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SEMANA 03
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
SEMANA 03/18
Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 8
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE II (CONTINUAÇÃO DE “FATO TÍPICO” – TEORIA DO TIPO – ITER
CRIMINIS – CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E
ARREPENDIMENTO POSTERIOR – CRIME IMPOSSÍVEL) .................................................................................... 8
1. CONTINUAÇÃO DOS ELEMENTOS DO FATO TÍPICO ...................................................................................... 8
2. CONCAUSAS ................................................................................................................................................. 19
3. TEORIA DO TIPO........................................................................................................................................... 26
3.1 Funções do Tipo Penal ............................................................................................................................................ 26
3.2 Estrutura do Tipo Penal .......................................................................................................................................... 27
3.3 Classificações do Tipo Penal ................................................................................................................................... 27
3.3.1 Tipo Normal X Anormal .................................................................................................................................... 27
3.3.2 Tipo Congruente X Tipo Incongruente ............................................................................................................. 27
3.3.3 Tipo Simples X Tipo Misto ................................................................................................................................ 28
3.3.4 Tipo Fechado (Cerrado) X Tipo Aberto ............................................................................................................ 29
3.3.5 Tipo Preventivo ................................................................................................................................................ 29
3.3.6 Tipo Penal Doloso X Culposo X Preterdoloso ................................................................................................... 29
4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ....................................................................................................................... 43
4.1 Consumação ........................................................................................................................................................... 43
4.1.2 Iter Criminis ...................................................................................................................................................... 43
4.2. Tentativa (= conatus, crime imperfeito, crime incompleto).................................................................................. 47
5. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ ........................................................................... 50
6. ARREPENDIMENTO POSTERIOR ................................................................................................................... 54
7. CRIME IMPOSSÍVEL (ART. 17, CPC) .............................................................................................................. 59
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 64
META 2 ............................................................................................................................................................ 75
DIREITO PROCESSUAL PENAL: AÇÃO PENAL.................................................................................................... 75
1. PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................................................................................. 76
2. AÇÃO PENAL ................................................................................................................................................ 77
2.1 Direito de Ação ....................................................................................................................................................... 77
2.2 Condições da Ação ................................................................................................................................................. 79
2.2.1 Conceito ........................................................................................................................................................... 79
2.2.2 Condições genéricas ........................................................................................................................................ 80
2.2.3 Condições Específicas da Ação ......................................................................................................................... 87
3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL ....................................................................................................................... 93
3.1 Princípios Comuns da Ação Penal Pública e Privada .............................................................................................. 93
3.2 Princípios da Ação Penal Pública ............................................................................................................................ 93
3.3 Princípios da Ação Penal Privada ............................................................................................................................ 99
4. AÇÃO PENAL PÚBLICA ............................................................................................................................... 102
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4.1 Ação Penal Pública Incondicionada ...................................................................................................................... 103
4.2 Ação Penal Pública Condicionada ......................................................................................................................... 104
4.2.1 Ação Penal Pública Condicionada à Representação do Ofendido ................................................................. 104
4.2.2 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça ......................................................... 108
4.2.3 Ação Penal Pública Subsidiária da Pública ..................................................................................................... 108
5. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA ....................................................................................................... 109
5.1 Ação Penal Privada Personalíssima ...................................................................................................................... 110
5.2 Ação Penal Privada Exclusiva ou Propriamente Dita ............................................................................................ 111
5.3 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública ou Acidentalmente Privada ou Supletiva .......................................... 111
6. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DA AÇÃO PENAL ............................................................................................... 114
6.1 Ação Penal Adesiva ............................................................................................................................................... 114
6.2 Ação Penal Popular ............................................................................................................................................... 115
6.3 Ação Penal Secundária .........................................................................................................................................115
6.4 Ação de Prevenção Penal ..................................................................................................................................... 116
7. DENÚNCIA E QUEIXA CRIME ...................................................................................................................... 117
8. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (Lei 13.964/19) ........................................................................... 125
8.1 Conceito ............................................................................................................................................................... 126
8.2 Requisitos, Condições e Vedações ....................................................................................................................... 128
8.3 Procedimento do Acordo de Não Persecução Penal ............................................................................................ 132
9. AÇÃO CIVIL EX DELICTO ............................................................................................................................. 136
9.1 Execução Civil ex delicto (art. 63, CPP) X Ação Civil ex delicto (art. 64, CPP)........................................................ 137
9.2 Legitimados ativos para propor a ação civil ......................................................................................................... 137
9.3 Indenização na sentença condenatória ................................................................................................................ 138
9.4 Efeitos civis da sentença absolutória ................................................................................................................... 138
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 143
META 3 .......................................................................................................................................................... 153
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I) .......................................................... 153
1. HABEAS CORPUS ........................................................................................................................................ 154
2. MANDADO DE SEGURANÇA ...................................................................................................................... 167
3. MANDADO DE INJUNÇÃO .......................................................................................................................... 191
4. HABEAS DATA ............................................................................................................................................ 203
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 209
META 4 .......................................................................................................................................................... 214
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE II) ......................................................... 214
5. AÇÃO POPULAR (LEI Nº 4.717/65) ............................................................................................................. 214
6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85) .......................................................................................................... 221
7. INQUÉRITO CIVIL ........................................................................................................................................ 233
8. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) ........................................................................................ 235
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QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 238
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS ......................................................................................... 242
1. DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................................. 242
1.1 Direitos Políticos Positivos .................................................................................................................................... 243
1.2 Direitos Eleitorais Negativos ................................................................................................................................ 245
1.3 Privação de Direitos Políticos ............................................................................................................................... 247
1.4. Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo ................................................................................................ 249
2. PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................................................................. 249
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 254
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE ......................................................................... 263
1. NACIONALIDADE ........................................................................................................................................ 263
1.1 Espécies de Nacionalidade ................................................................................................................................... 263
1.2 Perda da Nacionalidade ........................................................................................................................................ 265
1.3 Brasileiros Natos x Naturalizados ......................................................................................................................... 267
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 270
META 5 .......................................................................................................................................................... 277
DIREITO CIVIL: DAS PESSOAS ......................................................................................................................... 277
1. PESSOAS NATURAIS ................................................................................................................................... 277
1.1 Incapacidade ........................................................................................................................................................ 278
1.2 Personalidade ....................................................................................................................................................... 279
1.3 Nascituro .............................................................................................................................................................. 297
1.4 Emancipação ........................................................................................................................................................ 298
1.5 Morte Presumida e Ausência ............................................................................................................................... 299
1.6 Domicílio ............................................................................................................................................................... 304
2. PESSOAS JURÍDICAS ................................................................................................................................... 305
2.1 Características ......................................................................................................................................................305
2.2 Requisitos para constituição ................................................................................................................................ 305
2.3 Classificação das pessoas jurídicas ....................................................................................................................... 306
2.4 Classificação quanto à função .............................................................................................................................. 306
2.5. Administração da pessoa jurídica ........................................................................................................................ 307
2.6 Extinção da pessoa jurídica .................................................................................................................................. 308
2.7 Desconsideração da personalidade jurídica ......................................................................................................... 308
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 315
DIREITOS HUMANOS: INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS ....................................... 324
1. INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL ................................................................................................................. 324
1.1 Conceito ............................................................................................................................................................... 324
1.2 Direitos Humanos X Direitos do Homem X Direitos Fundamentais ..................................................................... 326
2. FONTES DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................................................................ 326
3. FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .......................................................................................... 326
3.1 Jusnaturalismo...................................................................................................................................................... 326
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3.2 Positivismo ........................................................................................................................................................... 327
3.3 Jusinternacionalista .............................................................................................................................................. 328
Os direitos humanos se fundamentam em uma ordem superior, universal, imutável e inderrogável. ................. 328
4. MARCOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................................... 328
5. INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .................................. 330
6. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................................................ 331
6.1 Historicidade ........................................................................................................................................................ 331
6.2 Universalidade ...................................................................................................................................................... 331
6.3 Limitabilidade ou Relatividade ............................................................................................................................. 331
6.4 Irrenunciabilidade ................................................................................................................................................ 331
6.5 Inalienabilidade ou Indisponibilidade .................................................................................................................. 332
6.6 Imprescritibilidade................................................................................................................................................ 332
6.7 Vedação ao retrocesso ......................................................................................................................................... 332
6.8 Essencialidade ...................................................................................................................................................... 333
6.9 Inerência ou Essencialidade ................................................................................................................................. 333
6.10 Interdependência ou Inter-relação ou Complementariedade ........................................................................... 334
6.11 Inexauribilidade .................................................................................................................................................. 334
7. UNIVERSALISMO CULTURAL X RELATIVISMO CULTURAL (PIOVESAN, 2019) ............................................ 334
8. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS ..................................................................................................... 336
8.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 336
8.2 1ª Dimensão (Liberdade) ...................................................................................................................................... 337
8.3 2ª Dimensão (Igualdade) ...................................................................................................................................... 337
8.4 3ª Dimensão (Fraternidade ou Solidariedade) ..................................................................................................... 338
8.5 4ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 338
8.6 5ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 338
8.7 6ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 339
8.8 Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides ..................................................................................................... 339
9. A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK ........................................................................................... 339
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 342
META 6 – REVISÃO SEMANAL ........................................................................................................................ 351
Direito Penal: Teoria Do Crime – Parte II (Continuação De “Fato Típico” – Teoria Do Tipo – Iter Criminis – Consumação
E Tentativa – Desistência Voluntária, Arrependimento Eficaz E Arrependimento Posterior – Crime Impossível) .... 351
Direito Processual Penal: Ação Penal ......................................................................................................................... 352
Direito Constitucional: Remédios Constitucionais ..................................................................................................... 354
Direito Constitucional: Direitos Políticos .................................................................................................................... 356
Direito Constitucional: Direitos Da Nacionalidade ..................................................................................................... 357
Direito Civil: Das Pessoas ............................................................................................................................................358
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 03
META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Teoria do Crime – Parte II
2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Ação Penal
3 QUA DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais (Parte I)
4 QUI
DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais (Parte II)
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos Políticos
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos da Nacionalidade
5 SEX
DIREITO CIVIL: Das Pessoas
DIREITOS HUMANOS: Introdução e Teoria Geral dos Direitos Humanos
6 SÁB/DOM [Revisão Semanal]
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META 1
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE II (CONTINUAÇÃO DE “FATO TÍPICO” – TEORIA DO TIPO – ITER
CRIMINIS – CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E
ARREPENDIMENTO POSTERIOR – CRIME IMPOSSÍVEL)
TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA
⦁ Art. 13, caput e §1º, CP
⦁ Art. 15 a 19, CP
⦁ Art. 20, §1º, CP
⦁ Art. 4º, Lei de Contravenções Penais
⦁ Art. 33, Código Penal Militar
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
⦁ Art. 13, caput e §1º, CP (muito, muito, muito importante! Não vá para a prova sem ter este artigo
decorado na ponta da língua!)
⦁ Art. 15 a 17, CP
SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA
Súmula 145-STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.
1. CONTINUAÇÃO DOS ELEMENTOS DO FATO TÍPICO
Vimos anteriormente que o fato típico é composto por 4 elementos: conduta, resultado, nexo causal
e tipicidade, sendo que “conduta” já estudamos. Vamos ao restante:
I – CONDUTA
Visto na parte anterior.
II – RESULTADO:
É consequência da conduta do agente.
“Resultado” é a terminologia mais utilizada no Brasil, mas alguns doutrinadores usam o termo
“evento”. Existem duas importantes classificações. Uma delas baseia-se no resultado naturalístico ou
material e a outra, no resultado jurídico ou normativo:
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● Naturalístico/Material: Alteração física no mundo exterior. Se o delito é de homicídio, a morte da
vítima é o resultado material.
o Presente apenas nos crimes materiais consumados.
o Nos crimes formais, a ocorrência do resultado naturalístico é possível, mas é dispensável
para a sua consumação.
o Já os de mera conduta, jamais terão resultado naturalístico.
- Crime Material: O tipo penal descreve conduta e resultado naturalístico. E esse resultado naturalístico é
indispensável para a consumação. Ex. homicídio;
- Crime Formal ou Crime de consumação antecipada: O tipo penal descreve que a simples prática da conduta
já é suficiente para a consumação do crime. Sendo assim, o resultado naturalístico é dispensável para
consumação; é mero exaurimento do crime. O crime se consuma com a conduta (por isso é chamado de
consumação antecipada). Ex. Extorsão. O exaurimento do crime é importante: (i) na aplicação da pena e, (ii)
serve como limite temporal para o ingresso de coautor ou partícipe (parte da doutrina – Cirino, Nilo Batista)
- Crime de mera conduta: O tipo penal descreve uma mera conduta, sem resultado naturalístico descrito no
tipo e a realização da conduta vai gerar a consumação.. Ex. violação de domicílio, omissão de socorro.
Obs:. Alguns autores afirmam que o tipo penal nos crimes formais é incongruente, porquanto descreve
conduta e resultado, mas se contenta com aquela para que ocorra a consumação, vale dizer, exige menos do
que aquilo que está escrito na norma penal.
● Jurídico/Normativo: Lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. É a transgressão da lei penal.
Presente em todos os crimes.
“Mas calma aí, então há crime sem resultado?” Sem resultado naturalístico sim. Mas todo e qualquer
crime terá resultado jurídico.
Dogmaticamente, a teoria jurídica é a mais acolhida pela doutrina penal. Há crime sem resultado? De acordo
com a teoria naturalística, isso ocorre nos crimes de mera conduta. Para a teoria jurídica, não há crime sem
resultado jurídico, de modo que, se a conduta não provocou uma afetação (lesão ou ameaça de lesão) a
algum bem jurídico penalmente tutelado, não houve crime.
Vamos relembrar a classificação doutrinária do Crime quanto ao resultado Normativo ou Jurídico:
o Crime de Dano (ou lesão): A consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: Homicídio.
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o Crime de Perigo: A consumação se dá com a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo.
a) Crime de Perigo Abstrato
⦁ Perigo advindo da conduta é absolutamente presumido por lei.
⦁ Basta o MP comprovar a conduta
⦁ Ex.: todos os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento são crimes de Perigo Abstrato
b) Crime de Perigo Concreto
⦁ O perigo advindo da conduta deve ser comprovado
⦁ Deve ser demonstrado o risco para pessoa certa e determinada
⦁ Ex.: Na Lei de Drogas, o único crime de perigo concreto é o crime do art. 39, que inclusive
prevê, no tipo penal, a necessidade de exposição do bem jurídico a potencial dano.
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a
dano potencial a incolumidade de outrem:
c) Crime de Perigo Abstrato de Perigosidade Real
⦁ O perigo advindo da conduta deve ser comprovado (se aproxima do crime de perigo
concreto)
⦁ Dispensa o risco para a pessoa certa e determinada (se aproxima do crime de perigo abstrato)
III – NEXO CAUSAL
Nexo de causalidade é a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado material do delito.
Em outras palavras: É o vínculo entre conduta e resultado.
O estudo da causalidade busca concluir se o resultado naturalístico, como um fato, decorreu da ação
e se pode ser atribuído objetivamente ao sujeito passivo, motivo pelo qual só tem relevância nos crimes
materiais.
O CP utilizou a expressão “relação de causalidade” (art. 13).
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido.
§ 1.º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-
se a quem os praticou.
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TEORIAS QUE BUSCAM EXPLICAR A RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO ENTRE A CONDUTA E O RESULTADO:
1) TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS / DA CAUSALIDADE SIMPLES / DA
CONDITIO SINE QUA NON:
*Esta foi a teoria adotada pelo art. 13, caput do CP.
Segundo essa teoria, causa é toda e qualquer ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido (há aqui uma generalização, em que todas as causas teriam igual valor);
Para identificar se algo foi causa, utiliza-se o método de eliminação hipotética de Thyrém. Deve o
aplicador do direito eliminar hipoteticamente a conduta e analisar se o resultado desaparece ou subsiste.
Caso o resultado desapareça com a eliminação da conduta, esta será considerada como causa.
Assim, para considerarmos que determinado fato realmente deu causa ao resultado, é preciso que
façamos um exercício mental de eliminação hipotética dos antecedentes causais:
1 - Devemos determinar o fato que influenciou o resultado
2 - Devemos SUPRIMIR mentalmente esse fato da cadeiacausal
3 - Se, como consequência dessa supressão mental, o resultado vier a se modificar, significa que o fato
suprimido deve ser considerado como causa desse resultado.
Ex: João, intencionalmente, ateia fogo na casa de Maria com ela dentro, de modo que esta venha a
óbito. Se eliminarmos a conduta de João a morte de Maria teria ocorrido? Então a conduta dele foi causa.
Ex.: A tem ideia para cometer um crime. Fala com B e B o instiga. C empresta a arma sabendo que
era para matar B (auxílio material). A acaba matando B com as próprias mãos (sem o uso da arma de fogo
emprestada).
⦁ A → quer matar
⦁ B → instiga para ele matar mesmo
⦁ C → empresta a arma de fogo
Na investigação da relação de causalidade, temos que eliminar hipoteticamente cada uma das
condutas para saber qual delas deu causa ao resultado.
⦁ Se eliminar a conduta de A → D não morre
⦁ Se eliminar a conduta de B → D também não morre pois, pelo contexto, a instigação foi essencial
⦁ Se eliminar a conduta de C → D morre de qualquer forma. Sem o auxílio de C, a conduta mesmo
assim teria ocorrido, de modo que a conduta de C não foi causa do resultado típico. Mesmo que C
tenha feito conduta de emprestar a arma, essa conduta não deu causa ao resultado.
Crítica: A teoria dos antecedentes causais gera um grande inconveniente apontado pela Doutrina:
Permite o regresso “ad infinitum”.
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Se formos regressando cada vez mais no tempo e eliminando condutas que geraram outras, por
exemplo, chegaríamos ao ponto de que se a mãe de João não tivesse dado à luz a ele, ele não teria existido
e nem causado a morte de Maria. Assim, essa conduta teria sido causa, o que é bizarro. Então esse regresso
deve ser feito somente até onde há relevância, analisando não só a causalidade física, como a causalidade
psíquica/subjetiva, verificando dolo/culpa.
2) TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA:
A Teoria da causalidade Adequada veio para limitar o nexo causal nos desdobramentos causais
extraordinários produzidos pelas concausas relativamente independentes. Ou seja: veio limitar esse regresso
ao infinito promovido pela Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais
* Adotada como exceção, no §1º, para concausa relativamente independente que por si só produziu o
resultado.
Por essa teoria, são consideradas apenas as circunstâncias indispensáveis/idôneas/eficazes à
produção do resultado, capazes de causá-lo quando e como ele ocorreu;
Aqui, utiliza-se para a análise um juízo de probabilidade/estatístico, avaliando aquilo que
normalmente acontece como desdobramento natural de uma conduta, e excluindo os fatos inidôneos e
improváveis.
Ex.: A atira em B e B morre por causa de uma infecção hospitalar no ferimento:
⦁ Pela Teoria dos Antecedentes Causais → se retirarmos o disparo ela não morre, logo disparo
é causa do resultado.
⦁ Pela Teoria da Causalidade adequada → tem que analisar a conduta e perceber quais são
seus desdobramentos estatísticos prováveis, e verificar se eles estão compatíveis com o
resultado. Quem atira em alguém, acaba produzindo estatisticamente uma morte por
infecção hospitalar no ferimento.
⦁ Entretanto, se ele morre porque está em uma ambulância que bate em um carro, o disparo
de arma de fogo não causa o risco estatístico de morte por acidente de ambulância. Por isso,
a causa disparo de arma de fogo não é adequada ao resultado morte por acidente de
trânsito.
O nexo de causalidade não se afere por meio da simples eliminação hipotética, mas por intermédio de um
juízo de prognose póstuma objetiva. Em outras palavras, para se verificar a relação de causalidade entre
conduta e resultado, deve-se analisar se, no momento da conduta, o resultado se afigurava como provável
ou possível, segundo um prognóstico capaz de ser realizado por uma pessoa mediana.
3) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA:
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Ao contrário do que o nome sugere, esta teoria não defende a aplicação de responsabilidade
objetiva. Trata, na verdade, de delimitar, objetivamente, como será feita a imputação (atribuição) do
resultado ao agente.
A Teoria da Imputação Objetiva busca impedir o regresso ao infinito decorrente da teoria da
equivalência dos antecedentes causais. Não substitui a citada teoria, mas a complementa, inserindo, além
da análise do nexo físico (relação entre a conduta e o resultado – que é o que está presente na causalidade
simples), o nexo normativo, para a análise objetiva da relação de causalidade.
Para que se evite o regresso infinito nesta análise, dentro da teoria da conditio sine qua non (adotada
pelo CP), faz-se necessário analisar a causalidade psíquica/subjetiva, ou seja, os elementos subjetivos (dolo
ou culpa do agente) – o que seria, na verdade, a imputação subjetiva do resultado. Isso seria um problema,
por exemplo, para os causalistas e neokantistas, já que dolo e culpa estão apenas na culpabilidade.
Já na teoria da imputação objetiva, analisa-se nexo físico + nexo normativo, que analisa
objetivamente a finalidade do agente, definindo a relação de causalidade de forma objetiva, dispensando,
neste primeiro momento, a análise dos elementos subjetivos (dolo e culpa) – que formaria a imputação
subjetiva, o que só ocorrerá em momento seguinte.
A IMPUTAÇÃO OBJETIVA se insere na TIPICIDADE OBJETIVA → vai verificar se vai imputar aquele
comportamento ou resultado (a depender da teoria adotada), antes mesmo de analisar o dolo e culpa.
Ou seja: o caminho é: praticou uma conduta → 1º deve-se verificar se há nexo pela conditio sine qua
non? → SE SIM → AGORA SIM VAMOS VERIFICAR A IMPUTAÇÃO OBJETIVA.
1 - Prática da conduta (analisa se houve conduta)
2 - Verificar se houve nexo pela Teoria da Conditio Sine Que non
3 - Analisa a tipicidade objetiva (o fato de adequa à alguma norma?)
4 - Analisa a imputação objetiva (que está inserida na tipicidade objetiva)
5 - Analisa a tipicidade subjetiva (ver se há dolo ou culpa)
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IMPUTAÇÃO OBJETIVA DE ROXIN:
Considerações importantes:
(1) A imputação objetiva de ROXIN é imputação do RESULTADO
(2) O ponto central da imputação objetiva de Roxin é a ideia do risco - TEORIA DO RISCO
Ele se apropria da ideia de sociedade de risco da sociologia. E ele constata que, em sociedades
complexas, o risco é inerente à sociedade. Acabamos assimilando que determinadas condutas
de risco são fundamentais ao funcionamento da sociedade.
A solução encontrada pelo finalismo para evitar o regresso ao infinito gerado pela causalidade simples foi
delimitá-la por intermédio do dolo e da culpa (causalidade subjetiva). Já para Claus Roxin: os problemas de
imputação não devem ser resolvidos nos tipos subjetivos, dolo ou culpa, mas dentro do tipo objetivo (por
isso a imputação é objetiva). Em outras palavras, para a teoria da imputação objetiva a solução para a
causalidade deve decorrer no tipo objetivo sem perquirir o tipo subjetivo dolo ou culpa. O autor acrescenta
ao nexo físico, a causalidade normativa, isto é, nexo normativo. Portanto a análise deve seguir as seguintes
etapas: 1- teoria da equivalência dos antecedentes conjugada com a eliminação hipotética de thyrém
(causalidade objetiva) 2-imputação objetiva. 3-dolo ou culpa (causalidade subjetiva).
Roxin traz os seguintes elementos para analisar o nexo normativo:
(1) CRIAÇÃO OU INCREMENTO DE UM RISCO PROIBIDO OU NÃO PERMITIDO
Atividades de risco desenvolvidas cotidianamente, ainda que possam estar relacionadas com
resultados lesivos ao bem jurídico, não podem acarretar responsabilidade penal, pois são riscos socialmente
aceitos/adequados. Ou seja: são riscos toleráveis pela sociedade
Ex.: Andar de avião. É arriscado,mas é permitido.
→ Caso concreto citado por Roxin e Jakobs: João deseja a morte de seu tio, Pedro. Para isso, ele
convence Pedro a andar de avião frequentemente, rezando para que o avião caia. Nesse caso,
embora ele queira a morte da pessoa (ele tem o dolo, porque ele quer), ele não responde por
homicídio, caso o avião caia e Pedro morra, porque não há a criação ou incremento de um risco
não permitido.
→ Dirigir com velocidade muito acima do permitido é um risco proibido que dá causa à imputação do
resultado.
(2) REALIZAÇÃO DO RISCO NO RESULTADO
Embora tenha criado ou aumentado um risco não permitido, se esse risco não se realizar no
resultado, não haverá imputação pelo crime.
Ex.: Se ele atropelar alguém em razão do excesso de velocidade, haverá imputação do resultado
morte. No entanto, se constatar que mesmo trafegando na velocidade permitida o atropelamento teria
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ocorrido, significa que o risco incrementado (excesso de velocidade) não eliminou o resultado morte advindo
do atropelamento, pois o acidente ocorreria da mesma maneira.
(3) RESULTADO DENTRO DA LINHA DE DESDOBRAMENTO CAUSAL NORMAL DA CONDUTA
Somente haverá responsabilização penal se A CONDUTA DO INDIVÍDUO AFRONTAR A FINALIDADE
PROTETIVA DA NORMA. Ou seja: se o resultado estiver fora da esfera de proteção da norma, não haverá
imputação objetiva.
Assim, se, embora o indivíduo tenha criado ou aumentado um risco não permitido, e embora esse
risco tenha gerado um resultado, se esse resultado não violar o objeto de proteção da norma, não haverá
imputação objetiva.
Em outras palavras: não é qualquer ação/omissão do agente que será considerada causa do
resultado, mas tão somente as que criaram ou aumentaram um risco proibido, com realização desse risco no
resultado e o resultado estando dentro da linha de desdobramento normal da conduta.
Ex.: A atropela negligentemente alguém e lhe causa a morte. A mãe da vítima, ao receber a notícia
do acidente, começa a chorar e sofrer um ataque nervoso, vindo a falecer. O resultado morte da mãe da
vítima não poderá ser imputado ao atropelador A, pois as normas de trânsito que A descumpriu buscam
regulamentar o tráfego e não a saúde mental das pessoas. Ou seja: a finalidade protetiva das normas de
trânsito não é tutelar a saúde da mãe das vítimas, logo não é possível imputar o resultado.
Ex: um dependente químico, em decorrência de abuso do uso de substância entorpecente vem a
óbito. Esse resultado morte pode ser imputado a quem lhe vendeu a droga? A resposta é não. O agente gerou
um risco proibido e praticou tráfico, porém, o resultado morte não está dentro da linha de desdobramento
normal do tráfico, não é o que o tipo penal busca proteger!
Há 2 categorias que são estudadas dentro desse 3º requisito: Essas categorias estão na análise do
alcance do tipo penal. Isso porque, ainda que haja a criação de um risco proibido, e que esse risco se realize
em um resultado, não haverá imputação objetiva se esse resultado não esteja dentro do âmbito de proteção
da norma.
1ª. AUTOCOLOCAÇÃO EM PERIGO: A autocolocação em perigo responsável ou próprio ocorre quando a
própria vítima, voluntariamente, se coloca em situação de perigo GERADA/PRODUZIDA POR ELA
MESMA. No entanto, há a figura de um terceiro que INDUZ OU INSTIGA a vítima a se colocar nessa
situação de perigo. Nesse caso, ele seria responsabilizado pelo resultado gerado?
o Regra: Terceiro não responde
o Exceção: Terceiro responderá se a participação for dolosa e ele tiver mais conhecimento do
que a própria vítima.
2ª. HETEROCOLOCAÇÃO EM PERIGO CONSENTIDA: Ocorre quando a pessoa se coloca em RISCO
PRODUZIDO POR OUTRA PESSOA. Nesse caso, o terceiro deverá ser responsabilizado?
o Regra: Terceiro responde
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o Exceção: Não responderá se a vítima tiver o mesmo conhecimento do risco que ele e plena
autonomia para fazer cessar risco produzido.
* Obs.: Em ambos a vítima se coloca no perigo, a diferença é quem gera o risco/quem tem o domínio sobre
o risco/quem realiza efetivamente a situação arriscada.
IMPUTAÇÃO OBJETIVA DE JAKOBS
Günther Jakobs também tem sua vertente da imputação objetiva, porém, menos discutida na
doutrina.
Considerações importantes:
(1) A Imputação objetiva de Jakobs é DO COMPORTAMENTO (E não do resultado)
(2) A ideia central é a ideia de PAPÉIS SOCIAIS/EXPECTATIVAS – Em uma sociedade complexa, cada
pessoa tem seu papel na sociedade.
→ O comportamento social do homem será vinculado a um feixe de expectativas que a
sociedade deposita no indivíduo como um instrumento redutor de complexidade, e que
Jakobs chama de papéis (ou competências) papel social
Requisitos para a exclusão da imputação (se presente algum deles, não há imputação):
(1) RISCO PERMITIDO
Mesma ideia de ROXIN, mas trabalhada com a ideia de feixe de expectativas. Assim, o risco
permitido está dentro do feixe de expectativas esperadas pela sociedade e diz respeito aos papéis sociais
que, embora perigosos por um aspecto, são necessários e aceitos pela sociedade.
Ou seja, são riscos inerentes às configurações sociais que devem ser tolerados como rico permitido.
Logo, se o risco é permitido, significa que o agente está se comportando de acordo com o seu papel na
sociedade, e não há crime
Ex.: Todos na sociedade têm um papel social. Se o indivíduo tem o papel social de ser um piloto de
aeronave, ele gera um risco, mas é um risco permitido porque está dentro do feixe de expectativas do que a
sociedade espera dele. A sociedade espera que haja um piloto no avião.
(2) PRINCÍPIO DA CONFIANÇA
Como vivemos numa sociedade complexa, as pessoas numa mesma sociedade devem confiar umas
nas outras no sentido de que cada pessoa irá cumprir o seu respectivo papel social. (“cada um cuida da sua
vida, não precisa fiscalizar para saber se cada um cumpriu seu papel).
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Assim, se eu atuo dentro do meu papel social, dentro do feixe de expectativas que a sociedade
depositou para mim, não posso responder pelo comportamento criminoso se um outro indivíduo violar o seu
respectivo social.
Ex. Num ato cirúrgico, tido como um dos mais complexos, o médico confia que a pessoa encarregada
de esterilizar o bisturi o tenha feito. O médico tem que cumprir seu papel social de operar. Ele não precisa
ficar fiscalizando para ver se o instrumentalista esterilizou os instrumentos, pois esse é o papel social do
instrumentalista.
JAKOBS: “Não se imputarão objetivamente os resultados produzidos por quem
obrou confiando em que outros se manterão dentro dos limites de perigo
permitido”.
(3) PROIBIÇÃO DE REGRESSO (autoexplicativo – e traz a mesma ideia, só tem relevância regressar
até onde há violação do papel social)
Se determinada pessoa atuar de acordo com limites de seu papel social, sua conduta, mesmo que
contribuindo para o sucesso da infração penal levada a efeito pelo agente, não lhe poderá ser imputada.
Ex.: O autor compra uma peça de pão para envenená-lo e matar alguém. Mesmo que o padeiro
soubesse da finalidade ilícita do agente ao comprar o pão, não poderia responder pela infração penal, pois
a atividade de vender pães, seja qual for a sua utilização, consiste no papel social de padeiro. Dessa forma,
como o padeiro estava atuando dentro do limite do seu papel social, não lhe pode ser imputado o
comportamento criminoso de outrem.
(4) CAPACIDADE DA VÍTIMA
Nesse último requisito entram hipóteses residuais que atribuiriam à vítima a violação do seu papel
(ao se colocar em uma situação de risco), não podendo responsabilizar outro indivíduo, que não a própria
vítima.
Assim, se a vítima se auto coloca em perigo,resta afastada a responsabilidade do agente.
No exemplo dado acima sobre a morte do usuário de drogas, podemos acrescentar como
fundamentação para a não responsabilização do traficante por esse resultado, a autocolocação em perigo,
vez que o falecido se expôs conscientemente ao risco.
CONCLUSÃO: Ambas as vertentes (Imputação de Roxin e de Jakobs) buscam a mesma coisa: definir
objetivamente a relação de causalidade. A “diferença”, é o sentido que cada um deu à sua teoria. E aqui,
lembremos do que estudamos sobre o funcionalismo de cada um. Enquanto para Roxin não haverá nexo
causal se não foi violado ou ameaçado aquilo que o ordenamento jurídico buscava proteger (para ele a função
do DP é proteger bens jurídicos), para Jakobs não existirá o nexo causal e não será crime se o agente não
tiver violado seu papel na sociedade (para ele a função do DP é assegurar o império da norma). Tema
bastante interessante para uma discursiva!
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Vamos de tabelinha?
NEXO CAUSAL / RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Teoria da equivalência dos
antecedentes ou conditio
sine qua non.
(nexo físico + elementos
subjetivos)
Art. 13 , caput, CP.
● Causa é todo e qualquer acontecimento provocado
pelo agente, sem o qual o resultado não teria
ocorrido como e quando ocorreu.
● Método de eliminação hipotética
Teoria da causalidade
adequada
§1º do artigo 13 do CP
● Causa é todo e qualquer comportamento humano
adequado/idôneo/eficaz/capaz de produzir o
resultado como ele ocorreu.
● Mais restrita que a primeira.
● Juízo de probabilidade/estatístico – aquilo que
normalmente acontece.
Imputação objetiva
(Claus Roxin)
Não tem previsão legal
STJ já aplicou
(Nexo físico +
nexo normativo + e só depois
elementos subjetivos)
● Adiciona ao nexo de causalidade a criação de um
risco proibido ou o aumento de um já existente, a
realização desse risco no resultado, exigindo que o
resultado esteja na linha de desdobramento causal
NORMAL da conduta, ao que se dá o nome de nexo
normativo.
● Só se aplica aos crimes materiais, pois precisa haver
resultado.
● Lembrar que Jakobs aponta outros critérios.
Juris relevante: É inepta denúncia que impute a prática de homicídio na forma omissiva imprópria quando
não há descrição clara e precisa de como a acusada – médica cirurgiã de sobreaviso – poderia ter impedido
o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção do não comparecimento da denunciada à unidade
hospitalar, quando lhe foi solicitada a presença para prestar imediato atendimento a paciente que foi a óbito.
De igual modo, é também inepta a denúncia que, ao descrever a conduta da acusada como sendo dolosa, o
faz de forma genérica, a ponto de ser possível enquadrá-la tanto como culpa consciente quanto como dolo
eventual. STJ. 6a Turma. RHC 39.627-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 8/4/2014.
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Quando se imputa a alguém CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO (art. 13, § 2o, “b”, do CP), é necessário que
se demonstre o NEXO NORMATIVO (também chamado de NEXO DE EVITAÇÃO) entre a conduta omissiva
e o resultado normativo, porque só se tem por constituída a relação de causalidade se, baseado em
elementos empíricos, for possível concluir, com alto grau de probabilidade, que o resultado não ocorreria se
a ação devida fosse efetivamente realizada. Na hipótese em foco, a denúncia não descreveu com a clareza
necessária qual foi a conduta omitida pela denunciada que teria impedido o resultado morte, com
probabilidade próxima da certeza. (Via Dizer o Direito)
Como foi cobrado: (PC-AC – Delegado – 2017) Sobre causalidade e imputação objetiva, assinale a resposta
correta.
A – Para a teoria da imputação objetiva em Roxin. não há riscos juridicamente irrelevantes em ações dolosas.
Errada. Para ele, se não há risco juridicamente relevante não deve incidir o direito penal.
B – A teoria da equivalência dos antecedentes, adotada no Código Penal, é abolida pela imputação objetiva,
que renega a existência de uma causalidade natural.
Errada. Nem foi abolida, vez que a imputação objetiva complementa, nem há renegação por esta da
causalidade natural, mas apenas impõe limites a esta.
C – A teoria da conditio sine qua non tem como consequência o regresso ad infinitum na análise dos
antecedentes causais, o que pode ser evitado, entre outras análises, pela imputação objetiva.
Verdadeira. Exatamente o que já vimos.
D – A imputação objetiva dispensa a realização do risco juridicamente desaprovado no resultado.
Errada. Exige.
E – O Código Penal brasileiro - no que concerne ao nexo causal – adota expressamente a teoria da causalidade
adequada.
Errada. Esta é a exceção e não há uma adoção “expressa”. A regra é a da conditio sine qua non.
2. CONCAUSAS
O resultado, não raras vezes, é feito de pluralidade de comportamentos, associação de fatores, entre
os quais a conduta do agente aparece como seu principal (mas não único) elemento desencadeante.
Nesse sentido, concausas consiste na pluralidade de causas concorrendo para o mesmo evento.
As concausas podem ser:
☠ As espécies de concausas foram objeto da prova oral do MPMG em 2020!
o Dependentes: Não são capazes de produzir, por si só, o resultado. Precisam da conduta do agente e,
por isso, não excluem a relação de causalidade;
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o Independentes: Capazes de produzir, por si só, o resultado, ou seja, não dependem da conduta do
agente. Podem ser absolutas ou relativas, como veremos à frente.
▪ Concausa absolutamente independente: Ocorre quando há uma concausa capaz de produzir por si
só o resultado e que NÃO se origina da conduta do agente. É totalmente desvinculada, motivo pelo
qual ocorre a EXCLUSÃO DA IMPUTAÇÃO DAQUELE RESULTADO (deixa de ser causa, exclui o nexo e
responde por tentativa.
Pode ser:
(a) Absolutamente independente preexistente: Anterior à conduta concorrente do agente. A alveja B
com disparo de arma de fogo, mas B morre em razão do veneno ministrado a ele anteriormente por
C e não em razão do tiro.
⦁ O veneno é causa pré-existente – por ser anterior ao disparo de arma de fogo
⦁ Absolutamente independente – pois a vítima não bebeu o veneno em razão do disparo de
arma de fogo. Não há qualquer relação entre o disparo e o veneno: se retirar o disparo, ainda
assim, a vítima irá ingerir o veneno.
⦁ Que exclui a imputação do resultado morte – Pois não foi o disparo de arma de fogo que
causou a morte. Retirando o disparo de arma de fogo do processo causal, a morte ocorreria
como ela ocorreu? SIM! A vítima morreria do mesmo jeito: envenenada.
Aqui, A responderia por tentativa de homicídio e C por homicídio consumado
(b) Absolutamente independente concomitante: é aquela que ocorre ao mesmo tempo que a conduta
do agente – Seguindo o exemplo anterior, A alveja B com disparo de arma de fogo, mas B morre em
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razão de traumatismo craniano por um tijolo de um prédio que ao mesmo tempo da conduta de A
caiu e atingiu a sua cabeça
⦁ Causas absolutamente independentes → pois um disparo não tem nada a ver com o
traumatismo craniano.
⦁ Como o resultado foi causado pelo traumatismo, exclui-se o resultado morte de A, que
responde por homicídio tentado.
A também responderá por tentativa de homicídio.
(c) Absolutamente independente superveniente: A causa efetiva é posterior à conduta do agente. Ex:
A coloca veneno na comida de B. Antes que o veneno cause a morte de B, C entra na casa dele e o
mata com um tiro.
⦁ O tiro é uma causa absolutamente independente → mesmo sem o envenenamento, ele teria
morrido de qualquer jeito pelodisparo efetuado por C.
⦁ A só responde pela tentativa de homicídio, justamente porque, por causas alheias à sua
vontade, B morreu pelo disparo de tiro, e não pelo veneno como ele queria.
A responderá por tentativa de homicídio e C por homicídio consumado.
A concausa absolutamente independente, por produzir por si só o resultado, rompe o nexo causal
entre o resultado e a conduta do agente, fazendo com que este responda apenas pelo crime na modalidade
TENTADA. Adotou-se aqui a regra geral do artigo 13 do CP, teoria da conditio sine qua non.
▪ Concausa Relativamente independentes: A causa concorrente se origina direta ou indiretamente da
conduta do agente, ou seja, ambas, em conjunto, levarão ao resultado final. Assim, ao contrário das
absolutamente independentes, estas NÃO EXCLUEM A IMPUTAÇÃO DO RESULTADO.
Podem ser:
(a) Relativamente independente preexistente: Anterior à conduta concorrente do agente. O típico
exemplo do hemofílico. A, querendo matar B e sabendo ser ele hemofílico, desfere contra ele uma
facada na perna que, sozinha, não causaria a sua morte, mas que por esta condição, a morte ocorreu.
A doença era anterior à facada, agindo as duas em conjunto, de modo que o agente responde pelo
crime consumado.
⦁ O fato de ele ser hemofílico, por si só, não levaria ele à morte.
⦁ A facada, por si só, também não o levaria à morte (por ter sido deferida em lugar não letal)
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⦁ A hemofilia e a facada são dependentes uma da outra para ocorrer o resultado. Ou seja: é a
soma das causas que leva ao resultado morte.
Causas relativamente independentes não excluem a imputação. Logo, o indivíduo que desferiu as facadas
deve responder pelo resultado morte.
(b) Relativamente independente concomitante: ocorre ao mesmo tempo que a conduta do agente. Ex:
A, objetivando matar B, efetua disparo de arma de fogo contra a vítima, não vindo, contudo, a atingi-
la. B, em decorrência do susto causado pelo disparo, sofre um infarto e falece. A morte se deu pelo
conjunto das causas, de modo que A responde pelo delito consumado;
⦁ O disparo, por si só, não levaria ele à morte. Assim como o colapso cardíaco, por si só,
também não o levaria à morte.
⦁ O que levou à morte foi a conjunção dos dois resultados: uma causa depende da doutra.
(causa efetiva= colapso e causa concorrente= disparo).
Se uma causa depende da outra, não haverá a exclusão do resultado morte, e A deve responder pelo
homicídio.
(c) Relativamente independente superveniente: É posterior à conduta do agente.
⦁ Regra: Em regra, as concausas relativamente independentes NÃO excluem a imputação.
⦁ Exceção: Art. 13, §1º - Eventualmente, as concausas relativamente independentes podem
excluir a imputação, fugindo à regra geral, quando, por si só, produzirem o resultado.
Atenção!!! Esta vai se subdividir em duas hipóteses:
i. Que por si só produz o resultado: A atira em B e este é socorrido. Estando no hospital, com
vida, o teto desaba e ele vem a falecer em decorrência do desabamento. Qual seria a
responsabilidade de A? Sabemos que se não fosse o tiro, ele não estaria no hospital, é
verdade. Mas aqui, é a EXCEÇÃO em que o CP adotou a teoria da causalidade adequada (§1º
do art. 13), mais restrita, em que há um juízo de probabilidade do que normalmente acontece
(todas as demais hipóteses de concausas são analisadas com base na conditio sine qua non).
Tendo em vista que o desabamento de um teto não está dentro do resultado esperado
advindo de um tiro, houve o rompimento do nexo causal, de modo que o agente responde
apenas por tentativa. (situação imprevisível, que seja apto a produzir o resultado, exclui a
imputação e só responde por tentativa).
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Caiu na Prova Delegado ES (aplicação 11/09/22) Em relação a conceitos e previsões presentes na Parte
Geral do Código Penal, assinale a opção correta: Se o agente ferir alguém com uma faca no pescoço, com
nítida intenção de matar, mas a vítima for socorrida e levada ao hospital e, durante a internação, morrer em
decorrência de uma explosão acidental no hospital, o agente responderá por tentativa de homicídio. (item
correto). Aqui trata-se de um exemplo como acima mencionado, causa relativamente independente que
por si só produz o resultado.
ii. Por si só não produz o resultado: Aqui, com base no mesmo exemplo anterior, suponhamos
que B morre em razão de infecção nos ferimentos decorrentes do tiro. Tendo em vista que
não fosse o tiro não haveria a infecção e que esta infecção é uma possibilidade normal, que
se encontra dentro das consequências esperadas de um tiro, o agente responde pelo delito
consumado.
Macete sobre as concausas:
BIPE = broncopneumonia; infecção hospitalar; parada cardiorrespiratória e erro médico = não
cortam o nexo causal = o agente matou a vítima. TAMBÉM NÃO ROMPE A FALTA DE ATENDIMENTO
MÉDICO (decisão STJ).
IDA = incêndio; desabamento e acidente com a ambulância = cortam o nexo causal = o agente
responde apenas pela tentativa.
☠ O Exemplo do erro médico foi abordado na prova oral do MPMG/2020
ENTENDA: o incêndio no hospital é um desdobramento causal anormal que gera um rompimento com a
conduta inicial (disparo por arma de fogo).
O indivíduo que toma um tiro pode morrer do tiro, mas pode morrer também de uma infecção hospitalar ou
de um erro médico, que são desdobramentos naturais do tiro. No entanto, quem toma um tiro, não morre
envenenado, não morre asfixiado, não morre queimado, não morre soterrado, não morre pelo incêndio do
hospital. Essas são mortes anormais, são causas que, por si só, produzem o resultado, pois há um
rompimento na linha de desdobramento físico causal natural.
⦁ Por si só produz o resultado → contexto que não corresponde a um desdobramento físico ou natural
da conduta→ impede a imputação do resultado → só responde pelos atos anteriores (tentativa)
⦁ Não produz por si só o resultado → o contexto corresponde a um desdobramento físico ou natural
da conduta → cabe a imputação do resultado ao agente → responde pelo resultado produzido de acordo
com seu dolo.
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Se liga na tabela para revisar:
CONCAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES
ESPÉCIE EXEMPLO RESPONSABILIZAÇÃO
Preexistente Vítima hemofílica.
Não há rompimento do nexo de
causalidade e o agente responde
pelo resultado causado. Aplica-
se o art. 13, caput, do CP (teoria
da conditio sine qua non).
Concomitante
Vítima, apesar de não ter sido
atingida, se assusta e sofre um
infarto.
Superveniente*
Modalidade “não por si só
produz o resultado”: Morte
por infecção hospitalar.
Modalidade “por si só produz
o resultado”: Morte pelo
desabamento do teto do
hospital.
Há rompimento do nexo de
causalidade e o agente responde
pelo seu dolo, apenas os atos
praticados (tentativa) e não pelo
resultado. Aplica-se o art. 13,
§1º, do CP.
IV – TIPICIDADE
É o elemento do fato típico presente em todo e qualquer crime. Conforme a doutrina moderna, a
tipicidade penal é formada por:
● Tipicidade Formal: Juízo de subsunção do fato à norma;
● Tipicidade Material: Lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Há ainda a TIPICIDADE CONGLOBANTE, preconizada por Zaffaroni, que é formada pela tipicidade
material + antinormatividade. (QUESTÃO PROVA ORAL DELEGADO DE SE/2019)
A antinormatividade é a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico como
um todo. Para ele, não se pode considerar ilícita uma conduta que é determinada ou fomentada pelo Estado.
Assim, para o autor, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito, que para
a doutrina majoritária e para o CP constituem causasexcludentes de ilicitude, seriam, na verdade, causas de
exclusão da tipicidade, tornando, por consequência, a conduta atípica, justamente por achar absurdo que
alguém que esteja cumprindo seu dever legal ou esteja exercendo uma atividade fomentada pelo direito
tenha estas ações consideradas como fatos típicos.
Um exemplo é do oficial de justiça que promove penhora de bens em razão de cumprimento de
mandado (ele está nada menos que subtraindo coisa alheia móvel), que só ficará isento de responsabilidade
na análise do segundo elemento do crime, enquanto não deveria sequer haver tipicidade penal.
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Já legítima defesa e estado de necessidade continuariam como excludentes de ilicitude, segundo esta
teoria, vez que não são fomentadas e nem determinadas pelo Estado, mas tão somente toleradas.
O STJ já adotou a tipicidade conglobante (AP 638).
* ATENÇÃO: O princípio da insignificância exclui a tipicidade material.
(...) Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do
réu pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde por
nada. (Info. 913, STF)
Como foi cobrado: (PC-PI – Delegado – 2014) Segundo a teoria da tipicidade conglobante proposta por
Eugenio Raúl Zaffaroni, quando um médico, em virtude de intervenção cirúrgica cardíaca por absoluta
necessidade corta com bisturi a região torácica do paciente, é CORRETO afirmar que: não responde por
nenhum crime, carecendo o fato de tipicidade, já que não podem ser consideradas típicas aquelas condutas
toleradas ou mesmo incentivadas pelo ordenamento jurídico.
V. ADEQUAÇÃO TÍPICA
É a tipicidade formal na prática. Há duas espécies de tipicidade formal:
(1) Subsunção direta ou adequação típica imediata: não há dependência de qualquer dispositivo
complementar para adequar o fato à norma. Ex.: A subtrai o celular de B. Neste caso, o fato de subtrair
coisa alheia móvel se enquadra diretamente ao art. 155 do CP.
(2) Subsunção indireta ou adequação típica mediata: há uma conjugação do tipo penal com a NORMA DE
EXTENSÃO, também denominada de norma de adequação típica mediata. No nosso Código Penal temos
3 hipóteses:
A. Norma de extensão temporal: Tentativa (art. 14, II do CP). Os tipos penais não possuem definição
direta de tentativa em cada um deles. Há essa norma geral que será combinada com o tipo penal não
consumado. Ex.: A tenta matar B. Este fato não há subsunção direta ao art. 121. Neste caso, devemos
utilizar do art. 121 do CP, cumulado com o art. 14, II, do CP.
B. Norma de extensão pessoal e espacial: Participação, artigo 29 do CP (esse artigo trata de todo o
concurso de pessoas, mas o que tem relevância aqui é a figura do partícipe). Quem espera do lado
de fora da casa enquanto o comparsa subtrai a televisão da vítima, embora não tenha subtraído coisa
alheia móvel, como manda o tipo, responderá pelo furto qualificado pelo concurso de pessoas em
razão da norma de extensão prevista no art. 29 do CP.
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C. Norma de extensão da conduta: Crimes comissivos por omissão (em que há um garantidor): a
conduta que só podia ser praticada por ação passa a ser praticada por omissão, quando o garante
devia e podia agir para evitar o resultado. Art. 13, §2º, CP.
3. TEORIA DO TIPO
O tipo penal é aquele que descreve as condutas proibidas ou permitidas pelo direito penal de modo
genérico e abstrato, ou seja, condutas criminosas ou as hipóteses em que a prática destas é tolerada (já vimos
sobre isso nas classificações da lei penal).
Atenção: não confundir TIPO X TIPICIDADE. Enquanto o tipo é a figura penal que resulta da imaginação do
legislador, a tipicidade consiste na averiguação se determinada conduta se amolda ou não nesse modelo
imaginário pensado pelo legislador.
Veja a dica do professor Marcelo Veiga:
3.1 Funções do Tipo Penal
✔ De garantia (reserva legal, garantia do indivíduo, só a lei cria)
✔ Fundamentadora (fundamenta o direito de punir do estado)
✔ Indiciária da ilicitude (o fato típico é presumidamente ilícito – presunção relativa, que acarreta na
inversão do ônus da prova quanto às excludentes)
✔ Diferenciadora do Erro (para que o agente seja responsabilizado por pela pratica de um crime
doloso, seu dolo deve alcançar todas as elementares do tipo. Caso ignore alguma delas, incorrerá em
erro de tipo, afastando o dolo, nos termos do artigo 20 do CP. Por outro lado, estando delimitado o
tipo penal e havendo dolo em relação a ele, não há que se falar em erro).
✔ Seletiva (seleciona as condutas proibidas (crimes comissivos) ou ordenadas (crimes omissivos) pelo
direito penal.
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3.2 Estrutura do Tipo Penal
Todos possuem núcleo e elementos, que formam o tipo fundamental. Quando há privilégios ou
qualificadoras, acrescentam-se circunstâncias, formando os tipos derivados.
O núcleo é o verbo do tipo – ex: “subtrair”, “matar”. É o ponto de partida.
Os elementos/elementares se dividem em:
A. Objetivos/descritivos: trazem um juízo de certeza. Podem ser compreendidos por qualquer pessoa.
Ex: “coisa alheia móvel” no furto, “alguém” no homicídio etc.
B. Subjetivos: Se relacionam com o animus do agente, sua especial finalidade de agir, suas intenções.
Ex: “para si ou para outrem” no furto. Não basta a subtração de coisa alheia móvel, faz-se necessário
o animus rem sibi habendi, dolo de assenhoramento definitivo.
C. Normativos: Demandam um juízo de valor por parte do aplicador do direito. Ex: “obsceno”,
“indevidamente”, “cruel”, “honesto”, “pudor”, “decoro” etc. Termos não definidos, que demandam
uma interpretação caso a caso.
3.3 Classificações do Tipo Penal
3.3.1 Tipo Normal X Anormal
▪ Tipo normal / neutro / acromático / avalorado – é o que, além do núcleo, contém somente
elementos objetivos/descritivos (ex: matar alguém).
▪ Tipo anormal é aquele que, além de núcleo e elementos objetivos, contém também elementos
subjetivos e/ou normativos (no finalismo TODOS os tipos são anormais, vez que dolo e culpa estão
no fato típico, como elemento da conduta e são essenciais a qualquer tipo).
3.3.2 Tipo Congruente X Tipo Incongruente
▪ Tipo congruente (simétrico) é aquele em que há perfeita congruência entre a vontade do agente e
o fato tipificado (exemplo: crimes dolosos consumados).
▪ Tipo incongruente (assimétrico) é aquele em que não há congruência entre a vontade do agente o
fato por ele praticado (exemplo: os crimes tentados, os crimes culposos, preterdolosos). Se A quer
matar B, mas apenas o lesiona, há uma assimetria entre os elementos objetivos e subjetivos.
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ESPELHO DE CORREÇÃO LV CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS: De regra, o tipo subjetivo está inteiramente voltado para a totalidade do tipo
objetivo; assim ocorrendo, o tipo é chamado de congruente ou congruente simétrico. Como exemplo, tem-
se o homicídio simples consumado, posto que, alcançado o resultado morte e tendo o agente obrado com
animus necandi, haverá perfeita sintonia entre o tipo subjetivo (dolo homicida) e o tipo objetivo (matar
alguém). Todavia, quando não há essa sincronia, opera-se o que se tem denominado de incongruência ou
congruência assimétrica. Assim, tipos incongruentes ou congruentes assimétricos são aqueles que exigem
algo a mais que o dolo, havendo um hipertrofiamento do aspecto subjetivo com relação ao objetivo. Esse
“algo a mais” além do dolo é tratado como elemento subjetivo do tipo distinto do dolo (ou, para a doutrina
clássica, dolo específico). São exemplos os delitos de intenção que contém expressões designativasde
intenções especiais (“com o fim de”, “em proveito próprio”), bem assim aqueles crimes chamados de
tendência, como os contra os costumes em que se exige que a ação se desenvolva seguindo uma intenção
sexual (satisfação da lascívia).
O professor paranaense Luiz Alberto Machado se reporta a uma outra terminologia sobre o tema: ele chama
de tipos originariamente incongruentes (ou assimétricos), aqueles em que, de maneira textual, (a) o
elemento objetivo vai além do elemento subjetivo (crime qualificado pelo resultado – aqui, há excesso
objetivo); ao reverso, quando (b) o tipo subjetivo vai além do objetivo (excesso subjetivo), tem-se o chamado
crime formal (consumação antecipada) e a que outros que exigem especial fim de agir. Por fim, fala-se em
congruência defeituosa (assimetria); nestes casos, pode haver erro de tipo ou tentativa. A congruência
defeituosa pode se dar em relação ao tipo subjetivo (este não vê a perfeição do tipo objetivo), e se observa
no erro de tipo: EX. o agente subtrai a coisa alheia móvel para si, crendo-a invencivelmente própria. Ao
contrário, quando o defeito de congruência estiver situado no tipo objetivo, se está diante de hipótese de
tentativa. Nesta hipótese, o tipo objetivo não se aperfeiçoa porque o verbo não se completa por um acidente
de percurso no iter criminis (circunstâncias alheias à vontade do agente, art. 14, II, do Código Penal)), como
sucede, v.g., na tentativa de homicídio; daí porque, neste caso, a conatus também pode ser definida como
um tipo penal acidentalmente incongruente ou incongruente per accidens.
3.3.3 Tipo Simples X Tipo Misto
▪ Tipo simples: o tipo penal contém apenas um núcleo. Ex.: matar.
▪ Tipo misto (de conduta mista ou de conteúdo variado): há mais de um núcleo (verbo) no tipo penal.
Ex.: tráfico de drogas (guardar, vender, ter em depósito etc).
Pode ser subdividido em:
(1) Tipo misto alternativo: mesmo com a prática de mais de um núcleo do tipo haverá crime único,
desde que no mesmo contexto fático. (Ex: prática de conjunção carnal e de outros atos libidinosos
diversos, sob violência ou grave ameaça, no mesmo contexto fático – caracteriza crime único – STJ)
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(2) Tipo misto cumulativo: são os que a pratica de mais de um núcleo do tipo, configurando concurso
material de crimes (ex; art. 244, CP – Abandono material).
3.3.4 Tipo Fechado (Cerrado) X Tipo Aberto
▪ Tipo fechado: possui descrição minuciosa da conduta.
▪ Tipo aberto: não possui uma descrição completa e deve ser complementado por um juízo de valor,
realizado pelo aplicador da lei no caso concreto. Exemplos:
⦁ Crimes culposos
⦁ Crimes omissivos impróprios
⦁ Quando há elemento normativo no tipo
* Diferença entre tipo aberto e norma penal em branco: esta última é complementada por lei ou ato
administrativo, enquanto o primeiro é complementado por um juízo de valor.
3.3.5 Tipo Preventivo
Trata-se dos crimes-obstáculo. São as figuras em que o legislador incrimina de forma autônoma um
fato que seria apenas um ato preparatório de outro crime, antecipando a tutela penal.
3.3.6 Tipo Penal Doloso X Culposo X Preterdoloso
A) DOLO
Vontade livre e consciente, dirigida a realizar ou aceitar realizar a conduta prevista no tipo penal
incriminador.
ELEMENTOS DO DOLO:
1) Intelectivo/Cognitivo: Consciência (ocorre primeiro);
2) Volitivo: Vontade.
Ou seja: o dolo é = SABER + QUERER
Se ele sabe, mas ele não quer → ele não tem dolo
Se ele quer, mas ele não sabe → ele não tem dolo
Dolo é a vontade livre e consciente dirigida finalisticamente à produção do resultado.
Dolo é o elemento cognitivo (consciência) conjugado com o elemento volitivo (vontade).
Aprofundando para uma prova discursiva...
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* Dentro do elemento cognitivo (saber), o que o indivíduo precisa ter consciência para que ele
efetivamente tenha dolo? Ou seja: quais os limites desse conhecimento (do elemento cognitivo) para que eu
possa tecnicamente afirmar que o indivíduo tinha dolo?
Resposta: O conhecimento precisa ser ATUAL E REAL, precisa abranger as CIRCUNSTÂNCIAS DE FATO
DO TIPO OBJETIVO (são as elementares típicas), ou seja, ele precisa ter o conhecimento de todos os
elementos descritos no tipo penal incriminador, e precisa, ainda, abranger os ELEMENTOS PRESENTES E
FUTUROS DO TIPO OBJETIVO.
* Dentro do elemento volitivo (querer), o dolo deve ser:
1) Vontade incondicional: a vontade dele deve estar dirigida incondicionalmente a um resultado
2) Capaz de influenciar o mundo exterior: Esse querer, para ser caracterizado como elemento volitivo,
tem que ter a capacidade de influenciar no mundo real. Se esse querer não tem a capacidade de
influenciar no mundo real, não temos um querer no sentido jurídico, temos uma mera esperança.
Confira a dica do professor Marcelo Veiga:
https://youtu.be/NVOFCoM_UsU
● TEORIAS SOBRE O DOLO (se dividem em cognitivas/intelectivas ou volitivas):
1. Teoria da vontade: Teoria volitiva.
∘ O fundamento central dessa teoria é a VONTADE. Ou seja: há dolo quando há vontade
consciente de produzir o resultado. Logo, pela Teoria da Vontade, dolo é a vontade consciente
de querer praticar a infração penal, não basta só prever.
∘ Adotada pelo CP no que se refere ao dolo direto de 1º grau
2. Teoria da representação (ou da possibilidade): Teoria cognitiva/ intelectiva.
https://youtu.be/NVOFCoM_UsU
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∘ haverá dolo quando o sujeito realizar sua ação ou omissão prevendo o resultado como
certo ou provável (ainda que não o deseje) (Von Liszt e Frank).
∘ Não faz distinção entre dolo eventual e culpa consciente
3. Teoria do assentimento/ consentimento / aprovação: Teoria volitiva.
∘ O agente, mesmo prevendo determinado resultado, decide prosseguir com a sua conduta,
assumindo o risco de produzi-lo. Nesse caso, o indivíduo consente com a produção do
resultado.
∘ Adotada pelo CP para o dolo eventual.
ATENÇÃO: O Brasil adotou:
- Teoria da vontade: Dolo direto
- Teoria do assentimento: Dolo eventual
OUTRAS TEORIAS (CAEM EM QUESTÕES MAIS APROFUNDADAS):
4. Teoria da probabilidade ou da cognição: Teoria cognitiva.
Essa é uma das teorias que diferenciam "provável e possível". Assim, para a caracterização do dolo o
autor deve entender o fato como provável e não somente como possível. Se for pouco provável, haverá culpa
consciente;
⦁ Probabilidade → gera dolo eventual
⦁ Possibilidade → gera culpa consciente
5. Teoria da evitabilidade: Teoria cognitiva.
Pressupõe a representação do resultado como possível, o que bastará para a caracterização do dolo
eventual. Contudo, se o agente busca evitar o resultado através da ativação de contrafatores, agindo
concretamente, existirá culpa consciente.
⦁ Culpa consciente → ativa contrafatores
⦁ Dolo eventual → não ativa contrafatores
6. Teoria do risco: Teoria cognitiva.
A existência do dolo depende do conhecimento pelo agente do risco indevido (tipificado) na
realização de um comportamento ilícito.;
7. Teoria do perigo a descoberto: Teoria intelectiva.
Fundamenta-se apenas no tipo objetivo. Perigo a descoberto vem a ser a situação na qual a
ocorrência do resultado lesivo subordina-se à sorte ou ao acaso. Caracterizado pela dependência de meros
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fatores de sorte-azar. Configura dolo eventual, ainda que o agente confie na ausência do resultado. Ex: roleta
russa.
⦁ Perigo desprotegido → é o perigo gerado que depende de meros fatores de sorte ou azar: dolo
eventual.
⦁ Perigo protegido → é caracterizado pela evitação do possível resultado mediante o cuidado,
atençãodo autor, da vítima ou de terceiro: culpa consciente
8. Teoria da indiferença ou do sentimento: Teoria Volitiva.
Estabelece a distinção entre dolo eventual e culpa consciente por meio do "alto grau de indiferença
por parte do agente para com o bem jurídico ou sua lesão.
ALGUMAS ESPÉCIES DE DOLO:
o Dolo natural X dolo normativo: Estudado no material anterior. Vamos fazer uma rápida retomada?
⮚ Dolo natural ou acromático - o elemento cognitivo do dolo não abrange o conhecimento da
ilicitude. Não possui a consciência da ilicitude (adotado no modelo Finalista).
⮚ Dolo normativo - além dos elementos objetivos ou descritivos, exige o conhecimento acerca
do potencial conhecimento da ilicitude (adotado no modelo Neoclássico).
o Dolo direto X Dolo indireto:
a) DOLO DIRETO – O agente, com sua conduta, prevendo determinado resultado, sai em busca de
realizá-lo. Pode ser:
⮚ De primeiro grau: resultado certo e determinado buscado pelo agente
⮚ De segundo grau: também conhecido por “dolo de consequências necessárias”. O agente
danifica os freios do carro de A durante a noite para causar um acidente e matá-lo, sabendo
que todo dia pela manhã ele sai de carro. Porém, os filhos sempre vão junto e o agente
sabe que a morte deles será inevitável e pratica a conduta mesmo assim, para alcançar seu
objetivo principal.
⮚ De terceiro grau: Consequência da consequência. O agente, objetivando matar seu inimigo
político, coloca uma bomba no jatinho dele, sabendo que sua próxima viagem será com sua
esposa, que está grávida. A morte do inimigo político seria o dolo de primeiro grau. A da
esposa, de segundo. O aborto, de terceiro. É criticada e tida como desnecessária por parte
da doutrina, vez que qualquer consequência estaria abarcada no dolo de segundo grau
Segundo o autor André Stefan (Direito Penal Parte Geral V1) O dolo, ademais, abrange não só
o objetivo perseguido pelo sujeito (dolo de primeiro grau), mas também os meios escolhidos para a
consecução desse fim e as consequências secundárias inerentemente ligadas aos meios escolhidos (dolo
de segundo grau ou dolo de consequências secundárias). Se o agente, pretendendo matar um gêmeo
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siamês, efetua contra ele um disparo de arma de fogo letal e, como consequência secundária
inerentemente ligada aos meios e ao fim pretendido, leva à morte do irmão, responde por dois homicídios
a título de dolo direto (de primeiro grau em relação ao seu desafeto e de segundo grau no tocante ao seu
irmão). Exemplo interessante de dolo de segundo grau nos é fornecido por Cezar Bitencourt. Imagine um
terrorista que, pretendendo matar um importante líder político, decida colocar uma bomba no automóvel
oficial e, com a explosão, provoque a morte do político e do motorista. Haverá dolo direto com relação às
duas mortes. A do líder político será imputada a título de dolo direto de primeiro grau e a do motorista,
de segundo grau.
Atenção!! Não se pode confundir o dolo direito de segundo grau com o dolo eventual. No dolo de
segundo grau as consequências secundárias são inerentes aos meios escolhidos
b) DOLO INDIRETO: O agente, com sua conduta, não busca realizar um determinado resultado:
⮚ Dolo alternativo: O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta na
realização de qualquer deles, com igual intensidade a produzir um ou outro resultado.
⮚ Dolo eventual: Embora o agente não deseje o resultado, assume o risco de produzi-lo. Age
com indiferença.
TEORIA POSITIVA DO CONHECIMENTO: Reinhard Frank. “Seja como for, dê no que dê, eu não deixarei de
agir”.
o Dolo cumulativo: O agente pretende alcançar dois ou mais resultados típicos em sequência (progressão
criminosa);
o Dolo geral (erro sucessivo): Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado um resultado por ele
visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. Ex: para matar seu inimigo, alguém o golpeia
fortemente, de modo que a vítima desmaia, fazendo o agente pensar equivocadamente que ela faleceu;
em seguida, com a finalidade de simular um suicídio, deixa o ofendido suspenso em uma corda amarrada
ao seu pescoço, asfixiando-o.
Não se pode confundir o dolo geral com o erro sobre o nexo causal (aberratio causae) ou com a figura da
consumação antecipada. No erro sobre o nexo causal realiza-se uma só conduta pretendendo o resultado,
o qual é alcançado em virtude de um processo causal diverso daquele imaginado. Exemplo: uma pessoa joga
seu inimigo de uma ponte sobre um rio (conduta), pretendendo matá-lo (resultado) por afogamento (nexo
de causalidade esperado), mas a morte ocorre porque, durante a queda, o ofendido choca sua cabeça contra
os alicerces da ponte (nexo de causalidade diverso do imaginado). A diferença fundamental entre o dolo
geral e o erro sobre o nexo de causalidade reside no fato de que naquele há duas condutas, enquanto neste
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há somente uma. A consumação antecipada é, pode-se dizer, o oposto do dolus generalis, porquanto se
refere a situações em que o agente produz antecipadamente o resultado esperado, sem se dar conta disso.
Exemplo: uma enfermeira ministra sonífero em elevada dose para sedar um paciente e, após, envenená-lo;
apura-se, posteriormente, que o óbito foi decorrência da dose excessiva de sedativo e não da peçonha
ministrada a posteriori. Não se pode confundir o dolo geral com o erro sobre o nexo causal (aberratio
causae) ou com a figura da consumação antecipada. No erro sobre o nexo causal realiza-se uma só conduta
pretendendo o resultado, o qual é alcançado em virtude de um processo causal diverso daquele imaginado.
Exemplo: uma pessoa joga seu inimigo de uma ponte sobre um rio (conduta), pretendendo matá-lo
(resultado) por afogamento (nexo de causalidade esperado), mas a morte ocorre porque, durante a queda,
o ofendido choca sua cabeça contra os alicerces da ponte (nexo de causalidade diverso do imaginado). A
diferença fundamental entre o dolo geral e o erro sobre o nexo de causalidade reside no fato de que naquele
há duas condutas, enquanto neste há somente uma. A consumação antecipada é, pode-se dizer, o oposto do
dolus generalis, porquanto se refere a situações em que o agente produz antecipadamente o resultado
esperado, sem se dar conta disso. Exemplo: uma enfermeira ministra sonífero em elevada dose para sedar
um paciente e, após, envenenálo; apura-se, posteriormente, que o óbito foi decorrência da dose excessiva
de sedativo e não da peçonha ministrada a posteriori.
o Dolo de propósito (refletido): resulta da reflexão do agente. Ocorre nos crimes premeditados.
o Dolo de ímpeto (repentino): resulta de uma explosão emocional. Ocorre nos crimes passionais.
B) CULPA
Como já vimos, é elemento da conduta, que compõe o fato típico.
Consiste em uma conduta voluntária que realiza um fato ilícito não querido pelo agente, mas que foi
por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era imprevisível (culpa inconsciente) e poderia ter sido evitado se
o agente atuasse com cuidado.
Rogério Greco diz que “a conduta, nos delitos de natureza culposa, é o ato humano voluntário
dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que, por imprudência, imperícia ou negligência, isto é,
por não ter o agente observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo
assumido, tipificado previamente na lei penal”.
Via de regra é tipo penal aberto, ou seja, a conduta não é descrita de modo detalhado (geralmente
vem “se tal crime é culposo – pena tal”), demandando um juízo de valor pelo aplicador do direito. Mas há
crime culposo com tipo fechado, como o art. 180, §3º do CP.
O fundamento da punibilidade de crimes culposos está no interesse público da proteção de bens
jurídicos indispensáveis ao indivíduo e à sociedade.O homem vive em sociedade, então é responsável pelo
que causa nela.
Porém, as penas são menores, vez que o desvalor da conduta é menor que nos crimes dolosos.
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Em suma, para se saber se houve culpa ou não será sempre necessário proceder-se a um juízo de
valor, comparando a conduta do agente no caso concreto com aquela que uma pessoa medianamente
prudente teria na mesma situação. Isso faz com que a culpa seja qualificada como um elemento normativo
da conduta (necessita de um juízo prévio de valor).
* ATENÇÃO: as hipóteses de crimes culposos devem vir expressamente previstas em lei, desse modo, a regra
é o dolo, enquanto a culpa é exceção.
* Discursivas com consulta: além do 18, II do CP, o CPM tem uma melhor definição do que seria o crime
culposo (DICA: FAZER REMISSÃO)
Art. 33. Diz-se o crime: (...)
II - Culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou
diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias,
não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que
não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
ELEMENTOS DA CULPA:
1) Conduta humana voluntária
2) Violação de um dever de cuidado objetivo (imprudência, negligência ou imperícia).
3) Resultado involuntário
4) Nexo de causalidade
5) Previsibilidade Objetiva
6) Tipicidade
Confira a dica do Professor Marcelo Veiga:
https://youtu.be/EsRWOwjpmIM
https://youtu.be/EsRWOwjpmIM
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1) Conduta VOLUNTÁRIA: Pode ser ação ou omissão;
ATENÇÃO! Embora o resultado do crime culposo seja involuntário(vez que o agente não deseja
causá-lo), a CONDUTA é VOLUNTÁRIA.
O agente quer fazer o que faz, porém, pela sua inobservância do dever de cuidado, gera um evento
danoso, que não desejava.
A ausência de voluntariedade excluiria a conduta. O fato seria atípico (ex: movimentos reflexos).
2) Violação de um dever objetivo de cuidado: O agente atua de forma diversa do esperado pela lei e
sociedade:
▪ Imprudência: Culpa positiva ou “in agendo”. Ação intempestiva e irrefletida. Faz algo que a cautela
não recomenda. Uma característica fundamental da imprudência é a de que nela a culpa se
desenvolve paralelamente à ação. Enquanto o agente pratica a conduta comissiva, vai ocorrendo
simultaneamente a imprudência. Ex: excesso de velocidade na direção de veículo automotor,
ultrapassagem proibida, trafegar na contramão...
▪ Negligência: Culpa negativa ou “in omitendo”. Falta de precaução. Deixa de fazer o que a cautela
recomenda. Ela é a inação, inércia e passividade. negligente é quem, podendo e devendo agir de
determinado modo, por indolência ou preguiça mental não age (Fernando Capez) (Ex: médico que
não esterilizou seus utensílios antes de uma cirurgia, pessoa que deixa de reparar os pneus e os freios
antes de viajar);
▪ Imperícia: Culpa profissional. Falta de aptidão técnica para o exercício de arte, ofício ou profissão. O
agente está autorizado a exercer determinada atividade, mas não tem as habilidades necessárias. Se
a imperícia advier de pessoa que não exerce arte ou profissão, haverá imprudência e não imperícia.
Assim, um curandeiro que tenta fazer uma operação no lugar de chamar um médico incorre em
imprudência. (Fernando Capez). Ex: Engenheiro civil, com CREA, que não tem conhecimento
necessário para a construção de um prédio, mas o faz e o mesmo desaba.
OBS.1: É tendência achar que sempre que tivermos um profissional envolvido, o caso será de imperícia, mas
não é verdade. Depende da conduta. Como vimos no exemplo dado em negligência, também foi algo no
exercício da profissão. Olho vivo nisso!
OBS.2: Nos crimes culposos no CTB, a Jurisprudência vem no sentido de que é IMPRESCINDÍVEL apontar,
precisamente, qual foi a conduta culposa. Vejamos:
Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta culposa -
É inepta a denúncia que imputa a prática de homicídio culposo na direção de
veículo automotor (art. 302 da Lei 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e
precisa, a conduta negligente, imperita ou imprudente que teria gerado o resultado
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/42d6c7d61481d1c21bd1635f59edae05?categoria=11&subcategoria=119
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morte, sendo insuficiente a simples menção de que o suposto autor estava na
direção do veículo no momento do acidente. STJ. 6ª Turma. HC 305194-PB, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
Diferença entre imperícia e erro médico:
Segundo Fernando Capez, este ocorre quando, empregada os conhecimentos
normais da medicina, por exemplo, chega ao médico à conclusão errada quanto ao diagnóstico, a intervenção
cirúrgica etc., não sendo fato típico. o erro médico pode derivar não apenas de imperícia, mas também de
imprudência ou negligência. além disso, a imperícia não se restringe à área médica, podendo ocorrer em
qualquer outra atividade ou profissão que requeira habilidade especial. somente a falta grosseira desses
profissionais consubstancia a culpa penal, pois a exigência maior provocaria a paralisação da ciência,
impedindo os pesquisadores de tentar métodos novos de cura de edificações, etc.
3) Resultado Involuntário / naturalístico: Alteração física no mundo exterior. São crimes materiais, via de
regra.
Há exceções. Ex: art. 38 da Lei de Drogas. Prescrever drogas culposamente sem que delas necessite
o paciente. Se consuma com a mera prescrição feita por médico ou dentista, ou seja, é um crime de mera
conduta. Se o indivíduo usar a droga será mero exaurimento.
4) Nexo causal entre a conduta e o resultado naturalístico;
5) Previsibilidade objetiva:
Ao contrário da previsibilidade subjetiva, que analisa as condições do agente no momento da
conduta, a previsibilidade objetiva analisa o fato de acordo com a visão do “homem médio”. Ou seja, não
será analisado se aquele agente específico previu o resultado, mas se, naquelas circunstâncias, era possível
que um homem médio as tenha previsto.
Assim, haverá previsibilidade objetiva quando o agente, nas circunstâncias em que se encontrava,
podia, segundo a experiência geral (homem médio), ter representado como possível as consequências de
seu ato
Segundo André Stefan, a previsibilidade objetiva, como visto, é aquela determinada segundo o critério de
uma pessoa de mediana prudência e discernimento. Sua ausência torna o fato atípico. Exemplo: um
motorista conduz seu veículo acima do limite de velocidade permitido (imprudência) por uma estrada
estreita; ao fazer uma curva, colide com um ciclista embriagado que se encontrava na contramão de direção.
Suponha que, em função da própria estrada, não era possível de modo algum enxergar depois da curva, de
tal forma que o condutor do automóvel não podia imaginar que havia uma pessoa naquele local. Além disso,
mesmo que trafegasse em velocidade compatível com a via, não poderia evitar o acidente. Apesar de sua
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imprudência, o resultado era objetivamente imprevisível (não é possível imaginar que depois de cada curva
haverá um ciclista embriagado na contramão de direção!), motivo pelo qual o fato será considerado atípico.
APROFUNDANDO: Previsibilidade objetiva x subjetiva:
Para a análise da culpa não é necessário que o agente preveja o resultado nas circunstâncias que lhe são
apresentadas. Basta apenas que exista a previsibilidade objetiva, isto é, a possibilidade do resultado ser
prevista tendo-se como parâmetro o homem médio. Todavia, no que tange à análise da
previsibilidade subjetiva leva-se em consideração, não a circunstância de diligêncianormal, tendo-se como
parâmetro uma pessoa prudente, mas as aptidões pessoais e as condições específicas do agente. Importa,
com efeito, se o agente, em concreto, poderia ter previsto ou não o resultado. Em caso negativo, embora se
exclua a culpa, pois a previsibilidade subjetiva não faz parte de seu elemento, haverá, como consequência,
segundo Fernando Capez, a exclusão da culpabilidade. Vale dizer: o fato será típico porque houve conduta
culposa, mas o agente não será punido pelo crime ante a ausência de culpabilidade.
6) Tipicidade: Para o crime ser culposo, deve estar expresso.
Art. 18, §único, CP: Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.
ESPÉCIES DE CULPA:
1) Culpa consciente: É a culpa com previsão. O agente prevê o resultado, mas não espera que ele ocorra.
Obs:. Segundo Fernando Capez, de acordo com a lei penal, não existe diferença de tratamento entre a culpa
com previsão e a inconsciente “pois tanto vale não ter consciência da anormalidade da própria conduta,
quanto está consciente dela, mas confiando, sinceramente, em que o resultado lesivo não sobreviverá”
(exposição de motivos do código penal de 1940). Além disso, não há diferença quanto a combinação da pena
abstratamente no tipo. Entretanto, parece-nos que no momento da dosagem da pena, o grau de
culpabilidade (circunstância judicial previsto no artigo 59 do caput do código penal) deva o juiz, na primeira
fase da dosimetria, elevar um pouco mais a sanção de quem age com culpa consciente, dada maior
censurabilidade desse comportamento.
Diferente do dolo eventual, em que o agente, embora também preveja, não se importa que o
resultado ocorra.
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Professor Cézar Roberto Bitencourt: Há culpa consciente, também chamada culpa com previsão, quando o
agente, deixando de observar a diligência a que estava obrigado, prevê um resultado, previsível, mas confia
convictamente em que ele não ocorra. Quando o agente, embora prevendo o resultado, espera sinceramente
que este não se verifique, estar-se-á diante de culpa consciente e não de dolo eventual. No entanto, na
análise dessa espécie de culpa, deve-se agir com cautela, pois a simples previsão do resultado não significa,
por si só, que o agente age com culpa consciente, uma vez que, mais que a previsão, o que a caracteriza
efetivamente é a consciência acerca da lesão ao dever de cuidado. Logo, nada impede que possa ocorrer erro
de proibição, quando o agente se equivocar a respeito da existência ou dos limites do dever objetivo de
cuidado
2) Culpa inconsciente: O agente não prevê o resultado, mas ele era objetivamente previsível. (essa
possibilidade nem sequer passa pela cabeça do agente).
3) Culpa própria: o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo;
4) Culpa imprópria (culpa equiparada ou por assimilação): O agente, por erro evitável, fantasia certa
situação de fato que não existe, supondo estar acobertado por excludente de ilicitude (descriminante
putativa) e, em razão disso, provoca intencionalmente o resultado ilícito. Embora a conduta seja dolosa,
o agente responde por culpa, por razões de política criminal (art. 20, §1º, CP)
Ex.: A vê um vulto dentro de casa e dispara, pensando ser um bandido, mas na verdade era seu genro
que estava indo embora de lá de madrugada sem ele saber. Neste caso, A matou porque quis, mas achou
que estaria em legítima defesa. Por essa situação, responderá por culpa.
Olha o bizu: Via de regra, crime culposo não admite tentativa. Porém, no caso de culpa imprópria, admite-
se, justamente por ser um dolo tratado como culpa. (Foi questão da 2ª Fase de Delegado de Polícia de Minas
Gerais em 2018!)
Olha o bizu: Há autores que defendem a possibilidade de se reconhecer a tentativa em crimes preterdolosos
(dolo no antecedente e culpa no consequente), quando a parte frustrada da conduta é a dolosa. Nesse
sentido: Grecco e Rogério Sanches.
5) Culpa mediata ou indireta: é aquela em que o resultado naturalístico é produzido indiretamente a título
de culpa. É importante ressaltar que, para a configuração dessa modalidade de culpa, será
imprescindível que o resultado esteja na linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, no âmbito
do risco provável, e, além disso, que possa ser atribuído ao autor mediante culpa.
Cleber Masson cita um exemplo da culpa indireta:
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"É o caso, por exemplo, da vítima que acabara de ser torturada no interior de um
veículo, parado no acostamento de movimentada via pública. Quando conseguiu
fugir, buscou atravessar a pista, foi atropelada e morreu. O agente responde de
pela tortura e também pelo homicídio, provocado indiretamente e por sua atuação
culposa, pois lhe era previsível objetivamente a fuga da pessoa torturada na direção
da via pública."
Desse modo, a culpa indireta pressupõe: nexo causal (que o agente tenha dado
causa ao segundo evento) e nexo normativo (que tenha contribuído culposamente
para ele).
6) Culpa presumida (“in re ipsa”): Sendo uma forma de responsabilidade objetiva, não é admitida no Brasil,
pois a culpa precisa ser provada.
EXCLUSÃO DA CULPA:
1) Caso fortuito e força maior;
2) Princípio da confiança
3) Erro profissional;
4) Risco tolerado;
5) Risco praticado por outrem.
* IMPERÍCIA (CULPA PROFISSIONAL) X ERRO PROFISSIONAL:
Na primeira, a falha é do agente, e ele responde pelo crime culposo.
No segundo, explica Rogério Sanches (disponível em meusitejurídico): “No erro profissional, o agente
tem conhecimento das regras e as observa no decorrer da conduta, mas, sendo falíveis os postulados
científicos, torna-se possível a ocorrência de um resultado lesivo decorrente de erro, que não ensejará
punição. Como exemplo, podemos citar o seguinte: determinado paciente necessita de cirurgia cardíaca
extremamente delicada, para a qual a medicina ainda não desenvolveu técnica segura. O médico,
devidamente habilitado e experiente, põe-se a realizar o procedimento, observando rigorosamente todos os
métodos cirúrgicos que seu conhecimento abarca e de que a arte médica dispõe. Não obstante, durante o
procedimento, em razão da complexidade que a situação revela e para a qual não há resposta científica
eficiente, comete um erro, que acaba por causar a morte do paciente. Esta situação revela um erro
profissional que não caracteriza culpa, pois ausente a imperícia.”
Existe compensação de culpas no direito penal?
NÃO existe no Direito Penal a compensação de culpas, mas a culpa concorrente da vítima pode
atenuar a do agente (art. 59, CP). Ps: Se a culpa é exclusiva da vítima, o agente não responde.
Crimes culposos admitem coautoria e participação?
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o 1ª Corrente (MAJORITÁRIA): Admitem a coautoria, MAS NÃO ADMITEM PARTICIPAÇÃO, de modo
que não é possível haver participação dolosa em crime culposo. Assim, qualquer causa culposa
importa em violação do dever objetivo de cuidado, fazendo do agente autor e não partícipe. (Foi
questão da 2ª Fase de Delegado de Polícia de Minas Gerais em 2018!)
o 2ª Corrente (LFG): Não admite nem coautoria e nem participação nos crimes culposos, em razão da
ausência de vínculo subjetivo entre os envolvidos.
o 3ª Corrente (Fernando Capez): Ambos são possíveis, sendo autor aquele que realiza o núcleo do tipo
e partícipe o que concorre para o crime, sem, no entanto, cometer o núcleo verbal da ação.
Obs:. Para os partidários da teoria do domínio do fato, não há como sustentar o concurso de agentes no
crime culposo, pois neste o agente não quer o resultado e, portanto, não há como sustentar que ele detenhao controle final sobre algo que ele não deseja. Por isso, adotam a posição no sentido da inviabilidade da
participação no crime culposo.
A. CRIME PRETERDOLOSO
É uma espécie de crime agravado pelo resultado, constituindo de dolo no antecedente e culpa no
consequente (art. 19, CP).
Cleber Masson: A conduta dolosa acarreta a produção de um resultado mais grave do que o desejado pelo
agente à título de culpa.
Elementos:
✔ Conduta dolosa visando a determinado resultado;
✔ Provocação culposa de resultado mais grave do que o desejado;
✔ Nexo causal entre conduta e resultado;
✔ Tipicidade.
Observações importantes para fins de prova:
● O preterdoloso serve para configurar reincidência em crime doloso, vez que apenas o resultado mais
grave foi praticado por culpa, havendo dolo no crime menos grave.
● Todo crime preterdoloso (dolo + culpa) é um crime agravado pelo resultado, mas a recíproca não é
verdadeira. Há outras formas de crimes agravados pelo resultado que não se enquadram como
preterdolosos, como dolo + dolo (latrocínio – a morte pode ser dolosa ou culposa, desde que seja em
razão da subtração); culpa + culpa (art. 258, parte final do CP – incêndio culposo com morte culposa)
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e culpa + dolo (lesão culposa de trânsito, qualificada por omissão de socorro dolosa – art. 303, § único
do CTB).
● O resultado deve ser culposo – Se o resultado mais grave advém de caso fortuito ou força maior,
não pode ser imputado ao agente (sob pena de responsabilidade objetiva).
Crime qualificado pelo resultado: é aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com
todos seus elementos, acrescenta-lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção
penal. O crime qualificado apresenta duas etapas: 1) prática de um crime completo, com todos os seus
elementos (fato antecedente); 2) produção de um resultado agravador, além daquele necessário para a
consumação (fato consequente). Na primeira parte, há um crime perfeito e acabado, praticado a título de
dolo ou culpa, ao passo que, na segunda, um resultado agravador produzido dolosa ou culposamente acaba
por tipificar um delito mais grave. Ex: ofensa à integridade corporal de outrem, por si só, configura o crime
previsto no art. 129 CP, mas, se o resultado final caracterizar uma lesão gravíssima, essa consequência servirá
para agravar a sanção penal, fazendo com que o agente responda por um delito mais intenso.
ESPÉCIES DE CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO: a) dolo no antecedente e dolo no consequente:
conduta dolosa e um resultado agravador também doloso. Ex: marido que espanca a mulher, provocando-a
deformidade permanente. Há dolo no comportamento antecedente na produção do resultado agravador,
pois o autor não quis apenas produzir a ofensa à integridade corporal da ofendida, mas obter o resultado
deformidade permanente. B) culpa no antecedente e culpa no consequente: o agente pratica uma conduta
culposamente e, além desse resultado culposo, acaba produzindo outros, também a título de culpa, no crime
de incêndio culposo, por exemplo, considerando o fato antecedente, se além do incêndio, vier a ocorrer
alguma morte, também por culpa, o homicídio culposo funcionará como resultado agravador (fato
consequente), é a hipótese prevista no artigo 258 parte final do código penal que prevê o crime de incêndio
culposo qualificado pelo resultado morte. C) culpa no antecedente e dolo no consequente: o agente após
produzir o resultado por imprudência, negligência ou imperícia, realiza uma conduta dolosa agravadora. É o
caso do motorista que, após atropelar um pedestre ferido, foge, omitindo-lhe socorro (art. 303 parágrafo
único CTB). Houve um comportamento anterior culposo ao qual sucedeu uma conduta dolosa, que agravou
o crime (culpa no antecedente e dolo no consequente). D) conduta dolosa e resultado agravador culposo
(crime preterdoloso ou preterintencional): o agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e
produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que o desejado. É o caso da lesão corporal seguida
de morte, na qual a gente quer ferir mas acaba matando. Ex: Um sujeito desfere um soco contra o rosto da
vítima com a intenção de lesionar, no entanto, ela perde o equilíbrio, bate a cabeça e morre. Há só um crime:
lesão corporal dolosa qualificada pelo resultado morte culposa. Como se nota, o agente queria provocar
lesões corporais mas, acidentalmente, por culpa, acabou gerando um resultado muito mais grave, qual seja,
a morte. Na hipótese, diz-se que o autor fez mais do que queria, agiu além do dolo, isto é, com preterdolo.
Somente esta última espécie de crime qualificado pelo resultado configura o crime preterdoloso ou
preterintencional.
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4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
4.1 Consumação
Conceito: É aquele em que foram realizados todos os elementos constantes de sua definição legal. Ex: o
crime de furto se consuma no momento em que o agente subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel,
ou seja, no exato instante em que o bem sai da esfera de disponibilidade da vítima que, então, precisará
agora retomá-lo. nesse caso todas as elementares do tipo do furto foram inteiramente realizadas.
A consumação nas várias espécies de crimes:
a) Materiais: com a produção do resultado naturalístico;
b) culposos: com a produção do resultado naturalístico;
c) de mera conduta: com a ação ou omissão delituosa;
d) formais: com a simples atividade, independente do resultado;
e) permanentes: o momento consumativo se protrai no tempo;
f) omissivos próprios: com a abstenção do comportamento devido;
g) omissivos impróprios: com a produção do resultado naturalístico;
h) qualificados pelo resultado: com a produção do resultado agravador;
i) complexos: quando os crimes componentes estejam integralmente realizados;
j) habituais: com a reiteração de atos, pois cada um deles, isoladamente, é um indiferente penal. O momento
consumativo é incerto, pois não se sabe quando a conduta se tornou um hábito.
Caiu na Prova Delegado RR 2022 (aplicação 25/09/22) - Os crimes omissivos impróprios são
necessariamente crimes de resultado naturalístico (item correto).
4.1.2 Iter Criminis
Caminho do crime. Conjuntos de fases que se sucedem cronologicamente no delito. Composto por
fases interna e externa. Portanto, o iter criminis constitui-se do estudo das fases de cogitação, dos atos
preparatórios, dos atos executórios e da consumação, além de eventual exaurimento do crime.
*Só haverá iter criminis nos crimes dolosos! Já que, nos crimes culposos, o resultado ilícito não é querido,
ele provém da violação de um dever objetivo de cuidado.
I. FASE INTERNA:
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1) COGITAÇÃO: O agente apenas mentaliza, idealiza, prevê, planeja, deseja. Nessa fase o crime é
impunível.
Abarca:
⦁ Idealização – quando surge a ideia da prática do delito;
⦁ Deliberação – o agente faz a análise de prós e contras da empreitada criminosa;
⦁ Resolução – o agente decide praticar o crime.
* ATENÇÃO: A simples ideia de crime NÃO pode ser punida, em razão do princípio da materialização do fato.
“Direito à perversão”. “Claustro psíquico”.
II. FASE EXTERNA:
1) PREPARAÇÃO: A doutrina denomina essa fase de conatus remotus
Os atos preparatórios representam o início da fase externa da ação. Isso porque o indivíduo
exterioriza o projeto criminoso que ele havia elaborado mentalmente.
Ou seja: A preparação corresponde aos atos indispensáveis à prática da infração penal.
Obs.: Há quem entenda que compõe a fase interna, a exemplo de Rogério Sanches,
mas não prevalece.
o Regra: Impunível, vez que o CP busca punir o crime a partirdos atos executórios;
o Exceção – Atos preparatórios podem gerar crimes autônomos chamados de crimes-obstáculo.
⦁ Fabricar, fornecer, adquirir e portar explosivos;
⦁ Incitação ao crime;
⦁ Petrechos de falsificação de moeda;
⦁ Associação criminosa.
ENTENDA: Trata-se do fenômeno chamado antecipação da tutela penal. É o fenômeno pelo qual o legislador
criminaliza condutas que seriam atos preparatórios de outros crimes, mas que constituem crimes
autônomos. Essa ampliação está atrelada ao próprio papel do Estado, como provedor de determinados
direitos.
2) EXECUÇÃO:
Inicia a agressão ao bem jurídico. Deve ser:
● Ato idôneo: Com capacidade suficiente para lesar o bem jurídico penalmente tutelado;
● Ato inequívoco: Direcionado ao ataque do bem jurídico.
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Fronteira entre o fim da Preparação e o início da execução: é muito tênue a linha divisória entre o término
da preparação do primeiro ato executório. torna-se bastante difícil saber quando a gente está preparando
ou já está executando um crime. o melhor critério para tal distinção é o que entende que a execução se
inicia com a prática do primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito. Enquanto os atos
realizados não forem aptos a consumação, ou, quando não estiverem inequivocamente vinculados a ela, o
crime permanece em sua fase de preparação. Desse modo, no momento em que o agente aguarda a
passagem da vítima escondido atrás de uma árvore, ainda não praticou nenhum ato idôneo para causar a
morte daquela, nem se pode estabelecer em duvidosa ligação entre esse fato e o homicídio a ser praticado.
ATENÇÃO!!! Transição dos atos preparatórios para os atos executórios:
Da série: parece simples, mas não é. Em qual momento um ato deixa de ser preparatório e passa a ser
considerado como executório? Algumas teorias tratam do assunto.
● Teoria subjetiva: não há distinção entre o ato preparatório e o executório. Considera-se o dolo do
agente, que está presente a todo momento – não é admitida no Brasil
● Teorias objetivas
a) Teoria da hostilidade ao bem jurídico: o ato de execução é aquele em que o agente ataca o bem
jurídico, enquanto que o ato preparatório não altera o seu “estado de paz”. (Nelson Hungria, Max
Ernst Mayer)
b) Teoria objetivo-formal ou lógico-formal: é a teoria majoritária no Brasil. Caracteriza ato de
execução como aquele em que o agente começa a praticar o verbo (o núcleo do tipo) da conduta
criminosa, enquanto que os atos anteriores são preparatórios. (Franz Von Liszt)
Atenção a jurisprudência que relata a teoria adotada pelos tribunais superiores.
O agente que pretendia praticar roubo e foi surpreendido após romper o cadeado e destruir a fechadura da
porta da casa da vítima; não se pode falar em tentativa de roubo.
Adotando-se a teoria objetivo-formal, o rompimento de cadeado e destruição de fechadura da porta da casa
da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de fogo, efetuar subtração patrimonial da residência,
configuram meros atos preparatórios que impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado.
Caso adaptado: João e Pedro caminhavam nas ruas de um bairro e decidiram praticar assalto em uma das
casas. Eles arrombaram o cadeado e destruíram a fechadura da porta da casa, no entanto, quando iam
adentrar na residência, passou uma viatura da Polícia Militar. Os indivíduos correram quando perceberam a
presença das autoridades de segurança. Os policiais perseguiram a dupla, conseguindo prendê-los. Com eles,
foi encontrada uma arma de fogo de uso permitido. Vale ressaltar, contudo, que não possuíam porte de
arma. Não se pode falar que houve roubo circunstanciado tentado. STJ. 5ª Turma. AREsp 974254-TO, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/09/2021 (Info 711).
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c) Teoria objetivo-individual ou objetivo-subjetiva: Adotada excepcionalmente. Atos executórios são
aqueles em que o agente inicia a realização do núcleo do tipo e também os atos que lhe são
imediatamente anteriores, DE ACORDO COM O PLANO CONCRETO DO AGENTE. (Welzel, Zaffaroni).
Ex: “A”, segurando uma faca, aguarda atrás de uma parede a passagem de “B”, seu inimigo, para
matá-lo na volta de seu trabalho, caminho fixo pelo qual a vítima passa, já tendo feito por diversas vezes esta
ameaça. Quando este se encontra a 100m de distância, “A” fica de pé e segura firme a faca, aguardando em
posição de ataque. Surge um policial e o aborda. Para esta teoria, poderia haver a prisão em flagrante, em
face da caracterização da tentativa de homicídio, o que não se daria na teoria objetivo-formal.
d) Teoria objetivo-material: Os atos de execução são aqueles em que o agente inicia a realização do
núcleo do tipo e também os atos que lhe são imediatamente anteriores, NA VISÃO DO TERCEIRO
OBSERVADOR. É o que diferencia da lógico-individual / objetivo-subjetiva. O juiz deve avaliar os atos
a partir de uma visão externa da situação (não necessariamente de uma terceira pessoa presente no
local do crime – é uma figura hipotética). (Reinhart Frank).
e) Teoria da impressão: Se considera iniciada a conduta capaz de produzir na comunidade a impressão
de agressão ao bem jurídico, prejudicando a segurança
f) Teoria negativa: entende não ser possível limitar, em uma regra geral, o que seriam atos
preparatórios ou executórios, devendo tal definição ficar a cargo do julgador no momento da análise
de cada caso.
3) CONSUMAÇÃO:
⦁ Crimes de perigo concreto = a consumação se dá com a efetiva exposição do bem jurídico a uma
probabilidade de dano
⦁ Crimes de perigo abstrato = a consumação se dá com a mera prática da conduta definida pela
lei como perigosa (porte de arma e dirigir sem habilitação).
* ATENÇÃO: EXAURIMENTO: Também chamado de “crime exaurido ou de crime esgotado”. Trata-se do
conjunto de efeitos posteriores à consumação do delito.
Tem relevância, tecnicamente, apenas aos delitos formais, em que o resultado naturalístico é dispensável e
quando este ocorre, fala-se em exaurimento. É o que Zaffaroni chamou de consumação material.
Porém, para a doutrina majoritária, ele NÃO integra o iter criminis. No entanto, não é irrelevante. Interfere
na dosimetria da pena, seja como circunstância judicial desfavorável, ou então como qualificadora ou causa
de aumento de pena.
ITER CRIMINIS:
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Fase interna Fase Externa Não integra
4.2. Tentativa (= conatus, crime imperfeito, crime incompleto)
a) Fundamento Legal: art. 14, CP
Art. 14 - Diz-se o crime:
I - Consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
b) Conceito:
É o início da execução de um crime que somente não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Também é chamada de “crime manco, truncado”, vez que o tipo subjetivo está perfeito
(vontade/voluntariedade), mas o tipo objetivo, a figura criminosa, não se realiza integralmente.
c) Natureza Jurídica: (importante!!)
● Trata-se de norma de extensão temporal da figura típica causadora de adequação típica mediata
ou indireta.
● Sob o enfoque da PENA - trata-se de causa geral obrigatória de diminuição de pena
d) Elementos:
● Início da execução (questão de lógica: se tentativa é justamente a execução interrompida por
circunstâncias alheias à vontade do agente, é imprescindível o seu início)
● Ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente
● Dolo de consumação(o dolo é o mesmo do delito consumado)
● Resultado possível (se o resultado não ocorreu por ser impossível, será crime impossível, ora bolas).
e) Teorias sobre a punibilidade da tentativa: quatro teorias principais buscam fundamentar a
punibilidade da tentativa:
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● Teoria subjetiva/voluntarista/monista: o sujeito é punido por sua intenção, pois o que importa é o
desvalor da ação, sendo irrelevante o desvalor do resultado, de modo que deveria suportar a mesma
pena;
→ Assim, se ele tem a intenção de matar, a tentativa de homicídio deve ser punida da mesma
forma que o homicídio. Ou seja: ele deve ser punido pela pena da consumação tangente à
sua vontade.
→ Consequências de adotar a teoria subjetiva:
1. É a punição da tentativa inidônea ou crime impossível
2. Equiparação do crime consumado ao crime tentado (o crime tentado é punido com a
mesma pena do crime consumado, uma vez que a intenção, o animus, o dolo era de
consumar a conduta).
● Teoria sintomática: sustenta a punição em razão da periculosidade subjetiva, ou seja, do perigo
revelado pelo agente. Para esta teoria, o Estado deveria aplicar uma medida de segurança;
● Teoria objetiva/realística/dualista: a tentativa é punida por causa do perigo proporcionado ao bem
jurídico tutelado pela lei penal. Por isso, a pena de tentativa deve ser menor que a pena da
consumação e proporcional ao risco de lesão causado. Analisa o que o agente efetivamente fez ,
com base na fase do iter criminis à qual ele chegou.
- REGRA: A Teoria Objetiva é a teoria adotada pelo nosso CP! (Art. 14, §único, 2ª parte).
- EXCEÇÃO: Essa teoria foi adotada com ressalvas, em razão da primeira parte do §único do
art. 14, que é considerada pela doutrina como um resquício da Teoria Subjetiva.
Confira a dica do Professor Marcelo Veiga:
https://youtu.be/AdGTbyayFtI
https://youtu.be/AdGTbyayFtI
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Para a doutrina, o “salvo em disposição em contrário” seria a possibilidade de adotar,
excepcionalmente, a teoria subjetiva. Ex.: art. 352, CP → pois a pena da tentativa é a mesma que a pena da
consumação.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
→ A doutrina chama esses crimes de CRIMES DE ATENTADO OU MERO EMPREENDIMENTO → são
os crimes que não admitem tentativa pois a própria tentativa já é a consumação desse crime. A
tentativa é punida com a mesma pena da consumação.
→ Logo, os crimes de atentado ou de mero empreendimento são exceções à Teoria Objetiva. Por
isso, parte da doutrina (Rogério Greco) afirma que adotou a Teoria Objetiva Mitigada.
CONCLUSÃO: Em regra, a teoria adotada pelo Código Penal é a Teoria Objetiva. No entanto,
excepcionalmente, adotou a Teoria Subjetiva nas hipóteses de crimes de atentado ou de mero
empreendimento, hipóteses em que a tentativa é punida com a mesma pena da consumação.
● Teoria da impressão/objetivo-subjetiva: admite a punição da tentativa quando a atuação da
vontade ilícita do agente for adequada para comover a confiança na vigência do ordenamento e o
sentimento de segurança jurídica dos que tenham conhecimento da conduta criminosa. Essa teoria
considera que o decisivo para a tentativa não é risco ao bem jurídico, mas o injusto da ação (conduta
típica e ilícita) por meio da exteriorização do dolo do agente. Essa teoria seria mais restritiva que a
subjetiva, por não aceitar tentativa no caso de absoluta inidoneidade (crime impossível). PS: Rogério
Sanches e Masson tratam a teoria objetivo-subjetivo e da impressão como sinônimas, entretanto
outros doutrinadores diferenciam as teorias.
- Consequências da tentativa: É causa obrigatória de diminuição de pena.
o Reduz a pena de 1/3 a 2/3;
o Incide na 3ª fase na aplicação da pena privativa de liberdade;
o Parâmetro de aplicação: iter criminis (proximidade da consumação).
f) Espécies:
● Tentativa branca ou incruenta: O objeto material NÃO é atingido pela conduta criminosa;
● Tentativa vermelha ou cruenta: O objeto é atingido;
● Tentativa perfeita ou crime falho: O agente esgota todos os meios executórios que estavam à
disposição, e mesmo assim não sobrevém a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade.
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☞ Apenas é compatível com os crimes materiais, tendo em vista que nos formais e de mera
conduta, esgotando-se os atos executórios, teremos crime consumado, não tentado;
☞ Atenção à nomenclatura! Não confunda crime falho com crime impossível (quase-crime,
crime oco, tentativa inidônea e tentativa impossível).
● Tentativa imperfeita, inacabada ou tentativa propriamente dita: O agente inicia a execução sem
utilizar todos os meios que tinha ao seu alcance, e o crime não se consuma por circunstâncias alheias
à sua vontade.
● Tentativa simples: É a tentativa propriamente dita. O resultado não ocorre por circunstâncias alheias
à vontade do agente.
● Tentativa qualificada/abandonada: Embora carregue o termo “tentativa”, de tentativa só tem o
nome, pois, na verdade, não é. É o termo utilizado como gênero, do qual são espécies a desistência
voluntária e o arrependimento eficaz (que veremos mais à frente).
g) Admissibilidade e inadmissibilidade da tentativa
● Regra geral: os crimes dolosos admitem tentativa
● Exceções:
o Crimes culposos: são incompatíveis com a tentativa, em razão do resultado ser involuntário.
Na culpa imprópria admite-se a tentativa.
o Crimes de atentado ou empreendimento: aquele já prevê no seu tipo a equiparação entre a
forma tentada e a consumada, dessa forma não é possível configurar tentativa.
o Crimes preterdolosos: a tentativa é inadmissível na parte culposa;
o Crimes unissubsistentes: são aqueles em que a conduta é composta por um único ato, sendo
impossível fracionar o "iter criminis”, motivo pela qual a tentativa é inadmissível (exemplo:
injúria verbal);
o Crimes omissivos próprios e de perigo abstrato: são unissubsistentes, razão pela qual a
tentativa é inadmissível;
o Contravenções penais: a tentativa de contravenção é penalmente irrelevante por previsão
legal (art. 4°, LCP)
o Crime obstáculo: vez que a preparação já está sendo punida de forma autônoma;
o Crime habitual: exige reiteração de atos, motivo pelo qual a tentativa não seria cabível.
Doutrina minoritária entende que sim, ex.: falso médico aluga local e faz anúncio da futura
abertura de sua clínica, antes de chegar a atender alguém.
5. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
a) Conceito:
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Os dois institutos constituem aquilo que a doutrina chamou de "tentativa abandonada" ou "tentativa
qualificada", em que o crime não se consuma pela própria vontade do agente. – NÃO CONFUNDIR com a
"tentativa", propriamente dita (em que o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente).
São chamados também de "ponte de ouro" - pela oportunidade que o agente tem de "corrigir o seu
percurso", voltando à esfera da licitude.
▪ Desistência voluntária: O agente inicia os atos executórios, mas por vontade própria, interrompe este
processo, abandonando a prática dos demais atos necessários e que estavam à sua disposição para
a consumação. Em regra, conduta negativa.
☞ Um terceiro pode influenciar, pedir, mas não pode ter havido coação. Exige-se, portanto, a
vontade livre do agente, mas não precisa ser espontânea (surgir da cabeça dele).
☞ É incabível nos crimes unissubsistentes, que são realizados por apenas 1 (um) ato.
▪ Arrependimento eficaz ou resipiscência (olho no nome!): Depois de já praticados todos os atos
executóriossuficientes à consumação do crime, o agente adota providências aptas a impedir a
produção do resultado. Sendo assim, é cabível somente em crimes materiais. Em regra, conduta
positiva.
b) Natureza jurídica: Causa de exclusão da tipicidade (doutrina majoritária). Em sentido contrário, para
Nelson Hungria, trata-se de extinção da punibilidade.
c) Elementos da tentativa abandonada:
a) início da execução
b) não consumação
c) interferência da vontade do próprio agente
d) Requisitos:
o Voluntariedade – vontade livre (é diferente de espontaneidade, que não é requisito);
o Eficácia - Para que se apliquem esses institutos, a conduta do agente deve ter sido eficaz para
impedir a consumação. Se ele apenas tentou, mas não conseguiu evitar, será cabível somente
uma atenuante genérica (Art. 65, III, b, primeira parte, do Código Penal).
Confira a dica do Professor Marcelo Veiga:
https://youtu.be/AaMhJvPZgSA
https://youtu.be/AaMhJvPZgSA
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CAIU NA PROVA DELEGADO DE POLÍCIA – GOIÁS AOCP (2022)
Acerca das circunstâncias que envolvem a prática delituosa, assinale a alternativa correta conforme
jurisprudência dos tribunais superiores. A configuração da desistência voluntária afasta, inevitavelmente, o
delito na sua forma tentada, posto que o fim inicialmente pretendido pelo agente não se realiza, ou seja, ao
alterar o dolo inicialmente quisto, enseja a ocorrência da atipicidade, respondendo, entretanto, pelos atos já
praticados. (item correto)
Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: O agente que tenha desistido
voluntariamente de prosseguir na execução ou, mesmo depois de tê-la esgotado, atue no sentido de evitar
a produção do resultado, não poderá ser beneficiado com os institutos da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz caso o resultado venha a ocorrer.
e) Características da desistência voluntário e do arrependimento eficaz:
● Os motivos que levaram o agente a optar pela desistência voluntária ou arrependimento eficaz são
irrelevantes!
● Incompatíveis com os crimes culposos.
● Incompatíveis com crimes formais e crimes de mera conduta! Isso porque, se o crime é formal ou
de mera conduta, a simples realização da conduta já implica na automática consumação do delito,
de modo a não cumprir a elementar “impede que o resultado se produza”. Só é possível, portanto,
nos crimes materiais, nos quais o resultado naturalístico é imprescindível para a consumação.
O instituto do arrependimento eficaz e da desistência voluntária somente são
aplicáveis a delito que não tenha sido consumado. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1549809/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 02/02/2016.
Esses institutos se comunicam aos partícipes?
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R.: Trata-se de tema divergente, mas prevalece a corrente que o arrependimento eficaz e a
desistência voluntária COMUNICAM-SE ao partícipe, pois a sua conduta é ACESSÓRIA, não podendo ser
punido se não houve crime.
#QC – Banca CESPE: Pedro, José e Alfredo integram uma organização criminosa que opera com tráfico de
drogas e comete vários crimes na periferia de uma grande cidade brasileira. José ocupa uma posição mais
alta na organização, sendo responsável por punir quem não correspondesse às expectativas do grupo. Certo
dia, tendo Alfredo falhado na cobrança de uma dívida do tráfico, José, com a ajuda de Pedro, deu-lhe uma
surra. Com o objetivo de se vingar de ambos, Alfredo armou um plano para acabar com a vida de José e
atribuir a responsabilidade a Pedro. Assim, durante um tiroteio entre integrantes da organização criminosa
e policiais, Alfredo, apontando na direção de José, que estava atrás de um arbusto, orientou Pedro a atirar
nele, sob a alegação de que se tratava de um policial. O tiro atingiu José e Alfredo fugiu. Tendo percebido o
erro, Pedro levou José ao hospital, o que evitou sua morte. Considerando que, conforme o Código Penal, o
crime de homicídio consiste em matar alguém e o crime de lesão corporal em ofender a integridade corporal
ou a saúde de outrem, assinale a opção correta a respeito da responsabilização de Alfredo e Pedro na
situação hipotética apresentada.
A - Pedro não será responsabilizado pela prática de crime, em razão do erro sobre pessoa, e Alfredo
responderá por tentativa de homicídio.
B - Alfredo será responsabilizado por tentativa de homicídio e Pedro por lesão corporal.
C - Nem Alfredo nem Pedro serão responsabilizados pela prática de crime, já que Pedro impediu a morte de
José.
D - Tanto Pedro quanto Alfredo responderão por tentativa de homicídio.
E - Pedro não será responsabilizado pela prática de crime, por estar configurada descriminante putativa, e
Alfredo responderá por lesão corporal.
CORRETA: Alfredo será responsabilizado por tentativa de homicídio e Pedro por lesão corporal.
Justificativa: Pedro: erro de tipo acidental sobre a pessoa (aberratio in persona) + arrependimento eficaz.
“Ué, mas vocês acabaram de falar que se comunica. Por qual razão foi diferente aqui?”
Note que Alfredo agiu com má fé, levando o autor executor a erro. Assim, na verdade, não houve concurso
de pessoas, mas autoria mediata mediante induzimento a erro de tipo (art. 20, §2º do CP: responde pelo
crime o terceiro que determina o erro). Ele não é mero partícipe, ele foi o AUTOR MEDIATO. Por esta razão,
Alfredo não será beneficiado com o arrependimento eficaz praticado por José. Se o caso fosse de concurso
de pessoas mediante participação, como muita gente pensa ao ler o enunciado, ele seria sim beneficiado,
vez que o instituto se aplica aos demais agentes, mesmo que não concordem com o arrependimento. Assim,
Alfredo será responsabilizado por tentativa de Homicídio.
Quais as consequências da desistência voluntária e do arrependimento eficaz?
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R.: O agente NÃO responde pela forma tentada do crime inicialmente desejado, mas apenas pelos
atos já praticados.
Em outras palavras: a desistência voluntária e arrependimento eficaz ELIMINAM a tentativa – vez
que para a tentativa a não consumação é por circunstâncias alheias à vontade do agente (sim, falamos pela
terceira vez que é para gravar!).
Distinção de ato voluntário e espontâneo: a desistência e o arrependimento não precisam ser espontâneos,
bastando que sejam voluntários. Por conseguinte, se o agente desiste ou se arrepende por sugestão ou
conselho de terceiro, subsistem a desistência voluntária e o arrependimento eficaz. Do mesmo modo, por
motivo nobre ou de índole ética, piedade, remorso ou por motivos subalternos egoísticos, covardia, medo,
receio de eventualmente ser descoberto: é suficiente que não tenha sido obstado por causa exteriores,
independente de sua vontade. É indiferente a razão interna do arrependimento ou da mudança de propósito.
Como lembra Nélson Hungria, segundo Frank, a desistência é voluntária quando o agente pode dizer:
‘não quero prosseguir, embora pudesse fazê-lo’, e é involuntária quando tem de dizer: ‘não posso prosseguir,
ainda que o quisesse’.
6. ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Ocorre quando o responsável pelo crime praticado sem violência à pessoa ou grave ameaça,
voluntariamente e até o recebimento da denúncia ou queixa, restitui a coisa ou repara o dano provocado
por sua conduta.
Arrependimento posterior
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado
o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
a) Natureza jurídica: É causa pessoal e obrigatória de diminuição da pena.
b) Extensão do benefício:
Conforme a doutrina majoritária, alcançaqualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas
delitos contra o patrimônio, vez que o CP não limita a eles.
No entanto, o STJ tem jurisprudência que os crimes praticados sejam patrimoniais ou possuam
efeitos patrimoniais. Já nos crimes contra a fé pública, assim como nos demais crimes não patrimoniais em
geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de
haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída” (REsp 1.242.294/PR, j. 18/11/2014).
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RECURSO ESPECIAL. PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. ART. 312 DO CTB. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA.
ARREPENDIMENTO POSTERIOR. ART. 16 DO CP. REPARAÇÃO DO DANO. APLICÁVEL
APENAS NOS CRIMES PATRIMONIAIS. PLEITO SUBSIDIÁRIO. RECONHECIMENTO DE
ATENUANTE. ART. 65, III, B, DO CP. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO. SÚMULA
231/STJ.
1. O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento de que, para que seja
possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código
Penal, FAZ-SE NECESSÁRIO QUE O CRIME PRATICADO SEJA PATRIMONIAL OU
POSSUA EFEITOS PATRIMONIAIS. (REsp 1561276/BA, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 28/06/2016, DJe 15/09/2016)
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE
VEÍCULO AUTOMOTOR. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. INAPLICABILIDADE.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Esta Corte possui firme
entendimento de que, para que seja possível aplicar a causa de diminuição de
pena prevista no art. 16 do Código Penal, faz-se necessário que o crime praticado
seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. Precedentes. 2. Inviável o
reconhecimento do arrependimento posterior na hipótese de homicídio culposo na
direção de veículo automotor, uma vez que o delito do art. 302 do Código de
Trânsito Brasileiro não pode ser encarado como crime patrimonial ou de efeito
patrimonial. Na espécie, a tutela penal abrange o bem jurídico mais importante do
ordenamento jurídico, a vida, que, uma vez ceifada, jamais poderá ser restituída,
reparada. Precedente. (STJ; AgRg-HC 510.052; Proc. 2019/0136931-4; RJ; Sexta
Turma; Rel. Min. Nefi Cordeiro; Julg. 17/12/2019; DJE 04/02/2020)
c) Fundamentos:
● Proteção à vítima;
● Fomento ao arrependimento do agente.
d) Requisitos (cumulativos):
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(1) Natureza do crime: crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa (a violência à coisa não obsta
o reconhecimento do instituto).
Cabe arrependimento posterior nos casos em que há violência imprópria? Ex.: quando se utiliza um
sonífero para diminuir a capacidade de resistência da vítima.
R.: Há divergência doutrinária: Parte da doutrina entende que o arrependimento posterior é uma das
poucas hipóteses em que o legislador se preocupa com a vítima, se preocupa com a forma de diminuir os
danos causados à vítima. Assim, como esse instituto é direcionado à vítima, sempre que puder incentivar o
autor a reparar o dano ou restituir a coisa, reduzindo os prejuízos da vítima, admitiria a aplicação do
arrependimento posterior. No entanto, a jurisprudência é muito reticente em aplicar.
Cabe arrependimento posterior em caso de violência culposa?
R.: SIM! Segundo a doutrina, em caso de violência culposa, é cabível o arrependimento posterior.
Isso porque, nesse caso, não houve violência na conduta, mas sim no resultado. É o que se dá, por exemplo,
na lesão corporal culposa, crime de ação penal pública condicionada em que a reparação do dano pode,
inclusive, acarretar na renúncia ao direito de representação se celebrada a composição civil, na forma do
art. 74 e parágrafo único da Lei 9.099/1995.
(2) Reparação do dano ou restituição da coisa:
o Voluntária
o Pessoal, salvo comprovada impossibilidade
o Integral.
STF (Info 608): Já admitiu reparação parcial do dano, sopesando o percentual da
reparação da pena.
(3) Até o recebimento da denúncia
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A reparação do dano ou restituição da coisa deve ser feita ATÉ o RECEBIMENTO da denúncia, ainda
que pague os juros ou correção monetária posteriormente. Veja a jurisprudência do STF nesse sentido.
É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16
do Código Penal (arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o
ressarcimento da dívida principal (efetuou a reparação da parte principal do
dano) antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou os valores
referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal.
Nas exatas palavras do STF: “É suficiente que ocorra arrependimento, uma vez
reparada parte principal do dano, até o recebimento da inicial acusatória, sendo
inviável potencializar a amplitude da restituição.” STF. 1ª Turma. HC 165312/SP,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973).
E se o agente restituir a coisa ou reparar o dano após o recebimento da denúncia?
R.: Nesse caso, ele não será beneficiado pelo arrependimento posterior, mas é uma circunstância
atenuante (art. 65, III, “b” , CP)
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado
o dano;
(4) Voluntariedade (diferente de espontaneidade).
Redução da pena de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e voluntariedade;
A causa de diminuição de pena relativa ao artigo 16 do Código Penal
(arrependimento posterior) somente tem aplicação se houver a integral reparação
do dano ou a restituição da coisa antes do recebimento da denúncia, variando o
índice de redução da pena em função da maior ou menor celeridade no
ressarcimento do prejuízo à vítima. STJ. 6ª Turma. HC 338840/SC, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 04/02/2016.
Confira a dica do Professor Marcelo Veiga:
https://youtu.be/HTvFfb3-AuI
https://youtu.be/HTvFfb3-AuI
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e) Algumas características:
● A reparação do dano ou restituição da coisa tem natureza objetiva, razão pela qual comunica-se aos
demais coautores e partícipes do crime (majoritário).
● A recusa do ofendido NÃO impede a redução da pena.
● Em algumas situações, não se aplicará pelo fato de existir norma específica mais favorável para o
caso de haver reparação do dano, como por exemplo, extinção da punibilidade, ex: apropriação
indébita, crimes de menor potencial ofensivo, peculato culposo etc.
STJ-REsp 1.187.976: o arrependimento posterior tem natureza objetiva. Portanto,
a reparação do dano ou restituição da coisa efetuada por um dos agentes estende
o benefício aos demais.
(Banca FCC) No arrependimento posterior, a reparação do dano ou a restituição da
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, ainda que efetivada por um só
agente, é circunstância objetiva e deve comunicar-se aos demais réus(item
correto).
REGRAS ESPECIAIS DIANTE DA REGRA GERAL DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR:
1. PECULATO CULPOSO
● Reparação do dano até a sentença irrecorrível — extinção da punibilidade
● Reparação do dano após a sentença irrecorrível — redução de ½ da pena
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
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§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença
irrecorrível, extingue a punibilidade; se lheé posterior, reduz de metade a pena
imposta.
2. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e
efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento,
antes do início da ação fiscal.
3. ESTELIONATO PELA EMISSÃO DE CHEQUE SEM FUNDOS
A Súmula 554 do STF não incide para qualquer estelionato, mas apenas para o estelionato em que
há emissão de cheque sem fundo.
Assim, se o pagamento for antes do recebimento da denúncia, objetaria /impediria o prosseguimento
da ação penal.
Súmula 554. O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta o prosseguimento da ação penal.
Olho na jurisprudência! Não cabe arrependimento posterior no homicídio culposo praticado no
trânsito! Veja o teor do informativo 590 do STJ.
Não se aplica o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o
homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que
tenha sido realizada composição civil entre o autor do crime e a família da vítima.
Para que seja possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do
CP é indispensável que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos
patrimoniais. O arrependimento posterior exige a reparação do dano e isso é
impossível no caso do homicídio. STJ. 6ª Turma. REsp 1561276-BA.
7. CRIME IMPOSSÍVEL (ART. 17, CPC)
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Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
a) Conceito: Verifica-se da impossibilidade de ocorrer a consumação, seja pela ineficácia absoluta do meio,
ou por absoluta impropriedade do objeto. Também conhecido por “tentativa inidônea, tentativa
inadequada, tentativa impossível ou quase crime”.
b) Natureza jurídica: Causa de exclusão da tipicidade
c) Espécies de crime impossível:
● Por ineficácia absoluta do meio de execução: O meio empregado ou o instrumento utilizado para a
execução do crime jamais levarão a consumação, pois não possui potencialidade lesiva alguma. Ex:
Um palito de dente para matar um adulto é incapaz de produzir o resultado. A idoneidade deve ser
analisada no caso concreto.
Obs: A ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao crime impossível. Ex: um palito é meio
relativamente independente eficaz para matar um recém-nascido, perfurando-lhe a moleira.
● Por impropriedade absoluta do objeto: A pessoa ou coisa sobre que recai a conduta é
absolutamente inidônea para a produção de algum resultado lesivo, o objeto material do crime é
absolutamente impróprio. Ex: matar um cadáver, uma não grávida tomando remédio para abortar.
Obs: de acordo com Fernando Capez, a impropriedade não pode ser relativa, pois nesse caso haverá
tentativa. Ex: o punguista enfia a mão no bolso errado. Houve circunstância meramente acidental que não
torna impossível o crime. No caso, responde por tentativa. Por outro lado, se a vítima não tivesse nada em
nenhum dos seus bolsos, a impropriedade seria absoluta, inviabilizando totalmente a consumação do delito
e tornando-o impossível.
Critério para aferição da idoneidade: a aferição da idoneidade deve ser feita no momento em que
se realiza a ação ou omissão delituosa.
a) se concretamente os meios ou o objeto eram inidôneos para a consecução do resultado já antes
de se iniciar a ação executória, o crime é impossível.
b) se os meios ou o objeto tornam-se inidôneos concomitantemente ou após o início da execução,
tipifica-se uma tentativa de crime que se pretendia cometer, porque, no momento em que o agente praticou
o crime, este tinha possibilidade de consumar-se. Um exemplo dado por Fernando Capez, em que o agente
envenena a vítima, que já tinha sido envenenada antes por outra pessoa. Vindo ela, posteriormente, a falecer
em decorrência do veneno anterior, não se poderá falar em crime impossível no tocante ao agente, que,
assim, responderá por tentativa, pois a vítima ainda estava viva quando ele a envenenou, sendo esse objeto
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material idôneo para sofrer a agressão homicida. O resultado só não ocorreu em decorrência de conduta
anterior, que produziu sozinha o resultado morte.
Súmula 145, STF: “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação”. Segundo Greco, “por intermédio da Súmula
n° 145 do STF foi pacificado o entendimento daquela Corte no sentido de que, em
determinadas situações, se a polícia preparar o flagrante de modo a tornar
impossível a consumação do delito, tal situação importará em crime impossível,
não havendo, por conseguinte, qualquer conduta que esteja a merecer a
reprimenda do Estado”.
ATENÇÃO!!! O PACOTE ANTICRIME INSERIU, NA LEI DE DROGAS E NO ESTATUTO
DO DESARMAMENTO, A FIGURA DO “POLICIAL DISFARÇADO”, COM O INTUITO
EXATAMENTE DE EVITAR QUE OCORRA O CRIME IMPOSSÍVEL EM RAZÃO DO
FLAGRANTE PREPARADO QUANDO HOUVER INDÍCIOS PROBATÓRIOS DE
CONDUTA CRIMINOSA PREEXISTENTE!
Súmula 567 - Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por
existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não
torna impossível a configuração do crime de furto.
d) Teorias sobre o crime impossível:
1) Subjetiva: O crime impossível deve receber a mesma punição que o crime consumado, pois o agente
tem uma vontade ilícita e essa vontade deve ser punida.
2) Sintomática: o crime impossível revela a periculosidade do agente, portanto, o agente deve suportar
uma medida de segurança.
3) Objetiva – essa teoria leva em conta a potencialidade da conduta para ofender o bem jurídico.
Quando a conduta não tem potencialidade, surge a chamada inidoneidade. A teoria objetiva se divide
em duas:
- Teoria objetiva pura: havendo inidoneidade, não importa se absoluta ou relativa, será caso
de crime impossível – não admite a tentativa, pois sempre que o agente não conseguir
consumar o crime será caso de crime impossível;
- Teoria objetiva temperada ou intermediária: se a idoneidade for absoluta o crime é
impossível, se a inidoneidade for relativa, será hipótese de tentativa. Adotada pelo CP.
Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: No direito penal brasileiro, adota-se a
teoria subjetiva para o regramento do crime impossível, o que significa que o agente não responde, inclusive
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pela tentativa, diante da impossibilidade da consumação do crime em razão da ineficácia absoluta do meio
ou da absoluta impropriedade do objeto.
e) Crime putativo x crime impossível:
● Crime impossível: O autor, com intenção de cometer o delito, NÃO consegue, pela inidoneidade do
meio ou do objeto material.
● Crime putativo: O agente, embora acredite praticar fato típico, realiza um indiferente
penal. (Ex.: Agente que comete adultério e pensa ser um ilícito penal). No delito putativo por erro de
tipo, o sujeito quer praticar um crime, mas, devido ao desconhecimento da situação de fato, comete
um irrelevante penal. (ex:o agente atira em um cadáver, pensando estar vivo)
Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: Crime impossível e delito putativo são
considerados pela doutrina como expressões sinônimas.
Delito putativo por obra do agente provocador, crime de flagrante preparado,delito de ensaio ou
experiência: A polícia ou terceiro (agente provocador) prepara uma situação, na qual induz o agente a
cometer o delito(ex: delegada grávida pede para o médico fazer aborto ilegal e depois que o prende em
flagrante). Nessa situação o autor é protagonista de uma farsa que, desde o início, não tem a menor chance
de dar certo. Por essa razão a jurisprudência considera a encenação do flagrante preparado uma espécie de
crime impossível entendendo não haver delito, ante a atipicidade do fato.
JURISPRUDÊNCIAS PERTINENTES AO INSTITUTO DO CRIME IMPOSSÍVEL
Info. 633, STJ – 2018
O art. 291 do Código Penal tipifica, entre outras condutas, a posse ou guarda de
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado
à falsificação de moeda. A expressão “especialmente destinado” não diz respeito a
uma característica intrínseca ou inerente do objeto. Se assim fosse, só o maquinário
exclusivamente voltado para a fabricação ou falsificação de moedas
consubstanciaria o crime, o que implicaria a absoluta inviabilidade de sua
consumação (crime impossível), pois nem mesmo o maquinário e insumos
utilizados pela Casa de Moeda são direcionados exclusivamente para a fabricação
de moeda.
Info. 885, STF – 2017
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;
- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Manual de Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Rogério Sanches Cunha.
- Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br
- Curso de Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 21ª edição – Rogério Greco
http://www.dizerodireito.com.br/
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QUESTÕES PROPOSTAS
https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes?discipline_ids%5B%5D=9&exclude_nullified=true&exclude_outdated=true&job_ids%5
B%5D=169&print=true&subject_ids%5B%5D=796&subject_ids%5B%5D=2216&subject_ids%5B%5D=3170&
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ds%5B%5D=16683&subject_ids%5B%5D=16685&subject_ids%5B%5D=16686&subject_ids%5B%5D=16687
&subject_ids%5B%5D=16688&subject_ids%5B%5D=16769&subject_ids%5B%5D=16770&subject_ids%5B%
5D=16771&subject_ids%5B%5D=16772&subject_ids%5B%5D=16773
1 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-ES - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-ES - Delegado de Polícia
Paulo foi surpreendido em uma abordagem policial enquanto consumia um cigarro de maconha e portava
outro para consumir em momento posterior. Com o fim de evitar sua condução à delegacia, Paulo ofereceu
seu aparelho celular de última geração aos policiais.
Nessa situação hipotética, de acordo com o entendimento dos tribunais superiores, Paulo
A-deve ser autuado em flagrante delito pelo crime de corrupção passiva por tentar impedir a atuação da
polícia.
B-cometeu crime de corrupção ativa ao oferecer vantagem aos policiais na tentativa de que não o levassem
à delegacia pela conduta de posse de drogas ilícitas.
C-pode ser acusado pelo crime de corrupção ativa na modalidade tentada, caso os policiais não tenham
aceitado a oferta.
D-cometeu o crime de favorecimento pessoal, previsto no Código Penal, ao oferecer o aparelho celular aos
policiais.
E-não deve ser autuado por nenhum crime, em razão de a conduta de uso de entorpecentes ter sido
descriminalizada.
2 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia
Considere a seguinte hipótese: Petrônio e Cesarino são estudantes e colegas de faculdade. Em um almoço
em que os dois e outros colegas estão sentados à mesma mesa, Petrônio, com intenção de causar prejuízo
econômico a Cesarino, derrama água de uma jarra inteira sobre o computador pessoal que ele pensa ser de
Cesarino. A ação é motivada por uma discussão sobre futebol. Ocorre que Petrônio, já obnubilado pela
bebida alcoólica que havia ingerido, acaba se confundindo e derrama água somente sobre o próprio
computador pessoal – o que efetivamente o danifica.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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Em face do exposto, é correto afirmar que
A-Petrônio cometeu crime de dano na modalidade tentada, com agravante da embriaguez.
B-o fato é típico, mas não ilícito.
C-o fato é atípico.
D-Petrônio cometeu crime de dano consumado, uma vez que o erro sobre a pessoa não o isenta de pena.
E-Petrônio cometeu crime de dano qualificado, tendo em vista o motivo egoístico.
3- 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia
Considere a seguinte hipótese: Caio, com intuito de obter vantagem econômica indevida, faz-se passar por
Júlio, filho de Aurélia e, nesse papel, realiza ligação telefônica para ela, pedindo depósito de determinada
quantia de dinheiro em conta de terceiro – seu cúmplice. Aurélia, inicialmente, se convence e promete fazer
o depósito, mas, depois de desligar o telefone, resolve procurar seu filho, descobre o engodo e não deposita
o dinheiro.
Nesse caso, houve
A-tentativa imperfeita.
B-tentativa perfeita.
C-tentativa vermelha.
D-tentativa cruenta.
E-crime impossível.
4 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01
Dentre os delitos de posse, é possível sua divisão em grupos determinados.
Assinale a opção que corresponde à infração penal em casos em que o autor possui objetos precedentes da
comissão de um delito.
A-Possuir material de pornografia infantil.
B-Posse de arma de fogo de uso permitido.
C-Porte de arma de fogo de uso proibido.
D-Possuir programa de computador para fraude.
E-Possuir chaves falsas ou alteradas para prática de furto.
5 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
SEMANA 03/18
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Durante a pandemia, Tadeu descumpriu levianamente regras determinadas pelas autoridades sanitárias,
tendo frequentado festas e deixado de usar equipamentos de proteção individual em diversos momentos.
Depois de apresentar sintomas de covid-19, buscou atendimento hospitalar. Ao ser avaliado pelo médico,
Geraldo, verificou-se a necessidade de internação de Tadeu, com o uso de respirador artificial. Havia apenas
um respirador na região, o qual foi disponibilizado a Tadeu. De acordo com o prognóstico médico, caso não
fizesse uso do aparelho, Tadeu provavelmente morreria, mas com o tratamento adequado poderia obter
plena recuperação em algumas semanas. Nesse mesmo dia, deu entrada no hospital, também vítima de
covid-19, o paciente Jeferson, que havia adotado todas as precauções necessárias para evitar a
contaminação, mas ainda assim contraíra o vírus. Seu quadro clínico é idêntico ao de Tadeu e o prognóstico
é o mesmo. No entanto, não havia outro respirador artificial no hospital nem em unidades de saúde
próximas, não existindo possibilidade de transferi-lo. A única solução seria retirar Tadeu do aparelho e
submeter Jeferson ao tratamento, o que Geraldo se negou a fazer, oferecendo outros cuidados a Jeferson.
Não obstante os esforços de Geraldo, Jeferson morreu em algumas horas, o que poderia ser evitado pelo uso
do respirador.
Nessa situação hipotética, Geraldo
A-responderá pelo resultado morte, pois a ponderabilidade da vida deve levar em consideração o contexto
em que ocorreu a contaminação.
B-não responderá pelo resultado morte, pois o dever de omissão prepondera sobre o dever de ação.
C-não responderá pelo resultado morte, pois agiu sem potencial consciência da ilicitude de seu
comportamento.
D-não será punido pelo resultado morte, pois há uma hipótese de escusa absolutória determinada pela
inevitabilidade do resultado em relação a um dos pacientes.
E-responderá pelo resultado morte, pois a pessoa salva realizou a autocolocação em risco, devendo ter sido
priorizado o atendimento ao outro paciente.
6 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
Atanagildo ofereceu ação indenizatória contra empresa concessionária de energia elétrica, sustentando, em
sua petição inicial, a interrupção no fornecimento de eletricidade por diversos dias consecutivos. A fim de
não realizar o pagamento de custas processuais, Atanagildo se declarou hipossuficiente. Contudo, logo
restou demonstrado pela empresa que Atanagildo não era hipossuficiente, bem como que, embora
realmente o fornecimento de energia tenha sido interrompido na região por problemas técnicos, a suposta
casa de Atanagildo não passava de um terreno, no qual não havia construções nem sequer um medidor de
consumo de energia. Assim, o magistrado encaminhou cópias dos documentos à Delegacia de Polícia da área,
a fim de apurar a existência de crimes.
Considerando-se essa situação hipotética, é correto afirmar que Atanagildo praticou
A-conduta atípica.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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B-tentativa de estelionato e uso de documento falso.
C-tentativa de estelionato e falsidade ideológica.
D-tentativa de estelionato.
E-falsidade ideológica.
7 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-PB - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil
Considerando-se a teoria do tipo penal, é correto afirmar que
A-o arrependimento posterior exige voluntária reparação do dano até o oferecimento da denúncia.
B-responde pelo resultado que agrava especialmente a pena o agente que o houver causado,
independentemente de dolo ou culpa.
C-a pena do agente que agiu voluntariamente será reduzida, no arrependimento eficaz, de um a dois terços.
D-o agente responde pelos atos já praticados, na hipótese de absoluta impropriedade do objeto que impeça
a consumação do crime.
E-o dever de agir, no crime omissivo, também incumbe a quem não tem obrigação legal, mas, por outro
motivo, assumiu a responsabilidade de evitar o resultado.
8 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia
Nas lições de Miguel Reale Júnior (Teoria do delito), se a não consumação do crime por circunstâncias alheias
à vontade do agente torna típica a conduta tentada, funcionando o artigo 14, inciso II, do Código Penal como
autêntica norma de extensão temporal do tipo penal, deve-se, pela mesma ratio, ter por atípica a tentativa
quando o resultado não se concretiza em decorrência da vontade do próprio agente. Sob essa visão,
independentemente da importância político-criminal desses institutos, a não punição da desistência
voluntária e do arrependimento eficaz emana da atipicidade da conduta como modalidade tentada.
Sobre a desistência voluntária e o arrependimento eficaz, assinale a alternativa correta.A-A desistência voluntária e o arrependimento eficaz podem ocorrer tanto nas hipóteses de crime falho
quanto nos casos de tentativa imperfeita.
B-Uma vez reconhecido o arrependimento eficaz ou a desistência voluntária, o agente até poderá responder
criminalmente pelos atos já praticados, mas não poderá ser responsabilizado pela tentativa do resultado que
visava a alcançar antes de abandonar seu dolo inicial.
C-A desistência voluntária e o arrependimento eficaz possuem efeitos equivalentes, pois ambos funcionam
como causa de atipicidade da conduta. A diferença entre os institutos consiste no momento de sua
manifestação, pois enquanto a desistência voluntária deve ocorrer antes de o resultado típico se consumar,
o arrependimento eficaz pode ser reconhecido mesmo após a consumação do crime.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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D-Na desistência voluntária, o agente, após esgotar os meios executórios que tinha à sua disposição, pratica
uma nova conduta para impedir o advento do resultado, razão pela qual ele somente responderá penalmente
pelos atos até então praticados.
E-A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são compatíveis com os crimes culposos próprios.
9 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia
O arrependimento posterior encontra-se previsto de forma expressa no artigo 16 do Código Penal. Sobre
esse instituto e considerando a posição doutrinária e a jurisprudência dos Tribunais Superiores a seu respeito,
assinale a alternativa correta.
A-O arrependimento posterior consiste em causa sui generis de diminuição da pena a ser aplicada em
benefício do agente que, de forma voluntária, reparar o dano causado pelo crime. Como essa reparação
constitui a essência do instituto, o arrependimento posterior somente pode incidir nos crimes contra o
patrimônio.
B-O arrependimento posterior foi criado para estimular a voluntária reparação do dano ou a restituição da
coisa nos crimes não violentos, desde que efetivada até o oferecimento da denúncia ou da queixa.
C-Apesar de parcela da doutrina entender que o reconhecimento do arrependimento posterior exige a
integral reparação dos prejuízos causados pelo crime, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou, em
decisão sobre o tema, que para a incidência do instituto basta que o agente realize o ressarcimento do valor
principal até o recebimento da denúncia, ainda que o pagamento dos juros e da correção monetária do
prejuízo causado pelo crime se dê em momento posterior.
D-O Código Penal prevê de forma expressa que o quantum de diminuição do arrependimento posterior irá
variar de acordo com o momento em que o agente realizar o ressarcimento. Assim, caso o ressarcimento
ocorra nas primeiras 24 horas após o crime, o agente fará jus a uma diminuição de 2/3 da pena.
E-Não se admite a incidência do arrependimento posterior no crime de lesão corporal culposa (artigo 129, §
6º, do Código Penal), haja vista o bem jurídico tutelado pela norma – integridade física – ser incompatível
com o benefício.
10 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia
Sobre a teoria do erro, analise as afirmações a seguir.
I - Para a teoria extremada do dolo, tanto o erro de tipo quanto o erro de proibição, quando inevitáveis,
sempre excluirão o dolo.
II - A teoria extremada da culpabilidade, empreendida pela doutrina finalista, com a qual surgiu e cujos
maiores representantes foram Welzel, Maurach e Kaufmann, separa o dolo da consciência da ilicitude. Assim,
o dolo, em seu aspecto puramente psicológico (dolo natural), é transferido para o injusto, enquanto a
consciência da ilicitude passa a fazer parte da culpabilidade, num puro juízo de valor. Dolo e consciência da
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ilicitude são, portanto, para a teoria extremada da culpabilidade, conceitos completamente distintos e com
diferentes funções dogmáticas.
III - Influenciada pelo sistema finalista de Hans Welzel, a reforma da parte geral do Código Penal brasileiro,
realizada em 1984, rompeu com a tradição jurídico-penal estabelecida até então, que trabalhava com a teoria
limitada da culpabilidade, e passou a adotar a teoria extremada da culpabilidade, defendida pelo renomado
professor da Escola de Bonn, deixando expresso tal opção no item 19 da Exposição de Motivos.
IV - No erro de tipo, o erro recai sobre o elemento intelectual do dolo – a consciência –, impedindo que a
conduta do autor atinja corretamente todos os elementos essenciais do tipo. É essa a razão pela qual essa
forma de erro sempre exclui o dolo, que, no finalismo, encontra-se no fato típico e não na culpabilidade.
V - A teoria limitada da culpabilidade situa o dolo como elemento do fato típico e a potencial consciência da
ilicitude como elemento da culpabilidade; adota o erro de tipo como excludente do dolo e admite, quando
for o caso, a responsabilização por crime culposo.
Assinale a alternativa correta.
A-Apenas I, II e V estão corretos.
B-Apenas II, III e V estão corretos.
C-Apenas II e V estão corretos.
D-Apenas I, II, IV e V estão corretos.
E-Todos os itens estão corretos.
11 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia
Sobre tentativa e consumação, considere as seguintes afirmativas:
1. Parte da doutrina entende que a desistência voluntária deve ser também autônoma (determinada por
decisão do próprio agente), pois se um fator externo levasse o agente a desistir da execução, a situação
descrita no art. 15 do Código Penal não se caracterizaria.
2. O iter criminis corresponde ao desenvolvimento da conduta criminosa e pode ser dividido nas seguintes
etapas: cogitação, preparação, execução, consumação e exaurimento, sendo que a cogitação e os atos
preparatórios em regra não são puníveis, salvo quando manifestem claramente a intenção de cometer o
crime.
3. O arrependimento eficaz se caracteriza quando o agente com eficiência impede o resultado inicialmente
almejado, não respondendo, então, pelo crime que pretendia praticar, mas pelos atos já praticados (se por
si constituírem crime).
4. A teoria material objetiva distingue os atos preparatórios do início da execução pelo início do ataque ao
bem jurídico: tão logo se inicie uma situação de risco para o bem jurídico, a execução começa e a conduta
passa a ser punível.
Assinale a alternativa correta.
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A-Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
B-Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.
C-Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
D-Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
E-As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
12 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia
Sobre o conceito analítico de crime, assinale a alternativa INCORRETA.
A-A tipicidade ocorre quando há correspondência entre a conduta concreta examinada e a descrição legal de
crime (tipo penal).
B-Se uma conduta típica ocorre em estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de direito ou
estrito cumprimento do dever legal ela é justificada, razão pela qual não é contrária ao ordenamento jurídico
como um todo.
C-A culpabilidade se caracteriza quando o sujeito for imputável, tiver ao menos potencial consciência da
ilicitude de sua conduta e puder agir em conformidade com o direito.
D-Uma pessoa com menos de 18 anos é inimputável e, se ela praticar uma conduta típica e não justificada,
seu comportamento será considerado no máximo como ilícito de natureza cível, mas não penal.
E-Os comportamentos em estado de inconsciência, os movimentos reflexos e os provocados por coação física
absoluta (irresistível) não constituem ação ou omissão (conduta) para o direito penal, portanto não podem
constituir crime.13 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia
Considere o seguinte caso hipotético:
Z.Z. é um simplório dono de uma pequena e antiga padaria no bairro onde vive. De longa data, Z.Z. faz bolos
enfeitados com escudos de times de futebol a pedido de alguns clientes mais conhecidos dele. Em certa
ocasião, o departamento jurídico de um desses clubes propôs uma queixa-crime contra Z.Z., acusando-o de
cometer crime contra registro de marca, conforme art. 189, inc. I, da Lei 9.279/1996 (Comete crime contra
registro de marca quem: I - reproduz, sem autorização do titular, no todo ou em parte, marca registrada, ou
imita-a de modo que possa induzir confusão), pois o escudo do time em questão era marca registrada.
Como argumento de defesa adequado segundo a teoria do delito, Z.Z. poderia alegar que não cometeu crime
porque sua conduta:
A-seria formalmente atípica.
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B-não seria culpável pelo erro sobre a ilicitude do fato.
C-seria justificada pelo exercício regular de direito.
D-seria atípica pelo erro sobre a situação justificante.
E-não seria culpável pela inexigibilidade de conduta diversa.
14 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia
Examine o caso hipotético narrado a seguir:
A.A. saiu de uma festa um pouco sonolento, pretendendo ir para casa conduzindo sua motocicleta. Na
ocasião, foi advertido pelo sujeito B.B., que disse: “pilotando neste estado você pode matar alguém”. A.A.,
porém, afirmou que estava em condições de evitar qualquer acidente, até porque as ruas estariam quase
desertas e o vento no rosto o manteria acordado. Afirmou, ainda, que não se arriscaria a sofrer um acidente,
porque de moto “o para-choque era ele mesmo”. No trajeto para casa, porém, por estar com os reflexos
mais lentos,A.A. não percebeu um pedestre que atravessava a rua e o atropelou, causando-lhe a morte.
Embora tenha ficado bastante ferido, A.A. sobreviveu ao acidente e foi acusado de cometer crime.
A partir das noções de dolo e culpa aplicadas ao caso, é correto afirmar que A.A. agiu com:
A-dolo eventual porque basta a previsibilidade do resultado para configurá-lo.
B-dolo eventual porque expressamente consentiu com a possibilidade de causar o resultado.
C-culpa inconsciente porque o resultado era imprevisível, mas cabe responsabilidade objetiva em delitos de
trânsito.
D-culpa consciente porque levianamente subestimou o risco de causar o resultado e confiou que ele não
ocorreria.
E-culpa imprópria, pois embora não esperasse o resultado tinha o dever de antecipá-lo e evitá-lo.
15 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de Polícia Civil Substituto
Lidiane, exímia nadadora, convida sua amiga Karen para realizarem a travessia a nado de um rio, afirmando
que poderia socorrê-la caso tivesse qualquer dificuldade. Durante a travessia, Karen e Lidiane foram pegas
por um forte redemoinho que as puxou para o fundo do rio. Lidiane conseguiu escapar, mas, em razão da
forte correnteza, não conseguiu salvar Karen, que veio a falecer por afogamento.
Considerando o fato acima narrado, Lidiane:
A-será responsabilizada pelo homicídio de Karen por omissão imprópria, visto que criou a situação de perigo
e assumiu a posição de garantidora;
B-assumiu a função de garantidora, devendo responder pela omissão de socorro com resultado morte;
C-assumiu a função de garantidora, mas não responderá pela morte de Karen, pois estava impossibilitada de
agir;
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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D-não será responsabilizada pela morte de Karen, visto que não possuía o dever de agir;
E-não assumiu a função de garantidora, devendo, contudo, responder pelo crime de omissão de socorro com
resultado morte.
16 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil
Referente ao Direito Penal, assinale a alternativa correta.
A-São exemplos de crimes que não admitem a tentativa: os preterdolosos, os unissubsistentes, os omissivos
próprios e os de perigo concreto.
B-Os crimes próprios são incompatíveis com a coautoria, haja vista que são delitos em que o tipo penal exige
uma situação de fato ou de direito diferenciada por parte do sujeito ativo.
C-Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um terço até
a metade.
D-O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos
secundários, penais ou extrapenais.
E-Em relação ao concurso formal próprio, o Código Penal adotou o sistema da exasperação, aplicando-se a
pena de qualquer dos crimes, se idênticos, ou então a mais grave, aumentada, em qualquer caso, de um
sexto até dois terços.
17 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil
Assinale a alternativa correta no que concerne ao Direito Penal.
A-Na teoria naturalística, conduta é o comportamento humano voluntário que produz modificação no mundo
exterior. Nessa teoria, dolo e culpa se alojam no interior da conduta, isto é, do fato típico.
B-Nas causas supervenientes relativamente independentes que produzem por si sós o resultado, adotou-se
a teoria da causalidade adequada. Sendo assim, rompe-se o nexo causal em relação ao resultado e o agente
só responde pelos atos até então praticados.
C-Os elementos normativos são os dados da conduta criminosa que não pertencem ao mundo anímico do
agente. Exprimem um juízo de certeza.
D-No dolo de propósito, não há intervalo entre a cogitação do crime e a execução da conduta penalmente
ilícita. Ocorre, de modo geral, nos crimes passionais.
E-A concorrência de culpas se verifica quando duas ou mais pessoas concorrem, culposamente, para a
produção de um resultado naturalístico. Nesse caso, ambos os agentes respondem pelo resultado em
coautoria.
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DELEGADO CEARÁ
SEMANA 03/18
73
18 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Com relação à teoria geral do direito penal, julgue o item seguinte.
O dolo eventual é incompatível com a tentativa.
Certo
Errado
19 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Com relação à teoria geral do direito penal, julgue o item seguinte.
A conduta humana voluntária é irrelevante para a configuração do crime culposo.
Certo
Errado
20 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Com relação à teoria geral do direito penal, julgue o item seguinte.
A consciência atual da ilicitude é elemento do dolo, conforme a teoria finalista da ação.
Certo
Errado
21 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
No que concerne aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, julgue o item subsequente.
Em se tratando de crime de extorsão, não se admite tentativa.
Certo
Errado
22 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
No que concerne aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, julgue o item subsequente.
A adoção de sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico, por si só, não torna impossível a
configuração do crime de furto.
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74
Certo
Errado
23 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegadode Polícia - Anulado
Tício, morador do Rio de Janeiro, começou a namorar Gabriela, uma jovem moradora da cidade de São Paulo.
Com o passar do tempo e os efeitos da distância, Tício, motivado por ciúmes, resolveu tirar a vida de Gabriela.
Pôs-se então a planejar a prática do crime em sua casa, no Rio de Janeiro, tendo adquirido uma faca,
instrumento com o qual planejou executar o crime. No dia em que seguiu para São Paulo para encontrar
Gabriela, que lhe o esperava na rodoviária, Tício combinou com a jovem uma viagem a passeio para o Espírito
Santo. Ao ingressarem no ônibus que os levaria de São Paulo para o Espírito Santo, Tício afirmou para
Gabriela que iria matá-la. Todavia, dada a calma de Tício, a jovem achou que se tratava de uma brincadeira.
Durante o trajeto, Tício, ofereceu a ela uma bebida contendo substância que causava a perda dos sentidos.
Após Gabriela beber e dormir, sob efeito da substância, enquanto passavam pela BR-101, no Rio de Janeiro,
Tício passou a desferir golpes com a faca no peito da jovem. Quando chegou ao destino, Tício se entregou
para polícia, e Gabriela, embora tenha sido socorrida, veio a óbito ao chegar ao Hospital.
O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei penal, no momento
A-da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Trata-se, portanto, do momento em
que Tício desferiu os golpes em Gabriela.
B-em que o agente se prepara para a promoção da conduta criminosa. Ou seja, trata-se do momento em que
Tício planejou e adquiriu as ferramentas necessárias ao cometimento do crime.
C-em que a autoridade policial toma conhecimento do crime. Ou seja, quando Tício se entregou para a
polícia.
D-em que é alcançada a consumação do crime. Trata-se, portanto, do momento da morte de Gabriela, que
ocorreu no hospital.
E-da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado. Não sendo possível determiná-lo, no presente
caso, em razão da separação temporal entre a conduta e o resultado.
Respostas1
1 1: B 2: C 3: B 4: A 5: B 6: A 7: E 8: B 9: C 10: D 11: D 12: D 13: B 14: D 15: C 16: D 17: B 18: E 19: E 20: E 21: E 22: C 23:
A
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SEMANA 03/18
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META 2
DIREITO PROCESSUAL PENAL: AÇÃO PENAL
TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA
CF/88
⦁ Art. 129, I
⦁ Art. 5º, LIX
CPP
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 5º, §4º
⦁ Art. 24 a 68
⦁ Art. 384 e 385
⦁ Art. 395
Outros Diplomas Legais
⦁ Art. 76 e 88 a 91, Lei 9099/95
⦁ Art. 2º, § 1º, Lei n. 9.613/98
⦁ Art. 83, § 2º, Lei n. 9.430/96
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CPP:
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 24 e 25
⦁ Art. 28 (cuidado com a nova redação trazida pelo Pacote Anticrime que ainda NÃO está produzindo
efeitos!)
⦁ Art. 28-A (importantíssimo!!!)
⦁ Art. 29
⦁ Art. 38, 41, 42, 46, 48, 49 e 51
⦁ Art. 60 (alto índice de cobrança em prova objetiva!)
⦁ Art. 65, 66 e 67 (alto índice de cobrança em prova objetiva!)
⦁ Art. 396
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SEMANA 03/18
76
SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.
Súmula 714-STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público
em razão do exercício de suas funções.
Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não
acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
Súmula 594-STF: Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo
ofendido ou por seu representante legal.
1. PRETENSÃO PUNITIVA
Possui o jus puniendi como seu elemento intersubjetivo, e é composta pelo próprio direito de punir
(poder/dever de punir), situado dentro da relação jurídico-penal que se forma após a prática do crime.
A legislação, a exemplo do Código Penal, prevê a conduta de matar alguém, com pena de 6 a 20 anos
(art. 121, CP). O tipo penal incriminador até então encontra-se no plano abstrato. Porém, no momento em
que o sujeito pratica a conduta, in casu, o delito, o direito de punir, que estava no plano abstrato, passa para
o plano concreto, ocasião em que, surge o ius puniendi do Estado.
Assim, a partir do momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este
direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no ius puniendi in concreto.
PLANO ABSTRATO REALIZAÇÃO DA CONDUTA PRETENSÃO PUNITIVA
A norma penal no plano
abstrato prevê a conduta e
comina sanção.
Quando o sujeito pratica a
conduta, inobstante esteja
prevista como fato típico,
nasce para o Estado a
possibilidade de exercício do
seu jus puniendi.
A pretensão punitiva foi
materializada/surgiu, sob a
perspectiva do mundo
concreto.
Pretensão punitiva x Ação penal:
● Pretensão punitiva: Verifica-se quando se imputa ao réu, mediante a ação penal, a prática de crime,
para que ele seja sujeito às sanções previstas na legislação penal.
● Ação penal: É instrumento utilizado pelo Estado para obter o exercício da pretensão punitiva, uma
vez que, a partir da ação penal o Estado-acusação (ou o ofendido) ingressam em juízo para solicitar
a aplicação das normas de direito penal ao caso concreto, exercendo a pretensão punitiva.
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SEMANA 03/18
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Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro:
O Estado, por intermédio do Poder Legislativo, elabora as leis penais, cominando
sanções àqueles que vierem a praticar a conduta delituosa, surge para ele o direito
de punir os infratores num plano abstrato e, para o particular, o dever de se abster
de praticar a infração penal. No entanto, a partir do momento em que alguém
pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este direito de punir desce do
plano abstrato e se transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que até então
tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passa a ter uma pretensão concreta
de punir o suposto autor do fato delituoso (Manual de Processo Penal, Renato
Brasileiro, 2017, p. 37).
Pergunta-se: Em que consiste a pretensão punitiva?
A pretensão punitiva, pode ser compreendida como o poder do Estado de exigir de quem comete
um delito a submissão à sanção penal. Através da pretensão punitiva, o Estado procura tornar efetivo o jus
puniendi, exigindo do autor do delito, que está obrigado a sujeitar-se à sanção penal, o cumprimento dessa
obrigação, que consiste em sofrer as consequências do crime e se concretiza no dever de abster-se ele de
qualquer resistência contra os órgãos estatais a que cumpre executar a pena. (Manual de Processo Penal,
Renato Brasileiro, 2017, p. 37).
2. AÇÃO PENAL
2.1 Direito de Ação
a) Conceito
O Estado trouxe para si o exercício da função jurisdicional, de modo que ele deverá fornecer ao
cidadão a tutela jurisdicional. Esse instrumento encontra-se solidificado no direito de ação.
Nesse sentido, o direito de ação é o direito público subjetivo consagrado na CF/88, de se exigir do
Estado-Juiz a aplicação do direito objetivo ao caso concreto, para a solução da demanda penal.
A partir dele a parte acusadora – Ministério Público ou ofendido (querelante) – tem a possibilidade
de, mediante o devido processo legal, provocar o Estado-Juiz a dizer o direito objetivo no caso concreto.
(Renato Brasileiro).
b) Fundamento Constitucional
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O direito de ação é extraído da própria Constituição Federal, art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
O dispositivoconstitucional consagra o chamado princípio da inafastabilidade de jurisdição. Assim,
se não exclui a apreciação, significa dizer que há o dever de prestá-la.
DICA: não confundir direito de ação com ação propriamente dita
Direito de ação Ação
É o direito de ingressar em juízo, na busca da
tutela jurisdicional. Tem natureza jurídica de um
direito público, subjetivo, abstrato, autônomo e
instrumental (meio para se permitir o exercício
do direito de punir do Estado).
É a materialização do Direito de ação, razão
pela qual denomina-se de ação propriamente
dita. É o ato, por meio do qual, instrumentaliza-
se o direito de ação assegurado
constitucionalmente.
Conforme leciona Renato Brasileiro:
De acordo com a doutrina majoritária, o direito de ação penal é o direito público
subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso
concreto. Funciona, portanto, como o direito que a parte acusadora – Ministério
Público ou o ofendido (querelante) – tem de, mediante o devido processo legal,
provocar o Estado a dizer o direito objetivo no caso concreto (2017, p. 199).
ATENÇÃO: não se pode confundir o direito de ação com o direito que se afirma ter quando se exercita o
direito de ação, o qual pode ser designado como o direito material deduzido em juízo. O direito de ação é
abstrato, pois independe do conteúdo que se afirma quando se provoca a jurisdição.
Características do direito de ação penal:
● Direito público: A ação é proposta contra o Estado, pois trata-se do direito de provocar o Estado-juiz
para o exercício da atividade jurisdicional, cuja natureza é pública, sendo função típica do Poder
Judiciário.
OBS.: A ação penal privada também apresenta a mesma característica, visto que há transferência apenas
da iniciativa da ação, mas NÃO da titularidade, visto que o poder punitivo pertence ao Estado.
● Direito subjetivo: O titular do direito de ação penal pode exigir do Estado-Juiz a prestação
jurisdicional, sendo essa titularidade conferida a um sujeito específico, conforme a legitimidade
conferida pela lei.
OBS.: Nos ensinamentos de Aury Lopes Jr. existe um direito potestativo em relação ao acusado – aliado
ao direito subjetivo em relação ao Estado-jurisdição. Isso porque, uma vez exercitado o direito de ação,
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79
o réu se sujeita ao processo, bem como à eventuais consequências que dele decorram (como a pena
imposta em uma sentença penal condenatória).
● Direito autônomo: Não se confunde com o direito material que se pretende tutelar. O direito de
ação é o instrumento que viabiliza o pedido de condenação em relação a determinado fato, imputado
a certo indivíduo.
● Direito abstrato: Existe e será exercido mesmo quando a demanda for julgada improcedente, uma
vez que independe do resultado (característica relacionada a autonomia do direito de ação).
● Direito específico: Apresenta um conteúdo, que é o objeto da imputação. Ou seja, apesar de
abstrato, desenvolve-se a partir de um caso concreto.
2.2 Condições da Ação
2.2.1 Conceito
São requisitos mínimos indispensáveis ao julgamento da causa. Segundo Nestor Távora:
São os requisitos necessários e condicionantes ao exercício do direito de ação.
Como se depreende, o exercício do direito de ação não se pode traduzir numa
aventura desmedida. É certo que a deflagração da ação implica sérias
consequências ao réu, exigindo-se do demandante o preenchimento de certas
condições, para que o pleito jurisdicional possa ser exercido de forma legítima
(2017, p. 156).
Como o direito de ação é autônomo e abstrato, pode ser exercido mesmo que as condições não
estejam presentes. O direito de invocar a tutela estatal é constitucional e incondicionado. Assim as condições
da ação são analisadas no âmbito do processo penal, uma vez que, na sua ausência, o processo não se
desenvolve, ou seja, não será objeto de análise meritória do Estado. O direito de ação é exercido com a
propositura de inicial e a análise das condições é feita em seguida, pelo juiz, que pode rejeitas a peça
acusatória.
A análise das condições da ação observa a Teoria da Asserção, segundo a qual é realizada com base
nos elementos fornecidos na inicial acusatória, conforme narrado pelo demandante, sem adentrar em
aspectos probatórios. Assim, há um juízo superficial / precário de admissibilidade, sendo possível que, no
curso do processo, seja demonstrada a ausência de uma dessas condições, dando azo à absolvição do réu.
Historicamente, a doutrina se valia do Processo Civil para estabelecer as condições da ação:
legitimidade da parte, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. O CPC 15 suprimiu a
“possibilidade jurídica do pedido” e, diversos doutrinadores (como Aury Lopes Jr.) defendem que não é
possível importar institutos do processo civil para o processo penal, sem qualquer adaptação. Nesse sentido,
doutrina moderna aponta condições próprias da ação para o processo penal, como será visto adiante.
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A doutrina trabalha com duas espécies de condições da ação: condições genéricas e as condições
específicas (condições de procedibilidade).
a) Condições Genéricas:
São aquelas condições que deve estar presente em toda e qualquer ação penal, independentemente
da natureza do crime, da pessoa processada, e do procedimento a ser seguido.
São elas:
1) Legitimidade para agir;
2) Interesse de agir;
3) Possibilidade jurídica do pedido + Justa Causa (lastro probatório mínimo de suporte para
início da ação penal).
b) Condições Específicas
São necessárias apenas em relação a determinadas infrações penais, ou ainda, em alguns
procedimentos específicos.
Ex.1: representação nos crimes de ação penal pública condicionada.
Ex.2: autorização de assembleia para que determinados agentes políticos sejam criminalmente
processados.
2.2.2 Condições genéricas
a) Legitimatio ad causam (Ativa/Passiva): é a pertinência subjetiva da ação.
● Legitimidade ativa:
Nessa esteira, segundo Renato Brasileiro, é a situação prevista em lei que permite a um determinado
sujeito propor a demanda judicial e a um determinado sujeito ocupar o polo passivo dessa mesma demanda.
Há legitimidade de partes quando o autor afirma ser titular do direito subjetivo material demandado
(legitimidade ativa) e pede a tutela em face do titular da obrigação correspondente àquele direito
(legitimidade passiva).
DICA: A espécie da ação penal definirá o seu legitimado.
▪ Na ação penal pública: A legitimidade ativa é, em regra, do Ministério Público.
▪ Na ação penal privada: A legitimidade ativa é do ofendido ou de seu representante legal.
Lembre-se que, ainda que de ação penal pública, se verificada a inércia do MP, surge para o ofendido a
possibilidade de propor queixa-crime subsidiária (ação penal privada subsidiária da pública).
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● Legitimidade passiva:
A ação penal pode ser proposta em face apenas do suposto autor do fato delituoso, com 18 anos
completos ou mais.
ATENÇÃO!
(1) Legitimidade ad causam ativa e passiva da Pessoa Jurídica
A pessoa jurídica é dotada de legitimidade ativa (pode oferecer ação penal pública, se restar
caracterizada a inércia do MP, ou privada). Nesse sentido, a disciplina do art. 37, CPP.
Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão
exercer a ação penal, devendo ser representadas por quem os respectivos
contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou
sócios-gerentes.
Também é admitida a legitimidade passiva (pode ser o provável autor do delito), porém adstrita aos
crimes ambientais. O art. 173, CF permite que a pessoa jurídicaseja responsabilizada criminalmente quanto
aos crimes ambientais, e também quanto aos crimes contra a ordem econômica, financeira e contra a
economia popular, na forma da lei. Contudo, não há lei ordinária regulando a responsabilidade penal da
pessoa jurídica no que diz respeito aos crimes contra a ordem econômica, financeira e contra a economia
popular.
Lei 9.605/98 – Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Teoria da Dupla Imputação: Até pouco tempo atrás trabalhava-se com a adoção da teoria da dupla
imputação, segundo a qual a imputação da pessoa jurídica deveria ter por consequência a imputação
também da pessoa física. Em outras palavras: a pessoa jurídica só poderia ser denunciada pela prática de
crimes ambientais se a pessoa física também fosse.
Contudo, esse não é o entendimento que prevalece atualmente. Assim, é possível dizer que a pessoa
jurídica figurar como polo passivo da ação penal, independentemente da responsabilização concomitante
das pessoas físicas, pois os Tribunais Superiores não mais adotam a Teoria da Dupla Imputação.
STJ: “(...). Conforme orientação da 1ª Turma do STF, ‘O art. 225, § 3º, da
Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica
por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese
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responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária
dupla imputação. (RE 548181). Tem-se, assim, que é possível a responsabilização
penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
Precedentes desta Corte. 3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não
pode servir de artifício para a prática de condutas espúrias por parte das pessoas
naturais responsáveis pela sua condução. 4. Recurso ordinário a que se nega
provimento”. (STJ, 5ª Turma, RMS 39.173/BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, j. 06/08/2015, Dje 13/08/2015).
(2) Legitimidade ad causam ativa de Ente Sem Personalidade Jurídica
O CDC possibilita que certas entidades e órgãos da administração pública, direta e indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, atuem como assistentes do Ministério Público e, também ajuízem a queixa-crime
em caso de inércia do órgão ministerial. Trata-se da denominada ação penal privada subsidiária da pública.
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como
a outros crimes e contravenções que envolvam relações de consumo, poderão
intervir, como assistentes do Ministério Público, os legitimados indicados no art.
82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a
denúncia não for oferecida no prazo legal.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(...)
III – as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos por este
código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código, dispensada a autorização assemblear.
(3) Legitimidade Ordinária x Extraordinária (Substituição Processual) x Sucessão Processual x
Representação Processual (Legitimidade Ad Processum)
Na legitimação ordinária, alguém pleiteia, em seu próprio nome, um direito também próprio. Essa é
a regra: defender em juízo um direito seu. É o caso da legitimação do Ministério Público para iniciar a ação
penal pública.
Já na legitimação extraordinária (substituição processual), há a defesa de direito alheio em nome
próprio. Essa é a hipótese da ação penal privada: o ofendido vai a juízo, mediante transferência do Estado da
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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legitimidade para iniciar a ação. A vítima tem legitimidade para estar em juízo, enquanto o Estado é o titular
da pretensão punitiva.
Situação diversa é a de sucessão processual, que decorre da morte ou ausência do ofendido, quando
o seu direito de queixa ou de prosseguir na ação passará aos legitimados do art. 31, CPP.
Por fim, a representação processual (legitimidade ad processum) se opera quando alguém vai em
juízo, atuando em nome e na defesa de direito alheio. O sujeito não é parte, mas apenas confere capacidade
para que o legitimado ingresse em juízo. Ex.: vítima de crime de ação penal privada menor de 18 anos, cuja
legitimidade pode ser conferida a curador especial nos termos do art. 33, CPP, na ausência de representante
legal ou na hipótese de colisão de interesses.
b) Interesse de Agir: Composto pelo trinômio (necessidade, adequação e utilidade)
b.1) Necessidade: No processo penal a necessidade é presumida, pois “nulla poena sine judicio”.
Desse modo, NÃO é possível a imposição de pena sem existência de um processo penal.
Exceções:
1. Transação Penal (Lei 9.099/95);
2. Acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP – inserido pelo Pacote Anticrime);
3. Colaboração premiada (Lei 12.850/13).
Art. 76. É possível o cumprimento imediato de pena, sem que haja sequer processo,
pois a pena negociada é anterior mesmo ao oferecimento da peça acusatória.
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado
formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá
propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas
cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva
de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um
ou mais dos seguintes resultados
OBS.: Todas as exceções elencadas são mitigações do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública
(presentes as condições da ação, o MP é obrigado a denunciar, art. 24 CPP).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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b.2) Adequação: É preciso pleitear-se uma medida adequada para buscar seus interesses.
Atenção: Essa adequação NÃO tem importância para as ações penais condenatórias. Tem relevância nas
ações penais não condenatórias, por exemplo, Habeas Corpus.
Ex.: HC nas hipóteses que não é cabível.
SUM 693, STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.
SUM 694, STF: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de
militar ou de perda de patente ou de função pública.
SUM 695, STF: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade.
b.3) Utilidade: Consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer a tutela do direito do
autor.
Atenção: A prescrição em perspectiva (virtual/hipotética) consiste no reconhecimento antecipado da
prescrição em virtude da constatação de que, no caso de possível condenação, eventual pena que venha a
ser imposta ao acusado estaria fulminada pela prescriçãoda pretensão punitiva retroativa, tornando inútil
a instauração do processo penal.
STF e STJ NÃO admitem a prescrição virtual.
Súmula 438, STJ. É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da
existência ou sorte do processo penal.
c) Justa Causa: Podemos conceituar justa causa como sendo o lastro probatório mínimo indispensável para
a instauração de um processo penal.
Assim, deve a acusação ser portadora de elementos de informação que justifiquem a admissão da
acusação e o custo que representa o processo penal em termos de estigmatização e penas processuais.
Funciona, pois, como uma condição de garantia contra o uso abusivo de direito de acusar, evitando a
instauração de processos levianos ou temerários.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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A natureza jurídica da justa causa é alvo de divergência doutrinária, no entanto, prevalece que o CPP
insere a justa causa como condição genérica da ação, em razão do art. 395, III, CPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta;
I - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
ATENÇÃO! Justa causa duplicada na lavagem de capitais.
A expressão “justa causa duplicada” refere-se à condição para que seja iniciada uma ação penal para
julgar um crime de lavagem de capitais, previsto na Lei nº. 9.613/98.
Segundo Renato Brasileiro:
Em se tratando de crime de lavagem de capitais, porém, não basta demonstrar a
presença de lastro probatório quanto à ocultação de bens, direitos ou valores,
sendo indispensável que a denúncia também seja instruída com suporte probatório
demonstrado que tais valores são provenientes, direta ou indiretamente, de
infração penal (Lei 9.613/98, art. 1º, caput, com redação dada pela Lei 12.683/12).
Tem-se aí o que a doutrina chama de justa causa duplicada, ou seja, lastro
probatório mínimo quanto à lavagem e quanto à infração precedente. A propósito,
o art. 2º, § 1º, da Lei 9.613/98, estabelece que a denúncia será instruída com
indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os
fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou
extinta a punibilidade da infração penal antecedente.
Lei n. 9.613/98, art. 2º, § 1º: A denúncia será instruída com indícios suficientes da
existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta
Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade
da infração penal antecedente.
Justa causa triplicada: A doutrina aponta ainda para a existência de uma justa causa triplicada que ocorre
quando a infração penal antecedente à lavagem de capitais também possui uma infração penal antecedente
para a sua configuração. É o exemplo do crime de lavagem que tem como infração penal antecedente o crime
de receptação, o qual, por sua vez, tem como infração penal antecedente o crime de roubo.
Assim, quando do oferecimento da denúncia, cabe ao Parquet revelar o suporte probatório mínimo
em relação a estes três delitos, daí porque a justa causa se apresenta, de fato, triplicada.
ATENÇÃO (Súmula aprovada em 2021)
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Súmula 648-STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido de trancamento da ação
penal por falta de justa causa feito em habeas corpus.
Imagine a seguinte situação hipotética: O Ministério Público ajuizou ação penal contra João
acusando-o da prática de determinado crime. O juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para
responder à acusação. João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto,
ele deveria ser absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e
determinou o início da instrução penal.
Diante desse cenário, existe algum recurso que João possa interpor? Cabe algum recurso contra a
decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Nesse contexto, contudo, a
jurisprudência admite a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de
locomoção. Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal de Justiça irá
apreciar o mérito do habeas corpus?
NÃO. A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas
corpus se buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. A sentença
condenatória analisa a existência de justa causa de forma mais aprofundada, após a instrução penal com
contraditório e ampla defesa. Logo, não faz mais sentido o Tribunal examinar a decisão de rejeição da
absolvição sumária se já há uma nova decisão mais aprofundada. Será essa nova manifestação (sentença)
que precisará ser analisada.
Logo, o réu terá que interpor apelação contra a sentença condenatória, recurso de cognição ampla
por meio do qual toda a matéria será devolvida ao Tribunal, que terá a possibilidade de examinar se a
condenação foi acertada, ou não.
E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também ficaria
prejudicado?
SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: falta de
interesse processual já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância. Nesse sentido:
A superveniência de sentença absolutória, na linha da orientação firmada nesta
Corte, torna prejudicado o pedido que buscava o trancamento da ação penal sob a
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alegação de falta de justa causa. STJ. 6ª Turma. AgInt no RHC 31.478/SP, Rel. Min.
Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 26/03/2019.
d) Originalidade
E, por fim, como uma condição da ação (mas que não está em qualquer manual de processo penal),
tem-se a ORIGINALIDADE.
Nos ensinamentos dos professores, André Luiz Nicolitt e Afrânio Silva Jardim:
A maior parte da doutrina não considera a originalidade uma condição da ação,
classificando-a como pressuposto processual negativo. A originalidade consiste na
ausência de litispendência e coisa julgada, isto é, a demanda deve ser original,
porquanto o ordenamento jurídico veda o exercício mais de uma vez da mesma
ação.
2.2.3 Condições Específicas da Ação
Também chamadas de condições de procedibilidade. Vejamos alguns exemplos:
1) Representação do ofendido;
2) Requisição do Ministro da Justiça;
3) Sentença anulatória de casamento, no crime do art. 236, do CP;
4) Ingresso no país do autor do crime praticado no estrangeiro;
5) Declaração de procedência da acusação pela Câmara dos Deputados, no julgamento do
Presidente da República;
6) Sentença que decreta a falência, nas ações falimentares.
CUIDADO! NÃO confundir condição de procedibilidade com condição de prosseguibilidade:
● Condição de procedibilidade: é aquela necessária para dar início à ação penal.
Ex.: nos crimes contra a honra, em regra, a representação é uma condição de procedibilidade, pois, sem
ela, a ação penal não pode ser iniciada.
● Condição de prosseguibilidade: é aquela necessária para dar prosseguimento à ação penal. Trata-
se dasituação na qual a ação penal já está em curso, mas uma lei posterior altera a natureza da ação
penal para aquele crime. Ou seja: o crime que antes era de ação penal pública incondicionada (e, por
isso, não exigia representação), passou a ser de ação penal pública condicionada, de modo que essa
representação passa a ser condição necessária para dar prosseguimento na ação penal.
Ex.: A lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9099/95) passou a exigir representação para os crimes de lesão
corporal leve e lesão corporal culposa. Ou seja, tais crimes, que antes eram de ação penal pública
incondicionada, passaram a exigir a representação tanto para dar início à ação penal (hipótese em que a
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representação funciona como condição de procedibilidade), como para dar continuidade à ação que já
estava em andamento (hipótese em que funciona como condição de prosseguibilidade).
Nesse sentido, qual a natureza da representação quando se tratar de lesão corporal leve ou culposa
no âmbito dos Juizados Especiais? R.: Depende!
▪ Processos relativos à lesão corporal leve e culposa ainda não iniciados: exige representação para
dar início à ação penal → condição de procedibilidade (art. 88, Lei 9.099/95).
▪ Processos relativos à lesão corporal leve e culposa que já estavam em andamento: exige
representação para dar continuidade à ação penal → condição de prosseguibilidade (art. 91, Lei
9099/95).
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesão corporais leve e lesões
culposas. (CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE)
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura
da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimada para
oferecê-la no prazo de 30 dias, sob pena de decadência. (CONDIÇÃO DE
PROSSEGUIBILIDADE)
OBS.: É certo que sem a representação não se pode nem iniciar a persecutio criminis, conforme preconiza o
artigo 5º, §4º, do CPP. Nesse caso, a representação é condição especial de persequibilidade, porque sem a
representação não há como deflagrar a persecutio criminis, que antecede a ação penal.
Sem representação a autoridade policial não pode instaurar o inquérito e assim dar início à persecutio
(condição especial de persequibilidade), sem a representação não se procede em Juízo, isto é, não se deflagra
ação penal (condição especial de procedibilidade) e sem a representação não se pode dar sequência ao feito
(condição especial de prosseguibilidade).
Considerações Importantes:
1) A lei que altera a natureza jurídica de uma ação penal é considerada norma penal mista ou híbrida.
Vamos relembrar os tipos de norma penal e processual?
● Normas penais: Cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da condenação e do
direito de punir do Estado (ex.: causas extintivas da punibilidade).
● Normas processuais penais: Versam sobre o processo desde o seu início até o final da execução ou
extinção da punibilidade. Lembre-se que, à luz do art. 2º do CPP, a lei processual penal possui
aplicação imediata:
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Art. 2º - A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.
As normas processuais penais podem ser:
a) Norma genuinamente processual: Cuidam de procedimentos, atos processuais, técnicas de
processo.
b) Norma processual material (ou norma mista ou híbrida): Versam sobre o processo desde o seu início
até o final da execução ou extinção da punibilidade. Assim, se um dispositivo legal, embora inserido
em lei processual, versa sobre regra penal, de direito material, a ele serão aplicáveis os princípios
que regem a lei penal, de ultratividade e retroatividade da lei mais benigna. (Renato Brasileiro,
Manual de Processo Penal, 2017).
Em outras palavras: quando se tratar de norma penal mista, o critério a ser aplicado é o mesmo do
direito penal, ou seja, irretroatividade da lei maléfica e retroatividade da lei benigna.
As normas que alteram a natureza jurídica de uma ação penal são consideradas normas híbridas porque,
embora inseridas em diploma processual penal, possuem reflexos diretos em institutos de direito penal,
como, por exemplo, a extinção da punibilidade. Isso porque, o crime que antes era de ação penal pública
incondicionada e se torna de ação penal pública condicionada, passa a admitir uma nova hipótese de extinção
da punibilidade, qual seja, a decadência pela ausência de representação).
2) Considerando que a norma sobre a natureza jurídica da ação penal é uma norma híbrida e que as
normas híbridas devem seguir as regras das normas penais, é possível dizer que, em regra, caberá a
retroatividade da lei em benefício do réu.
ATENÇÃO! Essa retroatividade nem sempre será possível! Não basta analisar o instituto apenas de acordo
com a lei penal no tempo, sendo necessário também analisar se se trata de uma condição de procedibilidade
ou prosseguibilidade.
Vamos exemplificar para uma melhor compreensão:
A Lei 13.964/2019 alterou a natureza jurídica da ação penal referente ao crime de estelionato. Antes,
o crime de estelionato era sempre de ação penal pública incondicionada. Com a vigência da lei, o crime
passou a ser de ação penal pública condicionada à representação, salvo algumas hipóteses expressamente
previstas. Veja:
Art. 171, § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima
for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
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I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Logo, temos que:
● Antes da Lei 13.964/2019: o crime era de ação penal pública incondicionada
● Após a Lei 13.964/2019: o crime passou a ser tratado, em regra, como crime de ação penal pública
condicionada à representação.
Regra: ação penal pública condicionada à representação.
Exceção: ação penal pública incondicionada quando o estelionato for perpetrado em face de:
✔ Administração Pública, direta ou indireta;
✔ Criança ou adolescente;
✔ Pessoa com deficiência mental;
✔ Maior de 70 (setenta) anos de idade;
✔ Incapaz.
Inicialmente, pergunta-se: Trata-se de alteração de ordem penal ou de ordem processual?
Essa pergunta é relevante já que definimos que se a norma é penal e for considerada benéfica, terá
retroatividade e deverá ser aplicada as ações penais em curso. Assim, aquelas pessoas que se encontram
processadas pelo delito de estelionato deverão ter em seus processos a aplicação da referida norma,
havendo a necessidade de ocorrer a representação como condição de prosseguibilidade do processo.
Por outro lado, se entendermos que a norma possui caráter processual, a aplicação será imediata e
sem retroatividade, somente se aplicando aos delitos de estelionato ocorridos após a entrada em vigor da
referida legislação.
Assim, respondendo ao questionamento, a referida norma possui caráter híbrido, penal e
processual, e, nesses casos, há de prevalecer a sua vertente penal.
E como se posiciona a jurisprudência?
Considerando a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, os Tribunais Superiores foram instados a
se manifestar acerca da retroatividade da sua aplicação e, consequentemente, necessidade de oferecimento
ou não da representação aos processosem curso.
A discussão teve início no STJ (HC 573.093) e, no curso dos anos de 2020 e 2021 foi objeto de uma
série de divergências. Veja a evolução jurisprudencial:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2
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(1) Em 14/04/2020, no HC 573.093, a 5ª Turma do STJ decidiu que a retroatividade da representação deve
se restringir à fase policial, pois do contrário estar-se-ia transformando uma condição de
procedibilidade em prosseguibilidade.
(2) Em 04/08/2020, no Julgado HC 583.837, a decisão da 6ª Turma do STJ foi no sentido de que, por ser lei
mais benéfica, deve retroagir.
(3) Em 21/09/2020, a 5ª Turma reiterou o entendimento de que a retroatividade da representação no crime
de estelionato deve se restringir à fase policial (ato jurídico perfeito).
(4) Em 14/10/2020, a 1ª Turma do STF reconheceu não ser cabível a aplicação retroativa do parágrafo 5º
do artigo 171 do CP, uma vez que no momento do oferecimento da denúncia a ação era incondicionada
e não se exigia representação (HC 187.341/SP).
(5) Em 13/04/2021, a Terceira Seção consolidou o entendimento das turmas criminais do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) ao definir que a exigência de representação da vítima como pré-requisito para a ação
penal por estelionato – introduzida pelo Pacote Anticrime– não pode ser aplicada retroativamente para
beneficiar o réu nos processos que já estavam em curso (Info 691).
(6) Em 22/06/2021, A 2ª Turma do STF decidiu que a alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que
introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado
à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações
penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado (Info 1023).
Logo, no cenário atual acerca da matéria, temos o entendimento pacificado do STJ no sentido de que
deve ser observada a retroatividade, respeitando-se a limitação do ato jurídico perfeito e acabado
materializado com o oferecimento da denúncia. No STF, contudo, permanece a divergência, uma vez que a
1ª Turma acompanha do entendimento do STJ, porém, a 2ª Turma, segundo decisão mais recente, admite a
extensão da retroatividade para todas as ações penais em curso que ainda não tenham transitado em
julgado.
E como se posiciona a doutrina?
Quanto ao tema, explica Rogério Sanches:
Tendo em vista que a necessidade de representação traz consigo institutos
extintivos da punibilidade, a regra do art. 171, §5º deve ser analisada sob a
perspectiva da aplicação da lei penal no tempo. Vamos diferenciar duas hipóteses:
a) Se a denúncia já foi ofertada, trata-se de ato jurídico perfeito, não sendo
alcançado pela mudança. Não nos parece correto o entendimento de que a vítima
deve ser chamada para manifestar seu interesse em ver prosseguir o processo. Essa
lição transforma a natureza jurídica da representação de condição de
procedibilidade em condição de prosseguibilidade. A lei nova (Lei 13.964/2019)
NÃO EXIGIU ESSA MANIFESTAÇÃO, AO CONTRÁRIO DO QUE FEZ A LEI 9.099/95, que
a exigiu de forma expressa no art. 91).
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b) Se a incoativa ainda não foi oferecida, deve o MP aguardar a oportuna
representação da vítima ou o decurso do prazo decadencial, cujo termo inicial, para
fatos pretéritos, é o da vigência da novel lei.
OBS.: Para o professor Aury Lopes Jr, como dissemos alhures, o processo penal não poderia se valer da teoria
geral do processo civil para conferir das mesmas condições da ação. Para o processualista penal, são
condições da ação penal:
1) Prática de fato aparentemente criminoso;
2) Punibilidade concreta;
3) Legitimidade da parte;
4) Justa Causa.
a) Prática de fato aparentemente criminoso (fumus comissi delicti): O fato penalmente relevante praticado
em tese, deve ser típico, ilícito e culpável, não se admitiria uma ação penal por um fato que não fosse crime.
Ex.: denúncia por incesto, furto de coisa própria.
b) Punibilidade concreta: Deve o juiz rejeitar a peça acusatória quando houver prova de extinção da
punibilidade. Quando presente a causa de extinção de punibilidade, como prescrição, decadência, renúncia,
a denúncia ou queixa deverá ser rejeitada e o réu absolvido sumariamente, conforme o momento em que
seja reconhecida.
As outras duas condições para o professor Aury são idênticas as já exauridas acima e, por uma
questão de economia nos estudos, não abordaremos.
Sobre o tema Condições da Ação, confira a dica do professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/iB6yH8kLH0g
https://youtu.be/iB6yH8kLH0g
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3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL
3.1 Princípios Comuns da Ação Penal Pública e Privada
1) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA OU PESSOALIDADE:
A denúncia ou queixa só podem ser oferecidas contra o provável autor do fato delituoso. Esse
princípio funciona como evidente desdobramento do princípio da pessoalidade da pena (art. 5, XXXXV, CF).
2) PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE:
O MP, titular da ação penal, pode agir de ofício, não dependendo da autorização de ninguém, da
mesma forma que o ofendido também pode agir de ofício quando legitimado.
OBS.: O juiz não pode dar início ao processo de ofício, uma vez que a ação penal é de iniciativa do
MP, nos crimes de ação penal pública, ou do ofendido ou seu representante legal, nos crimes de ação penal
privada.
OBS.2: O juiz pode conceder habeas corpus de ofício (art. 654, §2º, CPP), visto que a restrição se
limita a atuação de ofício em ação penal condenatória. Ademais, a execução tem início de ofício.
3) PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM
Trata da inadmissibilidade da persecução penal múltipla. Nesse sentido, ninguém pode ser
processado duas vezes pela mesma imputação.
3.2 Princípios da Ação Penal Pública
1) PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE OU LEGALIDADE:
O princípio da obrigatoriedade está previsto no art. 24 do CPP. Com isso, diferentemente do que
ocorre com os demais princípios que possuem status constitucional ou convencional, possui status de lei
ordinária. Consequentemente, pode ser excepcionado por outra lei ordinária.
Art. 24: Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
O MP, titular da ação penal pública, está OBRIGADO a oferecê-la, sempre que constatar a presença
de prova da materialidade e indícios de autoria ou participação.
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Assim, se presentes as condições da ação penal e havendo justa causa, o MP está obrigado a
oferecer denúncia. Em outras palavras: não se reserva ao MP qualquer juízo de discricionariedade quando
constatada a presença de conduta delituosa e das condições da ação penal.
“Se o legislador incriminou determinada conduta, dando relevância social ao bem
jurídico afetado ou posto em risco pelo comportamento do agente, não pode o
membro do Ministério Público afirmar que a ação delituosa não tem relevância,
que o interesse público ficaria atendido diante de sua inércia, deixando de
manifestar em juízo a pretensão punitiva estatal” (Afrânio Silva Jardim.Ação penal
pública: princípio da obrigatoriedade. 4ª Edição. Forense, 2001. p. 53).
A doutrina aponta dois mecanismos de fiscalização do princípio da obrigatoriedade:
a) Princípio da devolução (art. 28, CPP - redação ainda em vigor em razão da suspensão da nova
redação trazida pelo Pacote Anticrime);
b) Ação penal privada subsidiária da pública.
ATENÇÃO: Obrigatoriedade da ação penal x Pedido de absolvição pelo MP:
De acordo com o art. 385 do CPP, fica claro que o MP poderá opinar pela absolvição. Isso porque (i)
trata-se da garantia da independência funcional do promotor, e (ii) ao MP incumbe zelar por interesses
individuais indisponíveis, a exemplo da liberdade de locomoção.
Nesse sentido, tem-se que o princípio da obrigatoriedade NÃO é incompatível com o pedido da
absolvição.
Ressalta-se, ainda, que o juiz pode condenar o acusado, mesmo com o pedido de absolvição feito
pelo MP.
Art. 385: Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória,
ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como
reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS / ORAIS:
Alguns doutrinadores (como Aury Lopes Jr.) sustentam que, havendo o pedido de absolvição, o juiz
seria obrigado a absolver, já que o MP estaria retirando sua pretensão acusatória. Com isso, caso o juiz
condenasse, estaria agindo de ofício, em um verdadeiro processo judicialiforme, incompatível com o
princípio da inércia da jurisdição.
Contudo, a maioria da doutrina, e principalmente a jurisprudência, compreendem que, a partir do
momento em que denúncia foi oferecida, o juízo foi provocado. Por isso, mesmo que o MP tenha pedido a
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absolvição, o juiz continua livre para condenar ou para absolver, já que a pretensão punitiva já teria sido
deduzida em juízo.
Exceções ao princípio da obrigatoriedade:
Como visto acima, o princípio da obrigatoriedade possui status de lei ordinária. Por isso, é possível
que uma lei ordinária crie exceções ao princípio.
1. Transação Penal (art. 76 da Lei 9.099/95):
Lei n. 9.099/95, art. 76: Havendo representação ou tratando-se de crime de ação
penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas,
a ser especificada na proposta.
Trata-se de um acordo celebrado entre o MP e o autor do delito, objetivando o cumprimento
imediato de pena restritiva de direito ou pena de multa.
É uma exceção, já que, se cabível, ao invés de oferecer uma denúncia o MP irá oferecer um acordo.
Alguns autores chamam de discricionariedade regrada2. Contudo, para Renato Brasileiro, o correto
seria obrigatoriedade mitigada:
Transação penal: em se tratando de infrações penais de menor potencial ofensivo,
ainda que haja lastro probatório suficiente para o oferecimento de denúncia, desde
que o autor do fato delituoso preencha os requisitos objetivos e subjetivos do art.
76 da Lei nº 9.099/95, ao invés de o Ministério Público oferecer denúncia, deve
propor a transação penal, com a aplicação imediata de penas restritivas de direitos
e multa. Nessa hipótese, há uma mitigação do princípio da obrigatoriedade,
comumente chamada pela doutrina de princípio da discricionariedade regrada ou
princípio da obrigatoriedade mitigada (BRASILEIRO, Renato).
2. Acordo de Não Persecução Penal (art. 28-A, CPP)
É um acordo celebrado entre o MP e o autor do delito, devidamente assistido por seu defensor, por
meio do qual sujeita-se a determinadas condições. Após o cumprimento, o MP irá requerer o arquivamento.
O acordo de não persecução penal, introduzido pelo Pacote Anticrime, também é um exemplo de
exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, haja vista que, presentes os requisitos e as
condições dispostas em lei, o MP pode deixar de oferecer denúncia.
2 Obviamente que o MP, por mandamento constitucional, já que o artigo 129, VIII, 2ª parte, da CR, diz que todas as
manifestações processuais do MP hão de ser fundamentadas – TEM que fundamentar. Por isso que é REGRADA!
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Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado
formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá
propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas
cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-
lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público
como instrumentos, produto ou proveito do crime; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços,
em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de
interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha,
preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério
Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal
imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste
artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso
concreto. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes
hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais,
nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art46
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art46
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art45
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art45
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
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III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão
condicional do processo; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou
praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do
agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
3. Acordo de Leniência nos crimes contra a ordem econômica:
É uma espécie de colaboração premiada.
O parcelamento do crédito tributário quando feito antes do recebimento da denúncia, fica suspensa
a pretensão punitiva.
Lei n. 9.430/96, art. 83, § 2º: É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente
aos crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa
jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no
parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes
do recebimento da denúncia criminal (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011)
4. Termo de ajustamento de conduta em crimes ambientais:
Em relação ao tema, há controvérsias. Parte da doutrina entende que o termo de ajustamento de
conduta (TAC) em crimes ambientais é uma exceção ao princípio da obrigatoriedade. Já que, pelo menos
enquanto o indivíduo cumpre o TAC, o MP está impedido de oferecer denúncia (falta interesse de agir do
órgão ministerial).
Contudo, o STJ entende que o TAC produz reflexos no âmbito administrativo, mas não representa
óbice a persecução penal.
STJ: “(...) A assinatura de termo de ajustamento de conduta, com a reparação do
dano ambiental são circunstâncias que possuem relevo para a seara penal, a serem
consideradas na hipótese de eventual condenação, não se prestando para elidir a
tipicidade penal”. (STJ, 6ª Turma, HC 187.043/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, j. 22/03/2011, Dje 11/04/2011)
5. Acordo de colaboração premiada na Lei de Organizações Criminosas (Lei 12.850/13):
§ 4º § 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério Público poderá
deixar de oferecer denúncia se a proposta de acordo de colaboração referir-se a
infração de cuja existência não tenha prévio conhecimento e o
colaborador: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art14
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I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.
§ 4º-A. Considera-se existente o conhecimento prévio da infração quando o
Ministério Público ou a autoridade policial competente tenha instaurado inquérito
ou procedimento investigatório para apuração dos fatos apresentados pelo
colaborador. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2) PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE:
De acordo com o princípio da indisponibilidade, o MP NÃO pode desistir da ação penal após o
oferecimento da denúncia.
Exceções ao princípio da indisponibilidade:
1. Suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95):
Cabe em crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a um ano (não só nos juizados).
Lei n. 9.099/95, art. 89: Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer
a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde
que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
2. Transação penal (art. 79, Lei 9.099/95):
Mesmo após o oferecimento da denúncia, no caso de IMPO.
3) PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE:
O titular da ação é o órgão oficial do Estado.
4) PRINCÍPIO DA (IN)DIVISIBILIDADE:
Há controvérsia sobre o caráter divisível da ação penal pública.
1ª Corrente (majoritária na doutrina): Entende que a ação penal pública é indivisível.
2ª Corrente (Tribunais Superiores): A ação penal pública admite a divisibilidade. Ou seja: o MP pode
oferecer denúncia em face de alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das
investigações dos demais autores. Nesse contexto, até a sentença final, o MP pode incluir novas
pessoas no polo passivo, por meio do aditamento da denúncia. (é a corrente que deve ser adotada
em provas objetivas!)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art14
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Na ação penal pública não vigora o princípio da indivisibilidade. Assim, o MP não
está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato tido por delituoso, não se
podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado.
Isso porque o Parquet é livre para formar sua convicção, incluindo na denúncia as
pessoas que ele entenda terem praticado o crime, mediante a constatação de
indícios de autoria e materialidade. STJ. 6ª Turma. RHC 34233-SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 6/5/2014 (Info 540).
3.3 Princípios da Ação Penal Privada
1) PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE E CONVENIÊNCIA:
Compete à vítima ou ao seu representante analisar a conveniência e oportunidade para o exercício
da ação. Ou seja: o titular da ação penal tem a FACULDADE de decidir se tem ou não interesse em dar início
ao processo criminal, visando à responsabilização do autor do delito.
Há 2 mecanismos através dos quais a vítima pode optar por NÃO exercer seu direito de ação:
a) Decadência: A vítima dispõe do prazo decadencial de 06 (seis) meses para o exercício da ação
privada, contados do conhecimento do responsável pelo delito, sob pena de extinção da
punibilidade (art. 107, IV, CP)
b) Renúncia: É ato unilateral do ofendido, e ocorre quando a vítima se recusa a tomar providência
contra o seu agressor.
⋅ Se opera até o oferecimento da ação penal;
⋅ É irretratável;
⋅ A renúncia feita para um agressor necessariamente beneficia os demais (art. 49, do CPP);
⋅ Pode ser expressa ou tácita (atos do ofendido incompatíveis com o desejo de processar o
agressor);
⋅ Enseja a extinção da punibilidade.
OBS.1: Tanto a decadência como a renúncia ocorrem antes de iniciada a ação penal com o
oferecimento da queixa crime.
OBS.2: O prazo decadencial para a queixa-crime é improrrogável e NÃO se sujeita a nenhuma forma
de suspensão ou interrupção.
OBS.3: O princípio se aplica também a ação penal pública condicionada, no que tange à
representação ou à requisição (e APENAS nesse ponto, visto que uma vez presentes as demais elementos
para o oferecimento da ação, o MP é obrigado a agir).
2) PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE:
Após iniciada a queixa crime, o querelante pode dispor do seu direito de dar continuidade à queixa-
crime através de 2 institutos:
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a) Perdão: Ato de liberalidade, e requer a aceitação pelo réu (ato bilateral). Trata-se de causa extintiva
de punibilidade e só é admissível até o trânsito em julgado;
OBS.1: Cuidado para não confundir a renúncia com o perdão.
OBS.2: Não cabe o instituto do perdão judicial na ação penal privada subsidiária da pública.
RENÚNCIA PERDÃO
Instituto pré-processual. Instituto processual.
Ato unilateral. Ato bilateral.
A renúncia feita a um dos agentes
se estende aos demais (art. 49, CP).
O perdão concedido a apenas um dos
agentes delitivos não
necessariamente seestende aos
demais.
b) Perempção: É sanção processual pela desídia do querelante na ação privada (art. 60, CPP)
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á
perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do
processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não
comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
(sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto
no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer
ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor.
CONCLUSÃO: Independentemente do momento em que o querelante decide abrir mão do seu direito de
queixa, antes mesmo de oferecida a queixa (através da decadência ou renúncia), ou após o oferecimento
desta (através do perdão ou perempção), a consequência será a mesma: extinção da punibilidade.
Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade,
deverá declará-lo de ofício.
c) Conciliação nos crimes contra a honra de competência do juiz singular (art. 522, CPP)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art36
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Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da
desistência, a queixa será arquivada.
OBS.: Esse princípio NÃO se aplica a ação penal privada subsidiária da pública, pois, eventual
manifestação do querelante no sentido de dispor da ação penal já em curso importa na retomada, pelo
Ministério Público, da titularidade da ação penal. Trata-se da chamada ação penal indireta.
Vamos esquematizar?
● Antes de iniciada a queixa crime:
(a) Decadência Princípio da Conveniência e Oportunidade
(b) Renúncia
● Após iniciada a queixa crime
(a) Perdão Princípio da Disponibilidade
(b) Perempção
3) PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE:
Proposta ação penal privada, o querelante deve promovê-la contra TODOS os que contribuíram para
o delito, NÃO podendo deixar de processar os que sabidamente concorreram para a prática do crime.
Nesse sentido, a ação penal deve se estender a todos aqueles que praticaram a infração penal.
CPP - Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo
de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
É nesse sentido a jurisprudência do STF:
Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da
prática delituosa, há afronta ao princípio da indivisibilidade da ação penal, a
implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia extintiva da punibilidade
estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no cometimento da
infração penal. STF. 1ª Turma. Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
2/2/2016 (Info 813).
Em razão do princípio da indivisibilidade, a renúncia e o perdão concedidos a um dos coautores
estendem-se ao demais (no perdão, caso um dos coautores não aceite, continuará correndo contra ele o
processo).
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Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores
do crime, a todos se estenderá.
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que
produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.
É nesse sentido a jurisprudência do STJ:
STJ: “(...) O reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa exige a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na
queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante” (STJ, HC 186.405/RJ,
Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 11/12/2014).
ATENÇÃO: Princípio da indivisibilidade da ação penal privada: omissão voluntária e involuntária.
O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores e
partícipes do delito. Segundo a posição da jurisprudência, o princípio da indivisibilidade SÓ se aplica para a
ação pena privada (art. 48 do CPP). O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos?
O que ocorre se um dos autores ou partícipes, podendo ser processado pelo querelante, ficar de fora? Qual
é a consequência do desrespeito ao princípio da indivisibilidade?
● Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): O juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção
da punibilidade para todos (arts. 104 e 107, V, do CP).
● Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça
o aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora.
Assim, conclui-se que a não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só,
renúncia tácita ao direito de queixa. Para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa,
exige-se a demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-
crime se deu de forma deliberada pelo querelante. STJ. 5ª Turma. RHC 55142-MG, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
OBS.1: Cabe ao MP fiscalizar o princípio da indivisibilidade na ação penal privada. Contudo, o MP
NÃO pode aditar a queixa para incluir coautores, pois NÃO tem legitimidade ativa. Deve, portanto, pedir a
intimação do querelante para que adite a queixa, sob a pena de a renúncia concedida a um dos coautores
ser estendida aos demais (quando a omissão for involuntária).
OBS.2: Há doutrina em sentido contrário, segundo a qual à luz do dever do MP de zelar pela
indivisibilidade da ação penal privada, caberia ao representante do órgão acusatório aditar a queixa-crime.
4. AÇÃO PENAL PÚBLICA
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/23d2e1578544b172cca332ff74bddf5f?categoria=12&subcategoria=126
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/23d2e1578544b172cca332ff74bddf5f?categoria=12&subcategoria=126
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A ação penal pública pode ser:
1) Ação penal pública incondicionada;
2) Ação penal pública condicionada à representação;
3) Ação penal pública subsidiária da pública.
4.1 Ação Penal Pública Incondicionada
A ação penal pública incondicionada é a regra, de modo que, no silêncio da lei, o crime será de ação
penal pública incondicionada.
a) Titular: Ministério Público, cuja atribuição é privativa, conforme a CF (art. 129, I, CF).
b) Peça inicial: A denúncia é a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
c) Prazos para oferecimento da denúncia:
REGRA DO CPP ● Réu preso: 05 dias.
● Réu solto: 15 dias.
CRIMES ELEITORAL 10 dias.
TRÁFICO DE DROGAS 10 dias.
CRIMES CONTRA A ECONOMIA
POPULAR
2 dias.
LEI DE FALÊNCIAS ● Réu preso: 05 dias.
● Réu solto: 15 dias.
d) Exemplos de crimes que são de ação penal pública incondicionada:
1) Crimes de lesões corporais leves e culposas no contexto da Lei Maria da Penha.
Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
2) Todos os crimes contra a dignidade sexual, em virtude da alteração promovida pela Lei nº
13.718/2018:
Art. 1º Esta Lei tipifica os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena
de estupro, torna pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes
contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelece causas
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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de aumento de pena para esses crimes e define como causas de aumento de pena
o estupro coletivo e o estupro corretivo.
3) Crimes na Lei de Abuso de Autoridade (art. 3º, Lei 13.869/2019).
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
4.2 Ação Penal Pública Condicionada
A ação penal pública condicionada é aquela que depende da manifestação de vontade do legítimo
interessado para que a persecução penal possa se iniciar.
A ação penal pública pode ser condicionada à:
a) Representação do ofendido;
b) Requisição do Ministro da Justiça.
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
4.2.1 Ação Penal Pública Condicionada à Representação do Ofendido
A representação do ofendido é o pedido e a autorização que condiciona o início da persecução penal.
Sem ela inexiste processo, IP e até mesmo lavratura de flagrante.
Art. 5ª, § 4o , CPP O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
● Natureza jurídica: É uma condição de procedibilidade.
Lembrando que pode ser condição de prosseguibilidade (como vimos anteriormente), a exemplo da Lei
9.099/95 quando passou a exigir representação para as lesões corporais leves e culposas.
● Prazo decadencial: 6 meses, contados do conhecimento da autoria (art. 38, CPP)
OBS.: Na sucessão processual, o prazo não é renovado, mas contínuo, de modo que são possíveis duas
situações:
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1) Se o sucessor toma conhecimento da autoria no mesmo momento que a vítima, tem direito ao prazo
restante;
2) Se o sucessor não tinha conhecimento da autoria, o prazo restante será contado no momento em
que atingir esse conhecimento.
O prazo é uno para os sucessores, de modo que basta que um deles tenha conhecimento da autoria,
para que tenha início o prazo decadencial para todos.
Pergunta-se: A decadência do direito do representante legal atinge a do menor? R.: Há divergência
na doutrina.
1ª Corrente (Renato Brasileiro): O prazo é único, razão pela qual a decadência para o representante
legal acarreta desde logo a extinção da punibilidade, ainda que o menor não tenha completado 18 anos.
2ª Corrente (Nucci e Mirabete): O direito não pode ser exercido pelo menor, de modo que, cuidando-
se de incapaz, NÃO se pode falar em decadência.
OBS.: O mesmo entendimento se aplica ao exercício do direito de queixa (ação penal privada).
● Legitimidade para receber a representação:
a) Delegado;
b) MP;
c) Juiz.
● Legitimidade para oferecer a representação:
1) Vítima ou seu representante legal: A representação pode ser feita pessoalmente pelo ofendido
com 18 anos completos ou mais OU por procurador, desde que possua poderes especiais.
2) Diante de menor, mentalmente enfermo ou retardo mental, que NÃO tenha representante
legal, ou cujos interesses colidirem com os do representante, será nomeado curador especial
(art. 33, CPP).
3) Diante da morte ou da declaração judicial de ausência da vítima teremos como sucessores o
cônjuge/companheiros, ascendentes, descendentes e irmãos (CADI) (art. 24, §2º, CPP).
OBS.1: Trata-se de rol preferencial e taxativo.
OBS.2: Deve-se respeitar a ordem preferencial (CADI) quando houver morte, declaração judicial de
ausência ou incapacidade civil superveniente. Por outro lado, em caso de abandono ou desistência da
ação, o art. 36 preconiza que qualquer dessas pessoas do CADI poderá prosseguir com a ação,
independentemente de obedecer à ordem preferencial!
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
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da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
§ 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente
ou irmão.
Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência
o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração
constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação,
caso o querelante desista da instância ou a abandone.
💣 FIQUE ATENTO!
O STJ (Info 654) estendeu o direito à representação ao companheiro:
A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo
status de cônjuge para o processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a
ação penal privada.
No caso, trata-se de crime de calúnia contra pessoa morta, o que aponta que os
querelantes – mãe, pai, irmã e companheira em união estável da vítima falecida –
são partes legítimas para ajuizar a ação penal privada, nos termos do art. 24, § 1º,
do CPP. Cumpre anotar que a companheira, em união estável reconhecida, goza do
mesmo status de cônjuge para o processo penal, podendo figurar como legítima
representante da falecida. Vale ressaltar que a interpretação extensiva da norma
processual penal tem autorização expressa do art. 3º do CPP ("a lei processual penal
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito"). Ademais, o STF, ao apreciar o tema 498 da
repercussão geral, reconheceu a "inexistência de hierarquia ou diferença de
qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e
autonomizado núcleo doméstico, aplicando-se à união estável entre pessoas do
mesmo sexo as mesmas regras e mesmas consequências da união estável
heteroafetiva" (RE 646.721, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Roberto
Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, DJe 11/09/2017).
ATENÇÃO! Pessoas jurídicas vítimas de infrações penais, podem oferecer representação por quem
os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-
gerentes.
● Forma da representação: De acordo com o STJ/STF, ela tem forma livre, podendo ser oral ou por
escrito. Ou seja: NÃO precisa ser através de peça formal.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art31
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● Prazo para a representação: 6 (seis) meses contados do conhecimento da autoria. Não interessa a
data do fato.
OBS.: O prazo para oferecimento da representação tem natureza decadencial, não se admite
suspensão, prorrogação ou interrupção.
💣 RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO:
Regra: a retratação da representação é possível até antes do oferecimento da denúncia.
Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.
Exceção: Na Lei Maria da Penha, a retratação é possível até o recebimento da denúncia, em
audiência perante o juiz designada especialmente para esse fim.
Lei 11.340/06. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da
ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante
o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do
recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
ATENÇÃO: Há divergência doutrinária acerca da possibilidade de retratação da retratação. Para
parte da doutrina, a vítima poderá se arrepender da retratação e renovar a representação, desde que esteja
dentro do prazo decadencial.
Porém, mesmo para os que admitem a retratação da retratação, há DUAS EXCEÇÕES, dois
microssistemas que fatalmente a retratação da representação por lei extingue a punibilidade: Juizadoda
Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher e Juizado Especial Criminal.
● Eficácia objetiva da representação: A representação é feita para cada crime e abrange todos os
possíveis coautores e participes.
Por eficácia objetiva da representação, entende-se o seguinte: se oferecida a representação contra
um dos partícipes ou coautores do crime, o MP deve oferecer a denúncia contra todos aqueles que
praticaram o delito. Porém a representação só é válida para aquele delito.
Assim, se a vítima representou apenas pelo delito de injúria, NÃO é possível o MP amplie a
representação para abranger os crimes de calúnia e difamação, em face da eficácia objetiva da
representação. Não abrange outros crimes, envolvendo apenas todos os coautores.
STF: HC 98.237/SP. STF, “(...) O fato que constitui objeto da representação oferecida
pelo ofendido (ou, quando for o caso, por seu representante legal) traduz limitação
material ao poder persecutório do Ministério Público, que não poderá, agindo
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"ultra vires", proceder a uma indevida ampliação objetiva da "delatio criminis"
postulatória, para, desse modo, incluir, na denúncia, outros delitos cuja
perseguibilidade, embora dependente de representação, não foi nesta pleiteada
por aquele que a formulou. Precedentes. – A existência de divórcio ideológico
resultante da inobservância, pelo Ministério Público, da necessária correlação
entre os termos da representação e o fato dela objeto, de um lado, e o conteúdo
ampliado da denúncia oferecida pelo órgão da acusação estatal, de outro, constitui
desrespeito aos limites previamente delineados pelo autor da delação postulatória
e representa fator de deslegitimação da atuação processual do "Parquet". Hipótese
em que o Ministério Público ofereceu denúncia por suposta prática dos crimes de
calúnia, difamação e injúria, não obstante pleiteada, unicamente, pelo magistrado
autor da delação postulatória (representação), instauração de "persecutio criminis"
pelo delito de injúria. Inadmissibilidade dessa ampliação objetiva da acusação
penal”. (STF, 2ª Turma, HC 98.237, SP. Ministro Celso de Mello, j. 15/12/2009).
4.2.2 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça
É ato de conveniência política, autorizando a persecução penal em alguns crimes.
● Prazo: A lei é omissa. Logo, pode ocorrer a qualquer tempo, enquanto não for extinta a punibilidade.
● Destinatário: MP (PGJ).
☞ Há discricionariedade do Ministro da Justiça
☞ A requisição NÃO vincula o MP. Ou seja: o MP não está obrigado a oferecer denúncia.
● Hipóteses:
a) Crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil;
b) Crimes contra a honra praticados contra o Presidente ou Chefe de Governo Estrangeiro.
4.2.3 Ação Penal Pública Subsidiária da Pública
Para alguns doutrinadores, essa subespécie de ação penal pode ser vislumbrada quando ocorre a
atuação de um órgão do MP diante da inércia de outro órgão do MP.
Alguns exemplos dessa espécie “sui generis” de ação penal pública subsidiária da pública podem ser
apresentados:
a) Nos Crimes de Responsabilidade de Prefeitos, em caso de inércia do PGJ (lembrando que os Prefeitos
têm prerrogativa de função e são julgados pelos Tribunais de Justiça), a ação poderá este ser proposta
pelo PGR (art. 2º., § 2º, do Decreto-Lei 201/67)
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b) Nos casos de deslocamento de competência como aqueles que ocorrem quando há “grave violação
dos direitos humanos” e inércia dos órgãos estaduais, podendo então o caso, mediante
representação do PGR perante o STJ, ser deslocado para a Justiça Federal, isso com o fim de “assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais
o Brasil seja parte” (art. 109, § 5º., CF). Também é mencionável a possibilidade de deslocamento de
competência para o Tribunal Penal Internacional (TPI), no caso de inércia dos órgãos internos
brasileiros envolvendo crimes contra a humanidade (artigo 5º., § 4º., CF).
Confira a dica do Professor Tiago Dantas:
https://youtu.be/h4n0S8kJ-Pw
5. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA
Ocorre quando o Estado legitima o ofendido ou seu representante legal a ingressar com ação penal,
pleiteando a condenação do agressor, em hipóteses excepcionais.
O particular, portanto, passa a ter o direito de ação, a legitimidade para o oferecimento da ação penal
privada, embora a titularidade da ação penal permaneça com o Estado. Trata-se, como já visto, de hipótese
de legitimação extraordinária.
● Titularidade: Ofendido ou representante legal.
A queixa pode ser proposta por procurador, desde que seja mediante procuração com poderes
especiais. Deve constar da procuração com poderes especiais o nome do querelante e a menção ao fato
criminoso. No entanto, os Tribunais Superiores divergem quanto ao significado de “menção ao fato
criminoso”:
Para o STF: na procuração, deverá ser individualizado o evento delituoso, não bastando apenas a
menção do nomen iuris do crime.
Para o STJ: basta mencionar o tipo penal ou nomen iuris, sendo desnecessário pormenorizar a
descrição da conduta.
https://youtu.be/h4n0S8kJ-Pw
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Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais,
devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção
do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências
que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
● Peça inicial: Queixa crime.
° Vítima é chamada de querelante.
° Réu é chamado de querelado.
● Prazo para interpor a queixa crime: 6 meses, contados a partir do conhecimento da autoria.
Lembre-se que se trata de prazo decadencial!
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,
decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo
de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no
caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
● Espécies:
1) Ação penal privada personalíssima;
2) Ação penal privada propriamente dita ou exclusiva;
3) Ação penal privada subsidiária da pública.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCRN 2021): Ao sair de sua casa, em 17/05/2020, Miriam foi surpreendida por faixa anônima
estendida na via pública com diversas ofensas à sua honra. Diante da humilhação sofrida, Miriam deixou o
país e foi morar no exterior sem se interessar em descobrir o responsável pelos fatos. Em 03/01/2021, Miriam
recebeu mensagem de Sandra, sua antiga vizinha, confessando ser ela a autora das ofensas, bem como
esclarecendo que informou os fatos ao delegado de polícia, em razão de seu arrependimento. Miriam entrou
em contato com seu advogado, em 25/01/2021, para esclarecimentos jurídicos, informando que permanece
no exterior. O advogado deverá esclarecer naquela data que o crime praticado seria de injúria, de ação penal
privada, logo a queixa-crime poderá ser oferecida por Miriam, mas, se através de procurador, exigem-se
poderes especiais. (item considerado correto).
5.1 Ação Penal Privada Personalíssima
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art29
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Somente o ofendido pode ingressar em juízo, ou seja, o direito NÃO é transmitido ao representante
legal e nem haverá sucessão processual.
Aqui, a morte da vítima extingue a punibilidade do autor do delito.
Na atual legislação brasileira, há apenas um exemplo de crime dessa espécie. Vejamos:
Art. 236, CP - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente,ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não
pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por
motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
5.2 Ação Penal Privada Exclusiva ou Propriamente Dita
É aquela que pode ser proposta pelo ofendido ou seu representante legal. Na hipótese de ser
proposta pelo representante legal, há sucessão processual.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.
É a regra nos crimes contra a honra.
Art. 145, CP - Nos crimes previstos neste Capítulo (DOS CRIMES CONTRA HONRA)
somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da
violência resulta lesão corporal.
Atenção: A diferença entre a ação penal exclusivamente privada e a ação privada personalíssima é que, na
ação penal exclusivamente privada, admite-se a sucessão processual, ao passo que na ação penal privada
personalíssima, somente o próprio ofendido pode ajuizar queixa crime.
5.3 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública ou Acidentalmente Privada ou Supletiva
● Conceito:
A ação penal privada subsidiária da pública também é chamada de ação penal acidentalmente
privada/supletiva e será admitida quando estiver caracterizada a inércia do MP.
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Assim, em havendo inércia do órgão ministerial, a ação penal privada subsidiária da pública será
exercida pela vítima ou por seu representante na condição de substituição processual, já que ela atua em
nome próprio pleiteando a punição que será exercida pelo estado.
● Fundamento legal e constitucional:
CF Art. 5º, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal;
CPP - Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Trata-se de forma de controle da obrigatoriedade da ação penal pública, bem como da inafastabilidade
da jurisdição.
● Pressupostos:
Há dois requisitos:
i. Só é cabível em face da inércia do MP;
Ex.: Se o promotor recebe o inquérito e em 15 dias (acusado solto) não faz nada, a partir do 16º dia
cabe ação penal privada. Se pedir arquivamento ou diligência não se trata de inércia, nem de ação subsidiária.
OBS: no HC n. 74.276, o STF, considerou procrastinatórias diligências solicitadas pelo MP.
Consequentemente, o Tribunal entendeu ser possível o ajuizamento de uma ação penal privada subsidiária
da pública.
ii. O crime deve possuir um ofendido individualizado.
Ex.: Em crimes de perigo (incolumidade pública posta em risco) não cabe essa ação subsidiária. Assim,
tráfico de drogas, quem ofereceria a ação? Não existe.
Exceção: Há 2 hipóteses em que, mesmo que a coletividade seja o sujeito passivo, será possível
interpor ação penal privada subsidiária da pública:
1) Crimes contra as relações de consumo (art. 80 e 82, CDC): nessa hipótese, os legitimados para
propor a queixa substitutiva serão as associações de defesa do consumidor e os Procon’s.
2) Crimes falimentares (art. 184, Lei 11.101/05): nessa hipótese, os legitimados para propor a queixa
substitutiva serão o administrador judicial ou qualquer credor habilitado.
Fique atento à jurisprudência sobre o tema:
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Conselho indigenista não pode ajuizar queixa-crime subsidiária por delito contra
índios
Determinado indivíduo teria proferido discurso racista contra um grupo de índios
que teria invadido uma fazenda em certa região. O Ministério Público não ofereceu
denúncia nem instaurou qualquer procedimento. Em virtude disso, o Conselho dos
Povos Indígenas (organização não-governamental indígena) ajuizou uma queixa-
crime subsidiária (art. 5º, LIX, da CF/88) contra o indivíduo, imputando-lhe a prática
dos crimes de racismo (art. 20 da Lei 9.459/97) e incitação à violência e ódio contra
os povos indígenas (arts. 286 e 287 do CP). Essa queixa-crime deverá ser rejeitada,
porque os conselhos indigenistas não possuem legitimidade ativa em matéria
penal. Na ação penal privada (mesmo sendo a subsidiária da pública), a queixa-
crime somente pode ser promovida pelo ofendido ou por quem tenha qualidade
para representá-lo (art. 100, § 2º do CP e art. 30 do CPP). A suposta vítima dos
crimes não foi o conselho indigenista, mas sim os próprios índios que
participaram da invasão. STF. 1ª Turma. Inq 3862 ED/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 18/11/2014 (Info 768).
Fonte: Dizer o Direito
● Prazo: 6 meses, contados a partir da inércia do MP.
Pergunta-se: Esgotado o prazo opera-se a decadência e, consequentemente, a extinção da
punibilidade? R.: NÃO. Trata-se da denominada decadência imprópria, visto que embora não seja mais
possível a queixa subsidiária, uma vez transcorrido o prazo decadencial, permanece a possibilidade de o MP
oferecer denúncia, enquanto o crime não estiver prescrito.
● Poderes do Ministério Público:
Conforme lição de Fernando da Costa Tourinho Filho, o Ministério Público, em face da queixa
substitutiva, assume a posição de um litisconsorte, porém de natureza sui generis, na medida em que não há
cumulação de ações contra o mesmo réu. A doutrina fala que o MP atua como uma espécie de “assistente
litisconsorcial” (já caiu em prova!)
Pode-se, ainda, “falar em ‘interveniente adesivo obrigatório’, porquanto, oferecida a queixa, o
Ministério Público é obrigado a intervir em todos os termos do processo”. Nessa linha, é a lição de Nestor
Távora, para quem o Ministério Público, “na ação privada subsidiária, figura como interveniente adesivo
obrigatório, atuando em todos os termos do processo, sob pena de nulidade (art. 564, III, d, CPP), tendo
amplos poderes”.
Assim, o MP pode:
(1) Repudiar a queixa, oferecendo denúncia substitutiva
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d8330f857a17c53d217014ee776bfd50?categoria=12&subcategoria=126
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d8330f857a17c53d217014ee776bfd50?categoria=12&subcategoria=126
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Esclarece o Nestor Távora que quando a vítima “ingressa com a ação penal privada subsidiária, a
petição inicial é a queixa-crime SUBSIDIÁRIA da denúncia que não foi apresentada. Por sua vez, quando o MP
repudia a queixa, por entender que não houve omissão, a denúncia é SUBSTITUTIVA” da queixa repudiada.
(2) Aditar a queixa, tanto em seus aspectos formais, como materiais
Prazo para o MP aditar a queixa: 3 dias.
Art. 46, § 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data
em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar
dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos
demais termos do processo.
OBS.: Na ação exclusivamente privada, NÃO pode o MP incluir coautor ou fato que o ofendido
não incluiu, sob pena de violação ao princípio da oportunidade. Contudo, em atenção ao princípio da
indivisibilidade, verificada omissão involuntária, o MP poderá oficiar o querelante para que promova o
aditamento.
(3) Intervir em todo os termos do processo
O MP pode, a qualquer momento:
● Fornecer elementos de prova;
● Interpor recurso;
● Opinar pelarejeição da queixa.
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser
aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos
subseqüentes do processo.
OBS.: o MP NÃO pode recorrer da decisão absolutória proferida em ação penal
privada!
(4) Se o querelante for negligente, o MP reassume o polo ativo da ação penal
É a chamada ação penal indireta.
6. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DA AÇÃO PENAL
6.1 Ação Penal Adesiva
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Para o professor Nestor Távora, seria o litisconsórcio ativo entre o MP (no crime de ação penal
pública) e o querelante (nas hipóteses de ação penal privada).
Ex.: Estupro antes de 2009 (ação penal privada) conexo com tentativa de homicídio (ação penal
pública incondicionada), de modo que o MP oferece denúncia e vítima queixa e as ações correriam juntas
pela conexão.
Para o professor Luiz Flávio Gomes, só existe na Alemanha, onde é possível que MP ingresse com a
ação penal pública e, em seguida, a vítima ingresse de maneira adesiva, porém com objetivos indenizatórios.
Nesse contexto, há uma espécie de intervenção adesiva facultativa, relacionada à satisfação do dano
decorrente do crime.
Para Tourinho Filho/Denilson Feitoza, o instituto verificado na Alemanha, também é possível nos
crimes de ação penal privada, quando o MP promove a ação penal, mediante constatação de um interesse
público. Nesse caso, faculta-se ao ofendido ou seu representante legal intervir no processo como assistente.
OBS: NÃO confundir com a atuação obrigatória adesiva do MP (“interveniente adesivo obrigatório”)
na ação penal privada subsidiária da pública.
6.2 Ação Penal Popular
A doutrina que defende a possibilidade cita dois exemplos:
1) Habeas Corpus
2) Faculdade de qualquer cidadão oferecer “denúncia” (notitia criminis) por crime de responsabilidade
praticado por agentes políticos (art. 14, Lei 1.079/50).
Críticas:
● Habeas corpus NÃO se trata de uma ação penal por excelência (ação penal propriamente
dita), mas sim de uma ação libertária, um meio de impugnação autônomo.
● A “denúncia” mencionada no art. 41, Lei 1.079/50, em verdade, compreende com incorreção
técnica do legislador, que confunde o termo “denúncia” com “notícia crime”. Além disso, os
ilícitos da Lei 1.079/50 não são crimes propriamente ditos, uma vez que sequer prevê sanções
penais em razão da prática das condutas ali previstas, mas sanções político-administrativas.
CONCLUSÃO: Em razão das críticas apresentadas, a doutrina majoritária entende NÃO existir no Brasil ação
penal popular (Noberto Avena). Contudo, há doutrina em sentido contrário (Tourinho Filho).
6.3 Ação Penal Secundária
Ocorre quando as circunstâncias do caso concreto modificam a modalidade de ação penal a ser
ajuizada.
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Ex.1: Crimes contra o patrimônio, no contexto do art. 182 do CP (escusas absolutórias relativas),
quando cometidos sem violência ou grave ameaça podem depender de representação (ação penal pública
condicionada), sendo que a regra geral é a ação penal pública incondicionada.
Ex.2: Crimes contra a honra, em regra, são de ação penal privada, contudo, há algumas exceções.
Vejamos:
1. Injúria real mediante vias de fato
· Injúria real mediante lesão corporal GRAVE ou GRAVÍSSIMA: ação penal pública
incondicionada.
· Injúria real mediante lesão corporal LEVE: ação penal pública condicionada à representação
(art. 140, §2º, CP c/c 9.099/95).
· Injúria qualificada / “injúria-preconceito” / “racismo impróprio” (art. 140, §3º, CP após a Lei
12.033/09): antes da nova lei, a ação era privada e, com a alteração, passou a ser de ação penal
pública condicionada à representação.
OBS.: O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é imprescritível. STF. Plenário. HC
154248/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/10/2021 (Info 1036).
2. Crime contra a honra do presidente da república: ação penal pública condicionada à requisição do
Ministro da Justiça.
3. Crime contra a honra de servidor público em razão de suas funções: duas possibilidades → ação
penal pública condicionada à representação OU ação penal privada, sendo hipótese de legitimidade
concorrente ALTERNATIVA (oferece denúncia ou queixa-crime).
Súmula 714, STF - É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal
por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.
6.4 Ação de Prevenção Penal
Ação a ser proposta contra o inimputável do art. 26, caput, pois é uma denúncia que NÃO pede
condenação, mas medida de segurança, a chamada absolvição imprópria.
Art. 26, CP - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
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inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
7. DENÚNCIA E QUEIXA CRIME
● Denúncia: É a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
● Queixa-crime: É a peça privativa do ofendido, de seu representante legal, seu sucessor ou ainda seu
curador que dá início à ação penal privada.
OBS.: É possível o litisconsórcio ativo entre o MP e o querelante, na hipótese de conexão entre crime de
ação penal pública e outro de ação penal privada. Nesse contexto, uma única ação penal contará com uma
denúncia e uma queixa.
Sendo as duas peças de início da ação penal, serão analisadas em conjunto, com as necessárias distinções
quando necessário.
a) Requisitos formais da denúncia ou queixa crime:
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.
OBS.: Em regra, devem ser feitas por escrito, salvo na hipótese de infração de menor potencial ofensivo
que, nos termos da Lei 9.099/95, admite o oferecimento de denúncia ou queixa oral, desde que
posteriormente seja reduzida a termo.
I. Exposição do fato criminoso e suas circunstâncias
Consiste na narrativa do fato delituoso, com todas as suas circunstâncias, de maneira clara, precisa,
simples e objetiva, sob a pena de inviabilizar o direito de defesa, pois, no processo penal, o acusado se
defende dos fatos que lhe são imputados.
Salienta-se que a narrativa deve responder questionamentos básicos: Como? Quando? Quem? O
que? Por quê? Contra quem?
Segundo Renato Brasileiro, imputação “é a atribuição a alguém da prática de determinada infração
penal, funcionando como o ato processual por meio do qual se formula a pretensão penal”.
Cuidado! Quando se tratar de crime culposo, é imprescindível que o titular da ação penal (MP ou
querelante) descreva em que consistiu a imprudência, negligência ou imperícia.
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A inobservância deste requisito acarreta a inépcia da peça acusatória, pois viola o princípio da ampla
defesa (inépcia formal), razão pela qual a peça deve ser rejeitada pelo juiz.
CPP Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - for manifestamente inepta;
OBS.: Caso não haja a rejeição da peça acusatória, prevalece o entendimento que deve ser arguida
pela defesa até a sentença. Os tribunais entendem que se não foi arguida essa inépcia até a sentença, o
indivíduo conseguiu defender-se, portanto não teria por que alegar isso em esfera recursal (teoricamente
teria ocorrido preclusão).
Parao reconhecimento ou não da inépcia da inicial, a doutrina diferencia elementos necessários e
secundários. Vejamos:
● Elementos NECESSÁRIOS (essenciais): São aqueles necessários para identificar o fato típico. A
ausência destes elementos causa evidente prejuízo à defesa e, portanto, nulidade absoluta. Não se
pode imaginar uma denúncia sem esses elementos essenciais, uma denúncia que não os têm, não
narra um fato criminoso.
● Elementos SECUNDÁRIOS (acidentais): São aqueles ligados às circunstâncias de tempo ou de espaço
cuja ausência nem sempre prejudica a ampla defesa, portanto, eventual vício pode produzir, no
máximo, uma nulidade relativa, devendo ser comprovado o prejuízo.
O que é “CRIPTOIMPUTAÇÃO”?
É a imputação contaminada por grave deficiência na narrativa do fato delituoso. Espécie de denúncia
criptografada, em códigos. Quando NÃO contém os elementos mínimos de sua identificação como crime,
sendo “gravemente inepta”.
O que é “DENÚNCIA GENÉRICA”? Tem sido aceita?
É a denúncia que não individualiza a conduta do agente, imputa fato a agente sem descrever a
conduta ou diversos fatos a agentes indistintamente.
A discussão ganha relevo quando se trata de crimes societários (crimes de gabinete), no qual uma PJ
é utilizada como “manto protetivo”. A denúncia genérica, aqui, é aquela que inclui o diretor, o gerente, o
preposto da pessoa jurídica na ação apenas por ele ostentar essa qualidade, entretanto não descreve qual
foi a conduta criminosa dessa pessoa. Não estabelece o mínimo de vínculo entre o comportamento dessa
pessoa e o crime. Por isso, a denúncia genérica é inepta, devendo ser rejeitada por impedir o exercício do
contraditório e da ampla defesa.
A partir do momento que o STF começou a afastar a denúncia genérica, surge a doutrina de Pacelli
diferenciando acusação GERAL e acusação GENÉRICA:
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● Acusação GERAL: Ocorre quando o órgão da acusação imputa a todos os acusados, o mesmo fato
delituoso, independentemente das funções exercidas por eles na empresa. Como se trata de UM SÓ
FATO, não há inépcia, não viola o princípio da ampla defesa, o indivíduo como integrante da
sociedade sabe de qual fato típico tem de se defender.
● Acusação GENÉRICA: ocorre quando a acusação imputa vários fatos típicos, imputando-os
genericamente a todos os integrantes da sociedade. Como envolve VÁRIOS fatos típicos, há inépcia.
“De qual deles irei me defender?” Verifica-se uma clara violação da ampla defesa, gerando nulidade
absoluta.
AGRAVANTES devem constar da denúncia?
Para a jurisprudência, agravantes NÃO precisam constar da peça acusatória, uma vez que podem ser
reconhecidas de ofício pelo juiz, mesmo que não tenham constado na denúncia (art. 385 CPP). Para parte da
doutrina, isso viola a ampla defesa e o contraditório.
CPP Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença
condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem
como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
Norberto Avena afirma que ao contrário do que ocorre com as qualificadoras, a inclusão de
agravantes na denúncia é uma faculdade do MP. Esta conclusão, inclusive depreende-se dos próprios termos
do art. 385 do CPP, quando reza que o juiz pode reconhecer agravantes na sentença, “embora nenhuma
tenha sido alegada”.
E as MAJORANTES devem constar da denúncia?
Tratando-se de majorantes previstas na PARTE ESPECIAL do CP, exigem, para o fim de serem
reconhecidas, a explicitação na denúncia ou queixa.
Todavia, se forem as da PARTE GERAL do CP, não é imprescindível que tenham sido expressamente
mencionadas na peça acusatória. Ex.: concurso formal próprio e crime continuado, podendo ser
reconhecidos pelo juiz na sentença caso exsurjam do contexto imputado ao réu.
II. Qualificação do acusado e demais esclarecimentos de identificação
Caso não se tenha a qualificação do acusado e não seja possível a identificação criminal, a denúncia
ou queixa deve indicar esclarecimentos pelos quais se possa identificar o acusado (art. 259, CPP).
III. Classificação da infração:
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É o enquadramento típico. NÃO é requisito obrigatório. No processo penal, o acusado não se defende
da classificação e sim dos fatos que lhe são imputados. Isto porque o juiz, na hora da sentença, pode realizar
a mutatio libelli ou emendatio libelli. Veja:
● Emendatio libelli: NÃO há alteração em relação ao FATO delituoso, limitando-se o juiz a modificar a
CLASSIFICAÇÃO formulada na peça acusatória, ainda que tenha que aplicar pena mais grave. Ex.: MP
oferece denúncia descrevendo um furto, mas classifica de maneira errada, como estelionato, razão
pela qual na hora da sentença, o juiz a corrige.
● Mutatio libelli: Ocorre quando o FATO que se comprovou pela instrução é diverso daquele narrado
na peça acusatória (surge no curso da instrução prova de ELEMENTAR ou CIRCUNSTÂNCIA não
contida na peça acusatória). O MP deve aditar a denúncia e, em seguida, abre-se prazo para a defesa
se manifestar.
CPP - Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição
jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público
deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta
houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo
o aditamento, quando feito oralmente.
Segundo entendimento dos Tribunais Superiores, o momento adequado para a emendatio libelli é a
sentença. Contudo, admite-se a correção da capitulação já no recebimento da inicial quando ocorrer em
benefício do réu, permitindo a incidência de instituto despenalizador; quando acarretar a modificação do
juízo competente; quando necessária para determinação do procedimento aplicável; quando repercutir em
matérias de ordem pública, como a prescrição.
IV. Rol de testemunhas e demais diligências
● O número de testemunhas é por fato delituoso imputado.
● O rol de informantes e vítimas não entra nessa contagem.
STJ: “(...) O limite máximo de 8 (oito) testemunhas descrito no art. 401, do Código
de Processo Penal, deve ser interpretado em consonância com a norma
constitucional que garante a ampla defesa no processo penal (art. 5º, LV, da CF/88).
Para cada fato delituoso imputado ao acusado, não só a defesa, mas também a
acusação, poderá arrolar até 8 (oito) testemunhas, levando-se em conta o princípio
da razoabilidade e proporcionalidade”. (STJ, 5ª Turma, HC 55.702/ES, Rel. Min.
Honildo Amaral de Mello Castro, j. 05/10/2010).
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NÃO é obrigatório apresentação de rol de testemunhas. A consequência do não oferecimento de
testemunhas é a preclusão.
O STJ possui julgado (NÃO é entendimento pacífico) permitindo a intimação do MP para a emenda
da inicial e inclusão do rol de testemunhas, desde que ocorra antes da formação da relação processual, ou
seja, antes da citação do réu (Info 577).
PROCEDIMENTO ORDINÁRIO 8 testemunhas
PROCEDIMENTO SUMÁRIO 5 testemunhas
PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO 3 testemunhas
1ª FASE DO JÚRI 8 testemunhas
2ª FASE DO JÚRI 5 testemunhas
LEI DE DROGAS 5 testemunhas
V. Nome e assinatura da parte acusadora
Sob pena de que a peça seja tida como inexistente.
b) Requisitos da Queixa-Crime
O art. 44, CPP prevê como requisito específico da queixa procuração com poderes especiais.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo
constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato
criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligênciasque
devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
O vício na procuração pode ser sanado, sendo que há duas correntes sobre o momento em que pode
ocorrer.
1ª Corrente: prazo decadencial, ou seja, 6 meses do conhecimento da autoria.
2ª Corrente (majoritária): antes da sentença, em observância ao art. 569, CPP, mesmo que escoado
o prazo decadencial.
c) Não preenchimento dos requisitos formais
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Se não preenchidos os requisitos formais da denúncia ou da queixa e isso implicar prejuízo à ampla
defesa (vício insanável), deverá ocorrer a rejeição da inicial acusatória (art. 395, I, CPP), bem como se faltar
alguma condição da ação ou pressuposto processual ou se faltar justa causa à ação penal.
Contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa cabe recurso em sentido estrito (prazo de 05
dias).
d) Prazos para oferecer a denúncia
Trata-se de prazo impróprio, ou seja, caso não seja observado, não enseja a perda do direito de
oferecer a denúncia!
REGRA DO CPP ● Réu preso: 05 dias;
● Réu solto: 15 dias.
CRIMES ELEITORAL 10 dias
TRÁFICO DE DROGAS 10 dias
CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR 2 dias
LEI DE FALÊNCIAS ● Réu preso: 05 dias;
● Réu solto: 15 dias.
Se queixa crime: Prazo de 6 (seis) meses, contados a partir do conhecimento da autoria (art. 38, CPP).
e) Imputação cumulativa e alternativa
A denúncia pode ter cumulação de imputações. Pode tanto trazer mais de um fato, hipótese em que
temos cumulação objetiva, quanto mais de um sujeito, situação que incorre em cumulação subjetiva.
Não é possível, contudo, a imputação alternativa, ou seja, diante da ausência de elementos
suficientes de prova da materialidade, trazer mais de um fato (como na imputação cumulativa), deixando
explícito que apenas um deles ocorreu.
f) Aditamento da denúncia
Ocorre quando, no curso da instrução, são descobertos novos fatos, pessoas ou elementos de prova,
de modo que o MP deverá complementar a peça acusatória, diante das novas informações.
O aditamento se justifica no princípio da correlação entre denúncia e sentença, pois, se o juiz só
pode condenar quem foi denunciado e em relação aos fatos que foram narrados na denúncia, caso surjam
novos elementos no curso da ação, o aditamento será necessário.
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Poderá ser feito até o momento imediatamente anterior à sentença.
A doutrina classifica em:
● Aditamento próprio: Acréscimo de fatos (real) ou sujeitos (pessoal).
● Aditamento impróprio: Correção de alguma falha na denúncia (ex.: data de nascimento do réu, hora
e data do fato).
● Aditamento espontâneo: O próprio MP constata a necessidade do aditamento.
● Aditamento provocado: O juiz provoca a atuação do MP, zelando pelo princípio da obrigatoriedade
da ação penal.
Pergunta-se: O aditamento interrompe a prescrição (uma vez que o recebimento da denúncia ou
queixa é causa interruptiva)? DEPENDE. O aditamento impróprio, bem como o aditamento próprio pessoal
NÃO interrompem a prescrição, contudo, o aditamento próprio real interrompe a prescrição quanto ao novo
fato.
Pergunta-se: É possível o aditamento da queixa? O aditamento impróprio é possível. Há divergência
acerca do aditamento próprio. Parte da doutrina sustenta a inviabilidade, pois a não imputação implica na
renúncia ao direito de queixa. Lado outro há quem sustente posterior aditamento, quando no momento do
oferecimento da queixa, não se tinha ciência de certo fato e/ou pessoa.
Entendimentos jurisprudenciais pertinentes:
Inexistindo a demonstração do mínimo vínculo entre o acusado e o delito a ele
imputado, impossibilitado está o exercício do contraditório e da ampla defesa.
STJ. 6ª Turma. RHC 154.162-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
22/03/2022 (Info 730)
O eventual trancamento de inquérito policial por excesso de prazo não impede,
sempre e de forma automática, o oferecimento da denúncia. STF. 2ª Turma. HC
194023 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/09/2021.
No momento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societate. STF. 1ª
Turma. Inq 4506/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 17/04/2018 (Info 898).
Promotor de Justiça que passa a atuar no processo decorrente de
desmembramento oriundo do TJ está livre para alterar a denúncia anteriormente
oferecida pelo PGJ. É possível o aditamento da denúncia a qualquer tempo antes
da sentença final, garantidos o devido processo legal, a ampla defesa e o
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contraditório, especialmente quando a inicial ainda não tenha sido sequer recebida
originariamente pelo juízo competente, como ocorreu no caso concreto. O membro
do MP possui total liberdade na formação de seu convencimento (opinio delicti).
Assim, a sua atuação não pode ser restringida ou ficar vinculada às conclusões
jurídicas que o outro membro do MP chegou, mesmo que este atue em uma
instância superior. Em outras palavras, o Promotor de Justiça que passou a ter
atribuição para atuar no caso não está vinculado às conclusões do Procurador-Geral
de Justiça que estava anteriormente funcionando no processo. Desse modo, é
irrelevante que outros membros do Ministério Público com atribuição para atuar
em instância superior, em virtude da análise dos mesmos fatos, tenham,
anteriormente, oferecido denúncia de diferente teor em face do réu, uma vez que,
conforme ficou reconhecido pelo STJ e pelo TJDFT, a competência para o processo
criminal era da 1ª instância, de forma que o promotor natural do caso era o
Promotor de Justiça que atua na 1ª instância. STF. 1ª Turma. HC 137637/DF, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2018 (Info 893).
A denúncia contra Prefeito por crime em licitação municipal deve indicar sua
participação ou conhecimento acerca dos fatos. A denúncia contra Prefeito por
crime ocorrido em licitação municipal deve indicar, ao menos minimamente, que o
acusado tenha tido participação ou conhecimento dos fatos supostamente ilícitos.
O Prefeito não pode ser incluído entre os acusados unicamente em razão da função
pública que ocupa, sob pena de violação à responsabilidade penal subjetiva, na qual
não se admite a responsabilidade presumida. STF. 1ª Turma. AP 912/PB, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 7/3/2017 (Info 856).
Inépcia caso a denúncia se baseie apenas no fato de que o réu era Diretor-
Presidente da empresa. Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do
domínio do fato para dar suporte à imputação penal, sendo necessário, contudo,
que, além disso, ela aponte indícios convergentes no sentido de que o Presidente
da empresa não só teve conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu
finalisticamente a atuação dos demais acusados. Assim, não basta que o acusado
se encontre em posição hierarquicamente superior. Isso porque o próprio estatuto
da empresa prevê que haja divisão de responsabilidades e, em grandes
corporações, empresas ou bancos há controles e auditorias exatamente porque
nem mesmo os sócios têm como saber tudo o que se passa. STF. 2ª Turma. HC
127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016 (Info 850)
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Cabe a condenação do querelante em honorários advocatícios quando houver a
rejeição da queixa-crime, por aplicação subsidiária do CPC. Deste modo, o
princípio geral da sucumbência é aplicável no âmbito do processo penal quando se
tratar de ação penal privada STJ. Corte Especial. EDcl na Apn 881/DF, julgado em
03/10/2018.
Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da
prática delituosa, há afronta ao princípio da indivisibilidade da ação penal,a
implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia extintiva da
punibilidade estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no
cometimento da infração penal. STF. 1ª Turma. Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 2/2/2016 (Info 813).
Enunciado 6 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ - É possível
aditar a denúncia para requerer a perda de bens cujo conhecimento se der após
iniciada a ação penal, caso em que, recebido o aditamento, deverão ser ouvidos os
interessados e propiciada a dilação probatória.
Enunciado 11 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ - O
pronunciamento jurisdicional do art. 396 do CPP, que recebe a denúncia, tem
natureza jurídica de decisão interlocutória, portanto necessita de fundamentação,
conforme art. 93, IX, da CF.
Súmulas importantes sobre o tema:
Súmula 714/STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal
por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.
Súmula 234/STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase
investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento da denúncia.
Súmula 542/STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
8. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (Lei 13.964/19)
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8b1ecf6d8049bb062a356f1cc812e69e?categoria=12&subcategoria=126&criterio-pesquisa=e
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4e093aa7417fe0881bc5fbda7322a74e?categoria=12&subcategoria=126&criterio-pesquisa=e
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8.1 Conceito
Inicialmente, vale destacar uma crítica à nomenclatura, visto que o mais adequado seria acordo de
não deflagração da ação penal, pois já temos inquérito instaurado, ou seja, já há persecução penal em
andamento.
Trata-se de instituto de natureza mista (penal e processual) que possibilita uma solução negociada
no processo penal (justiça negociada) ao acusado que confessar a prática do crime e que, a partir disso,
sofrerá as sanções propostas pelo Ministério Público. Ao final, caso cumprido o acordo, há a extinção da
punibilidade.
Sobre a natureza mista do acordo de não persecução penal
Em 10.11.2020, a 1T do STF (AR no HC 191.464/SC), reconheceu a natureza mista (penal e processual) do
acordo de não persecução penal, tendo em vista que o seu cumprimento acarreta a extinção da punibilidade
– admitindo, portanto, sua aplicação retroativa. Nesse sentido, fixou a tese no sentido de que “o acordo de
não persecução penal aplica-se a fatos ocorridos ANTES DA LEI 13.964/2019, desde que NÃO RECEBIDA A
DENÚNCIA”.
Por que até o recebimento da denúncia? R.: Estabeleceu o marco temporal do recebimento da denúncia pois
o acordo de não persecução penal é um negócio PRÉ-PROCESSUAL que busca evitar a deflagração da ação
penal. Nesse sentido, caso a denúncia já tenha sido admitida judicialmente, o instituto perde sua razão de
ser.
Ressalta-se que a tese fixada pelo STF modifica a decisão proferida anteriormente pelo STJ (HC 575.395/RN).
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei
nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. A Lei nº 13.964/2019
(“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento jurídico
pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019,
no ponto em que institui o ANPP, é considerada lei penal de natureza híbrida,
admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e o tempus regit
actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a
consequência da sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é
inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia. O recebimento da
denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os atos
praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a retroatividade
penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à
Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ddd1df443471e3abe89933f20d08116a?categoria=12&subcategoria=125&criterio-pesquisa=e
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impossível realizar o ANPP quando já recebida a denúncia em data anterior à
entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607003-SC, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC
191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
Segundo a doutrina3, é a adoção pelo sistema brasileiro do chamado “plea bargaining” Norte-
Americano:
“No plea bargaining norte-americano, o imputado manifesta perante o Ministério
Público sua decisão de declarar-se culpado, aceitando as imputações acordadas,
assim como a pena pactuada, ao mesmo tempo em que renuncia a certas garantias
processuais. Como explica Luiz Flávio Gomes, "uma vez que se dá conhecimento da
acusação - qualquer que seja o crime - para o imputado, pede-se o pleading, isto é,
para se pronunciar sobre a culpabilidade; se se declara culpado (pleads guilty) - se
confessa - opera-se o plea, é dizer, a resposta da defesa e então pode o juiz, uma
vez comprovada a voluntariedade da declaração, fixar a data da sentença
(sentencing), ocasião em que se aplicará a pena (geralmente 'reduzida' - ou porque
menos grave ou porque abrangerá menos crimes -, em razão do acordo entre as
partes), sem necessidade de processo ou veredito (trial ou veredict); em caso
contrário, abre-se ou continua o processo e entra em ação o jurado".
A importação do instituto norte-americano não é imune às críticas. Segundo Jacinto Nelson de
Miranda Coutinho4, a importação de institutos de outros sistemas é prejudicial diante da realidade brasileira:
“Na prática, o plea bargainig visa lutar contra o acúmulo de trabalho (e isso, pelo
menos, desde o Século XIX, nos E.U.A.), mas sem deixar de lado os direitos e
garantias individuais, dos quais eles não abririam mão, ainda que muita gente
reclame e afirme que é justo isso que estão fazendo.
Eis, então, que, fundados em um modelo de pensamento (Francis Bacon como
principal corifeu) utilitarista (Jeremy Bentham e John Stuart Mill), empiricamente
não se incomodam, em tantas passagens, de operar com uma ética na qual os fins
justifiquem os meios, desde que se almeje o bem-estar de todos.
De certa forma, isso justifica, para eles, a negociação de um acordo sobre o crime
e a pena; o próprio acordo ainda na esfera material ou mesmo naquela processual
em face dos lugares ocupados pelos atores; e o lugar do juiz como aquele de –
3 (Lima, 2017, p. 260)
4 (Coutinho, 2019)
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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quase que – tão só controlar o que se fez, para não permitir que se vilipendiem
direitos e garantias individuais.
[...]
Tudo leva a crer, enfim, que um plea bargaining metido em um processo do sistema
inquisitório como o brasileiro seja um desastre, retirando ainda mais o pouco de
democracia processual que restou depois da americanização à brasileira promovida
nos últimos anos, tudo sem o devido controle por quem de direito, seja lá por qual
motivo for.
Ter plea bargaining é inevitável se o processo penal brasileiro vier a ser acusatório.
Mas para isso é preciso, antes, importar o sistema todo, com ônus e bônus.Do jeito
que se está tentando impor, os ônus ficarão para os cidadãos
investigados/acusados; e os bônus – tudo indica – ficarão para o Estado e seus
órgãos. Em tempos neoliberais, tudo é contra o cidadão, quem sabe em nome
daquela ética utilitarista precitada, embora se saiba que ela é só discurso fácil para
iludir os incautos. Os de sempre serão os beneficiados, como sempre foi. É como se
existissem cidadãos e... cidadãos. O problema em uma sociedade assim é que tudo
se faz em nome do bem comum e da democracia, nem que seja contra a
Constituição. Um dia – ahimé, como dizem os italianos – a vida revida. ”
8.2 Requisitos, Condições e Vedações
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado
formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá
propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas
cumulativa e alternativamente:
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público
como instrumentos, produto ou proveito do crime;
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços,
em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de
interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha,
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preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério
Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste
artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso
concreto.
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais,
nos termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão
condicional do processo; e
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou
praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do
agressor.
Conforme a previsão legal, poderá o Ministério Público propor ao investigado o acordo de não
persecução penal obedecidos os seguintes REQUISITOS:
a) Confissão formal e circunstancial do investigado;
b) Infração penal sem violência ou grave ameaça;
c) Infração penal com a pena mínima inferior a 4 anos;
d) Acordo necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Pergunta-se: O acordo de persecução penal é um direito subjetivo do investigado OU uma
faculdade para o Ministério Público?
1ª Corrente: Direito subjetivo do investigado, pois a expressão “poderá” deve ser interpretada como
um “poder-dever”, de modo que, preenchidos os requisitos objetivos estabelecidos em lei, o investigado
passa a ter o direito subjetivo ao acordo. Da mesma forma, o art. 76 da Lei 9099/95 prevê que o Ministério
Público “poderá” propor a transação penal, e o dispositivo é interpretado pela doutrina como direito
subjetivo do acusado, sendo assim, onde há a mesma razão, deverá ser aplicado o mesmo direito (ubi eadem
ratio ibi idem jus).
Nesse sentido, Renato Brasileiro5:
5 (Lima, 2017, p. 234)
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“Sob o argumento de se tratar de direito público subjetivo do autor do fato
delituoso, não se defere ao juiz a possibilidade de conceder de ofício a transação
penal contra a vontade do Ministério Público ou do querelante. Não cabe ao juiz,
que não é titular da ação penal, substituir-se ao órgão ministerial ou ao querelante
para formar de ofício a proposta de transação penal, sob pena de evidente violação
ao art. 129, inciso I, da Constituição Federal.
Diante da recusa injustificada do órgão do Ministério Público em oferecer a
proposta de transação penal, ou se o juiz discordar de seu conteúdo, o caminho a
ser seguido pelo juiz passa pela aplicação subsidiária do art. 28 do CPP, core a
consequente remessa dos autos ao Procura dor-Geral de Justiça (ou, na esfera
federal, às Câmaras de Coordenação e Revisão do MPF), que terá como opções
designar outro Promotor de Justiça para formular a proposta, alterar o conteúdo
daquela que tiver sido formulada ou ratificar a postura do órgão ministerial de
primeiro grau, caso em que a autoridade judiciária estará obrigada a homologar a
transação.
Apesar de dispor sobre a suspensão condicional do processo, o verbete da súmula
696 do Supremo também pode ser aplicado à transação penal: "Reunidos os
pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão
ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo
Penal".
Nas hipóteses de ação penal privada, recai sobre o querelante a legitimidade para
o ofereci mento da proposta de transação penal. Assim, na fase preliminar, deve o
magistrado questionar o ofendido ou seu representante legal acerca do
oferecimento da proposta de transação. Como o juiz não pode conceder o benefício
de ofício, nem tampouco se admite a formulação de proposta pelo MP, a recusa do
querelante em oferecer a proposta inviabiliza por completo a concessão do referido
benefício.”
O raciocínio acima merece ser interpretado à luz do art. 28-A do CPP, incluído pela L.13964/19, que
retirou do juiz a função de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal e retirou de suas mãos
qualquer atividade que, por natureza, pertença à acusação. Portanto, diante da negativa de proposta do
acordo de não persecução penal, poderá o investigado suscitar a manifestação do órgão de revisão
ministerial, em solução próxima à que foi dada no tocante à transação penal.
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2ª Corrente: Faculdade do Ministério Público, com base em interpretação literal do art. 28-A, uma
vez que, ainda que preenchidos os requisitos legais, o promotor pode, fundamentadamente, deixar de
oferecer o acordo.
Esse é o entendimento que vem sendo adotado pelo STJ (RHC 161.251, 2021) e STF (HC 191124 AgR,
2022).
Segundo o STJ "O acordo de não persecução penal - ANPP não constitui direito
subjetivo do investigado, assim pode ser proposto pelo Ministério Público
conforme as peculiaridades do caso concreto, quando considerado necessário e
suficiente para reprovar e prevenir infrações penais." (Agravo Regimental no
Recurso Especial nº 1.948.350/RS, STJ, 5ª Turma, unânime, rel. min. Jesuíno Rissato,
julgado em 9/11/2021, publicado no Dj em 17/11/2021)
Importante destacar, que segundo o §1º, para fins de aferição da pena mínima, serão consideradas
as causas de aumento e diminuição de pena.
Cumpridos os requisitos, o acordo será oferecido mediante as seguintes CONDIÇÕES, que poderãoser ajustadas cumulativamente ou alternativamente:
a) Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
b) Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
c) Prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução,
na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
d) Pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
e) Cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada.
Por fim, há VEDAÇÃO a celebração do acordo:
a) Se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da
lei; (Cuidado! Não confundir com suspensão condicional do processo)
b) Se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta
criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas;
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c) Ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em
acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo;
(Cuidado! Não confundir com suspensão condicional da pena) e
d) Nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. (Cuidado! Na violência
doméstica ou familiar contra homens também se aplica essa vedação).
8.3 Procedimento do Acordo de Não Persecução Penal
Art. 28-A.
[...]
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado
pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada
audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva
do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições
dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério
Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do
investigado e seu defensor.
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o
juízo de execução penal.
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos
legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para
a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento
da denúncia.
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal
e de seu descumprimento.
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não
persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua
rescisão e posterior oferecimento de denúncia.
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado
também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o
eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo.
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§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não
constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no
inciso III do § 2º deste artigo.
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo
competente decretará a extinção de punibilidade.
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de
não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão
superior, na forma do art. 28 deste Código.
O procedimento é bem simples. Cumpridos os requisitos legais, o Membro do Ministério Público
proporá o acordo com as condições previstas em lei (de forma isolada ou cumulativa), na forma escrita e na
presença do defensor (§3º).
Recebido o acordo, será realizada audiência para verificar sua legalidade e a voluntariedade.
Após, o juiz poderá homologar ou não o acordo de não persecução penal. Nas duas hipóteses os
autos retornam ao Ministério Público.
Caso homologue o acordo (§6º), os autos retornarão para que o Ministério Público inicie sua
execução perante o juízo da execução. ATENÇÃO! Cabe ao Ministério Público fiscalizar o cumprimento das
condições (penas antecipadas) e, caso sejam cumpridas, informará ao juiz para que seja declarada EXTINTA
A PUNIBILIDADE.
No caso de quebra do acordo, o Ministério Público comunicará ao juiz que o RESCINDIRÁ, podendo
o Ministério Público determinar o prosseguimento das investigações ou denunciar o investigado.
Caso o acordo não seja homologado pelo juiz, os autos igualmente retornam ao Ministério Público,
para complementação das investigações ou oferecimento da denúncia.
Em ambas as soluções, a vítima será intimada (§9º).
OBS.: No caso de desclassificação do crime no curso da ação penal, será possível oferecer o acordo
de não persecução penal. Isso porque, embora a finalidade processual do acordo de não persecução penal
já esteja preclusa – tendo em vista que a ação penal foi deflagrada – a sua finalidade material, qual seja, a
finalidade de preservar o estado de inocência do indivíduo ainda permanece.
Ex.: O indivíduo foi denunciado por um crime de maior gravidade que, a princípio, não caberia acordo
de não persecução penal, caso haja a desclassificação do crime para um crime de menor gravidade, será
possível oferecer o acordo de não persecução penal (da mesma forma que é possível o oferecimento da
transação penal e suspensão condicional do processo).
CAIU EM PROVA
(Delegado da PCPR 2021): Sobre o acordo de não persecução penal (ANPP), considere as seguintes
afirmativas:
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1. Aplica-se ao acordo de não persecução penal a mesma lógica da transação penal, sendo dispensável a
confissão do crime para a realização do acordo. (item incorreto)
2. Se o agente tiver sido beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração com uma transação
penal, tal agente não poderá realizar o acordo de não persecução penal. (item correto)
3. A reincidência genérica não impede a realização do acordo de não persecução penal, mas apenas a
reincidência específica. (item incorreto)
4. Não é cabível a realização do acordo de não persecução penal em favor do agressor nos crimes praticados
no âmbito de violência doméstica e familiar, ou praticados contra a mulher, por razões da condição de sexo
feminino. (item correto)
(Delegado da PCRN 2021): Concluídas investigações de inquérito policial, a autoridade policial indiciou
Francisco, sem envolvimento anterior com o aparato policial ou judicial pela prática de crimes, como incurso
nas sanções penais do delito de lesão corporal de natureza gravíssima (Art. 129, §2º, CP –pena: reclusão de
2 a 8 anos). Tendo Francisco confessado formal e circunstancialmente a prática da infração penal na
delegacia, o acordo de não persecução penal, no caso em tela não poderá ser proposto, diante da natureza
do delito imputado. (item correto).
Destaque: Ocorreua I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ (10 a 14 de agosto de 2020). Veja
os enunciados atinentes sobre tema em estudo:
Enunciado 10 - Recomenda-se a realização de práticas restaurativas nos acordos de
não persecução penal, observada a principiologia das Resoluções n. 225 do CNJ e
118/2014 do CNMP.
Enunciado 12 - A proposta de acordo de não persecução penal representa um
poder-dever do Ministério Público, com exclusividade, desde que cumpridos os
requisitos do art. 28-A do CPP, cuja recusa deve ser fundamentada, para propiciar
o controle previsto no § 14 do mesmo artigo.
Enunciado 13 - A inexistência de confissão do investigado antes da formação da
opinio delicti do Ministério Público não pode ser interpretada como desinteresse
em entabular eventual acordo de não persecução penal.
Enunciado 17 - É possível aditar a denúncia para requerer a perda de bens cujo
conhecimento se der após iniciada a ação penal, caso em que, recebido o
aditamento, deverão ser ouvidos os interessados e propiciada a dilação probatória.
Jurisprudências pertinentes:
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8b1ecf6d8049bb062a356f1cc812e69e?categoria=12&subcategoria=126&ano=2020
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1387a00f03b4b423e63127b08c261bdc?categoria=12&subcategoria=126&ano=2020
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8b1ecf6d8049bb062a356f1cc812e69e?categoria=12&subcategoria=126&ano=2020
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O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar
acordo de não persecução penal (ANPP). Não cabe ao Poder Judiciário, que não
detém atribuição para participar de negociações na seara investigatória, impor ao
MP a celebração de acordos.STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017).
É vedada a substituição da figura do Ministério Público pela do juiz na celebração
do acordo de não persecução penal, instrumento jurídico extrajudicial
concretizador da política criminal exercida pelo titular da ação penal pública cuja
homologação judicial tem natureza meramente declaratória. (AgRg no HC
685.200/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado
em 24/08/2021, DJe 30/08/2021).
Esta Corte Superior sedimentou a compreensão de que a possibilidade de
oferecimento do acordo de não persecução penal, previsto no artigo 28-A do
Código de Processo Penal, inserido pela Lei n. 13.964/2019, é restrita aos processos
em curso até o recebimento da denúncia, o que não se enquadra na hipótese em
apreço (AgRg no AREsp 1909408/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 05/10/2021, DJe 13/10/2021).
A Lei n. 13.964/2019, ao incluir o § 14 no art. 28-A do Código de Processo Penal,
garantiu a possibilidade de o investigado requerer a remessa dos autos ao Órgão
Superior do Ministério Público nas hipóteses em que a acusação tenha se recusado
a oferecer a proposta de acordo de não persecução penal na origem. Nada
obstante, tal requerimento, por si só, não impõe ao Juízo de primeiro grau a
remessa automática do processo ao órgão máximo do Ministério Público,
considerando-se que o controle do Poder Judiciário quanto à remessa dos autos ao
órgão superior do Ministério Público deve se limitar a questões relacionadas aos
requisitos objetivos, não sendo legítimo o exame do mérito a fim de impedir a
remessa dos autos ao órgão superior do Ministério Público (HC 668.520/SP, de
minha relatoria, Quinta Turma, julgado em 10/8/2021, DJe de 16/8/2021).
Muito embora seja possível a rescisão do acordo de não persecução penal (§10 do
art. 28-A do CPP), necessário, para preservação dos princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, oportunizar à defesa a manifestação acerca do
pedido formulado pelo Ministério Público. (...) Ordem concedida de ofício para
reconhecer a nulidade da decisão que rescindiu o acordo de não persecução penal,
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devendo outra ser proferida, intimando-se, previamente, a defesa do paciente, em
respeito aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório” (HC
615.384/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 09/02/2021, DJe 11/02/2021).
9. AÇÃO CIVIL EX DELICTO
O Ordenamento Jurídico Brasileiro adota o sistema da independência acerca da relação entre ação
penal e a ação civil decorrente de uma infração penal.
Por esse sistema, ambas as ações podem ser propostas de maneira independente, pois versam sofre
direitos diferentes (direito privado de cunho patrimonial e direito do Estado de punir).
Renato Brasileiro assevera que há um certo grau de mitigação no Sistema da Independência, haja
vista que o próprio juiz pode fixar, na sentença condenatória, um quantum a título de reparação pelos danos
causados (indenização mínima), à luz do art. 387, IV, CPP.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
São 2 as formas de obter a indenização civil por danos decorrentes da infração penal:
1) Execução civil ex delicto (art. 63, CPP)
2) Ação civil ex delicto (art. 64, CPP)
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu
representante legal ou seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução
poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso iv do caput do art. 387
deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente
sofrido.
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do
dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso,
contra o responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o
curso desta, até o julgamento definitivo daquela.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1930-1949/Ret/RetDel3689-41.doc#art387iv
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1930-1949/Ret/RetDel3689-41.doc#art387iv
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9.1 Execução Civil ex delicto (art. 63, CPP) X Ação Civil ex delicto (art. 64, CPP)
EXECUÇÃO CIVIL EX DELICTO AÇÃO CIVIL EX DELICTO
Fundamento legal: art. 63, CPP
Fundamento legal: art. 64, CPP
Exige o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, visto que a sentença penal
funciona como um título executivo judicial.
Pode ser proposta a qualquer momento.
Logo, não exige o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória e pode ser
proposta ao mesmo tempo que a ação
penal.
Deve ser proposta exclusivamente em face do
condenado.
Pode ser proposta em face do condenado
ou do responsável civil (ex.: tutor,
curador, empregador, pais – em caso de
filhos menores).
O juiz pode suspender o curso da ação
civil até o julgamento definitivo da ação
penal.
9.2 Legitimados ativos para propor a ação civil
● Ofendido;
● Representante legal;
● Herdeiro;
No caso de vítimas hipossuficientes:
● Ministério Público (art. 68) x Defensoria Pública
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e
2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.
O art. 68 prevê que, na hipótese de vítimas hipossuficientes, a legitimidade para propor a ação civil
será do Ministério Público. No entanto, não podemos perder de vista queeste dispositivo está passando por
uma inconstitucionalidade progressiva (dispositivo que era constitucional e está se tornando, com o decorrer
do tempo, inconstitucional). Isso porque, a partir do momento em que a Defensoria pública estiver
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art32
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art63
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art64
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devidamente estruturada em todos estados, a legitimidade ativa será da Defensoria Pública, e não mais do
Ministério Público.
Veja a jurisprudência sobre o tema:
O reconhecimento da ilegitimidade ativa do Ministério Público para, na qualidade
de substituto processual de menores carentes, propor ação civil pública ex delicto,
sem a anterior intimação da Defensoria Pública para tomar ciência da ação e, sendo
o caso, assumir o polo ativo da demanda, configura violação ao art. 68 do CPP.
Antes de o magistrado reconhecer a ilegitimidade ativa do Ministério Público para
propor ação civil ex delicto, é indispensável que a Defensoria Pública seja intimada
para tomar ciência da demanda e, sendo o caso, assumir o polo ativo da ação. STJ.
4ª Turma. REsp 888081-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/9/2016 (Info
592).
9.3 Indenização na sentença condenatória
O art. 387, IV, CPP, prevê que o juiz deve fixar um VALOR MÍNIMO a título de reparação de danos
causados pela infração penal.
Essa indenização abrange qualquer tipo de dano sofrido pelo crime. Portanto, inclui:
● Danos materiais;
● Lucros cessantes;
● Danos morais;
● Danos estéticos.
Existe divergência sobre a necessidade de haver pedido expresso acerca da indenização na inicial
acusatória (denúncia/queixa crime).
1ª Corrente (doutrina majoritária): NÃO há necessidade de pedido expresso pelo ofendido ou MP,
uma vez que se trata de um EFEITO GENÉRICO da sentença penal condenatória.
2ª Corrente (Tribunais Superiores): SIM. Para que seja fixado um valor mínimo a título de reparação
de dano, deve haver pedido expresso do MP ou do ofendido, sendo necessário oportunizar o contraditório
do réu.
9.4 Efeitos civis da sentença absolutória
Para descobrirmos quais são os efeitos civis de uma sentença absolutória, devemos conjugar alguns
artigos do CPP com Código Civil. Vejamos:
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência
material do fato
Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
CC, Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
1) Decisão que faz coisa julgada no cível
NÃO pode mais propor ação penal no cível quando:
a) Reconhecido categoricamente a inexistência material do fato (leitura a contrario sensu do art. 66,
CPP).
b) Absolvição com base na negativa de autoria (art. 935, CPP).
c) Se provada a existência de causa excludente de ilicitude penal (art. 65).
→ A causa excludente de ilicitude deve ser PROVADA, uma vez que, se houver DÚVIDAS, a decisão NÃO
irá fazer coisa julgada.
→ Não confundir excludentes de ilicitude com as excludentes de culpabilidade, uma vez que estas
(excludentes de culpabilidade) NÃO fazem coisa julgada no cível.
→ Se se tratar de uma excludente de ilicitude putativa (descriminantes putativas), também NÃO fará
coisa julgada.
(...) O STJ pacificou entendimento no sentido de que a absolvição na esfera criminal,
por ausência de prova nos autos relativa ao fato de ter o acusado concorrido para
a infração penal, não tem o condão de excluir a condenação administrativa. Recurso
especial a que se nega provimento. (STJ, 5ª Turma, REsp 1.028.436/SP, Rel. Min.
Adilson Vieira Macabu, DJe 17/11/2011).
APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS:
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A existência de excludente de ilicitude só fará coisa julgada no juízo cível se o ofendido tiver dado causa à
excludente. Ex.: Se o ofendido for o autor da agressão injusta (no caso de uma legítima defesa), ou tiver
provocado a situação perigo atual (no caso do estado de necessidade), nessa hipótese não poderá pleitear
indenização no juízo cível.
Por outro lado, se o fato praticado com amparo em uma excludente de ilicitude tiver atingido terceiro
inocente (como, por exemplo, no estado de necessidade agressivo, em que o bem jurídico sacrificado é de
terceiro não causador do perigo), ainda que o estado de necessidade seja reconhecido no âmbito criminal,
essa absolvição NÃO fará coisa julgada no juízo cível, de modo que a vítima atingida pode buscar a devida
reparação.
2) Decisão que não faz coisa julgada no cível
É possível propor a ação penal no cível, ainda que seja absolvido na seara criminal.
a) Se não reconhecida a inexistência material do fato (art. 66).
b) Decisão que julgar extinta a punibilidade (art. 67, II).
→ Se for extinta a punibilidade em virtude da prescrição da pretensão punitiva abstrata, retroativa ou
intercorrente, como não haverá trânsito em julgado da sentença penal condenatória, NÃO será
possível a EXECUÇÃO civil ex delicto. No entanto, nada impede o ajuizamento da AÇÃO CIVIL ex
delicto.
c) Atipicidade material ou formal do fato (decisão no sentido de que o fato não constitui crime,
conforme o art. 67, III).
d) Despacho de arquivamento do inquérito policial ou peças de informação (art. 67, I).
e) Causa excludente da culpabilidade.
f) Se NÃO houver provas suficientes para a condenação.
INEXISTÊNCIA MATERIAL DO FATO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
EXCLUDENTE DE ILICITUDE (REAL) FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
NEGATIVA DE AUTORIA FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
ATIPICIDADE FORMAL OU MATERIAL DA
CONDUTA
NÃO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE NÃO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
EXCLUDENTE DE PUNIBILIDADE NÃO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
EXCLUDENTE DE ILICITUDE PUTATIVA NÃO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
DECISÃO DE ARQUIVAMENTO DO IP NÃO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS ACERCA DA
MATERIALIDADE OU AUTORIA DO FATO
NÃO FAZ COISA JULGADA NO CÍVEL
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Ainda em relação aos efeitos cíveis de possíveis decisões proferidas em sede processual penal, há de
se ficar atento às seguintes hipóteses6:
a) Sentença absolutória imprópria: É dominante o entendimento no sentido de que, por mais que haja a
imposição de internação ou de tratamento ambulatorial, como tal sentença não tem natureza
condenatória, é INCAPAZ de gerar o dever de reparação do dano, além de não funcionar como título
executivo. Isso, todavia, não impede o ajuizamento de ação civil contra a pessoa a quem competia a
guarda do inimputável.
b) Sentença absolutória proferida pelo Tribunal do Júri: diante do sigilo das votações e da adoção do
sistema da íntima convicção inerente ao Tribunal do Júri, resta impossível precisar o exato motivo que
deu ensejo à decisão dos jurados. Logo, é de se concluir que eventual sentença absolutória NÃO deve
fazer coisa julgada no cível.
c) Transaçãopenal: esta decisão NÃO repercute no âmbito cível, vez que o art. 76, § 6º, da Lei nº 9.099/95,
dispõe expressamente que a imposição imediata de pena restritiva de direitos ou de multa não terá
efeitos civis, cabendo ao interessado propor a ação cabível no juízo cível;
d) Anistia: tem o condão de extinguir todos os efeitos penais decorrentes da prática do crime, sejam eles
principais, sejam eles secundários, mas não acarreta qualquer repercussão em relação aos efeitos
extrapenais. Logo, se concedida após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, nada
impede que o título obtido pelo ofendido seja executado perante o juízo cível.
e) Graça e indulto: Especificamente em relação aos reflexos cíveis, prevalece o entendimento de que
repercutem apenas em relação ao cumprimento da pena, subsistindo todos os efeitos penais
secundários e extrapenais, como a obrigação de reparar o dano. Logo, nada impede a execução da
sentença condenatória irrecorrível no âmbito cível.
Súmula 631 - O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão
executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais.
f) Perdão judicial: Embora haja certa controvérsia quanto à natureza jurídica da decisão concessiva do
perdão judicial, prevalece que se trata de uma decisão declaratória que NÃO produz qualquer efeito,
penal ou extrapenal. Veja a súmula nº 18 do STJ:
Súmula 18 - A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da
punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
Jurisprudência pertinente:
6 Manual de Processo Penal Volume Único. Renato Brasileiro de Lima. 8ª edição. 2020. Pg. 403
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O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do próprio
processo penal, a pagar danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela, no
âmbito da responsabilidade, o dano moral não apenas na esfera individual como
também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição
Federal e no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do
art. 1º da Lei n.º 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981)
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e
familiar, é possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral,
desde que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não
especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória. STJ. 3ª
Seção. REsp 1.643.051- MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018
(recurso repetitivo) (Info 621)
A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente
para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso
IV, do CPP, seja porque não há previsão legal nesse sentido, seja porque compete
à própria vítima decidir se irá promover a execução ou não do título executivo,
sendo vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual
penal que determina a fixação do valor mínimo em favor da ofendida. STJ. 6ª
Turma. REsp 1.819.504-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/09/2019 (Info 657)
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QUESTÕES PROPOSTAS
https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes?discipline_ids%5B%5D=10&exclude_nullified=true&exclude_outdated=true&job_ids%
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1 - 2022 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia
Nos termos do Código de Processo Penal, é correto afirmar que a ação penal privada
A-exclusiva, em caso de morte do ofendido antes do início da ação, esta poderá ser intentada, em qualquer
prazo, entre outras pessoas, por seu irmão.
B-exclusiva, em caso de morte do ofendido antes do início da ação, esta poderá ser intentada, em qualquer
prazo, entre outras pessoas, por seu cônjuge.
C-personalíssima só pode ser intentada pela vítima e, em caso de falecimento antes ou depois do início da
ação, não poderá haver substituição para sua propositura ou seu prosseguimento.
D-subsidiária da pública, findo o prazo do Ministério Público para oferecer denúncia, sem qualquer
manifestação, poderá o ofendido oferecer a queixa e assumir definitivamente a ação penal, restando apenas
ao Ministério Público o direito de aditar a queixa ou intervir no curso do processo.
E-personalíssima só pode ser intentada pela vítima ou por seu representante legal e, em caso de falecimento
antes ou depois do início da ação, não poderá haver substituição para sua propositura ou seu
prosseguimento.
2 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01
Dentro do modelo de Direito Penal Consensual, os institutos despenalizadores ganharam especial relevo no
sistema brasileiro. No entanto, esses institutos geralmente estão associados a uma determinada categoria
de infrações penais, não tendo incidência às demais.
Assinale a opção que corresponde a um instituto que, observados seus requisitos legais, tem incidência em
infrações penais, independentemente da sua categoria.
A-Composição dos danos civis.
B-Transação penal.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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144
C-Acordo de não persecução penal.
D-Sursis.
E-Suspensão condicional do processo.
3 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-PB - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil
Assinale a opção correta a respeito da disciplina legal dos crimes contra o meio ambiente.
A-O recolhimento domiciliar é espécie de pena restritiva de direitos prevista na Lei de Crimes Ambientais.
B-O desmatamento é considerado crime se praticado em terras de domínio público ou devolutas e desde
que a floresta seja nativa, salvo se o delito for praticado por necessidade de subsistência imediata pessoal do
agente ou de sua família.
C-Verificada a ocorrência de infração penal ambiental que envolva animais, estes deverão ser
obrigatoriamente libertados em seu habitat.
D-Não é cabível a suspensão condicional do processo ou o acordo de não persecução aos crimes ambientais,
por expressa vedação legal.
E-Se o abate de animal for praticado para proteger lavouras de ação predatória, será cabível a redução da
pena de um a dois terços, desde que a circunstância seja atestada pela autoridade competente.
4 - 2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia
Sobre o acordo de não persecução penal (ANPP), considere as seguintes afirmativas: 1. Aplica-se ao acordo
de não persecução penal a mesma lógica da transação penal, sendo dispensável a confissão do crime para a
realização do acordo. 2. Se o agente tiver sido beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração
com uma transação penal, tal agente não poderá realizar o acordo de não persecução penal. 3. A reincidência
genérica não impede a realização do acordo de não persecução penal, mas apenas a reincidência específica.
4. Não é cabível a realização do acordo de não persecução penal em favor do agressor nos crimes praticados
no âmbito de violência doméstica e familiar, ou praticados contra a mulher, por razões da condição de sexo
feminino. Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
5 - 2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia
V.M. e H.R. são candidatos ao cargo de vereador na cidade de Pérola do Oeste. Em um debate transmitido
pela rádio local, V.M. faz inflamado discurso e arremata com a frase de caráter dúbio: “H.R. tem esse
expressivo patrimônio porque pegou na mão grande, é amigo do alheio”. H.R., sentindo-se profundamente
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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ofendido, procura a tutela de seus direitos por meio de um advogado. Diante do caso prático, assinale a
alternativa correta.
a) O advogado poderá ingressar com um Pedido de Explicações, preparatório ao oferecimento da ação penal
privada, providência que suspende o prazo decadencial enquanto não houver decisão judicial.
b) O advogado poderá ingressar com um Pedido de Explicações, preparatório ao oferecimento da ação penal
privada, providência que não interrompe o prazo decadencial.
c) O advogado poderá ingressar com um Pedido de Explicações, preparatório ao oferecimento da ação penal
privada, providência que prorroga o prazo decadencial em 6 meses.
d) Independentemente da propositura do Pedido de Explicações, o prazo para oferecimento da ação penal
privada é aumentado em 1/3 em virtude do número potencialdepessoasquetiveramconhecimentodaofensa.
e) O advogado deverá ingressar com um Pedido de Explicações, imprescindível para a propositura da ação
penal privada.
6 – 2021 – FGV - PC-RN - Delegado de Polícia Civil Substituto
Ao sair de sua casa, em 17/05/2020, Miriam foi surpreendida por faixa anônima estendida na via pública com
diversas ofensas à sua honra. Diante da humilhação sofrida, Miriam deixou o país e foi morar no exterior sem
se interessar em descobrir o responsável pelos fatos. Em 03/01/2021, Miriam recebeu mensagem de Sandra,
sua antiga vizinha, confessando ser ela a autora das ofensas, bem como esclarecendo que informou os fatos
ao delegado de polícia, em razão de seu arrependimento. Miriam entrou em contato com seu advogado, em
25/01/2021, para esclarecimentos jurídicos, informando que permanece no exterior. O advogado deverá
esclarecer naquela data que o crime praticado seria de injúria, de ação penal privada, logo:
A-a abertura do inquérito policial poderá ser determinada pela autoridade policial, diretamente, mas a ação
penal depende da iniciativa da vítima;
B-a abertura do inquérito policial não poderá ser determinada pela autoridade policial nem requerida por
Miriam, pois operou-se o prazo prescricional para representação;
C-a queixa-crime poderá ser oferecida por Miriam, mas, se através de procurador, exigem-se poderes
especiais;
D-a inicial acusatória não poderá ser oferecida por Miriam, pois operou-se o prazo decadencial;
E-a queixa-crime poderá ser oferecida por Miriam, pessoalmente ou por procurador sem poderes especiais.
7 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Delegado de Polícia
No que pertine à inépcia da denúncia ou da queixa, é correto afirmar que
a)a doutrina a entende como sinônimo de criptoimputacao.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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b)ocorre quando, na denúncia/queixa, não há a identificação do acusado com seu verdadeiro nome ou outros
qualificativos.
c)sucede quando faltar justa causa para o regular exercício da ação penal.
d)tem cabimento quando ausente uma ou algumas das condições da ação penal.
e)acontece quando a inicial acusatória não contém o rol de testemunhas.
8 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Delegado de Polícia
Marcio, por intermédio de um advogado, ingressou com uma queixa-crime em face de Arnaldo, uma vez que,
pelas redes sociais, Arnaldo imputou a ele, falsamente, um fato definido como crime. No curso do processo,
Marcio tomou conhecimento por meio de amigos em comum que Arnaldo teria perdido um filho assassinado
em um assalto, fato que o comoveu e em sede de alegações finais, Márcio, por seu advogado, postula a
absolvição do réu em relaçãoao crime contra a honra cometido.
Diante desta situação, é correto afirmar que o juiz
a)poderá, ainda assim, condenar o réu, uma vez que a ação penal, nesta hipótese, é privada, cabendo a ele
tal decisão.
b)deverá, nestas situações, chamar o autor e o réu a fim de que possa promover a reconciliação entre eles.
c)não terá outra alternativa que não seja reconhecer a extinção da punibilidade de Arnaldo.
d)poderá condenar ou absolver Arnaldo, independentemente do fato de Márcio ter, em sede de alegações
finais, postulado a absolvição do agente.
e)ficará obrigado a absolver Arnaldo, porquanto Márcio é o titular da ação penal privada, podendo assim
desistir dela a qualquer tempo.
9 - 2018 - UEG - PC-GO - Delegado de Polícia
A natureza da ação penal no crime de ameaça praticado em situação de violência doméstica e familiar contra
a mulher é
a)pública incondicionada.
b)de iniciativa privada exclusiva.
c)pública condicionada a requisição.
d)de iniciativa privada personalíssima.
e)pública condicionada à representação.
10 - 2018 - VUNESP - PC-BA - Delegado de Polícia
A retratação da representação, de acordo com o art. 25 do CPP e do art. 16 da Lei no 11.340/06 (Lei Maria
da Penha), respectivamente,
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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a)é admitida até o recebimento da denúncia; não é admitida.
b)é admitida até o recebimento da denúncia; só será admitida perante o juiz, antes do recebimento da
denúncia.
c)é inadmitida; só será admitida perante o juiz, antes do recebimento da denúncia.
d)é inadmitida depois de oferecida a denúncia; não é admitida.
e)é inadmitida depois de oferecida a denúncia; só será admitida perante o juiz, antes do recebimento da
denúncia.
11 - 2018 - CESPE - PC-MA - Delegado de Polícia
Um garoto de sete anos de idade foi atendido no pronto-socorro de um hospital com quadro de crise
asmática. Embora tenha sido regularmente medicado, ele faleceu trinta e seis horas depois devido a
insuficiência respiratória. A médica plantonista foi indiciada por homicídio culposo com imputação de
negligência no atendimento. O promotor de justiça, após exaustivas diligências, que incluíram o parecer de
renomado pneumologista e outras diligências realizadas pela própria assessoria médica do órgão acusador,
pediu o arquivamento da peça inquisitória um mês depois de encerrado o prazo previsto em lei para a
propositura da ação penal, a partir da apresentação do relatório final pelo delegado. Nesse ínterim, o pai da
criança, inconformado com a demora do MP em promover a denúncia no prazo da lei, ajuizou ação penal
privada subsidiária.
Acerca dessa situação hipotética e de aspectos a ela correlatos, assinale a opção correta à luz do
entendimento dos tribunais superiores.
a)O simples fato de os autos terem ficado sem movimentação externa ao MP por prazo superior a quinze
dias não autorizaria a propositura da ação penal privada.
b)Se os autos tiverem estado em diligência a cargo de órgão auxiliar técnico do MP para análise das questões
médicas envolvidas, então não houve omissão e, por isso, esteve suspenso o prazo para o exercício da ação
penal privada.
c)Caso a família da vítima tomasse ciência da realização de diligências no âmbito interno do MP para
esclarecimento dos fatos e se manifestasse nos autos dessas diligências sem questioná-las, isso implicaria
anuência, obstando o direito à ação penal privada.
d)O direito de propor ação penal privada subsidiária poderia ser exercido a qualquer tempo, desde que
decorrido o prazo legal conferido ao MP.
e)Tendo a CF erigido como fundamental o direito da vítima e de sua família à aplicação da lei penal, a vítima
e sua família podem tomar as rédeas da ação penal se o MP não o fizer no devido tempo.
12 - 2017 - CESPE - PJC-MT - Delegado de Polícia
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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Assinale a opção correta no que se refere à ação penal.
a)Aplica-se a perempção como forma extintiva da punibilidade às ações penais exclusivamente privadas e às
ações privadas subsidiárias das públicas.
b)O princípio da indivisibilidade, quando não observado, impõe ao juiz a rejeição da denúncia nas ações
penais públicas.
c)Há legitimidade concorrente do ofendido e do MP para a persecução de crimes contra a honra de
funcionário público em razão de suas funções.
d)Na ação penal privada, todas as manifestações de disponibilidade pelo ofendido serão extensivas a todos
os réus e(ou) responsáveis pelo fato delituoso, independentemente de qualquer reserva ou condição
apresentada por eles.
e)Diante de concurso formal entre um delito de ação penal pública e outro de ação penal privada, caberá ao
representante do MP oferecer denúncia em relação aos dois crimes.
13 - 2017 - FCC - PC-AP - Delegado de Polícia
No instituto da representação,
a)a renúncia à representação é vedada no âmbito no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher.
b)a autoridade policial tem autonomia para instaurar inquérito policial mesmo na ausência de representação
da vítima, nos crimes em que a ação pública dela depender.
c)a representação tem caráter personalíssimo, de modo que a morte do ofendido implica na imediata
extinção da punibilidade do autor do fato criminoso.
d)o direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais,
mediante declaração à autoridade policial.
e)a retratação da representação pode ser feita a qualquer tempo, dado o caráter disponível do direito
envolvido.
14 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia
Sobre ação penal é correto afirmar que:
a)a ação penal privada, em certos casos é personalíssima, só podendo o delegado de polícia instaurar
inquérito, exclusivamente, no caso de requerimento do próprio ofendido.
b)na ação penal subsidiária da pública, quando o querelado deixa de comparecer aos atos do processo,
ocorre a perempção.
c)quanto ao exercício, classifica-se em pública incondicionada, condicionada a representação do ofendido ou
a resolução do Ministério da Justiça.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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d)na ação penal privada o querelante tem legitimidade ordinária.
e)a ação penal pública rege-se pelos princípios da obrigatoriedade e disponibilidade, enquanto a privada
rege-se pela oportunidade e indivisibilidade.
15 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia
Sobre ação penal, assinale a correta.
a)No crime de lesão corporal culposa no trânsito, a representação é uma condição específica de
prosseguibilidade.
b)Para a doutrina tradicional são condições da ação penal a legitimidade, o interesse de agir e a causa de
pedir.
c)Na ação penal privada podemos observar a hipótese de legitimidade extraordinária que dá azo a ocorrência
da sucessão processual.
d)Parte da doutrina sustenta, quanto a ação penal condenatória, a existência de 05 (cinco) condições para o
regular exercício do direito de ação, a saber: legitimidade, interesse de agir, possibilidade jurídica da
demanda, justa causa e originalidade.
e)Não existe no processo penal a figura do assistente litisconsorcial.
16 - 2016 - CESPE - PC-PE - Delegado de Polícia
Em consonância com a doutrina majoritária e com o entendimento dos tribunais superiores, assinale a opção
correta acerca dos sistemas e princípios do processo penal.
a)O princípio da obrigatoriedade deverá ser observado tanto na ação penal pública quanto na ação penal
privada.
b)O princípio da verdade real vigora de forma absoluta no processo penal brasileiro.
c)Na ação penal pública, o princípio da igualdade das armas é mitigado pelo princípio da oficialidade.
d)O sistema processual acusatório não restringe a ingerência, de ofício, do magistrado antes da fase
processual da persecução penal.
e)No sistemaprocessual inquisitivo, o processo é público; a confissão é elemento suficiente para a
condenação; e as funções de acusação e julgamento são atribuídas a pessoas distintas.
17 - 2016 - CESPE - PC-PE - Delegado de Polícia
Acerca da ação penal, suas características, espécies e condições, assinale a opção correta.
a)A perempção incide tanto na ação penal privada exclusiva quanto na ação penal privada subsidiária da ação
penal pública.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
SEMANA 03/18
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b)Os prazos prescricionais e decadenciais incidem de igual forma tanto na ação penal pública condicionada
à representação do ofendido quanto na ação penal pública condicionada à representação do ministro da
Justiça.
c)De regra, não há necessidade de a queixa-crime ser proposta por advogado dotado de poderes específicos
para tal fim, em homenagem ao princípio do devido processo legal.
d)Tanto na ação pública condicionada à representação quanto na ação penal privada, se o ofendido tiver
menos de vinte e um anos de idade e mais de dezoito anos de idade, o direito de queixa ou de representação
poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal.
e)É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP, condicionada à representação do
ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas
funções.
18 - 2015 - FUNIVERSA - PC-DF - Delegado de Polícia
Assinale a alternativa correta em relação ao inquérito policial.
a)Há, no ordenamento jurídico brasileiro, expressa previsão do inquérito policial judicialiforme.
b)Nos crimes em que a ação pública depender de representação, o inquérito não poderá sem ela ser iniciado.
c)O inquérito policial, cuja natureza é cautelar, constitui uma das fases processuais.
d)O inquérito policial é dispensável à propositura da ação penal privada e da ação penal pública condicionada,
mas é indispensável à propositura da ação penal pública incondicionada.
e)Segundo jurisprudência pacificada no STF, o poder de investigação do Ministério Público é amplo e
irrestrito.
19 - 2015 - VUNESP - PC-CE - Delegado de Polícia
No caso de morte do ofendido
a)o direito de oferecer queixa passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão; nos crimes de ação
privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, instaurará de ofício a ação penal.
b)o direito de oferecer queixa se extinguirá; nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que
comprovar a sua pobreza, instaurará de ofício a ação penal.
c)o direito de oferecer queixa passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão; nos crimes de ação
privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para promover a
ação penal.
d)no curso da ação privada, declarar-se-á a extinção da punibilidade do ofensor; nos crimes de ação pública
condicionada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para
promover a ação penal.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
SEMANA 03/18
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e)no curso da ação pública condicionada, declarar-se-á a extinção da punibilidade do ofensor; nos crimes de
ação pública condicionada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado
para promover a ação penal.
20 - 2014 - ACAFE - PC-SC - Delegado de Polícia
De acordo com a Lei de Introdução ao Código de Processo Penal, assinale a alternativa correta.
a)O juiz da denúncia, ao classificar o crime, apenas quando consumado, não poderá reconhecer a existência
de causa especial de diminuição da pena.
b)O juiz da pronúncia, ao classificar o crime, consumado ou tentado, poderá reconhecer a existência de causa
especial de diminuição da pena.
c)O juiz da pronúncia, ao classificar o crime, apenas quando tentado, não poderá reconhecer a existência de
causa especial de diminuição da pena.
d)Se tiver sido intentada ação pública por crime que, segundo o Código Penal, só admite ação privada, esta,
salvo decadência intercorrente, poderá prosseguir nos autos daquela, desde que a parte legítima para
intentá-la ratifique os atos realizados e promova o andamento do processo.
e)Se tiver sido intentada ação pública por crime que, segundo o Código Penal, só admite ação privada, esta,
salvo prescrição intercorrente, não poderá prosseguir nos autos daquela, desde que a parte legítima para
intentá-la ratifique os atos realizados e promova o andamento do processo.
21 - 2014 - ACAFE - PC-SC - Delegado de Polícia
De acordo com o Código de Processo Penal, e considerando o inquérito policial nos crimes de ação pública,
analise as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta.
I Será iniciado de ofício.
II Será iniciado mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
III Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito não caberá recurso.
IV O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser
iniciado.
a)Todas as afirmações estão corretas.
b)Todas as afirmações estão incorretas.
c)Apenas I, II e III estão corretas.
d)Apenas II e IV estão corretas.
e)Apenas I, II e IV estão corretas.
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Respostas7
7 1: C 2: E 3: A 4: C 5: B 6: C 7: A 8: C 9: E 10: E 11: E 12: C 13: D 14: A 15: D 16: C 17: E 18: B 19: C 20: D 21: E
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META 3
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I)
TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII,
⦁ Art. 5, inc. LXXVII,
⦁ Art. 102, inc. I, “d”, “i” e “q”
⦁ Art. 102, inc. II, “a”
⦁ Art. 105, inc. I, “b”, “c” e “h”
⦁ Art. 105, inc. II, “a”
⦁ Art. 108, inc. I, “c” e “d”
⦁ Art. 108, inc. VII e VIII
⦁ Art. 121, §3º e §4º, inc. V
⦁ Art. 142, §2º
CPP
⦁ Art. 3-B, inc. XII
⦁ Art. 574, I
⦁ Art. 581, X
⦁ Art. 612
⦁ Arts. 647 a 667
OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:
⦁ Lei 9507/97 (habeas data)
⦁ Lei 12.016/2009 (mandado de segurança)
⦁ Lei 13.300/2016 (mandado de injunção)
⦁ Lei 4717/65 (ação popular)
⦁ Art. 23, 24, 30, 32 e 41-A, Lei 8038/90
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER!
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII
⦁ Art. 5, inc. LXXVII
CPP
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⦁ Art. 3º-B, inc. XXII
⦁ Arts. 647, 648, 651
⦁ Art. 654, caput.
⦁ Art. 655 e 656
⦁ Art. 660, §§ 1º e 4º
LEI 9507/97 (HABEAS DATA)
⦁ Art. 4º
⦁ Art. 7º
⦁ Art. 8º, §único
⦁ Art. 19
LEI 12.016/2009 (MANDADO DE SEGURANÇA)
⦁ Art. 1º e 3º
⦁ Art. 6º, caput
⦁ Art. 7º, inc. I e §4º
⦁ Art. 8º a 10º
⦁ Arts. 14 e 20
⦁ Arts. 21 a 23
⦁ Art. 26
LEI 13.300/2016 (MANDADO DE INJUNÇÃO)
⦁ Arts. 2º e 3º
⦁ Art. 8º e 9º
⦁ Arts. 11 a 13
Remédios Constitucionais: são garantias que consubstanciam meios colocados à disposição do
indivíduo para salvaguardar os seus direitos diante de ilegalidade ou abuso de poder cometido pelo Poder
Público.
1. HABEAS CORPUS
a) Previsão normativa: art. 5º, LXVIII, CF/88 e arts. 647 e ss do CPP.
Art. 5º LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
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b) Introdução
Típico de direito de primeira geração, o HC visa a garantir o direito individual de locomoção, por meio
de ordem exarada por órgão do Poder Judiciário, para que seja cessada a ameaça ou coação à liberdade de
locomoção do indivíduo.No direito inglês, surgiu primeiramente na Magna Charta Libertatum, de 1215 e, no direito brasileiro,
surgiu pela 1ª vez na Constituição Federal de 1891, permanecendo nas demais constituições subsequentes.
Ressalta-se, contudo, que, inicialmente, e o HC visava proteger outros direitos distintos - e não
apenas a locomoção, por meio da chamada Teoria Brasileira do habeas corpus*. Porém, com a EC n° 1 de
1926, restringiu-se o HC apenas à liberdade de locomoção. Ensina o professor Marcelo Novelino:
Durante a Primeira República, com a introdução desse instituto no sistema
constitucional pátrio, surgiu a denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”,
que tinha Rui Barbosa como seu principal expoente. Em face da ausência de outras
garantias constitucionais na Carta de 1891, foi adotada uma interpretação ampla
acerca do cabimento desse mandamus, utilizado em diversas situações de ameaça
a direitos constitucionalmente assegurados – e não apenas à liberdade de
locomoção – decorrentes de ilegalidades ou abusos de poder. À época, o Supremo
Tribunal Federal adotou o entendimento de que a ação contemplava as situações
em que a liberdade de ir e vir era meio para atingir outro direito. A partir da reforma
constitucional de 1926, essa concepção foi superada e o habeas corpus passou a
ser utilizado apenas em seu sentido clássico (NOVELINO, 2017, p. 438).
Sobre o tema, confira a dica da Professora Thaianne:
https://youtu.be/dggvsbK8Ktc
c) Características do HC:
∘ O HC possui natureza dúplice: Ação de natureza penal não condenatória e remédio
constitucional.
https://youtu.be/dggvsbK8Ktc
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∘ Possui autonomia própria
∘ Pode ser impetrado sem que exista processo
∘ Isento de custas
∘ Não exige capacidade postulatória
∘ Admite concessão de pedido liminar
∘ Exige violência ou coação + ilegalidade ou abuso de poder
d) Modalidades - O HC pode ser:
● Repressivo (liberatório): Quando o indivíduo já tiver desrespeitado o seu direito de locomoção;
● Preventivo (salvo-conduto): Quando há apenas ameaça ao seu direito de locomoção.
CAIU EM PROVA – DELTA/PA 2016
Maria, gestante de feto anencéfalo, pretende a obtenção de autorização judicial para realização de aborto.
O Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido. Pretende, agora, manejar um remédio constitucional
para evitar o cometimento de crime. Para tanto, deverá demandar por meio do seguinte instrumento:
a) ação popular.
b) habeas corpus
c) habeas data
d) mandado de segurança
e) mandado de injunção
Resposta: Letra B
Conforme já definido pelo STJ (HC 56572), a via do habeas corpus é adequada para pleitear a interrupção de
gravidez fora das hipóteses previstas no Código Penal (art. 128, incs. I e II), tendo em vista a real ameaça de
constrição à liberdade ambulatorial, caso a gestante venha a interromper a gravidez sem autorização judicial.
Observação: a questão foi utilizada como um exemplo para o estudo do cabimento do HC preventivo. É
necessário ressaltar que, no julgamento da ADPF nº 54, por 8 votos a 2, os Ministros do STF entenderam que
não é crime interromper a gravidez de fetos anencéfalos.
e) Legitimidade ativa: Universal. Qualquer pessoa pode impetrar HC:
∘ Pessoa física ou jurídica
∘ Nacional ou estrangeira
∘ Independentemente de capacidade civil.
∘ MP e juiz de ofício podem impetrar HC
Obs.1: Exceção ao princípio da inércia jurisdicional: O Juiz de direito, o Desembargador, Ministros,
Turma Recursal e o Tribunal poderão conceder habeas corpus de ofício, no exercício da função jurisdicional.
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Obs.2: Não exige capacidade postulatória do impetrante, de modo que a ação pode ser formulada
sem advogado.
f) Legitimidade passiva: somente pessoa física!
STF: A pessoa jurídica NÃO pode figurar como paciente de HC, pois jamais estará
em jogo a liberdade de locomoção, ainda que se trate da possibilidade de apenação
da pessoa jurídica por crimes ambientais.
Obs.:É possível impetrar HC contra ato do sujeito coator, que tanto poderá ser autoridade pública
quanto agente privado (ex: agente de hospital que ilegalmente impede a saída do paciente).
g) HC e ofensa indireta
STF: Será cabível o HC não só contra ofensa direta, mas também contra ofensa indireta, reflexa ou
potencial ou direito de locomoção, a exemplo do uso do HC para atacar a quebra de sigilo bancário em
procedimento que possa resultar prisão => Se a quebra de sigilo for determinada por autoridade fiscal, no
curso de procedimento administrativo tributário, é incabível HC, pois em processo administrativo NÃO
implica ofensa ao direito de locomoção.
h) Pressupostos ou condições para a concessão de HC
Uma vez conhecido o habeas corpus somente deverá ser concedido em caso de réu preso ou na
iminência de sê-lo, presentes as seguintes condições:
(1) Violação à jurisprudência consolidada do STF;
(2) Violação clara à Constituição; ou
(3) Teratologia na decisão impugnada, caracterizadora de absurdo jurídico.
STF. 1ª Turma. AgRg no HC 200.055, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 14/06/2021.
Veja algumas jurisprudências pertinentes!
É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus
É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus.
Isto porque, inexiste imposição legal de intimação do assistente do Ministério
Público no habeas corpus impetrado em favor do acusado. Ademais, como ele não
integra a relação processual instaurada nessa ação autônoma de natureza
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constitucional, também não possui legitimidade para recorrer de decisões
proferidas em habeas corpus, por não constar essa atividade processual no rol
exaustivo do art. 271 do Código de Processo Penal. STF. 1ª Turma. AgRg no HC
203.737, Rel. Min. Carmem Lúcia, decisão monocrática em 31/08/2021.
Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa apenas
parcialmente o acordo de colaboração premiada. Atualmente, não existe previsão
legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação parcial
de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus. A homologação
do acordo de colaboração premiada é etapa fundamental da sistemática negocial
regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando diretamente relacionada com o
exercício do poder punitivo estatal, considerando que nesse acordo estão
regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à persecução penal.
STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info
1004).
CUIDADO! Para o STJ, a decisão que recusa homologação do acordo de colaboração
premiada deve ser atacada por apelação! (Inf. 683)
Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe
habeas corpus ainda que para solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª
Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de
natureza criminal diversas da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida
alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia, alcançando-se o direito de
ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
Cabe habeas corpus para questionar a decisão do magistrado que não permite que
os réus delatados apresentem alegações finais somente após os réus colaboradores
(Info 949)
i) Hipóteses em que NÃO é possível o cabimento de HC:
● Impugnar decisões de plenário de qualquer das turmas do STF;
● Impugnardeterminação e suspensão dos direitos políticos;
● Impugnar penalidade administrativa de caráter disciplinar;
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b9b852ac7bd1776bc5ac5ce3b41d8af7?categoria=12&subcategoria=137
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b9b852ac7bd1776bc5ac5ce3b41d8af7?categoria=12&subcategoria=137
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● Impugnar decisão condenatória à pena de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal
a que a pena pecuniária seja a única cominada (SÚMULA 693 STF);
● Impugnar a determinação de quebra de sigilo telefônico, bancário ou fiscal, se desta medida não
puder resultar condenação à pena privativa de liberdade;
● Discutir o mérito das punições disciplinares militares => STF: NÃO cabe a discussão do mérito, mas
cabe HC para se analisar os pressupostos de legalidade da medida.
● Para discutir processo criminal envolvendo o art. 28 da Lei de Drogas
● Questionar afastamento ou perda de cargos públicos;
● Dirimir controvérsia sobre a guarda de filhos menores;
● Discutir matéria objeto de processo de extradição;
● Questionamento de condenação criminal quando já extinta a pena privativa de liberdade (SÚMULA
692 STF);
● Impedir o cumprimento de decisão que determina o sequestro de bens imóveis;
● Discutir condenação imposta em processo de impeachment;
● Impugnar o mero indiciamento em inquérito policial, desde que presentes indícios de autoria de fato
que configure crime em tese;
● Impugnar omissão de relator na extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito (SÚMULA 692 STF);
● Tutelar o direito à visita em presídio;
● Impugnar decisões monocráticas proferidas por Ministro do Supremo Tribunal Federal. (Info 985 –
clipping)
● Contra ato de Ministro ou outro órgão fracionário fracionário da Corte. STF. Plenário. (HC 170263/DF,
22/06/2020)
● Reexame dos pressupostos de admissibilidade de recurso interposto no STJ.
● Não cabe HC de ofício no bojo de embargos de divergência
● Não cabe HC em ação que apura improbidade administrativa
● Em regra, não cabe habeas corpus contra decisão transitada em julgado (posição majoritária na
jurisprudência – Inf. 892)
● Não cabe HC para impugnar ato normativo que fixa medidas restritivas para prevenir a disseminação
da covid-19
Questões importantes:
É possível a impetração de habeas corpus e a interposição de recurso de forma concomitante?
O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato
impugnado, será admissível apenas se:
a) For destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a9fb9e6ef40426e9add520623d521ab8?categoria=12&subcategoria=137
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b) Se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do
paciente.
Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve
ser reservado ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa,
na liberdade individual.
STJ. 3ª Seção. HC 482549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
11/03/2020 (Info 669).
A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca
o trancamento da ação penal? Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava
pendente fica prejudicado ou o TJ deverá julgá-lo mesmo assim?
● STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de
habeas corpus em que se busca o trancamento da ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 495148-DF, Rel.
Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 657).
● STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas corpus. A realização de acordo de
transação penal não enseja a perda de objeto de habeas corpus anteriormente impetrado. A
aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de habeas corpus para questionar a
legitimidade da persecução penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos
em casos de delitos de menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos
consideráveis aos direitos fundamentais do acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a
proteção efetiva dos direitos fundamentais do imputado e para evitar possíveis abusos que
comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação. Não há qualquer disposição em lei que
imponha a desistência de recursos ou ações em andamento ou determine a renúncia ao direito de
acesso à Justiça. STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/12/2019
(Info 964).
Com a concessão da suspensão condicional do processo, o habeas corpus que estava pendente fica
prejudicado ou o TRF deverá julgá-lo mesmo assim?
O Tribunal deverá julgar o habeas corpus. É a posição tranquila da jurisprudência:
O fato de o denunciado ter aceitado a proposta de suspensão condicional do
processo formulada pelo Ministério Público (art. 89 da Lei nº 9.099/95) não
constitui empecilho para que seja proposto e julgado habeas corpus em seu favor,
no qual se pede o trancamento da ação penal. Isso porque o réu que está
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cumprindo suspensão condicional do processo fica em liberdade, mas ao mesmo
tempo terá que cumprir determinadas condições impostas pela lei e pelo juiz e, se
desrespeitá-las, o curso do processo penal retomará. Logo, ele tem legitimidade e
interesse de ver o HC ser julgado para extinguir de vez o processo. STJ. 5ª Turma.
RHC 41527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
💣 ATENÇÃO PARA A SÚMULA 648 DO STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido
de trancamento da ação penal por falta de justa causa feito em habeas corpus.
Vamos entendê-la?
Imagine a seguinte situação hipotética:
O Ministério Público ajuizou ação penal contra João acusando-o da prática de determinado crime. O
juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para responder a acusação.
João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto, ele deveria ser
absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e determinou o
início da instrução penal.
João ainda continuava inconformado. Existe algum recurso que ele possa interpor? Cabe algum
recurso contra a decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
R: NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Diante disso, a jurisprudência admite
a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de locomoção.
Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal de Justiça
irá apreciar o mérito do habeas corpus?
R.: NÃO. A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas
corpus se buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. A sentença
condenatória analisa a existência de justa causa de forma mais aprofundada, após a instrução penal com
contraditório e ampla defesa. Logo, não faz mais sentido o Tribunal examinar a decisão de rejeição da
absolvição sumária se já há uma nova decisão mais aprofundada. Será essanova manifestação (sentença)
que precisará ser analisada. Logo, o réu terá que interpor apelação contra a sentença condenatória, recurso
de cognição ampla por meio do qual toda a matéria será devolvida ao Tribunal, que terá a possibilidade de
examinar se a condenação foi acertada, ou não.
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a2232b5b6b17429cdff8ddc2f14ea8c9?categoria=12&subcategoria=137
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
DELEGADO CEARÁ
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Não é cabível examinar a inépcia da inicial acusatória, bem como a justa causa para
ação penal, após a prolação de sentença condenatória, porquanto todos os
elementos da exordial acusatória, bem como da conduta criminosa, foram
amplamente debatidos pelas instâncias ordinárias, em cognição vertical e
exauriente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 463.788/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
13/11/2018.
O pedido de trancamento do processo por inépcia da denúncia ou por ausência de
justa causa para a persecução penal não é cabível quando já há sentença, pois seria
incoerente analisar a mera higidez formal da acusação ou os indícios da
materialidade delitiva se a própria pretensão condenatória já houver sido acolhida,
depois de uma análise vertical do acervo fático e probatório dos autos.
STJ. 6ª Turma. RHC 32.524/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
4/10/2016.
E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também ficaria
prejudicado?
R.: SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: falta de
interesse processual já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância. Nesse sentido:
A superveniência de sentença absolutória, na linha da orientação firmada nesta Corte, torna prejudicado o
pedido que buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. STJ. 6ª Turma. AgInt
no RHC 31.478/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 26/03/2019.
Atenção: Ainda em 2021, poucos meses depois do enunciado ser aprovado, o STJ proferiu a seguinte
decisão que pode ser encarada como se fosse uma exceção à Súmula 648:
Se o habeas corpus discutia a quebra na cadeia de custódia da prova da
materialidade, o que teria ocorrido no momento do flagrante, a superveniência da
sentença condenatória não faz com que esse habeas corpus perca o objeto
A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar habeas
corpus que analisa tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia
da prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como justa causa para a
própria ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720).
Veja a explicação:
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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A superveniência de sentença condenatória nem sempre torna prejudicado o
habeas corpus, em razão da perda do seu objeto.
No caso concreto, por exemplo, os fatos que subjazem à discussão trazida pela
defesa acabaram por lastrear a denúncia e toda a persecução penal, além de haver
sido ventilados ainda no limiar do processo e de dizerem respeito à própria justa
causa para a ação penal.
Ao contrário do que ocorre com a prisão preventiva, por exemplo - que tem
natureza rebus sic standibus, isto é, que se caracteriza pelo dinamismo existente
na situação de fato que justifica a medida constritiva, a qual deve submeter-se
sempre a constante avaliação do magistrado -, o caso dos autos traz hipótese em
que houve uma desconformidade entre o procedimento usado na coleta e no
acondicionamento de determinadas substâncias supostamente apreendidas com o
paciente e o modelo previsto no Código de Processo Penal, fenômeno processual,
esse, produzido ainda na fase inquisitorial, que se tornou estático e não modificável
e, mais do que isso, que subsidiou a própria comprovação da materialidade e da
autoria delitivas.
Assim, a superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar
a análise da tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da
prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como anteparo ao
oferecimento da denúncia - ou, de forma mais ampla, como justa causa para a
própria ação penal -, máxime quando verificado que a parte alegou a matéria
oportuno tempore, isto é, logo após a sua produção e que essa tese já foi
devidamente examinada e debatida pela instância de origem.
j) Competência
Competência do STF, quando: art. 102, CF/88.
a. O paciente for: Presidente da República, Vice-Presidente da República, membros do Congresso
Nacional, Ministros do STF e Procurador Geral da República (art. 102, I, “b”);
b. O paciente for: Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, membros dos
Tribunais Superiores, do TCU e chefes de missão diplomática de caráter permanente (art. 102, I, “c”);
c. O coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam diretamente sujeitos à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à única instância
(STF) – art. 102, I, “i”;
d. O HC for decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (Nesse
caso o STF julga em recurso ordinário) – art. 102, II, “a”.
Competência do STJ, quando: art. 105, CF/88.
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL
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a. O coator ou paciente forem os mencionados na alínea “a”: Governador dos Estados e DF/
Desembargadores dos TJ dos Estados e DF/ Membros do Tribunal de Contas dos Estados e DF/
membros do TRF/ membros do TRE/ membros do TRT/ membros dos Conselhos ou Tribunal de
Contas do Município/ membros do MPU que oficiem perante tribunais (art. 105, I, “c”);
b. O coator for tribunal sujeito à jurisdição do STJ ou for Ministro de Estado, Comandante da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 105, I, “c”);
c. O HC for decidido em única ou última instância pelos TRF’s ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados,
DF ou Territórios, quando a decisão for denegatória. (Nesse caso o STJ julga em recurso ordinário) –
art. 105, II, “a”.
CUIDADO! Ministros de Estado e comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica:
- Quando forem pacientes – competência do STF
- Quando forem autoridades coatoras – competência do STJ
Competência dos TRFs, quando: art. 108, CF/88.
a. A autoridade coatora for juiz federal(art. 108, I, “d”);
b. Julgam, em grau de recurso, causas decididas pelos juízes federais ou estaduais no exercício da
competência federal da área de jurisdição (art. 108, II).
Competência dos juízes federais, quando:
a. O HC for de matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VII).
Obs.1: O HC impetrado contra decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais será julgado pelo Tribunal
de Justiça Estadual. O STF superou a Sumula 690!
Sumula 690, STF – superada
Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de "habeas
corpus" contra decisão de Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais.
Obs.2:Relator pode determinar, de forma discricionária, que HC seja julgado pelo Plenário do STF (e não pela
Turma)
A competência para julgar determinados habeas corpus é de uma das duas Turmas
do STF (e não do Plenário). Ex: HC contra decisão do STJ, em regra, é de
competência de uma das Turmas do STF. O Ministro Relator do HC no STF, em vez
de submetê-lo à Turma, pode levá-lo para ser julgado pelo Plenário? SIM. Essa
possibilidade encontra-se prevista no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. Para
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