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FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA APLICADA À PSICOPEDAGOGIA AULA 1 Prof.ª Izabela de Gracia Yabe 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, será trabalhada a psicopatologia e a sua relação com a psicopedagogia. Os estudos serão iniciados com a apresentação e a fundamentação da importância da psicopatologia para a compreensão do sofrimento psíquico. Dessa maneira, trata-se de uma disciplina que visa ao entendimento da psicopatologia atrelada à psicopedagogia, de modo que seja possível verificar a real importância dessas duas áreas na sua formação. TEMA 1 – HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA Para a compreensão da psicopatologia, desde o seu início, faz-se necessária uma retomada de episódios históricos que não estão diretamente relacionados à psicopatologia, mas sim à origem das ciências. Dessa maneira, tem-se a medicina, a qual, na compreensão de ciência, é uma área independente; ou seja, trata-se de um campo que começou em si mesmo, desenvolveu-se e gerou outras ciências. O principal fundador da medicina, conhecido como o “pai da Medicina” e maior médico da Antiguidade, foi Hipócrates. O conceito apresentado por Hipócrates, relacionado à ciência médica, era que um sujeito sofria de influências externas. Assim, alguma coisa que estava fora do sujeito produzia reações em seu corpo, de forma interna. Essas reações culminavam em desequilíbrio, surgindo o que conhecemos por doença. Buscando explicar algumas dessas doenças, Hipócrates apegou-se à ideia de que o sujeito possui dentro de si um organismo que vive em equilíbrio, dependendo de alguns líquidos. Diante dessa evidência, surgiu, então, a Teoria Humoral, isto é, o estudo que contempla a importância do equilíbrio dos líquidos dentro do indivíduo. O principal desses líquidos é o sangue. Assim, é possível considerar que um “sujeito sanguíneo” é aquele que possui a permanência e a prevalência do equilíbrio do sangue que o controla. A definição de Hipócrates foi responsável por basear a então chamada Teoria de Galeno, do proeminente médico e filósofo romano Cláudio Galeno, que aplicou conceitos estabelecidos por Hipócrates no estudo da psique. A partir do momento que Galeno fez uso dos conceitos apresentados por Hipócrates e aplicou-os em novas pesquisas com o objetivo de compreender o funcionamento psíquico do ser humano, ele atrelou as informações advindas da Teoria Humoral 3 à condição de ambiente, fazendo surgir, então, o que atualmente se denomina de intervenção externa, também compreendida como “clima”. Segundo os estudos de Galeno, o clima interfere diretamente no humor de uma pessoa; logo, o comportamento dessa pessoa pode ser alterado em virtude do clima. Por isso, em períodos caracterizados por temperaturas mais altas, as pessoas costumam ficar mais agitadas e, em temperaturas mais baixas, mais compelidas. Essas características foram apontadas por Galeno para explicar o comportamento de determinada pessoa. Todavia, esse comportamento foi modificando durante o passar do tempo, até chegar ao século XVIII, quando surgem alguns nomes que vão, com base nessa ideia trazida pela medicina, compreender não o corpo como estrutura, mas sim seu jeito na composição do comportamento psíquico. Dentre esses nomes, o primeiro a se destacar foi Philippe Pinel, o pioneiro no tratamento de doentes mentais e um dos precursores da psiquiatria moderna. Pinel foi o primeiro homem que, segundo a tradição médica, recebeu o título de “pai da psiquiatria”, sendo responsável por compreender como ocorre a transição do funcionamento mental no sujeito; ou seja, sua desorganização. Essa desorganização mental é que ele percebeu em doentes que estavam internados em um hospital chamado Hospital Geral. Por “Hospital Geral” é possível entender como sendo o local onde, até a época de Pinel, eram colocadas todas as pessoas adoecidas, tanto as com doenças aparentes quanto as com aquelas que não eram evidentes. Desde Hipócrates, passando por Galeno, pela Idade Média, e, finalmente, chegando a Pinel, apresentava-se um conceito muito forte de que doença é tudo aquilo que pode ser observado. Por exemplo: uma ferida, um tumor, um corte, uma fratura, etc. A doença metal não era entendida como doença porque não apresenta nenhuma aparência de lesão corpórea. Isso significa, então, que Pinel estava dentro dos hospitais gerais trabalhando com pessoas que possuíam um diagnóstico de doença, mas que, aparentemente, não expunham nenhuma alteração. Essa foi a razão pela qual Pinel começou a desenvolver um trabalho para explicar e detalhar o motivo que configurava o atendimento desses indivíduos. Na própria Teoria de Pinel, ele fez o que é atualmente conhecido como “tratamento moral”, que nada mais é do que a busca por tentar inserir essas 4 pessoas de volta ao contexto social. É preciso destacar, com base nesse apanhado, que elas foram deixadas nos hospitais gerais, muitas das vezes, por terem comportamentos não aceitos pela sociedade. Como exemplos, podem ser citados os mendigos, as prostitutas, as pessoas que tinham problemas com a justiça, etc. Pinel passou a trabalhar com esses indivíduos de forma a compreender qual era o verdadeiro motivo de estarem naquele hospital. Nesse contexto, surge, então, a busca pelo conhecimento das alterações da psique. É preciso reforçar, portanto, que Pinel é conhecido como o precursor da psicopatologia. A segunda figura emblemática da temática da psicopatologia foi Jean- Étienne Esquirol. Ele é considerado um marco na fundação do pensamento psicopatológico. Além disso, sua abordagem médico-científica sistematizou a doença mental, e a loucura passou a ser aceita como doença pela medicina. Esquirol era um discípulo de Pinel e, com base nos estudos de seu mestre, desenvolveu uma pesquisa denominada de Conceito Nosológico, que nada mais é do que a descrição da doença com seus sinais e sintomas. Dessa forma, ficou considerado como um dos pais da psicopatologia, pois, ao sistematizar, ele apresentou uma maneira de compreender o transtorno mental. O médico encarregado no tratamento das doenças psíquicas era chamado de alienista. TEMA 2 – CONCEITUANDO E DEFININDO A PSICOPATOLOGIA Como ciência, a psicopatologia tem uma área de atuação, mas também uma origem. Dessa maneira, a psicopatologia trabalha com o ponto base que é chamado de “psique” (alma ou mente). É de conhecimento notório que todo o ser humano possui um cérebro, o qual configura-se como a composição do sistema nervoso que, organizado, é responsável por cuidar de todo o corpo. Além disso, sabe-se que o cérebro está acoplado dentro da caixa craniana. Todavia, quando se fala em “funcionamento cerebral”, é preciso salientar dois aspectos: modelo operacional (coordena o organismo) e a mente (pensar, entender e compreender). Quando a psicopatologia reflete sobre a psique, ela considera exatamente isso, ou seja, essa área que não é física, ou demarcada em determinada região do crânio ou do encéfalo. Dessa maneira, é possível compreender pela psicopatologia que, embora a psique esteja relacionada ao cérebro, seu funcionamento não tátil. Porém, é o que dá natureza ao homem e diz quem ele é. 5 Deve-se considerar, também, a definição de “pathos” (paixão, sofrimento ou doença). Essa palavra apresenta um entendimento de que existe uma alteração que pode ser retratada por um desequilíbrio. Quando se fala em doença, inclusive, remete-se ao desequilíbrio. É por isso que existe um sistema chamado de homeostático, que consiste no equilíbrio do organismo para que ele funcione de forma correta. Assim, a doença é a alteração do organismo, aquilo que desequilibra o sujeito. E, ainda, deve-se considerar o termo “logo” (lógica ou conhecimento). Um dos preceitos de toda e qualquer ciência é a sua necessidade de pesquisa. A psicopatologia éuma ciência que procura conhecer alguma coisa. Sendo assim, é possível compreender que a psicopatologia é o estudo das doenças da psique. Ou seja, aquilo que produz um desconforto, uma desorganização, um desequilíbrio naquele que organiza todo o sujeito (a mente). Cabe à psicopatologia estudar, então, os estados mentais patológicos, quanto à manifestação de comportamentos e experiências que possam indicar um estado mental ou psicológico anormal. Mediante a definição de um nome para a ação, está se dizendo como está a sua composição. Porém, diante do seu conceito, está se apresentando a atuação da psicopatologia. Como é possível a evidenciação, a psicopatologia trabalha com as alterações da mente humana; as alterações que interferem no funcionamento do sujeito, naquilo que recebe o nome de “estado de desorganização”. A psicopatologia está diretamente ligada à compreensão das razões que levaram o sujeito a não se apresentar dentro de um considerado “estado normal”; ou seja, a condição deste sujeito viver bem. Ela só trabalha com funcionamentos anormais. Assim, o funcionamento normal cabe às outras ciências. As alterações anormais produzem o desequilíbrio no ambiente do sujeito. O desequilíbrio pode ser caracterizado pelas seguintes situações de uma pessoa: não saber se relacionar, dar respostas, operacionalizar dada informação que ela já deveria estar sabendo ou poderia aprender, mas não consegue. O desafio do profissional da psicopatologia é identificar o que se apresenta de anormal e como trabalhar de maneira que se constitua dentro da normalidade. TEMA 3 – APLICAÇÕES DA PSICOPATOLOGIA A psicopatologia apresenta um campo muito extenso de atuação, encaixando-se em diversas áreas de conhecimento, pois trabalha com o 6 funcionamento da psique. Isso porque “o sujeito está operante em algum lugar”, ou seja, ele age, ele trabalha, ele se relaciona, etc. Assim, esse ambiente diz respeito sobre onde a pessoa está e como ela se relaciona. Não consiste em simplesmente dizer “vamos pensar em psicopatologia de laboratório”, porque o laboratório é apenas uma das áreas que pode ser utilizada para o trabalho com os conceitos de psicopatologia. Tem-se, dessa maneira, também, o ambiente social, educacional, familiar, múltiplos e, principalmente, o estado denominado de só. O “estado só” configura- se com a relação que o sujeito tem com ele mesmo. Assim, ele estabelece uma ambientação com seus próprios traços, seus procedimentos, sua autocitação, seu trabalho mental para se compreender e se realizar como pessoa. Dentro dessa mesma condição, tem-se a categorização de suas áreas, a qual permite uma melhor compreensão do fenômeno psicopatológico. As categorias da psicopatologia são muitas. Uma delas, que pode ser facilmente citada, refere-se à psicopatologia descritiva. Nessa configuração de psicopatologia, o importante, para o profissional que atua com ela, é a apresentação do fenômeno de alteração. Sendo assim, é preciso descrevê-lo, trazendo à tona como ele acontece. Aquele que for ler acerca do fenômeno psicopatológico poderá, portanto, compreender o seu início, meio e fim. Mais um exemplo pode ser trazido com a psicopatologia cognitiva. Este outro campo da psicopatologia se configura pelo interesse no funcionamento da cognição (inteligência) nas doenças, nas patologias, que afetam diretamente o processo mental de compreender. Tem-se, também, a psicopatologia biológica, a qual está interessada em descobrir como o organismo, com suas partes e células, se processa em função do bem-estar humano (saúde). Assim, quando se volta o olhar para a psicopatologia, é nítida a ideia de que ela se aplica em vários campos, os quais contemplam maneiras distintas de considerar e entender o “fenômeno psicopatológico”. As áreas de atuação da psicopatologia se referem, então: à saúde, à educação e ao comportamento. 3.1 Saúde A psicopatologia na saúde contempla a ideia de um complexo bem-estar que envolve o físico do sujeito. O conceito de bem-estar, inclusive, veio por meio da Organização Mundial da Saúde (OMS). Quando se trabalha com a saúde relacionada à psicopatologia, são consideradas as alterações psíquicas que 7 interferem diretamente na forma como o sujeito vive, ou seja, em seu bem-estar. Por isso que, quando um profissional descreve alguma psicopatologia, tal como uma esquizofrenia, apresenta-se uma doença psicopatológica que atrapalha o funcionamento do sujeito, que passa a ser entendido como um incapaz em muitas áreas de abordagem. A saúde dele, diante disso, torna-se um elemento muito importante, o qual não deve ser desconsiderado. Outra descrição interessante, considerando esse conceito de saúde, refere-se aos transtornos do neurodesenvolvimento. Entre os transtornos do neurodesenvolvimento, é possível destacar o transtorno do aspecto do autismo, o qual é considerado, também, uma síndrome, uma patologia. Trata-se de um transtorno que produz alterações na saúde do paciente que o apresenta. 3.2 Educação O conceito de educação refere-se à ação de aprender, considerando, ainda, o ambiente em que isso é proposto. A educação, dessa maneira, não pode se restringir apenas ao ambiente escolar, mas deve ser ampliada a todos os ambientes em que o sujeito está se relacionando, prática que desencadeia em aprendizagens, que podem acontecer, então, em casa, na escola, na igreja, etc. Assim, psicopatologia, na educação, está relacionada à compreensão dos processos psíquicos que envolvem as condições do sujeito junto ao seu processo de ensino-aprendizagem. Perceba que, aqui, não está sendo proposta uma reflexão acerca de como o indivíduo deve aprender, mas sim dos fatores que impendem a sua aprendizagem completa. 3.3 Comportamento O comportamento envolve a área do relacionamento do sujeito, seja ele externo ou interno. Por externo, pode-se entender como o sujeito se apresenta em um ambiente social (teatro social). Nesse caso, é importante o conhecimento de que a psicopatologia está inteiramente envolvida nos relacionamentos do sujeito para verificar quais são as alterações que existem, os comportamentos inadequados que se apresentam, as condições que não deveriam se fazer presentes e que o prejudicam em sua vivência com o outro. 8 No que tange à condição interna, ou seja, ao comportamento interno, é preciso considerar como que o sujeito pensa, o que ele pensa, quando ele pensa; o que ele sente, como ele sente; para que direção ele olha, como ele olha. Esse comportamento interno produz alterações muito importantes, como é o caso das pessoas que se encontram em um quadro de depressão. É comum em quadros de depressão grave, ou ainda considerada aguda (profunda), o indivíduo se retrair (não cuidar mais do seu corpo, se isolar, não ter mais esperança em nada). Trata-se, então, de um comportamento interno em que o sujeito tem uma direção que afeta diretamente aquilo que deveria ser um comportamento normal. Percebe-se, levando em consideração essas três grandes áreas, que a psicopatologia trabalha com o sujeito, que pode ter uma condição de saúde, de educação ou de comportamento alterada, o que se configura como objetos de estudo para os profissionais que analisam como essas alterações implicam condições desequilibradas da psique. TEMA 4 – CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS ÁREAS PARA A PSICOPATOLOGIA A psicopatologia não é uma ciência pura. O conceito de ciência pura concentra-se no entendimento de que se trata da ciência que parte de um ato introdutório. Consideram-se como base da ciência pura, atrelada à psicopatologia, duas ciências: a filosofia e a medicina. A filosofia, que se refere à ciência do pensar, de possibilitar uma nova maneira de enxergar o mundo, produz outra ciência, chamada de psicologia, isto é, a compreensão do ser humano. Já a medicina está interessada no organismo do ser humanopara a compreensão do conceito de saúde. Da medicina, surge uma próxima que recebe o nome de psiquiatria, a qual não se configura como ciência, mas sim como um ramo da medicina. A composição entre a psiquiatria da medicina e a psicologia que vem da filosofia produz um novo campo, a psicopatologia. Ela não é pura, pois requer a contribuição de outras ciências para formar suas percepções e seus fundamentos. Nessa mesma condição, sua origem está atrelada às brechas não explicadas pela medicina biológica. A medicina, como visto anteriormente, na época de Hipócrates e de Galeno, e também na Idade Média, apresentava uma visão apenas física, biológica (estrutural) do ser humano. Assim, o sujeito era tratado por sua aparência física. Se ele está íntegro, sem nenhuma sequela ou nenhum dano aparente, está bem. 9 Esse conceito da medicina precisou ser melhorado para que a psicopatologia contemplasse um estudo daquilo que não pode ser observado, ou seja, o transtorno mental. O transtorno mental só passa a ser compreendido quando está vinculado ao entendimento da história do sujeito. Por isso que a psicopatologia agora, ao se utilizar dessa brecha deixada pela medicina, inicia seus estudos com a filosofia. Dessa maneira, passou a considerar novas saídas para a compreensão do fenômeno. Assim, diante da psicologia, tem-se o entendimento total do homem. Psicopatologia é, então, a ciência que está interessada no fenômeno psicopatológico que é o funcionamento mental. Considere um exemplo para melhor entendimento: uma criança de seis anos, de repente, começa a brincar de faz de conta. Essa criança não pode ser considerada como louca, pois está dentro da fase lúdica. Sendo assim, é de fácil compreensão que se trata de uma transição histórica natural. O mesmo não se aplica a um homem de 40 anos brincado, também, de faz de conta, indicando animais ao seu redor, falando com eles, etc. Percebe-se que, neste caso, não se trata mais de uma fase de desenvolvimento, mas sim de uma alteração psicopatológica muito bem caracterizada por um delírio. Com base nessa compreensão da psicopatologia, é possível a identificação de algumas ciências que cooperam com ela, a constar: neurociência, neuropsicologia, psicologia e filosofia. 4.1 Neurociência A psicopedagogia necessita da neurociência como sua coirmã. Isso porque a neurociência é a ciência que estuda os neurônios (o funcionamento neurológico). Não confunda neurociência com neurologia, pois esta é uma das áreas da medicina. A neurociência envolve todos os campos que podem compreender, ou serem compreendidos, levando em consideração o funcionamento do cérebro. Se psicopedagogia é a alteração mental, logo, é fundamental saber como está o funcionamento do cérebro. 4.2 Neuropsicologia A neuropsicologia é a parte da psicologia cujo objetivo é compreender a atividade neurológica que afeta diretamente o comportamento do sujeito, ou seja, as áreas da tensão, das funções executivas, da memória, etc. Essas áreas 10 também podem sofrer alterações psicopatológicas, as quais, mediante ocorrência, atingem o funcionamento direto do sujeito. Cabe à psicopedagogia, juntamente com a neuropsicologia, entender como o indivíduo está se relacionando com suas atividades elementares para o reconhecimento de si mesmo. 4.3 Psicologia A psicologia é a ciência que trabalha com o reconhecimento do sujeito por ele mesmo; ou seja, é a condição do indivíduo em se ver e se perceber. Trata- se da busca pela compreensão de como a pessoa se enxerga. A psicopatologia vai verificar as alterações que podem ocorrer nesse processo. Por exemplo, considere a emoção: imagine uma pessoa que entra em um funeral dando gargalhadas. Esse comportamento inadequado é vinculado à emoção, estudada pela psicologia, porém, por se apresentar alterado, torna-se alvo da pesquisa da psicopatologia. 4.4 Filosofia A filosofia é contribuinte para todas as outras ciências, mas, no caso da psicopatologia, ela fomenta a curiosidade (capacidade de entender, achar, reconhecer, buscar explicação e compreender o fenômeno). Por esse motivo, a filosofia é tomada como uma das bases fundamentais para a compreensão do fenômeno psicopatológico. TEMA 5 – RELAÇÕES ENTRE PSICOPATOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA A contribuição da psicopatologia para a psicopedagogia é fornecer uma estrutura ferramental e conceitual para a compreensão dos fenômenos. Todas as vezes em que se menciona “fenômeno” faz-se necessária a compreensão de que se trata daquilo que pode ser observado, de uma maneira clara ou não. Considera-se como uma “maneira clara” aquilo que está diretamente relacionado ao indivíduo em questão. Por exemplo, considere que neste momento você observa um fenômeno, um flap, ou seja, um movimento que consiste em mover o antebraço e a mão para cima e para baixo. Nesse caso, trata-se de um fenômeno direto. Já um fenômeno indireto seria escutar que, de vez em quando, dada pessoa se sente 11 cansada. Perceba que você não está observando o cansaço da pessoa que o relata, mas a compreensão de cansaço, mediante relato, passa a ser um quesito a ser observado (Quando? Como? Onde se sente cansado?). Assim, quando o assunto fenômeno está sendo trabalho, é preciso considerar o fator direto e o fator indireto. Quando está relacionado, ainda, com a psicopatologia, o fenômeno psicopatológico em voga consiste na alteração da psique que pode ser observada de forma direta e indireta. A alteração da psique, a qual, a partir de agora, trataremos de transtorno mental, pode estar vinculada a diversos níveis e tipos, bem como abarcar várias condições. Dessa maneira, a psicopedagogia, relacionada à psicopatologia, é aquela que está atrelada ao desenvolvimento, ou ainda, ao trabalho pedagógico- psíquico; ou seja, é o funcionamento do cérebro em prol do aprender. Essa relação entre o cérebro que trabalha e o processo de aprendizagem pode sofrer falhas, apresentar erros, ou mesmo, nenhum artifício negativo. Porém, é nessa condição desigual que a psicopatologia vai atuar. Dessa maneira, psicopedagogia e psicopatologia estão diretamente focadas no fenômeno modificado; ou seja, na alteração do comportamento observável ou não observável do sujeito, que se configura como a sua condição de viver mental. As alterações podem corresponder a um funcionamento não convencional no organismo. Por isso, antes de o profissional promover uma distinção muito superficial sobre a psicopatologia e a psicopedagogia, é preciso lembrar que as duas estão correlacionadas ao fenômeno psicopatológico, que é uma alteração. Assim, a psicopatologia e a psicopedagogia, se relacionadas, vão trabalhar com os seguintes itens: clareza diagnóstica, procedimentos, compreensão geral e acompanhamento. 5.1 Clareza diagnóstica É a tentativa de se estabelecer focado no problema apresentado. A psicopatologia trabalha com sinais e sintomas. Sendo assim, ela indica que existe uma alteração que pode ser observada de diversas maneiras. A psicopedagogia, então munida dessa informação, vai caracterizar os eventos responsáveis por atrapalhar o processo de aprendizagem realizado. A alteração se mostra clara porque foi originada de uma análise sucinta do fenômeno, o qual é considerado psicopatológico. 12 5.2 Procedimentos Vivemos em uma sociedade que trabalha com muitos rótulos. Infelizmente, as pessoas preferem utilizar estes rótulos do que compreender como tal fato está ocorrendo. Por exemplo, o rótulo do autismo, muito utilizado no meio social para indicar a falta de interação de algumas crianças, não diz nada, até porque, a maioria das pessoas não sabe o real significado desse diagnóstico. Cabe à psicopatologia explicar este fenômeno. Mediante o correto entendimento do termo utilizado e da adoção de práticas corretas de interação, constitui-se o procedimento.Ganha-se, com isso, a capacidade de saber que existem algumas coisas que podem ser feitas no dia a dia e outras que não devem ser utilizadas. O objetivo do psicopedagogo, diante de todo e qualquer diagnóstico que influencie no processo de ensino-aprendizagem, é promover ferramentas que fomentem o interesse e a facilitação da retomada desse processo para com o sujeito-paciente. A psicopatologia vai identificar o erro para que a psicopedagogia facilite a vida do sujeito, fazendo com que ele ganhe qualidade. 5.3 Compreensão geral Muitas vezes, o ser humano se interessa por assuntos apenas pontuais, os quais podem ser dissipados em ambientes muito grandes. Se jogarmos, por exemplo, uma pedra em um lago, será evidenciado o fenômeno de ondas. Entretanto, se isso for feito com algum elemento minúsculo dentro deste mesmo lago, tal qual uma formiga, o impacto dessas ondas será gigantesco para este ser. A compreensão pontual seria de que a pedra bateu no meio do lago e gerou ondas. A compreensão geral estaria relacionada a diversas outras perguntas como: para onde essas ondas vão? O que elas vão ocasionar? Elas vão mexer com quem? Quando o profissional da psicopatologia trabalha juntamente com a psicopedagogia, é evidenciada ao psicopedagogo a importância que deve ser dada em olhar e compreender o todo, ou seja, aquilo que se apresenta bem mais longe do que aquele ponto, evidenciado, talvez, apenas por uma alteração. 13 5.4 Acompanhamento Consiste na ação de estar junto, ou seja, manter a compreensão, tempo a tempo, de como está o sujeito e a sua evolução diante do quadro considerado. Como psicopedagogo, o que é feito, então, é o acompanhamento; ou seja, o desenvolvimento do sujeito passa a ser o objeto de estudo também. Porém, com o auxílio da psicopedagogia, será possível compreender, ainda, se o fenômeno que foi apresentado está regredindo ou está se agravando, o que vai prover os planos e as ações necessárias para cada caso. NA PRÁTICA Muitos fenômenos que ocorrem na sala de aula são a queixa dos pais e professores em relação ao desempenho de alunos. Esses fenômenos podem ter sua origem na estrutura ambiental. Todavia, muitos deles são de outra origem – pode-se dizer que são psíquicos. Outros têm sua origem em estruturas herdadas. A psicopatologia vai ajudar o psicopedagogo a compreender esses fenômenos. FINALIZANDO Chegamos ao final da aula certos de termos visualizado a psicopatologia como uma área importante para o trabalho do psicopedagogo. Foi possível prover as informações necessárias para o entendimento acerca da origem da psicopatologia, sua forma conceitual, suas áreas de atuação, as ciências que contribuíram para sua estrutura e sua aplicação na psicopedagogia. A psicopatologia é uma ciência que trabalha em conjunto com as outras com o objetivo de qualificar a vida do sujeito. 14 REFERÊNCIAS DALGALARRONDO, P. Psicopatologia semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. SONENREICH, C.; ESTEVÃO, G.; SILVA FILHO, L. M. A. Notas sobre psicopatologia. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fund., II, 3, p. 124-145. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlpf/v2n3/1415-4714-rlpf-2-3- 0124.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2019.