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Código Logístico
59831
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-4650-8
9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 0 5 4
Fundamentos de 
Geografia Física 
Lindberg Nascimento Júnior
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: Alexander Herasymchuk/Phatphum Phetchakan/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
N195f
Nascimento Júnior, Lindberg
Fundamentos de geografia física / Lindberg Nascimento Júnior. - 1. 
ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 
164 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-005-4
1. Geografia física I. Título.
21-69246 CDD: 910.02
CDU: 911.2
Lindberg Nascimento 
Júnior
Doutor e mestre em Geografia pela Universidade 
Estadual Paulista (Unesp). Licenciado e bacharel em 
Geografia pela Universidade Estadual de Londrina 
(UEL). Professor Adjunto do Departamento de 
Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC), onde atua nos cursos de Geografia nos 
Programas de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) 
e em Desastres Naturais (PPGDN). Pesquisa temas 
voltados para a climatologia geográfica, geografia 
do clima e educação geográfica das relações étnico-
-raciais, com foco nos impactos da variabilidade, 
teleconexões climáticas, clima urbano, riscos climáticos, 
vulnerabilidade e cartografia histórica da África.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
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SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
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1 Introdução à Geografia Física 9
1.1 Teoria e método em Geografia Física 10
1.2 A natureza na Geografia Física 15
1.3 Paisagem e ambiente na análise geográfica da natureza 21
1.4 A abordagem de geossistemas 23
2 O planeta Terra 31
2.1 A Terra no espaço 31
2.2 História ecológica da Terra 36
2.3 O sistema terrestre 42
2.4 Dinâmicas da natureza 45
3 A superfície terrestre 53
3.1 Fundamentos de geologia 54
3.2 Introdução à geomorfologia 65
3.3 Introdução à pedologia 71
3.4 O Antropoceno 77
4 A atmosfera e a hidrosfera da Terra 83
4.1 Introdução à climatologia 84
4.2 Fundamentos de oceanografia 91
4.3 Elementos da criosfera 95
4.4 Fundamentos de hidrografia 100
5 A biosfera terrestre 110
5.1 Fundamentos de biogeografia 111
5.2 Biomas terrestres 118
5.3 As paisagens brasileiras 124
5.4 Conservação e serviços ecossistêmicos 128
6 Mudanças globais 136
6.1 Crise ambiental 136
6.2 O futuro da humanidade e do planeta 144
6.3 Planejamento e gestão ambiental 148
6.4 Educação e consciência ambiental crítica 153
 Gabarito 161
O que define os fundamentos da Geografia Física? Quais 
são os saberes e conhecimentos que compõem esse campo da 
ciência geográfica e o tornam importante para a humanidade? 
Quais são os princípios para um trabalho teórico e prático em 
Geografia Física que pode contribuir para a sociedade? 
Fique tranquilo! Essas questões nos ajudarão a refletir sobre 
os temas, problemas e conceitos abordados nesta obra. Por meio 
delas você terá acesso a um conjunto de saberes que o auxiliarão 
nas suas escolhas futuras como geógrafo.
Tentamos responder a essas questões partindo sempre das 
relações existentes entre natureza e sociedade, admitindo-as 
tanto na condição de eixo epistemológico da geografia quanto 
como um processo histórico, gradual e inacabado. Nesse sentido, 
vamos mostrar que a Geografia Física apresenta teorias, conceitos 
e técnicas próprias para compreender essas relações; assim, não 
perdemos a noção de onde estamos.
Associações e articulações entre a Geografia Física e a 
Geografia como um todo serão também bastante valorizadas. A 
intenção é evidenciar a particularidade da ciência geográfica e da 
Geografia Física no escopo e na relação com outras ciências e, 
ao mesmo tempo, não perder de vista a indissociabilidade entre 
esses campos. Assim, não perdemos a noção de onde saímos.
Elaboramos esta obra partindo de uma proposta que é crítica, 
histórica e construtivista, na qual abordamos temas, conteúdos e 
problemas geográficos da atualidade por meio de uma concepção 
avaliativa, indicando limites de usos e propósitos. Assim, não 
perdemos a perspectiva de aonde queremos chegar.
Para tanto, no Capítulo 1 abordamos a história e o 
desenvolvimento da Geografia Física. Entendemos que as relações 
entre natureza e sociedade são resultado de nossas visões de 
mundo e projetos de sociedades. Nesse contexto, a Geografia 
Física é um ramo do saber orientado para desvendar como são 
as ordens espaciais das relações entre nós, seres humanos, 
junto ao entorno imediato, próximo e distante. Essa estratégia 
APRESENTAÇÃO
Vídeo
serve para entender a organização das paisagens naturais, a constituição dos 
territórios e a produção do espaço.
No Capítulo 2, apresentamos a Geografia Física no contexto do Sistema 
Terrestre. Nosso objetivo é discutir como as leis físicas do movimento e as 
forças terrestres são responsáveis em promover o equilíbrio dinâmico do 
planeta.
No Capítulo 3, versamos sobre os processos que auxiliaram na construção 
da estrutura geológica, do relevo e dos solos, isto é, da superfície terrestre. 
Destacamos a importância das alterações antrópicas – aquelas associadas às 
atividades humanas que redefinem a dinâmica natural.
No Capítulo 4, estudamos a dinâmica do ar e da água na distribuição do 
calor no planeta. Adotamos uma perspectiva voltada a explicar a integração 
sistêmica do mundo em sua complexidade física e em sua dimensão cotidiana, 
sobretudo em relação a problemas como degradação ambiental, poluição do 
ar, da água e gestão de recursos hídricos.
No Capítulo 5, vamos conhecer os princípios biodinâmicos que regem os 
fluxos da vida e explicam a diversidade de paisagens em termos de fauna e 
flora. Abordamos os processos de adaptação biológica e seleção natural como 
princípios da síntese combinada dentro do Sistema Terrestre, seus padrões 
de distribuição e a importância de sua conservação.
Por fim, no Capítulo 6, destacamos possibilidades de trabalho com 
problemas reais e concretos no contexto das mudanças globais. Damos 
ênfase ao estudo das alterações ambientais e de seus impactos, com indicação 
prática para a atuação profissional baseada na gestão, no planejamento e na 
educação ambiental.
Todos os capítulos contemplam uma breve revisão histórica dos conceitos 
e temas abordados em articulação com a Lei n. 6.664, que rege a profissão 
de geógrafo, e outros aparatos legais como o Estatuto da Terra, a Política 
Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
– LDB e o Estatuto da Cidade. 
Em síntese, nossa intenção é mostrar de onde saímos, onde estamos, 
para onde vamos, e, sobretudo, aonde chegar, na condição de 
profissionais e estudiosos de Geografia. Tudo isso pode auxiliar você a 
construir sua autonomia e liberdade de pensamento. 
Boa leitura!
Introdução à Geografia Física 9
1
Introdução à Geografia Física
Antes de iniciarmosnossos estudos, é importante distinguir-
mos Geografia Física no escopo da ciência geográfica, e com base 
nesse elemento particularizar seus fundamentos dentro do saber 
humano historicamente construído.
Partirmos do princípio de que o saber humano é mais amplo 
que o conhecimento científico, e por esse caráter ele abrange não 
somente as formas tradicionais de organizar o conhecimento, mas 
também de compreender como elas se combinam com os saberes 
mais recentes e contemporâneos, oferecendo uma maneira mais 
complexa de entender o desenvolvimento do processo civilizatório 
da humanidade.
Neste capítulo, vamos conhecer uma parte dessas discussões, 
iniciando pela história do pensamento geográfico e destacando 
as teorias e os conceitos que mais ajudam na sistematização de 
uma Geografia Física, que deve ocorrer de modo paralelo à sua 
formação.
O objetivo é que até o fim deste capítulo você tenha uma di-
mensão abrangente da história, dos objetos e dos métodos de 
Geografia Física, além de apreender os conceitos de natureza, 
espaço, tempo, paisagem e ambiente, pois são elementares para 
realizar uma análise geográfica.
Também vamos discutir as abordagens mais bem aceitas pela 
comunidade acadêmica, seja no que tange à explicação dos te-
mas e questões essenciais à Geografia Física contemporânea, seja 
às formas de construção desse conhecimento com base no seu 
cotidiano.
Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de estu-
do. Não se esqueça do seu bloco de anotações, da sua caneta, 
ou lápis.
10 Fundamentos de Geografia Física
1.1 Teoria e método em Geografia Física
Vídeo Procure imaginar quando a geografia, e especialmente a Geografia 
Física, foi pensada pela primeira vez. Se você pensou: “desde a origem 
do ser humano! Quando nós atingimos o patamar de termos consciên-
cia de nós mesmos!” A resposta está correta! Pois, mesmo que seja difí-
cil marcar a data específica para a origem de um conhecimento, é mais 
adequado admitir que ele sempre inicia quando nós, seres humanos, 
percebemos a nossa habilidade de imaginar o futuro e de elaborar pro-
jetos e planos. Essa qualidade é também relativa quando, pela primeira 
vez em nossa história, tentamos encontrar respostas para questões e 
dúvidas sobre nós e sobre nosso mundo.
Por isso, já devemos considerar que Geografia Física é um saber 
com a característica de problematizar a relação da sociedade com a na-
tureza pelo viés da ciência geográfica. Entretanto, o que isso significa? 
Quer dizer que aspectos históricos da geografia têm colocado uma di-
versidade de questões, que debatem a origem, os propósitos e os mé-
todos da ciência, e a Geografia Física não ficou de fora.
Então, vamos começar por partes, assumindo que a Geografia Físi-
ca foi inicialmente pensada considerando a sistematização elaborada 
pelo viajante naturalista Alexander von Humboldt (1769–1859).
Imerso no contexto do romantismo alemão, Humboldt (2008) admi-
tia o estudo da natureza guiado pela experiência estética, valorizando 
a intuição, a apreciação, a contemplação e a experimentação. Basi-
camente, ele entendia a natureza como uma totalidade holística e 
indissociável. Adepto do empirismo e propenso a elaborar teorias uni-
versais e leis gerais, Humboldt ofereceu à geografia um dos primeiros 
postulados para formulação dos princípios gerais de análise para toda 
e qualquer realidade: a Teoria Geral da Terra.
Sobre esses aspectos, o pesquisador sempre partia do princípio de 
que o ser humano e a natureza são uma unidade. Suas análises asso-
ciavam combinações das características físicas, biológicas e naturais 
para explicar as transformações espaçotemporais e a dinâmica das 
paisagens. Grande parte de suas ideias foi incorporada por Friedrich 
Ratzel (1844–1904), também um dos primeiros teóricos da geografia, 
formulador do conceito de espaço vital.
Totalidade holística refere-se 
à noção de que o todo é maior 
do que a soma das partes. Tra-
ta-se da perspectiva de que os 
sistemas naturais estão abertos 
à evolução e recriação sempre 
crescentes. Já o empirismo 
é uma forma de apreensão 
da realidade pelos sentidos, 
seja com base na experiência 
prática (valorização do que é 
objetivo), ou seja com base na 
introspecção (valorização das 
subjetividades).
Saiba mais
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Introdução à Geografia Física 11
Além de Humboldt, Karl Ritter também construiu uma ideia de natu-
reza para a geografia com esses elementos, procurando oferecer uma 
perspectiva de integração entre meio social e natural. Sua estratégia 
era voltada a alcançar a totalidade da natureza como soma das partes. 
Não por acaso, Ritter (1865) também observou que as manifestações 
humanas e os comportamentos sociais não obedecem aos padrões do 
meio natural.
Ritter (1865) concluiu que a humanidade exerce sua influência so-
bre a natureza, especialmente com o uso da técnica e das tecnologias, 
e que a geografia poderia desenvolver leis gerais com base na indu-
ção, sobretudo, utilizando o estudo comparado das áreas e da história 
dos lugares. Essa perspectiva marcou significativamente a geografia 
francesa, em particular a desenvolvida por Paul Vidal de La Blache 
(1845–1918), formulador dos conceitos de região geográfica e gênero 
de vida.
Você já deve ter percebido que a Geografia Física parece acompanhar 
o desenvolvimento da própria geografia, não é mesmo? E é justamente 
por isso que sua sistematização ainda está aberta ao debate e a diversas 
contribuições. Gregory (1992) explica esse processo mostrando que mu-
danças nos eixos temáticos e metodológicos na Geografia Física têm sido 
provocadas tanto por transformações internas (no sentido das influên-
cias teóricas na geografia) quanto pela inclusão de técnicas de estudo 
que mudaram as formas de análise e, consequentemente, as maneiras 
de observar, medir, representar e conhecer a realidade do mundo.
Dessa perspectiva, é preciso pontuar pelo menos cinco grandes 
contribuições importantes que remetem ao desenvolvimento científico 
entre os séculos XVIII e XXI e que ofereceram implicações diretas à sis-
tematização da Geografia Física.
A primeira contribuição foi o Princípio do Uniformitarismo, for-
mulado por James Hutton (1740–1797), que propôs críticas ao catas-
trofismo como teoria explicativa do meio natural, marcando a máxima 
da modernidade ao afirmar que o presente é a chave para o passado.
A perspectiva uniformitarista se apoia na interpretação de que a di-
nâmica dos processos naturais atua de modo semelhante, ainda que 
com intensidades diferenciadas, ao longo da história natural da Terra 
(SALES, 2004). Ou seja, processos naturais são uniformes e apresen-
tam padrões cíclicos e periódicos que auxiliam a descrever como eles 
Em seus estudos, 
Humboldt relacionava di-
retamente as característi-
cas biológicas das plantas 
aos fatores naturais, 
como topografia, clima, 
estrutura geológica, solos 
e localização.
Assista ao documentário 
Especial Alexander von 
Humboldt: o alemão que 
mudou a imagem da 
América do Sul, publicado 
pelo canal Camarote.21, 
para se aprofundar sobre 
as contribuições do 
pensador.
Disponível em: https://youtu.be/
aVa-8nupDgw. Acesso em: 4 fev. 
2021.
Vídeo
Recomendamos a leitura 
do capítulo “Um século 
para uma implemen-
tação 1851–1950”, da 
clássica obra A natureza 
da Geografia Física, para 
que você tenha um 
dimensionamento con-
sistente da história dessa 
ciência e desenvolva sua 
autonomia e seu conhe-
cimento sobre a relação 
entre teoria, conceitos e 
autores.
GREGORY, K. J. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1992.
Leitura
https://youtu.be/aVa-8nupDgw
https://youtu.be/aVa-8nupDgw
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12 Fundamentos de Geografia Física
ocorrem de modo mais ou menos similar ao longo do tempo passado 
(por meio da observação), dopresente (por processos de monitora-
mento) e do futuro (com construção de cenários e de previsão).
A segunda grande descoberta foi a da Teoria da Evolução, no 
contexto da obra A Origem das Espécies, de Charles Robert Darwin 
(1809–1882). A perspectiva evolutiva inseriu na análise geográfica das 
relações sociedade-natureza a noção de origem, mudança e transfor-
mação, somando também a ideia das inter-relações e conexões entre 
os seres vivos e seu entorno, além dos processos de organização e 
adaptação.
Com a teoria da evolução, o estudo geográfico saiu de uma concep-
ção fixista e estática para outra mais dinâmica, mutável e integrada, 
inclusive com inovações conceituais, como o meio geográfico (derivado 
do reconhecimento do princípio de seleção natural) e fatores regulado-
res, que atuavam como forças condicionantes da formação das paisa-
gens e suas variações no planeta.
Diante disso, os princípios uniformitaristas e evolutivos possibilita-
ram que a Geografia Física explicasse tanto a origem e a formação das 
paisagens no tempo quanto sua dispersão espacial em termos de está-
gios evolutivos, diversidade e distribuição no planeta.
A título de exemplificação, podemos citar os estudos de reconstru-
ção histórica (muito articulada com a paleontologia e a arqueologia) e, 
com eles, a decodificação da história natural dos continentes, com base 
no desvendamento dos processos de nascimento e extinção de ocea-
nos e mares (Teoria da Deriva Continental), a identificação da origem e 
a evolução dos relevos (principalmente cadeias montanhosas – orogê-
nese), a compreensão da estruturação espacial de bacias hidrográficas 
(morfogênese), a reconstituição dos climas do passado (paleoclimato-
logia), associações com grandes domínios biogeográficos (biomas e 
regiões biogeográficas) e processos de ocupação humana nos lugares 
(arqueologia, história e sociologia).
Uma terceira influência para a constituição da Geografia Física foi o 
Colonialismo, sobretudo, devido às explorações científicas que desen-
volveram uma quantidade significativa de informações do mundo com 
as primeiras propostas de mapeamento, classificações, tipologias dos 
domínios naturais em nível planetário. Esses processos fundamenta-
Para mais informações 
sobre as contribuições de 
Darwin, assista ao vídeo O 
que é a teoria da evolução 
de Charles Darwin e o 
que inspirou suas ideias 
revolucionárias, publicado 
no canal da BBC News 
Brasil.
Disponível em: https://youtu.be/
ambANBIHjCI. Acesso em: 4 fev. 
2021.
Vídeo
https://youtu.be/ambANBIHjCI
https://youtu.be/ambANBIHjCI
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Introdução à Geografia Física 13
ram sobremaneira a sistematização das formações naturais em todo 
o planeta.
Não podemos nos esquecer de que o Colonialismo, além de ofere-
cer o reconhecimento do planeta como mundo, também estabeleceu 
a localização das riquezas como estratégia geopolítica de desenvolvi-
mento e dominação, junto com o genocídio de povos originários e a 
escravização de africanos. Essa perspectiva mostra que todo o estudo 
geográfico está embutido de relações de poder, para controle ou apro-
priação da natureza, do qual a Geografia Física contribuiu de modo 
relevante.
A quarta grande contribuição foi a incorporação dos avanços 
da Teoria da Relatividade Geral, que se deu somente a partir do 
século XX, principalmente com as contribuições do físico alemão Albert 
Einstein (1879–1955). Nesse caso, a natureza interpretada pelas quatro 
dimensões do espaço-tempo (altura, profundidade, largura e tempo) 
proporcionou conceber, para além dos princípios da evolução, também 
atributos particulares de cada meio, como frequência, intensidade, 
magnitude, estrutura física, organização química, ordens de grandeza, 
graus de influência etc.
Na Geografia Física isso significou oferecer uma cronologia relativa 
(por meio da associação com seus diferentes tipos de rochas, fósseis e 
sedimentos, por exemplo), a partir de idade isotópica (também cha-
mada de absoluta), com base na dinâmica da Física do Decaimento 1 , 
somado à descoberta da Radiação de Fundo. Esses elementos oferece-
ram outras referências para o estudo da origem do Universo e da Terra, 
fundamentado nos princípios do sensoriamento remoto e na resposta 
espectral dos alvos.
A quinta e mais recente contribuição à sistematização da Geografia 
Física é a Teoria Geral dos Sistemas, que foi elaborada pelo biólogo 
austríaco Ludwig Von Bertalanffy (1901–1972), em conjunto com Paul 
Alfred Weiss (1898–1989), no ano de 1930. Nessa teoria, destaca-se que 
um sistema é um conjunto de unidades organizado e autorregulado, 
que se movimenta por um fluxo constante de matéria e energia. Suas 
inter-relações sugerem que o todo (o sistema maior) é mais do que o 
produto da soma das partes, mas um organismo complexo, que apre-
senta subsistemas abertos e fechados, funcionando em interdepen-
dência e indissociabilidade.
isotópica: refere-se à medida 
de datação geológica obtida 
pela radiação eletromagnética 
emitidas por substâncias químicas 
e estruturas físicas que constituem 
as rochas e os minerais.
Glossário
Também chamada de Física 
do Decaimento Radioativo, é 
o processo de liberação de 
radiação eletromagnética pelos 
elementos químicos em estado 
de desintegração.
1
14 Fundamentos de Geografia Física
Na Geografia Física, a abordagem sistêmica tem implicado a com-
preensão do funcionamento e relacionamento entre elementos e 
unidades, entre sistemas e subsistemas, em seus graus de interdepen-
dência, complexidade nas causas-efeitos e os processos de transfor-
mação da matéria e da energia. Dessa forma, não podemos discordar 
da clássica frase de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743–1794) sobre a 
Lei da Conservação de Massa: “na natureza nada se cria, nada se perde, 
tudo se transforma”.
Os estudos aplicados contemplam questões relativas aos desastres 
naturais, às áreas degradadas, à restauração ecológica e ambiental, ao 
clima urbano, à saúde ambiental etc.
A abordagem foi bem desenvolvida por Antonio Christofoletti (1979) 
e Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (1995). Ambos explicaram 
que a dinâmica dos sistemas naturais ao longo do tempo tende a ser 
cada vez mais complexa, já que a ação humana interage de modo signi-
ficativo na superfície terrestre e no planeta como um todo.
Christofoletti (1979) discutia a teoria geral dos sistemas atribuindo 
o conceito de geossistemas, referindo-se à organização espacial re-
sultante da interação dos elementos e componentes físicos da natu-
reza funcionando por meio dos fluxos de matéria e energia em sua 
expressão espacial.
Já Monteiro (1995) utilizou a abordagem sistêmica para determinar 
uma categoria complexa, na qual interagem elementos humanos, físi-
cos, químicos e biológicos, sendo que sistemas socioeconômicos esta-
riam incluídos no funcionamento do próprio sistema.
Nesse sentido, a particularidade da Geografia Física dentro da ciên-
cia geográfica (no conjunto das ciências humanas) é que ela deve ser 
vista considerando um processo de relação metabólica, no qual ser 
humano e natureza intercambiam matéria e energia, em que não se 
separam as contribuições dos intelectuais e estudiosos da Geografia 
Humana (MOREIRA, 1985). Além disso, ela também se situa no diálogo 
com a Cartografia, bem como com as Ciências Naturais e Exatas, em 
especial Física, Geologia, Hidrologia, Química e Biologia. Um esquema 
dessa relação é apresentado na Figura 1.
A Radiação de Fundo foi 
designada a um tipo de energia 
eletromagnética detectada em 
transmissões de rádio pelos 
astrofísicos Arno Penzias e Robert 
Wilson. Naquele momento era 
um ruído extremamente tênue, 
mas muito persistente em todas 
as direções do céu. Outros quatro 
físicos norte-americanos, Robert 
Dicke, James Peebles, Peter Roll e 
David Wilkinson, ao tentar medir a 
mesma radiação, estimaram que 
por ser muito longa é muito antiga, 
originada em uma época em 
que as partículas de luz (fótons) 
passaram a viajar livremente, sem 
interagir com a matéria.
Nessecaso, a temperatura da 
Radiação de Fundo é muito 
próxima do zero absoluto em 
graus Kelvin (cerca de 2,725 K, 
ou -270 ºC), e inicialmente a re-
cebemos como ruído, ou melhor, 
como um eco da Big Bang – a 
grande explosão que originou o 
nosso Universo.
Importante
Há muitos exemplos de sistema. 
Nosso corpo é um sistema e dentro 
dele existem vários outros: cardio-
vascular, respiratório, nervoso etc. 
Cada um apresenta uma dinâmica 
e uma função específica e só pode 
ser completamente interpretado 
em conexão com outros sistemas 
(menos e mais simples) e o corpo.
Nós também fazemos parte de 
outros sistema maior, a Terra. 
Conhecer e compreender as leis 
que organizam esse sistema é 
uma medida que oferece saber 
dinâmica, seu estágio de evolução 
e suas formas de transformação.
Saiba mais
Introdução à Geografia Física 15
Figura 1
Posicionamento do campo da Geografia Física em relação a outros campos do saber
Geografia Geografia
Humana
Cartografia
Geografia
Física
Pedologia
Biogeografia
Climatologia Meteorologia
Ecologia
Biologia
Química
Hidrologia
Física
Geologia
Geografia
Ambiental
Geomorfologia
Fonte: Elaborada pelo autor.
Hidrografia
Diante do exposto, o que sintetiza o caráter da teoria e do método 
na Geografia Física é o encontro dos processos que fundam a ordem 
espacial das relações natureza-sociedade. No entanto, antes de discu-
tirmos esse aspecto, é necessário apreendermos sobre qual natureza a 
Geografia Física se refere. Vamos lá!
1.2 A natureza na Geografia Física
Vídeo Vamos iniciar esse aprendizado considerando que foi entre os sécu-
los XVI e XVIII que o conceito de natureza foi pela primeira vez de fato 
elaborado. A palavra sugeria a ideia de nascimento com indicação de 
futuro a surgir, a se gerar, seria a força que gera. Nessa perspectiva, é 
importante pensar a natureza como aquela característica que oferece 
a qualidade mais essencial, como algo que é dado, inato, isto é, uma 
característica que se define por si só, porque foi dotada desde a con-
cepção e a origem.
16 Fundamentos de Geografia Física
Podemos começar esse debate partindo dos primeiros saberes ela-
borados pelos seres humanos sobre a natureza, inicialmente definida 
pelas temporalidades e espacialidades sob uma condição absoluta, 
eterna e manifestada. Em síntese, uma natureza sobrenatural, uma 
supernatureza orientada por concepções mitológicas, que não pode 
ser pensada em termos de origem e fim; trata-se de uma natureza sa-
grada, porque é criada por deuses ou entidades divinas soberanas e 
superiores.
Essas concepções podem ser associadas às relações natureza-so-
ciedade das primeiras civilizações e atualmente podem ser atribuídas 
também como uma parte dos modos de vida de povos originários e 
tradicionais, bem como de nossas religiões, folclores, dizeres popula-
res, produções cinematográficas, desenhos animados e de discursos 
políticos e midiáticos. Estes últimos são mais relevantes em ocorrência 
de grandes calamidades, desastres e catástrofes.
Você consegue relacionar as concepções sobrenaturais de natureza na sua vida, consi-
derando a cultura da sua família, comunidade, cidade ou região? Na maioria das vezes, 
elas são operadas em uma explicação da natureza como uma entidade superior ou um 
resultado da vontade divina, ou seja, com intencionalidades e propósitos. Entender e 
identificar essas manifestações na atualidade é uma das nossas responsabilidades como 
geógrafos ou como professores de Geografia. Primeiro porque conseguimos partir des-
ses saberes para valorizar o que é importante na diversidade cultural de povos, nações, 
suas tradições, folclores, costumes e cosmovisões. Ao mesmo tempo, construir críticas 
para propor mudanças para que nenhum acidente, projetos de sociedade, preconceito, 
discriminação e privação de direitos possam ser admitidos como uma determinação 
causal natural, impossível de ser transformada.
Uma segunda concepção de natureza advém dos postulados da 
Antiguidade grega, fundamentados nos conhecimentos egípcios, desig-
nando ao mundo sua totalidade em suas dimensões material, espiri-
tual, artística e imaginada. Foi inicialmente pensada por pré-socráticos, 
com base na physis (relativo à fisiologia).
A noção foi reformulada pelo filósofo Aristóteles, que integrou o 
modelo geostático (Terra imóvel, esférica e depositada no lugar mais 
baixo do cosmo) e em torno dele quatro estratos esféricos de terra, 
água, ar e fogo, relacionados e intercalados pela tendência de estágios 
úmidos, secos, quentes e frios. A Lua, o Sol, o céu de estrelas e outros 
O livro O que é natureza é 
uma obra imprescindível 
para os geógrafos. Para 
a discussão que estamos 
fazendo neste capítulo, 
recomendamos em espe-
cial a leitura do primeiro 
capítulo “Natural, sobre-
natural e artificial”, já que 
essas três perspectivas 
de natureza podem ser 
apropriadas ao estudo 
geográfico. 
CARVALHO, M. 2. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 2003. (Coleção Primeiros 
Passos; 243).
Livro
Introdução à Geografia Física 17
astros eram fixos e realizavam movimentos circulares, compondo com 
outras 55 esferas sólidas e constituídas pela quinta essência – o éter –, 
que por ser desconhecida era substancialmente diferente dos elemen-
tos essenciais (CARVALHO, 2003).
Figura 2
Os cinco elementos de Aristóteles
Fonte: Elaborada pelo autor.
Fogo
Água
Ar TerraÉter
Éter
ÉterÉter
Éter
Éter
Éter
Éter
ÉterÉter
Éter
Éter
Éter
Frio
Quente
Úmido
Seco
Além dos cinco elementos, Aristóteles também ofereceu processos 
de classificação com base nesses atributos, indicando os fundamen-
tos das ciclicidades. Nesse caso, ele afirmou que elementos animados 
(seres vivos) gerariam sempre seus semelhantes – os cachorros sem-
pre gerariam cachorros, assim como as plantas gerariam plantas. Do 
contrário, o ser inanimado tenderia sempre a voltar a um estágio de 
repouso, segundo os movimentos do processo. A água tende a se con-
servar líquida, as nuvens tendem a se condensar, a chuva a cair e o rio 
a correr para o mar. Trata-se do princípio de movimento de transfor-
mação constante e eterna.
A ideia aristotélica de natureza sugeria que todos os objetos têm 
seu devido lugar e em todos os lugares a natureza acontece como um 
organismo vivo, obedecendo a um objetivo interno, imutável e eter-
no, inerente à sua forma (CARVALHO, 2003). Essa concepção perdurou 
por todo o período do Império Romano e da Idade Média (cerca de 
1.400 anos), mas com alterações e adaptações realizadas pela Igreja 
18 Fundamentos de Geografia Física
Católica, que manteve a ideia de natureza orgânica e criada por deuses 
(CARVALHO, 2003).
Com o advento da modernidade e os avanços da física newtoniana, 
a natureza foi pensada pela perspectiva mecanicista, dada pelo mo-
vimento dos corpos, em uma visão antropocêntrica e essencialmente 
naturalista (SUERTEGARAY, 2003).
Na geografia ela é designada em seus sentidos orgânico e inorgâ-
nico (cursos d´água, fauna, flora, minerais e atmosfera), uma natu-
reza-máquina, uma natureza em si, na qual o ser humano não se faz 
presente, ou quando se faz é vítima ou agressor. Pela definição, a natu-
reza oferece a possibilidade de entender e identificar o funcionamento, 
as dinâmicas, as relações, os agentes e os processos que constroem os 
movimentos naturais.
Foi essa concepção de natureza que reduziu tudo o que é natural 
em recurso, em mercadoria. Além disso, também legitimou o discurso 
do determinismo ambiental, das lógicas colonialistas e da subordina-
ção dos povos pela ideia de uma distinção social que atribuía a desi-
gualdade como processo natural, sendo o racismo um dos melhores 
exemplos.
A visão naturalista separa o ser humano da natureza, coloca-o como 
observador, dominador, sem laços de pertencimento e isento de res-
ponsabilidades, associando, portanto, uma visão de natureza (uma 
essência em si) que deve ser subordinada e dominada. Não por acaso, 
essa perspectiva legitimou a ideia causal da organização das socieda-
des, dos povos e dos grupossociais e seu desenvolvimento.
A partir do século XX, quando os níveis de produção de saberes e 
conhecimentos geográficos acerca dos lugares na superfície da Terra 
já permitiam uma sistematização sumária da totalidade do mundo, o 
avanço técnico-científico proporcionou pela primeira vez na história 
que a Terra fosse vista do lado de fora.
A natureza pode ser pensada com base em suas conexões e articu-
lações, cujas características são absolutamente mutáveis, complexas 
e muito sensíveis a qualquer alteração imposta no âmbito interno e 
externo. De um mundo todo conectado, esse avanço incorporou tam-
bém a concepção de natureza como sistema, organizado com base na 
interação do sistema terrestre integrado ao Sistema Solar e às forças 
cósmicas universais.
Uma dica para que 
você possa entender 
a natureza como uma 
máquina e um sistema 
é assistir ao filme O dia 
depois de amanhã (The 
day after tomorrow). Ana-
lise a previsibilidade dos 
fenômenos, no que tange 
à acurácia e aos efeitos 
associados, à visão global 
da Terra e sua articulação 
com os fenômenos de 
ordem política e econô-
mica. Coloque também 
esse conhecimento como 
uma parte do avanço 
técnico-científico que 
serve para medir (quase) 
precisamente os impac-
tos, os danos, as perdas 
(econômicas e de vida) e 
as formas de adaptação.
Direção: Roland Emmerich. EUA: 
20th Century Fox, 2004.
Filme
Introdução à Geografia Física 19
Trata-se de um sistema porque apresenta possibilidades de alte-
rações das trocas de matéria e energia em função das dinâmicas dos 
processos internos e externos. Nessa concepção, a natureza não pode 
ser caracterizada somente pela relação mecânica e fragmentada, mas 
principalmente pelo conjunto de fluxos (locais e remotos), que resul-
tam da atuação de um equilíbrio dinâmico.
Na lógica, todos os processos da Terra são naturais, inclusive os an-
trópicos 2 , já que eles podem ser explicados pelas forças terrestres e 
se realizam pelo equilíbrio dinâmico do sistema em sua totalidade. Na 
Geografia Física, esse conceito auxilia muito os processos de gestão e 
planejamento ambiental, sobretudo para estudos de potencial econô-
mico-ecológicos, de degradação ambiental e de mudanças climáticas.
Contudo, a questão que se impõe é que, dado o avanço 
técnico-científico, a velocidade de transformação dos sistemas naturais 
e o modelo de desenvolvimento, fica muito difícil separar o que é natu-
ral do que é ação antrópica. Dessa impossibilidade, temos trabalhado 
com o conceito de uma natureza socialmente apropriada, que é pro-
duto da relação entre os seres humanos. Uma natureza híbrida, que 
é complexa e produto de uma construção social, visto que não é pura 
em nenhum dos sentidos; trata-se de uma natureza que construímos e 
hoje precisamos lidar com ela.
Natureza híbrida: construção social
Teoricamente, Latour (1997) chama de hibridização o conjunto de práticas que cria a 
proliferação de híbridos. Remete à mistura de processos que não apresentam distinção 
entre natureza e cultura, não humano e humano; que contradiz o engessamento ela-
borado pela modernidade; e se dá pela contínua construção de problemas e situações 
interpretados com base em uma frágil concepção de que apresentam essência e apa-
rência fragmentadas. É um paradoxo entender o mundo híbrido por categorias clássi-
cas, eminentemente dicotômicas. Entretanto, como qualquer paradoxo, a organização 
do conhecimento em categorias separadas revela uma crise rica e cara à humanidade 
e o que está em xeque na discussão é a purificação que sugere a suposta neutralidade 
da racionalidade e o poder ideológico do conhecimento científico.
Isso significa que toda sociedade cria, inventa e institui determi-
nada ideia do que é natural, ou seja, sua relação com o mundo orgâ-
nico e inorgânico e com os homens entre si; em outras palavras, suas 
concepções de natureza (PORTO-GONÇALVES, 1989). Atualmente, a 
Derivado de antropização, 
ou seja, todas as alterações 
provocadas ou desenvolvidas por 
meio de atividades humanas, 
sociais e produtivas das carac-
terísticas originais dos sistemas 
naturais são enquadradas 
como mudanças ambientais, já 
que toda ação antrópica deve 
garantir ou não sua estabilidade 
ecológica e, por isso, não é 
homogênea nem negativa 
sempre. De outro modo, diversos 
são os níveis de antropização dos 
sistemas naturais que podem 
ser observados considerando 
quanto do funcionamento 
original e dinâmico do sistema 
natural sofre modificações. 
Como exemplos temos a 
remoção (desmatamento) ou 
recomposição (reflorestamento) 
de domínios vegetacionais, 
degradação ambiental, poluição 
atmosférica, restauração ecológi-
ca, canalização e retilinização de 
cursos d´água, construção de 
cidades e constituição de áreas 
de produção agrícola.
2
20 Fundamentos de Geografia Física
natureza não pode ser mais concebida exclusivamente como algo 
exterior aos seres humanos ou independente, como entidade divina, 
organismo vivo, máquina, sistema ou construção social. Cabe a nós, 
geógrafos, interpretá-la tendo em vista como a sociedade a pratica 
espacialmente em todas as suas concepções. O Quadro 1 resume 
um pouco desse processo.
Quadro 1
Abordagens geográficas da natureza
Abordagem Concepção Origem Meios de observação
Formas de 
explicação Exemplo
Mitológica
Sobrenatural 
(sem espaço-
-tempo)
Primeiras civili-
zações
Presságios e pelo 
conhecimento 
religioso
Divindades e 
mitos
Cosmogonias; 
Trovão (Tupã, 
Thor e Zeus)
Sistematizada
Natural
(physis)
Grécia Antiga
Integrada e com-
binada a tudo 
que existe
Ciclos, elementos 
e átomos
Terra, fogo, ar, 
água e éter
Racionalizada
Natural
(mecânica; sistê-
mica)
Iluminismo; 
Modernidade
Gênese e 
funcionamento; 
instrumentaliza-
ção e medição
Teorias, concei-
tos e leis gerais; 
fragmentada; 
articulada
Sistema terres-
tre; grandes 
esferas; recurso 
natural
Construção 
social
Híbrida (comple-
xa e ideológica)
Relações sociais 
e de poder; 
cultura
Apropriada 
aos modos de 
produção como 
(estrutura e 
ideologia)
Transformação 
do valor de uso 
em valor de tro-
ca; dominação e 
subordinação
Mercadoria; 
naturalização 
das relações 
sociais; racismo; 
desastres
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como vimos, precisamos considerar que há múltiplas concep-
ções de natureza que podem ser interpretadas pela geografia e 
que todas elas foram elaboradas tendo em vista os interesses dos 
agentes hegemônicos de cada sociedade, que, ao escolher seus 
parâmetros culturais e cosmovisões, definiram também elementos 
de naturalização e normalização das relações sociais de produção.
No entanto, como podemos operacionalizar esses conceitos 
dentro da Geografia Física? Em nossa história, essa espacialidade 
é identificada com base nos estudos dos sistemas naturais, que 
podem ser realizados por pelo menos duas abordagens, assumin-
do os conceitos de paisagem e de ambiente como categorias de 
análise.
Introdução à Geografia Física 21
1.3 Paisagem e ambiente na análise 
geográfica da naturezaVídeo
O que vem à sua mente quando você pensa em paisagem? Se 
de início você pensou em um lugar bonito ou remeteu a algo que 
seja visto, já comece a considerar também que, além da visão, a 
operacionalização da paisagem envolve todos os sentidos, como 
tato, olfato, paladar, audição, bem como subjetividades, emo-
ções e sensações. Você deve ter atribuído à ideia de paisagem 
não só um visual esteticamente apreciado, mas também imagi-
nou que os cheiros, os sons, os gostos, as sensações e os seus 
sentimentos formaram uma imagem mental perfeita, inclusive 
com pessoas e coisas que você aprecia, não é mesmo?
A categoria paisagem permite exatamente isso, ou seja, 
discutir tanto as bases de fundamentação do conhecimento 
geográfico (partindo dos sentidos e das percepções) quanto a 
complexidade para abordagem integrada e dialética 3 entre na-
tureza e sociedade (daquilo que podemos imaginar como um 
futuro bom para nós).
A paisagem é o resultado imediato da intencionalida-
de humana na superfícieterrestre, sendo que ela oferece a 
combinação de processos pretéritos, responsáveis pela com-
partimentação regional da superfície, e dos processos atuais, 
que correspondem à dinâmica contemporânea dos sistemas 
naturais.
O interesse desse fundamento é produzir uma imagem 
sintética, em que cultura e natureza formariam um conjunto 
integrado, articulado e espacialmente diferenciado na superfí-
cie do planeta (GOMES, 1996), servindo basicamente para com-
preender a síntese lógica entre os fenômenos físicos e sociais, 
suas combinações e interações, definindo tanto a diferencia-
ção, a constituição da diversidade natural quanto a produção 
do espaço (MENDOZA; JIMÉNEZ; CANTERO, 1988).
Santos (2008) conceitua paisagem como o conjunto de for-
mas que exprimem heranças, as quais representam as su-
Método científico fundamentado 
na concepção de que a realidade 
é um processo, crescente e 
inacabado, movimentado pelas 
contradições das relações entre 
aparência (aquilo que é visto, 
dito, sentido e percebido) e 
essência (relativo ao que é pen-
sado, racionalizado e operado 
concretamente).
3
22 Fundamentos de Geografia Física
cessivas relações entre o homem e a natureza. O autor esclarece que 
paisagem não é espaço geográfico. A primeira é a materialização de um 
instante da sociedade (SUERTEGARAY, 2001) e a realidade de homens 
fixos, uma realidade parada, como em uma fotografia. Por outro lado, 
o espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O 
espaço contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço são 
um par dialético. Complementam-se e se opõem. Um esforço 
analítico impõe que os separemos como categorias diferentes, 
se não queremos correr o risco de não reconhecer o movimento 
da sociedade. (SANTOS, 2008, p. 74)
Em nosso país, a contribuição mais expressiva aos estudos sobre as 
paisagens naturais foi elaborada por Ab’Saber (1969), que promoveu 
uma renovação metodológica e instrumental nas pesquisas geomorfo-
lógicas desenvolvidas no território nacional, aprofundou o conceito de 
fisiologia da paisagem, compreendendo-a como o resultado de uma rela-
ção entre os processos passados e os atuais, e estudou principalmente 
a Teoria dos Refúgios Florestais (VITTE, 2007).
A Teoria dos Refúgios Florestais é o conjunto de ideias ligadas aos 
mecanismos de evolução das paisagens neotropicais da América do Sul 
e sugere interpretações sobre a biodiversidade das paisagens, assim 
como as extinções ocorridas ao término do Pleistoceno 4 (SILVA; PAS-
SOS, 2009).
Em resumo, a teoria parte das repercussões associadas às flutua-
ções paleoclimáticas da passagem de um período seco e frio (glaciais), 
para outro mais quente e úmido (interglaciais), diferenciação significa-
tiva na distribuição biogeográfica de animais e plantas, devido aos pro-
cessos de expansão e retração das áreas de ocorrência e domínio, além 
de modificações no relevo, nos solos e na disponibilidade hídrica 
(AB’SABER, 1992).
Entretanto, no decorrer da história da geografia, considerou-se a 
paisagem como o resultado da inter-relação entre a esfera da natureza 
e da cultura, mediadas pelo trabalho (VITTE, 2007). Nesses termos, o 
conceito mais bem relacionado hoje é o de ambiente, ligado à ideia de 
natureza híbrida, já que ele é definido como um conjunto de intera-
ções e relações entre seres vivos, coisas e objetos, naturais e artificiais, 
transformando-os e transformando-se (MENDONÇA, 2008).
Todavia, o ambiente não é natureza nem paisagem, trata-se, na ver-
dade, de um conceito cunhado após a década de 1960 por intelectuais 
Época do período Quaternário, 
da era Cenozoica e do éon 
Fanerozoico. Essa época precede 
o Holoceno (momento da 
origem dos seres humanos), 
sendo compreendida entre 2,5 
milhões a 11,7 mil anos antes 
do presente (AP), e contempla 
eventos das glaciações (eras do 
gelo), marcando o domínio e a 
extinção de grandes mamíferos, 
como os mamutes, tigre dentes 
de sabre, mastodontes etc.
4
Introdução à Geografia Física 23
de movimentos sociais ambientalistas (MONTEIRO, 2003). Em termos 
gerais, ele serve para problematizar o processo de exploração dos re-
cursos naturais e humanos, como alternativas de organizar um modelo 
de desenvolvimento com base principalmente na conscientização am-
biental, na preservação da biodiversidade, na gestão racionalizada dos 
recursos e na qualidade de vida (PORTO-GONÇALVES, 1989). Por esse 
caráter, assume-se também o termo socioambiental para dar ênfase à 
perspectiva de conjunto integrado e articulado com dinâmica natural e 
processos sociais (MENDONÇA, 2002).
O estudo da Geografia Física na perspectiva ambiental ou socioam-
biental incorpora assim problemáticas desenvolvidas tendo em vista as 
lógicas econômicas, os processos educativos e os modelos de desen-
volvimento, sendo orientadas principalmente por aparatos legais e 
normatizações da gestão territorial e da justiça ambiental. Por isso, no 
desenvolvimento desse estudo, ganham muito sentido as ações de ges-
tão, planejamento territorial e educação ambiental.
Podemos observar que as duas possibilidades de análise geográfica 
da natureza apresentam enfoques mais naturalistas dos sistemas natu-
rais (por meio da paisagem), ou da natureza em si, e outra que atende 
à natureza como produto dos processos de apropriação social (quando 
articulada às questões ambientais), ou seja, da natureza para si. Isso 
significa afirmar que ambas podem ser combinadas e entendidas em 
grande parte considerando a abordagem geossistêmica.
1.4 A abordagem de geossistemas
Vídeo Antes de começarmos a discutir a importância da abordagem 
geossistêmica para a Geografia Física, é importante destacarmos que 
os estudos relacionados aos fluxos de matéria e energia da nature-
za, bem como sua conservação e dissipação, transformação e altera-
ção, não têm sido bem respondidos pelo viés mecânico, que tende a 
fragmentar a natureza.
Nesse viés, as análises dos fluxos de matéria e energia se torna-
ram um dos objetos estudados pela Ecologia, considerando as bases 
conceituais da vida e os princípios do movimento mecânico, sobretudo 
das leis da termodinâmica. Assim, por meio do conceito de ecossiste-
ma, proposto em 1935 pelo ecologista britânico Arthur George Tansley 
24 Fundamentos de Geografia Física
(1871-1955), a ecologia se tornou uma disciplina integradora, apesar de 
sua base estar centrada na ciência biológica (NEVES et al., 2014).
O ecossistema se refere à “unidade funcional básica na ecologia, 
pois inclui tanto os organismos quanto o ambiente abiótico” (ODUM, 
1988, p. 9). Nesse âmbito, consideramos ecossistema ou sistema ecoló-
gico qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos 
que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) em uma dada área 
e interajam com o ambiente físico de tal forma que os fluxos de matéria 
e energia produzam estruturas bióticas definidas em um ciclo integra-
do, resultado da convergência entre a biocenose (parte viva e orgânica 
do sistema) e o biótopo – parte mineral – (NEVES et al., 2014).
Figura 3
Representação esquemática de um ecossistema
Fonte: Elaborada pelo autor.
Fontes de 
energia
Nutrientes
Produtores
Água Ar Terra
Energia solar Herbívoros
Decompositores
Carnívoros
Detritos
Fluxo de energia e matéria
Os estudos ecossistêmicos privilegiam uma análise restrita à biolo-
gia, buscando conhecer e descrever padrões, dinâmica e evolução dos 
ecossistemas, servindo de modelo para avaliar comparativamente sis-
temas degradados ou alterados. Eles permitem conhecer os processos 
que compõem a biodiversidade e compatibilizar os processos produti-
vos com a conservação da massa, uma vez que se conheça a estrutura 
e a fisiologia da paisagem (NEVES et al., 2014).
A questão é que os estudos geográficos não têm como base exclu-
sivamente a dinâmica biológica dos sistemas ecológicos. Desse pro-
Introdução à Geografia Física 25
blema, o geógrafo soviético Victor Sotchava (1905–1978), no início da 
década de 1960, cunhou o termo geossistema, com a preocupaçãode 
estabelecer uma metodologia de estudo sistêmico da natureza tendo 
em vista a geografia.
Os geossistemas, para Sotchava (1978), incluem todos os elementos 
da paisagem como um modelo global, territorial e dinâmico, aplicável a 
qualquer paisagem concreta. Trata-se de identificar o potencial ecológi-
co de determinado espaço no qual há uma exploração biológica, poden-
do influir fatores sociais e econômicos na estrutura e expressão espacial.
Para Sotchava (1978), o geossistema é manifestado em qualquer 
dimensão espacial na superfície terrestre, desde as fácies físico-geo-
gráficas, que representam a menor unidade em uma divisão natural 
do terreno, até o que representa o planeta como um todo. Para fazer 
sua análise, ele propôs três conceitos. A associação dos conceitos pode 
ser assumida com base na articulação de três escalas de geossistemas, 
cada uma apresentando uma dinâmica particular, mas que interage no 
sentido das circulações interdependentes e subordinadas de matéria 
e energia.
As flechas indicadas na figura representam diferentes fluxos que podem ocorrer em um 
geossistema,
Figura 4
Interações e escalas do geossistema
Fonte: Elaborada pelo autor.
Regional 
Regional 
Re
gi
on
al
 
Regional 
Topológico 
Topológico To
po
ló
gi
co
 
Envelope físico-geográfico
Envelope físico-geográfico
Fluxo de energia e m
atéria 
Fluxo de energia e matéria 
fácies: os caracteres de forma 
e configuração que distinguem 
um grupo; aspecto geral.
Glossário
26 Fundamentos de Geografia Física
Nesse sentido, o nível planetário que representa o envelope físico-
-geográfico é caracterizado pelo componente zonal que se manifesta 
com a zonalidade climática, definindo os fatores bioclimáticos terrestres 
conforme a latitude. O nível regional é caracterizado pelos níveis inter-
mediários, nos quais os componentes zonais começam a interagir com 
os subzonais – altitude, relevo e grandes domínios de paisagem, como 
biorregiões e ecorregiões. O nível topológico (local) é representado pela 
escala de maior detalhe, em que os componentes se manifestam no 
princípio de unidades, com interferências de processos geomorfológi-
cos, pedológicos, microclimáticos 5 etc.
Para além da hierarquia da estrutura, o geógrafo George Bertrand 
(1972) procurou estabelecer a funcionalidade do geossistema conside-
rando a combinação entre o Potencial Ecológico (clima, hidrologia, geo-
morfologia), a Exploração Biológica (vegetação, solo, fauna) e a Ação 
Antrópica – Figura 5 – (NEVES et al., 2014). Para ele, o geossistema é um 
todo dialético, com uma multiplicidade de relações e de contradições 
que se inter-relacionam, atendendo à importância da dinâmica com-
plexa entre o social com os processos naturais (BERTRAND, 1972).
Nesse sentido, seres humanos, relevo, solo, clima, recursos hídricos, 
fauna e flora, ou qualquer outro componente, poderão ser conside-
rados na análise geossistêmica. Como o modelo não oferece limites 
máximos de ação de cada elemento, uma vez que nenhum deles se de-
senvolve de maneira isolada, é importante considerar em seu interior 
sua função em termos de processos intrínsecos e extrínsecos.
Figura 5
Modelo funcional dos geossistemas
Fonte: Adaptada de Bertrand, 1972.
Relevo – Clima – Recursos hídricos
Exploração biológica
Solo – Fauna – Flora 
Potencial ecológico
Geossistema
Ação antrópica
Produção – Apropriação – Conflitos
Relativo a relevo (geomorfo-
lógicos), solos (pedológicos) 
e climas muito específicos 
(microclima).
5
Introdução à Geografia Física 27
Por isso, a grande vantagem da abordagem dos geossistemas é per-
mitir investigar diferentes aspectos da natureza (estrutura, dinâmica 
e evolução) sob uma base unificada em termos de perspectiva e tra-
tamento propositivo, mas também de conflitualidade e a convergên-
cia de múltiplos interesses (BERTRAND, 1972). Nesse sentido, a análise 
pode ser realizada com base nos processos de gestão e planejamento 
ambiental e territorial.
Grande parte desse trabalho atende por levantamentos sistemáti-
cos utilizando muita linguagem cartográfica com o uso de geotecnolo-
gias, focando pesquisas ecológicas de longa duração (com ênfase no 
monitoramento e na proteção de unidades de conservação, por exem-
plo), estudos de reconstrução paleoambiental na avaliação dos impac-
tos das atividades humanas (industriais, infraestruturais e produtivas), 
nas formas de recuperação de áreas degradadas, bem como na pre-
venção e nos diagnósticos de riscos e desastres.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Ao longo deste capítulo, valorizamos a construção do conhecimento, 
da teoria e do método na Geografia Física com base na história de alguns 
conceitos, categorias e estudiosos do pensamento geográfico. Destaca-
mos também sua importância e correspondência atual, sobretudo, para 
estabelecer o caráter crítico e propositivo do profissional de geografia.
Enfatizamos que a Geografia Física é um saber organizado dentro da 
geografia, e como tal está preocupada com as práticas associadas às re-
lações entre natureza e sociedade na produção do espaço. O reconheci-
mento das opções teóricas e dos métodos na história é fundamental para 
estabelecer consistência e coerência prática no mundo atual.
Por ser uma ciência social, os temas de trabalho na Geografia Física 
atendem à integração da dinâmica natural com os processos sociais como 
construções sociais; por isso, são passíveis de transformações com base 
em projetos de sociedade e analisados segundo a paisagem e o ambiente.
Nesse aspecto, as transformações das paisagens ambientais devem 
ser orientadas para o aumento da qualidade ambiental e de vida como 
estratégias para fomentar a participação social no espaço público e no 
mercado de trabalho. A Geografia Física tem muito a contribuir nesse sen-
28 Fundamentos de Geografia Física
tido, tanto na compreensão das diferentes concepções de natureza (que 
envolvem muitos conflitos e injustiças) quanto nas suas inter-relações, 
nos horizontes do século XXI.
Por isso, lembre-se de que na Geografia Física, paisagem não é am-
biente; ambiente não é natural; e geossistema não é natureza. Natureza é 
uma construção social, um conceito ideológico e cultural, que só pode ser 
explicado na relação com a sociedade ou por meio de suas transforma-
ções na história do conhecimento e da humanidade.
Ambiente é um referencial conceitual, que requer mudanças nas re-
lações natureza-sociedade no mundo atual, sobretudo nas sociedades 
capitalistas e ocidentais. O foco é sobremodo valorizado no debate da 
qualidade de vida e dos modelos de desenvolvimento. Portanto, o termo 
socioambiental dá ênfase à necessidade de diálogo e integração dos siste-
mas naturais, humanos e produtivos.
Paisagem é a concepção de natureza natural na geografia, sendo ex-
plicada atualmente com base na abordagem dos geossistemas, visto que 
envolve troca de matéria e energia, e pode ser desenvolvida com o uso de 
geotecnologias, mapeamento etc. A presença do ser humano (fator antró-
pico e ser social), considerando os geossistemas, oferece a possibilidade 
de transformação social via gestão e planejamento territorial e ambiental.
ATIVIDADES
Vamos articular conceitos e aplicar nossos conhecimentos? Para as 
atividades a seguir, você deverá tirar duas fotos de lugares diferentes. 
Pode ser qualquer lugar, como sítio, cidade, bairro, rua, casa, mas 
preferencialmente que sejam duas. Caso não tenha máquina 
fotográfica ou celular com câmera, pegue duas folhas de papel e tente 
desenhar esses lugares, ou busque em sites, revistas, livros etc.
1. Descreva a paisagem. Para isso, você pode escrever com suas palavras 
o que está vendo, ouvindo e sentindo. Tente identificar elementos 
humanos e não humanos. Selecione da cena aquilo que você julgue 
interessante: pessoas, árvores, estradas, ruas, plantações, automóveis, 
roupas, equipamentos eletrônicos, rios, pássaros, cheiros, sons e 
sensações. Fique à vontade para descrever de acordo com seu estilo, e 
não se limite aos elementos citados. Explorea cena e use sua criatividade.
2. Agora, observe a forma como essa paisagem está organizada. Se 
atente aos traçados, às cores, aos materiais dos edifícios, às formas 
das ruas, às distâncias entre os objetos e sua dispersão, aos pontos de 
conexão e às áreas abertas.
Introdução à Geografia Física 29
3. Em seguida, analise a função, a integração e a movimentação dessa 
cena, tendo em vista as relações entre elementos que você destacou, 
a história do lugar e quais concepções de natureza podem ser 
explicitadas com base nela. Destaque elementos explícitos e implícitos 
dos objetos e dos aspectos culturais e sociais.
4. Perceba em todos os elementos que você destacou os detalhes, os 
níveis de alteração da paisagem e, ao mesmo tempo, como você e 
as pessoas se relacionam, vivem ou praticam esse lugar. Para isso, 
imagine uma linha temporal que mostre uma parte da sua história e 
da história dessa paisagem.
5. Agora, imagine esse mesmo lugar no futuro. Imagine você nesse futuro, 
ou pelo menos projete em sua mente uma possibilidade de rever essa 
cena de outro modo ou em outro contexto. Nesse momento, você já 
deve entender como a transformação da paisagem resulta em espaço 
geográfico, e somos nós quem dotamos de sentido e de projeto o 
nosso lugar no mundo.
6. Enfim, a sua paisagem tem uma história? Conte-a para nós.
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https://cadernosgeograficos.paginas.ufsc.br/files/2016/02/Cadernos-Geogr%C3%A1ficos-UFSC-N%C2%BA-05-A-Quest%C3%A3o-Ambiental-na-Geografia-do-Brasil-.-Maio-de-2003.pdf
https://cadernosgeograficos.paginas.ufsc.br/files/2016/02/Cadernos-Geogr%C3%A1ficos-UFSC-N%C2%BA-05-A-Quest%C3%A3o-Ambiental-na-Geografia-do-Brasil-.-Maio-de-2003.pdf
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https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1982-45132014000200271&script=sci_abstract&tlng=pt
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http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/73959
http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/73959
https://revistas.ufpr.br/geografar/article/download/14356/9650
https://revistas.ufpr.br/geografar/article/download/14356/9650
http://www.ub.edu/geocrit/sn-93.htm
https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/13601
http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/58
http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/58
O planeta Terra 31
2
O planeta Terra
Neste capítulo, vamos estudar as teorias sobre a formação do 
planeta Terra, apreendido como o nosso lugar no mundo. Sendo 
assim, enfatizamos que a sua atenção é necessária para que, até 
o final do capítulo, você possa dominar os princípios físico-natu-
rais que regem o sistema terrestre e possa perceber que ele está 
muito mais para superfície, como foi propalado pela Geografia 
Física clássica.
O que estamos querendo dizer é que aqui você compreen-
derá o contexto do planeta Terra no Universo, sua gênese, seus 
movimentos, bem como sua formação e evolução, por meio da 
história natural, e entenderá quais dinâmicas da natureza e quais 
forças terrestres são responsáveis pelo estágio atual do planeta, 
que oferece todas as condições de manutenção da vida enquanto 
um grande sistema e projeto de nossa sociedade. Mas vamos por 
partes, não é mesmo?
Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de estu-
dos; para isso, faça suas anotações.
2.1 A Terra no espaço 
Vídeo Como a Terra está no Universo? Essa, de fato, é umas das perguntas 
mais intrigantes da humanidade e, sem dúvidas, ela é essencial tam-
bém para estabelecer as explicações quanto à origem do nosso mun-
do. Vamos iniciar esse debate pela noção de que, ao longo da história, 
os seres humanos refletiram sobre esse aspecto e por isso construíram 
muitas teorias para a origem do mundo, de sua natureza, do Universo 
como um todo e da cultura.
Grande parte das histórias fantásticas criadas pelas sociedades fo-
ram passadas de geração em geração e definiram o que hoje chama-
mos de cosmogonia, que é o conjunto de saberes destinados a explicar 
32 Fundamentos de Geografia Física
o surgimento do Universo. Em geral,atribui-se a divindades a explica-
ção de um Universo criado, relativo à concepção de natureza sobrena-
tural, que é absoluta, eterna, porque não pode ser parametrizada por 
dimensões temporais ou espaciais.
É importante associar esse primeiro tipo de conhecimento àquele 
presente na Geografia Física, uma vez que nele a criação do Universo 
oferecia diretamente a introdução de conceitos como a magia e a pos-
sibilidade de influência do ser humano na dinâmica natural (o papel 
dos sacerdotes tem importância particular para isso). Além disso, as 
mitologias oferecem o caráter da diversidade cultural em termos de 
normas, conduta, ética, moral, convívio, costumes, folclores e modo de 
vida.
Na cosmogonia atribuída ao povo tupi-guarani, a noção de criação da natureza é vol-
tada para os deuses e guardiões, sendo Guaraci o deus do sol e Jaci a deusa da lua. 
Estes são os dois deuses com maior destaque na teoria da criação do Universo. Existem 
outros deuses relacionados à musica, à guerra, à chuva etc. A grande maioria dessas 
crenças foram obtidas pela observação e por meio de uma astronomia própria. Por 
meio dela, eram definidos o tempo de colheita, a duração das marés, o período de 
caça, pesca, agricultura, o tempo das chuvas, as fases da lua e as estações do ano. Com 
essas observações, histórias, lendas com ensinamentos morais e mitos foram criados. 
Com isso surgem também as lendas e os mitos relacionados à criação do universo, do 
homem e da mulher e da noite, por exemplo. Não é à toa que esse conhecimento pode 
ser relacionado à diversidade cultural e religiosa dos povos.
De outro modo, a sistematização desse saber culminou no conhe-
cimento organizado na Antiguidade greco-romana, principalmente na 
ideia de Cosmologia, que foi ancorada nas noções egípcia e mesopotâ-
mica de astrologia, articulada com outros saberes como filosofia, ma-
temática e artes (MAKLER; VILLELA NETO, 2009). O sentido é que os 
povos da Antiguidade apresentam mitologias e cosmogonias próprias, 
pautando-se na organização e na observação dos astros e dos ritmos 
naturais para oferecer uma noção aprimorada do Universo. Nesse pro-
cesso, cada sociedade constrói suas próprias concepções de natureza 
e de mundo.
Esses conhecimentos, então, baseiam-se nas constatações possibi-
litadas por instrumentos de observação do céu (como o astrolábio e 
o telescópio) e de medição da superfície da Terra. Eles foram, inicial-
mente, suficientes para identificar grande parte dos planetas, das es-
Para aprofundar seus 
conhecimentos, leia o ar-
tigo “Cosmologia: a busca 
pela origem, evolução e 
estrutura do universo”, 
publicado na revista 
Um olhar para o futuro: 
desafios da física para o 
século. Os autores Makler 
e Villela Neto, com uma 
linguagem simples e ima-
gens interessantes, trazem 
mais elementos sobre os 
conhecimentos cosmoló-
gicos. Durante a leitura, 
fique atento à história, ao 
objeto e ao método da 
Cosmologia.
Disponível em: http://www.
cbpf.br/~desafios/media/livro/
Cosmologia.pdf. Acesso em: 26 
jan. 2021.
Artigo
Cosmologia: é o subcampo 
científico da Astronomia 
dentro da Física. É orientada 
pelos estudos sobre origem, 
estrutura, formação e evolução 
do Universo.
Glossário
O planeta Terra 33
trelas e dos astros – que são conhecidos até hoje, com outros nomes e 
sob outros saberes. Além disso, é a partir desse momento que surge a 
construção de calendários associados à agricultura e às práticas de di-
ferentes povos. Por exemplo, calendário zodiacal, chinês, asteca, lunar 
ou juliano.
O astrolábio foi um dos primeiros instrumentos navais cria-
dos pelos árabes do mundo antigo. Ele era essencialmente 
usado para fazer medições, como precisar o número de ho-
ras, definir as estações do ano e estimar a altura bem como a 
profundidade da superfície e dos astros se baseando 
no horizonte.
O telescópio, conhecido inicialmente 
como luneta, amplia a capacidade de 
visão humana. Primeiramente, foi usado 
para fins militares. Seu uso científico foi 
designado por Galileu Galilei no século 
XVII.
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 C
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Os povos árabes também auxiliaram nessa organização. A busca por 
explicações lógicas ajudou a ordenar um conjunto de nomes apropria-
dos para grande parte das estrelas e constelações. Esse conhecimento 
ajudou a humanidade na criação das principais formas de estabeleci-
mento de um processo global para navegação, sobretudo por meio da 
orientação e da distribuição das estrelas (MAKLER; VILLELA NETO, 2009).
Outras sociedades, como polinésias (distribuídas no Oceano Pacífi-
co) e ameríndias (situadas ao longo das Américas) também se guiavam 
pelas constelações; elas não necessariamente utilizavam-nas para fins 
náuticos, mas como um meio de conhecer áreas continentais. Povos 
como os Guaranis, os Kaingangs e os Tembés – de raízes Tupi – são 
exemplos, aqui no Brasil, de comunidades que utilizavam as constela-
ções como parâmetro de orientação.
Desse conhecimento foi desenvolvida, durante a Idade Média (de 800 
a 1450 d.C.), a ideia de Universo Geocêntrico. Associado ao modelo de 
Ptolomeu, trata-se de um pensamento eclesiástico adotado pela religião 
cristã para admitir a Terra como centro do Universo (WUENSCHE, 2017).
Mais tarde, no século XV, a sistematização da Cosmologia foi inicia-
da quando o filósofo e astrônomo germânico Nicolau de Cusa (1401–
A noção de ano só foi possível 
devido ao advento da agricul-
tura. Inicialmente, os povos 
observaram o ciclo das estações 
e, então, organizaram datas 
comemorativas e de suas ativi-
dades durante o período anual. 
No Brasil, temos o calendário 
Kaingang, que, na representação 
de suas atividades anuais, 
define uma organização sazonal 
circular. Ela tem como base os 
momentos de solstícios. Tem 
também a indicação da estação 
chuvosa Ara Pyaú, quando são 
concentradas as celebrações da 
colheita, e da estação seca Ara 
Ymã, período valorizado para 
plantio e cuidado da terra. 
Você pode fazer as mesmas 
relações do calendário Kaingang 
com o calendário civil, que 
define o período mais quente do 
ano para usufruto de férias. Essa 
organização fomenta, inclusive, 
o turismo de veraneio nos litorais 
de todo mundo.
Curiosidade
34 Fundamentos de Geografia Física
1464) sugeriu que a Terra não era o centro do Universo e, na verdade, 
ela girava em torno de seu eixo; as estrelas seriam sóis situados a dis-
tâncias diferentes em um espaço infinito (WUENSCHE, 2017).
Foi somente com o Renascimento, entre os séculos XV e XVII – um 
período de grandes transformações culturais, como as grandes nave-
gações, o colonialismo e a construção da ciência ocidental – que a Cos-
mologia tomou, de fato, o centro do debate (WUENSCHE, 2017).
Esse momento foi marcado pela proposta de sistema heliocêntrico 
para o Universo, de Nicolau Copérnico (1473–1543), e pela visão de Uni-
verso de Giordano Bruno (1548–1600), seguido, então, pela utilização 
do telescópio por Galileu Galilei (1564–1642), a descoberta das leis que 
levam o nome do astrônomo Johannes Kepler (1571–1630) e o conceito 
de Sistema Solar.
Esses três marcos históricos levaram Isaac Newton (1643–1727), no 
século XVIII, a elaborar uma separação racionalista da astrologia, por 
meio dos conhecimentos matemáticos e físicos, e atribuir o caráter 
científico ao campo chamado Astronomia.
Newton ofereceu a noção de um Universo infinito, estático e que 
pode ser interpretado em dimensões espaciais (comprimento, altura 
e largura) e temporais (segundos, minutos, horas, dias etc.) separada-
mente. A lógica do modelo é cartesiana e reduz-se na Lei da Gravidade; 
esta compreendida como a principal força que estabelece a massa e 
a velocidade de todos os corpos e de toda a matéria, determinando a 
posição dos astros e do planeta Terra no Sistema Solar.
Um Sistema Solar sugere o 
conjunto de corpos celestes com 
uma estrela central (a maior 
componente do sistema) e todos 
os outros corpos sob seu domí-nio gravitacional. No nosso caso, 
a estrela central é o Sol, que 
corresponde a mais de 99,85% 
da massa total do sistema. Ele 
gera sua energia principalmente 
por meio da fusão de hidrogê-
nio em hélio e foi o principal 
responsável pela primeira gran-
de diferenciação geoquímica 
dos planetas do Sistema Solar. 
Contribuiu para a vaporização 
dos materiais cósmicos e para a 
formação de planetas rocho-
sos, situados mais no interior do 
sistema (como Mercúrio, Vênus, 
Terra e Marte), e dos planetas 
gasosos, compostos de voláteis, 
como hidrogênio, hélio, amonía-
co e metano, que condensaram à 
baixa temperatura (como Júpiter, 
Saturno, Urano e Netuno). 
Saiba mais
Figura 1
O Sistema Solar e os movimentos astronômicos
D1
m
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ck
SISTEMA SOLAR
Netuno
Saturno
Marte
Vênus Sol
Mercúrio
Terra
Júpiter
Urano
Cinturão de Asteroides
O planeta Terra 35
Nesse aspecto, o Sistema Solar é um todo que se movimenta fun-
damentalmente pela ação gravitacional. Isso promove distinções na 
quantidade de energia (luz solar) que os planetas recebem e resulta 
nos processos de rotação, no qual os planetas giram em torno do seu 
próprio eixo gerando a variação dos dias e das noites, e o de transla-
ção, quando o giro se dá em torno do Sol, possibilitando as estações 
do ano – a sazonalidade. Esse processo pode ser observado em todos 
os planetas do sistema, mas exemplificamos com a Terra, conforme 
a Figura 2.
Figura 2
Movimentos astronômicos do planeta Terra no Sistema Solar (Hemisfério Sul) 
De
si
gn
ua
/S
hu
tte
rs
to
ck
Equinócio de 
outono 
(23 de março) 
Solstício de inverno 
(21 de junho) 
Solstício de verão (21 
de dezembro)
Equinócio de 
primavera 
(23 de setembro)
Outono 
Inverno 
Verão 
Dia 
Dia 
Primavera 
Noite 
Noite 
N
S
Você já deve ter percebido que todo o conhecimento que temos do 
Universo é bastante antigo, mas a noção de Sistema Solar, ao contrá-
rio, é bem recente. Apesar dos avanços, as leis da física newtoniana 
não eram suficientes para explicar as novas descobertas que a ciência 
incorporava de astros, galáxias, além da importância geopolítica que a 
precedia. A corrida espacial e a viagem à Lua, por exemplo, tornavam-
-se projetos em construção e foram fundamentais para estabelecer ou-
tros marcos sobre a origem do Universo.
O interessante de tudo isso é que, enquanto ciência, a Cosmolo-
gia foi institucionalizada somente a partir do século XX, principalmente 
por causa dos avanços obtidos com a Teoria da Relatividade. Por meio 
dessa teoria, conseguimos distinguir a Radiação de Fundo e estimar a 
condição atual da Terra em sua trajetória espaço-temporal, como po-
demos observar na Figura 3.
https://www.shutterstock.com/pt/g/designua
36 Fundamentos de Geografia Física
Figura 3
Linha temporal da origem do Universo e do início do espaço-tempo 
De
si
gn
ua
/S
hu
tte
rs
to
ck
Big Bang
0
380 
mil anos 300 
milhões de anos
Era das 
trevas
Primeiro 
aparecimento 
de estrelas
1 bilhão de 
anos Hoje
Tempo
Surgimento 
das primeiras 
galáxias
Formação do Sistema 
Solar (9 bilhões de anos)
Galáxias 
modernas
Pelas teorias científicas, portanto, podemos passar da ideia de 
um Universo Criado para a noção de um Universo Originado. Em 
outras palavras, podemos atribuir uma idade à Terra, indicando 
um processo lógico sobre sua gênese e formação por meio dos 
fenômenos que observamos diariamente. É uma ideia que atribui à 
natureza sua naturalidade, ou seja, uma condição dotada de espa-
ço e de tempo e, por isso, não podemos esquecer que só consegui-
mos explicar esses mecanismos com os avanços técnico-científicos 
e o conhecimento.
Mas, então, o planeta Terra tem, de fato, uma idade? Nós tería-
mos assim uma data de nascimento em comum? Digamos que sim. 
Para responder a essa pergunta, vamos discutir um pouco mais 
sobre história natural, a história ecológica da Terra.
https://www.shutterstock.com/pt/g/designua
O planeta Terra 37
2.2 História ecológica da Terra 
Vídeo Como dito anteriormente, se formos atribuir ao planeta 
Terra um início, uma gênese, um princípio, consequente-
mente estaremos indicando a idade do Universo e da natu-
reza natural. É importante lembrar que ao nos referimos à 
natureza natural estamos considerando exclusivamente os 
processos possíveis de explicação pelas leis do movimen-
to, no escopo da física (mecânica) e da biologia (evolução).
Nesse caso, as respostas para essas indagações são 
adquiridas pela observação dos constituintes do próprio 
planeta, com o uso de instrumentos tecnológicos pró-
prios, que possibilitam oferecer uma cronologia relativa 
(por meio de associação com seus diferentes tipos: ro-
chas, fósseis, seres vivos, por exemplo) como uma idade 
isotópica (também chamada absoluta), com base na dinâ-
mica da Física do Decaimento 1 , por meio da radiação ele-
tromagnética. Vamos inciar esse debate assumindo esta 
última possibilidade, relembrando a relevância de medir 
o tempo-espaço em anos-luz.
Leia o artigo “O Tempo Geológico”, de Manzig, publicado na revista Geomá-
tica. Nele, você deve encontrar mais detalhes sobre a escala geológica e 
principalmente sobre os fundamentos das teorias e dos métodos da ciência 
geológica.
Acesso em: 26 jan. 2021. 
http://www.geoturismobrasil.com/REVISTA%20ARTIGOS/o%20tempo%20geol%C3%B3gico%20-%20Manzig.pdf
Artigo
Trata-se da Radiação de Fundo, a qual comprova que o 
Universo tem limites, mas não é estático e que, ao mesmo 
tempo, expande-se, ao passo que sua temperatura tam-
bém diminui. Por esse aspecto, e com a tecnologia de que 
dispomos, estima-se que os limites do Universo estejam há 
13,9 bilhões de anos-luz da Terra. A Via Láctea, por exem-
plo, tem aproximadamente 8 bilhões de anos do limite má-
ximo do Universo. Nosso Sistema Solar, e junto com ele a 
Terra, tem cerca de 4,6 bilhões anos.
Também chamada Física do 
Decaimento Radioativo, é 
o processo de liberação de 
radiação eletromagnética pelos 
elementos químicos em estado 
de desintegração.
1
Para saber sobre em 
qual momento do ciclo 
estelar está o Sol, assista 
ao vídeo Como funciona 
o Universo - Estrelas, 
produzido pelo Discovery 
Channel e publicado pelo 
canal Amolyoko.
Disponível em: http://youtu.be/
agrJHUe9aHA. Acesso em: 26 
jan. 2021.
Vídeo
http://www.geoturismobrasil.com/REVISTA%20ARTIGOS/o%20tempo%20geol%C3%B3gico%20-%20Manzig.pdf
38 Fundamentos de Geografia Física
Mas o que há de interessante em tudo isso? O importante é compreendermos que, no nascimento de 
uma estrela, o gás hélio é produzido pela queima de hidrogênio e pela combustão do hidrogênio e do 
lítio. Dessa forma, outros elementos são originados, inclusive quando elas morrem. Essa descoberta deu 
suporte central à interpretação de que a origem dos gases elementares também ocorreu nos primeiros 
momentos do Universo, em um fenômeno muito semelhante ao que acontece com uma estrela.
Figura 4
Ciclo de vida de uma estrela
sc
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Sh
ut
te
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to
ck
Nebulosa 
molecular 
gigante
Estrela 
pequena
Gigante 
vermelha 
Nebulosa planetária
Anã branca
Estrela 
gigante
Supergigante 
vermelha Supernova
Estrela de 
nêutrons
Buraco negro
Imagem fora de escala, meramente ilustrativa.
Para construir essa ideia, é bom lembrar da importância de se observar as estrelas, o que os nossos antepassa-
dos já faziam, mas com outros saberes. Nesse sentido, desde os tempos antigos as estrelas são observadas, e 
com o avanço técnico-científico podemos também perceber seu ciclo de vida. Assim, as observações indicam 
que as estrelas nascem de nebulosas, que são compostas basicamente de hidrogênio e hélio, os elementos 
mais comuns no Universo. Quanto maior a concentração desses gases, maior será a força gravitacional para 
iniciar sua contração e seu aquecimento. A temperatura do ponto da nebulosa deve ativar a fusão nuclear, que 
inicialmente usa o hidrogênio como fonte de combustível. Esse processo libera muita energia e, desse modo, 
uma estrela nasce. Quanto mais ela concentrar combustível(por meio da força gravitacional de seu núcleo), 
mais ela crescerá, morrendo, assim, catastroficamente e gerando uma Supernova (e dela outras estrelas ou 
buracos negros). Se morrer lentamente, irá se transformar em uma anã branca. Observe a Figura 4.
https://www.shutterstock.com/pt/g/sciencepics
O planeta Terra 39
A escala de tempo geológico 2 (Figura 5) é um exemplo do po-
der que temos em estabelecer marcos históricos em uma ordem ou 
sequência temporal. Por meio dela, podemos definir eventos que se 
passaram bem antes do surgimento da humanidade e assumimos a 
necessidade de um retorno profundo na ordem de milhões a bilhões 
de anos. Assim, a escala geológica apresenta nossas origens mais re-
motas, contemplando desde a formação do Universo e do planeta Ter-
ra, passando pela evolução da vida e as mutações genéticas associadas 
a ela, até os processos mais recentes, como o que você está estudando 
agora. A escala é dividida, por ordem de menor frequência, entre éons 
(unidade de tempo mais abrangente ou maior), era, período, época e 
idade (unidade de tempo mais frequente ou menor). Cada divisão é 
articulada com algum evento importante e que transforma estrutural-
mente toda condição natural da Terra no momento.
Figura 5
Escala geológica e eventos de formação da Terra
750-635 Ma: 
Duas 
Terras bola de neve
ca. 530 Ma: 
Explosão cambriana
ca. 380 Ma: 
Primeiros vertebrados 
terrestres
230-65 Ma: 
Dinossauros
2 Ma: 
Primeiros 
humanos
4527 Ma: 
Formação 
da Lua4,6 Ga
1 Ga
2 Ga
3 Ga
Hadeano
Arqueano
Proterozoico
2,5 Ga
6,5 Ma
251
 Ma
54
2 M
a
ca. 4000 Ma: Fim do 
intenso bombardeio 
tardio; primeira forma 
de vida
ca. 3500 Ma: 
Início da fotossíntese
ca. 2300 Ma: 
Atmosfera se torna rica em oxigênio; 
Primeira Terra bola de neve
3,8 Ga
4550 Ma: 
Formação da Terra
Humanos
Mamíferos
Plantas terrestres 
Animais 
Vida multicelular 
Eukaryotas 
Prokaryotas W
ou
dl
op
er
/W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Se podemos utilizar segundos, 
minutos, horas, dias, semanas, 
meses, anos, séculos e milênios 
para medir o tempo cronológico, 
e da mesma forma os anos-luz 
para mensurar o tempo cósmico, 
a escala do tempo geológico, 
por sua vez, é a medida relativa 
à sistematização das rochas e 
suas idades.
2
40 Fundamentos de Geografia Física
Em linhas gerais, a escala de tempo geológico indica que a Terra so-
freu transformações de um corpo homogêneo para outro muito mais 
diversificado e diferenciado. Essas importantes alterações ocorreram 
pela ação de impactos de meteoros, da compressão gravitacional e da 
desintegração radioativa. No momento das transformações, a tempe-
ratura do planeta era alta; como consequência, alguns materiais atin-
giram o ponto de fusão, distribuindo-se em profundidade, de acordo 
com sua densidade e seu peso (ANDREWS et al., 2009).
A partir de então, pela composição química e pela estrutura física, ini-
cialmente atribuída a sua morfologia, o primeiro éon da escala geológica 
é o Hadeano (relativo a Hades, deus grego do mundo inferior) também 
denominado Hadaico. Nesse período, os elementos mais densos, como 
o ferro e o níquel, migraram para o centro do planeta, constituindo o 
núcleo terrestre; os menos densos passaram a constituir o manto pri-
mitivo, bem como a crosta terrestre, resultantes do resfriamento e da 
solidificação de um oceano magmático 3 primitivo (TEIXEIRA et al., 2001).
A crosta terrestre é relativamente espessa e bastante instável aos 
movimentos dinâmicos do manto, por isso seus movimentos devem 
ter proporcionado várias transformações a ponto de os crátons (rochas 
mais antigas encontradas hoje) serem relativos a essa condição do pla-
neta. Em geral, as formações cratônicas possuem cerca de 4 bilhões 
de anos e datam do éon Arqueano, também chamado Arqueozoico ou 
Arcaico (FERREIRA; ALVES; SIMÕES, 2008).
Outro elemento que ajudou nesse processo foi a água e sua con-
sequente formação de vapor e dos primeiros oceanos. Nesse caso, 
há duas teorias: ou ela foi trazida por outros corpos celestes (como 
meteoros e/ou cometas ou até mesmo com o choque de outros pla-
netas) ou foi originada por meteorização (processo de alteração físi-
ca de rochas que favoreceu a liberação ou a aquisição de oxigênio e 
que, em seguida, combinou-se com o hidrogênio) (FERREIRA; ALVES; 
SIMÕES, 2008).
A formação dos primeiros oceanos indica, também, um ambiente 
de temperaturas elevadas e com precipitações, observadas em regis-
tros de rochas carbonatadas e evaporíticas 4 , o que remete à forma-
ção de uma atmosfera primitiva que já compunha gases, como dióxido 
de carbono, monóxido de carbono, hélio, metano, amônia, sulfureto 
de hidrogênio, hidrogênio, azoto, além de água. Pela característica 
Magma é o material composto 
de rocha fundida encontrado no 
interior da Terra. Imagine todo 
esse material exposto e sem 
a presença de uma superfície 
sólida sobre ele. Imaginou? 
Exatamente essa imagem, de 
uma bolsa de fogo, não se dife-
rencia em nada de um oceano 
composto por magma.
3
São rochas formadas por precipi-
tação química, ou seja, quando 
reações de elementos químicos 
se formam, um composto sólido 
é precipitado. O sal é exemplo. 
Esse material dá origem ao 
processo de formação de rochas, 
Nas carbonáticas, apresentam 
grande teor de sedimentos 
carbonáticos (possuem carbono 
em sua composição, como os 
calcários); nas evaporíticas, ocor-
rem em camadas organizadas, 
originadas pela cristalização da 
disposição em meio aquático e 
pelo processo de evaporação. O 
sal-gema é um exemplo.
4
O planeta Terra 41
inicial, essa primeira atmosfera era densa, quente, redutora e ácida, 
basicamente originada dos gases remanescentes da nebulosa original 
somado às transformações provocadas por meteoritos, cometas e vul-
canismos (FERREIRA; ALVES; SIMÕES, 2008).
Ainda no éon arqueano, a primeira atmosfera foi submetida ao 
aumento do teor de oxigênio (O2) devido ao processo de dissociação 
fotoquímica da molécula de água, que ocorre quando há transferên-
cia dos átomos de hidrogênio para os transportadores de hidrogênio 
– estes atuam na respiração celular (processo que garante a liberação 
do oxigênio da água (H2O) para a atmosfera). Mais tarde, isso ocorre 
por meio da fotossíntese, processo em que os organismos vivos, ao 
consumirem CO2, extraem o carbono e liberam o oxigênio (FRIMMEL, 
2005).
Isso significa dizer que pelo menos em uma parte da Terra, apesar 
de aparentemente inóspita, já existia alguma forma de vida pretéri-
ta tolerante a um planeta inicialmente hostil para as formas de vida 
atuais. Nesse caso, é consenso que foi esse o tipo de ambiente em 
que se originou a vida, fundamentalmente em meio aquático, como 
lagos e lagoas. Atualmente, encontramos condições análogas a essa 
em ilhas vulcânicas, sobretudo em locais de temperatura baixa, que 
reúnem condições muito diversificadas, como a presença de tempes-
tades, relâmpagos e neve (FRIMMEL, 2005).
Desse processo, temos de considerar, também, que uma parte do 
oxigênio liberado por fotossíntese foi dissociada para formar a Cama-
da de Ozônio (O3) – esta, atualmente, desempenha um papel muito 
importante na proteção da vida contra as radiações letais, sobretudo 
em meios terrestres; a outra parte foi elevada a níveis ideais para a 
geração de outras formas de vida (FRIMMEL, 2005).
Diante disso, é necessário considerar que qualquer ser vivo ori-
ginado nesse período não tem nenhuma semelhança com os atuais. 
Primeiramente, porque o ambiente terrestre apresentava uma pe-
quena porcentagem de oxigênio (menos 1% da composição do ar); 
em segundo lugar, porque foram esses organismos que ofereceram 
um enriquecimento gigantesco do ar atmosférico, transformando ir-
reversivelmente essa Terra inicial.
Depois dessa pequena história, você deve ter percebido que o pas-
sado da Terra é recheado de transformações, bem como interações 
internas e externas, e que os estudos da física basicamente indicam o 
Uma dica interessante 
para enriquecer seu estu-
do é assistir ao documen-tário Earth The Making of 
a Planet (Construindo o 
planeta Terra). Analise 
os eventos, os fatores de 
formação e a alteração 
da Terra, bem como as 
condições para origem da 
vida. Coloque em prática, 
também, a habilidade 
de relacionar todos os 
elementos (terra, água, 
ar, fogo e vida) com um 
sistema.
Direção: Yavar Abbas. EUA: Pioneer 
Production, 2011.
Disponível em: https://youtu.
be/5dx7vRxMRQI. Acesso em: 26 
jan. 2021. 
Documentário
https://youtu.be/5dx7vRxMRQI
https://youtu.be/5dx7vRxMRQI
42 Fundamentos de Geografia Física
condicionamento de grande parte das leis do movimento e dos pro-
cessos biogeoquímicos. Além disso, você viu que, se não fosse pela 
origem da vida, nosso planeta seria outro, equivalente ao Arqueano. 
Portanto, graças à presença da vida, de organismos muitos simples, é 
que temos a Terra como conhecemos hoje.
Podemos considerar ainda que o nosso planeta alcançou o pata-
mar ideal para manter a vida somente quando passou a transformar 
internamente toda sua matéria, controlando a energia que entra e sai 
e promovendo uma dinâmica autorregulada. Vamos avançar, para en-
tender como todos esses processos foram paulatinamente construin-
do um ambiente articulado e muito integrado, que é melhor explicado 
pelo conceito de sistema.
2.3 O sistema terrestre 
Vídeo O que faz com que a Terra seja um sistema? Para começar a respon-
der a essa pergunta, devemos considerar que, primeiramente, a ideia 
de sistema absorve as grandes esferas postuladas por Aristóteles e 
atualmente incorpora a sofisticação teórica dos princípios sistêmicos 
– troca de matéria e energia – e também os avanços técnico-científicos 
de representação do planeta Terra.
Iniciamos com a constatação de que a Terra pertence ao grupo dos 
planetas rochosos, sendo relativamente pequena quando comparada 
aos planetas gasosos. Ela possui um raio médio de 6.371 km, o que a 
permite, em conjunto com outras características, reunir as condições 
necessárias para existência de sua massa e matéria por meio de sua 
relação com o Sol (principal fonte de energia externa) e de seu núcleo 
(fonte de energia interna).
O tamanho, a forma, a composição e a estrutura da Terra permi-
tem a existência de uma camada gasosa ao seu redor: a atmosfera, 
que a protege dos raios solares nocivos e de outros corpos celestes. 
Juntamente com ela, há a hidrosfera e isso só é possível pela distân-
cia que há entre a Terra e o Sol. Por isso, ao mesmo tempo que os 
valores de temperatura interna são ideais para a maioria dos seres 
vivos conhecidos, eles também promovem uma forma de proteção 
contra a entrada de energia e matéria não mais necessárias para o 
funcionamento do sistema.
O planeta Terra 43
Energia solar
Energia nuclear
Atmosfera
Clima
Litosfera
Evaporação
Alteração e 
formação de 
rochas
Precipitação Temperatura Proteção da vida Liberação de gases Consumo de gases
Hidrosfera
Relevo
Fauna e flora Biosfera
Vulcanismos e 
tectonismos
Fonte: Elaborada pelo autor.
Liberação de 
detritos
Matéria 
orgânica
Reações 
fisiológicas
Solos
Transporte de 
sedimentos
Elementos em 
solução
Oceanos, corpos 
hídricos e geleiras
Figura 6
O sistema terrestre
Crosta terrestre
Mas atmosfera e hidrosfera sozinhas não oferecem a complexidade 
total do sistema. Nesse caso, suas interações só podem ser desenvolvi-
das nas condições sobre a litosfera, que integra não exclusivamente a 
superfície terrestre, mas sobretudo o seu interior. A transformação do 
sistema, pela litosfera, ocorre nos processos de transformações radicais 
que dão a qualidade de um ambiente dinâmico, articulado e integrado. 
Contudo, sem a biosfera, o sistema terrestre apresentaria as condições 
ambientais do Arqueano; isso significa que o estado natural do planeta, 
tal qual vemos hoje, só foi possível com a origem da vida, que não só pro-
44 Fundamentos de Geografia Física
porcionou transformações na litosfera, na hidrosfera e na atmosfera; a 
sua própria dinâmica proporcionou condições para gerar outras formas 
de vida. Desse modo, como a natureza natural é explicada pelas Leis 
Físicas (do movimento, radiação etc.), ela também absorve os princípios 
biológicos da evolução por meio da seleção natural.
Assim, enquanto sistema, a presença de organismos vivos contribuiu – 
e ainda contribui – para a evolução de todos os ambientes na Terra, inter-
ferindo diretamente em todos os atributos do sistema, seja na forma de 
ocupação de todos os lugares do mundo, mesmo aqueles mais inóspitos, 
seja forçando a diversificação, a evolução e a transformação do planeta.
Podemos, então, considerar que esse sistema foi formado sobretudo 
na Era Paleozoica, há cerca de 200 a 540 milhões de anos AP (antes do 
presente), quando as áreas continentais formavam um único continente: 
a Pangeia, e as águas marinhas, um único oceano: o Pantalassa.
Desde a era 
Cenozoica, a Terra tem 
mantido condições 
ideais para proteção e 
manutenção da vida
Figura 7
Transformações da Terra em quatro eras diferentes
Pangeia 
Laurásia 
Gondwana
Cenozoico 
(Quaternário)
Paleozoico 
(Pérmico)
Mesozoico 
 (Jurássico) 
Mesozoico 
 (Cretáceo Superior) 
m
ih
a 
de
/S
hu
tte
rs
to
ck
Fonte: Elaborada pelo autor.
Desse momento em diante, as transformações da Terra foram drás-
ticas e decisivas, exclusivamente para modificações das formas de vida, 
por meio das grandes extinções com processos catastróficos: intensos 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paleozoica
O planeta Terra 45
vulcanismos, eras glaciais e impactos de meteoros. De outro modo, 
a quantidade de água, gases, calor interno e radiação estão mais ou 
menos constantes e não sugerem alterações tão importantes quanto 
aquelas observadas antes da Era Paleozoica.
Assim, podemos resumir, pelo tempo geológico, que a Terra atual 
está dentro do Éon Fanerozoico da Era Cenozoica e do Período Qua-
ternário, momento de constituição do planeta com a disposição atual 
dos cinco continentes (América, Eurásia, África, Oceania e Antártica) e 
dos três oceanos (Atlântico, Índico e Pacífico).
Desde então, o sistema terrestre tem integrado todas as possibili-
dades de atuação e transformação, incluindo desde pequenos seres 
e organismos vivos até as formas de como o ser humano se apropria, 
constrói, explora e modifica a Terra como seu lugar de moradia. Todos 
esses processos estão inseridos nas dinâmicas da natureza e servem 
para contemplar o debate da próxima seção.
Como você deve ter 
percebido, a Terra está 
em permanente transfor-
mação. Seu estágio atual 
pode ser considerado um 
intervalo entre um passa-
do e um futuro distantes. 
Assista ao vídeo How 
Earth Will Look In 250 
million Years (em 
português Como será a 
aparência da Terra em 
250 milhões de anos) 
e observe o ciclo de 
fragmentação dos conti-
nentes que finaliza com 
a formação de uma nova 
Pangeia.
Disponível em: https://youtu.be/
hos7w8xrcEs. Acesso em: 26 jan. 
2021.
Vídeo
2.4 Dinâmicas da natureza 
Vídeo Na Geografia Física, as dinâmicas da natureza atendem ao princípio 
da análise dos sistemas naturais no escopo do sistema terrestre e por 
meio das transformações engendradas pelas atividades humanas ou 
da relação com elas no decorrer da história. Chamamos isso de produ-
ção do espaço geográfico, ou seja, a maneira como nós, seres humanos, 
relacionamo-nos com nosso entorno imediato, próximo e distante, e 
construímos nossos próprios lugares de moradia, convivência, lazer, 
trabalho, rotinas etc.
Mas o que isso significa? Observe a Figura 8. Ela basicamente repre-
senta, em diferentes épocas, as transformações do Cais do Porto do 
Rio de Janeiro.
Agora pense: considerando que a análise da Geografia Física pre-
cede o interesse dos sistemas naturais na produção do espaço geo-
gráfico, como podemos compreender e avaliar os processos que 
condicionaram as alterações e as transformações do Cais do Porto? 
Como equalizar os fatores históricos, distinguindo o que é natural (em 
relação ao movimento do sistema) e o que é social (associado aos usose propósitos, segundo as intencionalidades dos agentes sociais)?
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paleozoica
https://youtu.be/hos7w8xrcEs
https://youtu.be/hos7w8xrcEs
46 Fundamentos de Geografia Física
Figura 8
Sequência das modificações do Cais do Porto do Rio de Janeiro em 1608, 1710, 1817 e 2002
Fonte: Andreatta et al., 2009.
Cais do Porto – 1608
Cais do Porto – 1710
Cais do Porto –1817
Cais do Porto – 2002
A resposta é que a dinâmica da natureza é geograficamente explica-
da quando elaboramos um exercício de articulação escalar. É preciso 
considerar que tanto os processos físico-naturais como os de origem 
humana determinam as características por meio das quais a dinâmica 
da natureza se articula ao espaço geográfico (SANT’ANNA NETO, 2013).
Nesse caso, as escalas não devem ser entendidas apenas como di-
mensões espaçotemporais absolutas, em que os fenômenos naturais se 
manifestam pelo uso de termos espaciais como área, tamanho, abran-
O planeta Terra 47
gência e estruturação. Também não podem ser compreendidas ape-
nas como temporais (décadas, épocas, eras etc.) Podemos incorporar 
os processos dinâmicos, dotados de atributos altamente sensíveis, aos 
ritmos, às variações e às alterações de todas as forças terrestres e cósmi-
cas que de alguma forma exercem ou provocam qualquer interferência 
no sistema natural, social e produtivo (SANT’ANNA NETO, 2013).
Podemos admitir que a articulação escalar é um princípio da aná-
lise geográfica que pode ser iniciada reconhecendo os processos que 
organizam o espaço-tempo longo; este se baseia, sobretudo, na escala 
profunda, longa e lenta do tempo geológico.
Para essa dimensão, partimos de processos que duram milhares 
ou milhões de anos modificando os climas do planeta (global), que al-
gumas vezes ficam mais quentes, outras, mais frios e, alternadamente, 
ficam mais secos ou mais úmidos. Esse evento é explicado por movi-
mentos astronômicos e cósmicos da órbita terrestre e das manchas 
solares, bem como pela integração dos mecanismos internos – por 
exemplo, as atividades vulcânicas e os tectonismos –, que se manifes-
tam na organização de domínios naturais de paisagem, ou seja, cordi-
lheiras, florestas, desertos, zonas climáticas etc.
Somado ao espaço-tempo longo, incorporamos a dimensão do tem-
po curto: o tempo da história humana. Partimos dos fundamentos que 
definem a valorização da dimensão antropogênica dos sistemas natu-
rais, ou seja, de como os seres humanos se tornam agentes geográficos 
de transformação das paisagens e de modificação dos ambientes re-
gionais e locais, seja como indivíduo ou como grupo social, que perce-
be, sofre e age por meio de manifestações e organização dos sistemas 
naturais (SANT’ANNA NETO, 2013).
Isso não quer dizer que no tempo histórico as forças terrestres e 
astronômicas deixam de existir, pelo contrário, significa que as inte-
rações entre espaços e temporalidades se tornam mais complexas 
e de difícil determinação, por isso é melhor tratá-las pela natureza 
híbrida.
Como operacionalizamos esse processo? O esquema da Figura 9 re-
presenta uma maneira de elaborar a análise da dinâmica da natureza, 
com localização, situação e posição geográfica como elementos que defi-
nem os níveis da homogeneização, heterogeneização e diferenciação do 
espaço geográfico (NASCIMENTO JR., 2017).
48 Fundamentos de Geografia Física
Figura 9
O estudo geográfico das dinâmicas da natureza 
Articulação escalar
Posição
Altitude Estrutura 
geológica
Movimentos 
astronômicos e 
cósmicosSolos
Relevo Dinâmica 
terrestreCorpos hídricos
Vegetação
Zonas climáticas
Domínios 
naturais
Ocupação da 
terra
Atividades 
humanas
Local Regional Global
Diferenciação Heterogeneização Homogeneização
Situação Localização
Produção do espaço geográfico
Pr
in
cí
pi
os
 p
ar
a 
an
ál
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e 
ge
og
rá
fic
a
Es
pa
ço
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m
po
-h
is
tó
ric
o
Princípios para análise geográfica
Espaço-tem
po-histórico
Fonte: Elaborada pelo autor.
E no que esses conceitos consistem? Quando no referimos à locali-
zação geográfica, atribuímos inicialmente a dimensão espacial do siste-
ma natural com base em sua área, tradicionalmente representado por 
pelo menos um par de coordenadas (latitude e longitude). O conceito 
de bioma é um exemplo desse processo de análise (Figura 10).
Ies
de
 Br
as
il S
/A
Figura 10
Principais biomas do mundo
O planeta Terra 49
Na lógica, as características dos lugares com base em sua localização 
devem resultar em uma reunião sistemática e descritiva de fatores asso-
ciados a processos de homogeneização 5 , ou seja, mecanismos naturais 
que atuam no tempo longo se constituem em atributos explicativos de es-
tabilidade, constância e modificações de padrões de grande escala. Nesse 
caso, os estudos recaem sobre a gênese e formação das paisagens, dialo-
gando fortemente com a paleontologia, a geologia e a biologia.
O princípio da situação geográfica, por sua vez, indica que, além de 
localizar o sistema natural por um ponto ou área, devemos contemplar 
também a sua relação com outros sistemas (relações entre água, ar, 
solo, plantas, animais e seres humanos).
Na Geografia Física, essa concepção pressupõe a necessidade de 
compreender a heterogeneização 6 , isto é, as interações espaciais que 
podem ser associadas às características dos lugares pelos atributos da 
estrutura geológica, do relevo, dos domínios vegetacionais, dos biomas 
e do uso da terra. A Figura 11 representa os diferentes tipos de domí-
nios vegetacionais de acordo com a variação da altitude e da latitude.
Figura 11
Variação de domínio vegetacional de acordo com a altitude e a latitude
Ies
de
 Br
as
il S
/A
.
Nessa perspectiva, nosso trabalho pode ser elaborado no âmbito 
da transformação das paisagens e dos processos naturais por enfo-
ques estratégicos da regionalização (zoneamento agroecológico e eco-
lógico-econômico) e da exploração de recursos. Ele também pode ser 
concebido pela identificação de medidas que contenham os processos 
de desmatamento, mitigação e adaptação de mudanças globais e pela 
A homogeneização é resultado 
dos processos de classificação 
pela semelhança, para o encon-
tro de classes, padrões e casos 
análogos. A valorização é para 
generalização e simplificação 
dos elementos constituintes 
dos sistemas naturais em seus 
determinados espaços e lugares, 
atribuindo combinação entre 
ausência e presença da seme-
lhança, separando a diferença 
(NASCIMENTO JR., 2017).
5
A heterogeneização é resultado 
de uma análise que integra 
a variação e as conexões dos 
sistemas naturais, indicando 
a (co)existência de processos 
diferentes que estruturam e 
organizam uma mesma área. 
Ela prioriza a identificação de 
processos e fenômenos por 
meio de suas manifestações 
espaciais, inter-relacionadas 
umas às outras, em integrações 
inicialmente simples e poste-
riormente complexas, visando 
alcançar a integração total dos 
fenômenos, que constituem 
o caráter variado do planeta 
(HARTSHORNE, 1978).
6
50 Fundamentos de Geografia Física
avaliação de localizações inadequadas para a ocupação humana, prin-
cipalmente quando são transformadas em áreas de riscos naturais.
A posição geográfica, por fim, é a terceira maneira de compreen-
der a dinâmica natural. Ocorre por meio do seguinte princípio: a loca-
lização (área) e a situação (relação) geográficas, sozinhas, não definem 
por completo o quadro da análise espacial, uma vez que o conteúdo 
dos sistemas naturais fica responsável por definir o que está embutido 
ou é interno às dinâmicas existentes nesse quadro.
Assumimos que as relações internas e as influências externas são 
internalizadas. Desse modo, o sistema natural localizado e situado em 
um ponto no espaço não pode ser compreendido como referência por 
características que existem somente nele; assim, esse sistema depende 
de tudo o que acontece ao seu redor (HARVEY, 2012).
Na Geografia Física, essa perspectiva sugere entender a diferen-
ciação 7 , o sistema natural, como uma manifestação únicae singular, 
resultado de múltiplas relações (internas e externas, horizontais e ver-
ticais, passadas e presentes, diferentes, similares e diversas) que se en-
contram e convergem-se.
Os eventos extremos, os desastres naturais, as mudanças climáti-
cas, a degradação ambiental, as pandemias, bem como a diversidade 
dos sistemas produtivos, sociais e humanos, são temas de enfoque 
nessa dimensão escalar que não está dissociada das demais.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Os estudos de radiação, movimento e evolução da Terra nos auxilia-
ram muito a compreender o sistema terrestre. Além disso, atualmente 
eles possibilitam que uma história e uma idade sejam atribuídas ao Uni-
verso, à Terra e à natureza natural.
O conhecimento dessa história tem base em cálculos, modelagens e 
simulações, constituídos pelas Leis da Física (energia, radiação, partículas 
elementares e relatividade) e pelas distâncias e frequências estimadas da 
radiação eletromagnética, ou seja, da luz, que é captada na Terra por te-
lescópios ópticos e radiotelescópios.
A diferenciação é um processo 
de análise que pode ser esta-
belecida de modo abrangente 
e geral ou de modo específico, 
particular, singular e irrepetível. 
Nesse jogo, a regularidade e 
a uniformidade do sistema 
natural não são representadas e 
explicadas como um estado em 
si mesmas. Elas se apresentam 
somente como uma etapa no 
desenvolvimento da história 
natural, que explica como 
processos globais (tempo 
longo) atuam sob as estruturas 
regionais e especificam-se, 
aumentando a complexidade 
nos locais.
7
O planeta Terra 51
Mesmo assim, sustentado, o modelo do Big Bang não está isento de 
debate, uma vez que essa teoria só é possível dentro do contexto técnico-
-científico e tecnológico atual, mostrando que todo saber e conhecimen-
to é passível de contradições e de avanços, sendo sempre resultado de 
construções sociais. Como destacamos, a teoria é bastante recente, mas o 
conhecimento sobre o Universo é bastante antigo. Mesmo sendo tradicio-
nal, esse saber deve ser reconhecido como importante para a sociedade 
como um todo.
Lembre-se: a natureza tem uma história, pois ela tem espaço-tempo 
e é dinâmica, mutável e sistêmica. Destacamos que nessa concepção de 
natureza o ser humano participa do sistema, seja como ser biológico ou 
social. Nesse sentido, atualmente nenhum fenômeno natural pode ser 
explicado em si ou como puramente natural, uma vez que suas manifes-
tações podem ser explicadas apenas parcialmente pelas leis da física e da 
biologia.
De todo modo, na Geografia Física utilizamos os princípios de localiza-
ção, situação e posição geográficas para explicar a formação socioespacial 
e a idade de cada lugar no mundo, por meio da articulação entre história 
natural (tempo geológico) e social (tempo histórico) dentro da história da 
natureza.
ATIVIDADES
Vamos pôr nossos conhecimentos em prática? Nestas atividades, 
selecionamos alguns problemas que devem ajudá-lo a desenvolver 
inicialmente sua análise geográfica. Recomendamos que utilize, além 
deste capítulo, os textos indicados nas dicas de leitura. Vamos lá?
1. A Radiação de Fundo e o ciclo de vida de uma estrela têm relação com 
a origem do Universo e com a formação da Terra. Como você pode 
descrever essa relação?
2. Utilize a escala do tempo geológico e descreva cinco grandes eventos 
que proporcionaram a origem e a formação da Terra.
3. A origem e a evolução das formas de vida na Terra fazem parte da 
dinâmica dos sistemas naturais. Quais são as implicações desses 
processos no estágio atual da Terra?
4. Como é possível desenvolver uma análise das dinâmicas da natureza 
por meio da Geografia Física?
52 Fundamentos de Geografia Física
REFERÊNCIAS
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http://urlib.net/rep/6qtX3pFwXQZ3P8SECKy/z9CEf?ibiurl.backgroundlanguage=pt-BR
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A superfície terrestre 53
3
A superfície terrestre
Neste capítulo vamos assimilar os principais conceitos dos 
elementos constituintes da superfície da Terra. Nosso interes-
se é continuar o debate sobre os sistemas naturais, agora com 
foco na estrutura geológica, nas formas do relevo e na forma-
ção dos solos.
Além disso, vamos entender como a dimensão do ser hu-
mano, no papel de agente antrópico modelador da superfície, 
pode ser contextualizada como um período particular, também 
chamado de Antropoceno.
Com um enfoque que valoriza a noção sistêmica, ou seja, 
do sistema terrestre, consideramos que, partindo desses três 
substratos da superfície, é possível indicar também aspectos 
de como as sociedades iniciam seu processo geográfico de 
constituição ao mesmo tempo que produzem o espaço com 
base na história natural e social – a estrutura geológica, o re-
levo e o solo.
Dentro da Geografia Física, estamos organizando os sabe-
res relativos à geologia, à geomorfologia e à pedologia como 
subcampos específicosno tratamento das grandezas escala-
res e das articulações que estruturam a superfície da Terra. 
No entanto, antes de iniciar esse debate, vale sempre lembrar 
que, antes do século XIX, as grandes questões que envolviam a 
origem, a constituição e a estruturação da natureza foram ela-
boradas em concepções mitológicas, em seguida por filósofos. 
Em grande parte desses conhecimentos as abordagens mais 
incorporadas se baseavam no fixismo, na noção estática do 
sistema terrestre.
Desejamos uma ótima leitura e um bom rendimento de 
estudo.
54 Fundamentos de Geografia Física
3.1 Fundamentos de geologia 
Vídeo Os conhecimentos sobre a formação da Terra foram inicialmente 
desenvolvidos pelos estudiosos naturalistas, com lógicas indutivas, ou 
seja, eles construíam uma ideia geral com base na observação de casos 
particulares. Isso significa que esses estudiosos explicavam a formação 
e o funcionamento do sistema terrestre considerando sua idade rela-
tiva, por exemplo: os aspectos estruturais das rochas, a presença de 
fósseis e a organização de sedimentos – isto é, seguindo a lógica de que 
as unidades geológicas jovens são mais recentes e tendem a estar sempre 
acima das antigas, e assim por diante.
O entendimento geológico foi paulatinamente organizado nesse 
contexto para definir a geologia (ciência da Terra, derivada do grego 
geo, “terra”, e logos, “saber”, “conhecimento”, “estudo”) como campo 
orientado aos eventos da formação e história natural da Terra.
Mas quais são as implicações da geologia no escopo da Geografia 
Física? Podemos construir essa resposta considerando que o objetivo 
de entender a história natural da Terra tem sido fundamental para a 
formulação da ideia da origem e da formação do sistema terrestre.
Foi somente no início do século XX que surgiu a noção de que os sis-
temas naturais apresentam movimentos e sofreram transformações no 
passado. Esses postulados são da Teoria da Deriva Continental, proposta 
pelo geofísico e meteorologista alemão Alfred Wegener (1880–1930).
Para a formulação da sua teoria, Wegener observou similaridades 
marcantes e importantes entre rochas e fósseis dos continentes si-
tuados em lados opostos do Oceano Atlântico e designou fundamen-
talmente que essas evidências faziam parte de um supercontinente 
comum. Devido a processos de fragmentação, esse continente foi se-
parado, originando todos os demais da Terra atual. Vale considerar que 
não era nova a ideia de unicidade dos continentes atuais em tempos 
pretéritos, mas Wegener foi, sem dúvida, o primeiro a formular uma 
ideia lógica de uma separação continental. Assim, no momento em que 
fez sua apresentação, Wegener sofreu críticas porque, além de ser uma 
teoria muito inovadora, suas explicações sobre as forças e os proces-
sos relacionados à deriva continental não foram substancialmente con-
sistentes para grande parte da comunidade acadêmica e científica da 
época (PRESS et al., 2006).
A superfície terrestre 55
Em sua teoria, Wegener utilizou quatro argumentos:
1. Morfológico: percebeu que rochas e fósseis da África do Sul 
eram idênticos aos encontrados em Santa Catarina, no Brasil. Da 
mesma forma, assim eram os morros apalaches na América do 
Norte em relação às terras altas da Escócia.
2. Paleoclimático: observou que a presença de formações glaciais 
em continentes de clima tropical indicava que essas áreas 
estavam em outra situação geográfica no passado.
3. Paleontológico: constatou que fósseis encontrados em certos lugares 
sugeririam características ambientais diferentes dos dias atuais.
4. Geológico: associou que rochas com a mesma idade e do mesmo 
tipo se formaram ao mesmo tempo e em um mesmo lugar, 
quando os continentes formavam um só, no caso, a Pangeia 
(PRESS et al., 2006).
Esses argumentos foram mais relevantes principalmente após o 
avanço das tecnologias de sensoriamento remoto – sobretudo para 
o mapeamento do assoalho oceânico – e a partir da década de 1960 
(PRESS et al., 2006). Nesse caso, as explorações do fundo dos oceanos 
(para a busca por petróleo e outros recursos naturais) levaram ao en-
contro de dorsais submarinas (caracterizada pela elevação do assoa-
lho) e de vales muito profundos (como se o fundo do mar apresentasse 
uma fenda), conforme ilustra a Figura 1 a seguir.
Figura 1
Carta das dorsais oceânicas do mundo
A figura serve como exemplo 
da formação com fendas, 
que ocorre no centro norte-
sul no Oceano Atlântico e 
nos setores meridionais do 
Oceano Índico e de sul a 
leste do Oceano Pacífico. 
Destaca-se a Elevação 
Mesoatlântica, que apresenta 
80 mil quilômetros de 
extensão, com alturas em 
torno de 3 quilômetros, e 
concentra cerca de 80% dos 
vulcanismos observados na 
Terra. 
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56 Fundamentos de Geografia Física
Assim, os geólogos Harry Hess e Robert Dietz interpretaram 
que a crosta terrestre se separa ao longo de riftes 1 nas dorsais 
 meso-oceânicas e que o novo fundo oceânico se forma pela ascen-
são de uma nova crosta quente nessas fraturas (PRESS et al., 2006). 
 Trata-se, então, da formação inicial da litosfera.
Nesse processo, a litosfera se expande lateralmente a partir da fenda 
das dorsais e é substituída por outra mais nova a cada processo de ex-
pansão, sendo reciclada em seus limites, onde ocorrem as áreas do cha-
mado círculo ou anel de fogo. A Teoria da Deriva Continental poderia ser 
assim validada na medida em que esse mecanismo explica o movimento 
da crosta terrestre e a fragmentação dos continentes (Figura 2).
Observe! Até aqui entendemos como a litosfera é originada e como 
esse processo se relaciona com a deriva continental (distribuição e 
fragmentação dos continentes), bem como de que modo essas áreas 
concentram atividade vulcânica e sísmica (tremores, terremotos e ma-
remotos). No entanto, falta explicar como esses processos ocorrem, 
formando os minerais e as rochas, e por que acontecem com esse pa-
drão espacial. Para chegarmos a essa resposta, temos a contribuição 
do canadense John Tuzo Wilson (1908-1993), que descreveu, pela pri-
meira vez, a noção de tectonismo global, ou das placas tectônicas.
Conceito geológico para designar 
as fendas ao longo da litosfera.
1
Minerais são todas as subs-
tâncias sólidas cuja formação é 
natural e inorgânica, estrutura-
das por arranjos cristalinos geo-
métricos e atômicos (elementos 
combinados quimicamente). 
Exclui-se do universo mineral, 
por exemplo, os materiais gaso-
sos e líquidos (água), além das 
substâncias orgânicas (carvão 
mineral) e sintéticas.
Já rocha é um agregado conso-
lidado, que resulta de processos 
geológicos e é composto de 
minerais. Podem ser classificadas 
por meio dos seus processos 
de formação em ígneas ou 
magmáticas, sedimentares e 
metamórficas.
Saiba mais
Figura 2
Ocorrência do círculo de fogo na superfície terrestre
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A superfície terrestre 57
O mecanismo é explicado pela movimentação de placas rígidas as-
sociada aos processos convectivos que ocorrem no interior do manto 
terrestre. O manto é uma das camadas da Terra, sendo composta por 
um fluido viscoso chamado de magma, e sua movimentação é oriunda 
do calor interno da Terra formando as correntes convectivas, que, por 
sua vez, apresentam velocidade de poucas dezenas de milímetros por 
ano, ou seja, dentro do tempo geológico.
Nesse sentido, a litosfera está fragmentada em aproximadamen-
te 12 placas tectônicas, que, por serem submetidas ao deslocamento 
constante, apresentam em seus limites diferentes processos para dis-
sipação de energia, que são diferenciados principalmente em termos 
de temperatura e pressão (TEIXEIRA et al., 2001). Em geral, cada placa 
se move como uma unidade distinta, deslizando sobre a astenosfera 
(o manto superior) conforme as características de fluidez do magma e 
da velocidade provocada pelo aquecimento interno. Por isso, nenhu-
ma placa é idêntica, seja em tamanho, formaou dinâmica, mas agem 
de acordo com três movimentos que provocam deformações na crosta 
terrestre, segundo as direções habituais de suas trajetórias (Figura 3).
Vale considerar que essa situação é mais recente, sendo relativa à 
dinâmica que ocorre desde o Quaternário, isto é, o momento da histó-
ria geológica em que o planeta está organizado em cinco continentes 
(América, Eurásia, África, Oceania e Antártica) e três oceanos (Atlântico, 
Índico e Pacífico).
Convecção: um dos processos de 
transferência de calor, que ocorre 
com movimentos ascendentes 
(quando os fluídos são forçados a 
subir) e descendentes (quando o 
fluido é forçado a descer).
Glossário
Figura 3
Placas tectônicas e as 
direções de seus 
movimentos habituais 
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No mapa, (1) corresponde aos limites divergentes das placas tectônicas e (2) corresponde aos limites convergentes das placas 
tectônicas.
58 Fundamentos de Geografia Física
Um primeiro movimento explica os limites divergentes das placas, 
em que se observa sua separação ou formação da litosfera. A conse-
quência é a formação de vales paralelos em forma de fenda, associados 
a atividades vulcânicas e terremotos. Como já foi descrito, nos oceanos 
esse dinamismo caracteriza a dorsal meso-oceânica, mas nos continen-
tes eles geram os grandes vales em forma de rifte (Figura 4).
Figura 4
Movimentos tectônicos divergentes 
As placas se afastam, formando uma nova litosfera. A foto faz a referência ao Parque Nacional Thingvellir com o Lago 
Thingvallavatn ao fundo, na Islândia, onde as placas tectônicas Norte-Americana e Eurasiana estão em divergência. 
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Se as placas se separam em determinado lugar, em outro lado elas 
se encontram. O movimento origina a convergência que promove a co-
lisão frontal das placas. Nesse processo, uma das placas é destruída, 
sendo submetida à subducção, ou seja, por meio de um mergulho no 
interior da Terra, ela é reciclada quando retorna ao manto superior. Na 
litosfera, a consequência pode ser observada na formação de fossas 
oceânicas e soerguimento da crosta, que dá origem às grandes cadeias 
de montanhas. As cordilheiras dos Andes, do Himalaia e dos Alpes Suí-
ços, são exemplos desse processo (Figura 5).
Figura 5
Movimentos tectônicos convergentes
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As placas colidem e uma delas é submetida à subducção e reciclagem. A foto faz a referência à Cordilheira dos Andes, na 
América do Sul, onde as placas tectônicas de Nazca e Sul-Americana se colidem, sendo a primeira forçada à subducção. 
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A superfície terrestre 59
Já nos limites transformantes, movimentos em que as placas 
deslizam horizontalmente uma em relação à outra, a consequência 
é a formação de grandes talhamentos na crosta terrestre, ou seja, 
fraturas que ocorrem ao longo do deslocamento (Figura 6). Nesse 
caso, a litosfera não é criada e nem destruída, mas há grande ocor-
rência de atividades sísmicas devido à grande pressão causada na 
fricção.
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Figura 6
Movimentos tectônicos transformantes
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As placas deslocam-se horizontalmente em relação uma à outra. Como exemplo, temos a região da falha de San Andreas, no Oeste dos 
Estados Unidos, onde as placas Norte-Americana e Pacífica movem-se em direções opostas, respectivamente Norte e Sul.
Figura 7
Limites de placas tectônicas
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LIMITE DE PLACA 
CONVERGENTE 
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VULCÃO 
ATIVO 
VULCÃO 
EXTINTO 
DORSAL OCEÂNICA 
EM EXPANSÃO
PLACA EM 
SUBDUCÇÃO 
CROSTA OCEÂNICA 
CROSTA CONTINENTAL
LIMITE DE PLACA 
DIVERGENTE 
LIMITE DE PLACA 
TRANSFORMANTE 
LIMITE DE PLACA 
CONVERGENTE RIFTE CONTINENTAL 
(LIMITE DE NOVA 
PLACA)
Com base nas Figuras 4, 5, 6 e 7, observamos que os movimen-
tos podem ser observados tanto na formação de relevo (cadeias de 
montanhas e vales) quanto na manifestação de diversos acidentes 
naturais, como vulcanismos, tremores, terremotos e maremotos. 
Considerando todos esses eventos como parte do processo de re-
60 Fundamentos de Geografia Física
Intemperismo é um conjunto 
de processos mecânicos, de 
tipo físico, químico e biológico, 
que atuam na fragmentação, 
desintegração e decomposição 
de minerais e rochas, tornan-
do-os, no tempo geológico, 
friáveis, reduzidos a um material 
desagregado ou decomposto de 
rocha. A resistência da rocha ao 
intemperismo está diretamente 
relacionada à sua composição 
mineralógica, que pode ser do 
tipo físico, químico e biológico.
Saiba mais novação e destruição da litosfera, podemos admitir também que 
eles sempre operam sob diferentes estágios no processo evolutivo 
do sistema terrestre. O ciclo das rochas (Figura 8) é um dos mais 
representativos dessa noção.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Figura 8
O ciclo das rochas
Rochas ígneas
Sedimentação
Aumento de 
temperatura e 
pressão
Rochas 
metamórficas
Magma
Intemperismo
e erosão
Rocha
sedimentar
Metamorfismo
e
recristalização
Fusão
Resfriamento
e cristalização
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A superfície terrestre 61
O ciclo das rochas é um processo contínuo que sempre atua em 
estágios distintivos nos diferentes lugares. O movimento cíclico repre-
senta a transformação e destruição das rochas antigas e a sua transfor-
mação em rochas recentes. Ele pode ser explicado por meio das rochas 
jovens, basicamente oriundas do resfriamento do magma quando este 
é exposto à superfície na forma de lava, originando, assim, as rochas 
magmáticas. Estas podem ser induzidas a retornar ao interior da Terra: 
quando são submetidas ao aumento da temperatura e da pressão, 
passam por processos de recristalização e metamorfismo. 
As rochas metamórficas, quando expostas ao ambiente externo, 
são submetidas a intemperismos. Caso o aumento de temperatura e 
pressão continue, essas rochas podem ser recicladas ao serem trans-
formadas por fusão em magma; em contrapartida, podem ser altera-
das e transformadas em rochas sedimentares. Para tanto, elas passam 
primeiro pelo alívio da temperatura e da pressão, com a ação dos 
processos de intemperismo, erosão e sedimentação. 
Na continuidade, as rochas sedimentares podem ser oriundas de 
rochas magmáticas ou metamórficas e, para serem recicladas, devem 
passar por processos de metamorfismo e recristalização, ou seja, in-
duzidas ao aumento de temperatura e pressão. A continuidade do 
movimento (aumento de temperatura e pressão) deve garantir sua 
transformação em magma (fusão), reiniciando o ciclo, quando é nova-
mente exposto à superfície na forma de lava.
As rochas ígneas (Figura 9) são soerguidas para a superfície por 
processos tectônicos ou por meio de vulcanismos quando o derrama-
mento de lava resfria e se transforma em rochas. Depois de expostas 
ao ambiente externo, essas rochas são submetidas a intemperismos 
e erosão, sendo paulatinamente reduzidas a sedimentos, que podem 
ser levados para outros lugares; por meio do soterramento e litificação 
(cimentação), devem formar as rochas sedimentares. Quando rochas 
sedimentares e ígneas são submetidas ao aumento de temperatura e 
pressão, ocorre o metamorfismo. Desse processo derivam-se rochas 
metamórficas que podem ser soerguidas e, então, submetidas ao in-
temperismo e à erosão, ou o material rochoso é destruído no interior 
do manto, transformando-se em magma por fusão. Nesse ponto, o ci-
clo das rochas volta à condição inicial.
62 Fundamentos de Geografia Física
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Granito é uma rocha ígnea intrusiva. 
Observe que os cristais de minerais 
podem ser diferenciados pelas cores e 
pelos padrões de organização. Isso ocorre 
devido ao resfriamento lento do magma. 
O granitoé uma rocha muito utilizada 
na decoração de banheiros, pisos, pias, 
bancadas de cozinha etc. O basalto é uma rocha ígnea extrusiva. 
Observe que ela forma um agregado bem 
homogêneo, quase não sendo observada 
diferença e variação de cor, aspecto típico 
de rochas que foram submetidas ao 
resfriamento rápido de lava. Devido à sua 
resistência a processos de intemperismos, é 
muito utilizado em construção civil, calçadas, 
constituição de asfalto etc.
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Figura 9
Rochas ígneas ou magmáticas
Arenitos e argilitos são tipos de rochas sedimentares. Observe a aparência 
estruturada em camadas, que remete a sedimentos diferentes, gerados em 
períodos distintos e depositados em um mesmo local. O uso dessas rochas é 
bastante importante na construção civil (composição do cimento, do concreto 
e de paredes) e como ornamentos (vidros, porcelanas, objetos decorativos etc.).
(Continua)
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A superfície terrestre 63
O mármore é um exemplo de rocha metamórfica, nesse caso originada de rochas 
calcárias. São rochas que podem ser usadas na construção civil (banheiros, pisos, 
pias, bancadas de cozinha etc.), principalmente como ornamentos devido à sua 
diversidade de cores. 
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Em geral, podemos observar a constituição dos eventos tectô-
nicos na paisagem com base na distribuição espacial de rochas e 
falhas, relacionando suas idades e períodos de formação. No Bra-
sil essa representação é bem explicada por meio das províncias 
estruturais.
Províncias estruturais (Figura 10) são amplas áreas geológicas 
cuja evolução natural corresponde a processos estratigráficos, 
magmáticos, metamórficos e tectônicos muito homogêneos e 
próprios, diferindo-se relativamente das províncias vizinhas (AL-
MEIDA et al., 1977). Justamente por fazerem parte da plataforma 
Sul-americana na atualidade, essas províncias no território brasilei-
ro, em grande parte, constituem rochas metamórficas e eruptivas 
do período pré-cambriano (crátons), contemplados os grandes em-
basamentos cristalinos dos escudos das Guianas, do Brasil (região 
central) e do Atlântico; e de rochas sedimentares, associadas às 
bacias Amazônica, Parnaíba e Paraná, que se originam do Fanero-
zoico (ALMEIDA et al., 1977).
.
64 Fundamentos de Geografia Física
Figura 10
Províncias estruturais do Brasil
Fonte: IBGE, 2019. 
A superfície terrestre 65
É importante destacar que o conhecimento da estrutura geológica 
do território nacional auxilia nos processos de gestão e planejamento 
territorial quanto às relações com eventos perigosos e desastres natu-
rais nas áreas urbanizadas, como também à exploração mineral. Nesse 
último caso, o Brasil se apresenta como um agente de relevante im-
portância na extração de metais e pedras preciosas, que ocorre prin-
cipalmente sobre as áreas dos crátons e de combustíveis fósseis, e na 
produção de energia hidroelétrica em parte das bacias sedimentares.
Nesse sentido, precisamos compreender, a partir de agora, que a in-
teração entre a tectônica das placas com a superfície terrestre explicita 
outros processos de transformação da crosta, enquadrados sobretudo 
no intervalo existente entre a origem e a destruição da litosfera. Para 
essa particularidade, temos as contribuições da geomorfologia e da pe-
dologia no que tange à formação do relevo e dos solos.
Dessa maneira, é preciso considerar inicialmente que as formas de 
relevo e solo relacionam-se direta ou indiretamente com a estrutura 
geológica. No caso brasileiro, por exemplo, é possível observar a ocor-
rência dos chapadões da Diamantina, na Bahia, dos Guimarães, em 
Mato Grosso, e dos Viadeiros, em Goiás, considerando-se as sequên-
cias horizontais das rochas sedimentares; as cuestas observadas em 
São Paulo e no Paraná remontam os limites das bacias sedimentares e 
a sobreposição de derrames basálticos; tem-se também formas mame-
lonares, como a do Pão de Açúcar, formadas por complexos de rochas 
ígneas encontradas em grande parte da zona costeira e do litoral brasi-
leiros. Vejamos com mais detalhes esses temas.
Cuestas: formas de relevo 
designado para explicar sequên-
cias de colinas com declividades 
muito assimétricas, isto é, em 
uma parte ela é muito íngreme, 
em outra é suave.
Glossário
3.2 Introdução à geomorfologia 
Vídeo Segundo Guerra (2003), a geomorfologia é o campo científico orien-
tado aos estudos das formas da terra, ou simplesmente do relevo – 
definido em termos de dimensão, gênese, formação e evolução da 
superfície terrestre. Em outras palavras, o campo tem sido desenvolvi-
do para descrever a paisagem por meio da estrutura e da natureza das 
rochas, associando-as às diferentes forças terrestres como fatores de 
construção, transformação e destruição da litosfera.
Nesse contexto, o entendimento geomorfológico passa pela identi-
ficação do relevo como um sistema aberto, ou seja, a entrega e a saída 
de matéria e energia são variáveis no processo evolutivo, o que, por 
66 Fundamentos de Geografia Física
sua vez, pressupõe a necessidade de ajustamento contínuo, mais bem 
explicado por meio da Teoria do Equilíbrio Dinâmico.
Conforme Fierz (2016), a noção de equilíbrio dinâmico derivou dos 
princípios da Teoria Geral dos Sistemas, sendo inicialmente discutida 
pelo estadunidense Grove Karl Gilbert (1843-1918) e sistematizada pelo 
britânico John Tilton Hack (1913-1991), em 1960. O princípio de que 
as formas refletem o balanço entre a resistência do material (rocha) 
submetido ao intemperismo (destruição e fragmentação) e à energia 
erosiva dos processos ativos (carregamento e sedimentação) é o equilí-
brio dinâmico. Nesse sentido, todo relevo evolui e está em evolução em 
suas diversas formas e com distintas forças em sua variação natural, 
tendendo sempre em direção a um estado de estabilidade. Mas, inde-
pendentemente do tempo, o relevo também corresponde às possibili-
dades de ajustamentos constantes de matéria e energias, resultando 
em um sistema em equilíbrio dinâmico (HACK, 1960).
Nessa teoria, o relevo apresenta-se como resultado de um balan-
ço entre os processos de erosão e de resistência das rochas. Nesse 
sistema, todos os elementos da paisagem são submetidos às mesmas 
intensidades e magnitudes de intemperismo e erosão, sendo que suas 
diferenças e características são explicadas com base em suas relações 
espaciais.
No artigo “A teoria do equilíbrio dinâmico em geomorfologia”, de Marisa Ma-
tos Fierz, você deve encontrar mais elementos sobre o equilíbrio dinâmico e 
o campo de estudos da geomorfologia.
Acesso em: 4 fev. 2021. 
https://www.revistas.usp.br/geousp/article/download/107614/112869/210046
Artigo
Consequentemente, o relevo não pode ser entendido como uma 
forma terrestre estática – pelo contrário, além de apresentar tendência 
de estabilidade, seus movimentos levam ao aparecimento de outras 
formas diferentes das originais. Como a análise sistêmica, o estudo re-
mete à representação de escalas espaçotemporais integradas aos pro-
cessos e às formas do relevo e da paisagem. O esquema da Figura 11 
resume essa perspectiva.
https://www.revistas.usp.br/geousp/article/download/107614/112869/210046
A superfície terrestre 67
Na lógica, o relevo terrestre é originado inicialmente de proces-
sos endógenos ligados aos tectonismos e vulcanismos, e em seguida 
pela destruição de minerais e rochas por meio da erosão, isto é, o 
processo mecânico de carregamento ou transporte de sedimentos 
por meio de rios, ventos, chuvas, geleiras, atividades humanas etc.
A erosão é o mecanismo fundamental dos processos exógenos 
cujos fatores clima, vegetação, solo e atividades humanas atuam 
nas alterações das variações de pressão e temperatura, basicamen-
te comandando as transformações do relevo, seja dinamizando os 
processos de denudação (arrastamento ou retirada de sedimento 
material) ou organizandolocais de depósito de sedimentos ou de 
acúmulo de detritos.
Figura 11
Esquema da formação do relevo
Fonte: Elaborada pelo autor.
Processos 
exógenos
Processos 
endógenos
Compensação 
isostática
Soerguimento
Dobramentos
Vulcanismos
Eventos 
sísmicos
Formação do relevo
Fatores
Formas 
deposicionais
Formas 
erosionais TectonismoErosão
Clima
SoloVegetação
Atividades 
humanas
Observe a relação entre os processos exógenos e endógenos, além dos fatores e processos de 
construção das formas terrestres, e o princípio da compensação isostática.
Em resumo, tratamos de morfogênese, ou seja, o conjunto de 
processos geomorfológicos (endógenos e exógenos) que formam o 
relevo por meio da escala de tempo geológica (SUERTEGARAY; NU-
NES, 2001). Isso significa que a formação do relevo atende à estru-
68 Fundamentos de Geografia Física
tura geológica interna, que constitui o principal indutor de matéria 
e energia para o sistema, e também aos processos externos que 
atuam nos níveis de sustentação e movimentação do sistema, asso-
ciando o grau e a intensidade dos fluxos de matéria e energia por 
meio dos processos de erosão e intemperismo, conforme ilustra a 
Figura 12 a seguir.
Figura 12
Exemplos de intemperismo e sua importância para a transformação de rochas em solo
Esfoliação esferoidal é um tipo de intemperismo físico 
provocado pelo alívio de pressão. As alternâncias entre 
dilatação e contração provocam a destruição da rocha e 
se revela pela exposição de diferentes camadas. Além da 
pressão, variações de temperatura e gravidade também 
são importantes.
As raízes de plantas são um exemplo de intemperismo 
biológico que, além de auxiliar no fraturamento da rocha, 
facilita a penetração e alteração de substâncias químicas 
dos minerais nela compostos. Ele também pode acontecer 
com a ação de animais, bactérias, atividades humanas ou 
qualquer organismo vivo.
Reações químicas como oxidação, hidratação, entre 
outras, transformam a composição dos minerais 
originais e promovem alterações nas rochas. Esse tipo de 
intemperismo é fundamental para originar outros tipos de 
minerais e, consequentemente, diversificação dos tipos 
dos solos.
hanohiki/Shutterstock
Sirio Lauricella /Shutterstock
sergeydolya/Shutterstock
Fonte: Elaborado pelo autor
A morfogênese auxilia a compreensão da diferenciação e 
compartimentação do relevo, uma vez que mudanças e altera-
ções na distribuição operam também como modificação no equi-
líbrio dinâmico, o que remete à estruturação da compensação 
isostática 2 . Nesse sentido, a diversidade da superfície terrestre 
pode ser classificada por diferentes critérios. O esquema da Figura 
13 representa uma parte desse processo.
Dentro da teoria do equilíbrio 
dinâmico, o princípio da isosta-
sia, ou estabilidade isostática, 
refere-se à condição de que as 
formas de relevo, seus pesos e 
densidades promovem compen-
sações em níveis mais profundos 
em relação à sua base. Em outras 
palavras, o equilíbrio isostático é 
garantido porque o aumento do 
peso na litosfera, a ocorrência de 
uma montanha, por exemplo, 
favorece o afundamento de 
sua base dentro do manto na 
mesma proporção. O processo 
inverso também é verdadeiro, ou 
seja, há diminuição da litosfera 
quando o peso e a densidade da 
superfície forem baixos.
2
A superfície terrestre 69
Figura 13
Representação esquemática da morfogênese
Fonte: Elaborada pelo autor.
Observe a atuação diferenciada de processos endógenos e exógenos no conjunto da compensação 
isostática.
Processos exógenos
Sedimentação
Nível de base
Erosão
Compensação isostática 
Denudação
Processos endógenos
Para exemplificar, as Figuras 14a e 14b (dispostas na página a seguir) 
representam duas classificações para o relevo brasileiro. Na proposta de 
Ab’Saber (1970), o relevo brasileiro é contemplado em dez unidades, sen-
do três planícies e sete planaltos. Já na classificação do IBGE (2005), pro-
posta por Ross (1985), o Brasil apresenta um relevo formado basicamente 
por 28 unidades, divididas entre planícies, planaltos, patamares, tabulei-
ros, chapadas e serras.
Além das possibilidades técnico-científicas associadas ao contexto his-
tórico das classificações, dois critérios importantes também são cruciais 
para definir a diferenciação de ambas. Ab’Saber (1970) basicamente utili-
zou os parâmetros morfoesculturais da paisagem, valorizando sobretudo 
unidades de relevo deposicionais e erosionais (Figura 14 a). Ross (1985), 
por sua vez, utilizou, além desses parâmetros, a relação com os domínios 
morfoestruturais para cada unidade.
Os parâmetros de classificação do relevo seguem, atualmente, uma 
abordagem que combina os modelos morfoestrutural (associado à idade 
e ao processo de formação geológica), morfoescultural (relativo às formas 
com que o relevo se apresenta) e os processos dinâmicos aos quais a litos-
fera está submetida (exógenos ou endógenos, inclusive antrópicos) (Figu-
ra 14b), sendo esses últimos, sobretudo, bem desenvolvidos nas escalas 
locais – do município ou de bacias hidrográficas, por exemplo.
70 Fundamentos de Geografia Física
Figura 14a
Relevo brasileiro segundo 
Ab’Saber
0º Equador
15º
30º
23º27'30" Tr
ópico de Cap
ricórnio
75º 60º 45º
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
ATLÂNTICO
PL
AN
ÍC
IE
 E
 T
ER
RA
S 
B A
IX
AS
 C
OS
TE
IRA
S
PLANALTO DAS GUIANAS
PLANÍCIES E TERRAS 
BAIXAS AMAZÔNICAS
PLANALTO CENTRAL
PLANÍCIES DO
PANTANAL
PLANALTO DO
MARANHÃO-PIAUÍ PLANALTO
NORDESTINO
PLANALTO 
MERIDIONAL
SERRAS E
PLANALTOS 
DO LESTE 
E SUDESTE
PLANALTO URUGUAIO-
-SUL-RIO-GRANDENSE
Fonte: Adaptada de Ab’Saber, 1970.
Figura 14b
Relevo brasileiro segundo 
Ross
Fonte: Adaptada de Ross, 1985.
A superfície terrestre 71
Esse conhecimento torna o estudo com base na geomorfologia rele-
vante porque, além de contemplar diferentes classificações, envolvem 
distintas escalas espaçotemporais (Figura 15). 
Figura 15
Formas de relevo, enquadramentos escalares e critérios de análise
Local
• Dique ou Sill
• Hot Spot (pontos 
quentes)
• Morros
• Montes
• Montanhas
• Plano ou ondulado
• Inselbergs
• Dunas
• Vertentes
• Voçorocas
• Ravinas
Regional
• Serras
• Grabbens
• Escarpas
• Cuestas
• Mesas
• Platôs
• Encosta
• Vale em V ou em U
Global
• Crátons
• Dobramentos 
modernos
• Cordilheiras
• Planaltos
• Planícies
• Depressões
• Geleiras
• Calotas
Escala de análise
Morfoestrutura
Morfoescultura
Processos exógenos
Processos endógenosC
ri
té
ri
os
 d
e 
cl
as
si
fic
aç
ão
 d
o 
re
le
vo
Fonte: Elaborada pelo autor.
Esse princípio mantém a formação do relevo como um processo 
que se organiza espacialmente em áreas de desgaste (onde predomi-
nam a denudação e a erosão), em contraposição às áreas de deposição 
(habitualmente lugares de sedimentação), como partes essenciais do 
equilíbrio dinâmico dos sistemas naturais.
3.3 Introdução à pedologia 
Vídeo Associada à morfogênese e paralela à transformação da litosfera, 
acontece também a pedogênese, que, resumidamente, trata-se do 
processo formador de solos, ocorrendo habitualmente nas fases em 
que a estabilidade do relevo é garantida (ERHART, 1962). E o que isso 
quer dizer?
Significa que, com os processos de afloramento de rochas e a ação do 
intemperismo e da erosão, uma combinação de material construído por 
partes sólidas, líquidas e gasosas, minerais e orgânicos é formado super-
ficialmente por toda litosfera. Esse substrato se desenvolve em grande 
parte das extensões continentais do sistema terrestre, em especial onde 
a declividade é suficiente para manter condições de sedimentação e es-
tabilidade de manutenção da matéria viva (EMBRAPA, 2006).
72 Fundamentos de Geografia Física
Tendo isso em vista, trata-se de um material natural de importante 
complexidade e o estudo sobre ele ainda deve variar de acordo com 
sua utilização. Por exemplo, para a agricultura, o solo é o meio para 
a produção de alimentos; na geologia, é o subproduto da alteração 
das rochas; na arqueologia, é um dos elementos fundamentaispara 
entender as práticas de civilizações pretéritas. Assim, na Geografia 
Física, o solo é o sistema natural de apropriação imediata pelos seres 
humanos, ou seja, uma natureza híbrida necessária para desenvol-
ver agricultura, construir cidades, dividir o território e desenvolver 
sociedades.
Figura 16
Estágio da pedogênese ou da formação e evolução dos solos 
Rocha Solos jovens Solo maduro
Rocha
camada rica
em húmus
Rocha
Rocha
Camada rica
em húmus
Solos jovens Solo maduro
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Nessa perspectiva, o estudo sistemático dos processos pedogené-
ticos tem sido desenvolvido principalmente pela pedologia (do grego 
pedon significa solo e logia significa saber, conhecimento ou estudo, o 
termo pode ser traduzido, portanto, como estudo do solo), a partir de 
1877, quando o geógrafo russo Vasily Dokouchaev (1846–1903) ofereceu 
a interpretação de solo como um material que evolui no tempo sob a 
ação dos fatores diversos (clima, vegetação, topografia, relevo, ativida-
des humanas etc). Antes dessas contribuições, havia a visão de que o 
solo era considerado um corpo inerte, estático e fixo e que repetia uni-
camente a composição da rocha que lhe deu origem – a rocha original.
Dokouchaev cunhou o conceito de solo como um corpo natural or-
ganizado, além disso, estabeleceu um processo metodológico de aná-
A superfície terrestre 73
lise, que se dá a partir da descrição sumária de seus horizontes. Nesse 
aspecto, o solo apresenta níveis estratigráficos (camadas diferenciadas 
horizontalmente organizadas) com características distintas, que po-
dem ser visualizadas e analisadas por meio de uma tomada vertical, 
tradicionalmente chamada de perfil de solo.
Para Dokouchaev, se todos os elementos que formam o solo forem idênti-
cos, então todos os solos serão idênticos. Do contrário, a discrepância e a 
diferenciação desses elementos resultam em solos diferentes. Para dar mais 
consistência a esse debate, recomendamos a leitura do artigo “Histórico das 
pesquisas sobre solos até meados do século XX, com ênfase no Brasil”.
Acesso em: 17 fev. 2021. 
http://ppegeo.igc.usp.br/index.php/rig/article/view/12677. 
Artigo
A sucessão dos horizontes revela os processos pedogenéticos aos 
quais o material original foi submetido. Se sua organização for mar-
cada, ou seja, se as camadas apresentarem evidente diferenciação 
estratigráfica, é possível identificar o solo, bem como o estágio de sua 
evolução.
Em geral, os perfis pedológicos são identificados com base em atri-
butos morfológicos, como: cor, textura, estrutura, consistência, cero-
sidade, presença de nódulos, utilizando-se letras para diferenciar a 
passagem de um horizonte para outro. No entanto, a descrição e a 
identificação desses atributos nem sempre sugerem consistência de 
análise, por isso é comum que sejam utilizadas também análises físi-
cas (que extraem o teor de areia, silte e argila como sedimentos princi-
pais) e químicas (saturação por bases, razão de água, matéria orgânica, 
composição mineralógica etc.), grande parte desenvolvida com coletas 
e análise mineralógica.
De outro modo, para além de sua descrição, é importante destacar 
que todos os solos apresentam uma história, com fenômenos que di-
ferenciam o material de origem e promovendo progressivas modifica-
ções em seus atributos físicos, químicos e mineralógicos.
Por exemplo, o perfil de um solo antigo demonstra, em geral, de 
dois até oito horizontes, mas essa identificação pode variar de acordo 
com a particularidade e a especificidade de cada unidade. No esquema 
da Figura 17 apresentamos um perfil de solo com cinco horizontes. Ob-
serve o caráter mais geral que distingue os horizontes entre si.
Areia, silte e argila são as 
componentes granulométricas 
dos minerais e rochas que 
compõem o solo. Trata-se 
basicamente de elementos que 
envolvem a textura e definem 
a influência e as respostas às 
dinâmicas físicas, químicas e 
hidrológicas de acordo com 
seus tamanhos (EMBRAPA, 
2006). Nesse caso, a argila é a 
menor das partículas (< 0,002 
mm), sendo seguida pelo silte 
(0,002 - 0,05 mm) e a areia - o 
fragmento mais grosseiro, que 
ainda pode ser subdivida entre 
areia fina (0,05 - 0,2 mm), 
areia grossa (0,2 - 2 mm), 
cascalho (2 - 20 mm), calhau 
(20 - 200 mm) e matacão 
(> 200 mm) (EMBRAPA, 
2006). Os fragmentos afetam 
diretamente o manejo e a con-
servação dos solos, na medida 
em que os arenosos (ricos 
em areia) são muito friáveis e 
frágeis, carecendo, por isso, de 
técnicas específicas e adequa-
das para retenção de água e 
nutrientes. Já os solos argilosos 
(enriquecidos de argila) ten-
dem a concentrar muita água 
e podem resultar em saturação 
ou encharcamento.
Importante
74 Fundamentos de Geografia Física
Figura 17
Esquema do perfil de solos com os horizontes pedológicos
Camadas 
superficiais
Camadas 
subsuperficiais
O – Camada de restos de plantas e 
animais na superfície do solo.
A – Primeiro horizonte mineral do 
solo, mais escuro, por conter mais 
húmus que os horizontes B e C.
B – Horizonte formado por 
partes bastante desagregadas da 
rocha-mãe, estando abaixo do 
horizonte A.
C – Horizonte formado por 
partes pouco desagregadas da 
rocha-mãe, com presença de 
materiais que ainda estão se 
transformando em solo.
R – Rocha-mãe que, submetida ao 
intemperismo, se desagrega e se 
decompõe, dando origem ao solo.
Fonte: Elaborada pelo autor
W
ils
on
bi
gg
s/
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Dessa maneira, é importante considerar sempre que o solo é um 
sistema, isto é, uma síntese do processo de troca de matéria e energia 
entre litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera. Nesse processo, pelo 
menos cinco fatores principais de sua formação podem ser critérios de 
análise e estudo, conforme mostra a Figura 18 a seguir.
Figura 18
Fatores de formação do solo
SOLO
Organização de 
processos de 
transformação 
desde os níveis 
de intemperismo 
à qualidade 
dos eventos 
e quantidade 
de tempo de 
exposição.
Condiciona a 
resistência e a 
diferenciação 
dos processos 
de alteração 
relacionados aos 
processos de 
intemperismo e 
erosão.
Expressa a 
variação e a 
distribuição da 
temperatura e 
da umidade em 
sua sazonalidade 
e variabilidade 
comandando 
os ritmos da 
desagregação 
e destruição de 
minerais e rochas 
e a erosão.
Condiciona os 
processos de 
denudação, 
erosão, 
sedimentação, 
além de orientar 
os níveis de 
infiltração, 
drenagem, 
declividade e 
elevação.
Compostos por fauna 
e flora, incluindo-se 
atividades humanas – 
além do fornecimento 
de matéria orgânica 
para reações físico-
-químicas, também 
a mobilização 
de materiais 
que integram a 
diferenciação da rocha 
original.
Tempo
Rocha
Clima
Relevo
Organismos
Fonte: Elaborada pelo autor.
A superfície terrestre 75
Nessa perspectiva, no solo subjaz a importância fundamental 
para o desenvolvimento da humanidade, já que seu uso favorece 
uma diversidade de significados e, por isso, pressupõe uma das 
unidades básicas para conservação, proteção e manejo. Considerar 
esse caráter é relativizar também que a fertilidade e os níveis de 
degradação por meio de práticas predatórias e poluidoras ocorrem 
de modo paralelo à formação e à evolução dos solos.
Por tudo isso, seu estudo sistemático tem oferecido cada vez 
mais parâmetros complexos, sofisticados e robustos para sua iden-
tificação. Atualmente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
cuária – Embrapa é a instituição responsável por grande parte das 
classificações de solo no Brasil, e desenvolve o Sistema Brasileiro 
de Classificação de Solos – SBCS, baseando-se nos levantamentos 
exploratórios do Projeto RadamBrasil e nos estudos elaborados 
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
O SBCS é uma elaboração, uma taxonomia hierárquica, que 
abrange os solos conhecidos em classes gerais e seu níveis especí-
ficos em repartições e subgrupos, dependendo do nível de diferen-
ciação. Em sua mais recente publicação (EMBRAPA, 2006), o SBCS 3agrupou os solos brasileiros em 14 classes, que podem ser visuali-
zadas na Figura 14.
Assim, o estudo sistemático e o mapeamento dos solos sub-
sidiam todos os processos de desenvolvimento territorial e pla-
nejamento ambiental, já que grande parte dos planos exige o 
dimensionamento das necessidades atuais e futuras, com produ-
ção de informações muito detalhadas.
O Projeto Radam é um 
programa do governo brasileiro 
criado na década de 1970 para 
a pesquisa de recursos naturais. 
Foi organizado pelo Ministério 
de Minas e Energia por meio 
do Departamento Nacional da 
Produção Mineral - DNPM, com 
recursos do Plano de Integração 
Nacional – PIN (CPRM, 2021).
Saiba mais
O SBCS nos oferece uma 
ideia sobre a diversidade dos 
solos brasileiros e ainda indica 
possibilidades para desenvolver 
um levantamento pedológico. 
Por isso, vale a pena incluir 
esse material em sua biblioteca 
pessoal.
3
76 Fundamentos de Geografia Física
Figura 19
Os solos do Brasil 
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Nesse caso, o uso da cartografia é fundamental para desenvolver 
a análise dos solos e dos sistemas naturais. Com a utilização de geo-
tecnologias, essa possibilidade é ampliada considerando a combinação 
de diferentes cartas (geológicas, geomorfológicas, pedológicas, uso e 
ocupação da terra etc.) para a elaboração de análises topográficas, te-
máticas e de sínteses das áreas de interesse.
Apesar desses avanços, o estudo dos solos ainda requer maior 
aprofundamento e entendimento, já que é a camada da crosta terres-
tre mais importante para a produção da vida. E, em se tratando das 
alterações ambientais, o solo é o primeiro sistema natural de tratamen-
to e observação. Vejamos como essa situação fica mais complexa na 
contemporaneidade.
A superfície terrestre 77
3.4 O Antropoceno 
Vídeo Como você já deve ter percebido, por meio dos usos e das atribui-
ções que fazemos da estrutura geológica, do relevo e dos solos, mos-
tramos também nossa capacidade de alteração do sistema terrestre 
muito além do que apenas como mais um fator de formação, mas fun-
damentalmente para repensar as práticas humanas.
De fato, a proteção e a conservação dos sistemas naturais são res-
ponsabilidade nossa e essa noção traz implícita a ideia de que, desde a 
nossa origem, temos sobrevivido a grandes cataclismos naturais, assim 
como, ao nos espalharmos desde a África para outros continentes, al-
teramos praticamente todos os sistemas terrestres à nossa disposição.
Essas intervenções, chamadas de antrópicas ou antropogênicas, fa-
zem parte da história natural da Terra, mas atualmente se destacam 
com uma intensidade e transformação gigantesca. Por isso, ocorre a 
atribuição do período do Antropoceno como um momento que encerra 
o Holoceno – época da origem dos hominídeos e que sinaliza a era do ser 
humano como agente geológico. Vamos entender melhor essa noção?
Vamos considerar, inicialmente, a contribuição do paleoclimatologista 
William Ruddiman, que foi um dos primeiros estudiosos a pensar o 
 Antropoceno como a época geológica iniciada há cerca de 6 a 8 mil anos 
AP, considerando o crescimento e a intensidade da influência antrópica 
a partir da Idade da Pedra, entre o Paleolítico e o Neolítico. Nesse caso, 
as evidências associam o cultivo de arroz selvagem (que incluía sistemas 
de irrigação) à produção agrícola de grande escala (RUDDIMAN, 2013).
Assim, considerar o ser humano como agente geológico pressupõe 
a especificidade de um momento em que a utilização de técnicas e da 
consequente transformação das características naturais da paisagem 
definiram uma transição dentro do Holoceno. Alguns autores definem 
essa transição partindo do Quaternário para outro período, chamado 
de Quinário ou Tecnógeno, ou seja, época cuja dinâmica da natureza 
está vinculada às alterações antrópicas (SILVA; NUNES, 2014).
De todo modo, a passagem do Quaternário para o Quinário não é 
igual em todo o planeta; ela depende dos níveis de desenvolvimento 
das civilizações humanas, que, dispersas de maneira diferente pelos 
continentes da Terra, apresentam níveis distintos de sofisticação 
 técnica e quantidade de instrumentos construídos (PELOGGIA, 1998). 
78 Fundamentos de Geografia Física
No Brasil, por exemplo, encontramos sua ocorrência na Terra Preta de 
Índio. Nesse solo as cores são escuras, típicas dos horizontes enrique-
cidos com carbono (matéria orgânica), e com alto poder pigmentante. 
As cores sugerem épocas sob climas mais úmidos e um ambiente com 
pouca drenagem.
Mas observe! Nesse contexto, o espaço geográfico do índio 
 latino-americano se reduzia ao meio natural, ou seja, as práticas espa-
ciais dos seres humanos não condicionavam grandes transformações 
ou mudanças radicais no ambiente. Isso significa entender que as inter-
venções humanas entre o Paleolítico e o Neolítico ainda eram associa-
das ao uso fundamental da natureza e das suas partes para o exercício 
da vida – das formas de reprodução e proteção do grupo.
De outro modo, o químico Paul Crutzen e o biólogo Eugene Stoermer 
consideram que a influência antrópica no sistema terrestre se associa 
de fato, e de forma mais evidente, a partir da queima de combustíveis 
fósseis, da revolução industrial, notadamente a partir do século XVIII 
(CRUTZEN; STOERMER, 2000).
É de fato desde esse período que o ser humano tem alterado de 
maneira direta a natureza de uma forma que nunca foi observada na 
história. A título de exemplificação, apesar de a ocupação humana na 
Terra ser de quase 2% – o que pode parecer um número muito baixo 
–, concentram-se nas cidades mais de 50% dos habitantes, algo que 
requer grande demanda de energia, consumo de solos, água e outros 
recursos naturais (PALACIO, 2013).
A produção de alimentos, somada à intensa presença de bovi-
nos em grandes áreas (pastagens), e o incremento de químicos para 
a produção agrícola e industrial por meio de elementos sintéticos 
(que denota um processo de decomposição natural lenta) geram in-
segurança sobre a quantidade e qualidade da água doce potável no 
planeta. Além disso, há a extinção de determinadas espécies, proli-
feração de pragas e doenças, saturação de gás carbônico e metano 
na atmosfera, a perda expressiva de manguezais nas áreas costeiras, 
bem como a redução da produção primária nos oceanos e águas sub-
terrâneas (PALACIO, 2013).
Todas essas alterações, no contexto do Antropoceno, têm sido cha-
madas de pegada antrópica como forma de sintetizar a marca principal 
do desenvolvimento da humanidade. E o que isso quer dizer? Geogra-
A leitura do texto “Do 
meio natural ao meio 
técnico-científico-in-
formacional”, presente 
na obra A natureza do 
espaço: técnica e tempo, 
razão e emoção, auxiliará 
no entendimento do 
estágio atual da produção 
da natureza concebida 
por uma interpretação 
eminentemente geo-
gráfica. O Antropoceno 
pode ser enquadrado 
nessa leitura, uma vez 
que grande parte dos 
argumentos atendem à 
maneira como a natureza 
é produzida, apropriada e 
transformada.
SANTOS, M. São Paulo: Hucitec, 1996.
Leitura
A superfície terrestre 79
ficamente, relaciona-se ao conjunto de alterações desenvolvidas pelos 
seres humanos no decorrer da história e que promovem a entropia 
e a resistasia 4 , observadas como destruição dos sistemas naturais, 
degradação ambiental, desflorestamento, exploração dos recursos etc.
Em outras palavras, a concepção remete à interpretação de que o 
ser humano contemporâneo acelerou em qualidade, quantidade e in-
tensidade sua influência no sistema terrestre, tornando todas as inter-
venções irreversíveis. Esse estágio de desenvolvimento só foi possível 
no contexto do período técnico-científico-informacional, que tornou o 
espaço geográfico favorável à cientifização e à tecnificação da paisagem, 
transformando a natureza natural em artificial (SANTOS, 1996).
Nessa perspectiva, o Antropoceno favorece uma condição material 
marcada pela relação conflituosa e contraditória entre natureza e so-
ciedade, na qual as relações de tempo e espaçoformam outro processo 
inseparável das interpretações de sistemas naturais e sociais, mesmo 
com dinâmicas distintas (SUERTEGARAY; NUNES, 2001).
As mudanças climáticas, por exemplo, consolidam uma das princi-
pais evidências do Antropoceno e que também podem ser percebidas 
na observação dos solos. No SBCS esse tipo de solo tem sido chama-
do de antropossolos 5 e se caracteriza pelo volume pedológico forma-
do por pelo menos uma camada antrópica de 40 centímetros ou mais 
de espessura sobrejacente a qualquer horizonte pedogenético ou de 
rocha não intemperizada. Por isso, trata-se de um solo formado exclu-
sivamente por intervenção humana, seja ele constituído por material 
orgânico e/ou inorgânico, em suas diferentes proporções (EMBRAPA, 
2006).
A Terra Preta de Índio é um bom exemplo, mas também são incluí-
dos nesse tipo os solos urbanos, que mostram modificações estruturais 
ocorridas devido à ação humana, e pode ser visualizado em horizontes 
com entulhos de construções, resíduos sólidos, entre outros materiais 
que sejam diferentes daqueles naturalmente originados.
Como você já deve ter percebido, Antropoceno, pegada antrópica e 
antropossolos fazem parte dos diversos aspectos que envolvem as re-
lações entre sociedade e natureza ao longo da história, em especial da 
mais recente. Essa relação é pautada por diversos fatores, mas entre 
eles, sem dúvida destaca-se o questionamento sobre os modos de pro-
Entropia: um dos conceitos 
físicos da termodinâmica newto-
niana e refere-se à produção de 
energia residual que impede a 
realização do trabalho útil.
Glossário
Segundo Erhart (1962), a 
resistasia indica processos de 
ruptura do equilíbrio ecológico, 
observado por erosão, que tende 
a alterar o fluxo de matéria 
e energia, com sedimentos 
grossos e, consequentemente, a 
diminuição da produção da vida. 
Ao contrário, um sistema em 
biostasia refere-se à estabilidade 
dinâmica, ou seja, quando a 
erosão tende a ser fraca, com 
baixo transporte de sedimentos 
finos, o que promove a fixação 
orgânica e, em consequência, a 
saúde vegetal.
4
Os antropossolos correspon-
dem aos também chamados 
 tecnossolos, ou depósitos 
tecnogênicos, e são formados em 
decorrência da ação humana. 
Originam-se a partir de trans-
formações nas características da 
superfície terrestre, por meio de 
remobilizações e incrementos de 
materiais manufaturados (SILVA; 
NUNES, 2014).
5
80 Fundamentos de Geografia Física
dução e os modelos de desenvolvimento, sobretudo após a Revolução 
Industrial e o desenvolvimento urbano.
De todo modo, o estudo sistemático dos impactos do Antropoceno 
se apresenta com muitos desafios teórico-metodológicos, mas valoriza 
significativamente o conhecimento geográfico como uma possibilidade 
adequada de análise.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
A interação das forças internas do sistema terrestre gera muitos im-
pactos na litosfera e, além disso, a compreensão de que qualquer modi-
ficação na crosta terrestre remete ao conhecimento dos processos que 
geram os movimentos tectônicos. Sem dúvida, é esse o primeiro meca-
nismo interno a ser considerado na explicação das formas da superfície 
terrestre e que organiza o princípio de uma análise geográfica baseada na 
história natural.
Como a superfície terrestre deve ser entendida no escopo do sistema 
terrestre, isto é, como dinâmica e integrada, ela também está exposta e 
é aberta a todos os tipos de forças, internas e externas. Nesse sentido, 
o tectonismo não age sozinho, uma vez que ele atua principalmente na 
origem e na destruição da litosfera. De outro modo, a totalidade da trans-
formação da superfície terrestre só pode ser explicada pela atuação dos 
processos que promovem mudanças na composição, na estrutura e na 
organização dos compartimentos geológicos. A formação do relevo e dos 
solos são dois exemplos desses processos.
Nesse contexto, os sistemas naturais, junto à descrição de suas 
 características e potenciais de uso, em diferentes escalas de análise, ofe-
recem um diálogo interessante a respeito dos seus usos e atribuições, 
possibilitando uma visão ampla e integrada sobre as áreas mais propícias 
a desastres naturais, assim como sobre a exploração de recursos natu-
rais, de proteção e preservação ambiental.
Dessa forma, recentemente assumimos que as atividades humanas 
também devem ser incorporadas nas transformações os sistemas natu-
rais, sobretudo a partir do aumento da velocidade dos processos de in-
dustrialização e urbanização na degradação e na alteração ambiental. Os 
resultados desse processo podem ser observados na criação da natureza 
híbrida, na qual natural e social tornam-se um conjunto indissociável – a 
maneira como a produção do espaço acontece na contemporaneidade.
A superfície terrestre 81
Por esses aspectos, devemos ter em mente que a história natural é uma 
parte da história social e nessa condição podemos oferecer uma leitura 
geográfica coerente da superfície terrestre, que, para além das noções 
clássicas e naturalistas, deve incorporar a importância de geógrafos/as 
para o desenvolvimento do conhecimento do território e da humanidade.
ATIVIDADES
Vamos colocar nossos conhecimentos em prática? Nestas atividades 
selecionamos alguns problemas que devem ajudá-lo a organizar sua 
análise geográfica. Recomendamos que utilize, além do capítulo, os 
textos indicados nas dicas de leitura, além de sites da internet ligados 
a instituições oficiais de pesquisa sobre geologia e geografia. Vamos lá?
Aqui estão nossas dicas de sites:
• IBGE Mapas: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#homepage
Nesse site você deve encontrar mais de 30 mil mapas elaborados pelo 
IBGE ou desenvolvidos em pareceria com outras instituições.
• Painel Global: https://www.painelglobal.com.br/
Nesse portal você deve visualizar, em tempo real, grande parte 
dos fenômenos naturais (principalmente geológicos, climáticos e 
oceânicos) que ocorrem no mundo.
• Anciente Earth Globe: https://dinosaurpictures.org/ancient-earth#600
Portal bem semelhante ao Google Earth, mas que possibilita que você 
navegue pelas eras geológicas da Terra.
1. Quais são os mecanismos e as relações que ocorrem entre a dinâmica 
da terra e a origem das grandes cadeias de montanhas, das dorsais 
oceânicas, dos vulcões e dos terremotos?
2. O supercontinente da Pangeia, bem como a origem dos continentes 
e oceanos contemporâneos, está relacionado com a Teoria da Deriva 
Continental. Descreva, com suas palavras, essa relação.
3. Os estudos e levantamentos pedológicos levam em consideração 
as características ambientais da área em estudo. Cite e comente os 
principais fatores para realização dessa análise.
4. Como podemos explicar a origem, a transformação e a destruição da 
litosfera com base na abordagem sistêmica? Utilize os processos de 
troca de matéria e energia.
https://www.painelglobal.com.br/
https://dinosaurpictures.org/ancient-earth#600
82 Fundamentos de Geografia Física
REFERÊNCIAS
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São Paulo, Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, n. 20, p. 1-26, 1970.
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DO NORDESTE, 1977, Campina Grande. Atas.... Recife: Sociedade Brasileira de Geologia - 
SBG, Núcleo Nordeste, 1977. p. 363-391.
CPRM – Serviço geológico do Brasil. RADAM-D. 2021. Disponível em: http://www.cprm.gov.
br/publique/Geologia/Sensoriamento-Remoto-e-Geofisica/RADAM-D-628.html. Acesso 
em: 5 fev. 2021.
CRUTZEN, P.; STOERMER, E. F. The ‘Anthropocene’. Global Change NewsLetter, International 
Geosphere–Biosphere Programme (IGBP), n. 41, p. 17-18, maio 2000. Disponível em: http://
www.igbp.net/download/18.316f18321323470177580001401/1376383088452/NL41.pdf. 
Acesso em: 5 fev. 2021.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema de classificação dos 
solos. 2. ed. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2006.
ERHART, H. Biostasiae resistasia: esboço de uma teoria que considera a pedogênese como 
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FIERZ, M. M. A teoria do equilíbrio dinâmico em geomorfologia. GEOUSP, São Paulo, v. 19, 
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HACK, J. T. Interpretation of erosional topography in humid temperate regions. American 
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IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Províncias estruturais, compartimentos 
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PALACIO, G. Cambio climático, retórica política y crisis ambiental: una nueva interfase 
entre ciencias naturales y ciencias sociales. In: POSTIGO, J. C. Cambio climático, movimientos 
sociales y políticas públicas: una vinculación necesaria. Santiago de Chile: CLACSO, 2013, p. 
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PELOGGIA, A. O homem e o ambiente geológico: geologia, sociedade e ocupação urbana no 
município de São Paulo. São Paulo: Xamã, 1998.
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SUERTEGARAY, D. M. A.; NUNES, J. O. R. A natureza da Geografia Física na Geografia. Terra 
Livre, v. 2, n. 17, p. 11-24, 2001. Disponível em: https://www.agb.org.br/publicacoes/index.
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TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina Textos, 2001.
http://www.cprm.gov.br/publique/Geologia/Sensoriamento-Remoto-e-Geofisica/RADAM-D-628.html
http://www.cprm.gov.br/publique/Geologia/Sensoriamento-Remoto-e-Geofisica/RADAM-D-628.html
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 83
4
A atmosfera e a 
hidrosfera da Terra
Neste capítulo, vamos nos concentrar nos conceitos funda-
mentais da atmosfera e da hidrosfera. Aprofundaremos nosso co-
nhecimento nas características, estruturas e dinâmicas do sistema 
terrestre, envolvendo as contribuições da climatologia, da oceano-
grafia, da glaciologia e da hidrografia.
Antes de começarmos, é importante relembrar que o sistema 
terrestre apresenta duas fontes principais de energia: uma interna, 
associada à origem e destruição da litosfera, e outra externa, da 
energia proveniente do Sol.
Em linhas gerais, a energia solar alcança a Terra via atmosfera, 
sendo distribuída de modo variado e desigual pelo planeta, cum-
prindo todas as suas funções biológicas, físicas e químicas; depois, 
volta ao espaço sideral, saindo do sistema terrestre. 
A radiação solar é a energia que dá origem a todas as transfor-
mações da matéria no sistema terrestre, iniciando as modificações 
da crosta terrestre, pela interação promovida com os fluidos ar e 
água, e a formação do relevo, do solo, do clima, dos oceanos e 
cursos d’água, bem como da vida. 
Podemos dizer que, sem a radiação solar, o sistema terrestre 
estaria morto, seria escuro e quase imutável. Por esse caráter, 
destacaremos a importância da relação entre o Sol e a superfície 
terrestre, valorizando principalmente seu papel nos climas e na 
configuração das paisagens naturais da Terra.
Mas vamos por partes. Não se esqueça de fazer sempre suas 
anotações, pois isso o ajudará a construir uma abordagem autôno-
ma e crítica para agir articuladamente em sua atuação profissional 
futura. Vamos começar?
Desejamos uma leitura proveitosa e enriquecedora! 
84 Fundamentos de Geografia Física
4.1 Introdução à climatologia 
Vídeo A radiação solar, em seu movimento de entrada e saída do sistema 
terrestre, flui por diversos canais. Na superfície terrestre, ela é subme-
tida à transformação em energia térmica, ou seja, em calor. Nesse pro-
cesso, os fluidos ar e água são os principais responsáveis por distribuir 
a energia no planeta, ao mesmo tempo que interagem entre si e com 
todos os outros sistemas naturais (SILVA DIAS; SILVA, 2009).
Nesse escopo, o salto no conhecimento foi significativo, principal-
mente com a incorporação das teorias do movimento (gravidade e 
termodinâmica) nos sistemas naturais, associadas principalmente ao 
ambiente atmosférico.
A atmosfera é formada pelo ar atmosférico, tradicionalmente definida como uma fina 
camada de ar que envolve a Terra (cerca de 0,25% do diâmetro da Terra), esta é consti-
tuída por diferentes gases e material particulado e está agregada à superfície terrestre 
pela força da gravidade. Não existe um limite superior absoluto e fixo para a atmosfera, 
o que se verifica é uma progressiva rarefação do ar com a altitude e com maior concen-
tração (cerca de 98% da sua massa total). Isso ocorre nos primeiros 29 km de altitude.
Dentre as suas principais funções, podemos destacar o modo como a energia solar entra 
e sai do sistema terrestre, agindo na seleção de radiação solar necessária à manutenção 
da vida, à proteção de impactos meteóricos e corpos celestes, à manutenção e ao con-
trole da temperatura e à concentração de todos os fenômenos metrológicos e climáticos 
da Terra, como chuvas, descargas elétricas etc. Vejamos o exemplo na Figura 1.
Figura 1
Esquema representativo da importância e da função da atmosfera no sistema terrestre
Fonte: Elaborada pelo autor.
Sol
Filtro para 
radiação solar 
nociva à vida
Controle da 
temperatura 
da Terra Manifestação 
de todos os 
fenômenos 
meteorológicos
Comunicação
Transporte
Proteção contra 
o impacto de 
meteoros
(Continua)
Para mais informações, 
leia o capítulo “Para 
entender Tempo e Clima”, 
do livro Tempo e clima no 
Brasil, de Silva Dias e Silva. 
Nele, são apresentados 
os principais conceitos da 
climatologia e abordados 
os mecanismos da circu-
lação atmosférica.
CAVALCANTI I. D. A.; FERREIRA N. J.; 
SILVA M. G. A. J. da; SILVA DIAS M. 
A. F. (orgs.). São Paulo: Oficina de 
Textos, 2009.
Leitura
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 85
Além dessa importância, a atmosfera também oferece muitas possibilidades às ati-
vidades humanas, como transporte e comunicação. Nesse último caso, é importante 
lembrar que a atmosfera difunde energia suficiente para o uso de instrumentos tec-
nológicos, como o rádio, a televisão e a internet.
Por meio da interação constante de troca de matéria entre o Sol e a superfície ter-
restre, a atmosfera favorece a retroalimentação da energia para processos físicos, 
químicos e bióticos, como também a manutenção dos sistemas naturais (litosfera, 
criosfera, hidrosfera e biosfera), sociais e produtivos.
Isso significa que, com o conhecimento das teorias do movimento, 
foi possível perceber que os fluxos de matéria e energia que passam 
pela atmosfera apresentam padrões ligeiramente alterados por pelo 
menos três grandes fatores: período do ano, período do dia e latitude.
No primeiro caso, relacionado ao período do ano, devido à forma 
elíptica de sua trajetória no movimento de translação, o planeta tende 
a estar ora mais distante do Sol (quando atinge o afélio, no dia 4 de 
junho), ora mais próximo dele (quanto atinge o periélio, no dia 3 de 
janeiro). Isso pode ser observado na Figura 2.
Figura 2
Os momentos afélio e periélio no movimento de translação
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Máximode energia Sol Mínimo de energia
Afélio
4 de julho
Periélio
4 de janeiro
Além disso, a inclinação do eixo do planeta (aproximadamente de 
23°26′) promove diferenciação da radiação solar em dois hemisférios, 
uma vez que na sazonalidade (momento dos solstícios) um deles rece-
be mais energia do que outro. O ângulo de incidência dos raios solares 
afeta a quantidade de energia recebida. Sendo assim, quanto maior 
for a incidência perpendicular (90°) dos raios solares em um ponto do 
planeta, mais concentrada será a intensidade da radiação na área. Esse 
mecanismo também oscila entre os solstícios e equinócios. Podemos 
visualizar um exemplo disso na Figura 3a.
Assista ao segundo epi-
sódio do documentário 
Terra: O Poder do Planeta, 
que trata da atmosfera. 
Nele, você pode observar 
a importância desse 
ambiente, que mesmo 
sendo muito dinâmico 
é imprescindível para o 
sistema terrestre.
Produção: Phil Dolling. Reino Unido: 
BBC, 2007.
Disponível em: https://www.
dailymotion.com/video/x1mwyup. 
Acesso em: 4 fev. 2021.
Documentário
86 Fundamentos de Geografia Física
Ra
io
s 
so
la
re
s
Tróp
ico d
e Câ
nce
r
Trópico de Câncer
Equ
ador
Equador
Tróp
ico d
e Ca
pricó
rnio
Trópico de Capricórnio
Círcu
lo Ár
tico
Círculo Ártico
S
N
Círc
ulo 
ártic
o
Círculo ártico
Ra
io
s 
so
la
re
s
Ra
io
s 
so
la
re
s
Solstício de Junho
(a)
Solstício de Dezembro 
(c)
Equinócios 
(b)
Polo Norte
S
23½º
Círculo ártico
Trópico de Câncer
Equador
Trópico de Capricórnio
Círculo Ártico
Equador
Trópico de Câncer
Tr
óp
ico de Câncer
Tró
pic
o 
de
 C
ân
ce
r
Eq
ua
do
r
Cír
culo Ártico
Círculo Ártico
W
ik
im
ed
ia
 c
om
m
on
s
Figura 3a 
Representação dos raios solares
Figura 3b 
Momentos de solstícios e equinócio
 Com isso, a radiação solar é determinada também pela latitude dos 
lugares, sendo inversamente proporcional à energia solar disponível, 
ou seja, ela aumenta à medida que a latitude diminui. Em síntese, a 
disponibilidade de energia é maior no Equador e menor nos polos e faz 
com que nas baixas latitudes haja um superavit radiativo (máximo de 
incidência solar), enquanto nos polos ocorre deficit radiativo (mínimo 
de incidência solar).
Essa dinâmica, então, deve ser movimentada, para garantir equilí-
brio energético entre trópicos e polos. O processo acontece inicialmen-
te pelas intensas trocas de matéria e energia entre os fluidos ar e água, 
ou seja, o aquecimento do ar na zona tropical conduz ao aumento de 
energia cinética das moléculas de ar, que tendem a se distanciar, oca-
sionando expansão da atmosfera e configurando-a em uma área de 
baixa pressão atmosférica 1 . O contrário acontece quando o ar se res-
fria, pois, ao se tornar mais denso, configura-se em uma área de alta 
pressão atmosférica.
Trata-se do peso vertical da colu-
na de ar sobre a área, medida 
em milibares ou em hectopascal. 
Além da termodinâmica, a pres-
são é também relativa à força da 
gravidade, por isso, em lugares 
de baixas altitudes, ela tende 
a ser maior do que em lugares 
com altitudes mais altas.
1
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 87
A esse movimento é dado o nome convecção, algo bem semelhante 
ao observado no interior da Terra, por meio das correntes convectivas, 
não é mesmo? A diferença é que na atmosfera o movimento é mais rápi-
do, podendo acontecer em fração de segundos. Além disso, a convecção 
ocorre também em conjunto com o movimento de advecção (sentido 
horizontal da troca de calor) – o vento, quando o ar é movimentado das 
áreas de alta pressão para as de baixa pressão atmosférica.
Podemos observar o resultado desses movimentos (convecção e 
advecção) quando os tipos de tempo são acompanhados por instabi-
lidades atmosféricas das baixas pressões, ou seja, a formação de nu-
vens, a ocorrência de ventos fortes, chuvas e tempestades. As áreas de 
alta pressão, ao contrário, promovem tipos de tempos estáveis, firmes, 
com poucas nuvens, ou seja, dias ensolarados.
Todos esses eventos contemplados, em síntese, são resultado do 
processo de distribuição da energia térmica do planeta na interação 
dos fluidos ar e água. O mecanismo físico, no entanto, é muito simples, 
ocorre quando a água é submetida às mudanças em seu estado físico 
(líquido-vapor-sólido). Na mudança de fase da água, muita energia é 
liberada (cerca de 600 cal/g) e, portanto, utilizada para movimentação 
interna no sistema (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
A complexidade, todavia, é observada no fato de que globalmente 
os ventos definem a circulação atmosférica, e os movimentos da água 
definem as correntes oceânicas nos oceanos e mares. Vamos iniciar 
essa análise considerando a movimentação do ar por meio da chama-
da circulação geral da atmosfera, um mecanismo global que representa 
a distribuição do calor e água pelo planeta. 
Os movimentos são organizados por dois fatores principais, sendo 
um termodinâmico – derivado da diferença de temperatura entre os 
polos e trópicos – e o outro mecânico – associado ao movimento de 
rotação que organiza o efeito de Coriolis.
O efeito de Coriolis é designado como a força aparente (pseudo-
força) originada pelo movimento da rotação que age na trajetória do 
vento, quando sai de uma área de alta pressão para outra de baixa 
pressão, dos polos e do Equador, por exemplo. Isso significa que, se 
não houvesse rotação, o efeito seria inexistente, conforme a Figura 4.
88 Fundamentos de Geografia Física
Figura 4
Trajetória do vento sem rotação: Efeito Coriolis inexistente
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Mas a deflexão é real e altera a trajetória do vento no sentido horá-
rio (desvio para direita) no Hemisfério Norte e anti-horário (desvio para 
a esquerda) no Hemisfério Sul, como podemos ver na Figura 5.
Figura 5
Trajetória do vento com rotação: Efeito Coriolis ausente
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
O modelo tricelular – formado pela Célula de Hadley, Ferrel e Polar – é 
o que apresenta mais coerentemente essa movimentação (Figura 6). Ob-
serve que a Célula de Hadley é a principal circulação atmosférica na zona 
tropical. Ela é basicamente configurada em um movimento circular que 
transporta calor das áreas equatoriais para as latitudes médias e vice-ver-
sa. Detalhadamente, trata-se de uma circulação que mostra ascendência 
do ar próximo da linha imaginária do Equador (em torno de 0º latitude), 
formando uma zona de baixa pressão atmosférica: a Zona de Convergên-
cia Intertropical (ZCIT), que é organizada por meio do confronto dos ventos 
oriundos dos Hemisférios Sul e Norte, chamados ventos alísios.
Para facilitar o entendi-
mento do efeito Coriolis, 
assista ao vídeo Coriolis 
Effect, publicado pelo 
canal TSG Physics. Nele, 
você pode acompanhar 
um experimento realiza-
do para entender como o 
efeito ocorre. 
Disponível em: https://youtu.be/
dt_XJp77-mk. Acesso em: 4 fev. 
2021.
Vídeo
https://youtu.be/dt_XJp77-mk
https://youtu.be/dt_XJp77-mk
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 89
Figura 6
Modelo tricelular da circulação geral da atmosfera e sua relação com as paisagens
Fonte: Elaborada pelo autor.
Polar
Polo Sul
Ventos glaciais 
e polares
Zona de 
frentes
Zona de 
frentes
Altas 
subtropicais
Altas 
subtropicais
Zona de 
Convergência 
Intertropical
Florestas 
subtropicais e 
temperadas
Florestas 
subtropicais e 
temperadas
Anticiclones 
oceânicos
Anticiclones 
oceânicos
Florestas 
equatoriais
Desertos Desertos
60º Sul 30º Sul 30º Norte 60º Norte Polo NorteEquador
Polar
Ferrel Ferrel
Hadley Hadley
Ventos glaciais 
e polares
Estabilidades atmosféricas Instabilidades atmosféricas
A circulação de Hadley também ajuda a compreender grande parte da distribuição das 
florestas tropicais e equatoriais do planeta, bem setorizadas na América do Sul, na Áfri-
ca Central, no Sudeste Asiático e na Oceania, nas proximidades da Linha do Equador 
(Figura 7).
Observe que essas florestas são domínios vegetacionais muito perenes e demandam 
uma importante e constante disponibilidade hídrica e energética para quesejam de-
senvolvidos seus processos biofísicos e fisiológicos.
Figura 7
Distribuição espacial das florestas tropicais e equatoriais do planeta
Oe
ne
is
/W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
90 Fundamentos de Geografia Física
Por volta de 20º a 30º de latitude norte e sul, a Célula de Hadley se 
caracteriza como uma zona de subsidência, isto é, grandes zonas de 
alta pressão atmosférica, em que predominam a descida do ar, o que, 
por sua vez, inibe a formação de nuvens e precipitação. Essas áreas 
definem a formação dos principais anticiclones da Terra; o resultado 
é a formação dos domínios climáticos áridos e semiáridos das latitudes 
médias, representada pelos desertos do Atacama, na América do Sul, 
do Kalahari, na África Austral, do Outback, na Austrália, do Saara, no 
norte da África, e do Colorado, nos Estados Unidos. Na Figura 8, con-
seguimos observar que grande parte desses domínios naturais estão 
localizados no cinturão das altas pressões da latitude de 20 a 30 graus.
Figura 8
Distribuição espacial dos principais desertos e das áreas sujeitas à desertificação no planeta 
Áreas semiáridas
Deserto
Áreas sujeitas à desertificação
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Quando a subsidência ocorre sobre o oceano, os anticiclones rece-
bem uma grande quantidade de umidade e participam da distribuição 
da água e do calor, contribuindo para a constituição de climas e sis-
temas atmosféricos termodinamicamente quentes e úmidos. Por essa 
natureza, os anticiclones são muito importantes na dinâmica da sazo-
nalidade tropical. Veremos mais detalhes sobre esses movimentos na 
próxima seção.
A segunda célula de circulação do modelo tricelular é denominada 
Célula de Ferrel, que abrange o movimento de transporte do ramo de 
ar quente em subsidência na faixa de 30º de latitude e que, pelo efeito 
Coriolis, sofre ascendência a 60º de latitude, devido também ao encon-
anticiclones: são sistemas 
atmosféricos associados às zonas 
de alta pressão atmosférica, cujo 
predomínio são movimentos de 
subsidência ou de descida do 
ar. Nesse caso, esses sistemas 
inibem a formação de nuvens e 
de instabilidades.
Glossário
O vídeo Células de circula-
ção geral da Atmosfera, pu-
blicado pelo canal Ranyere 
Nobrega, apresenta uma 
animação bem didática 
sobre a dinâmica dos 
ventos segundo o modelo 
tricelular. Assista e observe 
os movimentos circulares 
que servem como o meca-
nismo de distribuição do 
calor no planeta.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=Y07hA3i_
f4E. Acesso em: 4 fev. 2021.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=Y07hA3i_f4E
https://www.youtube.com/watch?v=Y07hA3i_f4E
https://www.youtube.com/watch?v=Y07hA3i_f4E
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 91
tro com sistemas atmosféricos tropicais e extratropicais (oriundos dos 
polos); isso é chamado de zona de frentes 2 . Por fim, o outro ramo de 
Ferrel volta a retroalimentar a subsidência nas latitudes 30º, fechando 
a circulação. A circulação de Ferrel ajuda a entender uma parte da dis-
tribuição das paisagens subtropicais e temperadas, sobretudo no que 
tange aos domínios das tundras, taigas e coníferas, por exemplo.
A terceira seção do modelo tricelular é a Célula Polar, que apresenta 
a mesma direção do movimento da Célula de Hadley, mas acontece nas 
latitudes altas ou subpolares. É marcada por movimentos ascendentes a 
60º de latitude, no confronto com a zona de frentes no limite com a Célu-
la de Ferrel e subsidentes nas proximidades, na faixa dos 90º de latitude. 
A circulação é caracterizada por anticiclones com ar frio ou glacial, devido 
à baixa insolação e ao intenso resfriamento do ar atmosférico.
Além do modelo tricelular, a dinâmica atmosférica acontece de ma-
neira acoplada à circulação oceânica. Aprofundaremos esse debate por 
meio das contribuições da oceanografia.
A Zona de Frentes é um 
sistema atmosférico oriundo 
do encontro de massas de 
ar termodinamicamente 
diferentes, o que provoca insta-
bilidades, com a ocorrência de 
chuvas, tempestades e redução 
da temperatura.
2
4.2 Fundamentos de oceanografia 
Vídeo A necessidade de organização sistemática das marés, das ondas, 
no escopo da dinâmica marinha, é atualmente chamada oceanografia, 
ou seja, é o campo científico orientado para o estudo do oceano. O 
conjunto de instrumentos tecnológicos para a obtenção de dados, o 
reconhecimento de grandes áreas geográficas, as modernas embarca-
ções e, sobretudo, a cooperação internacional no âmbito da integração 
oceânica permitiram a compreensão da circulação oceânica.
Os estudiosos da área consideram que os oceanos tenham por vol-
ta de 4.000 m de profundidade, sendo que os primeiros 10 m possuem 
massa equivalente à da atmosfera, e os três primeiros metros, uma 
capacidade calorífica igual a ela toda. Esses fatores, somados à área 
abrangida (cerca de 71% da Terra), fazem dos oceanos o reservatório 
de calor e a memória principal do sistema climático (CAMPOS, 2014).
A ideia da circulação oceânica, por outro lado, sugere que o oceano 
é um só, não somente por cobrir grande parte da superfície da Terra, 
mas principalmente por reforçar a noção de que o sistema terrestre 
é um todo integrado, articulado e conectado. De fato, por razões prá-
ticas, sociais e econômicas, existe a presença de limites continentais, 
92 Fundamentos de Geografia Física
características e linhas geográficas (o Equador, por exemplo) como atri-
butos formais para distingui-los.
Inicialmente, a dinâmica oceânica foi interpretada por Vagn Walfrid 
Ekman (1874–1954). O oceanógrafo desenvolveu, em 1902, a Teoria da 
Espiral Oceânica ou Espiral de Ekman. Segundo essa teoria, a direção 
do vento e das correntes oceânicas pode ser explicada com uma analo-
gia a um fluido dentro de um ambiente em rotação.
Ekman ofereceu uma proposta de classificação da circulação oceâ-
nica associada ao movimento dos ventos (derivada da circulação geral 
da atmosfera) e à termoalina (derivada das diferenças de densidade 
das águas dos oceanos e suas variações de temperatura e salinidade).
Para ele, o oceano apresenta uma circulação em suas camadas su-
periores, partindo da superfície e atingindo profundidades maiores 
que 100 m, sendo fundamentalmente gerada pela força dos ventos. 
Em síntese, o movimento é resultado de arrasto derivado da colisão 
(atrito) entre as moléculas de ar e água. Os gradientes horizontais em 
profundidade são submetidos ao alívio de pressão, operado pela ação 
do efeito Coriolis, que influencia a transferência das colunas d’água in-
feriores para as superiores.
Desse modo, a corrente da camada superficial tem sentido para a es-
querda em relação à direção do vento no Hemisfério Sul, com as cama-
das inferiores seguindo esse mesmo padrão de desvio para a esquerda 
em relação à camada superior, o que provoca uma movimentação espi-
ralada em profundidade, também chamada Espiral de Ekman (Figura 9).
Figura 9
Representação esquemática da Espiral de Ekman no Hemisfério Sul
A deflexão de Coriolis faz com que a corrente superficial flua a um ângulo de 45° para esquerda da 
direção do vento em função do Hemisfério Sul. À medida que a corrente se torna mais profunda, 
é também mais defletida em relação à camada de cima, originando uma corrente verticalmente 
espiralada em profundidade.
Fonte: Adaptada de Rodrigues, 2015, p. 180.
Vento
Profundidade
45º
Direção do transporte 
Ekman
Este capítulo trata dos 
sistemas naturais mais di-
nâmicos do planeta, absor-
vendo uma das principais 
preocupações contempo-
râneas: qualidade de vida 
na Terra. Nesse sentido, 
ações de gerenciamento 
sustentável da água, 
sobretudo, do período 
entre 2021 e 2030 são 
destacadas. Esse período 
foi escolhido por diversos 
países, em conjunto com 
a Unesco, como a “Década 
das Nações Unidas da 
Ciência Oceânica para o 
Desenvolvimento Susten-
tável”. Para saber mais 
sobre esse debate, assista 
ao vídeo Década ciência no 
mar, publicado pelo canal 
Programa de Políticas 
Públicas IO USP.
Disponível em: https://youtu.be/
AKR8rNzybd0. Acesso em:4 fev. 
2021.
Vídeo
Vagn Walfrid Ekman é co-
nhecido pelas explicações 
sobre a dinâmica mari-
nha. Até hoje, seu estudo 
é usado para explicar os 
eventos biológicos nos 
sistemas de ressurgência.
Para saber mais, leia o 
capítulo “As ciências do 
mar”, do livro Introdução 
às ciências do mar, de 
Castello e Krug.
CASTELLO, J. P.; KRUG, L. C. Pelotas: 
Editora Textos, 2015. 
Leitura
https://youtu.be/AKR8rNzybd0
https://youtu.be/AKR8rNzybd0
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 93
As correntes horizontais, geradas pelos ventos na superfície da 
camada de Ekman, favorecem os movimentos verticais, ou seja, a as-
censão (baixo para cima) das águas interiores ou ressurgência e subsi-
dência, quando o movimento é de cima para baixo.
Globalmente, essas correntes apresentam em sua origem caracte-
rísticas térmicas diferentes; suas trajetórias são submetidas a mudan-
ças e por isso elas podem provocar manifestações e impactos distintos, 
apesar de participarem de uma mesma circulação. Considere essas re-
lações presentes na Figura 10, que representa a direção habitual das 
correntes oceânicas quentes e frias e a sua relação com a diferenciação 
climática no planeta.
Figura 10
Direção habitual das correntes oceânicas e sua influência climática
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
A movimentação, assim, é fisicamente acoplada à circulação ge-
ral da atmosfera, ou seja, no Hemisfério Sul as correntes apresentam 
movimento defletido para a esquerda e, no Hemisfério Norte, para a 
direita. Nesse sentido, observe que a formação de climas mais secos 
está relacionada, também, à ocorrência de águas das correntes frias, 
uma vez que elas diminuem os processos de evaporação e reforçam 
o ressecamento atmosférico. Grande parte dessas correntes frias está 
94 Fundamentos de Geografia Física
situada nos setores costeiros, do lado oeste e leste dos continentes no 
Hemisfério Sul e Norte, respectivamente.
Por outro lado, as correntes frias também são responsáveis por tra-
zer muitos nutrientes das camadas inferiores do oceano para as cama-
das superiores. Desse modo, elas possibilitam a reciclagem da cadeia 
alimentar. Portanto, há a coincidência de que, nas áreas onde o fenô-
meno acontece, a produtividade pesqueira é bastante significativa. São 
exemplos disso o Japão e o Chile.
De outro modo, correntes quentes tendem a umidificar os setores 
costeiros dos setores leste dos continentes no Hemisfério Sul, bem 
como amenizar climas secos e frios dos continentes situados no Hemis-
fério Norte. Nesse caso, grande parte da demanda hídrica das florestas 
tropicais, como a Mata Atlântica do Brasil e as florestas tropicais do 
leste da Austrália, é mantida graças ao fornecimento de umidade ad-
vindo dessas movimentações. A prática turística de veraneio no litoral 
dos países, principalmente do mundo tropical, pode ser um resultado 
dessa condição natural.
O outro tipo de circulação oceânica, a termoalina, também chamada 
de correia transportadora de calor, mostra que grandes quantidades de 
água oceânica podem se resfriar, liberando calor e tornando-se densas 
ao ponto de se movimentarem nas profundezas (Figura 11).
Figura 11
Circulação termoalina global 
IE
SD
E 
Br
as
il 
S/
A
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 95
A circulação é fundamentalmente movimentada pelo gradiente tér-
mico (que promove o transporte de calor das baixas latitudes e para as 
altas latitudes e polos) e pelo gradiente salino, cuja forte influência nos 
processos de evaporação nas baixas latitudes introduz a água doce nas 
altas latitudes. É importante levar em consideração que águas menos 
salinas congelam antes de ficarem densas e afundar. Esse caráter au-
xilia na diminuição do transporte de calor dos trópicos para os polos.
O mecanismo acontece desde o Atlântico Norte e flui em camadas 
profundas para o Atlântico Sul. Na sequência, as correntes saem do 
Oceano Atlântico e espalham-se pelo Círculo Polar Antártico, derivando 
em profundezas pelos oceanos Índico e Pacífico, quando são paulati-
namente aquecidas em contato com a atmosfera. Especialmente no 
Oceano Pacífico, elas sofrem ressurgência e são aquecidas em contato 
com a atmosfera; depois fluem para Oceano Atlântico Sul, entrando 
através da Passagem de Drake e integrando as correntes das Malvinas 
e Circumpolar Antártica, quando retornam, pela superfície, ao Atlântico 
Norte, fechando a circulação.
A velocidade com que essa circulação global se move é bastante 
associada à dinâmica climática observada no setor norte do Oceano 
Atlântico Norte. Nesse caso, processos que causam o derretimento de 
grandes quantidades de gelo no Ártico podem causar diminuição da 
salinidade, o que dificultaria a formação das correntes profundas do 
Atlântico Norte devido ao congelamento.
Nesse sentido, a complexidade do movimento se dá em função da 
diminuição da temperatura do ar (que deve ser suficiente para con-
gelar a água do mar), que, em consequência, diminui a salinidade da 
água, tornando o remanescente da água oceânica líquida mais salgado. 
Aprofundaremos um pouco mais a respeito da dinâmica da água con-
gelada no decorrer de nossos estudos.
4.3 Elementos da criosfera 
Vídeo O termo criosfera, originado do grego, kryos, que significa frio ou 
gelado, e sphaira, que em português compreendemos como esfera, é 
utilizado para denominar o conjunto de todos os elementos do sistema 
terrestre que contêm água no estado sólido. Este, por sua vez, abarca 
gelo marinho, gelo fluvial e lacustre, precipitação sólida e cobertura de 
96 Fundamentos de Geografia Física
neve, geleiras, calotas polares, permafrost 3 , solo congelado (associado 
ao congelamento sazonal) e principalmente os dois ambientes de gelo 
do planeta: Antártica e Groenlândia.
O estudo sistemático da criosfera integra as pesquisas envolvendo 
a formação de calotas e geleiras, o que inclui os processos climáticos, 
meteorológicos e geomorfológicos no escopo da glaciologia. Esse cam-
po é bastante interdisciplinar, sendo desenvolvido por abordagem de 
ciências como física, química, geologia, biologia, geografia, climatologia, 
meteorologia, matemática etc.
As primeiras investigações foram desenvolvidas pelo geólogo Ernst 
Sorge (1899–1946), parceiro de pesquisa de Alfred Wegener, formula-
dor da Teoria da Deriva Continental. Sorge mostrou a possibilidade de 
distinguir variações anuais na densidade das neves dos verões e inver-
nos do gelo antigo, aprisionado nos campos que recobrem o centro da 
Groenlândia. A partir de então, o gelo poderia ser um arquivo fiel da 
história atmosférica, caso seu conteúdo fosse decifrado (COX, 2005).
As questões iniciais associavam a importância do gelo ao contexto 
do debate da história natural e às variações e mudanças da superfí-
cie terrestre. O princípio uniformitarista e a formulação dos Ciclos de 
Milankovitch (Figura 12) foram fundamentais para elaborar as primei-
ras teorias sobre a origem e a formação dos ambientes glaciais e suas 
relações com o sistema terrestre.
Nesse sentido, a reconstituição das mudanças climáticas pretéritas, 
que mostravam alternância de períodos glaciais, com climas mais frios 
e secos, e interglaciais, com climas mais quentes e úmidos, originaram 
sedimentos específicos, que poderiam ser observados nas rochas, mas 
também poderiam ser extraídos da composição físico-química de nú-
cleos de gelo.
Os registros de gelo, por exemplo, podem apresentar a composição 
química da atmosfera e as condições ambientais, com valores de refe-
rência que podem chegar a 800 mil anos, suficientes para interpretar 
variações climáticas recentes e o impacto das atividades humanas. Há 
18.000 anos AP, época da origem do Homo Sapiens, foi possível constatar, 
por exemplo, que a cobertura de gelo atingiu 30% da superfície terrestre.
3
Conglomerado de solo perma-
nentemente congelado, por isso, 
recorrente nos setores árticos.
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 97
Os Ciclos de Milankovitch, também chamados de orbitais, foram inicialmente formula-
dos pelo astrofísicoMilutin Milankovitch (1879-1958). Eles mostram como as influên-
cias astronômicas são fatores explicativos das mudanças climáticas pretéritas, uma vez 
que periodicamente o balanço de energia da Terra é alterado e, com isso, modificações 
na entrada e saída da radiação solar impactam a dinâmica do planeta. 
Excentricidade 
Período 100.000 anos
Período 41.000 anos Período 26.000 anos
Plano de 
órbita
Máximo 24,5º
23,5º
23,5º22,5º
Hoje
Mínimo
Inclinação axial Precessão
Vega 
(13.000 anos)
Estrela do 
norte
Figura 12
Representação dos ciclos de Milankovitch 
A teoria de Milankovitch é composta por três ciclos. São eles: 
1. Excentricidade da órbita terrestre: alterações no formato da órbita da Terra 
em torno do Sol, que pode ser elíptica ou circular – periodicidade de 100 mil 
anos.
2. Obliquidade da eclíptica: alterações na inclinação do eixo da Terra, que va-
riam entre 22 e 24,5° em relação ao plano da órbita – periodicidade de 41 mil 
anos.
3. Precessão dos equinócios: devido à atração gravitacional dos astros no Sis-
tema Solar, o eixo de rotação da Terra (180° nos equinócios e solstícios) se torna 
perpendicular à eclíptica – periodicidade em torno de 22 mil anos.
Cada ciclo apresenta uma periodicidade específica e, junto com outros fatores internos 
e externos, como os ciclos de manchas solares, microfísica das nuvens, aerossóis na 
atmosfera, concentração de gases do efeito estufa e refletividade das lâminas de gelo, 
auxiliam na explicação da configuração paleoclimática da Terra.
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98 Fundamentos de Geografia Física
O geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber explica esses processos pela Teoria 
dos Refúgios. Segundo o teórico, nos períodos glaciais a América do Sul 
foi submetida à redução das florestas tropicais e equatoriais por causa 
da predominância de climas mais secos e frios, devido à configuração 
mais predominante das correntes frias de Falkland e do Peru, que favo-
receram o domínio de sistemas atmosféricos polares (Figura 13).
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
TRÓPICO DE CÂNCER TRÓPICO DE CÂNCER
EQUADOR
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
ATLÂNTICO
EQUADOR
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
TRÓPICO DE CÂNCER TRÓPICO DE CÂNCER
EQUADOR
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
ATLÂNTICO
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SEMIÁRIDO
SEMIÁRIDO
PARA-ÁRIDO
SEMIÁRIDO
Rio
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Área urbana
Calota de gelo
0 1000 Km
6.800
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Quente
Fresca
Fria
(Corrente)
(Vento)(Altitude em metros)
Julho
Janeiro
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Figura 13
Alternâncias dos períodos interglaciais e glaciais e suas manifestações na dinâmica climática e vegetacional na América do Sul 
Fonte: Adaptada de Viadana, 2000 apud SILVA, 2011. 
Essa dinâmica proporcionou a paulatina redução hídrica derivada 
da precipitação sólida (neve), auxiliando na formação de calotas po-
lares e no domínio de climas semiáridos e áridos, como produto da 
expansão de desertos, somada à extinção de espécies e redução do 
nível dos mares.
De outro modo, nos interglaciais a corrente de Falkland é restrita ao 
sul do continente sul-americano, o que favorece o domínio de sistemas 
atmosféricos úmidos derivados da corrente do Brasil, que é quente. 
Além da umidificação do continente, por meio do predomínio da preci-
pitação líquida, é possível observar a expansão das florestas tropicais 
e equatoriais e a redução dos climas semiáridos e áridos, bem como o 
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 99
aumento do nível dos mares. A fase interglacial apresenta uma dinâmi-
ca muito semelhante ao estágio atual.
Assim, o estudo por meio da glaciologia tem oferecido contribuições 
especialmente para o debate das mudanças climáticas, principalmen-
te porque a criosfera é um ambiente de interface entre atmosfera e 
hidrosfera, mas que promove interações importantes nos outros sis-
temas naturais.
A importância da criosfera na dinâmica do sistema terrestre pode 
ser destacada, considerando seu papel no balanço de energia global, 
ao influenciar na energia que entra e sai do planeta, e nas condições 
hidrológicas, quando age na transferência e transformação do calor pe-
las interações da umidade, da formação de nuvens, da precipitação e 
do fluxo de gases e partículas (Figura 14).
Figura 14
Componentes da criosfera e suas escalas de formação 
Fonte: Adaptado de Stachelsk; Souza; Casagrande, 2019, p. 6. 
Observe que os parâmetros de medida temporal e métricos são relevantes para indicar a consistência da análise por meio da 
glaciologia.
Hora Dia Meses Anos Séculos Milênios
Calota polar Plataforma de gelo
Solos congelados 
Geleira e topos de gelo 
3.000 km 
20
0 
m
2 
m
2 
km
1 
m
100 m Calota polar 
Plataforma de gelo 
1 
km
 
3 
km
 
Gelo marinho 
Gelo 
marinho 
Geleiras 
Gelos de rios e lagos 
Neve 
Neve Neve 
Oceano 
1.000 km
1.000 km
Solos congelados 
Atmosfera 
Continentes 
1.000 km
Margem calotas polares 
A Figura 15 representa uma parte dessa interação, já que a criosfera 
é distribuída por praticamente todos os continentes e seus processos 
de formação podem variar, ocorrendo desde fenômenos muito rápi-
100 Fundamentos de Geografia Física
dos, como uma tempestade de neve, até a sedimentação lenta e cons-
tante, como no caso dos solos congelados e das calotas polares.
Nesse sentido, vale destacar ainda que o gelo é um dos principais 
elementos responsáveis por controlar a circulação oceânica. Qualquer 
modificação na massa da criosfera, seja pelo derretimento das geleiras 
e calotas polares, por exemplo, deve incluir implicações importantes 
para o mundo, principalmente em termos de aumento do nível do mar, 
diminuição da disponibilidade hídrica nas zonas áridas e, consequente-
mente, intensificação de mudanças climáticas.
Para além da importância ecológica, a criosfera também é muito re-
levante para as práticas humanas. Do passado até hoje, as geleiras têm 
possibilitado a prática de agricultura em áreas naturalmente áridas, 
por exemplo. Para grande parte dos países situados nas cordilheiras 
dos Andes e do Himalaia, onde as geleiras desempenham um papel 
significativo no controle hidrológico, elas também participam dos sis-
temas socioeconômicos, sendo as principais fontes hídricas (abasteci-
mento) e de energia.
Durante o século XX, no entanto, as geleiras perderam parcialmente 
suas massas. Mesmo integrando apenas 1% do volume da criosfera, 
contribuíram em 25% para o aumento do nível médio dos mares entre 
1988 e 1998 (DYURGEROV; MEIER, 2005).
Diante disso, sabemos que no mundo todo mais de 3 bilhões de 
pessoas dependem direta ou indiretamente da água que flui das mon-
tanhas para sobreviver; muitas vezes sua importância vai além da área 
onde se localizam (MARENGO, 2008). Para compreender mais sobre es-
ses aspectos, trataremos das contribuições da hidrografia.
4.4 Fundamentos de hidrografia 
Vídeo Como você já deve ter percebido, quanto à história natural, a Terra 
tem 4,5 bilhões de anos, e a vida, existente há cerca de 3,8 bilhões, surgiu 
junto com os primeiros sinais de água. De lá para cá, a nossa atmosfera 
atual se formou há pouco menos de 400 milhões de anos, e nós, seres 
humanos, estamos por aqui há pouco mais de 300 mil anos e, como civi-
lização, há pelo menos 10 mil anos.
Em todo esse tempo, a quantidade de água no planeta se manteve 
praticamente invariável; na verdade, suas mudanças são apenas ob-
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 101
servadas no estado físico, que obedece desde as variações sazonais 
dentro do ano até as mudanças promovidas pelas glaciações e inter-
glaciações. A maior preocupação está na variabilidade espacial, já que 
sua distribuição atende à localização das fontes hídricas, sendo um dos 
interesses do campo dahidrografia.
Podemos encaminhar o debate por meio da hidrografia, assumindo 
a importância de mais um ciclo do sistema terrestre – o da água –, que 
de modo muito elementar representa a movimentação alternada da po-
sição de seu estado físico, na renovação de seus processos de transfor-
mação e na configuração dos climas, bem como dos demais domínios 
naturais do planeta. Vejamos esses processos no esquema da Figura 15.
chuva
degelo
escoamento transpiração
água
subterrânea
água
subterrânea
nível da
água
subterrânea
lago
evaporação
rio
raios solares
evaporação
oceano
evaporação
infiltração
neve
Figura 15
O ciclo hidrológico
Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Resumidamente, assumimos que a movimentação da água atende 
aos atributos do sistema terrestre. O que isso quer dizer? Por se tra-
tar de um ciclo, um sistema fechado, precisamos identificar a principal 
fonte de energia, e seus processos de transformação são derivados de 
pelo menos duas forças: a termodinâmica e a gravidade.
Assim, o Sol, sendo a principal fonte de energia do ciclo, interage 
com a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera e tende a organizar a movi-
mentação inicial do ciclo, que pode ser processado pela termodinâmi-
ca enquanto evaporação. Esta, que é a passagem da água em estado 
líquido para o gasoso, ocorre em todos os ambientes cuja existência 
de água se faz presente e pela transpiração da biomassa – conjunto 
102 Fundamentos de Geografia Física
da fauna (inclusive seres humanos) e da flora – melhor denominado 
evapotranspiração.
A água líquida é transformada em vapor d’água e, com a diminuição 
de temperatura e da pressão, é submetida ao processo seguinte: con-
densação. Nesse estágio, o ambiente é resfriado, quando o ar atinge o 
limite da saturação (diminuição da capacidade do ar em reter vapor), e 
forma uma nuvem. Também podemos ver essa manifestação em gotas 
de água que ficam no exterior de um copo com água gelada e nas gotas 
de orvalho em ambiente exposto.
A água condensada, na nuvem ou no ambiente, por sua vez, fica 
condicionada agora à gravidade; dependendo de seus níveis de sus-
pensão e de suas dimensões (peso e massa), pode retornar à superfície 
dando origem à precipitação, que acontece em forma líquida (chuva) 
ou sólida (neve, granizo etc.).
De todo modo, sua interceptação é muito significativa, pois uma 
parte da precipitação pode ser evaporada antes de atingir a superfície 
ou ser retida pelas copas da vegetação, dando continuidade ao ciclo 
entre superfície e atmosfera. A outra parte, que atinge o solo e retorna 
à superfície é submetida à infiltração. Nesse processo, a água pode ser 
movimentada, seja por percolação (quando passa por entre os grãos 
do solo e contribui para as águas subterrâneas e lençóis freáticos), seja 
por escoamento superficial (quando a infiltração da água excede a ca-
pacidade de saturação do solo).
Desse movimento, o comando principal é da gravidade, que deve 
orientar o transporte da água para os setores mais baixos do terreno, 
fluindo e estruturando por erosão cursos d’água, córregos, rios, lagos e 
oceanos. No trajeto, processos de evaporação e infiltração continuam 
a manter o ciclo em movimentação contínua.
Como um rio nasce? Habitualmente, o rio nasce com o escoamento superficial da chuva 
ou do degelo; mas para que ele seja perene, independentemente da sazonalidade, a 
água precisa ficar armazenada no interior da estrutura geológica.
Há diversas possibilidades para entender como o rio nasce, por meio do conhecimento 
geológico da área. No esquema, apresentamos duas. Observe.
(Continua)
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 103
Figura 16
Esquema representativo do nascimento de um rio
No primeiro caso, ocorre por meio da precipitação e da posterior infiltração da água no 
solo, com a existência de uma rocha permeável (uma rocha sedimentar, por exemplo) 
que, por ser porosa, serve como esponja para armazenar água durante muito tempo. 
Em geral, essas rochas são chamadas aquíferos, sendo importantes mananciais de 
águas subterrâneas. O rio deve nascer dessas rochas com a saturação, sendo trans-
portado, por gravidade, com a declividade do terreno, até ser exposto como nascente 
ou olho-d’água.
A segunda possibilidade ocorre com a existência de uma rocha impermeável, cristalina 
(ígnea ou metamórfica). Como a infiltração da água no solo é impossibilitada, resta 
que sua movimentação seja condicionada pela gravidade até sair e ser exposta à su-
perfície, surgindo como nascente ou olho-d’agua. 
Exutório ou foz
Ies
de
 Br
as
il S
/A
Obviamente, todos os movimentos do ciclo serão alterados, inten-
sificados, ampliados, reduzidos e até mesmo neutralizados por fatores 
associados às outras ciclicidades dos sistemas naturais, como também 
das atividades humanas, por meio dos usos (urbano, industrial, agrí-
cola), da utilização (lazer, higiene, abastecimento etc.), da finalidade 
(produção de alimentos, energia, transporte etc.), da contaminação, da 
qualidade e da apropriação da água.
Com o desmatamento, por exemplo, a impermeabilização do solo e a 
alteração da cobertura da terra mudam a maneira como a água se mo-
vimenta no ciclo de determinada área. O sistema, então, deve responder 
com decréscimo hídrico, em determinados setores, enquanto em outros 
haverá acréscimo. Esse desequilíbrio pode gerar descompasso na distri-
buição espacial e temporal das precipitações e pode desenvolver even-
tos perigosos como secas, chuvas intensas, alagamentos etc.
104 Fundamentos de Geografia Física
situação
normal
enchente
inundação
alagamento
As inundações são processos hidrológicos de origem natural, explicados pela dinâmica 
das bacias hidrográficas. Atualmente, entretanto, no contexto de uma sociedade alta-
mente urbanizada, é comum observar eventos catastróficos relacionados à dinâmica 
dos rios. Vale a pena considerar a diferenciação do fenômeno natural e a sua manifes-
tação na forma de impactos e, assim, qualificar a análise sobre o regime dos sistemas 
naturais. Observe a Figura 17.
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sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Figura 17
Esquema da dinâmica fluvial em eventos de enchente, inundação e alagamento 
Podemos considerar que a enchente é derivada do aumento do nível da água do rio em 
função do aumento da vazão fluvial. Esse fenômeno também pode ser explicado pelos 
eventos de cheia (máxima vazão) e vazante (vazões mínimas), por isso pode ser conside-
rado dentro do padrão natural do sistema.
A inundação está voltada à vazão fluvial, que gera o transbordamento das águas dos rios. 
Nesse caso, a bacia de inundação é o sistema natural que absorve a quantidade de água, e 
por isso faz parte também do regime natural, como evento extremo e excepcional. A questão 
é que grande parte das planícies de inundação são altamente urbanizadas e povoadas; é 
somente nessa relação que a inundação é um problema social, porque tende a ser encarada 
como um desastre.
Nessa perspectiva, esses eventos são muito diversos, podendo ser classificados segun-
do a velocidade, sendo lentas e graduais ou rápidas e bruscas, devido ao escoamento 
superficial veloz e muito concentrado.
O alagamento, por outro lado, é o acúmulo momentâneo de águas em determinados 
locais, ou por deficiência no sistema de drenagem (recorrente em áreas urbanas), ou 
por características naturais do sítio, como pântanos e planícies de rios meandrantes, 
isto é, que apresentam fluxos sinuosos.
No Brasil, essas questões estão descritas na Política Nacional de Re-
cursos Hídricos, cuja Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, mais conhe-
cida como a Lei das Águas, determina que a água é bem de domínio 
público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Na 
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 105
Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012, é instituída a Política Nacional de 
Proteção e Defesa Civil (PNPDEC); ela dispõe sobre o Sistema Nacional 
de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) e o Conselho Nacional de Prote-
ção e Defesa Civil (CONPDEC).
Sobre esses aspectos, é interessante destacarque o território 
brasileiro é dividido por doze bacias hidrográficas, cada uma com lo-
calizações e características distintas (Figura 18). Observe que a rede hi-
drográfica brasileira é composta majoritariamente por rios (grandes e 
pequenos), condição que pode ser associada à principal fonte de abas-
tecimento: a pluvial. Essa particularidade é importante sobretudo nos 
planaltos centrais, onde grande parte dos rios brasileiros nasce, com 
exceção do Rio Amazonas, cuja nascente está localizada na região da 
Cordilheira dos Andes.
Figura 18
Regiões hidrográficas brasileiras
Fonte: IBGE, 2008.
De modo geral, é por essa regionalização que a implementação de 
políticas públicas para gestão das águas no Brasil pode ser iniciada. 
Nesse ponto, você deve observar que o ciclo da água remete a uma 
106 Fundamentos de Geografia Física
funcionalidade prática e analítica que atende aos princípios políticos 
do estado brasileiro. Isso significa afirmarmos que uma das nossas fun-
ções, enquanto profissionais geógrafos, é avaliar e monitorar a dispo-
nibilidade hídrica de uma comunidade, cidade ou região, em termos de 
quantidade, qualidade e fontes de reserva.
É importante estabelecer que o ciclo hidrológico de um lugar é de-
terminado pelos atributos físicos, ou seja, a estrutura geológica, o rele-
vo, o solo, os reservatórios (rios, lagos e oceanos) e fundamentalmente 
o clima. A bacia hidrográfica ou bacia de drenagem, nesse escopo, pode 
ser a área delimitada por fronteiras políticas (o município, o bairro, a 
casa) ou por limites naturais (cotas altimétricas ou topografia). A seguir 
detalharemos esses termos.
Observe a Figura 19 e considere que o estudo desenvolvido na ba-
cia hidrográfica é composto basicamente por uma unidade natural de 
captação de água de precipitação; esta é drenada por pelo menos um 
curso de água (rio principal) ou um conjunto de sistemas fluviais articu-
lados (afluentes). Sua demarcação obedece aos limites dos espigões di-
visores de água, ou seja, o topo do relevo, cujo fluxo da água converge 
para um setor único de saída chamado foz ou exutório.
Rio principal
Afluentes
Nascente
Foz ou exutório
Espigões divisores
de água
Precipitação
Nascente
Figura 19
Representação esquemática de uma bacia hidrográfica
Ie
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S/
A
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 107
Em outras palavras, a bacia hidrográfica pode ser delimitada 
de maneira cartográfica, baseando-se em uma carta hipsométrica 
e considerando as cotas mais elevadas como parte da delimitação 
espacial. O processo é bastante simples, por isso facilita a adequa-
ção de modelos aplicáveis e que podem ser ajustados conforme as 
demandas e contextos das áreas, qualificando as decisões e práticas 
conforme as orientações legais.
A Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997) de-
termina que, em situação de escassez, o uso prioritário da água é 
para o consumo humano e a dessedentação de animais. A gestão 
dos recursos hídricos deve assumir, nesse sentido, um caráter des-
centralizado, incorporando democraticamente a partição dos agen-
tes do poder público, dos usuários e das comunidades associadas.
Assim, além da gestão dos recursos hídricos, o município deve 
absorver a bacia hidrográfica como a unidade territorial principal 
para a implementação das políticas voltadas aos usos da água, com-
preendendo que é necessário cuidar dos mananciais e das fontes 
de abastecimento de água potável já que são altamente sensíveis 
às alterações antrópicas e aos mecanismos de funcionamento do 
sistema terrestre.
Sendo assim, não dissociar os atributos naturais e sociais do ci-
clo da água deve garantir um percurso de cuidado e preservação 
do planeta que passa, também, pela reestruturação dos usos atuais 
que fazemos da água. A perspectiva é de que, no processo de plane-
jamento e gestão de recursos hídricos, o conjunto de possibilidades 
indispensáveis para o desenvolvimento humano, local e regional, 
seja garantido para contemplar os processos de reciclagem, o trata-
mento, o saneamento e o abastecimento em nossas comunidades.
Em síntese, muitos desafios estão relacionados à gestão da água, 
entre eles as mudanças climáticas, os modelos de desenvolvimen-
to, os usos múltiplos etc. Além disso, muitos fatores organizam sua 
complexidade física e social. Equacionar esse quadro é tensionar os 
conflitos para construir um uso mais justo e possível, conforme as 
demandas e as disponibilidades ambientais.
O documentário A lei 
da água (Novo Código 
Florestal), desenvolvido 
pelas ONGs ISA, WWF 
Brasil, Fundação SOS 
Mata Atlântica, IDS e 
Bem-Te-Vi Diversidade, 
debate sobre a impor-
tância das florestas e a 
conservação das águas 
no Brasil, contextualizan-
do os impactos do Código 
Florestal.
Direção: André D’Elia. Brasil: 
Cinedelia, 2015.
Disponível em: https://youtu.be/
jgq_SXU1qzc. Acesso em: 5 fev. 
2021.
Documentário
https://youtu.be/jgq_SXU1qzc
https://youtu.be/jgq_SXU1qzc
108 Fundamentos de Geografia Física
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
As contribuições da climatologia, da oceanografia, da glaciologia e da 
hidrografia na Geografia Física podem ser resumidas em pelo menos três 
tipos de fluxos de energia que organizam a dinâmica do sistema terrestre. 
São eles: radiação solar, que traz energia atravessando a atmosfera de 
cima para baixo; radiação terrestre, emitida em sentido inverso à solar, 
oferecendo produção de energia, que tende a aquecer a atmosfera por 
debaixo; radiação da atmosfera, que origina o efeito de estufa natural, 
pois o ar é também um corpo quente que emite radiação em todas as 
direções e favorece a manutenção da temperatura no planeta.
Desses processos, os fluidos ar e água se encarregam, pelo ciclo da água 
e das circulações oceânicas e atmosféricas, de transferir e distribuir o ca-
lor. Nesse caso, a importância geográfica da atmosfera, da criosfera e da 
hidrosfera pode ser destacada pelo papel que exerce na manutenção e na 
proteção da vida na Terra, no que tange tanto aos processos físicos de for-
mação e organização de paisagens naturais quanto à qualidade ambiental, 
quando é sentida ou percebida pelos seres humanos.
Nesse último caso, a gestão dos recursos hídricos pode ser uma prática 
social funcional aos interesses dos profissionais geógrafos, já que uma ma-
neira de oferecer a síntese dessas relações é partindo da bacia hidrográfica 
como principal unidade territorial. Assim, os conhecimentos são integrados, 
indo de fatores associados à estrutura geológica, ao relevo, ao solo e ao 
clima a usos múltiplos que as sociedades fazem da água.
ATIVIDADES
1.	Como você explica os processos atmosféricos que ocorrem por meio 
da radiação emitida pelo Sol e que interagem com a superfície?
2.	Explique, com suas palavras, a importância dos oceanos na dinâmica 
climática do planeta Terra.
3.	Em quais perspectivas os estudos da criosfera podem ser interessantes 
para a Geografia Física?
4.	Quais são os mecanismos que explicam a interação da água com a 
superfície terrestre?
5.	Como você descreve, com suas palavras, a bacia hidrográfica da sua 
comunidade, cidade ou região? 
A atmosfera e a hidrosfera da Terra 109
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55-66, 2014. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/99184/97650. 
Acesso em: 22 fev. 2021.
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São Paulo: Oficina de Textos, 2009, p. 15-21.
STACHELSKI, L.; SOUZA, R. B. de; CASAGRANDE, F. Estudo da variação gelo marinho nas 
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Revista Brasileira de Geografia Física, v. 1, p. 57-73, 2011. Disponível em: https://periodicos.
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http://mtc-m21c.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m21c/2019/09.12.12.30/doc/LETICIA%20STACHELSKI.pdf
http://mtc-m21c.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m21c/2019/09.12.12.30/doc/LETICIA%20STACHELSKI.pdf
https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/viewFile/232642/26655
https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/viewFile/232642/26655
110 Fundamentos de Geografia Física
5
A biosfera terrestre
Neste capítulo, vamos tratar especialmente da esfera da vida, 
a biosfera terrestre. Concentramos esforços para desenvolver as 
sínteses necessárias para combinar os conhecimentos que tive-
mos sobre as dinâmicas da natureza por meio das rochas, dos 
relevos, dos solos, dos climas e das águas e apontar o fenômeno 
da vida, tanto como resultado quanto como mecanismo e fator de 
transformação do sistema terrestre.
Nosso interesse é que você possa compreender como o fenô-
meno da vida é resultado das interações do sistema terrestre e 
como sua participação auxiliou na transformação e estruturação 
da Terra como nosso habitat. Os biomas terrestres, sua formação, 
suas características e suas dinâmicas são um exemplo desse intri-
cado fenômeno, e atualmente nos ajudam a entender o complexo 
mosaico de paisagens naturais do planeta.
Diante desse conhecimento, vamos também entender o papel 
dos ecossistemas no equilíbrio do sistema terrestre, indicando até 
mesmo princípios para preservação da biodiversidade por meio da 
conservação ambiental, dos serviços ecossistêmicos, da sustenta-
bilidade e da legislação brasileira.
Para isso, apresentamos conceitos, teorias e estudiosos do 
campo da biogeografia dentro da Geografia Física. Essa valorização 
deve, inclusive, auxiliar você a entender outros processos analíti-
cos da Geografia, como também oferecer novas possibilidades de 
atuação profissional.
Desejamos uma leitura produtiva e que dê sentido aos conhe-
cimentos até aqui desenvolvidos. Lembre-se de fazer suas anota-
ções, com dúvidas e comentários.
A biosfera terrestre 111
5.1 Fundamentos de biogeografia 
Vídeo Podemos iniciar nossa conversa afirmando que o conheci-
mento biogeográfico foi desenvolvido já quando a natureza era 
interpretada por histórias fantásticas, sob concepções sobrena-
turais e mitológicas. Das pinturas rupestres – ilustrações elabo-
radas por ancestrais pré-históricos e registradas nas paredes 
rochosas e das cavernas – aos registros bíblicos e às obras de 
arte de artistas historicamente renomados, essa preocupação 
se voltava ao entendimento dos animais, das plantas e dos luga-
res onde poderiam ser encontrados.
As contribuições desse saber podem ser exemplificadas em 
pelo menos três pontos: (i.) por meio dos processos de domes-
ticação de vegetais e animais, que auxiliaram definitivamente 
na revolução agrícola e no sedentarismo humano; (ii.) na classi-
ficação dos seres vivos em espécies, prática desenvolvida desde 
a Antiguidade com os egípcios e os gregos e que atualmente 
atende ao procedimento metodológico para estabelecer simila-
ridade e diferença por intermédio da taxonomia; (iii.) com base 
na identificação dos grandes domínios naturais que auxiliam no 
processo de regionalização da paisagem e na apropriação de 
recursos naturais em termos mundiais.
Assim, podemos também considerar que o saber biogeo-
gráfico foi um dos conhecimentos principais que auxiliaram na 
institucionalização da geografia como ciência moderna. Grande 
parte de seus objetos de investigação (os animais, as plantas 
e seus lugares) já atendiam às consistências metodológicas da 
época para o estudo da natureza, desenvolvidas sobretudo pe-
los estudiosos naturalistas (SANTOS, 1985).
Quer uma contribuição breve sobre o caráter, os objetos, as definições, 
o campo e os métodos da biogeografia? Leia o artigo “Introdução à biogeo-
grafia”, escrito pela geógrafa Maria Juraci Zani Santos, publicado no Boletim 
de Geografia em 1985. Trata-se de um texto bem direto e curto que pode 
ajudar a organizar seu próprio conhecimento.
Acesso em: 5 fev. 2021. 
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/12274/7401
Artigo
Você se recorda das divisões 
entre reino, filo, classe, ordem, 
família, gênero e espécie? Esses 
critérios são relativos à taxono-
mia, campo da ciência biológica 
orientado para a descrição e 
nomeação dos seres vivos.
Curiosidade
112 Fundamentos de Geografia Física
Nessa época, a principal contribuição à sistematização da biogeogra-
fia como campo científico ocorreu quando o geógrafo Friedrich Ratzel 
(1844-1904) propôs que a biogeografia atendia aos estudos da distri-
buição espacial dos domínios naturais no contexto das relações huma-
nas e da formação dos territórios. Para Ratzel (1990), a biogeografia 
deveria ser pensada de maneira autônoma da Geografia Física e da an-
tropogeografia, já que as vidas animal, vegetal e humana se realizariam 
de maneira independente (SANTOS, 1985).
Observe que duas contribuições de Ratzel foram importantes para 
a biogeografia moderna, também chamada de clássica. A primeira foi, 
sem dúvida, a orientação do campo ao estudo sistemático da biosfera 
(animais e vegetais principalmente) em sua distribuição espacial pelo 
globo. A segunda foi o fato de já oferecer princípios para o processo 
de regionalização, como uma das formas mais elementares de análise 
espacial.
Contudo, essa perspectiva apresentou limites. A análise biogeográ-
fica clássica era essencialmente descritiva e reduzida à exposição da 
distribuição das áreas naturais do planeta – com uso importante da 
cartografia. Por mais que esse conhecimento fosse significativo para 
legitimar uma institucionalização da ciência geográfica e para a desco-
berta de novas espécies, ele também ajudou na legitimação dos pro-
cessos de colonização das Américas, da África e da Oceania.
Nesse contexto, a biogeografia foi desenvolvida com base em 
abordagens que valorizam os processos taxonômicos, caracteri-
zando a análise separada entre fitogeografia (flora) e zoogeografia 
(fauna), dialogando fortemente com a biologia, principalmente os 
subcampos da botânica e da zoologia. A preocupação era basica-
mente entender os padrões de distribuição espacial da flora e da 
fauna na superfície terrestre.
Esses elementos são significativos, já que grande parte das expedi-
ções coloniais integravam estudiosos e viajantes naturalistas, que, por 
esse conhecimento, auxiliaramtambém na concentração do poder e 
da riqueza dos Estados Nacionais europeus.
Além disso, até o século XVIII o caráter descritivo e classificatório 
dos estudos biogeográficos era subsidiado teoricamente por perspec-
tivas fixistas e estáticas de natureza, pensamento esperado para um 
conhecimento cujo principal objetivo estava na aplicabilidade prática 
de reconhecimento das riquezas naturais dos territórios.
Para compreender um 
pouco mais sobre os 
elementos políticos, reli-
giosos e científicos que a 
teoria da evolução desen-
cadeou, indicamos o filme 
O desafio de Darwin.
Direção: John Bradshaw. EUA: 
National Geographic Television, 
2009. 
Filme
A biosfera terrestre 113
Após o século XVII, a abordagem na biogeografia começou a in-
corporar paulatinamente as contribuições da teoria da evolução. Na 
perspectiva, a ênfase da análise está focada no fenômeno da vida, con-
cebido como fator e resultado da seleção natural e da formação do 
sistema terrestre.
O sentido é que a presença da vida qualificou a terra, o ar e a água 
na superfície do planeta, organizando-os no equilíbrio necessário para 
desenvolver todos os outros processos de formação e evolução do 
planeta. Reiteramos que a Terra só pode ser vista da maneira como 
a vemos hoje por causa da origem da vida. De outro modo, ela ain-
da apresentaria as mesmas condições naturais observadas no Éon Ar-
queano, há pelo menos 3,5 a 3,8 bilhões de anos AP.
Por isso, vale a pena reiterar: o fenômeno da vida tem ocorrido por 
aqui desde o Éon Arqueano, sendo inicialmente representado por or-
ganismos vivos 1 muito primitivos, os seres procariontes e unicelula-
res, isto é, seres vivos que, em termos de organização, estrutura celular 
(porque não possuem núcleo ou mitocôndria) e formas de reprodução 
biológica (autótrofos), podem ser equivalentes às bactérias atuais.
A importância da vida na história natural da Terra
No Arqueano, a Terra ainda consistia em um planeta hostil para as nossas formas de vida, já 
que a atmosfera era muito tóxica, quente e redutora. Essas bactérias foram as responsáveis 
por mudar fundamentalmente a composição química da atmosfera e, em consequência, 
o conjunto de outros processos físicos, químicos e biológicos. Podemos considerar, assim, 
em uma tentativa de analogia, que no Arqueano o fenômeno da vida foi o fator que iniciou 
o “ajustamento” de todos os elementos do planeta, equalizando-os e organizando-os para 
preparação de um sistema que deveria ser, no futuro, autorregulável, integrado e indisso-
ciável do sistema terrestre – a biosfera.
A primeira mudança radical nessa história se deu há cerca de 400 milhões de anos AP, 
quando, no Período Cambriano (dentro da Era Paleozoica do Éon Fanerozoico), houve a 
grande quantidade de formas de vida, viabilizada inclusive com a fixação de seres vivos em 
todos os ambientes do planeta (oceanos e continentes). Para se ter ideia, nesse período o 
movimento de rotação era relativamente mais lento (o dia durava cerca de 21 horas) do 
que no início da formação da Terra (quando o dia durava menos que 4 horas), e essa redu-
ção da velocidade proporcionou o aumento do dia e, em consequência, da energia solar 
para efetivar os processos de fotossíntese das recém-originadas algas (seres procariontes, 
unicelulares e autótrofos existentes há mais de 1.200 milhões de anos AP).
As bactérias e as algas, juntamente com vulcanismos, aceleraram a alteração da composição 
química da atmosfera enriquecendo-a com muito oxigênio, resultando na formação da ca-
mada de ozônio, que serve até os dias atuais para proteção dos raios solares nocivos à vida.
(Continua)
Sobre a teoria da evolução, é 
importante considerar que a 
seleção natural é o mecanismo 
aleatório que promove modifi-
cações em um ser vivo por meio 
das transformações observadas 
em um ancestral comum. A 
distribuição espacial dos seres 
vivos na superfície terrestre 
equivale aos graus de competiti-
vidade, afinidade, concentração 
e dispersão determinadas pela 
qualidade dos fluxos gênicos 
(relativos às transferências 
de características por meio da re-
produção), dos fluxos ecológicos 
(da relação entre as populações 
e os fatores bióticos e abióticos) 
e das alterações promovidas por 
meio das formas de adaptação e 
transformação do meio.
Na teoria, o processo de 
especiação, ou seja, formação e 
reprodução de espécies, ocorre 
sob domínio da escala geológica 
e oferece o sentido da biodiver-
sidade do planeta, uma vez que 
determinadas populações de 
seres vivos apresentam carac-
terísticas diferentes, em termos 
de estrutura, forma e hábitos, 
que podem ser concretamente 
relacionadas à existência de 
barreiras geográficas, como 
latitude, altitude e relevo, e à 
disponibilidade de recursos para 
reprodução biológica, como 
água e alimentos.
Importante
Na biogeografia, entendemos 
como organismo vivo os seres 
constituídos de células; isso 
significa entender que eles apre-
sentam material genético (DNA 
e RNA) e, por isso, respondem a 
estímulos ambientais, utilizam 
energia para realização de trocas 
metabólicas, reproduzem-se e 
evoluem.
1
114 Fundamentos de Geografia Física
A partir do Período Cambriano, a Terra se modificou muito pouco, dando condições plenas 
para o fenômeno da vida se transformar e evoluir. As primeiras plantas terrestres (orga-
nismos eucariontes, pluricelulares e autótrofos), por exemplo, originaram-se há pouco 
mais de 500 milhões de anos AP (no Período Siluriano), e só formaram grandes florestas 
a partir de 150 a 100 milhões de anos depois, no Período Devoniano.
Os primeiros animais (organismos eucariontes, pluricelulares e heterótrofos) também 
apareceram no Siluriano, consistindo nos ancestrais dos invertebrados e dos atuais mo-
luscos (animais com concha). Os peixes, no entanto, só começaram a aparecer a partir 
do Ordoviciano, entre 440 e 500 milhões de anos AP, enquanto os anfíbios apareceram 
no Devoniano (350 a 400 milhões de anos AP) e os répteis, no Carbonífero (270 a 350 
milhões de anos AP). Os mamíferos só surgiram nos últimos 225 milhões de anos AP, 
sobretudo após a grande devastação de dinossauros, um dos parentes remotos das aves.
A Figura 1 a seguir sintetiza todos esses processos:
Figura 1
Representação da evolução da vida
Ed
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 C
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1,8 - 
50 - 
100 - 
150 - 
200 - 
250 - 
300 - 
350 - 
400 - 
450 - 
500 - 
550 - 
2.500 - 
4.000 - 
4.540 - 
Milhões de 
anos atrás Éon
Era Período Época Desenvolvimento da vida
Fa
ne
ro
zo
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o
Ce
no
zo
ic
o
M
es
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co
Pa
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oi
co
Quaternário 
Primeiros 
humanos
Neógeno 
Mastodontes; 
hipárion
Paleógeno 
Ascensão de 
mamíferos
Holoceno
Pleistoceno
Plioceno
Mioceno
Oligoceno
Eoceno
Paleoceno
Cretáceo 
Plantas com sementes 
modernas; dinossauros
Jurássico 
Primeiros pássaros
Triássico 
Cicadáceas; primeiros 
dinossauros
Ca
rb
on
ífe
ro Pensilvaniano Primeiros insetos
Mississipiano 
Muitos crinoides
Devoniano 
Primeiras plantas com sementes; 
peixes com cartilagem
Siluriano 
Primeiros animais terrestres
Ordoviciano 
Peixe ósseo precoce
Cambriano 
Animais invertebrados; 
braquiópodes; trilobitas
Proterozoico 
Primeiros organismos multicelulares
Arqueano 
O início da formação da vida
Hadeano 
Formação da Terra
Permiano 
Primeiros répteis
A biosfera terrestre 115
Podemos considerar assim que a redução do movimento de rota-
ção, a alteração da atmosfera e o controle da radiação solar que en-
tra no sistema terrestre foram os principais fatores para a explosão 
cambriana. A partir desse período, assumimos também que a Terra já 
estava preparada para guardar, manter e proteger a vida, dando su-
porte para geração e reprodução dos demais organismos vivos em sua 
diversidade. Em síntese, é a Terra da Pangeia.
Conforme Croizat (1962), essas contribuições integraram à análi-
se biogeográfica a correspondência entre espaço (referente à área 
de abrangência e ocorrência dos organismos), tempo (associação a 
eventos históricos que influenciaramna adaptação dos seres vivos) e 
forma (dos graus de similaridade e diferença das estruturas dos orga-
nismos vivos). Nessa perspectiva, três processos principais podem ser 
suficientes para explicar a relevância dessas contribuições à biogeogra-
fia. Vamos explicá-los separadamente, do mais simples para os mais 
complexos.
O primeiro processo, chamado de dispersão biogeográfica, trata dos 
padrões de distribuição espacial que assumem a existência de uma po-
pulação ancestral, formada pela ocorrência de um grupo de organis-
mos vivos originais em uma determinada área. O modelo esquemático 
desse movimento é representado na Figura 2.
Figura 2
Modelo representativo do processo de dispersão biogeográfica
Ancestral comum Barreira geográfica Novas espécies 
Diferenciação gênica 
População 
originária 
População X
População Y
Fonte: Elaborada pelo autor.
116 Fundamentos de Geografia Física
O sentido é a ampliação de uma determinada população original, e 
seu consequente avanço para outras áreas promove a ultrapassagem 
ou rompimento de uma determinada barreira geográfica (montanha, 
rio, deserto etc.). Desse processo resultam diferenciações gênicas, ob-
servadas na forma, na estrutura e nos hábitos dos organismos, e com 
o passar do tempo se originam duas ou mais espécies diferentes em 
relação à espécie ancestral.
Por outro lado, nos processos de vicariância biogeográfica, enten-
de-se que determinada população ancestral ocupava uma área abran-
gente e, com o surgimento de uma barreira geográfica (tectonismos, 
por exemplo), essa área foi dividida ou separada, promovendo paula-
tinamente a separação da população. O resultado é que atualmente a 
área é habitada pelos descendentes da espécie ancestral, os quais são 
diferentes em suas características.
A fragmentação constitui o terceiro processo de distribuição dos 
seres vivos na superfície terrestre, conforme Crooks e Sanjayan (2006). 
Os padrões espaciais são fundamentalmente resultado da concomitân-
cia da perda de habitat de determinada população (por isolamento na-
tural ou por pressões ambientais associadas às atividades antrópicas, 
por exemplo), o que impede o transporte dos fluxos ecológicos princi-
palmente (Figura 3).
Figura 3
Modelo representativo do processo de fragmentação biogeográfica
Fragmentação Aumento da fragmentação
População 
originária 
Fragmento Fragmento
Fragmento
Fonte: Elaborada pelo autor.
Trata-se de um processo que é dinâmico, gradual e contínuo, e por 
isso oferece possibilidades de interpretar os mecanismos de diminui-
ção de uma determinada população, que podem reduzi-la ao isolamen-
to, e consequentemente à sua extinção.
A biosfera terrestre 117
Para além dos aspectos negativos da fragmentação, é importante considerar que sua 
análise incorpora grande parte dos estudos da paisagem na perspectiva do desen-
volvimento e da gestão territorial e ambiental. Por ser um processo eminentemente 
gradual, pode assumir diferentes níveis de alteração, sendo mais bem observado pelo 
efeito de borda e de conectividade.
A conectividade se refere à presença de estruturas que possibilitam a manutenção 
da conexão ecológica das paisagens e a movimentação dos organismos que a uti-
lizam como habitat. Estamos falando especialmente da presença de canais fluviais, 
espigões divisores de água, rotas migratórias e cercas vivas que atuam como fontes 
de alimento, refúgios e abrigos para diferentes espécies (BENNETT, 2004). Já o efeito 
de borda é utilizado para indicar o nível de estabilidade da biodiversidade em um 
local. Trata-se do limite em que as espécies (nativas) em determinada área são ex-
postas a interações com outras (exóticas), que podem trazer tanto uma diversificação 
biológica quanto modificações nos fluxos de matéria, de energia e de dinâmica na 
competição (FERRETTI, 2013).
Nesses aspectos, uma paisagem pode ser considerada intacta (mais próxima do que 
seria originalmente), pontilhada, fragmentada e relicta (GUERRA et al., 2002).
Figura 4
Representação esquemática de estágio de fragmentação
Diminuição da conectividade/aumento do efeito de borda 
Intacta Pontilhada Fragmentada Relicta 
Fonte: Adaptada de Guerra et al., 2002.
Fragmentação, conectividade e efeito de borda devem ser vistos assim como sentidos 
concomitantes de um mesmo movimento, que serve tanto para reconhecer a movi-
mentação e as condições ecológicas de áreas antropizadas, como para a identificação 
de mecanismos de proteção e conservação ambiental (BENNETT, 2004). 
Observe que dispersão, vicariância e fragmentação nos ajudam a 
entender que em grande parte os padrões espaciais de distribuição 
dos seres vivos podem ser relacionados a eventos históricos. Entre-
tanto, a dispersão e a vicariância, especialmente, mostram como os 
eventos históricos influenciaram a espacialidade dos seres vivos, uma 
Habitat 
original
118 Fundamentos de Geografia Física
vez que deve ser considerada a ocorrência de mudanças ambientais, 
provenientes sobretudo de causas naturais – mudanças climáticas e 
tectonismos, por exemplo e respectivamente.
Nesses processos, a história natural da Terra pode ser suficiente 
para subsidiar o entendimento da evolução dos seres vivos e das 
paisagens naturais. Ao mesmo tempo, o conhecimento da evolução 
dos seres vivos oferece pistas do reconhecimento da formação do 
nosso planeta (GILLUNG, 2011). Por isso, a biogeografia tende a dia-
logar também com a arqueologia, a paleontologia, a zoologia e a 
antropologia.
A fragmentação também atende às possibilidades de alterações 
ambientais, mas com valorização principalmente das pressões associa-
das às atividades humanas, como as transformações históricas desen-
volvidas por meio do desmatamento, da agricultura, da urbanização, 
da degradação ambiental, da poluição etc. Nessa perspectiva, os es-
tudos da biogeografia são bem incorporados no debate das questões 
ambientais, da recuperação de áreas degradadas e da importância de 
unidades de conservação.
Vejamos a seguir mais aspectos relacionados a essas perspectivas, 
considerando as vantagens dos processos de regionalização dos bio-
mas terrestres e de suas dinâmicas associadas.
5.2 Biomas terrestres 
Vídeo Como visto, a distribuição espacial dos seres vivos na superfície 
terrestre corresponde a eventos desenvolvidos ao longo da história 
natural e social. Mas essa distribuição não acontece aleatoriamente. 
A organização e a estruturação dos habitats ocorrem em grande parte 
pela ocorrência de fenômenos naturais e das formas de interação, re-
produção e competição dos organismos vivos, e em todos esses casos 
a organização espacial dos fatores bióticos e abióticos apresentam coe-
rências significativas.
A biosfera terrestre 119
A relação dos fatores bióticos e abióticos constitui os insumos fundamentais para 
a evolução e reprodução da vida e para a formação dos sistemas naturais. São 
consideradas fatores abióticos as interações entre rocha, relevo e clima, que 
permitem a formação de uma diversidade de solos, a qualidade da consistência 
e a dinâmica do regime hidrológico. Em síntese, esses fatores sugerem explicações 
sobre a origem, a formação e o desenvolvimento dos fatores bióticos, isto é, dos 
processos que contemplam o fenômeno da vida (Figura 5).
Figura 5
Relação entre fatores abióticos e bióticos na perspectiva ecológica
Fatores abióticos Fatores bióticos
Água
Produtores
Consumidores
Gases
Minerais
Ciclos naturais
Insolação
Matéria-energia
M
atéria- 
-energia
M
atéria- 
-energia
M
até
ria
-e
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rg
ia
Sol
Decompositores
Plantas
Herbívoros
Fungos Bactérias
Carnívoros
Onívoros
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ck
Observe que o princípio é sistêmico (troca de matéria e energia), sendo bastante 
relevante para esse tipo de análise com base nos ecossistêmicas e geossistemas. 
Na análise dos geossistemas, em particular,os fatores abióticos e bióticos são inte-
grados a elementos sociais e culturais, que representam as atividades humanas das 
transformações históricas na paisagem, no conjunto das relações entre sociedade e 
natureza. Isso significa entender que os fatores antrópicos oferecem à biogeografia 
interpretações de que as ações humanas não podem ser reduzidas exclusivamente às 
formas de modificação, degradação e destruição ambiental, devendo ser entendidas 
também como possibilidades de proteção, conservação e recuperação das condições 
naturais necessárias à dinâmica das paisagens e da constituição dos territórios.
Fonte: Elaborada pelo autor.
120 Fundamentos de Geografia Física
Essas correspondências podem ser organizadas e sistematizadas 
assumindo critérios de similaridade e diferença em que áreas de abran-
gência e de domínio de determinados seres vivos indicam seus níveis 
de endemicidade. Mas o que isso significa? Que tanto plantas quanto 
animais criam condições próprias de habitats – o que requer modifica-
ções nos processos de reciclagem da água, do carbono, da erosão etc. 
Eles também demandam certos limites de água e temperatura e nu-
trientes ajustados conforme suas condições fisiológicas e reprodutivas, 
o que em termos de seleção natural significa equilibrar sua adaptabili-
dade e sua concorrência.
À medida que as condições ambientais são alteradas, os mecanis-
mos da seleção natural são concomitantemente disparados, oferecen-
do outras características adaptadas às novas condições impostas. Esse 
complexo quadro transforma profundamente a relação ecológica entre 
espécies, ou seja, se algumas são propensas a se expandir e dominar, 
outras tendem a ser reduzidas em áreas restritas, até permanecerem 
em condição de refúgio, se não forem extintas (FIGUEIRÓ, 2015).
Uma das classificações biogeográficas proposta pelo naturalista Alfred Russel Wallace 
(1823-1913) foi recentemente atualizada por Holt et al. (2013), que apresentaram 
11 grandes regiões zoogeográficas (Figura 6). 
Figura 6
Mapa de regiões zoogeográficas do mundo atualizado 
Ra
ys
sa
 C
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ik
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ed
ia
 C
om
m
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Oceânico
Oceânico
Panamânico
Neoártico
Neotropical
Arábico-saariano
Afrotropical
Paleoártico
Sino-japonês
Oriental
Madagasquiano Australiano
Nesse caso, os autores utilizaram o conjunto de 21.037 espécies de animais (mamí-
feros, anfíbios e aves, principalmente) e se basearam em modelos estatísticos, testes 
probabilísticos, coeficientes de endemismo advindos da análise gênica e técnicas 
de geoprocessamento. Para mensurar a abrangência e a variedade em cada reino, 
considerando sua diversidade e seu endemismo, Holt et al. (2013) identificaram 11 
bioreinos, subdivididos em 20 regiões zoogeográficas.
A biosfera terrestre 121
O nível de endemicidade representa assim esse conjunto de cor-
respondências. Ele expressa os limites da distribuição espacial dos 
organismos vivos, sugerindo a existência gradual de suas relações eco-
lógicas, e pode ser observado por meio dos graus de parentesco no 
contexto dos níveis taxonômicos dos seres vivos (ordem, família, gêne-
ro e espécie, principalmente).
Na biogeografia, esse aspecto é considerado primeiramente pela fixa-
ção das plantas, já que esses seres apresentam uma relação mais dire-
ta com os fatores abióticos. Em outras palavras, os animais apresentam 
como característica principal a mobilidade, sugerindo variações espaciais 
e temporárias mais relevantes que plantas, devido à capacidade de esca-
par das condições adversas e imposições por barreiras geográficas.
Nessa perspectiva, a possibilidade é elaborar uma hierarquia entre 
unidades territoriais que representem eminentemente o processo evo-
lutivo na perspectiva geográfica. Mas como exemplificar isso? Podemos 
começar a análise assumindo a história natural, da evolução da vida na 
Terra, e sua organização em áreas correspondentes à extensão conti-
nental, regional e local.
O conceito de bioma pode ser entendido como uma possibilidade 
dessa análise, já que é relacionado a importantes complexos controla-
dos essencialmente pelo clima, agrupando uma fisionomia homogênea 
associada à flora, à fauna e a microrganismos (DAJOZ, 1973). A contri-
buição do Atlas mundial de diagramas climáticos, proposto por Walter e 
Lieth (1960), tem sido representada no conjunto dos 10 zonobiomas e 
em outra diversidade de biomas (Quadro 1)
Quadro 1
Classificação de zonobiomas terrestres
Bioma Zona climática Domínio vegetacional
I
Equatorial – quente e úmido (varia-
ções recorrentes no ciclo diário).
Florestas tropicais pluviais – sempre 
verde.
II
Tropical – sazonalidade marcada 
por períodos chuvosos e secos.
Florestas estacionais – caducifólia e 
decidual – e savanas.
III Subtropical árido. Desertos quentes e secos.
IV
Mediterrâneo – inverno úmido e ve-
rão seco.
Vegetação esclerófila (chaparral, 
maqui etc.).
V Subtropical quente e úmido. Florestas ombrófilas sempre verdes.
VI
Temperado úmido, com inverno 
curto.
Florestas temperadas caducifólias.
VII Temperado árido, com inverno frio. Estepes ou desertos frios.
As correspondências dos níveis 
de endemicidade auxiliaram 
sobremaneira a verificabilidade 
das teorias da seleção natural, 
uma vez que a evolução pode ser 
observada espacialmente com 
base na coerência de um centro 
comum e sua posterior dispersão 
ou vicariância. A formação de 
múltiplos centros de endemi-
cidade também é adequada, 
desde que considerada a maior 
diversidade de espécies.
Saiba mais
(Continua)
122 Fundamentos de Geografia Física
Bioma Zona climática Domínio vegetacional
VIII Boreal. Florestas de coníferas (taiga).
IX Polar. Tundras.
X
Montanha – recorrente em qual-
quer bioma.
Fonte: Adaptado de Coutinho, 2006.
Aqui vale uma diferenciação. Segundo Coutinho (2006), os zonobio-
mas têm grandes dimensões, distribuindo-se no globo terrestre pelos 
continentes (Figura 7), enquanto os biomas são representados por uma 
ou mais áreas, distintas geograficamente, constituindo, cada qual, uma 
unidade específica referente àquele tipo. Os biomas ainda podem se 
restringir a pequenas áreas ou chegar até a mais de um milhão de qui-
lômetros quadrados (WALTER, 1986).
Figura 7
Zonobiomas terrestres segundo Walter (1986)
IES
DE
 Br
as
il S
/A
Observe que o elemento de destaque em relação aos zonobiomas, 
além da abrangência espacial, é garantido pela diversidade existente no 
interior de cada um deles, que não pode ser reduzida à sua fisionomia 
(aspecto físico mais aparente da formação). Isso significa que faunas e 
floras podem ter similaridades, mas não necessariamente compartilham 
A biosfera terrestre 123
de um mesmo bioma. Ao mesmo tempo, é possível observar no interior 
do zonobioma comunidades integradas que formam os biomas.
Para que você possa apreender bem a história do conceito de bioma e sua relação 
com os conteúdos da Geografia Física, leia o artigo “O conceito de bioma”, escrito 
por Leopoldo Magno Coutinho, publicado na Acta Botanica Brasilica, em 2006.
Acesso em: 5 fev. 2021. 
https://www.scielo.br/pdf/abb/v20n1/02.pdf
Artigo
Assim, a organização dos biomas é relativa à história evolutiva (geo-
lógica e biológica) que qualifica a distinção de cada um deles. Qualquer 
fator ambiental, como relevo, altitude, solo, ocorrências de alagamen-
tos, incêndios e composição química da água e do solo (salinidade, teor 
de minerais etc.), deve contribuir para o funcionamento e a dinâmica 
de cada grupo vegetacional.
Essa riqueza é bem observada no caso brasileiro por meio da classi-
ficação dos biomas (Figura 8) desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE) (2004).
Figura 8
Biomas brasileiros
Al
ta
 F
on
te
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ia
 C
om
m
on
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BIOMAS DO BRASIL
Biomas Terrestres
Bioma Marinho
Marinho Costeiro
Amazônia 
Cerrado 
Mata Atlântica 
Caatinga 
Pampa 
Pantanal
124 Fundamentos de Geografia Física
Nessa proposta, são apresentadas seis unidades principais (Ama-
zônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado,Pantanal e Pampa), com cinco 
formações florestais (ombrófila densa, aberta, mista, estacional decidual 
e estacional semidecidual), além de campinadas, savanas, savanas esté-
picas, estepes, formações pioneiras e refúgios. Além disso, são contem-
pladas ainda 14 zonas de contato que ocorrem nos limites dos biomas.
Aliás, diante de um território formado quase totalmente por cli-
mas tropicais, é compreensível encontrar um grande número de bio-
mas, não é mesmo? Entretanto, essa diversidade não é exclusiva de 
regiões fitogeográficas, pertencendo também a muitos ambientes de 
vida que ocorrem internamente a elas. Essas áreas também são con-
sideradas biomas.
A título de exemplificação, considere um ambiente classificado por 
um único domínio de floresta; isso já pode ser entendido como um 
bioma, mas suas condições internas, dadas por diferença de relevos, 
altitudes, solos, climas, populações, pressões etc., remetem também à 
existência de outros biomas menores, mais discretos, internos e espe-
cificados em unidades muito particulares.
Falamos então de florestas que ocorrem em superfícies estáveis 
– como planaltos e planícies –, que se formam como os biomas das 
florestas de terra firme, ou em superfícies instáveis, que originam as 
florestas de encosta. Essa especificação também deve ocorrer ao longo 
de cursos d’água, de áreas inundáveis ou de contato com o mar, que 
condicionam a origem dos biomas das matas ciliares, das florestas de 
igapó, dos mangues, entre outros. Na perspectiva, dentro ainda de cada 
um desses biomas, é integrada uma outra diversidade de ecossistemas 
muito múltiplos em termos de quantidade, dinâmica e fisionomia.
Vejamos essa análise para as paisagens brasileiras.
5.3 As paisagens brasileiras 
Vídeo Devido à diversidade climática, mas também à variedade geomorfo-
lógica e à extensão territorial, o Brasil apresenta uma significativa mul-
tiplicidade de paisagens naturais. Entendidas com base na interação, 
combinação e interdependência de diversos elementos geográficos 
(relevo, clima, vegetação, hidrografia, solo, fauna, flora etc.), essas pai-
A biosfera terrestre 125
sagens se explicitam por meio de individualizações que apresentam, 
sob áreas contíguas, as determinações pretéritas e recentes das suas 
condições ambientais.
Segundo Ab’Saber (1967), os domínios das paisagens naturais no 
Brasil podem ser classificados na existência de seis grandes domínios 
morfoclimáticos: amazônico, das caatingas, dos cerrados, dos mares, 
de morros, das araucárias e das pradarias, além das áreas mistas que 
compreendem as áreas de transição (Figura 9).
Figura 9
Domínios morfoclimáticos brasileiros
Ies
de
 Br
as
il S
/A
AMAZÔNICO – Terras baixas 
florestas equatoriais
CERRADO – Chapadões tropicais interiores 
com cerrados e florestas-galerias
MARES DE MORROS – Áreas mamelonares 
tropicais-atlânticas florestadas
CAATINGA – Depressões intermontanas e 
interplanálticas semiáridas
ARAUCÁRIAS – Planaltos subtropicais 
com araucárias
PRADARIAS – Coxilhas subtropicais com 
pradarias mistas
FAIXAS DE TRANSIÇÃO (Não 
diferenciadas)
Cada domínio está associado a outras formas de regionalização 
do país, e não à toa são por vezes confundidos com a classificação 
dos biomas (IBGE, 2004). O que diferencia os dois conceitos é que 
o de bioma valoriza os aspectos ecológicos da biosfera (integração 
de fauna, flora e microrganismos), enquanto o de domínios mor-
foclimáticos considera a articulação espaço-tempo da paisagem 
como produto da história natural, evolutiva, em sua totalidade 
(AB’SABER, 1967).
Vamos ler mais um texto 
clássico? Nossa indicação 
agora vai para o texto 
“Províncias geológicas e 
domínios morfoclimáticos 
no Brasil”, do geógrafo 
Aziz Nacib Ab’Saber, pu-
blicado na revista Orien-
tação. Na leitura, você 
deve encontrar, além do 
conceito cunhado pelo 
próprio autor, a descrição 
sumária sobre cada 
componente da paisagem 
brasileira.
AB’SABER, A. N. São Paulo, 1967.
Leitura
É importante observar 
que os limites de qualquer 
unidade biogeográfica não são 
absolutos e fixos. Na verdade, 
eles obedecem ao gradualismo, 
e a designação das faixas de 
transição serve para representar 
essas áreas de contato ou 
passagem de um domínio para 
outro, onde são observadas in-
terpenetrações e convivência de 
espécies diferentes. Destaca-se 
que, devido à ocorrência de 
barreiras biogeográficas, essas 
transições são pouco relevantes 
(TROPPMAIR, 1989). 
Importante
126 Fundamentos de Geografia Física
Trata-se de um conceito abrangente, que engloba variados 
ecossistemas (terrestres, lacustres, fluviais, de grandes e baixas 
altitudes), mas que, pela integração entre os fatores geomorfo-
lógicos, climáticos, pedológicos e hidrológicos, em grandes com-
binações, auxilia na análise geográfica da dinâmica natural no 
território brasileiro pela homogeneidade relativa de suas áreas 
(AB’SABER, 1967).
Isso significa entender que eles foram estruturados e configu-
rados como eventos remotos, herdados sobretudo a partir do Pe-
ríodo Terciário, tendo sua evolução e seu pleno desenvolvimento 
observados no Pleistoceno, primeira época do Período Quaternário 
(AB’SABER, 1967). O elemento paisagístico mais marcante é a vege-
tação, já que ela é o componente mais impactado por alterações 
nos níveis de disponibilidade hídrica e energética (que podem ser 
provocadas por mudanças climáticas, morfogênese e tectonismo) e 
também por alterações antrópicas nas paisagens (desmatamento, 
urbanização etc.).
Por esse caráter, os domínios apresentam também áreas cores, 
ou seja, regiões internas, como áreas nucleares, que representam 
características particularmente bem definidas do domínio, em ter-
mos climáticos, pedológicos, hidrológicos e fitogeográficos. Essas 
áreas também não apresentam relação direta com as unidades 
geológicas estruturais, já que podem se estender sobre terrenos 
de idades variadas em todo o território nacional.
Quadro 2
Síntese das áreas cores dos domínios morfoclimáticos
(Continua)
Domínio amazônico
• Ocorrência de terras baixas. 
• Regime equatorial.
• Extensivamente florestado.
 Curioso.Photography/Fotos593/Shutterstock
A biosfera terrestre 127
Domínio dos cerrados
• Ocorrência dos chapadões. 
• Regime tropical continental.
• Recoberto por cerrados e 
penetrado por florestas de 
galeria.
A.PAES/CARLOS SANTOS RODAPEBR/Shutterstock
Domínio dos mares de morros
• Regiões serranas. 
• Regime tropical atlântico. 
• Predominância de morros e 
florestas.
Andre Marcucci/Luciana Tancredo/Shutterstock
Domínio das caatingas
• Ocorrência das depressões. 
• Regime semiárido.
• Diferentes tipos de caatingas.
Helissa Grundemann/Kleber Cordeiro/Shutterstock
Domínio das araucárias
• Ocorrência de planaltos. 
• Regime subtropical ou de 
altitude. 
• Predomínio de araucárias 
(coníferas).
Viagens e caminhos/Caio Pederneiras/Shutterstock 
Domínio das pradarias
• Ocorrência de campos das 
coxilhas. 
• Regime subtropical. 
• Grandes matas e banhados.
alex rodrigo brondani/Celli07/Shutterstock
Fonte: Elaborado pelo autor. 
128 Fundamentos de Geografia Física
Com base nos domínios morfoclimáticos, podemos ter uma vi-
são geral da dinâmica da paisagem no Brasil e avaliar as condições 
ambientais, as quais se revelam, sobretudo, como problemas asso-
ciados aos seus usos históricos, que datam desde o período colonial 
até o atual, considerando o acelerado processo de desenvolvimento 
urbano e industrial.
Sobre essa temática, vale a pena entrarmos na próxima seção, 
que trata da necessidade e das estratégias de conservação da natu-
reza no Brasil.
5.4 Conservação e serviços ecossistêmicos 
Vídeo Com base na leitura da seção anterior, você deve ter percebido 
que o quadro natural brasileiro oferece uma diversidade de riquezas 
naturais. Por consequência, conflitos e problemas socioambientais 
relacionados aos seus usos desde a década de 1960 têm sido pau-
ta de debate no conjunto das pressões dos movimentos sociais e 
ambientalistas.
O sentidoé que o debate ambiental no Brasil perpassa as lógicas 
da sustentabilidade 2 , tornando-se uma questão essencialmente po-
lítica e econômica. Nesse contexto, o papel das políticas públicas que, 
apesar de recentes, tratam da conservação ambiental é substancial 
para promover outras formas mais adequadas ao desenvolvimento.
Para isso, o uso de instrumentos legais de proteção, conservação 
e recuperação ambiental tem sido em grande parte justificado em 
marcos históricos e legais universais e nacionais. Podemos iniciar 
citando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODS) e a Con-
ferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sus-
tentável (Eco-92, Rio+10 e Rio+20), que reconhecem a necessidade 
de proteção da natureza como medida central para garantir a diver-
sidade biológica, a preservação do ambiente, a redução da pobreza 
e a busca pela sustentabilidade.
Um dos resultados que podem ser relacionados ao impacto des-
ses marcos legais pode ser exemplificado na quantidade de áreas 
protegidas por país no mundo (Figura 10). Segundo a União Inter-
nacional para a Conservação da Natureza (PROTECED..., 2020), até o 
Aqui assumimos sustentabi-
lidade no escopo do tipo de 
desenvolvimento que atende à 
justiça social, à eficiência no uso 
de recursos naturais e aos proje-
tos futuros de um determinado 
país ou Estado-nação.
2
A biosfera terrestre 129
ano de 2020 foram contabilizadas 258.725 áreas protegidas, cobrin-
do aproximadamente 9,6% das terras emersas do planeta.
Figura 10
Quantidade de áreas protegidas por país
Fonte: Adaptada de IBGE, 2021.
Áreas 
nacionalmente 
protegidas, no 
total do território 
nacional (%)
Menos de 2
De 3 a 5 
De 5 a 10
De 10 a 20
Mais de 20
Sem dados
É importante destacar que esses conflitos só podem ser bem 
compreendidos no contexto de uma sociedade capitalista, cuja lógi-
ca das relações sociais de produção é pautada na exploração máxi-
ma dos recursos naturais. A contradição está exatamente no fato de 
que as formas de proteção da natureza devem garantir a continuida-
de da exploração no futuro, e isso se torna, não à toa, uma questão 
de debate universal.
No Brasil, particularmente, devemos considerar a Lei Federal 
n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente (PNMA). Em linhas gerais, a PNMA está 
orientada para garantir a preservação, a melhoria e a recuperação 
da qualidade ambiental propícia à vida, assegurando condições ao 
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança na-
cional e à proteção da dignidade da vida humana (BRASIL, 1981).
130 Fundamentos de Geografia Física
Recomendamos a leitura das leis a seguir, pois apresentam os princí-
pios legais da profissão e, diante dos objetivos e das finalidades, oferecem 
uma noção de outras possibilidades de atuação no mundo do trabalho.
• Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente (PNMA). Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 29 jan. 2021.
• Lei n. 6.664, de 26 de junho de 1979, que disciplina a profissão de geó-
grafo. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-
1979/l6664.htm. Acesso em: 29 jan. 2021.
• Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000, que regulamenta e institui o Sis-
tema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 29 
jan. 2021.
A PNMA apresentou princípios associados às práticas profissionais 
de geógrafos, conforme a Lei n. 6.664, de 26 de junho de 1979, e abriu 
caminho para a promulgação de outras leis federais de conservação 
ambiental. As Unidades de Conservação de Natureza (UC), que só fo-
ram promulgadas em 18 de julho de 2000, com a Lei n. 9.985, são um 
exemplo desse avanço e constituem a principal estratégia governa-
mental e legal para a manutenção da diversidade biológica in situ no 
território brasileiro.
Em sua definição, uma UC se caracteriza por
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas 
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmen-
te instituído pelo Poder Público com objetivos de conservação e 
limites definidos, sob regime especial de administração ao qual 
se aplicam garantias adequadas de proteção. (BRASIL, 2000)
Observe que a questão da conservação ambiental não deve ser dis-
sociada da participação da comunidade local e também que ela pode 
ser incluída nos projetos de planejamento urbano e regional. Esse 
avanço é bastante significativo quando são integradas também as es-
tratégias práticas de análise da biogeografia.
Como foi discutido, uma das práticas mais convencionais da biogeo-
grafia é o reconhecimento dos territórios biogeográficos; além disso, 
A biosfera terrestre 131
é preciso conhecer processos de dispersão, vicariância e fragmentação 
biogeográfica. Vamos considerar, agora, como podemos atuar na neu-
tralização ou amenização de processos de fragmentação, aumentando 
sua conectividade. Observe o esquema da estrutura de uma determi-
nada paisagem:
Figura 11
Esquema gráfico de representação estrutural de uma paisagem
Matriz 
Mancha
Mancha
ManchaCorredores ecológicos 
Fonte: Elaborada pelo autor.
IE
SD
E 
Br
as
il 
S/
A
Podemos observar na Figura 11 três elementos da paisagem: (i.) a 
matriz – que é considerada o geossistema dominante e pode ser re-
presentada por uma determinada homogeneidade e extensão biogeo-
gráfica de uma área; (ii.) as manchas – que representam fragmentos 
florestais e habitualmente apresentam as características gerais do 
geossistema; (iii.) os corredores ecológicos – estruturas naturais ou 
construídas que servem para promover conectividade entre as man-
chas (ODUM; BARRETT, 2008). Podem acompanhar rios, canais de dre-
nagem, estradas, trilhas, diques, cercas etc.
Agora imagine, como exemplo, esse esquema dentro de uma cida-
de. Você pode primeiramente reconhecer o domínio de geossistema, 
que pode ser identificado no contexto da área urbana – utilizando as 
escalas e reconhecendo as espécies –, e em seguida avaliar as possibi-
lidades de aumentar seus fluxos gênicos.
Elaborar um plano, com esses aspectos, pode ser bastante positivo 
considerando o crescimento urbano nas cidades brasileiras, uma vez 
132 Fundamentos de Geografia Física
que grande parte da vegetação e dos cursos d’água é sumariamente 
alterada e impactada. Essa estratégia de trabalho, além de promover 
aumento da qualidade ambiental, pode ser somada às infraestruturas 
urbanas e integrada a parques, praças, áreas de lazer etc. e a outras 
prerrogativas legais anteriores ao PNMA, que indicam a obrigatorieda-
de da zona de amortecimento, de mata ciliares, de proteção dos ma-
nanciais hídricos etc.
O debate atual sobre a conservação ambiental no Brasil, e em re-
lação às UC, tem sido particularmente enriquecido pelas inclusões de 
movimentos sociais, compostos majoritariamente de povos oriundos 
de comunidades indígenas e tradicionais.
Uma parte desse debate tem apresentado relevância por meio dos 
serviços ecossistêmicos, que, para além da valoração da natureza, isto 
é, da quantificação e precificação da dinâmica natural, visam atender 
às condições de cuidado, preservação e conservação enquanto estraté-
gia de permanência da vida humana na Terra (DAILY, 1997).
A bem da verdade, os conflitos socioambientais e os serviços ecos-
sistêmicos se originam da forte crítica ao preservacionismo 3 , apon-
tando que as necessidades ambientais sejam ancoradas também na 
valorização da diversidade cultural, na erradicação da pobreza, na jus-
tiça social e na segurança civil, questões ainda incompletas no cenário 
brasileiro.
Podemos destacar nesse contexto o conjunto de ameaças ambien-
tais observadas no Brasil representadas na Figura 12, em que observa-
mos a indicação do arco de desmatamentos nos domínios amazônico e 
do cerrado, concomitantes à agricultura baseada na grande proprieda-
de para exportação. As áreas de forte urbanizaçãoe concentração de-
mográfica, sobretudo nos domínios dos mares de morros, coincidem 
também com o eixo de grandes desastres naturais, representados pe-
los desabamentos.
Além desses processos, ainda podemos citar os que ocorrem de 
maneira setorizada, como a arenização (aumento do teor de areia nos 
solos) nas pradarias, a desertificação (diminuição do potencial produti-
vo e fértil) na Caatinga e a biopirataria (uso ilegal de recursos naturais 
ou conhecimento tradicional) na Amazônia.
Concepção radical da conser-
vação ambiental que entende a 
preservação da natureza sem a 
interferência de seres humanos, 
sendo restrita exclusivamente à 
educação ambiental, ao ecotu-
rismo e à pesquisa científica.
3
A biosfera terrestre 133
Figura 12
Ameaças ambientais identificadas no território nacional
Figura 12
 Ie
sd
e 
Br
as
il 
S/
A
Fonte: Adaptada de Girardi, 2008.
Domínio amazônico
Arco do desmatamento
Pantanal
Domínio dos cerrados
Domínio da Caatinga
Desmatamento
Desabamentos
Domínio dos campos
Pinheiros
Altitudes entre 200 e 500 metros
 oinrócirpaC ed ocipórT
40 W
60 W
Equador
AF
F
Esse quadro evidencia que ainda não foi desenvolvido um modelo 
de desenvolvimento equitativo que considere formas justas e adequa-
das de ocupação do território brasileiro, levando em conta as dinâmi-
cas dos sistemas naturais.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
A biogeografia, como campo da Geográfica Física orientado para o estu-
do da biosfera e da distribuição espacial dos seres vivos, tem desenvolvido 
uma série de possibilidades de análises e investigações sobre a dinâmica 
natural, sobretudo por meio das contribuições da teoria da evolução.
134 Fundamentos de Geografia Física
A perspectiva da unidade entre sociedade e natureza também é bas-
tante presente no desenvolvimento da análise biogeográfica, uma vez que 
o conhecimento da fauna e da flora sempre atende a critérios políticos, 
sociais e econômicos.
Atualmente, a biosfera terrestre tem sido o centro do debate interna-
cional e os marcos legais são um exemplo dos desafios que ainda pre-
cisamos assumir para a transformação do futuro. Os conhecimentos e 
conceitos desenvolvidos na biogeografia sem dúvida auxiliam a Geografia 
Física a ampliar o escopo do debate e as formas de resolução dos proble-
mas, das ameaças e dos conflitos ambientais.
ATIVIDADES
1. Com suas palavras, explique a importância do fenômeno da vida para 
a formação do sistema terrestre.
2. Como você explica a dinâmica natural no território brasileiro?
3. Quais processos e eventos são determinantes para a organização dos 
domínios morfoclimáticos no Brasil?
4. Quais critérios podem ser utilizados para uma análise biogeográfica?
5. Pense em um dos problemas ambientais de sua comunidade, cidade 
ou região. Qual proposta você apresentaria para solucioná-lo por meio 
da biogeografia? Conte para nós.
REFERÊNCIAS
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A biosfera terrestre 135
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136 Fundamentos de Geografia Física
6
Mudanças globais
Seja bem-vindo a mais um momento de estudo sobre os funda-
mentos da Geografia Física. Neste capítulo, em particular, nossos 
esforços se concentrarão em ampliar sua habilidade de síntese e 
integração dos conteúdos e temas que envolvem as mudanças 
globais.
Nosso interesse é proporcionar a você reflexões que envol-
vam um olhar crítico sobre o futuro do planeta e os projetos de 
humanidade, que, no escopo da crise ambiental atual, podem ser 
admitidos como consequências dos processos de colonização, in-
dustrialização, urbanização e globalização.
Conheceremos as políticas ambientais nacionais e internacio-
nais, com a relevância da consciência ambiental, da pegada ecoló-
gica, do planejamento e da gestão ambiental como instrumentos 
fundamentais para superação do modelo atual de desenvolvi-
mento e resolução da crise. Essa opção também deve atender a 
grande parte das práticas profissionais de geografia no mundo do 
trabalho que aqui serão mais bem direcionadas, baseando-se na 
educação ambiental.
Não esqueça: escreva suas dúvidas, faça anotações e comen-
tários. Esses conhecimentos podem ser bem importantes em sua 
trajetória, hoje e no futuro.6.1 Crise ambiental 
Vídeo A crise ambiental, crise do nosso tempo, geralmente se refere ao 
conjunto de problemas ambientais, isto é, os processos resultantes das 
alterações na dinâmica dos sistemas naturais, em que está implícita a 
negatividade nos sistemas sociais e produtivos no que se refere a da-
nos materiais, salubridade, proteção civil e segurança social.
Mudanças globais 137
Essa crise também é global. A poluição da água, do ar e do solo, o 
desmatamento, a erosão, o depósito e a disposição de resíduos e lixo 
em áreas inadequadas, a caça e a pesca predatórias, o desperdício de 
comida, a finitude dos recursos naturais, a desertificação, o aquecimen-
to global, as mudanças climáticas e os eventos extremos, bem como os 
desastres e riscos, são alguns exemplos de processos que resultam em 
crise ambiental ou a potencializam em todos os lugares do planeta.
A preocupação com esses fatores ganhou destaque mundial e foi 
reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), principalmen-
te a partir do ano de 1970, reconhecido historicamente pela realização 
de conferências internacionais e da pegada ecológica.
Sobre esse contexto, podemos citar três grandes marcos. São eles:
11
33
22
Primeira conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano, em 
1972, conhecida como Conferência de Estocolmo. Ali, indicou-se a necessidade 
de equilíbrio entre desenvolvimento econômico e redução da degradação 
ambiental. 
Earth First! (Terra primeiro!), grupo surgido em 1978 que propunha 
uma drástica redução populacional e a desocupação humana de vários 
ecossistemas.
Our Common Future (Nosso futuro comum), documento elaborado pela 
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU) de 
1988. Este apresentava o conceito de sustentabilidade ambiental e social, 
planejamento familiar e repasse de recursos de sistemas produtivos 
predatórios para sistemas produtivos sustentáveis.
Em síntese, esses marcos colocaram a máxima da problemática am-
biental e sugeriram a paralisação imediata do modelo contemporâneo 
de crescimento (econômico e populacional), com promulgação imedia-
ta dos danos e alterações ambientais, por meio do desenvolvimento 
sustentável.
Por esse lado, a crise ambiental tem nos oferecido a oportunidade 
de questionar e avaliar os conhecimentos que temos sobre o mundo; 
junto a isso, possibilitou-nos refletir e reelaborar os projetos de socieda-
de que podemos construir por opção própria. Consideramos que essa 
concepção otimista, uma vez que os caminhos para transformação da 
O termo pegada ecológica 
foi criado pelos cientistas 
canadenses Mathis Wackernagel 
e William Rees, em 1990. Hoje, 
é uma expressão internacional-
mente reconhecida para medir 
a utilização de recursos naturais 
pelos seres humanos. A pegada 
ecológica está relacionada ao 
desenvolvimento sustentá-
vel, isto é, ao uso racional e 
equitativo, com justiça social, 
dos recursos naturais (SCARPA, 
2012).
Saiba mais
Para se aproximar do 
debate da pegada eco-
lógica, recomendamos a 
leitura da cartilha Pegada 
ecológica: qual é a sua?, 
produzida pela equipe de 
Comunicação Institucio-
nal da Rede Clima/MCTI, 
do Instituto Nacional 
de Pesquisas Espaciais 
(Inpe).
SCARPA, F. São José dos Campos: 
Inpe, 2012. 
Disponível em: http://www.inpe.br/
noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20
-%20Pegada%20Ecologica%20
-%20web.pdf. Acesso em: 12 
fev. 2021.
Leitura
http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20-%20web.pdf
http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20-%20web.pdf
http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20-%20web.pdf
http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20-%20web.pdf
138 Fundamentos de Geografia Física
crise pode ser garantida, em certa medida, pela reflexão de um mundo 
melhor no futuro.
Com base nessa perspectiva, entendemos que somente a história nos 
instrui sobre o significado das coisas; contudo, é preciso sempre recons-
truí-la, para incorporar novas realidades e ideias ou, em outros termos, 
para levarmos em conta que o tempo muda tudo (SANTOS, 2000). Como 
diz o escritor João Guimarães Rosa (1956, p. 17), em sua obra Grande Ser-
tão: Veredas, “o senhor mire e veja o mais importante. O bonito do mundo 
é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, não foram terminadas, 
mas que elas vão sempre mudando. Isto me alegra”.
Se a crise ambiental nos oferece possibilidade de mudanças, é impor-
tante conhecermos seus aspectos e contextos partindo de sua origem. 
Podemos considerar que essa crise tem origem nas ideias difundidas no 
interior da modernidade, ou seja, no momento das revoluções científicas 
e produtivas, que serviram de base para a legitimação do progresso capi-
talista, da formação dos Estados-nações, do colonialismo e da exploração 
dos recursos naturais (humanos, inclusive) em escala global.
Antes da modernidade (séculos XVI–XVIII), natureza e sociedade 
eram representadas por meio de uma mistura de elementos que envol-
via conhecimentos da filosofia antiga e da filosofia e religião medievais; 
mas entre os séculos XVI e XVIII, as transformações culturais e produti-
vas ofereceram outros debates que valorizavam a razão, a ciência e o 
moderno em detrimento da fé, da religião e da tradição.
Sobre o processo colonizatório na construção da crise ambiental, podemos citar as 
grandes navegações, que são exemplo dos impactos da modernidade e do domínio do 
ser humano sobre a natureza. De fato, muitas descobertas e avanços científicos foram 
possíveis por meio das viagens e expedições coloniais. Dotados de bússolas, relógios de 
ares, astrolábios e cartas náuticas, os estudiosos e viajantes possibilitaram o aumento 
da riqueza para além-mares. Se o velho continente, a Europa, consolidava-se com os 
Estados nacionais e pelo mercantilismo, as novas localidades ofereciam condições de 
consumo de bens extremamente valiosos: pedras preciosas, tecidos, especiarias, ali-
mentos, dentre outros. O ambiente, desse modo, foi ampliado e não se limitava mais 
aos territórios do continente europeu, do norte da África e leste da Ásia. Agora, o novo 
mundo – as Américas e posteriormente o sul da África e Oceania – dava ao ser humano 
(europeu) a sensação da conquista plena do planeta, seja pela ideia de controle total da 
natureza ou pelo domínio dos povos.
O entendimento da crise 
ambiental passa necessa-
riamente pelo reconhe-
cimento na ordem da 
produção do conheci-
mento e desenvolvimento 
da humanidade. Desse 
modo, sugerimos a leitura 
do texto “A geografia 
está em crise. Viva a 
geografia!”, de Carlos 
Walter Porto Gonçalves. 
Considerado um clássico, 
o artigo foi publicado 
quando os debates che-
gavam ao seu auge.
PORTO-GONÇALVES, C. W. A 
geografia está em crise. Boletim 
Paulista de Geografia, n. 55, p. 
5-30, 1987.
Artigo
Mudanças globais 139
Em outras palavras, o pensamento moderno, na busca de uma ver-
dade objetiva, distinguiu objetos claros e definidos. Pelo método 
científico, era possível desvendar os mistérios da natureza, a fim de 
melhor dominá-la; assim, ergueu-se o jogo das dicotomias e das cri-
ses estruturais de uma sociedade moderna, eminentemente contra-
ditória e desigual (PORTO-GONÇALVES, 1989).
Nesse novo momento da história, a natureza começou a ser vis-
ta como fonte de recursos necessários à manutenção da vida e da 
reprodução do ser humano. A explicação do mundo em seu sentido 
orgânico (fauna, flora e microrganismos) e inorgânico (rocha, relevo, 
solo e clima) nos coloca na condição de observadores, dominadores, 
sem laços de pertencimento com o mundo natural e isentos de suas 
responsabilidades.
Essa noção tem sido a base para promover a produção de bens 
e serviços, consumidos para satisfazer as necessidades dos seres 
humanos e com uma imaginação coletiva simulada que ainda impõe 
limites civilizacionais, atribuindo, sobretudo, uma determinação his-
tórica irreversível e irreparável.
No caso do Brasil,e em grande parte dos países colonizados, es-
sas concepções legitimaram a forma de colonização, urbanização e 
industrialização e a necessidade irracional de matar povos indíge-
nas, escravizar negros, concentrar a riqueza e reproduzir a pobreza, 
a fome, o preconceito, o machismo e o racismo (PORTO-GONÇAL-
VES, 1989; SPOSITO, 2005).
A miséria resultante desse processo implicou a impossibilidade 
de exigir dos agentes sociais responsabilidades, o que caracterizaria 
não só o respeito à natureza (natural e humana), mas também o 
direito à cidadania.
Nesse sentido, a crise ambiental é uma crise civilizatória (melhor 
denominada crise ambiental-civilizatória), resultado de um tensiona-
mento que representa como ponto máximo o ápice dos limites reais 
do capitalismo até a segurança da humanidade. De acordo com Leff 
(2001), podemos reconhecer quatro limites, conforme apresenta-
mos na Figura 1.
140 Fundamentos de Geografia Física
Figura 1
Os limites da crise ambiental-civilizatória
Pressões ambientais que 
diminuem as capacidades 
de sustentação da vida. 
Diacronia entre os 
ritmos naturais (cíclicos 
e variáveis) e produtivos 
(crescente e linear).
Permanência 
da pobreza e da 
desigualdade.
Crescimento 
demográfico e 
maior demanda 
de energia e 
recurso.
POPULACIONAL ECOLÓGICO
ECONÔMICORIQUEZA
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Leff, 2001.
Em síntese, o limite do crescimento econômico é dado pela finitu-
de e escassez dos recursos naturais, bem como da diacronia entre os 
ritmos naturais, sociais e produtivos. O limite populacional ocorre por-
que o aumento demográfico nas últimas décadas tem demandado um 
significativo consumo de recursos e uma urbanização na escala plane-
tária. O limite dos sistemas naturais e ecológicos, devido a pressões 
ambientais e capacidades de sustentação da vida, são sumariamente 
diminuídos em face da degradação, da poluição e do desmatamento, 
em suma, das transformações históricas da paisagem. Por fim, o limite 
da riqueza produzida, apesar do alto nível de sofisticação técnico-cien-
tífica, tem demonstrado que a humanidade ainda se mantém refém da 
pobreza, da desigualdade social e dos desastres naturais – problemas 
aparentemente insolúveis ou inacabáveis.
Diante desse cenário, vemos processos de poluição (do ar, da água, 
dos solos) e de contaminação, provocada por agrotóxicos, fertilizantes, 
destinação, assim como manejo não adequado de resíduos sólidos, 
queimadas e desmatamento ilegal, perda da biodiversidade, crises hídri-
cas, entre outros. Esses impactos nos colocam em um paradoxo: como 
nos desenvolvermos economicamente sem degradar o ambiente? Em 
diacronia: conjunto de 
fenômenos que ocorrem e 
desenvolvem-se pelo tempo 
histórico.
Glossário
Mudanças globais 141
outros termos: como conservar os recursos naturais e utilizá-los de ma-
neira racional e justa sem empobrecer e desigualar seres humanos?
Observe que todos esses processos podem ser explicados geo-
graficamente, por meio das relações entre sociedade e natureza, es-
pecialmente depois que grupos sociais considerados hegemônicos 
reduziram a natureza à fonte de recursos, que, atualmente, é, de fato, 
um dos mecanismos de concentrar a riqueza e o poder (SMITH, 1988).
Você também pode perceber que o limite da crise tem base nos 
limites do modo de produção capitalista, sendo que seu elemento 
fundamental é a escassez dos recursos. Essa escassez, por sua vez, é 
material e está incorporada a uma relação social e global. Em resumo, 
todos nós (ricos e pobres, adultos e crianças, seres do mundo inteiro) 
consumimos a natureza nas mesmas proporções; nessa perspectiva, a 
crise é global e democrática.
Contraditoriamente, o modelo econômico capitalista precisa de su-
cessivos e reiterados processos de crescimento (lineares, somativos e 
acumulativos) em diversos sentidos. Contudo, não há no planeta um sis-
tema natural, social e humano que corresponda sempre a essas propor-
ções e patamares previamente estabelecidos, esperados e desejados.
Nesse sentido, é importante reiterar que essa concepção é sempre 
designada por meio de perspectivas naturalistas, assumindo como 
fator essencial de geração da crise ambiental-civilizatória o aumento 
populacional, seja pelos processos acelerados de urbanização (concen-
tração das pessoas em cidades, o êxodo rural e a precariedade dos 
serviços urbanos) ou pelo consumismo, que em razão do aumento da 
demanda por energia e recursos também produz uma quantidade gi-
gantesca de resíduos e lixo.
Por isso, a concepção naturalista da crise deve ser sempre colo-
cada em um quadro complexo de interpretação, já que sua forma 
de operar é resultado ou argumento para decisões eminentemente 
geopolíticas e estratégicas. O sentido é que a culpabilização do au-
mento populacional como fonte da crise serve para manter as ló-
gicas de exploração do trabalho, da concentração da riqueza, das 
relações de poder tanto na escala internacional (entre países) quan-
to nacional (dentro do país).
142 Fundamentos de Geografia Física
Esse tipo de manifestação é vista, por exemplo, no empobrecimen-
to dos países subdesenvolvidos, também chamados de países de capi-
talismo periférico. Em virtude de concentrarem uma diversidade de 
matérias-primas – riquezas naturais, como ferro, ouro, água etc. –, suas 
relações de exportação e importação produzem a integração interna 
do território por um lado e o aprofundamento das diferenças regionais 
e desigualdades sociais por outro (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Não é coincidência que esses processos também vêm imbuídos de 
muita concorrência e individualismo, precarização da saúde e do traba-
lho, discriminação, preconceito etc. Não é por acaso que grande parte 
dessas ideias estão implícitas em práticas que naturalizam o genocídio, 
a xenofobia, o fascismo, o racismo, o machismo, o capacitismo, a LGB-
TQIA+fobia, entre outros.
Desse modo, a concepção naturalista da crise ambiental-civilizató-
ria tende a normalizar as relações sociais de poder e de produção, ao 
ponto de se constituir também um dos pilares para manutenção dos 
sistemas de opressão e de modos de violência, sobretudo quando utili-
zados para privar e retirar direitos sociais.
Nesse jogo, o acúmulo de processos e o intercruzamento das rela-
ções sociais – assimetria de poder, sistemas de opressão, desigualda-
de, exclusão, empobrecimento – auxilia esses agentes hegemônicos a 
subjugarem outros seres humanos, impondo a eles uma racionalidade 
instrumental que os desumaniza e reduzem-nos à naturalização. Em 
outras palavras, uma parte dos seres humanos se torna recurso e po-
dem ser utilizados como tal. Além disso, usa-se a natureza para explo-
ração e enriquecimento da outra parte (hegemônica).
Os grupos sociais marginalizados, periferizados, segregados e vul-
nerabilizados são um bom exemplo do impacto que a concepção natu-
ralista de crise traz. Primeiro porque grande parte dessas populações 
forma a classe trabalhadora; segundo porque essas pessoas são mais 
expostas ao ônus de qualquer impacto econômico, por isso recebem 
desproporcionalmente qualquer dano ambiental (ACSELRAD; MELLO; 
BEZERRA, 2009).
O mecanismo pelo qual sociedades desiguais destinam despro-
porcionalmente os danos ambientais às populações se chama injusti-
ça ambiental. Ela geralmente ocorre com impactos mais importantes, 
em povos étnicos tradicionais, em bairros operários e em populações 
capitalismo periférico: termo 
utilizado para contrapor países 
chamados desenvolvidos ou de 
capitalismo central.
Glossário
capacitismo: forma de precon-
ceito com pessoas deficientes.
LGBTQIA+fobia: violência con-
tra pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, 
gays, bissexuais, transgêneros, 
queer, intersexo, assexual e 
outros grupos e variações de 
sexualidade e gênero).
Glossário
De modo abrangente, grupos 
sociais marginalizados, periferi-
zados, segregados e vulnerabili-
zados são aqueles espacialmente 
separados ou excluídos pela 
desigualdade social. Diferen-
ciam-se por serem submetidosa processos de destinação de 
moradia em áreas distantes dos 
centros urbanos ou do centro 
da cidade (marginalização), 
com formas compulsórias e 
jurídicas que estimulam a saída 
de áreas valorizadas para outras, 
geralmente estruturadas de 
maneira parca ou com urbani-
zação precária (periferização); 
há também o impedimento 
do usufruto pleno de direitos a 
transporte, moradia, mobilidade 
e do acesso a equipamentos e 
serviços urbanos (segregação), 
bem como níveis desiguais 
de exposição e capacidade de 
suporte a ameaças naturais 
(vulnerabilização).
Saiba mais
Mudanças globais 143
marginalizadas e vulnerabilizadas. Quando as injustiças ambientais re-
caem implacavelmente sobre grupos étnico-raciais, damos o nome de 
racismo ambiental, que não se configura apenas como ações e decisões 
de cunho ambiental com evidente conotação radicalizada ou racista, 
mas também por práticas que impactem diretamente o grupo étnico 
e racial, independentemente do qual tenha sido a origem (ACSELRAD; 
MELLO; BEZERRA, 2009).
A falta de saneamento básico é um dos principais e essenciais fatores de degradação 
ambiental, já que se associa diretamente a doenças, à precariedade das condições de 
moradia, aos níveis de violência, com a pobreza social, à marginalização e à segrega-
ção (JUNGMANN, 2011). A contradição é que a falta de saneamento básico causa mais 
impacto aos pobres do Brasi do que os processos que já são bastante danosos, como 
desmatamento e produção de energia; isso porque eles vivem em situação de emergên-
cia permanente. Essa situação não isenta os impactos ambientais provocados pelo des-
matamento e por projetos de energia, sobretudo para comunidades tradicionais e povos 
indígenas, mas demonstra a seletividade de quem impacta e de quem é impactado.
A abordagem geográfica da crise ambiental-civilizatória deve assu-
mir uma postura posicionada, crítica e humana. As alterações antrópi-
cas, ocorridas em razão das mudanças dos sistemas naturais, as quais 
foram provocadas por atividades humanas, devem ser analisadas de 
acordo com as transformações e a proporção da degradação provoca-
da pelos seres humanos.
Em uma sociedade na qual grupos hegemônicos determinam o 
conjunto da exploração e os rumos da nação, as alterações antrópi-
cas devem ser compreendidas como uma condição relativa à atividade 
empreendida e ao modo de vida desenvolvido; o ônus e o bônus da ex-
ploração das riquezas naturais e do trabalho são distribuídos desigual 
e seletivamente.
Em outras palavras, ricos e pobres não usam recursos da mes-
ma forma e na mesma intensidade. O importante é garantir, mesmo 
com a crise, padrões melhores e mais justos dos danos ambientais 
para além do que pode ser equitativo ou igual. Monteiro (2003, p. 
17) considera que é:
cabalmente comprovado pelo fato de que, desde a Conferência 
de Estocolmo (1972), se comprovou que a Questão Ambiental 
não só dificulta, mas inviabiliza a sintonia de opiniões dos paí-
ses ricos, desenvolvidos (dominantes) e aqueles em esforço de 
Você pode ter mais informações 
sobre injustiça social, racismo 
ambiental e justiça social 
assistindo ao vídeo Interfaces 
do Racismo: racismo ambiental, 
publicado pelo canal da Defen-
soria Pública da União (DPU) na 
plataforma YouTube. 
Disponível em https://youtu.
be/3IxobCS1n-k. Acesso em: 12 
fev. 2021.
Vídeo
https://www.youtube.com/channel/UC2EZg9gpSDph8XQEhvgYsuw
https://www.youtube.com/channel/UC2EZg9gpSDph8XQEhvgYsuw
https://youtu.be/3IxobCS1n-k
https://youtu.be/3IxobCS1n-k
144 Fundamentos de Geografia Física
desenvolvimento (dominados). Vinte anos após, durante a Con-
ferência do Rio de Janeiro (ECO 92), não houve sensíveis pro-
gressos, já que os “resultados” não ultrapassaram a categoria de 
inócuos protocolos de intenções.
Sendo assim, as estratégias de combate aos impactos da cri-
se ambiental têm sido elaboradas com base no conceito de justiça 
ambiental, que pode ser entendido como o conjunto de princípios 
e práticas que asseguram a nenhum grupo humano (social, étnico, 
racial, ou gênero) suportar, de maneira desproporcional, as conse-
quências ambientais negativas tanto as realizadas por operações 
econômicas, advindas de decisões políticas e de programas federais, 
estaduais e locais, quanto surgidas pela ausência ou omissão dessas 
políticas (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009).
Pela justiça ambiental, a crise ambiental-civilizatória assume um ca-
ráter importante na transformação da sociedade, principalmente por-
que seus níveis de tratamento incorporam a complexidade da relação 
sociedade-natureza. A resolução dos problemas ambientais pode ser 
incorporada aos demais ramos da geografia, como a regional, a urba-
na, a agrária, a social, a de gênero, a étnica, a racial e a inclusiva.
Com isso, segundo Acselrad, Mello e Bezerra (2009), assegura-se 
tanto o acesso justo aos recursos ambientais do país quanto o acesso 
amplo às informações relevantes que lhes dizem respeito, favorecen-
do a constituição de movimentos e a participação de sujeitos na cons-
trução de modelos alternativos e democráticos de desenvolvimento.
Aprofundaremos esses aspectos na próxima seção. Vale abordar 
a necessidade de estratégias de conservação da natureza no Brasil, 
que, em suma, orientam os projetos de futuro da nação e do planeta.
6.2 O futuro da humanidade e do planeta 
Vídeo Segundo Vesentini (1997), o modelo de progresso e de desenvol-
vimento construído pelos agentes hegemônicos da modernidade é 
um dos pilares da crise ambiental-civilizatória e um dos elementos 
principais para entender as mudanças globais. Nesse sentido, po-
demos dizer que essa crise é consequência direta dos processos de 
colonização, industrialização, urbanização e globalização, dentre os 
quais citamos:
inócuo: que não causa dano 
material, físico ou orgânico; que 
não é nocivo ou prejudicial.
Glossário
Mudanças globais 145
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Banalização da vida humana, sobretudo no que se refere ao desrespeito ao outro 
e à condição de seres individuais ou de grupos socioculturais e étnicos distintos.
Aceleração do ritmo de vida, em que a possibilidade de se fazer 
tudo acaba por ser pouco e, com isso, há o surgimento das 
frustrações e doenças contemporâneas.
Demanda cada vez maior de recursos energéticos de base não 
renovável.
Perda de biodiversidade, com a destruição e degradação dos 
sistemas ambientais, em virtude do emprego cada vez maior 
de aditivos químicos nas atividades agrícolas e na produção de 
alimentos, além de fatores como poluição por resíduos sólidos, lixo 
radioativo, dentre outros (RIBEIRO; GUSMAO; LIMONAD, 2012).
Mas como efetivar um processo que minimize ou neutralize es-
ses impactos? Além dos parâmetros da justiça ambiental, precisa-
mos conhecer como outras sociedades entendem e convivem com 
seu entorno natural; é importante conhecer outras concepções de 
desenvolvimento.
Diante dessa crise, uma série de movimentos e organizações sociais 
de resistência ao modelo hegemônico de progresso capitalista tem evi-
denciado como prioridade a essência da diversidade cultural, natural 
e humana (RIBEIRO; GUSMAO; LIMONAD, 2012). Dentre esses, o movi-
mento ambientalista se destaca como um dos carros-chefes; além dele, 
movimentos sociais por terra, moradia, bem como de povos indígenas 
e negros, também têm colocado pautas importantes para superação 
do modo atual.
A definição de uma agenda global (com mecanismos políticos e ins-
tituições) é um exemplo que nos indica os rumos na área ambiental 
com base no conceito de desenvolvimento sustentável. Essa é uma 
possibilidade de rearranjar a posição e a relação entre os países de 
todo mundo e estabelecer ações individuais para preservação da biodi-
versidade e conservação ambiental (VESENTINI, 1997).
Nesse sentido, pensar no rumo das humanidades requer necessa-
riamente refletir sobre projetos de futuro, pensar em como construir 
coletivamente uma humanidade que se relaciona com a natureza e com 
concepções além daquelasque originaram a crise ambiental-civilizatória.
A Agenda 21 Global é um 
bom exemplo dos mecanis-
mos universais que orientam 
as políticas ambientais. O 
documento foi elaborado na Eco 
92 – Conferência das Nações 
Unidas Sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, realizada no 
Rio de Janeiro, em 1992. 
Disponível em: http://www.eco-
logiaintegral.org.br/Agenda21.
pdf. Acesso em: 12 fev. 2021.
Saiba mais
http://www.ecologiaintegral.org.br/Agenda21.pdf
http://www.ecologiaintegral.org.br/Agenda21.pdf
http://www.ecologiaintegral.org.br/Agenda21.pdf
146 Fundamentos de Geografia Física
Vale ressaltar que o conceito de desenvolvimento não pode ser redu-
zido à ideia de crescimento econômico, porque é comum associarmos a 
palavra desenvolvimento ao aumento da riqueza, de empregos, de renda, 
do potencial de compra etc.
De modo abrangente, a diferença entre desenvolvimento e crescimen-
to está no fato de o primeiro se referir ao movimento ou ao processo de 
mudanças qualitativas nas realidades individuais, populacionais, ambien-
tais, sociais e humanas, com vistas à superação de problemas antigos e 
transformações projetadas para o futuro. Já a principal referência para o 
crescimento é o caráter quantitativo, representado em grande parte por 
variações de indicadores econômicos, como no produto interno bruto 
(PIB), na produtividade agrícola, no emprego, na renda per capita etc.
O crescimento pode ser entendido como um processo dentro do 
desenvolvimento, contudo, o desenvolvimento não pode ser reduzido 
ao crescimento. É importante destacar que a característica fundamen-
tal desse conceito é sua demonstração como fato histórico para a ela-
boração de um projeto de futuro.
Na geografia, em particular, o desenvolvimento acontece em luga-
res e períodos sempre determinados pelos grupos humanos em socie-
dade. É por essa razão que o desenvolvimento nunca é uniforme, pleno 
e igualitário. Ele sempre evidencia como as diferentes condições sociais 
entre países, regiões, cidades, lugares, instituições e grupos sociais são 
construídas no decorrer da história; ainda, como cada um deles não 
marcha como um batalhão homogêneo e harmônico rumo à resolução 
e superação de problemas antigos. Pelo contrário, eles caminham de 
maneira descompassada e anacrônica, já que o debate sobre os pro-
jetos de futuro, sobre o desenvolvimento, não acontece sem conflitos.
Apesar do seu caráter variado, sendo comum a outros campos e 
setores da sociedade 1 , você já deve ter percebido que o debate é sem-
pre orientado para o futuro. Isso é particularmente positivo para os 
profissionais de geografia, pois, assim, podem atuar na mediação do 
processo de incorporação da natureza ao sistema produtivo, com me-
didas possíveis, reais e justas.
Como podemos atuar na elaboração desses projetos de futuro? Que 
tipos de desenvolvimento temos assumido na Geografia Física para 
construir essas possibilidades? No Brasil, grande parte do debate e das 
decisões sobre o desenvolvimento é obtida principalmente por meio 
de normatizações legais, as quais são elaboradas pelo estado nacional.
anacrônico: que apresenta 
anacronismo; que contraria 
a cronologia, ou seja, os 
eventos em lugares distintos não 
acontecem ao mesmo tempo 
nem sob a mesma frequência 
e intensidade, pelo contrário, o 
desenvolvimento nos lugares 
ocorre de modo particular e ím-
par, não se repete; não acontece 
da mesma maneira.
Glossário
É comum, também, ouvirmos 
sobre desenvolvimento humano, 
social, econômico, sustentável, 
desigual, nacional, regional, 
local, estratégico, institucional 
etc.
1
Mudanças globais 147
Além da união e das unidades federativas (estados), os municípios 
são compreendidos como unidades de gestão territorial principais para 
envolver essas políticas. São exemplos: a Política Nacional do Meio Am-
biente (PNMA), a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema 
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Além dessas, in-
tegram-se também outras que podem ser dimensionadas no Estatuto 
da Cidade, na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNM) e na 
Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2001, 2009, 2010).
Por se constituírem marcos legais, associados diretamente às práticas 
profissionais dos profissionais de geografia, recomendamos a leitura das 
leis a seguir, que podem ser muito importantes para trabalhos futuros.
• Estatuto da Cidade: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/
LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em: 12 fev. 2021.
• Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNM): http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm. Acesso em: 12 
fev. 2021.
• Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS): http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 12 fev. 2021.
Na realização do trabalho do geógrafo, essas políticas devem ser 
implementadas de modo multidimensional e de acordo com a escala 
local. No Brasil, a ideia é que a política ambiental e de desenvolvimento 
seja implantada nos municípios e contemple a organização de planos 
sistematizados em pelo menos duas frentes concomitantes e articula-
das, como mostra a Figura 2.
Figura 2
Atuação do geógrafo na política ambiental no Brasil
Política
Social
Energia
Produtivo
Educacional
Cultural
Ar
tic
ul
aç
ão
 e
sp
aç
o-
te
m
po
Articulação espaço-tem
po
Fonte: Elaborada pelo autor.
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.985-2000?OpenDocument
148 Fundamentos de Geografia Física
As políticas ambientais e seus planos de desenvolvimento devem ser 
elaborados por meio de propostas estratégicas, no tempo e espaço que 
contem com uma sistematização para incorporar ações práticas realiza-
das em etapas ou fases de curtíssimo, curto, médio, longo e longuíssimo 
prazo. Além disso, essas políticas devem ser pautadas na integração so-
cial, política, educacional, produtiva, cultural, técnica com suas institui-
ções – estado, poderes, sociedade civil, movimentos sociais, instituições 
de ensino, institutos de pesquisa, setor privado, entre outros.
A atuação profissional do geógrafo, na elaboração e efetivação das 
políticas ambientais e de desenvolvimento, é absorvida em pelo menos 
dois campos: um que se refere ao planeamento e à gestão ambiental 
e outro que incorpora os processos da educação geográfica, em que 
destacamos a educação ambiental. Aprofundaremos esses temas nas 
próximas seções.
6.3 Planejamento e gestão ambiental 
Vídeo Antes de discutirmos sobre planejamento e gestão ambiental, é im-
portante relembrar que a preocupação com os problemas ambientais 
é reflexo de um movimento social em escala global que expressa os 
desafios e as dificuldades relacionadas à qualidade de vida das pes-
soas. Nesse sentido, são objetos de reflexão as formas de produção de 
energia, os modelos de desenvolvimento, a conscientização ambiental, 
a preservação da biodiversidade, a gestão racionalizada dos recursos 
naturais e resíduos etc.
Nossa contribuição como geógrafos está em utilizar conceitos da 
área para oferecer, aos diferentes setores da sociedade e campos cien-
tíficos, uma organização sistemática de ações, decisões e meios neces-
sários para se atingir metas e objetivos dessas políticas ambientais e de 
desenvolvimento.
Basicamente, é possível atuar tanto no setor público quanto no se-
tor privado. O mapeamento de demandas pode ser realizado com o 
uso de geotecnologias, partindo de análises, estudos, reconhecimen-
tos, levantamentos e pesquisas de caráter físico-geográfico, biogeo-
gráfico, antropogeográfico e geoeconômico. As atividades devem ser 
desenvolvidas nos termos da Lei n. 6.664 (BRASIL, 1979), conhecida 
como Lei do geógrafo.
Mudanças globais 149
Nesse escopo, o planejamento e a gestão são algumas das diversas 
formas sob as quais podemos pensar e promover o desenvolvimento, 
entendido aqui sempre como processos para superação de problemas 
antigos e criação de projetos alternativos de sociedade. É justamen-
te por essa razãoque vale distinguir o que é planejamento e o que é 
gestão.
O planejamento se refere ao estabelecimento de um plano de ação 
que deve ser desenvolvido em conformidade com uma definição de co-
nhecimento, revisão ou previsão de algum fenômeno. Em outras pala-
vras, trata-se de uma organização intencional do futuro, na qual devem 
ser definidas etapas e estratégias para alcançá-lo, simulando desdo-
bramentos possíveis, seja como forma de prevenir prováveis proble-
mas associados durante o processo, como tirar proveito para extrair 
seus benefícios (SOUZA, 2001).
A gestão é uma ação incorporada ao planejamento. Trata-se funda-
mentalmente de gerenciar, monitorar, administrar uma situação com 
os recursos presentemente disponíveis, tendo em vista necessidades 
imediatas. Em síntese, o planejamento está encarregado do futuro, 
daquilo que se espera da gestão, do presente, daquilo que temos e 
podemos realizar.
Na ciência geográfica, eles podem assumir diversas aplicações se-
gundo adjetivação, podendo variar entre nacional, regional, territorial, 
urbano, municipal etc. O planejamento e a gestão ambiental, em espe-
cífico, fazem parte do conjunto de políticas ambientais que explicitam 
princípios de administração, gerenciamento, monitoramento e manejo 
do conjunto de ações destinadas à proteção, ao uso, à destinação e à 
qualidade ambiental, seja de uso público ou privado.
Desse modo, é levado em consideração o conjunto de atividades 
técnicas, administrativas, legais e normativas, que só podem ser bem 
operacionalizadas com a participação ativa das comunidades, as quais 
os ambientes estão associados. Possíveis melhorias da qualidade am-
biental na conservação da biodiversidade e na produção de energia são 
mais bem ajustadas aos projetos do futuro da nação quando partem 
dos contextos locais.
Com relação à qualidade ambiental, por exemplo, os processos de 
planejamento e gestão são designados para estabelecer um padrão 
150 Fundamentos de Geografia Física
de satisfação que envolve tanto a análise de elementos naturais (meio 
físico e biológico) quanto a análise de antrópicos (economia, cultura, 
relações sociais) (LIMA, 2013). A Qualidade Ambiental Urbana (QAU) 
abrange condições ambientais mínimas, idealizadas e percebidas por 
uma população de acordo com sua cultura e seu desenvolvimento. 
Segundo Minaki (2014), essas condições estão diretamente ligadas à 
qualidade de vida, conceito mais abrangente e unificador de todos os 
elementos que trazem melhoria de vida e satisfação aos habitantes nas 
cidades.
Com base nesses enfoques, a qualidade ambiental é um importante 
recurso para gestão e planejamento urbano; ao mesmo tempo, é um 
indicador para avaliação integrada da qualidade de vida no campo e 
nas cidades.
A ideia é que os elementos ambientais possam ser interpretados 
por meio de medidas, que incorporadas ao planejamento, orientem 
políticas territoriais, diminuam os impactos da degradação ambiental e 
aumentem a qualidade de vida. De acordo com Lima (2013), em muitos 
casos, avaliar a qualidade ambiental nos municípios significa também 
diminuir custos para as administrações públicas, o que necessariamen-
te acarreta a redistribuição de recursos para setores mais críticos à me-
lhoria da qualidade de vida, como educação, saúde, lazer, emprego, 
renda, segurança etc.
De maneira prática, a qualidade ambiental pode ser avaliada por 
meio da reunião de atributos ou indicadores ambientais, os quais, se-
gundo Minaki (2014), têm ou não natureza física e estão profundamen-
te articulados ao binômio urbano-natural. O estudo valoriza linguagem 
cartográfica, pois o mapeamento das métricas e dos índices ambientais 
auxiliam efetivamente o reconhecimento espacial de áreas e períodos 
críticos, bem como as formas de neutralização e transformação.
Dos indicadores mais propagados na análise da qualidade ambien-
tal urbana, destacam-se os mapas de uso e ocupação da terra, de den-
sidade populacional, de edificações, de espaços livres de edificação 
(contemplando a cobertura vegetal e áreas verdes), de poluição (acús-
tica, visual e atmosférica), de drenagem, de verticalização, de tempera-
tura e de umidade relativa do ar.
Mudanças globais 151
O artigo “Análise da qualidade ambiental urbana”, de Minaki e Amorim, publi-
cado na revista Mercator em 2012, é um exemplo de estudo sobre qualidade 
ambiental urbana. Durante a leitura, procure observar os produtos cartográ-
ficos aplicados e as formas de análise empregadas.
Acesso em: 12 fev. 2021. 
http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/648
Artigo
Outra possibilidade de atuação que tem sido recentemente deba-
tida é a valorização dos saberes e das culturas tradicionais. Tem sido 
levada em consideração a cultura de grupos que se reconhecem e têm 
formas próprias de organização social, as quais são distintas do mode-
lo cultural capitalista e ocidental e que “ocupam e usam territórios e 
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, 
religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações 
e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007).
Esses conhecimentos, entretanto, têm sido palco para conflitos, 
desafios e resistência ao modelo de desenvolvimento capitalista. De 
um lado, temos, em nossa sociedade, a introjeção de um conceito de 
natureza culturalmente imposto (aquela que reduz a natureza à fonte 
de recurso, com uso privado e submetida à dominação), de outro, a 
cultura das comunidades tradicionais, que é produzida e reproduzida 
em um ambiente dialógico, horizontal e integrado para todos os seus 
membros.
Esse ambiente é possível, uma vez que temos nessas sociedades 
relações pessoais e, inclusive, de parentesco e amizade. De modo geral, 
os indivíduos compartilham basicamente os mesmos sentimentos, an-
seios, desejos e as mesma ideias, também contraditórios e conflituosos 
entre si (DIEGUES, 2001; DIEGUES, ARRUDA, 2001).
O mais importante, contudo, é que no diálogo dos saberes as diferentes 
culturas são incentivadas a superar o relativismo cultural 2 , enriquecendo 
valores universais e fundamentais para convivência mútua e conjunta, ba-
seando-se no respeito, na valorização da diversidade e no convívio das 
diferentes identidades. Com isso, é possível pensar em outra concepção 
de desenvolvimento (DIEGUES, 2001; DIEGUES, ARRUDA, 2001).
Princípio antropológico que se 
baseia nas diferenças culturais e 
é isento de etnocentrismo, isto 
é, cada cultura é tão particular 
que só pode ser observada e 
analisada em si mesma, nunca 
em relação a outras.
2
http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/648
152 Fundamentos de Geografia Física
A diversidade cultural permite entender outras concepções de 
natureza, já que é o próprio reflexo dela e mostra as múltiplas fei-
ções que o mundo natural apresenta, além de considerar a cultura 
como intrínseca à natureza do ser humano e ao desenvolvimento da 
nação (BRASIL, 2007).
Até certo ponto, a diversidade cultural tem sido garantida inter-
nacionalmente, tanto em termos de assegurar aos povos a utilização 
de sua criatividade quanto na forma pela qual essa criatividade pode 
ser absorvida em processos de conservação da biodiversidade, con-
trole dos impactos ambientais e efetivação de restauração ecológica 
(UNESCO, 2001).
No Brasil, sua defesa é uma proposta de desenvolvimento nacio-
nal orientada para reconhecer e valorizar a diversidade cultural em 
pelo menos quatro frentes: i) direitos de grupos étnicos e raciais; ii) 
patrimônio histórico e cultural; iii) indústrias culturais; e iv) educa-
ção e televisão.
De acordo com a Secretaria Especial de Desenvolvimento Social, estima-se que cerca de 4,5 
milhões de pessoas compõem algum povo ou comunidade tradicional (BRASIL, 2021). Eles são 
reconhecidos pelo Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que instituiu a Política Nacional 
de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) (BRASIL, 2007).
Povos indígenas, quilombolas, comunidadestradicionais de matriz africana ou de terreiro, extrati-
vistas, ribeirinhos, caboclos, pescadores artesanais, pomeranos, entre outros, são alguns exemplos 
de grupos contemplados por essa política.
A efetivação desses marcos legais pode ocorrer, por exemplo, 
com a valorização da etnobotânica, campo que atende a um con-
junto de estudos e pesquisas científicas com plantas medicinais, uti-
lizadas há muito tempo por povos tradicionais e indígenas e que 
atualmente podem subsidiar a criação de medicamentos e o trata-
mento de doenças complexas. Outro exemplo é a incorporação dos 
saberes dos profetas da chuva – homens e mulheres que utilizam 
respostas fisiológicas de plantas e animais e condições ambientais 
para elaborar previsões climáticas; estes podem ser utilizados para 
indicar a qualidade da estação chuvosa bem como para gerir situa-
ções de riscos e desastres.
É importante, no entanto, evidenciar que grande parte da repro-
dução material desses saberes ainda é vista como inconsistente e 
No dia 19 de março, é co-
memorado o Dia de São 
José, padroeiro do Estado 
do Ceará. Em razão 
de ocorrer justamente 
durante a passagem das 
estações, muitos serta-
nejos consideram essa 
data decisiva e afirmam: 
“Se não chover até o dia 
de São José, não chove 
mais”.
Essa é uma passagem 
da cartilha Profetas da 
Chuva. Recomendamos a 
leitura, pois além de ser 
breve e divertida, trata-se 
de um exemplo bastante 
representativo de saber 
tradicional.
ASSOCIAÇÃO Caatinga. 
Disponível em: https://www.
acaatinga.org.br/wp-content/
uploads/ProfetasdachuvaLivreto.pdf. 
Acesso em: 12 fev. 2021.
Leitura
etnobotânica: campo científico 
orientado ao estudo integrado entre 
botânica, saberes tradicionais e 
cultura local.
Glossário
https://www.acaatinga.org.br/wp-content/uploads/ProfetasdachuvaLivreto.pdf
https://www.acaatinga.org.br/wp-content/uploads/ProfetasdachuvaLivreto.pdf
https://www.acaatinga.org.br/wp-content/uploads/ProfetasdachuvaLivreto.pdf
Mudanças globais 153
ainda não é considerada fonte de recursos, mercadoria ou produto 
disponível para consumo. O conflito com perspectivas excludentes, 
hierarquizantes e desiguais converge justamente aqui: é preciso su-
perá-las e reconsiderar possibilidades de conviver com diferentes 
tradições.
As diferenças culturais são fundamentais para a produção da ri-
queza e do desenvolvimento, uma vez que contribuem para novas 
significações econômicas e sociais, as quais consideram a natureza 
como parte do corpo ou da extensão da vida e da comunidade. A 
natureza oferece, por meio da valorização da diversidade cultural, a 
garantia de processos de transformação social (UNESCO, 2001).
Em síntese, nos planejamentos e na gestão territorial, é impor-
tante considerar todas as variáveis possíveis para indicar um bom 
futuro do ambiente. A biodiversidade e a diversidade cultural são 
fundamentais para o desenvolvimento de um projeto justo orienta-
do para o futuro.
Não podemos, contudo, pensar no futuro sem levar em conside-
ração os seres humanos do futuro. É justamente por isso que dis-
cutimos, na próxima seção, um pouco sobre o desenvolvimento por 
meio da educação ambiental.
 Ainda para ampliar seu conheci-
mento sobre os saberes dos pro-
fetas da chuva, recomendamos, 
também, o vídeo Os profetas 
da chuva, publicado pelo canal 
Invento Produções Culturais. 
Disponível em: https://youtu.
be/AheBnIBb3vI. Acesso em: 12 
fev. 2021.
Vídeo
6.4 Educação e consciência ambiental crítica 
Vídeo Como dito anteriormente, a resolução da crise ambiental-civili-
zatória passa necessariamente pela transformação do modelo de 
civilização contemporâneo. Além disso, devemos considerar fatores 
como justiça ambiental e equidade, independentemente de renda, 
gênero, cor, etnia, credo e cultura. A educação ambiental é umas das 
práticas pedagógicas que pode tornar possível a formação de seres 
humanos comprometidos com esse projeto.
Para tanto, em primeiro lugar, na condição de profissionais tanto 
de geografia quanto de outras áreas, é preciso ressignificar os pro-
cessos de ensino convencionais e clássicos, os quais valorizam exa-
cerbadamente conteúdos sem contextualizá-los e estabelecem uma 
relação hierarquizada e absoluta, na qual o professor é detentor do 
conhecimento e o estudante é vazio de conhecimento.
https://youtu.be/AheBnIBb3vI
https://youtu.be/AheBnIBb3vI
154 Fundamentos de Geografia Física
Esse modelo fortalece dicotomias e não traz opções de renova-
ção, principalmente no que tange à redução das desigualdades, à 
erradicação da pobreza e à resolução da degradação ambiental. Ao 
pensamos a educação em uma lógica hierarquizada, temos a ten-
dência de continuar legitimando relações hierárquicas com o am-
biente, com a natureza e com os seres humanos. Com isso, a crise 
ambiental-civilizatória será sempre a problemática inerente à nossa 
existência e também permanente.
Nesse sentido, precisamos urgentemente incorporar a educação 
ambiental aos conjuntos de mudanças globais e submetê-la à trans-
formação, já que é urgente. Para isso, a criticidade é fundamental. 
Mas o que isso quer dizer?
Em uma perspectiva abrangente, o conhecimento na educação 
ambiental deve ser abordado de maneira contextualizada e com 
problemáticas pertinentes à realidade do estudante, oferecendo 
condições para que os alunos se posicionem quanto às questões 
ambientais do nosso tempo. Como se trata de um processo educa-
tivo, ela não pode ser reduzida a problemas como desmatamentos, 
poluição e mudanças climáticas e nem abordada à parte de contex-
tos sociais, culturais, políticos e econômicos. O ambiente deve ser 
visto em sua totalidade, uma vez que o entendimento de questões 
ambientais demanda o estudo de processos articulados.
A Geografia Física atende a uma articulação bastante promissora. 
Isso pode ser visto, por exemplo, em uma aula que aborda a produ-
ção de alimentos, na qual é possível sugerir aos alunos que reflitam 
sobre o uso de grandes quantidades de água, agrotóxicos e orga-
nismos geneticamente modificados. Eles chegarão à conclusão de 
que essa forma de produção tem implicações diretas na saúde, na 
qualidade da água, na degradação dos solos, na estrutura fundiária, 
na urbanização, na pobreza e nos conflitos territoriais. Esse tipo de 
atividade faz pensarmos no ambiente como um todo e evidencia os 
problemas que esse tipo de prática pode trazer.
Nesse sentido, a criticidade pode contribuir para formação de 
uma consciência ambiental contextualizada, social e culturalmente, 
e compromissada com a transformação do futuro. Isso ocorre jus-
tamente por se ancorar à resolução de problemas práticos que são, 
Mudanças globais 155
de fato, reais no cotidiano do estudante, da escola, da comunidade, 
da cidade, entre outros.
A concepção crítica considera o ensino como um todo, com diá-
logo constante da comunidade escolar e o cotidiano de todos os en-
volvidos no trabalho pedagógico. Ela se integra adequadamente à 
educação ambiental quando voltada para o cotidiano dos estudan-
tes e seu ambiente mais próximo. Segundo Freire (1985), a intenção 
é enaltecer a importância da problematização, para levar o aluno a 
refletir, analisar e questionar sua realidade e perceber a si mesmo 
como um sujeito transformador.
Se a crítica proporciona a possibilidade de mudanças de atitu-
des e comportamentos, a transformação social pode ser possível 
com reflexões políticas, sociais, econômicas, históricas e éticas, indo 
de encontro aos princípios das correntes educacionais tradicionais 
eminentemente hierarquizadas, fixistas e conservadoras (SAVIANI, 
2003).
Pode parecer ser um exercício complexo – e de fato é –, mas não 
é impossível. Devemos partir do princípio de que as mudanças am-
bientais são intrincadas em uma mesma raiz, por isso também es-
tão condicionadas ao tratamento para um mesmo fim. Em outros 
termos, elas são fundamentalmente um produto do modelo de de-
senvolvimento adotado na modernidade, interessante ao progresso 
capitalista. Entretanto, podemosdesenvolver essa educação de ou-
tro modo, com outros conteúdos e outra finalidade.
Construir um novo ambiente não significa somente salvar o pla-
neta com ações que envolvem o sentimentalismo de proteção das 
árvores (abraçando-as, por exemplo) ou com discursos que parecem 
nos fazer regredir no tempo, como viver à moda dos primeiros seres 
humanos. É necessário responsabilizar e criminalizar as ações injus-
tas de seletividade e desigualdade das mudanças globais, bem como 
qualificar o ônus e o bônus dessas próprias mudanças, da crise am-
biental-civilizatória e da degradação ambiental.
Com base nessa premissa, podemos pensar em princípios éticos 
para uma educação crítica. Sua representação pode ser vista na fi-
gura a seguir.
156 Fundamentos de Geografia Física
Figura 3
Princípios éticos para uma educação ambiental crítica
Biocentrismo
Antropocentrismo
Radicalismo
Conservacionismo
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Aledo, 2015.
A Figura 3 ilustra quatro polos, cada um orientando práticas edu-
cativas que representam uma consciência ambiental puramente con-
servacionista e biocentrista em contraposição às concepções de cunho 
radicalista e antropocentrista. Sugerimos que nossos posicionamentos 
sejam movimentados no escopo dos quatro polos, como se fossem 
práticas educacionais medidas de modo gradual e complementar.
Em linhas gerais, a educação ambiental de base biocêntrica e 
conservacionista pressupõe a separação dos seres humanos em re-
lação ao uso e ao cuidado de todos os seres e sistemas naturais. Já a 
educação ambiental de base biocêntrica e radical pressupõe a exclu-
são total dos seres humanos na relação ecológica. A educação ambien-
tal de base antropocêntrica e radical pressupõe os seres humanos 
como superiores e principais atores na relação com os seres e sistemas 
naturais. Por fim, a educação ambiental de base antropocêntrica e 
conservacionista pressupõe a participação integrada dos seres huma-
nos no uso e no cuidado de todos os seres e sistemas naturais.
Em seus pontos máximos, cada princípio assume um caráter extremo, 
que pode promover o aumento da resistência às mudanças e dificulda-
des na negociação dos projetos. Assim, como mencionado, uma educação 
ambiental que valoriza exacerbadamente o caráter biocentrista e conser-
vacionista tende a desconsiderar o ser humano como participante do am-
biente e, se o faz, ele é reduzido a fator antrópico de destruição ambiental.
No documentário Home: 
nosso planeta, nossa casa, 
Yann Arthus-Bertrand nos 
presenteia com um bom 
resumo dos conteúdos 
da Geografia Física. Com 
imagens bonitas e uma 
trilha sonora atraente, o 
fotógrafo e ambientalista 
francês nos mostra o 
quanto nosso futuro está 
aberto às mudanças e 
como as possibilidades 
de transformação são 
reais e presentes.
Direção: Yann Arthus-Bertrand. 
França: EuropaCorp, 2009.
Documentário
Mudanças globais 157
Já no outro lado do esquema, o radicalismo e o antropocentrismo 
extremos orientam práticas que legitimam concepções tradicionalistas 
de exploração dos recursos naturais, que em sua maioria reduzem a 
natureza à fonte de riqueza e consumo. Nessa lógica, o fator antrópico 
está presente, mas, por ser extremo, a relação se resume em concep-
ções de domínio e superioridade.
Enquanto o antropocentrismo puro pode legitimar a radicalização 
da exploração irracional dos recursos naturais, o conservacionismo 
pode considerar o ambiente ou a natureza como algo intacto à presen-
ça humana, o que, por sua vez, é um mito.
Elaborado pelo sociológico Antônio Carlos Sant’Ana Diegues, o mito moderno da 
natureza intocada, também chamado mito naturalista ou mito do mundo selvagem, 
corresponde a uma representação simbólica e ideológica das relações entre socie-
dade e natureza, no sentido de que existiriam áreas naturais intocadas ou intocáveis 
pelo ser humano.
Essas áreas apresentariam componentes originais, como se conservassem um estado 
purificado anterior ao aparecimento dos seres humanos. Desse modo, esse “mito su-
põe a incompatibilidade entre as ações de quaisquer grupos humanos e a conserva-
ção da natureza. O ser humano seria, desse modo, um destruidor do mundo natural 
e, portanto, deveria ser mantido separado das áreas naturais que necessitam de uma 
‘proteção total’” (DIEGUES, 2001, p. 60).
Em síntese, o mito moderno da natureza intocada mostra um conjunto de representa-
ções existentes entre setores importantes da conservação ambiental e traz uma ideia 
hipocêntrica da relação homem-natureza, na qual o mundo natural tem direito idêntico 
ao ser humano. Como consequência, os seres humanos não teriam o direito de dominar 
a natureza. Diegues (2001) ainda ressalta que esse mito tem raízes profundas nas gran-
des religiões, sobretudo a cristã, e está associado à ideia de paraíso perdido.
A concepção crítica da educação ambiental deve caminhar a pas-
sos largos para combater os extremos, encontrando um meio termo 
(KLOETZEL, 1998). Essa educação também deve estar comprometida 
com uma pegada ecológica responsável, a qual pode orientar novas 
ações para o futuro do planeta e dos seres humanos. Em essência, a 
educação ambiental deve ter pegada ecológica e ser crítica.
É preciso elaborar práticas que orientem o direito à cidadania e à 
justiça ambiental, isto é, à promoção de processos compatíveis com 
os modos de vida desenvolvidos na contemporaneidade. Para Kloetzel 
(1998), não basta ter simplesmente simpatia ecológica 3 ou considerar 
apenas fatores como crescimento econômico.
Conjunto de sentimentos, 
atitudes e comportamentos 
de preservação ambiental com 
suporte essencialmente moral.
3
158 Fundamentos de Geografia Física
Por fim, a educação ambiental é um processo que promove a atua-
ção no espaço público, na luta por direitos e por justiça ambiental. Ela 
busca a reflexão crítica de nossas próprias ações, ao mesmo tempo 
que nos resguarda de paradigmas naturalistas e radicais (KLOETZEL, 
1994; CARVALHO, 2003).
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Neste capítulo, abordamos a crise ambiental, os modelos de desenvol-
vimento e os processos de planejamento, gestão e educação ambiental. 
Nosso interesse foi trazer um olhar que ultrapassasse as concepções na-
turalistas, já que nossa estratégia é munir você com ferramentas essen-
ciais, para continuar sua jornada dentro do curso com a consciência de 
seus campos de trabalho, das legislações e das possibilidades de análise.
Nesse processo, discutimos sobre o que são projetos de futuro. Desse 
modo, perguntamos: quais são seus projetos para o futuro, dentro e fora 
da geografia? A ideia de futuro que propomos não é que todos nós volte-
mos a ser hominídeos, vivendo sob a dependência natural. Pelo contrário, 
podemos olhar, ouvir e aprender com a nossa diversidade cultural, imagi-
nando e exercitando outras formas de relação e civilização.
Essa tarefa consiste em construir um outro sentido de ser, de estar e 
de existir como ser humano e relacionar-se com a natureza. Desejamos 
que a vida seja a principal energia de mudança global, não descartável e 
desigual, como querem os agentes hegemônicos do capitalismo.
ATIVIDADES
1. Como você pode atribuir o papel da Geografia Física ao contexto das 
mudanças globais? Justifique sua resposta.
2. Com suas palavras, explique a origem e os fatores da crise ambiental-
civilizatória.
3. O que você pode considerar em uma ação de planejamento e gestão 
ambiental? Comente.
4. Qual é o seu posicionamento no contexto dos princípios para uma 
educação ambiental crítica? Justifique sua resposta.
5. Como você avalia sua possibilidade de atuação futura, considerando 
as políticas ambientais do Brasil? Comente.
Mudanças globais 159
REFERÊNCIAS
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,Saneamento%20b%C3%A1sico%20%C3%A9%20o%20maior%20problema,Brasil%2C%20
diz%20especialista%20da%20UnB&text=Bras%C3%ADlia%20%2D%20A%20falta%20
de%20saneamento,para%20a%20obten%C3%A7%C3%A3o%20de%20energia. Acesso: 11 
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http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-06-20/saneamento-basico-e-maior-problema-ambiental-do-brasil-diz-especialista-da-unb#:~:text=Pesquisa%20e%20Inova%C3%A7%C3%A3o-,Saneamento%20b%C3%A1sico%20%C3%A9%20o%20maior%20problema,Brasil%2C%20diz%20especialista%20da%20UnB&text=Bras%C3%ADlia%20%2D%20A%20falta%20de%20saneamento,para%20a%20obten%C3%A7%C3%A3o%20de%20energia
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-06-20/saneamento-basico-e-maior-problema-ambiental-do-brasil-diz-especialista-da-unb#:~:text=Pesquisa%20e%20Inova%C3%A7%C3%A3o-,Saneamento%20b%C3%A1sico%20%C3%A9%20o%20maior%20problema,Brasil%2C%20diz%20especialista%20da%20UnB&text=Bras%C3%ADlia%20%2D%20A%20falta%20de%20saneamento,para%20a%20obten%C3%A7%C3%A3o%20de%20energia
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-06-20/saneamento-basico-e-maior-problema-ambiental-do-brasil-diz-especialista-da-unb#:~:text=Pesquisa%20e%20Inova%C3%A7%C3%A3o-,Saneamento%20b%C3%A1sico%20%C3%A9%20o%20maior%20problema,Brasil%2C%20diz%20especialista%20da%20UnB&text=Bras%C3%ADlia%20%2D%20A%20falta%20de%20saneamento,para%20a%20obten%C3%A7%C3%A3o%20de%20energia
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http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-06-20/saneamento-basico-e-maior-problema-ambiental-do-brasil-diz-especialista-da-unb#:~:text=Pesquisa%20e%20Inova%C3%A7%C3%A3o-,Saneamento%20b%C3%A1sico%20%C3%A9%20o%20maior%20problema,Brasil%2C%20diz%20especialista%20da%20UnB&text=Bras%C3%ADlia%20%2D%20A%20falta%20de%20saneamento,para%20a%20obten%C3%A7%C3%A3o%20de%20energia
160 Fundamentos de Geografia Física
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Estadual Paulista, Presidente Prudente.
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“espacialização” e “pesquisa universitária”.  Cadernos Geográficos, Florianópolis, n. 5, p. 
7-48, 2003. Disponível em: https://cadernosgeograficos.paginas.ufsc.br/files/2016/02/
Cadernos-Geogr%C3%A1ficos-UFSC-N%C2%BA-05-A-Quest%C3%A3o-Ambiental-na-
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MCTI. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São José dos Campos, SP, 2012. Disponível 
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VESENTINI, J. Geografia, natureza e sociedade. São Paulo: Contexto, 1997. (Coleção 
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Gabarito 161
GABARITO 
1 Introdução à Geografia Física
Nessas atividades, você deve contemplar, por meio dos seis pontos 
indicados, o sentido aplicado e autônomo do conhecimento adquirido 
durante o Capítulo 1. Você tem a oportunidade de refletir, ativar 
e operacionalizar os princípios da análise geográfica por meio 
da Geografia Física. Esses exercícios também deverão ajudá-lo a 
construir um conhecimento próprio, auxiliando em seu rendimento, 
não exclusivamente nesta disciplina, mas no curso como um todo, 
principalmente nas possibilidades de atuação como profissional 
futuramente.
2 O Planeta Terra
1. A Radiação de Fundo e o ciclo de vida de uma estrela têm relação com 
a teoria do Big Bang na medida em que a morte de uma estrela origina 
os primeiros elementos químicos e libera uma grande quantidade 
de energia eletromagnética (radiação), sendo esta mensurada em 
anos-luz.
2. Podemos considerar muitos eventos importantes para formação da 
Terra. Aqui, separamos os seguintes: 1) éon Hadeano: quando a Terra 
era formada por magma; 2) éon Arqueano ou Arcaico: momento de 
solidificação do magma, origem de uma primeira crosta terrestre 
e surgimento das primeiras formas de vida (unicelulares); 3) éon 
Proterozoico: quando a Terra apresentava superfícies continentais 
e oceânicas, com uma atmosfera já enriquecida com oxigênio, e 
complexificação das formas de vida; 4) éon Fanerozoico (com a 
diversificação da vida, como fungos, plantas e animais). Há também 
as eras Paleozoica: constituição do continente Pangeia e do oceano 
Pantalassa; Mesozoica: com domínio e extinção de dinossauros; 
Cenozoica: com a diversificação de mamíferos e, dentro dela, o período 
Quaternário (da Terra atual). Por fim, temos a época do Holoceno, com 
a origem do ser humano, o homo sapiens.
3. As implicações da origem e da evolução das formas de vida na Terra 
podem ser descritas do seguinte modo: sem a vida, o planeta estaria 
hoje semelhante ao éon Arqueano (4 a 2,5 bilhões de anos AP). 
Graças à presença das primeiras bactérias, a litosfera, a hidrosfera e 
162 Fundamentos de Geografia Física
a atmosfera foram transformadas; com isso, surgem condições ideais 
para a geração de outras formas de vida.
4. A análise das dinâmicas da natureza com base na Geografia Física 
pode ser realizada pela articulação de escalas do tempo geológico e 
histórico, com foco nas transformações locais, regionais e globais da 
paisagem.
3 A superfície terrestre
1. A dinâmica da Terra e a origem das grandes cadeias de montanhas, 
das dorsais oceânicas, dos vulcões e dos terremotos ocorre devido aos 
movimentos tectônicos. Há, atualmente, 12 placas, e seus movimentos 
(divergentes, convergentes e transformantes) são os processos que 
desenvolvem esses fenômenos.
2. A Teoria da Deriva Continental pressupõe argumentos que envolvem 
similaridades atuais de um passado comum aos continentes e oceanos 
em termos geológico, paleontológico, paleoclimático e morfológico. 
A Pangeia foi, no tempo geológico, o grande continente que sofreu 
paulatinamente a fragmentação que deu origem à formação do planeta 
no estágio atual (Quaternário), com cinco continentes e três oceanos.
3. Os fatores que podem ser utilizados nos estudos e levantamentos 
pedológicos são o tempo, a rocha, o clima, o relevo e os organismos 
vivos, incluindo-se ainda as atividades humanas de transformação da 
paisagem.
4. Podemos explicar a origem, a transformação e a destruição da litosfera 
com base na abordagem sistêmica utilizando os processos de troca 
de matéria e energia observados no ciclo das rochas. Nesse caso, o 
ciclo pode ser iniciado com as rochas magmáticas ou ígneas, quando o 
magma é exposto ao ambiente externo (lava) e sofre resfriamento, ou 
quando elas são soerguidas por movimentos tectônicos. Submetidas 
a alterações de temperatura e pressão, essas rochas podem ser 
transformadas em sedimentares (com atuação de intemperismo, 
erosão e sedimentação) ou metamórficas (quando são empurradas 
de volta ao interior da Terra). O mesmo processo pode acontecer 
com rochas metamórficas transformando-se em sedimentares, e com 
sedimentares em metamórficas. O ciclo se fecha quando essas rochas 
são transformadas em magma por fusão.
Gabarito 163
4 A atmosfera e a hidrosfera da Terra
1. Basicamente, a radiação solar interage com a superfície da Terra e 
com todos os sistemas naturais. Os principais fatores de organização 
dessa distribuição obedecem aos movimentos astronômicos, à 
latitude do lugar e à dinâmica dos fluidos ar e água na transferência 
de calor. Na atmosfera, o movimento é realizado pelos ventos dentro 
da sua circulação geral; nos oceanos, pelas correntes oceânicas e 
termoalina.
2. Além dos oceanos ocuparem 70% da superfície terrestre, sua massa e 
capacidade calorífica são maiores que a atmosfera. Sendo assim, como 
esta é aquecida por baixo, os oceanos são a condição de contorno 
mais importante para o clima da Terra e sua dinâmica acontece de 
modo integrada aos movimentos do ar.
3. Os estudos da criosfera são desenvolvidos no escopo da glaciologia e 
atendem a uma perspectiva interdisciplinar. Na Geografia Física, ela é 
importante para entender os paleoclimas (história natural) e também 
as alterações antropogênicas. A criosfera, além disso, é um importante 
regulador do clima.
4. O ciclo da água é o principal mecanismo que explica a dinâmica 
interna do sistema terrestre. Sua distribuição depende de fatores 
globais e locais e pode ser reconhecida pela presença de precipitação, 
evaporação, fontes hídricas etc. A dinâmica da água auxilia nos 
processos de formação de relevo, solo e é uma das principais 
substâncias da vida.
5. A resposta é livre, mas é importante que você identifique pelo menos um 
rio importante da região onde você está. Determine, então, atributos 
físicos para sua caracterização, iniciando pela bacia hidrográfica a qual 
ele pertence, por exemplo.
5 A biosfera terrestre
1. Trata-se de um paradoxo. Se não fosse a origem da vida – por bactérias 
e algas –, nosso planeta não seria transformado; a dinâmica seria 
semelhante à do Éon Arqueano e, por isso, outras formas de vida não 
poderiam existir. O fenômeno da vida possibilitou a alteração de todo 
sistema, deixando-o preparado para a geração de outras formas de 
vida – como a nossa.
164 Fundamentos de Geografia Física
2. A dinâmica natural do território brasileiro pode ser explicada 
basicamente pelo domínio de climas tropicais, diferenciados pelos 
aspectos de relevo e de extensão territorial. O resultado são biomas 
e domínios morfoclimáticos que resultam em uma grande diversidade 
de ecossistemas e paisagens.
3. As variações climáticas no Pleistoceno, no Período Quaternário, foram 
cruciais para formação atual dos domínios morfoclimáticos.
4. Para uma análise biogeográfica, podemos utilizar critérios taxonômicos 
com base na similaridade e diferença de espécies e sua posterior 
regionalização (por meio da endemicidade e do grau de parentesco), 
na classificação entre fauna e flora (divisão entre fitogeografia e 
zoogeografia) e na história natural (com aportes da paleontologia, 
biologia, climatologia etc.)
5. Resposta livre. Para respondê-la, você deve eleger um problema 
ambiental e elaborar uma breve resolução com base nos princípios da 
biogeografia.
6 Mudanças globais
1. A Geografia Física pode atuar nas mudanças incorporadas no 
conhecimento e no sistema produtivo com base na modernidade e na 
consolidação do capitalismo.
2. Para responder à questão, você deve mencionar os limites do capital, 
que incorporam limites populacionais, econômicos, ecológicos e da 
riqueza, por exemplo. Em grande parte, todos esses limites apontam 
para a dimensão material da escassez.
3. Podemos considerar a gestão como uma ação presente e o 
planejamento, uma ação futura em diferentes prazos (curto, médio 
e longo) e em múltiplas dimensões (energia, produção, direito,entre 
outros).
4. Resposta pessoal. Para responder à questão, você deve se posicionar 
com base no quadro que contempla os princípios da educação 
ambiental. Esperamos que a atuação seja crítica, para além das 
concepções naturalista da crise ambiental.
5. Resposta pessoal. Esperamos que sua atuação seja crítica, para além 
das concepções naturalista da crise ambiental e que haja a integração 
com comunidades locais e tradicionais no interior do processo de 
desenvolvimento.
Código Logístico
59831
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-4650-8
9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 0 5 4

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