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PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E CONTROLE Autoria: Alessandra Buarque de Araújo Silva Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 S586p Silva, Alessandra Buarque de Araújo Planejamento governamental e controle. / Alessandra Buarque de Araújo Silva – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 169 p.; il. ISBN 978-65-5646-522-7 1. Planejamento governamental. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 350 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Sistema de Planejamento Governamental ................................. 7 CAPÍTULO 2 Atividade Financeira do Estado ................................................. 59 CAPÍTULO 3 Sistema de Controle na Administração Pública no Brasil ...115 APRESENTAÇÃO Olá, é com satisfação que apresentamos o Capítulo 1 do livro Planejamento Governamental e Controle, iniciando a partir daqui o nosso aprendizado sobre o tema tão rico, necessário e fundamental para a compreensão do funcionamento do sistema de planejamento da ação governamental e os mecanismos de contro- le, com foco na realidade brasileira. É fato que as mudanças em todos os campos da vida nacional, tanto no que se refere às transformações sócio-históricas, quanto no campo econômico, pro- duzem desdobramentos no papel do Estado em sua relação com a sociedade, bem como na elaboração, execução e implementação das políticas públicas, que pedem uma gestão pública conectada com essas mudanças. Poderíamos falar de muitas dessas mudanças, porém, no século XXI, os maiores impactos que esta- mos vivenciando no mundo, dizem respeito à chamada Revolução 4.0 – tecnoló- gica, comunicacional e informacional; cujas mudanças de paradigmas repercutem em transformações econômicas, tecnológicas, ambientais, culturais e sociais, re- querendo do Estado e dos atores públicos que assumam novos papéis. É nesta perspectiva de um mundo em transformação que abordaremos o tema do planejamento e controle na administração pública, em sua dimensão técnica e política, problematizando algumas questões acerca dos momentos de fluxo e influ- xo do planejamento fruto da construção histórica da relação Estado-sociedade. Não é relevante para o presente trabalho apresentar cenários estanques de elaboração do planejamento governamental apenas como uma ferramenta de tra- balho, uma técnica para definição de estratégias, objetivos, metas e resultados esperados; nem os marcos regulatórios que deixam de levar em consideração o cenário de confrontos entre as forças políticas em atuação no período; mas, de convidar você a mergulhar nessa análise do sistema de planejamento gover- namental e controle como um organismo vivo, que sofre todas as interferências do cenário econômico e político de um país e que representa um plano estraté- gico de governo para colocar em prática sua agenda governamental voltada ao bem-estar de sua população, validado, em termos democráticos, pelo voto. Por esta razão que o intercâmbio de termos e conceitos sobre o Estado, o governo, a administração pública, as políticas públicas, os cenários políticos perpassam a construção dessa obra. Pensamos que não há como ser diferente. Este livro está dividido em três capítulos: no Capítulo 1 abordaremos o Siste- ma de Planejamento Governamental, com seus instrumentos de formulação, im- plementação e avaliação da agenda governamental. No Capítulo 2, trataremos da Atividade Financeira do Estado, a gestão fiscal e a legislação aplicada, bem como buscando conhecer a programação e execução financeira desse sistema planeja- mento; e, por último, o Capítulo 3 terá como foco o Sistema de Controle na Admi- nistração Pública no Brasil, quando iremos nos deter nos princípios do controle na administração pública, a transparência da gestão e o controle social. Ressaltamos que a proposta desse livro é fomentar o interesse pelo apro- fundamento do estudo sobre o tema planejamento governamental e controle, am- pliando sua pesquisa teórico-prática, pois o livro não tem a pretensão de encerrar o diálogo sobre o tema. É uma proposta de despertar para o conhecimento. Im- porta, ainda, ressaltar desde já, que o conteúdo dessa disciplina é complexo e aqui pudemos contemplar, face o tamanho da obra, apenas alguns pontos do con- teúdo, ficando a seu cargo aprofundar o estudo do tema nas obras referenciadas e outras que dispuser, tarefa de pesquisa inerente ao estudo acadêmico. Com esse conhecimento você poderá desenvolver competências para atuar no campo da gestão pública de qualquer ente federativo, ou como profissional liberal que atue em assessoria parlamentar e/ou executiva, e/ou como consultoria independente; bem como a toda e qualquer pessoa que postule conhecer o tema para a execução de atividades voltadas à ação governamental, tanto no campo do planejamento governamental quanto no campo do controle social das políticas públicas. Se servidor público, o conhecimento aqui ofertado poderá contribuir em oferecer subsídios para a sua atuação profissional. A construção do conhecimento para seu aprimoramento profissional requer disciplina e dedicação porque é um aprendizado centrado na autonomia do aluno. Sua dedicação aos estudos é fundamental para o sucesso dos objetivos a que você se propõe. Um bom estudo pra você! CAPÍTULO 1 Sistema de Planejamento Governamental A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer os instrumentos utilizados na elaboração do Planejamento Governa- mental, que visam a garantia do exercício da responsabilidade na gestão dos recursos públicos. � Identificar todas as etapas do ciclo de elaboração do sistema de Planejamento Governamental. � Analisar o Planejamento da Ação Governamental do Ente federativo, inclusive os instrumentos utilizados para a avaliação e monitoramento do gasto público. � Elaborar o esboço de um Plano de Ação pessoal com as ferramentas apresen- tadas no tópico do Planejamento. 8 Planejamento Governamental e Controle 9 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Para cumprir o papel de promover a pessoa humana e o seu desenvolvimento integral em liberdade, o governo e a adminis- tração pública necessitam criar as condições necessárias para garantir os direitos constitucionais dos cidadãos (MATIAS-PE- REIRA, 2020, p. 2). Você sabia que a Constituição Federal do Brasil de 1988 é conhecida como a “Constituição cidadã”? Sim, foi o deputado Ulysses Guimarães, presidente da Constituinte, que assim a batizou. Uma breve história desse batizado aponta que, em um momento histórico de abertura democrática, no Brasil, a Carta de 1988 expressou um grande avanço em relação às demais constituições brasileiras, principalmente pela incorporação do capítulo da ordem social, com ampliação dos direitos individuais e da partici- pação política da sociedade na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas. E, para cumprir o seu papel nesse contexto, o governo e a administração públi- ca também incorporaram novos elementos para a execução da ação governamen- tal na perspectiva do acolhimento das demandas da sociedade,no campo do plane- jamento e do controle, tema de nosso estudo. A base legal dessas condições pode ser encontrada na Constituição federal e nas legislações específicas pertinentes. Nossa proposta de estudo nesse capítulo, composto de 3 seções e subse- ções, é trazer para seu conhecimento o que é o sistema de planejamento go- vernamental e sua composição; como a ação governamental acontece, em sua dimensão técnica e política; quais as ferramentas utilizadas para a elaboração desse planejamento e os instrumentos do planejamento orçamentário e financei- ro, a partir do PPA, LDO e LOA, bem como as formas de avaliação e monito- ramento do gasto público. Perpassando a obra, trazemos uma breve análise de alguns autores e pesquisadores do tema, sobre a relação entre o planejamento governamental e o aparato burocrático no governo federal brasileiro e os limites e as possibilidades de saídas possíveis para atender às demandas da sociedade com os recursos públicos disponíveis. 2 SISTEMA DE PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL O capítulo do nosso livro tem início com a seção abordando o Sistema de Planejamento Governamental, composta por 3 subseções. A primeira tratará do 10 Planejamento Governamental e Controle Planejamento da Ação Governamental; a segunda seção abordará os Instrumen- tos do Planejamento Orçamentário e Financeiro, compostos pelo PPA, LDO e LOA; e, por fim, a terceira e última seção contemplará o estudo da Avaliação e Monitoramento do Gasto Público. Iniciamos nossa jornada de aprendizagem desejando que os estudos aqui produzidos contemplem às suas expectativas para essa disciplina, bem como os objetivos de aprendizagem propostos. Você sabe do que trata o sistema de planejamento governamental e qual sua origem? Se não sabe, não se preocupe, nosso objetivo é caminhar junto com você nessa jornada de aprendizado, auxiliando na compreensão dos conceitos de for- ma leve e descontraída. Iniciaremos apresentando, de forma breve, como e onde se inicia o debate sobre planejamento governamental no mundo e como chega no Brasil. Cabe res- saltar que durante a primeira metade do século XX (especificamente de 1930 a 1970), o planejamento foi o aliado principal do Estado para a transformação das realidades e nós saberemos como isso ocorreu, conforme a sequência do estudo. FIGURA 1 – OBRA O PRÍNCIPE, DE MAQUIAVEL FONTE: <https://www.planocritico.com/wp-content/uploads/2019/04/750- O-Principe-Livro.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2022. 11 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Foi Nicolau Maquiavel (1469-1527) quem primeiro incluiu o termo Estado na literatura política, por meio de seu consagrado livro “O Príncipe”, escrito em 1513, em que se lê, na primeira frase: “todos os Estados, todos os domínios que tiveram e tem poder sobre os homens, são estados, e são ou repúblicas ou principados”. O planejamento governamental como instrumento de projeção e de mode- lagem do futuro vem sendo utilizado na administração pública, especialmente a partir do século XIX, quando os governos, tanto de países centrais quanto periféri- cos, passam a aplicá-lo como forma de promover o progresso econômico e social. Foi, porém, a partir da Primeira Guerra Mundial que o planejamento ganhou um teor estratégico, relacionado à alavancagem de transformações profundas nas so- ciedades. Foi o caso da União Soviética, que a partir de 1920 empreendeu esfor- ços sistematizados para converter sua sociedade feudal em industrializada; assim como dos Estados Unidos, após a grande crise de 1929; também da Europa, no processo de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial. O debate sobre planejamento governamental avança a partir da década de 1930 nas economias ocidentais como resposta à quebra da bolsa de New York de 1929, que levou a uma crise econômica internacional profunda e causou um abalo na crença do livre mercado e no progresso espontâneo das sociedades (POLANY, 2012 apud PAPI et al. 2020). Como consequência, houve uma valo- rização dos Estados como salvaguarda dos processos cíclicos de crise (ibdem, 2012), que passaram a intervir na economia e na proteção social, desenvolven- do, assim, capacidades estatais para alcançarem seus objetivos. Nesse contexto, tanto no centro (a partir das ideias keynesianas e do New Deal) quanto na peri- feria (a partir do desenvolvimentismo), pode-se afirmar que o planejamento foi a principal ferramenta utilizada pelos Estados para promover o desenvolvimento e a transformação social (BIELCHOWSKY, 2004). No caso dos países centrais, serviu como estratégia para reconstrução das nações devastadas pela Segunda Guerra Mundial (o plano Marshall), levando a Europa a alcançar um grande cres- cimento econômico já nos anos 1950 e 1960 (GIACOMONI E PAGNUSSAT, 2007 apud PAPI et al 2020). Nesse mesmo período, na América Latina funcionou como uma alavanca para o desenvolvimento – entendido como sinônimo de crescimen- to econômico e superação do subdesenvolvimento (BIELCHOWSKY, 2004 apud PAPI et al. 2020). A prática do planejamento governamental estava centralizada no Estado e os governos centrais protagonizavam as dinâmicas de elaboração e de implementa- ção. Esta observação é importante, porque tal monopolização marcará, também, a federação brasileira. Assim, entende-se que os sentidos do planejamento se relacionam com as disputas por hegemonia em torno de ideias e concepções de Estado que legiti- 12 Planejamento Governamental e Controle mam e orientam a ação política concreta. Se na década de 1930 as ideias liberais que legitimavam o laissez-faire deram lugar a um conjunto de ideias baseadas no keynesianismo/desenvolvimentismo – que tinham o Estado à frente da promoção do desenvolvimento –, a crise iniciada na década de 1970 engendrou uma nova alteração do pêndulo em direção às ideias liberais. Já no início dos anos 2000, com a eleição de governos de centro-esquerda na América-Latina, reacende-se um novo ciclo de revalorização do papel do Estado em diversos níveis da econo- mia e das políticas públicas (SADER, 2013; PEREIRA, 2007; DINIZ, 2007; BOS- CHI e GAITÁN, 2015, apud PAPI, 2020), trazendo de volta o debate sobre o papel do planejamento no desenvolvimento e seus arranjos de implementação. Se quiser conhecer mais sobre o tema, sugerimos a leitura do artigo de PAPI et. al. (2020) com título “O Planejamento Governa- mental e modelos de Estado no Brasil: uma análise bibliométrica de três décadas de publicações do IPEA”, referenciado ao final do livro. Feita essa breve contextualização sobre os sentidos do planejamento e a re- lação Estado-sociedade, você pode perguntar: e no Brasil, como percebemos os sentidos do planejamento e as concepções de Estado? Bom, o debate sobre o planejamento nasce em paralelo ao modelo de Esta- do que o origina: o desenvolvimentista erguido a partir da Era Vargas, cuja carac- terística principal foi a sua forte presença na implementação do projeto industria- lizador e modernizador do setor público. Desde meados da década de 1930, com a produção do primeiro plano quinquenal da história do planejamento brasileiro (o Plano Especial de Obras Públicas e Reaparelhamento da Defesa Nacional, de 1939 a 1943), as legislações vêm definindo os instrumentos e as ferramentas que o governo deve utilizar para elaborar seu plano de ação governamental. No decor- rer do estudo, iremos nos deparar com os erros e acertos e até a descrença dessa atividade do planejamento governamental no Brasil principalmente pelo aparelho burocrático do Estado. A cada período, com o passar do tempo e as transformações do papel do Estado no campo econômico e social e das necessidades da sociedade no aten- dimento de suas demandas, esses dispositivos vão sendo redefinidos e atualiza- dos, por meio de legislação específica. Desde 17 de março de 1964, por exemplo, quando, por meio da Lei nº 4.320 foi introduzida a técnica de orçamento por pro- 13 Sistemade Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 gramas, até a Constituição de 1988, em seu art. 165, parágrafos e incisos; já ha- via a obrigatoriedade legal do governo, por meio da administração pública, de ter parâmetros de atuação definidos no campo econômico e fiscal, via planejamento governamental. Em 1988, a Carta Magna introduziu o conceito de sistema de planejamen- to governamental no Brasil que engloba o Plano Plurianual (PPA), as diretrizes orçamentárias (LDO) e os orçamentos anuais (LOA), definidas sua elaboração e execução em legislação específica. Com isso, a constituição definiu a obrigato- riedade de cada ente federativo – União, Estados, e Municípios adotar o sistema, elaborando os seus elementos específicos, o que significa que devem constar nestes documentos do planejamento, as receitas, os gastos, os investimentos, orçamento e finanças dos entes federativos. A constituição também introduziu a participação da sociedade na avaliação e monitoramento das ações de governo. Há mais de um século o Brasil é uma federação. Adicionalmente, em 1988 os municípios foram elevados à categoria de entes federados, juntamente com a União e os estados. A partir daí um conjunto de mudanças políticas e institucio- nais ocorreram; dentre elas, um intenso processo de descentralização de políticas públicas. Em virtude disso, os municípios receberam uma gama de competências na condução de políticas de saúde, educação, assistência social, cultura, sane- amento básico, que até então estavam sob responsabilidade dos órgãos do go- verno central. De forma concomitante, foram incumbidos da função de produzir peças orçamentárias e de planejamento, como o Planejamento Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Plano Diretor. A adoção de uma nova cultura orientada para uma visão empreendedora na administração pública, denominada de Nova Gestão Pública (NGP), começou no final da década de 1970 no Reino Unido com a eleição de Margaret Thatcher. O modelo de NGP está orientado ao cliente – cidadão; com foco em resultados; busca da flexibilização administrativa; busca do controle social e valorização das pessoas. No início da década de 1980, o NPG foi adotado pelo governo Ronald Reagan, nos Estados Unidos. A partir daí se ampliou pelos demais países anglo- -saxônicos, como Austrália e Nova Zelândia, alcançando, em seguida, inúmeros países europeus. Esse novo modelo de gestão pública começou a ser implantado na América Latina na década de 1990. O primeiro país a adotá-lo foi o Chile. No Brasil, sua adoção ocorreu a partir de 1995 e ainda estamos, até hoje, sob a influ- ência dessas reformas no Estado. Para melhor compreensão e aprofundamento do tema sobre a Reforma do Estado no Brasil, sugerimos a leitura de Bresser-Pereira 14 Planejamento Governamental e Controle (1998) e Matias-Pereira (2010, 2020). Os princípios da reforma ad- ministrativa em curso no Brasil estão expostos no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (MARE, 1995). 1 Do que é composto o Sistema de Planejamento Governamental? Após uma breve inserção do tema sobre sistema de planejamento governa- mental, avançaremos para o estudo mais específico do planejamento na imple- mentação da agenda de governo. 2.1 PLANEJAMENTO DA AÇÃO GOVERNAMENTAL Ficou claro para você que até 1988 a prática do planejamento governamental ficava restrita e concentrada nos órgãos federais? Embora o nosso estudo tenha como foco a realidade brasileira, em seu mo- delo federal, quando falarmos em administração pública, devemos pensar que es- tão aí englobados todos os níveis: federal, estadual e municipal. Podemos dizer que o planejamento governamental público, na perspectiva de uma proposta de antever a visão de futuro para bus- car antecipar a solução dos problemas e atender as demandas da sociedade, passou a ser aplicado como forma de promover o pro- gresso econômico e social, não sem controvérsias quanto ao formato e busca de superação dos modelos tradicionais propostos, o que po- deremos melhor compreender no decorrer do nosso estudo. 15 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Para uma melhor compreensão do contexto do planejamento governamental no Brasil, é preciso dizer que não é possível falar em planejamento governamen- tal sem falar em Estado, em modelos de Estado, em governo, administração pú- blica, políticas públicas, no âmbito da política e da economia, por exemplo. E é o que faremos na sequência FIGURA 2 – CONFIGURAÇÃO SISTÊMICA: ESTADO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SOCIEDADE FONTE: A autora (2022) Nessa configuração acima, o Estado, por meio da administração pública, tem a função de atender as demandas da sociedade, com serviços públicos de quali- dade e, para isso, necessita estar bem estruturada, desenvolver suas funções de forma organizada, com eficiência, eficácia e efetividade. Como afirma Matias-Pe- reira (2020), o papel da administração pública é de atuar como eixo transmissor entre o Estado e a sociedade. EFICIÊNCIA - Custo. Executa uma tarefa com qualidade, com o mínimo de erros. EFICÁCIA - Resultado. Produzir da melhor maneira para atingir o objetivo que foi planejado. EFETIVIDADE - Impacto. Habilidade de ser eficiente e eficaz ao mesmo tempo. É nítida a separação que existe entre políticas de Estado e políticas de Gover- no, no âmbito do direito constitucional brasileiro, conforme Matias-Pereira (2010). 16 Planejamento Governamental e Controle • políticas de Estado são àquelas estabelecidas por Lei, no processo com- plexo que envolve as ações do Legislativo e do Executivo. Nelas ficam definidas as premissas e objetivos que o Estado brasileiro, em dado mo- mento histórico, quer ver consagrados para dado setor da economia ou da sociedade. Trata-se de políticas necessariamente estruturantes; • políticas de Governo são os objetivos normalmente estabelecidos em um plano de governo, elaborados pelo então candidato, que após eleito bus- ca implantá-los em diferentes setores da vida econômica ou social. Re- ferem-se à orientação política e governamental que se pretende imprimir a um setor. Registre-se que essas políticas de Governo devem estar em consonância com as políticas de Estado. Governo, administração pública, políticas públicas, planejamento governa- mental são elementos constitutivos das funções stricto sensu do Estado, no que diz respeito aos serviços que presta à sociedade, via políticas públicas, imbrica- das com as funções do Estado, também, no campo social. Em um sentido amplo, as principais funções do Estado estão divididas em quatro grandes setores: a) as funções de Estado stricto sensu, orientadas para a manutenção da ordem inter- na, defesa do território, representação externa, provimento da justiça, tributação e administração dos serviços que presta; b) as funções econômicas que cuidam da criação e da adminis- tração da moeda nacional, regulamentação dos mercados e promoção do desenvolvimento – planejamento, geração de incentivos e estímulos, construção de infraestrutura em seto- res estratégicos, entre outros; c) as funções sociais destinadas ao provimento universal dos bens sociais fundamentais, como saúde, educação, habitação, alimentação, redes de proteção social, etc.; d) e as funções de preservação do meio ambiente (MATIAS-PEREIRA, 2020, p. 1). Dessa maneira, podemos concluir que o governo exerce as atividades polí- ticas, enquanto que a administração pública possui como função principal admi- nistrativa, executar os serviços de interesse e necessidade da coletividade e pelo bem comum. Em outra perspectiva de análise, De Toni (2014) aponta que o planejamen- to governamental é por definição, um processo político coletivo coordenado pelo Estado que, através do aumento da capacidade de governo, realiza um projeto estratégico de sociedade. Essa definição supera o marco das teoriasadminis- trativas limitadas pela análise de eficiência e eficácia, está muito além do debate econômico sobre a mera alocação de recursos e muito além da simples aplicação de modelos gerenciais de bolso e heurísticas econométricas - a exemplo dos mo- delos de uso corporativo como instrumentos ligados às ferramentas da “Qualida- de Total”, como o Balanced Scorecard (BSC), Matriz de SWOT como verdadeiros 17 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 “substitutos técnicos” dos processos de “planejamento participativo”. Ressalta-se que são instrumentos ainda há pouco tempo utilizados para a elaboração do pla- nejamento estratégico das organizações públicas brasileiras. Ficou claro para você que o planejamento governamental pode ser ana- lisado sob perspectivas diferenciadas a partir de sua dimensão técnica e política? A fim de melhor assimilarmos o conteúdo proposto para nosso estudo acerca do sistema de planejamento governamental, dividiremos nossa análise em duas etapas: a primeira análise será a abordagem da dimensão técnica, conhecendo o ferramental disponível para elaborar o planejamento no âmbito da administração pública, quando veremos que se apropria dos modelos e elementos do mundo corporativo, baseada no suporte teórico referenciado; e, na segunda etapa, abor- daremos a dimensão política do planejamento governamental, que é a definidora da agenda de governo que irá nortear a elaboração do planejamento e seu ciclo processual de implantação e avaliação/monitoramento. 2.1.1 Planejamento da ação governamental em sua dimensão técnica Agora já sabemos que com a reforma do Estado, a gestão pública brasileira acolheu os modelos de gestão privados e, para tanto, foi instada a se utilizar de todo um instrumental próprio do mundo corporativo para a elaboração do planeja- mento governamental. No setor público, a gestão das organizações se realiza no contexto do Esta- do. É por meio da gestão pública que a ação do Estado-nação, conduzida pelo governo, se efetiva, a partir da definição e execução das políticas públicas, que, em um Estado democrático, devem ser definidas em conjunto com a sociedade: a representação cidadã. É importante e necessário reconhecer que a elaboração e execução de um planejamento governamental, atrelado a um modelo de Estado, não é algo es- tanque, ou aleatório, que surge da ideia de alguém e, portanto, torna-se uma norma legal e administrativa. A história do planejamento governamental envolve percursos sócio-históricos, econômicos, culturais, permeados por disputas de ideologias, tensões estruturais nas políticas e projetos de governo. As mudanças e transformações que ocorrem tanto na vida privada, quanto na administração pública, acompanham os impactos do avanço da tecnologia - hoje estamos vi- 18 Planejamento Governamental e Controle venciando a Revolução 4.0; bem como as crises econômicas e financeiras que afetam o mundo globalizado. Para tal, devemos levar em conta essas mudanças e transformações em todos os campos que envolvem a vida nacional. Você sabe o que é estratégia no setor público? É definir os objetivos da organização em sintonia com as demandas da so- ciedade. O planejamento tem a função de antever, antecipar o futuro. A partir de ferramentas próprias, que veremos ao longo desse livro, como o planejamento estratégico, por exemplo, a administração pública deve buscar organizar-se e en- vidar esforços, elaborando um plano de ação que defina, claramente, a visão de futuro que espera atingir em determinado espaço de tempo. Já sabemos que o planejamento governamental brasileiro é norteado pelos modelos corporativos do planejamento, voltados à iniciativa privada, a partir da implementação da reforma do Estado no final da década de 1990, com conceitos de visão empreendedora para a administração pública. Assim, para que você co- nheça como esse modelo tradicional de planejamento vem sendo implementado na administração pública no Brasil, iremos trazer os conceitos, as ferramentas, os instrumentos que são utilizados e como ocorrem os processos e procedimentos de gestão no âmbito do governo e da administração pública que irão nortear a construção do sistema de planejamento governamental. Pensando agora de forma mais específica, no sentido da elaboração de do- cumentos específicos ao ato de planejar, eu te pergunto: você sabe o que é pla- nejamento? Quando você pensa em planejamento no sentido mais tradicional do termo o que vem em sua mente, em primeiro lugar? Algo do tipo? FIGURA 3 – CONCEPÇÃO DE PLANEJAMENTO FONTE: <https://wakke.co/como-ter-um-planejamento-financeiro- eficaz-na-sua-escola/>. Acesso em: 10 out. 2021. Pois bem, já é um bom início. 19 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Para facilitar ainda mais o seu entendimento, veremos, agora, a definição de planejamento e como ela se apresenta em uma organização, seja pública ou privada; pois, esse não é um conceito exclusivo para empresas e organizações públicas. Dos estudos mais elementares que conhecemos nas disciplinas de adminis- tração o conceito de planejamento é, praticamente, porta de entrada para os de- mais. É a primeira iniciativa de uma organização, antes que qualquer outra função administrativa seja executada. Quem ainda não ouviu dizer que o planejamento é a primeira das quatro fun- ções administrativas: planejar, organizar, dirigir e controlar? Pois é, mas, se para você o assunto é novo, não precisa se preocupar porque a literatura é farta sobre esse tema e iremos discorrer bastante sobre isso em nosso estudo. Na teoria da administração existem diferentes definições de planejamento. Matias-Pereira (2020) nos diz que o planejamento pode ser entendido como um processo interativo que se desdobra em etapas diferenciadas e, sendo o planeja- mento a racionalização do processo decisório, essas etapas têm, necessariamen- te, o mesmo sentido daqueles identificadas no processo da decisão. Para Ackoff (1967, p. 3 apud MATIAS-PEREIRA, 2020), planeja- mento é um processo que se destina a produzir um ou mais estados futuros desejados e que não deverão ocorrer, a menos que alguma coisa seja feita. Para Batista (1981, p. 13 apud MATIAS-PEREIRA, 2020), o termo planejamento se refere ao processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de problemas. Para Lopes (1990, p. 3 apud MATIAS-PEREIRA, 2020), o planeja- mento é uma ciência que envolve a escolha de um curso de ação, entre diversas alternativas analisadas, que leva a um objetivo prefixado. Trazendo mais detalhes sobre o planejamento, dizemos que ele está voltado para o futuro, para os resultados esperados pela administração e deve ser elabo- rado envolvendo todas as pessoas da organização, em seu nível estratégico, táti- co e operacional, com a compreensão que se trata de um instrumento de gestão que deve ser utilizado de forma contínua e permanente. Nessa perspectiva, vale 20 Planejamento Governamental e Controle lembrar que existem diferentes tipos de planejamento, vistos a partir dos seus campos de elaboração: se institucional, tático ou operacional; que são diferentes em relação à sua finalidade, à sua estratégia e à temporalidade, visando atingir os resultados esperados pela organização. QUADRO 1 – OS TIPOS DE PLANEJAMENTO EM CADA NÍVEL ORGANIZACIONAL Nível Organizacional Tipo de planejamento Conteúdo Tempo Amplitude Institucional Estratégico Genérico e sintético Longo prazo Macro-orientado, aborda a organização como um todo Intermediário Tático Menos genérico e mais detalhado Médio prazo Aborda cada unidade organizacional em separado Operacional Operacional Detalhado e analítico Curto prazo Micro-orientado, aborda cada operação em separado FONTE: Adaptado de Chiavenato (2006) Observando-se o quadro anterior, sobre as diferenças entre os tipos de pla- nejamentos,percebe-se que o tipo estratégico é mais amplo e mais longo. Por exemplo: o nível institucional da organização concentrará a elaboração do plane- jamento baseado na sua finalidade, missão, com visão de futuro à longo prazo, abordando a organização como um todo. Já o planejamento tático irá concentrar o planejamento das ações em temporalidade de médio prazo, com conteúdo menos genérico e mais detalhado. E, por fim, o planejamento operacional terá a concen- tração das ações em cada operação, separadamente, com maior foco nas tarefas a serem desempenhadas, a curto prazo, bem como nos processos operacionais que implicam nos resultados da organização. É a etapa onde acontece a execu- ção do plano de ação organizacional. Ressalte-se que nas organizações públicas, o planejamento estratégico e o operacional são os mais utilizados. Será que já podemos dizer, então, que conhecemos definições de planeja- mento como um conceito primário? Você agora já sabe que o planejamento pode- rá ser utilizado em todas as possibilidades que se apresentarem, indo do planeja- mento doméstico até o planejamento das mais altas esferas de negócios. Agora que já conhecemos o que é planejamento, já poderemos passar para o Plano de Ação. 21 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Você sabe como fazer um plano de ação? FIGURA 5 – TRAÇANDO UM PLANO DE AÇÃO FONTE: <http://www.emdialogo.uff.br/content/planejando-o- futuro-com-mafalda>. Acesso em: 5 out. 2021. Sabia que podemos elaborar um plano de ação para nossa vida, pesso- al e profissional? Pois é! A Mafalda já deu a dica na tirinha acima, quando traça um plano, pla- nejando a sua vida. Planejar nossa vida pessoal e profissional também é tarefa básica e necessária. Podemos criar um plano para atingir os objetivos que previa- mente definimos. Já pensou em fazer o seu plano de ação? Se você assim como a Mafalda deseja traçar um plano para or- ganizar sua vida com clareza esse vídeo pode te ajudar. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=xcOlzv9Up5Q&ab_ channel=GeronimoTheml Então vamos lá conhecer um pouco mais sobre isso. O planejamento não é uma função que se desenvolve e encontra seu êxito sozinha, mas é um processo que, reunido com outros processos, levam a cabo a execução do plano de ação, na busca de alcançar os resultados esperados. 22 Planejamento Governamental e Controle Nessa perspectiva, o planejamento é visto como um processo decisório, sendo a atividade de planejar vista como uma prática de antecipar o futuro, tomando deci- sões de forma antecipada. O planejamento é executado por meio de um Plano de Ação, a partir das defini- ções de metas, objetivos, recursos, e quais as tarefas necessárias para alcançar os resultados esperados. No planejamento de governo, também é elaborado um Plano de Ação governamental, que iremos conhecer com mais detalhes nesse estudo. Agora que já sabemos a importância do planejamento como um instrumento da gestão para alcançar os resultados dos planos que foram definidos baseados em uma visão de futuro projetada; que já sabemos que os conceitos que aborda- mos sobre planejamento são inerentes às empresas privadas, cujo objetivo princi- pal é auferir lucros, iremos conhecer o planejamento no âmbito da gestão pública. Para elaborar um plano de ação governamental é necessário compreender, inicialmente, o planejamento na perspectiva de um processo. Nos aponta Oliveira (1991 apud MATIAS-PEREIRA, 2020) que reconhecer o planejamento como um processo implica, portanto, aceitar que não é uma ativida- de que se esgote na concepção de um plano, de um programa, ou de um projeto. Esses são mecanismos instituídos para facilitar o alcance de metas, ou seja, são meios para estruturar recursos e ações voltados para certos objetivos que dessa forma podem ser geridos de forma melhor. Na perspectiva do planejamento como um processo no qual as fases intera- gem entre si, desdobrando-se em etapas diferenciadas, vamos conhecer na sequ- ência, as funções e fases do planejamento, na definição de Matias-Pereira (2020). FIGURA 5 – FUNÇÕES DO PROCESSO PLANEJAMENTO FONTE: https://scoreplan.com.br/blog/2018/10/22/ciclo-pdca- do-conceito-a-aplicacao/. Acesso em: 7 out. 2021 23 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O ciclo PDCA (“plan, do, check, adjust” - em tradução livre, “pla- nejar, executar, controlar e ajustar”) se apresenta como método de gestão para a utilização ótima dos recursos públicos e a racionali- zação dos procedimentos administrativos, diferenciando-se do tradi- cional ciclo orçamentário, uma vez que visa a busca constante por melhores resultados, não se restringindo a um determinado exercício financeiro, sendo, em suma, o esforço pela qualidade total e pela ex- celência na Administração Pública. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/54339/o-ciclo-pdca-e- -o-planejamento-na-administracao-publica A percepção de que é preciso melhorar o desempenho da gestão pública é cada vez mais evidente no Brasil. A administração pública na atualidade, que tem como referência o modelo de gestão privada, não pode desconsiderar que o setor privado busca o lucro e a administração pública visa realizar sua função social. Esta função social deve ser alcançada com a maior qualidade possível na sua prestação de serviços, ou seja, sendo realizada de forma eficiente, eficaz e efetiva. Agora, convido você a conhecer as fases do planejamento, conforme descri- tas por Matias-Pereira (2020): • Diagnóstico: mostra o conhecimento da realidade. • Políticas: a sua função é definir os objetivos. • Estratégia: deve indicar as opções dos rumos a seguir para alcançar os objetivos. • Planos: tem como propósito viabilizar os objetivos e estratégias. • Execução: esforço orientado para a implementação das ações progra- madas. • Controle: visa permitir acompanhar a execução e avaliar os resultados alcançados, para que possam ser comparados com os objetivos anterior- mente definidos. Quer conhecer mais conhecer mais sobre as funções e fases do planejamento? 24 Planejamento Governamental e Controle Deixo como indicação de leitura os livros: 1 - SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contex- to brasileiro. São Paulo. Pearson Prentice Hall, 2008. 2 - CHIAVENATO, I. Administração Geral e Pública. Rio de Janei- ro: Elsevier, 2006. 3 - OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, meto- dologia e práticas. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2012. Para avançarmos no estudo, quero te perguntar se você sabe a diferen- ça entre Plano, planejamento e planejamento estratégico? Teremos na sequência a diferença que nos ensina Matias-Pereira (2020). Ele nos diz que o processo de concepção de um plano de ação é realizado por meio do planejamento. Nesse sentido, o propósito do plano é atingir um conjunto de ob- jetivos, o que implica dizer que o ato de planejar requer a existência de objetivos. Por sua vez, o planejamento estratégico é o mesmo que planejamento, mas, com ênfase no aspecto de longo prazo dos objetivos e na análise global do cenário. Assim, o planejamento é estratégico quando se dá ênfase ao aspecto de longo prazo dos objetivos e a análise global do cenário. Se você quiser saber mais como elaborar um Plano de Ação, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=M4dNnrcUq9s&ab_ channel=BlogAbriMinhaEmpresa Pronto, se você ainda não elaborou o seu plano de ação, já é possível fazê-lo com as ferramentas aprendidas até agora. O próximo passo do nosso estudo é conhecer mais sobre o planejamento es- tratégico governamental. Podemos dizer que o planejamento estratégico é oriun- do da escola prescritiva, conforme Chiavenato e Sapiro (2003), ou seja, é um processo formal e conceitual de planejamento. A sua origem se deu na década de 1960, nos Estados Unidos, em que esse modelo de planejamento era desenvolvi- do para a administraçãode empresas privadas. 25 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Algumas vertentes do planejamento estratégico surgiram na América Latina a partir dos anos 1970, destacando-se o Planejamento Estratégico Situacional, como nos aponta Artmann (2000). As escolas de estratégia são marco referencial teórico baseado no livro “Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico”, publicado em 2000 pela Editora Bookman e escrito por Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel. O livro apresen- ta 10 escolas de estratégia que auxiliam na tomada de decisões con- forme as escolhas e o tipo de organização. O planejamento estratégico visa a eficácia e procura responder às seguintes perguntas: Qual é o nosso negócio? Qual deveria ser o nosso negócio? Como de- verá ser o nosso negócio daqui a X anos? Quais os objetivos para chegar àquela situação? Quais os recursos para atingir esses objetivos? Sabedores que somos que a administração pública foi buscar na iniciativa privada os métodos e ferramentas de gestão, iremos conhecer alguns termos até então desconhecidos no ambiente governamental, quando falamos em planeja- mento estratégico no âmbito público, como Matriz de SWOT, Balanced Scorecard (BSC) entre outros. São tantas siglas que parece uma sopa de letrinhas, mas, não se preocupe porque há uma farta literatura sobre o tema. Apresentamos abaixo a ilustração equivalente. 26 Planejamento Governamental e Controle FIGURA 6 – MATRIZ SWOT FONTE: <https://eduardokasse.com.br/que-tal-fazer-uma-analise-f-o-f-a- para-ajudar-o-seu-livro-a-se-destacar/>. Acesso em: 7 out. 2021. FIGURA 7 – BSC (BALANCED SCORECARD) FONTE: <https://cienciaenegocios.com/blanced-scorecard/>. Acesso em: 7 out. 2021. 27 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 A análise SWOT é uma ferramenta de gestão muito usada no planejamento estratégico porque analisa os fatores internos - as for- ças e fraquezas e externos à organização – ameaças e oportunida- des para subsidiar a tomada de decisões ou execução de um projeto. Também conhecida como Matriz FOFA. Os fatores internos são os pontos positivos e negativos da situação (empresa ou projeto que deseje implantar). Esses fatores estão no controle da organização e são situações que podem ser por ela administradas e modificadas. Já os fatores externos à organização são de difícil governança, por isso chamados de oportunidades e ameaças; porque não está ao al- cance da organização modificar, por exemplo: cenário econômico, ambiente político, entre outros. O balanced scorecard (BSC) foi formulado por Kaplan e Norton (1997) e está estruturado em quatro diferentes perspectivas – finan- ceira, processos de negócios internos, aprendizado e crescimento das pessoas e cliente. O BSC vem sendo utilizado com uma maior frequência no âmbito do governo federal, porém, para a administra- ção pública o modelo deve ser adaptado para as premissas especí- ficas de cada órgão público, que não deve fugir dos princípios legais da administração em sua finalidade social (MATIAS-PEREIRA, 2020) Avaliando o que já estudamos até aqui você pode estar se perguntando, como o conteúdo apresentado relaciona-se com o mercado de trabalho e a apli- cação na prática do que você aprendeu no curso. Bom, podemos dizer que em sendo sua atuação no campo da gestão pública, em nível federal, você deverá ser preparado para utilizar as ferramentas de planejamento que serão definidas na agenda de governo para o órgão que executará o planejamento governamen- tal. Em se tratando de atuação em gestão municipal, por exemplo, assessoria, consultoria em gestão privada, empreendedorismo, as ferramentas disponíveis no cenário do século XXI são as mais diversas e você deverá avaliar a que melhor irá se adequar ao objetivo a que se pretende atingir, focando a relação custo-benefí- cio de cada uma delas, principalmente. Para alguns autores, no século XX o planejamento ex-ante claramente fa- lhou. O que os consumidores querem e quanto desejam, são duas perguntas que os planejadores nunca conseguiram responder com eficiência. Reunir as informa- ções necessárias para coordenar a atividade econômica revelou-se impossível. 28 Planejamento Governamental e Controle Para elaborar um plano, você precisa agregar informações no nível macroeconô- mico e, ao mesmo tempo, enfrentar incertezas inescapáveis na produção e mu- danças nas preferências do consumidor. Além disso, isso deve ser feito em tempo hábil. Distorções na expressão de necessidades e inércia no aparato produtivo provocaram o impasse do sistema. Sugestão de leitura para você que poderá atuar em nível de as- sessoria em gestão de empresa privada, ambiente corporativo é o livro “Gestão do Amanhã: tudo o que você precisa saber sobre ges- tão, inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial” de Sandro Magaldi e José Salibi Neto (2018), conforme referenciado ao final do capítulo. Durand e Keucheyan (2020) nos apontam que “A revolução do Big Data pode ressuscitar a economia planejada”, de acordo com uma coluna do Financial Times de setembro de 2017. As plataformas digitais são uma ferramenta poderosa para centralizar e gerenciar informações. Ao contrário do que aconteceu na URSS, essa centralização não é feita por seres humanos com faculdades cognitivas limi- tadas e propensas a erros e corrupção. Isso é feito por algoritmos. As plataformas são capazes de agregar quantidades imensas de informações instantaneamente e, simultaneamente, acompanhar as preferências individuais. O big data permite combinar coordenação macroeconômica (ou quantitativa) com microeconômica (ou qualitativa) (DURAND; KEU- CHEYAN, 2020). Um exemplo de software de planejamento de recursos empresariais é o ERP. É um software que padroniza, simplifica e integra os processos de negócios em finanças, recursos humanos, aquisição, distribuição e outros departamentos. Nor- 29 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 malmente, os sistemas ERP operam em uma plataforma de software integrada usando definições de dados comuns operando em um único banco de dados. Embora os ERPs tenham sido originalmente projetados para empresas de manufatura, eles se expandiram para indústrias de ser- viços, ensino superior, hospitalidade, assistência médica, serviços financeiros e governo. Cada uma das indústrias tem suas peculiari- dades. Por exemplo, o ERP governamental usa CLM (Contract Life- cycle Management) em vez de compras tradicionais e segue regras contábeis do governo em vez de GAAP. Os bancos têm processos de liquidação de back-office para reconciliar cheques, cartões de crédi- to, cartões de débito e outros instrumentos. Disponível em: https://www.formmicro.com.br/blog/o-que-e-o-er- p-principais-recursos-do-sistema-de-planejamento-empresariais/ Outra possibilidade para você iniciar sua atuação profissional nessa área do planejamento são os instrumentos e metodologias gratuitos disponíveis no site do SEBRAE, que podem auxiliar a elaborar o planejamento estratégico de sua em- presa ou consultoria. SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em- presas Disponível em: https://bit.ly/3pB2rvK. Por fim, mas sem esgotar as sugestões para a avaliação que você pode fazer da melhor ferramenta e instrumento que deverá utilizar em sua atuação prática, o Modelo de Negócios Canvas é outra possibilidade. 30 Planejamento Governamental e Controle Definidas ou reavaliadas questões como missão, visão e valor, é hora de partir para outras etapas, como a do modelo de negócio. Ou seja, como pretende obter receita? Onde irá vender o produto ou serviço? Como fará a oferta e para quem? E por aí vai. O Canvas é uma ferra- menta que tem sido bastante usada pelas novas gerações de negócios.Melhores ferramentas para a elaboração de planejamento estratégico. Disponível em: https://www.treasy.com.br/blog/melhores-ferra- mentas-para-fazer-planejamento-estrategico/ 2.1.2 Planejamento da ação governamental em sua dimensão política Até este ponto do estudo apresentamos o planejamento governamental em sua perspectiva tradicional que recepcionou modelos do ambiente corporativo como atividade e que são o referencial para a gestão pública no Brasil. A partir daqui queremos problematizar algumas situações para que você pos- sa conhecer outras perspectivas de análise acerca das relações Estado-socieda- de, no Brasil e os desdobramentos para o planejamento governamental. Nossas referências teóricas sobre o tema sistema de planejamento governa- mental, apresentam nas conclusões de suas pesquisas acerca do planejamento, cenários de possibilidades, limitações e possíveis saídas para um melhor apro- veitamento do processo do planejamento para colocar em produção a agenda de desenvolvimento do país, definida por cada governo. São problematizações das mais diversas, a exemplo de qual é o legado do planejamento público do período de pós-redemocratização política até os dias atuais? Quais as perspectivas desse planejamento que foram consolidadas e quais as que precisam ser retomadas? A fase de crepúsculo do planejamento já passou? O Planejamento econômico está de volta no século XXI? Então, como uma proposta de exercício analítico, traremos algumas dessas problematizações para que você possa iniciar a sua ca- minhada na perspectiva dessa construção dialética da razão crítica que se espera de um estudante de especialização em nível acadêmico. 31 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Na concepção de Garcia (2020), no novo e complexo ambiente de atuação em torno das políticas públicas, o gestor público necessita obter e processar mui- tas informações, dominar conhecimentos que o coloquem no limite entre ser téc- nico e político, incentivando a tomada de decisões. Deverá ser capaz de romper com o ciclo da “tecnocracia”, procedendo a dinâmicas de planejamento, onde for- mular, implementar, monitorar e avaliar, representem apenas uma das várias face- tas do seu trabalho. Para ele, a causa do bom governo, da democracia, da sobe- rania é defendida por todos que tem no planejamento estratégico governamental, a ferramenta para a promoção do desenvolvimento nacional inclusivo, sustentável e soberano. Na análise de Cardoso Jr. e Vilela (2020), a defesa que a buro- cracia especializada faz do primado da técnica (supostamente neutra e racional) sobre a política (considerada sempre irracional e envie- sada), esconde a dificuldade prática de organizar, pactuar e imple- mentar um conjunto de escolhas que distribuam poder em um am- biente com desigualdades tão institucionalizadas e arraigadas como no Brasil. Nesse cenário, dizem eles, o planejamento governamental convive no país com ao menos 2 grandes paradoxos: de um lado, diz-se que: “Todos concordam que planejamento é importante, mas ninguém acredita nele!” De outro, que: “Ninguém acredita em plane- jamento, mas quando confrontamos historicamente planos e resulta- dos, há grande correlação positiva entre ambos!”. Em suma, a situa- ção é tal que mesmo dentro do governo, em ministérios, secretarias e órgãos que, supostamente, existem para pensar e aplicar o pla- nejamento (como função precípua e indelegável do Estado), parece predominar certa descrença nesta função. Dagnino (2014) defende que o planejamento estratégico governamental (PEG) é um dos instrumentos que deverá contribuir para viabilizar a transição do “Estado Herdado” para o “Estado Necessário”. Mas, o que isso quer dizer? Nessa breve análise do contexto sócio-político em que deve se inserir o PEG, é possível constatar que o Estado capitalista brasileiro foi conformado para atender aos interesses e valores da classe proprietária e que precisaria ser transformado no “Estado-Necessário”, alterando sua conformação, para funcionar e atender às demandas da classe trabalhadora. Nessa conformação, segundo Dagnino, a ativi- dade do PEG não encontra lugar para ser originalmente aplicado. 32 Planejamento Governamental e Controle Segundo Matias-Pereira (2010), observa-se que a existência de diferenças marcantes entre os objetivos e as estruturas administrativas nas Administrações Públicas de cada país é decorrente de regimes políticos distintos, formações his- tóricas específicas e diferenças culturais. Conforme aponta Garcia (2020), os grandes processos que levaram as na- ções desenvolvidas aonde hoje se encontram, foram orientados por primoroso planejamento governamental, dando materialidade a projetos nacionais social e permanentemente legitimados. Muito embora tenham ocorrido avanços e algumas iniciativas exitosas na con- dução de projetos nacionais de desenvolvimento pós-redemocratização, tendo a função planejamento sua importância como um instrumento de suporte à adminis- tração pública para fazer girar a agenda de governo, alguns autores avaliam que ainda não conseguimos emplacar um modelo adequado à nossa realidade bra- sileira. Como avalia De Toni (2014), a despeito da modernização do Estado e do aprofundamento da democracia pós governos militares, ainda não construímos um sistema de planejamento estratégico a altura dos desafios de um projeto nacional. 2.2 INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO E FINANCEIRO - PPA/LDO E LOA Já sabemos que a constituição brasileira de 1988 contempla uma nova con- cepção de planejamento quando definiu, em seu artigo 165 que é imperativo para os entes federativos a elaboração dos instrumentos que compõem o sistema de planejamento governamental e, a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF - Lei Complementar nº 101/2000) a administração pública precisou aderir à estra- tégia de um planejamento mais elaborado. Nosso objetivo nessa seção é estudar as finalidades e a estrutura respectiva de cada um dos instrumentos do planejamento orçamentário e financeiro do go- verno brasileiro, conhecendo a trajetória do planejamento governamental desde seu marco regulatório, como podemos entender o primeiro plano de desenvolvi- mento nacional na Era Vargas, até os dias de hoje. A ausência de um planejamento por parte do poder público pode desdobrar- -se na dificuldade de manter o equilíbrio orçamentário necessário para a gestão dos recursos públicos, bem como dificultar a transparência dos gastos e participa- ção da sociedade no monitoramento do plano de ação governamental, via meca- nismos de controle. 33 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Para a melhor compreensão e clareza de como o Estado brasileiro chegou até o século XXI, implementando os instrumentos que compõem o sistema de planejamento governamental, por imperativo constitucional, faz-se necessário co- nhecer a trajetória do planejamento governamental e como está imbricado com a relação Estado-sociedade. Para tal, faremos um esforço de síntese, com base nas referências bibliográficas, de relembrar a importância dos planos de desen- volvimento no decorrer de nossa história até chegarmos aos planos da pós-rede- mocratização política, no Brasil da atualidade. Após os períodos Vargas com a criação do DASP (Departamento Adminis- trativo do Serviço Público) como órgão insulado e estratégico de planejamento e os governos militares, como marcos do aumento da intervenção do Estado na economia visando a promoção do desenvolvimento (REZENDE, 2011), uma série de grandes planos de desenvolvimento foram produzidos, como o primeiro plano quinquenal da história do planejamento brasileiro (o Plano Especial de Obras Pú- blicas e Reaparelhamento da Defesa Nacional de 1939-1943). Durante o governo Dutra (1946-1951) foi elaborado o Plano SALTE - Saúde, Alimentação, Transporte e Energia, que se caracterizoucomo um programa de organização dos gastos públicos em setores infraestruturais e sociais. No segundo governo Vargas, elaborou-se o Plano Nacional de Reaparelha- mento Econômico (conhecido como o Plano Lafer) direcionando o foco de suas atenções para a melhoria da infraestrutura e o fortalecimento das indústrias de base. No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o Plano de Metas - um ambicioso plano de crescimento de longo prazo, concretizado em curto prazo (50 anos em 5), avançou na noção de plano com características de programação glo- bal da economia. É neste período que o planejamento governamental no Bra- sil passa a ser construído e valorizado como instrumento de gestão estratégica (CARDOSO JR., 2011). Em que pesem as próprias características estruturantes do pe- ríodo, tais como a centralização, a programação econômica e o in- sulamento burocrático (NUNES, 2010), é possível afirmar que desde 1930 investiu-se na construção de um sistema de planejamento ca- paz de transformar a realidade nacional (REZENDE, 2011; CARDO- SO JUNIOR, 2011 apud PAPI, 2020). 34 Planejamento Governamental e Controle No período entre 1967 e 1976, foi elaborado o Plano Decenal de Desenvolvi- mento Econômico e Social que traçava um roteiro de ação para o período de dez anos. Segundo Rezende (2011), o plano decenal pode ser considerado a primei- ra experiência concreta de estabelecimento de interesses e prioridades nacionais, conformando a mais abrangente proposta de planejamento econômico jamais feita no Brasil. O Plano Decenal não chegou a ser implementado devido a instabilidades políticas e econômicas do período, porém, sua elaboração consolidou uma burocra- cia pública de profissionais qualificados com a causa do planejamento. Esse mes- mo grupo de profissionais elaborou o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), em substituição ao próprio Plano Decenal, que visava aproveitar os ganhos com a estabilização monetária obtidos com o PAEG (Programa de Ação Econômica de Governo) para acelerar o crescimento em curto prazo (1968-1970). Se quiser saber mais sobre o PAEG, acesse: http://www.fgv.br/ cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/programa-de-acao-eco- nomica-do-governo-paeg Com as crises do petróleo de 1973 e 1979 e a instabilidade econômica defla- grada a partir de então, a visão de médio e longo prazo do planejamento gover- namental perde espaço para uma visão de curto prazo, que objetivava lidar com os problemas imediatos da economia. Na década de 1980, o sistema de plane- jamento sofreu duros golpes, e, segundo Rezende (2011) havendo um progres- sivo “esvaziamento do planejamento como lugar central das decisões de política econômica e de coordenação das ações empreendidas pelo governo” (p. 186). O autor avalia que o enfraquecimento do sistema de planejamento no período tem como possibilidade uma inflexão no modelo de Estado brasileiro, fazendo a transi- ção de um caráter desenvolvimentista para outro mais liberal. Esse foi um período de crise econômica mundial, impactando os países de economias capitalistas do ocidente. Com a crise do capital no período, o Estado passa a ser o pivô que colocou fim na era de prosperidade até então desfrutadas pelos países. A nova ordem mundial globalizada, de matriz neoliberal, acusa o Estado de excesso de intervenção, e, entre o período de 1980 e 1990 começa a implementação de agendas de reformas de Estado com repercussão nas econo- mias capitalistas periféricas, alcançando a economia brasileira. É nesse contexto de reformas do Estado que a gestão pública começa a aproximar-se do modelo de gestão privado, no âmbito dos países capitalistas oci- 35 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 dentais; inclusive, é nesse mesmo período que ocorre a queda do bloco socialista e o planejamento, como instrumento central para o desenvolvimento sofre um re- cuo. Para Luciana et al. (2020), paulatinamente o planejamento vai se tornando uma peça de menor importância no setor público, reduzindo-se ao papel de proje- ção orçamentária e visões/ ações de curto prazo, voltadas a resultados. Perdeu- -se, com isso, muito do sentido estratégico dos planos e a visão de longo/médio prazo portados no modelo anterior. No Brasil, em fins da década de 1990, o país teve que enfrentar as agendas reformistas de matriz neoliberal, cartilha ditada pelos organismos financeiros inter- nacionais e recepcionadas pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e da mesma forma que nos demais países ocidentais a gestão pública recepciona os modelos de planejamento do ambiente corporativo. Daqui em diante iremos nos concentrar no período pós CF/88, quando fixou a obrigatoriedade dos entes administrativos (União, Estados e Municípios) elabo- rarem o seu planejamento orçamentário e financeiro. Mas, do que trata cada um desses instrumentos? Inicialmente, faremos as considerações sobre a definição do PPA, sua tem- poralidade e função e, na sequência, apresentaremos os PPAs dos governos bra- sileiros pós-redemocratização, e as considerações sobre a LDO e LOA. O Plano Plurianual (PPA) se constitui em um instrumento de planejamento de médio prazo, que deve conter as diretrizes, os objetivos e as metas da adminis- tração pública para um período de quatro anos. O PPA orienta os orçamentos da União dos 4 anos seguintes, abarcando nessa temporalidade, os 3 anos do gover- no que elaborou o PPA e o primeiro ano do governo seguinte; o que é importante destacar porque é uma forma de manter a continuidade do que foi planejado até que o próximo governo elabore o seu PPA. Na percepção de Mendes (2008), a intenção do constituinte foi a de estabe- lecer um processo que privilegiasse a integração entre o plano e o orçamento, explicitando uma obrigatoriedade de observância do encadeamento lógico entre o PPA, a LDO e a LOA. A título de exemplo, ao definir que a vigência do PPA não deve coincidir com o período de mandato presidencial, induz-se a uma continuida- de no processo de planejamento do setor público. Logo, é possível depreender- mos que, para o constituinte, a fixação de valores financeiros era algo secundário, apenas uma ideia global da consistência fiscal, uma espécie de declaração de intenções do Governo a serem realizadas na medida das disponibilidades orça- mentárias futuras. Dessa maneira, coube à LDO o desdobramento dessas metas (qualitativas e quantitativas) ano após ano, estabelecendo prioridades de acordo com uma mol- 36 Planejamento Governamental e Controle dura da realidade fiscal e das disponibilidades financeiras projetadas, estabele- cendo os limites possíveis dentro da ampla declaração de intenções contida no PPA. Ademais, tem-se na LOA a execução prática daquelas prioridades, sempre submetidas à realidade fiscal, uma vez que o ritmo da execução de projetos e ati- vidades depende da efetiva entrada de recursos nos cofres do Tesouro Nacional. FIGURA 8 – O PPA E O MANDATO DO CHEFE DO EXECUTIVO 1º ano de mandato O Chefe do Poder Execu- tivo governa com o PPA de seu antecessor e elabora o seu PPA para os próximos 4 anos. O Chefe do Poder Executivo trabalha com seu PPA apro- vado pelo Poder Legislativo. É o 1º ano de prática de seu planejamento. Refere-se ao 2º ano de exe- cução de seu PPA. Refere-se ao 3º ano de exe- cução de seu PPA. 2º ano de mandato 3º ano de mandato 4º ano de mandato FONTE: Repositório ENAP (2021) Sucessor do Orçamento Plurianual de Investimentos que, instituído pela Constituição de 1967, apresentava anualmente as demandas por despesas de capital para os próximos três exercícios, o Plano Plurianual (PPA) passou a se “constituir na síntese dos esforços de planejamento de toda a Administração Pú- blica, orientando a elaboração dos demais planos e programas de governo, assim como do próprio orçamento anual” (GIACOMONI, 2016 apud FERNANDES; SOU- ZA, 2019, p. 45). No site <https://bit.ly/35uLQ5P>,você poderá encontrar as in- formações sobre os PPA elaborados nos governos brasileiros desde sua exigência constitucional de 1988, bem como as ferramentas de apoio ao PPA. O PPA pode ser considerado uma peça de planejamento estratégico que ex- pressa uma dada visão de futuro – o futuro desejado de cada ente da federação e tem como características: a) é base para a elaboração das diretrizes orçamen- 37 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 tárias, aprovadas na LDO – lei de diretrizes orçamentárias e da LOA, lei orgânica anual; b) em sua constituição está configurada a elaboração dos Planos Nacio- nais e os Planos Setoriais e c) é organizado em Programas Temáticos, Objetivos, Metas e Iniciativas. O primeiro PPA pós constituição de 1988 foi do governo Collor (1991-1995). O primeiro presidente eleito pelo voto popular após a redemocratização política. Em virtude do impeachment sofrido pelo presidente Collor, Itamar Franco, empos- sado presidente da República, assume o PPA em seu mandato. O período seguin- te foi o PPA do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1996-1999 – PPA Brasil em Ação). Segundo as referências bibliográficas existentes, o plano do governo FHC introduziu novos conceitos de planejamento governamental, trans- formando-o em estratégia. Cabe lembrar que foi no primeiro mandato de FHC que o Estado brasileiro começou a incorporar os conceitos da “Nova gestão pública”, no contexto da reforma do Estado, quando a abordagem gerencial norteou as eta- pas do planejamento, aí incluídas as etapas da elaboração do planejamento, sua implementação e avaliação, baseados nos instrumentos de gestão próprios do ambiente corporativo. Um assunto que já foi tratado aqui nesse estudo e que você pode aprofundar com as leituras complementares indicadas. No segundo governo de FHC o PPA foi denominado Avança Brasil (2000-2003). Na análise de Couto (2011), o PPA demorou a consolidar-se como peça efe- tiva de planejamento governamental nos anos 1990, seja pelo desmonte da es- trutura que lhe dava concretude, seja pela subordinação do desenvolvimento às rédeas da estabilidade monetária. Teve ainda o componente do processo da des- centralização pela União, para os estados e municípios, da responsabilidade de elaborar, cada um, o seu PPA, planos e estratégias, o que acarretou um desloca- mento dessa peça do planejamento para um aspecto mais orçamentário e menos de planejamento econômico mesmo. A ideia da descentralização do PPA para os entes subnacionais foi pela proximidade dos gestores com suas demandas espe- cíficas nos estados e municípios e que isso facilitaria o processo, qualificando a gestão pública; porém, o que se observou, na prática, é que esse distanciamento do planejamento central como uma atividade de integração de planejamento e de- senvolvimento, terminou isolando as iniciativas dos estados e municípios acarre- tando esse desvio de rota na função planejamento como indutor fundamental para a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento econômico. A partir dos anos 2000, com a eleição dos governos de centro-esquerda, principalmente no período de Lula e Dilma, começa uma retomada para revalo- rizar o planejamento, quando, inclusive, esforços foram realizados no sentido de resgatar o sentido estratégico do planejamento no âmbito federativo, quando caiu no esquecimento como peça importante no desenvolvimento econômico como já abordado acima. 38 Planejamento Governamental e Controle Para executar esse novo projeto de desenvolvimento foram no- táveis as iniciativas do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG e do IPEA para resgatar o sentido estratégi- co do planejamento na federação. Inicialmente, recompondo a força de trabalho e a institucionalidade dessa tarefa apostou-se em duas frentes de valorização: 1) o “envolvimento direto da sociedade” na construção do plano ou sua construção partici- pativa; 2) o apoio federativo aos estados e municípios para se capacitarem para esse trabalho (PAPI et al., 2020, p.37). O Plano Plurianual do primeiro governo Lula (2004-2007), chamado um Brasil de todos, apresenta uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo, ausente nos planos anteriores. Um dos focos principais desse plano foi a retomada do cres- cimento e desenvolvimento, a geração de emprego e renda, justiça social, redução das desigualdades regionais, combater a fome e pobreza, entre outros não menos importantes. O segundo PPA do mandato seguinte (2008-2011 – Desenvolvimento com Inclusão Social e Educação de Qualidade) continuou com a estratégia de pla- nejamento a longo prazo, visando estabelecer as bases sólidas da economia para possibilitar ao governo promover o crescimento e o desenvolvimento do país com a inclusão social e distribuição de renda desejada. O diferencial do PPA dos governos Lula em relação aos anteriores foi que sua construção foi participativa, possibili- tando o envolvimento de vários segmentos representativos da sociedade, através de conferências, fóruns e conselhos, a fim de implementar e fortalecer o controle social; temática que trataremos na seção 3 desse livro. Em franca oposição ao modelo neoliberal reinante durante a dé- cada de 1990, que se mostrou ao mesmo tempo incapaz de responder aos problemas de crescimento econômico e produziu um enorme con- tingente de novos pobres na região, estes governos de centro-esquerda trazem de volta o debate sobre o sentido do desenvolvimento e o papel do Estado na promoção do bem estar social. (PAPI et al., 2020, p. 36). Experiência de participação da sociedade na implementação do PPA. Convocação da sociedade para apresentação do PPA pela pre- feitura Municipal de Andira. Fonte:https://bit.ly/3IMDcxQ. 39 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O PPA do governo Dilma Rousseff (2012-2015 – Plano Mais Brasil), tam- bém elaborado a partir do diálogo estabelecido pelo governo federal, estados, municípios e movimentos sociais. O Ministério do Planejamento, órgão técnico formulador das políticas governamentais, afirmou que o PPA do governo Dilma foi elaborado com uma linguagem mais acessível a todos os cidadãos e cidadãs brasileiras. Ressalte-se que o plano estabeleceu como prioridades o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em que estão contidos o Programa Minha Casa Minha Vida e o Plano Brasil Sem Miséria. Para o segundo mandato do go- verno Dilma, foi elaborado o PPA (2016-2019) quando o governo foi abatido du- rante o voo. Alguns analistas avaliam que várias perguntas sobre as etapas do planejamento proposto ficaram em suspenso tendo em vista que o governo Dilma não concluiu seu mandato. Sugerimos como leitura complementar sobre os PPA do período 2003-2015, Avaliação das Dimensões Estratégicas dos PPAs para o Desenvolvimento, tendo Políticas Sociais como Eixos. O artigo de Santos e Geraldine, referenciado ao final do livro e disponível em: https://bit.ly/3IMDhl8. O Plano Plurianual vigente no Brasil no momento de elaboração desse livro é o do governo de Jair Messias Bolsonaro (2020-2023 – Priorizar, Planejar, Alcan- çar); instituído pela lei 13.971 de 27 de dezembro de 2019. Para maiores informações sobre a apresentação do PPA em vi- gor no Brasil (2020-2023). Disponível em: https://www.gov.br/econo- mia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa/ arquivos/mensagem-presidencial.pdf Considerando a execução em curso do atual PPA, ainda são poucas as re- ferências sobre relatórios avaliativos e os resultados alcançados em comparação 40 Planejamento Governamental e Controle com os objetivos definidos no Plano, entretanto um artigo de Cardoso Jr. (2020), aponta para um desmonte do Estado no governo Bolsonaro e discorre sobre as diretrizes gerais e primeiras medidas tomadas pelo seu governo no âmbito da or- ganização e funcionamento do Estadobrasileiro, exclusivamente em nível federal e focado apenas no poder executivo. Para uma melhor compreensão do programa em curso, sugerimos a leitura complementar da obra referenciada ao final do livro. Para conhecer o ciclo de implantação do PPA e a experiência de um governo estadual, sugerimos a leitura do material do governo da Bahia, PPA (2020-2023). Disponível em: https://bit.ly/3Ms28Ny. Na figura abaixo, podemos conhecer a ilustração de como funciona o ciclo integrado do planejamento e orçamento público e como os instrumentos do plane- jamento governamental – PPA, LDO e LOA, atuam de forma integral para colocar em execução o plano de desenvolvimento do Estado brasileiro, no campo nacio- nal e subnacional. FIGURA 9 – CICLO INTEGRADO DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO FONTE: A autora (2022) 41 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 No Almanaque do Planejamento, uma publicação elaborada no governo Dilma Rousseff do PPA 2012-2015, você pode conhecer com mais detalhes a ilustração sobre o caminho do PPA, desde sua origem até sua consolidação, favorecendo sua compreensão sobre todo o processo. Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-de- -conteudo/publicacoes/planejamento/arquivos/almanaque-do-plane- jamento. 2 Com base no que você estudou até aqui acerca dos instrumentos do sistema de planejamento governamental, sua imperatividade após a CF/88, os dispositivos constitucionais e suas característi- cas e finalidades. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: a) ( ) A prefeitura de um Município brasileiro pode elaborar o seu plano plurianual para o período de 5 anos, desde que devidamen- te acordado com o Prefeito e a Câmara de vereadores do Muni- cípio. b) ( ) O enfraquecimento do sistema de planejamento no Brasil ocorreu com maior intensidade na década de 1980. c) ( ) O primeiro PPA elaborado no período pós-redemocratização foi o do governo Itamar no início década de 1990, após o impea- chment do presidente Fernando Collor de Melo. d) ( ) É função da LDO desdobrar as metas do PPA, com tempora- lidade anual. e) ( ) A finalidade da LOA é a execução prática das prioridades de- finidas na LDO em acordo com a entrada de recursos financeiros. Daqui em diante faremos alguns destaques acerca dos dispositivos consti- tucionais do sistema de planejamento brasileiro, sugerindo a você que amplie a leitura da Constituição Federal de 1988. 42 Planejamento Governamental e Controle A CF/88 definiu, em seu artigo 48, incisos II e IV que é atribuição do Congres- so Nacional dispor sobre o PPA, as diretrizes orçamentárias, o orçamento anual, os planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento; com a sanção do Presidente da República. Em seu artigo 84, inciso XXIII, dispõe que é de competência privativa do Presidente da República enviar ao Congresso Nacio- nal o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos na Constituição. Relembrando o que já vimos nesse estudo, a CF/88 define em seu art. 165, os instrumentos do planejamento governamental e as Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerá o Plano Plurianual – PPA (Inciso I e § 1º do art. 165); Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO (Inciso II e § 2º do art. 165) e a Lei Orçamen- tária Anual – LOA (Inciso III e § 5º do art. 165). Dispõe, ainda, o art. 165, em seu § 9º, que cabe à lei complementar dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual. Em seu art. 166 dispõe que os proje- tos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. Por último destacamos que no Ato das Disposições Constitucionais Transi- tórias (ADCT), em seu art. 35, inciso II, define que o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Bom, até aqui, tratamos mais especificamente do instrumento do sistema de planejamento governamental conhecido como PPA. Daqui em diante falaremos um pouco mais das diretrizes orçamentárias que também compõem o sistema. É preciso, antes de tudo, conhecer um pouco sobre o orçamento público, e, faz-se necessário que você busque maiores informações pesquisando no farto referencial teórico disponível. Para Fernandes e Souza (2019), em sentido lato, o orçamento público no Brasil é o instrumento pelo qual o governo estima as receitas e fixa as despesas para poder controlar as finanças públicas e executar as ações governamentais, levando a ação do Estado ao bem comum, possuindo um ciclo que compreende o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentárias e a lei orçamentária anual. Para eles, de fato, esse conceito amplo esconde que o orçamento público no Brasil é uma das mais complexas matérias da administração pública. 43 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Segundo Matias-Pereira (2012), a natureza jurídica do orçamen- to tem sido motivo de grandes discussões no cenário nacional, uma vez que não há unanimidade entre o segmento de juristas que o con- figuram como simples ato administrativo, ou seja, tão somente uma apuração de contas, daquela corrente que o concebem como lei em sentido material ou formal. Ao assumir a elaboração da peça orçamentária como um processo geral- mente tenso e controverso, em função das diversas instituições e interesses que são afetados a cada decisão de composição e montante de receita e gasto públi- co, Schick (2007) registra as múltiplas facetas que permeiam o estabelecimento das prioridades nacionais. O orçamento é um processo alocativo, no qual nunca há re- cursos suficientes para serem distribuídos. É também um pro- cesso de redistribuição, em que alguns ganham porque outros perdem, alguns recebem do governo mais do que contribuem na forma de impostos e outros recebem menos. É um processo de escolha entre diversas reivindicações de recursos públicos que, mesmo nas melhores épocas, não são suficientes para cobrir todas as demandas. É um processo de racionamento em que se soluciona o orçamento por exclusão de alguns daque- les que reivindicam. É um processo em que, de forma expres- sa ou indireta, o governo decide sobre qual o papel que deve desempenhas e define prioridades (SCHICK, 2007, p. 82 apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 22). Na concepção de Sanches, A LDO é a “maior novidade em termos do instru- mental de orçamentação pública articulado pela nova ordem constitucional” (SAN- CHES, 2004, p. 204), ganhando grande relevância por seu caráter de mecanis- mo de formulação de políticas públicas: §2º - A Lei de Diretrizes Orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da Lei Orçamentária Anual e disporá sobre alterações na legislação tributária e estabele- cerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (BRASIL, 2018, p. 79). Sanches (2004, p. 204) assim nos traduz a importância desse instru- mento: Lei de periodicidade anual, de hierarquia especial e sujeita a prazos e ritos peculiares de tramitação, destinada a parametrizar a forma e o conteúdo com que a lei orçamentária de cada exercício deve se apresentar e a indicar as prioridades a serem observadas em sua elaboração. 44 Planejamento Governamental e Controle Em contraponto, mas, de forma complementar, estudos questio- nam se mesmo após pouco mais de 50 anos de sua publicação, a Lei nº 4.320/1964 ainda se mostra atualface aos novos comandos intro- duzidos em nossa legislação orçamentária, em especial pelo texto constitucional e pela LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal (GUIMA- RÃES et al., 2014). Quanto ao processo de elaboração da LDO, inicia-se no Poder Executivo, e o projeto deve ser encaminhado ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano, com análise e aprovação pelo Parlamento limitadas ao dia 30 de julho, sob pena de não interrupção do primeiro período de sua sessão legislativa (reces- so parlamentar). E, por fim, caso você tenha interesse em acompanhar como funciona a ses- são legislativa que aprecia a LDO veja o dispositivo constitucional do art. 57 do ADCT e fique alerta para o prazo de apreciação pelo parlamento brasileiro: Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Ca- pital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006). § 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a apro- vação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias (CF/1988, on-line). E agora o que podemos abordar sobre a LOA - Lei Orgânica Anual? Sobre a LOA, já vimos anteriormente que foi definida como elemento de composição do sistema de planejamento governamental, no art. 165 da CF/88, juntamente com O PPA e a LDO. Então, a Constituição federal brasileira disciplina no art. 11 do ADCT, que cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulga- ção da constituição federal, obedecidos os princípios desta. Em seu parágrafo único, dispõe que “promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Muni- cipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Consti- tuição Estadual. Em sua obra intitulada Dicionário de Orçamento, Planejamento e áreas afins, Sanches (2004) assim conceitua o verbete Lei Orçamentária Anual (LOA): 45 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Capítulo 2: Orçamento público Lei de natureza especial – em razão do seu objeto e da forma peculiar de transmissão que lhe é definida pela Constituição - por meio da qual são pre- vistas as receitas, autorizadas as despesas públicas, explicita- das a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo e definidos os mecanismos de flexibilidade que a Administração fica autorizada a utilizar. A LOA deriva de proje- to (PLOA) formalmente remetido à deliberação do Legislativo pela chefia do Poder Executivo, apreciado pelo Parlamento segundo sistemática definida pela Lei Maior e observada a es- trutura e o nível de detalhamento definido na LDO do exercício (SANCHES, 2004, p. 207). Curiosamente, diz ainda Sanches, não obstante a Constituição de 1988 ter inovado ao instituir o PPA e a LDO ao ordenamento jurídico nacional, também fomentou a “reconceituação” do Princípio da Unidade pelos doutrinadores da épo- ca. Ao tripartir a já existente Lei Orçamentária Anual (LOA), contemporizou a coe- xistência de múltiplos orçamentos (Orçamento Fiscal, Orçamento da Seguridade Social e Orçamento de Investimento das Estatais) ao consolidá-los em um único documento (agora denominado Princípio da Totalidade), atingindo o propósito pri- meiro de permitir à sociedade uma visão geral de suas finanças públicas, confor- me assim disposto no §5º do art. 165 da Carta Magna. Ao final dessa seção podemos concluir que, para uma análise conjunta dos três instrumentos que compõem o sistema de planejamento no Brasil, necessário se faz estabelecer uma perspectiva de processo do PPA, da LDO e LOA com uma responsabilidade de atuação integrada na execução do processo de planejamen- to e orçamento. 3 Baseado no que você estudou nessa seção, comente sobre a im- plementação do PPA no Brasil. Foi uma implementação com um percurso facilitador face o imperativo constitucional ou demorou a se firmar como uma ferramenta de planejamento? 2.3 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DO GASTO PÚBLICO Discutir o planejamento governamental nos tempos difíceis em que estamos vivendo é, sem dúvida, um exercício de resis- tência democrática. O planejamento estratégico público (PEP) é um dever do governo e um direito do cidadão. Em uma de- 46 Planejamento Governamental e Controle mocracia a sociedade tem que ser informada sobre como o governante pretende construir o futuro da nação, para poder intervir de forma a participar em tal construção que não é obra exclusiva do governo, mas envolve a todos os atores sociais (GARCIA, 2020, p. 45). Nosso objetivo nessa seção é tecer comentários sobre a abordagem do mo- nitoramento e avaliação do gasto público, uma temática que também será con- templada no capítulo 3 desse livro quando falarmos em sistema de controle exter- no e interno. Quando se fala em gasto público, em uma linguagem mais corriqueira e me- nos técnica, geralmente pensamos em gasto com políticas públicas, com o funcio- namento da máquina pública, eficiência, eficácia etc. E você, o que pensa sobre gasto público? Então, o que podemos falar sobre gasto público de forma mais orientada? Em primeiro lugar qualidade do gasto público é essencialmente o equilíbrio das contas públicas, a sustentabilidade dessas políticas e, para tal, necessário e im- prescindível se faz a avaliação desse gasto, o seu monitoramento, tanto pelo apa- rato burocrático do Estado quanto pela sociedade. Sobre isso, trataremos com mais especificidade no Capítulo 3 deste livro. Mendes, Terra e Oliveira (2018) apontam que o interesse na avaliação de impactos da ação pública instala-se nos anos 1970, em paralelo ao processo de implantação do orçamento moderno, iniciado nos anos 1960, quando são questio- nados e revistos os parâmetros do tamanho e da ação do setor público e, nesse período, o novo instrumento orçamentário denominado de Sistema de Planeja- mento, Programação e Orçamento (PPBS, em inglês) incorpora preocupações com a eficiência e a efetividade da ação pública. A qualidade do gasto público precisa de constante monitoramen- to e avaliação para garantir a eficácia e eficiência na aplicação dos recursos públicos. Essa foi uma das direções apontadas pelos deba- tedores que participaram da audiência pública interativa promovida pela Subcomissão sobre Gastos Públicos e Combate à Corrupção na quarta-feira, 25/09/2019. Fonte: https://bit.ly/3sFrpvM. 47 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Existe uma farta literatura disponível sobre o estudo e pesquisa acerca do papel das políticas públicas no desenvolvimento social de um país. Embora se fale muito em políticas públicas, estas não costumam ser explicitadas pelos go- vernos para o seu povo. O desenho dessas políticas, os investimentos, as metas, objetivos, resultados esperados não estão disponíveis para a população com a clareza necessária, no máximo, sabemos algo sobre a legislação que rege deter- minada ação. Políticas públicas podem ser entendidas como metas, progra- mas, princípios e objetivos da ação governamental definidos a partir dos processos decisórios politicamente mediados. Visam orientar, ar- ticular e coordenar a atuação de agentes públicos e privados, bem como a alocação de recursos públicos e privados para atingir inte- resses públicos considerados relevantes em dado momento histórico (BUCCI 2002 apud MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 127). Como aponta Santos (2010), as bases das políticas públicas estão contidas nas políticas econômicas. Desse modo, elas variam de acordo com o grau de di- versificação da economia, com a natureza do regime social, com a visão que os governantes tem do papel do Estado no conjunto da sociedade e com o nível de atuação dos diferentes grupos sociais. Podemos discernir, portanto, que há a motivação política de governo para definir oeixo de atuação do Estado e a questão técnica na elaboração das políti- cas. É por esta razão que Santos (2010) aponta que no novo e complexo ambien- te de atuação em torno das políticas públicas, o gestor público necessita obter e processar muitas informações, dominar conhecimentos que o coloquem no limite entre ser técnico e político, incentivando a tomada de decisões. Deverá, ainda, ser capaz de romper com o ciclo da “tecnocracia”, procedendo a dinâmicas de planejamento como formular, implementar, monitorar e avaliar representem ape- nas uma das várias facetas do seu trabalho. Em muitos casos, conforme avaliam Mendes, Terra e Oliveira (2018), os resul- tados da avaliação de políticas públicas e projetos sociais são usados como insumos no processo de decisão orçamentária, apesar de os achados apontarem para reco- mendações específicas para melhoria da eficácia, da eficiência e da efetividade. 48 Planejamento Governamental e Controle O Banco Mundial (2017) publicou um relatório que pode ser considerado pro- priamente uma análise do gasto público brasileiro. Um dos achados mais impor- tantes do estudo é que alguns programas governamentais, que utilizam vultosos recursos, não são eficazes e beneficiam os ricos em maior grau que os pobres. Portanto, o governo brasileiro gasta mais do que pode e, além disso, gasta mal. Logo, o banco sugere que seria possível economizar recursos sem prejudicar o acesso e a qualidade dos serviços aos mais pobres. Sobre o Novo Regime Fiscal (teto de gastos- Emenda Constitu- cional nº 95/2017) será necessário respeitar um cuidadoso processo de priorização, o qual passa pela leitura do mencionado estudo. A pesquisa analisa profundamente os programas existentes e apre- senta soluções e reformas que tornariam os gastos mais eficazes, eficientes e equitativos, já que uma das premissas do trabalho foi proteger os mais pobres e vulneráveis. Para saber mais sobre o Relatório do Banco Mundial, acesse: https://bit.ly/35Msg4O Faremos, agora, uma breve passagem sobre o contexto da agenda política pois é ela que irá definir o planejamento governamental do país. Conforme Santos (2010), a agenda política é o instante em que as questões públicas surgem e o estabelecimento de prioridades merecendo políticas defini- das, contemplando as seguintes etapas: formulação, implementação, monitora- mento e avaliação. É na etapa de formulação das políticas públicas que as propostas ganham forma, quando são definidas as metas, os objetivos, os recursos que serão ne- cessários. É a estratégia sendo posta em prática e para essa explicitação da es- tratégia é que as políticas se transformam em planos, programas ou projetos e, oficialmente, por algum ato autorizativo do agente público, quando são criadas condições as para sua implementação. Implementar políticas depende de um conjunto de fatores, como nos escla- rece Santos (2010): incluem desde a forma de execução de atividades; a clareza com que metas e objetivos são fixados; a consistência com que são comunicados; 49 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 a relação entre atividades que envolvem auxílios técnicos e de informação; as condições políticas, econômicas e sociais e as características dos gestores im- plementadores. Segundo ela, quase sempre os resultados e impactos projetados não correspondem à fase de formulação. Esse, provavelmente, deve ser um pon- to de análise e estudo de cenários pela administração pública. A fase de monitoramento e avaliação são complementares, mas, com algu- mas especificidades. O monitoramento das políticas públicas busca determinar o grau em que a execução das atividades contempla o que foi programado no início da ação de planejar. Busca, ainda, detectar obstáculos, deficiências, equívocos e/ou necessidades de promover ajustes na execução do plano elaborado. Já a etapa de avaliação das políticas vai um pouco além do monitoramento, pois bus- car verificar se o plano originalmente traçado está efetivamente alcançando as mudanças e/ou transformações pretendidas, como forma de subsidiar a definição das políticas públicas. Vale ressaltar que ações de acompanhamento sistemático não devem estar restritas à compatibilidade entre valores programados e executados, estampados na peça orçamentária. Por serem voltadas para a sociedade e envolverem recursos sociais, devem ser siste- maticamente avaliadas do ponto de vista de sua relevância e ade- quação às necessidades sociais, além da abordagem dos aspectos de eficiência, eficácia e efetividade das ações compreendidas (SAN- TOS, 2010, p. 7). Por último, quando se fala em avaliação e monitoramento, não podemos dei- xar de falar nos indicadores de eficiência, eficácia e efetividade. São os indica- dores que irão apontar para o gestor público o desempenho dos processos ou o andamento dos fluxos de trabalho, subsidiando, inclusive, a tomada de decisões para manter o rumo inicialmente definido ou realizar mudança de rota e/ou de es- tratégica. Para medir a qualidade do gasto público são necessários dados sobre esse gasto, técnicas de mensuração e gestores bem capacitados. Conforme Santos (2010), os indicadores de eficiência são relativos aos meios e recursos empregados, mostram a relação entre custos e benefícios; os indica- dores de eficácia estão voltados ao cumprimento das metas, mostram a relação entre alcance de metas e tempo, ou seja, o grau em que se alcançam os objetivos 50 Planejamento Governamental e Controle e metas do programa em um determinado período de tempo. E, por fim, os indi- cadores de efetividade apontam a relação entre os resultados e objetivo que foi proposto no plano. É a medida do impacto ou do grau de alcance dos objetivos. Não basta estabelecer metas, políticas, programas e projetos, se estes, durante o período de execução, não forem adequa- damente gerenciados e avaliados. A avaliação possibilita que seja feita em tempo oportuno e de forma eficaz, a necessária e inevitável correção de rumos (SANTOS, 2010, p. 8). Como a nossa temática de estudo nessa seção é a avaliação e monitora- mento do gasto público, no Brasil, consideramos importante e necessário trazer alguns dados sobre a performance e eficiência do gasto público brasileiro, a fim de situar, você, objetivamente, no tempo e lugar em relação ao conteúdo aborda- do e a realidade em análise. Os dados são trazidos por Mendes, Terra e Oliveira em uma publicação do IPEA: Segundo Afonso, Schuknecht e Tanzi (2010b), o Brasil encon- tra-se nas últimas colocações em termos de performance (22o lugar) e eficiência (23o lugar) do gasto público, em um grupo de 24 países emergentes do mundo. Em outro estudo, Afonso, Romero-Barrutieta e Monsalve (2013), comparando 23 países latino-americanos e caribenhos, encontra o Brasil em 20o lugar em termos de performance e eficiência (2018, p. 75). Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tri- butação (IBPT, 2015), o Brasil é o país que tem o pior retorno em serviços públicos à sociedade, em comparação com trinta países que possuem as maiores cargas tributárias (CTs) do mundo, e leva em consideração a razão entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a CT em relação ao produto interno bruto (PIB). (MENDES; TERRA; OLIVEIRA, 2018, p. 75). Os debates sobre os gastos públicos são recorrentes e fazem matérias em diversos campos do conhecimento, seja na economia, na sociologia, no direito, na ciência política, entre outros e, muitas são, também, às discussões para o fomen- to de uma cultura de eficiência do gasto e de avaliação de performance para o desenvolvimento econômico nacional. Na perspectiva de fomentar o debate sobre o gasto público, Boueri, Rocha e Rodopoulos avaliam que 51 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Sem prejuízo da necessidade de manter o compromisso de responsabilidadefiscal para garantir a estabilidade macroeco- nômica, a busca da qualidade dos serviços públicos é outro conceito que a administração pública vem incorporando ao lon- go dos anos. Nesse contexto, faz-se necessária a introdução e disseminação da visão de eficiência no setor público brasileiro. Assim, não basta saber quanto o governo gasta com a provi- são de bens e serviços, é necessário avaliar e ponderar os cus- tos e os benefícios desses gastos para determinar a respectiva utilidade para o contribuinte. O foco passa para o aumento da consciência a respeito do valor dos recursos públicos, procu- rando incorporar o valor da eficiência na lógica de funciona- mento da administração pública (2015, p. 9). Em nossa avaliação, com o advento da matriz de orientação neoliberal no Estado brasileiro, o planejamento governamental tende a ser um instrumento para a racionalização e priorização da despesa pública para atender às demandas e objetivos do cidadão, sem comprometer o gasto público que comprometa outras despesas fiscais. Como fazer isso, em um contexto do ajuste fiscal brasileiro, principalmente no advento do teto orçamentário de gastos da emenda constitucional nº 95/2017 e a realidade social do país, de extrema pobreza e desigualdades sociais? Não é tarefa fácil responder a essa pergunta sem levar em consideração que no Brasil cada vez mais se reforça uma cultura de racionalização dos gastos públicos, com o discurso da restrição orçamentária. É o contexto que Boueri, Rocha e Rodopou- los nos apresentam a publicação da Secretaria do Tesouro Nacional (STN): Faz-se necessário que os diversos projetos e programas go- vernamentais sejam planejados, executados e avaliados no âmbito de uma cultura de racionalidade econômico-social. É primordial que o apreço aos recursos públicos se manifeste não só no que concerne a transparência de como são utiliza- dos, mas também aos efeitos positivos que o seu dispêndio trará à sociedade como um todo, em vista do custo de retirá-los da própria sociedade através da tributação (2015, p. 14). Assim, visando contemplar oportunidades de aprofundamento de sua pesqui- sa acerca do monitoramento e avaliação das políticas públicas, no Brasil, deixa- mos como referência alguns bancos de dados, bases para avaliação dos gastos governamentais. Bases úteis para avaliação de gastos governamentais: Finanças públicas nacionais: o principal site para acesso aos dados das finanças públicas da união, estados e municípios é o da 52 Planejamento Governamental e Controle Secretaria do Tesouro Nacional: <https://www.gov.br/tesouronacio- nal/pt-br>. Base Finbra - finanças municipais do Brasil: disponibiliza bases completas com os dados fiscais dos estados e municípios: <https:// www.gov.br/tesouronacional/pt-br/estados-e-municipios/dados-con- solidados/finbra-financas-municipais>. Informações sobre as transferências constitucionais - FUNDEB/ FPM/FPE: <https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/estados- -e-municipios/transferencias-a-estados-e-municipios>. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nosso estudo nesse capítulo concentrou-se, em maior abrangência, na te- mática do sistema de planejamento governamental, em sua dimensão técnica e política; embora sabemos que não nos foi possível aprofundar em cada subtema específico dada a relação entre a complexidade temática e o espaço dessa produ- ção; porém, acreditamos, por outro lado, que o objetivo de instigar você a pesqui- sar e aprofundar seu estudo, poderá ter sido alcançado. Foi possível constatar nesse capítulo que o planejamento, em seu sentido tradicional, como uma peça técnica da elaboração de planos e projetos baseado nos modelos da gestão corporativa, teve seu período de implantação, sendo essa etapa superada com a compreensão do conceito de planejamento governamen- tal como um processo político coletivo coordenado pelo Estado, que através do aumento da capacidade de governo, realiza um projeto estratégico de sociedade, como nos apresentou De Toni (2014). Sabemos que é fato que a administração pública necessita enfrentar o pro- cesso de modernização tão necessário, para melhorar o seu desempenho na en- trega dos serviços à sociedade, principalmente no cenário dos impactos da cha- mada Revolução 4.0. A revolução da tecnologia e da informação, da inteligência artificial, vem exigindo mudanças irreversíveis na prestação dos serviços, quer na empresa privada, quer na administração pública e os agentes públicos necessitam avançar em saídas que contemplem as necessidades do bem-estar da sociedade, em seu exercício de cidadania, na perspectiva da gestão fiscal dos recursos, tema que abordaremos no Capítulo 2, seguinte. 53 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Conforme Matias-Pereira (2009) a Administração Pública tem demonstrado uma baixa capacidade de gestão na implementação de políticas sociais, apresen- tando-se dispersa e não sistematizada, em decorrência de um descompasso entre o planejamento governamental, que prioriza o processo de formulação de planos e relega a um plano secundário as etapas de acompanhamento e de avaliação. Como afirma Cardoso Jr. (2020) o planejamento econômico democrático é o instrumento para reconstruir uma narrativa coletiva e implantar uma nova sobera- nia ao longo do tempo. O planejamento econômico deve ser de baixo para cima. Experimentos em democracia “participativa” ou “deliberativa” têm sido numerosos em todo o mundo nos últimos vinte anos. Até hoje, contudo, grupos focais, júris de cidadãos, orçamentos participativos ou conferências de consenso não foram usados para influenciar escolhas produtivas. Há, em suma, uma variedade de dimensões e situações cotidianas que, por vezes, mascaram e, por outras, desnudam as contradições intrínsecas dos processos de governo, especialmente em casos como o do planejamento gover- namental na atualidade, que convive, como citado anteriormente, com uma ins- titucionalização ainda não plenamente adequada para o desempenho estatal sa- tisfatório dessa função. Cardoso Jr. (2011), segue apontando caminhos, no sentido de que se faz ne- cessária a busca por um entendimento mais acurado acerca das transformações recentes em cada área de políticas públicas, suas razões, determinantes princi- pais, contexto situacional, entre outros. Diz ele: acreditamos nós que apenas des- ta maneira será possível oferecer novas e mais promissoras diretrizes de refor- mas institucionais em cada área de atuação governamental, bem como propostas concretas para a reforma do Estado e da Administração Pública Federal no Brasil. Dagnino (2014) analisa que, nesse contexto, a correlação de forças políticas que sanciona uma brutal e até agora crescente concentração de poder econômi- co, muito pouco espaço deixa para que ações internas ao Estado possam alterar a situação de miséria observada na maioria da população. Para ele a configura- ção atual do Estado brasileiro – o “Estado Herdado” – é uma consequência da concentração de poder econômico e político vigente no país, que foi estabelecen- do um tipo particular de relação Estado-Sociedade. Para Dagnino há que ocorrer uma mudança de conformação no Estado bra- sileiro, de Estado capitalista conformado para atender aos interesses e valores da classe proprietária para sua transformação em “Estado-Necessário”; alterando sua conformação para funcionar e atender às demandas da classe trabalhadora, pois, em sua concepção, nessa conformação do Estado brasileiro atual, a ativida- de do planejamento estratégico governamental não encontra lugar para ser origi- nalmente aplicado. Mas, e como isso poderia ser feito? 54 Planejamento Governamental e Controle Na concepção de Dagnino, essa mudança de conformação passa pela “ocupação” do aparelho de Estado por um governo que seja sensível a estas demandas da classe que vive do trabalho. A partir daí, supõe-se, também e principalmente, à necessidadede alteração do contexto político, social e econô- mico que validam as agendas de interesse dos quem detêm a propriedade: a classe proprietária; aproximando-se de uma agenda decisória que contemple a classe que vive do traba- lho. Supõe-se, ainda, modificação no plano interno do Estado, em seu aparato burocrático; buscando neutralizar os contrários ao atendimento das demandas sociais da classe trabalhadora e empoderando os que são a favor. E, por último, no campo institucional, promover a desmontagem de arranjos legais, procedimentos administrativos, normas de funcionamento etc., que garantiriam o modo de funcionamento que aquele governo estivesse interessado em mudar. Desmontados àqueles arran- jos, seria promover a criação de outros arranjos que viessem a incorporar métodos que possam permitir maior racionalida- de, transparência e accountability por exemplo, favorecendo a participação da sociedade civil representadas pelas classes trabalhadoras (DAGNINO, 2014, p. 26). Por fim e para dar asas à sua imaginação e o exercício do pensar crítico, pensemos que a conclusão desse estudo objetivou apontar para lacunas e ca- minhos de pesquisa em torno dos mecanismos que organizam a burocracia de planejamento, com vistas a ampliar a capacidade do Estado nos campos da for- mulação, regulação, implementação e coordenação de políticas públicas para o desenvolvimento nacional. REFERÊNCIAS ARTMANN, E. O Planejamento Estratégico Situacional no nível local: um instrumento a favor da visão multissetorial. Disponível em: http://www6.ensp. fiocruz.br/repositorio/resource/356595. Acesso em: 10 out. 2021. BOUERI, R.; ROCHA, F.; RODOPOULOS, F. (orgs.). 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CAPÍTULO 2 Atividade Financeira do Estado A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer a legislação aplicada à gestão fiscal e financeira dos recursos públi- cos que orientam a formulação e execução das políticas públicas e a definição de prioridades a partir da realidade financeira do Ente federativo. � Identificar a adequada aplicabilidade da legislação na gestão fiscal e financeira dos recursos públicos. � Analisar os conceitos das finanças públicas e comparar sua aplicabilidade prá- tica. � Diferenciar os conceitos de programação e execução financeira. 60 Planejamento Governamental e Controle 61 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO No capítulo anterior deste livro, você ficou sabendo que, com o passar do tempo, as atividades desenvolvidas pelo Estado (políticas, econômicas, sociais, administrativas, financeiras, educacionais, policiais) passam por transformações e evoluções que são inerentes aos processos de mudanças da sociedade em seus contextos sócio-históricos e econômicos. O Estado desenvolve atividades com a finalidade de regular a vida humana na sociedade visando o bem comum e, para fazer frente às necessidades da sociedade no atendimento de suas demandas, o Estado necessita de recursos que obtém através da sua atividade financeira; temática que iremos abordar nesse Capítulo 2. Por atividade financeira do Estado, entende-se o conjunto de atos que o Es- tado pratica na obtenção, na gestão e na aplicação dos recursos financeiros de que necessita para atingir seus fins. Para compreender a execução do orçamen- to público e sua integração com o planejamento governamental é imprescindível conhecer o funcionamento da atividade financeira do Estado. Essa atividade de- senvolve-se em três áreas: a receita (obtenção de recursos), a gestão (adminis- tração dos recursos e do patrimônio do Estado) e a despesa pública (aplicação dos recursos no pagamento das verbas autorizadas no orçamento anual) e con- siste, basicamente, em: obter, despender, gerir e criar, que correspondem à Re- ceita Pública, Despesa Pública, Orçamento e Crédito Público, respectivamente. Essa será a temática que iremos desenvolver nesse capítulo do livro, quan- do faremos a leitura dos objetivos da política fiscal e as funções de governo; as formas de tributação e um breve histórico das contribuições dos autores clássicos e suas teorias econômicas para a implantação de um sistema tributário eficiente, com implicações na teoria e na prática das finanças públicas e a legislação que sustenta todo esse processo. Com esta exposição temática esperamos que você possa estabelecer diálo- gos com os agentes que atuam neste campo do conhecimento. 2 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO Já aprendemos no Capítulo 1 desse livro que a ação governamental impres- cinde de um planejamento adequadamente elaborado em acordo com a agenda de governo previamente definida com foco nas demandas da sociedade. Conhe- 62 Planejamento Governamental e Controle cemos os instrumentos do sistema governamental do planejamento que põem pra rodar esse plano da agenda de governo que são o PPA, a LDO e a LOA. Veremos neste Capítulo 2 como obter esses recursos para que o plano orçamentário dê conta de atender essas despesas. Veremos, também, como o Estado atua nessa função de arrecadar recursos para atender às demandas da sociedade, via políti- cas públicas; o seu papel fiscal e como faz essa gestão. 2.1 GESTÃO FISCAL Nessa parte inicial do capítulo, iremos abordar a atividade financeira do Esta- do, contemplando a dinâmica da gestão fiscal. O Estado, para o cumprimento das legislações tributárias necessita definir um conjunto de ações e procedimentos administrativos que resultem no melhor investimento dos recursos públicos dentro do aspecto da legalidade. O Estado não pode, simplesmente, utilizar os recursos que são públicos, oriundos dos impostos que a sociedade paga, da forma que bem entender. Para tal, existe a legislação que norteia todo esse processo e que iremos tratar no subitem seguinte, mas, desde já deve ser compreendido porvocê que as ações do Estado no uso desses recursos públicos, a qual chamamos de gestão fiscal, não podem acontecer fora do cumprimento da legislação que rege toda essa matéria fiscal. Nós vimos no capítulo anterior que desde 17 de março de 1964, quando, por meio da Lei nº 4.320 foi introduzida a técnica de orçamento por programas, até a Constituição de 1988, em seu art. 165, parágrafos e incisos que já havia a obrigato- riedade legal do governo, por meio da administração pública, de ter parâmetros de atuação definidos no campo econômico e fiscal, via planejamento governamental. Mas, o que podemos dizer sobre a atividade financeira do Estado no campo da gestão fiscal? A que isso nos remete? Segundo Matias-Pereira (2010), a atividade financeira do Estado diz respei- to ao desempenho das atividades políticas, sociais, econômicas, administrativas, entre outras, que constituem sua finalidade precípua. Consiste ainda em obter, criar, gerir e despender o dinheiro indispensável às necessidades cuja satisfação está sob sua responsabilidade ou transferidas a outras pessoas jurídicas de direi- to público. Já conhecemos no capítulo anterior as definições de Estado em sua relação com a sociedade na confecção da agenda pública de governo, na perspectiva da elaboração do planejamento governamental. Agora, para melhor compreender as funções do Estado na gestão fiscal dos recursos públicos, necessário se faz 63 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 conhecer, em breve histórico, as raízes das teorias econômicas que definiram e definem o seu papel na atividade financeira nos dias atuais. Para tal, trazemos as contribuições dos autores clássicos e suas teorias econômicas para a implanta- ção de um sistema tributário eficiente, com implicações na teoria e na prática das finanças públicas com aporte das referências bibliográficas. Iniciando com as bases da teoria clássica, surgida na Inglaterra no final do século XVIII e início do século XIX que defendiam um Estado com poucas fun- ções, o que conhecemos como Estado mínimo. Essa corrente de pensamento foi fundada por Adam Smith em 1780, conhecido como o pai da economia moderna; e nasce como marco referencial da ciência econômica clássica, agregando contri- buições de muitos teóricos. A diminuição da participação do Estado na atividade econômica está baseada na ideia de que o mecanismo de mercado é mais efi- ciente que qualquer planejamento estatal no processo de alocação de recursos. Desde que algumas condições fossem satisfeitas, uma economia de mercado asseguraria uma resposta altamente satisfatória para as questões econômicas fundamentais. Dessa forma, o Estado teria poucas, mas importantes funções a desempenhar (MILLER, 1981 apud MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 225). O liberalismo baseou-se na ideia defendida por Adam Smith. Segundo Smith, o próprio capitalismo continha mecanismos racionais e eficientes de autorregulação das condições socioe- conômicas de uma sociedade. Dessa forma, o papel do Estado deveria se limitar a duas coisas: cumprir os contratos e garantir a propriedade privada (DANTAS, 2021). Se desejar saber mais, sugerimos: MILLER, R. L. Microeconomia: teoria, questões e aplicações. São Paulo: MCGraw-Hill do Brasil, 1981 Nessa concepção liberal-clássica as funções do Estado devem se resumir a três postulados básicos, conforme Alves da Silva (1998 apud Matias-Pereira, 2010): a) o Estado deve limitar-se ao mínimo indispensável no exercício das fun- ções que justificam a sua existência perante a sociedade: administrar a justiça, zelar pela segurança interna da população e pela segurança ex- 64 Planejamento Governamental e Controle terna da nação e providenciar certas obras e instituições públicas quan- do a iniciativa privada não se ocupar delas; b) para custear o exercício das funções típicas do Estado, o governo deve elaborar e administrar um orçamento equilibrado e minimamente neces- sário; c) as receitas fiscais devem provir, preferencialmente, de impostos que gra- vem o consumo corrente. Os três postulados, no seu conjunto, sinalizam o entendimen- to da escola clássica sobre o papel do Estado, aceito como o “mal necessário”. Observa-se, por sua vez, que na maior parte do século XIX a concepção capitalista focada no mercado era reforçada com as sucessivas revoluções industriais que contri- buíam para fortalecer o capitalismo concorrencial, num cenário de estabilidade monetária e de constantes progressos científi- cos. Esse cenário econômico respaldava as teorias liberais de pensadores como Smith e Ricardo, que pregavam o Estado mínimo (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 226). Quer saber mais? Indicamos a leitura de: ALVES DA SILVA, J. M. Sobre a intervenção do Estado na eco- nomia. In: CARVALHO, F. M.; ALVES DA SILVA, J. M.; VIEIRA, W.C. (Ed.). Crise e reestruturação econômica da América Latina. Viço- sa: UFV, 1998, p. 158-182. As diversas crises que abalaram o sistema capitalista em desenvolvimento tiveram início no período que vai de fins do século XIX para o início do século XX, em um cenário de instabilidade econômica mundial agravado pelos efeitos da primeira grande guerra mundial, o que resultou na grande depressão dos anos 1930 já conhecida por nós no capítulo anterior. Esse quadro de incertezas não foi possível superar com os postulados da economia clássica de Adam Smith. Para a economia mundial após 1930, outras recomendações foram necessárias e coube a John Maynard Keynes recomendar a intervenção do Estado na economia para atenuar as flutuações e situações de influência de demanda efetiva. Para Keynes, frente a um quadro de declínio econômico, o governo não poderia deixar de inter- vir na economia como defendia a teoria clássica liberal de Smith. 65 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Na base da teoria keynesiana está a defesa do papel do Estado interventor na economia na medida necessária para elevar a renda nacional e o emprego, aumen- tando o bem-estar da sociedade. O cenário era de crise e medidas precisavam ser adotadas pelo Estado para atenuar a situação. A teoria de Keynes propunha que o Estado deveria aumentar seus gastos em obras públicas, onde não haveria inte- resse do setor privado para gerar investimentos e dessa forma haveria socialização dos investimentos com aumento do setor público em detrimento dos privados e uma reversão com a retomada do crescimento do investimento privado devido as ações do governo. O Estado deveria, também, aplicar recursos em áreas que atendessem aos interesses coletivos, como escolas, hospitais, parques, etc. Sobre a Teoria Keynesiana, você pode pesquisar em: KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Coleção os Economistas). Nas últimas décadas do século XX, as teorias monetaristas passaram a pro- mover fortes críticas à excessiva relevância que o keynesianismo atribuiu ao Es- tado e consideraram que essas distorções contribuíram para reduzir a competiti- vidade e as eficiências da economia de livre mercado. Então, a partir disso, essas análises dos monetaristas motivaram profundas alterações nas políticas orçamen- tárias dos países, sem que se chegasse a negar o modelo keynesiano, que conti- nuou, em sua essência vigente. No início da década de 1980, a crise fiscal se abateu sobre os países da América Latina, sendo efetivados fortes ajustes na condução da política econô- mica que passou a priorizar o combate à inflação e a geração de superávits pri- mários. No Brasil não foi diferente. Era a cartilha neoliberal sendo implementada nos países do capitalismo periférico. Atualmente, a análise sobre a política fiscal trilhou outros caminhos, afastando-se da posição keynesiana e concentrando os esforços na questão da sustentabilidade da dívida, na busca da credibilidade da política econômica e na definição de regras fiscais de controle das contaspúbli- cas. Conforme Matias-Pereira, o sistema de controle da política fiscal e as regras de monitora- mento dos programas de assistência financeira do FMI sofre- ram alterações significativas nesse período. Essas mudanças foram decorrentes de alguns fatos marcantes, em nível interna- cional, como, por exemplo, o encerramento do acordo de Bret- 66 Planejamento Governamental e Controle ton Woods, as dificuldades de manter a política keynesiana de pleno emprego, o aumento dos juros e as baixas taxas de crescimento da economia mundial, entre outros. A crise fiscal e a expansão da relação dívida/PIB nos países centrais, por sua vez, revelaram as enormes dificuldades de manutenção da política do Estado de bem-estar (welfare state). A ascendência da teoria das expectativas racionais contribuiu de maneira sig- nificativa para mudar os rumos da avaliação da política fiscal. Assim, o enfoque da análise foi transferido da manipulação da demanda agregada para a questão da sustentabilidade da dí- vida pública (2010, p. 228-229). Caso você tenha ficado interessado em saber um pouco mais sobre Estado de bem-estar (welfare state), assista o vídeo disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/politica/liberalismo-x-keynesianis- mo.html. Em meados da década de 1990 e início da década de 2000, um termo ficou muito conhecido no mundo econômico – “neoliberalismo”, o modelo substitutivo do Estado de bem-estar social da teoria Keynesiana. Porém, conforme apontam diversos autores, o neoliberalismo é um conceito polêmico, de difícil convergência conceitual. Desde 1938, a formulação desse termo designou, entre seus partidá- rios, mais um campo de debate que propriamente um consenso. O conceito de neoliberalismo foi retomado pelas ciências sociais desde os anos de 2000, com a reabertura do debate internacional que busca dar definições mais precisas em sua vertente crítica. Conforme Andrade, os autores, em seus debates iniciais, con- vergem para pontos comuns sobre o termo compartilhavam a mesma utopia de livre mercado e a mesma posição contrária ao intervencionismo econômico e ao plane- jamento estatal centralizado (keynesiano, socialista ou desen- volvimentista), mas não tinham opinião comum sobre o papel legítimo do Estado, sobre as diretrizes de política econômica ou sobre a experiência fracassada do laissez-faire do século XIX (2019, p. 211-212). Se você estiver interessado em conhecer um pouco mais sobre o que é o neoliberalismo, fica a sugestão do artigo de ANDRADE, D. 67 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 P.; O que é o neoliberalismo? A renovação do debate nas ciências sociais. Revista Sociedade e Estado, v. 34, n. 1, Janeiro/Abril, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/RyfDLystc- fKXNSPTLpsCnZp/?lang=pt. Na avaliação de Matias-Pereira (2010), Adam Smith deixou contribuições no campo das finanças públicas bastante significativas. Destacam-se, entre os seus estudos, as denominadas “máximas” para a implantação de um sistema tributário eficiente e que até hoje conhecemos em aplicação. • Primeira máxima: trata-se da capacidade contributiva dos cidadãos, que os súditos de cada Estado devem contribuir o máximo possível para a manutenção do Governo, em proporção às suas respectivas capacida- des, isto é, em proporção ao rendimento que cada um desfruta, sob a proteção do Estado. É o princípio da equidade que ainda hoje se utiliza. Para Smith, seria a característica da justiça social, que todo sistema tri- butário deve buscar, dividindo-se em equidade vertical (maior pagamento para aqueles que estão em maiores condições de pagar) e equidade ho- rizontal (tratamento igual para aqueles que possuem idêntica condição). • Segunda máxima: trata-se da regra para a fixação dos impostos e tem como objetivo proteger os contribuintes contra as arbitrariedades do Es- tado ou de seus representantes para coletar imposto. É também conhe- cido como o princípio da certeza ou da segurança jurídica. Então, a partir da fixação de regras, os pagadores de impostos terão todas as informa- ções: saberão quando pagar, de que forma pagar e em que quantidade. Para alguns tributaristas modernos essa máxima é traduzida como res- ponsabilidade política. • Terceira máxima: trata-se da facilidade para os contribuintes – prevê que os tributos devem ser cobrados quando eles efetivamente dispõem de recursos para cumprir seus compromissos. Assim, por exemplo, o impos- to sobre a renda do trabalho deve ser cobrado junto com o recebimento do salário, e não em período anterior. • Quarta máxima: refere-se ao baixo custo do sistema tributário – todo im- posto deve ser planejado de tal maneira que retire e conserve fora do bolso das pessoas, o mínimo possível, além da soma que ele carreia para os cofres do Estado. Para Smith, os tributos não devem ter cus- tos elevados de arrecadação; não devem desestimular a atividade eco- nômica; não devem ser facilmente sonegáveis; e não devem submeter os contribuintes a fiscalizações desnecessárias que impliquem perda de tempo e de recursos. 68 Planejamento Governamental e Controle Cumpre ressaltar até aqui a importância de conhecermos as contribuições dessas teorias econômicas para chegarmos até as nuances da questão das fi- nanças públicas no Brasil, um país de capitalismo periférico cujas transformações mundiais são implementadas com um certo atraso em comparação com o am- biente internacional. Conhecer os conceitos da teoria liberal e keynesiana que influenciaram e influenciam a agenda econômica do país e a gestão das finanças públicas é fundamental para a contextualização do cenário fiscal brasileiro. No Brasil, o processo de transformação recente das finanças públicas tem início a partir da crise da dívida externa, em 1982, quando o modelo de finan- ciamento e organização do Estado nacional desenvolvimentista foi colocado em xeque. Segundo Matias-Pereira (2010), o retorno à democracia, que ampliou o poder dos governadores como interlocutores do pacto político, e, diante da liber- dade de usarem a articulação financeira entre o tesouro, os bancos estaduais e as empresas de alavancagem de recursos, contribuiu para fragilizar o controle do endividamento público. Ele afirma que esse cenário se tornou mais visível após a aprovação da CF/88, na qual se definiu um modelo fiscal em que Estados e Municípios passaram a receber grande volume de recursos federais, tornaram- -se autônomos para gerirem suas finanças (autonomia aos Poderes Legislativo e Judiciário para definir suas despesas e salários) e seu patrimônio, limitando con- sideravelmente a margem de controle da União na condução de políticas de con- tenção fiscal. Na concepção de Peres e Santos (2020), sobre a estrutura das receitas da União, a CF de 1988 além de definir a base para estabelecimento de novos tri- butos, determinou competências e a partilha tributária entre os entes federados. O financiamento federal das políticas públicas passou a contemplar parcialmente demandas de grupos que ansiavam por maior participação e espaço no finan- ciamento público, a exemplo do aumento da vinculação de recursos para a edu- cação, da incorporação ao orçamento do BPC, da previdência rural e do crédito subsidiado à agricultura familiar ao longo da década de 1990. Para os autores, essa trajetória de descentralização para os entes subnacio- nais, seguida de estabilização na disponibilidade de receitas, produziu aumento da participação daqueles entes, sobretudo os municípios, no financiamento de políticas de educação básica e saúde, e a elevação dos gastos federais em pre- vidência social, assistência social e subsídios ao setor privado. Do ponto de vista social, a resultante redistributiva da política tributária foi o agravamento da desi- gualdade de renda e o aumento da cumulatividade do sistema tributário sobre a produção e o consumo, já tributados por outros impostos (GRANADO; PERES, 2010).Percebe-se que a gestão fiscal descentralizada, no Brasil, é um jogo de avança de um lado e recua de outro. 69 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 O debate recente sobre a política fiscal, meados do ano de 2010, é a posição de destaque que a política de controle das contas públicas tem ocupado nos pro- gramas de ajustes na economia brasileira nas últimas três décadas. Os ajustes fiscais que começaram a ser implantados no Brasil tem início com o marco da cartilha neoliberal aplicada nos países capitalistas do ocidente e com mais tardar nos países periféricos do capital como é o caso do Brasil. O modelo econômico adotado pela agenda de governo no Brasil a partir de 2019 é o neoliberalismo da Escola de Chicago capitaneado pelo Ministro da Economia Paulo Guedes. A partir dessa definição de política econômica pode-se traçar o panorama da gestão das finanças públicas no Estado brasileiro. Caso você tenha interesse em conhecer mais a fundo o pen- samento econômico neoliberal de Paulo Guedes, atual Ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro, sugerimos o artigo de Schaefer (2018), disponível em: https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/ Missoes/article/view/2833 É fato que essa breve contextualização histórica que trouxemos aqui nesse subitem não nos permitirá uma análise mais aprofundada das teorias econômicas contemporâneas que norteiam as finanças públicas nos tempos atuais. O libera- lismo de Adam Smith e o Keynesianismo de Keynes são teorias econômicas que devem ser analisadas e enquadradas no contexto de sua época, com seus acer- tos e suas críticas, e ambos tiveram seu êxito na perspectiva das problemáticas que cada um correspondeu vivenciar. Superada essa etapa histórica e a partir do conhecimento das raízes das teorias econômicas que definiram e definem o seu papel na atividade financeira do Estado para a implantação de um sistema tributá- rio eficiente, passaremos agora a conhecer a temática das finanças públicas com aporte das referências bibliográficas. As demandas da sociedade ao Estado por serviços públicos, principalmente as demandas sociais, via políticas públicas, requer que o Estado tenha recursos para provê-las. E de onde vem esses recursos? Bom, ao ingresso definitivo de recur- sos ao patrimônio público chama-se receita pública. E como funciona esse ingresso? Quem contribui para gerar essas receitas? 70 Planejamento Governamental e Controle Conforme Matias-Pereira (2010), as finanças públicas se apresentam como ferramenta indispensável para o funcionamento do Estado, além de assegurar a manutenção da administração e dos serviços públicos, bem como para influenciar a economia do país e corrigir seus desequilíbrios. Os governos são necessários para regular o funcionamento de uma sociedade. É importante ressaltar que o setor público se diferen- cia do setor privado, pois o setor privado tem como objetivo principal o lucro, enquanto o setor público tem responsabilidades e compro- missos com a sociedade, oferecendo bem-estar social, saúde, segu- rança, infraestrutura, entre outros (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 217). Matias-Pereira (2010) conceitua finanças públicas como a atividade financei- ra do Estado direcionada para a obtenção e o emprego dos meios materiais e de serviços para a realização das necessidades da coletividade, de interesse geral, satisfeitas por meio do processo do serviço público. Esse termo designa também o setor que controla a massa de dinheiro e de crédito que o governo federal e seus órgãos subordinados movimentam em um país. Abrange não só as opera- ções relacionadas ao processo de obtenção, distribuição e utilização dos recursos financeiros do Estado, mas também a atuação dos organismos públicos em seto- res da vida econômica. No campo financeiro o Estado desenvolve suas funções e responsabilidades em quatro áreas: receita pública, orçamento público, despesas públicas e crédito público, conforme ilustrado na Figura 1. 71 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 FIGURA 1 – ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO FONTE:<https://bit.ly/3pGS2P8>. Acesso em: 18 out. 2021. E como funciona cada função dessa é o que iremos ver mais a frente, confor- me definição de Matias-Pereira (2010). • Receita pública: ingresso definitivo de recursos ao patrimônio público, sem qualquer compromisso ou obrigatoriedade, aumentando as disponibilida- des do tesouro. Subdivide-se em originárias (provenientes dos bens e em- presas comerciais ou industriais do Estado) e derivadas (obtidas por meio do poder de coerção do Estado, como impostos, taxas, contribuições etc.). • Orçamento público: ato que contém a aprovação prévia das receitas e despesas públicas para um período determinado, que normalmente é de um ano. • Despesas públicas: conjunto de dispêndios do Estado ou de outra pes- soa de direito público para o funcionamento dos serviços públicos. • Crédito público: apresenta-se como um dos processos pelos quais o Es- tado pode obter uma receita pública. Esta, por sua vez, caracteriza-se como um empréstimo, o qual necessariamente deverá ser reembolsado. Sobre receita e despesa pública aponta ainda Matias-Pereira (2010) que a receita pública se constitui das atividades voltadas para obtenção de recursos próprios advindos de diversas fontes, com previsão legal específica: i) a fiscal, oriunda do patrimônio e da renda; ii) a produtiva, derivada da atividade do Estado enquanto empresário; iii) a patrimonial, derivada da exploração do patrimônio es- 72 Planejamento Governamental e Controle tatal, são as chamadas fontes primárias de recursos. A despesa pública constitui- -se na aplicação dos recursos auferidos na busca do bem comum; e o crédito pú- blico constitui-se na obtenção de recursos com terceiros a título de endividamento para complementar a fonte de recursos primários, ou seja, cobrir desequilíbrio orçamentário – essa fonte é chamada de secundária. Como já foi tratado anteriormente, o objeto principal da atividade estatal das finanças públicas é o estudo da atividade fiscal do Estado pois é a que vai obter recursos para aplicar no custeio dos serviços públicos e essa política fiscal orien- ta-se em duas direções: a política tributária e a política orçamentária. A política tributária se volta a obter recursos via cobrança de tributos à sociedade a partir de cada fato gerador, para atender às funções da administração pública; tributos que são cobrados por cada ente federativo em impostos de sua competência. Já a política orçamentária refere-se à maneira de aplicar os recursos obtidos via tributação; refere-se à definição dos gastos da administração pública, a partir de atos específicos, para manter a atividade estatal em funcionamento levando em consideração a capacidade da população de financiar os serviços públicos. O direito tributário é o ramo do direito público que regula a im- posição, a arrecadação e a fiscalização dos tributos e disciplina as relações entre fisco e contribuintes: https://slidetodoc.com/atividade- -financeira-do-estado-direito-tributrio-dpc-n/ Do que já vimos até aqui, faz-se necessário conhecer o conceito de bens públicos para uma melhor compreensão de que o Estado deve prover esses bens e o financiamento da produção desses bens ocorre por meio da cobrança compul- sória de impostos à sociedade. Os bens públicos são aqueles cujo consumo e/ou uso é indivisí- vel. Há um princípio da não exclusão no consumo desses bens, visto que é praticamente impossível impedir que um determinado indiví- duo usufrua de um bem público. Depois de produzido, o bem público irá beneficiar a todos os indivíduos, independentemente do nível de participação e contribuição de cada indivíduo para a concretização do mesmo (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 218). 73 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Agoravocê conhecerá os objetivos da política fiscal e as funções de governo para a obtenção das receitas objetivando custear as despesas públicas. Como já sabemos, a política fiscal é uma das atividades do Estado, representado pelo gover- no, no campo das receitas públicas; de onde, principalmente, o governo obtém os recursos para custear as despesas públicas. Vamos lá conhecer cada uma delas. FIGURA 2 – FUNÇÕES FISCAIS DO ORÇAMENTO PÚBLICO FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/619033911252507680/>. Acesso em: 19 out. 2021. Na definição de Matias-Pereira (2010), a função alocativa da política fiscal é a de fornecer os bens públicos. Inicialmente, é importante saber que o financia- mento da produção dos bens públicos vai depender da obtenção compulsória de recursos, mediante cobrança de impostos. Nessa função, o governo deve deter- minar o tipo e a quantidade de bens públicos a serem ofertados e calcular o nível de contribuição de cada consumidor. Já a função distributiva tem como objetivo promover ajustes na distribuição de uma renda justa. Os recursos captados de- vem promover uma redistribuição de renda da parcela da população de renda mais alta para a de renda mais baixa. Para isso, o governo se utiliza das transfe- rências, dos impostos e dos subsídios. Para entender melhor a definição de redis- tribuição de renda, você pode tomar como exemplo o programa Bolsa- Família. E por último, à função estabilizadora cabe utilizar da política econômica visando a um alto nível de emprego, à estabilidade de preços e à obtenção de uma taxa apropriada de crescimento econômico. Vez por outra você ouve falar em intervenção do Estado na economia não é mesmo? Você leu sobre isso nas matérias de jornais ou programas de TV. Mas, do que será que isso trata? Por que será que o governo precisa fazer essa intervenção? Bom, segundo Matias-Pereira (2010), a intervenção do governo pode ser im- portante no sentido de proteger a economia de flutuações bruscas, caracterizadas 74 Planejamento Governamental e Controle por alto nível de desemprego e/ou alto nível de inflação, a exemplo do que esta- mos vivenciando no Brasil em 2021: cerca de 15 milhões de desempregados e in- flação nas alturas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Para isso, os principais instrumentos macroeconômicos à disposição do governo são as políticas fiscal e monetária. Para informações sobre os dados estatísticos você pode aces- sar o site do IBGE, disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/ desemprego.php Como referência de leitura complementar sobre a função distribu- tiva da política fiscal do Estado brasileiro, sugerimos o artigo de Fer- nando Gaiger Silveira, intitulado “Tributação, Previdência e Assistência Sociais: impactos distributivos”, conforme referenciado ao final do livro. 1 Podemos constatar que as teorias econômicas e seus princípios norteadores apresentadas nessa seção contribuem para a defini- ção da política fiscal que será incorporada pela agenda governa- mental de cada Estado. Assim, sobre as raízes das teorias eco- nômicas que definiram e definem o papel do Estado na atividade financeira, assinale a alternativa correta: a) ( ) A teoria liberal defende que o Estado deveria, também, apli- car recursos em áreas que atendessem aos interesses coletivos, como escolas, hospitais, parques. b) ( ) A teoria keynesiana defende que o Estado deve limitar-se ao mí- nimo indispensável no exercício das funções que justificam a sua existência perante a sociedade: administrar a justiça, zelar pela se- gurança interna da população e providenciar certas obras e institui- ções públicas quando a iniciativa privada não se ocupar delas. 75 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 c) ( ) O modelo de Estado keynesianismo foi substituído pelo mo- delo neoliberal. d) ( ) A corrente de pensamento fundada por Adam Smith em 1780 foi baseada no Estado Máximo. Convido você a conhecer um pouco mais acerca da estrutura administrativa da gestão fiscal, no Brasil. Conforme Matias-Pereira (2010), os entes federativos são estruturados em níveis de finanças do que chamamos fazenda pública, con- templando, no mínimo, três classes compreendidas entre União, Estados e Mu- nicípios. A estatal, União, que é gerida pelo Ministério da Fazenda ou Secretaria da Fazenda no âmbito nacional, que hoje no Brasil foi modificado para Ministério da Economia. A departamental, estadual ou autônoma que é gerida pelo departa- mento da fazenda do governo dos Estados e, por último a fazenda municipal geri- da pelos municípios. Em decorrência dessa composição em classes, os tributos e as competências de tributação no Brasil são definidos na CF/88 e alguns impostos são cobrados pelas diferentes áreas fazendárias que arrecadam e administram os recursos públicos de acordo com o estabelecido em lei específica. Já sabemos que para o governo arcar com a execução das políticas públicas para fazer frente ao seu papel social são necessários recursos. Esses recursos, chamados receitas geradas por meio da atividade fiscal do Estado, são captados, principalmente pela arrecadação de tributos, que são as cobranças feitas pelo Estado, aos contribuintes, para gerar recursos. Mas, será que todos os brasileiros e brasileiras estão sujeitos a pagar esses tributos? Os impostos são tributos? Os tributos e impostos são a mesma coisa? É o que iremos descobrir na sequência do estudo. Conforme o art. 3º do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172, de 25.10.1966 e suas atualizações) “tri- buto é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Na Figura 3, podemos conhecer um pouco mais sobre as formas de tributação do Estado brasileiro. 76 Planejamento Governamental e Controle FIGURA 3 – DEFINIÇÃO DE TRIBUTO FONTE: <http://faturista.blogspot.com/2012/05/o-que-e-tributo-quais-suas-especies.html>. Acesso em: 20 out. 2021. Você pode saber mais em: https://bit.ly/3hERlBh. Pela ilustração da Figura 3 acima, já podemos visualizar que tributo é gênero que contempla cinco espécies: as contribuições, os empréstimos compulsórios, as taxas, os impostos e as contribuições de melhoria. Daí já podemos concluir que tributo e imposto não é a mesma coisa e que imposto é uma espécie de tribu- to. Segundo Gama (2012), do ponto de vista jurídico há grande discussão sobre quantas espécies de tributos existem, mas, a classificação das cinco espécies acima são as mais utilizadas. Cada uma das espécies acima possuem uma definição legal contida no Có- digo Tributário Nacional que falaremos mais adiante, porém, para sua melhor compreensão desde já, podemos definir cada uma dessas espécies de tributos, de forma bem simples e explicativa: a) Impostos: são tributos cobrados cujo valor arrecadado não tem um fim es- pecífico. É o mais importante dos tributos e incide independente da vonta- de do contribuinte. Existe uma previsão legal que toda vez que ocorrer o fato gerador será devido o pagamento do imposto. Exemplo: No imposto IPVA, que todo mundo conhece, a previsão legal é possuir veículo auto- motor, logo, quem possui veículo automotor deverá pagar o imposto. 77 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 b) Taxas: são tributos para manutenção do funcionamento de um serviço dirigido a uma comunidade de indivíduos. É um dos tributos mais com- plexos. A taxa é devida diante da atuação do Estado, sendo que esse serviço público deve ser específico e divisível, ou seja, é possível saber qual contribuinte efetuou o fato gerador. Por exemplo: a taxa de autenti- cação de documentos em Cartório. c) Contribuição de Melhoria: são tributos cujos recursos devem ser legalmen- te destinados a finalidades preestabelecidas. É um tributopeculiar e pouco conhecido. É devido quando houver uma obra pública com posterior valori- zação dos imóveis ao redor do empreendimento. Um exemplo: construção de uma estação de metrô em um local que haverá valorização dos imóveis ao redor. Caso haja lei prevendo esse tributo antes da construção da obra, poderá ocorrer a cobrança da Contribuição de Melhoria. d) Empréstimo compulsório: somente podem ser criados pelo Estado diante de situações específicas (guerra externa ou sua iminência e calamidade pública ou investimento público de caráter relevante) e a aplicação dos recursos provenientes de sua arrecadação é vinculada às despesas cor- respondentes que justificou sua instituição. Exemplo de empréstimo com- pulsório: é um empréstimo que o governo toma do contribuinte. Um que ficou conhecido no início da década de 1990 foi chamado de Empréstimos Compulsórios para o Plano Collor, quando a poupança dos brasileiros foi confiscada no governo do Presidente Fernando Collor de Mello. e) Contribuições: os recursos obtidos com sua arrecadação devem ser ne- cessariamente aplicados no atendimento da finalidade que justifica a sua cobrança. Podem ser contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico, de interesse de categorias profissionais ou econômicas, de custeio da iluminação pública. Exemplo: COFINS – Contribuição para Fi- nanciamento da Seguridade Social, contribuição social cobrada das em- presas. Contribuição da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), contri- buição de interesse de categorias profissionais ou econômicas. Você pode saber mais em: https://administradores.com.br/arti- gos/o-que-e-tributo-quais-sao-suas-especies Para melhor compreensão da pergunta que fizemos acima: se todos os bra- sileiros e brasileiras pagam tributos, precisaremos falar um pouco sobre a teoria da tributação. Já sabemos que a principal fonte de receita do setor público é a ar- 78 Planejamento Governamental e Controle recadação tributária, assim, para que um sistema tributário seja “ideal”, conforme explica Matias-Pereira (2010), devem ser considerados alguns princípios da teoria da tributação. QUADRO 1 – PRINCÍPIOS DA TEORIA DA TRIBUTAÇÃO PRINCÍPIO CARACTERÍSTICAS Equidade A distribuição do ônus tributário deve ser equitativa entre os diversos indivíduos de uma sociedade, ou seja, cada contribuinte deve contribuir com uma parcela “justa” para cobrir os custos do governo. Progressividade É preciso tributar mais quem tem uma renda mais alta. A ideia que justifica uma tributação progressiva é a de que quem recebe mais renda deve pagar uma proporção maior de impostos em relação às pessoas de renda mais baixa. Neutralidade Os impostos devem ser tais que minimizem os possíveis impactos negativos da tributação sobre a eficiência econômica. O objetivo da neutralidade é que o sistema tributário não provoque uma distorção da alocação de recursos, prejudicando, dessa forma, a eficiência do sistema. Simplicidade É necessário que o sistema tributário seja de fácil compreensão para o contribuinte e de fácil arrecadação para o governo. Esse conceito relaciona- se à facilidade da operacionalização da cobrança do tributo FONTE: Adaptado de Matias-Pereira (2020) Matias-Pereira (2010) diz que pelo conceito de equidade, cada indivíduo precisa contribuir com uma quantia “justa”; pelo conceito da progressividade, as alíquotas devem aumentar à medida que são maiores os níveis de renda dos con- tribuintes; pelo conceito da neutralidade, a tributação não pode desestimular o consumo, produção e investimento; e, por fim, pelo conceito da simplicidade, o cálculo, a cobrança e a fiscalização relativos aos tributos devem ser simplificados a fim de reduzir custos administrativos. Conheça mais sobre tributação e equidade no Brasil em: https:// observatorio-politica-fiscal.ibre.fgv.br/politica-economica/outros/tribu- tacao-equidade-e-crescimento-economico 79 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Trazemos uma breve descrição dos impostos Federais, Estaduais e Muni- cipais cobrados no Brasil, deixando a dica para que você se aprofunde mais na análise de cada um deles, em leitura complementar: • impostos federais - II (imposto sobre importação); IOF (impostos sobre operações financeiras); IPI (imposto sobre produtos industrializados); IR (imposto de renda pessoa física – IRPF e imposto de renda pessoa jurí- dica (IRPJ); COFINS (contribuição para o financiamento da seguridade social); PIS (Programa de Integração Social); CSLL (Contribuição sobre o lucro líquido); PSS (contribuição para a previdência social). • Impostos estaduais - ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias; IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores); ITCMD (im- posto sobre a transmissão causa mortis e doação). • Impostos municipais - IPTU (imposto sobre a propriedade territorial urba- na e rural); ISS (imposto sobre serviços); ITBI (imposto de transmissão de bens imóveis). Ao todo, entre impostos federais, estaduais e municipais, taxas e contribuições, o Brasil possui uma lista de 92 tributos vigentes que pode ser acessada no site do Portal Tributário. Essa lista inclui im- postos, taxas e contribuições diversas. Disponível em: https://www. contabilizei.com.br/contabilidade-online/impostos-federais-estaduais- -e-municipais/#quais-os-tributos-federais. Conforme Matias-Pereira (2010), os impostos diretos e indiretos que incidem sobre o indivíduo são considerados sobre sua renda (IR, IRPF, IRPJ); sobre seu patrimônio (IPTU, IPVA) e sobre seu consumo (ICMS). O autor faz uma análise da progressividade dos impostos cobrados no Brasil, apontando os sinais de ade- quações e críticas sobre o tema da tributação. Em sua análise, o imposto sobre a renda, em que pesem as críticas da população, é uma tributação direta muito eficaz e justa. Segundo ele, o IRPF apresenta as vantagens de se basear em uma medida abrangente da capacidade de pagamento e de permitir uma adaptação às características pessoais do contribuinte, sendo dessa maneira, o que mais se adapta aos princípios de equidade e progressividade. O argumento defendido por Matias-Pereira (2010) é que os dados históricos do IRPF (Imposto de renda pessoa física) evidenciam características de progres- http://www.portaltributario.com.br/tributos.htm 80 Planejamento Governamental e Controle sividade ao longo do tempo. O IRPJ (imposto de renda pessoa jurídica), entre- tanto, mostra-se falho, na medida em que contribui para inibir a produção, o que tende a causar perda de competitividade do produto nacional do mercado mun- dial. Já, segundo ele, os impostos sobre o patrimônio, como o IPTU e o IPVA, são de fácil cobrança e controle, e tendem a penalizar os indivíduos com maior poder aquisitivo. O IPTU, por sua, vez mostra-se inadequado quando os inquilinos de um imóvel pagam o imposto ou quando um estabelecimento comercial encarece seus produtos, incluindo o custo dos referidos impostos nos preços. Você sabia que, no Brasil, veículos de luxo não pagam IPVA? Pois é, os brasileiros proprietários de jatinhos, aviões, helicópteros, barcos, motos aquáticas e iates, são isentos de pagamento do IPVA. Segundo o presidente do Sindifisco Nacional, Cláudio Damasceno, a cobrança aliviaria a crise dos Estados e municípios. “Traria recursos diretamente para a melhoria dos transportes do país”, garante. Disponível em: http://www.sindifiscal-es.org.br/noticias/749/se- -cobrado-ipva-para-helicopteros-barcos-e-jatos-renderia-r-46-bilhoes Sobre os impostos em cascata ou cumulativos, Matias-Pereira (2010) avalia que são uma forma de tributação inadequada pois prejudicam a eficiência econô- mica e as maiores críticas são no sentido de que distorcem os preços relativos, aumentam os custos e tende a diminuir a competitividade do produto diante dos produtos internacionais, especialmente àqueles que possuem diversas etapas de produção e distribuição o que reforça a importânciaatribuída ao imposto sobre o valor adicionado (IVA) em diversas economias do mundo, tendo como principais vantagens a neutralidade e a dificuldade de sonegação por concentrar a tributa- ção no atacado, porém permaneceria infringindo o conceito de progressividade como é o caso do ICMS. O ICMS é considerado um imposto em cascata porque está pre- sente em todas as etapas de uma cadeia produtiva (desde a fabricação até a venda ao consumidor final) o que faz encarecer o produto que consumimos porque em cada etapa da produção quem paga o imposto 81 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 repassa para seu produto e esse efeito cascata é repassado ao consu- midor final que termina arcando com todo esse custo de produção. Por fim, em sua avaliação sobre as formas e características da tributação, Matias-Pereira (2010) aponta que o governo enfrenta alguns dilemas na gestão fiscal no que se refere à escolha dos instrumentos da política tributária fiscal. Os dilemas fiscais (trade-offs) são no sentido da dificuldade de aliar todos os concei- tos da teoria da tributação (equidade, progressividade, neutralidade e simplicida- de) que já vimos anteriormente, pois a procura de um muitas vezes acaba sacrifi- cando os outros. Por exemplo, um imposto pode ser generalizado, o que tornaria mais simples (simplicidade), entretanto estaria cobrando de todo mundo, o que seria injusto e não equitativo (equidade). Para saber mais sobre esse tema sugerimos a leitura comple- mentar de: MATIAS-PEREIRA, J. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais. 2010. Parte VIII, Ativi- dade Financeira do Estado. Será essa mesma a realidade brasileira? No Brasil, a tributação de impostos é justa, cada um contribuindo com a quantia adequada à sua capacidade? E qual é a medida para se considerar “justa” a quantia que cada um deve contribuir? Será que o nível de tributação no Brasil desestimula o consumo? Qual a sua reflexão sobre isso? Buscando respostas para nossas perguntas, trazemos a análise do vice-pre- sidente de Assuntos Tributários da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (ANFIP), Cesar Roxo Machado, sobre a questão tributária no Brasil. Ele afirma que o sistema tributário do Brasil é injusto porque acentua a 82 Planejamento Governamental e Controle concentração da renda, ao invés de diminuí-la. As reformas tributárias que são le- vadas ao Congresso Nacional não atingem o cerne do problema, costumam bus- car a simplificação do nosso emaranhado de tributos, o que é positivo, mas elas nunca buscam a justiça tributária, o que é ainda mais importante. Para Machado (2021), o tributo deve ser um instrumento de diminuição das desigualdades so- ciais não apenas no momento em que é aplicado nas políticas públicas, mas tam- bém no momento em que é recolhido. Quem tem mais deve pagar mais e quem tem menos deve pagar menos. Ainda na análise de Machado (2021), os tributos servem para custear tanto a máquina estatal quanto os serviços públicos, como saúde, educação e seguran- ça. De forma geral, eles incidem sobre três bases: o consumo, a renda e o patri- mônio dos cidadãos e das empresas. Em todos os três pilares, existem distorções que beneficiam os ricos e penalizam os pobres. A desigualdade social também é alimentada pela tributação da renda. Em 1996, o país parou de tributar os sócios e acionistas que recebem lucros e dividendos de empresas, o que significa menos receita. Importa ressaltar que o Brasil faz parte de um reduzido grupo de nações que não taxam essa renda paga a pessoas físicas. Em outro aspecto, os especia- listas consideram que a tabela de cobrança do Imposto de Renda está montada de modo a favorecer os mais ricos. Uma outra questão é a tributação do patrimônio que no Brasil tem suas pró- prias distorções. O imposto sobre grandes fortunas está previsto na Constituição, ou seja, desde 1988, mas até hoje não saiu do papel porque ainda não foi regula- mentado pelo poder público. A regulamentação determinaria o que é uma grande fortuna e qual é o valor do imposto a ser cobrado, o que significa mais recursos em caixa em sendo aprovado. Para conhecer mais porque a fórmula de cobrança de impostos no Brasil piora a desigualdade social. Acesse em: https://bit.ly/3KhXcc3. 2 No Brasil existem 92 tipos de tributos vigentes que incluem im- postos, taxas e contribuições diversas. Sobre esses tributos, as- socie os itens utilizando o código a seguir: 83 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 I- IPVA II- IPTU III- ICMS ( ) Imposto repassado ao consumidor final quando da venda de um produto. ( ) Imposto cobrado sobre propriedade de imóvel urbano e rural. ( ) Imposto sobre propriedade de veículos automotores como auto- móveis, por exemplo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II - I - III b) ( ) III - I - II c) ( ) III - II - I d) ( ) I - II - III Estudar a temática da atividade financeira do Estado sem buscar compreen- der a interrelação da dinâmica social, econômica e política é fatiar o conhecimen- to. As questões não são estanques e não ocorrem de forma isolada. Conforme já vimos no capítulo anterior a ação governamental é um organismo vivo e precisa ser abordada em sua completude, e, por esta razão, buscamos permear nosso estudo a partir da correlação dessas dinâmicas, a fim de que você compreenda que as dimensões interagem e operam em suas especificidades, muitas das ve- zes de forma não convergentes. Peres e Santos (2020) fazem uma análise sobre o gasto público e a desigual- dade social no Brasil que vale trazer para nosso estudo e que merece uma leitura mais aprofundada para melhor compreender a relação entre a gestão fiscal e os direitos de cidadania, na perspectiva do orçamento público. Os autores apontam que a análise do orçamento público é fundamental para a compreensão das esco- lhas dos governos e da trajetória das políticas públicas, tanto porque revela quan- to se gasta como também os mecanismos pelos quais tais gastos são financiados. A trajetória do orçamento público brasileiro no regime demo- crático contemporâneo foi afetada por dimensões que não ope- ram de modo convergente. Ao contrário, o orçamento público é resultado de dinâmicas que funcionam contraditoriamente. A primeira delas diz respeito à centralização versus descentrali- zação dos recursos públicos. A trajetória do orçamento público brasileiro também foi afetada pela permanente disputa pelo fundo público versus a vinculação constitucional/legal de re- 84 Planejamento Governamental e Controle cursos a determinadas despesas. Em terceiro lugar, ações de maior transparência das informações e accountability sobre os orçamentos foram acompanhadas por aumento da complexi- dade orçamentária. Por fim, a ampliação do gasto social – que produziu a redução das desigualdades sociais – conviveu com a regressividade da arrecadação tributária (PERES; SANTOS, 2020, p.1, grifo dos autores). O tema da gestão fiscal da atividade financeira do Estado no campo da exe- cução do orçamento público encontra divergências e convergências entre os analistas e pesquisadores, nos chamando à necessária reflexão, conhecimento e aprofundamento do estudo da temática. A Figura 4, abaixo, é um gráfico do orçamento público brasileiro executado em 2020, elaborado pela Associação sem fins lucrativos Auditoria Cidadã da Dívida e ilustra bem o quanto esse debate é urgente e fundamental, devendo envolver toda a sociedade brasileira que paga tributos e contribui para a obtenção dos recursos públicos que deverão custear os bens públicos à disposição do povo brasileiro FIGURA 4 – ORÇAMENTO FEDERAL DO BRASIL EXECUTADO EM 2020 85 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Analisando o gráfico do orçamento federal brasileiro executadoem 2020, po- demos concluir que o percentual de 39,8% dos recursos arrecadados, oriundos dos tributos pagos pela sociedade brasileira é destinado ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública ao mercado financeiro (bancos e outras institui- ções financeiras) enquanto que o percentual do orçamento destinado à saúde pú- blica, por exemplo é de 4,26%, à educação pública de 2,49% e para a previdência social pública, destinado ao pagamento dos benefícios de pensão por morte, apo- sentadorias e auxílios são da ordem de 20,34%. Podemos concluir que há uma disparidade na distribuição dos recursos públicos pelo Estado brasileiro: o quanto de recursos públicos poderiam ser aplicados em políticas públicas destinadas a atender aos direitos básicos constitucionais do cidadão, como saúde, previdência, trabalho, educação, por exemplo e estão sendo redirecionados para o pagamento de juros de dívida ao mercado financeiro. Saiba mais acessando o link da Associação, disponível em: ht- tps://auditoriacidada.org.br Por fim e não esgotando a análise da temática da gestão fiscal no Brasil e suas repercussões para o bem-estar da sociedade na perspectiva da alocação dos recursos públicos, não há como abordar o regime fiscal brasileiro sem falar na Emenda Constitucional 95/2016, que ficou conhecida como a “PEC do teto de gastos”. Na análise de Peres e Santos (2020), a questão do endividamento está no centro da mudança radical do regime fiscal que decorre da Emenda Constitu- cional 95/2016 (PEC 241/55). Para os autores, a recessão, a contínua elevação dos gastos obrigatórios, dos subsídios ao setor privado e do pagamento de juros da dívida levaram a uma situação de crise fiscal, intensificada pela crise política. O chamado “novo regime fiscal” tem como objetivo central a diminuição do tamanho do Estado e a redução do escopo de suas políticas. A existência de um teto constitucional para as despesas primárias por 20 anos vai reduzir as despesas públi- cas como proporção do PIB e o valor per capita para todas as áreas de políticas públicas, mesmo aquelas protegidas por vin- culações constitucionais de parcelas das receitas de impostos, que foram suspensas e tiveram seu valor real congelado pelo período. Dada ainda a previsível continuidade da elevação real de gastos previdenciários, as despesas não protegidas por vin- culações terão que ser reduzidas em seu valor real (PERES; SANTOS, 2020, p. 15). 86 Planejamento Governamental e Controle Para melhor aprofundamento do tema da gestão fiscal e orça- mento público, sugerimos a leitura de Peres e Santos (2020), dispo- nível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/tmTgwdLgwtqr5xstkzgwpr- G/?format=pdf&lang=pt Na sequência do estudo, veremos no subitem seguinte a trajetória normativa do orçamento público no Brasil, a legislação aplicada à gestão fiscal e financeira. 2.2.1 Legislação Aplicada à Gestão Fiscal e Financeira Neste subitem 2, iremos conhecer a trajetória normativa que disciplina a ativi- dade financeira do Estado brasileiro. Para iniciar nossa conversa lembro que já aprendemos que o Estado é quem coloca em ação os dispositivos constitucionais, realizando suas funções e assu- mindo papeis inerente a sua responsabilidade estatal. Ressalte-se que, em fun- ção do princípio constitucional da legalidade, as ações do agente público são vin- culadas à previsão legal. Nada se faz que esteja fora da previsão legal, portanto, é essencial entender o funcionamento das normas que regem a gestão pública. Nesse subitem, apontaremos a legislação básica que regula os atos dos agentes públicos no campo da gestão orçamentária e financeira, tratando dos principais instrumentos normativos que norteiam e definem a execução e gestão do orçamento público no Brasil. Para tratar da legislação aplicada à gestão fiscal e financeira abordaremos a Lei nº 4.320/64, a Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), a Lei de Licitações e Contratos, o Código Tributá- rio Nacional e Código Tributário Municipal, todas recepcionadas e balizadas na CF/88 que definiu os princípios constitucionais da política fiscal brasileira. 2.2.1.1 Lei nº 4.320 de 17 de março de 1964 Para iniciar o tema da legislação fiscal, no Brasil, pensamos que não há como falar na legislação que trata das finanças públicas sem ter como marco legal 87 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 a lei, nº 4.320/64 que institui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. A Constituição Federal de 1988 recepcionou dispositivos da lei or- dinária vigente nº 4.320/64, denominada de Lei de orçamento ou de finanças pú- blicas, que foi classificada como lei complementar. Em seu Art. 2º, disciplina que A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e des- pesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade universalidade e anualidade (BRASIL, 1988, on-line). Aprendemos no capítulo anterior do livro que as transformações do papel do Estado no campo econômico e social e das necessidades da sociedade no aten- dimento de suas demandas, imprimem necessidade de alteração dos dispositivos legais que vão sendo redefinidos e atualizados, por meio de legislação específica. Desde 17 de março de 1964, por exemplo, quando, por meio da Lei nº 4.320 foi in- troduzida a técnica de orçamento por programas, até a Constituição de 1988, em seu art. 165, parágrafos e incisos; já havia a obrigatoriedade legal do governo, por meio da administração pública, de ter parâmetros de atuação definidos no campo econômico e fiscal, via planejamento governamental. Segundo Peres e Santos (2020), a Lei nº 4.320/1964 padronizou o orçamen- to brasileiro e criou condições favoráveis para a implementação do orçamento- -programa no Brasil. Este modelo, porém, teve reflexos muito mais formalistas do que de estratégia de decisão alocativa de recursos entre os diferentes programas orçamentários. Em um breve histórico sobre o ambiente da promulgação da lei nº 4.320/1964, conforme aporte teórico de Guimarães Júnior, Lima e Piscitelli (2014), podemos dizer que ela surgiu no contexto de reorganização e reforma da Administração Pú- blica – as transformações no Estado brasileiro de 1930 a 1964, de Getúlio Vargas ao início dos governos militares; a profunda depressão mundial dos anos 1930 que mudaram a relação Estado-economia, principalmente. Um cenário que na dé- cada de 1960, exigiu maior controle da gestão, das finanças e dos orçamentos públicos. A Lei nº 4.320, de 31 de março de 1964, foi aprovada, ainda no gover- no democraticamente eleito do Presidente João Goulart, deposto pelo golpe de Estado de 1964, e colocada em prática pelo governo autoritário, centralizador e burocrático que o sucedeu. Sancionada sob a égide da Constituição Federal de 1946 e recepcionada, mesmo que parcialmente, pelas Constituições de 1967, 1969 e 1988, constituiu um avanço para a Adminis- tração e para a Contabilidade Pública do país. Voltada para o orçamento público, seu foco está na arrecadação da receita e na execução da despesa e no confronto entre a previsão e a 88 Planejamento Governamental e Controle fixação das receitas e despesas inclusas na lei de orçamento (BRASIL, 1988, on-line). Em função das transformações ocorridas e da distância temporal da publicação da Lei nº 4.320/1964, estudos questionam se mesmo após pouco mais de 50 anos de sua publicação, a Lei nº 4.320/1964 ainda se mostra atual face aos novos comandos introduzidos em nossa legislação orçamentária, em especial pelo texto constitucional e pela LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). Conforme Guimarães Júnior, Lima e Piscitelli (2014), as conclusões dos estu- dos apontam para a necessidade de um novo marco legal que atenda ao disposto no artigo 165 da Constituiçãoe garanta o alinhamento da contabilidade pública com os princípios fundamentais da ciência, propiciando seu avanço conceitual e a convergência ao padrão internacional. Na análise de João Eudes Bezerra Filho (201?, s.p.), Auditor de Contas Pú- blicas do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco: “[...] a despeito da ne- cessidade de atualizações e aperfeiçoamentos, a Lei 4320/64 é de extrema im- portância para a administração pública e sociedade brasileira, pois apresenta um arcabouço legal de orçamentação e controle que ainda permite o desenvolvimen- to social e econômico do país”. Delmondes concorda que a Lei nº 4.320/1964 é eficaz mesmo após seus 50 anos, como também evidencia a excelente qualidade técnica de seu texto legal que, naquela ocasião, o “Estatuto das Finanças Públicas”, como é chamada por alguns, representou um marco e promoveu um verdadeiro avanço para a Nação; porém, não deixa de defender que a Lei carece de atualização e alinhamento à CF/88 e à LRF/2000. Após meio século de sua existência, e, havendo inclusive previsão constitucional para sua substituição (art. 165, § 9º), sua força regulatória, ainda que produza efeitos, demonstra e carece de atualização. Assim sendo, mostra-se necessário o seu alinhamento à Constituição Federal de 1988, à Lei de Res- ponsabilidade Fiscal e às evoluções na seara da contabilidade pública, sem olvidar as modernas técnicas de planejamento e gestão da coisa pública (DELMONDES, 2014, s.p.). 89 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Tramita projeto de Lei do Senado, nº 229/2009, tendo por objeto promover a reforma necessária na temática regulamentada pela Lei de Direito Financeiro; importante salientar que outras propostas, ten- dentes a alterar a Lei 4320/64, aguardam apreciação pelo processo legislativo, no Congresso Nacional. Destacam-se algumas medidas que tem sido adotadas como disposições nor- mativas de apoio à Lei nº 4.320/1964 para amenizar o seu obsoletismo: i) o Conselho Federal de Contabilidade contribuiu com a edição das Normas Brasileiras de Con- tabilidade Aplicadas ao Setor Público; ii) o Governo Federal, por seu turno, editou a Portaria MF 184/2008, a qual delimita as diretrizes que deverão ser observadas pelos Entes Públicos em seus procedimentos contábeis, a fim de adequá-los aos padrões internacionais; iii) ainda no âmbito da União tem-se o Decreto 6.976/2009, que regula o sistema de contabilidade em sua esfera; iv) e por último, não por isso menos impor- tante, o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. A Lei nº 4.320/1964 vem, há mais de 50 anos, definindo os marcos da conta- bilidade pública brasileira. Conforme Matias-Pereira (2010), a contabilidade públi- ca vem assumindo nos últimos anos uma relevância cada vez maior no Brasil, em decorrência da sua função de registrar e centralizar as informações da Administra- ção Pública, tornando-se, assim, um suporte essencial para a tomada de decisão dos gestores governamentais. Conforme Matias-Pereira (2010), a contabilidade é uma ciência aplicada com metodologia especialmente concebida para captar, re- gistrar, acumular, resumir e interpretar fenômenos que afetam situa- ções patrimoniais, financeiras e econômicas de qualquer ente, seja este, pessoa física, jurídica, entidade de finalidades não lucrativas, empresas, do direito privado ou público, tais como: Estados, Municí- pios, União, autarquias e fundações entre outros. Conhecendo um pouco mais da contabilidade pública ou governamental, conforme define Silva (1996), diz-se que é uma especialização voltada para o estudo e análise dos atos e fatos que ocorrem na Administração Pública. Segundo 90 Planejamento Governamental e Controle Matias-Pereira (2010), a contabilidade pública está interessada em todos os atos praticados pelo administrador, sejam os de natureza orçamentária ou administrati- va, que poderão afetar o patrimônio no futuro. Para mais informações sobre a contabilidade pública no Bra- sil, consulte o artigo de GUIMARÃES JÚNIOR; LIMA; PISCITELLI (2014), disponível em: https://bit.ly/3HFnV0p. Não se pode falar em contabilidade pública no Brasil, sem entrar no mérito do Plano de Contas. Você sabe o que significa Plano de Contas? Se nunca ouviu falar não há problema, iremos esclarecer para você. O Plano de Contas é criado de acordo com as reais necessidades da entida- de – tanto nas entidades públicas de direito interno, como nas demais; porém, o sistema de contabilização dos atos e fatos ocorridos na Administração Pública é único em todas as esferas de governo. Conforme Matias-Pereira (2010), a escri- turação das contas é feita por meio de uma metodologia em que as contas são divididas em quatro sistemas: Sistema Orçamentário, Financeiro, Patrimonial e de Compensação. A administração pública federal utiliza um Plano de Contas Único (PCU) e suas operações são contabilizadas por meio de um sistema informatiza- do desenvolvido e operado pelo SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados) denominado SIAFI, com a supervisão do atual Ministério da Economia, antigo Ministério da Fazenda. Trataremos mais especificamente do SIAFI no pró- ximo subitem desse capítulo. No cenário brasileiro, com o objetivo de uniformizar as práticas contábeis, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), em conjunto com o Grupo Técnico de Procedimentos Contábeis (GTCON), elaborou o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP), adequado aos dispositivos legais vigentes, às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCTSP), aos padrões internacionais de Contabilidade do Setor Público e às regras e procedimentos de Estatísticas de Finanças Públicas reconhecidas por organismos internacionais. Formado por uma relação padronizada de contas apresentada em conjunto com atributos conceituais, o PCASP permite a consolidação das Contas Públicas Na- cionais, conforme determinação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 91 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 O PCASP é atualizado anualmente e publicado exclusivamente na Internet para uso obrigatório no exercício seguinte. Adicionalmen- te, a STN disponibiliza o “PCASP Estendido”, de adoção facultativa, para os entes que precisem de uma referência para desenvolvimento de suas rotinas e sistemas. Para mais informações sobre o PCASP e sua utilização, dispo- nível em: https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/plano- -de-contas-aplicado-ao-setor-publico-pcasp-federacao/2021/114 APLICABILIDADE PRÁTICA DO CONTEÚDO DO CURSO A Teoria apreendida nesse capítulo do livro destina-se à aplica- bilidade prática para os especialistas e técnicos envolvidos nas ações de acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira e patrimonial das diversas esferas de governo; aos profissionais de administração e economia e aos gestores públicos e assessorias que trabalhem com informações orçamentárias e financeiras. Outra área de atuação é a contabilidade do setor público, bem como participação em licitações de compras governamentais ou advocacia tributária. Após a promulgação da Lei nº 4.320/1964 e considerando sua vigência até os nossos dias importa destacar em breves recortes pontos de inflexão e mudan- ça de rota da gestão fiscal no Brasil a partir da CF/88. A Carta de 1988 instituiu um sistema de planejamento e orçamento compos- to do PPA, LDO e LOA, conforme já aprendemos no capítulo 1. Peres e San- tos (2010) apontam que a Constituição ampliou tanto o poder do Legislativo na definição do orçamento como a obrigatoriedade de destinação de recursos para algumas áreas de políticas públicas, como a educação (CASTRO, 2011) e pos- teriormente saúde (FAVERET, 2003; VIANA; MACHADO, 2008), estabelecendo vinculações de receitas de impostos federais, estaduais e municipais. Até meados dos anos 1990, o país sofreu um processo inflacionário que teve importantes con-92 Planejamento Governamental e Controle sequências sobre o orçamento público (GUARDIA, 1993 apud PERES; SANTOS, 2020, p. 4). O Plano Real, implementado a partir de 1993/1994 pelo então minis- tro da Fazenda/Economia e depois presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, foi exitoso em reduzir a inflação, mas a estratégia adotada para isso elevou o endividamento público e o desequilíbrio do setor externo da economia (SANTOS, 2000; BATISTA JR., 2002). A partir de 1999, segundo governo FHC, no quadro de um acordo com o Fundo Monetário Internacional, a ênfase se des- locou para o ajuste fiscal. As dívidas dos entes subnacionais foram federalizadas (começando em 1997) e a União passou a decidir sobre o endividamento deles. Foram adotadas as metas de superávit primário, regras de controle sobre o déficit e a dívida de estados e municípios, e limites para a despesa de pessoal. Essas medidas foram posteriormente consolidadas na LRF. 2.2.2 Lei nº 101 de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) A Lei Complementar nº 101 de 04 de maio de 2000, também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que estabelece normas de finanças públi- cas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal é um importante marco das finanças públicas brasileiras. Em linhas gerais, ela determina formas de preven- ção e correção de situações que comprometem o equilíbrio das contas públicas, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição: Art. 1º. § 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas pú- blicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar (BRASIL, 1988, s.p.). A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece, em regime nacional, parâmetros a serem seguidos relativos ao gasto público de cada ente federativo (estados e municípios) brasileiro e está apoiada em quatro princípios intimamente ligados, os quais são responsáveis pela tentativa de alcançar os seus propósitos: o Planeja- mento, o Controle, a Transparência e a Responsabilidade, requisitos para uma boa gestão pública. O Planejamento já é conhecido nosso do capítulo 1, através dos mecanismos operacionais como o PPA, a LDO e LOA e os demais princípios desta- caremos no Capítulo 3 de nosso estudo que tratará dos sistemas de controle. 93 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Na concepção de Delmondes (2014), a promulgação da LRF é vista como um avanço da legislação pátria no tocante à gestão pública, cujas normas conti- das em seu bojo dirigem a atividade da administração pública, nas três esferas de governo, no sentido de dar concretude e transparência das contas públicas dos entes federados. Segundo aponta Leite (2005) a construção do consenso em torno da ideia do ordenamento fiscal no Brasil iniciou-se na década de 1980. A ideia de ordenar as finanças dos Estados e dos Municípios surgiu no final da década de 1980 depois de várias experiências fracassadas de estabilização da economia. A primeira manifes- tação de mudança institucional ocorreu no âmbito da União com a criação da Se- cretaria do Tesouro Nacional (STN) e a extinção da Conta Movimento. A interação das ideias de ordenamento e os interesses em torno do arcabouço institucional do ordenamento fiscal deu-se gradualmente durante a década de 1990. Da concepção da ideia de que era preciso mudar o regime fiscal à execução do projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal, muitos fatores surgiram e criaram uma interação que caracterizou a trajetória dessa mudança. Essa trajetória explica porque a ideia de responsabilidade fiscal tornou-se dominante no Brasil na década de 1990. Para Cristiane Kerches da Silva Leite (2005), houve a constru- ção de um consenso em torno da ideia do ordenamento fiscal no Brasil. Ela pesquisa, em sua tese de doutorado sobre o processo de ordenamento fiscal no Brasil na década de 1990 e a Lei de Respon- sabilidade Fiscal, referenciada no final de capítulo e que deixamos como sugestão de leitura complementar. Na análise de Leite, a LRF foi um marco não somente no processo de orde- namento fiscal e financeiro, mas nas relações políticas federativas. A autora acre- dita que foi um passo importante na direção de práticas de governo mais republi- canas, concretizando no conteúdo desta lei complementar, uma demanda política e social que foi historicamente construída. A despeito da sua importância, a Lei de Responsabilidade Fis- cal não pode ser considerada uma lei que garante a moraliza- ção permanente da administração pública. Esta lei faz parte de um processo de melhoria da gestão fiscal que começou na década de 1980, mas que ainda está inacabado. É preciso avançar no campo orçamentário e das finanças públicas, de 94 Planejamento Governamental e Controle um modo geral, corrigindo algumas falhas de normatização. Podemos afirmar que a lei foi uma rígida resposta institucional diante do quadro de desordem fiscal e financeira nas contas públicas dos entes federativos na década de 1980 e na primei- ra metade da década de 1990 (LEITE, 2005, s.p.). Em algum dado momento assistindo o noticiário na TV ou lendo alguma ma- téria de notícias você já deve ter ouvido falar em Regra de Ouro no campo das finanças públicas. Já ouviu falar sobre essa regra? Sabe do que trata? FIGURA 5 – REGRA DE OURO FONTE: https://www.mdb.org.br/lideres-da-comissao-de-orcamento-discutem- relatorio-de-hildo-rocha-sobre-a-chamada-regra-de-ouro/ Acesso em: 8 nov. 2021. Segundo o art. 167, inciso III, da CF/88, é vedada a realização de operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as au- torizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta. Tal princípio, denominado Regra de Ouro das finanças públicas, visa a coibir o endividamento do Estado para custear despesas correntes. Em um mecanismo para impedir o endivida- mento dos entes governamentais. Essa regra impede que governos se endividem para o pagamento de despesas correntes como: pessoal, benefícios sociais, juros da dívida e o custeio da máquina pública. Os dispositivos legais que disciplinam a regra de ouro são: Art. 167, inciso III da Constituição Federal de 1988. 2.2.3 Lei de Licitações e Contratos - Lei n. 8.666/1993 e Lei nº 14.133/2021 Nos termos da nossa Constituição brasileira e em decorrência da soberania do Estado, o interesse público prevalece sobre o individual e todos os atos que a 95 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Administração Pública praticar devem estar voltados para o atendimento do inte- resse público. Acima dos interesses e vontades pessoais das autoridades e dos servidores públicos devem prevalecer os interesses da coletividade, aponta Ma- tias-Pereira (2010). Para o cumprimento da agenda governamental que coloque em produção o desenvolvimento socioeconômico no país, faz-se necessário que vários preceitos sejam obedecidos a fim de evitar, inclusive, que os interesses privados como foco nos lucros pessoais sejam combatidos no âmbito do serviço público e que a ética e a boa governança sejam constantemente perseguidas. As medidas ao combate à corrupção deve ser desafio de todos os governos e que seja enfrentada com medidas legais e determinação política. No Brasil várias iniciativas foram criadas com essa finalidade, temática que veremos com mais aprofundamento no capítu- lo 3, seguinte. Porém, poderemos aqui falar de algumas iniciativas para inibiras práticas corruptas na administração pública. Um exemplo é a regulamentação do processo de compras governamentais. Conforme Matias-Pereira, na medida em que aumentam a autonomia burocrática e o ex- cesso do poder discricionário dos agentes públicos, maiores são as possibilidades de ocorrem desvios e fraudes na Admi- nistração Pública. Baseado nesse cenário é que se fez neces- sária a aprovação da Lei de Licitações no Brasil, para limitar o poder discricionário dos gestores públicos e burocratas nos procedimentos associados à possibilidade de fraude na licita- ção, evitando, assim, práticas corruptas na Administração Pú- blica (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 255). Primeiramente perguntamos se você sabe o que significa o termo lici- tação? Se não sabe, irá conhecer agora mesmo. Na definição de Carvalho Filho (1998 apud MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 35): licitação é o procedimento administrativo vinculado, por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela contro- lados, selecionam a melhor proposta entre as oferecidas por vá- rios interessados, com dois objetivos: a celebração de contrato ou a obtenção de melhor trabalho técnico, artístico ou científico. No ordenamento jurídico brasileiro, as normas que definem as regras e pro- cedimentos para a atividade das compras governamentais estão contidas na Lei n. 8.666/1993, que regulamenta o artigo 37, inciso 21 da CF/88 e institui normas para licitações e contratos da Administração Pública; entretanto, no corrente ano 96 Planejamento Governamental e Controle em que estamos escrevendo esse capítulo, a Lei de 1993 foi alterada pela Lei nº 14.133, sancionada em 1º de abril de 2021, em um processo um pouco estranho no qual duas leis estarão vigendo juntas até a extinção da Lei n. 8.666/1993 pre- vista para o ano de 2023. Nos primeiros dois anos, a Lei 8.666/93 irá conviver com a Lei 14.133/21, sendo vedada a combinação entre os dois regimes jurídicos. É fundamental, então, compreender quais são as mudanças que estão ocor- rendo na prática. Importa ressaltar que, no Brasil, a Constituição Federal impõe que a contrata- ção de obras e serviços, locação e alienação, bem como a aquisição de materiais no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios, se- jam ações realizadas mediante processo de licitação pública que assegure igual- dade de condições a todos os concorrentes. Conforme Matias-Pereira, O processo de compras na Administração Pública está regula- mentado pela Lei de Licitações e demais legislações associa- das, as quais estabelecem as modalidades que poderão ser empregadas no processo licitatório. O sistema de licitações se apresenta como uma ferramenta essencial, nos esforços da Ad- ministração Pública, direta e indireta, em promover reestrutura- ções, preocupar-se com os custos dos investimentos em infra- estrutura, capacitação e treinamento, modernização tecnológica e lançamento de novos produtos e serviços (2010, p. 202). Para conhecer mais sobre as etapas do processo de compras governamentais indicamos a leitura do livro Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais de José Ma- tias-Pereira (2010), conforme referenciado ao final do capítulo. Importante lembrar que a licitação é exigida para todo ente governamental: União, Estado, DF e Município. Todo esse procedimento é necessário porque como já vimos anteriormente, as receitas e despesas governamentais irão com- por um plano de contas que será elaborado por meio da metodologia da contabili- dade pública brasileira que está contida na Lei 4.320 de 1964. As modalidades de licitação que estão definidas na Lei de Licitações 97 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 – n. 8.666/93, sofreram alterações realizadas com a publicação da nova lei n. 14.133/21, sancionada em 1º de abril de 2021. A nova lei, que já está vigente desde sua publicação, tem eficácia limitada, ou seja, só passará a produzir seus efeitos reais, a partir das inúmeras regulamentações que precisarão ser feitas, em âmbito federal, estadual e municipal. Assim, considerando que estamos vivendo no Brasil um momento de transição nesse cenário de compras governamentais, devemos conhecer as modalidades de licitações previstas em ambas as leis. QUADRO 2 – MODALIDADES DE LICITAÇÃO Lei n. 8. 666/93 Lei n. 14.133/21 Concorrência Concorrência Tomada de Preços Tomada de Preços (deixará de existir) Convite Convite (deixará de existir) Concurso Concurso Leilão Leilão Pregão Pregão Diálogo competitivo (incluída na nova lei) FONTE: A autora (2022) Observando o quadro acima podemos concluir que as modalidades Toma- da de Preços e Convite deixarão de existir a partir do momento em que a Lei 8.666/93 se extinguir, a previsão é para o ano de 2023, e as demais modalidades estão todas previstas na Lei 14.133/2021 sendo que a modalidade Diálogo Com- petitivo é nova, criada exclusivamente pela nova lei. Importa ressaltar, também, que as duas leis estão vigendo juntas até a extinção da Lei n. 8.666/1993 prevista para o ano de 2023. Nos primeiros dois anos, a Lei 8.666/93 irá conviver com a Lei 14.133/21, sendo vedada a combinação entre os dois regimes jurídicos. APLICABILIDADE DO CONTEÚDO DO CURSO Se você tem uma empresa com interesse em vender produtos ou serviços para a Administração Pública ou presta assessoria para órgão público, deve conhecer mais a fundo as modalidades de licitação. Dis- ponível em: https://www.effecti.com.br/blog/modalidades-de-licitacao/ E se você desejar se aprofundar ainda mais no tema das licita- ções atuando na prática, existem ferramentas disponíveis no merca- do que poderão te auxiliar, como por exemplo as plataformas espe- cializadas com soluções e dicas para participar de licitações. 98 Planejamento Governamental e Controle Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nU- dAeyx5bbE&ab_channel=PortaldeComprasP%C3%BAblics https://www.mannesoftwinner.com.br/blog/conheca-as-modali- dades-de-licitacao-de-acordo-com-a-nova-lei Para a Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Ges- tão Governamental (ANESP), a nova Lei n. 14.133/21 que surge depois de mais de 25 anos do atual marco geral vigente, a Lei n. 8.666/93, foi muito necessária. Extensa, procedimental, inovadora, democrática, complexa. Muitos são os adjetivos que vêm sendo associados à nova nor- ma, mas, talvez, o único em torno do qual haja concordância seja: necessária! É pacífico que era preciso e urgente ter uma nova norma, mesmo que ela não seja a melhor possível e nem tenha incorporado os aprendizados deste último ano de enfren- tamento à pandemia, que exigiu uma verdadeira reinvenção das compras públicas (ANESP, 2021, on-line). A ANESP destaca ainda, as cinco principais mudanças incorporadas com a nova lei de licitações e contratos, conforme veremos de forma breve a seguir: 1) Mudança da narrativa: do controle à governança - A lei n. 8.666/93, na concepção da Associação tinha como principal justificativa, e em função do contexto do seu surgimento, o combate à corrupção, feito a partir do detalhamento exaustivo de procedimentos na própria lei e, também, em inúmeros decretos, instruções normativas, portarias, manuais e orien- tações de órgãos de controle. Para a ANESP, o objetivo do combate à corrupção não foi alcançado. Para eles, diante desse cenário a nova lei surge trazendo uma nova mensagem: o controle é necessário, mas, será feito a partir de mecanismos de governança. Trata-se da implementação de mecanismos de liderança, estratégia e controle em todos os poderes e entes por meio do envolvimento da alta gestão nas decisões, da am- pliação da necessidade do planejamento anual de contratações, do re- forço à importância de estudos técnicos preliminares para definição das soluções a serem contratadas e da necessidade de gerir riscos por meio de matrizes específicas. 2) Extinção e criação de modalidadesde licitação: conforme já ilustrado no Quadro 5, a extinção das modalidades de tomada de preços e convite, previstas na lei n. 8.666/93 que já eram pouco utilizadas na prática desde o advento do pregão pela lei n. 10.520/2002, em especial o pregão na forma eletrônica; mantém as modalidades de pregão, concorrência, con- 99 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 curso e leilão e cria uma nova modalidade chamada diálogo competitivo, um modelo de inspiração europeia. 3) Um novo olhar para a gestão de contratos: a nova lei incorpora mudan- ças na etapa de gestão e fiscalização dos contratos. A primeira delas referente à vigência; a segunda a nova forma de garantia que poderá ser exigida dos fornecedores. 4) Procedimentos auxiliares: instrumentos que podem transformar as con- tratações públicas - instrumentos que não são a licitação ou a contrata- ção, mas que lhes dão suporte e agregam qualidade ao andamento das compras, podendo alguns serem anteriores ou posteriores Á licitação e contratação. 5) Portal Nacional de Contratações: transparência e compartilhamento - a nova lei amplia a perspectiva das compras eletrônicas, sendo seu pro- cessamento feito por meio de plataformas corporativas ou privadas. O Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) se destinará tanto a reunir informações de editais e outros elementos do processo de contra- tação pública, quanto também poderá ser o canal utilizado pelos órgãos ou entidades dos diversos poderes e entes federativos para o processa- mento de suas contratações. Para mais informações e aprofundamento sobre as mudanças incorporadas pela nova lei, disponível em: http://anesp.org.br/todas- -as-noticias/nova-lei-de-licitacoes 2.2.4 Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional O Direito Tributário brasileiro, embora tenha normas espalhadas pela Consti- tuição Federal e em leis estaduais, possui seus pilares concentrados em uma le- gislação: o Código Tributário Nacional. O Código Tributário Nacional (CTN) é uma lei infraconstitucional brasileira, promulgada sob nº 5.172, em 25 de outubro de 1966, que dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. É a Lei norteadora, no Brasil, da aplicabilidade dos tributos, extensão, alcance, limites, direitos e deveres dos contribuintes, atuação dos agentes fiscalizadores e demais normas tributá- http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei 5.172-1966?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei 5.172-1966?OpenDocument https://www.projuris.com.br/direito-tributario/ 100 Planejamento Governamental e Controle rias. Comumente conhecido como CTN, a referida lei se preocupou em unificar conceitos e diretrizes gerais do direito tributário, a fim de dirimir e mitigar dúvidas e divergências entre os entes políticos. Antes de seguir com o nosso estudo, é necessário fazer uma observação acerca do motivo pelo qual o CTN possui status de lei complementar, apesar de ser uma lei ordinária. Na época em que o Código foi criado, em 5 de outubro de 1966, a Constituição vigente era a que havia sido promulgada no ano de 1946. Nela, ainda não existia a figura das leis complementares. No entanto, a partir da Constituição de 1967, foi necessário que o Código Tributário Nacional passasse a ser tratado como lei complementar. Afinal, sua matéria traz as normas gerais de direito tributário. Hoje, a Constituição de 1988 prevê tal disposição em seu art. 146, III. O Código Tributário Nacional passou a ser considerado lei comple- mentar, muito embora seja, formalmente, uma lei ordinária. Saiba mais sobre o conceito e principais artigos do CTN, em: https://bit.ly/35RxrQW https://bit.ly/3Kks5N3 Para Cunha (2021), o primeiro ponto que deve ser observado em relação à história ao longo desses quase 53 anos do Código Tributário é algo muitas vezes esquecido pelos aplicadores do direito tributário. O Código Tributário Nacional foi criado durante o período mais autoritário da história do Brasil: a ditadura militar. Como não poderia ser diferente, o autoritarismo predominante à época influen- ciou, e muito, na legislação. Uma rápida leitura do CTN deixa claro o tamanho do privilégio dado ao Poder Público e ao crédito tributário. Obviamente, não existem apenas defeitos no Código Tributário Nacional. Muito pelo contrário. Antes de sua criação, a confu- são acerca dos institutos básicos da tributação era enorme. O Código Tributário Nacional unificou as normas gerais de direito tributário. Como exemplo, nos dias de hoje todos sa- bem que a prescrição e decadência são de cinco anos, sem margem para dúvidas. Outro ponto importante a ser destacado é a grande quantidade de dispositivos do Código que necessi- tam de regulamentação de leis ordinárias. Isso torna o CTN le- tra morta em muitas matérias. E o contribuinte acaba sendo o maior prejudicado (CUNHA, 2021, s.p.). https://www.aurum.com.br/blog/direito-tributario/ https://www.aurum.com.br/blog/prescricao-e-decadencia/ 101 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Por mais que o Código Tributário Nacional seja bastante antigo, ele continua vigente e servindo de guia para o ramo jurídico em questão; assim, com supor- te do advogado tributarista Vinícius Cunha destacaremos os principais artigos do Código Tributário Nacional brasileiro: • Art. 3º Conceito legal do tributo: artigo imprescindível para uma me- lhor compreensão de diversos outros institutos do direito tributário, por- que prescreve o conceito legal de tributo. • Art. 9º Limitações da competência tributária: artigo de extrema im- portância para o Direito Tributário. Trata sobre as limitações da compe- tência tributária dos entes políticos. • Art. 100º Normas complementares: prevê as normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais, bem como dos decretos. • Art. 111º Interpretação das normas tributárias: esse dispositivo, no atual entendimento da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, prescre- ve que toda norma que disponha sobre benefício fiscal não poderá ser interpretada de forma extensiva. • Art. 151º Suspensão da exigibilidade do crédito tributário: no atual ce- nário das empresas no Brasil, em sua grande parte em débito com a Fazenda Pública, tais causas de suspensão se caracterizam como im- portante instrumento para a continuidade de obtenção de certidões de regularidade fiscal. • Art. 166º Restituição dos tributos indiretos: gera muitas discussões na doutrina brasileira. A professora Misabel Derzi, limita a aplicação do art. 166 do Código Tributário Nacional ao IPI e ICMS. Isso porque seriam os dois únicos impostos tidos como “indiretos” por presunção, nos quais a repercussão financeira do encargo tributário viria da natureza desses impostos. • Art. 173º Decadência: o instituto da decadência certamente é um dos temas mais estudados pelo profissional de Direito, não somente de di- reito tributário. O art. 173 do CTN refere-se ao prazo que a Fazenda Pública possui para promover o lançamento de um crédito tributário, ou seja, quando há um contribuinte em débito com o fisco, a Fazenda deve realizar o procedimento administrativo competente para cobrá-lo. Após o transcurso desse prazo (5 anos), encerra-se o direito da Fazenda de realizar o referido lançamento. https://www.projuris.com.br/competencia-tributaria/ https://www.projuris.com.br/competencia-tributaria/ https://www.aurum.com.br/blog/o-que-e-jurisprudencia/ 102 Planejamento Governamental e Controle APLICABILIDADE PRÁTICA DO CONTEÚDO DO CURSO Cunha (2021) afirma que a importância do CTN para o advo- gado tributarista foi a padronização das normas gerais de direito tributário. Para os profissionais e estudiosos do direito tributário, a edição do CTNpermitiu um aperfeiçoamento do trato da matéria, possibilitando maior domínio e até mesmo críticas ao Código. Vale lembrar que a Constituição sempre será a Lei mais importante para qualquer profissional do Direito. Mas, para o direito tributário, o Códi- go Tributário Nacional está sempre logo em seguida. Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/codigo-tributa- rio-nacional-ctn/. Ao longo desse meio século de vigência, o Código Tributário Nacional passou por algumas alterações, notadamente a inclusão de novos artigos. Podemos dar destaque, a título de exemplos, a inclusão dos incisos V e VI ao art. 151 pela Lei Complementar 104/01. Por meio deles, o CTN passou a prever a concessão de medida liminar ou tutela antecipada nas ações ordinárias e o parcelamento como hipóteses de suspensão da exigibilidade, respectivamente. Trazemos, agora, algumas alterações no CTN desde a sua criação: • Alteração pela Lei Complementar nº 104/2001. A lei complementar em ques- tão introduziu novas informações ao CTN, em artigos espalhados por toda a sua estrutura. • Alteração pela Lei Complementar 118/2005. A LC 118/05 trouxe novas dis- posições no tocante ao capítulo que fala sobre responsabilidade nas su- cessões de obrigações tributárias. • Alteração pela Lei Complementar 143/2013. A LC 143/2013 trouxe, basica- mente, uma única grande modificação ao CTN, que consiste na inclusão do art. 92, que fala sobre o cálculo e pagamento das quotas estaduais e municipais. Na avaliação de Cunha, o Código Tributário Nacional, editado no ano de 1966, requer modificações, principalmente no amplo privilégio atribuído ao Poder Público. https://www.aurum.com.br/blog/tutela-antecipada-no-novo-cpc/ 103 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 As mudanças no plano concreto, no mundo dos fatos, andam em uma ve- locidade muito superior às alterações no plano abstrato, no mundo do Direi- to. Não estou refutando o caráter prescritivo do Direito, muito pelo contrário. Nos tempos atuais, é muito comum a equivocada postura de ceticismo quanto a prescritividade do Direito. Seja forma voluntária ou involuntária. Muito embora as pessoas que devam se adequar a ele, não o contrário. No entanto, passados mais de 50 anos do surgimento do CTN em nosso ordenamento jurídico, e pela velocidade com que as coisas caminham atualmente, principalmente por conta da digitalização, faz-se necessária a adequação do Código a diversas situa- ções ou fenômenos jurídicos que há muitos anos atrás sequer poderiam imagi- nar (CUNHA, 2021, s.p.). 2.2.5 Código Tributário Municipal Conheceremos agora o que significa um Código Tributário Municipal, seus be- nefícios e a importância de uma atualização constante das atividades tributárias do município. Fernanda Almança, do site gove.digital, aponta que o Código Tributário Municipal é muito subestimado pelos municípios. Vamos conhecer a razão disso. Código Tributário do Município (CTM) é o documento que organiza as ati- vidades tributárias municipais. Ele envolve os contribuintes, responsáveis pela execução tributária, bases de cálculo, alíquotas, arrecadações, penalidades, isenções e a administração tributária. Por sua complexidade, é um dos do- cumentos mais subestimados no que tange às finanças públicas. Muitos mu- nicípios acabam instaurando um CTM baseado em outros semelhantes, não atendendo às suas especificidades e, por consequência, perdendo um incrível potencial arrecadatório. Percebe-se daí que os municípios não atentam para as especificidades de sua realidade e terminam por utilizar-se de Códigos elabo- rados para outro município de realidade diversa da sua e que com certeza trará impactos negativos para o município e para sua população no que diz respeito à arrecadação tributária versus prestação de serviços públicos. Os impostos municipais são de ordem do município e destina- dos a manutenção da administração pública local, serviços, investi- mentos e manutenções locais. São destinados para escolas muni- cipais, unidades de pronto atendimento etc. São responsáveis por cerca de 5,5% (cinco e meio por cento) da arrecadação total do país. Disponível em: https://bit.ly/3sJXpyJ. https://www.aurum.com.br/blog/ordenamento-juridico/ 104 Planejamento Governamental e Controle Considerando que a gestão tributária e suas atividades decorrentes são com- plexas, o Código Tributário se faz essencial para a organização financeira da ges- tão do município. Tratando apenas de um tributo é preciso considerar: a) fato ge- rador; b) contribuinte; c) responsável; d) base de cálculo; e) alíquotas; f) isenções; g) fiscalização; h) lançamento; i) forma de arrecadação do mesmo; e) cobrança, considerando as penalidades. A maioria dos CTM foram modelos adaptados de outras cidades, ou do pró- prio Código Tributário Nacional (CTN), não contemplando, assim, as nuances do seu próprio município. É necessária uma avaliação e construção personalizada do CTM. Isso fará cada governo elevar o potencial efetivo de arrecadação. A atu- alização do Código Tributário Municipal traz aos cofres públicos o que é legítimo, mas não estava sendo previsto nas atividades tributárias. Em resumo: um CTM atualizado, sob medida, traz mais receita para o município. É possível o gestor municipal e quem o assessora conhecer mais sobre como elaborar o CTM de seu município. Disponível em: https://www.gove.digital/receitas/codigo-tributario/. Além da importância e necessidade de cada município elaborar o seu CTM a partir de suas peculiaridades locais, necessitará, também, adequar-se à nova legislação do governo digital. Uma lei recente do ano de 2021 - Lei nº 14.219 de 29 de março de 2021, cria o Governo Digital, dispondo sobre princípios, regras e instrumentos para o aumento da eficiência da administração pública, especial- mente por meio da desburocratização, da inovação, da transformação digital e da participação do cidadão. A Lei compreende a União, Estados, DF e Municípios. Em seu art. 14, essa lei prevê a prestação dos serviços públicos de forma digital, por meio de tecnologias de amplo acesso à informação inclusive pela de baixa renda ou residente em áreas rurais e isoladas, sem prejuízo do direito do cidadão a atendimento presencial. Em seu parágrafo único, prevê que o acesso à prestação digital dos serviços públicos será realizado, preferencialmente, por meio do autosserviço. A Lei do Governo Digital já entrou em vigor para os 5.570 municípios do país, mas, a maioria ainda possui deficiências estruturais para essa implantação o que levará um tempo considerável para essa adequação. 105 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Ricardo Ramos, sócio-fundador da Gove, afirma que no Brasil, 90% das cidades têm menos de 50 mil habitantes. São lugares em que não só a infraestrutura é limitada, mas a cultura das pessoas ainda não está conectada à tecnologia no dia a dia. Disponível em: https://www.gove.digital/noticias/govtech-quer- -mapear-apagao-tecnologico-das-prefeituras-o-globo/ Acesso em: 10 nov. 2021 Enfim, o desafio está posto: para aumentar a eficiência orçamentária e cum- prir a legislação, o acesso aos serviços públicos e transparência da gestão, as prefeituras brasileiras precisarão investir recursos públicos para a implantação do Governo Digital – equipamentos, profissionais de TI, plano de segurança de da- dos, infraestrutura, por exemplo. APLICABILIDADE PRÁTICA DO CONTEÚDO DO CURSO Empresas já estão investindo em projetos e startups lançando plataformas digitais para atuar nesse cenário do Governo Digital. É um mercado em expansão para quem atua na área de TI, por exem- plo, mas, em outras áreas que se vinculam à atividade financeira e tributária, bem como de gestão. Fica a dica. 3 Com base no que você estudou até aqui acerca da regulação nor- mativa da política fiscal no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para asfalsas: a) ( ) O Código Tributário Municipal (CTM) unificou as normas ge- rais de direito tributário, encerrando-se confusões que existiam entre Estados e Municípios. 106 Planejamento Governamental e Controle b) ( ) A Lei 8.666/93 de Licitações e Contratos foi revogada pela Lei nº 14.133/21 e perdeu a eficácia. c) ( ) A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é considerada um mar- co da política fiscal no Brasil. d) ( ) O Município pode utilizar o modelo do Código Municipal de outro Município. e) ( ) A metodologia da Contabilidade Pública está contemplada na Lei nº 8.666/93. 2.3 PROGRAMAÇÃO E EXECUÇÃO FINANCEIRA Neste subitem, iremos abordar a atividade financeira do Estado, contemplan- do a programação e execução do orçamento financeiro na ação governamental. Como já dissemos anteriormente, não há que se falar em gestão financeira pú- blica sem compreender os princípios estabelecidos na Lei nº 4.320/64 e a Lei Complementar 101/2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal e sobre isso tratamos no subitem anterior. Atualmente, são os dois instrumentos legais básicos voltados ao estabelecimento das normas gerais de direito financeiro, no Brasil. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o capítulo II – Das Finanças Pú- blicas, do Título VI - Da tributação e do orçamento, como sendo o definidor das grandes linhas de atuação orçamentário-financeira da administração pública bra- sileira. Assim, por esse capítulo, a sociedade brasileira ratificou a necessidade de integração entre o planejamento e a execução orçamentário-financeira. Nesse mes- mo sentido, o art. 174 da CF 88 destacou a importância do planejamento para a administração pública ao afirmar que a função planejamento é determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. O que nos faz lembrar do capítulo 1 que já estudamos sobre a importância da função de planejamento da ação governa- mental ser concebida como um processo integrativo em seus níveis de execução. Conforme Teixeira (2014), a correta gestão pública, pautada em uma execu- ção orçamentária e financeira eficiente, advém da integração coerente entre o que foi planejado e o que será realmente realizado. Sendo assim, não há que se falar na alocação de recurso sem ter o entendimento dos conceitos de Plano Plurianu- al, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual, o que também já conhecemos no Capítulo 1 do livro. 107 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Relembrando o que já estudamos sobre o orçamento público no capítulo, ressaltamos que é um instrumento de transparência que demonstra a origem das receitas públicas e os gastos relativos ao período analisado. Piscitelli et al. (2002, p. 40) conceitua Orçamento público como: “a ação planejada do Estado quer na manutenção de suas atividades, quer na execução de seus projetos, materializa-se através de orçamento público, que é o instrumento de que dis- põe o Poder Público (em qualquer de suas esferas) para ex- pressar, em determinado período, seu programa de atuação, discriminando a origem e o montante dos recursos a serem obtidos, bem como a natureza e o montante dos dispêndios a serem efetuados”. O processo integrado de planejamento e orçamento é constituído em etapas. O ciclo orçamentário é composto das fases em que ocorrem as atividades de elabo- ração e execução do orçamento público e das quais a contabilidade participa com fornecimento de informações e evidenciação de resultados. Giacomoni (2002, p. 192) trata o processo orçamentário como sinônimo de ciclo orçamentário, quando diz que o processo orçamentário identifica as principais etapas do orçamento: “ela- boração da proposta orçamentária; discussão, votação e aprovação da lei orçamen- tária; execução orçamentária; e controle da execução orçamentária”. As fases do ciclo orçamentário, na prática, consubstanciam-se em: plane- jamento público; elaboração do orçamento público; estudo e aprovação do or- çamento público; execução orçamentária; controle da execução orçamentária e prestação das contas públicas. Na fase de elaboração do planejamento são reali- zados estudos, para definir os objetivos, metas, e estimar os valores necessários para a realização destas prioridades; Na segunda etapa a aprovação dependerá da tramitação do projeto de lei do orçamento no âmbito do Poder Legislativo e de sua aprovação; já na terceira fase Os orçamentos são executados do dia 1º Janeiro a 31 de dezembro, de acordo com o limite de despesas fixadas na LOA (Lei Orçamentária Anual) e na última fase de controle e avaliação, serão aferidos e acompanhadas a execução das despesas, verificando se os prazos estão sendo cumpridos e os padrões e normas estão sendo respeitados. Na busca de compreender a integração do planejamento governamental à execução financeira, podemos dizer Que o ciclo orçamentário ou processo orçamentário pode ser definido como um processo contínuo, dinâmico e flexível, por meio do qual se elaboram, aprovam, executam, controlam e avaliam os programas do setor público nos aspectos físico e financeiro. Corresponde, portanto, ao período de tempo em que se processam as atividades típicas do orçamento público (TEIXEIRA, 2014, p. 14). 108 Planejamento Governamental e Controle O processo orçamentário visa formalmente integrar distintos ní- veis hierárquicos da administração e o governo. Isso porque, dentre outras características, é o Orçamento Público uma rede de informa- ções (WILDAVSKY, 1986, p. 7-13). Quando desejado é também convo- cada a coletividade para fortalecer essa integração (GUEDES, 2010). Disponível em: Controle financeiro e orçamentário público - Re- vista do TCU https://revista.tcu.gov.br Conhecendo as fases do ciclo orçamentário podemos compreender que o planejamento governamental está integrado à execução financeira do orçamen- to público. Para essa integração fez-se necessário a elaboração de instrumento para esse fim, o SIAFI, muito conhecido no âmbito da administração pública e que abordaremos na sequência. O SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira) foi implantado em 1987, a partir da criação da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), dentro da es- trutura do Ministério da Fazenda, ano de 1986, quando marca para o Brasil o início do grande salto na busca da transparência e do controle do gasto público. É o principal instrumento utilizado para registro, acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira, patrimonial e contábil do Governo Federal, cuja inovação trouxe para a época a padronização de critérios e rotinas. Antes de sua implementação as informações orçamentárias, financeiras e patrimoniais eram defasadas, sem confiança, os dados eram inconsistentes com total ausên- cia de padronização. O SIAFI permite aos órgãos a sua utilização nas modalidades total ou parcial. Conforme ensina Teixeira (2104), a modalidade total contempla a execução ple- na de todas as funções do sistema relacionadas com a execução orçamentária, financeira e patrimonial é sua utilização é obrigatória na modalidade de uso total por parte dos órgãos e entidades do Poder Executivo que integram os orçamentos fiscal e da seguridade social, ressalvadas as entidades de caráter financeiro. Na modalidade parcial, ocorre a utilização de parte das funções do sistema. Nessa condição, a execução dos recursos previstos no orçamento geral da União é feita via SIAFI, não sendo permitido o tratamento de recursos próprios da entidade; da mesma forma, não substitui a contabilidade do órgão, sendo necessária à incor- poração de saldos via integração de balancetes. 109 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 Segundo Teixeira (2014), a performance do SIAFI transcendeu as fronteiras brasileiras, despertando a atenção no cenário nacional e internacional. Vários paí- ses, além de alguns organismos internacionais, têm enviadodelegações à Secre- tária do Tesouro Nacional com o propósito de absorver tecnologia para implanta- ção de sistemas similares. Para conhecer mais sobre o SIAFI e suas funcionalidades in- dicamos a leitura complementar da Apostila da ENAP Gestão Orça- mentária e Financeira elaborada por Alex Fabiane Teixeira. Disponí- vel em: https://bit.ly/3pE0deM. Informações governamentais sobre o SIAFI, disponível em: ht- tps://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/siafi ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final do Capítulo 2 do livro Planejamento Governamental e Controle quando tratamos da atividade financeira do Estado, conhecendo um pouco mais sobre a gestão das finanças públicas no Brasil, com aplicação norma- tiva na CF/88, Lei nº 4.320/64 e Lei Complementar 101/2000, a conhecida Lei da Responsabilidade Fiscal, principalmente; e demais legislações complementares. Conhecemos, por fim, a integração do planejamento à execução orçamentário- financeira, operacionalizada pelo sistema SIAFI. Nos foi possível conhecer o papel da atividade financeira do Estado em um contexto de Estado dinâmico, eficiente e responsável; e por que existe a necessi- dade de se controlar a execução financeira por meio de sistema de informações como forma de incrementar a transparência pública. Por fim, pudemos conhecer como a contabilidade aplicada ao setor público é basilar para os controles institu- cionais e sociais. 110 Planejamento Governamental e Controle Podemos observar e constatar no decorrer desse capítulo que a política de gestão fiscal brasileira vem optando por regimes de ajuste fiscal que penalizam a sociedade na garantia de seus direitos constitucionais implementados via po- líticas públicas. O Brasil tem uma carga tributária elevada que não se desdobra em investimentos públicos que atendam às necessidades da população conforme demonstrado no gráfico da execução do orçamento 2020, elaborado pela Audito- ria Cidadã da Dívida Pública, quando constatamos que quase 40% dos recursos públicos são destinados ao pagamento de juros da dívida pública e menos de 5% em investimentos em saúde e educação para sua população. Ainda no campo da política fiscal a Emenda Constitucional 95/16 estabelece um teto de gastos pri- mários congelado por 20 anos, praticamente inviabilizando as políticas sociais de saúde, educação, previdência social, segurança pública, entre outros. Ficou claro nesse estudo que a legislação que norteia o aparato fiscal do Estado brasileiro, ainda que eficaz mesmo após 50 anos de promulgada, neces- sita de alterações que acompanhem as transformações históricas, econômicas, sociais e políticas de um mundo em constante mudança com impactos na relação Estado-sociedade. Outro ponto que não se pode perder de vista ao concluir o es- tudo desse capítulo é a urgente necessidade de uma reforma tributária que con- temple a tributação das grandes fortunas, por exemplo, entre outras modificações urgentes e necessárias que esse estudo não tem o condão de pretender esgotar. Teixeira (2014) afirma que é necessário entender o papel do Estado em prol do atendimento das necessidades e dos anseios da sociedade, o que faz da exe- cução das finanças públicas um instrumento fidedigno de implementação de po- líticas públicas. Que tenhamos em mente o preâmbulo de nossa Carta Magna/88 para compreender a função social do Estado brasileiro: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assem- bleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrá- tico, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desen- volvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, funda- da na harmonia social e comprometida, na ordem interna e in- ternacional, com a solução pacífica das controvérsias (BRA- SIL, 1988, on-line). Cardoso Jr. (2010) aponta a relevância do nível de institucionalização da fun- ção planejamento com outras funções de igual importância estratégica para um desempenho institucional satisfatório do setor público federal, como o são, por exemplo, as funções de arrecadação tributária, orçamentação e fiscalização do gasto público, além dos controles burocráticos do Estado. É sobre esse sistema de controle na administração pública no Brasil a qual iremos nos debruçar no estudo do próximo capítulo. Até lá! 111 Atividade Financeira do EstadoAtividade Financeira do Estado Capítulo 2 REFERÊNCIAS ALVES DA SILVA, J. M. Sobre a intervenção do Estado na economia. In: CARVALHO, F. M.; ALVES DA SILVA, J. M.; VIEIRA, W. C. (ed.). Crise e reestruturação econômica da América Latina. Viçosa: UFV, 1998. ANDRADE, D. P. O que é o neoliberalismo? A renovação do debate nas ciências sociais. Revista Sociedade e Estado, v. 34, n. 1, janeiro/abril, 2019. 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Acesso em: 10 nov. 2021. 114 Planejamento Governamental e Controle CAPÍTULO 3 Sistema de Controle na Administração Pública no Brasil A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes obje- tivos de aprendizagem: � Conhecer os princípios e as funções básicas dos órgãos de controle, no Brasil. � Identificar os mecanismos de controle como instrumento da democracia. � Constatar, a partir dos mecanismos de controle conhecidos, a transparência da gestão fiscal dos recursos públicos. � Examinar o funcionamento dos mecanismos de controle dos Entes da adminis- tração pública brasileira. 116 Planejamento Governamental e Controle 117 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O desafio dos governos e da administração pública no mundo contemporâ- neo na busca de promover o desenvolvimento econômico e social sustentável, em um ambiente de mudanças de paradigmas que impactam profundamente na vida social, vem impor a necessidade de repensar a questão da governança e do modelo de gestão pública, ao mesmo tempo que exige mecanismos inovadores de relacionamento com a sociedade. Vimos nos capítulos anteriores que a função precípua do Estado é, funda- mentalmente, atuar por meio de um governo para realizar o bem-comum. Con- forme Matias-Pereira (2010), os teóricos que cuidam da análise desta finalidade do Estado desdobram-na em três vertentes: o bem-estar, a segurança e a justiça. A interdependência dos fins do Estado assume particular im- portância em relação à grande e última finalidade do Estado: a promoção do bem-comum. O Estado, nesse sentido, enquan- to forma de organização política por excelência da sociedade, pode ser aceito como o espaço natural de desenvolvimento do poder político (MATIAS-PEREIRA, 2020, p. 56). Temáticas sensíveis no mundo contemporâneo vem sendo abordadas por estudiosos e pesquisadores da dinâmica da relação entre Estado e sociedade e seus desdobramentos para a implementação das agendas de governo por meio das políticas públicas. Os governos, além da preocupação permanente em elevar o nível do desempenho da gestão pública (disponibilizando cada vez mais bens e serviços, com menos recursos), devem dedicar uma especial atenção às ques- tões que envolvem à ética, a moral e a transparência na administração pública (accountability), segundo Matias-Pereira (2020). São temas como as crescentes demandas dos cidadãos por serviços públicos de qualidade, com transparência e participação social que estão afetas à Administração Pública, que iremos tratar no presente capítulo. O termo accountability pode ser aceito como o conjunto de mecanismos e procedimentos que induzem os dirigentes governa- mentais a prestar contas dos resultados de suas ações à sociedade, garantindo-se dessa forma maior nível de transparência e a exposi- ção pública das políticas públicas. Quanto maior a possibilidade de os cidadãos poderem discernir se os governantes estão agindo em função do interesse da coletividade e sancioná-lo apropriadamente, mais accountable é um governo. Trata-se de um conceito fortemen- 118 Planejamento Governamental e Controle te relacionado ao universo político administrativo anglo-saxão (MA- TIAS-PEREIRA, 2020). A prática da democracia no Brasil tem se manifestado, em outros aspectos, pela cobrança cada vez mais intensa de ética e transparência na condução dos negócios públicos e, para tal, os instrumentos de controle já existentes na admi- nistração pública, vem sendo reforçados. Outro ponto a destacar e que é mere- cedor de análise é que, na prática, muito embora existam os vários instrumentos para acompanhar a transparência das ações do Estado e gestão dos recursos públicos, o Brasil ainda se depara com um problema público que é a má gestão na aplicação dos recursos arrecadados da sociedade, consequência da corrupção e da forma distorcida dos gastos associados às atividades do Estado, principalmen- te ao se avaliar a efetividade dos recursos aplicados na área social. A temática de nosso estudo neste capítulo concentra-se no sistema de con- trole na administração pública, que é uma das pontas, junto com o instrumental do sistema de planejamento governamental da execução, avaliação e monitoramen- to do orçamento público para atender à função social do Estado. 2 SISTEMA DE CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL Já vimos nos capítulos anteriores que os sistemas político, social e econô- mico interagem e interrelacionam-se para fazer rodar o planejamento da ação governamental ancorados nos marcos legais que legitimam a gestão fiscal bra- sileira, utilizando-se de ferramentas e instrumentos adequados aos processos de execução do orçamento público. Nesta perspectiva, faz-se necessário tratar das questões relativas à transparência do Estado na execução de suas ações e os controles existentes no Brasil para acompanhar essa atividade do Estado. Conforme Ludwig Von Mises (1944 apud MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 45), “a administração,em uma comunidade democrática, não está sujeita apenas à lei, mas também ao orçamento. O controle democrático é o controle orçamentário.” O mundo, e em particular o Brasil, tem sido afetado a partir do final da dé- cada de 1980 por duas grandes tendências transformadoras: a consolidação dos 119 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 mecanismos de mercado, no âmbito econômico, e a consolidação da democracia, no âmbito político. A partir do início do século XXI, se soma a essas tendências as questões socioambientais. Essas mudanças vieram apoiadas nas teorias políticas liberais, afirma Matias-Pereira (2020). Na concepção dessas teorias, as funções do Estado devem ser direcionadas para garantir os direitos individuais de propriedade privada, o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para conservar ambas. As teses neoliberais, no contexto das transformações da história do capitalismo, retomam as teses clássicas do liberalismo. Nessa re- tomada, sintetiza na expressão “menos Estado e mais mercado” sua concepção de Estado e de governo (MATIAS-PEREIRA, 2020). Assim, ante esse cenário, observa-se que nas últimas décadas houve no campo da economia uma crescente tendência de redução da intervenção do Es- tado nas atividades econômicas e de predominância de liberdade à iniciativa pri- vada. Ressalte-se também que a intensificação do processo de globalização, an- corado pelas mudanças de paradigmas, estão refletindo e provocando mudanças profundas nos âmbitos local, estadual, nacional, regional e mundial; transforma- ções que ocorreram de forma intensa em todos os campos da relação Estado e sociedade – político, econômico, social, cultural, ambiental e tecnológico. Essas turbulências contribuíram para acelerar o debate sobre o novo papel do Estado-nação no mundo. As reformas do Estado já em curso desde a década de 1990 são cada vez mais intensificadas para responder às revoluções tecno- lógicas, das comunicações, por exemplo; e por fim, mas sem esgotar o tema, a crise financeira e econômica global de 2008 – que afetou de forma profunda quase todas as economias mundiais e ainda continua repercutindo na maioria dos países do mundo; o Estado-nação assumiu um novo espaço de legitimidade que já não se fundamenta na sua capacidade de gerar condições de bem-estar, mas, de garantir a sobrevivência do modelo capitalista e da governabilidade do sistema econômico mundial. Após um período de esvaziamento do debate sobre o novo pa- pel do Estado-nação, e com os sinais de recuperação econômi- ca de uma parcela dos países desenvolvidos, observa-se que o modelo de cunho neoliberal, que prega a redução do tamanho do Estado-nação (Estado mínimo), em especial a transferência para os setores privados de suas responsabilidades no campo 120 Planejamento Governamental e Controle das políticas públicas, está sendo retomado. Essas mudanças começam a repercutir com muita intensidade na administração pública e na sua gestão. (MATIAS-PEREIRA, 2020, p. 58). Na concepção de Novo (2019), o Brasil vem passando por uma fase de sig- nificativas mudanças no que diz respeito ao fortalecimento e moralização dos ór- gãos públicos. A crescente denúncia e a implementação de sistemas de controles de gestão mais confiáveis no âmbito governamental vem tomando espaço cada vez mais amplo no dia-a-dia das instituições públicas. Nos capítulos anteriores, estudamos sobre a administração pública e, relem- brando sua definição, dizemos que a administração pública é a soma de todo aparelho de Estado, estruturada para realizar os serviços públicos, visando à sa- tisfação das necessidades da população, ou seja, o bem comum. A expressão Administração Pública, num sentido amplo, é todo o sistema de governo, todo o conjunto de ideias, atitudes, normas, processos, instituições e outras formas de conduta humana, que determinam: a) como se distribui e se exerce a autoridade política; b) como se atendem aos interesses públi- cos. Assim, a Administração Pública pode ser entendida como a estrutura do Poder Executivo, que tem a missão de coor- denar e implementar as políticas públicas. Apresenta-se como um conjunto de atividades diretamente destinadas à execução concreta das tarefas consideradas de “interesse público” ou comum numa coletividade ou numa organização estatal. (MA- TIAS-PEREIRA, 2010a, p. 58). O aparelho de Estado, em sentido amplo, no contexto da Ad- ministração Pública, deve ser entendido como a estrutura organiza- cional do Estado, em seus três poderes: Executivo, Legislativo e Ju- diciário; e, três níveis: União, Estados e Municípios. O aparelho do Estado é constituído pelo governo, ou seja, por uma cúpula dirigente nos três poderes, por um corpo de funcionários e pela força militar. Deve-se ressaltar que as atribuições dadas pela Constituição Fede- ral de 1988 ao Ministério Público tornaram aquela instituição pratica- mente um “quarto poder” (MATIAS-PEREIRA, 2010). Na administração pública a liberdade é regida por lei, que restringe os atos do gestor à satisfação e atendimento do interesse da coletividade indistintamen- 121 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 te, obedecendo aos princípios da legalidade e impessoalidade. Conforme Matias- -Pereira (2010) existe uma conexão entre a probidade administrativa e o objetivo final na administração pública, a qual não pode prevalecer o desejo nem vontade pessoal. A definição da expressão improbidade administrativa foi criada para especificar aquela conduta antiética que fere ou se distan- cia dos padrões morais admitidos por um código de conduta. Assim, conduta improba e conduta antiética são sinônimos. A expressão improbidade administrativa, em geral, é empregada para definir toda e qualquer violação ética no trato da coisa pública (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 65). Se você quiser saber mais acerca dos elementos constitutivos sobre o ato de improbidade administrativa e as sanções aplicáveis em virtude de suas práticas veja a Lei nº 8.429 de 02.06.1992, dispo- nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm Na avaliação de Moura (2020), o constitucionalismo contemporâneo tem exer- cido um papel importante na proteção e promoção dos direitos fundamentais em especial os direitos sociais, uma vez que o reconhecimento da força normativa da Constituição e a posição de centralidade ocupada pelo homem na ordem jurídica, condiciona a interpretação das normas jurídicas e vinculam a atuação dos poderes públicos na concretização dos bens e interesses veiculados. Cabem, portanto, aos poderes públicos na concretização dos preceitos fundamentais, observadas as pos- sibilidades das regras e princípios constitucionais e limitados aos seus respectivos campos de conformação ou discricionariedade, decidirem sobre as questões políti- cas definindo quais são capazes de atender as necessidades do grupo social. Ressalte-se que a Constituição Federal de 1988 em relação à administração pública, define princípios fundamentais, em seu art. 37: “A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Fe- deral e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Conforme Matias-Pereira (2010), fica assim evidenciado que a função da administração pública é atender, sem discriminação, as pessoas que habitam um país ou quaisquer de suas subdivisões. 122 Planejamento Governamental e Controle Administração Direta é a estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios e o conjunto de unidades organizacio- nais que integram a estrutura administrativa de cada um dos poderes da União, dos Estados e dos Municípios, abrangendo não só as uni- dades destituídas de autonomia,mas também os órgãos autônomos e os fundos. Embora a administração direta seja integrada também pelas unidades das estruturas dos poderes Legislativo e Judiciário, no seu emprego mais usual a expressão designa apenas o conjun- to de unidades que são subordinadas à Chefia do Poder Executivo (SANCHES, 1997). Administração Indireta é o conjunto de entidades públicas do- tadas de personalidade jurídica própria, compreendendo autarquias; empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações pú- blicas. (MATIAS-PEREIRA, 2010). Relembrando o que vimos no Capítulo 1 deste livro, as atividades da Admi- nistração Pública gerencial focadas em resultados estão inseridas em um ciclo de ações que são planejar, executar, verificar e agir e que são definidas como PDCA (PLAN, DO, CHECK, ACTION). Na realidade da administração pública brasileira acentuada pelas denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público, a ação controle torna-se objetivo pri- mordial da administração e, nessa perspectiva gerencial com foco em resultados a necessidade de gerenciar e controlar os procedimentos assume um papel cada vez mais prioritário. as normas constitucionais que fundamentam o controle social da função administrativa do Estado estão enunciadas, em es- pecial, no caput, no inciso II e no parágrafo único do artigo 1º e nos artigos 5º, II e 37 da Constituição: República, Esta- do Democrático de Direito, Cidadania, Soberania Popular e os princípios da legalidade, moralidade e o da publicidade ou transparência. Já as normas constitucionais que asseguram o controle social estão dispostas, especialmente, nos incisos, XXXIII; XXXIV, “a”, “b”; XXXV; LXVIII; LXIX; LXX; LXXI; LXXII; LXXIII do artigo 5º: direito a receber informações dos órgãos públicos, direito à petição, direito à certidão, princípio da pro- teção judiciária, habeas corpus, mandado de segurança indivi- dual, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção, habeas data, ação popular (SIRAQUE, 2005, p. 45). 123 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Siraque (2005) aponta que podemos encontrar na literatura diversas concep- ções da palavra controle. Os doutrinadores da ciência jurídica falam da existência de diversas formas de controle da atividade administrativa do Estado, como “con- trole interno”, “controle externo”, “controle jurisdicional”, “controle administrativo”, “controle político”, “controle parlamentar”, “controle legislativo”, “controle a priori”, “controle a posteriori” e os cientistas sociais utilizam denominações como “contro- le social”, no sentido da sociedade estar, de alguma maneira, sendo controlada ou submetida a um determinado Poder, ou a maioria dos seres humanos domi- nada pela minoria, numa relação de explorados e exploradores ou de dominados e dominadores. Domínio este decorrente da força religiosa, cultural, econômica, capacidade de organização, de formação e de informação de certos indivíduos ou grupos em relação a outros indivíduos ou grupos. Você pode pesquisar mais sobre cada uma das diversas formas de controle no livro SIRAQUE, V. Controle social da função adminis- trativa do Estado: possibilidades e limites na Constituição de 1988. São Paulo, Saraiva, 2005. A nossa Constituição brasileira de 1988, entre outros artigos, refere-se ao termo controle nos artigos 37, § 8º, II; art. 49, X; art. 70; art. 197; e art. 204, II; quando trata da avaliação de desempenho e responsabilidade dos dirigentes, das competências do Congresso Nacional, da fiscalização, da formulação de políti- cas públicas e dos serviços, respectivamente, de saúde e de assistência social. Analisando cada artigo, Siraque (2005) destaca que a palavra controle tem o sig- nificado de acompanhamento, de fiscalização, ou seja, de impedir que os atos do Executivo, tanto da administração direta quanto da indireta, desviem-se das finali- dades determinadas pelas normas do ordenamento jurídico. Siraque define o termo controle da seguinte maneira: Controle é o ato de vigiar, vistoriar, inspecionar, examinar, guiar, fiscalizar, res- tringir, conter algo, velar por algo ou a seu respeito, inquirir e colher informações (SIRAQUE, 2005). 124 Planejamento Governamental e Controle Esclarecido o significado do termo controle, podemos dizer que o controle do Estado pode ser direcionado a dois focos: o controle da atividade política e o controle da atividade administrativa, que se identifica como Controle da Adminis- tração Pública. O sistema de controle no Brasil sob a ótica do controle da gestão dos recursos federais, vale dizer daqueles provenientes do orçamento da União, estão disciplinados nos artigos nº 70 a 74 da Constituição Federal de 1988, que apresentam as principais regras orientadoras do exercício desse controle na Ad- ministração Pública, assim como outras disposições na própria Carta de 1988 e legislações específicas como veremos ao longo do estudo. Já conhecemos que a administração pública passou por transformações em seu modelo de gestão, em decorrência das transformações sócio-históricas ocor- ridas no cenário interno e externo das relações entre Estado e sociedade que con- formam sua atuação. Em meados da década de 1990, o modelo de administração pública burocrática no Brasil passou pela transição para o modelo de administra- ção pública gerencial, cujos pressupostos são a orientação para resultados, a efi- ciência e a qualidade na prestação dos serviços públicos para atender às deman- das cada vez mais crescentes da sociedade; com minimização de custos. Nesse contexto é importante destacar as modificações impostas pela Emenda Constitu- cional nº 19/98 que alterou o art. 73 da CF/88 incluindo no ordenamento jurídico brasileiro o princípio da eficiência na administração pública, aos já existentes. Sendo o controle definido como uma das funções administrativas clássicas: planejar, coordenar, supervisionar, executar e controlar, um sistema de controle eficaz, conforme ensina a teoria da administração, garante que as atividades se- jam realizadas de maneira satisfatória, na direção dos objetivos da empresa. No âmbito da administração pública, os objetivos são a gestão do orçamento público, valores arrecadados da sociedade na forma de tributos, sob a ótica da ética e da transparência, razão pela qual em um ambiente democrático exige-se a participa- ção da sociedade nesse acompanhamento, controle e fiscalização dos recursos públicos geridos por agentes públicos. Os recursos financeiros e patrimoniais utilizados pelo Estado não pertencem ao Presidente da República nem aos Governa- dores, Prefeitos, Deputados e demais agentes públicos, mas sim ao povo, que recolhe tributos. É com esses recursos que o Estado disponibiliza serviços à sociedade, adquirindo materiais para o funcionamento das repartições, firmando contratos, reali- zando obras, remunerando seus servidores etc. (ALVES, 2020). O controle social é um direito público subjetivo e o controle institu- cional é ao mesmo tempo direito e dever de ofício (SIRAQUE, 2005). 125 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário –, e as esferas jurídicas de governo – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – exercem a função administrativa e, portanto, seus atos estão sujeitos a controle, uma vez que se subordinam à Constituição e às normas infraconstitucionais. O controle sobre a função administrativa do Estado é o gênero que poderá ser classificado em duas espécies: 1- controle institucional; 2- controle social, conforme nos aponta Siraque (2005). Conheceremos, agora, cada um deles. Siraque (2005) diferencia controle social de controle institucional dos atos da Administração Pública. Para ele, o controle institucional é espécie do gênero con- trole, o qual por sua vez podeser subdividido em duas subespécies: a) controle institucional interno; b) controle institucional externo. Já o controle social ele defi- ne como o controle realizado por alguém que não seja agente público no exercício da função ou órgão do Estado, temática que veremos com mais profundidade no subitem 2.3 do nosso capítulo. Assim, entendemos que a classificação utilizada pelo autor, para fins didáticos, pode facilitar a compreensão dos termos e signifi- cados de controle e suas finalidades. Sobre os mecanismos de controle administrativo, Matias-Pereira (2010) aponta que o controle administrativo pode ser aceito como aquele que o Exe- cutivo e os órgãos de administração dos demais poderes exercem sobre suas próprias atividades. Os mecanismos de controle administrativo são definidos se- gundo as necessidades do serviço e as exigências técnicas de sua realização: um controle de legalidade, de conveniência e de eficiência. Esse controle pode ser exercido pelos próprios órgãos internos da administração (controle hierárquico propriamente dito), como por órgãos externos incumbidos do julgamento dos re- cursos (tribunais administrativos) ou das apurações de irregularidades funcionais (órgãos correcionais). Funções básicas exercidas pelo controle: Judicante - julgar contas (TCU e TCE) Sancionadora - aplicar sanção/penalidade (TCU e TCE) Corretiva - fixar prazo para correções e sustar ato irregular Fiscalizadora - fiscalizar e apreciar/registrar atos de pessoal Consultiva - responder consulta e elaborar parecer prévio Ouvidoria - examinar denúncia e representação Informativa - prestar informações aos Órgãos Legislativos e MP Normativa - expedir normativos, fixar coeficientes etc. (MATIAS-PEREIRA, 2010) 126 Planejamento Governamental e Controle O controle pode ser qualificado de diversas formas, porém, a principal catego- rização é controle interno e externo. Os controles interno e externo, os quais vere- mos de forma mais detalhada na sequência do estudo, tem como atribuição realizar a fiscalização contábil, orçamentária, financeira, operacional e patrimonial do ente correspondente e das entidades da administração direta e indireta no que se refere à legalidade, legitimidade e economicidade. O que distingue o controle interno do externo é o fato de o primeiro ser um autocontrole, integrante da estrutura própria de cada um dos Poderes da República, porém, todos os órgãos que exercem essa função são instrumentos do controle administrativo, que podem ser preventivos, su- cessivos ou corretivos, conforme classificação de Matias-Pereira (2010). Trazemos agora, de forma breve, algumas classificações doutrinárias e le- gais que se aplicam ao controle na Administração Pública, tema que você deverá aprofundar nos referenciais fornecidos neste livro, mas que aqui não se esgotam pela farta literatura disponível. FIGURA 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FONTE: A autora (2022) A Figura 1 acima permite conhecer algumas classificações da atividade de controle da Administração Pública que são mais usuais, conforme nos aponta Al- ves (2020): 127 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 i) quanto ao alcance do controle, diz respeito a quem exerce o controle sobre quem, na perspectiva dos Poderes da estrutura da Administração Pública e é quando se define o controle interno e externo; ii) quanto ao órgão, diz respeito ao controle derivado do poder de autotutela da Administração que é o controle administrativo; o controle legislativo que é exercido diretamente pelo órgão legislativo (Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas ou Congresso Nacional) ou Tribunais de Con- tas que lhes prestam auxílio; o controle judicial é o exercido pelos órgãos do Poder Judiciário sobre os atos administrativos do Poder Executivo, do Legislativo e do próprio Judiciário, quando realiza atividades administra- tivas e por fim o controle social que é exercido pelo cidadão diretamente ou pela sociedade civil organizada; iii) quanto ao momento do controle é quando a ação do controle ocorre, se à priori, de forma prévia ao ato administrativo e/ou conduta do autor; se de forma concomitante, enquanto a conduta está sendo praticada ou contro- le posterior após o ato ter sido praticado; iv) quanto à natureza do controle, o controle da legalidade é verificar se a conduta do gestor guarda consonância com as normas aplicáveis e o controle de mérito é o controle que se consuma pela verificação da con- veniência e oportunidade da conduta administrativa, o que se chama po- der discricionário da administração. Dito isto, no subitem seguinte conheceremos um pouco mais sobre os fun- damentos constitucionais do Estado e de controle da administração pública no Brasil. 2.1 SISTEMA DE CONTROLE INTERNO E EXTERNO Na concepção de Matias-Pereira (2010), o controle deve ser entendido como um instrumento da democracia. A existência de uma estrutura formal para controle das finanças públicas, eficiente, eficaz e efetiva, para alcance do objetivo de ga- rantir o bom desempenho das atividades estatais realizadas no interesse do bem público é um fato comum em um Estado democrático organizado. Você sabe quais são os sistemas de controle da administração pública no Brasil? Se não sabe, não tem problema porque iremos tratar disso agora mesmo. O controle das finanças públicas no Brasil foi disciplinado pela Lei nº 4.320/64 que já 128 Planejamento Governamental e Controle estudamos no Capítulo 2. A Lei de Orçamento como é conhecida foi a responsá- vel por disciplinar, no direito positivo brasileiro a estrutura de controle da execução orçamentária, que evoluiu para a atual prescrita na CF vigente. O controle é tanto um poder quanto um dever que a administração pública tem de fiscalizar, orientar e corrigir os seus atos, diretamente ou por meios espe- cializados – controle interno e externo, para verificar se estão dentro da lei, para proteger os direitos dos cidadãos e para adequar as condutas dos agentes públi- cos, sendo atribuição dos três poderes da República. Os termos “controles interno e externo” aparecem com a edição da Lei nº 4.320/64, que estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e con- trole dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Dis- trito Federal. A Lei de Orçamento está em pleno vigor, visto que não foi editada, ainda, a Lei Complementar prevista no § 9º do art. 165 da Constituição. A Cons- tituição de 1967 deu ênfase ao sistema de Controle Interno do governo federal (arts. 71 e 72). Conforme Santos (1997), o controle integra o elenco das chamadas funções universais da administração. Na administração pública federal, o controle se divi- de em duas grandes categorias: o controle interno e o controle externo. O Controle Interno, tratado na doutrina como controle admi- nistrativo, foi definido por Hely Lopes Meirelles como: ... todo aquele que o Executivo e os órgãos de administração dos de- mais Poderes exercem sobre suas próprias atividades, visando mantê-las dentro da lei, segundo as necessidades do serviço e as exigências técnicas e econômicas de sua realização, pelo que é um controle da legalidade e de mérito. Sob ambos esses aspectos pode e deve operar-se com legitimidade e eficiência, atingindo a sua finalidade plena, que é a satisfação das ne- cessidades coletivas e atendimento dos direitos individuais dos administrados (SANTOS, 1997, p. 45). De acordo com Alves (2020), o controle da Administração Pública pode ser feito de diversas formas e por diferentes agentes. Em diversas situações, essa atribuição coube aos Tribunais de Contas, a quem cabe zelar pela correta gestão dos recursos públicos. Os Tribunais de Contas (incluindo o Tribunal de Contas da União, bem como todos os outros tribunais de contas estaduais e municipais) são os órgãos técnicos diretamenteenvolvidos no controle externo da Administra- ção Pública, em auxílio ao Poder Legislativo, fiscalizando os respectivos órgãos e agentes jurisdicionados que realizam a arrecadação e a aplicação dos recur- sos municipais, estaduais, distritais e federais. A Administração também se sujeita ao controle judicial, realizado pelo Poder Judiciário; ao controle social, realizado 129 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 pelos cidadãos, além de exercer, ela mesma, o controle sobre os próprios atos, como veremos com mais detalhes adiante. Quando falamos em controle da Administração Pública, estamos nos referindo à fiscalização de qualquer ato administrativo que envol- va receitas e despesas públicas, como a compra de bens, admissão de pessoal, arrecadação de impostos, etc. Assim, essa modalidade de controle é mais perceptível sobre as atividades realizadas pelo Poder Executivo, cujas funções típicas são as funções administrati- vas. Mas o controle da gestão pública também alcança o Poder Le- gislativo e o Poder Judiciário, bem como o Ministério Público e o pró- prio Tribunal de Contas, que também exercem função administrativa de maneira atípica (ALVES, 2020). A fiscalização contábil, financeira e orçamentária do Estado está disciplinada nos arts. 70 a 74 da Carta de 88. O controle político é de exclusividade do Poder Legislativo, a quem cabe o controle externo, auxiliado pelo TCU ou órgão equi- valente. O controle interno na forma de sistemas, é mantido de forma integrada pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. O controle social da Adminis- tração Pública será exercido na forma prevista nos §§ 3º e 2º dos arts. 31 e 74, respectivamente. Agora iremos detalhar mais sobre cada um deles, relembrando que a função administrativa do Estado pode ser exercida pelos Poderes Legislativo e Judiciário, mas, primordialmente, pelo Poder Executivo. Você pode obter informações básicas sobre o sistema de con- trole da administração pública assistindo o vídeo AGU explica, dis- ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=14tzqeV7GqE&ab_ channel=Advocacia-GeraldaUni%C3%A3oAGU 130 Planejamento Governamental e Controle 2.1.1 Sistema de controle interno Como dito neste estudo, o controle interno na Administração Pública pode ser aceito como a ação exercida sobre si própria pela organização responsável pelo desempenho da atividade controlada. Rôllo (2011) aponta que todas as atividades desenvolvidas pela Administra- ção Pública são devidamente controladas e que existe uma tendência natural à interpretação de que o exercício do controle interno é de responsabilidade exclu- siva do órgão que está designado para responder por essa função na respectiva esfera do governo ou dentro da estrutura organizacional de determinada entidade governamental. No entanto, além do controle exercido pelos órgãos que detêm essa atribuição – como aqueles relacionados aos serviços de contabilidade e de auditoria –, o controle interno é distribuído nos vários segmentos do serviço públi- co, envolvendo desde o menor nível de chefia até o gestor principal, o qual utiliza uma estrutura de apoio. Conforme aponta Novo (2019), a missão do controle interno é a de fornecer aos gestores, de todos os níveis, informações para a tomada de decisão, rela- tos que venham auxiliar o controle dos processos, com o objetivo de alcançar as metas estabelecidas e resguardar os interesses da organização, colaborando na definição de suas responsabilidades, fornecendo análises, apreciações, recomen- dações, pareceres e acima de tudo, informações relativas às atividades examina- das, propiciando, assim, um controle efetivo a um custo razoável. Controle interno é todo aquele realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade controlada no âmbito da própria Admi- nistração. Assim, qualquer controle efetivado pelo Executivo sobre seus serviços ou agentes é considerado interno, como interno tam- bém será o controle do Legislativo ou do Judiciário, por seus órgãos de administração, sobre o seu pessoal e os atos administrativos que pratiquem (MEIRELLES, 1991 apud MATIAS-PEREIRA, 2010). Na definição de Siraque (2005) o controle institucional interno é a alma do plano de organização da Administração Pública. Sem este controle não é possível garantir transparência da atividade administrativa e os objetivos constitucionais da 131 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 República. Podemos afirmar que o controle institucional interno é a viga mestra do controle institucional externo e do controle social dos atos da Administração Pública. Afirma, ainda, que o controle institucional interno é uma autofiscalização, voltada, entre outros, aos seguintes objetivos: • preparar a prestação de contas e o controle externo, social e institucio- nal; • fiscalizar as atividades dos agentes públicos hierarquicamente inferiores; • fornecer informações à administração superior; • garantir a legalidade, eficiência, economicidade na aplicação dos recur- sos públicos; • identificar erros e fraudes; • preservar a integridade do patrimônio público; • acompanhar a execução do plano plurianual, do orçamento público e de- mais planos e metas da Administração Pública. A CF/88 deu enorme destaque ao Sistema de Controle Interno, separando-o por cada Poder e determinando seu funcionamento de forma integrada. Na análi- se de Rôllo (2011), a matéria controle interno não é recente, mas tem sido objeto de destaque a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, contida nos seus artigos 31, 70 e 74. Na medida em que a própria Constituição Brasileira deu maior liberdade pela descentralização de recursos públicos aos municípios, cabe a estes se instrumentarem com ferramentas eficazes no controle da aplica- ção dos recursos. Sobre a fiscalização contábil, financeira e orçamentária, a CF/88 disciplina as competências do sistema de controle nos arts. 70 a 74 da Carta de 88. O controle interno na forma de sistemas, é mantido de forma integrada pelos Poderes Legis- lativo, Executivo e Judiciário. Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, opera- cional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economici- dade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder (BRASIL, 1988, on-line). A ação de controle interno em toda estrutura da Administração Pública bra- sileira foi prevista, especificamente, no art. 74 da Carta Magna de 1988. O artigo prevê que os três poderes da república possuem um sistema de controle interno e definiu suas finalidades, senão vejamos: Art. 74. Os Poderes Legislativo, Execu- tivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: 132 Planejamento Governamental e Controle I- avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execu- ção dos programas de governo e dos orçamentos da União; II- comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e efi- ciência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III- exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV- apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. O regramento constitucional também se aplica aos municípios. A CF/88 dis- ciplina no art. 31 que a fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legis- lativo municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo municipal, na formada lei. § 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o au- xílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente, sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. § 3º As contas dos Municípios ficarão durante sessenta dias, anual- mente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apre- ciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei (BRASIL, 1988). Ressalta-se que um controle típico do poder executivo é o controle hierár- quico, um controle interno decorrente da estrutura vertical do órgão. Ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) compete o controle da atividade administrativa e financeira do poder judiciário e do Ministério Público, respectivamente. Siraque (2005) aponta que os sistemas de controle institucional interno são as corregedorias, como a do Ministério Públi- co, das Polícias Civil e Militar, do Judiciário. As Auditorias e os Conselhos Fiscais previstos em lei, nos casos das Fundações, Autarquias, Empresas Públicas, Insti- tutos, entre outros. Cabe ressaltar que há uma diferenciação entre os termos controle interno e auditoria interna que necessita ser abordada no presente estudo para situar você nessa temática, pois, com certeza você deverá se deparar com esses termos que muitas pessoas pensam ser sinônimas. Conforme aponta Rôllo (2011), vários são os entendimentos de a auditoria fazer parte integrante do controle interno ou não. Alguns pesquisadores consideram que a auditoria atua sobre o controle inter- no, no sentido de verificar se os controles são ou não eficientes. Portanto tendem 133 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 a aceitá-la fora do controle interno. Entretanto outra corrente aceita-a como um mecanismo de informações para o controle e a avaliação de desempenho e do sistema de controle interno mantido pela organização. Na realidade, o fato de ela atuar sobre o controle interno não significa que não possa integrá-lo. A integração tem a função de prevenir danos e prejuízos para o patrimônio e assegurar que os controles funcionem a contento, com eficiência, possibilitando que o gestor tome decisões com o respaldo de informações úteis e confiáveis. Na análise de Rôllo (2011), a auditoria interna realiza uma das tarefas mais importantes no âmbito dos controles, por fiscalizar e avaliar todos os demais con- troles da entidade, tanto para o gestor público quanto para o controle externo. Cabe também à auditoria assegurar à Administração a adequação dos mecanis- mos de acompanhamento da gestão, de forma a possibilitar, identificar e medir o grau de atingimento dos resultados em relação a objetivos e metas estabelecidos no programa de governo, opinando, ainda, sobre a implantação e o aprimoramen- to dos indicadores de gestão utilizados pela Administração. De acordo com Cavalheiro (2003, p. 45), “controle interno é o conjunto de recursos, métodos e processos adotados pela própria gerência do setor público, com a finalidade de comprovar fatos, impedir erros, fraudes e a ineficiência”. Se- gundo o mesmo autor, um sistema de controle interno projeta-se além daquelas questões diretamente relacionadas às funções dos departamentos de contabilida- de e de finanças. Já conhecemos que o processo de redemocratização do Estado brasileiro na perspectiva do fortalecimento da democracia, exigiu a criação de mecanismos de controle das ações dos agentes públicos e dos serviços públicos prestados à sociedade, principalmente visando contemplar e fortalecer o nível de confiança que a população deposita nas instituições públicas e nos seus dirigentes. Algu- mas iniciativas podem ser destacadas neste sentido como a publicação da Lei de Responsabilidade Fiscal nº 101 de 5 de maio de 2000, no governo de Fernando Henrique Cardoso, que trouxe exigências quanto à Administração Pública Geren- cial, com a finalidade do controle de resultados, atingimento de metas, avaliação e controle de custos, entre outras; estabelecendo, ainda, que a fiscalização do cum- primento dos seus dispositivos será exercida pelo Poder Legislativo, Tribunal de Contas, Ministério Público e Sistema de Controle Interno de cada Poder. Some-se a essa iniciativa a inclusão do princípio da eficiência, por meio da Emenda Cons- titucional n. 19, de 1998, entre os princípios de controle na Administração Pública. Sobre as fontes de controle da Administração Pública essenciais à justiça trazemos do referencial de Matias-Pereira (2010): • União - MPU e Consultorias jurídicas dos órgãos e entidades da Adminis- tração Pública Direta e Indireta. 134 Planejamento Governamental e Controle • Estados e DF - MPE e Consultorias jurídicas dos órgãos e entidades da Administração Pública Direta e Indireta. • Municípios - Consultorias jurídicas dos órgãos e entidades da Adminis- tração Pública Direta e Indireta. Como reforço a esse controle da gestão dos recursos públicos pelos agentes do Estado outras iniciativas aconteceram, também, a partir do ano de 2003. Vamos conhecer agora algumas medidas que foram adotadas pelo governo brasileiro para responder às demandas da sociedade civil, conforme nos aponta Matias-Pereira (2010). A principal medida para combater a corrupção na Adminis- tração Pública, no período de 2003 a 2006 (primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva) foi a criação da Controladoria-Geral da União (CGU), no início de 2003, com atribuições definidas pela Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 que foi revo- gada pela Lei nº 13.502 de 2017. A criação da CGU ocorreu em um contexto de graves denúncias da existência de corrupção dentro do governo federal. 1 Comente em breves linhas como está disciplinado nos normati- vos legais o sistema de controle no Brasil. A missão e atuação da CGU, prevista em lei em 2003, foi de realizar a de- fesa do patrimônio público e o combate aos desvios e desperdícios de recursos públicos federais, devendo atuar mediante a realização de auditorias, fiscaliza- ções, análise e apuração de denúncias, implementação de políticas de prevenção à corrupção e de promoção da transparência. Com a implantação da CGU foi aberto um canal direto de comunicação do cidadão com o governo federal a partir de diversas medidas adotadas, como por exemplo a criação do Portal da Trans- parência, um site da internet que apresenta a destinação dos recursos públicos. Neste Portal, o cidadão pode conhecer quem recebeu o recurso público, quais os valores e a finalidade da destinação, identificando-os por meio do CPF, CNPJ; estimulando o controle social e o fortalecimento da cidadania. Você pode acessar o site do Portal da Transparência (https:// www.portaltransparencia.gov.br/) e consultar, por exemplo, informa- 135 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 ções acerca da transferência de recursos para Estados, Distrito Fe- deral e Municípios, além de dados sobre as aplicações diretas dos Órgãos federais e gastos dos cartões de pagamento (corporativos) do Governo. As Páginas de Transparência Pública foram criadas em cada Ministério e entidade da administração indireta – autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista para exibição à sociedade dos gastos, licitações e contratações. O Portal foi lançado em 2004 com essa finalidade, contendo inicialmente 80 milhões de registros. A CGU, com sua estrutura administrativa teve sua atuação de forma articu- lada com outras instituições relacionadas ao enfrentamento da corrupção, como o Tribunal de Contas da União (TCU), em parceria com o Ministério Público da União,a Advocacia-Geral da União, o Conselho de Controle das Atividades Finan- ceiras (COAF), a Polícia Federal, a Secretaria Nacional de Justiça, a Secretaria da Receita Federal, entre outras instituições. Uma força-tarefa concentrada em combater os desvios dos recursos públicos e a corrupção dos agentes públicos, porém, em 2017, no governo do Presidente Michel Temer, essa estrutura foi des- feita com a extinção da CGU e a criação do Ministério da Transparência, Fiscali- zação e Controle. Para conhecimento do aluno que estuda a temática do sistema de controle na Administração Pública no Brasil, importa aqui abrir parênte- ses para tratar da questão da extinção da Controladoria Geral da União e a incorporação de suas atividades pelo ministério criado e o enfraque- cimento do combate à corrupção na análise de alguns autores. Para o Ministro da pasta à época da criação do Ministério, Fabiano Silveira, a mudança no nome teve o intuito de dar ainda mais prestígio ao órgão: “Nossos esforços continuam sendo conjuntos para dar ênfase às medidas de combate à corrupção. Esse é um direito dos cidadãos brasileiros”, afirmou Fabiano. “Transformar a CGU em um ministério é uma forma de dar uma maior visibilidade a esse que já se tornou um órgão no qual a sociedade confia plenamente e por isso manteremos todas as funções da Con- troladoria”, explicou o ministro (BRASIL, 2021, on-line). 136 Planejamento Governamental e Controle Na avaliação de Ravazzano (2015), a extinção da CGU e a criação do Mi- nistério da Transparência, Fiscalização e Controle, transferindo as competências do órgão para o ministério por meio da Medida Provisória nº 726/2016, trouxe a supressão da autonomia de fiscalizar, uma vez que o combate à corrupção no âm- bito do Poder Executivo federal ficará claramente prejudicado, pois a atuação do Ministério é diretamente subordinada à presidência da república. A decisão do presidente interino em transformar o órgão em Ministério trouxe duas questões à tona: a manutenção e/ou ampliação dos poderes fiscalizatórios do órgão e a ausência de autonomia para investigar o próprio governo federal (RAVA- ZZANO, 2015, on-line). O Programa de Fiscalização dos Municípios, também criado em 2003, foi uma outra medida adotada visando estimular a participação social dos cidadãos na fiscalização e controle da gestão pública sobre os recursos arrecadados da sociedade. A fiscalização é realizada mediante sorteios públicos dos municípios a serem fiscalizados. Conforme declaração da própria CGU em seu relatório de 2010 (apud MATIAS-PEREIRA, 2010), o objetivo expresso do Programa foi de inibir a corrupção, pela dissuasão que resulta da possibilidade, sempre presente, para o gestor, de ser ele o próximo sorteado para ser fiscalizado. Para a CGU “esse tipo de medidas estão começando a despertar e estimular a participação social, dos cidadãos, para a fiscalização e o controle sobre os administradores do dinheiro público”. O Programa de Fiscalização dos Municípios recebeu outro nome a partir de agosto 2015, passando a se chamar Programa de Fiscalização em Entes Federativos que pode ser acessado em: ht- tps://www.gov.br/cgu/pt-br/assuntos/auditoria-e-fiscalizacao/progra- ma-de-fiscalizacao-em-entes-federativos. Na atualidade, momento em que escrevemos este livro, no âmbito do poder executivo federal o controle interno é de responsabilidade do Ministério da Trans- parência, Fiscalização e Controladoria Geral da União (CGU). 137 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Se você desejar conhecer mais sobre a CGU e sua atuação na atualidade pode acessar: https://www.gov.br/cgu/pt-br Outra iniciativa no campo do controle interno na análise de al- guns autores foi a Lei nº 12.846/13 – chamada lei anticorrupção, muito embora bastante criticada por vários setores da sociedade civil conforme bastante noticiado em mídia brasileira. Conforme Ravazzano (2015), a Lei trouxe maiores poderes à CGU, tornan- do o órgão encarregado da instauração de PAR – Processo Administrativo de Responsabilização – por ato de corrupção, não apenas no âmbito do Poder Exe- cutivo Federal, prevendo ainda competência concorrente para apurar irregula- ridades nos demais poderes e nas demais esferas, podendo avocar processos de responsabilização de pessoas jurídicas, emendá-los e acompanhar seu de- senvolvimento. A CGU apura, ainda, fatos envolvendo ilicitudes contra pessoas jurídicas estrangeiras. Para Novo (2019), a Lei nº 12.846/2013 trouxe importantes inovações sobre as sanções aplicáveis aos agentes privados que participem, como beneficiários, de desvios de atuação e de recursos públicos. Acompanhar e apurar a lisura dos atos administrativos, principalmente aqueles que importem despesa para o erário, é função precípua do controle interno da Administração Pública. Matias-Pereira (2010a) registra que as leis que tratam das finanças públicas, em que pese o significativo nível de desconhecimento da função do sistema de controle interno na Administração Pública, sempre cuidaram do assunto: Verifica-se que a Lei nº 4.320/64, no título que trata do controle da execução orçamentária, dispõe sobre controle interno em seus arts. 76 a 80. Esta preocupação, também está presente na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – Lei nº 101/2000, em especial no art. 59, que trata da fiscalização da gestão fiscal (2010a, on-line). 138 Planejamento Governamental e Controle Furtado (2020) analisando a administração pública, seus princípios e con- trole, destaca a relevância da Emenda Constitucional nº 19/98 que alterou a CF/88 inserindo o princípio da eficiência na Administração Pública, reforçando a mudança no modelo de gestão pública burocrática para um modelo de admi- nistração pública gerencial, sob a ótica do resultado e da eficiência, tendo foco no cidadão, este que paga seus tributos e deseja receber os serviços do Estado, com qualidade. Neste contexto destaca a importância do papel do antigo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, absorvido pelo atual Ministério da Eco- nomia (que absorveu, também, as atribuições das pastas dos antigo Ministério da Fazenda e da Indústria), junto aos órgãos da Administração Pública, em especial, no que diz respeito às diretrizes relativas às aquisições públicas, sejam esses de bens, obras ou serviços seguindo a legislação e princípios existentes. A autora destaca, ainda, que a instituição do sistema (PGC) e a elaboração do Plano Anual de Contratações Públicas (PAC) é um exemplo de controle interno. Você já ouviu falar em PGC e PAC? Vamos lá, então, conhecer um pouco mais dos dois. Sobre os normati- vos legais que orientam e disciplinam as aquisições públicas nós tratamos no Capítulo 2 deste livro; entretanto, sob o aspecto do controle administrativo sobre essas aquisições importa ressaltar que, devido à sua importância, os países cos- tumam regulamentar o processo licitatório, ou seja, o procedimento administrativo de compras públicas, objetivando garantir transparência, isonomia, eficiência e celeridade; conforme relatado no Caderno IPEA (2021). Para Furtado (2020), a Administração Pública ainda estava se adaptando às normas sobre as aquisições públicas estabelecidas em 2018 (IN/MPDG/SEGES nº 01/2018), quando essa Instrução Normativa do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão foi revogada pela IN/SEGES/ME nº 01/2019 e sua nova redação bastante alterada, retirando algumas exigências como a Equipe de Planejamento, a elaboração dos Estudos Preliminares e o Gerenciamento de Riscos. A Instrução Normativa 01/2019 trata de regras para a elaboração do Plano Anual de Contratações (PAC) e a utilização do Sistema de Planeja- mento e Gerenciamento de Contratações – PGC, como é chamado. No cumprimento da Governança Pública, podemos entender que o Sistema de Planejamento e Gerenciamento de Contra- tações(PGC) e a elaboração do Plano Anual de Contratações Públicas (PAC) é um mecanismo de controle efetivo, e o que é melhor: tal controle foi instituído por um órgão central adminis- trativo (Ministério da Economia), exercendo desta forma, o do- mínio prévio e concomitante, sem o “ranço” punitivo do con- trole realizado “a posteriori” pelos órgãos de controle interno e externo (FURTADO, 2020, on-line). 139 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Para saber mais sobre PGC e PAC, sugerimos a leitura do texto O Planejamento e o Plano Anual de Contratações (PAC) da Adminis- tração Pública Federal (IN/SEGES/ME nº 01/2019), disponível em: https://www.mmpcursos.com.br/blog/origem-pac Para Novo (2019), é fundamental que as ações de controle interno sejam aperfeiçoadas de forma contínua e permanente para que se possam atingir níveis satisfatórios de desempenho e busca de qualidade superior nos serviços ofereci- dos aos cidadãos. Na administração Pública os mecanismos de controle existen- tes previnem o erro, a fraude e o desperdício, trazendo benefícios à sociedade. Os sistemas de controle interno devem ser orientados por princípios funda- mentais, cuja observância visa a garantir com razoável segurança que os objeti- vos estabelecidos sejam alcançados. No subitem seguinte conheceremos mais sobre o controle externo na administração pública. 2.1.2 Sistema de controle externo Já sabemos que foi disciplinado pelo art.70 da CF/88 as competências do con- trole interno e externo da União e entidades da Administração Direta e Indireta. O controle externo ocorre quando um Poder exerce controle sobre os atos administrativos praticados por outro Poder. É o exercício da função fiscalizadora dos representantes do povo sobre a Administração Pública. Na análise de Siraque (2005) o controle institucional externo é aquele reali- zado por órgão estatal estranho àqueles que foram responsáveis pela emissão do ato a ser controlado. Aponta que os sistemas de controle institucional externo são, por exemplo, aqueles de competência das Ouvidorias, do Ministério Público ou dos Poderes Legislativos, auxiliados pelos Tribunais de Contas. Correia (2005) destaca que no campo institucional da democracia, algumas inovações surgiram para desbancar as práticas de corrupção, clientelismo e fisio- logismo de quem ocupa cargos públicos nos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário; a exemplo das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), instala- das para averiguar irregularidades denunciadas, que tem tido um papel importan- https://www.mmpcursos.com.br/blog/origem-pac https://www.mmpcursos.com.br/blog/origem-pac 140 Planejamento Governamental e Controle te na elucidação e posterior punição dos envolvidos nas práticas arbitrárias. Tam- bém destaca o Ministério Público, cujo objetivo é controlar os atos praticados pelo poder público e que tem entre suas funções a de “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na CF/88, promovendo as medidas necessárias à sua garantia” (BRASIL, 1988, art. 129, on-line). A respeito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Soares afirma que a CPI é um braço do Parlamento, uma extensão das suas competências na defesa do interesse público: Não é qualquer interesse público que justifica a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito, mas apenas aquele que diga respeito às funções do Parlamento, como fiscalizar os atos da administração pública, garantir a ética, a moralidade e a legalidade no exercício da representação política, a defesa do estado de direito, o aperfeiçoamento do processo legislativo e a informação à sociedade sobre condução administrativa e política dos negócios públicos (BRASIL, 2006, on-line). O Ministério Público ganhou amplas atribuições de fiscalização na Consti- tuição de 1988, as quais estão expressas no artigo 129. Estão conceituadas em funções institucionais, como as de controlar externamente a atividade policial; promover o inquérito penal, civil e as ações penais e civis públicas; zelar pelo efetivo respeito aos Poderes Públicos e promover a garantia dos serviços públicos de relevância. Portanto, o Ministério Público é um órgão estatal que faz controle institucional externo da atividade administrativa do Estado. No tocante ao controle externo, a fiscalização não depende da vontade polí- tica das autoridades a serem fiscalizadas, diz Siraque (2005). As autoridades fis- calizadoras, ante denúncia, representação ou a notícia de eventual irregularidade, não poderão deixar de fazer a fiscalização, sob pena de incorrer em prevaricação, uma vez que têm o poder-dever de zelar pelo patrimônio público, entendido aí não somente como os bens passíveis de valoração econômica mas englobando, também, outros impassíveis de serem valorados enquanto tal, mas que merecem a mesma proteção e às vezes até maior, da sociedade e dos agentes públicos, como o meio ambiente e o patrimônio artístico, arquitetônico, histórico e cultural, as pessoas portadoras de necessidades especiais, como os deficientes físicos. Sobre a competência do controle externo diz Matias-Pereira (2010) que é exercido pelo Poder Legislativo que no âmbito da União fica a cargo do Congres- so Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU). Nos estados, o controle externo é exercido pelas Assembleias Legislativas, com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados. Nos municípios, o controle externo é exercido pelas Câmaras Municipais, com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados e, em alguns casos, dos Tribunais de Contas Municipais. 141 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 A competência principal para realizar o controle institucional ex- terno das atividades da Administração Pública foi concedida ao Po- der Legislativo, em todas as esferas da federação, o qual é auxiliado nesta função pelo Tribunal de Contas. (SIRAQUE, 2005). Ao tratar do controle externo, Meireles aponta que “o controle que se realiza por órgão estranho à administração responsável pelo ato controlado, como por exemplo, a apre- ciação das contas do Executivo e do Judiciário pelo Legisla- tivo; a auditoria do Tribunal de Contas sobre a efetivação de determinada despesa do Executivo; a anulação de um ato do Executivo por decisão do Judiciário (MEIRELES, 1991 apud MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 65). No art. 71 da CF/88 estão definidas as competências de controle externo, no âmbito federal, a serem cumpridas pelo Tribunal de Contas da União, em auxílio ao Congresso nacional. Entre elas, Matias-Pereira (2010) destaca: I- apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento; II- julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinhei- ros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público fe- deral, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; III- realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Fe- deral, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de na- tureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; IV- fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo ca- pital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; V- fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União me- diante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado,ao Distrito Federal ou a Município. 142 Planejamento Governamental e Controle O Poder Judiciário, conforme aponta Siraque (2005) no exercício da função jurisdicional, realiza uma única forma de controle: quando decide de ofício, julga e faz controle institucional externo concomitantemente. Conforme Santos (1997) o controle legislativo tem duas vertentes: a política, propriamente dita, e a técnica. O controle eminentemente político, em um pla- no soberano, objetiva fiscalizar o Estado no alcance das aspirações nacionais, exteriorizadas nos programas ou metas de governo, devidamente traçados pelo orçamento. Estes, com o advento da atual Carta Constitucional, são prévia e anu- almente fixados pela Lei das Diretrizes Orçamentárias, em consonância com o Plano Plurianual, conforme já estudamos nos capítulos anteriores. Sobre a ver- tente técnica do controle Legislativo, Santos nos explica que é um controle volta- do especificamente para a fiscalização financeira, patrimonial, orçamentária, con- tábil e operacional, cuja apreciação se processa exclusivamente sob o aspecto da legalidade, legitimidade e economicidade. Para essa incumbência têm os Poderes Legislativos como órgãos auxiliares os Tribunais de Contas e os Conselhos de Contas no âmbito das respectivas jurisdições. Santos (1997) pondera sobre a necessidade de se avaliar o equilíbrio do custo social e material para combater as irregularida- des praticadas no âmbito do serviço público e o custo com as polí- ticas voltadas para a redução dessas irregularidades, que pode ser tanto direto (representado pelas estruturas específicas de controle, em termos de recursos humanos e materiais) como indireto (tradu- zido, de modo abrangente, pela perda de eficiência organizacional, ou, em outras palavras, pelo aumento da burocracia). Alguns estudio- sos chegam a afirmar que, em certo sentido, nas organizações com elevado grau de institucionalização em suas relações, o pagamento de propinas, ou taxas de urgência, por exemplo, seria até um fator positivo a garantir um mínimo de eficiência econômica, completa ele. Por isso mesmo, o estabelecimento de mecanismos anticorrup- ção deve se conter em limites que não onerem em demasia o aparelho estatal, com custo superior aos desvios que preten- de evitar, nem comprometam seu desempenho com o aumento exagerado da burocracia. Nesse sentido, as entidades fiscali- zadoras, para bem atenderem aos reclamos das sociedades a que servem, precisam desenvolver estruturas que lhes garan- tam agilidade e eficiência, evitando a adoção de procedimentos 143 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 dispendiosos e estéreis para concentrar-se naquilo que concre- tamente represente risco para o Erário (SANTOS, 1997, p. 56). Alves (2020) analisa que controle externo, em sentido amplo, é toda fiscaliza- ção exercida por um ente que não integra a estrutura na qual o fiscalizado está in- serido; porém, a CF/88 restringiu essa definição no âmbito do controle da gestão pública brasileira atribuindo a titularidade do controle externo ao Poder Legislati- vo, representado pelo Congresso Nacional na esfera federal e pelas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais nas demais esferas, assim como pela Câmara Legislativa no Distrito Federal, explícito no art. 70 da Carta Constitucional. Sobre o controle externo, a CF/88 explicitou e ampliou as atribuições e compe- tências do Tribunal de Contas da União, consignando grandes avanços em relação ao texto constitucional anterior, afirma Santos (1997), destacando que a atuação do TCU pode ocorrer antes, durante e após a execução dos atos administrativos, con- forme citamos no início desse capítulo e dispomos no Quadro 1 abaixo. QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DO CONTROLE EXTERNO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO CONTROLE CARACTERÍSTICAS EXEMPLO Prévio A chamada fiscalização a priori pode ser exemplificada pela sistemática de exame dos atos de admissão de pessoal e de concessão de aposentadorias, reformas e pensões. Nesses casos, o ato da autoridade administrativa – admitindo pessoal ou concedendo aposentadoria – adquire executoriedade imediata; entretanto, só se torna definitivo após sua apre- ciação e aprovação pelo TCU. Concomitante O Constituinte de 1988, conferiu competência ao TCU para realizar – a qualquer tempo e por iniciativa própria, da Câmara dos Depu- tados ou do Senado Federal – inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Três Poderes. Os principais exemplos são as audi- torias e inspeções. A posteriori O TCU recebe, anualmente, documentação contábil e outros elementos relativos à atu- ação das unidades sujeitas a sua jurisdição, que são apreciados sob a forma de tomada e prestação de contas. Esses documentos, protocolados como processos, são analisa- dos sob os aspectos da legalidade, legitimi- dade, economicidade, eficiência e eficácia. Após análise conclusiva, as contas dos admi- nistradores públicos são julgadas regulares, regulares com ressalvas ou irregulares. O exame de tomadas e prestações de contas dos gestores de recursos públicos. FONTE: Adaptado de Santos (1997) 144 Planejamento Governamental e Controle Para conhecer mais sobre as características do controle externo do TCU nessa categoria de formas de controle apresentadas no qua- dro acima ver o texto de Santos (1997), disponível em: https://revista. tcu.gov.br/ojs/index.php/RTCU/article/view/1042. A fim de possibilitar o exercício do controle externo, a Carta Magna conferiu ao Tribunal de Contas da União (TCU) a missão de auxiliar o Congresso, me- diante a definição de competências próprias e privativas para a Corte de Contas (CF, art. 71). Os Tribunais de Contas, portanto, seguindo o modelo expresso na CF, são órgãos administrativos que auxiliam tecnicamente o Poder Legislativo no controle externo da gestão pública, sem, porém, lhes serem subordinados ou per- tencerem à sua estrutura. Devem ser dotados, inclusive, de independência admi- nistrativa e orçamentária. O TCU tem jurisdição própria e privativa em todo território na- cional, a qual abrange, entre outros, pessoa física ou jurídica, que utilize, arrecade, guarde, gerencie bens e valores públicos federais; aqueles que causarem perda, extravio ou outra irregularidade que resulte em danos ao erário; responsáveis pela aplicação de recursos repassados pela União mediante convênio ou instrumento congênere (MATIAS-PEREIRA, 2010). Conforme Matias-Pereira (2010), além das suas competências definidas pela CF/88, também foram aprovadas diversas leis específicas conferindo atribuições ao TCU: Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 8.666/93 e a Lei nº 14.133/21 que vigem de forma concomitante, conforme estudamos no Capítulo 2 desse livro); Lei de Desestatização (nº 9.491/97); Lei de Responsabilidade Fiscal (LC nº 101/00); edições anuais das LDO e LOA; Lei de Parceria Público-Privada (nº 11.079/04) e Lei de Contratação de Consórcios Públicos (nº 11.107/05). 145 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Além disso, o Congresso Nacional edita decretos legislativos com demandas para realização de fiscalização em obras custea- das com recursos públicos federais, com determinação expressa de acompanhamento físico-financeiro, por parte do TCU, da execução de contratos referentes a obras que constam do orçamento da União (MATIAS-PEREIRA, 2010). Conhecendo os marcos regulatórios para as ações de controle realizadas pelo TCU, podemos nos perguntar: quem são os sujeitos e os objetos do controle? Segundo Matias-Pereira (2010), os sujeitos que são controlados pelo TCU são os sujeitos passivos do controle externo, isto é, os agentes que sofrem as ações de controle.São todos que, de alguma maneira, administrem recursos pú- blicos não importa se pessoa física ou jurídica, pública ou privada, da administra- ção direta ou da indireta, do Poder Legislativo ou do Judiciário. Quem presta con- tas ao controle externo é o ente ou agente que faz a gestão dos recursos públicos, conforme art. 70, parágrafo único da CF/88. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União res- ponda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de nature- za pecuniária (BRASIL, 1988, on-line). O objeto do controle da gestão pública são os atos e contratos administrativos que envolvam receitas e despesas públicas. Ao con- trole externo compete examinar se tais atividades foram praticadas em conformidade com a lei e os princípios da administração pública, ou, ainda, se atenderam aos objetivos dos planos e programas de governo (ALVES, 2020). Os objetos do controle na administração pública são assim discriminados por Matias-Pereira (2010): 146 Planejamento Governamental e Controle • Contas de gestores de recursos públicos e contas do governo. • Gestão de recursos orçamentários e extraorçamentários. • Atos/contratos administrativos (inclusive licitações. • Aplicação de recursos descentralizados/repassados. • Arrecadação e renúncia de receita. • Transferências constitucionais e legais. • Desestatizações (privatização, concessão, autorização). • Atos de pessoal e declaração de bens/rendas. • Programas de governo e políticas públicas. • Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. • Obras públicas e patrimônio público Sobre o aspecto da eficiência, eficácia e economicidade das ações de con- trole externo realizadas pelo TCU, Santos afirma que um aspecto importante a destacar é a questão da economicida- de dos atos administrativos. A nossa experiência tem revelado que fraude e corrupção no serviço público estão invariavelmen- te associadas a um mal ainda maior: o desperdício. O descaso para com a coisa pública cria um ambiente fértil para o extravio de recursos, seja ele doloso ou não. Por isso, é fundamental que os sistemas de controle saiam da esfera da simples apre- ciação da legalidade, da observação das formalidades, e al- cancem a esfera da economicidade, da eficiência e da eficácia da ação dos administradores públicos. Impõe-se que o setor público seja cobrado por abusos de custos, por desperdícios, e não apenas por desvios comportamentais (SANTOS, 1997). Santos (1997) aponta, ainda, que o TCU na função de avaliar programas governamentais, com o que buscamos avaliar a gestão pública a partir da concep- ção e gerenciamento dos programas de governo, com atuação decisiva contra os desperdícios de recursos oficiais é, porém de difícil operacionalização. Esse enfo- que de controle, conquanto apresente resultados incomparavelmente mais signifi- cativos, é de difícil operacionalização, exigindo preparo e competência em doses muito mais elevadas por parte dos auditores. É simples verificar, por exemplo, se as formalidades de uma determinada licitação foram observadas: se a modalida- de foi corretamente escolhida, se havia prévia dotação orçamentária, se as folhas do processo foram numeradas, etc. Outra coisa, no entanto, é apurar se o objeto da licitação efetivamente atendia ao interesse público, ou se a forma escolhida para satisfazer àquela necessidade pública era a mais indicada para a situação. Você pode conhecer uma ação prática de plano de controle ex- terno elaborado pelo TCU e suas diretrizes de ação para o período de abril/2017 a março/2019, como integrante de sua finalidade de 147 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 cumprir com excelência sua missão de aprimorar a Administração Pública em benefício da sociedade por meio do controle externo. Disponível em: https://bit.ly/3HJWCSW. Ainda sobre o controle externo, podemos falar de uma importante instância de participação da sociedade no processo de formulação das políticas públicas e o acompanhamento da execução do orçamento público, no campo do controle externo das ações do Estado – os Conselhos. O número de conselhos nacionais aumentou consideravelmente desde o início da década de 1990. Enquanto, entre 1930 e 1989, foram criados apenas cinco conselhos nacionais, entre 1990 e 2009, somaram-se a eles mais 26 conselhos, tendo em vista a difusão da ideia de ampliar a participação no processo de formulação de po- líticas públicas pós-CF/1988 (Ipea, 2010a). Como consequência, a quantidade de cidadãos que passou a participar da construção das políticas por meio destes espaços foi significativa, o que requer mu- danças na forma de o Estado gerir as políticas públicas; mudanças que pressupõem, necessariamente, o conhecimento acerca de quem participa e de como funcionam estes espaços. Sobre isso, o Relatório do IPEA de 2013 aponta que a Constituição de 1988 (CF/1988), por meio de diversos artigos, definiu a participação social como neces- sária em algumas políticas específicas, e abriu espaço para a reinvindicação da partilha de poder nas mais diferentes áreas. Alguns dos conselhos foram criados a partir da regulamentação destas políticas constitucionalmente previstas, como o de saúde, assistência social e direitos da criança e do adolescente. Outros conse- lhos são resultado de demandas por participação em políticas para as quais ainda não tinham sido construídos sistemas nem institucionalidades específicas, como é o caso da segurança pública. Neste sentido, os percursos percorridos pelas diferentes áreas de políticas na direção da formalização da participação implicam uma variação muito grande de espaços (AVRITZER; PEREIRA, 2005). 148 Planejamento Governamental e Controle Os conselhos de políticas públicas são aqui entendidos como espaços públicos vinculados a órgãos do Poder Executivo, tendo por finalidade permitir a participação da sociedade na definição de prioridades para a agenda política, bem como na formulação, no acompanhamento e no controle das políticas públicas. Estes conselhos são constituídos em âmbito nacio- nal, estadual e municipal, nas mais diversas áreas. Além disso, é importante ressaltar que eles permitem a inserção de novos temas e atores sociais na agenda política. Os conselhos po- dem ser considerados instituições híbridas, visto que Estado e sociedade civil partilham o poder decisório e se constituem como fóruns públicos, que captam demandas e pactuam inte- resses específicos de diversos grupos envolvidos em determi- nada área de política (AVRITZER; PEREIRA, 2005). Os conse- lhos são espaços permanentes em que as reuniões ocorrem com certa regularidade e há a continuidade dos trabalhos (RE- LATÓRIO IPEA, 2013, on-line). Se você desejar conhecer de forma mais detalhada sobre os Conselhos, suas funções, os tipos de Conselhos e suas atuações, en- tre outros, poderá obter as informações no Relatório do IPEA (2013), disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7632 2 Com base no que você estudou nesse capítulo 3, acerca do Sis- tema de Controle na Administração Pública no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: a) ( ) O Controle hierárquico é um controle interno típico do Poder Judiciário pois decorrente da estrutura vertical do órgão. b) ( ) No âmbito da administração pública, conduta improba e con- duta antiética são sinônimas c) ( ) Podemos dizer que o controle social é parte integrante do con- trole interno d) ( ) Versa a CF/88 disciplinando o tema controle para a avaliação de desempenho e responsabilidade dos dirigentes da administra- ção pública; das competências do Congresso Nacional; da formu- lação de políticas públicas de saúde, entre outros. 149 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistemade Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 e) ( ) Destaque-se a relevância da Emenda Constitucional nº 19/98, no âmbito da gestão pública, que alterou a CF/88 inserindo o princípio da transparência na Administração Pública. 2.2 PRINCÍPIOS DO CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O controle dos gastos públicos, conforme Matias-Pereira (2010) se orienta por uma série de princípios de acordo com as disposições legais que o instituem e o regem. A Administração Pública segue princípios como os previstos no art. 6º do Decreto-Lei nº 200/67, que estabelece que as atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios fundamentais: I- Planejamento. II- Coordenação. III- Descentralização. IV- Delegação de Competência. V- Controle. Com a promulgação da Constituição de 1988, inovações significativas foram introduzidas na dinâmica e no conteúdo do controle dos atos que geram despesas para os cofres públicos. Conforme previsto em diferentes dispositivos da CF/88, Matias-Pereira (2010) identificou os seguintes tipos de controle, exercitados pelos órgãos encarregados da fiscalização, ilustrado no Quadro 2, abaixo. QUADRO 2 – PRINCÍPIOS E TIPOS DE CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PRINCÍPIOS CARACTERÍSTICAS Princípio da Universalidade Todos os gestores públicos estão submetidos ao controle. Essa imposição das normas enquadra, do ponto de vista hierárquico, desde os mais graduados aos mais inferiores na escala funcional: Presidente da República, Governadores de Estados, Prefeitos Mu- nicipais e demais administradores e entidades que manipulam re- cursos públicos. Princípio da Totalidade A totalidade do patrimônio público – dinheiro, bem e valores – está submetida ao controle. 150 Planejamento Governamental e Controle Princípio da Legalidade O controle deve ter uma estreita obediência aos ditames legais que regem a sua atuação. Essas normas são explicitadas na CF e na Legislação Complementar e Ordinária, bem como em normas regi- mentais, de âmbito federal, estadual ou municipal, conforme o caso. Esse princípio impõe ao controle que se sujeite às normas jurídicas e não as extrapole, sob pena de invalidar-se sua ação controladora. Princípio da Imparcialidade As ações devem ser implementadas sem que se permita intromissão de questões de ordem política no desenvolvimento das atividades. Princípio da Autonomia Princípio essencial ao exercício do controle, tanto para garantir a sua existência como para viabilizar o exercício de suas atividades. Princípio da Independência O controle está obrigado a manter independência em relação a todos os agentes políticos ou servidores públicos, qualquer que seja sua posição na escala hierárquica da Administração Pública. FONTE: Adaptado de Matias-Pereira (2010) A lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, também traz alguns princípios que regem a Administração Pública, como: “Art. 2o A Administração Pública obedece- rá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilida- de, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídi- ca, interesse público e eficiência” (BRASIL, 1999, on-line). Na concepção de Matias-Pereira (2020) o conceito do princípio de eficiência, EC/19/98, tem como base o interesse econômico, na medida em que orienta a atividade administrativa a elevar o seu nível de desempenho, buscando atingir melhores resultados com o menor custo possível, a partir do emprego dos meios e instrumentos que já dispõe. Para Meirelles (2018) o princípio da eficiência é destacado como um dos de- veres da administração. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resul- tados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessida- des da comunidade e de seus membros. Siraque (2005), analisando o princípio da eficiência destaca que a aplicação desse princípio não depende da vontade do agente público, até porque o agente público não realiza as atividades administrativas conforme suas vontades, mas segundo os enunciados legais, em especial, os constitucionais. Para ele, o prin- cípio da eficiência, a exemplo dos demais princípios da Administração Pública, obriga o agente estatal a realizar suas atividades conforme e na forma dos dita- mes legais e acredita que o princípio da eficiência administrativa é a utilização de todos os meios técnicos administrativos possíveis para concretizar os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil de acordo com a parcela de com- 151 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 petência que tiver o agente público da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Se desejar conhecer mais sobre os princípios que norteiam a função administrativa do Estado, sugiro a leitura de Siraque (2005), referenciado ao final do livro. 2.3 TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO FISCAL E O CONTROLE SOCIAL Na distante Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1789, on-line), em seu art. 5º, está previsto que “a sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração”. Se você quiser saber mais sobre a Declaração de Direitos do Ho- mem e do Cidadão assista o vídeo disponível em: https://bit.ly/3pI0lKy. No debate sobre o controle na administração pública torna-se relevante dis- cutir a questão da transparência do Estado brasileiro e de que forma esse meca- nismo se manifesta na trajetória histórica do país. Vamos conhecer agora como essa proposta de transparência foi incluída na agenda governamental brasileira. A proposta de elevar o nível de transparência do Estado brasileiro foi incluída na agenda política de controle social com o fim do período de autoritarismo que vi- gorou de 1964 a 1985, conforme nos aponta Matias-Pereira (2010). Os conceitos de transparência e accountability estão profundamente enraizados nos estudos, relatórios, ações e atividades que envolvem a administração pública, afirma Ma- tias-Pereira (2020). 152 Planejamento Governamental e Controle Sobre os conceitos de governabilidade, governança e accounta- bility e o referencial teórico sobre o tema sugerimos a leitura do livro de Matias-Pereira (2010) referenciado ao final do livro. Já conhecemos nos capítulos anteriores deste livro que com a crise do ca- pitalismo na década de 1970, as ideias neoliberais ganharam força no mundo. A concepção neoliberal de sociedade e de Estado se apresenta como uma retoma- da da tradição do liberalismo clássico dos séculos XVIII e XIX, em cuja concepção essas teorias apregoam que as funções do Estado devem ser orientadas prefe- rencialmente para garantir os direitos individuais, eximindo-se de interferir nas es- feras da vida pública e, de forma específica, na esfera econômica da sociedade. Por outro lado, observa Matias-Pereira (2020) que o papel do Estado aumenta à medida em que a economia se desenvolve e, nesse contexto, buscam-se formas para melhorar o desempenho do Estado. As medidas que podem ser adotadas para melhorar o desempenho da administração pública devem considerar diver- sos mecanismos que podem ser utilizados pelos governos para promover essas mudanças, entre esses instrumentos destacam-se o processo orçamentário, o sistema de gestão de pessoal, o papel do Estado (devolução, privatização) e a transparência. De todos esses instrumentos, na opinião de Matias-Pereira (2020), o mais significativo para assegurar a legitimidade do governo junto à população é a transparência. Na perspectiva de Matheson, a administração pública moderna requer servidores politicamente responsáveis e capazes de interagir com grupos sociais diversos; requer pessoas intelec- tualmente preparadas para analisar problemas complexos e oferecer assessoramento para solucioná-los; requer equipes suficientementeestáveis para assegurar que o conhecimento institucional permanece independentemente das mudanças de governo; e por fim requer uma base ética profissional de for- ma que os políticos recebam dos servidores assessoramento apartidário e os cidadãos recebam tratamento equânime (2006 apud MATIAS-PEREIRA, 2020, p. 15). A compreensão de todo essa conjuntura que envolve o papel do Estado na perspectiva de regulador da economia, na interface política da gestão dos recur- sos fiscais e sua função social, entre outros, é fundamental para você, aluno e aluna, compreender toda essa temática do sistema de controle na administração pública brasileira; sua fundação e os mecanismos de controle criados para fiscali- 153 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 zar, acompanhar e controlar as ações governamentais, sob a ótica da transparên- cia, da governança, accountability e controle social. No final dos anos 1980, o termo governança (governance) res- surgiu nas ações e decisões do Banco Mundial, em decorrência da percepção de que havia problemas de “má governança” nos países em vias de desenvolvimento. Assim, as administrações dos países do Sul deveriam ser reformadas para melhor responder às exigên- cias da eficácia e da rentabilidade economicistas inerentes aos pro- gramas do Banco. Nesse contexto, surgiram um conjunto de progra- mas nacionais de reforma do Estado (programas nacionais de “boa governança”) na África, na Ásia e na América Latina. Esses progra- mas foram (e são) frequentemente acompanhados de políticas de descentralização e de formação das técnicas do new public manage- ment (MATIAS-PEREIRA, 2010). O conceito de transparência remete à questão da visibilidade do funciona- mento do Estado, o que contribui para o fortalecimento da cidadania e, em última instância, da democracia. A transparência, dessa forma, como aponta Matias-Pe- reira (2020) se torna essencial para permitir que os controles burocráticos sejam substituídos por controles sociais. Nesse sentido, o termo transparência é utiliza- do como um dos requisitos de controle da sociedade civil sobre o Estado. No campo político, é significativo o número de países que vem optando pela democracia como sistema de governo. Em grande parte do planeta, especialmen- te na região latino-americana, os governantes têm sido eleitos de forma democrá- tica (voto popular), em decorrência disso está havendo maior participação popular na vida política dos países. A sociedade vem se preocupando e exigindo maior transparência na gestão pública, com o combate à corrupção e com a cobrança da responsabilidade dos gestores públicos. No que se refere às mudanças no Brasil, sustenta Mattos que Diante desse quadro normativo, a mudança na forma de atua- ção do Estado como agente normativo e regulador da atividade econômica conforme previsto no art. 174 da Constituição Fe- deral de 1988 constitui o principal elemento de transformação jurídico-institucional introduzido pelo projeto de reforma do Es- tado no Brasil. E o que caracteriza e define tal mudança é a 154 Planejamento Governamental e Controle criação de agências de regulação como órgãos responsáveis por certos setores da economia, principalmente por aqueles caracterizados de infraestrutura e serviços públicos, com fun- ções normativas e reguladoras orientadas especialmente pelos princípios constitucionais da livre concorrência e da defesa do consumidor (2002, p. 45). Vimos nos subitens anteriores o relato sobre a criação em 2003 do site Portal da Transparência, que permite aos cidadãos consultar a destinação dos recursos públicos; iniciativa que estimula o controle social e o fortalecimento da cidadania. Dessa forma, a credibilidade das instituições e dos agentes públicos se transforma em um elemento fundamental para dar legitimidade ao sistema político e para tal faz-se necessário um esforço governamental para controlar a corrupção como uma medida indispensável no processo de recuperação da legitimidade das instituições. Argumenta Jardim (2001 apud Matias-Pereira, 2010, p. 56) que “a busca pela transparência do Estado brasileiro foi inserida na agenda política de democra- tização do país, após 21 anos de ditadura militar”. Sabemos que a proposta de transparência da gestão dos recursos públicos foi incluída na agenda política de controle social. Para Matias-Pereira (2010), a democratização do Estado tinha como um dos pressupostos o controle do seu aparelho pela sociedade civil. As- sim, reforça que a transparência do Estado, expressa na possibilidade de acesso do cidadão à informação governamental, constituía um requisito essencial. Sobre a prestação de contas no âmbito dos Poderes do Estado brasileiro, a Lei de Reponsabilidade Fiscal, no seu art. 56 define que as contas prestadas pelos chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos Presi- dentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público (referidas no art. 20 da LRF), as quais receberão parecer prévio, separa- damente, do respectivo Tribunal de Contas. Se você quiser conhecer mais sobre as prestações de contas dos agentes públicos e órgãos governamentais, visite o site do Tribu- nal de Contas da União, disponível em: https://portal.tcu.gov.br/con- tas/contas-e-relatorios-de-gestao/prestacao-de-contas.htm Ao tratar dos conceitos de “transparência e prestação de contas”, Silva et. al (2018, apud Matias-Pereira, 2020) assinalam que o conceito (e o ato) de presta- 155 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 ção de contas pode ter diferentes significados dependendo dos atores, do contex- to e do propósito; mas, independentemente das diversas abordagens do conceito, nas sociedades modernas e democráticas é exigido às organizações públicas que prestem contas sobre a gestão dos recursos públicos: quanto, como, onde e quais resultados foram obtidos. A transparência, para a European Commission, refere-se à di- vulgação de documentos relevantes e outras informações sobre a tomada de decisões do governo e atividade do governo para o públi- co em geral de uma forma que seja relevante, acessível, oportuna e precisa (MATIAS-PEREIRA, 2020). A Comissão Europeia, no sentido de promover o funcionamento mais trans- parente das entidades governamentais, fez três recomendações, conforme as- sinalou Matias-Pereira (2020), as quais são norteadores para os governos que primam pelo seguimento dos princípios da transparência, governança e accoun- tability em suas ações governamentais; demonstradas na sequência: • Recomendação 1: tomar mais medidas legislativas sobre “acesso à infor- mação”. Reforçar a legislação existente no sentido de conferir mais direi- tos aos cidadãos e solicitar acesso à informação ou até obrigar a admi- nistração pública a disponibilizar proativamente informação relacionada com contratos governamentais, gastos do governo, reuniões de políticos e altos funcionários, entre outros tópicos. • Recomendação 2: existência de mecanismos de controle para priorizar e acompanhar a publicação de informação de alto valor democrático. Além de fortalecer o acesso à legislação de informação, os governos devem adotar uma política de autorregulação e corregulação para encorajar a ad- ministração pública a disponibilizar informação de alto valor democrático. • Recomendação 3: alinhar práticas de gestão da informação. Para torna- rem-se mais transparentes e responsáveis, os governos deverão adotar práticas consistentes de gestão de informação, adequando a estrutura organizacional, adotando procedimentos, padrões de metadados e fer- ramentas de software. A adoção destas medidas poderá contribuir tam- bém para melhorar a eficiência e a eficácia dos processos administrati- vos subjacentes. 156 Planejamento Governamentale Controle Para fins de transparência e acesso à informação, o governo brasileiro publica as ofertas de acesso a mercado de bens, serviços e estabelecimento e compras governamentais, resultantes da con- clusão da negociação da parte comercial do Acordo de Associação entre Mercosul e União Europeia (UE), conforme anúncio realizado em 28 de junho de 2019, em Bruxelas, na Bélgica. Disponível em: https://bit.ly/3tx6fiL. O inciso VII, § 22, art. 40, CF/88, incluído pela Emenda Constitucional nº 103/2019, que trata sobre o fundo público dos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos define que lei complementar estabelecerá normas gerais sobre a estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, observados os princípios relacionados com governança, controle interno e transparência. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade. A prestação de contas da União conterá demonstrativos do Tesouro Nacional e das agências financeiras oficiais de fomento, incluído o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, especificando os empréstimos e financiamentos concedidos com recursos oriundos dos orçamentos fiscal e da seguridade social e, no caso das agências financeiras, ava- liação circunstanciada do impacto fiscal de suas atividades. Disponível em: https://www.garrastazu.adv.br/instrumentos-de- -transparencia-fiscal-no-planejamento-e-controle-do-gasto-publico Acerca da transparência da gestão fiscal, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal, podemos dizer que o sistema de transparência é formado pelo orçamen- to, pela LDO, pelas prestações de contas, pelos respectivos pareceres prévios, 157 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 pelo Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) e pelo Relatório de Gestão Fiscal. E ainda, conforme a Lei de Responsabilidade Fiscal, os entes da Federação tem obrigação de disponibilizar informações a qualquer pessoa física ou jurídica referente às despesas e receitas públicas: • quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do corres- pondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao pro- cedimento licitatório realizado; • quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. O RREO é um dos instrumentos de transparência da gestão fis- cal e deve ser publicado até trinta dias após o encerramento de cada bimestre. Está previsto na Constituição no § 3o do art. 165 e abrange todos os Poderes e o Ministério Público. O Relatório de Gestão Fis- cal (RGF) é um dos instrumentos de Transparência da Gestão Fis- cal criados pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e deve ser pu- blicado até trinta dias após o encerramento de cada quadrimestre. Disponível em: https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/ contabilidade-e-custos/relatorio-de-gestao-fiscal-rgf-uniao/#item-vi- sualizacao. O que podemos dizer sobre como é assegurada a transparência do gasto público? Como é possível que essa transparência ocorra? Bom, segundo a LRF que já vimos, a transparência deve ser assegurada mediante incentivo à partici- pação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de ela- boração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. Ocorrerá, ainda, mediante a liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e com a ado- ção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda ao padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art165%C2%A73 158 Planejamento Governamental e Controle Você pode ter acesso, por exemplo, ao Relatório de Gestão Fis- cal do Estado de Alagoas do 2º quadrimestre de 2021, disponível no Portal de Transparência daquele Estado em: http://transparencia.al. gov.br/portal/relatorio-de-gestao-fiscal EXEMPLO DE PARTICIPAÇÃO POPULAR Acadêmicos da Universidade da Maturidade (UMA) - Programa de Extensão da Universidade Federal do Tocantins (UFT) – junta- mente com o coordenador do Programa, Luiz Sinésio Neto, partici- param nesta quinta-feira (30), no Senado Federal, de uma audiência pública. A audiência, organizada pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), teve por finalidade debater sobre a relevância da instituição, por Projeto de Lei, da Semana Nacional da Pessoa idosa. Disponível em: https://ww2.uft.edu.br/index.php/es/ultimas-noticias/25382-inte- grantes-da-uma-participam-de-audiencia-publica-no-senado-federal. A Constituição brasileira de 1988 prescreve no artigo 1º, parágrafo único, que: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de repre- sentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Você sabe a que poder do povo a CF/88 se refere? Vamos lá conhecer? Siraque (2005) aponta que o poder ao qual a Constituição se refere desdo- bra-se em dois aspectos: 1- o poder político, isto é, o direito político de participar das decisões refe- rentes à formação dos atos normativos do Estado; 2- o direito público subjetivo de fazer controle da execução das decisões políticas, tanto aquelas constituídas diretamente pelo povo, quanto aque- las constituídas por meio dos representantes eleitos. Esse último é o que chamamos de controle social e ao poder político po- demos chamar de participação popular. Embora estabeleça diferenças entre as 159 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 expressões participação popular e controle social, o autor afirma que ambos com- põem o exercício da soberania popular. Para ele, participação popular é poder político, partilha de poder entre o Estado e a sociedade, essencialmente para a elaboração de normas jurídicas e controle social é direito público subjetivo à fisca- lização das atividades do Estado. Esse poder do povo, no aspecto político, é chamado de participação popular que pode ocorrer por meio do voto, do referendo, da iniciativa popular, do plebis- cito, de projetos de leis, da participação nas conferências temáticas, audiências públicas, na composição dos conselhos de políticas públicas e participação na elaboração da lei orçamentária anual (LOA) que já estudamos nos capítulos ante- riores. Esse poder é o direito do povo participar da formulação e acompanhamen- to das políticas públicas, participar das decisões relativas à elaboração dos atos normativos do Estado. Sobre esse poder do povo em participar da formulação das políticas públicas um registro importante de se fazer é sobre as Conferências Nacionais de Saúde, marco da participação cidadã na Constituição Federal de 1988. As Conferências Nacionais de Saúde (CNS) representam um importante momento de avaliação da situação da saúde no país e de formulação de diretrizes para as políticas públicas no setor, reunindo cidadãos pela defesa da garantia de direi- tos, em atenção às necessidades da população. Um exemplo é a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, um marco na história da saúde no Brasil, que forneceu as bases para elaboração do capítulo sobre saúde na Constituição Fe- deral de 1988 e criação do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, CNS, 1988, on-line). Plebiscito e referendo são consultas ao povo para decidirso- bre matéria de relevância para a nação em questões de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. A principal distinção entre eles é a de que o plebiscito é convocado previamente à criação do ato legislativo ou administrativo que trate do assunto em pauta, e o referendo é convocado posteriormente, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta. Disponível em: https://www.tse.jus.br/eleicoes/plebiscitos-e-refe- rendos 160 Planejamento Governamental e Controle Nos últimos 20 anos, houve no Brasil um plebiscito, em 1993, e um referendo, em 2005. A Constituição de 1988 estabeleceu a realização de um plebiscito para que os eleitores opinassem sobre qual o sistema de governo deveria ser adotado no país – monarquia parlamentar ou República; parlamentarismo ou presi- dencialismo. A consulta popular foi feita em 1993 e venceram a República e o presidencialismo. Sobre o referendo em 2005: o Congresso Nacional aprovou o Estatuto do Desarmamento com uma cláusula determinado a realização de referendo sobre a libe- ração da compra de armas. Em 2005, os eleitores foram consul- tados sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições. Na ocasião, as opções eram sim, a favor da proibição, ou não, contra. A maioria do eleitorado optou pelo não. Fonte: https://memoria.ebc.com.br/noticias/politica/2013/06/ nos-ultimos-20-anos-brasil-fez-um-plebiscito-e-um-referendo Após trazer algumas referências sobre o poder político do povo na partici- pação do controle das atividades estatais, abordaremos agora o poder chamado direito público subjetivo de controle das atividades do Estado: o controle social. Você sabe o que é o controle social? Decerto já ouviu falar alguma vez, mas agora é a hora de esclarecer para você do que trata esse mecanismo. Vamos conhecer um pouco mais do que se chama o controle social no Brasil. Além das formas de controle institucional (con- trole interno e controle externo) que você acabou de conhecer, a luta dos movi- mentos sociais organizados pela redemocratização do país e pela abertura de ca- nais de participação da sociedade na gestão pública, consagrou o paradigma do controle social. Após vinte anos de ditadura militar em que predominou uma forte centralização das decisões, sobretudo no Poder Executivo Federal em que foram cerceados os direitos a livre manifestação do pensamento e outras garantias in- dividuais, as propostas discutidas durante o período de abertura democrática nos anos 1980 convergiam para a superação desse Estado autoritário. Era imperativo e urgente ampliar a participação nas decisões e descentralizar a gestão pública, aproximando as decisões do Estado do cotidiano do cidadão. 161 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 O controle social é realizado por um particular, por pessoa estra- nha ao Estado, individualmente, em grupo de pessoas ou através de entidades juridicamente constituídas, sendo que neste caso não há necessidade de serem estranhas ao Estado, mas há necessidade de pelo menos uma parte de seus membros serem eleitos pela socieda- de (SIRAQUE, 2005). A finalidade do controle social na concepção de Siraque (2005), é de verificar se as decisões tomadas, no âmbito estatal, estão sendo executadas, conforme aquilo que foi decidido e se as atividades estatais estão sendo realizadas confor- me os parâmetros estabelecidos pela Constituição e pelas normas infraconstitu- cionais. Assim, o controle social poderá existir no sentido de verificação do mérito (conveniência e oportunidade) de uma decisão estatal ou da sua legalidade. O controle social está classificado na categoria dos direitos e garantias indi- viduais, mas não visa atender somente ao interesse individual das pessoas en- quanto tais, mas ao interesse público, ao bem comum, ao interesse da sociedade, da coletividade, da cidadania e das próprias finalidades do Estado. O interesse finalístico do controle social é, na prática, o controle das ações dos governos, dos agentes da Administração Pública, tendo como interesse maior o objetivo de fis- calizar as autoridades administrativas do Estado para saber se estão agindo con- forme as normas constitucionais, especialmente as do artigo 37 da Carta Magna. 162 Planejamento Governamental e Controle FIGURA 2 – CONTROLE SOCIAL FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-01-Dimensoes-teoricas- para-o-Controle-Social_fig1_336139316>. Acesso em: 30 nov. 2021. Conforme Siraque (2005), o controle social é um direito público subjetivo e o controle institucional é ao mesmo tempo direito e dever de ofício. Aponta ele que a essência jurídica do controle social está nos direitos fundamentais de informa- ção, de petição e de certidão dos órgãos públicos e nos princípios da publicidade, da legalidade, da indisponibilidade do interesse público, da soberania popular e, em especial, no republicano e que as garantias jurídicas para o exercício do di- reito fundamental ao controle social estão no mandado de segurança individual e coletivo, na ação popular, no habeas data, no habeas corpus, no mandado de injunção e na ação civil pública. Por outro lado, as limitações jurídicas ao controle social encontram-se na colisão de direitos, nas informações e documentos sigilo- sos e nas petições com abuso, absurdo ou má-fé. Existem fatores extrajurídicos que podem promover ou prejudi- car o exercício do direito fundamental ao controle social. Entre os fatores que o limitam estão o clientelismo e o assistencia- lismo político, o tráfico de influências junto aos órgãos públi- cos e as dificuldades de acessibilidade à função jurisdicional do Estado. Entre os fatores que o promovem, destacam-se os conselhos de políticas públicas, as organizações não governa- mentais, as ouvidorias, a liberdade de imprensa, o planejamen- to e o orçamento participativos. (SIRAQUE, 2005, p. 58). Como exemplo de pessoas jurídicas de caráter público, podemos citar os Conselhos de Saúde e a Ordem dos Advogados do Brasil, os quais foram institu- ídos por lei. Citamos como exemplo de entidades de caráter privado que podem 163 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 fazer o controle social todas as organizações não governamentais constituídas hão mais de um ano, desde que tal finalidade conste de seus estatutos sociais, aponta Siraque (2005). Para conhecer uma experiência prática de participação direta da sociedade no controle das ações do Estado, conheça o estudo de caso realizado no Estado do Tocantins por Santos et. al. (2019), que relataram quando os atores locais se organizaram em rede para controlar as ações daquele Estado no âmbito da Política de Ciência e Tecnologia. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rts/article/ view/8412. Siraque (2005) nos aponta ainda que o controle social é o ato realizado in- dividual ou coletivamente pelos membros da sociedade, por meio de entidades juridicamente organizadas ou não, através dos diversos instrumentos jurídicos co- locados à disposição da cidadania para fiscalizar, vigiar, velar, examinar, inquirir e colher informações a respeito de algo. O “algo” a ser controlado é o resultado do exercício da função administrativa do Estado. O controle social da função ad- ministrativa do Estado tem, assim, a finalidade de submeter os agentes que exer- cem função administrativa junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário ao controle da sociedade. O controle social manifesta-se de diversas formas. Podemos ci- tar as seguintes: vistas a processos administrativos e judiciais nos órgãos públicos que eles estiverem disponíveis, leitura do Diário Ofi- cial, requerimento ou petição solicitando certidões ou informações junto aos órgãos públicos, carta, denúncias, representação, reclama- ção verbal à própria administração,ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas, ao Legislativo, ações judiciais. 164 Planejamento Governamental e Controle Matias-Pereira (2010) aponta as fontes do controle social: • Lei nº 8.429/92 – Lei da Improbidade Administrativa. • Lei nº 9.452/97 – Informar às Câmaras de Vereadores a realização de convênios. • Lei nº 9.755/98 – Lei das Contas Públicas. • Legislação de Programas de Governo. Os mecanismos de controle social, na concepção de Moura (2020), são ca- pazes de auxiliar no acréscimo de efetividade da promoção de bens e serviços para realização dos direitos sociais sem que importe na ocupação do espaço legí- timo de discricionariedade da Administração Pública na concretização das normas constitucionais. É possível que o controle social faça o seu papel no espaço da democracia participativa. Sobre os instrumentos de controle social nas políticas públicas já existentes e os que foram criados, você pode consultar a pesqui- sa de Moura (2020), disponível em: http://seer.unirio.br/cdpp/article/ view/9525. 3 O controle social está classificado na categoria dos direitos e ga- rantias individuais, mas não visa atender somente ao interesse individual das pessoas enquanto tais, mas ao interesse público, ao bem comum, ao interesse da sociedade, da coletividade, da cidadania e das próprias finalidades do Estado. Sobre o controle social, aponte a alternativa incorreta: a) ( ) O controle social é um direito público subjetivo. b) ( ) O controle social pode se manifestar em forma de denúncia. c) ( ) O controle social tem como finalidade o controle das ações das empresas privadas. O interesse finalístico do controle social é, na prática, o controle das ações dos governos, dos agentes da Administração Pública. d) ( ) O controle social pode ser realizado por entidade de caráter privado, como uma ONG – Organização Não Governamental, por exemplo. 165 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Ao menos trinta artigos do texto constitucional expressaram pre- ceitos que incentivaram experiências de gestão pública participativa. No que se refere à arquitetura da participação, a Constituição Fe- deral de 1988 (CF/1988) traçou princípios e diretrizes, tais como, a cidadania como fundamento do Estado democrático (Artigos 1o, 5o , 8o , 15 e 17), os deveres sociais em questões coletivas (Artigos 205, 216, 225, 227 e 230) e o exercício da soberania popular (Artigos 14, 27, 29, 58 e 61), e também tratou da participação social como forma de gestão pública (Artigos 10, 18, 37, 74, 173, 187 e 231). Na institu- cionalização de mecanismos de participação nas políticas públicas, impulsionada pela CF/1988, destaca-se como elemento da arquitetu- ra da participação a descentralização administrativa com gestão par- ticipativa, em particular na seguridade social (Artigo 194), na saúde (Artigo 198), na assistência social (Artigo 203) e na educação (Artigo 206). Relatório de Pesquisa IPEA 2013, disponível em: http://reposi- torio.ipea.gov.br/handle/11058/7632 Siraque (2005) assinala que existem diversos fatores extrajurídicos que podem dificultar ou contribuir com o controle social da função administrativa do Estado. Entre os fatores que promovem o controle social, ele cita a educação política do povo para a organização e para a participação nos negócios do Estado. Afirma que os mecanismos, canais ou instrumentos de participação nos negócios esta- tais são numerosos; entre eles, o orçamento participativo, o planejamento partici- pativo, as organizações não governamentais, os meios de comunicação social, os conselhos de políticas públicas e as ouvidorias. Por outro lado, como fatores limi- tadores do controle social da função do administrativa do Estado, Siraque (2005) aponta o clientelismo político, tráfico de influências, assistencialismo ou pater- nalismo político, dificuldades de acesso ao poder judiciário, as dificuldades para acessar as informações públicas, a falta de cultura participativa e de fiscalização. O estudo detalhado dos fatores que podem contribuir ou dificul- tar o exercício do controle social você pode encontrar no livro de SI- RAQUE (2005) referenciado ao final do livro ou arquivo .pdf em site de busca pelo título: “O Controle Social da Função Administrativa do Estado: possibilidades e limites na Constituição de 1988”. 166 Planejamento Governamental e Controle Você pode conhecer sobre as experiências de orçamento par- ticipativo nos municípios brasileiros no artigo de Somer et al. Dispo- nível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Dialogo/article/ view/3733. Moura (2020) aponta que ao Poder Judiciário, na sua função contra-majoritá- ria, cabe exercer o controle dos atos políticos restrito à proteção dos princípios e regras constitucionais em face do interesse da maioria, reconduzindo sempre que possível sua argumentação à razão prática, de forma a garantir a legitimidade e a racionalidade de suas decisões, porém, é inevitável a tensão entre democracia e constitucionalismo. Por fim, no sistema representativo, o campo adequado para o debate sobre a conveniência da decisão política é o controle social, através de mecanismos que variam desde a mobilização da sociedade civil na fiscalização da gestão pública, até a responsabilização política através de eleições competitivas. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Quando nos depararmos em nosso cotidiano com notícias de fraudes em licitações, obras superfaturadas e tantas outras situações que tem em comum a má gestão ou na linguagem popular, os desvios de recursos públicos, poderemos contar com o conteúdo do estudo dessa disciplina para relacionar essas notícias com o que aprendemos em nosso estudo sobre as ações de controle exercidas na Administração Pública brasileira, seja por um órgão dos entes federativos, seja por um indivíduo, seja pela sociedade organizada. Na elaboração desse livro buscamos examinar o sistema de planejamento governamental e o controle como um organismo vivo, que sofre interferências dos movimentos e transformações do mundo, no campo econômico, social, cultural e político, que impactam as relações do Estado com a sociedade. Observamos como essas relações se comportam na breve reconstituição histórica que elabo- ramos nestas páginas. Com o estudo dos instrumentos do planejamento governa- mental nos foi possível compreender que os processos da ação governamental têm relações de interdependência e ocorrem de forma sistêmica, e sua conforma- ção, amparada nos marcos legais, são articuladas pelas funções do planejamen- to, elaboração e execução do orçamento público, acompanhamento, avaliação e controle, sempre com o objetivo da transparência na gestão da coisa pública. 167 Sistema de Controle na Administração Pública no BrasilSistema de Controle na Administração Pública no Brasil Capítulo 3 Os desafios da gestão pública no mundo contemporâneo seguem além da proposta que almejamos abordar nesse estudo e, por não pretender esgotar o tema devido à sua complexidade, deixo a seu cargo aprofundar o estudo nas vá- rias obras que referenciamos ao longo do livro, tarefa de pesquisa própria e ine- rente ao estudo acadêmico na perspectiva da ampliação do conhecimento. Aponta Matias-Pereira (2020) que as transformações em curso no mundo contemporâneo, que provocam incertezas no ambiente, também estão gerando novas oportunidades e impulsionando avanços tanto no setor privado como no pú- blico. Podemos argumentar frente a essa tendência que os esforços para viabilizar a inclusão, geração de oportunidades, redução da desigualdade, manutenção do crescimento econômico sustentável e a melhoria das condições socioambientais são os principais desafios com que grande parte dos governantes, especialmente na América Latina, se defronta nesta terceira década do século XXI. É nesta perspectiva de um mundo em transformaçãoque deixo essa contri- buição para você que esteve conosco na construção dessa trajetória de apren- dizado. Desejando que os objetivos a que você se propôs ao se inscrever nessa disciplina tenham sido alcançados, aqui nos despedimos, esperando que nos en- contremos em novas oportunidades. REFERÊNCIAS ALVES, R. Controle Externo para TCE-RJ. Disponível em: https://1library.org/ document/zwo3vx7y-aula-00-controle-externo-para-tce-rj-prof-erick-alves-todos- os-cargos-1-de-66-prof-erick-alves-aula-00.html Acesso em: 4 dez. 2021. AVRITZER, L.; PEREIRA, M. L. D. Democracia, participação e instituições híbridas. Teoria e sociedade: instituições híbridas e participação no Brasil e na França, número especial, p.16- 41, 2005. BRASIL. Lei nº 8.429 de 02.06.1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l8429.htm Acesso em. 25 nov. 2021 CAVALHEIRO, J. B. A organização do sistema de controle interno dos municípios. Porto Alegre: CRCRS, 2003. CORREIA, M. V. C. Desafios para o controle social: subsídios para a capacitação de conselheiros de saúde. 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