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COMPREENDENDO A DEFICIÊNCIA VISUAL A DEFICIÊNCIA VISUAL ATRAVÉS DOS TEMPOS SISTEMA E FUNÇÃO VISUAL - CONCEITUANDO A DEFICIÊNCIA VISUAL CONCEITUANDO A DEFICIÊNCIA VISUAL PREVENÇÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL NA INFÂNCIA DESENVOLVIMENTO VISUAL E APRENDIZAGEM METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO CLÍNICO- FUNCIONAL DA VISÃO ADAPTAÇÃO DE RECURSOS ÓPTICOS ESPECÍFADAPTAÇÃO DE RECURSOS ÓPTICOS ESPECÍFICOSICOS A EDUCAÇÃO INFANTIL - EDUCAÇÃO PRECOCE O PROCESSO DE INCLUSÃO EM CRECHES TRABALHANDO JUNTOS: FAMÍLIA – ESCOLA – COMUNIDADE PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO VISUAL NA FAIXA ETÁRIA DE ZERO A TRÊS ANOS PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PRECOCE NA ABORDAGEM PEDAGÓGICA Educação Infantil Pré - Escola EDUCAÇÃO INFANTIL E DEFICIÊNCIA VISUAL PROPOSTA PEDAGÓGICA E CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL ADAPTAÇÃO CURRICULAR ÀS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS DIAGNÓSTICO E IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NECESSIDADES ESPECÍFICAS DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA O PROCESSO DE INCLUSÃO NA PRÉ-ESCOLA A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL Fase Inicial para a Alfabetização Fundamentos Essenciais para a Escrita do Sistema Braille A Leitura Braile Fundamentos Essenciais para a Leitura do Sistema Braille Alfabetização do Aluno com Baixa Visão Posicionamento do Aluno em Sala de Aula Adaptação de Materiais Recursos Didáticos Aplicados na Educação dos Alunos com Deficiência Visual Recursos Didáticos Facilitadores Objetivos da Alfabetização A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO REGULAR Seriação e Currículo da Educação Básica A Classe Comum e o Papel do Professor Orientação ao Professor do Ensino Regular Sala de Recursos e o Papel do Professor Ensino Itinerante e o Papel do Professor Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual - CAP Classe Especial e o Papel do Professor A QUESTÃO DO ENSINO SUPERIOR Alunos com Deficiência Visual no Ensino Superior ESCOLA OU CENTRO DE ENSINO ESPECIAL ADAPTAÇÕES CURRICULARES PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Medidas de Adaptações Educativas Documento de Registro das Adaptações Curriculares Atividades Físicas Adaptadas Aluno com Deficiência Visual A COMUNICAÇÃO E RELAÇÃO INTERPESSOAL MATEMÁTICA PARA ALUNOS com DEFICIÊNCIA VISUAL O Domínio do Sistema Braille O Sorobã ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA Programa Básico de Atendimento em AVD AVALIAÇÃO ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE (OM) Aspectos Curriculares para o Desenvolvimento do Programa de Orientação e Mobilidade ORIENTAÇÕES PRÁTICAS DE ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE PARA O PROFESSOR DA CLASSE COMUM E O ALUNO com DEFICIÊNCIA VISUAL ESCRITA CURSIVA Referências COMPREENDENDO A DEFICIÊNCIA VISUAL Prezado Professor Compreendendo a Deficiência Visual é um texto de apoio a professores e profissionais que trabalham com crianças cegas e de baixa visão. Discute formas de prevenção, aspectos de anatomia, fisiologia e função visual necessários à compreensão do desempenho visual do aluno. Traz informações sobre os métodos mais modernos de avaliação das funções visuais, dos recursos ópticos especiais, da alta tecnologia, das estratégias pedagógicas, dos recursos didáticos e, ainda, propicia orientação ao professor do ensino comum. OBJETIVO GERAL Capacitar o professor de educação infantil, ensino fundamental e médio para a identificação, diagnóstico, encaminhamento e educação de alunos com deficiência visual. OBJETIVOS ESPECÍFICOS O professor atuará no sentido de: ● identificar os sinais, sintomas e conduta do aluno com deficiência visual, encaminhando-o para os serviços complementares; ● articular as ações dos serviços de saúde, educação e assistência social para obtenção dos recursos ópticos especiais necessários à aprendizagem da leitura-escrita; ● sensibilizar a comunidade para a problemática da deficiência visual, formas de prevenção, atendimento e inclusão social do aluno; ● informar quanto aos recursos especiais, metodologia e estratégias pedagógicas que facilitam o processo ensino-aprendizagem. A DEFICIÊNCIA VISUAL ATRAVÉS DOS TEMPOS Conceito Histórico-Social A história da deficiência visual na humanidade é comum a todos os tipos de deficiências. Os conceitos foram evoluindo conforme as crenças, valores culturais, concepção de homem e transformações sociais que ocorreram nos diferentes momentos históricos. Assim sendo, na antiguidade as pessoas com deficiência mental, física e sensorial eram apresentadas como aleijadas, mal constituídas, débeis, anormais ou deformadas. Percebidos como degeneração da raça humana no período em que predominava o princípio da eugenia, essas pessoas eram abandonadas ou eliminadas. As obras de Platão e Sêneca refletem as práticas helênicas e gregas que retratam essa concepção. Na Idade Média, com o apogeu do Cristianismo, elas passam a ser alvo de proteção, caridade e compaixão. Ao mesmo tempo, justifica-se a deficiência pela expiação de pecados ou como passaporte indispensável ao reino dos céus. Surgem assim, as primeiras instituições asilares com encargo de dar assistência e proteção às pessoas deficientes. Na Idade Moderna, a filosofia Humanista começa a dar conta dos problemas relacionados ao homem, tendo por base a evolução das ciências. O conhecimento científico assegura as tentativas da educação de pessoas deficientes sob o enfoque da patologia. Na Idade Contemporânea, os ideais da Revolução Francesa – igualdade, liberdade e fraternidade – se expandem na construção de uma consciência social e movimentos mundiais evocam direitos e deveres do homem, assegurando às minorias o exercício da cidadania no jogo democrático. Transformações político-sócio-culturais se processam deixando vir à tona formas diferenciadas de ser ou de vir a ser. Nessa historicidade, destacaram-se pessoas cegas com suas expressivas contribuições nas diferentes áreas do conhecimento, revelando o ilimitado potencial humano de pessoas como: ● Homero – para alguns figura lendária – teria sido o responsável pelo registro de fatos sociais que possibilitaram o levantamento da história de um povo. ● Didymus de Alexandria, Séc. IV d.C., professor de Filosofia, Teologia, Geometria e Astrologia. ● Nicholas Saunderson (1682-1739) um dos mais renomados cientistas cegos. Matemático, foi professor de Cambridge e membro da Royal Society. ● John Gough, biólogo inglês, especialista na classificação de animais e plantas. ● Leonardo Euler, matemático, duas vezes premiado pela Academia de Ciências de Paris. ● François Huber, zoólogo inglês, Séc. XVIII, tido como a maior autoridade sobre o comportamento das abelhas. É interessante apontar que as antigas concepções sobre a deficiência permearam todos os períodos históricos e ainda se refletem neste final de milênio. Somos constantemente surpreendidos pela percepção de que a deficiência é uma herança maldita, possessão de espíritos, doença incurável, incapacidade generalizada, objeto de maldição ou obra do divino. A Educação As preocupações de cunho educacional em relação às pessoas cegas, surgiram no Séc. XVI, com Girolínia Cardono – médico italiano – que testou a possibilidade de algum aprendizado de leitura através do tato. Peter Pontamus, Fleming (cego) e o padre Lara Terzi escreveram os primeiros livros sobre a educação daspessoas cegas. A partir de então, as idéias difundidas vão ganhando força até que, no Séc. XVIII, 1784, surge em Paris, criada por Valentin Haüy, a primeira escola para cegos: Instituto Real dos Jovens Cegos. Nela Haüy exercita sua invenção – um sistema de leitura em alto relevo com letras em caracteres comuns. No Séc. XIX, proliferaram na Europa e nos Estados Unidos escolas com a mesma proposta educacional. Um novo sistema com caracteres em relevo para escrita e leitura de cegos é desenvolvido por Louis Braille e tornado público em 1825 – o Sistema Braille. Assim, o processo de ensinoaprendizagem das pessoas cegas deslancha, possibilitandolhes maior participação social. A repercussão do sucesso das novas técnicas e métodos e a credibilidade na capacidade das pessoas cegas chegam ao Brasil encarnadas em José Álvares de Azevedo ao regressar de seus estudos em Paris, no Instituto Real dos Jovens Cegos. José Álvares de Azevedo ensina o Sistema Braille à Adèle Sigaud, filha cega do Dr. Xavier Sigaud, médico do Paço, e logo Adèle é levada à presença de D. Pedro II pelo Dr. Sigaud e pelo Barão do Bom Retiro para apresentar suas idéias de terse no Brasil um colégio onde as pessoas cegas pudessem estudar. A concretização desse ideal se consubstanciou na criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos a 17 de setembro 1854, hoje Instituto Benjamin Constant. O Instituto Benjamin Constant (IBC) foi o primeiro educandário para cegos na América Latina e é a única Instituição Federal de ensino destinada a promover a educação das pessoas cegas e das portadoras de baixa visão no Brasil. Além de ter criado a primeira Imprensa Braile do País (1926), tem-se dedicado a capacitação de recursos humanos, a publicações científicas e a inserção de pessoas deficientes visuais no mercado de trabalho. A cronologia dos acontecimentos em prol da educação de pessoas cegas no Brasil apontam o surgimento em outros estados do país, seguindo o mesmo modelo educacional do IBC, as primeiras escolas especiais para alunos cegos: 1926 – Instituto São Rafael – Belo Horizonte-MG 1928 – Instituto Padre Chico – São Paulo-SP 1929 – Instituto de Cegos da Bahia – Salvador-BA 1941 – Instituto Santa Luzia – Porto Alegre-RS 1943 – Instituto de Cegos do Ceará – Fortaleza-CE 1957 – Instituto de Cegos Florisvaldo Vargas – Campo Grande-MS Um grande marco na história da educação de pessoas cegas foi a criação, em 1946, da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje denominada Fundação Dorina Nowill para cegos que, com o objetivo original de divulgar livros do Sistema Braille, alargou sua área de atuação, apresentando-se como pioneira na defesa do ensino integrado, prestando relevantes serviços na capacitação de recursos humanos e de práticas pedagógicas. Em 1950, a cidade de São Paulo e, em 1957, a cidade do Rio de Janeiro inauguram em escolas comuns, pertencentes à Rede Regular de Ensino, o ensino integrado. A partir de então, em inúmeras regiões do Brasil a oportunidade de educar pessoas com deficiência visual é oferecida em salas de recursos, salas especiais e mais recentemente nos Centros de Apoio Pedagógico. Na década de 80 e 90, com o avanço científico, foram criados nas universidades os cursos para capacitação de professores e a criação de Centros de Atendimentos com Núcleos de Estudos, tais como: UNESP - Marília, UNICAMP - SP, USP, SANTA CASA - SP e UERJ-RJ. Nesse mesmo período surgem as Associações de Pais, Deficientes e Amigos como Associação Catarinense para Integração do Cego - ACIC de Santa Catarina, Associação de Amigos do Deficiente Visual - AADV, do Distrito Federal, Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul - APADEV, do Rio Grande do Sul, Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual - LARAMARA, de São Paulo e outras que além de advogar o direito de cidadania têm lutado pela melhoria de vida e qualidade na educação de pessoas com deficiência visual. A sociedade dá indícios de que precisa se preparar para atender às necessidades de seus membros. O modelo social da deficiência se fortalece como processo bilateral no qual, na conjugação de esforços, pessoas e sistemas sociais se reestruturam, simultaneamente, com vistas à edificação de uma sociedade para todos. ISTEMA E FUNÇÃO VISUAL - CONCEITUANDO A DEFICIÊNCIA VISUAL A formação da imagem visual depende de uma rede integrada, de estrutura complexa, da qual os olhos são apenas uma parte desse sistema, envolvendo aspectos fisiológicos, função sensório-motora, perceptiva e psicológica. A capacidade de ver e interpretar as imagens visuais depende fundamentalmente da função cerebral de receber, codificar, selecionar, armazenar e associar essas imagens a outras experiências anteriores. Para ver o mundo em formas e cores, é necessário um nervo óptico e retina (camada interna que reveste a câmara ocular) intactos. A retina é formada por células fotorreceptoras, os cones, responsáveis pela visão central e de cores e pelos bastonetes, responsáveis pela visão periférica e adaptação a pouca iluminação – visão noturna. A concentração das células nervosas na retina passa a constituir a mácula, ponto central da visão, cuja função é a acuidade visual, responsável pela visão nítida e de detalhes. As terminações dessas células nervosas constituem o nervo óptico que conduz o estímulo visual ao cérebro, onde as imagens são interpretadas. A parte externa é constituída pela esclerótica, membrana fibrosa e resistente, o branco dos olhos, responsável por sua proteção. A córnea é transparente para possibilitar a passagem dos raios luminosos. A túnica média é constituída pela coróide, membrana pigmentada, rica em vasos sangüíneos responsáveis pela irrigação e nutrição da retina. O corpo ciliar é o espessamento da túnica média, ligando a coróide à íris. Produz o humor aquoso, fluido transparente que ocupa o espaço entre a córnea e o cristalino, parte anterior. Junto com o humor vítreo (substância gelatinosa e transparente) ocupam espaço posterior do cristalino e retina, formando os meios líquidos. A íris, o disco colorido dos olhos, é formada na parte central pela pupila (menina dos olhos) que controla a entrada e quantidade do estímulo luminoso. Pela ação dos músculos da íris controlado pelo sistema autônomo, a pupila se dilata no escuro e se contrai em alta iluminação, regulando a quantidade de luz que penetra no olho. Atrás da íris, fica o cristalino, uma lente biconvexa, transparente, responsável pelo foco e nitidez da imagem. O estímulo atravessa os diversos meios transparentes, córnea, humor aquoso, cristalino e corpo vítreo, para chegar ao fundo do olho. Qualquer malformação ou alteração nesse sistema, pode prejudicar seriamente a função visual. As sensações visuais recebidas, invertidas pela retina, são levadas ao cérebro pelo nervo óptico e corrigidas pelo córtex visual occipital que interpretadas tornam-se conscientes. Fig. 1. Estrutura do globo ocular. Os cones e bastonetes fazemsinapses com células bipolares, que conectadas às células ganglionares, formam os axônios do nervo óptico. Córtex Visual As imagens visuais se formam através da excitação pela luz das moléculas fotossensíveis, desencadeando reações químicas e gerando impulsos nervosos que são conduzidos pelo nervo óptico ao córtex visual, responsável pela decodificação, interpretação e associação de imagens. Fig. 2. Processamento visual. A Visão Tridimensional A visão tridimensional ou estereoscópica, ocorre quando há binocularidade, possibilitando a percepção da posição dos objetos no espaço, o cálculo da distância entre eles e a noção de profundidade. A imagem integrada no cérebro ocorre porque a informação visual de ambos os olhos (visão binocular) é fundida em uma única imagem pelas células corticais conectadas às vias ópticas de ambos os olhos. A visão binocular se desenvolve normalmente, se os dois olhos trabalharem juntos. Com imagens diferentes por desvio dos olhos (estrabismo) ou por erro de refração não ocorre a fusão. Dessa forma a criança passa a preferir o melhor olho, suprimindo a imagem do outro ou fixando alternadamente, podendo desenvolver a ambliopia ou baixa visão. As alterações da visão binocular, as dificuldades de convergência (desvio) e acomodativas (acomodação da lente ocular para ver em diferentes distâncias) podem acarretar na criança sensações desagradáveis como: imagens duplas (diplopia), dificuldade de figura e fundo e de orientação no espaço. Essas dificuldades devem ser corrigidas por correção óptica, oclusão ou intervenção cirúrgica quando for o caso, o mais cedo possível, antes da redução da plasticidade neuronal e cortical para que a criança tenha um desenvolvimento normal do sistema e função visual. CONCEITUANDO A DEFICIÊNCIA VISUAL Baixa Visão É a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo. A perda da função visual pode ser em nível severo, moderado ou leve, podendo ser influenciada também por fatores ambientais inadequados Cegueira É a perda total da visão até a ausência de projeção de luz. Do ponto de vista educacional, deve-se evitar o conceito de cegueira legal (acuidade visual igual ou menor que 20/200 ou campo visual inferior a 20° no menor olho), utilizada apenas para fins sociais, pois não revelam o potencial visual útil para execução de tarefas. Classificação Clínica A classificação clínica de baixa visão proposta pela Dra. Fonda G. (1961) em quatro grupos, de acordo com a acuidade visual e as relativas dificuldades de adaptação de recursos ópticos, estabelece: Grupo I – Percepção luminosa a 1/200 – Difícil utilização da visão residual. Grupo II – Visão de 2/200 a 4/200 – Difícil adaptação de recursos ópticos específicos. Grupo III – Visão de 5/200 a 20/300 – O indivíduo pode adaptar-se, dependendo da necessidade, a auxílios para perto ou longe. Grupo IV – Visão de 20/250 a 20/600 os auxílios ópticos podem produzir melhor efeito e bom resultado para perto e longe. O índice de acuidade representado nos números fracionários 6/18 e 20/70 (por exemplo) significa que o indivíduo vê, a uma distância de 6m ou 20 pés, o que uma pessoa, de visão normal, veria à distância de 18m ou 70 pés. É importante que o professor especializado conheça essa classificação para interpretação do relatório oftalmológico, mas não deve ser utilizada como parâmetro para inclusão de alunos em programas de baixa visão. Abordagem Educacional A comprovação de que portadores do mesmo grau de acuidade apresentam níveis diferentes de desempenho visual e a necessidade de relacionar a utilização máxima da visão residual com o potencial de aprendizagem da criança levou as Dras. Faye e Barraga a enfatizarem a necessidade de uma avaliação funcional, pela observação criteriosa da capacidade e desempenho visual da criança. Sob esse aspecto e, portanto, para fins educacionais, são por elas considerados: Pessoas com baixa visão – aquelas que apresentam “desde condições de indicar projeção de luz até o grau em que a redução da acuidade visual interfere ou limita seu desempenho”. Seu processo educativo se desenvolverá, principalmente, por meios visuais, ainda que com a utilização de recursos específicos. Cegas – pessoas que apresentam “desde ausência total de visão até a perda da projeção de luz”. O processo de aprendizagem se fará através dos sentidos remanescentes (tato, audição, olfato, paladar), utilizando o Sistema Braille, como principal meio de comunicação escrita. No ano de 1992, em Bangkok – Tailândia a Organização Mundial de Saúde e o Conselho Internacional de Educação de Deficientes Visuais (ICEVI) reuniram-se para discutir o atendimento das crianças com baixa visão no mundo. Elaboraram uma nova definição clínico funcional, tendo em vista que o desempenho visual é mais um processo funcional do que simples expressão numérica da acuidade visual. Diante disto, foi proposta a seguinte definição: Baixa Visão Segundo o Conselho Internacional de Educação de Deficiência Visual - Organização Mundial de Saúde (OMS), baixa visão é o comprometimento do funcionamento visual em ambos os olhos, mesmo após tratamento e ou correção de erros refracionais comuns: ● acuidade visual inferior a 0,3, até percepção de luz; ● campo Visual inferior a 10º do seu ponto de fixação; ● capacidade potencial de utilização da visão para o planejamento e execução de tarefas. Os critérios visuais incluídos nessa definição seguem a Classificação Internacional das Doenças (CID) e não devem ser, portanto, utilizados para elegibilidade de educação ou reabilitação, sem incluir dados de avaliação de outras funções visuais igualmente importantes, como: ● sensibilidade aos contrastes; ● adaptação a iluminação. Desta forma, propõe-se uma avaliação clínico-funcional realizada por oftalmologista e pedagogo especializados em baixa visão, levando em conta: Avaliação Clínica ● diagnóstico e prognóstico; ● avaliação da acuidade visual para perto e longe; ● avaliação do campo visual; ● avaliação da sensibilidade aos contrastes e visão de cores; ● prescrição e orientação de recursos ópticos especiais. Classificação Funcional Dra. Eva Lindsted (1993) faz interessante classificação do nível de Visão Funcional, de acordo com o método Bust: Visão de Perto: I – Nível 1 – A.v – 0,01 – 0,05 1. reconhece faces a 0,5m, 1,0m, 2,0m; 2. reconhece brinquedos grandes; bola, boneca a 15cm; 3. reconhece a colher e garfo – objeto do Bust; 4. reconhece peças de roupa. II – Nível 2 – A.v. – 0, 05 – 0,1 5. brinquedos – correspondente Bust N° 1 – 3 a 25cm; 6. bola de gude; 7. uvas passas – correspondendo Bust N° 4 – 5 a 25cm; 8. lego pequeno; 9. pera Indiana; 10. jogos de números – baralho; 11. baralho de figuras cômicas; 12. quebra-cabeça fácil c/ peças grandes; 13. figuras pequenas – Bust – N° 5 – 7 a 25cm. III – Nível 3 – A.v. – 0,1 a 0,3 14. letras grandes – Bust – N° 8 – 9 a 25cm; 15. trabalhode agulha. IV – nível 4 – A.v.+ 0,3; 16. figura muito pequena – Bust – N° 6 – 9 a 25cm; 17. letras pequenas – Bust – N° 6 – 9 a 40cm. Avaliação Funcional É a observação do desempenho visual do aluno em todas as atividades diárias, desde como se orienta e locomove se no espaço, alimenta-se, brinca, até como usa a visão para a realização de tarefas escolares ou práticas. A Avaliação Funcional da Visão revela dados qualitativos de observação informal sobre: ● o nível de desenvolvimento visual do aluno; ● o uso funcional da visão residual para atividades educacionais, de vida diária, orientação e mobilidade; ● a necessidade de adaptação à luz e aos contrastes; ● adaptação de recursos ópticos, não-ópticos e equipamentos de tecnologia avançada. É importante ressaltar que a Avaliação Funcional da Visão pode ser a única fonte de informação em crianças préverbais ou em crianças com deficiências associadas, ou seja, que apresenta comprometimento intelectual, físico ou sensorial. Recomenda-se a avaliação clínico-funcional o mais cedo possível para a detecção das alterações funcionais da visão, no primeiro ano de vida, para que a criança tenha oportunidade de adquirir experiências, prevenindo-se, desta forma, alterações e defasagens importantes no desenvolvimento global. PREVENÇÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL NA INFÂNCIA Em nosso meio, a baixa visão ainda passa muitas vezes despercebida a pais e professores, manifestando-se, com freqüência, no momento em que aumentam na escola os níveis de exigência quanto ao desempenho visual da criança para perto. Por sua vez, a cegueira é mais facilmente detectada e geralmente diagnosticada mais cedo. A detecção precoce de quaisquer dos problemas, pode constituir fator decisivo no desenvolvimento global da criança, desde que sejam propiciadas condições de estimulação adequada às suas necessidades de maturação, favorecendo o desenvolvimento máximo das potencialidades, minimizando as limitações impostas pela incapacidade visual. Em todas as situações escolares a professora tem, normalmente, oportunidade de observar sinais, sintomas, posturas e condutas do aluno que indicam a necessidade de encaminhamento a um exame clínico apurado. Sintomas e sinais mais comuns de alterações visuais Sintomas: ● tonturas, náuseas e dor de cabeça; ● sensibilidade excessiva à luz (fotofobia); ● visão dupla e embaçada; Condutas do aluno: ● aperta e esfrega os olhos; ● irritação, olhos avermelhados e/ou lacrimejantes; ● pálpebras com as bordas avermelhadas ou inchadas; ● purgações e terçóis; ● estrabismo; ● nistagmo (olhos em constante oscilação); ● pisca excessivamente; ● crosta na área de implante dos cílios; ● franzimento da testa ou piscar contínuo para fixar perto ou longe; ● dificuldade para seguimento de objeto; ● cautela excessiva ao andar; ● tropeço e queda freqüentes; ● desatenção e falta de interesse; ● inquietação e irritabilidade; ● dificuldade para leitura e escrita; ● aproximação excessiva do objeto que está sendo visto; ● postura inadequada; ● fadiga ao esforço visual. A avaliação da acuidade visual por si só não é fator determinante na detecção da deficiência visual. Torna-se, portanto, de suma importância a observação dos sinais e sintomas antes relacionados sobre as condutas dos alunos. Incidência, causas e formas de prevenção Dados da Organização Mundial de Saúde revelam a existência de aproximadamente 40 milhões de pessoas deficientes visuais no mundo, dos quais 75% são provenientes de regiões consideradas em desenvolvimento. O Brasil, segundo essa mesma fonte, deve apresentar taxa de incidência de deficiência visual entre 1,0 a 1,5% da população. Sendo a estimativa da cegueira infantil de uma entre 3.000 crianças e de uma entre 500 crianças para a baixa visão. Observando-se que esta corresponde a 80% dos casos e a 20% de pessoas totalmente cegas. Calcula-se que os dados estimados poderiam ser reduzidos pelo menos à metade, se fossem tomadas medidas preventivas eficientes. Causas mais freqüentes: Congênitas: ● Retinopatia da Prematuridade, grau III, IV, V, (por imaturidade da retina em virtude de parto prematuro ou por excesso de oxigênio na incubadora). ● Corioretinite por toxoplasmose na gestação. ● Catarata congênita (rubéola, infecções na gestação ou hereditária). ● Glaucoma congênito (hereditário ou por infecções). ● Atrofia óptica por problema de parto (hipoxia, anoxia ou infecções perinatais). ● Degenerações retinianas (Síndrome de Leber, doenças hereditárias ou diabetes). ● Deficiência visual cortical (encefalopatias, alteração de sistema nervoso central ou convulsões) Adquiridas: Por doenças como diabetes, descolamento de retina, glaucoma, catarata, degeneração senil e traumas oculares. Formas de Prevenção As causas de origem genética e familiar como retinite pigmentosa, glaucoma e catarata congênita podem ser evitadas com aconselhamento genético. Dentre as causas congênitas, destacam-se os fatores mais freqüentes: gestação precoce, desnutrição da gestante, drogas em geral, álcool, infecções durante a gravidez (rubéola, sífilis, AIDS, toxoplasmose e citomegalovirus). Existe alta incidência de deficiência visual severa associada à múltipla deficiência, em nosso meio, em vista da falta de prevenção (vacinação de meninas contra a rubéola) o que evitaria o nascimento de crianças com catarata congênita, surdez e deficiência mental. Toda mulher deve ser vacinada antes de engravidar ou, de preferência, no início da adolescência, pois o vírus da rubéola materna atravessa a placenta, alterando o processo de formação embrionária. A prevenção depende apenas da política pública devendo a investigação epidemiológica a ser realizada pelos governos Estaduais e Municipais. A toxoplasmose é transmitida pelo protozoário “toxoplasma gondii”, geralmente por meio do contato com animais domésticos infectados: cães, coelhos, gatos, galinhas, pombos e alimentos mal cozidos. A mãe contagiada nos primeiros trimestres de gestação pode gerar uma criança com deficiência visual severa, microcefalia e calcificações cerebrais. As doenças virais e bacterianas como sarampo, meningites, encefalites podem acarretar hidrocefalia ou microcefalias. São também causas de deficiência visual que podem ser reduzidas por medidas eficientes de prevenção de saúde, com detecção precoce das alterações visuais, triagem em berçário, creches e pré-escolas. Triagem ocular No exame ocular de bebês (pelo método Teller) a partir do 1º mês de vida e de crianças a partir de 2 anos (Teste Bust, LH, Light House) é possível detectar tal deficiência, mas infelizmente esses testes não estão disponíveis em larga escala no mercado nacional. Fig. 3. Teste Bust. Os pais e professores de crianças, de creche e da préescola podem solicitar, em caso de presença de sintomas ou sinais, uma avaliação funcional da visão para detecção de possíveis alterações no desenvolvimento visual. São funções da Escola: ● aplicar testes para triagem ocular de pré-escolares para verificação da acuidade visual; ● encaminhar a criança com urgência ao médico oftalmologista, quando necessário; ● proporcionar orientação quanto àhigiene e à prevenção dos problemas oculares; ● buscar junto aos pais e ou comunidade recursos para o melhor atendimento da criança. O método de avaliação e triagem de pré-escolares e escolares mais simples e eficaz é o da Escala Optométrica de Snellen ou teste do E (ou ganchos) que pode ser aplicado em crianças a partir de 4 anos. O teste de Snellen não adequado para avaliação de acuidade visual de crianças com visão subnormal, é aconselhável apenas para triagem da população escolar. Aplicando o teste de acuidade visual: Primeiramente, selecionar o material necessário: ● escala optométrica de Snellen ou Light House; ● ponteiro ou lápis preto; ● fita métrica; ● giz, cadeira; ● modelo do “gancho”, confeccionado em cartolina ou papel cartão preto; ● cartão para cobrir o olho; ● lista nominal dos alunos para registro dos resultados. A seguir, providenciar o local adequado para a aplicação do teste: ● ter no mínimo 5 (cinco) metros; ● ser bem iluminado, mas sem ofuscamento (luz deve vir de trás ou dos lados da criança que será testada); ● sem barulho e sem estímulos que desviem a atenção do aluno. Tomadas estas primeiras providências, procede-se da seguinte maneira: ● colocar a tabela de modo que a linha correspondente à acuidade 1,0 fique no nível dos; olhos da criança, quando sentada; ● riscar no chão uma linha à distância de 5 (cinco) metros, para indicar onde o aluno deverá colocarse durante a aplicação; ● colocar uma cadeira com os pés traseiros sobre a linha riscada no chão; ● apontar os “ganchos” de preferência, com lápis preto. Grande parte do êxito do teste de acuidade visual depende da adoção prévia de medidas por parte dos escolares. Para tanto, o professor deve explicar detalhadamente o que vai fazer, mostrando as diferentes posições nas quais os “ganchos” aparecem na tabela. Com auxílio do modelo, verificar se a explicação foi bem compreendida pedindo a cada aluno que informe a posição de um dos “ganchos”. Individualmente explicar ao aluno, junto à tabela, o que se espera que ele faça, mostrando um ou dois “ganchos” e verificando se ele entendeu bem o que foi pedido. À distância de 5 metros, colocar o aluno sentado numa cadeira, em frente à tabela. Ensinar a cobrir um olho com o cartão, colocado obliquamente sobre o nariz, sem pressionar o globo ocular (o olho deve permanecer aberto). Quanto à aplicação propriamente dita, são os seguintes os cuidados necessários: se a criança usar óculos, testar primeiro com eles e depois sem eles; ● testar sempre o olho direito (O.D.) primeiro e depois o esquerdo (O.E.), para evitar confusão nas anotações; ● usar lápis preto ou ponteiro para indicar o sinal a ser lido; ● começar de cima para baixo indicando dois ou três sinais de linha, sem estabelecer rotina; ● mudar de um sinal para o outro, ritmicamente, evitando apressar o aluno, mas sem demorar demasiadamente; ● mostrar o maior número de sinais das linhas 0,9 e 1,0; ● se a criança ficar indecisa em determinada linha, indicar um número maior de sinais, para certificar se é realmente falha de visão; ● anotar como resultado do teste, o valor decimal correspondente à última linha em que não encontrou dificuldade, registrando separadamente os resultados de O.D. e O.E. . Exemplo: O.D.= 1,0 O.E.= 0,8; ● quando a criança não enxergar os sinais maiores – linha 0,1 – registrar “<0,1” (menor do que 0,1); ● registrar na coluna de observações, sinais ou sintomas percebidos durante o teste, bem como se o aluno estiver em tratamento oftalmológico; ● encaminhar ao oftalmologista, prioritariamente, o aluno que obteve no teste resultado igual ou inferior a 0,8 em qualquer olho ou que apresente diferença de duas linhas ou mais entre os resultados de um e de outro olho. Antes de fazer o encaminhamento realize o reteste usando a mesma técnica descrita. Principais Alterações Visuais na Infância e Formas de Prevenção As principais alterações visuais na infância são: hipermetropia, miopia, astigmatismo, ambliopia e estrabismo. Embora essas alterações não constituam deficiência visual, são problemas visuais que devem ser detectados e tratados precocemente com intervenção clínica oftalmológica adequada para que a criança atinja um desenvolvimento das funções visuais dentro dos padrões de normalidade. O olho humano pode ver com nitidez objetos a curta distância, desde 25cm até muitos quilômetros de distância. Para que isto ocorra, os meios ópticos e vias ópticas devem estar intactos, de modo que a imagem captada pela retina seja transmitida pelo nervo óptico até o córtex visual, responsável pela decodificação e interpretação das imagens visuais. A detecção precoce e correção das principais alterações visuais, no primeiro ano de vida, permitem que as imagens de ambos os olhos sejam iguais e de boa qualidade para que o cérebro seja capaz de realizar a fusão. As duas imagens se fundem tornando uma percepção única, processo responsável pela visão binocular. A visão binocular tem um rápido desenvolvimento a partir da coordenação ocular dos 3 até os 12 meses, o que proporciona a percepção espacial e a visão de profundidade. As conexões celulares e a plasticidade neuronal são intensas até os 3 anos, por isso as alterações visuais como ambliopia e estrabismo devem ser corrigidos de preferência no primeiro ano de vida, para resultados de grande eficácia. Embora a binocularidade se complete por volta dos cinco – seis anos, os resultados obtidos depois dos cinco anos serão bem menores. Por isso, deveria ser prática comum em nosso meio a avaliação oftalmológica nas creches e pré-escolas. AMBLIOPIA É a parada ou regressão do desenvolvimento visual em um ou ambos os olhos, ocorrendo a diminuição da acuidade visual sem uma alteração orgânica aparente. ● A ambliopia pode ser causada por: ● estrabismo, 50% dos casos; ● privação sensorial (ex-anopsia-catarata ou ptose); ● anisometria – discrepância de erros de refração; ● ametropia – altos erros de refração (hipermetropia, miopia e astigmatismo). Como vimos pelos tipos de ambliopia, o tratamento e controle é exclusivamente de responsabilidade do oftalmologista que fará a prescrição do recurso óptico e indicação da oclusão. Os médicos dão preferência à oclusão direta na pele, com oclusor antialérgico e recomendam a oclusão nos óculos somente nos casos de ambliopia leve. A orientação da conduta de oclusão nos casos de ambliopia e estrabismo não são de competência do professor especializado, esse deve sim orientar a família para ter consistência e perseverança na conduta, bem como, orientar atividades lúdicas que possam distrair e estimular visualmente a criança. ESTRABISMO É a ausência de paralelismo e sincronia dos músculos oculares para uma perfeita coordenação de ambos os olhos, responsável por uma imagem nítida no mesmo ponto da retina que possibilita a fusão. A criança estrábica terá grande dificuldade para realizar a binocularidade, podendo apresentar: ● diplopia – imagem dupla; ● anular ou suprimir a imagem do olho desviado; ● visão monocular ; ● baixa de acuidade visual no olho desviado; ● desconforto visual para leitura, televisão,etc.; ● embaçamento ou embaralhamento visual; ● dificuldade para desenho e atividades que requeiram tridimensionalidade; ● piscar muito e dirigir à noite. Tipos de Estrabismo ● Convergente (esotropia) E.T.; ● congênito – quando a esotropia é congênita pode ter tratamento cirúrgico entre 6 e 12 meses para o alinhamento ocular e desenvolvimento da visão, porque geralmente apresenta fixação cruzada com pouca motilidade ocular; ● adquirido – Acomodativo ou Essencial. O estrabismo acomodativo pode ocorrer por excesso de acomodação. Acomodação é o ajuste do olho para ver a diferentes distâncias e formar imagem clara pela mudança da forma do cristalino e ação dos músculos ciliares. O estrabismo acomodativo pode ser causado por hipermetropia ou por alteração de convergência de origem central. Quando tratado com correção óptica nos primeiros 6 meses tende a desaparecer. Exotropia - Estrabismo Divergente XT O estrabismo divergente ou XT aparece geralmente mais tarde e está associado à miopia. Os exercícios ortópticos podem ajudar muito no tratamento. A cirurgia pode ser indicada para adquirir função, ou seja, recuperar a visão binocular ou puramente por estética. ERROS DE REFRAÇÃO HIPERMETROPIA É uma dificuldade acomodativa (capacidade de ver perto) pelo achatamento do globo ocular. Nesse caso a imagem se forma atrás da retina e são utilizadas lentes convergentes ou positivas para tornar o cristalino mais convergente. O portador de hipermetropia, mesmo com esforço acomodativo, não consegue enxergar nitidamente um objeto quando olha para perto. A criança mostra-se desinteressada para ver figuras, TV, leitura e pode ter atraso de desenvolvimento visual nas altas hipermetropias por baixa capacidade de fixação e seguimento visual. Crianças portadoras de alterações neurológicas podem apresentar baixa capacidade acomodativa, mostrando funcionamento visual pobre. É de suma importância a detecção precoce e correção de refração nessas crianças, para otimizar o desenvolvimento visual e cognitivo. MIOPIA A miopia é dificuldade para ver longe, em virtude do alongamento do globo ocular que forma a imagem antes da retina. As pessoas com miopia não enxergam com nitidez objetos distantes. A correção é feita utilizando-se lentes divergentes ou negativas. Os alunos com miopia não detectada apresentam muita dificuldade para copiar da lousa, são tidos como desinteressados, preguiçosos e lentos. Apresentam, como sintomas, piscar constantemente, fechar a pálpebra (esforço acomodativo), coçar os olhos, etc. Muitos bebês com alta miopia não detectada podem apresentar atraso neuropsicomotor, retardando o engatinhar e a marcha em virtude da tensão ou medo de se deslocar no espaço e pela falta de controle do ambiente. Os portadores da Síndrome de Down e outras que podem apresentar alta miopia, devem ser avaliados e corrigida a refração para prevenir alterações de desenvolvimento. ASTIGMATISMO Ocorre quando a córnea não apresenta a mesma curvatura em todas as direções, ocasionando uma deformação da imagem. Os sintomas mais freqüentes do astigmatismo são: dores de cabeça, olhos lacrimejantes, queimação e coceira nos olhos e deformação ou distorção da imagem. Nos grandes astigmatismos a acuidade visual é baixa. A lente para correção do astigmatismo é cilíndrica. DESENVOLVIMENTO VISUAL E APRENDIZAGEM Acreditava-se até há pouco tempo que o recém-nascido reagia apenas a movimentos, luzes, sons fortes e à voz materna. Pesquisas recentes têm demonstrado que os bebês já nascem programados para enxergar do ponto de vista anátomofisiológico. Ainda na vida intra-uterina, por volta da 33ª semana de vida, o bebê já apresenta a capacidade de fixação. Entretanto, essa habilidade só será desenvolvida se ele tiver oportunidade de realizar experiências visuais. Embora a acuidade visual de um recém-nascido seja muito reduzida (0,03) e ele não possa captar imagens nítidas, estudiosos do desenvolvimento neonatal têm observado a surpreendente capacidade do bebê de pesquisar o mundo a sua volta, apresentando momentaneamente a capacidade de fixação e seguimento visual de objetos bem próximos. Experimentos de laboratório do Dr. Fantz, psicólogo que pesquisou a capacidade do bebê de reagir a padrões visuais, revelam que os recém-nascidos preferem padrões de alto contraste como preto/branco, cinza/preto, padrões de grating (listras), círculos, figuras simples e depois preferem figuras de padrões complexos. Luria também coloca que, do ponto de vista perceptivo, o bebê se interessa mais por cores fortes e padrões de contraste do que por formas. Acreditamos que o desenvolvimento visual ocorre por meio das atividades reflexas, da organização das percepções, por estímulos significativos, mediadas pela interação sócio-afetiva. Graças ao desenvolvimento óculo-motor, aos contatos celulares da retina, vias ópticas e da córtex visual o bebê reconhece a figura materna e, por volta da quinta semana de vida, já sorri ao rosto da mãe espontaneamente, realizando as primeiras discriminações. O desenvolvimento pós-natal da fóvea e da área pericentral é muito rápido nos primeiros meses. Por isso, de 2 a 3 meses os olhos já estão bem posicionados, há convergência, seguimento espontâneo dos objetos e o inicio da acomodação, porém com campo visual ainda restrito. A acuidade visual aos 3 meses é de 0,1 o que já permite fazer algumas discriminações. Aos 4 meses, com o desenvolvimento da capacidade de focalização e acomodação ocular, o bebê começa a explorar os objetos e ambiente a seu redor. Inicia nessa fase a coordenação olho-mão, movendo suas mãos para pegar os objetos e sacudi-los, começando assim a provocar pequenos espetáculos. Aos 6 meses, a visão central e periférica já se desenvolvem o suficiente para permitir o seguimento por todo o campo visual, realizando seguimento de 180 graus na linha horizontal e vertical, realizando o que Piaget chama de busca dirigida pelo olhar. Entre o 7º e o 8º mês, o bebê é capaz de localizar objetos no espaço, tanto perto quanto mais longe, desenvolvendo também a visão de profundidade, o que o impulsiona a deslocarse em busca dos objetos. Por isso é o momento da descoberta: agora ele vai explorar visualmente o objeto de todos os ângulos, vai manipular, bater, sacudir, jogar, puxar, experimentar com a boca, observando as mudanças e resultados imediatos. Só no final do primeiro ano, graças à independência adquirida pela locomoção, é que os objetos são procurados depois que saem do campo visual. Isto ajuda a construir a noção do objeto. Em relação às funções visuais, podemos dizer que o bebê aos doze meses, apresenta nível de desenvolvimento visual próximo ao adulto. A acuidade visual é muito boa, os movimentos oculares são suaves e contínuos, a acomodação ocular é satisfatória e o desempenho visual para longe já é eficiente, possibilitando a marcha. Como podemos observar, nas etapas iniciais do desenvolvimento, os esquemas motores e perceptivos constroem-se juntos, com grande rapidez, constituindo um único sistema, formado pelos esquemas sensório-motores.Na etapa de 2 a 4 anos, em virtude do bom desenvolvimento das funções visoperceptivas, que possibilita o exercício da memória visual e formação das imagens mentais, a criança faz a passagem das representações concretas às representações simbólicas. Esse período, também chamado de figurativo, é caracterizado pelo aparecimento do símbolo, da capacidade de distinguir entre significado e significante e pela formação das representações conceituais. A criança imita o que observa visualmente, ampliando sua capacidade motora, tornando mais complexa e planejada a ação. É capaz de observar diferenças e semelhanças o que permite fazer agrupamentos por forma, cor, tamanho, comprimento e estabelecer relações. A riqueza de imagens visuais e a possibilidade de poder representar o mundo permitem o aparecimento do desenho nessa etapa. O período de 4 a 7 anos, denominado de pensamento intuitivo ou pré-operacional é marcado pela capacidade de antecipação, de revisualização. Há o desenvolvimento da atenção, da organização e da construção das noções espaçotemporais, das noções de classificação e seriações simples, para futura abstração, associação e generalização. Após os sete anos, com o desenvolvimento do pensamento lógico, as crianças são capazes de analisar, classificar e seriar de forma mais complexa, e começam a adquirir as noções, representações e constâncias perceptivas. Para Yakalov, o desenvolvimento das funções perceptivas superiores pode ocorrer até os dezesseis anos. Acreditamos que o desenvolvimento não é só biologicamente determinado, mas socialmente facilitado. E que o mundo não é visto simplesmente em cor e forma, mas sentido pela vivência e elaborado pelo significado. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO CLÍNICO- FUNCIONAL DA VISÃO A prática em relação à avaliação funcional da visão é construída a partir de um trabalho diferenciado, mediante a integração das áreas médica e educacional. O oftalmologista especializado em visão subnormal realiza a avaliação oftalmológica pelos exames de rotina, corrige as possíveis alterações de refração que possam impedir o desenvolvimento visual e faz a avaliação das funções visuais que são de grande valia para orientação do trabalho pedagógico. Na avaliação das funções visuais o oftalmologista utiliza testes objetivos e subjetivos para medir a acuidade visual, sensibilidade aos contrastes, acomodação, campo visual, visão para cores e adaptação à luz. A avaliação da acuidade visual é realizada através de testes padronizados para crianças pequenas portadoras de deficiências associadas, como o método do Olhar Preferencial de Dobson e Teller. A partir dos dois anos são utilizados os testes Bust da Dra. Eva Lindstedt e o teste LH da Dra. Léa Hyvarinen. Ambos medem visão para perto e longe. O teste Sheridan de Bolas nos dá uma ligeira indicação do nível de visão, esfera visual e campo visual e, numa menor proporção, da acuidade visual para longe. A sensibilidade aos contrastes é avaliada pelo teste de Bally para bebês e pelo teste LH para alterações de contraste em crianças maiores. Até os seis anos, o campo visual e a acomodação são avaliados pelo sistema de confrontação e pela acuidade visual de perto e longe. A visão de cores pode ser avaliada pelo teste London City Hospital (teste das bolinhas coloridas). A avaliação funcional realizada pelo pedagogo especializado é de fundamental importância para o diagnóstico e conduta oftalmológica porque, além de conter dados de observação do desempenho visual da criança em termos práticos e qualitativos, informa o nível de desenvolvimento global e principalmente, como a criança utiliza a visão residual para integração com as pessoas e com o mundo que a cerca. Nossa experiência e metodologia baseiam-se em diversos estudos sobre o desenvolvimento visual realizados nos Estados Unidos pelas Dras. Fay, Natalie Barraga e Anne Corn; na Europa pelas Dras. Eva Lindstedt e Léa Hyvarinen. A avaliação funcional é um processo de observação informal do comportamento visual da criança em relação ao nível da consciência visual, da qualidade da recepção, assimilação, integração e elaboração dos estímulos visuais em termos perceptivos e conceptuais. Observa-se a maneira como a criança utiliza a visão no brinquedo, na mobilidade, na escola e nas atividades da vida diária. Por isso avaliamos a criança na presença da família. Antes da avaliação funcional devemos fazer uma entrevista com a família para conhecer a queixa, a expectativa e obter informações complementares. Pode-se nesse momento observar a qualidade de interação sócio-afetiva e o nível de compreensão da família acerca da condição visual da criança. Fazemos também uma avaliação global do desenvolvimento, compreendendo as funções sensório-motoras, a comunicação e a linguagem, as funções simbólicas e préoperatórias, a relação sócio-afetiva, a autonomia e a independência. Isto para a elaboração do programa pedagógico e/ou encaminhamento, se necessário, ao atendimento complementar de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e, ainda, para o atendimento psicológico. Avaliação funcional é estruturada em termos de funções visuais básicas, visomotoras e visoperceptivas. Funções visuais básicas Verificamos o nível de consciência e atenção visual mediante a luz natural e artificial, a adaptação ao escuro, à luz e ao brilho. Observamos a reação a padrões de alto e de baixo contraste, a cores de alta e baixa intensidade, a formas simples e complexas, ao contato visual, campo visual e esfera visual (distância que provoca uma reação visual). Para isto, utilizam-se diferentes tipos de iluminação, luzes coloridas, painéis coloridos, rosto humano e desenhos de rostos iluminados. Podem ser utilizados também luvas coloridas, brinquedos de formas simples, de diferentes tamanhos e tonalidades. Padrões de alto contraste (amarelo/preto –preto/ branco – cinza/preto), cores fluorescentes, utensílios de uso diário, materiais com brilho e movimento. Pode-se entender a importância da avaliação das funções visuais se consideramos que a orientação e a localização espacial dependem da visão de contrastes e do campo visual. A habilidade da criança em ver detalhes dependerá da acuidade visual e a percepção de formas requer uma boa visão para contraste. Funções Óculo-Motoras A capacidade de fixação, seguimento visual e acomodação (ajustar o poder de refração do olho para focalizar objetos) são comportamentos visuais que dependem dos músculos extrínsecos e intrínsecos do olho e também da adequação do meio ambiente em termos do nível da visão, iluminação, contraste e adaptação visual. Para que o desenvolvimento da fixação e seguimento visual ocorram é de fundamental importância a orientação oftalmológica para melhorar a acomodação, aumentando a qualidade, nitidez e tamanho da imagem. A acomodação é observada em relação à focalização de luzes, de padrões coloridos, de objetos e gravuras de diferentes tamanhos a uma distância inferior a 40cm. Podemos constatar dificuldades de acomodação quando uma criançaaproxima muito um objeto para fixar e discriminar ou quando fixa e discrimina melhor à distância ou, ainda, quando pisca muito, franze a testa demonstrando esforço acomodativo. As funções óculo-motoras são avaliadas pela fixação e seguimento de luzes, rosto, objetos em movimento, partindo do ponto focal e distâncias variadas. Os esquemas de coordenação olho/mão e olho/objeto são melhor observados na manipulação do brinquedo e nas atividades da vida diária. Para isto, utilizamos um varal e um painel de brinquedos que criamos. Todos esses recursos permitem avaliar as funções visomotoras em relação às diferentes posturas e posicionamento dos olhos. É importante que se avalie a criança em decúbito ventral e em decúbito lateral, que possibilitam melhor controle óculo-motor, pelo relaxamento da musculatura, e melhor focalização, permitindo que o alcance do objeto seja visualmente dirigido. Uma criança com postura desorganizada e insegura terá grande dificuldade para fixar e seguir os objetos. Sentar adequadamente a criança, facilitando o controle cefálico, o controle de tronco, e apoio dos pés, melhora consideravelmente as respostas visuais. É importante observar o posicionamento da cabeça, sem fazer retificação postural, porque nos dá indicação do campo visual utilizado. Depois devemos avaliá-la novamente com organização postural. Avaliar a criança em pé, andando, subindo e descendo escadas, jogando bola nos dá informações a respeito das pistas visuais captadas do ambiente, esfera visual, acomodação e localização espacial. Em relação às atividades gráficas, avaliamos a qualidade do traçado, o tempo de focalização, a coordenação olho/mão, a velocidade de realização da tarefa, a acomodação para escrita e leitura de perto e a focalização na lousa. Funções Visoperceptivas As funções visoperceptivas estão relacionadas com a assimilação, integração, decodificação e elaboração dos estímulos visuais presentes como também com a capacidade de generalizar e associá-los às experiências passadas. Para efetuar-se uma avaliação visoperceptiva adequada sobre o nível de desenvolvimento geral da criança, devem-se conhecer as etapas do desenvolvimento cognitivo e visual para adaptar-se às atividades e possibilidades de cada criança. Para isso utiliza-se uma Avaliação Funcional do Desenvolvimento Global, contemplando as áreas de linguagem, sensório-motora, cognitiva, AVD, orientação e mobilidade. É de fundamental importância que o professor conheça a qualidade das experiências visuais que essa criança possui, a qualidade e tamanho do material a ser apresentado, o nível de interesse e motivação, e os aspectos psicoafetivos que possam interferir nas funções perceptivas. Iniciamos pela observação da discriminação e compreensão das expressões faciais, gestos e movimentos; da forma de interação e exploração do meio, do nível de curiosidade, frustração ou satisfação em ver. Um levantamento do repertório visual da criança é interessante, ou seja, a discriminação e reconhecimento visual de objetos de formas simples (objetos de uso diário, brinquedos, utensílios, frutas e outros alimentos). Observa-se a capacidade de discriminação de formas tridimensionais e bidimensionais, relacionando-as em termos de cor, tamanho e espessura. Podem ser usadas figuras sólidas, blocos lógicos, prancha de figuras e quebra-cabeças. Um acervo grande de objetos tridimensionais variados, objetos esses de formas simples e complexas, de tamanho e cores que serão comparados entre si e depois associados a gravuras. As gravuras devem ser apresentadas de três formas: uma cartela deve representar o objeto real, a outra deve conter a forma cheia, a última só o contorno do objeto; todas com bastante contraste. Verifica-se a capacidade de discriminação mais fina de detalhes internos e externos de objetos e figura, relacionandoos às diferentes posições e direções no espaço. Jogos pedagógicos como dominós, lotos de animais, painéis de figuras para classificação e seriação, painéis para elaboração e construção de cenas são interessantes. São usados jogos de seqüência, jogos de memória, figura/sombra, figura/fundo, jogos de construção, elaboração e/ou discriminação de cenas e maquetes. Observa-se a discriminação de letras em diferentes estilos, tamanhos e materiais (plástico, madeira e cartelas do alfabeto); a leitura visual de sílabas; as palavras e a frase. Conforme a dificuldade de acomodação para perto, já testamos lupas de mesa e as diferentes lupas manuais. Podem ser utilizadas as lupas eletrônicas, o C.F.TV (Circuito Fechado de TV) como mais um recurso para avaliação perceptiva, de contraste e campo visual. Deve ser considerada a importância do nível de iluminação no ambiente em relação à patologia do aluno a ser avaliado. Utilizamos um dispositivo para controle de iluminação, diferentes tipos de luminárias com focos dirigíveis e cores diferentes, com azul e amarelo para diminuir o brilho, a reflexão e aumentar o contraste. Tanto as funções visoperceptivas como as visomotoras devem ser avaliadas primeiro em ambos os olhos depois em cada olho alternadamente, utilizando o tampão para oclusão. Para o bebê utilizamos “o tampão pirata” em tecido. A organização do ambiente, a interferência de ruídos e movimentos podem prejudicar muito a avaliação funcional. O avaliador deve aguçar sua sensibilidade para observar a qualidade da informação e experiência visual da criança, a motivação, o nível de consciência visual, a auto-imagem e possíveis frustrações desenvolvidas. É muito importante que uma avaliação funcional não considere apenas o nível de desenvolvimento potencial, para que se possa traçar uma programação pedagógica adequada. E lembrar que a organização das percepções e a internalização das funções psicológicas superiores dependem, em grande parte, da solicitação do meio e da qualidade da interação sócio-afetiva. Baixa Visão – Principais Patologias ATROFIA ÓPTICA É a perda total ou parcial da visão decorrente de lesões ou doenças no nervo óptico, disco óptico, papila, podendo haver degenerações das fibras tanto das células ganglionares como do corpo geniculado. Tipos de Atrofia Óptica Simples – quando o disco óptico perde a cor rosada, torna-se pálido ou branco. Geralmente há uma escoriação da papila, das bordas para o centro, ocorrendo a palidez temporal da papila. Esse tipo de atrofia pode ser decorrente de hidrocefalia, meningiomas e sífilis. Secundária – é decorrente de neurite óptica, neurorretinite e edema papilar. Neste caso a aparência da papila é branco-azulada, turva ou acinzentada. As alterações podem afetar as regiões vizinhas da retina. Podem ocorrer por doenças infecciosas, bactérias, vírus, protozoários, hemorragias, diabete, Leber, traumatismos e tumores. Atrofia Glaucomatosa – há um aumento da escavação, atingindo todo o disco óptico, atrofia de papila e deslocamento do tronco central. Funcionamento Visual: ● diminuição da acuidade visual (AV) para perto e longe; ● queixa de visão turva ou embaçada com aparecimento de escotomas; ● diminuição do sentido luminoso– funcionamento visual pode ser melhor ao anoitecer. Outros podem necessitar de alta iluminação; ● redução e ou alteração de campo visual: − escotomas central ou periférico − hemianopsias nos diferentes quadrantes (late- ral, superior, inferior, nasal, pericentral, bilateral); ● dificuldade para integração e formação de imagens mentais; ● interferência em tarefas de percepção de detalhes e análise-síntese visual; ● dificuldade para discriminar objetos a distância ou perto; ● sensibilidade aos contrastes diminuídos; ● dificuldade para leitura; ● adaptação à iluminação diminuída. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais: ● lupas manuais de altas dioptrias; ● alto nível de iluminação com filtro para potencializar contraste e diminuir reflexão e brilho; ● contraste e ampliação (dependendo da alteração do campo); ● lentes esféricas e prismáticas; ● telessistemas; ● magnificação eletrônica, com controle de contraste, brilho e profundidade; ● porta texto e caderno de pauta ampliada ou reforçada; ● jogos de computador para elaboração de desenhos e cenas. Estratégias Pedagógicas: ● verificar o potencial de visão central preservada; ● compreender as dificuldades de percepção de detalhes que o aluno apresente e a necessidade de aproximação da lousa ou material pedagógico; ● facilitar a discriminação de detalhes, potencializando o contraste e a iluminação do material a ser discriminado; ● favorecer o desenvolvimento da consciência visual, ajudando o aluno a analisar e interpretar 63 formas mais complexas de objetos e figuras; ● favorecer a ampliação do repertório visual do aluno, através de múltiplas experiências, incluindo até ajudas táteis e auditivas quando a visão não for suficiente; ● motivar o aluno a construir as imagens mentais a partir da experiência concreta com os objetos para a representação tridimensional e a representação simbólica; ● ajudar o aluno a compreender suas reais alterações de campo visual, as dificuldades com escotoma (ponto cego) buscando o melhor posicionamento de cabeça ou do material que favoreça melhor desempenho visual. NISTAGMO São oscilações involuntárias e rítmicas dos olhos, que ocasionam alteração do sistema sensório-motor ocular. O nistagmo pode ser congênito, quando surge durante os seis primeiros meses, ou adquirido. A origem do nistagmo ainda não é bem conhecida, pode ser por alteração neurológica, vestibular, lesões do sistema nervoso central, por origem cerebelar ou tumor intracraniano. O nistagmo pode estar presente nas cataratas congênitas, atrofias ópticas, albinismo, acromatopsias, alterações retinianas e outras. Tipos de nistagmo: ● movimento pendular; ● ondulatórios – igual velocidade, duração – direção ● em mola; ● movimentos mais lentos e retorno rápido – freqüentes em alterações neurológicas e vestibulares; ● mistos. Os movimentos podem ser horizontal, vertical, oblíquo, rotatório e circular. SPASMUS NUTANS Surge por volta dos seis meses a um ano de vida. Caracteriza-se por nistagmo de cabeça com movimentos anteroposteriores e laterais, rápidos, bem nítidos quando a posição é sentada. Deitada tende a desaparecer, a origem é desconhecida e tende à cura. Funcionamento Visual: ● capacidade de fixação e seguimento visual prejudicados; ● A.V. reduzida para perto e longe; ● torcicolo de “Ciancia” – inclinação involuntária da cabeça para bloquear o nistagmo; ● interferência nas tarefas de percepção visual e coordenação visomotora; ● sensibilidade aos contrastes pode estar diminuída; ● sensibilidade à luz alterada – fotofobia intensa ou média. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais: ● lentes prismáticas ou esfero-prismáticas; ● lentes manuais ou de apoio; ● lupas de régua; ● os telessistemas para longe podem ser de difícil adaptação, depende da possibilidade de o aluno realizar a compensação de cabeça para bloqueio do nistagmo; ● lentes escurecidas ou filtro amarelo para potencializar o contraste. Estratégias Pedagógicas O professor deve compreender que as dificuldades oculomotoras de focalização, seguimento visual e coordenação olho-mão, podem dificultar a realização de atividades práticas de coordenação visomotora, como encaixes, desenhos, cópia da lousa e escrita. Evitar alta iluminação direta, reflexão e brilho na lousa ou material a ser discriminado. Orientar o aluno para melhor organização espacial, posição para leitura e adequação do material ao ponto de compensação e distância que consiga focalizar e discriminar. Evitar corrigir a posição de cabeça que é a única forma de bloqueio dos movimentos involuntários. Utilizar pistas visuais para melhor organização do campo gráfico, tanto para leitura como para escrita. Guias para leitura. Proporcionar atividades lúdicas que favoreçam o exercício dos movimentos oculares, graduando as dificuldades: boliche, jogos de peteca, bola ao cesto, futebol, tiro ao alvo, natação. Jogos de integração sensorial e equilíbrio. CORIO-RETINITE É a inflamação da coróide (coroidite) e quando afeta ambas as camadas coróide e retina, chama-se corio-retinite. A causa é a toxoplasmose por infestação do protozoário gondii adquirido pelo contato com animais infectados: cães, coelho, gatos, pombo, galinha e na carne suína. É importante o diagnóstico diferencial de sífilis, tuberculose, herpes, AIDS e uveítes. O teste específico para avaliar os anticorpos para toxoplasmose é a imunofluorescência ou Elisa. O quadro neurológico pode ser de alteração focal com lesões cicatrizadas, placas maculares e convulsões. Funcionamento Visual: ● acuidade visual baixa em virtude da lesão macular, visão a distância bastante prejudicada; ● escotoma central da visão, com dificuldade para detalhes; ● utilização de retina perifoveal e periférica; ● campo visual periférico geralmente preservado o que possibilita uma boa orientação espacial e locomoção; ● sensibilidade aos contrastes – não ocorre alteração significativa para média e baixa freqüência; ● visão para cores – pode estar prejudicada nas extensas lesões maculares e perifoveais; ● dificuldade para olhar no ponto que se olha; ● alta freqüência de miopia. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais : ● óculos de correção refracional comum; ● lentes bifocais; ● lupas manuais ou de mesa para magnificação; ● lentes esfero-prismáticas entre 6 e 12 graus – com acuidade visual semelhante em A.O.; ● lentes esféricas de altas adições com visão monocular; ● telescópio tipo Galileu – 2x, 3x, 4x e 6x manuais são preferíveis a telescópios fixos em armações; Estratégias Pedagógicas: O professor precisa compreender que muitas vezes é impossível a criança olhar para frente ou nos olhos do professor, pois os olhos desviam para fugir do ponto cego, da cicatriz macular. Os mesmos procedimentos pedagógicos da atrofia óptica, pois o funcionamento visual é semelhante. Considerar que nas alterações maculares importantes a discriminação de figuras complexas como de animais tornase difícil. Embora o aluno apresente nível gráfico elementar o professor pode e deve oferecer materiais simbólicos como letras e outros. A cópia da lousa é bastante difícil em virtude de, à distância, a visão ficar prejudicada ou apresentar escotomas no campo visual. Ajudar o aluno a buscar a melhor posição e distânciapara facilitar a cópia na lousa. Organizar o campo gráfico da lousa em relação à necessidade do aluno. ALTERAÇÕES RETINIANAS: a) Retinopatia da Prematuridade ou Fibroplasia Retrolental A retinopatia da prematuridade pode ser decorrente de imaturidade da retina por baixa idade gestacional e ou por alta dose de oxigênio na incubadora. O oxigênio em alta concentração provoca a vasoconstrição, impedindo a irrigação da retina e pode ocorrer a formação de pregas retinianas, massa fibrosa ou cicatricial, retração da retina, ou deslocamento total ou parcial. Podem ocorrer ainda complicações como a catarata, glaucoma ou uveíte. O procedimento cirúrgico nos descolamentos de retina tem pouco sucesso, do ponto de vista funcional, sendo muitas vezes preferível à estimulação da visão residual remanescente, mesmo que pouca. Funcionamento Visual: ● a retinopatia nível I, II e III geralmente apresentam bom desempenho visual; ● acuidade visual bastante reduzida na retinopatia grau IV e V; 68 • fotofobia; ● e freqüente a alteração de campo visual periférico e central com presença de escotomas; ● iluminação intensa indireta melhora o funcionamento visual. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais Para perto: ● óculos acoplados com lentes de aumento; ● lentes para miopia; ● lentes de aumento manual; ● lupas iluminadas tipo copo ou de mesa. Para longe: sistemas telescópicos b) Retinose Pigmentar Distrofia hereditária dos receptores retinianos por transmissão autossômica recessiva dominante ligada ao X. Constitui síndromes como: Laurence-Moon, Bardet-Bield, Usher, sendo rigorosamente necessária a prevenção por aconselhamento genético. São muitos os tipos de retinose pigmentar, geralmente de caráter progressivos com degeneração de cones (responsável pela visão de cores) e bastonetes (visão de formas), no estágio final com alteração macular. Funcionamento Visual: ● cegueira noturna – Baixa de A.V. no escuro; ● adaptação à luz, lenta; ● perda de campo periférico; ● ocorre iniciar por perda de visão central (mais raro); ● dificuldade para locomoção à noite; ● sensibilidade aos contrastes alterada; ● alteração de visão de cores. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais: ● alto nível de iluminação; ● circuito de TV; ● lâmpada com raios infravermelhos; ● ampliação e potencialização de contrastes com filtro amarelo; ● lupa manual até 11 di; ● campo restrito dificulta a leitura. c) Retinopatia Diabética É uma alteração retiniana por obstrução dos vasos capilares da região da mácula e retina com formação de cicatriz ou escotomas extensos, podendo formar edema ou cistos de mácula. Pode haver descolamentos de retina. O tratamento pode ser a vitrectomia e a fotocoagulação que estabilizam o quadro de edema. Há associações com catarata ou glaucoma. Funcionamento Visual: ● baixa AV para longe; ● visão embaçada; ● dificuldade para percepção de detalhes; ● Imagens distorcidas; ● alteração da visão de cores e sensibilidade aos contrastes. d) Síndrome de Leber ou Amurose Congênita de Leber É caracterizada por degeneração retiniana com eletroretinograma extinto. Manifesta-se por uma neurite óptica hereditária mais freqüente na 2ª infância, lesando de forma brusca os olhos. É transmitida pela mãe e afeta geralmente o sexo masculino, podendo afetar o sistema nervoso. Há degenerações retinianas que afetam também meninas e são do tipo progressivo. A função visual é bastante prejudicada, AV muito reduzida e nível de funcionamento visual bastante heterogêneo. e) Retinoblastoma Tumor na retina que pode aparecer nas primeiras semanas até os 2 anos. Os primeiros sinais são leucocoria (mancha branca), podendo ser uni ou bilateral, estrabismo e ligeira midríase. O tratamento é a enucleação de urgência, radioterapia ou quimioterapia conforme resultado anatomopatológico. Estratégias Pedagógicas Motivar o aluno a utilizar ao máximo o potencial visual mesmo nos descolamentos de retina ou em degenerações progressivas. Nos descolamentos de retina ou redução extrema do campo visual, as dificuldades de leitura se acentuam. Entretanto o professor deve encorajar o aluno a utilizar a visão residual, sem temor de perdê-la ou gastá-la. Recursos de alta iluminação, controle de luz por dimmer e potencialização de contrastes melhoram o desempenho visual do aluno. Lápis ou canetas fluorescentes ajudam na visualização. Na acuidade visual muito baixa ou restrição acentuada do campo visual, a cópia da lousa se torna muito difícil. Podem ser utilizadas ampliações para perto ou recurso eletrônico para cópia da lousa, por varredura. Lentes escurecidas melhoram o funcionamento visual e ajudam nas atividades recreativas. GLAUCOMA Decorrente da alteração na circulação do líquido humor aquoso, responsável pela nutrição do cristalino, íris e córnea. Há o aumento da pressão intra-ocular, a mais de 20 milímetros pela obstrução do líquido pela pupila ou drenagem através do seio camerular. Sintomas mais freqüentes: dor intensa, fotofobia, olho buftálmico e azulado. Há estudos recentes que apontam uma predisposição genética para o glaucoma congênito. É mais freqüente após a 4ª década, em altas hipermetropias, em diabéticos e em negros. O tratamento é cirúrgico e o mais precoce possível obtendo bons resultados. Pode haver complicações como luxações do cristalino, descolamento de retina, atrofia óptica e hemorragias. O glaucoma pode estar associado a aniridia, (ausência de íris) síndrome de Marfan, Axenfeld e Sturge-Weber. Funcionamento Visual: ● lacrimejamento e fotofobia; ● flutuação da visão, controlada por medicação; ● perda da acuidade visual por atrofia óptica; ● o glaucoma crônico simples pode levar à perda da visão periférica; ● no glaucoma primário de ângulo fechado a perda visual é severa e pode progredir para cegueira rapidamente; ● alteração do campo visual variada e difusa, podendo haver também escotomas centrais; ● a perda é mais acentuada no setor nasal, havendo mais preservação do campo temporal ou central; ● visão periférica e visão noturna rebaixada; ● visão tubular ou de túnel permite visão boa para perto; ● dificuldade para discriminar objetos grandes, locomoção e visão à distância. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais: ● iluminação potente sem reflexão e brilho; ● lupa de mesa com iluminação; ● alto contraste e filtros; ● lupas manuais; ● para leitura, lentes microscópicas; ● para longe telelupas de baixa dioptria (di). Estratégias Pedagógicas : O professor precisa compreender que o nível de visão do aluno com glaucoma flutua muito. Ele se estressa com freqüência pela dor, fotofobia e flutuação da visão. Isto não significa que o aluno seja desmotivado e preguiçoso. Analisar cuidadosamente as alterações de campo visual que possam ser diferentes em cada olho. Ajudar o aluno a compreender e buscar a melhor posição para o trabalho visual. Ajudar o aluno a identificar o melhor equipamento de magnificação, de lupas manuais, de copo, mesa ou lupas iluminadas. Muitas vezes a adaptação desses auxílios ficam dificultadas pela reflexão de luz e brilho. Em virtude das alterações de campo visual, nem sempre o material ampliado facilita a discriminação e a leitura. Utilização de porta-textodá maior conforto para a leitura. CATARATA É a opacificação do cristalino produzindo a leucocoria ou mancha branca na pupila. As causas congênitas podem ser decorrentes da rubéola (síndrome da rubéola congênita) do sarampo, de fator hereditário, do citomegalovirus, da toxoplasmose e da sífilis. Alterações cromossômicas como Síndrome de Down, Lowe, Trissomia 13-15 e Síndrome de Cockayne. Pode ocorrer também por irradiações, medicações tóxicas e consumo de drogas. A catarata congênita é uma das maiores causas de cegueira na infância, a prevenção é a cirurgia precoce, e, principalmente a vacinação e controle epidemiológico da rubéola e aconselhamento genético. Funcionamento Visual: baixa de AV importante na catarata congênita operada tardiamente; catarata não operada: visão nublada, borrada, visão de estrelas, raios brilhantes; visão dupla no olho afetado; visão melhor para longe do que para perto ; visão noturna melhor; sensibilidade aos contrastes pode estar diminuída rara alteração de campo visual e visão de cores. Recursos Ópticos e Pedagógicos Especiais: ● lente de contato ou óculos; ● lente intra-ocular nos primeiros anos de vida ; ● pode ocasionar mais rejeição, sendo desaconselhável pela mudança de refração; ● óculos de até 20 di são bem aceitos por crianças, podendo ser tentada a correção da hipermetropia e astigmatismo. Os bifocais com mais de 6 di podem ser testados; ● lupa de mesa iluminada; ● lupas manuais tipo régua; ● controle de iluminação no ambiente. Estratégias Pedagógicas O aluno que teve a catarata operada precocemente e com boa correção óptica dificilmente necessitará de ajudas adicionais. Nos casos de altas correções ópticas, há necessidade de grande aproximação do material a ser lido o que pode acarretar cansaço e estresse na leitura. É importante investigar com o aluno e o médico, se uma correção óptica de menor dioptria com adição manual não favorece o processo de leitura-escrita. Nas cataratas não operadas, lupas iluminadas e controle de iluminação no ambiente com luminárias de foco dirigíveis podem melhorar o desempenho visual. ADAPTAÇÃO DE RECURSOS ÓPTICOS ESPECÍFADAPTAÇÃO DE RECURSOS ÓPTICOS ESPECÍFICOSICOS A capacidade de funcionamento e o desenvolvimento da eficiência visual dependem fundamentalmente, segundo Dra. Barraga, da experiência visual. A oportunidade de enfocar, olhar e interpretar imagens visuais são mecanismos ativadores das funções cerebrais. Muitos indivíduos com baixa visão severa ou moderada, poderão se beneficiar da ajuda de recursos ópticos específicos para perto ou longe como forma de facilitação do processo ensino-aprendizagem. Os mesmos recursos ópticos têm a função de correção das ametropias, ou seja, melhorar a focalização por ampliação, proporcionando mais nitidez de imagem pela correção da refração. Com adaptação de recursos ópticos esféricos adequados, a ampliação da imagem retiniana permite a conexão celular e a formação de imagens nítidas e detalhadas que possibilitam o desenvolvimento da eficiência visual para atividades de perto, como leitura, escrita, visualização da tela do computador, TV e a decodificação de estímulos visuais a longa distância. Os recursos ópticos especiais, geralmente se caracterizam por lentes de grande aumento para correção da visão de perto ou longe, são eles: Auxílio para perto: ● óculos bifocais ou monofocais; ● sistemas telemicroscópicos; ● lupas manuais e de apoio. Os bifocais aumentam a imagem do objeto e dão mais nitidez com as lentes convergentes de +4, +6, +8, +10 DE. Óculos bifocais e monofocais. Lentes esferoprismáticas São formadas por lentes positivas convergentes com adição de prisma na base nasal para melhorar a fixação, a convergência e dar conforto para atividades de leitura. Essas lentes geralmente são combinadas em seu poder dióptrico como por exemplo: +5 DE/7P ( dióptrica e prismática ). Menos de 10 DE são aconselháveis para as pessoas que possuem visão binocular ou pouca perda visual, para maiores de 10 DE/12 P monoculares. As lentes esféricas podem ser simples, sem adição de prisma, indicadas para pessoas com visão binocular ou monocular que não apresentam acuidade visual muito baixa, pois vão até 10 DE. Lentes asféricas São lentes monoculares em virtude da alta dioptria, variando de 10 di asférica até 24 di. São utilizadas para atividades de leitura para perto e a distância olho-objeto deve ser mais próxima à medida que aumentam as dioptrias. Há uma pequena fórmula para chegar-se à distância focal: F = 100/D F = 100/20D F = 5cm A distância focal varia de acordo com a patologia, acuidade visual e nível de magnificação da lente. A distância ideal para melhorar a função visual, deve ser pesquisada individualmente com cada aluno, pois deve variar de 15 a 5cm ou menos. Essas lentes podem ser montadas em óculos ou adicionadas tipo clipes. Lentes microscópicas São lentes de alta dioptria, com +28 D, variando de 7x até 12xde aumento. Para chegar ao valor dióptrico multiplica-se por 4. Essas lentes geralmente são prescritas para pessoas com acuidade visual muito baixa. Como são lentes convexas positivas de alta dioptria a distância focal é muito pequena com a desvantagem de limitação acentuada de campo visual. Como a coordenação dos movimentos oculares, postura de cabeça e mãos são necessários, o tempo é mais longo e a adaptação das lentes microscópicas é mais difícil. Para melhor conforto do aluno, para leitura/escrita, é de fundamental importância a utilização de suporte para leitura/escrita, mesa adequada, pesquisa de iluminação e contraste que podem facilitar o desempenho visual. Lupas manuais e de apoio São recursos auxiliares importantes para pessoas que não se adaptam aos recursos descritos, de fácil uso e funcionamento, dispensando o treinamento para adaptação. Lupas manuais e de apoio. As lentes manuais com lentes esféricas ou asféricas possuem melhor qualidade óptica. Variam de 2x até 10x de aumento. A distância focal das lentes manuais de apoio é tirada pela mesma fórmula dos óculos. As lentes manuais de alta dioptria têm o campo visual muito restrito, já as lupas de apoio possuem um campo visual mais ampliado, porque são de aumentos menores. Têm ainda a vantagem de possuir foco mais fixo e deixa as mãos livres. São aconselháveis para crianças em etapa pré-escolar e idosos. Tanto as lupas manuais como de apoio podem ser usadas como complementação de óculos especiais. Podem ser iluminadas ou não e terem diferentes formatos: lupas manuais, tipo régua, copo, folha, lanterna, gancho, etc. Telemicroscópios em óculos São telelupas de acoplagem em óculos monoculares, binoculares ou manuais que permitem trabalho em uma distância maior. Essas lentes, embora tenham restrição de campo, permitem conforto visual pela qualidade de iluminação e por deixar as mãos livres. Auxílio para longe: Telelupas - permitem o aumento e aproximação do objeto a ser visto. Tipos de Telelupas: ● Galilei – Formada por duas lentes, uma convergente e uma divergente. Sãomuito práticas e de fácil adaptação. ● Kepler ou Prismática – É composta por duas lentes convergentes que invertem a imagem, por isso é usada com lente prismática. As telelupas podem ser manuais ou acopladas a óculos monoculares ou binoculares. As telelupas binoculares geralmente são de pequeno poder dióptrico, são prescritas para pessoas que tenham acuidade visual semelhante em ambos os olhos. São usadas para ver TV, teatro e jogos. As telelupas monoculares manuais são mais bem aceitas por alunos e adolescentes em função da estética, entretanto têm a desvantagem de não liberar as duas mãos para a escrita. Para os alunos que têm dificuldade de coordenação oculomotora e ou alteração de campo visual, as telelupas manuais são de mais fácil adaptação. Os aumentos das telelupas variam de 2x até 12x, sendo melhor iniciar o processo de adaptação com aumentos gradativos. No processo de adaptação de recursos ópticos, o aluno deve levar o recurso para casa, para poder pesquisar livremente em seu ambiente, nos espaços externos de sua preferência, e decidir seguramente a melhor opção. A EDUCAÇÃO INFANTIL - EDUCAÇÃO PRECOCE Capacitar o professor de educação infantil, ensino fundamental e médio, para a identificação, diagnóstico e encaminhamento de alunos com deficiência visual, discutindo metodologias, estratégias pedagógicas e recursos especiais que facilitam o processo ensino-aprendizagem e o trabalho conjunto Escola-Família-Comunidade. O professor deverá ser capaz de: ● identificar sinais, sintomas e condutas do aluno com deficiência visual, encaminhando-o para serviços complementares; ● articular ações dos serviços de saúde, educação e assistência social para obtenção dos recursos ópticos e outros atendimentos necessários ao desenvolvimento e à aprendizagem do aluno; ● subsidiar o professor para o desenvolvimento de programas pedagógicos, fundamentados na interrelação, comunicação e ação funcional; ● orientar o professor para o trabalho conjunto escola-família e quanto às estratégias de inclusão em creches. O PROCESSO DE INCLUSÃO EM CRECHES O bebê com deficiência visual, como qualquer criança, necessita de ambiente familiar continente, de maternagem, isto é, de receber afeto, carinho e atenção para sentir-se seguro. Necessita ainda de pessoas que atendam a suas necessidades básicas de alimentação, higiene e descanso, pois ele se estressa com facilidade. Se o ambiente familiar for aconchegante, tranqüilo, possibilitando o desenvolvimento integral de todas as possibilidades psicoafetivas do bebê, a ida para a creche pode ser adiada, pois a mãe desempenha importante papel na interpretação do mundo, dando segurança para a criança explorar e fazer as primeiras descobertas. Na realidade de hoje as mães se angustiam muito por não ter com quem deixar o bebê. Sem dúvida que, nesses casos, a creche será o melhor lugar substituto da família, onde a criança poderá encontrar pessoas disponíveis a compreender, interpretar e atender a seus apelos e necessidades. Para incluir um bebê com deficiência visual em creches ou berçários, todas as pessoas precisam ser orientadas: diretora, coordenadora, professora e auxiliares. Essa é uma tarefa que pode ser desenvolvida em parceria com os serviços da comunidade, professores especializados ou instituições que desenvolvam programas de Educação Infantil. O que deve ficar claro é que a criança com deficiência visual necessita de um período maior de adaptação do que as outras crianças. Principalmente porque a visão exerce papel fundamental no conhecimento, controle e adaptação ao meio. Essas crianças vão necessitar de mais tempo para conhecer as pessoas novas, identificá-las por suas vozes, cheiros e passos para poder aceitá-las. Até aos três anos de idade, as crianças com deficiência visual dispõem ainda de poucos recursos para diferençar as pessoas e reconhecê-las, em meio a muito barulho. Torna-se então indispensável um ambiente acolhedor, tranqüilo e mais organizado. Ambiente sem ruídos ameaçadores ou agitação que possam assustar o bebê, dificultando a interação com o meio. Outro fator importante que deve ser ainda considerado é que o entorno familiar pode desorganizar-se com a ida de um bebê para a creche. Os pais e avós podem sentir dificuldade de separar-se da criança. Isso acarreta medo, insegurança, sentimentos de culpa e ansiedade. É uma relação sofrida. Por isso é muito importante que a creche receba o bebê e sua família para o período de adaptação. Permita que inicialmente a mãe faça uma adaptação gradativa. Leve o bebê para conhecer a escola, as pessoas, os objetos, o parque e familiarizar-se com os ruídos, cheiros e brinquedos. A adaptação pode demorar até meses. É importante deixar a mãe mostrar como interage e se relaciona com sua criança, revelar o que lhe dá prazer, satisfação e medo para descobrir do que a criança gosta e o que rejeita. Se a família percebe que há um ambiente acolhedor para sua criança e pessoas interessadas em compreender e ajudar em suas dificuldades, sem dúvida alguma, haverá sentimentos de segurança e relação de confiança com a escola. TRABALHANDO JUNTOS: FAMÍLIA – ESCOLA – COMUNIDADE Interagindo e Comunicando As primeiras interações para serem agradáveis devem despertar satisfação no bebê. Interaja com ele no início, sem retirá-lo do colo da mãe que é o espaço mais desejado, aconchegante e seguro. Descubra o que lhe desperta interesse: se é o toque seguro nas mãos ou braços, se a voz interessante com alternância de tom e ritmo, se o cochicho ao ouvido ou o movimento do corpo. No primeiro contato com pessoas desconhecidas, o bebê não deve vivenciar experiências desagradáveis de manipulações bruscas ao pegá-lo do colo da mãe, carrinho ou berço. Ele poderá desorganizar-se, sentindo-se desprotegido e perdido no espaço. Com bastante continência, dê ao bebê referências para o toque, como pegar as mãos ou os braços da pessoa que o estiver segurando, e conversar com ele sobre o que vai acontecer . Alguns bebês, principalmente os prematuros que passaram muito tempo em UTI neonatal, que sofreram experiências desagradáveis e traumatizantes nos berçários, tendem a desorganizar-se com mais freqüência. Qualquer movimento muito brusco, vozes estranhas e objetos desconhecidos podem representar ameaça. Por isso deve-se ter paciência e tentar compreender a angústia do bebê, tentar acalmá-lo com o diálogo corporal, toques, massagens e vibração pelo corpo. Procurar usar a mesma forma de agir, tocar e falar que a mãe usa para acalmá-lo é uma boa estratégia. Deve-se ter mais tempo de adaptação para essas crianças. Dispense a família só quando o professor já der conta de consolar a criança. A forma de pegar, carregar, falar e acalmar o bebê são fundamentais para a interação, comunicação e criação do vínculo. Por isso, a professora que recebe a criança deve ser sempre a mesma,com o mesmo código de comunicação estabelecido, pois a criança pequena gosta de rituais. O professor não deve esquecer-se de que o cheiro também é um forte indício que a criança deficiente visual usa para antecipar e reconhecer as pessoas. Evite perfumes muito extravagantes, usando sempre o mesmo perfume ou o desodorante a que esteja habituada. A oportunidade de olhar bem de pertinho (se tiver visão), tocar, pegar, sentir o rosto das pessoas, perceber as expressões enquanto fala podem ser espetáculos fascinantes que encantam o bebê e o ajudam a construir a imagem do eu e do outro. Quando o bebê ainda é pequeno, é natural que ele não consiga ainda localizar e alcançar as pessoas pela fonte sonora (voz – passos) por isso é importante que se achegue para falar com ele, para que perceba que o que ouve pode ser tocado. O bebê que enxerga desenvolve mais rápido a atenção, a consciência e a escuta do som, porque tem a confirmação visual. Quando o bebê começa a emitir som, balbuciar, cantarolar, aproxime-se, imite-o, para ele perceber que você está interessada em estabelecer meios de comunicação. Toque-o também como forma de aprovação da intenção comunicativa. É importante que ele toque o rosto, a cabeça, as mãos da pessoa que fala com ele. Gostosas brincadeiras de falar não, mão, braço, barriga e pescoço da criança podem encantála e motivá-la para um bom bate-papo. Conhecer e tocar os amiguinhos, fazendo o rastreamento tátil, ajuda a construir a auto-imagem e formar a imagem mental do outro. As comunicações sociais como bater palmas, dar tchau, jogar beijinhos, as crianças com deficiência visual podem aprender na mesma idade das outras crianças. Isso se forem ajudadas por detrás a realizar os movimentos para poder imitá-los. Essas criança demonstram prazer e alegria ao ouvir músicas, talvez por isso as pessoas permitam que fiquem muito tempo ouvindo rádio. Isto não é aconselhável, pois tem pouco significado quanto ao conteúdo e estimula o verbalismo. O melhor é que a professora cante junto com a criança, pequenas cantigas, ensinando por detrás os gestos para poder compreender e imitar. A expressão gestual ajuda a criança a compreender os significados reais das palavras e a representação simbólica. Construção do Sistema de Significação e Linguagem A construção do sistema de significação depende da inicialmente da capacidade de a criança agir e de perceber com o corpo suas próprias ações e as dos outros. A capacidade de adaptação da criança ao meio está diretamente relacionada à qualidade das primeiras interações: forma de falar, carregar, transmitir informações, sentimentos, emoções. A pessoa que cuida do bebê com deficiência visual deve estar disponível e interessada a propiciar-lhe essas experiências agradáveis que se constituem a base da comunicação e são os animadores e motivadores da expressão fonética do gorjeio, do balbucio, do choro, do riso e da imitação silábica. O significado dessas primeiras formas de comunicação e interação será construído, se a criança encontrar, nos familiares e na pessoa que cuida dela na escola, a atenção e a resposta a suas primeiras formas de expressão e comunicação verbal. Poderá ser usado o toque, a modulação de tom e de ritmo de voz como resposta. Da possibilidade de encontrar pessoas que compreendam e interpretem o que as crianças querem expressar, da possibilidade de ação, da imitação fônica e gestual é que surgem a imitação dos signos da linguagem e a comunicação. A qualidade da comunicação e do manuseio e a instalação da rotina diária permitem à criança com perda visual perceber os indícios que ajudam a antecipar o que vai acontecer. Esses indícios podem ser a voz, os passos, os cheiros, o barulho dos objetos, o movimento e a maneira de pegar. Todos esses indícios além de ajudar a criança a organizar-se para a ação, evitando sustos, ajudam na antecipação – capacidade de prever o que vai acontecer. Na criança que enxerga, todas essas informações são elaboradas automaticamente e de forma global pela visão. A criança que vê pouco ou não vê nada necessita dessas pistas integradas: auditivas – táteis – cinestésicas – olfativas para poder antecipar. Para Piaget a construção da linguagem depende da função simbólica, ou seja, da capacidade que a criança adquire por volta de um ano e meio ou dois anos de distinguir o significado do significante. A criança com deficiência visual para isso necessita que, ao tocar o objeto, a mãe, a professora ou a pessoa que cuide dela lhe diga o nome, ajude a explorar e pesquisar visualmente ou tatilmente os objetos, sem contudo passar os conceitos de seu ponto de vista de vidente. A criança precisa conhecer os objetos de seu jeito – explorar pelo tato, som ou cheiro, saber como funciona, o que faz com ele, para que serve – para poder compreender-lhes o significado. Valendo-se dessa interação e da relação com pessoas e objetos, de sua organização interna, pela vivência corporal e pelo fazer coisas, organizando suas próprias ações dentro da relação espaço-temporal, é que a criança deficiente visual poderá construir o seu sistema de significação e linguagem. A criança com deficiência visual, quando pequena, utiliza muito o canal auditivo para interação e controle do meio. Talvez por isso desenvolva logo cedo boa capacidade imitativa da fala – o que é chamado de verbalismo. O professor deve estar atento para o verbalismo, que é fala repetitiva, destituída de significado. A família, o professor e os coleguinhas, através do brinquedo e da experiência prática, podem ajudar a criança a construir suas próprias experiências e seus significados. Um bom caminho para ajudar a criança pequena a construir significados é brincar junto, fazer coisas junto, ajudála nas ações de rotina – alimentação, higiene. Levá-la a participar da elaboração do lanche, do brinquedo. Tudo o que a criança vidente compreende automaticamente pela visão, a criança com deficiência visual necessita vivenciar com seu próprio corpo, de forma integrada. Assimilando as informações por ela mesma, poderá internalizar as ações para representálas depois. A aquisição da linguagem só se torna possível quando a criança representa por imagens aquilo que vivenciou, organizou e estruturou no período sensório motor. Conviver com outras crianças e pessoas na creche, aprender a cantar, a brincar, a expressar seus desejos, sentimentos, emoções, enfim, participar da vida, são marcadores temporais e espaciais basilares para a construção do sistema de significação e linguagem, além de possibilitar-lhe ser e participar do mundo… Despertando o Desejo de Tocar – Mover-se – Conhecer – Brincar. Para a criança com deficiência visual o contato pele-apele e o diálogo corporal são formas primárias de comunicação e interação; são fronteiras vitais para a construção do eu e do outro e motivador essencial para despertar o desejo de busca das pessoas e objetos. A mãe ou a pessoa que cuida da criança torna-se depositária das tensões, desejos,ansiedades e frustrações da criança e, ao mesmo tempo, torna-se fonte de prazer e satisfação. Logo os primeiros movimentos de descentração – busca externa –serão da pessoa ou dos objetos significativos que dão prazer. Primeiro a mãe – pessoa que cuida, dá o alimento, de quem ouve a voz e percebe o movimento; só depois os objetos externos. A criança com perda visual, valendo-se de uma relação dialógica consistente que compreenda o que lhe dá prazer e segurança, poderá ser motivada a mover-se e aventurar-se a tocar e buscar o desconhecido. Os familiares, a professora da creche e os amiguinhos, pela forma de tocá-la, abordá-la e dar-lhe segurança para os deslocamentos no espaço, poderão ajudá-la a descobrir novos caminhos e obter novas experiências. O tocar, explorar, fazer descobertas e brincar, para a criança com deficiência visual, está diretamente relacionado à possibilidade de mover-se com segurança e independência nos espaços. Para mover-se seguramente em busca do objeto, sem sentir medo ou estar perdida no espaço, é que utilizamos a calça da vovó para os primeiros movimentos e para o brincar. A criança com deficiência visual necessita ter vivências corporais e exercitar sua musculatura pela ação de brincar em diferentes posições. Os brinquedos precisam estar disponíveis, ao alcance tátil da criança, para poder tocá-lo, perdê-lo e ir em busca. Para isso sugerimos o móbile sensorial no berço, colocado bem próximo da criança, e o varal (PVC) para crianças maiores brincarem em diferentes posições no chão. PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO VISUAL NA FAIXA ETÁRIA DE ZERO A TRÊS ANOS A estimulação visual é parte integrante do Programa Geral de Intervenção Precoce e não deve ser realizada em separado, sem contemplar todas as áreas do desenvolvimento integral da criança. Dessa forma tem como objetivos: ● interação e comunicação; ● otimização das funções visuais básicas; ● potencialização do desenvolvimento sensóriomotor e cognitivo; ● desenvolvimento psicoafetivo-social; ● apoio e suporte à família. Importância da Estimulação Visual A estimulação visual é realizada no período optimal do desenvolvimento da retina, das vias ópticas e da plasticidade neuronal do córtex visual. Estudos da neuropsicobiologia tem apontado a real importância da Estimulação Visual. Apontam que a densidade neuronal de um bebê de 28 semanas gestacionais é similar a do adulto. E que na 33ª semana, apresenta a capacidade de fixação, de receber e de processar informações. Esses estudos têm demonstrado que o córtex visual primário tem uma rápida expansão da vida fetal até os 4 meses. Há intensa mielinização da retina e vias ópticas até o 8º mês. A ativação progressiva das ramificações dendríticas, as sinapses e as conexões de células da retina e nervo óptico ocorrem entre os 18 e os 24 meses. Becker (1991) tem mostrado que há pouca mudança significativa dos neurônios entre os 24 meses e os 7 anos, embora a área frontal do córtex visual, responsável pela área associativa desenvolva-se até os 7 anos. Esses estudos apontam que aos 2 anos a criança tem, em relação ao adulto, 55% da área associativa desenvolvida e aos 7 anos, apenas 10% menor que a do adulto. Dra. Patrícia Sonksen, neurologista inglesa que estuda o desenvolvimento do córtex visual, afirma que nas deficiências visuais corticais o desenvolvimento optimal ocorre entre os 13 e os 18 meses. Essas pesquisas reforçam os estudos realizados pela Dra. Natalie Barraga (1986), para quem enxergar não é habilidade inata, é aprendida. As crianças sem alterações visuais, não necessitam de estimulação visual, pois desenvolvem naturalmente suas funções visuais. A criança com baixa visão necessita de uma avaliação clínico-funcional da visão para compreensão do potencial visual, das alterações funcionais que possam comprometer o desenvolvimento e verificação da possibilidade de correção óptica, para melhorar o desempenho visual. Programa de Estimulação Visual: Metodologia e Materiais ● Promover o desenvolvimento da atenção visual: consciência e processamento visual por meio de esquemas sensório-motores e função psicoafetiva; ● apoiar e ajudar a mãe e familiares a encontrar a melhor posição (campo visual) e distância para realizar o contato visual. O toque físico e o contato verbal estimulam os movimentos de varredura visual em busca do rosto materno; ● ajudar o bebê a realizar o rastreamento visual de pessoas e objetos em posição corporal tipo concha. Sustentação e apoio cefálico na posição occipital (atrás, acima do pescoço), ajudando o bebê a movimentar a cabeça, fazendo rotação em busca de um estímulo visual interessante (rosto com voz, objetos de alto contraste ou objetos com luz dentro); ● respeitar o tempo do bebê e as reações oculares defensivas como: fechar, piscar e virar os olhos. Essas reações são bastante freqüentes em crianças com dificuldades de fixação e alteração de campo visual. Os bebês com alterações neurológicas e deficiência visual cortical tendem a apresentar freqüentes desligamentos (olhar vago e distante ou sustos, olhar paralisado); ● evitar estímulos agressivos como luzes fortes, piscapisca, objetos com sons estridentes, que podem estressar e desorganizar o bebê. Por isso sugerimos à mamãe e à vovó criarem interessantes brinquedos multissensoriais que agradam e estimulam o bebê. Desenvolvendo a Fixação Compreender que o processo de focalização (direcionamento do olhar) e fixação central são muito lentos em bebês com visão subnormal severa. Por isso torna-se importante além dos materiais de alto-contraste, dar mais tempo para que o bebê possa captar as impressões visuais. Há crianças que apresentam dificuldade de adaptação à luz por fotofobia (sensibilidade à luz) ou por baixa resolução visual no escuro. Para o desenvolvimento da capacidade de fixação deve ser observado o melhor controle de iluminação no ambiente. Alta iluminação fluorescente, incandescente, penumbra ou ambiente escuro com luz indireta podem ser usados. Utilizar inicialmente o que a criança melhor se adaptar. A reação a cores é particular a cada criança, com reações diferenciadas, mesmo entre as mesmas patologias visuais. Há crianças que preferem o amarelo e laranja (apresentam mais luminância), outras mostram mais interesse pelo rosa forte, verde limão ou vermelho. Há as que reagem apenas aos altos contrastes como preto/branco, amarelo/preto, azul/amarelo, roxo/amarelo. Os objetos mais significativos e próximos da criança como a própria mão em movimento, a mamadeira, chupeta, caneca e móbile com contraste são recursos interessantes para despertar atenção visual e facilitar a fixação. A família e o professor devem entender que não há apenas um momento específico e único para fazer a estimulação visual. Mas que a criança deve ser motivada a usar o potencial visual em todas as suas atividades diárias: no brinquedo, na busca das pessoas, na alimentação, nos passeios, etc. Facilitando a Busca e o Seguimento Visual As crianças com baixa visão severa decorrente de alterações retinianas,com alteração de campo visual periférico central e com nistagmo podem apresentar dificuldade nas tarefas de seguimento visual dirigido. Muitas acompanham apenas o som ou os movimentos. Deve haver facilitação para a adequação postural em crianças pequenas ou com comprometimentos neuromotores, que não adquiriram ainda o controle cefálico e de tronco. É muito importante, para facilitar tanto o desenvolvimento da fixação como o seguimento visual. Para isso o professor poderá sugerir: ● posição de bruço ou de lado no colo: muitas crianças não conseguem organizar-se na posição sentada por falta de controle cefálico e de tronco ou por dificuldade de equilíbrio. Na posição de bruço ou de lado, ela pode ficar mais relaxada e organizada para tentar fixar e realizar o seguimento visual; ● na calça da vovó – Nas posições acima descritas, semi-sentada em ângulo de 60° a 70° tipo concha, na calça ou de bruços, com o rolo (perna da calça) embaixo das axilas; ● varal Sensorial – O bebê só busca aquilo que é conhecido e que está disponível. Por isso usamos o varal sensorial que pode ser improvisado com PVC ou até mesmo com corda de varal. Onde os objetos significativos serão dependurados por elásticos para permitir o toque, o pegar, o puxar, o aproximar ou o empurrar. A seleção dos objetos depende do nível de desenvolvimento psicoafetivomotor, da reação visual, motivação e interesse da criança; ● o Tapete Sensorial – é um recurso interessante para a estimulação visual em casa e na escola, podendo ser utilizado para o desenvolvimento da fixação, busca visual e coordenação olho-mão. Quando a visão é muito baixa, muitas vezes o estímulo visual não é suficiente para despertar a fixação e a busca visual. Por isso combinamos estímulos táteis em relevo, texturas diferentes com alto contraste e formas com variação de figura/fundo. ● bolas, balões iluminados ou fluorescentes, objetos com movimentos e que mudam de forma são recursos motivadores para facilitar o seguimento visual. Favorecendo a Coordenação Olho-Mão A coordenação olho-mão fica muitas vezes prejudicada não apenas pelo déficit visual, mas principalmente pelas inadequações posturais que são freqüentes tais como: assimetria corporal, cabeça lateralizada em extensão ou flexão, braços abertos e mãos lateralizadas. O professor precisa ajudar a mãe e o bebê a encontrar a melhor posição para organização postural, permitindo melhor controle dos movimentos oculares e trazendo as mãos e os objetos em linha média para poder fixá-los. Brincadeiras de contato visual e toques no rosto da mãe, procurando a boca, nariz, cabelo e os olhos são excelentes exercícios de coordenação óculo-motora. Brincar com luvas na mão da criança e do adulto, tirar e pôr, pintar as mãos da criança com batom, para olhar que tem algo novo, com cheiro, e tirar as meias podem ser bons recursos. Os móbiles multissensoriais que a criança possa pegar, puxar, bater e levar à boca são também interessantes, mas devem estar bem próximos e no campo visual para a criança visualizá-los. Para aperfeiçoar as funções óculo-motoras: fixação, acomodação, seguimento visual, coordenação olho-mão e as habilidades visoperceptivas é importante que o tamanho dos objetos seja também diminuído gradativamente. Muitas vezes subestimamos a capacidade perceptiva dessas crianças ou a nivelamos por baixo, apresentando apenas objetos grandes. Ampliando a Esfera e o Campo Visual Esfera visual é a distância em que as pessoas podem realizar discriminações. Isto depende muito do nível de acuidade visual e da capacidade acomodativa do olho. Para a estimulação visual é fundamental saber: o que e como a criança pode ver? A que distância? Em que posição? Esses são os pontos chaves. Sem essas informações os recursos mais sofisticados, caros e bonitos podem ser utilizados sem que surtam muito efeito. Como a baixa visão se caracteriza essencialmente pela visão prejudicada à distância, é importante o professor observar a que distância a criança consegue realizar tarefas visuais, com boa resolução. Há crianças que só conseguem discriminar a 3cm dos olhos ou do nariz ou em posição temporal, nasal, inferior, superior em distâncias diferentes. É importante a família saber que para essas crianças não faz mal aproximar, não haverá excesso de convergência; esta é a única forma pela qual elas conseguem ver. A partir do momento em que a criança adquire a consciência visual da distância e de seu melhor campo visual, o professor poderá ajudá-la afastando objetos já conhecidos para que ela possa exercitar a focalização em diferentes distâncias e utilizar os esquemas associativos. Por essa razão é que raramente crianças com baixa visão, severa ou moderada, mostram interesse por TV, jogos de vídeo e outros. As brincadeiras de esconde-esconde com pessoas e objetos, os jogos de ioiô, petecas, boliche, bolas de sabão coloridas, carros que batem e voltam favorecem essas atividades. O professor e a família poderão criar inúmeras brincadeiras que estimulem as funções visoperceptivas. Enriquecendo as Experiências Perceptivas As crianças com baixa visão leve podem utilizar os livrinhos de histórias disponíveis no mercado, desde que os critérios sejam a seleção de estímulos, formas simples e qualidade do contraste. Para crianças que têm pouco interesse pelo figurativo, o professor poderá utilizar as lupas de mesa ou de copo, ajudando a criança a pesquisar os detalhes primeiro em objetos concretos e depois em figuras. Os pais podem criar interessantes livrinhos tipo sanfona de papelão, colando com a criança figuras da experiência real da criança. Elaborar livrinhos ou álbuns, com fotos dos eventos significativos da família também é uma idéia interessante. Entretanto, as crianças com visão muito baixa, terão dificuldade de discriminar fotos, então sugerimos os livros sensoriais. Construindo Livros Sensoriais Podem ser elaborados com materiais concretos, sucatas de materiais de festa, lanchonete (copo descartável, canudo, pratinho, talheres plásticos) aquilo que tiver significado para a criança, incluindo os símbolos gráficos. A partir da vivência da criança em festas, passeios, lanches, etc., reconstitui-se a história ou cena narrada pela criança que será representada com os objetos bi e tridimensionais. Os livros podem ser elaborados ainda com materiais multissensoriais, de texturas diferentes ou com tintas que dão relevo (tipo tinta de farinha) e servirão tanto para crianças cegas como para as de baixa visão. PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PRECOCE NA ABORDAGEM PEDAGÓGICA Objetivos e Enfoque Curricular A Intervenção pedagógica precoce na abordagem sóciointeracionista contempla aspectos prioritários de motivadores internos e externos que possibilitam o desenvolvimento psicoafetivo, a competência funcional e a adaptação social do aluno. Nessa concepção o Programa de Intervenção Precoce deve priorizar a relação dialógica: mãe – criança mãe – mãe criança – criança Ação Funcional: ● análise das prioridades da criança e familiares; ● desenvolvimentode todas as possibilidades da criança: psicoafetiva, social, cognitiva e física.; ● primazia da interação e da comunicação através de atividades significativas, lúdicas e prazerosas. Em nosso meio, os programas de intervenção precoce geralmente são desenvolvidos em instituições especializadas, infelizmente poucos acontecem na escola pública. Alguns programas adotam o enfoque terapêutico outros o educacional. Serão analisadas as principais diferenças entre esses dois programas. Quadro 1. Reflexões sobre a mudança de foco Na relação dialógica cita-se com mais freqüência a mãe porque é quem acompanha a criança aos atendimentos e escola. Entretanto a relação compartilhada envolve toda a família e a comunidade no processo (pai, irmãos, avós, tios, primos, amigos e vizinhos). Para integração na família e na comunidade, muitos países têm adotado como modelo o atendimento e orientação domiciliar. Proposta Pedagógica e Organização do Programa O currículo escolar é o referencial básico e fundamental para a identificação e avaliação das necessidades educacionais especiais e para determinação dos apoios específicos que a criança e a família possam necessitar. Dessa forma, o professor especializado ou de apoio tem um papel importante na avaliação e identificação das necessidades educativas especiais. Através de observações sistemáticas do desenvolvimento do aluno, realizará, quando necessário, os encaminhamentos e intercâmbios com a equipe de complementação pedagógica: oftalmologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e assistente social existentes na comunidade. Como essa equipe não está disponível no contexto escolar, deve-se realizar intercâmbio e parceria com serviços de saúde da comunidade, instituições especializadas na área da deficiência visual, centros integrados ou de apoio à Educação Especial para que numa ação inter ou transdisciplinar se realizem as avaliações e elaboração do Programa de Intervenção Precoce. A proposta pedagógica fundamenta-se na aprendizagem significativa e no enfoque de currículo misto, contemplando: O Enfoque Sensorial ● A interação e comunicação (linguagem receptiva e expressiva); ● o desenvolvimento dos esquemas sensório motores, cognitivos, incluindo a estimulação visual; ● elementos psicoafetivos-sociais pela interação nas brincadeiras e nos jogos sociais. O Enfoque Funcional ● Contempla as necessidades, interesses, desejos da criança e familiares; ● prioriza as interações através de atividades lúdicas e funcionais (fazer coisas); ● desenvolve um programa de atividade de vida diária (AVD) e orientação e mobilidade (OM); ● valoriza a construção do conhecimento em grupo de crianças e familiares através da recreação e do lazer; ● promove a participação da família como parceira no processo de desenvolvimento e aprendizagem. Organização do Programa O programa de intervenção precoce pode ser organizado por meio de duas formas básicas de atendimento: ● momento individual – avaliações e orientações particulares quanto aos aspectos de desenvolvimento; ● momento grupal – situações lúdicas na sala, espaço lúdico, espaço de Atividades da Vida Diária (AVD) e Orientação e Mobilidade (OM). Suporte e apoio à família ● Reuniões de interação: escuta e orientações com apoio da área psicossocial sempre que possível; ● grupo de pais de acordo com interesses e prioridades apontadas por eles; ● vivências sensoriais e lúdicas, OM e AVD com crianças e familiares; ● palestras, cursos, seminários para pais; ● oficinas de arte e brinquedos; ● participação em associação de pais. Procedimentos Metodológicos e Didáticos Atividades Individuais: ● realizar avaliação funcional e orientação para estimulação visual e do desenvolvimento integral; ● apoiar a interação e relação mãe-criança-família; ● ajudar a escuta materna: compreendendo e interpretando a intenção comunicativa do bebê e da mãe; ● favorecer a criação de novas formas de comunicar e de brincar. Atividades em Grupo - Brincadeiras e Jogos: ● jogos vocálicos – escuta e imitação; ● jogos de imitação – olhar, toque e gestos; ● jogos corporais – vivência do corpo no espaço ; ● músicas com gestos – cantigas, melodias e pequenos versos com rimas; ● jogos de auto-simulação; ● brincadeiras de faz-de-conta; ● criação de novas brincadeiras. - Brinquedos e Objetos: ● alcance e busca do objeto; ● exploração ativa do objeto e meio; ● brinquedo espontâneo das crianças; ● continuidade da ação por motivação e aprovação; ● ajuda nas atividades manipulativas; ● canalização de formas estereotipadas de brincar dando significado e função ao objeto; ● ajuda na construção do conceito do objeto por meio da experimentação ativa e da função deles; ● estimulação do brincar ativo e independente para novas descobertas. A forma de estruturar as atividades na abordagem pedagógica vai depender das condições ambientais. Depende ainda do número de crianças integradas e do nível de interesse do grupo. O ideal é que as atividades individuais sejam também realizadas para orientação da família e da escola. Procedimentos Metodológicos: ● possibilitar o conhecimento, identificação e troca de experiência entre mães e crianças; ● estruturar situações de interações naturais positivas e também conflitivas (choro, birra, medo, briga entre crianças); ● incentivar o diálogo corporal, o toque, a verbalização, formas de acalmar e consolar a criança; ● ajudar na interpretação da intenção comunicativa das crianças e mães; • apoiar as mães, ajudando-as a expressarem seus sentimentos, desejos, dúvidas e temores, em relação às crianças e meio; ● ajudar as mães a encontrar com as crianças formas de trocas afetivas: fazer juntas coisas: brincar, passear ou atividades que dêem prazer pessoal e ao grupo; ● ajudar as mães a lidar com as atividades de rotina diária, alimentação, higiene e OM. É importante respeitar o interesse pelo brinquedo e desenvolvimento psicoafetivo. Dificuldade e limites dos pais, das crianças e profissionais deve ser discutido com o psicólogo da escola, instituição ou comunidade. O Papel do Professor na Educação Infantil Papel do Professor Especializado ou de Apoio: ● favorecer e mediar as relações; ● escutar necessidades, interesses, prioridades e desejos da criança, familiares e creche; ● realizar avaliação funcional do desenvolvimento em inter e transdisciplinaridade e intercâmbio com outros profissionais da comunidade; ● analisar o meio (casa – família – escola – comunidade), as possibilidades reais e potenciais do aluno; ● elaborar em conjunto com os demais profissionais envolvidos, o Programa de Intervenção Precoce; ● apoiar e ajudar a família a lidar com a criança (cuidados básicos, alimentação, higiene); ● favorecer a busca do prazer e do lúdico. Papel do Professor na Creche: A criança com cegueira ou baixa visão necessita ficar mais tempo no ambiente familiar, pois precisa de segurança, motivação e de pessoas disponíveis para ajudá-la a explorar e conhecer o mundo a sua volta. Entretanto, há famílias que precisam trabalhar e por isso colocam cedo as crianças em creches ou escolas maternais. O professor do ensino comum necessita de orientação, supervisão e apoio do professor especializadopara a inclusão escolar. O papel do professor do ensino comum, dentre outros, será: motivar e organizar interação e formas de comunicação com a criança, integrando-a ao grupo; ● planejar, em conjunto com o professor especializado, atividades significativas, lúdicas e funcionais que despertem o interesse da criança; ● ajudar a criança a realizar coisas que sozinha não conseguiria; ● ajudá-la a explorar o meio e a brincar ativamente; ● evitar subestimá-la ou superprotegê-la; ● ajudá-la a desenvolver a independência no lanche, na higiene e no brinquedo. Educação Infantil Pré - Escola A ESCOLA INCLUSIVA O modelo integracionista, pioneiro na educação especial da América Latina, foi introduzido em 1945 pela Fundação para o Livro do Cego no Brasil (SP), hoje Fundação Dorina Nowill, ao realizar os primeiros atendimentos educacionais de alunos deficientes visuais, matriculados no Sistema Estadual de Ensino. Na década de 60 foram criados os seguintes serviços: o itinerante, as classes de braile e as de conservação de vista para amblíopes, em parceria com a Secretaria de Educação de São Paulo e Fundação para o Livro do Cego, capacitando professores para o atendimento de alunos no ensino regular. Cabe esclarecer que o nome das classes refletia o conhecimento científico da época, ou seja, o aluno com baixa visão não poderia “gastar” a visão residual, deveria poupá-la. Graças ao desenvolvimento científico e tecnológico da década de 70, os alunos com baixa visão começaram a ser diagnosticados e orientados quanto ao desenvolvimento da eficiência visual pelo uso e função da visão. Em virtude desses avanços e dos conceitos de desenvolvimento e aprendizagem em educação, é que foram criados nas grandes cidades os centros de atendimento em universidades, hospitais e outras instituições, com o objetivo de realizar avaliação visual, avaliação de desenvolvimento, orientação médica e psicopedagógica, desde a intervenção precoce, a educação pré-escolar, a escolar e a reabilitação. Nessa mesma época houve grande expansão do atendimento educacional especializado, principalmente nos estados do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e outros estados, por meio da criação do ensino itinerante e das salas de recursos, em escolas públicas. Todas as iniciativas integracionistas foram centradas no modelo do Sistema em Cascata com diferentes níveis de integração, tendo por objetivos o atendimento às necessidades específicas nas salas de recursos ou no ensino itinerante, o apoio e a suplementação pedagógica para integração gradativa do aluno ao ensino comum. A integração como filosofia não implica negação da deficiência, mas aceitação das diferenças e oferecimento de oportunidade para o desenvolvimento das potencialidades. A inserção social e participativa do deficiente visual na escola e na comunidade foram, desde o início, aceitas e desejadas pelos alunos com deficiência visual, pelos professores de apoio e principalmente pelos familiares. Entretanto, na prática, o enfoque da integração do aluno deficiente visual teve-se limitado muitas vezes aos componentes físicos e temporais, com o significado de incluir o aluno na classe, simplesmente, objetivando a integração e a participação social. A Política Nacional de Educação Especial (MEC, 1994) conceitua a integração educativa escolar como: Processo gradual e dinâmico que pode tomar distintas formas de acordo com as necessidades e habilidades do educando. Processo de educarensinar, no mesmo grupo, as crianças com necessidades educativas especiais, durante uma parte ou a totalidade do tempo de permanência na escola. (p.18). Dessa mesma forma, a real integração abrange a dimensão social, física, funcional e comunitária, pela utilização cooperativa e compartilhada dos recursos educacionais e comunitários disponíveis para o desenvolvimento pessoal e social do aluno. O conceito de escola inclusiva foi introduzido na Declaração de Salamanca – Espanha (1994), sob o patrocínio da Unesco e do Governo da Espanha que adotam como linha de ação: “O termo necessidades educacionais especiais referese a todas aquelas crianças ou jovens, cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. As escolas têm de encontrar maneiras de educar com êxito todas as crianças, até mesmo as que têm deficiências graves” (p. 17). O grifo é nosso para mostrar que o foco de atenção deixa de ser a deficiência e passa a ser o aluno e o processo ensino-aprendizagem, que deve ser adaptado às necessidades específicas do aluno no contexto escolar, familiar e comunitário. O modelo de inclusão está centrado na metáfora do caleidoscópio, que sugere uma visão integral do ser, tornandose fundamental um interrelacionamento positivo e dinâmico, de troca e de parceria, em busca da qualidade de vida e melhoria do ensino. Nesse processo, as diferentes partes que o compõem: escola – aluno – professor do ensino regular – professor de apoio – consultor – pais – comunidade, priorizam o aluno e a construção do conhecimento. Aprendem a trabalhar juntos, compartilham conceitos, informações, experiências, reconstruindo valores e significados, buscando novos caminhos para a prática pedagógica e social. O conceito de inclusão admite a dimensão individual das relações intra e interpessoais de adaptação ao meio; do atendimento às necessidades específicas do aluno para o processo de desenvolvimento, aprendizagem; da autonomia e independência, que são os fundamentos da pedagogia na concepção sócio-construtivista. A inclusão total não adota programas e currículos especiais, mas propõe a eliminação dos obstáculos que impedem que o aluno progrida e avance no processo ensino-aprendizagem. Conclui-se, sob essa proposta, que o redimensionamento da prática pedagógica, contemplando o processo de desenvolvimento, aprendizagem, avaliação funcional e qualitativa, os conteúdos significativos para aprendizagem conceitual são essenciais. Entretanto, não se pode negligenciar os recursos específicos, o uso da tecnologia, que são também instrumentos indispensáveis para acesso, permanência e sucesso do processo de integração escolar. EDUCAÇÃO INFANTIL E DEFICIÊNCIA VISUAL Dimensão Sociopolítica Inicialmente na década 70 e 80, a educação infantil, em sua ainda curta trajetória no País, cumpriu o papel assistencialista, de caráter compensatório, para suprir as necessidades socioeconômicas e culturais das crianças oriundas da classe trabalhadora. Ela surge dessa forma, desvinculada de intenção educativa mais abrangente, voltada para os direitos fundamentais da criança, os compromissos com o processo de desenvolvimento, a aprendizagem e o atendimento aos interesses e necessidades da família e da comunidade. A integração de crianças com deficiência na educação infantil tem constituído, na realidade, iniciativas isoladas, geralmente em escolas particulares, nos grandes centros onde a mulher integra a força de trabalho. Necessita-se, portanto, de espaço confiável em que a criança possa receber cuidados e ter a oportunidade de convivência social,ainda restrita na comunidade. Embora a Política Nacional de Educação Especial do MEC (1994) venha recomendando a implantação de programas de educação precoce e pré-escolar no sistema de ensino público, essas iniciativas têm sido raras, ocorrendo em maior escala nas Instituições Especializadas. Em termos de política pública, integrando educação infantil e especial, a nova LDB (Lei Darcy Ribeiro – 9.394/ 12.9.96) representa um grande avanço: Art° 58 – Educação Especial oferecida preferencialmente na rede regular de ensino. § 1° – Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial. § 2° – O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º – A oferta de Educação Especial, dever constitucional do estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a Educação Infantil. Embora alguns críticos considerem o conceito de educação especial como modalidade de educação escolar, um subsistema paralelo não favorável à integração no ensino, deve-se ponderar que se encontra aqui uma nova visão de educação especial, não um serviço à parte, mas uma produção e construção de conhecimentos a serviço do aluno e da escola. A educação especial, neste novo enfoque, tem o papel fundamental de dar apoio, suporte e orientação para a construção do projeto político pedagógico e da proposta pedagógica curricular de cada escola. A comunidade aqui é representada pelos Conselhos Estaduais e Municipais de atenção à pessoa com necessidades educativas especiais, que têm o compromisso de garantir a melhoria dos serviços de saúde – educação – assistência social às pessoas com deficiência. Nesse conceito, cada escola terá autonomia para delinear sua intenção educativa, definir ações e estratégias que assegurem o desenvolvimento global do educando, a qualidade do ensino, a criatividade do aluno e do professor no fazer pedagógico. O princípio filosófico que permeia a nova deliberação é de base humanística, fundamentado na sócio-interação, adaptado à transformação e busca de novas alternativas para construção e reconstrução do conhecimento. Nesta virada de século, sob o enfoque tecnológico e humanístico de universalização da educação, inclusão total significa acesso ao ensino de boa qualidade, uso da alta tecnologia em educação e desenvolvimento da autonomia. Busca-se também o bem-estar, a qualidade de vida e o prazer como forma intrínseca de motivação cognitiva e satisfação pessoal. Para atingir esses objetivos a escola atual deve redimensionar sua prática pedagógica, ir em busca de parceria com universidades, instituições e pessoas que detenham conhecimento e informação que permitam permanente reflexão, discussão de problemas, alternativas de soluções, para que se garantam a aprendizagem e o ensino de qualidade. Esse processo de participação coletiva envolve a educação especial, a comunidade, os pais e a escola de educação infantil. A escola deverá preparar-se e capacitar os professores para lidarem com as diferenças, com a forma de construção do conhecimento, em níveis diversificados de desenvolvimento, com as necessidades específicas, métodos, técnicas e recursos que facilitam o processo ensino-aprendizagem. O movimento para a inclusão de crianças com deficiência em creches e na pré-escola é hoje mundialmente um fenômeno indiscutível. Entretanto, a orientação básica para adaptação curricular deve ser assegurada pela educação especial, assim como o suporte e apoio pedagógico para o processo de avaliação, de desenvolvimento e de aprendizagem das crianças com deficiência visual. Somente a participação, a discussão coletiva e o trabalho conjunto garantem a implantação de nova proposta pedagógica, capaz de transformar a realidade e o contexto escolar. PROPOSTA PEDAGÓGICA E CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL As diretrizes de Educação Infantil do MEC retratam o momento de transição na educação brasileira, apresentando diferenças conceituais entre currículo e proposta pedagógica. Apresenta a concepção de diferentes pesquisadores de educação infantil, que têm concebido currículo como “explicitação de intenções que dirigem a organização da escola, visando colocar em prática experiências de aprendizagem consideradas relevantes para crianças e seus pais. Essas experiências de aprendizagem, segundo o objetivo que se espera atingir, enfatizam aspectos filosóficos, relacionados ao desenvolvimento infantil, no qual devem predominar ou integrar facetas cognitivas, afetivas, sociais, físicas, privilegiando o atendimento infantil e as necessidades dos pais. A opção por fortalecer a linguagem e os conteúdos acadêmicos visa atender aos aspectos criativos e expressivos. O currículo deve incluir conceitos, princípios, procedimentos, atitudes, meios e formas de avaliação, pois é a explicitação das intenções que permitirá a orientação da prática pedagógica. Considera ainda os alunos, individualidades distintas que interpretam e vivenciam situações de formas variadas, entendendo nesse sentido que cada aluno deve ter um currículo. Estudiosos da concepção sócio-interacionista concebem currículo como o roteiro de uma viagem coordenada por um parceiro mais eficiente – o professor. As atividades são programadas, estruturando um cotidiano dinâmico, agradavelmente disciplinado pela adequada participação de todos, sobretudo com autonomia e cooperação. Embora também inclua as necessárias tarefas de cuidado como merenda e higiene, as atividades têm seu foco central no trabalho propriamente pedagógico realizado com as crianças. Enfatiza que o planejamento curricular deve explicitar além da fundamentação teórica, as distintas formas de encarar o homem e a sociedade, bem como propor alternativas de estruturação do ambiente de aprendizagem e desenvolvimento, incluindo a organização do espaço físico-social, uma vez que este dá suporte para a realização de explorações e brincadeiras, garantindo segurança e confiança às crianças e oportunidades de construção de competências. Embora não haja consenso se currículo e proposta pedagógica são utilizados com o mesmo significado, Cesar Coll defende a idéia de currículo aberto: “O currículo aberto, concede grande importância às diferenças individuais, no contexto social, cultural e geográfico em que se aplica o programa pedagógico. Propõe a interação permanente entre o sistema e seu entorno, integrando as influências externas no próprio desenvolvimento do programa educativo, que está aberto a um contínuo processo de revisão e reorganização” (Coll, 1991, p. 451). A construção do currículo deve levar em conta a heterogeneidade dos alunos e do ambiente, privilegiando os fatores sociais e culturais, relevantes para o processo educativo. Esses fatores implicam a conquista da autonomia, da cooperação, do autoconceito e da inserção crítica da criança na sociedade. Torna-se importante discutire pontuar esses conceitos porque pela nova Lei de Diretrizes e Bases, as propostas pedagógicas e o currículo são de responsabilidade do entorno escolar. Se houver aluno integrado, direção, professores, especialistas em educação especial, pais e comunidade em geral, todos são chamados a participar. A concepção de currículo aberto, com a responsabilidade de todos, abre sem dúvida perspectivas para uma educação de melhor qualidade para as crianças com deficiência visual em nosso país. ADAPTAÇÃO CURRICULAR ÀS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS A proposta pedagógica para criança com deficiência visual promoverá os mesmos objetivos gerais da educação préescolar: desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. O conteúdo curricular será idêntico ao dos demais alunos, requerendo, no entanto, algumas adaptações - complementações ou ajustes - necessários ao desenvolvimento das crianças com cegueira ou com baixa visão que precisam de aprendizagem contextualizada e significativa. Essas adaptações curriculares partirão da proposta pedagógica de cada escola, do trabalho pedagógico desenvolvido no cotidiano, das diretrizes metodológicas, dos recursos e das atividades contempladas. Há escolas que adotam como eixo organizador do trabalho pedagógico as áreas do desenvolvimento, os jogos e as brincadeiras. Outras partem da seleção de temas trazidos pelos alunos, organizando atividades e seleção de materiais a partir dos dados elaborados na intervenção. Incentivam a participação de atividades culturais como teatro, cinema, vídeo, brinquedoteca, museus e bibliotecas. No entanto, há escolas que não dispõem de estrutura física, recursos e materiais disponíveis para uma aprendizagem significativa e conceitual. Em ambos os casos, a proposta pedagógica e as adaptações curriculares serão elaboradas com todas as pessoas envolvidas no processo de desenvolvimento, aprendizagem e inclusão escolar do aluno. O atendimento às necessidades educacionais especiais do aluno é de responsabilidade de todos: direção, coordenação, professor de educação infantil, especialista em educação especial ou professor de apoio e, principalmente, da família, como parceira eficiente para explicitar essas necessidades. A adaptação curricular para a educação infantil requer muitas vezes, um conjunto de experiências de avaliação de desenvolvimento integral, aprendizagem, metodologia e recursos materiais não disponíveis ainda no sistema escolar. Daí a função da instituição escolar de buscar a articulação nas diferentes esferas do ensino público e a parceria com serviços e instituições não governamentais da comunidade que possam dar suporte, apoio e orientação para adaptação e complementação curricular. A articulação ou integração entre escola – família – comunidade garantirá a melhoria da qualidade de vida e da educação das crianças com deficiência visual. DIAGNÓSTICO E IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS O processo de inclusão de crianças com deficiência visual na etapa pré-escolar tem ocorrido de forma gradual em escolas públicas, onde a responsabilidade de avaliação, atendimento complementar e orientação tem sido exclusiva do professor especializado das salas de recursos ou do ensino itinerante. As experiências integradoras em escolas particulares de educação infantil têm sido hoje mais expressivas, embora a responsabilidade pela orientação e desenvolvimento da criança seja atribuída ao programa de educação pré-escolar que ela freqüenta em instituições especializadas. Observa-se que, predominantemente, o objetivo da educação infantil tem sido oferecer cuidado e oportunidade de integração social a essas crianças. Como o currículo escolar será o referencial básico, com a identificação e a avaliação das necessidades educacionais especiais, essa tarefa deverá ser então compartilhada, e múltiplos saberes serão somados. Os conhecimentos acerca do desenvolvimento, do ritmo de aprendizagem, da experiência metodológica e prática do professor especializado, da tecnologia dos centros de apoio pedagógico, das instituições especializadas e das universidades serão referenciais indispensáveis e elementos enriquecedores do processo de avaliação e de identificação das necessidades educativas especiais. O diagnóstico pedagógico e a avaliação das necessidades educacionais especiais devem ter caráter global e funcional, permitindo: ● identificar o nível, o grau e o tipo de especificidade necessária à adaptação curricular; ● caracterizar as especificidades de desenvolvimento e de aprendizagem da criança cega ou baixa visão; ● identificar e valorizar a construção do sistema de significação e os conhecimentos adquiridos pela criança; ● reconhecer e respeitar a forma diferenciada e o caminho próprio que cada criança utiliza para perceber, compreender o mundo e adquirir conhecimento; ● evitar avaliações comparativas e analógicas do desenvolvimento e produção da criança cega com a criança que enxerga; ● considerar que a criança com deficiência visual necessita de mais tempo para construir esquemas simbólicos, pré-operatórios e conceituais do que as outras crianças; ● utilizar como referencial para avaliação situações de brinquedos, jogos e atividades da vivência e da experiência prática da criança. NECESSIDADES ESPECÍFICAS DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA Interação e comunicação A criança com deficiência visual deve ser compreendida como um ser integral, que dispõe de outros meios que não o visual para interagir e comunicar-se com o meio. Possui uma maneira de ser, de perceber e de relacionar-se única e própria de sua individualidade que a diferencia das demais crianças. Necessita da organização e da integração dos demais sentidos, de movimentação espontânea e de participação ativa para relacionar-se com pessoas, objetos e eventos. Para uma relação positiva dialógica, intra e interpessoal, é importante que a escola levante com a família e o professor, os significados que a criança já possui, o que conhece, do que gosta, como manifesta seus desejos e interesses, como se expressa e se comunica. Observar que tipo de brincadeiras verbais, corporais e que cantigas e demais músicas lhe despertam prazer e interesse. Quais os objetos e brinquedos significativos, cujo uso funcional já conhece e domina, para poder brincar. A partir do repertório de experiência da criança, o professor vai propor formas alternativas de relacionamento e comunicação que estabelecem vínculo de confiança, pela possibilidade de a criança compreender e ter domínio sobre o meio para poder agir. As dificuldades de interação que uma criança com deficiência visual pode apresentar na escola estão relacionadas mais a atitudes super protetoras das pessoas que se relacionam com ela do que pela problemática em si. Geralmente, as pessoas assumem papel paternalista e tendem a pensar, resolver problemas e expressar-se por ela. Freqüentemente, o pré-escolar não necessita de um currículo individualizado na área de comunicação e linguagem,a não ser que não tenha construído seu sistema de significação e de linguagem. A construção do sistema de significação e de linguagem se estabelece pela possibilidade de a criança com deficiência visual vivenciar, explorar e conhecer o mundo, integrando experiências corporais com informações verbais, em diferentes situações sociais. O núcleo familiar social mais próximo e a escola desempenham importante papel nessa tarefa. O professor deve estar atento pois muitas crianças chegam à escola com fala exclusivamente reprodutora, destituída de significado. São crianças que estiveram expostas apenas à informação verbal, sem experiência corporal ou ação funcional para a construção do sistema de significação. Como desenvolvem uma boa memória auditiva, manipulam e impressionam verbalmente. A tarefa da pré-escola nesse caso é ajudar a criança a construir significados e conceitos reais pela vivência prática e representação dessa realidade elaborada pela própria criança. Desenvolvimento Psicoafetivo A qualidade das primeiras interações, a relação dialógica – física e verbal – são fatores fundamentais para a estabilidade emocional, a motivação e a intencionalidade da criança com deficiência visual. A forma como as pessoas significativas se relacionam e se comunicam com ela, como brincam, carregam e alimentam, revelam na realidade os sentimentos e emoções que vivem diante da deficiência visual. Em virtude dessas questões, do próprio histórico da perda visual, das alterações orgânicas na concepção ou imaturidade neurológica que também podem ser freqüentes nessas crianças, é que há uma grande heterogeneidade do desenvolvimento psicoafetivo e cognitivo na população cega ou com baixa visão. Há crianças que são fragilizadas emocionalmente pela história traumática de longa permanência em UTI neonatal, outras o são por inúmeras cirurgias oculares, na tentativa de preservar a visão. Esses fatores ambientais, nos primeiros anos de vida, também são responsáveis por comportamento de medo, tensão, reação negativa nas relações sociais e diante de situações novas. Por isso, muitas vezes, a criança pode apresentar uma relação simbiótica com a figura materna, necessitando de mais tempo do que as outras crianças para adaptação a situações novas e à separação materna. A escola deve compreender que as crianças com boa estrutura cognitiva também prolongam esses comportamentos. Necessitam, portanto, de pessoas boas, capazes de compreender e interpretar seus sentimentos e emoções. Nesses casos, uma orientação do psicólogo para a família e a escola é fundamental. A disponibilidade interna do professor para lidar com a deficiência visual, sua mediação segura, dando modelo de interação, incentivando a participação ativa da criança nas atividades escolares, possibilitando-lhe fazer coisas, brincar com outras crianças, ajudará muito o desenvolvimento de autoimagem positiva e de competência social. Ação Sensório-Motora e Aplicação Significativa No período sensório-motor a criança com deficiência visual precisa utilizar todos os sentidos de forma integrada para poder experimentar o mundo, vivenciar com seu próprio corpo o espaço e os objetos, para poder compreender a realidade externa e construir os esquemas de ação. A proposta pedagógica da pré-escola deve contemplar experiências sensório-motoras integradas e articuladas globalmente, para o desenvolvimento de imagem corporal tátilcinestésica, a reação de equilíbrio e o desenvolvimento perceptivo mais refinado, como o uso da mão para construção da inteligência prática. Torna-se importante observar como o desenvolvimento ocorre na ausência da visão, para uma intervenção pedagógica adequada. O desenvolvimento sensório-motor começa a diferenciar-se, na criança vidente, entre o 3° e o 4° mês, quando a visão exerce grande influência na movimentação ativa do bebê: coordenação olho-mão e coordenação olho-objeto. A coordenação entre os movimentos dos dedos das mãos e dos punhos é estimulada e guiada pela visão da mão, quando ela passa a entrar no campo visual do bebê, servindo de estímulo para a repetição da ação e dos movimentos. Se o bebê não foi adequadamente estimulado por sensações táteis agradáveis (toque, calor, movimento de aproximação e fuga, texturas, rotação de punho e mãos), poderá chegar à pré-escola com mãos rígidas, com pouca flexão, sem movimentos de buscas intencionais e ativas. Os movimentos de aproximação e distanciamento e o deslocamento da mão no espaço guiados pela visão, serão acionadores importantes de movimentação e coordenação sensório-motora integradas como movimento de rotação e extensão, flexão e elevação dos membros superiores. Para a criança com deficiência visual, não apenas a mão deve entrar em ação, mas o corpo todo. O deslocamento da mão no campo tátil deve ser seguido pelo movimento da cabeça e do tronco. São movimentos indissociáveis que devem ser motivados pelo toque de objetos de texturas agradáveis, que despertem o interesse tátil e auditivo da criança, que deles se aproxima e se afasta em diferentes posições no espaço, a partir do eixo corporal da criança, para que possa buscá-lo em diferentes posições. Essas ações sensório-motoras coordenadas fornecerão a imagem proprioceptivas das mãos, pescoço, ombro e tronco, associadas às reações labirínticas de equilíbrio do movimento do corpo. Principalmente o movimento de cabeça e a imagem tátil do objeto tocado é que darão condições para a criança desenvolver os diferentes padrões de postura e manipulação. Muitas crianças chegam à pré-escola com vivências sensório motoras muito restritas, sem o uso do corpo para ação intencional, sem deslocamentos independentes, com ausência de busca do objeto e de seu uso funcional. A proposta pedagógica deve contemplar a vivência e o conhecimento do espaço interno e externo, tocar, explorar paredes, corredores, portas, janelas, móveis, brinquedos, parque para poder formar o mapa mental do ambiente, que permitirá um deslocamento seguro. O professor deve mediar a construção do real, incentivando e encorajando a criança a fazer novas descobertas com seu próprio corpo: subir, entrar em espaços apertados, transpor obstáculos, agachar, rastejar. Usar os membros superiores para fortalecê-los, dependurar-se, balançar-se, empurrar, puxar, para desenvolver a força muscular. As atividades de equilíbrio em balanço, escorregador, gangorra e barca podem no início acarretar insegurança à criança com pouca experiência corporal. O professor pode ajudá-la com apoio físico ou modificando a postura de como escorregar deitada (de bruços, cabeça e braços apontados para a frente, parte alta do escorregador). São essenciais os cuidados básicos para que os brinquedos no parque não tenham materiais cortantes (latas, pregos, lascas de madeira). Os cortes em dedos devem ser evitados para não prejudicar a discriminação tátil. Os movimentos de cabeça, dos braços e das mãos são gestos imitados precocemente quando a criança começa a identificar os quadros sensoriais e coordenar as ações sensóriomotoras. Para a criançacom deficiência visual poder imitar esses movimentos, ela necessita percebê-los globalmente e parcialmente, vivenciando-os, para poder também representálos. O professor necessita intermediar essa relação interpessoal. A criança precisa tocar os colegas e ao professor cabe ajudá-la a observar tátilmente as posturas e os movimentos para poder imitá-los. Algumas crianças com deficiência visual tendem a prolongar até a etapa pré-escolar a exploração ativa dos objetivos com os outros sentidos: bater, agitar, raspar, jogar ao chão para ouvir barulho, cheirar e levar a boca para ter confirmação tátil. Essas explorações multissensoriais ocorrem também com crianças que têm bom potencial cognitivo. Essas ações nem sempre constituem condutas estereotipadas. Se forem constantes, sem modificação ou criação de novos meios de ação, pode ser indício de que a criança não elaborou o significado dos objetos e não compreendeu o uso e função deles. O professor poderá discretamente, com a ajuda tátil-cinestésica realizar movimentos coativos, isto é, fazer junto, mostrando a ação. Há crianças que, quando vêm para a escola, mostram pouco a ação funcional da mão, não desenvolveram ainda o mecanismo de preensão, tocam de leve ou rapidamente os objetos e rejeitam materiais de texturas marcantes ou diferentes, o que dificulta uma exploração tátil ativa para formar a imagem mental do objeto. O professor deve compreender que a criança pode necessitar de apoio para tocar objetos novos. As sensações táteis vão sendo assimiladas à proporção que a mão desliza, apalpa e manipula o objeto. O professor deve segurar delicadamente a mão da criança em forma de concha, colocando o objeto entre as mãos dela, ajudando-a a mantê-lo, movendo devagar para poder apreender o objeto como um todo. Com a mão dominante, ajudar a criança a realizar o rastreamento tátil com a ponta dos dedos, realizando movimentos apalpatórios amplos e leves, detendo-se para perceber os detalhes que compõem o objeto. Dessa forma a criança poderá construir a imagem mental do objeto e compreender o que pode fazer com ele. Para o desenvolvimento tátil-perceptivo atingir etapa de reconhecimento e promover discriminações de detalhes, além da experiência sensório-motora integrada, a linguagem também deve exercer importante papel na construção dos significados, possibilitando associar semelhanças e diferenças de texturas, formas, consistência, tamanho e volume dos objetos. Quando a criança já possui o uso funcional da mão, já construiu a inteligência prática, discrimina e reconhece os objetos, o professor deve favorecer os mecanismos de combinação e associação mental, a descoberta e criação de novos meios, dando função diferenciada aos objetos, estimulando também a representação simbólica deles. É comum pais, professores e colegas quererem solucionar problemas para a criança com deficiência visual, antecipando e explicando como as coisas funcionam. Sem dar tempo para ela investigar, solucionar e criar novos mecanismos de ação. O professor deve estar atento para instigar a curiosidade, problematizar, ajudar a criança a continuar investigando, fornecendo apenas algumas dicas e pistas que sejam necessárias. Dessa maneira o professor ajudará a criança a formar seus próprios conceitos, não a partir da ótica de vidente, mas a partir de seus próprios significados, ampliando as possibilidades de associação e generalização para pensamentos mais complexos, necessários à aquisição de conhecimento e síntese das experiências que é o papel fundamental da visão. Função Simbólica e Conceitual Na educação de crianças com deficiência visual fica evidente a importância da utilização de estratégias metodológicas que assegurem a integração e a articulação do sistema multissensorial e que favoreça a construção do sistema de significação e da linguagem pela ação da criança no tempo e no espaço. Da noção de permanência do objeto, formação de imagem mental do eu e do outro e da possibilidade de evocar e representar as ações vividas numa organização espaçotemporal-causal é que surge a função simbólica. A formação da imagem mental é a base da função simbólica. Talvez por esses fatores é que estudos apontam atraso significativo de crianças cegas em relação às videntes, na construção dos esquemas sensório-motores e em relação à função simbólica. Esse atraso geralmente é compensado a partir dos seis ou sete anos, quando a linguagem exerce a função de comprovar e reformular hipóteses perceptivas e de elaborar pelo poder de argumentação novos caminhos de ação e pensamento. Deve-se considerar ainda que o jogo simbólico ocorre quando a criança pode imaginar-se e imaginar o outro em ação. Enfatizamos aqui a importância de uma ação pedagógica precoce consistente, que priorize as brincadeiras corporais, o toque, a imitação, os gestos, a ação funcional e a vivência das atividades diárias que são os conteúdos básicos da representação simbólica. O professor que trabalha com crianças deficientes visuais na etapa pré-escolar deve compreender que a construção do sistema sensório-perceptivo e o conteúdo de representação simbólica se dá de forma diferente, e, se organiza por um caminho também diferente. Daí a importância de mediar essa organização, possibilitando a articulação com a experiência e a vivência de outros colegas, fazendo com que a criança com deficiência participe do jogo compartilhado com outras crianças. Muitas crianças apresentam a imitação sensório-motora e a representação de cenas domésticas, por volta dos quatro anos. Podem encontrar maior dificuldade para simular outras crianças, aplicar diferentes esquemas de ação e recriar o jogo. Isto porque só vai representar aquilo que viveu, experimentou, imaginou e fantasiou. Outras, entretanto, por volta dos cinco anos já têm um repertório verbal bastante rico, com tendência de liderar e planejar verbalmente o jogo, sem contudo vivenciar e compartilhar com os outros colegas a ação. A restrição da linguagem, da expressão gestual e da observação da seqüência de ações espaço-temporais dificultam o planejamento do jogo simbólico. Essas atividades podem ser vivenciadas desde cedo, ajudando a criança a associar e representar gestos com versinhos, rimas e cantigas. Ao contar histórias, além da narração enfática com alternância de ritmo, entonação e melodia da voz, é importante que o professor ou auxiliar, descreva as expressões fisionômicas, realizando a ação em conjunto com a criança. Da mesma forma, ao participar de teatro, as ações e expressões devem ser descritas e, preferencialmente, que a criança tenha em suas mãos o objeto ou algo que o represente para poder observar, compreender e poder representar a ação. As ilustrações de cenas dos livros de histórias que favorecem a evocação e representação imagética não têm significado para a criança cega ou de visão muito baixa. Poder elaborar tridimensionalmente os objetos, personagens, ilustração de cenas, com transformação de materiais e sucatas são recursos importantespara a formação da imagem mental e representação simbólica. A professora não precisa preocuparse com a beleza da produção, o mais importante é a criança poder elaborar e expressar sua forma de perceber e assimilar o mundo. Algumas crianças podem apresentar receio em transitar entre o imaginário e o fantástico, principalmente nas histórias e dramatizações de forte conteúdo emocional: tensão, medo, animais ameaçadores e monstros. A possibilidade de antecipar, prever, imaginar, fantasiar e recriar trará, sem dúvida, maior possibilidade de lidar com emoções fortes, com o novo e o imprevisível. A criança com deficiência visual também necessita expressar seus sentimentos, pensamentos e fantasias através do desenho. Para isso a professora poderá usar tintas: guache, plástica, pintura-a-dedo, com materiais sensoriais variados (areia, fubá, chá, sementes e pastas) que dêem relevo e volume. Elementos retirados da natureza: gravetos, pedras, conchas, folhas secas, sementes e outros são excelentes materiais para elaboração de murais, livros sensoriais. Contato com exposições, museus e esculturas são importantes para aquisição de conhecimento e percepção de formas diferenciadas de expressão. Trabalhar em grupo, montando painéis, rotas lúdicas, maquetas com materiais sensoriais é de fundamental importância para a criança com deficiência visual, pois é na integração e na comunicação com outras crianças e adultos que ela adquire a capacidade de solucionar problemas, de formar novos conceitos, reorganizar o pensamento, tornando-o mais flexível. As Atividades da Vida Diária (AVD) são situações ricas para o desenvolvimento cognitivo: noções espaço-temporais, pensamento lógico, classificações e seriações, raciocínio matemático e principalmente a compreensão das transformações. O treinamento sensorial, descontextualizado do fazer, contribui pouco para a aquisição da linguagem significativa e de conceitos. O desenvolvimento dos sentidos (tátil-cinestésicoauditivo-olfativo-gustativo) deve ser estimulado naturalmente em todos os momentos da rotina diária. Se a criança com deficiência visual tiver a oportunidade de vivenciar concretamente as situações de compra dos alimentos na padaria, feira, supermercados e puder manipulálos, experimentando-os, descobrindo seus atributos, semelhanças e diferenças, poderá adquirir conceitos lógicomatemáticos de classificação, seriação e inclusão de classe de maneira natural e agradável. A criança com deficiência visual necessita participar do processo de preparação e elaboração dos alimentos, recebendo informações tátil-cinestésico-auditivas para poder observar o processo de transformação dos alimentos, fazendo experiências para comprovar suas hipóteses perceptivas. Orientação e Mobilidade A independência e autonomia do aluno com deficiência visual é limitada, muitas vezes, por falta de um programa de Orientação e Mobilidade (OM) na pré-escola. A criança cega ou com baixa visão severa necessita locomover-se com segurança para aquisição de movimentos autônomos e independentes com o domínio do espaço para realizar descobertas e ter iniciativa no brinquedo. Em nosso meio, os programas de Orientação e Mobilidade são oferecidos mais tarde na adolescência. Muitos acreditam, ainda, ser necessária a maturação, a prontidão, ter boa coordenação motora e condições cognitivas para a utilização da bengala como instrumento de locomoção. Concebemos Orientação e Mobilidade como um processo que se inicia a partir dos primeiros movimentos espontâneos e intencionais do indivíduo com o corpo no espaço. Na escola, o professor poderá auxiliar o aluno a tornarse mais independente com a utilização de técnicas básicas de proteção, de coleta de informações, de rastreamento, de alinhamento e utilização de guia vidente. A introdução da bengala o mais cedo possível é de suma importância para prevenir alterações posturais, pois permite melhor alinhamento, simetria corporal e ajuda na organização postural, na flexibilidade e controle dos movimentos, diminuindo a tensão e insegurança que tanto interferem no padrão de marcha das pessoas com deficiência visual. O professor de sala de recursos poderá recorrer à orientação e assessoria de professores e técnicos em Orientação e Mobilidade ou buscar orientação em literatura específica. Papel do Professor na Educação Infantil A elaboração da proposta pedagógica e o projeto curricular deve ser uma tarefa compartilhada entre o professor do ensino regular, o professor especializado ou de apoio e todo o entorno escolar. A identificação das necessidades educacionais especiais, as estratégias de intervenção, as adaptações curriculares que se fizerem necessárias para cada aluno que participa do ensino regular, devem ser discutidas e elaboradas em conjunto, incluindo a participação da coordenação, orientação, supervisão pedagógica e direção da escola. Papel do Professor na Classe Regular ● Observar as formas de interação e comunicação utilizadas pelo aluno, bem como, as necessidades específicas para boa adaptação escolar; ● mediar a construção do conhecimento elaborado pela criança com deficiência visual no contexto familiar e escolar; ● motivar e organizar interações por meio do planejamento de atividades significativas, lúdicas e funcionais, discutidas e planejadas em conjunto com o professor especializado; ● ajudar a criança a realizar tarefas que não daria conta de fazer sozinha. Lidar com suas possibilidades e dificuldades, estimulando a organização e formas alternativas de comunicação e construção do conhecimento; ● orientar e apoiar a família para lidar com o desenvolvimento de hábitos, atitudes e desenvolvimento da competência social evitando a superproteção; ● favorecer as trocas afetivas pela busca do prazer, do lúdico e da participação social. Papel do Professor Especializado ● Dar apoio, suporte e orientação para elaboração do projeto pedagógico e da proposta curricular da escola; ● realizar a avaliação funcional do desenvolvimento e da aprendizagem, articulando a inter e a transdisciplinaridade com outras áreas (médica, psicológica, AVD, OM e outras) que se fizerem necessárias; ● trabalhar em conjunto com o professor da educação infantil, propondo estratégias metodológicas de acesso ao currículo, adaptando materiais e recursos alternativos para o processo de desenvolvimento e aprendizagem; ● orientar e ajudar na elaboração e adaptação de materiais, recursos específicos necessários ao processo de aprendizagem; ● orientar quanto à adequação ambiental: número de alunos na sala, tempo necessário para execução das atividades, organização dos espaços e atividades. Observando que salas muito amplas e com número grande de alunos, ambientes barulhentos e agitado prejudicam a orientação e organização dos alunos que utilizam da audição como principal meio de orientação e domínio do ambiente; ● ensinar o sistema braile à família, aos professores e a colegas interessados em colaborar. Estratégias Metodológicas e Meios de Acesso ao Currículo ● O atendimento às necessidades especiais envolvema dimensão do desenvolvimento integral: psicoafetivo, cognitivo, sensório-motor, enfatizando os aspectos da sócio-interação, comunicação e linguagem no contexto escolar, familiar e cultural; ● analisar as possibilidades e prioridades da criança e de sua família mediante análise do meio, utilizando os serviços de suporte e apoio de profissionais da comunidade; ● delinear as possibilidades e necessidades de desenvolvimento (pontos fortes e fracos) e as habilidades funcionais que permitam independência e autonomia do aluno, por intermédio da avaliação funcional do desenvolvimento integral, incluindo AVD e OM; ● a relação dialógica, a atividade grupal, as interações sociais, os jogos e as brincadeiras devem ser o aspecto central do trabalho pedagógico; ● a dinâmica pedagógica deve partir do nível de interesse e conhecimento do aluno, ampliando suas experiências pelo conhecimento da natureza, incentivando a pesquisa, a compreensão das transformações, valorizando a produção da criança, sua forma de perceber e elaborar o mundo: ● contemplar o desenvolvimento da auto-estima pela competência social, participando de atividades lúdicas, recreativas e artísticas; valorizando o potencial e o sentimento de pertencer ao grupo de colegas e à escola; ● a complementação curricular – Programa de AVD (Atividade de Vida Diária) e OM (Orientação e Mobilidade) – constitui programas específicos e individuais de avaliação e orientação geralmente não disponíveis no ensino regular. A escola deve encaminhar o aluno para a avaliação por serviços ou profissionais na comunidade que se comprometerem a orientar o professor, para ajudar com a conduta adequada, o desenvolvimento da autonomia e da independência do aluno no contexto escolar. Facilitar o acesso ao conteúdo curricular deve ser o compromisso do projeto político pedagógico da escola, da proposta pedagógica do professor do ensino regular e do papel do professor especializado de apoio e, ainda, da família e da comunidade. Os alunos com baixa visão poderão necessitar de recursos ópticos específicos para a discriminação e a visualização de figuras, livros, textos e gráficos. Auxílios como lupa de apoio, luminárias e materiais de alto contraste podem ser também necessários. Recursos de alta tecnologia como lupas eletrônicas, recursos de TV podem ser utilizados pelo aluno nos centros de apoio pedagógicos da comunidade, bem como maquetas sensoriais e outras adaptações de jogos sensoriais e livros adaptados. Os alunos com ausência total de visão necessitam de brinquedos e de jogos adaptados a suas necessidades sensoriais. Materiais tridimensionais, materiais para elaboração de trilha, percursos, construção de representação simbólica, representação do ambiente e maquetas. Jogos adaptados para iniciação e concretização da matemática, acesso ao ambiente de leitura e escrita em relevo e pelo sistema braile também são necessários. Recursos específicos para escrita como reglete, punção, máquina braile, sorobã adaptado e jogos pedagógicos para leitura-escrita e matemática também devem ser providenciados. Para a adaptação de jogos, materiais didáticos, elaboração e criação de livros sensoriais e em braile, o professor especializado poderá contar com a colaboração de professores de arte, pais dos alunos com deficiência e voluntários. Outro recurso interessante, que pode ser oferecido para acesso à literatura infantil, é o livro falado. O PROCESSO DE INCLUSÃO NA PRÉ-ESCOLA A concepção de aprendizagem significativa não se baseia apenas na assimilação do meio externo e na quantidade de informação captada, sem conexão com experiências concretas significativas. Não se utiliza de treinamento, aprendizagem mecânica ou essencialmente reprodutora dos conhecimentos transmitidos. Crê-se num processo de aprendizagem funcional e significativa: aprendizagem fruto da construção do conhecimento e internalização dos conceitos vividos pelo próprio sujeito. Este conhecimento decorre de sua ação no mundo e da significação que suas percepções adquirem pela interação e relação com o meio. Compreende, então, que o processo educacional deve começar ainda no berço, por meio do apoio e da orientação à família para interação com sua criança. Uma criança bem adaptada e integrada a sua família, conseqüentemente, terá condições de adaptar-se e integrar-se à escola. A criança com deficiência visual pode e deve ser incluída na pré-escola, desde que tenha condições mínimas de comunicação, interação, condições de explorar e de descobrir o meio e possibilidade de organizar-se para compreender o ambiente a sua volta. O processo de inclusão escolar é possível mediante exercício da independência e da autonomia da criança com deficiência visual. A inclusão não é simplesmente aproximação física, estar junto, mas a possibilidade de comunicação-ação-participação. Há integração quando há interação, quando existe troca pelo conversar, pelo brincar ou pelo compreender. A importância da inclusão escolar para a criança com deficiência visual consiste também na oportunidade de conhecer outras crianças de sua idade, com alterações sensoriais ou não, para que possa conhecer-se e identificar-se com elas. A partir de experiências compartilhadas, estas crianças têm a oportunidade de enriquecer seu mundo interior e de ampliar suas vivências. Não se deve esquecer que antes de serem portadoras de uma alteração sensorial, são crianças que têm as mesmas necessidades, embora com maneira diferenciada de aprender e organizar suas experiências. Somente por meio dessa relação solidária: adaptando-se a si mesma, a suas limitações sensoriais, às pessoas e às coisas é que a criança com deficiência visual poderá estruturar e organizar seu conhecimento. O objetivo da inclusão escolar do aluno deficiente visual é mais abrangente que proporcionar a oportunidade de socialização; é o de oportunizar o desenvolvimento máximo de suas possibilidades, dar oportunidade para adquirir experiências sensório-motoras integradas, noções espaçotemporais pela vivência corporal, favorecer a construção do sistema de significação e representação simbólica por intermédio de atividades funcionais e lúdicas e, principalmente, poder desenvolver autonomia e independência. Para que isto ocorra, é importante que a família e a escola sejam bem orientadas e trabalhem juntas no processo de integração, evitando-se assim ansiedades, frustrações, discriminações, superproteções ou rejeições. As atitudes inadequadas e as dificuldades encontradas para a integração estão mais relacionadas à falta de informação, conscientização e orientação do que ao processo em si. Para o processo de inclusão escolar uma condição básica é o apoio pedagógico especializado, equipamentos e materiais específicos para a educação destas crianças, o que infelizmente não é uma prática comum em nosso País. Deve-se garantir o acompanhamento do processo de desenvolvimento e aprendizagem, o atendimento às necessidades específicas do aluno, a adaptação e a complementação curricular. O sucesso da inclusão escolarnão depende apenas da existência do professor especializado ou de recursos e equipamentos disponíveis, mas, acima de tudo, da compreensão das possibilidades, das limitações, das necessidades da criança e da disponibilidade da escola para com o aluno. Para isso é importante que a escola toda seja preparada na chegada do aluno com deficiência visual, desde a direção, a coordenação pedagógica, o professor que vai atuar com o aluno, os demais professores, todas as crianças da escola, enfim todos os envolvidos no processo. Poderá haver necessidade de informação ou orientação aos pais dos outros alunos, tendo em vista o fato de ser ainda pouco freqüente a integração de crianças com deficiências em nossas escolas. Após a conscientização e a orientação da escola, realiza-se a familiarização, isto é, o conhecimento do ambiente e das pessoas pela própria criança, como forma de garantir a segurança e a utilização de pontos de referência importantes para sua orientação, organização, autonomia e independência. É muito importante a ajuda do professor de Orientação e Mobilidade para que a integração pré-escolar seja uma experiência positiva, e para que a criança tenha a oportunidade de participar com segurança de todas as atividades. Todos necessitam compreender que a criança com ausência de visão não precisa ser superprotegida e “paparicada”. Ela necessita vivenciar todas as situações, necessita ter as mesmas regras e obedecer aos mesmos limites estabelecidos para seus colegas, deve ser respeitada como criança “não vidente”, que tem seu modo particular de perceber, agir e elaborar a realidade. A meta da educação do pré-escolar com deficiência visual deve ser o desenvolvimento de sua autonomia. Autonomia significa pensar e governar-se a si próprio. Isso depende primeiramente de sua autonomia física, possibilidade de guiarse e não de ser guiado, possibilidade de locomover-se, de ir e vir, deslocar-se no tempo-espaço para exercitar sua intencionalidade. Daí a importância do desenvolvimento de um programa de orientação e mobilidade, o mais precoce possível, para que, a partir da autonomia física, a criança com deficiência visual conquiste sua autonomia nas demais áreas. Para o construtivismo sociointeracionista, a interação num grupo de crianças é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, considerando que o raciocínio, antes que ocorra como uma atividade interna, é elaborado num grupo de crianças como uma discussão que tem por objetivo checar as bases do pensamento, a partir do ponto de vista de cada um. A possibilidade de a criança usar a capacidade de pensar logicamente em nível pré-operacional e depois, mais tarde, em nível operacional e abstrato, depende, principalmente, da autonomia social, intelectual e moral. A criança poderá tornar-se mais participante e criativa se for estimulada a trocar pontos de vista, a expressar e refletir suas próprias experiências, sem medo de errar. Isso será possível se a criança encontrar um professor disposto a compreendê-la, disposto a perceber o que está sentindo ou pensando, para poder ajudá-la a recriar a realidade, construindo uma autoimagem positiva. A oportunidade de viver em grupo, poder participar de jogos e realizar as atividades da vida diária independentemente é que ajudará a criança com deficiência visual a adquirir a autonomia moral, intelectual e social. Dessa competência e autonomia dependerá também a aceitação no grupo e a integração pré-escolar. Outra questão a ser discutida é que a prática pedagógica nas salas de recursos tem-se fundamentado nos princípios básicos que norteiam a educação especial: individualização e concretização do ensino. Com isto, alguns professores se detêm na metodologia do concreto – observar e fazer – suprimindo desse modo formas mais elaboradas de pensamento abstrato. A orientação concreta é imprescindível nos estágios iniciais de desenvolvimento e servirá para o aluno com deficiência visual como ponte e meio para alcançar níveis abstratos de pensamento. Para isso, são fundamentais atividades em grupo, em que a criança seja estimulada a representar suas vivências valendo-se do brinquedo, do jogo simbólico, do jogo dramático e dos jogos de regras. A criança com deficiência visual deve ter oportunidade de participar de atividades de elaboração e criação de brinquedos e jogos em grupo, elaborar e criar cenas e histórias e representar suas experiências com sucata, argila e modelagem. Por outro lado, a convivência e interação só com pessoas e crianças videntes podem gerar conceitos irreais, que são chamados de verbalismo, ou seja, a tendência de emprego de palavras e expressões de conteúdo puramente visual, sem ter real significado para a criança. O professor deve estar atento para respeitar e aceitar formas diferenciadas de experiências sensoriais elaboradas pelo aluno e não querer compensá-lo com conceitos puramente visuais. Conceitos de determinados fenômenos da natureza como: luar, brilho das estrelas, arco-íris, ou determinadas transformações de reações químicas ou microscópicas, por exemplo, são experiências e espetáculos estritamente visuais, inacessíveis à observação do aluno com cegueira. Esses conceitos não devem, portanto, ser passados metaforicamente para o aluno, com a experiência de videntes. O aluno formará seus conceitos utilizando as imagens mentais tátil-cinestésico-auditivo-olfativo-gustativas por suas próprias e particulares experiências sensoriais; portanto, há muitos fenômenos ou eventos que não podem ser objetivados, nem experimentados sensorialmente pela criança cega. Entretanto, há conceitos que podem ser adquiridos por meio da utilização dos outros canais sensoriais, desde que o aluno possa estabelecer relações de semelhança e diferença e o emprego de analogia com experiências já vividas. É importante que o sistema seja construído pelo próprio aluno e não ensinado pelo professor. O professor criativo, que usa o método da investigação e reflexão, pode ajudar o aluno a adquirir seus próprios conceitos a respeito de horizonte, luz, sol, estrela, espelho, brilho, sombra, relâmpago e outros, ajudando o aluno na superação de suas dificuldades naturais, ao mesmo tempo em que estimula a sua curiosidade para aprender. O Processo de Construção da Leitura e Escrita e o Sistema Braille Foi realizado um levantamento literário buscando novas metodologias ou propostas alternativas para introdução do sistema braile nas séries iniciais. Concluiu-se que grande parte dos educadores no Brasil, na América Latina, Espanha e América do Norte utilizam-se de metodologia tradicional e consideram como pré-requisito para a alfabetização o desenvolvimento sensório-perceptivo e conceitual. Consideram o aluno preparado para a aprendizagem da leitura e escrita quando: ● sabe seguir direções e reconhecer direita/ esquerda; ● pode imitar posições de figuras ou objetos que se apresentam num esquema; ● sabe apontar semelhanças e diferenças ● classifica objetos por tamanho, consistência, forma, textura; ● usa as mãos de forma coordenada; ● emprega o tato com fim exploratório; ●maneja conceitos espaciais; ● adquire prática no uso correto dos dedos leitores, pressão e movimento; ● apresenta coordenação motora fina e orientação espacial (requisitos para a escrita com reglete). O sistema de leitura e de escrita para cegos foi criado por Louis Braille, em 1829, e até hoje não está superado. Pois nada surgiu para substituir o sistema de representação simbólica do alfabeto por combinação dos seis pontos que constituem o sistema braile. Os fundamentos do Sistema Braille são indiscutíveis e eficazes. Entretanto, os métodos, as formas e o caminho para introduzi-los devem ser questionados e outros devem ser investigados para facilitação da leitura e da escrita por esse sistema. Os princípios básicos envolvidos no processo de aquisição da leitura e da escrita são os mesmos para os alunos cegos e videntes. Trata-se de uma atividade basicamente de função conceitual e representativa para interpretar, mediante o tato, os símbolos do Sistema Braille que representam as letras. Para essa tarefa, o fundamental é experimentar, perceber, decodificar, conceitualizar. O aluno só poderá chegar a esse nível de abstração se estiver exposto e tiver acesso ao sistema braile desde cedo. O aluno vidente está desde bebê exposto à simbologia gráfica: ao desenho, às letras, aos rótulos, livros de história, cartazes, etc. A criança cega, geralmente, terá acesso à simbologia gráfica em relevo só quando estiver na fase de alfabetização. É de fundamental importância que a família seja estimulada para a aprendizagem do Sistema Braille, para que possa motivar a criança, acompanhá-la e orientá-la na construção da leitura e escrita. A parceria mães-professores criativos poderão ajudar as crianças cegas a elaborarem livros funcionais, criando histórias a partir de situações vividas ou objetos escolhidos. Os livros poderão conter colagens de objetos, reprodução e elaboração de desenhos em relevo, construção de maquetas e produção de textos espontâneos, utilizando fichas ou cartelas com alfabeto braile. A criança cega deve ter livros infantis atraentes e criativos a sua disposição para que a leitura seja uma experiência prazerosa e lúdica. Grande parte do professorado tem estabelecido uma seqüência para introduzir a simbologia braile, talvez em virtude da experiência anterior de graduar as dificuldades relativas à fonética e à ortografia. Sistematizam o Sistema Braille de uma forma linear, organizado em seqüência de letras mais fáceis, de forma numérica, ponto a ponto, temendo que o aluno confunda símbolos similares e aprenda errado. De acordo com essa experiência, demonstra-se que: ● as letras que utilizam pontos nos extremos e na mesma direção são mais fáceis de se perceber tatilmente e de se escrever (x, 1, c); ● as letras em espelho (e - i, d - f, h - j) confundem o leitor inicialmente, criando problemas para sua identificação; ● alguns sons e combinações apresentam dificuldades fonéticas (ga - go, gu - ge - gi, que - qui, ca - ce - co). Constata-se aqui a mesma preocupação com a adequação e correção ortográfica e a transcrição do sistema sonoro para o gráfico, destituído do aspecto construtivo, no qual a criança poderá compreender e interpretar sua construção, descobrindo que os símbolos que representam as letras conservam uma posição, ordem e seqüência e que têm significado. Há controvérsias dentro da metodologia tradicional. Há professores que são adeptos do método alfabético e/ou silábico, julgando-os mais rápidos. Outros preferem o método global, partindo da palavra geradora para ensinar a reconhecer a palavra como um todo. A dificuldade que o professor especializado encontra para investigar novas propostas se deve, em grande parte, ao fato de que os livros braile, disponíveis nas séries iniciais, sejam só cartilhas que utilizam os métodos acima descritos. Pessoalmente, pudemos orientar e acompanhar o processo inicial de aprendizagem de leitura e escrita de vários alunos cegos, dotados de bom desenvolvimento global, integrados em pré-escola que introduzia a alfabetização aos 5 e 6 anos. A nossa preocupação inicial não foi usar passos, regras ou normas para a introdução do sistema braile; foi permitir à criança com cegueira participar do trabalho pedagógico e da construção coletiva do processo de leitura e escrita. Orientamos etiquetar em braile toda a comunicação escrita na classe: nome dos colegas, caixas de materiais, seções de atividades, etc. Como as demais crianças possuíam sua caixa de letras e sílabas, fizemos o mesmo. Representamos as letras inicialmente por pequenos botões de camisa de bebê, elaboramos o alfabeto braile em fichas de cartolina. Para as fichas silábicas, utilizamos pontos de cola plástica para diminuir o tamanho. Para a escrita, improvisamos uma reglete adaptando uma tela plástica dos jogos de pino. Incentivamos a família a produzir, em conjunto com a criança, livros funcionais e criar histórias com pequenos textos em braile. Motivamos o uso dos poucos livros infantis da biblioteca braile. Desta forma, os alunos puderam iniciar seu processo de construção de leitura e de escrita, através da produção de seus próprios textos. Esses alunos estão bem integrados à classe comum, são questionadores, pesquisadores, com produção de textos criativos. O Processo de Alfabetização da Criança com Baixa Visão O processo de alfabetização da criança com baixa visão subnormal muitas vezes pode ser mais complexo, em relação ao da criança cega. Isto em função das diversas variáveis envolvidas no uso funcional da visão, tais como: ● tipo de experiências visuais adquiridas – perceptivas e conceituais; ● potencial visual utilizável para leitura e escrita; ● possíveis alterações da sensibilidade aos contrastes e visão de cores; ● necessidade de adaptação ambiental quanto à iluminação e às condições posturais; ● necessidades de adaptação de recursos ópticos ou não-ópticos. Essas necessidades serão levantadas na avaliação funcional da visão, na forma como o aluno se adapta ao ambiente e utiliza os materiais escolares. Tendo em vista a utilização máxima do potencial visual do aluno, o professor especializado deve discutir com o oftalmologista todas as possibilidades de correção óptica e/ou ajuda que sejam necessárias para melhorar o desempenho visual para perto e longe. O professor deve levar em conta que crianças com visão subnormal, mesmo portadores da mesma patologia, têm necessidades particulares e atingem níveis diferentes de desenvolvimento visual e uso funcional da visão. A programação pedagógica respeitará os diferentes níveis e o potencial do aluno. Há crianças que funcionalmente operam apenas em nível de consciência visual do estímulo. Reagem e agem pela compreensão do significado da luz, direção da fonte luminosa e de vultos, coordenando ações motoras e sensoriais. Essas crianças com perdas visuais severas necessitarão de recursos auditivos, táteis e da aprendizagem do Sistema Braille para atividades de comunicação e leitura/escrita. Da mesma forma, alunos com grande alteração de campo visual ou necessidadede aproximação extrema do material a ser lido podem utilizar-se do Sistema Braille, como complementação e facilitação do processo de leitura/escrita. Crianças que funcionalmente operam em níveis perceptivos e conceituais, decodificando estímulos visuais, interpretando imagens visuais, (contornos, detalhes, cores, configurações e padrões de objetos e letras) devem ser estimuladas a utilizarem ao máximo a visão residual para atividades de leitura/escrita. Entre essas crianças há as que encontram muita dificuldade para discriminar figuras complexas por alteração da visão macular (responsável por percepção de detalhes), o que o professor não deverá confundir com deficiência mental. Muitos alunos encontram dificuldades para discriminar fotos, figuras de animais e desenhos abstratos. Há professores que retardam o processo de alfabetização dessas crianças, porque julgam que, em virtude da dificuldade perceptiva, terão dificuldade para discriminar letras. Discriminar letras e números é mais fácil do que figuras complexas. Pela experiência visual com letras, números e figuras, a criança vai aprendendo a construir suas hipóteses perceptivas, antecipando, identificando e generalizando imagens visuais. O aluno com visão subnormal pode desenvolver eficiência visual com ajuda de auxílios ópticos adequados, materiais adaptados a suas necessidades visuais e principalmente pela organização e adequação do ambiente. Há alunos que, de acordo com a patologia, necessitam de alta iluminação para poder visualizar os estímulos, enquanto para outros a luminosidade e brilho podem dificultar a fixação e discriminação visual. O professor deverá pesquisar com o aluno qual o tipo de iluminação mais adequada (luz fluorescente ou incandescente), quantidade e direção do foco luminoso. O controle de iluminação na sala de aula é fator importante para a eficiência e conforto visual do aluno. Muitas crianças podem apresentar dificuldades acomodativas (dificuldades para ver de perto), o desempenho visual poderá ser lento e gerar estresse e cansaço pelo esforço visual de acomodação, fato que não deve ser confundido com preguiça ou falta de motivação. A programação pedagógica deve objetivar o enriquecimento de experiências visuais significativas através de atividades lúdicas adaptadas às necessidades de cada aluno. Pois torna-se impossível a padronização de brinquedos, jogos, materiais ou textos para alunos com baixa visão. Os jogos pedagógicos interativos pelo computador são hoje muito utilizados nos países desenvolvidos, como recurso motivador do uso funcional da visão, desenvolvendo as funções visomotoras, perceptivas e conceituais. Além de ser um processo lúdico e interativo, o computador permite a utilização de contraste e ampliação da imagem, conforme a necessidade de cada aluno. Para portadores de baixa visão com dificuldade motora associada, o computador e a máquina de datilografia ampliada tornam-se excelentes recursos para aprendizagem da leitura/ escrita. Alunos com perdas visuais severas, alteração de campo visual ou sensibilidade aos contrastes poderão beneficiar-se do circuito fechado de televisão (CCTV) como recurso auxiliar de leitura/escrita. Para ampliação de textos, o professor poderá utilizar o caderno de pauta ampliada, caneta hidrocor e lápis Regente 6B para aumentar o contraste. O uso de filtro amarelo também intensifica o contraste do texto. Quando não se dispõe de recursos sofisticados de alta tecnologia para facilitar o processo de leitura/escrita, o professor poderá pesquisar com o aluno os diferentes tipos de lupas manuais disponíveis no mercado. Há lupas que facilitam as tarefas visuais para perto como: lupas de mão de diferentes formas e modelos, lupas cefálicas e lupas de mesa iluminadas ou não. O professor deverá ajudar o aluno a descobrir o melhor ponto focal e a melhor distância para não haver distorção de formas. Para visão a distância e leitura da lousa, a prescrição dos telessistemas será realizada pelo oftalmologista quando necessária. Na dificuldade de adaptação do aluno às telelupas, poderá ser utilizado um telesistema acoplado ao CCTV ou de lupa eletrônica. Como não se dispõe no mercado nacional desse tipo de equipamento, o professor orientará a aproximação do aluno à lousa, à distância necessária. Alunos com acuidade visual muito baixa, com ausência de coordenação visomotora ou alteração de campo visual podem encontrar muita dificuldade de realizar cópia da lousa. O professor poderá orientar a utilização de recursos sonoros como gravação da aula, cópia de texto próximo ou a colaboração de colegas tirando cópia do texto para o aluno. Há alunos que, mesmo com recursos ópticos potentes, necessitam aproximar-se muito para poderem ler de perto. O professor deve estar atento à adequação postural do aluno, posicionando o porta-texto para leitura. Geralmente, o oftalmologista encaminha o laudo médico, a indicação do tamanho de letra (impressão em tamanho métrico) que o aluno é capaz de discriminar. Se isso não ocorrer, o professor poderá pesquisar com o aluno qual o tipo e o tamanho de letra mais adequado e acessível. Os alunos com baixa visão leve e moderada podem, muitas vezes, utilizar-se dos jogos e letras disponíveis no mercado, com cores contrastantes. O professor deverá adaptar as letras, palavras e textos, levando em consideração a acuidade visual, alteração da sensibilidade aos contrastes, alteração de campo visual e possíveis escotomas (pontos cegos). Nem sempre o maior tipo de letra é o mais adequado. Inicialmente alguns alunos podem necessitar de ampliação para facilitar o processo de leitura/escrita; o professor deverá gradativamente diminuir a ampliação, para que o aluno também adquira eficiência com tipos menores. Muitos alunos adquirem eficiência, apesar de seu quadro de alteração visual, chegando a ler revistas, jornais e os livros didáticos disponíveis no mercado, com ou sem auxílios ópticos. Outros alunos poderão necessitar de recursos ampliados, iluminação adequada e mesmo assim apresentar lentidão no processo de leitura/escrita. A qualidade do traçado gráfico do aluno com visão subnormal é bastante variável, em virtude das condições visuais de cada um. Há alunos que persistirão no uso de letra grande, traçado irregular ou incoordenação, sem conotação de alteração motora. A qualidade do traçado gráfico não deverá ser também critério para introdução da leitura/escrita. Há alunos com visão subnormal severa que têm grande dificuldade de elaboração de formas e desenhos, entretanto, têm desempenho visual suficiente para leitura e escrita por meios visuais. Na baixa visão como na cegueira, o que determina a capacidade de leitura/escrita é o nível conceitual do aluno. Deve-se compreender que o domínio do processo de leitura/escrita pelo Sistema Braille ou por meios visuais dependerá também da experiência compartilhada no grupo social. A intervenção pedagógica competente, a experiência de outros colegas mais adiantados e o domínio do Sistema Braille pela família serãomediadores eficazes para se alcançar avanços no domínio desse sistema. A inclusão no sistema de ensino público e comunitário pode ser uma realidade mediante tarefa compartilhada e compromisso de todos. A criança com deficiência visual é capaz, necessita apenas de oportunidade. A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL As crianças desde o nascimento têm as mais diversas experiências que as levam a aquisições, relacionamento com a figura materna e com outros familiares, adquirindo a segurança para a satisfação de suas necessidades básicas. Por meio dessas relações entram em contato com o mundo, formando conceitos, estabelecendo relações, desenvolvendo a linguagem, a compreensão de símbolos, dando início ao período de alfabetização. A partir de aquisições motoras como levantar a cabeça para ver um objeto, virar a cabeça acompanhando um ruído, segurar objetos, levar objeto à boca, bater objetos, etc., a criança percorre uma trajetória até chegar à marcha, que lhe possibilita maior exploração do espaço e domínio do próprio corpo. Sua entrada na escola gera oportunidades de participar de um grupo social mais amplo, adquirindo hábitos, fazendo experimentações, formando conceitos e ampliando o vocabulário. A alfabetização requer da criança maior atenção concentrada e motivação para a aprendizagem formal da leitura e da escrita, facilitada pelos estímulos visuais e sonoros do ambiente familiar, da escola e dos meios de comunicação. O desenvolvimento da criança cega sofre interferência da perda visual, acarretando dificuldades para a compreensão e organização do meio. Observa-se a necessidade de estimulação permanente, dentro das possibilidades da faixa etária, a fim de que alcance progresso em todas suas potencialidades. Crianças com perda visual severa podem apresentar ainda atraso no desenvolvimento global. Isto se deve em grande parte à dificuldade de interação, apreensão, exploração e domínio do meio físico. Essas experiências significativas são responsáveis pela decodificação e interpretação do mundo pelas vias sensoriais remanescentes (táteis, auditivas, olfativas e gustativas). A falta dessas experiências pode prejudicar a compreensão das relações espaciais, temporais e a aquisição de conceitos necessários ao processo de alfabetização. De igual relevância são os aspectos de orientação e mobilidade e de relacionamento social. Também não se deve esquecer o desenvolvimento da consciência corporal, coordenando e dissociando movimentos e orientação no espaço. O sucesso escolar da criança vai depender de uma série de fatores, independentemente da idade em que comece a freqüentar a escola e do tipo de programa no qual esteja matriculada. Toda criança precisará de certas atitudes, maneiras de trabalhar, capacidades e habilidades. Entre essas: ● saber usar os grandes músculos; ● escutar atentamente; ● seguir instruções e ordens, entender palavras que designam localização e direção; ● movimentar-se independentemente pela escola; ● trabalhar da esquerda para direita; ● saber o que é semelhante e diferente, no que diz respeito a sons, formatos e texturas; ● usar significativamente as palavras; ● cuidar de si mesma; ● usar bem a musculatura fina; ● usar a visão residual (exclusivo para pessoas com baixa visão). Também são muito importantes as atitudes emocionais e sociais. Entre essas: ● estar motivado para o trabalho; ● gostar das coisas que está fazendo; ● trabalhar com outras pessoas; ● trabalhar individualmente; ● desempenhar tarefas por período de tempo crescente; ● tentar novas experiências. As crianças que conseguirem adquirir as atitudes, capacidades e habilidades mencionadas, terão mais facilidades para um bom e completo envolvimento na vida escolar. O professor alfabetizador deve levar em consideração todos os aspectos de desenvolvimento da criança e partir das seguintes indagações: ● qual o grau de perda da visão da criança? ● que conhecimento detém sobre assuntos específicos? ● que tipo de experiência teve anteriormente? ● que oportunidades lhe foram oferecidas? ● o que lhe é significativo neste momento? ● o que a criança quer saber fazer nesse momento? ● qual é o nível de envolvimento de sua família? O professor alfabetizador deve ajudar a criança a lidar com frustrações e motivá-la a investigar, pesquisar, construir novos significados, reforçando sua identidade e constituindo a base da futura aprendizagem. Por isso o processo de desenvolvimento e aprendizagem da leitura-escrita deve ter como meta a ação funcional, significativa, vivenciada e construída pela criança, mediante cooperação conjunta professor-aluno-colegas e familiares. Cabe ao professor a análise, organização e sistematização de atividades pedagógicas específicas, necessárias ao desenvolvimento integral do aluno, como também propor e adaptar atividades lúdicas, prazerosas e situações de interação, socialização e participação coletiva com os demais alunos da escola. Fase Inicial para a Alfabetização Antes de aprender como se escreve e como se lê, a pessoa tem algumas idéias sobre leitura. Ela tem contato com escrita na rua, na televisão, nos jornais e em muitos lugares. Vê pessoas lendo e escrevendo e pensa sobre isso. A criança vidente incorpora, assistematicamente, hábitos de escrita e de leitura desde muito cedo. No entanto, a criança cega demora muito tempo a entrar no universo do “ler e escrever”. O Sistema Braille não faz parte do dia-a-dia, como um objeto socialmente estabelecido, porque somente os cegos se utilizam dele. A descoberta das propriedades e funções da escrita tornam-se impraticáveis para ela, caso não tenha acesso a essa comunicação alternativa. Infelizmente as crianças cegas só tomam contato com a escrita e a leitura no período escolar. Esse impedimento, sabese, pode trazer prejuízos e atrasos no processo de alfabetização. A educação precisa cumprir com seus reais objetivos: abrir frentes de conhecimento, suprir lacunas e minimizar carências. Alguns estudiosos, especialmente da linha construtivista, consideram até certo ponto desnecessários exercícios prévios, que preparam o educando para ingressar no processo de alfabetização propriamente dito, porque não acreditam na chamada “prontidão para a alfabetização”. Nessa perspectiva sociointeracionista a aprendizagem não se dá por exercício mecânico, pela assimilação ou decodificação de códigos ou técnicas, mas pela possibilidade de a criança pensar, analisar, comparar semelhanças e diferenças, pesquisar, ter dúvidas e buscar soluções com o auxílio do professor. O que deve ficar claro é que, no caso da educação de crianças cegas, independente da concepção pedagógica ou linha metodológica adotada pela escola, não se pode negligenciar o desenvolvimento integral, a utilização de técnicas e recursos específicos fundamentais ao êxito e eficácia do processo de aprendizagem da leitura-escrita pelo Sistema Braille. É na fase pré-escolar, que se procura dar ênfase ao desenvolvimento de um conjunto de habilidades que são fundamentos básicos para a leitura e a escrita do Sistema. Quando se fala na importânciade desenvolver capacidades básicas, trata-se de proporcionar ao indivíduo com qualquer deficiência a oportunidade de desenvolver toda potencialidade, tornando-se um ser autônomo, participativo, uma pessoa plena, um homem com consciência de si mesmo. As habilidades básicas são trabalhadas a partir das potencialidades da criança, de seus pontos fortes. Contemplam, ainda as dificuldades geradas pela cegueira ou baixa visão, podendo apresentar-se em níveis ou áreas diferentes do desenvolvimento. Ao estimular o mecanismo capaz de mobilizar estruturas internas da criança, deve-se desenvolver habilidades relativas à percepção corporal, percepção espacial, desenvolvimento de conceitos, discriminação tátil, discriminação auditiva, motricidade fina e ampla, bem como de discriminação visual para crianças com baixa visão. Por isso, faz-se necessário um trabalho de estimulação contínuo e consistente, na qual áreas importantes necessitam ser aprimoradas. Assim, o professor alfabetizador deve levar a criança a experimentar várias situações de aprendizagem, a fim de que possa aprender a explorar, manipular, perceber, a reconhecer e finalmente conhecer o universo ao qual pertence, fazendo com que ela também se descubra e se identifique como indivíduo pleno e capaz. Não raro verifica-se despreparo do professor que desconhece as necessidades das crianças neste período. É fundamental que o profissional esteja o mais preparado possível para que possa realizar uma tarefa eficiente, a fim de alcançar os objetivos a que se propõe. Assim sendo, ao ingressar no programa de alfabetização, a criança deve ser criteriosamente observada pelo professor, com o objetivo de conhecer as particularidades do seu desenvolvimento. Os aspectos psicomotores, cognitivos e especialmente as habilidades sensoriais (táteis, auditivas e visuais) deverão ser observados, visto que são habilidades essenciais para facilitar o processo de alfabetização propriamente dito. O volume de informações e a qualidade das experiências de aprendizagem devem ser os mais variados possíveis, desde as atividades de linguagem, como reprodução e produção de pequenos versos, músicas, contos e textos. Elaboração e construção de esquemas lúdicos, de evocação, memória, representação mental e temporal, jogos de representação e raciocínio espacial, lógico-matemático, etc. Além dessas atividades grupais, as atividades individuais de manuseio e utilização dos recursos específicos como reglete, punção, acesso ao código braile e ao texto braile deverão ser priorizadas no contexto escolar. Aprendizagem do Sistema Braille e o Processo de Alfabetização Um programa de alfabetização para atender verdadeiramente às necessidades de um aluno com deficiência visual precisa estabelecer conteúdos que venham a prepará-lo para um desempenho satisfatório nas tarefas de ler e escrever. Sabe-se que, desde o nascimento até a etapa escolar, a criança com limitação visual pode apresentar atraso em seu desenvolvimento e requer por isso, uma atenção específica. Suas descobertas e construções mentais irão depender da forma como será estimulado, levado a conhecer o mundo que o rodeia. Eis o desafio do alfabetizador: estimular, orientar, conduzir para autonomia, dar oportunidades, favorecendo o crescimento global da criança. Independentemente da postura pedagógica adotada, o alfabetizador de crianças cegas deve compreender que elas podem necessitar de mais tempo para adquirir habilidades sensório-motoras, simbólicas e pré-operatórias. O desenvolvimento e refinamento da percepção tátil e o domínio de habilidades psicomotoras são essenciais para a facilitação do processo de leitura-escrita pelo Sistema Braille. A escolha dos processos, dos métodos e técnicas adequados têm de estar presentes nas metas traçadas pelo professor. Tendo em vista que vivemos em uma sociedade altamente centrada na leitura, esses fatores trazem preocupações relacionadas ao aprendizado da leitura e da escrita pelo aluno deficiente visual. Dependendo do grau de visão, o aluno aprenderá a ler e a escrever pelo Sistema Braille ou escreverá e lerá por meio da letra impressa em tinta ampliada. A habilidade de usar eficientemente os dedos para a leitura em Sistema Braille, será desenvolvida com a prática, pelo exercício funcional. De início, isso implica fazer as coisas com todo o corpo, depois com os braços, as mãos e os músculos grossos, e finalmente, utilizar os músculos finos que fortalecem os dedos, tornando-os mais flexíveis e sensíveis. O aluno que possui visão suficiente para ver letras impressas ou em tipos ampliados precisa também de atividades físicas e funcionais que possibilitem um nível satisfatório de coordenação olho-mão necessário ao processo de leituraescrita. Outra questão importante para a qual o professor alfabetizador deve estar atento é que crianças cegas tendem a utilizar mais o raciocínio verbal e a via fonológica para a construção da leitura-escrita, podendo muitas vezes automatizar a leitura e apresentar mais dificuldade para a construção da escrita. Alguns alunos podem mesmo não aprender a ler e escrever. Isso é possível nos casos de alunos que possuem deficiências associadas à deficiência visual. Outros podem adquirir com mais lentidão a habilidade de leitura-escrita. O desafio específico está em encontrar o melhor caminho pelo qual os alunos possam progredir. Eles poderão ser auxiliados a realizar muito mais se, de início, forem identificadas e utilizadas suas potencialidades e progressos. Para esses alunos, muitas das habilidades e capacidades necessárias à leitura podem e devem ser desenvolvidas, mesmo que uma leitura efetiva não possa ser obtida. Todos os aspectos considerados necessários à leitura, em geral, são favoráveis para auxiliar o aluno a viver uma vida feliz e produtiva a sua maneira. O Sistema Braille: Processo de Leitura-Escrita O Sistema Braille é um código universal de leitura tátil e de escrita, usado por pessoas cegas, inventado na França, por Louis Braille, um jovem cego. O ano de 1825 é reconhecido como o marco dessa importante conquista para a educação e a integração das pessoas com deficiêcia visual na sociedade. Antes desse invento histórico, registraram-se inúmeras tentativas em diferentes países, no sentido de encontrar um meio que proporcionasse às pessoas cegas condições de ler e escrever. Dentre essas tentativas, destaca-se o processo de representação dos caracteres comuns com linhas em alto relevo, adaptado pelo francês Valentin Hauy, fundador da primeira escola para cegos no mundo, em 1784, na cidade de Paris, denominada Instituto Real dos Jovens Cegos. Foi nessa escola, onde os estudantes cegos tinham acesso apenas à leitura, pelo processo de Valentin Hauy, que estudou Louis Braille. Até então, não havia recurso que permitisse à pessoa cega comunicar-se pela escrita individual. Louis Braille, ainda jovem estudante, tomou conhecimento de uma invenção denominada sonografia ou código militar, desenvolvida por Charles Barbier, oficial do exército francês. O invento tinha como objetivo possibilitar a comunicaçãonoturna entre oficiais nas campanhas de guerra. Baseava-se em doze sinais, compreendendo linhas e pontos salientes, representando sílabas na língua francesa. O invento de Barbier não logrou êxito no que se propunha, inicialmente. O bem intencionado oficial levou seu invento para ser experimentado entre as pessoas cegas do Instituto Real dos Jovens Cegos. A significação tátil dos pontos em relevo do invento de Barbier foi a base para a criação do Sistema Braille, aplicável tanto na leitura como na escrita por pessoas cegas e cuja estrutura diverge fundamentalmente do processo que inspirou seu inventor. O sistema braile, utilizando seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas, possibilita a formação de 63 símbolos diferentes que são empregados em textos literários nos diversos idiomas, como também nas simbologias matemática e científica, na música e, recentemente, na Informática. A partir da invenção do Sistema Braille, em 1825, seu autor desenvolveu estudos que resultaram, em 1837, na proposta que definiu a estrutura básica do sistema, ainda hoje utilizada mundialmente. Comprovadamente, o sistema braile teve plena aceitação por parte das pessoas cegas, tendo-se registrado, no entanto, algumas tentativas para a adoção de outras formas de leitura e escrita e, ainda outras, sem resultado prático, para o aperfeiçoamento da invenção de Louis Braille. Apesar de algumas resistências mais ou menos prolongadas em outros países da Europa e nos Estados Unidos, o sistema braile, por sua eficiência e vasta aplicabilidade, se impôs definitivamente como o melhor meio de leitura e de escrita para as pessoas cegas. Consta do arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos, configurando um retângulo de seis milímetros de altura por dois milímetros de largura. Os seis pontos formam o que se convencionou chamar “cela braile”. Para facilitar sua identificação, os pontos são numerados da seguinte forma: ● do alto para baixo, coluna da esquerda: pontos 1-2-3; ● do alto para baixo, coluna da direita: pontos 4-5-6. Conforme combinados os pontos entre si, formar-se-ão as letras; por exemplo, o ponto 1, sozinho, representa o “a”. É fácil saber qual dos pontos está determinado, pois são colocados sempre na mesma disposição. As diferentes disposições desses seis pontos permite a formação de 63 combinações ou símbolo braile. As dez primeiras letras do alfabeto são formadas pelas diversas combinações possíveis dos quatro pontos superiores (1-2-4-5); as dez letras seguintes são as combinações das dez primeiras letras, acrescidas do ponto 3 e formam a segunda linha de sinais. A terceira linha é formada pelo acréscimo dos pontos 3 e 6 às combinações da primeira linha. Os símbolos da primeira linha são as dez primeiras letras do alfabeto romano (a-j). Esses mesmos sinais, na mesma ordem, assumem características de valores numéricos 1-0, quando precedidas do sinal do número, formado pelos pontos 3-4-5-6. No alfabeto romano vinte e seis sinais são utilizados para o alfabeto, dez para os sinais de pontuação de uso internacional, correspondendo aos dez sinais da primeira linha, localizados na parte inferior da cela braile: pontos 2-3-5-6. Os vinte e seis sinais restantes são destinados às necessidades específicas de cada língua (letras acentuadas, por exemplo) e para abreviaturas. Doze anos após a invenção desse sistema, Louis Braille acrescentou a letra “w” ao décimo sinal da quarta linha para atender às necessidades da língua inglesa. Os chamados “Símbolos Universais do Sistema Braille” representam não só as letras do alfabeto, mas também os sinais de pontuação, números, notações musicais e científicas, enfim, tudo o que se utiliza na grafia comum, sendo, ainda, de extraordinária universalidade; ele pode exprimir as diferentes línguas e escritas da Europa, Ásia e África. Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris, com a participação de onze países europeus e dos Estados Unidos, estabeleceu que o sistema braille deveria ser adotado de forma padronizada, para uso na literatura, exatamente de acordo com a proposta de estrutura do sistema, apresentada por Louis Braille em 1837, já referida anteriormente. Obs.: sinais compostos são formados por duas ou mais celas. O Sistema Braille aplicado à Matemática também foi proposto por seu inventor na visão editada em 1837. Nessa época, foram apresentados os símbolos fundamentais para algarismos, bem como as convenções para a Aritmética e para a Geometria. Desde então, novos símbolos foram criados determinados pela evolução técnica e científica e outros foram modificados provocando estudos e tentativas de se estabelecer um código unificado, de caráter mundial, o que foi inviabilizado pela acentuada divergência entre os códigos. No Brasil, a partir da década de 70, especialistas no sistema braile passaram a preocupar-se com as vantagens da unificação do código de Matemática, uma vez que a tabela Taylor, adotada desde a década de 40, não vinha atendendo satisfatoriamente à transcrição em braile, sobretudo após a introdução dos símbolos da Matemática Moderna, revelandose essa tabela insuficiente para as representações matemáticas e científicas em nível superior. Desse modo, o Brasil participou inicialmente dos estudos desenvolvidos pelo comitê de especialistas da ONCE (Organização Nacional de Cegos Espanhóis) acompanhando seus estudos resultando no Código de Matemática Unificado. Em 1991, foi criada a Comissão para Estudo e Atualização do sistema braile em uso no Brasil, com a participação de especialistas representantes do Instituto Benjamin Constant, da Fundação Dorina Nowill Para Cegos, do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos, da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais e da Federação Brasileira de Entidades de Cegos, com o apoio da União Brasileira de Cegos e o patrocínio do Fundo de Cooperação Econômica para Ibero-América – ONCE-ULAC. Os estudos dessa comissão foram concluídos em 18 de maio de 1994, tendo como uma das principais resoluções a de adotar no Brasil o Código Matemático Unificado para a Língua Castelhana, com as necessárias adaptações à realidade brasileira. Por orientação da União Brasileira de Cegos, especialistas da Comissão na área da Matemática vêm realizando estudos para o estabelecimento de estratégias, visando à implantação, em todo o território brasileiro, da nova Simbologia Matemática Unificada. Sob o ponto de vista histórico, a utilização do Sistema Braille no Brasil pode ser abordada em três períodos distintos: 1854 a 1942 – Em 1854 o Sistema Braille foi adotado no Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto Benjamin Constant), sendo assim a primeira instituição na América Latina a utilizá-lo. Deve-se isto aos esforços de José Álvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro, que o havia aprendido na França. Diferentemente de alguns países, o Sistema Braille teve plena aceitação no Brasil, utilizando praticamente toda a simbologia usada na França. A exemplo de outrospaíses, o Brasil passou a empregar, na íntegra, o Código Internacional de Musicografia Braile de 1929. 1942 a 1963 – Nesse período verificaram-se algumas alterações no Sistema Braille em uso no Brasil. Para atender à reforma ortográfica da Língua Portuguesa de 1942, o antigo alfabeto braile de origem francesa foi adaptado às novas necessidades de nossa língua, especialmente para a representação de símbolos indicativos de acentos diferenciais. Destaca-se, ainda, a adoção da tabela Taylor de sinais matemáticos, de origem inglesa, em substituição à simbologia francesa até então empregada. A Portaria nº 552, de 13 de novembro de 1945, estabeleceu o braile oficial para uso no Brasil, além de um código de abreviaturas, da autoria do professor José Espínola Veiga. Esta abreviatura teve uso restrito, entrando em desuso, posteriormente. A Lei nº 4.169, de 4 de dezembro de 1962, que oficializou as convenções braile para uso na escrita e leitura dos cegos, além de um código de contrações e abreviaturas braile, veio a criar dificuldades para o estabelecimento de acordos internacionais, pelo que, especialistas brasileiros optaram por alterar seus conteúdos, em benefício da unificação do Sistema Braille. 1963 a 1995 – Os fatos marcantes desse período podem ser assim destacados: em 05 de janeiro de 1963 foi assinado um convênio luso-brasileiro, entre as mais importantes entidades dos dois países, para a padronização do braile integral (grau 1) e para a adoção no Brasil de símbolos do código de abreviaturas usado em Portugal. Em relação à matemática, educadores e técnicos da Fundação para o Livro do Cego no Brasil e do Instituto Benjamim Constant complementaram a tabela Taylor com o acréscimo de símbolos braile aplicáveis à teoria de conjuntos. A atuação profissional de pessoas cegas no campo da Informática, a partir da década de 70, fez com que surgissem diferentes formas de representação dessa matéria, com base, sobretudo, em publicações estrangeiras. Quanto à imprensa e centros de produção de braile, finalmente, foi acordada em 1994 a adoção de uma tabela unificada para a Informática. Durante todo esse período, o Brasil participou dos esforços do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, atualmente União Mundial de Cegos, para a atualização e unificação do Sistema Braille, como demonstra a contribuição brasileira à Conferência Ibero-americana para Unificação do Sistema Braille (Buenos Aires, 1973), a participação de técnicos brasileiros, como observadores, na Reunião de Imprensas Braile de Países de Língua Castelhana (Montevidéu, 1987), a criação da Comissão para Estudo e Atualização do Sistema Braille em uso no Brasil (1991 – 1994), a atuação de especialistas brasileiros na Conferência: O Sistema Braille Aplicado à Língua Portuguesa (Lisboa, 1994), além de outras iniciativas e atividades desenvolvidas. Destaque-se, em todo este período, o trabalho conjunto da atual Fundação Dorina Nowill para Cegos e do Instituto Benjamin Constant, por intermédio de seus especialistas, aos quais se reuniram, muitas vezes, competentes profissionais de outras importantes entidades brasileiras. Durante anos, inúmeras tentativas de destacadas entidades de cegos e outras para cegos, no sentido de criar, em âmbito federal, uma comissão nacional do braile não foram bem sucedidas, fazendo com que a União Brasileira de Cegos, na assembléia-geral ordinária de 28 de agosto de 1995, realizada no Instituto Benjamin Constant, homologasse a criação, no âmbito dessa entidade, da Comissão Brasileira do Braile, constituída por cinco membros que vigorou até 1999. Foi nesse ano que o Ministério de Estado da Educação, considerando o interesse do Governo Federal em adotar para todo o País uma política de diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de aplicação, compreendendo especialmente a Língua Portuguesa, Matemática e outras Ciências, Música e Informática; considerando a permanente evolução técnicocientífica que passa a exigir sistemática avaliação, alteração e modificação dos códigos dos símbolos braile, adotados nos Países de língua portuguesa e espanhola; e finalmente, considerando a necessidade do estabelecimento de permanente intercâmbio com comissões de Braille de outros países, de acordo com a política de unificação do Sistema Braille, a nível internacional, instituíu no Ministério da Educação pela portaria nº 319 de 26/02/99 a Comissão Brasileira do Braile. A Comissão Brasileira do Braile, vinculada à Secretaria de Educação Especial de caráter permanente, será constituída de oito membros que deverão ser pessoas de notórios saber e larga experiência no uso do Sistema Braille com a competência de: − elaborar e propor a política nacional para o uso, ensino e difusão do Sistema Braille em todas as suas modalidades de aplicação, compreendendo especialmente a Língua Portuguesa, Matemática e outras ciências exatas, a Música e a Informática; - propor normas e regulamentações concerentes ao uso, ensino e produção do Sistema Braille no Brasil, visando à unificação das aplicações do Sistema Braille, especialmente nas línguas portuguesa e espanhola; - acompanhar e avaliar a aplicação de normas, regulamentações, acordos internacionais, convenções e quaisquer atos normativos referentes ao Sistema Braille; - prestar assistência técnica às Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, bem como a entidades públicas e privadas, sobre questões relativas ao uso do Sistema Braille; - avaliar permanentemente a simbologia braile adotada no País, atentando para a necessidade de adaptá-la ou altará-la face a evolução técnica e científica, procurando compatibilizar esta simbologia, sempre que for possível, com as adotadas no países de língua portuguesa e espanhola; - manter intercâmbio permanente com comissões de braile de outros países de acordo com as recomendações de unificação do Sistema Braille em nível internacional; - recomendar, com base em pesquisas, estudos, tratados e convenções, procedimentos que envolvam conteúdos, metodologia e estratégias a serem adotados em recursos de aprendizagem no Sistema Braille com caráter de especialização, treinamento e reciclagem de professores e de técnicos, como também nos cursos destinados a usuários do Sistema Braille e a comunidade geral; - propor critérios e fixar estratégias para implantação de novas simbologias brailes que alterem ou substituem os códigos em uso no Brasil, prevendo a realização de avaliações sistemáticas com vistas a modificações de procedimentos sempre que necessário; - elaborar catálogos, manuais, tabelas e outras publicações que facilitem o processo ensinoaprendizagem e o uso do Sistema Braille em todo o território nacional. A Produção Braile O aparelho de escrita usado por Louis Braille consistia de uma prancha, uma régua com 2 linhas, com janelas correspondentes às celas braile, que se encaixam pelas extremidades laterais na prancha e o punção. O papel era introduzido entre a prancha e a régua, o que permitiaà pessoa cega, pressionando o papel com o punção, escrever os pontos em relevo. Hoje as regletes, uma variação desse aparelho de escrita de Louis Braille, são ainda muito usadas pelas pessoas cegas. Todas as regletes modernas, quer sejam modelos de mesa ou de bolso, consistem essencialmente de duas placas de metal ou plástico, fixas de um lado com dobradiças, de modo a permitir a introdução do papel. A placa superior funciona como a primitiva régua e possui as janelas correspondentes às celas braile. Diretamente sob cada janela, a placa inferior possui, em baixo relevo, a configuração da cela. Ponto por ponto, as pessoas cegas, com o punção, formam o símbolo correspondente às letras, números ou abreviaturas desejadas. Na reglete, escreve-se da direita para a esquerda, na seqüência normal de letras ou símbolos, invertendo-se, então a numeração dos pontos, assim: A leitura é feita normalmente da esquerda para a direita. Conhecendo-se a numeração dos pontos correspondentes a cada símbolo, torna-se fácil tanto a leitura quanto a escrita feita em reglete. Exceto pela fadiga, a escrita na reglete pode tornar-se tão automática para o cego quanto a escrita com o lápis para a pessoa de visão normal. Além da reglete, o braile pode ser produzido por meio de máquinas especiais de datilografia de sete teclas. Cada tecla correspondente a um ponto e ao espaço. O papel é fixo e enrolado em rolo comum, deslizando normalmente quando pressionado o botão de mudança da linha. O toque de uma ou mais teclas simultaneamente produz a combinação dos pontos em relevo, correspondente ao símbolo desejado. O braile é produzido da esquerda para a direita, podendo ser lido sem a retirada do papel da máquina. A primeira delas foi inventada por Frank H. Hall, em 1882, nos Estados Unidos da América. As imprensas braile produzem livros utilizando máquinas estereotípicas semelhantes às máquinas especiais de datilografia, sendo porém elétricas. Essas máquinas permitem a escrita do braile em matrizes de metal. Essa escrita é feita dos dois lados da matriz, permitindo a impressão nas duas faces do papel. Esse é o interpontado: os pontos são dispostos de tal forma que impressos de um lado não coincidam com os pontos da outra face, permitindo uma leitura corrente, um aproveitamento melhor do papel, reduzindo o volume dos livros transcritos. Novos recursos para a produção braile têm sido empregados, de acordo com os avanços tecnológicos de nossa era. O braile agora pode ser produzido pela automatização de recursos modernos dos computadores e de uma variedade de modelos de impressoras. O Sistema Braille é empregado por extenso, isto é, escrevendo-se a palavra, letra por letra, ou de forma abreviada, adotando-se o código especial de abreviaturas para cada língua ou grupo lingüístico. O braile por extenso é denominado grau 1. O grau 2 é a forma abreviada, empregada para representar as conjunções, preposições, pronomes, prefixos, sufixos, grupos de letras que são comumente encontradas nas palavras de uso corrente. A principal razão de seu emprego é reduzir o volume dos livros e permitir o maior rendimento na leitura e na escrita. Uma série de abreviaturas mais complexas forma o grau 3, que requer conhecimento profundo da língua, boa memória e sensibilidade tátil muito desenvolvida por parte do leitor cego. No que se refere ao sistema abreviado, faz-se importante ressaltar que, por orientação da Comissão Brasileira do braile, com base nos resultados obtidos na pesquisa sobre a aceitação ou não do Sistema Braille Grau 2 da Língua Portuguesa pelos leitores cegos brasileiros, está totalmente abolido o uso desse sistema, na transcrição de quaisquer obras pelos centros de produção e imprensas braile do Brasil, o que já vinha ocorrendo desde 1º de janeiro de 1996. A Comissão Brasileira do Braile recomendou, ainda, a elaboração de um sistema padronizado de abreviaturas Braile da Língua Portuguesa, para ser usado exclusivamente na escrita individual. Esse sistema deverá ser preparado por técnicos, devidamente capacitados. Os símbolos fundamentais do braile utilizados para as notações musicais foram, também, apresentados pelo próprio Louis Braille, na versão final dos estudos constantes da proposta de estrutura do Sistema, concluída em 1837. São muitos os aspectos que incidem positiva e negativamente na escrita e leitura do Sistema Braille. Abordaremos, de forma genérica, fatores fundamentais que poderão favorecer ou prejudicar a escrita e a leitura. Todas as crianças têm o direito a receber educação nos requisitos básicos para a leitura e a escrita, e o professor deve compreender com grande paciência as implicações da questão. O que buscamos é uma leitura fluida, com compreensão e uma escrita precisa. No entanto, não podemos esquecer que a criança cega não tem pistas visuais, como desenhos, para ajudá-la a reconhecer uma palavra e nem pode reconhecer de imediato uma palavra específica incluída numa oração. A ponta do dedo não substitutui o olho, pois seu alcance é muito limitado em comparação com o campo visual. O aluno cego pode reconhecer apenas um símbolo de cada vez. Por conseguinte a leitura do braile nos primeiros estágios se baseia, em grande parte, no método alfabético, silábico e fonético. Visto que o manuseio dos recursos materiais específicos para a escrita (reglete, punção e/ou máquina Perkins) exigirão destreza, harmonia e sincronização de movimentos. Fundamentos Essenciais para a Escrita do Sistema Braille Habilidades Motoras Uma sucessão de movimentos motores amplos levará ao desenvolvimento das habilidades motoras finas, que dará ao aluno a possibilidade de analisar detalhes, bem como adquirir flexibilidade de punho e destreza dos dedos. Algumas atividades funcionais e contextualizadas devem ser propostas para que o aluno possa adquirir força muscular e mobilidade adequada e precisa nos movimentos das mãos: uso funcional das duas mãos; ● tampar – destampar frascos (tampas de pressão, de atarraxar, etc.); ● subir – descer zíper de calças, bolsas, vestidos, etc.; ● empilhar – desempilhar e construir com objetos; ● colar – descolar etiquetas, fitas adesivas, etc.; ● abrir – fechar diferentes tipos de portas e de janelas; ● aparafusar – desaparafusar; ● alinhavar – desalinhavar – bordar – costurar; ● enfiar – desenfiar contas (elaborar objetos com contas); ● abotoar – desabotoar; ● fazer – desfazer nós grossos, laços, etc.; ● armar – desarmar quebra-cabeças (primeiramente simples, depois fazendo crescer o grau de complexidade); ● pintar e modelar com as mãos; ● tocar instrumentos como violão e piano. Nessas atividades podem também ser trabalhados os conceitos de igual – diferente, grande – pequeno, etc., associados à linguagem. Realizar as atividades de classificação que começam com objetos familiares grandes, introduzindo-se gradualmente outros pequenos. Podem ser incluídos também conteúdos para a discriminação de tamanhos, formas, posições, texturas, etc. O domínio dos movimentos executados pelos dedos é de suma importância. Com o uso dos dedos é que o aluno escreveráe fará o reconhecimento dos símbolos braile. Daí a necessidade de propor uma série de exercícios estruturados sistematicamente, que ajudarão o aluno a identificar e interpretar esses símbolos. Inicialmente pode-se sugerir ao aluno atividades como: ● rasgar pedaços de papel de diferentes texturas para construir painéis, caixas; ● destacar tiras de papel, previamente pontilhadas; ● cortar, com tesoura própria, folhas de papel, tecidos, etc.; • dobrar pedaços de papel, tecidos, roupas; ● virar páginas de cadernos com a ponta dos dedos; ● recolher com as pontas dos dedos: a) grãos; b) palitos, pregos sem ponta; c) folhas de papel; d) clipes, etc. Prosseguindo, o aluno deve tatear símbolos braile para aprender a avançar da esquerda para a direita e o inverso no princípio da linha seguinte. Muitos cegos têm dificuldade de desenvolver essa destreza. É importante graduar as atividades para assegurar o êxito. Essa etapa é essencial para estimular o aluno a desenvolver uma boa postura. Lembrar que os antebraços devem apoiar-se sobre a mesa com os punhos ligeiramente elevados. Isto proporcionará apoio adequado às mãos. Os dedos devem estar ligeiramente curvados. Deve-se propiciar o uso das duas mãos para leitura, nesse estágio. Para desenvolver os movimentos específicos das mãos e dedos recomenda-se: ● amassar a massa plástica; ● fazer rolinhos com ela; ● trabalhar bolinhas de massa; ● criar formas de massa no começo livremente e seguindo um modelo. Para coordenar, concomitantemente, o jogo articulatório do punho com os movimentos de segurar e apertar objetos com as mãos e dedos: ● pegar uma chave entre os dedos fazendo-a girar no tambor de uma fechadura; ● prender com toda a mão o cabo de um martelo procurando ritmar o movimento de bater e tornar o golpe cada vez mais dirigido ao alvo. Nesta fase, devem ser oferecidas ao aluno situações concretas que servirão como base para a escrita: ● dar ao aluno uma espuma forrada com um pedaço de papel e o punção, deixando-o furar livremente; ● o mesmo exercício poderá ser executado com um bastidor, uma placa de isopor, tampa de caixa de ovos, etc. Concomitantemente, o professor deve dar oportunidade ao aluno para ir entrando em contato com a reglete, o punção ou a máquina Perkins. Algumas orientações preliminares fazem-se necessárias para que o aluno cego utilize adequadamente o material de escrita: ● apresentar o material por parte, explicando a utilidade de cada componente; ● mostrar como abrir e fechar a reglete; ● orientar como encaixar a reglete nos ofícios da prancha; ● ensinar a colocar e retirar o papel da reglete; ● orientar para que descubra as várias fileiras de celas que formam a parte superior da reglete; ● conduzir o aluno a explorar a cela na reglete; ● pedir que, após a colocação do papel, pressione o punção, à vontade, nos diferentes pontos da cela, começando sempre da direita para a esquerda; ● solicitar que inicie a pontuar, colocando apenas um ponto em cada cela, em qualquer posição; depois solicitar que coloque os seis pontos; a seguir que escreva várias combinações de pontos. Exemplo: ----> ● solicitar que faça linhas pontilhadas contínuas e alternadas; ● considerar os vários tipos de regletes existentes com suas peculiaridades (formato, material utilizado, número de linhas e celas, procedimento para colocar o papel, etc.) bem como o uso da máquina Perkins, se for o caso; ● explicar que, na reglete, a escrita deve ser feita da direita para a esquerda, demonstrando, praticamente, que esse fato não altera a contagem dos pontos. Após cada exercício, é importante que o aluno retire o papel da reglete e verifique o que foi feito, identificando, por meio do tato, a posição dos pontos. Mesmo não sendo imprescindível para a alfabetização de um aluno cego a habilidade de traçar, o professor poderá oferecer-lhe mais essa possibilidade, a fim de que outros movimentos sejam incorporados por ele; isso facilitará, mais tarde, a aquisição da capacidade de escrever seu próprio nome no sistema comum. Para dominar o sistema de leitura e escrita braile é necessário que o aluno tenha bom desempenho no que se refere à localização espacial e lateralização e que tenha desenvolvido boa habilidade manual. A Leitura Braile A maioria dos leitores cegos lê, de início, com a ponta do dedo indicador de uma das mãos esquerda ou direita. Um número de pessoas, entretanto, pode ler o braile com as duas mãos. Algumas pessoas ainda utilizam o dedo médio ou anular, em vez do indicador. Os leitores mais experientes comumente utilizam o dedo indicador da mão direita, com uma leve pressão sobre os pontos em relevo, permitindo-lhes percepção, identificação e discriminação dos símbolos. Esse fato acontece somente por meio da estimulação consecutiva dos dedos pelos pontos em relevo. Essas estimulações ocorrem muito mais quando se movimenta a mão (ou mãos) sobre cada linha escrita num movimento da esquerda para a direita. Em geral a média atingida pela maioria dos leitores é de 104 palavras por minuto. É a simplicidade do braile que permite essa velocidade de leitura. Os pontos em relevo permitem a compreensão instantânea das letras como um todo, uma função indispensável ao processo da leitura (leitura sintética). Para a leitura tátil corrente, os pontos em relevo devem ser precisos e seu tamanho máximo não deve exceder a área da ponta dos dedos empregados para a leitura. Os caracteres devem todos possuir a mesma dimensão, obedecendo aos espaçamentos regulares entre as letras e entre as linhas. A posição de leitura deve ser confortável. O tato é um sentido decisivo na capacidade de utilização do braile, devendo portanto o educador estar atento a suas implicações na educação dos alunos cegos, como será tratado posteriormente. Fundamentos Essenciais para a Leitura do Sistema Braille Desenvolvimento da Linguagem É comum o aluno cego desenvolver uma linguagem reprodutora, carente de significado, denominada verbalismo. Os pais e professores devem estar conscientes e assegurar ao aluno a oportunidade de veicular sua linguagem em desenvolvimento com experiências concretas. É comum o desenvolvimento de uma leitura mecânica sem compreensão. O material a ser utilizado para a alfabetização deve ser selecionado, de modo que os alunos possam compreender o significado. Discriminação Auditiva Os alunos cegos devem ter, desde pequenos, ambiente rico em estimulação sonora, com significado, de modo a: ● perceber, reconhecer, identificar, discriminar e localizar a gama variada de sons existentes; ● reconhecer, por meio de jogos, palavras começadas e terminadas pelo mesmo som; ● discriminar a identidade de sons em palavras que contenham rimas. As habilidades auditivas que incluem a discriminação, a seqüenciação e o ritmo são essenciais e servem de apoio para a leitura eficiente. Existe uma gama de atividades que o professor pode propor a seu aluno para que ele possa desenvolver bem as habilidades auditivas, por exemplo: repetir corretamente orações curtas, aprender e repetir pequenas canções e poemas rimados, escutar e obedecer ordens, marchare dançar seguindo ritmos, cantar canções e executar as ações ditas por elas, caminhar acompanhando ritmos diferenciados produzidos por um tambor, reproduzir modelos de ritmos apresentados, etc. Discriminação Tátil A leitura tátil e a escrita dos símbolos braile devem ser processadas concomitantemente, pois não é raro alguns aprendizes sentirem dificuldades na sistematização da leitura. A relevância do desenvolvimento tátil e suas implicações na educação de alunos cegos, podem ser contatado no seguinte texto de Harold C. Grifim e Raul J. Geber da Universidade de New Orleans : A modalidade tátil é de ampla confiabilidade. Vai além do mero sentido do tato; inclui também a percepção e a interpretação por meio da exploração sensorial. Esta modalidade fornece informações a respeito do ambiente, menos refinadas que as fornecidas pela visão. As informações obtidas por meio do tato têm de ser adquiridas sistematicamente e reguladas de acordo com o desenvolvimento, para que os estímulos ambientais sejam significativos. Ao contrário, o sentido da visão, que se desenvolveu com o passar do tempo, pode captar as informações instantaneamente e pode também processar nuanças de informação, por meio de “input” sensorial. A ausência da modalidade visual exige experiências alternativas de desenvolvimento, a fim de cultivar a inteligência e promover capacidades socioadaptativas. O ponto central desses esforços é a exploração do pleno desenvolvimento tátil. Nesse processo, fica implícita a compreensão das seqüências do desenvolvimento dentro da modalidade tátil. São elas: ● consciência de qualidade tátil; ● reconhecimento da estrutura e da relação das partes com o todo; ● compreensão de representações gráficas; ● utilização de simbologia. Todas as fases contêm níveis variados de aquisição de habilidades relativas ao desenvolvimento. A modalidade tátil se desenvolve por um processo de crescimento gradual. Esse processo é seqüencial e leva as crianças cegas de um reconhecimento simplista a uma interpretação complexa do ambiente. Os pais e educadores têm um papel importantíssimo neste processo, porque estimulam o desenvolvimento das crianças cegas desde a infância. Mais ainda, como responsáveis por crianças cegas, eles devem continuar a dar ênfase ao desenvolvimento tátil, durante toda a vida destas crianças, já que essa é a base para os níveis mais altos do desenvolvimento cognitivo. Finalmente, o desenvolvimento sistemático da percepção tátil é essencial para que os cegos cheguem a desenvolver a capacidade de organizar, transferir e abstrair conceitos. Com a maior disponibilidade de material em braile, o conhecimento das limitações da modalidade tátil será essencial para determinar as opções de aprendizado para crianças cegas. De forma mais prática, durante todo o trabalho de discriminação tátil, o professor deve estar empenhado em estimular a criança cega a: ● explorar o maior volume possível de objetos; ● identificar diversos tipos de objetos; ● classificar diversos tipos de objetos quanto à forma, tamanho, textura, etc.; ● seriar objetos de diferentes espécies (gradação crescente e decrescente), visando preparar o aluno para compreender os diferentes tamanhos de palavras e linhas; ● estabelecer diferenças entre: - semelhança, diferença, equivalência; - largura (largo – estreito); - posição (em cima – embaixo – entre linha vertical – horizontal); - lateralidade (esquerda – direita); - textura (áspero – liso); - distância (longe – perto); - comprimento (longo – médio – curto); - noção de conteúdo (cheio – vazio). ● Compreender a organização da página escrita: - leitura da esquerda para a direita, deslizando a ponta dos dedos sobre a linha; - linhas dispostas no papel de cima para baixo; - linhas com começo e fim; - linhas completas; - linhas com espaços vazios - linhas de tamanhos variados. ● Trabalhar o elemento escrito: - oferecer linhas pontilhadas; - oferecer linhas pontilhadas com sinais diferentes; - oferecer um modelo e pedir à criança que o identifique na linha traçada ou pontilhada. ● Trabalhar os movimentos corretos das mãos no ato da leitura: - conduzir a criança a estar com o dedo em permanente movimento; - ler por meio de movimentos, contínuos, portanto as pausas são mínimas; - ler letra por letra; - evitar movimentos desnecessários: de cima para baixo, de baixo para cima, regressivos; - evitar excesso de pressão do dedo sobre a letra, diminuindo a qualidade da percepção; - alertar a criança para que tenha o cuidado de perceber todas as unidades contidas na linha, de modo a procurar-se para o processo de alfabetização, lendo palavras. A leitura tátil se faz letra por letra e a palavra só é percebida quando termina. Reflexão sobre os Métodos de Alfabetização para Educandos com Deficiência Visual (Cegueira) Encontrar métodos que favoreçam a aprendizagem da leitura e da escrita tem sido preocupação freqüente entre os profissionais do mundo da educação. Frente à proliferação de materiais existentes para a aprendizagem da leitura e da escrita, observa-se escassez de trabalhos específicos e de fundamentação teórica, sobre a aprendizagem do Sistema Braille. Antes mesmo de definir qualquer metodologia para a aprendizagem da leitura e da escrita braile, devemos tecer algumas considerações prévias a respeito do momento em que o deficiente visual é encaminhado para a aprendizagem do complexo código que será usado para sua comunicação. A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita depende do desenvolvimento simbólico, conceitual, psicomotor e emocional da criança. Essa evolução satisfatória nem sempre se dá de forma espontânea para a criança cega. Pensamos que é missão do educador contribuir e intervir intencionalmente neste processo. É claro que nem todas as crianças com idade cronológica de seis a sete anos estão aptas para iniciar a aprendizagem das técnicas de leitura e escrita, e que para aquelas que não tenham conseguido uma maturidade adequada, insistir que dominem as técnicas é contribuir para o fracasso. Daí a necessidade de prestar especial atenção às habilidades e necessidades da criança antes de decidir o momento de iniciar o ensino da simbologia. Mencionamos aqui, de forma sucinta, os fatores que interferem na aprendizagem da leitura e da escrita braile: ● organização espaço-temporal; ● interiorização do esquema corporal; ● independência funcional dos membros superiores; ● destreza manual; ● coordenação bimanual; ● independência digital; ● desenvolvimento da sensibilidade tátil; ● vocabulário adequado à idade; ● pronúncia correta (diferenciação de fonemas similares); ● compreensão verbal; ● motivação ante a aprendizagem, e ● nível geral de maturidade. Para que a criança com deficiência visual progrida nesses aspectos deverá participar de programas com conteúdos curriculares específicos, além da programação normal da sala. Dadas as particularidades do ensino do Sistema Braille, consideramos ser o processo sintético o mais fácil e rápido para a alfabetização de crianças cegas. Por isso acreditamos que o professor pode fazer sua opção, conforme o estilo perceptivo do aluno e via de apoio e acesso:fonético, silábico ou alfabético. O método fonético ou sintético tem por objetivo básico ensinar à criança o código ao qual nossos sons são convertidos em letras ou grafemas ou vice-versa, separando inicialmente a leitura e o significado. Decifrar o Sistema Braille é uma decodificação de natureza perceptivo-tátil e não garante, aprendizagem conceitual e interpretação necessárias ao processo de leitura. A leitura é uma atividade de representação mental, que envolve o léxico interno, isto é, o conhecimento e o significado da palavra. Ler é uma atividade complexa que não se restringe apenas a decifrar símbolos táteis. Envolve uma variedade de atividades como atribuir significado ao símbolo, às palavras, para chegar à interpretação e compreensão do texto. Embora os métodos revelem algumas falhas, podem ser usados com êxito pelos alfabetizadores. O sucesso vai depender da competência e da criatividade do professor, que pode transformar seu trabalho em algo atraente e enriquecedor. O professor deve ainda buscar sugestões de atividades específicas em outras fontes e adaptar à metodologia de sua opção. A leitura braile tem sido abordada por muitos estudiosos sob o enfoque analítico, atendendo às exigências do caráter analítico da percepção tátil. Embora a criança com seis a sete anos de idade ainda não tenha desenvolvido todos os esquemas de operação mental, seu pensamento é global e sincrético. Trata-se de combinar a via semântica, lexical e o método fonético (que permite ao alfabetizando, o quanto antes possível, conteúdos significativos) ao mesmo tempo, e respeitar as peculiaridades da exploração tátil. Pode optar-se também por uma apresentação gradual de cada grafema, que representa um som simples do fonema, palavra como unidade básica da mensagem sem, entretanto, deixar de oferecer os textos em braile para exploração e decodificação. No método silábico, as sílabas são combinadas para formar palavras. Em geral, quando se ensina por esse método, inicia-se por um treino auditivo, por meio do qual a criança é levada a perceber que as palavras são formadas por simples sílabas ou por grupos consonantais. A partir daí o aluno assimila a forma gráfica da sílaba à qual atribui o devido som. Nesse método, apresenta-se inicialmente a família silábica, em seguida, palavras, frases e textos. Como já vimos o Sistema Braille está baseado no tato e utiliza, geralmente, um método mais fácil e rápido que é o sintético. Por ser esse um sentido que percebe uma sucessão de curta extensão, o tato distingue efetivamente a letra e não o conjunto simples que constitui a palavra e muito menos o conjunto complexo que forma a frase. Portanto, ao ler, a criança cega elabora uma síntese das diferentes letras. Nessa perspectiva, podem também ser oferecidas cartelas com o símbolo braile para a criança e pelo processo alfabético construir a leitura e a escrita. Para ambos os métodos devemos propor conteúdos significativos adequados à idade visto que a leitura, como instrumento de comunicação e de informação, será mais tarde estimulante e motivadora por si mesma. O sujeito se interessará diretamente pelos conteúdos do texto sem ter de realizar especiais esforços para decifrar símbolos, para recompor palavras e frases. Durante o período de aprendizagem, o alfabetizando focaliza mais sua atenção na interpretação dos significados e nos aspectos formais da mensagem escrita. Por isso, pensamos que durante essa primeira etapa as palavras e as frases que se apresentam têm de ser curtas e carregadas de um conteúdo emocional que suponha um reforço imediato ao esforço realizado. As mensagens dos textos devem apresentar-se com palavras que já tenham sido trabalhadas oralmente pelos alunos e com estruturas lingüísticas familiares para eles. Com relação à seqüência de apresentação das letras, consideramos que alguns critérios devem ser observados: ● as dificuldades específicas do Sistema Braille, semelhança dos símbolos, reversibilidade, assimetria, dificuldades de percepção de cada grafema; ● as características próprias de cada língua: dificuldades ortográficas e fonéticas. Segundo a possibilidade de usar um dos métodos mencionados o professor poderá definir a apresentação das letras, dos fonemas ou das sílabas levando em consideração os critérios já expostos, o interesse e experiência do aluno. O professor tem ainda a oportunidade de optar por adotar livros já existentes e utilizados pelas crianças videntes ou textos elaborados com os alunos. Normalmente, ao utilizar o método silábico, começa-se por apresentar as vogais minúsculas e maiúsculas, encontros vocálicos, consoantes que formam sílabas simples, consoantes que formam sílabas compostas com as seguintes recomendações: ● desde o primeiro fonema introduzido o professor deverá ensinar a divisão silábica das palavras, ensinando o hífen; ● as palavras que comporão cada unidade proposta devem pertencer ao repertório da criança, para que ela estabeleça uma relação simbólica entre o conceito e o elemento escrito; ● dar ao aluno a noção exata da unidade palavra como algo significativo; ● dar a noção de que o conjunto de palavras forma um todo significativo, a sentença; ● levar a criança a observar e compreender que na sentença as palavras são escritas em ordem lógica, obedecendo a regras de construção; ● as palavras na sentença precisam ser escritas respeitando espaços em branco entre elas; ● desde os primeiros fonemas, introduzir as sentenças, conseqüentemente, os sinais de pontuação. O primeiro sinal de pontuação a ser dado será o ponto final, depois o ponto de interrogação, o ponto de exclamação, a vírgula e finalmente os dois pontos; ● outros sinais como travessão, reticências, grifo, apóstrofo, aspas e parênteses poderão ser introduzidos no decorrer dos textos lidos. A conduta do professor contribui para dar significado e importância ao processo de alfabetização para uma criança com a deficiência visual. Assim sendo, acreditamos que o professor alfabetizador precisa: planejar atividades a partir do interesse, competência e experiência do aluno; acompanhar o processo de aprendizagem de cada aluno, registrando o progresso. Saber identificar os alunos que precisam de uma atenção específica; fazer trabalhos diversificados de acordo com os níveis dos alunos; propor trabalhos em pequenos grupos para que cada um possa dar e receber contribuições e idéias; ● planejar cada aula de maneira que o tempo seja distribuído entre atividades que os alunos tenham de fazer sozinhos, em pequenos grupos e coletivamente; ● estimular a autoconfiança dos alfabetizandos; ● enfatizar as capacidades e nunca as deficiências; ● propor vivências e experimentações para cada conteúdo a ser ministrado, dando significado e contextualizando a aprendizagem; ● oferecer materiais atrativos e acessíveis; ● apresentar materiais de boa qualidade e com possibilidade de serem manipulados; ● apresentar textos, cartilhas e livros de volumes reduzidos, editados em formatos pequenos que possam ser manuseados e de fácil transporte para os alunos; ● recorrera alternativas que sejam também motivadoras para as crianças cegas tais como o desenho em relevo de objetos familiares que tenham referências com os textos; ● usar recursos visuais (desenhos, coloridos, contrastes) para motivar a criança de baixa visão; ● adaptar o conteúdo quando a deficiência visual constituir impedimento para a execução de determinadas atividades; ● buscar metodologias alternativas quando necessário. Alfabetização do Aluno com Baixa Visão O processo de alfabetização do aluno com baixa visão muitas vezes pode ser mais complexo do que o do aluno cego, tendo em vista diversas varáveis envolvidas no uso funcional da visão, tais como: ● tipo de experiências visuais adquiridas – perceptivas e conceituais; ● potencial visual utilizável para leitura e escrita; ● possíveis alterações da sensibilidade aos contrastes e visão de cores; ● necessidade de adaptação ambiental quanto à iluminação e às condições posturais; ● necessidade de adaptação de recursos ópticos ou não-ópticos. Essas necessidades serão identificadas na Avaliação Funcional da Visão, na forma como o aluno se adapta ao ambiente e utiliza os materiais escolares. Tendo em vista a utilização máxima do potencial visual do aluno, o professor especializado deve discutir com o oftalmologista todas as possibilidades de correção óptica e/ou ajuda que sejam necessárias para melhorar o desempenho visual para perto e para longe. O professor deve levar em conta que crianças com baixa visão, mesmo portadoras da mesma patologia, têm necessidades particulares e atingem níveis diferenciados de desenvolvimento visual e uso funcional da visão. A programação pedagógica respeitará os diferentes níveis e o potencial do aluno. Há crianças que funcionalmente operam apenas em nível de consciência visual do estímulo. Reagem e agem pela compreensão do significado da luz, direção da fonte luminosa e vultos, coordenando ações motoras e sensoriais. Essas crianças com perdas visuais severas necessitarão de recursos auditivos, táteis e da aprendizagem do Sistema Braille para atividades de comunicação e leitura/ escrita. Da mesma forma, alunos com grande alteração de campo visual ou necessidade de aproximação extrema do material a ser lido podem utilizar o Sistema Braille, como complementação e facilitação do processo de leitura/escrita. Crianças que funcionalmente operam em níveis perceptivos e conceituais, decodificando estímulos visuais, interpretando imagens visuais (contornos, detalhes, cores, configurações e padrões de objetos e letras), devem ser estimuladas a utilizar ao máximo a visão residual para atividades de leitura e escrita. Entre essas crianças há as que encontram muita dificuldade para discriminar figuras complexas, por alteração da visão macular (responsável por percepção de detalhes), o que o professor não deve confundir com deficiência mental. Muitos alunos encontram dificuldade para discriminar fotos, figuras de animais e desenhos abstratos. Discriminar letras e números é mais fácil do que figuras complexas. Somente pela experiência visual com letras, números e figuras é que a criança vai aprendendo a construir suas hipóteses perceptivas, antecipando, identificando e generalizando imagens visuais. O aluno com baixa visão pode desenvolver eficiência visual com ajuda de auxílios ópticos adequados, materiais adaptados a suas necessidades visuais e principalmente pela organização e adequação do ambiente. Há alunos que necessitam de alta iluminação para poder visualizar os estímulos, enquanto para outros, a luminosidade e brilho podem dificultar a fixação e discriminação visual. O professor deverá pesquisar qual o tipo de iluminação mais adequada (luz florescente ou incandescente), quantidade e direção do foco luminoso. O controle de iluminação na sala é fator importante para eficiência e conforto visual do aluno. Muitas crianças podem apresentar dificuldades acomodativas (dificuldade para ver de perto). O desenvolvimento visual delas poderá ser lento e gerar estresse e cansaço pelo esforço visual de acomodação, fato este que não deve ser confundido com preguiça ou falta de motivação. A programação pedagógica deve objetivar o enriquecimento de experiências visuais significativas, valendose de elementos lúdicos adaptados às necessidades de cada aluno. Por isso, torna-se impossível a padronização de brinquedos, jogos, materiais ou textos para alunos com baixa visão. Os jogos pedagógicos interativos pelo computador são hoje muito utilizados nos países desenvolvidos como recurso motivador do uso funcional da visão, desenvolvendo as funções visomotoras, perceptivas e conceituais. Além de ser um processo lúdico e prazeroso, o computador permite a utilização de contraste, a ampliação da imagem, conforme a necessidade de cada aluno. Para pessoas com baixa visão com dificuldade motora associada, o computador e a máquina de datilografia ampliada tornam-se excelentes recursos para aprendizagem da leitura/escrita. Alunos com perdas visuais severas, alteração de campo visual ou sensibilidade aos contrastes poderão beneficiar-se do circuito fechado de televisão (CCTV), como recurso auxiliar de leitura/escrita. Na ausência de equipamentos para ampliação de textos, o professor poderá utilizar o caderno de pauta ampliada, caneta hidrocor e lápis regente 6 B para aumentar o contraste. O uso de filtro amarelo também intensifica o contraste do texto. Quando não se dispõe de recursos sofisticados de alta tecnologia para facilitar o processo da leitura/escrita, o professor poderá pesquisar com o aluno os diferentes tipos de lupas manuais disponíveis no mercado. Há lupas que facilitam as tarefas visuais para perto como: lupas de mão de diferentes formas e modelos, lupas cefálicas e lupas de mesa iluminadas ou não. O professor deverá ajudar o aluno a descobrir o melhor ponto focal e a melhor distância para não haver distorção de formas. Para visão a distância e leitura da lousa, a prescrição dos telessistemas será realizada pelo oftalmologista quando necessária. Na dificuldade de adaptação do aluno às telelupas poderá ser utilizado um telessistema acoplado ao C.C.TV. Como não se dispõe no mercado nacional desse tipo de equipamento, o professor orientará a aproximação do aluno à lousa, na distância necessária. Alunos com acuidade visual muito baixa, com ausência de coordenação visomotora ou alteração de campo visual podem encontrar muita dificuldade para realizar cópia da lousa. O professor poderá orientar a utilização de recursos sonoros como gravação da aula, cópia de texto próximo ou a colaboração de colegas tirando cópia do texto para o aluno. Há alunos que, mesmo com recursos ópticos potentes, necessitam aproximar-se muito para poder ler de perto. O professor deve estar atento à adequação postural do aluno, posicionando o porta-texto para leitura. Geralmente, o oftalmologista encaminha no laudo médico, a indicação do tamanho de letra (impressão em tamanho métrico) que o aluno é capaz de discriminar. Se isso não ocorrer, o professor poderá pesquisar com o aluno qual o tipo e o tamanho de letra maisadequado e acessível. Os alunos com baixa visão leve e moderada podem, muitas vezes, utilizar-se dos jogos e letras disponíveis no mercado que tenham cores contrastantes. O professor deverá adaptar as letras, palavras e textos, levando em consideração a acuidade visual, alteração da sensibilidade aos contrastes, alteração de campo visual e possíveis escotomas (pontos cegos). Nem sempre o maior tipo de ampliação é o mais adequado. Inicialmente alguns alunos podem necessitar de ampliação para facilitar o processo de leitura/escrita; o professor poderá gradativamente diminuir a ampliação, para que o aluno também adquira eficiência com tipos menores. Muitos alunos adquirem eficiência, apesar de seu quadro de alteração visual, chegando a ler revistas, jornais e os livros didáticos disponíveis no mercado, com ou sem auxílios ópticos. Outros alunos poderão necessitar de recursos ampliados, iluminação adequada e mesmo assim apresentar lentidão no processo de leitura/escrita. A qualidade do traçado gráfico do aluno com baixa visão é bastante variável, em virtude das condições visuais de cada um. Há alunos que persistirão no uso de letra grande, traçado irregular ou incoordenação, sem conotação de alteração motora. A qualidade do traçado gráfico não deverá ser também critério para introdução da leitura e escrita. Há alunos com baixa visão severa que têm grande dificuldade de elaboração de formas e desenhos, entretanto, têm desempenho visual suficiente para leitura e escrita por meios visuais. Na baixa visão como na cegueira, o que determina a capacidade de leitura/escrita é o nível conceitual do aluno. Devemos compreender que o domínio do processo de leitura/escrita pelo Sistema Braille ou por meio visuais, dependerá também da experiência compartilhada no grupo social. A intervenção pedagógica competente, a experiência de outros colegas mais adiantados e o domínio do Sistema Braille pela família serão mediadores eficazes para se alcançar avanços no domínio desse sistema. Fatores Relevantes para a Inclusão do Aluno com Baixa Visão O ingresso da criança na escola é uma situação vivenciada muitas vezes como estressante, uma vez que ocorrem mudanças em sua vida ocasionando sensação de medo das novas situações, do novo mundo com que se depara. Para viabilizar a integração na escola é importante que o professor tenha como objetivo principal promover a independência e a autoaceitação da criança, ajudando-a a minimizar sua limitação. Existem muitos fatores que afetam a participação do aluno com baixa visão no ambiente escolar: ● aceitação e flexibilidade do professor em relação a sua limitação; ● atitude positiva do diretor e dos funcionários da escola; ● valorização e estimulo em relação aos acertos, elogiando o aluno; ● conhecimento do professor acerca do auxílio óptico do aluno e conscientização de sua utilidade, encorajando-o a usá-lo. O auxílio pode ser apresentado à classe como um avanço tecnológico e de grande valia; ● incentivo par que o aluno com baixa visão a participe ao máximo das atividades acadêmicas, possibilitando maior integração com os colegas e o professor. Por exemplo, a incumbência de distribuir cadernos é muito útil, pois dá ao aluno oportunidade de ver quem está na classe e onde está localizada sua carteira em relação aos demais colegas; ● tempo suficiente para a conclusão das tarefas; ● persistência, disciplina e responsabilidade do aluno nos seus afazeres, mantendo a organização do material escolar. Outros fatores que facilitam o desempenho escolar são: estabilidade emocional, motivação, auto-estima e independência; ● organização de atividades de classe, de modo a permitir momentos de “descanso ocular”, tais como: leitura e escrita, alternadas com perguntas orais; atividades na lousa e escrita no caderno, com trabalhos em artes. A professora também pode sugerir ao aluno que feche os olhos por alguns momentos, quando estiver cansado visualmente. Quanto maior o uso do olho, melhor a eficiência visual, isto é, melhor a utilização do potencial de visão; ● orientação quanto ao espaço físico da escola, sendo oportuno mostrar ao aluno a localização de diversas dependências, como: salas de aula, biblioteca, laboratório, sala de artes ou pátio, sanitários. Isso facilita a circulação pelas dependências da escola, promovendo locomoção independente; ● evitar obstáculos na classe ou corredores. Sempre que houver alteração na disposição dos móveis em sala de aula ou dependências, informar ao aluno. Não deixar as portas entreabertas, mas totalmente abertas ou totalmente fechadas; ● compreensão e respeito, não só na escola como também entre os familiares. A postura da família em relação à aceitação do problema visual e ao interesse nas atividades escolares, numa interação família/ escola, favorecerá a adaptação da criança que, certamente, mostrará maior rendimento, desempenho e, portanto, aprendizagem. Adaptações na Sala de Aula Para possibilitar a participação e o sucesso do aluno com baixa visão na escola são necessárias adaptações que facilitem o desempenho escolar. Os principais aspectos a serem considerados são: o posicionamento do aluno em sala de aula e a adaptação de materiais. Posicionamento do Aluno em Sala de Aula Leitura na Lousa Geralmente, a melhor posição para o aluno com baixa visão é sentar-se em frente à lousa, no centro da sala, a não ser que enxergue menos com um dos olhos. Nesse caso, talvez necessite sentar-se um pouco mais para a esquerda ou direita. Se o aluno usar algum sistema telescópico para longe, deverá sentar-se a uma distância fixa da lousa (cerca de 2 metros), conforme indicação da avaliação funcional da visão. Se não usar, o professor deverá permitir que o aluno se levante e se aproxime da lousa sempre que se fizer necessário. Leitura de Perto e Escrita Cada aluno tem sua própria distância focal, dependendo do nível de acuidade visual e do tipo de auxílio óptico utilizado. Devemos lembrar que, nesses casos, a aproximação do material de leitura dos olhos não prejudica a visão – apenas propicia um aumento do tamanho da imagem. A aproximação é um recurso para a ampliação do objeto. Quanto maior a magnificação da lente, menor a distância focal, isto é, quanto mais forte os óculos utilizados, mais próxima deverá ser a distância de leitura. Existem suportes de leitura (tipo pranchetas) que elevam o material à distância e à posição adequadas, permitindo boa postura na leitura e escrita. Adaptação de Materiais Iluminação Na escola é importante o professor estar atento à iluminação ambiental, pois sua deficiência ocasiona dificuldades no processo de aprendizagem e no bem-estar da criança. Recomenda-se usar sistemas de iluminação variáveis conforme as necessidades individuais de cada criança . Em relação à iluminação ambiental, deve-se cuidar para que os locais sejam uniformemente iluminados, evitando-se áreas escuras, principalmente nas salas de aulas, escadas, entradas e corredores. Para a execução das tarefas visuais é útil a localização do aluno sempre próximo a uma janela, pois ailuminação natural é sempre preferível. Caso não seja suficiente, pode-se utilizar uma luminária portátil próxima à carteira do aluno, provendo-o de luz focal. No caso de o aluno apresentar fotofobia (sensibilidade à luz), deve-se utilizar uma cortina leve. O sol direto nas áreas de trabalho e superfícies brilhantes deve ser evitado para não haver ofuscamento. Em relação à posição da luz, esta deve estar num ângulo de cerca de 45º, vindo de preferência da esquerda, no caso dos destros, para não sombrear a escrita. Contraste O uso do contraste adequado melhora a função visual. No caso de alunos com baixa visão a lousa deve ser escura o suficiente para permitir bom contraste com o giz, sendo o ideal o quadro negro com giz branco ou amarelo, evitando-se o giz verde ou vermelho, pois são cores menos contrastantes e mais difíceis de serem vistas, principalmente pelos alunos com deficiências congênitas da visão de cores. A lousa verde fosco pode favorecer melhor adaptação, evitando-se o reflexo e brilho da lousa negra. Os materiais escolares como cadernos devem ter as pautas bem pretas ou verdes e até mesmo ampliadas se necessário, isto é, riscadas manualmente com traços mais escuros, conforme a necessidade visual do aluno. O ideal é usar tinta preta em papel branco ou palha ou lápis preto n.º 1 ou n.º 6B, cujo grafite é mais mole e portanto mais contrastante. Para gráficos e cartazes, usar cores como amarelo em fundo preto, azul ou verde em fundo branco, cores escuras em fundo luminoso, cores fluorescentes bem contrastantes. As canetas de ponta porosa são muito utilizadas. No caso de material mimeografado pode ser necessário reforçar as linhas com tinta preta para melhorar a nitidez. Ampliação Alguns alunos conseguem ler, sem dificuldade, o tamanho de tipos de letras dos livros escolares se apresentarem bom contraste, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. Caso seja necessário o uso de tipos ampliados, pode-se fazer ampliação manual, cópias xerox ampliadas ou ampliação no computador, cuidando sempre de se conseguir bom contraste. Altos níveis de iluminação são necessários no caso de uso de material duplicado. Os sistemas de videomagnificação da imagem, também chamados circuitos fechados de televisão, são muito utilizados em alguns países. A aproximação do material dos olhos é outro recurso de ampliação da imagem largamente utilizado pelas próprias crianças, que neste caso utilizam a acomodação para focar a imagem. Pode ser permitido, desde que o cansaço produzido pelo uso deste sistema não seja excessivo. Recursos Didáticos Aplicados na Educação dos Alunos com Deficiência Visual Tornar a aprendizagem significativa e despertar o interesse em aprender são funções básicas dos recursos didáticos. Eles contribuem para que o universo e a escola sejam mais acessíveis a todos. Os alunos com deficiência visual possuem grandes possibilidades de desenvolvimento pessoal e intelectual desde que sejam a eles oferecidas oportunidades de aprendizagem que utilizem metodologias e recursos didáticos adequados a sua forma de perceber e sentir o meio em que vivem. Promover a concretização de conceitos por meio de vivências no cotidiano e mediante a utilização de recursos didáticos que possam ser percebidos por todos os sentidos do corpo (tátil, cinestésico, auditivo, olfativo, gustativo e visual) é conduta indispensável para uma educação abrangente, que contemple as diversidades existentes entre os educandos. Os recursos didáticos são de fundamental importância para a educação das pessoas com deficiência visual, considerando-se que: ● um dos problemas básicos do aluno com deficiência visual, em especial o aluno cego, é a dificuldade de contato com o ambiente físico; ● a carência de material adequado pode conduzir a aprendizagem da criança deficiente visual a mero verbalismo, desvinculado da realidade; ● a formação de conceitos depende do íntimo contato da criança com as coisas do mundo; ● tal como a criança de visão normal, a deficiente visual necessita de motivação para a aprendizagem; ● alguns recursos podem suprir as lacunas na aquisição de informação pela criança com deficiência visual; ● manuseio de diferentes materiais possibilita o treinamento da percepção tátil, facilitando a discriminação de detalhes e suscitando a realização de movimentos delicados com os dedos. Materiais Básicos para o Ensino Para alcançar desempenho eficiente, o aluno com deficiência visual, especialmente o aluno cego, precisa dominar alguns materiais básicos, indispensáveis no processo ensinoaprendizagem. Entre esses materiais, destacam-se: ● reglete de mesa; ● punção; ● sorobã; ● máquina de datilografia braile; ● textos transcritos no Sistema Braille. Na medida do possível, o aluno deverá usar máquina da datilografia braile (máquina de teclas) cujo rendimento, em termos de rapidez, pode mesmo ultrapassar o da escrita cursiva dos alunos que enxergam. Para a educação dos alunos com cegueira é necessário ainda: ● cubaritmo; ● calculadora sonora; ● material de desenho adaptados (régua, transferidor, esquadro); ● sólidos geométricos; ● fita métrica adaptada; ● jogos adaptados (dominó, baralho, xadrez, dama) e outros; ● mapas em relevo; ● relógio braile ou sonoro; ● bengala longa; ● bola com guizo; ● tronco humano desmontável; ● máquina de datilografia comum; ● thermoform; ● micro computador; ● impressora braile; ● kit Dosvox; ● braile falado; ● scanner; ● Open Book (sistema de leitura ótica que sintetiza em voz); ● gravador. Para os portadores de baixa visão necessita-se de: Recursos ópticos: uma ou mais lentes que se antepõem entre o olho e o objeto. ● recursos ópticos para longe: - telessistemas: telescópios, telelupas e lunetas. ● recursos ópticos para perto: - óculos bifocais; - lentes esferoprismáticas; - lentes monofocais esféricas; - sistemas telemicroscópicos; - lupas manuais e de apoio. Recursos não-ópticos: não envolvem lentes. São modificações das condições ambientais por meio de: ● uso de lápis preto 6B; ● uso de caneta ponta porosa (tipo futura ou pincel atômico) para ampliação e contorno; ● papel com pauta dupla ou reforçada; ● aumento do contraste, usando-se cores bem contrastantes como: tinta preta em papel branco ou palha, giz branco em lousa verde fosco, cores escuras em fundo luminoso sem brilho; ● uso de acessórios como suporte para leituras de partituras musicais; ● uso de carteiras reclináveis; ● controle da iluminação, aumentando-se a iluminação ambiental com focos luminosos para leitura (abajures) com diferentes tipos de lâmpadas; ● ampliação de textos e/ou livros manual, xerox com alto contraste ou no computador; ● máquina de datilografia tipo ampliada; ● CCTV (sistema de circuito fechado de televisão) ou lupa eletrônica para pessoas que necessitam de maior aumento do que os óculos podem proporcionar; ● gravador; ● microcomputador com jogos pedagógicos; ● kit Dosvox; ● virtual vision. Seleção, Adaptação e Confecção de Materiais As necessidades educacionais especiais variam de aluno para aluno, mesmo quando fazem parte de um mesmo grupo, no caso, os alunos com deficiência visual.Utilizando bom senso e criatividade, o professor poderá selecionar, adaptar e confeccionar vários materiais didáticopedagógicos, que muito contribuirão para o processo ensinoaprendizagem dos alunos, tenham eles deficiência visual ou não. A escolha deverá basear-se, de modo geral, nos princípios de que os materiais mais adequados são aqueles que permitem uma experiência completa ao aluno e estão compatíveis com seu nível de desenvolvimento. Muitos materiais existentes no mercado atendem nas escolas às necessidades educacionais de todos os alunos tais como se apresentam. Exemplo típico deste aproveitamento se evidencia na utilização dos sólidos geométricos, jogos de encaixe e outros similares. Há outros que, mediante certas alterações, marcações em relevo, por exemplo, tornam-se significativos para os alunos com deficiência visual que utilizam o tato como canal receptor de informações e continuam sendo eficientes para os demais alunos. Nesse caso, encontram-se jogos, instrumentos de medir, mapas de encaixe e diversos objetos que podem ser adaptados. Outros recursos pedagógicos podem ser confeccionados pelo professor e, sempre que possível, com a participação do aluno. Utilizando sucata, ou seja, reaproveitando materiais simples que normalmente desprezamos tais como: embalagens descartáveis, frascos, tampinhas, retalhos de papéis e tecidos, botões, palitos, barbantes, etc. Pode-se produzir uma infinidade de recursos e jogos didáticos de baixo ou quase nenhum custo. Como sugestão, apresentaremos alguns materiais que foram criados neste contexto, cujas idéias surgiram a partir das dificuldades encontradas em sala de aula por professores que, de forma criativa, buscaram soluções eficientes. A Fig. ilustra modelos de materiais confeccionados em sucata: - cela braile - confeccionada com caixa de papelão e frascos de desodorantes. - dúzia de ovos - caixa de ovos e embalagens de ovo surpresa. - medidor - garrafas plásticas de água mineral cortadas, com capacidade para um e meio litro. Critérios Todo material didático deve ser produzido com o objetivo de ser útil às diversas condições e níveis de aprendizagem dos alunos. Quanto mais estímulos um recurso didático puder oferecer (visual, tátil, sonoro, etc.), mais rico em significação ele será e poderá ser amplamente utilizado por todos os alunos, portadores ou não de alguma deficiência. Na seleção, adaptação ou confecção desses recursos, o professor deverá levar em conta alguns critérios para alcançar a desejada eficiência em sua utilização. Tamanho Os materiais devem ser confeccionados ou selecionados em tamanho adequado às condições dos alunos. Materiais excessivamente pequenos não ressaltam detalhes de suas partes componentes ou perdem-se com facilidade. O exagero no tamanho pode prejudicar a apreensão da totalidade (visão global). Significado Tátil O material precisa possuir um relevo perceptível e, tanto quanto possível, constituir-se de diferentes texturas para melhor destacar as partes componentes. Contrastes do tipo: liso/ áspero, fino/espesso, permitem distinções adequadas. O material não deve provocar rejeição ao manuseio, fato que ocorre com os que agridem ou irritem a pele, provocando reações de desagrado. Estimulação Visual O material deve ter cores fortes e/ou contrastes que melhor se adaptem à necessidade visual de cada aluno. Fidelidade O material deve ter sua representação tão exata quanto possível do modelo original. Facilidade de Manuseio Os materiais devem ser simples e de manuseio fácil, proporcionando ao aluno uma prática utilização. Resistência Os recursos didáticos devem ser confeccionados com materiais que não se estraguem com facilidade, considerando o freqüente manuseio pelos alunos. Segurança Os materiais não devem oferecer perigo para os educandos. Recursos Didáticos Facilitadores Modelos A dificuldade de interação com o ambiente por parte da criança deficiente visual impõe a utilização freqüente de modelos representativos da realidade com os quais podem ser razoavelmente superados os problemas de percepção em relação ao tamanho dos objetos originais e a distância a que se encontram. A melhor maneira de se dar ao aluno com deficiência visual a noção formal do que seja uma montanha, por exemplo, é mostrar-lhe um modelo (uma maquete) deste acidente geográfico. Ainda que se considere a possibilidade de a criança subir a elevação, terá ela apenas a idéia do caminho percorrido. Os modelos devem ser escolhidos e confeccionados seguindo os critérios que propiciem uma boa significação tátil e visual e, sempre que possível, sua exploração ser acompanhada de explicações verbais objetivas. Modelos muito pequenos podem ser ampliados para que os detalhes importantes se tornem perceptíveis. Exemplo: a representação tridimensional, com texturas e cores diferenciadas do esquema de uma célula, onde se identificam, tanto pelo tato quanto pela visão, o núcleo, o citoplasma e a membrana. A noção de nuvem, sol, lua, bem como outros elementos do universo situados a grandes distâncias só podem ser apreendidos pelos alunos com deficiência visual por meio de modelos simbólicos apresentados em escalas proporcionais. Representações Gráficas em Relevo Utilizando barbante, palito, miçanga, papel metálico, papelão e outros materiais, podem-se produzir relevos e contornos em mapas, gráficos, tabelas e esquemas. Rosa dos ventos e regiões brasileiras adaptadas em relevo. A representação gráfica em relevo é uma forma de linguagem que permite a todos os alunos o acesso a informações das diversas áreas do ensino. Planisfério adaptado em relevo. Constituiu uma técnica que proporciona maior estímulo para a aprendizagem e integra alunos que possuem diferentes capacidades de percepção. Para que o aluno com deficiência visual possa fazer uma boa utilização destes recursos didáticos, os critérios em relação à significação tátil, tamanho e quantidade de informações num material devem ser cuidadosamente respeitados. Mapas ou gráficos que possuem muitos detalhes tornam-se complexos na compreensão de sua tonalidade. Thermoform. Os materiais confeccionados em relevo podem ser reproduzidos várias vezes, ou seja, podem ser retiradas cópias em equipamento específico, o THERMOFORM. Essa máquina faz reproduções rápidas, utilizando filme apropriado (película de PVC - Braillex), através do processo termovácuo. Com este recurso podem-se produzir inúmeros trabalhos para serem distribuídos a todos os alunos, tais como: cadernos de atividades, mapas, planisfério, gráficos, apostilas para o ensino da geometria, tabela periódica dos elementos químicos, etc. Livro Didático Adaptado Os livros didáticos encontrados no mercado apresentam inúmeros recursos visuais (desenhos, gráficos, cores) que não atendem às diferentes capacidades de aprendizagem dos alunos, principalmente a dos deficientes visuais. A quantidade dosada de exercícios numa página, o emprego de desenhos objetivos, o tamanho ampliado das letras e contrastes evidentes de cores são critérios básicosque devem ser observados na seleção e na elaboração de um livro didático que atenda às necessidades dos alunos de visão reduzida. Nos casos específicos da deficiência visual, como o da transcrição de livros para o Sistema Braille, recomenda-se: - uma adaptação cuidadosa dos livros didáticos comuns, de modo que os objetivos originais não sejam deturpados; - a elaboração de livros adequados às peculiaridades do Sistema Braille, seguindo o conteúdo programático das diferentes disciplinas e níveis do ensino. Livro Falado É o livro gravado em fitas cassete. De ampla utilização no Brasil, constitui eficiente recurso como livro didático no segundo grau e no ensino superior. A utilização do livro falado, no primeiro grau, deve limitar-se, tanto quanto possível, à literatura ou aos didáticos de leitura complementar. Máquina de Datilografia A máquina de datilografia comum é útil na apresentação de pequenos trabalhos e constitui valioso mecanismo de comunicação nas fases posteriores do ensino. Tem inúmeras aplicações no desempenho de muitas profissões. Em função da modernidade, este recurso vem sendo substituído pelos tecnológicos da área de Informática. Computador O uso do computador como recurso didático na educação vem facilitando e enriquecendo o processo ensinoaprendizagem. Selecionando programas adequados às diferentes condições visuais dos alunos e acoplando periféricos que complementem a utilização do equipamento, impressora comum para tipos ampliados, impressora braile, sintetizador de voz, o computador funcionará como um excelente recurso de comunicação entre os usuários do Sistema Braille e os usuários da escrita comum ou ampliada. As crianças com deficiência visual aprendem de maneira mais eficiente, por outros meios sensoriais, que não sejam somente o visual. Buscar os recursos mais adequados para trabalhar com elas é a tarefa que exige do professor sensibilidade, lembrando que há peculiaridades no desenvolvimento de todas as crianças, tendo elas deficiência ou não. Objetivos da Alfabetização Ao final do processo de alfabetização a criança deverá: ● expressar seus pensamentos com espontaneidade, criatividade e clareza, nas situações em que esteja envolvida; ● ler com fluência, entonação e ritmo as orações que compõem seu contexto lingüístico; ● compreender e interpretar pequenos textos que impliquem diferentes tipos de mensagem; e ● escrever com desempenho satisfatório orações e pequenos textos construídos de palavras que pertençam a seu vocabulário cotidiano e que tenham estrutura simples. A alfabetização vai além disso. Ela passa pelo aprofundamento de vários fatores que inserem o homem no “mundo de letras” e tem um tempo próprio para cada indivíduo. O alfabetizado não é só aquele que reconhece sinais gráficos, aprende fonemas, mecaniza procedimentos de leitura e de escrita e os alfabetizadores necessitam preparar-se e estar atentos à responsabilidade que lhes cabe. Alfabetizar é rasgar horizontes, abrir atalhos, apontar saídas, descobrir soluções, criar situações concretas e propor desafios. É motivar o educando a trilhar o caminho do conhecimento formal e levá-lo a apreender “o saber consciente”. Não se trata de mera linguagem metafórica, em cujo cerne repousam comparações de efeito literário, mas de palavras que guardam a justeza do exercício de uma verdade irrefutável. O vislumbre de novas possibilidades provém da consciência; é essa consciência que deveria perpassar todas as coisas, que precisaria estar viva e clara na proposta de trabalho do professor alfabetizador. O fracasso escolar levanta questionamentos importantes e aparecem inúmeros fatores que procuram explicar tal fato. A abordagem desse problema é larga e pede diferentes instrumentos de interpretação. Dessa forma, a falência da educação revela-se em muitas frentes. O despreparo dos professores, a repetência e a evasão escolar apontam para uma realidade insustentável: desqualifica-se o ensino e amesquinha-se o homem. É preciso ver o processo educacional como resultante da conjunção de ações recíprocas. Assim, o educando deixará de ser o dono das culpas absolutas e o aprendiz um incapaz, detentor de todas as deficiências. É hora de investir em novo rumo, em outra postura ante a educação. O período da alfabetização é responsável muitas vezes pelo insucesso de educandos e educadores. Essa barreira existe e tem de ser transposta. O estudo de uma nova conduta filosófica, de uma nova diretriz educacional nesse campo, poderá servir de suporte para a implantação de uma outra linha pedagógica que favoreça o alfabetizando, fazendo-o sujeito e não objeto de sua aprendizagem, de forma a integrar-se em sua comunidade cultural, descobrindo o mundo que o cerca, decodificando os muitos contextos existentes, enfim, tornando-se um ser possuidor de senso crítico. É necessário promover o debate e acionar os mecanismos mobilizadores de uma ação participativa, criando instrumentos e fomentando recursos que ergam uma escola capaz de trabalhar o educando como um todo, pesquisando suas potencialidades e respeitando suas diferenças. A educação especial não pode afastar-se dessa nova visão, visto que as pessoas deficientes visuais precisam compartilhar, como quaisquer outras, da construção do seu saber. Educar uma criança cega não é uma missão simples. É uma opção profissional imposta por uma grande vocação e profissionalismo, baseados na consciência da responsabilidade. Para tanto, devem ser criados ambientes educacionais ricos de estímulos e experiências, em que se promovam situações renovadas de aprendizagem. Constantes mudanças devem ser provocadas, propiciando atitudes críticas e criativas, estimulando atividades que favoreçam o desenvolvimento global de educandos cegos. Aquele que pretende ingressar nesse campo de ensino precisará saber que a criança cega é um ser que se desenvolve, que constrói, que aprende. Entretanto, ela apresenta necessidades específicas que reclamam um atendimento especializado e basicamente dirigido a essas especialidades. Uma criança não é mais ou menos capaz por ser cega. A cegueira não confere a ninguém qualidades menores nem potencialidades compensatórias. Seu crescimento efetivo dependerá exclusivamente das oportunidades que lhe forem dadas, da forma pela qual a sociedade a vê, da maneira como ela própria se aceita. É de fundamental importância que o professor não veja nessa criança um aprendiz de segunda categoria, um educando treinável, cujo adestramento de certas áreas promoverá um desempenho educacional satisfatório. Para o alfabetizador conquistar êxito em sua tarefa é fundamental que seu trabalho se invista de inúmeros aspectos: conteúdos bem definidos, métodos e técnicas adequadas, material didático apropriado, enriquecimento de informações reais, liberdade de criação e expressão. Não há uma receita pronta e infalível para educar esta ou aquela criança. O alfabetizador tem de conhecer o educando que tem diante de si e sobre oqual recai sua atenção e ação pedagógica. No preparo e na coerência da prática docente pode-se encontrar solução para grandes problemas. A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO REGULAR A educação especial deve estar presente em todas as instituições escolares públicas e privadas, permeando os diversos níveis e modalidades de ensino, de modo a propiciar aos alunos com necesidades especiais oportunidades favoráveis à sua aprendizagem e desenvolvimento pleno de suas potencialidades. Atendendo aos princípios da educação inclusiva, as classes comuns do ensino regular constituem espaço privilegiado para a educação desses educados. Desde a educação infantil, providências devem ser tomadas para que os alunos com deficiência visual tenham acesso à rede regular de ensino, beneficiando-se das orientações comuns aos demais alunos bem como de ações pedagógicas específicas e sistemas de apoio sempre que necessários, de modo a assegurar seu êxito escolar. Com muita propriedade a Unesco expressa sua posição a esse respeito, afirmando em seus documentos, que a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais resulta de um processo de reforma total do sistema educativo tradicional, “cuja meta é a criação de uma escola comum que ofereça uma educação diferenciada a todos, em função de suas necessidades e num marco único e coerente de planos de estudos” (UNESCO, 1988). Assim sendo, a política nacional de educação especial no Brasil prevê alternativas de atendimento educacional às pessoas com necessidades educacionais especiais que favoreçam, prioritariamente, a sua inclusão escolar. Segundo as Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica (2001) “extraordinariamente, os serviços de educação especial podem ser oferecidos em classes especiais, escolas especiais, classes hospitalares e em ambientes domiciliar”. (p. 35). Na impossibilidade de promover a inclusão escolar dos alunos com deficiência visual nas classes comuns do ensino regular as seguintes alternativas poderão ser citadas: ● classe comum com apoio de serviços especializados; ● sala de recursos na rede regular de ensino; ● ensino itinerante; ● classe especial na rede regular de ensino; ● escola ou centro de educação especial; ● classe hospitalar; ● atendimento domiciliar. A escolha da melhor alternativa de atendimento deve levar em conta: ● o grau de deficiência e as potencialidades de cada aluno; ● a idade cronológica; ● o histórico de seu desenvolvimento escolar; ● a disponibilidade de recursos humanos e materiais existentes na comunidade; ● as condições socioeconômicas e culturais da região. O atendimento do aluno com deficiência visual conta, ainda, com o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiênci Visual - CAP, existentes nas Unidades Federadas. O processo de inclusão da pessoa com necessidades educacionais especiais ocorre mediante as seguintes providências: ● preparação da comunidade escolar (pais, professores, técnicos, funcionários de apoio da escola e, especialmente, alunos); ● oferta de cursos de capacitação e aperfeiçoamento em educação especial para os professores de classe comum; ● supervisão e acompanhamento do processo de inclusão, de modo a contribuir para sua sustentabilidade. A realidade brasileira, no momento em que experimenta a transição para o processo inclusivo, tem revelado que a educação do aluno com deficiência visual ocorre predominante mediante o processo de integração. Na realidade o que se tem, observado no Brasil, de um modo geral, é que os alunos com deficiência visual são primeiro alfabetizados e só após esse processo integrados em classes comuns do ensino regular e, no outro turno, freqüentam salas de recursos, onde continuam a receber atendimento especializado. Para eles e para os professores do ensino regular, a Educação Especial oferece os serviços de itinerância. O atendimento aos deficientes visuais, em alguns Estados brasileiros, também ocorre em escolas especializadas e em classes especiais das escolas públicas até a conclusão, pelo aluno, de seu processo de alfabetização. Embora a inclusão na rede regular de ensino seja o eixo orientador do atendimento educacional, ainda não foi possível atingir o nível considerado satisfatório, por uma série de fatores. Entre eles, vale ressaltar a falta de sensibilização da comunidade escolar; o desconhecimento dos professores acerca da educação especial; a insuficiência e a inadequação de recursos instrucionais e pedagógicos; a inadequação da rede física e de equipamentos pedagógicos, adequados às necessidades do alunado. Pedagógico da escola deve contemplar o atendimento às necessidades educativas específicas do educando. No entanto, é sempre recomendável a convivência entre os alunos com necessidades especiais e os sem deficiência. É importante e enriquecedor para ambos! Seriação e Currículo da Educação Básica A escolarização de alunos com deficiência visual deve seguir as séries e níveis do ensino regular. O especial de sua educação não implica alterar essa seqüência. O que se constata é que o ritmo da aprendizagem costuma ser mais lento, particularmente no período da alfabetização. Não se trata de limitação intelectual impeditiva do processo de aprendizagem e sim, de caraterística decorrente das implicações impostas pela deficiência visual e pela tardia ou não participação nos programas de Educação Infantil. Quanto aos currículos, preconiza-se que eles sejam os adotados na educação “comum ou regular”, com as devidas adaptações de estratégias, respeitando o ritmo de aprendizagem dos alunos deficientes visuais e os interesses correspondentes a sua faixa etária. Não há como justificar a infantilização do ensino para alunos com deficiência visual de determinadas faixas etárias maiores, usando recursos instrucionais cabíveis para crianças menores. Os objetivos, o fluxo da educação básica e superior e o conteúdo programático não se revestem de especificidades, mesmo sendo o educando uma pessoa com deficiência visual. O que faz a diferença, no caso do aluno cego, ainda é a questão espacial (orientação e locomoção) e da comunicação escrita (em relevo), objetos de consideração na metodologia didática. Para viabilizar o processo de aprendizagem, a apropriação do saber e do saber fazer pressupõe, necessariamente, o entendimento do que é ensinado e para quê. Se o aluno estiver integrado em classes especiais ou em sala comum, nas escolas regulares, o apoio a seus professores e, sempre que necessário, o apoio a ele (em salas de recursos) são estratégias que se impõem. Considera-se que as atividades de complementação curricular específicas são um suporte ao trabalho desenvolvido em sala de aula que devem ocorrer no turno inverso ao dos estudos acadêmicos. Essa complementação curricular específica, juntamente com o apoio pedagógico, constituem os serviços prestados pela Educação Especial, seja nas salas de recursos, seja em classes especiais. O trabalho de complementação curricular específica para alunosdeficientes visuais tem como meta o desenvolvimento da orientação e mobilidade, as atividades da vida diária, e as técnicas operatórias no sorobã. A Classe Comum e o Papel do Professor Segundo a Política Nacional de Educação Especial do MEC (1994), a inclusão é um processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais. A inclusão implica reciprocidade. A normalização é o princípio que representa a base filosóficoideológica da inclusão e da integração. Não se trata de normalizar as pessoas, mas sim o contexto em que se desenvolvem, ou seja, oferecer aos indivíduos com necessidades especiais modos e condições de vida diária o mais semelhantes possíveis às formas e condições de vida do resto da sociedade. No último Congresso Internacional, realizado em Paris, em 1990, os representantes da Comissão de Educação Integrada discutiram diferentes aspectos dos conceitos de normalização. Diversas conclusões foram apresentadas, visando a facilitar a educação dos alunos com necessidades especiais: ● preparação de recursos humanos; ● adaptação de currículos e complementações curriculares; ● novas tecnologias de ação; ● pesquisas; ● divulgação de experiências; ● preparo da comunidade em diferentes níveis: lar, escola, trabalho, recreação, etc. No caso específico do aluno com deficiência visual, entende-se que a inclusão nas classes comuns no sistema regular de ensino deve ser um processo preferencial, com possibilidade de progresso, êxito e condições de desenvolvimento e aprendizagem. A inclusão do aluno com deficiência visual em classe comum não acontece como um passe de mágica. É uma conquista que tem de ser feita com muito estudo, trabalho e dedicação de todas as pessoas envolvidas no processo. Para a inclusão do aluno com deficiência visual em classe comum, recomendamos que: ● a escola se estruture quanto aos recursos humanos, físicos e materiais; ● a inclusão aconteça desde a educação infantil; ● a escola tenha conhecimento da sua forma de comunicação escrita e a orientação básica no relacionamento com as pessoas deficientes visuais; ● a escola organize a classe comum de forma que possa reduzir o número de alunos da turma; ● sua idade cronológica seja compatível com a média do grupo da classe comum que irá freqüentar; ● a escola comum mantenha um trabalho sistemático visando à participação da família no processo educacional. Orientação ao Professor do Ensino Regular O aluno com deficiência visual deve freqüentar a classe comum do ensino regular, porque é um cidadão com os mesmos direitos que outro aluno e porque ele precisa conhecer o ambiente social dos “videntes” com quem ele conviverá sempre. A escola, ao elaborar o projeto político pedagógico, deverá prever cursos de capacitação de professores, assessorias e encontro da equipe pedagógica com professores ou instituições especializadas no processo ensino–aprendizagem do aluno com deficiência visual. A escola regular será para ele um estímulo para a aquisição de comportamentos, atitudes e habilidades semelhantes ao dos “videntes”, mais socialmente aceitos. Apesar das limitações visuais é preciso lembrar que o aluno com deficiência visual compreenderá o que lhe disser, pois a deficiência visual não implica comprometimento mental. Portanto você, professor, pode facilitar sua educação por meio das seguintes medidas: ● aceite-o bem, não o rejeite. Trate-o como qualquer um dos alunos, sem fazer discriminação ou distinção; ● prepare os colegas para recebê-lo e estimule-os a se relacionarem com ele; ● diga o nome do aluno deficiente visual sempre que desejar sua participação; ● identifique-se sempre que começar a conversar com um deficiente visual; ● informe-o quando vai ausentar-se da classe e, quando for embora, despeça-se dele; ● quando escrever, leia e dê mais tempo para que o aluno com deficiência visual possa tomar notas e acompanhar o raciocínio; ● sempre que dispuser de modelos, objetos, mapas em relevo, figuras em três dimensões, etc., faça-o observar pelo tato; ● não se esqueça de que são mais lentas a leitura e a escrita do braile do que a escrita comum; ● quando se tratar de baixa visão, coloque-o nas primeiras filas, sem que receba luz de frente; ● quando se tratar de cego, coloque-o numa carteira das primeiras filas, de modo que fique bem a sua frente para ouvir-lhe; ● alguns alunos de baixa visão recorrem à lupa e carecem de ampliações que podem ser feitas a mão; ● sempre que for possível facilite a gravação de suas aulas, além de livros didáticos e de literatura; ● forneça o maior número de informações verbais e utilize material que facilite sua compreensão; ● chame sua atenção por meio da comunicação verbal, auditiva ou tátil; ● interrogue-o, peça-lhe para buscar algo, falar com outros professores, solicite sua opinião, para que possa sentir-se membro ativo, participante; ● conte-lhe o que aconteceu, o que está acontecendo, não lhe omitindo informações; ● adapte, sempre que necessário, o currículo; ● dê-lhe a oportunidade de ler, como os demais colegas, integrando-o nas atividades com outros alunos; ● dê oportunidade para que toda a turma se apresente ao deficiente visual, nominalmente e em voz alta, para ele possa conhecer todos os colegas e que seus colegas laterais possam servir-lhe de apoio; ● estimule-o a expressar-se oralmente e por escrito, cumprimentando-o pelos sucessos alcançados; ● não o superproteja. Ajude-o, mas não lhe dê as soluções; ● acredite nas potencialidades do aluno, observando seu crescimento; ● preste atenção ao utilizar material concreto, figuras e gestos, porque precisará explicar-lhe o significado; ● ofereça-lhe ajuda sempre que parecer necessário, mas não o ajude sem que ele concorde. Ao prestar ajuda pergunte antes de agir, e se você não souber em quê e como ajudar, peça explicações de como fazê-lo; ● para guiar seu aluno cego ofereça-lhe o braço. Ele deve segurar-lhe pelo braço, de preferência acima do cotovelo e você caminhará meio passo a sua frente; ● caminhe com o aluno pela sala, em linha reta, até ele ser capaz de andar sozinho. Não o puxe. Deixe-o seguir seu ritmo oferecendo-lhe o braço; ● ao guiar seu aluno nas passagens estreitas (onde só cabe uma pessoa), passe adiante e diga-lhe o que se passa colocando-o completamente atrás de si; ● dê uma volta completa na sala, fazendo-lhe notar os móveis, o quadro e todas as outras referências; ● chame-lhe a atenção, nos percursos da escola, para inclinações do piso, curvas para a direita ou esquerda, subidas, correntes de ar, diferenças nos pisos, etc, pois são informações muito úteis; ● ponha-o ciente sempre que haja qualquer modificação na sala ou no percurso que costuma fazer; ● ao subir ou descer escada, avise-o antes de começar e antes de acabar. Se ele preferir, ponha sua mão sobre o corrimão; ● ao guiar seu aluno cego para uma cadeira, ponha sua mão no encosto da cadeira e informe-lhe se a cadeira tem braços ou não; ● na ida ao banheiro, mostre-lhe onde está o vaso sanitário, o papel higiênico, a pia, o cesto de lixo, etc. e dê-lhe oportunidadede saber exatamente sua forma e dimensões e de aprender o percurso a ser feito; ● nunca lhe diga “ali”, “aqui”, mas indique, com precisão o lugar exato, usando termos como: a sua frente, atrás de você, em cima, etc.; ● à hora da refeição, se solicitado, ajude-o a se servir. Não encha demasiado o prato, xícara ou copo que vai ser utilizado; ● organize jogos (cabra-cega e outros), de modo que os outros alunos possam perceber as dificuldades dos colegas com deficiência visual; ● contate, sistematicamente, os pais e os professores da Educação Especial, o itinerante e o da sala de recursos; ● envie, com antecedência, para o professor de sala de recursos/itinerante todo o conteúdo a ser desenvolvido na semana seguinte, possibilitando, assim, sua adaptação para o braile ou tipo ampliado; ● solicite a presença do professor itinerante ou da sala de recursos nos conselhos de classe e no momento da avaliação, se julgar oportuno. Sala de Recursos e o Papel do Professor Sala de recursos é um ambiente com equipamentos, materiais e recursos pedagógicos específicos à natureza das necessidades especiais do educando, onde se oferece a complementação do atendimento educacional realizado em classes do ensino comum, por professor especializado. Na sala de recursos deverão ser atendidos alunos de diversas faixas etárias, matriculados em diferentes níveis ou tipo de ensino, sempre que necessitarem de atendimento especializado, como complemento do ensino ministrado em classe comum. O atendimento em sala de recursos deverá ser realizado no turno inverso ao da classe comum ou especial do ensino regular, podendo ser individual ou em grupo, de acordo com o número de alunos por turma, observando-se os seguintes aspectos: ● potencial de aprendizagem dos educandos; ● nível de escolaridade dos educandos; ● recursos especiais necessários a sua educação; ● atividades que compõem a programação curricular e complementações curriculares específicas. A permanência em sala de recursos deverá reduzir-se gradativamente, à medida que o aluno vai adquirindo domínio das técnicas de leitura e escrita pelos métodos adequados para alunos cegos e de baixa visão, e à medida que ele vá adquirindo segurança e independência em seu desempenho acadêmico e social. Em seus horários livres, vários alunos poderão freqüentar ao mesmo tempo a sala de recursos para utilização de recursos didáticos e equipamentos especializados. O atendimento em sala de recursos deverá: ● apoiar a participação do aluno com deficiência visual na escola e na comunidade escolar; ● informar a comunidade escolar sobre a legislação e as normas educacionais vigentes que beneficiam o deficiente visual; ● prestar assessoramento técnico-pedagógico aos professores da rede regular de ensino, para elaboração de plano de atendimento adequado às necessidades individuais do aluno com deficiência visual; ● prestar apoio pedagógico especializado ao aluno no processo ensino-aprendizagem; ● fornecer material didático especializado ou adaptado, necessário ao desenvolvimento do currículo; ● garantir o suprimento de material de transcrição braile/ tinta, tinta/braile, ampliação, gravação sonora de textos, adaptação de gráficos, mapas e similares, além de materiais didáticos para uso de alunos cegos ou com baixa visão; ● garantir ao aluno com deficiência visual a participação em todos os trabalhos e atividades; ● fornecer material didático comum, que possa ser utilizado pelo deficiente visual; ● manter em funcionamento a sala de recursos, tanto para prestar atendimento individual como para garantir ao aluno com deficiência visual liberdade de utilizar os equipamentos especiais, quando necessário; ● operacionalizar as complementações curriculares específicas necessárias à educação do aluno, no que se refere às vivências de orientação e mobilidade (OM), atividades da vida diária (AVD), sorobã e escrita cursiva; ● buscar o envolvimento das famílias na educação e inclusão escolar do aluno com deficiência visual. As atividades desenvolvidas em sala de recursos variam de acordo com o nível de escolaridade e com o tipo de deficiência visual devendo, todavia, estar sempre integradas aos currículos e programas adotados para cada tipo ou nível de ensino. No que se refere a espaço físico, cabe à escola destinar espaço físico adequado para a montagem de uma sala de recursos. O equipamento mínimo necessário inclui máquinas de datilografia Perkins/ braile, máquinas de datilografia comum, máquinas de datilografia de tipo ampliado, auxílios ópticos, gravador, máquinas para reprografia (xerox e thermoform) e outros. O material didático e escolar especializado da sala de recursos deverá incluir: punções, regletes de mesa e de bolso, bengalas, sorobã, livros em braile, papel para escrita em braile (quarenta quilogramas), cadernos com pautas para letras ampliadas, mapas em relevo, maquetas em diversas escalas, relógios adaptados, figuras geométricas em relevo, lupas de várias dioptrias, luminárias, e outros. Ensino Itinerante e o Papel do Professor O atendimento educacional itinerante constitui uma modalidade especializada de apoio pedagógico, desenvolvida por profissional devidamente capacitado. Esse atendimento se caracteriza pela movimentação do professor, que se deslocará para as escolas do ensino regular onde existirem matriculados alunos com deficiência visual. O ensino itinerante é o atendimento recomendado para regiões onde não exista escola especial ou escola regular com sala de recursos e onde haja carência de professores especializados. Esse tipo de ensino visa sempre a complementar o atendimento educacional oferecido em classe comum. Para que esse atendimento possa atingir seu objetivo, é recomendável que os alunos com deficiência visual estejam matriculados, preferencialmente, em escolas próximas umas das outras. Por meio do ensino itinerante, poderão ser beneficiados os alunos com deficiência visual, matriculados na educação fundamental, até o término do ensino médio, podendo o atendimento ser limitado a uma ou duas vezes por semana ou com freqüência a ser definida, considerando o nível de escolaridade, a idade e o potencial de aprendizagem do aluno, principalmente nas séries iniciais. São tarefas do professor itinerante: ● preparar e apoiar a inclusão do aluno com deficiência visual na comunidade escolar; ● apoiar , quando solicitado, o professor regente de classe na operacionalização dos conteúdos curriculares, por meio de apoio técnico-pedagógico especializado; ● promover ou apoiar a realização das adaptações curriculares, necessárias ao processo ensinoaprendizagem do aluno com deficiência visual; ● participar do planejamento das atividades da classe, a fim de analisar aquelas que podem ser realizadas pelo aluno com deficiência visual, em conjunto com os outros alunos e detectar quais suas necessidades; ● promover ou apoiar a alfabetização pelo Sistema Braille; ● preparar o material especializado para uso do professor da sala de aula; ● transcrever livros didáticos, textos, provas e outros para o Sistema Braille; ● transcrever paratinta os trabalhos em braile; ● ampliar textos, provas e outros; ● gravar ou mediar gravações de livros didáticos, quando o conteúdo for compatível com esse recurso; ● fornecer ou mediar as ações de aquisição dos materiais de ensino-aprendizagem, equipamentos e outros; ● orientar quanto ao uso de equipamentos e materiais especiais; ● promover, na escola, a complementação curricular específica: orientação e mobilidade, atividades da vida diária, sorobã e escrita cursiva; ● buscar o envolvimento das famílias na educação e participação escolar do aluno com deficiência visual; ● informar e esclarecer os pais ou responsáveis sobre o tipo de atendimento adotado; ● orientar o aluno quanto à utilização dos recursos existentes na família e na comunidade; ● evitar que o aluno com deficiência visual solicite ou receba concessões especiais, além das que necessita, para não prejudicar seu processo de desenvolvimento e inclusão na escola. O professor itinerante deverá manter estreito relacionamento com a comunidade escolar. O trabalho de sensibilização realizado pelo professor especializado de sala de recursos deverá ser realizado também pelo professor itinerante para favorecer a educação dos alunos com deficiência visual. Para o ensino itinerante, há apenas a necessidade de se estabelecer, junto à direção da escola, o ambiente onde possa ser atendido o aluno com deficiência visual. Não há, portanto, requisitos físicos específicos para esse atendimento. Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual - CAP O CAP constitui uma unidade que visa a dar suporte e apoio pedagógico aos alunos e professores na escola comum e salas de recursos, bem como ajudar no processo de adaptação curricular. A criação de CAPs em todas unidades federadas é meta proposta pelo Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial pois é uma proposta para o desenvolvimento qualitativo da educação e da integração do indivíduo deficiente visual no sistema escolar e comunitário. O público alvo do CAP constitui-se preferencialmente de alunos cegos e de baixa visão, matriculados na educação infantil e no ensino fundamental. Atenderá também deficientes visuais do ensino médio, tecnológico, da educação superior, da comunidade, além de professores especializados e regentes da classe comum e estagiários dos cursos de magistério, pedagogia, psicologia e outros. O CAP além do atendimento pedagógico ao aluno deficiente visual, propõe: ● implantação de núcleos de produção braile informatizado; ● distribuição gratuita de livros didáticos para alunos de escola pública; ● acesso a recursos tecnológicos e de informática, facilitadores da aprendizagem e comunicação; ● implantação de biblioteca braile, audioteca, filmoteca e mapoteca adaptada; ● oferecimento de cursos profissionalizantes por meio de oficina; ● oferecimento de cursos ou programas complementares de orientação e modalidade, atividades da vida diária, sorobã, escrita cursiva e estimulação visual; ● promoção de cursos de atualização, aperfeiçoamento ou capacitação em serviço para professores; ● desenvolvimento de trabalhos de pesquisas e novas metodologias de ensino em conjunto com universidades e instituições; ● oferecimento de curso de braile para pais, e voluntários da comunidade. Os recursos materiais específicos são os já citados anteriormente, acrescentado de equipamentos de informática, de acordo com seus objetivos. Classe Especial e o Papel do Professor O atendimento especializado em classe especial é uma modalidade prevista na legislação. Nessa classe um professor especializado atende a um grupo de alunos com deficiência visual e com deficiência visual associada a outras deficiências ou atraso importante de desenvolvimento, em nível de pré-escola ou de alfabetização. Essa modalidade de atendimento constitui uma alternativa do processo de integração, uma vez que a classe especial é instalada num estabelecimento de ensino regular. Compete à escola promover a integração desses alunos com os demais nas diversas atividades propostas em seu projeto pedagógico. Nas classes especiais, a educação dos alunos ficará a cargo de professores que tenham qualificação para o magistério e especialização na área de deficiência visual. Esses professores devem ser capazes de realizar adaptações curriculares, de criar recursos metodológicos consoantes ao tipo de deficiência visual do aluno e, principalmente, de se adequar a seu ritmo de aprendizagem, promovendo a individualização do ensino. A sala para atendimento em classe especial deverá dispor de material didático e escolar especializado para uso do aluno. Esse material inclui máquina de datilografia braile, regletes de mesa, punções, sorobãs, papel para escrita em braile (quarenta quilogramas), cadernos com pautas duplas para letras ampliadas, canetas tipo futura, lupas de várias dioptrias, luminárias e outros. No horário inverso, o aluno se beneficiará das complementações curriculares específicas, adequadas a seu nível de escolaridade e faixa etária, podendo essa complementação ser dada pelo próprio professor da classe especial ou pelo professor de sala de recursos. A equipe pedagógica da escola deverá promover a participação dos alunos das classes especiais em todos os projetos, eventos e atividades constantes de programação educativa e sociocultural do estabelecimento de ensino regular. No cumprimento das instruções educativas traçadas pela política de integração, deve-se ressaltar que o atendimento em classes especiais possui um caráter de transitoriedade. Seu objetivo principal é aplicar uma dinâmica especial de estudo e de vivências sociais que viabilizem a integração do deficiente visual na classe comum, após sua alfabetização. Compete, portanto, ao professor de classe especial: ● promover a sensibilização de toda comunidade escolar a respeito das potencialidades dos alunos deficientes visuais; ● orientar os pais para que cooperem com o processo ensino-aprendizagem; ● dar início ao processo de integração escolar dos alunos com deficiência visual; ● viabilizar o processo ensino-aprendizagem, desenvolvendo a mesma proposta curricular do ensino regular, com as devidas adaptações para os alunos que se encontram na Educação Infantil e no processo de alfabetização; ● desenvolver atividades de complementação curricular específica para alunos com deficiência visual; ● encaminhar os alunos para a classe comum do ensino regular assim que concluam seu processo de alfabetização. A QUESTÃO DO ENSINO SUPERIOR A conquista de espaço no ensino superior é decorrência de todo um trabalho de qualidade, na trajetória escolar das pessoas com deficiência visual. Cumpre ressaltar que, assim como no ensino fundamental e médio, a valorização do aprendizado deve estar mais centrada nos conhecimentos adquiridos do que na forma como os deficientes visuais demonstram seu saber. Também no vestibular, como no curso superior, ao se avaliar o candidato deficiente visual, devem considerar-se os aspectos semânticos do conhecimento, conforme recomenda o Aviso-Circular 277/ 96 do Ministério da Educação. Adaptaçõesdo Vestibular às Necessidades dos Alunos com Deficiência Visual A prática tem demonstrado que a operacionalização das estratégias até então utilizadas necessitam de ajustes para que possam atender às necessidades educativas apresentadas por esse alunado. Segundo análise dos especialistas, tais ajustes se fazem necessários em momentos distintos: na elaboração do edital, no momento do exame e da correção das provas e na permanência do indivíduo na universidade, no decorrer do curso. Na elaboração do edital, devem expressar-se com clareza os recursos didáticos e equipamentos que poderão ser utilizados pelo vestibulando no momento da prova, bem como os critérios de correção a serem adotados pela comissão do vestibular. Ao deficiente visual deve ser facultado o uso de equipamentos específicos tais como: máquina Perkins braile, reglete, punção, sorobã, máquina de datilografia comum, microcomputador, etc. No momento dos exames vestibulares e no decorrer do curso, devem ser adotadas entre outras providências, as seguintes: ● colocar professor especializado à disposição das comissões de vestibular; ● transcrever para o braile as provas e outros materiais para cegos; ● ampliar as provas e outros materiais para o portador de baixa visão; ● substituir os gráficos, fluxogramas, tabelas e mapas por outros materiais ou a utilização deles em relevo, quando essa adaptação for compreensível ao deficiente visual; ● possibilitar alternativas na forma de realização das provas: lida, transcrita em braile; gravada em fita k-7 ou ampliada, para o deficiente com baixa visão; ● realizar provas orais, no caso necessário, recorrendose a assessorias legais, em provas de longos textos; - ampliar o tempo disponível para a realização das provas; ● permitir o uso de equipamentos como suportes pedagógicos, tais como: máquina Perkins Braille, reglete, punção, sorobã, recursos óticos especiais, como lupa e telelupa, etc. Alunos com Deficiência Visual no Ensino Superior O acesso do aluno com deficiência visual no ensino superior deve observar o que preconiza a Portaria nº 1679 de 02/12/99, pautando-se em estratégias que lhe ofereça a oportunidade de acompanhar as diversas disciplinas do curso e de propiciar sua integração social ao grupo, dando-lhe, especialmente, condições de locomover-se. Para tal sugerimos: ● produzir ou adquirir materiais específicos, como obras em braile ou gravadas, com apoio dos serviços existentes na biblioteca; ● identificar recursos materiais e equipamentos existentes na universidade que possam facilitar a educação desses alunos, como exemplo: o equipamento de xerox; ● utilizar o dosvox adaptado ao computador; - utilizar impressora braile para produção de materiais didáticos tais como livros textos, apostilas e exercícios; ● utilizar computadores na ampliação dos materiais didáticos e informativos para o aluno com baixa visão; ● formular questões que demonstrem domínio conceitual do conteúdo; ● dar apoio à locomoção dos alunos para acesso aos departamentos, às salas de aula e aos demais locais da universidade, por meio de: informações de pontos de referência, colocação de sinais sonoros, placas em braile, corrimão nas escadas, etc.; ● fornecer o apoio de ledores escolhidos entre os alunos “videntes” da universidade que obtenham bolsas de estudos para desempenhar essa função e/ou voluntários da comunidade. ESCOLA OU CENTRO DE ENSINO ESPECIAL A Escola ou Centro de Ensino Especial constitui uma das modalidades de atendimento em Educação Especial previstas pela legislação vigente. Definem-se como instituições especializadas em atendimento educacional de educandos com necessidades especiais as escolas com profissionais qualificados que adotam currículos adaptados ou diferenciados, programas e procedimentos metodológicos específicos, bem como equipamentos e materiais didáticos adequados à educação desses alunos. Compete à Escola ou ao Centro de Educação Especial: ● habilitar o deficiente visual para o ingresso no sistema regular de ensino, consoante o modelo de integração; ● complementar o atendimento prestado pelo ensino regular; ● oferecer campo de estágio para professores que estão se especializando na área; ● promover a educação para o trabalho e o apoio à profissionalização do aluno; ● oferecer atendimento educacional aos alunos com deficiência visual não indicados para integração; ● realizar ações educacionais visando à reabilitação de pessoas com deficiência visual; ● promover ações educacionais para jovens e adultos com deficiência visual que não tiveram oportunidade de freqüentar a escola; ● realizar avaliação psicopedagógica do aluno com deficiência visual; ● prestar orientação ao corpo docente, envolvido no atendimento ao aluno com deficiência visual; ● atender aos alunos com deficiência visual associada a outra(s) deficiência(s); ● participar de realizações científicas na área de deficiência visual; ● garantir o atendimento educacional especializado à criança na faixa de zero a três anos de idade, em estimulação precoce e à criança de quatro a seis anos na pré-escola, bem como nos demais níveis de ensino; - realizar a complementação curricular específica com programas de AVD, OM, informática e outros. A escola especial deverá, sempre que possível, constituir um centro de estudos e pesquisas na área de educação do portador de deficiência, oferecendo cursos para treinamento de técnicos e professores especializados. Poderá funcionar em regime de tempo parcial ou tempo integral, conforme as necessidades dos alunos com deficiência visual. É imprescindível também que essa escola possua um programa de orientação aos pais, com a participação de técnicos e de professores da equipe escolar, com o objetivo de levá-los a participar efetivamente do processo educacional. Esse programa poderá ser realizado por meio de reuniões, cursos, publicações e, quando necessário, por meio de atendimento individual, ajudando os pais a lidar com as limitações decorrentes da deficiência visual de seus filhos, informando-os sobre essa deficiência, sobre o tipo de atendimento adequado a cada caso e sobre a programação a ser realizada na escola pela equipe técnica interdisciplinar. Em uma escola especial todo o corpo docente e técnico deverá possuir a qualificação necessária para o desempenho de suas funções, acrescida de especialização na área de educação do deficiente visual. A organização e o funcionamento do atendimento educacional em escolas especiais deverão obedecer à Lei de Diretrizes e Bases, com as adaptações físicas e pedagógicas necessárias para atender às características pessoais dos educandos com deficiência visual. As escolas ou os centros de educação especial para deficientes visuais deverão organizar-se de forma a propiciar atendimento educacional especializado desde os mais elementares níveis de ensino, a partir da estimulação precoce, visando preparar o educando cego ou de baixa visão para a integração no sistema regular de ensino. Admite-se, todavia, que o atendimento educacional para alunos com deficiência visual em escolas especiais possa ser feito até o término do ensinofundamental, de acordo com as condições do educando ou quando o sistema regular de ensino da região ainda não ofereça condições para esse atendimento. A escola ou o centro de educação especial para deficientes visuais deverá organizar-se de forma a oferecer os seguintes tipos de atendimento educacional: ● educação infantil (estimulação precoce, pré-escolar), e ● complementação curricular específica (Orientação e Mobilidade, Atividades da Vida Diária, Sorobã e Escrita Cursiva). O currículo será o mesmo adotado pelo ensino regular com as adaptações indispensáveis para atender às necessidades especiais desses educandos. Os recursos materiais para essa modalidade de instituição especializada serão os mesmos referidos anteriormente para atender às especificidades dos alunos cegos e de baixa visão. Tendo em vista a política de inclusão da pessoa com necessidades educativas especiais à sociedade, não será mais incentivada a criação de escolas especializadas. Sugere-se às escolas especiais já existentes que trabalhem em parceria com a comunidade escolar, valendo-se do sistema educacional aberto, que proporcione avaliação, orientação, assessoria, apoio e suporte pedagógico para a integração escolar dos alunos. Essas escolas podem funcionar como centro de apoio pedagógico que favoreçam a inclusão. ADAPTAÇÕES CURRICULARES PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL As adaptações curriculares para os alunos com deficiência visual baseiam-se na proposta curricular do ensino regular. Quando necessário, são feitas algumas modificações, ajustes ou alternativas que atendam às necessidades educativas do aluno. Ao serem feitas essas adaptações, devem ser levados em conta alguns aspectos: ● necessidade de ajustamentos compatíveis com o desenvolvimento integral e o processo ensino aprendizagem do deficiente visual; ● condição do desempenho curricular do aluno, tendo como referência o currículo oficial do sistema, e ● adequação constante do processo de adaptação para os alunos, de modo a permitir alterações e tomadas de decisão. Medidas de Adaptações Educativas A fim de propiciar ao aluno melhores condições de aprendizagem, essas alterações devem ser implementadas levando em conta as necessidades do aluno. São elas: Adaptações de acesso à aprendizagem - são modificações ou utilização de recursos específicos, materiais e técnicas de aprendizagem que possibilitem o desenvolvimento do currículo regular. Constituem adaptações de acesso: ● propiciar recursos físicos, ambientais e materiais ao aluno na unidade escolar de atendimento; ● possibilitar os melhores níveis de comunicação e interação com os profissionais e pessoas que convivem na comunidade escolar; ● facilitar a participação nas atividades escolares; ● prover o mobiliário, equipamento e recursos didáticos e salas adaptadas; ● facilitar ou fornecer a aquisição do equipamento e recursos materiais específicos necessários: máquina Perkins, reglete, punção, bengala, softwares educativos, entre outros; ● adaptar material indispensável para sala de aula: mapa em relevo, em tipo ampliado, livro falado, etc.; ● adotar o sistema de comunicação escrita braile, tipo ampliado, uso do computador, dosvox. Adaptações curriculares – conjunto de modificações que se realizam nos objetivos, conteúdos, critérios e procedimentos de avaliação, atividades, metodologias e outros elementos curriculares para atender às diferenças individuais dos alunos. As adaptações curriculares para atender às necessidades especiais dos alunos deficientes visuais podem ser simples e significativas. As primeiras correspondem a pequenas modificações e não constituem alterações expressivas na programação regular e todos os alunos podem dela se beneficiar. Também podem ser feitas alterações significativas para atender a condições específicas dos alunos, de modo a favorecer a maior participação e atingir os objetivos definidos. As adaptações curriculares se dividem em dois grupos: Adaptações Metodológicos e Didáticas – envolvem os métodos, o agrupamento de alunos, as técnicas e estratégias de ensino-aprendizagem, a avaliação e as atividades programadas. Dizem respeito a: ● colocar o aluno nos grupos com que melhor se identifique; ● usar métodos e técnicas específicos para facilitar o ensino-aprendizagem na operacionalização dos conteúdos curriculares, sem prejuízo para as atividades escolares; ● usar procedimentos, técnicas e instrumentos de avaliação distintos da classe, quando necessário, sem prejuízo dos objetivos da avaliação e seu conteúdo; ● propiciar apoio físico, verbal, visual (aos portadores baixa visão) e outros de modo a facilitar a realização das atividades escolares e do processo avaliativo. O apoio pode ser oferecido pelo professor regente, de sala de recursos, itinerante ou pelos próprios colegas; ● introduzir atividades individuais complementares para o aluno alcançar os objetivos comuns aos demais colegas. Essas atividades podem realizar-se na própria sala de aula, na sala de recursos ou por meio do professor itinerante, devendo ser implementadas de forma conjunta com os professores regentes das diversas áreas, com a família ou com os colegas; ● introduzir atividades complementares específicas para o aluno, em grupo ou individualmente. Essas atividades podem ser realizadas pelo professor especializado nas salas de recursos e por meio do atendimento itinerante; ● eliminar atividades que não beneficiem o aluno ou que lhes restrinja a participação ativa e real ou, ainda, que esteja impossibilitado de executar; ● suprimir objetivos e conteúdos curriculares que não possam ser alcançados pelo aluno em razão de sua deficiência, substituindo-os por objetivos e conteúdos acessíveis, significativos e básicos, para o aluno. Adaptações nos Conteúdos Curriculares e no Processo Avaliativo – são ajustamentos de caráter individual dentro da programação regular, considerando os objetivos, os conteúdos e os critérios de avaliação, para responder às necessidades do aluno. Consistem essas adaptações em: ● adequar os conteúdos e critérios de avaliação considerando a capacidade do aluno; ● dar ênfase a determinados conteúdos e critérios de avaliação, ressaltando os objetivos referentes à deficiência do aluno; ● variar a temporalidade conteúdos e critérios de avaliação, quando necessário, levando em conta que o aluno deficiente visual pode atingir os objetivos comuns do grupo, em um período mais longo de tempo; ● introduzir conteúdos e critérios de avaliação, acrescentando elementos à ação educativa, indispensáveis à educação do aluno deficiente visual, tais como: atividades da vida diária, orientação e mobilidade, escrita cursiva e exercícios com o sorobã; ● eliminar conteúdos, e critérios de avaliação para os alunos com deficiência visual que causem dificuldade ao desenvolvimento de determinados objetivos definidos para seu grupo de referência, em função da deficiência que portam. Essa supressão não pode comprometer sua escolarização e promoção acadêmica. Algumas considerações são indispensáveis ao se realizar adaptações curriculares para a educação dos deficientes visuais: ● devem ser precedidas de sistemática avaliação do aluno nos seguintes aspectos:competência acadêmica, aspectos do desenvolvimento (biológico, intelectual, motor, lingüístico, emocional e competência social/interpessoal), motivação para os estudos, entre outros fatores que indiquem as adaptações realmente indispensáveis a sua educação; ● é imprescindível que se analise o contexto escolar e familiar do aluno, para que favoreçam e possibilitem mudanças adaptativas necessárias a sua educação; ● as avaliações relativas às condições do aluno e de seu contexto escolar e familiar devem ser feitas pela equipe docente técnica da unidade escolar, com a orientação do corpo dirigente, com o apoio das secretarias de educação locais, se necessário; ● as adaptações curriculares devem estar contextualizadas e justificadas em registros que compõem a documentação do aluno; ● as programações individuais do aluno devem ser definidas, organizadas e realizadas de modo a não prejudicar seu sucesso e promoção escolar, bem como sua socialização. As adaptações curriculares admitem as seguintes modalidades de apoio à educação dos deficientes visuais, a serem prestados pelas unidades escolares e por meio de encaminhamentos para os atendimentos e recursos da comunidade: ● salas de recursos; ● atendimento itinerante; ● ação combinada entre salas de recursos/atendimento itinerante; ● atendimento psicopedagógico, quando necessário; ● atendimentos na área de saúde, oferecidos pela rede pública ou particular. As adaptações para alunos cegos e de baixa visão relacionadas ao currículo de determinadas disciplinas como Educação Artística, Química, Matemática, Geografia, Desenho, etc. devem ser realizadas pelos professores das áreas referidas, em conjunto com os professores itinerantes ou de salas de recursos que também atendam a esses educandos, envolvendo a coordenação pedagógica da escola. Para os alunos com deficiência visual é imprescindível o acréscimo das complementações curriculares específicas em que são propostos os acréscimos de áreas/conteúdos denominados: Orientação e Mobilidade, Atividades da Vida Diária, Escrita Cursiva, Sorobã, Estimulação Visual. A definição das modalidades de apoio destinadas à educação dos alunos com deficiência visual considera os seguintes aspectos: ● a(s) área(s) em que o apoio se faz necessário; ● o(s) tipo(s) de apoio condizente(s); ● a(s) formas(s) de ministrar o apoio: individualmente ou em grupo, dentro ou fora da sala de aula, em grupos mistos ou constituídos apenas de portadores de cegueira ou de baixa visão; ● os profissionais envolvidos e suas formas de atuação; ● o período de duração do apoio indicado. As seguintes premissas devem ser observadas, tanto nas adaptações curriculares quanto nas formas de apoio destinadas ao aluno com deficiência visual: ● basear-se na avaliação interdisciplinar ou psicopedagógica e do estudo-de-caso do aluno, para orientar o encaminhamento adequado a suas necessidades especiais; ● ter como base o currículo regular; ● evitar afastamento do aluno das situações normais da ação educativa e de seu grupo de colegas, assegurando educação inclusiva e participativa; ● criar ambiente favorável à aprendizagem do aluno, sua integração social e autonomia. Documento de Registro das Adaptações Curriculares Ao se decidir pelas adaptações curriculares individuais é necessário o registro das adaptações indicadas. Trata-se de um documento pessoal, uma vez que as necessidades especiais do aluno são diferenciadas. Deve-se elaborar o Relatório Individual de Adaptações Curriculares, com as seguintes informações: 1. Identificação do aluno ● Nome ● Data do Nascimento ● Filiação ● Endereço ● Telefone 2. Informações sobre a Escolarização ● Estabelecimento de ensino atualmente matriculado ● Série e Nível ● Dados anteriores sobre a escolarização (“vida escolar”) ● Tipo de apoio especializado ou não especializado atual e anterior para a escolarização: a) informações sobre atendimentos ou tratamentos recebidos atualmente e no passado; b) indicação das adaptações curriculares anteriores; c) necessidades atuais de adaptação curricular; d) período indicado para as adaptações, duração prevista para o curso e nível; e) modalidades de apoio (atendimento itinerante, sala de recursos etc.), recursos da comunidade, etc. ● Critérios de avaliação adotados; ● Fontes documentais utilizadas – pareceres, laudos, relatórios, histórico escolar, dentre outros, podem ser anexados ao Relatório Individual de Adaptação Curricular; ● Equipe responsável pela indicação das adaptações – registrar os nomes dos integrantes do grupo proponente das adaptações e as funções exercidas na Instituição. Identificar profissionais envolvidos, se houver, suas profissões e o tipo de atuação com o aluno. O relatório Individual de Adaptação Curricular compõe a pasta do aluno devendo estar acessível a seus professores, familiares e órgãos de inspeção escolar. O documento levará a assinatura da equipe envolvida nas decisões, do diretor do estabelecimento de ensino e do aluno ou de seu responsável. Sugestões de Adaptações de Acesso para Alunos com Deficiência Visual ● Propiciar sistema alternativo de comunicação adaptado às possibilidades do aluno: Sistema Braille, tipo ampliado, recursos tecnológicos; ● complementar os textos escritos com outros elementos (ilustrações táteis) para melhorar a compreensão; ● explicar verbalmente todo o material, informações e dispositivos apresentados em aula de maneira visual; ● adaptar materiais escritos de uso comum: tamanho das letras, relevo, softwares educativos em tipo ampliado, modificar textura, etc.; ● prover a escola, ou o aluno cego, de máquina braile, reglete, punção, sorobã, bengala longa, livro falado, etc.; ● prover a escola ou o aluno de baixa visão de: lápis 6B, canetas porosas de cores contrastantes, papel pauta dupla, recurso óptico necessário, luminária, lupa, etc.; ● propiciar material didático e de avaliação em tipo ampliado para os alunos de baixa visão, em braile e adaptado em relevo para os cegos; ● propiciar acomodação para aluno de baixa visão com iluminação adequada; ● posicionar o aluno na sala de aula de modo a favorecer sua possibilidade de ouvir o professor; ● encorajar o aluno a deslocar-se na sala de aula e dependências externas para obter materiais e informações; ● promover organização espacial para facilitar a mobilidade e evitar acidentes: colocar extintores de incêndio em posição mais alta, pistas táteis, auditivas e olfativas para orientar na localização de ambientes, espaço entre as carteiras para facilitar o deslocamento, corrimão nas escadas, etc.; ● propiciar ambientes com adequada luminosidade, sonoridade e movimentação e comunicações em braile ou tipo ampliado; ● ensinar a boa postura evitando os “maneirismos” comumente exibidos pelos alunos; ● providenciar materiais desportivos adaptados: bola de guizo, xadrez, dominó, dama, baralho e outros; ● agrupar os alunos de uma maneira que favoreça a realização de atividades em grupo e incentivar a comunicação e as relações interpessoais; ● encorajar, estimular e reforçar a comunicação, a participação, o sucesso, a iniciativa e o desempenho do aluno; ● apoiar o aluno no uso dos materiais de ensinoaprendizagem:pranchas ou presilhas para não deslizar o papel, lupas, computador com sintetizador de voz e periféricos adaptados, etc.; ● providenciar softwares educativos específicos e recursos ópticos; ● dar apoio físico, verbal e instrucional para viabilizar a orientação e mobilidade, visando à locomoção independente do aluno; ● ensinar o braile para alunos, professores e pais que desejarem conhecer esse sistema; ● divulgar informações sobre a melhor maneira de guiar, informar ou dar referências de locais ao aluno com deficiência visual; ● apoiar a locomoção dos alunos para acesso a diretoria, salas de aula, banheiros e demais dependências da escola; ● substituir gráficos, fluxogramas, tabelas e mapas por textos quando sua adaptação em relevo não for compreensível; ● possibilitar as alternativas na forma de realização das provas: lida, transcrita em braille, gravada em fita cassete ou ampliada para o deficiente com baixa visão, bem como uso de recursos tecnológicos; ● permitir a realização de provas orais, caso necessário, recorrendo-se a assessorias legais, em provas de longos textos; ● ampliar o tempo disponível para a realização das provas; ● conceder tempo de descanso visual para alunos com baixa visão. Atividades Físicas Adaptadas Aluno com Deficiência Visual O corpo possibilita a presença do ser no mundo. Por meio dele as interações socias acontecem, a sensorialidade se realiza e o indivíduo se constitui em sua totalidade, na posição de sentir, saber a comunicar-se. A atividade do ser humano consiste sobretudo em posicionar-se e deslocar-se, agir e interagir no mundo físico e social. As práticas educacionais que mobilizam o corpo, o movimento e as relações sociais têm particular importância para a formação do aluno, no âmbito de sua personalidade e de sua presença no mundo. Para a aluno com deficiência visual essa realidade assume uma dimenssão muito especial. O trabalho de adaptação das atividades físicas tem como objetivo levantar um perfil básico das defasagens geralmente apresentadas no desenvolvimento geral de crianças cegas congênitas, antes da primeira intervenção da educação formal, buscar a apresentação da função da educação física adaptada a essa clientela, referenciando sua oportunidade, propriedade e validade como elemento importante e imprescindível no processo educacional pelo qual passará a criança cega. Essa criança pode apresentar dificuldades de desempenho na área motora, cognitiva e social-afetiva, nas séries iniciais. A defasagem apresentada não é inerente à condição de cego, mas pode decorrer de um relacionamento familiar inadequado ou causado pela própria problemática da realização motora. Quanto menos a criança cega interage fisicamente no ambiente, menos ela experimenta situações de aprendizagem, menos oportunidades tem de formar conceitos básicos, menos se relaciona com o ambiente e com as pessoas, fechando-se mais dentro de SEU MUNDO particular e restrito, pela falta de informações visuais e espaciais. A família, muitas vezes, cria ao redor da criança cega uma redoma formada pela superproteção, que pode ser provocada pelo sentimento de culpa, pela desestruturação que o nascimento de uma criança com deficiência causa em sua família, pelo medo e por falta de informações. Existe um total cerceamento da ação motora dessa criança. Tudo vem a ela sem que ela saiba a origem das coisas, tudo aquilo que acontece a seu redor passa-se como situações abaixo de seu limiar de captação, percepção e elaboração, fazendo com que ela tenha tendência a fechar-se cada vez mais em seu mundo exclusivo, não estabelecendo relação de seu EU com os que a cercam e com o ambiente em que vive. As defasagens no desenvolvimento geral da criança cega, que se apresentam como estatisticamente relevantes, são mais acentuados na área motora. Ocorrem não por um déficit anátomo-fisiológico inerente à criança congenitamente cega, mas pela limitação de experiências motoras em diversos níveis. Como caracterização do estágio de desenvolvimento motor da criança cega apresentam-se com freqüência as seguintes defasagens: equilíbrio falho, mobilidade prejudicada, esquema corporal e cinestésico não internalizados, locomoção dependente, postura inadequada, expressão corporal e facial muito raras, coordenação motora bastante prejudicada, lateralidade e direcionalidade não estabelecidas, inibição voluntária não controlada, falta de resistência física, tônus muscular alterado e falta de auto-iniciativa e de planejamento da ação motora. Como respostas socioafetivas podem apresentar freqüentemente o medo de situações e ambientes não conhecidos, insegurança em relação a suas possibilidades de ação física, dependência, apatia, isolamento social, desinteresse pela ação motora, sentimento de menosvalia, autoconfiança prejudicada e dificuldade no estabelecimento de relações básicas do “EU” com as pessoas e com o ambiente. A limitação na captação de estímulos, assim como a falta de relação entre objeto visualmente percebido e palavra e a falta de experiências práticas causam uma defasagem no sistema cognitivo, que tem como característica básica a dificuldade na formação e utilização de conceitos. Ressalve-se que a defasagem cognitiva é uma situação conjuntural, e não estrutural no desenvolvimento da pessoa cega. A educação física adaptada à criança cega abrange seu desenvolvimento não só na área psicomotora, como também nos aspectos cognitivos, socioafetivos e sensoriais. Atua no corpo da criança cega como instrumento, como ferramenta maior. Partindo do conhecimento e domínio do corpo, usa o movimento controlado como meio, o respeito absoluto à individualidade do aluno como estratégia básica, o prazer da descoberta de poder fazer como reforço, tendo como fins o alicerçamento geral, buscando propiciar condições favoráveis a sua trajetória acadêmica e, futuramente, a sua emancipação social. A criança cega tem necessidade de descobrir, conhecer, dominar e relacionar seu corpo com o ambiente e com as pessoas. Só assim ela se identificará como ser inédito, formando seu “EU”, interagindo no ambiente e no grupo social. É uma etapa de seu desenvolvimento importante para a formação da identidade e da imagem social. Ela buscará inicialmente a própria estimulação dentro do âmbito corporal encontrando aí o desestímulo e a motivação para a ação motora. O conhecimento do próprio corpo está intimamente vinculado ao desenvolvimento geral da criança cega. Ao levála, como primeiro passo, ao conhecimento, controle e domínio de seu corpo, a educação física adaptada irá embasar e favorecer a evolução dessa criança, enfocando também aspectos como a autoconfiança, o sentimento de mais valia, o sentimento de cooperação, o prazer de poder fazer e as interfaces dessas valências afetivas com seu cotidiano na família, na escola e na sociedade. A educação física cumprirá sua função de importante elemento facilitador no caminhar da criança cega rumo a sua emancipação social, possibilitando-lhe condições básicas que a capacitem futuramente a superaras barreiras, de diversos tipos, nuanças e intensidades, que certamente lhe serão impostas. Atividades em Educação Física para Alunos com Deficiência Visual As atividades físicas mais indicadas para os alunos com deficiência visual são semelhantes àquelas para alunos videntes. Em qualquer classe existem variações no grau de habilidade dos alunos. Um professor que sabe adaptar a aula dentro dos limites das capacidades dos alunos será também capaz de integrar as crianças com deficiências visuais. Instruções individualizadas e em bases concretas podem ajudar o aluno a vencer seus limites. Por exemplo, pular corda não exige adaptação. Os alunos deficientes visuais podem ouvir o barulho da corda batendo no chão. Uma falta (de batida) seria ouvida como uma interrupção do ritmo. Eles podem também pular corda sozinhos por ser uma atividade intrinsecamente ritmada e que não exige deslocamento. De fato, uma estratégia útil quando se ensina crianças videntes a pular corda, é pedir que fechem os olhos para se concentrar no ritmo, sem deixar-se distrair pelos movimentos da corda. Sugestões de Materiais, Estratégias e Adaptação Metodológicas para a Educação Física dos Alunos com Deficiência visual Organização e constância são elementos essenciais em relação ao equipamento. Por exemplo, antes de uma aula de Educação Física será preciso orientar os alunos deficientes visuais a respeito do deslocamento dos equipamentos e depois disso evitar mudanças de lugar sem avisá-los. Seguindo essa sugestão em todas as aulas de Educação Física, os alunos com deficiência visual serão capazes de se movimentar independentemente e sem receio no ginásio de esportes ou quadra. Se houver um aluno com deficiência visual assistindo ao jogo, deverá ser designado um “locutor” que fique a seu lado e lhe descreva o desenrolar do jogo. Ao praticar Educação Física com alunos deficientes visuais as seguintes orientações podem ser observadas: Selecionar Atividades que não Necessitem de Modificações Uma pessoa com pouca ou nenhuma visão pode participar de muitas atividades e esportes sem modificações: remo e bicicleta com uma pessoa vidente no banco da frente, competição de remo com timoneiro vidente, boliche para pessoa com visão de túnel, boliche sonoro para os cegos, esqui aquático usando sinais sonoros, luta (corpo a corpo). De fato, os lutadores com deficiências visuais têm uma história de vitórias contra os videntes ( Buell, 1966). Um professor criativo será capaz de incluir para os alunos com deficiência visual ampla variedade de atividades, desde que raciocine do ponto de vista da cegueira. Modificar as Regras da Atividades Muitos esportes foram modificados em função dos participantes com deficiência visual. Pequenas modificações que não alteram a natureza do esporte são mais aconselháveis. Por exemplo: para compensar as dificuldades de orientação e mobilidade no jogo de futebol e de beisebol utiliza-se uma bola com guizo e de tamanho maior do que a oficial, que é localizada e acertada com maior facilidade. As regras de pistas e corridas também podem ser modificadas permitindo que os deficientes visuais se guiem por um arame ou corda colocados em volta da parte interna da pista ou corram segurando no braço (acima do cotovelo) de um colega vidente, com bambolês, bastões ou ainda por intermédio de pista sonora. Modificar as Técnicas das Habilidades A natação é um excelente esporte aeróbico que não exige a visão. As braçadas são aprendidas por meio de feedback cinestésico e auditivo. As marcas das raias ajudam o nadador a uma linha reta. Contar com o número de braçadas necessárias para atravessar a piscina capacita um nadador com deficiência visual a diminuir a velocidade antes de alcançar a orla, no nado de costas, peito, borboletas e de lado. O crawl não precisa de adaptações porque nesse estilo de natação os braços sempre chegam antes da cabeça. Modificar a Técnica de Ensino Talvez a maior modificação no ensino de técnicas seja a inclusão da instrução verbal, da manipulação das demonstrações visuais. Colocar o aluno com deficiência visual de modo que ele possa ver ou trocar o professor quando necessário. Para o aluno que não for cego congênito será útil a utilização de imagens visuais. Quer os alunos cegos, quer os de baixa visão beneficiam-se com uma linguagem precisa do professor, como por exemplo: “A raquete deve ficar de 10 a 12 cm acima do ombro direito”, em vez de “segura a raquete assim...”. Pesquisas feitas por Dye (1983) mostraram que, para crianças com deficiências visuais, o feedback cinestésico é potencialmente um método de aprendizagem mais eficiente do que feedback auditivo. Esses resultados sugerem que os professores deveriam posicionar corretamente o corpo da criança quando ensinam habilidade motora, a fim de ajudar o aluno a aprender, pois eles não observam diferentes organizações corporais. Modificar o Ambiente, Incluindo Espaço, Facilidade e Equipamento Bolas de cores fortes, marcadores de campo e gols que contrastam com o fundo possibilitam aos alunos com deficiências visuais a utilização da visão residual. Pelo fato de a natureza das limitações visuais variar muito, é importante falar com o aluno para saber quais modificações poderão ajudar mais. Há alunos que enxergam melhor objetos luminosos multicoloridos sob luzes fortes, enquanto outros precisam de objetos coloridos sólidos sob luzes moderadas que não produzem brilho. No vôlei, a utilização de uma bola de praia facilita o seguimento visual e torna mais lento o ritmo da partida. Ao selecionar as atividades para os alunos com deficiências visuais, a prioridade deveria ser dada aos esportes que podem ser praticados ao longo da vida, como boliche, ciclismo, remo, natação, futebol, basquete, vela, dança aeróbica, yoga, judô, corrida (jogging), dança de salão e danças folclóricas. Sugestões de Esportes e Atividades para alunos com Deficiência Visual ● Natação; ● atletismo; ● musculação; ● ginástica escolar; ● judô; ● gool-ball e Torball; ● ginástica Postural e Corretiva; ● futebol de salão; ● basquete; ● ciclismo; ● corrida de Orientação; ● xadrez. Sugestões ao professor da sala de aula para Trabalhar com o Professor de Educação Física O professor de crianças com deficiência visual pode ajudar os professores de Educação Física de várias maneiras: ● fornecendo a descrição do aluno: qual a visão útil, quais os exercícios contra-indicados no caso de perigo de deslocamento de retina e glaucoma, informações do oftalmologista, etc.; ● explicando aquilo que o aluno pode e não pode ver. Isso será de muito auxílio se o aluno não conseguir explicar por si próprio; ● discutir entre professores as possíveis modificações, inclusive a necessidade de óculos de proteção; ● sugerir que o professor de Educação Física avalie individualmente o aluno com deficiências visuais, quanto a seu atual nível de desenvolvimento motor, antes de colocá-lo numa classe de Educação Física; ● uma vez que o aluno com deficiência visual tenha sido incluídonuma classe, entrar freqüentemente em contato com o professor para acompanhamento e avaliação. Apoio contínuo e sugestões são importantes; ● oferecer-se para transcrever o material sobre Educação Física escrito em braile, tipos ampliados ou fitas gravadas. Pode acontecer que uma criança cega seja colocada numa classe de Educação Física com um professor que não se sinta à vontade com sua presença. Tente determinar a razão desta relutância. Se for necessária uma preparação, dedicar mais tempo ao professor. Procure fazer com que o professor visite ou conheça um programa de Educação Física no qual alunos com deficiências visuais estejam satisfatoriamente integrados. A contribuição da Educação Física à saúde e ao bem estar dos indivíduos com deficiências visuais é significativa. A Educação Física pode diminuir a distância nas habilidades motoras existentes entre os deficientes visuais e seus pares videntes. Estes últimos têm maiores oportunidades de aprendizagem incidental para aumentar as habilidades motoras e refinar o sentido cinestésico. Atividades que desenvolvam a aptidão física, equilíbrio, habilidades motoras, imagem corporal e alinhamento do corpo (postura adequada) podem ser indicadas juntamente com esportes que promovam a integração com amigos videntes e a família. Os aspectos mais acessíveis a mudança são relativos aos equipamentos e regras. Os aspectos mais difíceis são as atitudes de pessoas que acham que pelo fato de uma pessoa não ter visão, ela não tem também a capacidade de participar plenamente dos esportes (Sherrill, 1976). A contribuição mais significativa do professor de alunos com deficiências visuais pode ser a de trabalhar os outros a fim de eliminar estas atitudes negativas. Adaptação Curricular para Programas de Educação Física de Alunos com Deficiência Visual: ● Reconhecimento (conceituação e mapa mental) das áreas, implementos e materiais a serem utilizados nas aulas de Educação Física. Ao aluno cego deve ser dado o tempo necessário ao completo reconhecimento do ambiente de aula; ● uso de pistas ambientais: o vento entrando por uma porta ou janela, uma fonte sonora localizada em um ponto constante, um odor característico, a posição do sol, a textura de solos e paredes. Para o aluno vidente, essas são indicações sem a menor importância, ao aluno cego, pistas essenciais a sua orientação e locomoção e a formação do mapa mental do ambiente físico; ● é absolutamente necessário o professor saber o nome de seus alunos deficientes visuais. Essa necessidade, além da questão afetiva, assume um papel importantíssimo na segurança do aluno. Eles não responderão a expressões comumente acompanhadas da gesticulação, como: Ei!, Você aí!, Pare!, Vem aqui!; ● tratando-se de uma instituição especializada na formação de turmas de Educação Física é altamente indicado a mesclagem entre alunos cegos e de baixa visão, tendo em vista o aumento considerável das possibilidades de exercícios em duplas ou grupos, altamente eficazes e indicados, mesmo em turmas regulares em que se tenha somente um ou poucos alunos com deficiência visual; ● a formação em roda, de mãos dadas ou com a utilização de uma corda circular é muito adequada e fácil de ser alcançada; ● a verbalização é o principal recurso do professor de cegos. Uma voz de comando clara e tranqüila facilita em muito a percepção do comando solicitado; ● existindo uma limitação óbvia à demonstração, o professor, além da voz de comando, poderá utilizar a ajuda física e a percepção tátil-cinestésica, tocando em seu aluno e deixando que ele o toque; ● ambientes profundamente ricos em estímulos sonoros, que possam desorientar o aluno devem ser evitados. Considerar a importância das pistas sonoras e da voz de comando; ● alertar o aluno cego sobre qualquer impropriedade no vestuário, é importante; ● enfatizar a higiene pessoal. Além da importância fundamental para a saúde, as boas condições de higiene são importantíssimas no convívio social; ● evitar sair de uma conversa com seu aluno cego sem avisar de sua saída e aproximar-se de um grupo de alunos cegos sem identificar-se; ● não julgue que seu aluno cego conte passos para localizar objetos ou portas. Ele utiliza a memória cinestésica. Na etapa pré-escolar e séries iniciais ele pode lançar mão desse recurso; ● conduza o aluno cego oferecendo-lhe o braço. Ele segurará acima do cotovelo e caminhará meio passo atrás de você. Se o aluno for pequeno, ele tomará seu pulso; ● evitar pré-julgamento do aluno cego ou de baixa visão como incapaz de realizar um exercício ou atividade; ● evitar superproteção ao aluno cego ou de baixa visão; ● evitar generalização de predicados ou defeitos de um deficiente visual a todos os outros. As diferenças individuais constituem parâmetros básicos do processo educacional e as generalizações são componentes do preconceito; ● toda a criança gosta de brincar. A brincadeira desempenha um papel importante em seu desenvolvimento. A criança cega ou de baixa visão não é diferente. Ela gosta e tem necessidade de brincar, correr, pular, dançar; ● embora possam acontecer defasagens psicomotoras, a criança cega tem seu desenvolvimento em consonância com a criança de visão normal da mesma faixa etária; ● é uma tendência natural do ser humano o temor do desconhecido. A criança cega, enquanto não forma o conceito, desconhece. Recomenda-se o emprego de estratégias que propiciem experimentação física e a formação do conceito ambiental; ● o aluno de baixa visão com patologia de descolamento de retina não deverá ser submetido a exercícios nos quais haja possibilidade de traumatismo na cabeça; ● há uma grande incidência de problemas neurológicos, com crises convulsivas, em alunos com deficiência visual. Na natação, é importantíssimo que o professor tenha essa informação e atente para os aspectos de segurança nesses casos; ● o sentido rítmico é inerente a todo ser humano. À criança cega deve ser dada a possibilidade de, inicialmente, exteriorizar livremente através do movimento seu ritmo próprio. Ela não tem, naturalmente, padrões de expressões rítmicas corporais. Esses padrões, se inseridos pelo professor, poderiam demonstrar-se contraproducentes e inibidores na pré-escola ou nos primeiros anos do ensino fundamental. Nessa fase, o mais importante é que o movimento corporal aconteça. Sua performance, aí, não deve ser enfatizada; ● na pré-escola e até aproximadamente os oito anos de idade, a criança cega necessita do modelo como base para o real. Sua aprendizagem deve ser a mais concreta possível. A partir dessa idade, o professor de Educação Física poderá utilizar-se de maquetas e plantas baixas em relevo para apresentar aos alunos modelos de quadras desportivas e instalações de educação física; ● o professor de educação física deve buscar informações relativas à anamnese médica, social, familiar, psicológica e acadêmica de seu aluno deficiente visual. Essas informações certamente lhe darão parâmetros básicos para sua intervenção; ● aos professores de educação física de alunos com deficiência visual caberábuscar a integração, que é fundamental e propiciará o significado, as generalizações e as aplicações da aprendizagem proposta; ● o aluno com deficiência visual é um ser lúdico, como todo o ser humano. Em algumas ocasiões ele tem necessidade de ser despertado para isso, principalmente nos casos de cegueira adquirida. O professor de Educação Física terá também a função de estimular-lhe para o lúdico e para o prazeroso, buscando ampliar suas possibilidades de opção de lazer. A COMUNICAÇÃO E RELAÇÃO INTERPESSOAL A visão é o mais importante canal de relacionamento do indivíduo com o mundo exterior. A cegueira sensorial foi sempre tratada, através dos séculos, com medo, superstição e ignorância. Na Idade Média, chegava-se a considerar a cegueira como um castigo dos céus. Hellen Keller abriu os olhos do mundo para a imensa capacidade e disponibilidade que o deficiente visual tem de ser útil à sociedade e interagir com o meio. Cabe à sociedade dar oportunidade para que esses indivíduos, que têm limitação em seu relacionamento com o mundo, possam desenvolver toda a sua capacidade física e mental. As seguintes informações visam a esclarecer os educadores, familiares e à sociedade em geral alguns tópicos sobre a deficiência visual, capacidades e limitações de seus portadores, ampliando nossos horizontes no relacionamento humano: ● a cegueira não é um infortúnio. Ela pode ser assim encarada logo após a perda da visão, mas a orientação adequada, a educação especial, a reabilitação e a profissionalização conseguem minimizar os seus efeitos; ● a cegueira não é contagiosa. Desse modo cumprimente seu vizinho, conhecido ou amigo cego, identificando-se, pois ele não o enxerga; ● a cegueira não restringe o relacionamento com as pessoas nem com o meio ambiente, desde que as pessoas com as quais o cego conviva não lhe omitam ou encubram fatos e acontecimentos, o que lhe trará muita insegurança ao constatar que foi enganado; ● o cego não enxerga a expressão fisionômica e os gestos das pessoas. Por este motivo fale sobre seus sentimentos e emoções, para favorecer um bom relacionamento. ● o cego não tem a visão das imagens que se sucedem na TV, no cinema, no teatro. Quando ele perguntar, descreva a cena, a ação e não os ruídos e diálogos, pois estes ele escuta muito bem; ● o cego organiza seu dinheiro com o auxílio de alguém de sua confiança, que enxerga; ● aqueles que aproximam o dinheiro do rosto são pessoas com baixa visão, que assim conseguem identificá-lo; ● não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça de que a natureza dotou a todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas. O que os cegos têm em comum é a cegueira, porque cada um tem sua própria maneira de ser; ● procure não limitar as pessoas cegas mais do que a própria cegueira o faz, impedindo-as de realizar o que elas sabem, e devem fazer sozinhas; ● ao se dirigir a uma pessoa cega chame-a pelo seu nome. Chamá-la de cego ou ceguinho é desrespeitoso; ● a pessoa cega não necessita de piedade e, sim, de compreensão, oportunidade, valorização e respeito como qualquer pessoa. Mostrar-lhe exagerada solidariedade não a ajuda em nada; ● não fale com a pessoa cega como se ela fosse surda. Ao procurar saber o que ela deseja, pergunte a ela e não a seu acompanhante; ● o cego tem condições de consultar o relógio (adaptado) , discar o telefone ou assinar o nome, não havendo motivo para que se exclame “maravilhoso”, “extraordinário”; ● a pessoa cega não dispõe de “sexto sentido”, nem de “compensação da natureza”. Isto são conceitos errôneos. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de recursos latentes que existe em todas as pessoas; ● conversando sobre a cegueira com quem não vê use a palavra cego sem rodeios; ● ao ajudar a pessoa cega a sentar-se, basta pôr-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isto indicará sua posição, sem necessidade de segurá-lo pelos braços ou rodar com ele ou puxá-lo para a cadeira; ● cuide para não deixar nada no caminho por onde uma pessoa cega costuma passar; ● ao entrar no recinto ou dele sair, onde haja uma pessoa cega, fale para anunciar sua presença e identifique-se; ● quando estiver conversando com uma pessoa cega, necessitando afastar-se, comunique-o. Com isso você evitará a desagradável situação de deixá-la falando sozinha, chamando a atenção dos outros sobre si; ● ao encontrar-se com uma pessoa cega, ou despedirse dela, aperte-lhe a mão. O aperto de mão cordial substitui para ela o sorriso amável; ● ao encontrar um cego que você conhece vá logo dizendo-lhe quem é, cumprimentando-o. Colocações como “Sabe quem sou eu?”... “Veja se adivinha quem está aqui... ”Não vá dizer que não está me conhecendo ...” Só o faça se tiver realmente muita intimidade com ele; ● apresente seu visitante cego a todas as pessoas presentes. Assim precedendo você facilitará sua integração ao grupo; ● ao notar qualquer incorreção no vestuário de uma pessoa cega, comunique-lhe; ● muitos cegos têm o hábito de ligar a luz, em casa ou no escritório. Isso lhe permite acender a luz para os outros e, não raro, ele próprio prefere trabalhar com luz. Os que enxergam pouco (baixa visão) beneficiam-se com o uso da luz; ● ao dirigir-se ao cego para orientá-lo quanto ao ambiente, diga-lhe: a sua direita, a sua esquerda, para trás, para frente, para cima ou para baixo. Termos como aqui ou ali não lhe servem de referência; ● encaminhe bebês, crianças, adolescentes ou adultos deficientes visuais que não receberam atendimento especializado aos serviços de Educação Especial; ● o uso de óculos escuro para os cegos tem duas finalidades: proteção do globo ocular e estética, quando ele próprio preferir; ● quando se dispuser a ler para uma pessoa cega jornal, revista, etc., pergunte a ela o que deseja ser lido. Na Escola ● criança com olhos irritados, que os esfrega com as mãos, aproxima-se muito para ler ou escrever, manifesta dores de cabeça, tonturas, sensibilidade excessiva à luz, visão confusa, deve ser encaminhada a um oftalmologista; ● todo deficiente visual, por amparo legal, pode freqüentar escola da rede regular de ensino (público ou particular); ● se a criança enxerga pouco, deverá estar na primeira fila, no meio da sala ou com distância suficiente para ler o que estiver escrito no quadro; ● a incidência de reflexo solar e/ ou luz artificial no quadro negro devem ser evitadas; ● trate a criança com deficiência visual normalmente, sem demonstrar sentimentos de rejeição, ou superproteção; ● todos podem participar de aulas de Educação Física e Educação Artística. O próprio corpo do deficiente visual facilita sua orientação; ● trabalhos de pesquisa em livros impressos em tinta podem ser feitos em conjunto com colegas de visão normal. MATEMÁTICA PARA ALUNOS com DEFICIÊNCIA VISUAL Orientação Geral O presente trabalho visa a complementar e enriquecer o curricular, no que tange ao ensino da