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HISTÓRIA E CONCEITOS DE 
SAÚDE PÚBLICA
W
B
A
01
22
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2.
1
2
Mariana da Silva Castro Vianna
Londrina 
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 
2020
HISTÓRIA E CONCEITOS DE SAÚDE PÚBLICA
1ª edição
3
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Henrique Salustiano Silva
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa
Revisor
Danielle Leite de Lemos Oliveira
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ 
Vianna, Mariana da Silva Castro
V617h História e conceitos de saúde pública/ Mariana da Silva 
 Castro Vianna, – Londrina: Editora e Distribuidora 
 Educacional S.A., 2020.
 47 p.
 ISBN 978-65-5903-082-8
1. Primeira República. 2. Nova República. 3. Sistema Único de Saúde. I. Título.
 
CDD 341.76 
____________________________________________________________________________________________
Raquel Torres – CRB 6/2786
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
4
SUMÁRIO
Do Brasil Colônia à Primeira República ______________________________ 05
Da Era Vargas à 4ª República – 1930 a 1964 ________________________ 21
Ditadura militar e Reforma Sanitária Brasileira – 1964 a 1988 ______ 38
Sistema Único de Saúde ____________________________________________ 55
HISTÓRIA E CONCEITOS DE SAÚDE PÚBLICA
5
Do Brasil Colônia à Primeira 
República
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira
Objetivos
• Conhecer os principais aspectos do cuidado à saúde 
no Brasil, desde o início da colonização portuguesa. 
• Compreender a relação dos fatos históricos com o 
início das políticas de saúde no Brasil. 
• Refletir sobre a influência dos eventos históricos nas 
formas de cuidar da saúde das pessoas. 
6
1. Brasil Colônia – 1500 a 1808
Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles 
a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem 
entendem em nenhuma crença.(…) Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, 
muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra 
com arvoredos, que nos parecia muito longa. (…) Porém, o melhor fruto, 
que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve 
ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (BRASIL, 1500, 
p. 14)
A chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, dá início ao período à 
colonização brasileira. Como a carta de Pero Vaz de Caminha descreve, 
já existiam povos que habitavam essas terras e que, embora possuíssem 
hábitos e cultura diferentes daquelas praticadas na Europa, tinham 
formas de organização social variadas conforme cada tribo.
O encontro entre europeus e indígenas brasileiros trouxe muitos 
problemas de saúde – para os índios, doenças como sarampo, gripes e 
varíola causaram a morte de grande parte dos nativos brasileiros, sem 
defesas imunológicas contra os agentes causadores dessas doenças. 
Segundo Edler (2018), desde o seu início, a colonização brasileira foi 
marcada por essa relação entre saúde e doença, havendo poucos (ou 
nenhum) recursos para o combate aos agravos e às doenças mais 
comuns nesse período.
O período conhecido como Brasil Colônia se inicia com a chegada dos 
portugueses em 1500 e termina com a vinda da família real portuguesa 
ao Brasil, em 1808. Esse período, de pouco mais de 300 anos, possui 
vários atores: os índios, os negros escravizados e os portugueses e 
demais europeus, que vieram para essas terras. Do primeiro contato 
com os nativos brasileiros até a expansão da colônia, o cuidado à saúde 
das pessoas (principalmente os europeus) foi baseado em crenças 
7
populares e religiosas, próprias ao pouco conhecimento científico 
existente à época (GURGEL, 2009).
Figura 1 – Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 
1500 – óleo sobre tela de Oscar Pereira da Silva (1922)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_
Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg. 
Acesso em: 7 jan. 2021.
O início da exploração da colônia foi marcado pela extração do pau-
brasil, árvore que deu nome à colônia e de onde era extraído um corante 
vermelho, muito utilizado nas cortes europeias. A colonização das terras, 
por colonos portugueses, foi iniciada mais de 30 anos após a chegada de 
Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, motivada por pressões políticas 
de outros reinos europeus e pela necessidade econômica. Com o início 
da colonização, iniciou-se o cultivo da cana de açúcar e a vinda de negros 
africanos escravizados para servirem como mão de obra nas plantações.
O impacto da colonização portuguesa para a população indígena foi 
grande: dizimados por doenças, assistiram a diminuição da flora e fauna 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg
8
nativas para permitir o avanço das lavouras de cana de açúcar. De 
acordo com Gurgel (2009), menos de 100 anos após a chegada de Cabral 
ao Brasil, a tribo que o recebeu em Porto Seguro já não existia mais.
A saúde dos negros cativos que desembarcavam na colônia não 
era muito melhor do que as condições em que chegavam os seus 
exploradores. A falta de higiene e a alimentação precária existente 
nas embarcações, além do confinamento e dos porões de navios 
abarrotados de escravos, contribuíam para a proliferação de doenças e 
mortes durante a travessia do mar Atlântico. No caso dos escravos, as 
condições de moradia, higiene e alimentação não se tornavam muito 
melhores quando eles já haviam desembarcado.
Figura 2 – Negres a fond de calle (Navio Negreiro) – obra de Johann 
Moritz Rugendas, 1830
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:N%C3%A8gres_a_fond_de_Calle.jpg. 
Acesso em: 7 jan. 2021.
A forte presença da Igreja Católica na colônia, e em Portugal, tornava 
a relação entre saúde e doença uma relação entre o pecado e a graça 
divina, onde o corpo doente representava a alma pecadora (EDLER, 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:N%C3%A8gres_a_fond_de_Calle.jpg
9
2018). A influência da Igreja Católica, também, pautava o cuidado aos 
doentes, como uma forma de se praticar a caridade pregada por Cristo.
Essa forte ligação entre o cuidado aos doentes e a Igreja Católica 
também foi representada pelas Santas Casas de Misericórdia. Criada 
no final século XV em Portugal, segundo Fiocruz (2020), a primeira 
Santa Casa do Brasil foi fundada em 1543, na vila de São Vicente e cerca 
de 50 anos mais tarde, foi fundada a Santa Casa do Rio de Janeiro. O 
propósito dessas instituições, seguindo o mesmo propósito das Santas 
Casas Portuguesas, era “acolher os presos,alimentar os pobres, curar 
os doentes, asilar os órfãos, sustentar as viúvas, enfim, para ser a casa 
a serviço dos mais carentes, desassistidos e abandonados” (FIOCRUZ, 
2020, [s.p.]). Até o século XIX, essa foi a única instituição de assistência 
à saúde existente no Brasil, restrita aos principais centros urbanos da 
colônia.
À Coroa Portuguesa cabia o papel de regulamentar a assistência 
prestada pelos poucos profissionais existentes na colônia. Os físicos 
(médicos da época), cirurgiões e boticários assistiam a pouquíssimas 
pessoas da elite branca, que podiam arcar com os custos dessa 
assistência. Para o restante da população, de acordo com Edler (2018), 
havia pajés, curandeiros, barbeiros e quem mais se dispusesse a cuidar 
e tratar dos doentes.
Com o passar dos séculos, a vida na colônia foi se desenvolvendo, 
surgindo novos povoados, vilarejos e cidades. Assim, epidemias de 
cólera, varíola e febre amarela eram comuns, fazendo parte do cotidiano 
das pessoas, sendo a fiscalização da arte de curar a única ação de saúde 
pública existente (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
10
2. Brasil Imperial – 1808 a 1888
A chegada da família real portuguesa no Brasil, em 1808, trouxe 
um grande impacto para a vida das pessoas na colônia brasileira, 
especialmente para a população da cidade do Rio de Janeiro. Ao 
transferir a corte portuguesa para o Brasil, algumas mudanças na cidade 
foram necessárias, como a abertura dos portos ao comércio exterior 
e a criação da primeira faculdade de medicina brasileira, em Salvador, 
Bahia. Nesse contexto, a Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do 
Rio de Janeiro foi criada no mesmo ano (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). 
Em 1809 foi criado o cargo de provedor-mor da saúde da Corte e do 
Estado do Brasil, com a função de fiscalizar a saúde pública. Além disso, 
a vacinação contra a varíola foi difundida, através das Juntas Vacínicas 
criadas em 1811 (GURGEL et al., 2011), embora somente em 1840 sua 
aplicação passou a ser ampliada – e mesmo assim, apenas para as 
famílias nobres (GURGEL, 2009).
A inspetoria de saúde dos Portos foi criada em 1828, concentrando suas 
atividades na fiscalização de escravos e tripulantes doentes, buscando 
evitar novas epidemias (EDLER, 2018). A atividade de controle dos navios 
que chegavam à costa brasileira já existia desde o século XVII, de acordo 
com Gurgel (2009), assim como algumas medidas sanitárias isoladas 
para a contenção de epidemias. Em 1846, sob o reinado de Dom Pedro 
II foi criado o Instituto Vacínico do Império, com o objetivo de ampliar as 
ações de vacinação contra a varíola, que passara a ser obrigatória nesse 
mesmo ano (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012; GURGEL et al., 2011). A assistência 
aos doentes continuava a cargo das Santas Casas de Misericórdia e de 
outros hospitais beneficentes, como Beneficência Portuguesa.
Na Europa, o movimento higienista passa a transformar as práticas 
médicas e de cuidado aos enfermos. Diante da situação precária de 
assistência médica que o Brasil possuía, combinada com as epidemias 
de varíola e febre amarela e com o aumento populacional incentivado 
11
pela cultura do café, surgiram os hospitais de isolamento e a Junta 
Central de Higiene Pública. Apesar das técnicas de higiene recentemente 
propagadas, como isolar os doentes e queimar suas roupas para que se 
evitasse a propagação de doenças, o resultado das medidas de controle 
e tratamento das principais doenças presentes no século XIX não foi de 
sucesso. Os hospitais de isolamento serviram para segregar e isolar os 
doentes, excluindo-os da sociedade. Assim, segundo Gurgel et al. (2011), 
a falta de conhecimento sobre o agente etiológico das doenças e formas 
de transmissão não permitia um tratamento adequado dos doentes.
As medidas de controle e contenção de doenças durante o período do 
império foram mais percebidas na capital, Rio de Janeiro. As regiões 
mais afastadas da capital viram poucas mudanças no cuidado à saúde 
nesse período (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
3. República Velha – 1888 a 1930
O final do século XIX assistiu diversas transformações culturais e sociais 
no mundo ocidental, como o desenvolvimento da microbiologia e 
uma nova Revolução Industrial. No Brasil, ainda apoiado no cultivo 
do campo como atividade econômica, a mão de obra escrava foi 
substituída pela mão de obra de imigrantes e a monarquia em crise 
deu espaço ao período republicano. Porém, poucas foram as mudanças 
no cuidado à saúde nesse período. O crescimento das lavouras de café 
fez surgir uma nova elite aristocrática, sobretudo em São Paulo. Com a 
promulgação da Constituição em 1891, coube aos municípios e estados 
a responsabilidade do cuidado à saúde (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
No bojo dessas transformações sociais foi criado o Serviço Sanitário 
de São Paulo, em 1892, e o Instituto Bacteriológico, em 1893. 
Acompanhando os novos saberes da microbiologia que vinham da 
Europa, segundo Almeida (2005), esses serviços foram fundamentais 
12
para a introdução dessa ciência no Brasil, influenciando na tomada 
de decisões sanitárias diante das epidemias que ainda castigavam a 
população entre o final do século XIX e começo do século XX. À frente 
desses serviços destacam-se Emílio Ribas como diretor do Serviço 
Sanitário e Adolpho Lutz, como diretor do Instituto Bacteriológico. Eles 
contribuíam, também, nomes como Arnaldo Vieira de Carvalho (diretor 
do Instituto Vacinogênico), Vital Brazil (diretor do Instituto Butantan) e 
Victor Godinho (diretor da Revista Médica de São Paulo), que, juntos, 
foram responsáveis por modernizar o saber médico da época, além 
de coordenarem pesquisas importantes na área da saúde, como 
no desenvolvimento de soros e vacinas e na descoberta de agentes 
etiológicos de algumas doenças (ALMEIDA, 2005).
Em 1900, na cidade do Rio de Janeiro, foi criado o Instituto Soroterápico 
Federal (atual Fundação Oswaldo Cruz) em Manguinhos, com o objetivo 
de desenvolver e produzir soros e vacinas contra as doenças epidêmicas 
da época, particularmente a peste bubônica (ESCOREL; TEIXEIRA, 
2012). Em 1902, por sua vez, o médico Oswaldo Cruz assume como 
diretor responsável pela difusão da microbiologia no cenário sanitário 
brasileiro. Em 1903, Oswaldo Cruz assumiria a direção dos serviços 
de saúde da República, equivalente ao cargo de Ministro da Saúde, na 
Diretoria Geral de Saúde Pública (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
No entanto, ainda, prevalecia no país o combate às epidemias e os 
cuidados de higiene da população como política pública de saúde. A 
assistência aos doentes continuava a encargo das entidades filantrópicas 
e os governantes, ainda, viam as ações públicas de saúde como 
emergenciais e transitórias, restritas ao combate às crises sanitárias 
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
13
3.1 Campanhas sanitárias
A ampliação do conhecimento no campo da microbiologia foi 
acompanhada de mudanças sociais nos espaços urbanos brasileiros. O 
aumento desordenado da população nas cidades, as precárias condições 
de moradia e higiene e pouca infraestrutura urbana contribuíram para o 
aumento de epidemias e mortalidade da população. Em 1902, segundo 
Mourelle (2020), o presidente eleito Rodrigues Alves iniciou um processo 
de reforma e urbanização na cidade do Rio de Janeiro, demolindo 
cortiços sem oferecer alternativas de moradia para mais de 14 mil 
pessoas.
Para auxiliar o programa de saneamento e combater as epidemias mais 
frequentes na cidade, Oswaldo Cruz teve grande participação. Por meio 
de campanhas sanitárias, Oswaldo Cruz procurou combater a febre 
amarela, a peste bubônica e a varíola, já como diretor da Diretoria Geral 
de Saúde Pública. Para cada uma dessas doenças, havia uma campanha 
específica, como o isolamento dos doentes e controle dos mosquitos 
para a febre amarela, extermínio de ratos e aplicação de soro e vacina 
fabricados em Manguinhos para o combate da peste e aumento das 
ações de vacinação da população para o combate da varíola (ESCOREL; 
TEIXEIRA, 2012).
Um novo surto de varíola no Rio de Janeiro,em 1904, motivou a 
criação de um projeto de lei para obrigar a todos a se vacinarem e 
revacinarem contra a varíola, em todo o território nacional. O clima 
de descontentamento da população com as ações de urbanização 
da cidade, além de um forte movimento contrário à vacina e à sua 
obrigatoriedade liderados por deputados de oposição ao governo serviu 
como motivo para um grande levante popular. Em 9 de novembro de 
1904, a população se revoltou contra o governo com atos de violência 
e de enfrentamento contra a polícia, bombeiros e forças armadas 
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2012; MOURELLE, 2020). Logo, estava deflagrada a 
“Revolta da Vacina”, como ficou conhecido o levante.
14
Durante uma semana, a população protestou com violência e 
destruição, protestando contra o autoritarismo do governo. Nesse 
contexto, segundo Mourelle (2020), um grupo de políticos e militares 
aproveitou a rebelião para uma tentativa de golpe de estado, buscando 
depor o presidente Rodrigues Alves. Os confrontos só tiveram fim após 
tropas da Marinha bombardearem o local onde os rebeldes estavam 
entrincheirados (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
A Revolta da Vacina fez com que o governo revogasse a obrigatoriedade 
da vacina contra a varíola, permanecendo o surgimento de surtos 
da doença nos anos que se seguiram. As ações de Oswaldo Cruz, 
entretanto, conseguiram alterar o perfil epidemiológico da capital 
da República, praticamente eliminando a febre amarela e a peste na 
primeira década do século XX.
Figura 3 – Charge de 1904, retratando a campanha de Oswaldo Cruz–
Jornal “O Malho”
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/Guerra_Vaccino-
Obrigateza%21.jpg. Acesso em: 7 jan. 2021.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/Guerra_Vaccino-Obrigateza%21.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/Guerra_Vaccino-Obrigateza%21.jpg
15
A exemplo do que ocorreu no Rio de Janeiro, as ações de saúde 
desenvolvidas pelo Estado foram concentradas nas grandes cidades, 
locais de maior aglomeração urbana. A partir de 1910, diversas 
expedições para o interior do Brasil foram realizadas, organizadas pelo 
então Instituto Oswaldo Cruz, com o objetivo de retratar a saúde dos 
brasileiros. Segundo Tamano (2017), Arthur Neiva e Belisário Penna 
se destacaram no retrato dessa situação, descrevendo, em 1912, as 
condições médico-sanitárias e sociais a que a população brasileira 
estava exposta no interior do país.
A realidade exposta por essas expedições fez a classe intelectual da 
época exigir ações do Estado para ampliar as ações de saúde para a 
população. Assim, em 1918 foi fundada a Liga Pró-Saneamento do Brasil, 
dirigida por Belisário Penna. Ainda, em 1918 foi criado o Serviço de 
Profilaxia Rural e, em 1919, a Diretoria Geral de Saúde Pública se tornou 
o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), sendo seu primeiro 
diretor o médico Carlos Chagas (TAMANO, 2017; ESCOREL; TEIXEIRA, 
2012).
Embora a proposta de criação de um Ministério da Saúde não tenha 
obtido êxito, diversas alterações na legislação ocorreram, sendo a 
criação do DNSP a principal delas. Além disso, outros eventos marcaram 
a sociedade brasileira nesse período, influenciando nas políticas de 
saúde do Estado. Assim, a primeira greve geral dos trabalhadores (1917) 
e a epidemia de gripe espanhola (1918) trouxeram para a discussão 
as condições de vida de grande parte da população urbana brasileira, 
pressionando a criação de um Ministério da Saúde que centralizasse as 
políticas públicas de saúde (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
O DNSP, sob a direção de Carlos Chagas, passou a regulamentar 
a venda de produtos alimentícios no país, normatizar construções 
rurais, regulamentar as condições de trabalho de mulheres e crianças, 
fiscalizar produtos farmacêuticos e inspecionar os portos e a saúde dos 
imigrantes que chegavam ao país. Essas ações foram importantes para 
16
a diminuição da mortalidade infantil, controle da doença de Chagas 
e combate a algumas doenças. Ademais, o DNSP também ampliou 
a produção de soros, vacinas e de medicamentos para combate das 
epidemias da época e passou a elaborar estatísticas demográficas e 
sanitárias em nível nacional (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
Figura 4 – Comunicado do Serviço Sanitário para prevenção da gripe 
espanhola, 1918
Fonte: https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,66-dias-de-terror-e-morte-na-luta-de-
sp-contra-a-gripe-espanhola,70003311085,0.htm. Acesso em: 7 jan. 2021.
As pesquisas de Carlos Chagas auxiliaram no combate à malária e 
à outras doenças, mas foi sua pesquisa sobre a tripanosomíase, ou 
Doenças de Chagas, que foi a mais importante. Por sua vez, seu trabalho 
é considerado único na história da medicina por ter descoberto e 
https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,66-dias-de-terror-e-morte-na-luta-de-sp-contra-a-gripe-espanhola,70003311085,0.htm
https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,66-dias-de-terror-e-morte-na-luta-de-sp-contra-a-gripe-espanhola,70003311085,0.htm
17
descrito todo o ciclo da doença – desde o seu agente etiológico, ciclo 
evolutivo, vetores e a própria doença.
Figura 5 – Carlos Chagas observando a menina Rita, um dos 
primeiros casos diagnosticados da doença de chagas – década de 
1910
Fonte: http://www.hlog.epsjv.fiocruz.br/upload/d/cap_3.pdf. Acesso em: 7 jan. 2021.
Paralelamente ao que acontecia no Rio de Janeiro, em São Paulo, 
Geraldo Horácio de Paula Souza assume a direção do Serviço Sanitário 
do estado, em 1923, e a cadeira de Higiene da recente Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Após realizar seu doutorado nos Estados Unidos 
com bolsa de estudos pela Fundação Rockfeller, Paula Souza buscou 
promover a educação sanitária na população como forma de se evitar 
a propagação de doenças (MASCARENHAS, 2006; CORREIA, 2011). Do 
combate à difteria na cidade de São Paulo à revisão do código sanitário 
http://www.hlog.epsjv.fiocruz.br/upload/d/cap_3.pdf
18
do estado, segundo Mascarenhas (2006), Paula Souza criou o primeiro 
Centro de Saúde do Brasil, com atividades de promoção e proteção à 
saúde.
Os eventos ocorridos em São Paulo e no Rio de Janeiro nas primeiras 
décadas do século XX foram essenciais para o início de uma organização 
de cuidado à saúde, que foi deixando de ser exclusivamente beneficente 
e voltada para atender crises sanitárias emergenciais. Ações de 
prevenção e de cuidado contínuo começaram a ser implantadas, hábitos 
e condições de vida começaram a ser questionados e relacionados 
ao cuidado de doenças e a expansão das pesquisas na área da saúde 
foi delineando as políticas públicas de saúde nas próximas décadas, 
influenciando na tomada de decisões políticas por parte de governantes.
3.2 Fundos de pensão – década de 1920
No final da década de 1910 e início da década de 1920, Caixas de 
Aposentadorias e Pensões (CAPs) começaram a ser criadas. Com a 
contribuição dos trabalhadores e empregadores em entidades privadas, 
cabendo ao poder público o controle externo, quando necessário 
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Apesar dos recursos geridos serem previstos 
para aposentadorias, algumas CAPs começaram a prestar assistência 
médica para seus trabalhadores.
O surgimento das CAPs deu início ao movimento de Saúde 
Previdenciária, que marca fortemente a assistência à saúde nas décadas 
seguintes. A Lei Eloy Chaves, de 1923, institui a previdência social 
no país, regulamentando as CAPs para trabalhadores das empresas 
ferroviárias. Outros setores produtivos também começaram a criar 
suas próprias CAPs, chegando a 47 CAPs em 1930, segurando 140 mil 
trabalhadores (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
Como você deve ter percebido, os primeiros 300 anos de história do 
Brasil não apresentaram políticas públicas de saúde voltadas para a 
19
sua população. Enquanto colônia, o papel de Estado cabia à Coroa 
Portuguesa. Já para os que viviam em solo brasileiro, a raça e status 
social seriam importantes determinantes para o tipo de cuidado à saúde 
que teriam acesso. O conhecimento popular, principalmente a sabedoriaindígena sobre plantas e ervas medicinais, seria a base da prática da 
medicina nesses séculos.
O avanço da ciência no mundo coincide com a evolução do Brasil, na 
sua transição de colônia para nação. O final do século XIX e início do 
século XX foram épocas de expansão do conhecimento e da prática da 
medicina brasileira, contribuindo para a evolução das políticas públicas 
de saúde até os dias de hoje.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, M. São Paulo na virada do século XX: um laboratório de saúde pública 
para o Brasil. Tempo, Rio de Janeiro, n. 19, p. 77-89, 2005. Disponível em: https://
www.scielo.br/pdf/tem/v10n19/v10n19a06.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Ministério da Cultura. A carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: 
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf. Acesso em: 18 set. 
2020.
CORREIA, L. C. Instituto de Higiene (1918-1929) no estado de São Paulo – a atuação 
de Geraldo Horácio de Paula Souza e Mário da Costa Galvão. Cadernos de História 
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21
Da Era Vargas à 4ª República – 
1930 a 1964
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira
Objetivos
• Compreender os principais fatos históricos desse 
período.
• Compreender as principais políticas de saúde 
desenvolvidas e seus principais resultados.
• Refletir sobre o contexto político e social da época e 
sua influência nas políticas públicas de saúde.
22
1. A Era Vargas – 1930 a 1945
A Era Vargas iniciou em 1930, com uma revolta armada que contestava 
os resultados das eleições presidenciais e dava voz a uma insatisfação 
política e social com a situação do país da época: com o poder político 
das oligarquias brasileiras, com a corrupção, com a crise econômica 
mundial de 1929 e com a falta de políticas sociais. Assim, a Era Vargas 
encerra o período da Primeira República e dá início a um dos períodos 
mais marcantes da história brasileira.
Segundo Hochman (2005), embora o papel do Estado nas políticas 
públicas de saúde e sociais tenham sido intensificados no início do 
século XX, é no período de Vargas que esse papel se consolida, aliado a 
um ideal nacionalista e antiliberal, centralizando no Estado a sua tomada 
de decisões e o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a 
população.
Além disso, a partir de Vargas se inicia a separação entre a saúde 
pública, ofertada pelo Estado, e a atenção médica individualizada, 
promovida pela medicina previdenciária (PONTE et al., 2010). A Lei 
Eloy Chaves, promulgada em 1923, criou as Caixas de Aposentadoria e 
Pensão, que passam a ser Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) 
a partir de 1933, promovidas pela política nacionalista de Vargas que 
associou trabalho aos direitos de cidadania, vinculando a figura do 
trabalhador à do novo homem brasileiro (FONSECA, 1993; HOCHMAN, 
2005). Os IAPs, por sua vez, passam a organizar a previdência por 
categoria profissional, não mais por empresas empregadoras (ESCOREL; 
TEIXEIRA, 2012). A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e 
Comércio e a publicação da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), 
outro marco da Era Vargas, influenciaram na criação de IAPs voltadas 
para categorias profissionais mais organizadas, como: comerciários, 
bancários, ferroviários e funcionários públicos. Dessa forma, a criação 
23
dos IAPs permitia a criação de fundos de pensão e aposentadoria, bem 
como garantia outros benefícios sociais, entre eles a assistência à saúde.
A ampliação dos IAPs fez surgir uma rede de previdência social, com 
contribuição financeira da União, das empresas e dos trabalhadores. 
Desse modo, a gestão dos fundos pelo governo federal permitiu a 
utilização dos recursos arrecadados para a promoção do processo 
de expansão da industrialização nacional. Nesse sentido, empresas 
estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional e o Banco do Brasil, 
receberam parte dos recursos provenientes dos fundos de pensão para 
o financiamento das suas atividades (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
A seguridade social garantida pelos IAPs, incluída a assistência médica 
individualizada, protegia apenas algumas categorias de trabalhadores 
formais, conforme os interesses da política nacionalista do governo. 
Esse conceito de cidadania regulada, onde os direitos sociais não são 
universais, excluiu desempregados, trabalhadores rurais e informais da 
assistência à saúde. A essa parcela excluída da população restavam as 
entidades filantrópicas de assistência à saúde e as grandes campanhas 
públicas de saúde desenvolvidas nesse período, com foco no combate 
a doenças epidêmicas e endêmicas, e na educação sanitária (ESCOREL; 
TEIXEIRA, 2012).
24
Figura 1 – Obra de Tarsila do Amaral, Os operários–1933
Fonte: http://tarsiladoamaral.com.br/en/obra/social-1933/. Acesso em: 7 jan. 2021.
Para Santos (1987 apud ESCOREL; TEIXEIRA, 2012), essa cidadania 
regulada é fundamental para se entender a base da previdência social 
brasileira. Logo, aqueles indivíduos que não pertenciam ao processo 
produtivo eram considerados pré-cidadãos, que se tornariam cidadãos 
pela regulamentação de novas ocupações e dos direitos sociais a elas 
atrelados. Para o autor: “a cidadania está embutida na profissão e os 
direitos do cidadão restringem-se aos direitos do lugar que ocupam no 
processo produtivo, tal como reconhecido por lei” (SANTOS, 1987, p. 
apud ESCOREL; TEIXEIRA, 2012, [s.p.]).
A relação entre a ideologia política de Vargas e a construção de um 
Estado forte e nacionalista é fundamental para que se compreenda 
o desenvolvimento das políticas de saúde criadas no seu governo. 
Nesse contexto, a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública 
(MESP), no final de 1930, incorporou o Departamento Nacional de 
Saúde Pública e o Departamento Nacional de Educação, e atendeu às 
http://tarsiladoamaral.com.br/en/obra/social-1933/
25
demandas do movimentosanitarista do início do século XX, defendido 
por nomes como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, e que reivindicava 
centralizar as decisões no campo da saúde em um único órgão para 
todo o território nacional (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Entretanto, poucas 
foram as políticas de saúde promovias pelo MESP durante os primeiros 
quatro anos do governo de Vargas – o período conhecido como governo 
provisório. Foi a partir da gestão de Gustavo Capanema, em julho de 
1934, que o MESP passou a alinhar suas ações à política social de Vargas. 
Em 1935, as campanhas sanitárias, que haviam sido interrompidas, 
foram retomadas, especialmente no combate à febre amarela. Além 
disso, segundo Fonseca (1993), foram desenvolvidas políticas de saúde 
materno-infantil, com o objetivo de moldar o homem brasileiro (ainda na 
infância) para moldar a nação.
Capanema promoveu duas reformas no MESP durante o período em 
que foi ministro (1934 a 1945). A primeira delas, em 1937, reformulou a 
estrutura administrativa do Ministério, que passou a ser Ministério da 
Educação e da Saúde. Essa reforma consolidou o caráter centralizador 
do ministério e do Estado, com foco na racionalidade administrativa 
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Além disso, segundo Hochman (2005), foram 
criadas delegacias federais de saúde, responsáveis pela coordenação e 
supervisão de ações de saúde no país, dividas em oito regiões. A partir 
desse ano, também, foram criadas as Conferências Nacionais de Saúde, 
um espaço para “articulação entre o governo federal e os estados, 
viabilizando a sistematização de normas técnicas e administrativas da 
área da saúde” (HOCHMAN, 2005, p. 133).
A segunda reforma, em 1941, criou os Serviços Nacionais, responsáveis 
por campanhas nacionais e verticalizadas, para o controle de doenças 
e epidemias (HOCHMAN, 2005), como: tuberculose, malária, febre 
amarela, lepra e do câncer. Os Serviços Nacionais tinham como objetivo 
principal o combate a epidemias e ações de prevenção, em parceria 
com as delegacias de saúde e governos estaduais. Entretanto, de acordo 
Hochman (2005), com também atendiam ao desejo do governo de 
26
ampliar as ações e o controle do Ministério da Educação e Saúde em 
todo o território nacional.
A gestão de Capanema à frente do Ministério da Educação e da Saúde 
esteve voltada para os ideais varguistas de fortalecimento da figura do 
Estado nas capitais e no interior do país, com a criação uma rede de 
serviços de saúde e por um conjunto de legislações “que objetivavam 
padronizar as atividades dos diversos serviços de saúde nos estados em 
seus mínimos detalhes, conjugando uma centralização normativa com 
uma descentralização executiva” (PONTE et al., 2010, p. 139).
Essas reformas definiram e consolidaram as ações de saúde pública no 
país durante o governo de Vargas e nos governos que se seguiram. Por 
sua vez, o papel centralizador do Estado no planejamento e execução 
das políticas de saúde durante esse período permaneceu por décadas 
após Vargas, sendo discutido pelo movimento da Reforma Sanitária 
Brasileira, na década de 1970, e sendo substituído com a criação do 
Sistema Único de Saúde.
2. A Fundação Rockefeller e a influência na 
saúde pública brasileira
A aproximação do Brasil com os Estados Unidos, no campo da Saúde 
Pública, teve início na década de 1920, com bolsas de estudo financiadas 
pela Fundação Rockefeller a médicos brasileiros. A Fundação, que 
financiou a criação da Escola de Higiene e Saúde Pública da Universidade 
Johns Hopkins, nos Estados Unidos, influenciou na criação e no modelo 
de ensino aplicado no Instituto de Higiene de São Paulo, criado em 1918 
e berço da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 
No Rio de Janeiro, a relação entre pesquisadores e a Fundação permitiu 
a realização de campanhas sanitárias em parceria (SANTOS; FARIA, 
2006).
27
A influência da Fundação Rockfeller na formação de sanitaristas 
brasileiros, como Geraldo de Paula Souza e Francisco Borges Vieira, 
também fez surgir um novo serviço de saúde – o Centro de Saúde (CS). 
De acordo com Mello (2012), criado na Reforma Sanitária paulista de 
1925, o CS era o meio para se alcançar a educação sanitária e higienista 
tão propagada na época. Visto como um serviço essencialmente 
preventivo e educativo, o CS propunha cuidado centrado na família, 
dedicação médica integral, cuidado materno-infantil, vacinação, 
educação e vigilância sanitária, e visitas domiciliares (MELLO, 2012).
Com a criação do MESP e a reforma do ensino médico no começo da 
década de 1930, houve um estímulo na formação de sanitaristas e na 
disseminação de ações e serviços de saúde voltados para a prática 
sanitária, como os CS e os postos de higiene. O modelo de ensino e 
a prática profissional, fundamentados no modelo norte-americano 
disseminado pela Fundação Rockefeller, estavam alinhados ao projeto 
político varguista (SANTOS; FARIA, 2006).
A participação da Fundação nas pesquisas e campanhas sanitárias 
de combate à febre amarela no interior do país também contribuiu 
para a descoberta do ciclo silvestre da doença, além de documentar 
informações epidemiológicas, sociais e ambientais sobre a doença e seu 
vetor no Brasil. Além disso, as pesquisas desenvolvidas pela Fundação 
permitiram o desenvolvimento de uma vacina contra a febre amarela, 
em 1937 (COSTA et al., 2011).
28
Figura 2 – Provável rota de disseminação da febre amarela no Brasil 
– 1932 a 1942, Fundação Rockefeller
Fonte: Acervo da Casa de Oswaldo Cruz
2.1 O serviço especial de saúde pública
O SESP foi criado no contexto da Segunda Guerra Mundial, como parte 
do acordo de cooperação firmado entre o Brasil e os Estados Unidos. 
Os interesses dos Estados Unidos no Brasil eram, sobretudo, militares, 
com promoção de ações de saúde em regiões com produção de matéria-
prima como borracha e minério na região Amazônica e no Vale do Rio 
Doce (CAMPOS, 2008). O caráter político também exigia o rompimento 
das relações com a Alemanha e os demais países do Eixo, o que forçou 
um posicionamento por parte do governo Vargas, que até então não 
havia declarado oficialmente apoio a nenhum dos lados da guerra. O 
interesse econômico do governo brasileiro com um acordo desse tipo 
também foi devido ao financiamento americano de indústrias estatais na 
29
época, necessário para a promoção da industrialização pretendida por 
Vargas.
De acordo com Campos (2008), além das ações de saneamento, controle 
de doenças endêmicas (como a malária) e criação de postos e centros 
de saúde nessas regiões estratégicas, destaca-se também a educação 
sanitária, com cursos e treinamentos para médicos, enfermeiros e 
professoras de escolas primárias.
O Ministério da Educação e da Saúde já buscava expandir a formação 
profissional na saúde, sendo essa uma das diretrizes destacadas pela 
reforma estrutural de Capanema. Faltavam profissionais qualificados 
para atuar na assistência direta dos serviços de saúde, como médicos, 
engenheiros sanitários e enfermeiras. Também eram escassos os 
profissionais de nível intermediário, como visitadoras sanitárias, 
guardas sanitários e auxiliares de saneamento (CAMPOS, 2008). 
O SESP assume, assim, um papel importante na formação desses 
profissionais, com o financiamento de cursos para médicos, enfermeira 
e engenheiros sanitários nos Estados Unidos, na Escola de Saúde Pública 
Johns Hopkins, e com a oferta de cursos rápidos para profissionais 
intermediários.
Assim como a influência que a Fundação Rockefeller teve na década 
de 1920 sobre a criação do Instituto de Higiene de São Paulo, o SESP 
também influenciou a criação de escolas de Enfermagem no Brasil. 
A primeira delas, segundo Campos (2008), tendo mais da metade 
dos seus custos financiados pelo SESP, foi a Escola de Enfermagem 
da Universidade de São Paulo, em 1943. O fomento a escolas de 
enfermagem pelo SESP fazia parte do projeto Mais Enfermeiras pelo 
Brasil, em parceria com a Associação de Hospitais Católicos dos Estados 
Unidos e as fundações Rockefeller e Kellogg(CAMPOS, 2008). O SESP 
manteria suas atividades até 1960, quando se torna Fundação Serviço 
Especial de Saúde existindo até 1991.
30
Figura 3 – Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt, presidente dos 
Estados Unidos. Rio de Janeiro, 1936
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vargas_e_Roosevelt.jpg. Acesso em: 7 jan. 
2021.
Embora possa parecer que o desenvolvimento das políticas de saúde 
no Brasil tenha sido orientado a partir da influência dos Estados Unidos, 
as ações propostas pelo SESP e pelos acordos de cooperação entre os 
dois países coincidia com a política populista e nacionalista de Vargas. As 
políticas de saúde desenvolvidas no seu governo buscaram atender aos 
interesses políticos do próprio Vargas durante o seu governo ditatorial, 
com a criação de uma identidade nacionalista e com forte presença 
do Estado, e também aos interesses e reivindicações de empresários 
e grupos sindicais, que com interesses diferentes, acabaram por 
influenciar na criação de políticas de seguridade social e ações de saúde 
voltadas para os trabalhadores brasileiros (PONTE et al., 2010).
A interiorização das ações de saúde pelo Brasil foi necessária para 
promover o desenvolvimento econômico do país e reafirmar a presença 
do Estado em regiões mais afastadas dos principais centros urbanos. 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vargas_e_Roosevelt.jpg
31
Com o aumento da população urbana brasileira, também, eram 
necessárias ações de saúde voltadas ao desenvolvimento urbano e 
apoiadas na educação sanitária.
A Era Vargas inicia o processo de estatização e burocratização da saúde 
pública, que continuaram a ser praticadas mesmo após o fim do seu 
governo, em 1945.
3. A 4ª República – 1945 a 1964
O aumento do autoritarismo imposto por Vargas durante o seu governo 
começou a criar um grande descontentamento político. Ações de 
repressão como a censura e a extinção de partidos políticos, além do 
envio de tropas brasileiras para combater o nazismo e o fascismo na 
Europa, abalaram um governo ditatorial e centralizador. A tentativa 
de convocar novas eleições em 1945 permitiu a recriação de partidos 
políticos para concorrer à presidência, bem como de manifestações 
populares a favor da permanência de Getúlio Vargas no poder. A crise 
política terminou com a deposição de Vargas da presidência e a eleição 
de Eurico Gaspar Dutra.
Durante o período da 4ª República, o Brasil teve nove presidentes, 
quatro eleitos pelo voto. Nesse período, até mesmo, o próprio Getúlio 
Vargas retornaria à presidência no período de 1951 a 1954, quando uma 
crise política o levou a cometer suicídio.
No campo da Saúde Pública, a estrutura administrativa do Ministério da 
Educação e da Saúde não sofre muitas modificações até 1953, quando é 
criado o Ministério da Saúde. A Guerra Fria e o combate ideológico entre 
Estados Unidos e União Soviética influenciaram também as decisões 
políticas na saúde brasileira.
32
Durante o governo de Dutra (1946 – 1951) prevaleceu o “sanitarismo 
campanhista” (apoiado em grandes campanhas sanitárias e focado 
em problemas de saúde específicos) nas políticas públicas de saúde, 
mantendo as campanhas sanitárias da Era Vargas voltadas para doenças 
específicas, verticalizadas e centralizadas (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). 
Nesse período, também, se acentuaram as discussões a favor da criação 
de um ministério da saúde independente (que culminaram com a 
separação do Ministério da Saúde da área da educação), além de críticas 
às políticas campanhistas – vistas como autoritárias e pouco efetivas 
para garantir o desenvolvimento econômico dos principais centros 
urbanos (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012; REIS, 2015).
Com a aprovação da nova Constituição Federal de 1946, a previdência 
social passa a oferecer assistência médica, hospitalar e sanitária, direitos 
que passam a ser garantidos na legislação trabalhista. As reinvindicações 
sindicais da época influenciaram no aumento da oferta de benefícios 
oferecidos pelos IAPs, ainda que de maneira heterogênea. Esse contexto 
social, aliado ao discurso e às políticas do governo voltadas para o 
desenvolvimento econômico e industrial do país, contribuiu para a 
valorização da assistência médica especializada e a assistência à saúde 
centralizada nos grandes hospitais. Durante o governo de Dutra e o 
de Vargas (1951 – 1954), houve um aumento significativo de hospitais, 
a maioria previdenciários, acompanhado de um aumento dos gastos 
públicos (através da previdência social) com a assistência hospitalar 
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
A política econômica de Vargas, dessa vez como presidente eleito por 
meio do voto, manteve o tom populista e nacionalista presentes em 
seu outro governo, com franco incentivo à industrialização nacional. 
Em 1953, mesmo ano em que foi criada a Petrobrás, a criação do novo 
Ministério da Saúde traz uma nova organização institucional, fortemente 
influenciada por um movimento contrário ao sanitarismo campanhista 
que continuava a orientar as ações públicas de saúde (ESCOREL; 
TEIXEIRA, 2012).
33
Após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, novas eleições presidenciais 
foram realizadas em 1955, sendo eleito como presidente Juscelino 
Kubitscheck, médico cirurgião e urologista, exercendo seu mandato de 
1956 a 1961. De origem pobre do interior de Minas Gerais, Juscelino 
marcou a história brasileira pelas ações do seu governo voltadas para o 
desenvolvimento econômico do país, com a meta de evoluir “50 anos em 
5” e a construção de Brasília. JK, como ficou marcado, defendia a ideia 
de que os problemas de saúde do país impediam o desenvolvimento 
necessário para a nação.
O governo de JK priorizou políticas de saúde voltadas para as doenças 
que atingiam grande parte da população brasileira, como a varíola, a 
lepra e a malária, ainda presente em algumas regiões do país. Segundo 
Hochman (2009), também estava presente no discurso do presidente 
a interiorização do país e a necessidade de combater os principais 
problemas de saúde da população dessas regiões – incluindo o combate 
à fome e à pobreza.
A necessidade de combater e erradicar as doenças endêmicas do 
interior do país levou à criação do Departamento Nacional de Endemias 
Rurais, em 1956, órgão que passou a unificar muitos serviços nacionais 
criados na Era Vargas. No plano de governo de JK, destacavam-se metas 
para a saúde pública, com objetivos que variavam da assistência a 
algumas doenças (como o câncer), o combate a outras (poliomielite 
e tuberculose) e a erradicação de doenças como doença de Chagas 
e malária (HOCHMAN, 2009). A descoberta de novos recursos para o 
tratamento e prevenção de muitas dessas enfermidades, como alguns 
antibióticos e vacinas, permitiu um resultado positivo para alcançar 
muitas dessas metas estabelecidas.
Apesar de parte da política de saúde de Juscelino manter o alinhamento 
com as grandes campanhas sanitárias realizadas desde o começo do 
século XX, parte de sua política também começa a incorporar ações 
voltadas ao combate de doenças crônicas e do câncer – doenças de “país 
34
rico” mas que já começavam a aumentar no Brasil, que iniciava uma 
mudança no seu perfil epidemiológico. As políticas públicas do governo 
de JK na área de saneamento básico e habitação, além de outras 
políticas sociais, também deram início a essa mudança.
Figura 4 – Foto de Mário Fontenelle–Construção de Brasília
Fonte: https://www.metropoles.com/conceicao-freitas/e-um-acervo-da-memoria-
brasiliense-mas-e-tambem-uma-historia-de-amor. Acesso em: 7 jan. 2021.
O governo de JK manteve a política de previdência social, que continuava 
a oferecer assistência médica aos trabalhadores segurados. E, assim, 
permaneciam excluídos aqueles que não tinham acesso a esse benefício, 
restando como alternativa as entidades filantrópicas.
O sucessor de Juscelino Kubitschek assume a presidência em 1961, 
por um curto período de tempo, Jânio Quadros, eleito com grande 
maioria dos votos e tendo como lema “varrer a corrupção”. No entanto, 
ele renunciouao mandato após oito meses no cargo. A polaridade 
ideológica promovida pela Guerra Fria estava no seu auge e o 
comportamento contraditório de Jânio Quadros, que ora parecia acenar 
ao lado soviético, ora parecia acenar ao lado norte-americano, gerou 
https://www.metropoles.com/conceicao-freitas/e-um-acervo-da-memoria-brasiliense-mas-e-tambem-uma-historia-de-amor
https://www.metropoles.com/conceicao-freitas/e-um-acervo-da-memoria-brasiliense-mas-e-tambem-uma-historia-de-amor
35
uma crise política que o levou a renunciar – e que deu início a outra crise 
que culminaria com o golpe de 1964.
João Goulart, vice-presidente de Jânio Quadros, foi impedido de assumir 
o mandato assim que Jânio renunciou. Durante um curto período 
de regime parlamentarista, Jango (apelido de João Goulart) assume 
a presidência em 1963 após um plebiscito aprovando a volta do 
presidencialismo.
A instabilidade política desse período não permitiu que houvesse 
grandes avanços ou mudanças nas políticas de saúde nacionais. Nesses 
três anos até o golpe civil-militar de 1964, seis ministros ocuparam 
o Ministério da Saúde (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Dois eventos se 
destacam nesse período: O XV Congresso Brasileiro de Higiene em 1962 
e a 3ª Conferência Nacional de Saúde, em 1963.
O Congresso de Higiene foi marcado pela discussão a respeito de um 
conceito ampliado de saúde e a busca por uma nova prática sanitária 
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). As recomendações aprovadas durante 
o evento, relacionando saúde às condições de vida da população 
(especialmente a pobreza), foram utilizadas como argumento para 
a convocação da 3ª Conferência de Saúde, que tinha como objetivo 
realizar o Plano Nacional da Saúde (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Portanto, 
essa Conferência marca a origem da municipalização dos serviços de 
saúde no Brasil, interrompida pelo golpe de 1964 e retomada após a 
redemocratização, em 1985 (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Destaca-se da 
Conferência o discurso de João Goulart na abertura do evento, sobre a 
necessidade de incorporar os “municípios do país em uma rede básica 
de serviços médico-sanitários, que forneçam a todos os brasileiros 
um mínimo indispensável à defesa de sua vida” (BRASIL, 1991 apud 
ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
O aparente alinhamento ideológico de Jango e suas propostas de 
reforma para o país aos ideais defendidos pela União Soviética 
36
foram o principal disparador para o golpe de 1964. O crescente 
descontentamento de parte da elite brasileira e de investidores 
estrangeiros com as ações de João Goulart somou-se à “ameaça 
comunista” própria da Guerra Fria, levando o país a um período de 
ditadura militar por 21 anos.
4. Considerações finais
Os poucos mais de 30 anos que contemplam a Era Vargas e a 4ª 
República foram marcantes para a história do país em muitos aspectos, 
com transformações sociais, políticas e econômicas que ajudaram a 
definir as políticas de saúde desse período e que, de certa maneira, 
influenciaram o movimento pela Reforma Sanitária da década de 1970 e 
a criação do Sistema Único de Saúde na década de 1990.
O legado desse período, talvez, sejam os resultados obtidos no combate 
as muitas doenças que foram controladas ou erradicadas no país, além 
de conformar um papel assumido pelo Estado na definição e condução 
de políticas de saúde voltadas para a população brasileira.
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2020.
38
Ditadura militar e Reforma 
Sanitária Brasileira – 1964 a 1988.
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira
Objetivos
• Compreender os principais fatos históricos do 
período entre 1964 a 1988.
• Contextualizar a construção da Reforma Sanitária 
Brasileira.
• Refletir sobre os percursos históricos e sociais da 
criação do Sistema Único de Saúde.
39
1. Ditadura militar – breve história
A crise política do governo de João Goulart culminou com o golpe civil-
militar em 1964. Em um movimento articulado entre forças armadas, 
elite econômica e governo norte-americano, o golpe de 1964 depôs o 
presidente, suspendeu os direitos civis e políticos no país e deu início a 
um período de repressão, violência e autoritarismo que durou 21 anos.
Os argumentos para o golpe estavam relacionados ao contexto político 
nacional e mundial da época. No auge da Guerra Fria e da polaridade 
entre capitalismo e comunismo (ou entre Estados Unidos e União 
Soviética), João Goulart era visto como um simpatizante do bloco 
comunista, sobretudo por sua ideologia trabalhista e por suas propostas 
de reforma para o país. Dessa forma, os planos para reforma de base, 
como reforma agrária, tributária e trabalhista, serviram de principal 
motivo para que o golpe fosse executado, livrando assim, o país da 
ameaça comunista.
Durante os 21 anos de regime militar, o país foi regido por meio dos 
Atos Institucionais (AIs) – uma maneira de garantir o poder e centralizar 
as decisões no poder executivo, governado por militares. O primeiro 
deles, o AI 1, alterava a constituição vigente (de 1946) para que fosse 
possível a eleição indireta para presidente, além de cassar mandatos de 
políticos de oposição e suspender direitos políticos daqueles que fossem 
considerados uma “ameaça comunista”.
O regime militar pode ser dividido em três períodos, conforme algumas 
características. O primeiro, entre 1964 a 1969, envolveos governos 
de Humberto Castello Branco (1964-1967) e de Artur Costa e Silva 
(1967-1969). Esse primeiro período foi marcado pela instituição do 
regime autoritário por meio dos primeiros AIs (MEMÓRIAS..., 2020), 
com políticas de austeridade fiscal e arrocho salarial, suspendendo 
direitos trabalhistas. Com o aumento de movimentos sociais contrários 
40
ao golpe e à política econômica, sobretudo movimentos estudantis 
e greves trabalhistas, a resposta militar veio através do AI 5, em 
1968, considerado o ato institucional mais severo da ditadura militar: 
foram fechados o senado e a assembleia legislativa, com a cassação 
dos mandatos parlamentares, houve um endurecimento da censura 
e aumento da repressão aos que se opusessem ao regime militar 
(ESCOREL, 2012; MEMÓRIAS..., 2020).
Por outro lado, o segundo período foi marcado por atos de extrema 
repressão e perseguição política a todos aqueles que eram considerados 
contrários ao regime militar. De 1969 a 1979, períodos em que Emílio 
Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979) assumiram 
a presidência, a repressão promovida pelo Estado utilizou “censura, 
vigilância, tortura sistemática, prisões ilegais e desaparecimento” 
(MEMÓRIAS..., 2020, [s.p.]). O agravamento da crise econômica no início 
da década de 1970, divergências entre os militares e o afastamento dos 
Estados Unidos (que já não apoiava mais as ditaduras da América do 
Sul) foram justificativas para o endurecimento das medidas opressoras 
do regime que, embora estivessem enfrentando forte pressão para a 
reabertura gradual da democracia, só veio dar sinais dessa mudança 
com a revogação do AI 5 em 1978, que entrou em vigor em 1979 
(MEMÓRIAS..., 2020). Assim, terminava o período “do terror” e começava 
uma lenta e gradual abertura democrática.
41
Figura 1 – Tropas do exército após a publicação do AI 5 – Rio de 
Janeiro, 1968
Fonte: http://memorialdademocracia.com.br/card/ai-5-confere-poder-total-aos-
militares#card-84. Acesso em: 7 jan. 2021.
Os seis anos de mandato de João Batista Figueiredo (1979 a 1985) 
testemunharam o aumento da pressão popular pelo fim da ditadura, 
pela realização de eleições diretas para presidente e por uma nova 
constituinte. Em meio as muitas tensões políticas e um cenário 
econômico caótico, gradualmente, as normas repressivas foram 
revogadas e ampliou-se a participação democrática. Em 1979 foi 
publicada a Lei da Anistia, que permitiu a soltura de presos políticos e 
o retorno ao país de exilados. Dessa forma, criaram-se novos partidos 
políticos para eleições diretas de governadores, o que ampliou o debate 
democrático. A pressão da sociedade pelo fim da ditadura atingiu seu 
ápice com o movimento das “Diretas Já”, com vários comícios pelo país 
e a participação popular massiva, que reivindicava eleições diretas para 
presidente em 1984. Apesar da lei não ter sido aprovada nesse ano, 
foram eleitos indiretamente para a presidência candidatos de oposição 
ao regime: Tancredo Neves e José Sarney. Tancredo não chegaria a 
assumir a presidência devido a problemas de saúde, e morreria em abril 
de 1985. Segundo Escorel (2012), em março desse mesmo ano, Sarney 
http://memorialdademocracia.com.br/card/ai-5-confere-poder-total-aos-militares#card-84
http://memorialdademocracia.com.br/card/ai-5-confere-poder-total-aos-militares#card-84
42
assumia a presidência e encerrava o período da ditadura militar no 
Brasil.
1.1 Ditadura e saúde pública
Esse breve histórico dos 21 anos da ditadura militar no Brasil é 
fundamental para a compreensão dos efeitos que a ditadura trouxe 
para as políticas públicas de saúde no país e, principalmente, para 
entender os caminhos percorridos até a criação do Sistema Único de 
Saúde (SUS). Nesse contexto, muitas das dificuldades encontradas no 
cotidiano dos serviços de saúde do SUS são heranças desse período. 
Você já se perguntou sobre a origem dos problemas que você vivencia 
na sua prática?
Há três aspectos precisam ser considerados ao analisarmos a relação 
entre o regime militar e a área da saúde: os efeitos da repressão política 
(o que prejudicou o ensino e a pesquisa em Saúde Pública no Brasil); o 
crescimento da medicina previdenciária e dos planos privados de saúde; 
e o movimento de contestação à ditadura, que no campo da saúde 
favoreceu o movimento da Reforma Sanitária Brasileira.
Com a suspensão de direitos civis e políticos, muitos funcionários 
públicos foram destituídos dos cargos ou foram aposentados 
compulsoriamente, incluindo pesquisadores e professores universitários 
da área da Saúde Pública. Nesse período, houve fechamento de 
universidades e centros de pesquisa, os movimentos estudantis e 
de classe foram proibidos e qualquer atitude “suspeita” poderia te 
transformar em um “subversivo”, ou seja, um inimigo do Estado.
Nesse contexto, muitos foram presos ou saíram do país para evitar a 
repressão política e as torturas que a ditadura promovia. Isso causou 
um apagão de profissionais que interrompeu importantes pesquisas 
na área, como o que ocorreu na Fundação Oswaldo Cruz em 1970: 
a suspensão dos direitos políticos de 10 grandes pesquisadores da 
43
instituição interrompeu pesquisas reconhecidas internacionalmente, 
desfez laboratórios e impediu o trabalho de outros profissionais desses 
laboratórios. Nesse episódio, acervos e materiais de pesquisa foram 
destruídos. De acordo com Lima (2014), o Massacre de Manguinhos, 
como ficou conhecido, interrompeu importantes estudos na área da 
farmacologia, entomologia, bioquímica e imunização.
Figura 2 – Pesquisadores da Fiocruz cassados em 1970 e 
reintegrados em 1985
Fonte: https://portal.fiocruz.br/noticia/ditadura-regime-instituido-pelo-golpe-deixou-
marcas-no-campo-da-ciencia. Acesso em: 7 jan. 2021.
As discussões sobre o conceito de saúde e a reforma administrativa 
dos serviços, iniciadas na 3ª Conferência Nacional de Saúde em 
1963, também foram interrompidas pelo golpe de 1964 e só seriam 
retomadas com o movimento da Reforma Sanitária Brasileira (ESCOREL; 
TEIXEIRA, 2012). Logo na primeira década do regime militar, as ações 
de saúde foram ainda mais centralizadas no governo federal, com 
pouca (ou nenhuma) participação dos estados e municípios. O modelo 
previdenciário foi fortalecido com a criação do Instituto Nacional de 
Previdência Social (INPS) em 1966, segundo Escorel (2012), consolidando 
https://portal.fiocruz.br/noticia/ditadura-regime-instituido-pelo-golpe-deixou-marcas-no-campo-da-ciencia
https://portal.fiocruz.br/noticia/ditadura-regime-instituido-pelo-golpe-deixou-marcas-no-campo-da-ciencia
44
a lógica de assistência à saúde baseada na assistência médica individual 
e curativa, através da cobertura previdenciária.
A criação do INPS unificou os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) 
criados na Era Vargas na década de 1930. A integração desses institutos 
em um único órgão garantiu força administrativa, política e financeira, 
com verba destinada à assistência à saúde muitas vezes maior do 
que a verba do Ministério da Saúde. Assim, ampliou-se a compra 
de serviços privados de saúde pelo INPS, que garantia assistência 
àqueles que contribuíam para isso – os trabalhadores formais. Dessa 
forma, quem não contribuía para o INPS dispunha das entidades 
filantrópicas (assistência hospitalar), serviços privados de saúde 
(assistência individual, para quem podia comprar o serviço) e de alguns 
(poucos) postos e centros de saúde, voltados para programas de saúde 
específicos, como saúde materno-infantil e controle da tuberculose 
(ESCOREL, 2012).
Apesar da assistência previdenciária não ter surgido com o golpe 
militar, durante a ditadura ela assumiu o protagonismo como política 
de saúde do Estado (BERTOLOZZI; GRECO, 1996). A unificação dos 
IAPs, o arrocho salarial e o aumento da concentração de renda para 
uma pequena parcela da população brasileira garantiram ao INPS o 3º 
maior orçamento do país no início da década de 1970, influenciando 
na privatização de serviços médicos e na práticada medicina liberal, 
assuntos valorizados com a criação do Ministério da Previdência e 
Assistência Social, em 1974 (BERTOLOZZI; GRECO, 1996; ESCOREL, 2012). 
A medicina liberal encontrou espaço através da medicina de grupo 
a partir de convênios médicos com as empresas, que dessa forma 
deixavam de contribuir para a previdência social. No entanto, de acordo 
com Escorel (2012), os dependentes desses convênios continuavam 
a usar os serviços custeados pela previdência nas situações mais 
complexas e, portanto, mais onerosas.
45
Paralelamente ao crescimento desses serviços privados, fraudes ao INPS 
e corrupção dos prestadores de serviços de saúde foram frequentes 
na ditadura, que forjavam ou adulteravam a prestação de contas 
de serviços prestados e criaram, de maneira progressiva, um déficit 
orçamentário no fundo da previdência (ESCOREL, 2012). Segundo Paim 
(2007), a crise previdenciária resultante desse cenário contribui para que 
fossem discutidos e propostos novos modelos de atenção à saúde.
Em 1975 foi realizada a 5ª Conferência Nacional de Saúde, que orientou 
a criação do Sistema Nacional de Saúde (SNS), legitimando a diversidade 
de serviços existentes na época. O SNS também passou a definir as 
atribuições das instituições,
[…] cabendo à Previdência Social, a assistência individual e curativa, 
enquanto que, os cuidados preventivos e de alcance coletivo ficaram sob 
a responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e 
Municipais de Saúde. (BERTOLOZZI; GRECO, 2012, p. 388)
Em 1977, com a criação do Sistema Nacional de Previdência Social, 
o INPS passou a ser responsável pela concessão de benefícios aos 
segurados, e a assistência à saúde foi atribuída ao recém-criado Instituto 
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Com o 
objetivo de reorganizar os serviços de saúde, eles acabaram levando 
a uma fragmentação maior das políticas e ações da previdência 
(BERTOLUZZI; GRECO, 1996).
A ditadura militar contribuiu dessa forma para as políticas de saúde no 
Brasil. Com instrumentos burocráticos e forte apelo liberal na prestação 
de serviços de saúde, esse período foi caracterizado pelo aumento do 
setor privado na saúde e por uma assistência individual e hospitalar, 
vistos pela ditadura como sinal de progresso e de desenvolvimento da 
nação. De acordo com Escorel (2012), o Ministério da Saúde continuava 
a promover campanhas sanitárias no interior do país e outras ações de 
caráter mais preventivo, como campanhas de vacinação.
46
Sob esse pano de fundo surgiu o movimento da Reforma Sanitária 
Brasileira, onde a repressão política fez surgir novos atores sociais que, 
na luta contra a ditadura, começaram a reivindicar a democratização da 
saúde (PAIM, 2007).
2. Reforma sanitária brasileira
Apesar de você 
Amanhã há de ser 
Outro dia 
Eu pergunto a você 
Onde vai se esconder 
Da enorme euforia 
Como vai proibir 
Quando o galo insistir 
Em cantar 
Água nova brotando 
E a gente se amando 
Sem parar (Apesar de Você, Chico Buarque – 1970).
47
Figura 3 – Comício histórico do movimento “Diretas Já”, que reuniu 
mais de 1,5 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú, em São 
Paulo – 1984
Fonte: http://memorialdademocracia.com.br/card/diretas-ja. Acesso em: 7 jan. 2021.
O movimento da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) foi um movimento 
social e uma proposta de reforma social (PAIM, 2007), mobilizando 
uma parcela da sociedade a discutir e a propor novos olhares sobre 
o conceito de saúde e sobre as práticas sanitárias, buscando acesso 
universal à saúde (SOUTO; OLIVEIRA, 2016). Enquanto mobilização 
política surgiu no interior das universidades, em resposta à exclusão da 
sociedade nas decisões das políticas de saúde (BERTOLOZZI; GRECO, 
1996; ESCOREL, 2012).
Segundo Escorel (2012), a participação das universidades nas discussões 
teóricas e ideológicas da RSB surgiu dentro dos departamentos de 
Medicina Preventiva, criados em 1968 na reforma do ensino superior 
realizada pelo regime militar. A Medicina Preventiva propunha uma nova 
atuação médica e um novo olhar sobre o conceito de saúde e doença 
(AROUCA, 1975). Essa proposta já vinha sendo discutida e promovida 
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Pan-
http://memorialdademocracia.com.br/card/diretas-ja
48
Americana de Saúde (OPAS), promovendo debates sobre o tema em 
vários países (ESCOREL, 2012).
Dentro do contexto político, econômico e sanitário que o Brasil 
enfrentava no início da década de 1970, as ações de saúde do regime 
militar incorporaram o caráter preventivista dessas discussões e 
algumas políticas foram desenvolvidas, entre elas o Programa de 
Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), em 1976, 
com o objetivo de criar serviços básicos de saúde e de saneamento nas 
regiões mais pobres do país (BERTOLOZZI; GRECO, 1996; PAIM, 2007).
Além disso, no início da década de 1970 começa a ganhar força em 
algumas universidades, como Universidade Estadual de Campinas, 
Universidade de São Paulo e Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 
o conceito de medicina social, discutindo os determinantes sociais no 
processo saúde-doença (ESCOREL, 2012). Por fim, essa corrente apoiaria 
as reivindicações da RSB.
Diante da tensão política provocada pelo endurecimento do regime 
militar e do modelo hospitalar de atenção à saúde, promovido pela 
medicina previdenciária, vários movimentos sociais foram ressurgindo. 
Nesse contexto, em 1976 foi criado o Centro Brasileiro de Estudos de 
Saúde (CEBES) “trazendo para discussão a questão da democratização 
da saúde e constituindo-se como um intelectual coletivo, capaz de 
reconstruir o pensamento em saúde” (PAIM, 2007, p. 75). Iniciava-se, 
assim, o movimento da RSB, aglutinando vários grupos sociais que se 
orientavam pela medicina social e que buscavam transformar a área da 
saúde no país (ESCOREL, 2012).
O CEBES era (e ainda é) responsável pela editoração da revista “Saúde 
em Debate”, que logo no editorial do seu segundo número já publicava 
“que a saúde é um direito de cada um e de todos os brasileiros” 
(EDITORIAL I apud PAIM, 2007, p. 76). Segundo Paim (2007), pouco 
tempo depois da criação do CEBES, em 1979, foi criada a Associação 
49
Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), que ajudaria a ampliar as 
discussões e reivindicações desse movimento.
Em 1980 é realizada a 7ª Conferência Nacional de Saúde que, diante 
de participantes indicados pelo governo militar, anunciou o Programa 
Nacional de Serviços de Saúde, o Prev-Saúde. Diante da crise do regime 
militar, o Prev-Saúde trazia um discurso democrático-social, que em sua 
proposta original apresentava como objetivos ampliar a cobertura de 
serviços básicos de saúde para toda a população, reorganizar o setor 
com foco na redução de custos e aumento de produtividade e melhorar 
as condições de moradia e saneamento básico (BERTOLUZZI; GRECO, 
1996). No entanto, de acordo com Paim (2007), essa proposta original 
encontrou forte crítica e resistência em segmentos do governo, que 
influenciados pelos interesses do setor privado de saúde, enfatizaram a 
redução dos custos proposta pelo programa.
Com a criação, em 1982, do Plano de Reorientação da Assistência à 
Saúde no Âmbito da Previdência Social (Plano do CONASP – Conselho 
Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária), algumas políticas 
de saúde foram implementadas, com grande enfoque racionalizador e 
na assistência à saúde previdenciária. No campo da assistência à saúde, 
resgatava os objetivos do Prev-Saúde priorizando a atenção primária 
à saúde e propondo a integração dos serviços de saúde de maneira 
hierarquizada e regionalizada (PAIM, 2007). Para o movimento da RSB, 
especificamente para a ABRASCO, de acordo com Paim (2007), essas 
medidas não consideravam a participação da sociedade na discussão 
das políticas de saúde e não consideravam os determinantes da saúde 
brasileira, sendo fortemente orientadas pela lógica e pelos interesses 
privados e hospitalares.
O Plano do CONASPgerou outros projetos e programas, entre eles o 
Programa de Ações Integradas de Saúde (PAIS). Esse programa criou a 
pactuação trilateral entre as esferas do governo: municipal, estadual e 
federal. O PAIS permitiu que estados e municípios firmassem convênio 
50
com o INAMPS, que passou a financiar serviços de saúde municipais e 
estaduais. Com isso, segundo Escorel (2012), dá-se início ao processo de 
universalização da assistência à saúde no país.
Apesar dos interesses contrários ao financiamento de estados e 
municípios pelo INAMPS, o PAIS evolui de programa para uma estratégia 
do governo federal para reorientação da política de saúde nacional, 
em 1984. De acordo com Escorel (2012), denominada como Ações 
Integradas de Saúde (AIS), essa estratégia privilegiava o setor público 
de saúde e um planejamento das ações e serviços de saúde voltados 
para o perfil epidemiológico da população, de maneira hierarquizada, 
regionalizada e descentralizada, valorizando as ações básicas de saúde, 
o que permitiria unificar o sistema de saúde.
A década de 1980 também testemunha a pressão popular pelo fim da 
ditadura, exigindo a volta da democracia e do Estado de Direito. A crise 
do regime militar também se dá pela crise nas relações entre a elite 
empresarial, investidores estrangeiros e a tecnoburocracia militar e civil, 
o que ajudou no processo de abertura democrática (ESCOREL, 2012). 
A campanha das “Diretas Já” amplia as reivindicações e a participação 
da população nas discussões sociais, inclusive na área da saúde. As 
discussões atingiriam o seu ápice com a realização da 8ª Conferência 
Nacional de Saúde, em 1986. A RSB, segundo Paim (2007), ampliava 
o seu discurso e começava a alcançar o seu propósito enquanto 
reforma: a democratização da saúde, a democratização do Estado e a 
democratização da sociedade.
2.1 A 8ª Conferência Nacional de Saúde
A 8ª Conferência é um marco para a RSB e para o processo de abertura 
democrática do país. Pela primeira vez uma conferência de saúde 
estava aberta à população, que participou ativamente das discussões 
realizadas nesse evento. A luta pela redemocratização política do país 
51
alimentou o desejo popular por reivindicar seus direitos sociais, sendo 
a saúde um deles. Nos anos que antecederam à 8ª Conferência foram 
realizados vários eventos para discussão e elaboração de uma política 
de saúde orientada pela RSB (ESCOREL, 2012; PAIM, 2007). Entre eles, o 
V Simpósio sobre a Política Nacional de Saúde, realizado em 1984, e o III 
Encontro Municipal do Setor Saúde. As discussões e as propostas desses 
eventos serviram de base para a 8ª Conferência e buscaram orientar o 
governo de transição e a elaboração do plano de governo de Tancredo 
Neves, já eleito indiretamente para a presidência da república.
A ABRASCO teve um papel fundamental no fomento e na orientação 
das propostas discutidas na 8ª Conferência e nas que se seguiram a 
ela (PAIM, 2007). Em 1986, o I Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 
que teve como tema “A Reforma Sanitária: garantia do direito universal 
à saúde”. Esse congresso, segundo Paim (2007), gerou a proposta da 
ABRASCO para a 8ª Conferência: “Pela Reforma Sanitária. Saúde: direito 
de todos, dever do Estado”, frase utilizada no artigo 196 da Constituição 
Federal de 1988.
A partir desse embasamento ideológico e social, a 8ª Conferência 
acontece em um contexto de euforia e de vontade popular em fazer 
valer suas reivindicações. Então, organizou-se em três eixos: “saúde 
como direito inerente à cidadania, reformulação do sistema nacional 
de saúde e financiamento do setor saúde” (PAIM, 2007, p. 92). Com 
a participação de mais de 4000 pessoas, a Conferência debateu e 
aprovou as propostas que reivindicavam a “unificação do sistema de 
saúde, o conceito ampliado dessaúde, o direito de cidadania e dever do 
Estado” além de novo financiamento do sistema e a participação social 
(ESCOREL, 2012, [s.p.]).
52
Figura 4 – Registro fotográfico da 8ª Conferência Nacional de Saúde 
– Brasília, 1986
Fonte: https://portal.fiocruz.br/noticia/casa-de-oswaldo-cruz-preserva-memoria-da-oitava-
conferencia. Acesso em: 7 jan. 2021.
2.2 A criação do Sistema Único de Saúde (SUS)
Entre a realização da 8ª Conferência e a promulgação da lei orgânica do 
SUS, em 1990, outros eventos contribuíram para a criação do SUS. Após 
a Conferência foram criadas a Comissão Nacional da Reforma Sanitária 
e a Plenária Nacional de Saúde, esta última com papel fundamental na 
aprovação do capítulo sobre saúde na nova constituinte, algo “inédito 
na história constitucional, refletindo o pensamento e a luta histórica 
do movimento sanitário” (ESCOREL, 2012, [s.p.]). Além disso, houve a 
ampliação das AIS, evoluindo para a criação do Sistema Unificado e 
Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987, embrião do Sistema Único de 
Saúde.
O SUDS apresentava a proposta de um sistema de saúde organizado por 
distritos de saúde, buscando vincular os ideais da RSB à democratização 
da saúde. Apesar de alguns conflitos ideológicos, segundo Paim (2007), 
https://portal.fiocruz.br/noticia/casa-de-oswaldo-cruz-preserva-memoria-da-oitava-conferencia
https://portal.fiocruz.br/noticia/casa-de-oswaldo-cruz-preserva-memoria-da-oitava-conferencia
53
o SUDS permitiu iniciar algumas mudanças no sistema de saúde e 
preparando-o para a implantação do SUS e para o fim da INAMPS.
Para consolidar a RSB, Paim (2007, p. 124) cita três “trincheiras de luta”: 
a técnico-institucional, onde o SUDS seria um importante ator; a sócio-
comunitária, com o fortalecimento da organização da sociedade civil; 
e a legislativo-parlamentar, representada pela assembleia constituinte 
e demais assembleias legislativas. Essa última instância, por sua vez, 
pode ser representada pela Constituição Federal de 1988, que dedica 
cinco artigos para a saúde, formalizando a “saúde como direito de todos 
e dever do Estado” (BRASIL, 1988, art. 196), orientando os princípios, o 
campo de atuação e a organização do novo sistema de saúde.
3. Considerações finais
Apesar do período da ditadura militar ter sido marcado por violência, 
repressão e tortura, é interessante analisarmos que o contra movimento 
ao regime militar originou o movimento pela RSB e ampliou as 
discussões sobre a democratização do país para a área da saúde, como 
o conceito sobre determinantes sociais da doença, saúde como direito 
e cidadania e a importância de participação popular no processo de 
tomada de decisão. Após 30 anos da promulgação da Constituição 
Federal de 1988, muitos desafios encontrados no início da RSB 
permanecem, como a influência dos interesses privados nas políticas 
públicas de saúde. Nesse sentido, muitos pesquisadores apontam que 
o movimento da reforma ainda não foi concluído, sendo necessário 
manter as discussões da RSB e promovendo a implantação do SUS, que 
ainda está incompleta. Historicamente, o SUS é muito jovem–e podemos 
refletir sobre o quanto dos ideais democráticos que originaram a sua 
criação, como a participação popular e o papel do Estado em garantir 
saúde a todos, permanecem vivos nas comunidades que nos cercam.
54
Referências Bibliográficas
APESAR de você. Compositor: Chico Buarque. São Paulo: Phonogram, 1970.
AROUCA, A. S. da S. O dilema preventivista: contribuição para a compreensão 
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Acesso em: 7 jan. 2021.
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55
Sistema Único de Saúde
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira
Objetivos
• Compreender sobre o processo de implantação do 
SUS.
• Identificar as principais legislações que organizam o 
SUS.
• Refletir sobre a construção histórica do SUS e nosso 
papel enquanto profissional da saúde.
56
1. Sistema Único de Saúde (SUS) – um sistema 
em construção
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) ocorreu em um contexto 
político, social e econômico não muito favorável à sua implantação. No 
contexto político, um momento de redemocratização do país com o fim 
da ditadura militar e início de políticas de governo com forte orientação 
neoliberal; no contexto social, mobilização e participação popular 
emergentes; no contexto econômico, dívida externa, ajustes fiscais e 
pressão por menor participação do Estado nas políticas sociais. Em 1988, 
com a aprovação da nova Constituição Federal (CF), a Reforma Sanitária 
Brasileira (RSB) alcançava uma importante conquista na sua luta pela 
democratização da saúde, embora muitos obstáculos ainda dificultem a 
efetiva consolidação do SUS.
A Constituição Federal de 1988, nos seus arts. 196 a 200, define que 
saúde é direito de todos e dever do Estado, e estabelece uma rede 
regionalizada e hierarquizada de ações e serviços de saúde, que 
inseridas em um sistema único de saúde são responsáveis por: controlar 
e fiscalizar serviços e artigos relacionados à saúde, executar ações de 
vigilância em saúde e ordenar a formação de profissionais da saúde 
(BRASIL, 1988). As leis orgânicas da Saúde (LOS), aprovadas dois anos 
após a CF, regulamentam e orientam as ações desse sistema de saúde.
O contexto histórico da criação do SUS, no entanto, não favoreceu 
sua implantação. Segundo Rodrigues (2014), a grande diversidade 
e heterogeneidade dos municípios e estados brasileiros no que diz 
respeito à infraestrutura e serviços disponíveis, a grande participação 
do setor privado na saúde (com interesses diversos aos do SUS) e uma 
orientação política e econômica neoliberal – com menor participação do 
Estado e mais liberdade do mercado – compõem um cenário adverso 
ao SUS, o que explica, em partes, a dificuldade em se consolidar em um 
57
sistema de saúde realmente apoiado nos princípios e diretrizes que o 
orientam.
As Leis nº 8.080 (BRASIL, 1990a) e 8.142 (BRASIL, 1990b), enquanto 
leis orgânicas do SUS definem as condições para se garantir a saúde, 
a organização e funcionamento dos serviços de saúde, a participação 
da comunidade na gestão do SUS e sobre a transferência de recursos 
financeiros. A Lei nº 8.080 define, em seu art. 7º, os princípios e diretrizes 
do SUS: a universalidade de acesso, a integralidade da assistência, 
a equidade (redigido como “igualdade da assistência”) e a sua 
descentralização político-administrativa para os municípios, compondo 
uma rede serviços regionalizada e hierarquizada (BRASIL, 1990a). A Lei 
8.142 (BRASIL, 1990b) dispõe sobre as instâncias colegiadas na gestão 
do SUS, a conferência de Saúde e o Conselho de Saúde, e cria o Fundo 
Nacional de Saúde (FNS), para a alocação e transferência de recursos 
financeiros.
As LOS, no entanto, não foram (e não são) suficientes para a total 
implantação do SUS. Dessa forma, de acordo com Escorel (2012), temos 
que considerar que até meados da década de 1980, as políticas de saúde 
foram fortemente centralizadas no governo federal, com nenhuma 
participação dos municípios e pouca participação dos governos 
estaduais. A partir da descentralização prevista na CF, novos atores 
sociais surgem, com a inclusão dos municípios na gestão das ações e 
serviços de saúde. A inclusão de todos esses atores sociais no processo 
de decisão do SUS não ocorreu, portanto, de forma instantânea. Outros 
aspectos continuavam sendo necessários para alcançar os princípios 
do SUS, como financiamento adequado, regionalização das decisões 
e atores políticos dispostos a consolidar o SUS (LEVCOVITZ; LIMA; 
MACHADO, 2001; RODRIGUES, 2014).
58
1.1 As normas operacionais
Na década de 1990, sob um contexto político e econômico instável, 
as Normas Operacionais Básicas (NOBs) foram criadas para orientar 
e regulamentar o processo de descentralização do SUS, definindo as 
responsabilidades e critérios de transferência de recursos financeiros. 
Nesse período, entre os anos de 1991 e 1996, criava-se quatro NOBs, 
sob a forma de portarias ministeriais.
A primeira delas, a NOB 01/1991, foi editada pelo Instituto Nacional de 
Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Vale lembrar que o 
INAMPS, criado na ditadura militar, era o órgão responsável por gerir os 
recursos financeiros e serviços de saúde, através da previdência social, 
voltados para a assistência médica dos seus segurados. Por sua vez, essa 
instituição, com forte influência do setor privado de saúde, orientada por 
uma lógica de gestão centralizada no governo federal, representado por 
si mesmo. Logo, o caráter da NOB 01/1991 não era de efetivar a gestão 
compartilhada do SUS entre municípios, estados e governo federal, a 
sua principal característica foi a manutenção da gestão do sistema de 
saúde pelo INAMPS, equiparando prestadores de serviços públicos aos 
privados, caracterizando assim as secretarias municipais e estaduais 
como simples prestadores–e não gestores (BRASIL, 2011a).
A transferência de recursos financeiros definidas por essa NOB também 
mantinha o caráter centralizador característico do INAMPS, definindo 
um teto financeiro conforme o tamanho da população e criando critérios 
para a transferência de recursos para procedimentos hospitalares e 
ambulatoriais, caracterizando um repasse condicionado à produção dos 
serviços de saúde, através do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/
SUS) (BRASIL, 2011a; LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001).
A NOB 01/2001 recebeu muitas críticas à época, inclusive com ações 
judiciais contrárias à sua publicação, já que foi vista como uma tentativa 
de se manter a centralização da saúde sob a gestão do INAMPS, 
59
contrariando as LOS (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001). Logo, ela 
foi prontamente substituída pela NOB 01/1992, também editada pelo 
INAMPS, mas com a participação do Conselho Nacional de Secretários 
de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de Secretários Municipais 
de Saúde (CONASEMS)na sua elaboração. No entanto, manteve a 
responsabilidade do INAMPS no repasse de recursos financeiros aos 
estados e municípios, mantendo a remuneração por procedimento 
realizado (produção) e sem garantir a integração dos serviços de 
maneira regionalizada, como proposto pela CF e pelas LOS (BRASIL, 
2011a; LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001).
Em 1992 foi realizada a 9ª Conferência Nacional de Saúde, com o 
tema “SUS – municipalização é o caminho”, com grandes debates 
sobre as dificuldades na gestão da política de saúde (LEVCOVITZ; 
LIMA; MACHADO, 2001). Dessa conferência surgiram propostas e 
recomendações que foram incorporadas na NOB 01/1993. Nesse 
mesmo ano, o INAMPS foi extinto, sendo integrado ao SUS e garantindo, 
assim, o Ministério da Saúde como única autoridade sanitária no nível 
federal, compartilhando a responsabilidade do SUS com estados e 
municípios (BRASIL, 2011a).
A NOB 01/1993 traz uma estratégia para a transição da descentralização 
do SUS (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001). A principal ferramenta 
para isso foi a criação das Comissões Intergestores Tripartites (CIT) e 
as Comissões Intergestores Bipartites (CIB), buscando institucionalizar 
um espaço de gestão compartilhada entre as entidades federativas 
– municípios, estados e governo federal (BRASIL, 2011a). Essa NOB 
também passa a permitir a habilitação dos municípios como gestores, 
contribuindo para o avanço da municipalização da saúde (BRASIL, 
2011a).
A transferência de recursos financeiros “fundo a fundo”, ou seja, de 
forma regular e automática da União para estados e municípios, 
também foi criada pela NOB 01/1993, embora o instrumento para 
60
o repasse financeiro não tenham mudado, mantendo o caráter de 
pagamento por procedimento (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001).
A quarta e última NOB, de 1996, foi resultado de um longo período de 
discussões e deliberações realizadas no Conselho Nacional de Saúde 
e nas CITs, com atuação do CONASS e CONASEMS. As discussões 
buscaram atender às necessidades dos diferentes atores do SUS nos 
três níveis de gestão, consolidando a política de municipalização do 
sistema de saúde, instituindo a gestão plena do sistema municipal e 
gestão plena da atenção básica, e redefinindo as responsabilidades das 
três esferas de governo (BRASIL, 2011a).
Entre os seus objetivos, destacam-se:
• Reorganizar o modelo de atenção à saúde (por meio da ampliação 
da cobertura do Programa de Agentes Comunitários de Saúde-
PACS e do Programa de Saúde da Família–PSF).
• Aumentar a participação percentual da transferência fundo a 
fundo, fortalecer a gestão compartilhada do SUS através das CIBs e 
CITs.
• Aprimorar as relações entre municípios, estados e União, 
aprimorando o planejamento entre as esferas por meio da 
Programação Pactuada e Integrada – PPI (BRASIL, 2011a).
No financiamento das ações do PACS e PSF, a NOB 01/1996 cria o Piso 
da Atenção Básica (PAB) fixo e variável, inovando ao prever uma forma 
de financiamento não vinculada à prestação de serviços (LEVCOVITZ; 
LIMA; MACHADO, 2011).
Apesar de publicada em 1996, a NOB 01/1996 só começou de 
fato em 1998. Nesse período de dois anos, o Ministério da Saúde 
publicou várias portarias complementares à essa NOB, que alteraram 
consideravelmente o seu conteúdo original (LEVCOVITZ; LIMA; 
61
MACHADO, 2001), chegando a ser considerada uma norma “natimorta” 
por alguns especialistas (CARVALHO, 2001), já que muito da discussão 
realizada entre atores como CONASS e CONASEMS foram alteradas por 
portarias posteriores.
Com avanços e desafios não superados, as quatro edições das NOBs 
deram início à implantação do SUS, normatizando repasses financeiros, 
ampliando os colegiados gestores e garantindo mais autonomia aos 
municípios, principalmente para as ações de atenção básica (LEVCOVITZ; 
LIMA; MACHADO, 2011). Até mesmo essa autonomia é questionada, 
já que, ao condicionar o financiamento da atenção básica às regras 
determinadas pelo Ministério da Saúde (composição das equipes e 
outras condicionalidades do PACS e PSF), segundo Carvalho (2001), a 
autonomia dos municípios torna-se bastante reduzida.
Enquanto as NOBs tiveram como principal ponto de partida a 
descentralização do sistema de saúde a partir do seu financiamento, 
a regionalização das ações e serviços de saúde começou a ser 
normatizada pelas Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS), 
em 2001 e complementada em 2002. Apesar dos avanços alcançados 
pelas NOBs, de acordo com Souza (2001), ainda havia necessidade de 
aprimorar a articulação entre as três esferas de gestão para se alcançar 
um sistema de saúde regionalizado, hierarquizado e resolutivo. Assim, 
as NOAS introduziram a proposta de redes de assistência, como forma 
de garantir mais equidade na distribuição de recursos financeiros e 
aumentar o acesso da população a todos os níveis de atenção à saúde 
(BRASIL, 2011a).
As NOAS consideraram a regionalização como a principal estratégia 
para a reorganização assistencial, definindo três ações estratégicas 
para promover a regionalização: elaboração do plano diretor de 
regionalização, fortalecimento da capacidade de gestão do SUS e revisão 
de critérios para habilitação de estados e municípios (BRASIL, 2011a).
62
O Plano Diretor de Regionalização (PDR) atribuiu aos estados a 
responsabilidade de dividir seus territórios em regiões e microrregiões 
de saúde, conforme características sanitárias, epidemiológicas, 
geográficas e a rede de assistência disponível. Assim, buscava-
se otimizar os recursos disponíveis para cada região, conforme as 
necessidades de cada local (SOUZA, 2001). As negociações e pactuações 
(PPI) entre estados e municípios, também sob a responsabilidade dos 
estados, complementava o PDR, fortalecendo a capacidade gestora de 
cada ator por meio de ações de regulação, controle e avaliação da rede 
de serviços disponíveis (BRASIL, 2011a).
Além disso, as NOAs propuseram um aumento no financiamento, 
ampliando o PAB fixo e o repasse financeiro para ações de média 
complexidade, reforçando a orientação de pré-pagamento iniciada pela 
NOB 01/1996 e exigindo uma atuação ativa dos estados e municípios 
no planejamento da oferta de serviços, conforme as necessidades da 
população de cada região (BRASIL, 2011a; SOUZA, 2001).
Novamente, apesar dos avanços que as NOAS garantiram, como a 
criação de novos arranjos de gestão compartilhada, ainda existiam 
críticas ao caráter centralizador das normas e a lentidão em se alcançar 
plenamente os princípios e diretrizes propostas nas LOS do SUS, 
dificultado pela normatização excessiva vinculada a recursos financeiros 
(CARVALHO, 2001; LIMA et al., 2012).
1.2 O pacto pela saúde
As críticas ao governo federal sobre as formas de orientar as políticas 
de descentralização e regionalização do SUS permaneceram até a 
metade da década de 2000, quase 20 anos após a criação do SUS. No 
entanto, ainda, era necessário organizar o sistema de saúde de maneira 
regionalizada, ordenado pela atenção básica e com financiamento mais 
eficiente (LIMA et al., 2012). Após amplas discussões entre estados, 
63
municípios e governo federal, por meio das CIBs, CITs, CONASEMS 
E CONASS foi criado em 2006 o Pacto pela Saúde: um acordo 
interfederativo (e não apenas uma norma) dividido em três eixos: Pacto 
pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão (BRASIL, 2011a).
O Pacto em Defesa do SUS teve como principal objetivo ampliar a 
participação da sociedade nas discussões sobre saúde e cidadania, 
aumentando a valorização do SUS (LIMA et al., 2012); o Pacto pela 
Vida definiu prioridades de ações de saúde, considerando o contexto 
sanitário e epidemiológico do país e com foco nos resultados, ou seja, 
na melhoria dos indicadores das áreas priorizadas (BRASIL, 2011a). 
Por último, o Pacto de Gestão propôs uma gestão mais cooperativa 
e descentralizada do SUS, por meio das seguintes diretrizes: 
descentralização, regionalização, financiamento, planejamento, PPI, 
regulação, participação e controle social, gestão dotrabalho e educação 
na saúde (BRASIL, 2011a). O Pacto de Gestão também propôs a 
criação do Colegiado de Gestão Regional (CGR), instâncias colegiadas 
permanentes conforme as regiões definidas nos Planos Diretores de 
Regionalização (LIMA et al., 2012).
O Pacto pela Saúde inovou na forma de contratualizar as ações de 
saúde entre as esferas federativas, a partir do Termo de Compromisso 
de Gestão. Cada termo assinado especificava as atribuições, objetivos e 
metas de melhoria a serem alcançados, avaliados a partir de uma série 
de indicadores. Os termos de pactuação, aprovados e homologados nas 
CIBs e CITs, alteraram as relações entre União e estados e municípios, 
uma vez que exigia uma maior articulação entre todas as esferas de 
gestão (LIMA et al., 2012).
Com relação ao financiamento, o Pacto pela Saúde unificou várias 
modalidades de transferência de recursos em cinco blocos: atenção 
básica, média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar, vigilância 
em saúde, assistência farmacêutica e gestão do SUS. No entanto, a 
indução de ações de saúde vinculadas aos recursos e a regulação 
64
financeira do repasse desses recursos continuaram sendo realizadas 
pelo Ministério da Saúde (LIMA et al., 2012).
Figura 1 – Blocos para transferência de recursos financeiros do 
Pacto pela Saúde
Fonte: elaborada pela autora.
O Pacto pela Saúde não conseguiu superar desafios anteriores à 
sua criação, como o subfinanciamento das ações do SUS e a sua 
baixa valorização entre parte da sociedade civil (LIMA et al., 2012; 
MENICUCCI; COSTA; MACHADO, 2018). A falta de continuidade nas 
gestões municipais e estaduais, com trocas de secretários (por vezes 
inexperientes) durante o processo de pactuação também dificultou a 
evolução do Pacto pela Saúde (MENICUCCI; COSTA; MACHADO, 2018). 
Em 2012, os Termos de Compromisso de Gestão foram substituídos 
pelos Contratos de Ação Pública (COAP), a partir do Decreto nº 7.508 
(BRASIL, 2011).
1.3 Decreto nº 7.508 (BRASIL, 2011)
Mais de 20 anos após a criação do SUS, o Decreto nº 7.508 (BRASIL, 2011) 
passa a regulamentar a Lei nº 8.080 (BRASIL, 1990) na organização do 
65
SUS. Nesse contexto, dois aspectos marcam esse decreto: os Contratos 
de Ação Pública (COAP) e a política das Redes de Atenção à Saúde (RAS).
O COAP formaliza juridicamente os compromissos firmados entre os 
gestores do SUS (municípios, estados e União) compondo uma gestão 
participativa. As RAS, operadas nas regiões de saúde, buscam garantir 
o acesso aos serviços de saúde conforme as necessidades de cada 
região, efetivando a descentralização do SUS e com responsabilidade 
compartilhada (BRASIL, 2011b).
Figura 2 – Evolução da descentralização do SUS desde 1991
Fonte: elaborada pela autora.
As RAS, enquanto redes regionalizadas, devem dispor de ações 
e serviços de atenção primária, urgência e emergência, atenção 
psicossocial, atenção ambulatorial especializada e hospitalar e vigilância 
em saúde. Assim, apoiadas em portarias subsequentes ao decreto, 
buscou-se criar uma rede regionalizada de serviços de saúde que se 
orientassem pelas necessidades de saúde de cada região e que operasse 
através de relações horizontais entre os serviços, de forma a se alcançar 
um cuidado integral, oferecido com equidade (BRASIL, 2014).
Ainda, redes temáticas consideradas prioritárias para a melhoria dos 
indicadores de saúde da população foram definidas: rede cegonha 
(atenção às gestantes, puérperas e recém-nascidos), rede de atenção às 
66
urgências e emergências, rede de atenção psicossocial, rede de cuidados 
à pessoa com deficiência e rede de atenção à saúde das pessoas com 
doenças crônicas. Com características particulares a cada rede temática 
foram pactuadas ações, metas e estratégias de forma compartilhada por 
meio das CIBs e CITs (BRASIL, 2014).
Durante a década de 2010, o Ministério da Saúde manteve sua posição 
indutora de políticas de saúde, principalmente vinculadas ao repasse 
financeiro. Nesse sentido, destacam-se as Políticas Nacionais de 
Atenção Básica, Política Nacional de Educação Permanente e Política 
Nacional de Humanização, com financiamento específico para ações 
específicas. Além disso, alguns programas federais foram vinculados a 
essas políticas, como o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da 
Qualidade da Atenção Básica e o Programa Mais Médicos, reeditado em 
2019 como Programa Médicos pelo Brasil. Mesmo com as instâncias 
colegiadas garantidas (e atuantes), o governo federal permaneceu como 
o principal protagonista na condução dos rumos de SUS, definindo as 
principais políticas de saúde no país.
1.4 Conquistas, avanços e desafios
Há uma vasta literatura apontando o impacto do SUS na melhora 
dos indicadores de saúde do Brasil, como diminuição da mortalidade 
materna e infantil, aumento da cobertura vacinal (além da ampliação 
da oferta de vacinas), aumento da cobertura da atenção básica, além 
de acesso gratuito a medicamentos e procedimentos como tratamento 
para HIV/aids, controle de tabagismo, transplantes de órgãos, atenção 
à saúde bucal, entre outros. O SUS é reconhecido internacionalmente 
pela amplitude de suas políticas e ações de saúde, principalmente 
considerando o tamanho e as diferenças regionais do país. Embora 
conviva com um sistema privado de saúde tido como complementar, o 
que por vezes pode interferir em algumas decisões políticas, é utilizado 
diretamente pela maior parte da população brasileira e, indiretamente 
67
(por meio das ações de vigilância sanitária e epidemiológica, por 
exemplo), por todos os brasileiros.
Só as dimensões continentais do país já são um grande desafio para 
operacionalizar um sistema de saúde nacional, descentralizado e 
regionalizado, apoiado nos princípios da universalidade, equidade 
e integralidade. Diante de tantos problemas que, muitas vezes, 
vivenciamos na nossa prática profissional, como: recursos escassos, 
gestão ineficiente e uma demanda maior do que a oferta, pode ser difícil 
perceber o quanto se avançou nas últimas décadas.
O final da década de 2010 e começo da década de 2020 trazem velhos 
novos desafios ao SUS, que continua sendo um sistema contra-
hegemônico em um contexto político e social de valorização do capital 
privado e com menor participação do Estado (RODRIGUES, 2014). 
Segundo Paim (2018), muitos o vêm sob risco de extinção, uma vez 
que sua consolidação ainda está incompleta. A restrição orçamentária 
atende aos interesses neoliberais para um suposto crescimento 
da economia, segundo Rodrigues (2014), além de contribuir para o 
crescimento do sistema privado de saúde.
Desde a sua construção, a mobilização política e social para a criação do 
SUS não envolveu trabalhadores de saúde (e seus sindicatos) e partidos 
políticos. Além disso, ela tampouco avançou na cultura brasileira, ainda 
condicionada ao modelo médico hegemônico, curativo e centrado na 
assistência hospitalar (RODRIGUES, 2014; PAIM, 2018). Nesse sentido, 
Campos (1992) já questionava sobre os motivos de não terem se 
formado atores sociais para apoiar o SUS e conseguir alcançar os seus 
princípios e diretrizes:
Por que amplos setores da sociedade civil (...) somente demandam 
assistência? (...) Por que as entidades sindicais (...) aspiram (...) à inclusão 
de seus filiados em alguma das modalidades da medicina de mercado? Por 
que (...) os movimentos de trabalhadores de saúde mantêm-se (...) apáticos 
e frustrados (...)? (CAMPOS, 1992, p. 80)
68
Apesar da histórica conquista social de cidadania garantindo saúde 
como um direito de todos e um dever do Estado (BRASIL, 1988), esse 
mesmo Estado não tem garantido a “sustentabilidade econômica e 
científico-tecnológica do SUS” (PAIM, 2018, p. 1725). Portanto, com um 
financiamento insuficiente, fortalecem-se os serviços privados de saúde, 
reforçando o ideário de privatização do SUS (PAIM, 2018).
Contraditoriamente, de acordo com Rodrigues (2014), a municipalização 
da saúde, reinvindicação antiga de sanitaristas antes até da Reforma 
Sanitária Brasileira,pode ser vista como uma fragilidade do SUS. Em 
um universo heterogêneo com mais de 5000 municípios, os conflitos de 
interesses (políticos, econômicos e sociais) se ampliam, principalmente 
pela falta de uma cultura ideológica que sustente os ideais propostos na 
criação do SUS. Apesar dos espaços garantidos de participação popular, 
como os conselhos de saúde, o envolvimento da sociedade na defesa do 
SUS ainda é pouco percebido.
A evolução da descentralização do nosso sistema de saúde mostra 
que nos poucos mais de 30 anos do SUS existiram avanços na sua 
consolidação. Hoje estão mais definidas as responsabilidades dos 
três níveis de gestão, existem espaços garantidos para decisão 
compartilhada e uma rede de serviços que opera de forma mais 
integrada do que operava há 30 anos. Logo, permanecem as dificuldades 
de financiamento das ações de saúde, a baixa valorização do SUS 
enquanto um sistema de saúde universal e as muitas desigualdades 
regionais, características do Brasil.
A superação dos desafios impostos à consolidação do SUS deverá ser 
buscada no âmbito político, com a ampliação e o fortalecimento de 
atores sociais que defendam o SUS (PAIM, 2018). Assim, novamente 
remetendo aos questionamentos de Campos (1992, p. 87):
A questão que permanece é com que instrumentos operar estas 
modificações. Na realidade, não se trata apenas de imaginar novos 
69
projetos tecnoassistenciais, mas de identificar QUEM os construirá e quem 
os implementará enquanto um movimento de luta política, de reforma 
‘intelectual e moral’.
Enquanto profissional da saúde inserido no SUS, qual ator social você 
deseja ser?
Referências Bibliográficas
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Bons estudos!
	Sumário
	Do Brasil Colônia à Primeira República
	Objetivos
	1. Brasil Colônia - 1500 a 1808
	2. Brasil Imperial - 1808 a 1888
	3. República Velha - 1888 a 1930
	Referências Bibliográficas
	Da Era Vargas à 4ª República - 1930 a 1964
	Objetivos
	1. A Era Vargas - 1930 a 1945
	2. A Fundação Rockefeller e a influência na saúde pública brasileira
	3. A 4ª República - 1945 a 1964
	4. Considerações finais
	Referências Bibliográficas
	Ditadura militar e Reforma Sanitária Brasileira - 1964 a 1988.
	Objetivos
	1. Ditadura militar - breve história
	2. Reforma sanitária brasileira
	3. Considerações finais
	Referências Bibliográficas
	Sistema Único de Saúde
	Objetivos
	1. Sistema Único de Saúde (SUS) - um sistema em construção
	Referências Bibliográficas

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