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ANÁLISE DE DADOS EM SEGURANÇA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................................................... 2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 4 A INTELIGÊNCIA POLICIAL E DADOS ........................................................................................................ 4 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ....................................... 12 INFORMAÇÃO, DADOS E INTELIGÊNCIA ................................................................................... 16 ANÁLISE DE DADOS EM SEGURANÇA ...................................................................................... 17 A informação e a construção do conhecimento ....................................................................... 19 A informação como instrumento de políticas públicas .......................................................... 21 Dados e programas de prevenção ................................................................................................ 24 Inteligência policial: em busca da integração e sistematização .......................................... 25 Gestão de conhecimento e compartilhamento ......................................................................... 26 A escassez de informação nas bases de dados sobre criminalidade e violência (uma amostragem) ....................................................................................................................................... 29 Informações e programas de prevenção .................................................................................... 32 Gestão da Informação ...................................................................................................................... 33 Fontes de Dados ................................................................................................................................ 35 A disputa entre a “política do sigilo” e a transparência política .......................................... 37 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 49 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 VÍDEO DE APOIO Antes de iniciar o processo de leitura do conteúdo desta apostila, será necessário assistir ao vídeo de apoio, indicado abaixo. Esse vídeo tem como objetivo propiciar a análise do conteúdo teórico com a apresentação prática, visando assim o aprimoramento do conhecimento acadêmico. Vídeo 1: Raquel Gallinati, Rafael Velasquez - Tecnologia e Inteligência aplicadas à investigação criminal. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=7eSYgg1VVQc> Sinopse: O Canal Segurança Pública em Debate traz as Tecnologia e Inteligência aplicadas à investigação criminal Convidado: Rafael Velasquez, CEO da TechBiz Forense Digital Anfitriã: Raquel Kobashi Gallinati, Presidente do SINDPESP https://www.youtube.com/watch?v=7eSYgg1VVQc 4 INTRODUÇÃO A INTELIGÊNCIA POLICIAL E DADOS A atividade de Inteligência é um dos recursos de assessoramento disponível ao tomador de decisão para subsidiá-lo com o conhecimento necessário. É uma ferramenta útil e muito oportuna que auxilia nas decisões a serem adotadas ou mesmo nas estratégias a serem implementadas. Assim, como fator preponderante para a solução de problemas a produção do conhecimento de Inteligência segue método, princípios e regras que conferem caráter estruturado ao processo de obtenção e processamento da informação até a produção do conhecimento propriamente dito. A definição de uma metodologia específica é muito importante, visto que estrutura a análise e confere credibilidade ao resultado, de forma que o usuário tenha a percepção de que o conhecimento produzido foi baseado em técnicas previamente definidas, buscando a imparcialidade e qualidade do trabalho. Desta forma esse processo passa por várias etapas que sistematizam o fluxo do processo de produção do conhecimento de Inteligência: a identificação da demanda, a concepção da estratégia de raciocínio, a obtenção da informação, a avaliação das fontes e dos conteúdos das informações obtidas, a análise, produção e difusão do conhecimento ao destinatário final. Sendo o resultado desse método um conhecimento de conteúdo lógico, estruturado e oportuno, fruto do pensamento criador do analista de Inteligência. O Dado é a matéria-prima da produção do conhecimento, que, inevitavelmente, sem ele, não há análise e, consequentemente, não há conhecimento. A atividade de Inteligência utiliza-se de dados oriundos das mais diversas fontes, sobretudo nos dias atuais em que a evolução dos recursos informáticos e a democratização do acesso à informação contribuíram para a produção e utilização de grande volume de dados. Desta forma observa-se que a escolha assertiva do dado/informação submetido ao crivo de critérios de avaliação pode impactar decisivamente na qualidade do conhecimento de Inteligência produzido. Assim, antes de qualquer raciocínio analítico, é de fundamental relevância que tanto a veracidade do dado, quanto a idoneidade da fonte de origem sejam avaliados. 5 Essa avaliação crítica é realizada com emprego de algumas técnicas e critérios de julgamento sistematizados no que a Doutrina de Inteligência denominou Técnica de Avaliação de Dados (TAD). Assim, ressalta-se mais uma vez que essa avaliação deve ser baseada em critérios objetivos empregados no julgamento da validade do conteúdo e idoneidade da sua fonte. O estudo da TAD envolve a reflexão sobre a concepção do pensamento humano, os estados da mente perante a verdade, os critérios de avaliação e o impacto da aplicação da técnica na qualidade do produto de inteligência. O julgamento da relevância, confiabilidade e precisão das informações, bem como o estabelecimento de um código de classificação resultante da avaliação para uso posterior são essenciais para a precisão e credibilidade do conhecimento de Inteligência. Joseph e Corkill (2011, p. 98-9), afirmam que se houver uma falha na avaliação, o valor real da informação não poderá ser conhecida e, consequentemente, prejudicará a produção do conhecimento. Assim sendo, os métodos de avaliação utilizados pelos analistas de Inteligência merecem atenção especial, pois além de auxiliarem no julgamento da integridade das fontes e informações, desempenham também papel significativo na redução e gestão das incertezasenvolvidas na tomada de decisão. 6 INTELIGÊNCIA NO CONTEXTO POLICIAL De acordo com Martins (2011), a inteligência, no contexto policial, é entendida como uma atividade proativa, caracterizada pela busca de informações, com a finalidade de possibilitar ao gestor público um supedâneo mínimo para seu poder decisório. Com base em informações contextualizadas, o destinatário final da atividade de inteligência poderá propor e comandar ações concretas em termos de segurança pública. Como no mundo, aqui no Brasil, as instituições policiais, sejam elas civis, militares ou federais, possuem em suas estruturas, serviços de inteligência responsáveis pela coordenação e realização das atividades afins. Segundo Pacheco (2005), o serviço de inteligência policial pode ser subdividido em três áreas: análise, contra inteligência e operações. As instituições que atuam em segurança pública, em especial as polícias militares, possuem, entre seus departamentos, Agências de Inteligência (AI) que integram do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). Os órgãos de inteligência possuem como atividade o exercício de ações especializadas para identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera da segurança pública. Atuam ainda na obtenção, produção e salvaguarda de dados, informações e conhecimentos que subsidiem ações da Polícia Militar para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. Contudo, um dos principais desafios para as pessoas e para as organizações é saber detectar e gerenciar a informação de maneira eficaz, pois a busca e coleta de dados para a produção de conhecimento gera uma grande quantidade de dados e informações. Lira et al. (2008). Isso devido ao enorme volume de dados, que acaba, muitas vezes, por dificultar a produção de um conhecimento, ao passo que exige que cada analista tenha que rever e confrontar diversos dados de diversas fontes diferentes. Na tentativa de organizar e armazenar esses dados, normalmente, usa-se sistemas que possam tornar a grande quantidade de dados existentes em informação. Adiciona-se ainda a necessidade de aprimorar determinado contexto por meio da transformação de informações em conhecimento. Esses sistemas são importantes 7 para auxiliarem os gestores na tomada de decisão, e no caso da inteligência policial, a utilização de sistemas informatizados são uma ferramenta para essencial para o analista. 8 A INTELIGÊNCIA POLICIAL E O O SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA (SISBIN) Diante de todas as informações já adquiridas anteriormente, frisa-se aqui, que a inteligência policial é voltada para questões táticas de repressão e investigação de ilícitos e grupos infratores. E que essa inteligência está a cargo das polícias estaduais, civis e militares, e da polícia federal; sendo que é por meio desse tipo de atividade que se podem levantar indícios e tipologias que auxiliam o trabalho da polícia judiciária e do Ministério Público. No que tange o combate ao crime organizado, é muito mais com atividades de inteligência do que com grandes operações ostensivas que se consegue identificar esquemas ilícitos e desbaratar quadrilhas. E cabe as polícias civis e militares estaduais e a polícia federal, desenvolver a inteligência policial, naturalmente e não a órgãos como a ABIN ou aos setores de inteligência fiscal. Entretanto, sabe-se, devido ao grau de dificuldade e periculosidade, quando se faz referência às atividades das organizações criminosas, a simples inteligência policial torna-se efêmera e de pouca utilidade para a garantia de segurança pública, se não for assossiada à inteligência governamental. Na Inteligência governamental há diversas divisões, uma vez que numerosas são as atividades governamentais. Sendo as mais importantes, historicamente falando, a inteligência de Estado e a Inteligência Militar, tendo em vista que, todas as demais ramificações originaram-se destas. Contextualizando, a Inteligência de Estado é aquela que visa assessorar a tomada de decisão no mais alto nível de um Estado e ocupa espaço importantíssimo, visto através a da Lei 9.883/99, que institui o SISBIN, art. 1º., que determina a finalidade do Sistema como o de “fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional”. Ou seja, o SISBIN tem como objetivo principal realizar inteligência de Estado. Vale discorrer que sua divisão é apresentada como Inteligência Externa e Inteligência Doméstica, levando em conta o objeto de estudo fatos referentes a ordem internacional ou aos acontecimentos internos de seu país, respectivamente. 9 Quanto à inteligência Militar caracteriza-se por aquela que se destina a subsidiar o processo decisório da Forças Armadas, em tempo de paz ou de guerra. Em tempo de paz, visa estabelecer hipóteses de emprego, dentre outras coisas. Já em combate, tem como principal objetivo identificar o plano de batalha inimigo, em todos os seus níveis. Em razão do aumento da complexidade da atividade estatal, surgiram diversas outras ramificações, considerando essas divisões tradicionais: Inteligência de Segurança Pública: executada pelos órgãos de segurança pública. Neste ponto, a categorização ora apresentada difere da apresentada acima, pois se preferiu, neste momento, citar a tipologia prevista na Doutrina Nacional de Inteligência de segurança Pública, pelas razões abaixo expostas; Inteligência Financeira, de grande importância nos dias atuais, destina-se, principalmente a acompanhar o sistema financeiro e identificar movimentações anômalas, para, então, após análise, comunicar sua ocorrência aos órgãos de enfretamento ao delito de ocultação de bens e capitais. No Brasil, é executada pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF), criado pela lei 9.613, de 03 de março de 1998; Inteligência Fiscal, que é de responsabilidade dos agentes tributários e objetiva assessorar os tomadores de decisão destes órgãos na melhor forma de emprego de seus meios, dentre outros fins. Tomando como referências a gama os serviços e a área de atuação, pode-se dizer que a área de Segurança Pública é uma daquelas em que o uso sistemático da atividade de inteligência tem possibilidade de aumentar exponencialmente os resultados obtidos. O que pode ser observado através do decreto 3.695, de 21 de dezembro de 2000, em que se Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SSISP), regulamentado pela Resolução nº 01, de 15 de julho de 2009. O referido decreto afirma, em seu art. 1°, que a finalidade do SSISP é “coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo.” 10 Com a finalidade de dar respaldo teórico às ações do SSISP, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), órgão central do subsistema, publicou, através da Portaria do Ministro da Justiça nº 22, de 22 de julho de 2009, a Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP), elaborada por policiais, agentes de inteligência e acadêmicos da área. Assim, tem-se na DNISP que a atividade de inteligência de Segurança Pública é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, que são, basicamente, orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os governos federal e estaduais a tomada de decisões, para o planejamento e à execução de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública. No entanto, o conceito de inteligência de segurança pública é mais abrangente do que o de inteligênciapolicial, uma vez que abarca outros órgãos não necessariamente policiais, como Corpos de Bombeiros Militares, vez que estes são órgãos de Segurança Pública, conforme previsto no art. 144 da Constituição Federal. A despeito destas considerações, o conceito de inteligência policial para o autor Celso Ferro (apud Magalhães, 2004), é a atividades que tem como objetivo a obtenção, análise e produção de conhecimentos de interesse da segurança pública no país, sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência da criminalidade, atuação de organizações criminosas, controle de delitos sociais, assessorando as ações de polícia judiciária e ostensiva por intermédio da análise, compartilhamento e difusão de informações. Já no Manual de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal - Volume I, apresenta a inteligência policial como atividade de produção e proteção de conhecimentos, exercida por órgão policial, por meio do uso de metodologia própria e de técnicas acessórias, com a finalidade de apoiar o processo decisório deste órgão, quando atuando no nível de assessoramento, ou ainda, de subsidiar a produção de provas penais, quando for necessário o emprego de suas técnicas e metodologias próprias, atuando, neste caso, no nível operacional. 11 Observando e analisando os dois conceitos, marca-se dois pontos principais, e que diferenciam esta categoria específica da atividade de inteligência das demais: a primeira, como observa Celso Ferro, a inteligência policial tem como fim assessorar às atividades de polícia judiciária e de polícia ostensiva; e a segunda, DPF, é que deve ser exercida por órgão policial. Sendo assim, pode-se afirmar que a inteligência policial tem seu objeto, qual seja, a produção de conhecimentos de interesse da atividade policial e os órgãos que a executam, os órgãos de inteligência das polícias, muito bem delimitados. No entanto, ponto que merece destaque, como bem lembrado no conceito do Departamento de Polícia Federal, é o caráter duplo da atividade de inteligência policial, entendido como a necessidade de um órgão de inteligência policial, ao mesmo tempo em que produz conhecimentos para assessorar o processo decisório, deve, ainda que de forma subsidiária, também atuar em investigações criminais, desde que atendidos determinados requisitos. É esta característica que torna a atividade de inteligência policial, especialmente aquela executada por Polícias Judiciárias tão peculiar, quando comparada às diversas categorias acima referidas. 12 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL Numa retomada necessária de conceitos, pode-se afirmar que as diferenças entre a atividade de inteligência e investigação criminal são inúmeras, desde o fundamento legal que servem de subsídio às atividades, passando por suas finalidades, até o destinatário do conhecimento gerado. Apesar de discorrer assiduamente sobre os conceitos, vale ressaltar, para evitar confusão entre a Inteligência e a Investigação, como se dá o emprego de Técnicas Operacionais semelhantes. As técnicas operacionais de inteligência podem ser relacionadas com produção de provas técnicas, por exemplo, vigilância, reconhecimento, interceptação de sinais (via judicial), podendo ou não subsidiar um processo, em que a inteligência atua como atividade assessoria. Todavia a investigação necessita de materializar e criar processar o que foi colhido, serão os dados de análise, para que assim a inteligência apenas coletar e informar. Assim tem-se, primeiramente, quanto ao resultado final das atividades, ou seja, qual o documento que formaliza os procedimentos realizados pela inteligência e pela investigação criminal. A investigação criminal produz um relatório que encerra o inquérito policial. É presidido pela autoridade policial que formaliza provas sobre autoria e materialidade de um determinado delito. Por outro lado, a Atividade de Inteligência analisa dados para a produção de conhecimento que irá assessorar a autoridade ao qual se destina a tomada de decisão na sua esfera de competência. Este conhecimento produzido através de uma análise utilizando metodologia própria e materializado em Relatório de Inteligência. Assim, o relatório de inteligência (RELINT) pode ter naturezas distintas e para sua elaboração deve-se conhecer a doutrina e metodologia de produção de conhecimento. (GONÇALVES,2016) O relatório de inteligência expressa um conhecimento que foi processado através de dados coletados e analisados pelo profissional de inteligência, que ao produzir este relatório expressa um “estado da mente perante a verdade”, tais como dúvida, certeza ou ignorância. Por outro lado, relatório de investigação materializa uma busca pela “verdade real” (também conhecido como princípio da verdade 13 material) de algum fato, não podendo materializar incertezas e ignorância sobre tal evento. Neste ponto, importante a lição de Gonçalves (2016), que destaca que o grande problema da relação entre relatório de inteligência e inquérito policial diz respeito à confusão feita entre os dois documentos. Uma vez que o inquérito está no cerne da atividade de polícia judiciária, o relatório de inteligência é o documento de natureza administrativa, pois é produto da análise de dados e informações para assessoramento a um processo decisório. Sendo assim não se pode confundir as duas peças, e um relatório de inteligência em hipótese alguma poderia compor os autos de um inquérito policial. Desta forma, analisando as definições apresentadas nota-se que as atividades se interligam, servindo uma de auxiliar da outra, mas nunca se confundindo. A Inteligência busca produzir um conhecimento, entendendo um fenômeno do passado ou presente, ou fazendo um prognóstico futuro. Por outro lado, a investigação busca provas dentro de um procedimento formal, para formar juízo de convicção sobre autoria e materialidade de fato pretérito. Resumidamente, inteligência é um processo mais célere, que não se preocupa com a formalização de provas dentro um processo protocolar. Enquanto que a investigação fica limitada ao fato sobre o qual está imbuída de investigar. Quanto a prova, pode-se dizer que relativa a um fato preexistente, ou seja, inicia no local em que algum indício foi deixado e após analisado é materializado em evidências que integram o processo. De outro ângulo, o conhecimento de inteligência diz respeito a qualquer aspecto conhecido do passado, presente e futuro, que de alguma forma, após ser analisado pelo profissional de inteligência transforma-se em informação, podendo ou não embasar uma ação processual. Assim, portanto, diversos são os fatores técnicos e doutrinários que separam as duas atividades, sendo o principal que limita as duas atuações é o objetivo de cada uma. Entende-se, entretanto, que as duas devem agir dentro das suas limitações legais, exercendo dentro do seu mister papel fundamental no auxílio ao enfrentamento da criminalidade. Deve-se ressaltar o papel de assessoramento da Atividade de Inteligência, principalmente quando utilizada no âmbito de investigações de maior 14 complexidade. Porém, de maneira complementar pode auxiliar a atividade de investigação na produção de provas. Níveis de decisão e níveis de conhecimento Como já exposto, a tomada de decisão se vale de conhecimentos e podem ser de diferentes tipos, naturezas e níveis. Os níveis de decisão correspondem à amplitude das ações planejadas e perpetradas e a seu alcance no tempo, seja de duração seja de projeção. Por isso, a cada nível de decisão corresponde um nível de conhecimento necessário. Às decisões de nível tático-operacional corresponderiam conhecimentos de nível tático-operacional – Informações – e às decisões de nível estratégico, conhecimentos de nível estratégico –Inteligência. Figura 1: Nível hierárquicode ação/decisão 15 Conhecimento de nível tático-operacional é o conhecimento requerido para subsidiar as ações dos órgãos/unidades operacionais, em cumprimento a diretrizes de um plano maior (o plano estratégico). Conhecimento de nível estratégico é o conhecimento requerido para a formulação de planos e políticas no nível nacional ou internacional, referente ao Estado, ou a uma instituição ou organização. Ou seja, organizações/unidades de nível tático-operacional não produzem conhecimentos de nível estratégico e raramente se valem de conhecimentos estratégicos para suas ações, seja de coleta/busca, seja na execução de uma tarefa específica em sua área de atuação (Ex.: desbaratamento de um sequestro, de uma fraude ou esclarecimento de ilícito de qualquer natureza). Estas unidades/organizações, em termos de produção de conhecimento, na realidade elaboram e utilizam Informações. Dessa forma, se as ações táticas não forem a extensão de ações estratégicas, se não estiverem respondendo a uma demanda de um planejamento estratégico, podemos afirmar que são ações particulares e que se encerram em si. 16 INFORMAÇÃO, DADOS E INTELIGÊNCIA Dados são a forma primária de informação; são fatos, tabelas, gráficos e imagens etc. que não foram processados, correlacionados, integrados, avaliados ou interpretados e sem sentido em si mesmos (Sianes, 2005, p. 259, apud Fernandes, 2006, p. 11). Neste pensamento Fernandes (2006) oferece uma distinção técnica entre informação e inteligência. Para o autor, informação é a matéria-prima para a produção de inteligência, utilizada em apoio ao processo de tomada de decisão (decisões pontuais ou de nível tático-operacional), relaciona-se com fatos presentes ou passados e deve expressar o estado de certeza. A inteligência é um conhecimento que prescinde da oportunidade, deve pressagiar e cogitar probabilidades sobre aspectos de um evento, em juízo antecipatório, anteriormente, pois, à sua realização. A menção à inteligência pode abranger a própria atividade, o produto dessa atividade e a unidade responsável pela atividade (órgão, departamento, núcleo, seção). Segundo DeLadurantey (1995, p. 383, apud Dantas; Souza, 2004) a expressão inteligência como conhecimento das condições passadas, presentes e projetadas para o futuro de uma comunidade, em relação aos seus problemas potenciais e atividades criminais. Assim como a inteligência pode não ser nada mais que uma informação confiável que alerta para um perigo potencial, também pode ser o produto de um processo complexo envolvendo um julgamento bem informado, um estado de coisas, ou um fato singular. O ‘processo de Inteligência descreve o tratamento dado a uma informação para que ela passe a ser útil para a atividade policial. 17 ANÁLISE DE DADOS EM SEGURANÇA O processo de análise de segurança da informação abrange o processo de proteger um grupo de dados, com o intuito de conservar o valor que tem para uma instituição ou pessoa. Sendo os elementos fundamentais pesquisados durante a análise de segurança da informação a autenticidade, a integridade, a confidencialidade e a disponibilidade. Neste caso, em específico, como pode ser percebido nos tópicos anteriores, o assunto não está relacionado apenas aos sistemas de informática, dados eletrônicos ou métodos de armazenamento de arquivos. O tema tem ligação com todas as áreas de proteção de documentos confidenciais e privados. Portanto, é importantíssimo fazer a análise de segurança da informação nos mais variados campos: Sistema bancário: se apresentar problemas, pode ficar vulnerável e se invadido por hackers (indivíduo com habilidade avançada em acessar informações de outras pessoas nos meios eletrônicos) que podem descobrir logins e senhas de usuários no sistema de bancos e roubar dinheiro; Sistema de Saúde: aplicados em hospitais, laboratórios e consultórios médicos, no caso de invasão neste setor as informações particulares, financeiras e clínicas de pacientes e funcionários podem ser descobertas, o que gera prejuízos e abala a confiabilidade de instituições da área; Sistema Governamental: invasão nos dados secretos do governo, ocasiona riscos para a segurança do país e para os povos; Sistema de Telefonia e TV a cabo: o acesso sem autorização neste setor, causa prejuízos para as empresas de telecomunicações, porque usuários podem achar brechas no sistema e utilizar o sinal de internet e televisão sem pagar nada por isso e ainda danificar o desempenho da rede de conexão. Então, a análise de segurança da informação se torna essencial, para trazer mais segurança e proteção aos sistemas dos mais variados serviços que trabalham com dados e informações sigilosas, que precisam de autorização para ser acessados, 18 como no caso da informações sobre a segurança nacional, crimes , entre outros ligados ao conteúdo aqui estudado. 19 A informação e a construção do conhecimento A informação é considerada usualmente como um conjunto de fatos (acontecimentos) e/ou dados a respeito de algo, que constituiriam o ato de informar, entendido como um processo de interação do sujeito com o mundo exterior. De acordo com a teoria da informação, enunciar uma mensagem permite a redução da incerteza sobre uma dada realidade. Nesse sentido, informar significa comunicar os fatos, tornando-os públicos, e privilegiando uma visão dos fatos como “coisas”, cujo relato isento propiciaria a percepção da realidade como ela é. Dados são elementos de informações ou representações de fatos que servem de base para a formação de uma análise, cujo resultado será influenciado por diversos fatores. O uso mais comum dos “dados” está relacionado à estatística. A criação da palavra Estatística é atribuída ao pesquisador alemão Gottfried Aschenwall (1719-1772) com o sentido de ciência do Estado, que permitiria aos governantes ter um diagnóstico mais objetivo dos fatos concernentes aos seus domínios. Acreditava-se, então, que as cifras trariam mais credibilidade e legitimidade do que as descrições textuais. Tratou-se, portanto, de uma forma de conhecimento que surge como um dos elementos da teoria da arte de governar, relacionada ao desenvolvimento dos aparelhos administrativos do Estado, nos séculos XVII e XVIII. A ciência do Estado é entendida como estatística, pois se constitui um exemplo privilegiado dessa relação entre saberes e poderes, que vai desde a escolha dos temas a serem investigados até os conceitos, bem como outros aspectos metodológicos da produção de estatísticas públicas, tudo é produto de escolhas feitas pelos “analistas”. Assim, as estatísticas não podem ser compreendidas como uma cópia da realidade, mas sim como sínteses construídas a partir da observação das realidades. Consequentemente, todo recorte estatístico é constituído por diferentes interpretações de um mesmo fato, o que explica a existência de um grau aceitável e conhecido de erro, muito embora haja um discurso de que os números sejam sempre exatos. A inexatidão da informação estatística tem sido comumente interpretada como uma forma de manipulação intencional, com o objetivo de obter os resultados que interessam aos governos. Esta prática é tradicionalmente chamada de “maquiagem”, 20 como referência ao hábito de utilização de produtos de beleza para disfarçar imperfeições e realçar pontos positivos, bem como para produzir máscaras e fantasias. Não há como negar que a metáfora se aplica bem a diversas formas de governos, nacionais ou internacionais, mais ou menos democráticos, que ao longo da história procuraram dissimular alguns fatos e exibir outros tantos. Porém, há que se problematizar mais a inexatidão estatística sob o risco de perdermos um instrumento de análise necessário para a construção de políticas públicas.Primeiro, é preciso se pensar para que servem os dados na segurança pública. De forma geral, afirma-se que servem para, principalmente, orientar a administração quanto aos caminhos que deve seguir no planejamento, execução e redirecionamento das ações do sistema policial. Servem, também, para a população conhecer o que está acontecendo ao seu redor; e, depois, para que, conhecendo os dados e áreas de incidência, a população e os diferentes setores da sociedade civil possam objetivar as demandas por providências do Poder Público e contribuir para o esforço comunitário contra a insegurança. O uso da informação estatística possui um caráter estratégico, porque permite dar significado a infinidade de dados que inundam a administração pública, por exemplo. Já que sua importância não está apenas na divulgação da informação, mas na transformação da informação bruta em algo que possa servir para orientar ações futuras. Sendo assim, observa-se que é o contexto que vai determinar o sentido dos dados. Vale ressaltar que o processo de quantificação para que seja útil à interpretação da realidade deve ser complementado pelas informações qualitativas, que fornecem mais detalhes sobre o fenômeno que se pretende estudar. A propósito da insegurança, cumpre sublinhar que os dados estatísticos das polícias dão conta apenas do que se pode chamar de (in) segurança objetiva, o que tem a ver pura e simplesmente com a quantidade das ocorrências criminais. Não dão conta da (in) segurança subjetiva, também conhecida como sentimento de insegurança (Roché, 1990 e 1998), que, independentemente dos dados objetivos, pode ser ampliada por inúmeros fatores, mas principalmente pelo impacto emocional destas ou daquelas ocorrências em função de quem seja a vítima ou o local onde tenham ocorrido. 21 Desta forma a inteligência Policial vem sendo desenvolvida e aprimorada pelas polícias que exercem funções de Polícia Judiciária, que por vezes, inclusive com um setor específico para esta atividade, que visa assessorar com conhecimento a condução da investigação. A informação como instrumento de políticas públicas O Brasil é uma república federativa, formada por 26 Estados, mais de 5.500 Municípios e um Distrito Federal, cuja Constituição em vigor estabelece as competências relativas à segurança pública, no título V (Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas), em seu art. 144, como sendo um dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, sendo exercida “para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (Brasil, 2004) pelos seguintes órgãos: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícia civil, polícia militar e corpo de bombeiros militares. Ainda hoje, o Estado do Rio de Janeiro é o único do Brasil que publica mensalmente em Diário Oficial os registros de ocorrência em delegacias, de crimes ou outros eventos ocorridos em todo o seu território, com uma média muito superior aos demais estados. Salienta-se que este trabalho teve início em 1999, como parte do Programa de Qualificação Estatística e Relação com a Mídia. Participaram deste projeto diversos setores da sociedade, em especial, pesquisadores que estudam a temática da violência, criminalidade e segurança pública (Governo do Estado do Rio de Janeiro, 2000). Os objetivos principais foram dar transparência aos dados; incorporar conhecimento especializado no tratamento das estatísticas, proveniente ou não de fontes policiais; e desagregar os dados por Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP)5 , a fim de produzir mapas de risco com indicação de pontos de concentração de ocorrências de crimes. Em 2000, foi criado o Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública (NUPESP), vinculado ao Instituto de Segurança Pública, tendo como finalidades principais produzir os relatórios estatísticos sobre o sistema de segurança pública estadual, além de desenvolver e coordenar estudos sobre a justiça criminal e 22 segurança pública, que possam contribuir para o aprimoramento profissional dos policiais. Esse é um órgão que pretende promover a integração entre a metodologia acadêmica de pesquisa e a avaliação institucional do trabalho policial. Tradicionalmente, a gestão dos recursos policiais e o planejamento das ações têm sido orientados apenas pela “experiência” e “bom senso” dos agentes (investigadores, inspetores e oficiais de cartório) e autoridades policiais (delegados). Desta forma, considera-se que a realização de diagnósticos, a definição de metas, critérios de avaliação e a elaboração de medidas de desempenho consistentes é um trabalho que pode auxiliar tanto para avaliação da qualidade desse trabalho, quanto possibilitar o gerenciamento profissional da polícia, de forma a constituir-se numa política pública de segurança. Com a divulgação no Diário Oficial dos dados estatísticos sobre a criminalidade no Estado, o Instituto de Segurança Pública (ISP) passou a publicar o Boletim Mensal de Monitoramento e Análise, a fim de dar conta à população não só do significado dos números em relação às metas estabelecidas para o setor, como também do que eles representam em relação às séries históricas sobre os crimes que mais preocupam a população. Os crimes analisados mais profundamente são: homicídio doloso, extorsão mediante sequestro, roubo de carga, roubo e furto de veículos, roubo a banco, roubo a transeuntes, roubo a residência, roubo em coletivo e latrocínio. Segundo a Secretaria de Segurança Pública esses crimes atendem aos seguintes critérios, englobando os demais: “Crimes violentos, assim considerados internacionalmente, principalmente o homicídio e o latrocínio; Crimes contra o patrimônio com o uso de violência - popularmente chamadas de assaltos, tais como roubo a transeuntes, roubo em coletivos, roubo e furto de veículos; Crimes passíveis de intervenção mais direta do Poder Público, razão pela qual, por exemplo, o estupro, embora mereça atenção especial, não esteja incluído entre estes crimes” . Simultaneamente, outras formas de análise são realizadas e encaminhadas às polícias, para que sejam mapeadas mapear as áreas e horários com maior 23 concentração de ocorrências registradas, não sendo essas informações não são divulgadas, evitando-se assim, prejudicar as atividades policiais, já que são utilizadas para planejar as ações operacionais das polícias. Dando continuidade ao Programa de Qualificação Estatística foi lançada a Série Estudos, em 2005, voltada para a análise de delitos relacionados a manifestações de violências interpessoais. No primeiro número, Dossiê Mulher, abordou-se os problemas das violências sexuais e agressões físicas no Rio de Janeiro e no mundo. Os profissionais que atuam no sistema de segurança pública, tradicionalmente, trabalham apenas com dados relativos aos crimes que estão sob sua responsabilidade direta. Embora, não haja nada de errado nisso, essa postura não permite perceber a regularidade com que determinados delitos ocorrem, o que dificulta o trabalho de planejamento. A identificação de padrões, a partir do cruzamento das informações existentes nos bancos de dados das polícias, constitui-se em uma forma de sistematização mais independente do que a memória individual dos agentes. Os policiais consideram fundamental esta forma de trabalho, para que se possa falar no emprego de estratégias preventivas. Esta estratégia, no entanto, apresenta duas grandes dificuldades: romper com a tradição policial de reter as informações e não compartilhá-las, e enfatizar o aperfeiçoamento da qualidade das informações recebidas e processadas pela polícia. Ressalta-se que a organização e análise dos dados são importantes por dois aspectos: permite que as instituições policiais possuam insumos de qualidade para realizar seu trabalho, visandoreduzir a vitimização de cidadãos e policiais, além de permitir que a administração pública conheça os principais problemas do ponto de vista da população, já que se sabe que somente é registrado aquilo que é considerado mais importante, como por exemplo, para fazer jus a direitos, como no caso do recebimento de seguro de automóveis, ou nos casos de crimes contra a vida, onde o Estado tem a obrigação de atuar. Como dado estatístico que deve ser fiel e ter os mesmo padrões, a padronização da informação faz parte de um esforço de estruturação e organização das instituições policiais, como forma de centralizar o acesso aos dados na administração central e com o objetivo de reduzir o arbítrio policial. Trata-se de buscar formas de controle 24 institucionais, que assegurem a qualidade e a padronização da informação e do trabalho policial. Dados e programas de prevenção Conhecendo a realidade do mundo e do no país quanto a criminalidade criminalidade, violência e políticas de controle, não há estudos que não comece ou termine enfatizando as inúmeras deficiências nas bases das informações.E essa é uma situação grave que compromete seriamente os estudos realizados, e as políticas, programas e projetos de segurança desenhados com base neste conhecimento. Observa-se que o desafio que enfrenta-se hoje em estudos criminológicos diz respeito justamente às bases de informações necessárias para que se possa avançar no alcance das proposições empíricas, bem como efetuar testes de teoria mais sofisticados. Políticas na área da criminalidade e justiça, são efetuadas de forma mais empírica, “como no escuro”, sem instrumentos e com orientação puramente impressionista. Tendo como consequência, uma situação de incremento acentuado das taxas de criminalidade, do aumento do medo e da percepção de risco das populações nos grandes centros urbanos, por exemplo. O ceticismo e descrença diante da aparente impossibilidade de se obter resultados estão “naturalizando” os fenômenos da criminalidade e violência, como se estivéssemos inevitavelmente destinados a conviver com o medo e a insegurança. Podemos dizer, sem dúvida nenhuma, que dentre as diversas causas de crime hoje na América Latina, destaca-se a nossa ignorância sobre a matéria. No que diz respeito ao impacto específico de políticas e programas sociais, esta situação é ainda mais obscura, pois as necessidades de tais projetos são tão urgentes que, quaisquer que sejam os resultados alcançados, independente das implicações para o problema da delinqüência, considera-se como bem sucedido. Não há uma avaliação dos custos destes programas frente aos resultados alcançados, ou tampouco da efetividade deles. 25 Inteligência policial: em busca da integração e sistematização A inteligência policial, ou melhor, os serviços de inteligência de polícia judiciária e mesmo a inteligência de segurança pública (ISP) se voltam, especificamente, para a realização da justiça criminal, de propósito instrutório e probatório criminal (repressão, que acontece reativamente, depois da eclosão do crime, e se concretiza por atos de investigação), bem como para a prevenção e controle de criminalidade (softwares de georreferenciamento, quadros de padrões criminais, estatísticas, mapeamento de manchas de criminalidade). A inteligência policial é, nas precisas palavras de Celso Ferro Júnior (2005, p. 9), a atividade que objetiva a obtenção, análise e produção de conhecimentos de interesse da segurança pública no território nacional, sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência da criminalidade e também assessorar as ações de polícia judiciária e ostensiva por intermédio da análise, compartilhamento e difusão de informações. Note-se que há uma diferença entre a atividade de inteligência de Estado e a atividade de inteligência policial. Enquanto a primeira prima pelo assessoramento das autoridades de governo, no processo decisório, a segunda busca a produção de provas da materialidade e da autoria de crimes. A inteligência policial é, em suma, voltada para a produção de conhecimentos a serem utilizados em ações e estratégias de polícia judiciária, com o escopo de identificar a estrutura e áreas de interesse da criminalidade organizada, por exemplo. Pacheco (2005, p. 5) leciona que a inteligência dita de Estado (ou seja, relativa à segurança nacional, isto é, do Estado e da sociedade como um todo) deve ser complementada pela inteligência de segurança pública (ISP), cujo conceito está em construção. Para o Promotor de Justiça de Minas Gerais, a inteligência de segurança pública (ou inteligência criminal) divide-se em inteligência policial (desenvolvida no âmbito das Polícias), e inteligência prisional (ou, mais restritivamente, inteligência penitenciária, desenvolvida no âmbito dos estabelecimentos prisionais). Lorenz de Azevedo, Diretor de Inteligência Policial do DPF (2002, p. 5), destaca que, na seleção do pessoal adequado às operações de inteligência policial, serão consideradas as aptidões inatas e o prévio treinamento em missões de combate ao crime organizado e que a continuidade dos procedimentos de coleta e busca executados pelos policiais conhecedores 26 da investigação é essencial para o sucesso operacional. Também, anota o experiente dirigente e Delegado de Polícia Federal que: A experiência demonstra que o tempo de permanência dos policiais nos trabalhos de monitoramento das comunicações telefônicas influirá na sua capacidade de interpretar corretamente as mensagens implícitas existentes nas conversações interceptadas, distinguindo com precisão as manifestações subjetivas dos investigados reveladoras de suas reais intenções. produção de prova criminal a ser utilizada em ação penal cujo caráter é público contra organizações criminosas. É preciso, para que não se distancie desse norte, reconfigurar o papel da inteligência policial quanto ao seu desempenho, sua ação, em um contexto democrático, suas possibilidades e limites, bem como as formas de sistematização e armazenamento dos dados respectivos. Gestão de conhecimento e compartilhamento Para aprimoramento dos sistemas de inteligência e de combate ao crime organizado, o Estado tem que promover o compartilhamento de dados com estabelecimento de canais formais. Há bancos de dados institucionais da Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Exército, Marinha, Aeronáutica, Abin, Detran, bancos de dados policiais das delegacias especializadas em lavagem de dinheiro, imigração ilegal, assalto a banco e, ainda, os não policiais como os da Receita Federal, Dataprev/INSS, CNIS, mas os setores responsáveis pelo gerenciamento dos dados respectivos não interagem, o que gera uma enorme quantidade de dados perdidos e pouco trabalhados. Mingardi (2006, p. 46-47) faz uma abordagem direta da questão: no caso brasileiro não existe um sistema definido, cada Estado da federação tem ou não tem um sistema de inteligência policial e, na maioria das vezes, existe uma multiplicidade de órgãos que disputam migalhas de informações. O ex-Secretário de Segurança de Guarulhos, a fim de reafirmar o seu posicionamento, invoca o exemplo paulista: A Polícia Militar tem seu grupamento de inteligência, com status de batalhão, que é a P2, e cada batalhão tem sua própria unidade de P2. 27 Na Polícia Civil existe o DIPOL (Departamento de Inteligência Policial). No Departamento de Narcóticos (Denarc) também existe uma divisão de inteligência, da mesma forma que no Deic, departamento que deveria enfrentar o crime organizado, mas cuida basicamente de crimes contra o patrimônio. Com frequência, os departamentos de polícia do interior também têm seus setores de inteligência. Mesmo assim, cada vez que ocorre uma rebelião nos presídios ou um ataque contra a polícia, os órgãos policiais são pegosdesprevenidos. Ou seja, existem muitos órgãos e pouca inteligência. A dispersão de esforços começa na coleta de dados, seja através de agentes de campo ou da coleta de informações públicas. As diversas agências com frequência correm atrás do mesmo objetivo, pelas mesmas fontes, por falta de comunicação ou delimitação de tarefas ou até por pura rivalidade. O mesmo ocorre na hora do armazenamento dos dados. Na maioria dos estados, os dados coletados pelos órgãos de segurança pública normalmente são armazenados em bancos de dados diferentes, muitas vezes ficando apenas no papel. É incontestável que a vivência profissional de Guaracy Mingardi o habilita, com a autoridade de quem foi Secretário de Segurança, a discorrer essas audaciosas linhas numa seara tão pouco explorada. O referido exemplo é didático e demonstra, na prática, a situação que o autor se propôs a expor: falta de comunicação entre as instituições, ausência de interface entre os sistemas informatizados, visão restrita do conhecimento e secretismo em razão de poucas informações que só têm sentido se reunidas, jamais quando pulverizadas. Marco Aurélio Cepik (2003-c, p. 110) expõe sua concepção a respeito da eficácia e eficiência de múltiplos sistemas de inteligência, com contornos análogos ao pensamento de Guaracy Mingardi: Diferentes sistemas nacionais de inteligência são mais ou menos institucionalizados, mais ou menos adaptáveis, complexos, autônomos e coerentes. Em síntese, mais ou menos ágeis. Como seus desempenhos diferenciados têm consequências para a segurança nacional, seria preciso discutir ainda a questão dos possíveis efeitos de uma precária supervisão congressual sobre o desempenho dos serviços de inteligência e, de modo geral, sobre o segundo desafio associado à institucionalização: o da compatibilização desses sistemas nacionais de inteligência com o princípio da transparência (...). As consequências de manutenção do status quo dos serviços de inteligência como órgãos públicos burocráticos, sem aproximação, e focados apenas em 28 competência das agências para problemas locais e específicos são de todos conhecidas: os ataques do PCC em São Paulo e os atentados terroristas em Nova Iorque (11/9) não foram evitados, por mais sofisticados que sejam os serviços de inteligência paulista e norteamericano. As declarações do Diretor-Geral da Abin e exDiretor-Geral do DPF ressoam e marcam o leitor pela radiografia perfeita: a cultura dos órgãos da administração pública é a de não trocar informações (Paulo Lacerda, 2007, 1º caderno, apud Romero, 2007). É preciso disseminar as informações e desburocratizar. Outro fator preocupante é a perda do conhecimento, quando o operador e desenvolvedor do banco de dados não providencia uma interface amigável de comunicação com outros cadastros. Aliás, observa-se, diuturnamente, que, muitas vezes, na ausência de iniciativa governamental, é o próprio policial ou profissional de segurança pública, dedicado e interessado, que monta sua própria base de dados. Infelizmente, em que pese a dedicação exclusiva e amor ao serviço público e à sociedade desses profissionais, nem sempre o Estado se preocupa com a continuidade desse trabalho hercúleo e sua valorização. Ferro Júnior et al (2005) afirmam que a sobrevivência das organizações contemporâneas, a exemplo das instituições policiais, a ABIN, a Receita Federal do Brasil, depende cada vez mais da capacidade de se construir um modelo de gestão do conhecimento, com estratégia, estrutura, decisão e identidade, apto a responder a um contexto cada vez mais complexo e instável da sociedade. Nessa construção de um modelo de gestão, o do conhecimento (específico) ou das instituições públicas (geral, amplo), sendo que ambas as gestões são estratégicas, que é o papel das academias e escolas de formação profissional são fundamentais, muito embora nossa tradição de escolas de governo e academias de administração pública seja pequena e relegue o conhecimento e a formulação teórica ao modelo empírico, como observa Kelsem Rios (2008, p. 1). Contudo, neste pensamento, é possível vislumbrar iniciativas muito oportunas que tentam mudar o rumo sombrio que se delineia 29 A escassez de informação nas bases de dados sobre criminalidade e violência (uma amostragem) Relatório recente do Banco Mundial que tratou dos impactos que a violência e a criminalidade têm tido para o desenvolvimento sustentado e combate da pobreza nas América Latina ressalta que o problema mais imediato é que os “dados são grosseiramente inadequados. As razões incluem problemas graves de sub-registro de vítimas, falta de levantamentos sistemáticos de dados, e deficiências das agências de estatísticas em reportar o crime e a violência. Assim, a primeira prioridade na agenda emergente para tratar do problema na região é a necessidade de se incrementar a base de conhecimento sobra a natureza, extensão, e evolução desta patologia”. A sugestão dada pelo autor é claramente inusitada: a prioridade da agenda está não nos resultados a serem buscados, mas em construir e delinear sistemas que ajudem, antes de qualquer coisa, ter uma percepção mínima acerca do que está ocorrendo. Da mesma maneira, e seguindo a mesma ordem de preocupações ao referir- se ao problema da violência e criminalidade na Colômbia, (RUBIO, 1998), destaca que para falarmos de “crime, violência e insegurança, um aspecto recorrente é a incerteza acerca do que realmente está ocorrendo. O diagnóstico deste fenômeno e o desenho de políticas pertinentes enfrentam desde o princípio os problemas da medição e observação, cujas gravidades parecem ser proporcionais aos níveis de violência”. (RUBIO, 1998b: 2). Diante dessa ausência, a tendência tem sido utilizar os dados de homicídio coletados usualmente pelos sistemas de informação de saúde. Os homicídios, nas suas mais diversas modalidades, tornam-se o indicador para compararmos cidades, regiões e países, seja para efeitos de análise, seja para efeitos de alocação de recursos. Contudo, a utilização dos homicídios como parâmetro comparativo sobre a violência também acarreta crítica acerca da sua validade. Assim, o BID (nota técnica 2) alerta para três tipos de problemas que podem surgir: (a) mesmo que os homicídios tendam a ter menos problemas de sub-registro, ainda assim eles persistem, além de graves problemas de inconsistências entre 30 diferentes tipos de fontes; (b) muitas formas graves de violência nem sempre terminam em homicídios como, por exemplo, a violência doméstica ou as diversas formas de agressão interpessoal; (c) quando se utiliza o homicídio como principal medida de violência, tende- se a subestimar outras formas tais como a violência física e a intimidação. Na verdade, poderíamos argumentar que o problema mais grave em relação às taxas de homicídio seja que ele tem um padrão de comportamento bastante específico, e distinto do que ocorre com outros tipos de delitos que afligem dramaticamente a população tais como as diversas modalidades de crimes contra o patrimônio. Estudos recentes mostram como a dinâmica espacial e temporal dos homicídios é bastante distinta do que ocorre com outros tipos de crime (BEATO, 2000). Homicídios ocorrem mais nas regiões pobres de uma cidade, estado ou país, ao passo que os delitos contra a propriedade ocorrem mais nas regiões ricas. Para efeitos de elaboração de programas de controle e prevenção, esta qualificação é necessária, dado que existem sérios problemas de sub-registros em relação aos crimes contra o patrimônio. Daí alguns estudiosos e policy makers adotarem a taxa de homicídio como indicador de criminalidade em uma cidade, região, país, ou até mesmo como comparação entre países . Isto se deve ao fato de que esta é uma modalidade de crime em que o sub- registro, ou problemas legais de classificaçãosão menores. No entanto, isto nem sempre é verdadeiro, pois algumas avaliações de sistemas de informação mostram como os dados de saúde tendem a ser mais reportados em cidade e regiões que contam com sistema de coleta em organizações mais bem estruturadas. Isto em geral ocorre nas cidades pólos de cada região (CASTRO, ASSUNÇÃO E OTTONI, 2002). 31 Por outro lado, taxas de homicídio podem ser indicadores agregados que terminam ocultando uma série de fenômenos distintos que podem ser do interesse do planejador em conhecer. Podemos ter a mesma taxa de homicídios em duas cidades e, no entanto, distribuições serem completamente diferentes (LYNCH, 1995). No ano de 1996, a região metropolitana do Rio de janeiro, segundo o SIM – Sistema de Informações de Mortalidade, teve uma taxa de homicídio de 59,35 homicídios por cem mil habitantes. A região metropolitana de São Paulo também teve um taxa parecida de 55,58. No entanto, as similaridades entre as taxas ocultam importantes diferenças. No Rio de janeiro, a taxa de morte por homicídios entre os jovens entre 15 e 29 anos é 34% maior do que as taxas no mesmo grupo de idade em São Paulo. Além disso, as mortes por armas de fogo representaram 87% das mortes por homicídios no Rio de Janeiro, ao passo que em São Paulo elas representaram 47% (BATITTUCI, 1999). Estes números nos indicam que, embora as taxas sejam parecidas, do ponto de vista de sua composição, elas são bastante diferentes. Finalmente, existe a discussão acerca da agregação de coisas diferentes sob o mesmo rótulo de homicídio. Tomarmos as definições oficiais da ocorrência de homicídios nos leva à falsa idéia de que todos eles têm uma mesma motivação. Uma forma de compreendermos a diversidade de tipos poderia ser tratá-los com base no relacionamento entre o agressor e a vítima (PARKER & SMITH, 1979. SMITH & PARKER, 1980. PARKER, 1989). Nessa perspectiva, foram classificados quatro tipos de homicídio: (a) homicídio não primário resultante de roubo; (b) homicídio não primário como resultado de outros crimes; (c) homicídio primário entre pessoas não íntimas tais como amigos e; (d) homicídios primários entre pessoas íntimas tais como familiares. Apenas o homicídio primário, isto é, aquele que ocorre entre pessoas que têm um prévio relacionamento, correlaciona-se com indicadores socioeconômicos de 32 desenvolvimento. Os homicídios não-primários, vinculados a casos de assalto ou roubo, tendem a seguir o mesmo padrão de outros delitos contra a propriedade. Toda a digressão acima não nos deve conduzir à falsa idéia de que os homicídios não são indicadores extremamente importantes da situação de violência e criminalidade e determinados locais. Pelo contrário, o que está sendo discutido é a extrema diversidade de fenômenos que existe em apenas um delito. Isto nos sugere fortemente a necessidade de se compreender todas estas nuances para a elaboração de programas que sejam eficazes. Compreender a distribuição de homicídios que ocorrem vinculados a razões de ordem utilitária tais como o latrocínio , ou homicídios resultantes de uma dinâmica doméstica de conflitos e agressões. Informações e programas de prevenção A tendência recente na América Latina tem sido a de incorporar crescentemente componentes de prevenção social e situacional de crimes na agenda das políticas públicas de segurança. Isto não ocorre por acaso, pois eles são mais eficazes, com resultados mais duradouros e muito mais baratos do que as estratégias de repressão adotadas tradicionalmente. Isto é corroborado em estudo realizado pela Rand Corporation, no qual analisou-se o impacto de diferentes estratégias para prevenção de crimes através de programas de intervenção comparada à introdução de legislação dura. Os programas de intervenção incluíam: Visitas a lares por assistente logo após o nascimento das crianças durante até os seis anos de vida; Treinamento e terapia para famílias que tivessem crianças que houvessem demonstrado comportamento agressivo na escola, ou que estivessem em vias de serem expulsos dela; Quatro anos de incentivo monetário para induzir garotos carentes a se graduarem; Monitoramento e supervisão de jovens secundaristas que tenham exibido comportamento delinqüente. Estes programas foram comparados ao impacto que a introdução da lei dos “Three Strikes” teve sobre as taxas de crime na 33 Califórnia. A comparação favorece amplamente os programas de intervenção e, em especial, os de incentivo monetário na forma de uma “bolsa escola”. Cidades colombianas como Bogotá e Cali também vêm adotando com bastante sucesso programas de prevenção envolvendo jovens, reforma da justiça e das organizações policiais, além de projetos de reurbanização. O programa “Seguridad Y Convivencia Ciudadana” articulou simultaneamente programas na área de justiça e polícia envolvendo desenvolvimento tecnológico de comunicação e bases de dados para a polícia, além da provisão de equipamentos. Além disso, projetos voltados para grupos vulneráveis e de recuperação de espaços públicos foram implementados, além de fortalecimento do sistema de justiça e reforma das instituições policiais através de programas de treinamento e equipamentos. Gestão da Informação Laudon & Laudon (1999, p. 4) definem sistema de informação como um “conjunto de componentes inter-relacionados trabalhando juntos para coletar, recuperar, processar, armazenar e distribuir informação com a finalidade de facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise e o processo decisório em empresas e outras organizações.” Os sistemas de informação contêm informações sobre lugares, pessoas e assuntos de interesse no ambiente ao redor da organização e dentro da própria organização. Esses sistemas transformam a informação no sentido de facilitar a análise e visualização de assuntos complexos e a tomada de decisão, e o fazem através de um ciclo de três atividades básicas: entrada, processamento e saída. Pinheiro (2001) caracteriza essas três atividades da seguinte forma: • Entrada (ou input): envolve a coleta ou captação de fontes de dados brutos de dentro de uma organização ou de seu ambiente externo. 34 • Processamento: conversão dessa entrada bruta em uma forma mais útil e apropriada. O processamento pode envolver cálculos, comparações e tomadas de ações alternativas, assim como o armazenamento de dados para uso futuro. • Saída (ou output): envolve a transferência da informação processada às pessoas ou atividades que a utilizarão. Os sistemas de informação também armazenam informação sob várias formas, como documentos, relatórios e dados de transações. Em alguns casos, a saída de um sistema pode se transformar em entrada de outro sistema. A importância e organização de banco de dados Quando se deseja controlar qualquer atividade ou processo, uma das principais preocupações é gerenciamento das informações necessárias para que os objetivos de exame ou controle sejam alcançados. A forma mais eficaz de gerenciamento de informações é realizada através de um Banco de Dados. Além de interligar todo trabalho da organização, reduz custos, elimina duplicação de tarefas, permite uma previsão de crescimento do objeto estudado e ajuda na elaboração de estratégias. 35 Um Sistema de Banco de Dados (SBD) possui as seguintes características: integridade / consistência; restrições; segurança / privacidade; restauração; reorganização e eficiência. Vantagens no uso de Sistema de Banco de Dados (SBD): 1. Redundância reduzida: os dados são organizados por um SBD e armazenados em apenas um local. 2. Maior integridade de dados: como os dados estão em apenas um local, não existe o perigo de existirem cópias mantidas em locais separados. 3. Manutenção mais fácil: o SBD cumpre a tarefa de atualizar os dados comandadosde diversos programas, ficando transparente ao programador e ao usuário final. 4. Independência entre dados e programas: o programa não é afetado pela localização do dado, bem como novos dados podem ser agregados ao banco a qualquer momento. 5. Padronização do acesso aos dados: para acessar os dados, diversos programas utilizam os mesmos procedimentos. 6. Melhor proteção global: como os dados estão armazenados em apenas 1 local físico, a confiança no backup é maior, bem como controle de acesso. 7. Fontes de dados compartilhadas: é fácil localizar o fluxo que o dado faz, desde sua origem até seu destino, dentro do banco de dados. Fontes de Dados Para realizar uma análise, um monitoramento ou uma avaliação é preciso conhecer as fontes de dados. Na área da violência e criminalidade, destacamos três fontes de dados: as registradas pela Polícia Civil, as coletadas pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e as pesquisas de vitimização. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a base das estatísticas criminais é coletada através da Polícia Civil, por meio dos Registros de Ocorrência (RO), cujo preenchimento é baseado nas categorias criminais definidas pelo Código Penal. O Instituto de Segurança Pública (ISP) divulga estes dados mensalmente, um total de 36 38 títulos de ocorrências criminais (homicídios, estupros, vários tipos de roubos, furtos etc) e não criminais (desaparecidos, recuperação de veículos, número de registros de ocorrências etc), abrangendo todo o território do estado. Estes registros são divulgados segundo desagregação de Área Integrada de Segurança Pública (AISP) e segundo área de circunscrição de delegacia de polícia. O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) tem sua informação inicial gerada pela Declaração de Óbito (DO), que é preenchida com base no atestado médico, ou, na ausência de médico, por duas pessoas qualificadas que tenham presenciado ou constatado a morte. O SIM classifica as mortes violentas como “Causas Externas”, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID). Do período de 1979 a 1995, para a codificação da causa de morte, foi utilizado a 9ª Revisão do CID, e desde 1996 os óbitos passaram a serem classificados através da 10ª Revisão do CID 10. Vale ressaltar, segundo o site das Nações Unidas, o novo CID, o 11, reflete as mudanças e os avanços na Medicina e Tecnologia que aconteceram nestes anos. A estrutura de codificação e ferramentas eletrônicas foram simplificadas, para permitir que o profissional possa registrar os problemas de maneira mais fácil e eficaz. A nova classificação conta com 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte versus 14.400 do CID-10. Importante lembrar aqui que a definição de morte violenta dada pelo SIM é diferente da dada pelas polícias. Pelo SIM os homicídios são definidos segundo a CID, enquanto que para as polícias a definição é feita segundo o Código Penal. Com isto, por exemplo, as mortes por homicídio classificadas pelo SIM abrangem mais de um tipo de morte violenta registradas pelas polícias. Deste modo, as taxas de homicídio contabilizadas pelos dados da saúde são sempre maiores que as contabilizadas pelas polícias. Além disto, os dados da polícia se referem ao local da ocorrência do fato, enquanto que os do SIM se referem ao local do óbito. Por exemplo, supondo que um indivíduo levou um tiro em um município Y, e foi levado para um hospital do município X, e faleceu. Para a Polícia, o crime ocorreu no município Y, enquanto que na saúde a morte é registrada no município X. Logo, não é possível realizar comparações entre as duas fontes de dados, e ao se trabalhar com os dados da saúde, levar em conta que o registro se refere ao local da morte e não o local de ocorrência, que é o mais importante no estudo da segurança pública. 37 As pesquisas de vitimização são um tipo de levantamento na população sobre a experiência com o crime. Gera informações que eventualmente sirvam no desenvolvimento de políticas para o controle da criminalidade, e quantifica a ocorrência de violações específicas para aproximar à realidade os dados divulgados pelos órgãos oficiais. Tem como objetivo obter informações sobre a experiência das pessoas com respeito ao crime, risco de vitimização, propensão a registrar queixa policial, atitudes com relação à polícia e a punição dos criminosos, estratégias de prevenção ao crime e avaliação dos serviços prestados pelas forças policiais. A disputa entre a “política do sigilo” e a transparência política O Registro de Ocorrência é o documento produzido pela Polícia que poderá iniciar um inquérito policial, quando houver indício da existência de algum crime. Conforme já descreveu Roberto Kant de Lima (1995), ainda hoje o registro de ocorrência só é efetivado quando a polícia assim o deseja, o que contraria a legislação e as orientações governamentais atuais. Os policiais argumentam que estariam poupando tempo do cidadão. No entanto, já foi verificado que, muitas vezes, o policial leva algumas horas convencendo a vítima a não registrar o crime, gastando provavelmente tempo equivalente ao necessário para se realizar o registro. É comum criticar-se este tipo de prática, classificando-a como um indício do despreparo policial, assim como do interesse em manter um número baixo de registros, para não contabilizar um número alto de casos não resolvidos. Embora essas hipóteses não mereçam ser descartadas, acredita-se, contudo, que esse aparente descaso faz parte de uma forma tradicional de organização e controle de informações, na qual a desordem e a particularização do conhecimento são mecanismos fundamentais para a distribuição e manutenção do poder. O registro de ocorrência, na prática, não se restringe às classificações penais. Ao contrário, sua análise explicita mais o modo pelo qual a polícia entende os conflitos sociais, nos quais se incluem os crimes tipificados na legislação brasileira. Observa- se que há uma maior ênfase ao que se denomina modus operandi dos delitos, o que 38 explica, do ponto de vista policial, a existência de um número maior de títulos de ocorrência do que as classificações de crimes na legislação. Há que se considerar, ainda, que a classificação dos eventos é distinta também entre as duas instituições policiais. Enquanto as categorias utilizadas pela Polícia são quase totalmente relacionadas à legislação vigente no país, que trata dos crimes e contravenções, a classificação adotada pela Polícia Militar trata os eventos de forma mais genérica, incluindo além dos crimes, eventos que são denominados de “assistenciais” e os procedimentos considerados administrativos. As classificações existentes na Polícia Civil totalizam cerca de 1200 títulos, que abrangem a legislação relativa a crimes, contravenções, assim como títulos genéricos que permitem a inclusão de eventos, que não se encaixam nas demais. As classificações de ocorrências na Polícia Militar são agregadas em cinco grandes conjuntos (001 – crimes; 002 – contravenções; 003 – trânsito; 004 – assistenciais; 005 – diversas), que incluem um número variável de itens para detalhamento. Um outro ponto importante, diz respeito à transitoriedade do título da ocorrência na Polícia Civil, que pode ser modificado ao longo da investigação. Trata-se de uma classificação inicial e provisória que atende ao relato feito no “calor dos acontecimentos”, podendo ser alterado a qualquer momento pela autoridade policial, em face a novos fatos e/ou outras informações obtidas durante o inquérito policial. Neste sentido, a classificação de um fato do ponto de vista policial pode se diferenciar da classificação do mesmo fato por parte do Ministério Público, podendo ter, ainda, uma outra classificação quando do julgamento pelo juiz. Assim, uma análise aprofundada deste ciclopressupõe que todas as instâncias do sistema de justiça criminal divulguem periodicamente seus dados, com a possibilidade do acompanhamento de um fato desde o registro da ocorrência até o seu julgamento. Infelizmente, esse processo ainda está longe de ser realidade no país. A rigor, a classificação dos títulos dos registros de ocorrência deveria ser realizada pelo delegado, mas a prática tem revelado que esta tarefa é feita pelos agentes e, muitas vezes, estes títulos não são conferidos pela autoridade policial. Outra situação ainda comum no cotidiano das delegacias é a classificação de um fato em um título diferente para não contabilizá-lo na classificação correta. Isso ocorre quando há a predominância de um problema numa região e os policiais decidem não 39 registrá-lo mais. Ressalta-se que tal prática pode acontecer independentemente de uma ordem superior, o que caracterizaria uma situação de “maquiagem das estatísticas”. Ao fazê-lo autonomamente, os policiais podem, apenas, estar tentando evitar que sejam cobrados a melhorar a sua produtividade na investigação de tais delitos; podem também demonstrar, ainda que inconscientemente, a discricionariedade do trabalho policial. Beato Filho (2000) ressalta que são raras as secretarias de segurança no Brasil que dispõem de departamentos de estatística e coleta de dados, bem como da tecnologia necessária para tal, que torna o trabalho efetivo. O Rio de Janeiro, tido aqui como exemplo, implantou outra mudança importante no processo de qualificação estatística do Rio de Janeiro que foi a criação do Programa Delegacia Legal, em 1999, como o objetivo de modificar completamente a forma de operar de uma delegacia de polícia, a partir da organização das informações e também da prestação de um serviço público de qualidade à população, com a retirada das carceragens e a melhoria do trabalho investigativo. No que tange à organização das informações, há um esforço contínuo de padronizar as classificações, através da redação e divulgação de manuais. Este processo, no entanto, ainda encontra resistências por parte dos policiais, que mantém arquivos particulares, com informações sobre criminosos, informantes e até registros de ocorrências, não incluindo as informações no banco de dados da instituição. A resistência dos policiais às tentativas de padronização se soma à resistência com relação à publicidade dos dados, insumo necessário à proposição de políticas públicas. Entretanto, a resistência não deve ser encarada negativamente, ao contrário, deve ser considerada um indicador importante do impacto das políticas públicas em culturas institucionais. Quando não há nenhuma resistência é porque provavelmente as mudanças não estão surtindo os efeitos esperados. Só se pode falar de efetividade de uma política pública à medida que ela provoque impacto nas rotinas de uma instituição, e ao fazê-lo, essa política sofrerá consequentemente críticas dos que não desejam a mudança. A divulgação sistemática dos registros de ocorrência possibilita um diagnóstico preliminar, embora limitado, dos problemas que a população leva ao conhecimento da polícia. No entanto, ater-se apenas ao que foi registrado retifica a imagem da polícia 40 como uma instituição destinada ao combate ao crime, em detrimento de uma outra imagem, também existente, da polícia mediadora de conflitos intracomunitários e de agência que articula a população a outras agências estatais. É essa imagem da polícia que o projeto de integração das informações entre as duas corporações e as Guardas Municipais pretende apresentar. Atualmente, os dados dos atendimentos realizados pela Polícia Militar, seja através do serviço de emergência (190), seja mediante o Talão de Registro de Ocorrência, não são sistematizados e analisados. Destaca-se que esses dados são extremamente valiosos. Com eles, é possível observar diversas práticas relativas ao que se chama "feijoada", ou seja, o trabalho "assistencial" que é considerado menos nobre, embora constitua 36% das atividades cotidianas, contabilizados juntamente com procedimentos administrativos que também não findam nas DP13. Atualmente, está em andamento um projeto de Integração de Bancos de Dados da Polícia Civil, da Polícia Militar e das Guardas Municipais do Estado do Rio de Janeiro, que está analisando a situação dos bancos de dados das Polícias Civil e Militar visando a sua integração. Numa segunda fase, pretende-se promover a integração com as Guardas Municipais e a Justiça Estadual, visando à ampliação do conhecimento relativo aos fatos relacionados à segurança pública, mediante o cruzamento das informações. Simoni Lahud Guedes fez uma instigante análise sobre o sistema classificatório das ocorrências na Polícia Militar (2003, p. 7), destacando que o sistema de registro trabalha conjugado a um sistema classificatório implícito, construído e transmitido pela ação e observação do trabalho dos “mais experientes”. Assim, “o sistema classificatório das ocorrências dirige o olhar para determinadas direções, hierarquiza e valoriza eventos, desvaloriza outros e obriga à construção de liames entre o vivido e o registrado”. O principal problema em transformar o conjunto de ocorrências em estatística está exatamente na dificuldade de transformar a classificação policial, que toma por referência a experiência vivida em anos de trabalho policial em uma outra classificação, a estatística, cujos critérios lhe são exteriores, genéricos e pretendem alcançar uma universalidade. 41 Tal dificuldade se revela à medida que estamos tentando construir modelos de tradução que possibilitem a comparação entre os fatos registrados pela Polícia Civil, aonde o cidadão vai apresentar sua queixa, com os fatos registrados pela Polícia Militar, que atende a seus chamados. Numa análise preliminar dos eventos, já é possível observar que há algumas divergências de classificações entre as duas instituições, o que certamente revelará o que é valorizado e desvalorizado pelas duas polícias. A adoção da transparência como modelo de ação política tem sido apreciada como discurso no país, em especial, no que se refere à prestação de contas do uso de verbas públicas. Entretanto, este modelo contrasta com um outro, observável a partir das práticas rotineiras de funcionários públicos, chamada de “política do sigilo”. Sua característica principal é a expressão de um certo temor: os documentos públicos quando analisados podem significar censura a uma má administração. Segundo José Honório Rodrigues, a “política do sigilo” (1989: 13) corresponderia a uma velha tradição portuguesa que pretende esconder e sonegar os documentos, independentemente do tempo já decorrido. Esse desafio necessita ser enfrentado para que se possa efetivamente compreender que a relação entre informação e democracia é biunívoca, ou seja, uma não pode existir sem a outra (FERRARI, 2000). É preciso refletir também que esta relação deveria assegurar o direito-dever de informar, o que equivale à possibilidade de constituir e gerir fontes de informação, evitando-se os monopólios, bem como o direito de ser informado, o que corresponderia ao acesso a uma pluralidade de fontes informativas diferenciadas e de qualidade, evitando-se as informações manipuladas por má fé e/ou por ocultação de fatos. A SEGURANÇA PÚBLICA Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal 42 III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-sea: I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. […] § 7º – A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. A Lei 5010/66, que organiza a Justiça Federal de primeira instância, em seu art. 65, determina que a polícia judiciária federal será exercida pelo Departamento de Polícia Federal, observando-se o Código de Processo Penal. Inserida na estrutura organizacional do Ministério da Justiça como Departamento de Polícia Federal, as competências da Polícia Federal estão regulamentas no seu Regimento Interno, instituído pela Portaria nº 2.877, de 30/12/2011: Art. 1º O Departamento de Polícia Federal – DPF, órgão permanente, específico singular, organizado e mantido pela União, e estruturado em carreira, com autonomia orçamentária, administrativa e financeira, diretamente subordinado ao Ministro de Estado da Justiça, tem por finalidade exercer, em todo o território nacional, 43 as atribuições previstas no § 1º do art. 144 da Constituição Federal , no § 7º do art. 27 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e, especificamente: I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, bem assim outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho de bens e valores, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União; V – coibir a turbação e o esbulho possessório dos bens e dos prédios da União e das entidades integrantes da administração pública federal, sem prejuízo da manutenção da ordem pública pelas Polícias Militares dos Estados; VI – acompanhar e instaurar inquéritos relacionados aos conflitos agrários ou fundiários e os deles decorrentes, quando se tratar de crime de competência federal, bem assim prevenir e reprimir esses crimes. Em virtude de estar incumbida, com exclusividade, da função de polícia judiciária da União, compete a Polícia Federal a investigação dos crimes e o auxílio ao Poder Judiciário União (Justiça Federal, Eleitoral e do Trabalho) no cumprimento de suas competências, conforme Constituição Federal, art.109: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: V – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, 44 iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; X – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o “exequatur”, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI – a disputa sobre direitos indígenas. Além das competências constitucionais atribuídas à Polícia Federal que encerram, indubitavelmente, funções policiais típicas, podemos assinalar que à Polícia Federal foram conferidas, por força de legislação infraconstitucional, várias atividades policiais atípicas. Assim, pode-se dizer que a Polícia Federal exerce funções de polícia típicas e atípicas, conforme são distribuídas as atribuições constitucionais e infraconstitucionais. Assim, são funções de polícia típicas as atribuições de polícia judiciária, de polícia administrativa e de polícia de soberania, atribuídas pela Constituição Federal à Polícia Federal, sendo funções atípicas, as decorrentes do exercício do poder de polícia (controle de armas, controle de segurança privada, controle de precursores químicos e controle de identificação criminal e civil e da Estatística criminal) definidas em legislações espaças. 45 Figura 3: atribuição das Polícias Fonte: Polícia Federal. 2020 Como visto, a Constituição Federal, dispõe sobre a função da polícia judiciária pela polícia civil (nos Estados) e pela Polícia Federal, no âmbito federal, e a função de polícia administrativa ou de segurança, para as polícias militares (nos Estados) e Polícias Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Ferroviária Federal no âmbito da União. Para os Estados Membros, estabeleceu a Constituição Federal que as polícias civis exercessem (apenas) as funções de “polícia judiciária” (§ 4º, art. 144, CF), e para as funções de “polícia administrativa”, preventiva ou ostensiva, determinou que fossem exercidas pelas polícias militares. Nessas condições, ambas atuam de forma isolada tendo como único contato o momento da apresentação, pelos policiais militares, dos presos em flagrante nas delegacias da Polícia Civil para as providências de polícia judiciária cabíveis, condição que prejudica a investigação de crimes, tendo em vista que o agente de investigação não participou da apuração dos atos iniciais da conduta delitiva. 46 CONCLUSÃO Em linhas gerais, pode-se afirmar que a divulgação de dados através das reuniões dos Conselhos Comunitários esbarra em diversas questões importantes. A primeira delas é a lógica do segredo que ainda distancia a sociedade das organizações policiais. Desse modo, a interação entre elas se dá de forma complexa e com reservas de ambos os lados. A outra questão relevante diz respeito à produção dos dados, geralmente através dos registros das delegacias policiais. Esses dados possibilitam uma visualização parcial dos crimes que afligem a sociedade, mas um conjunto imenso de dados referentes aos acionamentos da polícia militar não é sistematizado. A análise desse conjunto de informações poderia permitir o desenvolvimento de políticas públicas em diversas áreas, contribuindo, assim, para adoção de medidas de prevenção aos crimes e a melhoria da qualidade de vida da população. Os dados disponíveis para a área de segurança pública devem ter um duplo referencial: a sua disponibilidade e a sua usabilidade pelo público. Em relação à disponibilidade temos encontrado iniciativas importantes nas polícias estaduais, não havendo o mesmo esforço nas polícias federais. Já em relação ao uso, julgamos importante o desenvolvimento de modelos distintos para os diversos públicos, como os pesquisadores do tema, os gestores públicos das diversas áreas e os cidadãos em geral. Finalmente, apresentamos os ConselhosComunitários de Segurança como um instrumento que pode ajudar a transformar a lógica do segredo através da cobrança sistemática de transparência das informações sobre as medidas adotadas pelas organizações policiais. O processo de institucionalização desses conselhos pode ser considerado um aprendizado social . Assim, as idéias de controle e definição de prioridades poderão ser vistas como aliadas na melhoria e no aumento da efetividade da ação policial. Com a execução da AC, as instituições de segurança pública estarão melhor assessoradas no processo de tomada de decisões para emprego do policiamento ostensivo e judiciário, ficando também mais preparadas para atender às necessidades 47 do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, conforme especificado no parágrafo 3º do Art. 2º do Decreto nº 3.695 (Brasil, 2000): Cabe aos integrantes do Subsistema, no âmbito de suas competências, identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. Tendo sido o Sisp criado no âmbito do Sisbin, o produto da AC beneficiará também a Abin. Para tanto, há a necessidade de integração e compartilhamento de dados e informações entre todas as instituições que compõem o Sisbin e o SISP. A AC constitui um meio capaz de indicar locais de maior incidência de crimes, valendo-se da determinação da tendência histórica dos fenômenos criminais em uma determinada área, levantando os fatores que contribuem para tal incidência, o que conduz a uma melhor tomada de decisão para prevenção e repressão do crime e da violência. De acordo com Pereira (2003, p.7), o emprego sistemático da AC permite: a) Identificar a existência, surgimento e evolução de padrões e tendências dos crimes; b) identificar as áreas com maior incidência de determinadas categorias de crimes; c) subsidiar o planejamento do policiamento ostensivo; d) melhorar uso dos recursos operacionais disponíveis; e) diminuir custos e positivar a relação custo-benefício; f) avaliar o desempenho dos policiais em todos os níveis corrigindo os erros e os rumos das ações; e g) promover a eficácia da ação policial. Para Dantas, Souza e Gottlieb, a AC deve ser executada no contexto Atividade de Inteligência visto ser a área de Inteligência a encarregada de assessorar as autoridades com conhecimentos oportunos e essenciais ao processo de tomada 48 de decisões. Em suma, face à grande quantidade de dados referentes aos atendimentos e ocorrências policiais, torna-se humanamente impossível fazer inferências sobre um vasto amontoado de registros, sem a possibilidade de recorrer ao uso de ferramentas tecnológicas. Assim, são ferramentas essenciais ao analista criminal: planilhas eletrônicas, acesso eletrônico aos diversos bancos de dados, gerenciadores de banco de dados e conexão à rede mundial de computadores (Internet). Também é necessária a capacitação para uso de tais ferramentas, bem como a satisfação aos pré-requisitos de integração e interoperabilidade nos níveis federal, estadual e municipal. 49 REFERÊNCIAS _______ . Novos rumos da inteligência policial. 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