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A república brasileira: federalis regionalismo (1889-19373* Il~:11~44;:Wa=WIEr dU4&;;`W4,:ttcirTINV.MEM4ffleiZEP,.."'27.?7,::;.” OBrasil nadava contra a corrente centralizadora quando a Consti- tuição de 1891, promulgada após o golpe de Estado que instaurou o regime republicano dois anos antes, outorgou poderes fiscais e financeiros inusita- dos aos estados da federação. Na Argentina e no México, muito antes da virada do século, o poder de fato, contrário ou não aos pressupostos consti- tucionais, havia começado a pender na direção do governo central dessas nações. Na Colômbia, a centralização havia triunfado decididamente em 1886. No Brasil, ao contrário, a tendência rumo à recentralização foi tardia e muito ambígua. Os estados brasileiros retiveram poderes importantes e con- tinuaram inovando, especialmente na esfera social, após 1930. Ironicamen- te, o federalismo fiscal continuou a existir mesmo durante o Estado Novo, a ditadura centralizadora de Getúlio Vargas (novembro 1937-outubro 1945). O federalismo deve ser diferenciado do regionalismo, um padrão de comportamento político intimamente associado a ele. Neste ensaio, con- sideraremos o primeiro enquanto um sistema de governo no qual os as- ila ntos de interesse nacional dizem respeito à autoridade central — o iimprimento da Constituição e das leis federais, o controle sobre a moe- da, a formulação da política externa, etc. Mas é também um regime no qual os estados que pertencem à União retêm amplos poderes de auto- governo, inclusive a autonomia legislativa e o direito de legislar sobre Resuntos que não se chocam com a lei federal; autoridade sobre assuntos públicos internos; e o controle das operações financeiras e fiscais do esta- do (ou da província). No caso do Brasil, as atribuições citadas por último, Inclusive o poder dos estados de taxar o comércio interestadual e até de ontrair empréstimos externos, originaram conflitos com o governo fede- Treduç o do Adriana Lopez. 124 lesephl love república brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) 125 ral durante o período em questão. Mas o federalismo na Primeira e na Segunda Repúblicas (1889-1930 e 1930-1937) também tinha uma dimen- são criativa, pois os estados tomaram a dianteira na implementação de experimentos econômicos e sociais, entre os quais a valorização do café é o mais conhecido. O regionalismo, por outro lado, é o padrão de comportamento político característico do regime federativo. Nele, os atores regionais aceitam a exis- tência de uma entidade maior, o Estado-nação, mas buscam o favorecimento econdmico e a proteção política desse mesmo Estado-nação, mesmo que isso coloque em risco o próprio regime político.' No Brasil, durante o período em questão, os estados eram unidades políticas coesas: os partidos políticos existiam apenas em nível estadual, e, assim mesmo, em alguns estados apenas. Em 1910, somente três das vinte unidades da federação — São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul — eram responsáveis por mais da metade do total de votos nas elei- ções presidenciais diretas, e por uma porcentagem equivalente do Pro- duto Interno Bruto registrado no censo de 1920. Além disso, a riqueza e as atribuições fiscais desses três estados lhes permitiam manter forças paramilitares disciplinadas que poderiam, eventualmente, rechaçar uma intervenção armada do governo federal, acontecimento relativamente fre- qüente nas demais 17 unidades de governo. Esses três estados consti- tuíam, com efeito, regiões políticas em si, embora o termo possa se aplicado igualmente aos grupos de estados "satélites" contíguos que oca- sionalmente ensaiavam alguma ação em conjunto. Entre os estados rela- tivamente ricos e poderosos do Centro-Sul e do Sul e as unidades mais pobres e desprovidas de poder, a maioria das quais estavam situadas na Norte e no Nordeste, havia três participantes "ocasionais" na politica presidencial e federal, as máquinas políticas dominantes do Rio de Ja neiro, Pernambuco e Bahia. Este último estado teve uma certa importân- cia devido ao total de votos registrados nas eleições disputadas na década de 1890, mas experimentou um declínio acentuado devido à fragilidade de sua economia. A ascensão do Rio Grande do Sul e o eclipsamento da Bahia, evidente por volta de 1910, assim como a manutenção do poder Além desses limites, o regionalisnm se torna, é claro, separatismo. de Minas e São Paulo, podem ser atribuídos às políticas federais e ao favorecimento político exercido durante a República Velha (1889-1930).2 Por que o Brasil tomou um rumo diferente daquele adotado por outras grandes nações latino-americanas no que diz respeito à atribuição de pode- res fiscais e outros poderes às unidades constituintes da federação em l889 EI 1891? A resposta passa pela mudança do centro dinâmico da economia de A exportação do Nordeste (principalmente Pernambuco e Bahia) para o Su- deste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), e pela substituição do açúcar pelo café na primazia da pauta das exportações. Dentro da própria economia cafeeira, por volta da década de 1870, a produção do "Oeste" paulista — as regiões do planalto que circundavam Campinas —já havia co- meçado a ultrapassar a do Vale do Paraíba e da província do Rio de Janeiro, e a do Leste de São Paulo. Ao mesmo tempo que se dava a elevação de São Paulo à posição de quase-hegemonia no quadro da economia exportadora no final da década de 1880, eclodia a crise das últimas economias dependentes do trabalho escravo no hemisfério ocidental. Embora esse regime de trabalho estivesse francamente condenado em meados da década de 1880 — os bancos haviam deixado de conceder créditos com base em escravos hipotecados, e não aceitavam hipotecar as terras—, sua morte foi postergada enquanto os cafei- cultores procuravam urgentemente criar um novo sistema que lhes garan- tisse mão-de-obra. Em São Paulo, a crise de mão-de-obra dos cafeicultores escravistas foi solucionada em 1886-1887, com a introdução de imigrantes italianos nos cafezais. 1 Ver Joseph L. Love, Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930 (Stanford: Stanford University Press, 1971); Joseph L. Love, São Paulo in tire Brazilian Federation, 1889-1937 (Stanford: Stanford University Press, 1980); John D. Wirth, Minas Gerais in vire Brazilian Federation, 1889-1937 (Stanford: Stanford University Press, 1977); Eul-Soo Pang, Bahia in the First Brazilian Republic: Coronelismo and Oligarchies, /889-/934 (Gainesville: University of Florida Presa, 1979). O poder relativo das máquinas desses quatro estados (e, em particular, o declínio da Bahia e a ascensão do Rio Grande do Sul)pode ser esquematizado a partir do tempo aproximado em que dominaram os cargos do ministério entre 1889 e 1930, conforme demonstra- do em Joseph L. Love, Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930, cit., p. 123. Outro estado nordestino importante, embora declinante, era Pernambuco, focalizado em Robert M. Levine, Pernambuco in tire Brazilian Federation, 1889-1937 (Stanford: Stanford University Presa, 1978). 0 papei do estado do Rio do Janeiro é tratado em Muleta de Morais Ferreira (Oro), A República na Velha Província: oligarquias e a crise nu estado do Rio de Janeiro (18891930) (Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1989). timo atteltnitall~141101110anlininirin Saber se o novo regime de trabalho era inteiramente capitalista, ou não, pois misturava salários como direito de uso da terra, tem sido tema de longos debates.' Acredito que era.' Não obstante, é fato que o país como um. todo apresentava uma mistura de relações de produção capitalistas precapitalistas nos primórdios do novo regime político. Houve a necessida. de de adotar soluções políticas que conciliassem os interesses dos agricul- tores capitalistas paulistas, gaúchos e (alguns) mineiros, de um lado, e aqueles dos senhores rurais pré ou parcialmente capitalistas da maior parte do país' de outro. Essa conciliação permitiu o favorecimentopolítico e a persistên, cia do controle político familiar nas áreas mais atrasadas. Enquanto isso, proprietários de escravos em outras províncias não con- seguiam atrair4 mão-de-obra imigrante que se destinava a São Paulo devi do à baixa rentabilidade de suas operações. Os cafeicultores do Rio de, Janeiro, em particular, arcaram com as maiores perdas quando da abolição, em 1888, na medida em que realizaram pesados investimentos na compra de escravos na década de 1870 e não foram compensados por estes na déca- da seguinte. Uma parcela da exigência de autonomia provincial ou estadual deriv va da percepção de que São Paulo e outras províncias dinâmicas podiam incrementar substancialmente seus recursos financeiros para estimular suas economias regionais sob o federalismo. Em 1886-1987, São Paulo contri- buiu oito vezes mais ao tesouro nacional do que recebeu em benefícios, e um número cada vez maior de paulistas acreditava que seus representante& não eram eficazes no parlamento imperial, onde a província era sub-repre- sentada.' Ao tornar-se um estado, sob o novo regime, sua representação no 3 Os trabalhadores agrícolas, colonos e suas famâ ias recebiam salários, moradia e o direito de usufruir da terra para sua subsistência. Além disso, podiam comercializar seus excedentes. Como os trabalhadores não estavam totalmente isolados dos meios e produção e, portanto, não depen- diam exclusivamente dos salários, alguns autores negam que o arranjo fosse plenamente capita- lista. Por exemplo, ver José de Souza Martins, O cativeiro da terra (2. ed. São Paulo, Hucitec, 1981). Na medida em que um mercado de trabalho dinâmico existia no interior, conforme indicado pela freqüência de greves rurais e movimentos organizados por colonos em diversas fazendas, e den- tro e fora do país. Ver Verena Stolcke e Michael M. Hall, —Fhe Introduction of Free Labor on São Paulo Coffee Plantations", Jountal of Pensam Studies, n. 10, 2-3, jan.-abr., 1983, pp. 183-6. Até Souza Martins concorda que os fazendeiros eram empresários capitalistas, cf. O cativeiro da terra, cit., pp. 16, 91. s Ver Verena Stolcke e Michael M. Hall, op. cit., p. 103. novo Congresso foi ampliada para refletir a realidade demográfica de São Paulo, e os ingressos paulistas triplicaram com a criação de um novo im- posto de exportação.' Políticos paulistas também desejavam entrar em contato direto com os credores estrangeiros, visando a obtenção de novos recursos a ser aplicados no desenvolvimento, em vez de atuar por meio de um intermediário do governo central. Os paulistas tiveram, de fato, uma amostra das oportunida- des que poderiam ser criadas pelos empréstimos estrangeiros quando o re- gime imperial permitiu que a província assumisse uma única dívida externa (£749 mil em 1888) para subsidiar a imigração.? Sob a república, o endividamento externo dos estados, encabeçado por São Paulo, se expan- diu rapidamente. Além disso, embora os republicanos manobrassem abertamente para não tomar partido com relação à questão da escravidão no final do império, eles se consideravam progressistas em questões sociais e achavam que a monarquia deixava a desejar, especialmente no tocante à imigração e à alfa- betização. Embora o primeiro surto de imigração tenha ocorrido nos últi- mos três anos do império, totalizando uma média de 84 mil estrangeiros por ano, a Argentina atraiu 179 mil imigrantes por ano no mesmo período.' A taxa de alfabetizados no final do império não chegava a um terço da taxa correspondente na Argentina.' A consciência, ou a intuição, de que o tradi- cional rival do Brasil na Bacia do Prata progredia a passos acelerados aju- dou a promover a visão de que o velho regime era "lixo" que não podia ser "reformado". No 15 de novembro de 1889, os conspiradores republicanos que se agruparam em torno do marechal Deodoro da Fonseca o convenceram a proclamar a república. O governo provisório efetuou a separação entre a Esse aumento ocorreu em 1892, o primeiro ano pleno de arrecadação sob a nova Constituição Estadual. Joseph L. Love, São Paulo in fite Brazilian Federation, 1889-1937, cit., p. 108. ' Os novos imigrantes destinados ao Brasil foram atraídos pelas passagens subsidiadas e, é claro, pela extinção da escravidão. Para obter as cifras ver Annie K. Ludwig, Brazil: A Handbook of Historical Statistks (Boston: G. K. Hall, 1985), p. 103; Vicente Vázquez-Presado, Estatlisticas históricas argentinas (comparadas) (Buenos Aires: Macchi, 1971), vol. 1, p. 15. As cifras apre- sentadas são brutas e não líquidas. A taxa de alfabetização no Brasil em 1890 era de 15%, e a da Argentina, de 46% em 1895. Ver Armin K. Ludwig, op. cit., p. 132; Vázquez-Presado, op. cit., p. 27. As cifras a respeito do Brasil, entretanto, incluem todas as idades, inclusive de 0-4, e as da Argentina, de 6 anos e acima. 128 A república brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) Igreja e o Estado no primeiro ano — uma medida progressista, na mente da maioria das lideranças republicanas, e uma que era considerada impossível de ser realizada sob o império. A Constituição Federal, aprovada pela Assembléia Constituinte, em 24 de fevereiro de 1891, cumpriu a promessa de desèentralizar, uma das palavras de ordem do manifesto republicano de 1870 — "Centralização, desmembramento; descentralização, unidade". A Carta garantia uma maior dispersão de autoridade do que a da Argentina (1853, revista em 1860) e a do México. (1857 e 1917), as duas outras grandes repúblicas federativas da América Latina. Ambos os países colocavam restrições com relação a seus estados (ou províncias) maiores do que o Brasil, especialmente no tocante à proibição de permitir que suas unidades aumentassem a taxação sobre os produtos exportados para outros estados (inclusive as exportações), que eram a principal fonte de receita dos membros da federação brasileira.m OsL estados brasileiros também podiam taxar as importações. Embora a arreca- dação resultante dessas taxas revertesse para os cofres do governo federal teoricamente, os estados brasileiros podiam criar barreiras tarifárias para' proteger suas indústrias. Na prática, alguns estados taxavam importaçõe inconstitucionalmente utilizando-se de artifícios legais simplesmente par aumentar suas arrecadações. Havia, portanto, conflitos fiscais e de jurisdi ção entre os estados. Um dos mais notáveis foi uma disputa que durou sei anos entre o Rio Grande do Sul e Pernambuco. Começou quando o primei ro taxou as "importações" de aguardente, um dos principais produto' pernambucanos; o governo de Pernambuco retaliou mediante a taxação se bre o charque rio-grandense. Houve também uma disputa fiscal entre Minas Gerais e São Paulo Apesar dos interesses econômicos comuns no tocante à proteção do café, São Paulo e Minas se confrontaram várias vezes a respeito de impostos interestaduais. Durante grande parte da República Velha, São Paulo obtinha a maior parte de seus recursos de uma única fonte — o imposto de exporta ção sobre o café. Nenhum outro estado, nem mesmo Minas, tinha a vantat, gem de possuir uma economia exportadora de semelhante dimensão, e homens públicos de outros estados freqüentemente recorriam à taxação ile- 1° João Lyra, Cifras e noras (Economia e finanças do Brasil) (Rio de Janeiro: Revista do Supr Tribunal, 1925), pp. 85-8, gal do comércio interestadual. Se havia alguma dúvida de que a Constitui_ ção Federal de 1891 proibia os impostos de trânsito e de exportação interes. taduais, ela se dirimiu após a aprovação da lei que os proibiu explicitamente em 1904. Quando São Paulo passou a exportar outros produtos para os estados na década de 30, seus representantes políticos lançaram um vigor0. so ataque a essas práticas; mas Minas Gerais e muitos outros estados de/km_ diam da arrecadação desses tributos, e impostos extralegais eram cobrados ainda em 1942, embora o Estado Novo, assim como os regimes anteriores, os proibisse» Diversamente da Constituiçãobrasileira, as da Argentina e do /VIExi_ co, especificamente, proibiam seus estados de manter tropas, exceto em épocas de emergência. Na Argentina, as províncias não tinham autoridade para legislar sobre direito civil, comercial, penal ou sobre mineração, e no México, a Constituição de 1917 reservava ao governo central todos oR di- reitos sobre o subsolo. No Brasil, por contraste, os estados podiam protam_ gar seus próprios códigos de processo e tinham autoridade sobre as jazidas minerais que estivessem dentro de suas fronteiras. Os estados brasileiros também podiam contratar empréstimos e emitir títulos no exterior, atribui_ ções que a Constituição de 1917 negou aos estados do México. Levando em conta esses padrões latino-americanos, vemos que a Cous_ I tu ição de 1891 permitia uma parcela considerável de descentralizaçao. Falhou, entretanto, ao não adotar provisões adequadas para os estados tilais Pobres. Da mesma forma como a principal fonte de renda dos estados do_ t tinte a República Velha era o imposto sobre as exportações, a principal fonte de renda do governo federal era o imposto sobre as importações. Na Assembléia Constituinte, os deputados dos depauperados estados do Nur_ deste haviam lutado por uma parcela dos impostos sobre as imporfaçks legando que nem a soma dos tributos sobre as exportações e sobre as pro: tledades lhes garantia fundos suficientes para administrar seus governo5. tempo mostrou que essa reivindicação era justificada. Assim, o federalis_ Mo contido na Carta de 1891 era, decididamente, formado por partes desi_ Is. As atribuições fiscais reservadas aos estados, principalmente a taxam) exportações e, depois, a taxação do consumo, tornava os estados ricos o de Abreu Dallari, -Os estados na federação brasileira, de 1891 a 1937", trabalho fidleitt. J. L. Leve, R. M. Levine ai. D. Wirth, 1970, p. 40. A república brasileiro: federalismo e regionalismo (1889-1937) 131 inale poderosos e deixava os pobres enfraquecidos e dependentes do gover no federal. Um artifício não econômico pelo qual a Constituição tendia a favore- cer os estados fortes se manifestava no relacionamento entre os três poderes do governo federal. Logo nos primeiros anos ficou claro que o poder exe- cutivo se sobrepunha aos outros dois poderes. Conseqüentemente, na medi- da em que a república se desenvolveu, ficou claro que a seleção do presidente era de importância crucial para se controlar o sistema político. Também ficou claro que os estados maiores levavam vantagem nesse processo, uma vez que o presidente era eleito pelo voto popular direto dos homens alfabe- tizados, e que os estados economicamente mais poderosos tendiam a se aqueles com mais população e com sistemas educacionais melhores. As máquinas partidárias estaduais — o Partido Republicano de cada unidade — monopolizavam a atividade política em cada território até a déca- da de 30. Mesmo no início da era Vargas, organizações políticas autode- nominadas "nacionais" obtinham o grosso de seu apoio em determinados estados. Os mais importantes arregimentadores de votos eram o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM); nas 11 eleições presidenciais populares da República Velha, eles também forne- ceram nove dos candidatos eleitos — São Paulo elegeu seis presidentes, e Minas, três.'2 Devido ao fato de que menos de 6% da população nacional participa- va do processo eleitoral durante todo o período analisado, a política dessa época era, essencialmente, uma disputa entre setores da elite política nacio- nal. Apesar disso, verdadeiras clivagens ocorreram entre grupos regional, mente diferenciados, que apresentavam demandas conflitantes com relação à implementação de determinadas políticas federais e à distribuição de fa- vores políticos. As lideranças dos estados que totalizavam a maioria dos votos e cujas máquinas partidárias eram disciplinadas transformavam suas aspirações em exigências. No início da república, São Paulo e Minas já mantinham a liderança - sobre os demais estados na totalização dos votos. Na primeira eleição presi- dencial direta, em 1894, Minas Gerais e São Paulo foram responsáveis por uma proporção praticamente idêntica dos votos (8,8% cada). A partir de 12 Devido à interferência da Primeira Guerra Mundial e da Revolução de 1930, entretanto, os paulista ocuparam o cargo durante apenas 12 anos e os mineiros, 10 anos e meio. 1906, o Partido Republicano Rio-grandense (PBR), do estado do Rio Gran- de do Sul, na fronteira com a Argentina e o Uruguai, também se tornou um grande provedor de votos; e essas três grandes máquinas partidárias esta- duais muitas vezes totalizavam metade dos votos válidos em todo o país. Minas manteve a primazia durante toda a República Velha, mas, em 1930, São Paulo e Minas estavam praticamente empatados novamente (19,3% e 19,5%, respectivamente). Nas eleições para o legislativo de 1934 (a última eleição nacional simultânea realizada até 1945), a parcela do total dos votos provenientes de São Paulo foi de 20,9%, contra 19,7% de Minas e 11,1% do Rio Grande do Sul.13 Durante quase todo o período em questão, Minas ostentou uma parcela alta e, depois de 1902, relativamente constante, do total dos votos; mas a participação de São Paulo e do Rio Grande do Sul aumentou, acentuando a tendência desses três estados a dominar as eleições nacionais. São Paulo, já então, como agora, era o gigante econômico da federa- ção. Na época do primeiro censo econômico realizado em 1920, era res- ponsável por mais de dois sétimos da produção agrícola e industrial total do Brasil. Essa cifra era mais do que o dobro da produção do segundo coloca- do, Minas Gerais. Em 1939, o primeiro ano em que se registrou o Produto Interno Bruto por estado, mais uma vez São Paulo respondia por mais de dois sétimos da produção total, uma parcela mais de três vezes superior à do Rio Grande do Sul, o segundo estado naquela alturayi A posição de São Paulo no mercado exportador era preeminente. Sua ilarticipação nas exportações nacionais, em valor, atingiam uma média can- h stente de mais da metade do total entre 1921 e 1940. Em meados da déca- tla de 20, o porto de Santos, o principal do estado, exPortava três vezes mais o que a quantidade de produtos exportada pelo porto do Rio de Janeiro, o segundo porto mais importante do país. Inicialmente, as exportações de Ver as fontes em J. I... Lova, "Autonomia e interdependência: São Paulo e a federação brasileira, Ia89-1937". em Bons Fausto (org.), História geral da civilização brasileira (São Paulo: Dita 1975), vol. I, tomo 3, p. 56. A. estimativas para o ano de 1920 foram computadas a partir dos números existentes em João Lyrn, pp. 44-5. Os dados recolhidos por Lyra são do censo federai, que, infelizmente, não feZ hum tentativa de medir os-serviços enquanto contribuição ao Produto nacional. Os dados reto= bte a 1939 são dc Conjuntura Económica, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, vol. 6, Jun. 1970, p. 95. Em 1939, o Distrito Federal havia ultrapassado tanto o Rio Grande do Sul I Minas Gerais em termos de produção. Joseph L love A república brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) 133 café, é claro, foram responsáveis pela prosperidade paulista. Em 1907, metade do café produzido no mundo (e três quartos do café produzido no Brasil como um todo) era de São Paulo. Em 1920, o Estado também era líder nacional no tocante à produção industrial. O fato de que São Paulo se tornou um exportador para os outros estados brasileiros por volta de 1931 — e continuou sendo depois — era um indicador importante, embora indireto, de seu desenvolvimento industrial. Em 1939, a indústria, em termos de pro- dução, havia ultrapassado a agricultura:9 Dada a posição econômica de São Paulo, não é de estranhar que os recursos financeiros do governo estadual fossem maiores comparados aos dos outros estados. Nos anos focalizados neste estudo, São Paulo recolheutipicamente de duas a três vezes a receita arrecadada por Minas Gerais o pelo Rio Grande do Sul, os dois estados que disputavam o segundo lugar. São Paulo era responsável por mais de um terço de toda a arrecadação d governos estaduais em 1937, apesar da queda no preço do café registra na década de 30; e sua receita no ano do golpe do Estado Novo totaliza cerca de um quinto da do governo federal. No que diz respeito à arrecad ção federal, um terço desta era fornecido por São Paulo durante a década de 30; década em que os cofres do governo federal arrecadaram de seis a oito vezes mais do que o segundo colocado, o Rio Grande do Sul:7 Na medida em que a economia de São Paulo se expandia, o mesmo acontecia com sua população. Em 1890, ainda ocupava o terceiro lugar, em termos demográficos, entre os estados, mas ultrapassou a Bahia já em 1900. São Paulo deixou Minas Gerais para trás na década de 30 e tem sido o estado mais populoso segundo os registros dos censos realizados a cada década a partir de 1940, ano em que o número de seus habitantes chegou C 15 Para os dados referentes às exportações liquidas de São Paulo, ver Warren Dean, The— Industrialization of São Paulo: 1880-1945 (Austin: University of Texas Press, 1969)/ - pp. 193-4; sobre a parcela de contribuição da indústria na produção total do estado, ver; Conjuntura Econômica, cit., p. 95. t6 A arrecadação estadual de Minas era, geralmente, maior do que a do Rio Grande do Sul, embora , em alguns poucos anos das décadas de 20 e 30,o Rio Grande tenha tido uma arrecadação maior; cf. IBGE, Anuário estatístico do Brasil 193911940, Rio de Janeiro, pp. 1412-5. " Ibid., pp. 1271, 1409; Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, Relatório: exercício do 1949, São Paulo, 1955, p. 72; Ministério da Fazenda, Contadoria Geral da República, Balanço geral do exerckio de 1940, Rio de Janeiro, 1941, p. 365. O governo federal arrecadava mais no: Distrito Federal do que em São Paulo, devido, em parte, aos ingressos recolhidos das empre$41 público federais sediadas na capital nacional. 7.180.000.'8 Até a década de 30, o grande propulsor do crescimento demográfico foram os imigrantes estrangeiros. Durante a República Velha, metade das pessoas que imigraram para o Brasil se estabeleceram em São Paulo. Muitos desses imigrantes se fixaram em áreas urbanas, e se o Rio de Janeiro continuou sendo a metrópole nacional durante o período em ques- tão, a cidade de São Paulo logo alcançaria a primazia entre as cidades mais povoadas. Entre 1890 e 1900, o crescimento da capital do estado excedeu o do Rio de Janeiro em termos absolutos:9 Em 1920, a cidade de São Paulo contava com mais de meio milhão de habitantes, e, em 1940, tinha mais de 1.300.000. Em termos políticos, a característica mais significativa da população do estado de São Paulo era sua taxa de alfabetização, devido ao fato de que apenas os cidadãos alfabetizados podiam votar. A taxa de alfabetização em São Paulo estava abaixo da média nacional em 1890, devido, em parte, ao grande contingente de população escrava existente no estado no final do império. Em 1920, entretanto, apenas o Rio Grande do Sul tinha uma pro- porção maior de habitantes alfabetizados, e os dois estados mantiveram suas respectivas posições no censo de 1940, ambos com pouco mais de 50% de habitantes alfabetizados entre a população com mais de cinco anos de idade. O interesse do PRP, em termos de política federal, ia além do costu- meiro favorecimento político e da construção de obras públicas. O progra- ma político mínimo delineado por São Paulo nos anos entre 1889 e 1937 consistia em dominar as políticas do governo federal somente nas áreas em que a ação no plano estadual provava ser impossível ou insuficiente — o controle da política monetária e de câmbio, a obtenção de garantias para os empréstimos no exterior e a existência de representação diplomática. Suas lideranças não esperavam grandes benefícios políticos ou recursos para a construção de obras públicas (tendo como contrapartida a dívida do favor) que configuravam a principal estratégia dos políticos mineiros. Só São Pau- () tinha a opção de intervir na economia por iniciativa própria e, durante ríodos limitados, indicou o caminho ao assumir novas responsabilidades overnamentais. Mas os assuntos econômicos e fiscais estaduais e nacio- ata eram a tal ponto interdependentes que São Paulo não poderia ter opta- In013, Anuário estado:leo do Brasil 197), Rio de Janeiro, p 41. Psot !Ca., truca., a A, 134 A república brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) 135 do pela estratégia do isolamento em termos de política federal, tal com ocorrera com o Rio Grande do Sul entre 1894 e 1906. A expansão dos me cados e investimentos paulistas, o crescimento de seu poder militar e a con solidação da responsabilidade pelas dívidas paulistas assumida pelo govern Vargas na década de 30 tolheram, direta e indiretamente, a liberdade ação de São Paulo. Uma análise mais detalhada da economia cafeeira se faz necess para compreender a origem dos interesses e do poder de São Paulo. paulistas-produziam o principal gênero de exportação, que, no transco do regime republicano, se tornou o esteio e a monocultura que garan riqueza do país. Durante um breve momento, em 1910, a borracha da zônia foi responsável por ingressos provenientes do exterior do m montante que o café (entre 40% e 41%), mas, na década seguinte, a bo cha figurava com apenas 3% das exportações, e continuou a cair." Enquan to isso, o café continuou a crescer em importância até o final da década rl 20, totalizando 70% do valor das exportações brasileiras — uma situaç impressionante de dependência monocultural num país maior do que. Estados Unidos continental. Café era sinônimo de São Paulo, e os políticos paulistas visavam av damente beneficiar a economia exportadora de seu estado. Suas lideran2 mostravam interesse em cooperar com os representantes de outros esta e do governo federal quando detectavam interesses comuns; por sua ve entre as elites estaduais, os paulistas defendiam políticas intervencion com habilidade inusitada, enquanto o governo federal se mostrava reti em fazê-lo. A mais famosa instância de cooperação com outros está' cooperação com o governo federal e demonstração de autoconfiança fo episódio da valorização do café em todos os diversos estágios de seu des volvimento. Inicialmente, São Paulo tentou fazer com que o governo felá ral financiasse o esquema e, quando este recuou, firmou um plano trilater junto com o Rio de Janeiro e Minas Gerais, em Taubaté, no estado de S Paulo, em 1906. Minas e Rio desistiram de participar antes que o prograni fosse implementado, e, em 1908, São Paulo arcou com as despesas sozinb — uma ação que foi possível devido ao fato de que era responsável pel 20 Dados contidos em Armin K Luclwie. na elt.. no. 317-8. metade da produção anual mundial. Quando o primeiro empréstimo da va- lorização foi saldado com os credores externos antes do prazo de venci- mento, o fato foi interpretado como um triunfo inegável da cartelização. O governo do estado repetiu o programa em 1917 e obrigou o governo federal a fazê-lo em 1921, argumentando que o café era um ativo nacional, e não regional, e que a saúde da indústria do café era de responsabilidade do governo federal. Em 1924, o programa voltou a ser colocado em prática pelo estado de São Paulo, devido à intervenção de um presidente austero, e o final da década de 20, um acordo interestadual foi implementado, apro- citando a solvência de São Paulo. No transcorrer dos anos, a valorização evitavelmente trouxe novos produtores ao mercado — em São Paulo, em utros estados e no exterior—, todos os quais se aproveitaram da alta artifi- al dos preços no mercado internacional. Quando adveio a Grande Depres- o, a valorização chegou a um fim desastroso, mas a depressão também z com que os paulistas empurrassem a responsabilidade primordial da roteçãodo café para cima do governo federal. .Entre as exigências feitas por São Paulo, na tentativa de obter apoio deral para a economia de exportação do estado, a política cambial era tão portante quanto o tema correlato da valorização. O tesouro federal e a anemia cafeeira paulista mantinham uma relação simbiótica: o governo itral era extremamente dependente dos impostos sobre as importações gra saldar suas operações, e as importações, por sua vez, dependiam das ortações. Os produtores de café calculavam os custos em mil-réis brasileiros e, la troca de seu produto, recebiam moedas "fortes", dólares, marcos, fran- cas e libras. É sabido que eles conseqüentemente favoreciam uma política bial na qual a moeda nacional se depreciava constantemente. Einbora Vesse outros interesses que estimulavam a estabilidade cambial ou o ia ascendente (inclusive consumidores e importadores de São Pau- e núcleo da oposição à desvalorização cambial estava no próprio go- Industriais também se beneficiavam do câmbio valorizado, na medida em que a compra de ia de capital resultava ser mais barata. O câmbio desvalorizado tendia, é claro, a tornar os bens ligeiros mais caros, com relação às manufaturas nacionais. Assim, nos períodos de câmbio indo (estabilidade), os níveis de investimentos na indústria tendiam a ser altos e a produção at nos períodos de desvalorização, o investimento cala enquanto a produção aumentava. Ver IbnI Villanova Villela e Wilson Suzigan, Politica do governo e crescimento da economia listra? 1889-1945 (Mo de Janeiro: Inca. 19721. n, Ri. 136 Joseph Lave vem° federal, que tinha que pagar o serviço de suas vultosas dívidas em moedas européias e norte-americanas, cada vez mais custosas.n Entre os dois jogos de interesses, o governo federal tentava conciliar, diminuindo o ritmo de desvalorização da moeda nacional. Dois esquemas de estabiliza- ção foram ensaiados durante a República Velha, um em 1906, no qual o favorecimento dos interesses dos exportadores foi notório? e outro progra- ma semelhante, em 1927. Os interesses do café foram atingidos negativa- mente pelas taxas de câmbio adotadas após 1931, embora a política cambial tenha perdido boa parte de sua importância na década de 30, quando a des valorização da moeda nacional não foi suficiente para ampliar o mercad internacional de café. No que diz respeito à oferta de mão-de-obra, as lideranças paulista não quiseram confiar essa questão apenas às forças do mercado. Ness aspecto, São Paulo esperava relativamente pouco do governo federal, estava basicamente preocupado em manter os portos do Brasil abertos ao europeus e asiáticos que quisessem trabalhar em suas plantações de café A crise de mão-de-obra escrava das fazendas de café em 1886-1987 havi sido solucionada por meio da introdução de imigrantes italianos nas fa zendas, e o estado de São Paulo subsidiou a imigração a partir daque instante até o final da década de 20, quando o subsídio foi temporaria- mente suspenso. A migração de trabalhadores de outros estados ultrapas sou a imigração de estrangeiros para São Paulo em 1928, e essa tendência se intensificou consistentemente após 1934, quando uma legislação "nacionalizante" restringiu a imigração. O ímã da economia paulista no mercado de trabalho nacional mostrou seu poder de atração, e o governo _ paulista não se opôs à política federal de imigração, já que trabalhadores para os campos e as manufaturas — provenientes de Minas, Bahia e do n É claro que o governo do estado de São Paulo também enfrentava o mesmo problema, mas os interesses cafeeiros eram mais poderosos dentro do próprio estado. Para a discussão sobre a política cambial, ver Edgard Carone, A República Velha. Instituições e classes sociais (São Pau- lo: Difel, 1975), pp. 96-9. Os interesses do café presenciavam conflitos intragrupo, e parece óbvio que os fazendeiros lucrariam menos, ainda que diretamente, das manipulações do câmbio,. do que os exportadores. n De acordo com uma autoridade sobre finanças internacionais brasileiras, a taxa de I 5ddmil-réis- .1..1 nada mais era do que uma redução geral dos recursos financeiros nacionais para beneficiai os interesses particulares dos cafeicultores"; cf. Valentim Boticas, História da druida externa (2. ed. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1952). o. 219. A mpública brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) 137 Nordeste — continuavam a chegar a São Paulo, ao mesmo tempo que a agricultura era ultrapassada pela indústria. A outra liderança de destaque no quadro político da Primeira Repúbli- ca foi o partido da situação em Minas Gerais, o Partido Republicano Minei- ro (PRIV1). Minas era um estado com o dobro do tamanho de São Paulo e do Rio Grande do Sul, e abrigava o maior contingente populacional e de votos até a década de 30. Mas Minas tinha certas desvantagens — sua economia era muito mais fraca do que a de São Paulo, e até chegou a perder o segundo lugar para o Rio Grande do Sul no final do período em questão. Além disso, apenas duas das sete sub-regiões, a da Zona da Mata e o sul de Minas, partilhavam da prosperidade gerada pelo café. Sua economia industrial, centrada em Juiz de Fora, experimentava um declínio relativo, e os interes- ses dos pecuaristas também tendiam a perseguir outras políticas. Apesar disso, o caso mineiro era mais de crescimento inadequado do que de quase- estagnação, o destino de dois importantes estados do Nordeste, a Bahia e Pernambuco. Dentro do quadro classificatório dos vinte estados, o sucesso econômico de Minas ajudou a salvá-lo da fragmentação política.24 O papel desempenhado pelo PRM no quadro político nacional fazia jus ao estereó- tipo da personalidade mineira, em oposição à dos paulistas e gaúchos. En- quanto os paulistas eram considerados empreendedores, orientados para o lucro e freqüentemente arrogantes, e o gaúchos convencidos e belicosos, o mineiro era tido como conservador, voltado para a terra e a família, e astuto do ponto de vista político. Enquanto as lideranças paulistas se concentravam no controle das po- líticas de câmbio, monetária e fiscal e de imigração, os mineiros tinham os olhos voltados para grandes projetos de obras públicas (especialmente fer- rovias) e a obtenção de benesses políticas para os habitantes de seu estado. No que diz respeito a essas questões, foram extremamente bem-sucedidos. As condições necessárias, embora insuficientes, eram a dimensão da eco- nomia do estado, um orçamento estadual proporcionalmente vultoso, e o grande número de eleitores. A outra chave do sucesso foi a "organização política: a capacidade de união em tomo de ações comuns", apesar da exis- i8ncia de interesses econômicos sub-regionais altamente diferenciados e por vezes conflitantes, derivados dos fortes laços familiares e locais. Bul-Soo Peng, op. ca., p. 38 e passim; sobre Matos, ver também Walfrido Moraes, /a heróis (Rio de Janeiro: Civitizago Brasileira, 1963). I trtusD&n eb.hinio Cul and lirtitiliem Reeitinalign 1882-1930, CIL, a. 117 138 A república brasileiro.. federalismo e regionalismo (1889-1937) 139 Minas era uma região política e não econômica. 25 A habilidade de con- ciliar interesses divergentes destacava as lideranças políticas de Minas das da Bahia. Vizinha a Minas Gerais, a Bahia era um estado de dimensões semelhantes e o segundo no país em termos de população e eleitores registrados no início do período, mas no qual a economia, em termos per capita, tendia para a imobilidade, e na qual os políticos estavam freqüen- temente divididos. As elites políticas de Minas Gerais e São Paulo provinham de meios similares, exclusivos, relativamente ricos e substancialmente educados, em hora algumas evidências demonstrem que as lideranças paulistas estavam muito mais integradas às classes proprietárias que dirigiam a economia. As máquinas partidárias de ambos os estados também eram semelhantes n confiança para com os notáveis locais, a violência implícita associadaao coronelismo, e relações clientelistas extensivas. O PRP, entretanto, tinh uma base financeira mais segura, com um sistema de contribuições regular o que tendia a diminuir a importância do caráter "vertical" do clientelismo. A terceira máquina política estadual em importância, o Partido Reptt4 blicano Rio-grandense (PRR), chegou tarde à cena política, e passou a de- sempenhar um papel de destaque apenas a partir de 1910. O partido da situação no Rio Grande do Sul era único no Brasil, na medida em que se sustentava num fundamento ideológico, o positivismo comtiano. Também - era único na medida em que enfrentava a oposição com um programa ideo- lógico que advogava a substituição do regime constitucional presidencialista pelo parlamentarismo. As divisões ideológicas e partidárias teriam sido menos importantes se o estado não tivesse sido assolado por uma cruenta guerra civil no início da república (1893-1895), na qual se estabeleceram as clivagens políticas que vigoraram até o momento em que Getúlio Vargas assumiu o governo do estado em 1928. Como resultado da guerra, em par- te, o PRR conseguiu impor sua vontade a nível local, minando o poder de muitos coronéis. Dessa forma, a máquina partidária tinha mais poder sobre os chefes políticos locais do que a de São Paulo. (No outro extremo do espectro político estava a Bahia, onde um poderoso coronel do sertão, 23 Ibid., p. 229. 23 Ver Joseph L. Love e Bort J. Bariclanan, "Riflara and °vinare: A Brazilian Case Study in Comsarative Perspective.. Ilimnnir Anearlon. Z.< • ~et, •••• Horácio de Matos, conseguiu repelir as forças policiais do estado, enviadas contra ele, fazendo com que um estudante identificasse o coronel "guerrei- ro" como um importante subtipo de coronelismo existente na Bahia.)” Quando o PRR se tomou uma força nacional, depois de 1910, o fez cl graças à sua aliança com o exército, e ao tirar proveito das divisões entre os partidos republicanos de Minas e São Paulo. As excelentes relações entre o Partido Rio-grandense e o Exército derivavam, em parte, do grande contin- gente de soldados aquartelados no estado (em caso de conflito com a Ar- gentina) e da vocação militar putativa dos gaúchos. A república manteve a prática imperial de alocar um quarto a um terço dos efetivos do Exército no Rio Grande do Sul, e o comando do distrito militar do Rio Grande (a Tercei- ra Região, após 1919) era um dos mais importantes destacamentos do Exér- cito; oito comandantes dessa região ocuparam o cargo de ministro da Guerra durante a República Velha. Somava-se a isso o fato de que a única academia militar profissional existente no Brasil, fora da capital federal, estava situa- da no Rio Grande do Sul. Em 1907, o ano no qual dois futuros presidentes, Getúlio Vargas e Eurico Dutra, estrearam na política gaúcha como líderes estudantis na Faculdade de Direito e na Academia Militar, respectivamente, havia mais cadetes em Porto Alegre do que no Rioí de Janeiro. O mito a respeito da vocação militar do gaúcho surgiu tanto no perío- do republicano como no imperial. O Rio Grande do Sul forneceu mais ge- nerais do que qualquer outra província no final do império, e continuou a fornecê-los até a época da Revolução de 1930. Além disso, forneceu mais presidentes do prestigioso Clube Militar e mais ministros da Guerra durante a República Velha do que qualquer outro estado? Vários motivos explicam os vínculos estreitos entre o PRR e o Exérci- to federal, inclusive convicções ideológicas (o positivismo comtiano, base do partido governante e da Constituição Estadual), laços formados durante as lutas de 1893-1995, e lealdade regional. Outro fator era a defesa irrestrita do PRR às alocações destinadas ao Exército no Congresso, onde os depui a- dos riograndenses ocupavam cargos-chave nas comissões. Finalmente, o PRR era o único aliado potencial do Exército na luta pelo poder: o corpo do 140 Joseph L lova A república brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) oficiais, em si, não podia destituir a aliança mineiro-paulista, que tendia a controlar a sucessão presidencial, nem podia confiar nas máquinas dos ou- tros estados para enfrentar as organizações políticas mais poderosas. En- quanto os gaúchos não participaram da disputa pelo poder nacional, o Exército se manteve leal ao presidente. São Paulo era o principal produtor de café e Minas Gerais era o sego n do maior. O Rio Grande do Sul, por sua vez, orientava seus principais pro- dutos de "exportação", o charque e o arroz, para o mercado nacional. A máquina.partidária estadual se assemelhava mais à de Minas do que a de São Paulo, no sentido de tentar obter favores políticos e recursos para obr públicas, mas diferia da de Minas ao dedicar mais atenção às questões qu afetavam o mercado nacional." Na medida em que o Rio Grande do Sul era elemento desestabilizador, a política da República Velha é freqüentement descrita como a política do café-com-leite — tendo em vista que Minas tam- bém era um grande produtor de laticínios —, devido ao fato de que havia uma tendência para que as máquinas de São Paulo e Minas alternassem candidatos à presidência. Nos 17 estados menores, embora a situação fiscal tenha melhorado na primeira década da república em comparação à última década do império, a arrecadação continuou inadequada, e nos estados assolados pela seca, entre Rio de Janeiro e o Vale do Amazonas — uma região que passou a ser identificada como "Nordeste" nessa época, precisamente —," a massa da população vivia na pobreza, e até na miséria. Aí o federalismo assumia um significado diferente. Significava, principalmente, a obtenção da transfe- rência de recursos do governo federal. Uma instância notável de sucesso para o Nordeste durante o período em questão foi o programa federal de construção de represas, e os poucos açudes, que de fato foram terminados, foram construídos nos três anos em que, como resultado da cisão entre Mi- Por exemplo, ao restringir o acesso do charque, mais barato, do Uruguai e da Argentina, aos mercados brasileiros. Também era o estado que demonstrava maior interesse no combate à infla- ção, poiso consumo de charque no Brasil tendia a diminuir com uma subida de preço. Devido ao fato de que Minas Gerais também era produtor de laticínios e vendia seus produtos no Rio de= Janeiro e em outros estados, o PRM não podia deixar de se sensibilizar com questões econúmicat internas. Sobre a indústria pastoril no Rio Grande, ver Stephen Bell, Campanha Gaúcha: ÀE Brazilian Ranching System, 1850-1920 (Stanford: Stanford University Press, 1998). 30 Linda Lewin, Polidas and Parentela in Parelha (Princeton: Princeton University Press, 1987) p. 23. nas e São Paulo durante uma crise na sucessão presidencial, o Rio Grande do Sul conseguiu eleger um presidente nordestino." Para fortalecer sua posição, o novo chefe do Executivo, Epitácio Pes- soa, da pequena Paraíba, escolheu seis de seus sete ministros entre mem- bros das máquinas dos três grandes estados. Pessoa depois revelou que seu governo gastou aproximadamente o mesmo volume de recursos destinados à construção de ferrovias em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, que em todo o projeto de desenvolvimento destinado a oito estados do Nordeste.32 Quando Artur Bemardes, o ex-governador de Minas, sucedeu _ Pessoa em novembro de 1922, o programa de desenvolvimento do Nordes- te, a menina dos olhos do presidente paraibano, foi abruptamente desativado, deixando muitos projetos inacabados-33 A política "externa" dos estados nordestinos assemelhava-se à política das nações balcânicas entre o declínio do Império Otomano e o final da Segunda Guerra Mundial: eles cortejavam e tentavam apaziguar as "gran- des potências" (o governo federal e os três grandes estados), mas nas rela- ções entre eles demonstravam um oportunismo cínico, e disputavam os favores dispensados pelo governo federal. Embora não entrassem em guer- ra uns com os outros sobre disputas territoriaisexistentes, como fizeram os regimes balcânicos contemporâneos em 1912-1913, os estados satélites bri- gavam na seara dos tribunais.34 Somava-se a isso o fato de que o presidente e as lideranças dos "três grandes" estados conseguiam, freqüentemente, di- vidir as representações desses pequenos estados nas assembléias legislativas estaduais, reduzindo ainda mais seu limitado poder no âmbito federal. Agra- vando essa situação mais ainda, os governos de estados nordestinos vizi- nhos algumas vezes erguiam barreiras comerciais contra outros estados, tio por motivos fiscais, tal como Minas fez repetidas vezes, mas para. rcdirecionar o fluxo do comércio local. É ocaso da guerra fiscal entre Paraíba e Pernambuco no final da República Velha.35 I Ver Joseph L. Love, Rio Grande do Sul and 8razilian Regional ism, 1882-1930, cit., pp. 1834. 11 Bpitácio Pessoa, Pela verdade (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1925), p. 374. Sobre essa questão, ver Albert Hirschman, Joumeys toward Progress (Nova York: Twentiefil Century Fund, 1963), pp. 11-50. Sobre os conflitos e cooperação intenregional, ver M. Levine, op. cit., pp. 126-36. Linda Lewin. ao. ri t.. en. 3113.8. A república brasileira: federalismo e regionalismo (1889-1937) 143 O domínio da política pelas oligarquias familiares nos estados menores ou mais fracos no Nordeste e em outras regiões havia existido durante o império, mas se tornou uma característica marcante durante o regime repu- blicano, porque os governadores dos estados eram eleitos e não mais indica- dos pelo poder central sediado no Rio de Janeiro. Os Aciolis dominavam o Ceará, assim como os Machados, e depois os Pessoas, controlaram a Paraíba. O mesmo ocorria com os Maltas em Magoas, a família Medeiros no Rio Grande do Norte, os Nerys no Amazonas, e os Murtinhos em Mato Grosso. Na raizelesse arcaísmo político estava o coronelismo e sua base social. A socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz acredita que o coronelismo teve sua origem na parentela (ou família extensa), que era patriarcal, estratificada (em parte, pelos ramos legítimos e ilegítimos), e, dentro e fora, eivada de redes de relações clientelistas.36 A dominação exigia, também, uma base econômica sólida, e os casamentos entre parentelas permitiam a formação de amplas alianças, amplas o suficiente para permitir que as gran- des famílias extensas se assenhoreassem das unidades federais menos po- voadas. O controle do governo estadual e local sob tais circunstâncias era "neopatrirnonial", no sentido de que as aparências de modernidade escon- diam uma concepção renascentista a respeito do ato de exercer o governo. Assim, o paternalismo e os contratos governamentais favoreciam a paren- tela no poder. No interior desses estados, o poder privado, derivado dos tempos coloniais e apenas modificado pelo Estado imperial, prevalecia. O controle da justiça e das forças policiais, sob o mando dos coronéis, conti- nuou sendo de natureza senhorial até a Revolução de 1930. Em suma, enquanto a política nos três grandes estados do Centro e do Extremo Sul experimentava a transição da política "vertical", paternalista, clientelista e de domínio da parentela para urna forma mais "horizontal", baseada na associação voluntária e nos interesses econômicos, no Nordes- te, as configurações políticas permaneceram atreladas a antigos valores e estruturas mediterrânicas, nos quais a família extensa era a coluna verte- bral. No Nordeste, economicamente indiferenciado, a distição entre as fa- mílias e o povo (as classes populares) era quase equivalente à distinção 36 Maria Isaura Pereira de Queiroz, "0 coronelismo numa intui:nanica° sociológica", em Sons Fausto (org.), História iterai da civilivicdo brasileira, cit.. vol. 1. tomo 111. no. 164-71. entre as "classes" e as "massas" em São Paulo e no Rto de Janeiro durante o mesmo período." O Nordeste tinha que fazer face não apenas à política do café-com- leite, mas também à política dos governadores. Esse arranjo permitia que o presidente e os governadores mais poderosos tomassem as decisões mais importantes a respeito das políticas a ser adotadas e sobre a distribuição de cargos. Mas, num sentido mais amplo, a política de todos os participantes do governo era sua permanência no poder indefinidamente. No início de 1900, o presidente Manuel Campos Sales, um paulista, instituiu a política dos governadores como um meio de garantir ao presi- dente uma maioria na Câmara dos Deputados. Para alcançar esse fim, fez aprovar duas mudanças processuais na Câmara. Uma dessas garantia ao presidente, efetivamente, o controle das comissões de diplomação da Câ- mara. A segunda exigia que a maioria dos conselhos municipais em cada distrito eleitoral diplomasse os deputados eleitos. Na medida em que o par- tido da situação, em nível estadual, apoiava os políticos locais e vice-versa, essa medida constituía outra salvaguarda contra a entrada de deputados da oposição no Congresso. Campos Sales havia introduzido a política dos go- vernadores para garantir o apoio do Congresso à política fiscal e monetária exigida pelo Rothschild Funding Loan (1898) visando a consolidação da dívida externa do Brasil. Essa incluía medidas impopulares, tais como o aumento de impostos, o corte no montante da moeda circulante e nos gastos do governo, e a penhora da arrecadação das alfândegas em favor do Rothschild. Assim posto, a política era uma adaptação de estruturas demo- cráticas formais às condições políticas de uma economia neocolonial. A prática do apoio mútuo dos protagonistas políticos continuou du- rante toda a República Velha, e estava associada à dominação da política pelo presidente e os governadores de Minas Gerais e São Paulo. A impossi- bilidade de grupos de oposição ascenderem a cargos, a não ser por meio da revolução (inclusive os cargos em nível estadual), somada à exclusão das classes médias urbanas e das classes trabalhadoras do poder devido ao coronelismo, contribuiu para o sepultamento da Constituição de 1891 em 1930. A Primeira República, conseqüentemente, foi incapaz de resolver um I/ O papel central da família enquanto princípio de organizado fundamental na vida das classes médias c altas na Bahia 6 exaustivamente demonstrado por baia Borges, The Family In Balda, FR711.1045 iCionfisrd• Rinntnrel I Inivareiiv Prema 10011 A república brasileira: federalismo e regionalismo (18891931) 145 problema para o qual o império tinha uma solução: remover aqueles que ocupavam o poder sem violência. A monarquia foi capaz de fazer isso utili- zando o artifício da nomeação, pelo imperador, de um membro do partido de oposição no parlamento para "convocar" eleições, o que sempre resulta- va, durante o Segundo Império, no retorno do partido que organizava essas eleições ao poder.38 Depois que o novo sistema federal se estabilizou, sob o controle ci- vil, no final da década de 1890, a intervenção do governo central nos estados tornou-se frequente, com exceção dos três grandes e suas respec- tivas máquinas políticas. Se por acaso um presidente hostil aos interesses de São Paulo assumisse o poder — ocorrência rara—, ele seria impedido de intervir no estado pela organização policial estadual, a Força Pública. Das vinte forças policiais estaduais, a de São Paulo era a maior e a mais bem equipada, contando com 14 mil efetivos em 1925 e 1926, anos em que registrou o maior número de soldados." A Força Pública nada mais era, de fato, que um exército: seus salários equivaliam aos do Exército Nacio- nal; tinha sua própria academia militar e, após 1906, contou com a partici- pação de uma missão militar estrangeira para treinar seus efetivos; e, na década de 20 incorporou artilharia e tanques encouraçados, além de uma força aérea. Até a década de 30, o governo de São Paulo tinha poucos motivos para temer os efetivos militares federais.4° Minas Gerais e o Rio Grande do Sul também podiam contar com forças estaduais significantes, embora as desses estados fossemmenores que as de São Paulo. Os outros 17 estados tinham forças muito mais fracas, em termos de tamanho e dis- ciplina. A intervenção federal era o caminho mais seguro de se efetuar alguma mudança de governo nos 17 estados satélites — o único caminho, excetuan- do a guerra civil, que, não obstante, eclodiu ocasionalmente. Dezenas de intervenções contra magistrados estaduais ocorreram durante a República " Richard Graham, Patronage and Polistes in Nineteenth-Century Brazil (Stanford: Stanford University Press, 1990), p. 79 e passim. Um sistema semelhante em Portugal, na mesma época, constituído da mesma forma, era chamado de rotativismo. " Na época, o Exército contava com trinta mil soldados efetivos, espalhados por meio país. c' Sobre as polícias militares estaduais, ver Heloísa Rodrigues Emundes, Polftica e segurança (Sio Paulo: Alfa-Omega, 1974), e Joseph L. Lave, São Paulo In me aradura; Federallon, 1889- roei nif 31A.0 • Velha, e a intervenção federal se tornou o caminho "normal" pelo qual as forças de oposição tomavam o poder nos estados em que máquinas esta- duais corruptas controlavam as urnas eleitorais. O artigo 60 da Constituição estabelecia uma série de condições neces- sárias à intervenção. As mais freqüentes eram a necessidade de restabelecer a ordem e a tranqüilidade, a partir da solicitação do governo estadual em questão, e a necessidade de preservar as instituições e garantias da "repúbli- ca federal". A tática utilizada no tocante ao primeiro tipo de condição era a divisão do Legislativo estadual em dois campos estanques e opostos, am- bos reivindicando legitimidade e só validando os diplomas de seus acólitos. Se o grupo hostil ao governador conseguisse demonstrar uma maioria nu- mérica que satisfizesse o governo federal, ele poderia obter a intervenção militar. A divisão do Legislativo nessas condições ocorreu no estado do Amazonas, em 1909, com a conivência do presidente do Senado, José Pi- nheiro Machado, do Rio Grande do Sul; mas o presidente Nilo Peçanha reempossou o governador expulso. Na administração seguinte, presidida pelo marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), assembléias legislativas fantoches foram estabelecidas nos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Amazonas, com resultados variados. O segundo método de obter a inter- venção — pedida em nome da necessidade de preservar as instituições repu- blicanas — foi utilizado para destituir os governadores da Bahia (1912) e do Ceará (1914). Em 1911-1912, oficiais reformistas do Exército alcançaram o poder com apoio implícito e explícito do Exército nos estados nordestinos do Ceará, Alagoas, Pernambuco e Sergipe. Tanto na Bahia, em 1912, como no Ama- zonas, no incidente já mencionado de 1909, o comando militar não se ne- gou a bombardear a capital do estado para destituir o governador em questão. Mas o senador Pinheiro e a oligarquia dos Aciolis revidaram contra os re- formistas no Ceará, onde conseguiram destituir o novo governador, coronel I ?ranco Rabelo, manipulando o sentimento religioso primitivo existente no sertão. A partir de seu reduto em Juazeiro, os seguidores do padre Cícero I lançaram uma espécie de "guerra santa" contra o governador em Fortaleza, capital do Ceará. Depois de uma guerra civil estadual generalizada, na qual ii "exército" camponês saqueou várias cidades e investiu contra a capital no litoral, o presidente Hermes e Pinheiro Machado decidiram que um refor- a-.1 ata I 1 • põbilobroI&ra littlinalismo itigionulisnio (18891 931) 147 146 "instituições republicanas", e Hermes proclamou o decreto de intervençft Na eleição seguinte, os Aciolis voltaram ao poder.41 O estado do Amazonas exibiu, talvez, o pior exemplo de como o jos da instabilidade local podia desembocar na intervenção federal. Lá, o pró blema se tornou ainda mais complicado devido ao colapso da econotn regional da borracha e, conseqüentemente, da base fiscal do governo est dual durante a Primeira Guerra Mundial. Governos rivais (duplicatas) p sistiram durante a presidência do marechal Hermes e depois dele, com governo federal ora apoiando uma facção, ora outra; ao chegar a década 20, o governo estadual soçobrava no caos administrativo e fmanceiro. presidente Artur Bernardes (1922-1926) até temia por uma intervenção do Estados Unidos no estado do Amazonas, o membro da federação notoria mente mais insolvente e endividado. De acordo com o futuro governante do país, Getúlio Vargas, naquela época deputado no Congresso, Bernardes uti- lizou o incidente do Amazonas para decretar uma emenda à Constituição, em 1926, dando à União mais autoridade para intervir nos estados em caso de má administração das finanças públicas.42 Melhor do que qualquer ou- tro, talvez, esse caso ilustra a falência do federalismo na República Velha. Nesse sistema político, a presidência era o elemento central de coesão, e as alianças em nível nacional giravam em torno da disputa para eleger o chefe do Executivo. Para determinar a sucessão presidencial, os partidos políticos de São Paulo e Minas Gerais geralmente trabalhavam juntos, mas. a partir de 1910, o Rio Grande do Sul também entrou no páreo. Conforme notamos, as três máquinas partidárias conseguiam dominar o cenário políti- co nacional devido ao poder econômico e eleitoral de seus estados; se ne- cessário fosse, eles também podiam entrar com forças paramilitares. Os três partidos tinham força suficiente para mobilizar apoio por meio do subsídio a jornais, forneciam metade do total de votos necessários à eleição presi- dencial e podiam contar com seus exércitos estaduais para evitar a interven - ção presidencial. As lideranças dos três partidos autônomos, atuando em conjunto, podiam evitar a crise inerente em toda sucessão presidencial. O desentendimento entre os três geralmente era superado graças à promulga- Sobre as intervenções e rebeliões de 1909-1914, ver Joseph L. Love, Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930, cit., pp. 157-61; sobre o padre Cícero, ver Ralph Della Cava, Mirada til Joaseiro (Nova York: Columbia University Press, 1970). '42 Joseph L. Love, Rio Grande do Sul and Brazilian Regiottalism, 1882-1930, cit., p. 125. 940 de legislação compensatória no campo econômico; em São Paulo e mas isso geralmente significava a defesa do café, e no Rio Grande do Sul, antagens para a atividade pecuária. De outra forma, o desentendimento danificava uma eleição disputada que colocava em risco o sistema político. Isso se confirmou nas três ocasiões em que a corrida presidencial da Repú- blica Velha foi realmente disputada, aquelas de 1910, 1922 e 1930. Nesses anos, em que ocorreram brechas na aliança entre paulistas e mineiros, três políticos gaúchos almejaram o controle do governo federal. O senador Pinheiro Machado, já influente na sucessão de 1906, havia trans- formado o Rio Grande do Sul num estado "grande" no pleito de 1910, quando este se aliou a Minas e ao Exército contra São Paulo e a Bahia para eleger o marechal Hermes da Fonseca. O apoio consistente ao governo "permanen- te" no Rio Grande do Sul, o controle das comissões de diplomação no Con- gresso, assim como o controle dos dois cargos-chave do Congresso, de v ice-presidente do Senado e de líder da maioria na Câmara, a ferramenta da disciplina partidária exercida por meio de sua coalizão nacional, o Partido Republicano Conservador (PRC), a liberdade no uso de subsídios aos jor- nais mais influentes e uma ascendência pessoal sobre o presidente: essas foram as chaves do poder de Pinheiro Machado. Mas seu "sistema" depen- dia de relações pessoais e estava sujeito, portanto, à mudança das alianças entre as elites políticas. Quando a aliança paulista-mineira foi reativada para garantir um presidente forte, o poder de Pinheiro começou a declinar, e o PRC se desintegrou completamente após o seu assassinato em 1915. A ali- ança Minas—São Paulo era o rebento lógico dos interesses econômicos par- tilhados pelos dois estados produtoresde café; a coalizão de Pinheiro não tinha essa coesão. Antônio Borges de Medeiros, o governador "perpétuo" do Rio Gran- de (1898-1907; 1912-1928), não se envolveu pessoalmente na disputa pelo controle da presidência até depois da morte de Pinheiro. A intervenção de Borges na convenção de 1919, responsável pela eleição de Epitácio Pessoa, ocorreu devido ao impasse surgido entre Minas e São Paulo. Em 1922, o governador iniciou uma experiência única em termos de eleição presiden- cial: ele se uniu ao ex-presidente Nilo Peçanha do estado do Rio, para armar uma campanha contra Minas e São Paulo, num momento em que os gigan- tes do café estavam unidos. Pinheiro havia conseguido uma aliança com o Exército; Borges e Nilo também. Além disso, Pinheiro também contava com o apoio do partido mineiro e de votos tirados do bolso do colete prove- loiça tov. nientes de uma coalizão de equilíbrio delicado, porém eficaz, de satélites do:, PRC. A Reação Republicana de 1922 foi, ao contrário, uma tentativa de...; unir três estados "semi-soberanos" —o Rio de Janeiro, a Bahia e Pernambuco. — com o Rio Grande do Sul e o Exército contra São Paulo, Minas Gerais 14 máquinas clientelistas aliadas. A Reação perdeu, e o novo presidente,c, Artur Bemardes, interveio no Rio, na Bahia e em Pernambuco. Além disso/ obrigou Borges de Medeiros a não concorrer a uma nova eleição para dt. governo do estado no final de seu mandato de cinco anos em 1928. Quando o novo governador Getulio Vargas entrou na corrida presi- dencial em 1930, uma nova geração de gaúchos chegava ao estrelato. Eles apoiaram a primeira candidatura postulada por um político gaúcho à pre- sidência, no momento em que Minas Gerais e São Paulo estavam, mais uma vez, divididos quanto à sucessão presidencial. A vitoria dependia do apoio irrestrito de Minas Gerais. A eleição — conforme interpretação do Congresso — demonstrou que um presidente em exercício podia levar seu candidato à vitória mesmo que a aliança mineiro-paulista estivesse fratu- rada. Entretanto, 1930 não era um ano eleitoral qualquer, e as dificuldades econômicas agravaram o quadro de descontentamento político. O merca- do de café havia entrado em colapso em outubro de 1929, e os fazendeiros começaram a rejeitar as lideranças do PRP personificadas no presidente Washington Luís e no presidente eleito, Júlio Prestes, ambos ex-governa- dores de São Paulo. O PRR e o PRM organizaram uma conspiração, con- tando com o apoio de oficiais militares, que levou Getúlio Vargas, o candidato presidencial derrotado e governador em exercício do Rio Gran- de do Sul, ao poder durante 15 anos. Em 1930, os gaúchos estavam numa situação única para liderar uma revolução contra o governo de Washington Luís: dos grupos políticos mais importantes, os gaúchos, que tradicionalmente estavam orientados para o mercado interno, eram os que menos dependiam do sistema econômico in- ternacional, e, portanto, os menos desacreditados devido ao seu colapso. A Revolução de 1930 configura um veredicto a respeito da viabilidade do - federalismo brasileiro e da aliança café-com-leite na qual este se apoiava. A década de 30 foi um período de fermentação política, e o primeiro ano de governo de Vargas testemunhou a derrota dos partidos republicanos da situação em todos os estados exceto os do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, cujas máquinas haviam apoiado a revolução. O Partido Democráti- co (PD) em São Paulo, um grupo de profissionais reformistas, fazendeiros A república bradlrat lederalismo e regionalismo (1889.1937) e outros que haviam apoiado a mudança de regime, não conseguiu, apesar disso, tomar o poder no estado. Os reformistas e a facção autoritária dentro do Exército e dentro da coalizão que apoiava Vargas — os "tenentes", isto é, os oficiais de baixa patente — minaram o PD. A continuidade da depressão económica e a falta de um "governo au- tóctone" em São Paulo levou o país à única guerra civil interestadual do século XX, em 1932, na qual uma elite civil unida — os republicanos e os democratas paulistas — tentou, sem sucesso, derrocar o governo provisório. Para reconciliar os paulistas derrotados, o governo Vargas assumiu metade das dívidas dos cafeicultores e anunciou a realização de eleições para a Assembléia Constituinte na qual os interesses regionais poderiam ter voz ativa mais uma vez. O ditador tomou medidas para ampliar o eleitorado, permitindo o voto das mulheres e dos maiores de 18 anos. A nova Constituição foi aprovada em 1934, e Getúlio Vargas foi eleito presidente pela Assembléia Constituinte. Embora a Carta de 1934 limitasse o poder dos estados e abrisse espaço para a representação de quarenta mem- bros de corporações ou "classes" no Congresso, 212 deputados foram eleitos pelos distritos geográficos, o que inevitavelmente significou o ressurgimento dos partidos com base estadual. A política parecia, assim, destinada a seguir a norma da República Velha. Os únicos partidos que deram voz, de fato, às verdadeiras aspirações nacionais durante os anos da depressão foram o Parti- do Comunista Brasileiro (PCB) e a Ação Integralista Brasileira (Ali3), o maior partido fascista da América Latina. E até esses partidos políticos atraí- am a grande maioria de seus poucos seguidores nos centros urbanos — a capi- tal federal e a cidade de São Paulo e seus subúrbios industriais. Apesar de divididos, os dois partidos liberais tradicionais de São Pau- lo, por meio das habilidosas manobras que Vargas efetuou nos meses que antecederam o golpe do Estado Novo, o Partido Constitucionalista (PC) (que sucedeu o Partido Democrático) e o velho Partido Republicano Paulista, essas duas organizações arraigadamente regionalistas, não perderam poder para os grupos "extremistas". Em 1936, na última eleição realizada em São Paulo antes de 1945, o PC e o PRP conquistaram um total combinado de 19 das vinte cadeiras da Câmara dos Vereadores de São Paulo, precisamente onde os partidos representativos das classes deveriam ter se saído melhor. Entretanto, as constelações de poder estavam mudando rapidamen- te em meados da década de 30 devido, em grande parte, ao fracasso da Intentona Comunista de 1935 e ao proveito habilidoso que Vargas tirou 149 ANON hiradelit federalismo e leolonalisitio (1889.1931) 151 dela, permitindo-lhe manter o clima de crise e, assim, decretar o estad de sítio. O presidente eliminou a última ameaça regional à consolidaçã de seu poder em outubro de 1937, quando o interventor do Rio Gran do Sul, José Antônio Flores da Cunha, fugiu para o Uruguai depois Vargas nacionalizou as forças policiais do estado. Uma das mudan estruturais que sinalizam nessa direção é o fato de que, em 1937, tropas do exército contavam com o dobro de soldados efetivos a servi de todos os estados, enquanto que, vinte anos antes, as forças polici militares dos estados combinadas eram maiores do que as do Exército A dimensão econômica do triunfo da centralização foi que, no final década de 30, os industriais paulistas começaram a acreditar que u regime unitário, hostil às tarifas internas, permitiria a formação de u mercado nacional mais eficiente. Em seu golpe de 10 de novembro de 1937, que criou o Estado Nov Vargas proclamou, estridentemente, o fim do federalismo e da democrac liberal. Os antigos estados passaram a ser meras divisões administrativ do regime unitário, e o presidente, transformado em ditador, substituiu o governadores eleitos por interventores indicados por ele. Numa demonstra- ção simbólica de centralismo autoritário, Vargas mandou queimar as ban- deiras dos estados. No começo e no fim do período focalizado, em 1889 e 1937, os par- tidos governantes deixaram de existir, entrando em colapso, na primeira instância, e sendo abolidos, na segunda. A institucionalização de um siste- ma partidário que transcendesse as fronteiras estaduais foi um feito que nem a Primeira nem a Segunda República alcançaram. Além da questio- nável dimensão geográficados partidos "nacionais" na década de 30, na maior parte do país — certamente nas regiões economicamente mais atra- sadas — as lealdades partidárias, fora da A1B e do PCB, dependiam mais do favorecimento político e do clientelismo do que dos programas ou das ideologias. Não obstante, nos anos entre 1889 e 1937, as mudanças estruturais na economia brasileira eram consideráveis: as exportações de café e borracha atingiram o apogeu e declinaram vertiginosamente; as manufaturas experi- mentaram o primeiro impulso dentro de um conjunto de ritmos complica- 43 Ibid., pp. 254-5. dos, e se expandiram rapidamente na década de 30» Durante a maior parte do período, o crescimento econômico dependia, em grande parte, das ex- portações e do capital estrangeiro, inclusive investimentos em títulos do -- governo visando o desenvolvimento de infra-estrutura. Ao chegar à década de 30, a dependência do Brasil em questões financeiras e econômicas havia se deslocado da Grã-Bretanha para os Estados Unidos. Isso coincidiu com a _ aceleração da industrialização e da substituição de importações. A sociedade brasileira também experimentou mudanças significativas: o país recebeu um fluxo de aproximadamente 2,5 milhões a 3 milhões de imigrantes nos anos entre 1889 e 1937, mais do que em qualquer outro per( odo de sua história; metade deles foi para São Paulo, e, ao todo, 90% foram para os estados da região Sul e Sudeste do país. Na década de 30, a migração interna também foi maior do que em qualquer outra década anterior. A rápi da urbanização e as melhorias na saúde pública acompanharam essas mu danças populacionais. Quando da realização do censo de 1940, a nação contava com duas cidades cuja população superava o milhão de habitantes, Rio de Janeiro e São Paulo, e outras 21 cidades com mais de 100 mil habi- tantes. Nas cidades, o nascente movimento de trabalhadores se tornou o ful- cro da atividade de anarquistas e comunistas, até o momento em que foi canalizado e controlado de cima para baixo por órgãos governamentais na década de 30. No complexo jogo entre as unidades federais e estaduais, o governo assumiu novas tarefas que diziam respeito não apenas ao controle social, mas também à seguridade social, à educação em todos os níveis e à comercialização de matérias-primas dentro e fora do país. A intervenção governamental na economia e na sociedade realizada por Vargas alcançou novos patamares de envolvimento. Algumas dessas mudanças foram imediatas, tal como a aceitação da responsabilidade pelas dívidas de suas unidades constitutivas por parte do governo provisório, - cl usive a imensa dívida de valorização pertencente a São Paulo. Outras ocor- 44 A década de 30 testemunhou um crescimento industrial em São Paulo sem precedentes, e o núme- ro de fábricas no estado dobrou entre 1933 e 1939; o valor da produção industrial triplicou durante o mesmo período. Conforme notado anteriormente, em 1939,o valor referente à indústria no estado se equiparou até com os da agricultura, e naquele ano, São Paulo foi responsável por 41% do valor somado das manufaturas em todo o país. Apesar disso, não havia uma política de desenvolvimento industrial governamental consistente: a política cambial tendia a favorecer a indústria depois de 1931, mas a política financeira interna não visava a expansão industrial. Ver Annibal Villanova Villela e Wilson Suzigan, op. cit., pp. 78-9, 368, 371. A itodbilto biasilelrat hibridismo e rploatilliino 0889.1937) _ _ _ reram em forma de processo, como no caso da organização e do controle da: classe trabalhadora pelo governo, que começou de imediato, mas que foi obrigada a acompanhar a expansão, em dimensão e complexidade, da in- dustrialização. A responsabilidade do governo federal com relação à prote= ção do café se tomou permanente a partir de 1931, e na década de 30, outros produtos agrícolas passaram a ser subsidiados, como por exemplo o açúcar; a erva-mate e o trigo. A intervenção federal na esfera social data das tenta- tivas de controle no preço dos alimentos implementadas em 1918; mas, mais uma vez, a década de 30 foi uma era de vasta expansão dos serviços governamentais, embora paternalistas, aos grupos de despossuídos — indi- cado pela criação dos ministérios da Educação e do Trabalho, e do estabele- cimento de cotas de imigração e outras leis para garantir o emprego dos- cidadãos brasileiros. Apesar disso, a intervenção governamental em assuntos económicos e sociais, notadamente em São Paulo, frequentemente equivalia e antecedia a atividade federal. Na medida em que a responsabilidade primária pela pro- teção do café passou a ser tarefa do governo central depois de 1931,o esta- do auxiliou a União nessa obrigação até a década de 40." Na esfera nacional, - as políticas estaduais de imigração eram, logicamente, esquemas orienta- dos para beneficiar os fazendeiros, conforme atesta a criação do Departa- mento Estadual de Trabalho em 1912, 18 anos antes da organização do Ministério do Trabalho federal. Apesar disso, o departamento, aparente- mente, garantia alguns benefícios genuínos aos trabalhadores rurais (sua preocupação exclusiva) mesmo durante os primeiros anos de sua existên- cia. Em 1930, um outro departamento foi organizado para cuidar do traba- lhador urbano; sua interferência na rotina das fábricas às vezes enfurecia os empregadores." Além disso, São Paulo criou uma Secretaria de Educação e Saúde Pública no mesmo ano (antes da criação de sua contrapartida fede- ral), e o estado também criou a primeira universidade moderna do Brasil, Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, Relatório do exercício de 1940, São Paulo, s.d., p. 5. Em 1940, a "defesa do café" consumia cerca de 10% dos gastos do governo estadual, incluindo os itens extra-orçamentários. 46 Sobre os benefícios aos trabalhadores rurais e urbanos, respectivamente, ver Thomas H Holloway, Immigrants on fite Land (Chapei Hill: University of North Carolina Presa, 1981), pp. 108-9; e Barbara Weinstein, "'fie Industrialists, lhe State and lhe 1ssue of Worker Training and Social Services in Brazil, 1930-1950", Hispanic Atnerican Historical Review , 70, 3 (1990), p. 384. Ambos os departamentos de trabalho foram transformados num organismo único em 1933. com uma faculdade de artes e ciências, em 1934. Em 1937, a Secretaria de Educação consumia 22% do orçamento do estado." O Rio Grande do Sul fornece outros exemplos de intervenção estadual que antecipou a do governo federal. Em seu primeiro ano como governa- dor, em 1928, Vargas criou um banco estadual de desenvolvimento para financiar, principalmente, os produtores de charque. Respondendo à cria- ção de novos sindicatos de produtores de charque e arroz, o governador incentivou a formação de outros grupos corporativos. Conforme notamos, depois que Vargas se tomou presidente do Brasil, o governo central inter- veio não apenas no mercado do café, mas estimulou a cartelização de ou- tros mercados de produtos primários." No Nordeste, a cooperação entre os governos estaduais e federal era impossível, dada a pobreza dos primeiros. Apesar da criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1933, para beneficiar os agricultores do Nordeste e controlar o nível da produção, os gastos financeiros do governo federal nessa região eram irrisórios, comparados às somas consumidas na proteção do café. O benefício mais palpável, para o Nordeste, se deu na esfera polí- tica e social: devido à ausência de eleições, o coronelismo se tomou irrelevante." Além disso, em nível estadual, os coronéis "guerreiros" e as oligarquias familiares foram destituídos, e nunca recuperaram a mesma di- mensão de poder." A significância do federalismo brasileiro nos anos 1889-1937 pode ser melhor compreendida por meio de algumas comparações intertemporais e internacionais. Quase um século depois do golpe de Estado que criou a república, em 1989, a historiadora Emitia Viotti da Costa enfatizou a conti- nuidade da oligarquiana transição do império para a república: " Essa cifra é calculada sobre a base dos gastos totais do secretariado, ordinário e extraordinário, a partir do qual foram elaboradas todas as tabelas retrospectivas; se incluirmos os itens "extra- orçamentários", a participação da Secretaria da Educação cai para 14%. Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, Contas do exercício de 1937, São Paulo, s.d., p. 7; Relatório do exercício de 1949, p. 72. yer Joseph L.1Love, Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930, cit. pp. 221-3; e loas L. Bak, "Political Centralization and Building lhe Inun-ventionist State in Brazil", Luso- Brazilian Review, 22, 1 (Summer, 1985), pp. 9-25. ° O coronelismo retornou de forma atenuada após a restauração do federalismo e da democracia formal em 1945. a Linda Lewin, op. cir., pp. 408-24; Eul-Soo Pang, op. cir., pp. 186-8, sobre a derrocada e o assas- sinato do "coronel-guerreiro" Horácio de Matos. A NO W* biasilotru kdoolismo • reglonilisim (I 569-1937) 155 A principal diferença [entre o império e a república] era que a oligarquia rural tradi- cional havia sido substituída por uma nova: os fazendeiros de café do oeste [paulista] e seus aliados, que, uma vez no poder, promoveram apenas as mudanças institucionais que eram necessárias para satisfazer suas próprias necessidades. Francisco Iglésias chegou a uma conclusão semelhante numa avalia ção do centenário da república de 1889» Na minha perspectiva, a mudança de regime em 1889 não foi insigni- ficante. A ruptura permitiu uma maior realização do papel que os governos modernos devem desempenhar. Não é que a república fosse tão moderna assim: o império é que decididamente não o era.n Consideremos três aspec- tos do papel que os governos modernos devem desempenhar: providenciar oportunidades no campo da educação, melhorar a saúde da população e assegurar os recursos financeiros que permitam a realização dessas tarefas. Não houve s6 um aumento nas receitas e nos gastos dos governos central, estadual e municipal com a criação da república,53 mas as unidades estaduais e municipais seguiram o governo federal em termos de endi- vidamento externo. Embora os empréstimos estrangeiros tenham resultado no aumento da dependência externa, o acesso ampliado a moedas fortes resultou numa ampliação da infra-estrutura econômica — ferrovias, serviços de utilidade pública, portos, etc. — necessária ao crescimento gerado via exportações (modelo adotado tanto pelo império como pela república). O valor dos empréstimos externos do Brasil (federal, estaduais e municipais) quintuplicou, em termos de libras esterlinas, entre o último ano do império e o início da Primeira Guerra Mundial. Em parte, como resultado desse endividamento, a rede ferroviária nacional aumentou de 9.600 quilômetros, no final do império, para 24.600 quilômetros, em 1913. Do lado dos gastos, o governo federal nada fez pelas classes baixas além da adoção de medidas de saúde pública, deixando a responsabilidade pela educação pública para os estados; mas foi, apesar de tudo, muito inter- vencionista, levando em conta os padrões de laissez-faire vigentes na época. " Emitia Viotti da Costa, The Brazilian Empire: Myths and Histories (Chicago: University of Chicago Press, 1985), p. 233; Francisco Iglésias, O Estado de S. Paulo, 11 nov. 1989, caderno Cultura, pp. 1-3. 52 Sobre a ineficácia do regime imperial além dos confins da capital da nação, ver José Murilo de Carvalho, Teatro de sombras: a política imperial (São Paulo: Vértice, 1988), p. 163. " A arrecadação federal decaiu temporariamente, entretanto, em termos reais. Silo bem conhecidos os programas de obras públicas, de saneamento, o apoio à imigração e os programas de valorização do café, mas bem menos conheci- do é o poder financeiro do sistema federal brasileiro em termos latino-ameri- canos. Comparando os orçamentos federais do Brasil e do México entre 1890 e 1910 (e omitindo os gastos de grandes proporções realizados pelos estados no Brasil), Steven Topik descobriu, recentemente, que o governo brasileiro tinha a capacidade de arrecadar e gastar duas vezes mais dinheiro por habitan- te (em dólares) do que o regime autocrático de Porfirio Díaz. Ele afirma: O ativismo maior do estado brasileiro é, talvez, surpreendente à luz da imagem po- pular que se tem do porfiriato, enquanto robusto e centralizado, e do estado republi- cano no Brasil, tido como fraco e fracionado em cantões semi-autônomos» Foi o governo estadual, mais do que a União, que iniciou os programas de saúde pública e assumiu a responsabilidade pelo subsídio da imigração e pela valorização do café. Os três programas estavam interligados: as lideran- ças de São Paulo percebiam que a imigração era um elemento essencial do modelo de desenvolvimento agrícola por eles patrocinado, e eles logo desco- briram que o investimento em saúde pública se fazia necessário para atrair a população européia visada. Na segunda década da república, medidas de saú- de pública foram tomadas por muitos outros estados e pelo governo federal no Rio de Janeiro: a campanha contra a febre amarela na capital nacional, na presidência de Rodrigues Alves, foi uma resposta a uma outra previamente realizada no estado de São Paulo. É verdade que isso não teria sido possível durante o império, pois a origem da febre amarela ainda não era conhecida, mas São Paulo já havia demonstrado competência para controlar uma epide- mia de peste bubônica logo no início do novo regime. Temos um indicador do que o regime imperial podia fazer em termos de saúde pública a partir de sua atuação durante a grande seca que atingiu o Ceará e as províncias vizinhas em 1877-1879. O governo central tentou providenciar ajuda aos camponeses assolados pela seca, mas devido à debi- lidade da estrutura do Estado imperial, suas ações não tiveram o resultado esperado, e 200 mil pessoas morreram de fome no Nordeste.55 Steven Topik, "The Economic Role of Lhe State ia Liberal Regimes: Brazil and Mexico Compared, 1888-1910", em Joseph L. Lave & Nils Jacobsen (eds.), Guiding the Invisible Hand: Economia Liberalism and fite State ia Latira American History (Nova York: Praeger, 1988), p. 138. 55 Roger L. Cuniff, 77w Great Drought: Northeast Brazil, 1877-1880. Tese de doutoramento, Uni- versidade do Texas, 1970. 1 Ifteph A foptiblico btotiloIrw (edOIQIbITIO o roglonaligno (1889-1997) Outro caso sugere que o regime republicano, em níveis estadual e fede- ral, teve um impacto maior na saúde da população brasileira do que seu pre- decessor. De acordo com o demógrafo Eduardo Arriaga, entre o censo imperial de 1872 e o primeiro censo realizado sob o regime republicano, em 1890, a expectativa de vida melhorou apenas 1%; na década seguinte, essa cifra a mentou em 7%, embora a maioria dos brasileiros apenas vivesse até os 29 anos As taxas gerais de mortalidade caíram de 30,2 por mil em 1872-18 para 27,8 em 1891-1900, uma melhoria de 9%.56 Na educação, tal como na saúde pública, o estado de São Paulo indic va o caminho a ser trilhado, devido, em parte, ao fato de que suas lideranç acreditavam que uma força de trabalho produtiva e saudável dependia alfabetização'básica. Em 1912, São Paulo sozinho gastava em educaçã pública o mesmo montante que o império como um todo — considerando soma dos gastos dos governos central e provinciais em educação, a cad ano, no final da década de 1880. No plano nacional, o progresso na educação, assim como na saú pública, deve ser julgado levando em consideração a herança miserável deixada pelo império para a república. Em 1886 havia apenas um aluno na escola primária ou secundária para cada 75 brasileiros (e a maioria dos alunos freqüentava escolas privadas). Em 1907, essa proporção era de um para 33, duas vezes melhor do que os índices do império citados há pouco." Além disso, o número de alunos na escola primária mais do que duplicou entre 1889 e 1907. No que diz respeito à alfabetização,os dados fornecidos pelo censo indicam uma ligeira queda nas duas últimas décadas do império — de 16% em 1872 para 15% em 1890. Em 1900, esse índice atingiu os 26%." Outro dado significativo é que o número de faculdades (não milita 56 Eduardo Arriaga, New Life Tables for Latin American Populations in lhe Nineteenth and Twentieth Censuries (Berkeley: University of California Press, 1968), p. 42; IBGE, O Brasil em números, Rio de Janeiro, p. 13. " Joseph L. Leve, São Paulo in Me Brazilian Federation, 1889-1937, cit., p. 93; IBGE, O Brasil em números, cit., p. 5. " A taxa de alfabetização caiu para 25% em 1920 (Armin K. Ludwig, Brod!: A Handbook of Historical Statistics, cii, p. 132); mas estimativas retrospectivas revelam que o censo de 1920 sobreestirnou a população geral em 12%. A taxa de alfabetização, portanto, pode ter sido subes- timada, levando em consideração que os números globais do censo são menos confiáveis do que aqueles que dizem respeito à população alfabetizada. Todos os censos da década de 20 subesti- mam a taxa de alfabetização quando comparados aos da de 40 e depois na medida em que os primeiros incluem as pessoas entre O e 4 anos. res) se expandiu consideravelmente, além da meia dúzia de instituições legadas pelo império, na medida em que mais estados exigiam a criação de instituições de nível superior dentro de suas fronteiras. Em 1908, havia 25 instituições dessa natureza no Brasil. A monarquia não respondeu de maneira adequada, como um todo, às oportunidades implícitas no boom do comércio mundial gerado pela Segunda Revolução Industrial no Atlântico Norte depois de 1880, e não encaminhou as questões sociais que teriam impacto no desempenho económico. Interes- ses provinciais poderosos, conseqüentemente, exigiam um sistema federal. A falta de vigor do velho regime na implementação de políticas econômicas e sociais talvez tenha contribuído para o seu colapso, tanto quanto a falta de atenção a interesses regionais específicos. O regime republicano de fevereiro de 1891 fez uma diferença: mas essa diferença apenas não foi suficiente. Para concluir, consideremos o desenvolvimento verificado no final do período em questão, comparando o regime federativo dos anos 1889-1937 com o Estado Novo e com o regime contemporâneo no México. Em primei- ro lugar, notamos uma continuidade na intervenção do governo na econo- mia e na sociedade na República Velha e Nova, prosseguindo no Estado Novo. Durante todo o período 1889-1937, a esfera legítima de atividade governamental — em níveis federal e estadual — expandiu-se de forma acen- tuada, inicialmente para assistir à cartelização na valorização do café e, depois de 1930, de forma mais ampla," para implementar políticas de seguridade social, que se expandiram rapidamente com a sindicalização após 1937. Apesar disso, em termos fiscais, a já mencionada tendência centra- lizadora da era Vargas deve ser qualificada. Embora as rendas dos estados tenham diminuído ligeiramente sob o Estado Novo, São Paulo aumentou sua cota de ingressos e gastos totais em todas as décadas desde o início do século até a ditadura militar dos anos 60.60 A concentração de poder na capital nacional durante a década de 30 é, portanto, nitidamente mais um processo de decisão política do que administrativa. 59 O governo federal havia realizado esforços para garantir a valorização da borracha, mas falhou, não só por causa do problema insolúvel da praga, mas também por causa da fatia reduzida do mercado correspondente ao Brasil na época da Primeira Guerra Mundial. Em 1968, São Paulo era responsável por 50,1% de toda a arrecadação dos estados e sua parcela do orçamento da União chegava a 36,2%; 43,8% de toda a arrecadação federal, entretanto, era proveniente do estado de São Paulo. A partir de dados constantes no IBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1969, Rio de Janeiro, p. 664, e Anuário estatístico do Brasil 1971, Rio de Janeiro. PP. 778, 791. topúblion hrosiloiro folloioli:zoo o iouomolknio (11419:1937) Uma comparação internacional das receitas estaduais e federais rev ainda mais a fraqueza da tendência centralizadora no Brasil. Embora o gov c. dos Estados Unidos fosse, aparentemente, menos centralizado do ponto de v* ta fiscal do que o do Brasil na véspera da Segunda Guerra Mundial, o gove nacional do Brasil, durante a ditadura supostamente centralizadora do Estai Novo, arrecadou e gastou menos do total governamental do que o total an- dado e gasto pelo governo do Canadá ou pelo governo federal da Argentina e 1940.6' Comparando o Brasil e o México na mesma época, e dividindo os 1 anos do governo Vargas em duas fases, correspondendo aos anos revolucioná tio-constitucionais e ao Estado Novo, obtemos os seguintes resultados:62 1931-1937 1938-1945 57,9 55,7 22,7 17,3 Embora a receita dos estados com relação à do governo federal tenha declinado ligeiramente em 1938-1945, a receita dos estados mexicanos caiu ainda mais. É irônico que a proporção entre a receita estadual e a do gover- no central no Brasil, sob o Estado Novo, tido como centralizador, tenha sido mais do que três vezes maior do que a proporção contemporânea no México, que vivia sob um sistema federal, e não unitário. Talvez a contribuição mais saliente do Brasil à prática corporativa na década de 30 tenha sido sua administração parcialmente descentralizada, contrastando com os regimes nitidamente mais unitários vigentes na Itália e no leste da Europa. 61 Joseph L. Lave, São Paulo in the Brazilian Federation, 1889-1937, cit., p. 266. 62 Para os dados brasileiros, ver Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, Relatório do exer-cício de 1949, São Paulo, p. 72; IBGE, Anuário estatístico do Brasil, 1939-1940, Rio de Janeiro, p. 1.409; IBGE, O Brasil em números, cit., p. 140. Tendências semelhantes são encontradas para os gastos nas mesmas fontes. Tanto os ingressos e os gastos "ordinários" como os "extraordiná- rios" estão incluídos nesses dados correspondentes aos estados e à União. Para os dados relativos ao México, ver Secretaria de Economia: Dirección General de Estadística, Anua rio estadtstico de los Estados Unidos Mexicanos: 1939, México, 1941, pp. 666-7; 678-9; Anuario... 1942, México, 1948, pp. 1.234, 10.238; Anuario... 1943-1945, México, 1950, pp. 762, 766-7. Em nenhum dos dois casos contei o Distrito Federal como um estado, embora estivesse agrupado entre os estados nos dados mexicanos. Para os ingressos referentes a 1939 no México, utilizei cifras revisadas publicadas em Anuario... 1942, Bibliografia selecionada ABREU, Marcelo Paiva (ed.), A ordem do progresso: cem anos da política econômica republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990. BALA, Jorge (org.). Centro e periferia no desenvolvimento brasileiro. São Paulo: Difel, 1974. Roucas, Dain. The Family in Bahia, Brazil, 1870-1945. 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