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Copyright © Rafaela Perver, 2021 Editora Chefe: Waldinéia Oliveira Gomes Todos os direitos reservados ao Grupo Editorial The Books. É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra sem a autorização prévia da editora. Todos os personagens desta obra são fictícios e qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. The Books Editora Rua Três 572 - 38613-221 – Santa Luzia Unaí / MG Site: www.thebookseditora.com PRÓLOGO CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 8 CAPÍTULO 9 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 10. PARTE II CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 16 CAPÍTULO 16. PARTE II CAPÍTULO 17 CAPÍTULO 18 CAPÍTULO 19 CAPÍTULO 20 CAPÍTULO 21 CAPÍTULO 22 CAPÍTULO 23 CAPÍTULO 24 CAPÍTULO 25 CAPÍTULO 26 CAPÍTULO 27 CAPÍTULO 28 CAPÍTULO 29 CAPÍTULO 30 CAPÍTULO 31 CAPÍTULO 32 CAPÍTULO 33 CAPÍTULO 34 CAPÍTULO 35 CAPÍTULO 36 CAPÍTULO 37 CAPÍTULO 38 CAPÍTULO 39 CAPÍTULO 39. PARTE II CAPÍTULO 40 CAPÍTULO 40. PARTE II CAPÍTULO 41 CAPÍTULO 42 CAPÍTULO 42. PARTE II CAPÍTULO 43 CAPÍTULO 44 CAPÍTULO 45 CAPÍTULO 46 CAPÍTULO 47 CAPÍTULO 48 CAPÍTULO 49 BÔNUS LÍVIA E GAEL CAPÍTULO 50 CAPÍTULO 50. PARTE II CAPÍTULO 50. PARTE. III CAPÍTULO 51 CAPÍTULO 51. PARTE II EPÍLOGO PRÓLOGO SEXTA-FEIRA, DIA 07 DE AGOSTO – DOIS ANOS ANTES — Para onde vai, Anton? Encaro a Kiara, arrumando de longe o colarinho da minha camisa branca. Seus olhos estão marejados. Sua voz nervosa e trêmula, espelha no interior um semblante triste e cansado. Eu somente respiro fundo e caminho em sua direção. — Eu vou sair. — De novo? Eu já estou cansada disso, você não se importa comigo? Você não me ama? — Ei... eu só vou sair para tomar uma cerveja com os meus irmãos e voltar antes mesmo que você perceba. Puxo o seu braço, no entanto, ela me empurra. — Mas eu percebo, eu sinto a sua falta. Você só quer saber dos seus irmãos. É treino depois da madeireira. É jogos as quintas, é chope aos sábados na capital. É o que mais? Chifres na minha cabeça? Eu já estou cansada. Eu vou ficar maluca. — Ela começa a chorar. — Eu só queria ser feliz, me casar, ter uma família linda, um marido presente, amoroso. Ter o que eu não estou tendo! — Kia... — Desta vez, ela não me afasta, quando eu agarro devagar a sua cintura, alisando os seus cabelos dourados. — Não coloque coisas na cabeça. Somos felizes. — Não minta. Como somos felizes? Como, se não deseja nem um bebê? Nem sequer passar períodos livres com a mulher que “escolheu” se casar... — Ela sussurra decepcionada no meu peito. Eu, então, levanto o seu queixo dócil, observando os olhos mais belos que eu já conheci, e limpo as suas bochechas molhadas. — Eu prometo mudar por você. Só não me cobre filhos outra vez, estamos bem assim. — Você sabe que não estamos bem. Daqui três semanas, comemoramos a terceira renovação dos nossos votos e vai ser a mesma coisa; não pensam em crianças? Em filhos lindos, correndo pela casa? Eu solto a Kiara, passando nervoso a mão pelo rosto. — Chega, Kiara! Chega dessa merda de novo! Eu não vou te dar filhos! Eu não quero! — Estresso-me e esbravejo alto. — EU ESTOU CANSADA DE FICAR SOZINHA, DE SER TRAÍDA POR VOCÊ! DE NÃO TER AMOR! AFAGO! E SE EU NÃO POSSO SER AMADA, TER O MEU MARIDO COMPLETAMENTE AO MEU LADO, EU QUERO UM FILHO! ME DEIXA SER MÃE?! ME PERMITA AMAR ALGO NOSSO? Chuto a porra da escrivaninha e seguro a Kiara com força pelos braços, sacudindo-a. — INFERNO! VOCÊ QUER A PORRA DESSE FILHO? VOCÊ QUER UM FILHO PARA ME DEIXAR EM PAZ? EU VOU ENTÃO TE DAR ESSA MERDA DE UMA VEZ! CAPÍTULO 1 ANTON DEXTER Eu estou de frente para o reflexo de um homem que hoje resta só a carcaça podre de um covarde sem escrúpulos, sem compaixão, e que mereceu todas as consequências possíveis deixadas por ela. Eu errei e estou pagando por esses erros. A face é de orgulho, de angústia, e somente a Kiara pode me arrancar dessa prisão. Eu preciso encontrar a minha esposa. — Deveria já ter superado ela, Anton. — Encaro a imagem da minha mãe pelo espelho. Ela para bem atrás do meu ombro e aperta o meu braço. — É um Dexter! — Ela nos observa. — Seja forte e esqueça aquela víbora. Existe milhares de moças lindas aos teus pés. — O que faz fora da capital, Lorenza? — Eu sou direto ao inclinar o pescoço e perguntar de forma desprezível, cortando-a. Ela, então, tira as mãos de mim e suspira o habitual ar de superioridade. — É óbvio. Eu vim para morar na fazenda. Aquele apartamento se transformou num mar negro, úmido, gelado e sem vida. Além de eu estar me sentindo solitária. — Desde que não se meta nos meus negócios. Nem na decoração da mansão, fique à vontade! — Não mexer na decoração da mansão? Como assim? Lógico que eu vou desinfetar cada canto possível. Já faz dois anos. Você tem que reconstruir um novo futuro próspero. Ao lado de uma dama, uma milionária da região. — Eu já sou milionário. Herdei tudo do meu pai. Se não está satisfeita com as coisas conforme a Kiara deixou, volte para a capital. Aqui não é lugar para uma madame de joias e de salto. — Me respeite, Anton. Eu ainda sou uma Dexter. Seu pai pode não ter deixado as terras para mim, contudo, me deixou esse sobrenome. E como a sua mãe, eu possuo o mesmo poder na capital e entre os povinhos sem teto daquela vila imunda. — Eu não tenho o dia todo para ficar te suportando! Com licença! Eu volto a vestir o chapéu e viro as costas, deixando a minha mãe sozinha no quarto. — Sr. Anton. — Na sala, ao pisar no último degrau, Felícia, a governanta vem rápida na minha direção. — Os capatazes; Jesuíta e Ratito estão no varandão, aguardando-o. — O que querem? — Sinto muito, senhor, não falaram. E o café já está posto. — Obrigado, Felícia. Volto já! Eu passo a mão na barba, nervoso, e caminho até a porta principal. Do lado de fora, encontro o Jesuíta e o Ratito conversando em sussurros. Os dois, ao me verem, pigarreiam e recompõem-se sérios. — Bom dia, patrão! — Dizem. — Bom dia. O que querem? — Viemos trazer uma notícia do seu agrado. Vai gostar. Ouvimos perto do rio, das fofoqueiras que lavavam roupa. É sobre uma mulher que chegou na vila ontem de manhã. Eles se entreolham, adiante, a minha face autoritária. — Parece ser a patroa. Meu peito se aperta, o coração acelera. Cerro os punhos, em furor. — Confirmaram algo com certeza para poderem me procurar? — Eu e o Ratito fomos conferir a informação no barraco do Aquino, se era verdade ou não, mas o velho nos ameaçou com uma garrucha. Não descobrimos nada. Fomos escorraçados. — Quero que vigiem a fazenda do Padilho esta noite. Se Kiara voltar, não irá para o barraco do avô. Ela vai para a casa daquele bêbado do pai. — Teremos que montar acampamento na cerca, as terras do Padilho ficam do outro lado do rio, há duas horas. — Eu não perguntei nada, Jesuíta! Faça o serviço de vocês e não me voltem sem informações concretas! — É claro, senhor Dexter! Somos seus homens de confiança! — Podem se retirar! Eles pedem licença e retiram-se. Eu permaneço bravo. Ela não devia ter fugido. Kiara é a minha mulher. Seu lugar é ao meu lado. E se ela voltou e estiver escondida no casarão do pai, a busco a força. Nem que eu tenha que matar o Padilho! Eu comprei aquela menina! E caso contrário, ele terá que me pagar o dobro! — Seus irmãos vão voltar a morar na fazenda? — Na mesa do café, a minha mãe questiona, provando do chá. — Eles não entraram mais em contato. — Não! Eu não quero saber daqueles drogados me pedindo dinheiro! Cansei de bancá-los! — Eles são os seus irmãos, por mais que seja de pais diferentes, você tem o dever de ajudá-los, de prestar amparo. É rico, tem terras. Doe metade para ambos. Eu sou obrigado a rir. A minha mãe é uma madame sem menor escrúpulo. Teve três filhos e quatro casamentos podres de rico. Eu sou o filho do último casamento, o abandonado que herdou bens milionários do pai e um sobrenome que ela tanto se gloria em manter para esnobar-se. Já meus irmãosnão tiveram a mesma “sorte”, eles perderam rios de dinheiro com viagens internacionais, festas e drogas; viciaram-se em cocaína e heroína. Nossa mãe não está nem aí para ninguém. Por pouco, não saiu ganhando nesses quatro casamentos, exceto por Rangel Dexter, o meu falecido pai. Ele não deixou um tostão sequer para a mercenária e me pediu no leito de morte que eu honrasse o seu nome e sobrenome de respeito. — A única coisa que eu vou fazer por eles, se caso me procurarem, é interná-los! Não dou um real sequer! — Minha mãe fica em silêncio, arqueia a sobrancelha e não contesta a minha autoridade. — E eu já vou. Tenho que verificar o plantio dos eucaliptos urofilia. Contratei peões novos. Volto no almoço. E não ouse maltratar as pessoas desta casa. Felícia ficará de olho na senhora. — Eu fui a mulher do dono. Eu ainda tenho a minha autonomia como mãe. Não me rebaixe por empregados! Prevejo que será um inferno ter a Lorenza de volta nessa fazenda. Todavia, tenho problemas maiores na mente para me preocupar. Quero terminar a verificação dos plantios antes das 13h30. Eu não vou conseguir esperar os meus capatazes. Preciso saber logo se a Kiara retornou para Montes Do Sol. Ela desapareceu de uma forma que nem os melhores detetives do Brasil puderam encontrá-la. Dois anos sem informações. E tudo graças a sua família a acobertando. Desgraçados! — Está com a cabeça longe? — Gael, meu melhor amigo e gerente rural, interroga, estendendo-me um copo de água fria. — Posso adivinhar? É as fofocas da redondeza? — O que sabe, Gael? — Está circulando pela vila que a Kiara voltou. — Jesuíta e Ratito já me contaram das fofocas. — É certo, Anton. A informação saiu de dentro do casarão, pelos próprios empregados do Padilho. Eu sei, porque foi o meu pai quem ouviu de uma moça lá na venda. — Como? É verdade? — Sim! Minha cara não esconde a vontade de pegar a caminhonete e ir agora mesmo até aquelas terras. E é o que eu faço ao fechar a porta e ligar o miolo da ignição. — Anton, não seja louco! Pensa bem no que você vai fazer! — Enquanto eu acelerava, Gael veio correndo veloz, apoiado no vidro. — Não age de cabeça quente! Aquela gente não é confiável! A poeira vermelha se levanta e ele fica para trás. Eu sou capaz de matar cada um daquela família cretina! Eles não vão me enganar! Eu não aceito pagar de trouxa! Círculo os hectares. E, em uma hora de rua de chão barrenta, eu chego acelerando na frente do casarão alaranjado de dois andares. Eu pego a arma e desço como um touro com sangue nos olhos. Três rapazes me avistam. — É o Dexter! — Um deles exclama para o outro, correndo até mim. — Onde está o Padilho?! Onde está o velho bêbado?! Me digam! — Não é bem-vindo! Não tem permissão de pisar os pés nessas ter... Eu ergo a arma e eles se calam. — Não vou perguntar novamente! Chamem ele, ou eu faço estragos! — Não precisa fugir do controle, eu estou aqui, Dexter. Ao sair dos fundos, o velho desce os degraus da varanda. Sorridente. — Quanto tempo não nos vemos, hein? Como vai? — Eu quero a minha esposa! Eu sei que ela voltou! E não vão escondê-la desta vez! Ou eu saio daqui com essa mulher, ou eu invado esta propriedade com meus peões! — Bom, teremos uma luta e tanto. Pois, na minha casa, você só entra por cima do meu cadáver! Furioso, eu mudo de direção e aponto a arma para ele, encarando a expressão do Padilho. — Saia do meu caminho, seu bêbado. Ou eu disparo! — Então seja homem e dispare! Não é o todo poderoso, Dexter? — O que é isso?! — A mãe de Kiara sai correndo de dentro da casa, berrando e descendo os degraus. — Parem, pelo amor de Deus! O que faz aqui, Anton? Abaixe essa droga! Não seja um maluco! — Eu vim buscar a minha mulher! Eu sei que ela está escondida no casarão! E eu a levarei! — Ela não quer te ver! Em instantes, algo dentro do meu peito salta, explodindo de terror. Ela está aqui! Eu preciso vê-la! Eu preciso conversar. Eu... ela tem que voltar a ser a minha esposa! — Se a Kiara não vir comigo, eu vou embora para retornar com todos os meus capatazes! Não me importo de destruir a casa de vocês atrás dela! Nem de botar fogo! — Por favor, Anton, não faça nada que você possa se arrepender depois! Cuspo no chão, com a arma firme na direção do Padilho. — Sabem do que eu me arrependo? De ter comprado a filha de vocês e de ela ter me abandonado sem achar que eu não cobraria o meu dinheiro de volta! Afinal, eu tirei a família dos porcos da merda! — Não nos culpe por ser um péssimo marido! Quando a vendemos, ela era só uma menina inocente, virgem de malícias, boba! Não tivemos culpa de você usá-la, magoá-la! De tratá-la como um objeto! Kiara fugiu, pois estava cansada do comportamento humilhante da sua mãe e o seu! — E vocês a acobertaram! — Já te dissemos milhares de vezes que não sabíamos! — Padilho grita. — Jamais deixaria ela aqui, seu verme! Por mim, a imbecil é sua mulher e o dinheiro é nosso! E ponto final! Não estou nem aí se é bom ou ruim marido! — Não diga isso, Padilho. Kiara é a nossa filha. Ela tem que lutar pela sua felicidade, pela sua liberdade própria. Não quero que siga o caminho da minha mãe, da sua mãe e nem o meu. Ela não é uma submissa. — Cala a boca, Judite! Que se dane a felicidade! Eu não avisei que o Dexter viria atrás dela ou do dinheiro se a imbecil continuasse na nossa casa?! E não temos mais a quantia! Eu chuto a terra, quase disparando. — Que seja, me devolvem ela! Cansei dessa ladainha! Judite fica trêmula. — Calma, Anton. Por favor. — Já fiquei calmo por dois anos! Eu quero a minha mulher agora! — Eu já te disse que ela não quer te ver. — Ótimo, então eu voltarei com os meus peões! — NÃO PISARÁ OS PÉS NA MINHA CASA! — Padilho grita — OU EU CHAMAREI O DELEGADO DA REGIÃO PARA PRENDÊ-LO! — Não me desafie, seu bêbado! — Sai daqui! Meus homens também estão armados! Furioso, eu olho para as janelas do casarão de dois andares e sinto que ela está me ouvindo, observando. Eu sei que ela está! — VOCÊ VAI VOLTAR, KIARA! JAMAIS TE DEIXAREI EM PAZ! — O tom de voz estridente é para que ela ouça em bom som. — CHEGA DE FUGIR! CHEGA DE SE ESCONDER! Judite dá um passo à frente e Padilho ergue a cabeça. — Sai das minhas terras, eu já mandei! — Eu vou, mas voltarei caso a minha mulher não apareça na fazenda até meia noite! Fiquem avisados! E a avisem! Com o recado dado, eu viro as costas e volto para a caminhonete. Se ela não aparecer, eu regressarei! E não será sozinho! KIARA DEXTER Após ouvir as suas palavras ameaçadoras, eu fecho as cortinas com força e corro para o quarto chorando. O que eu faço, meu Deus? Me ajude, eu já estou cansada! Eu me sento em prantos na cama e assim que se passam dez minutos em que a caminhonete dele some, eu ouço passos ligeiros na escada de madeira que range. Levanto o rosto, vendo a minha mãe surgir no batente da porta. — Kia, ele já se foi. Não chore. — Ela vem até mim. — Eu não deveria ter voltado, mamãe. — Foi o certo, você estava passando fome, fugindo como se fosse uma bandida. E sendo escravizada para sustentar o seu filho. Isso é inadmissível. Tem que enfrentar aquele homem de uma vez por todas para ser feliz. — Eu tenho medo dele... do que o Dexter pode fazer caso descubra do meu menino. Ele odeia crianças. Ele poderia tirá-lo de mim, para me ameaçar — eu coloco a mão no rosto e choro. — E eu o mataria! Eu faria uma loucura! Mamãe me abraça, em seguida, segura a minha cabeça. — Você tem que enfrentar aquele homem bruto, entendeu? — Eu não quero! — Me afasto. — Eu não vou conseguir! Isso é tudo culpa do papai! Se ele não tivesse me vendido para aquele fazendeiro bonito, o "Dexter rico", me induzido a crer que o Anton era um príncipe encantado, cheio de amor, eu jamais, jamais teria me casado! Eu só tinha dezessete anos! Ele me machucou, feriu os meus sentimentos! Ele e aquela mãe maldosa! Os dois monstros! — Se eu também soubesse que sofreria como sofreu, eu nunca teria permitido o casamento vendido. — Eu fui tão boba. Ele nunca me amou. Foram três anos de inferno, desgraças. Eu recordo de tudo. E daquelanoite... — Eu coloco a mão na barriga e encaro a mamãe — inclusive daquela noite! — É essas lembranças que vão te fazer ser forte, uma guerreira. Lembre-se das humilhações da dona Lorenza. E de como o Anton te feriu. Não é hora de se lamentar, seja do seu pai ou do Dexter. Agora você tem um filho, um bebezinho que não tem culpa de ter vindo ao mundo. Pense nele — minha mãe aponta para o berço inacabado e sujo, onde o Gieber dorme feito um anjinho. — Precisa protegê-lo com todas as suas forças. — Anton voltará... e se ele tirar o meu filho de mim por raiva? — E o que pensa? Você vai até ele? — Não sei. Eu tenho que pensar. Estou apavorada. — Você escutou o que o Anton disse? Sobre estar te esperando na fazenda até meia noite? — O-O quê? — Arregalo os olhos. — Ele retornará com os seus capatazes caso você não apareça na fazenda até meia noite. — Esse homem é um monstro! — Eu me levanto, com vontade de chorar novamente. — O que eu faço, mãe? — O recomendável era você ir até o posto de polícia da vila e denunciá-lo pelo que fez. Mas o Delegado é amigo dele. — Eu queria me vingar, fazer o Dexter sofrer tudo o que eu sofri naquela mansão e durante esses dois anos fugindo. — Só que se você for até lá, o Anton te deixará confinada a ele. E eu não aceito que viva como uma submissa mandada, sem poder de decisão. Não como eu sou para o seu pai. Eu quero que seja livre. Mamãe se põe de pé com o seu corpo baixo e um pouco acima do peso e beija-me de forma demorada na testa. — Pense bem no que você vai fazer, por favor. — Eu pensarei... obrigada por me proteger. — Eu te amo, filha. Meu coração de mãe morreria por você e pelo meu neto. Retribuo o seu beijo e ela se retira do quarto. Sozinha, eu limpo o rosto molhado de lágrimas, solto o ar dos meus pulmões e vou até o berço do meu menino. — Eu não vou deixar nada de mau acontecer com você — toco no seu rostinho delicado, sem evitar o choro. — Ouviu? É a única felicidade que eu tenho. Ninguém te fará mal. Eu sinto tanto, mais tanto nojo do Anton, que esses dois anos não puderam curar nem a ponta das feridas. Só me fez criar mais revolta e mais raiva. Eu não esquecerei, jamais. Fugi dele na manhã seguinte daquela atrocidade de noite. Me rasga o peito só em lembrar, eu quase não consegui chegar no casarão dos meus pais. Minha intimidade ardia, minhas pernas eram um peso morto. Eu andava descalço no meio da estrada, esperando que, a qualquer momento, um carro viesse e passasse por cima de mim e da minha cabeça. Pois a dor teria sido menor. Eu sofri tanto. Eu não queria vê-lo, olhar nos seus olhos. Não acreditava no que havia feito. Eu não acreditava que ele pudesse ser tão mal, que não pudesse sentir um pingo de amor. E, meses depois, descobrir da gravidez foi duas vezes pior e mais doloroso. Eu preferia a morte a voltar a morar grávida naquela mansão. Eu saí de Montes Do Sol e sairia de novo se fosse para proteger o meu filho! Ninguém daquela família o tocará! Nem saberá da sua existência! Eu lutarei até o último fôlego de vida! Dexter me deu um filho da pior forma que o homem que eu amava poderia ter me dado e eu não vou esperar a vingança de Deus. Eu só viverei tranquila depois de ver ele e a sua mãe rastejando de tanto sofrimento! Eu juro que farei todos eles comerem o pão que o diabo amassou! Os odeio! Sofrerão toda essa dor que eu sinto! Eu decidi ficar em casa, presa no quarto, mas meu pai subiu para me obrigar a ir até a fazenda do Dexter e me "devolver" a ele. Porém, quando eu disse que não ia, furioso, ele só não me bateu com o cinto porque eu estava segurando o bebê no colo. — Se você não vai voltar, continuará nesta casa só por mais um dia! Eu não quero aquele Dexter vindo nas minhas terras me ameaçar! Resolva os seus problemas sem mim! Não estou nem aí para você e para essa criança! Você é propriedade dele! Não restituirei um centavo do dinheiro da venda! — Por favor, eu não quero voltar. Eu não sou propriedade daquele homem. Me deixa ficar aqui com o meu filho? É o seu neto, olha o tamanhinho dele, é só um bebê. Não tenho para onde ir, pai. — Se conseguiu se virar sozinha por dois anos, ainda grávida e com um recém-nascido, pode continuar sem a minha ajuda e o meu dinheiro! Vocês dois são só duas bocas a mais! Procure a cabana caindo aos pedaços do seu avô! Aquele velho saberá o que fazer com vocês dois! Eu tento não chorar e apenas assinto com a cabeça. — Não se preocupe, eu irei hoje mesmo! — Ótimo! Já comece a organizar suas coisas, antes que eu faça! — Após esbravejar bruto, ele vira as costas, abandonando-me em lágrimas e com um aperto no coração. Coloco o meu menino no berço, pego a única mala com todas as nossas roupas e começo a reorganizá-la em meio aos prantos desesperado. Eu quem não quero ficar nem mais um minuto aqui. Achei que o meu pai tivesse mudado, que ele me aceitaria de volta com o bebê. Contudo, só soube me tratar mal desde que cheguei. Jogando na minha cara que eu e o meu filho somos só mais duas bocas para ele alimentar. — Filha, pelo amor de Deus, não vai embora! — Eu desço os degraus da escada com a mala e com o Gieber chorando nos braços — Não se mete, Judite! — Pare, Padilho! Você está expulsando a sua única filha e o seu único neto de um ano! Pense, é só uma criança! Kiara precisa da nossa ajuda! — Se você continuar a me contestar, sua porca velha, eu te bato com o cinto! E faça esse garoto calar esse berreiro! Minha mãe chora. Eu balanço a cabeça, encarando-a e ninando o Gieber. — Está tudo bem, mamãe, eu me viro. — Ah, querida, você sabe que por mim ficaria eternamente. Eu não vou suportar te ver indo embora e levando esse bebê indefeso. Eu amo vocês. Daria a minha vida pelos dois. — Eu sei, eu te amo. Mas preciso ir. — Eu também te amo. Vem, a mãe te leva até a porta. — Não demore, Judite! Te darei cinco minutos! Na porta principal, assim que eu saio para fora, a minha mãe me puxa ligeira para os degraus. — Venha... — Mãe? Ela, então, me para ríspida e afobada. — Escuta, um peão, filho de uma amiga minha da vila, está te esperando nos estábulos. Já combinei tudo com eles, com medo de uma hora ou outra o Padilho te expulsar e não ter para onde ir. O barraco do seu avô nem telhado tem direito. Não é seguro para ambos. — Voc... — Não, Kiara, não temos tempo! Anda, vai logo! Assim que eu tiver uma oportunidade de visitar vocês, eu irei! E acalme esse menino, tente escondê-lo! Ela me dá um beijo materno no rosto, outro no bebê e empurra-me com a mala para, em seguida, voltar correndo para dentro do casarão. Eu faço o que ela me mandou, sem olhar para trás. No caminho, eu deixo o Gieber mais calado e com sono. Acho que ele entendeu que qualquer lugar é melhor do que a casa do avô. Quando eu chego ofegante na porta de correr do estábulo, cheia de mato nos sapatos, eu vejo o tal rapaz me esperando ao lado de um cavalo da cor marrom. Ele tem uma barba grande e espessa. Sua estrutura não é tão alta, nem tão forte. É magro. — Boa tarde, senhorita Kiara — ele vem até mim e sem estender a mão, o homem de feição séria me cumprimenta. — Sou Francisco. Assinto, observando-o. — Sua mãe já deve ter lhe explicado tudo, me dê a mala. — Para onde vai me levar? — Entrego a mala de mão, enquanto o rapaz sobe no cavalo. — Para a casa da minha madrasta. Ela mora sozinha no povoado da vila, não se preocupe. Quer ajuda com a criança para subir? — Não! Eu não vou largar o meu filho! — Tudo bem. Tudo bem. Só coloque este lenço para que não seja reconhecida. Todos sabem como é a esposa do senhor Dexter. — Não precisa me lembrar de que um dia eu fui algo daquele homem. E também, não o chame de senhor. — Sim, senhora, desculpe-me. Com a consciência pesada de ter sido grossa com o rapaz, eu pego o lenço, enrolo na cabeça, só deixando a visão e o nariz para respirar. Então subo no cavalo com dificuldade, mas sem a ajuda dele. — Iremos rápidos. Aconselho a moça a se segurar bem. Atrás das suas costas, eu abraço o meu menino com segurança e vou assim durante as galopadas velozes conduzidas por Franciscoaté a vila. Eu fico nervosa com a proximidade a cada minuto. Ele é rápido. E em duas horas sem pausa, quando chegamos no povoado, eu já tive a sorte de reconhecer perto da igreja uma amada pessoa; a dona Maria, a cozinheira da fazenda Dexter. Ela conversa com algumas senhoras, suas amigas. Meu desejo todo era de descer, de dar um abraço apertado nela, dizer que eu dou valor a cada comida gostosa sua, que eu sinto saudades e que ela e Felícia foram um anjo enviado por Deus durante os meus três anos de moradia naquela luxuosa mansão. E que Anton, o menino que ela viu crescer, me machucou tão doloroso... que eu só não consegui me matar porque o meu filho estava sendo gerado para me dar um segundo motivo de viver. — Senhorita Kiara, é aqui. — Francisco se refere a uma casinha de madeira e de tijolos, onde para com o cavalo. Não sei nem explicar a dor nas minhas ancas. — Mas está tão perto da vila. Não está perto, é praticamente na vila. — Posso dizer que não tem lugar mais seguro. Confie em nós. A essa altura, eu confio e acredito que ele e a minha mãe não poderiam ter escolhido lugar melhor para me esconder. Francisco me apresentou a Rosa, a sua madrasta-mãe, que é uma ex- cartomante. Ao me receber, ela foi um verdadeiro doce de pessoa. Sua casa é simples, tem apenas quatro cômodos pequenos. A sala era o seu local de trabalho, ainda tem coisas bem coloridas e piscantes ao redor – sem falar das poltronas vermelhas. A cozinha tem uma mesa com duas cadeiras, o quarto em que eu ficarei com o Gieber só cabe a cama de casal e uma cômoda quebrada. O que já é muito do que eu queria, esperava e gostaria. Agradeço a Rosa do fundo do meu coração. TRÊS DIAS DEPOIS — A senhora acha que o meu pai está a impedindo, dona Rosa? — Ao me referir a minha mãe, o meu olhar fica cabisbaixo. — Não se preocupe, assim que a Judite tiver uma oportunidade de te visitar, ela virá. Sua mãe não lhe prometeu? — Sim... só que tem o Anton... Enquanto falo, Rosa me entrega um prato para eu me servir da bandeja de arroz doce, de açúcar queimada. — Ele disse que invadiria o casarão dos meus pais se eu não aparecesse na fazenda dele até meia noite. E já faz três dias. Eu estou preocupada. Acho que eu vou até lá. — É arriscado, Kia. Não posso permitir uma loucura dessa. E se os capatazes do Dexter te reconhecerem? Não, eu fiz uma promessa a Judite de que não te deixaria correr nenhum risco. Eu respiro fundo, mexendo a colher no prato de doce. — Talvez a minha mãe tenha razão; eu preciso enfrentar aquele homem para conquistar a minha liberdade em Montes Do Sol. Essa é a minha cidade natal, é onde eu nasci e fui criada. Não é justo eu ficar fugindo igual uma criminosa. Não devo nada a ninguém. Rosa consente. — Concordo. E o que pensa em fazer? Sabe que não pode se esconder para sempre. — É isso, eu não sei o que fazer. Agora tenho um filho. E seria arriscado revelar a sua existência. Anton é rico, milionário, poderia tirá-lo de mim. Eu conheço ele, talvez faria isso para não me deixar em paz. — Se ele não quer te deixar em paz é porque ele te ama, certo? — Não, errado! Ele não me ama! Ele é um homem ruim! — Eu brado com raiva. — Ele me feriu, Rosa! Anton me traia, o amor dele foi uma mentira! — Ei, meu bem, eu sinto muito, Kiara. Não era a minha intenção te entristecer ou ofendê-la. — Está tudo bem, eu quem peço desculpas por ter levantado a voz. — VÓ, SENHORITA KIARA! — nos assustando, o neto de doze anos da Rosa aparece repentinamente abrindo a porta da cozinha com toda a violência e vindo ofegante até nós. — Que isso, Miguel??? — O-o pai Francisco mandou eu vir urgente dizer que o senhor Dexter descobriu que a Kiara está aqui! E ele já chegou na vila! — O... o quê??? Eu coloco a mão na boca. — Ele disse que o senhor Dexter ofereceu dinheiro ao Padilho, para ele contar o seu paradeiro. E Padilho vendeu a informação depois de obrigar a esposa a falar tudo. — Meu pai fez isso?! Meu Deus, eu tenho que sair daqui, Rosa! Me ajuda! — Você não vai conseguir Kia! É melhor se esconder no quarto! — E o Gieber? — Arregalo os olhos, apavorada. — Deixe-o dormindo no colchão. Anton não invadirá a casa. E caso faça, eu chamarei a polícia. Vá, se esconda, menina! — Confirmo. E sem falar mais nada, eu corro para me esconder; fecho a porta do quarto, trancando-a e colocando-me atrás dela. Observo de longe o meu pequeno menino que cochila sem as maldades do mundo. O que eu faço se for o Anton? E se ele tiver me achado? Não sei se terei força para enfrentá-lo. Eu não sei! Em meio ao silêncio do ambiente, não demora e ouço vozes masculinas vindas da sala. Meu senhor... eu abraço o meu corpo, rezando para que não seja ele. E se for, que esse homem não invada os quartos. Não queria vê-lo agora, não queria que ele me encontrasse e nem soubesse da existência de Gieber. Não assim, sem eu me preparar antes. Os minutos se passam tortuosos e as vozes somem. Nervosa, eu fico apreensiva, com o coração prestes a saltar da caixa do peito. Até que um par de sapatos soa do curto corredor. Em seguida, dois toques são batidos na madeira da porta, chamando-me baixinho. — Kiara... minha querida. Sou eu, pode abrir — meu coração, que acabara de descer garganta abaixo, se alivia em imediato com a voz da dona Rosa. Eu abro para ela, tremendo as mãos. Rosa entra no quarto, liga a luz e encara-me. Sua face é de desespero, de culpa. — Desculpe-me, Kia. Mas você não pode mais fugir, nem se esconder. É o Dexter, ele está lá na sala com o delegado. Eles querem falar com você. CAPÍTULO 2 Meu mundo desaba. — Me perdoe, Kia. Por favor. — T-tudo bem... — Deixe o Gieber aqui. Se recomponha, não mostre vulnerabilidade àquele homem. Se ele te machucou e te magoou tanto, não seja fraca. Você precisa dar a volta por cima, entendeu? — Eu limpo as lágrimas, respirando em meio ao desespero. — Está pronta? — Nunca estarei! É difícil, eu não queria vê-lo, eu não queria encarar seus olhos! Eu não queria nada, só paz! — Mas é por isso que você precisa lutar pela sua liberdade. Uma hora ou outra, você teria que enfrentá-lo. Ele trouxe o chefe de polícia. Agora venha, eu não vou te deixar sozinha. O mais doloroso é saber que a Rosa tem razão. Por isso, eu engulo em seco, dou uma última olhada no meu pequeno Gieber, que dorme... e saio do quarto, acompanhando-a até a sala com as pernas bambas. Meu Deus... Quando atravessamos o portal de cortina de pedrinhas vermelhas, eu levanto a cabeça, sentindo uma apunhalada que me dói no mais profundo da alma e enfrento as suas íris acinzentadas, de olhar bruto e desesperador. Ele continua o mesmo homem forte, alto, robusto e revestido sempre das suas jaquetas de penugem animal e as botas pretas. Eu o odeio tanto! O odeio com toda as minhas forças! — Kia... — Ele tenta se aproximar, só que o delegado o impede. — Não, não chegue perto de mim! — Me afasto para trás. — Dexter, um minuto, não a assuste. Eu preciso conversar com a sua esposa. — O senhor está enganado, eu não tenho nada para conversar! Nem com o senhor, nem com o meu ex-marido! — Ex-marido? — Seus olhos ficam semicerrados, seu peitoral se infla, nervoso. — Eu preciso falar com você! Foram dois anos! — Eu já disse que não tenho coisa alguma para falar com você e nem com ninguém! — E vai continuar fugindo? Acabou, Kiara! Chega de se esconder! Seu lugar é ao meu lado! — Não! O meu lugar é onde eu quiser estar! E eu nunca mais vou voltar para aquele inferno de casa! Nem para o seu lado! Eu te detesto! — Senhorita Dexter, por... — E não me chame por esse sobrenome! Eu tenho nojo, raiva, ânsia! Saiam daqui! Vão embora! — Kia, não faça isso, se acalme. — Rosa segura o meu braço. — A situação não será resolvida com ignorância. Estamos de frente para uma autoridade. — É claro que estamos, todos lambem os pés do "senhor Dexter rico". — Chega! Você vai embora comigo agora ou... — [...] ou o quê, seu cafajeste? — O interrompo. — Diga? Vai me amarrar aos pés de uma cama? Me acorrentar? Amordaçar a minha boca? — Eu não vou fazer nada disso! Vocêsabe que eu não sou desse jeito! — Senhorita Kiara, por favor, não vamos levantar o tom das vozes. Eu quero resolver isso o mais amigável possível. Por isso, pegue as suas coisas e acompanhe o seu esposo. — Como podem ser baixos? Está vendo o que eu disse, Rosa? Até as autoridades lambem o chão desse homem! E eu não vou! Eu não sou obrigada! Eu não vou voltar para aquele inferno! Já disse! — Não desafie o poder máximo dessa vila, mulher! — Impedindo o Anton de falar algo, o delegado mostra as unhas ao se aproximar me enfrentando de forma rude. — Ou sou eu quem posso prendê-la por desacato! — Que se dane, me prenda para ver se é macho mesmo! Vai, faça isso! Ele abre os dentes amarelos, furioso. — Kia... não haja desta forma! — Rosa continua a me segurar. — Pare, você tem noção que não pode ir presa! — E eu não posso ir para a casa dele! — Aponto para o Anton. — Senhor delegado... Dexter... me deem um minuto para conversar a sós com ela na cozinha. Por favor? — Ótimo. Vá e a convença da melhor escolha. Estaremos aqui lhe aguardando, senhorita. Kiara. Rosa me puxa à força até a cozinha. — Por que está defendendo eles? — Ao pararmos, eu esbravejo brava contra ela. — Porque eu quero o seu bem, menina. — Eu odeio ele! Isso não é querer o meu bem! — É sim, eu não posso te deixar ir presa. Pelo amor de Deus, se acalme. Pense no seu filho. Na sua mãe. Não se comporte descontrolada. Suas palavras me fazem colocar as mãos no rosto, desabando a chorar. Ela me abraça, acariciando os meus cabelos. — O que eu faço, dona Rosa? O que eu faço? Que angústia! Que desespero! — Não tem escolha. Você precisa revelar o bebê para pedir o divórcio. — Não, eu não posso revelá-lo. — Então aprenda a ter aquele homem na palma das suas mãos, Kia — ela sussurra, afastando-me para limpar as minhas bochechas. — Você não conhece ele para estar falando isso! Anton nunca me amou e poderia maltratar o meu filho! Ele odeia crianças! Ele me traia e vai continuar pisando nos meus sentimentos! — Escute, é isso ou ser presa e perder a guarda do seu filho. Aquele delegado é amigo do Dexter. E você não deve se separar do Gieber. Você não é mais a menina inocente que me contou ontem, Kiara. É uma mulher batalhadora, sofredora e que vai sair por cima dessa. Pode não ser hoje, amanhã ou depois, mas você vai sair dessa. Seja forte, enfrente os monstros pensando nas pessoas que te amam de verdade. Me prometa pela sua mãe? Ela gostaria que a sua decisão fosse com o seu filho acima de qualquer escolha. — Sem respondê-la, eu apenas limpo o rosto. — Kia, diga algo? — E-eu estou pensando, Rosa. — De coração, espero que os seus pensamentos sejam o correto. Sem dizer mais nada, ela pega na minha mão e com calma, pede para retornarmos a sala, onde eles nos aguardam. Eu concordo. — Senhorita Kiara, temos uma decisão? — O delegado logo se direciona, perguntando-me sério antes mesmo de eu parar de andar. Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha, encarando a face bruta de Anton. — Por uma condição. — Qual? — Ele retribuiu a visão severa. — Eu quero um quarto separado! Ele confirma com a cabeça, sem contestar. — Sem demoras, senhorita Kiara, poderia pegar as suas coisas? — Não acabei... t-tem mais uma coisa... — meu coração se exprime. — O que é, Kiara?! — Verá... — eu dou uma última olhada assustada para a Rosa. — Eu já volto... — Já traga as suas malas. Sem replicar o Anton, eu viro as costas para eles, indo apavorada até o cômodo onde o Gieber dorme. Me doí ter que tomar esta atitude, é uma apunhalada nas minhas próprias convicções, pois prometi a mim mesma que a família nojenta "Dexter" não saberia da sua existência, mas sei que só desta forma eu poderia me vingar deles! E farei todos comerem lama, direto do chão! Eu juro que farei! Jogo as coisas de qualquer jeito na mala, fecho-a, cato o meu filho já acordado no colchão e antes de ir, analiso-o no reflexo do espelho, observando o seu rostinho inchado. — Eu vou te proteger nem que isso seja a última coisa que eu faça em vida, meu filho. A mamãe promete! — O beijo na bochecha, enxugo meus olhos molhados e saio tomando coragem para atravessar as cortinas pela terceira vez. E trêmula, assim que eu atravesso, volto para o meu pior pesadelo em forma de homem. Anton vira o semblante, arregala os olhos e demonstra choque, incredulidade. Ele engole em seco, sem saber como reagir. O delegado fica boquiaberto. — A próxima condição é de você não negar nada para o meu filho! Nem um leite que seja! — O que é isso? De quem é essa criança, Kiara?! — É minha, só minha! — O aperto forte nos braços. — Você não me queria de volta naquele inferno de mansão? Vai ter que suportar o meu filho! Bravo, ele cerra os punhos. — Dexter... — O delegado o encara, esperando o veredito de sua palavra. — Vamos! Olho para a Rosa, palpitando de todos os medos e angústias possíveis. Ela sorri fraco e nervosa, pega na minha mão, ajuda-me com a mala e acompanha-me atrás deles. Para a nossa bela sorte, as fofoqueiras de plantão da vila já estavam paradas do outro lado da rua. Agora todos sabem que a "mulher fugitiva do Dexter" voltou. E eu odeio tanto esse monstro que nem consigo me expressar com palavras! Ele me feriu! E ter que revelar o fruto daquela noite horrível... ah, isso me dói. Eu me sinto humilhada, julgada como a errada por todos esses curiosos. — Eu voltarei para te visitar, Rosa! — Esbravejo, demonstrando que a minha liberdade começará em breve. Ela chora, beija o topo dos meus cabelos e os do Gieber. — Já peguei amor por ti, menina. As portas da minha casa sempre estarão abertas para você e para este garotinho bonito. — Obrigada, você é maravilhosa. Triste, retribuí o carinho, respirando fundo e então, virando para ir à força até a caminhonete estacionada perto do meio fio, com o Anton me aguardando dentro. Ao entrar no banco de trás, o delegado fecha a porta, joga a mala na traseira e dá duas batidas na lataria do carro. Eu abraço o Gieber, assistindo a Rosa e o chefe de polícia ficarem para trás, enquanto o homem ao volante me leva embora sem um pingo de culpa no coração e talvez... nem na consciência. — De quem é essa criança?! — Durante o percurso na estrada de chão, eu sou surpreendida pelo tom da sua voz bruta. — É minha, eu já disse! — Quem é o pai? — Ele não tira o foco do espelho retrovisor. Meu coração dispara, fico nervosa, trêmula. Sinto vontade de chorar, de bater na cara dele como eloquente. Isso ainda dói, meu Deus. E cada vez que eu o encaro, uma agulha perfura mais essas feridas incuráveis. — Você não tem o direito de me fazer esse tipo de pergunta, Anton! Você sabe que não tem! Meu caráter não é o mesmo que o seu! Sem saber mais o que dizer, ele aperta o volante e fica quieto. Eu fecho os olhos, escondendo as lágrimas que fogem sem eu impedir. Quando eu chego na fazenda, todas as lembranças infelizes voltam. Eu quero correr, fugir. Esse lugar nunca foi palco de alegrias, apenas dos meus pesadelos e traumas. Anton não desce, continua sentado no banco. — Kia... — ele suspira, buscando palavras. — Não precisa dizer nada. Eu quitarei o valor do dinheiro que pagou em troca de mim. E terei a minha liberdade longe de você e dessas terras. — É minha esposa! — Bravo, é apenas o que ele diz, após abrir a porta e sair do carro pegando a mala da traseira com ferocidade. E assim que a coloca nos degraus de concreto, ele volta para abrir a minha porta. Ao abri-la, eu aperto o meu pequeno bebê com força, enfrentando-o. Dexter nem olha para o Gieber. É como se fingisse que ele não existisse. E eu não sei o porquê isso me dói. — Se para tê-la aqui, eu preciso cumprir o que me pediu na casa daquela mulher, então que seja! — Você não tem esse direito! — Eu sei que eu não tenho direito nenhum! Contudo, a partir de agora, você não vai mais embora! CAPÍTULO 3 Eu desço do carro com a frase de Anton fixada no meu subconsciente: "mas a partir de agora, você não vai mais embora". Me doí na alma. Pois o que esse homem fez não tem perdão. Jamais serei capaz de perdoá-lo.É uma ferida aberta, incurável. Não existe remédios ou antídotos. Não sou a mesma inocente de antes. Ao pisar nos degraus da escada de concreto, eu continuo abraçada ao meu pequeno. Anton passa por mim, indo até a porta da mansão com a mala. Eu respiro fundo, criando forças para não sair correndo. Às vezes, acho que eu não terei capacidade de me vingar do Dexter. O que ele mais ama nesta vida? O que destruiria os seus pontos fortes? O que o levaria a se rastejar na lama de tamanha culpa? O que me aliviaria esta dor? — Eu preciso conversar com você, Kiara — após abrir a porta e eu entrar desconfortável na sala rústica da casa, que continua idêntica ao dia em que eu fugi, Anton para, encarando-me sem traços específicos. Nada de tristeza ou de arrependimento. Ele me olha indiferente. Também para o Gieber. E percebo o que "precisa" tanto conversar. — Diga de uma vez o que você tem para conversar! Quer saber o quê? O porquê de eu ter fugido? Ele fica nervoso e o medo dele tocar no assunto daquela noite me apavora, acelera o meu coração já descompensado. Eu ainda estou frágil. Eu sinto que não suportarei. — É sobre essa criança nos seus braços. — Eu já falei, ele é o meu filho e ponto final! — As coisas não funcionam simples assim! Quem é o pai? — Seus músculos se contraem igual na residência de dona Rosa. — Por onde andou? Eu preciso saber! — E vai fazer alguma diferença? Você não se importa! Você nunca se importou comigo e com o meu bem-estar! Eu sempre fui apenas a mercadoria comprada para assumir o título de "esposa do sr. Dexter". A "srta. Dexter", a coitadinha pé rapada e iludida, filha do bêbado do Padilho e da criadora de porcos, submissa dele! — Não omita, eu te tirei daquela vida escravizada pelo seu pai! Em nenhum momento, te faltou nada nesta casa! Eu te dei tudo o que poderia dar! Sabe disso! — Mas me faltou, Anton! Me faltou tudo! Você mentiu para mim durante três anos! Você me comprou como a sua esposa porque eu era uma burra sem educação, nunca tive coisa boa, nunca andei de saltos ou de joias igual a maldosa da sua mãe! Quando eu vim para cá, morar na sua mansão luxuosa, nem dois pares de sapatos eu carregava direito! E sabia que eu não me interessaria pela sua fortuna milionária, pois, diferente das filhas das madames da redondeza, a "selvagem do mato" aqui só queria amor e ser feliz! Só que você se fingiu de príncipe dizendo que me daria tudo isso, para, no final, unicamente me usar, me ferir, me magoar! E eu fui uma idiota! Uma boba miserável do interior! Eu tenho raiva de você! Eu tenho raiva das suas traições e das suas mentiras! O odeio! — Sr. Dexter, eu escutei a voz... — Sem esperar, interrompendo o Anton de abrir a boca, graças a Deus, Felícia surge do ambiente onde fica a mesa de estar. E ao me ver, ela arregala imediatamente os olhos, em choque. — Ki-Kiara? Eu tento não chorar, mantendo o meu filhinho em segurança no meu colo. Ela olha para o meu pequeno, em seguida, corre até mim. Eu fico feliz. É a primeira vez que eu sorrio desde os poucos minutos em que pisei os pés nesta sala. — Kia! — Ela me abraça de mal jeito por causa do bebê. — Saudades, Felícia! — Meu Deus, é você sim! — Quando ela se afasta, analisa assustada o Gieber, pegando na sua mãozinha. — E que criança é essa? Olha o tamanhinho dele. É um menino. É o seu filho e do... — Por favor... Tremendo, eu balanço a cabeça para ela, suplicando que não me questione nada. Aperto o seu pulso e ela estranha, porém, ao virar o semblante para o Anton, cala-se sobre a existência do Gieber, mesmo ele falando palavrinhas de bebê altas demais e chamando atenção. — Aproveitando que apareceu, leve a mala de Kiara até uns dos maiores aposentos de hóspedes, Felícia! — Anton manda e eu também aproveito a oportunidade para não ficar nem mais um minuto na presença dele. — Eu gostaria de acompanhá-la para o quarto. Não tenho mais nada para conversar! — Você ainda não me respondeu, Kiara! — Eu já disse que não tenho nada para conversar! Desvio-me de Anton, olho aflita para a Felícia e de cabeça erguida, começo a andar até a escada de madeira. — Você não me queria de volta neste inferno? Agora cumpra a sua palavra de não negar nada para o meu filho! E nem para mim! Ao concluir as minhas palavras valentes, eu viro as costas e começo subir os degraus com um aperto de tristeza, não evitando pensar no primeiro dia em que eu cheguei na mansão. Eu subi as escadas com o meu vestido de pobre e as sandálias de mendiga, como a víbora da Lorenza vociferou ao me ver no final dos corredores. Nunca na vida eu recebi tantos insultos baixos. Eu era e sou pobre sim. No entanto, jamais me vesti da forma que ela sempre me humilhava. Quando eu morava com a minha mãe, era ela quem criava as minhas roupas e até arriscava o serviço de sapateira. Após ser comprada por Anton, aos dezessete anos de idade, foi então que eu conheci o luxo. Ele me deu de tudo do bom e do melhor, me levou até na capital para morarmos por quatro meses e eu virar "madame de saltos". Não nego que me encantava. Eu realmente criei um lado mais refinado. Só que isso nenhuma vez foi motivo das minhas origens se perderem. Anton me comprou no mesmo dia em que o meu pai começou a me oferecer pelos arredores feito uma vaca pronta para o abate e, ao sermos apresentados, eu fiquei sem chão, sem cara e sem bochechas diante do porte daquele belo homem forte, robusto e musculoso. Ele era... e é bonito (hoje sei que só por fora). Ele se apresentou, me disse o seu nome, o sobrenome e acrescentou o quanto eu era linda. Eu me encantei. Papai igualmente iludiu a minha consciência sobre o Anton ser um cavaleiro, rico e solteiro — o que tanto faz, querendo ou não, eu sabia que seria obrigada a me casar com ele. Meu pai me bateria até eu esquecer como se andava. Pois a oferta era boa e tiraria a nossa "família dos porcos" da miséria das dívidas. Ai de mim se não aceitasse. Eu estava iludida, feliz, sonhadora, apaixonada pelo "sr. Dexter perfeito". Até que, um ano depois de casados, eu caí em si sobre o verdadeiro amor dele. Eu era a única que sustentava a nossa relação. Eu era a cega, a burra que se rastejava para ter um pouco de carinho do próprio esposo. Anton me via como uma menina sem experiência, pouco suficiente, descobri isso quando eu senti o primeiro perfume feminino na sua camisa, quando eu achei preservativos usados no carro, após ele viajar aos finais de semana para a capital com os seus irmãos festeiros e voltar sem explicações. Mas que se dane, eu não queria acreditar no óbvio. O amava. Eu poderia aguentar aquilo só com o meu amor. E se eu tivesse um filho para cuidar, um pequeno fruto nosso, já que todos os seus "amigos" estavam o cobrando com piadas, não faria mal. Era o meu sonho ser mãe. Contudo... Anton odiava, detestava me ver pedindo isso. Brigávamos quase sempre, em meio aos berros, para os empregados escultarem. Até que ele explodiu e da pior forma possível, me deu o que eu desejava... sem pensar nas consequências que me rasgariam o peito o restante da vida. — Kia, esse menino é filho seu? — Ao entrarmos no quarto, antes de fechar a porta, ela pergunta apavorada. — É filho do Anton? Foi por isso que você foi embora? Pois estava grávida do sr. Dexter? — Não, Felícia, ele é só o meu filho! — Eu me sento na cama, admirando angustiada o ambiente bem chique e organizado, conforme eu deixei a dois anos. Parece que nada mudou. — Anton odeia crianças... você sabe. Eu só estou assustada. Não consigo entender; você desaparece um dia e depois de dois anos volta com um bebê. — Não há o que ser compreendido! Só saiba que o seu patrão é um monstro e que nada ficará impune! Gieber não tem pai! Ele só tem a mãe que o gerou! — Kia, foi por isso que você foi embora? — Anton sabe desde o início o porquê de eu ter ido embora. Eu não posso te contar, Felícia. Não me pergunte nada, eu te imploro. — Tudo bem, doce menina — ela limpa as bochechas molhadas. — Eu não insistirei. Só fico feliz, muito feliz por ter voltado. Providenciarei todas as suas coisas para estequarto. — Eu só quero um berço, fraldas, leite, entre tantos outros mantimentos que o meu filho necessita. Ele não vai me negar nada. — Eu estou apavorada, Kia. Anton e essa criança... Os choros dele... — Felícia observa o Gieber nos meus braços. Ele mexe com o meu cabelo, balbuciando. — É isso o que eu não aceito! O que aquele homem tem contra um serzinho tão inocente como esse? O que aquele monstro tem? — Não diga isso. Saiba que o patrão ficou maluco te procurando. Passava noites em claro pela mansão. Ele mudou. Depois que você sumiu, o Sr. Dexter não foi o mesmo. Até chegou a expulsar os irmãos da fazenda. Parou de ir para a capital. E ia só para ter informações suas com os detetives. — Eu não acredito em nada. Você sabe que ele vivia me traindo. Saindo a noite para tomar chope e aproveitar das mulheradas fáceis. Anton nunca me amou. Eu sou apenas a esposa necessária dele. E eu vou me vingar! Eu Juro! Anton Dexter Isso não passa! Olhar nos seus olhos foi duas vezes pior! E agora ela tem aquilo consigo! Não é possível que seja filho meu! Eu não aceito! Eu me levanto da cadeira do escritório e chuto a mesa, em seguida, saio da sala. — Onde a Felícia está? — Pergunto para a nova empregada que estava cantarolando e limpando o assoalho. Ao me ver, ela se cala, erguendo-se de mal jeito e encarando-me nervosa e chocada, com as bochechas evidenciando a vermelhidão. — E-ela acabou de descer a escada para pegar algo na cozinha, senhor. Consinto calado, agradecendo a informação e sigo para a cozinha. Ao entrar no local de pisos de ladrilhos, encontro a Felícia preparando uma bandeja de alimento junto da Maria, a cozinheira e a mãe do Gael, meu amigo de infância. E sem demora, eu não meço as palavras. — O que a Kiara disse para você, Felícia? — Senhor Dexter! — Assustadas, elas duas colocam a mão no peito, virando em minha direção. — Desculpa, senhor... eu... eu não entendi? — Kiara disse por onde esteve e de quem é aquela criança? — K-Kia não disse — Felícia gagueja, desviando dos olhos pávidos de Maria. — Ela só falou que o senhor sabia o motivo dela ter ido embora. E eu sei! E mesmo tendo Kiara aqui perto de mim... isso não passa! Essa droga de prisão continua! — Mais nada? Só isso? — Sim, senhor... só isso. — Então, a partir de hoje, eu quero que você me conte tudo o que conversarem a este respeito! Também você, Maria! Quero que as duas descubra por onde ela andou! Entenderam? — Por onde "ela" andou, quem? Do que está falando, Anton? Minha mãe aparece ao meu lado, sem qualquer aviso e eu continuo vidrado nas duas senhoras, que apenas concordam quietas com a cabeça. — E não precisam servir o meu jantar. Com licença! — Anton, você não... Eu viro as costas, indo até as escadas ao deixar Lorenza falando sozinha. E quando eu chego no corredor do andar de cima, eu paro, tiro o chapéu, passo a mão pelo rosto e pela barba, tentando controlar os nervos. O que Kiara relatou a poucas horas é verdade, eu precisava de uma esposa sem menor interesse em me extorquir. Eu precisava de uma mulher boba e que fosse literalmente do mato. Pois eu nunca quis me casar, eu só tinha vinte seis anos, eu gostava de ser solteiro, de ser livre, de apenas me importar com os estudos. Era o meu pai quem me infernizava o tempo todo sobre a importância do casamento nos negócios. No "reinado Dexter" das terras e das nossas madeireiras na capital. Ele sofria de leucemia. E foi num dia antes da sua dolorosa morte, agonizando na cama do seu quarto, que Rangel Dexter me fez prometer de joelhos um casamento com uma moça digna, honrada, modesta, humilde e que fosse o completo oposto da mercenária que ele amou; a minha mãe. Ele me fez jurar isso em meio às lágrimas, enquanto eu acariciava a sua cabeça careca das quimioterapias. Sendo aquela a sua última noite em vida, eu jurei, eu assegurei que jamais descumpriria a minha promessa de achar a tal noiva que ele desejava de mim! E Kia é a minha esposa, é dela que meu pai se orgulharia se estivesse vivo! Só que... Eu soco a parede, antes de sequer abrir a porta do quarto. Não das minhas atitudes! Se ele soubesse o desgraçado que eu me tornei! Rangel não me veria com os mesmos olhos de orgulho! Meu pai diria que os seus esforços foram em vão! Que as suas mãos machucadas de carpir e plantar sementes, as queimaduras nas costas, os calos nos pés... tudo o que sofreu para ter uma vida melhor, o seu único filho não era digno! Eu o decepcionei. Jamais serei como ele. Jamais terei a sua compaixão, o seu amor, a sua forma "poeta" de viver rimando as coisas boas e bonitas. Eu sou o oposto de um homem bom. Eu sou um animal que talvez nem Deus tenha clemência do fim! CAPÍTULO 4 Na manhã seguinte, ansiando por uma conversa séria com a Kiara, após tomar banho, eu me visto e vou até os seus aposentos. Bato na porta, aguardando alguma resposta, e quem me abre é a Maria, a cozinheira da mansão. — Senhor Dexter? Bom dia. — Bom dia, Maria. Kiara está ocupada? — Não, ela só está terminando de se arrumar. Eu vou deixar vocês a sós, com licença, senhor. Ao passar por mim, eu pigarreio e entro devagar, avistando a mulher mais doce que eu pude conhecer na vida. Ela está diferente. Quando a conheci, suas maçãs do rosto coravam por tudo, por apenas um elogio ou uma pequena atenção minha. Era inexperiente, inocente, sem malícias, curiosa e sempre habilidosa e disposta a aprender coisas novas, mas hoje ela mudou. Agora, olhando nos seus olhos, eu vejo dor, raiva, mágoa, revolta. Ela me odeia e não posso recriminar esse sentimento. — O que quer, Anton? Eu analiso a roupa chique do seu corpo, os saltos — o qual ela odiava usar até na capital —, o vestido verde, apertando as suas curvas avantajadas (diferente da sua magreza de alguns anos atrás). Ela está quase irreconhecível. Kia me olha, colocando os brincos, após soltar os cabelos loiros, meio cacheados. — Eu vou perguntar de novo: o que você quer aqui?! — O rompante na sua voz me deixa nervoso. — Nosso assunto não acabou. — Realmente não acabou. Eu preciso de uma máquina de costura. Essas roupas não estão cabendo mais em mim. Era da época em que eu ainda mantinha o nosso casamento "feliz", sem comer, sem beber, sofrendo amargurada pelos finais de semana recebendo chifres! Seus olhos ficam vermelhos, bravos. Eu respiro fundo, não querendo discussões. — Não precisa de máquina de costura, peça para alguém te trazer roupas novas. Ligue para alguma loja da capital. Eles não te negaram nada. — E o berço? — Ao ser direta, sem rodeios e sem me encarar, Kiara passa as mãos pelo vestido justo. Eu, então, noto o seu olhar direcionado a criança que dorme de bruços na cama, cercada por travesseiros. Engulo em seco, mordo o maxilar e não respondo. — Você prometeu que não negaria nada para o meu filho, nem um leite sequer! — Ela levanta o rosto, perspicaz. — Não me disse quem é o pai dessa criança, nem por onde você andou esses dois anos! — Pois você não tem esse direito de pergunta! — Ela cospe as palavras. — Por mim, eu nunca mais olhava na sua cara! É um monstro! Eu odeio você! E se me quer de volta vivendo na mansão, terá que me suportar ou me mandar embora! Caso contrário, arrumarei um jeito de te devolver o dinheiro da compra! E serei livre! — Eu não quero dinheiro nenhum! Você é minha esposa! E não vai embora desta casa! Descarte o "serei livre"! Daqui, você não sai! — Desta vez, furioso, sem a resposta da minha pergunta, eu esbravejo alto e viro bruto as costas, abandonando-a no quarto. Ela não vai embora! Eu jamais deixarei! Kiara Dexter Sem evitar as lágrimas, eu me sento no colchão com vontade gritar, berrar! — Eu te odeio, Dexter! Eu quero que você rasteje de dor, que sofra em dobro isso aqui apunhalado no meu peito! Ao dizer estridente, faço o meu pequeno Gieber acordar. Tremendo, eu me recomponho e aproveito para dar um banho morno nele. Meu menino só tem seis peças de roupas e fraldas de pano. Anton terá que pagar a sua promessa. Eu quero dar tudo ao meu filho! Ele não me queria de volta?E eu voltei! E para me vingar! — Oi, bom dia, Felícia! — Na sala de estar aberta, eu vou até a mesa do café e vejo-a organizando vários pães deliciosos na cesta do meio. Está até parecendo um banquete de tanta coisa gostosa. — Oi, doce menina. Bom dia para você e para esse pequeno no seu colo. Está tão bonita — ela me analisa. — Nem parece a mesma pessoa. — A mesma selvagem do mato sem bom gosto e classe? — Não, eu não quis dizer, isso. Desculpa se... — Tudo bem, Felícia — dou de ombros, sendo sincera. — Eu mudei mesmo. E usar essas roupas chiques, apertadas, os saltos, tudo faz parte da minha nova pessoa. Eu não sabia antes como era ser uma mulher de verdade, não gostava de estar dentro de tão pouco tecido, você compreende. Ainda mais tão apertado e justo. — Não, Kiara, de forma alguma, isso é ser "mulher de verdade". Ser mulher vai além de vestir uma roupa chique, justa e que atiça a mente dos homens. É o caráter, doce menina. É o coração bondoso, a humildade, o amor pelo próximo. É a sua autonomia, a sua voz séria, o poder de vencer os preconceitos. Vai muito além. — Eu continuo tendo amor pelo próximo, humildade e tudo o que disse. Nada mudou, exceto a minha inocência! Eu fui boba, burra demais. Isso me fez descobrir da pior forma possível que as pessoas podem ser ruins, maus, aproveitadoras e tudo de pior! Felícia balança a cabeça, apenas suspirando calma. — E a sua essência boa continua, isso não muda. Agora sente-se para provar do bolo de fubá. Você gosta e Maria preparou com muito carinho. Só não sei se a dona Lorenza vai aprovar. Ela diz ser comida de pobre. É capaz de até tacar o prato no chão. Eu arregalo os olhos, sentando-me dura na cadeira. — L-Lorenza? Você disse Lorenza Dexter? O que essa bruxa faz aqui? — Minha mente vai direto ao meu filho, a protegê-lo, a não deixar que essa infeliz chegue perto dele! — Perdão por não ter lhe contado ontem. Você tinha acabado de chegar e os ares estavam estranhos. Igualmente sei como vocês se odeiam. — Eu não a odeio! A detesto! É uma perua! Uma mege... — Oras, que coincidência, acho que temos algo em comum, minha querida nora fugitiva — ao cruzar o portal rústico, Lorenza dá o ar da sua presença insuportável no momento em que eu e Felícia falávamos "bem" da mesma. — E olha, ainda volta com um bastardo sem pai nos braços. — Cala a matraca, sua velha! Não abra essa boca para falar mal do meu filho! — Velha é a porcada da sua família, sua interesseira! Voltou a procurar o meu filho Dexter porque estava mendigando por aí com essa criança, fruto de adultério! Eu me levanto pronta para voar sobre ela, mas a Felícia vem rápida até mim, me segurar. — Kia, você está com o seu filho. Calma, não dê ouvidos a ela. — E o que está dizendo, Felícia? Você é apenas uma empregada que tem o único dever de servir a sua patroa! Anda, organize esta mesa direito! — Não a trate assim! Você não manda nesta casa, nem nos empregados! — Ah, e quem manda, você? Anton não seria capaz de te dar poder — ela ri, sentando-se com a sua arrogância e "superioridade" de frufruzinha. — Não depois de aparecer com um pirralho bastardo! Ele vai sumir com vocês dois! Vai tacá-los na sarjeta do mato, como os selvagens que são! — Pois saiba que foi o monstro do seu filho que rastejou atrás de mim! E é ele quem terá que te tacar na sarjeta, sua bruxa arro... — O que está acontecendo aqui?! — Uma voz brada alta, fazendo- me calar. Anton aparece caminhando com a sua estrutura forte, de chapéu e olhar intimidador. — Senhor, é a sua mãe — Felícia diz rapidamente. — Não sou eu! Mande essa sua empregadinha ficar quieta! É a selvagem da sua "esposa" que está me atacando! Você não deveria ter aceitado essa adultera de novo! — Cala a boca, ratazana velha! — Pare, Kiara! — Ele manda. — E é a última vez que eu quero ouvir a sua voz durante o café, Lorenza! — Me respeite, eu já disse que sou a sua... — Não devo respeito a quem nunca teve respeito por ninguém! Chega! Ela fecha a matraca e olha-me furiosa. Eu arqueio a sobrancelha, satisfeita por vê-la rebaixada. Velha nojenta! Maldosa! Anton me fita e eu desvio, voltando ao meu assento bem distante deles. Seguro o Gieber, dando o seu mama na mamadeira nova que ganhei da Rosa durante os três dias em que fiquei morando na sua casinha acolhedora, e tomamos o café quietos, exceto pela bruxa da Lorenza que volta a falar. Eu não suporto esta mulher! Ela é horrível! Ela vivia colocando na minha cabeça sobre o Dexter não me amar, de ele preferir mulheres mais vividas, mais experientes e por isso iria me trair, me trocar por uma outra rica, de classe alta, bonita e que soubesse usar pelo menos um salto refinado. Diferente de mim, pé rapada, pé sujo, porca, selvagem e com doenças de pobres. É por isso que a metade da minha vingança será contra ela! A humilharei como fazia quando eu ainda era uma menina inocente das suas maldades proferidas em meus ouvidos e cega de amor por Anton, sem capacidade de negar os seus chifres. Os dois pagarão caro por seus pecados! Esses anos me deram a visão do que são as verdadeiras pessoas e de como algumas podem ser piores do que o próprio diabo. Eu passei fome, roubei, fui escravizada em fazendas, realizando serviços braçais para me manter até o final da gestação sobre um teto de palha que fosse. E... e por pouco, eu não fui abusada... de novo — meu coração aperta. Se não fosse por uma moça desconhecida, aqueles três peões teriam realizado as suas atrocidades no meu corpo de grávida. Eles eram ruins, sem pena. E eu não sei, eu não consigo imaginar o que seria de mim. Eu preferia a morte a sofrer aquilo. — O que pretende com essa mulher e com essa criança, Dexter? — Ele ergue a cabeça, sem respondê-la. Não vou mentir que eu adoraria saber o que ele pretendia. Pois, no meu bebê, ninguém toca! — É muita cara de pau retornar com um bastar... — Eu já mandei você ficar quieta! — Anton brada, levantando-se e estremecendo tudo na mesa. — Se continuar tirando a minha paz, voltará para a capital! Lorenza não demonstra susto, pelo contrário, dá um sorriso cínico de lábios fechados, fingindo que "não está mais aqui quem falou", e levanta-se, encarando-o. — Ainda bem que eu já terminei o café. Não irei mais incomodá- lo(s). Com licença, meu querido Anton... — Ela sussurra para, em seguida, virar as costas e sair desfilando a sua metidez para longe de nossas vistas. — Já mandei fazer o que me pediu — de repente, Anton murmura, ao voltar a se sentar. — O quê? — Minha voz soa baixa. — O berço, Kiara. Não era isso que você exigiu? Pronto, você terá! Eu engulo em seco, não querendo acreditar nas facilidades dos meus pedidos realizados. — Ótimo! E chegará quando? — Sábado, depois de amanhã! — Ele me observa bruto... talvez surpreendido pela inexistência da sua menininha boba, iludida e medrosa! Desafiá-lo é um campo de espinhos, o qual o dono odeia que seja pisado e eu pisarei descalço, pois essa dor nem se compara a nada do que eu passei. É a minha vez de sair da sala desfilando a minha "classe", após um com licença e uma pequena balbuciada alta do meu filho, o qual deve detestar. CAPÍTULO 5 Eu saio, vou até a cozinha ficar com as duas pessoas que eu aprendi a gostar e a amar em menos de vinte quatro horas; Felícia e Maria. Elas são muito especiais. Nós temos uma relação além de patroa e empregados, somos amigas. Ao entrar sorrateira no ambiente, descubro um amigo que também tive outro prazer de conhecer; Gael, filho de Maria. — Não acredito... — Sussurro perto do arco da porta. Ao ouvir a minha voz, ele não demora a inclinar o pescoço, arregalar um pouco dos olhos e quase dar um pulo da cadeira. — Patroa! Eu sorrio divertida, indo até eles. — Kia, desculpa a afobação, minha querida, mas, por favor, eu poderia segurar o seu filhinho? — Maria pede sem aguentar-se de ansiedade para fazer a tal pergunta. Gael continua ainda boquiaberto, desta vez, encarando o bebê. — Que isso, é claro, Maria. — Eu também quero depois! — Felícia exclama enquanto eu me aproximo e passo o pesinho de umano para outros braços. — Você teve um filho, Kia? — Gael é sério e direto. Eu fico incomodada, já imaginando a pergunta sobre quem seria o pai. — Sim... — Ele tem cabelo cor castanho-claro. Tirando isso, se parece muito com você... digo na beleza — após confessar, ele desvia-se de mim, colocando o seu chapéu marrom. — Obrigada, Gael. Eu não esperava por isso, fico corada. — Se parece em quase tudo. Até os olhinhos claros — Maria brinca com ele, que sorri todo arteiro. — Como você está? — Pergunto, sentando-me ao lado do meu amigo. — Bem... Por onde andou? Todos nós ficamos preocupados, desesperados. Até agora não sabíamos o que de fato havia acontecido com você. Eu permaneço sã, fingindo que o seu questionamento não me afetou. Por mais que eu goste da amizade do Gael, eu não confio nele. Anton o considera como o seu braço direito. O homem de confiança. Eles são amigos- irmãos. E tudo o que eu disser, eu sei que ele passará para o Dexter. — Eu não posso respondê-lo. E nem vocês — olho para as duas senhoras que aguardavam da mesma forma a minha resposta. — Espero que entendam. — Tudo bem, doce menina. O que importa é que você voltou e está conosco — Felícia contorna o clima, voltando as atenções para o Gieber. — S-Sim... Eu sinto estar mentindo, pois eu não queria ter voltado. Eu não queria estar sob o mesmo teto que o Anton. Isso é tão difícil. — Eu já vou, hoje é dia de corte das árvores. Dexter já deve estar a caminho da averiguação. Com licença... Gael sai sem se despedir direito de mim. Não estranho, fico só chateada. Eu sei que magoei o meu companheiro de cavalgadas — foi como nos tornamos amigos. Enquanto Anton saia para aproveitar das mulheradas fáceis da capital no final de semana com os seus irmãos perdidos, Gael fazia questão de "raptar-me da tristeza" para caminharmos a cavalo, olhar a natureza. O que nos provocava longas, infinitas conversas sobre tudo e todos. Mais tarde, eu fico no quarto, deixo o Gieber brincando com um brinquedinho de madeira que a Maria lhe presenteou e começo a separar todas as roupas da época em que eu era esquelética por causa do meu marido que não me amava, que não me dava atenção e que me traia! Hoje percebo por estas roupas a estrutura do meu corpo bonito e como esses tecidos chiques me realçam, me deixam diferente, formosa. Eu pareço aquelas corpulentas dos eventos em que Anton me levava na capital. Elas tinham tudo o que os homens viam e gostavam. Os saltos eram o equilíbrio perfeito da "finesse" delas. E por mais que esse estilo não se pareça comigo, é quem eu quero ser! Eu quero me vingar! Eu quero ser decidida, autoritária e não a menina inocente do mato! Eu só aquietarei o meu coração depois de estar livre deste casamento mentiroso e desta dor que me traz pesadelos ao colocar a cabeça no travesseiro! Sem vontade de descer, no horário do almoço, eu escolho almoçar no quarto — o que me fez decidir permanecer o restante do dia presa aqui também — e só volto a rever os Dexter na manhã seguinte. Tendo o maior desprazer de rever primeiro a minha "adorável sogra" do diabo. — Bom dia, queridinha — na sala, eu passo por Lorenza sem sequer dá atenção para a bruxa. — Uau, quanta elegância. Parece até piada ver uma selvagem caipira de saltos e tecidos finos. Eu não aguento e viro-me arrogante! — Eu não te perguntei nada, cobra! — Vamos acalmar os ares, felina, não grite, não quero ouvir esse filho do adultério chorando nos meus ouvidos. Anton poderia ficar louco, imagina o que ele faria? Ah, não quero nem pensar. Eu observo o cabelo negro e curto dela, com vontade voar sobre ele. — Eu acharia ótimo se ele fizesse algo! E não ouse nunca mais se referir ao meu filho assim! Pois eu seria capaz de cortar o seu pescoço com um facão! Lorenza sorri, cruzando as torneadas pernas e divertindo-se. — Ai, ai, é como vestir um animal selvagem de tecidos caros. Você, no circo, seria o "show mais aguardado da noite". Não tem um pingo de classe. Veja a sua forma de falar... é o mais singelo "caipirismo". Eu engulo em seco, não me deixando rebaixar. — Bom, você já é uma velha, ao contrário de mim; nova e sem nenhuma plástica, puxando as banhas de 60 e poucos anos! Furiosa, ela imediatamente fecha o semblante, descruza as pernas e levanta-se vindo até mim. Eu não me movo, faço questão de olhar no fundo dos seus olhos. — Saiba que você jamais terá paz nesta casa! Não enquanto eu estiver aqui! Anton te colocará no olha da rua, no meio dos porcos, onde é o seu lugar, sua imunda! — Você me faria um grande favor se fizesse isso agora mesmo! Vai lá, peça para ele me mandar embora! Anda, sua megera! — É melhor não me desafiar, Kiara, você não ia gostar de me ver como a sua inimiga. Até o momento, eu estou sendo muito recatada. — Mas isso não é novidade para ninguém, não se preocupe, já somos! Ela me analisa dos pés à cabeça e sem dizer mais um "a", a bruxa passa por mim, retirando-se maldosa. Eu respiro fundo, abraço o meu filhinho e igualmente, saio às pressas, indo até a cozinha tomar o café com os empregados. Prefiro mil vez eles a ficar naquela mesa com o Anton e a sua mãe. — Kia, o que faz aqui, doce menina? O café já está organizado lá na mesa. Eu dou de ombros, aproximando-me delas e da enorme ilha no meio do ambiente. — Eu escolhi ficar com vocês esta manhã. — O sr. Dexter pode não gostar disso. — Ele não tem o direito de me questionar em nada! E eu não vou ficar no mesmo espaço que a maléfica da sua mãe! Quero que aquela mulher vá embora da mansão o mais rápido possível! — Se ela continuar importunando os ouvidos do patrão, com certeza, ele a expulsará. Não vai demorar. Estou até pagando prece. — Não será nem necessário aguardarmos por isso. Pois eu faço questão de pedir ao Anton! — Bom dia! — Nos interrompendo, Gael aparece na porta dos fundos, vindo até nós com a sua estrutura forte, mas não tão alta. — Bom dia, filho. — Bom dia! — Eu e Felícia o cumprimentamos. Ele me olha menos sério do que ontem e já me alívio por ver que não está magoado comigo. — O que faz aqui, Kia? — Eu vim tomar o café com vocês — digo, sentando-me. — Vem, nos acompanhe. — Agradeço, eu já tomei em casa. — Como assim, meu filho? — Maria coloca mão na cintura, reprovando-o. — Vem cá, sente-se conosco e não rejeite pelo menos o café forte de sua mãe. Vai te dar mais força. Ele sorri convencido e aceita nos acompanhar. Durante o café, muito ansiosa e inquieta, eu aproveito a oportunidade para pedir ao Gael que me levasse para caminhar a cavalo com ele, como sempre fazíamos antigamente. E por incrível que pareça, o meu amigo aceita animado. — Quer agora de manhã? — Não sei, você não vai trabalhar? — Não, eu não tenho muito serviço. — Pronto, pode deixar essa fofura do Gieber comigo — Felícia declara rápida, ninando-o no seu colo. — Eu e Maria damos conta do pequenino patrão. — Certeza? Não vai incomodar vocês? Esse curiosinho não para quieto. — De forma alguma. Não temos nada importante para fazer. Vai lá, aproveite o passeio, Kia. Você merece desparecer a mente, é o seu momento de descanso — Maria responde acolhedora. — E aí, vamos? — Huum... está bem. Só me deixa subir para trocar de roupa, volto rápida. — Ok, não tenha pressa. Por sorte, já pensando na possibilidade desse passeio (no começo, sem o meu amigo Gael), eu acordei separando uma calça jeans justa, botas e procurando um chapéu qualquer. Não via a hora de andar a cavalo. Eu amo isso de todo o meu coração. — Posso te fazer uma pergunta? — Enquanto eu aguardava o Gael montar as nossas celas, ao terminar, ele molha a garganta e caminha até mim com os belos animais. — Claro, o que foi? Ele me encara com a sua face morena e formosa, de uma pessoa descontraída, porém, agora séria. — Por que deixou o Anton e voltou assim, depois de dois anos e com um filho? Eu arregalo um pouco dos olhos, nervosa com o repentino questionamento desconfortável. — E-Eu já disse que não posso responder, Gael. Desculpe-me, eu não posso. — Anton te procurou igual um doido... e eu também. Eu te cacei por MontesDo Sol noite e dia por um mês. No entanto, saiba que eu não parei porque desanimei ou perdi as esperanças. Só não podia abandonar o meu amigo. A fazenda precisava de mim. — Por favor, você não deveria ter feito nada disso. — Eu fiz e faria de novo. Mesmo não sabendo o que havia acontecido, senti algo de errado. Anton mudou da água pro vinho. Ele ficou louco, Kiara. Na madrugada em que foi embora, o Dexter saiu correndo pela fazenda te gritando. Pegou a caminhonete e voltou só na tarde do outro dia... sem você. Nem seus pais tinham informações. Meus olhos ficam vermelhos. Com medo de chorar, eu viro a cabeça e acaricio o cavalo. — Vamos, Gael... eu, eu quero fazer esse passeio. Ele chega perto de mim e entrega-me as rédeas, fitando-me compadecido. — Eu toquei no assunto e isso te entristeceu, por quê? Eu almejo muito saber o que houve. De verdade. Eu sei que o Anton te fez alguma co... — Chega! Eu não quero ser grossa com você! — Assim que esbravejo, ele se cala, mudando o semblante para envergonhado. — Vamos. — Eu me apoio na cela, seguro a crina, as rédeas, coloco o pé no estribo esquerdo e pegando impulso, subo sozinha no torso do cavalo, sem movê-lo. Calado, Gal faz o mesmo com o seu. E prontos, saímos cavalgando devagar, com o clima pesado e sem conversa. — Onde aprendeu a subir tão rápida? — Ele, então, indaga durante a nossa andada, quebrando o silêncio com uma pergunta para alimentar o seu ego. Eu balanço a cabeça, não evitando o sorriso. Ele também. — Com você, "professor profissional de equitação". — Eu sabia. Não era possível ser tão boa. Rimos. — Eu estava com saudades disso. De sentir esse vento nos cabelos, a brisa no rosto. É como se eu estivesse livre... — comento sincera ao meu próprio interior. — Como eu sempre estivesse... é maravilhoso. — Mas você está, patroa. E ainda nem sentiu o vento direito. Para isso, uma corrida até a nova plantação dos eucaliptos, que tal? — E onde fica essa nova plan... Sem esperar, o trapaceiro do Gael grita "já" e sai na minha frente com as suas galopadas velozes. — Gael! CAPÍTULO 6 No final do passeio, voltamos ofegantes e com sede aos estábulos. Não tenho palavras para descrever como é essa emoção de divertimento, não tenho mesmo. Aproveito para ajudar o Gael a tirar as celas dos cavalos. — Você ganhou porque é um trapaceiro! — Não vale, eu disse "já". Você que foi devagar. — Mentira. Eu quero uma revanche! — Patroa, patroa, você tem que aprender a perder. Eu o encaro, semicerrada. — Tá bom, ok... uma revanche! — Ele ergue as mãos, dando por "rendido". — Agora me dê isso, vá tomar um copo de água fresca. Eu termino de cuidar desses garanhões. — Obrigada pelo passeio, Gael — entrego o restante do serviço para ele. — Você sabe como eu amo fazer isso. E fico muito feliz por ter a sua companhia. — Não agradeça. Sábado ou domingo podemos repetir a dose, indo desta vez até o rio, como nos velhos tempos. Topa? Terei mais tempo. — Ah, eu topo com certeza! — Então fica combinado. — Ok! Obrigada, de novo! Com as forças revigoradas, eu me despeço dele e caminho meio que "feliz" em direção a casa da fazenda, quase saltitante. Quando eu chego não encontro a Felícia nem o Gieber. Apenas a Maria. — Maria? Cadê o meu filho? — Oi, Kia, você não vai acreditar... — Ela se vira da frente do gigante fogão, enquanto mexia uma panela enorme. O cheirinho tá tão maravilhoso. — O quê?! — Já fico preocupada! — Calma. É que o espertinho do Gieber sujou toda a fralda de pano e Felícia teve que subir para lavá-la e trocá-lo. — Sério? Ai que vergonha de dar esse trabalho a Felícia. Ela deve estar cheia de coisas para fazer e eu aqui, a empatando como uma dondoca. — Que isso, no momento, só têm a "inspeção" da nova empregada. Anton que pediu essa semana que contratássemos mais uma além de Sônia. Felícia virou um tipo de "governanta" da mansão, sabe. — Sério? — Sim. E ela ficou muito feliz pela promoção. Menos a dona Lorenza — Maria faz careta. — Se deixar, aquela mulher quer mandar até nos peões. Haja sangue de barata. — Ela é uma bruxa! E eu vou subir, tá? Preciso de um banho para tirar esse calor. Volto mais tarde para o almoço. — É claro. Também, com tempo, me conte do passeio a cavalo. Quero saber. — Só digo que foi maravilhoso... já volto. Ela sorri e eu viro as costas, caminhando para o interior da mansão. Com sorte, não vejo a bruxa da Lorenza na sala. — Ele deu trabalho? — No quarto, eu encontro a Felícia observando o meu pequeno arteiro que dorme só de fralda e camisetinha, com as perninhas gordinhas e gostosas para fora. Mamãe sente vontade de morder só de olhar essa fofurinha irresistível. — Oi, Kia... — ela vira a cabeça assim que eu adentro o local, após fechar a porta. — Esse garotinho fofo não deu trabalho nenhum. Ele é quietinho... — Ela sussurra para não o acordar. — Que bom. Obrigada, eu vou tomar um banho. — Imagina. Só que antes de ir, eu queria te perguntar algo. — Sim? — Serei direta — ela passa a mão na saia que vai até o joelho e se põe de pé. — Por que esse bebê ainda não tem fraldas e nem roupas direito, Kia? Eu sei que não vai entrar no assunto do motivo de ter ido embora... No entanto, Anton, como pai, querendo ou não, gostando de criança ou não, ele tem que dar auxílio a você e ao Gieber. Precisa o quanto antes de roupas, fraldas, talco. O mínimo do essencial, doce menina. — E-Eu sei, Felícia, não se preocupe, já estou correndo atrás disso... — Desculpa, só que é desesperador esse menino não ter quase nada, sendo você esposa do sr. Dexter e ele o pai do seu filho. — E-Eu... eu vou tomar banho, já volto, tá...?! — Embananada e literalmente fugindo da palavra "pai" e de suas responsabilidades paternas, eu saio às pressas, por pouco, não correndo em direção ao banheiro, engolindo a raiva e o desejo amargurado por vingança. O Dexter me dará tudo, não há discussão sobre isso! Ele não vai negar nada para o meu filho! Eu farei o inferno na vida dele! Anton e Lorenza terão certeza da nova Kiara Lemos! Eu juro que me vingarei tim-tim por tim-tim! Anton Dexter No meu escritório, para tirar a minha paz, eu encontro a minha mãe sentada na cadeira rústica atrás da mesa de madeira maciça. — O que faz aqui? — Eu quero saber de uma vez o que você fará com aquele bastardo e com a sua "esposa" adúltera. Eu sei que você não a trouxe à toa. Alguma coisa você planeja. — Eu já falei para você não tocar nesse assunto! — E vai criar o filho de outro, Anton? Precisa tomar uma decisão! Seja decidido igual ao Rangel, seu pai! Ele com certeza expulsaria essa mulherzinha da mansão! — Está enganada sobre mim, em relação ao caráter honrado do meu pai! Agora me dê licença! Lorenza se levanta, encarando-me furiosa. — Você vai perder tudo o que seu pai construiu só por causa de uma selvagem do mato! Ela vai usar aquele bastardo para te roubar! Não seja enganado! Sai dessa o quanto antes! Arrume uma mulher de classe, recatada! Eu fecho os punhos, com o sangue fervendo, pronto para realizar uma besteira. — É mais fácil você se fazer de mercenária do que ela! Não me incomode ou eu posso descobrir o motivo da 'amante do governador' ter vindo às pressas morar na fazenda do seu filho rico! Some da minha frente! Ela engole em seco, sem abaixar a cabeça. — Eu sou a sua mãe, Anton, te carreguei por nove meses! Não deve me tratar assim! Me respeite! — Mãe? — Eu sorrio. — "Mãe", eu deveria chamar era às três babás que me criaram! Você só serviu para parir o terceiro filho e garantir o seu futuro de madame "Dexter" com o seduzido do meu pai trabalhador! Agora não me faça te arrastar a força daqui! — Eu já estou de saída... só que, antes, você sabe que eu estou certa em relação àquela criança e sobre a Kiara. Mande-a embora antes que seja tarde demais! — Após soltar o seu veneno, minha mãe finalmente vira as costas, fechando a porta atrás de si e deixando-me sozinho. Como um louco, eu bato na mesa, chuto a cadeira e vou até a janela controlar-me. Droga, eu não posso colocar isso na minha cabeça! Eu não posso! E se forverdade? Inferno! Sendo impossível me controlar, desisto e retiro-me do escritório. Passo pelo pequeno corredor, a sala e subo os compridos degraus, indo até a última porta do segundo andar. Então, paro, abro a maçaneta e entro sem pensar duas vezes... Observando o vazio quando a chamo pelo seu nome. Ela não está no quarto. Eu fico mais nervoso, aperto os dedos e aproximo-me, sendo chamado a atenção para a criança que dorme sozinha na cama. Eu engulo em seco, vendo ele se mexer. — COMO OUSA?! SAI DE PERTO DO MEU FILHO! — A voz estridente de Kiara me faz dar dois passos arredio para trás, ao erguer o rosto, virar o pescoço e observá-la surgir só de toalha, enquanto corre rápida até a cama. Ela estava secando os cabelos, após sair do banho. — O que você ia fazer? Vai embora daqui, seu monstro! Nunca mais ouse chegar perto do meu filho ou eu te mato! Eu juro que te mato! Kia se senta na cama, pegando-o, protegendo-o e ninando o menino nos seus braços molhados. — O que pensa que eu ia fazer?! — Sem evitar a revolta, meu tom de voz soa grosso e autoritário. — Você odeia ele! Você ia fazer algo, pois é uma pessoa mau! De longe, eu noto que a personalidade inocente e frágil de Kiara não mudou. Na verdade, eu noto que ela continua a mesma doce Kiara. Só que não comigo. — Eu nunca te maltratei e você sabe disso. Pelo contrário, eu te dei e continuo te dando tudo do bom e do melhor. Jamais lhe faltou nada nesta casa! — Você sabe que faltou! Você nunca foi o meu marido, nunca foi fiel! Tudo o que você fez foi me comprar só para me dar o título nobre de "esposa do sr. Dexter", enquanto me traia escondido com outras mulheres mais "experientes" e bonitas! E agora que eu não sou mais aquela boba do mato, a procura de amor, de ser amada, eu sei de tudo isso, da sua verdade, Anton! Você me enganou, me iludiu, me traiu e me humilhou! Eu não a respondo. — E saiba que eu não ficarei aqui para sempre! O que você quer sustentar é uma farsa! Eu te odeio, te detesto e esse casamento é de fachada, uma mentira! Você não me merece! Saia daqui! — O brado dela faz a criança acordar chorando alto. Irritado, eu passo a mão pelos cabelos e sem querer mais discutir, eu viro as costas, saindo em passos ligeiros, pronto para explodir com essa merda que nunca melhora dentro do meu interior. Nada que eu faça por ela me faz voltar ao normal! Eu não sei como tirar, arrancar isso de mim! Será preciso mandar finalmente Kiara embora? Eu não sei o que eu vejo nessa garota, eu só me sinto responsável por ela! No momento em que eu vou puxar a maçaneta da porta, uma menina de uniforme preto cai, por pouco, de cara no chão e de joelhos nos meus pés. E percebo que ela estava ouvindo a nossa conversa. É a mesma empregada de ontem na sala. — O que você pensa que estava fazendo? — S-Senhor... d-desculpe-me. — Ela tenta se levantar, escondendo a vermelhidão nas bochechas. — Não vou perguntar pela segunda vez! Responda! — E-Eu só ia entrar no quarto da srta. Kiara. — E por que não bateu na porta? — Sou rude. — Eu não sei, mas... mas volto outra hora. — Eu não mandei você sair! — Ela ia começar a se mexer, só que, ao ouvir a minha voz, a menina para, nervosa, desconfortável e olha-me engolindo em seco. — Se eu te pegar escutando alguma outra conversa minha pela segunda vez atrás da porta, se considere despedida! Você entendeu? Ela confirma trêmula com a cabeça. E sem dizer mais nada, eu passo pela garota, indo para o outro lado onde fica o meu quarto. CAPÍTULO 7 Às 07h20, após o café da manhã e após resolver alguns assuntos da gestão da fazenda no meu escritório com o Gael, eu chamo a Kiara para informá-la do seu berço que acabou de chegar e que está pronto para ser montado. Ela diz apenas "ótimo" e pigarreia, deixando-me incomodado pela roupa apertada e indecente que veste. — Eu tenho mais uma coisa para te pedir. — O quê? — Serei direta, eu quero roupas e fraldas para o meu filho! Furioso por dentro e sem escolha, eu concordo calado. — Te darei um cheque, o que também será o bastante para você comprar roupas decentes. Ruborizada, Kiara olha para si, em seguida, ergue a cabeça. Desde que chegou eu notei que ela mudou completamente, pois diferente da sua magreza passada, hoje seu corpo é mais avantajado e de uma mulher adulta. Ela está irreconhecível. — Por que a surpresa? Esqueceu que foi você quem comprou estas roupas apertadas para mim na capital, há três anos? Lembro que me fez vestir a loja inteirinha para ficar igual aquelas mulheres vulgares dos eventos que íamos. Só para você não passar vergonha com a "selvagem" da sua esposa! Eu gostaria de respondê-la sobre a diferença do seu corpo hoje em dia, comparado a magreza de três anos atrás, mas me calo. — Algum dos peões montará o berço para você. E segunda lhe entrego o cheque. — Hum... e a bruxa sua mãe? — Ela me olha séria. — A odeio e não quero essa mulher aqui! — Por mais que Lorenza seja cheia de defeitos e insuportável, eu não posso abandoná-la. É a minha mãe e no momento, ela só tem a mim! — Só a você? É uma mentirosa! Ela é toda paparicada na cidade por ser a dona "Dexter". Até os governadores de Montes do Sol caem matando pela viúva. E se eu fui trazida à força para cá, eu posso escolher se devo ou não suportar a bruxa! — Já... — Senhor Anton... — me interrompendo, Felícia aparece me chamando pelo nome antes de eu dar um ponto final no pedido de Kiara. — Sim? — A encaro já inquieto, fervendo por dentro. — Tem dois senhores lá no varandão, eles se identificaram como Eduardo e Zeca. Os dois gostariam de conversar com o senhor. Posso permitir entrada deles? — Permita, são produtores rurais. — Tá, com licença, senhor. Kiara me olha, arrumando o cabelo de cachos loiros atrás das costas. — Deixarei você em paz com as suas coisas. Vou esperar o berço do meu filho lá em cima. Tchau! Bravo pela ousadia e pelo tamanho atrevimento de Kia desde que chegou na mansão, eu permaneço com as minhas veias pulsando, controlando-me para, em nenhum momento, explodir de fúria contra ela. Eu não quero maltratá-la, jamais! — Boa tarde, sr. Dexter... — Boa tarde! — Na sala, eu cumprimento meus futuros inquilinos (arrendatários). Como a minha fazenda se expande por vastos hectares inutilizados, repensei na ideia do contabilista da capital e do meu gerente rural, o Gael, para fazer o arrendamento de boa parte das terras, alugar uns 20% acerca de um valor de contrato estipulado. O que será ótimo para o meu capital de investimentos, visando que, além dos eucaliptos, as madeireiras espalhadas pelo Brasil e agora o arrendamento, pretendo voltar com a pecuária para fins econômicos. Mas, em planos futuros, se possível. Kiara Dexter — Posso? — Me dando um susto, Gael aparece no batente da porta do meu quarto, carregando uns quatro pacotes grandes sobre o ombro direito. — Meu Deus, que susto, Gael! O que faz aqui, homem? — Desculpa, eu vim trazer a sua encomenda. Com licença... — E por que está fazendo isso? Você é gerente rural, não peão do Anton! Ele sorri, adentrando com o meu berço, pois, por mais que não gostando, foi isso que o Anton me informou a pouco minutos que seria entregue e montado no quarto. — O que está havendo com a senhorita Kiara? Desde que chegou está mais valente, perspicaz. — Como assim? Você está notando isso? — É claro... e onde eu posso colocar a sua encomenda? — Ali, naquele espaço vago perto da cômoda — aponto o local para ele, onde coloca os pacotes. — Voltando a sua valentia, eu realmente sou o gerente rural do Anton, minha formação é de Agronegócio, não de peão... — Pois foi o que eu quis dizer — o observo. Anton e Gael são amigos-irmãos desde a infância. Os dois foram criados correndo juntos por estas terras. Dona Maria é a cozinheira da mansão Dexter há mais de trinta e cinco anos e ela teve que suportar as humilhações em relação a amizade do seu filho e do filho do patrão, odiada pela Lorenza, a esposa dele, a qual vivia cuspindo seus preconceitos. Maria conta que essa bruxa chegava a proibir o Anton de andarcom o seu menino, ela dizia que ele era pobre, sujo e que lhe passaria doenças incuráveis pegas da vila. Só que o "querido Anton" nunca desprezou o Gael e até teve o apoio do seu pai, Rangel Dexter, a autoridade máxima que fazia a cabra da Lorenza calar a boca igual a uma submissa. Quando os dois fizeram dezoito anos, o Rangel, o pai poderoso de Anton, disse que pagaria os estudos de Gael para ele fazer a faculdade de agropecuária ao lado do seu filho e isso foi tamanha alegria para ambos. Eles chegaram a morar por quatro anos na capital. Já eu nunca terminei os meus estudos, parei na sexta série porque o meu pai achou por bem me tirar da escolinha da vila, onde o Gael também estudava, porém, não cheguei a conhecê-lo na época. Papai dizia que estudo não era para filho de pobre, nem para mulher, que meu lugar era na cozinha, cozinhando, limpando casa e servindo-o ao lado da mamãe. Eu chorava dia e noite, meu sonho era de ser "contadora de histórias", pois eu amava ler e contava detalhadamente todos os livros que eu lia escondido do papai, para a mamãe. Hoje eu sei que essa profissão não existe, Anton quem me falou. Mas ele também disse que eu poderia ser muitas outras coisas, o que eu quisesse, bastava eu só pesquisar e descobrir o meu dom para algo. Eu nunca soube qual era esse meu dom. Talvez sofrer por ser uma mulher filha de pobre? — Pois bem... — Após colocar tudo no chão, Gael se levanta com a sua estrutura forte e bem vestida, chamando atenção pela fivela grande no cinto da calça cowboy. — Agora eu quero chegar ao ponto onde um peão estava prestes a entregar estes pacotes para você, e que eu impedi ele, dizendo que eu mesmo levaria para a minha patroa. — E por que fez isso? — É que eu queria perguntar se você ia andar a cavalo esta tarde, como eu disse ontem, só hoje eu teria mais tempo. — Eu só vou andar se você souber montar isso aí que trouxe. — E o que eu trouxe? Eu sorrio da sua cara de desinformado. Não acredito nisso. — Eu não acredito que você impediu o peão que montaria o meu berço certinho, para dizer uma coisa dessa. — Então é um berço? — Sorrateiro, ele olha para o Gieber que está dormindo quietinho. — Ótimo, eu só preciso de uma chave de fenda e esse garotão terá o berço mais forte montado por um verdadeiro profissional. — Duvido que o senhor gerente rural do poderoso "Dexter" — rolo os olhos — seja capaz desse serviço. — Mas a senhorita está desafiando a minha masculinidade e inteligência? Só aguarde alguns minutos, patroa, eu montarei isso em menos de dez minutos. Já volto! Eu gargalho. E juro, quando o Gael voltou, ele montou o berço do Gieber depois de uma hora e meia. Ainda bravo, discutindo comigo que era necessário cortar a grade, pois ela não estava entrando direito. Adivinha? A grade só estava ao contrário de onde se colocava o colchão. — Olha isso, filho, o montador "profissional" do seu berço conseguiu terminar. Palmas para ele! — Sentada na cama com o pequeno já muito bem acordado no meu colo, eu pego as suas mãozinhas e bato palmas. Gael balança a cabeça. — Isso foi mais fácil do que ordenhar uma vaca. — E se leva quase duas horas para ser ordenhar uma vaca, Gael? — Eu não disse uma, eu disse trinta vacas, dona Kiara. Você escutou errado. — Meu Deus, além de trapaceiro, como sempre, é mentiroso! Ele ri e olha para o berço. — Pronto, agora vai andar a cavalo comigo? Preparei as melhores selas. E mais cedo, eu dei uma escovada bonita nos cavalos. — Você tá até escovando cavalos por minha causa? Dá onde está tirando esse tempo? — Patroa... se for preciso, eu tiro tempo até para vestir os teus pés — pisca. — Pare... — ruborizo. — Ah, agora sim é a Kiara que eu conheço. Já estava achando estranho você não ruborizar essas bochechas. Eu me levando, balançando a cabeça. — Larga de me deixar sem graça, seu bobo. — É... — ele pigarreia. — Mudando de assunto, eu não queria te fazer esta pergunta... — sendo, então, rápido com as palavras, ele questiona: — Mas por que você não está no quarto principal com o Anton? Eu tento não o fitar, após a pergunta desconfortável. — A... a gente brigou. — É por causa do bebê? Eu sei que não é novidade que o Anton é um carrasco e que odeia crianças. — Por favor, Gael, eu peço que não me faça mais perguntas — o interrompo. — Me perdoe, só que é impossível, Kiara. Eu queria que conversasse, sabemos que o Anton te comprou do cretino do Padilho e que ele nunca valorizou a sua inocência, a doçura, a curiosidade e tantas outras qualidades lindas, além da sua beleza. Ele não é digno de você. — Por que está dizendo essas coisas? — Eu olho para ele com os olhos vermelhos. — Eu não quero que me fale nada. Você é amigo dele, Gael, vocês dois cresceram juntos como irmãos. Anton te considera como o seu braço direito. — O problema é esse? Você acha que eu sou igual ao Anton e os dois irmãos drogados dele? Por mais que sejamos amigos-irmãos crescidos juntos, e eu o respeite, desde a morte de Rangel, a gente começou a se afastar. Ele caiu nos prazeres da capital com os seus irmãos para superar o luto do pai. E ainda se casou com você para te tratar como uma mera mulher sem valor. E a pouco tempo, o Dexter se fechou num mundo onde nem eu nem ninguém era e é capaz de compreendê-lo. Hoje nossa amizade não passa dos meros negócios da fazenda. — Ele... hum-hum... — Eu coço a garganta. — Sobre o que você disse... ele te contou o porquê de ter mudado? — Já cansada de todos dizendo que aquele homem está diferente, eu resolvo me interessar pelo "porquê". Pois será que ele se arrependeu do fundo do coração daquilo que me fez? — Não, não disse... no entanto, além de ter sido pela a sua partida, creio que tenha acontecido algo entre o Anton e os seus dois irmãos. Eles saíram daqui escorraçados com as malas jogadas no fim das escadas lá fora e com dois pares de olhos roxos, gritando aos quatro cantos que algo era culpa do Dexter e que ele se arrependeria de estar mandando os dois embora feito cachorros. Eles destruiriam a vida do irmão — Isso é verdade mesmo? — Sim. Eu abro a boca, pasma... abraço o Gieber e penso que talvez o Anton não carregue um só erro na vida, o qual se arrependa; a barbaridade que me fez. Mas que ele pode ter outros. E não sei o motivo... só sei que isso me decepcionou e me entristeceu imensamente. — Kia... o que estiver acontecendo com você, saiba que eu sou o oposto do Anton. Que eu me sinto responsável pela irresponsabilidade dele sobre você e agora sobre o seu filho. E que você é a minha amiga e que eu não deixarei ninguém lhe fazer mal. Eu olho para o Gael, sorrindo fraco, porém, no meu interior, muito feliz e quase chorando por ter alguém que se importe de verdade comigo e com o meu bebê. CAPÍTULO 8 Pagando a promessa que eu fiz ao meu amigo de andar a cavalo com ele esta tarde, após ele montar o meu berço e após o almoço, outra vez, eu peço um grandíssimo favor a Felícia, de que ela fique com o Gieber por umas duas horinhas no máximo, enquanto eu realizo o passeio. Ela, sendo muito amorosa e gentil, aceita, frisando para eu não me preocupar com o horário. O que tenho certeza que será impossível. — Não acha bonito? — Ao pararmos perto do rio, Gael aponta para a cachoeira de cascatas. Eu sorrio... não escondendo a minha paixão pela vista. O som é maravilhoso, sinto-me no paraíso. — Quero trazer o Gieber aqui, para ele ficar todo bobo batendo os bracinhos e as perninhas dentro da água. — Não duvido de que ele possa querer sempre voltar com a mamãe — Gael me olha, sorridente. — Seu garoto é muito bonito, Kiara. Puxou tudo de você. — Obrigada — retribuo o seu sorriso. — Agora vamos, aqui não é seguro — ele solta as rédeas mais frouxas e pressiona os pés na costela do cavalo, pegando velocidade para voltarmos para a bonita ponte de madeira que passa quase por cima do rio e da cachoeira, dando-nos uma vista ainda mais incrível, deslumbrante. Se eu fosse pintora, não sairia deste lugar. É inspirador. — Por que você disse que não é seguro? Tem ladrões, gente fazendo coisa errada por aqui? — Achoque eu fui muito exagerado. Quis me referir às fofoqueiras que lavam roupa mais abaixo do rio. Deve imaginar que as notícias chegam rápidas nas casas da vila e ao redor, nas fazendas dos outros proprietários. — Eu não ligo, sei que todos já sabem que eu voltei. E que eu sou a mal falada pela boca deles. Sendo o Anton um burro por ter se casado com a filha do fazendeiro mais pobre e mais devedor de Montes do Sol. — Não é por isso, Kia, é pelo seu filho — Gael confessa sem rodeios e eu reduzo as galopadas, encarando a sua face. — Estão inventando histórias absurdas sobre o bebê, sobre ser este o motivo de você ter ido embora... e sobre estar chantageando o Dexter com a criança que pode ser filho de outro. — O quê?! — Furiosa, eu exclamo cerrando os punhos. — Não me leve a mal, mas você deveria saber disso. Não pode confiar em ninguém desconhecido daquela vila, nem da capital. São um povo fofoqueiro, curioso e que deseja só te ver derrotado. Nervosa, eu fico quieta, alimentando ainda mais a minha revolta pelo Anton. Isso tudo é culpa dele! É ele quem deveria estar sendo falado na boca desse povo! É ele que é um sem vergonha, adultero! E eu o odeio! — Gael! — Após descermos do cavalo nos estábulos, Gael e eu somos surpreendidos pela voz grossa e arrepiante do próprio homem que eu estava pensando a pouco minutos; Anton. Ele para ao lado da porta do estábulo, acompanhado de dois capatazes; Ratito, Jesuíta e mais dois homens negros. — Sim? — Gael me dá os arreios, deixando-me sozinha para ir na direção deles cinco. Anton me observa sério. Eu desvio dos seus olhos, acariciando os animais. — Como o combinado, eu quero que mostre os terrenos aos nossos arrendatários... Ratito e Jesuíta demarcaram as cercas. — Bom dia, Senhor Gael! — Com respeito, os dois produtores cumprimentam o gerente e amigo do Dexter. Sem interesse na conversa deles, aguardo que todos vão embora para eu atravessar o longo jardim e poder entrar na mansão. Mas, infelizmente, o Anton não vai embora. Após se despedir dos dois homens negros, ele fica na porta com a sua estrutura forte e de chamar atenção. Eu respiro fundo, arrumo o chapéu e tomo coragem para caminhar até a única saída existente. Ao chegar ele me olha, fitando-me com o seu rosto severo. Eu continuo a caminhar, no entanto, sou parada pela a sua rouquidão. — Onde esteve, Kiara? Eu viro para ele de cabeça erguida. — Andando a cavalo, por quê? — Ao dizer rude, eu arqueio a sobrancelha. — Pois será o seu último passeio! — Como? Sem acreditar no que acabou de bradar, eu sorrio, furiosa! — Você não vai me impedir de nada! Eu gosto de andar a cavalo! — Pois eu repito: será a última vez e ponto final! — E eu repito que você não vai me impedir! — Desacreditada na sua ordem prepotente, eu viro brusca as costas, por pouco, não correndo pelo gramado. Por que o Anton gosta de só me fazer sentir mais raiva, ódio, revolta por ele? Esse homem não tem o direito de mandar em mim, ele não tem! — Oras, temos um animal em fúria invadindo a casa — no sofá da sala, tomando uma xícara de chá ao lado de duas visitas, Lorenza murmura baixo, zombando de mim, quando eu entro pela porta principal parecendo um touro irritado. E já nervosa, eu paro no centro, encarando as visitas da ratazana; uma senhora bem estilo dondoca rica e uma mulher bonita, morena, olhos claros e olhar de perua metida também. — Por favor, querida Kiara, não irá se apresentar a esposa e a filha de um dos fazendeiros mais bem-sucedidos de nossa região? Eles foram os nossos vizinhos de hectares por quarenta e dois anos — eu não a respondo. Não perguntei nada! — Bom, perdoem a falta de educação de minha nora. Eu a apresento — Lorenza se levanta com a sua pose nojenta de madame. — Esta é a selvagem do meu querido filho Dexter, Kiara 'Lemos' Dexter. Nunca tiveram a oportunidade de conhecê-la. Mas não as culpo, Dexter não gostava de expor tamanha falta de classe em sociedade. — Está enganada, minha "querida" cara sogra! Anton nunca deixou de me levar em nenhum evento! — Eu estou um pouco assustada pela a sua recepção, srta. Kiara. Acho que estamos começando errado com a apresentação de Lorenza. Prazer, eu sou Diana Castellano Medeiros e esta é a minha filha, Lívia Castellano Medeiros! — A tal senhora se levanta, vindo em minha direção cheia de rebolado, após apresentar seus sobrenomes de renome, que não estou nem aí. — É um prazer conhecer a mulher do senhor Anton Dexter, o homem de negócios mais poderoso de Monte do Sol — ela estende a mão. — Prazer! — Aperto forte os seus dedos, sem dar o menor sorriso. — Olá, srta. Dexter! — A outra mulher morena acena com a cabeça. — O que fazem aqui? — Eu pergunto. — Não seja desrespeitosa, Kiara. São as nossas visitas. A filha da Diana vai morar conosco por algumas semanas. E Diana ficará só por três dias. Ela e o seu marido são pessoas ocupadas demais na capital. Lívia é uma dentista muito famosa e está de férias. Sem acreditar no que eu acabei de ouvir, eu fuzilo a Lorenza, tentando não me passar como uma selvagem mal-educada. Do jeito que ela gosta de esfregar na minha cara. — Anton foi avisado disso? — Como a mãe e ex-esposa de Rangel Dexter, que meu querido esposo descanse em paz, eu tenho a liberdade de hospedar quem eu bem quiser e desejar na casa onde vivi e criei o meu filho. Ah, mas é o que veremos! Eu não quero ninguém nesta casa! Não quero a bruxa da Lorenza, quanto mais duas dondocas iguais a ela! Anton será obrigado a respeitar a minha decisão! À noite, depois de um banho, eu deixo o Gieber comendo uma sopinha na cozinha com a Maria e vou atrás do Anton no seu escritório. Eu não queria olhar para esse homem, enfrentar as suas íris rudes, porém, tomando coragem, eu dou duas batidas na porta e sem demora, ouço um "entre" vindo da sua voz máscula. Eu entro devagar, observando-o sentado atrás da mesa, com alguns papéis espalhados pela a extensão. Ele para os seus afazeres, olhando-me. — Não queria lhe incomodar, mas o que eu tenho para te dizer é muito importante — eu paro, não me intimidando com a sua pose rústica. — Logo que quer me manter presa nesta casa, eu não vou aceitar a sua mãe! — E eu já lhe expliquei que, por mais que Lorenza seja cheia de defeitos, é a minha mãe e eu não posso expulsá-la. — Só que eu a odeio e não vou aguentar isso. Agora Lorenza tem "visitas" hospedadas na mansão. Sabe disso? — Eu sei, Kiara, será apenas por algumas semanas. — "Você sabe", apenas? Eu não aceito! Eu já odeio essas visitas dondocas! Anton passa a mão na barba e levanta-se de forma rude, encarando- me. Eu o noto nervoso. — Se era só isso que desejava conversar, nosso assunto já terminou, preciso trabalhar. — Eu odeio você! — Então declaro com as palavras engasgadas, fitando os seus olhos claros. — Onde pretende chegar prendendo eu e o meu filho neste inferno? Me deixa ser livre, Anton. Me deixa viver longe de você e da sua mãe?! Ele bate na mesa. — Pare de me enfrentar, Kiara, não me faça tomar outras atitudes! Você não vai embora! Chega dessas discussões! — Você não me ama, não sente nada por mim, nem pena. E por que quer continuar me prendendo? — E o que você planeja? Voltar a morar com o seu pai para ele continuar te batendo com um cinto? Te tratando pior do que um animal?! — Eu só quero ficar longe de você! Qualquer lugar longe de você! É um monstro! — EU NÃO SOU UM MONSTRO! — Anton brada, dando um passo na minha direção. Desesperada, eu me afasto para o canto da janela. — Eu já estou com tanta porra nas minhas costas! Não ouse nunca mais dizer isso! — Não chegue perto de mim! NÃO CHEGA! — Eu grito, só que ele, no mesmo instante, puxa o meu braço. — NÃO ME TOCA! — Eu me sacudo angustiada, tentando empurrá-lo a todo custo. — Tudo o que eu estou te dando não é o suficiente? — Me solta, seu desgraçado, não toca em mim! Anton me empurra ainda mais contra a janela, solta a minha cintura, em seguida, segura a minha cabeça com as suas mãos grossas. Eu choro, batendo forte no seu peitoral. Ele me pressiona na coluna de madeira, deixandoque eu bata, que eu o soque, enquanto ele olha nos meus olhos com os seus dedos entranhados no meu cabelo e no meu rosto. — Me solta! Tire as suas mãos de mim! — Você nunca teve culpa, Kiara... eu sou o maior responsável por você. — Você é só responsável pelas minhas desgraças! Eu te odeio, eu te detesto! — Paro para poder cuspir nele. — Você sabe o que fez comigo! Você é horrível! Como ousa colocar as suas mãos em mim? Seu toque, seu cheiro, seus olhos, eu não posso sentir nada além de nojo, é isso o que eu tenho que sentir! Eu não desejo mais amá-lo, eu não desejo mais ter sensações de paixão! Essa dor não se tampa, essas feridas não se curam com nada! Eu não sou fraca! Amar é se ferir, é sofrer, é ser cego! Amar é ser vulnerável! E não vou mais amar! Anton acaricia o meu rosto com o dedo indicador, respirando seu ar quente perto da minha bochecha. — Você jamais irá embora... — ele, então, murmura, afastando-se lento e deixando-me sozinha, suja, como eu sempre fiquei ao seu lado, uma infeliz. Eu quero correr, eu quero me tacar num rio e lavar o meu corpo agora mesmo! Eu quero tirar todas essas sensações! — Você é bárbaro! Só saiba que o meu maior pecado foi ter te amado! E que eu jamais irei te perdoar, Anton... você ainda vai morrer de remorso e sofrer tudo o que me fez durante aqueles três anos! Eu juro que você irá! Nem que seja preciso eu fazer isso! — Ele me olha neutro e não aceitando que me veja em lágrimas, eu viro as costas e saio às pressas, desorientada de tamanha fúria e dor! CAPÍTULO 9 Correndo em meio ao desespero, por pouco, eu não trombo inesperada com o Gael na saída do hall onde fica o escritório do Anton. Tento continuar a "fuga" para esconder o meu choro, mas Gael me impede de ir embora, parando bem na minha frente com a estrutura do seu corpo um pouco mais alta e forte. — Kia, o que houve? Por que está chorando? — Ele especula preocupado, exasperado. — Não é nada, com licença. — Como não é nada se você está com os olhos vermelhos e as bochechas molhadas? Está vindo do escritório do Anton? — Sim... — Eu fito o Gael, não escondendo mais as minhas lágrimas tristes. — Vocês brigaram? — Desculpe-me, mas... mas eu não quero conversar sobre isso, me dê... — Tudo bem, então vamos sair daqui! — Gael declara em instantes, pronto para sair comigo ao virar-se. — Não, já está na hora do jantar e eu não vou participar daquela mesa recheada de gente falsa e maldosa. Eu só preciso ficar ao lado do meu filho. — Eu não gosto de te ver assim, ainda mais sabendo que é por conta de Anton. Tente respirar novos ares, me acompanhe até o jardim, nem que seja por alguns minutos? — Gael... — Por favor? Eu respiro fundo, coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e concordo para poder sair o mais rápido possível do local onde o Dexter se encontra. Eu não desejo que ele me veja derrotada, mexida pelo seu toque, que eu devo sentir nojo! — Eu sei que eu não sou a melhor companhia, só que, quero que saiba que eu sou o melhor para hoje. Não tem muita escolha e sinto muito por isso. Perto das rosas, eu tento sorrir amigável, por outro lado "bem" por ter concordado em acompanhá-lo. Eu gosto bastante da companhia do Gael. Desde que cheguei casada na mansão, ele, a sua mãe e a Felícia nunca me fizeram mal nenhum ou comentários desrespeitosos que me humilhassem. Eles três são pessoas de coração enorme, humildes e bondosas. — Saiba que eu já me sinto bem melhor. Obrigada pelo convite. — Que bom, isso me alivia . Quer se sentar ali perto daqueles três bancos? Está mais claro. — Sim. Tudo bem. Ao nos aproximarmos, sentamo-nos e eu me pego observando a pasta transparente na sua mão. — Você tinha negócios para resolver com o seu amigo. Pode ir lá, Gael, eu fico sozinha. Não quero atrapalhá-lo. — Não se preocupe, não é um assunto tão sério. Eu posso resolver amanhã cedo ou na segunda-feira com o Anton. — Ah, sim... Sem termos mais o que falar (bom, pelo menos eu), olhamo-nos e ficamos em silêncio. Eu limpo o meu rosto, mais calma e menos desesperada do que a poucos minutos. O vento da natureza, o ar livre, isso tudo é revigorante, me sinto normal, com as forças recarregadas. — Você está chateada pelo Dexter ter lhe falado que não podia mais andar a cavalo? — Como sabe? — Ele me disse ontem, porém, eu sei disso desde a primeira vez que você me convenceu a te levar. Anton só está querendo te poupar das fofoqueiras de Montes do Sol. E eu também. No entanto, não pude resistir a sua animação. Sei o quanto gosta. — Ele só está querendo poupar o seu sobrenome "poderoso"! E eu vou continuar fazendo os nossos passeios! Que se dane essas fofoqueiras e que se dane o Dexter! Gael balança a cabeça. — Por enquanto não, Kia. — Eu não vou aguentar ficar na mansão com a bruxa da Lorenza e aquelas duas dondocas, as visitas dela. Você será obrigado a rever essa "sua opinião", pois, caso contrário, eu farei os passeios sozinha. Preciso dar um pouco de sol ao Gieber, além de que quero levá-lo no rio. — Eu não posso desrespeitar a decisão do seu marido, Kiara. — Eu não acredito que está concordando com o Anton... Isso de "marido" só está no papel! Seu amigo não manda em mim! Ele nunca se importou com a esposa comprada dele! Ele não está querendo me "poupar"! Ele quer é poupar o seu sobrenome famoso na cidade, já disse! — Melhor entrar — Gael se põe de pé, fugindo da conversa. — Eu igualmente preciso ir para casa. Furiosa, eu me coloco de pé ao lado dele. — Você mentiu quando disse que era o oposto do Dexter! Pois está o obedecendo, o apoiando! Vocês dois são como irmãos! É eu quem estou sendo uma burra dominada outra vez! Talvez até manipulada! Gael me encara nervoso, bravo. — Não diga isso, nenhum de nós somos iguais! E eu nunca te dei motivos de desconfianças, Kiara! Eu jamais te manipularia! E já lhe expliquei! Por mais que eu tenha o Anton como o meu irmão e que confiássemos e confiamos um no outro, isso não significa que eu seja igual a ele, que eu concorde com ele! Que eu aceite você casada com ele! Assustada pela primeira vez ver o Gael erguendo a voz, eu fico sem ação. Ele nota, pois para, se acalma e respira fundo. — Por favor, não repita de novo o que você disse. Eu nunca mais quero erguer um tom de voz com você. É a minha patroa, eu te respeito, te valorizo e prezo pelo seu bem-estar dentro destas terras. E está ficando tarde, volte para dentro. — Sinto muito, Gael, eu gosto da sua amizade. Você, a sua mãe e a Felícia são muito especiais para mim. Não quero ficar brigada com vocês. — Não estamos brigados, eu, da mesma forma, gosto muito de você, Kia, é por isso que eu estou aqui, ao seu lado. Não se esqueça disso. Eu consinto com a cabeça, limpo o meu rosto umedecido e aproximo-me dele, dando um beijo na sua bochecha recheada pela barba. Ele segura o meu braço, surpreendido. — O que fez? Eu coro, afastando-me completamente envergonhada. — Desculpa, eu, eu fui desrespeitosa, eu só queria ser carin... — Calma — ele sorri —, a minha reação em pergunta que foi meio boba. Então, sem esperar, ele também retribui outro beijo na minha bochecha e solta o meu braço. — Boa noite, patroa! — Gael pega na aba do seu chapéu branco, despedindo-se cavalheiro. Surpreendida, eu abro um sorriso acanhado, dando boa noite de longe para ele que se vai entre a escuridão noturna. Em seguida, eu caio em si e saio a passos ligeiros da área externa. Entro na mansão torcendo para não encontrar a Lorenza nem as suas visitas chiques. O que não acontece, graças a Deus. Eu não estou bem para suportá-las. Pego o meu filho que papava na cozinha e subo para o quarto sem a menor fome. Ao contrário de Anton... aquele homem mau deve estar lá embaixo, compartilhando da mesa do jantar como que se as suas ações não tivessem causado nenhuma consequência sobre mim. Eu não posso ficar por baixo, eu não posso ser aquela menina boba, manipulada pelo "amor" e por ele. Eu sou uma mulher adulta, agora tenho um filho e motivos de ser forte. Eu não posso mais amá-lo, não posso deixar que ele se aproxime de mim. Nãodeixarei que me enfraqueça. — Céus, minha filha, já está de pé? — Felícia se refere ao entrar na sala e ver-me sentada no sofá em plena 06h00 da manhã. Esta noite foi difícil de dormir, os lençóis até saíram da cama de tanto que eu rolava, pensando demais nas minhas infelicidades. — Sim, estava sem sono e achei meu crochê perdido nas gavetas. Resolvi começar um tapete. O que acha? — Eu levanto o pedacinho bem pequenininho, mas bem feito. — Vai ficar lindo, Kia. Você tem mãos boas para isso. Além da inteligência, claro. — Que isso... obrigada, Felícia. — Vou ajudar a Maria com o café, doce menina, com licença. Confirmo, educada, e ela se retira, deixando-me a sós de novo. Porém, não por muito tempo. Uma das visitas da Lorenza aparece, após longos segundos de paz e de concentração. É a tal da Lívia, a filha daquela dondoca de sobrenome "Castellano". — Olá, srta. Dexter, bom dia. — Bom dia — digo com o semblante sério. — Acordou cedo? — Ela se aproxima dentro das suas roupas chiques e muito, muito justas e indecentes, sentando-se no sofá da lateral — Sim. — Vi o sr. Dexter também se levantando às 05h00. Não pude cumprimentá-lo, porém, ontem, nos vimos no jantar. E até estranhei a falta da sua presença, srta. Kiara. Ele me disse que estava meio indisposta e foi dormir cedo. — É, foi isso mesmo. Tem mais alguma coisa para falar? Surpresa, a bela mulher morena suspende as sobrancelhas e observa- me ofendida. — Só gostaria de conversar mais, quem sabe não nos tornarmos amigas? — Desculpa, só que tudo o que liga a Lorenza a outra pessoa não é minha amiga. — Ah, entendo que as coisas não sejam tão boas entre você e a sua sogra. Era assim também com a mãe do meu ex-noivo. A gente se encontrava e não faltava alfinetadas. Vivíamos brigando alto. — Hum... — Não se preocupe, srta. Dexter, eu e a sra. Lorenza não somos amigas como ela e a minha mãe... "cheias de segredinhos". Sra. Lorenza apenas me viu crescer e está me recebendo aqui na mansão para eu tomar um ar fresco longe da cidade. Como eu disse agora pouco, eu tinha um noivo e terminamos há duas semanas — ela me olha com a feição recaída. — E as coisas não estão muito fáceis, psicologicamente falando, foi o meu primeiro namorado e noivo. Eu o amava sem medidas. Noto que a Lívia sabe usar bem as palavras. É até bonito ouvi-la, sua voz é calma e suave. — Sinto muito. Por que vocês terminaram? — Eu sinto vergonha em dizer o motivo. Isso ainda me abala. — Tudo bem, eu não quero ser sem educação. — Não está sendo. Contudo, posso abrir uma exceção e contá-la. — Não precisa. Se isso te incomoda, não diga. — Eu digo, preciso desabafar... — Ela se levanta e vem se sentar quase ao meu lado. — É que meu noivo me traiu e eu o peguei no ato. Foi assim que nos separamos. Chocada, eu fico sensibilizada e sem saber o que dizer, além de sentir muito outra vez. — Que triste, sinto muito, Lívia. S-Sei como isso é horrível. — Você sabe? Ela franze o cenho e eu coro, engolindo em seco. — N-Não, eu, eu só estou imaginando o seu sofrimento. Já ouvi outros casos pela vila. — Ah, sim. É realmente horrível, Kiara. Espero que eu possa superar um pouco dessa dor aqui na fazenda. Preciso parar de pensar no meu ex- noivo e no que ele me fez. Foram anos de relacionamento, o amei como nunca. — Você vai, é só ter muita força e erguer a cabeça. Acredite em mim, seu ex não te merecia, pois para fazer essa maldade com uma pessoa tão bonita como você, não tem um pinguinho de caráter. — Agradeço as suas belas palavras. Sabia que você era de bom coração. E igualmente é muito bonita. Você deveria tentar ser modelo. — Modelo? — Eu estranho o que ela disse. — O que é isso? — Como assim? Você não conhece essa profissão? — Isso não é quando fazemos comparação de um negócio que é igual ao outro? Tipo, esse modelo é igual aquele trem ali? — Não entendi — ela sorri. — Mas não é o que você está querendo dizer. Estou me referindo a desfilar... Lívia me explica direitinho que profissão é essa e eu nego. Que coisa mais estranha, usar só as peças íntimas (ou roupas desenhadas para a "moda" — o que ela também teve que me explicar o que era), em seguida, sair mostrando numa passarela para todo mundo ver. Interrompendo-nos sobre o assunto, Anton aparece me causando tremores na espinha. Eu odeio encarar os olhos ríspidos desse homem. Eu ainda sinto as suas mãos grossas de ontem segurando os meus braços e lembro de como era no passado, de como era ter o mínimo que fosse da sua atenção. E que hoje, sinto desprezo e só sentimento de justiça! — Bom dia, sr. Dexter... — Bom dia! — Ele a fita, adiante a mim. Desvio-me. — Não tomaram o café? — Não, senhor, estamos aguardando a Lorenza e a minha mãe. E não é só falar na megera que ela aparece nas escadas? Desta vez, não tem como eu fugir, sou obrigada a me dirigir a mesa e comer com eles como uma "família" reunida. Depois precisarei dar o leite para o meu bebê e algumas frutas. Ele gosta muito de morangos. Roubarei das cestas. Por enquanto, suporto a minha sogra e o seu falatório metido. CAPÍTULO 10 Mais tarde, eu estendo um pano perto de cinco laranjais verdes da mansão e sento-me com o meu filho para ele pegar um solzinho e ar fresco. Curioso, ele fica olhando toda hora para cima, para as frutinhas e balbuciando, louquinho para alcançá-las. — Você quer laranjas, filho? Não pode, elas estão verdes — digo para ele que não entende nada do meu "não" e continua a engatinhar até a árvore. — Não pode, meu amor... vem cá... — Minha nossa, mas que chapéu é esse? — De repente, pegando-me muito, mais muito de surpresa mesmo, o Gael aparece sem aviso, apontando para o meu chapéu de sol e quase me provocando um ataque do coração. — Ai, que susto, Gael, seu bobo! Ele ri. — Desculpa, é que eu estava passando por aqui e não pude resistir à tentação de tirar a sua paz. — Pois pronto, o senhor conseguiu. E o que estava dizendo do meu chapéu de sol? Ele é bonito. — Que isso não combina com a Kiara aventureira, que curtia estar em contato com a natureza, louca para nadar num rio e aprontar coisas que não se pareciam nada com uma madame de joias, saltos e enjoada igual a Lorenza. — Eu não estou parecida com aquela bruxa, eu sou só uma nova mulher de classe. Essa pessoa que você está dizendo aí é passado, ela era uma menina inocente do mato. Além de que hoje eu sou mãe. Algumas coisas mudaram. — Bom, talvez eu esteja sendo chato. E como anda esse garoto bonito? Ele gostou do berço? — Gael se agacha, fazendo carinho nos cabelos castanhos do Gieber e chamando a sua atenção para o seu colar de cruz. — Meu bebê dormiu igual a um anjinho que nem viu. Mas ele e eu gostamos. Obrigada por ter feito o serviço. Ficou muito bom. — Que isso, eu não disse que era um profissional? Não tem nada nesta vida que eu não saiba dar aula. — Não é nada, seu metido, você demorou quase duas horas para parafusar aquelas madeiras. E ainda ficou todo nervosinho porque não estava conseguindo colocar a grade. Sendo que era só virar ao contrário. — É que eu fui humilde, dona Kiara, não posso me gabar das minhas habilidades. Tenho que ser sério. Eu sorrio, tacando a fralda do bebê nele. Como esse homem é divertido. — Vem cá, e o que o senhor está fazendo num domingão tão bonito desse na fazenda? Achei que fosse visitar o seu pai na venda da vila. — Eu fui ver ele de manhã. Só que agora eu tenho motivo para ficar na fazenda nos finais de semana de novo. A patroa voltou — ele sorri brincalhão e eu ruborizo, discordando. — Eu não sou tão interessante, você deveria fazer coisas de homem com os seus amigos; jogar sinuca, cartas, não sei, coisas que homens fazem. — Acredite, homem só sabe falar de mulheres. — E você não gosta? Sem esconder, Gael ri da minha pergunta e eu ruborizo ao entendê-la por outro lado. — Meu Deus, não foi isso que eu quis dizer! Sinto muito! — Calma, eu entendi. No entanto, não é que eu não goste, só estou cansado daqueles imprestáveis tirando a minha paz. Os alojamentos dos peões é uma verdadeira zona. Jamais permitiriaa sua entrada feminina lá. — Ainda bem que você tem a sua casa aqui nas terras com a sua mãe. E aí não precisa compartilhar dessa "zona" com eles, né? — É, por um lado sim. — Hum... Ele fica em silêncio e enquanto eu segurava o Gieber para o arteiro não sair "escalando" a árvore atrás das suas laranjinhas, eu resolvo fazer uma pergunta sobre algo que me deixou entristecida ao saber hoje cedo pela Maria. — Gael, eu posso te perguntar uma coisa? — É claro. — É sobre a filha da Felícia... por que você deixou que ela fosse embora para a capital? Ester gostava muito de você e era uma moça linda, alta e encantadora com aqueles cabelos enormes de índia. Ela te amava, queria uma família cheia de crianças, assim como eu sei que você também desejava e deseja. Gael muda o seu estado de humor para pensativo. Ele me fita. — Eu sei... E não nego que ela era muito linda. Até tivemos um curto relacionamento de três meses depois que você foi embora. — Sério? Felícia nem Maria me contaram isso — comento surpresa pela informação brusca. — É que brigamos, ela, na verdade, brigou... é algo delicado, não quero entrar no assunto da razão. Só não deu certo. E como já deve saber, Ester foi tentar outra vida de doméstica na capital. Foi o melhor para ela. — Isso é triste, Gael. Não entendo como vocês poderiam ter terminado assim tão cedo, queria ter visto os dois juntos. Lembro que a Ester vivia suspirando pelo "Gael dela", correndo atrás das suas pernas toda apaixonada e sonhadora. Ela chegava a ficar emburrada se te visse conversando com alguma jovem da vila ou até mesmo da fazenda. Você que não dava muita chance. E quando deu, isso aconteceu. Fico chateada, parece os casais dos livros que eu torço para ficarem juntos, mas não ficam. Incomodado, Gael se levanta. — Pois é... porém, como eu disse, não deu certo. Não é Ester a mulher que eu quero. — Como não? Vocês nasceram um para o outro. Estudaram na mesma escola e poderiam se casar, ter uma vida mais feliz do que a minha. Isso eu garanto. — As coisas não são tão fáceis assim, Kia. — Eu sei que não... só queria que com você e a Ester fosse. Gael não responde mais nada, ele permanece sério. — Perdoe-me por ser sem educação, mas quem seria a pessoa que você quer? Creio ser esse o motivo de terem terminado? — Dou de ombros, voltando a me expressar. — Não sou tão burra. O homem parado na minha frente se demonstra inquieto. Ele fica estranho e quando vai abrir a boca para responder-me, uma voz arrepiante surge, vindo até nós com um cavalo enorme e musculoso. — O que eu falei para você?! Eu rapidamente me levanto do chão, pego o Gieber no colo e observo o Anton se aproximar a cavalgadas brutas, chegando a arrancar a grama. — Fique longe dela, Gael! — Ao parar agitado, ele me assusta pelo tom das suas palavras ferozes. Gael não abaixa a cabeça, enfrenta-o olho a olho. — Eu, ficar longe dela? Parece que foi você que não entendeu a nossa conversa ontem! — Eu entendi muito bem! — Anton desce abrupto do cavalo, ajeitando seu chapéu negro. — E eu repito que não se meta com a minha mulher! Seu trabalho na fazenda não gira em torno dela! Gael me olha fechando os punhos e percebo que a relação de amizade entre os dois não existe mais. Por que estão brigando por mim? — Não pode dizer isso, Anton. Eu e o Gael somos amigos. — Pois não serão mais nada! Venha, Kiara! Eu permaneço no mesmo lugar. Ele, então, direciona o seu olhar de fera na minha direção e eu engulo em seco. — Eu não estou pedindo! Não contesta a minha ordem! Gael se controla para não abrir a boca e, em choque, trêmula, eu resolvo evitar uma discussão. — Depois conversamos, Gael. Desculpa. Pego o pano amarelo do chão, abraço o meu filho e saio na frente do Dexter, nervosa pelo comportamento animal dele. Meu Deus, eu ainda estou sem entender. Minhas mãos tremem. — Por que tratou o Gael daquela forma? Vocês dois nunca foram assim! São amigos! De longe, observo o Gael se retirar para os estábulos e distantes de onde estávamos, eu resolvo enfrentar o Anton e a sua feição enfurecida. — Talvez não sejamos mais amigos! — Por quê? — Faço uma pergunta passiva, enquanto ele para na árvore perto da área de lazer aberta da mansão, para amarrar o seu cavalo bonito, o Faísca. — Porque Gael está passando dos limites com você! Assustada pela a sua resposta, eu arregalo os olhos. — O que está pensando, Anton? Gael é uma pessoa boa, um homem de respeito. Diferente de você! Pois enquanto viajava para a capital com os seus irmãos no final de semana, era ele quem ficava comigo, me fazendo companhia em passeios a cavalo e levantando o meu humor depressivo! — E está se referir ao quê, Kiara? — Anton se vira brusco, encarando-me nos olhos. — Você é muito inocente, tão inocente que chega a não reparar nos pequenos detalhes. Não repara nem nas intenções das pessoas! — Eu reparo sim! Reparo muito bem! E isso nem é da sua conta! — Então me diga o motivo de um homem como ele ter lhe dado tanta atenção gratuita? Por que o Gael me enfrentaria por você? Essa nunca foi a nossa primeira conversa relacionada a minha esposa! Chocada ao perceber onde ele pretende chegar, eu nego ligeira com a cabeça. — Ele é o seu melhor amigo, Anton! Não ouse inventar mentiras! — Não, Kiara, eu estou é cercado por traidores! E você, como mulher, já deveria ter percebido desde o início o que ele quer! — Eu não acredito no que está insinuando, Gael é respeitosos e de caráter! E eu não sou qualquer uma! Não sou adúltera como você! No momento em que eu cuspo as palavras, o Dexter vira o rosto, respirando fundo e controlando-se. Eu aperto apavorada o meu filho nos braços, que está inquieto. — E por que isso também te incomodaria? Por que te faria me impedir de ver o Gael? — Porque é a minha esposa. É a minha responsabilidade — ele declara, mexendo o maxilar já cansado de discutir. — Porque talvez eu não seja o mesmo... porque... eu não sei. — Qualquer motivo que seja, agora é tarde, só saiba que você jamais soube aproveitar a boba da sua esposa que... que te amava. E isso não é responsabilidade, isso é qualquer outro sentimento, menos responsabilidade. Talvez seja culpa, consciência pesada pelo que fez e por esse filho que me deu à força... — Sem mais segurar o nó gigante que se formava na minha garganta esse tempo todo, eu confesso, tentando não chorar. Pois serei forte. É eu quem estou farta de tanto sofrer, de ser vulnerável. Anton se afasta, arregala os olhos para o Gieber, em seguida, para mim. — Não é isso, Anton? É isso que estava omitindo o tempo todo. Gieber é seu filho, você sempre foi o único homem que eu tive na vida, pois é o meu marido e eu nunca deixei de ser fiel a você. Você sempre foi o único. Ele fica quieto, paralisado, e não compreendo o motivo de Anton ser assim, de não falar, de nem tentar se explicar... Ou não a nada que justifique os seus atos? Sem um 'a' exprimido pela a sua voz , enxugo o nariz, ergo a cabeça e com um aperto no coração, eu viro as costas, por pouco, não correndo para dentro. Eu não vou chorar, eu não vou chorar. O Dexter não merece mais nenhuma gota das minhas lágrimas. Agora ele tem certeza de que esse menino tem seu sangue, que o Gieber foi concebido após o seu ato sem amor naquela noite. E se for remorso, que ele morra disso! CAPÍTULO 10. PARTE II Desnorteado, eu me seguro para não correr atrás de Kiara. Aquele bebê é filho meu, eu... eu não sei o que dizer. Minha vontade era de desistir, de permitir que ela se vá, mas eu não posso! Sem controle, após Kiara sumir de vista, eu corro em sua direção. — Kiara! — Eu invado a sala gritando o seu nome. E ela nem olha para trás, escalando os degraus com velocidade. Não me importo com a Lorenza, com a Lívia e nem com a Diana me observando, eu continuo a seguindo. Subo a escada, indo até o corredor e a porta do seu quarto, que acabara de bater. — Kiara! — Abro à força a maçaneta que também, por pouco, não a trancou. — SAI DAQUI! — Ela se afasta desesperada. — Não existe mais o que se dizer. Eu já estou cansada dessas discussões.Chega, Anton, você sabe que não somos mais marido e mulher. O que eu te peço é só paz, que me deixe ser livre com o meu filho — ela se aproxima ágil do berço, colocando a criança dentro e voltando a me fitar com os olhos vermelhos. — Eu não posso, Kiara! — Por que não pode? Dê um fim logo nessa tortura! — Eu só tenho você — eu me aproximo, enquanto ela dá um passo assustado para trás. — Não é possível que não sinta nada por mim. — Eu não sinto... n-nada! Não me toca! — Eu a puxo, pressionando- a no canto da parede e impedindo-a de se mover. Ela tenta desprender-se, lutar contra a minha força, mas seguro firme as suas mãos. — Me solta! Você não tem esse direito de se aproximar, de me tocar! — Eu sou seu marido. — Não é mais meu marido! E quer saber, eu sinto sim algo por você! Nojo! Tire as suas mãos de mim, se afasta! — Ela se sacode. E em vez de soltá-la, eu colo as nossas testas, respirando o seu ar descompensado no meu rosto. Kia começa a chorar. — E-Eu jamais vou te perdoar, você se lembra de tudo naquela noite, você me machucou, e-entrou em mim à força... sem um pingo de amor! Sem palavras, eu não consigo soltá-la. Eu não consigo, eu não posso! — Me traiu... brincou com os meus sentimentos... — ela sussurra e tremendo, chega perto da minha barba com os seus lábios macios. — É um monstro... Meus músculos se enrijecem, aperto os olhos e controlo a fúria. — Monstro! — Eu já te disse para não repetir isso nunca mais! — Largo as suas mãos e pressiono-a ainda mais forte na parede. Kia tenta me empurrar, sem ar. — Eu nunca fui! É você e essa criança que estão me enlouquecendo! — Finalmente, solto-a e afasto-me. — Você e todos estão me enlouquecendo! Eu tiro o chapéu, taco no chão e saio do seu quarto, veloz, indo para o outro lado onde fica o meu. Entro como um louco, batendo a porta, em seguida, dando um chute nela. Começo a quebrar tudo que aparece na minha frente. Explodo de raiva! — Eu não sou um monstro, porra! — Empurro o criado mudo, tacando o abajur contra a estante que era do meu pai e assisto todos os nossos portas retratos e decorações se estilhaçarem. Eu não aguento e aproximo-me, pegando outra foto nossa e tacando no chão com força. — Já não bastava a desgraça do seu sofrimento? — Eu encosto na estante, com o coração descompensado, observando-o, sem suportar os olhos úmidos. — Se você não tivesse descido aquela cova, talvez hoje eu pudesse ser um homem de verdade, como o senhor! Kiara Dexter Tremendo, eu limpo as bochechas, abaixando-me para pegar o seu chapéu preto do chão. Não evito cheirá-lo, reprimindo-me ao voltar às lágrimas para o rosto. O que se passa com o Anton? O que ele tem? Por que ele é bárbaro? Por que ele não ama? Por que ele omite a verdade dos seus atos? Por que não me liberta? Eu não sei por quanto tempo mais vou aguentar essas brigas. Durante a semana (talvez sendo Deus ouvindo as minhas orações de clemência por paz), ele e eu não nos encontramos nem para murmurar bom dia. Posso dizer que só nos dirigimos a palavra uma vez, quando ele veio me entregar um cheque de vinte mil para comprar roupas e "as coisas a mais" que eu necessitava para o Gieber. Nem acreditei no valor exagerado. Só que não discuti. Anton já havia prometido esse cheque e sei que o valor nem fez cócegas no seu bolso. Para completar, Diana, a amiga dondoca e esnobe da Lorenza foi embora da fazenda, após os seus três dias de "descanso" — na verdade, foi é eu quem descansei com a sua partida, graças a Deus. Agora só ficou a sua filha Lívia, que pelo menos tive a chance de perceber que ela não é nada igual a Lorenza, nem a sua mãe metida. Estamos passando o dia juntas. Ontem, liguei numa loja para pedir roupas e hoje eles chegaram da capital arrastando uns tais de 'arara' para eu escolher no quarto. Lívia se ofereceu para me aconselhar e me ajudar, já que ela entende de moda e eu não. — Não acha que está muito curto? — Eu pergunto, depois de me vestir com a sua quinta peça escolhida e eu me sentir muito desconfortável, indecente. — Minhas coxas estão evidentes demais. E os seios também. — Com certeza não. Não disse que gostaria de se parecer com uma mulher poderosa, igual as dos eventos na cidade? Sem falar que te vi esses dias com uns vestidos bem justos, meio fora de moda, porém, um tanto igual a esse no seu corpo. — Não, não era igual a esse. Eles são justos porque era da época em que eu me encontrava muito magra e sem corpo. Mas vão até o joelho e não tem decotes tão vulgares. Lívia vem até mim, rebolando a sua elegância e o seu vestido preto, quase igual ao que eu visto, no entanto, mais indecente ainda. Ela segura a minha cintura, analisando-me pelo espelho e encarando os meus olhos azuis no reflexo. — Isso é ser poderosa, srta. Kiara. Como o seu sobrenome de causar arrepios. E você está deslumbrante, sexy, de enlouquecer qualquer um que te olhar — ela sorri. — Seu corpo é perfeito. Não esconda essa beleza, essas pernas torneadas, seja a mulher que condiz com o seu status em Montes do Sol. A srta. Kiara Dexter! Reprovando a sua bajulação por conta desse sobrenome que detesto tanto, eu suspiro, rendendo-me e dando uma chance aos seus conselhos de moda, pois esta mulher refletida no espelho é quem eu almejo ser desde que pisei os pés outra vez na mansão Dexter; poderosa e autoritária. E agora agradeço a Lívia por concretizar este "alguém". — Adorei que aceitou a minha ajuda. Só aguardo quando o seu marido Dexter te ver dentro dessas roupas novas, vai enlouquecer, né? Ele é bem sério e bruto. Admirável. Eu engulo em seco, apenas consentindo. — Só acho estranho que vocês estejam em quartos diferentes... — É... eu preciso descer para esquentar o leite do meu filho, Lívia. Com licença... — Outra coisa que foi bem difícil de explicar a essa mulher curiosa, sobre o Gieber e sobre o motivo dela não saber disso a mais tempo (do filho do Dexter), já que sai tudo nos jornais da cidade. Eu consigo escapar de Lívia e das suas perguntas, descendo com o meu pequeno nos braços. Mas logo em baixo, trombo com o Anton entrando na sala ao lado do Gael. E sendo inevitável deles não terem me visto no meio da casa, os dois param subitamente o assunto que conversavam, virando a cabeça para me olhar indiscretos de baixo em cima. Eu coro, não escondendo as maçãs vermelhas feito um tomate maduro. Anton me fita e Gael tenta desviar-se, retornando ao que discutiam. — Precisa que eu o acompanhe na capital? Os arre.... Felizmente, não recebendo atenção nenhuma, eu corro para a cozinha. Gael está muito estranho desde domingo, a última vez que conversamos. E, também desde que Anton insinuou que ele tem segundas intenções, eu não tiro isso da minha cabeça. Fico até constrangida em pensar. Não acredito nele. Gael é um homem de respeito e de caráter. — Oi. Após preparar o mama do bebê e voltar pelo mesmo caminho em que vim, eu encontro o Gael na sala. E desta vez, ele está sem o Anton, e encostado perto de uma coluna. — Gael? — Observo a sua bonita feição morena, respondendo-o com estranheza. — Oi. — Teria um segundo para conversarmos? — Aconteceu alguma coisa? — Não... eu só gostaria de falar com você. Poderia? — Sim, menos aqui. Não quero a bruxa da Lorenza aparecendo com os seus comentários esnobes. — Eu também não. — Tem outra sala reserva ali do lado, me acompanha... Ao entrarmos na sala, eu posso colocar o Gieber deitado no sofá e dar a sua mamadeira, que o espertinho segura sozinho. — O que gostaria de conversar? — Eu me aproximo do Gael, encarando os seus olhos castanhos. — Na verdade, eu gostaria de continuar o nosso assunto de domingo. Pretendo deixar tudo bem esclarecido para você. Não quero esconder mais nada. — Deixar esclarecido? Ele molha os lábios. — Eu me senti culpado esse tempo todo, Kia, pois infelizmente você é casada com o meu melhor amigo, o qual nunca te valorizou e te deu amor. E quando você perguntou qual era a pessoa que eu gostava, eu não sabia e ainda não sei com te responder. Em choque, eu arregalo os olhos. — E quem é? Gael dá um passo àfrente, ficando olho a olho comigo. — Não irei mais omitir, é por você que eu sou louco, Kiara. Assustada, eu abro a boca, sem querer acreditar que o Anton dizia a verdade. E nego sem parar com a cabeça. — Não, não, Gael! — Eu me afasto dele. — Somos amigos! — E se eu não quiser ser só isso? E se eu estiver disposto a perder para no final te ganhar? E se eu estiver disposto a te tornar feliz de verdade? A te amar como você merece? Eu continuo a balançar a cabeça, em desespero. — Não, pelo amor de Deus, olhe o que está dizendo! Para de dizer essas coisas, somos amigos! Não estrague isso, você é meu amigo! — Eu estou disposto a enfrentar o Anton por você — Gael volta a se aproximar com o seu corpo forte. — Eu seria capaz de dizer todas as verdades que aquele carrasco teimoso deveria ouvir sobre a doce Kia em minha frente, sobre o meu amor pela mulher mais linda que eu já conheci... — Ele para, segurando a minha mão. Eu fico trêmula, sem afastá-la. — Todas as vezes que eu cheguei perto de você, não sabia, nem imaginava como te confessar isso — ele olha no fundo dos meus olhos. — Dizer que eu seria capaz de curar todo o seu sofrimento causado pelo meu amigo que saia todos os finais de semana para te trair sem um pingo de remorso. Eu seria capaz de qualquer coisa para te ver feliz outra vez. Da mesma forma que chegou nesta mansão, tão inocente, alegre e cheia de sonhos. — Gael... pare, por favor — eu observo o meu filho no sofá, sem evitar as lágrimas. — Eu não esperava isso. Não pode gostar de mim. O-o Anton e você... — Afasto a minha mão, fitando-o. — São mais do que amigos, são como irmãos, vocês cresceram juntos. E por mais que hoje eu não aceite esta realidade infeliz, eu ainda sou casada com ele. O Dexter é meu marido. — Eu sei, Kia, é por isso que eu me sinto um desgraçado — Gael segura o meu queixo com delicadeza. — Eu tentei, eu juro que tentei te tirar da minha cabeça, das minhas noites em claro, do meu coração. Foi por esta razão que eu aceitei o relacionamento com a Ester, a filha da Felícia. Só que eu não tive sucesso, eu não consegui. Nem ela pode arrancar este sentimento do meu peito. E agora te vendo todos os dias, eu estou ficando mais louco. — Eu... eu sinto muito, eu não posso te corresponder. Tente continuar lutando contra isso, você é amigo do Anton. — Não, não somos como antes. E Anton não é burro, ele sabe há muito tempo que eu gosto de você, que eu sempre te defendi e que eu nunca concordei com a forma dele te tratar sem amor, sem respeito e devidos valores de um marido com a sua esposa. Tivemos milhares de discussões durante esses anos, até sábado, quando ele deixou claro que eu me afastasse de você, Kia. Gael acaricia o meu cabelo, fazendo-me ficar sem ação diante do seu toque e da sua postura séria. — Por favor, não me rejeite. Deixe-me lutar por você, pelo seu filho? Tudo o que eu digo é o mais sincero da minha alma. Ele aproxima o rosto do meu e pressiona o nariz na minha bochecha, fazendo-me suspirar ao sentir o calor da sua respiração acelerada. Ele segura a minha cintura e tudo o que me vem na mente é o toque do Anton, o toque do único homem que eu tive na vida; das suas mãos grossas subindo ferozes entre a raiz dos meus cabelos loiros, do seu corpo alto, rígido, bruto e ao mesmo tempo que me dava segurança pela força, os músculos e um pouco de carinho ao retribuir prazer. Gael aproxima os lábios dos meus rosados e eu não evito aceitá-lo, tendo a sensação de não serem conhecidos, lascivos, de não serem impetuosos, bárbaros, mas de serem dóceis, calmos, lentos, molhados, que me ama... — N-Não! — O afasto desesperada. — Não, Gael... pelo amor de Deus, eu não sou como o Dexter! Eu não sou uma adúltera! Isso foi errado, o que sente por mim é errado! — Sinto muito, eu não vou te pedir perdão. Eu não vou desistir tão fácil. E agora que tomei coragem e te disse toda a verdade, lutarei pelos meus sentimentos. Te mostrarei que eu sou um homem sincero e de caráter. Anton não a merece, não suporto mais vê-lo te tratando sem valor. Eu juro que pretendo ir até o fim por você — Gael ergue a cabeça, aperta o chapéu e passa ao meu lado, retirando-se da pequena sala de chá e abandonando-me em choque, trêmula. Eu enxugo as lágrimas, olho para o Gieber e corro até o meu filho que tentava descer sozinho do sofá. Pego-o no colo e o abraço, recebendo o aperto mais reconfortante deste mundo, e não evito levar os dedos até os lábios, repreendendo-me pelo beijo molhado do Gael. Meu senhor, eu lembrei do Dexter, do seu toque, do seu beijo... e e- eu me sinto nojenta, suja. Eu não sou como ele. Dói saber das intenções do Gael, porém, eu não quero que ele lute por mim. Os seus sentimentos eu não posso retribuir. Meu coração está uma bagunça, eu não quero saber mais de amor, eu só desejo justiça! CAPÍTULO 11 Kiara Dexter Farta de ficar jogada na cama, apenas me lamentando da vida e pensando nos problemas dolorosos que vão se acumulando um atrás do outro (ainda mais agora do Gael e dos seus sentimentos), eu, então, resolvo me levantar decidida e fazer um "crime" que, com toda a certeza, o Anton odiaria me pegar cometendo. Mas eu não estou nem aí, é a coisa mais maravilhosa desse mundo. Sem falar que eu estou morrendo de vontade. Por isso, sem pensar duas vezes, na calada da noite, eu verifico se o Gieber dormiu (e como um anjinho), para, em seguida, descer quieta os degraus da escada e ir por pouco não correndo até o escritório dele. Eu abro a porta sem provocar barulhos ou ruídos; ligo a luz, dou uma olha no local vazio, na prateleira repleta de bebidas fortes e sem demora, eu escolho uma garrafa de vinho suave. Pego-a, coloco embaixo da roupa e saio fugida do escritório, fechando a porta bem devagar. Meu Deus amadinho, meu coração parece até que vai saltar da caixa do peito. Eu suspiro, sorrindo boba. E entre os dedos descalços, meu destino desta vez é ir até a cozinha pegar um gelo, um copo de vidro e provar da bebida que tanto amo de coração. E isso até que daria certo... s-se... se uma voz muito conhecida, autoritária e séria não tivesse me dado um susto arrepiante. — Boa noite, Kiara — ele sussurrou bem na hora que eu passava na sala. Anton liga a luz do abajur e eu coro as bochechas, pois a minha camisola não está nada decente e para completar existe "algo" embaixo dela. — Oi... Ele está sentado no sofá, com as pernas cruzadas e fazendo nada. — T-Tá sem sono também? — Pergunto e percebo que fui muito tonta. — Acho que eu nem sei o que é isso — Anton se levanta. — O que foi fazer no meu escritório? Te vi passando agora pouco aqui. — Eu, eu não fui ao seu escritório... — Nunca soube mentir direito. — Bom, se você quer saber... não te interessa! — Eu viro as costas e por pouco, não saio subindo os degraus da escada, só que o Anton se desloca ligeiro e com as suas mãos nojentas, consegue me puxar bruto pela cintura. — Me solta! Me larga! Desesperada, sacudo-me, impedindo-o de chegar até a garrafa escondida por baixo da camisola. — Não ouse, seu desgraçado! Tire as suas mãos de mim! Ele me prende por trás e alcança o litro por cima das minhas mãos. Eu, então, paro trêmula, ofegante, com as costas colada ao seu corpo rústico e forte. Posso sentir a sua respiração, os seus batimentos e a barba bem próximos do meu pescoço. — Nem preciso conferir para saber que é um vinho! E você sabe que não pode beber isso! Tem tolerância baixa ao álcool, Kiara! — Me Larga, Anton, se afaste... — desta vez, eu peço rouca, com arrepios que desprezo. — Antes, me devolva a garrafa! — Não... eu quero a bebida — tento sair do seu aperto, mas ele não deixa, sendo mais forte do que eu. — Um copo e não aguenta nem dar meio passo. — Como que isso te importasse! Nada que seja relacionado ao meu bem-estar te interessa! Se eu tenho essa tole... to não sei o quê, não é da sua conta! — Assim que eu exclamo as ferozes palavras, quase me fazendo tropeçar nos próprios pés, o Anton me vira pela cintura, conseguindo tirar a garrafa por baixo da camisola à força. Ele me solta eeu surto, louca de raiva, com desejo de socá-lo até virar carne moída! — Minha vontade era de tacar essa bebida na sua cabeça! Nunca mais ouse chegar perto de mim, eu já disse! E me devolv... — Repentinamente, sem esperar, ouvimos um estrondo de algo caindo no chão e vibrando como se fosse um ferro grande, ou algo muito parecido vindo de longe. — Anton... — Eu paro assustada, olhando para todos os cantos junto com ele. — O que foi isso? — Não sei... — Será ladrão? — Parece que veio da cozinha. Eu preciso conferir. — Eu não vou ficar sozinha. Ele não se incomoda em me deixar acompanhá-lo. Não evito com repudio sentir o seu cheiro de loção amadeirada e admirar os seus ombros largos enquanto andamos seguidos um do outro. — O que é? Ele atravessa a porta sem pensar duas vezes, sem medo de ligar a luz e entrar no local. Eu também tomo coragem para atravessar e graças a Deus comprovar que o que caiu foi uma panela de cima dos armários. — Ainda bem, só foi uma panela — comento, dando de ombros. O Dexter continua de pé, olhando os cantos misterioso. Ele, então, se mexe, virando-se para mim e demonstrando raiva, nervoso ao apertar a garrafa na mão. — Alguém esteve aqui — ele comenta ainda nervoso e vai até a porta dos fundos conferir se ela está fechada. — E tenho certeza que essa pessoa não foi muito longe. — Se não for um fantasma, ótimo. Tenho medo de serem verdade — abraço o meu corpo. Anton demonstra sorrir de lado, porém, controla-se severo, vindo até mim. — Já te disse que isso não existe. E se fosse, seria o de menos. — E por que não seria? Ninguém entrou aqui. E pessoas não atravessam paredes. — E fantasmas não derrubam panelas, Kiara. Tem gente de carne e osso nesta própria casa que não se deve confiar. — É... você e a sua mãe? O ar de calma dele some e volta a ser o homem frio e sério de todo o sempre. — Eu estou me controlando diante das suas respostas! — Ele se aproxima forte, pegando dois copos. — Pegue o gelo na geladeira. Salivando pela cena dele abrindo o vinho, eu vou até o congelador muito animada. — Não sei o que você faria sozinha com um vinho de 18% teor alcoólico — Anton diz, servindo pouquíssimo do líquido para mim. — Só isso? Antes eu podia beber quase tudo. — Porque eu escolhia para você os de 7% a 10%. Precisa saber que as bebidas têm quantidades de álcool que variam. E as mais fortes te levam até a morte. Ainda mais para alguém com tanta tolerância. — Hum... — Coloco os cubos de gelo no copo e pego o meu, levando a boca sedenta de vontade. Sinto que é realmente meio estranho, diferente do que o Anton escolhia, mas continua bom, muitíssimo bom. — Se eu fosse fazendeira, com certeza, plantaria muitas uvas. Faria vinho sem parar. Eu gosto tanto. Acho que por isso prefiro suco dessa fruta. — Talvez não te desse lucro, não num lugar tão quente como esse. Ele me observa e eu percebo que também estou observando a sua bonita feição rústica, como que se revivendo agora, neste exato momento, a raridade das nossas conversas, onde eu contava todos os meus sonhos, desejos e ele parava para me ouvir, me ensinar. Só que era raro... tão raro que eu posso contar nos dedos. Eu desvio dos seus olhos, repassando a mim mesma todo o histórico de ruindade, a falta de amor e caráter do Dexter. Anton Dexter Kia coloca seus cabelos para frente, disfarçando as bochechas coradas. Eu tento a todo custo não olhar para baixo e analisar a sua camisola que vai até o meio das coxas, no entanto, meus instintos masculinos me fazem repetir isso. E é inevitável, ela é linda. Parece que nunca a reparei antes. Minha vontade era de tocar sua pele, os cabelos, os lábios com ferocidade. Não sei o que está havendo. Sinto que eu vou perder o controle de tudo e beijá-la, abraçá-la e prendê-la a mim. Entretanto, um muro de cercas farpadas me impede. — Já que não me deixou tomar o tanto que eu queria, vou dormir. — Não volte a entrar no meu escritório escondida, Kiara — a advirto. — Não sei... não é sempre que você vai estar lá, né? — Ela me enfrenta, cruzando os braços, antes de sair, sinto-a frustrada. — Ouvi que vai hoje para a capital e não vai ficar me vigiando. Eu fico calado, indo nervoso até ela, que dá um passo para trás, arregalando os olhos. — Não se aproxime de mim! — Não me desafie ou te levo comigo para a cidade! — Obrigada, mas isso não vai estragar a sua diversão com as outras mulheres, seu cafajeste? Sendo o meu limite da paciência, do controle, eu dou um salto na Kiara, puxando-a bravo pela cintura e agarrando os seus cabelos loiros e cacheados desde a raiz. Eu não dou tempo de ela revidar, meu desejo explode, meu sangue ferve. Jogo a sua cabeça para trás, empurro as suas costas contra a geladeira e beijo-a de forma devoradora, louco diante da respiração arfante, do seu perfume, dos meus dedos brutos por pouco não rasgando o tecido da sua camisola macia. Eu me aproprio dela, da sua boca, da sua língua, da sua saliva, como se eu necessitasse, precisasse de forças e essa menina fosse a minha única fonte para se abastecer. Uma fonte proibida, de águas limpas, a qual eu sujo toda vez que me aproximo e a toco. Ela é a única coisa que ainda me resta. CAPÍTULO 12 Ao afastar Kiara dos meus lábios, eu observo a sua ofegância descompensada, a falta de força nas pernas e o olhar dilatado. Meu peitoral desce e sobe com desejo, com vontade de tomá-la como minha agora, sem pensar duas vezes. Eu largo seus cabelos, descendo o dedo pelo seu rosto quente e acariciando as suas maçãs pigmentadas de sardinhas. Kia suspira, fitando-me e deixando uma lágrima escorrer. Eu limpo a lágrima, sentindo algo que não sei definir. Eu só sei que não posso deixá-la jamais ir embora. — Por favor... solte-me, Anton... — Ela sussurra trêmula, com as mãos fracas contra o meu peito rígido. Eu respiro fundo, apertos os olhos, tomo coragem e então a solto, afastando-me. Kia também se move, e ao se equilibrar com as pernas bambas, vira rapidamente as costas, dando a volta na ilha e saindo às pressas pelo portal da cozinha. Eu fico por alguns minutos parado. Até resolver jogar fora todo o vinho, apagar as luzes e ir me deitar com a mente carregada de pensamentos. — Olá, meu filho — na manhã seguinte, enquanto eu começava a abotoar a camisa, sem ao menos bater na porta, a minha mãe invade o quarto, chamando-me. E eu a encaro bravo. — Espero que seja a última vez que você entra no meu quarto sem bater na porta! — Eu sou a sua mãe. — É a última vez, Lorenza! — Tá bom, Anton, não precisa levantar a voz e nem ser arrogante igual o seu pai era — ela balbucia, com ar de vítima. — O que eu vim fazer aqui é perguntar que história é essa de você ter dado um cheque de vinte mil para aquela selvagem adúltera comprar roupas e coisas paro o menino bastardo? Você deveria era expulsá-los! — E quem lhe disse isso? Anda com informantes pela casa? — Não, na verdade, são meus ouvidos que ouvem longe demais. E você deveria prestar atenção, pois essa menina vai roubar tudo o que seu pai conquistou. Me ouça, Anton! Você está cego por ela! — Eu estou ouvindo. Acabou? — Termino de abotoar a camisa, coloco o chapéu e caminho até a minha mãe. — Agora é você que me ouve. Se continuar se metendo na minha vida, farei a mesma coisa que eu fiz com os seus dois outros filhos, expulsá-la desta casa com direito a mala jogada pelas escadas e os empregados te assistindo. Eu sei o que fez na capital. E o que segura o governador de não vir atrás de você é eu e a minha amizade com ele. Eu o ajudei a estar naquele cargo, ele tem uma dívida grandiosa comigo! Por isso, não ouse aprontar nada contra a Kiara, ou perderá a proteção que veio buscar, Lorenza! Ela demonstra raiva ao apertar os punhos e não me contestar. E sem suportá-la mais, eu me retiro a passos duros e caminho até a escada. Porém, assim que eu viro no corredor, eu sou pego de surpresa por não ver a Lívia e trombar de frente com o seu corpo, quase a fazendo cair no chão, mas a segurei de forma ágil pela cintura, evitando o acidente. — Meu Deus, senhor Dexter...desculpa! — Ela se apoia no meu pescoço e eu sinto vontade de espirrar ao sentir o cheiro do seu perfume doce e exagerado. — Não te vi, sinto muito. — Tudo bem, fui eu quem estava muito apressada. Eu te machuquei? Me perdoe, eu sou tão desastrada. Lívia se afasta, chamando-me atenção para a sua roupa curta e decotada. Eu a solto e encaro, observando os seus olhos verdes. Ela faz o mesmo, não apresentando qualquer sinal de envergonhamento ou timidez, comparada as outras mulheres que se desviam. — Não. Eu estou bem. — De verdade, me senti culpada, não... — De repente, escuto um forte par de saltos atrás das nossas costas. Viro o pescoço, assistindo Kiara passar por nós dois com a criança no colo, jogando os cabelos loiros e cacheados para trás, sem sequer nos encarar. Não evito analisar o seu vestido azul, apertado, vulgar e que deixa ainda mais evidente as suas curvas alucinantes. Eu engulo em seco, bravo, nervoso por vê-la assim. Indecente! — Nossa, será que a srta. Dexter não nos viu? — Lívia me fita. Não a respondo. — O-O senhor estava descendo? Após dizer que sim, ela nota que o meu comportamento mudou e comenta que vai para o café. Eu a acompanho calado para baixo, quando chego encontro a Kiara sentada a mesa, comendo e dando leite para o menino. — Olá, srta. Dexter, bom dia. — Ah, bom dia, querida Lívia — Kiara sorri de lábios fechados, cerrando os olhos bem devagar e curvando as sobrancelhas. — Tudo bem? — Tudo sim. E esse bebezinho lindo? Nossa, parece um boneco, é a cara do pai, até os olhinhos claros... Kiara Dexter O comentário de Lívia faz o Anton olhar para o Gieber, em seguida, para mim, sem piscar as pálpebras. Eu não deixo que ele me intimide e finjo que ela não disse um 'a'. Estou explodindo de fúria, raiva contra ele, eu vi o seu olhar naquele corredor. E eu não vou permitir que me humilhe até aqui, infelizmente, debaixo do mesmo teto que compartilhamos juntos! Eu quero bater nele! Meu Deus... eu quero matar esse homem! O desprezo! Abraço o meu filho na hora que a Lorenza chega e faço questão de me levantar e de me retirar para a sala, já que estou satisfeita. Só que antes de ir, é inevitável um comentário maldoso da bruxa. — Ainda bem que já está de saída, norinha, ninguém merece uma criança gritando em plena manhã nos nossos ouvidos. Obrigada. Eu me controlo para não tacar o pedaço de queijo redondo na testa dela. Por isso, viro-me, sorrindo como uma frufruzinha. — Não há de quê, sogrinha. Sei que não deve ser fácil chegar na velhice e sofrer com problemas nos ouvidos. Me preocupo com os mais velhos, com licença. Lorenza me fuzila e sentindo-me uma nova pessoa, mais fria e furiosa, retiro-me com a minha elegância revestida de roupas novas. Falando nisso, depois de amanhã, o pequeno do Gieber ganhará roupinhas novas também, além de brinquedos, fraldas de rico e outras coisas que vão me trazer para comprar. Já liguei na capital encomendando. Estou muito ansiosa. Hoje eu gostaria de só visitar os meus pais, de ver como está a mamãe e aproveitar para visitar o meu vôzinho na casinha humilde dele. Entretanto, ainda não tomei coragem para ir falar com o Anton. Eu estou com raiva dele. Eu estou me sentindo fraca depois desta madrugada. Minha mente não para de pensar no seu toque e naquele beijo feroz. Eu seria capaz de matá-lo para descontar a minha vulnerabilidade, o repúdio pelo que fez. Porém, o desejo de ver a minha família é maior do que tudo isso. Eu terei que ser forte. — Anton, espere... — Na área, ao vê-lo saindo pela porta principal da frente, eu o paro rápida, aproximando-me de forma desconfortável. O Dexter me observa com a sua feição rústica e calada. Tento não encarar direto os seus olhos. — Eu queria te pedir uma coisa... — O quê? — É que eu gostaria de ver os meus pais e o meu avô. E queria que deixasse algum peão me levar para visitá-los. Fito o Anton e vejo que ele continua calado. Ele, então, respira fundo, olha as horas no bonito relógio de pulso e volta-se sério para mim. — Não deixarei que peão nenhum te leve. Não confio no bêbado do seu pai, nem nos capatazes dele. Por isso troque de roupa e retorne em cinco minutos, eu te levarei. Fico surpresa, mas não discuto. — Eu já estou pronta, só preciso pegar a bolsa do meu filho e minh... — Você vai se trocar, não vai para a vila vestia assim. Está indecente demais. Eu fico nervosa e olho para o meu vestido azul, realmente meio curto e justo. — Eu não vou trocar nada! Estou do jeito que eu quero e você não manda em mim! — Eu mando, pois eu sou o seu marido! E não quero ninguém daquela cidadezinha falando da minha esposa! Te esperarei na calçada, volte com essas coxas e esses seios menos decotados! — Arrogante, ele vira as costas e direciona-se para a enorme camionete luxuosa. Se ele está incomodado, ótimo, o problema é dele. Eu não vou trocar a minha roupa, ele é só o meu marido no papel. Não manda mais em mim. Por isso, quando eu volto com a bolsa grande, com algumas coisas do bebê, Anton me encontra ainda vestida com o mesmo vestido. Deve ser surpreendente para ele, pois aquela menininha boba do mato, comprada para ser a sua esposa que nunca deixa de acatar uma regra por medo e respeito pela majestade "Dexter", está desacatando sem um pingo de remorso. Vejo que os seus ombros se enrijecem ao me ver. Ele se controla. — O que eu falei, Kiara?! — E vai fazer o que, "sr. Dexter"? Me arrastar a força para eu trocar de roupa? Não estou nem aí para o que vão dizer de mim naquela vila. Nunca fui bem falada por eles mesmo. Anton se cala e simplesmente não discute mais, ele engole a sua autoridade poderosa e entra no carro. E aliviada, eu abro a porta de trás, também entrando com o meu menininho. — Visitaremos apenas o seu avô. Eu tenho outro compromisso para depois do almoço. E, mais tarde, preciso viajar para a capital — depois de fechar a porta, ele informa, colocando o cinto. Eu concordo e vou o percurso quieta, exceto pelo Gieber que resolve ir falando palavrinhas mais do que o normal. Parece que ele tirou o dia para conversar sem limites. Para me deixar saltitante, o pequeno está aprendendo "mama", que é de mamãe, pois estou o ensinando. Após meia hora de chão de pedras até a vila, Anton entra numa rua de barro vermelho e encontra sem dificuldades o barracão de madeira e materiais recicláveis do meu vôzinho Heleno. Meu Deus, faz mais de dois anos que não o vejo. Ele nem sabe que tem um bisneto. Saio da camionete, atônita, observando cada detalhe a procura dele. — Olha, filho, você vai conhecer o seu bisavô... — Converso com o meu filhinho, não me importando com o homem rude logo atrás, que odeia crianças e que nunca fez questão de dar atenção a uma. — Acho que ele não vai acreditar que você existe. Eu caminho para o interior do terreno com os meus saltos atolando na terra. Nem sei o porquê de eu ter vindo com estas porcarias apertadas. — VÔ HELENO! — Eu grito, chamando-o. Sem resposta, volto a berrar. — VÔ HELENO! Desta vez, aproximo-me da porta de garrafas verdes e então brusco, meu vô a abre e aparece segurando uma espingarda nos braços, desconfiado. — Quem tá aí? — Vó, é eu, a sua neta, a Kiara! — K-kiara? — Ele força as vistas. — Meu Deus, céus, é você, netinha?! — E sem acreditar, ele coloca a arma no chão, vindo rápido até mim. Em lágrimas, antes de me abraçar, eu faço o vovô notar que eu carrego algo a mais nos braços. — Filha, que... que... — Seu bisneto! Posso dizer que esse é o momento mais feliz da minha vida e a da dele. Vovô chorou igual a uma criança, me abraçou, pegou o Gieber e não quis mais soltá-lo. Me convidou para um café, no entanto, no momento em que viu o Anton, não aceitou que ele nem atravessasse a cerca de arame da sua casa. O vô Heleno o odeia, ele sabe que nunca fui feliz naquela mansão e sabe que o meu marido me traía. Mamãe e eu contamos. No fim do café, eu vou embora sem demorar muito, com o coraçãozinho dolorido por deixar o meu avô de 70 anos nessa tremenda miséria. A casa está por um trisco de desabar, não tem luz,nem água e nem encanamento. No carro, eu não falo disso para o Dexter, mesmo com vontade de pedi-lo ajuda. E quando eu chego na mansão, passo o dia pensativa, preocupada com o meu avô. Por mim, eu teria trazido ele. — Oi, Felícia, você sabe se o Anton já chegou? Mais tarde, eu resolvi esperar o Dexter chegar dos seus compromissos nas terras da fazenda para ir à sua procura. Só que ainda não vi esse homem passar pela porta da sala. Será que ele já foi para a capital enquanto eu tirava um cochilo com o Gieber no quarto? — Sinto muito, doce menina, ainda não vi o patrão. Tudo bem? — Ele disse que ia viajar para a capital esta tarde, isso após resolver alguma coisa na fazenda. E já são 18h50, quase sete horas. Anton não gosta de pegar estrada à noite. — Ele não foi viajar, os carros do sr. Dexter estão todos estacionados lá embaixo. Sem falar que a Lorenza faria questão de reunir os empregados e esfregar o fato de "estar no poder" da mansão. — Ela nunca estará, não se preocupe com isso, Felícia. E obrigada pelas informações. — Por nada... — Ao se retirar, eu fico parada, olhando para o nada. Por que o Anton não foi viajar? Já está tarde e sei que ele sempre prefere pegar estrada bem antes do anoitecer. Sem evitar e repreendendo-me pelos passos que eu começo a dar em direção ao corredor principal do andar de cima, eu me aproximo do outro lado, onde era o meu quarto e o do meu marido "perfeito". Nervosa, um pouco suada das mãos eu bato na porta. Bato umas três vezes até ter alguma resposta... e não tenho nenhuma. Eu giro a maçaneta, notando a porta aberta. E curiosa, tomando coragem, eu entro. Não tem ninguém. Inclino a cabeça e vejo uma tolha branca suja de algo vermelho sobre a cama. Chego mais perto do colchão e levo um choque ao observar direito, que é sangue! Eu me movo para trás, olhando para baixo; tem sangue no chão, sangue no tapete, no criado mudo, no forro da cama! E apavorada, eu arregalo os olhos. — Anton! Ninguém me responde. Eu corro rápida para o hall do quarto, seguindo em pavor as gotas de sangue. E quando eu paro na porta do banheiro, observo mais manchas vermelhas na maçaneta redonda. Desta vez, eu não tenho voz para chamá-lo, eu simplesmente abro a porta sem pensar no que me veria de pior. Meu Deus! CAPÍTULO 13 Ele me olha pelo reflexo do espelho, com as mãos estancando seu ombro esquerdo. Vejo que o seu peitoral nu também está banhado em sangue. — A-Anton, o-o que isso, meu Deus, você está sangrando! — O que faz aqui, Kiara? Como se tudo estivesse normal, ele volta a destampar a ferida para colocar a toalha molhada que estava sobre a torneira. — Você está ferido! E tudo no seu quarto está sujo de sangue! — Droga... — Ele suspira nervoso, colocando a mão na pia e apertando os olhos. — Foi um tiro de raspão. — Um tiro? — Fico em choque, apavorada. — Por favor, Kiara, sem perguntas no momento. Anton se afasta, passando por mim e indo até os armários do hall pegar mais toalhas limpas. Vejo-o gemer de dor pelo esforço ao abaixar-se. Está agonizando! — Você precisa de ajuda, tem que ir para a vila atrás de um médico! — Eu esbravejo, seguindo-o enquanto volta para o quarto. Eu estou aflita, de mãos atadas por vê-lo trocando de pano no ombro e não saber o que fazer para esse homem não morrer! — Não, ninguém pode saber disso. — Está ferido... Jorrando sangue! — Eu sei... porra! — Anton murmura irritado ao sentar-se na cama e bramir dolorido. — Tem alguém vigiando a fazenda, tentando me matar. Eu não sei quem é, levei o tiro quando entregava o cavalo para um dos meus peões nos estábulos. Eu demorei esta tarde na averiguação do plantio dos novos eucaliptos com o Gael. E decidi adiar a viagem para amanhã cedo. Iria assinar o contrato com os novos arrendatários. — E os empregados não te viram entrando em casa nestas condições? O Gael não te ajudou? Nem os peões? — Droga, você está fazendo perguntas demais num momento em que eu poderia sair quebrando todas essas paredes. O Ratito me ajudou a subir no quarto. Fico mais angustiada ao notar que a toalha limpa que ele acabou de trocar já está suja. Eu me desespero, minhas mãos formigam e eu não suporto mais ficar parada sem fazer nada. Então respiro controlada e aproximo-me ágil dele, esquecendo por alguns segundos do seu caráter mal e preocupando- me apenas com o seu ser humano de carne e osso. — Deixa-me ver isso, por favor. Sem discutir, ele afasta o pano e eu visualizo uma ferida do tamanho de um dedo, aberta e sangrando. — Está horrível, Anton. Você precisa de um médico, precisa de pontos! Temos que ligar para alguém da capital, pelo amor de Deus! — Não, eu não quero ninguém aqui! — Droga, seu teimoso, você necessita de pontos nesse ferimento — choro de tamanha angústia e Anton percebe. — O sangue já está se estancando, Kia, já tive feridas piores do que essa. — E era de um tiro de raspão, por acaso? Pelo menos tem que aceitar um curativo com algodão e fita para colocar aí. — Não, deixe assim por enquanto — Anton aperta o machucado e deita-se no colchão, mordendo o maxilar para não gemer. — Amanhã eu tenho que estar bem para viajar. Não posso adiar meus compromissos. Eu permaneço quieta, sem paciência para questionar as suas teimosias. — Comeu alguma coisa? Parece abatido. Posso falar para Feli... — Não, obrigado, não precisa de nada. E nem era para você estar aqui se preocupando. Eu paro para imaginar se eu realmente não estivesse. Sendo orgulhoso, poderia morrer deitado nesta cama. Eu conheço o Dexter, ele não confia em ninguém, odeia ficar doente, porque também odeia depender das outras pessoas. Esse homem acha que não é um ser humano e de que um dia não vai carecer da ajuda de próximos. Ele fecha os olhos. E sem mais o que dizer, eu me retiro para o meu quarto, porém, com a mente toda hora pensando no Dexter. Mesmo ele não merecendo. À noite, eu dou um banho no Gieber, dou o seu jantar e como o meu na cozinha longe da Lorenza e da Lívia. Mais tarde, eu vou me deitar ainda pensando nele e em como se encontra. Meu Deus, eu não quero pensar, não quero, só que o ver com aquele rasgo foi como se eu tivesse levado o tiro. Às 03h30 da manhã, sem sono, eu me levanto, visto o robe, deixo o meu filho dormindo quietinho no berço e vou até o motivo da insônia e da minha preocupação inevitável. — Anton? — Ao abrir a porta, eu encontro só a luz do abajur acesa e ele deitado do mesmo jeito que o deixei quando saí. — Anton? — Chamo-o novamente, aproximando-me da cama. — O que faz aqui, Kiara? Eu também me fiz a mesma pergunta... — Você chamou algum médico? — Questiono sem desejar discussões. Ele respira fundo e senta-se dolorido com as costas na cabeceira de madeira. Percebo que essa não é a cama que dormíamos juntos, onde eu não tenho boas memórias. — Está suado, Anton... os seus cabelos estão molhados. Não quer comer alguma coisa? — Eu estou bem. Já disse que não deveria estar aqui! — Larga de ser grosseiro, pois eu realmente não deveria estar aqui. Você não merecia um tiquinho da minha atenção. Mas eu estou, porque o que aconteceu foi sério. Agora seja menos orgulhoso e aceite que não está bem e que precisa da minha ajuda. O Dexter se cala, virando o rosto e não me respondendo. Eu não me importo com a sua cara brava e o seu orgulho em aceitar o fato de que precisa de ajuda. Ligo a luz e arregalo ainda mais os olhos com a situação de suor no seu peitoral forte. Ele está ensopado. — Você está com febre! Esse machucado deve estar inflamando! Eu dou a volta na cama e chego perto, muito perto dele. Meu coração para. Ele me fita com seus olhos claros e então, eu engulo em seco e sinto a sua testa fervendo. — Eu chamarei algum doutor da capital — afasto rápida a mão, com as bochechas vermelhas. — Não diga que eu não posso. Necessita de socorro. — Eu já chamei — ele diz e eu fico surpresa pela revelação sem rodeios. — Não gosto de depender de ninguém. E, também esse cara é um amigo, sei que ele não contará do episódio do meu ombro vulnerável. Tenho que descobrir o mais rápido possível o que estáacontecendo, porque estão tentando me matar. Hoje de manhã Ratito me informará se achou algo ou alguém desconhecido pela fazenda. — Você desistiu de ir para a capital? — Não sei. Eu preciso assinar o contrato — ele me analisa sem mais assunto. E sem o que fazer pela a sua pessoa a não ser esperar o médico, eu não demorei muito na presença do Anton. De manhã, às onze horas, quando o doutor de meia idade chegou, eu estava sentada na sala, confesso que o aguardando para ver se ia chegar mesmo. No entanto, eu não quis segui-lo, ou perder tempo o incomodando, pois quem o acompanhava era um dos capatazes, o Ratito que deveria ser o único a saber do ocorrido ontem. — Kia, o que está acontecendo? — Felícia estava comigo assim que os dois passaram na nossa frente. Para ajudar na sorte, Lorenza e Lívia estão no jardim. — Você viu o homem que o Ratito levou para cima? Tento não dizer toda a verdade a ela, apenas que devia ser algum rolo do Anton. Uma hora e meia depois, os dois homens descem, cumprimentando-nos rápidos com a cabeça e retirando-se para a porta principal. Eu fico ansiosa para saber o que aconteceu. Será que era algo grave? O que o médico disse? — Felícia, você poderia ficar com o Gieber enquanto eu vejo o que houve? — Vá Kia, isso está muito estranho... Passo o bebê para ela, arrumo o meu vestido e subo apressada os degraus. No último corredor, eu paro na frente da porta do quarto do Anton e tomando coragem para enfrentá-lo de novo, eu giro a maçaneta e sem demora, encontro-o de pé, na beirada do colchão, sem camisa e com uma bola de curativo no ombro esquerdo. Ele me encara, com o seu olhar sério e face máscula. Eu tento não ficar observando as manchas de sangue seco no seu abdômen. — O que o médico disse? — Nada grave. — Só isso? — Não, mais uma coisa, você vai comigo para a capital. Arrume as suas coisas. Não posso te deixar aqui. O quê? Eu dou um passo para trás, desacreditada na sua ordem. — Eu não vou para lugar nenhum com você. Ainda mais para a cidade. — Eu não confio em te deixar sozinha. — Ah, e o "sr. Dexter" acha o quê? Que eu vou fugir? Bem que eu queria mesmo! Anton fica quieto, e sem discutir, ele vira as costas, caminhando até o banheiro. — Anton, eu não vou viajar! — Exclamo antes de ele fechar a porta, mas ele me deixa plantada com a minha revolta. Que raiva! Infernos, que raiva! Ele está muito enganado se acha que eu vou para a capital! O aguardo por dez minutos, irritada pela demora. E quando eu estou preste a desistir, o Anton sai do banheiro tomado banho e enrolado na toalha da cintura para baixo. Eu engulo em seco, ruborizada, fervendo de vergonha. — Ainda não foi arrumar as suas coisas? — V-Você é um grosseiro, eu não vou! — Eu não quero brigas, Kiara. Você precisa ir, não posso te deixar aqui sem a minha supervisão. Você querendo ou não, sua inocência te faz confiar nas pessoas muito fácil. E tem gente tentando me matar. E eles poderiam te sequestrar, ou não sei o que mais. — Eu não sou assim... não deveria se importar comigo! — É a minha esposa, eu me importo com você. Sem evitar, eu nego com a cabeça. — Nunca se importou comigo, se importasse não teria me machucado com fez desde que nos casamos. E eu só saio daqui arrastada pelos cabelos! — Após as minhas palavras ferozes, eu viro as costas. — Pelo menos pense na criança... — E no momento em que eu vou girar a maçaneta, eu paro contra a porta, com o coração reprimido, não acreditando no que o Dexter disse. — É apenas um dia e uma noite. Não demorarei. Vamos sair daqui a tarde. Tem que ir, Kia. Não posso de jeito nenhum te deixar sozinha. Eu não consinto, nem nego, continuo de costas e saio do quarto com vontade de desabar em chorar. Vou até o meu filho, o pego de volta e passo pela cozinha para ir até o jardim de rosas me sentar no sol com ele. Fico pensando em tudo que estou sentindo. Eu não acredito que o Anton esteja se importando comigo e agora com o meu filho, após confessá-lo a paternidade do bebê. Ainda vê-lo banhado em sangue... eu... eu senti que o amava, que não desejava a sua morte. Só que eu não sei o que fazer, eu só queria ser feliz, tirar esta dor horrível do meu peito. E ver o Anton só faz aumentar mais estas feridas. O que ele fez sem amor jamais será curado. CAPÍTULO 14 Anton Dexter Enquanto eu colocava o relógio com certa dificuldade ao mexer o braço devido à dor no ombro, Felícia entrou no quarto para pegar a minha pequena mala de cima da cama e não evitou fazer uma pergunta curiosa antes de sair. — O senhor está bem? Perdoe-me o comentário, mas o seu lado esquerdo do ombro está muito alto, sr. Dexter — ela me observa. — Estou, Felícia. Tive um incidente, porém, nada grave. Você sabe se a Kiara já está pronta? — Sim, aliás ela já está lá embaixo, o aguardando. Assinto, agradecido e a espero sair para também poder descer. Entretanto, em baixo, na sala, eu não encontro a Kiara, como a Felícia havia me informado. Apenas a minha mãe sentada no sofá, lendo um livro. — Hum, ainda não foi para a capital? — Não. Você viu a Kiara? — Ah, é mesmo, eu vi sim a sua selvagem. Ela estava agora pouco aqui, dentro de um vestido tão vulgar que nem uma qualquer de bordel usaria. Ela não gostou muito da minha opinião sobre a sua tamanha indecência como mulher casada e saiu nem aí. E deve ter ido para a cozinha, ficar no meio dos empregadinhos da laia dela — minha mãe responde, sorrindo forçado. Minha feição fica séria, eu, então, viro as costas e vou atrás de Kiara. Nervoso. O que menos me importa agora é a roupa indecente que ela deve estar vestindo. Precisamos pegar a estrada antes do anoitecer. Eu passo pelo portal da cozinha. E assim que eu entro no lugar, eu paro em súbito, encontrando uma cena que me faz fechar os punhos e dar um soco instantâneo na porta! Kiara, que estava nos braços no Gael, se afasta assustada, empurrando-o e olhando aflita para trás, para mim, que dá o primeiro passo ligeiro em direção ao filho da puta que beijava a minha mulher! — EU VOU MATAR VOCÊ! — Anton! Eu chego tão puto para acertá-lo um soco que esqueço do meu ombro ferido e quando eu ergo a porra do braço, sinto um dor infernal me fincar igual a uma faca afiada, mas acerto o desgraçado traidor. Gael também vem para cima de mim, quase revidando no meu rosto. — PARE, GAEL, O ANTON ESTÁ MACHUCADO, PARE! — Kia grita no meio de nós. — PARE, ANTON, POR FAVOR! PELO AMOR DE DEUS! — Ela me joga forte para o lado e eu não suporto a dor latejante que me volta como nos primeiros minutos de ontem, em que levei a merda daquele tiro de raspão. Porra, aperto os dedos, juntamente com os olhos. — Sai, Gael, sai daqui! — Eu vou matar você, seu desgraçado! — Eu exclamo, encarando-o louco de raiva, doido para acabar com a sua raça! — Por favor, sai, vai embora, chega vocês! O filho da puta me fita, cuspindo e sem dizer nada, como um covarde, ele foge! — SEU COVARDE! — Anton, pare, v-você está sangrando, droga! Eu me afasto, pressionando meu ombro que volta a sangrar. Kiara Dexter Desesperada, apavorada, sem saber o que fazer, eu só vejo a camisa branca do Anton manchar-se de sangue e ele tentar estancar a lesão reaberta. — MEU DEUS! — Maria entra na cozinha, o que faz com que o Dexter se afaste. — Sr. Dexter, o-o senhor está sangrando! — Ela coloca a mão na boca, abandonando no chão as verduras que colheu na horta. — O que aconteceu aqui? — Nada, Maria, com licença... — Ele se retira com cara de dor e de bravo, deixando-me em lágrimas. — Kia, o que... — E-Ele está machucado, Maria, foi ontem. Depois eu te explico... vou vê-lo. Ao entrar angustiada na sala, eu o pego subindo os degraus da escadaria de madeira. A bruxa da Lorenza continua sentada, nos olhando sem entender nada. Com certeza, ela não notou o Anton sangrando. Eu o sigo, correndo até o corredor principal. Só que antes de me dar tempo de entrar no seu quarto, ele fecha a porta abrupto, com força. Sem ação, eu paro, penso rápida e não desisto. — Anton... — Abro, revirada de inúmeros sentimentos que não sei explicar.E sem me responder, eu observo o Dexter em pé, com a mão na janela e muito, muito furioso, com as mãos semicerradas. — Você precisa chamar um... — Se eu estivesse com a arma, eu teria feito uma loucura contra o Gael! — Ele brada, olhando-me e então, dando passos na minha direção. Eu arregalo os olhos e por pouco, não corro para fora, mas ele não me agarra. Somente fecha a porta com o pé e para na minha frente, fitando- me. Eu analiso o seu ombro mais alto do que o outro, ensopado de sangue. E fazendo o que o meu coração manda, eu respiro fundo e toco o seu peitoral. Ele não me afasta. — Por que é assim, Anton? Por que é bárbaro? Você sabe o que o Gael sente por mim, isso não é segredo. — E você? O que sente por aquele traidor? Por que estava beijando ele, inferno? — Ele mexe o maxilar, sem tirar as íris enfurecidas das minhas e apertando mais os punhos. — Que eu não posso correspondê-lo, que o Gael é só o meu amigo — respondo calma, sem levantar a voz e sem medo do homem feroz que é. — E não fui eu quem o beijei. — E jamais irá correspondê-lo, nem vê-lo, nem mais nada! — Não entendo você, nunca demonstrou isso por mim... de ficar enfurecido por outro homem chegar perto, demostrar seu afe... — É casada, homem nenhum tem que ficar demonstrando coisa nenhuma por você! Além desses infelizes terem medo de qualquer pessoa relacionada a minha família! Ainda mais a minha esposa contendo o meu sobrenome! Agora o Gael não, aquele traidor me enfrenta sem pensar duas vezes! E sei que o infeliz não vai desistir do que quer! Não sei explicar, o meu coração acaba de se encher de calor... de um sentimento inexplicável. — O Gael expressa de verdade o que sente... Já você é sem amor, Anton, você... é sem amor. Nunca demonstrou nada sincero, eu não tenho uma lembrança de você falando das suas dores, das suas angústias, dos seus problemas. Nada. Triste, quando eu ia afastar a minha mão que permanecia vislumbrando dos seus batimentos acelerados do peito, ele abaixou a cabeça, suspirou fundo, acariciou os meus dedos e após dois minutos de silêncio, acalmando-se sozinho, ele voltou com os olhos escuros. — Eu nunca soube o que é isso... o que vivia me cobrando. — Amor? — Meus olhos ardem, seguro a vontade de chorar. — Eu nunca soube retribuir o que esperava de mim. Mas eu nunca quis o seu mal. Quando eu te vi pela primeira vez, te achei um anjo de tão linda, desejei te dar uma vida melhor, longe daquela miséria e longe do seu pai que tinha a capacidade de te bater com um cinto. Foi só isso que eu quis, te proteger, te ajudar, te dar uma vida de luxo. Você merecia se casar, ser a mulher, a esposa Dexter que o meu pai esperava ao meu lado. Só que eu não deveria ter feito isso, eu estava fora das minhas noções, era só seis meses de luto desde que ele havia sido enterrado — Anton contrai os músculos tensos. — E durante os anos... eu mudei — ele solta a minha mão. — De um dia para o outro, eu me dei conta que só tinha eu mais ninguém. Perdi tudo. Aperto as pálpebras, em lágrimas, e abro os olhos sentindo o seu toque na maçã do meu rosto. — No entanto, após uma noite de lesões... imperdoáveis, eu mudei mais ainda. Eu também perdi outro alguém. Eu caí em si. Eu deixei que fosse embora algo que restava, algo que eu nem me dava conta que tinha e o tempo todo era meu. E agora que eu tenho de volta, eu não estou disposto a perder essa chance pela segunda vez. Pois é aí que eu realmente perco tudo... — ele termina de acariciar o meu queixo, suspira e afasta-se devagar, indo até a cama se sentar para tirar a camisa e dar atenção ao seu horrível ferimento encharcado de sangue. Sem forças para ter o que dizer, com a cabeça fervendo devido as suas palavras, fortaleço as pernas, limpo as bochechas molhadas e com calma, vou até o armário pegar uma toalha. Ao voltar, eu o estendo, pensando apenas na sua situação. Ele pega quieto, em seguida, arranca o curativo, dando-nos a visão de dois pontos estourados. Anton chega a grunhi. — Onde tem mais algodão? — Rápida, pergunto baixo, sem olhá-lo. Ele diz na primeira gaveta do banheiro. E, também me pede o soro que está junto dos curativos. Eu faço como instruiu, retornando com os materiais e parando novamente bem na sua frente. Então o surpreendendo mais, eu sento ao seu lado esquerdo do colchão, erguendo o soro e calada, distribuindo na ferida inchada do ombro — encaro, desta vez, os olhos do Dexter e ele faz o mesmo, não demonstrando nenhuma dor. — O líquido sujo de sangue escorre pelo seu peitoral musculoso e costas. Uso a ponta da sua camisa para secá-lo em volta do machucado. Porém, no momento em que eu troco a camisa pelo algodão e apalpo nos pontos estourados, ele geme feroz, virando a cabeça e pressionando os dedos, o que deixa as veias do seu braço saltando roxas. Coloco o tal curativo gaze da embalagem, sendo paciente, delicada e igualmente rápida, e finalizo entregando a toalha para o próprio terminar de limpar o sangue do seu corpo. — Toma... — Ele me olha calado e não segura. E por dentro, eu quero correr, ir embora, contudo, não faço. Anton, aproximando o seu rosto másculo do meu, me fita lascivo e exprime o oxigênio sem precisar me tocar com as mãos. Eu sinto tristeza por ainda ser provocada essas sensações arrepiantes. Ficamos em silêncio, até ele demonstrar impaciência. — Não sei controlar o meu impulso diante de você. Eu não sei mais como agir na sua presença, no seu toque. E eu vou surtar com isso, Kiara — engulo em seco pela a sua confissão quase colado ao meu nariz. Fito-o trêmula. — Eu... eu não acredito em você. Nunca foi sincero. Por que diz isso? — Porque é como se me tivesse em mãos... — murmura e avança, tomando os meus lábios e amolecendo os meus sentidos pelo desejo do beijo e o roçar da sua barba áspera na medida em que me induz a querer tocá-la. — Não... — Afasto-me sem brigar e sem ar. — Jamais acreditarei em suas palavras. E sabe todos os motivos. Nada me fará esquecer o passado. Me comprou, me usou, me feriu. Não me merece mais. Não sou aquela menina boba, que perdoava as suas mentiras quando se aproximava e me dava atenção. Você não sabe o que é amor — meu coração entristece. — Amor jamais será luxo, roupas caras, maquiagem da classe alta e status de riqueza. Amor não é visto, não é dito, nem é um objeto comprável. Amor é um sentimento sentido, é praticado, é compartilhado. E quando se tem amor, não se machuca os outros que te amam, não trai, não fingi, não mente. Amor é tranquilidade, não é só sofrimento. Minha visão embaça e inclino a cabeça, levantando-me para ir embora. — Me ensine! — Mas, repentino, Anton segura o meu braço, puxando-me desesperado, grudando a nossa testa e agarrando os meus cabelos com os seus dedos grossos. — Me ensine isso... me ajude, eu preciso de você! Eu arregalo as íris, tremendo em choque, sem ação. CAPÍTULO 15 — N-Não, eu não confio em você. E amor não se ensina, aprende-se — tento afastar-me, ainda em choque, só que ele continua a me segurar com força. — Largue-me, Anton, por favor. — Eu vou enlouquecer, Kiara. Eu preciso tirar isso do meu interior. E você é a única que pode. Por isso me tem em mãos! — Ele me larga, também pela dor no ombro. Eu me levanto do colchão, tremendo a cada segundo. Meu Deus, eu não posso acreditar. O que eu faço? O que eu faço?! — Então prove, mostre-me que diz a verdade uma vez na vida. Largue de ser esse... esse homem bruto, sem sentimentos, que age feroz e louco. — Eu sou assim! — Ele exclama, fitando-me agora bravo. — Eu me tornei tudo isso que disse e um miserável sem compaixão! É por isso que eu não faço a mínima ideia de como agir quando estou com você! É o que me resta, Kiara! E eu jamais irei te deixar ir embora! Eu abaixo a cabeça, controlando-me para não chorar e brigarmos. — É culpa, o que sente. Mas, isso não cura feridas. Fez muito mal para mim, sendo que eu só queria amor, ter um marido fiel, filhos e uma família feliz. Sabe disso e eu já estou cansada de repetir, Anton — o encaro. — E agora, só te perdoarei, só te tirarei da minha mãopara libertá-lo da consciência pesada, após tanto sofrimento, se demonstrar que merece a minha confiança, que só tem a mim de verdade. Caso contrário, sou eu quem almejo sair desta prisão ao seu lado. Qualquer lugar para te esquecer e criar o meu filho em paz. Anton fica quieto, nervoso, cansado ou sem mais o que dizer. Eu respiro fundo, recupero as forças e toco no assunto da viagem. — E é melhor não viajar. Você não está bem, os pontos se abriram. E eu também não quero ir. Tomara que ele desista. Não tenho nada para fazer lá na capital com aqueles metidos puxando meu saco e tratando-me como o centro das atenções por ser a esposa do milionário Dexter. — Eu verei o que faço — Anton se levanta com o peitoral nu, escondendo a cara de dor na sua máscara de homem sério. Parece que eu sinto a sua decepção por eu não ter lhe dado alguma resposta. Só que não é tão simples assim, é ele quem tem que demostrar algo primeiro, é ele quem tem que ser humilde e me provar as suas tais mudanças. O que sente é tudo culpa, é remorso, consciência pesada. O que busca é perdão, é como que se de um dia para o outro desejasse que eu o perdoasse e esquecesse as minhas dores num estalar dos dedos. E eu sei que ele sofre pelo pai, eu sei que suas palavras foram surpreendentes, que o Anton nunca, jamais foi de confessar o que sentia para mim e sobre mim. Por isso, talvez a antiga Kiara se rendesse, o beijasse e diria sim, que o amava e que "ensinaria" o amor que o próprio mastigou, pisou e jogou fora. Não, não vou sofrer novamente! Para a nova Kiara o Dexter continua sendo um homem sem amor, bruto e tão orgulhoso, teimoso, bárbaro, que é por isso que eu não acredito, duvido e preciso de provas. Meu coração não é mais um brinquedo. O que resta dele é parte do meu filho. E é por ele que eu lutarei. Seja na miséria que for, seja onde for, com quem for, eu troco o amor pela paz, o luxo pela felicidade e a vida por ele. Retiro-me do quarto do Anton e mais tarde, ao anoitecer, ele não desce para dar a sua decisão relacionada a viagem e nem para o jantar. A bruxa da Lorenza até me questionou na mesa o porquê de não termos ido para a capital, sendo que já estávamos prontos. E eu só respondi que ela deveria perguntar isso para o seu filho. A megera retribuiu a minha grosseria com a sua classe de cobra e levantou-se para ir atrás dele. Dei foi é de ombros. Restaram só eu e a Lívia. — Maria contou que o Sr. Dexter se machucou e estava sangrando. Verdade, Kiara? — Ela, de repente, pergunta, olhando-me curiosa, e eu arregalo os olhos, sem crer no que me questionou. — Não se preocupe, eu não disse nada disso para a Lorenza. Eu fiquei surpresa foi pela Maria ter dado essa informação a ela. Pois, as poucas horas na cozinha, eu expliquei a Felícia e a Maria o que de fato havia acontecido com o Anton e que não era para as duas contarem para ninguém. — Foi só um incidente de trabalho. — Nossa, sério? Foi onde? É grave? Ele se machucou muito? Meu olhar a analisa, estranhando tanto interesse e perguntas sobre o meu ma... No... no Anton. — Não se preocupe. Eu já o ajudei com o ferimento, ele passa bem — sorrio fraco, contorcendo-me por ter mudado o semblante e ficado incomodada. — É melhor eu subir, tomar um banho e tirar felícia do trabalho de babá. Com licença, Lívia. — É claro. E boa noite, Srta. Dexter. Espero melhoras para o seu marido. Agradeço entre dentes e saio desconfortável da sala de jantar. Anton Dexter Ligo para o meu advogado da capital e peço que ele me mande os documentos do contrato com os arrendatários para eu assinar em casa. Ele promete que tentará com o cartório. E eu respondo que não quero que ele tente nada. E sim que preciso e espero esses papéis até amanhã à tarde no meu escritório para acabar com a tamanha enrolação da minha parte. Após a ligação e após ter expulsado a minha mãe que chegou questionando se eu ia para a cidade ou não, eu vou até as bebidas do quarto e escolho uma cachaça forte, com a intenção de esquecer essa merda de dor no ombro e os pensamentos infernais que me deixam furiosos. E cada pensamento tendo Kiara nele! Juro que se eu estivesse com toda a saúde do meu braço, eu teria ido atrás daquele traidor filho da puta do Gael e socado a sua cara! Eu teria sido capaz de uma besteira com a arma! Kiara é minha e é só isso que todo o meu corpo, consciência diz. Eu necessito dela, ela é o que me resta e eu jamais deixarei que ela se vá nem que outro a me tire! — Bom dia, Sr. Dexter — de manhã, eu encontro a Felícia e uma empregada arrumando a mesa do café. — Bom dia, Felícia. Sabe se a Kiara já acordou? Preciso falar com ela. — Sim, ela está no quarto banhando o bebê. Acabei de levá-la um chá. Disse-me que não conseguiu dormir direito porque estava sentindo muita dor de cabeça. — Eu vou vê-la. Felícia sorri, recompondo-se. — Tá bom, Sr. Dexter, com licença, não vou atrapalhá-lo mais. Ela volta aos seus afazeres e eu retorno para a sala, subo os degraus e vou até o corredor da Kia. Porém, quando eu paro na porta dela, ouço uma voz feminina atrás de mim. Viro a cabeça e percebo ser a Lívia. Ela vem caminhando do hall na minha direção. — Bom dia, sr. Dexter. O senhor está melhor? Franzo a sobrancelha, estranhando o seu questionamento. — Desculpa — ela para sem jeito. — É que a Srta. Kiara disse ontem no jantar que havia se machucado feio. — Ela disse? — Fico sério. — Sim, mas também disse que o senhor estava bem. — Eu estou. Agradeço a sua pergunta. — Por nada, fiquei preocupada... A porta da Kiara se abre e ela aparece arrumada, com o menino no colo e para súbita, arregalando um pouco dos olhos ao nos ver. — Oi... bom dia, Srta. Dexter. Kia me fita demorada, em seguida, a Lívia. — B-Bom dia. — Não vou mais importuná-los, com licença, vou descer para aproveitar do sol e da piscina. Ela vira o corpo dentro de roupas menos indecentes do que a da Kiara neste momento e eu permaneço parado, impaciente. — Que cena foi essa? — Entra no quarto, Kiara. Eu preciso conversar com você. — Se for sobre a viagem, fala de uma vez. Tenho que... — Entra no quarto, Kiara! Ela fecha o semblante, após a minha ordem rude que eu me arrependi instantâneo de ter esbravejado. Ela se afasta brava com a criança, virando as costas e entrando. Eu a sigo, tentando não focar na droga das suas curvas traseiras exprimidas no vestido justo. — Fala o que você quer? — Se você não der um jeito de parar de andar com essas roupas indecentes, eu mesmo as jogarei fora! — Você não é capaz! — Ela brada, coloca o menino no berço e vem furiosa até mim, me enfrentar. — Mudou de um dia para o outro? Ontem não era esse... — Eu, no momento, estou falando da sua indecência, não do meu jeito ontem! — Eu não estou indecente! E por que também não diz isso para a sua amiguinha Lívia e me deixa em paz?! — Porque ela não é a minha mulher! — Respondo com a veia do meu pescoço, pulsando sem paciência. Minha vontade era de arrancar esses panos com os dedos sem a menor cortesia! — Não sou! Seu... seu arrogante, tire isso da sua mente! Você me perdeu! Não me merece! E quer saber, eu estava pensando esta madrugada, existe outros homens no mundo! Aperto os olhos e quando eu vejo, puxo rápido a Kiara pela cintura, pressionando-a bruto no meu corpo. Ela fica sem ação, assustada. Ela olha para o meu ombro inchado, em seguida, fita-me em choque, arquejante, com as mãos contra o meu peitoral. — Você está impossível, eu nunca vou conseguir me controlar com você me desafiando! Eu não suporto isso! Vou enlouquecer! — Aproximo o rosto do dela e sinto o seu aroma de flores. Até esqueci o que ia bramar com essa menina. — E eu não quero ser assim... Kia se acalma, toca na minha barba, sem o olhar de medo ou a falta de confiança daquela adolescente de dezessete anos. — Eu não te compreendo... — sussurra doce. — Sobre as minhas roupas, há três anos me queria parecendo uma "mulher qualquer" indo ao seu lado nos eventos. Qual o problema hoje? Eu fico sem resposta, pois não posso dizer a verdade, além de ter mudado fisicamente.E ela toca no meu pescoço... descendo para o meu peitoral. Seu toque feminino faz meus músculos enrijecerem. — O que sente, Anton? Mostre-me algo, prove que realmente só tem a mim. Você só mostra ser um carrasco bárbaro, sem sentimentos. Age assim, me puxando bruto e cheio de ordens. Olhos os seios do seu decote, adiante as suas íris cor azul, seus lábios delicados e chego perto do seu ouvido. — Jamais me senti tão atraído pelo que é meu e não posso tocar. Não me faça essas perguntas, eu não sei respondê-las. Ao me afastar, aperto seus quadris e passo pela sua boca, desejando- a. Ela não se desvia e isso me faz no mesmo instante tomá-la feroz. Penetrando-a língua. Meu sangue esquenta, meu corpo contrai. E estranho sua correspondência também desejosa a mim. — Agora você me deseja como mulher? — Ela questiona sem ar. — Como as suas amantes? Engulo em seco, inquieto e nervoso. — Nunca tive amantes — então, a respondo olho a olho. — Está ment... — Eram prostitutas de bordel. Kia imediatamente fecha a boca. Eu respiro fundo, acariciando os seus lábios inchados. Ela, então, se distancia, empurrando-me. Eu a solto sem insistir na vontade contrária. — De qualquer jeito, era traição. Você não tem a minha confiança, além de não ser só essa as suas maldades — ela limpa o batom do rosto, mudando de assunto e voltando ao berço. — Era só isso que você queria? Discutir sobre as minhas roupas? — Não brinque comigo, eu não te quero tão indecente assim. E vim falar da viagem. Como desejava, não iremos mais para a capital. Tentarei resolver tudo dentro da fazenda. — Hum... que bom. Kia pega o menino e vira-se. Eu, instantâneo, observo a criança contra a luz do sol da janela, notando a cor dos seus pequenos olhos serem como os meus. Ele me olha com a mão na boca e eu abaixo a cabeça, erguendo-me e desviando para ela. — E-Eu vou descer, chamei uma loja de coisas de criança e estão para chegar. Com licença. Consinto calado e ela, de mal jeito, passa por mim, caminhando até a porta. Eu permaneço alguns segundos olhando o berço. Aperto o chapéu e, em seguida, retiro-me. CAPÍTULO 16 Kiara Dexter Após o almoço, a loja de artigos para bebê chega para me mostrar os enxovais trazidos da capital. E não nego que fiquei tão animada, tão encantada que comprei quase tudo que a vendedora me mostrava e explicava. Ela e as suas duas funcionárias saíram daqui com as mãos vazias. — Nossa, Kiara, isso não vai caber nos armários — Felícia sorri balançando a cabeça e olhando a imensa pilha em cima da cama, onde o Gieber se diverte com as suas compras. — Precisamos chamar as empregadas para ajudar. — Eu também vou ajudar, chama só a Sônia. Quando a Sônia chega, fica mais rápido para organizarmos e terminamos em tempo recorde. — Oi, srta. Kiara, com licença — Lívia entra no meu quarto, batendo na porta já aberta. — Desculpe-me incomodá-la. Eu só gostaria de te chamar para andar a cavalo comigo. Felícia me olha sem dizer nada. Eu desvio educada para a Lívia, não querendo sair para passear com ela. — Oi, eu não vou poder, estou um pouco ocupada. — Ah, sério? É sábado, achei que poderíamos fazer algo divertido juntas. — Se quiser ir, eu fico com o Gieber, será o maior prazer. — Não sei, Felícia... eu já estou te explorando demais. Ser babá não é o seu trabalho. — Meu trabalho é estar com você, sempre te ajudando no que precisar. Não se preocupe, eu amo ficar com o pequeno Dexter. Ele é quietinho e uma fofura. — Ouviu, Kiara. Vamos? Respiro fundo e convenço a mim mesma que não existe mais desculpas. Por isso, peço a ela para aguardar e vou até o closet vestir uma blusa, uma calça e uma bota de couro. — Obrigada, Felícia. Volto logo. — Se divirta, doce menina. Pronta, caminho até a Lívia e descemos andando até os estábulos. Ela demonstra estar bem animada. — Nossa, desde que meus pais venderam a fazenda da família que eu não sei o que é cavalgar. Sorrio de lábios fechados, tentando igualmente me animar na companhia dela. — Olá, srta. Dexter. Ao chegarmos e após escolhermos os cavalos que o capataz nos montou, um outro capataz se aproxima sério – é o Jesuíta, homem de confiança do Anton. — Oi? — Perdão, madame, mas o patrão deixou ordens severas para não permitir que andasse a cavalo, nem saísse das extremidades da mansão. Eu fito os olhos dele, recordando-me imediatamente do que aconteceu com o Anton e do seu relato de que existia pessoas tentando matá- lo. E que eu também corria algum perigo. — Não se preocupe, Jesuíta, eu acompanho as senhoras. Surpresos por ouvirmos uma voz grave, viramos a cabeça para o lado e Gael surge com o seu porte forte, moreno e trajando a sua enorme fivela na calça azul. Ele para na lateral do capataz. — Pode se retirar. — Sinto muito, Gael, nada sobrepõe a ordem deixada pelo nosso patrão Dexter. E ainda ordens vindas diretas e que custam o meu serviço. — Não há o que se preocupar, eu já disse. Jesuíta me fita nervoso. — Srta. Dexter, espero que compreenda a ordem deixada pelo patrão. Não posso permiti-la de... — Tudo bem, o compreendo. Não irei pôr o seu pescoço em risco, sei que o Anton não é um dos melhores chefes para ter as suas ordens desobedecidas. Gael abre a boca, fechando o semblante para mim. Eu não dou atenção para ele e nem para o seu mal disfarce de desagrado. E me volto a Lívia. — Lívia, ficaria à vontade em fazer o passeio apenas com o Gael? Como ouviu, eu não posso. E não se preocupe, ele é o melhor amigo do Anton (ou infelizmente era). Você estará em ótimos cuidados, eu garanto. Lívia olha para o Gael, demorando no seu olhar castanho. Então, gaga, ela me responde fora da sua habitual confiança nas palavras. — É-É claro, sem problemas. — Ótimo! — Kiara, temos que conver... — Não temos o que conversar — o corto, realmente sem querer mais me aproximar dele e magoá-lo com os meus inúmeros não, sobre corresponder aos seus sentimentos. Não posso permitir outro beijo roubado, não posso alimentar os seus anseios. — Por favor, acompanhe a Lívia em segurança. Ela quer muito realizar esse passeio. Com licença — triste, digo a ele e retiro-me com o Jesuíta. Quando eu chego em casa, troco novamente a roupa por outra mais velha e vou para a cozinha ficar com a Felícia, o meu filho e a Maria. Passo o restante da tarde com elas, fazendo pães doces e um bolo de milho, que, aqui entre nós, é a minha maior especialidade. Entretida com os nossos assuntos diversos, antes do anoitecer, Gael retorna sozinho e concluo que o passeio dele e da Lívia já tinha acabado. Sua mãe oferece uns pedaços das nossas receitas prontas, só que ele nega, não tirando os olhos de mim. — Eu queria falar com você, Kia. Por favor. Prometo que serei rápido. Desejando é não conversar, eu mesmo assim resolvo ser respeitosa com ele e aceitar o que tem a dizer. — O que foi, Gael? — Eu o questiono ao pararmos no corredor que liga a cozinha a sala de jantar. — Eu precisava te pedir desculpas por aquele beijo de ontem. Eu não tinha o direito de roubá-lo, no entanto, não me arrependo. Eu respiro fundo, colocando a mão na cintura. — Tem que entender que somos só amigos. Pare com isso, pelo amor de Deus, está se afastando do Anton por minha causa. Vocês nunca foram assim, sempre estiveram juntos, resolvendo as coisas da fazenda de cabeça fria e até rindo brincalhões. — Eu não me afastei, foi ele quem me trocou pelos seus irmãos drogados e se enfiou num poço escuro de solidão. Eu não vou mentir que o Anton é como um irmão. Porém, existe você e eu não vou abrir mão de te conquistar, Kiara. Deixe-me te fazer feliz, ser o homem que você espera? — Uau, ser o homem que você espera? — Eu arregalo os olhos para a voz que surge meio longe de nós. — Meu querido Dexter vai amar saber disso. — Eu viro apavorada para a Lorenza, que vem andando na nossa direção. — Quer dizer que a selvagem e o pé rapado são amantes? — Cala a boca, sua megera! — Confesso que os dois formam um casalzinho perfeito — ela sorri de orelha a orelha. — Que alegria, não imaginam como estão me fazendo feliz neste exatomomento. Acho que é uma ótima ocasião para abrir um champanhe. — Gael é o meu amigo! Fecha essa boca nojenta! — Amigos, é? O que eu ouvi agora pouco parecia uma declaração de um belo bobo apaixonado. E que coisa feia, Gael, meu falecido marido te pagou um estudo tão caro para se formar na mesma profissão que o Anton. E agora, além de viver aos pés do meu filho que igualmente te deu uma casa nas nossas terras poderosas, e um salário gordo, ainda deseja a sua pobre selvagem do mato? Quanta inveja. Bem que eu avisava a ele. E olha, não estou indo contra vocês, que isso, eu sou super de acordo com os pombinhos. Estão decepando o meu problema com uma cajadada só — ela volta a me olhar e a gargalhar. — É uma maluca, Lorenza. Deveria procurar é uma clínica para loucos e se internar! — Gael, não me desrespeite, pobrezinho. Mas estou tão feliz, que deixarei passar batido essa. Com licença, aproveitem da mansão enquanto podem! — Ela vira as costas, rebolando a sua classe de megera, e eu, por meros segundos, não corro atrás dos seus cabelos, jogo-a no chão e estapeio a sua cara. — Kia, calma — Gael me segura. E eu fico furiosa! — Olha o problema que está causando a si mesmo? Chega disso, tente me esquecer e seguir a sua vida, Gael! — Eu não posso, eu te amo. Fuja comigo? Que se dane tudo e todos. Não aceito te deixar sofrendo com o An... — E se eu te trocar por ele sofrerei mais ainda! Por favor, se não for para ser o meu amigo, deixe-me em paz! Eu já estou cansada! Desesperada, eu o abandono sozinho e quase corro. Passo pela sala, subo os degraus e no meu quarto, entro batendo a porta, sem saber o que fazer. Quando eu cheguei aqui, tudo o que eu mais almejava era ir embora, não suportava olhar o Dexter e lembrar do que havia me feito sem um pingo de amor. Mas... mas eu não sei o que quero. Eu não sei o que fazer mais. Minha vida parece não ter rumo indo embora e nem ficando! Eu o amo, eu o amo e é uma tortura ainda amá-lo! Eu só queria que ele provasse, que sentisse o mesmo que eu! Que ele sofresse o meu amor! E saber que sofre só de culpa, é tão pouco! É nada do que eu passei todos esses anos! Eu me jogo no tapete do chão, ao lado da cama, chorando de aflição, ansiedade, desespero, eu busco alívio para a minha alma. Sem demora, ouço o som da porta se abrindo e coloco a cabeça mais colada aos joelhos, não querendo ver ninguém e nem que ninguém me veja sofrendo. Permaneço quieta, gemendo e sinto uma sombra aproximar-se, sentar-se devagar no colchão, ao meu lado, com os seus pés pesados. Chorosa, eu levanto o rosto e chocada, vejo ser o Anton, a pessoa que eu menos desejava ver e que me visse derrotada. Volto rápida a minha posição abraçada aos joelhos, virando o rosto para a mesa de canto. — Kia... — Sai daqui. — Não quero discutir. — Mentira, e-eu sei que a sua "querida" mãe foi cuspir venenos para você sobre mim e o Gael. Mas é mentira, você sabe que não tenho esse caráter. — É por isso que está chorando? — Quer saber, não, Anton! — Eu me levanto bruta e farta, encaro-o valente. — Eu estou cansada de sofrer! E cada sofrimento meu, tem você nele! E chorar me alivia de não fazer uma loucura neste inferno de casa! Não tem ideia da raiva, do ódio, da revolta que eu estou sentindo e poderia descontar em você, seu desgraçado! Infeliz sem compaixão! Eu quero te odiar! Te detestar! Ter todos os piores sentimentos desse mundo! Anton continua com os seus olhos autoritários sobre mim, por mais que surpresos, ele não demonstra estar afetado. Enlouquecida, eu passo a mão no rosto, subindo para o cabelo e aproximo-me dele, parando na sua frente. — É um monstro! — Eu brado. Ele só me observa. — Reaja, seu cafajeste, seja o desgraçado, o monstro que você é! Não era esse momento que me agarraria, me jogaria na cama e entraria em mim, como gostava de provar a sua brutalidade?! Ele ergue o pescoço, ainda apenas me olhando. Eu aperto os punhos e explodindo de tanta, tanta raiva, tanto ódio, eu ergo a mão e por pouco, por muito pouco não o estapeio com toda a força e o desejo do meu braço! No entanto, ele me segura na cintura e agarra-me ávido, jogando-me na cama e subindo sobre o meu corpo. Eu paraliso, tremendo e chorando de pavor, medo por ele ser capaz de tudo o que eu disse. — O que eu te tornei, Kiara? — Ele, então, sussurra surpreendentemente controlado, fitando-me intenso, olho a olho. — E o que nos tornamos? Eu durmo pensando no que te fiz, acordo pensando que eu não te mereço e que deveria te deixar ir. Só que aí eu te vejo na manhã seguinte e o orgulho, o egoísmo, a dor me impede. Eu vejo aquele menino e isso só me deixa mais culpado e sem saber como agir. Estou atado. Eu fico louco te olhando nos olhos, fico louco quando te puxo e sinto o seu cheiro doce de flores, e louco, puto de raiva por querer desta vez te dar amor e provar que eu não sou esse monstro. Eu preciso de você e estou assumindo todos os meus atos para recomeçar... CAPÍTULO 16. PARTE II Eu não suporto e choro com as suas palavras. Anton se inclina, tocando na minha bochecha com o dedo indicador. — É tudo o que eu mais quero, Kia.... — Ele sussurra com os lábios próximos dos meus. — Eu preciso te provar isso... Eu sinto a sua respiração, o seu hálito quente, o seu nariz no meu rosto. Fecho os olhos e sem pressa, recebo o seu beijo doce, calmo, moderado..., porém, ao mesmo tempo, faminto, lascivo, que me faz perder as forças e a capacidade de pensar. O meu coração dispara, os batimentos falam alto. Então não resisto, abraço os cabelos da sua cabeça e mergulho desesperada, indo profundo nos estímulos que me tomam até perder o fôlego. Anton percorre a mão no meu pescoço, fazendo-me arquejar pelos beijos que o acompanham. — Anton... — viro o semblante anelo e ele continua descendo, provocando-me mais arrepios. — Anton... — o chamo pela segunda vez, tremendo, sem saber o que fazer com essas sensações. Ele se ergue devagar, encarando-me obscuro e colando a nossa testa. Minha vista se embaraça em lágrimas. — E-Eu tenho medo de você... — confesso tão baixo que nem eu mesma ouço a minha própria voz embargada. — Não diga isso, Kia. Confia em mim, nem que seja pela última vez. Eu não sou um monstro, eu não sou só um bruto... eu não sou... — Ele beija o meu rosto e noto os seus batimentos acelerados, ansiosos. — Eu não sei o que sinto, eu só sei que não posso te deixar jamais ir. Eu não vou te deixar ir. Meu Deus, o que eu faço? Eu amo tanto esse homem que chega a doer... Eu me deito para trás, seguindo com dor os instintos do meu coração, e não digo nada, simplesmente puxo-o para beijá-lo. Anton, surpreso, pressiona a minha cintura e, também sem dizer mais nada, ele me penetra a língua, erguendo com os seus dedos robustos a minha perna na altura do seu quadril. Eu fecho os olhos, agarro-me na sua camisa, sem chegar perto do seu ombro machucado. Ele me aperta, descendo de novo os lábios e os dentes no meu pescoço. Noto-o chegar na alça do pequeno vestido florido, onde morde o tecido, acariciando lentamente a minha coxa exposta. Abro as íris em hesito e rápido, instantâneo, ele retorna a minha boca, arregaçando de uma vez só os botões da sua camisa. Ele grunhi de dor ao forçar os braços para tirá-la. Mas tira, afasta-se e volta, dando-me a visão do seu abdômen forte. Eu o fito, toco os pelos do seu peito indo até a sua barba com a minha pequena mão. Anton suspira nervoso. Anton Dexter Meu sangue esquenta, seu toque é delicado, me faz desejá-la mais e mais. Seu aroma não tem comparação a nenhuma outra. Está me enlouquecendo. Quero chupá-la feroz, quero sugá-la cada centímetro de pele. Quero esta noite pensar só nela, dar tudo a ela. O pôr do sol transpassa os montes que cruzam a fazenda, escurecendo o quarto. E inseguro de nunca mais ter outra oportunidade de estar aqui, provando que eu não sou um monstro, que eu estou arrependido dos meus atos e que eu preciso dessa menina, decido que daqui em diante não pararei por nada. Seguro com calma a sua cabeça, arqueio o corpo e beijo os seus seios endurecidospor cima do vestido. Kia comprimi as pernas no meu quadril, mas eu não retorno para conferir a sua feição, se está assustada. No entanto, seus mamilos eriçados demonstram que a excito. Eu quero tocá-la, quero sentir o quanto está molhada, só que a razão é mais forte do que o tesão e eu não terminei de me dedicar o suficiente para isso. Abaixo ligeiro as alças da sua roupa, não dando tempo de ela pensar em desistir de mim, pois eu deixo seu colo nu, devorando em seguida cada mamilo com extremo desejo, usando a outra mão para massageá-la. Ela se curva de satisfação, correspondendo ao abrir os beiços e gemer. Minha calça me sufoca, mas que se dane, não pararei de sugá-la enquanto não estiver pronta. Não estou me dedicando a perdê-la. — A-Anton... — Kiara me chama e eu a analiso com a boca firme nos seus seios, lambendo-a, sugando-a, mordendo-a. Então, ela puxa os meus cabelos, joga a cabeça para trás, grita e eu tenho a absoluta certeza de estar tendo um orgasmo. Eu me afasto com os músculos rígidos, tiro os sapatos, a calça, ligo o abajur e volto assim que ela também retorna os sentidos. Os seus olhos estão vermelhos e vê-la chorando me enfraquece. Sinto-me mais desgraçado, não ao contrário. — Anton... — Desta vez, quando me chama, eu me aproximo da sua testa, nervoso... porra, confesso, com medo. Encaro-a respirando irregular. Ela chora mais. — O que vai ser de amanhã? O-O que vai ser de mim depois? Surpreso, eu perco a voz. — O que vai ser? — Eu não sei... eu preciso que confie no agora. Feche os olhos e me permita mudar as coisas. — Tudo me faz pensar naquela noite... — sussurra cansada, virando o rosto ao deitar-se, sem me olhar. — Esse homem não é você. Eu engulo em seco, pego na sua mão, beijo-a e coloco sobre o meu lado esquerdo do tórax. — A partir de hoje, eu serei cada vez mais um homem novo! Nem que isso custe a minha própria vida, eu te prometo! Ela me olha chorosa e a pouca luz amarela do abajur, realça os seus cachos loiros repousados no colchão, em contraste com os seus seios rosados, as sardinhas e a pele bronzeada, deixando-me sem palavras. Kia é a mulher mais doce que eu já conheci nesta vida e estou assumindo isso desde o dia em que ela foi embora. Abaixo-me. — Feche os olhos... — a beijo, descendo os dedos nas alças. Ela fecha e passo seu vestido por baixo de mim, até as pernas, onde tiro com os pés, quando regresso deslizando pelas suas coxas quentes, aveludadas e paro no cós da calcinha, Kia pressiona o meu braço, quase fincando as unhas. — Não faça, não abra... por favor — tremendo as pálpebras, ela não abre e eu deslizo para o seu interior, louco ao sentir os seus poucos pelos claros e as suas entranhas meladas. Kiara grunhi, contorcendo-se, introduzo-a dois dedos, movendo em sentido vai e vem, lento, prazeroso. Ela segura os lençóis, perdendo o ar. Eu não paro de analisar cada mínimo detalhe enquanto a estímulo e sei que preciso preenchê-la, a sua lubrificação escorre, suas paredes interiores pulsam, contraindo latejantes. Eu posso sentir tudo isso dentro dela. Eu mastigo a tamanha vontade, tomo a sua mão na minha e ela me sente tirar o meu membro enrijecido, pois seus olhos inchados se abrem aflitos e seus pequenos dedos apertam os meus com força. Continuo a encará-la nas íris. Uma lágrima a escorre. Coloco o preservativo, afasto sua roupa íntima, e então recebo uma última olhada antes de Kia comprimir o pescoço contra a cama e rasgar ardido as minhas costas. Eu a penetro, indo lento e torturante, mexendo-me de começo vagaroso, para fazê-la gemer e reagir com tesão na medida em que invisto nos satisfazendo. Seus seios roçam no meu peitoral, a nossa pele gruda devido ao atrito e tudo o que eu tenho para poder assisti-la neste exato momento é só a luz do abajur. Eu não consigo parar de acariciar, tocar cada canto seu, de grunhir com o seu prazer. Kiara me beija, puxa os meus fios, arqueia a coluna, achata as coxas e eu tento me controlar ao máximo para não ser um filho da puta feroz, pois ela está me asfixiado com o clitóris. E eu estou fascinado, maluco por estar sentindo-a assim. Ofegantes, ao alcançarmos o limite do ápice juntos, eu permaneço sobre ela, não querendo assumir a minha dor no ombro. E admiro a sua feição exausta. Kiara até me fita, só que o cansaço a toma e ela se deita. Eu também me deito ao seu lado, não evitando puxá-la para sentir o calor da sua pele quente, o aroma dos seus fios emaranhados sobre o meu peito. Eu preciso dela, eu preciso aprender a mudar, eu só não sei como fazer isso ainda. Ela aceita calada ficar sobre mim, tocando no meu abdômen, enquanto eu fico cheirando os seus cabelos macios. — Anton... — Kia me chama alguns minutos depois. — P-Por favor... vai embora — sussurra. — Eu quero ficar sozinha. — Eu não quero te deixar sozinha. — Por favor... só me deixa... Sem saber como contestá-la mais, mesmo querendo é continuar junto do seu calor, meus atos tatuados no meu subconsciente me impedem, eu não posso. Sei que o que menos devo fazer é permanecer aqui. Por isso, eu me convenço a me levantar, vestir a roupa, colocar o chapéu e antes de sair... a examino enrolada nos lençóis. — Eu não esqueço as minhas promessas, Kiara. Eu espero que acredite em mim. — Não sei como vai fazer o que prometeu, como será esse homem que merece a minha confiança e a minha dedicação de novo, pois aquela Kiara adolescente, que comprou como um objeto, não existe mais. Agora ela tem um filho e é por ele que sua vida continua de pé. E você, não o esqueça se estiver realmente se transformando. Por favor, sai, Dexter... Suas palavras diretas me deixam sem armadura e eu me retiro do seu quarto para passar o restante da noite em claro no meu escritório, pensando nela, no nosso momento e no sentimento de culpa que continua aqui, dentro de mim. Porra, eu realmente estou em suas mãos e ainda mais sem saber o que fazer com aquele menino... o meu filho. CAPÍTULO 17 Kiara Dexter Eu me levanto tentando não pensar no Anton e no que aconteceu. Eu ainda não consigo assumir a mim mesma que fizemos amor, que ele esteve ontem em cada pedaço do meu corpo e eu... eu senti prazer, delírios, desejos. Nem na minha primeira vez foi tão carinho e atencioso. Eu quero chorar, sinto-me enlouquecida com essas sensações. É como se eu tivesse perdoado aquela noite em que foi um monstro bárbaro. Só que não o perdoei, na verdade, eu nem sei o que mudou entre a gente. — Desculpa por ter pego o Gieber tão tarde... — digo a Felícia por ela ontem ter ficado com ele até as 22h00. — Tudo bem, Kia, é sempre um prazer cuidar dele. Eu sorrio, agradecida pelo seu carinho, e vou até a cama provar da bandeja deliciosa de café que me trouxe. — Preciso voltar para o serviço de verificar os empregados. Tem uma menina que está me dando muita dor de cabeça. — Quem? — É aquela de cabelos curtos, a Milena. Ela entrou depois da Sônia e só sabe dar trabalho. Sr. Anton me disse esses dias que até pegou a menina escutando suas conversas atrás da porta. Além de ser muito desastrada, curiosa e cheia de perguntas que não a desrespeitam. E se essa semana ela não parar de quebrar os objetos caríssimos desta mansão, eu a mandarei embora. — Nossa, eu não sabia disso. Eu sempre a vejo por aí, mas é tão quietinha. — Ah, doce Kiara, é porque não deu trela para a menina abrir a boca. A proibi de limpar o seu quarto, o do patrão e o escritório. Não enquanto conseguir me passar alguma confiança. — Depois eu gostaria de conversar com ela, talvez isso a ajude. Eu estou tão deslocada, sinto-me distante da mansão. Parece que eu sou uma hóspede pronta para ir embora a qualquer momento. — Tudo aqui é seu. É a Srta. Dexter, é a patroa da mansão. E acho, Kia, que a Lorenza e a visita dela tem que compreender isso também. Elas estão achando que não existe uma superior acima das madames. Eu olho para a Felícia, surpresa pelo seu comentário em forma de desabafo, que realmente é a pura verdade. — Desculpe-me... — Ela, então, passa a mão na saia que vai até o joelho e olha-me envergonhada.— Acho que eu não tinha o... — Não, você tem completa razão. Eu, querendo ou não, sou a esposa do Dexter e ele me deu todo o poder de controlar a casa. E é isso que eu investirei daqui em diante, no meu papel acima daquela bruxa. Mais tarde, eu saio do quarto, passo pela sala e tenho a grande sorte de dar de cara com a megera, ou melhor, o diabo em vestes vermelhas, tomando chá com a Lívia. Elas, por incrível que pareça, ficam surpresas por não me verem jogada na rua. E, também, graças a Deus, por outra sorte, impedindo imediatamente a bruxa de abrir a boca e cuspir seu veneno contra mim, Anton aparece vindo da porta principal com o seu chapéu negro e o olhar penetrante. Ele me fita enquanto anda. E eu desvio, recordando-me da nossa noite. — Espero que já tenha arrumado a sua mala, selvagemzinha adúltera! — A megera não se intimida com ele e cospe o seu veneno. Eu a encaro, furiosa. — Para o seu maravilhoso desgosto, não! — Ouviu isso, An... — Não estou para discussões, Lorenza! — Sem encará-la, ele passa nervoso atrás de mim, indo em direção ao seu escritório. E para me fazer arregalar os olhos logo em seguida, Gael igualmente aparece. — Bom dia... — Ele adentra a sala, não olhando para ninguém e caminhando sério na mesma direção que o Anton. Eu fico assustada. O que o Gael faz aqui? O que o Dexter pretende com ele? — Bom... que boa notícia, parece que eu me enganei com o meu filho, ele já está dando providência na sua falta de vergonha — ela sorri e eu não a respondo, dando rápida de costas e indo até corredor do escritório. Eu me aproximo do hall em formato de abóbada, paro na porta e nervosa e tento ouvir algo. Mas não ouço nada. Meu Deus, o que eles estão conversando? Prevejo não ser coisa boa. Eu estou angustiada, aflita. Sinto medo do Anton e da sua autoridade superior de querer mandar o Gael embora da fazenda. Ele é um amigo, por mais que eu não corresponda aos seus sentimentos, eu o amo de outra forma, como uma pessoa que me consolou, me animou, me fez rir, conversar e esquecer do meu marido. Gael jamais foi de mal caráter, e ele não tem culpa do seu coração e da sua paixão — mesmo isso me entristecendo. Não demora e após alguns minutos, alguém abre abrupto a porta. E é Gael. Ele sai me olhando estranho. Parece bravo. — Gael, peço desculpas por on... — Não, não deve pedir nada. Com licença! — Ele vira e retira-se rude. Eu fico parada, plantada, sem entender a sua reação. E o pior, sentindo-me culpada. Eu, então, não perco tempo e entro no escritório do Anton. E meio desconfortável, eu o observo sentado na sua cadeira, com a mão na testa. Ele ergue a cabeça, quieto, encarando-me. — O que conversou com o Gael? O que fez, Anton? — Nada. — Vai mandá-lo embora? — Questiono insegura do seu jeito bruto. — É o seu amigo, vocês cresceram como irmãos. — Não, Kia. E quero que isso fique bem esclarecido para você. Gael é um ótimo profissional como gerente da fazenda e nada mais. O mercado de trabalho está aberto para ele. O contratariam num piscar dos olhos. Porém, se ele quiser ainda continuar exercendo a sua profissão aqui, ao meu lado, terá que ficar longe da minha esposa! — Foi isso que disse para ele? Anton se levanta com o seu porte muito alto, de estrutura forte, fazendo-me calar a boca ao se aproximar sério. — Sim. — Eu não queria que se desentendessem, e não queria me afastar dele, é um ami... — Não vai ficar perto dele, eu enlouqueceria contra os dois! Eu juro que faria uma besteira! — Anton esbraveja bravo, parando bem na minha frente. — Ainda mais perto de um homem vestida assim... — Ele me olha de baixo em cima, retornando enfurecido para os meus olhos. — Com essas roupas vulgares! Por que está andando quase nua? Pare de vestir isso. — Porque sim! Porque eu quero! — Enfrento-o, sabendo que o mesmo detesta. — E não estou nua, minhas roupas são da moda! E qual o motivo para implicar tanto com elas? Há três anos não queria me ver vulgar? — Eu nunca te quis vulgar, só elegante, além de antes não ter esse corpo de mulher que está na minha frente, me enfeitiçando por cada curva bonita. Surpresa, abro a boca, fechando-a para engolir a saliva e segurar as pernas moles. — E-Elas, eu... eu te provoco? Eu sou bonita? — Me enlouquece. E você é linda... — Ele chega perto de mim, roubando meu oxigênio e eu me afasto cada vez mais amolecida, até bater contra a beirada da mesa e parar com o coração acelerado. — Não sabia? — Eu estava insegura. V-Você nunca disse... e nunca me elogiava pelo corpo. Mas eu sabia que jamais seria o suficiente. Foi o que os seus irmãos te disseram uma vez lá na sala. Eu ouvi tudo escondido, até você concordando e rindo. Estava zombando de mim. — Anton abaixa as íris, retornando com a sua face recaída. — Foi ali que eu me dei conta de estar sendo traída, de ser feia, de ser insuficiente para o meu próprio esposo. — Quer saber, eu era um desgraçado, um filho da mãe. Eu... — Ele me puxa pela cintura, deixando-me tonta. — Eu sinto que eu era. Eu não sou mais assim. Eu quero te provar isso. Seu toque me remete a nossa noite, ao prazer que me deu, e perco o ar. — Eu expulsei meus irmãos, eu joguei aqueles merdas imprestáveis que estavam sendo sustentados nas minhas custas, na rua. Eu não sabia o que fazer mais, quebrei todo esse escritório, o nosso quarto, pensando onde estaria, o mal que corria sozinha com a sua ingenuidade, o seu jeito inocente de confiar em todo mundo. Eu fiquei maluco. Cai em si. Coloco a mão no peitoral largo dele, como sempre gosto de fazer, sentindo os seus batimentos ansiosos. E sem querer confessar a realidade, eu, lá no fundo, aceito que a sua maneira bruta, séria, feroz, é quem ele é. E que por trás disso, tem um homem que talvez esteja criando sentimentos... talvez esteja mudando? E eu quero aceitar, eu quero acreditar, contudo, a razão pede que ele demonstre que me ama, que demonstre que não me fará sofrer novamente. — E como eu posso acreditar em você? Crer que caiu em si? Ele se aproxima do meu pescoço, me causando tremores. — É aí que eu não sei, Kiara, eu juro que não sei. Eu preciso de você. Preciso que diga o que sentiu ontem à noite quando eu te toquei, quando eu estive fazendo amor. Eu preciso que diga. Arregalo os olhos. — N-Não! — Afasto o rosto, ruborizada, entretanto, ele volta grudando na minha testa e roubando-me um beijo sem aviso, que toma os meus lábios, desmoronando o chão e as paredes ao meu redor. Quando consigo afastá-lo sem fôlego, eu sinto desejo. — Não tem o direito, Anton. Sou eu quem devo questionar os seus atos... Por isso... — Meu coração se aperta e de tanto guardar esta pergunta, sou direta de uma vez. — Responda: por que detestava que eu lhe pedisse uma família? Por que não queria me dar um filho? Com medo de ser neste momento que ele surta, como antigamente, eu aguardo fraca das pernas, no entanto, sem afastar dos seus braços e sem desviar dos seus olhos. Anton mexe a goela e solta-me devagar. Ele olha para o lado da janela e retorna para mim com o semblante surpreendentemente rendido. — Não odeio crianças. E detestava que me pedisse um filho porque eu já tinha deixado claro centenas de vezes que eu não queria um. Que eu não estava pronto. — Eu só queria amar algo nosso... algo pequeno, que fosse meu e seu... — Minhas palavras em sussurro embargado o fazem perder a sua armadura. — Olha para mim, Kia, eu fui um descontrolado, um desgraçado com a minha própria esposa. Eu não podia te dar isso, pois me faria me sentir mais desgraçado — Anton não desvia o olhar vermelho. — Era o sonho do meu pai. Antes de morrer, a primeira coisa que ele queria era que eu encontrasse alguém que não fosse como a minha mãe, uma mulher interesseira, que vivesse por dinheiro. Ele me pediu deitado numa cama, agonizando e rindo, que eu fosse feliz ao lado de alguém humilde, que eu amasse, que ele fosse gostar e que eu pudesse lhe dar um neto vindo dela. E por mais que não fosse ver ele ou ela antes de morrer, que eu pelo menos na data do seu aniversário levasse a criança para deixar floresna sua lápide. E, droga, o que eu fiz Kiara? Sabe o que eu senti quando te comprei? Sabe como eu me senti quando começou a me pedir um filho? Que você não era a mulher que eu deveria estar casado, que eu não te amava. E que na verdade eu não sabia nem como era a porra desse amor. — Eu me afasto, quase chorando. — E quando eu te vi com aquele menino, foi ainda pior do que tudo. Eu não queria acreditar, eu não queria ter a certeza de que aquela noite eu pude abusar de você, te machucar só por ter me pedido um filho. Eu saí do quarto com os pensamentos em você ali, derramada naquela cama, chorando. Eu bebi para tentar esquecer, enquanto destruía a casa. E na manhã seguinte, eu voltei, mas você não estava naquela cama, tinha deixado a sua aliança na mesa e fugido sem nem sequer levar os chinelos. Mesmo assim, eu ainda não acreditava. Eu me torturava para não acreditar. Eu resolvi te procurar tendo a certeza de que era mentira. Você não merecia nada daquilo, era doce, uma menina curiosa e que eu gostava, me sentia seu responsável, você era a minha esposa. Foram dois anos te procurando. Então, no dia em que eu te achei, meu Deus, assim que eu te vi, eu precisava explicar alguma coisa. Só que explicar o quê com o meu modo bruto, rude, orgulhoso? E quando me deu aquelas condições de voltar? Eu aceitei tudo sem pensar duas vezes... exceto, até que não disse a última condição. E quando voltou, quando atravessou aquelas cortinas de pedras, eu tive a prova, a certeza dos meus atos ali, nos seus braços. Eu estava vendo a minha falta de caráter com você. Não havia, não há explicação, não há desculpas, não há o que omitir, esconder, mascarar. Eu fui um desgraçado e eu estou em suas mãos. É essa toda a verdade. É o que eu tenho para dizer e talvez eu não consiga repetir de novo. Eu encosto na mesa, sem suportar mais as lágrimas. Anton respira fundo, chega perto de mim e eu permito o seu toque no meu rosto. Ele beija a minha testa, acaricia o meu braço e inclina a minha cabeça no seu peito. Sua ação me deixa mais sensível e com o coração dolorido. — Eu honrarei a minha promessa. Eu farei isso por você e pelo filho que te dei. Só preciso que me permita poder fazer as coisas certo. Por mais que eu tenha esse jeito, esse gênero, que compreenda que eu não quero lhe assustar e nem lhe afastar. Eu quero tentar por nós, por você que merece os meus sentimentos como esposo e como o homem que lhe comprou ainda uma menina. E pelo meu pai. CAPÍTULO 18 Gael Abner Pela primeira vez, eu sou rude com a Kiara, viro as costas, querendo quebrar todas essas paredes no soco, por raiva, ódio pelo Anton. Eu a amo. Eu não posso desistir depois de ter chegado tão longe com os meus sentimentos. Merda, eu não posso! — Gael... oi... — Assim que eu saio na área dos fogões a lenha da fazenda, uma voz feminina me chama. E ainda nervoso, descontrolado, eu viro com o olhar fuzilante e vejo ser a Lívia. Ela molha os lábios e fita-me. — Desculpa... eu te vi saindo da mansão nervoso e vim... — Veio levar informações para a Lorenza? Eu sei qual é a sua, Lívia. A mim, você não engana! — Não. Eu não vim fazer isso... eu, na verdade... — ela, então ,balança a cabeça e ergue o pescoço, renascendo a sua pose de madame. — Eu nem sei o porquê de ter vindo atrás de um grosseiro como você. — Eu não sou grosseiro! Nem um boneco para manipular! Eu sei o que quer, por isso será tratada assim! — Humm. E o que eu quero? — Ela arqueia a sobrancelha, em seguida, olha-me de baixo em cima, analisando-me de forma lenta e obscena, adiante para com as suas íris no meu rosto. Eu, então, em surpresa, sem evitar, também admiro os seus seios, com os bicos duros que quase pulam do vestido extremamente apertado. Eu mudo o cenho para atônito e a descarada sorri, aproximando-se. — Até que enfim. Você é muito devagar. Meu Deus, será que todo caipira do mato só pensa em sentimentos? — Ela para e toca no meu peitoral, sem um pingo de vergonha, descendo os dedos até a fivela da calça. — Pelo menos os caipiras são bonitos, fortes e rústicos. Meu corpo ferve e eu seguro rápido a sua mão, apertando os seus dedos de unhas grandes e pintadas. — O que pretende, Lívia? — O que acha? O tradicional já ouviu falar em sexo? Não precisa de casamento para acontecer. É natural. — É uma deslavada! — Está enganado sobre mim — ela pega a outra mão e circula no meu pescoço. — Não estou conseguindo me controlar com você. O que tem, hein, Gael? Alguma coisa em você me atiçou, me deixou pegando fogo. E eu não consigo controlar mais. Os músculos do meu ombro se endurecem. Lívia ergue o outro braço e cola os seus seios no meu corpo. Eu não posso negar que ela é muito atraente aos olhos e bonita. Meu membro corresponde ao seu toque agradável nos meus cabelos e aperto o seu quadril, puxando-a para sentir o que provocou. Lívia abre a boca, sem acreditar. — Se você tivesse sido feroz assim com a Kiara, ela já estaria derretida nos seus braços — sussurra. — O quê? Ela sorri e eu quase a solto enfurecido. — Veja, o Sr. Dexter, é selvagem, bruto e todo oponente. E você, Gael? Não me diga que só sabe falar dos seus sentimentos com a Kiara e não age fisicamente. Tem que ser assim com ela — Lívia acaricia as minhas mãos na sua cintura. — Um selvagem, igual ao Dexter e igual eu te provoquei a me puxar. Bravo, quando eu estou prestes a empurrar essa mulher manipuladora, ela chega perto da minha boca, quase me beijando e eu desvio. — É esse os seus planos, Lívia? — Não sei do que está falando... — Ela beija a minha barba. — Só sei que os meus planos é tirar você da minha cabeça e das minhas luxúrias... se soubesse como estão as minhas noites... e agora... as minhas terminações apertadas... Kiara Dexter Eu me sento na cama, sem tirar a voz grossa e a rouquidão máscula do Anton, que permanece fixada no meu consciente. Tudo o que ele disse a poucas horas, eu ainda estou digerindo. E não posso mais me enganar, ele foi verdadeiro. É toda a verdade que o Dexter de seis anos atrás jamais me diria cara a cara por conta do orgulho e da sua solidão pelo luto do pai. Além de não me amar, nem de querer conversar sério comigo porque eu era uma menina boba. Só que eu mudei, aquela menina comprada para tratá-lo como o poderoso Sr. Dexter, não existe. Não confio no Anton. Ainda mais por saber que ele realmente não me amava. Tenho medo, traumas, pesadelos em me imaginar passando por aquilo tudo outra vez. De sofrer amando sozinha pelos cantos desta mansão. E hoje, se Anton estiver mesmo mudando, que ele demonstre em ações as suas mudanças. Por mais que seja por aquele jeito bruto e feroz dele, o compreenderei no possível. Caso contrário, não pensarei duas vezes em ir embora com o meu pequeno Gieber. — Não vai querer o café da manhã, Kiara? — Maria é quem me questiona assim que eu entro na cozinha para buscar um copo de suco de laranja. — Obrigada, Maria, eu já tomei. Só vim pegar um pouco do suco de laranja que sobrou. — Não precisava, minha querida. Pedisse para uma das empregadas. — Não, tudo bem, eu queria espairecer a mente. Vou voltar para o quarto. O Gieber está sozinho no berço. — Tá bom, qualquer coisa que precisar, é só pedir. Assinto e retiro-me, com a cabeça mergulhada em pensamentos relacionados ao Anton e a nossa noite. Ele não sai do meu cérebro. Nada sobre ele sai de mim. — Lívia! — Então, no momento em que eu estou passando na sala, encontro a Lívia também andando (ou melhor, quase correndo) para os degraus da escada. — O que aconteceu com você? — Observo-a surpresa. O vestido roxo dela está todo sujo de carvão e seus cabelos castanhos meios desgrenhados. Ela me encara desconcertada. — Não, não foi nada... eu só estava perto dos fogões, a lenha de tijolos... observando a vista lá da área e fui uma tremenda desastrada em encostar nas bocas deles e limpar em mim. — Meu Deus, tem que tomar cuidado. Ainda bem que não se machucou, caso estivesse quente. — Eu estou bem, mas é melhor eu tomar um banho e jogar esse vestido fora. Com licença, Kiara. — Toda...Ela se retira rápida e em seguida, eu a sigo nos degraus, indo para o meu quarto ficar com o meu filho e passo quase a tarde toda lendo um livro de romance que achei na pequena biblioteca da casa. Só desci para almoçar e agora pouco para jantar. E em nenhum desses momentos, eu vi o Anton. No dia seguinte, eu acordo com a Felícia dando atenção ao Gieber que está de pé no berço, mamando a sua mamadeira todo arteiro. Eu me espreguiço morta de cansaço e de dores pelo corpo. — Bom dia, Felícia. — Bom dia. Resolvi não te acordar para dar o mama do pequeno Dexter. Parecia cansada. E acredito que estava, pois não acordou nem com esse principezinho balbuciando alto. Eu realmente estava morta ontem. Eu sorrio agradecida. Felícia já é mais do que qualquer empregada da mansão, considero-a como uma mãe que cuida e preocupa-se comigo e agora com o meu filho. — Obrigada, Felícia. Você é um anjo. — Não a do quê, doce menina. E antes que eu me esqueça, a pouco minutos, o Sr. Dexter chegou dos cortes dos eucaliptos e perguntou onde você estava. — Ele perguntou? Por quê? — Abro bem os olhos, recordando da nossa conversa ontem. — Desculpa, ele não falou. Apenas me questionou e subiu para tomar um banho. Eu quem quis te contar isso... — Onde ele estava? — Sr. Dexter acordou bem cedo, antes do dia amanhecer para acompanhar os cortes que serão levados para as suas madeireiras. — Ah, sim. — E, Kia... eu tenho outra informação para te contar. E acho bom você já estar sentada e bem acordada, pois é coisa da Lorenza. Eu ouço "coisa da Lorenza" e imediatamente, sento-me direito na beirada da cama. — Não me diga, o que aquela bruxa fez? — Não é o que ela fez, é o que ela está prestes a fazer neste final de semana. — O que é? Ela chega a cerca de mim. — Lorenza está planejando uma festa para comemorar o seu aniversário de sessenta e dois anos. E será aqui na fazenda, lá no jardim perto dos chafarizes. A poucas horas, ela recebeu uns decoradores de festas lá da capital. E até o momento em que conversamos, não comunicou nada disso para o Sr. Dexter. Sem acreditar, eu me levanto chocada e brava. — Lorenza está louca! O Anton vai surtar quando souber disso! Ele sempre deixou claro que odiava e odeia, detesta qualquer evento de convidados realizado na fazenda. — Eu estou lhe contando porque pode dizer isso a ele. É seu marido. E, também, não serei santa, desculpe-me, mas é uma forma de cada vez mais convencermos o Sr. Anton de mandar a mãe para o seu apartamento na cidade. Lorenza é uma madame insuportável, vaidosa, metida, que não sabe tratar ninguém com humildade. Vive de nariz empinado e humilhando a todos nós. Quando eu olho para a Felícia, nem me dou conta de estar sorrindo feito uma criança que acaba de ganhar um pedaço de doce. Com toda a certeza, contarei ao Dexter. Quero aquela bruxa, megera, chata, velha insuportável bem longe de mim e do meu filho. Espero que o Anton faça algo bem severo contra ela. — Perdão pelo desabafo. — Não peça, é eu quem tenho que lhe agradecer. Pode levar o Gieber para comer algo? Vou tomar um banho e me arrumar para dar o quanto antes essa informação a ele. — Você vai? — É claro, Felícia. Te encontro daqui a pouco. Eu vou rápida para o banheiro, escovo os dentes, tomo um banho, saio, arrumo-me meio de qualquer jeito e vou descalço mesmo até o quarto do Anton, sem me importar com os meus 1,60 perto dos 1,90 de altura dele. — Anton... — Bato duas vezes na porta, chamando-o. Eu o ouço dizer um entre e meio ansiosa por ficar cara a cara com ele novamente, eu giro a maçaneta, entrando devagar. Ao vê-lo, desta vez, eu coro as bochechas. Ele está próximo da cama, só de calça, com o peitoral forte nu e a falta de curativo chamando atenção para os seus pontos no ombro esquerdo. Ele me olha e eu molho os lábios. — O seu ombro melhorou? — Quando eu me dou conta, já perguntei curiosa e corada, sem tirar os olhos do seu ferimento. — Não, mas estou cuidando para melhorar. — Acho que tem que parar de pôr algodão, para a ferida respirar e curar mais rápido. — Não daria certo, a camisa ficaria raspando por baixo — ele passa a mão nos cabelos úmidos após banho e vem até mim, com a sua altura duas vezes maior, pois eu estou sem os meus saltos. — O que quer, Kiara? — Anton para na minha frente, analisando o meu rosto e eu fico desconcertada pelo seu cheiro de colônia e a beleza máscula inegável dele, que sempre me fez, ou melhor, me fazia admirá-lo por ser meu marido. Agora eu sei a verdade de que ele nunca quis ser meu. Só que isso não me magoa tanto, não como antes. — Eu queria te falar uma coisa sobre a sua mãe. — O que foi? — Talvez ficará bravo... Ah, que ele fique e que, por favor, expulse aquela megera da mansão! CAPÍTULO 19 [...] — Ela está planejando uma festa neste final de semana. É para festejar o seu aniversário de sessenta e dois anos. E será aqui na fazenda. Anton fecha o semblante na hora, parece que o que eu disse foi um crime, o deixou sem crer. — Ela não faria isso sem me comunicar de jeito nenhum. — Eu também achei que não, no entanto, agora, vendo que não sabia, comprovei que sim — eu o observo meio sorrateira, mordendo a boca. — Você vai fazer o quê? Ele suspira nervoso, pensando. — Depois verei o que faço com a Lorenza. Mas ela que não pense em fazer as coisas sem me comunicar antes, caso ainda queira continuar na minha casa. — Você não vai mandá-la embora, Anton? Eu detesto a sua mãe, você deveria saber a tortura que é conviver com... com aquela bruxa! — Eu já lhe disse, Kiara, por mais que eu a quisesse morando na capital, ela é a minha mãe. Eu não posso expulsá-la assim da mansão. Ela viveu aqui com o meu pai durante trinta anos, continua tendo direitos. — Dá última vez, você mandou ela embora sem pensar nessas coisas. Eu não a suporto mais. Anton chega mais próximo de mim e eu fico ansiosa. — Não será por muito tempo. Lorenza não suporta viver na fazenda sem os seus luxos da cidade. Ela voltará para o seu apartamento em breve. — O-O que está fazendo? — Sussurro gaga, quando ele toca no meu braço e eu sinto arrepios impossíveis de se esconderem. Até me fez desviar de toda a nossa conversa importante. — Só estou tentando me controlar com você nesse vestido — Anton comenta e eu entendo chocada as suas intenções. Se fosse há dois anos, ele já teria me jogado naquela cama e feito de tudo para realizar os seus desejos, mas eu não sei se eu o atraia, ou se era apenas porque ele sentia vontade. — Diz isso agora... e não deveria nem dizer. Ele afasta a mão. — E o que eu deveria dizer? Se é a verdade? — Não diga. Ficar sozinha com você não é mais confortável — eu coro com o coração dolorido ao revelá-lo. Não sei se eu teria outra coragem de fazer amor, de confiar nele uma segunda vez. Por mais que antes de dormir e no banho, meu corpo de mulher e minhas vontades me dominam a suprir os anseios como o Anton ensinava. Só que eu não faço e nunca fiz sem ele. — E realmente não é... — Ele murmura estranho. Anton Dexter Kiara continua na minha frente dentro do seu vestido decotado e os pés descalços. Ela é tão pequena, tão menina e ao mesmo tempo, eu não sei, confesso que é uma mulher fascinante, de corpo e personalidade diferente. Ela mudou num estalar dos dedos. E estou me achando um imbecil por estar me comportando como um imbecil. Sinto que tudo o que eu faço a afasta e me toca essa culpa que parece uma tatuagem marcada. — Vou descer... — Me espere lá embaixo, quero te levar para ver uma coisa que chegou hoje. — Uma coisa? O que é? — Ela me indaga curiosa. — Verá. Já estou descendo. Kiara consente quieta e então, retira-se. Eu termino de colocar o curativo no ombro, visto uma camisa, o chapéu e também saio do quarto. — Anton, que atitude é essa? Por que a selvagem e aquele menino bastardo continuam ainda nesta casa? — Assim que a minha mãe me vê caminhando das escadas, ela vem até mim, questionar-me furiosa. — Acho ótimo que eu já tenha lhe encontrado. É eu quem quero questionar as suas atitudes — fuzilo-a sério, controlandoos nervos. — O que pensa que fará neste final de semana? Que história é essa de festa? — Não há história nenhuma. É só o meu aniversário que eu quero comemorar. Não posso? — Não, não vai! Eu não permiti e nem permitirei! Suas festas são eventos com milhares de pessoas para esnobar-se! Se quer comemorar algo, será apenas entre a nossa família e ponto final! — E que família? Eu e você? — Ela sorri passando a mão no meu braço. — Eu já ia te contar da festa hoje. Pretendo chamar apenas as minhas amigas e as suas famílias. Prometo que será menos de cem pessoas. — Não vai fazer! — Afasto a mão dela. — É o meu aniversário, Anton. Eu sou a sua mãe e não pode me negar isso num dia tão especial. Pelo menos pense, filho? Por favor? Considere? Ergo a cabeça e vejo a Kiara vindo da sala de estar com os seus cabelos meio amarrados num coque. — Diga que pensará? Eu respiro cansado e já farto de não ter paz. — Se for realmente menos de cem pessoas, tem a minha permissão — apenas digo isso e retiro-me até a Kia. — Vamos? — Paro na sua frente e ela olha para a Lorenza, em seguida, para mim, então consente e acompanha- me quieta. — Achei que você fosse fazer algo severo com a sua mãe... — Descendo as escadas da frente, ela comenta sem me olhar. — É o aniversário dela e infelizmente, permiti sobre condições. — Mas não era o que eu esperava... — Eu já lhe expliquei sobre a Lorenza — eu a seguro calmo nas costas, fitando a sua face feminina, de traços meigos. — E chega de falar sobre ela. Vem, eu quero te dar uma coisa. — Me dar uma coisa? — Ela me segue muito mais curiosa. — Você disse que ia só me mostrar algo, Anton. — Sim. — Então? — Então que eu vou te mostrar. Quando paramos no jardim de flores, ela continuou desconfiada e analisando-me com estranheza. — Cadê o que ia me mostrar? — Verá — eu digo e assobio alto, adiante aguardo, olhando-a com um ar surpreendente de serenidade. Até que, sem demora, finalmente o capataz aparece com o meu presente. — Acho que se você virar um pouco da cabeça agora, já encontrará. — É o... — Ela, então, inclina o corpo e perde de forma instantânea a voz, abrindo a boca em choque. — Meu Deus! O capataz traz até nós o cavalo árabe branco, de raça, que comprei assim que vi pela foto, sem analisar o preço duas vezes. Kia me encara chocada, sem entender, mas vejo que está paralisada e emocionada diante da beleza branca do animal, que brilha sem cerimonias com a ajuda da luz do sol. — Ele é seu, Kiara, é um puro-sangue-árabe — o capataz me entrega os arreios e antes de se retirar, eu o agradeço. Ela, ainda sem conseguir dizer uma palavra, apenas toca na costela do animal, acariciando-o a crina até a cabeça. — Ele é lindo. É o cavalo mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Por que está me dando? Sei que ele deve ter sido caro. Acho que o mais caro de todo os seus de raça. — Não pergunte, preços não me importam. É apaixonada por hipismo. E como eu estava negociando uns, decidi te dar o mais bonito que tivesse para ser chamado de seu. Ela, sem se segurar, sorri para mim cheia de felicidade, tocando cada vez mais nele. E desvia-se. — Meu Deus, como você é bonito, garanhão, parece de contos de fada. Eu já te amo... — Kia conversa com o cavalo, fazendo-me puxar um sorriso de lado por vê-la feliz e por eu, pelo menos, ter conseguido alegrar o seu rosto e não a entristecido como tantas vezes eu provoquei com o meu jeito bruto, desde que voltou para a mansão. — Quer dar uma volta? — Eu a questiono, também o acariciando. — Não... eu não estou vestida apropriada, Anton — ela alisa o seu vestido meio justo e eu a observo até os pés calçados de saltos, ruborizando as suas bochechas ao voltar lento pelas suas pernas e curvas bonitas. — Não me olhe assim... Sério, sem evitar o meu semblante que a intimida, eu desvio sem respondê-la, apoio-me na cela, coloco o pé no estribo e subo em cima do dorso do belo animal árabe. — Não se preocupe, eu te levo, caso aceite o convite — eu equilibro o cavalo a ficar parado para não empinar, em seguida, digo rouco a Kiara, estendo-a a mão: — Não... não mesmo... vamos perto, muito perto um do outro. E está sendo tão educado, gentil. Não é você. É estranho. — Lembre-se da minha promessa. Eu estou tentando mudar as coisas. E aceite isso para darmos uma volta juntos na fazenda? Ela morde os lábios avermelhados, pensa, olha sem parar para mim e vencida por seu desejo, sem demora, ela tira os saltos, joga na grama e aceita a minha ajuda para subir. Levanto-a forte, sentando-a de lateral, bem colada ao meu tórax, com o seu cheiro doce me fazendo desejar abraçá-la. Kiara me parece de outro mundo, eu juro que parece, e transtorna-me por estar notando tanto isso. — Dexter, não se aproxime com o seu corpo... — Só que ela afasta o meu rosto pela barba áspera, tentando não ficar muito junta de mim. — Não é confortável... Posso jurar que ela está da cor de uma rosa. E eu sorrio de novo, arrumo-me meio distante — o que com as cavalgadas será impossível de se manter — e puxo as rédeas, causando o impacto previsível dos seu braço e cabeça contra o meu peitoral — como afirmei. E saio com certa velocidade, na intenção de irmos até a caverna do rio. CAPÍTULO 20 Kiara Dexter — Por que me trouxe até aqui? — Ao pararmos na gruta da caverna do rio, observo a água azul transparente, iluminada pelo sol que transpassa o teto de pedras e eu fico apaixonada. — Porque eu gosto desse lugar — ele responde muito perto do meu pescoço, com a mão na minha cintura. — Quer descer? — Sussurra. — Não posso — aperto os olhos, arrepiada e sentindo os meus batimentos disparar pela proximidade desse homem bonito, mas sem amor. — Precisamos voltar para a mansão, eu deixei o meu filho com a Felícia e não é certo. Anton fica quieto e eu o fito. Ele faz igual, só que detalhando com o olhar os traços do meu rosto e os meus lábios. Ficamos assim por alguns minutos, até eu desabafar: — Se eu pudesse mudar o destino... — o acaricio na barba. — E o que faria? — Ele segura mais firme a minha cintura e aproxima a sua cabeça da minha testa. — Acho que você sabe o que eu faria. — Não teria se casado comigo? — Eu não posso dizer, eu não tive escolha. Você sabe. Meu pai me negociou sem ao menos me deixar ver se meu marido era um velho de más intenções ou um rapaz de bom caráter. Por mais que me assustasse, eu não pude contestar a sua ordem. Anton toca o polegar no meu queixo, com o seu nariz na minha bochecha. — E o que mudaria? — Eu queria mudar o meu coração, os meus sentimentos, a mim. Só que não podemos voltar e alterar as coisas como gostaríamos. — Não podemos — ele me gira com calma, olhando-me nas íris e outra vez, nos lábios, onde os mordo. — Infelizmente, eu não posso. Eu fecho as pálpebras e ele me beija, aquecendo o meu coração. Suspiro fundo, toco nos seus cabelos, desejando que o mundo parasse e que todo o pesadelo que vivemos durante esses seis anos de casamento não fosse real, pois o amo e só queria que fossemos um casal sem feridas que parecessem eternamente sem cura. Eu queria que o Anton provasse de verdade o seu amor. Ele perde a vagareza e penetra-me a língua, sugando-me como o homem bruto, faminto que é. Eu arqueio na sua boca, com a sensações de desejo fervendo no sangue. E, sem pensar, eu desço a mão pelo seu abdômen forte, palpitando cada músculo rígido. Anton toca na minha coxa, subindo entre as minhas pernas e causando-me arrepios e desespero. Eu balanço o rosto, caio em si e o paro, tentando afastá-lo sem ar. Eu não posso, eu não posso ser fácil para ele me achar ainda uma menina comprada para ser um objeto. E eu tinha a certeza de que não ia mais querer relações. É loucura, eu não quero mais. Eu preciso resistir. Assim que eu me afasto sem fôlego dele, ele não diz nada, apenas me encara sério, sem comentar algo sobre o beijo e o calor que sentimos borbulhar e latejar. Eu desvio, crendo que, se continuarmos nos fitando, podemos voltar a trocar beijos e agora carícias. Ele me solta, segura os arreios e sem se comunicar, vira-se,decidindo voltar para a mansão. — Obrigada, Anton — digo para ele, após me descer do lindo cavalo que me deu de presente. — Eu não esperava por isso. — Só peço que não ande com ele sem a minha permissão. No momento, tem pessoas tentando me matar e você pode ser um dos alvos também. É a minha esposa, a usariam para me atingir. — Não entendo como poderia ter pessoas tentando te matar — fico apavorada só em pensar em alguma tragédia com esse homem. — Já sabe quem atirou em você? — Não, eu estou tentando investigar para saber quem é, só que eu e os capatazes não descobrimos nada até agora. Observo o Dexter ficar sério e nervoso com esse assunto. O semblante dele se fecha severo e resolvo não questionar mais. — Vou entrar... — Eu mordo os lábios, afastando-me. — Até o almoço, Anton. Ele não responde, só consente. Cato os meus saltos da grama e com os pés descalços, eu me retiro mole das pernas, tendo a impressão do Dexter estar me olhando por trás. Será que está? Tenho dúvidas, insegurança de ele se sentir atraído ou não por mim. Pois não sei como é possível alguém mudar de um dia para o outro e se dedicar tanto a pessoa que nunca amou. Não confio. Não após tantos traumas. — Você disse para o patrão, Kiara? — Felícia me pergunta curiosa, assim que eu pego o Gieber do seu colo, na segunda sala de chá. — Eu disse, mas ele pareceu concordar em deixar a megera fazer a festa do seu aniversário no jardim. E por um lado, mesmo discordando, eu sou obrigada a não discutir. Lorenza é a sua mãe e ela morou nesta mansão por trinta anos. Ela tem todo o "direito". — Parece que ela nem morava, vivia era na capital com os dois filhos. Maria conta que o coitadinho do Sr. Rangel Dexter sofria solitário. E o pequeno do Anton, na maioria das vezes, era cuidado pelas babás, não tinha o amor, o abraço, o carinho de uma mãe. Era só o pai e mais ninguém. — Será esse o motivo de ele ser tão fechado, sem sentimentos e infeliz? — Creio que foi uma fila de fatores, Kiara. A mãe é um dos principais. No entanto, o que mudou ele mesmo foi a morte do pai. Eu comecei a trabalhar nesta casa na época em que o Sr. Rangel descobriu da leucemia. E lembro-me de só sofrimento atrás de sofrimento. Anton não saia de perto dele. E, em noites de dores, ele dormia no chão do quarto, ao seu lado. O levava para a capital, para fazer os seus tratamentos, exames e às vezes, ficavam por meses lá, internado. Até que o médico disse que não havia mais o que se fazer. E a pedido do próprio pai, o que restou ao Anton foi trazê-lo de volta para morrer em casa. Foi de partir o coração. Gael, Maria e eu achamos que o Dexter enlouqueceria. E que praga, dito e feito. Ele entrou em depressão, não via mais sentido na vida. Ainda depois disso se casou com você e deve saber o restante das angústias. Chegou os irmãos exploradores, a mãe e só mais lágrimas e tristeza. Meu semblante recai. — Eu acho que nunca saberia desse passado se você e a Maria não me contassem. Anton nunca foi de falar histórias sobre o pai e de tudo que passaram. Na verdade, ele nunca foi de falar nem dos próprios sentimentos. Por isso, ouvi-lo se abrindo é inesperado, chocante. Anton Dexter Eu volto do trabalho da tarde pensando nos problemas da fazenda e passo pela minha mãe sem sequer me dirigir a ela. O pedido de fazer uma festa neste final de semana não me agradou nem um pouco. Mas eu não posso dizer não, além de só ditar regras para não fazer um evento que saia nos jornais amanhã. Lorenza sabe que se sair da linha, eu a expulso da mansão e deixo o governador cobrar o que ela o deve. Quero que continue achando que eu não sei dos seus planos e dos seus podres na capital. No andar de cima, antes de ir para o meu quarto, eu paro no meio do caminho, ouvindo berros de criança vindo do corredor de Kiara. Eu continuo parado, analisando atento o som. E noto a porta dela entreaberta. Devagar, eu me aproximo interessado em investigar. E quando eu entro, vejo o menino de pé no berço, apenas de fralda, chorando e sacudindo a madeira da mobília, enquanto uma empregada tenta acalmá-lo. — Sr. Dexter! — Ela encontra o meu olhar, apavorada. — Cadê a Kiara? — Senhor, Srta. Kiara foi fazer um remédio para o bebê que está com febre. E quando ela saiu, ele começou a chorar, a querendo. Encaro-a, em seguida, o menino que tosse, engasgado no choro. Ele está suado, seus cabelos estão úmidos e lembro-me do meu pai, de como eu cuidava dele e resolvia situações como essa. — Molhe uma toalha de rosto no banheiro e coloque na testa, axila e nuca dele. — Sen... — Anda! — Mando nervoso e ela arregala os olhos, imediatamente indo rápida até o banheiro. Minha visão não foge do garoto. É tão pequeno, deixa-me estranho por vê-lo assim. A empregada volta com a toalha, colocando nas partes em que eu mandei. E, em seguida, a Kiara aparece correndo da porta, sem os seus sapatos. Ela me olha no mesmo instante, assustada, porém, sem tempo de dizer algo, vai até o menino e pega-o no colo para ninar, a criança até se acalma. — Coloque a toalha na nuca e axila dele, Srta. Kiara. — Por quê? — Sr. Dexter disse. Kiara me encara em surpresa, balançando a criança. Eu a fito sem dizer nada. Ela coloca o pano, repetindo o que a empregada estava fazendo. — Por favor, Sônia, desça e traga a mamadeira e o remédio que a Maria está preparando. — Sim, com licença. Ela se retira e Kia volta a me olhar. — Por que disse isso para a Sônia? — O menino estava chorando de febre. — E você se importa? — Seus olhos se mantêm sérios aos meus, desafiando-me. — Ou é só pelo choro "irritante"? — Eu me importo, é uma criança. — Pois eu não acredito — ela se afasta, indo até a cama se sentar com ele no colo. — Ele não significa nada para você. Vive fingindo que o meu filho não existe. E por mais que eu saiba dos seus motivos, continua o deixando de lado. Assisto-a beijar a cabeça dele e limpar a sua pequena testa com a toalha molhada. Eu tento ficar normal, fora do meu rompante, ou nervosismo que tensiona os nervos. Chego perto dela, desarmando tudo o que a faria me ver como um bruto. — E se significar? — Ele significa só a sua culpa. É desta forma que vê o filho que me deu sem amor. Você mesmo confessou. Ela ergue os olhos tristes, carregados de mágoa, e me aponta mais culpa. — E seria tarde para eu ver esse menino de outra forma, sem algum peso na consciência? — Eu achava que odiava crianças, que fosse capaz de coisas ruins se descobrisse que ele existia. E repito, eu sei dos seus motivos depois da sua confissão, entretanto, não mudou o que fez comigo. E ao contrário do pai, "o menino" chamado Gieber não tem culpa de nada, é só um bebê inocente. E se está tentando consertar as coisas, tirar esse peso da consciência, não impedirei. Dê uma chance para ele e para você. Tudo é possível. Eu me calo. Olho para ele e engulo a culpa, o orgulho. Por mais que, no começo, eu quisesse que não fosse nada meu, que, porra, eu quisesse odiá- lo por medo, eu tinha a certeza de que era o meu filho e as minhas consequências em carne e osso. E como prometi a Kiara, honrarei a minha promessa e o filho que lhe dei. Ele tem os meus olhos e a cor castanha dos meus cabelos, não tem o loiro cacheado da mãe, nem as suas sardinhas. É fascinante. Tudo nele é tão pequeno, parece que com um toque é capaz de machucá-lo. CAPÍTULO 21 Desvio os olhos da criança. E cansado demais para continuar dialogando com a Kiara, eu somente digo a ela que preciso tomar um banho. Porém, vejo que abaixou o rosto, supondo que eu estou fugindo do assunto sobre o menino. Mas não estou. E por isso, antes de me retirar do seu quarto, eu proponho a ela um jantar no jardim para conversarmos o que desejar, sem discussões. E em surpresa, ela me fita, pensando de forma demorada e desconfiada. No final, com um "está bem", ela aceita em sussurro e eu assinto, pedindo licença. Às 20h00, eu volto para baixo mais descansado, tomado banho e arrumado. E fico no escritório fazendo um pouco da gestão financeira da fazenda. Até a Felícia bater na porta, entrandocom a minha permissão. — A mesa já está pronta, Sr. Dexter. Posso deixar os pratos servidos? — Ela pergunta, após transferir o jantar como a poucas horas a pedi na sala. — Sim, Felícia. E sabe se Kiara está me aguardando? — Não está. Ela ainda se encontra no quarto. — Ok, avise-a então que eu já a aguardo lá fora. — Está bem, com licença. Ela se retira. Após organizar a minha mesa, eu vou até a estante escolher um dos melhores vinhos de coleção. Adiante, me dirijo com calma para o jardim, para esperá-la — o que acontece tempo demais. E inquieto por odiar esperar qualquer pessoa que seja, meu semblante muda de calmo para nervoso. Até me levanto da cadeira para ver as estrelas no céu e buscar tranquilidade. — Oi... Ouço Kiara se aproximar com os saltos. Devagar, eu viro o meu olhar sério a ela, perdendo qualquer nervosismo ou impaciência ao analisá-la dos pés à cabeça, boquiaberto. Como pode ter ficado com um corpo irreconhecível? — T-Tem alguma coisa de errado? Eu não quis me arrumar muito, logo que daqui a pouco é hora de dormir — ela se olha, gaguejando envergonhada. — Está linda, Kiara. Ela fica sem jeito, coloca uma mecha do cabelo para trás das costas e analisa-me, só que sem dizer nada. — Vem, sente-se — aproximo-me, puxando o assento para ela se sentar. — Isso é tão estranho, Anton. O seu comportamento... o convite repentino para jantarmos sozinhos aqui fora... Quando Kia se senta, a metade do tecido do seu vestido preto se ergue nas coxas, a deixando à mostra. Sem falar do decote que a espreme. E eu me controlo para não ser grosseiro pela milésima vez com os trapos indecentes que anda vestindo. Não posso nem dizer a vontade que eu tenho de fazer quando a vejo colada nessas porcarias. — O que foi? — Ela pergunta com o cenho franzido, enquanto eu me sento calado na sua frente. — Só gostaria que soubesse que o seu vestido é muito provocante. Sem mencionar desse rosado nos seus lábios bem desenhados. Irresistível. Estou tentando me controlar. Kiara abre a boca, ruboriza, fervendo o rosto de espanto. — Não diga isso... eu não quero. Está sendo desconfortável. — Se não deseja comentários como esse, não se vista tão evidente, pois receberá eles e olhadas cretinas de desconhecidos. E garanto que não serei bonzinho se ver alguém se dirigindo a minha esposa assim. — E você se importa de verdade? — Se eu não me importasse, eu não diria nada a você, Kiara. E vamos deixar isso de lado, por enquanto. Eu pego o vinho, fazendo-a brilhar os olhos ao ver que tomará da sua bebida preferida. Ao tirar a rolha, sirvo-a na taça e ela toma como se fosse água. — Eu quero mais — com o seu jeito doce, Kia estende de novo. E eu tenho que segurar a vontade de puxar um sorriso. — Não, ainda não jantamos. E é melhor iniciarmos para não esfriar. Felícia colocou a poucos minutos. Ela inclina o pescoço, olha para os nossos pratos e eu a ajudo a tirar as tampas. — Nossa, que cheiro bom, parece saboroso. Maria caprichou como sempre. Eu concordo e sem maiores delongas, jantamos. — Eu queria aproveitar esse momento de "paz" entre nós para te pedir uma coisa, Anton... — Kiara limpa a boca com o guardanapo, quebrando o silêncio que estávamos. — É uma ajuda para socorrer o meu avô. Eu gostaria de ver ele vivendo numa casa mais digna, não naquela miséria de partir o coração que você viu. — Sabe que ele não aceitaria a minha ajuda. Seu avô me odeia. — Mas, se for por mim, ele aceita. Não suporto pensar que meu pai o abandonou doente, sendo um senhor de setenta anos. Ele não tem nada naquele barraco de garrafas. Por favor, me ajude, Anton? — Se ele aceitar por você, eu não negarei o seu pedido. Posso contratar uma construtora para fazer a casa. — Faria isso? — Kia me olha sem palavras, emocionada. — Sim. — Obrigada, Anton, obrigada! Eu fico muito feliz! Já é mais do que eu imaginava! Pela segunda vez, vê-la alegre com algo vindo de mim, me aquece, me dá sensações que eu não sei explicar. Me faz me sentir bom. Após jantarmos, eu noto a Kiara abraçar o próprio corpo, devido a brisa gelada da noite e chamo-a para terminar o vinho no balanço de banco da segunda área da casa. Ela concorda e acompanha-me. — Eu sei que eu já te falei isso, mas é tão estranho o seu comportamento. Não consigo me acostumar. — Acho que até eu não me reconheço — respondo, fitando os seus olhos claros e sentando-me ao seu lado no balanço de almofadas. — Estou sendo "alguém" depois de tantos anos de só desgraças. — Sendo alguém? — Sim. — Talvez isso seja positivo, né? — Ela me fita, mordendo os beiços inferiores sem notar. — É, talvez seja. E chega de beber desse vinho forte — eu me aproximo, pegando rápido a taça da mão dela. — Já é a quarta servida. — Não disse que íamos tomar tudo? Anton, devolve — Kia tenta pegar de volta e nem percebe que chegou muito perto do meu corpo. Tão perto que me atiça a querê-la esta noite. — Eu não disse tudo. E não gosto que fique bêbada — toco no seu braço macio. E ela, de tanto se esticar para pegar a bebida da minha mão, cai sobre mim, notando de imediato a aproximação, e arregala as íris, só que é tarde demais para se desviar. Eu jogo a taça na grama e puxo-a para roubá-la um beijo que me obriga a enterrar os dedos no seu cabelo e aprofundar a língua molhada com vontade. A minha menina mulher demora a retribuir. E quanto retribui, é como um dia a ensinei, também sendo faminta. Ela grunhi arfante e toca no meu abdômen, apoiando-se com as coxas nas minhas pernas para não escorregar até o chão. Eu sinto o seu vestir subir e relutante, afasto-a para não perder o controle como um bruto. Kia está sem ar. Com certeza, excitada. — Eu quero te dar prazer — balbucio, erguendo o queixo dela e apertando a sua cintura com posse. — Eu quero te dar muito prazer. Ela fecha os olhos, reabrindo sem esconder o mesmo desejo. Porém... com poréns de insegurança. — Eu não sei... eu não quero. — Não quer? Ela engole em seco, confusa com seus sentimentos. — E se eu quiser? — pergunta baixinho. — Então faremos por prazer, aqui, neste balanço. — A-Aqui? — Exatamente — eu acaricio a coxa dela, sentindo os seus arrepios pelo meu toque. — Deixe-me te mostrar? — Anton... — Kia sussurra trêmula, enquanto eu continuo a subir os dedos pela a sua pele macia, aveludada, indo até a base da sua calcinha. Ela não me impede, ansiando por isso. Eu passo o dedão por cima do tecido úmido, descendo e subindo com muita vagareza nos seus lábios que acabam de pulsar, fazendo-a suspirar e soltar mais lubrificação. Ela aperta o meu braço que a estimula. — Eu... eu estou insegura... confusa, entre milhões de sentimentos. — Já disse que só quero te dar prazer — a beijo no pescoço, respirando seu gostoso perfume. — Mas vou mudar os planos. Fique por cima e controle os seus prazeres, Kiara. É você quem manda. Eu afasto os dedos e ela fica sem ação, apoiada sobre o meu peitoral, com a coluna arqueada, a saia do vestido evidenciando a sua bunda e o cabelo e o decote bem avantajado no meu rosto. Ela está irresistivelmente empinada, cara a cara comigo. — Eu sentar em você? Ela ruboriza e eu temo por desistir, por isso, ajeito as minhas pernas e bato no meu colo. — Sente-se. Kia olha para os lados escuros da noite. Está pensando. — Não deseja sentir prazer, Kiara? Não vou te machucar. Jamais será a minha intenção. Tome alguma decisão ou pararei de insistir. Ela molha a boca seca e resolvendo uma confusão com sigo mesma, olha-me nervosa e depois de tanta reluta, senta-se sobre o meu volume latejante na calça. Meu coração chegou a acelerar por vontade vê-la tomando as rédeas. Só preciso me controlar para não perder o controle como um cão faminto. — Eu estou sendo uma louca. — Não, ainda não te deixei nesse ponto — murmuro e a beijo devorador, apenas aquecendo os seus sentidos de fêmea. Ela ergue o pescoço e eu lambo cada pedaço de pele do seu busto, a mordo no decote do seio e nos mamilos eretos. Pressiono suas coxas e ela começa a segurar no meu cabelo, com tesão. Não dizendo mais nada, surpreendendo-me, ela passa a mãopor baixo da minha camisa, sentindo o meu abdômen, em seguida, abre todos os botões sem se inibir de vergonha. Eu fico admirado pela sua atitude. Kiara se mexe sobre o meu membro de novo, induzindo-me a beijá-la e a repetir o movimento que fez. Ela fecha os olhos e volta a se esfregar, gemendo com a fricção. — Eu estou surpreso com você. — Falou para mim tomar conta da situação... e eu quero tentar fazer isso. — Ótimo. Então continue — eu aperto a bunda dela, arfando. — Só pare quando quiser. CAPÍTULO 22 Kiara Dexter Presa ao desejo de querer o Anton, meus sentidos disparam pelas suas palavras e começo a pensar ligeira no que fazer. Eu nunca tomei as rédeas antes. Estou insegura de me render a ele e de não ter nenhuma autoridade para resistir. Pois eu quero prazer, eu quero libertar o meu corpo desse calor que sinto todas as noites antes de dormir. E não nego que o Dexter me atrai mais do que eu posso controlar. Ele aperta a minha bunda e toma os meus lábios, enquanto ofego presa as suas coxas fortes. Eu aliso os seus cabelos, toco na sua barba e desço novamente pela sua barriga definida, sem coragem de ir até a protuberância no zíper da calça. — Está me deixando louco — ele sussurra exasperado, mordiscando em seguida o meu cangote. Eu abro mais as pernas e a minha intimidade roça pela terceira vez nele, com muita vontade de dar o segundo passo. Anton pega os meus dedos, coloca por cima do seu volume e aguarda eu agir. Eu fecho os olhos, apertando-o com força. Então abaixo a cabeça, olho para a sua calça e começo a abrir o cinto, o botão, o zíper... e paro, percorrendo o seu belo abdômen até o interior da sua cueca... para sentir os seus pelos quentes e a espessura do seu membro grosso, latejante, que está sufocado de lado na virilha. O Anton pulsa, ficando mais apertado com o meu toque. E com o coração ansioso, sabendo o que eu desejo, eu tiro o seu órgão robusto para fora. — Kia! Você está muito levada! — Ele percorre as minhas coxas, enquanto eu fecho os dedos na carne macia do seu órgão duro, que se move no momento em que eu o elevo para cima e para baixo, expelindo lubrificação. Só que o Dexter não suporta mais os meus movimentos, e em instantes, ele toma os meus fios, sugando a minha língua e encaminhando-se até a calcinha do meu corpo, onde rasga as alças e joga o restante do tecido na grama. Eu o abraço, foguenta, sem ar. Pronta para recebê-lo, mas sou parada. Ele primeiro tira o preservativo do bolso, abre a embalagem, revestindo-se até a base. E quando vai distanciar a boca para dizer algo, não é preciso nem mandar. Eu já me sento sobre a cabeça, dilacerando a minha intimidade apertada. — Oh... Anton... — Eu afasto os nossos lábios, jogo a cabeças para trás, chorando de prazer. Ele geme, arranca os meus saltos, aperta os meus seios, indo até a cintura segurá-la forte para me estimular a ir cada vez mais rápido. E eu faço, virando os olhos e tendo a certeza de que eu vou desmaiar, de que eu estou vendo estrelas de muita, muita satisfação. Ohh, meu Deus... mas eu quero mais. E de tanto querer mais, eu perco o controle. Rebolo com vigor, dançando eroticamente nele. Nossas fricções me fazem apertá-lo no limite. E por pouco, eu não berro, indo veloz e sem demora, em menos de minutos, despejando o que estava guardando a tempos dentro de mim. Anton teve que puxar rápido a minha boca para abafar o som. E urrando, foi quando também senti que explodiu no seu orgasmo. Tonta, eu apoio-me no seu pescoço e posso notar que, com a força das suas próprias pernas, ele estava segurando o balanço para não nos balançar e manter-me neutra, cavalgando-o. O Dexter me olha, relaxado e tirando o membro que se mantém vivo. Ele igualmente retira o preservativo e "guarda" o órgão, mas ainda sinto não ser o suficiente para nós dois. Eu sei que não foi. — Você se tornou uma mulher sem comentários. Me atrai, me faz querê-la mais do que imagina — ele fala com as mãos na minha coxa, apertando-me com a brutalidade dos seus braços grandes. — Nunca... — ofego, cansada e suada. — Nunca foi tão prazeroso comigo. É novo. — É tão novo para mim, quanto para você. Eu preciso mudar as coisas, eu já lhe disse isso, pois não posso te deixar ir. Entendeu? — Anton respira fundo, aproximando a nossa testa. — Não quebrarei as minhas promessas. — Eu tenho medo de acreditar em você, também entenda e saiba disso. Jamais vou esquecer das suas brutalidades, do que passei durante nossos seis anos de casados. E mais decepções eu não fico aqui, eu não me importe se é o "Sr. Dexter", poderoso e rico. Não quero mais sofrer. Anton mexe a goela, afasta a testa e quase fecha os punhos. — Não diga que pode ir embora ou eu enlouqueço! É o que me resta e não perderei mais nada! — Ele está com o olhar de um animal feroz. — Eu me arrependo, eu quero ser diferente, porra, eu quero aprender esse amor que tanto me cobrava. Ajude-me a aprender isso, Kia, por você, por uma nova vida que me tire desse buraco. Eu quero! Não fujo, com carinho, afago a barba dele, emocionada. — Não posso te ensinar. O que me pede se aprende sozinho, sentindo apreço pela pessoa que se gosta. Vem do seu coração, dos seus sentimentos. Ninguém escolhe amar o outro por amar. O amor que escolhe o seu destino. Pelo menos isso, eu não aprendi nos livros de romance. E agora só continue assim, sendo sincero e tentando mudar as coisas comigo e com o seu filho. Não me decepcione mais. Ele me analisa neutro a face, pensando. Eu fico quieta. — Eu vejo aquele menino e é tão pequeno. Tudo nele é menor. Não tem a sua coloração natural, nem os seus olhos. Há traços, no entanto, tão poucos. Ele é... — [...] ele é idêntico a você — dou de ombros, saindo do seu colo meio incomodada e melada entre as pernas, querendo não chorar pelas suas palavras sinceras. Devo assumir que o Anton não é o "monstro" que eu imaginava. E agora me sinto fraca por não querer mais afastar o Gieber dele, nem me vingar com todo o ódio que eu sentia quando cheguei nesta mansão. É ao contrário, eu quero que ele dê atenção ao filho que me deu e quero que seja recíproco aos meus sentimentos. Como eu disse, que não me decepcione mais do que conseguiu nesses seis anos. — Eu vou entrar — declaro, ficando de pé diante dele, que está silencioso, e pego o resto da minha calcinha, os saltos, as taças e a garrafa de vinho. Mas, sem resistir, eu viro o líquido direto do gargalo. — Kiara! — Anton me repreende severo. Afasto, sentindo imenso gosto pela bebida. Ele se levanta fechando a calça e roubando-me ela das mãos. — Anton! — Você é mais sensível ao álcool. — Eu estou me acostumando. E poderia me deixar tomar o restante? Ele concorda em dividir, só para eu não tomar tudo. Eu provo da taça, observando a camisa dele aberta, a fivela do cinto despencada de qualquer jeito e a calça suja do nosso ápice. Ele encontra o meu olhar — envergonhado —, que o analisava, e terminando primeiro do que eu, puxa-me a favor do seu peitoral nu, gigante, por pouco, não me engasgando. — Anton... — Gostaria de ler os seus pensamentos, para saber o que está pensando agora. — Eu... eu em nada. Deveria arrumar as suas vestes melhor. E, por favor, solte-me. Melhor não ficarmos muito próximos a... a-assim... — Ele pressiona os meus quadris, fazendo-me suspirar ao me colocar nas pontas dos dedos, diante do seu enorme tamanho e rosto sério. — Eu sei que não foi o suficiente para nenhum de nós. — E se tiver sido? — Mordo os lábios, assistindo os dele se mexerem inquietos devido a minha mentira. — Não minta, não foi. E posso te pedir uma última coisa? — O quê? — Para o seu bem, não fique usando essas roupas indecentes. É o limite do tecido. Onde eu te vejo, está puxando as saias curtas, justas e arrumando os decotes. Até te dou outro cheque se jogar fora essas indecências. Está me provocando como homem e me deixa muito agitado. — De vez em quando, eu só abrirei mão dos decotes e dos tamanhos curtos, já das roupas justas não. E ainda é talvez. — Talvez? — Anton, antes de me soltar, acaricia o meu rostoe os meus lábios com delicadeza, fitando-me escuro. — Não inclua esse "talvez" na frase. E quando me solta misterioso, me deixa com os batimentos acelerados. — Vamos? — Ele, então, me chama para voltarmos todos bagunçados para dentro. Ainda bem que não vi nenhuma empregada, nem a Lívia e nem a megera da Lorenza. Eu estou destruída. — Boa noite, Kiara — na porta do meu quarto, Anton deseja com a sua voz rouca, segurando a maçaneta. — Boa noite, Anton — e eu respondo com a minha tonalidade doce, desviando a ruborização para ajudá-lo a fechar a porta. Ao fechá-la, eu acabo com a minha pose de resistência; escoro na parede, solto o ar que me sufocava, fecho os olhos e só digo a mim mesma para não pensar no que fizemos naquele balanço. Em nada, ou eu não terei coragem de me olhar no espelho por uma semana. Não acredito que eu tive aquele poder, que eu o toquei como uma devassa... E eu gostei! Não, não, por favor, não pense. Eu preciso continuar forte para não voltar ao passado, onde o amava como louca e sofria como idiota. O Dexter tem que me respeitar e provar as suas promessas. Nada será esquecido de um dia para o outro. Não vai mesmo. CAPÍTULO 23 Na manhã seguinte, após me levantar, eu noto uma movimentação de gente do lado de fora da casa, lá no jardim. E quando Felícia aparece na sala, ela me avisa que é a decoração da festa da Lorenza. — Eu estou torcendo para que ela faça uma festa enorme, com umas mil pessoas presentes. E que saia nos jornais e revistas de Montes do Sol. Só para o Anton mandá-la embora! — Eu esbravejo sentindo raiva daquela megera e Felícia fica surpresa. — Nunca esperaria um desejo tão maldoso seu. — Eu só quero fazer o inferno na vida dessa velha, igual ela fazia comigo. — Kiara, isso de vingança não é bom, deixa nas mãos de Deus. Ele sempre resolve as coisas, por mais que demore, ele sempre exalta os injustiçados. — Mas a minha justiça não tem que esperar. E acho que eu já esperei é tempo demais. — E pelo Sr. Dexter? O que diz é por ele também ter sido um mal marido? Pensa em vinganças? — E-Eu... eu não sei — engulo em seco, brincando com o meu filho e os seus carrinhos no sofá. — No momento, é complicado a nossa situação. Tudo pode acontecer. Estamos... — O que faz aqui, Felícia? Eu não te dei uma ordem a poucos minutos? Assim que mal terminávamos de falar da bruxa velha, ela apareceu nos interrompendo com o seu nariz empinado, ao lado da Lívia, caminhando até nós com os seus saltos finos e mandando igual cachorro na minha querida Felícia. Eu imediatamente me coloco de pé, fazendo-a encontrar o meu olhar. — Como ousa se dirigir assim a Felícia, sua cobra? Tenha mais respeito! — Oras, agora a selvagem sabe o que é respeito? E eu não me dirigi a você, adultera aproveitadora. Vai atrás do seu amante e se coloque no seu lugar! — Adúltera é você! E eu estou no meu lugar, no lugar de Srta. Dexter, onde o meu marido me colocou! E você, querendo ou não, vai ter que me engolir como a tal, ou mandarei os empregados não acatarem mais nenhuma ordem sua! Lorenza arqueia a sobrancelha. Então abre um sorriso para a Lívia, que está séria, e começa a gargalhar alto. — Escutou isso, Lívia? Como foi hilário. — Não é para rir, é para estar bem preocupada! Pois eu farei isso! — Não fará, ou eu quem posso dificultar a sua boa vidinha nesta mansão. Pois pense se eu só supor que esse bastardo pode ser filho do Gael? Imagine o que o Anton faria com o pobrezinho. Ou será que é? — CALA A SUA BOCA! — Eu arregalo os olhos, gritando. E no limite da minha fúria, eu não penso e quando eu vejo, eu voo nela, dando um tapa ardido na sua cara. Lorenza berra, em seguida, afasta-me forte, mas eu volto enlouquecida e empurro-a contra o sofá, tacando-me sobre o seu corpo e agarrando os dedos no seu cabelo curto, que sacudo. — SOCORRO! — KIARA, POR FAVOR, PARE! — Felícia e Lívia tentam me puxar desesperadas, mas eu continuo quase arrancando os cabelos falsos dessa desgraçada. — POR FAVOR, ALGUÉM NOS AJUDE! — Lívia grita. — ME SOLTA, SUA SELVAGEM SUJA! — Kia, pare com isso! — ME CHAMA DE SELVAGEM SUJA DE NOVO, CRETINA! Jogo-a no tapete do chão e quando eu vou avançar pela segunda vez... ouço passos correrem e adiante mãos rígidas surgirem me puxando ferozes pelo braço e pela cintura, afastando-me arrastada. É o Anton. E tento me soltar dele, para continuar o meu objetivo de deixá-la careca! — Porra, vocês duas! Estão loucas? — Ele me segura firme. — Eu disse que ela era uma selvagem! Ela avançou em mim igual um bicho do mato! Lorenza se levanta apavorada. UMA FALSA! — SUA FALSA! ISSO FOI POUCO PERTO DE TUDO O QUE VOCÊ JÁ ME FEZ! MERECIA MAIS! — Eu estou sangrando, Anton! Olha o que essa louca me fez! Olha a minha boca! — FOI POUCO! — Grito de novo. — PARE, KIARA! — Anton solta os seus braços que me sufocavam. E muito, muito enfurecido, evidencia a rigidez dos músculos ao me fitar. — Chega! Eu ouvi os gritos escandalosos de vocês lá do escritório! — Ela ia me matar! — Chega você também, Lorenza! Não é nenhuma santa! — Ele a encara. — Eu te avisei que deixasse a Kiara em paz ou te mandaria de volta para a capital! Agora saí daqui! Felícia e Lívia lhe ajudarão com esse ferimento! — Eu sou a mulher que te deu a luz e não uma qualquer! Se não fizer nada em relação ao comportamento violento dessa menina primitiva, será um injusto! Ela bateu na sua mãe! Anton se segura com o sangue quente para não a responder. E ela então vira as costas, só que antes de ir, no meio do caminho, para com brutalidade a Felícia. — E eu não preciso de você, sai da minha frente! Felícia sai, dando um sorriso de lado. A vaca a fuzila e só Lívia a segue. — Com licença, Sr. Dexter e Srta. Kiara — Felícia pede, deixando- nos a sós. — O que estava pensando, Kiara? — Anton não demora a me questionar e olha para o meu vestido rasgado na coxa, ainda muito bravo. Eu desvio dele, abaixo o restante do tecido curto e inclino-me para pegar o meu filho que começou a chorar entre as minhas pernas. Quando eu volto, fico frente a frente de novo com os seus traços bárbaros e rústicos, revestido com o chapéu de country, que o deixa só mais poderoso. — Eu falei sobre a sua mãe. Eu não aguento mais essa mulher aqui me tirando a paz! — Mas isso não justifica bater nela! É uma senhora de idade! — Ela me ameaçou e eu não tenho sangue de barata para ficar ouvindo mais humilhações quieta. Já basta tudo o que eu passei. E eu quero que ela vá embora! — Chega, Kiara, se vê-la no seu caminho, desvie. Verei o que faço para a Lorenza voltar para a capital. Por enquanto, não dê ouvidos a ela. Entendeu? — Fará mesmo? — Sim, só tenha paciência. Ela continua aqui por um motivo sério, que eu necessito investigar. — Mais do que eu estou tendo? — Brava, eu dou de ombros, sentando-me no sofá com o Gieber. — E que motivo é esse? — Não vem ao caso. Mudando de assunto, eu tenho algo muito importante para te dizer — o Dexter se aproxima, fazendo-me perder o ar assim que se senta no outro sofá, olhando para o bebê e para mim. A nossa noite ontem naquele balanço me vem à mente e eu começo a sentir calor, arrepios. — O quê? — Eu estava no escritório conversando pelo telefone com o meu advogado, sobre o menino. — O-O Gieber? — Eu arregalo os olhos, abraçando o meu filho. — Sim, Kia. E o que eu tenho para lhe dizer é que eu quero assumi- lo. Eu quero dar o reconhecimento de paternidade. Eu fico boquiaberta, em choque, tremendo diante dos seus olhos. O medo, o pavor, tudo me envolve. — Por que dessa decisão tão rápida? — Sussurro quase sem voz. — Por quê, Anton? — Eu fui homem para fazer essa criança da pior forma possível. E agora também preciso ser para assumi-lo e honrar o meu papel como pai. Permita-me, Kia? Eu fazendo isso me torna melhor comigo mesmo. — Você não sabe nem o que é ser pai. Eu sinto que está só tentando fechar o buraco da culpa no peito e na consciência. É por isso. Gieber balbucia, querendo sair para engatinhar pela casa. — Eu estou tentando por vários motivos. E ele é o meu filho, tem o meusangue... — O Dexter fala rouco, assistindo os movimentos dele, e o meu pequeno encontra o seu olhar, sorrindo inocente. — Eu não posso mais omitir. Meus olhos lacrimejam e limpo a lágrima que me foge. Então eu chego mais perto do Anton com o bebê. — Ele é o seu filho. Mesmo que no começo eu não tenha dito, por medo de fazer coisas ruins, ele é. É parte sua e minha. Ele me fita diferente, adiante desvia sério e toca com certo anseio na coxa gordinha dele. E sem acreditar, meu coração salta instantâneo da caixa torácica. Gieber se afasta inquieto e aperta o dedo indicador do Anton com a mãozinha, balbuciando palavras qualquer. Ele está louco para sair engatinhando pela casa. Anton franze o cenho e eu não tiro um só segundo os olhos da sua feição máscula. Ele me encara de novo, mexendo o maxilar. — Pegue-o. Ele permanece sério. — Não. — Não? — Eu vou machucá-lo, Kiara. Olha o tamanho das minhas mãos. Ele é pequeno. — Uma chance, Anton. Prove que ele significa algo, demonstre isso. Você não vai machucá-lo. Eu determino a mim mesma que quero ver o Dexter segurando o Gieber. E sem me importar se ele deseja isso ou não, eu levanto o bebê no seu colo. — Segure embaixo dos seus braços e erga-o em pé, sem apertar muito na costela. Anton parece sem ação. Porém, ele surpreende e sem jeito, alegrando-me, pega o bebê onde lhe ensinei, erguendo-o cheio de receio. Seus pezinhos descalços ficam numa só coxa do Dexter. Noto os seus traços sem palavras. Ele segura o Gieber com as duas mãos grossas, com insegurança de mexê-lo. E meu menino estranha a face do pai, até que olha curioso para o seu chapéu e levanta os bracinhos curtos, tentando alcançá-lo para pegar. Eu me emociono, vendo as minhas estruturas se abalarem. Anton está até bobo, sem saber o que fazer com o menininho cheio de curiosidade que caminha na sua coxa e chega no seu rosto, apoiando-se na sua barba áspera e falando alto. Ele solta uma mão e o acaricia. No entanto, logo o Gieber estende os braços, querendo voltar para mim. Eu o pego de volta, fitando o Anton. — Ele gosta que você, converse, brinque com ele, só assim para manter a sua atenção no seu colo — digo e desvio, limpando o rosto que está úmido. Eu fiquei admirada pela minha coragem de fazer esse homem pegar uma criança pela primeira vez na vida. Será que ele sentiu algum amor? Afeição? — Se estivéssemos na capital, eu o assumiria hoje mesmo! — Assustando-me, assim que eu coloquei o Gieber no chão para engatinhar, o Dexter bradou, puxando o meu queixo e fazendo-me ligar as suas íris intensas. — Eu nunca disse que eu não queria ser pai. Eu fui um fodido sem caráter. E agora eu tenho que honrar os meus atos como um homem. Eu não sou um monstro. — Não é, Anton. Contudo, só não espere o meu perdão tão cedo — eu tomo atitude e deixo um demorado beijo na bochecha dele, acalmando-o pelo seu ato bruto ao me puxar. — Continua longe disso, não importa quantas relações façamos, desta vez, eu sei separar o amor de prazer. Por mais difícil que seja, eu sei. E também sei que no momento vocês só sente um deles — o observo, testando o poder que ele diz tanto que eu tenho sobre a sua pessoa. — Não merece a minha dedicação. Falta muito para aprender sobre o amor. Ele fecha a cara e agarra-me pela cintura, sufocando-me por seu enorme peitoral e ombros largos. — Então, Kiara, que eu morra tentando saber essa droga de amor! Mas, de você, eu não desisto! Nem que eu faça uma loucura! — E com posse, ele toma a minha boca para a sua, tirando a minha alma do corpo. CAPÍTULO 24 Assim que o Anton proferiu suas palavras de poder, ele me beijou, tirando-me o fôlego e fazendo-me esquecer do próprio nome. E quando me soltou, sem dizer mais nada, ele se ergueu, deu-me uma última olhada e retirou-se em direção ao seu escritório. Eu balancei a cabeça, deixei-me cair no encosto do sofá e toquei nos meus lábios inchados, ainda como que se sentindo a sua ferocidade. E agora no banho, isso me volta a mente, e toco de novo, também lembrando-me da nossa distância durante esses quatro dias, após o nosso último beijo faminto na sala e das suas palavras sobre o nosso filho. Estamos sem nenhum contato um com o outro desde então. E essas sensações indecentes não deveriam estar me afetando. Eu tenho que ser como a personagem dos livros que achei na biblioteca essa semana. Ela sempre diz nos capítulos que as mulheres têm que se dar o valor. Tem que ter atitude, decisão, ser forte e se impor. E eu quero me tornar essa personagem. Eu quero tornar esse livro a minha inspiração de andar de cabeça erguida, sem mostrar que tudo me afeta, mágoa e que eu vivo remoendo as minhas dores pelas pessoas que nunca nem sentiram uma pitada delas. Isso não é ser uma mulher de verdade. Eu preciso controlar as minhas emoções de fraqueza e os sentimentos de menina. E preciso começar esta noite, na festa de aniversário daquela megera nojenta. — Como eu estou? — Após Sonia terminar a minha maquiagem, eu visto o longo vestido vermelho sangue, de seda, justo e bem decotado, e paro na frente dela e da Felícia, com os saltos pretos. — Meu Deus! — Felícia coloca a mão na boca, chocada. — Está uma madame linda, poderosa. Melhor, está a madame mais bonita e poderosa de Montes do Sol. — Que exagero, dona Felícia. — Não é não, Kia. Sonia sorri, com a idade de trinta, mas face de vinte. Ela quem se ofereceu para me maquiar, isso depois de entrar no quarto para me entregar uma água e ver a minha luta para passar um mísero batom direito. — Felícia tem razão. Sem palavras, Srta. Kiara, está maravilhosa. Foi uma honra ter aceitado que eu a maquiasse. — Eu quem agradeço, Sonia. Nem acredito que me ajudou. E, por favor, me ensine depois tudo isso que você passou na minha cara. Me dê o nome dessas coisas e comprarei para me ensinar a ficar todo dia assim. Eu pareço uma outra pessoa. Meus olhos estão chamativos, brilhosos nas pálpebras. Olha os meus cílios, estão gigantes e o batom vermelho deixou os meus beiços carnudos. É renovador, eu estou tão feliz e linda. — Você facilitou toda a mão de obra, doce menina. Sua beleza já é natural. — Verdade, Srta. Kiara. E além de linda é muito humilde. — Obrigada pelo carinho, são dois anjos. Eu respiro, sorridente de felicidade, e viro para ver o meu reflexo pelo espelho. O que será que eles também vão achar agora da esposa selvagem do poderoso Dexter? Quero muito ver aquelas nojentas e metidas das amigas da Lorenza me humilharem de novo, como antigamente. Hoje eu posso ter mais classe do que elas todas juntas. Eu solto os meus cachos loiros dos bobes e isso causa mais elogios animadores da parte da Felícia e da Sonia. Eu passo o perfume, coloco um colar de brilhantes, que foi presente do Anton há muito tempo, em seguida, sinto-me mais do que pronta para descer. Eu estou cheia de confiança e autoestima. Despeço-me delas e saio do quarto deixando o meu tesouro mais valioso do mundo com a Felícia. E já desço sabendo que o Anton me espera lá na sala. Ele disse mais cedo que me aguardaria sem um pingo de vontade de ir. Se dependesse dele, nem participaria da festa, só está indo por minha causa, porque eu disse que não ficaria no meu quarto, que eu iria para me "divertir" — na verdade, eu estou indo para ver aquele jardim lá fora lotar de umas mil pessoas, mas, lotando ou não, ainda bem que o Anton vai mandar a mãe para a capital. Tomara que o quanto antes. Passo pelo hall aberto e dos degraus eu vejo o Dexter em pé, com as mãos dentro do bolso da calça social. Ele está tão elegante sem as suas normais vestes de patrão cowboy. Até colocou um sapato chique e um relógio brilhante de ouro. Ele, da mesma forma, não demora a me encontrar. E sem disfarçar, analisa-me de baixo em cima, franzindo o cenho e ficando sem ação. Eu ouço uma melodia de fundo, enquanto me aproximo corada dele. — Acho que o aniversário da sua mãe já começou — murmuro, incomodada com os seus bonitos olhos que não saem do meu corpo, nem da minha face maquiada. — O que achou de mim? — Pergunto lutando contra a vergonha.Anton me encara muito sério e estranho. Parece nervoso. — Bonita — ele apenas responde, sem desviar as suas íris intensas. Eu não acredito. É só isso o que ele tem a dizer? Eu estou me achando tão linda, incrível. Nunca me senti tão segura da minha própria aparência na vida. Anton é um insensível. E ele já está conseguindo me fazer ficar é nervosa. — Hum... vamos? Quero ver o povo metido da sua mãe — blasfemo e dou de costa para ele. — Espera, Kiara! — Só que ele manda, vindo em passos curtos e apoiando-se nas minhas costas. Eu até tonteio com o cheiro do seu perfume masculino. Porém, não demonstro que as suas mãos me aquecem o corpo. Eu tenho que ser igual a personagem do livro; forte e sem qualquer demonstração de vulnerabilidade. Ao atravessarmos a porta do jardim, imediatamente os convidados e até às corujas da noite se viram para nós – o que já não é novidade de acontecer quando estamos em "público". Ou até, então, era novidade se todos não estivessem grudados os olhos só em mim, e não no famoso Anton de sobrenome Dexter. — Acho que todas essas reações de espanto foram a minha — Anton sussurra, apertando-me mais junto da sua estrutura forte e cheirosa. — Está a mulher mais linda desta festa, Kiara. O-O quê? Sem conseguir acreditar no seu elogio, eu tento não o encarar para não notar o meu bobo sorriso de alegria e satisfação. Começamos a nos movermos em direção a alguma mesa. E as pessoas continuam a nos observar a cada passo, meio sorrateiras e admiradas. Até que alguns homens param o Anton para cumprimentá-lo como que se ele fosse a última maravilha do mundo. Eles me olham, demonstrando relutância em dizer um simples boa noite, pois o Dexter continua com a mão bruta me colando ao seu corpo gigante, sem me deixar livre. — Graças a Deus, podemos nos sentar — comento, sentando-me com ele na mesa bem de canto para a decoração e as luzes luxuosas. — E que eu posso respirar sem você me tirar essa maravilhosa proeza. Ele não diz nada, só me observa sério e sem brincadeiras. — O que foi? — Resolvo questionar o seu estranho comportamento. — Acho que se eu começar a falar "o que foi" agirei como um homem das cavernas. Surpresa, eu franzo a testa, sem entender o motivo da resposta. E ele, não é? — E não é? — O desafio como sempre odeia que façam. — E é o que acha? — Ele revida a pergunta, cheio de rouquidão e olhar sedutor. — Antes você era. Só que agora está diferente, não sei. É um homem das cavernas moderno. — Homem das cavernas moderno? — Sem crer, acho que eu estou vendo o Dexter sorrir. — Tenho certeza que não entendeu a minha resposta. — E o que você qui... — Com licença. Interrompendo-nos, dois garçons nos abordam com duas taças de vinho, champanhe e o outro com uma bandejinha de salgadinhos. E claro, eu peguei os salgados e a taça de vinho com brilho nos olhos. Eu amo até o nome desse líquido com gosto de paraíso. — Olá, boa noite, Sr. Anton, Srta. Kiara. Posso me sentar com vocês? Lívia chega nos cumprimentando e já puxando a cadeira vaga antes de respondermos. E apenas consentimos. Ela está no extremo da vulgaridade com o seu vestido curto e decotado até o umbigo. — Acho que metade da festa desejaria estar no meu lugar, ao lado dos Dexter. — Apenas do Anton — replico, odiando bajulações. — Sinto muito, Srta. Kiara, mas está enganada, todas e principalmente todos estão falando de você. Está espetacular esta noite. É uma pena que os fotógrafos estão proibidos de fotografá-los. — Proibidos, como assim? Por quem? — Por mim — Anton resmunga. — Eu disse para a Lorenza que não queria um evento que saísse nas capas dos jornais essa semana. O que já está tentando fazer. — Mas eu quero tirar fotos. Me arrumei para isso também. — Podemos tirar juntas, Srta. Kiara. — Ela não vai! — Anton esbraveja para a Lívia, o que, em susto, a faz corar o rosto e ficar sem graça ao afastar devagar os braços da mesa e olha que ele disse a sua idiota ordem grosseira o mais suave possível. — Você não manda em mim. É claro que eu vou. Quando eu ia me levantar, ele segurou na minha coxa, impedindo- me dar qualquer passo. Lívia nos observa atenta. — Daqui a pouco, eu permito, Kiara, todos te pararam e eu não quero elogios de homem nenhum para você. — Você não pode fa... — É... não desejo criar nenhuma confusão. Eu vou dar uma volta, com licença — Lívia se levanta, sem esperar que eu diga alguma coisa. E ela pareceu incomodada com a fala e o modo bruto do Anton? Ou eu fiquei doida? — Por que disse isso? A Lívia saiu daqui estranha. E está agindo como se eu fosse o seu objeto, uma marionete! Eu sou dona de mim, aquela menina comprada não existe mais! — Não me importo com ela, nem com ninguém. E não é o meu objeto, é a minha esposa, como eu sou o seu marido. Por favor, Kiara, não quero ficar mais irritado, nem discutir, eu só quero que fique aqui. — Você antigamente adorava me deixar sozinha para ficar conversando com os outros, o que tem agora, hein? — É que antigamente eu era um imbecil. E o que eu tenho agora é que eu preferia estar arrancando o seu vestido de seda lá no quarto, do que ficar aqui, me torturando com você linda assim — como se tivesse dito um "nada", ele toma o seu champanhe e relaxa na cadeira, desviando e visualizando as pessoas curiosas que não tiram os olhos de nós. Meu Deus, eu perco o fôlego, meu coração até palpita sem acreditar em mais elogios da parte dele. Seria a mais sincera verdade? Eu causo isto ao Anton, de ele me desejar mais do que toda a atenção desta festa? Depois de sua confissão, eu não fiquei mais tão irritada como antes. Fiquei é me sentindo provocante para ele, como que se eu quisesse testá-lo para comprovar as suas palavras. Só que como eu faço realmente isso? É muito difícil. Na hora dos parabéns, levantamo-nos forçados para se aproximar da megera e pelo menos demonstrar alguma "compaixão" existente. Ela discursou cheia de metidez, agradeceu a presença de todos os seus convidados ricos e no fim, quando estávamos quase voltando para o nosso lugar, fomos impedidos por duas mulheres peruas que se aproximaram do Anton, fingindo que eu não existia. — Olá, que honra, Sr. Anton. É um prazer conhecê-lo... As oferecidas se apresentam para o meu marido, esfregando os seus seios nos olhos dele. Eu resolvo deixá-lo bem a sós, como aprendi no meu querido livro, e saio quietinha de perto dele, caminhando pronta para voltar e tacar um jarro de planta no meio da cabeça daquele cafajeste. Que raiva, eu não vou mostrar que me afetou, não vou! Eu não sou aquela trouxa chorona! E tem um monte de homens também me olhando, o que significa que eu posso chamar atenção deles como o Dexter chama das mulheres! — Desculpa! Quando eu percebo, no meio do meu pensamento cheio de vingança e revolta, eu esbarro com um garçom e um outro homem que passavam simultâneos e provoco, com o braço, a bandeja a cair sobre o pobre moço. Desespero-me, dilatando as íris ao discernir o grau da situação desastrosa na sua camisa branca. — Meu Deus, me perdoe, por favor. Não foi a minha intenção, eu fui uma desastrada. Eu... — Tudo bem, senhorita, foi um acidente, isso acontece. — Desculpa senhores, com licença — o garçom se retira, voltando ligeiro ao seu trabalho. — Sinto muito, eu sujei toda a sua camisa de champanhe. Eu não tinha visto o garçom. — Não se preocupe, Srta. Dexter — o homem, então, fala, abrindo um sorriso cavalheiro com os seus dentes brancos, ao erguer os olhos escuros. — E é um prazer ser o único desse lugar a conseguir me apresentar sem receio a esposa misteriosa do fazendeiro Anton. — E eu me chamo João. Perplexa, eu levanto a mão para cumprimentá-lo, admirando-o por ser alto e bonito. CAPÍTULO 25 Anton Dexter Corto a apresentação das duas mulheres oferecidas e saio inquieto por notar que a Kiara fugiu de vista. Espero que ela não esteja pegando vinho para tomar sem controle. E ela não está fazendo ideia de como está linda. Droga, eu queria arrastá-la daqui para nos satisfazer a noite toda. Seus gritos de prazer seriam ouvidos até pelohorizonte da fazenda. — Olá, Sr. Dexter, como vai? — Enquanto um senhor me parava para me cumprimentar, ao virar a cabeça e erguer despretensioso o pescoço, eu encontrei num piscar dos olhos a Kiara estendendo a mão para um homem estranho. Eu tive até que olhar duas vezes para ter certeza da cena. E porra, eu fecho a cara na hora, deixo quem se apresentou para trás e aproximo-me em passos furiosos, tentando também não fechar os punhos. — O prazer é meu, João... — Kiara! — Em segundos, eu me materializo do lado dela, puxando-a pela cintura, sem encará-la, mas encarando o cara que solta instantâneo a mão da minha esposa. Kiara ainda tenta se equilibrar em mim, sendo pega de surpresa. — Sr. Anton — o cara puxa um sorriso. — É igualmente um prazer conhecê-lo, assim como a sua bela esposa. Não o respondo, só consinto sem paciência para novos "amigos". — E-Eu derramei o champanhe da bandeja do garçom, nele... — Kia murmura, afastando-me para tentar sair do aperto do meu corpo. O que é em vão. — E eu já lhe disse que foi um acidente. — Mesmo assim, eu sinto muito. — Se tudo está esclarecido entre vocês, não há mais o que conversar. Eu e a minha esposa lhe pedimos licença — então eu digo grosseiro, não querendo papo e viro as costas, levando-a comigo pelos cantos dos arbustos. — Anton, o que está pensando? Você está louco? Deixou o homem lá parado... ele vai ach... Eu a agarro e viro frente a frente, fazendo essa menina encarar os meus olhos furiosos. Porra, ninguém tem que está interessado em falar com a minha mulher. Esses caras podem notar a sua inocência, o seu jeito de confiar fácil nas pessoas, para poder planejar algo contra mim e ela. E não confio em nenhum fazendeiro dessas regiões, quanto mais nos seus filhos que compareceram ao aniversário da Lorenza! — Não tem que ficar dando atenção para qualquer um! — Eu não dei atenção para ninguém! E também não é da sua conta para quem eu devo dar atenção ou não, seu grosseiro! Me solta, larga do meu pé e vai atrás das oferecidas que te endeusam, que adoram o "Dexter rico"! Eu estava muito bem sozinha! Vejo que tem duas mesas nos observando atentos, devido ao nosso tom de voz meio alta e controlo-me, sendo o mais calmo possível ao aproximar a boca da sua orelha. Kiara imediatamente fica sem saída, tendo tempo de só colocar a mão contra o meu peitoral largo. — Não teime. Vamos para dentro, não tem mais nada para fazer aqui. — Tem sim, a festa só está começando — ela sussurra, desafiando- me sem medo. Eu respiro fundo, pressionando-a nos quadris, com os meus músculos inflados e continuo perto do seu ouvido: — Kiara... eu juro que se eu não estivesse em suas mãos, eu já tinha te apanhado no colo, jogado nos meus ombros e te levado por bem ou por mal daqui! Kia distância a cabeça, fitando-me sem acreditar. — Realmente é um bruto. — Se não teimasse tanto eu não seria. — Teimando ou não você ainda é. E, por favor, me larga, as pessoas estão nos olhando. Estamos quase sendo o centro da atenção dessa festa de novo. — E te incomoda que eu fique abraçado com você? — Questiono cansado desse povo fútil e aproximo mais o meu corpo quente do dela. Kiara cora as maçãs, ficando sem ar. — Acho que incomoda mais você e as convidadas ricas da sua mãe, que me acham uma selvagem. Devem agora estar nos vendo e sentindo raiva. — E isso não é bom? — Eu afago mais firme as suas bonitas curvas. — Vamos sair daqui? Já deu de perder o meu tempo. — Está bem, Anton, mas só porque eu quero descansar os meus pés desses saltos. — Ela, enfim, concorda e eu posso me ver livre desses infelizes a olhando indiscreto. Damos uma volta, indo em direção a casa. Todavia, quando vamos atravessar a porta de correr, o meu capataz, o Jesuíta, aparece me chamando em sussurro. — Patrão — ele para rápido ao meu lado e eu seguro o braço da Kia, fazendo-a também cessar os passos. — O que foi, Jesuíta? — Eu acabei de ser informado de que oito peões estão terminando de apagar um foco de incêndio que começou a pouco minutos em um dos seis armazéns de reserva das madeiras. — O quê? Eu sinto na hora o meu coração acelerar de fúria e solto a Kiara para não a machucar com a vontade de fechar os punhos e socar uma parede. — Espero que não esteja amenizando suas palavras! Qual foi o grau desse incêndio? — 70%. Assim fui informado. — Que merda. Não deseje que eu igualmente confirme a sua porcentagem informada. O fogo não apareceu sozinho, por isso, mande acordar os outros peões que estiverem dormindo, para fazer rondas pela fazenda. E isso inclui o Gael! Quero que procure o responsável! Qualquer um que estiver perambulando é suspeito! — Sim, senhor, volto a comunicá-lo se encontramos algo. Com licença. Ele se retira e eu passo a mão na barba, nervoso. Kia se mantém quieta, fitando-me sem dizer nada e entramos em casa, só achando o vazio da meia luz e o som de música vindo do jardim. — Você não vai ver o que aconteceu? — Não. — Será que é a pessoa que atirou em você? Ficou muito nervoso. — Eu desconfio de todos, Kiara. Terei que voltar a conversar com o meu amigo delegado. O Laerte me ajudará com a investigação. — Você deveria era contar para o Gael. Ele é o seu braço direito. E se preocupa. Ouvi-la falando sobre o Gael me faz ficar só mais irritado com aquele traíra e eu me aproximo dela, fazendo-a resistir a vontade de se afastar. — Não quero mais falar de nada, eu só quero paz para a minha mente — eu seguro o seu pulso, erguendo sua pequena mão na minha boca para beijá-la. Kia morde os lábios inferiores em surpresa, começando a tremer. — Eu só consigo pensar nesse seu vestido macio, arrancado por mim. — Não, não. Ela puxa brava a mão, distanciando-se. — Não pense que tem essas liberdades. Nada mudou. Só quer saber dos seus prazeres carnais. — Tudo mudou. E não minta que não sente o mesmo desejo! — Antes dela virar para fugir, eu a puxo por trás, colando suas costas no meu tórax. — Você me atrai — beijo o seu pescoço, sentindo-a trêmula, afobada. — Tudo em você me atrai, me provoca. — Como eu te provoco? — Kia questiona baixo, tocando nas minhas mãos. — Neste exato momento, já está fazendo isso — eu respiro fundo e mostro que estou excitado por ela, faço-a sentir o meu membro duro contra o seu traseiro. — A-Anton... — Kia suspira arrepiada, amolecendo as pernas. — O que eu tenho mais que te provar esta noite para ver que me atrai? Ela vira corada, piscando seguidamente. — Alguém pode entrar aqui na sala e vai nos ver e... — E você está fugindo de mim! — Não, eu não estou! — Ela me enfrentar, vociferando suas palavras raivosas. Eu começo a gostar de vê-la assim, desafiando-me com coragem, mostrando que é uma mulher forte, única, sem medo do homem que eu estou tentando tirar de mim.— Você não me causa nenhum medo. — Então ótimo, isso é tudo o que eu queria ouvir. Vem... — Eu cato com delicadeza o braço dela e levo-a pelas escadas, sem deixar que reaja pela insegurança. No corredor do meu quarto, eu a empurro na parede, roubando um beijo faminto da sua boca vermelha e sugo sua saliva, a sua língua, tomo posse da sua respiração em brasas. Kiara arqueja, apertando as minhas costas e puxando com as unhas o tecido da minha camisa. Com tesão, eu passo a mão na bunda dela, apalpando a carne gostosa. E quando ela precisa de fôlego nos pulmões, eu continuo mais feroz, descendo pelo seu pescoço e segurando com forças os seus cabelos dourados. — Eu... eu vou desmaiar... — ela confessa, completamente desesperada. — Anton... Anton... — Kia me faz voltar para cima. Fito-a, mas eu não digo nada, adiante, abro a porta do quarto e jogo- nos para dentro, trancando-a na chave. Volto a beijá-la, louco para agir como um animal com esse vestido fino e justo, empinando as suas curvas. E é o que eu faço, começando a rasgá-lo por trás, na linha da costura, até o fim. Só que Kiara arregala os olhos, afasta nossas bocas e tenta me empurrar. — Dexter, o meu vestido! — Eu posso te dar outros mil desses — murmuro, colando nossas testas. — Ficou linda dentro dessa seda vermelha.Me deixou parecendo um menino querendo muito algo. Você! — Só que não vai me dar nenhum igual a esse — ela acaricia o meu peitoral, olhando-me, mesmo com os saltos, tendo que colocar um pouco dos seus pés na ponta para ficar cara a cara comigo. Ela me deixa fissurado enquanto sustenta o restante do tecido de alça na altura dos seios, sem o apoio do sutiã, eu aliso o restante que está nu. Descendo nos ombros, nas costas, nas alças da calcinha e na sua bunda formosa, quente. — Você está me sentindo com tanta delicadeza, com atenção, como que se eu fosse admirável. — Está confiando em mim, Kia, depois de ainda não ser o suficiente as provas das minhas promessas. E você é admirável. É um anjo puro, inocente. O único responsável por algo, desde que lhe comprou menina, sou eu. Ela me fita com os olhos brilhando. E não querendo que ela chore, a não ser por prazer, eu volto a afagar o seu traseiro e passo o dedo até a base do ânus. Kia geme. — Agora me responda se está molhada? — S-sim... estou. Com a sua resposta, eu passo a mão por baixo do seu vestido rasgado, afasto a calcinha que gruda úmida na sua vagina. E só para comprovar o que é certeza, eu sinto toda a sua lubrificação escorrendo pelos meus dedos. Ela está muito excitada e acumulada. Porra, que sensação deliciosa. Acolhi todo o seu líquido. — Dexter... — Ela se apoia em mim, fechando os olhos. Eu continuo a acariciar seus lábios macios, de poucos pelos, que começam a ficar durinhos e a pulsar com meu toque. Então, devagar, dedilho- a entre as pernas, penetrando gostoso. Ela joga o pescoço para trás, soltando gemidos altos, e agita os quadris, vibrando. Para enlouquecê-la mais, eu pego a sua mão e coloco sobre o meu volume latejante na calça social. Sendo tentador, Kia pressiona enquanto a masturbo – o que faz ela não demorar a explodir de prazer e eu a ficar mais excitado, com o membro doendo. Deixo-a gozar com as pernas afastadas, segurando-as, para ficar sem o consolo de se suprir ao recolhê-las e todo o gozo vai ao chão. É uma visão espetacular. Eu fico observando o seu rosto angelical, fissurado por ver tão tarde que essa doce mulher é minha e eu posso dar tudo de sexo que nunca a proporcionei antes, com sinceridade e luxuria. E céus, eu preciso dar isso a ela agora! CAPÍTULO 26 Kiara amolece nos meus braços. — Eu quero muito você — ela sussurra arfante. Então se afasta, deixando o restante do vestido rasgado cair no chão e dando-me a visão de todo o seu corpo seminu. Com o pau latejando, os meus olhos não saem dos seus seios empinados, de mamilos rosados e duros, que agora acolhem muito bem a minha mão grossa, até sobra. Eu a pressiono forte, levando Kia a se segurar em mim para gemer e voltar a perder os sentidos. — Você vai ter... — Murmuro, e sem demora a pego feroz pela cintura, levantando-a do chão. — Eu quero você gemendo para os quatro cantos dessa fazenda ouvir. Ela exprime as pernas no meu quadril, sufocando os seios eretos no meu peitoral e balança a cabeça em negativo. — Você só pode estar doido se acha que eu vou fazer isso. — E como vai controlar? Levo a minha menina até a cama e a coloco sobre o colchão, indo por cima da sua beleza fascinante. Tudo nela me seduz. O cabelo de cachos loiros, os olhos azul-acinzentado, as sardinhas. É angelical. — Eu vou... — Kia se ajeita sem mais vergonha da nudez, como antigamente. Ainda olha para o meu abdômen e o volume grande na minha virilha. Eu paro de joelhos, levantando-me para tirar a camisa e o cinto. — O seu ombro melhorou? — Está muito melhor — após também tirar a calça, abaixo-me obscuro nela, deslizando os dedos pelas suas curvas aveludadas e dando uma lambida única na sua barriga, até o pescoço. Ela aperta o travesseiro, choramingando arrepiada. Eu beijo o seu cangote, a orelha, o ombro, inundando tudo com a minha saliva. A saboreio, estimulando meu membro por cima da sua calcinha pequena. — Eu vou ter um ataque do coração a qualquer momento... — Kia gagueja muito acelerada, empurrando a minha cabeça para poder respirar e eu fitá-la. Eu faço, mas, em seguida, a lambo na boca, agora não dando chance nem para ter fôlego. Sugo o seu oxigênio com um beijo animal, adiante, volto para baixo, descendo por onde percorri a saliva. E chego na sua peça íntima, melada de gozo, dando uma mordida no clitóris pulsante. Ela agarra os meus cabelos em desespero. — AN... Anton... — Diga? — Isso é bom... não para! Eu sorrio da exclamação do seu pedido e eu começo a arrancar a sua calcinha, sem rasgá-la, depois realizo a minha obrigação de "comer" a sua vagina como se eu fosse um leão. E, porra, se ela disse que ia controlar algum grito de prazer, acaba de me provar o contrário, tacando a cabeça para trás e chamando-me repetidamente alto pelo nome, enquanto rebola na minha língua e nos meus dedos que entra e sai do seu ponto G, metendo sem parar. Ah, isso aqui que será o meu fim. Eu preciso penetrá-la. Kiara Dexter Eu sinto tudo tremer e enlouquecendo, eu berro pelo Anton, solto os seus cabelos, apoiando-me na cabeceira e chego no meu segundo orgasmo que devasta a noção de existência. Eu caio sobre a cama, aperto as coxas, mas não tenho tempo de me recuperar de nada. O Dexter volta faminto, virando- me para ele e dando-me o gosto do meu próprio sabor na sua boca. Eu entrelaço rápida as coxas no seu quadril, seguro no seu pescoço e sinto-o tirar o membro rígido da cueca. — Você... hummm... — Então separo os nossos lábios do beijo, interrompendo-me com a sensação de pele com pele no meu clitóris. — Hannn. — Eu? — Ele se esfrega de novo, alimentando o tesão de suportar mais orgasmos. Eu estremeço alto. — Eu hoje vou enlouquecer você, minha doce mulher. Como se eu estivesse entrando num mar de águas ferventes... mergulho-me de prazer, recebendo a sua promessa funda, e fecho os olhos, desta vez, com gritos e gemidos saindo estridentes, sem controle a cada estocada. — Ahh, Kia! — Urrando, sem avisar, o Dexter me toma a força pelas costas, tirando-me do colchão e jogando contra a parede próxima da janela da sacada. Ele segura os meus cabelos e investe forte, intenso e feroz. Eu delírio, recendo-o com eloquência. A gente até perde o controle. E, no ápice, quando gozamos juntos, eu abraço de forma estática o seu corpo, vibrando com o seu líquido que me preenche de jatos fortes, percorrendo minhas pernas moles e melando tudo, até a cortina da parede. Anton me segura mais firme, tomando fôlego e volta a me deitar na cama, ao seu lado. Eu o fito, com o peito descendo e subindo suado, cansado; igual ao seu. — A proteção — digo arfante para ele, não querendo pensar em como reagiria se acontecesse uma situação dessa há dois anos, sem preservativo. Ele ficaria maluco —, você não vestiu. — Não — ele acaricia uma mecha do meu cabelo, agindo incrivelmente calmo e relaxado. — Eu tenho a pílula para você. Só me responda o que achou? Eu continuo a encarar os seus olhos sérios, tocando nos pelos do seu peitoral vigoroso. — Eu nunca achei que poderia ser ainda melhor. Eu senti você, pele com pele, todo o seu prazer. Foi único. Anton fisga um sorriso de lado, erguendo o meu rosto até a sua boca e meus seios seguem o esfregando. — É mais gostoso... — sussurra, com a sua barba pinicante na minha bochecha. — Seus gemidos altos, em gritos já disseram tudo, Kiara. Eu arrepio-me. — Por mais que agora eu não tenha um pingo de coragem de descer lá embaixo, no fundo, eu nem ligo se ouviram ou não. Não me importo com mais ninguém. Eu deixo o Anton admirado com as minhas palavras. — Também não me importo. A raiva, o desgosto que o meu pai sentia por essas pessoas da classe alta da sociedade era com razão. O compreendo, mesmo tarde, eu compreendo e quero que todos vão para o inferno! — Ele declara meio furioso, deitando-se contra o travesseiro. Eu tento não amolecer o meu bobo coração que grita a cada pulsação que ele realmente está mudando e que eu o amo. Contudo, desta vez, eu sei separar o trigo da farinha e o amor de prazer carnal. É cedo para me dedicar.Ele tem que fazer por merecer. Calados, ficamos mais um pouco descansando na cama, até o Anton me pegar de novo no colo e me levar até o chuveiro com ele – nus, desavergonhados, para tomarmos um banho gelado e com carícias que eu gosto de sentir pelas suas mãos robustas. Da mesma forma, revisto-me de coragem para retribuir os seus toques deliciosos. E ele não me impede de nada, permitindo que o sinta desde os músculos rígidos ao seu órgão duro e latejante. Após o banho excitante, enrolo-me no roupão, pego o restante do meu vestido do tapete, os saltos e analiso-o, que está de pé, com uma toalha azul enrolada na cintura e a outra branca secando os cabelos. — Eu vou para o meu quarto. — Acho que você já está no seu quarto. Eu dilato as pupilas, sem crer na sua resposta. — Gostaria que voltasse a ficar aqui, ao meu lado. — Eu tenho que ficar com o meu filho. — Se mude com ele! — O Dexter exclama, sem tirar as íris de mim, aproximando-se a cada passo. Eu fico sem ação, perco a voz. Ele aceitaria o berço e o Gieber no quarto? É de duvidar. — Quero que vocês fiquem aqui comigo. — Não... — Enquanto eu tento negar, ele para na minha frente e toca nas maçãs do meu rosto. — Não vou aceitar. Não estamos bem. Só estamos tendo... sexo... é só isso que estamos tendo. E é bom, eu gosto, e só. Anton muda o semblante na hora, sem acreditar no que eu disse, com se eu fosse outra pessoa; fria e sem sentimentos. Ele me solta bravo, fazendo-me repensar em ficar parada ou correr por causa do seu olhar fuzilante. — É a minha esposa, não estamos brincando de amantes! E jamais diria essa mentira que omitiu! — Omitindo ou não, Anton. No momento é só isso, sexo. Você sabe o que eu passei. E já foi um passo enorme eu ter lhe entregado o meu corpo depois da barbaridade que fez. Pois, querendo ou não, eu confiei em você, eu deixei que estivesse em mim de novo, mesmo que enquanto eu lutava pela dor, as feridas, a raiva, o ódio, a vontade de vingança contra você. E confesso, você me tirou tudo isso da cabeça com demonstrações de prazer, carinho. Fez amor como nunca antes tentasse. E até agora eu continuo apostando em suas promessas. De passinho em passinho, eu estou tentando construir o seu novo caráter. Não é tão fácil. Minhas palavras o calam, desmontando a sua armadura rude, talvez pela culpa, e ele puxa a minha cintura, dando-me um beijo na testa. — Sinto muito se eu fui grosseiro, eu não quero ser mais aquele Anton imbecil. Eu me afundei numa solidão, sem pensar nas consequências da realidade. — Foi pelo seu pai, eu sei que sofreu e sofre até hoje por ele. Mas não tocarei mais nesse, nem no nosso passado de marido e mulher daqui em diante. Da mesma forma que está mudando, eu também estou. E é amadurecer tomar algumas decisões certas, que ainda doem. — Ao mesmo tempo que me orgulha, sinto-me responsável por quem eu te tornei. É uma mulher, Kiara, que, no fundo, ainda tem aquela menina que me enlouquecia pelas curiosidades e pelo jeito doce, bom de ver o mundo. Eu não te mereço, porém, não aceito que se vá para sempre. Eu fico emocionada e ele me beija, colando o nosso corpo e arrancando suspiros dos meus pulmões. — Você foi um bruto... eu não tenho mais forças — afasto-me do beijo a caloroso dele, voltando os meus pés descalços para o chão. — Eu sei, eu suguei quase tudo — O Dexter murmura galanteador no meu ouvido. Eu sorrio discreta e ele me abraça com o tórax molhado. Parece que eu estou num sonho, em que nada disso é real. E que esse homem carinhoso na minha frente vai desaparecer assim que eu abrir os olhos. Ele é tão bonito, forte, rústico. É por isso que me seduz, além do amor que felizmente ou infelizmente vive no meu peito. Torço para que, no final, seja um felizmente recíproco. Pois essa chance é a última. CAPÍTULO 27 Anton Dexter Eu solto a Kiara dos meus braços e a deixo voltar para o seu quarto, mesmo querendo que ela ficasse aqui, aconchegada ao meu corpo e eu, ao calor da sua pele macia. Mas a compreendo. Por mais que eu diga que o que eu fiz no passado, hoje, com sinceridade, eu me arrependa, ela continua com medo e desconfiada. É como que se vivesse os nossos momentos sabendo que, no outro dia, eu vou voltar a ser aquela pessoa bárbara de antes. E eu não vou voltar, eu não posso ser aquele homem desgraçado de novo. E mesmo que não seja o suficiente, por mais que eu não mereça nenhum perdão ou misericórdia, eu congelo a terra para provar isso a ela e a mim próprio. Eu errei e antes de dormir, imagino se eu pudesse voltar na ocasião em que fui negociá-la com o seu pai. Ela era virgem do corpo aos pés, digo dos seus gestos, fala, perguntas. Tão curiosa, doce, uma menina de dezessete anos com um conhecimento tirado dos seus milhares de livros escondidos no forro do quarto. Lembro-me de que eu fui um total bruto, grosseiro desde que a trouxe casada para esta mansão. Nunca parei para tratá- la no tom de sua calma e delicadeza. Acho que só fiz isso depois do tiro disparado no meu ombro, pois, naquela tarde que me viu ensanguentado, Kia teve a coragem de se importar com o infeliz que nunca a tratou como merecia. E não escondo mais que ela realmente é o que me resta, é a minha estrutura. Esta noite, vê-la naquele vestido espetacular, com os cachos, o perfume, tudo tirando o fôlego, me deixou louco, incomodado. Senti ciúmes pela primeira vez de uma mulher. Eu queria socar a cara de cada homem que estava a olhando. Ela me desafiou, respondeu, teimou, contudo, nada que me enlouquecesse ao ponto de eu ser um monstro. Eu só queria a sequestrar dali e dar prazer a noite toda, sentir cada pedaço do seu corpo feminino. E eu fiz. E eu continuo a querendo mais do que antes. — Bom dia! — Senhor Dexter! Que susto! — Felícia arregala os olhos, entrando em choque ao me ver, de repente, cruzando o corredor, onde a peguei de surpresa com uma bandeja vazia. — Meu Deus, meu pobre coração. Bom dia, senhor. Acordou tão cedo. Hoje é domingo. — Eu estava muito pensativo para ficar deitado. Só tem eu ainda de pé? — Sim. Acredito que, por causa da festa de aniversário, a dona Lívia e a dona Lorenza vão levantar bem tarde. Ah, mas a Kia já está no banho. Acabei de levar a mamadeira do bebê e uma água fresca para ela. — Obrigado. Eu vou descer rápido para os galpões de armazenagem e daqui a pouco, eu volto para o café. Caso Kiara pergunte, avise-a. — Sim, senhor. Felícia consente e eu me retiro, caminhando rumo ao estábulo para pegar o meu cavalo. E já com as selas prontas, feitas por um peão, eu saio ao lado do meu capataz, que me acompanha até onde o incêndio aconteceu. Mas, quando eu chego, a porra da cena que eu encontro é de vinte cinco mil de prejuízo, em cinzas. — Não encontramos nenhum suspeito — Gael informa, também aparecendo com mais dois peões em seus cavalos. — Só que achamos um galão de gasolina jogado no açude. — Quem fez isso já está muito longe — eu murmuro. — Essa pessoa aproveitou a distração da festa para agir. — Também acredito. O que aconteceu aqui foi um crime, algo arquitetado para te atingir. Eu encaro o Gael, calado, ligando o óbvio ao fato da tentativa de me assassinar na saída dos estábulos. O tiro, o incêndio. Não estão para brincadeiras. E nem eu. — Quero que reúna os capatazes amanhã, Ratito. E vasculhe todos os peões. Qualquer suspeita, me avise. — Sim, patrão. — Suspeita dos seus peões? — Eu suspeito até da minha própria sombra, Gael. E se moram nas minhas terras e se tem alguém sabotando os meus negócios, vasculharei até encontrar esse marginal. Gael se cala. E sem mais o que dizer, após as minhas palavras, eu aperto o chapéu na cabeça, peço licença e inclino as rédeas do cavalo para poder me retirar e inspecionar dois campos de eucalipto recém-plantados, junto do Ratito. Em seguida, retorno a mansão; entro, tomo um banho, visto outra roupa e desço para o café pronto sobre a mesa. — Bom dia, Sr. Dexter — Lívia diz ao lado da minha mãe, assim que eu chego, sentando-me quieto. E Kia a observa semicerrando o cenho. — Bom dia. — Certeza que a minhafesta foi um sucesso, estava comentando com a Lívia. — Realmente foi, Lorenza — Kiara sorri em linha reta para ela, sendo ágil na resposta. — E espero que, após o café da manhã, você limpe o jardim da mansão. Pois os empregados não são os seus escravos. Eles não farão nada se eu não mandar. — Não se preocupe, selvagemzinha, eu contratei pessoas para este serviço. Ao contrário de você, eu tenho o meu próprio dinheiro, não dependo de ninguém! Kia abre a boca e antes dela responder, eu entro no meio. — Chega vocês! Não comecem nenhuma discussão! — O brado severo da minha voz faz elas se calarem. Mas a Kiara me olha com o rosto diferente. E da mesma forma, querendo dar um ponto final nessas brigas pelas manhãs, eu encaro a minha mãe. — E eu quero que volte para a capital até sexta, Lorenza! Não é um pedido! Não ficará mais aqui! Tem o seu apartamento, a sua vida na cidade. — O... o quê? — Ela, na hora, larga a xícara. — Você sabe que não pode fazer isso! Eu sou a sua mãe, essa também é a minha casa! — Essa casa era do meu pai, agora é herança minha. Eu te aceitei até resolver os seus problemas com o governador. E creio que já tenha resolvido. Agora chega de tirar a nossa paz. Voltará para a capital até sexta. — Eu não resolvi nada! E só sairei desta mansão quando eu achar por bem! — Então tente me desafiar! — Eu exclamo batendo na mesa. — Seu rumo será o mesmo que o dos seus dois filhos preferidos! Jogados na escadaria com os pertences espalhados pelos lados e com direito aos empregados vendo! Imediatamente Lorenza se levanta furiosa, encarando-me com raiva. Ela fecha a mão. — Você é a imagem escrita e dita do diabo bárbaro do seu pai. E espero que não seja tarde demais quando se arrepender... Dexter! — Nem o seu, Lorenza. Eu sei dos seus planos, e a mim você não tirará nenhum centavo. E quando se for, quero que leve a sua empregada junto. Sem você, não há mais o serviço de escutar conversas atrás da porta e passar informações que nunca deixei vazarem. Parada no mesmo lugar, ela me enfrenta com os olhos esbugalhados de fúria. E sem mais o que dizer, vira as costas. Lívia igualmente não demora a soltar o café, levantar-se, pedir licença e segui-la. — Anton... — Kiara me fita sem crer no que eu fiz. — Ela tinha uma empregada que... — Eu lhe explicarei melhor as coisas daqui a pouco, não pergunte ainda — a interrompo. Ela consente, aguardando-me terminar de comer. Ao terminar, eu a faço me seguir até o escritório. — Sua mãe tinha uma pessoa que escutava as suas conversas escondidas? — Mal termino de fechar a porta e Kia questiona outra vez, com o bebê no colo. — Sim, ela quer dinheiro. Está devendo mais de meio milhão para o governador de Montes do Sol. Sua intenção, além de buscar a minha proteção, era de me convencer de lhe dar essa quantia. Mesmo sem dizer, eu sabia. — Meu Deus, e por quê? Ela pegou emprestado dele? — Não. Porque o governador descobriu que a Lorenza o roubou — eu encosto na beirada da mesa, explicando-a e passando a mão na barba. — E até o momento, se ele não veio buscar ela e o seu dinheiro, é porque eu não permiti. Mas agora Lorenza terá que se virar. Eu quero paz para a minha cabeça, tenho problemas maiores para resolver. — Ainda estou em choque, como ela pode ser amante e roubar o próprio governador? E pareceu que não aceitou muito bem a sua ordem. O que tanto faz — dou de ombros. — É a minha mente que terá tranquilidade nesta casa. — Realmente... teremos a casa toda para nós. Eu relaxo os músculos e olho para o bebê, depois para a Kia. — E ela, aceitando ou não, vai por bem ou por mal embora. — Obrigada, Anton. Por mais que seja a sua mãe, ela é uma pessoa muito má e sem caráter, que merecia só coisas ruins por tanta maldade no coração. — Eu sei — murmuro, buscando na minha mente um único momento em que tive algum afeto de mãe. E não existe. Assim como ela desprezava o meu pai que a amava acima dos seus defeitos, ela também me despreza. E que se dane, eu não me importo. Na verdade, eu não quero me importar com mais ninguém, a não ser com a Kia e esse pequeno menino, o meu filho. São o que eu tenho, depende de mim como homem. — A nova certidão de nascimento chegará quinta — mudo de assunto, querendo dizer isso a dias para ela. — Gieber Dexter Lemos. Kiara me fita, engolindo em seco após eu dizer o nome e sobrenome dele. — Espero que não seja só um sobrenome e uma confirmação de paternidade. — Não será — eu puxo a Kia e acaricio o braço dela, provocando arrepios no seu corpo ao me levantar, tocar na cabeça do bebê e nas suas costas. — Pelo menos, um pai que me ensinou muita coisa boa, eu tive. E será o único histórico que trarei de volta do meu passado; seus conhecimentos. É uma obrigação dar orgulhos as suas memórias. Eu respiro fundo e dou um beijo na testa da Kia. — Você dará, Anton. Estou tendo fé em você — Ela acaricia o meu braço, encara-me, em seguida, também deixa um beijo no meu rosto. Dando- me sensações boas, de estar fazendo o certo pela primeira vez nessa droga de vida tão errada. CAPÍTULO 28 Kiara Dexter Quinta-feira, 21h00 da noite. Com a feliz notícia da partida da bruxa da Lorenza, houve muita comemoração entre mim, Maria e Felícia. Não conseguimos disfarçar nem um pouquinho a nossa alegria. Já a megera está explodindo de fúria. Estou até tentando não esbarrar com ela para não estragar o meu bom humor de felicidade, já que os seus dias estão contados mesmo. Lívia também disse que iria para a capital na segunda-feira, pois as suas férias haviam se finalizado há dias. Agora tem que voltar o quanto antes para o seu trabalho de dentista. Eu nem liguei. Nunca me senti confortável na sua presença. Nem nunca tivemos nenhuma amizade. E falando em idas, a empregada "capataz de informações" da Lorenza foi expulsa desta casa por mim, hoje. E eu acho que, daqui em diante, as coisas vão melhorar. Pelo menos, terei paz e tranquilidade sem ninguém incomodando. Eu termino de dar um banho morno no meu filho, visto uma camisetinha de dormir nele, dou o mama e deito-me ao seu lado na cama, só para ele pegar no sono. Quando pega, coloco-o de volta no berço e vou até os armários trocar a camisola velha por outra mais justa. E assumo que é para provocar o Anton... Não sei, eu estou sentindo prazer em deixá-lo bravo por conta das minhas roupas reveladoras. É como que se ele fosse enlouquecer a qualquer momento e sair rasgando os meus tecidos linha por linha. E é bom, igualmente sinto-me desejada, sensual, atraente. Além de parecer uma vingança, já que o poderoso Dexter não toca mais no meu corpo, a não ser por minha própria permissão. Ele está me respeitando, tratando-me com valor. Ouvindo os meus "sim" e os meus "não". Eu estou encantada por isso, pois acabo tendo dignidade como mulher. Idêntico a personagem do meu mais novo livro preferido, que se descreve e intitula; poderosa, empoderada e dona de si. Esses sentimentos são um prazer incontrolável. — Boa noite. Parada na sacada de frente para a vista noturna do horizonte, a qual eu observava pensativa, desvio a atenção recebendo arrepios instantâneos ao ouvir uma voz rouca atrás de mim. A voz que eu nem precisava virar para saber de quem pertence. Mas eu viro, só para admirar a beleza máscula deste homem, de chapéu negro e olhar severo. — Boa noite — respondo encostada na cerca de madeira. Anton também encosta na porta e sem disfarçar, ele olha admirado para as minhas pernas, o meu decote e cessa subindo nas minhas íris. — Até as suas camisolas estão indecentes, dona Kiara. — Estão? — Extremamente. Eu vejo tudo daqui. Seguro a vontade de sorrir atrevida, sendo séria. — Já está na hora de dormir. E eu só me vesti confortável. — Não sei se acredito, você está melhorando nas mentiras. Anton desencosta da porta e chega perto de mim, percorrendo suas mãos fortes na minha cintura. Eu aceito o seu toque, que me aquece de baixo em cima. E não evito os arrepios diante da sua estrutura alta e cheirosa. Ele acabou de tomar banho. — Não estava no jantar hoje. Por quê?— É que eu não queria esbarrar com a sua mãe. Preferi que a Felícia me trouxesse no quarto — explico, enquanto toco no peitoral dele. — Você sabe, a gente acabaria discutindo. Anton acaricia os meus quadris. — Ela veio agora pouco me avisar de que não ia para a capital. Ela vai ficar na fazenda da Leonice e do Rogério, os nossos vizinhos de hectares. — E qual o motivo? — Leonice é amiga da Lorenza há vinte anos. E ela concordou em hospedá-la. — Bom — dou de ombros, sem me importar. — Pelo menos a sua mãe nos deixará em paz com as nossas vidas. Pois você não tem que ficar resolvendo os problemas dela de amante. Ele suspira, tirando a mecha de cabelo que a brisa fresca soprou no meu rosto. — Eu também mantive a Lorenza aqui para descobrir algo a mais entre ela e o governador. Não acredito que seja só pela dívida que esteja fugindo dele. Lorenza é uma senhora de idade, contudo, não muda o fato de ela ser uma mercenária que manipula os homens para enriquecê-la e enganar os outros. É uma mulher ardilosa. E sei que, por mais que meu pai a amasse, ele só se casou com ela porque estava grávida e eu já tinha nascido para comprovar o exame de DNA. Porém, mesmo assim, os seus planos de dar o golpe do baú no Rangel Dexter foi de água abaixo quando ele a fez assinar um regime de separação total de bens. Uma cartada "inteligente" que ele planejou achando que a mudaria. O que não aconteceu. — E por que ela não se separou dele logo em seguida? Creio que pela índole da Lorenza, era o que a própria faria. — Eu sinceramente não sei. Só me lembro de que foram trinta anos juntos, em meio a traições, brigas e Lorenza passando semanas na capital, abandonando eu e o meu pai nesta mansão. Nem quando eu me tornei adulto e ele ficou doente, ela se interessou em ser presente nas nossas vidas, em dar algum apoio. É fria, sem caráter. Eu observo o Anton, que fecha a face, sem querer demonstrar mágoas e tristezas guardas da "mãe", meu coração se exprime, dando completa razão para ele desprezá-la. Uma mãe jamais será aquela que só coloca o filho no mundo e diz "tchau", "se vira". Aprendi que ser mãe é deixar seus próprios interesses de lado para assumir as responsabilidades de uma vida; é parar o mundo para dar amor, cuidar, estar presente e ser parte da sua pequena criança. Ser mãe é a missão mais linda que Deus dá a nós mulheres. E fazê-la e desprezar essa dádiva sem um pingo de arrependimento é também um dos maiores pecados, imperdoáveis para ele. — Está muito cheirosa, Kiara — mudando de assunto, o Dexter me pressiona contra o seu corpo e cheira o meu cangote, arrepiando-me. — Aroma de flores doces... — ele diz, beijando a minha pele e raspando a sua barba até o meu pescoço. — Irresistível. — Dexter — eu fico nas pontinhas dos dedos, atraída pela boca dele e afasto a cabeça para fitá-lo. — Você pode voltar por onde entrou. — Como? — Ele se distancia, franzindo o cenho. — É, foi isso que você ouviu — eu tento o empurrar, no entanto, o homem é muito mais forte e grande, não consigo mover um dedo do seu corpo. — Volte aos seus aposentos, que eu preciso dormir mais cedo. Amanhã pretendo visitar o meu avô para convencê-lo da reforma. Por favor, me dê licença. — Está me expulsando, srta. Dexter? — S-Sim — eu gaguejo e balanço a cabeça, ficando mais corajosa do que antes, após fraquejar. — Sim, eu estou! Vai, se retire daqui! Anton sorri, ainda sem crer no meu comportamento e não acredito que ele está subestimando a minha ordem. — Anton, se retire, eu já falei! — Ok, Kiara..., no entanto! — Ele me puxa firme pelo tecido curto da camisola, agarrando os meus cabelos, eu perco o ar com a sua ação brutal. — Nem pense que amanhã sairá dessas terras se não for comigo. Entendeu? — É claro que eu iria com você. Quem mais me levaria, não é mesmo? — Droga, está muito respondona. E eu gosto e não gosto disso. — Mas não deveria gostar nem um pouco. Me larga, Dexter — eu distancio o rosto dele, para não me beijar e eu enfraquecer. — Está me enlouquecendo. — Isso é ótimo. Me larga. — Eu vou... Só que pelo menos me fará pensar em você antes de dormir... — E sem esperar, ele, sendo rápido, me dá um pequeno aperto no meio do traseiro e cola seus beiços na minha boca, lambendo os meus lábios com a língua para, em seguida, beijar-me feito um animal com fome. — Boa noite, doce Kiara — ele, então, sussurra perto do meu ouvido e solta-me para se retirar poderoso. Meu Deus. Eu sinto as minhas pernas derreterem e a minha peça íntima mostrar sinais de que terei que trocá-la. Ofegante, o observo virar as costas. E quando fecha a porta eu vou até a cama me sentar para provar da melhor sensação da minha vida: de provocar o Anton a ficar louco de desejo. É muito prazeroso e muito vingativo. Na manhã seguinte, como garantiu brutalmente, o Dexter me leva bem cedo para conversar com o meu vô Heleno. E eu converso a sós com ele, travando uma longa batalha para convencê-lo a aceitar a ajuda para reformar a sua casa. Mas, no fim, graças ao meu bom senhor, intercedendo sem parar, eu consigo a sua aprovação. Até saio emocionada, imaginando uma vida melhor para ele, sem sofrimentos de uma triste miséria. Ele terá tudo com dignidade. Eu volto para o carro informando a notícia ao Anton, ele apenas responde que dará as providências daqui em diante. Eu o agradeço animada. — Anton... Na fazenda, assim que descemos da caminhonete, eu subo os degraus da área, observando o Gael caminhar rápido até nós. Ele me fita, adiante desvia. E meu coração doí por não sermos mais amigos como antes. — O que foi? — O delegado está te aguardando no armazém onde aconteceu o incêndio. — Tão cedo? Achei que ele viria mais tarde. Eu resolvo os deixar com os problemas da fazenda e retiro-me quieta para dentro de casa. E passo pela sala, subo até o meu quarto para colocar meu bebê dorminhoco no berço, depois troco de roupa e desço rápida para pegar algo de comer. Porém, quando eu estou passando pela pequena biblioteca, ouço vozes conversando altas no seu interior. E me aproximo curiosa, vendo a ratazana da Lorenza pela frecha das portas quase abertas. — [...] Você está sendo uma incompetente! Seu serviço era simples, mas tinha que colocar tudo em risco por medo! — É impossível chegar perto dele, Lorenza — eu ouço a voz da Lívia e estreito mais os ouvidos. — Eu já disse para descartar esse plano de sedução. Ele sabe muito bem que eu estou aqui por sua causa. Com certeza, já ligou os fatos a tempos, só não deixou transparecer. A única burra inocente dessa história mesmo é a selvagem. — Eu estou nas mãos do governador, Lívia. Não posso perder tudo agora. — Tem que se tranquilizar. Não disse que foi ele quem manipulou o médico do Rangel para mat... — Cala a boca, menina! — Lorenza corre para verificar a porta e eu me escondo, com o coração acelerado. — Os empregados podem ouvir, está louca? Eu engulo em seco, tremendo, e volto a escutar ainda pela mísera frecha que se abriu sem ela perceber. — Desculpa. Só que ainda não entend... — O que tem que entender é que o Rangel já estava na beira da morte com o câncer. A gente só acelerou o processo e ponto final. Esse bobão trouxa é passado, o meu presente é o Anton e o Gael. Pelo menos um, você seduziu, mesmo não sendo o mais importante! — Ele agora acha que pode ter metade desta fazenda. — Ótimo. Só precisa ter esse homem completamente nas suas mãos. O tempo é curto, continue fazendo ele acreditar que me traiu e que se importa com a selvagemzinha do mato. Do restante, até o meu retorno, em breve, cuido eu. E lembre-se, bico calado. Vamos descer. Eu ouço passos e desesperada, eu me jogo atrás da coluna da enorme janela do corredor, em lágrimas, não querendo acreditar no que aquelas duas cretinas disseram. Meu Deus, o Anton surtaria, enlouqueceria. Eu não consigo acreditar. CAPÍTULO 29 Anton Dexter Eu converso em sigilo com o delegado, informando-o de tudo que está acontecendo. Ele me garante uma investigação minuciosa, mas com desconfianças. — Preciso que seja sincero, Dexter. Tem algodo seu passado que está retornando? Eu encaro severo o Laerte. — Não mesmo. Você sabe quem eu sou nesta cidade e quem o meu pai era. Como ele, o que eu tenho são inimigos cheios de ganância, que adorariam me ver morto ou na miséria. Eu só preciso descobrir que é essa pessoa, para ter paz. — Se está me dando a sua palavra, confiarei. Só não garanto uma investigação rápida. Terá que ter paciência. — Paciência é o inferno que eu não terei. É a minha vida e a da Kiara que está em risco. — E o seu filho? — Laerte para nos degraus de entrada, questionando-me intrometido. E eu não o afronto grosseiro, pois o respeito por ter sido um grande amigo para o meu pai. Além de me dar conselhos e se meter na minha vida sem ao menos eu mandar. — Eu me importo, é o meu filho. — Eu acredito que se importa. No entanto, tem algo, Anton, que não me conta. Quando a sua esposa fugiu, você enlouqueceu, me fez caçá-la em cada fazenda. Agora que ela voltou, você virou outro homem, deixou muita coisa no passado. Foi realmente pelo menino? Incomodado e nervoso, eu não desvio dos seus olhos, eu resolvo ser sincero. — É por tudo que envolve aquela menina que eu comprei e destruí a sua inocência. E o bebê só acrescentou mais pesar. — Acho certo. Deve se redimir por tudo que fez de errado. É um bom homem. Eu vejo o seu pai em você. E não só na aparência oponente, mas no coração. Por isso, explore mais isso, continue descascando a casca de orgulho e luto por ter o perdido. Não pode viver isolado com as suas dores. Você orgulha a mim e com toda a certeza a ele — Laerte bate nas minhas costas. Eu fico calado, sem resposta. — E amanhã à noite, prepare um jantar que eu virei com a minha esposa e os meus dois filhos para lhe visitar. — Tem como eu dizer que não? — Não mesmo, está me devendo essa ocasião. Um ótimo dia, Dexter. — Igualmente, Laerte. Eu retribuo as batidas nas costas, acompanhando-o até a sua caminhonete, e assim que se vai, eu volto para o serviço na fazenda. Kiara Dexter Nervosa, com os batimentos descompensados, eu fico no meu quarto, desesperada, sem saber o que fazer com o que eu ouvi da nojenta da Lorenza e da Lívia na biblioteca. Eu não sei se digo ao Anton. E se ele não acreditar? E se surtar? E se fizer uma loucura? Eu não posso crer, meu Deus, estou angustiada, em desespero. Talvez eu devesse era enfrentar aquelas duas falsas para elas revelarem a verdade para ele. Ainda o Gael está se envolvendo com a Lívia. O plano era de seduzir o Anton. Tenho certeza que para roubá-lo e até me tirar do caminho. O que eu faço? Por que a Lívia disse que o Gael já sabia da metade da fazenda? E o senhor Rangel Dexter? Será que a Lorenza e o governador tem algo a ver de verdade com o seu falecimento? Meu subconsciente não quer aceitar! Eu fico a tarde toda no meu quarto com o Gieber engatinhando com os seus brinquedos pelo tapete, pensando no que devo fazer. Só que nada me parece levar a algo certo, que dará justiça pelas barbaridades daquela mulher horrível. — Kiara? — Eu levo um susto ao ouvir a voz do Anton, até dou um pulo da cama ao vê-lo abrir a porta e entrar pedindo licença. — O-Oi. — Tudo bem? Felícia me disse que passou o dia todo no quarto. — É... sim — meio aflita e ansiosa, eu analiso a sua postura alta. Anton também me observa desconfiado, aproximando-se com as suas botas marrons, para, quieto, sentar-se na cama. — Não sei, mas eu não acredito em você. Não é de ficar trancada no quarto, se estiver acontecendo alguma coisa, me conte, eu não vou discutir. — Não é nada grave, só fiquei indisposta. Era só isso? — Não — Anton me olha no fundo dos olhos. — Eu vim te informar que a nova certidão do bebê chegou. Eu esqueci no escritório. Depois lhe entrego — Ele se inclina para observar o pequeno no chão, que balbucia com um ursinho de borracha na boca. Ele morde as suas orelhinhas. — Tá bom... — Devagar, também me sento ao seu lado, coçando ansiosa o cabelo perto da nuca. — Está estranha, Kiara — ele murmura sério, voltando a me fitar com as suas íris claras. — Posso te perguntar uma coisa sobre a Lívia? Ele consente calado. — Você sabia que ela estava aqui para te seduzir e conseguir o dinheiro para a sua mãe? — Da onde tirou isso? — Era óbvio, só eu que fui burra demais e não cheguei nesse parecer mais cedo — eu abaixo a cabeça e dou de ombros. O Dexter, então, segura a minha mão, me dá um beijo nas costas da palma e ergue o meu queixo com o polegar. Ele não parece nem um tiquinho surpreso com a pergunta. — Ficou chateada ao chegar nessa conclusão sozinha? É por isso que passou o dia todo no quarto? — Não, eu não fiquei chateada. E eu já te disse o motivo de não ter descido. Não respondeu o que lhe perguntei. — Não vou mentir, realmente era óbvio os planos da minha mãe com a Lívia aqui na fazenda. Mas ela não conseguiu nada, nem chegar perto de mim. — E você acha que elas vão deixar por assim? Q-Que a sua mãe vai embora sem o dinheiro que veio buscar de você? — O que sabe? — Ele questiona de repente, puxando o meu corpo para si. — O-O quê? — Arregalo os olhos. — Você que deveria responder as minhas perguntas. — Suas perguntas são uma forma de me arrancar alguma informação, ou medo de me revelar algo. Pare de omitir o que deseja conversar e vai direto ao ponto! Meu Deus, como esse homem pode adivinhar as coisas? — Não tenho! — Afasto-me angustiada, tentando não gaguejar. Só que ele continua a me pressionar com as suas mãos grandes. O meu vestido já está no topo das coxas. — Anton, vai me deixar nua, me solta! Ele me solta, porém, no mesmo instante, pega-me rápido pelos quadris e vira-me deitada na cama, colocando-me na sua lateral para me roubar um beijo feroz de língua. Não tenho tempo nem de me defender do ato. Ele é possessivo, com pegada. Seu chapéu cai no colchão pela inclinação da cabeça que se move enquanto devora a minha boca. Fico fraca, cheia de prazer. Ofego desejosa, tocando no seu cabelo, na sua barba, descendo para o pescoço, os ombros, o peitoral, os braços fortes... — Anton... — Eu arfo, afastando-o após me sugar o fôlego. Ele me dá dois selinhos, permanecendo sobre o meu rosto. Respiramos quentes, com o anseio de ir além do beijo. — O Gieber... — digo ao ouvi-lo balbuciar alto no tapete. — Ele está brincando com os carrinhos — comenta ao erguer-se para olhá-lo, em seguida, fita-me com a sua mão direita na polpa da minha coxa nua. — Vai me negar hoje também? — Sim, já pode voltar aos seus aposentos. — E dormir com você? — Dormir? — Exatamente, Kia — ele aperta a minha perna, deslizando o seu nariz na minha bochecha. — No calor do nosso corpo, a noite toda. Arrepio-me com vontade dele. — E só vai dormir mesmo? — Se preferir outras intenções, não será muita tortura para mim. — Se é para torturar, então eu aceito que só durma. Ele ri sem ligar, logo voltando a seriedade. — Sobre o que me questionou agora pouco; caso a minha mãe deixe por assim mesmo a sua expulsão. Ela não vai, é vingativa. Por isso eu estipulei o prazo até sexta, que é amanhã. Para não ter tempo de armar algo contra mim, ou até contra nós dois. Não é confiável. — Você não tem medo dela? — Não. Eu não teria motivos para ter medo da minha mãe. Lorenza só é fútil, seu interesse sempre foi na fortuna deixada pelo meu pai. E eu sei dos seus planos, os quais nenhum deram certo comigo. — Não deveria ser tão confiante, no fundo, eu sinto medo, parece que a qualquer momento coisas ruins vão acontecer conosco. Tem que tomar cuidado, já levou o tiro, houve o incêndio. O que mais pode acontecer? — Não deveria pensar nisso. Com a saída da minha mãe, teremos paz. Principalmente você e o bebê. E eu estou investigando esses crimes ao lado do delegado Laerte. Tenho certeza de que descobriremos algo. Anton me dá outro beijo e larga-me calmo, sem estar bruto ou bravo, descansando as costas na cabeceira. Eu volto a me sentar, adiante levanto-me com a roupa, o cabelo, tudo bagunçado. E sem parar de pensar na conversa daquelas duas cretinas. — Falando no Laerte, ele virá jantar aqui em casaamanhã. E trará seus filhos, a qual está proibida de se dirigir ao dois oferecidos. — Como? Nem conheço eles! — Exclamo indo até o Gieber dar a mamadeira de água ao arteiro, que se "diverte" batendo os carrinhos no chão. — Mas eles vão estar ansiosos para conhecer a minha esposa. — E qual o problema? Nunca ligou para isso. — O problema é que você é bonita demais. Chama a atenção de qualquer um e eu não gosto. Com uma sensação de satisfação por dentro, eu dou de ombros, recordando-me de que, essa semana, eu estampei a capa do jornal de Montes do Sol. Lorenza quando viu, ficou mordida de raiva. Sai em destaque com o meu vestido vermelho de seda e com o título de: "Após Anton Dexter esconder-se por anos em sua mansão ao lado da esposa, Srta. Dexter se revela a imprensa e a beleza nos dá o motivo de o fazendeiro poderoso sumir dos eventos da capital". (Mal eles sabiam que eu tinha fugido e de tudo que eu passei nesses dois anos). No entanto, eu não parei de sorrir lendo a matéria. Chegaram a falar que os homens não tiravam os olhos de mim e que o Anton havia ficado enciumado e me puxado para logo sumirmos do aniversário da bruxa metida (o que de fato aconteceu). No fim, só sei que ele não gostou nada, nada do jornal de segunda-feira. Mandou Felícia tirar da mesa e jogar no lixo. Já eu amei, até recortei a capa e guardei na minha mesinha de canto. — Realmente não tem nada para me dizer? — Voltando a realidade das minhas angústias, Anton questiona repentino. E nervosa, eu nego com a cabeça, com medo de contar o que eu ouvi da Lívia e da Lorenza hoje na biblioteca. Parece que já o vejo surtando e fazendo alguma barbaridade. CAPÍTULO 30 Um pouco desconfortável com a cena do Anton tirando a camisa, eu desvio dele, ajeitando o Gieber no berço que, após mamar, caiu direto no sono. Fecho o mosquiteiro e retorno devagar, desta vez, com os olhos desse homem recaídos em mim. Acabamos de jantar no quarto, agora tenho que cumprir a minha palavra de aceitá-lo dormir na mesma cama que eu. Estou até achando que foi má ideia, pois, quando eu me deito, ele me puxa contra o seu tórax e eu fico de costas, sentindo o seu peitoral nu e a minha bunda aconchegada onde não devia. Tento me mexer, mas ele me para, repousando a mão pesada sobre o meu quadril. — Não se mexa... — Ele sussurra com os lábios bem perto do meu ouvido. Eu arrepio-me, tocando no seu braço de pelos masculinos. — Eu não vou conseguir dormir com você. — Está com desejo, Kiara? — Anton continua perto da minha orelha, desta vez cheirando o meu cabelo e o cangote. — Diga? — N-Não estou... pare, Anton. É desconcertante. — Eu não estou fazendo nada — agindo lento, ele me abraça, aconchegando ainda mais o nosso corpo e eu respiro fundo, sem ação diante do seu membro enrijecido, que ele aproximou sem um pingo de vergonha das minhas ancas. — Se continua me rejeitando, é porque eu não posso te convencer do contrário. Agora tente descansar. Agindo assim, provocante, como não está quase me convencendo do contrário? E como dormir se cada pedacinho de mim pede a sua atenção feroz? Eu não respondo o Dexter. Sendo firme, eu passo a madrugada ao seu lado, quieta, fingindo que a minha cabeça não está pensando em momentos quentes nesta cama com ele. Só que, meu santo, eu penso. E ainda sem sono, algumas horas depois, eu viro o pescoço e não resisto a passar bem devagarinho a mão no seu rosto, na sua barba, levando um susto quando, de repente, esse homem pega no meu braço e beija os meus dedos. Meu coração até saltita em choque. — A-Anton? Não dormiu? — Eu gaguejo e sem responder, ele apenas se inclina no meio do escuro e beija os meus lábios molhados. Eu fico outra vez em choque, mas suspiro e retribuo o movimento da sua boca, que acaba de me penetrar a língua, cheio de fome. Ele não é bonzinho, e eu imediatamente desejo que ele supra a pulsação entre as minhas coxas, que está melando a calcinha devido aos meus pensamentos indecentes sobre nós. — Decida o que quer, Kiara... — Anton recolhe os meus cabelos por trás e afasta-me com força, resmungando tenso, bem baixinho. — Porque você sabe o que eu quero. — Você está me provocando, aproximando seu... sua intimidade. — É, eu estou. Assim como você está fazendo comigo, ao escolher a dedo essa camisola transparente. — Ela é fresca... — com ar de satisfação, digo, me atrevendo muito perto dos beiços dele, sentindo o calor do seu fôlego. Ele é tão forte, rústico. É prazeroso vê-lo nervoso por me desejar e eu não permitir. Eu estou no controle. — Kiara, Kiara! Que porra! — Anton exclama bravo, puxando-me mais forte pelo cabelo e desta vez, enconchando com eficiência o seu membro por baixo da minha camisola. — Tenha um pouco de dó, menina. Eu arfo, apertando os olhos e as coxas. — Eu terei... me preencha, Dexter... eu estou molhada por você. Anton Dexter Com a resposta ousada da Kiara, eu não penso em mais nada. Subo ágil para os seus seios duros e os massageio com deleite. Em seguida, percorro todo o seu corpo macio, parando na bunda redonda, onde pressiono forte e dou um tapa de leve. Ela geme na hora, esfregando atrevida o traseiro em mim. Eu não demoro para tirar o pau para fora da calça e passar nela, entre a bunda e a calcinha que afasto com o dedo, mostrando que eu estou como pedra, latejando de dor para penetrá-la. — Por favor... — Ela se contorce, arfando arrepiada. — Agora é por favor, dona provocante? — É... por favor, Dexter. — Eu farei o que almeja... só que antes — eu então roço o pau semi ejaculado nos lábios do seu clitóris que também escorre tesão. Kia treme, gemendo. — Sofre um pouco com isso. Ela enlouquece, finca as unhas na carne do meu braço e esfrega-se. Aproveito para abrir o preservativo, revestir-me ligeiro e voltar tirando a minha mão que a masturbava, para agora emergir fundo na sua vagina pulsante. Kiara quase grita, mas tampo a sua boca, começando a estocar devagar, até nos dar prazer com força. Chego a segurar os seus cachos, não tendo um pingo de dó em metê-la. Kia chora de prazer, fazendo a cama se mover mais forte com os seus movimentos desesperados. Ao gozarmos, igualmente não dou tempo dela nem recuperar o fôlego. Eu a jogo por cima de mim, troco a camisinha... e caramba, antes de eu sequer mandar, a minha menina já senta rebolando e enlouquecendo-me. Ela toma o controle onde pode, até atingirmos outra vez o orgasmo. — Isso... isso foi muito bom — ela cai em cima de mim, grudando nosso corpo suado, acelerado. Eu ligo o abajur, ergo a sua cabeça e deposito um beijo na sua boca. — Surpreendente. — Eu sei... Estamos sendo um com o outro — ela esconde o sorriso, acariciando a minha barba com as costas da mão. Eu também sorrio e abraço-a no calor do meu peito, afagando os seus fios angelicais. De manhã, acordo ainda com ela assim, nos meus braços, dormindo com tanta calma que me pego a observando sem me cansar do tempo. No entanto, eu consigo me desvencilhar dela, vestir a calça e pedir uma bandeja de café da manhã para a Felícia. Ela não demora a trazer, entregando-me na porta com um semblante enorme de felicidade. Eu agradeço e quando volto, encontro Kia coçando os olhos. Ela me fita na beirada da cama, bocejando. — Bom dia. — Bom dia — sussurro, aproximando-me com a bandeja de vidro, que contém uma rosa vermelha. Eu não pedi, porém, agradeço a Felícia que deve ter colhido no jardim. Kia vê a bandeja e surpresa, logo se arruma sentada, tampando a nudez com o lençol branco. — Nossa... café na cama? — Sim. Acho que deve estar faminta. Eu estou. Coloco no seu colo e sento-me, observando-a, que assim que vê, pega a rosa, sem acreditar. — É linda — a cheira. — Obrigada. — Não deveria agradecer a mim. Mas posso responder um não há de quê — retribuo seu sorriso com uma piscada. — Agora se alimente, vai te ajudar a recuperar as forças que roubei. Kia pega as uvas, começando o café junto comigo. — Sua mãe ia embora hoje de manhã? — Ela questiona enquanto esfria a xícara de leite. — Não sei. Mas acredito que ela não ia nos esperar para se despedir.— Verdade — dá de ombros. — E a Lívia? Ela disse que voltaria para a capital também. — Talvez eu tenha sido grosseiro com ela. Não foi a minha intenção parecer que a expulsei. Seu pai é um dos melhores clientes paras as minhas madeireiras. — Hum... acho que fez o certo. Ela disse que voltaria para o trabalho mesmo, pois as férias haviam acabado. E o plano dela e da sua mãe não deram certo... — Kiara fica estranha, pensativa consigo mesma. Então ela olha para a minha mão e os meus olhos. — Posso te perguntar uma coisa? — Muda de assunto. — Sim. — Você não tirou a sua aliança? — Suas bochechas coram naturalmente. — Não, mas você tirou a sua — aponto para o seu dedo e ela afasta a bandeja do café, desviando de mim. — Você sabe o porquê que a abandonei — ela volta e me olhar. — Ficou para você. Eu engulo em seco, sabendo, contudo, com vontade de enfiar uma faca no lado esquerdo do meu peito, para sentir de verdade a dor das suas palavras que me cortam a alma quando toca no passado. Pego a sua mão, elevo os meus lábios e a beijo sem ter o que dizer. Eu sou o responsável por toda a sua desgraça e não há perdão. — Ela não traz recordações boas. Prometo que farei valer outra aliança para nós. Não significará apenas um casamento sem compaixão. Não precisa dizer mais nada. Kia não esconde a lágrima que lhe foge. E eu deposito um beijo único na sua testa. — Vou deixar você se arrumar, preciso que organize o jantar para o delegado esta noite. Eu sei que não gosta dele, entretanto, é um padrinho para mim. E já estou devendo esta ocasião a ele. — Tudo bem, pelo menos terei algo para fazer. Já estou cansada de ser só a "esposa Dexter", uma madame que não faz nada, além de ser "madame" de uma mansão rústica. Eu me levanto, pego a camisa, o cinto, os sapatos e visto-me. — Se você dissesse isso a qualquer outra mulher da alta sociedade, elas discordariam sem pensar duas vezes. — Claro, é tudo dondocas metidas! — Exclama, pondo-se de pé nua. Meus olhos não fogem do seu lindo corpo. Ela nota, tampando-se veloz. — E... por favor, me dê licença, você tem muito trabalho na fazenda. — Podemos adiar as coisas para tomarmos um banho juntos. — Não podemos, o Gieber já está para acordar. — Então posso cobrar mais tarde? — Talvez, eu pensarei se quero isso. — E se eu trouxesse mais flores? — Sorrio de canto, roubando outro sorriso tímido dela, que balança a cabeça. — Não é da sua índole. Seria muito cavalheirismos. E é em troca de prazer. — Corrija para prazeres, minha menina. E trarei muitas flores, não se preocupe — digo, pego a rosa de cima dos lençóis, cheiro o perfume e, em seguida, chego perto dela, aproximando-a do seu nariz. — Tem seu cheiro — ela me fita com os olhos azuis, inclinando-se e sentindo com calma o aroma da flor. — Então quero que fique com ela para sentir o meu cheiro. — Não, seria muita maldade — murmuro e não resisto a puxá-la para um beijo gostoso, com a promessa de continuarmos esse momento de onde paramos, no chuveiro. CAPÍTULO 31 Kiara Dexter Toda saltitante de felicidade, após o Anton sair do quarto, eu faço todas as minhas necessidades cantarolando. No entanto, logo essa animação passa quando eu desço as escadas, lembrando-me da conversa que ouvi escondida da Lorenza e da Lívia. Para aliviar um pouco desse nervosismo, da preocupação, sou avisada por Felícia que a bruxa já foi embora para a fazenda dos nossos vizinhos. Exceto a Lívia, que ainda continua na mansão. Eu preciso agir rápida, fazer algo para aquela ratazana confessar tudo o que esconde do Anton. E por isso, obstinada, eu peço para a Felícia cuidar do meu filho e vou atrás do Gael, a primeira pessoa que deve me esclarecer as coisas. O procuro em todos os cantos da fazenda, e só acho esse homem no pequeno laticínio, conversando com três peões. Eu o chamo alto da cerca. Ele me vê, interrompendo sua conversa para vir muito sério até mim. — O que faz aqui, srta. Dexter? — Por que está falando assim comigo? Sempre me chamou de Kia. — É a mulher do meu patrão, devo tratá-la da mesma forma que o trato — ele responde curto e severo. E já nervosa, resolvo tratá-lo no mesmo tom. — Hum. Bom, eu vim aqui porque quero explicações suas, em relação a sua intimidade com a Lívia, a cúmplice da Lorenza — revelo direta, erguendo a cabeça com o meu chapéu branco de cowboy. Gael muda a face na hora. Fica inquieto, estranho. — Não sei do que está falando. — Jura que vai mentir para mim? Nunca fez isso. Nunca mentiu, nunca me decepcionou! Ele desvia, colocando bravo a mão na cerca. — Eu sei que vocês têm algo. E ela só está te usando, Gael. Te iludindo com mentiras. Tudo para atingir o Anton. Quando digo o nome do Anton, ele volta a me encarar na hora. — É claro que a sua preocupação seria com o seu marido Dexter! — Gael se afasta da cerca. — Pelo homem que nunca te valorizou! Que só soube te ferir, te tratar sem consideração! — Ele, de alguma forma, está tentando consertar esses erros. — E acredita nele, depois de tantos anos te massacrando, te humilhando como mulher? Afetada, eu engulo em seco. — Eu hoje sei do meu próprio valor, eu não sou mais aquela adolescente boba, iludida, medrosa. Por mais que me doa, se ele não estiver sendo sincero, eu vou embora com o meu filho de cabeça erguida e pela porta da frente. — Pois e se não estiver sendo? Ninguém muda da noite para o dia. Ele está te manipulando. — Ele não está me manipulando! — Esbravejo nervosa. — E você, sendo o melhor amigo dele, em nenhum momento, parou para ajudá-lo! Você o abandonou, deixou que ele se afundasse naquele luto pelo pai! — Não sabe o que está dizendo, Kia. Não sabe de nada. Eu tentei muitas vezes ajudá-lo, eu até soquei a cara daquele teimoso, mas ele preferiu virar as costas e me trocar pelos seus dois irmãos drogados. Eu fiz a minha parte! — E foi pouco, eu sinto do fundo do meu coração que você era sim capaz de socorrê-lo. E também sinto que não se esforçou porque queria a mim. Queria me conquistar para você. É por isso que me dava tanta atenção, que deixava ele ir com os irmãos para a capital sem ao menos lutar para que ficasse ao meu lado. Como se, de fato, eu tivesse dito a verdade que esconde, Gael perde as palavras. — Agora que o luto doloroso está virando conformidade pela perda, não quer dar um voto de confiança a ele. E por quê? E qual o motivo? O Anton sempre só teve o pai que o amava e você, o seu melhor amigo. A mãe nunca foi presente, seus interesses sempre foram pelo dinheiro do Sr. Rangel. Hoje, após a morte rápida e duvidosa do marido, essa mesma mercenária quer tirar tudo do próprio filho. E acha que a Lívia estaria aqui por acaso? Lorenza queria que ela seduzisse o Anton. Todavia, não conseguiu. Então mandou que ela seduzisse você para algo só que entendo que é para atingir ele, para conseguir a fortuna do filho. Por favor, Gael, se realmente tem algum sentimento por seu amigo de infância, não seja usado, não colabore para aquela cretina. Ela não o ama, ela só quer saber da herança milionária do Anton. Eu o observo. Porém, Gael continua calado, nervoso. — Por favor, pense nisso e o procure. Todo mundo tem direito ao erro, mas nem todo mundo tem uma segunda chance. Não deixa o orgulho, a rivalidade falar mais alto. Você continua sendo o amigo e o irmão do Anton. Ainda sem respostas da parte dele, eu suspiro, com o sentimento de decepcionada, contudo, de pelo menos estar fazendo o certo. Eu decido ir embora. — Por favor... eu já vou... se cuida. E triste, viro as costas, abraçada ao meu corpo. Ele fica para trás, sozinho – espero que pensando em tudo que eu disse. Tenho certeza que reconciliando a amizade do Gael e do Anton, os planos da megera podem estar longe de se concretizarem. O que for que seja, parece que o primeiro passo dela é deixar os dois mais rivais. — Kiara? — Andando na trilha de pedras, que é meio longe da mansão, ouço a voz grossa do Anton. Ademais cascos de cavalo roçando a grama da lateral. Eu viro o pescoço, vendo-o diminuir as galopadas. E com cara de bravo. — O que faz fora decasa? Depois do que anda acontecendo, sabe que eu não quero você caminhando por aí, ainda mais sozinha na fazenda. — Eu... eu só quis espairecer a cabeça — fico perdida, sem desculpas convincentes para usar. — Não deveria. Está brincando com os meus avisos? — Não, Anton, sinto muito — eu respondo pacífica, observando-o no seu bonito cavalo negro; o Faísca. Ele o deixa imponente, como se fosse o dono do mundo. "O Dexter". Anton também me observa, cessando suas perguntas para não discutir. — Vem, sobe aqui. Eu te levo até em casa — ele estende a mão. Sem pensar duas vezes, eu aceito o "convite" para chegar mais ligeira em casa. Subo por trás com a sua ajuda. Adiante, sem falar nada, ele puxa as rédeas, pressiona as costelas do animal com os calcanhares da bota, saindo do lugar com galopadas brutas. Eu me seguro forte nele, até chegarmos rápidos no jardim. — Eu acho que poderíamos aproveitar esse momento — Anton murmura, segurando mais forte as minhas mãos no seu abdômen. — Aproveitar? — Sim — ele para o cavalo e ergue os meus dedos, beijando-os. Eu me arrepio, surpresa pelo ato. — Espera, eu te ajudo a descer. Ela me ajuda. Igualmente desce, porém, logo cercando o meu corpo com os seus braços fortes. — Anton, os empregados podem nos ver. Tem os jardinei... — Shiiiu — ele me cala com um selinho. — Não vejo a hora de cobrar o meu banho — sussurra e mordisca a minha orelha. — Não há o que se cobrar... — Rendida, eu abraço o pescoço alto dele. — Terá o banho caso eu permitir. — Eu deveria ter é sequestrado você para a cachoeira, assim não teríamos discussão. Eu sorrio, amolecida das pernas, E aliso a sua barba com carinho. Ele apoia a mão no cinto da minha calça, olho a olho. — Você mudou muito. A Kiara de antigamente não teria um pingo da sua coragem de hoje. — De afrontar você? — Eu preferia que não fizesse, mas você me tem em mãos. E eu estou gostando de te ver assim. É interessante, provocante. Vejo que diferente de antigamente, ele é sincero em cada palavra, não demora uma vírgula para responder-me. — Hum... que bom. Fico orgulhosa por mim. Agora, Sr. Dexter, dá- me licença que eu tenho que ajudar Maria na cozinha. — É claro que eu deixo, só que antes... Após o "antes", ele me rouba um beijo demorado, com posse, ferocidade e de muito calor. Eu retribuo na mesma intensidade sem pensar duas vezes, apertando-o para mim, para sentir seus músculos. Depois de nos soltarmos com dificuldade, outra vez, ele cita do banho, que, mais tarde, me cobrará. Só que mais tarde, o que eu faço é trancar o meu quarto, impedindo qualquer entrada dele, e arrumo eu e o meu filho para aguardar o delegado chegar com a sua esposa e os seus dois filhos. Lívia igualmente foi convidada mais cedo para participar. — Uau, senhorita Dexter, está muito bonita — ela me elogia quando me vê em pé na sala, com o bebê no colo. — Obrigada, Lívia. Você que está bem chique — tentando ser falsa, eu sorrio amigável. Anton também não demora a aparecer nas escadas, dentro de roupas mais formais. Ele, ao me ver, faz questão de dar a sua analisada indecente, com os olhos severos. Eu sorrio por dentro, não duvidando de que ele tenha me procurado para o "banho prometido". E desvio, indo me sentar. Lívia diz boa noite ao Anton e aguardamos o delegado – que chega em cinco minutos. — Boa noite. — Boa noite, Dexter, senhorita... Quando a Felícia os acompanha para o meio da sala, cumprimentamo-nos, recepcionando-os. E claro, em exclusivo, o Anton fez questão de manter a sua cara bruta aos dois filhos bonitos do Laerte. Lívia, da mesma forma, se apresenta a todos com o seu sobrenome de renome. — Então esse é o pequeno herdeiro Dexter — o delegado para na minha frente, toca na mãozinha do bebê, observando o Anton, depois a mim. — Sinto muito qualquer desentendimento, Srta. Kiara. Espero que possamos deixar nossas indiferenças no passado. Não quero que me veja como um homem ruim. — Está tudo bem, Sr. delegado. — Por favor, me chame apenas de Laerte. — Que fofura, Kia, esse menino é a criança mais bonita que já vi — Fabiana, esposa e mãe dos rapazes, diz, sorrindo para mim e acariciando os cabelinhos dele. Agradecida, eu a chamo para se sentar no sofá. Anton faz igual com os homens, oferecendo em seguida uma bebida especial. CAPÍTULO 32 Durante a nossa conversa, eu sou interrompida pela Felícia, que avisa sobre a mesa de jantar já estar pronta. Peço um grande favor para ela cuidar do meu filho no quarto e levanto-me muito educada, fazendo o convite para todos se dirigirem aos seus lugares. Até fico orgulhosa de tamanha formalidade. Durante o jantar, eu pareço uma estátua ao lado do Anton, recebendo os olhares dos rapazes — Paolo e Oscar — que não devem passar dos 25 anos. Eles são gêmeos e têm namoradas. Bom, assim o irmão mais brincalhão disse para a Lívia, que ficou toda sirigaita, sorrindo de orelha a orelha, sem vergonha do seu vestido curto, justo e decotado. Eu também tenho decote, porém, o comprimento do meu vestido é até os joelhos. Ele é da cor azul, igual aos brincos chiques. — Desculpa a franqueza, mas é muito séria. Espero que não seja parte do papel de esposa do Dexter — Fabiana diz a mim, com ar divertido. Eu nego tímida, sorrindo para ela. — É só o meu jeito. — Com todo o respeito ao Sr. Dexter, a senhorita é muito bonita — Paolo, o irmão brincalhão declara de repente, desviando da Lívia e fitando- me. — É um prazer poder conhecê-la. — Digo o mesmo — Oscar replica cavalheiro. Eu agradeço feliz por eles terem se dirigido a mim, já o Anton fecha a cara de vez para os dois. — Oscar e Paolo estão de férias na nossa fazenda. Acabaram de terminar o último ano de Direito — Laerte explica sorridente, orgulhoso dos rapazes. — E logo temos que organizar o casamento e a chegada de muitos netos. — Ah, que sonho, querido. Crianças correndo pela casa. — Isso está muito longe de acontecer. Quem sabe depois dos trintas? — Paolo pisca. Eu sorrio. — Eu também só penso em família depois dos trintas — o outro irmão concorda. E com diversos assuntos indo e vindo, jantamos, tomamos vinho e bom... eu aproveito que o Anton não está me vigiando com a bobeira de ser protetor, para, discreta, quase esvaziar o litro. O que, no fim, surpreende a todos que me veem bem-falante. — Kiara — no entanto, assim que estamos voltando aos sofás, eu sou parada por ele que me encara muito bravo, tomando a taça da minha mão. — Chega — ele sussurra. — Eu não terminei. — E nem pensar que vai, tudo tem limite. Sem querer discussão, eu arqueio a sobrancelha, viro as costas e volto para sala. Encontrando o delegado e a sua família, prontos para irem embora. Eles dizem estar ficando tarde e antes de irem, fazem-nos o convite para repetirmos o jantar desta vez na casa deles. Anton e eu os acompanhamos, dizendo que será um enorme prazer. Lívia também se despede. Após fechar a porta, ao voltarmos, ele me analisa em pé, ainda muito severo, sem nem sequer disfarçar perto da Lívia. — Boa noite, eu vou subir para o quarto — ela diz e retira-se. — O que foi? — Então questiono quando estamos sozinhos, sabendo o motivo do "o que foi" pela sua cara. — O que foi é que eu queria dar umas palmadas no seu traseiro. Eu descruzo as pernas e levanto-me sobre o efeito do álcool, indo até ele, encará-lo. — Sinto muito se falei demais. Mas os irmãos são adoráveis, e Fabiana uma graça de mulher. Pelo menos ela não me tratou como as outras madames que me olham de baixo em cima, me achando uma pé rapada do mato. Afinal, eu mudei muito — explico, tocando no braço forte dele. — Irmãos adoráveis, Kiara? — Captando só a parte dos irmãos, ele me agarra possessivo. — Você realmente merecia umas palmadas, sabia? — São engraçados, não achou? — Passo meu nariz na ponta do nariz dele, sem um pingo de medo de ele agir bruto. Eu sei que seu jeito é esse mesmo. — Acho que está sob o efeito das inúmeras taças que virou sem controle, só pode. Nunca agiu assim. — Um pouco... talvez. — É? — Ele, de imediato, aperta com força a minha bunda, tirando suspiros.E sem falar mais nada, eu mesmo avanço e o beijo gostoso de língua. — Agora faz jus ao adjetivo selvagem... — murmura em meio ao beijo. — Me dê prazer — peço, já sentindo a minha intimidade pulsar. — Eu deixo que cobre o banho — acaricio o abdômen dele, até parar na fivela do cinto. — Que irresistível você — Anton sorri, prendendo meus cachos com os seus dedos grossos, de jeito bárbaro. — Não me lembro de ter te ensinado isso, minha menina — ele lambe a minha orelha. — Confesso estar cada dia mais louco por você. As minhas noites já não estão sendo as mesmas. Garanto que não estão. — Isso é muito bom de ouvir, meu esposo Dexter. — Eu te revelo mais lá em cima no chuveiro. Ele, sem demora, me puxa por trás e me guia cheio de carícias até o seu quarto. Dentro, mal ligamos a luz e começamos a tirar as roupas enquanto nos beijamos ansiosos. Subo no seu colo e sou carregada por ele até o banheiro, onde debaixo da água praticamos o melhor ato depravado que já pude experimentar na vida. Anton me deixa livre para fazer o que eu quiser com o seu membro duro. Eu fico fervendo de vergonha por ser tão inexperiente. Mas é praticando que se aprende, né? Eu me ajoelho sem olhá- lo nos olhos, fazendo o que eu sempre quis fazer, porém, o medo, a timidez, a falta de coragem me impediam. Agora eu faço, levando o Dexter a se comportar sem controle com o meu toque vai e vem, depois com os meus lábios que o provam do gosto salgado. Ele grunhe, catando os meus cabelos. Por pouco, eu não me afogo ao voltar ao controle. E no seu espasmo, ele me levanta veloz, virando-me e enchendo-me de prazer na bunda. — Você foi ótima, patroa Dexter — ofega, lambendo as minhas costas. — Eu... fui... — Eu gemo com ele também passando o órgão melado entre as minhas ancas empinadas. — Ainda pode ficar incrível. Só que é eu quem tenho que te enlouquecer aqui. Está tomando certo as pílulas que eu te dei? — Sim... certinho... — Perfeito, então farei o meu trabalho! Eu ergo a mão e ele, na hora, me imprensa na parede, fazendo com que os bicos redondos dos meus seios se exprimam e enrijeçam-se mais com o encontro dos azulejos frios. Seus dedos se flexionam no meu rego, acariciando-me os pelos do clitóris. Ele chega a puxar alguns fiozinhos e eu fico fora de mim, guiada pelos gemidos de tesão. Na cama, deitados nus apenas com a pouca luz amarela do abajur, eu me pego olhando de consciência pesada para as cortinas que balançam devido a brisa da chuva que entra pelas portas abertas da sacada, recordo-me da conversa daquelas maldosas horríveis, não tendo certeza de que será o melhor a se fazer para acabar com a vida delas, pois posso acabar é mais com a do Anton. — Por que não dorme um pouco? — Anton sussurra, depositando um beijo nos meus cabelos úmidos. Com os olhos quase marejados, ergo a cabeça e faço carinho no seu rosto. — Eu queria te dizer uma coisa séria. — Hum? Eu fico em silêncio. — O que foi, Kia? — Ele retribui o carinho, soando tão doce e calmo. Eu, então, elevo o lençol e meio que me sento. Nervosa. — Eu estou com medo de você, de como vai reagir. Sem entender, Anton igualmente se inclina na cabeceira, observando-me sério. — Está me deixando preocupado. Diga de uma vez o que te aflige? — É a sua mãe... ela e a Lívia... elas têm um segredo horrível que envolve o governador e o seu pai. — Como? — Ainda sem entender, ele não desvia os olhos dos meus, que nem piscam. Eu respiro fundo, tomando forças inimagináveis para não fraquejar. — Anteontem, depois que chegamos da casa do meu avô, eu deixei o Gieber dormindo no berço e resolvi descer bem rápido para pegar algo de comer. Só que quando eu estava indo para as escadas passei pela biblioteca e peguei a sua mãe e a Lívia conversando escondidas. Elas disseram que o Gael já estava sabendo que podia ter metade da sua fazenda. E o plano era de seduzir vocês dois, contudo, Lívia não conseguiu seduzir você, mas fez com o Gael. E... — Lorenza só pode estar ficando louca! — Anton logo brada, interrompendo-me furioso. — Eu sou capaz de fazer o pior com a vida dela! — Ele me encara, fechando os punhos das mãos robustas. — E o que mais tem a ver o governador com o meu pai? Eu sei que eles na época nem se conheciam, e que aquele merda está lá no gabinete por minha causa! — Ele... — eu engulo a saliva, sentindo espinhos afiados descerem pela garganta. — O... o governador também faz parte desse plano — e somente digo isso, quase chorando por ser uma tremenda infeliz medrosa, por não conseguir berrar para ele que a sua mãe é uma assassina e que ela e o governador mataram o senhor Rangel Dexter, o seu pai. Tudo por medo, pois o luto, a perda do pai, a falta de sentimentos, tudo isso foi o motivo desse homem ter sido um monstro e por ter me machucado tanto. Meu Deus, eu não quero ver ele como antigamente. Eu não quero aquele bárbaro sem amor, sofrendo sem um pingo de compaixão e ferindo-me. Ele está mudando, está amolecendo o coração. É quase um novo homem; apaixonante, dedicado, carinhoso. E eu amo tanto que chega a doer. Não posso vê-lo surtando novamente. Eu não sei o que fazer, eu estou desesperada, minha vontade era de fazer justiça sozinha para acabar com aquela megera dos infernos. CAPÍTULO 33 Anton Dexter Minha mãe está muito enganada se acha que vai conseguir tirar algum centavo de mim. E que porra de história é essa de que o Gael pode ter metade da minha fazenda? Um absurdo, um verdadeiro traidor. Eu não me importo de também escorraçar ele daqui! Investigarei tudo com os meus capatazes, mandarei vigiá-lo noite e dia! Eu olho para a Kiara e noto as suas mãos trêmulas, o seu rosto espantado e assustado. — Kia, está tudo bem — eu toco na sua bochecha pigmentadas de sardinhas, tranquilizando-a. — Não ficaria indiferente com você por me contar apenas agora o que ouviu. Lorenza, seus planos, seus interesses, nada é novo, é óbvio. Era de se esperar algo sério, armado contra mim. Ela deve o governador e está desesperada para conseguir o dinheiro. Seja como for isso. Lívia e sua família são importantes para as minhas madeireiras. Lorenza e a esposa do Camilo se tornaram uma das mulheres mais poderosas de Montes do Sol. São duas cobras traiçoeiras. E a filha de Camilo não seria diferente. O que me surpreende mesmo é esse merda do governador estar no meio do plano da amante que o deve, para me roubar! — E o que fará, Anton? Estou atormentada. E o Gael? — Não se preocupe com isso, daqui em diante é problema meu. Se tranquilize, por favor — eu a abraço. Mesmo que, por dentro, eu esteja morrendo de raiva, tento controlar- me. O que farei é contratar um detetive para, desta vez, revirar todo o passado e até o presente sujo da Lorenza. Eu não quero que escape uma informação sequer. A terei em minhas mãos nem que seja rastejando, e o governador que me aguarde. Os deles estão contados. Kia volta para o seu quarto em meio ao meu desgosto. Eu fico sozinho. Passo a madrugada, pensativo, irritado. Se dormi meia hora, foi muito. Fiquei contando os minutos para o raiar do sol, pulei cedo da cama, obstinado a fazer tudo o que planejei nesse meio tempo. Ligo para o meu detetive, meu advogado de décadas, a seguir, desço para reunir dois dos meus cinco capatazes de confiança. — O que há senhor? Por que nos reuniu tão cedo? — Um serviço, Ratito e Jairo. — As suas ordens, patrão. — Como se gabam e desfrutam da minha confiança, é um serviço que deve permanecer entre nós três. Preciso que investiguem e sigam os passos do nosso gerente rural, sem chamar a sua atenção. — Gael?! — Ratito franze a testa, surpreendido assim como Jairo. — Ele é o primeiro que desfruta de sua confiança, patrão. Ele é seu ami... — Desfrutava há anos passados, até certos acontecimentos. Minha confiança se quebra com facilidade. Ainda mais por traições. É bom que saibam que não tolero que saiam da linha. Os dois assentem calados, com as suas faces barbudas e sérias. Gael que não pense em me apunhalar pelas costas uma segunda vez; juntando-se a Lívia e conseguinte a Lorenza. Eu pegarei pesadopara destruir todos os que querem me ver na merda! Se dizem pela vila e pela cidade que eu sou frio, maldoso e um filho da puta bárbaro, devo honrar os adjetivos. Todos terão certeza de minha capacidade ruim. Deixo a ordem aos meus capatazes e volto a trabalhar apenas na parte da manhã. No restante do final de semana, de sábado para domingo, convenço Kiara a viajar comigo para a capital, proponho-a uns dias de luxo no hotel mais caro da cidade, indo ao teatro assistir peças, fazer compras. Tudo o que ela desejar só para termos momentos mais próximos. Kia aceita meio contraída e preocupada, pensando no assédio da mídia. Além disso, por conta do bebê que eles mal sabem da sua existência, somente de boatos sem autenticidade. Eu digo a ela que não há nada para se esconder, o menino é meu filho e ponto final. Já estava na hora de assumi-lo publicamente. Ela permaneceu calada após a minha resposta, consentindo muito estranha. Aliás, está estranha há dias, comportando-se diferente, como que se pronta para me dizer algo, mas retrocede insegura. Preferi não a questionar. No domingo, depois do almoço, viajamos junto com a Lívia, todavia, em carros separados. — Na volta, precisaremos daquelas cadeirinhas de bebê — ela comenta sentada no banco de trás com o menino no colo. Eu a observo pelo espelho retrovisor interno. Sua face é de cansaço, sono. — Quando chegarmos, eu compro a cadeirinha em alguma loja de criança. Também falta só uma hora até a cidade. Logo chego no hotel e você descansa. — Igualmente está cansado, não parou para descansar nem um pouquinho. Podemos dar uma pausa no próximo posto de gasolina. — Não, não é seguro. Pode ter alguém nos seguindo. E já estamos perto. Ela balança a cabeça, voltando a assistir a vista dos montes verdes com os olhos quase se fechando. A toda velocidade chego na capital ao anoitecer. — Eu pego as bolsas. — Acho que pode pegar o Gieber... — Pede, descendo do carro e olhando-me bem dolorida, com o bebê dormindo por horas no seu colo. — Meus braços estão dormentes... Eu mexo o maxilar, meio nervoso por ele ser pequeno e eu não saber pegá-lo correto, mas aceito calado para ajudá-la, deixando que Kia me ensine a segurá-lo seguro. Quando se afasta, o pequeno fica abraçado a mim, com a sua cabeça de cabelos cheios no meu peito, protegido com a minha mão grande nas suas costas e a outra na sua bunda, cheia pela fralda. Eu fito a Kia. Ela se afasta, abrindo um sorriso fraco, em seguida, virando-se para pegar as três bolsas do banco de trás. Ela trouxe ainda outras duas malas, que o concierge acabou de tirar da carroceria da Hilux para colocar no carrinho do hotel. Dentro do saguão, eu passo rápido na recepção para confirmar a reserva da suíte principal, antes de, enfim, subirmos. — Meu Deus, eu não me lembrava de como a vida poderia ser mais chique — ela fala boquiaberta, após abrir a porta do quarto enorme e soberbo. — Pai Amado, olha o tamanho desse pé direito... Eu entro com o bebê, sentindo suas mãozinhas apertar as penugens da minha jaqueta, enquanto continua a dormir. Kiara fecha a porta, observando-me cheia de brilho nos olhos. — Ele vai acordar faminto, dormiu tanto no meu colo que não mamou. Também preferi não o despertar. Assisto o carinho dela ao pegá-lo dos meus braços, beijar os seus cabelos castanhos e ir até a cama deitar o pequeno em volta de travesseiros que ajeita cuidadosa. Eu tiro a jaqueta, gostando de ver os dois, frágeis, sendo o que me restam. — Estou faminta — ela arranca os saltos médios. — Nem parou para fazermos um lanche. — Era arriscado. Já vou pedir o jantar para nós. — Diga que tem um bebê, eles mandaram sopinha de legumes. E preciso de leite morno para a mamadeira. Assim que eu peço o jantar pelo telefone e o que Kia solicitou, as nossas malas chegam, o que igualmente nos dá tempo de tomar um banho para comer e cair cansados na cama, com o bebê ao meio, chupando a mamadeira quase por fim. Kiara Dexter Eu acordo primeiro que o Dexter. Vejo-o dormindo com o braço suspenso no rosto e o Gieber de barriga para cima, pertinho do pai. Meu coração se amolece, derretido ainda pela cena de ontem, dele o pegando, abraçado e morrendo de medo de deixar o nosso menininho cair. Será que está começando a sentir algum amor pelo bebê? Está criando o sentimento de pai? Espero que sim. É a coisa mais linda os dois juntinhos. Desta vez, estando na capital, eu me levanto decidida a arrumar-me mais chique do que no dia a dia na fazenda. Quero que esses cretinos, essas madames nojentas babem pela minha mudança. Eu esfregarei a minha classe de "selvagem" na fuça de todos. — Bom dia — desejo ao Anton, enquanto coloco os meus brincos caros. Ele abre os olhos inchados, virando a cabeça para o bebê já acordado, que troquei a dez minutos. Adiante me analisa sem resposta. E quieto, logo se põe de pé para ir até o banheiro da suíte fazer as suas higienes pessoais e se arrumar. — Não acha que essa droga de vestido está muito justo e decotado não? — Enquanto eu dou a mamadeira para o meu menininho, ele pergunta abrupto, colocando seu chapéu precioso, da cor negra. — Não, para mim, está perfeito. — Eu já te avisei sobre usar essas roupas indecentes. E prometeu que pararia. — Eu parei de usar muito curto. E é só um decote, Anton. — É um belo atributo aos olhos masculinos. Ele guarda a arma na cintura, com seu olhar mal-humorado. Não acredito que ele vai ficar bravo por causa da minha roupa. Devo me alegrar? Pelo menos, ele não vai tirar os olhos de quem deve-se olhar, a sua esposa. — Vai ficar bravo por causa do meu vestido? — Eu já estou. Mas fazer o que se não posso sair jogando fora esses tecidos provocantes? — Não tem o que reclamar, eu estou igual as madames da classe alta. Do jeito que sonhava em me ver. E meus pobres atributos cresceram, são para poucas um vestido de gola bonita como essa. Devo me orgulhar. Não acha? — Eu acho melhor não te responder, Kiara. Caso contrário, posso te mostrar o jeito que eu gosto de ver você. E tenha certeza de que não é com os seus vestidos chiques, nem de roupas íntimas. Ele analisa as minhas pernas sem um pingo de vergonha, fitando-me ao erguer-se selvagem, cheio de malícia. — Você deve estar imaginando isso. Posso responder? — Não. Nem quero saber o que vai dizer. Está atrevida. Uma autêntica atrevida-atraente. — Hum... — Sorrio por dentro. A imaginação dos homens é limitada, 40% cérebro e os outros 60% sexo. É de natureza, desde os primórdios. De tanto ler livros, descobri isso ainda com quinze anos. E revelo que quando nos casamos eu já não pensava tão inocente como Anton devia imaginar. Eu me crucificava por ser magricela, sem atributos que ele adoraria a noite. Por isso a maior vergonha da minha vida foi quando me viu nua pela primeira vez e tirou a minha virgindade. Eu, há dois meses, havia feito dezessete anos, uma inexperiente total, uma verdade menina caipira e constrangida. Foi horrível de todas as formas... só de lembrar ruborizo. Chorei de dor igual uma criança. Anton teve paciência, ele pensou em mim. E também só poucas vezes naquele primeiro ano de casados. Depois fui um objeto que ele acionava só quando precisava. Eu nem sabia o que era ter carinho no sexo, ser pensada em primeiro lugar. Acordar sobre o peito do seu homem recebendo beijos. Eu fazia e pronto, virava para o outro lado. Era o trabalho da esposa comprada. — Vamos? Mais preocupada com outros assuntos, levanto-me, pego a bolsa, o meu filho e o acompanho para descermos no elevador e tomar o café da manhã no restaurante de luxo do hotel. — Você não veio para a capital para também enfrentar o governador, né? — Pergunto-o a mesa, bebericando do café. Sem a menor tranquilidade em pensar nisso. — Sim — confessa —, mas não precisarei ir até ele. Vamos encontrá-lo no teatro esta noite, comprei dois bilhetes. — Anton, e se for verdade, e se ele estiver mesmo armando algo com a Lorenza para te roubar? Não faça isso, não o enfrente. Eu tenho medo. — Não há o que temer, Kia. Eu cuidarei disso do meu jeito. Emudando de assunto, fará compras hoje sem mim. Só terá o meu capataz, que trouxe a Lívia, te acompanhando como segurança. Vou resolver algumas questões no cartório com o meu advogado e passarei em dois bancos para conversar com os gerentes. Tudo bem? — Tá bom. — E, por favor, não se dirija a ninguém desconhecido. Não se afaste do capataz. Não sei se estamos seguros. Me prometa que fará isso? — Prometo... Assinto de novo, desviando dele para encontrar os olhos das mulheres das outras mesas, que olham admiradas para o meu marido, rindo cheias de gracinhas. Com certeza, até de noite todos saberão que o Dexter está na cidade com a sua esposa submissa. A chifruda que "aceita" os chifres "secretos" do fazendeiro mais bonito, desejado e poderoso de Montes do Sol, sem pestanejar. Que raiva, que vontade... Meu Deus, não! O que eu estou pensando? Balanço um pouco a cabeça, repreendendo-me. Eu prometi a mim mesma que não remoeria esse passado. Desta vez, eu não sou uma idiota, eu mudei e Anton que continue fazendo por merecer. Meu único medo é de estar agindo errado em ser uma covarde em não dizer por completo o que eu ouvi da conversa da Lorenza entre a Lívia. Só em tentar contar, eu já fraquejo. E sinto do fundo do meu coração que não posso acabar com a vida daquela megera sozinha. Não carregando esse fardo, o seu fardo. É ela quem devia colocar a cabeça no travesseiro e sentir o peso na consciência. Culpa, remorso. Não eu. CAPÍTULO 34 Anton Dexter Após deixar a Kiara no shopping sob a segurança do meu capataz, eu aproveito que a mídia não sabe ainda da minha presença na capital e passo a segunda-feira toda resolvendo problemas que adiei por conta do tiro no ombro e dos trabalhos na fazenda. Faço o que eu tenho para fazer sem descanso; converso com os meus dois advogados, vamos para o cartório resolver certos documentos que não assinei. Também na prefeitura. No fim da manhã, almoço com eles num restaurante do centro, onde me despeço para adiante seguir para um dos dois bancos que necessito resolver mais assuntos e negócios pendentes com os gerentes. Só às 18h30 eu consigo voltar para o hotel. E a tempo. Eu fecho a porta do quarto, adentrando o grande ambiente sala, de sofás azuis, com uma pequena mesa rústica ao meio. Da cama de casal luxuosa, eu vejo muitas sacolas de compras, vejo o bebê dormindo e também, em exclusivo, a Kiara apenas de lingerie branca, colocando com delicadeza um comprido vestido da cor esmeralda pelas pernas. Céus, que visão, que maldade, como essa mulher é linda. Noto as suas coxas torneadas, a sua bunda redonda, as suas costas, os seus cachos loiros caindo sobre os ombros femininos. E obstinado, com as mãos nos bolsos, não resisto a chegar bem perto dela, fascinado pelo cheiro de colônia pós banho que seu corpo exala. Ela nem percebeu a minha presença. Só quando terminou de passar os braços pelas alças finas do vestido que ela ergueu a cabeça e olhou no espelho, imediatamente, arregalando os olhos para o meu reflexo, Kia leva rápida a mão na direção do coração. — Anton! Que susto! — esbraveja, repreendendo-me ao ser de verdade pega de surpresa. Eu continuo com o meu semblante seduzido, aproximando-me devagar, e atrás das suas costas quase nuas, eu tiro as mãos dos bolsos para ajudá-la a abotoar os três botões dourados, em formato de rosa. Sinto-a se arrepiar com o meu toque, sem esperar por esse ato. — Você demorou muito... — sussurra, fitando-me atraente pelo espelho. Seu rosto está maquiado, delicado e marcante. Uma mulher poderosa aos olhos de quem vê-la. — Resolvi tudo o que eu tinha para resolver na capital em relação a fazenda, bancos, cartórios, prefeitura etc — eu pego na sua cintura, puxando- a para mim, para beijar o seu ombro. Ela ergue a mão esquerda na minha barba, de unhas pintadas. — O que achou do meu vestido? Do meu cabelo? Da maquiagem? Das minhas unhas? Aproveitei a tarde num salão Spa do hotel. E fui paparicada igual uma princesa após entregar a minha identidade Dexter. A esposa "sortuda" do fazendeiro mais cobiçado de Montes do Sol — rola os olhos, emburrada com as suas próprias palavras. Não evito sorrir do jeito da Kia. Ela jamais perderá essa essência doce, humilde e de menina. Eu fui muito desgraçado por tê-la desprezado por isso. E mais ainda por ter a seis anos a arrastado para a capital, para, em menos de alguns meses, obrigá-la a "aprender" a ser "mulher de verdade"; a se vestir elegante, a não ser uma garota do interior, inocente, ingênua, pobre. Porra, eu não sei o que eu estava pensando, o que eu estava fazendo com aquela adolescente. Jamais demonstrei qualquer interesse nos seus sentimentos, nas suas decisões, ou o que fosse. Era uma criança para mim, que eu amedrontava e que não me importava. Agora é o que me resta na vida, é o que eu tenho. E não a nada mais no mundo que preencha esse vazio feito pelos erros, as cagadas, a não ser ela. E até o bebê repousado nessa cama... o meu filho, o neto que o meu pai sonhava em ver colorindo a mansão em que vivíamos infelizes em um mundo preto e branco. — Está exuberante — confesso, com muita vontade dela e ajo cretino. — Entretanto, o que mais me interessou foi a sua lingerie branca. Vi que a sua bunda está dentro de uma calcinha minúscula, rendada, muito peculiar entre o traseiro. Espero que tenha comprado todas as da loja, vou adorar rasgá-las no seu corpo. Kia aperta a minha mão no seu quadril, mordendo os lábios rosados e ruborescendo. — Você gostou? Comprei só três conjuntos. Achei que não me sentiria tão confortável... como estou. — Pois amanhã voltaremos e compraremos tudo. Quero devorar você agora mesmo! — Anton, não, não mesmo. Pare de me provocar, já estamos atrasados. Vai se arrumar, vista o terno e tire esse chapéu por algumas horas. — Vou ir, mas louco para voltar. Minha imaginação estará nas suas peças íntimas e no seu corpo sem elas. Kia ruboresce mais. — É, então é bom para você sofrer. Me larga. O espetáculo começa às 19h50, tem pouco tempo. Por favor. Eu a solto, virando-a para beijá-la, só que ela se afasta ligeira, dizendo que eu vou borrar o seu batom. Caramba, assim eu vou é enlouquecer. Kiara que me aguarde hoje. Eu tomo banho. Alguns minutos depois, saio enrolado com a toalha na cintura, pegando a roupa que ela mesmo separou. Visto-me na sua frente, observando-a cheio de más intenções. Ela desvia, tentando não me dar credibilidade. Eu penteio os cabelos para trás, passo o perfume e então vestido a caráter com o terno, os sapatos sociais e o relógio de ouro, estou pronto. Já a dona Kiara inventa de ainda pôr joias, espirrar o perfume, pegar uma pequena bolsa que comprou para combinar com os saltos e dar o ultimato no espelho. — Vou deixar a bolsa do bebê no carro. Pronto? — Tenho certeza de que era eu quem devia fazer essa pergunta para você. Não precisa por tantas coisas para dificultar o meu trabalho de deixá-la sem nada mais tarde. — Só se for nos seus sonhos, Sr. Bruto. Gieber dormirá entre nós. Vamos. Ela me encara, desviando-se corajosa ao passar na minha frente com as suas bonitas curvas elegantes e com o bebê bem arrumado no seu colo. Tenho que admitir, estou adorando vê-la assim, soltando os cachorros. No teatro, ao parar a caminhonete na frente do local, é em imediato que os fotógrafos aparecem cheios de flashes pelo redor. — Meu Deus... está cheio de fotógrafos e fofoqueiros. — Não vamos parar. Seremos rápidos. Ela assente e eu saio arrumando o terno em meio aos escandalosos que me chamam pelo sobrenome. Entrego a chave para o manobrista, dou a volta, abro a porta da Kia e estendo a mão para que ela desça em segurança, abraçada ao bebê. Dentro do teatro, assim que entramos no pequeno saguão antes da galeria, é instantâneo as mulheres e os homens nos encontrarem. Algumas nos admiram sussurrando uma ao ouvido da outra. Em específico para a Kia e o bebê. Com certeza, amanhã estamparemos a primeira capa do jornal, numa matéria maliciosa e curiosa. Já os estúpidos brincam com a sorte e admiram a minha esposacom olhos que podem durar pouco tempo em suas faces. — Eu estou nervosa. Odeio chamar atenção. — É, mas felizmente eu trouxe a arma. — O quê? — Kia franze o cenho sem entender as minhas palavras murmuradas entre os dentes. — Vem, nossos lugares ficam na primeira fileira da terceira galeria, onde o prefeito e governador estarão. Estou ansioso para o reencontro. — Eu, nem um pouco... Calado e de cara fechada, eu conduzo Kia ao interior do teatro e aos nossos lugares, onde realmente encontro quem eu almejava ver. Teodoro que está sentado na segunda fileira chega a arregalar os olhos, sem acreditar na minha presença. Será que por eu estar vivo? — Meu amigo Dexter, que honra! — ele se levanta rápido. — Dexter? — o prefeito, que está na mesma fileira que eu e a Kia, questiona escandaloso igual o governador, fazendo todas as pessoas ao nosso redor nos olharem. — É um prazer revê-lo, caro amigo. Quanto tempo... Kiara Dexter Eu passo a peça toda preocupada com a feição monstruosa do Anton. É como que se, a qualquer momento, ele fosse virar a cabeça, agarrar o colarinho da camisa do governador e jogá-lo lá embaixo nos assentos. Pai amado, eu não quero nem pensar nisso. Ele estava agora pouco conversando em sussurros com o prefeito durante a apresentação de uma tal Amélia Tavares. E eu estou ocupando o acento ao lado do Dexter e da esposa do prefeito que deve nem passar dos 35 anos. Ela mudou de lugar de propósito com um homem só para me encher a paciência. — Gosta de ópera? — pergunta-me baixinho. "Gosto, por isso eu estou tentando assistir, mas você não cala a boca sua mocreia cheia de plásticas." — Sim — em vez de responder o que eu pensei, apenas consinto um "sim" educado. — Eu também. É um prazer, enfim, conhecê-la Sra. Kiara, pois o senhor Dexter já conheço de longas datas. Antigamente, quando vinha para a capital, jantava sempre na nossa casa, era bem recebido. Nunca teve o que reclamar — sorri. — Hum... — Eu aperto o meu filho que pegou no sono de novo. Minha expressão por dentro está em fúria. Sou quem daqui a pouco vai jogar essazinha lá embaixo nos assentos. — É uma mulher de sorte. Eu, com toda a certeza, me acharia se carregasse o sobrenome Dexter e andasse ao lado de um homem tão... influente. — Ele também é — murmuro sem olhá-la, vendo o palco e a cantora de linda voz potente. — Desculpa a curiosidade, no entanto, como tiveram um herdeiro e surpreendentemente essa notícia bombástica não saiu no jornal? — Acho que a nossa amiga Lorenza fez questão da notícia não vazar. Não acha? — Conversamos em tom médio. — Eu a detesto, ela me detesta... e um neto vindo de uma selvagem sem classe, sem sobrenome? Que vergonha... um absurdo. É uma mancha na sua biografia. Anton pigarreia e eu olho "simpática" para o rosto da lambisgoia que está surpreendida. Até se calou num sorriso falso, não perguntando mais nada e prestando atenção no espetáculo. Quase no finalzinho do show, antes de nos levantar para bater palmas, o Dexter cochicha algo no ouvido do governador, despede-se do prefeito, depois se ergue, fita-me e chama-me para sairmos. — Anton, o que vai fazer? — Pergunto em sussurro, ao erguer-me, mas ele não responde, aguardando que eu vá na frente, assim como o governador. — Tem uma sala vazia aqui do lado, meu amigo Dexter, podemos conversar lá? — Na saída da galeria? — Ele o indaga. Anton assente, colocando a mão nas minhas costas para segui-lo. — Eu não sabia que tinha tido um filho com a sua esposa — ele comenta ao fechar a porta da sala com assentos vermelhos e uma tela em branco, caminhando até nós. — É de se surpreender que tal notícia não tenha saído em nenhuma manchete da cidade. Ele já é enorme. Tem quantos meses? — Meu filho nem a minha esposa são o nosso assunto neste momento. — Sim, sim, realmente não são. Sinto muito a curiosidade. Ele coloca as mãos nos bolsos. — O meu assunto envolve Lorenza; a matriarca mal caráter. — Não pensou isso quando a fez de amante. — Estava a acobertando, Dexter! — Teodoro o acusa. — Como posso continuar confiando em alguém que... — Não ousa! — Anton brada furioso e eu me afasto com o meu filho. — É eu quem devia estar dizendo isso para você! Um traíra! Você quer me ver fora do seu caminho por eu ser a maior influência dos partidos! O que Lorenza te roubou não fez nem cócegas na sua quantia milionária na suíça! Armou tudo isso para tê-la nas suas mãos, feito marionete! E para quê? — Está blasfemando, jamais o trairia, jamais armaria nada. Eu sei o grande homem que o seu pai foi, o legado do seu sobrenome Dexter que enriqueceu os cofres de Montes do Sol. Por mais que não o tenha conhecido pessoalmente, teria sido uma honra tê-lo pelo menos apertado a mão. E agora ter o seu herdeiro ao meu lado? Apoiando o meu governo? Isso é uma preciosidade para poucos políticos. Eu sou grato a você e sempre serei. — Eu não acredito em você. É puxa saco por qualquer um que tenha alto nível na capital e no estado. Com a declaração abrupta do Anton, o governador fecha a cara, inconformado e ofendido. — O que está acontecendo, Anton? Se é sobre a Lorenza, não se preocupe, eu não tocarei mais nela com você. O que tenhamos, será resolvido em breve apenas entre nós dois, em particular. — É o que você e ela têm, em relação a minha fortuna e a minha influência, que me preocupa. Tome cuidado, Teodoro, eu não brinco com quem me traí. E ainda mais sem eu saber o motivo de quererem me tirar de cena. — Ótimo, pois eu igualmente não brinco. Se tem desconfianças, vai em frente, não tenho nada a temer. Jamais dei motivos. Meu papel político não chega aos pés do prefeito de Montes do Sol. Nem faz nenhuma ligação a você e a sua monótona vida de fazendeiro. — Oras, chegamos no seu ponto fraco — Anton força um sorriso irônico. — Diz isso, por mais que eu tenha a voz ativa com 90% do Ministério da Agricultura e do Abastecimento? Não seja falso. É a agricultura e a pecuária que move o nosso estado. Neguei me eleger para vereador e a merda que fosse para te ajudar há três anos. Imagine se, na eleição que vem, eu não faça isso com o prefeito Aldo, que não chega aos seus pés? Os monótonos fazendeiros milionários o apoiariam, assim como a população que trabalha da terra. Seus dias de luxo no gabinete estariam contados. — É uma ameaça, Dexter? — Ele range os dentes. — Considere uma opção que não descarto. Os dois se encaram frente a frente, sem se desviarem, e eu fico nervosa, trêmula e com raiva desse governador desgraçado. Ele é um assassino, um fingido, o cúmplice da Lorenza na morte do Sr. Rangel. Já estou farta de guardar esse segredo. E... Meu Deus! E se eles também estiverem tentando matar o Anton para tirá-lo do caminho e ajudar a Lorenza a ficar com a sua fortuna? Isso pode ser um fato. Anton é amigo do prefeito e Aldo quer se candidatar ao governo. Teodoro tem todos os motivos. — É uma pena nos desentendermos. Considerava a nossa amizade um casamento inseparável. Agora os papéis do divórcio podem chegar a qualquer momento na sua porta. — Tenha certeza de que chegou há muito tempo. O destinatário recebeu de raspão em seu estábulo. O governador assassino franze os olhos e continua a observá-lo misterioso. Até que sem falar mais nada e sem se despedir, ele vira as costas, retirando-se em silêncio. Eu fico boquiaberta, sem crer no que o Anton insinuou. — Anton, precisamos ir embora! — Eu declaro rápida, com o coração acelerado, criando coragem para não pensar na sua reação, na sua dor, no descontrole. Tem que ser esta noite. Ele precisa saber da verdade. — Algo diz para mim que é realmente ele, Kia! — Exclama nervoso. — Ele? — Sim — Anton vira sério para mim, fitando as minhas pupilas dilatadas. — O verdadeiro pai do Gael com a minha mãe. É esse o segredo dos dois. — C-Como? — Quase tropeço nos meus próprios pés, com as batidas do peito ainda mais aceleradas. — É esse o segredo que liga e sempre ligará o político que a Lorenza fez se aproximar de mim para eu apoiá-lo e acreditar numa amizade interessada a ambos, onde o colocava no