nos primeiros três dias de aparecimento dos sinais e sintomas até no máximo o 7° dia. (mas, pre- ferencialmente, até o 3° dia). A partir de 1 de janeiro de 2010, será objeto de notificação e coleta de material biológico apenas os casos de SRAG que forem hospitalizados. Tal medida justifica-se devido ao aumento no número de amostras co- letadas a partir de casos suspeitos de síndrome gripal, durante a ocor- rência da atual pandemia. Desde entãoos laboratórios de referência passaram a priorizar o processamento de amostras e diagnóstico de casos graves e óbitos. Os agentes infecciosos prioritários para investigação etiológica são os vírus influenza e os agentes etiológicos responsáveis por quadros de pneumonia bacteriana. As amostras de secreções respiratórias devem ser coletadas preferencialmente no 3° dia após o início dos sintomas e, no máximo, até o 7° dia. laboratorial do novo vírus da Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica é o RT-PCR. (IFI) para detecção desse novo subtipo de Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica, no momento atual. suspeitos para o diagnóstico de infecção pelo novo vírus da Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica será realizado exclusivamente pelos Laboratórios de Referência (LR): Instituto Adolfo Lutz (IAL/ SP), em São Paulo; Instituto Evandro Chagas (IEC/PA), no Pará; Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ), no Rio de Janeiro. O isolamento viral e as técnicas de biologia molecular são realizados na Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública que é composta por Laboratórios Centrais de Saúde Pública dos Estados, além de três laboratórios de referência nacional para influenza (Instituto Evandro Chagas/SVS/MS, Fiocruz/MS e Instituto Adolfo Lutz/SES/SP). Estas instituições realizam caracterização antigênica e genômica dos vírus da influenza isolados, além do monitoramento das mutações e da resistência aos medicamentos. Para caracterização complementar de vírus de influenza detectados no país amostras são enviadas pelos laboratórios de referência para o CDC/Atlanta, Centro Colaborador da OMS para as Américas. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 23 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 recomendações da OMS, o Ministério da Saúde reitera que a coleta de amostras de material humano seja realizada rigorosamente dentro das normas de biossegurança preconizadas para essa situação. amostras de sangue ou outras amostras clínicas que não sejam do trato respiratório para subsidiar o diagnóstico diferencial, conforme as hipóteses diagnósticas elencadas no hospital de referência e desde que façam parte da lista de exames próprios dessa rede de labora- tórios, adotando-se as medidas de biossegurança preconizadas para cada situação. Indicação para a coleta de amostras no indivíduo doente - Diante de um caso suspeito de doença respiratória aguda grave (apresentando ou não fator de risco para complicações), poderão ser coletadas amostras clínicas de: Secreção nasofaringeana - Para detecção de vírus influenza. Sangue para hemocultura - Para realização de pesquisa de agentes microbianos e avaliação da resistência antimicrobiana. Outras amostras clínicas - Serão utilizadas apenas para monito- ramento da evolução clínica do paciente e/ou para realização de diagnóstico diferencial, conforme hipóteses elencadas pelo médico do hospital de referência e as evidências geradas pela investigação epidemiológica. Técnica para a coleta frasco coletor de secreção, pois a amostra obtida por essa técnica pode concentrar maior número de células. como alternativa, poderá ser utilizada a técnica de swab combinado de nasofaringe e orofaringe, exclusivamente com swab de rayon. swab de algodão, pois o mesmo interfere nas metodologias moleculares utilizadas. em temperatura adequada de refrigeração (4° a 8°C) e encaminhadas aos Lacen, no mesmo dia da coleta. uma na fase aguda e outra na fase convalescente (15 dias após o início dos sintomas). Uma vez obtido o soro, eles deve ser congelado a -20°C e encaminhado ao Lacen, onde será submetido à análise para outros possíveis agentes etiológicos. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS24 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Acondicionamento, transporte e envio de amostras para diagnósti- co - As unidades coletoras deverão encaminhar as amostras ao Lacen de seu estado ou Distrito Federal, acompanhadas da ficha epidemioló- gica devidamente preenchida. As amostras deverão ser colocadas em caixas (térmicas) de paredes rí- gidas, que mantenham a temperatura adequada de refrigeração (de 4° a 8°C), até a chegada ao Lacen. O Lacen deverá acondicionar a amostra em caixas específicas para transporte de substâncias infecciosas, preferencialmente em gelo seco. Na impossibilidade de obter gelo seco, a amostra poderá ser congelada a -70°C e encaminhada em gelo reciclável. O envio e a comunicação com a informação do “número de conhe- cimento aéreo” devem ser imediatos para o respectivo laboratório de referência. O transporte deve obedecer as Normas da Associação In- ternacional de Transporte Aéreo (IATA). Indicação para a coleta de amostras em situação de óbito - Recomen- dada apenas nos locais onde seja viável a realização das técnicas de coleta de amostras, para diagnóstico post-mortem de casos de doença respiratória aguda grave sem diagnóstico etiológico prévio, em situa- ções especiais indicadas pela vigilância epidemiológica. Os ácidos nucléicos virais podem ser detectados em diversos tecidos, principalmente de brônquios e pulmões, que constituem espécimes de escolha para o diagnóstico laboratorial de vírus influenza pela técni- ca de transcrição reversa, associada à reação em cadeia, mediada pela polimerase (RT-PCR). No entanto, considerando a principal infecção secundária à influenza, foram contempladas neste item orientações para coleta de amostras para o diagnóstico bacteriano diferencial, bem como para o diagnóstico histopatológico. Coleta dos espécimes teciduais - Devem ser coletados, no mínimo, 8 fragmentos de cada tecido com dimensões aproximadas de 1 a 3cm. Amostras de outros sítios das vias aéreas também podem ser subme- tidas a culturas e a ensaios moleculares. Colocar, em recipientes sepa- rados e devidamente identificados, as amostras coletadas de órgãos diferentes. Pontos anatômicos de coleta de amostras esquerdo e da traqueia proximal e distal; Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 25 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 podem ser coletados fragmentos do miocárdio (ventrículo direito e esquerdo), do SNC (córtex cerebral, gânglios basais, ponte, medula e cerebelo); e do músculo esquelético, respectivamente; macroscópica, podem ser encaminhados para investigação da etiologia viral. Acondicionamento das amostras Para diagnóstico viral - ratórias ou de qualquer outra localização anatômica devem ser acondicionadas individualmente, em recipientes estéreis, e imersas em meio de transporte viral ou solução salina tamponada (PBS pH 7.2), suplementadas com antibióticos. origem tecidual, devem ser congelados e transportados em gelo seco. Para diagnóstico diferencial bacteriano ou de qualquer outra localização anatômica devem ser acondiciona- das individualmente, em recipientes estéreis, e imersas em solução salina tamponada (PBS pH 7.2), sem antibióticos. origem tecidual, devem ser mantidos e transportados sob refrigeração (4°C) ao laboratório para diagnóstico. Para diagnóstico histopatológico deve ser feita observando-se os protocolos em vigência nos serviços locais de patologia. formalina tamponada a 10%. abelha, cera de carnaúba, etc.), no processo de parafinização dos fragmentos. Envio de amostras e documentação necessária envio do resultado laboratorial. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS26 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Tratamento - O antiviral Oseltamivir indicado deve ser utilizado em, no máximo, até 48 horas a partir da data de início dos sintomas, observando-se as recomendações do fabricante constantes na bula do medicamento. Como em toda prescrição terapêutica, atentar para as interações medicamentosas, as contraindicações formais e os efeitos colaterais. Este tipo de medicamento pode ainda induzir resistência aos vírus da influenza de modo geral, se utilizado de forma indiscriminada. A Rede Global de Vigilância da Influenza já vem detectando casos de resistência do vírus pandêmico da Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 oseltamivir em testes realizados em 31 países,em alguns dos quais já foi detectada transmissão deste vírus com mutação (H275Y), ainda que de forma limitada. Todos os vírus identificados apresentam a mesma mutação e permane- cem sensíveis ao Zanamivir como droga de escolha. Segundo a orientação do fabricante, o Oseltamivir deve ser usado du- rante a gravidez somente se o benefício justificar o risco potencial para o feto. São elegíveis para tratamento: próximos, que também apresentem doença respiratória aguda grave; complicações de Influenza requerem – obrigatoriamente – avaliação e monitoramento clínico constante de seu médico assistente, para indicação ou não do tratamento com Oseltamivir, além da adoção de todas as demais medidas terapêuticas. Dosagem recomendada - A dose recomendada é de 75mg, 2 vezes ao dia, por 5 dias, para adultos. Para crianças acima de 1 ano de idade e menor que 12 anos, com menos de 40kg, as doses variam de acordo com o peso, conforme especificação da Tabela 1, durante 5 dias. Tabela 1. Dosagem de Oseltamivir recomendada por peso e frequência diária Peso Dose Frequência Menos de 15kg 30mg 2 vezes ao dia De 15 a 23kg 45mg 2 vezes ao dia De 23 a 40kg 60mg 2 vezes ao dia Acima de 40kg 75mg 2 vezes ao dia Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 27 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 Observação: Está absolutamente contra indicado o uso do Oseltamivir para quimioprofilaxia em larga escala. O uso desse medicamento para profilaxia está indicado apenas nas seguintes situações: clínicas que contenham a nova Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica, sem o uso de equipamento de proteção individual (EPI) ou que o utilizaram de maneira inadequada; procedimentos invasivos (geradores de aerossóis) ou na manipulação de secreções de um caso suspeito ou confirmado de infecção pela nova cepa da Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 pandêmica, sem o uso de EPI ou que o utilizaram de maneira inadequada. Dosagem recomendada - 75mg, 1 vez ao dia, por 10 dias. Informações adicionais - Os pacientes que desenvolvem efeitos cola- terais gastrointestinais graves podem reduzir a absorção oral do Osel- tamivir. Porém, atualmente, não há nenhuma evidência científica para sugerir o aumento da dose ou do tempo de utilização do antiviral, nessa situação. Para os pacientes que vomitam até 1 hora após a ingestão do medica- mento, pode ser administrada uma dose adicional, conforme esquema anterior. Tão importante quanto o tratamento específico para a doença respira- tória aguda grave é a adoção oportuna de todas as medidas de suporte clínico ao paciente, segundo avaliação médica de cada caso, além do uso de medidas não farmacológicas. Importante: suspender a administração do Oseltamivir. adicionais”, as atualizações sobre data de início do tratamento com Oseltamivir e as medidas complementares adotadas. Oseltamivir, a notificação deve ser feita à Anvisa, usando a ficha de farmacovigilância, acessando o site anvisa@saude.gov.br. Alto risco de exposição de infecção por influenza A(H1N1). que contenham o novo subtipo viral. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS28 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS - vasivos (geradores de aerossóis) ou manipulação de secreções de um caso suspeito ou confirmado de infecção por Influenza Pandêmica A(H1N1)2009, sem ou com uso EPI inadequado. Complicações - São mais comuns em idosos e indivíduos menor de dois anos; gestantes, portadores de algumas condições clínicas, como doença crônica pulmonar (asma e doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC), cardiopatias (insuficiência cardíaca crônica), doença meta- bólica crônica (diabetes, por exemplo), imunodeficiência ou imunode- pressão, doença crônica renal e hemoglobinopatias. As complicações pulmonares mais comuns são as pneumonias bacterianas secundárias, principalmente pelos agentes Streptococcus pneumoniae, Staphylococ- cus e Haemophillus influenzae. Nos imunocomprometidos, o quadro clínico é, geralmente, mais arrastado e, muitas vezes, mais grave. Ges- tantes com quadro de Influenza, no segundo ou terceiro trimestre da gravidez, estão mais propensas à internação hospitalar. Dentre as complicações não-pulmonares em crianças, destaca-se a síndrome de Reye. Essa síndrome caracteriza-se por encefalopatia e degeneração gordurosa do fígado, após o uso do ácido acetilsalicílico, na vigência de um quadro viral (especialmente varicela e Influenza). Recomenda-se, portanto, não utilizar medicamentos que contenham essa substância em sua composição para o tratamento sintomático de síndrome gripal. Aspectos epidemiológicos - A gripe ocorre mundialmente, como surto localizado ou regional, seja como epidemias ou devastadoras pandemias. O potencial pandêmico da Influenza reveste-se de grande importância. Durante o século passado, ocorreram três importantes pandemias de influenza: “Gripe Espanhola”, em 1918 a 1920; “Gripe Asiática”, entre 1957 a 1960 e a de Hong Kong”, entre 1968 a 1972. E destaca-se ainda a ocorrência de uma pandemia em 1977-78, chamada “Gripe Russa”, que afetou principalmente crianças e adolescentes. Com os modernos meios de transporte, a propagação do vírus da in- fluenza tornou-se muito rápida. Hoje, o mesmo vírus pode circular, ao mesmo tempo, em várias partes do mundo, causando epidemias quase simultâneas. Em anos epidêmicos, a taxa de ataque na comunidade atinge aproxi- madamente 15%, sendo ao redor de 2%, em anos não epidêmicos. Em comunidades fechadas, esse número sobe para 40% a 70%, sendo que a taxa de ataque secundária situa-se ao redor de 30%. Tanto a morbidade quanto a mortalidade, devido à influenza e suas complicações, podem Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 29 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 variar ano a ano, dependendo de fatores, como as cepas circulantes, o grau de imunidade da população geral e da população mais suscetível. Destaca-se ainda a ocorrência de transmissão direta do vírus influenza aviária de alta patogenicidade A(H5N1) ao homem, gerando surtos de elevada letalidade. Esse fenômeno foi detectado pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, quando 18 pessoas foram afetadas, das quais 6 morreram (letalidade 33,3%). Novos episódios ocorreram em períodos mais recentes. No período compreendido entre dezembro de 2003 a março de 2009, foram confirmados 413 casos de infecção humana por essa cepa em quinze países, localizados no Sudeste Asiático, dos quais 256 (62%) evoluíram para óbito. Esse processo de transmissão se deu em meio a uma epizootia de influenza aviária de alta patogenicidade, em países do Sudeste Asiático, em proporções e extensão geográfica inusitadas. No Brasil, até o momento, não há casos de influenza aviária pela cepa A(H5N1). Para influenza sazonal, os dados oriundos do Siste- ma de Informação da Vigilância Epidemiológica da Influenza (Si- vep_Gripe) demonstraram que, para o ano 2008, do total de atendi- mentos nas unidades sentinelas, 9,5% apresentaram síndrome gripal (438.732/4.620.160). A maior concentração dos casos é em crianças, na faixa etária de 0 a 4 anos (43,3%), seguida da faixa de 5 a 14 anos (22,9%) e de 15 a 24 anos (10,9%). As demais faixas contribuíram com 22,8%. Nesse período, foram analisadas 6.317 amostras de secre- ção nasofaríngea com identificação de vírus respiratórios, em 1.207 (19,1%) amostras. Dessas, 310 (25,7%) amostras foram positivas para influenza, das quais 183 (59%) influenza A e 127 (41%) influenza B. As cepas dos vírus influenza A identificados, no ano de 2008, foram: A/Austria/404287/2008 (H1N1), A/England/557/2007(H1N1), A/ Brisbane/10/2007(H3N2), A/Brisbane/59/2007 (H1N1); dos vírus influenza B foram: B/Maracay/FLU9870/2008, B/Florida/04/2006, B/ Florida/03/2006, B/Malaysia/2506/2004, B/Wisconsin/23/2008, B/ Washington/12/2008, B/Ohio/01/2005. Os demais vírus respiratórios identificados foram: parainfluenza 1, 2 e 3 (35,1%), vírus respiratório sincicial (28,7%) e adenovírus (10,5%). No que se refere à influenza pelo novo virus tipo A(H1N1), o Brasil foi atingido pela atualpandemia e até a semana epidemiológica (SE) 47 de 2009 já foram registrados 30.055 casos de SRAG por algum vírus influenza, sendo que a proporção de influenza pandêmica é de 93% (27.850/30.055) e de influenza sazonal é de 7% (2.205/30.055). Padrão similar ao observado pela Rede Global de Vigilância da Influenza da Secretaria de Vigilância em Saúde / MS30 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS OMS, que registrou 93% de influenza pandêmica entre todos os vírus de influenza monitorados no mundo.No Brasil, a taxa de incidência de SRAG por influenza pandêmica (H1N1) 2009 foi de 14,5 casos para cada 100 mil habitantes. No entanto, observa-se que a pandemia afetou com maior intensidade as regiões sul e sudeste (66,2/100.000 e 9,7/100.000 habitantes respectivamente). Os estados mais atingidos foram o Estado do Paraná com 109/100.000 hab., Santa Catarina com 15/100.000 hab. e São Paulo com 14/100.000 habitantes. As faixas etárias com maiores incidências são os menores de dois anos (22 ca- sos/100.000 hab.) e de 20 a 29 anos (16 casos/100 mil hab.) respectiva- mente. Até o momento de revisão deste capítulo (dezembro de 2009), o quadro epidemiológico no Brasil é de redução de casos de SRAG observado a partir da SE 32. Observou-se que a maior frequência de casos confirmados de influenza ocorreu entre o final do mês de julho e início do mês de agosto, correspondente as SE 31 e 32. Entre as possí- veis condições de risco para a ocorrência de complicações por influen- za, a presença de pelo menos uma co-morbidade foi a mais frequente, com 16% de registros, seguida de idade inferior a 2 anos (9,1%), ta- bagismo (7,3%), idade acima de 60 anos (4,1%). Entre os casos que apresentam algum tipo de co-morbidade, observa-se que o grupo de doenças crônicas respiratórias (doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, etc.) foi o mais frequente, com 41% dos registros, seguido de doenças cardiovasculares crônicas e doenças imunossupressoras. No grupo de mulheres em idade fértil (MIF) a gestação foi constatada em 19,9% (1.732/8.709) dos registros. Entre os 227.850 casos confirmados desta influenza pandêmica, 1.632 (5,8%) evoluíram para óbito. Den- tre o total de 1632 óbitos observados no período, 56,4%(921/1632) corresponderam a mulheres em idade fértil, sendo 28% (156/547) em gestantes. A taxa de mortalidade por influenza pandêmica no Brasil é de 0,85/100.000 habitantes, com maiores taxas observadas nos Estados das regiões sul e sudeste. A taxa de mortalidade para o país também está dentro da média observada para os demais países das Américas. Informações sistematicamente disponível (boletim epidemiológico) no site do Ministério da Saúde: www.saude.gov.br/svs. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Reduzir a morbimortalidade associada à doença por meio da implantação das medidas de prevenção e atenção adequada aos in- divíduos acometidos. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 31 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 Definição de caso Síndrome gripal - Esta síndrome (que na literatura internacional cor- responde ao termo influenza like illness – ILI - ou “flu-like”) caracteri- za-se por um conjunto de sinais e sintomas respiratórios de origem in- fecciosa, decorrentes do comprometimento das vias aéreas superiores e/ou inferiores definido como: apresentando febre (ainda que referida) e tosse ou dor de garganta, na ausência de outros diagnósticos. Abrange as seguintes infecções respiratórias agudas, com seus respectivos CID: J00 (todos); Nasofaringite aguda (resfriado comum); J02.9 Faringite Aguda não especificada; J03.9 Amigdalite aguda não especificada; J04.0 Laringite aguda; J04.1 Traqueíte aguda; J04.2 Laringotraqueíte aguda; J06 (todos) Infecção aguda das vias aéreas superiores e não especificadas; J10 (todos) Influenza devido a vírus influenza identificado; e J11 (todos) Influenza devido a vírus influenza não identificado. Sindrome respiratória aguda grave (SRAG) - Indivíduo de qualquer idade com doença respiratória aguda caracterizada por febre supe- rior a 38°C, tosse E dispneia, acompanhada ou não de manifestações gastrointestinais ou dos seguintes sinais e sintomas: aumento da fre- quência respiratória (>25 IRPM – incursões respiratórias por minu- to); hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente; em crianças, além dos itens acima, observar também: batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência. O quadro clínico pode ou não ser acompanhado de alterações labora- toriais e radiológicas listadas a seguir: presença de área de condensação. Na presença dos sinais e sintomas acima, o paciente deve ser enviado para internação. Avaliação simplificada de gravidade para serviços de saúde - Os indivíduos que apresentem sintomas de gripe inicialmente são acom- panhados pela Atenção Básica. Os casos de SRAG deverão ser enca- minhados para internação se apresentarem um ou mais dos sinais e sintomas a seguir. Avaliação em adultos severa; Secretaria de Vigilância em Saúde / MS32 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Avaliação em crianças (>40 IRPM); Influenza Pandêmica A(H1N1)2009 Caso suspeito - Todo caso de síndrome gripal e/ou SRAG que tenha história de vínculo epidemiológico com outros casos confirmados de influenza pandêmica A (H1N1) ou proveniente de área com informa- ção de circulação desse vírus. Caso confirmado - Todo caso suspeito com confirmação laboratorial ou vínculo epidemiológico. Caso descartado de infecção humana pelo vírus da Influenza Pan- dêmica A(H1N1) - Caso suspeito ou provável em que a investigação epidemiológica e os resultados dos exames laboratoriais indicam tratar-se de outra doença Caso confirmado de síndrome respiratória aguda grave por influenza - Indivíduo com SRAG pelo vírus influenza, confirmado por laboratório. - Caso de SRAG para o qual não foi possível coletar ou processar amostra clínica para diagnóstico laboratorial e que tenha sido contato próximo de um caso laboratorialmente confirmado ou pertença à mesma cadeia de transmissão (clínico epidemiológico) para influenza. Caso descartado de síndrome respiratória aguda grave por influenza Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 33 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 laboratorialmente. Surto de síndrome gripal - Ocorrência de pelo menos 3 casos de Sín- drome Gripal em ambientes fechados/restritos, com intervalos de até 5 dias entre as datas de início de sintomas. Notificação - As autoridades locais de saúde deverão ser imediata- mente notificadas, diante de qualquer suspeita, preferencialmente por telefone, conforme estabelecido na Portaria SVS/MS n° 05/2006. da influenza A (H1N1) ou de novo subtipo viral e de amostras procedentes de investigação de surtos de influenza humana. A notificação para a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) deve ser realizada por meio do CIEVS (0800-644-6645 ou notifica@saude.gov.br). Com o objetivo de padronizar a entrada de dados no Sinan - Influenza online e no módulo de surtos do Sinan NET, orienta-se a seguir como proceder para a notificação e investigação individual e de casos agre- gados (surto de síndrome gripal) nesses sistemas de informação, res- pectivamente, conforme padronizado na Nota Técnica n° 3/2009, do GT-Sinan/CIEVS e Cover/CGDT/Devep. Preencher a ficha individual de investigação – FII. De acordo com o Protocolo de Manejo Clínico e Vigilância Epidemio- lógica da Influenza vigente (05/08/09), adotam-se as seguintes defini- ções, para efeito da vigilância da influenza: Caso de SRAG - Indivíduo de qualquer idade com doença respira- tória aguda caracterizada por febre acima de 38°C, tosse e dispneia, acompanhada ou não de outros sinais e sintomas descritos no referido Protocolo; Caso de síndome gripal (SG) - Indivíduo com doença aguda (com duração máxima de 5 dias), apresentando febre (ainda que referida) acompanhada de tosse ou dor de garganta, na ausência de outros diagnósticos; Surto de síndrome gripal - Ocorrênciade pelo menos 3 casos de SG em ambientes fechados/restritos, com intervalos de até 5 dias entre as datas de início de sintomas. O QUE DEVE SER NOTIFICADO Caso individual de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) - Deverá ser notificado imediatamente no Sinan Influenza Online. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS34 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Chama-se a atenção para o desenvolvimento de rotinas para o encerramento dos casos, de acordo com os resultados da investigação epidemiológica (FII) Surto de síndrome gripal - Deve ser notificado de forma agregada no módulo de surto do Sinan NET, assinalando, no campo “Código do Agravo/Doença”, o CID J06. Observação: Os casos de surto de SG que evoluírem para forma grave, de acordo com a definição de caso de SRAG, deverão ser notificados individualmente no Sinan Influenza Online. O QUE NÃO DEVE SER NOTIFICADO pela doença, inclusive aqueles para os quais foi administrado o antiviral. Observação: Apesar do Protocolo de Manejo Clínico e Vigilância Epi- demiológica da Influenza, que se encontra em vigor, permitir a prescri- ção do antiviral a casos não graves, a partir da avaliação médica sobre a presença de fatores ou situações específicas de risco individual, a dis- tribuição desse medicamento não está vinculada à notificação de casos no Sinan. Maiores informações acessar os endereços: www.saude.gov. br/sinanweb e www.saude.gov.br/svs. PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E MEDIDAS DE CONTROLE Medidas de caráter geral usar o banheiro, antes das refeições, antes de tocar os olhos, boca e nariz; a boca e nariz, ao tossir ou espirrar, para evitar disseminação de aerossóis; período de transmissão da doença (até 5 dias após o início dos sintomas); seja possível, usar máscaras cirúrgicas; ambientes ventilados); Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 35 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 Cuidados adicionais com gestantes (2° e 3° trimestres), bebês, para evitar infecções secundárias (pneumonia), e parturientes, para evi- tar a transmissão da doença ao bebê Gestante - Buscar o serviço de saúde caso apresente sintomas de síndrome gripal; na internação para o trabalho de parto, priorizar o isolamento se a mesma estiver com diagnóstico de influenza; Puérpera - Após o nascimento do bebê, se a mãe estiver doente, usar máscara e lavar bem as mãos, com água e sabão, antes de amamentar e após manipular suas secreções. Essas medidas devem ser seguidas até 7 dias após o início dos sintomas da mãe. A parturiente deve evitar tossir ou espirrar próximo ao bebê; Bebê - Priorizar o isolamento do bebê, junto com a mãe (não utilizar berçários). Os profissionais e mães devem lavar bem as mãos e outros utensílios do bebê (mamadeiras, termômetros). Cuidados no manejo de crianças em creches água e sabão, quando estiverem visivelmente sujos; nasais e orais das crianças, principalmente quando a criança está com suspeita de síndrome gripal; dor de garganta, principalmente quando há notificação de surto de síndrome gripal na cidade; os cuidadores devem notificar os pais quando a criança apresentar os sintomas citados acima; que a criança doente fique em casa, a fim de evitar a transmissão da doença; secretaria de saúde municipal, caso observem um aumento do número de crianças doentes com síndrome gripal ou com absenteísmo pela mesma causa. Imunização - A vacina é a melhor estratégia disponível para a pre- venção da influenza e suas consequências, proporcionando impacto indireto na diminuição do absenteísmo no trabalho e dos gastos com medicamentos para tratamento de infecções secundárias, das interna- ções hospitalares e da mortalidade evitável. Influenza sazonal - A vacina utilizada no Brasil é constituída por três tipos de cepas dos vírus influenza, sendo dois tipos de vírus de influ- enza A e um vírus de influenza B. Para conferir proteção adequada, a vacina deve ser administrada a cada ano, já que sua composição também varia anualmente, em função das cepas circulantes. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS36 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Essa vacina é indicada para indivíduos com 60 anos de idade ou mais e é oferecida por meio de campanhas anuais cujo período deve ser anterior ao período de maior circulação do vírus na população do país. A vacina contra a influenza é administrada por via subcutânea ou intramuscular. O esquema vacinal preconizado pelo Ministério da Saúde varia conforme a faixa etária do indivíduo a ser vacinado, demonstrado na Tabela 2 a seguir: Tabela 2. Esquema vacinal Idade Dose (ml) N° de doses De 6 a 35 meses 0,25 1-2a De 3 a 8 anos 0,5 1-2a ≥9 anos 0,5 1 a) A segunda dose com intervalo de 4 a 6 semanas. Contra Influenza pandêmica (H1N1)2009 - As vacinas pandêmicas contem antígenos influenza diferentes dos que estão presentes nos vírus influenza atualmente circulantes. Esses antígenos podem ser considerados como “novos”. No Brasil, o Ministério da Saúde propõe, por ordem de prioridade, va- cinar: de pacientes suspeitos de influenza pandêmica Observação: O protocolo com os procedimentos de investigação epi- demiológica, as medidas de controle, os instrumentos de coleta de da- dos e fluxos de informação para casos suspeitos de infecção por novo subtipo viral, para surtos de influenza sazonal e para a vigilância da saúde humana estão inseridos no Plano Brasileiro de Preparação para Pandemia de Influenza. Como as orientações técnicas referentes a es- ses itens estão sendo periodicamente revisadas, em função do cenário epidemiológico internacional e nacional, recomenda-se que o referido Protocolo seja consultado diretamente na versão mais atualizada do Plano, disponível no site: http://www.saude.gov.br/svs. Quaisquer dú- vidas entrar em contato pelo e-mail: gripe@saude.gov.br ou telefone: (61) 3213-8104 / 8107 / 8109. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 37 INFLUENZA PANDÊMICA A(H1N1)2009 Resposta do SUS à pandemia de Influenza a (H1N1) 2009 - Desde 25 de abril de 2009, quando foi declarada a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), conforme definido no Regula- mento Sanitário Internacional (RSI 2005), o Governo Federal por meio do Ministério da Saúde adotou todas as providências necessárias, den- tre as quais destacam-se: (GPESP), para monitorar a situação e indicar as medidas adequadas ao país, em conjunto com outros órgãos do Governo Federal. Unidades Federadas. Até o dia 4 de dezembro de 2009 foram distribuídos 1.055.866 tratamentos. dos profissionais com atualização simultânea a partir de evidências científicas robustas e orientações da OMS. investimento na aquisição de vacinas, medicamentos, equipamentos de proteção individual (máscaras, luvas, etc.), aperfeiçoamento da rede de atenção, além de comunicação (inserções em TV aberta, internet, jornais, aeroportos. públicos. Saúde (0800 61 1997), fornecendo esclarecimentos sobre a doença - cação (fatores e grupos), efetividade do tratamento, entre outras. A(H1N1) 2009. Observe-se que as orientações técnicas bem como as providências operacionais vêm sendo adequados a cada momento epidemiológico específico, tanto no período de contenção que durou da SE 16 a SE 28 quanto no período de mitigação a partir da SE 29 até o momento. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS38 Situação Epidemiológica das Doenças Transmissíveis no Brasil INTRODUÇÃO A situação epidemiológica das doenças transmissíveis tem apresenta- do mudanças significativas, observadas através dos padrões de mor- bimortalidade em todo o mundo. Este grupo de doenças continua a oferecer desafios aos programas de prevenção, com a introdução de novas doenças, a exemplo da AIDS, ou de agentes que sofrem modi- ficações genéticas e se disseminam rapidamente através das popula- ções de países e continentes, a exemplo da atual pandemia produzida pelo vírus da Influenza A(H1N1). Doenças “antigas”, como a Cólera e a Dengue, ressurgiram e endemias importantes, como a Tuberculo- se e as meningitespersistem, fazendo com que esse grupo de doenças continuem representando um importante problema de saúde pública , inclusive em países desenvolvidos. Esse cenário reflete as transforma- ções sociais ocorridas a partir da década de setenta, caracterizadas pela urbanização acelerada, migração, alterações ambientais e facilidades de comunicação entre continentes, países e regiões, entre outros fatores que contribuíram para o delineamento do atual perfil epidemiológico das doenças transmissíveis em todo o mundo. No Brasil, os diversos estudos sobre a situação de saúde da população apontam para a ocorrência, no final do século XX, de declínio nas taxas de mortalidade devido às Doenças Infecciosas e Parasitárias/DIP e, em especial, às Doenças Transmissíveis, para as quais se dispõe de medidas de prevenção e controle. Por outro lado, embora a tendência verificada para a morbidade por esse grupo de causas seja igualmente decrescen- te, este declínio não apresenta a mesma intensidade observada na mor- talidade. Por exemplo, a mortalidade por DIP, em 1930, era responsável por 45,7% de todos os óbitos do país. Em 1980, esse percentual era de 9,3% e, no ano de 2006, já se encontrava em 4,9%, enquanto sua taxa de mortalidade cujo valor era de 59,3/100 000 em 1990, reduziu para 48,8/100 000 habitantes em 2006. Por sua vez, as internações por esse grupo de doenças, entre 1980 e 1990, contribuíam com cerca de 10% do total de internações no pais e, no período de 2000 a 2007, ainda se mantinham em torno de 8,4%. Nas regiões Norte (13,6%) e Nordeste (11,9%), os valores são ainda mais elevados. É consenso que a situação das Doenças Transmissíveis no Brasil, no período compreendido entre o início dos anos de 1980 até o presente momento, corresponde a um quadro complexo que pode ser resumido 2 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 39 em três grandes tendências: doenças transmissíveis com tendência de- clinante; doenças transmissíveis com quadro de persistência e doenças transmissíveis emergentes e reemergentes, conforme apresentadas a seguir. Doenças transmissíveis com tendência declinante Reduções significativas têm sido observadas na ocorrência de várias doenças transmissíveis, para as quais se dispõe de instrumentos efica- zes de prevenção e controle. A varíola foi erradicada em 1973; a Polio- mielite, em 1989. A transmissão contínua do Sarampo foi interrompida desde o final de 2000. Embora a partir desse ano até 2005, tenham sido registrados 10 casos, esses não foram autóctones e, sim, adquiridos por pessoas infectadas em outros países ou que tiveram contato com via- jantes infectados. Em 2006, ocorreu um surto epidêmico em dois mu- nicípios da Bahia, com ocorrência de 57 casos, não sendo identificada a fonte primária de infecção. A partir de então, nenhum caso de Sarampo foi confirmado no país. O número de casos de Tétano Neonatal pas- sou de 16 em 2003 para 5 em 2007, correspondendo à redução de 70% dos casos no período de 5 anos. Em 2008, foram registrados 6 casos Esta doença ainda ocorre em diferentes municípios das regiões Norte e Nordeste, áreas definidas como prioritárias para intensificação das me- didas de controle desde 2003. A taxa de incidência no país está abaixo do preconizado pela OMS, porém, em alguns municípios dos estados considerados prioritários, a meta da OMS ainda não foi alcançada. Por sua vez, a redução na incidência e na concentração dos casos da Rai- va humana transmitida por animais domésticos, nas regiões Norte e Nordeste, apontam para a perspectiva de eliminação. No ano de 2008, foram notificados 3 casos de Raiva humana, sendo 2 transmitidos por morcego e 1 por sagui. Ressalte-se que, naquele ano, foi registrado o primeiro caso de cura de Raiva humana no Brasil. Outras doenças transmissíveis com tendência declinante são a Difteria, a Coqueluche e o Tétano Acidental, todas imunopreveníveis; a mesma tendência tam- bém é observada para a Doença de Chagas, endêmica há várias décadas no país, a Febre Tifóide, além da Oncocercose, a Filariose e a Peste, cuja ocorrência é limitada a áreas restritas. Doenças transmissíveis com quadro de persistência Neste grupo, encontram-se as hepatites virais, especialmente as B e C em função das altas prevalências, ampla distribuição geográfica e potencial para evoluir para formas graves, que podem levar ao óbito. Embora persistindo com elevada magnitude, a taxa de incidência de Tuberculose (todas as formas) apresentou declínio no período de 2000 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NO BRASIL Secretaria de Vigilância em Saúde / MS40 a 2007, passando de 47,81 para 38,2 por 100.000 habitantes. O mesmo vem sendo observado em relação às taxas de mortalidade. A Leptos- pirose apresenta uma distribuição geográfica mais restrita às áreas que oferecem condições ambientais adequadas para a sua transmissão, e assume relevância para a saúde pública em função do grande número de casos que ocorre nos meses mais chuvosos, bem como por sua alta letalidade. As meningites, também, se inserem neste grupo de doen- ças, destacando-se as infecções causadas pelos meningococos B e C, que apresentam níveis importantes de transmissão e taxas médias de letalidade acima de 10%. No Brasil, são registrados, aproximadamen- te, 24.000 casos de meningites por ano e desses, cerca de 15% cor- respondem à Doença Meningocócica (DM). As meningites causadas pelo H. Influenzae do tipo b (Hib) representavam a segunda causa de meningite bacteriana depois da Doença Meningocócica, até o ano de 1999. A partir do ano 2000, após a introdução da vacina conjugada contra a Hib, houve uma queda de 90% na incidência de meningites por esse agente, que era, antes, responsável por 95% das doenças in- vasivas (meningite, septicemia, pneumonia, epiglotite, celulite, artrite séptica, osteomielite e pericardite) e a segunda maior causa de men- ingites bacterianas passou a ser representada pelo S. pneumoniae. As leishmanioses (visceral e tegumentar) e a Esquistossomose, além de elevadas prevalências, vêm expandindo sua área de ocorrência, em geral associada às modificações ambientais provocadas pelo homem, aos deslocamentos populacionais originados de áreas endêmicas e à insuficiente infra-estrutura na rede de água e esgoto ou na disponibi- lidade de outras formas de acesso a esses serviços. A Malária, a partir dos anos 60 e até 1976 apresentava menos de 100.000 casos por ano. Nos anos seguintes, houve forte tendência na elevação da doença em função da ocupação desordenada da região amazônica, com implanta- ção de projetos de colonização e mineração sem a necessária estrutura de saúde para atender à população. Na década de 1980, eram registra- dos em torno de 300 a 400 mil casos, por ano, elevando-se para 500 mil casos em média, em 1995. Nos dois anos seguintes houve redução importante nos registros da doença, elevando-se posteriormente e em 1999, ocorreram 635.646 casos. De 2000 a 2002, foi observado o maior declínio na ocorrência da Malária em relação aos 40 anos anteriores, com registro de 348.259 casos em 2002, o que representou 43% de que- da em relação a 2000. Observou-se posteriormente nova elevação no número de casos, chegando a 607.730 casos notificados em 2005, um aumento de 74% em relação ao número de casos de 2002. Após amplo processo de mobilização de forças multissetoriais pelo Ministério da DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 41 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NO BRASIL Saúde, promovendo, de forma articulada, a ordenação de movimen- tos populacionais e priorização das ações de vigilância, prevenção e o controle da Malária, observou-se o declínio no número de casos, entre 2006 a 2008, passando de 550.930 para 313.922, uma redução de 43%. O número anual de notificações de Febre Amarela silvestre é muito variável. No período entre 1980 e 2008, foram confirmados 726 casos, dos quais 383 evoluíram para óbito, correspondendoa uma letalidade média de 52,8% (variação anual de 23 a 100%). Esta virose se manifesta em ciclos epidêmicos de transmissão silvestre, como aqueles ocorridos em 2000 (Goiás), 2001 e 2003 (Minas Gerais). Apesar da ampliação da área de transmissão para estados e municípios situados fora da área en- dêmica (região amazônica), houve redução na incidência, entre os anos de 2000 a 2007. Contudo, em 2008 e 2009, observou-se nova incursão do ciclo da Febre Amarela silvestre para além das áreas consideradas de transmissão, o que impôs revisão da delimitação das áreas de risco e delineamento de nova tática de imunização, em virtude da possibilida- de de reintrodução do vírus amarílico nos ambientes urbanos infesta- dos pelo Aedes aegypti. Contudo, na medida em que a vacina contra Fe- bre Amarela pode provocar eventos adversos graves a proposta inicial, de vacinação universal, foi ajustada para uma cobertura mais focaliza- da, tanto na área de circulação natural do vírus amarílico, como na área de transição. Em 2009, com base na ocorrência de epizootias e casos humanos deste último biênio a seguinte proposta de vacinação foi defi- nida: a) área com recomendação de vacina (ACRV): correspondendo àquelas anteriormente denominadas endêmica e de transição, com a inclusão do sul de Minas Gerais, até então considerado “área indene de risco potencial”; b) área sem recomendação de vacina (ASRV): cor- respondendo, basicamente, às “áreas indenes”, incluindo também o sul da Bahia e norte do Espírito Santo, que antes eram consideradas “áreas indenes de risco potencial”. A situação apresentada evidencia que, para esse grupo de doenças, faz-se mandatário o fortalecimento das ações de prevenção e controle, atualmente adotadas, que viabilizem maior integração entre as áreas de vigilância epidemiológica e a rede assistencial, considerando-se que para esse conjunto de doenças as ações são direcionadas, dependendo da enfermidade para a imunização das populações, diagnóstico preco- ce e tratamento adequado dos doentes, visando interrupção da cadeia de transmissão. Adicionalmente, enfatiza-se a necessidade de ações multissetoriais para enfrentamento da situação, haja vista que a ma- nutenção de endemicidade reside na persistência dos seus fatores de- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS42 terminantes, externos às ações típicas do setor saúde, como alterações do meio ambiente: desmatamento, ampliação de fronteiras agrícolas, processos migratórios e grandes obras de infra-estrutura (rodovias e hidroelétricas), entre outras. Doenças transmissíveis emergentes e reemergentes São denominadas de emergentes aquelas doenças que surgiram, ou fo- ram identificadas, em período recente, ou aquelas que assumiram no- vas condições de transmissão, seja devido a modificações das caracte- rísticas do agente infeccioso, seja passando de doenças raras e restritas para constituírem problemas de saúde pública. As reemergentes, por sua vez, são as que ressurgiram como problema de saúde pública, após terem sido controladas no passado. Entre as doenças emergentes, encontra-se a aids. De 1980 a junho de 2007 foram notificados 474.273 casos de aids no País – 289.074 no Su- deste, 89.250 no Sul, 53.089 no Nordeste, 26.757 no Centro Oeste e 16.103 no Norte. No Brasil e nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, a incidência de aids tende à estabilização. No Norte e Nordeste, a ten- dência é de crescimento. Segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem uma epidemia concentrada, com taxa de prevalência da infecção pelo HIV de 0,6% na população de 15 a 49 anos. Em 2006, considerando dados preliminares, foram registrados 32.628 casos da doença. No período de 1995 a 1999, verificou-se queda de 50% na taxa de letalidade em relação aos primeiros anos do início da epidemia, quando era de 100%. A estabilidade observada nos últimos anos na epidemia pelo HIV no país e a disponibilidade de novas drogas antivirais têm propiciado o aumento da sobrevida dos portadores de HIV. A Cólera, introduzida no país em 1991, apresentou pico epidêmico em 1993, com 60.340 casos. Apesar de ser uma doença associada a condi- ções ambientais e sanitárias precárias, os esforços realizados para o seu controle, conseguiram reduzir drasticamente sua incidência. Posterior- mente, passou a manifestar-se sob a forma de surtos, principalmente nas pequenas localidades do Nordeste, com deficiência de saneamento básico. Entre os anos de 2000 e 2008, uma redução significativa no nú- mero de casos e óbitos por Cólera no Brasil, sendo registrados, nesse período, 766 casos e 20 óbitos, todos na região Nordeste e o estado de Pernambuco liderou o número de registros (511 casos e 12 óbitos). A Dengue foi reintroduzida no Brasil em 1982. O mosquito transmis- sor da doença, o Ae. aegypti, erradicado em vários países do continen- DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 43 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NO BRASIL te americano nas décadas de 50 e 60, retornou na década de 70, por fragilidades na vigilância entomológica, além de mudanças sociais e ambientais propiciadas pela urbanização acelerada. As dificuldades para eliminar um mosquito domiciliado que se multiplica nos vários recipientes que podem armazenar água, particularmente naqueles en- contrados nos lixos das cidades, como garrafas, latas e pneus, ou no interior dos domicílios, como descansadores dos vasos de plantas, têm exigido um substancial esforço do setor saúde cujos resultados não têm sido efetivos. Entretanto, esse trabalho necessita ser articulado com ou- tras políticas públicas, como limpeza urbana, além de uma maior cons- cientização e mobilização social sobre a necessidade das comunidades manterem seus ambientes livres do mosquito. Esse último elemento, a mudança de hábitos, tem sido apontado, mais recentemente, como um dos mais efetivos na prevenção da infestação do mosquito. Entre outros fatores que pressionam a incidência da Dengue, destaca-se a in- trodução de um novo sorotipo, o DENV 3, que foi identificada, pela primeira vez, em dezembro de 2000, no estado do Rio de Janeiro e, pos- teriormente, no estado de Roraima, em novembro de 2001. Em 2002, foi observada maior incidência da doença, quando foram confirmados cerca de 697.000 casos, refletindo a introdução deste sorotipo. Ocorreu uma rápida dispersão do DENV3 para outros estados, sendo que, em 2004, 23 dos 27 estados do país já apresentavam a circulação simultâ- nea dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus da Dengue. No Brasil, os adultos jo- vens foram os mais atingidos pela doença desde a introdução do vírus. No entanto, a partir de 2006, alguns estados apresentaram predomínio da circulação do DENV2, após alguns anos de predomínio do DENV3. Esse cenário levou a um aumento no número de casos, de formas gra- ves e de hospitalizações em crianças, principalmente no Nordeste do país. Em 2008, novas epidemias causadas pelo DENV2 ocorreram em diversos estados do país, marcando o pior cenário da doença no Brasil em relação ao total de internações e de óbitos caracterizado por um padrão de gravidade em crianças, que representaram mais de 50% dos casos internados nos municípios de maior contingente populacional. Mesmo em municípios com menor população, mais de 25% dos pa- cientes internados por Dengue eram crianças, o que evidencia que todo o país vem sofrendo, de maneira semelhante, essas alterações no perfil da doença. Os primeiros casos de Hantaviroses, no Brasil, foram detectados em 1993, em São Paulo. Essa doença tem sido registrada com maior fre- quência nas regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. No Brasil, no período de novembro de 1993 a dezembro de 2008, foram confirmados 1.119 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS44 casos, dos quais 91,8% (1.027) confirmados por critério laboratorial, predominando sua ocorrência nas regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. Apesar da ocorrência da doença em todas as regiões brasileiras,apenas 14 estados registraram casos, a exemplo de Minas Gerais, Santa Cata- rina, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso. Em menor número notificaram casos o Distrito Federal, Pará, Goiás, Maranhão, Amazonas, Rondônia, Rio Grande do Norte, Bahia que, em conjunto, foram responsáveis por 15,5% dos casos nos últimos 15 anos. A pa- dronização e informatização das ações de vigilância, ocorridas a partir de 2001, o desenvolvimento da capacidade laboratorial para realizar diagnóstico, a divulgação das medidas adequadas de tratamento para reduzir a letalidade e o conhecimento da situação de circulação dos hantavírus nos roedores silvestres brasileiros possibilitaram o aumen- to na capacidade de detecção da Hantavirose. Dessa forma, um quadro mais nítido da realidade epidemiológica no país foi gerado, favorecen- do também a adoção de medidas adequadas de prevenção e controle. Mais recentemente, o país vem investindo esforços para intervenção frente á pandemia do novo vírus de Influenza A (H1N1) 2009. No Bra- sil até a semana epidemiológica 44 de 2009 já haviam sido registrados 24.729 casos de Influenza, sendo que 91% destes foram causados pela Influenza pandêmica (H1N1) 2009 e 9% pela Influenza sazonal. A taxa de incidência da Síndrome Respiratória aguda Grave (SRAG) por In- fluenza pandêmica (H1N1) já atingiu 12 casos por 100.000 habitantes. As regiões mais afetadas foram as regiões Sul e Sudeste (49/100.000 e 9/100.000 habitantes, respectivamente). Os estados mais atingidos foram o Paraná com 109, Santa Catarina com 15 e São Paulo com 14 casos por 100.000 habitantes. As faixas etárias com maiores incidências são os menores de dois anos e de 20 a 29 anos, 22 e 16 por 100.000 habitantes, respectivamente. Entre as possíveis condições de risco para a ocorrência de complicações por Influenza a mais frequente foi a pre- sença de pelo menos uma co-morbidade e, no grupo de mulheres em idade fértil (MIF), a gestação foi descrita em 26,3% dos casos. Dentre as co-morbidades, destacaram-se o grupo de doenças crônicas respirató- rias (doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, dentre outras), segui- do de doenças cardiovasculares crônicas e doenças imunossupressoras. Outras co-morbidades estiveram presentes tais como doenças neuroló- gicas, genéticas, reumáticas e ainda o grupo de mulheres em idade fértil (MIF) ou em estado de gestação. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 45 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NO BRASIL Comentários finais Apesar da redução na mortalidade pelas doenças infecciosas e da di- minuição significativa na morbidade por um conjunto importante dessas doenças, ao mesmo tempo, em outra direção, configura-se, no Brasil, um quadro que, além de expor as frágeis estruturas ambientais urbanas do país, que tornam as populações vulneráveis a doenças que pareciam superadas, amplia a já alta carga de doenças da população. Esses fatores agregam-se ao surgimento de novas doenças ou novas formas de manifestação das doenças na população, aumento na severi- dade, causado pelo surgimento de novas cepas patogênicas, ampliação da resistência aos antimicrobianos e persistência de problemas como a desnutrição e doenças endêmicas, a exemplo da Tuberculose. Essa situação implica na manutenção de estruturas dispendiosas de aten- ção, que competem por recursos escassos, os quais poderiam, caso não existissem esses problemas, vir a ser utilizados na solução de questões de saúde de maior magnitude, para as quais há menores possibilidades de prevenção em curto prazo, como as doenças crônicas não-transmis- síveis. Entende-se que a melhoria da qualidade da assistência médica, principalmente no que diz respeito ao correto diagnóstico e tratamento dos pacientes, associada ao encaminhamento e adoção das medidas de controle indicadas em tempo hábil, desempenham importante papel na redução de uma série de doenças infecciosas e parasitárias. Para enfrentar esse quadro, ressalta-se o papel da integração das ações de controle com a atenção básica, através da adequada incorporação das rotinas de prevenção e controle nas equipes de saúde da família, respei- tando-se as especificidades referentes à atuação de cada profissional en- volvido nessas equipes. Nessa perspectiva, o principal propósito deste Guia de Bolso é divulgar para os profissionais de saúde, em especial os médicos, orientações sintéticas das estratégias que devem ser adotadas como contribuição para o controle desse processo. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS46 Vigilância Epidemiológica A Lei Orgânica da Saúde conceitua Vigilância Epidemiológica (VE) como um “conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a de- tecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual ou coletiva, com a finalidade de re- comendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. O desencadeamento do processo de vigilância tem início com a informação do problema de saúde que se destina à tomada de deci- sões e, por essa razão define-se a vigilância epidemiológica por meio da tríade informação – decisão – ação. A VE constitui-se em importante instrumento de prevenção e controle de doenças e fornece importantes subsídios para o planejamento, organização e operacionalização dos serviços de saúde, como também para a normatização de atividades técnicas correlatas. Notificação A comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saú- de, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qual quer cidadão, para fim de adoção de medidas de intervenção perti nentes é denominada de notificação. Deve-se notificar a simples suspeita da doença, sem aguardar a confirmação do caso, que pode significar per- da de oportunidade de adoção das medidas de prevenção e controle indicadas. A notificação tem que ser sigilosa, só podendo ser divulgada fora do âmbito médico sanitário em caso de risco para a comunidade, sempre se respeitando o direito de anonimato dos cidadãos. Propósitos da VE Fornecer orientação técnica permanente para os que têm a responsa- bilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos. Sua operacionalização compreende um ciclo completo de fun- ções específicas e inter-complementares, que devem ser desenvol vidas de modo contínuo, permitindo conhecer, a cada momento, o compor- tamento epidemiológico da doença ou agravo escolhido como alvo das ações, para que as intervenções pertinentes possam ser desen cadeadas com oportunidade e efetividade. Coleta e processamento de dados; análise e interpretação dos dados processados; investigação epidemiológica de casos e surtos; recomen- dação e promoção das medidas de controle apropriadas; avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; divulgação de informa ções sobre as investigações, medidas de controle adotadas, impacto obtido, 3 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 47 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA formas de prevenção de doenças, dentre outras. É importante salientar que todos os profissionais de saúde (da rede pública, privada e conve- niada), bem como os diversos níveis do sistema (municipal, estadual, federal), têm atribuições de vigilância epidemiológica. De pendendo da inserção profissional e da capacidade executiva, técnica e gerencial de cada área, essas funções vão da simples notificação de casos suspeitos ou confirmados das doenças que compõem o sistema de vigilância até a investigação epidemiológica (casos ou surtos), ado ção de medidas de controle, coleta, análise e interpretação de dados, dentre outras. Coleta de dados A VE desencadeia suas atividades a partir da ocorrência de um evento sanitário de caso suspeito ou confirmado de doença sob vigilân cia. A coleta de dados ocorre em todos os níveis (municipal, estadual e fe- deral) de atuação do sistema de saúde. A força e valor da informação (que é o dado analisado) dependem da qualidade e fidedignidadecom que a mesma é gerada. Para isso, faz- se necessário que os responsáveis pela coleta estejam bem preparados para diagnosticar corretamente o caso, bem como realizar uma boa investigação epidemiológica, com anotações claras e confiáveis. Tipos de dados - Morbidade, mortalidade, dados demográficos e am- bientais, notificação de surtos e epidemias. Fontes de dados - Notificação compulsória de doenças -é uma das principais fontes da vigilância epidemiológica, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo de informação – decisão - ação. A lista nacional das doenças de notificação vigente encontra-se neste Guia. Sua seleção baseia-se na magnitude (medida pela frequên- cia), potencial de disseminação, transcendência (medida pela letalida- de, severidade, relevância social e econômica), vulnera bilidade (exis- tência de instrumentos de prevenção), compromissos internacionais de erradicação, eliminação ou controle, epidemias, surtos e agravos inusitados – critérios que são observados e ana lisados em conjunto: Resultados de exames laboratoriais; Declarações de óbitos; Maternidades (nascidos vivos); Hospitais e ambulatórios; Investigações epidemiológicas; Estudos epidemiológicos especiais; Sistemas sentinela; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Imprensa e população, dentre outros. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS48 Diagnóstico de casos A confiabilidade do sistema de notificação depende, em grande parte, da capacidade de os profissionais e serviços locais de saúde – respon- sáveis pelo atendimento dos casos – diagnosticarem corretamente as doenças e agravos. Para isso, deverão estar tecnicamente capacitados e dispor de recursos complementares para a confirmação da suspeita clínica. Investigação epidemiológica É um método de trabalho frequentemente utilizado em casos e epide- mias de doenças transmissíveis, mas também aplicável a outros gru- pos de agravos. Consiste em um estudo de campo realizado a partir de casos (clinicamente declarados ou suspeitos) e de portadores, objeti- vando avaliar a ocorrência do ponto de vista de suas implicações para a saúde coletiva. Sempre que possível, deve conduzir à confirmação do diagnóstico, à determinação das características epidemiológicas da do- ença, à identificação das causas do fenômeno e à orientação sobre as medidas de controle adequadas. Roteiro de investigação - As seguintes indagações devem ser levan- tadas: de quem foi contraída a infecção? (fonte de contágio) Qual a via de disseminação da infecção, da fonte ao doente? Que outras pessoas podem ter sido infectadas pela mesma fonte de contágio? Para quais pessoas o caso pode ter transmitido a doença? A quem o caso ainda pode transmitir a doença? Como evitá-lo? Finalidade da investigação - Adoção de medidas de controle em tem- po hábil. Para que isso aconteça, deve ser iniciada imediatamente após a ocorrência do evento. Ficha de investigação epidemiológica - São os formulários, exis- tentes nos serviços de saúde, específicos para cada tipo de doença, que facilitam a coleta e consolidação de dados. Devem ser preenchi- dos cuidadosamente, registrando-se todas as informações indicadas, para permitir a análise e a comparação de dados. No caso de agra- vo inusitado, deve-se elaborar uma ficha própria, de acordo com as manifestações clínicas e epidemiológicas do evento. Os formulários contêm dados de identificação do paciente, anamnese, exame físico, suspeita diagnóstica, informações sobre o meio ambiente (de acor- do com o agravo) e exames complementares de acordo com o(s) agravo(s) suspeitado(s). Busca de pistas - Visa buscar a origem da transmissão, cabendo ao investigador estabelecer quais as mais importantes e o caminho a se- DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 49 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA guir. Em geral, é importante definir: período de incubação; presença de outros casos na localidade; existência ou não de vetores ligados à trans- missibilidade da doença; grupo etário mais atingido; fonte de contágio comum (água, alimentos); modos de transmissão (respiratória, contato direto, etc.); época de ocorrência (estação). Por ser uma atividade que exige tempo e custos adicionais, nem todas as doenças são investigadas. Os critérios de definição para a investigação são: doença considerada prioritária pelo sistema de vigilância; excesso da frequência usual; sus- peita de que os casos tenham origem numa fonte comum de infecção; gravidade clínica maior que a habitual; doença desconhecida na área (agravo inusitado). Busca ativa de casos - Procedimento realizado com vistas ao conhe- cimento da magnitude de ocorrência do evento, quando se suspeita que casos possam estar ocorrendo sem registro nos serviços de saúde. É mais restrita (domicílio, rua ou bairro) ou ampliada (cidade, mu- nicípios, acompanhando correntes migratórias, etc), seguindo-se a área geográfica de abrangência da fonte de contágio. Processamento e análise de dados Os dados colhidos são consolidados (ordenados de acordo com as ca- racterísticas das pessoas, lugar, tempo, etc.) em tabelas, gráficos, mapas da área em estudo, fluxos de pacientes e outros. Essa disposição for- necerá uma visão global do evento, permitindo a avaliação de acordo com as variáveis de tempo, espaço e pessoas (quando? onde? quem?) e de associação causal (por quê?), e deve ser comparada com períodos semelhantes de anos anteriores. É importante lembrar que, além das frequências absolutas, o cálculo de indicadores epidemiológicos (coe- ficientes de incidência, prevalência, letalidade e mortalidade) deve ser realizado para efeito de comparação. Decisão – ação Todo sistema de vigilância tem por objetivo o controle, a eliminação ou a erradicação de doenças, o impedimento de óbitos e sequelas. Dessa forma, após a análise dos dados, deverão ser definidas imediata mente as medidas de prevenção e controle mais pertinentes à situação. Isso deve ser feito no nível mais próximo da ocorrência do problema, para que a intervenção seja mais oportuna e, consequentemente, mais eficaz. Normatização Normas técnicas capazes de uniformizar procedimentos e viabilizar a comparabilidade de dados e informações são elaboradas e divulgadas pelo sistema de vigilância epidemiológica. Destaque especial é dado à Secretaria de Vigilância em Saúde / MS50 definição de caso de cada doença ou agravo, visando tornar compa- ráveis os critérios diagnósticos que regulam a entrada dos casos no sistema, seja como suspeito, compatível ou mesmo confirmado por diagnóstico laboratorial. Retroalimentação do sistema É a devolução de informações aos notificantes das análises, resultantes dos dados coletados e das medidas de controle adotadas. Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) compre- ende o conjunto interarticulado de instituições do setor público e privado, componentes do Sistema Único de Saúde, que, direta ou in- diretamente, notificam doenças e agravos, prestam serviços a grupos populacionais ou orientam a conduta a ser tomada no controle das mesmas. De acordo com os princípios e diretrizes do SUS, as ações e atividades do SNVE estão sendo repassadas aos níveis descentraliza- dos do sistema, de modo gradual, de acordo com o desenvolvimento dos sistemas locais de saúde, de forma a evitar a descontinuidade téc- nica e administrativa dos programas e ações afetas a essa área da saú- de. Os recursos financeiros destinados ao desenvolvimento das ações e atividades são transferidos fundo-a-fundo para as secreta rias estaduais e municipais de saúde, que têm autonomia técnica, administrativa e financeira para o desenvolvimento de suas funções. O nível central do sistema (Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde) atua apenas de modo complementar, quando os problemas de saúde sob vigilância epidemiológica ultrapassam a capacidade de resolução de estadose municípios. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 51 O novo Regulamento Sanitário Internacional (RSI 2005) incluiu modi- ficações substantivas no capítulo que se refere à vigilância de doenças e riscos, dentre as quais a exigência de notificação das denominadas “Emergências de Saúde Pública de Importância Internacional” defini- das como evento extraordinário que se constitui em risco para a saú- de pública para outro estado membro da OMS ou por potencialmente requerer uma reposta internacional coordenada. Por sua vez, evento ficou entendido como manifestação de uma doença ou uma ocorrência que cria um potencial para uma doença e considera-se risco em saúde pública a probabilidade de que se produza um evento que pode afetar adversamente a saúde de populações humanas. Em particular, para o RSI 2005 este risco é de maior interesse quando houver a possibilidade de propagação internacional ou possa representar um perigo grave e imediato. No propósito de facilitar a operacionalização da noção de emergência de importância internacional foi desenvolvido um “algo- ritmo de decisão” que se encontra no final desse Capítulo. Para atender ás exigências desse código internacional a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde vem adotando algumas inciativas com vistas ao fortalecimento das capacidades de resposta do Brasil às emergências em saúde pública, dentre as quais se destacam ocontínuo processo de modernização da estrutura dos sistemas nacio- nal, estaduais e locais de vigilância, treinamento profissionais em cur- so de especialização voltado para investigação e contenção de surtos, epidemias e eventos inusitados (Episus) e mecanismos de avaliação do sistema na perspectiva de fortalecimento das capacidades básicas de vigilância e resposta às emergências de saúde pública; e a implantação da Rede CIEVS. Centros e Rede CIEVS Os Centros de Informações Estratégicas e Respostas em Vigilância em Saúde (CIEVS) são estruturas técnico-operacionais que vêm sendo implantadas nos diferentes níveis do sistema de saúde (SVS, estados e municípios). Estas estruturas, voltadas para a detecção e resposta às emergências de Saúde Pública, são unidades que tem as seguintes funções: análise contínua de problemas de saúde que podem consti- tuir emergências de saúde pública para emissão de “sinal de alerta”; gerenciamento e coordenação das ações desenvolvidas nas situações de emergência, sendo consideradas fundamentais para enfrentamento de epidemias e pandemias. Desse modo, os profissionais que atuam nos Estrutura para Respostas às Emergências em Saúde Pública 4 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS52 CIEVS participam da tríade constitutiva da vigilância epidemiológica: informação-decisão-ação. Assim a Rede CIEVS, formada por estes Centros situados no Ministério da Saúde/SVS, Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, até o ano de 2009, conta com 15 unidades estaduais e mais sete instaladas em capi- tais, além da Unidade Nacional, sediada e sob a gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. Esta última coordena os trabalhos da Rede. As informações recebidas nos CIEVS são procedentes de notificações geradas na rede de serviços de saúde do SUS, por meio de e-mail insti- tucional, telefone de acesso gratuito, ou diretamente na web (página do MS/SVS). Fontes não oficiais também são acessadas e analisadas, quais sejam: informações publicadas nos principais meios de comunicação, Promed, sites de organismos de saúde nacionais e internacionais, noti- ficações oriundas da população (rumores), dentre outras. No período de março de 2006 a novembro de 2009, foram notificados à rede CIEVS mais de 600 eventos que poderiam representar Emergên- cias de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e que, por- tanto, mereceram adoção de medidas cautelares e/ou antecipatórias de vigilância e controle. Paralelamente aos trabalhos de rotina da rede de serviços de vigilância epidemiológica, a Rede CIEVS vem elaborando Planos de Contingência ou atuando no enfrentamento de possíveis ocorrências extraordinárias de caráter nacional ou internacional, a exemplo da Gripe Aviária, SARS, Dengue, Febre Amarela e Influenza pelo novo vírus A(H1N1). A experiência que vem sendo acumulada mediante a implantação de estratégias para contenção dos mais de 500 eventos e que poderiam constituir “Emergências de Saúde Pública de Importância Nacional” e as providências adotadas frente a ocorrência da Pandemia de Influenza A(H1N1), demonstram o quanto tem sido acertada esta política de for- talecimento adotada pelo SUS para o enfrentamento de situações inu- sitadas. Esta estratégia associada a outras iniciativas importantes tem possibilitado a criação de estruturas de suporte e permitido a adoção de ações mais abrangentes e contínuas. Dentre essas iniciativas desta- cam-se: a descentralização da execução de ações, utilização de indica- dores de avaliação, institucionalização da prática de uso da ferramenta epidemiológica no planejamento e na tomada de decisões, progressiva ampliação do escopo de atuação da vigilância epidemiológica; processo em curso de integração das vigilâncias (sanitária, epidemiológica, am- biental, saúde do trabalhador) nos três níveis de governo; integração com a atenção básica; estruturação da rede nacional de laboratórios de DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 53 ESTRUTURA PARA RESPOSTAS ÀS EMERGÊNCIAS DE SAÚDE PÚBLICA saúde pública; aperfeiçoamento das estratégias de comunicação de ris- co; mobilização e articulação dos serviços de saúde com as instituições de ensino e pesquisa do país. Algorítmo. Instrumento de decisão utilizado para notificar eventos de relevância internacional para o Regulamento Sanitário Internacional RSI 2005 - Fluxo para o Continente Americano Instrumento de decisão para avaliação e notificação de eventos que podem constituir-se de relevância internacional Um caso incomum ou inesperado de alguma das doençasa a seguir e que pode ter grave impacto sobre a saúde pública, devendo ser notificado: selvagem) novo subtipo viral Um evento que envolva as doenças a seguir sempre deverá conduzir à utilização do algoritmo, porque elas demonstram capacidade de causar um grave impacto sobre a saúde pública e são de rápida propagação nacionalb: Marburg) importância nacional Dengue, febre do Qualquer evento com potencial importância para a saúde pública internacional, incluindo aqueles de causas como aqueles envolvendo eventos ou doenças outros que não os listados nas conduzir à utilização do algoritmo. pública é grave? Há risco significativo de propagação internacional? Há risco significativo de propagação internacional? Há risco significativo de propagação internacional? Internacional estágio maiores informações Secretaria de Vigilância em Saúde / MS54 Os exemplos neste Anexo não são vinculantes e são apresentados a tí- tulo indicativo, com objetivo de auxiliar na interpretação dos critérios do instrumento de decisão. Quadro 1. Exemplos para a aplicação do instrumento de decisão para avaliação e notificação de eventos que possam constituir emergências de saúde pública de importância internacional O im pc at o do e ve nt o so br e a sa úd e pú bl ic a é gr av e? I. O impacto do evento sobre a saúde pública é grave? 1. O número de casos e/ou o número de óbitos para esse tipo de evento é alto para aquele local, tempo e população determinados? 2. O evento tem potencial para causar um grande impacto sobre a saúde pública? portadores sãos. ou uma grande área geográfica. 3. É necessária assistência externa para detectar, investigar, responder e controlar o evento atual ou evitar novos casos? equipamento de descontaminação ou equipamento de apoio insuficientes para atender às necessidades estimadas rapidamente. O IMPACTO DO EVENTO SOBRE A SAÚDE PÚBLICA É GRAVE? Responda “sim” casotiver respondido “sim” às perguntas 1, 2 ou 3 acima. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 55 ESTRUTURA PARA RESPOSTAS ÀS EMERGÊNCIAS DE SAÚDE PÚBLICA O e ve nt o é in co m um o u in es pe ra do ? II. O evento é incomum ou inesperado? 4. O evento é incomum? mortalidade) ou os sintomas apresentados são incomuns. 5. O evento é inesperado sob a perspectva de saúde pública? O EVENTO É INCOMUM OU INESPERADO? Responda “sim” caso tiver respondido “sim” às perguntas 4 ou 5 acima. Há ri sc o si gn ifi ca tiv o de p ro pa ga çã o in te rn ac io na l? III. Há risco significativo de propagação internacional? 6. Há evidências de correlação eidemiológica com eventos similares em outros Estados? 7. Existe algum fator que deva alertar sobre potencial deslocamento transfronteiriço do agente, veículo ou hospedeiro? através de fonteiras internacionais. controle sanitário, de detecção ambiental ou de descontaminação. HÁ RISCO SIGNIFICATIVO DE PROPAGAÇÃO INTERNACIONAL? Responda “sim” caso tiver respondido “sim” às perguntas 6 ou 7 acima. Há ri sc o si gn ifi ca tiv o de re st riç õe s ao c om ér ci o ou v ia ge ns in te rn ac io na is ? IV. Há risco significativo de restrições ao comércio ou viagens internacionais? 8. Eventos similares no passado resultaram em restrições internacionais ao comércio e/ou viagens? 9. Sabe-se ou suspeita-se que a fonte seja um produto alimentar, água ou qualquer outra mercadoria que possa estar contaminada e que tenha sido exportada para outros Estados ou importada de outros Estados? 10. O evento ocorreu em associação com um encontro internacional ou em área de intenso turismo internacional? 11. O evento gerou pedidos de maiores informações por parte de autoridades estrangeiras ou meios de comunicação internacionais? HÁ RISCO SIGNIFICATIVO DE RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO OU VIAGENS INTERNACIONAIS? Responda “sim” caso tiver respondido “sim” às perguntas 9, 10, ou 11 acima. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS56 Sistemas de Informações Introdução A informação é fundamental para o desenvolvimento da vigilância, daí a clássica expressão “informação para ação”. Por sua vez, um bom sistema de informações depende da periodicidade do fluxo de forne- cimento dos dados e do criterioso preenchimento dos instrumentos de coleta (fichas de notificação e investigação, declaração de óbito, declaração de nascido vivo, boletins de atendimento, autorizações de internação, relatórios, etc.). A transformação desses dados (valor quantitativo obtido para caracterizar um fato ou circunstância) em informações (dado analisado) pode ser feita em todos os níveis do sistema de saúde. Para isso, faz-se necessário organizá-los em tabe las e gráficos, que, dependendo do grau de complexidade das análises, podem ser realizados por todos os profissionais ou por alguns com capacitação específica. A partir dos dados coletados são construídos indicadores que cor- respondem a informações produzidas com periodicidade definida e critérios constantes, que revelam o comportamento de um fenômeno, em dado intervalo de tempo. Para isso, faz-se necessária a disponi- bilidade do dado, bem como uniformidade e sinteticidade na coleta, simplicidade técnica na elaboração e bom poder discriminatório do indicador. Sistemas de informações Conjunto de unidades de produção, análise e divulgação de dados, para atender às necessidades de informações de instituições, progra mas e serviços. Podem ser informatizados ou manuais. Atualmente, com o crescente desenvolvimento da informática, a maioria dos siste mas da área da saúde, mesmo nos níveis mais periféricos, já dispõe das ferra- mentas de computação ou está em vias de adquiri-las. Sistema de Informação em Saúde – SIS O SIS é parte dos sistemas de saúde e, como tal, integra suas estruturas organizacionais e contribui para sua missão. Desenvolvido e implan- tado para facilitar a formulação e avaliação das políticas, planos e pro- gramas de saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões e con- tribuindo para melhorar a situação de saúde individual e coletiva, são funções do SIS: planejamento, coordenação, supervisão dos processos de seleção, coleta, aquisição, registro, arma zenamento, processamento, recuperação, análise e difusão de dados e geração de informações. É 5 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 57 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES importante salientar que, para a área da saúde, também são de inte- resse dados produzidos fora do setor (de mográficos, de saneamento, documentais e administrativos). Dados não rotineiros, mas coletados esporadicamente, obtidos por inqué ritos, levantamentos e estudos es- peciais, também são muito úteis às análises da situação de saúde e da vigilância epidemiológica. A coleta de dados deve ser racional e ob- jetiva, visando a construção de indi cadores epidemiológicos ou ope- racionais que atendam aos objetivos de cada programa ou instituição, evitando-se descrédito do sistema e desperdício de tempo e recursos. Assim, deve contar com os requisitos técnicos e profissionais necessá- rios ao planejamento, coordenação e supervisão das atividades relati- vas à coleta, ao registro, ao processamento, à análise, à apresentação e à difusão de dados e geração de informações. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) foi ide- alizado para racionalizar o processo de coleta e transferência de da- dos relacio nados às doenças e agravos de notificação compulsória, em substi tuição aos procedimentos anteriores que consistiam em preenchimen to do Boletim de Notificação Semanal de Doenças pe- las unidades de saúde e envio por ae rograma ao Ministério da Saúde. Pode ser operado a partir das unidades de saúde, considerando o ob- jetivo de coletar e processar dados sobre agravos de notificação, em todo o território nacional, desde o nível local. É alimentado, principal- mente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória, mas é facultado a estados e municípios incluírem outros problemas de saúde, importantes em sua região. O formulário padrão contém duas partes: a Ficha Individual de Notificação (FIN), que deve ser preenchi- da por profissionais das unidades assistenciais da rede exclusivamen- te pri vada, privada conveniada ao SUS e pública para notificação de agravos, e que também é utilizado para notificação negativa, e a Ficha Individual de Investigação (FII), em geral, preenchida pelo respon- sável pela investigação. Os principais indicadores gerados pelo Sinan são: taxa ou coeficiente de incidência, taxa ou coeficiente de prevalên- cia, coeficiente de letalidade. Com as fichas de investigação completa- mente preenchidas e encerradas no Sinan, muitas outras informações podem ser obtidas, como o percentual de sequelas, o impacto das medidas de controle e o percentual de casos suspeitos e confirmados, entre outras. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS58 Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM O SIM foi criado pelo Ministério da Saúde, em 1975, a partir do de- senvolvimento de um sistema informatizado de seleção de causa bási- ca de óbito (SCB). Este sistema foi descentralizado para as secretarias municipais de saúde (SMS), deixando de ser operacionalizado apenas na administração central das secretarias estaduais de saúde (SES). O formulário de entrada de dados é a declaração de óbito (DO), que deve ser preenchida exclusivamente por médicos, exceto onde não exis- tam esses profissionais. Nessas áreas, as DO podem ser preenchidas por oficiais de cartório de registro civil e devem também ser assinadas por duas testemunhas do óbito. Os dados do SIM permitem calcular importantes indicadores para a VE, tais como: taxa ou coeficiente de mortalidade e mortalidade proporcional por grandes grupos de cau- sas, por causas específicas,faixa etária, sexo, escolaridade, ocupação e outras características constantes nas declarações de óbitos. As informa- ções obtidas através das DO possibilitam também o delineamento do perfil de morbidade de uma área, no que diz respeito às doenças mais letais e às doenças crônicas não sujeitas a notificação, representando, praticamente, a única fonte regular de dados nesses casos. O SIM ain- da apresenta problemas de cobertura em algumas áreas geográficas do país, como as regiões Norte e Nordeste, o que dificulta a construção de indicadores como taxa de mortalidade infantil e razão de mortali- dade materna a partir de dados diretos do sistema para essas regiões. Apresenta, também, baixa completitude referente ao preenchimento de alguns campos, que, às vezes, inviabiliza o seu uso exclusivo como fonte de dados para diversos estudos. Sistema de Infomações de Nascidos Vivos – Sinasc Oficialmente implantado em 1990, foi concebido e montado à seme- lhança do SIM, a partir de um documento básico padronizado – de- claração de nascidos vivos (DN) –, que deve ser preenchido para todos os nascidos vivos, por qualquer profissional de saúde. Nascido vivo, segundo definição da OMS, é todo produto da concepção que, inde- pendentemente do tempo de gestação, depois de expulso ou extraído do corpo da mãe, respira ou apresenta outro sinal de vida, tal como ba- timento cardíaco, pulsação do cordão umbilical ou movimentos efeti- vos dos músculos de contração voluntária, estando ou não des prendida a placenta. A implantação do Sinasc também ocorreu de forma gradual e encontra-se, atualmente, descentralizado para as se cretarias muni- cipais de saúde. Dentre os indicadores que podem ser construídos a partir desse sistema, incluem-se proporção de nascidos vivos de baixo peso, proporção de prematuridade, proporção de par tos hospitalares, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 59 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES proporção de nascidos vivos por faixa etária da mãe, taxa bruta de na- talidade e taxa de fecundidade. Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS Importante fonte de informação por registrar em torno de 80% das internações hospitalares realizadas no país e por gerar muitos indi- cadores: mortalidade hospitalar geral ou por alguma causa ou pro- cedimento específico; taxa de utilização por faixa etária e sexo, geral ou por causa; índice de hospitalização por faixa etária e sexo, geral ou por causa; índice de gasto com hospitalização por faixa etária e sexo, geral ou por causa; tempo médio de permanência geral ou por causa específica; custo médio da internação, geral ou por causa; proporção de internação por causa ou procedimento selecionado; utilização de UTI e outros. O instrumento de coleta de dados é a autorização de internação hospitalar (AIH), atualmente emitida pelos estados, a partir de uma série numérica única definida anualmente em portaria ministerial. Esse formulário contém os dados de atendimento, com o diagnóstico de internamento e da alta (codificado de acordo com a CID), informa- ções relativas às características de pessoa (idade e sexo), tempo e lugar (procedência do paciente) das internações, procedimentos realizados, os valores pagos e os dados cadastrais das unidades de saúde, entre outros, que permitem a sua utilização para fins epidemiológicos. Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS – SIA/SUS Por obedecer à lógica de pagamento por procedimento, não registra o CID do diagnóstico dos pacientes e, portanto, não pode ser utilizado como informação epidemiológica, ou seja, seus dados não permitem o delineamento dos perfis de morbidade da população, a não ser pelo que se pode inferir a partir dos serviços utilizados. Entretanto, como sua unidade de registro de informações é o proce- dimento ambulatorial realizado, desagregado em atos profissionais, outros indicadores operacionais podem ser importantes, como com- plemento das análises epidemiológicas, a exemplo de: número de con- sultas médicas por habitante ao ano, número de consultas médicas por consultório, número de exames/terapias realizados pelo quantitativo de consultas médicas. Outras fontes de dados Muitos outros sistemas são operados pela rede de serviços do SUS, que, mesmo sem base epidemiológica, podem ser utilizados como fontes complementares nas análises. Dentre eles, cabe destacar: o Sistema de Secretaria de Vigilância em Saúde / MS60 Informações de Atenção Básica (SIAB), que aporta dados relacionados à população coberta pela Estratégia Saúde da Família e pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde nos municípios em que se encon- tram implantados, bem como sobre as atividades desenvolvidas pelos agentes e equipes de Saúde da Família; o Sistema de Informações de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), instrumento de políticas federais focalizadas e compensatórias (Programa “Leite é Saúde”), atu- almente implantado em aproximadamente 1.600 municípios conside- rados de risco para a mortalidade infantil; o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), que aporta dados relativos à cobertura vacinal de rotina, atualmente implantado em to- dos os municípios brasileiros. O Sistema de Informações do Câncer da Mulher-SisCam, que faz parte do programa Viva Mulher, fornece in- formações referentes aos exames realizados nesse grupo, assim como a frequência das lesões pré-cancerosas e do câncer invasivo, além de pro- duzir dados para o monitoramento externo da qualidade dos exames citopatológicos realizados. Na área de doenças crônicas, o HiperDia faz parte do plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, permitindo o cadastramento e acompanhamento de portadores de diabetes mellitus e hipertensão arterial. A médio pra- zo, permitirá a definição do perfil epidemiológico dessas populações. Outros sistemas de importância são o Sistema de Informações sobre Orçamento Público em Saúde (Siops) que possibilita acompanhamen- to das aplicações dos recursos públicos do setor saúde; o Sistema de Informações da Anvisa, que atende aos programas de vigilância sanitá- ria com bancos de dados das áreas de medicamentos, cosméticos, ali- mentos, saneantes e correlatos, agrotóxicos, além de informações sobre o cadastramento de centros; o Sistema de Informações da Fiocruz, que compreende o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacoló- gicas (Sinitox), Sistema de Informações Geográficas (SIG) e a Rede Nacional de Bancos de Leite Humano (Redeblh); o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima), que agrega informação ambiental auxiliando a gestão, sendo gerido pela Secretaria de Articu- lação Institucional e Cidadania Ambiental, do Ministério do Meio Am- biente, com três eixos estruturantes: o desenvolvimento de ferramentas de acesso à informação, baseadas em programas computacionais livres; a sistematização de estatísticas; e elaboração de indicadores ambien- tais. Além das informações decorrentes dos sistemas descritos, exis- tem outras grandes bases de dados de interesse para o setor saúde que apresentam padronização e abrangência nacionais. Entre elas, devem ser citadas as disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 61 Estatística (IBGE), particularmente no que se refere ao Censo Demo- gráfico, à Pesquisa Brasileira por Amostragem de Domicílios (PNAD) e à Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária (AMS), e pelos conselhos de classe como o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Conselho Federal de Enfermagem (Cofem) e o Conselho Federal de Odontologia (CFO). São, ainda, importantes fontes de dados as pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), relatórios e ou- tras publicações de associações e empresas que atuam no setor médico supletivo (medicina de grupo, seguradoras, autogestão e planos de ad- ministração). Coleta e divulgação das informaçõesÉ dever de todo profissional de saúde da rede pública, conveniada ou privada comunicar, à autoridade sanitária mais próxima, todos os ca- sos suspeitos de doenças de notificação compulsória que compõem a lista brasileira, independente de sua confirmação diagnóstica, bem como as que foram acrescentadas nos âmbitos estaduais e municipais. Essa notificação pode ser feita em formulário próprio, por telefone, fax ou outro meio. O objetivo da notificação é a adoção de medidas de controle pertinentes e a alimentação dos sistemas de informações. A notificação de casos suspeitos justifica-se pela necessidade de rapidez na execução de medidas de controle para algumas patologias, que po- dem não ter impacto se executadas tardiamente. A retroalimentação dos sistemas deve ser considerada como um dos aspectos fundamen- tais para o processo continuado de aperfeiçoamento, gerência e con- trole da qualidade dos dados. Tal prática deve ocorrer em seus diversos níveis, de modo sistemático, com periodicidade previamente definida, de modo a permitir a utilização das informações nas atividades de pla- nejamento, definição de prioridades, alocação de recursos e avaliação dos programas desenvolvidos. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES Secretaria de Vigilância em Saúde / MS62 Acidentes por Animais Peçonhentos Introdução Apesar de não se tratar de doença infecciosa ou parasitária, a inclusão neste Guia de Bolso do capítulo Acidentes por Animais Peçonhen- tos contribui para a difusão de conhecimentos acerca de um agravo usualmente pouco conhecido do profissional de saúde, mas que, in- variavelmente, se defronta com um paciente acidentado. Estima-se que ocorrem, anualmente, no Brasil cerca de 20.000 casos de acidentes com serpentes, 5.000 com aranhas e 8.000 com escorpiões, podendo estar relacionados à ocorrência de óbitos ou produção de sequelas. Por questões operacionais, optou-se por abordar os envenenamentos para os quais existem soros específicos, ainda que o tema abranja outros grupos de animais peçonhentos bastante frequentes, porém pouco es- tudados, como alguns animais aquáticos e os himenópteros (abelhas, vespas, formigas). Ofidismo ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Envenenamento provocado pela ação de toxinas, atra- vés de aparelho inoculador (presas) de serpentes, podendo determi- nar al terações locais (na região da picada) e sistêmicas. Acidentes por serpentes não peçonhentas são relativamente frequentes, porém não determinam acidentes graves, na maioria dos casos, e, por isso, são considerados de menor importância médica. Agentes causais - No Brasil, são quatro os gêneros de serpentes de interesse médico: Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca), Crotalus (cas cavel), Lachesis (surucucu, pico-de-jaca) e Micrurus (co- ral verdadeira). Bothrops e Micrurus são encontrados em todo o país, enquanto que Crotalus é mais frequentemente encontrado em campos, áreas abertas e secas. Lachesis habita somente as florestas da Amazô- nia e da Mata Atlântica. Diversos gêneros de serpentes considerados não-peçonhentas ou de menor importância médica, também, são en- contrados em todo o país, sendo causa comum de acidentes: Phylodrias (cobra-verde, cobra-cipó), Oxyrhopus (falsa-coral), Waglerophis (boipe- va), Helicops (cobra d’água), Eunectes (sucuri) e Boa (jibóia), dentre ou- tras. Diversos gêneros de serpentes consideradas não-peçonhentas são encontrados em todo o país, sendo também causa comum de acidentes: 6 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 63 Phylodrias (cobra-verde, cobra-cipó), Oxyrhopus (falsa-coral), Waglero- phis (boipeva), Helicops (cobra d’água), Eunectes (sucuri) e Boa (jibóia), dentre outras. Manifestações clínicas - Como consequência da absorção do ve- neno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação específicos de- terminam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente. - Causado por serpentes do gênero Bothrops. Determina processo inflamatório no local da picada, com edema tenso, equimose, dor e adenomegalia regional, que progridem ao longo do membro acometido. Podem ocorrer bolhas com conteúdo seroso ou sero-hemorrágico e, eventualmente, necrose cutânea. Manifestações sistêmicas podem estar presentes com alteração da coagulação sanguínea e sangramentos espontâneos (gengivorragia, equimoses e hematomas pós-trauma, hematúria). Com base no quadro clínico, pode ser classificado em: leve, moderado e grave. - Causado por serpentes do gênero Lachesis. Apresenta quadro clínico semelhante ao botrópico, acrescido de manifestações decorrentes de estimulação vagal (náuseas, vômitos, diarreia, bradicardia, hipotensão e choque). - Causado por serpentes do gênero Crotalus. Não leva a alterações locais proeminentes, apenas edema discreto e pares- tesia; por outro lado, as manifestações sistêmicas são consequentes à paralisia neuromuscular (ptose palpebral, distúrbios de acomodação visual, de olfato e paladar, sialorreia, ptose mandibular), rabdomiólise (dores musculares generalizadas, urina escura) e incoagulabilidade sanguínea. - Causado por serpentes do gênero Micrurus. Leva a quadro neuroparalítico semelhante ao do acidente crotálico, sem outros sinais e sintomas concomitantes. Acidente por serpentes não-peçonhentas - Sem gravidade, porém frequente, podendo, em algumas circunstâncias, causar edema, dor e equimose na região da picada. Complicações - Celulite, abcesso, síndrome com- partimental (compressão do feixe nervoso secundário ao edema), ne- crose com amputação e/ou sequela funcional, sangramento ma çico, choque e insuficiência renal aguda. Acidente crotálico - Insuficiência renal aguda e insuficiência respira- tória. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS64 Acidente elapídico - Insuficiência respiratória aguda. Diagnóstico clínico - Na maioria dos casos, o diagnóstico é clínico, baseado nas manifestações apresentadas pelo paciente; o diagnóstico etiológi co, quando há identificação do animal, é pouco frequente. Na ausência de alterações clínicas, o paciente deve ser mantido em obser- vação por 6 a 12 horas seguintes ao acidente, após o que, mantendo-se o quadro inalterado, deve ser considerada a possibilidade de acidente por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento. Diagnóstico laboratorial - Não há exame laboratorial para diag- nosticar o tipo de acidente. O tempo de coagulação (TC) constitui ferramenta útil para a confirmação dos acidentes botrópico e laquéti- co, quando o quadro local não é muito evidente, e nos acidentes por serpente não peçonhenta ou sem envenenamento. No acidente botró- pico, o hemograma pode auxiliar o diagnóstico através de achado de leucocitose, neutrofilia com desvio para a esquerda e plaquetopenia. O sumário de urina pode apresentar hematúria, leucocitúria e pro- teinúria. Tratamento - O soro ou antiveneno deve ser específico para cada tipo de acidente. A soroterapia deve ser realizada o mais rapidamente possí- vel e o número de ampo las depende do tipo e da gravidade do acidente (Quadro 2). A via de administra ção é a endovenosa, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno (urticária, estridor laríngeo, angioedema, náu- seas e vômitos, bronco espasmo, hipotensão e choque). Na vigência de reações imediatas, a soroterapia deve ser interrompida e posterior- mente reinstituída após o tratamento da anafilaxia. Hidratação endo- venosa deve ser iniciada precocemente para prevenir a insuficiência renal aguda. Não há evi dências de que fármacos (antiinflamatórios, heparina) neutralizem os efeitos dos venenos. O único tratamen- to medicamentoso efetivo pode ser realizado no acidente elapídico, utilizando-se anticolinesterásico (neostigmina ataque: 0,25mg, adul- tos, ou 0,05mg/kg, crianças, IV; manutenção: 0,05 a 1mg/kg, IV, a cada 4 horas), precedido de atropina IV (0,5mg/kg, adultos, 0,05mg/kg, crianças). Reações tardias (doença do soro) podem ocorrer 1 a 4 semanas após a soroterapia, com urticá ria, febre baixa, artralgia e adenomegalia. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 65 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Quadro 2. Número de ampolas de soro antiofídico indicado para cada tipo e gravidade do acidente Acidentes Soros Gravidade Nº de ampolas Botrópico Leve: quadro local discreto, sangramento distúrbio na coagulação 2 a 4 Moderado: edema e equimose evidentes, sangramento sem comprometimento do estado geral; pode Grave: alterações locais intensas, 12 Laquético Moderado: quadro local presente, pode vagais 10 Grave intensa, com manifestações vagais 20 Leve discretas; sem mialgia, escurecimento da urina ou oligúria 5 Crotálico Anticrotálico Moderado escura) discretas, porém discretas 10 Grave evidentes, mialgia e mioglobinúria intensas, oligúria 20 Elapídico potencialmente graves pelo risco de 10 Características epidemiológicas - O ofidismo constitui, dentre os acidentes por animais peçonhentos, o de maior interesse médico, pela frequência e gravidade. Os acidentes ocorrem em todo o país, porém verifica-se variação significativa por região, com os coeficientes mais elevados no Norte e Centro-oeste. A distribuição por gênero de serpente peçonhenta, entre os casos notificados, indica pre domínio do acidente botrópico (73,5%), seguido do crotálico (7,5%), laquético (3,0%), elapí- dico (0,7%) e por serpentes não-peçonhentas (3,0%). A sazonalidade é característica marcante, relacionada a fatores climáticos e da atividade humana no campo, que determina ainda um predomínio de incidência nos meses quentes e chuvosos, em indivídu os adultos jovens, do sexo masculino durante o trabalho na zona rural. A letalidade geral é baixa (0,4%). O tempo decorrido entre o acidente e o atendimento e o tipo de envenenamento podem elevar a letalidade em até oito vezes essa taxa, como no envenenamento crotálico, quando o atendimento é realizado Secretaria de Vigilância em Saúde / MS66 mais de 6 a 12 horas após o acidente (4,7%). Por outro lado, a frequência de sequelas, relacionada a complicações locais, é bem mais elevada, situ- ada em 10% nos acidentes botrópicos, associada a fatores de risco, como o uso de torniquete, picada em extremidades (dedos de mãos e pés) e retardo na administração da soroterapia. Escorpionismo ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - O envenenamento ocorre pela inoculação de veneno pelo ferrão ou aguilhão, localizado na cauda de escorpiões. A estimulação de terminações nervosas sensitivas determina o aparecimento do qua- dro local, de instalação imediata e caracterizada por dor intensa, edema e eritema discretos, sudorese localizada em torno do ponto de picada e piloereção. Eventualmente, mioclonias e fasciculações podem ocor- rer. A atividade sobre o sistema nervoso au tônomo é responsável pelo quadro sistêmico, observado em crianças, nas quais, após intervalo de minutos até poucas horas (de 2 a 3), podem surgir manifestações sis- têmicas como sudorese profusa, agitação psicomotora, tremores, náu- seas, vômitos, sialorreia, hipertensão ou hipotensão arterial, arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar agudo e choque. A presença dessas manifestações impõe a suspeita do diagnós- tico de escorpionismo, mesmo na ausência de história de picada ou identificação do animal. Agente causal - Os escorpiões de importância médica para o Brasil pertencem ao gênero Tityus, com várias espécies descritas: Tityus serru- latus (escorpião-amarelo), com ampla distribuição desde o Paraná até o norte da Bahia, com alguns relatos para Sergipe e Alagoas, além da região central do país. Representa a espécie de maior interesse pela facilidade de proliferação, pois essa espécie só possui fêmeas e realiza reprodução por partenogênese, pela alta adaptação ao meio urbano e pelo grande potencial de gravidade do envenenamento; Tityus bahiensis (escorpião- marrom), encontrado em todo o país, com exceção da região Norte; Tityus stigmurus, espécie mais comum no Nordeste; Tityus paraensis (escorpião-preto) e Tityus metuendus, encontrados na Amazônia. Diagnóstico - Eminentemente clínico-epidemiológico. São de gran- de utilidade na detecção e acompanhamento das complicações a radiografia de tórax, que evidencia aumento de área cardíaca e vela- mento pulmonar difuso (eventualmente unilateral), e o eletrocardio- grama, que mostra padrão semelhante ao observado no infarto agudo DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 67 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS do miocárdio, além de taqui ou bradicardia sinusal, extra-sístoles, blo- queios de condução e distúrbios de repolarização. A ecocardiografia evidencia, nas formas graves, hipocinesia do septo interventricular e de parede, às vezes associada à regurgitação mitral. Na bioquímica encon- tra-se creatinofosfoquinase e sua fração MB elevadas, hiperglicemia, hiperamilasemia, hipopotassemia e hiponatremia. Diagnóstico diferencial - Acidentes por aranhas do gênero Pho- neutria (aranha-armadeira). Complicações - Decorrentes do envenenamento sistêmico: arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, choque e edema agudo pul- monar. Não há complicações locais. Tratamento - Nos casos leves, onde estão presentes somente as ma- nifestações locais, o tratamento é sintomático com medidas que visem o alívio da dor: infiltração com anestésico sem vasoconstritor (Lidoca- ína a 2%), ou analgésicos sistêmicos, como Dipirona. O soro antiescor- piônico ou antiaracnídico é indicado nos acidentes mo derados e gra- ves. Nesses casos, o paciente deve ser mantido em unidade de terapia intensiva para monitoramento das funções vitais A aplicação dos soros deve ser feita, como os soros antiofídicos, pela via intravenosa, bem como os cuidados na administração perante a possibilidade de reações alérgicas (Quadro 3). Quadro 3. Número de ampolas de soro antiescorpiônico ou antiaracnídico de acordo com a gravidade do envenenamento Acidente Soro Gravidade Nº de ampolas Escorpiônico ou Leve: dor e parestesia local - Moderado: dor local intensa associada a uma mais sudorese e sialorreia discretos, agitação, taquipneia e taquicardia 2 a 3 Grave: além das citadas na forma moderada, presença de uma ou mais das seguintes manifestações: sudorese profusa, sialorreia intensa, prostração, convulsão, coma, 4 a 6 Características epidemiológicas - A sazonalidade tem se mostra- do semelhante à dos acidentes ofídicos, ocorrendo predominantemen- te nos meses quentes e chuvosos. A maioria dos casos tem evolução benigna (letalidade 0,6%); os casos graves e óbitos têm sido associados a acidentes por T. serrulatus em crianças menores de 14 anos. No caso Secretaria de Vigilância em Saúde / MS68 do escorpionismo, o tempo entre acidente e o início de manifestações sistêmicas graves é bem mais curto do que para os acidentes ofídicos. Desse modo, crianças picadas por T. serrulatus, ao apresentar os pri- meiros sinais e sintomas de envenenamento sistêmico, devem receber o soro específico o mais rapidamente possível, bem como cuidados para manutenção das funções vitais. Araneísmo ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Envenenamento causado pela inoculação de toxinas atra- vés de ferrões localizados no aparelho inoculador (quelíceras) de ara- nhas peçonhentas. Agentes causais - As aranhas peçonhentas de interesse médico no Brasil são representadas pelos gêneros Loxosceles (aranha-marrom), Phoneutria (armadeira) e Latrodectus (viúva-negra), que apresentam aspectos biológicos e distribuição geográfica bastante distintos. Loxosceles (aranha-marrom) - De pequeno porte (3-4cm), constrói teia irregular em fendas, telhas e tijolos e, dentro das casas, atrás de quadros e móveis, sempre ao abrigo da luz; não é agressiva e só causa acidentes quando comprimida contra o corpo.Phoneutria (aranha-armadeira, aranha-macaca) - Pode atingir até 15cm, não constrói teia geométrica e tem hábito agressivo, podendo saltar a uma distância de 40cm. Latrodectus (viúva-negra) - Aranha pequena, constrói teia irregular e vive em vegetações arbustivas e gramíneas, podendo apresentar hábitos domiciliares e peridomiciliares. Outras aranhas - A família Lycosidae (aranha-de-jardim, tarântula) e a subordem Mygalomorphae (caranguejeiras) apresentam grande variedade de espécies, encontradas em todo o país, mas são con- sideradas de menor importância médica. Manifestações clínicas - Causado pela picada de aranhas do gênero Loxosceles. Tem duas formas clínicas descritas: cutânea e cutâneo-visceral. A picada é pouco dolorosa e as manifestações locais têm início insi- dioso, com equimose, palidez, enduração, edema e eritema, bolhas e necrose. Frequentemente, cefaleia, náuseas, mal-estar, febre baixa e exantema generalizado estão associados. Menos comum, a forma sistêmica (cutâneo-visceral) caracteriza-se pela presença de hemólise intravascular. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 69 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS - O gênero Phoneutria é responsável por quadro bastante semelhante ao do escorpionismo, com dor local, acompa- nhada de edema e eritema discretos e sudorese na região da picada. Manifestações sistêmicas são descritas raramente, em crianças, que podem apresentar agitação psicomotora, náuseas, vômitos, sialor- reia, hipertensão ou hipotensão, bradicardia, choque e edema agudo pulmonar, em consequência da atividade sobre o sistema nervoso autônomo. - Secundário à picada de aranhas do gênero Latro- dectus, manifesta-se com dor local e pápula eritematosa no local da picada, acompanhados de hiperreflexia, tremores e contrações musculares espasmódicas. - Podem provocar dor discreta e transitória no local da picada; quadros dermatológicos irritativos ou alérgicos podem ser causados por aranhas caranguejeiras, que liberam pêlos que se depositam sobre pele e mucosas. Complicações - Úlcera necrótica, infecção cutânea, insuficiência renal aguda. - Choque e edema agudo pulmonar. - Não há complicações descritas. Diagnóstico - Clínico-epidemiológico. Exames laboratoriais au- xiliam no diagnóstico do loxoscelismo cutâneo-visceral (hiperbilirru- binemia indireta, anemia aguda e elevação de ureia e creatinina, nos casos com insuficiência renal). Da mesma forma, as alterações labo- ratoriais no latrodectismo são inespecíficas, sendo descritos distúrbios hematológicos (leucocitose, linfopenia), bioquímicos (hiperglicemia, hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leu- cocitúria) e eletrocardiográficas (fibrilação atrial, bloqueios, diminui- ção de amplitude do QRS e da onda T, inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT). As alterações la- boratoriais do foneutrismo são semelhantes ao do escorpionismo, no- tadamente aquelas decorrentes de comprometimento cardiovascular. Tratamento - O soro antiaracnídico ou antiloxoscélico (Quadro 3) é indicado a partir do momento em que a hemólise é detectada e, no quadro cutâ neo, quando o diagnóstico é feito nas primeiras 72 horas; a limitação ao uso de antiveneno se deve ao diagnóstico tardio, muitas vezes realizado já com a necrose cutânea delimitada. Nesse caso, medidas de suporte, como uso de antissépticos, lavagem Secretaria de Vigilância em Saúde / MS70 com permangato de potássio (KMnO 4 ) 1:40.000 e curativos locais são recomendados até ser realizada a remoção da escara e acompan- hamento cirúrgico para o manejo da úlcera e correção da cicatriz. - Tratamento sintomático para a dor com calor local e analgésico sistêmico. Pode-se usar também infiltração anestésica local ou troncular com lidocaína 2% ou similar, sem vasoconstritor (3-4ml em adultos e 1-2ml em crianças). Havendo recorrência da dor, pode ser necessária nova infiltração, em geral em intervalos de 60 minutos. Caso não haja resposta satisfatória ao anestésico, recomenda-se o uso de meperidina 50-100mg (crianças 1mg/kg) IM. O soro antiaracnídico somente é preconizado nos casos moderados e graves, onde há manifestações sistêmicas. - O soro antilatrodéctico encontra-se em fase ex- perimental, não sendo disponível para uso de rotina. Assim sendo, o tratamento medicamentoso inclui, além de analgésicos sistêmicos, Benzodiazepínicos do tipo diazepan – 5-10mg (crianças, 1-2mg) IV, a cada 4 horas, se necessário, Gluconato de cálcio 10% – 10-20ml (crianças, 1mg/kg) IV, a cada 4 horas, se necessário e Clorproma- zina – 25-50mg (crianças, 0,55mg/kg/dose) IM, a cada 8 horas, se necessário. Quadro 3. Número de ampolas de soros antiaracnídico e antiloxoscélico indicado para cada tipo e gravidade do acidente Acidentes Soros Gravidade Nº de ampolas Foneutrismo Leve: dor local, edema, eritema, sudorese, piloreção – Moderado: dor local intensa, sudorese, 2 a 4 Grave: sudorese profusa, sialorreia, edema pulmonar agudo 5 a 10 Loxoscelismo ou Leve – Moderado: independentemente da identificação do agente, lesão sugestiva 5 Grave 10 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 71 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Características epidemiológicas - São várias as espécies de Loxosceles encontradas no país, porém a maioria dos acidentes é descrita nas regiões Sul e Sudeste, particularmente no Paraná, e nos meses do verão; é bastante frequente o acidente ocorrer enquanto o paciente está dormindo ou vestindo-se, fazendo com que as porções proximais do corpo (tronco, abdome, coxa) sejam as mais acometidas. - Mais frequentemente descrito nas regiões Sul e Su- deste, com incremento no número de acidentes nos meses de março a maio, sendo 79% dos casos considerados acidentes leves. - Os dados epidemiológicos do latrodectismo são es- cassos, por serem acidentes de baixa incidência no país. Os acidentes são descritos na faixa litorânea do Rio de Janeiro até o Nordeste, com maior ocorrência nos meses de março a maio. Acidentes por Lonomia e outras lagartas (Erucismo) ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Acidente causado pelo contato de cerdas de lagartas com a pele (erucismo, de origem latina eruca = lagarta). O quadro de der- matite urticante, comum a todas as lagartas, é caracterizado por dor em queimação, eritema, edema, prurido e adenomegalia re gional. Podem ocorrer formação de vesículas, bolhas e erosões. Sín drome hemorrági- ca, com coagulopatia de consumo e sangramentos sistêmicos (gengi- vorragia, equimoses, hematúria, epistaxe), é descrita no envenenamento por lagartas do gênero Lonomia, encontradas com maior frequência em seringueiras (Amapá e Ilha de Marajó) e árvores frutíferas (região Sul). As manifestações hemorrágicas são precedidas do quadro local e de sin- tomas inespecíficos, como cefaleia, náuseas, vômitos, dor abdominal. Agentes causais - São considerados de importância médica os aci- dentes causados por insetos pertencentes à ordem Lepidoptera na sua forma larvária. As principais famílias de lepidópteros causadoras de acidentes são Megalopygidae e Saturniidae. A família Megalopygidae (lagarta-de-fogo, chapéu-armado, taturana-gatinho) é composta por insetos que apresentam dois tipos de cerdas: as verdadeiras, pontiagu- das e que contêm as glândulas de veneno, e outras mais longas, colo- ridas e inofensivas. As lagartas da família Saturnidae (taturana, oruga, tapuru-de seringueira) têm espinhos ramificados de aspecto arbóreo e apresentam tonalidades esverdeadas, exibindo manchas e listras no Secretaria de Vigilância em Saúde / MS72 dorso e laterais, muitas vezes mimetizando as plantas onde vivem; nes- sa família se inclui o gênero Lonomia. Complicações - Acidentes por Lonomia: sangramentos maciços ou em órgão vital, insuficiência renal aguda; óbitos têm sido associados à hemorragia intracraniana e ao choque hipovolêmico.Diagnóstico - Independentemente do gênero ou família do lepidópte- ro causador do acidente, o quadro local é indistinguível e se caracteriza por dor imediata em queimação, irradiada para o membro, com área de eritema e edema na região do contato; eventualmente, podem-se evi- denciar lesões puntiformes eritematosas nos pontos de inoculação das cerdas. Adenomegalia regional dolorosa é comumente referida. Embora rara, pode haver evolução com bolhas e necrose cutânea superficial. Os sintomas normalmente regridem em 24 horas, sem maiores complica- ções. O diagnóstico de envenenamento por Lonomia é fei to através da identificação do agente ou pela presença de quadro he morrágico e/ou alteração da coagulação sanguínea, em paciente com história prévia de contato com lagartas. Na ausência de sindrome he morrágica, a obser- vação médica deve ser mantida por 24 horas, para o diagnóstico final, considerando a possibilidade de tratar-se de contato com outro lepidóp- tero ou acidente com Lonomia sem repercussão sis têmica. Diagnóstico laboratorial - Cerca de 50% dos pacientes acidenta- dos por Lonomia apresentam distúrbio na coagulação sanguínea, com ou sem sangramentos. O tempo de coagulação auxilia no diagnóstico de acidente por Lonomia e deve ser realizado para orien tar a sorotera- pia nos casos em que não há manifestações hemorrágicas evidentes. Tratamento - Para o quadro local, o tratamento é sintomático com compressas frias ou geladas, analgésicos e infiltração local com anestési- co do tipo lidocaína 2%. Na presença de sangramentos e/ou distúrbio na coagulação, o soro anti lonômico deve ser administrado de acordo com a intensidade e gravi dade das manifestações hemorrágicas (Quadro 4). DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 73 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Quadro 4. Número de ampolas de soro antilonômico de acordo com a gravidade do acidente Acidente Soro Gravidade Nº de ampolas lonômico Leve: quadro local apenas, sem sangramento ou distúrbio na coagulação – Moderado: quadro local presente ou não, presença de distúrbio na coagulação, sangramento 5 Grave: independente do quadro local, presença risco de morte ao paciente 10 Características epidemiológicas - Os acidentes são mais comuns nos meses quentes e chuvosos, que coincidem com o desenvolvimento da fase larvária das mariposas. Os acidentes por Lonomia são descritos predominantemente na região Sul, menos frequentemente, no Pará e Amapá; casos isolados em outros estados têm sido registrados (São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Amazonas, Goiás). Os trabalhadores rurais são os principais atingidos. O grupo etário pediátrico é o mais acometido, com ligeiro predomínio do sexo masculino. Já os casos graves e óbitos têm sido registrados em idosos com patologias prévias. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diminuir a frequência, sequelas e a letalidade dos aci- dentes por animais peçonhentos através do uso adequado da sorote- rapia e da educação em saúde. Notificação - Agravo de interesse nacional. Todo acidente por ani mal peçonhento atendido na unidade de saúde deve ser notificado, inde- pendentemente do paciente ter sido ou não submetido à soro terapia. Existe uma ficha específica no Sinan que se constitui em instrumento fundamental para se estabelecer normas de atenção adequadas à rea- lidade local. Definição de caso - Paciente com história de acidente por animal peçonhento. - Paciente com evidências clínicas de envenenamento, podendo ou não ter trazido o animal causador do acidente. O diagnóstico etiológico se faz quando, além das alterações decorrentes do envenenamento, o animal causador do acidente é identificado. Entretanto, para efeito de tratamento e de vigilância epidemiológica, são considerados confirmados todos os casos que se enquadrem nas definições acima referidas. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS74 Encerramento do caso - Na maioria dos casos não complicados, a alta ocorre, em média, de 4 a 7 dias após o acidente e respectivo tratamento. Nos casos complicados, a evolução clínica indica o momento da alta definitiva. O paciente deve ser orientado quanto à possibilidade de ocorrência da “doença do soro”, de curso geralmente benigno, cujos sintomas aparecem de 7 a 28 dias após a administração do soro antiveneno. - A alta definitiva pode ser dada após a remissão do quadro local ou sistêmico, exceto nos acidentes necro- tizantes pela aranha Loxosceles, nos quais a evolução clínica da lesão é lenta, podendo haver necessidade de procedimentos cirúrgicos reparadores. Erucismo - A alta pode ser dada após a remissão do quadro local, com exceção dos acidentes por Lonomia, nos quais o paciente deve ser hospitalizado até a normalização dos parâmetros clínicos e laboratoriais. MEDIDAS DE CONTROLE - O uso de botas de cano alto, perneiras e luvas constituem medidas fundamentais para a prevenção dos acidentes; a utilização desses equipamentos de proteção individual para os trabalhadores é inclusive regulamentada por lei. Dentre as medidas de prevenção coletiva, o peridomicílio e as áreas de estocagem de grãos devem ser mantidos limpos, pois, havendo facilidade para a proliferação de roedores, atraem serpentes, que os utilizam como alimentos. - Limpeza periódica do peridomicílio, evitando-se acúmulo de materiais como lenha, tijolos, pedras e lixo; cuidado ao manusear tijolos, blocos e outros materiais de construção; tapar buracos e frestas de paredes, janelas, portas e rodapés; sacudir roupas, sapatos e toalhas antes de usar; e inspecionar a roupa de cama antes de deitar são medidas auxiliares importantes na prevenção de acidentes. - Cuidado ao manusear folhagens e ao colocar as mãos nos caules de árvores. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS PARTE II Doenças infecciosas de interesse para a saúde pública Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 77 Aids CID 10: B20 a B24 1 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - A Aids é uma doença que representa um dos maiores problemas de saúde da atualidade, em função do seu caráter pandêmi- co e de sua gravidade. Os infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) evoluem para uma grave disfunção do sistema imunológico, à medida que vão sendo destruídos os linfócitos T CD4+, uma das principais células- alvo do vírus. A contagem de linfócitos T CD4+ é um importante marcador dessa imunodeficiência, sendo utilizada tanto para estimar o prognóstico e avaliar a indicação de início de terapia antirretroviral, quanto para definição de casos de Aids, com fins epidemiológicos. A história natural dessa infecção vem sendo alterada, consideravel- mente, pela terapia antirretroviral (TARV), a qual foi iniciada no Brasil em 1996, resultando em um aumento da sobrevida dos pacientes, me- diante reconstrução das funções do sistema imunológico e redução de doenças secundárias e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Uma das prioridades do Programa Nacional de DST e Aids é a redução da transmissão vertical do HIV. Resultados animadores vêm sendo ob- servados a partir da instituição de protocolos de tratamento da gestan- te/parturiente e criança exposta, a qual, além da quimioprofilaxia com os antirretrovirais, deve ser alimentada com fórmula infantil desde o nascimento até a confirmação do seu status sorológico. Para facilitar a compreensão dos diferentes aspectos dessa complexa infecção, das diferentes abordagens de notificação, investigação, diag- nóstico e tratamento optou-se por dividir este capítulo em duas partes: a primeira, sobre a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) propriamente e a segunda, em que se destacam aspectos específicos da infecção e dos procedimentos para gestantes, parturientes, nutrizes e crianças expostas ao risco de infecção. Sinonímia - Sida, doença causada pelo HIV, síndrome da imu- nodeficiência adquirida. Agente etiológico - HIV-1 e HIV-2, retrovírus da família Lentiviridae.Reservatório - O homem. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS78 Modo de transmissão - O HIV pode ser transmitido por via sexual (esperma e secreção vaginal); pelo sangue (via parenteral e vertical); e pelo leite materno. Desde o momento de aquisição da infecção, o portador do HIV é trans- missor, entretanto, os indivíduos com infecção muito recente (“infec- ção aguda”) ou imunossupressão avançada têm maior concentração do HIV no sangue (carga viral) e nas secreções sexuais, transmitindo com maior facilidade o vírus. Alguns processos infecciosos e inflamatórios favorecem a transmissão do HIV, a exemplo de doenças sexualmente transmissíveis (DST), como a sífilis, o herpes genital e o Cancro Mole. As DST não ulcerativas, tais como: Gonorreia, infecção por clamídia, tricomoníase, ou outras infecções do trato genital inferior como, por exemplo, a vaginose bacteriana e Candidíase, e processos inflamatórios, como vaginites químicas causadas por espermicidas e outras substân- cias. As cervicites, além do processo inflamatório adjacente, cursam quase que invariavelmente com a presença de ectopias, o que lhes con- fere solução de continuidade entre o ambiente vaginal e a circulação sanguínea, favorecendo a aquisição ou transmissão do HIV. As ver- rugas, igualmente, causam friabilidade da mucosa infectada, levando à formação de microfissuras, e, portanto, maior risco de aquisição ou transmissão do HIV. Outros fatores de risco associados aos mecanismos de transmissão do HIV são: adequadamente; tilhamento; - ro-cortantes, contaminados com sangue e secreções de pacientes; - cepto). Período de incubação - Compreendido entre a infecção pelo HIV e o aparecimento de sinais e sintomas da fase aguda, podendo variar de 5 a 30 dias. Período de latência - É o período após a fase de infecção aguda, até o desenvolvimento da imunodeficiência). Esse período varia entre 5 e 10 anos, média de seis anos. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 79 AIDS Período de transmissibilidade - O indivíduo infectado pelo HIV pode transmiti-lo em todas as fases da infecção, risco esse proporcio nal à magnitude da viremia. Diagnóstico - A doença pode ou não ter expressão clínica logo após a infecção, sendo importante que o profissional saiba conduzir a in- vestigação laboratorial após a suspeita de risco de infecção pelo HIV. É importante o entendimento da dinâmica da variação viral ou seus marcadores e o curso temporal em indivíduos depois da exposição ao HIV. Além disso, é imprescindível reconhecer a diferença entre a janela imunológica e a soroconversão. Enquanto a janela imunológica é o período de tempo entre a exposi- ção ao vírus até que a detecção por marcadores virais ou antivirais se tornem detectáveis, a soroconversão é o período que denota no proces- so de desenvolvimento de anticorpos contra um patógeno específico. Considera-se adequado considerar o período médio de janela imuno- lógica de 30 dias. Período esse em que a maioria dos indivíduos apre- sentará resultados positivos nos conjuntos de testes diagnósticos para a detecção da infecção pelo HIV. Deve-se considerar, entretanto, que uma variedade muito grande de fatores pode contribuir para que esse tempo não seja estabelecido para todos os indivíduos, pois a sorocon- versão é individualizada, existindo, ainda, os soroconversores lentos. Além disso, é extremamente importante ressaltar que esse tempo foi baseado em ensaios de detecção por ELISA de terceira geração e nos testes Western Blot. Caso não ocorra a soroconversão no intervalo de 30 dias, o indivíduo deve ser considerado como não infectado a menos que os antecedentes epidemiológicos e/ou os sinais clínicos sugiram a presença da infecção pelo HIV. As manifestações clínicas são aquelas compreendidas nas seguintes fases: Infecção aguda - O diagnóstico desta fase é pouco realizado, devido ao baixo índice de suspeição, caracterizando-se por viremia elevada, resposta imune intensa e rápida queda na contagem de linfócitos CD4+ de caráter transitório. As manifestações clínicas variam desde quadro gripal até uma síndrome que se assemelha à mononucleose (Mono- nucleose-like). Os pacientes podem apresentar sintomas de infecção viral, como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso; ulcerações muco-cutâneas, envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália; hiporexia, adinamia, cefaleia, fotofo- bia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos. Alguns pacientes, ainda, podem apresentar Candidíase oral, neuropatia peri- férica, meningoencefalite asséptica e síndrome de Guillain-Barré. Os Secretaria de Vigilância em Saúde / MS80 sintomas duram, em média, 14 dias, podendo o quadro clínico ser au- tolimitado. Fase assintomática - Pode durar de alguns meses a alguns anos, e os sintomas clínicos são mínimos ou inexistentes. Os exames sorológicos para o HIV são reagentes e a contagem de linfócitos T CD4+ pode estar estável ou em declínio. Alguns pacientes podem apresentar uma linfoa- denopatia generalizada persistente, “flutuante” e indolor. Fase sintomática inicial - Nesta fase, o portador da infecção pelo HIV pode apresentar sinais e sintomas inespecíficos de intensidade variável, além de processos oportunistas de menor gravidade, conhecidos como ARC - complexo relacionado à Aids. São indicativos de ARC: Candi- díase oral; testes de hipersensibilidade tardia negativos; e a presença de mais de um dos seguintes sinais e sintomas, com duração superior a 1 mês, sem causa identificada: linfadenopatia generalizada, diarreia, fe- bre, astenia sudorese noturna e perda de peso superior a 10%. Há uma elevação da carga viral e a contagem de linfócitos T CD4+ já pode se encontrar abaixo de 500cel/mm3. Aids/doenças oportunistas - Uma vez agravada a imunodepressão, o portador da infecção pelo HIV apresenta infecções oportunistas (IO). As doenças oportunistas associadas à Aids são várias, podendo ser cau- sadas por vírus, bactérias, protozoários, fungos e certas neoplasias: Vírus - Citomegalovirose, Herpes Simples, leucoencefalopatia multifocal progressiva; Bactérias - Micobacterioses (Tuberculose e complexo Mycobacterium avium-intracellulare), pneumonias (S. pneumoniae), salmonelose; Fungos - Pneumocistose, candidíase, criptococose, histoplasmose; Protozoários - Toxoplasmose, criptosporidiose, isosporíase. Os tumores mais frequentemente associados são: sarcoma de Kaposi, linfomas não Hodgkin, neoplasias intraepiteliais anal e cervical. É im- portante assinalar que o câncer de colo do útero compõe o elenco de doenças indicativas de Aids, no sexo feminino. Alterações neurológicas induzidas pelo HIV - O HIV apresenta tam- bém um neurotropismo bastante acentuado, levando, frequentemente, ao aparecimento de síndromes neurológicas específicas, particular- mente nas fases mais avançadas da infecção. As manifestações neu- rológicas mais frequentes são: as neuropatias periféricas, a mielopatia vacuolar e um quadro de atrofia cerebral e demência progressiva, todas relacionadas com a ação do HIV e do próprio sistema imune no tecido nervoso central e periférico. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 81 AIDS À medida que a infecção se agrava, a carga viral se eleva e a contagem de linfócitos T CD4+ diminui de forma significativa, podendo, no está- gio mais avançado, chegar a valores abaixo de 50 cels/mm3. - Para crianças com 18 meses ou menos, realiza-se a quan- tificação do RNA viral plasmático (carga viral) ou a detecção do DNA pró-viral e carga viral entre 1 e 6 meses, sendo um destes após o 4º mês de vida. Será considerada infectada quando se obtiver resultado detectável em duas amostras obtidas em momentos diferentes. Caso a carga viral esteja abaixo de 10.000 cópias/ml, a situação deve ser cuidadosamente analisada, porque pode se tratar de um resultado falso-positivo. A partir de 18 meses, adolescentes e adultosas amostras de soro ou plasma devem ser submetidas inicialmente a um imunoensaio (Elisa), na etapa denominada triagem sorológica. As amostras com resultados reagentes ou inconclusivos nesta primeira etapa deverão ser submeti- das a uma etapa de confirmação sorológica, composta de um segundo imunoensaio (diferente do primeiro na sua constituição antigênica ou princípio metodológico) e testes confirmatórios, tais como a Imuno- fluorescência indireta, Imunoblot ou Western blot, de acordo com a Portaria 59/ GM/MS, de 28 de janeiro de 2003 e portaria SVS/MS n o 34, de julho de 2005. O diagnóstico será confirmado por meio da realização de um teste de triagem para detecção de anti-HIV-1 e anti-HIV-2 e pelo menos um teste confirmatório. Em caso de resultado positivo, uma nova amostra deverá ser coletada para confirmar a positividade da primeira amostra. Em casos especiais, na impossibilidade de realização de diagnóstico laboratorial convencional, este diagnóstico também pode ser realizado utilizando-se o algoritmo de testes rápidos. Nessa situação, são usados dois testes em paralelo, com metodologias diferentes. As amostras que apresentarem resultados positivos nos dois testes rápidos terão seu resultado definido como “amostra positiva para o HIV”. deverá ser realizado um terceiro teste rápido. Quando o terceiro teste apresentar resultado positivo, a amostra será considerada “positiva para o HIV”. A positividade de dois testes rápidos usados conforme o fluxograma fornece o diagnóstico de HIV, não sendo necessário realizar o confirmatório. realização do diagnóstico da infecção pelo HIV utilizando testes rápidos em indivíduos acima de 18 meses, ver o Anexo da Portaria SVS/MS nº 34/2005, sobre validação do TR. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS82 Consideram-se não infectados os indivíduos que apresentarem: - Uma amostra não reagente em testes de detecção para anticorpos anti-HIV; ou - Uma amostra negativa em dois testes rápidos. Em caso de re- sultados discordantes nos dois primeiros ensaios, realiza-se um terceiro teste rápido. Quando este terceiro teste resultar negativo, considera-se a amostra “negativa para o HIV”. Observações Portaria de nº 59/GM/MS, de 18 de janeiro de 2003, e a Portaria nº 34/SVS/MS, de 28 de julho de 2005, disponíveis no website www. Aids.gov.br. para terapia antirretroviral em crianças e adolescentes infectados pelo HIV”, disponível no site www.aids.gov.br. Tratamento - A abordagem clínico-terapêutica do HIV tem-se tor- nado cada vez mais complexa, em virtude da velocidade do conheci- mento acerca deste agente. Os objetivos do tratamento são: prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida, pela redução da carga vi- ral e reconstituição do sistema imunológico. O atendimento é garan- tido pelo SUS, por meio de uma ampla rede de serviços. O Brasil é um dos poucos países que disponibiliza, integralmente, a assistência ao paciente com Aids. As diretrizes do tratamento para HIV/Aids, são constantemente revisadas, sendo disponibilizadas no endereço eletrônico www.Aids.gov.br. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Acompanhar a tendência temporal e espacial da doen- ça, de infecções e comportamentos de risco, visando orientar as ações de prevenção e controle do HIV/Aids e, consequentemente, reduzir a morbi-mortalidade associada à Aids. Notificação - Notifica-se o caso confirmado de Aids, mediante o preenchimento da Ficha de Notificação/Investigação de Aids, adulto, disponível no Sinan, pelo médico ou outro profissional de saúde. Definição de caso - Os critérios para a caracterização de casos de Aids são descritos na publicação “Critérios de Definição de Casos de Aids em Adultos e Crianças – 2004” e essas definições estão resumidas no Quadro 5. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 83 AIDS Quadro 5. Critérios de definição de casos de Aids em indivíduos com 13 anos de idade ou mais Critério CDC adaptado a + 3 Critério Rio de Janeiro/Caracas - + doenças ou Critério excepcional óbito + ou + definitivo exclusivamente nos pulmões ou linfonodos cervicais ou hilares; ou em um desses órgãos associado a qualquer outra localização); desconhecido) e outros linfomas dos seguintes tipos histológicos: Linfoma maligno de células grandes ou pequenas não clivadas (tipo Secretaria de Vigilância em Saúde / MS84 Burkitt ou não-Burkitt) e Linfoma maligno imunoblástico - sem outra especificação (termos análogos: sarcoma imunoblástico, linfoma maligno de células grandes ou linfoma imunoblástico); Salmonella (não tifóide); - dite). - nóstico presuntivo baço e linfonodos); Pneumocystis carinii; em órgãos outros que não os pulmões, pele ou linfonodos cervicais ou hilares; ou em um desses órgãos associado a qualquer outra localização). Escala com a pontuação para cada sinal, sintoma ou doença: (Critério Rio de Janeiro/Caracas) 10 pontos um mês - 2 pontos pontos inguinais, por um período igual ou superior a um mês - 2 pontos. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 85 AIDS Quadro 6. Critérios de definição de casos de Aids em crianças (menores de 13 anos de idade) Critério CDC adaptado - + ou Critério excepcional óbito + ou + Notas explicativas: Investigação epidemiológica inconclusiva é aquela em que, após a busca em prontuários, o caso não puder ser descartado ou enquadrado num dos critérios principais, pela falta de registro de dados clínicos/laboratoriais. A data do diagnóstico na ficha de notificação e de investigação é aquela em que o indivíduo se enquadra em um dos critérios de definição de caso de Aids, ou seja, tenha evidência clínica e laboratorial, exceto no critério óbito. Nesse caso, é igual a do óbito. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS86 Quadro 7. Doenças, sinais ou sintomas indicativos de Aids em crianças menores de 13 anos de idade, diagnosticadas por método definitivo (d)1 e presuntivo · Aumento · Dermatite persistente · megalia · Hepato- megalia · nopatia mais de dois · Infecções persistentes ou recorrentes de vias aéreas superiores sinusite) · Anemia por mais de · · Diarreia recorrente ou · · Gengivo-estomatite · · pulmões ou trato gastrointestinal · · Infecção por · · · Meningite bacteriana, pneumonia ou sepse · · · · intestinal · · · · · · · · · · · · · Infecções bacterianas graves, múltiplas · · progressiva · linfoma maligno de células grandes · · Pneumocystis carinii · · · Salmonella · · · Observação: A definição da gravidade das doenças, sinais e/ou sinto- mas corresponde às categorias da classificação clinica do Centers for Disease Control and Prevention (CDC 1994). 1) Doenças, sinais ou sintomas de aids em crianças menores de 13 anos de idade, de caráter moderado e DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 87 AIDS Caráter leve Caráter moderado Caráter grave Quadro 8. Contagem de Linfócitos T CD4+ de acordo com a idade da criança Faixa etária Contagem de linfócitos T CD4+ <12 meses 3 De 1 a 5 anos 3 De 6 a 12 anos 3 MEDIDAS DE CONTROLE Prevenção da transmissão sexual - Baseia-se na informação e educação visando a prática do sexo seguro, pelo uso consistente de pre- servativos masculino e feminino nas relações sexuais, como principal estratégia de prevenção. Prevenção da transmissão sanguínea Transfusão de sangue - Triagem de doadores, afastando aqueles em risco de infecção pelo HIV e realização de teste obrigatório para detecção de anticorpos anti-HIV. A conscientização dos doadores, no sentido de auto-avaliar os riscos de infecção pelo HIV a que possam ter sido submetidos, evitando ser identificados à doação, constitui-se na melhor medida de prevenção da transmissão do HIV por essa via. - Recomendações específicas devem ser seguidas, durante a realização de procedi- mentos que envolvam a manipulaçãode material pérfuro-cortante, observando-se a máxima atenção durante a realização dos procedi- mentos, nunca utilizar os dedos como anteparo, durante a realização de procedimentos, nunca reencapar, entortar ou quebrar agulhas com as mãos, desprezar o material pérfuro-cortante (agulhas, scalp, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros) em recipientes com tampa e resistentes à perfuração e preferencialmente incinerar o lixo hos- pitalar Não dispondo deste serviço, proceder conforme orientação da vigilância sanitária desse município. - Deve ser incentivado o uso e articulação de ações educacionais junto às comissões de controle de infecção hospitalar nos serviços. Quando não descar táveis, devem ser, meticulosamente, limpos para, depois, serem desinfetados e esterilizados. Os materiais descartáveis, após sua utilização, devem ser acondicionados em Secretaria de Vigilância em Saúde / MS88 caixas apropriadas, com paredes duras, para evitar acidentes. O HIV é muito sensível aos métodos padronizados de esterilização e desinfecção (de alta efi cácia), sendo inativado por meio de produtos químicos específicos e do calor, mas não inativado por irradiação ou raios-gama. Prevenção da transmissão materno-infantil do HIV - As gestantes portadoras do HIV deverão iniciar a profilaxia da transmissão vertical a partir da 14ª semana, com terapia ARV tripla. Aquelas que tiverem indicação de tratamento para a Aids deverão realizá-lo normalmente, mas com a ressalva de que ARV com potencial teratogênico deverão ser substituídos. A Zidovudina IV deverá ser administrada a todas as parturientes no momento do parto e a Zidovudina Solução Oral para todos os recém nascidos expostos ao HIV, durante seis semanas. Consultar publicação da PN-DST/Aids “Recomendações para Profilaxia da Transmissão Materno-Infantil do HIV e Terapia Antirretroviral em Gestantes”). A avaliação dos níveis de carga viral materna definirá qual a via de parto mais adequada para o concepto. Níveis de Carga Viral ≥1.000 cópias/ml (aferida na idade gestacional ≥34 semanas) ou desconhecida deve ser indicado parto por operação cesariana eletiva, ou seja, antes do início do trabalho de parto, quando as membranas amnióticas ainda se encontram íntegras. (aferida na idade gestacional ≥34 semanas) indica a realização de parto vaginal. Nesse grupo de mulheres, o parto por operação cesariana, só se aplica quando houver indicação obstétrica. Doação de sêmen e órgãos - A transmissão do HIV pela doação de órgãos ou sêmen deve ser prevenida pela triagem cuidadosa e testagem dos doadores. No caso do sêmen, há a possibilidade de armazenamento do sêmen por um determinado período, para utilização posterior quando uma nova testagem do doador for negativa. Evita-se assim utilização do sêmen de doadores em janela imunológica. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 89 AIDS Gestante/Parturiente HIV + e Criança Exposta ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Agente etiológico - Ver item correspondente em Infecção pelo HIV e Aids neste Capítulo. Reservatório - Ver item correspondente em Infecção pelo HIV e Aids neste Capítulo. Modo de transmissão - A transmissão pode ocorrer durante a ges- tação, o parto e pela amamentação. Período de incubação - Ver item correspondente em Infecção pelo HIV e Aids neste Capítulo. Período de latência - Ver item correspondente em Infecção pelo HIV e Aids neste Capítulo. Período de transmissibilidade - A maior parte dos casos de trans- missão vertical do HIV (cerca de 65%) ocorre durante o traba lho de parto e no parto propriamente dito; os 35% restantes ocorrem intra- útero, principalmente nas últimas semanas de gestação, e pelo aleita- mento materno, que representa risco adicional de transmissão de 7 a 22%. As medidas descritas no item Prevenção da transmissão materno- infantil do HIV. Diagnóstico - Para a parturiente que não foi testada durante o pré-natal, há a possibilidade de testagem com testes rápidos no momento do parto. - Ver item Diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV. Observação: Os critérios indicados para exclusão da infecção aplicam- se às crianças que não estejam sendo amamentadas pela mãe HIV posi- tiva. A amamentação, em qualquer período, é considerada como nova exposição ao HIV e, se ela acontecer, a criança deve ser submetida à nova rotina de diagnóstico da infecção pelo HIV. Diagnóstico diferencial - Imunodeficiências por outras etiolo- gias, como tratamento com corticosteróides (prolongado ou em altas doses), tratamento com imunossupressores (quimioterapia antineo- plásica, radioterapia) e algumas doenças como doença de Hodgkin, leucemias linfocíticas, mieloma múltiplo e síndrome de imunodefi- ciência genética. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS90 Tratamento - Atualmente, indica-se tratamento antirretroviral potente, com a associação de três ou mais drogas, por tempo indeterminado, e monitoramento periódico da eficácia clínico-laboratorial e sinais de toxicidade aos medicamentos. Para mais informações, consultar o documento “Recomendações para terapia antirretroviral em crianças e adolescentes infectados pelo HIV 2007 ”, disponível em www.Aids.gov.br. - Vale ressaltar que alguns medicamentos estão contraindicados em virtude do potencial teratogênico, como o Efa- virenz e Hidroxiureia, contudo, os casos devem ser individualmente analisados. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos Conhecer o estado sorológico de gestantes, parturientes, nutrizes e crianças expostas, para promover o início oportuno da profilaxia e terapêutica da transmissão vertical. Acompanhar o perfil epidemiológico da infecção pelo HIV nesses grupos populacionais, para o estabelecimento, acompanhamento e avaliação de impacto das medidas de prevenção, controle e trata- mento. Avaliar a operacionalização do protocolo de profilaxia da transmissão vertical, visando à implementação de ações e, consequentemente, a obtenção de maior impacto na redução da transmissão vertical. Notificação - A notificação compulsória de gestantes HIV+ e crian- ças expostas está prevista na Portaria GM/MS n° 5, de 21 de fevereiro de 2006. A notificação da criança exposta deve ser preenchida em ins- trumento específico e não mais vinculado ao instrumento de notifi- cação da gestante HIV+ (Nota técnica n° 62/07 GAB/UIV/PN-DST/ Aids/SVS/MS). Observe-se que, diferentemente das infecções por HIV nos outros gru- pos populacionais, a simples suspeita de exposição, tanto em gestantes, quanto em conceptos, deve ser notificada e investigada, em virtude dos benefícios do tratamento no prognóstico da criança. Momentos para notificação - Pré-natal, parto e acompanhamento da criança. Deve ser realizada pelo profissional de saúde que estiver aten- dendo o caso, em quaisquer dos três momentos. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 91 AIDS Definição de caso - Para efeito de notificação e investigação, considera-se como infectada toda gestante, parturiente ou nutriz que apresentar resultado de exame laboratorial para HIV reativo (considerar o primeiro resultado reagente). - Todos os conceptos de mães soropositivas ou que tenham suspeita de infecção pelo HIV. - Todas as crianças que tenham sido amamentadas por mulheres infectadas ou que tenham suspeita de infecção pelo HIV. Nesse caso, a notificação/investigação deverá conter dados da nutriz. MEDIDAS DE CONTROLE Ver prevenção da transmissão materno-infantil do HIV neste capítulo. Ações de educação em saúde Devem ter início nas ações de atenção ao pré-natal, quando se esclarece à gestante sobre os benefícios do diagnóstico precoce do HIV. Nesse sentido, os serviços de pré-natal e de saúde da mulher devem disponi- bilizar o acesso ao teste anti-HIV e promover ações de aconselhamento. Em relação ao recém-nato de mãe HIV positiva, é imprescindível a disponibilização da fórmula infantil, garantindo-se a substituição do leitematerno. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS92 Amebíase CID 10: A06 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infecção causada por protozoário que se apresenta em duas formas: cisto e trofozoíto. Esse parasito pode atuar como comen- sal ou provocar a invasão de tecidos, originando as formas intestinal e extra-intestinal da doença. O quadro clínico varia de uma forma bran- da, caracterizada por desconforto abdominal leve ou moderado, com sangue e/ou muco nas dejeções, até uma diarreia aguda e fulminante, de caráter sanguinolento ou mucóide, acompanhada de febre e cala- frios. Podem ou não ocorrer períodos de remissão. Em casos graves, as formas trofozoíticas se disseminam pela corrente sanguínea, provocan- do abcesso no fígado (com maior frequência), nos pulmões ou cérebro. Quando não diagnosticadas a tempo, podem levar o paciente a óbito. Agente etiológico - Entamoeba histolytica. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - As principais fontes de infecção são a in- gestão de alimentos ou água contaminados por fezes contendo cistos amebianos maduros. Ocorre mais raramente na transmissão sexual, devido a contato oral-anal. A falta de higiene domiciliar pode facilitar a disseminação de cistos nos componentes da família. Os portadores assintomáticos, que manipulam alimentos, são importantes dissemina- dores dessa protozoose. Período de incubação - Entre 2 a 4 semanas, podendo variar dias, meses ou anos. Período de transmissibilidade - Quando não tratada, pode durar anos. Complicações - Granulomas amebianos (amebomas) na parede do intestino grosso, abscesso hepático, pulmonar ou cerebral, empiema, pericardite, colite fulminante com perfuração. Diagnóstico - Presença de trofozoítos ou cistos do parasito encontra- dos nas fezes; em aspirados ou raspados, obtidos através de endosco- pia ou proctoscopia; ou em aspirados de abscesso ou cortes de tecido. Os anticorpos séricos podem ser dosados e são de grande auxílio no diagnóstico de abscesso hepático amebiano. A ultra-sonografia e to- mografia axial computadorizada são úteis no diagnóstico de abscessos amebianos. 2 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 93 Tratamento - Formas intestinais: Secnidazol - Adultos: 2g, em dose única. Crianças: 30mg/kg/dia, VO, não ultrapassando o máximo de 2g/dia. Deve ser evitado no 1º trimestre da gravidez e durante a amamentação. - Metronidazol, 500mg, 3 vezes/dia, durante 5 dias, para adultos. Para crianças, recomenda-se 35mg/kg/dia, divididas em 3 tomadas, durante 5 dias. - Formas graves: amebíase intestinal sintomática ou Amebíase extra-intestinal): Metronidazol, 750mg, VO, 3 vezes/dia, durante 10 dias. Em crianças, recomenda-se 50mg/kg/dia, durante 10 dias. - Tinidazol, 2g, VO, para adultos, após uma das refeições, durante 2 dias, para formas intestinais. - Formas extra-intestinais: 50mg/kg/dia, durante 2 ou 3 dias, a depender da forma clínica. Em formas graves, utilizar a mesma dosagem das formas leves, por 3 dias. Em crianças, a dosagem recomendada é 50mg/kg/dia. - Somente para formas leves ou assintomáticas: Teclozam, 1.500mg/dia, divididas em 3 tomadas de 500mg, dose única para adultos. Em crianças, a dosagem recomendada é de 15mg/kg/dia, durante 5 dias. No tratamento do abscesso hepático, além da medi- cação específica, pode ser necessária, em alguns casos, a aspiração do abscesso. Drenagem cirúrgica aberta não é recomendada, exceto em casos graves, quando o abscesso é inacessível à aspiração e não responde ao tratamento em até 4 dias. Alguns pacientes se beneficiam de drenagem do peritônio associada à terapia antimicrobiana. O tratamento de suporte está recomendado com hidratação e correção do equilíbrio hidreletrolítico. Características epidemiológicas - Estima-se que mais de 10% da população mundial estão infectados por E. dispar e E. histolytica, que são espécies morfologicamente idênticas, mas só a última é patogêni- ca, sendo sua ocorrência estimada em 50 milhões de casos invasivos/ ano. Em países em desenvolvimento, a prevalência da infecção é alta, sendo que 90% dos infectados podem eliminar o parasito durante 12 meses. Infecções são transmitidas por cistos através da via fecal-oral. Os cistos, no interior do hospedeiro humano, liberam os trofozoítos. A transmissão é mantida pela eliminação de cistos no ambiente, que podem contaminar a água e alimentos. Eles permanecem viáveis no meio ambiente, ao abrigo de luz solar e em condições de umidade fa- AMEBÍASE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS94 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS voráveis, durante cerca de 20 dias. Sua ocorrência está associada com condições inadequadas de saneamento básico, deficiência de higiene pessoal/ambiental e determinadas práticas sexuais. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar os casos para impedir a transmissão direta ou indireta da infecção a outras pessoas. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. MEDIDAS DE CONTROLE - Impedir a contaminação fecal da água e alimentos por meio de medidas de saneamento, educação em saúde, destino adequado das fezes e controle dos indivíduos que manipulam alimentos. - Lavar as mãos, após o uso do sanitário e lavar cuida- dosamente os vegetais com água potável, e deixando-os imersos em hipoclorito de sódio a 2,5% (uma colher de sopa de hipoclorito em 1 litro de água filtrada), durante meia hora, para eliminar os cistos. Evitar práticas sexuais que favoreçam o contato fecal-oral. Investigar os contatos e a fonte de infecção, ou seja, realizar exame coproscópico dos membros do grupo familiar e de outros contatos. O diagnóstico de um caso em quartéis, creches, orfanatos e outras instituições indica a realização de inquérito coproscópico para tratamento dos porta- dores de cistos. Realizar a fiscalização dos prestadores de serviços na área de alimentos, atividade a cargo da vigilância sanitária. - Em pacientes internados, precauções do tipo entérico devem ser adotadas. Pessoas infectadas devem ser afastadas de atividades de manipulação dos alimentos. - Concorrente, destino adequado das fezes. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 95 Ancilostomíase CID 10: B76 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infecção intestinal causada por nematódeos, que nos caos de infecções leves, pode apresentar-se assintomática. Apresentações clínicas importantes, como um quadro gastrointestinal agudo carac- terizado por náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e flatulência, também podem ocorrer. Em crianças com parasitismo intenso, pode ocorrer hipoproteinemia e atraso no desenvolvimento físico e men- tal. Com frequência, dependendo da intensidade da infecção, acarreta anemia ferropriva. Sinonímia - Amarelão, opilação, doença do Jeca Tatu. Agente etiológico - Nematóides da família Ancylostomidae: A. duodenale e Necator americanus. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Os ovos contidos nas fezes são deposita- dos no solo, onde se tornam embrionados. Em condições favoráveis de umidade e temperatura, as larvas se desenvolvem até chegar ao 3º estágio, tornando-se infectantes em um prazo de 7 a 10 dias. A infecção nos homens ocorre quando essas larvas infectantes penetram na pele, geralmente pelos pés, causando dermatite característica. As larvas dos ancilóstomos, após penetrarem pela pele, passam pelos vasos linfáticos, ganham a corrente sanguínea e, nos pulmões, penetram nos alvéolos. Daí migram para a traqueia e faringe, são deglutidas e chegam ao in- testino delgado, onde se fixam, atingindo a maturidade ao final de 6 a 7 semanas, passando a produzir milhares de ovos por dia. Período de incubação - Semanas ou meses após a infecção inicial. Período de transmissibilidade - Não se transmite de pessoa a pes- soa, porém os indivíduos infectados contaminam o solo durante vários anos, quando não adequadamente tratados. Em condições favoráveis, as larvas permanecem infectantes no solo durante várias semanas. Complicações - Anemia, hipoproteinemia,podendo ocorrer insufi- ciência cardíaca e anasarca. A migração da larva através dos pulmões pode causar hemorragia e pneumonite. Diagnóstico - Em geral clínico, devido ao prurido característico. O diagnóstico laboratorial é realizado pelo achado de ovos no exame pa- rasitológico de fezes, por meio dos métodos de Lutz, Willis ou Faust, realizando-se, também, a contagem de ovos pelo Kato-Katz. 3 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS96 Diagnóstico diferencial - Anemia por outras etiologias, outras parasitoses. Tratamento - Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Não é recomendado seu uso em gestantes. Essa dose in- depende do peso corporal e da idade. Pode ser usado Albendazol, 2 comprimidos, VO, em dose única (1 comprimido=200mg), ou 10ml de suspensão (5ml=200mg). O Pamoato de Pirantel pode ser usado na dose de 20-30mg/kg/dia, durante 3 dias. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dias após o tratamento, mediante exame parasitológico de fezes. Características epidemiológicas - Distribuição mundial. Ocorre, preferencialmente, em crianças com mais de 6 anos, adolescentes e em indivíduos mais velhos, independente da idade. No Brasil, predomina nas áreas rurais, estando muito associada a áreas sem saneamento e cujas populações têm o hábito de andar descalças. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar precocemente todos os casos, evi- tando-se, assim, as possíveis complicações. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. Entretanto, os surtos devem ser notificados aos órgãos de saúde locais. MEDIDAS DE CONTROLE Desenvolver atividades de educação em saúde com relação a hábitos pessoais de higiene, particularmente o de lavar as mãos antes das refei- ções e o uso de calçados. Evitar a contaminação do solo mediante a ins- talação de sistemas sanitários para eliminação das fezes, especialmente nas zonas rurais (saneamento). Tratamento das pessoas infectadas. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 97 Ascaridíase CID 10: B77 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença parasitária do homem, causada por um helmin- to. Habitualmente, não causa sintomatologia, mas pode manifestar-se por dor abdominal, diarreia, náuseas e anorexia. Quando há grande número de parasitas, pode ocorrer quadro de obstrução intestinal. Em virtude do ciclo pulmonar da larva, alguns pacientes apresentam mani- festações pulmonares, com broncoespasmo, hemoptise e pneumonite, caracterizando a síndrome de Löefler, que cursa com eosinofilia impor- tante. Quando há grande número de parasitas, pode ocorrer quadro de obstrução intestinal. Sinonímia - Infecção por Ascaris. Agente etiológico - Ascaris lumbricoides. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Ingestão dos ovos infectantes do parasita, procedentes do solo, água ou alimentos contaminados com fezes humanas. Período de incubação - O período de incubação dos ovos férteis até o desenvolvimento da larva infectante (L3), no meio exterior e em condições favoráveis, é de aproximadamente 20 dias. O período pré- patente da infecção (desde a infecção com ovos embrionados até a pre- sença de ovos nas fezes do hospedeiro) é de 60 a 75 dias. Período de transmissibilidade - Durante todo o período em que o indivíduo portar o parasita e estiver eliminando ovos pelas fezes. Por- tanto, longo, quando não se institui o tratamento adequado. As fêmeas fecundadas no aparelho digestivo podem produzir cerca de 200.000 ovos por dia. A duração média de vida dos parasitas adultos é de 12 meses. Quando os ovos embrionados encontram um meio favorável, podem permanecer viáveis e infectantes durante anos. Complicações - Obstrução intestinal, volvo, perfuração intestinal, colecistite, colelitíase, pancreatite aguda e abcesso hepático. Diagnóstico - O quadro clínico apenas não a distingue de outras ver- minoses, havendo, portanto, necessidade de confirmação do achado de ovos nos exames parasitológicos de fezes. Diagnóstico diferencial - Estrongiloidíase, amebíase, apendicite, pneumonias bacterianas, outras parasitoses. 4 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS98 Tratamento - Albendazol (ovocida, larvicida e vermicida), 400mg/ dia, em dose única para adultos; em crianças, 10mg/kg, dose única; Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Não é recomendado seu uso em gestantes. Essa dose independe do peso cor- poral e da idade. Levamizol, 150mg, VO, em dose única para adultos; crianças abaixo de 8 anos, 40mg; acima de 8 anos, 80mg, também em dose única. Tratamento da obstrução intestinal: Piperazina, 100mg/kg/ dia + óleo mineral, 40 a 60ml/dia + antiespasmódicos + hidratação. Nesse caso, estão indicados sonda nasogástrica e jejum + Mebendazol, 200mg ao dia, dividido em 2 tomadas, por 3 dias. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivo - Não há ações específicas de vigilância epidemiológica. En- tretanto, deve-se fazer o tratamento como forma de evitar complica- ções e diminuir as possibilidades de re-infecções. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. MEDIDAS DE CONTROLE - Medidas de educação em saúde e de saneamento. - Evitar as possíveis fontes de infecção, ingerir vegetais cozidos e lavar bem e desinfetar verduras cruas, higiene pessoal e na manipulação de alimentos. O tratamento em massa das populações tem sido preconizado por alguns autores para reduzir a carga para- sitária. Contudo, se não for associado a medidas de saneamento, a re-infecção pode atingir os níveis anteriores. em pouco tempo. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 99 Botulismo CID 10: A05.1 5 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - O Botulismo é uma doença não-contagiosa, resultante da ação de potente neurotoxina. Apresenta-se sob três formas: Botu- lismo alimentar, Botulismo por ferimentos e Botulismo intestinal. O local de produção da toxina botulínica é diferente em cada uma dessas formas, porém todas se caracterizam clinicamente por manifestações neurológicas e/ou gastrintestinais. É uma doença de elevada letalida- de, considerada como emergência médica e de saúde pública. Para mi- nimizar o risco de morte e sequelas, é essencial que o diagnóstico seja feito rapidamente e o tratamento instituído precocemente por meio das medidas gerais de urgência. Suas manifestações clínicas serão des critas de acordo com o modo de transmissão. - Se caracteriza por instalação súbita e pro- gressiva. Os sinais e sintomas iniciais podem ser gastrintestinais e/ ou neurológicos. As manifestações gastrintestinais mais comuns são: náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, podendo anteceder ou coincidir com os sinais e sintomas neurológicos. Os primeiros sinais e sintomas neurológicos podem ser inespecíficos, tais como cefaleia, vertigem e tontura. O quadro neurológico propriamente dito se car- acteriza por paralisia flácida aguda motora descendente, associada a comprometimento autonômico disseminado. Os princi pais sinais e sintomas neurológicos são visão turva, ptose palpebral, diplopia, disfagia, disartria e boca seca. Têm início no território dos nervos cranianos e evoluem no sentido descendente. Essa particu laridade distingue o Botulismo da síndrome de Guillain-Barré, que é uma paralisia flácida aguda ascendente. Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendente para os músculos do tronco e membros, o que pode ocasionar dispneia, insuficiência respiratória e tetraplegia flácida. A fraqueza muscular nos membros é tipicamente simétrica, acometendo com maior intensidade os membros superiores. Uma característica importante no quadro clínico é a preservação da consciência. Na maioria dos casos, não há comprometimento da sensibili dade, o que auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças neurológicas. Pode apresentar progressão por 1 a 2 semanas e estabilizar-se por mais 2 a 3, antes de iniciar a fase de re cuperação. Essa fasetem duração variável, que depende da formação de novas sinapses e restauração da função. Nas formas mais graves, o período de recuperação pode Secretaria de Vigilância em Saúde / MS100 durar de 6 meses a 1 ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros 3 meses após o início dos sinais e sintomas. Botulismo por ferimentos - O quadro clínico é semelhante ao do Botulismo alimentar. Entretanto, os sinais e sintomas gastrintestinais não são esperados e pode ocorrer febre decorrente de contaminação secundária do ferimento. O Botulismo por ferimento deve ser lem- brado nas situações em que não se identifica uma fonte alimentar, especialmente em casos isolados da doença. Ferimentos ou cicatrizes nem sempre são encontrados e focos ocultos, como em mucosa nasal, seios da face e pequenos abscessos em locais de injeção, devem ser investigados, especialmente em usuários de drogas. Botulismo intestinal - Nas crianças, o aspecto clínico do Botulismo intestinal varia de quadros com constipação leve à síndrome de morte súbita. Manifesta-se, inicialmente, por constipação e irritabilidade, seguidas de sintomas neurológicos, caracterizados por dificuldade de controle dos movimentos da cabeça, sucção fraca, disfagia, choro fraco, hipoatividade e paralisias bilaterais descendentes, que podem progredir para comprometimento respiratório. Casos leves, caracteri- zados apenas por dificuldade alimentar e fraqueza muscular discreta, têm sido descritos. Em adultos, suspeita-se de Botulismo intestinal na ausência de fontes prováveis de toxina botulínica, tais como ali- mentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas. O Botulismo intestinal tem duração de 2 a 6 semanas, com instalação progressiva dos sinais e sintomas por 1 a 2 semanas, seguida de recuperação em 3 a 4 semanas. Agente etiológico - Clostridium botulinum, bacilo gram-positivo, anaeróbio, esporulado, cuja forma vegetativa produz 8 tipos de toxina (A, B, C1, C2, D, E, F e G). As toxinas patogênicas para o homem são as dos tipos A, B, E e F, sendo as mais frequentes a A e a B. Os esporos do C. botulinum resistem a temperaturas de 120°C por 15 minutos. Estão amplamente distribuídos na natureza, no solo e em sedimentos de lagos e mares. São encontrados em produtos agrícolas como legumes, vegetais, mel, vísceras de crustáceos e no intestino de mamíferos e peixes. Reservatórios - Os esporos do C. botulinum são amplamente distri- buídos na natureza, em solos, sedimentos de lagos e mares. São iden- tificados em produtos agrícolas como legumes, vegetais e mel e em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos. Modo de transmissão - Tem importância na apresentação clínica e nas ações de vigilância epidemiológica. alimentar - Ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos previamente contaminados, que são produzidos ou DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 101 BOTULISMO conservados de maneira inadequada. Os alimentos mais comumente envolvidos são conservas vegetais, principalmente as artesanais (pal- mito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura – “carne de lata”); pescados defumados, salgados e fermen- tados; queijos e pasta de queijos e, raramente, em alimentos enlatados industrializados. Botulismo por ferimentos - Ocasionado pela contaminação de feri- mentos com C. botulinum, que em condições de anaerobiose assume a forma vegetativa e produz toxina in vivo. As principais portas de entrada para os esporos são úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas ou, ainda, aqueles produzidos por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais em usuários de drogas inalatórias. É uma das formas mais raras de Botulismo. Botulismo intestinal - Resulta da ingestão de esporos presentes no alimento, seguida da fixação e multiplicação do agente no ambiente intestinal, onde ocorre a produção e absorção de toxina. A ausência da microbiota de proteção permite a germinação de esporos e a produção de toxina na luz intestinal. Ocorre com maior frequência em crianças com idade entre 3 e 26 semanas – por isso, foi ini- cialmente denominado como Botulismo infantil. Em adultos, são descritos alguns fatores predisponentes, como cirurgias intestinais, acloridria gástrica, doença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolongado, o que levaria à alteração da flora intestinal. Outras formas - Embora raros, são descritos casos de Botulismo acidental associados ao uso terapêutico ou estético da toxina bo- tulínica e à manipulação de material contaminado, em laboratório (via inalatória ou contato com a conjuntiva). Observação: Não há relato de transmissão interpessoal, apesar de ocorrer excreção da toxina botulínica e esporos da bactéria por sema- nas ou meses nas fezes de lactentes com Botulismo intestinal. Período de incubação - Quando o mecanismo de transmissão en- volvido é a ingestão direta de toxina já presente no alimento, o perío- do de incubação é menor e a doença se manifesta mais rapidamente. Quando ocorre a ingestão de esporos ou a contaminação de ferimen- tos, o período de incubação é maior, porque a doença só se inicia após a transformação do C. botulinum da forma esporulada para a vegeta tiva, que se multiplica e libera toxina. Períodos de incubação curtos suge- rem maior gravidade e maior risco de letalidade. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS102 - Pode variar de 2 horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação. - Pode variar de 4 a 21 dias, com média de 7 dias. - O período não é conhecido devido à impos- sibilidade de se determinar o momento da ingestão de esporos. Período de transmissibilidade - Apesar da toxina botulínica ser eliminada nas fezes, não ocorre transmissão interpessoal. Complicações - Desidratação e pneumonia por aspiração podem ocorrer precocemente, antes mesmo da suspeita de Botulismo ou do primeiro atendimento no serviço de saúde. Infecções respiratórias po- dem ocorrer em qualquer momento da hospitalização, sendo a longa permanência sob assistência ventilatória e os procedimentos invasivos importantes fatores de risco. Diagnóstico - O diagnóstico laboratorial é baseado na análise de amostras clínicas e de amostras bromatológicas (casos de Botulismo alimentar). Os exames laboratoriais podem ser realizados por várias técnicas, sendo a mais comum a detecção da toxina botulínica por meio de bioensaio em camundongos. Em casos de Botulismo por feri- mentos e Botulismo intestinal, realiza-se também o isolamento de C. botulinum por meio de cultura das amostras. Esses exames são feitos em laboratório de referência nacional e a seleção de amostras de inte- resse, oportunas para o diagnóstico laboratorial, varia de acordo com a forma do Botulismo. Em geral, deve-se coletar soro e fezes de todos os casos suspeitos no início da doença. Diagnóstico diferencial - Síndrome de Guillain-Barré, síndrome de Muller-Fisher (variante da síndrome de Guillain-Barré) e miaste- nia gravis. Além dessas, existem outras doenças menos comuns, mas que também devem ser consideradas no diagnóstico diferencial: do- ença de Lyme, neuropatia diftérica, neuropatias tóxicas alimentares, neuropatia por metais pesados e agentes industriais e outros quadros neurológicos e/ou psiquiátricos (meningoencefalites, acidente vascu lar cerebral, traumatismo cranioencefálico, transtornos conversivos, hipo- potassemia, intoxicação por atropina, beladona, metanol, monó xido de carbono, fenotiazínicos e envenenamento por curare). Tratamento - O êxito da terapêutica do Botulismo está diretamente relacionado à precocidade com que é iniciada e às condições do lo- cal onde será realizada. O tratamento deve ser conduzido em unidade hospitalar que disponhade terapia intensiva (UTI). Basicamente, o tra- tamento da doença apóia-se em dois conjuntos de ações: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 103 BOTULISMO - Medidas gerais e monitorização cardior- respiratória são as condutas mais importantes no tratamento do Botulismo. - Visa eliminar a toxina circulante e sua fonte de produção, o C. botulinum. Utiliza-se soro antibotulínico (SAB) e antibióticos. Observação: Antes de iniciar o tratamento específico, as amostras clí- nicas para exames diagnósticos devem ser coletadas. Características epidemiológicas - Doença de distribuição uni- versal, relacionada ao uso de produtos alimentícios preparados ou con- servados por métodos que não destroem os esporos do C. botuli num, permitindo a formação de toxinas. Não se conhece a distribuição real do Botulismo intestinal em menores de um ano, por ser entidade pou- co reconhecida pelos médicos. Há relatos de intoxicações provo cadas pelo uso de verduras e frutas inadequadamente acondicionadas e por defumados, salsichas e conservas. A notificação de um caso sus peito é considerado como surto de Botulismo. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Detectar precocemente os casos, visando promover assis- tência adequada e reduzir a morbidade e letalidade da doença; caracte- rizar o surto por tempo, lugar e pessoa; identificar a fonte de contami- nação e modo de transmissão dos casos de Botulismo; propor medidas de prevenção e controle, em tempo oportuno, para impedir a ocorrên- cia de novos casos; avaliar as medidas de controle implan tadas. A partir de casos suspeitos, identificar as prováveis fontes de contaminação para a adoção das medidas de controle pertinentes. Definição de caso - Há definição de caso suspeito e confirmado para cada forma de Botulismo. Caso suspeito de Botulismo alimentar e Botulismo por ferimentos: Indivíduo que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação do nível de consci- ência caracterizado por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispneia. Observe-se que a exposição a alimentos potencialmente sus- peitos para presença da toxina botulínica nos últimos dez dias ou histó- ria de ferimentos nos últimos 21 dias reforça a suspeita. Caso suspeito de Botulismo intestinal: a) Criança menor de um ano com paralisia flácida aguda de evolução insidiosa e progressiva que apresente um ou mais dos seguintes sintomas: constipação, sucção fraca, disfagia, choro fraco, dificuldade de controle dos movimentos da cabeça. b) Adulto que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com Secretaria de Vigilância em Saúde / MS104 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS preservação do nível de consciência caracterizado por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispneia na ausência de fontes prováveis de toxina botulínica, como alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas. A exposição a alimentos com risco para presença de esporo de C. botulinum (ex. mel, xaropes de milho) reforça a suspeita em me- nores de um ano. Caso confirmado por critério laboratorial: a) Caso suspeito no qual foi detectada toxina botulínica em amostra clínica e/ ou no alimento efetivamente consumido. b) Caso suspeito de Botu- lismo intestinal ou por ferimento no qual foi isolado o C. botulinum produtor de toxinas, em fezes ou material obtido do ferimento. Caso confirmado por critério clínico-epidemiológico: Caso suspeito com vínculo epidemiológico com o caso confirmado e/ou história de consu- mo de alimento com risco para a presença da toxina botulínica dez dias antes dos sintomas e/ou eletroneuromiografia compatível com Botulis- mo e/ou ferimento em condições de anaerobiose nos últimos 21 dias. Notificação - O Botulismo é doença de notificação compulsória e investigação obrigatória desde publicação da Portaria MS n° 1.943, de 18 de outubro de 2001. Devido à gravidade da doença e à possibili- dade de ocorrência de outros casos resultantes da ingestão da mesma fonte de alimentos contaminados, um único caso é considerado surto e emergência de saúde pública. A suspeita de um caso de Botulismo exige notificação e investigação imediatas à vigilância epidemiológica local. O técnico que receber a notificação deve, inicialmente, verificar a consistência das informações e, uma vez caracterizada a suspeita de Botulismo, comunicar imediatamente aos níveis hierárquicos supe- riores e áreas envolvidas na investigação, iniciando o planejamento das ações de tratamento, investigação e controle. MEDIDAS DE CONTROLE - Orientar a população sobre o preparo, conservação e consumo adequado dos alimentos associados a risco de adoecimento. - Orientar as medidas iniciais de prevenção e controle, de acordo com o modo de transmissão e resultados da investigação do caso. Nos casos de transmissão alimentar, deve-se eliminar a permanência da fonte por meio da interrupção do con- sumo, distribuição e comercialização dos alimentos suspeitos. Imunização - É recomendada apenas a pessoas com atividade na manipulação do microrganismo, realizada com toxóide botulínico polivalente. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 105 Brucelose CID 10: A23 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença sistêmica bacteriana, com quadro clínico muito polimorfo. Seu início pode ser agudo ou insidioso, caracterizado por febre contínua, intermitente ou irregular, de duração variável. Um sintoma quase constante é a astenia e qualquer exercício físico produz pronunciada fadiga, acompanhada de mal-estar, cefaleia, debilidade, suor profuso, calafrios, artralgia, estado depressivo e perda de peso. Em alguns casos, podem surgir supurações de órgãos, como fígado e baço. Quadros sub-clínicos são frequentes, bem como quadros crônicos de duração de meses e até anos, se não tratados. Devido ao polimorfismo das manifestações e ao seu curso insidioso, nem sempre se faz a sus- peita diagnóstica. Muitos casos se enquadram na síndrome de febre de origem obscura (FOO). Essa febre, na fase aguda e subaguda, em 95% dos casos, é superior a 39°C. Complicações ósteo-articulares podem estar presentes em cerca de 20 a 60% dos pacientes, sendo a articulação sacroilíaca a mais atingida. Orquite e epididimite têm sido relatadas e, também, pode ocorrer endocardite bacteriana. Em geral, o paciente se recupera, porém pode ficar com incapacidade intensa no curso da enfermidade, sendo importante o diagnóstico e tratamento precoces. Recidivas ocorrem, com manifestações parciais do quadro inicial ou com todo o seu cortejo. Sinonímia - Febre ondulante, febre de Malta, febre do mediterrâneo, doença das mil faces ou melitococia. Agente etiológico - Brucella melitensis, biotipos 1 e 3; Brucella suis, biotipos 1 e 5; Brucella abortus, biotipos 1, 6 e 9; Brucella canis. No Brasil, a maioria dos quadros de Brucelose está associada à infecção por B. abortus. Reservatórios - Gado bovino, suíno, ovino, caprino e outros animais, como cães. Modo de transmissão - Contato com tecidos, sangue, urina, se- creções vaginais, fetos abortados, placenta (grande fonte de infecção), ingestão de leite cru e derivados provenientes de animais infectados, acidentes em laboratórios e da prática vacinal. Período de incubação - Muito variável, de 1 a 3 semanas, mas pode prolongar-se por vários meses. Período de transmissibilidade - Não se transmite de pessoa a pessoa. 6 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS106 Complicações - Encefalites, meningites, neurites periféricas, artrite supurativa, endocardite vegetativa e endocardite bacteriana subaguda, que, se não diagnosticada e tratada, pode levar a óbito. Ocorrem tam- bém infecções do aparelho geniturinário, podendo ocasionar redução da potência sexual. Diagnóstico - Suspeita clínica aliada à história epidemiológica de ingesta deprodutos animais contaminados mal cozidos, não pasteu- rizados ou esterilizados. A confirmação diagnóstica se faz através da cultura de sangue, medula óssea, tecidos ou secreções do paciente. As provas sorológicas (aglutinação em tubos) devem ser realizadas com soros pareados em laboratórios com experiência e em soros pareados, para se observar a elevação dos anticorpos. A soroaglutinação em tu- bos para B. abortus com títulos >80 ou >160, respectivamente, em 24 a 48 horas do período de incubação e o aumento desses, em 4 vezes, em testes pareados indicam a doença. A interpretação desses testes, em pa- cientes com quadro crônico, fica dificultada porque os títulos em geral são baixos. Diagnóstico diferencial - Febres de origem obscura, endocardite bacteriana, febre tifóide, dentre outras infecções. Tratamento - Antibioticoterapia, sendo a droga de escolha a Doxici- clina (200mg/dia), em combinação com a Rifampicina (600 a 900mg/ dia), durante 6 semanas. Se houver recidivas, repetir o tratamento, por- que, em geral, não se deve à resistência aos antibióticos e sim a seques- tro dos agentes por algum órgão que não permite a ação da droga. Não usar a Doxiciclina em menores de 7 anos. Sulfametoxazol e Trimeto- prim podem ser associados à Gentamicina, nesses casos. Características epidemiológicas - A distribuição é universal, es- tando relacionada com o controle dos animais. É doença comumente ligada à atividade profissional, portanto frequente em trabalhadores que lidam com gado e no beneficiamento de leite e derivados. Os fun- cionários de matadouros, por terem contato direto com os animais e suas vísceras e secreções durante as operações do abate e evisceração, são o grupo de risco mais acometido. Durante essas operações pode haver ruptura de vísceras e contaminação de lesões da pele ou de con- juntivas dos funcionários envolvidos nesses processos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivo - Reduzir a morbimortalidade por meio da articulação com os órgãos responsáveis pelo controle sanitário dos rebanhos, alertando DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 107 BRUCELOSE a vigilância sanitária para impedir a distribuição e consumo de produ- tos contaminados. Notificação - Não é obrigatória a notificação de casos isolados. Na vigência de surtos, deve ser notificada, realizada a investigação epide- miológica e adotadas as medidas de controle indicadas. Definição de caso - Todo paciente com febre de início agudo ou insidioso, história epidemiológica sugestiva de contato com produto de origem animal contaminado e com outras manifestações clínicas sugestivas de Brucelose. - Indivíduo com as características descritas para o caso suspeito e confirmação através de exames laboratoriais. MEDIDAS DE CONTROLE - Informar a população para consumir leite e outros derivados devidamente pasteurizados e/ou fervidos; educar os trabalhadores que cuidam de animais sobre os riscos da doença e sobre os cuidados (incluindo o uso de equipamentos de proteção individual) para evitar o contato com animais doentes ou potencial- mente contaminados. - Realizar provas sorológicas e eliminar os animais infectados. Cuidados no manejo para eliminação de placentas, secreções e fetos dos animais. - Atuação dos órgãos de fiscalização agropecuária na inspeção de produtos de origem animal, como leite e seus derivados. Desinfecções das áreas contaminadas. - Ter precauções com o material de drenagens e secreções. Realizar a desinfecção concorrente das secreções puru- lentas. Investigar os contatos para tratamento e controle. Investigar as fontes de infecção para adoção de medidas de prevenção. Em situações de epidemia, investigar fontes de contaminação comum, que, em geral, são os produtos de origem animal contaminados, principalmente leite e derivados não pasteurizados, esterilizados ou fervidos. Confiscar os alimentos suspeitos até que sejam instituídas as medidas de prevenção definitivas. Em laboratórios, observar o cumprimento das normas de biossegurança, incluindo o uso correto dos equipamentos de proteção individual. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS108 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença de transmissão exclusivamente sexual, mais frequente nas regiões tropicais. Caracteriza-se por apresentar lesões múltiplas (podendo ser única), tipo úlceras, habitualmente dolorosas, de borda irregular, com contornos eritemato-edematosos e fundo ir- regular, cobertas por exsudato necrótico, amarelado e de odor fétido, que quando removido revela tecido de granulação que apresenta san- gramento fácil quando submetidos a traumatismos. No homem, as lo- calizações mais frequentes são no frênulo e no sulco bálano prepucial; na mulher, na fúrcula e na face interna dos grandes lábios. No colo uterino e na parede vaginal, podem aparecer lesões que produzem sintomatologia discreta. Nas mulheres, as infecções podem ser assin- tomáticas. Lesões extragenitais têm sido assinaladas. Em 30 a 50% dos pacientes, os linfonodos são atingidos, geralmente, os inguino-crurais (bulbão), sendo unilaterais em 2/3 dos casos, observados quase que exclusivamente no sexo masculino pelas características anatômicas da drenagem linfática. No início, ocorre tumefação sólida e dolorosa, evoluindo para liquefação e fistulização em 50% dos casos, tipicamen- te por orifício único. Sinonímia - Cancro de Ducrey, cancróide, cancro venéreo simples. Agente etiológico - Haemophilus ducrey, bacilo gram-negativo in- tracelular. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Sexual. Período de incubação - De 3 a 5 dias, podendo atingir 14 dias. Período de transmissibilidade - Semanas ou meses quando na ausência de tratamento, enquanto durarem as lesões. Com antibioti- coterapia, 1 a 2 semanas. O risco de infecção em um intercurso sexual é de 80%. Diagnóstico - Suspeita clínica, epidemiológica e laboratorial. Essa última é feita por: - Pesquisa em coloração, pelo método de Gram, em esfregaços de secreção da base da úlcera ou do material obtido por aspiração do bulbão. Observam-se, mais intensamente, bacilos gram-negativos intracelulares, geralmente aparecendo em cadeias Cancro Mole CID 10: A57 7 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 109 paralelas, acompanhados de cocos gram-positivos (fenômeno de satelitismo). - É o método diagnóstico mais sensível, porém de difícil realização em vista das características do bacilo. - É o padrão-ouro, embora ainda de custo elevado, apenas disponível em alguns laboratórios de referência, para pesquisa. - Não é recomendada, pois não confirma a doença. Diagnóstico diferencial - Cancro duro, herpes simples, linfogranu- loma venéreo, donovanose e erosões traumáticas infectadas. Não é rara a ocorrência do cancro misto de Rollet (multietiologia com o cancro duro da sífilis). Tratamento - Azitromicina, 1g, VO, dose única; Ciprofloxacina, 500mg, VO, 12/12 horas, por 3 dias; Eritromicina (estereato), 500mg, VO, de 6/6 horas, por 7 dias; Ceftriaxona, 250mg, IM, dose única. O tratamento sistêmico deve ser acompanhado de medidas de higiene local. Recomendações - O acompanhamento do paciente deve ser feito até a involução total das lesões. É indicada a abstinência sexual até a re- solução completa da doença. O tratamento dos parceiros sexuais está recomendado mesmo que a doença clínica não seja demonstrada, em razão da existência de portadores assintomáticos, principalmente entre mulheres. É muito importante excluir a possibilidade da existência de sífilis associada, pela pesquisa de Treponema pallidum na lesão genital e/ou por reação sorológica para sífilis, no momento e 30 dias após o aparecimento da lesão. A aspiração, com agulhas de grosso calibre, dos gânglios linfáticos regionais comprometidos pode ser indicada para alívio de linfonodos tensos e com flutuação. É contra-indicada a inci- são com drenagem ou excisão dos linfonodos acometidos. Características epidemiológicas - Ocorre, principalmente,nas regiões tropicais, em comunidades com baixo nível de higiene. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Interromper a cadeia de transmissão por meio da de- tecção e tratamento precoce dos casos e dos seus parceiros (fontes de infecção); prevenir novas ocorrências por meio de ações de educação em saúde. Notificação - Não é doença de notificação compulsória nacional. Os profissionais de saúde devem observar as normas e procedimentos de notificação e investigação de estados e municípios. CANCRO MOLE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS110 MEDIDAS DE CONTROLE Interrupção da cadeia de transmissão pela triagem e referência dos pa- cientes com DST e seus parceiros para diagnóstico e terapia adequados. - Orientações ao paciente, fazendo com que observe as possíveis situações de risco presentes em suas práticas sexuais e desenvolva a percepção quanto à importância do seu tratamento e de seus parceiros sexuais e a promoção de comportamentos preventivos. - Método mais eficaz para a redução do risco de transmissão do HIV e outras DST. Convite aos parceiros para aconselhamento e promoção do uso de preservativos (deve-se obedecer aos princípios de confiabilidade, ausência de coerção e proteção contra a discriminação). Educação em saúde, de modo geral. Observação: As associações entre diferentes DST são frequentes, destacando-se, atualmente, a relação entre a presença de DST e o au- mento do risco de infecção pelo HIV, principalmente na vigência de úlceras genitais. Desse modo, se o profissional estiver capacitado a re- alizar aconselhamento, pré e pós-teste para a detecção de anticorpos anti-HIV, quando do diagnóstico de uma ou mais DST, essa opção deve ser oferecida ao paciente. Portanto, toda doença sexualmente transmissível constitui evento sentinela para busca de outra DST e possibilidade de associação com o HIV. É necessário, ainda, registrar que o Ministério da Saúde preconiza a “abordagem sindrômica” aos pacientes com DST, visando aumentar a sensibilidade no diagnóstico e tratamento dessas doenças, o que resultará em maior impacto na re- dução das mesmas. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 111 Candidíase CID 10: B37 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Micose que atinge a superfície cutânea e/ou membranas mucosas, resultando em Candidíase oral, Candidíase vaginal, intertri- go, paroníquia e onicomicose. A forma mais comum de Candidíase oral é a pseudomembranosa, caracterizada por placas brancas remo- víveis na mucosa oral (aftas). Outra apresentação clínica é a forma atrófica, que se apresenta como placas vermelhas, lisas, sobre o palato duro ou mole. O intertrigo atinge mais frequentemente as dobras cutâ- neas, nuca, virilha e regiões axilares. A infecção mucocutânea crônica pode estar associada a doenças endócrinas, como diabetes melittus, ao tratamento com antibióticos de amplo espectro ou à imunodefici- ência, sendo frequente na infecção por HIV, quando assume caráter sistêmico grave. A Candidíase invasiva, geralmente por disseminação hematogênica, candidemia, constitui-se em evento importante entre as infecções hospitalares. É relativamente comum em indivíduos com diabetes mellitus, aqueles que fazem uso prolongado de nutrição paren- teral total, de antibiótico de amplo espectro e de cateter venoso central, bem como aqueles submetidos à cirurgia recente, particularmente do intestino grosso. Também pode ocorrer em recém-nascidos de baixo peso e hospedeiros imunocomprometidos, podendo atingir qualquer órgão e evoluir para êxito letal. Sinonímia - Monilíase, sapinho, candidemia. Agente etiológico - Candida albicans, Candida tropicalis e outras espécies de Candida. A Candida albicans causa a maioria das infecções. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Por meio de contato com mucosas e se- creções em pele de portadores ou doentes. A transmissão vertical pode ocorrer durante o parto normal. Pode ocorrer disseminação endógena. Período de incubação - Desconhecido. Período de transmissibilidade - Enquanto houver lesões. Complicações - Esofagite, endocardite ou infecção sistêmica, mais comum em imunodeprimidos. Diagnóstico Candidíase oral - Além do aspecto clínico, visualização de leveduras e pseudohifas em exame microscópico de esfregaço da lesão, 8 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS112 preparado com hidróxido de potássio a 10%. As culturas permitem a identificação da espécie. Esofagite - Endoscopia com biópsia e cultura. Candidíase invasiva - Isolamento do microrganismo de fluidos corporais (sangue, líquor, medula óssea) ou de biópsia de tecidos. O achado de cultura negativa, entretanto, não afasta o diagnóstico de Candidíase sistêmica. Culturas de material potencialmente contami- nado, como urina, fezes ou pele, podem ser de difícil interpretação, mas servem de apoio ao diagnóstico. Diagnóstico diferencial - Candidíase mucocutânea tem como diagnóstico diferencial dermatite seborreica, tinha cruris e eritrasma, leucoplaquia pilosa por outras causas. A esofagite apresenta quadro clínico semelhante, causado por outros agentes, como citomegalovírus ou Herpes Simples. Tratamento - Nistatina, suspensão ou tabletes, 500.000 a 1 milhão UI, 3 a 5 vezes ao dia, durante 14 dias, uso tópico. Em crianças, recomenda-se o uso durante 5 a 7 dias. Como tratamento de segunda escolha ou em pacientes imunocomprometidos, pode ser utilizado: Fluconazol, 200mg, via oral, 1 vez ao dia, para adultos, com duração de tratamento de 7 a 14 dias, devendo ser evitado seu uso em crianças. - Como primeira escolha, pode ser utilizado Fluconazol, 200 a 400mg/dia, via oral ou endove- nosa, durante 14 dias, ou Anfotericina B, em baixas doses (0,5mg/ kg/dia), IV, durante 5 a 7 dias. A dose diária não deve ultrapassar 50mg/dia. Candidíase vulvovaginal - Recomenda-se Isoconazol (nitrato), uso tópico, sob a forma de creme vaginal, durante 7 dias ou óvulo, em dose única; como segunda alternativa, Tioconozol, pomada ou óvulo em dose única. Outras substâncias também são eficazes: Clotrimazol, Miconazol, Terconazol ou Nistatina, em aplicação tópica. Candidíase mucocutânea crônica - Fluconazol, como primeira escolha, e Anfotericina B, para casos mais severos. Ceratomicose - Lavagem da córnea com Anfotericina B, 1mg/ml. Infecções sistêmicas - Anfotericina B é a droga de escolha. Se necessário, associada ao Fluconazol, 400mg/dia/EV. A dose deve ser diminuída em casos de insuficiência renal. A Caspofungina, na dose de 70mg/dia, seguida de 50mg/dia, nos dias subsequentes até completar 14 dias, tem demonstrado superioridade de resposta comparativamente com a Anfotericina B. O Voriconazol tem apresentado grande sucesso DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 113 CANDIDÍASE clínico no tratamento da Candidemia. A escolha do antifúngico deve estar baseada nos aspectos epidemiológicos da instituição, uma vez que as espécies já apresentam certo grau de resistência. Características epidemiológicas - A C. albicans está presente na pele e mucosas de pessoas saudáveis. Infecção mucocutânea leve é comum em crianças saudáveis e a doença invasiva ocorre em pessoas imunodeprimidas. Vulvovaginite por Candida ocorre com frequência em gestantes, podendo ser transmitida ao recém-nascido no útero, du- rante o parto ou na fase pós-natal. Há espécies de Candida (C. krusei, C. parapsilopis) altamente invasivas e resistentes às drogas usualmente utilizadas. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar precocemente os casos para evitar complicações e, nas gestantes, reduzir o risco de transmissão perinatal. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. MEDIDAS DE CONTROLE Tratamento precoce dos indivíduos acometidos. Orienta-se a desin- fecção concorrente das secreções e artigos contaminados. Sempre que possível, deverá ser evitada antibioticoterapia de amplo espectro pro- longada. Cuidados específicos devem ser tomadoscom o uso de cateter venoso, como troca de curativos a cada 48 horas e uso de solução à base de iodo e povidine. Observação: As associações entre diferentes DST são frequentes, des- tacando-se, atualmente, a relação entre a presença de DST e o aumento do risco de infecção pelo HIV, principalmente na vigência de úlceras genitais. Desse modo, se o profissional estiver capacitado a realizar aconselhamento, pré e pós-teste para detecção de anticorpos anti-HIV, quando do diagnóstico de uma ou mais DST, essa opção deve ser ofe- recida ao paciente. Portanto, toda doença sexualmente transmissível constitui evento sentinela para busca de outra DST e possibilidade de associação com o HIV. É necessário, ainda, registrar que o Minis- tério da Saúde vem implementando a “abordagem sindrômica” aos pacientes de DST, visando aumentar a sensibilidade no diagnóstico e tratamento dessas doenças, para maior impacto em seu controle. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS114 Coccidioidomicose CID 10: B38 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Micose sistêmica, predominantemente pulmonar, poden- do, também, comprometer pele, laringe, ossos, articulação e meninges, entre outros. Após a infecção, 60% dos indivíduos apresentam infecção primária inaparente; os demais, geralmente, cursam com uma infecção moderada ou levemente grave. São sinais mais frequentes: comprome- timento respiratório baixo, febre, sudorese noturna, dor pleural, disp- neia, tosse produtiva, artralgia, anorexia. Eritema nodoso, polimorfo e reações exantemáticas podem ocorrer em até um quinto dos casos. A imagem radiológica revela adenomegalia hilar, infiltração pulmo- nar com derrame pleural. Até 5% dos casos que desenvolvem infecção primária permanecem com a infecção residual em forma de coccidio- doma (lesão nodular) ou de cavitação, podendo associar-se a fibrose e calcificações. A forma disseminada é rara, porém fatal, e assumiu importante papel após o surgimento da aids, pois é pouco comum em pacientes imunocompetentes. Clinicamente, essa forma caracteriza-se por lesões pulmonares, acompanhadas por abcessos em todo o corpo, especialmente nos tecidos subcutâneos, pele, ossos e sistema nervoso central (SNC). Sinonímia - Febre do Vale de São Joaquim, febre do deserto, reuma- tismo do deserto. Agente etiológico - Coccidioides immitis, um fungo dimórfico. Reservatório - O solo, especialmente, de locais secos e com pH alcali- no. A doença acomete o homem e outros animais (gado bovino, ovino, caprino, entre outros). Modo de transmissão - Por inalação dos artroconídeos (forma do fungo no solo). A transmissão por inoculação, sobretudo a decorrente de acidentes de laboratório, é relativamente comum. Transmissão du- rante a gravidez é rara e, quando ocorre, pode haver óbito neonatal. Período de incubação - De 1 a 4 semanas. Período de transmissibilidade - Não é doença contagiosa de in- divíduo a indivíduo. Complicações - A disseminação da doença constitui sua maior com- plicação. Por esse motivo os pacientes soropositivos para HIV ou com aids devem ser seguidos criteriosamente. 9 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 115 Diagnóstico - É clínico, epidemiológico e laboratorial. Esse último é feito pela demonstração do parasita em exame micológico direto (es- carro, pus, LCR, raspado de lesão de pele, biópsia) ou em cultura de secreções em ágar-Sabouraud. A coleta e o processamento de material para cultura devem ser feitos por pessoal treinado, em laboratório de segurança nível II; a manipulação de culturas e/ou material de solo sa- bidamente contaminado pelo C. immitis devem ser feitos em nível de contenção de risco NB3. A histopatologia pode ser útil com achado de esférulas com endosporos. A sorologia é feita por meio da detecção de IgM e os níveis de IgG requerem criteriosa avaliação. Os testes cutâ- neos com esferulina têm pouco valor diagnóstico, pois permanecem positivos, mesmo após a infecção. São de valor epidemiológico, uma vez que detectam áreas onde ocorre a infecção. Diagnóstico diferencial - Tuberculose, meningite tuberculosa, paracoccidioidomicose, esporotricose, histoplasmose, neoplasias. No Brasil, é importante o diagnóstico diferencial com a leishmaniose visceral (Calazar), sobretudo em áreas onde ocorrem as duas doenças. Tratamento - Anfotericina B, 1 a 3g, dose total, seguida por Fluco- nazol, 400mg/dia, por 6 a 12 meses ou Itraconazol, 300mg/dia, pelo mesmo período. O critério de cura é clínico, agregado à negativação do exame micológico. O Fluconazol está especialmente indicado nas formas que comprometem o SNC, por sua excelente difusão cerebral. Características epidemiológicas - Até o final da década de 70, o Brasil era considerado área indene para essa doença. A partir do re- lato de vários casos, todos procedentes da região Nordeste, tornou-se imperativo que essa patologia entrasse no diagnóstico diferencial de agravos com quadro clínico semelhante. É comum nos Estados Unidos, no norte da Argentina, Paraguai, Colômbia, Venezuela, México e Amé- rica Central. Afeta qualquer idade, raça ou gênero (ocorrendo mais em homens) e apresenta maior incidência no verão. Nas áreas endêmicas, é doença importante entre arqueólogos, recrutas militares e trabalha- dores, cuja natureza da atividade pode acarretar o contato com o agente etiológico. No Brasil, a maioria dos casos descritos teve vínculo epide- miológico com o hábito de caçar tatu. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar precocemente todos os casos para evitar as formas graves; identificar os focos, por meio da investigação, para o desencadeamento de medidas de educação em saúde, com vistas a impedir novas infecções. COCCIDIOIDOMICOSE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS116 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Notificação - Por tratar-se de agravo inusitado, todo caso deve ser notificado ao setor de vigilância epidemiológica e investigado obriga- toriamente. MEDIDAS DE CONTROLE risco de infecção e formas de proteção. pouso, bem como o uso de máscaras e, se possível, a utilização de veículos com ar refrigerado, são também utilizadas em situações específicas. biossegurança ao manejar pacientes ou manipular amostras em laboratório. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 117 Cólera CID 10: A00 10 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infecção intestinal aguda, causada pela enterotoxina do bacilo da Cólera Vibrio cholerae, frequentemente assintomática ou oli- gossintomática, com diarreia leve. Pode se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e câimbras. Esse quadro, quando não tratado prontamente, pode evo- luir para desidratação, acidose, colapso circulatório, com choque hi- povolêmico e insuficiência renal à infecção. Agente etiológico - Vibrio cholerae O1, biotipo clássico ou El Tor (sorotipos Inaba, Ogawa ou Hikogima), toxigênico, e, também, o O139. Bacilo gram-negativo, com flagelo polar, aeróbio ou anaeróbio facultativo, produtor de endotoxina. Reservatório - O principal é o homem. Estudos recentes sugerem a existência de reservatórios ambientais como plantas aquáticas e frutos do mar. Modo de transmissão - Ingestão de água ou alimentos contami- nados por fezes ou vômitos de doente ou portador. A contaminação pessoa a pessoa é menos importante na cadeia epidemiológica. A va- riedade El Tor persiste na água por muito tempo, o que aumenta a pro- babilidade de manter sua transmissão e circulação. Período de incubação - De algumas horas a 5 dias. Na maioria dos casos, de 2 a 3 dias. Período de transmissibilidade - Dura enquanto houver elimina- ção do V. cholerae nas fezes, o que ocorre, geralmente, até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância, o padrão aceito é de 20 dias. Al- guns indivíduos podem permanecer portadores sadios por meses ou até anos, situação de particular importância, já que podem se tornar responsáveis pela introdução da doença em área indene. Suscetibilidadee imunidade - A suscetibilidade é variável e au- menta na presença de fatores que diminuem a acidez gástrica (aclori- dria, gastrectomia, uso de alcalinizantes e outros). A infecção produz elevação de anticorpos e confere imunidade por tempo limitado, e m torno de 6 meses. Complicações - São decorrentes, fundamentalmente, da depleção hidro-salina imposta pela diarreia e pelos vômitos. A desidratação não Secretaria de Vigilância em Saúde / MS118 corrigida levará a uma deterioração progressiva da circulação, da fun- ção renal e do balanço hidroeletrolítico, produzindo dano a todos os sistemas do organismo. Em consequência, sobrevém choque hipovolê- mico, necrose tubular renal, íleo paralítico, hipocalemia (levando a ar- ritmias), hipoglicemia (com convulsão e coma em crianças). O aborto é comum no 3º trimestre de gestação, em casos de choque hipovolêmico. As compli cações podem ser evitadas com adequada hidratação precoce. Diagnóstico - O V. cholerae pode ser isolado a partir da cultura de amostras de fezes de doentes ou portadores assintomáticos. A coleta do material pode ser feita por swab retal ou fecal, fezes in natura ou em papel de filtro. - Casos de diarreia nos quais são relaciona- das variáveis com manifestações clínicas e epidemiológicas capazes de definir o diagnóstico, sem investigação laboratorial. Diagnóstico diferencial - Com todas as diarreias agudas. Tratamento - Formas leves e moderadas, com soro de reidratação oral (SRO). Formas graves, com hidratação venosa e antibiótico: para menores de 8 anos, recomenda-se Sulfametoxazol (50mg/kg/dia) + Trimetoprim (10mg/kg/dia), via oral, de 12/12 horas, por 3 dias; para maiores de 8 anos, Tetraciclina, 500mg, via oral, de 6/6 horas, por 3 dias; para gestantes e nutrizes, Ampicilina, 500mg, VO, de 6/6 horas, por 3 dias. Características epidemiológicas - Atualmente, o comportamen- to da Cólera, no Brasil, sugere um padrão endêmico. A deficiência do abastecimento de água tratada, destino inadequado dos dejetos, alta densidade populacional, carências de habitação, higiene inadequada, alimentação precária, educação insuficiente favorecem a ocorrência da doença. Nas áreas epidêmicas, o grupo etário mais atingido é o de maiores de 15 anos, enquanto que nas áreas endêmicas a faixa mais jovem é a mais atingida. A incidência predomina no sexo masculino, por maior exposição à contaminação ambiental. Entre os anos de 2000 e 2008, ocorreu uma redução significativa no número de casos e óbi- tos por Cólera no Brasil, sendo registrados, nesse período, 766 casos e 20 óbitos, todos na região Nordeste. A taxa de letalidade, em casos graves de Cólera sem tratamento adequado, pode atingir 50%, porém, quando esse é instituído, correta e precocemente, a taxa pode cair para menos de 2%. No período de 1991 a 2004, a letalidade oscilou em tor- no de 1,3%, apresentando desde então percentuais mais elevados. Esse aumento, no entanto, não parece estar ligado a uma deterioração do DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 119 CÓLERA atendimento ao paciente, mas possivelmente a uma sub-notificação importante de casos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Impedir ou dificultar a propagação da doença; reduzir a incidência e a letalidade; controlar surtos. Notificação - Doença de notificação compulsória internacional, com desencadeamento de investigação epidemiológica imediatamente após o estabelecimento da suspeita. Definição de caso Suspeito Em áreas sem evidência de circulação do V.cholerae patogênico (so- rogrupos O1 e O139: áreas com ocorrência de casos de Cólera, que apresente diarreia aquosa aguda até o 10º dia de sua chegada (tempo correspondente a duas vezes o período máximo de incubação da doença); o item anterior, que apresentem diarreia; que coabite com pessoas que retornaram de áreas endêmicas ou epidêmicas, há menos de 30 dias (tempo correspondente ao período de transmissibilidade do portador somado ao dobro do período de incubação da doença); e súbita, líquida e abundante. Em áreas com evidência de circulação do V. cholerae patogênico (V. cholerae O1 já isolado em pelo menos cinco amostras de casos au- tóctones ou de amostras ambientais): faixa etária. Critério laboratorial - Indivíduo com diarreia, que apresente isola- mento de V. cholerae nas fezes ou vômitos. Critério clínico epidemiológico Em áreas sem evidência de circulação do V. cholerae: área com circulação de V. cholerae, que apresente diarreia aquosa aguda até o 10º dia de sua chegada. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS120 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Em áreas com circulação do V. cholerae: diarreia aguda, desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra etiologia; menores de 5 anos de idade que apresentem diarreia aguda e história de contato com caso de Cólera, num prazo de 10 dias, desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra patologia. Importado - Caso cuja infecção ocorreu em área diferente daquela em que foi diagnosticado, tratado ou teve sua evolução. MEDIDAS DE CONTROLE Quando o V. cholerae é introduzido em áreas com precárias condições sanitárias, o risco de circulação é bastante elevado e, principalmente, quando não existe um bom sistema de abastecimento de água potá- vel para as comunidades, o principal instrumento para o controle da Cólera, é prover as populações sob risco, de adequada infraestrutura de saneamento (água, esgotamento sanitário e coleta e disposição de lixo), o que exige investimentos sociais do poder público. A rede as- sistencial deve estar estruturada e capacitada para a detecção precoce e o manejo adequado dos casos. Deve-se ter cuidados com os vômitos e as fezes dos pacientes no domicílio. É im portante informar sobre a necessidade da lavagem rigorosa das mãos e procedimentos básicos de higiene. Isolamento entérico nos casos hos pitalizados, com desinfecção concorrente de fezes, vômitos, vestuário e roupa de cama dos pacientes. A quimioprofilaxia de contatos não é indicada por não ser eficaz para conter a propagação dos casos. Além disso, o uso de antibiótico altera a flora intestinal, modificando a sus cetibilidade à infecção, podendo provocar o aparecimento de cepas resistentes. A vacinação apresenta baixa eficácia (50%), curta dura ção de imunidade (3 a 6 meses) e não evita a infecção assintomática. Para vigiar e detectar precocemente a circulação do agente preconiza-se: fortalecimento da monitorização das doenças diarréicas agudas (MDDA), nos municípios do país, e a monitorização ambiental para pesquisa de V. cholerae, no ambiente. É importante ressaltar que no caso do V. cholerae El Tor, a relação entre doentes e assintomáticos é muito alta, podendo haver de 30 a 100 assin- tomáticos para cada indi víduo doente; assim, as medidas de prevenção e controle devem ser direcionadas a toda a comunidade, para garantir o impacto desejado. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 121 Coqueluche CID 10: A37 11 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença infecciosa aguda, transmissível, de distribuição universal, que compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Ocorre sob as formas endêmica e epidêmica. Em lactentes, pode resul- tar em número elevado de complicações e até morte. A doença evolui em três fases sucessivas: - Com duração de 1 ou 2 semanas, inicia-se com manifestações respiratórias e sintomas leves (febre pouco intensa, mal-estar geral, coriza e tosse seca), seguidos pela instalação gradual de surtos de tosse, cada vez mais intensos e frequentes, até que passam a ocorrer as crises de tosses paroxísticas. - Geralmente afebril ou com febre baixa. Em alguns casos, ocorrem vários picos de febre ao longo do dia. A manifestação típica são os paroxismos de tosse seca (durante os quais o paciente não consegue inspirar e apresenta protusão da língua, congestão faciale, eventualmente, cianose com sensação de asfixia), finalizados por inspiração forçada, súbita e prolongada, acompanhada de um ruído característico, o guincho, seguidos de vômitos. Os episódios de tosse paroxística aumentam em frequência e intensidade nas duas primei- ras semanas e depois diminuem paulatinamente. Nos intervalos dos paroxismos o paciente passa bem. Essa fase dura de 2 a 6 semanas. - Os paroxismos de tosse desaparecem e dão lugar a episódios de tosse comum; esta fase pode persistir por mais 2 a 6 semanas e, em alguns casos, pode se prolongar por até 3 meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da Coqueluche, podem provocar reaparecimento pensos a apresentar formas graves, muitas vezes letais. Indivíduos inadequadamente vacinados ou vacinados há mais de 5 anos podem apresentar formas atípicas da doença, com tosse persistente, porém sem o guincho característico. Agente etiológico - Bordetella pertussis. Bacilo gram-negativo, ae- róbio, não-esporulado, imóvel e pequeno, provido de cápsula (formas patogênicas) e fímbrias. Reservatório - O homem é o único reservatório natural. Ainda não foi demonstrada a existência de portadores crônicos; entretanto, po- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS122 dem ocorrer casos oligossintomáticos, com pouca importância na dis- seminação da doença. Modo de transmissão - Contato direto da pessoa doente com pes- soa suscetível (gotículas de secreção eliminadas por tosse, espirro ou ao falar). A transmissão por objetos recém-contaminados com secre- ções do doente é pouco frequente, em virtude da dificuldade do agente sobreviver fora do hospedeiro. Período de incubação - Em média, de 5 a 10 dias, podendo variar de 1 a 3 semanas e, raramente, até 42 dias. Período de transmissibilidade - Para efeito de controle, conside- ra-se que esse período se estende de 5 dias após o contato com um do ente (final do período de incubação) até 3 semanas após o início dos acessos de tosse típicos da doença (fase paroxística). Em lactentes me- nores de 6 meses, o período de transmissibilidade pode prolongar-se por até 4 a 6 semanas após o início da tosse. A maior trans missibilidade ocorre na fase catarral. Suscetibilidade e imunidade - A suscetibilidade é geral. O indi- víduo torna-se imune após adquirir a doença (imunidade duradoura, mas não permanente) ou após receber vacinação adequada. Em média de 5 a 10 anos após a última dose da vacina, a proteção pode declinar. Complicações - Pneumonia e otite média por B. pertussis, pneu- monias por outras etiologias, ativação de Tuberculose latente, atelec- tasia, bronquiectasia, enfisema, pneumotórax, ruptura de diafragma; encefalopatia aguda, convulsões, coma, hemorragias intracerebrais, he- morragia subdural, estrabismo, surdez; hemorragias subconjunti vais, epistaxe, edema de face, úlcera do frênulo lingual, hérnias (um bilicais, inguinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e/ou desnutri- ção. Diagnóstico - O diagnóstico específico é realizado mediante o isola- mento da B. pertussis por meio de cultura de material colhido de na- sorofaringe, com técnica adequada. Essa técnica é considerada como “padrão-ouro” para o diagnóstico laboratorial da Coqueluche, por seu alto grau de especificidade, embora sua sensibilidade seja variável. Como a B. pertussis apresenta um tropismo pelo epitélio respiratório ciliado, a cultura deve ser feita a partir da secreção nasofaríngea. A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes do início da anti- bioticoterapia ou, no máximo, até 3 dias após seu início. Por isso, é importante procurar a unidade de saúde ou entrar em contato com a coordenação da vigilância epidemiológica, na secretaria de saúde do município ou estado. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 123 COQUELUCHE Diagnóstico diferencial - Deve ser feito com as infecções respira- tórias agudas, como traqueobronquites, bronqueolites, adenoviroses e laringites. Outros agentes também podem causar a síndrome coque- luchóide, dificultando o diagnóstico diferencial, entre os quais Borde- tella parapertussis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachomatis, Chlamydia pneumoniae e Adenovirus (1, 2, 3 e 5). A Bordetella bronchi- septica e a Bordetella avium são patógenos de animais que raramente acometem o homem. Quando essa situação ocorre, trata-se de pessoas imunodeprimidas. Tratamento - A Eritromicina (de preferência o estolato) é o antimi- crobiano de escolha para o tratamento da Coqueluche, por ser mais eficiente e menos tóxico. Esse antibiótico é capaz de erradicar o agen- te do organismo em 1 ou 2 dias, quando iniciado seu uso durante o período catarral ou no início do período paroxístico, promovendo a diminuição do período de transmissibilidade da doença. No entanto, faz-se necessário procurar atendimento para que o medicamento seja prescrito em doses adequadas, por profissional capacitado. A imuno- globulina humana não tem valor terapêutico comprovado. Alguns cuidados gerais importantes Nos episódios de tosse paroxística, a criança deve ser colocada em la- teral ou decúbito de drenagem para evitar a aspiração de vômitos e/ ou de secreção respiratória. Se ocorrer episódio de apneia e cianose, deve-se aspirar delicadamente a secreção nasal e oral. Nesses casos, há indicação de oxigenoterapia. Deve-se estimular manualmente a região diafragmática de forma a facilitar as incursões respiratórias e, caso não obtenha resposta, utilizar a respiração artificial não-invasiva com o au- xílio do ambú. Características epidemiológicas - Em populações aglomeradas, condição que facilita a transmissão, a incidência da Coqueluche pode ser maior na primavera e no verão; porém em populações dispersas, nem sempre se observa essa sazonalidade. Não existe uma distribuição geográfica preferencial, nem característica individual que predisponha à doença, a não ser presença ou ausência de imunidade específica. A morbidade da Coqueluche no Brasil já foi elevada. No início da dé- cada de 80 eram notificados mais de 40 mil casos anuais e o coeficiente de incidência era superior a 30/100.000 habitantes. Este número caiu abruptamente a partir de 1983 e, em 2008, o número de casos confir- mados foi de 1.344 casos/ano e o coeficiente de incidência (CI) foi de 0,71 /100.000 habitantes graças a elevação da cobertura vacinal, prin- cipalmente a partir de 1998, resultando em importante modificação Secretaria de Vigilância em Saúde / MS124 no perfil epidemiológico desta doença. Entretanto, nos últimos anos, surtos de Coqueluche vêm sendo registrados, principalmente em po- pulações indígenas. O grupo de menores de um ano concentra cerca de 50% do total de casos e apresenta o maior coeficiente de incidência. Isto se deve, pro- vavelmente, à gravidade do quadro clínico nesta faixa etária, o que, por sua vez, leva à maior procura dos serviços de saúde e maior número de casos diagnosticados. A letalidade da doença é também mais elevada no grupo de crianças menores de um ano, particularmente naquelas com menos de seis meses de idade, que concentram quase todos os óbitos por Coqueluche. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Acompanhar a tendência temporal da doença, para de- tecção precoce de surtos e epidemias, visando adotar medidas de con- trole pertinentes; aumentar o percentual de isolamento em cultura, com envio de 100% das cepas isoladas para o Laboratório de Refe rência Nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a anti- microbianos. Notificação - É doença de notificação compulsória. Definição de caso Suspeito - Todo indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca há 14 dias ou mais, associada a um ou mais dos seguintes sintomas: tosse paroxística (tosse súbita incontro lável, com tossidas rápidas e curtas, ou seja, 5 a 10, em uma única expiração); guincho inspiratório; vômitos pós-tosse. Todo indivíduo, independenteda idade e estado vacinal, que apresente tosse seca há 14 dias ou mais e com história de contato com um caso confirmado de Coqueluche pelo critério clínico. - Todo caso suspeito de Coqueluche com isolamento de B. pertussis. - Todo caso suspeito que teve contato com caso confirmado como Coqueluche pelo critério labo- ratorial, entre o início do período catarral até 3 semanas após o início do período paroxístico da doença (período de transmissibilidade). - Todo caso suspeito com alteração no leucogra ma caracterizada por leucocitose (acima de 20 mil leucócitos/mm3) e DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 125 COQUELUCHE linfocitose absoluta (acima de 10 mil linfócitos/mm3), desde que não exista outro diagnóstico confirmatório. MEDIDAS DE CONTROLE - A medida de controle de interesse prático em saúde pública é a vacinação dos suscetíveis, na rotina da rede básica de saúde. A vacina contra Coqueluche deve ser aplicada mesmo em crianças cujos responsáveis refiram história da doença. - Os menores de 1 ano deverão receber 3 doses da vacina combinada DTP+Hib (contra Difteria, Tétano e Coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae), a partir dos 2 meses de idade, com intervalo de pelo menos 30 dias entre as doses (idealmente, de 2 meses). De 6 a 12 meses após a terceira dose, a criança deverá receber o primeiro reforço com a vacina DTP (Tríplice Bacteriana), sendo que o segundo reforço deve ser aplicado de 4 a 6 anos de idade. A vacina DTP não deve ser aplicada em crianças com 7 anos ou mais. A vacina DTPa (Tríplice Acelular) é indicada em situações especiais e, para tanto, devem ser observadas as recomendações do Programa Nacional de Imunizações. - Frente a casos isolados ou surtos: proceder à vacinação seletiva da população suscetível, visando aumentar a cobertura vacinal na área de ocorrência dos casos. Controle de comunicantes - Os comunicantes íntimos, familiares e escolares, menores de 7 anos não vacinados, inadequadamente vacinados ou com situação vacinal desconhecida, deverão receber uma dose da vacina contra a Coqueluche e a orientação de como proceder para completar esquema de vacinação. Para os menores de 1 ano, indica-se a vacina DTP+Hib; para as crianças com idade entre 1 ano e 6 anos completos (6 anos, 11 meses e 29 dias), a vacina DTP. - Coletar material para diagnóstico labo- ratorial de comunicantes com tosse, segundo orientação constante no Guia de Vigilância Epidemiológica. - Tem indicação restrita e devem ser observadas as recomendações constantes no Guia de Vigilância Epidemioló gica. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS126 Criptococose CID 10: B45 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infecção fúngica que apresenta duas formas: cutânea e sistêmica. A forma cutânea aparece em 10% a 15% dos casos (na maio- ria das vezes, precede a doença sistêmica) e é caracterizada por ma- nifestações de lesões acneiformes, rash cutâneo, ulcerações ou massas subcutâneas que simulam tumores. A forma sistêmica, frequentemen- te, aparece como uma meningite subaguda ou crônica, caracterizada por febre, fraqueza, dor no peito, rigidez de nuca, dor de cabeça, náu- sea e vômito, sudorese noturna, confusão mental e alterações de visão. Pode haver comprometimento ocular, pulmonar, ósseo e, às vezes, da próstata. Sinonímia - Torulose, blastomicose europeia. Agente etiológico - Um fungo, o Cryptococcus neoformans, nas va- riedades neoformans (sorotipo A e D) e gatti (sorotipo B e C). O C. neoformans, variação neoformans sorotipo A, é responsável por mais de 90% das infecções nos pacientes com aids no Brasil, enquanto a varie- dade gatti acomete, principalmente, indivíduos sem imunossupressão aparente. Reservatório - Fungo saprófita que vive no solo, em frutas secas e ce- reais e nas árvores; é isolado nos excrementos de aves, principalmente pombos. Modo de incubação - Desconhecido. O comprometimento pulmo- nar pode anteceder, em anos, ao acometimento cerebral. Período de transmissibilidade - Não há transmissão homem a homem, nem de animais ao homem. Complicações - O fungo pode viver como saprófita na árvo- re brônquica, podendo expressar-se clinicamente na vigência de imunodeficiência. Cerca de 5 a 10% dos pacientes com aids são acome- tidos por essa micose. A meningite causada pelo Cryptococcus, se não tratada a tempo, pode causar a morte. Diagnóstico - O diagnóstico é clínico e laboratorial e a confirmação é feita com a evidenciação do criptococo pelo uso de “tinta da China” (nankin), que torna visíveis formas encapsuladas e em gemulação em materiais clínicos. Essa técnica é a consagrada para o diagnóstico das 12 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 127 meningites criptocócicas (exame do LCR). Pode-se isolar o criptococo, também, na urina ou no pus, em meio de ágar-Sabouraud. A sorologia, no LCR e no soro, e a histopatologia podem ser úteis. A radiografia de tórax pode ajudar no diagnóstico, podendo ou não ser usada para con- firmar a doença, demonstrando danos pulmonares, revelando massa única ou nódulos múltiplos distintos. Diagnóstico diferencial - Toxoplasmose, tuberculose, meningoen- cefalites, sífilis, sarcoidose, histoplasmose e linfomas. Tratamento - A escolha da droga vai depender da forma clínica. Na Criptococose disseminada, o esquema terapêutico de primeira esco- lha é Anfotericina B, na dose de 1,0mg/kg/dose, IV, não ultrapassar 50mg/dia, durante 6 semanas, com todos os cuidados que envolvem o seu uso. Em caso de toxicidade à Anfotericina B, Desoxicolato, está indicado o uso da formulação lipídica, na dose de 3 a 5mg/kg/dia. O Fluconazol é também recomendado, na fase de consolidação, na dose de 200 a 400mg/dia, VO ou EV, por aproximadamente 6 semanas, ou associado à Anfotericina B, até a negativação das culturas. Nas formas exclusivamente pulmonares ou com sintomas leves, está indicado o uso do Fluconazol, na dose de 200mg/dia, por 6 meses a 12 meses, ou Itra- conazol, 200mg/dia, durante 6 a 12 meses. Características epidemiológicas - Doença cosmopolita, de ocor- rência esporádica. Geralmente, acomete adultos e é duas vezes mais frequente no gênero masculino. A infecção pode ocorrer em animais (gatos, cavalos, vacas). A suscetibilidade é geral, mas parece que a raça humana apresenta uma notável resistência. A suscetibilidade aumenta com o uso prolongado de corticosteróide, na vigência de aids, Hodgkin e sarcoidose. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar adequadamente todos os casos, de- vendo atentar para o fato de que a Criptococose, geralmente, está as- sociada à imunossupressão, servindo de evento sentinela para a busca de sua associação com fatores imunossupressores (linfomas, leucemias, uso prolongado de corticosteróides, aids, transplantes e desnutrição severa). Notificação - Não é doença de notificação compulsória. A investiga- ção deve buscar sua associação à imunodeficiência, bem como implan- tar as medidas de controle disponíveis. CRIPTOCOCOSE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS128 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS MEDIDAS DE CONTROLE Até o momento, não existem medidas preventivas específicas, a não ser atividades educativas com relação ao risco de infecção. Medidas de controle de proliferação de pombos devem ser implementadas. Assim, nas áreas com grande número de pombos, deve-se diminuir a disponi- bilidade de alimento, água e, principalmente, abrigos, visando reduzir a população. Os locais com acúmulo de fezes devem ser umidificados para que os fungos possam ser removidos com segurança, evitando a dispersão por aerossóis. Não há necessidade de isolamento dos doen- tes. As medidas de desinfecção de secreção e fômites devem ser as de uso hospitalar rotineiro. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 129 Criptosporidíase CID 10: A07.2 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infecção causada por protozoário coccídeo, parasito re- conhecido como patógenoanimal. Atinge as células epiteliais das vias gastrintestinais, biliares e respiratórias do homem, de diversos animais vertebrados e grandes mamíferos. É responsável por diarreia esporá- dica em todas as idades, diarreia aguda em crianças e diarreia dos via- jantes. Em indivíduos imunocompetentes, esse quadro é autolimitado, entre 1 e 20 dias, com duração média de 10 dias. Em imunodeprimi- dos, particularmente com infecção por HIV, ocasiona enterite grave, caracterizada por diarreia aquosa, acompanhada de dor abdominal, mal-estar, anorexia, náuseas, vômitos e febre. Esses pacientes podem desenvolver diarreia crônica e severa, acompanhada de desnutrição, desidratação e morte fulminante. Nessa situação, podem ser atingidos os pulmões, trato biliar ou surgir infecção disseminada. Agente etiológico - Cryptosporidium parvum. Reservatório - O homem, o gado e animais domésticos. O agente pode ser encontrado no solo, água ou alimentos contaminados com fezes. Modo de transmissão - Fecal-oral, de animais para a pessoa ou entre pessoas, pela ingestão de oocistos, que são formas infecciosas e esporuladas do protozoário. Período de incubação - De 2 a 14 dias. Período de transmissibilidade - Várias semanas, a partir do início dos sintomas e enquanto houver eliminação de oocistos nas fezes. Fora do organismo humano, em ambientes úmidos, o oocisto pode perma- necer infectante por até 6 meses. Complicações - Enterite, seguida de desnutrição, desidratação e morte fulminante. Comprometimento do trato biliar. Diagnóstico - Identificação do oocisto do parasito por meio de exa- me de fezes, utilizando-se coloração ácido-resistente. Biópsia intesti- nal, quando necessária. O diagnóstico também pode ser realizado pela detecção do antígeno nas fezes, por meio do ensaio imunoenzimático (Elisa) ou imunofluorescência direta. Diagnóstico diferencial - Em pacientes com aids, deve ser realizado o diagnóstico diferencial com outros agentes causadores de enterites, como Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, Salmonella, Shigella, 13 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS130 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Campylobacter jejuni, Yersinia, Cyclospora cayetanensis e microsporí- deos. Tratamento - Reidratação e correção de distúrbios hidroeletrolíti- cos, suplementação nutricional. Em indivíduos imunocompetentes, a doença é auto-limitada. Azitromicina, na dose de 900 a 1.200mg/dia, VO, pode ser benéfica para alguns pacientes. Roxitromicina, na dose de 300mg, 2 vezes por dia, diariamente, por 4 semanas. Para pacientes com imunodeficiência relacionada ao HIV, a terapia com imunoglobu- lina hiperimune pode ser útil, associada com Zidovudine. Características epidemiológicas - Ocorre em todos os continen- tes. Em países desenvolvidos, a prevalência estimada é de 1% a 4,5%. Nos países em desenvolvimento, pode atingir até 30%. Os grupos mais atingidos são os menores de 2 anos, pessoas que manipulam animais, viajantes, homens que fazem sexo com homens e contatos íntimos de infectados. Há relatos de epidemias a partir de água potável contami- nada, além de banhos em piscina ou lagoas contaminadas. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivo - Diagnosticar os casos, para impedir a cadeia de transmis- são da doença. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. Os surtos devem ser notificados aos órgãos de saúde pública. MEDIDAS DE CONTROLE - Educação em saúde e saneamento. - Medidas de higiene pessoal, como lavar mãos após dejeções, antes do manuseio de alimentos e após o manuseio de animais domésticos ou bovinos, lavar bem e desinfetar verduras cruas ou ingerir vegetais cozidos, filtração da água ou sua fervura durante 10 minutos. Adoção de isolamento do tipo entérico para pacientes internados. Pessoas infectadas devem ser afastadas de atividades de manipulação dos alimentos e crianças atingidas não devem frequen- tar creches. Concorrente das fezes e de material contaminado com as mesmas. Observação: As medidas de higiene devem ser rigorosas em ambien- tes especiais, como creches e hospitais, devido à grande quantidade de indivíduos suscetíveis. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 131 Dengue CID 10: A906 14 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença infecciosa febril aguda, que pode ser de curso be- nigno ou grave, dependendo da forma como se apresente. A pri meira manifestação do Dengue é a febre, geralmente alta (39ºC a 40ºC), de início abrupto, associada à cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias, dor retro orbitária, com presença ou não de exantema e/ou prurido. Ano- rexia, náuseas, vômitos e diarreia podem ser observados por 2 a 6 dias. As manifestações hemorrágicas, como epistaxe, petéquias, gengivorra- gia, metrorragia, hematêmese, melena, hematúria e outras, bem como a plaquetopenia, podem ser observadas em todas as apresentações clí- nicas de Dengue. Alguns pacientes podem evoluir para formas graves da doença e passam a apresentar sinais de alarme da Dengue (Quadro 2), principalmente quando a febre cede, precedendo manifestações he- morrágicas mais graves. É importante ressaltar que o fator determinante nos casos graves de Dengue é o extravasamento plasmático, que pode ser expresso por meio da hemoconcentração, hipoalbuminemia e/ou derrames cavitários. As manifestações clínicas iniciais da Dengue gra- ve denominada de Dengue hemorrágica são as mesmas descritas nas formas clássicas da doença. Entre o terceiro e o sétimo dia do seu iní- cio, quando, da defervescên cia da febre, surgem sinais e sintomas como vômitos importantes, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, letargia, derrames cavitários (pleural, pericár- dico, ascite), que indicam a possibilidade de evolução do paciente para formas hemor rágicas severas. Em geral, esses sinais de alarme precedem as manifestações hemorrágicas espontâneas ou provocadas (prova do laço positiva) e os sinais de insuficiência circulatória, que podem existir na FHD. A Dengue na criança, na maioria das vezes, apresenta-se como uma sín drome febril com sinais e sintomas inespecíficos: apatia, sono- lência, recusa da alimentação, vômitos, diarreia ou fezes amolecidas. Sinonímia - Febre de quebra ossos. Agente etiológico - O vírus da Dengue (RNA). Arbovírus do gêne- ro Flavivirus, pertencente à família Flaviviridae, com quatro sorotipos conhecidos: DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4. Vetores hospedeiros - Os vetores são mosquitos do gênero Aedes. Nas Américas, o vírus da Dengue persiste na natureza, mediante o ciclo de transmissão homem → Aedes aegypti → homem. O Aedes albopic tus, já presente nas Américas e com ampla dispersão na região Sudeste do Secretaria de Vigilância em Saúde / MS132 Brasil, até o momento não foi associado à transmissão do vírus. A fonte da infecção e hospedeiro vertebrado é o homem. Foi descrito, na Ásia e na África, um ciclo selvagem envolvendo o macaco. Modo de transmissão - A transmissão se faz pela picada da fêmea do mosquito Ae. aegypti, no ciclo homem → Ae. aegypti → homem. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito está apto a transmi tir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmis são mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, se alimenta em um hospedeiro suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. Período de incubação - De 3 a 15 dias; em média, de 5 a 6 dias. Período de transmissibilidade - O homem infecta o mosquito du- rante o período de viremia, que começa um dia antes da febre e perdura até o sexto dia da doença. Complicações - O paciente pode evoluir para instabilidade hemodi- nâmica, com hipotensão arterial, taquisfigmia e choque. Diagnóstico - É necessária uma boa anamnese, com realização da prova do laço (Quadro 11), exame clínico e confirmação laboratorial específica. A confirmação laboratorial é orientada de acordo coma si- tuação epidemiológica: em períodos não epidêmicos, solicitar o exame de todos os casos suspeitos; em períodos epidêmicos, solicitar o exame em todo paciente grave ou com dúvidas no diagnóstico, seguindo as orientações da Vigilância Epidemiológica de cada região. Diagnóstico laboratorial tem por objetivo identificar o patógeno e Monitorar o sorotipo viral circulante. Para realização da técnica de isolamento viral e reação em cadeia da polimerase (PCR), a coleta do sangue deve ser realizada até o quinto dia do início dos sintomas. Sorológico: a sorologia é utilizada para detecção de anticorpos antiDengue e deve ser solicitada a partir do sexto dia do início dos sintomas. recomendado para todos os pacientes com Dengue, em especial para aqueles que se enquadrem nas seguintes situações: lactentes (menores de 2 anos), gestantes, adultos com idade acima de 65 anos, com hipertensão arterial ou outras do enças cardiovasculares graves, diabetes mellitus, DPOC, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), do ença renal crônica, doença acidopéptica e doenças auto-imunes; coleta no mesmo dia e resultado em até 24 horas. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 133 DENGUE Diagnóstico diferencial - Influenza, enteroviroses, doenças exan- temáticas (sarampo, rubéola, parvovirose, eritema infeccioso, mono- nucleose Infecciosa, exantema súbito, citomegalovirose e outras), hepa- tites virais, abscesso hepático, abdome agudo, hantavirose, ar boviroses (Febre Amarela, Mayaro, Oropouche e outras), escarlatina, pneumo- nia, sepse, infecção urinária, meningococcemia, leptospirose, malária, salmonelose, riquetsioses, doença de Henoch-Schonlein, do ença de Kawasaki, púrpura auto-imune, farmacodermias e alergias cutâneas. Outros agravos podem ser considerados conforme a situa ção epide- miológica da região. Tratamento - Os dados de anamnese e exame físico serão utilizados para orientar as medidas terapêuticas cabí veis. É importante lembrar que a Dengue é uma doença dinâmica e o paciente pode evoluir de um estágio a outro, rapidamente. O manejo adequado dos pacientes depende do reconhecimento precoce dos sinais de alarme, do contí- nuo monitoramento e reestadiamento dos casos e da pronta reposição hídrica. Com isso, torna-se necessária a revisão da história clínica, acompanhada do exame físico completo, a cada reavaliação do pacien- te, com o devido registro em instrumentos pertinentes (prontuários, ficha de atendimento, cartão de acompa nhamento). O tratamento é sintomático (com analgésicos e antipiré ticos), sendo indicada hidra- tação oral ou parenteral, dependendo da caracterização do paciente (Quadro 9). Características epidemiológicas - Desde 1986, que vem sendo registradas epidemias em diversos estados brasileiros, com a intro- dução do sorotipo DENV1. A introdução dos sorotipos DENV2 e DENV3 foi detectada no Rio de Janeiro, em 1990 e em de zembro de 2000, respectivamente. O sorotipo DENV3 apresentou rápida dis- persão para 24 estados do país, no período de 2001- 2003. Em 2003, apenas os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina não apre- sentavam transmissão autóctone da doença. As maiores epi demias detectadas até o momento ocorreram nos anos de 1998 e 2002, com cerca de 530 mil e 800 mil casos notificados, respectivamente. Os pri- meiros casos de FHD foram registrados em 1990, no estado do Rio de Janeiro, após a introdução do sorotipo DENV2. Naquele ano, foram confirmados 274 casos, que, de forma geral, não apresentaram ma- nifestações hemorrágicas graves. A faixa etária mais atingida foi a de maiores de 14 anos. Na segunda metade da década de 90, ocor reram casos de FHD em diversos estados. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS134 Quadro 9. Estadiamento e tratamento dos casos suspeitos de Dengue Grupo Caracterização Conduta A Hidratação oral Antitérmicos e analgésicos B espontânea Hidratação oralAntitérmicos e analgésicos - ≥ ≥ Homens: ≥ 3 3 ambulatorial com vigorosa Antitérmicos e analgésicos 3 Hidratação oral supervisionada ou parenteral Antitérmicos e analgésicos C Hidratação venosa rápida em unidade com capacidade para venosa sob supervisão dosagem de albumina sérica, radiografia conforme necessidade: glicose, ureia, transaminases, gasometria, ultra- sonografia de abdome D Nos anos de 2001 e 2002, foi detectado um aumento no total de casos de FHD, potencialmente refletindo a circulação simultânea dos sorotipos DENV1, DENV2 e DENV3. A letalidade média por FHD se manteve em torno de 5%, no período de 2000 a 2003. A partir de 2004, a letalidade média foi superior a 7%, aumentando nos anos seguintes e se mantendo DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 135 DENGUE supe rior a 10% entre 2005 e 2007. O número absoluto de óbitos em 2007 foi superior ao registrado em 2002, ano em que ocorreu o maior pico epidêmico da doença no Brasil. Além do aumento da gravidade da doen- ça, destaca-se a mudança no padrão etário, com aumento da in cidência na faixa etária de menores de quinze anos. Essa mudança foi observada, principalmente, nos estados do Maranhão, Alagoas, Piauí, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 2007, o es tado do Rio Grande do Sul notificou o primeiro caso confirmado de Dengue autóctone. Em 2008, eclodiu uma grave epidemia no estado do Rio de Janeiro, com re- gistro, no primeiro semestre deste ano, de quase 210 mil casos de DC, mais de 1.300 de FHD/SSD e 9.100 classificados como Dengue com complicações. Cerca de 150 óbitos foram confir mados. Nessa epidemia, o grupo etário abaixo dos quinze anos esteve sob maior risco de adoecer e morrer por esta doença. Em 2009, houve redução no número de casos para o país como um todo quando comparado com 2008. Contudo al- guns municípios registraram epidemias de grande magnitude também com ocorrência de casos graves em menores de 15 anos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Reduzir a infestação pelo Ae. aegypti; reduzir a incidên cia da Dengue; e reduzir a letalidade por FHD. Notificação - É doença de notificação compulsória e de investiga- ção obrigatória, principalmente quando se tratar dos primeiros casos diagnosticados em uma área ou quando se suspeitar de FHD. Os óbi tos decorrentes da doença devem ser investigados imediatamente. Definição de caso Suspeito de Dengue - Todo paciente que apresente doença febril aguda com duração de até sete dias, acompanhada de, pelo menos, dois sin- tomas: cefaleia, dor retroorbitária, mialgias, artralgias, prostração ou exantema, associados ou não à presença de hemorragias. Além de ter estado, nos últimos quinze dias, em área onde esteja ocorrendo trans- missão de Dengue ou tenha a presença de Ae. aegypti. A presença de sinais de alarme (Quadro 10) indica a possibilidade de gravidade do quadro clínico e de evolução para Dengue Hemorrágica e/ou Síndrome do Choque da Dengue. - É o caso suspeito,confirmado laboratorialmente. Durante uma epidemia, a confirmação pode ser fei- ta pelo critério clínico-epidemiológico, exceto nos primeiros casos da área, os quais deverão ter confirmação laboratorial. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS136 Quadro 10. Sinais de alarme da Dengue Hemorrágica e sinais de choque Sinais de alarme na doença d) Hepatomegalia dolorosa g) Diminuição da diurese Sinais de choque a) Hipotensão arterial - É o caso confirmado laboratorialmente e com todos os critérios presentes, a seguir: trombocitopenia (≤100.000/mm 3 ); tendências hemorrágicas evidenciadas por um ou mais dos seguintes sinais: prova do laço posi- tiva, petéquias, equimoses ou púrpuras, sangramentos de mucosas do trato gastrintestinal ou outros; extravasamento de plasma devido ao aumento de permeabilidade capilar, manifestado por: hematócrito apresentando aumento de 10% sobre o basal na admissão; queda do he- matócrito em 20%, após o tratamento adequado; presença de derramepleural, ascite e hipoproteinemia. Os casos de FHD são classificados de acordo com a sua gravidade em: - Febre acompanhada de sintomas inespecíficos, em que a única manifestação hemorrágica é a prova do laço positiva; - Além das manifestações do grau I, hemorragias espontâne as leves (sangramento de pele, epistaxe, gengivorragia e outros); - Colapso circulatório com pulso fraco e rápido, estrei- tamento da pressão arterial ou hipotensão, pele pegajosa e fria e inquietação; DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 137 DENGUE - Síndrome do Choque da Dengue (SCD), ou seja, choque profundo com ausência de pressão arterial e pressão de pulso imperceptível. Dengue com complicações (DCC) - É todo caso grave que não se enquadra nos critérios da OMS de FHD e quando a classificação de Dengue Clássica é insatisfatória. Nessa situação, a presença de um dos achados a seguir caracteriza o quadro: alterações graves do sistema nervoso; disfunção cardiorrespiratória; insuficiência hepática; plaque- topenia igual ou inferior a 50.000/mm 3 ; hemorragia digestiva; derra- mes cavitários; leucometria global igual ou inferior a 1.000/m 3 ; óbito. Manifestações clínicas do sistema nervoso, presentes tanto em adultos como em crianças, incluem: delírio, sonolência, coma, depressão, ir- ritabilidade, psicose, demência, amnésia, sinais meníngeos, paresias, paralisias, polineuropatias, síndrome de Reye, síndrome de Guillain- Barré e encefalite. Podem surgir no decorrer do período febril ou mais tardiamente, na convalescença. MEDIDAS DE CONTROLE As medidas de controle se restringem ao vetor Ae. aegypti, uma vez que não há vacina ou drogas antivirais específicas. O combate ao ve- tor envolve ações continuadas de inspeções domiciliares, eliminação e tratamento de criadouros, associadas a atividades de educação em saúde e mobilização social. A finalidade das ações de rotina é man- ter a infestação do vetor em níveis incompatíveis com a transmissão da doença. Em situações de epidemias, deve ocorrer a intensificação das ações de controle, prioritariamente a eliminação de criadouros e o tratamento focal. Além disso, deve ser utilizada a aplicação espacial de inseticida a ultra-baixo volume (UBV), ao mesmo tempo em que as ações de rotina são conduzidas de forma aprimoradas. Em função da complexidade que envolve a prevenção e o controle da Dengue, o Pro- grama Nacional de Controle da Dengue estabeleceu dez componen- tes de ação: vigilância epidemiológica; combate ao vetor; assistência aos pacientes; integração com a atenção básica; ações de saneamento ambiental; ações integradas de educação em saúde, comunicação e mobilização; capacitação de recursos humanos; legislação de apoio ao Programa; acompanhamento e avaliação. Esses componentes de ação, se convenientemente implementados, contribuirão para a estrutura ção de programas permanentes, integrados e intersetoriais, caracte rísticas essenciais para o enfrentamento deste importante problema de saúde pública. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS138 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Quadro 11. Prova do laço Prova do laço A prova do laço deverá ser realizada obrigatoriamente em todos os casos suspeitos de Dengue crianças, 3 minutos) ou até o aparecimento de petéquias ou equimoses; petéquias em adultos e 10 ou mais em crianças. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 139 Difteria CID 10: A36 15 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença transmissível aguda, toxiinfecciosa, causada por bacilo toxigênico, que, frequentemente, se aloja nas amígdalas, fa ringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. A ma- nifestação clínica típica é a presença de placas pseudomembra nosas branco-acinzentadas aderentes, que se instalam nas amígdalas e inva- dem estruturas vizinhas (forma faringo-amigdaliana ou farin gotonsilar – angina diftérica). Essas placas podem se localizar na fa ringe, laringe (laringite diftérica) e fossas nasais (rinite diftérica), e, menos frequen- temente, na conjuntiva, pele, conduto auditivo, vulva, pênis (pós-cir- cuncisão) e cordão umbilical. A doença se manifesta por comprome- timento do estado geral do paciente, com prostração e palidez. A dor de garganta é discreta, independentemente da locali zação ou quanti- dade de placas existentes, e a febre normalmente não é muito elevada (37,5 -38,5°C). Nos casos mais graves, há intenso aumento do pescoço (pescoço taurino), por comprometimento dos gânglios linfáticos dessa área e edema periganglionar nas cadeias cer vicais e submandibulares. Dependendo do tamanho e localização da placa pseudomembranosa, pode ocorrer asfixia mecânica aguda no paciente, o que muitas vezes exige imediata traqueostomia para evi tar a morte. produzido pelo bacilo não-toxigênico também determina a formação de placas características, embora não se observe sinais de toxemia ou ocorrência de complicações. Entre-tanto, as infecções causadas pelos bacilos não-toxigênicos têm impor tância epidemiológica por dissemi- nar o Corynebacterium diphtheriae. Os casos graves e intensamente tó- xicos são denominados de Difteria Hipertóxica (maligna) e apresentam, desde o início, importante com prometimento do estado geral, placas com aspecto necrótico e pesco ço taurino. Sinonímia - Crupe. Agente etiológico - Corynebacterium diphtheriae, bacilo gram- positivo, produtor da toxina diftérica, quando infectado por um fago. Reservatório - O homem, doente ou portador assintomático. Modo de transmissão - Contato direto da pessoa doente ou do portador com pessoa suscetível através de gotículas de secreção elimi- nadas por tosse, espirro ou ao falar. A transmissão por objetos recém- contaminados com secreções do doente ou de lesões em outras locali- zações é pouco frequente. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS140 Período de incubação - De 1 a 6 dias, podendo ser mais longo. Período de transmissibilidade - Em média, até 2 semanas após o início dos sintomas. A antibioticoterapia adequada erradica o baci- lo diftérico da orofaringe, de 24 a 48 horas após a sua introdução, na maioria dos casos. O portador crônico não tratado pode transmitir a infecção por 6 meses ou mais e é extremamente importante na dis- seminação da doença. Suscetibilidade e imunidade - A suscetibilidade é geral. A imu- nidade pode ser naturalmente adquirida pela passagem de anticorpos maternos via transplacentária, que protegem o bebê nos primeiros me- ses de vida, ou através de infecções inaparentes atípicas, que conferem imunidade em diferentes graus, dependendo da maior ou menor expo- sição dos indivíduos. A imunidade também pode ser adquirida ativa- mente, através da vacinação com toxóide diftérico. A proteção conferi- da pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração (em média, 2 semanas). A doença normalmente não confere imunidade permanente, devendo o doente continuar seu esquema de vacinação após a alta hospitalar. Complicações - Miocardite, neurites periféricas, nefropatia tóxica, insuficiência renal aguda. Diagnóstico - Isolamento e identificação do bacilo, mesmo sem as provas de toxigenicidade, associados ao quadro clínico e epidemio- lógico. Diagnóstico diferencial - Angina de Paul Vincent, rinite e amig- dalite estreptocócica, rinite sifilítica, corpo estranho em naso e orofa- ringe, angina monocítica, crupe viral, laringite estridulosa, epiglotite aguda, inalação de corpo estranho. Para o diagnóstico diferencial da difteria cutânea, considerar impetigo, eczema, ectima, úlceras. Tratamento - Soro antidiftérico (SAD), medida terapêutica de grande valor, que deve ser feita em unidade hospitalar e cuja finalidade é ina- tivar a toxina circulante o mais rapidamente possível e possibilitar a circulação de anticorpos para neutralizar a toxina produzida pelo baci- lo. O soro antidiftérico não tem ação sobre a toxina já impregnada no tecido. Por isso, sua administração deve ser feita o mais precocementepossível, frente a uma suspeita clínica bem fundamentada. Como o soro antidiftérico tem origem heteróloga (soro heterólogo de cavalo), sua administração pode causar reações alérgicas. Desse modo, faz-se necessária a realização de provas de sensibilidade antes do seu DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 141 DIFTERIA emprego. Caso a prova seja positiva, deverá ser feita a dessensibiliza- ção. As doses do SAD não dependem do peso e da idade do paciente e sim da gravidade e do tempo da doença. O SAD deve ser feito, pre- ferencialmente, por via endovenosa (EV), diluído em 100ml de soro fisiológico, em dose única. Formas leves (nasal, cutânea, amigdaliana) - 40.000UI, EV; Formas laringoamigdalianas ou mistas - 60.000 - 80.000UI, EV; Formas graves ou tardias - 80.000 - 120.000UI, EV. Antibioticoterapia (medida auxiliar ao SAD) - Eritromicina, 40-50mg/ kg/dia (dose máxima de 2g/dia), em 4 doses, VO, durante 14 dias; ou Penicilina Cristalina, 100.000-150.000UI/kg/dia, em frações iguais de 6/6 horas, EV, durante 14 dias; ou Penicilina G Procaína, 50.000UI/kg/ dia (dose máxima de 1.200.000UI/dia), em 2 frações iguais de 12/12 horas, IM, durante 14 dias. Tratamento de suporte - Repouso, manutenção do equilíbrio hidre- letrolítico, nebulização, aspiração frequente de secreções. A Carnitina (até 5 dias do início da doença) tem sido indicada para prevenir for- mas graves de miocardite, na dose de 100mg/kg/dia (máximo de 3g/ dia), em duas frações (12/12 horas) ou 3 frações (8/8 horas), por VO. Insuficiência respiratória – de acordo com o quadro, há indicação de traqueostomia. Em algumas situações (comprometimento respirató- rio alto, casos leves e moderados de laringite), pode-se usar dexame- tasona como medida antiedematosa. Miocardite–repouso absoluto no leito, restrição de sódio, diuréticos, cardiotônicos. Polineurite – sinto- máticos. Insuficiência renal aguda – tratamento conservador, diálise peritoneal. Características epidemiológicas - A ocorrência da doença é mais frequente em áreas com baixas condições socioeconômicas e sanitá rias, onde a aglomeração de pessoas é maior. Comumente, essas áreas apre- sentam baixa cobertura vacinal e, portanto, não é obtido impacto no controle da transmissão da doença. No Brasil, o número de casos vem decrescendo progressivamente, provavelmente em decorrência do au- mento da cobertura pela vacina DTP que passou de 66%, em 1990, para mais de 98%, em 2007. Em 1990, foram notificados 640 (incidência de 0,45/100.000 habitantes) e este número que foi progressivamente de- crescendo até atingir 56 casos em 1999 (incidência de 0,03/100.000 ha- bitantes) e 58 casos em 2000 (coeficiente de incidência de 0,03/100.000 habitantes). Nos anos subsequentes, o número de casos não ultrapas- sou 50 por ano e o coeficiente de incidência por 100.000 habitantes Secretaria de Vigilância em Saúde / MS142 manteve-se em torno de 0,03. Em 2008, confirmaram-se 7 casos da doença (incidência de 0,003/100.000 habitantes). A letalidade esperada variou de 5% a 10%, tendo atingido o máximo de 20%, em certas situa- ções. No Brasil, em 2007 não foi registrado nenhum óbito por Difteria, já em 2008 um caso da doença evoluiu para óbito. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos adoção de medidas de controle pertinentes para evitar a ocorrência de novos casos. das cepas isoladas para o laboratório de referência nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a antimicrobianos. e epidemias. Notificação - Doença de notificação compulsória e de investigação imediata e obrigatória. Definição de caso - Toda pessoa que, independente da idade e estado vacinal, apresente quadro agudo de infecção da orofaringe, com presença de placas aderentes ocupando as amígdalas, com ou sem invasão de outras áreas da faringe (palato e úvula) ou outras localizações (ocular, nasal, vaginal, pele, etc.), com comprometimento do estado geral e febre moderada. - Critério laboratorial: todo caso suspeito com isolamento do C. diphtheriae, com ou sem provas de toxigenicidade positiva. - Critério clínico-epidemiológico: todo caso suspeito de Difteria com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante de um outro caso confirmado laboratorial ou clinicamente; ou com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante íntimo de indivíduo no qual se isolou C. diphtheriae (portador sadio). - Critério clínico: quando forem observadas placas comprometen- do pilares ou úvula, além das amígdalas; placas suspeitas na tra- queia ou laringe; simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o início do quadro e evolução, em geral, arrastada; miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início dos sintomas sugestivos de Difteria ou até semanas após. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 143 DIFTERIA - Critério anatomopatológico (necropsia): quando a necropsia comprovar: placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas; placas na traqueia e/ou laringe. - Morte após clínica compatível: óbito de paciente em curso de tratamento de amigdalite aguda e no qual se constata miocardite. MEDIDAS DE CONTROLE A medida mais segura e efetiva é a imunização adequada da população com toxóide diftérico. - Os menores de 1 ano deverão receber 3 doses da vacina combinada DTP + Hib (contra Difteria, Tétano e Coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilus influen- zae), a partir dos 2 meses, com intervalo de, pelo menos, 30 dias entre as doses (idealmente, de 2 meses). De 6 a 12 meses após a terceira dose, a criança deverá receber o primeiro reforço com a vacina DTP (Tríplice Bacteriana), sendo que o segundo reforço deverá ser aplicado de 4 a 6 anos de idade. A vacina DTP não deve ser aplicada em crianças com 7 anos ou mais de idade. A vacina DTPa (Tríplice Acelular) é indicada em situações especiais e deve-se observar as recomendações do Ministério da Saúde. As crianças com 7 anos ou mais, adultos e idosos não vacinados ou sem comprovação de vacinação prévia devem receber 3 doses da vacina dT (Dupla Adulto), com intervalo de pelo menos 30 dias entre as doses (o ideal é intervalo de 2 meses). Se comprovar esquema de vacinação incompleto, aplicar as doses necessárias para completar o esquema vacinal preconizado. - Após a ocorrência de um ou mais casos de Difteria, deve-se vacinar todos os contatos não vacinados, inadequadamente vacinados ou com estado vacinal desconhecido. Nos comunicantes, adultos ou crianças que receberam há mais de 5 anos o esquema básico ou doses de reforço, deverá ser administrada uma dose de reforço de DTP (em menores de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais e adultos). - Coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele dos comunicantes, para cultura de C. diphtheriae. Os comunicantes cujo resultado da cultura seja positivo deverão ser reexaminados para confirmar se são portadores ou caso de Difteria. Todos os comunicantes suscetíveis deverão ser mantidos em obser- vação durante 7 dias, contados a partir do momento da exposição. O soro antidiftérico não deve ser administrado com finalidade profilática. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS144 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS - Tem indicação restrita e devem ser observadas as recomendações constantes no Guia de Vigilância Epidemiológica. - Persistir em isolamento até que duas culturas de ex- sudato de naso e orofaringe sejam negativas (colhidas 24 e 48 horas após a suspensão do tratamento). - Concorrente e terminal. - A doença não confere imunidade e a proteção conferida pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração (em média, 2 semanas). Portanto, todos os casos devem ser vacinados de acordo com os esquemas preconizados, após a alta hospitalar. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 145 Doença deChagas CID 10: B57 16 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença parasitária com curso clínico bifásico (fases agu- da e crônica), podendo se manifestar sob várias formas. - Caracterizada por miocardite difusa, com vários graus de severidade, às vezes só identificada por eletrocardiograma ou eco-cardiograma. Pode ocorrer pericardite, derrame pericárdico, tamponamento cardíaco, cardiomegalia, insuficiência cardíaca congestiva, derrame pleural, As manifestações clínicas mais comuns são: febre prolongada e recorrente, cefaleia, mialgias, astenia, edema de face ou membros inferiores, rash cutâneo, hipertrofia de linfonodos, hepatomegalia, esplenomegalia, ascite. Manifestações digestivas (diarreia, vômito e epigastralgia intensa) são comuns em casos por transmissão oral; há relatos de icterícia e manifestações digestivas hemorrágicas. Em casos de transmissão vetorial, podem ocorrer sinais de porta de entrada: sinal de Romaña (edema bipalpebral unilateral) ou chagoma de in- oculação (lesão a furúnculo que não supura). A meningoencefalite, que é rara, tende a ser letal, e ocorre geralmente em casos de reati- vação (imunodeprimidos) ou em lactentes. Alterações laboratoriais incluem anemia, leucocitose, linfocitose, elevação de enzimas hepáti- cas, alteração nos marcadores de atividade inflamatória (velocidade de hemossedimentação, proteína C-reativa, etc.). Relatos em surtos de transmissão por via oral demonstraram a ocorrência de icterícia, lesões em mucosa gástrica, alterações nas provas de coagulação e plaquetopenia. - Passada a fase aguda, aparente ou inaparente, se não for realizado tratamento específico, ocorre redução espontânea da parasitemia com tendência à evolução para as formas: - Indeterminada: forma crônica mais frequente. O indivíduo apre- senta exame sorológico positivo sem nenhuma outra alteração identificável por exames específicos (cardiológicos, digestivos, etc). Esta fase pode durar toda a vida ou, após cerca de 10 anos, pode evoluir para outras formas (ex: cardíaca, digestiva). - Cardíaca: importante causa de limitação do chagásico crônico e a principal causa de morte. Pode apresentar-se sem sintomatologia, apenas com alterações eletrocardiográficas, ou com insuficiência cardíaca de diversos graus, progressiva ou fulminante, arritmias graves, acidentes tromboembólicos, aneurisma de ponta do cora- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS146 ção e morte súbita. As principais manifestações são palpitações, edemas, dor precordial, dispneia, dispneia paroxística noturna, tosse, tonturas, desmaios, desdobramento ou hipofonese de segunda bulha, sopro sistólico. Alterações eletrocardiográficas mais comuns: bloqueio completo do ramo direito (BCRD), he- mibloqueio anterior esquerdo (HBAE), bloqueio atrioventricular (BAV) de 1º, 2º e 3º graus, extrassístoles ventriculares, sobrecarga de cavidades cardíacas, alterações da repolarização ventricular. A radiografia de tórax pode revelar cardiomegalia. - Digestiva: alterações ao longo do trato digestivo, ocasionadas por lesões dos plexos nervosos (destruição neuronal simpática), com consequentes alterações da motilidade e morfologia, sendo o megaesôfago e o megacólon as formas mais comuns. Manifestações que sugerem megaesôfago: disfagia (sintoma mais frequente), regurgitação, epigastralgia, dor retroesternal à passagem do ali- mento, odinofagia (dor à deglutição), soluços, ptialismo (excesso de salivação), hipertrofia de parótidas; em casos mais graves pode ocorrer esofagite, fístulas esofágicas, alterações pulmonares de- correntes de refluxo gastroesofágico. No megacólon, geralmente ocorre constipação intestinal de instalação insidiosa, meteorismo, distensão abdominal; volvos e torções de intestino e fecalomas podem complicar o quadro. Exames radiológicos contrastados são importantes no diagnóstico da forma digestiva. - Forma associada (cardiodigestiva): quando no mesmo paciente são identificadas pelo as duas formas da doença. - Forma congênita: ocorre em crianças nascidas de mães com exame positivo para T. cruzi. Pode passar despercebida em mais de 60% dos casos; em sintomáticos, pode ocorrer prematuridade, baixo peso, hepatoesplenomegalia e febre; há relatos de icterícia, equimoses e convulsões devidas à hipoglicemia. Meningoencefalite costuma ser letal. Pacientes imunodeprimidos, como os portadores de neoplasias hema- tológicas, os usuários de drogas imunodepressoras, ou os co-infectados pelo vírus da imunodeficiência humana adquirida, podem apresentar reativação da Doença de Chagas, que deve ser confirmada por exames parasitológicos diretos no sangue periférico, em outros fluidos orgâni- cos ou em tecidos. Sinonímia - Tripanosomíase americana. Agente etiológico - Trypanosoma cruzi, protozoário flagelado da família Trypanosomatidae, caracterizado pela presença de um flagelo e DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 147 DOENÇA DE CHAGAS uma única mitocôndria. No sangue dos vertebrados, apresenta-se sob a forma de tripomastigota e, nos tecidos, como amastigota. Vetores - Triatomíneos hematófagos que, dependendo da espécie, podem viver em meio silvestre, no peridomicílio ou no intradomicílio. São também conhecidos como “barbeiros” ou “chupões”. No Brasil, há uma diversidade de espécies que foram encontradas infectadas. A mais importante era o Triatoma infestans que recentemente foi eliminado do Brasil. Os T. brasiliensis, Panstrongylus megistus, T. pseudomaculata, T. sórdida também se constituem em vetores do T.cruzi . Reservatórios - Além do homem, diversos mamíferos domésticos e silvestres têm sido encontrados naturalmente infectados pelo T. cruzi. Epidemiologicamente, os mais importantes são aqueles que coabitam ou estão próximos do homem (gatos, cães, porcos, ratos). No entanto, também são relevantes os tatus, gambás, primatas não humanos, mor- cegos, entre outros animais silvestres. As aves, répteis e anfíbios são refratários à infecção pelo T. cruzi. Modo de transmissão A forma vetorial ocorre pela passagem do protozoário dos excretas dos triatomíneos através da pele lesada ou de mucosas do ser humano, du- rante ou logo após o repasto sanguíneo. A transmissão oral ocorre a partir da ingestão de alimentos con- taminados com T. cruzi. Esta forma, frequente na região Amazônica, tem sido implicada em surtos intrafamiliares em diversos estados bra- sileiros e tem apresentado letalidade elevada. A transmissão transfusional ocorre por meio de hemoderivados ou transplante de órgãos ou tecidos provenientes de doadores contami- nados com o T. cruzi. A transmissão por transplante de órgãos tem adquirido relevância nos últimos anos devido ao aumento desse tipo de procedimento, com quadros clínicos pois receptores estão imunocomprometidos. A transmissão vertical ocorre em função da passagem do T. cruzi de mulheres infectadas para seus bebês, durante a gestação ou o parto. A transmissão acidental ocorre a partir do contato de material conta- minado (sangue de doentes, excretas de triatomíneos) com a pele lesa- da ou com mucosas, geralmente durante manipulação em laboratório sem equipamento de biossegurança. Período de incubação - Varia de acordo com a forma de trans- missão. Vetorial: 4 a 15 dias; transfusional: 30 a 40 dias; vertical: pode Secretaria de Vigilância em Saúde / MS148 ocorrer em qualquer período da gestação ou durante o parto; oral: 3 a 22 dias; transmissão acidental: até aproximadamente 20 dias. Período de transmissibilidade - O paciente chagásico pode al- bergar o T. cruzi no sangue e/ou tecidos por toda a vida, sendo assim reservatório para os vetores com os quais tiver contato. No entanto, os principais reservatórios são os outros mamíferos já citados. Diagnóstico - Determinada pela presença de parasitos circulantes em exames parasitológicos diretos de sangue periférico (exame a fresco, esfregaço, gota espessa). Quando houver presença de sintomas por maisde 30 dias, são recomendados métodos de concentração devido ao declínio da parasitemia (teste de Strout, micro-hematócrito, QBC); b) presença de anticorpos IgM anti-T. cruzi no sangue indica doença aguda quando associada a fatores clínicos e epidemiológicos compatíveis. - Indivíduo que apresenta anticorpos IgG anti-T. cruzi detectados por dois testes sorológicos de princípios distintos, sendo a Imunofluorescência Indireta (IFI), a Hemoaglutinação (HE) e o ELISA os métodos recomendados. Por serem de baixa sensibilidade, os métodos parasitológicos são desnecessários para o manejo clínico dos pacientes; no entanto, testes de xenodiagóstico, hemocultivo ou PCR positivos podem indicar a doença crônica. Diagnóstico diferencial Na fase aguda − leishmaniose visceral, hantavirose, toxoplasmose, fe- bre tifóide, mononucleose infecciosa, esquistossomose mansônica agu- da, leptospirose, miocardites virais. As formas congênitas devem ser diferenciadas daquelas causadas pelas infecções STORCH (sífilis, Toxoplasmose, citomegalovirose, Rubéola, herpes, outras). A meningoencefalite chagásica diferencia-se da toxo- plásmica pela sua localização fora do núcleo da base e pela abundância do T. cruzi no líquor. A miocardite crônica e os megas devem ser diferenciados de formas causadas por outras etiologias. Tratamento O deve ser realizado o mais precocemente pos- sível quando forem identificadas a forma aguda ou congênita da doen- ça, ou a forma crônica recente (crianças menores de 12 anos). A dro- ga disponível no Brasil é o Benznidazol (comp. 100mg), que deve ser utilizado na dose de 5mg/kg/dia (adultos) e 5-10mg/kg/dia (crianças), DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 149 DOENÇA DE CHAGAS divididos em 2 ou 3 tomadas diárias, durante 60 dias. O Benznidazol é contra-indicado em gestantes. O tratamento sintomático depende das manifestações clínicas, tanto na fase aguda como na crônica. Para alterações cardiológicas são reco- mendadas as mesmas drogas que para outras cardiopatias (cardiotô- nicos, diuréticos, antiarrítmicos, vasodilatadores, etc). Nas formas di- gestivas, pode ser indicado tratamento conservador (dietas, laxativos, lavagens) ou cirúrgico, dependendo do estágio da doença. Características epidemiológicas - A transmissão vetorial ocor- re exclusivamente no continente americano, onde existem cerca de 12 milhões de infectados; no Brasil, existem cerca de 3 milhões de chagá- sicos. A forma de transmissão mais importante era vetorial, nas áreas rurais, responsável por cerca de 80% dos casos hoje considerados crô- nicos. As medidas de controle vetorial proporcionaram a eliminação transmissão pela principal espécie (T. infestans). A transmissão trans- fusional também sofreu redução importante, com o rigoroso controle de doadores de sangue e hemoderivados. Nos últimos anos, as formas de transmissão vertical e oral ganharam importância epidemiológica, sendo responsáveis por grande parte dos casos identificados. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Atualmente, a vigilância da Doença de Chagas é desenvolvida de for- mas diferentes de acordo com a área: - Em áreas onde há risco de transmissão vetorial domiciliar, está centrada na vigilância entomológica, com o objetivo de detectar a presença e prevenir a formação de colônias domiciliares do vetor, evitando a ocorrência de casos. Quando identificados casos agudos, deve-se realizar investigação epidemiológica e entomológica na busca de novos casos. - Porque ainda não foram identifi- cados vetores colonizando o domicílio, deve-se concentrar esforços na vigilância de casos e surtos. Na Amazônia Legal, a vigilância tem base na realização de exames hemoscópicos para Malária em pessoas febris. A partir de informações obtidas com os casos, deve-se buscar evidências de domiciliação de vetores, a identificação e mapeamento de marcadores ambientais, a partir do reconhecimento dos ecóto pos preferenciais das diferentes espécies de vetores prevalentes na região. Notificação - Todos os casos de DCA devem ser imediatamente no- tificados ao sistema de saúde pública para que seja realizada investi- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS150 gação epidemiológica oportuna. Não devem ser notificados casos de reativação ou casos crônicos. (Portaria SVS/MS, de maio de 2006) Definições de caso - Paciente com quadro febril prolongado (mais de 7 dias) e que apresente esplenomegalia ou acometimento cardíaco agudo, residente ou visitante de área onde haja ocorrência de triatomíneos, que tenha recebido transfusão de hemoderivados ou transplante de órgãos, ou que tenha ingerido alimento suspeito de contaminação. - Paciente que apresente T. cruzi circulante no sangue periférico, identificado por meio de exame parasitológico direto, com ou sem presença de sinais e sintomas; ou paciente com sorologia positiva para anticorpos IgM anti-T. cruzi na presença de evidências clínicas e epidemiológicas indicativas de DCA. - Recém-nascido de mãe com exame sorológico ou parasitológico positivo para T. cruzi, que apresente exame parasitológico positivo para T. cruzi, a partir do nascimento, ou exame sorológico positivo a partir do sexto mês de nascimento, e que não apresente evidência de infecção por qualquer outra forma de transmissão. - Indivíduo com pelo menos dois exames sorológicos, ou com hemocultivo, ou xenodiagnóstico positivos para T. cruzi e : - Forma indeterminada - Nenhuma manifestação clínica, radioló- gica ou eletrocardiográfica compatível com DC; - Forma cardíaca - Exames compatíveis com miocardiopatia cha- gásica; - Forma digestiva - Exames compatíveis com megaesôfago ou megacólon; - Forma associada - Exames compatíveis com miocardiopatia chagásica e algum tipo de mega. MEDIDAS DE CONTROLE - Controle químico do vetor (inseticidas de poder residual) em casos onde a investigação entomológica indique haver triatomíneos domiciliados; melhoria habitacional em áreas de alto risco, suscetíveis à domiciliação de triatomíneos. - Manutenção do controle rigoroso da qualidade dos hemoderivados transfundidos, por meio de triagem sorológica dos doadores. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 151 DOENÇA DE CHAGAS - Identificação de gestantes chagásicas durante a assistência pré-natal ou por meio de exames de triagem neonatal de recém-nascidos para tratamento precoce. - Cuidados de higiene na produção e manipulação artesanal de alimentos de origem vegetal. - Utilização rigorosa de equipamentos de biossegurança. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS152 Doença de Lyme CID 10: A69.2 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Zoonose transmitida por carrapatos e causada por uma espiroqueta (Borrelia burgdorferi), caracterizada por pequena lesão cutânea, expansiva, única ou múltipla, do tipo mácula ou pápula de coloração avermelhada no local em que o carrapato sugou o sangue, denominada de eritema crônico migratório (EM). É um importante marcador clínico para a suspeita diagnóstica e alerta à vigilância epide- miológica. À medida que a área de rubor se expande até 15cm (limites de 3 a 68cm), a lesão assume característica anelar, quente e raramente dolorosa. Dias após o estabelecimento do EM, manifestações clínicas iniciais como mal-estar, febre, cefaleia, rigidez de nuca, mialgias, ar- tralgias migratórias e linfadenopatias muitas vezes estão presentes. Não é incomum esses sinais e sintomas durarem várias semanas, nos casos em que o tratamento não é instituído. Nessas situações, semanas ou meses após podem surgir manifestações neurológicas (15% dos ca- sos), tais como meningite asséptica, encefalite, coreia, neurite de pares cranianos (incluindo a paralisia facial bilateral), radiculoneurite mo- tora e sensorial. O padrão usual é a meningoencefalite flutuante, com paralisia de nervo craniano. Cerca de 8% dos pacientes desenvolvem comprometimento cardíaco com bloqueio atrioventricular, mioperi-cardite aguda e evidências de disfunção ventricular esquerda. Cerca de 60% dos pacientes, após semanas a 2 anos do início da doença, podem desenvolver artrite franca, em geral caracterizada por crises intermi- tentes de edema e dor articular assimétricos, em especial nas grandes articulações. Sinonímia - Borreliose de Lyme, meningopolineurite por carrapatos, artrite de Lyme, eritema migratório. Agente etiológico - Borrelia burgdorferi. Reservatório - Carrapatos do gênero Ixodes (Ixodes scapularis, I. ri- cinus, I. pacificus). Modo de transmissão - Pela picada das ninfas do carrapato, que fi- cam aderidas à pele do hospedeiro para sucção de sangue por 24 horas ou mais. Não ocorre transmissão inter-humana e é incomum a trans- missão materno-fetal. Período de incubação - Varia de 3 a 32 dias (em média, 7 a 14 dias) e vai desde a exposição ao carrapato-vetor até o aparecimento do 17 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 153 eritema crônico migratório. Mesmo que não haja lesão cutânea na fase inicial, ainda assim a doença pode se manifestar anos mais tarde. Período de transmissibilidade - Ocorre durante toda a vida do vetor infectado. Complicações - A doença poderá cursar com grave envolvimento neurológico, cardíaco e articular. Diagnóstico - O diagnóstico da Doença de Lyme baseia-se na identi- ficação dos aspectos clínicos da doença em paciente com relato de pos- sível exposição (epidemiológico) ao microrganismo causal, associados com testes laboratoriais. A cultura para isolamento da B. burgdorferi é definitiva, mas raramente é bem sucedida a partir de sangue do paciente, ocorrendo em aproximadamente 50% dos casos em material de biópsia da lesão (EM). A sorologia por Elisa e imunofluorescência indireta são os métodos mais utilizados, pois os títulos de anticorpos IgM específicos em geral alcançam o máximo em 3 a 6 semanas. Esse anticorpo exibe re- ação cruzada com outras espiroquetas, inclusive o Treponema pallidum, mas os pacientes com Doença de Lyme não mostram resultado positivo no VDRL. O Western Blot é valioso quando se suspeita de Elisa falso- positivo. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é empregada para de- tecção do DNA da espiroqueta em material do hospedeiro. Como essas técnicas não estão bem padronizadas, a interpretação dos testes deve ser cautelosa, pois pacientes que recebem tratamento precoce podem apre- sentar sorologia negativa. A sensibilidade das provas aumenta na fase mais tardia da doença, em pacientes não tratados. Diagnóstico diferencial - Meningite asséptica, mononucleose in- fecciosa, febre reumática, artrite reumatóide, lupus eritematoso sistê- mico, cardites, encefalites, uveítes, artrites de outras etiologias. Tratamento - Em adultos, os antibióticos de eleição são: Doxiciclina, 100mg (2 vezes ao dia), por 15 dias, ou Amoxicilina 500mg (4 vezes ao dia), por 15 dias; se as lesões forem disseminadas, prolongar o trata- mento por 3 a 4 semanas. Em crianças, com menos de 9 anos, adminis- tra-se Amoxicilina, 50mg/kg/dia, fracionada em 3 doses diárias, por 3 semanas. Nas manifestações neurológicas (meningites), usar Penicilina cristalina, 20 milhões UI/dia, fracionadas em 6 doses endovenosas diá- rias, ou Ceftriaxona, 2g/dia, por 3 a 4 semanas. Em indivíduos alérgicos à Penicilina, usar Eritromicina, 30mg/kg/dia, por 3 semanas. As artri- tes também respondem a tratamento com Doxiciclina ou Amoxicilina, acrescidos de 500mg de Probenecida, por 4 semanas. Nos pacientes tratados precocemente com antibióticos orais, o eritema crônico mi- gratório desaparece de imediato e as principais complicações tardias DOENÇA DE LYME Secretaria de Vigilância em Saúde / MS154 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS (miocardite, meningoencefalite e artrite recidivante) geralmente não ocorrem. Características epidemiológicas - Embora os casos da doença estejam concentrados em certas áreas endêmicas, os focos da Doença de Lyme encontram-se amplamente distribuídos nos Estados Unidos, Europa e Ásia. No Brasil, os estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Amazonas têm relatado casos isolados. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Detecção de casos suspeitos ou confirmados, visando a instituição de tratamento precoce para evitar as complicações comuns à doença, além da identificação de focos, por meio da investigação, para o desencadeamento de medidas de educação em saúde e impedir a ocorrência de novas infecções. Notificação - Por ser doença rara em território brasileiro, caracteri- za-se como agravo inusitado, sendo, portanto, de notificação compul- sória e investigação obrigatória. Definição de caso - A presença do eritema crônico migratório as- sociado a quadro clínico e epidemiológico sugestivo reforça a suspeita clínica. Sendo doença incomum no país e com manifestações clínicas bastante variadas, ainda não tem definição de caso padronizada. MEDIDAS DE CONTROLE Investigação epidemiológica com busca ativa de casos e verificação da extensão da área onde os carrapatos transmissores estão presentes (delimitação dos focos). Ações de educação em saúde sobre o ciclo de transmissão para impedir que novas infecções ocorram. Orientar moradores, transeuntes e/ou trabalhadores de áreas infestadas para a adoção de medidas de proteção do corpo, com roupas claras, de man- gas compridas, uso de repelentes nas partes descobertas da pele e nas bordas das roupas. Observação frequente da pele, em busca da presença dos transmissores e eliminação imediata dos mesmos, caso existam. A retirada dos carrapatos deve ser feita com as mãos protegidas (luvas ou sacos plásticos) e uso de pinças com trações suaves e constantes, evitando-se o maceramento do corpo do artrópode ou a permanência de seu aparelho bucal na pele do indivíduo. Alertar a comunidade so- bre os danos da doença. Os casos suspeitos e/ou confirmados devem ser tratados conforme o esquema de antibioticoterapia preconizado. As medidas para redução das populações de carrapatos em animais não têm sido efetivas. Não há indicação de isolamento dos pacientes. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 155 Doenças Diarreicas Agudas CID 10: A00 a A09 18 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Síndrome causada por vários agentes etiológicos (bacté- rias, vírus e parasitas), cuja manifestação predominante é o aumento do número de evacuações, com fezes aquosas ou de pouca consistên- cia. Com frequência, é acompanhada de vômito, febre e dor abdo- minal. Em alguns casos, há presença de muco e sangue. No geral, é autolimitada, com duração entre 2 a 14 dias. As formas variam desde leves até graves, com desidratação e distúrbios eletrolíticos, principal- mente quando associadas à desnutrição. Dependendo do agente, as manifestações podem ser decorrentes de mecanismo secretório pro- vocado por toxinas ou pela colonização e multiplicação do agente na parede intestinal, levando à lesão epitelial e, até mesmo, à bacteremia ou septicemia. Alguns agentes podem produzir toxinas e, ao mesmo tempo, invasão e ulceração do epitélio. Os vírus produzem diarreia autolimitada, só havendo complicações quando o estado nutricional está comprometido. Os parasitas podem ser encontrados isolados ou associados (poliparasitismo) e a manifestação diarreica pode ser agu- da, intermitente ou não ocorrer. Agentes etiológicos - Staphyloccocus aureus, Campylobacter jejuni, Escherichia coli enterotoxigênica, Escherichia coli enteropatogênica, Escherichia coli enteroinvasiva, Escherichia coli enterohemorrágica, salmonelas, Shigella dysenteriae, Yersinia enterocolítica, Vibrio cholerae e outras. Astrovírus, calicivírus, adenovírus entérico, norovírus, ro- tavírus grupos A, B e C e outros. Entamoeba histolytica, Cryptosporidium, Balantidium coli, Giardia lamblia, Isospora belli e outras. Reservatório, modo de transmissão, período de incubação e transmissibilidade - Específicos para cada agente etiológico. Complicações - Em geral, são decorrentes da desidratação e do de- sequilíbriohidreletrolítico. Quando não tratadas adequada e preco- cemente, podem levar a óbito. Nos casos crônicos ou com episódios repetidos, acarretam desnutrição crônica, com retardo do desenvolvi- mento estato-ponderal. Diagnóstico - Laboratorial, por exames parasitológicos de fezes e cul- turas de bactérias e vírus ou diagnóstico clínico-epidemiológico. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS156 Diagnóstico diferencial - Em geral, realizado entre os agentes cau- sadores das diarreias, através de exames específicos. Quando ocorrem vários casos associados entre si (surto), para o diagnóstico etiológico de um ou mais casos ou da fonte de infecção, utiliza-se também o cri- tério clínico-epidemiológico. Tratamento - A terapêutica indicada é a hidratação oral, através do sal de reidratação oral (SRO), que simplificou o tratamento e vem contribuindo significativamente para a diminuição da mortalidade por diarreias. O esquema de tratamento independe do diagnóstico etiológico, já que o objetivo da terapêutica é reidratar ou evitar a de- sidratação. O esquema terapêutico não é rígido, administrando-se lí- quidos e o SRO de acordo com as perdas. Se houver sinais e sintomas de desidratação, administrar soro de reidratação oral, de acordo com a sede. Inicialmente, a criança de até 12 meses deve receber de 50 a 100ml e aquelas acima de 12 meses, 100 a 200ml. Após a avaliação, recomenda-se o aumento da ingestão de líquidos como soro caseiro, sopas e sucos não laxantes. Manter a alimentação habitual, em espe cial o leite materno, e corrigir eventuais erros alimentares. Persistindo os si- nais e sintomas de desidratação e se o paciente vomitar, deve-se reduzir o volume e aumentar a frequência da administração. Manter a criança na unidade de saúde até a reidratação. O uso de sonda na sogástrica (SNG) é indicado apenas em casos de perda de peso após as duas pri- meiras horas de tratamento oral, com vômitos persistentes, distensão abdominal e ruídos hidroaéreos presentes ou dificuldade de ingestão. Nesses casos, administrar 20 a 30ml/kg/hora de SRO. A hidratação pa- renteral só é indicada quando houver alteração da cons ciência, vômitos persistentes, mesmo com uso de sonda nasogástrica, presença de íleo paralítico e nos casos em que a criança não ganha ou perde peso com a hidratação por SNG. Os antimicrobianos devem ser utilizados apenas na disenteria e casos graves de Cólera (vide capítu lo específico). Quan- do há identificação de trofozoítos de G. lamblia (15mg/kg/dia) ou E. hystolitica (30mg/kg/dia) é recomendado o Me tronidazol, dividido em 3 doses, por 5 dias. Características epidemiológicas - Importante causa de morbi- mortalidade no Brasil e em países subdesenvolvidos. Têm incidência elevada e os episódios são frequentes na infância, particularmente em áreas com precárias condições de saneamento. O SRO diminui a leta- lidade por essas doenças, mas a morbidade ainda é importante causa de desnutrição e do retardo de crescimento. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 157 DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Monitorar a incidência das diarreias, visando atuar em si- tuações de surtos, e manter contínuas atividades de educação em saúde com o propósito de diminuir sua incidência e letalidade. Notificação - Não é doença de notificação compulsória, em virtude de sua elevada frequência. A vigilância é feita pela monitorização das Doenças Diarreicas Agudas, que consiste no registro de dados míni- mos dos doentes (residência, idade, plano de tratamento) em unidades de saúde. Definição de caso - Indivíduo que apresentar fezes cuja consis tência revele aumento do conteúdo líquido (pastosas, aquosas), com maior número de dejeções diárias e duração inferior a 2 semanas. MEDIDAS DE CONTROLE Melhoria da qualidade da água, destino adequado de lixo e dejetos, controle de vetores, higiene pessoal e alimentar. Educação em saúde, particularmente em áreas de elevada incidência. Locais de uso cole- tivo, tais como escolas, creches, hospitais, penitenciárias, que podem apresentar riscos maximizados quando as condições sanitárias não são adequadas, devem ser alvo de orientações e campanhas específicas. Ocorrências em crianças de creches devem ser seguidas de precau- ções entéricas, além de reforçadas as orientações às manipuladoras e às mães. Considerando a importância das causas alimentares nas diar- reias das crianças pequenas, é fundamental o incentivo à prorrogação do tempo de aleitamento materno, comprovadamente uma prática que confere elevada proteção a esse grupo populacional. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS158 Doença Meningocócica CID 10: A39.0 e A39.2 1 Sinal de Kernig 2 Sinal de Brudzinski 19 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - A Doença Meningocócica (DM) é uma entidade clínica que apresenta diversas formas e prognósticos. Há relatos de que a DM pode se apresentar sob a forma de doença benigna, caracterizada por febre e bacteremia, simulando uma infecção respiratória, quase sempre diagnosticada por hemocultura. Porém, em geral, o quadro é grave, a exemplo de septicemia (meningococcemia), caracterizada por mal- estar súbito, febre alta, calafrios, prostração, acompanhada de mani- festações hemorrágicas na pele (petéquias e equimoses), e, ainda, sob a forma de meningite, com ou sem meningococcemia, de início súbito, com febre, cefaleia intensa, náuseas, vômitos e rigidez de nuca, além de outros sinais de irritação meníngea (Kernig1 e Brudzinski2). O paciente pode apresentar-se consciente, sonolento, torporoso ou em coma. Os reflexos superficiais e osteotendinosos estão presentes e normais. Outra apresentação é a meningoencefalite, na qual ocorre depressão sensorial profunda, sinais de irritação meníngea e compro- metimento dos reflexos superficiais e osteotendinosos. Delírio e coma podem surgir no início da doença, ocorrendo, às vezes, casos fulmi- nantes, com sinais de choque. Lactentes raramente apresentam sinais de irritação meníngea, o que leva a necessidade de se observar febre, irritabilidade ou agitação, grito meníngeo e recusa alimentar, acompanhados ou não de vômitos, con- vulsões e abaulamento da fontanela. Agente etiológico - Neisseria meningitidis (meningococo), bactéria em forma de diplococos gram-negativos. É classificada em sorogrupos de acordo com o antígeno polissacarídeo da cápsula, sorotipos e subti- pos. Os sorogrupos mais importantes são: A, B, C, W135 e Y. Reservatório - O homem doente ou portador assintomático. Modo de transmissão - Contato íntimo de pessoa a pessoa (pes- soas que residem no mesmo domicílio ou que compartilham o mesmo dormitório em internatos, quartéis, creches, etc.), por meio de gotícu- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 159 DOENÇA MENINGOCÓCICA las das secreções da nasofaringe. O principal transmissor é o portador assintomático. Período de incubação - De 2 a 10 dias; em média, de 3 a 4 dias. Período de transmissibilidade - Enquanto houver o agente na na- sofaringe. Em geral, após 24 horas de antibioticoterapia, o meningoco- co já desapareceu da orofaringe. Complicações - Necroses profundas com perda de tecido nas áre- as externas, onde se iniciam as equimoses, surdez, artrite, miocardite, pericardite, paralisias, paresias, abcesso cerebral, hidrocefalia, dentre outras. Diagnóstico - Por meio do isolamento da N. meningitidis do sangue ou líquor. O LCR pode se apresentar turvo, com cor leitosa ou xanto- crômica. A bioquímica evidencia glicose e cloretos diminuídos (con- centração de glicose inferior a 50% da glicemia, coletada simultanea- mente ao líquor), proteínas elevadas (acima de 100mg/dl) e aumento do número de leucócitos, predominando polimorfonucleares neutrófi- los. A contra-imunoeletroforese (CIE) é reagente, a bacterioscopia evi- dencia a presença de diplococos gram-negativos e a cultura evidencia o crescimento de N. meningitidis. Nas meningococcemias, o leucograma apresenta-secom milhares de leucócitos, havendo predominância de neutrófilos (“desvio à esquerda”). A hemocultura é positiva. O raspa- do das lesões de pele pode ser cultivado para identificação do agente. Outros exames que podem ser utilizados para identificação do menin- gococo são a pesquisa de antígenos no líquor, fixação do látex, Elisa ou radioimunoensaio. A reação em cadeia da polimerase (PCR) para o diagnóstico tem sido utilizada, apresentando elevada sensibilidade e especificidade. Ressalte-se que essa técnica não é utilizada na rotina diagnóstica. Diagnóstico diferencial - Meningites e meningoencefalites em ge- ral, principalmente as purulentas, encefalites, febre purpúrica brasilei- ra, septicemias. Tratamento - Penicilina Cristalina, 300.000 a 500.000UI/kg/dia, com dose máxima de 24.000.000UI/dia, IV, fracionada em 3/3 ou 4/4 horas, durante 7 a 10 dias; Ampicilina, 200 a 400mg/kg/dia, até no máximo de 15g/dia, IV, fracionada em 4/4 ou 6/6 horas, durante 7 a 10 dias. Em casos de alergia, usar Cloranfenicol, na dose de 50 a 100mg/kg/dia, IV, fracionada em 6/6 horas. Características epidemiológicas - É a meningite de maior impor- tância para a saúde pública, por se apresentar sob a forma de ondas epidêmicas que podem durar de 2 a 5 anos. Tem distribuição univer- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS160 sal e os casos ocorrem durante todo o ano (forma endêmica). O Brasil viveu uma grande epidemia de Doença Meningocócica na primeira metade da década de 70, devido aos sorogrupos A e C. Até a primeira metade da década de 90, a incidência média desta doença variou de 1 a 6/100.000 hab. entre as cinco macrorregiões do país e, desde então, apresenta tendência de queda. No período de 2000 a 2007, foram de- tectados 22 surtos de Doença Meningocócica no Brasil, um pelo so- rotipo B e os demais pelo sorotipo C, que atualmente são os sorotipos circulantes. O diagnóstico precoce e a qualidade da assistência contri- buem para a redução da letalidade. A quimioprofilaxia corretamente indicada e realizada em tempo hábil reduz significativamente o risco de aparecimento de casos secundários. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Monitorar a situação epidemiológica da doença no país; orientar a utilização de medidas de prevenção e controle e avaliar sua efetividade. Avaliar o desempenho operacional do sistema de vigilância de meningite, produzir e disseminar informações epidemiológicas. Notificação - É de notificação compulsória e investigação imediata. Definição de caso - Maiores de um ano e adultos com febre, cefaleia intensa, vômito em jato, rigidez de nuca, sinais de irritação meníngea (Kern- ing e Brudzinski), convulsões e/ou manchas vermelhas no corpo. Em crianças menores de 1 ano, considerar irritabilidade, choro persistente e abaulamento de fontanela. - A confirmação é feita por exame laboratorial (cultura, CIE e látex) ou todo caso suspeito de meningite com história de vínculo epidemiológico com caso confirmado laboratorialmente ou todo caso suspeito com bacterioscopia positiva (diplococo Gram negativo) ou clínica sugestiva, com petéquias (meningococcemia). MEDIDAS DE CONTROLE - É feita em contatos íntimos do doente. A droga de escolha é a Rifampicina, na dose de 600mg, VO, de 12/12 horas, durante 2 dias (dose máxima total de 2.400mg), para adultos. Crianças de 1 mês até 10 anos, administrar 10mg/kg/dose em 4 tomadas, com intervalos de 12/12 horas, sendo a dose máxima de 600mg. Recém-nascidos, 5mg/kg/dose, de 12/12 horas, em 4 tomadas (dose máxima de 600g). A quimioprofilaxia não garante proteção absoluta, mas ajuda a prevenir a ocorrência de casos secundários. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 161 DOENÇA MENINCOCÓCICA - As vacinas polissacarídicas confer- em imunidade de curta duração e, por isso, sua indicação restringe-se ao controle de surtos. Nesse caso, a decisão sobre a indicação deverá ser baseada na análise epidemiológica (incluindo a informação sobre o sorogrupo) e na disponibilidade de vacina sorogrupo específica. A indicação de vacinação para controle de surto depende da decisão de três instâncias: municipal, estadual e federal. isolamento do paciente só ocorre durante as primeiras 24 horas de tratamento, com o antibiótico indicado. deverá ser feita em relação às secreções respiratórias e aos objetos por elas contaminados. O pa- ciente deve receber quimioprofilaxia antes da alta, pois a antibiotico- terapia venosa nem sempre elimina as N. meningitidis da orofaringe. Exceção se faz aos casos tratados com o antibiótico Ceftriaxone. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS162 Donovanose CID 10: A58 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença bacteriana de evolução progressiva e crônica, que acomete, preferencialmente, pele e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais, podendo ocasionar lesões granulomatosas e des- trutivas. Inicia-se por lesão nodular, única ou múltipla, de localização subcutânea, que eclode produzindo ulceração bem definida e cresce lentamente. É indolor e sangra com facilidade. A partir daí, as manifes- tações estão diretamente ligadas às respostas tissulares do hospedeiro, originando formas localizadas ou externas e, até mesmo, lesões visce- rais, por disseminação hematogênica. A observação do polimorfismo das manifestações levou à proposição de classificação clínica sugerida por Jardim (1987). Genitais e perigenitais - São divididas em ulcerosas e subdivididas em: com bordas hipertróficas e com bordas planas; ulcerovegetantes; vegetantes e elefantiásicas. Extragenitais. Sistêmicas - Geralmente as formas ulcerosas têm maior dimensão; apresentam bordas planas ou hipertróficas, com abundante se- creção, e crescem, por expansão, por meio de auto-inoculação. Nas formas ulcerovegetantes (a mais frequente), há abundante tecido de granulação no fundo da lesão, ultrapassando o contorno lesional. As lesões vegetantes são pouco frequentes e, habitualmente, de pequenas dimensões, bem delimitadas e desprovidas de secreções. As manifestações elefantiásicas ocorrem, quase sempre, após formas ulcerativas, secundárias às alterações linfáticas, que as acompan- ham. As localizações extragenitais são raras e podem resultar de práticas sexuais não usuais ou da extensão do foco inicial, por auto- inoculação, sendo essa última mais frequente. Há predileção pelas regiões de dobras e região perianal. Não há adenite na Donovanose, embora raramente possam se formar pseudobubões (granulações subcutâneas) na região inguinal, quase sempre unilaterais. Há relatos de localização nas gengivas, axilas, parede abdominal, couro cabe- ludo e outros locais. Na forma sistêmica da doença, podem ocorrer manifestações ósseas, articulares, hepáticas, esplênicas, pulmonares e outras. Em portadores de aids, a Donovanose assume uma evolução clínica atípica, com aparecimento de novas lesões, expansão das pré- existentes e persistência da positividade bacteriológica em resposta ao tratamento. 20 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 163 Sinonímia - Granuloma venéreo, granuloma tropical, úlcera serpigi- nosa, úlcera venéreo-crônica e granuloma inguinal. Agente etiológico - Calymmatobacterium granulomatis (Klebsiella granulomatis, Donovania granulomatis), descrito em 1913, por dois brasileiros, Aragão e Vianna. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Provavelmente por contato direto com le- sões, durante a atividade sexual. Entretanto, esse ainda é assunto con- trovertido. A ocorrência em crianças e pessoas sexualmente inativas e a variedade da doença em parceiros sexuais de pacientes com lesões abertas são dados que se contrapõem ao estabelecimento definitivo da transmissão sexual exclusiva da doença. Período de incubação - Entre 3 dias a 6 meses. Período de transmissibilidade - Desconhecido, provavelmente enquanto há lesões abertas na pele e/ou membranas mucosas. Complicações - As formas vegetantes, elefantiásicas e sistêmicas po- dem ser consideradascomo complicações da Donovanose. Diagnóstico - Laboratorial: demonstração dos corpúsculos de Dono- van em esfregaço de material proveniente de lesões suspeitas ou cortes tissulares corados com Giemsa ou Wright. Diagnóstico diferencial - Cancro Mole, principalmente na sua for- ma fagedênica, sífilis secundária, condiloma acuminado, carcinoma espinocelular, leishmaniose e paracoccidioidomicose. Tratamento - Doxiciclina, 100mg, VO, de 12/12 horas, até a cura clínica (no mínimo por 3 semanas), ou Sulfametoxazol+Trimetoprim, 160mg e 800mg, respectivamente, VO, de 12/12 horas, até a cura clí- nica (no mínimo por 3 semanas); ou Ciprofloxacina, 750mg, VO, de 12/12 horas, até a cura clínica; ou Tianfenicol granulado, 2,5g, VO, dose única, no primeiro dia de tratamento; a partir do segundo dia, 500mg, VO, de 12/12 horas, até a cura clínica, ou Eritromicina (estea- rato), 500mg, VO, de 6/6 horas, até a cura clínica (no mínimo por 3 semanas), ou Tetraciclina, 500mg, VO, de 6/6 horas, durante 30 a 40 dias, até a cura clínica. Observação: Não havendo resposta na aparência da lesão nos primei- ros dias de tratamento com a Ciprofloxacina ou a Eritromicina, reco- menda-se adicionar um aminoglicosídeo, como a Gentamicina, 1mg/ kg/dia, EV, de 8/8 horas. DONOVANOSE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS164 Recomendações - O critério de cura é o desaparecimento da lesão. As sequelas podem exigir correção cirúrgica. Na gravidez, a doença é de baixa incidência. Não foi relatada infecção congênita, intra-uterina ou durante o parto. A gestante deve ser tratada com Estereato de Eritro- micina, 500mg, VO, de 6/6 horas, até a cura clínica (no mínimo por 3 semanas), ou Tianfenicol, 0,5g, VO, de 8/8 horas, por 14 dias. Características epidemiológicas - A doença apresenta maior pre- valência nas regiões subtropicais, sendo mais frequente em negros. Afeta igualmente homens e mulheres, embora existam publicações conflitantes sobre esse aspecto. Habitualmente, é mais frequente entre os 20 e 40 anos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Interromper a cadeia de transmissão mediante detecção e tratamento precoce dos casos (fontes de infecção). Notificação - Não é doença de notificação compulsória nacional. Os profissionais de saúde devem observar as normas e procedimentos de notificação e investigação de estados e municípios. MEDIDAS DE CONTROLE Interrupção da cadeia de transmissão pela triagem e referência dos pacientes com DST e seus parceiros, para diagnóstico e terapia ade- quados. - Orientações ao paciente, fazendo com que observe as possíveis situações de risco presentes em suas práticas sexuais, desenvolva a percepção quanto à importância do seu tratamento e de seus parceiros sexuais e promova comportamentos preventivos. Devido à baixa infectividade, não é necessário fazer o tratamento dos parceiros. - Método mais eficaz para a redução do risco de transmissão do HIV e outras DST. Convite aos parceiros para aconselhamento e promoção do uso de preservativos (deve-se obedecer aos princípios de confiabilidade, ausência de coerção e proteção contra a discriminação). Educação em saúde, de modo geral. Observação: As associações entre diferentes DST são frequentes, des- tacando-se, atualmente, a relação entre a presença de DST e o aumento do risco de infecção pelo HIV, principalmente na vigência de úlceras genitais. Desse modo, se o profissional estiver capacitado a realizar DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 165 DONOVANOSE aconselhamento, pré e pós-teste para detecção de anticorpos anti-HIV, quando do diagnóstico de uma ou mais DST, deve ser oferecida essa opção ao paciente. Portanto, toda doença sexualmente transmissível constitui evento sentinela para a busca de outra DST e possibilidade de associação com o HIV. É necessário, ainda, registrar que o Ministério da Saúde vem implementando a “abordagem sindrômica” aos pacientes de DST, visando aumentar a sensibilidade no diagnóstico e tratamento dessas doenças, para alcançar maior impacto no seu controle. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS166 Enterobíase CID 10: B80 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infestação intestinal causada por helminto. Pode cursar assintomática ou apresentar, como característica principal, o prurido perianal, frequentemente noturno, que causa irritabilidade, desassosse- go, desconforto e sono intranquilo. As escoriações provocadas pelo ato de coçar podem resultar em infecções secundárias em torno do ânus, com congestão na região anal, ocasionando inflamação com pontos hemorrágicos, onde se encontram, frequentemente, fêmeas adultas e ovos. Sintomas inespecíficos do aparelho digestivo são registrados, como vômitos, dores abdominais, tenesmo, puxo e, raramente, fezes sanguinolentas. Outras manifestações, como vulvovaginites, salpingi- tes, ooforite e granulomas pelvianos ou hepáticos, têm sido registradas, esporadicamente. Sinonímia - Oxiuríase, caseira. Agente etiológico - Enterobius vermicularis, nematódeo intestinal. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Predominantemente fecal-oral. São diver- sos os modos de transmissão: - Do ânus para a cavidade oral, por meio dos dedos, principalmente nas crianças, doentes mentais e adultos com precários hábitos de higiene. Ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou. - Os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem um novo hospedeiro. - Migração das larvas da região anal para as regiões superiores do intestino grosso, chegando até o ceco, onde se tornam adultas. - Processo raro no qual as larvas eclodem ainda dentro do reto e depois migram até o ceco, transformando-se em vermes adultos. Período de incubação - O ciclo de vida do parasito dura de 2 a 6 semanas. A sintomatologia aparece quando existe um número de ver- mes resultante de infestações sucessivas, que ocorre alguns meses após a infestação inicial. 21 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 167 Período de transmissibilidade - Dura enquanto as fêmeas grávi- das expulsam ovos na pele perianal, que permanecem infectantes por 1 ou 2 semanas fora do hospedeiro. Complicações - Salpingites, vulvovaginites, granulomas pelvianos. Infecções secundárias às escoriações. Diagnóstico - Em geral, clínico, devido ao prurido característico. O diagnóstico laboratorial reside no encontro do parasito e de seus ovos. Como dificilmente é conseguido nos parasitológicos de fezes de rotina, sendo achado casual quando o parasitismo é muito intenso, deve-se pesquisar diretamente na região perianal, o que deve ser feito pelos métodos de Hall (swab anal) ou de Graham (fita gomada), cuja colhei- ta é feita na região anal, seguida de leitura em microscópio. Também podem ser pesquisados em material retirado de unhas de crianças in- fectadas, que oferecem alto índice de positividade. Diagnóstico diferencial - Moléstias do aparelho digestivo, vulvo- vaginites. Tratamento - Pamoato de Pirvínio, 10mg/kg/VO, dose única; Pa- moato de Pirantel, 10mg/kg/VO, dose única. Mebendazol, 100mg, VO, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Essa dose independe do peso corporal e da idade. Albendazol, 10mg/kg, VO, dose única, até o máximo de 400mg. Todas essas drogas são contra-indicadas em gestantes. Características epidemiológicas - Distribuição universal, afe- tando pessoas de todas as classes sociais. É uma das helmintíases mais frequentes na infância, inclusive em países desenvolvidos, sendo mais incidente na idade escolar. É importante ressaltar que, em geral, afeta mais de um membro na família, o que tem implicações no seu controle, que deve ser dirigido a pessoas que vivem no mesmo domicílio. Não provoca quadros graves nem óbitos, porém interfere no estado de hu- mor dos infectados, em vista da irritabilidade ocasionada pelo prurido, levando a baixo rendimento escolar. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar para evitar o baixo rendimento esco- lar ea irritabilidade dos indivíduos infectados. Desenvolver atividades de educação em saúde, particularmente de hábitos pessoais de higiene. Para fins de vigilância e de controle, o tratamento deve ser feito em todo o grupo familiar ou que coabita o mesmo domicílio, visando evi- tar as re-infestações. ENTEROBÍASE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS168 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Notificação - Não é doença de notificação compulsória. Definição de caso - Paciente com prurido anal. - Paciente com presença de ovos de E. vermiculares, com ou sem prurido anal. MEDIDAS DE CONTROLE Orientar a população quanto a hábitos de higiene pessoal, particular- mente o de lavar as mãos antes das refeições, após o uso do sanitário, após o ato de se coçar e antes da manipulação de alimentos. Manter as unhas aparadas rente ao dedo, para evitar acúmulo de material con- taminado. Evitar coçar a região anal desnuda e levar as mãos à boca. Eliminar as fontes de infecção através do tratamento do paciente e de todos os membros da família. Troca de roupas de cama, de roupa in- terna e toalhas de banho, diariamente, para evitar a aquisição de novas infecções pelos ovos depositados nos tecidos. Manter limpas as insta- lações sanitárias. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 169 Escabiose CID 10: B86 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Parasitose da pele causada por um ácaro cuja penetração deixa lesões em forma de vesículas, pápulas ou pequenos sulcos, nos quais ele deposita seus ovos. As áreas preferenciais da pele para visua- lizar essas lesões são: regiões interdigitais, punhos (face anterior), axi- las (pregas anteriores), região periumbilical, sulco interglúteo e órgãos genitais externos (nos homens). Em crianças e idosos, podem também ocorrer no couro cabeludo, nas palmas das mãos e plantas dos pés. O prurido intenso é causado por reação alérgica a produtos metabólicos do ácaro. Caracteristicamente essa manifestação clínica se intensifica durante a noite, por ser o período de reprodução e deposição de ovos desse agente. Sinonímia - Sarna, pereba, curuba, pira, quipá. Agente etiológico - Sarcoptes scabiei. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Contato direto com doentes (comparti- lhamento de dormitórios, relações sexuais,etc) e por meio de fômites contaminados (roupas de cama, toalhas de banho, vestimentas). Período de incubação - De 1 dia a 6 semanas. Período de transmissibilidade - Todo o período da doença. Complicações - Infecções secundárias pela “coçadura”, que, quando causada pelo estreptococo ß hemolítico, pode levar à glomerulonefrite. Em pacientes imunocomprometidos, há risco de se estender como uma dermatite generalizada, com intensa descamação. Essa forma também pode ocorrer em idosos, nos quais o prurido é menor ou não existe. A forma intensamente generalizada é denominada de sarna norueguesa. Diagnóstico - Baseia-se na sintomatologia, tipo e topografia das lesões e dados epidemiológicos. Pode ser feito também mediante a visua- lização do ácaro, à microscopia pelo raspado ou biópsia de pele. Tratamento - Ivermectina, dose única, VO, obedecendo a escala de peso corporal (15 a 24kg: 1/2 comprimido; 25 a 35kg: 1 comprimido; 36 a 50kg: 1 1/2 comprimido; 51 a 65kg: 2 comprimidos; 65 a 79kg: 2 1/2 comprimidos; 80 kg ou mais: 3 comprimidos). A dose pode ser repetida após 1 semana. Permetrima a 5% em creme, uma aplicação à 22 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS170 noite, por 6 noites, ou Deltametrina, em loções e shampoos, uso diário por 7 a 10 dias. Enxofre a 10% diluído em petrolatum deve ser usado em mulheres grávidas e crianças abaixo de 2 anos. Pode-se usar anti- histamínicos sedantes (Dexclorfeniramina, Prometazina), para alívio do prurido. Havendo infecção secundária, utiliza-se antibioticoterapia sistêmica. Evitar a iatrogenia pelo uso de escabicida repetidas vezes. Considerar fracasso terapêutico a presença de sinais e sintomas após 2 semanas. Se os sintomas reaparecerem após 4 semanas, considerar reinfestação. Características epidemiológicas - Ocorre em qualquer lugar do mundo e está vinculada a hábitos de higiene. É frequente em guerras e em aglomerados populacionais. Geralmente, ocorre sob a forma de surtos em comunidades fechadas ou grupos familiares. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivo - Manter a doença sob controle, evitando surtos. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. MEDIDAS DE CONTROLE - Lavar com água quente todos os fômites dos pacientes (especialmente dos portadores de sarna norueguesa), as roupas devem ficar livres do contato com o hospedeiro e contactantes por 7 dias. É fundamental atentar para a necessidade de maior higiene pessoal e limpeza do ambiente. Buscar casos na família ou nos residentes do mesmo domicílio do doente e tratá-los o mais breve possível, para evitar disseminação da doença. Investigar a existência de casos na mesma rua, creches e outros ambientes de convivência do paciente é importante para evitar surtos comunitários. - Deve-se afastar o indivíduo da escola ou trabalho até 24 horas após o término do tratamento. Em caso de paciente hospitalizado, recomenda-se o isolamento, a fim de evitar surtos em enfermarias, tanto para outros doentes quanto para os profissionais de saúde, especialmente no caso da sarna norueguesa. O isolamento deve perdurar por 24/48 horas após o início do tratamento. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 171 Esquistossomose Mansônica CID 10: B65 23 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - A Esquistossomose Mansônica é uma doença parasitária, causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni, cuja sintomatologia clínica depende de seu estágio de evolução no homem. A fase aguda pode ser assintomática ou apresentar-se como dermatite cercariana, caracterizada por micropápulas eritematosas e pruriginosas, até cinco dias após a infecção. Com cerca de 3 a 7 semanas após a exposição, pode ocorrer a febre de Katayama, caracterizada por linfodenopatia, febre, anorexia, dor abdominal e cefaleia. Esses sintomas podem ser acompanhados de diarreia, náuseas, vômitos ou tosse seca, ocorrendo hepatomegalia. Após seis meses de infecção, há risco do quadro clínico evoluir para a fase crônica, cujas formas clínicas são: - Caracteriza-se pela presença de diarreias e epigastralgia. Ao exame físico, o paciente apresenta fígado palpável, com nodulações que, nas fases mais avançadas dessa forma clínica, correspondem a áreas de fibrose decorrentes de granulomatose periportal ou fibrose de Symmers. - A apresentação clínica dos pacientes pode ser assin- tomática ou com sintomas da forma hepatointestinal. Ao exame físico, o fígado é palpável e endurecido, à semelhança do que acontece na forma hepatoesplênica. Na ultrassonografia, verifica-se a presença de fibrose hepática, moderada ou intensa. - A característica fundamental desta forma é a presença de hipertensão portal, levando à esplenomegalia e ao aparecimento de varizes no esôfago. Os pacientes costumam apresentar sinais e sintomas gerais inespecíficos, como dores abdominais atípicas, alterações das funções intestinais e sensação de peso ou desconforto no hipocôndrio esquerdo, devido ao crescimento do baço. Às vezes, o primeiro sinal de descompensação da doença é a hemorragia digestiva com a presença de hematêmese e/ou melena. O exame físico detecta hepatoesplenomegalia. - Considerada uma das formas mais graves. Caracteriza-se por diminuição acentuada do estado funcional do fígado. Essa descompensação relaciona-se à ação de vários fatores, tais como os surtos de hemorragia digestiva e consequente isquemia hepática e fatores associados (hepatite viral, alcoolismo). Secretaria de Vigilância em Saúde / MS172 Agente etiológico - Schistosoma mansoni, um helminto pertencente à classe dos Trematoda, família Schistosomatidae e gênero Schistosoma. Reservatório - No ciclo da doença, estão envolvidos dois hospedei-ros, um definitivo e o intermediário. - O homem é o principal hospedeiro definitivo e nele o parasita apresenta a forma adulta, reproduzindo-se sexuadamente, possibilitando a eliminação dos ovos do S. mansoni, no ambiente, pelas fezes, ocasionando a contaminação das coleções hídricas. Os primatas, marsupiais (gambá), ruminantes, roedores e lagomorfos (lebres e coelhos), são considerados hospedeiros permissivos ou reservatórios, porém, não está clara a participação desses animais na transmissão. - No Brasil, são os caramujos do gênero Biomphalaria: B. glabrata, B. tenagophila, B. straminea. Modo de transmissão - Os ovos do S. mansoni são eliminados pe- las fezes do hospedeiro infectado (homem). Na água, eclodem, liberan- do uma larva ciliada denominada miracídio, que infecta o caramujo. Após 4 a 6 semanas, a larva abandona o caramujo, na forma de cer- cária, ficando livre nas águas naturais. O contato humano com águas infectadas pelas cercárias é a maneira pela qual o indivíduo adquire a Esquistossomose. Período de incubação - Em média, 1 a 2 meses após a infecção. Período de transmissibilidade - O homem pode eliminar ovos viáveis de S. mansoni nas fezes a partir de 5 semanas após a infecção, e por um período de 6 a 10 anos, podendo chegar até mais de 20 anos. Os hospedeiros intermediários, começam a eliminar cercárias após 4 a 7 semanas da infecção pelos miracídios Os caramujos infectados eli- minam cercárias durante toda a sua vida que é de, aproximadamente, 1 ano. Complicações - Fibrose hepática, hipertensão portal, insuficiência hepática severa, hemorragia digestiva, cor pulmonale, glomerulonefri- te. Podem ocorrer associações com infecções bacterianas (salmonelas, estafilococos) e virais (hepatites B e C). Pode haver comprometimento do sistema nervoso central e de outros órgãos secundários ao depósito ectópico de ovos. Diagnóstico - Além do quadro clínico-epidemiológico, deve ser realizado exame coprológico, preferencialmente com uso de técnicas quantitativas de sedimentação, destacando-se a técnica de Kato-Katz. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 173 ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA A ultra-sonografia hepática auxilia o diagnóstico da fibrose de Sym- mers e nos casos de hepatoesplenomegalia. A biópsia retal ou hepática, apesar de não recomendada na rotina, pode ser de ser útil em casos suspeitos e na presença de exame parasitológico de fezes negativo. Diagnóstico diferencial - A Dermatite cercariana pode ser con- fundida com doenças exantemáticas, como dermatite por larvas de helmintos, por produtos químicos lançados nas coleções hídricas ou, ainda, por cercárias de parasitas de aves. O diagnóstico diferencial da Esquistossomose aguda deve ser feito com outras doenças infeccio- sas agudas, tais como febre tifóide, malária, hepatites virais anictéricas A e B, estrongiloidíase, amebíase, mononucleose, tuberculose miliar e ancilostomíase aguda, brucelose e doença de Chagas aguda. A Es- quistossomose crônica pode ser confundida com outras parasitoses intestinais, além de outras doenças do aparelho digestivo, que cursam com hepatoesplenomegalia: calazar, leucemia, linfomas, hepatoma, sal- monelose prolongada, forma hiperreativa da malária (esplenomegalia tropical) e cirrose. Tratamento - Praziquantel, na apresentação de comprimidos de 600mg é administrado por via oral, em dose única de 50mg/kg de peso para adultos e 60mg/kg de peso para crianças. Como segunda esco- lha, Oxamniquina, apresentada em cápsulas com 250mg e solução de 50mg/ml, para uso pediátrico. Para adultos, recomenda-se 15mg/kg e crianças, 20mg/kg, via oral, em dose única, uma hora após uma refei- ção. De maneira geral, recomenda-se não adotar os medicamentos que compõem a terapêutica anti-esquistossomótica, nas seguintes situa- ções: amamentar a criança 72 horas após a administração da medicação. O risco/benefício do tratamento deve ser avaliado pelo médico; - toesplênica) clínica, a critério médico. Características epidemiológicas - A Esquistossomose ocorre em 54 países, destacando-se África, leste do Mediterrâneo, América do Sul e Caribe. No Brasil, é considerada uma endemia, que atinge 18 estados Secretaria de Vigilância em Saúde / MS174 e Distrito Federal. Os estados das regiões Nordeste, Sudeste e Centro- oeste são os mais afetados. Atualmente, a doença é detectada em todas as regiões do país. As áreas endêmicas e focais abrangem 18 unidades federadas e o Distrito federal, atingindo os estados: Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte (faixa litorânea), Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais (com predominância no norte e nordeste do estado). No Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal, a transmissão é focal, não atingindo grandes áreas. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Reduzir a ocorrência de formas graves e óbitos; reduzir a prevalência da infecção e reduzir o risco de expansão geográfica da doença . Notificação - É doença de notificação compulsória em áreas não-en- dêmicas, Entretanto, recomenda-se que todas as formas graves na área endêmica sejam notificadas. Também todos os casos diagnosticados na área endêmica com focos isolados (Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul). Definição de caso - Indivíduo residente e/ou procedente de área endêmica com quadro clínico sugestivo das formas aguda, crônica ou assin- tomática, com história de contato com as coleções de águas onde existam caramujos eliminando cercárias. Todo caso suspeito deve ser submetido a exame parasitológico de fezes. - Qualquer caso suspeito que apresente ovos viáveis de S. mansoni nas fezes ou em tecido submetido à biópsia. Caso suspeito ou notificado sem confirmação laborato- rial. MEDIDAS DE CONTROLE - Identificação e tratamento dos portadores de S. mansoni, por meio de inquéritos coproscópicos a cada dois anos deve fazer parte da programação de trabalho das secretarias municipais de saúde das áreas endêmicas. É necessário o trabalho conjunto das equipes de Saúde da Família (ESF), com os agentes de combate de endemias que atuam no Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose (PCE). DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 175 ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA - São de natureza complementar e consistem em pesquisa de coleções hídricas para determinação do seu potencial de transmissão, medidas de sanea- mento ambiental, para dificultar a proliferação e o desenvolvimento dos hospedeiros intermediários, bem como impedir que o homem infectado contamine as coleções de águas com ovos de S. mansoni, quando indicado, tratamento químico de criadouros de importância epidemiológica. Educação em saúde - As ações de educação em saúde devem preceder e acompanhar todas as atividades de controle e serem baseadas em estudos do comportamento das populações em risco. Realizada pelos agentes de saúde e por profissionais das unidades básicas, é direcio- nada à população em geral, com atenção aos escolares residentes nas áreas endêmicas. Saneamento ambiental - No controle da Esquistossomose, o sa- neamento ambiental cria condições que reduzem a proliferação e a contaminação dos hospedeiros intermediários, com consequente diminuição do contato do homem com os agentes transmissores (caramujos infectados). Secretaria de Vigilância em Saúde / MS176 Estrongiloidíase CID 10: B78 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença parasitária intestinal, frequentemente assinto- mática. As formas sintomáticas apresentam inicialmente alterações cutâneas, secundárias à penetração das larvas na pele e caracterizadas por lesões urticariformes ou maculopapulares ou por lesão serpiginosa ou linear pruriginosa migratória (larva currens). A migração da larva pode causar manifestações pulmonares, como tosse seca,dispneia ou broncoespasmo e edema pulmonar (síndrome de Löefler). As mani- festações intestinais podem ser de média ou grande intensidade, com diarreia, dor abdominal e flatulência, acompanhadas ou não de ano- rexia, náusea, vômitos e dor epigástrica, que pode simular quadro de úlcera péptica. Os quadros de Estrongiloidíase grave (hiperinfecção) se caracterizam por febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos, diarreias profusas, manifestações pulmonares (tosse, dispneia e bron- coespasmos e, raramente, hemoptise e angústia respiratória). Na radio- grafia de tórax, pode-se observar até cavitação. Podem, ainda, ocorrer infecções secundárias, como meningite, endocardite, sepse e peritoni- te, mais frequentemente por enterobactérias e fungos. Esses quadros, quando não tratados conveniente e precocemente, podem atingir le- talidade de 85%. Agente etiológico - O helminto Strongyloides stercolaris. Reservatório - O homem. Gatos, cães e primatas têm sido encontra- dos infectados. Modo de transmissão - As larvas infectantes (filarióides), presentes no meio externo, penetram através da pele, no homem, chegando aos pulmões, traqueia e epiglote, atingindo o trato digestivo, via descenden- te, onde se desenvolve o verme adulto. A fêmea parasita é ovovivípara e libera ovos larvados que eclodem ainda no intestino, liberando larvas rabditóides (não-infectantes), que saem pelas fezes e podem evoluir, no meio externo, para a forma infectante ou para adultos de vida livre, que, ao se acasalarem, geram novas formas infectantes. Pode ocorrer, também, auto-endoinfecção, quando as larvas passam a ser filarióides, no interior do próprio hospedeiro, sem passar por fase evolutiva no meio externo. Auto-exoinfecção ocorre quando as larvas filarióides se localizam na região anal ou perianal, onde novamente penetram no organismo do hospedeiro. 24 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 177 Período de incubação - Ocorre no prazo de 2 a 4 semanas entre a penetração através da pele e o aparecimento de larvas rabditóides nas fezes. O período para a manifestação dos primeiros sintomas é variado. Período de transmissibilidade - Enquanto o homem portar larvas. Complicações - Síndrome de hiperinfecção; síndrome de Löefler; edema pulmonar, no paciente imunocomprometido, em uso de cor- ticóides ou desnutridos, podendo haver superinfestação ou infecção oportunística; síndrome de má absorção. Nas formas sistêmicas, pode ocorrer sepse, com evolução letal. Diagnóstico - Parasitológico de fezes, escarro ou lavado gástrico, por meio do Baermann-Moraes. Em casos graves, podem ser utilizados testes imunológicos, como Elisa, hemaglutinação indireta, imuno-flu- orescência indireta. O estudo radiológico do intestino delgado auxilia o diagnóstico. Diagnóstico diferencial - Ascaridíase, giardíase, ancilostomíase, pneumonia, urticária, colecistite, pancreatite, eosinofilia pulmonar tro- pical. A larva currens deve ser diferenciada da larva migrans, causada pela larva do Ancylostoma brasiliensis e caninum. Tratamento - Cambendazol, 5mg/kg, em dose única, via oral; Tia- bendazol, via oral, em vários esquemas terapêuticos: a) 25mg/kg/dia, durante 5 a 7 dias, esquema muito utilizado; b) 50mg/kg/dia, em dose única, à noite. A dose máxima recomendada é de 0,3g; c) 10mg/dia, durante 30 dias. Esse esquema é recomendado para situações de auto- endoinfecção e deficiência da imunidade celular; Albendazol, 40mg/ dia, durante 3 dias, não recomendado em gestantes; Ivermectina, dose única, VO, obedecendo a escala de peso corporal (15 a 24kg: 1/2 com- primido; 25 a 35kg: 1 comprimido; 36 a 50kg: 1 ½ comprimidos; 51 a 65kg: 2 comprimidos; 65 a 79kg: 21/2 comprimidos; 80kg: 3 comprimi- dos ou 200mg/kg). Controle de cura - Três exames parasitológicos de fezes, após 7, 14 e 21 dias do tratamento. Características epidemiológicas - A doença ocorre mais em regi- ões tropicais e subtropicais. No Brasil, há variação regional em função da idade, diferenças geográficas e socioeconômicas. Os estados que mais frequentemente diagnosticam são: Minas Gerais, Amapá, Goiás e Rondônia. ESTRONGILOIDÍASE Secretaria de Vigilância em Saúde / MS178 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Diagnosticar e tratar precocemente todos os casos, para evitar as formas graves. Observações: Cuidado especial deve ser dado aos indivíduos que têm algum tipo de imunodeficiência, para evitar a síndrome de hiperinfec- ção, na qual as larvas ultrapassam a serosa intestinal, infectando di- versos órgãos. A observação de Estrongiloidíase grave e de repetição requer avaliação de imunodeficiência associada. Os indivíduos que, por qualquer motivo, requeiram tratamento com imunossupressores devem ser avaliados criteriosamente e, se necessário, tratados antes de instituída a quimioterapia imunossupressora. Notificação - Não é doença de notificação compulsória. MEDIDAS DE CONTROLE Redução da fonte de infecção com tratamento sanitário adequado das fezes e uso de calçados. Quimioterapia em massa em comunidades com alta endemicidade – apesar de preconizada por alguns autores – ainda não é uma medida adotada por todos. Tratar os animais domés- ticos infectados. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 179 Febre Amarela CID 10: A95 25 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença febril aguda, de curta duração (no máximo 12 dias) e gravidade variável. Apresenta-se como infecções subclínicas e/ ou leves, até formas graves, fatais. O quadro típico tem evolução bifá- sica (período de infecção e de intoxicação), com início abrupto, febre alta e pulso lento em relação à temperatura (sinal de Faget), calafrios, cefaleia intensa, mialgias, prostração, náuseas e vômitos, durando cerca de 3 dias, após os quais se observa remissão da febre e melhora dos sin- tomas, o que pode durar algumas horas ou, no máximo, 2 dias. O caso pode evoluir para cura ou para a forma grave (período de intoxicação), caracterizada pelo aumento da febre, diarreia e reaparecimento de vô- mitos com aspecto de borra de café, instalação de insuficiência hepáti- ca e renal. Surgem também icterícia, manifestações hemorrágicas (he- matêmese, melena, epistaxe, hematúria, sangramento vestibular e da cavidade oral, entre outras), oligúria, albuminúria e prostração intensa, além de comprometimento do sensório, que se expressa mediante ob- nubilação mental e torpor com evolução para coma. Epidemiologica- mente, a doença pode se apresentar sob duas formas distintas: Febre Amarela Urbana (FAU) e Febre Amarela Silvestre (FAS), diferencian- do-se uma da outra pela localização geográfica, espécie vetorial e tipo de hospedeiro. Agente etiológico - Vírus amarílico, arbovírus do gênero Flavivírus e família Flaviviridae. É um RNA vírus. Vetores/reservatórios e hospedeiros - O principal vetor e reser- vatório da FAS no Brasil é o mosquito do gênero Haemagogus janthi- nomys; os hospedeiros naturais são os primatas não humanos (maca- cos). O homem não imunizado entra nesse ciclo acidentalmente. Na FAU, o mosquito Aedes aegypti é o principal vetor e reservatório e o homem, o único hospedeiro de importância epidemiológica. Modo de transmissão - Na FAS, o ciclo de transmissão se processa entre o macaco infectado → mosquito silvestre → macaco sadio. Na FAU, a transmissão se faz através da picada do mosquito Ae. aegypti, no ciclo: homem infectado → Ae. aegypti → homem sadio. Período de incubação - Varia de 3 a 6 dias, após a picada do mos- quito fêmea infectado. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS180 Período de transmissibilidade - O sangue dos doentes é infectan- te de 24 a 48 horas antes do aparecimento dos sintomas até 3 a 5 dias após, tempo que corresponde ao período de viremia. No mosquito Ae. aegypti, o período de incubação é de 9 a 12 dias, após o que se mantém infectado por toda a vida. Diagnóstico - É clínico, epidemiológico e laboratorial. O diagnóstico laboratorial é feito por isolamento do vírus de amostras de sangueou de tecido hepático, por detecção de antígeno em tecido (imunofluores- cência e imunoperoxidase) ou por sorologia. Esses últimos são méto- dos complementares aos primeiros e as técnicas utilizadas são: captura de IgM (MAC-ELISA), inibição de hemaglutinação (IH), fixação do complemento (FC) e neutralização (TN). À exceção do MAC-ELISA, todos os outros testes necessitam de duas amostras pareadas de sangue, considerando-se positivos os resultados que apresentam aumento dos títulos de anticorpos de, no mínimo, 4 vezes, entre a amostra colhida no início da fase aguda comparada com a da convalescença da enfer- midade (intervalo entre as coletas de 14 a 21 dias). O MAC-ELISA, na maioria dos casos, permite o diagnóstico presuntivo com uma única amostra de soro, pois é bastante sensível para detecção de IgM, dis- pensando o pareamento do soro. Técnicas de biologia molecular para detecção de antígenos virais e/ou ácido nucléico viral (reação em ca- deia de polimerase (PCR), imunofluorescência, imunohistoquímica e hibridização in situ), embora não utilizadas na rotina, são de grande utilidade. Há alterações das aminotransferases, que podem atingir ní- veis acima de 2.000 unidades/mm³, sendo a AST (TGO) mais elevada que a ALT (TGP). As bilirrubinas também se elevam nos casos graves, especialmente a fração direta, atingindo níveis acima de 10mg/mm³. Diagnóstico diferencial - As formas leves e moderadas se confun- dem com outras viroses, por isso são de difícil diagnóstico, necessitan- do-se da história epidemiológica para a sua identificação. As formas graves clássicas ou fulminantes devem ser diferenciadas das hepatites graves fulminantes, leptospirose, malária por Plasmodium falciparum, febre hemorrágica do dengue e septicemias. Tratamento - Não existe tratamento antiviral específico. É apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que, sob hospita- lização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indicada. Os quadros clássicos e/ou fulmi- nantes exigem atendimento em unidade de terapia intensiva (UTI), o que reduz as complicações e a letalidade. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 181 FEBRE AMARELA Características epidemiológicas - A forma silvestre é endêmica nas regiões tropicais da África e das Américas. Em geral, apresenta-se sob a forma de surtos com intervalos de 5 a 7 anos, alternados por períodos com menor número de registros. Na população humana, no mais das vezes, o aparecimento de casos é precedido de epizootias em primatas não humanos. No Brasil, a partir do desaparecimento da forma urbana em 1942, só há ocorrência de casos de FAS e os focos endêmicos até 1999 estavam situados nos estados das regiões Norte, Centro-oeste e área pré-amazônica do Maranhão, além de registros esporádicos na parte oeste de Minas Gerais. Contudo, no período de 2000 a 2008, observou-se uma expansão da circulação viral no sentido leste e sul do país, detectando-se sua presença em áreas silenciosas há várias décadas, razão pela qual em outubro de 2008, procedeu-se a de- limitação de duas áreas para orientar as estratégias de imunização: a) área com recomendação de vacina (ACRV), correspondendo àquelas anteriormente denominadas endêmica e de transição, com a inclusão do sul de Minas Gerais, até então considerado “área indene de risco po- tencial”; b) área sem recomendação de vacina (ASRV), corresponden- do, basicamente, às “áreas indenes”, incluindo também o sul da Bahia e norte do Espírito Santo, que antes eram consideradas “áreas indenes de risco potencial”. O número anual de notificações de FAS é muito variável. No período entre 1980 e 2008, foram confirmados 726 casos, dos quais 383 evoluíram para óbito, letalidade média de 52,8% com variação de 23 a 100%. Todas as unidades federadas da região Norte re- gistraram casos no período, ainda que esporádicos, sendo responsáveis por 35,8% das notificações do país, nas duas últimas décadas. A região Centro-oeste notificou 30,2% dos casos do período e a região Sudeste, 18%. O Nordeste (Maranhão e Bahia) foi responsável por 15% dos ca- sos e a região Sul (Paraná e Rio Grande do Sul) por 1%. Esta doença é sazonal (maior incidência de janeiro a abril) acomete com maior frequ- ência o sexo masculino e a faixa etária acima dos 15 anos, devido maior exposição profissional, relacionada à penetração em zonas silvestres da área endêmica. Outro grupo de risco são pessoas não vacinadas que re- sidem próximas aos ambientes silvestres, onde circula o vírus, além de turistas e migrantes que adentram esses ambientes. Enquanto o Aedes aegypti encontrava-se erradicado, havia uma relativa segurança quanto a não possibilidade de reurbanização do vírus amarílico. Entretanto, a reinfestação de extensas áreas do território brasileiro por esse vetor, inclusive já presente em muitos dos centros urbanos das áreas de ris- co, traz a possibilidade de reestabelecimento (embora remota) do ciclo urbano do vírus. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS182 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Reduzir a incidência de Febre Amarela de transmissão silvestre; impedir a transmissão urbana; e detectar oportunamente a circulação viral para orientar as medidas de controle. Notificação - Doença de notificação compulsória e investigação epi- demiológica obrigatória de todos os casos. A ocorrência de surtos exige a aplicação do algoritmo de decisão do novo Regulamento Sanitário Internacional;2005 (ver anexo 1 do capítulo Centros de Informações Estratégicas e Respostas em Vigilância em Saúde e Rede Nacional de Alerta e Respostas às Emergências em Saúde Pública (Rede CIEVS), tendo em vista a necessidade de verificar se há risco de disseminação (emergência de saúde pública de interesse nacional ou internacional). Definição de caso - Indivíduo com quadro febril agudo (até 7 dias), acom- panhado de icterícia e/ou manifestações hemorrágicas, não vacinado contra Febre Amarela ou com estado vacinal ignorado. - Indivíduo com quadro febril agudo (até 7 dias), residente ou que esteve em área com transmissão viral (ocorrência de casos humanos, epizootias ou de isolamento viral em mosquitos) nos últimos 15 dias, não vacinado contra Febre Amarela ou com estado vacinal ignorado. - Todo caso suspeito que apresente pelo menos uma das seguintes condições: isolamento do vírus, MAC-ELISA positivo, laudo histopatológico compatível e com vínculo epidemiológico, elevação em quatro vezes ou mais nos títulos de anticorpos IgG através da técnica de IH (Inibição da Hemaglutinação), ou detecção de genoma viral; ou todo indivíduo assintomático ou oligossintomático originado de busca ativa que não tenha sido vacinado e que apresente sorologia (MAC-ELISA) positiva para Febre Amarela. - Todo caso suspeito de Febre Amarela que evolui para óbito em menos de 10 dias, sem confirmação laboratorial, no início ou curso de surto ou epidemia, em que outros casos já tenham sido comprovados labora- torialmente. - Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo, desde que se comprove que as amostras foram coletadas e transporta- das adequadamente; ou caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença. Vigilância - A ocorrência de casos humanos suspeitos e/ou confirma- dos, de epizootia ou a comprovação de circulação viral em vetores têm DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 183 FEBRE AMARELA impacto epidemiológico semelhante para adoção das medidas de con- trole, portanto a notificação desses eventos deve ser imediata, pela via mais rápida. Os seguintes grupos devem ser alvo das ações de vigilância: - Vigilância das enfermidades que cursam com quadro clínico de síndrome febril íctero-hemorrágica, por meio de busca retrospectiva de casos humanos nos hospitais nos últimos 30 dias; a definição de caso suspeito de Febre Amarela deve ser divulgada em todos os serviços de saúde. - Iniciada a partir da observaçãode um (ou mais) macaco morto ou doente. - Por meio da captura nas áreas de ocorrência de caso humano suspeito e/ou de epizootias, ou em locais de monito- ramento da circulação viral. - Acompanhamento sistemático das coberturas vacinais contra Febre Amarela, por município, buscando atingir a meta de 100% nas áreas de risco. MEDIDAS DE CONTROLE é administrada em dose única e confere proteção próxima a 100%. Deve ser realizada a partir dos nove meses de idade, com reforço a cada 10 anos, nas zonas endêmicas, de transição e de risco potencial, assim como para todas as pessoas que se deslocam para essas áreas. Em situações de surto ou epidemia, vacinar a partir dos 6 meses de idade. vírus em vetor silvestre. com a exigência do Certificado Internacional de Vacinação e Pro- filaxia válido para a Febre Amarela apenas para viajantes interna- cionais procedentes de áreas de ocorrência da doença, que apresente risco de disseminação internacional, segundo o Regulamento Internacional/2005. Controle do Ae. aegypti para eliminação do risco de reurbanização. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS184 Febre Maculosa Brasileira CID 10: A77.0 26 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença infecciosa febril aguda, de gravidade variável, podendo cursar desde formas leves e atípicas até formas graves com elevada taxa de letalidade. O início, geralmente, é abrupto e os sinto- mas são inicialmente inespecíficos, incluindo: febre elevada, cefaleia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença, surge o exantema maculo- papular, predominantemente nas regiões palmar e plantar, que pode evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias. O exantema é um importante e fundamental achado clínico, porém sua presença não deve ser considerada a única condição para fortalecer a suspeita diag- nóstica, pois pode estar ausente, o que dificulta e retarda o diagnóstico e tratamento, determinando maior número de óbitos. Nos casos graves, é comum a presença de edema de membros inferiores, hepatoesple- nomegalia, manifestações gastrintestinais, como náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia, manifestações renais com oligúria e insuficiência renal aguda, manifestações pulmonares com tosse, edema pulmonar, pneumonia intersticial e derrame pleural, manifestações neurológicas e hemorrágicas, como petéquias, sangramento muco-cutâneo, digestivo e pulmonar. Pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves. Cerca de 80% desses, se não diagnosticados e tratados a tempo, evoluem para óbito. Sinonímia - Pintada, febre que pinta, febre chitada. Agente etiológico - Rickettsia rickettsii, espiroqueta da família Ri- cketisiaceae, bactéria gram-negativa, parasita intracelular obrigatória. Reservatório - No Brasil, o principal reservatório da Rickettsia ri- ckettsii são os carrapatos do gênero Amblyomma (A. cajennense, A. cooperi ou dubitatum e A. aureolatum). A participação de equídeos no ciclo de transmissão é discutível, porém há evidências de que, além de transportadores de carrapatos potencialmente infectados, eles podem atuar como sentinelas, semelhantemente ao cão, que é um reservatório doméstico potencial. Acredita-se que a capivara (Hydrochaeris hydro- chaeris), também, pode estar envolvida neste ciclo, mas não existem estudos que comprovem ser esse roedor um reservatório silvestre de Rickettsias. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 185 FEBRE MACULOSA BRASILEIRA Modo de transmissão - A Febre Maculosa Brasileira é, geralmente, adquirida pela picada de carrapato infectado e a transmissão ocorre quando o artrópode permanece aderido ao hospedeiro por, no míni- mo, de 4 a 6 horas. A doença não se transmite de pessoa a pessoa. Período de incubação - De 2 a 14 dias (em média, 7 dias). Período de transmissibilidade - Os carrapatos permanecem infectados durante toda a vida, em geral de 18 meses a 36 meses. A partir de um carrapato infectado, outros podem tornar-se infectados, por meio da transmissão vertical (transovariana), transmissão estádio- estádio (transestadial) ou transmissão através da cópula, além da possi- bilidade de alimentação simultânea de carrapatos infectados com não- infectados em animais com suficiente riquetsemia. Diagnóstico - Pode ser de difícil o diagnóstico da Febre Maculo- sa Brasileira, sobretudo em sua fase inicial, mesmo por profissionais bastante experientes. Dados clínicos e epidemiológicos associados a achados laboratoriais reforçam o diagnóstico da doença. A cultura com isolamento da Rickettsia é o método diagnóstico ideal. A reação sorológica de imunofluorescência indireta (RIFI), utilizando antígenos específicos para R. rickettsii, é o mais utilizada. Deve ser considerado como confirmatório um aumento de 4 vezes no título em uma segun- da amostra colhida, pelo menos, 2 semanas após a primeira. Outros métodos utilizados são a reação em cadeia da polimerase (PCR) e a imunohistoquímica. Diagnóstico diferencial - O diagnóstico precoce é muito difícil, principalmente durante os primeiros dias da doença, quando as mani- festações clínicas também podem sugerir leptospirose, sarampo, febre tifóide, dengue, febre amarela, meningococcemia, viroses exantemáti- cas, lupus, febre purpúrica brasileira, doença de Lyme e sepses, entre outras. Tratamento - Nos casos suspeitos, o início imediato e precoce da antibioticoterapia, antes mesmo da confirmação laboratorial, tem as- segurado maior recuperação dos pacientes. Em adultos, Cloranfenicol, 50mg/kg/dia, via oral, dividida em 4 tomadas, ou Doxiciclina, 100mg, de 12/12 horas, via oral. Manter o esquema até 3 dias após o término da febre. Nos casos graves, a droga de escolha é o Clorafenicol, 500mg, EV, de 6/6 horas. Em crianças, usar Clorafenicol, não ultrapassando 1g/dia, durante o mesmo período. A Doxiciclina pode ser usada em crianças acima dos 8 anos, na dose de 2 a 4mg/kg/dia, máximo de 200mg/dia, em 2 tomadas, de 12/12 horas. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS186 Características epidemiológicas - A doença se apresenta sob a forma de casos esporádicos em áreas rurais e urbanas, relacionados com contato com carrapatos, quer em atividades de trabalho ou lazer. No Brasil, são notificados casos nos estados de São Paulo, Minas Ge- rais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - A vigilância da Febre Maculosa Brasileira compreende a vigilância epidemiológica e ambiental (vetores, reservatórios e hospe- deiros) e tem como objetivos: detectar e tratar precocemente os casos suspeitos, visando a redução da letalidade; investigar e controlar surtos, mediante a adoção de medidas de controle; conhecer a distribuição da doença por lugar, tempo e pessoa; identificar e investigar os locais pro- váveis de infecção (LPI) e recomendar e adotar medidas de controle e prevenção. Notificação - É doença de notificação compulsória, devendo ser in- formada pelo meio mais rápido disponível; é obrigatória a investigação epidemiológica com busca ativa, para evitar a ocorrência de novos ca- sos e óbitos. Definição de caso - Indivíduo que apresente febre de moderada a alta, cefaleia, de início súbito, mialgia, história de picada de carrapatos e/ou contato com animais domésticos e/ou silvestres e/ou tenha frequentado área sabidamente de transmissão da Febre Maculosa, nos últimos 15 dias; ou, ainda, indivíduo que apresente febre de início súbito, mialgia, cefaleia, seguida por aparecimento de exantema maculopapular, entre 2 a 5 dias dos sintomas e/ou manifestações hemorrágicas, excluídas outras patologias. - Por critério laboratorial, quando o agente etiológico for isolado em cultura ou pesquisa imunohistoquímica positiva para antígenos de Rickettsia sp., ou quando a sorologia de duas amostras, colhidas com intervalo médio de 10 a 14 dias, mostrar soroconversão de 4 vezes o título; por critério clínico-epidemiológico,quando o paciente for a óbito com quadro compatível de Febre Maculosa Brasileira e tenha antecedentes epidemiológicos. - Indivíduo com clínica sugestiva de Febre Maculosa Brasileira que apresente reação sorológica positiva, RIFI com título ≥1/64, em amostra única. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 187 FEBRE MACULOSA BRASILEIRA MEDIDAS DE CONTROLE Alertar os profissionais da rede de serviços de saúde, das áreas de ocor- rência da doença, sobre os sinais, sintomas e as orientações diagnósti- cas e terapêuticas. Em caso de suspeita de Febre Maculosa, colher uma amostra de sangue para exame laboratorial e iniciar o tratamento ime- diatamente, antes mesmo do resultado laboratorial. Havendo carrapatos na pele do doente, coletá-los com luvas e pinças, acondicioná-los e encaminhá-los para o laboratório de referência. Ini- ciar, imediatamente, a investigação epidemiológica com busca ativa de casos suspeitos. Orientar a comunidade sob vigilância para procurar os serviços de saúde aos primeiros sinais da doença (febre, cefaleia e mial- gias). Verificar a extensão da presença de carrapatos na área e instruir a população sobre a necessidade da retirada dos mesmos nos indivídu- os infestados (com luvas), já que a doença parece ocorrer com maior frequência em indivíduos que permanecem com o vetor no corpo por mais de 6 horas. A ficha de investigação deverá ser preenchida e, além dos dados de identificação dos pacientes, deverão ser feitas perguntas objetivas sobre a clínica, a existência dos transmissores e a ocorrência de casos semelhantes anteriormente. Nas entrevistas, devem ser anota- das informações sobre o modo de vida dos habitantes, principalmente acerca de invasão de matas, transformações sociais e econômicas mais recentes na área, buscando relacionar essas informações com a ocor- rência da Febre Maculosa. O rodízio de pastos e capina da vegetação pode trazer alguns resultados no controle da população de carrapatos, enquanto o uso de carrapaticidas deve fazer parte de um programa contínuo de controle, principalmente quando houver participação de equinos como hospedeiros primários para o carrapato. A população deve evitar as áreas infestadas por esse artrópode e, se possível, usar calças e camisas de mangas compridas, roupas claras para facilitar a visualização e, sempre, inspecionar o corpo para verificar a presença de carrapatos. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS188 Febre Purpúrica Brasileira CID 10: A48.4 27 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença infecciosa aguda, com manifestações clínicas sis- têmicas, que acomete crianças após conjuntivite, com sinais e sintomas que seguem uma certa cronologia em curto espaço de tempo: início com febre alta (acima de 38,5ºC), taquicardia, erupção cutânea macular difusa, tipo petéquias, púrpuras e outras sufusões hemorrágicas,além de hipotensão sistólica. Ocorrem, também, manifestações digestivas, tais como náuseas, vômitos, dor abdominal, enterorragias e diarreia, bem como mialgias e sinais de insuficiência renal (oligúria e anúria), plaquetopenia, leucopenia com linfocitose ou leucocitose com linfoci- topenia. Observa-se agitação, sonolência, cefaleia e convulsão. A cia- nose e taquidispneia, consequente à acidose, faz parte da progressão da doença. Essa enfermidade, em geral, evolui de 1 a 3 dias, ou seja, é um grave quadro fulminante, com choque séptico e coagulação intravascu- lar disseminada (CIVD), cuja letalidade varia de 40% a 90%. Quando o paciente sobrevive, pode vir a apresentar gangrenas, com ou sem muti- lações. Acomete, principalmente, crianças na faixa etária entre 2 meses e 14 anos de idade. A natureza sistêmica e fulminante da FPB deve estar associada à liberação de toxinas pela bactéria. Sinonímia - FPB. A conjuntivite que precede a FPB, também, é co- nhecida como conjuntivite bacteriana e olho roxo. Agente etiológico - Haemophilus Influenzae, biogrupo aegyptius. Bactéria gram-negativa sob a forma de bacilos finos e retos. Reservatório - O homem, que também é a fonte de infecção (pessoas com conjuntivite causada pelo agente). Modo de transmissão - Contato direto pessoa a pessoa que esteja com conjuntivite; ou indireto, por intermediação mecânica (insetos, toalhas, mãos). Período de incubação - O intervalo de tempo entre o início da con- juntivite e a febre é, em média, de 7 a 16 dias (variando de 1 a 60 dias). Período de transmissibilidade - Possivelmente, enquanto durar a conjuntivite. Complicações - Choque séptico, com coagulação intravascular dis- seminada (CIVD), gangrenas com ou sem mutilações. Diagnóstico - Clínico-epidemiológico e laboratorial. Esse último é feito por meio dos exames: Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 189 FEBRE PURPÚRICA BRASILEIRA - Cultura de sangue, material da conjuntiva, do líquor e de raspado de lesão de pele. Reação de contra-imunoeletroforese do soro e do líquor; - Hemograma, coagulograma, provas de função renal. Diagnóstico diferencial - Meningococcemia, meningite por HIB, septicemias por gram-negativos, dengue hemorrágico, febre maculo- sa, tifo exantemático, febre hemorrágica argentina e boliviana e outras febres hemorrágicas. Tratamento - Ampicilina, 200mg/kg/dia, 6/6 horas, via intravenosa ou Amoxicilina, 50mg/kg/dia, 8/8 horas, via oral, por 7 dias; ou cloranfenicol, 100mg/kg/dia, via intravenosa, 6/6 horas, por 7 dias. O paciente deve ser internado com todos os cuidados de suporte. Características epidemiológicas - Doença descrita pela primeira vez em 1984, no município de Promissão, em São Paulo, onde ocorre- ram 10 óbitos com quadro semelhante à meningococcemia. Conco- mitantemente, observou-se quadro semelhante em Londrina, com 13 casos e 7 óbitos, e outros em cidades próximas à Promissão. Até o mo- mento, há registro desta enfermidade em mais de 15 municípios de São Paulo, em áreas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os únicos casos descritos fora do Brasil ocorreram em novembro de 1986, na região central da Austrália (Alice-Springs). O agente etiológico foi isolado do sangue de casos clínicos em 1986. A O H. Influenzae, biogrupo aegyp- tius, é um agente comum nas conjuntivites bacterianas e nunca havia sido associado à doença invasiva até o aparecimento da FPB. Continua sendo uma doença pouco conhecida, com menos de 100 casos notifica- dos em todo o mundo. No Brasil, os últimos casos confirmados foram em 1993. Em 2007, no estado do Pará, foram identificados 7 casos sus- peitos de FPB, porém não foi isolado o agente. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivo - Detectar precocemente surtos de conjuntivite, causados por H. Influenzae aegyptius, nas áreas de ocorrência da doença, visando à adoção das medidas de controle indicadas. Notificação - Notificação compulsória nacional, por se tratar de agravo inusitado. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS190 Definição de caso - Criança que teve ou está com conjuntivite e desenvolve quadro agudo de febre, acompanhado de algum outro sinal de toxemia (palidez perioral, vômitos, dor abdominal, alterações do estado de consciência, petéquias, púrpura ou outras manifestações hemorrágicas). - Quadro febril agudo em criança, com isolamento, no sangue ou no líquor, de H. Influenzae aegyptius; ou quadro febril agudo com manifestações hemorrágicas em pele ou mucosa digestiva,com antecedente de conjuntivite purulenta, contra-imuno- eletroforese e culturas negativas para meningococo e outras bactérias para as quais esses exames tenham sido realizados, e presença de H. Influenzae aegyptius em conjuntiva, ou dados epidemiológicos da área, como ocorrência de surtos de conjuntivite (município, escola, creches, grupamentos familiares) com identificação de H. aegyptius cepa invasora; - Critério clínico-epidemiológico: quadro agudo em criança pro- cedente de área de ocorrência da doença, caracterizado por febre igual ou superior a 38,5°C, dor abdominal e vômitos, petéquias e/ou púrpuras, sem evidênciade meningite, com antecedente de conjuntivite e, ainda, sem antecedente de ocorrência de Doença Meningocócica na área de abrangência do caso e excluídos os demais diagnósticos diferenciais. Caso suspeito que não se enquadre nas definições de caso confirmado ou que confirme diagnóstico de outra doença. MEDIDAS DE CONTROLE Nas áreas de ocorrência desta doença, acompanhar os casos de conjun- tivite e, em caso de surto, notificar os casos suspeitos da FPB. Quando se observar número de casos de conjuntivite superior ao do mês ante- rior, iniciar a coleta de secreção de conjuntivas de pacientes acometidos (pelo menos de 20) para diagnóstico do agente (Laboratório de Refe- rência), por meio da realização dos exames laboratoriais específicos. - Crianças menores de 7 anos de idade, comuni- cantes do caso-índice, no domicílio ou em creche, devem fazer uso de rifampicina, na dose de 20 mg/kg/dia, em 2 tomadas diárias, por 4 dias. - Com colírio de cloranfenicol a 0,5% (1 gota em cada olho, de 3/3 horas, durante 7 dias). Quando constatada a ocorrência de conjuntivite pela cepa invasora do Hae- mophilus aegyptius, administrar rifampicina na dose de 20mg/kg/ DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 191 FEBRE PURPÚRICA BRASILEIRA dia, durante 4 dias (tomada única), e repetir a cultura da secreção após o término do tratamento. Acompanhar o paciente até a negativação da cultura. Não há indicação para isolamento dos casos FPB. A aglomeração favorece a transmissão da conjuntivite. Medidas de higiene devem ser informadas, principal- mente nas situações de risco de ocorrência tanto de conjuntivite como da FPB. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS192 Febre Tifóide CID 10: A01.0 28 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Doença bacteriana aguda, cujo quadro clínico apresenta- se geralmente com febre alta, cefaleia, mal-estar geral, anorexia, bradi- cardia relativa (dissociação pulso-temperatura, conhecida como sinal de Faget), esplenomegalia, manchas rosadas no tronco (roséola tífica), obstipação intestinal ou diarreia e tosse seca. Pode haver comprome- timento do sistema nervoso central. A administração de antibiotico- terapia mascara o quadro clínico, impedindo o diagnóstico precoce e etiológico. A Febre Tifóide tem distribuição mundial e está associada a baixos níveis socioeconômicos, principalmente a precárias condições de saneamento. (HIV) - A bacteremia recorrente por Salmonella constitui uma das condições clínicas consideradas como marcadora de aids em indi- víduos HIV positivos. Em regiões onde a Salmonella typhi é endêmica, a incidência de Febre Tifóide pode ser de 25 a 60 vezes maior entre indivíduos HIV positivos. Esses indivíduos, quando assintomáticos, podem apresentar doença semelhante ao imunocompetente e boa resposta ao tratamento usual. Doentes com aids podem apresentar Febre Tifóide particularmente grave e com tendência a recaídas. Agente etiológico - Salmonella entérica, sorotipo Typhi (S. Typhi), bactéria gram-negativa da família Enterobacteriaceae. Reservatório - O homem doente ou portador assintomático. Modo de transmissão - Doença de veiculação hídrica e alimen- tar, cuja transmissão pode ocorrer pela forma direta, pelo contato com as mãos do doente ou portador, ou, principalmente, de forma indire- ta, através de água e alimentos contaminados com fezes ou urina de paciente ou portador. A contaminação de alimentos, geralmente, se dá pela manipulação por portadores ou pacientes oligossintomáticos (com manifestações clínicas discretas), razão pela qual a febre tifoide é também conhecida como a doença das mãos sujas. Os legumes irri- gados com água contaminada, produtos do mar mal cozidos ou crus (moluscos e crustáceos), leite e derivados não pasteurizados, produtos congelados e enlatados podem veicular salmonelas. A contaminação de alimentos, geralmente, é feita por portadores ou pacientes oligos- sintomáticos. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 193 FEBRE TIFÓIDE Período de incubação - Comumente, de 1 a 3 semanas; em média, 2 semanas. Período de transmissibilidade - A transmissão ocorre enquanto bacilos estiverem sendo eliminados nas fezes ou urina, geralmente, desde a primeira semana da doença até o fim da convalescença. Após essa fase, a transmissão dá-se por períodos variáveis, dependendo de cada situação. Sabe-se que cerca de 10% dos pacientes continuam eli- minando bacilos por até 3 meses após o início da doença e que de 2 a 5% (geralmente mulheres adultas) transformam-se em portadores crô- nicos, após a cura. A existência de portadores é de extrema importância pelo seu potencial de disseminação do bacilo. Tanto em doentes quanto em portadores, a eliminação da S. typhi costuma ser intermitente. Complicações - A principal é a hemorragia intestinal e, mais rara- mente, perfuração intestinal. Diagnóstico - Clínico-epidemiológico e laboratorial. Esse último baseia-se no isolamento e identificação do agente etiológico, nas di- ferentes fases clínicas, a partir do sangue (hemocultura), fezes (co- procultura), aspirado medular (mielocultura) e urina (urocultura). A Hemocultura apresenta maior positividade nas 2 semanas iniciais da doença, devendo o sangue ser colhido, de preferência, antes que o paciente inicie a antibioticoterapia. Recomenda-se a coleta de 2 a 3 amostras, com intervalos de 30 minutos. A Coprocultura é indicada a partir da segunda até a quinta semanas da doença, assim como no estágio de convalescença e na pesquisa de portadores. No estado de convalescença, é indicada a coleta de amostras com intervalos de 24 horas. No caso de portadores assintomáticos, particularmente aqueles envolvidos na manipulação de alimentos, recomenda-se a coleta de 7 amostras sequenciadas. A Mielocultura possui elevada sensibilida- de(90%) e a antibioticoterapia prévia não interfere no seu resultado. As desvantagens são o desconforto para o doente e a necessidade de pessoal médico com treinamento específico para o procedimento de punção medular. A Urocultura possui valor diagnóstico limitado e a positividade máxima ocorre na terceira semana de doença. A Reação de Widal, embora ainda muito utilizada no Brasil, carece de padroni- zação, possibilitando diferentes resultados, dependendo das cepas de Salmonella envolvidas e a possível interferência de vacinação prévia, não sendo suficiente para confirmar ou descartar um caso. Diagnóstico diferencial - Enterites de outras etiologias, como as infecções por Salmonella entérica sorotipo Paratyphi (sorogrupo A, B, C) e por Yersinia enterocolítica. Doenças que apresentam febre prolon- Secretaria de Vigilância em Saúde / MS194 gada, tais como: pneumonias, Tuberculoses (pulmonar, miliar, intes- tinal, meningoencefalite e peritonite), meningoencefalites, septicemia por agentes piogênicos, colecistite aguda, peritonite bacteriana, forma toxêmica de Esquistossomose Mansônica, Mononucleose Infeccio- sa, febre reumática, doença de Hodgkin, abscesso hepático, abscesso subfrênico, apendicite aguda, infecção do trato urinário, Leptospirose, Malária, Toxoplasmose, Doença de Chagas aguda, endocardite bacte- riana. Tratamento - Preferencialmente ambulatorial. Cloranfenicol, na dose, para adultos, de 50mg/kg/dia, dividida em 4 tomadas (6/6 ho- ras), até a dose máxima de 4g/dia; crianças: 50mg/kg/dia, dividida em 4 tomadas (6/6 horas), até a dose máxima de 3g/dia. Preferencialmente, as doses são administradas por via oral. Quando os doentes se tornam afebris, o que em geral ocorre a partir do quinto dia de tratamento, as doses do cloranfenicol devem ser reduzidas para 2g/dia (adultos) e 30mg/kg/dia (crianças). O tratamento deve ser mantido durante 15 dias após o último dia de febre, perfazendo um máximo de 21 dias. Nos doentes com impossibilidade de administração por via oral, po- derá ser utilizada a via parenteral. Efeitos colaterais – há possibilidade de toxicidade medular, que pode se manifestar sob a forma de anemia(dose dependente) ou mesmo anemia aplástica (reação idiossincrásica) a qual, é rara. Drogas de segunda escolha Ampicilina - Dose. - Adultos: 1.000 a 1.500mg/dose, via oral, em 4 tomadas (6/6 horas), até dose máxima de 6g/dia. - Crianças: 100mg/Kg/dia, via oral, dividida em 4 tomadas (6/6 horas). A administração oral é preferível à parenteral. A duração do tratamen- to é de 14 dias. Sulfametoxazol + Trimetoprima - Dose. › Adultos: 800 a 1.600mg de Sulfametoxazol/Trimetoprima, via oral, dividida em 2 tomadas (12/12 horas). › Crianças: 30 a 50mg/Kg/dia de Sulfametoxazol/Trimetoprima por via oral, dividida em 2 tomadas de 12/12 horas. A duração do tratamento é de 14 dias. Amoxicilina - Dose. - Adultos: 3g/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas), até a dose máxima de 4g. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 195 FEBRE TIFÓIDE - Crianças: 100mg/Kg/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas). A duração do tratamento é de 14 dias. Com o uso deste antimicro- biano, poderá haver maior frequência de intolerância gastrointestinal. Quinolonas - Há, pelo menos, duas quinolonas com eficácia com- provada contra a S. typhi: a ciprofloxacina e a ofloxacina. São drogas pouco tóxicas, mas têm como principal desvantagem a contraindica- ção para uso em crianças e gestantes e, como fator limitante, o preço elevado. No Brasil, estas drogas estão particularmente indicadas para casos comprovados de resistência bacteriana aos antimicrobianos tradicionalmente utilizados. Provavelmente, são as melhores opções para os portadores de HIV ou Aids. Ciprofloxacina - Dose: 500mg/dose, via oral, em 2 tomadas (12/12 horas), durante 10 dias. Caso não seja possível a via oral, utilizar a endovenosa, na dose de 200mg, de 12/12 horas. Ofloxacina - Dose: 400mg/dose, via oral, em 2 tomadas (12/12 horas), ou 200 a 400mg/dose, via oral, em 3 tomadas (8/8 horas). A duração do tratamento é de 10 a 14 dias. Ceftriaxona - Trata-se de uma droga que tem boa atividade contra S. typhi, constituindo-se assim em outra alternativa ao tratamento. Os pacientes devem receber adequado tratamento de suporte. Aten- tar para o aparecimento de complicações graves, como hemorragia e perfuração intestinal, pois, para a última, a indicação cirúrgica é imediata. Tratamento específico para o estado de portador - Ampicilina ou Amoxicilina, nas mesmas doses acima descritas. Sete dias após o tér- mino do tratamento, iniciar a coleta de 3 coproculturas, com intervalo de 30 dias entre cada uma. Caso uma delas seja positiva, o indivíduo deve ser novamente tratado, de preferência, com uma Quinolona (Ci- profloxacina 500mg, via oral, de 12/12 horas, durante 4 semanas) e es- clarecido quanto ao risco que ele representa para os seus comunicantes íntimos e para a comunidade em geral. O tempo ideal de tratamento para portadores crônicos ainda não está bem definido. Características epidemiológicas - A Febre Tifóide não apresenta sazonalidade ou outras alterações cíclicas, assim como distribuição ge- ográfica, que tenham importância prática. A sua ocorrência está direta- mente relacionada às condições de saneamento básico existentes e aos hábitos de higiene individuais. Em áreas endêmicas, acomete com maior frequência indivíduos de 15 a 45 anos e a taxa de ataque diminui com a Secretaria de Vigilância em Saúde / MS196 idade. No Brasil, nas últimas décadas, constata-se uma tendência de de- clínio nos coeficientes de morbimortalidade por Febre Tifóide. No início da década de 2000, eram notificados, em média, 800 casos. A partir de 2003, essa média tem ficado em torno de 542 casos, observando-se uma maior concentração nas regiões Norte e Nordeste. Esses dados devem ser vistos com cautela quanto à sua representatividade e fidedignidade, tendo em vista o importante sub-registro de casos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Reduzir a incidência e a letalidade, impedir ou dificultar a propagação da doença, controlar surtos. Notificação - Doença de notificação compulsória. Todo caso e surto devem ser investigados para a adoção das medidas de controle perti- nentes. Definição de caso - Indivíduo com febre persistente, acompanhada ou não de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: cefaleia, mal-estar geral, dor abdominal, anorexia, dissociação pulso-temperatura, constipação ou diarreia, tosse seca, roséolas tíficas (manchas rosadas no tronco) e hepatoesplenomegalia. - Confirmado por critério clínico laboratorial: indivíduo que apresente achados clínicos compatíveis com a doença e isolamento da S. typhi ou detecção pela técnica de PCR. - Confirmado por critério clínico epidemiológico: indivíduo com quadro clínicamente compatível e que apresente associação epidemiológica com caso confirmado por critério laboratórial. - Indivíduo que, após enfermidade clínica ou sub-clínica, continua eliminando bacilos por vários meses. - Caso que não preenche os requisitos postulados para a sua confirmação. MEDIDAS DE CONTROLE Conduta frente a um caso - Ver orientações no tópico tratamento. Os pacientes devem ser afastados da manipulação de alimentos e devem ser orientados sobre medidas de higiene, principalmente em relação à limpeza rigorosa das mãos. Medidas referentes aos portadores - Ver orientações no tópico tratamento. A pesquisa de portadores está indicada nas seguintes situações: comunicantes que possam constituir perigo para a comu- DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 197 FEBRE TIFÓIDE nidade (ex.: indivíduos que manipulam alimentos em restaurantes, creches e hospitais) e em coletividades fechadas (asilos, hospitais psiquiátricos, presídios), quando houver casos de Febre Tifóide entre os frequentadores dessas instituições. Vacinação - A vacina atualmente disponível não possui um alto po- der imunogênico e a imunidade é de curta duração, sendo indicada apenas para pessoas sujeitas a exposições excepcionais, como os trabalhadores que entram em contato com esgotos; para aqueles que ingressem em zonas de alta endemicidade, por ocasião de viagem; e, ainda, para quem vive em áreas onde a incidência é comprovada- mente alta. Com a exceção de recrutas, não há recomendação atual da vacina contra a febre tifoide em massa ou rotineiramente, em populações circunscritas. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS198 Filaríase por Wuchereria bancrofti CID 10: B74.0 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - A Filariose causada pela Wuchereria bancrofti se mani- festa clinicamente no homem sob várias formas. Existem indivíduos com esta parasitose que nunca desenvolvem sintomas, havendo ou não detecção de microfilárias no sangue periférico; outros podem apresentar febre recorrente aguda, astenia, mialgias, fotofobia, qua- dros urticariformes, pericardite, cefaleia, linfadenite e linfangite re- trógrada, com ou sem microfilaremia. Os casos crônicos mais graves são de indivíduos que apresentam hidrocele, quilúria e elefantíase de membros, mamas e órgãos genitais. Nesses casos, em geral, a densi- dade de microfilária no sangue é muito pequena ou mesmo não de- tectável. Descrevem-se, ainda, casos de eosinofilia pulmonar tropical, síndrome que se manifesta por crises paroxísticas de asma, com pneu- monia intersticial crônica e ligeira febre recorrente, cujo leucograma registra importante eosinofilia. Nesses casos, o exame dos tecidos mostra microfilárias em processo de degeneração, não encontradas no sangue periférico (filaríase oculta). Sinonímia - Filariose, filaríase de Bancrofti, elefantíase. Agente etiológico - Wuchereria bancrofti, nematódeo que vive nos vasos linfáticos dos indivíduos infectados. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Pela picada dos mosquitos transmisso- res com larvas infectantes (L3). No Brasil, o Culex quinquefasciatus é o principal transmissor. Em geral, as microfilárias têm periodicidade para circular no sangue periférico, sendo mais detectadas à noite,entre as 23h e 1h. Período de incubação - Manifestações alérgicas podem aparecer 1 mês após a infecção. As microfilárias, em geral, aparecem no sangue periférico de 6 a 12 meses após a infecção com as larvas infectantes da W. bancrofti. Período de transmissibilidade - Não se transmite de pessoa a pessoa. O ciclo ocorre quando um inseto transmissor pica um homem infectado com microfilaremia e a transmite a outro indivíduo, após maturação das microfilárias no vetor, que ocorre entre 12 a 14 dias do repasto sanguíneo. A microfilaremia pode persistir, aproximadamente, por 5 a 10 anos. 29 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 199 Complicações - Hidrocele, linfoscroto, elefantíase e hematoquilúria. Diagnóstico - Clínico-epidemiológico, quando há manifestações su- gestivas e o indivíduo é oriundo de área endêmica. Diagnóstico específico - O teste de rotina é feito pela pesquisa da microfilária no sangue periférico, pelo método da gota espessa (perio- dicidade noturna, das 23h a 1h). Pode-se, ainda, pesquisar microfilária no líquido ascítico, pleural, sinovial, cefalorraquidiano, urina, expec- toração e gânglios, sendo, entretanto, restrito a casos específicos. Pela presença do verme adulto no sistema linfático, genitália ou em outras lesões (essa forma de diagnóstico não é realizada como rotina). - Podem ser realizados os testes de Elisa ou testes imuno- cromatográficos para pesquisa de antígenos circulantes. - Nos homens, é indicada a ultra-sonografia da bolsa escrotal; em mulheres, a ultra-sonografia da mama ou região inguinal e axilar deve ser avaliada. Diagnóstico diferencial - Outras causas de elefantíase, como as malformações congênitas, episódios repetidos de erisipela, destruição ou remoção de linfáticos, micoses, donovanose, hanseníase, tubercu- lose, entre outras. Tratamento - A droga de escolha é a Dietilcarbamazina (DEC), com vários esquemas preconizados: 6mg/kg/dia, VO, com periodicidade semestral ou anual; 6mg/kg/dia, VO, por 12 dias; 6mg/kg/dia, VO, por 2 a 4 semanas. Outra droga, também, utilizada é a Ivermectina (IVM), na dose de 200μg /kg, 1 vez por ano, VO. Além disso, tem-se utilizado a associa- ção da IVM + DEC nas doses: IVM, 200μg /kg + DEC, 6mg/kg, VO, 1 vez por ano, ou IVM, 200μg/kg + DEC 6mg/kg. Doses únicas de IVM são aparentemente iguais em eficácia, segurança e tolerância, quando comparadas com doses únicas de DEC. O regime em combinação apa- renta ser melhor do que a utilização de ambas as drogas isoladamente, para obtenção, a longo prazo, da redução, da densidade e da prevalên- cia da microfilaremia. O período exato desses vários tratamentos não tem sido estabelecido, porém estima-se que se deve administrar dose única por 5 a 10 anos. A DEC não pode ser administrada em áreas onde coexiste oncocercose ou loíase. Felizmente, não há coexistência geográfica dessas filarioses no Brasil. Para facilitar a relação peso/dose IVM, observar: Ivermectina, dose única, VO, obedecendo a escala de peso corporal (15 a 24kg: 1/2 comprimido; 25 a 35kg: 1 comprimido; 36 a 50kg: 1 1/2 comprimido; 51 a 65kg: 2 comprimidos; 65 a 79kg: 2 1/2 comprimidos; ≥80kg: 200μg/kg). FILARÍASE POR WUCHERERIA BANCROFTI Secretaria de Vigilância em Saúde / MS200 Características epidemiológicas - Continua sendo de grande im- portância na África. Foi uma doença prevalente no Brasil, mas, hoje, encontra-se restrita a alguns focos persistentes no Pará, Pernambuco e Alagoas. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Interromper a transmissão da parasitose nos focos que persistem no Brasil, evitando o surgimento de casos novos, e contro- lar os doentes portadores de morbidade filarial. Notificação - Doença de notificação nos estados que permanecem com foco. Em situações de detecção de novos focos, deve-se notificar como agravo inusitado, de acordo com a normatização do Ministério da Saúde. Definição de caso - Caso suspeito: toda pessoa, residente ou procedente dos municí- pios onde persistem focos, que apresente um ou mais dos seguintes sintomas: . Hidrocele (aumento de volume escrotal); e/ou . Linfedema (edema mole ou duro, unilateral ou bilateral, nesse caso geralmente assimétrico, localizado nas extremidades dos membros e mamas; e/ou . Eosinofilia Pulmonar Tropical (tosse paroxística predominan- temente noturna, dispneia recorrente e contagem de eosinófi- los ≥3.000mm3); e/ou . Hipertrofia ganglionar1 (hipertrofia ganglionar igual ou maior que 2cm de diâmetro em região inguinal, axilar ou epitrocle- ana, sem sinais flogísticos e ausência de infecções de pele na área de drenagem do referido gânglio); e/ou . Quilúria (eliminação intermitente de urina leitosa, comprova- da através de proteinúria de 24 horas). - Caso confirmado: todo indivíduo com ou sem manifestações clínicas, que apresente: . Exame parasitológico para pesquisa de microfilárias (gota es- pessa ou Knott ou filtração em membrana de policarbonato) positivo; e/ou . Pesquisa de antígenos filariais circulantes (Og4C3-ELISA, tes- te do cartão ICT) positivo; e/ou 1 a possibilidade de neoplasia. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 201 FILARÍASE POR WUCHERERIA BANCROFTI . Verme adulto visualizado por meio de ultra-sonografia e/ou exame histopatológico positivo para FL; e/ou . Pelo menos um episódio de linfangite retrógrada e/ou adeno- linfangite em membro ou escroto ou mama, com duração de 3 a 7 dias; e/ou . Linfedema e/ou hidrocele e/ou quilúria e/ou erisipela de repe- tição, se não foi possível estabelecer outro diagnóstico etioló- gico diferente de FL. - Caso suspeito: toda pessoa que apresente sinais e sintomas compatíveis com FL: linfedema e/ou hidrocele e/ou quilúria e/ou erisipela de repetição, quando não foi possível estabelecer outro diagnóstico etiológico diferente de FL*. - Caso confirmado . Toda pessoa com manifestações clínicas ou não em que se de- tectou, na corrente sanguínea por meio direto (GE, KT ou FM), a presença de microfilárias ou de forma indireta ACF; ou . Toda pessoa com manifestações clínicas ou não em que se de- tectou por meio da ultra-sonografia vermes adultos em vasos linfáticos; e/ou . Todo indivíduo classificado como suspeito, que tenha residido em área endêmica por período superior a 2 anos; e/ou . Todo indivíduo classificado como suspeito, que tenha entre seus contatos intra e/ou peridomiciliares casos confirmados laboratorialmente e resida em locais onde coexista o vetor. MEDIDAS DE CONTROLE - Para as populações humanas que residem nos focos, de acordo com os esquemas preconizados no item de Tratamento. - Por meio de biocidas; bolinhas de isopor, método esse limitado a criadouros específicos urbanos (latrinas e fossas); mosquiteiros ou cortinas impregnadas com inseticidas para limitar o contato entre o vetor e o homem; borrifação intradomiciliar com inseticidas de efeito residual (dirigida contra as formas adultas do Culex). - Informar as comunidades das áreas afetadas so- bre a doença e as medidas que podem ser adotadas para sua redução/ eliminação; identificar os criadouros potenciais no domicílio e peridomicílio, estimulando sua redução pela própria comunidade. Secretaria de Vigilância em Saúde / MS202 Giardíase CID 10: A07.1 ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição - Infecção por protozoários que atinge, principalmente, a porção superior do intestino delgado. A maioria das infecções é assin- tomática e ocorre tanto em adultos, quanto em crianças. A infecção sintomática pode apresentar-se de forma aguda com diarreia, acom- panhada de dor abdominal (enterite aguda) ou de natureza crônica, caracterizada por fezes amolecidas, com aspecto gorduroso, fadiga, anorexia, flatulência e distensão abdominal. Anorexia, associada com má absorção, pode ocasionar perda de peso e anemia. Não há invasão intestinal. Sinonímia - Enterite por giárdia. Agente etiológico - Giardia lamblia, protozoário flagelado que exis- te sob as formas de cisto e trofozoíto. O cisto