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LÍNGUA PORTUGUESA
PROF. PABLO JAMILK
QUESTÕES
COMENTADAS E
GABARITADAS
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LÍNGUA PORTUGUESA
SUMÁRIO
MORFOLOGIA........................................................................................................03
VOZES VERBAIS.....................................................................................................28
SINTAXE..................................................................................................................36
COLOCAÇÃO PRONOMINAL E EMPREGO DO PRONOME..............................67
ACENTUAÇÃO GRÁFICA.......................................................................................88
CONCORDÂNCIA....................................................................................................91
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO E CRASE......................................................99
PONTUAÇÃO..........................................................................................................116
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO...............................................................................126
REDAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS................................................139
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LÍNGUA PORTUGUESA
EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS
ARTIGO
Um embate entre instituições de ensino
superior, editoras e autores é travado há anos.
Com o argumento de que livros são caros e
muitas vezes apenas um capítulo é necessário
para o curso, alunos e professores lançam
mão de cópias de partes de publicações
ou de apostilas para economizar. O debate
voltou à tona após policiais da Delegacia
Antipirataria apreenderem, no mês passado,
mais de duzentas pastas com textos para
serem reproduzidos em uma universidade
do Rio de Janeiro, sob a alegação de crime
de direitos autorais. O operador da máquina
foi detido, e a universidade, indignada, criou
normas para regulamentar as cópias dentro
de seus estabelecimentos. Uma alternativa
legal, porém, existe há quatro anos, mas só
agora começa a ser efetivada em algumas
universidades: a venda de capítulos avulsos.
Luciani Gomes. In: IstoÉ, 6/10/2010 (com
adaptações)
01. (CESPE – Adaptada)##A inserção do
artigo definido plural os imediatamente
antes da palavra “policiais” (l.6) não alteraria
o sentido original do período.
Resposta: Errado.
Comentário: como não havia artigo no
texto original, o substantivo “policiais”
foi empregado de maneira genérica. Caso
houvesse a inserção do artigo definido plural,
o entendimento seria de que o substantivo
passaria à determinação, ou seja, haveria
um substantivo saliente (já mencionado)
no texto que passa a ser retomado pelo
referente. A presença do artigo altera o
sentido original do período, que era de
generalização do substantivo.
MORFOLOGIA
Na verdade, o que hoje definimos como
democracia só foi possível em sociedades de
tipo capitalista, mas não necessariamente de
mercado. De modo geral, a democratização
das sociedades impõe limites ao mercado,
assim como desigualdades sociais em geral
não contribuem para a fixação de uma
tradição democrática. Penso que temos de
refletir um pouco a respeito do que significa
democracia. Para mim, não se trata de um
regime com características fixas, mas de um
processo que, apesar de constituir formas
institucionais, não se esgota nelas. É tempo
de voltar ao filósofo Espinosa e imaginar a
democracia como uma potencialidade do
social, que, se de um lado exige a criação
de formas e de configurações legais e
institucionais, por outro não permite parar. A
democratização no século XX não se limitou
à extensão de direitos políticos e civis. O
tema da igualdade atravessou, com maior
ou menor força, as chamadas sociedades
ocidentais.
Renato Lessa. Democracia em debate. In:
Revista Cult, n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57
(com adaptações).
02. (CESPE - Adaptada)##Preservam-se a
correção gramatical e a coerência textual ao
se optar pela determinação do substantivo
“respeito” (l.6), juntando-se o artigo definido
à preposição “a”, escrevendo-se ao respeito.
Resposta: Errado.
Comentário: a expressão “a respeito de”
é uma locução prepositiva, formada por
uma preposição, um substantivo e uma
preposição. Ao inserir um artigo antes do
substantivo “respeito”, descaracteriza-se
a locução prepositiva, o que causa erro na
construção do parágrafo.
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Costumamos olhar pouco para fora
do Brasil quando tentamos compreender
o que estamos vivendo. Faz muito que a
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LÍNGUA PORTUGUESA
distância entre os países desapareceu, no
plano objetivo. Continuamos, porém, vivendo
“isolados do mundo”, como diz uma canção,
ainda que apenas na subjetividade.
Se pensarmos no que está à nossa
volta, na América do Sul, então, mais ainda.
Mesmo quando é bem informado, o brasileiro
típico se mostra mais capaz de dar notícia do
que ocorre na Europa e nos Estados Unidos
da América do que em qualquer de nossos
vizinhos.
É pena, pois estar mais informados
sobre o que acontece além das fronteiras
pode ajudar muito a que nos entendamos
como país.
Marcos Coimbra. Olhando à nossa volta.
In: Correio Braziliense, 23/9/2007 (com
adaptações).
03. (CESPE - Adaptada)## Preservam-se a
coerência textual e a correção gramatical ao
se empregar o artigo o em lugar de “como”
(l. 11).
Resposta: Errado.
Comentário: haverá um prejuízo para
a coerência da sentença, pois o artigo
surge em substituição do comparativo. Na
construção da sentença, essa comparação é
fundamental para entender ideia ex-pressa
pela sentença, que é o autoentendimento
como país.
Tópico 2:
O Jivaro
(Rubem Braga)
Um Sr. Matter, que fez uma viagem de
exploração à América do Sul, conta a um
jornal sua conversa com um índio jivaro,
desses que sabem reduzir a cabeça de um
morto até ela ficar bem pequenina. Queria
assistir a uma dessas operações, e o índio
lhe disse que exatamente ele tinha contas a
acertar com um inimigo.
O Sr. Matter:
- Não, não! Um homem, não. Faça isso com a
cabeça de um macaco.
E o índio:
- Por que um macaco? Ele não me fez nenhum
mal!
04. (IBFC - Adaptada) Assinale a alternativa
em que o vocábulo “a”, destacado nas opções
abaixo, seja exclusivamente um artigo.
a) “conta a um jornal sua conversa com um
índio jivaro,”
b) “desses que sabem reduzir a cabeça de
um morto”
c) “Queria assistir a uma dessas operações”
d) “ele tinha contas a acertar com um
inimigo”
e) “uma viagem de exploração à América
do Sul”
Resposta: A
Comentário: o “a” que antecede o termo
cabeça deve ser classificado como artigo,
pois, se analisarmos o termo subsequente,
perceberemos que se trata de um substantivo.
Nas demais alternativas, nota-se que há o
emprego da preposição “a” em razão da
regência dos termos “contar” e “assistir”.
A preposição nos outros casos, surge em
razão de haver uma locução adverbial que,
em sua formação, usualmente é introduzida
por uma preposição.
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Catar feijão (João Cabral de Melo Neto)
Catar feijão se limita com escrever
joga-se os grãos na água do alguidar1
E as palavras na folha do papel;
E depois, joga-se fora o que boiar. [...]
(João Cabral de Melo Neto)
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LÍNGUA PORTUGUESA
05. (Makiyama - Adaptada) No trecho: “E
as palavras na folha do papel”, o termo
destacado morfologicamente é um
a) adjetivo.
b) pronome.
c) artigo.
d) numeral.
e) verbo.
Resposta: C
Comentário: o termo destacado é um artigo,
porque determina o substantivo “palavras”,
com o qual estabelece uma relação de
concordância, isto é, está flexionado no
feminino e no plural.
ADJETIVO
Tornou-se sócio de um clube da Lagoa.
Sozinho, porém, nunca punha os pés lá, até
que um dia se fez acompanhar pelo Lulu,
bom atleta e péssimo funcionário, que o
apresentara como “velho servidor do Estado”
às principais beldades do bairro. Como
dialogar com elas? Não conhecia futebolnem equitação, não sabia jogar baralho,
não guardava nomes de artistas de cinema,
ignorava os escândalos da sociedade.
06. (CESPE – Adaptada)##O termo “velho” (l.
3) constitui exemplo de adjetivo cujo sentido
é alterado conforme a posição em relação
ao substantivo que modifica no sintagma —
velho servidor / servidor velho.
Resposta: Certo.
Comentário: Considerando a alternativa, é
preciso entender que a posição do adjetivo
restritivo é fundamental para o entendimento
da sentença: quando se desloca o adjetivo,
o sentido pode ser alterado. A diferença em
pleito é: velho servidor (servidor de longa
data); servidor velho (um servidor com idade
avançada).
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Rememoro os Natais da Rua da União, no Re-
cife... A cozinha da casa de meu avô, aque-
la cozinha que era todo o mundo da velha
preta Tomásia... As grandes tachas de cobre
que deixavam o sono da despensa, o grande
pilão de madeira, que entrava a esmagar o
milho verde cozido... [25.XII.1960]
BANDEIRA, Manuel. Andorinha, Andorinha.
Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1966.
(Com adaptações)
07. (CESGRANRIO – Adaptada)##O adjetivo
(entre parênteses) NÃO corresponde à
locução adjetiva (destacada) em
a) “Nos meses do verão,” (hibernais)
b) “...afastado do bulício da cidade,”
(urbano)
c) “Às primeiras horas da tarde,”
(vespertinas)
d) “...grandes tachas de cobre...” (cúpreas)
e) “o grande pilão de madeira,” (lígneo)
Resposta: A
Comentário: “Hibernal” é adjetivo que se
refere à locução adjetiva “de inverno”.
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A polêmica sobre o porte de armas pela
população não tem consenso nem mesmo
dentro da esfera jurídica, na qual há vários
entendimentos como: “o cidadão tem direito
a reagir em legítima defesa e não pode ter
cerceado seu acesso aos instrumentos de
defesa”, ou “a utilização da força é direito
exclusivo do Estado ”ou “o armamento da
população mostra que o Estado é incapaz de
garantir a segurança pública”. Independente
de quão caloroso seja o debate, as estatísticas
estão corretas: mais armas potencializam
a ocorrência de crimes, sobretudo em um
ambiente em que essas sejam obtidas por
meios clandestinos. A partir daí, qualquer
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LÍNGUA PORTUGUESA
fato corriqueiro pode tornar-se letal. O porte
de arma pelo cidadão pode dar uma falsa
sensação de segurança, mas na realidade é
o caminho mais curto para os registros de
assaltos com morte de seu portador.
Internet:<http://www.serasa.com.br/
guiacontraviolencia>. Acesso em 28/9/2004
(com adaptações).
08. (CESPE - Adaptada)##No período de
que faz parte, o termo “Independente” (l.6)
exerce a função de adjetivo e está no singular
porque se refere a “debate” (l.7).
Resposta: Errado.
Comentário: A palavra “independente” é,
morfologicamente falando, um adjetivo.
Apesar disso, na sentença, ele foi empregado
com função adverbial e, por essa razão, não
há que se falar em concordância, afinal, o
advérbio é invariável.
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O que nós conhecemos como vida é
apenas a camada superficial de um mundo
desco-nhecido. A grande maioria dos seres
vivos são bactérias e microrganismos. Os
cientistas estimam que as espécies que só
podem ser vistas com aparelhos especiais
cheguem a 10 milhões. Ou, quem sabe, a
100 milhões. O biólogo norte-americano
Craig Venter acredita que o código genético
de microrganismos pode se transformar
num excelente negócio no futuro. Esses
seres microscópicos estão na base da
cadeia alimentar e dão forma aos ciclos de
carbono, nitrogênio e outros nutrientes que
sustentam todo o ecossistema. Em teoria, o
DNA deles pode conter a chave para gerar
energia barata, desenvolver remédios e
acertar as bagunças da natureza provocadas
pelo avanço da civilização. Há bactérias que
só vivem em locais onde existe petróleo.
Quem identificá-las terá o mapa da mina
para explorar o produto.
Veja. 25/8/2004, p. 64-5 (com adaptações).
09. (CESPE - Adaptada)##Com o emprego
do adjetivo “superficial” (l.1), em sentido
conotativo, a argumentação do texto
reforça a ideia de que a ciência tem tratado
de maneira muito pouco aprofundada os
conhecimentos sobre a totalidade dos seres
vivos do planeta.
Resposta: Errado.
Comentário: Em primeiro lugar, o adjetivo
não foi empregado conotativamente,
mas sim denotativamente, pois faz alusão
ao que é mais externo, mais exterior,
portanto, superficial. Em segundo lugar, o
sentido pretendido é o de que ainda não há
conhecimento suficiente, mas não que seja
por negligência da ciência.
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Em 1819, o poeta John Keats, um expoente
do movimento romântico, escreveu: “a
verdade é bela e a beleza, verdade. Isso é
tudo o que precisas saber em vida; tudo o que
precisas saber”. (Perdoem-me pela tradução
amadora.)
Aqui, podemos perguntar: qual a
relação da matemática com a beleza?
Matemáticos e físicos atribuem beleza a
teoremas e teorias, criando uma estética da
“verdade”. Os mais belos são aqueles que
explicam muito com pouco.
Quando possível, os teoremas e
teorias mais belos são também os mais
simples: dadas duas ou mais explicações para
o mesmo fenômeno, vence a mais simples.
Esse critério é conhecido como a lâmina de
Ockham, atribuído a William de Ockham, um
teólogo inglês do século XIV.
Para os que creem na matemática
como linguagem universal, essa estética leva
à existência de uma única verdade, o que
parece guardar relação com o monoteísmo
judaico-cristão nas ciências. Melhor é
defender a matemática como nossa invenção.
Criamos uma linguagem para descrever o
mundo, que não podemos deixar de achar
bela.
Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo (com
adaptações)
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LÍNGUA PORTUGUESA
10. (CESPE - Adaptada)##No trecho
“monoteísmo judaico-cristão nas ciências”
(l. 15), o adjetivo é grafado na sua forma mais
conhecida, embora também estejam corretas
as formas judaicocristão e judaico cristão.
Resposta: Errado.
Comentário: Como é um adjetivo composto,
é preciso inserir um hífen na formação da
palavra que, é preciso ressaltar, é feita por
justaposição.
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Brasil. País do verde-amarelo. Terra
do futebol, do samba amigo e das mulatas
sensuais. País da violência, das riquezas
minerais e da política corrupta. Terra de
Ronaldinho e de Chico Buarque. Alguma
mentira? Não. Nosso país é de uma diversidade
e de uma adversidade espantosas. De altos
e baixos e extremos radicais. Riqueza,
exuberância e miséria. São tantas coisas
que falar sobre ele parece ser fácil. Ou não.
São tantos extremos que evitar estereótipos
parece difícil. Ou não. Todos estão sujeitos
aos estereótipos. A ignorância e a arrogância
permeiam esse caminho. A questão não é
lutar para deletá-los, mas sim lutar para
desmitificá-los.
11. (CESPE - Adaptada)##O fato de a palavra
“verde-amarelo” (L.1) ser grafada com hífen
mostra que se trata de uma composição
vocabular em que o adjetivo verde passa a
ser prefixo.
Resposta: Errado.
Comentário: Como a palavra é composta,
não há que se pensar em prefixação; afinal,
esse procedimento ocorre apenas no
processo de derivação. É preciso considerar
que a palavra “verde” é um dos elementos
da composição que já possui um morfema
lexical (raiz) por si só.
Eu não gosto de ninguém, ele quase
respondeu, refreando-se a tempo; faz sentido,
ele mesmo concluía — é o pior momento da
minha vida, sem a mulher, sem o filho, sem
dinheiro, e desgraçadamente sem literatura.
Uma letra de tango. Ou “um maneirista da
própria sombra”, como escreveu Eusébio de
Mattos no Suplemento de Arte, demolindo-o
até a última linha com o sadismo certeiro
dos grandes críticos. Para um país sem
crítica, aquele texto chegava a ser uma boa
surpresa, ainda que deixasse entrever mais o
prazer do ataque que o lamento sincero de
um estudioso honesto, o tsc tsc tsc diante de
um escritorque nunca “chegou lá” na corrida
de cavalos letrados do panorama nacional —
e Donetti sentiu a respiração opressa pelo
rancor. O célebre homem brasileiro cordial
é cordial não porque seja polido, o que ele
nunca foi, mas porque nada nunca passa
pelo cérebro antes de chegar à vida — é só
um coração batendo forte no meio da rua,
que é o seu lugar.
Cristovão Tezza. Um erro emocional.
Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 91 (com
adaptações).
12. (CESPE - Adaptada)##Se, em vez do
adjetivo “célebre” (L.12), o autor tivesse
optado pela sua forma superlativa, teria de
acrescentar-lhe o sufixo -érrimo, da seguinte
forma: celebérrimo.
Resposta: Certo
Comentário: A formação do superlativo de
um adjetivo pode ser pela raiz vernácula ou
pela raiz erudita. Com a vernácula, utiliza-
se o sufixo –íssimo; já, com a erudita, usa-
se o sufixo -érrimo. A forma célebre ficará,
em seu superlativo absoluto sintético, como
celebérrimo, porque a raiz latina desse
adjetivo é “celeber”.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pesquisas constatam doses crescentes
de pessimismo diante do que o futuro
esteja reservando aos que habitam este
mundo, com a globalização exacerbando a
competitividade e colocando os Estados de
bem-estar social nos corredores de espera
de cumprimento da pena de morte. É preciso
“investir no povo”, recomenda o Per Capita
— um centro pensante, criado recentemente
na Austrália —, com seus dons progressistas.
Configurar um mercado no qual as empresas
levem em consideração o interesse público,
sejam ampliados os compromissos de
proteção ao meio ambiente e tenham
como objetivo o bem-estar dos indivíduos.
A questão maior é saber como colocar em
prática essas belezas, num momento em que
as lutas sociais sofrem o assédio cada vez
mais agressivo da globalização e as próprias
barreiras ideológicas caem por terra.
Newton Carlos. Má hora das esquerdas.
In: Correio Braziliense, 20/11/2007 (com
adaptações).
13. (CESPE - Adaptada)##O adjetivo
“agressivo” (l.11) está empregado com valor
de advérbio e corresponde, dessa forma, a
agressivamente.
Resposta: Errado
Comentário: O adjetivo “agressivo” está
no masculino e no singular. Por isso, já é
possível entender que ele estabelece um
vínculo de concordância com o substantivo
que lhe é correlato na sentença, a palavra
“assédio”. Não é possível dizer que se trata
de um advérbio, porque não está vinculado a
um verbo a um adjetivo ou a outro advérbio.
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Nicolau meteu-se na política. Em 1823, vamos
achá-lo na Constituinte. Não há que dizer ao
modo por que ele cumpriu os deveres do
cargo. Íntegro, desinteressado, patriota, não
exercia de graça essas virtudes públicas, mas
à custa de muita tempestade moral. Pode-
se dizer, metaforicamente, que a frequência
da câmara custava-lhe sangue precioso.
Não era só porque os debates lhe pareciam
insuportáveis, mas também porque lhe era
difícil encarar certos homens, especialmente
em certos dias. Montezuma, por exemplo,
parecia-lhe balofo, Vergueiro, maçudo,
os Andradas, execráveis. Cada discurso,
não só dos principais oradores, mas dos
secundários, era para o Nicolau verdadeiro
suplício. E, não obstante, firme, pontual.
Nunca a votação o achou ausente; nunca o
nome dele soou sem eco pela augusta sala.
Qualquer que fosse o seu desespero, sabia
conter-se e pôr a ideia da pátria acima do
alívio próprio. Talvez aplaudisse in petto o
decreto de dissolução. Não afirmo; mas há
bons fundamentos para crer que o Nicolau,
apesar das mostras exteriores, gostou de ver
dissolvida a assembleia. E se essa conjetura
é verdadeira, não menos o será esta outra:
que a deportação de alguns dos chefes
constituintes, declarados inimigos públicos,
veio aguar-lhe aquele prazer. Nicolau, que
padecera com os discursos deles, não menos
padeceu com o exílio, posto lhes desse um
certo relevo. Se ele também fosse exilado!
Machado de Assis. Verba testamentária. In:
J. Gledson. 50 contos de Machado de Assis.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.
168 (com adaptações).
14. (CESPE - Adaptada)##O termo “balofo”
(l.8) expressa uma característica do sujeito
da oração na qual esse adjetivo é empregado.
Resposta: Certo.
Comentário: A oração em questão é
“Montezuma, por exemplo, parecia-lhe
balofo, Vergueiro, maçudo, os Andradas,
execráveis”. Considerando que o sujeito do
verbo parecer é o substantivo Montezuma
e o verbo em pleito é um verbo relacional
(de ligação), conclui-se que a função de
predicativo do sujeito – atribuída ao adjetivo
“balofo” – direciona-se ao sujeito da oração.
9
LÍNGUA PORTUGUESA
CONJUNÇÕES
Embora as conquistas obtidas a partir da
Revolução Francesa tenham possibilitado
a consolidação da concepção de cidadania,
elas não foram suficientes para que essa
condição se verificasse na prática. A mera
declaração formal das liberdades nos
documentos e nas legislações esboroava
diante da inexorável exclusão econômica da
maioria da população.
Em vista disso, já no século XIX, buscaram-
se os direitos sociais com ações estatais
que compensassem tais desigualdades,
municiando os desvalidos com direitos
implantados e construídos de forma coletiva
em prol da saúde, da educação, da moradia,
do trabalho, do lazer e da cultura para todos.
15. (CESPE - Adaptada)##Dada a relação
de concessão estabelecida entre as duas
primeiras orações do texto, a palavra
“Embora” (l.1) poderia, sem prejuízo do
sentido ou da correção gramatical do texto,
ser substituída por Conquanto.
Resposta: Certo
Comentário: A palavra “embora” é
uma conjunção subordinativa adverbial
concessiva, assim como a palavra
“conquanto”. Como o verbo da oração em
que a conjunção surge foi conjugado no
subjuntivo, é possível afirmar que não haverá
prejuízo para a correção gramatical ou para
o sentido da sentença.
-------------------------- ------------------------
A impunidade de políticos não decorre
de foro privilegiado, mas de justiça ineficiente.
Abolir o referido mecanismo produzirá efeitos
desfavoráveis. É compreensível a confusão.
A designação mais conhecida, “foro
privilegiado”, sem dúvida, sugere a existência
de condenável regalia. Não é estranho,
portanto, que o Congresso tenha incluído
em sua agenda positiva um esforço para
eliminar essa prerrogativa constitucional.
Os parlamentares estariam, com isso,
oferecendo o seu quinhão para o combate à
impunidade que tradicionalmente beneficia
políticos de todos os matizes.
Entretanto, há dois equívocos nesse
raciocínio. O primeiro é imaginar que o foro
especial — assegurado a autoridades como
o presidente da República, governadores,
prefeitos, congressistas e ministros de Estado
— seja responsável pela ausência de punições
na esfera jurídica. As numerosas instâncias
da justiça comum favorecem a interposição
de recursos, o que atrasa a caminhada
processual e contribui para a impunidade. O
segundo equívoco do raciocínio é imaginar
que a prerrogativa de foro constitua, de fato,
um privilégio. De um lado, porque não há
benefício na supressão de um ou de todos
os graus de jurisdição. De outro, porque o
mecanismo busca assegurar um julgamento
imparcial — em proveito não só do réu, mas
também da sociedade.
16. (CESPE - Adaptada)##Mantêm-se as
relações sintáticas originais ao se substituir
o termo “Entretanto” (l. 9) por qualquer um
dos seguintes: Porém, Contudo, Todavia, No
entanto.
Resposta: Certo
Comentário: A palavra destacada é uma
conjunção coordenativa adversativa, ou seja,
que exprime sentido de oposição. Todos os
elementos suscitados para a permuta a que
a questão alude são da mesma natureza.
Isso quer dizer que na troca solicitada não
haveria problemas para a correção ou para
o sentido da sentença.
-------------------------- ------------------------
Leio que a ciência deu agora mais um
passo definitivo. É claro que o definitivo da
ciência é transitório, e não por deficiência
da ciência (é Origem ciênciademais), que
se supera a si mesma a cada dia... Não
10
LÍNGUA PORTUGUESA
indaguemos para que, já que a própria ciência
não o faz — o que, aliás, é a mais moderna
forma de objetividade de que dispomos.
Mas vamos ao definitivo transitório.
Os cientistas afirmam que podem realmente
construir agora a bomba limpa. Sabemos
todos que as bombas atômicas fabricadas
até hoje são sujas (aliás, imundas) porque,
depois que explodem, deixam vagando pela
atmosfera o já famoso e temido estrôncio
90. Ora, isso é desagradável: pode mesmo
acontecer que o próprio país que lançou
a bomba venha a sofrer, a longo prazo, as
consequências mortíferas da proeza. O que
é, sem dúvida, uma sujeira.
Pois bem, essas bombas indisciplinadas,
mal-educadas, serão em breve substituídas
pelas bombas n, que cumprirão sua missão
com lisura: destruirão o inimigo, sem riscos
para o atacante. Trata-se, portanto, de uma
fabulosa conquista, não?
Ferreira Gullar. Maravilha. In: A estranha
vida banal. Rio de Janeiro: José Olympio,
1989, p. 109.
17. (CESPE - Adaptada)##Mantendo-se a
correção gramatical e a coerência do texto,
a conjunção “e”, em “e não por deficiência
da ciência” (l. 2), poderia ser substituída por
mas.
Resposta: Certo.
Comentário: A conjunção “e”, na maior
parte das vezes, indica uma soma, ou seja, é
aditiva. Ocorre que, na sentença em questão,
ela desempenha função adversativa, razão
pela qual sua permuta pela palavra “mas”
(conjunção coordenativa adversativa)
não prejudicaria a correção gramatical da
sentença, tampouco a coerência.
-------------------------- ------------------------
Todos nós, homens e mulheres, adultos e
jovens, passamos boa parte da vida tendo de
optar entre o certo e o errado, entre o bem e o
mal. Na realidade, entre o que consideramos
bem e o que consideramos mal. Apesar da
longa permanência da questão, o que se
considera certo e o que se considera errado
muda ao longo da história e ao redor do
globo terrestre.
Ainda hoje, em certos lugares, a
previsão da pena de morte autoriza o Estado
a matar em nome da justiça. Em outras
sociedades, o direito à vida é inviolável e nem
o Estado nem ninguém tem o direito de tirar
a vida alheia. Tempos atrás era tido como
legítimo espancarem-se mulheres e crianças,
escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora
ainda se saiba de casos de espancamento de
mulheres e crianças, de trabalho escravo,
esses comportamentos são publicamente
condenados na maior parte do mundo.
Mas a opção entre o certo e o errado
não se coloca apenas na esfera de temas
polêmicos que atraem os holofotes da
mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da
consciência de cada um de nós, homens e
mulheres, pequenos e grandes, que certo e
errado se enfrentam. E a ética é o domínio
desse enfrentamento.
Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In:
Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo:
Ática, 2008 (com adaptações).
18. (CESPE - Adaptada)##Dado o fato de
que nem equivale a e não, a supressão
da conjunção “e”, empregada logo após
“inviolável”, na linha 8, manteria a correção
gramatical do texto.
Resposta: Errado.
Comentário: Se houvesse a supressão do
termo em questão, seria necessário inserir
uma vírgula em seu lugar, a fim de manter
a correção gramatical da sentença, pois o
termo precisaria ficar separado da sentença
como um elemento deslocado.
11
LÍNGUA PORTUGUESA
Durante o período de janeiro a
março de 2013, foram recebidas 13.348
reclamações de beneficiários de planos de
saúde referentes à garantia de atendimento.
Entre as operadoras médico-hospitalares,
480 tiveram pelo menos uma reclamação
e, entre as operadoras odontológicas, 29
tiveram pelo menos uma reclamação de
não cumprimento dos prazos máximos
estabelecidos ou de negativa de cobertura.
A fiscalização do cumprimento das
garantias de atendimento é uma forma eficaz
de se certificar o beneficiário da assistência
por ele contratada, pois leva as operadoras a
ampliarem o credenciamento de prestadores
e a melhorarem o seu relacionamento
com o cliente. Para isso, a participação dos
consumidores é de fundamental importância.
Internet: <www.ans.gov.br> (com
adaptações).
19. (CESPE - Adaptada)##Mantêm-se a
correção gramatical do período e suas
informações originais ao se substituir o termo
“pois” (l. 7) por qualquer um dos seguintes:
já que, uma vez que, porquanto.
Resposta: Certo.
Comentário: A conjunção destacada é
subordinativa adverbial causal, assim como
as conjunções e locuções conjuntivas
destacadas para a substituição na sentença.
Por essa razão, não haveria prejuízo para a
correção ou para o sentido da sentença, ao
realizar a permuta mencionada.
-------------------------- ------------------------
As relações que as sociedades
ocidentais industriais mantêm com os
temas da ciência e da tecnologia não se
constituem numa constante. No transcorrer
da história dessas sociedades, a ciência deixa
de ser entendida apenas como um tipo de
conhecimento tido como válido e passa a se
conjugar com as técnicas, conformando uma
aplicação prática e útil desse conhecimento.
Isso ocorre desde os desdobramentos
da Revolução Industrial no século XIX,
quando ciência e tecnologia passaram a
constituir um binômio, abreviadamente
ex-presso por C&T, no qual, cada vez mais,
conhecimento científico e técnica se
entrelaçam. A tecnologia vai-se tornando
plena de ciência e esta tende a incorporar
crescentemente a técnica. Já no século XX,
o desenvolvimento de ciência e tecnologia
passou a utilizar intensivamente grandes
investimentos financeiros, tendo em vista
o domínio tanto da natureza quanto das
sociedades.
A partir de então, e dada a intensifi-
cação dos processos técnico-científicos da
contemporaneidade, surgem posiciona-
mentos antagônicos em relação à temáti-
ca da aceleração tecnológica. Por um lado,
estabelece-se uma compreensão de que o
incremento de ciência e tecnologia é algo
determinante, ou até mesmo fundamental
para um desenvolvimento econômico e so-
cial satisfatório, além de ser politicamente
neutro e desprovido de normatividade.
Desde outra perspectiva,
desenvolvem-se reflexões sobre as
incertezas e indeterminações acerca do
destino das sociedades como consequência
dos principais modelos e sistemas técnico-
científicos contemporâneos. Questiona-se o
papel da ciência e da tecnologia como fator
determinante e como atividade neutra de
valores.
Raquel Folmer Corrêa. Tecnologia e
sociedade : análise de tecnologias sociais
no Brasil contemporâneo. Porto Alegre:
UFRGS, 2010. Dissertação de mestrado. In:
Internet: <http://www.lume.ufrgs.br> (com
adaptações)
20. (CESPE - Adaptada)##Nas linhas 8 e
28, as ocorrências do vocábulo “desde”
introduzem circunstâncias temporais.
Resposta: Errado.
12
LÍNGUA PORTUGUESA
Comentário: Na primeira ocorrência, a
palavra “desde” indica uma circunstância
de tempo; na segunda ocorrência, a palavra
“desde” indica perspectiva (posição) e não
circunstância temporal.
-------------------------- ------------------------
Se considerarmos o panorama
internacional, perceberemos que o Ministério
Público brasileiro é singular. Em nenhum
outro país, há um Ministério Público que
apresente perfil institucional semelhante
ao nosso ou que ostente igual conjunto de
atribuições.
Do ponto de vista da localização
institucional, há grande diversidade de
situações no que se refere aos Ministérios
Públicos dos demais países da América
Latina. Encontra-se, por exemplo, Ministério
Público dependente do Poder Judiciário na
Costa Rica, na Colômbia e, no Paraguai, e
ligado ao Poder Executivo, no México e no
Uruguai.
Constata-se, entretanto, que, apesar
da maior extensão de obrigações do Ministério
Público brasileiro, a relação entre o número
de integrantes da instituição e a população
é uma das mais desfavoráveis no quadro
latino-americano. De fato, dados recentes
indicam que, no Brasil, com 4,2 promotorespara cada 100 mil habitantes, há uma
situação de clara desvantagem no que diz
respeito ao número relativo de integrantes.
No Panamá, por exemplo, o número é de 15,3
promotores para cada cem mil habitantes;
na Guatemala, de 6,9; no Paraguai, de 5,9; na
Bolívia, de 4,5. Em situação semelhante ou
ainda mais crítica do que o Brasil, estão, por
exemplo, o Peru, com 3,0; a Argentina, com
2,9; e, por fim, o Equador, com a mais baixa
relação: 2,4. É correto dizer que há nações
proporcionalmente com menos promotores
que o Brasil. No entanto, as atribuições do
Ministério Público brasileiro são muito mais
extensas do que as dos Ministérios Públicos
desses países.
Maria Tereza Sadek. A construção de um
novo Ministério Público resolutivo. Inter-
net: <https://aplicacao.mp.mg.gov.br>
(com adaptações).
21. (CESPE - Adaptada)##Seriam mantidas a
coerência e a correção gramatical do texto
se, feitos os devidos ajustes nas iniciais
maiúsculas e minúsculas, o período “É
correto (...) o Brasil” (l.11-12) fosse iniciado
com um vocábulo de valor conclusivo, como
logo, por conseguinte, assim ou porquanto,
seguido de vírgula.
Resposta: Errado.
Comentário: A questão não fala sobre
a retirada do ponto final da sentença
antecedente. Além disso, é preciso
entender que as conjunções conclusivas
não estabelecem relação de conclusão com
a sentença antecedente, mas com toda a
circunstância que era transmitida pelo texto.
Portanto, a alteração mencionada causaria
prejuízo para a coerência da sentença.
-------------------------- ------------------------
A parte da natureza varia ao infinito.
Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas
se parecem umas às outras, mas todas entre
si diversificam. Os ramos de uma só árvore,
as folhas da mesma planta, os traços da
polpa de um dedo humano, as partículas do
mesmo pó, as raias do espectro de um só raio
solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros
no céu, até os micróbios no sangue, desde as
nebulosas no espaço até as gotas do rocio na
relva dos prados.
A regra da igualdade não consiste
senão em quinhoar desigualmente aos
desiguais na medida em que se desigualam.
Nessa desigualdade social, proporcionada
à desigualdade natural, é que se acha a
verdadeira lei da igualdade. O mais são
desvarios da inveja, do orgulho ou da loucura.
Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade
13
LÍNGUA PORTUGUESA
flagrante e não igualdade real.
Essa blasfêmia contra a razão e a
fé, contra a civilização e a humanidade, é
a filosofia da miséria; executada, não faria
senão inaugurar a organização da miséria.
Se a sociedade não pode igualar os que
a natureza criou desiguais, cada um, nos
limites da sua energia moral, no entanto,
pode reagir sobre as desigualdades nativas,
pela educação, atividade e perseverança. Tal
a missão do trabalho.
Ruy Barbosa. Oração aos moços. Internet:
<http://home.comcast.net> (com
adaptações).
22. (CESPE - Adaptada)##Não haveria
prejuízo para o sentido original nem para
a correção gramatical do texto caso se
inserisse quando ou se for imediatamente
antes de “executada” (l.15).
Resposta: Errado.
Comentário: Para entender a questão, é
preciso entender o que evoca a conjunção
empregada. No caso de utilizar a palavra
“quando”, ela suscitará um verbo no futuro
do presente e não no futuro do pretérito,
como está no texto. A única permuta
possível seria pela palavra “se” pode evocar
o sentido de hipótese, ou seja, o verbo no
futuro do pretérito.
-------------------------- ------------------------
Escrevi uma carta aos meus
concidadãos, pedindo-lhes que me dissessem
francamente o que consideravam que fosse
política, e dispensando-os de citar Aristóteles,
Maquiavelli, Spencer, Comte. (...)
Não tardou que o correio começasse
a entregar-me as respostas; e, como eu não
pagava o porte, reconheci que há neste
mundo uma infinidade de filhos de Deus ou do
diabo que os carregue, que estão à espreita
de um simples pretexto para comunicar as
suas ideias, ainda à custa dos vinténs magros.
Não publico todas as definições
recebidas, porque a vida é curta, vita brevis.
Faço, porém, uma escolha rigorosa, e dou
algumas das principais. (...) Uma das cartas
dizia simplesmente que a política é tirar
o chapéu às pessoas mais velhas. Outra
afirmava que a política é a obrigação de
não meter o dedo no nariz. Outra, que é,
estando à mesa, não enxugar os beiços no
guardanapo da vizinha, nem na ponta da
toalha. Um secretário de club dançante jura
que a política é dar excelência às moças, e
não lhes pôr alcunhas. Segundo um morador
da Tijuca, a política é agradecer com um
sorriso animador ao amigo que nos paga a
passagem.
Muitas cartas são tão longas e difusas,
que quase se não pode extratar nada. Citarei
dessas a de um barbeiro, que define a política
como a arte de lhe pagarem as barbas, e a de
um boticário para quem a verdadeira política
é não comprar nada na botica da esquina. Um
sectário de Comte (viver às claras) afirma que
a política é berrar nos bonds, quer se trate
dos negócios da gente, quer dos estranhos.
Não entendi algumas cartas. A letra de
outras é ilegível. Outras repetem-se. Cinco
ou seis dão, como suas, opiniões achadas nos
livros. Note-se que, em todo esse montão
de cartas, não há uma só de deputado
ou senador, contudo escrevi a todos eles
pedindo uma definição.
Machado de Assis. Balas de estalo. In: Obra
completa, vol. 3, Rio de Janeiro: Aguilar,
1973, p. 468-9 (com adaptações).
23. (CESPE - Adaptada)##O termo “contudo”
(l.27) estabelece entre as orações do
período relação sintática adversativa, por
isso, poderia ser corretamente substituído
por qualquer um dos seguintes vocábulos:
entretanto, todavia, no entanto, porém,
embora, conquanto.
Resposta: Errado.
Comentário: O candidato deve perceber,
14
LÍNGUA PORTUGUESA
nessa questão, a tentativa de o elaborador
enganar alguém mais despreparado.
Ao colocar uma série de conjunções, o
elaborador tenta enganar o candidato,
pois o último elemento do encadeamento,
a palavra “conquanto”, é uma conjunção
subordinativa adverbial concessiva, que não
expressa o mesmo sentido das demais, que
são coordenativas adversativas. Por isso, a
questão está errada.
-------------------------- ------------------------
A língua indígena mais conhecida dos
brasileiros — conquanto esse conhecimento
se limite, em regra, só a um de seus nomes,
tupi — é justamente o tupi-nambá. Essa foi
a língua predominante nos contatos entre
portugueses e indígenas nos séculos XVI e XVII
e tornou-se a língua da expansão bandeirante
no sul e da ocupação da Amazônia norte. Seu
uso pela população luso-brasileira, tanto no
norte quanto no sul da Colônia, era tão geral,
no século XVIII, que o governo português
chegou a baixar decretos (cartas régias)
proibindo esse uso. Uma das consequências
da prolongada convivência do tupinambá
com o português foi a incorporação a este
último de considerável número de palavras
daquele. É notável a quantidade de lugares
com nomes de origem tupinambá, quase sem
alteração de pronúncia, muitos deles dados
pelos luso-brasileiros dos séculos passados
a localidades onde nunca viveram índios
tupinambás.
Aryon Dall’Igna Rodrigues. Línguas
brasileiras: para o conhecimento das
línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 2002
(com adaptações).
24. (CESPE - Adaptada)##A conjunção
“conquanto” (l.1) introduz uma oração em
que se admite um fato contrário e subordinado
ao fato afirmado na oração principal.
Resposta: Certo.
Comentário: Por ser uma conjunção de
natureza concessiva, é possível afirmar
que a sentença por ele introduzida indica
uma contraposição ao que se afirma na
oração principal. Essa palavra encontra os
elementos “embora,” “ainda que” e “mesmo
que” como equivalentes semânticos.
-------------------------- ------------------------
O Senado Federal aprovou em
plenário, em 31/10/2012, o projeto de lei
originário da Câmarados Deputados (PL n.º
2.793/2011) que tipifica como criminosas
algumas condutas cometidas no meio digital,
sobretudo a invasão de computadores. A
imprensa tem noticiado como se fosse a
primeira aprovação desse tipo no Brasil
e alguns setores comemoraram como
se a existência de uma lei para os crimes
eletrônicos fosse tudo o que faltava para
diminuir a delinquência cibernética. Sendo
o Brasil um país de tradições positivistas
e sendo vedada a aplicação de analogia
para criar tipos penais, não resta dúvida da
necessidade de aprovação da lei. Talvez com
a previsão dessas condutas específicas, haja
melhores resultados punitivos.
A falta de estrutura na maioria das
delegacias civis do país e a ausência de previsão
legal que estabeleça a obrigatoriedade da
guarda de logs acabam por inviabilizar a
investigação dos crimes digitais, em muitos
casos. Com o Marco Civil da Internet (PL n.º
2.126/2011), o legislador poderia sanar esse
problema ao prever o armazenamento de
tais registros, sem dar margem à violação da
privacidade, evidentemente. No entanto, no
último parecer ao projeto, no mês julho, o
deputado relator retirou a obrigatoriedade do
armazenamento dos dados pelos provedores
de aplicações à Internet, os chamados
provedores de conteúdo, deixando essa
previsão apenas aos provedores de conexão.
O fato é que os registros de conexão nem
sempre são suficientes para uma eficiente
coleta de provas. O certo seria obrigar
também os provedores de conteúdo a fazer
esse registro, o que permitiria investigar e
punir não só os crimes digitais como também
15
LÍNGUA PORTUGUESA
outros, tais como os de difamação, calúnia e
injúria, tão comuns nas redes sociais.
Rafael Fernandes Maciel. In: Consultor
Jurídico, 9/11/2012.
Internet: <www.conjur.com.br> (com
adaptações)
25. (CESPE - Adaptada) Mantendo-se a
relação de sentido estabelecida entre os
períodos, a expressão “No entanto” (l.17)
poderia ser substituída, corretamente, por
Com tudo.
Resposta: Errado.
Comentário: Essa questão, além de envolver
conceitos de morfologia – conjunções,
utiliza conhecimentos de ortografia. A
despeito de haver uma locução conjuntiva
coordenativa adversativa, a permuta não
é possível, pois o elemento sugerido está
grafado incorretamente. A grafia correta da
palavra é “contudo”, sem separação.
-------------------------- ------------------------
O IDEB, indicador de qualidade
educacional, combina informações sobre
desempenho em exames padronizados
(Prova Brasil ou SAEB) — demonstrado pelos
estudantes ao final do ensino fundamental e
do ensino médio — com informações sobre
rendimento escolar (aprovação). Estudos e
análises da qualidade educacional raramente
combinam as informações produzidas por
esses dois tipos de indicadores, ainda que a
complementaridade entre elas seja evidente.
Um sistema educacional que reprove
sistematicamente seus estudantes, fazendo
que grande parte deles abandone a escola
antes de completar a educação básica, não é
desejável, mesmo se aqueles que concluem
essa etapa de ensino atingem elevadas
pontuações nos exames padronizados.
Por outro lado, também não se deseja um
sistema em que todos os alunos concluam
o ensino médio no período correto, mas
aprendam muito pouco na escola. Em suma,
um sistema de ensino ideal seria aquele
em que crianças e adolescentes tivessem
acesso à escola, não desperdiçassem tempo
com repetências, não abandonassem a
escola precocemente e, ao final de tudo,
aprendessem.
Sabe-se que, no Brasil, a questão do
acesso à escola não é mais um problema, já
que a quase totalidade das crianças ingressa
no sistema educacional. Entretanto, as taxas
de repetência dos estudantes são bastante
elevadas, assim como o é a proporção de
adolescentes que abandonam a escola antes
mesmo de concluir a educação básica. Outro
indicador preocupante é a baixa proficiência
obtida pelos alunos em exames padronizados.
Internet: <http://download.inep.gov.br>
(com adaptações)
26. (CESPE - Adaptada) A locução “já que”
(l.19) confere a noção de causa à oração em
que ocorre.
Resposta: Certo.
Comentário: A locução conjuntiva “já
que” pertence à categoria das conjunções
subordinativas adverbiais causais, por isso,
introduz uma noção de causa à sentença
em que aparece. Se analisar a sentença em
que aparece: “a questão do acesso à escola
não é mais um problema, já que a quase
totalidade das crianças ingressa no sistema
educacional”, será possível perceber a
relação de causa e consequência – a
totalidade das crianças ingressar no sistema
educacional é a causa de a questão do
acesso à escola não ser mais um problema.
16
LÍNGUA PORTUGUESA
se entre si sem conciliação possível. Um
exemplo dos estragos causados pela
privatização desse recurso natural é o
das represas Santo Antonio e Jirau, no rio
Madeira, a oeste do Amazonas, no Brasil. As
duas represas têm um custo de 20 bilhões
de dólares e, na sua construção, estão
envolvidas a multinacional GDF-Suez e o
banco espanhol Santander. A construção
dessas imensas represas provocou o que
Ronack Monabay, da ONG Amigos da Terra,
chama de “um desarranjo global”. As obras
desencadearam um êxodo interior dos índios
que viviam na região. Eles foram se refugiar
em outra área ocupada por garimpeiros em
busca de ouro e terminaram enfrentando-se
com eles.
(...) Brice Lalonde, coordenador da Rio+20,
cúpula da ONU para o Meio Ambiente,
prometeu que a água será “uma prioridade”
da reunião que será realizada no Rio de
Janeiro em junho. O responsável francês
destaca neste sentido o paradoxo que
atravessa este recurso natural: “a água é uma
espécie de jogo entre o global e o local”. E
neste jogo o poder global das multinacionais
se impõe sobre os poderes locais.
As ONGs não perdem as esperanças e apostam
na mobilização social para contrapor a
influência das megacorporações.
Neste contexto preciso, todos lembram
o exemplo da Bolívia. Jacques Cambon,
organizador do Fórum Alternativo Mundial
da Água e membro da ONG Aquattac,
recorda o protesto que ocorreu na cidade
de Cocha-bamba: “dezenas de milhares de
pessoas manifestaram-se na rua em protesto
contra o aumento da tarifa da água potável
imposto pela multinacional norte-americana
Bechtel”.
A guerra da água é silenciosa, mas existe:
conflito em Barcelona causado pelo aumento
das tarifas, quase guerra na Patagônia
chilena por causa da construção de enormes
represas e da privatização de sistemas fluviais
inteiros, antagonismos em Barcelona e em
PREPOSIÇÕES
Guerra da água é silenciosa, mas já está em
curso
Quanto vale a vida? “Para começar, um bom
copo de água”, responde com ironia Jerôme,
um dos participantes do Fórum Mundial
Alternativo de Água (FAME) que se reuniu na
França, paralelamente ao muito oficial Fórum
Mundial da Água (FME). Duas “cúpulas” e
duas posturas radicalmente opostas que
expõem até o absurdo o antagonismo entre
as multinacionais privadas da água e aqueles
que militam por um acesso gratuito e igual
a este recurso natural cuja propriedade é
objeto de uma áspera disputa nos países
do Sul. Basta apontar a identidade dos
organizadores do Fórum Mundial da Água
para entender o que está em jogo: o Fórum
oficial foi organizado pelo Conselho Mundial
da Água. Este organismo foi fundado pelas
multinacionais da água Suez e Veolia e pelo
Fundo Monetário Internacional, incansáveis
defensores da privatização da água nos
países do Sul.
O mercado que enxergam diante de si
é colossal: um bilhão de seres humanos
não têm acesso à água potável e cerca de
três bilhões de seres humanos carecem de
banheiro. O tema da água é estratégico e
tem repercussões humanas muito profundas.
Os especialistas calculam que, entre 1950 e
2025, ocorrerá uma diminuição de 71% nas
reservas mundiais de água por habitante: 18
mil metros cúbicos em 1950 e 4.800 metros
cúbicos em 2025. Cerca de 2.500 pessoas
morrem por dia por não dispor de um acesso
adequado à águapotável. A metade delas
é de crianças. Comparativamente, 100% da
população de Nova York recebe água potável
em suas casas. A porcentagem cai para 44%
nos países em via de desenvolvimento e
despenca para 16% na África Subsaariana.
As águas turvas dos negócios e as
reivindicações límpidas da sociedade civil,
que defende o princípio segundo o qual a
água é um assunto público e não privado e
uma gestão racional dos recursos, chocam-
17
LÍNGUA PORTUGUESA
muitos países africanos pelas tarifas abusivas
aplicadas pelas multinacionais. A pérola fica
por conta da Coca Cola e de suas tentativas de
garantir o controle em Chiapas, México, das
reservas de água mais importantes do país.
Jacques Cambon está convencido de que “o
problema do acesso à água é um problema
de democracia. Enquanto não se garantir o
acesso e a gestão da água sob supervisão de
uma participação cidadã haverá guerras da
água em todo o mundo”.
(...) A ONU apresentou na França um informe
sobre o impacto da mudança climática
na gestão da água: secas, inundações,
transtornos nos padrões básicos de chuva,
derretimento de geleiras, urbanização
excessiva, globalização, hiperconsumo,
crescimento demográfico e econômico.
Cada um destes fatores constitui, para as
Nações Unidas, os desafios iminentes que
exigem respostas da humanidade.
A margem de manobra é estreita. Nada
indica que os tomadores de decisão estão
dispostos a modificar o rumo de suas
ações. A mudança climática colocou uma
agenda que as multinacionais, os bancos
e o sistema financeiro resistem a aceitar.
Seguem destruindo, em benefício próprio e
contra a humanidade. Ante a cegueira das
multinacionais, a solidariedade internacional
e o lançamento daquilo que se chamou na
França de “um efeito mariposa” em torno
da problemática da água são duas respostas
possíveis para frear a seca mundial.
Eduardo Febbro - De Paris
Tradução: Katarina Peixoto
(Adaptado de www.cartamaior.com.br)
27. (CEPERJ - Adaptada)##“Cada um destes
fatores constitui, para as Nações Unidas, os
desafios iminentes que exigem respostas da
humanidade” (7º parágrafo). Nessa frase, a
preposição “para” possui valor semântico de:
a) comparação
b) finalidade
c) explicação
d) direção
e) conformidade
Resposta: E
Comentário: Na sentença em questão, a
preposição empregada pode ser entendida
com o sentido de “conforme”, o que -
claramente - indica conformidade. Ainda
existe outra possibilidade de entender
o sentido dessa sentença, trocando a
preposição “para” pela locução “de acordo
com”.
-------------------------- ------------------------
Todos chegarão lá
RIO DE JANEIRO – O Brasil está
envelhecendo. Segundo instituições oficiais
calculam, 20% da população terá mais de
60 anos em 2030. É o óbvio: vive-se mais,
morre-se menos e as taxas de fecundidade
estão caindo – e olhe que nunca se viram
tantos gêmeos em carrinhos duplos no
calçadão de Ipanema.
Em números absolutos, esperam-se
perto de 50 milhões de idosos em 2030 –
imagine o volume de Lexotan, Viagra e fraldas
geriátricas que isso vai exigir. Não quer dizer
que a maioria desses macróbios seguirá o
padrão dos velhos de antigamente, que,
mal passados dos 60, equipados com boina,
cachecol, suéter e cobertor nas pernas, eram
levados para tomar sol no parquinho.
Como a sociedade mudou muito, creio
que os velhos de 2030 se parecerão cada vez
mais com meus vizinhos do Baixo Vovô, aqui
no Leblon – uma rede de vôlei frequentada
diariamente por sexa ou septuagenários,
com músculos invejáveis e capazes de saques
mortíferos. A vida para eles nunca parou. Para
eles, o lema é: se não se trabalha, diverte-se.
18
LÍNGUA PORTUGUESA
Por sorte, a aceitação do velho é agora
maior do que nunca. Bem diferente de 1968
– apogeu de algo que me parecia fabricado,
chamado “Poder Jovem” –, em que ser velho
era quase uma ofensa. À idade da razão, que
deveria ser a aspiração de todos, sobrepunha-
se o que Nelson Rodrigues denunciava como
“a razão da idade” – a juventude justificando
todas as injustiças e ignomínias (como as
ocorridas na China, em que velhos eram
humilhados publicamente por serem velhos,
durante a Revolução Cultural).
Enquanto naquela mesma época
o rock era praticado por jovens esbeltos,
bonitos e de longas cabeleiras, para uma
plateia de rapazes e moças idem, hoje,
como se viu no Rock in Rio, ele é praticado
por velhos carecas, gordos e tatuados, para
garotos que podiam ser seus netos. Já se
pode confiar em maiores de 60 anos e, um
dia, todos chegarão lá.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. 04.10.2013.
Adaptado)
28. (VUNESP – Adaptada)##A frase em que
a preposição destacada estabelece uma
relação de lugar é:
a) (...) 20% da população terá mais de 60
anos em 2030. (1.° parágrafo)
b) Em números absolutos, esperam-se
perto de 50 milhões de idosos em 2030 (...)
(2.° parágrafo)
c) Bem diferente de 1968 – apogeu de algo
que me parecia fabricado, chamado “Poder
Jovem” –, em que ser velho era quase uma
ofensa. (4.° parágrafo)
d) (...) (como as ocorridas na China, em que
velhos eram humilhados publicamente
por serem velhos, durante a Revolução
Cultural). (4.° parágrafo)
e) Já se pode confiar em maiores de 60 anos
e, um dia, todos chegarão lá. (5.° parágrafo)
Resposta: D
Comentário: Na letra A, a preposição indica
tempo, pois se associa ao numeral que indica
o ano; na letra B, a ideia transmitida é de
modo; na letra C, a preposição se relaciona
ao ano de 1968, portanto, o sentido é
temporal. Na letra D, a preposição se
relacionada ao pronome “que” para formar
um adjunto adverbial de lugar - ao retomar
o termo China -; na letra E, a preposição
introduz o complemento do verbo “confiar”.
29. (FUMARC - Adaptada)##Assinale a
alternativa em que a substituição da
preposição em destaque pela dos parênteses
implique erro.
a) O nome do Diretor Financeiro não
constou na ata. (de)
b) Depois que me aposentar, pretendo ir
para o exterior. (a)
c) É de Robert Frost a afirmativa de que o
júri consta de doze pessoas escolhidas para
decidirem quem tem o melhor advogado.
(em)
d) Ainda não temos confirmação da
organização do congresso, mas, se tudo
der certo, vamos a Estocolmo nas próximas
férias de julho. (para)
Resposta: C
Comentário: Na letra A, não há problemas
para a correção gramatical, em virtude de
a preposição “de” também poder funcionar
como introdução de complemento do verbo
constar (nesse caso, significa algo como
“estar na formulação de”. Na letra B, a
preposição “a” indica direção ou movimento,
logo, não há prejuízo para a correção ou para
o sentido. Na letra C, não é possível utilizar
a preposição “em”, por razão da regência
do substantivo “afirmativa”, que deve
ter o seu complemento introduzido pela
preposição “de”. Na letra D, a despeito da
mudança de sentido, não há erro em trocar
a preposição, pois as duas significam destino
ou orientação.
19
LÍNGUA PORTUGUESA
Note-se, em tempo, que a mudança
de sentido promovida pela troca das
preposições “a” por “para”, no sentido
de orientação ou destino, tem a ver com
a noção de permanência: utilizando a
preposição “para”, não há o indicativo de
retorno; utilizando a preposição “a”, há o
indicativo.
-------------------------- ------------------------
A figura do ancião, desde o início dos
relatos das primeiras civilizações, é muito
controversa e discutida. No mundo ociden-
tal, o senso comum das principais culturas
muitas vezes discordava dos ensinamentos
das filosofias clássicas sobre as contribui-
ções da velhice para a sociedade. O estudo
das reais condições trazidas pelo avanço da
idade gerou diversas discussões éticas sobre
as percepções biossociais dos processos de
mudança do corpo. Médicos, biólogos, psicó-
logos e antropólogos ainda hoje não conse-
guem obter consenso sobre esse fenômeno
em suas respectivas áreas.
Muitas culturas ocidentais descrevem o
estereótipo do jovem como corajoso, deste-
mido, forte e indolente. Já a figurado idoso
é retratada como um peso morto, um chato
em decadência corporal e mental. Percep-
ção preconceituosa que foi levada ao extre-
mo no século XX pelos portugueses durante
a ditadura de Antônio Salazar, notório por
usar a perseguição aos idosos como bandei-
ra política. Atletas e artistas cotidianamen-
te debatem o avanço da idade com medo e
desgosto, enquanto especial istas da saúde
questionam se há deterioração ou mudança
adapta-tiva do corpo humano.
Nas culturas orientais, assim como na
maioria das filosofias clássicas, a velhice
é vista de um ângulo positivo, sendo fonte
de sabedoria e meta para uma vida guiada
pela prudência. O sábio ancião, que perso-
nifica a figura do homem calmo, austero, e
que muitas vezes é capaz de prever certas
situações e aconselhar, se destaca em rela-
ção ao jovem cheio de energia e de hormô-
nios instáveis. Porém, apesar dos filósofos
apreciarem o avanço da idade, nem todos
eles tinham a mesma opinião sobre a velhi-
ce. O jovem Platão tinha como inspiração o
velho filósofo Sócrates. Apesar de ser desfa-
vorecido materialmente, Sócrates possuía
muita experiência e uma sabedoria ímpar
que marcou a história do pensamento. Em
A República , Platão retrata uma discussão
filosófica sobre a justiça ocorrida na casa do
velho Céfalo, homem importante e respei-
tável em Atenas, que propiciava discussões
filosóficas entre os mais velhos e os jovens
que contemplavam os diálogos. Na socieda-
de ideal desse filósofo, os jovens muitas ve-
zes eram retratados como inconsequentes e
ingênuos, a exemplo de Polemarco, filho de
Céfalo.
Nesta sociedade ideal, crianças e adolescen-
tes não recebiam diretamente o ensino da
Filosofia. Por ser um conhecimento nobre e
difícil, [ela] era ensinada somente para pes-
soas de idade mais avançada.
Dentre os filósofos clássicos, o maior crí-
tico sobre a construção filosófica da ideia de
“velhice” era o estoico Sêneca. Para ele, Pla-
tão, Aristóteles e Epicuro construíram uma
concepção mitológica da figura do velho. Os
idosos que ele conheceu em Roma muitas
vezes não eram tão felizes como descreviam
os gregos. Muitos deles, observou Sêne-
ca, pareciam tranquilos, mas no fundo não
eram. A aparente tranquilidade decorria de
seu cansaço e desânimo por não conseguir
mais lutar por aquilo que queriam. Não bus-
caram a ataraxia enquanto jovens, ou seja, a
tranquilidade da alma e a ausência de per-
turbações frente aos desafios impostos pela
vida.
Se envelhecer é uma “droga”, como afir-
ma o ator Arnold Schwarzenegger, ou se [a
velhice] é a “melhor idade”, como dizem
muitos aposentados, esses discursos não
contribuem para uma resposta definitiva
para o estudo científico. Afinal, o conceito
de velhice não é um fenômeno puramente
biológico, mas também fruto de uma cons-
trução social e psicoemocional.
MEUCCI, Arthur. Rev. Filosofia : março de
2013, p. 72-3.
20
LÍNGUA PORTUGUESA
30. (FUNCAB – Adaptada)##No período: “[...]
Por ser um conhecimento nobre e difícil,
[ela] era ensinada somente para pessoas de
idade mais avançada.” (§ 3) a preposição POR
introduz a mesma circunstância que em:
a) batalhar por conseguir um lugar ao sol.
b) perder o emprego por incompetência.
c) corresponder-se com amigos por email
d) ausentar-se por algumas semanas.
e) relarcear os olhos por toda a sala.
Resposta: B
Comentário: Na letra A, a preposição
introduz o sentido de finalidade (lutar para
conseguir algo); na letra B, a preposição
introduz o sentido de causa, que é idêntico
ao do comando da questão. Na letra C, a
preposição introduz o sentido de modo. Na
letra D, a preposição introduz o sentido de
tempo. Na letra E, a preposição introduz
sentido de lugar.
31. (IBFC - Adaptada)##Considere os versos
abaixo para responder às questões 20 e 21
seguintes.
I. “A esperança vem do sul”
II. “vem no café que produzimos”
Nos versos em análise, foram destacadas
contrações de preposições. Assinale a opção
que apresenta, respectivamente, os valores
semânticos que elas introduzem.
a) lugar e lugar
b) lugar e meio
c) meio e meio
d) meio e tempo
e) lugar e tempo
Resposta: B
Comentário: A contração a que o comando
da questão alude está relacionada à soma
das preposições “de” e “em” com o artigo
definido masculino “o”. Na construção “vir
do sul”, o adjunto adverbial revela a ideia de
lugar, ao passo que, na construção “vir no
café”, o adjunto adverbial revela a ideia de
meio.
32. (Makiyama – Adaptada)##Assinale a
alternativa em que a preposição destacada
estabelece sentido de origem:
a) Apesar do mau tempo, viajou.
b) O professor sequer quis ouvir às
solicitações do aluno.
c) Os vitrais chegaram aqui em pedaços.
d) Este xale é de seda pura.
e) As crianças não gostaram do ensopado
de jiló.
Resposta: B
Comentário: Na letra A, a preposição
estabelece o sentido de concessão; na letra
B, a solicitação é proveniente do aluno,
logo, a preposição indica origem. Na letra
C, a preposição indica o sentido de modo;
na letra D, a preposição indica o sentido de
material (xale de seda); na letra E, o sentido
empregado é o de material também (sopa
feita com / de jiló).
33. (FJG – Adaptada)##“bem como os
direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam” (2º parágrafo).
A preposição em destaque pode preencher
corretamente a lacuna em:
a) Nos conflitos com fazendeiros, índios às
vezes são violentos, pois agem ___ pressão.
b) Frequentemente, a juventude clama ___
direitos que não são respeitados.
c) Políticos da oposição votaram ___ o nosso
projeto.
d) A autora divulga dados ___ a situação
atual dos povos indígenas.
21
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: D
Comentário: Na letra A, a palavra correta
é “sob” e não “sobre”. Na letra B, a
preposição a ser empregada é “por”. Na
letra C, a preposição em questão deveria ser
“em” (apesar de dever aparecer na forma
contrata). Finalmente, a sentença correta
será a da letra D, pois a preposição deve
introduzir ideia de assunto (sobre), nesse
caso a frase conteria a informação “dados
sobre a situação atual”.
34. (VUNESP – Adaptada)##Em – ... cada um
de nós morre um pouco quando alguém, na
distância e no tempo, rasga alguma carta
nossa, e não tem esse gesto de deixá-la em
algum canto,... – a expressão em destaque
introduz a ideia de
a) posse.
b) tempo.
c) modo.
d) causa.
e) lugar.
Resposta: E
Comentário: A preposição “em” associada
ao termo “algum canto” cria a ideia de lugar.
35. (VUNESP – Adaptada)##Assinale a
alternativa em que o termo em destaque
expressa circunstância de posse.
a) Era razoável, e diante da testemunha abri
a bolsa, não sem experimentar a sensação
de violar uma intimidade.
b) Hesitei: constrangia-me abrir a bolsa de
uma desconhecida ausente; nada haveria
nela que me dissesse respeito.
c) Por isso, grande foi a minha emoção ao
deparar, no assento do ônibus, com uma
bolsa preta de senhora.
d) Mas eu não estava preparado para achar
uma bolsa, e comuniquei a descoberta ao
passageiro mais próximo.
e) ... e sei de um polonês que achou um
piano na praia do Leblon.
Resposta: B
Comentário: Na letra A, a ideia transmitida
é a de lugar (diante de); na letra B, a ideia
transmitida é a de posse (a bolsa pertencia a
uma desconhecida); na letra C, a preposição
estabelece o sentido de lugar; na letra D, a
preposição introduz o sentido de finalidade;
na letra E, o sentido transmitido é o de
assunto (saber de / sobre).
PRONOMES
Da utilidade dos animais
Terceiro dia de aula. A professora é um
amor. Na sala, estampas coloridas 1
mostram animais de todos os feitios.
“É preciso querer bem a eles”, diz a
professora, com um sorriso que envolve
toda a fauna, protegendo-a. “Eles têm
direito à vida,
como nós, além disso são muito úteis. Quem
não sabe que o cachorro é o maior amigo da
gente? Cachorro faz muita falta. Mas
4 não é só ele não. A galinha, o peixe, a
vaca... Todos ajudam.”
— Aquele cabeludo ali, professora, também
ajuda?
— Aquele? É o iaque, um boi da ÁsiaCentral.
Aquele serve de montaria e de burro de
carga. Do pêlo se fazem perucas
7 bacaninhas. E a carne, dizem que é
gostosa.
— Mas se serve de montaria, como é que a
gente vai comer ele?
— Bem, primeiro serve para uma coisa,
depois para outra. Vamos adiante. Este é o
texugo. Se vocês quiserem pintar a
22
LÍNGUA PORTUGUESA
10 parede do quarto, escolham pincel de
texugo. Parece que é ótimo.
— Ele faz pincel, professora?
— Quem, o texugo? Não, só fornece o
pêlo. Para pincel de barba também, que o
Arturzinho vai usar quando crescer.
13 Arturzinho afirmou que pretende usar
barbeador elétrico. Além do mais, não
gostaria de pelar o texugo, uma vez que
devemos
gostar dele, mas a professora já explicava a
utilidade do canguru:
— Bolsas, malas, maletas, tudo isso o couro
do canguru dá pra gente. Não falando na
carne. Canguru é utilíssimo.
16 — Vivo, fessora?
— A vicunha, que vocês estão vendo aí,
produz... produz é maneira de dizer, ela
fornece, ou por outra, com o pêlo dela
nós preparamos ponchos, mantas,
cobertores etc.
19 — Depois a gente come a vicunha, né,
fessora?
— Daniel, não é preciso comer todos os
animais. Basta retirar a lã da vicunha, que
torna a crescer...
— E a gente torna a cortar? Ela não tem
sossego, tadinha.
22 — Vejam agora como a zebra é
camarada. Trabalha no circo, e seu couro
listrado serve para forro de cadeira, de
almofada e para tapete. Também se
aproveita a carne, sabem?
— A carne também é listrada? — pergunta
que desencadeia riso geral.
25 — Não riam da Betty, ela é uma garota
que quer saber direito as coisas. Querida,
eu nunca vi carne de zebra no açougue,
mas posso garantir que não é listrada. Se
fosse, não deixaria de ser comestível por
causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês
já conhecem da praia do Leblon, onde
costuma aparecer, trazido pela correnteza.
Pensam que só serve para brincar? Estão
28 enganados. Vocês devem respeitar o
bichinho. O excremento — não sabem o
que é? O cocô do pinguim é um adubo
maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo
feito com a gordura do pinguim...
— A senhora disse que a gente deve
respeitar. — Claro. Mas o óleo é bom.
31 — Do javali, professora, duvido que a
gente lucre alguma coisa.
— Pois lucra. O pêlo dá escovas de ótima
qualidade.
— E o castor? — Pois quando voltar a moda
do chapéu para homens, o castor vai prestar
muito serviço. Aliás, já presta,
34 com a pele usada para agasalhos. É o
que se pode chamar um bom exemplo.
— Eu, hem?
— Dos chifres do rinoceronte, Belá, você
pode encomendar um vaso raro para o
living de sua casa. Do couro da girafa,
37 Luís Gabriel pode tirar um escudo
de verdade, deixando os pêlos da cauda
para Teresa fazer um bracelete genial. A
tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma
utilidade que vocês não calculam. Comem-
se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O
casco serve para fabricar pentes, cigarreiras,
tanta coisa... O biguá é engraçado.
40 — Engraçado, como? Apanha peixe pra
gente.
— Apanha e entrega, professora?
— Não é bem assim. Você bota um anel no
pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas
não pode engolir. Então você tira
43 o peixe da goela do biguá.
— Bobo que ele é.
— Não. É útil. Ai de nós se não fossem
os animais que nos ajudam de todas as
maneiras. Por isso que eu digo: devemos
46 amar os animais, e não maltratá-los de
23
LÍNGUA PORTUGUESA
jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
— Entendi. A gente deve amar, respeitar,
pelar e comer os animais, e aproveitar bem
o pêlo, o couro e os ossos.
Carlos Drummond de Andrade. De notícias &
não-notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro:
Record, 1993, p. 113-5 (com adaptações).
36. (CESPE) A frase “Vocês devem respeitar
o bichinho” (L.28) permanecerá correta se o
trecho sublinhado for substituído por lhe.
Resposta: Errado.
Comentário: a substituição não é possível,
porque a palavra “lhe” é um pronome que
serve para ocupar o lugar textual de termos
que estão preposicionados. Como na frase
o verbo é transitivo direto e não exige
preposição, não se pode empregar a forma
pronominal “lhe”. O correto seria empregar
a forma “lo”.
-------------------------- ------------------------
Todos nós, homens e mulheres,
adultos e jovens, passamos boa parte da vida
tendo de optar entre o certo e o errado, entre
o bem e o mal. Na realidade, entre o que
consideramos bem e o que consideramos mal.
Apesar da longa permanência da questão, o
que se considera certo e o que se considera
errado muda ao longo da história e ao redor
do globo terrestre.
Ainda hoje, em certos lugares, a
previsão da pena de morte autoriza o Estado
a matar em nome da justiça. Em outras
sociedades, o direito à vida é inviolável e nem
o Estado nem ninguém tem o direito de tirar
a vida alheia. Tempos atrás era tido como
legítimo espancarem-se mulheres e crianças,
escravizarem-se povos. Hoje em dia, embora
ainda se saiba de casos de espancamento de
mulheres e crianças, de trabalho escravo,
esses comportamentos são publicamente
condenados na maior parte do mundo.
Mas a opção entre o certo e o errado
não se coloca apenas na esfera de temas
polêmicos que atraem os holofotes da
mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da
consciência de cada um de nós, homens e
mulheres, pequenos e grandes, que certo e
errado se enfrentam. E a ética é o domínio
desse enfrentamento.
Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In:
Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo:
Ática, 2008 (com adaptações).
37. (CESPE- Adaptada) No trecho “o que
consideramos bem” (l.3), o vocábulo “que”
classifica-se como pronome e exerce a
função de complemento da forma verbal
“consideramos”.
Resposta: Gabarito: certo.
Comentário: a palavra “que” é um pronome
relativo, que retoma o pronome antecedente
(o demonstrativo “o”) e faz a relação
sintática com o verbo considerar – que é um
transitivo direto. Isso obriga a identificação
do pronome como complemento da forma
verbal, ou seja, o pronome desempenha a
função sintática de objeto direto do verbo
“considerar” e a palavra “bem” funciona
como predicativo do objeto direto.
-------------------------- ------------------------
Estou comendo umas empanadas
e bebendo um vinho, ao entardecer, em
uma modesta casa em Assunção, capital
do Paraguai. Há qualquer coisa de meigo
por aqui. E não é só porque entendem o
português e aceitam o real como moeda.
Há uma simpatia pelo Brasil, apesar de
nosso fantasma imperialista, que vem desde
aquela maldita guerra que arrasou o país. E
isso é curioso porque minha geração dizia
que imperialistas eram os norte-americanos.
Mas aqui dão como exemplo atual a represa
de Itaipu, cujo contrato é leonino contra o
Paraguai.
24
LÍNGUA PORTUGUESA
Affonso Romano de Sant’Anna. Ali, no
Paraguai. In: Correio Braziliense, 16/12/2007
(com adaptações)
38. (CESPE - Adaptada) Na linha 8, o pronome
relativo “cujo” estabelece a relação de posse
entre “represa de Itaipu” e “contrato”.
Resposta: Certo.
Comentário: o pronome “cujo” indica uma
relação de posse sempre que empregado,
como se houvesse em seu conteúdo
semântico a preposição “de”, ou seja, “cujo”
significa alguma coisa como “de algo”.
No texto, o relacionamento é feito entre
dois substantivos: represa e contrato. A
interpretação evidente dessa relação é que
o contrato pertence à represa.
-------------------------- ------------------------
A promoção da igualdade de
oportunidades e a eliminação de todas as
formas de discriminação são alguns dos
elementos fundamentais da Declaração
dos Direitos e Princípios Fundamentais do
Trabalho e da Agenda do Trabalho Decente
da Organização Internacional do Trabalho
(OIT).
Um requisito básico para que o
crescimento econômico dos países se
traduza em menos pobreza e maior bem-
estar e justiça social é melhorar as condições
de vida das mulheres, dos negros e de outros
grupos discriminados da sociedade; outro
é aumentar sua possibilidade de acesso a
empregos capazes de garantir uma vida
digna para si próprios e para suas famílias.A pobreza está diretamente relacionada aos
níveis e padrões de emprego, assim como às
desigualdades e à discriminação existentes
na sociedade. Além disso, as diferentes
formas de discriminação estão fortemente
associadas aos fenômenos de exclusão social
que dão origem à pobreza e são responsáveis
pelos diversos tipos de vulnerabilidade e pela
criação de barreiras adicionais que impedem
as pessoas e grupos discriminados de superar
situações de pobreza.
A erradicação da pobreza vem sendo
considerada uma das maiores prioridades para
a construção de sociedades mais justas, assim
como vem aumentando o reconhecimento
de que as causas e condições de pobreza
são diferentes para homens e mulheres,
negros e brancos. Por isso, estão sendo
realizados esforços para que as necessidades
das mulheres e negros sejam consideradas
de forma explícita e efetiva nas estratégias
de redução da pobreza e nas políticas de
geração de emprego e renda.
Internet: <www.oit.org.br> (com
adaptações)
39. (CESPE - Adaptada) Em “sua possibilidade
de acesso” (l.8), o termo “sua” corresponde
a da sociedade
Resposta: Errado.
Comentário: o pronome retoma
semanticamente os referentes “as
mulheres”, “os negros” e “os outros grupos
discriminados da sociedade”. Isso ocorre,
porque o termo referente é um grupo
semântico subdividido, ou seja, há mais de
um elemento de referência para a formação
do parágrafo. Na retomada, o pronome de
3ª pessoa recupera todos os elementos, não
um particularmente.
-------------------------- ------------------------
O conceito de consumo consciente não
envolve apenas o que você consome, mas
também como você consome um produto,
de quem você o adquire e qual será o seu
destino após descartá-lo. Pouco adianta usar
sacolas retornáveis de uma empresa que não
toma o devido cuidado em seu processo de
produção, ou comprar alimentos orgânicos
de um produtor que não registra devidamente
25
LÍNGUA PORTUGUESA
seus empregados, mas utiliza mão de obra
infantil ou escrava.
Pesquisa recente promovida pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA) apontou
que dois terços dos brasileiros disseram
desconhecer o significado do termo consumo
consciente. Dos que responderam saber o
seu significado, 54% o definiram como o
ato de consumir produtos ou serviços que
não agridam o meio ambiente nem a saúde
humana. Há diversas abordagens sobre a
definição de consumo consciente. De maneira
geral, todas elas passam pela prática de
consumir produtos com consciência de seus
impactos, buscando a sustentabilidade.
O Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA), por exemplo,
indica que a utilização de bens e serviços
precisa atender às necessidades básicas
e proporcionar melhor qualidade de vida.
Ao mesmo tempo, um produto ou serviço
deve minimizar o uso de recursos naturais
e materiais tóxicos, assim como diminuir a
emissão de poluentes e a geração de resíduos.
Para o MMA, o consumo consciente
é uma contribuição voluntária, cotidiana
e solidária do cidadão para garantir a
sustentabilidade da vida no planeta. Envolve
a ampliação dos impactos positivos e a
diminuição dos impactos negativos no meio
ambiente, na economia e nas relações sociais.
Internet: <www.brasil.gov.br> (com
adaptações).
40. (CESPE - Adaptada) Na linha 4, o pronome
“seu” pode fazer referência tanto ao processo
de produção de sacolas retornáveis quanto
ao processo de produção utilizado pela
empresa hipotética mencionada, de forma
geral.
Resposta: Certo.
Comentário: nas questões de retomada,
é importante observar que os pronomes
necessitam de núcleos semânticos de
referência, ou seja, outros pronomes,
substantivos ou expressões substantivadas
que sirvam para a progressão do texto. No
caso do pronome “seu”, deve-se entender
que ele faz uma retomada de 3ª pessoa e, na
frase apresentada, há dois substantivos que
poderiam receber o aporte semântico do
termo processo: sacolas e empresa. Desse
modo, há ambiguidade na interpretação dos
elementos.
-------------------------- ------------------------
I. A comunicação é uma característica
inerente ao ser humano.
II. As pessoas estão mergulhadas em
processos comunicativos o tempo todo.
III. Do sucesso no circuito comunicacional
dependem a existência e a felicidade pessoal.
IV. Entre os diferentes tipos de comunicação,
o mais importante é a comunicação
interpessoal, que diz respeito à capacidade
de dialogar, à troca de informações, seja
por meio do contato físico direto, seja por
intermédio de dispositivos técnicos criados
pelo homem com o fim de transmissão de
mensagens.
V. Nas sociedades orais, aquelas que não
dispunham de nenhum sistema de escrita, as
mensagens eram recebidas no tempo e no
lugar em que eram emitidas.
41. (CESPE - Adaptada) No período que
constitui a assertiva V, as duas ocorrências
do pronome relativo “que” exercem funções
sintáticas distintas.
Resposta: Certo.
Comentário: na primeira ocorrência do
pronome, ele desempenha a função de
sujeito do verbo dizer; na segunda ocorrência,
o pronome desempenha a função de núcleo
do adjunto adverbial.
26
LÍNGUA PORTUGUESA
Existem muitas maneiras de se
enxergar uma empresa. Uma delas é vê-la
como uma máquina. E não se trata de uma
analogia nova. A era industrial foi construída
com base nesse paradigma, sustentado
pelas teorias dos cientistas Taylor e Fayol,
que acreditavam (e isso fazia sentido para
a época em que viveram) que uma empresa
tinha de funcionar como um infalível relógio
ou como uma locomotiva, programada para
cumprir, rigorosamente, seus tempos de
parada e locomoção, de maneira a garantir
o andamento do sistema ferroviário, sem
atrasos nem acidentes. Para isso, colocaram
a produtividade como principal meta,
assegurada por um sistema técnico de alta
eficiência.
Uma empresa até pode se parecer
com uma máquina, quando existe uma
tarefa contínua a ser desempenhada. Nesse
caso, a mecanização da tarefa, de maneira
integralmente repetitiva, pode diminuir a
quantidade de erros. O mesmo raciocínio
continua valendo, se a empresa estiver
situada em um ambiente estável, ou seja,
onde os fatores externos pouco ou nada
interferem no seu desempenho. Ou quando a
criatividade, produto mais nobre e valioso do
sistema humano, é considerada indesejável.
Tornar as tarefas repetitivas para
eliminar erros é, talvez, o maior equívoco
em que se pode incorrer. Afinal, os erros
acontecem justamente quando o indivíduo
liga o piloto automático. E o piloto automático
é acionado quando o trabalho a ser feito
não traz significado algum para aquele que
o executa. Destituído de sentido, o trabalho
se transforma em tarefa enfadonha, que traz
apenas aborrecimento, o que, por sua vez,
gera a pressa de acabar logo com aquela
tortura, na ânsia de reencontrar a alma
deixada na porta de entrada da empresa, ao
lado do marcador de ponto.
Internet: <www.empreendedor.com.br>
(com adaptações).
42. (CESPE - Adaptada) Mantendo-se a
correção gramatical do texto, é correto
substituir-se “colocaram a produtividade
como principal meta” (l.11-12) por colocaram-
lhe na situação de meta principal.
Resposta: Errado.
Comentário: não se pode fazer a
alteração proposta, porque a expressão
“a produtividade” funciona como um
complemento direto do verbo “colocar”.
Isso mostra que não é possível aplicar a
forma pronominal “lhe”, que substitui uma
expressão preposicionada.
-------------------------- ------------------------
“Não é difícil governar a Itália. É inútil.” O
ditador Benito Mussolini cunhou essa frase
com a pretensão de jogar sobre o povo
italiano todas as mazelas do país. Contudo,
a história vem mostrando que a famosa
frase embute uma verdade, só que em um
sentido invertido. Inúteis são governantes
como Mussolini e Silvio Berlusconi, o bufão
de 75 anos que foi primeiro-ministro por três
vezes e agora cai por absoluta incapacidade
de apresentar soluções para a brutal crise
econômica da Itália. O último mandatode
Berlusconi começou em 2008 e, desde então,
ele parecia viver uma realidade paralela.
Passou o tempo administrando denúncias
— de fraude fiscal a sexo pago com belas
garotas. Mas foi a economia que acabou com
a sua condição de primeiro-ministro com mais
tempo no poder italiano depois da Segunda
Guerra Mundial. Sem respaldo político para
adotar medidas de austeridade essenciais
para impedir a quebradeira da Itália, a
terceira maior economia da zona do euro,
Berlusconi anunciou, no dia 8 de novembro,
sua intenção de renúncia. Só não marcou a
data. Como condicionou a saída à aprovação
de um pacote de reformas econômicas, ele
acabou provocando mais incertezas quanto
ao futuro da economia italiana.
Luiza Villaméa. A queda do bufão. In: IstoÉ,
16/11/2011 (com adaptações).
27
LÍNGUA PORTUGUESA
43. (CESPE – Adaptada) Nos períodos “o
bufão de 75 anos que foi primeiro-ministro
por três vezes” (l.5) e “Mas foi a economia
que acabou com a sua condição de primeiro-
ministro” (l.11), os elementos sublinhados
têm, ambos, a função de restringir o sentido
das expressões que os antecedem, a saber,
“o bufão de 75 anos” e “a economia”,
respectivamente
Resposta: Errado.
Comentário: O primeiro termo sublinhado
é um pronome relativo e, de fato, retoma
e restringe o referente. O segundo termo
não é um pronome, mas sim uma partícula
expletiva, ou seja, é uma expressão que
não é necessária para a sentença e pode
ser retirada sem prejuízo da correção ou
do sentido. A forma final da sentença sem
a expressão expletiva seria: mas a economia
acabou com a sua condição de primeiro-
ministro.
SUBSTANTIVOS
44. (FUNCAB – Adaptada)##O substantivo
REBANHO é coletivo, por indicar uma
multiplicidade de seres da mesma espécie,
embora esteja no singular. Assinale a opção
em que o elemento entre parênteses está
corretamente relacionado como substantivo
coletivo.
a) Armada (armas de fogo)
b) Cáfila (soldados)
c) Nuvem (insetos)
d) Réstia (aves em voo)
e) Fauna (plantas de uma região)
Resposta: C
Comentário: Armada é o coletivo de navios
de guerra; cáfila é o coletivo de camelos;
nuvem é o coletivo de insetos (a única
correta); réstia é o coletivo de cebolas e
alhos; fauna é o coletivo de animais de uma
região.
45. (CESGRANRIO - Adaptada)##A palavra b é
o substantivo ligado à ação do verbo atender.
Qual verbo tem o substantivo ligado à sua
ação com a mesma terminação (-mento)?
a) Escrever
b) Ferver
c) Pretender
d) Querer
e) Crescer
Resposta: E
Comentário: Para responder a essa questão,
basta tentar derivar todas as palavras com
o sufixo em questão: crescimento (correto);
escrevimento (errado); fervimento (errado);
pretendimento (errado); queremento
(errado.
46. (NCE – UFRJ)##Assinale a alternativa
em que a relação entre verbo/ substantivo
cognatos é INADEQUADA:
a) sobreviver / sobrevivência;
b) perceber / percepção;
c) resolver / resposta;
d) gerar / geração;
e) interagir / interação.
Resposta: C
Comentário: Na letra C, o substantivo
correto para a derivação do verbo deve
ser “resolução”. As demais formas estão
corretas.
47. (FGV)##Celular é um adjetivo que se
transformou em substantivo masculino, em
função da elipse do vocábulo telefone, que
antecedia esse adjetivo. O caso em que houve
o mesmo é:
a) o micro-ondas
b) o caixa
28
LÍNGUA PORTUGUESA
c) o Municipal
d) o público
e) o lança-perfume
Resposta: C
Comentário: Dentre todos os termos
mencionados, o único que tem sufixação
adjetival (que forma um adjetivo) é o da letra
C. Observem-se casos semelhantes: policial,
estadual, colegial, matricial. O que ocorre na
questão é uma derivação imprópria, causada
pela anteposição do artigo a um adjetivo,
com o fito de transformá-lo em substantivo.
48. (FGV)##Assinale alternativa em que
a forma verbal sublinhada funciona como
substantivo.
a)“Estenderam-se na praia para descansar”
b) “Ficamos meio cegos, incapazes
de perceber seja o que for acima da
mediocridade”
c) “Então eles, os heróis, chegaram a uma
ilha deserta chamada Tinis, ao alvorecer”
d) “Em terra de gente que lê sem ler...”
Resposta: C
Comentário: A despeito da alternativa C,
todos os termos destacados são verbos.
A palavra “alvorecer”, originalmente um
verbo, ao receber o artigo na anteposição,
transforma-se em um substantivo.
49. (EEAR - Adaptada)##Em qual alternativa
não é possível identificar se o ser ao qual
o substantivo em destaque se refere é
masculino ou feminino?
a) A agente de turismo me garantiu que o
hotel é excelente.
b) A cliente reclamou do péssimo
atendimento ao gerente do banco.
c) O público aplaudiu muito a intérprete
quando o espetáculo terminou.
d) Depois de várias ameaças anônimas, a
testemunha passou a receber proteção
policial.
Resposta: D
Comentário: As palavras “agente”, “cliente”
e “intérprete” são substantivos comuns-de-
dois gêneros. Como a palavra “testemunha”
é um substantivo sobrecomum, não há como
saber o gênero do referente dessa palavra.
[14 de fevereiro]
Conheci ontem o que é celebridade. Estava
comprando gazetas a um homem que as
vende na calçada da Rua de S. José, esquina
do Largo da Carioca, quando vi chegar uma
mulher simples e dizer ao vendedor com voz
descansada:
− Me dá uma folha que traz o retrato desse
homem que briga lá fora.
− Quem?
− Me esqueceu o nome dele.
Leitor obtuso, se não percebeste que “esse
homem que briga lá fora” é nada menos
que o nosso Antônio Conselheiro, crê-me
que és ainda mais obtuso do que pareces.
A mulher provavelmente não sabe ler,
ouviu falar da seita de Canudos, com muito
pormenor misterioso, muita auréola, muita
lenda, disseram-lhe que algum jornal dera o
retrato do Messias do sertão, e foi comprá-lo,
ignorando que nas ruas só se vendem as folhas
do dia. Não sabe o nome do Messias; é “esse
homem que briga lá fora”. A celebridade,
caro e tapado leitor, é isto mesmo. O nome
de Antônio Conselheiro acabará por entrar na
memória desta mulher anônima, e não sairá
mais. Ela levava uma pequena, naturalmente
filha; um dia contará a história à filha, depois
à neta, à porta da estalagem, ou no quarto
em que residirem.
VOZES VERBAIS
29
LÍNGUA PORTUGUESA
(Machado de Assis, Crônica publicada em A
semana, 1897. In Obra completa, vol.III, Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 763)
01. (FCC – Adaptada) ## ... um dia contará a
história à filha, depois à neta.
Transpondo para a voz passiva a frase acima,
a forma verbal obtida corretamente é:
a) seriam contadas.
b) haverá de ser contada.
c) haveria de ser contada.
d) poderiam ser contadas.
e) será contada.
Resposta: E
Comentário: Para fazer a transposição de
uma sentença da voz ativa para a voz passiva
analítica, basta colocar o verbo principal
(o de ação) no particípio e o verbo auxiliar
(ser) com as flexões de tempo e modo que
o principal possuía na voz ativa. No caso em
questão, a transformação será a seguinte: A
história será contada à filha, depois à neta.
-------------------------- ------------------------
O termo groupthinking foi cunhado,
na década de cinquenta, pelo sociólogo
William H. Whyte, para explicar como grupos
se tornavam reféns de sua própria coesão,
tomando decisões temerárias e causando
grandes fracassos. Os manuais de gestão
definem groupthinking como um processo
mental coletivo que ocorre quando os grupos
são uniformes, seus indivíduos pensam da
mesma forma e o desejo de coesão supera a
motivação para avaliar alternativas diferentes
das usuais. Os sintomas são conhecidos:
uma ilusão de invulnerabilidade, que gera
otimismo e pode levar a riscos; um esforço
coletivo para neutralizar visões contrárias
às teses dominantes; uma crença absoluta
na moralidade das ações dos membros do
grupo; e uma visão distorcida dos inimigos,
comumente vistos como iludidos, fracos ou
simplesmente estúpidos.
Tão antigas como o conceito são as
receitas para contrapor a patologia: primeiro,
é preciso estimular o pensamento
críticoe as visões alternativas à visão
dominante; segundo, é necessário adotar
sistemas transparentes de governança e
procedimentos de auditoria; terceiro, é
desejável renovar constantemente o grupo,
de forma a oxigenar as discussões e o
processo de tomada de decisão.
Thomaz Wood Jr. O perigo do groupthinking.
In: Carta Capital, 13/5/2009, p. 51 (com
adaptações).
02. (CESPE – Adaptada) ## Por estar
empregada como uma forma de voz passiva,
a locução verbal “foi cunhado” corresponde
a cunhou-se e por esta forma pode ser
substituída, sem prejuízo para a coerência ou
para a correção gramatical do texto.
Resposta: Errado.
Comentário: Ao colocar a forma sugerida
pela questão, haveria problema para o
sentido original da sentença, o que causaria
prejuízo para a coerência do período. Isso
ocorreria em razão de o sentido assumido
ser o reflexivo e não o passivo.
-------------------------- ------------------------
QUANDO A INFELICIDADE DA PERGUNTA É
A RESPOSTA
O que é o desenvolvimento sustentável?
Não sabemos, felizmente. Como disse certa
vez o psicanalista francês André Green, “a
infelicidade da pergunta é a resposta”. E essa
não é uma pergunta qualquer. É a pergunta.
Com o Livro aprendemos que a revelação se
dá pela História. E, mesmo a da humanidade,
tem seus momentos definidores.
Os próximos muitos anos são um
desses momentos decisivos da história.
Sabemos que estamos consumindo de uma
30
LÍNGUA PORTUGUESA
forma insustentável os recursos que a
natureza nos oferece e renova(a). E que, com
o crescimento da população e a desejável
elevação dos padrões de consumo de bilhões
de pessoas, essa tendência será fortemente
acelerada.
O rumo atual é insustentável! Pode
causar estranheza tal assertividade. Afinal,
não apenas não sabemos com clareza o
significado(d) do conceito de desenvolvimento
sustentável, como também não sabemos
medir a noção de sustentabilidade com
precisão.
Há muitos esforços importantes
sendo despendidos(c) para nos aproximarmos
de melhores mensurações da ideia de
sustentabilidade. A medição do Produto
Interno Bruto dos países está sob implacável
crítica por suas grandes fragilidades, e a
forma insuficiente e equivocada de as contas
nacionais considerarem os recursos naturais
é uma das razões mais importantes.
Também a Comissão de Estatística
das Nações Unidas tem promovido a
elaboração(b) de uma família de indicadores
de desenvolvimento sustentável pelas
instituições nacionais de estatística. E muitos
indicadores sintéticos e outras formas de
avaliar a sustentabilidade do desenvolvimento
atual estão sendo aprimorados.
Esses esforços têm dado origem a
ferramentas importantes e úteis. As pesquisas
científicas, assim como as estatísticas e
indicadores, sugerem cenários com forte
tendência à degradação da capacidade da
natureza de renovar serviços fundamentais
à qualidade da vida humana (clima, água
doce, solos férteis, biodiversidade, etc.) em
velocidade condizente com as taxas previstas
para sua utilização. Essa é a crise ambiental
do século XXI em sua dimensão conhecida.
Somos, contudo, muito ignorantes
sobre a realidade natural do planeta e há um
risco acima do aceitável de estarmos gerando
processos irreversíveis que trariam no futuro
consequências potencialmente catastróficas
para a civilização e a espécie humana. Para
qualquer mentalidade racional, o princípio
da precaução é o imperativo aplicável.
É importante lembrar que esse
processo é insustentável para a civilização e
para a biodiversidade do nosso tempo, mas
não para a natureza. Na escala de tempo do
planeta, contada em milhões e de milhões de
anos, a humanidade é impotente para gerar
dano significativo à natureza.
Não sabemos o que é o desenvolvimento
sustentável e tampouco temos claro o que
significa desenvolvimento. A identidade entre
crescimento econômico e desenvolvimento é
o produto de uma época histórica, que, como
todas as demais, será superada.
Desenvolvimento, como observou
notavelmente Jean Claude Carriérre, é
etimologicamente inequívoco em várias
línguas. Desenvolver não significa apenas
“ampliar, crescer” e, sim, “des(fazer) o que
está envolvido; ou, em espanhol, des(arrollar)
o que está arrollado; ou ainda, em francês ou
inglês, development/développement, isto
é, desenvelopar”. Desenvolvimento, para
a sabedoria da linguagem, é um processo
de libertação de um potencial contido,
aprisionado pelas circunstâncias da história.
Finalmente, sustentável é muito mais
do que simplesmente duradouro. E significa
mais, até, do que compromisso com as
futuras gerações. Sustentável diz respeito
ao tempo. A consciência humana também
diz respeito ao tempo e o que distingue o
homem é a consciência.
Chegou o momento de a humanidade
deixar a adolescência, reconhecer a
existência de limites(e) e ampliar as fronteiras
de sua relação com o tempo, isto é, assumir
um pouco mais conscientemente a sua
história em um tempo mais longo.
A questão do desenvolvimento
sustentável confunde-se com a questão
da consciência humana. A pergunta: “O
31
LÍNGUA PORTUGUESA
que é o desenvolvimento sustentável?” é
também a pergunta “Quem é o Homem?”
A resposta para a pergunta sobre o que é o
desenvolvimento sustentável é também a
resposta sobre quem será o homem que o
homem construirá.
(Sérgio Besserman, Jornal O Globo,
15/08/2010, com adaptações)
03. (CEPERJ – Adaptada) ## Não ocorre
mudança de voz verbal em:
a) “ ... os recursos que a natureza nos
oferece e renova ... “ /os recursos que nos
são oferecidos e renovados pela natureza ...
b) “Também a Comissão de Estatística das
Nações Unidas tem promovido a elaboração
... “ / Também a Comissão de Estatística das
Nações Unidas promove a elaboração ...
b) “Há muitos esforços importantes sendo
despendidos ... “ / Despendem-se muitos
esforços importantes ...
c) “Afinal, não apenas não sabemos com
clareza o significado ...” / Afinal, não apenas
não se sabe com clareza o significado ...
d) “ ... reconhecer a existência de limites ...”
/ a existência de limites ser reconhecida ...
Resposta: B
Comentário: Para identificar a voz passiva
nas alternativas, basta procurar por uma
forma no particípio acompanhada do verbo
“ser” ou a palavra “se” associada a formas
verbais (diretas ou bitransitivas). Na letra
b, a diferença entre as formas verbais é a
seguinte: “tem promovido” é uma forma do
presente composto do indicativo, enquanto
“promove” é uma forma do presente simples
do indicativo.
-------------------------- ------------------------
TEXTO − DO CAMPO PARA A CIDADE
Gomes, 2002
Até 1940, os migrantes se dirigiam
predominantemente para a cidade do Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, e também
para a cidade e o estado de São Paulo, e eram
em grande parte oriundos de Minas Gerais e
do Nordeste. Desde então, seriam os estados
dessa região os principais responsáveis pela
expulsão de populações, que se dirigiriam
primeiro para São Paulo e, após 1950-60,
também para o Paraná, Goiás, Mato Grosso
e Rondônia. Estabeleceram-se assim novos
polos de atração de migrantes e novas áreas
de expansão das fronteiras agrícolas, o que
se acentuou após a instauração do regime
militar em 1964. (...)
Os anos 1970 assinalaram um ponto
de inflexão extremamente significativo em
nosso perfil demográfico, na medida em
que começou a se inverter a relação entre
população rural e urbana, ficando está cada
vez mais concentrada no que passava a ser,
genérica e simbolicamente, denominado
como Sul ou Sul Maravilha, numa alusão às
possibilidades reais ou sonhadas que a região
oferecia.
Toda essa situação passaria a produzir
desdobramentos econômicos e sociais graves,
que seriam identificados e avaliados, cada
vez mais, como negativos para o país. De um
lado, o que se verificava era o esvaziamento
e o empobrecimento do campo; de outro,
com o inchamento das grandes cidades, um
agravamento dos problemas de habitação,
educação, saúde e segurança.
Mais recentemente,os deslocamentos
não se fizeram tanto de áreas rurais para
urbanas, mas sim entre áreas urbanas e,
nesse caso, não mais tendo como destino
preferencial as cidades metropolitanas, e sim
aquelas de médio porte, que se tornaram
polos de atração de fluxos migratórios. (....)
Todas essas transformações desenham
um novo mapa e um novo perfil para a
população brasileira. Somos, na virada do
século XX para o XXI, um novo Brasil urbano,
inclusive com uma diferenciação bem menor
entre campo e cidade. Nosso povo deixou
de ser jovem e começou a envelhecer. Sem
dúvida, é hora de o Brasil amadurecer.
32
LÍNGUA PORTUGUESA
04. (FDC – Adaptada) ## “Toda essa
situação passaria a produzir desdobramentos
econômicos e sociais graves”. Esse segmento
do texto pode ser reescrito, conservando-
se o seu sentido, de várias formas distintas;
a frase em que a modificação proposta
conserva esse sentido original é:
a) Desdobramentos econômicos e sociais
graves passariam a ser produzidos por toda
essa situação.
b) Graves desdobramentos sociais e
econômicos viriam a ser produzidos por
toda essa situação.
c) Graves desdobramentos econômicos e
sociais seriam modificados por toda essa
situação.
d) Toda essa situação seria levada a produzir
graves desdobramentos econômicos e
sociais.
e) Toda essa situação chegaria a produzir
desdobramentos econômicos e sociais
graves.
Resposta: A
Comentário: O sentido original da sentença
somente será preservado se houver uma
transposição da sentença para a voz passiva.
A expressão “passariam a ser produzidos” é
a forma passiva de “passaria a produzir”.
-------------------------- ------------------------
Imagine que um poder absoluto ou
um texto sagrado declarem que quem roubar
ou assaltar será enforcado (ou terá a mão
cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a
faca ou assistir à execução seria simples, pois
a responsabilidade moral do veredicto não
estaria conosco. Nas sociedades tradicionais,
em que a punição é decidida por uma
autoridade superior a todos, as execuções
podem ser públicas: a coletividade festeja o
soberano que se encarregou da justiça − que
alívio!
A coisa é mais complicada na
modernidade, em que os cidadãos comuns
(como você e eu) são a fonte de toda
autoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo
ocidental, se alguém é executado, o braço
que mata é, em última instância, o dos
cidadãos − o nosso. Mesmo que o condenado
seja indiscutivelmente culpado, pairam mil
dúvidas. Matar um condenado à morte não
é mais uma festa, pois é difícil celebrar o
triunfo de uma moral tecida de perplexidade.
As execuções acontecem em lugares
fechados, diante de poucas testemunhas: há
uma espécie de vergonha. Essa discrição é
apresentada como um progresso: os povos
civilizados não executam seus condenados
nas praças. Mas o dito progresso é, de fato,
um corolário da incerteza ética de nossa
cultura.
Reprimimos em nós desejos e fantasias
que nos parecem ameaçar o convívio social.
Logo, frustrados, zelamos pela prisão
daqueles que não se impõem as mesmas
renúncias. Mas a coisa muda quando a pena
é radical, pois há o risco de que a morte do
culpado sirva para nos dar a ilusão de liquidar,
com ela, o que há de pior em nós. Nesse
caso, a execução do condenado é usada para
limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária
é isto: uma pressa em suprimir desejos
inconfessáveis de quem faz justiça. Como
psicanalista, apenas gostaria que a morte
dos culpados não servisse para exorcizar
nossas piores fantasias − isso, sobretudo,
porque o exorcismo seria ilusório. Contudo é
possível que haja crimes hediondos nos quais
não reconhecemos nada de nossos desejos
reprimidos.
Contardo Calligaris. Terra de ninguém −
101 crônicas. São Paulo: Publifolha, 2004,
p. 94-6 (com adaptações).
05. (CESPE – Adaptada) ## Mantendo-se a
correção gramatical e a coerência do texto,
a oração “se alguém é executado”, que
expressa uma hipótese, poderia ser escrita
33
LÍNGUA PORTUGUESA
como caso se execute alguém, mas não,
como se caso alguém se execute.
Resposta: Certo.
Comentário: A primeira forma (caso se
execute alguém) é uma forma de voz passiva
sintética, a qual preserva o sentido da sua
relativa analítica anteriormente colocada.
A construção “se caso alguém se execute”,
além de possui sentido reflexivo, possui uma
construção viciosa (a colocação de duas
conjunções da mesma natureza – se e caso).
-------------------------- ------------------------
Assim como os antigos moralistas
escreviam máximas, deu-me vontade
de escrever o que se poderia chamar de
mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada
às limitações do meu engenho, traduzisse
um tipo de experiência vivida, que não chega
a alcançar a sabedoria mas que, de qualquer
modo, é resultado de viver.
Andei reunindo pedacinhos de papel
em que estas anotações vadias foram feitas
e ofereço-as ao leitor, sem que pretenda
convencê-lo do que penso nem convidá-lo
a repensar suas ideias. São palavras que, de
modo canhestro, aspiram a enveredar pelo
avesso das coisas, admitindo-se que elas
tenham um avesso, nem sempre perceptível
mas às vezes curioso ou surpreendente.
C.D.A. (Carlos Drummond de Andrade. O
avesso das coisas [aforismos]. 5.ed. Rio de
Janeiro: Record, 2007, p. 3)
06. (FCC – Adaptada) ## ...em que estas
anotações vadias foram feitas... Observando
o contexto em que a frase acima foi
empregada, a sua transposição para a voz
ativa produz corretamente a seguinte forma
verbal:
a) fizeram-se.
b) tinha feito.
c) fiz.
d) faziam.
e) poderia fazer.
Resposta: C
Comentário: Pelo contexto, entende-se
que o referente para o agente da passiva
é a primeira pessoa do singular, logo, na
transposição da sentença para a voz ativa,
o verbo deverá ser conjugado mantendo
o referente de pessoa e número. O verbo
principal é “fazer” e deve receber a forma
do pretérito perfeito do indicativo. A frase
resultante será: “em que fiz estas anotações
vadias”.
-------------------------- ------------------------
No artigo 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, dispôs a Carta
Magna de 1988: “Aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos.” Era o
reconhecimento de um direito. Restava
regulamentar a forma pela qual esse direito
seria garantido. Em novembro de 2003, o
presidente da República assinou o Decreto
n.º 4.877, que estabelece, em seu artigo
2.º: “Consideram-se remanescentes das
comunidades dos quilombos, para os fins deste
decreto, os grupos étnico-raciais, segundo
critérios de autoatribuição, com trajetória
histórica própria, dotados de relações
territoriais específicas, com presunção de
ancestralidade negra relacionada com a
resistência à opressão histórica sofrida.”
E, logo em seguida, o parágrafo
primeiro do mesmo artigo reafirma e
esclarece: “Para os fins deste decreto, a
caracterização dos remanescentes das
comunidades dos quilombos será atestada
mediante autodefinição da própria
comunidade.”
Essa regulamentação resultou naquilo
que o professor Denis Rosenfield descreveu
como “ressemantização da palavra
34
LÍNGUA PORTUGUESA
quilombo”; segundo ele, “o quilombo já
não significaria um povoado formado por
escravos negros (...), mas uma identidade
cultural.”
O Estado de S.Paulo, 29/11/2010 (com
adaptações).
07. (CESPE – Adaptada) ## Prejudica-
se a correção gramatical do período ao
se substituir ‘Consideram-se’ por São
considerados.
Resposta: Errado.
Comentário: Não há prejuízo para a correção
gramatical da sentença, pois a mudança em
questão trata-se apenas de uma alteração de
forma passiva: da sintética para a analítica.
Uma vez que a relação de concordância está
correta, essa sentença se mantém correta.
-------------------------- ------------------------
Convocada por D. Pedro em junho de
1822, a constituinte só seria instalada um
ano maistarde, no dia 3 de maio de 1823,
mas acabaria dissolvida seis meses depois,
em 12 de novembro.
Os membros da constituinte eram
escolhidos por meio dos mesmos critérios
estabelecidos para a eleição dos deputados
às cortes de Lisboa. Os eleitores eram apenas
os homens livres, com mais de vinte anos e
que residissem por, pelo menos, um ano na
localidade em que viviam, e proprietários
de terra. Cabia a eles escolher um colégio
eleitoral, que, por sua vez, indicava os
deputados de cada região. Estes tinham
de saber ler e escrever, possuir bens e
virtudes. Em uma época em que a taxa de
analfabetismo alcançava 99% da população,
só um entre cem brasileiros era elegível.
Os nascidos em Portugal tinham de estar
residindo por, pelo menos, doze anos no
Brasil. Do total de cem deputados eleitos, só
89 tomaram posse. Era a elite intelectual e
política do Brasil, composta de magistrados,
membros do clero, fazendeiros, senhores
de engenho, altos funcionários, militares e
professores. Desse grupo, sairiam mais tarde
33 senadores, 28 ministros de Estado, dezoito
presidentes de província, sete membros
do primeiro conselho de Estado e quatro
regentes do Império.
O local das reuniões era a antiga
cadeia pública, que, em 1808, havia sido
remodelada pelo vice-rei conde dos Arcos
para abrigar parte da corte portuguesa de
D. João. No dia da abertura dos trabalhos, D.
Pedro chegou ao prédio em uma carruagem
puxada por oito mulas. Discursou de cabeça
descoberta, o que, por si só, sinalizava
alguma concessão ao novo poder constituído
nas urnas. A coroa e o cetro, símbolos do seu
poder, também foram deixados sobre uma
mesa.
Laurentino Gomes. 1822. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2010, p. 213-16 (com
adaptações).
08. (CESPE – Adaptada) ## Empregando-se
a voz ativa e mantendo-se os tempos verbais
empregados, o trecho “O local das reuniões
era a antiga cadeia pública, que, em 1808,
havia sido remodelada pelo vice-rei conde
dos Arcos” seria, corretamente, reescrito da
seguinte forma: O local das reuniões era a
antiga cadeia pública, que, em 1808, o vice-
rei conde dos Arcos remodelou.
Resposta: Errado.
Comentário: Para manter exatamente a
correlação de tempos e modos verbais, seria
necessário manter a forma de pretérito-
mais-que-perfeito (remodelara), ou um
pretérito-mais-que-perfeito composto do
indicativo (havia remodelado).
-------------------------- ------------------------
Na mídia em geral, nos discursos
políticos, em mensagens publicitárias, na
fala de diferentes atores sociais, enfim, nos
diversos contextos em que a comunicação se
35
LÍNGUA PORTUGUESA
faz presente, deparamo-nos repetidas vezes
com a palavra cidadania. Esse largo uso,
porém, não torna seu significado evidente.
Ao contrário, o fato de admitir vários
empregos deprecia seu valor conceitual, isto
é, sua capacidade de nos fazer compreender
certa ordem de eventos. Assim, pode-se
dizer que, contemporaneamente, a palavra
cidadania atende bastante bem a um dos
usos possíveis da linguagem, a comunicação,
mas caminha em sentido inverso quando
se trata da cognição, do uso cognitivo
da linguagem. Por que, então, a palavra
cidadania é constantemente evocada, se o
seu significado é tão pouco esclarecido?
Uma resposta possível a essa
indagação começaria por reconhecer que há
considerável avanço da agenda igualitária
no mundo e, decorrente disso, a valorização
sem precedentes da ideia de direitos.
De fato, tornou-se impossível conceber
formas contemporâneas de interação entre
indivíduos ou grupos sem que a referência
a direitos esteja pressuposta ou mesmo
vocalizada. Direitos, por isso, sustentam
uma espécie de argumentação pública
permanente, a partir da qual os atores sociais
agenciam suas identidades e tentam ampliar
o escopo da política de modo a abarcar suas
questões. Tais atores constroem-se, portanto,
em público, pressionando o sistema político
a reconhecer direitos que julgam possuir e a
incorporá-los à agenda governamental.
(Maria Alice Rezende de Carvalho.
“Cidadania e direitos”. In: Agenda brasileira:
temas de uma sociedade em mudança.
André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz
(orgs.). São Paulo: Companhia das Letras,
2011, p. 104)
09. (FCC – Adaptada) ## Direitos, por isso,
sustentam uma espécie de argumentação
pública permanente [...]
Transpondo a frase acima para a voz passiva,
a forma verbal obtida é:
a) sustentam-se.
b) é sustentada.
c) foi sustentada.
d) sustentara-se.
e) haviam sido sustentadas.
Resposta: B
Comentário: O sujeito paciente da sentença
é “uma espécie de argumentação pública
permanente”; o tempo do verbo é o presente
simples do indicativo. Logo, a forma será
“uma espécie de argumentação pública
permanente é sustentada por direitos.
A POLÍCIA E A VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Miriam Abramovay e Paulo Gentili
Em alguns países, a presença da
polícia dentro das escolas tem sido uma das
respostas mais recorrentes para enfrentar a
violência das sociedades contemporâneas.
A proposta parece ser a maneira mais
elementar de oferecer proteção às crianças e
aos jovens, as principais vítimas da violência.
Muros altos, grades imensas, seguranças
armados ou policiais patrulhando o interior
das escolas parecem brindar aquilo que
desejamos para nossos filhos: segurança e
amparo.
Todavia, os efeitos positivos desse tipo
de iniciativa nunca foram demonstrados.
Conforme evidenciam pesquisas e
experiências no campo da segurança pública,
o ataque aos efeitos da violência costuma
não diminuir sua existência. Precisamos
compreender a origem e as razões da
violência no interior do espaço escolar para
pensar soluções que não contribuam para
aprofundá-las.
Nesse sentido, quando as próprias
tarefas de segurança dentro das instituições
educacionais são transferidas para pessoas
36
LÍNGUA PORTUGUESA
exteriores a elas, cria-se a percepção de que
os adultos que ali trabalham são incapazes
ou carecem de poder suficiente para resolver
os problemas que emergem. Instala-se a
ideia de que a visibilidade de uma arma ou
a presença policial tem mais potência que
o diálogo ou os mecanismos de intervenção
que a própria escola pode definir. A medida
contribui para aprofundar um vácuo de
poder já existente nas relações educacionais,
criando um clima de desconfiança entre os
que convivem no ambiente escolar.
A presença da polícia no contexto
escolar será marcada por ambiguidades
e tensões. Estabelecer os limites da
intervenção do agente policial é sempre
complexo num espaço que se define por uma
especificidade que a polícia desconhece.
Nenhuma formação educacional foi oferecida
aos policiais que estarão agora dentro das
escolas, o que constitui enorme risco. As
pesquisas sobre juventude evidenciam um
grave problema nas relações entre a polícia
e os jovens, particularmente quando eles são
pobres, com uma reação de desconfiança e
desrespeito promovendo um conflito latente
que costuma explodir em situações de alta
tensão entre os jovens e a polícia. Reproduzir
essa lógica no interior da escola não é
recomendável.
A política repressiva não é o caminho
para tornar as escolas mais seguras. A escola
deve ser um local de proteção e protegido, e
a presença da polícia pode ser uma fonte de
novos problemas.
Devemos contribuir para que as
escolas solucionem seus problemas
cotidianos com a principal riqueza que elas
têm: sua comunidade de alunos, docentes,
diretivos e funcionários. Programas de
Convivência Escolar e outras alternativas
têm demonstrado um enorme potencial
para enfrentar a dimensão educacional da
violência social. O potencial da escola está
na ostentação do saber, do conhecimento,
do diálogo e da criatividade. Não das armas.
10. (FEMPERJ – Adaptada) A frase abaixo que
apresenta voz verbal diferente das demais é:
a) “Programas de Convivência Escolar e
outras alternativas têm demonstrado um
enorme potencial...”.
b) “A presença da polícia no contexto
escolar será marcada por ambiguidadese
tensões”.
c) “Instala-se a ideia de que a visibilidade
de uma arma ou a presença policial...”.
d) “...quando as próprias tarefas de
segurança dentro das instituições
educacionais são transferidas para pessoas
exteriores a elas...”.
e) “Todavia, os efeitos positivos desse tipo
de iniciativa nunca foram demonstrados”.
Resposta: A
Comentário: A sentença da letra “a” – a
resposta correta – possui voz ativa (ocorre
que o verbo está em um tempo composto).
As demais sentenças apresentam formas
verbais de voz passiva (em “c”, sintética; nas
demais, analítica).
Freud, o peixeiro e os excluídos
Há anos compro peixe na mesma feira
com o mesmo peixeiro. Disse a ele outro dia:
Quando crescer, quero ser peixeiro. Devolveu
a provocação: "Boa escolha, professor.
É a profissão do id." Fiquei uma semana
intrigado. Enfim, um peixeiro freudiano no Rio
de Janeiro! Um analista excêntrico que tem
por hobby limpar escamas! Na feira seguinte,
perguntei: Ok, peixeiro é a profissão do id.
Mas como assim? "O professor não conhece
a Bíblia? Cristo precisava de apóstolos,
chamou os pescadores e disse: Ide e pregai o
evangelho a toda criatura!".
Um sujeito bem intencionado quer
dizer uma coisa, o freguês entende outra.
SINTAXE
37
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando dizemos "direitos humanos", por
exemplo, o que entendem os peixeiros,
torneiros mecânicos, políticos profissionais,
investigadores de polícia, personal trainings
e membros de outras profissões? Não
sabemos, mas deveríamos.
A luta social não acontece só na
"política" - partidos, parlamentos, sindicatos
etc. Aconte-ce também no interior da
linguagem. Os desentendimentos por causa
das palavras são, às vezes, desentendimentos
sociais.
Não se sabe, por exemplo, quem
inventou a palavra "excluídos" para designar
pobres. Os movimentos sociais incorporaram
a palavrinha sem refletir. A criança que não
tem escola - está "excluída" da escola. O
trabalhador que não tem emprego - está
"excluído" do emprego. A palavra designa
um fato real, mas o que quer dizer? Que a
sociedade tem um lado de dentro e outro
de fora. Como se fosse um trem correndo
pela Baixada Fluminense (digamos): nós que
estamos dentro olhamos pela janela e vemos
as casas e pessoas que estão de fora.
Acontece que a sociedade não é um
trem que corre pela Baixada. A sociedade é o
trem e as pessoas que vemos pela janela do
trem. A sociedade não tem lado de fora. O
que está fora da sociedade seria desumano,
pois ela nada mais é que a relação entre os
humanos. Não formamos sociedade com os
cães, os mosquitos, os micos-leões-dourados.
A única possibilidade de um ser humano ser
excluído dela é deixar de ser humano. Até
mesmo a nossa relação com a natureza e os
bichos se faz por meio da sociedade.
O leitor já viu onde quero chegar.
Chamar alguém de "excluído" é lhe retirar a
condição de humano. Ora, os movimentos
sociais, que lutam para estender os direitos
humanos a todas as pessoas, querem
precisamente o contrário: querem humanizar
ricos e pobres, negros e brancos, homens
de bem e criminosos, bonitos e feios. Como
é então que usam, e abusam, da palavra
"excluídos"? Como é que admitem que a
sociedade tem um lado de dentro (onde
estão os incluídos) e um lado de fora (onde
estão os "excluídos")? Como é que se deixam
enredar por esse pântano de palavras, a
ponto de negar com a boca o que fazem com
o coração?
Alguém os enredou. Quem foi? Talvez
o Polvo de Vieira. "O polvo, escurecendo-
se a si, tira a vista aos outros, e a primeira
traição e roubo que faz é a luz, para que
não se distinga as cores". Não é inocente
chamar os explorados de nossa sociedade
de "excluídos". Primeiro, porque, sutilmente,
se está negando aos pobres a humanidade
que os outros teriam. Segundo porque se
está desvinculando a pobreza ("exclusão") da
riqueza ("inclusão"). Por esse modo de pensar,
aparentemente inocente, os ricos nada têm
a ver com os pobres. Estes são problema
do governo, "que devia dar escola, saúde e
segurança aos excluídos" e dos políticos "que
só sabem roubar".
Temos até hoje feira de trabalhadores:
centenas de homens fortes acocorados
esperando o "gato" selecionar os que vão
trabalhar. O salário obedece à lei da oferta
e procura: sobe se os acocorados forem
poucos, desce se forem muitos.
Como lidar com o número crescente
de pessoas que nascem, vivem e morrem sem
trabalho? O Brasil inventou várias "soluções"
para esse problema do desenvolvimento.
Uma delas foi o padrão popular de
acumulação: o Se Virar. Os que se viram não
estão excluídos de nada. Pertencem a um
padrão de acumulação que compete há cem
anos com o padrão capitalista.
Na minha feira, há muitos vendedores
de limão. Alguns vendem outras coisas.
São "excluídos"? Produzem mais-valia
como qualquer outro proletário. Desejam
roupas, tênis, bailes, prestígio, mulheres de
revista, adrenalina, alucinação. Têm desejos
e compram a sua satisfação possuindo a
imagem (ou a simulação) dos objetos do
38
LÍNGUA PORTUGUESA
desejo. Se tiverem competência e sorte, se
tornarão vendedores de objetos (como limão)
ou de sensações (como cocaína). Alguns
abraçarão a profissão do Ide. De um jeito ou
de outro, todos estão incluídos.
(Adaptação do texto de SANTOS, Joel
Rufino dos. Jornal do Brasil, domingo,
11/03/2001.)
01. (FGV - Adaptada) ## A sociedade não tem
lado de fora. O que está fora da sociedade
seria desumano, pois ela nada mais é que a
relação entre os humanos.
A respeito do uso do vocábulo pois no
fragmento acima, pode-se afirmar que se
trata de:
a) uma conjunção subordinativa que
estabelece conexão entre as orações
introduzindo valor de explicação.
b) uma preposição que estabelece conexão
entre períodos coordenativos introduzindo
valor de consequência.
c) uma conjunção coordenativa que
estabelece conexão entre as orações
introduzindo valor de alternância.
d) um pronome relativo que introduz a
oração relativa explicativa, retomando a
expressão sociedade.
e) uma conjunção coordenativa que
estabelece conexão entre as orações
introduzindo valor de explicação.
Resposta: E
Comentário: É preciso considerar que a
palavra “pois” pode ser classificada de dois
modos básicos: conjunção coordenativa
conclusiva e conjunção coordenativa
explicativa. Como, para possuir sentido
conclusivo, seria necessário surgir após uma
forma verbal, entende-se que o caso em
questão se trata de uma conjunção com
valor explicativo.
Freud, o peixeiro e os excluídos
Há anos compro peixe na mesma feira
com o mesmo peixeiro. Disse a ele outro dia:
Quando crescer, quero ser peixeiro. Devolveu
a provocação: "Boa escolha, professor.
É a profissão do id." Fiquei uma semana
intrigado. Enfim, um peixeiro freudiano no Rio
de Janeiro! Um analista excêntrico que tem
por hobby limpar escamas! Na feira seguinte,
perguntei: Ok, peixeiro é a profissão do id.
Mas como assim? "O professor não conhece
a Bíblia? Cristo precisava de apóstolos,
chamou os pescadores e disse: Ide e pregai o
evangelho a toda criatura!".
Um sujeito bem intencionado quer
dizer uma coisa, o freguês entende outra.
Quando dizemos "direitos humanos", por
exemplo, o que entendem os peixeiros,
torneiros mecânicos, políticos profissionais,
investigadores de polícia, personal trainings
e membros de outras profissões? Não
sabemos, mas deveríamos.
A luta social não acontece só na
"política" - partidos, parlamentos, sindicatos
etc. Acontece também no interior da
linguagem. Os desentendimentos por causa
das palavras são, às vezes, desentendimentos
sociais.
Não se sabe, por exemplo, quem
inventou a palavra "excluídos" para designar
pobres. Os movimentos sociais incorporaram
a palavrinha sem refletir. A criança que não
tem escola - está "excluída" da escola. O
trabalhador que não tem emprego - está
"excluído" do emprego. A palavra designa
um fato real, mas o que quer dizer? Que a
sociedade tem um lado de dentro e outro
de fora. Como se fosse um trem correndo
pela Baixada Fluminense(digamos): nós que
estamos dentro olhamos pela janela e vemos
as casas e pessoas que estão de fora.
Acontece que a sociedade não é um
trem que corre pela Baixada. A sociedade é
o trem e as pessoas que vemos pela janela
do trem. A sociedade não tem lado de fora. O
39
LÍNGUA PORTUGUESA
que está fora da sociedade seria desumano,
pois ela nada mais é que a relação entre os
humanos. Não formamos sociedade com os
cães, os mosquitos, os micos-leões-dourados.
A única possibilidade de um ser humano ser
excluído dela é deixar de ser humano. Até
mesmo a nossa relação com a natureza e os
bichos se faz por meio da sociedade.
O leitor já viu onde quero chegar.
Chamar alguém de "excluído" é lhe retirar a
condição de humano. Ora, os movimentos
sociais, que lutam para estender os direitos
humanos a todas as pessoas, querem
precisamente o contrário: querem humanizar
ricos e pobres, negros e brancos, homens
de bem e criminosos, bonitos e feios. Como
é então que usam, e abusam, da palavra
"excluídos"? Como é que admitem que a
sociedade tem um lado de dentro (onde
estão os incluídos) e um lado de fora (onde
estão os "excluídos")? Como é que se deixam
enredar por esse pântano de palavras, a
ponto de negar com a boca o que fazem com
o coração?
Alguém os enredou. Quem foi? Talvez
o Polvo de Vieira. "O polvo, escurecendo-
se a si, tira a vista aos outros, e a primeira
traição e roubo que faz é a luz, para que
não se distinga as cores". Não é inocente
chamar os explorados de nossa sociedade
de "excluídos". Primeiro, porque, sutilmente,
se está negando aos pobres a humanidade
que os outros teriam. Segundo porque se
está desvinculando a pobreza ("exclusão") da
riqueza ("inclusão"). Por esse modo de pensar,
aparentemente inocente, os ricos nada têm
a ver com os pobres. Estes são problema
do governo, "que devia dar escola, saúde e
segurança aos excluídos" e dos políticos "que
só sabem roubar".
Temos até hoje feira de trabalhadores:
centenas de homens fortes acocorados
esperando o "gato" selecionar os que vão
trabalhar. O salário obedece à lei da oferta
e procura: sobe se os acocorados forem
poucos, desce se forem muitos.
Como lidar com o número crescente
de pessoas que nascem, vivem e morrem sem
trabalho? O Brasil inventou várias "soluções"
para esse problema do desenvolvimento.
Uma delas foi o padrão popular de
acumulação: o Se Virar. Os que se viram não
estão excluídos de nada. Pertencem a um
padrão de acumulação que compete há cem
anos com o padrão capitalista.
Na minha feira, há muitos vendedores
de limão. Alguns vendem outras coisas.
São "excluídos"? Produzem maisvalia como
qualquer outro proletário. Desejam roupas,
tênis, bailes, prestígio, mulheres de revista,
adrenalina, alucinação. Têm desejos e
compram a sua satisfação possuindo a
imagem (ou a simulação) dos objetos do
desejo. Se tiverem competência e sorte, se
tornarão vendedores de objetos (como limão)
ou de sensações (como cocaína). Alguns
abraçarão a profissão do Ide. De um jeito ou
de outro, todos estão incluídos.
(Adaptação do texto de SANTOS, Joel
Rufino dos. Jornal do Brasil, domingo,
11/03/2001.)
02. (FGV- Adaptada) ## Não se sabe, por
exemplo, quem inventou a palavra "excluídos"
para designar pobres.
De acordo com a descrição sintática
tradicional, a oração sublinhada deve ser
analisada como:
a) objeto direto indeterminado do verbo
saber, que é impessoal.
b) sujeito oracional do verbo saber, que está
na voz passiva sintética.
b) adjunto adverbial de finalidade em
relação à ideia de designar algo.
c) sujeito indeterminado do verbo inventar,
que não admite determinação do sujeito.
d) complemento nominal oracional da
expressão por exemplo.
40
LÍNGUA PORTUGUESA
O verbo saber é transitivo direto e se
encontra apassivado pelo pronome “se”, ou
seja, esse é um caso de voz passiva sintética.
Como há o verbo e a partícula apassivadora,
resta identificar o sujeito paciente dessa
forma verbal. Se o leitor perguntar “o que
se sabe?”, concluirá que a resposta é “quem
inventou a palavra ‘excluídos’”, que se trata
de uma oração introduzida pela palavra
“quem” (com valor de conjunção integrante).
Logo, trata-se de uma oração subordinada
substantiva subjetiva (que é o sujeito
oracional) paciente.
De um modo geral, o conflito ou a
contradição que atravessam a separação
entre o público e o privado podem ser
resumidos na pergunta que sempre
atormentou os moralistas antigos e os
modernos: os fins justificam os meios? Um dos
divisores de água que a modernidade traçou
entre a ética e a política foi dado pela baliza
posta por essa pergunta. No caso da ética,
a resposta é negativa: os meios precisam
estar de acordo com a natureza dos fins e,
portanto, para fins éticos os meios precisam
ser éticos também. (...) No caso da política,
ao contrário, a resposta tende a ser positiva e
estabelece uma diferença de natureza entre
meios e fins, exigindo-se, porém, que haja
alguma proporção (ou racionalidade) entre
eles. A idéia que parece prevalecer é a de que,
na política, todos os meios são bons e lícitos
desde que o fim seja bom para a coletividade.
Marilena Chaui. Público, privado, de
spotismo. In: Ética, Adauto Novaes (org.).
São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria
Municipal de Cultura, 5.ª impressão, 1997, p.
353-4 (com adaptações).
03. (CESPE – Adaptada) ## Em "exigindo-
se", a eliminação do pronome enclítico "se"
prejudicaria o sentido e a correção gramatical
do período, porque a oração ficaria sem
sujeito.
Resposta: Errado
Comentário: Não haveria problema para a
correção gramatical, pois a eliminação da
palavra “se” faria com que o verbo tivesse
uma mudança em seu sujeito, sintaticamente
falando, o sujeito seria oculto.
-------------------------- ------------------------
O avanço da publicidade na Internet
Desde 2003, os gastos em publicidade
na Internet quase triplicaram no Brasil. A
expansão se deve à elevação do número de
usuários, das conexões em banda larga e do
tempo de conexão. Por mês, os brasileiros
passam, em média, 22 horas e 43 minutos na
rede. Apesar do crescimento, a Internet só
detém 2% do mercado publicitário do país.
Veja, 4/7/2007 (com adaptações).
04. (CESPE - Adaptada) ## O fato de os termos
"do número", "das conexões" e "do tempo"
iniciarem-se com a mesma preposição indica
que esses termos são complementos de
"elevação".
Resposta: Errado
Comentário: O termo “do número” está
subordinado ao elemento “elevação”
como um complemento nominal; já, os
elementos “das conexões” e “do tempo”
estão subordinados ao termo número como
adjuntos adnominais.
ÉTICA E TRIBUTO
No amplo debate sobre as questões
tributárias fala-se com freqüência de ética
ou moralidade tributária, ainda que não
se tenha absoluta clareza quanto à real
extensão desse conceito. Nada diferente do
que ocorre em relação à acepção da ética em
outros domínios da política e da economia.
A propósito, Norberto Bobbio, em "Elogio
da serenidade e outros escritos morais", já
observara que "nenhuma questão moral,
proposta em qualquer campo, encontrou até
hoje solução definitiva".
41
LÍNGUA PORTUGUESA
A despeito de sua natureza
relativamente controversa, a ética tributária,
ao menos conforme admite o senso comum,
vincula-se à concepção e à prática de regras
justas e razoáveis em matéria tributária.
Aponta para questões, não raro conflitantes,
que envolvem as limitações do poder de
tributar, os direitos dos contribuintes, o dever
fundamental de pagar impostos, o equilíbrio
concorrencial, a prevenção das guerras
fiscais, etc. Encerra, portanto, questões
concernentes às relações entre o fisco e o
contribuinte, entre os contribuintes e entre
os fiscos.
No Brasil, o debate sobre ética
tributária só recentemente ganhou vulto
em decorrência do aumento da carga
tributária, da expansão da "indústria de
liminares", do visível aperfeiçoamento
da administração fiscal, da estabilidade
econômica e da crescente inserçãodo país na
economia globalizada. Na maioria dos países
desenvolvidos, com cultura tributária mais
amadurecida, esse debate é mais limitado,
porque praticamente restrito a discussões
sobre a pressão fiscal e a competição fiscal
nociva (harmfull tax competition).
Ainda não se enxerga horizonte
visível para fixação de padrões éticos no
campo tributário brasileiro, porque essa
meta demanda uma ampla reestruturação
de relacionamentos entre os fiscos e os
contribuintes. O cidadão brasileiro, ao menos
no plano cultural, não inclui o pagamento
de impostos entre os deveres fundamentais.
Não causa estranheza o empresário afirmar,
sem nenhum sentimento de culpa, que
deixou de pagar os impostos porque a "crise"
o obrigou a optar entre o recolhimento de
impostos e o pagamento aos fornecedores
e empregados. Dito de outra forma, o
pagamento de impostos ainda não é um valor
definitivamente incorporado à vida nacional.
(...)
A evasão tributária é explicável por
várias razões.
A mais conhecida é o propósito ilícito
de auferir vantagens em relação aos demais
contribuintes.
Essa é a razão que socorre o homo
oeconomicus, que pensa em sua conveniência
econômica e não reconhece nenhum dever
moral de conduta. No seu entender, é lícito
tudo que o beneficia. Entre outras razões
explicativas da evasão, destacam-se: a
ignorância frente à matéria tributária, muitas
vezes reforçada por uma legislação complexa
e ambígua; a impunidade que privilegia os que
não pagam impostos; a falta de percepção
quanto ao uso do dinheiro público ou sua
malversação, em prejuízo do exercício pleno
da cidadania fiscal; a utilização imprópria
de recursos judiciais; a existência de uma
relação desequilibrada nas relações entre o
fisco e o contribuinte.
Estudos da Secretaria da Receita
Federal, com base no recolhimento da CPMF,
mostram que um terço dos pagamentos
realizados por intermédio de instituições
financeiras foi tributado apenas por aquela
contribuição, o que significa dizer que foram
objeto de evasão, elisão ou isenção fiscais.
Trata-se de percentual elevado, porém bem
inferior a uma muito propalada estimativa
de sonegação no Brasil ("para cada real
arrecadado corresponde um real sonegado").
O combate à evasão fiscal é um dos
pilares básicos sobre os quais se assenta a
ética tributária. Nada produz mais distorções
concorrenciais ou injustiça na arrecadação
de impostos que a evasão fiscal, inclusive
quando comparada com outras supostas
"imperfeições" do sistema tributário, como a
incidência em cascata. Ao fim e ao cabo, não
é demais lembrar que inexiste igualdade na
ilegalidade.
Ao contrário do que alguns propagam,
evasão fiscal não é um problema adstrito à
administração tributária, a ser debelado pela
ação fiscalizadora. A própria concepção dos
tributos já traz em si os riscos de sonegação.
Tributos muito vulneráveis à evasão,
42
LÍNGUA PORTUGUESA
especialmente em países sem forte tradição
tributária, são altamente perniciosos,
porque sendo a sonegação uma conduta
oportunista ela inevitavelmente ocorrerá e,
em conseqüência, acarretará toda sorte de
desequilíbrios no mercado e deficiências no
erário.
(...)
No âmbito da administração tributária,
o enfrentamento da evasão fiscal exige um
contínuo aperfeiçoamento, que passa, entre
recursos, pela aplicação de procedimentos
de inteligência fiscal e pelo uso intensivo
das novas tecnologias de informação e
comunicação. Tudo, entretanto, será inócuo
se resultar em impunidade, o que requer
celeridade nas execuções fiscais e nos
julgamentos de recursos e impugnações
administrativas, extrema parcimônia
na concessão de anistias e remissões, e
articulação entre órgãos de fiscalização.
Ninguém põe dúvida quanto à
legalidade da elisão fiscal, entendida como um
ato ou negócio jurídico destinado a reduzir ou
eliminar o ônus tributário, mediante utilização
de "brechas fiscais" (fiscal loopholes), sem
ofensa à lei e anteriormente à ocorrência
do fato gerador. Não há, portanto, como
confundi-la com evasão fiscal, de natureza
francamente ilegal. Tampouco pode alguém
cogitar de restrições ao legítimo direito de
autoorganiza-ção do contribuinte. A questão
é de outra natureza. Deve a legislação
brasileira, à semelhança do que ocorre em
vários países desenvolvidos, estabelecer
uma norma geral antielisão? A prática do
planejamento fiscal não poderá, em certos
casos, resultar em ofensa aos princípios
constitucionais da igualdade, solidariedade e
justiça, favorecendo os que dispõem de mais
recursos e mais informações?
A elisão fiscal não poderá assumir um
caráter de segregação entre os que podem
fazer uso dela e os que não podem e, por
isso mesmo, acabam, obliquamente, sendo
onerados por um inusitado "imposto sobre
os tolos"?
As respostas a essas questões não são
simples, ademais de controversas. A matéria
não foi ainda suficientemente pacificada
entre os tributaristas. Entretanto, por mais
fortes que sejam os argumentos dos que
se opõem a uma norma geral antielisão é
inequívoco que a prática do planejamento
fiscal fixa um divisor entre contribuintes de
primeira e segunda classes, em detrimento
de um desejado tratamento igualitário.
(...)
As isenções complementam o
quadro dos institutos que comprometem
a igualdade tributária. Freqüentemente,
elas resultam de pressões exercidas por
grupos de interesses, alimentadas por
financiamentos de campanhas, e têm pouca
ou nenhuma fundamentação econômica ou
social. No Brasil, não se percebe claramente
que a sociedade finda pagando mais
impostos justamente para compensar os
que não pagam em virtude da fruição de
benefícios fiscais. Esses benefícios, todavia,
assim como as despesas, não são órfãos.
Removê-los implica uma verdadeira batalha
política. É evidente que essa crítica não se
aplica a incentivos transitórios e específicos
para regiões ou pessoas pobres, nem ao
ajustamento dos impostos à capacidade
econômica dos contribuintes.
(...)
A ética tributária guarda relação,
também, com a percepção externa das
administrações tributárias. É importante que
os contribuintes percebam que a política
tributária é justa, a administração fiscal é
proba, sensível e confiável, e os recursos
arrecadados são corretamente aplicados.
(...)
A confiança do contribuinte na
administração fiscal presume, desde logo,
a existência de servidores probos - não
apenas honestos ou que pareçam honestos,
mas sobretudo exemplares. A autoridade
que se confere ao servidor fiscal impõe
43
LÍNGUA PORTUGUESA
responsabilidade e exemplaridade. A
instituição de corregedorias, com autonomia
funcional e mandato, é peça indispensável
para consecução de padrões de honestidade
nas administrações tributárias.
(...)
A ética tributária, por último,
reclama a observância de relações de
cooperação entre as administrações
tributárias, como a troca de informações
e, no plano internacional, as convenções
para prevenir a bitributação. Militam em
direção oposta a esse entendimento a
utilização de instrumentos de "guerra fiscal"
e a constituição de paraísos fiscais. Inúmeros
estudos mostram que a guerra fiscal,
particularmente no caso brasileiro, em nada
aproveitou ao desenvolvimento das regiões
mais pobres. Quando muito, serviu para
acumulação de riquezas de certas elites, não
necessariamente residentes nessas regiões.
Não nos esqueçamos de que as guerras
fiscais são quase tão velhas quanto a pobreza
dessas regiões.
(...)
Robert Wagner, quando prefeito de
Nova York, cunhou uma frase que se tornou
célebre na literatura tributária: "Os impostos
são o preço da civilização; não existem
impostos na selva." No Brasil, a consolidação
de uma ética tributária constitui requisito
crítico para o desenvolvimento, para a
segurança dos investimentos, para o
equilíbrio concorrencial e para a justiça fiscal.
(Everardo Maciel. www.braudel.org.br)
05. (FGV - Adaptada) ## "No Brasil, o debate
sobre ética tributária só recentemente
ganhou vultoem decorrência do aumento da
carga tributária, da expansão da 'indústria
de liminares', do visível aperfeiçoamento
da administração fiscal, da estabilidade
econômica e da crescente inserção do país
na economia globalizada."
No trecho grifado do excerto acima, em
relação às ocorrências de complemento
nominal, é correto afirmar que há:
a) quatro casos.
b) cinco casos.
c) oito casos.
d) seis casos.
e) dois casos.
Resposta: E
Comentário: Os dois casos de
complementação nominal são: “da
administração fiscal” (complemento
de “aperfeiçoamento”) e “do país”
(complemento de “inserção”).
06. (FGV – Adaptada) ## "É importante que
os contribuintes percebam que a política
tributária é justa, que a política tributária
é justa, sensível e confiável, e os recursos
arrecadados são corretamente aplicados."
A respeito da estrutura sintática do período
acima, é correto afirmar que há:
a) cinco orações subordinadas e duas
coordenadas entre si.
b) quatro orações subordinadas e três
coordenadas entre si.
c) quatro orações subordinadas e duas
coordenadas entre si.
d) cinco orações subordinadas e três
coordenadas entre si.
e) três orações subordinadas e somente
uma coordenada.
Resposta: B
Comentário: As orações subordinadas são:
- que os contribuintes percebam (oração
subordinada substantiva subjetiva);
- que a política tributária é justa (oração
subordinada substantiva objetiva direta);
44
LÍNGUA PORTUGUESA
- que a política tributária é justa (oração
subordinada substantiva objetiva direta);
- os recursos arrecadados são corretamente
aplicados (oração subordinada substan-tiva
objetiva direta, com elipse da conjunção
integrante).
As orações coordenadas são:
- a política tributária é justa (oração
coordenada assindética);
- a política tributária é justa, sensível e
confiável (oração coordenada assindética);
- e os recursos arrecadados são corretamente
aplicados (oração coordenada sindéti-ca
aditiva).
Pode parecer estranho, a primeiro plano,
colocar esses elementos nessa disposição
analítica, mas o que ocorre é um processo
de período misto, em que as orações
podem ser, ao mesmo tempo, coordenadas
a umas e subordinadas a outras. O nome
desse fenômeno é “princípio da oração
equipolente”.
-------------------------- ------------------------
Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação
entre metas e riscos fiscais e o impacto dos
déficits públicos para as gerações futuras
É certo que o advento da Lei
Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000,
representou um avanço significativo nas
relações entre o Estado fiscal e o cidadão.
Mais que isso, ao enfatizar a necessidade
da accountability, atribuiu caráter de
essencialidade à gestão das finanças públicas
na conduta racional do Estado moderno,
reforçando a idéia de uma ética do interesse
público, voltada para o regramento fiscal
como meio para o melhor desempenho das
funções constitucionais do Estado.
(...)
Percebe-se que os dois temas [a
correlação entre metas e riscos fiscais e
o impacto dos déficits públicos sobre as
futuras gerações] se vinculam à função
prospectiva da noção de responsabilidade
fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente,
se adstringe a situações futuras próximas,
o segundo vincula-se a situações futuras a
longo prazo.
Portanto, além de a responsabilidade
fiscal cumprir o papel de proporcionar
recursos de imediato a fim de que o Estado
realize as funções a que constitucionalmente
está vinculado, busca controlar a situação
orçamentária a fim de não comprometer
nem o futuro imediato, muito menos o futuro
mais distante.
(...)
O estudo das relações entre déficits
fiscais e seus efeitos nas gerações futuras,
ao menos na economia, não é novo.
Economistas clássicos e contemporâneos -
dentre eles David Ricardo, Martin Feldstein,
James Buchanan e Keynes - trataram do
assunto sob perspectivas diferentes.
A reflexão jurídica sobre o assunto,
contudo, não se tem mostrado tão farta
quanto aquela encontrada na economia.
Isso se deve, talvez, à associação feita ao
tema dos efeitos na utilização de recursos
entre gerações especificamente no campo
ambiental - fortalecida, principalmente,
após a década de 70, quando o movimento
ambientalista passou a formular um discurso
jurídico mais sólido, angariando adeptos das
mais variadas formações, em diversas partes
do planeta.
Não pode, no entanto, a noção jurídica
de efeitos entre gerações se restringir à
temática ambientalista. Obviamente, ela
possui contornos bem definidos naquela área,
uma vez que a própria ética ambientalista
se funda na distribuição de recursos entre
gerações, alicerce para a sobrevivência da
própria humanidade.
Mas a alocação de recursos públicos
através do equilíbrio orçamentário também
se mostra indispensável para que as
gerações futuras não sejam privadas de
45
LÍNGUA PORTUGUESA
políticas públicas propostas para serem
minimamente efetivas, por falta de
disponibilização orçamentária suficiente.
Isso leva a crer que um dos objetivos da
idéia de responsabilidade fiscal é preservar
a capacidade de financiamento de políticas
públicas para as futuras gerações.
Do mesmo modo que a ética
ambientalista tem enfatizado que os
recursos ambientais não são inesgotáveis,
colocando-se a possibilidade de as gerações
presentes virem a exauri-los, privando as
futuras gerações da própria existência, não
é menos razoável pensar que os recursos
públicos, também exauríveis, podem vir a
comprometer o desenvolvimento humano e
a existência de grupos menos favorecidos,
carentes da ação estatal que vise a minorar
as desigualdades.
Percebe-se que os gastos públicos
normalmente beneficiam muito mais as
gerações atuais que as gerações futuras.
Entre outros fatores, isso se deve ao fato de
que as decisões políticas tendem a visualizar
um período estreito de tempo a fim de se
concretizarem. Natural - mas não ideal - que
assim seja. Tomadores de decisões políticas
freqüentemente ficam adstritos ao período
de seus mandatos, uma vez que percebem
que os efeitos de suas decisões são sentidos
mais a curto que a longo prazo. Acrescente-
se a isso o fato de que muitos eleitores
ignoram completamente a complexidade
das decisões, não percebendo ou relevando
o limitado escopo de tais decisões, não
se prolongando no tempo e beneficiando,
primordialmente, as gerações atuais.
Pode-se argumentar, a contrário, com
três situações. A primeira delas é de que não
se pode estabelecer uma relação tão rígida no
sentido de que déficits públicos terão o efeito
prolongado a ser sentido pelas gerações
futuras. Um exemplo disso seria o famoso "erro
de Malthus".Ao afirmar que a produção de
alimentos cresce em progressão aritmética,
enquanto o aumento da população se dá em
progressão geométrica, Malthus não levou
em consideração a evolução tecnológica
como transformadora da capacidade de
produção de alimentos, pressupondo mesmo
uma sociedade estanque.
Nesse sentido, seria possível afirmar
que poderiam surgir novas formas de alocação
de recursos que eliminariam os déficits, não
necessariamente impondo ônus adicionais
às gerações futuras.
Esse raciocínio baseia-se, contudo,
numa falsa comparação. Primeiramente,
porque a alocação de novos recursos nada
tem a ver, em princípio, com o impacto
tecnológico. O avanço deste não acarreta
necessariamente impacto positivo daquela.
Um segundo fator diz respeito ao
argumento de que a existência de déficits
públicos pode promover o desenvolvimento
nacional, o que a experiência brasileira não
parece confirmar.
O terceiro argumento contra a idéia de
que déficits imporiam ônus às gerações futuras
é o de que não se sabe qual será a postura das
futuras gerações quanto aos bens materiais.
Uma vez que uma postura antimaterialista,
já existente na contemporaneidade, pode
se disseminar para uma grande parte da
população dentro de um Estado, pode-se
facilmente defender que futuras gerações
se preocuparão pouco com a alocação de
recursospúblicos e sua utilização através de
políticas públicas, importando-se mais com,
v.g., valores espirituais, em detrimento dos
valores materiais.
A fraqueza dessa tese está no fato
de ser ela, meramente, uma suposição.
Destarte, não há nenhum dado seguro
para afirmar que determinadas gerações
futuras serão anti-materialistas ou que
se importarão pouco com alocação de
recursos destinados à promoção de políticas
públicas. Esquecer-se das gerações futuras,
tendo em vista a possibilidade de estas se
tornarem antimaterialistas, é um exercício
46
LÍNGUA PORTUGUESA
de mera futurologia, exercício irresponsável,
instituidor de compromissos que poderão ou
não ser honrados pelas gerações futuras.
Portanto, a necessidade de as gerações
atuais preservarem recursos para as gerações
futuras também se dá no que tange aos
recursos públicos. A Lei de Responsabilidade
Fiscal, ao impor o regramento das contas
públicas, racionalizando-as, compromete-
se com esse objetivo, ao propugnar que o
controle orçamentário repercutirá a curto
prazo - incidindo sobre as gerações atuais -
e a longo prazo - resguardando a viabilidade
fiscal do Estado para as gerações futuras.
(...)
A função da responsabilidade fiscal,
como já dito, é de mero meio. É o conceito
instrumento essencial para a atuação do
Estado moderno. Não mais se concebe uma
atuação estatal efetiva sem uma apurada
reflexão sobre os gastos públicos, seus limites
e sua aplicação.
As alternativas atuais para a construção
de uma economia sólida e menos suscetível
passam necessariamente pelo controle de
gastos públicos. Alguns países desenvolvidos,
tendo em vista essa perspectiva, buscaram
limitar gastos e muitas vezes editaram leis
para esse fim. É impossível, na atualidade,
visualizar qualquer Estado que se proponha
ao desenvolvimento sem um minucioso
projeto de controle de gastos públicos.
Imprescindível é, pois, que toda a
reflexão sobre a necessidade de um conceito
de responsabilidade fiscal não seja perdida
da vista dos administradores públicos, assim
como dos cidadãos. Somente assim, com a
atuação de todos os atores sociais, poder-se-á
buscar o controle de gastos públicos, visando
a fomentar um crescimento econômico
sustentado e garantidor, principalmente, dos
direitos e garantias fundamentais dispostos
na Constituição Federal de 1988.
(Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações.
Disponível em: <http://www.mt.tr f1.gov.br/
judice/jud7/impacto.htm>)
07. (FGV – Adaptada) ## No trecho "não
necessariamente impondo ônus adicionais às
gerações futuras", o termo grifado exerce a
função sintática de:
a) adjunto adverbial.
b) adjunto adnominal.
c) complemento nominal.
d) sujeito.
e) objeto indireto.
Resposta: E
Comentário: O verbo “impor” é bitransitivo,
ou seja, exige dois complementos distintos.
Na sentença em questão, o termo “ônus
adicionais” funciona como objeto direto;
o termo destacado “às gerações futuras”
desempenha função de objeto indireto, haja
vista sua introdução por uma preposição.
-------------------------- ------------------------
Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação
entre metas e riscos fiscais e o impacto dos
déficits públicos para as gerações futuras
É certo que o advento da Lei
Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000,
representou um avanço significativo nas
relações entre o Estado fiscal e o cidadão.
Mais que isso, ao enfatizar a necessidade
da accountability, atribuiu caráter de
essencialidade à gestão das finanças públicas
na conduta racional do Estado moderno,
reforçando a idéia de uma ética do interesse
público, voltada para o regramento fiscal
como meio para o melhor desempenho das
funções constitucionais do Estado.
(...)
Percebe-se que os dois temas [a
correlação entre metas e riscos fiscais e
o impacto dos déficits públicos sobre as
futuras gerações] se vinculam à função
prospectiva da noção de responsabilidade
fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente,
se adstringe a situações futuras próximas,
47
LÍNGUA PORTUGUESA
o segundo vincula-se a situações futuras a
longo prazo.
Portanto, além de a responsabilidade
fiscal cumprir o papel de proporcionar
recursos de imediato a fim de que o Estado
realize as funções a que constitucionalmente
está vinculado, busca controlar a situação
orçamentária a fim de não comprometer
nem o futuro imediato, muito menos o futuro
mais distante.
(...)
O estudo das relações entre déficits
fiscais e seus efeitos nas gerações futuras,
ao menos na economia, não é novo.
Economistas clássicos e contemporâneos -
dentre eles David Ricardo, Martin Feldstein,
James Buchanan e Keynes - trataram do
assunto sob perspectivas diferentes.
A reflexão jurídica sobre o assunto,
contudo, não se tem mostrado tão farta
quanto aquela encontrada na economia.
Isso se deve, talvez, à associação feita ao
tema dos efeitos na utilização de recursos
entre gerações especificamente no campo
ambiental - fortalecida, principalmente,
após a década de 70, quando o movimento
ambientalista passou a formular um discurso
jurídico mais sólido, angariando adeptos das
mais variadas formações, em diversas partes
do planeta.
Não pode, no entanto, a noção jurídica
de efeitos entre gerações se restringir à
temática ambientalista. Obviamente, ela
possui contornos bem definidos naquela área,
uma vez que a própria ética ambientalista
se funda na distribuição de recursos entre
gerações, alicerce para a sobrevivência da
própria humanidade.
Mas a alocação de recursos públicos
através do equilíbrio orçamentário também
se mostra indispensável para que as
gerações futuras não sejam privadas de
políticas públicas propostas para serem
minimamente efetivas, por falta de
disponibilização orçamentária suficiente.
Isso leva a crer que um dos objetivos da
idéia de responsabilidade fiscal é preservar
a capacidade de financiamento de políticas
públicas para as futuras gerações.
Do mesmo modo que a ética
ambientalista tem enfatizado que os
recursos ambientais não são inesgotáveis,
colocando-se a possibilidade de as gerações
presentes virem a exauri-los, privando as
futuras gerações da própria existência, não
é menos razoável pensar que os recursos
públicos, também exauríveis, podem vir a
comprometer o desenvolvimento humano e
a existência de grupos menos favorecidos,
carentes da ação estatal que vise a minorar
as desigualdades.
Percebe-se que os gastos públicos
normalmente beneficiam muito mais as
gerações atuais que as gerações futuras.
Entre outros fatores, isso se deve ao fato de
que as decisões políticas tendem a visualizar
um período estreito de tempo a fim de se
concretizarem. Natural - mas não ideal - que
assim seja. Tomadores de decisões políticas
freqüentemente ficam adstritos ao período
de seus mandatos, uma vez que percebem
que os efeitos de suas decisões são sentidos
mais a curto que a longo prazo. Acrescente-
se a isso o fato de que muitos eleitores
ignoram completamente a complexidade
das decisões, não percebendo ou relevando
o limitado escopo de tais decisões, não
se prolongando no tempo e beneficiando,
primordialmente, as gerações atuais.
Pode-se argumentar, a contrário, com
três situações. A primeira delas é de que não
se pode estabelecer uma relação tão rígida no
sentido de que déficits públicos terão o efeito
prolongado a ser sentido pelas gerações
futuras. Um exemplo disso seria o famoso "erro
de Malthus".Ao afirmar que a produção de
alimentos cresce em progressão aritmética,
enquanto o aumento da população se dá em
progressão geométrica, Malthus não levou
em consideração a evolução tecnológica
como transformadora da capacidade de
48
LÍNGUA PORTUGUESA
produção de alimentos, pressupondo mesmo
uma sociedade estanque.
Nesse sentido, seria possível afirmar
que poderiam surgir novas formas de
alocação de recursos que eliminariam os
déficits, não necessariamente impondo ônus
adicionais às gerações futuras.
Esse raciocínio baseia-se, contudo,
numa falsa comparação.Primeiramente,
porque a alocação de novos recursos nada
tem a ver, em princípio, com o impacto
tecnológico. O avanço deste não acarreta
necessariamente impacto positivo daquela.
Um segundo fator diz respeito ao
argumento de que a existência de déficits
públicos pode promover o desenvolvimento
nacional, o que a experiência brasileira não
parece confirmar.
O terceiro argumento contra a idéia de
que déficits imporiam ônus às gerações futuras
é o de que não se sabe qual será a postura das
futuras gerações quanto aos bens materiais.
Uma vez que uma postura antimaterialista,
já existente na contemporaneidade, pode
se disseminar para uma grande parte da
população dentro de um Estado, pode-se
facilmente defender que futuras gerações
se preocuparão pouco com a alocação de
recursos públicos e sua utilização através de
políticas públicas, importando-se mais com,
v.g., valores espirituais, em detrimento dos
valores materiais.
A fraqueza dessa tese está no fato
de ser ela, meramente, uma suposição.
Destarte, não há nenhum dado seguro
para afirmar que determinadas gerações
futuras serão anti-materialistas ou que
se importarão pouco com alocação de
recursos destinados à promoção de políticas
públicas. Esquecer-se das gerações futuras,
tendo em vista a possibilidade de estas se
tornarem antimaterialistas, é um exercício
de mera futurologia, exercício irresponsável,
instituidor de compromissos que poderão ou
não ser honrados pelas gerações futuras.
Portanto, a necessidade de as gerações
atuais preservarem recursos para as gerações
futuras também se dá no que tange aos
recursos públicos. A Lei de Responsabilidade
Fiscal, ao impor o regramento das contas
públicas, racionalizando-as, compromete-
se com esse objetivo, ao propugnar que o
controle orçamentário repercutirá a curto
prazo - incidindo sobre as gerações atuais -
e a longo prazo - resguardando a viabilidade
fiscal do Estado para as gerações futuras.
(...)
A função da responsabilidade fiscal,
como já dito, é de mero meio. É o conceito
instrumento essencial para a atuação do
Estado moderno. Não mais se concebe uma
atuação estatal efetiva sem uma apurada
reflexão sobre os gastos públicos, seus limites
e sua aplicação.
As alternativas atuais para a
construção de uma economia sólida e
menos suscetível passam necessariamente
pelo controle de gastos públicos. Alguns
países desenvolvidos, tendo em vista essa
perspectiva, buscaram limitar gastos e
muitas vezes editaram leis para esse fim. É
impossível, na atualidade, visualizar qualquer
Estado que se proponha ao desenvolvimento
sem um minucioso projeto de controle de
gastos públicos.
Imprescindível é, pois, que toda a
reflexão sobre a necessidade de um conceito
de responsabilidade fiscal não seja perdida
da vista dos administradores públicos, assim
como dos cidadãos. Somente assim, com a
atuação de todos os atores sociais, poder-se-á
buscar o controle de gastos públicos, visando
a fomentar um crescimento econômico
sustentado e garantidor, principalmente, dos
direitos e garantias fundamentais dispostos
na Constituição Federal de 1988.
(Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações.
Disponível em: <http://www.mt.tr f1.gov.br/
judice/jud7/impacto.htm>)
49
LÍNGUA PORTUGUESA
08. (FVG – Adaptada) ## Assinale a alternativa
em que o termo desempenhe função sintática
idêntica à de da Lei Complementar n° 101
a) sobre as futuras gerações
b) dos déficits públicos
c) a situações futuras próximas
d) de recursos públicos
e) a evolução tecnológica
Resposta: B
Comentário: A função em questão é a de
complemento nominal. O termo destacado
funciona como complemento do substantivo
“advento”; o elemento da alternativa correta
desempenha a função de complemento do
substantivo “impacto”.
-------------------------- ------------------------
Breve histórico
A idéia de criação de um Tribunal de
Contas surgiu, pela primeira vez no Brasil,
em 23 de junho de 1826, com a iniciativa
de Felisberto Caldeira Brandt, Visconde de
Barbacena, e de José Inácio Borges, que
apresentaram projeto de lei nesse sentido
ao Senado do Império. As discussões em
torno da criação de um Tribunal de Contas
durariam quase um século, polarizadas entre
aqueles que defendiam a sua necessidade
- para quem as contas públicas deviam ser
examinadas por órgão independente - e
aqueles que a combatiam, por entenderem
que as contas públicas podiam continuar
sendo controladas por aqueles mesmos que
as realizavam.
Originariamente o Tribunal teve
competência para exame, revisão e julgamento
de todas as operações relacionadas com a
receita e a despesa da União. A fiscalização
fazia-se pelo sistema de registro prévio. A
Constituição de 1891 institucionalizou o
Tribunal e conferiu-lhe competências para
liquidar as contas da receita e da despesa
e verificar a sua legalidade, antes de serem
prestadas ao Congresso Nacional.
Pela Constituição de 1934, o Tribunal
recebeu, entre outras, as seguintes atribuições:
proceder ao acompanhamento da execução
orçamentária, registrar previamente as
despesas e os contratos, julgar as contas dos
responsáveis por bens e dinheiro públicos,
assim como apresentar parecer prévio sobre
as contas do Presidente da República, para
posterior encaminhamento à Câmara dos
Deputados. Com exceção do parecer prévio
sobre as contas presidenciais, todas as demais
atribuições do Tribunal foram mantidas
pela Carta de 1937. A Constituição de 1946
acresceu um novo encargo às competências
da Corte de Contas: julgar a legalidade das
concessões de aposentadorias, reformas e
pensões.
A Constituição de 1967, ratificada
pela Emenda Constitucional n.º 1, de 1969,
retirou do Tribunal o exame e o julgamento
prévio dos atos e dos contratos geradores
de despesas, sem prejuízo da competência
para apontar falhas e irregularidades que,
se não sanadas, seriam, então, objeto de
representação ao Congresso Nacional.
Eliminou-se, também, o julgamento da
legalidade de concessões de aposentadorias,
reformas e pensões, ficando a cargo do
Tribunal, tão-somente, a apreciação da
legalidade para fins de registro. O processo
de fiscalização financeira e orçamentária
passou por completa reforma nessa etapa.
Como inovação, deu-se incumbência à Corte
de Contas para o exercício de auditoria
financeira e orçamentária sobre as contas
das unidades dos três poderes da União,
instituindo-se, desde então, os sistemas
de controle externo, a cargo do Congresso
Nacional, com auxilio da Corte de Contas, e
de controle interno, este exercido pelo Poder
Executivo e destinado a criar condições para
um controle externo eficaz.
Finalmente, com a Constituição de
1988, o Tribunal de Contas da União (TCU)
teve a sua jurisdição e a sua competência
substancialmente ampliadas. Recebeu
50
LÍNGUA PORTUGUESA
poderes para, no auxílio ao Congresso
Nacional, exercer a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial da União e das entidades da
administração direta e indireta, quanto à
legalidade, à legitimidade e à economicidade,
e a fiscalização da aplicação das subvenções
e da renúncia de receitas. Qualquer pessoa
física ou jurídica, pública ou privada, que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou
administre dinheiros, bens e valores públicos
ou pelos quais a União responda, ou que, em
nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária tem o dever de prestar contas ao
TCU.
Conheça o TCU. Internet:<http://www.
tcu.gov.br>. Acesso em 10/4/2005 (com
adaptações).
09. (CESPE – Adaptada) ## O emprego
da vírgula antes de "que" justifica-se pelo
valor restritivo da oração adjetiva que esse
pronome introduz.
Resposta: Errado
Comentário: É preciso ressaltar que uma
oração adjetiva somente possuirá valor
restritivo quando não estiver separada
da sentença, do contrário, o valor será
explicativo. Na frase em questão, a vírgula
possui valor explicativo.
-------------------------- ------------------------
A EMBRAPAvirou símbolo de excelência
na administração pública. Em mais uma
década, terá sido a responsável pela melhoria
do padrão nutricional dos brasileiros, por
meio de um programa para a produção de
alimentos mais saudáveis. Os componentes de
nossa dieta básica - arroz, feijão, milho, soja -
estão sendo pesquisados para que adquiram
teores mais elevados de vitaminas, proteínas
e aminoácidos. Do projeto, há poucos anos
surgiu a cenoura com mais procaroteno (que
ajuda no combate à cegueira), já incorporada
ao mercado. A presidente interina da
EMBRAPA, Marisa Barbosa, acentua que
outros resultados positivos serão alcançados
nos próximos anos. Com isso, o índice de
subnutrição e doenças dela resultantes
serão gradativamente reduzidos. Alimentos
denominados funcionais, proteicamente
enriquecidos, estão sendo pesquisados para
combater a diabetes e o envelhecimento.
Nada a ver com transformação genética. A
EMBRAPA tem 2.220 pesquisadores, sendo
1.100 com doutorado.
Jornal do Brasil (Informe JB), 15/3/2004, p.
A6 (com adaptações).
10. (CESPE – Adaptada) ## Na linha
referênciada em vermelho, as palavras
"subnutrição" e "doenças" estão exercendo a
função de complemento da palavra "índice".
Reposta: Errado
Comentário: A palavra “subnutrição”
desempenha função de complemento do
substantivo “índice” (que é um dos núcleos
do sujeito), mas a palavra “doenças” é
núcleo do sujeito composto. O sujeito do
verbo “ser” é “o índice de subnutrição e
doenças dela resultantes”.
-------------------------- ------------------------
Algum pessimista argumentará que,
qualquer que seja o tratamento que eu
dê ao tema anunciado pelo título acima,
não passarei de comentários tautológicos,
já que a morte por si mesma é banal, não
necessitando de que se sublinhem essa
condição. De fato, como única verdadeira
certeza que temos na vida, a morte é banal,
acontece a toda hora e, mais cedo ou mais
tarde, chegará para todos. Mas, embora saiba
não estar dizendo novidades, pois eu mesmo
já falei neste assunto várias vezes e em várias
ocasiões, acho que, entre nós, a morte está
ficando banal em demasia.
Nas grandes cidades brasileiras a
começar pelas duas maiores, mata-se
praticamente como se tratasse de algo
51
LÍNGUA PORTUGUESA
inerente à existência urbana. Não creio estar
apenas reprisando um bordão de velho,
quando digo que a vida humana cada vez
tem menos valor - e não só para bandidos,
que assassinam mesmo sem necessidade
alguma, mas para nós, outros, que só
faltamos dar de ombros, quando sabemos de
uma nova morte violenta, entre as dezenas
que se noticiam todos os dias nos jornais. Em
biologia, sabe-se que a repetição exaustiva de
um estímulo acaba por atenuar fortemente,
ou mesmo eliminar, seu efeito. Sem dúvida,
isto acontece conosco. De tanto sabermos de
barbaridades, já não mais nos chocamos.
A morte violenta não nos sitia somente
nos noticiários. Ela está em todas as partes,
nas balas perdidas que vêm atingindo tanta
gente no Rio de Janeiro e que são mesmo
objeto de fornidas coleções em alguns
bairros, nos jogos eletrônicos que fascinam
nossos filhos e netos e nos enlatados
americanos com que somos bombardeados
pela televisão. Desde criança, vemos mortes
violentas às dúzias. E, o que é pior, mortes
desacompanhadas de tudo que ela traz
na vida real. O personagem toma um tiro,
bate as botas e nada mais acontece. Não há
luto, não há orfandade, não há viuvez, não
há nem sequer dor. O assassinato e a morte
são quase iguais a outros atos corriqueiros da
vida cotidiana.
Sabemos também que, embora não
esteja na lei, a pena de morte, pública e
privadamente decretada, há muito tempo
existe no Brasil. De vez em quando aparece
uma reportagem, mostrando como pistoleiros
cobram quantias que não dão nem para um
bom jantar, num bom restaurante, para matar
alguém que não conhecem e que nunca fez
mal. Encher a cara, pegar o carro e matar
um desafeto é a melhor maneira de cometer
homicídio no Brasil. O matador paga fiança,
é solto, responde o processo em liberdade
e, se eventualmente for condenado, poderá,
caso se trate de réu primário, cumprir a pena
também em liberdade.
A polícia mata ("executa", palavra com
que certa imprensa parece querer nobilitar o
assassinato) e não mata somente o bandido,
mas também o cidadão que está por perto.
Comerciantes contratam "justiceiros", que
tomam a si o encargo de eliminar quem
quer que pareça uma ameaça. Viajar de
ônibus passou a ser uma aventura cotidiana,
pois raro é o dia que um ou mais não são
assaltados, com direito a tiroteio. Hospitais,
berçários, asilos de velhos e clínicas matam
em níveis reminiscentes do nazismo. Morre-
se de fome nas cidades e no campo, e por aí
vamos.
Enfim, mata-se escandalosamente em
toda parte e ficamos nós, os sobreviventes,
como que anestesiados. Para muitos,
infelizmente, o problema só se torna grave
quando a vítima lhes é próxima. Enquanto
acontece somente com os outros, não merece
muita atenção. Isso não pode deixar de ser
visto como uma gravíssima deformação, de
que precisamos tomar consciência e nos
livrarmos a qualquer custo. A morte é o
fim natural da vida, mas não é natural que
se alastre dessa forma monstruosa e que,
embotados, abúlicos e acomodados, não
façamos nada para mudar a situação em que
tão aviltantemente existimos. Não somos
bichos, somos cidadãos, e se não zelarmos
até ferozmente pelos nossos direitos, dentro
em breve não teremos mais direito nenhum,
nem mesmo à vida.
João Ubaldo Ribeiro. Manchete, 16/11/96,
p. 97.2
11. (CESPE - Adaptada) ## Considerando o
período "O personagem toma um tiro, bate
as botas e nada mais acontece.", assinale a
opção correta.
a) O período é composto por coordenação,
mas apenas uma oração é coordenada
sindética.
b) "O personagem" é o sujeito das três
orações.
52
LÍNGUA PORTUGUESA
c) O nível de linguagem é coloquial, culto.
d) Há apenas artigos definidos exercendo a
função de adjuntos adnominais.
e) As três formas verbais são de
predicação transitiva direta.
Resposta: A
Comentário: De fato, o período é composto
por coordenação, visto que uma oração
coordenada é aquela que apresenta sua
estrutura sintática completa e é apenas
colocada ao lado de outra, com a qual
estabelece uma relação de sentido. Para que
uma oração seja sindética, ela deve possuir
um síndeto (uma conjunção) coordenativo.
Apenas a sentença “e nada mais acontece”
é introduzida por uma conjunção, a palavra
“e”.
-------------------------- ------------------------
O termo groupthinking foi cunhado,
na década de cinquenta, pelo sociólogo
William H. Whyte, para explicar como grupos
se tornavam reféns de sua própria coesão,
tomando decisões temerárias e causando
grandes fracassos. Os manuais de gestão
defi-nem groupthinking como um processo
mental coletivo que ocorre quando os grupos
são uniformes, seus indivíduos pensam da
mesma forma e o desejo de coesão supera a
motivação para avaliar alternativas diferentes
das usuais. Os sintomas são conhecidos:
uma ilusão de invulnerabilidade, que gera
otimismo e pode levar a riscos; um esforço
coletivo para neutralizar visões contrárias
às teses dominantes; uma crença absoluta
na moralidade das ações dos membros do
grupo; e uma visão distorcida dos inimigos,
comumente vistos como iludidos, fracos ou
simplesmente estúpidos.
Tão antigas como o conceito são
as receitas para contrapor a patologia:
primeiro, é preciso estimular o pensamento
crítico e as visões alternativas à visão
dominante; segundo, é necessário adotar
sistemas transparentes de governança e
procedimentos de auditoria; terceiro, é
desejável renovar constantemente o grupo,
de forma a oxigenar as discussões e o
processo de tomada de decisão.
Thomaz Wood Jr. O perigo do groupthinking.
In: Carta Capital, 13/5/2009, p. 51 (com
adaptações).
12. (CESPE – Adaptada) ## Na linha 4,
preservam-se a correção gramatical e a
coerência textual ao se inserir uma vírgula
imediatamenteapós o vocábulo "coletivo",
mesmo que, com isso, as informações possam
ser tomadas como uma explicação - e não
como uma caracterização - da expressão
"processo mental coletivo".
Resposta: Certo
Comentário: A inserção da vírgula após a
palavra “coletivo” gera uma alteração de
ordem sintática, a qual fará a oração se
transformar em uma oração subordinada
adjetiva explicativa. Isso se nota ao analisar
a presença do pronome relativo e uma base
verbal na sentença.
13. (ESAF - Adaptada) ## Em relação ao
texto, assinale a opção correta.
Há alguma esperança de que a diminuição do
desmatamento no Brasil possa se manter e
não seja apenas, e mais uma vez, o reflexo da
redução das atividades econômicas causada
pela crise global. Mas as notícias ruins agora
vêm de outras frentes. As emissões de gases
que provocam o efeito estufa pela indústria
cresceram 77% entre 1994 e 2007, segundo
estimativas do Ministério do Meio Ambiente
a partir de dados do IBGE e da Empresa de
Pesquisa Energética. Para piorar, as fontes
de energia se tornaram mais "sujas", com
o aumento de 122% do CO2 lançado na
atmosfera, percentual muito acima dos 71%
da ampliação da geração no período. Assim,
enquanto as emissões por desmatamento
53
LÍNGUA PORTUGUESA
tendem a se reduzir para algo entre 55% e
60% do total, as da indústria e do uso de
combustíveis fósseis ganham mais força.
(Editorial, Valor Econômico, 1/9/2009)
a) Em "possa se manter" o pronome "se"
indica sujeito indeterminado.
b) O termo "causada" está no singular e no
feminino porque concorda com "esperança".
c) O termo "enquanto" confere ao período
uma relação de consequência.
d) Em "se tornaram" o pronome "se" indica
voz passiva.
e) O segmento "que provocam o efeito
estufa pela indústria" constitui oração
subordinada adjetiva restritiva.
Resposta: E
Comentário: a) como o verbo “manter” é
transitivo direto, a palavra “se” indica uma
voz passiva sintética.
b) a palavra “causada” concorda com o
substantivo “redução”.
c) a palavra “enquanto” dá sentido de
proporção.
d) na formação em questão, a palavra “se” é
parte integrante do verbo.
e) como a oração introduzida pelo pronome
relativo não está isolada por vírgulas na
sentença, entende-se que possui natureza
restritiva.
-------------------------- ------------------------
A economia brasileira, há alguns anos,
apresentava fortes barreiras protecionistas,
e controles cambiais provocavam a
valorização artificial do câmbio comercial,
havendo ágio expressivo no mercado livre. A
realidade hoje é outra. As barreiras tarifárias
foram muito reduzidas, a taxa de câmbio é
flutuante e não há diferença significativa
entre o mercado oficial e o paralelo. Os
modelos econométricos disponíveis, por
menos precisos que sejam, são unânimes
em apontar para uma desvalorização do real
acima do seu equilíbrio de longo prazo, e não
o contrário. Logo, onde está o problema?
Por que gastar escassos recursos públicos -
pois não se faz política industrial sem eles
- para poupar divisas quando o mercado já
está bem sinalizado nesta direção? Pode até
haver outras razões para justificar a política
proposta. Mas economia de divisas não é
uma delas.
(Adaptado de Cláudio Haddad)
14. (ESAF – Adapatada) ## Assinale a opção
em que as duas expressões exercem a mesma
função sintática no texto.
a) "controles cambiais" = "fortes barreiras
protecionistas"
b) "a valorização artificial do câmbio
comercial" = "A economia brasileira"
c) "há alguns anos" = "hoje"
d) "a taxa de câmbio" = "diferença
significativa"
e) "escassos recursos públicos" = "o
mercado"
Resposta: C
Comentário: Em “a”, os termos são
classificados como sujeito (do verbo provocar)
e objeto direto (do verbo apresentar). Em
“b” os termos são classificados como objeto
direto (do verbo provocar) e sujeito (do
verbo apresentar). Em “c” os dois termos
são adjuntos adverbiais.
-------------------------- ------------------------
Da impunidade
O homem ainda não encontrou uma
forma de organização social que dispense
regras de conduta, princípios de valor,
discriminação objetiva de direitos e deveres
comuns. Todos nós reconhecemos que, em
qualquer atividade humana, a inexistência
54
LÍNGUA PORTUGUESA
de parâmetros normativos implica o estado
de barbárie, no qual prevalece a mais dura
e irracional das justificativas: a lei do mais
forte, também conhecida, não por acaso,
como "a lei da selva". É nessa condição que
vivem os animais, relacionando-se sob o
exclusivo impulso dos instintos. Mas o homo
sapiens afirmou-se como tal exatamente
quando estabeleceu critérios de controle dos
impulsos primitivos.
Variando de cultura para cultura, as
regras de convívio existem para dar base e
estabilidade às relações entre os homens.
Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas
reconhecidas simplesmente como humanas:
podem apresentar-se como manifestações
da vontade divina, como valores supremos,
por vezes apresentados como eternos. Os
dez mandamentos ditados por Deus a Moisés
são um exemplo claro de que a religião toma
para si a tarefa de orientar a conduta humana
por meio de princípios fundamentais. No caso
da lei mosaica, um desses princípios é o da
interdição: "Não matarás", "Não cobiçarás a
mulher do próximo" etc. Ou seja: está suposto
nesses mandamentos que o ponto de partida
para a boa conduta é o reconhecimento
daquilo que não pode ser permitido, daquilo
que representa o limite de nossa vontade e
de nossas ações.
Nas sociedades modernas, os textos
constitucionais e os regulamentos de todo
tipo multiplicam-se e sofisticam-se, mas
permanece como sustentação delas a
idéia de que os direitos e os deveres dizem
respeito a todos e têm por finalidade o bem
comum. Para garantia do cumprimento dos
princípios, instituem-se as sanções para
quem os ignore. A penalidade aplicada
ao indivíduo transgressor é a garantia da
validade social da norma transgredida. Por
isso, a impunidade, uma vez manifesta,
quebra inteiramente a relação de equilíbrio
entre direitos e deveres comuns, e passa a
constituir um exemplo de delito vantajoso:
aquele em que o sujeito pode tirar proveito
pessoal de uma regra exatamente por tê-la
infringido. Abuso de poder, corrupção, tráfico
de influências, quando não seguidos de
punição exemplar, tornam-se estímulos para
uma prática delituosa generalizada. Um dos
maiores desafios da nossa sociedade é o de
não permitir a proliferação desses casos. Se
o ideal da civilização é permitir que todos os
indivíduos vivam e convivam sob os mesmos
princípios éticos acordados, a quebra desse
acordo é a negação mesma desse ideal da
humanidade.
(Inácio Leal Pontes)
15. (FCC – Adaptada) ## Expressa uma
finalidade a oração subordinada adverbial
sublinhado em:
a) (...) a religião toma para si a tarefa de
orientar a conduta humana.
b) (...) o sujeito pode tirar proveito pessoal
de uma regra por tê-la infringido.
c) (...) o ponto de partida para a boa conduta
é o reconhecimento daquilo que não pode
ser permitido.
d) (...) as regras de convívio existem para
dar base e estabilidade às relações entre os
homens.
e) (...) o ideal da civilização é permitir que
todos os indivíduos vivam sob os mesmos
princípios éticos acordados.
Resposta: D
Comentário: Só há duas orações subordinadas
adverbiais na questão: a da letra “b”, que se
trata de uma oração subordinada adverbial
causal reduzida de infinitivo e a da letra “d”,
que se trata de uma oração subordinada
adverbial final reduzida de infinitivo.
55
LÍNGUA PORTUGUESA
Da impunidade
O homem ainda não encontrou uma
forma de organização social que dispense
regras de conduta, princípios de valor,
discriminação objetiva de direitos e deveres
comuns. Todos nós reconhecemos que, em
qualquer atividade humana, a inexistência
de parâmetros normativos implica o estado
de barbárie, no qual prevalece a mais dura
e irracional das justificativas: a lei do mais
forte, também conhecida, não por acaso,
como"a lei da selva". É nessa condição que
vivem os animais, relacionando-se sob o
exclusivo impulso dos instintos. Mas o homo
sapiens afirmou-se como tal exatamente
quando estabeleceu critérios de controle dos
impulsos primitivos.
Variando de cultura para cultura, as
regras de convívio existem para dar base e
estabilidade às relações entre os homens.
Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas
reconhecidas simplesmente como humanas:
podem apresentar-se como manifestações
da vontade divina, como valores supremos,
por vezes apresentados como eternos. Os
dez mandamentos ditados por Deus a Moisés
são um exemplo claro de que a religião toma
para si a tarefa de orientar a conduta humana
por meio de princípios fundamentais. No caso
da lei mosaica, um desses princípios é o da
interdição: "Não matarás", "Não cobiçarás a
mulher do próximo" etc. Ou seja: está suposto
nesses mandamentos que o ponto de partida
para a boa conduta é o reconhecimento
daquilo que não pode ser permitido, daquilo
que representa o limite de nossa vontade e
de nossas ações.
Nas sociedades modernas, os textos
constitucionais e os regulamentos de todo
tipo multiplicam-se e sofisticam-se, mas
permanece como sustentação delas a
idéia de que os direitos e os deveres dizem
respeito a todos e têm por finalidade o bem
comum. Para garantia do cumprimento dos
princípios, instituem-se as sanções para
quem os ignore. A penalidade aplicada
ao indivíduo transgressor é a garantia da
validade social da norma transgredida. Por
isso, a impunidade, uma vez manifesta,
quebra inteiramente a relação de equilíbrio
entre direitos e deveres comuns, e passa a
constituir um exemplo de delito vantajoso:
aquele em que o sujeito pode tirar proveito
pessoal de uma regra exatamente por tê-la
infringido. Abuso de poder, corrupção, tráfico
de influências, quando não seguidos de
punição exemplar, tornam-se estímulos para
uma prática delituosa generalizada. Um dos
maiores desafios da nossa sociedade é o de
não permitir a proliferação desses casos. Se
o ideal da civilização é permitir que todos os
indivíduos vivam e convivam sob os mesmos
princípios éticos acordados, a quebra desse
acordo é a negação mesma desse ideal da
humanidade.
(Inácio Leal Pontes)
16. (FCC – Adaptada) ## Não decorrem,
aliás, apenas de iniciativas reconhecidas
simplesmente como humanas (...).
O elemento sublinhado na frase acima poderá
permanecer o mesmo, caso substituamos
Não decorrem por
a) Não advêm.
b) Não implicam.
c) Não têm origem.
d) Não se devem.
e) Não se atribuem.
Resposta: A
Comentário: Como o termo destacado
possui função de adjunto adverbial, o único
verbo que atenderia à condição de manter
as relações sintáticas (mantendo também a
regência) é o verbo “advir”.
56
LÍNGUA PORTUGUESA
17. (FCC - Adaptada) ## O termo sublinhado
constitui o sujeito da seguinte construção:
a) Não se encontrou uma forma definitiva
de organização social.
b) É nessa condição que vivem os animais.
c) Tais delitos acabam tornando-se estímulos
para a banalização das transgressões.
d) Ocorre isso por conta das reiteradas
situações de impunidade.
e) Deve-se reconhecer na interdição um
princípio da lei mosaica.
Resposta: D
Comentário: Em “a” o termo destacado
funciona como partícula apassivadora.
Em “b” o termo destacado funciona como
núcleo do adjunto adverbial. Em “c”o
termo destacado funciona com núcleo do
predicativo do sujeito. Em “d” a palavra
“isso” é sujeito do verbo “Ocorrer”. Em “e”
o termo destacado é núcleo do adjunto
adverbial.
-------------------------- ------------------------
Constituição à brasileira
Vinte anos. Congresso superlotado,
emoção quase palpável, o presidente da
Constituinte, deputado Ulysses Guimarães,
71, muito à vontade, no auge da glória,
expressão de felicidade no rosto altivo,
termina vigoroso discurso. De pé, ergue os
longos braços para exibir um livro de 292
páginas, capa verde-amarela, 245 artigos
e 70 disposições transitórias, que chama
de Constituição Cidadã, porque acha que
recuperará como cidadãos milhões de
brasileiros. "Mudar para vencer! Muda,
Brasil!", grita entusiasmado.
Foram 20 meses de muito poder, palco
iluminado, pressão, choques, trabalho
extenuante, abertura à participação popular.
Esperava muito da Carta, seu maior feito. E
também a Presidência da República.
De outubro a dezembro de 1988, em
ambiente nacional de sinistrose e medo de
hiperinflação, funcionou o chamado "pacto
social", reunindo governo, empresários,
trabalhadores e, no fim, políticos. Espaço
de diálogo e negociação. Deu certo. Os
entendimentos foram essenciais para
amenizar o impacto inicial da Constituição.
A convocação da Assembléia Nacional
Constituinte ganhara força na reta final
da ditadura. Tancredo Neves, candidato
a presidente, prometera fazê-lo. Hábil,
usava o compromisso para se desvencilhar
de questões embaraçosas. Seu eventual
mandato seria de quatro, cinco ou seis anos?
"Será o que a Constituinte fixar." Um dia, na
intimidade, perguntei: "Seis anos, doutor
Tancredo?". "Muito", respondeu. "Quatro?".
"Pouco." Indispensável, mas também fonte
de instabilidade, a Constituinte podia quase
tudo. Quando foi instalada, fevereiro de
1987, o presidente Sarney me disse que,
apesar de tema conjuntural, a duração de
seu mandato ocuparia o centro das atenções.
Tinha certeza de que iam politizar o assunto.
Coisas da política, do poder e da paixão.
Havia forte enxame de moscas azuis no
Congresso Nacional, muitos presidenciáveis.
Difícil governar com inflação alta, economia
em baixa e um suprapoder em cima.
No Palácio do Planalto, inesgotável
romaria de parlamentares, parte de nariz
empinado, salto 15 ou mais, exalando poder
e importância.
A questão do mandato realmente
pegou fogo. Em 15/11/1987, um domingo,
a Comissão de Sistematização votou quatro
anos para Sarney. A terra tremeu no Plano
Piloto. Final da manhã, telefonema do general
Ivan de Souza Mendes, ministro-chefe do SNI.
Está ansioso e preocupado. Pede que eu vá
depressa ao Palácio da Alvorada, residência
presidencial.
Meia hora depois, encontro lá o
presidente Sarney, os ministros militares e
muitos civis. Dia tenso, perigoso. Grande
57
LÍNGUA PORTUGUESA
atividade, agitação, nervosismo. O presidente
ouvia muito e falava pouco. Agüentou firme.
Não arredou pé do compromisso democrático.
Começo da noite, li nota à imprensa, em
que ele reafirmava o respeito a todas as
decisões que vies-sem a ser adotadas pela
Constituinte. Inclusive eleições em 1988.
No final do processo, acirrada disputa
da duração do mandato e do sistema de go-
verno. Deu presidencialismo e cinco anos.
Mas a alma parlamentarista ficou, como
mostra, por exemplo, o instituto das medidas
provisórias, inspirado no parlamentarismo
italiano. Abundante remessa de
matérias polêmicas para a legislação
infraconstitucional permitiu aprovar o texto
definitivo em 23/9/1988. Conforme pesquisa
do jurista Saulo Ramos, precisava de 289 leis
de concreção, sendo 41 complementares.
A nova Carta serviu bem ao país?
Críticos dizem que é irrealista, rica em contradi-
ções e ambigüidades, economicamente
desequilibrada e anacrônica, excessiva em
matérias e detalhamentos, mas repleta de
lacunas. Que provocou o maior desastre
fiscal da história brasileira, induzindo a
disparada do déficit público, da dívida
interna e da carga tributária.
Afirmam que as imperfeições
sufocaram o Congresso. Citam o advento
de 56 emendas, 69 leis complementares,
além de milhares de propostas de emenda
rejeitadas ou em tramitação.
Também exuberante demanda
de interpretações ao STF e implacável
bombardeio de medidas provisórias.
Aspas para Sarney: "Logo, logo se viu
que a Constituição Cidadã criava mais direi-
tos que obrigações, mais despesas que fontes
de recursos. Um dos efeitos danosos foi a ne-
cessidade de emendá-la continuamente. A
cada emenda, o governo se torna refém da
parte menos nobredo Congresso."
Ela fez bem à nação? Politicamente,
sim. Completou a transição, é profundamente
democrática, assegurou o Estado de Direito.
Tem muitas virtudes. A mais abrangente de
todas, trouxe avanços notáveis em campos
como o dos direitos e das garantias individuais,
liberdades públicas, meio ambiente,
fortalecimento do Ministério Público, regras
de administração pública, planejamento e
Orçamento, nas cláusulas pétreas.
Seu coração, feito de democracia, de
cidadania e de esperança, não perdeu a iden-
tidade.
(Ronaldo Costa Couto. Folha de São Paulo,
7 de outubro de 2008.)
18. (FGV – Adaptada) ## "Que provocou o
maior desastre fiscal da história bra-sileira,
induzindo a disparada do déficit público, da
dívida interna e da carga tributária."
No trecho acima, em relação às ocorrências
de complemento nominal, é correto afirmar
que há:
a) três.
b) quatro.
c) duas.
d) uma.
e) zero.
Resposta: E
Comentário: As expressões “da história
brasileira”, “do déficit público”, “da dívida
inter-na” e “da carga tributária” são
classificados como adjuntos adnominais dos
termos com os quais se relacionam.
58
LÍNGUA PORTUGUESA
19. (FGV – Adaptada) ## No texto, meu,
mermão e véi funcionam como:
a) apostos.
b) vocativos.
c) sujeitos.
d) predicativos.
e) adjuntos adnominais.
Comentário: Como os elementos em questão
indicam interpelação ao interlocutor, devem
ser classificados como vocativos.
-------------------------- ------------------------
Terra, território e diversidade cultural
O voto do ministro Carlos Ayres Britto
sobre a reserva Raposa/Serra do Sol evidencia
a oportunidade de deixarmos para trás os
resquícios de uma mentalidade colonial e
termos um avanço histórico, rumo a uma
política contemporânea que contemple o
diálogo produtivo entre as diversas etnias e
culturas que compõem um país de dimensões
continentais como o Brasil. O voto deixa
claro, ainda, que o respeito ao espírito e à
letra da Consti-tuição de 1988 é o caminho.
O relator trouxe à luz o direito
inalienável e imprescritível dos índios de viver
nas terras que tradicionalmente ocupam
e de acordo com suas próprias culturas.
Trouxe, também, o valor de sua contribuição
na formação da nacionalidade brasileira.
O ministro mostrou que a afirmação
das culturas dos primeiros enriquece a
vida de todos nós. Basta lembrar o quanto
sua relação positiva com a natureza tem
ajudado na existência da floresta e da
megadiversidade brasileira como um
todo. Quem convive com eles sabe que os
indígenas cooperam com as Forças Armadas
para proteger a floresta de usos ilegais e
ajudam no monitoramento das fronteiras.
Dois pontos, entre vários outros
relevantes abordados pelo voto do ministro,
merecem destaque por suas implicações
para a cultura brasileira. Em primeiro lugar,
a distinção entre terra e território, que
expressa a maneira sofisticada e inovadora
por meio da qual a Constituição de 1988
solucionou juridicamente a relação entre as
sociedades indígenas e o ambiente em que
vivem.
É sabido que a terra não pertence
aos índios; antes, são eles que pertencem
à terra. Por isso mesmo, a Carta Magna,
reconhecendo a anterioridade dessa relação
ao regime de propriedade, concedeu-lhes o
usufruto das terras que ocupam, atribuiu o
pertencimento delas à União e conferiu ao
Estado o dever de zelar pela sua integridade.
A Constituição de 1988 selou a convivência
harmoniosa entre duas culturas, uma que
reconhece e outra que não reconhece a
apropriação da terra pelos homens.
O segundo ponto refere-se à relação
entre terra e cultura, que concerne
à continuidade do território ou sua
fragmentação em ilhas. Quem conhece
a questão indígena no Brasil sabe que o
rompimento da integridade territorial
implica a morte do modo de vida e, portanto,
da cultura e do modo de ser do índio.
Se, em séculos passados, acreditou-
se que os índios eram um arcaísmo, não
é mais possível nem tolerável sustentar
59
LÍNGUA PORTUGUESA
tal ponto de vista no século 21. Não só
porque no mundo todo cresce a convicção
da importância dos povos tradicionais para
o futuro da humanidade, precisamente em
virtude de sua relação específica com a terra e
a natureza, mas também porque a sociedade
do conhecimento, acelerada construção, não
pode prescindir da diversidade cultural para
seu próprio desenvolvimento.
Na era da globalização, da
cibernetização dos conhecimentos, das
informações e dos saberes, não faz mais
sentido opor o tradicional ao moderno, como
se este último fosse melhor e mais avançado
que o primeiro. Com efeito, proliferam na
cultura contemporânea, de modo cada vez
mais intenso, os exemplos de processos,
procedimentos e produtos que recombinam
o moderno e o tradicional em novas
configurações.
Se a China e a Índia hoje surgem no
cenário internacional de modo surpreendente,
é porque sabem articular inovadoramente
a cultura ocidental moderna com seus
antiqüíssi-mos modos de pensar e agir,
demonstrando que o desenvolvimento não
se dá mais em termos lineares e que o futuro
não se desenha desprezando e recalcando o
passado.
Por isso, o Brasil - cuja singularidade
se caracteriza tanto por sua megadiversidade
biológica quanto por sua grande
sociodiversidade e rica diversidade cultural
-, precisa urgentemente reavaliar esse
patrimônio. Temos trabalhado com os
povos indígenas no Ministério da Cultura e
promovido a diversidade cultural como valor
e expressão de uma democracia mais plena,
em que cenas como a defesa da advogada
indígena Joênia Batista de Carvalho Wapichna
se tornem mais que exceções históricas.
A soberania não se constrói com
fantasmas nem paranóias, mas com a
atualização de nossas forças e nossos
potenciais. O ministro Ayres Britto tem razão
ao sublinhar que não precisamos de outro
instrumento jurídico além da Constituição de
1988.
(Juca Ferreira e Sérgio Mamberti. Folha de
São Paulo, 9 de setembro de 2008)
20. (FGV – Adaptada) ## Assinale a
alternativa em que o termo ou a oração não
exerça função sintática idêntica à de Quem
convive com eles.
a) que a terra não pertence aos índios.
b) sustentar tal ponto de vista no século 21.
c) a convicção da importância dos povos
tradicionais para o futuro da humanidade.
d) que os índios eram um arcaísmo.
e) rompimento da integridade territorial.
Resposta: D
Comentário: A função a oração destacada
no comando da questão é a de sujeito. A
única sentença que não desempenha essa
função é a da letra “d”, que desempenha a
função de objeto do verbo “acreditar” (que
está com o sujeito indeterminado).
-------------------------- ------------------------
Terra, território e diversidade cultural
O voto do ministro Carlos Ayres Britto
sobre a reserva Raposa/Serra do Sol eviden-
cia a oportunidade de deixarmos para trás
os resquícios de uma mentalidade colonial
e termos um avanço histórico, rumo a uma
política contemporânea que contemple o
diálogo produtivo entre as diversas etnias e
culturas que compõem um país de dimensões
continen-tais como o Brasil. O voto deixa
claro, ainda, que o respeito ao espírito e à
letra da Constituição de 1988 é o caminho.
O relator trouxe à luz o direito
inalienável e imprescritível dos índios de viver
nas terras que tradicionalmente ocupam e de
acordo com suas próprias culturas. Trouxe,
também, o valor de sua contribuição na
formação da nacionalidade brasileira.
60
LÍNGUA PORTUGUESA
O ministro mostrou que a afirmação
das culturas dos primeiros enriquece a vida
de todos nós. Basta lembrar o quanto sua
relação positiva com a natureza tem ajudado
na existência da floresta e da megadiversidade
brasileira como um todo. Quem convive com
eles sabe que os indígenas cooperam com as
Forças Armadas para proteger a floresta de
usos ilegais e ajudam no monitoramento das
fronteiras.
Dois pontos, entre vários outros
relevantes abordados pelo voto do ministro,
merecem destaque por suas implicações
para a cultura brasileira. Em primeirolugar, a
distinção entre terra e território, que expressa
a maneira sofisticada e inovadora por meio
da qual a Constituição de 1988 solucionou
juridicamente a relação entre as sociedades
indígenas e o ambiente em que vivem.
É sabido que a terra não pertence
aos índios; antes, são eles que pertencem
à terra. Por isso mesmo, a Carta Magna,
reconhecendo a anterioridade dessa relação
ao regime de propriedade, concedeu-lhes o
usufruto das terras que ocupam, atribuiu o
pertencimento delas à União e conferiu ao
Estado o dever de zelar pela sua integridade.
A Constituição de 1988 selou a convivência
harmoniosa entre duas culturas, uma que
reconhece e outra que não reconhece a
apropriação da terra pelos homens.
O segundo ponto refere-se à relação
entre terra e cultura, que concerne à continui-
dade do território ou sua fragmentação em
ilhas. Quem conhece a questão indígena no
Brasil sabe que o rompimento da integridade
territorial implica a morte do modo de vida
e, portanto, da cultura e do modo de ser do
índio.
Se, em séculos passados, acreditou-se
que os índios eram um arcaísmo, não é mais
possível nem tolerável sustentar tal ponto de
vista no século 21. Não só porque no mundo
todo cresce a convicção da importância
dos povos tradicionais para o futuro da
humanidade, precisamente em virtude
de sua relação específica com a terra e a
natureza, mas também porque a sociedade
do conhecimento, acelerada construção, não
pode prescindir da diversidade cultural para
seu próprio desenvolvimento.
Na era da globalização, da
cibernetização dos conhecimentos, das
informações e dos saberes, não faz mais
sentido opor o tradicional ao moderno, como
se este último fosse melhor e mais avançado
que o primeiro. Com efeito, proliferam na
cultura contemporânea, de modo cada vez
mais intenso, os exemplos de processos,
procedimentos e produtos que recombinam
o moderno e o tradicional em novas
configurações.
Se a China e a Índia hoje surgem no
cenário internacional de modo surpreendente,
é porque sabem articular inovadoramente
a cultura ocidental moderna com seus
antiqüíssimos modos de pensar e agir,
demonstrando que o desenvolvimento não
se dá mais em termos lineares e que o futuro
não se desenha desprezando e recalcando o
passado.
Por isso, o Brasil - cuja singularidade
se caracteriza tanto por sua megadiversidade
biológica quanto por sua grande
sociodiversidade e rica diversidade cultural
-, precisa urgentemente reavaliar esse
patrimônio. Temos trabalhado com os
povos indígenas no Ministério da Cultura e
promovido a diversidade cultural como valor
e expressão de uma democracia mais plena,
em que cenas como a defesa da advogada
indígena Joênia Batista de Carvalho Wapichna
se tornem mais que exceções históricas.
A soberania não se constrói com
fantasmas nem paranóias, mas com a
atualização de nossas forças e nossos
potenciais. O ministro Ayres Britto tem razão
ao sublinhar que não precisamos de outro
instrumento jurídico além da Constituição de
1988.
(Juca Ferreira e Sérgio Mamberti. Folha de
São Paulo, 9 de setembro de 2008)
61
LÍNGUA PORTUGUESA
21. (FGV - Adaptada) ## No texto, à União
exerce a função sintática de:
a) adjunto adverbial.
b) objeto indireto.
c) adjunto adnominal.
d) complemento nominal.
e) agente da passiva.
Resposta: B
Comentário: O verbo ao qual se relaciona
esse termo é o verbo “atribuir”, que é
britransitivo, ou seja, possui duas naturezas
de complemento. Nesse caso, fica evidente
que se trata de um objeto indireto por duas
razões: a presença da preposição proveniente
do verbo e o fato de o objeto direto estar
evidente (o pertencimento delas).
-------------------------- ------------------------
Desafios do crescimento econômico
A crise do sistema financeiro
internacional, que ameaça lançar o mundo
numa profunda recessão, revela a importância
do papel do governo no funcionamento
da economia em diferentes dimensões,
sobretudo na promoção de uma melhor
operação dos mercados, da estabilidade e do
crescimento econômico.
Entretanto, após algumas décadas
de excessivo crescimento dos gastos
governamentais e da crise financeira
que se abateu sobre inúmeros governos,
particularmente em países da América
Latina, a eficiência da ação pública começou
a ser questionada.
Novamente vigoravam ideias de que
as economias deveriam ser liberalizadas da
ação governamental, de que, quanto menos
governo, melhor e de que o setor privado por
si só resolveria todos os problemas.
Na realidade, o que se notou foi uma
grande confusão. Em vez de defendermos
um governo eficiente, comprometido com o
crescimento econômico, acabamos por tentar
excluir o governo das funções econômicas,
esquecendo seu importante papel. Era muito
comum a ideia de que a privatização e a
liberalização dos mercados seriam condições
eficientes para que os países entrassem numa
rota de crescimento econômico.
Entretanto, a realidade mostrou que
essa bandeira não tem sustentação. A crise
fi-nanceira que estamos atravessando - e
não sabemos ainda suas reais conseqüências
sobre a economia mundial - realça um fato
inconteste: faltou a presença do governo,
mediante uma regulação mais ativa do
mercado financeiro.
Recente estudo promovido pela
Comissão para o Crescimento Econômico,
cujo objetivo primordial é entender o
fenômeno do desenvolvimento com base na
experiência mais exitosa dos países durante
as décadas de 1950 a 1980, transmite
informações relevantes para o entendimento
do momento que vivemos, ainda que seu
objetivo seja totalmente dis-tinto.
Em primeiro lugar, não estão em xeque
as inegáveis e insubstituíveis virtudes que
os mercados possuem quando funcionam
de maneira mais livre, sem interferências
externas, na alocação dos recursos.
Entretanto, não podemos esquecer
que as ações tomadas pelos diversos agentes
econômicos se baseiam em perspectivas
de retornos privados e, portanto, na ânsia
de obter tais retornos, mercados como o
financeiro podem gerar instabilidades. O
papel da regulação, tarefa que deve ser
executada por autoridades governamentais,
não pode ser esquecido.
Por outro lado, apesar da virtude
dos mercados, não se pode esquecer que
eles não são garantia para a promoção de
desenvolvimento econômico ou a melhor
distribuição de renda.
O relatório da comissão enfatiza o papel
do governo no processo de desenvolvimen-
62
LÍNGUA PORTUGUESA
to econômico, mostrando inicialmente
que o processo de desenvolvimento é um
fenômeno complexo e difícil de ser entendido.
"Não damos aos formuladores de políticas
públicas uma receita ou uma estratégia de
crescimento. Isso porque não existe uma
única receita a seguir."
Mais adiante, afirma: "Não conhecemos
as condições suficientes para o crescimen-to.
Podemos caracterizar as economias bem-
sucedidas do pós-guerra, mas não podemos
apontar com segurança os fatores que
selaram seu êxito nem os fatores sem os
quais elas poderiam ter sido exitosas."
Certamente essas frases devem nos
deixar algo perplexos, especialmente quando
ouvimos as certezas que dominam a maioria
dos analistas econômicos espalhados pelo
mundo, em especial quando tratam de
fornecer fórmulas prontas para o crescimento
dos países.
A comissão reconhece que a
dificuldade do entendimento sobre o
fenômeno do crescimento dificulta a ação
governamental na definição das estratégias
a serem seguidas. A recomendação dada é
a de que o governo "não deve ficar inerte,
por temor de malograr; os governos devem
testar diversos programas e devem ser
rápidos em aprender quando dão errado.
Se dão um passo errado, devem tentar um
plano diferente, e não submergir na ina-ção
ou recuar."
Outra recomendação dada pela
comissão se relaciona com a tentativa de
adoção de receitas prontas de outros países:
"Os planos de ação ruins de hoje em geral
são os bons planos de ontem, mas aplicados
por tempo demasiado."
Em suma, a comissão defende um
governo crível, comprometido como
crescimento e eficiente. Um governo forte,
capaz de realizar investimentos na área de
educação, saúde e infra-estrutura a fim de
elevar a rentabilidade dos investimentos
privados.
É com uma ação eficiente do governo e
do setor privado que certamente poderemos
promover o desenvolvimento dos países.
(Carlos Luque. Folha de São Paulo, 30 de
setembro de 2008.)
22. (FGV – Adaptada) ## Assinale a alternativa
em que o termo indicado, no texto, não
exerça função sintática de sujeito.
a) a presença do governo
b) os fatores
c) ideias
d) O papel da regulação
e) a ideia
Resposta: B
Comentário: O termo da letra “a” é sujeito
do verbo “faltar”; o termo da letra “b” é
objeto do verbo “apontar”; o termo da letra
“c” é sujeito do verbo “vigorar”; o ter-mo da
letra “d” é sujeito do verbo “esquecer”; e o
termo da letra “e” é sujeito do verbo “ser”.
-------------------------- ------------------------
Maldades contra Machado
Entre os terríveis efeitos da crise
econômica global está o de prejudicar as
festividades relativas ao centenário da morte
de Machado de Assis, ocorrido na segunda-
feira 29 de setembro, quando os mercados
desabaram no mundo inteiro.
Não é a primeira vez, nem a segunda,
que Machado de Assis se vê atropelado pelos
eventos da economia.
A primeira humilhação mais
fundamental teve a ver com o patrimônio
que deixou para seus herdeiros. Em julho de
1898, temendo por sua saúde, escreveu um
testamento, deixando para Carolina, sua
esposa, entre outros bens, 7.000 contos
em títulos da dívida pública do empréstimo
nacional de 1895. Esses títulos entraram
63
LÍNGUA PORTUGUESA
em moratória pouco antes da data desse
testamento.
Em 1906, com a morte de Carolina,
Machado escreveu um novo testamento,
declarando possuir não mais 7, mas 12
apólices do empréstimo de 1895, ou seja, as
sete originais mais títulos novos que recebeu
pelos juros e principal não pagos.
A moratória perdurou até 1910, quando
a nova herdeira, a menina Laura, filha de
sua sobrinha, começou a receber juros. Em
1914, uma nova moratória interrompe os pa-
gamentos até 1927, e novamente em 1931.
Depois de alguns pagamentos em 1934,
veio um "calote" completo em 1937. Nos 40
anos entre 1895 e 1935, menos de 18% do
empréstimo foi amortizado, e os juros foram
pagos apenas em 12 anos.
O Estado a que Machado serviu e
honrou ao longo de sua vida devastou-lhe
a herança, a pecuniária ao menos, com essa
sucessão de "calotes". E, a partir de 1943,
quando os pagamentos foram retomados,
a inflação funcionou como uma crueldade
superveniente, pois os títulos não tinham
correção monetária.
Como se não bastasse a desfeita, ou
para tentar uma compensação, em 1987,
resolvemos homenagear Machado de Assis
em uma cédula de mil cruzados. A cédula foi
colocada em circulação em 29 de setembro
de 1987, exatos 79 anos da morte do escritor,
e nesse dia valia pouco menos de US$ 20.
Em 16 de janeiro de 1989, em
conseqüência do Plano Verão e da mudança
do padrão monetário, Machado recebe um
vergonhoso carimbo triangular cortando-
lhe três zeros: a cédula agora correspondia a
um cruzado novo, que nascia valendo cerca
de US$ 1, conforme a cotação oficial. No
"paralelo" valia bem menos.
Em 31 de outubro de 1990, depois
de três anos de militância, a cédula com
Machado deixa de circular por valer menos
de um centavo de dólar.
Só se pode imaginar o que Machado
diria disso tudo.
(Gustavo Franco. Folha de São Paulo, 4 de
outubro de 2008.)
23. (FGV – Adaptada) ## "Em julho de
1898, temendo por sua saúde, escreveu um
testamento, deixando para Carolina, sua
esposa, entre outros bens, 7.000 contos
em títulos da dívida pública do empréstimo
nacional de 1895."
No período acima, a oração destacada tem
valor:
a) condicional.
b) concessivo.
c) causal.
d) consecutivo.
e) conformativo.
Resposta: C
Comentário: A sentença possui sentido de
causa em relação à sua oração principal.
Trata-se de uma oração subordinada
adverbial causal reduzida de gerúndio, a
qual po-deria ser desenvolvida da seguinte
maneira: já que temia por sua saúde.
-------------------------- ------------------------
Cidadania e Responsabilidade Social do
Contador como agente da conscientização
tributária das empresas e da sociedade
Entende-se que a arrecadação
incidente sobre os diversos setores produtivos
é necessária para a manutenção da máquina
governamental, para a sustentação do
Estado em suas atribuições sociais e para
aplicação na melhoria da qualidade de vida da
população. É imprescindível que a tributação
seja suportável e mais bem distribuída e
que contribuam com justiça e se beneficiem
dessa contribuição.
64
LÍNGUA PORTUGUESA
A conjuntura atual exige maior
qualificação em todas as áreas do
conhecimento; assim, a profissão contábil
deve despertar para a conscientização
tributária. Conceitos como parceria e
corresponsabilidade no sistema tributário
somente podem ser efetivados se a sociedade
como um todo estiver mais esclarecida e
comprometida. Apresentar alguns fatores
como a falta de conscientização tributária
e participação cidadã pode representar um
alerta, mas não é o suficiente.
Ao analisar o progresso da humanidade,
percebe-se que o desenvolvimento social
e econômico foi possível porque o homem
sistematizou formas de organização entre
os po-vos. A necessidade de organização fez
com que o Estado se tornasse o elemento
direcionador desse processo. E, como forma
de se autofinanciar, criou o tributo a fim
de possibilitar as condições mínimas de
sobrevivência para a sociedade civil. E, como
partícipe e ponto referencial de controle,
exatidão e confiança, surgiu o profissional
contábil.
O contador - aqui citado na forma
masculina sem querer suscitar questões de
gênero - não pode mais ser visto como o
profissional dos números, e sim um profissional
que agrega valor, espírito investigativo,
consciência crítica e sensibilidade ética. Se
a atual conjuntura exige maior qualificação
profissional, o conhecimento contábil deve
transcender o processo específico e visualizar
questões globais pertinentes ao novo mundo
do trabalho, que exige criatividade, perfil
de empreender e habilidade de aprender,
principalmente nas relações sociais.
Sendo assim, alguns conceitos tornam-
se essenciais para estabelecer a relação entre
Estado, sociedade, empresa e o contador. O
Estado tem por missão suprir as necessidades
básicas da população; assim, sua eficiência e
transparência tornam-se mister do processo.
Entre a sociedade, a empresa e o
Estado, está o profissional contábil, que, por
sua vez, é o elo entre Fisco e contribuinte.
É de fundamental importância que esse
profissional aprimore seu entendimento
tributário, percebendo sua necessidade.
Ratifica-se, assim, o conceito de que a
conscientização tributária pode representar
um ponto de partida para a formação cidadã
como uma das formas eficazes de atender às
demandas sociais, com maior controle sobre
a coisa pública.
É dever do Estado manter as
necessidades básicas da população; e,
para isso, são impostas obrigações. Os
contribuintes, porém, não possuem apenas
deveres, mas também plenos direitos.
Se o Fisco aqui referenciando-se o
estadual - é por demais significativo para o
funcionamento da máquina administrativa,
sua eficiência e transparência tornam-se
mister do processo. Nesse sentido, se a evasão
tributária é uma doença social, seu combate
ou tra-tamento não pode ficar restrito aos
seus agentes; é necessário o envolvimento
de toda a sociedade. Entretanto, interesses
diversos sempre deixaram a sociedade à
margem do proces-so, como se ela não
precisasse participar de forma efetiva das
decisões econômicas e, em contrapartida,
contribuir de forma direta e irrestrita para a
própria sustentação.
(...)
(Merlo, Roberto Aurélio; Pertuzatti,
Elizandra. Disponível em <www.rep.
educacaofiscal.com.br/material/fisco_
contador.pdf>. Com adaptações)
24. (FGV – Adaptada)## Ao analisar o
progresso da humanidade, percebe-se que
o desenvolvimento social e econômico foi
possível porque o homem sis-tematizou
formas de organização entre os povos.
A oração sublinhada no período acima tem
valor
a) causal.
b) concessivo.
65
LÍNGUA PORTUGUESA
c) comparativo.
s) temporal.
d) consecutivo.
Resposta: D
Comentário: Quando a banca inquire sobre
“valor” de uma oração, quer saber qual
seria sua classificação sintático-semântica.
Nesse caso, há uma oração subordinada
adverbial temporal reduzida de infinitivo, a
qual poderia ser desenvolvida da seguinte
maneira: Quando se analisa o progresso da
humanidade.
-------------------------- ------------------------
Cidadania e Responsabilidade Social do
Contador como agente da conscientização
tributária das empresas e da sociedade
Entende-se que a arrecadação
incidente sobre os diversos setores
produtivos é necessária para a manutenção
da máquina governamental, para a
sustentação do Estado em suas atribuições
sociais e para aplicação na melhoria
da qualidade de vida da população.(ª)
É imprescindível que a tributação seja
suportável (b) e mais bem distribuída e que
contribuam com justiça e se beneficiem
dessa contribuição.
A conjuntura atual exige maior
qualificação em todas as áreas do
conhecimento; assim, a profissão contábil
deve despertar para a conscientização
tributária. Conceitos como parceria e
corresponsabilidade no sistema tributário
somente podem ser efetivados se a sociedade
como um todo estiver mais esclarecida e
comprometida. Apresentar alguns fatores
como a falta de conscientização tributária
e participação cidadã pode representar um
alerta, mas não é o suficiente.
Ao analisar o progresso da humanidade,
percebe-se que o desenvolvimento social e
econômico foi possível porque o homem
sistematizou formas de organização entre
os povos. A necessidade de organização fez
com que o Estado se tornasse o elemento
direcionador desse processo. E, como forma
de se autofinanciar, criou o tributo a fim
de possibilitar as condições mínimas de
sobrevivência para a sociedade civil. E, como
partícipe e ponto referencial de controle,
exatidão e confiança, surgiu o profissional
contábil.
O contador - aqui citado na forma
masculina sem querer suscitar questões de
gênero - não pode mais ser visto como o
profissional dos números, e sim um profissional
que agrega valor, espírito investigativo,
consciência crítica e sensibilidade ética. Se
a atual conjuntura exige maior qualificação
profissional, o conhecimento contábil deve
transcender o processo específico e visualizar
questões globais pertinentes ao novo mundo
do trabalho, que exige criatividade, perfil
de empreender e habilidade de aprender,
principalmente nas relações sociais.
Sendo assim, alguns conceitos tornam-
se essenciais para estabelecer a relação entre
Estado, sociedade, empresa e o contador. O
Estado tem por missão suprir as necessidades
básicas da população; assim, sua eficiência e
transparência tornam-se mister do processo.
Entre a sociedade, a empresa e o
Estado, está o profissional contábil, que, por
sua vez, é o elo entre Fisco e contribuinte.
É de fundamental importância que esse
profissional aprimore seu entendimento
tributário(d), percebendo sua necessidade.
Ratifica-se, assim, o conceito de que a
conscientização tributária pode representar
um ponto de partida para a formação cidadã
como uma das formas eficazes de atender às
demandas sociais, com maior controle sobre
a coisa pública.
É dever do Estado manter as
necessidades básicas da população(c);
e, para isso, são impostas obrigações. Os
contribuintes, porém, não possuem apenas
deveres, mas também plenos direitos.
66
LÍNGUA PORTUGUESA
Se o Fisco - aqui referenciando-se o
estadual - é por demais significativo para o
funcionamento da máquina administrativa,
sua eficiência e transparência tornam-se
mister do processo. Nesse sentido, se a evasão
tributária é uma doença social, seu combate
ou tra-tamento não pode ficar restrito aos
seus agentes; é necessário o envolvimento
de toda a sociedade. Entretanto, interesses
diversos sempre deixaram a sociedade à
margem do proces-so, como se ela não
precisasse participar de forma efetiva das
decisões econômicas(e) e, em contrapartida,
contribuir de forma direta e irrestrita para a
própria sustentação.
(...)
(Merlo, Roberto Aurélio; Pertuzatti,
Elizandra. Disponível em <www.rep.
educacaofiscal.com.br/material/fisco_
contador.pdf>. Com adaptações)
25. (FGV – Adaptada) ## Assinale a
alternativa em que a oração desempenhe
função sintática DISTINTA da de que o
desenvolvimento social e econômico foi
possível .
a) que a arrecadação incidente sobre os
diversos setores produtivos é necessária para
a manutenção da máquina governamental,
para a sustentação do Estado em suas atri-
buições sociais e para aplicação na melhoria
da qualidade de vida da população
b) que a tributação seja suportável
c) manter as necessidades básicas da
população
d) que esse profissional aprimore seu
entendimento tributário
e) participar de forma efetiva das decisões
econômicas
Resposta: E
Comentário: À exceção da letra “e” todas as
orações do exercício são subordinadas subs-
tantivas subjetivas (com função de sujeito de
suas orações principais). A senten-ça da letra
“e” é uma oração subordinada substantiva
que funciona como complemento do verbo
“precisar”.
-------------------------- ------------------------
Os incentivos existem em três tipos de
sabores básicos: econômico, social e moral.
É muito comum que um único esquema de
incentivos inclua as três variedades. Tomemos
a campa-nha antitabagista dos últimos anos.
O acréscimo da "taxa do pecado" de $ 3 em
cada maço é um forte incentivo econômico
contra a compra de cigarros. A proibição
do fumo em res-taurantes e bares é um
poderoso incentivo social. E a afirmação do
governo americano de que os terroristas
angariam fundos com a venda de cigarros
no mercado negro atua como um incentivo
moral bastante estridente.
LEVITT, Steven D., DUBNER, Stephen J.
Freakonomics. O lado oculto e inesperado
de tudo que nos afeta. Tradução Regina
Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 23.
26. (FEPESE - Adaptada) ## No período
"É muito comum que um único esquema
de incentivos inclua as três variedades.", a
segunda oração, que está sublinhada, exerce
a função de:
a) sujeito da oração principal.
b) adjunto adnominal de "comum".
c) objeto direto da oração principal.
d) complemento nominal de "comum".
e) predicativo do sujeito da oração principal.
Resposta: A
Comentário: Analisando sintaticamente,
temos: “É” (verbo ser, de ligação), “muito”
(adjunto adverbial de intensidade), “comum”
(núcleo do predicativo do sujeito). A oração
subsequente desepenha função de sujeito
67
LÍNGUA PORTUGUESA
do verbo “ser”, pois – ao in-quirir sobre
aquilo que é muito comum – a resposta será:
que um único esque-ma de incentivos inclua
as três variedades.
A questão baseia-se na história em quadrinhos
de Hagar.
01. (VUNESP - Adaptada) ##A frase de Hagar,
no segundo quadrinho, deve-se iniciar com
a) Por quê sinto-me.
b) Por quê o sinto.
c) Porque me sinto.
d) Porquê sinto.
e) Por que me sinto.
Resposta: E
Comentário: como se trata de uma
sentença interrogativa, deve-se empregar
a locução adverbial interrogativa "Por que"
para iniciar o questionamento. Além disso,
convém lembrar que, de acordo com as
regras de próclise, o pronome "me" deve
ser empregado antes do verbo, em razão da
atração do termo adverbial.
-------------------------- ------------------------
Da solidão
Há muitas pessoas que sofrem do mal
da solidão. Basta que em redor delas se arme
o silêncio, que não se manifeste aos seus
olhos nenhuma presença humana, para que
delas se apodere imensa angústia: como se
o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça,
como se dos horizontes se levantasse o
anúncio do fim do mundo.
No entanto, haverána terra verdadeira
solidão? Tudo é vivo e tudo fala, em redor
de nós, embora com vida e voz que não são
humanas, mas que podemos aprender a
escutar, porque muitas vezes essa lingua-
gem secreta ajuda a esclarecer o nosso
próprio mistério.
Pintores e fotógrafos andam em volta
dos objetos à procura de ângulos, jogos de
luz, eloquência de formas, para revelarem
aquilo que lhes parece não o mais estático
dos seus aspectos, mas o mais comunicá-
vel, o mais rico de sugestões, o mais capaz
de transmitir aquilo que excede os limites
físicos desses objetos, constituindo, de certo
modo, seu espírito e sua alma.
Façamo-nos também desse modo
videntes: olhemos devagar para a cor
das paredes, o desenho das cadeiras, a
transparência das vidraças, os dóceis panos
tecidos sem maiores pretensões. Não
procuremos neles a beleza que arrebata
logo o olhar: muitas vezes seu aspecto –
como o das criaturas humanas – é inábil e
desajeitado. Amemos nessas humildes coisas
a carga de experiências que representam,
a repercussão, nelas sensível, de tanto
trabalho e história humana. Concentradas
em sua essência, só se revelam quando
nossos sentidos estão aptos para as desco-
brirem. Em silêncio, nos oferecerão sua
múltipla companhia, generosa e quase
invisível.
(Adaptado de Cecília Meireles, Escolha o
seu sonho)
Solidão? Muitos de nós tememos a solidão,
julgamos invencível a solidão, atribuímos
à solidão os mais terríveis contornos, mas
nunca estamos absolutamente sós no
mundo.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL E
EMPREGO DOS PRONOMES
68
LÍNGUA PORTUGUESA
02. (FCC - Adaptada) ##Evitam-se as viciosas
repetições da frase acima substituindo- se os
elementos sublinhados, na ordem dada, por:
a) lhe tememos - a julgamos invencível - a
atribuímos
b) tememo-la - julgamo-la invencível -
atribuímo-la
c) tememos a ela - lhe julgamos invencível
- lhe atribuímos
d) a tememos - julgamo-la invencível -
atribuímos-lhe
e) a tememos - julgamos invencível a ela -
lhe atribuímos
Resposta: D
Comentário: Como a questão envolve o
emprego dos pronomes oblíquos, no primeiro
caso, a colocação é facultativa (próclise ou
ênclise) em razão de haver sujeito expresso
- nós - próximo ao verbo; no segundo caso,
opta-se pela ênclise, pois não se pode
iniciar sentença em Língua Portuguesa
com pronome oblíquo átono; no terceiro
caso, a situação é semelhante à anterior:
início de sentença. Além disso, é necessário
observar as formas pronominais que foram
empregadas no texto - as duas primeiras
("a" e "la") são formas diretas, ou seja, são
empregadas em lugar de termos que não
estão preposicionados; a última forma "lhe"
é uma forma pronominal que é empregada
para substituir termos preposicionados.
-------------------------- ------------------------
Se nunca foi fácil traçar a linha divisória
entre arte erudita e arte popular, agora é
mais difícil levar a cabo essa tarefa ociosa.
Indiferente à palha seca da controvérsia, a
arte segue o seu caminho. A vertente é uma
só e é nela que se dá o encontro das águas.
Pouco importam as fontes de onde procedem.
Purificadoras e purificadas, seu caráter
lustral as universaliza. Caetano Veloso, por
exemplo. Quem ousaria classificá-lo?
Em princípio, a arte deveria permanecer
ao relento. Maldito, o poeta não era aceito.
Na escala de valores, popular, mais que um
adjetivo, era um estigma. Daí o escândalo do
sarau de d. Nair de Tefé. Primei-ra-dama, ela
própria artista, afrontou a conspícua Velha
República.
Em pleno palácio do Catete, ouviu-
se por sua iniciativa o "Cor-ta-jaca", de
Chiquinha Gonzaga. Delirante sucesso na
rua, a música era aplaudida em cena aberta
e assobiada em botequins. Viajou a Portugal
e lá arrebatou a plateia. Mas no Catete só
podia ser insânia.
A maturidade de Caetano Veloso
coincide com o amadurecimento cultural
que lhe proporciona o reconhecimento
nacional. Caducas as classificações, sua
arte aniquila toda e qualquer discriminação.
Exaltada aqui dentro, repercute lá fora. A
música lhe dá dimensão internacional. O
que ele é, porém, é universal. A poesia de
fato nunca esteve divorciada da expressão
popular. Manuel Bandeira tirava o chapéu,
respeitoso, para Si-nhô, Pixinguinha, Noel.
Dos poetas, foi dos mais musicais,
Manuel. E musicado. Arranhava o seu violão.
Saiu extasiado da casa em que ouviu João
Gilberto e sua recente batida bossa-novista.
Fui testemunha ocular e auditiva. Tudo
isso vem a propósito da fusão que Caetano
Veloso hoje encarna. Metabolizada, a grande
arte canta nesse legítimo poeta do Brasil.
(Adaptado de Otto Lara Resende. "Poeta do
encontro". Bom dia para nascer. São Paulo,
Cia. das Letras, 2011, p. 281-282)
03. (FCC - Adaptada) ##A substituição do
termo destacado por um pronome, com
as ne-cessárias alterações, foi efetuada de
modo correto em:
a) traçar a linha divisória = traçar-lhe
b) arrebatou a plateia = lhe arrebatou
c) levar a cabo essa tarefa ociosa = levá-la
a cabo
69
LÍNGUA PORTUGUESA
d) segue o seu caminho = segue-no
e) Arranhava o seu violão = lhe arranhava
Resposta: C
Comentário: na alternativa "a", o erro está
em empregar o termo "lhe", pois é uma
forma "indireta" ou seja, pressupõe que seu
referente (o termo que ele substitui) seja
preposicionado; na alternativa "b", o erro
é o mesmo; na alternativa "c", há correção
gramatical, visto que se trata da forma direta
(sem preposição) correta para a situação.
Além disso, a forma "la" foi empregada,
em vista de o verbo terminar em "r". Na
alternativa "d", o erro está na forma como se
empregou o pronome "o": não há razão para
colocar a letra "n", pois não há som nasal
na terminação do verbo; na alternativa "e",
o erro está no emprego da forma indireta
"lhe", quando o correto seria a forma direta
"o".
-------------------------- ------------------------
Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação
entre metas e riscos fiscais e o impacto dos
déficits públicos para as gerações futuras
É certo que o advento da Lei
Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000,
representou um avanço significativo nas
relações entre o Estado fiscal e o cidadão.
Mais que isso, ao enfatizar a necessidade
da accountability, atribuiu caráter de
essencialidade à gestão das finanças públicas
na conduta racional do Estado moderno,
reforçando a idéia de uma ética do interesse
público, voltada para o regramento fiscal
como meio para o melhor desempenho das
funções constitucionais do Estado.
(...)
Percebe-se que os dois temas [a
correlação entre metas e riscos fiscais e
o impacto dos déficits públicos sobre as
futuras gerações] se vinculam à função
prospectiva da noção de responsabilidade
fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente,
se adstringe a situações futuras próximas,
o segundo vincula-se a situações futuras a
longo prazo.
Portanto, além de a responsabilidade
fiscal cumprir o papel de proporcionar
recursos de imediato a fim de que o Estado
realize as funções a que constitucionalmente
está vinculado, busca controlar a situação
orçamentária a fim de não comprometer
nem o futuro imediato, muito menos o futuro
mais distante.
(...)
O estudo das relações entre déficits
fiscais e seus efeitos nas gerações futuras,
ao menos na economia, não é novo.
Economistas clássicos e contemporâneos -
dentre eles David Ricardo, Martin Feldstein,
James Buchanan e Keynes - trataram do
assunto sob perspectivas diferentes.
A reflexão jurídica sobre o assunto,
contudo, não se tem mos-trado tão farta
quanto aquela encontrada na economia.
Isso se deve, talvez, à associação feita ao
tema dos efeitos na utilização de recursos
entre gerações especificamente no campo
ambiental - fortalecida, principalmente,
após a década de 70, quando o movimento
ambientalista passou a formular um discurso
jurídico mais sólido, angariando adeptos das
mais variadas formações, em diversas partes
do planeta.
Não pode, no entanto, a noção jurídica
de efeitos entre gerações se restringir à
temática ambientalista.Obviamente, ela
possui contornos bem definidos naquela área,
uma vez que a própria ética ambientalista
se funda na distribuição de recursos entre
gerações, alicerce para a sobrevivência da
própria humanidade.
Mas a alocação de recursos públicos
através do equilíbrio orçamentário
também se mostra indispensável para que
as gerações futuras não sejam privadas
de políticas públicas propostas para
serem minimamente efetivas, por falta de
disponibilização orçamentária suficiente.
70
LÍNGUA PORTUGUESA
Isso leva a crer que um dos objetivos da
idéia de responsabilidade fiscal é preservar
a capacidade de financiamento de políticas
públicas para as futuras gerações.
Do mesmo modo que a ética
ambientalista tem enfatizado que os
recursos ambientais não são inesgotáveis,
colocando-se a possibilidade de as gerações
presentes virem a exauri-los, privando as
futuras gerações da própria existência, não
é menos razoável pensar que os recursos
públicos, também exauríveis, podem vir a
comprometer o desenvolvimento humano
e a existência de grupos menos favorecidos,
carentes da ação estatal que vise a minorar
as desigualdades.
Percebe-se que os gastos públicos
normalmente beneficiam muito mais as
gerações atuais que as gerações futuras.
Entre outros fatores, isso se deve ao fato de
que as decisões políticas tendem a visualizar
um período estreito de tempo a fim de se
concretizarem. Natural - mas não ideal - que
assim seja. Tomadores de decisões políticas
frequentemente ficam adstritos ao período
de seus mandatos, uma vez que percebem
que os efeitos de suas decisões são sentidos
mais a curto que a longo prazo. Acrescente-
se a isso o fato de que muitos eleitores
ignoram completamente a complexidade
das decisões, não percebendo ou relevando
o limitado escopo de tais decisões, não se
prolongando no tempo e beneficiando,
primordialmente, as gerações atuais.
Pode-se argumentar, a contrário, com
três situações. A primeira delas é de que
não se pode estabelecer uma relação tão
rígida no sentido de que déficits públicos
terão o efeito prolongado a ser sentido pelas
gerações futuras. Um exemplo disso seria o
famoso "erro de Malthus". Ao afirmar que a
produção de alimentos cresce em progressão
aritmética, enquanto o aumento da
população se dá em progressão geométrica,
Malthus não levou em consideração a
evolução tecnológica como transformadora
da capacidade de produção de alimentos,
pressupondo mesmo uma sociedade
estanque.
Nesse sentido, seria possível afirmar
que poderiam surgir novas formas de
alocação de recursos que eliminariam os
déficits, não necessariamente impondo ônus
adicionais às gerações futuras.
Esse raciocínio baseia-se, contudo,
numa falsa comparação. Primeiramente,
porque a alocação de novos recursos nada
tem a ver, em princípio, com o impacto
tecnológico. O avanço deste não acarreta
necessariamente impacto positivo daquela.
Um segundo fator diz respeito ao
argumento de que a existência de déficits
públicos pode promover o desenvolvimento
nacional, o que a experiência brasileira não
parece confirmar.
O terceiro argumento contra a ideia
de que déficits imporiam ônus às gerações
futuras é o de que não se sabe qual será
a postura das futuras gerações quanto
aos bens materiais. Uma vez que uma
postura antimaterialista, já existente na
contemporaneidade, pode se disseminar
para uma grande parte da população dentro
de um Estado, pode-se facilmente defender
que futuras gerações se preocuparão pouco
com a alocação de recursos públicos e sua
utilização através de políticas públicas,
importando-se mais com, v.g., valores
espirituais, em detrimento dos valores
materiais.
A fraqueza dessa tese está no fato
de ser ela, meramente, uma suposição.
Destarte, não há nenhum dado seguro
para afirmar que determinadas gerações
futuras serão antimaterialistas ou que
se importarão pouco com alocação de
recursos destinados à promoção de políticas
públicas. Esquecer-se das gerações futuras,
tendo em vista a possibilidade de estas se
tornarem antimaterialistas, é um exercício
de mera futurologia, exercício irresponsável,
71
LÍNGUA PORTUGUESA
instituidor de compromissos que poderão ou
não ser honrados pelas gerações futuras.
Portanto, a necessidade de as gerações
atuais preservarem recursos para as gerações
futuras também se dá no que tange aos
recursos públicos. A Lei de Responsabilidade
Fiscal, ao impor o regramento das contas
públicas, racionalizando-as, compromete-
se com esse objetivo, ao propugnar que o
controle orçamentário repercutirá a curto
prazo - incidindo sobre as gerações atuais -
e a longo prazo - resguardando a viabilidade
fiscal do Estado para as gerações futuras.
(...)
A função da responsabilidade fiscal,
como já dito, é de mero meio. É o conceito
instrumento essencial para a atuação do
Estado moderno. Não mais se concebe
uma atuação estatal efetiva sem uma apu-
rada reflexão sobre os gastos públicos, seus
limites e sua aplicação.
As alternativas atuais para a construção
de uma economia sólida e menos suscetível
passam necessariamente pelo controle de
gastos públicos. Alguns países desenvolvidos,
tendo em vista essa perspectiva, buscaram
limitar gastos e muitas vezes editaram leis
para esse fim. É impossível, na atualidade,
visualizar qualquer Estado que se proponha
ao desenvolvimento sem um minucioso
projeto de controle de gastos públicos.
Imprescindível é, pois, que toda a
reflexão sobre a necessidade de um conceito
de responsabilidade fiscal não seja perdida
da vista dos administradores públicos, assim
como dos cidadãos. Somente assim, com a
atuação de todos os atores sociais, poder-
se-á buscar o controle de gastos públicos,
visando a fomentar um crescimento
econômico sustentado e garantidor,
principalmente, dos direitos e garantias
fundamentais dispostos na Constituição
Federal de 1988.
(Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações.
Disponível em: <http://www.mt.tr f1.gov.br/
judice/jud7/impacto.htm>)
04. (FGV - Adaptada) ## Em "exauri-los" e
"poder-se-á", construiu-se corretamente a
junção do pronome à forma verbal. Assinale
a alternativa em que isso não ocorreu.
a) cancelaríamos + as = cancelá-las-íamos
b) permitireis + os = permiti-los-eis
c) fizestes + lhes = fizeste-lhes
d) encontraram + os = encontraram-nos
e) aprenderás.+ as = aprendê-las-ás
Resposta: C
Comentário: a retirada do "s" na alternativa
"c" modifica a pessoa em que foi conjugado
o verbo da segunda do plural (vós) para a
segunda do singular (tu).
-------------------------- ------------------------
Para que a intervenção governamental se
justifique é preciso, primeiro, que se prove
a existência de uma distorção que faça com
que o mercado não aloque eficientemente
os recursos. Segundo, que se pondere as
alternativas para corrigir aquela distorção
à luz de seus custos e benefícios. Pode-se
concluir pela adoção de medidas corretivas,
e de que tipo devem ser, somente após
esta análise. Dada a realidade brasileira, é
provável que essas tendam a ser muito mais
relativas à natureza da política econômica
do que da política industrial. Esta última
ainda precisa ser muito melhor embasada.
(Adaptado de Cláudio Haddad)
05. (ESAF - Adaptada) ## Quanto à norma
culta, em relação aos termos grifados,
assinale a opção correta.
a) Todas as ocorrências de "se" admitem
mudança de colocação.
b) Em "se justifique", a próclise do "se" está
em desacordo com a norma culta.
c) Em "se prove", a norma culta admite a
ênclise do "se".
72
LÍNGUA PORTUGUESA
d) Em "se pondere", a próclise do "se" é
facultativa.
e) Em "Pode-se", a ênclise do "se" justifica-
se por ser início de oração.
Resposta: E
Comentário: a alternativa "a" está incorreta,
porque apenas o primeiro item possui
colocação facultativa, em vista de haver
sujeito expresso próximo ao verbo. Nas
demais ocorrências, identifica-se próclise
obrigatória (por atração da conjunção
subordinativa integrante "que") e êncliseobrigatória (para o caso de início de sentença
- no último elemento). O motivo da ênclise
pelo início de sentença é o que garante a
alternativa "e" como resposta correta.
-------------------------- ------------------------
Na verdade, o que hoje definimos como
democracia só foi possível em sociedades de
tipo capitalista, mas não necessariamente de
mercado. De modo geral, a democratização
das sociedades impõe limites ao mercado,
assim como desigualdades sociais em geral
não contribuem para a fixação de uma
tradição democrática. Penso que temos de
refletir um pouco a respeito do que significa
democracia. Para mim, não se trata de um
regime com características fixas, mas de um
processo que, apesar de constituir formas
institucionais, não se esgota nelas. É tempo
de voltar ao filósofo Espinosa e imaginar a
democracia como uma potencialidade do
social, que, se de um lado exige a criação
de formas e de configurações legais e
institucionais, por outro não permite parar.
A democratização no século XX não se
limitou à extensão de direitos políticos e
civis. O tema da igualdade atravessou, com
maior ou menor força, as chamadas socieda-
des ocidentais.
Renato Lessa. Democracia em debate. In:
Revista Cult, n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57
(com adaptações).
06. (CESPE - Adaptada) ## Pela acepção
usada no texto, o emprego da forma verbal
pronominal "se limitou" exige a presença
da preposição a no complemento verbal;
a substituição pela forma não-pronominal
- não limitou a extensão -, sem uso
da preposição, preservaria a correção
gramatical, mas mudaria o efeito da ideia de
"demo-cratização".
Resposta: Certo
Comentário: O fato de deixar de empregar
o pronome gera uma mudança de sentido.
Em não se limitou a, há uma ideia reflexiva,
o que não ocorre com a forma "não limitou
a", que apresenta uma ação sobre o termo "a
extensão", que passaria à função de objeto
direto do verbo limitar.
-------------------------- ------------------------
A visão do sujeito indivíduo - indivisível
- pressupõe um caráter singular, único,
racional e pensante em cada um de nós.
Mas não há como pensar que existimos
previamente a nossas relações sociais: nós
nos fazemos em teias e tensões relacionais
que conformarão nossas capacidades, de
acordo com a sociedade em que vivemos.
A sociologia trabalha com a concepção
dessa relação entre o que é "meu" e o que
é "nosso". A pergunta que propõe é: como
nos fazemos e nos refazemos em nossas
relações com as instituições e nas relações
que estabelecemos com os outros? Não
há, assim, uma visão de homem como
uma unidade fechada em si mesma, como
Homo clausus. Estaríamos envolvidos,
constante-mente, em tramas complexas de
internalização do "exterior" e, também, de
rejeição ou negociação próprias e singulares
do "exterior". As experiências que o homem
vai adquirindo na relação com os outros são
as que determinarão as suas aptidões, os
seus gostos, as suas formas de agir.
Flávia Schilling. Perspectivas sociológicas.
Educação & psicologia. In: Revista Educação,
vol. 1, p. 47 (com adaptações).
73
LÍNGUA PORTUGUESA
07. (CESPE – Adaptada) ## Na linha 2, para
se evitar a sequência "nós nos", o pronome
átono poderia ser colocado depois da forma
verbal "fazemos", sem que a correção
gramatical do trecho fosse prejudicada,
prescindindo-se de outras alterações
gráficas.
Resposta: Errado
Comentário: Caso se procedesse tal
modificação, haveria uma problema de
correção gramatical. Como a forma verbal
terminou com a letra "s", e haverá ênclise do
pronome átono, é preciso retirar a letra em
questão, o que resultaria a forma "fazemo-
nos".
08. (FCC – Adaptada) ##O único segmento
grifado que NÃO está empregado em confor-
midade com o padrão culto escrito é:
a) Não é muito agradável estar com aqueles
meus primos, porque eles falam ininter-
ruptamente de si.
b) Esse é o tipo de questão que você terá de
resolver com nós mesmos.
c) A fim de não encontrá-lo no consultório,
deixei para ir no dia seguinte.
d) Ele preencheu o formulário de modo
inadequado, é onde o coordenador chamou
sua atenção.
e) Cabelos cacheados e sedosos moldam-
lhe o rosto afilado e claro.
Resposta: D
Comentário: Na alternativa "a", o pronome
foi corretamente empregado, pois sucede
uma preposição essencial. Na alternativa
"b", a forma oblíqua está correta, pois
está sucedida da palavra "mesmos". Na
alternativa "c", o verbo está no infinitivo e
está antecedido da palavra "não", o que
justifica a colocação pronominal facultativa.
Na alternativa "d", houve incorreção do
emprego do pronome, em vista de o termo
"onde" só poder ser empregado para fazer
menção a lugar e, na sentença em questão,
faz referência ao modo como foi preenchido
o formulário. Na alternativa "e", o pronome
"átono" serve de adjunto adnominal do
substantivo "rosto", a forma "lhe" foi
corretamente empregada, por se tratar de
uma forma indireta, o correspondente a
"dele" ou "dela".
-------------------------- ------------------------
Rousseau defendia que o que, de fato,
distingue os animais do ser humano é algo
que ele denominou perfectibilidade. O
nome é um neologismo um tanto inusitado,
mas seu significado é por ele esclarecido:
a perfectibilidade é a capacidade que o
homem tem de aperfeiçoar-se. Atualizando
um pouco a distinção, poder-se-ia dizer
que é como se os animais viessem com
um software instalado, de fábrica, o qual
os condiciona e limita durante toda a
existência. Já os humanos seriam, nesse
sentido, ilimitados, porque são seres que se
aperfeiçoam, desenvolvem cultura, fazem
história. Enquanto um pombo morreria de
fome diante de um pedaço de carne, ou um
felino, frente a um punhado de grãos, pois
são programados por natureza a alimentar-
se diversamente, o homem é um ser que
supera determinações naturais. Não sendo
condicionado por natureza, o homem é capaz
de vivenciar novas experiências, de inventar
ar-tefatos que lhe possibilitem, por exemplo,
voar ou explorar o mundo subaquático,
quando não foi dotado por natureza para
voar e permanecer sob a água. Diante disso,
Rousseau defende que o homem é o único
animal a possuir liberdade, porque ele pode
fazer escolhas que vão contra seus instintos
ou determinações naturais.
Lília Pinheiro. Homem, o ser tecnológico.
In: Filosofia, Ciência&Vida. Ano III, n.º 27, p.
27-8 (com adaptações).
74
LÍNGUA PORTUGUESA
09. (CESPE – Adaptada) ## A substituição
de "poder-se-ia dizer" pela forma menos for-
mal poderia se dizer preservaria a correção
gramatical do texto, desde que fosse
respeitada a obrigatoriedade de não se usar
hífen, para se reconhecer que o pronome se
está antes do verbo dizer, e não depois do
verbo poderia.
Resposta: Certo
Comentário: A regra em questão está
relacionada ao fenômeno de próclise para
com o verbo "dizer", ou seja, há duas regras
envolvidas nesse processo: como se trata de
uma locução verbal em que o verbo princi-
pal (poderia) está conjugado no futuro do
pretérito do indicativo, a indicação inicial é
a de que haja uma mesóclise. Como o verbo
dizer está empregado no infinitivo e compõe
a locução como verbo principal, é aceitável
uma próclise também. Cabe ressaltar ainda
que a questão faz referência a um hífen
que não poderia ser empregado. De fato,
não se pode empregar tal recurso, pois
formaria uma ênclise em relação ao verbo
auxiliar, o que não seria possível em razão
da conjugação do verbo.
-------------------------- ------------------------
No Brasil, a tradição política no
tocante à representação gira em torno de
três ideias fundamentais. A primeira é a do
mandato livre e independente, isto é, os
representantes, ao serem eleitos, não têm
nenhuma obrigação, necessariamente, para
com as reivindicações e os interesses de seus
eleitores. O representante deve exercer seu
papel com base no exercício autônomo de
sua atividade, na medida em que é ele quem
tem a capacidade de discernimento para
deliberarsobre os verdadeiros interesses
dos seus constituintes. A segunda ideia é a
de que os representantes devem exprimir
interesses gerais, e não interesses locais ou
regionais. Os interesses nacionais seriam os
únicos e legítimos a serem representados.
A terceira ideia refere-se ao princípio de
que o sistema democrático representati-
vo deve basear-se no governo da maioria.
Praticamente todas as leis eleitorais que
vigoraram no Brasil buscaram a formação de
maiorias compactas que pudessem governar.
Gilberto Bercovici. A origem do sistema
eleitoral proporcional no Brasil. In:
Estudos Eleitorais, TSE, vol. 5, n.º 2, 2010,
p. 53. Internet: <www.tse.gov.br> (com
adaptações) .
10. (CESPE- Adaptada) ## Em "deve basear-
se", a colocação do pronome "se" antes da
forma verbal "deve" atenderia à prescrição
gramatical.
Resposta: Certo
Comentário: Na sentença, há uma locução
verbal cujo sujeito está expresso. Isso
permite uma série de posições para o
pronome oblíquo átono, inclusive a próclise
em relação ao verbo auxiliar, o que resultaria
em "se deve basear".
-------------------------- ------------------------
Um cenário polêmico é embasado
no desencadeamento de um estrondo-
so processo de exclusão, diretamente
proporcional ao avanço tecnológico, cuja
projeção futura indica que a automação
do trabalho exigirá cada vez menos
trabalhadores implicados tanto na produção
propriamente dita quanto no controle da
produção. Baseando-se unicamente nessa
perspectiva, pode-se supor que a sociedade
tecnológica seria caracterizada por um
contexto no qual o trabalho passaria a
ser uma necessidade exclusiva da classe
trabalhadora. O capital, podendo optar por
um investimento de porte em automação, em
informática e em tecnologia de ponta, cada
vez mais barata e acessível, não mais teria seu
funcionamento embasado exclusivamente
na exploração dos trabalhadores, cada vez
mais exigentes quanto ao valor de sua força
de trabalho. Embora não se possa falar de
75
LÍNGUA PORTUGUESA
supressão do trabalho assalariado, a verdade
é que a posição do trabalhador se enfraquece,
tendo em vista que o trabalho humano tende
a tornar-se cada vez menos necessário para o
funciona-mento do sistema produtivo.
Gilberto Lacerda Santos. Formação para
o trabalho e alfabetização informática. In:
Linhas Crí-ticas, v. 6, n.º 11, jul/dez, 2000
(com adaptações).
11. (CESPE – Adaptada) ## Mantém-
se a noção de voz passiva, assim como a
correção gramatical, ao se substituir "seria
caracterizada" por caracterizaria-se.
Resposta: Errado
Comentário: A noção de voz passiva seria
mantida, porém haveria um problema para a
correção gramatical: o verbo conjugado no
futuro do pretérito do indicativo exige que
o pronome átono seja empregado no caso
de mesóclise. Isso quer dizer que a forma
correta deveria ser "caracterizar-se-ia".
-------------------------- ------------------------
A recuperação econômica dos países
desenvolvidos começou perigosamente
a perder fôlego. A reação dos indicadores
de atividade na zona do euro, que já não
eram robustos ou mesmo convincentes,
é agora algo semelhante à paralisia. Os
Estados Unidos da América cresceram a
uma taxa superior a 3% em 12 meses,
mas a maioria dos analistas aposta que
a economia americana perderá força no
segundo semestre. O corte de 125 mil
empregos em junho indica que a esperança
de gradual retomada do crescimento do
mercado de trabalho no curto prazo era
prematura e não deverá se concretizar. As
razões para esse estancamento encontram-
se no comportamento do polo dinâmico da
economia mundial, os países emergentes,
cujo desenvolvimento econômico começou
a desacelerar − ainda que a partir de taxas
exuberantes de expansão.
Valor Econômico, Editorial, 6/7/2010 (com
adaptações).
12. (CESPE – Adaptada) ## O deslocamento
do pronome "se" para imediatamente após
a forma verbal "concretizar" − não deverá
concretizar-se − não prejudicaria a correção
gramatical do texto.
Resposta: Certo
Comentário: Não há prejuízo para a correção
gramatical, pois, no caso em questão, seria
formada a ênclise do pronome oblíquo
átono em relação a uma forma de infinitivo
impessoal, fato que respeita a regra de
colocação pronominal.
-------------------------- ------------------------
WikiLeaks contra o Império
A diplomacia americana levará
tempo para se recuperar da pancada que
levou da WikiLeaks. Tudo indica que 250
mil documentos secretos foram copiados
por um jovem soldado em um CD enquanto
fingia ouvir Lady Gaga. Um vexame para um
país que gasta US$ 75 bilhões anuais com
sistema de segurança que agrupa repartições
e emprega mais de 1 milhão de pessoas, das
quais 854 mil têm acesso a informações
sigilosas.
A WikiLeaks não obteve documentos
que circulam nas camadas mais secretas
da máquina, mas produziu aquilo que o
historiador e jornalista Timothy Garton
Ash considerou "sonho dos pesquisadores,
pesadelo para os diplomatas". As mensagens
mostram que mesmo coisas conhecidas têm
aspectos escandalosos.
A conexão corrupta e narcotraficante
do governo do Afeganistão já é antiga, mas
ninguém imaginaria que o presidente Karzai
chegasse a Washington com um assessor
carregando US$ 52 milhões na bagagem.
A falta de modos dos homens da Casa
de Windsor é proverbial, mas o príncipe
76
LÍNGUA PORTUGUESA
Edward dizendo bobagens para estranhos
no Quirguistão incomodou a embaixadora
americana.
O trabalho da WikiLeaks teve virtudes.
Expôs a dimensão do perigo representado
pelos estoques de urânio enriquecido nas
mãos de governos e governantes instáveis.
Se aos 68 anos o líbio Muammar Gaddafi faz-
se escoltar por uma "voluptuosa" ucraniana,
parabéns. O perigo está na quantidade de
material nuclear que ele guarda consigo.
Os telegramas relacionados com o Brasil
revelaram a boa qualidade dos relatórios
dos diplomatas americanos. O embaixador
Clifford Sobel narrou a inconfidência do
ministro Nelson Jobim a respeito de um
tumor na cabeça do presidente boliviano
Evo Morales. Seu papel era comunicar. O de
Jobim era não contar.
A vergonha americana pede que se
relembre o trabalho de 10 mil ingleses,
entre eles alguns dos maiores matemáticos
do século, que trabalharam em Bletchley
Park durante a Segunda Guerra, quebrando
os códigos alemães. O serviço dessa turma
influenciou a ocasião do desembarque na
Normandia e permitiu o êxito dos soviéticos
na batalha de Kursk.
Terminada a guerra, Winston
Churchill mandou apagar todos os vestígios
da operação, mantendo o episódio sob um
manto de segredo. Ele só foi quebrado,
oficialmente, nos anos 70. Com a palavra
Catherine Caughey, que tinha 20 anos
quando trabalhou em Bletchley Park: "Minha
grande tristeza foi ver que meu amado
marido morreu em 1975 sem saber o que eu
fiz durante a guerra". Alan Turing, um dos
matemáticos do parque, matou-se em 1954.
Mesmo condenado pela Justiça por conta de
sua ho-mossexualidade, nunca falou do caso.
(Ele comeu uma maçã envenena-da. Conta
a lenda que, em sua homenagem, esse é o
símbolo da Apple.)
(Elio Gaspari, WikiLeaks contra o Império.
Folha de S.Paulo. Adaptado)
13. (VUNESP – Adaptada) ## Assinale a
alternativa cujo emprego do pronome está
em conformidade com a norma padrão da
língua.
a) Não autorizam-nos a ler os comentários
sigilosos.
b) Nos falaram que a diplomacia americana
está abalada.
c) Ninguém o informou sobre o caso
WikiLeaks.
d) Conformado, se rendeu às punições.
e) Todos querem que combata-se a
corrupção.
Resposta: C
Comentário: Na alternativa "a", o erro está
em formar a ênclise pronominal em uma
sentença na qual há uma palavra negativa
(que é atrativa para o pronome oblíquo),
o correto seria "Não nos autorizam". Na
al-ternativa "b", o erro está em iniciar a
sentença com pronome oblíquo átono, o
que não se deve fazer, segundo as regras de
colocação pronominal. Na letra "c", não há
erro, pois o pronome oblíquo está próximo
à ao pronome indefinido, que é uma palavraatrativa. Na letra "d", há forma oblíqua (se)
está iniciando a sentença (note a vírgula que
a antecede). Na alternativa "e", o pronome
oblíquo deveria estar próximo à conjunção
subordinativa integrante "que".
-------------------------- ------------------------
O sêmen em busca de uma ética
O moço israelense está morto.
Todavia, ele ainda pode gerar uma vida. Seus
pais estão de posse de seu sêmen e querem
a autorização da justiça de Israel para terem
um neto. A Ciência permite, mas a lei não
endossa. A notícia está na Folha de S.Paulo
de 10.02.11.
( ... )
As leis de Israel, segundo uma boa
77
LÍNGUA PORTUGUESA
parte dos seus juízes, dizem que a in-
seminação não poderá ser efetuada.
Não há qualquer documento que o
morto tenha deixado escrito dizendo que
gostaria de ter um filho após sua morte e
com uma mulher escolhida pelos pais. Mas
os pais argumentam que, se o filho era um
doador de órgãos, por qual razão o que é
expelido por um órgão do seu corpo também
não poderia ser utilizado em favor da vida?
Com efeito, nem todos os juízes
pendem para o mesmo lado. Assim, eis que
os magistrados não poderão ficar somente
com o código nas mãos. ( ... )
O que os magistrados enfrentarão
será um problema típico de filosofia prática,
ou seja, de ética. Eles estarão enredados
na decisão sobre se o ethos* do povo, os
costumes e hábitos, pedem ou não para que
a lei mude.
*ethos: conjunto dos costumes e
hábitos fundamentais, no âmbito do
comportamento (instituições, afazeres etc.)
e da cultura (valores, ideias ou crenças),
característicos de uma determi-nada
coletividade, época ou região.
(Filosofia: Conhecimento Prático, n.o 29,
2011. Adaptado)
14. (VUNESP – Adaptada) ## Considere as
informações textuais e as versões da frase: A
Ciência permite, mas a lei não endossa.
I. A Ciência permite a inseminação, mas a
lei não a endossa.
II. A Ciência permite que seja feita a
inseminação, mas a lei não endossa-a.
III. A Ciência permite que se realize a
inseminação, mas a lei não lhe endossa.
De acordo com a norma padrão, está correto
apenas o contido em:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
Resposta: A
Comentário: A opção I está correta, porque
o advérbio "não" é uma palavra que atrai
o pronome oblíquo átono para perto de
si, ou seja, gera próclise. A opção II está
incorreta, pois o pronome foi empregado
encliticamente em um caso de próclise
obrigatória. A opção III está incorreta, porque
a forma pronominal foi mal empregada: o
complemento do verbo endossar deve ser
direto, e a forma empregada é uma forma
indireta (lhe).
-------------------------- ------------------------
Lição de bom senso
O Ministério da Educação (MEC)
contornou com habilidade e bom senso a
polêmica gerada em torno do veto, pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE), de
um livro do escritor Monteiro Lobato, sob o
pretexto de que contém expressões racistas.
A alternativa encontrada pelo ministro foi
a de acrescentar um esclarecimento de
que, em 1933, quando a obra foi publicada
pela primeira vez, o país tinha hábitos
diferentes e algumas expressões não eram
consideradas ofensivas, como ocorre hoje. É
importante que esse tipo de decisão sirva de
parâmetro para situações semelhantes, em
contraposição a tentações apressadas de
recorrer à censura.
O caso mais recente de tentativas de
restringir a livre circulação de ideias envolve
a obra Caçadas de Pedrinho, na qual a turma
do Sítio do Pica-Pau Amarelo sai em busca
de uma onça-pintada. Ocorre que, ao longo
de quase oito décadas de carreira do livro, o
Brasil não conseguiu se livrar de excessos na
vigilância do politicamente correto, nem de
intolerâncias como o racismo. Ainda assim,
já não convive hoje com hábitos como o
78
LÍNGUA PORTUGUESA
de caça a animais em extinção e avançou
nas políticas para a educação das relações
étnico-raciais.
Assim como em qualquer outra
manifestação artística, portanto, o livro
que esteve sob ameaça de censura precisa
ter seu conteúdo contextualizado. Se a
personagem Tia Nastácia chegou a ser
associada a estereótipos hoje vistos como
racistas, é importante que os educadores se
preocupem em deixar claro para os alunos
alguns aspectos que hoje chamam a atenção
apenas pelo fato de o país ter evoluído sob
o ponto de vista de costumes e de direitos
humanos.
No Brasil de hoje, não há mais espaço
para a impunidade em relação a atos como
o racismo. Isso não significa, porém, que seja
preciso revolver o passado, muito menos sem
levar em conta as circunstâncias da época.
(Editorial Zero Hora, 18/10/2010)
15. (FCC - Adaptada) ## O pronome se pode
se deslocar sintaticamente, sem provocar
erro gramatical, na afirmativa:
a) não conseguiu livrar-se, porque é próclise
ao verbo no infinitivo.
b) não se conseguiu livrar, porque é próclise
ao advérbio.
c) não se conseguiu livrar, porque é ênclise
ao auxiliar.
d) não conseguiu livrar se, porque é próclise
ao verbo principal.
e)não conseguiu livrar-se, porque é ênclise
ao verbo no infinitivo.
Resposta: E
-------------------------- ------------------------
Ensino que ensine
Jogar com as ambiguidades, cultivar
o improviso, juntar o que se pretende
irreconciliável e dividir o que se supõe
unitário, usar falta de método como método,
tratar enigmas como soluções e o inesperado
como caminho − são traços da cultura do
povo brasileiro. Estratégias de sobrevivên-
cia? Por que não também manancial de
grandes feitos, tanto na prática como no
pensamento? A orientação de nosso ensino
costuma ser o oposto dessa fecundidade
indisciplinada: dogmas confundidos
com idéias, informações sobrepostas a
capacitações, insistência em métodos
“corretos” e em respostas “certas”, ditadura
da falta de imaginação. Nega-se voz aos
talentos, difusos e frustrados, da nação. Essa
contradição nunca foi tema do nosso debate
nacional.
Entre nós, educação é assunto para
economistas e engenheiros, não para
educadores, como se o alvo fosse construir
escolas, não construir pessoas. Preconizo
revolução na orientação do ensino brasileiro.
Nada tem a ver com falta de rigor ou com
modismo pedagógico. E exige professorado
formado, equipado e remunerado para
cumprir essa tarefa libertadora.
Em matemática, por exemplo, em vez
de enfoque nas soluções únicas, atenção
para as formulações alternativas, as soluções
múltiplas ou inexistentes e a descoberta
de problemas, tão importante quanto o
encontro de soluções. Em leitura e escrita,
análise de textos com a preocupação de
aprofundar, não de suprimir possibilidades
de interpretação; defesa, crítica e revisão
de ideias; obrigação de escrever todos os
dias, formulando e reformulando sem fim.
Em ciência, o despertar para a dialética
entre explicações e experimentos e para os
mistérios da relação entre os nexos de causa
e efeito e sua representação matemática.
Em história, e em todas as disciplinas, as
transformações analisadas de pontos de
vista contrastantes.
Isso é educação. O resto é perda de
tempo. (...) Quem lutará para que a educação
no Brasil se eduque?
(Roberto Mangabeira Unger, Folha de S.
Paulo, 09/01/2007)
79
LÍNGUA PORTUGUESA
16. (FCC – Adaptada) ## Nosso sistema
de ensino tem falhas estruturais; para
revolucionar nosso sistema de ensino, seria
preciso despir nosso sistema de ensino dos
dogmas que norteiam nosso sistema de
ensino.
Evitam-se as viciosas repetições do trecho
acima substituindo-se os segmentos sub-
linhados, respectivamente, por
a) revolucioná-lo − despi-lo − o norteiam
b) o revolucionar − despi-lo − lhe norteiam
c) revolucionar-lhe − despir-lhe − o norteiam
d) revolucioná-lo − despir-lhe − norteiam-
no
e) o revolucionar − despir-lhe − o norteiam
Resposta: A
Comentário: Ao mencionar a ideia de
substituição, a questão aborda emprego dos
pronomes átonos e suas regras de colocação.
A forma verbal "revolucionar" está no
infinitivo impessoal e exige a colocação do
pro-nome na forma enclítica (após o verbo),considerando que termina em "r", é preciso
utilizar a forma "lo" - porque o referente está
no masculino. O mesmo ocorre com o verbo
despir, cuja forma correta será "despi-lo".
O verbo "despir" segue a mesma premissa,
a forma correta é "o norteiam", pois seu
antecedente é um pronome relativo, que
exerce atração do pronome oblíquo átono.
Vale também mencionar a razão de utilizar
apenas as formas diretas ("lo", "lo" e "o"):
os três verbos empregados são transitivos
diretos.
-------------------------- ------------------------
Compreende-se que a festa,
representando tal paroxismo de vida e
rom-pendo de um modo tão violento com
as pequenas preocupações da exis-tência
cotidiana, surja ao indivíduo como outro
mundo, em que ele se sente amparado e
transformado por forças que o ultrapassam.
A sua atividade diária, colheita, caça, pesca,
ou criação de gado, limita-se a preencher o
seu tempo e a prover as suas necessidades
imediatas. É certo que ele lhe dedica
atenção, paciência, habilidade, mas, mais
profunda-mente, vive na recordação de uma
festa e na expectativa de outra, pois a festa
figura para ele, para a sua memória e para o
seu desejo o tempo das emoções intensas e
da metamorfose do seu ser.
Roger Caillois. O homem e o sagrado. Lisboa:
Edições 70, 1988, p. 96-7 (com adaptações).
17. (CESPE – Adaptada) ## A correção
gramatical do texto seria mantida caso
o elemento “se” nas linhas 1 e 2 fosse
anteposto e posposto às respectivas formas
verbais — Se compreende e sente-se.
Resposta: Errado
Comentário: Haveria erro na primeira
forma, pois a anteposição do pronome
átono causaria erro gramatical. Isso se
justifica pelo fato de não ser possível iniciar
uma sentença em Língua Portuguesa com
pronome oblíquo átono. A segunda forma
não prejudicaria a correção gramatical,
pois se trata de sujeito expresso próximo ao
verbo, o que gera colocação facultativa.
-------------------------- ------------------------
Fundada por Ptolomeu Filadelfo,
no início do século III a.C., a biblioteca de
Alexandria representa uma epígrafe perfeita
para a discussão sobre a materialidade
da comunicação. As escavações para a
localização da biblioteca, sem dúvida um
dos maiores tesouros da Antiguidade,
atraíram inúmeras gerações de arqueólogos.
Inutilmente. Tratava-se então de uma
biblioteca imaginária, cujos livros talvez
nunca tivessem existido? Persistiam,
contudo, numerosas fontes clássicas que
descreviam o lugar em que se encontravam
centenas de milhares de rolos. E eis a
solução do enigma. O acervo da biblioteca de
80
LÍNGUA PORTUGUESA
Alexandria era composto por rolos e não por
livros — pressuposição por certo ingênua,
ou seja, atribuição anacrônica de nossa
materialidade para épocas diversas. Em
vez de um conjunto de salas com estantes
dispostas paralelamente e enfeixadas
em um edifício próprio, a biblioteca de
Alexandria consistia em uma série infinita de
estantes escavadas nas paredes da tumba
de Ramsés. Ora, mas não era essa a melhor
forma de colecionar rolos, preservando-os
contra as intempéries? Os arqueólogos que
passaram anos sem encontrar a biblioteca
de Alexandria sempre a tiveram diante dos
olhos, mesmo ao alcance das mãos. No
entanto, jamais poderiam localizá-la, já que
não levaram em consideração a materialidade
dos meios de comunicação dominante na
época: eles, na verdade, procuravam uma
biblioteca estruturada para colecionar
livros e não rolos. Quantas bibliotecas de
Alexandria permanecem ignoradas devido à
negligência com a materialidade dos meios
de comunicação?
O conceito de materialidade da
comunicação supõe a reconstrução da
materialidade específica mediante a qual
os valores de uma cultura são, de um
lado, produzidos e, de outro, transmitidos.
Tal materialidade envolve tanto o meio
de comunicação quanto as instituições
responsáveis pela reprodução da cultura
e, em um sentido amplo, inclui as relações
entre meio de comunicação, instituições e
hábitos mentais de uma época determinada.
Vejamos: para o entendimento de uma forma
particular de comunicação — por exemplo,
o teatro na Grécia clássica ou na Inglaterra
elizabetana; o romance nos séculos XVIII e
XIX; o cinema e a televisão no século XX; o
computador em nossos dias —, o estudioso
deve reconstruir tanto as condições
históricas quanto a materialidade do meio
de comunicação. Assim, no teatro, a voz e o
corpo do ator constituem uma materialidade
muito diferente da que será criada pelo
advento e difusão da imprensa, pois os tipos
impressos tendem, ao contrário, a excluir o
corpo do circuito comunicativo. Já os meios
audiovisuais e informáticos promovem um
certo retorno do corpo, mas sob o signo da
virtualidade. Compreender, portanto, como
tais materialidades influem na elaboração
do ato comunicativo é fundamental para
se entender como chegam a interferir na
própria ordenação da sociedade.
João C. de C. Rocha. A matéria da
materialidade: como localizar a biblioteca
de Alexandria? In: João C. de C. Rocha
(Org.). Interseções: a materialidade da
comunicação. Rio de Janeiro: Imago;
EDUERJ, 1998, p. 12, 14-15 (com adaptações).
18. (CESPE – Adaptada) ## O trecho
“jamais poderiam localizá-la” poderia ser
corretamente reescrito da seguinte forma:
jamais a poderiam localizar.
Resposta: Certo
Comentário: A forma sugerida é justificada
pelo fato de a palavra "jamais" ser um
advérbio. Como há uma locução verbal na
sentença, o deslocamento é possível para
realizar uma próclise em relação ao verbo
auxiliar da locução.
-------------------------- ------------------------
Os livros de história sempre tiveram
dificuldade em falar de mulheres que não
respeitam os padrões de gênero, e em
nenhuma área essa limitação é tão evidente
como na guerra e no que se refere ao manejo
de armas.
No entanto, da Antiguidade aos
tempos modernos a história é fértil em
relatos protagonizados por guerreiras. Com
efeito, a sucessão política regularmente
coloca uma mulher no trono, por mais
desagradável que essa verdade soe. Sendo
as guerras insensíveis ao gênero e ocorrendo
até mesmo quando uma mulher dirige o
país, os livros de história são obrigados a
81
LÍNGUA PORTUGUESA
registrar certo número de guerreiras levadas,
consequentemente, a se comportar como
qualquer Churchill, Stálin ou Roosevelt.
Semíramis de Nínive, fundadora do Império
Assírio, e Boadiceia, que liderou uma das
mais sangrentas revoltas contra os romanos,
são dois exemplos. Esta última, aliás, tem
uma estátua à margem do Tâmisa, em frente
ao Big Ben, em Londres. Não deixemos de
cumprimentá-la caso estejamos passando
por ali.
Em compensação, os livros de história
são, em geral, bastante discretos sobre
as guerreiras que atuam como simples
soldados, integrando os regimentos e
participando das batalhas contra exércitos
inimigos em condições idênticas às dos
homens. Essas mulheres, contudo, sempre
existiram. Praticamente nenhuma guerra foi
travada sem alguma participação feminina.
(Adaptado de Stieg Larsson. A rainha do
castelo de ar. São Paulo: Cia. das Letras,
2009. p. 7-8)
19. (FCC – Adaptada) ## Levando-se em
conta as alterações necessárias, o termo
destacado foi corretamente substituído por
um pronome em:
a) coloca uma mulher no trono = coloca-na
no trono
b) dirige o país = lhe dirige
c) integrando os regimentos = integrando-
lhes
d) liderou uma das mais sangrentas
revoltas = liderou-na
e) registrar certo número de guerreiras =
registrá-lo
Resposta: E
Comentário: Na alternativa "a", a forma
correta não leva "n", pois o verbo não termina
em som nasal. Na alternativa "b", a forma
pronominal esta errada, pois o verbo dirigir
é transitivo direto. Na alternativa "c" o verbo
"integrar" tem um complemento direto, a
forma "lhe" não pode ser empregada. Na
alternativa "d", não se devem empregar a
letra "n", pois o verbo não termina em som
nasal. A letra "e" está correta, pois o verbo
é transitivo direto e termina em "r",logo, a
forma correta do pronome é "lo".
-------------------------- ------------------------
O Ministério Público Federal impetrou
mandado de segurança contra a decisão
do juízo singular que, em sessão plenária
do tribunal do júri, indeferiu pedido do
impetrante para que às testemunhas
indígenas fosse feita a pergunta sobre em
qual idioma elas se expressariam melhor,
restando incólume a decisão do mesmo
juízo de perguntar a cada testemunha se ela
se expressaria em português e, caso positiva
a resposta, colher-se-ia o depoimento nesse
idioma, sem prejuízo do auxílio do intérprete.
No caso relatado, estava em jogo, na
sessão plenária do tribunal do júri, o direito
linguístico das testemunhas indígenas de se
expressarem em sua própria língua, ainda
que essas mesmas pessoas possuíssem o
domínio da língua da sociedade envolvente,
que, no caso, é a portuguesa. É que, conforme
escreveu Pavese, só fala sem sotaque aquele
que é nativo. Se, para o aspecto exterior da
linguagem, que é a sua expressão, já é difícil,
para aquele que fala, falar com a propriedade
devida, com razão mais forte a dificuldade se
impõe para o raciocínio adequado que deve
balizar um depoimento testemunhal, pouco
importando se se trata de testemunha ou de
acusado.
No que interessa a este estudo, entre
os modelos normativos que reconhecem
direitos linguísticos, o modelo de direitos
humanos significa a existência de norma na
Declaração Universal dos Direitos Humanos,
de 1948, da Organização das Nações
Unidas, que provê um regime de tolerância
linguística, garantia essa que não suporta
direitos linguísticos de forma específica, isto é,
82
LÍNGUA PORTUGUESA
protegem-se, imediatamente, outros direitos
fundamentais, tais como direito de liberdade
de expressão, de reunião, de associação, de
privacidade e do devido processo legal, e
apenas mediatamente o direito linguístico;
já o modelo dos povos indígenas tem
por base legal a Convenção n.o 169 da
Organização Internacional do Trabalho,
que prevê a proteção imediata de direitos
de desenvolvimento da personalidade, tais
como oportunidade econômica, educação
e saúde, e, mediatamente, de direitos
linguísticos.
A questão jurídica aqui tratada pode
enquadrar-se tanto em um modelo quanto
em outro, já que pode ser ela referida ao
direito de liberdade de expressão na própria
língua e também ao direito do indígena de
falar sua própria língua por força do seu direito
ao desenvolvimento de sua personalidade.
Mas há mais. A Constituição Federal de
1988 (CF) positivou, expressamente, norma
específica que protege as línguas indígenas,
reconhecendo-as e indo, portanto, mais
além do que as normas internacionais de
direitos humanos. Essa proteção tem a ver
com a ideia maior da própria cultura, que se
compõe das relações entre as pessoas com
base na linguagem.
Paulo Thadeu Gomes da Silva. Direito
linguístico: a propósito de uma decisão
judicial. In: Revista Internacional de Direito
e Cidadania, n.º 9, p. 183-7, fev./2011.
Internet: <http://6ccr.pgr.mpf.gov.br> (com
adaptações).
20. (CESPE – Adaptada) ## A posposição do
pronome “se” ao verbo em “colher-se-ia”
— colheria-se — comprometeria a correção
gramatical do trecho.
Resposta: Certo
Comentário: Haveria erro gramatical na
posposição em questão, pois o verbo está
empregado no futuro do pretérito do
indicativo. De acordo com as regras de
colocação pronominal, é preciso colocar o
pronome no meio da forma verbal, ou seja,
uma mesóclise.
-------------------------- ------------------------
A economia solidária vem-se
apresentando como uma alternativa
inovadora de geração de trabalho e renda
e uma resposta favorável às demandas de
inclusão social no país. Ela compreende uma
diversidade de práticas econômicas e sociais
organizadas sob a forma de cooperativas,
associações, clubes de troca, empresas de
autogestão e redes de cooperação — que
realizam atividades de produção de bens,
prestação de serviços, finanças, trocas,
comércio justo e consumo solidário.
A Secretaria Nacional de Economia
Solidária, do Ministério do Trabalho e
Emprego, desde sua criação, em 2003,
vem elaborando mecanismos de formação,
fomento e educação para o fortalecimento
da economia solidária no Brasil. Além
da divulgação e da promoção de ações
nessa direção, desde 2007 a Secretaria
tem realizado chamadas públicas a fim de
apoiar os empreendimentos econômicos
alternativos.
Internet:<http://por tal .mte.gov.br/
imprensa> (com adaptações).
21. (CESPE – Adaptada) ## No trecho “A
economia solidária vem-se apresentando”, o
deslocamento do pronome pessoal oblíquo
para depois do verbo principal da locução
não prejudicaria a correção gramatical do
texto: vem apresentando-se.
Resposta: Certo
Comentário: Não há erro, porque a forma
verbal no gerúndio, a menos que precedida
da preposição "em", exige colocação
pronominal enclítica.
83
LÍNGUA PORTUGUESA
22. (VUNESP – Adaptada) A colocação do
pronome em destaque está de acordo com
o português padrão na frase:
a) Muitos dos efeitos colaterais listados nas
bulas dos remédios não manifestam-se na
maioria dos pacientes.
b) O efeito ocorre sobretudo quando teme-
se uma doença ou o tratamento a ser
enfrentado.
c) Ao orientar o paciente, deve-se ter o
cuidado de ouvi-lo com atenção, mantendo
o contato visual.
d) O neurologista Magnus Heier tem
dedicado-se ao estudo do efeito nocebo.
e) É possível que experimente-se o efeito
colateral da quimioterapia antes que a
sessão aconteça.
Resposta: C
Comentário: A alternativa "a" está errada,
porque a palavra "não" atrai o pronome
oblíquo átono. A alternativa "b" está errada,
pois a palavra "quando" é uma conjunção
subordinativa, o que atrai o pronome átono.
A alternativa "c" está correta, pois se trata de
um início de sentença (ênclise obrigatória).
A alternativa "d" está errada, pois a forma
verbal no particípio não admite a ênclise.
A alternativa "e" está errada, pois a palavra
"que" é uma conjunção integrante, o que
atrai o pronome átono.
-------------------------- ------------------------
Todos nós, homens e mulheres,
adultos e jovens, passamos boa parte da vida
tendo de optar entre o certo e o errado, entre
o bem e o mal. Na realidade, entre o que
consideramos bem e o que consideramos
mal. Apesar da longa permanência da
questão, o que se considera certo e o que se
considera errado muda ao longo da história
e ao redor do globo terrestre.
Ainda hoje, em certos lugares, a
previsão da pena de morte autoriza o Estado
a matar em nome da justiça. Em outras
sociedades, o direito à vida é inviolável e
nem o Estado nem ninguém tem o direito
de tirar a vida alheia. Tempos atrás era tido
como legítimo espancarem-se mulheres
e crianças, escravizarem-se povos. Hoje
em dia, embora ainda se saiba de casos de
espancamento de mulheres e crianças, de
trabalho escravo, esses comportamentos
são publicamente condenados na maior
parte do mundo.
Mas a opção entre o certo e o errado
não se coloca apenas na esfera de temas
polêmicos que atraem os holofotes da
mídia. Muitas e muitas vezes é na solidão da
consciência de cada um de nós, homens e
mulheres, pequenos e grandes, que certo e
errado se enfrentam.
E a ética é o domínio desse
enfrentamento.
Marisa Lajolo. Entre o bem e o mal. In:
Histórias sobre a ética. 5.ª ed. São Paulo:
Ática, 2008 (com adaptações).
23. (CESPE – Adaptada) ## Devido
à presença do advérbio “apenas”, o
pronome “se” poderia ser deslocado
para imediatamente após a forma verbal
“coloca”, da seguinte forma: coloca-se.
Resposta: Errado
Comentário: A mudança em questão não é
possível, porque o advérbio negativo "não"
está presente na sentença, o que atrai o
pronome oblíquo átono. Essa é uma regra
de próclise obrigatória.
-------------------------- ------------------------
O processo penal moderno, tal como
praticado atualmente nos países ocidentais,
deixa de centrar-se na finalidade meramentepunitiva para centrar-se, antes, na finalidade
investigativa. O que se quer dizer é que,
abandonado o sistema inquisitório, em que
o órgão julgador cuidava também de obter
84
LÍNGUA PORTUGUESA
a prova da responsabilidade do acusado
(que consistia, a maior parte das vezes, na
sua confissão), o que se pretende no sistema
acusatório é submeter ao órgão julgador
provas suficientes ao esclarecimento da
verdade.
Evidentemente, no primeiro sistema,
a complexidade do ato decisório haveria de
ser bem menor, uma vez que a condenação
está atrelada à confissão do acusado.
Problemas de consciência não os haveria de
ter o julgador pela decisão em si, porque o
seu veredito era baseado na contundência
probatória do meio de prova “mais
importante” — a confissão. Um dos motivos
pelos quais se pôs em causa esse sistema
foi justamente a questão do controle da
obtenção da prova: a confissão, exigida
como prova plena para a condenação, era o
mais das vezes obtida por meio de coações
morais e físicas.
Esse fato revelou a necessidade,
para que haja condenação, de se proceder
à reconstituição histórica dos fatos, de
modo que se investigue o que se passou na
verdade e se a prática do ato ilícito pode ser
atribuída ao arguido, ou seja, a necessidade
de se restabelecer, tanto quanto possível, a
verdade dos fatos, para a solução justa do
litígio. Sendo esse o fim a que se destina
o processo, é mediante a instrução que se
busca a mais perfeita representação possível
dessa verdade.
Getúlio Marcos Pereira Neves. Valoração
da prova e livre convicção do juiz. In:
Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n.º 401,
ago./2004 (com adaptações).
24. (CESPE – Adaptada) ## Seriam
mantidas a correção gramatical e a coesão
do texto, caso o pronome “os”, em “não
os haveria de ter”, fosse deslocado para
imediatamente depois da forma verbal
“ter”, escrevendo-se tê-los.
Resposta: Certo
Comentário: O que justifica a possibilidade
de deslocar o pronome para após a forma
verbal "ter" é o fato de haver um infinitivo
impessoal. Trata-se de uma locução verbal
com o verbo principal no infinitivo.
-------------------------- ------------------------
Marilena Chaui, filósofa brasileira,
afirma que, para a classe dominante
brasileira (os “liberais”), democracia é o
regime da lei e da ordem. Para a filósofa,
no entanto, a democracia é “o único
regime político no qual os conflitos são
considerados o princípio mesmo de seu
funcionamento”: impedir a expressão dos
conflitos sociais seria destruir a democracia.
O filósofo francês Jacques Rancière critica
a ideia de democracia que tem estruturado
nossa vida social — regida por uma ordem
policial, segundo ele —, devido ao fato de ela
se distanciar do que seria sua razão de ser: a
instituição da política. Estamos acomodados
por acreditar que a política é isso que está aí:
variadas formas de acordo social a partir das
disputas entre interesses, resolvidas por um
conjunto de ações e normas institucionais.
Essa ideia empobrecida do que seja a política
está, para o autor, mais próxima da ideia de
polícia, já que diz respeito ao controle e à
vigilância dos comportamentos humanos e
à sua distribuição nas diferentes porções do
território, cumprindo funções consideradas
mais ou menos adequadas à ordem vigente.
Estamos geralmente tão hipnotizados pela
“necessidade de um compromisso para
se alcançar o bem comum” e pela opinião
de que “as instituições sociais já estão
fazendo todo o possível para isso”, que não
conseguimos perceber nossa contribuição
na legitimação dessa política policial que
administra alguns corpos e torna invisí-veis
outros.
O conceito de política trabalhado
pelo autor traz como princípio a igualdade.
Uma igualdade que não está lá como sonho
a ser alcançado um dia, mas que é uma
potencialidade que “só ganha realidade
85
LÍNGUA PORTUGUESA
se é atualizada no aqui e agora”. E essa
atualização se dá por ações que irão construir
a possibilidade de os “não contados” serem
levados em conta, serem considerados nesse
princípio básico e radical de igualdade. Para
além dos movimentos sociais, existem os
ainda-sem-nome e ain-da-sem-movimento.
Diz o autor que a política é a reivindicação da
parte daqueles que não têm parte; política se
faz reivindicando “o que não é nosso” pelo
sistema de direitos dominantes, criando,
assim, um campo de contestação. Em uma
sociedade em que os que não têm parte são
a mai-or parte, é preciso fazer política.
Marco Antonio Sampaio Malagodi.
Geografias do dissenso: sobre conflitos,
justiça ambiental e cartografia social no
Brasil. In: Espaço e economia: Revista
Brasileira de Geografia Econômica. jan./2012.
Internet: <http://espacoeconomia.revues.
org/136> (com adaptações).
25. (CESPE – Adaptada) ## A correção do
texto seria mantida caso o pronome “se”,
em vez de anteceder, passasse a ocupar a
posição imediatamente posterior ao verbo:
devido ao fato de ela distanciar-se.
Resposta: Certo
Comentário: Como o verbo "distanciar"
possui seu sujeito expresso (a forma "ela"),
a colocação do pronome oblíquo se torna
facultativa: tanto a próclise quanto a ênclise
estariam corretas.
-------------------------- ------------------------
Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.
Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.
Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você. Estar?
Ter estado,
Que é tempo passado.
Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.
(Poesia Completa, Rio de Janeiro: Aguilar,
1968.)
26. (FUNRIO – Adaptada) ## No terceiro
verso, o poeta empregou corretamente
um pronome oblíquo em posição enclítica.
Identifique nas frases abaixo a única
alternativa que caracteriza um desvio na
colocação do pronome oblíquo segundo as
normas da língua padrão.
a) De modo algum me deixarei enganar por
suas palavras.
b) Você sabe que sempre me dediquei ao
estudo das figuras de linguagem.
c) Pensei que eles convidariam-me para a
festa de formatura.
d) A funcionária saiu do posto de
atendimento deixando-me sem saber a
resposta.
e) Só depois de muito tempo entendi o que
as pessoas me queriam dizer.
Resposta: C
Comentário: Na alternativa "a" a correção
é garantida pelo fato de a expressão "de
86
LÍNGUA PORTUGUESA
modo algum" ser uma expressão negativa,
isso atrai o pronome átono. Na alternativa
"b", a palavra "sempre" é um advérbio, o que
atrai o pronome átono. Na alternativa "c",
há um erro, pois o verbo está no futuro do
pretérito do indicativo, o que exigiria uma
mesóclise (convidar-me-iam). Na alternativa
"d", o verbo no gerúndio exige a ênclise. Na
alternativa "e", o sujeito da locução verbal
está expresso, o que caracteriza colocação
pronominal facultativa.
27. (CETRO – Adaptada) ## Assinale a
alternativa que apresenta erro em relação à
colocação pronominal.
a) Entregaram-me os papéis atrasados.
b) Não me deixaram ver os documentos.
c) Farão-me uma proposta ao meio-dia.
d) Alguém me entregou os papéis atrasados.
e) Avistou-o, ao longe, e não conseguiu
alcançá-lo.
Resposta: C
Comentário: Na alternativa "a", o pronome
está enclítico por se tratar de início de
sentença. Na alternativa "b", o pronome está
proclítico em razão do advérbio negativo. Na
alternativa "c", há um erro de colocação, pois
o verbo está no futuro do presente (a forma
correta seria "Far-me-ão"). Na alternativa
"d", o pronome está proclítico em razão do
pronome indefinido "alguém". Na alternativa
"e" o pronome está enclítico em razão de ser
início de sentença.
28. (CETRO – Adaptada) ## Em relação à
colocação pronominal e de acordo com
a norma-padrão da Língua Portuguesa,
assinale a alternativa correta.
a) Dispusemo-nos a ajudar a família
enlutada no que fosse preciso.
b) Não coloco-me à disposição porque não
estarei na empresa amanhã.
C) Me tratou mal desde o primeiro momento,
mas não tenho mágoas.
d) Há muitas diferenças entreeu e você.
e) É importante ressaltar que deve-
se elaborar uma ata com todos os
apontamentos discutidos em reunião.
Resposta: A
Comentário: A alternativa "a" está correta,
porque a ênclise é justificada pelo fato de
ser início de sentença. Na alternativa "b", o
erro está na ênclise do pronome (o advérbio
"não" é atrativo). Na alternativa "c", a próclise
está incorreta, por se tratar de início de
sentença. Na alternativa "d", o erro não é de
colocação, mas de emprego do pronome:
após preposição essencial, deve-se usar
uma forma oblíqua (o correto seria entre
"mim" e você). Na alternativa "e", o erro está
na ênclise do pronome, considerando que
há uma conjunção integrante na sentença,
o que atrai a forma oblíqua.
29. (CETRO – Adaptada) ## De acordo com
a norma-padrão da Língua Portuguesa,
assinale a alternativa correta em relação à
colocação pronominal.
a) Agradeceu-me sorrindo pela gentileza.
b) Me entregou os papéis fora do envelope.
c) Encontraria-me mais disposto se não
estivesse doente.
d) Não trata-me com desrespeito.
Resposta: A
Comentário: A alternativa "a" está correta,
pois se trata de início de sentença. A
alternativa "b" está incorreta, porque, em
início de sentença, deve ser empregada a
ênclise pronominal. A alternativa "c" está
incorreta, porque, com futuro do pretérito do
87
LÍNGUA PORTUGUESA
indicativo, deve ser empregada a mesóclise
pronominal. A alternativa "d" está incorreta,
porque o advérbio de negação atrai a forma
pronominal.
-------------------------- ------------------------
Texto I
O jivaro
Um sr. Matter, que fez uma viagem de
exploração à América do Sul, conta a um
jornal sua conversa com um índio jivaro,
desses que sabem reduzir a cabeça de um
morto até ela ficar bem pequenina. Queria
assistir a uma dessas operações, e o índio
lhe disse que exatamente ele tinha contas a
acertar com um inimigo.
O Sr. Matter:
− Não, não! Um homem, não. Faça isso com
a cabeça de um macaco.
E o índio:
− Por que um macaco? Ele não me fez
nenhum mal!
(Rubem Braga, Recado de primavera)
-------------------------- ------------------------
Texto II
Anedota búlgara
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam
borboletas
[e andorinhas ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
(Carlos Drummond de Andrade, Alguma
poesia)
30. (FCC – Adaptada) ## O czar caçava
homens, não ocorrendo ao czar que, em
vez de homens, se caçassem andorinhas
e borboletas, parecendo-lhe uma barba-
ridade levar andorinhas e borboletas à
morte.
Evitam-se as repetições viciosas da frase
acima substituindo-se, de forma correta,
os elementos sublinhados por, respecti-
vamente,
a) não o ocorrendo - de tais - levá-las.
b) não ocorrendo-lhe - dos mesmos - levar-
lhes.
c) lhe não ocorrendo - destes - as levar-lhes.
d) não ocorrendo-o - dos cujos - as levarem.
e) não lhe ocorrendo - destes - levá-las.
Resposta: E
Comentário: A primeira forma deve ser "não
lhe ocorrendo", pois o pronome é atraído
pelo advérbio. Além disso, a forma "lhe"
substitui corretamente o termo "ao czar".
A segunda forma deve ser o termo "destes",
porque o pronome demonstrativo retoma
o último referente "homens". A terceira
forma deve ser "levá-las", pois o referente é
o termo "andorinhas e borboletas". Como o
verbo possui complemento direto e termina
em "r", o correto é empregar a forma "las".
31. (CESGRANRIO – Adaptada) ##
Substituindo-se o complemento verbal
destacado pelo pronome oblíquo
correspondente, observa-se um caso de
próclise obrigatória em:
a) “aquelas que acolheram os princípios do
Estado Democrático de Direito”
b) Em 2008, escrevi um artigo para celebrar
os 60 anos da declaração”
c) “fabricam os espaços da literatura, do
econômico, do político”
d) “A vigilância deve adquirir aquela solidez
própria da turba enfurecida”
e) “Mas as transformações econômicas
das sociedades modernas suscitaram o
bloqueio”
88
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: A
Comentário: A próclise será obrigatória na
alternativa "a", porque o complemento do
verbo "acolher" será repre-sentado pela
forma "os", a qual será atraída pelo pronome
relativo "que", presente na sentença.
01. (CESPE - Adaptada)## O emprego de
acento gráfico em “autóctones” (L.4) e
“alóc-tones” (L.5) justifica-se por serem
ambas palavras proparoxítonas.
Resposta: Certo.
Comentário: A separação silábica deve ser
feita da seguinte maneira: au-tóc-to-nes e
a-lóc-to-nes. Desse modo, percebe-se que
há o padrão de proparoxítona. O que exige
a acentuação.
-------------------------- ------------------------
O Teach for America consegue atrair
os mais talentosos alunos para a docência
oferecendo-lhes algo bem concreto. Depois
de dois anos no papel de professor de
escola pública — tempo mínimo de estada
no programa —, esses jovens ingressam
quase que automaticamente em algumas
das maiores empresas americanas, com
as quais o Teach for America estabeleceu
uma produtiva parceria. Para as empresas,
recrutar gente que passou por lá significa
encurtar o complicado processo de busca por
bons profissionais. Pela estreita peneira do
programa só passam os realmente capazes.
Para se ter uma ideia, apenas os alunos
de ótimo boletim têm direito à inscrição
e, ainda assim, 85% deles ficam de fora. É
essa rigorosa seleção que atrai os próprios
estudantes. Sobreviver a ela é um sinal claro
de excelência, algo que faz todo mundo
querer ostentar um carimbo do Teach for
America no currículo.
02. (CESPE - Adaptada)## Em razão do
contexto, o acento gráfico empregado na
forma verbal “têm” (L.8) é obrigatório.
Resposta: Certo.
Comentário: Antes do verbo há um pronome
relativo. A regra de concordância exige que,
quando o pronome relativo desempenhar a
função de sujeito da sentença – o que o corre,
evidentemente na questão – é necessário
fazer a concordância do verbo com o
antecedente do pronome relativo (ou com
seu referente, melhor dizendo)##. Portanto,
o acento na forma verbal é obrigatório, a fim
de indicar que se trata de uma forma plural
do verbo “ter”.
03. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“municípios”, “famílias”, “frequência” e
“convivência” recebem acento gráfico com
base na mesma regra gramatical.
Resposta: Certo.
Comentário: Todas as palavras são
paroxítonas terminadas em ditongo. Segue
a separação: mu-ni-cí-pios, fa-mí-lias, fre-
quên-cia, con-vi-vên-cia.
04. (CESPE - Adaptada)## Os vocábulos
“público”, “químicos” e “métodos” são
acentuados de acordo com a mesma regra
de acentuação gráfica.
Resposta: Certo.
Comentários: As três palavras são
proparoxítonas e, por regra, devem ser
acentuadas. Eis a separação: pú-bli-co, quí-
mi-cos, mé-to-dos.
05. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“Penitenciário”, “carcerária” e “Judiciário”
recebem acento gráfico com base na mesma
regra gramatical.
Resposta: Certo.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA
89
LÍNGUA PORTUGUESA
Comentário: As três palavras são paroxítonas
terminadas em ditongo. Veja a separação:
pe-ni-ten-ci-á-rio, car-ce-rá-ria, ju-di-ci-á-
rio. Portanto, o acento é obrigatório nos três
casos.
06. (CESPE - Adaptada)## O emprego do
acento nas palavras “ciência” e “transitório”
justifica-se com base na mesma regra de
acentuação.
Resposta: Certo.
Comentário: As duas palavras são
paroxítonas terminadas em ditongo. Veja
a separação: ci-ên-cia, tran-si-tó-rio. Isso
obriga a colocação do acento agudo.
07. (CESPE - Adaptada)## A ocorrência de
hiato justifica o emprego do acento agudo
nas vogais i e u nas palavras “construída” e
“conteúdos”.
Resposta: Certo.
Comentário: Quando as letras “i” e “u”,
sozinhas ou seguidas das letras “s”,
formarem hiato com a vogal anterior, serão
acentuadas, salvo os casos de exceção. No
contexto, percebe-se que as duas palavras
possuem as letras mencionadas como alvo
da tonicidade e formam hiato com a vogal
antecedente: cons-tru-í-das, con-te-ú-dos.
08. (CESPE - Adaptada)## Pela mesma regra
de acentuação gráfica, justifica-seo acento
gráfico nos vocábulos “países”, “possível” e
“difícil”.
Resposta: Errado.
Comentário: A palavra “países” é
acentuada, porque o “i” forma hiato com
a vogal antecedente. A palavra “possível”
é acentuada, porque se trata de uma
paroxítona terminada em “l”. A palavra
“difícil” é acentuada, porque se trata de
uma pa-roxítona terminada em “l”. Como há
uma palavra com regra dissonante, é preciso
assinalar que a questão está errada.
09. (CESPE - Adaptada)## Os acentos
gráficos empregados em “Agência” e em
“Saúde” têm a mesma justificativa.
Resposta: Errado.
Comentário: “Agência” é uma paroxítona
terminada em ditongo, essa é a razão de seu
acento. “Saúde” possui um hiato com a letra
“u”, essa é a razão de ser acentuada. Como
visto, não recebem acento pelo mesmo
motivo.
10. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“municípios” e “bancários” recebem
acento gráfico com base na mesma regra de
acentuação.
Resposta: Certo.
Comentário: As duas palavras são
paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a
separação: mu-ni-cí-pios, ban-cá-rios.
11. (CESPE - Adaptada)## Os termos “Três”
e “Vã” são acentuados em decorrência de
igual justificativa gramatical.
Resposta: Questão anulada.
Comentário: Apesar de a questão ter sido
anulada pela banca examinadora, vale a
pena observar o que ela trouxe: em tese, é
possível dizer que as duas palavras seriam
acentuadas pelo mesmo motivo – o fato de
serem dois monossílabos tônicos. Ocorre
que o diacrítico “~” (til)## é empregado para
indicar nasalidade, não sendo necessária a
regra de tonicidade preconizada para outras
palavras. Isso faria com que a resposta fosse
considerada incorreta. Por isso, a banca
anulou a questão.
90
LÍNGUA PORTUGUESA
12. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“transmissível” e “tecnológico” são
acentuadas em decorrência de mesma regra
gramatical.
Resposta: Errado.
Comentário: A palavra “transmissível”
é acentuada, porque é uma paroxítona
terminada em “l”. A palavra “tecnológico”
é acentuada, porque se trata de um
proparoxítona. Regras diferentes, questão
errada.
13. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“indivíduos”, “vulneráveis”, “incidência” e
“neurônios”, contidas no texto, apresentam
acento gráfico com base na mesma regra.
Resposta: Certo.
Comentário: Mesmo sem o texto é possível
responder a esta questão. Veja que todas as
palavras colocadas no texto são paroxítonas
terminadas em ditongo, o que obriga o acento
agudo em razão das regras de acentuação
gráfica. Atente para a separação: in-di-ví-
duos, vul-ne-rá-veis, in-ci-dên-cia, neu-rô-
nios.
14. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são
acentuadas de acordo com a mesma regra
de acentuação gráfica.
Resposta: Errado.
Comentário: A palavra “conteúdo” tem
acento por possuir a vogal “u” formando
hiato com a vogal antecedente. A palavra
“calúnia” tem acento por ser uma paroxítona
terminada em ditongo. A palavra “injúria”
recebe acento por ser uma paroxítona
terminada em ditongo. Como uma delas
possui a regra dissonante, não é possível
considerar a questão correta.
15. (CESPE - Adaptada)## A mesma regra
de acentuação justifica o emprego do
acento agudo nas palavras “dicionário” e
“possíveis”.
Resposta: Certo.
Comentário: As duas palavras são
paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a
separação: di-cio-ná-rio, pos-sí-veis.
16. (CESPE - Adaptada)## As formas
“patrimônio” e “polícia” são acentuadas em
decorrência da mesma regra de acentuação.
Resposta: Certo.
Comentário: As duas palavras são
paroxítonas terminadas em ditongo. Veja a
separação: pa-tri-mô-nio, po-lí-cia.
17. (CESPE - Adaptada)## As palavras
“conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são
acentuadas de acordo com a mesma regra
de acentuação gráfica.
Resposta: Errado.
Comentário: A palavra “conteúdo” é
acentuada, porque a letra “u” forma hiato
com a vogal antecedente. A palavra “calúnia”
é acentuada por ser uma paroxítona
terminada em ditongo. A palavra “injúria”
também é uma paroxítona terminada em
ditongo. Desse modo, como há uma regra
diferente, é preciso considerar a questão
errada.
18. (CEPERJ - Adaptada)## A palavra
“conteúdo” recebe acentuação pela mesma
razão de:
a) juízo
b) espírito
c) jornalístico
d) mínimo
e) disponíveis
91
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: A
Comentário: Como se trata da regra
relacionada ao hiato tônico com “i” ou “u”,
é possível dizer que apenas a letra “a” está
correta, pois a palavra “juízo” possui acento
por possuir um hiato tônico com a letra “i”.
19.(CEFET)## Empregou-se um vocábulo
fora do novo acordo ortográfico em:
a) saída – vírus – pincéis
b) rainha – juiz – raízes
c) abdômen – vêem – sótão
d) consistência – exceção – Piauí
e) marcá-los – redimi-los – preenchê-los
Resposta: C
Comentário: De acordo com os princípios
do Novo Acordo Ortográfico, não são mais
acentuadas palavras paroxítonas com “e”
ou “o” duplicados. Na sentença em questão,
o termo “veem” deveria ser escrito sem
acento.
20. (FCC)## Segundo os preceitos da
gramática normativa do português do Brasil,
a única palavra dentre as citadas abaixo que
NÃO deve ser pronunciada com o acento
tônico recaindo em posição idêntica àquela
em que recai na palavra avaro é:
a) mister.
b) filantropo.
c) gratuito.
d) maquinaria.
e) ibero.
Resposta: A
Comentário: A palavra “avaro” é uma
paroxítona, ou seja, a sílaba tônica é a
penúltima. A única palavra que não deve ser
pronunciada desse modo é “mister”, porque
se trata de uma oxítona.
A ANS vai mudar a metodologia de
análise de processos de consumidores contra
as operadoras de planos de saúde com o
objetivo de acelerar os trâmites das ações.
Uma das novas medidas adotadas será a
apreciação coletiva de processos abertos a
partir de queixas dos usuários. Os processos
serão julgados de forma conjunta, reunindo
várias queixas, organizadas e agrupadas por
temas e por operadora. Segundo a ANS,
atualmente, 8.791 processos de reclamações
de consumidores sobre o atendimento dos
planos de saúde estão em tramitação na
agência. Entre os principais motivos que
levaram às queixas estão a negativa de
cobertura, os reajustes de mensalidades e
a mudança de operadora. No Brasil, cerca
de 48,6 milhões de pessoas têm planos de
saúde com cobertura de assistência médica
e 18,4 milhões têm planos exclusivamente
odontológicos.
Valor Econômico, 22/3/2013.
01. (CESPE - Adaptada) ## Prejudica-se
a correção gramatical do período ao se
substituir “acelerar” (l.2) por acelerarem.
Resposta: Certo
Comentário: O verbo “acelerar” foi
empregado no infinitivo impessoal, ou
seja, não há um sujeito expresso na oração
para esse elemento, portanto, não pode
ser passada para o plural. Se houvesse a
alteração para o plural, a referência seria
o termo que serve de complemento para o
verbo (trâmites), o que acarretaria prejuízo
para a semântica da sentença.
CONCORDÂNCIA
92
LÍNGUA PORTUGUESA
02. (CESPE - Adaptada) ## Os vocábulos
“organizadas” e “agrupadas”, (linhas 6 e 7),
estão no feminino plural porque concordam
com “queixas” (l.6).
Resposta: Certo.
Comentário: Na sentença se lê: “Os processos
serão julgados de forma conjunta, reunindo
várias queixas, organizadas e agrupadas por
temas e por operadora”. Os dois adjetivos
(organizadas e agrupadas) devem concordar
com o substantivo a que se referem, que, no
caso, é a palavra “queixas”.
-------------------------- ------------------------
Trecho de entrevista concedida por Lígia
Giovanella (LG) à revista Veja (VJ).
1 VJ – Por que o Brasil investe pouco?
LG – Temos limites nas nossas políticas
econômicas, além de disputas sociais e
políticas que atrapalham a discussão sobre
a quantidade de recursos. Sabemos que um
Sistema Único de Saúde (SUS) de qualidade e
com oferta universal de serviços aumentaria
a disposição da classe média em contribuir
com o pagamento de impostos que financiam
o sistema. Atualmente, há baixa disposição
porque a classe média não utiliza o serviço e
porqueos serviços não são completamente
universalizados.
10 VJ – O SUS corre o risco de se tornar
inviável? O que precisa ser feito para que não
ocorra um colapso no sistema público?
13 LG – Não acredito que haja risco iminente
de colapso do SUS, mas as escolhas que
fizermos a partir de agora podem levar à
construção de diferentes tipos de sistema,
a exemplo de uma política mais direcionada
a parcelas mais pobres da população ou um
sistema sem acesso universal. O SUS terá
de responder às mudanças sociais. Com a
melhoria da situação econômica de uma
parcela da sociedade, precisará atender a
expectativas da nova classe média baixa.
VJ – Além de aumentar o investimento, o
que mais é importante?
LG – Outro desafio é estabelecer prioridades
para o modelo assistencial. Atualmente, a
cobertura de atenção básica, por meio do
programa Saúde da Família, alcança apenas
50% da população. É preciso que haja uma
ampliação sustentada, de modo a atingir 80%
da população. Já estamos em um momento
avançado no SUS, em que é necessário dar
à população garantias explícitas de que os
serviços irão funcionar. Além disso, o Brasil
precisa intensificar a formação de médicos
especializados em medicina de família e
comunidade.
Natalia Cuminale. Desafios brasileiros.
Brasil precisa dobrar gasto em saúde, diz
es-pecialista. Internet: <http://veja.abril.
com.br> (com adaptações).
03. (CESPE) A flexão no plural da forma verbal
“atrapalham” (l.3) deve-se ao emprego de
“limites” (l.2).
Resposta: Errado.
Comentário: A flexão do verbo no plural
se dá em razão de a palavra de referência
para o pronome que desempenha a função
de sujeito do verbo ser o termo “disputas”.
A regra de concordância com o pronome
relativo orienta que a concordância do verbo
– quando o pronome relativo desempenha a
função de sujeito – deve ser com o referente
do pronome que, no texto em questão, era
uma palavra no plural.
04. (CESPE - Adaptada) ## Sem provocar erro
gramatical, a forma verbal “aumentaria” (l.3)
poderia ser flexionada no plural, passando
a concordar com o antecedente “serviços”
(l.3).
Resposta: Errado.
Comentário: O núcleo do sujeito está no
singular, isso impede a flexão para o plural.
Na ex-pressão “um Sistema Único de Saúde
(SUS) de qualidade e com oferta universal de
serviços” o termo a que pertence o termo
93
LÍNGUA PORTUGUESA
“serviços” desempenha a fun-ção sintática
de complemento nominal da palavra
“oferta”, ou seja, não indica relação de
concordância para o verbo posterior.
-------------------------- ------------------------
Durante o período de janeiro a
março de 2013, foram recebidas 13.348
reclamações de beneficiários de planos de
saúde referentes à garantia de atendimento.
Entre as operadoras médico-hospitalares,
480 tiveram pelo menos uma reclamação
e, entre as operadoras odontológicas, 29
tiveram pelo menos uma reclamação de
não cumprimento dos prazos máximos
estabelecidos ou de negativa de cobertura.
A fiscalização do cumprimento das
garantias de atendimento é uma forma
eficaz de se certificar o beneficiário da
assistência por ele contratada, pois leva as
operadoras a ampliarem o credenciamento
de prestadores e a melhorarem o seu
relacionamento com o cliente. Para isso,
a participação dos consumidores é de
fundamental importância.
Internet:<www.ans.gov.br> (com
adaptações)
05. (CESPE - Adaptada) ## Mantém-se
a correção gramatical do período ao se
substituir “é” (l.9) por são, desde que
também se substitua “leva” (l.10) por levam.
Resposta: Errado.
Comentário: O sujeito do verbo “ser”possui
como núcleo a palavra “fiscalização” –
palavra no singular – que também serve
como referente para o sujeito oculto do verbo
“levar”. Isso faz com que as duas formas
verbais devam permanecer no singular.
De acordo com as regras de concordância,
o verbo deve se adequar ao núcleo de seu
sujeito.
Entre os fatores que contribuem para a
perda de qualidade de vida estão as péssimas
condições de habitação e transporte no
espaço urbano, que atingem sobremaneira
a população empobrecida. A urbanização
irresponsável causada pelo processo de
industrialização e pela ausência de reforma
agrária faz com que o direito de moradia e o
de locomoção, ainda que direitos originários
de necessidades humanas básicas, expressos
na Constituição, sejam sistematicamente
ignorados, o que compromete o descanso,
o bem-estar e a paz dos trabalhadores
nas grandes cidades. Em vista disso, os
trabalhadores não podem sequer recompor
diariamente suas forças.
Temos observado que os empregados
dos postos de trabalho de pior remuneração
são os que moram mais distantes dos locais
de trabalho e cotidianamente saem de casa
duas ou três horas antes da jornada, gastando
o mesmo tempo para retornarem às suas
casas. Causa-nos indignação constatar que
esses empregados consomem o equivalente
à metade do tempo remunerado (e mal
remunerado) para o deslocamento de suas
casas até o trabalho e em péssimas condições
de transporte, sempre em pé nos ônibus
superlotados, ou esperando em longas filas.
Às vezes, ainda somos hipócritas, receitando
para esses trabalhadores fórmulas para
melhorarem de vida.
Sugerimos que voltem a estudar
para ocuparem postos mais qualificados e
com melhor remuneração, mas, no fundo,
sabemos que é impossível, para eles,
dispor de tempo para cuidar da formação
profissional perdida. Por outro lado, a classe
média pode até se dar ao luxo de ter mais
de um emprego, porque tem o seu próprio
transporte, mesmo vivendo na ilusão de
que, se trabalhar muito, poderá ganhar mais
e acumular dinheiro, para, um dia, enfim,
poder curtir a vida. Só que, para muitos, esse
dia não chega; as doenças modernas chegam
primeiro.
94
LÍNGUA PORTUGUESA
Cabe aqui acrescentar outras
necessidades humanas que têm sido
sistematicamente relegadas a segundo
plano. São elas os valores culturais, que
incluem os saberes, as paisagens naturais,
os costumes e as tradições populares. A
urbanização acelerada em todo o mundo
foi a responsável pela perda da qualidade
de vida de muitos trabalhadores, apesar
de aparentemente ter criado melhores
condições de vida para parte da população.
Delze dos Santos Laureano. O meio
ambiente e o trabalho: a dignidade humana
neste espaço. Internet: <www.ecodebate.
com.br> (com adaptações).
06. (CESPE - Adaptada) ## O verbo “sejam”
(l.5) tem como referente a expressão
“direitos originários de necessidades
humanas básicas” (l.5), o que justifica sua
flexão no plural.
Resposta: Errado
Comentário: O referente em questão não
pode ser o termo destacado na questão, pois
ele está isolado por vírgulas. Na verdade, o
referente para o sujeito é o termo composto
“o direito de moradia e o de locomoção”. Isso
é o que faz o verbo ser flexionado no plural.
Como o sujeito é composto e anteposto ao
verbo, o plural é obrigatório.
07. (CESPE) ##A alteração do vocábulo
“distantes” (l.10) para “distante” manteria
a correção e o sentido do texto.
Resposta: Certo.
Comentário: Essa é uma questão que
focaliza a concordância nominal. A flexão
do vocábulo para o singular indicaria um
transição de classe gramatical. Da maneira
como foi empregada, a palavra se apresenta
como um adjetivo, por isso, está flexionada
no plural. Se estivesse no singular, poder-se-
ia classificá-la como um advérbio de lugar.
Por isso, permanece no singular.
Os efeitos da seca espalham-se
no campo e são visíveis nos incontáveis
animais mortos por onde passam as rodovias
sertanejas. Uma cena trágica e recorrente.
Foi assim por todo o século XX, com
momentos de extrema gravidade: no começo
da década de 30 e em dois períodos da
década de 50. Situação semelhante àquela
que vemos hoje no Semiárido, com apenas
uma diferença: nas secas passadas, além dos
animais mortos, havia as levas de flagelados
fugindo para São Paulo ou sobrevivendo de
saques nas feiras livres ou no comércio das
cidades do interior. No mais, a reprodução
é fiel na morteem massa dos animais, com
tremenda repercussão na economia. Balanço
da Secretaria de Agricultura de Pernambuco
mostra que, em 600 propriedades do Agreste
e do Sertão, a estiagem já havia provocado a
morte de 168.356 animais. Neste momento,
seguramente, o número cresceu, o que é
um escândalo. Principalmente quando se
sabe que a mortandade reduziu a produção
de leite em 72% e causou prejuízos reais da
ordem de R$ 1,5 bilhão.
Editorial. Jornal do Commercio (PE),
11/4/2013 (com adaptações).
08. (CESPE) ## Na expressão “R$ 1,5 bilhão”
(l.18), devido ao fato de “1,5” corresponder
a mais de um inteiro, seria gramaticalmente
correto substituir “bilhão” por bilhões.
Resposta: Errado.
Comentário: A concordância deve ser
realizada com o numeral que representa o
valor inteiro, ou seja, com a ideia do numeral
“1”. O fato de haver a fração representada
no numeral não exige concordância com o
valor segmentado.
-------------------------- ------------------------
Dependerá da adesão dos demais
ministros o êxito de um apelo feito pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), para que seja extinta a prática de
95
LÍNGUA PORTUGUESA
esconder os nomes de investigados em
inquéritos criminais na mais alta corte do
país. Ele defende que o STF deve livrar-se do
costume de manter identidades em segredo,
ou estará contrariando todos os esforços
em busca de maior transparência. Enfatiza
o ministro que o bom senso recomenda a
mudança, mesmo que alguns dos integrantes
do Supremo defendam a manutenção
do procedimento adotado em 2010. É
ultrapassado o entendimento de que, ao
não identificar os investigados, o STF estaria
protegendo pessoas que, no desfecho dos
processos, poderiam vir a ser absolvidas ou
ter seus casos arquivados. Por essa norma,
os investigados são identificados apenas
pelas iniciais, como se o STF estivesse, de
alguma forma, resguardando acusados de
algum delito. Assegura o presidente que a
presunção de inocência não justifica o que
define como “opacidade que prevalece no
âmbito dos processos criminais no Supremo”.
Reverter essa restrição significa, segundo a
argumentação do ministro, ser transparente
não só para a justiça, mas também para toda
a sociedade.
Zero Hora, 8/4/2013.
09. (CESPE - Adaptada) ## A substituição
de “vir a ser” (l.8-9) por virem a serem
prejudicaria a correção gramatical do
período.
Resposta: Certo.
Comentário: Na locução verbal em questão,
apenas o verbo auxiliar deve ser empregado
no plural, ou seja, a forma correta é “virem
a ser”. Isso ocorre, porque o verbo principal
“ser” está antecedido de uma preposição, o
que impossibilita sua flexão. Além disso, a
regra geral de concordância com locuções
verbais ensina que o verbo auxiliar serve
para receber as flexões de tempo, modo,
número e pessoa, a fim de indicar como se
dá a concordância do verbo.
O respeito às diferentes manifestações
culturais é fundamental, ainda mais em um
país como o Brasil, que apresenta tradições
e costumes muito variados em todo o seu
4 território. Essa diversidade é valorizada
e preservada por ações da Secretaria da
Identidade e da Diversidade Cultural (SID),
criada em 2003 e ligada ao Ministério da
Cultura.
Cidadãos de áreas rurais que estejam
ligados a atividades culturais e estudantes
universitários de todas as regiões do Brasil,
por exemplo, são beneficiados por um dos
10 projetos da SID: as Redes Culturais.
Essas redes abrangem associações e grupos
culturais para divulgar e preservar suas
manifestações de cunho artístico. O projeto
é guiado por 13 parcerias entre órgãos
representativos do Estado brasileiro e as
entidades culturais.
A Rede Cultural da Terra realiza oficinas
de capacitação, cultura digital e atividades
ligadas às artes plásticas, cênicas e visuais,
à literatura, à música e ao artesanato.
Além disso, mapeia a memória cultural dos
trabalhadores do campo. A Rede Cultural
dos Estudantes promove eventos e mostras
culturais e artísticas e apoia a criação de
Centros Universitários de Cultura e Arte.
Culturas populares e indígenas são outro
foco de atenção das políticas de diversidade,
havendo editais públicos de premiação de
atividades realizadas ou em andamento,
o que 25 democratiza o acesso a recursos
públicos.
O papel da cultura na humanização
do tratamento psiquiátrico no Brasil é
discutido em seminários da SID. Além 28
disso, iniciativas artísticas inovadoras nesse
segmento são premiadas com recursos do
Edital Loucos pela Diversidade.
Tais ações contribuem para a inclusão
e socializam o direito à 31 criação e à
produção cultural.
96
LÍNGUA PORTUGUESA
A participação de toda a sociedade
civil na discussão de qualquer política
cultural se dá em reuniões da SID com 34
grupos de trabalho e em seminários, oficinas
e fóruns, nos quais são apresentadas as
demandas da população. Com base nesses
encontros é que podem ser planejadas e
desenvolvidas 37 ações que permitam o
acesso dos cidadãos à cultura e a promoção
de suas manifestações, independentemente
de cor, sexo, idade, etnia e orientação sexual.
Identidade e diversidade. Internet:
<www.brasil.gov.br/sobre/cultura/>(com
adaptações).
10. (CESPE - Adaptada) ## A correção
gramatical do texto seria mantida caso
as formas verbais “promove” e “apoia”
(l.13) fossem flexionadas no plural, para
concordar com o termo mais próximo, “dos
Estudantes” (l.12).
Resposta: Errado.
Comentário: As formas verbais estão no
plural, porque concordam com o referente
para o núcleo do sujeito, que se trata da
palavra “Rede”. A possibilidade suscitada
pela questão diz respeito à regra de
concordância com sujeito formado por “ex-
pressão partitiva seguida de nome no plural”.
Ocorre que, na sentença, não há expressão
partitiva, logo, haveria erro gramatical se a
concordância mencionada fosse realizada.
11. (CESGRANRIO – Adaptada) ## Na
abordagem da concordância verbal, as
gramáticas apresentam casos em que o
verbo fica invariável, por ser considerado
“impessoal”.
O exemplo do texto em que o verbo grifado
encontra-se no singular por ser impessoal é:
a) “Será árduo garimpar os números da
família, amigos, contatos profissionais.”
b) “Eu os buscarei, é óbvio.”
c) “Há alguns anos...”
d) “Vejo motoristas de táxi...”
e) “A maioria dos chefes sente-se no
direito...”
Resposta: C
Comentário: Em “a”, o sujeito do verbo “ser”
é oracional (garimpar...); em “b”, o sujeito é o
pronome “eu”; em “c” o verbo é impessoal,
pois se trata do verbo “haver” na acepção
de “tempo transcorrido”; em “d” o sujeito
é oculto; em “e”, o sujeito é a expressão “A
maioria dos chefes”.
12. (UFMT – Adaptada) ## Uma das
características de um texto de ordem prática,
como ordens de serviço e ofício, é o respeito
à concordância nominal preconizada pela
norma culta da língua. Assinale a alternativa
que NÃO apresenta concordância adequada.
a) A empresa está determinada a oferecer
alojamento e alimentação apropriados.
b) O sinal para que os funcionários se dirijam
ao refeitório soa exatamente ao meio-dia e
meia.
c) A coordenadora do RH está meia
sobrecarregada de tantos contratos novos.
c) É proibida a entrada de estranhos ao
compartimento de máquinas.
Resposta: C
Comentário: A palavra “meio” é um
advérbio, logo, trata-se de uma palavra
invariável. Isso quer dizer não é possível
fazer a flexão desse elemento. A forma
correta seria “A coordenadora do RH está
MEIO sobrecarregada de tantos contratos
novos”.
97
LÍNGUA PORTUGUESA
13. (VUNESP – Adaptada) ## Considerando
as regras de concordância nominal e verbal,
de acordo com a norma-padrão da língua
portuguesa, assinale a alternativa correta.
a) A comunicação e a confiança dos filhos
serão aumentadas se os pais responderem
às perguntas feitas por eles com clareza e
simplicidade.
b) A comunicação e a confiança dos filhos
será aumentadas se os pais responderem
às perguntas feitas por eles com clareza e
simplicidade.
c) A comunicação e a confiançados filhos
será aumentada se os pais responderem
às perguntas feitas por eles com clareza e
simplicidade.
d) A comunicação e a confiança dos filhos
serão aumentada se os pais responderem
às perguntas feitas por eles com clareza e
simplicidade.
e) A comunicação e a confiança dos filhos
serão aumentadas se os pais responderem
às perguntas feita por eles com clareza e
simplicidade.
Resposta: A
Comentário: Como o sujeito da sentença
é composto e está anteposto ao verbo (A
comunicação e a confiança dos filhos), a
forma verbal deve ser empregada no plural, o
que resultará em “serão aumentadas”. Além
disso, a palavra “feitas” deve concordar com
o substantivo “perguntas”, a fim de manter
a correção gramatical.
14. (VUNESP – Adaptada) ## Assinale a
alternativa correta quanto à concordân-cia
verbal e nominal.
a) Muito frequente, o desrespeito às leis e
o consumo de álcool antes de dirigir tem
provocado cada vez mais acidentes de
trânsito.
b) Com a nova lei seca e o aumento da
fiscalização, espera-se que diminua os
acidentes provocados por motoristas
embriagados.
c) Com a nova lei seca, tem sido intensificado
a apreensão de carteiras de motorista e a
condenação de condutores embriagados
que se envolvem em acidentes.
d) Insatisfeitos, alguns juristas têm
reclamado do fato de, segundo eles, a nova
lei possuir alguns conceitos pouco precisos.
d) A fiscalização passa a ser considerado de
fundamental importância para que a nova
lei seca possa cumprir o seu papel.
Resposta: D
Comentário: Em “A”, o verbo “ter” deve
receber o acento circunflexo para concordar
com o sujeito composto (o desrespeito às
leis e o consumo de álcool); em “B”, o verbo
“diminuir” deve ser empregado no plural
para concordar com o núcleo do sujeito
(acidentes); em “C”, a forma correta seria
“têm sido intensificadas”, a fim de concordar
com o sujeito composto, que possui dois
núcleos femininos; em “D”, a concordância
está correta; em “E”, o termo “considerado”
deveria ser empregado no feminino para
concordar com a expressão “A fiscalização”.
15. (FCC – Adaptada) ## A concordância
verbal está correta em:
a) Haviam pessoas que não se importavam
com seus vizinhos de viagem, falavam alto
ao celular.
b) Os usuários pareciam gostarem daquela
bagunça: o som alto, mesmo de qualidade
duvidosa.
c) Já fazem meses que entro no ônibus, no
mesmo horário, com as mesmas pessoas
que sempre falam ao celular.
d) Sempre havia pessoas que não se
importavam em expor sua vida particular,
pareciam até se divertir.
e) Sempre vai existir passageiros que se
incomodem com o som alto e com músicas
de gosto duvidoso.
98
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: D
Comentário: Em “A”, o verbo deve ser
empregado no singular, pois se trata de um
verbo impessoal; em “B”, uma das formas de
“pareciam gostarem” deveria ser empregada
no singular. Isso ocorre em razão de, no
emprego do verbo “parecer” com outro
verbo no infinitivo, a regra exigir que uma
das formas apenas ceda à concordância, ou
seja, se houver um sujeito no plural, apenas
um dos verbos pode ser flexionado. Em “C”,
o verbo “fazer” é impessoal (pois se trata de
tempo transcorrido) e deve ser empregado
no singular. Em “D”, a concordância está
correta, pois o verbo “haver” foi empregado
de forma impessoal (no sentido de “existir”).
Em “E”, o verbo deveria ser empregado no
plural, pois o sujeito possui como núcleo um
substantivo no plural (passageiros).
16. (FCC – Adaptada) ## Considere:
Já ...... muitas pessoas no ônibus. Dali ......
pouco o falatório ao telefone aborreceria
muitos dos passageiros. Eles já estavam ......
incomodados pelo provável barulho. ......
dias que enfrentavam esse problema, sendo-
lhes ...... as reclamações pela possibilidade
de desentendimento.
Portanto, ...... de suportar o desconforto.
Preenchem, corretamente, as lacunas do
texto:
a) havia - a - meio - Fazia - proibidas - haviam
b) haviam - a - meia - Fazia - proibido - havia
c) haviam - há - meio - Faziam - proibidas -
haviam
d) havia - há - meia - Fazia - proibido -
haviam
e) havia - a - meio - Fazia - proibidas - havia
Resposta: A
17. (FCC – Adaptada) ## As normas de
concordância estão plenamente respeitadas
na frase:
a) Lentes que refratam as ondas
eletromagnéticas emitidas pelo calor
permite divisar com clareza o movimento
de corpos em meio ao breu da noite.
b) Cada um dos órgãos sensoriais que nos
ligam ao mundo têm uma função específica.
c) A maior parte das ondas sonoras que
perpassa o nosso caminho (celulares,
rádios, TVs etc. ) é inaudível para os ouvidos
humanos.
d) Apenas alguns poucos animais, como o
cão, consegue escutar sons como as ondas
hertzianas.
e) As vibrações sonoras que o morcego é
capaz de perceber se situa fora do alcance
do ouvido humano.
Resposta:
Comentário: Em “A”, o verbo deveria ser
flexionado para o plural, em vista de o
núcleo do sujeito ser a palavra “Lentes”.
Em “B”, o sujeito é formado pela expressão
“Cada um”, nesse caso o verbo deve ficar
no singular. Em “C”, o sujeito é formado
por uma expressão partitiva (a maior parte
de) seguida de um substantivo no plural
(os órgãos sensoriais), nesse caso há dupla
possibilidade de concordância. Em “D”, o
núcleo do sujeito do verbo “conseguir” está
no plural (animais), logo, o verbo deve ir ao
plural. Em “E”, o sujeito do verbo “situar”
está no plural (As vibrações sonoras), logo,
o verbo deve ir para o plural.
-------------------------- ------------------------
Há evidências de que a oferta de
medicação domiciliar pelas operadoras
de planos de sa-úde traz efeito positivo
aos beneficiários: todas as normas da ANS
primam pela pesquisa baseada em evidências
científicas nacionais e internacionais e
99
LÍNGUA PORTUGUESA
buscam a qualidade da sa-úde oferecida
aos beneficiários dos planos de saúde, bem
como o equilíbrio do setor.
18. (CESPE - Adaptada) ## A forma verbal
“traz” está no singular porque con-corda
com o núcleo de seu sujeito: “a oferta”.
Resposta: Certo.
Comentário: Na sentença, o verbo “trazer”
possui como sujeito a expressão “a oferta de
medicação domiciliar pelas operadoras de
plano de saúde”, cujo sujeito é o substantivo
“oferta”, que está no singular. Diante
disso, faz-se a concordância no singular.
Os fragmentos que constituem os itens
seguintes foram adaptados de trechos de
notícias do sítio da OIT na Internet. Julgue-
os no que se refere à correção gramatical.
19. (CESPE – Adaptada) ## Antes da crise
mundial, as diferenças entre homens e
mulheres, no que diz respeito ao desemprego
e à relação emprego-população, havia se
atenuado. Nas economias avançadas, a
crise parece haver afetado aos homens nos
setores que dependem do comércio mais do
que as mulheres, que trabalham em saúde e
educação. Nos países em desenvolvimen-to,
as mulheres foram particularmente afetadas
nos setores relacionados ao comércio.
Resposta: Errado.
Comentário: Nesse parágrafo, o verbo
“haver” deveria ser empregado no plural,
uma vez que funciona como o auxiliar
do verbo “atenuar”, que está apassivado
na sentença. Como o sujeito paciente da
sentença está no plural, a correção prescreve
a concordância no plural.
-------------------------- ------------------------
Julgue se os trechos abaixo, adaptados de
O Globo de 17/7/2012, estão corretos e
adequa-dos à língua escrita formal.
20. (CESPE – Adaptada) ## Viemos
informar que o Ministério Público Eleitoral,
até a semana passada, haviam pedido a
impugnação de 349 candidaturas — não
apenas com base na Ficha Limpa —, das quais
316 para vereador, 23 para vice-prefeito e
dez para prefeito.
Resposta: Errado.
Comentário: Nesse parágrafo, o verbo
“haver” deveria ser empregado no singular,
porque seu sujeito está no singular (a
expressão Ministério Público Eleitoral).
A experiência cultural das sociedades,
em nossa época, é cada vez mais moldada e
"globalizada" pela transmissão e difusão das
formas significativas, visuais ediscursivas,
via meios de comunicação de massa.
Conquanto o desenvolvimento dos meios de
comunicação tenha tornado absolutamente
frágeis os limites que separavam o público do
privado, assiste-se hoje a uma nova tendência
de politização e visibilidade do privado, com
a estruturação de novas relações familiares,
bem como à privatização do público. Faz-
se necessário frisar que o imaginário social
acompanha lentamente essa evolução,
nem sempre aceitando o rompimento dos
costumes fortemente arraigados.
Vera Lúcia Pires. A identidade do sujeito
feminino: uma leitura das desigualdades. In:
M. I. Ghilardi-Lucena (Org.). Representações
do feminino. PUC: Átomo, 2003, p. 209 (com
adaptações).
01. (CESPE – Adaptada) ## Na linha 4,
o uso do sinal indicativo da crase em "à
privatização" mostra que o conectivo "bem
como" introduz um segundo complemento
ao verbo assistir.
EMPREGO DO SINAL
INDICATIVO DE CRASE
100
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: Certo
Comentário: Como a expressão “bem
como” se trata de uma locução conjuntiva
aditiva, entende-se que ela estabelece uma
relação de soma na sentença. Além disso,
basta verificar a presença da preposição
introduzindo o primeiro complemento do
verbo assistir, para compreender que se
trata de um verbo transitivo indireto. Para
manter o paralelismo, deve-se empregar
outra preposição “a”, o que gera o acento
grave.
02. (ESAF – Adaptada) ## O texto abaixo foi
transcrito com adaptações. Assinale a opção
que manteve o emprego correto do sinal
indicativo de crase.
Interessa à (1) todo o País, por sua
importância para à (2) produção, à (3)
criação de empregos e o desenvolvimento, a
agenda levada ao Congresso pelo presidente
da Confederação Nacional da Indústria −
CNI. Ao apresentar uma lista de 131 projetos
considerados favoráveis ou prejudiciais
ao setor, ele cobrou dos parlamentares,
como de costume, atenção urgente às (4)
questões de grande relevância para à (5)
economia, especialmente numa fase de crise
internacional.
(Editorial, O Estado de S. Paulo, 29/3/2012)
a) 1
b) 2
c) 3
d) 4
e) 5
Resposta: D
Comentário: Em “A”, não deve haver o
acento grave, pois o “a” antecede um
pronome indefinido. Em “B”, não deve haver
acento grave, pois a preposição “para” já
foi aplicada, o que dispensa a preposição
“a”. Em “C”, o acento grave não deve ser
empregado, pois o “a” é apenas um artigo
antecedendo um substanti-vo nuclear de
um sujeito. Em “D”, o acento grave foi
corretamente empregado, pois se trata de
um complemento do termo “atenção”, o
qual foi introduzido pela preposição. Em
“E”, não se emprega o acento grave, pois a
preposição para já foi empregada.
-------------------------- ------------------------
Ismael odiava beijos em público. Era
uma coisa que o deixava perturbado desde
a infância na casa dos seus pais. Mas vibrava
de alegria ao ficar sabendo de eventual
repressão a algum beijoqueiro. A notícia
que ouviu pelo rádio, na casa de um vizinho,
sobre o jogador de vôlei que havia sido
repreendido por um membro da organização
do Mundial de Clubes de Vôlei por beijar em
público sua mulher, após a conquista de um
título, deixou-o simplesmente eufórico.
Os amigos ficavam espantados diante
dessa insólita situação, mesmo porque, aos
17 anos, poderia facilmente arrumar uma
namorada - e beijá-la à vontade, se fosse o
caso.
Não era o caso, ele achava o beijo
em público uma conduta afrontosa. Jurava
para si próprio que jamais casal algum se
beijaria perto dele. Mas como evitar que isso
acontecesse? Não poderia, claro, recorrer
à violência, conforme conselho recebido
de alguns professores que elogiavam essa
sua ideia sobre o beijo. Eles evitavam atos
de violência. Teria de recorrer a algum
meio eficiente, mas não agressivo para
expressar a sua repulsa. E aí lhe ocorreu: a
tosse! Uma forma fácil de advertir pessoas
inconvenientes. Naquele mesmo dia fez a
primeira experiência. Avistou, na escola, um
jovem casal se beijando. Colocou-se atrás dos
jovens e começou a tossir escandalosamente
- até que eles pararam.
O rapaz, depois de uma breve
reclamação, levantou-se e saiu resmungando.
101
LÍNGUA PORTUGUESA
Mas a moça, que, aliás, já conhecia, Sofia,
moradora da sua rua, olhou-o até com
simpatia. Ele estranhou. Deu as costas e foi
embora.
À noite, estava sozinho em casa,
quando alguém bateu à porta. Abriu, era
Sofia. Sorrindo, ela lhe estendeu um frasco:
era xarope contra a tosse. Num impulso,
ele puxou-a para si e deu-lhe um doce e
apaixonado beijo. O primeiro e decisivo beijo
de sua vida.
Estão namorando (e beijando muito).
Quanto ao xarope, deu-o a um amigo.
Descobriu o que é bom para a tosse, ao
menos para a tosse que nasce da neurose: é
o beijo. Grande, grande remédio!
(Moacyr Scliar, Folha de S.Paulo, 16.11.09.
Adaptado)
03. (VUNESP – Adaptada) ## Na questão,
assinale a alternativa que preenche, correta
e respectivamente, os espaços das frases.
Com as amigas, Sofia começou_________
falar sobre algumas atitudes__________não
gostava.
a) à ... que
b) a ... de que
c) à ... com que
d) à ... de que
e) a ... com que
Resposta: B
Comentário: Não se deve empregar o acento
grave no “a” em razão de estar diante de
um verbo. Além disso, a forma correta deve
ser com uma preposição “de” proveniente
do verbo “gostar”. A forma resultante é
“atitudes de que não gostava”.
-------------------------- ------------------------
O ABCerrado e a Matomática
(“matemática do mato”), metodologias
criadas por um professor da UnB, apoiam-
se em dois princípios: o da elevação da
autoestima de alunos e professores e o
do envolvimento com o meio ambiente
para a construção, de forma lúdica e
interdisciplinar, da cidadania e do respeito
mútuo. “Fazemos a aproximação por meio
de elementos do contexto onde as crianças
estão inseridas. As atividades de leitura,
interpretação e escrita associam-se ao tema
do cerrado na forma de poesias, música,
desenho, pintura e jogos”, explica uma
professora da Faculdade de Educação da
UnB. Atualmente, a universidade trabalha
para expandir a aplicação do ABCerrado na
rede de ensino do DF. “Ainda prevalece uma
visão conservadora sobre o que é educação”,
conta a professora. “A natureza possui uma
dimensão formadora. Isso subverte a forma
de se tratar a relação entre o ser humano e
o meio ambiente no cerne de um processo
educativo. Não se trata de educar o ser
humano para o domínio e a apropriação da
natureza, mas de educar a humanidade para
ser capaz de trocar e de aprender com ela”,
completa.
João Campos. O ABC do cerrado. In: Revista
Darcy, jun./2012 (com adaptações)
04. (CESPE – Adaptada) ## Sem prejuízo
da correção gramatical do texto, o período
‘As atividades (...) jogos’ (l.4-5) poderia ser
reescrito da seguinte maneira: Às atividades
de leitura, interpretação e escrita associa-
se o tema do cerrado na forma de poesias,
música, desenho, pintura e jogos.
Resposta: Certo
Comentário: Para essa questão, basta
perceber que o termo em questão, ao
receber o acento indicativo de crase, passa
a desempenhar a função de objeto indireto
do verbo associar. Como o termo possuía um
artigo no início, o acréscimo da preposição
gera um caso de crase.
102
LÍNGUA PORTUGUESA
Ao apresentar a perspectiva local
como inferior à perspectiva global, como
incapaz de entender, de explicar e, em última
análise, de tirar proveito da complexidade do
mundo contemporâneo, a concepção global
atualmente dominante tem como objetivo
fortalecer a instauração de um único código
unificador de comportamento humano,
e abre o caminho para a realização do
sonho definitivo de economias globais de
escala. Como resultado deste processo, o
"modelo econômico" alcança sua perfeição,
que não é somente descrever o mundo,
mas efetivamente governá-lo. E esta é a
essência mesma do paradigma moderno
de desenvolvimento e de progresso, cujo
estágio supremo de perfeição a globalização
representa.
Fica claro quea escala não poderia
ser melhor ou maior do que sendo global e
é somente neste nível que a sua primazia e
universalidade são finalmente afirmadas,
junto com a certeza de que jamais poderia
surgir alguma alternativa viável ao sistema
ideologicamente dominante fundado
no livre mercado, dada a ausência de
qualquer cultura ou sistema de pensamento
alternativo.
Se virmos o fenômeno da globalização
sob esta luz, creio que não poderemos
escapar da conclusão de que o processo é
totalmente coerente com as premissas da
ideologia econômica que têm se afirmado
como a forma dominante de representação
do mundo ao longo dos últimos 100 anos,
aproximadamente.
A globalização não é, portanto, um
acontecimento acidental ou um excesso
extravagante, mas uma extensão simples e
lógica de um "argumento". Parece realmente
muito difícil conceber um resultado final que
fizesse mais sentido e fosse mais coerente
com as bases ideológicas sobre as quais está
fundado. Em suma, a globalização representa
a realização acabada e a perfeição do projeto
de modernidade e de seu paradigma de
progresso.
G. Muzio. A globalização como o estágio
de perfeição do paradigma moderno:
uma estratégia possível para sobreviver à
coerência do processo.
Trad. Luís Cláudio Amarante. In: Francisco
de Oliveira e Maria Célia Paoli (Org.).
Os sentidos da democracia. Políticas do
dissenso e hegemonia global.
2.ª ed. Petrópolis - RJ: Vozes; Brasília: NEDIC,
1999, p. 138-9 (com adaptações).
05. (CESPE – Adaptada) ## Mantém a
correção gramatical do texto a seguinte
reescrita do trecho "e abre o caminho para
a realização": e deixa aberto o caminho à
realização.
Resposta: Certo
Comentário: A correção gramatical será
mantida pois ainda haverá uma preposição
indicando finalidade (a preposição “a”),
ocorre que, nesse caso, haverá a necessidade
de inserir o acento grave.
-------------------------- ------------------------
A moralidade pública consiste em uma
esfera de que todos os seres humanos
participam, na medida em que cada sistema
moral, a fim de revelar sua unilateralidade,
precisa ser confrontado com outros. Segue-
se a necessidade de que todos os seres
humanos sejam incluídos no seu âmbito.
Sob esse aspecto, a moral pública é uma
moral cosmopolita, pois estabelece regras
de convivência e direitos que asseguram
que os homens possam ser morais. É nesse
sentido que os direitos do homem, tais como
em geral têm sido enunciados a partir do
século XVIII, estipulam condições mínimas
do exercício da moralidade. Por certo, cada
um não deixará de aferrar-se à sua moral;
deve, entretanto, aprender a conviver com
outras, reconhecer a unilateralidade de seu
ponto de vista. E com isso obedece à sua pró-
pria moral de uma maneira especialíssima,
103
LÍNGUA PORTUGUESA
tomando os impeditivos categóricos dela
como um momento particular do exercício
humano de julgar moralmente.
José Arthur Gianotti. Moralidade pública
e moralidade privada. In: Ética, Adauto
Novaes (org.). São Paulo: Compa-nhia das
Letras, Secretaria Municipal de Cultura, 5.ª
impressão, 1997, p. 244 (com adaptações).
06. (CESPE – Adaptada) ## Caso o sinal
indicativo de crase nas ocorrências
"aferrar-se à sua moral" e "obedece à sua
própria moral" seja retirado, os períodos
permanecem gramaticalmente corretos,
uma vez que os verbos "aferrar" e "obedecer"
apresentam transitividade indireta e o
elemento que se mantém é a preposição
necessária à regência.
Resposta: Certo
Comentário: O que justifica essa questão
é uma regra de crase facultativa. Como
os pronomes possessivos femininos não
exigem que se anteponha um artigo, ainda
permanece correta a sentença sem os
acentos graves que estavam no período
original.
-------------------------- ------------------------
Em uma iniciativa inédita, dez grandes
corporações assinaram um compromisso
com o Fórum Econômico Mundial para
divulgar regularmente o volume de suas
emissões de gases poluentes. Com isso, elas
se antecipam aos governos que ainda estão
aguardando a entrada em vigor do protocolo
de Kyoto. Pelo acordo, denominado Registro
Mundial de Gases que Causam o Efeito
Estufa, as multinacionais passam a informar
o seu grau de poluição do meio ambiente,
atendendo a expectativas de acionistas, que
cobram mais transparência sobre o tema.
Juntas, essas empresas são responsáveis
pela emissão de 800 milhões de toneladas de
dióxido de carbono por ano, o que representa
cerca de 5% das emissões mundiais.
O Globo, 23/1/2004, p. 30 (com adaptações).
07. (CESPE – Adaptada) ## Caso se
optasse por às expectativas em lugar de "a
expectativas", o período em que se encontra
essa expressão continuaria atendendo às
exigências da norma culta escrita.
Resposta: Certo
Comentário: A correção gramatical seria
mantida, pois o verbo “atender” passaria a
ter transitividade indireta e, nesse caso, o
acento grave deveria ser empregado, como
resultado da soma entre preposição e artigo.
-------------------------- ------------------------
Em uma iniciativa inédita, dez grandes
corporações assinaram um compromisso
com o Fórum Econômico Mundial para
divulgar regularmente o volume de suas
emissões de gases poluentes. Com isso, elas
se antecipam aos governos que ainda estão
aguardando a entrada em vigor do protocolo
de Kyoto. Pelo acordo, denominado Registro
Mundial de Gases que Causam o Efeito
Estufa, as multinacionais passam a informar
o seu grau de poluição do meio ambiente,
atendendo a expectativas de acionistas, que
cobram mais transparência sobre o tema.
Juntas, essas empresas são responsáveis
pela emissão de 800 milhões de toneladas de
dióxido de carbono por ano, o que representa
cerca de 5% das emissões mundiais.
O Globo, 23/1/2004, p. 30 (com adaptações).
08. (CESPE – Adaptada) ## Serão respeitadas
as regras gramaticais se for utilizado o sinal
indicativo de crase no "a" que precede
"informar".
Resposta: Errado.
Comentário: De acordo com a prescrição
gramatical, não é possível utilizar acento
grave indicativo de crase antes de formas
verbais.
104
LÍNGUA PORTUGUESA
As categorias da ética
A vida humana se caracteriza por
ser fundamentalmente ética. Os conceitos
éticos "bom" e "mau" podem ser predicados
a todos os atos humanos, e somente a estes.
Isso não ocorre com os animais brutos. Um
animal que ataca e come o outro não é
considerado maldoso, não há violência entre
eles.
Mesmo os atos de caráter técnico
podem ser qualificados eticamente. Esses
atos sempre servem para a expansão ou
limitação do ser humano. Sob a perspectiva
ética, o que importa nas ações técnicas não
é a sua trama lógica, adequada ou eficiente
para obter resultados, mas sim a qualificação
ética desses resultados.
A eficiência técnica segue regras
técnicas, relativas aos meios, e não normas
éticas, relativas aos fins. A energia nuclear
pode ser empregada para o bem ou para o
mal. Na verdade, ela é investigada, apurada e
criada para algum resultado, que lhe confere
validade. Não vale por si mesma, do ponto
de vista ético. Pode valer pela sua eventual
utilidade, como meio; mas o uso de energia
nuclear, para ser considerado bom ou mau,
deve referir-se aos fins humanos a que se
destina.
Vê-se, pois, que o plano ético permeia
todas as ações humanas. Isso ocorre porque
o homem é um ser livre, vocacionado para o
exercício da liberdade, de modo consciente.
Sem liberdade não há ética. A liberdade
supõe a operação sobre alternativas;
ela se concretiza mediante a escolha, a
decisão, a consciência do que se faz. Isso
implica refugir à determinação unilinear
necessária, à determinação meramente
causal. É a afirmação da contingência, da
multiplicidade. Diante da multiplicidade de
caminhos a nossa disposição, ava-liamos e
escolhemos.
Na verdade, somos obrigados a
escolher. Somos obrigados a exercer
a liberdade. Assim, a decisão supõe
a possibilidade e, paradoxalmente, a
necessidade de estimar as coisas e as ações
humanas para atenderas nossas demandas;
supõe a avaliação de múltiplos fatores que
perfazem uma situação humana complexa.
Aí, portanto, temos também compreendida
a esfera do valor. Não há liberdade sem
valoração. Essa esfera, entretanto, é muito
ampla, pois envolve não só o mundo da ética,
mas também o da utilidade, da estética, da
religião etc.
Sob o ângulo especificamente ético,
não haverá escolha, exercício da liberdade,
definição ética quando não houver avaliação,
preferência a respeito das ações humanas.
Eis por que na base da ética, como dissemos,
encontram-se necessariamente a liberdade
e a valoração; a ética só se põe no mundo da
liberdade, da escolha entre ações humanas
avaliadas.
A escolha, a decisão, que é
manifestação de nossa liberdade, só é
possível tendo por fundamento o mundo
axiológico, tanto quanto este tem por
condição de possibilidade a liberdade. Não
se pode estimar sem alternativas possíveis.
Na medida em que se escolhe, se
avalia para obter a consciência do que é
preferido. Ao escolher um caminho, pondera-
se que, de algum modo ou sob algum prisma,
é o melhor em relação a outro; o caminho
escolhido mata outras possibilidades. Na
escolha não pode haver indiferença. Ela está
dirigida à ação, à exteriorização, à tomada
de posição. Isto significa que a escolha, a
decisão, nos leva à determinação normativa
ou imperativa de uma via em detrimento de
outra.
O mundo oferece resistências e
determinações necessárias e, por meio
destas, as ações éticas se realizam
precisamente enquanto as contrariam. As
ações éticas brilham justamente quando se
opõem às tendências "naturais" do homem.
Assim, a liberdade não só se contrapõe
105
LÍNGUA PORTUGUESA
à necessidade, como sua negação, mas
também existe em função desta. Não há
liberdade sem necessidade. Não há ética
sem impulsão, sem desejo. A melhor prova
da liberdade é o esforço de superação da
necessidade, afirmando-a e negando-a
dialeticamente, a um só tempo. Então, o
mundo ético só é possível no meio social, no
bojo das determinações sociais.
O fenômeno ético não é um
acontecimento individual, existente apenas
no plano da consciência pessoal. Isso porque
o ente singular do homem só se manifesta,
como ser autêntico, em suas relações
universais com a sociedade e com a natureza.
Esse fenômeno é resultante de relações
sociais e históricas, compreendendo também
o mundo das necessidades, da natureza.
A ética só existe no seio da comunidade
humana.
Os homens ou grupos de homens
que controlam a produção e os meios de
circulação econômica dos bens possuem
maior liberdade do que aqueles que não têm
o poder desse controle. Por aí se vê também
que a liberdade e a ética não se reduzem
a fenômenos meramente subjetivos; elas
têm sempre dimensões sociais, históricas e
objetivas.
Há, assim, um grande esforço, um
esforço ético-político para se obter uma
distribuição igualitária dos direitos entre os
homens, quer dentro das comunidades, quer
entre as comunidades. Na verdade existe
uma ética sobre a ética, uma metaética. A
metaética é utópica, crítica, subversiva e
transcende as condições mais imediatas
da vida social. No entanto, ela precisa ser
possível no mundo dos fatos sociais, sob
pena de se perder como uma utopia de
meros sonhos.
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. In: www.
centrodebate.org)
09. (FGV – Adaptada) ## Dos trechos
transcritos do texto, assinale aquele em
que se poderia empregar opcionalmente o
acento indicativo de crase.
a) Preferência a respeito das ações humanas.
b) Diante da multiplicidade de caminhos a
nossa disposição.
c) Na verdade, somos obrigados a escolher.
d) Podem ser predicados a todos os atos
humanos.
e) Não se reduzem a fenômenos meramente
subjetivos.
Resposta: B
Comentário: Em “A”, não se emprega
acento grave, pois o termo subsequente
à preposição é um substantivo masculino.
Em “B”, o emprego do acento é facultativo,
pois há um pronome possessivo feminino na
locução “a nossa disposição”. Em “C”, não
se emprega o acento grave em razão de o
termo subsequente à preposição ser um
verbo. Em “D”, não se emprega o acento
grave em razão de o termo subsequente à
preposição ser um pronome indefinido. Em
“E”, não se emprega o acento grave, pois –
além de o substantivo ser masculino – está
no plural e não há anteposição de artigo em
relação ao substantivo.
-------------------------- ------------------------
Desenvolvimento, ambiente e saúde
No documento Nosso Futuro Comum,
preparado, em 1987, pela Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
das Nações Unidas, ficou estabelecido,
pela primeira vez, novo enfoque global
da problemática ecológica, isto é, o das
inter-relações entre as dimensões físicas,
econômicas, políticas e socioculturais.
Desde então, vêm se impondo, entre
especialistas ou não, a compreensão
sistêmica do ecossistema hipercomplexo
em que vivemos e a necessidade de uma
mudança nos comportamentos predatórios
106
LÍNGUA PORTUGUESA
e irresponsáveis, individuais e coletivos, a fim
de permitir um desenvolvimento sustentável,
capaz de atender às necessidades do
presente, sem comprometer a vida futura
sobre a Terra.
O desenvolvimento, como processo de
incorporação sistemática de conhecimentos,
técnicas e recursos na construção do
crescimento qualitativo e quantitativo
das sociedades organizadas, tem sido
reconhecido como ferramenta eficaz para
a obtenção de uma vida melhor e mais
duradoura. No entanto, esse desenvolvimento
pode conspirar contra o objetivo comum,
quando se baseia em valores, premissas e
processos que interferem negativamente
nos ecossistemas e, em consequência, na
saúde individual e coletiva.
Paulo Marchiori Buss. Ética e ambiente.
In: Desafios éticos, p. 70-1 (com adaptações).
10. (CESPE – Adaptada) ## O emprego do
sinal indicativo de crase em "às necessidades"
é obrigatório; a omissão desse sinal
provocaria erro gramatical por desrespeitar
as regras de regência estabelecidas pelo
padrão culto da linguagem.
Resposta: Errado
Comentário: O acento grave não é
obrigatório, pois o verbo “atender” não
pode possuir mais de uma regência, o que
não prejudica a correção gramatical da
sentença.
11. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção
que preenche corretamente as lacunas.
Os defensores de sistemas de
iniciativa privada apontam _1_ ineficiência
e__2___rigidez geralmente associadas _3_
burocracias governamentais (economias
estatais) e sugerem que _4_ competição,
longe de ser perdulária, age como um
incentivo _5_ eficiência e ao espírito
empreendedor, conduzindo _6_ queda de
preços e _7_ produtos e serviços de melhor
qualidade.
(Adaptado de Enciclopédia Compacta de
Conhecimentos Gerais - Isto É- p.204 e 205)
a) à / a / as / a / à / à / a
b) à / à / às / a / a / a / a
c) a / à / as / à / a / a / à
d) a / a / às / a / à / à / a
d) a / a / as / à / à / à / à
Resposta: D
Comentário: Em “1” e “2”, não há acento
grave, pois são dois artigos que antecedem
substantivos e não há emprego de preposição.
Em “3”, o acento grave se faz necessário
em razão da combinação da preposição
proveniente do termo “associadas” com o
artigo plural que antecede o substantivo
“burocracias”. Em “4”, não há acento grave,
porque há apenas o artigo determinando o
substantivo “competição”. Em “5”, o acento
deve ser empregado pois há a preposição
proveniente do substantivo “incentivo”
associada ao artigo determinando o
substantivo “eficiência”. Em “6”, o acento
deve ser empregado em razão de haver uma
preposição proveniente do verbo “conduzir”
somada ao artigo definido antecedendo o
substantivo “queda”. Em “7”, não se emprega
a preposição, pois há apenas a preposição
diante de um substantivo masculino.
12. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção
incorreta quanto à presença ou ausência do
acento grave indicador de crase.
a) Modelo de publicidade da TV aberta terá
que ser adaptado à era digital.
b) Compras ficarão à mão, bastando um
clique no controle remoto.c) As emissoras guardam a sete chaves seus
testes de comerciais interativos, pois à que
107
LÍNGUA PORTUGUESA
chegar mais perto do que o consumidor
deseja vai obter mais ganhos com a
interatividade plena da TV digital.
c) Os primeiros conversores aptos à
interatividade plena (envio de dados às
emissoras) devem chegar às lojas neste
semestre.
d) Como as emissoras vão adaptar a forma
de fazer propaganda, hoje baseada em
audiência, a uma nova realidade, que vai
permitir a interação?
(Com base em "Interatividade com sistema
digital muda propaganda na TV", FSP,
6/1/2007, B4.)
Resposta: C
Comentário: O erro está na letra “C”, pois
– na construção da sentença – o termo
que ante-cede o pronome “que” é apenas
um pronome demonstrativo, ou seja, não
há preposição na sentença. Para confirmar
esse fato, basta trocar a palavra “a” pelo
pronome “aquela”.
13. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a opção
em que o uso do sinal indicativo de crase
está correto.
a) As propostas de reforma que vêm
sendo discutidas desde 1997 têm também
previsto à introdução de um outro imposto,
de caráter seletivo, sobre certos bens e
serviços.
b) Várias delas têm incluído, ainda, imposto
sobre vendas à varejo.
c) À sua função não é tanto complementar
a capacidade de arrecadação do imposto
sobre valor adicionado, mas redistribuir
à competência para tributar o valor
adicionado dentro da federação.
d) Função semelhante à desempenhada,
em algumas propostas, pelo IVA dual, que
envolve a coexistência de dois impostos
sobre valor adicionado, um federal e outro
estadual.
e) Muitos passaram a lutar pela possibilidade
de levar a frente à reforma tributária, nas li-
nhas propostas no final de 1997. É hora de
vencer o desalento e voltar as negociações.
Resposta: D
Comentário: Precisamos entender, nessa
questão, o motivo de não haver acento grave
nas demais alternativas:
a) Não se emprega o acento grave, pois
não há necessidade de preposição, tendo
em vista que o verbo “prever” é transitivo
direto.
b) No adjunto adverbial “a varejo”, não
há acento grave em razão de o núcleo do
adjunto ser um substantivo masculino.
c) Não há acento grave na construção “A
sua função”, pois ela desempenha a função
de sujeito do verbo “ser”. Como não pode
haver sujeito introduzido por preposição, de
acordo com os princípios gramaticais, não
ocorre crase.
d) Acento empregado corretamente.
e) Não se emprega acento grave na expressão
“a reforma tributária”, pois ela de-sempenha
o papel de objeto direto do verbo “levar”,
nesse caso, não há exigência de preposição
e somente o artigo figura no trecho.
-------------------------- ------------------------
Os sistemas de inteligência são
uma realidade concreta na máquina
governamental contemporânea, necessários
para a manutenção do poder e da capacidade
estatal. Entretanto, representam também
uma fonte permanente de risco. Se, por um
lado, são úteis para que o Estado compreenda
seu ambiente e seja capaz de avaliar atuais
ou potenciais adversários, podem, por outro,
tornar-se ameaçadores e perigosos para os
próprios cidadãos se forem pouco regulados
e controlados.
108
LÍNGUA PORTUGUESA
Assim, os dilemas inerentes à
convivência entre democracias e serviços de
inteligência exigem a criação de mecanismos
eficientes de vigilância e de avaliação desse
tipo de atividade pelos cidadãos e(ou) seus
representantes. Tais dilemas decorrem, por
exemplo, da tensão entre a necessidade
de segredo governamental e o princípio do
acesso público à informação ou, ainda, do fato
de não se poder reduzir a segurança estatal
à segurança individual, e vice-versa. Vale
lembrar que esses dilemas se manifestam,
com intensidades variadas, também nos
países mais ricos e democráticos do mundo.
Marco Cepik e Christiano Ambros. Os
serviços de inteligência no Brasil. In:
Ciência Hoje, vol. 45, n.º 265, nov./2009.
Internet: <cienciahoje.uol.com.br> (com
adaptações).
14. (CESPE – Adaptada) ## O uso do sinal
indicativo de crase no trecho "os di-lemas
inerentes à convivência" não é obrigatório.
Resposta: Errado
Comentário: O adjetivo “inerente” exige o
emprego da preposição “a” para introduzir
um complemento nominal. Como o
substantivo “convivência” está determinado
pelo artigo, o acento grave é obrigatório.
-------------------------- ------------------------
A visão do sujeito indivíduo -
indivisível - pressupõe um caráter singular,
único, racional e pensante em cada um de
nós. Mas não há como pensar que existimos
previamente a nossas relações sociais: nós
nos fazemos em teias e tensões relacionais
que conformarão nossas capacidades, de
acordo com a sociedade em que vivemos.
A sociologia trabalha com a concepção
dessa relação entre o que é "meu" e o que
é "nosso". A pergunta que propõe é: como
nos fazemos e nos refazemos em nossas
relações com as instituições e nas relações
que estabelecemos com os outros? Não
há, assim, uma visão de homem como
uma unidade fechada em si mesma, como
Homo clausus. Estaríamos envolvidos,
constantemente, em tramas complexas de
internalização do "exterior" e, também, de
rejeição ou negociação próprias e singulares
do "exterior". As experiências que o homem
vai adquirindo na relação com os outros são
as que determinarão as suas aptidões, os
seus gostos, as suas formas de agir.
Flávia Schilling. Perspectivas sociológicas.
Educação & psicologia. In: Revista Educação,
vol. 1, p. 47 (com adaptações).
15. (CESPE – Adaptada) ## A inserção do
sinal indicativo de crase em "existi-mos
previamente a nossas relações sociais"
preservaria a correção gramatical e a
coerência do texto, tornando determinado o
termo "relações".
Resposta: Errado
Comentário: A sentença ficaria incorreta,
pois o artigo a ser empregado deve estar
no plural, a fim de estabelecer uma relação
de concordância nominal com o núcleo
da expressão, que é a palavra “relações”.
Na construção em questão, não houve
o emprego do artigo, o que inviabiliza a
presença do acento grave.
-------------------------- ------------------------
Da impunidade
O homem ainda não encontrou uma
forma de organização social que dispense
regras de conduta, princípios de valor,
discriminação objetiva de direitos e deveres
comuns. Todos nós reconhecemos que, em
qualquer atividade humana, a inexistência
de parâmetros normativos implica o estado
de barbárie, no qual prevalece a mais dura
e irracional das justificativas: a lei do mais
forte, também conhecida, não por acaso,
como "a lei da selva". É nessa condição que
vivem os animais, relacionando-se sob o
exclusivo impulso dos instintos. Mas o homo
109
LÍNGUA PORTUGUESA
sapiens afirmou-se como tal exatamente
quando estabeleceu critérios de controle
dos impulsos primitivos.
Variando de cultura para cultura, as
regras de convívio existem para dar base e
estabilidade às relações entre os homens.
Não decorrem, aliás, apenas de iniciativas
reconhecidas simplesmente como humanas:
podem apresentar-se como manifestações
da vontade divina, como valores supremos,
por vezes apresentados como eternos. Os
dez mandamentos ditados por Deus a Moisés
são um exemplo claro de que a religião toma
para si a tarefa de orientar a conduta humana
por meio de princípios fundamentais. No
caso da lei mosaica, um desses princípios
é o da interdição: "Não matarás", "Não
cobiçarás a mulher do próximo" etc. Ou
seja: está suposto nesses mandamentos que
o ponto de partida para a boa conduta é o
reconhecimento daquilo que não pode ser
permitido, daquilo que representa o limite
de nossa vontade e de nossas ações.
Nas sociedades modernas, os textos
constitucionais e os regulamentos de todo
tipo multiplicam-se e sofisticam-se, mas
permanece como sustentação delas a
ideia de que os direitos e os deveres dizem
respeito a todos e têm por finalidade o bem
comum. Para garantia do cumprimento dos
princípios, instituem-se as sanções para
quem os ignore. A penalidade aplicada
ao indivíduotransgressor é a garantia da
validade social da norma transgredida. Por
isso, a impunidade, uma vez manifesta,
quebra inteiramente a relação de equilíbrio
entre direitos e deveres comuns, e passa a
constituir um exemplo de delito vantajoso:
aquele em que o sujeito pode tirar proveito
pessoal de uma regra exatamente por tê-la
infringido. Abuso de poder, corrupção, tráfico
de influências, quando não seguidos de
punição exemplar, tornam-se estímulos para
uma prática delituosa generalizada. Um dos
maiores desafios da nossa sociedade é o de
não permitir a proliferação desses casos. Se
o ideal da civilização é permitir que todos os
indivíduos vivam e convivam sob os mesmos
princípios éticos acordados, a quebra desse
acordo é a negação mesma desse ideal da
humanidade.
(Inácio Leal Pontes)
16. (FCC – Adaptada) ## NÃO se justificam
as ocorrências do sinal de crase em:
a) Não me reporto à impunidade de um caso
particular, mas àquela que se generaliza
e dissemina a descrença na justiça dos
homens.
b) É difícil admitir que vivem à solta tantos
delinquentes, sobretudo quando se sabe
que pessoas inocentes são levadas à barra
dos tribunais.
c) O autor do texto faz menção à uma série
de princípios de interdição, à qual teria
proveniência na vontade divina.
d) Assiste-se hoje à multiplicação de casos
de impunidade, à descabida proliferação de
maus exemplos de conduta social.
e) Quem dá crédito à ação da justiça não
pode deixar de trabalhar para que não se
fur-tem às sanções os mais poderosos.
Resposta: C
Comentário: Não se emprega acento
grave diante de palavra indefinida, como
o artigo “uma” é indefinido, o acento foi
erroneamente empregado. Além disso, não
há exigência de preposição para anteceder
o pronome relativo na sentença, portanto,
não ocorre crase na sentença.
-------------------------- ------------------------
Terra, território e diversidade cultural
O voto do ministro Carlos Ayres
Britto sobre a reserva Raposa/Serra do Sol
evidencia a oportunidade de deixarmos
para trás os resquícios de uma mentalidade
colonial e termos um avanço histórico,
110
LÍNGUA PORTUGUESA
rumo a uma política contemporânea que
contemple o diálogo produtivo entre as
diversas etnias e culturas que compõem
um país de dimensões continentais como
o Brasil. O voto deixa claro, ainda, que o
respeito ao espírito e à letra da Constituição
de 1988 é o caminho.
O relator trouxe à luz o direito
inalienável e imprescritível dos índios de viver
nas terras que tradicionalmente ocupam
e de acordo com suas próprias culturas.
Trouxe, também, o valor de sua contribuição
na formação da nacionalidade brasileira.
O ministro mostrou que a afirmação
das culturas dos primeiros enriquece a vida de
todos nós. Basta lembrar o quanto sua relação
positiva com a natureza tem ajudado na
existência da floresta e da megadiversidade
brasileira como um todo. Quem convive com
eles sabe que os indígenas cooperam com as
Forças Armadas para proteger a floresta de
usos ilegais e ajudam no monitoramento das
fronteiras.
Dois pontos, entre vários outros
relevantes abordados pelo voto do ministro,
merecem destaque por suas implicações
para a cultura brasileira. Em primeiro lugar,
a distinção entre terra e território, que
expressa a maneira sofisticada e inovadora
por meio da qual a Constituição de 1988
solucionou juridicamente a relação entre as
sociedades indígenas e o ambiente em que
vivem.
É sabido que a terra não pertence
aos índios; antes, são eles que pertencem
à terra. Por isso mesmo, a Carta Magna,
reconhecendo a anterioridade dessa relação
ao regime de propriedade, concedeu-lhes o
usufruto das terras que ocupam, atribuiu o
pertencimento delas à União e conferiu ao
Estado o dever de zelar pela sua integridade.
A Constituição de 1988 selou a convivência
harmoniosa entre duas culturas, uma que
reconhece e outra que não reconhece a
apropriação da terra pelos homens.
O segundo ponto refere-se à relação
entre terra e cultura, que concerne
à continuidade do território ou sua
fragmentação em ilhas. Quem conhece
a questão indígena no Brasil sabe que
o rompimento da integridade territorial
implica a morte do modo de vida e, portanto,
da cultura e do modo de ser do índio.
Se, em séculos passados, acreditou-se
que os índios eram um arcaísmo, não é mais
possível nem tolerável sustentar tal ponto de
vista no século 21. Não só porque no mundo
todo cresce a convicção da importância
dos povos tradicionais para o futuro da
humanidade, precisamente em virtude
de sua relação específica com a terra e a
natureza, mas também porque a sociedade
do conhecimento, acelerada construção,
não pode prescindir da diversidade cultural
para seu próprio desenvolvimento.
Na era da globalização, da
cibernetização dos conhecimentos, das
informações e dos saberes, não faz mais
sentido opor o tradicional ao moderno,
como se este último fosse melhor e mais
avançado que o primeiro. Com efeito,
proliferam na cultura contemporânea, de
modo cada vez mais intenso, os exemplos
de processos, procedimentos e produtos que
recombinam o moderno e o tradicional em
novas configurações.
Se a China e a Índia hoje surgem
no cenário internacional de modo
surpreendente, é porque sabem articular
inovadoramente a cultura ocidental moderna
com seus antiquíssimos modos de pensar e
agir, demonstrando que o desenvolvimento
não se dá mais em termos lineares e que
o futuro não se desenha desprezando e
recalcando o passado.
Por isso, o Brasil - cuja singularidade se
caracteriza tanto por sua megadiversidade
biológica quanto por sua grande
sociodiversidade e rica diversidade cultural
-, precisa urgentemente reavaliar esse
patrimônio. Temos trabalhado com os
111
LÍNGUA PORTUGUESA
povos indígenas no Ministério da Cultura e
promovido a diversidade cultural como valor
e expressão de uma democracia mais plena,
em que cenas como a defesa da advogada
indígena Joênia Batista de Carvalho
Wapichna se tornem mais que exceções
históricas.
A soberania não se constrói com
fantasmas nem paranoias, mas com a
atualização de nossas forças e nossos
potenciais. O ministro Ayres Britto tem razão
ao sublinhar que não precisamos de outro
instrumento jurídico além da Constituição
de 1988.
(Juca Ferreira e Sérgio Mamberti. Folha de
São Paulo, 9 de setembro de 2008)
17. (FGV – Adaptada) ## "É sabido que a
terra não pertence aos índios; antes, são
eles que pertencem à terra."
No período acima, utilizou-se corretamente
o acento indicativo de crase antes da palavra
terra. Assinale a alternativa em que isso não
tenha ocorrido.
a) Voltarei à terra natal.
b) A sonda espacial retornará em breve à
Terra.
c) Quando chegamos à terra, ainda
sentíamos em nosso corpo o balanço do
mar.
d) Eu me referia à terra dos meus
antepassados.
e) Havendo descuido, a areia será misturada
à terra.
Resposta: C
Comentário: Quando a palavra “terra” for
empregada no sentido de “solo”, não será
empregado o acento grave indicativo de
crase. É o que ocorre na alternativa “C”.
18. (FGV – Adaptada) ## Assinale a alternativa
em que se tenha optado corretamente por
utilizar ou não o acento grave indicativo de
crase.
a) Vou à Brasília dos meus sonhos.
b) Nosso expediente é de segunda à sexta.
c) Pretendo viajar a Paraíba.
d) Ele gosta de bife à cavalo.
e) Ele tem dinheiro à valer.
Resposta: A
Comentário: Em “A”, o acento foi
corretamente empregado, porque o
topônimo “Brasília” está determinado por
um artigo definido e porque há a necessidade
da preposição “a” pela regência do verbo
“ir”.
Em “B”, para manter o paralelismo, é preciso
retirar o acento grave, uma vez que não há
artigo antes do termo “segunda”.
Em “C”, deveria haver o acento, pois o
topônimo “Paraíba” exige a presença do
artigo definido feminino.
Em “D”, não há acento grave, pois – na
locução adverbial em questão – o núcleo é
masculino. Como não se trata da expressão
“à moda de”, o acento grave não deve ser
empregado.Em “E”, não deve haver o acento grave, pois
não se emprega tal acento diante de verbos.
-------------------------- ------------------------
Corrupção, ética e transformação social
Em toda História do Brasil, talvez
nunca tenhamos visto um momento em que
notícias de corrupção tenham sido tão banais
nos meios de comunicação, e tão discutidas
por grande parte da população. Em qualquer
lugar (mesmo que seja um ônibus, por
exemplo), sempre há alguém falando sobre
a crise na saúde, a crise na educação e,
inclusive, a crise ética na política brasileira.
112
LÍNGUA PORTUGUESA
Contudo, é preciso notar também
que, muitas vezes, enquanto cidadãos, nós
mesmos raramente decidimos fazer alguma
coisa pela transformação da realidade - isso,
quando fazemos algo. Certo comodismo nos
toma de assalto e reveste toda a nossa fala
de uma moral vazia, estéril, que se reduz à
crítica que não busca alterar a realidade.
Afinal de contas, em época de eleições,
como a que estamos prestes a vivenciar,
nós notamos nas propagandas políticas dos
partidos a presença dos mesmos políticos e
das mesmas propostas políticas, as mesmas
já prometidas nas eleições anteriores, e que
jamais foram executadas. Logicamente há as
exceções de certos governantes que fazem
por onde efetivar suas promessas, mas esses,
infelizmente, continuam sendo uma minoria
em todo o Brasil.
Numa outra perspectiva, é
interessante perceber também quão
contraditória consiste ser a distância
entre o que nós criticamos em nossos
políticos e as ações que nós reproduzimos
em nosso cotidiano. De uma forma ou de
outra, reproduzimos a corrupção que nós
percebemos na administração pública
nacional quando empregamos o chamado
jeitinho brasileiro, em que o peso de um
sobrenome ou o peso da influência do
status social passa a ser um dos elementos
determinantes para a obtenção de certos
fins. É nesse sentido que podemos apontar
aqui um grave problema social brasileiro,
uma das principais bases para se buscar
o fim da corrupção política no Brasil: a
existência de uma ética baseada em uma
falta de ética. Como poderemos superar essa
incongruência?
Com certeza, a Educação pode ser a
saída ideal. Mas tem de ser uma Educação
voltada para desenvolver nas crianças,
nos jovens e até mesmo nos universitários
- independentemente de frequentarem
instituições públicas ou privadas - uma
preocupação para com o bem público, isto
é, para com a sociedade. Uma Educação que
os leve a superar uma concepção de mundo
utilitarista, segundo a qual toda sociedade
humana não passa de um somatório de
indivíduos e seus interesses pessoais, que
tão bem se acomoda ao jeitinho brasileiro,
será o primeiro passo para se desenvolver
uma sociedade mais justa, uma sociedade
em que a preocupação com o público, com
o coletivo, será a forma ideal para buscar
a felicidade individual, que tanto preocupa
certos conservadores.
Para tanto, sabemos que é preciso
não uma "educação política", mas sim uma
educação politizada. Uma educação que
reconheça que a solução para a corrupção
centra-se em conceber a política não apenas
como um instrumento para se alcançar
um determinado fim, consolidando-se,
portanto, numa mera razão instrumental.
Uma educação na qual a própria política, a
partir do momento em que buscar ser de fato
um meio para se alcançar o bem de todos
- como ao que se propõe o nosso modelo
democrático -, vai estruturar uma ética
que localizará no comodismo e no jeitinho
brasileiro as raízes de nosso analfabetismo
político, substituindo-os por outras formas
de ação social ao longo da construção de
uma cultura cívica diferente.
(adaptado de MOREIRA, Moisés S. In www.
mundojovem.com.br:)
19. (FGV – Adaptada) ## Ao substituir a
expressão sublinhada no fragmento "se reduz
à crítica que não busca alterar a realidade",
assinale a alternativa em que o acento
indicativo de crase deve ser empregado.
a) se reduz a mesma crítica.
b) se reduz a certa crítica.
c) se reduz a qualquer crítica.
d) se reduz a alguma crítica.
e) se reduz a toda crítica.
113
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: A
Comentário: O acento deve ser empregado
em “A”, porque antes do substantivo “crítica”
há um pronome demonstrativo “mesma” – o
que permite o emprego do acento. Em todos
os outros casos, há pronomes indefinidos, o
que inviabiliza a inserção do acento grave.
-------------------------- ------------------------
O jeitinho brasileiro e o homem cordial
O jeitinho caracteriza-se como
ferramenta típica de indivíduos de pouca
influência social. Em nada se relaciona com
um sentimento revolucionário, pois aqui não
há o ânimo de se mudar o status quo. O que
se busca é obter um rápido favor para si, às
escondidas e sem chamar a atenção; por isso,
o jeitinho pode ser também definido como
"molejo", "jogo de cintura", habilidade de se
"dar bem" em uma situação "apertada".
Sérgio Buarque de Holanda, em O
Homem Cordial, fala sobre o brasileiro e
uma característica presente no seu modo
de ser: a cordialidade. Porém, cordial, ao
contrário do que muitas pessoas pensam,
vem da palavra latina cor, cordis, que
significa coração. Portanto, o homem cordial
não é uma pessoa gentil, mas aquele que
age movido pela emoção no lugar da razão,
não vê distinção entre o privado e o público,
detesta formalidades, põe de lado a ética e
a civilidade.
Em termos antropológicos, o jeitinho
pode ser atribuído a um suposto caráter
emocional do brasileiro, descrito como "o
homem cordial" pelo antropólogo. No livro
Raízes do Brasil, esse autor afirma que o
indivíduo brasileiro teria desenvolvido uma
histórica propensão à informalidade. Deve-
se isso ao fato de as instituições brasileiras
terem sido concebidas de forma coercitiva
e unilateral, não havendo diálogo entre
governantes e governados, mas apenas
a imposição de uma lei e de uma ordem
consideradas artificiais, quando não
inconvenientes aos interesses das elites
políticas e econômicas de então. Daí a
grande tendência fratricida observada na
época do Brasil Império, que é bem ilustrada
pelos episódios conhecidos como Guerra dos
Farrapos e Confederação do Equador.
Na vida cotidiana, tornava-se comum
ignorar as leis em favor das amizades.
Desmoralizadas, incapazes de se impor,
as leis não tinham tanto valor quanto, por
exemplo, a palavra de um "bom" amigo. Além
disso, o fato de afastar as leis e seus castigos
típicos era uma prova de boa-vontade e um
gesto de confiança, o que favorecia boas
relações de comércio e tráfico de influência.
De acordo com testemunhos de
comerciantes holandeses, era impossível
fazer negócio com um brasileiro antes de
fazer amizade com ele. Um adágio da época
dizia que "aos inimigos, as leis; aos amigos,
tudo". A informalidade era - e ainda é - uma
forma de se preservar o indivíduo.
Sérgio Buarque avisa, no entanto, que
esta "cordialidade" não deve ser entendida
como caráter pacífico. O brasileiro é capaz de
guerrear e até mesmo destruir; no entanto,
suas razões animosas serão sempre cordiais,
ou seja, emocionais.
(In: www.wikipedia.org - com adaptações.)
20. (FGV – Adaptada) Assinale a alternativa
que completa corretamente as lacunas do
fragmento a seguir:
O texto refere-se ______ teses antropológicas,
cujos temas interessam ______ todos que se
dispuserem ______ investigar a história do
jeitinho brasileiro.
a) as - à - à.
b) às - a - à.
c) às - a - a.
d) as - à - a.
e) às - à - a.
114
LÍNGUA PORTUGUESA
Resposta: C
Comentário: Na primeira lacuna, deve haver
a expressão “às” em razão da regência do
verbo e da presença do artigo definido
feminino. Não há acento grave para o item da
segunda lacuna, pois o termo subsequente
é um pronome indefinido. Não há acento
grave no item da terceira lacuna, pois o
termo subsequente é um verbo.
-------------------------- ------------------------
A preocupação com a herança que
deixaremos as (1) gerações futuras está cada
vez mais em voga. Ao longo da nossahistória,
crescemos em número e modificamos
quase todo o planeta. Graças aos avanços
científicos, tomamos consciência de que
nossa sobrevivência na Terra está fortemente
ligada a(2) sobrevivência das outras
espécies e que nossos atos, relacionados
a(3) alterações no planeta, podem colocar
em risco nossa própria sobrevivência.
Contudo, aliado ao desenvolvimento
científico, temos o crescimento econômico
que nem sempre esteve preocupado com
questões ambientais. O que se almeja é o
desenvolvimento sustentável, que é aquele
viável economicamente, justo socialmente
e correto ambientalmente, levando
em consideração não só as(4) nossas
necessidades atuais, mas também as(5) das
gerações futuras, tanto nas comunidades
em que vivemos quanto no planeta como
um todo.
(Adaptado de A. P. FOLTZ, A Crise Ambiental
e o Desenvolvimento Sustentável: o
crescimento econômico e o meio ambiente.
Disponível em http://www.iuspedia.com.
br.22 jan. 2008)
21. (ESAF – Adaptada)## Para que o texto
acima respeite as regras gramaticais do
padrão culto da Língua Portuguesa, é
obrigatória a inserção do sinal indicativo de
crase em
a) 1, 2 e 3
b) 1 e 2
c) 1, 3 e 5
d) 2 e 4
e) 3, 4 e 5
Resposta: B
Comentário: Em “1”, o verbo “deixar” (na
acepção de legar) é bitransitivo e, na frase em
que aparece, o objeto indireto é a expressão
“às gerações futuras”, por isso necessita de
acento grave. Em “2”, a regência nominal
exige que se coloque a preposição “a”
para introduzir o complemento do termo
“ligada”. Como o termo subsequente é um
substantivo feminino, deve-se empregar o
acento grave indicativo de crase.
-------------------------- ------------------------
A propósito de uma aranha
Fiquei observando a aranha que
construía sua teia, com os fios que saem
dela como um fruto que brota e se alonga
de sua casca. A aranha quer viver, e trabalha
nessa armadilha caprichosa e artística que
surpreenderá os insetos e os enredará para
morrer. Tua morte, minha vida - diz uma frase
antiga, resumindo a lei primeira da natureza.
A frase pode soar amarga em nossos ouvidos
delicados, enquanto comemos nosso
franguinho. Sua morte, vida nossa.
Os vegetarianos não fiquem aliviados,
achando que, além de terem hábitos mais
saudáveis, não dependem da morte alheia
para viver. É verdade que a alface, a cenoura,
a batata, o arroz, o espinafre, a banana,
a laranja não costumam gritar quando
arrancados da terra, decepados do caule,
cortados e processados na cozinha. Mas por
que não imaginar que estavam muito bem
em suas raízes, e se deleitavam com o calor
do sol, com a água refrescante da chuva,
com os sopros do vento? Sua morte, vida
nossa.
115
LÍNGUA PORTUGUESA
Mas voltemos à aranha. Ela não
aprendeu arquitetura ou geometria, nada
sabe sobre paralelas e losangos; vive da
ciência aplicada e laboriosa dos fios quase
invisíveis que não perdoam o incauto. Uma
vez preso na teia, o inseto que há pouco
voava debate-se inutilmente, enquanto a
aranha caminha com leveza em sua direção,
percorrendo resoluta o labirinto de malhas
familiares. Se alguém salvar esse inseto,
num gesto de misericórdia, e se dispuser
a salvar todos os outros que caírem na
armadilha, a aranha morrerá de fome. Em
outras palavras: a boa alma tomará partido
entre duas mortes.
A cada pequena cena, a natureza nos
fala de sua primeira lei: a lei da necessidade.
O engenho da aranha, a eficácia da teia, o
voo do inseto desprevenido compõem uma
trama de vida e morte, da qual igualmente
participamos todos nós, os bichos pensantes.
Que necessidade tem alguém de ser cronista?
- podem vocês me perguntar. O que leva
alguém a escrever sobre teias e aranhas?
Minha resposta é crua como a natureza:
os cronistas também comem. E como não
sabem fazer teias, tecem palavras, e acabam
atendendo a necessidade de quem gosta de
ler. A pequena aranha, com sua pequena teia,
leva a gente a pensar na vida, no trabalho,
na morte. A natureza está a todo momento
explicando suas verdades para nós. Se eu
soubesse a origem e o fim dessas verdades
todas, acredite, leitor, esta crônica teria um
melhor arremate.
(Virgílio Covarim)
22. (FCC – Adaptada) ## Justifica-se o uso
do sinal de crase apenas em:
a) As aranhas tecem à toda hora, seja para
construir, seja para reforçar a teia.
b) Os vegetais também ficam à desfrutar o
sol, a chuva, o vento.
c) A aranha assiste pacientemente à luta do
inseto para livrar-se da teia.
d) A conclusão à que aspira o cronista seria
a explicação da vida e da morte.
e) Os vegetarianos levam à sério a ideia de
que não matam nada para comer.
Resposta: C
Comentário: Como o verbo “assistir” (na
acepção de “ver”) é transitivo indireto, seu
complemento deve ser preposicionado.
Além disso, o núcleo do complemento é
um substantivo determinado por um artigo
definido feminino.
As razões para não haver acento grave nos
demais itens são:
a) Não se emprega acento grave diante de
pronome indefinido.
b) Não se emprega acento grave diante de
verbos.
c) Item correto.
d) Não há artigo feminino diante do pronome
relativo.
e) Não se emprega acento grave diante de
substantivo masculino.
23. (ESAF – Adaptada) ## Assinale a
opção que preenche as lacunas de forma
gramaticalmente correta.
No que diz respeito ____ taxa de
inflação, ainda que os resultados estejam
longe da meta (mais de 7% ante ____ meta
de 4%), é preciso reconhecer que diante dos
acontecimentos de 2001 não se trata de
um mau resultado. Todos sabemos que os
"choques de oferta" não se prestam ____ ser
controlados facilmente pela manipulação da
taxa de juros e que frequentemente, quando
ocorre um choque é melhor encontrar um
caminho mais longo para retornar ____ meta
do que forçar uma volta rápida com maiores
custos em matéria de crescimento.
(Antonio Delfim Netto)
a) à - a - a - à
b) a - à - à - a
116
LÍNGUA PORTUGUESA
c) à - a - à - a
d) a - a - a - a
e) a - a - à – a
Resposta: A
Comentário: A justificativa para o acento
grave (ou não) dos itens é a seguinte:
1 – Exigência da preposição “a” somada ao
artigo que determina o substantivo “taxa”.
2 – Não se emprega o acento porque já há
uma preposição na expressão (ante).
3 – Não se emprega acento grave diante de
verbos.
4 - Exigência da preposição “a” somada ao
artigo que determina o substantivo “meta”.
-------------------------- ------------------------
Os anos noventa presenciaram uma
radical transformação do pensamento
diplomático brasileiro aplicado às relações
econômicas internacionais do Brasil.
Essa mudança não produziu, todavia, um
consenso linear ao longo da década. Alguns
traços caracterizam o novo período em seu
conjunto, mas a evolução não se fez sem
repercussões sobre a sociedade e sem que
suas forças acabassem por reagir. Três tempos
curtos marcam o período. Durante o governo
de Fernando Collor de Mello, entre 1990 e
1992, procedeu-se à demolição instantânea
dos conceitos que haviam alimentado
durante décadas os impulsos da diplomacia:
o nacional-desenvolvimentismo e sua carga
política e ideológica cederam à vontade de
abrir a economia e o mercado, de forma
irracional e reativa, à onda de globalização
e de neoliberalismo que penetrava o país
vinda de fora. Ao substituí-lo na presidência,
Itamar Franco recuou momentaneamente
aos parâmetros anteriores do Estado
desenvolvimentista, sem, contudo, bloquear
a consciência da necessidade de se prosseguir
com as adaptações aos novos tempos. A
ascensão à Presidência da República de
Fernando Henrique Cardoso, em 1995, levou
à reposição das disposições ideológicas e
políticas do governo de Fernando Collor, vale
dizer, ao desprezo pelo projeto nacional de
desenvolvimento e à resignação diante da
nova divisão do trabalho inerente à forma
globalizante do capitalismo, mas seu estilo
de diplomacia democrática deu alento a
pressões que vinham de segmentos sociais e
que acabaram por condicionar o pensamento
e o processo decisório.
Amado LuizCervo. Internet: <www.martin-
keil.net> (com adaptações).
24. (CESPE – Adaptada) ## O emprego do
sinal indicativo de crase em "à onda" justifica-
se pela regência de "abrir" e pela presença
de artigo definido feminino singular.
Resposta: Certo
Comentário: Na acepção empregada, há
dois complementos de naturezas distintas
para o verbo “abrir”. Nesse caso, o objeto
direto é “a economia e o mercado” e o
objeto indireto (introduzido pela preposição)
é a expressão “à” onda. Logo, a redação do
item traz correta justificativa.
ONU pede ampliação de programas
sociais do Brasil
SÃO PAULO – Os programas
adotados no governo federal ainda não
são suficientes para lidar com problemas
de desigualdade, reforma agrária, moradia,
educação e trabalho escravo, informou
ontem a Organização das Nações Unidas
(ONU). Comitê da entidade pelos direitos
econômicos e sociais pede uma revisão
do Bolsa-Família, uma maior eficiência
do programa e sua “universalização”. Por
fim, constata: a cultura da violência e da
impunidade reina no País.
PONTUAÇÃO
117
LÍNGUA PORTUGUESA
A ONU sugere que o Brasil amplie o
Bolsa-Família para camadas da população
que não recebem os benefícios, incluindo
os indígenas. E cobra a “revisão” dos
mecanismos de acompanhamento do
programa para garantir acesso de todas as
famílias pobres, aumentando ainda a renda
distribuída.
Há duas semanas, o comitê sabatinou
membros do governo em Genebra, na Suíça. O
documento com as sugestões é resultado da
avaliação dos peritos do comitê que inclui o
exame de dados passados pelo governo e por
cinco relatórios alternativos apresentados
por organizações não-governamentais
(ONGs).
Os peritos reconhecem os avanços
no combate à pobreza, mas insistem que a
injustiça social prevalece.
Um dos pontos considerados como
críticos é a diferença de expectativa de
vida e de pobreza entre brancos e negros.
A sugestão da ONU é que o governo tome
medidas “mais focadas”. Na visão do órgão,
a exclusão é decorrente da alta proporção de
pessoas sem qualquer forma de segurança
social, muitos por estarem no setor informal
da economia.
(w w w.estadao.com.br/nacional /not_
nac377078,0.htm. 26.05.2009. Adaptado)
01. (VUNESP – Adaptada) Eliminando-
se o sinal de dois-pontos do trecho – Por
fim, constata: a cultura da violência e da
impunidade reina no País. – obtém-se:
a) Por fim, constata de que a cultura da
violência e da impunidade reina no País.
b) Por fim, constata que a cultura da
violência e da impunidade reina no País.
c) Por fim, constata em que a cultura da
violência e da impunidade reina no País.
d) Por fim, constata a que a cultura da
violência e da impunidade reina no País.
e) Por fim, constata para que a cultura da
violência e da impunidade reina no País.
Resposta: B
Comentário: Ao eliminar o sinal de dois-
pontos da sentença, é preciso reconhecer
que a função exercida pelo termo introduzido
pela palavra “que” é de objeto direto. Essa
é a razão pela qual todas as ocorrências das
preposições, sucedendo a palavra “que”,
estão incorretas.
02. (IESES – Adaptada) Sobre pontuação,
assinale a única alternativa INCORRETA de
acordo com a norma padrão:
a) Materiais escritos, vídeos, mapas mentais
tudo pode ser utilizado para aprender.
b) Eu não trouxe o livro; nem ela, o caderno.
c) Os novos produtos foram cotados, e o
catálogo já está disponível.
d) As alterações, hoje, já não são mais tão
visíveis.
Resposta: A
Comentário: Na alternativa “a” falta uma
vírgula para isolar o terceiro núcleo do sujeito
composto – a expressão “mapas mentais”.
A vírgula da alternativa “b” foi empregada
para omitir o verbo da segunda oração. A
vírgula da alternativa “c” foi empregada
porque o sujeito das duas orações é distinto.
A vírgula da alternativa “d” foi empregada
para isolar um adjunto adverbia intercalado
na sentença.
03. (ESAF –Adaptada) Em relação ao texto,
assinale a opção incorreta a respeito dos
sinais de pontuação.
O governo, de janeiro a maio deste
ano, arrecadou R$ 937 milhões adicionais
por meio do Programa de Integração Social -
PIS. Em dezembro do ano passado, a alíquota
da contribuição subiu de 0,65% para 1,65%.
O aumento foi concedido para compensar
118
LÍNGUA PORTUGUESA
possíveis perdas de arrecadação com o fim da
cumulatividade - incidência da contribuição
em todas as etapas da fabricação do mesmo
produto -, que foi aprovado no final do ano
passado.
(Sílvia Mugnatto, Folha de S.Paulo,
01/09/2003)
a) As vírgulas da linha 1 se justificam por
isolar um complemento circunstancial
intercalado entre o sujeito e o predicado do
período.
b) Eliminando-se o travessão, “PIS” poderia
estar entre parênteses, sem prejuízo
gramatical para o período.
c) Se a expressão “Em dezembro do ano
passado” estivesse no final do período
(com minúscula) não haveria exigência de
isolá-la antecedendo-a com uma vírgula.
d) Os travessões da linha 3 poderiam ser
substituídos por parênteses e o período se
manteria gramaticalmente correto.
e) A vírgula após o travessão da linha
3 justifica-se para isolar a subsequente
oração de caráter restritivo.
Resposta: E
Comentário: A vírgula não possui função
restritiva e, na oração em que aparece,
introduz sentença de caráter explicativo, haja
vista tratar-se de uma oração subordinada
adjetiva restritiva.
-------------------------- ------------------------
Estava no Brasil
A cooperação foi similar à da Operação
Condor, só que estritamente dentro da lei e
a favor da democracia.
No último fim de semana, a Polícia Federal
deteve em Foz do Iguaçu, no Paraná, o
general paraguaio Lino Oviedo, havia meses
foragido, e cuja prisão preventiva com fins de
extradição tinha sido pedida pelo Paraguai.
No apartamento no qual se escondia, foram
encontrados um revólver calibre 38, dez
telefones celulares e uma peruca. Oviedo,
que já comandou uma tentativa de golpe
em 1996, é acusado de tramar o assassinato
do vice presidente de seu país, Luis María
Argaña, no ano passado.
Preso, ele poderá ser extraditado para
o Paraguai, onde goza de grande simpatia
popular e nenhuma do governo. Com sua
fama de golpista, Oviedo é o principal
suspeito de ter planejado a última quartelada
para derrubar o governo do presidente Luis
González Macchi, há um mês. É um abacaxi
para os paraguaios. Se livre e clandestino,
é um incômodo para o governo; dentro de
uma prisão no Paraguai,
Oviedo é um perigo ainda maior,
pois estará mais próximo e à vista de seus
seguidores. O governo brasileiro não podia
deixar de prender o general paraguaio. Um
dos compromissos dos países-membros
do MERCOSUL é a adesão ao regime
democrático. Dar cobertura a golpistas,
como Oviedo, não é um alento à democracia.
O destino do general no Brasil está nas mãos
do Supremo Tribunal Federal, responsável
por julgar o pedido de extradição.
Veja, 21/6/2000 (com adaptações).
04. (CESPE –Adaptada) Se uma vírgula
fosse inserida imediatamente após
“apartamento”, as relações semânticas
e sintáticas do período do texto seriam
mantidas inalteradas.
Gabarito: Errado.
Comentário: Haveria sensível alteração
na semântica e na sintaxe da passagem
do texto, pois o pronome relativo após
a palavra “apartamento” introduz uma
oração subordinada adjetiva restritiva que,
com uma vírgula, passaria a ser explicativa.
119
LÍNGUA PORTUGUESA
O respeito às diferentes manifestações
culturais é fundamental, ainda mais em um
país como o Brasil, que apresenta tradições
e costumes muito variados em todo o seu
território. Essa diversidade é valorizada
e preservada por ações da Secretaria da
Identidade e da Diversidade Cultural (SID),
criada em 2003 e ligada ao Ministério da
Cultura.
Cidadãos de áreas rurais que estejam
ligados a atividades culturais e estudantes
universitários de todas as regiões do Brasil,
por exemplo, são beneficiados por um
dos projetos da SID: as Redes Culturais.
Essas redes abrangem associações e
grupos culturais para divulgar e preservar
suasmanifestações de cunho artístico. O
projeto é guiado por parcerias entre órgãos
representativos do Estado brasileiro e as
entidades culturais.
A Rede Cultural da Terra realiza
oficinas de capacitação, cultura digital
e atividades ligadas às artes plásticas,
cênicas e visuais, à literatura, à música e ao
artesanato. Além disso, mapeia a memória
cultural dos trabalhadores do campo. A Rede
Cultural dos Estudantes promove eventos
e mostras culturais e artísticas e apoia a
criação de Centros Universitários de Cultura
e Arte.
Culturas populares e indígenas são
outro foco de atenção das políticas de
diversidade, havendo editais públicos de
premiação de atividades realizadas ou em
andamento, o que democratiza o acesso a
recursos públicos.
O papel da cultura na humanização do
tratamento psiquiátrico no Brasil é discutido
em seminários da SID. Além disso, iniciativas
artísticas inovadoras nesse segmento são
premiadas com recursos do Edital Loucos
pela Diversidade. Tais ações contribuem para
a inclusão e socializam o direito à criação e à
produção cultural.
A participação de toda a sociedade civil
na discussão de qualquer política cultural
se dá em reuniões da SID com grupos de
trabalho e em seminários, oficinas e fóruns,
nos quais são apresentadas as demandas da
população. Com base nesses encontros é
que podem ser planejadas e desenvolvidas
ações que permitam o acesso dos cidadãos à
cultura e a promoção de suas manifestações,
independentemente de cor, sexo, idade,
etnia e orientação sexual.
Identidade e diversidade. Internet: <www.
brasil.gov.br/sobre/cultura/> (com
adaptações).
05. (CESPE –Adaptada) A retirada da vírgula
após “Brasil” manteria a correção gramatical
e os sentidos do texto, visto que, nesse
caso, o emprego desse sinal de pontuação é
facultativo.
Gabarito: Errado.
Comentário: O emprego da vírgula não
é facultativo, pois encerra uma oração
subordinada adjetiva explicativa. Sua
retirada alteraria os sentidos do texto,
apesar de manter a correção gramatical. A
sentença passaria a ser de caráter restritivo.
06. (ESAF –Adaptada) Assinale a opção que
justifica corretamente o emprego de vírgulas
no trecho abaixo.
É neste admirável e desconcertante
mundo novo que se encontram os desafios
da modernidade, a mudança de paradigmas
culturais, a substituição de atividades
profissionais, as transformações em diversas
áreas do conhecimento e os contrastes cada
vez mais acentuados entre as gerações de
seres humanos.
(Adaptado de Zero Hora (RS), 31/12/2013)
120
LÍNGUA PORTUGUESA
As vírgulas
a) isolam elementos de mesma função
sintática componentes de uma enumeração.
b) separam termos que funcionam como
apostos.
c) isolam adjuntos adverbiais deslocados de
sua posição tradicional.
d) separam orações coordenadas
assindéticas.
e) isolam orações intercaladas na oração
principal.
Resposta: A
Comentário: As vírgulas separam os diversos
núcleos do sujeito paciente composto do
verbo “encontrar”. Como são elementos
coordenados em uma enumeração, as
vírgulas são obrigatórias.
-------------------------- ------------------------
No Brasil, duas grandes concepções
de segurança pública opõem-se desde a
reabertura democrática até o presente: uma
centrada na ideia de combate, outra, na de
prestação de serviço público.
A primeira concebe a missão
institucional das polícias em termos bélicos,
atribuindo-lhes o papel de combater os
criminosos, que são convertidos em inimigos
internos. A política de segurança é, então,
formulada como estratégia de guerra, e, na
guerra, medidas excepcionais se justificam.
Instaura-se, adotando-se essa concepção,
uma política de segurança de emergência e
um direito penal do inimigo.
Esse modelo é reminiscente do regime
militar e, há décadas, tem sido naturalizado,
não obstante sua incompatibilidade com a
ordem constitucional brasileira. Nesses anos,
o inimigo interno anterior — o comunista
— foi substituído pelo traficante, como
elemento de justificação do recrudescimento
das estratégias bélicas de controle social.
A segunda concepção está centrada
na ideia de que a segurança é um serviço
público a ser prestado pelo Estado e cujo
destinatário é o cidadão. Não há, nesse caso,
mais inimigo a combater, mas cidadão para
servir. A polícia democrática não discrimina,
não faz distinções arbitrárias: trata os
barracos nas favelas como domicílios
invioláveis, respeita os direitos individuais,
independentemente de classe, etnia e
orientação sexual, não só se atendo aos
limites inerentes ao estado democrático de
direito, mas entendendo que seu principal
papel é promovê-lo. A concepção democrática
estimula a participação popular na gestão
da segurança pública, valoriza arranjos
participativos e incrementa a transparência
das instituições policiais. O combate militar
é, então, substituído pela prevenção, pela
integração com políticas sociais, por medidas
administrativas de redução dos riscos e pela
ênfase na investigação criminal. A decisão de
usar a força passa por considerar não apenas
os objetivos específicos a serem alcançados
pelas ações policiais, mas também, e
fundamentalmente, a segurança e o bem-
estar da população envolvida.
Cláudio Pereira de Souza Neto. A segurança
pública na Constituição Federal de
1988: conceituação constitucionalmente
adequada, competências federativas e
órgãos de execução das políticas. Internet:
<www.oab.org.br> (com adaptações).
07. (CESPE –Adaptada) O emprego da vírgula
logo após “criminosos” justifica-se por isolar
oração de caráter explicativo.
Gabarito: Certo.
Comentário: Para concluir o que se afirma
na questão, basta reconhecer a presença
do pronome relativo (antecedido de vírgula)
e do verbo, o que compõe uma oração
subordinada adjetiva explicativa. A oração
em questão apresenta uma consideração a
respeito da palavra “criminosos”.
121
LÍNGUA PORTUGUESA
08. (CONSULPAM – Adaptada) Assinale o
item com pontuação CORRETA.
a) Para cozinhar batatas, lave-as muito
bem, faça alguns furinhos, leve, ao micro-
ondas por dois minutos, vire-as para outro
lado e deixe por mais dois minutos.
b) Para caramelizar o açúcar, numa jarra
refratária, coloque, 200 g de açúcar e
adicione 3 colheres de sopa de água. Deixe,
de cinco a sete minutos em potência alta
(100%) sem mexer, até que doure.
c) Aqueça sua bolsa de água quente ou
seu pacote de gel para dor de cabeça no
micro- ondas, contanto que não haja metal
na embalagem.
d) Ficarão, crocantes e deliciosos, os seus
amendoins, no forno micro-ondas, em dois
ou três minutos, em potência máxima.
Retire, dê uma mexidinha, coloque mais 1
minuto e meio, mexa, e faça de novo até
torrar.
Resposta: C
Comentário: Em “a” a vírgula após o verbo
“levar” é dispensável. Em “b” a vírgula
após o verbo “colocar” deve ser retirada –
pois separa o verbo de seu complemento
-, além disso, uma vírgula deve ser inserida
após o termo “minutos”, a fim de isolar
adjunto adverbial de corpo extenso. Em “c”
não há erros de pontuação, pois a vírgula
enfatiza uma oração subordinada adverbial
condicional. Em “d” as vírgulas que isolam
o predicativo do sujeito não devem ser
empregadas, pois a posição desse termo
está na ordem direta da sentença.
-------------------------- ------------------------
Entenda para que serve mandar um jipe-
robô para Marte
Quem diria? A velha e dilapidada
NASA, que nem possui mais meios próprios
de mandar pessoas para o espaço, acaba de
mostrar que ainda tem espírito épico.
A prova é o pouso perfeito do jipe-
robô Curiosity em uma cratera de Marte
recentemente. A saga de verdade começa
agora, contudo. O Curiosity é, disparado, o
artefato mais complexo que terráqueos já
conseguiram botar no chão de outro planeta.
Com dezessete câmeras, é a primeira sonda
interplanetária capaz de fazer imagens
em alta definição. Pode percorrer até dois
quilômetros por dia.
Trata-se de um laboratório sobre
rodas, equipado, entre outras coisas, com
canhãolaser para pulverizar pedaços de
rocha e sistemas que medem parâmetros do
clima marciano, como velocidade do vento,
temperatura e umidade... A lista é grande.
Tudo para tentar determinar se, afinal de
contas, Marte já foi hospitaleiro para formas
de vida – ou quem sabe até ainda o seja.
Hoje se sabe que o subsolo marciano,
em especial nas calotas polares, abriga
enorme quantidade de água congelada. E
há pistas de que água salgada pode escorrer
pela superfície do planeta durante o verão
marciano, quando, em certos lugares, a
temperatura fica entre –25 ºC e 25ºC.
Mesmo na melhor das hipóteses, são
condições não muito amigáveis para a vida
como a conhecemos. Mas os cientistas têm
dois motivos para não serem tão pessimistas,
ambos baseados no que se conhece a
respeito dos seres vivos na própria Terra.
O primeiro é que a vida parece ser
um fenômeno tão teimoso, ao menos na
sua forma microscópica, que aguenta todo
tipo de ambiente inóspito, das pressões
esmagadoras do leito marinho ao calor e às
substâncias tóxicas dos gêiseres.
Além disso, se o nosso planeta for
um exemplo representativo da evolução da
vida Cosmos afora, isso significa que a vida
aparece relativamente rápido quando um
planeta se forma — no caso da Terra, mais
ou menos meio bilhão de anos depois que
ela surgiu (hoje o planeta tem 4,5 bilhões de
anos).
122
LÍNGUA PORTUGUESA
Ou seja, teria havido tempo, na fase
“molhada” do passado de Marte, para que
ao menos alguns micróbios aparecessem
antes de serem destruídos pela deterioração
do ambiente marciano. Será que algum deles
não deu um jeito de se esconder no subsolo
e ainda está lá, segurando as pontas?
Reinaldo José Lopes. In: Revista Serafina,
26/8/2012. Internet: <folha.com> (com
adaptações).
09. (CESPE –Adaptada) Nos trechos “Além
disso, se o nosso planeta for um exemplo
representativo da evolução da vida Cosmos
afora, isso significa que (...)” e “teria havido
tempo, na fase ‘molhada’ do passado de
Marte, para que ao menos alguns micróbios
aparecessem”, as vírgulas são empregadas
pelo mesmo motivo: isolar termos com a
mesma função gramatical.
Gabarito: Errado.
Comentário: A primeira sentença (se o
nosso planeta...) é uma oração subordinada
adverbial condicional, que se encontra
intercalada no período em que aparece. A
segunda (na fase ‘molhada’...) é um adjunto
adverbial de tempo. Logo, entende-se
que não desempenham a mesma função
sintática.
10. (VUNESP – Adaptada) Assinale a
alternativa em que a frase do texto
permanece correta, de acordo com a
norma-padrão da língua portuguesa, após o
acréscimo das vírgulas.
a) As empresas de telecomunicações
que fornecem acesso, poderão continuar
vendendo, velocidades diferentes.
b) Mas terão de oferecer, a conexão
contratada independentemente do
conteúdo acessado pelo internauta e não
poderão vender pacotes restritos.
c) O Marco Civil garante, a inviolabilidade e
o sigilo, das comunicações.
d) O conteúdo poderá ser acessado apenas,
mediante, ordem judicial.
e) Ressalte-se, ainda, que a exclusão de
conteúdo só poderá ser ordenada pela
Justiça.
Resposta: E
Comentário: Em “a”, a vírgula separou
sujeito e verbo. Em “b”, a vírgula separa
o verbo “oferecer” de seu complemento.
Em “c” a vírgula separa o verbo “garantir”
do seu objeto. Em “d” a vírgula está
intercalando uma preposição acidental
(procedimento incorreto). Em “e” as vírgulas
isolam um adjunto adverbial na sentença
(procedimento possível).
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Ele não descobriu a América
Oficialmente, o título de “descobridor
da América” pertence ao navegante genovês
Cristóvão Colombo, mas ele não foi o primeiro
estrangeiro a chegar ao chamado Novo
Mundo. Além disso, o próprio Colombo nunca
se deu conta de que a terra que encontrou
era um continente até então desconhecido.
A arqueologia já revelou vestígios da
passagem dos vikings pelo continente por
volta do ano 1000.
LeifEricson, explorador que viveu na
região da Islândia, chegou às margens do
atual estado de Maine, no norte dos Estados
Unidos da América (EUA), no ano 1003. Em
1010, foi a vez de outro aventureiro nórdico,
BjarnKarlsefni, aportar nos arredores de
LongIsland, na região de Nova York. Além
disso, alguns pesquisadores defendem que
um almirante chinês chamado Zeng He teria
cruzado o Pacífico e desembarcado, em
1421, no que hoje é a costa oeste dos EUA.
Polêmicas à parte, Cristóvão Colombo
jamais se deu conta de que havia descoberto
um novo continente.
A leitura de suas anotações de
bordo ou de suas cartas deixa claro que ele
123
LÍNGUA PORTUGUESA
acreditou até a morte que tinha chegado à
China ou ao Japão, ou seja, às “Índias”. É o
que o navegador escreveu, por exemplo, em
uma carta de março de 1493.
Mesmo nos momentos em que se
apresenta como um “descobridor”, Colombo
se refere aos arredores de um continente
que o célebre Marco Polo – do qual foi leitor
assíduo – já havia descrito. Em outubro
de 1492, depois de seu primeiro encontro
com nativos americanos, o explorador fez a
seguinte anotação em seu diário de bordo:
“Resolvi descer à terra firme e ir à cidade de
Guisay entregar as cartas de Vossas
Altezas ao Grande Khan”. Guisay é
uma cidade real chinesa que Marco Polo
visitara. Nesse mesmo documento, Colombo
escreveu que, segundo o que os índios
haviam informado, ele estava a caminho
do Japão. Os nativos tinham apontado, na
verdade, para Cuba.
Suas certezas foram parcialmente
abaladas nas viagens seguintes, mas o
navegador nunca chegou a pensar que
aportara em um novo continente. Sua quarta
viagem o teria levado, segundo escreveu,
à província de “Mago”, “ fronteiriça à de
Catayo”, ambas na China.
Somente nos últimos anos de sua vida
o genovês considerou a possibilidade de ter
descoberto terras realmente virgens. Mas foi
necessário certo tempo para que a existência
de um novo continente começasse a ser
aceita pelos europeus. Américo Vespúcio foi
um dos primeiros a apresentar um mapa com
quatro continentes. Mais tarde, em 1507, a
nova terra seria batizada em homenagem ao
explorador italiano.
Um ano depois da morte de Colombo,
que passou a vida sem entender bem o que
havia encontrado.
Antouaine Roullet. In: Revista História Viva.
Internet: <www2.uol.com.br/historiaviva>
(com adaptações).
11) (CESPE –Adaptada) No período “Nesse
mesmo documento, Colombo escreveu que,
segundo o que os índios haviam informado,
ele estava a caminho do Japão”, a primeira
vírgula foi empregada para isolar termo com
valor adverbial e as demais, para isolar uma
oração de valor temporal intercalada.
Gabarito: Errado.
Comentário: O emprego da primeira vírgula
está corretamente descrito, porém, as
vírgulas que isolam o segmento “segundo
o que os índios haviam informado” foram
empregadas para isolar oração subordinada
adverbial conformativa.
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“Passe lá no RH!”. Não são poucas
as vezes em que os colaboradores de uma
empresa recebem essa orientação. Não são
poucos os chefes que não sabem como tratar
um tema que envolve seus subordinados, ou
não têm coragem de fazê-lo, e empurram
a responsabilidade para seus colegas da
área de recursos humanos. Promover ou
comunicar um aumento de salário é com o
chefe mesmo; resolver conflitos, comunicar
uma demissão, selecionar pessoas, identificar
necessidades de treinamento é “lá com o
RH”. Em pleno século XXI, ainda existem
empresas cujos executivos não sabem quem
são os reais responsáveis pela gestão de
seu capital humano. Os responsáveis pela
gestão de pessoas em uma organização são
os gestores, e não a área de RH. Gente é o
ativo mais importante nas organizações: é o
propulsor que as move e lhes dá vida.
Portanto, os aspectos que envolvem
a gestão de pessoas têm de ser tratados
como parte de uma política de valorização
desse ativo, na qual gestores e RH são vasos
comunicantes, trabalhando em conjunto,
cada um desempenhando seu